clínica veterinária n. 146

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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Cirurgia

Torção espontânea de lobo pulmonar cranial esquerdo em cadela de 17 anos

Farmacologia Manejo farmacológico do vômito em felinos – revisão

Reprodução

Hiperplasia endometrial cística em ouriço-pigmeuafricano (Atelerix albiventris) – relato de caso

O trabalho das equipes de diagnóstico e reconhecimento perante os desastres envolvendo animais O novo coronavírus e os animais de companhia

Indexada no Web of Science – Zoological Record, no Latindex e no CAB Abstracts www.revistaclinicaveterinaria.com.br




Índice Conteúdo científico

Editora Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

Reprodução

Publicidade Alexandre Corazza Curti midia@editoraguara.com.br Editoração eletrônica Editora Guará Ltda. Projeto gráfico Natan Inacio Chaves mkt2edguara@gmail.com Gerente administrativo Antonio Roberto Sanches admedguara@gmail.com Capa Hedgehog (Atelerix albiventris)

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Cirurgia amayaeguizabal/pixabay

Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total res­­ponsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou to­tal do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária. Editora Guará Ltda. Rua Adolf Würth, 276, cj 2 Jardim São Vicente, 06713-250, Cotia, SP, Brasil Central de assinaturas: (11) 98250-0016 cvassinaturas@editoraguara.com.br Gráfica Gráfica e Editora Pifferprint Ltda.

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Hiperplasia endometrial cística em ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris) – relato de caso Cystic endometrial hyperplasia in african pygmy hedgehog (Atelerix albiventris) – case report Hiperplasia endometrial quística en erizo pigmeo africano (Atelerix albiventris) – relato de caso

Farmacologia

Torção espontânea de lobo pulmonar cranial esquerdo em cadela de dezessete anos Spontaneous left cranial lung lobe torsion in a 17-year-old bitch Torsión espontánea del lóbulo pulmonar craneal izquierdo en una perra de diecisiete años

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Manejo farmacológico do vômito em felinos – revisão Pharmacological management of vomiting in feline patients – a review Manejo farmacológico del vómito en felinos – revisión

Conteúdo editorial Medicina veterinária de desastres

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Medicina veterinária do coletivo

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O trabalho das equipes de diagnóstico e reconhecimento perante os desastres envolvendo animais

O novo coronavírus e os animais de companhia Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020


Fiscalização de canil 34 clandestino e diagnóstico de maus-tratos

Pesquisa

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Estratégia para avaliação 46 de violência no âmbito da família multiespécie

Tecnologia da informação

90

Lançamentos

Gestão

92

Vet agenda

94

Biofresh para cães renova embalagem e lança Biofresh Sabores para pets adultos

86

Cyclavance ®: a mais 87 nova “velha” solução para o controle da dermatite atópica canina

Dinâmica populacional de cães e gatos em abrigos latino-americanos

Um assistente virtual para sua clínica

Crises e oportunidades

Cursos, palestras, semanas acadêmicas, simpósios, workshops, congressos, em todo território nacional e por todo o planeta

Crédito das imagens easter eggs ao longo desta edição

a - Lone Jensen - pg. 6 b - Zuzule - pg. 14 c - Nicky Rhodes - pg. 25 d - Oksana Jancevic - pg. 26 e - Jonathan Pledger - pg. 34 f - Nuno Veludo - pg. 47 g - Tobias Bjørkli - pg. 58 h - Josh Dunlop - pg. 69

i - KellyNelson - pg. 70 j - Ariann - pg. 77 k - Erik Karitis - pg. 78 l - Sunsinger - pg. 91 m - Wavebreakmedia - pg. 93 n - Diogo Brandao - pg. 94 o - Felipe Borges - pg. 96

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Editorial

Solidariedade O momento atual é uma grande oportunidade para prestarmos atenção e refletirmos a respeito de como queremos viver daqui em diante, de que mundo queremos criar e deixar para as próximas gerações. O tempo de contemporizar acabou. O coronavírus está aí para nos dizimar e ressaltar nossa fragilidade. Se pudermos aproveitar essa oportunidade para criar novas relações sociais, pessoais, econômicas e artísticas, baseadas no respeito e na união das forças, na beleza, na compaixão e na inclusão, poderemos sair da atual desgraça que desola nossa espécie e enfrentar com mais competência, e mais fortes, as próximas que seguramente virão. Os descaminhos que as nações e seus governantes têm seguido há milênios estão em cheque, e somente os capazes de amor, de compaixão, de desapego, de honestidade e de clareza sobrevirerão. A raiva e o desejo de eliminar quem não pensa da mesma forma, a ausência de empatia e a vaidade de se achar melhor que o outro, a arrogância e a incapacidade de perdoar vêm levando nossa espécie a destruir o planeta com guerras e outras atrocidades, e ainda há muitos que acreditam que matar os demais é a solução. Todas essas ações e destruições estão sendo postas em cheque com essa pandemia. Por todo o globo, vemos a natureza reocupando espaços dos quais os seres humanos se consideravam donos. Isso nos mostra que, se fôssemos dizimados, a vida no planeta sobreviveria facilmente – e sem saudades de nós. Estamos no momento de uma grande mudança, em que podemos reconstruir a vida em todas as suas manifestações ou aniquilá-la completamente. Então, como continuar no planeta sem destruí-lo, sem extinguir as demais formas de vida, sem dizimar outros seres humanos? O primeiro passo é a reformulação do nosso universo particular, da nossa visão das coisas. É imprescindível fazer uma reavaliação objetiva e uma série de ajustes imediatos de todas as nossas concepções, de nossas atividades e de nossas expectativas. A partir de agora, teremos que reestruturar internamente os valores, começando pelo respeito, pela compaixão, pela gratidão e, principalmente, pela solidariedade – valores cruciais para que possamos superar os momentos extremamente complexos e difíceis que estamos vivendo. Maria Angela Sanches Fessel CRMV-SP 10.159 6

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Consultores científicos Adriano B. Carregaro FZEA/USP-Pirassununga Álan Gomes Pöppl FV/UFRGS Alberto Omar Fiordelisi FCV/UBA Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM Alejandro Paludi FCV/UBA Alessandra M. Vargas Endocrinovet Alexandre Krause FMV/UFSM Alexandre G. T. Daniel Universidade Metodista Alexandre L. Andrade CMV/Unesp-Aracatuba Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul Aline Souza UFF Aloysio M. F. Cerqueira UFF Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia Ana Liz Bastos CRMV-MG, Brigada Animal MG Ananda Müller Pereira Universidad Austral de Chile Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran Angela Bacic de A. e Silva FMU Antonio M. Guimarães DMV/UFLA Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP-São Paulo Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal Aury Nunes de Moraes UESC Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP-São Paulo Beatriz Martiarena FCV/UBA Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice A. Rodrigues MV autônoma Camila I. Vannucchi FMVZ/USP-São Paulo Carla Batista Lorigados FMU

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Carla Holms Anclivepa-SP Carlos Alexandre Pessoa www.animalexotico.com.br Carlos E. Ambrosio FZEA/USP-Pirassununga Carlos E. S. Goulart EMATER-DF Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal Carlos Mucha IVAC-Argentina Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP-São Paulo Ceres Faraco FACCAT/RS César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA Christina Joselevitch IP/USP-São Paulo Cibele F. Carvalho UNICSUL Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo Clarissa Niciporciukas Anclivepa-SP Cleber Oliveira Soares Embrapa Cristina Massoco Salles Gomes C. E. Daisy Pontes Netto FMV/UEL Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS Daniel G. Ferro Odontovet Daniel Macieira FMV/UFF Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo Dominguita L. Graça FMV/UFSM Edgar L. Sommer Provet Edison L. P. Farias UFPR Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE Elba Lemos FioCruz-RJ Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu Estela Molina FCV/UBA Fabian Minovich UJAM-Mendoza Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR

Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE Fabio Otero Ascol IB/UFF Fabricio Lorenzini FAMi Felipe A. Ruiz Sueiro Vetpet Fernando C. Maiorino Fejal/CESMAC/FCBS Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL Fernando Ferreira FMVZ/USP-São Paulo Filipe Dantas-Torres CPAM Flávia R. R. Mazzo Provet Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu Francisco E. S. Vilardo Criadouro Ilha dos Porcos Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu F. Marlon C. Feijo Ufersa Franz Naoki Yoshitoshi Provet Gabriela Pidal FCV/UBA Gabrielle Coelho Freitas UFFS-Realeza Geovanni D. Cassali ICB/UFMG Geraldo M. da Costa DMV/UFLA Gerson Barreto Mourão Esalq/USP Hector Daniel Herrera FCV/UBA Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB Hélio Autran de Moraes Oregon S. U. Hélio Langoni FMVZ/Unesp-Botucatu Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ Herbert Lima Corrêa Odontovet Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery Iaskara Saldanha Lab. Badiglian Idael C. A. Santa Rosa UFLA Ismar Moraes FMV/UFF

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Jairo Barreras FioCruz James N. B. M. Andrade FMV/UTP Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade João G. Padilha Filho FCAV/Unesp-Jaboticabal João Luiz H. Faccini UFRRJ João Pedro A. Neto UAM Jonathan Ferreira Odontovet Jorge Guerrero Univ. da Pennsylvania José de Alvarenga FMVZ/USP Jose Fernando Ibañez FALM/UENP José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal José Ricardo Pachaly Unipar José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP Juan Carlos Troiano FCV/UBA Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu Juliana Werner Lab. Werner e Werner Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG Julio Cesar de Freitas UEL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal Leonardo D. da Costa Lab&Vet Leonardo Pinto Brandão Ceva Saúde Animal Leucio Alves FMV/UFRPE Luciana Torres FMVZ/USP-São Paulo Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Marcello Otake Sato FM/UFTO Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP-São Paulo


Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP-São Paulo Marcelo Faustino FMVZ/USP-São Paulo Marcelo S. Gomes Zoo SBC,SP Marcia Kahvegian FMVZ/USP-São Paulo Márcia Marques Jericó UAM e Unisa Marcia M. Kogika FMVZ/USP-São Paulo Marcio B. Castro UNB Marcio Brunetto FMVZ/USP-Pirassununga Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó S. Animal Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu Marco Antonio Gioso FMVZ/USP-São Paulo Marconi R. de Farias PUC-PR Maria Cecilia R. Luvizotto CMV/Unesp-Araçatuba Maria Cristina Nobre FMV/UFF M. de Lourdes E. Faria VCA/Sepah Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP-São Paulo Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba Marta Brito FMVZ/USP-São Paulo Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba Masao Iwasaki FMVZ/USP-São Paulo Mauro J. Lahm Cardoso Falm/Uenp

Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP Michele A. F. A. Venturini Odontovet Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu Miriam Siliane Batista FMV/UEL Moacir S. de Lacerda Uniube Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL Nadia Almosny FMV/UFF Natália C. C. A. Fernandes Instituto Adolfo Lutz Nayro X. Alencar FMV/UFF Nei Moreira CMV/UFPR Nelida Gomez FCV/UBA Nilson R. Benites FMVZ/USP-São Paulo Nobuko Kasai FMVZ/USP-São Paulo Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz Patricia C. B. B. Braga FMVZ/USP-Leste Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL Paulo Anselmo Zoo de Campinas Paulo César Maiorka FMVZ/USP-São Paulo Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu Paulo S. Salzo Unimes, Uniban Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP-São Paulo Pedro Germano FSP/USP

Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ Renata A. Sermarini Esalq/USP Renata Afonso Sobral Onco Cane Veterinária Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu Ricardo Duarte All Care Vet / FMU Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR Ricardo S. Vasconcellos CAV/Udesc Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ Rita Leal Paixão FMV/UFF Robson F. Giglio H. Cães e Gatos; Unicsul Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba Ronaldo C. da Costa Ohio State University Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio Rosângela de O. Alves EV/UFG Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu Silvia E. Crusco UNIP/SP Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo Silvio A. Vascon­cellos FMVZ/USP-São Paulo Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM Simone Gonçalves Hemovet/Unisa Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu Tiago A. de Oliveira UEPB Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR Valéria Ruoppolo I. Fund for Animal Welfare Vamilton Santarém Unoeste Vania de F. P. Nunes FNPDA e Itec Vania M. V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Victor Castillo FCV/UBA Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG Viviani de Marco UNISA e NAYA Wagner S. Ushikoshi UNISA e CREUPI Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

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Instruções aos autores

A

Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Enviar por e-mail (cvredacao@editoraguara. com.br) ou pelo site da revista (http:// revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-deartigos-cientificos) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na lar­ gura 10

de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitali­ za­ das, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de re­ da­ ção cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acom­pa­nha­das de identificação de propriedade e autor). Devem ser en­viadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, tel­efones e e-mail) e uma foto 3x4 de rosto de cada um dos autores. Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus tí­ tulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser re­lacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 12, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser

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utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Uti­li­zar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utili­zar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições an­te­riores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar in­for­mações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utili­za­do, cada capítulo deverá ser considerado uma

referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). Somente autores de trabalhos originais devem ser citados, e nunca de revisões. É preciso ser ético pois os créditos são daqueles que fizeram os trabalhos originais. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www. xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabalho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. Nesse subtítulo devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/ distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua Adolf Würth, 276, cj. 2, 06713-250, Cotia, SP cvredacao@editoraguara.com.br

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Medicina veterinária de desastres

O trabalho das equipes de diagnóstico e reconhecimento perante os desastres envolvendo animais Introdução Os desastres de modo geral, independentemente de sua classificação técnica, são eventos indesejáveis e imprevisíveis que geram grandes instabilidades em uma população afetada, impactando negativamente de forma direta e indireta as condições ambientais e socioeconômicas de forma próxima ou distante, dependendo de sua magnitude 1. Quando exploramos mais a fundo a questão dos desastres, passamos a compreender que a ocorrência dessas situações devasta moradias, estabelecimentos e propriedades, destruindo meios de sustento e deteriorando serviços essenciais, prejudicando a saúde individual e coletiva de seres humanos e animais, refletindo em indivíduos feridos e em um número variável de óbitos, e levando a danos físicos de maior e menor escala, e também a danos mentais que podem ser transitórios ou de longa duração 2. Mundialmente, podem-se identificar tipos distintos de desastres, e cada localidade está predisposta a sofrer determinada ação, principalmente devido a sua localização geográfica e a suas condições climáticas, assim como ao impacto ambiental local causado pelos seres humanos. Configuram-se diferentes demandas a serem enfrentadas pelas comunidades locais e pelas equipes responsáveis por lhes prover o suporte após essas tragédias. Para isso, os profissionais dessas equipes devem dispor de habilidades multidisciplinares oriundas de treinamento prévio, assim como de recursos adequados para o devido suporte 3,4. Os primeiros momentos que sucedem o desastre (período pós-desastre imediato) demandam da equipe atuante um trabalho rápido, eficiente e preciso, para que inicialmen12

te se resgate o maior número de vítimas e posteriormente se coletem dados, bem como se estabeleçam quais as prioridades para as áreas afetadas, embasando dessa forma um bom planejamento para a atuação das equipes subsequentes e para a correta mobilização de recursos e esforços. Nos Estados Unidos, as equipes de pronta resposta aos desastres são conhecidas como Busca e Salvamento Humano (Urban Search and Rescue – Usar). Apoiadas pela Agência Federal de Gestão de Emergências (Federal Emergency Management Agency – Fema), são compostas por bombeiros, médicos, paramédicos, engenheiros e operadores de maquinários como tratores e guindastes, sempre portando equipamentos básicos e especializados para a realização de resgates, com o dever de localizar, extrair e fornecer assistência médica aos necessitados 5,6. Para que se realizem ações concretas nos locais afetados, é imprescindível que a equipe de diagnóstico e reconhecimento seja precisa, organizada e transparente ao repassar as informações para seus superiores e para todo o grupo, uma vez que as próximas etapas serão determinadas com base nessas ações. O uso de recursos tecnológicos como fotografias e vídeos compartilhados praticamente em tempo real, bem como de imagens de satélite atualizadas (Figuras 1 e 2), gera maior credibilidade e agilidade para que se calcule a extensão dos danos causados pelo desastre e para que se estabeleça o prognóstico da situação, de modo que se adotem as condutas mais adequadas e o plano de resposta para reconstrução seja efetivo. O conhecimento prévio da região, apoiado em dados disponibilizados pelo município sede do desastre,

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020


mesmo que com alguma diferença entre a data de consolidação dos dados e o momento do desastre, é imprescindível para se enGrad Brasil, 2020

Figura 1 – Imagem de satélite com mensurações utilizada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo no Posto de Comando na cidade de Vargem Alta, ES, durante as enchentes que acometeram o estado no início de 2020

tender quais as atividades ali desenvolvidas e também o número estimado de imóveis, de moradores e de animais. Dados sanitários e de saúde animal são importantes como ponto de partida para a formulação de indicadores epidemiológicos específicos 5,7,8. O diagnóstico da situação em que se encontra uma determinada área atingida é de suma importância para identificar as principais necessidades básicas da população. Para isso, deve-se seguir a cronologia para avaliação de danos (Figura 3) e a análise das necessidades (Figura 4). Vale ressaltar que todas essas informações devem ser preenchidas por órgão oficial, conforme disposto no Formulário de Informações do Desastre (Fide), disponibilizado online pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) 9. As medidas adotadas na medicina veterinária de desastres são baseadas nos mesmos pilares utilizados para a população humana;

Grad Brasil, 2020

Preliminar

Primeira ação após o desastre, antes das primeiras oito horas, buscando estimar o ocorrido por meio de uma informação prévia

Complementar Antes das primeiras 72 horas, sem estudos profundos, buscando detalhes das necessidades e dos pontos críticos para as fases seguintes Informação familiar

Figura 2 – Imagem de satélite de barragem na região de Vargem Alta, ES, monitorada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo durante as enchentes que acometeram o estado no início de 2020

Coleta de dados nas unidades familiares, de modo que se possam elaborar ações pontuais

Figura 3 – Cronologia para avaliação de danos pela equipe de diagnóstico nos primeiros momentos pós-desastre. Adaptado 9

Prioridades humanitárias

Infraestrutura pública vital

Infraestrutura produtiva e os meios de vida

Moradias e edificações públicas

Saúde pública

Água potável

Setor agropecuário (primário)

Escolas

Acesso a água de qualidade

Drenagem

Setor industrial e manufatureiro (secundário)

Hospitais

Setor bancário (terciário)

Clínicas

Acesso aos alimentos durante Energia elétrica a emergência Situação de abrigos

Telecomunicação e transporte Setor turístico e comércio (terciário)

Unidades de saúde

Figura 4 – Itens e suas condições que devem ser listados na ficha de análise das necessidades no período pós-desastre. Adaptado 9 Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020

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Medicina veterinária de desastres 2019

Estado de Minas Gerais: Brumadinho (rompimento de barragem); Barão de Cocais; Macacos; Itatiaiuçu (evacuação) Estado da Bahia: Coronel João Sá (enchente)

2020

Estado do Espírito Santo: Iconha; Vargem Alta; Pacotuba; Castelo (enchente) Estado de Minas Gerais: Raposos; Belo Horizonte; Espera Feliz (enchente) Estado de São Paulo: Araçariguama (enchente)

Figura 5 – Anos, estados e cidades em que o Grad Brasil atuou desde sua oficialização b

no entanto, é necessário ajustá-las a necessidades específicas às diferentes espécies 8. A contabilização e a identificação da população animal constituem um grande desafio para os profissionais da medicina veterinária envolvidos nessas ocasiões, principalmente nos primeiros momentos após a ocorrência de uma tragédia, uma vez que a configuração normal de determinada região é toda alterada, fazendo com que os animais percam as referências do ambiente em que viviam e até mesmo de seus tutores, que em determinadas situações abandonam o local ou perdem a vida em decorrência do desastre. Esse desafio é agravado pela grande diversidade de aspectos comportamentais e sociais das diferentes espécies e os inúmeros locais em que vivem ou são criadas, assim como a condição socioeconômica dos indivíduos da área afetada e a relação da população com seus animais 2,8,10,11. Diante desse complexo contexto, o alinhamento da equipe veterinária com órgãos competentes como Corpo de Bombeiros Militar, Defesa Civil, Polícia Militar e Prefeitura é essencial para que se conceda a função de assessoria técnica, originando todo o planejamento para que as atuações de curto e médio prazo tenham o respaldo oficial e o devido suporte dessas entidades 9,12. Após a elaboração conjunta do plano de ação por parte da equipe veterinária, preconiza-se a organização de informações completas, sejam elas precisas e/ou estimadas, quantitativas e qualitativas, gerais e/ou indi14

viduais das várias espécies afetadas, em um documento que contenha a localização do animal (por meio de endereço, dados do Global Positioning System – GPS, entre outros), sua identificação e características físicas (descritivas e por fotos, especificando características do indivíduo, como cicatrizes e manchas, por exemplo), que providências foram tomadas em relação a ele e a classificação do paciente baseada em critérios de triagem veterinária 10. A triagem veterinária é embasada em um processo de avaliação médica visando estabelecer a gravidade do estado do animal acometido, se ele requer atenção prioritária, se é possível cuidar dele no local ou se é necessário removê-lo. É importante ressaltar que, diferentemente da triagem humana, na medicina veterinária de desastres essa ação contempla desde a estabilização clínica dos animais por meio dos mais variados recursos até o alívio do sofrimento por meio da eutanásia, quando isso se tornar necessário 13,14. Relato de experiência no diagnóstico de situação e reconhecimento O Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad Brasil) é uma força-tarefa do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (FNPDA). Reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), tem equipes distribuídas em diferentes estados da federação, que atuam nas mais variadas demandas emergenciais envolvendo animais. No Grad Brasil, os grupos internos são subdivididos nos vários segmentos da medicina veterinária de desastres, cada qual com suas responsabilidades e atribuições. O Grad Brasil vem operando oficialmente em território nacional desde o ano de 2019, tendo atuado em mais de dez cidades (Figura 5). Hoje, a demanda de atuação do Grad Brasil em um desastre ocorre pela coleta de informações por parte de seus integrantes, oriundas de reportagens divulgadas em diferentes meios de comunicações, postagens de populares em redes sociais ou até mesmo pelo acionamento por parte de colegas e/ou de-

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Grad Brasil, 2020

Figura 6 – Reunião de membros do Grad Brasil com a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais para planejamento das ações nas enchentes no município de Espera Feliz, MG, em 2020

Grad Brasil, 2020

Figura 7 – Reunião de membros do Grad Brasil com autoridades oficiais no Posto de Comando em Vargem Alta, ES, para o gerenciamento da crise em decorrência das enchentes que acometeram o estado em 2020

mais pessoas que estão próximas ou nas regiões afetadas. Por sua vez, a decisão oficial do emprego da estratégia nessas situações é determinada pela coordenação geral do grupo, que, após apuração minuciosa e criteriosa, aciona os profissionais da equipe de diagnóstico da situação. Antes do envio desses profissionais ao local da tragédia, a equipe de comunicação e logística realiza o trabalho de coleta de informações para traçar um perfil do município ou dos municípios afetados, levantando a quantidade estimada de habitantes e de animais, se é uma região produtora de animais e qual seu

perfil produtivo, a extensão territorial, a localização e as características geográficas (ex.: região de litoral ou de interior; região serrana ou de planalto; zona urbana ou zona rural), o perfil socioeconômico da população, a principal atividade de sustento da região, se ela tem seus próprios órgãos oficiais de respostas a emergências (quartel de Corpo de Bombeiros Militar e/ou Defesa Civil), as prefeituras e suas respectivas secretarias e departamentos (ex.: Secretaria do Meio Ambiente, serviço de controle de animais e/ou de bem-estar animal) e os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária, bem como as sociedades civis de proteção animal que possam auxiliar nessas situações. Nessa etapa do trabalho também se direcionam preliminarmente os equipamentos e materiais a serem levados pelos primeiros profissionais que chegarão às áreas afetadas para o reconhecimento in loco das condições. Para que as ações de resposta a um desastre sejam efetivas, a equipe de diagnóstico deve chegar sempre o mais rápido possível ao local afetado (menos de oito horas após o ocorrido). No entanto, alguns fatores, como a extensão do território nacional e, em alguns casos, a inviabilidade de acesso às regiões afetadas (ex.: estradas e pontes destruídas) podem retardar a chegada dos profissionais, não devendo ultrapassar o período máximo de 48 horas. A equipe de diagnóstico geralmente é composta por um número restrito de membros, em média quatro profissionais, sendo obrigatoriamente pelo menos um médico-veterinário, acompanhado de um bombeiro (militar/civil) e de mais dois profissionais com capacitações técnicas. A formação de um grupo pequeno, resiliente e com alta capacidade técnica facilita a execução das tarefas propostas previamente, proporciona maior agilidade para o deslocamento até as cidades acometidas e viabiliza a mobilidade da equipe durante as operações em áreas de risco e de difícil acesso. É indispensável que, chegando ao local, a primeira medida tomada pelas equipes veterinárias seja estabelecer contato com os

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Grad Brasil, 2020

Grad Brasil, 2020

Medicina veterinária de desastres

Grad Brasil, 2020

Figura 8 – Médico-veterinário do Grad Brasil avaliando equídeos em zona rural durante a operação de diagnóstico de situação na cidade de Araçariguama, SP, em decorrência das enchentes em 2020

Figura 9 – Reconhecimento de situação de uma pocilga atingida por enchente no município de Coronel João Sá, BA, em 2019

órgãos responsáveis por coordenar as ações emergenciais (geralmente, a Defesa Civil e/ ou o Corpo de Bombeiros Militar), a fim de demonstrar de forma técnica e padronizada os procedimentos a seguir, e subentendendo-se sua subordinação aos órgãos gestores da crise (Figuras 6 e 7). Esse trabalho em conjunto é fundamental para que essas equipes tenham acesso ao sistema operante empregado na resposta à situação, aos dados oficiais das regiões mais afetadas e aos mapas dessas 16

Figura 10 – Primeiro sobrevoo no município de Brumadinho, MG, para mapeamento de animais atingidos. Na foto, identificação de bovino ilhado em meio ao rejeito

áreas e das zonas de risco – e também para estabelecer os limites de sua atuação. A aproximação de médicos-veterinários especializados em desastres e autoridades viabiliza recursos como veículos, efetivo, espaços, insumos, medicamentos, equipamentos, materiais e alimentos, entre outros, fundamentais para o planejamento e o cumprimento das demandas relativas aos animais. Nesse sentido, podemos citar os exemplos de Brumadinho, MG – quando os helicópteros da Polícia Rodoviária Federal e do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais foram colocados à disposição para as ações de resgate dos bovinos atolados –, e do Espírito Santo – quando as viaturas e o efetivo dos órgãos do estado foram cedidos para apoiar o resgate e o deslocamento dos animais, assim como o espaço para a instalação de um Posto Médico-Veterinário Avançado. Estabelecidas essas premissas, a equipe de diagnóstico deve desempenhar três funções principais: 1. o registro quantitativo das espécies acometidas e o registro qualitativo por meio de descrição e fotos dos animais afetados que demandem intervenção médico-veterinária (a fim de estabelecer os critérios de triagem veterinária). Geralmente esse registro é fei-

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Grad Brasil, 2020

Grad Brasil, 2020

Figura 11 – Reconhecimento de área atingida na cidade de Araçariguama, SP, devido a enchente do Rio Tietê no início de 2020

Figura 13 – Reconhecimento de área atingida por enchente na cidade de Iconha, ES, no início de 2020

Grad Brasil, 2020

Grad Brasil, 2020

Figura 12 – Bombeiros civis integrantes do Grad Brasil no reconhecimento de área atingida no município de Mariana, MG, após rompimento de barragem em 2015

to de maneira visual precisa e/ou estimada (principalmente por conta de animais semidomiciliados ou errantes) e também por meio de entrevistas com moradores e demais pessoas locais que possam precisar ou estimar a quantidade de animais em determinados locais (Figuras 8, 9 e 10); 2. registro por escrito, fotográfico e por vídeos dos locais de atuação para arquivo referencial de operações posteriores. Esse registro é fundamental para que se possa referenciar e mapear os locais por onde a equipe de diagnóstico passou, facilitando o planejamento

Figura 14 – Membros do Grad Brasil realizam reconhecimento de área devastada pelas enchentes no município de Vargem Alta, ES, no início de 2020

das próximas equipes que venham a atuar na mesma região (Figuras 11, 12, 13 e 14); 3. realização de ações de resgate técnico, suporte clínico emergencial e encaminhamento a clínicas e hospitais das variadas espécies, com registro descritivo e por meio de imagens (Figuras 15 e 16). Essa etapa é uma das mais complexas e imprevisíveis, demandando da equipe habilidades técnicas teórico-práticas que viabilizem as ações mais indicadas para cada uma das situações. Vale ressaltar que não existe uma ordem preestabelecida para a realização dessas funções principais, uma vez que o ambiente de

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Medicina veterinária de desastres

Grad Brasil, 2020

Figura 15 – Médicos-veterinários da UFMG e do Grad Brasil juntamente com bombeiros militares realizam resgate técnico de equino atolado em Brumadinho, MG, após rompimento de barragem de rejeitos em 2019

em um relatório oficial descritivo e fotográfico minucioso que será apresentado ao comando do Grad Brasil, para que se estabeleçam as etapas posteriores com a mobilização correta de esforços profissionais, recursos de materiais e equipamentos para cada situação. Esse documento também deve ser disponibilizado às autoridades locais, para viabilizar uma estimativa dos impactos na saúde pública, bem como dos prejuízos produtivos que possam afetar a economia local. Considerações finais É possível considerar que o preparo técnico, a hierarquia e a comunicação no contexto de um desastre são fundamentais para a segurança de profissionais, pessoas e animais, assim como para o planejamento e a tomada de decisões. Contudo, para viabilizar condutas efetivas e assertivas na condução dessas situações, a compilação precisa de informações e dados por parte da equipe de diagnóstico de situação é vital, auxiliando a mobilização de esforços e recursos adequados para a operação. Referências

Figura 16 – Médicos-veterinários da UFMG e do Grad Brasil juntamente com bombeiros militares preparam animal para remoção do rejeito via helicóptero em Brumadinho, MG, após rompimento de barragem em 2019

desastre é imprevisível e demandará adaptações constantes dos profissionais, de acordo com a necessidade. As ações primárias realizadas em campo devem ser desempenhadas da maneira mais rápida possível, de modo a permitir o planejamento da sequência do trabalho que será executado junto com o comando do Grad Brasil. É de suma importância que todas as ações realizadas nessa etapa sejam documentadas 18

01-MATA-LIMA, H. ; ALVINO-BORBA, A. ; PINHEIRO, A. ; MATA-LIMA, A. ; ALMEIDA, J. A. Impacto dos desastres naturais nos sistemas ambiental e socioeconômico: o que faz a diferença? Ambiente & Sociedade, v. 16, n. 3, p. 45-64, 2013. doi: 10.1590/S1414-753X2013000300004. 02-DÍAZ, A. ; TRELLES, S. ; MURILLO, J. C. A gestão do risco e a atenção de animais em situação de desastre, São José: 2015. 92 p. ISBN: 978-92-9248-622-8. 03-NIX-STEVENSON, D. Human response to natural disasters. SAGE Open, p. 1-12, 2013. doi: 10.1177/2158244013489684. 04-ARCULEO, C. ; KHORRAM-MANESH, A. Functions needed in disaster management. In: KHORRAM-MANESH, A. Handbook of disaster and emergency management. 1. ed. Gothenburg: Kompendiet, 2017. p. 30-34. ISBN: 978-91-639-3200-7. 05-CHEN, L. ; MILLER-HOOKS, E. Optimal team deployment in urban search and

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020


rescue. Transportation Research Part B: Methodological, v. 46, n. 8, p. 984-999, 2012. doi: 10.1016/j.trb.2012.03.004. 06-LISNIAK, A. ; ARCULEO, C. Search and rescue (SAR), and safety and security. In: KHORRAMMANESH, A. Handbook of disaster and emergency management. 1. ed. Gothenburg: Kompendiet, 2017. p. 97-103. ISBN: 978-91-6393200-7. 07-HRÉCKOVSKI, B. ; KHORRAM-MANESH, A. Information colleting and sharing. In: KHORRAMMANESH, A. Handbook of disaster and emergency management. 1. ed. Gothenburg: Kompendiet, 2017. p. 77-81. ISBN: 978-91-6393200-7. 08-NUNES, V. F. P. ; BIONDO, A. W. A medicina veterinária de desastres em Mariana e Brumadinho: importância da inclusão de animais nos planos de emergência. Clínica Veterinária, ano XXIV, n. 139, p. 12-16, 2019. ISSN: 1413571X. 09-UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Gestão de desastres e ações de recuperação, Florianópolis: CEPED/UFSC, 2014. 242 p. ISBN: 978-85-64695-79-5. 10-SWENSON, L. A. Records and animal identification. In: WINGFIELD, W. E. ; PALMER, S. B. Veterinary disaster response. 1. ed. Iowa: Wiley-Blackwell, 2009. p. 73-84. ISBN: 978-0813-80727-0. 11-GONÇALVES, I. N. ; PINTO, M. O. K. M. ; BASTOS, A. L. Como a atuação de médicos-veterinários em desastres pode auxiliar na transformação de um município. Clínica Veterinária, ano XXIV, n. 143, p. 12-18, 2019. ISSN: 1413-571X. 12-CORPO DE BOMBEIROS DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Sistema de Comando e Operações em Emergências

(SICOE): coletânea de manuais técnicos de bombeiros - volume 37, 1. ed. São Paulo: PMESP-CCB, 2006. 38 p. 13-WINGFIELD, W. E. Veterinary triage. In: WINGFIELD, W. E. ; PALMER, S. B. Veterinary disaster response. 1. ed. Iowa: Wiley-Blackwell, 2009. p. 111-122. ISBN: 978-0-813-80727-0. 14-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Guia brasileiro de boas práticas para a eutanásia em animais - conceitos e procedimentos recomendados. 1. ed. Brasília: CFMV, 2013. 62 p.

Leonardo Maggio de Castro MV, CRMV-SP 33.947, MSc, Uniso, Grad-Brasil leonardo.castro@prof.uniso.br

Carla Maria Sássi de Miranda MV, CRMV-MG 11.019, Grad-Brasil carlasassivet@yahoo.com.br

Cláudio Zago Junior

MV, CRMV-SP 32.942, MSc, FESB Corpo de Bombeiros, Grad-Brasil claudiozj@hotmail.com

Vania de Fátima Plaza Nunes

MV, CRMV-SP: 4.119 Grad Brasil e FNPDA vania.vet@gmail.com

Arthur Augusto T. do Nascimento MV, CRMV-MG 16.647 Grad Brasil arthur.daegua@gmail.com

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Medicina veterinária do coletivo

O novo coronavírus e os animais de companhia Aprendendo sobre o SARS-CoV-2 e o Covid-19 nos animais

Fernando Gonsales

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Ainda é incerto se cães e gatos possuem papel na transmissão do SARS-CoV-2 aos seres humanos

Pessoas com Covid-19 devem evitar o contato próximo com animais de estimação, manter boas práticas de higiene e usar máscara

Fernando Gonsales

Covid-19 Desde dezembro de 2019, a doença altamente contagiosa chamada Covid-19 (Coronavirus disease 2019), causada pelo vírus SARS-CoV-2 (Severe acute respiratory syndrome coronavírus 2), tem ocorrido entre os seres humanos 1,2. Já em janeiro de 2020, devido à sua rápida expansão em diferentes países, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional 1. Em março de 2020, a Covid-19 foi caracterizada pela OMS como pandemia 1. O epicentro inicial da Covid-19 esteve vinculado aos mercados atacadistas de frutos do mar e de animais exóticos de Huanan, Wuhan, província de Hubei, China 1. A partir de análises de sequências genômicas completas do novo coronavírus coletadas de cinco pacientes durante o estágio inicial do surto em Wuhan, observou-se 79,6% de similaridade com outro SARS-CoV (Severe acute respiratory syndrome coronavírus) e 96% de correspondência com o genoma inteiro de um coronavírus encontrado em morcego 2. Corroborando com essas análises, outro estudo sugeriu que o SARS-CoV-2 não teve origem ou manipulação em laboratório, e que uma fonte

animal pode estar envolvida com os casos iniciais de Covid-19 associados ao mercado de Huanan 3. Ainda, estudo mais recente observou que ao nível do genoma, o coronavírus encontrado em pangolin apresentou 91,02% de semelhança com o SARS-CoV-2 4. Segundo a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, 75% das doenças infecciosas ou parasitárias emergentes ou reemergentes do último século tiveram origem em animais, sendo consideradas zoonoses, como por exemplo os vírus HIV, Influenza Aviária e Influenza Suína 5. Apesar de origem e ancestrais diretos ainda não identificados, o genoma do SARS-CoV-2 parece próximo ao do coronavírus que acomete uma espécie de morcego, e ao do coronavírus que acomete uma espécie de pangolin 2,3,4. Contudo, ainda pouco se sabe sobre o que acontece com animais de estimação, como cães e gatos, durante a pandemia de Covid-19 entre os seres humanos. SARS-CoV-2 Trata-se de um vírus de RNA (ácido ribonucleico), com aparência de coroa ao microscópio eletrônico, devido às glicoproteínas presentes em seu envelope viral 6. A família Coronaviridae se divide em quatro gêneros: Alphacoronavirus, Betacoronavirus, Gamma-

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coronavirus e Deltacoronavirus 6. Os membros da grande família Coronaviridae tendem a ser espécie-específicos e podem causar doenças respiratórias, gastrintestinais, hepáticas, renais e neurológicas em diferentes espécies animais, como cães, gatos, bovinos, suínos, equinos, aves, inclusive em seres humanos 7 (Figura 1) Em cães, o coronavírus entérico canino pode causar diarreia leve, enquanto que o coronavírus respiratório é parte do complexo respiratório canino 7. Em gatos, o coronavírus felino é responsável pela peritonite infecciosa felina (PIF) 7. Esses coronavírus não estão as-

sociados à atual pandemia da Covid-19 7. O SARS-CoV-2 pertence ao gênero Betacoronavirus, subgênero Sarbecovirus 7. Devido ao seu envelope viral de natureza fosfolipídica, pode ser inativado por solventes lipídicos, incluindo o etanol, o éter, o clorofórmio e desinfetantes com cloro 7. O vírus ainda é sensível aos raios ultravioleta e ao calor 7. SARS-CoV-2 em animais O primeiro relato em cão ocorreu em Hong Kong, na China, conforme boletim da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) 8 (Figura 2). Um cão assintomático de raça spitz

Gênero

Vírus

Hospedeiro

Tropismo

Receptor

Alphacoronavirus

TGEV

Porco

Respiratório, entérico

APN, Ácido siálico

PRCV

Porco

Respiratório

APN

PEDV

Porco

Entérico

APN, Ácido N-acetilneuramínico

SADS-CoV

Porco

Entérico

APN

FIPV

Gato

Sistêmico

APN

FECV

Gato

Entérico

APN

CCoV

Cão

Entérico

APN

HCoV-229E

Homem

Respiratório

APN

HCoV-NL63

Homem

Respiratório

ACE2

PHEV

Porco

Respiratório, entérico, neurológico

Neu5,9Ac2, NCAM

BoCoV

Boi

Respiratório, entérico

Neu5,9Ac2

ECoV

Cavalo

Entérico

ND

CRCoV

Cão

Respiratório

ND

HCoV-OC43

Homem, boi

Respiratório

Neu5,9Ac2

HCoV-HKU1

Homem

Respiratório

ND

HECoV

Homem

Entérico

ND

MERS-CoV

Homem

Respiratório

DPP4

SARS-CoV

Homem

Respiratório

ACE2

SARS-CoV-2

Homem

Respiratório

ACE2

IBV

Galinha

Respiratório, entérico, renal

Ácido siálico

TCoV

Peru

Respiratório, entérico

Poly-LacNAc

PDCoV

Porco

Entérico

APN

Betacoronavirus

Gammacoronavirus Deltacoronavirus

Figura 1 – Os membros da grande família Coronaviridae tendem a ser espécie-específicos e podem causar doenças respiratórias, gastrintestinais, hepáticas, renais, e neurológicas em diferentes espécies animais, como cães, gatos, bovinos, suínos, equinos, aves, incluindo os seres humanos 7. APN: aminopeptidase N; BoCoV: coronavírus bovino; DPP4: dipeptidil

peptidase4. CCoV: coronavírus canino; CoV: coronavírus; CRCoV: coronavírus respiratório canino; FECV: coronavírus entérico felino; FIPV: virus da peritonite infecciosa felina; HCoV: coronavírus humano; HECoV: coronavírus entérico humano; IBV: vírus da bronquite infecciosa; MERS: vírus da síndrome respiratória do oriente médio; NCAM: molécula de adesão de células neurais; ND: não determinado; Neu5,9Ac2: ácido N-acetil-9-0-acetilneuranímico; PDCoV: deltacoronavírus porcino; PEDV: vírus da diarreia epidêmica porcina; PHEV: vírus da encefalomielite aglutinante porcina; Poly-LacNAc: Poli-N-acetilactosamina; PRCV: coronavírus respiratório porcino; SADS-CoV: vírus da síndrome da diarreia aguda suína; SARS: vírus da síndrome respiratória aguda severa; TCoV: coronavírus do peru; TGEV: vírus da gastrenterite transmissível

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Medicina veterinária do coletivo alemão de 17 anos de idade foi colocado em quarentena no dia 26 de fevereiro de 2020, após a hospitalização de seu tutor pela Covid-19 8,9. Foram coletadas amostras em swab nasal, oral, retal e amostras de fezes para possível diagnóstico molecular de SARSCoV-2 8,9. Dentre elas, as amostras em swab nasal e oral do cão foram positivas para SARSCoV-2 em RT-PCR (Transcrição Reversa seguida de Reação em Cadeia da Polimerase) 8,9. Nesse caso, apesar da detecção, não foi possível realizar o isolamento do vírus, mas o cão desenvolveu anticorpos neutralizantes 8,9. Dias após o animal testar negativo para SARS-CoV-2 em RT-PCR e ter sido liberado da quarentena, ele foi a óbito por causa indeterminada 8. A causa da morte não foi considerada como tendo sido associada ao vírus 9. No dia 18 de março, um cão pastor alemão assintomático de dois anos testou positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR em amostras orais, nasais e retais durante 3 dias 10,11. O vírus foi isolado e o cão apresentou anticorpos 11. Até o dia 15 de abril de 2020, o Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação de Hong Kong testou 30 cães de tutores positivos para a Covid-19 12, tendo sido positivos apenas os dois casos acima 12. Ainda em Hong Kong, amostras em swab nasal, oral e fecal de gato clinicamente saudável testaram positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR 13, sendo que o proprietário havia sido hospitalizado com Covid-19 14. Até o dia 15 de abril de 2020, o Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação de Hong Kong testou 17 gatos de tutores positivos para a Covid-19, e apenas o gato acima citado foi positivo 12. Em meados de março de 2020, na Bélgica, foi detectado RNA viral de SARS-CoV-2 em amostras de vômito e fezes de um gato com diarreia, vômito e dispneia, por meio de RT-PCR 15. Apesar do tutor do animal estar com Covid-19, não foi possível estabelecer o nível de semelhança entre as sequências de SARS-CoV-2 presentes no gato e no ser humano 15. O animal apresentou melhora clínica 22

após 9 dias do início dos sintomas 15. Em 22 de abril, a OIE, o CDC e USDA relataram que 2 gatos do estado de Nova York, nos Estados Unidos, apresentando espirros e corrimento nasal, testaram positivo na RT-PCR para SARS-CoV-2 16,17. Um gato é do interior do estado (Orange County) e o proprietário é positivo para Covid-19 18. Os sinais no gato apareceram depois de o proprietário apresentar sinais 18. O outro gato da casa permaneceu assintomático 18. O segundo gato positivo é da região de Long Island (Nassau County) e tem acesso à rua 18. Ninguém na casa apresentou sinais clínicos e presume-se que o gato adquiriu a doença de alguém assintomático em casa ou em contato com alguém com o vírus na rua 18. Os últimos exames laboratoriais nos dois gatos demonstraram que eles estão eliminando a infecção e devem ter recuperação completa 18. Não surpreende que gatos tenham ficado doentes. O SARS-CoV-2 penetra na célula ligando-se ao receptor ACE2, e o receptor ACE2 de gatos tem uma homologia muito alta com o do ser humano 19,20,21. O coronavírus que causou a epidemia de SARS (SARS-CoV) também utiliza o receptor ACE2 para entrar na célula 22. Gatos puderam ser infectados experimentalmente pelo vírus SARS-CoV e se infectaram naturalmente durante a epidemia de SARS em 2003 22,23. Recentemente, gatos foram inoculados experimentalmente por via intranasal com doses altas de SARS-CoV-2 24. Os animais não apresentaram sinais clínicos, desenvolveram anticorpos neutralizantes e eliminaram RNA viral nas fezes. À necrópsia, vírus infectante foi encontrado nos cornetos nasais, palato mole, tonsilas, traqueia e pulmões 24. Gatos experimentalmente infectados transmitiram a doença por via aérea para gatos suscetíveis 24. Infecção experimental com SARS-CoV-2 também é possível em hamsters, em ferrets, macaco résus (Macaca mulata) e macaco-cynomolgus (Macaca fascicularis) 24-30. Em condições experimentais, hamsters e ferrets podem

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Data

Local

Espécie / n

Descrição

Ref.

26/02/2020

Hong Kong, China

Cão doméstico (Canis lupus familiaris) 1 animal

O cão Spitz Alemão de 17 anos e assintomático foi colocado em quarentena após hospitalização de seu tutor por Covid-19. Amostras em swab nasal e oral testaram positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR. Não foi possível realizar o isolamento viral, mas o cão desenvolveu anticorpos neutralizantes. Dias após o animal testar negativo para SARS-CoV-2 em RT-PCR e ter sido liberado da quarentena, ele foi a óbito por causa indeterminada. A causa da morte não foi considerada associada ao vírus.

8e 9

18/03/2020

Hong Kong, China

Cão doméstico (Canis lupus familiaris) - 1 animal

Cão pastor alemão de dois anos e assintomático testou positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR em amostras orais, nasais e retais durante 3 dias. O vírus foi isolado e o cão apresentou anticorpos.

10 e 11

18/03/2020

Liege, Bélgica

Gato doméstico (Felis catus) - 1 animal

RNA viral de SARS-CoV-2 foi detectado por RT-PCR em vômito e fezes de um gato com diarréia, vômito e dispnéia. Não foi possível estabelecer semelhança entre as sequências de SARS-CoV-2 presentes no gato e no tutor. O animal apresentou melhora clínica após 9 dias do início dos sintomas.

15

04/04/2020

Cidade de Nova York, EUA

Tigre-malaio (Panthera tigris tigres) 2 animais Tigres-siberianos (Panthera tigris altaica) 3 animais Leões-africanos (Panthera leo) 3 animais

Fêmea de tigre-malaio do zoológico do Bronx apresentou tosse seca e testou positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR. Outro tigre-malaio, 2 tigres-siberianos e 3 leões também apresentaram sinais similares.1 tigre-siberiano permaneceu assintomático. Em 17 de abril, a OIE confirmou que um dos leões-africanos testou positivo para SARS-CoV-2 na RT-PCR. No final, todos esses animais, inclusive o tigre-siberiano assintomático, testaram positivo para SARS-CoV-2 na RT-PCR de amostras de fezes. Os 7 animais sintomáticos melhoraram e se espera que tenham recuperação completa.

32, 33, 34, 35 e 36

22/04/2020

Estado de Nova York, EUA

Gato doméstico (Felis catus) 2 animais

Os dois gatos testaram positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR. Um gato é do interior do estado (Orange County) e o proprietário é positivo para COVID-19. Os sinais no gato apareceram depois de o proprietário apresentar sinais. O outro gato da casa permaneceu assintomático. O segundo gato positivo é da região de Long Island (Nassau County) e tem acesso à rua. Ninguém na casa apresentou sinais clínicos. Os últimos exames laboratoriais nos dois gatos demonstraram que eles desenvolveram anticorpos, estão eliminando a infecção e devem ter recuperação completa.

16, 17 e 18

26/04/2020

2 fazendas de vison em North Brabant, Holanda

Vison (Neovison vison) pelo menos 3 animais

Animais de duas fazendas de vison apresentaram sinais gastrintestinais e respiratórios e testaram positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR.

37 e 38

28/04/2020

Cidade de Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA

Cão (Canis lupus familiaris) 1 animal

1 cão pug com sinais respiratórios e anorexia. Três pessoas na casa eram positivas para Covid-19. O cão foi testado porque a família fazia parte de um estudo de vigilância domiciliar coordenado por pesquisadores da Duke University. Outro cão, um gato e um lagarto da residência foram negativos para SARSs-CoV-2.

56

30/04/2020

Ile-de-France, França

Gato (Felis catus) 1 animal

1 gato com sinais respiratórios e gastrintestinais leves testou positivo na RT-PCR de amostras retais. As amostras oronasais foram negativas. Esse gato é parte de um estudo com gatos de proprietários com Covid-19. Esse é o único gato que teve resultados positivos. Não foi relatado o número total de gatos testados.

57

Figura 2 – Relatos de SARS-CoV-2 em animais de companhia e outras espécies atualizado em 30/04/20 Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020

23


Medicina veterinária do coletivo transmitir a infecção para outros animais suscetíveis por contato direto 24,25,29,30. Em ferrets, também foi demonstrado que a infecção pode ocorrer por via aérea 24,25,29. Até o momento, não há relato de casos naturais de infecção por SARS-CoV-2 em hamsters ou ferrets. O Departamento de Agricultura, Pesca e Conservação de Hong Kong testou dois hamsters de tutores positivos para a Covid-19, e ambos foram negativos 12. Em 4 de abril de 2020, o United States Department of Agriculture (USDA) dos Estados Unidos da América (EUA), órgão equivalente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, anunciou que amostras de uma fêmea de tigre-malaio do zoológico do Bronx, na cidade de Nova York, testaram positivas para SARS-CoV-2 em RT-PCR 31,32. As amostras em swab foram coletadas e testadas após dois tigres-malaios, dois tigres-siberianos e três leões-africanos apresentarem sinais respiratórios ao longo de uma semana 31,32. Em 17 de abril, a OIE confirmou que um dos leões africanos testou positivo para SARS-CoV-2 na RT-PCR 33. No final, todos esses animais e mais um tigre siberiano assintomático testaram positivo para SARS-CoV-2 na RT-PCR de amostras de fezes 34. Os 5 tigres positivos vivem separados no mesmo recinto 34. Os 3 leões vivem em um recinto em uma outra área do zoológico e ocasionalmente eles interagem 34. O Zoo de Bronx tem ainda 1 tigre malaio e 2 tigres siberianos que vivem em um recinto distante 35. Esses 3 tigres não apresentaram sinais 35. Os 7 animais sintomáticos melhoraram e se espera que tenham recuperação completa 35,36. Em 26 de abril de 2020, o Ministério da Agricultura, Natureza e Qualidade dos Alimentos da Holanda comunicou à imprensa e em uma carta ao Parlamento que as infecções por SARS-CoV-2 foram confirmadas em visons (martas) em 2 fazendas 37. Infecções por SARS-CoV-2 foram documentadas em visons em uma fazenda com 13.000 visons 37. Infecções adicionais foram identificadas em uma segunda fazenda com 7.500 visons adultos 38. Infor24

mações ainda não estão disponíveis sobre os casos dessa segunda fazenda 38. Na primeira fazenda, ocorreu um aumento em problemas de saúde e de mortalidade dos visons 37. Três visons com sinais gastrintestinais e respiratórios foram submetidos à eutanasia 38. As amostras enviadas para a Wageningen Bioveterinary Research em Lelystad foram positivas para SARS-CoV-2 na RT-PCR 37. Amostras de esterco, ar e poeira retiradas do ambiente das fazendas para detectar a presença do vírus estão sendo investigadas 38. Os gatos na fazenda também serão testados 38. Duas pessoas que trabalhavam na fazenda tinham sinais compatíveis com o Covid-19, mas não há confirmação laboratorial 37. A infecção dos visons parece ser um caso de infecção humano-animal. Não é de surpreender que os visons (Neovison vison) sejam suscetíveis porque eles são da mesma familia (mustelídeos) que os ferrets (Mustela putorius furo) e ferrets podem ser infectados experimentalmente com o coronavírus SARS-CoV-2 e transmitir a doença a outros ferrets por contato direto ou indireto 25,29. É importante enfatizar que até o momento não existe nenhum caso de transmissão de SARS-CoV-2 de animais domésticos para pessoas e que a transmissão de pessoas para animais domésticos é extremamente rara. Em estudo realizado pelo Instituto Pasteur, ainda não publicado, foram testados 21 animais domésticos, dentre eles 9 gatos e 12 cães que viviam em contato próximo com seus tutores, um total de 20 alunos de Medicina Veterinária na França 39. Dentre os alunos, dois testaram positivo para SARS-CoV-2 em RT-PCR, e 11/18 apresentaram sinais clínicos compatíveis 39. Dentre os animais, três gatos apresentaram sinais respiratórios e gastrintestinais 39. Apesar da proximidade com tutores infectados, nenhum cão ou gato testou positivo para SARS-CoV-2 por RT-PCR ou apresentou anticorpos para SARS-CoV-2 em ensaio de imunoprecipitação 39. Apesar da baixa amostragem, o estudo sugeriu que a taxa de transmissão do SARS-CoV-2 entre seres humanos e animais de estimação em condições naturais é prova-

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velmente muito baixa, abaixo de um número de reprodução de 1 39. Até o momento, não há nenhum estudo epidemiológico com grande número de animais que permita estimar a porcentagem de cães e gatos em contato com pessoas com Covid-19 que passam a excretar o vírus ou desenvolvem anticorpos. É sabido que gatos são mais suscetíveis à infecção experimental por SARS-CoV-2 do que cães 24. Em 2016, 21% das residências do estado de Nova York, nos EUA, tinham gatos, para um total estimado de 2.841.0000 gatos. Aproximadamente 21% das residências tinham gatos, com uma média de 1,7 gatos por residência 40. Em 26 de abril de 2020, o estado de Nova York tinha 288.045 casos confirmados de Covid-19 41. Se esses casos fossem de residências diferentes, aproximadamente 103.000 gatos teriam sido expostos a pacientes com Covid-19 e apenas 2 desses 103.000 gatos foram positivos para SARS-CoV-2. Isso sugere que a transmissão de pessoas para animais seja muito rara. Há dois inquéritos sorológicos com gatos 42,43, um deles também inclui cães 42. Em um estudo ainda não publicado, 11 de 102 gatos tinham anticorpos neutralizantes contra o SARS-CoV-2 sugerindo que em condições naturais, gatos expostos ao SARS-CoV-2 desenvolvem anticorpos 43. Essas amostras foram obtidas depois que se iniciou o surto de Covid-19 em Wuhan, China 43. Em outro estudo sorológico também na região de Wuhan, anticorpos para SARS-CoV-2 foram procurados em 35 espécies animais 42. A amostra incluiu 15 cães com proprietário, 99 cães de rua, 66 gatos com proprietários e 21 gatos de rua 42. Contato próximo com um paciente com Covid-19 foi confirmado para pelo menos 3 cães nesse estudo 42. Nenhum dos cães e gatos possuía anticorpos contra o SARS-CoV-2 42. É provável que os animais de companhia infectados relatados até o momento estavam em contato com seres humanos eliminando alta carga viral do SARS-CoV-2, estavam em contato muito próximo, tinham comorbidades ou aumento de susceptibilidade ao vírus, ou

uma combinação destes fatores. Presume-se que o risco de infecção seja maior no início da doença em pessoas porque esse é o momento em que a carga viral é maior 44. c

Possíveis dúvidas sobre Covid-19 e animais de companhia No epicentro original do surto em Wuhan, muitos moradores foram forçados a deixar para trás seus animais de estimação quando as autoridades retiraram as pessoas de suas casas 45. Os relatórios sugerem que os tutores deixaram comida e água suficientes para seus animais de estimação para alguns dias 46. Várias semanas depois, muitas pessos ainda não tinham voltado para casa. As organizações de bem-estar animal na China estimam que, apenas em Hubei, dezenas de milhares de gatos e cães foram deixados para trás, enfrentando fome e morte 45. O risco de abandono em outros locais também existe pelo aumento na divulgação de casos de cães e gatos positivos para o SARS-CoV-2 e pela ausência de ênfase nas informações que descartem os cães e gatos como fonte de infecção de SARS-CoV-2. Para investigar se o abandono de gatos domésticos protege as pessoas contra infecções pelo SARS-CoV-2, foi criado um programa de computador que simula uma pequena comunidade de famílias com gatos 47. Um número diferente de gatos foi libertado durante as simulações e o total de pessoas infectadas foi registrado 47. Nas simulações, os gatos liberados são escolhidos aleatoriamente, independentemente de serem positivos ou negativos para o SARS-CoV-2, para simular pessoas em pânico abandonando seus gatos 47. Após 2.000 simulações, concluiu-se que o número de pessoas infectadas varia significativamente de acordo com o número de gatos abandonados 47. Quando nenhum gato é abandonado, 51 pessoas em média são infectadas 47. Com a liberação de 1 gato, 55 seres humanos são infectados 47. Quando cinco animais são abandonados, 62 pessoas adquirem a infecção, e quando 10 gatos são abandonados, 76 das 147 pessoas

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Medicina veterinária do coletivo da comunidade são infectadas 47. Esse modelo sugere que abandonar os gatos pode aumentar o risco de infecção entre pessoas 47. O modelo é ainda bastante superficial e algumas das suposições são questionáveis 47. A probabilidade de haver infecção de um gato para outro gato foi considerada a mesma do que de pessoas para pessoas, enquanto a transmissão entre as diferentes espécies tem aproximadamente metade dessa probabilidade 47. Esses valores provavelmente são exagerados no que tange a transmissão entre gatos e a transmissão interespécies 47. Ainda assim, esse é um bom exemplo de uma simulação que pode auxiliar na avaliação de riscos e tomada de decisões, e no efeito da mudança de alguns parâmetros na incidência de casos novos em pacientes humanos 47. A conclusão final do estudo é que a melhor estratégia para controlar a propagação do vírus é manter os gatos em quarentena em casa 47. A educação do proprietário é um fator importante na prevenção do abandono e para minimizar o risco de pessoas e animais adquirirem Covid-19. Abaixo, selecionamos algumas perguntas e respostas sobre o SARS-CoV-2 e animais de estimação com base em informações disponíveis no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, AVMA, ISCAID, WSAVA e trabalhos científicos 12,48-54: • O SARS-CoV-2 pode infectar animais de companhia ? Um pequeno número de animais de estimação, incluindo cães e gatos, foram infectados com o vírus que causa o Covid-19, principalmente após contato próximo com pessoas com o Covid-19. Alguns tigres, leões e visons também foram infectados pelo SARS-CoV-2. Ferrets e hamsters podem ser infectados experimentalmente. • Animais de companhia podem infectar seres humanos ? Pessoas pegam Covid-19 de pessoas e o vírus se propaga através de gotículas respiratórias 26

quando estão tossindo, espirrando ou conversando. Até o momento, não há nenhuma evidência que os animais tenham um papel significativo na disseminação do vírus que causa o Covid-19. Com base nas informações disponíveis, o risco de animais espalharem Covid-19 para as pessoas é considerado baixo. d • Os animais podem carregar o virus que causa SARS-CoV-2 no pelo ou na pele ? Não há evidências de que os vírus, incluindo o que causa o Covid-19, possam se espalhar para as pessoas a partir da pele ou pêlo de animais de estimação 48. Superfícies lisas (não porosas) (por exemplo, bancadas, maçanetas) transmitem o SARS-CoV-2 e outros coronavírus melhor do que materiais porosos (por exemplo, cartolina, pêlos de animais) 51,52. Como os pelos são porosos e fibrosos, é improvável que alguém adquira o Covid-19 fazendo carinho ou brincando com animais de estimação 50. No entanto, mais dados são necessários antes que recomendações definitivas possam ser feitas, pois não há nenhum estudo investigando a contaminação do pêlo de cães e gatos e seus possíveis impactos em seres humanos 53. • O SARS-CoV-2 pode ser transmitido de um gato para outro gato ? É sabido que em condições experimentais gatos podem infectar outros gatos 24. Nesse estudo foi utilizada uma dose infectante alta de vírus 24. Não se sabe se em condições naturais, essa dose infectante pode ser alcançada 24. Até o momento, não existe nenhum caso documentado de transmissão de um gato para outro gato 24. Nos casos naturais de SARS-CoV-2 em gatos onde havia mais de um gato na casa, a infecção só foi documentada em um dos gatos 18. • Quais as recomendações gerais para diminuir o risco de infecção de cães e gatos? Até que saibamos mais sobre o papel dos animais na Covid-19, o CDC recomenda o seguinte 49:

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- não permitir que animais de estimação interajam com pessoas ou outros animais fora de casa; - manter os gatos dentro de casa, sempre que possível, para impedir que eles interajam com outros animais ou pessoas; - andar com os cães na coleira, mantendo distanciamento social de pelo menos 6 metros entre o cão e outros cães ou pessoas; - evitar parques de cães ou locais públicos onde um grande número de pessoas e cães se reúnam. • O ser humano positivo para SARS-CoV-2 deve evitar o contato com animais de companhia ? O CDC recomenda que pessoas doentes com Covid-19 restrinjam o contato com seus animais de estimação e outros animais, da mesma forma que fariam com outras pessoas 49. Quando possível, devem transferir a responsabilidade de cuidar dos seus pets para outro membro da família 49. Devem evitar o contato com seu animal de estimação, evitando acariciá-lo, estar próximo, ser beijado ou lambido ou compartilhar comida ou roupa de cama 49. E se a pessoa precisar cuidar do seu animal de estimação ou ficar perto de animais enquanto estiver doente, deve usar uma máscara para cobrir o rosto e lavar as mãos antes e depois de interagir com eles 49. • Os veterinários devem vacinar cães contra o coronavírus canino devido ao risco de SARS-Cov-2 ? Atualmente, não existem vacinas disponíveis para a síndrome respiratória por SARS-CoV-2 para cães. As vacinas disponíveis no mercado destinam-se à proteção imunológica para a infecção gastrintestinal por coronavírus em cães, que não oferece proteção contra infecções respiratórias por SARS-CoV-2. Não é recomendado que os veterinários usem essas vacinas esperando proteção cruzada para o SARS-CoV-2, pois não há evidências científicas de que ocorra 54.

Considerações finais Em 28 de abril de 2020, o SARS-CoV-2 havia infectado mais de 3 milhões de pessoas 55. Nessa mesma data, só 3 cães (2 assintomáticos e 1 com sinais não necessariamente associados com o coronavirus), 4 gatos (1 assintomático e 3 com sinais respiratórios e/ ou gastrintestinais) haviam sido diagnosticados 55. O SARS-CoV-2 é um vírus de seres humanos que pode infectar animais domésticos ou de zoológico acidentalmente e ocasionalmente. Mesmo sabendo que gatos e furões podem infectar animais em condições laboratoriais, não temos nenhuma evidência de que cães, gatos ou furões possam transmitir SARS-CoV2 a outros animais ou seres humanos fora do laboratório, seja como fonte de fômites ou eliminando o vírus. Referências

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Medicina veterinária do coletivo MEULDER, D. ; VAN AMERONGEN, G. ; VAN DEN BRAND, J. ; OKBA, N. M. A. ; SCHIPPER, D. ; VAN RUN, P.  ; LEIJTEN, L. ; SIKKEMA, R. ; VERSCHOOR, E. ; VERSTREPEN, B. ; BOGERS, W. ; LANGERMANS, J. ; DROSTEN, C. ; FENTENER VAN VLISSINGEN, M. ; FOUCHIER, R. ; DE SWART, R. ; KOOPMANS, M. ; HAAGMANS, B. L. Comparative pathogenesis of COVID-19, MERS, and SARS in a nonhuman primate model. Science, eabb7314, 2020. DOI: 10.1126/ science.abb7314. [Epub ahead of print] 27-MUNSTER, V. J. ; FELDMANN, F. ; WILLIAMSON, B. N. ; VAN DOREMALEN, N.  ; PÉREZ-PÉREZ, L. ; SCHULZ, J. ; MEADE-WHITE, K. ; OKUMURA, A. ; CALLISON, J. ; BRUMBAUGH, B. ; AVANZATO, V. A.  ; ROSENKE, R. ; HANLEY, P. W. ; SATURDAY, G. ; SCOTT, D. ; FISCHER, E. R. ; DE WIT, E. Respiratory disease and virus shedding in rhesus macaques inoculated with SARS-CoV-2. BioRxiv, preprint, 2020. DOI: https://doi.org/10.1101/2020.03.21.001628 28-DENG, W. ; BAO, L. ; GAO, H. ; XIANG, Z. ; QU, Y. ; SONG, Z. ; GONG, S. ; LIU, J. ; LIU, J. ; YU, P. ; QI, F. ; XU, Y. ; LI, F. ; XIAO, C. ; LV, Q. ; XUE, J. ; WEI, Q. ; LIU, M. ; WANG, G. ; WANG, S. ; YU, H. ; LIU, X. ; ZHAO, W. ; HAN, Y. ; QIN, C. Ocular conjunctival inoculation of SARS-CoV-2 can cause mild COVID-19 in Rhesus macaques. BioRxiv, preprint, 2020. DOI: 10.1101/2020.03,13,990036 29-RICHARD, M. ; KOK, A. ; MEULDER, D. ; BESTEBROER, T. M. ; LAMERS, M. M. ; OKBA, N. M.  ; VLISSINGEN, M. F. V. ; ROCKX, B. ; HAAGMANS, B. L. ; KOOPMANS, M. L. P. ; KOOPMANS, M. P. ; FOUCHIER, R. A. SARS-CoV-2 is transmitted via contact and via the air between ferrets. Biorxiv, 2020. DOI: 10.1101/2020.04.16.044503 30-CHAN, J. F.-W. ; ZHANG, A. J. ; YUAN, S. ; POON, V. K.-M. ; CHAN, C. C.-S. ; LEE, A. C.-Y, ; CHAN, W.-M. ; FAN, Z. ; TSOI, H.-W. ; WEN, L. ; LIANG, R. ; CAO, J.  ; CHEN, Y. ; TANG, K. ; LUO, C. ; CAI, J.-P. ; KOK, K.H.  ; CHU, H. ; CHAN, K.-H. ; SRIDHAR, S. ; CHEN, Z. ; CHEN, H. ; TO, K. K.-W. ; YUEN, K.-Y. Simulation of the clinical and pathological manifestations of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) in golden Syrian hamster model: implications for disease pathogenesis and transmissibility. Clinical Infectious Diseases, v. 70, 2020. DOI 10.1093/cid/ciaa325 31-United States Department of Agriculture. Confirmed cases of SARS-CoV-2 in Animals in the United States. USDA, 2020. Disponível em: https://www.aphis.usda. gov/aphis/ourfocus/animalhealth/SA_One_Health/ sars-cov-2-animals-us. Acesso em 24 de abril de 2020. 32-WORLD ORGANISATION FOR ANIMAL HEALTH. SARS-CoV-2 positive test result in a in tiger in the USA (06/04/2020). OIE, 2020. Disponível em: https://www.oie.int/wahis_2/ public/wahid.php/Reviewreport/Review?page_ refer=MapFullEventReport&reportid=33885. Acesso em 24 de abril de 2020.

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Ruana Renostro Delai

MV, CRMV-PR 16.687, residente de MVC UFPR ru.renostro@gmail.com

Louise Bach Kmetiuk

MV, dra., CRMV-PR 14.332 Instituto Carlos Chagas - Fiocruz Paraná louisebachk@gmail.com

Andrea Pires dos Santos

MV, CRMV-RS: 7.273, PhD., DACVP profa. assistente Purdue University santos1@purdue.edu

Alexander Welker Biondo

MV, CRMV-PR 6.203, MSc, PhD. Depto. de Medicina Veterinária, UFPR abiondo@ufpr.br

Helio Autran de Morais

MV, MS. PhD. DACVIM prof. titular Oregon State University helio.demorais@oregonstate.edu

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Medicina veterinária do coletivo

Fiscalização de canil clandestino e diagnóstico de maus-tratos Introdução A criação de animais domésticos para comercialização é uma prática antiga que, se por um lado possibilita a manutenção de raças puras, por outro pode desrespeitar as necessidades básicas dos animais, principalmente as etológicas, dependendo de como são mantidos, manejados e utilizados. Por ser uma atividade econômica, possibilita também o aparecimento de canis clandestinos que não seguem as normas vigentes nem tampouco promovem estratégias para a manutenção de bons níveis de bem-estar dos animais. Segundo o Guia técnico para construção e manutenção de abrigos e canis, do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR) 1, o bom funcionamento do abrigo e as condições de bem-estar dos animais dependem diretamente da atuação do médico-veterinário. As funções do profissional estão descritas no item 28 do Manual de orientação e procedimentos do responsável técnico e na Resolução no 1069/14 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que dispõem sobre as diretrizes gerais de responsabilidade técnica em estabelecimentos comerciais de exposição, manutenção, higiene, estética e venda ou doação de animais, e dá outras providências 2. O Art. 28 da Lei Federal n° 5.517/1968 e o Art. 1 da Resolução n° 683/2001 (CFMV) estipulam a obrigatoriedade de um responsável técnico com formação em medicina veterinária ocupar a direção técnica do estabelecimento, que deve ser formalizada por meio da Anotação de Responsabilidade Técnica. Já o Art. 27 da Lei Federal n° 5.517/1968 estipula a obrigatoriedade de registro dos abrigos no Conselho Regional de Medicina Veterinária 3,4. O médico-veterinário é responsável por orientar os funcionários quanto às instalações e à 34

conservação dos materiais e suprimentos; à qualificação dos funcionários em relação a diferentes tarefas, como limpeza geral e destino correto dos dejetos; ao controle de problemas sanitários e ao diagnóstico de doenças, notificando as autoridades sanitárias quando necessário; também fica a cargo do responsável técnico (RT) manter em dia os protocolos de vacinação e vermifugação dos animais. Com a intensificação das denúncias e fiscalizações, o debate sobre a regularização ou a proibição desse tipo de criação tem sido pauta frequente das câmaras de vereadores e das assembleias legislativas. O entendimento do conceito de bem-estar animal como base das discussões é fundamental para que os indicadores utilizados em vistorias e fiscalizações tenham um embasamento teórico e técnico, estruturados sob a óptica da ciência do bem-estar animal. O diagnóstico precoce é essencial para a identificação, a coibição e a prevenção de maus-tratos aos animais, mas também para que as necessidades básicas não atendidas sejam imediatamente supridas. O presente trabalho objetivou analisar os aspectos de bem-estar de cães de criadouros comerciais e fazer um estudo de caso de fiscalização em canil irregular. e

Canis de criação: bem-estar animal e legislação Segundo o Dicionário de Cambridge, canil é “um local onde se alojam cães”. Segundo o Guia técnico para construção e manutenção de abrigos e canis, do CRMV-PR, os canis comerciais são estabelecimentos com fins lucrativos que criam cães de determinados padrões raciais com o objetivo principal de vender filhotes 1. A Sociedade Humana dos

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Estados Unidos (The Humane Society of the United States – HSUS) usa o termo “fábricas de filhotes” (puppy mills) – operações comerciais de criação de cães que não cumprem as necessidades básicas físicas, comportamentais e/ou psicológicas dos animais, mantendo os canis lotados, sujos ou em condições prejudiciais à saúde 5. A qualidade de vida de qualquer animal em confinamento pode diminuir dependendo dos recursos que lhe são oferecidos para atender suas necessidades básicas e suprir o repertório mínimo comportamental da espécie, seja por falta de informação dos cuidadores ou visando a maior obtenção de lucro. As preocupações relativas ao bem-estar dos animais vêm crescendo do ponto de vista social, político, ético e científico 6. O termo “maus-tratos” foi definido como qualquer ato direto ou indireto, comissivo ou omissivo que intencionalmente ou por negligência, imperícia ou imprudência provoque dor ou sofrimento desnecessários aos animais 7. Estudos científicos tanto do exterior quanto do Brasil apontam a negligência como o tipo mais comum de maus-tratos aos animais 8. A negligência pode ser definida como o suprimento inadequado ou ausente das necessidades físicas ou emocionais básicas de um animal  9, relativo ao fornecimento de alimento, água, abrigo, companhia, afeto ou atenção veterinária adequada 10. Por considerar componentes emocionais, é mais difícil fazer o diagnóstico de negligência, em comparação ao de traumas não acidentais, e por isso sua prevalência pode ser subestimada 11,12. No âmbito legislativo, os animais no Brasil são amparados pela Lei Federal de Crimes Ambientais nº 9.605/98, que veta a prática de maus-tratos aos animais. No Art. 32 ela estabelece que praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos é crime  13. Acima da Lei Federal de Crimes Ambientais, a Constituição da República dá suporte jurídico à proteção da fauna. No Art. 225, a Constituição define o direito fundamental ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado, incumbe ao poder público a preservação da diversidade e a integridade do patrimônio genético do país, e também a proteção da fauna e da flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade 14. Dessa forma, proíbe expressamente qualquer prática de crueldade e maus-tratos aos animais. Consoante o Código de Ética do Médico-Veterinário 15, o profissional tem a obrigação ética de intervir nos casos de prejuízo ao bem-estar dos animais e das pessoas, reportando esse tipo de crime 16. Por ser considerado um crime de menor gravidade do ponto de vista legal 17, as investigações permeiam a superficialidade, e informações importantes como a punição dos responsáveis, o número de denúncias, a natureza dos crimes, o perfil dos infratores, as espécies envolvidas e o grau de sofrimento dos animais são limitadas. As denúncias ou relatos de atos violentos e cruéis são necessários para que os maus-tratos aos animais sejam investigados e julgados 18. A população desconhece a legislação e os locais que recebem denúncias de maus-tratos aos animais, razão pela qual muitos casos não são investigados 17. A sociedade ainda não compreende a importância da fiscalização de crimes contra os animais 18. A identificação de maus-tratos aos animais pode reduzir o sofrimento das vítimas e aumentar o número de casos investigados  10. O médico-veterinário é fundamental para denunciar casos definidos ou suspeitos de maus-tratos aos animais, e a denúncia compulsória deveria ser obrigatória 12. Sendo assim, a capacitação é fundamental, bem como a inclusão do tema nos currículos dos cursos de medicina veterinária. Em 1986 se definiu bem-estar como o estado de um indivíduo em relação às suas tentativas de se adaptar ao meio ambiente em que vive 19. Em 1982 se definiu bem-estar como um estado em que o animal está em harmonia com a natureza ou com o seu ambiente 20. Dez

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anos depois, estendeu-se a ideia de que bem-estar significa proporcionar uma alta qualidade de vida ao animal, e de que o funcionamento biológico do seu organismo só pode ser considerado ótimo quando a sua vida está em harmonia com o ambiente 21. O diagnóstico deve contemplar os estados físico e psicológico do indivíduo 22, com indicadores mensuráveis 6, testados e validados  24. O projeto Welfare Quality, protocolo para avaliação do nível de bem-estar de animais de produção, apresenta quatro princípios (alimentação, alojamento, estado sanitário e comportamento) e tem servido como base para outras ferramentas de avaliação, como o Animal Welfare Indicators (AWIN) 24 e o Protocolo de Perícia em Bem-estar Animal (PPBEA) 25, dividido em cinco áreas (nutricional, ambiental, sanitária, comportamental e psicológica 26,27) e específico para o diagnóstico de maus-tratos a animais de companhia 25. Relato de caso Na data de 10/9/2019, às 10 horas da manhã, o Serviço de Perícia Animal (SPA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) realizou uma vistoria em um canil. Ao chegar ao local, foram contabilizados como animais destinados ao comércio 88 cães das raças beagle, buldogue-francês, chow chow, lhasa apso, pug, shih tzu, spitz alemão e yorkshire, dentre os quais 21 machos e 59 fêmeas. Dois animais da raça lhasa apso não foram identificados por não permi36

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Figura 1 – Alterações visíveis nos animais do canil vistoriado

Figura 2 – Cadela lactante com ECC 2/9

tirem aproximação, por medo/agressividade, e o sexo de 6 filhotes neonatos também não foi identificado. De maneira simultânea à contagem e à identificação, todos os cães foram identificados com microchip, com exceção de 6 filhotes, e de 2 cães da raça lhasa apso e 3 chow chow. No caso dos filhotes, isso se deu por conta da idade, e no caso dos outros cães, pela sua agressividade, que tornou o manejo inviável. Para a avaliação do grau de bem-estar dos animais no presente relato, foi utilizado o Pro-

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Figura 3 – Cão com secreção ocular purulenta

tocolo de Perícia em Bem-estar Animal para Diagnóstico de Maus-tratos contra Animais de Companhia (PPBEA) 25. Do total de 88 animais presentes, 82 foram avaliados com base no protocolo a partir de exame visual e físico realizado por três veterinários residentes da UFPR. Durante os exames, 13 das fêmeas avaliadas estavam prenhes. Quanto às enfermidades detectadas no exame externo, observaram-se quadros variados, como demonstrado na figura 1. Seguindo as recomendações do PPBEA, cada indicador avaliado foi classificado como inadequado, regular ou adequado. O parecer referente à nutrição foi classificado como inadequado devido ao fato de alguns animais estarem acima do peso, alguns magros, e de uma cadela lactante estar muito magra (escore corporal 2/9) (Figura 2). Os escores de condição corporal (ECC) foram avaliados de acordo com o protocolo Nutritional Assessment Guidelines (WSAVA) de 2011 28. Ademais, alguns bebedouros apresentavam sujeira e continham água de coloração turva. No momento da vistoria, dois canis não tinham água à disposição dos animais. A água disponível para os filhotes, alojados em uma estrutura semelhante a um galinheiro, estava em um bebedouro com o interior completamente manchado de tinta, o que pode causar intoxicações possivelmente letais em animais.

O parecer relativo à sanidade classificou o local como inadequado, pois alguns animais apresentavam diarreia e muitos exibiam sinais de doenças oculares crônicas, como secreções purulentas (Figura 3), leucoma corneano, atrofia e rotação de globo ocular, opacidade da córnea, ceratite ulcerativa, ceratite pigmentar, ceratoconjuntivite seca e perfuração de córnea. Além disso, a maioria dos animais exibiam diferentes graus de doença periodontal (Figura 4), e dois deles apresentavam enfermidade na mandíbula, sugestiva de hiperparatireoidismo secundário renal (“mandíbula de borracha”) (Figura 5). Esses cães também podem ter doenças genéticas, já que a alta taxa de cruzamentos consanguíneos, que não pôde ser determinada com exatidão, resulta em algumas doenças congênitas que podem ser observadas no estudo, como as alterações em mandíbula. Muitos dos cães estavam sem os dentes incisivos (Figura 6), possivelmente pelo estresse, configurado pela mordedura da madeira dos canis, dos comedouros e bebedouros, e dos materiais utilizados como cama – tablados, caixas de papelão e plásticos, cobertores e outros. Além disso, doenças periodontais e enfermidades congênitas também poderiam ser a causa da perda desses dentes. Um filhote da raça beagle se encontrava prostrado, sem reação ao ambiente externo, com

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Figura 4 – Diferentes cães com doença periodontal

Figura 5 – Cão com alteração mandibular sugestiva de hiperparatireoidismo

dificuldade respiratória e mucosas hipocoradas. Além disso, muitos animais apresentavam doenças de pele de diferentes etiologias. Foram encontrados medicamentos como ocitocina (hormônio utilizado para induzir cio e contrações do parto), antibióticos, acetilcisteína e outros não identificados. Foram solicitados, porém não foram apresentados, documentos comprovando atendimento veterinário e/ou receita médica que justificassem o uso 38

dos medicamentos presentes ou os sinais clínicos dos animais. O conforto foi considerado inadequado, devido ao fato de quase nenhum dos animais ter acesso a superfícies de contato adequadas para suas necessidades (terra e grama), à ausência de superfícies confortáveis de descanso para todos os animais e a permanecerem presos no canil o tempo todo, sem poderem se exercitar. Além disso, as condições de higiene e limpeza do ambiente no momento da vistoria não eram adequadas (Figura 7), e alguns dos cães de grande porte não tinham acesso a abrigo adequado. O comportamento foi classificado como inadequado, pela grande restrição de espaço para os cães exercerem seus comportamentos naturais (correr, cavar, roer, explorar o ambiente, etc.), pela ausência de recursos ambientais (ambiente estéril) e pelo fato de, no momento da vistoria, alguns deles estarem em isolamento social, sem contato com outros animais da mesma espécie. O estresse gerado pelo ambiente não enriquecido e com restrição de espaço pôde ser observado pelos objetos e madeiras dos recintos em processo de destruição. A maioria dos cães apresentava sinais de medo extremo, fugindo da equipe de veterinários e tentando se esconder. O fato de a restrição comportamental afetar forte-

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Figura 6 – Cães com dentes incisivos ausentes

mente o bem-estar dos animais já basta para enquadrá-la como ocorrência de maus-tratos. Diagnóstico final do grau de bem-estar dos animais e providências legais A partir da aplicação do PPBEA, constatou-se que o grau de bem-estar dos animais era muito baixo, configurando maus-tratos. Esse crime está previsto no Art. 32 da Lei de Crimes Ambientais no 9.605 de 1998 e pelo Decreto no 24.645 de 1934. Mediante a infração caracterizada como prática de maus-tratos a animais domésticos, o responsável foi enquadrado legalmente pelo Art. 70 da Lei no 9.605/98 e pelo art. 29 do Decreto no 6.514/08. Dentre as demais sanções administrativas, fica embargada a atividade de venda até a regularização da situação, incluindo as melhorias.

Foram mostrados aos médicos-veterinários responsáveis alguns documentos referentes aos animais do canil. Dentre os documentos, havia registros de animais na Confederação Brasileira de Cinofilia; laudos ultrassonográficos e de exames de fezes antigos, de mais de 5 anos; 89 carteiras de vacinação, das quais apenas 23 assinadas por médico-veterinário e sem data nem rótulo da vacina; 53 carteiras com o rótulo da vacina e sem (ou com apenas uma) assinatura do médico-veterinário; e 13 carteiras com o rótulo da vacina e a assinatura do médico-veterinário. Constatou-se que no canil havia medicamentos que possivelmente eram fornecidos aos animais sem prescrição médico-veterinária. Além disso, a quantidade de carteiras de vacinação corretamente identificadas era inferior ao número de animais do canil. As

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Serviço de Perícia Animal da UFPR

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Figura 7 – Animais em precárias condições de higiene

carteiras de vacinação que estavam apenas com a assinatura do médico-veterinário foram encaminhadas por meio de ofício para o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR). Após as devidas orientações dos médicos-veterinários, que sugeriram uma adaptação do local, provendo espaço, superfícies adequadas de conforto, água e comida em condições adequadas, enriquecimento ambiental e higiene apropriada dos canis, assim como o tratamento médico dos cães enfermos, uma revistoria do canil foi realizada no dia 20/10/2019, observando algumas melho40

ras implantadas no ambiente, como novos potes de água, brinquedos e ambiente limpo. Os animais também passaram por consulta veterinária, e as recomendações de tratamento foram entregues aos veterinários do SPA presentes na revistoria. Verificou-se também que alguns cães já estavam em novos abrigos em construção. Considerações finais Diante desse cenário, é fundamental ter conhecimento dos conceitos, da legislação, dos órgãos atuantes e da metodologia de avaliação do bem-estar animal para a identificação

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Medicina veterinária do coletivo de animais que estão em situações negativas como os maus-tratos. Os protocolos devem ser cada vez mais usados e difundidos em órgãos de proteção animal e órgãos públicos que atuam de forma direta com esses animais para identificar os casos e notificá-los. Assim se poderá conhecer a epidemiologia e a importância da implementação de políticas publicas voltadas ao bem-estar animal, à capacitação e ao recrutamento de profissionais com base técnica para a identificação de maus-tratos. Para a melhora da atuação nessa área é necessária uma ação em rede multidiciplinar de profissionais, procedimentos diferenciados, ultrapassar limites entre uma infração de menor potencial ofensivo e uma grave violação de direitos humanos/animais, criar protocolos de atendimento nas delegacias de polícia e delegacias especializadas e, também, fortalecer as investigações com perspectiva nas correlações das violências. Os canis comerciais devem seguir as recomendações legais e técnicas para manter bons níveis de bem-estar animal. Fundamentos da medicina de abrigos devem ser aplicados também em canis comerciais. Todas as necessidades básicas dos animais devem ser supridas, incluídas as comportamentais, uma vez que podem interferir no comportamento futuro dos animais vendidos, colocando-os em risco de abandono. Referências

01-SOUZA, F. P. Canis comerciais. In: ___. Guia técnico para construção e manutenção de abrigos e canis. Curitiba: CRMV-PR, 2016. 34 p. 02-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº 1.069, de 27 de outubro de 2014. Dispõe sobre Diretrizes Gerais de Responsabilidade Técnica em estabelecimentos comerciais de exposição, manutenção, higiene estética e venda ou doação de animais, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2014. 03-BRASIL. Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968. Dispõe sobre o exercício da profissão de médicoveterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária. Diário Oficial da União, 1968. 42

04-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº 683, de 16 de março de 2001. Institui a regulamentação para concessão da “Anotação de Responsabilidade Técnica” no âmbito de serviços inerentes à Profissão de Médico Veterinário. CFMV, 2001. 05-THE HUMANE SOCIETY OF THE UNITED STATES, Puppy mills and the animal welfare act, Washington: HSUS, 2017. 29 p. Disponível em: <https://www.humanesociety.org/sites/default/files/ docs/puppy-mills-awa-booklet-lores.pdf>. Acesso em 29 de março de 2020. 06-HAMMERSCHMID, J. ; MOLENTO, C. F. M. Análise retrospectiva de denúncias de maus-tratos contra animais na região de Curitiba, Estado do Paraná, utilizando critérios de bem-estar animal. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 49, n. 6, p. 431-441, 2012. doi: 10.11606/ issn.1678-4456.v49i6p431-441. 07-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº 1.236, de 26 de outubro de 2018. Define e caracteriza crueldade, abuso e maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos veterinários e zootecnistas e dá outras providências. CFMV, 2018. 08-MONSALVE, S.; HAMMERSCHMIDT, J. ; IZAR, M. L. ; MARCONIN, S. ; RIZZATO, F. ; POLO, G. ; GARCIA, R. Associated factors of companion animal neglect in the family environment in Pinhais, Brazil. Preventive Veterinary Medicine, v. 157, p. 19-25, 2018. doi: 10.1016/j.prevetmed.2018.05.017. 09-ARKOW, P. ; MUNRO, H. The veterinary profession’s roles in recognizing and preventing family violence: the experiences of the human medicine and the development of diagnostic indicators of non-accidental injury. In: ASCIONE, F. R. The international handbook of animal abuse and cruelty: theory, research and application. West Layatette: Purdue University Press, 2008. p. 31-58. ISBN: 978-1557534637. 10-McGUINESS, K. ; ALLEN, M. ; JONES, B. R. Non-accidental injury in companion animals in the Republic of Ireland. Irish Veterinary Journal, v. 58, n. 7, p. 392-396, 2005. doi: 10.1186/2046-0481-587-392. 11-PATRONEK, G. J. Issues for Veterinarians in Recognizing and Reporting Animal Neglect and Abuse. Society and Animals, v. 5, n. 3, p. 267-280, 1997. doi: 10.1163/156853097X00178.

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Medicina veterinária do coletivo 12-GARCIA, R. C. M. Desafios para o enfrentamento da negligência. In: TOSTES, R. A. ; REIS, S. T. J. ; CASTILHO, V. V. Tratado de medicina veterinária legal. 1. ed. Curitiba: Medvep, 2017. p. 317-333. ISBN: 978-85-66759-05-1. 13-BRASIL. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Congresso Nacional, 1998. 14-BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em 29 de março de 2020. 15-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº 1.138, de 16 de dezembro de 2016. Aprova o Código de Ética do Médico Veterinário. CFMV, 2016. 16-SHERMAN, B. L. ; SERPELL, J. A. Training veterinary students in animal behavior to preserve the human-animal bond. Journal of Veterinary Medical Education, v. 35, n. 4, p. 496-502, 2008. doi: 10.3138/jvme.35.4.496. 17-RODRIGUES, D. T. Direito dos animais e a proteção jurídica brasileira. In: TOSTES, R. A. ; REIS, S. T. J.  ; CASTILHO, V. V. Tratado de medicina veterinária legal. 1. ed. Curitiba: Medvep, 2017. p. 413. ISBN: 978-85-66759-05-1. 18-TAYLOR, N. ; SIGNAL, T. D. Community demographics and the propensity to report animal cruelty. Journal of Applied Animal Welfare Science, v. 9, n. 3, p. 201-210, 2006. doi: 10.1207/ s15327604jaws0903_2. 19-BROOM, D. M. Indicators of poor welfare. British Veterinary Journal, v. 142, n. 6, p. 524-526. 1986. doi: 10.1016/0007-1935(86)90109-0. 20-HUGHES, B. O. The historical and ethical background of animal welfare. How well do our animals fare? In: ANNUAL CONFERENCE OF THE READING UNIVERSITY AGRICULTURAL CLUB, 15., 1982, E. J. Uglow. Proceedings... E. J. Uglow: ACRUAC, 1982. p. 1-9. 21-HURNIK, J. F. Behaviour. In: PHILLIPS, C. ; PIGGINS, D. Farm animals and the environment. Wallingford: C.A.B. International, 1992. p. 235-244. 22-DAWKINS, M. S. Behaviour as a tool in the assessment of animal welfare. Zoology, v. 106, n. 4, p. 383-387, 2003. doi: 10.1078/0944-2006-00122. 23-FARACO, C. B. ; SEMINOTTI, N. A crueldade com animais: como identificar seus sinais? O médico 44

veterinário e a prevenção da violência doméstica. Revista CFMV, v. 12, n. 37, p. 66-71, 2006. 24-BATTINI, M. ; MATTIELLO, S. ; STILWELL, G. ; VIEIRA, A. AWIN welfare assessment protocol for goats. Milan: AWIN, 2015, 70 p. 25-HAMMERSCHMIDT, J. ; MOLENTO, C. F. M. Protocol for expert report on animal welfare in case of companion animal cruelty suspicion. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 51, n. 4, p. 282-296, 2014. doi: 10.11606/ issn.1678-4456.v51i4p282-296. 26-MOLENTO, C. F. M. Repensando as cinco liberdades. In: CONGRESSO INTERNACIONAL CONCEITOS EM BEM-ESTAR ANIMAL, 1., 2006, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: CICBEA, 2006. 27-FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL. Second report on priorities for research and development in farm animal welfare. Tolworth: Farm Animal Welfare Council, 1993. 28-WSAVA NUTRITIONAL ASSESSMENT GUIDELINES TASK FORCE MEMBERS. ; FREEMAN, L. ; BECVAROVA, I. ; CAVE, N. ; MACKAY, C. ; NGUYEN, P. ; RAMA, B. ; TAKASHIMA, G. ; TIFFIN, R. ; TSJIMOTO, H. ; VAN BEUKELEN, P. Journal of Small Animal Practice, v. 52, n. 7, p. 385-396, 2011. doi: 10.1111/j.1748-5827.2011.01079.x. Lucas Galdioli

MV, CRMV-PR 16.773 Serviço de Perícia Animal - UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos - UFPR lucasgaldioli@hotmail.com

Gabriela Regina Costa

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Cintia Parolim Ferraz

MV, CRMV/PR: 16.697 HV/UFPR Serviço de Perícia Animal - UFPR cintia.ferraz08@gmail.com

Rita de Cassia Maria Garcia

MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. – UFPR Depto. de Medicina Veterinária UFPR ritamaria@ufpr.br

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Medicina veterinária do coletivo

Estratégia para avaliação de violência no âmbito da família multiespécie Proposta de inclusão do animal de estimação na ficha de atendimento de mulheres vítimas de violência para rastreamento e avaliação de violência multiespécie

Introdução Sabe-se que no ambiente familiar a interação entre seres humanos e animais faz com que estes sejam tão vulneráveis à violência quanto a família, visto que são considerados membros do núcleo familiar 1. Nos dias atuais, a comunidade científica reconhece a existência do elo entre a violência interpessoal e os maus-tratos aos animais (teoria do elo), que comprova que as pessoas que agridem animais têm maior probabilidade de violentar seres humanos. Portanto, os maus-tratos aos animais podem ser sentinelas de violência na sociedade 2. A aceitação de uma cultura que considera os seres humanos superiores, acompanhada da condição de dependência dos animais de estimação em relação a seus tutores, são particularidades essenciais na condição de vulnerabilidade de cães e gatos perante a ocorrência de maus-tratos 3. A ocorrência de maus-tratos físicos e de negligência para com os animais pode ser indicativa do mesmo comportamento com seres humanos, especialmente na infância 4. A partir desses fatos é possível entender que quando uma família se encontra em situação de violência, os animais também estarão, o que define a importância de trabalhar os diversos tipos de violência familiar em conjunto com os maus-tratos a animais, com o intuito de promover a quebra desse ciclo de violência. Na relação entre animais e seres humanos, cães e gatos podem ser utilizados como um mecanismo de violência psicológica, intimidação e controle da vítima humana. Isso porque a preocupação com o animal ser46

ve como uma forma de evitar a realização da denúncia contra o agressor, impedindo a saída da vítima do ciclo da violência 2. Estudos sobre a relação da violência de gênero com a crueldade contra animais realizados em 1996 com um grupo de 38 mulheres alojadas em abrigos, vítimas da violência dos companheiros, revelam que 71% dessas mulheres relataram a ocorrência de ameaças, ferimentos ou morte de seus animais. Num segundo estudo desses mesmos pesquisadores, realizado com uma amostra constituída por 101 mulheres, os resultados indicaram um índice de 70,3% de narrativas de agressões contra animais, referendando os resultados anteriormente obtidos 5. Os dados de pesquisas sobre a correlação de atos violentos levaram à conclusão de que os maus-tratos contra animais não têm merecido a atenção necessária como indicadores do mesmo comportamento com pessoas. Sugerem ainda que estes podem ser precursores de maus-tratos a seres humanos, incluindo violência interpessoal, abuso e negligência na infância, violência entre cônjuges, estupro e homicídios 4. Outros resultados que correlacionam os maus-tratos a animais e a violência contra seres humanos foram obtidos em um estudo que comparava grupos de crianças de lares não violentos e de lares com história de violência doméstica. No último grupo identificaram-se maior frequência e maior severidade de comportamentos violentos contra animais 6. Investigando essa associação, encontrou-se uma taxa de prevalência de 60% interligando os dois tipos de violência 7.

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A violência doméstica relacionada à violência contra os animais é uma realidade que deve ser prevenida e punida por meio de uma abordagem preventiva tanto no âmbito social quanto no âmbito jurídico. Diante disso, propôs-se aos órgãos de proteção à mulher, como a Casa da Mulher Brasileira de Curitiba-PR, a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher e a Ronda Maria da Penha de Juazeiro, BA, que realizassem uma nova abordagem multissetorial que incluísse os animais, a fim de promover um levantamento de dados sobre essa relação e visualizar o cenário real nesses municípios em torno dessa temática. A Casa da Mulher Brasileira (CMB), uma iniciativa do governo federal prevista no programa Mulher: Viver sem Violência, é um espaço de acolhimento e atendimento humanizado que promove assistência integral e humanizada às mulheres em situação de violência. A ficha de atendimento da CMB é composta por oito blocos que abordam informações gerais para: controle administrativo (bloco I); infor-

f

mações pessoais da vítima (bloco II); tipologia da violência (bloco III); perfil do agressor (bloco IV); existência de dependentes (bloco V); atendimentos e encaminhamentos (bloco VI); observações (bloco VII;) e dados do profissional responsável pelo atendimento (bloco VIII). Para aprimoramento da ficha e levantamento de dados sobre casos de maus-tratos a animais associados a violência interpessoal na cidade de Curitiba, PR e região metropolitana, sugeriu-se um bloco adicional (bloco IX) relativo a informações sobre a presença ou não de animais de estimação na família; o número de animais e as espécies presentes; quem é o proprietário e cuidador do animal; o que ele representa para a vítima; se o animal já havia sido agredido; que tipo de agressão foi cometido; quem foi o autor da agressão; o motivo da agressão; e quem havia sido a primeira vítima do agressor. Esse bloco permite um melhor entendimento dos fatores determinantes do ciclo da violência, além de uma visão mais holística dos casos, permitindo a elaboração de estratégias e articulações para prevenção

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Medicina veterinária do coletivo O diagnóstico auxiliará na identificação de estratégias efetivas para quebrar o ciclo da violência doméstica. A proposta de inovação da ficha não cabe apenas a essas instituições, mas serve de modelo para a utilização e a adaptação de questionários utilizados nos diversos serviços de proteção às pessoas e animais que ainda não reconhecem a visão desse novo conceito de família, a família multiespécie, ou não trabalham com ela. O registro dessas ocorrências deve ter como base o entendimento de que a violência contra os animais dentro dos lares é indicativa de outras infrações penais nesses cenários. Espera-se que essa proposta favoreça uma nova abordagem e uma visão mais completa sobre o ambiente familiar, com um olhar voltado para todos os membros humanos e não humanos que o compõem, tanto por parte dos que atuam nas esferas preventivas quanto na esfera da polícia judiciária. Fazem-se necessários um trabalho multidisciplinar e multissetorial e o compartilhamento de recursos e conhecimentos entre as diversas áreas envolvidas para o desenvolvimento de iniciativas políticas que promovam um ambiente familiar mais seguro. Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha

Yasmin da Silva Gonçalves da Rocha

e enfrentamento efetivo da violência. A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) da cidade de Juazeiro, BA, é uma unidade operativa da Polícia Civil (PC-BA) que faz parte da rede de enfrentamento à violência contra a mulher no estado da Bahia, assim como a Ronda Maria da Penha, implantada no estado pela Polícia Militar da Bahia (PM-BA), ambas fruto de uma cooperação técnica entre as secretarias estaduais de Políticas para as Mulheres (SPM-BA) e de Segurança Pública (SSP), a Defensoria Pública, o Ministério Público e o Tribunal de Justiça da Bahia (Figuras 1 e 2). Utilizando como base a ficha original da CMB e agregando os questionamentos do bloco adicional sobre os animais domésticos, foi elaborada uma nova ficha (Figura 3) para implantação de um protocolo de rastreamento de maus-tratos aos animais em lares violentos na cidade de Juazeiro, BA, a ser aplicada pela Deam e pela Ronda Maria da Penha nos casos que acompanham ou venham a acompanhar futuramente. O objetivo é conhecer o real cenário desse elo na cidade de Juazeiro, BA, com a expectativa de ampliar o uso desse protocolo para as demais cidades do estado.

Figura 1 – Reunião com o Comando de Policiamento Regional Norte da Polícia Militar da Bahia, em parceria com a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), para falar sobre a teoria do elo e propor a ficha a ser usada pela Ronda Maria da Penha de Juazeiro, BA. Na foto, a capitã Bruna Gracielle Nascimento, a tenente Ana Maria Almeida, o coronel José Anselmo Bispo, o MV e prof. dr. Alexandre Redson, da Univasf, e a MV Yasmin da Rocha, aluna de mestrado da UFPR 48

Figura 2 – Encontro para apresentação da teoria do elo e da ficha a ser implantada na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Juazeiro, BA. Na foto, as estagiárias Eduarda Estrela da Silva e Milena Glória de Souza, a Delegada Rosineide Motta, as investigadoras Polianna Niedja e Maria Lúcia de Oliveira, e o investigador Jonas Vieira

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Ficha de atendimento

Nº da ocorrência: ______________

Endereço: Bairro: Idade:

Bloco I –

Possui algum tipo de deficiência ? 1-Sim 2-Não 3-Ignorado

Se sim, que tipo de deficiência ? 1- Auditiva 2-Física 3-Mental 5-Outras deficiências: ____________________

Raça/cor: 1-Amarela 2- Branca 4-Afrodescendente

Gestante: 1-1º trimestre 4-Não

3-Indígena 5- Ignorado

2-2º trimestre 5-Não se aplica

4-Visual 6-Ignorado

3-3º trimestre 6-Ignorado

Orientação sexual (opcional): Identidade de gênero (opcional): Informações 1-Assexual 2-Bisexual 3-Heterossexual 1-Cisgênero 2-Intersexo 4-Lésbica 5Ignorado 4-Travesti 5-Ignorado da vítima Estado civil: 1- Casada/União estável 2-Divorciada 3-Separada 4-Solteira 5-Viúva

3-Transexual

6-Outro

Escolaridade: 1- Sem escolaridade 2-Ensino fundamental incompleto 3-Ensino fundamental completo 4-Ensino médio incompleto 5-Ensino médio completo 6-Ensino superior incompleto 7-Ensino superior completo 8-Ignorado Renda média mensal individual : 1- Não tem renda 2-Até meio salário mínimo 3-Mais de meio até 3 salário mínimos 4-Mais de 3 até 5 salários mínimos 5-Mais de 5 até 10 salários mínimos 6-Mais de 10 mínimos 7-Ignorado Tem filhos ? 1-Sim 2-Não Bloco II – Tipologia da violência

Bloco III – Autor/a da violência

Quantos ? 1-Um 2-Dois

3-Três

4-Quatro

5-Cinco

6-Mais de cinco

Tipo de violência sofrida: 1-Assédio moral 2-Cárcere privado 3-Física 4-Institucional 5- Moral 7- Patrimonial 8- Psicológica 9- Sexual 10-Tentativa de assassinato 12-Outro: __________________________________________________

7-Não se aplica

6-Negligência/abandono 11-Tráfico de seres humanos 13-Não se trata de violência

Vínculo com o(s)/a(s) autor(es)/a(s) da violência: 1-Agente de segurança pública 2-Amigo/a/conhecido 3-Cônjuge/companheiro 4- Desconhecido/a 5-Empregador/a 6-Ex-cônjuge/ex-companheiro/a 7-Ex-namorado/a 8-Filho/a 9-Irmão/a 10-Namorado/a 11-Outro/a parente 12-Padrasto/madrasta 13-Pai/mãe 14-Pessoa com relação institucional (servidor/a do Estado) 15- Outro: ________________________________________________ Número de envolvidos/as: 1- Um/a 2-Dois/duas Tem animais de estimação ? 1-Sim 2-Não

Sexo do(s)/das autor(es)/a(s) da violência: 1-Feminino 2-Masculino 3-Ambos

3-Ignorado

Quais ? Colocar a quantidade ao lado 1- Cão ___ 2-Gato ___ 3-Ave ____ 4-Outros: _______________

De quem é o animal ? 1-Meu 2-Do agressor 3-De todos 4-De outro membro da família (especificar): ___________________________________________

Quem cuida do animal ? 1-Eu 2-O agressor 3-Todos cuidam 4-Outro membro da família (especificar): ___________________________________________

O que o animal de estimação (que possui) representa para você ? 1-Companhia 2-Membro da família 3-Cuidador da casa 4-Outros (especificar): ___________________ Bloco IV – Animal doméstico

O animal de estimação já foi agredido no ambiente familiar (na casa) ? 1-Sim 2-Não Se sim, quais das situações abaixo o animal sofre ou já sofreu ? 1-Espancamento 2-Ficou sem alimento 3-Agressão psicológica (gritos, ameaças) 4-Ficou preso 5- Outras (especificar): ____________________________________________________ Quem foi responsável pela situação imposta ao animal ? 1-O mesmo agressor que te agride 2-Seus filhos/as 3-Você mesma por imposição do agressor/a 4-Você mesma sem imposição do agressor/a 5-Outros (especificar): ______________________________ Quem foi a primeira vítima do agressor/a ? 1-Animais de estimação 2-Você mesma 3-Filhos/as

4-Outros (especificar): ______________________

Para te amedrontar por algum motivo, o agressor/a: 1-Já ameaçou machucar o animal de estimação 2-Já machucou o animal de estimação 3-Já ameaçou matar o animal de estimação 4-Já matou algum animal de estimação 5-Alguma outra situação com o animal de estimação (especificar): _________________________________

Figura 3 – Ficha elaborada para utilização das polícias Civil e Militar do estado da Bahia, baseada na ficha original da Casa da Mulher Brasileira de Curitiba, PR, com questionamentos sobre os animais domésticos Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020

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Medicina veterinária do coletivo Referências

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Lucas Galdioli

MV, CRMV-PR 16.773 Serviço de Perícia Animal - UFPR Consultoria Técnica em Medicina de Abrigos - UFPR lucasgaldioli@hotmail.com

Rita de Cassia Maria Garcia

MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. Depto. de Medicina Veterinária - UFPR ritamaria@ufpr.br

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Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020

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Reprodução Hiperplasia endometrial cística em ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris) – relato de caso Cystic endometrial hyperplasia in african pygmy hedgehog (Atelerix albiventris) – case report Hiperplasia endometrial quística en erizo pigmeo africano (Atelerix albiventris) – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146 p. 52-60, 2020

Cecilia Raquel L. M. Uema MV, CRMV-SP 23.246 Clínica Veterinária Iguatemi ceciliadematos@gmail.com

André Luiz Mota da Costa MV, CRMV-SP 11.662 mestre Clínica Veterinária Iguatemi Zoológico Municipal de Sorocaba almotacosta@yahoo.com.br

Stefanie Vanessa Santos MV, CRMV-SP 13.341 mestre, dra., profa. A. C. Camargo Cancer Center stefanie@stefanie.vet.br

Resumo: Uma fêmea de ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris) de dois anos de idade foi atendida em clínica particular apresentando hematúria persistente. Por meio de ultrassonografia abdominal, foram identificadas alterações sugestivas de aumento uterino, sendo indicada sua remoção cirúrgica. A anestesia foi induzida em câmara de isofluorano e em seguida mantida com inalação em máscara. Realizouse a ovariossalpingo-histerectomia, e fragmentos dos tecidos foram encaminhados para análise histopatológica. O tratamento pós-operatório foi feito com meloxicam, enrofloxacina e dipirona. A microscopia revelou metaplasia escamosa moderada uterina, hiperplasia pseudocarcinomatosa endometrial cística (HEC) e adenomiose moderada uterina. É fundamental a compreensão da morfofisiologia da reprodução de ouriços-pigmeus, não apenas pela demanda desses animais na rotina clínica, como para facultar avanços da patologia comparada. Unitermos: Erinaceidae, cirurgia, útero, histopatologia Abstract: A 2 year old female african pygmy hedgehog (Atelerix albiventris) was presented at a private clinic with persistent hematuria. Abdominal ultrasound identified suggestive changes of uterus enlargement, indicating its surgical removal. Anesthesia was accomplished with isoflurane via chamber induction and was maintained via mask. Ovariohysterectomy was performed and tissue fragments were submitted to histopathologic evaluation. For postoperative treatment, meloxicam, enrofloxacin and dipyrone were used. Microscopy revealed moderate uterine squamous metaplasia, cystic endometrial pseudocarcinomatous hyperplasia (CEH), and moderate uterine adenomyosis. The knowledge of these animals’ reproduction morphophysiology is essential, not only by the demand as pets in the clinical routine, as well as in the advances of comparative pathology. Keywords: Erinaceidae, surgery, uterus, histopathology Resumen: Una hembra de erizo pigmeo africano (Atelerix albiventris) de dos años fue atendida en una clínica particular con signos de hematuria persistente. A través de una ecografía se detectó aumento de tamaño del útero, razón por la que se indicó la cirugía. El mantenimiento anestésico se realizó con isofluorano a través de una máscara. Durante la ovariohisterectomía se retiraron fragmentos que fueron enviados para su correspondiente examen histopatológico. En el postoperatorio fueron administrados meloxicam, enrofloxacina y dipirona. La histopatología mostró la presencia de metaplasia escamosa moderada en el útero, hiperplasia pseudocarcinomatosa endometrial cística (HEC) y adenomiosis uterina moderada. Resulta fundamental comprender la morfofisiología reproductiva de los erizos pigmeos, no solo por la demanda en términos de atención clínica, sino también para contribuir en los avances de la patología comparada. Palabras clave: Erinaceidae, cirugía, útero, histopatología

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Cirurgia Torção espontânea de lobo pulmonar cranial esquerdo em cadela de dezessete anos Spontaneous left cranial lung lobe torsion in a 17-year-old bitch Torsión espontánea del lóbulo pulmonar craneal izquierdo en una perra de diecisiete años Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146 p. 62-71, 2020

Isabella de Almeida Fabris MV, CRMV-SP: 39.446 residente II Depto. de Cir. - FMVZ/USP isabelladafabris@gmail.com

Ayne Murata Hayashi MV, CRMV-SP: 6.378, dra. Depto. de Cir. - FMVZ/USP aynemay@gmail.com

Patrícia Bonifácio Flôr MV, CRMV-SP: 16.095 mestre Depto. de Cir. - FMVZ/USP pbflor@usp.br

Silvana Maria Unruh MV, CRMV-SP: 7.226 mestre Depto. de Cir. - FMVZ/USP unruh@usp.br

Jamile Macedo Garcia MV, CRMV-SP: 42.056 residente II Depto. de Pat. - FMVZ/USP jamile_gnr@hotmail.com

Julia Maria Matera MV, CRMV-SP: 1.050 pós-dra., profa. tit. Depto. de Cir. - FMVZ/USP

Resumo: Uma das causas de dispneia e alterações respiratórias em cães é a torção de lobo pulmonar. Tal afecção caracteriza-se pela torção do hilo broncovascular de um ou mais lobos pulmonares sobre o próprio eixo, levando à perda de função daquele lobo, além de diversas alterações metabólicas e fisiológicas que podem levar à necrose. Os sinais clínicos advêm principalmente da atelectasia, da congestão venosa e da efusão pleural que se forma em decorrência da torção. O diagnóstico é realizado por meio de radiografia torácica e/ou tomografia computadorizada, e, em alguns casos, por toracotomia exploratória. Essa afecção apresenta bom prognóstico se resolvida a causa principal por meio de lobectomia pulmonar. O presente trabalho relata um caso de torção de lobo pulmonar cranial em uma cadela de dezessete anos, idade atípica, cuja recuperação pós-operatória excedeu às expectativas. Unitermos: cães, cirurgias, toracotomia, lobectomia Abstract: Lung lobe torsion is one of the causes of dyspnea and respiratory changes in dogs. Twisting of the bronchovascular hilum on its axis, leads to loss of function and metabolic and physiological changes that result in necrosis of the affected lobe. Atelectasis, venous congestion, and pleural effusion secondary to the lobe torsion are responsible for the clinical signs. Chest radiographs or CT scan are used to confirm the diagnosis. In rare cases confirmation is done by exploratory thoracotomy. The prognosis is good after removal of the affected lung lobe. We report a case of left cranial lung lobe torsion in a 17-year-old bitch, successfully treated by lung lobectomy. Keywords: dogs, surgeries, thoracotomy, lobectomy Resumen: Una de las causas de disnea y alteraciones respiratorias en perros es la torsión de un lóbulo pulmonar. Esta enfermedad se caracteriza por la torsión del hilio broncovascular sobre su eje de uno o más lóbulos pulmonares, que provoca una pérdida de función del lóbulo afectado, además de otros tipos de alteraciones metabólicas y fisiológicas que pueden llevar a la necrosis. Los signos clínicos están relacionados, principalmente, con cuadros de atelectasia, de congestión venosa y de efusión pleural que se producen como consecuencia de la torsión. El diagnóstico se realiza mediante radiografías de tórax o tomografía computarizada, y en algunos casos, mediante una toracotomía exploratoria. Estos cuadros presentan buen pronóstico mediante la lobectomía del lóbulo afectado. El presente trabajo relata un caso de torsión del lóbulo pulmonar craneal en una perra de diecisiete años, una edad poco frecuente, cuya recuperación postoperatoria excedió las expectativas. Palabras clave: perros, cirugías, toracotomía, lobectomía

materajm@usp.br

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Farmacologia Manejo farmacológico do vômito em felinos – revisão Pharmacological management of vomiting in feline patients – a review Manejo farmacológico del vómito en felinos – revisión Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146 p. 72-85, 2020

Alexandre Merlo MV, CRMV-SP: 11.659, MSc. Zoetis Ind. Prod. Vet. Ltda. alexandre.merlo@zoetis.com

Resumo: O vômito é um reflexo protetor complexo mediado pelo centro emético, região do sistema nervoso central que recebe impulsos provenientes de outras áreas centrais e de aferentes periféricos. Em felinos, a substância P, a serotonina e a noradrenalina são os principais mediadores do vômito, tendo a histamina, a dopamina, a acetilcolina e as encefalinas um papel secundário. Em vista de variações na fisiologia do vômito e na farmacologia entre as espécies, ressalta-se a importância de estudos focados em felinos. Entre os agentes indutores do vômito, os adrenérgicos alfa-2 agonistas, de que são exemplos a dexmedetomidina e a xilazina, são os mais estudados na espécie com essa finalidade. O maropitant e a ondansetrona estão entre os fámacos antieméticos mais recentes. A mirtazapina pode ter utilidade na prevenção do vômito crônico. Unitermos: medicina interna, gastroenterologia, êmese, farmacologia, terapêutica, gatos Abstract: Vomiting is a complex protective reflex mediated by the emetic center, a region of the central nervous system that receives impulses from other central and peripheral afferent areas. In cats, substance P, serotonin and norepinephrine are the main mediators of vomiting, with histamine, dopamine, acetylcholine, and enkephalins having a secondary role. In view of variations in the physiology of vomiting and pharmacology across species, the importance of studies focused on felines is emphasized. Among the emetic agents, alpha-2-adrenergic agonists, such as dexmedetomidine and xylazine, are the most studied in the species for this purpose. Maropitant and ondansetron are the more recent antiemetic drugs. Mirtazapine may be useful to prevent chronic vomiting. Keywords: internal medicine, gastroenterology, vomiting, pharmacology, therapeutics, cats Resumen: El vómito es un reflejo protector complejo mediado por el centro del vómito, una región del sistema nervioso central que recibe impulsos de otras áreas centrales y periféricas aferentes. En los gatos, los principales mediadores de la emesis son la sustancia P, la serotonina y la noradrenalina, mientras que la histamina, la dopamina, la acetilcolina y las encefalinas cumplen un papel secundario. Teniendo en cuenta que la fisiología y la farmacología del vómito varían de acuerdo a las diferentes especies, cabe resaltar la importancia de ciertos estudios realizados en felinos. Entre los agentes inductores del vómito más estudiados en felinos están los adrenérgicos alfa-2 agonistas como dexmedetomidina y xilacina. El maropitant y el ondansetron se encuentran entre los fármacos más recientemente introducidos. La mirtazapina puede ser útil en la prevención del vómito crónico. Palabras clave: medicina interna, gastroenterología, emesis, farmacología, terapéutica, gatos

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Acesso gratuito Para celebrar os 25 anos da revista Clínica Veterinária, estamos oferecendo o download gratuito das edições de 1 a 100 Acesse issuu.com/clinicavet


Lançamentos

Referência no segmento pet food pela excelência de suas formulações, Biofresh para cães é uma marca da categoria Super Premium da Hercosul, que acaba de apresentar novidades no mercado. Além de renovar as embalagens de toda a linha, somando melhoras na formulação atual dos produtos, como mais glicosamina, condroitina e ácidos graxos ômega 3 e ômega 6, a linha para cães agora dispõe de uma nova opção para pets adultos de paladar exigente: Biofresh Sabores. Com visual mais orgânico, intuitivo e informativo, as novas embalagens de Biofresh para cães permitem que o consumidor visualize todas as informações sobre os alimentos. Desenvolvida com ingredientes frescos, sem a adição de transgênicos, aromatizantes, corantes e conservantes artificiais, a linha proporciona uma nutrição completa, equilibrada e mais saudável para os animais. Única no mercado, Biofresh inclui carnes, frutas, legumes e grãos nobres integrais, como arroz, aveia e linhaça, além de ervas frescas – antioxidantes e conservantes naturais que ainda oferecem um sabor especial. São alimentos seguros, naturalmente saborosos, nutritivos e desenvolvidos com formulações especiais para filhotes, adultos – com as versões para pets cadastrados e também para os que estão acima do peso ideal – e seniores, e também divididas entre as raças pequenas e míni, médias, grandes e gigantes. Já Biofresh Sabores é um lançamento pensado para atender aos paladares mais exigentes de cães adultos de variados portes. A novidade é o delicioso sabor frango, que inclui maçã, arroz integral e ervas, além de outros ingredientes que contribuem para uma rotina saudável do pet. As linhas Biofresh para cães, com novas embalagens, e Biofresh Sabores começaram a ser vendidas para lojistas no dia 9 de março. Em breve os produtos devem estar disponíveis nos pontos de venda de todo o Brasil. 86

Divulgação

Biofresh para cães renova embalagem e lança Biofresh Sabores para pets adultos

Novas embalagens, mais intuitivas e informativas, formulação aprimorada com novos ingredientes e dosagens e o lançamento do Biofresh Sabores, para pets adultos de apaladar exigente, são as novidades da marca Biofresh para cães

Sobre a Hercosul A Hercosul Alimentos Ltda. é uma indústria do segmento pet food reconhecida por seus produtos inovadores e de alta credibilidade. Produzindo alimentos para cães e gatos desde 2001, a empresa está sediada em Ivoti e tem unidade produtiva em Vacaria, ambas no Rio Grande do Sul, além de um centro de distribuição em Santa Catarina, dois no Paraná, um em São Paulo e um no Paraguai, onde a organização também construiu sua mais nova e moderna fábrica. Hoje, a Hercosul conta com cerca de 800 pessoas no seu quadro de colaboradores. Com linhas de alimentos completos secos e úmidos, além de snacks, a Hercosul atua nos mercados nacional e internacional – Bolívia, Chile, Colômbia, Nigéria, Panamá, Paraguai e Uruguai –, com propostas de produtos nas categorias Super Premium, Premium Especial, Premium e Standard, nas marcas Biofresh (para cães e gatos), Three Dogs, Three Cats, Primocão, Primogato, Adore (cães e gatos), Apolo e Átila. Hercosul ® www.hercosulalimentos.com.br

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Cyclavance ®: a mais nova “velha” solução para o controle da dermatite atópica canina Divulgação

De acordo com estudos publicados, a dermatite atópica é uma doença alérgica que pode atingir até 15% da população canina. De base genética, a doença envolve diversas alterações, desde a estrutura da pele até o sistema imune, e se manifesta principalmente em cães jovens. O prurido é o principal sinal clínico da doença, e pode ser tão intenso a ponto de causar autotraumatismo, atrapalhando muito a qualidade de vida dos cães e de seus tutores. Além do prurido, outro sinal clínico é a inflamação, caracterizada por eritema e, eventualmente, cronificação do quadro, que muitas vezes é mal diagnosticado e cujo tratamento nem sempre é realizado conforme as orientações corretas. O tratamento, aliás, pode envolver vários produtos tópicos ou sistêmicos, o que gera um alto custo para os tutores, que podem se frustrar quando a doença não é controlada da maneira esperada. “As opções terapêuticas disponíveis no mercado são muitas, e cabe ao médico-veterinário escolher o tratamento mais apropriado para cada caso”, afirma Ricardo Cabral, gerente técnico da Virbac, empresa multinacional pioneira em dermatologia veterinária. De acordo com Cabral, alguns tipos de medicamentos podem ser mais específicos e agir em receptores e alvos mais especializados, trazendo menos efeitos colaterais. Tais medicamentos, no entanto, podem não ser úteis nas fases mais crônicas e graves da doença. “Nesse momento, pode ser necessária uma medicação mais abrangente, que vai agir em diferentes alvos que desencadeiam os sinais clínicos da dermatite atópica. Até pouco tempo atrás, as únicas opções disponíveis eram os corticoides e a ciclosporina humana ou manipulada.” Os problemas do uso crônico dos corticoides

Cyclavance ®, ciclosporina líquida em microemulsão com alta biodisponibilidade nas apresentações de 15  mL, 30  mL e 50 mL

são os efeitos colaterais, já que essa classe de fármacos pode levar a alterações metabólicas importantes. Já no caso da ciclosporina, o problema é o efeito: as ciclosporinas de uso humano e manipuladas podem não ter uma boa biodisponibilidade e, dessa forma, não apresentar bons resultados. Nesse contexto, a Virbac traz para o mercado brasileiro a primeira ciclosporina veterinária do país. “Cyclavance ® é uma ciclosporina líquida em microemulsão que garante alta biodisponibilidade e doseamento correto de acordo com o peso do paciente. As apresentações de 15 mL, 30 mL e 50 mL garantem um custo de tratamento adequado aos diferentes tamanhos de cães e ao bolso de seus tutores”, afirma Cabral. De acordo com o prof. dr. Ronaldo Lucas, dermatologista-veterinário e líder de opinião da Virbac, responsável pela condução dos estudos submetidos para aprovação do produto junto ao Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), essa é uma ciclosporina que garante resultados superiores, se comparada aos produtos existentes no mercado. Virbac

https://br.virbac.com

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Pesquisa

Dinâmica populacional de cães e gatos em abrigos latino-americanos A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio da área de medicina veterinária do coletivo, tem desenvolvido atividades de ensino, extensão e pesquisa em medicina de abrigos. Um dos intuitos dos estudos nessa área consiste em auxiliar a melhorar o nível de bem-estar de cães e gatos abrigados e aumentar as taxas de adoção desses animais. Uma das pesquisas em andamento na UFPR, intitulada “Dinâmica populacional de cães e gatos em abrigos latino-americanos”, tem como objetivo conhecer a realidade dos abrigos por meio da avaliação da dinâmica da população dos animais recolhidos, incluindo dados como taxas de entrada, saída (adoção), morbidade, mortalidade, além de cuidados sanitários e controle de manejo populacional. A participação dos abrigos é fundamental para o diagnóstico dessa realidade. O conhecimento do atual cenário dessas institui-

ções auxiliará na adequação de protocolos de medicina de abrigos, uma vez que esses locais atuam como casas de passagem para os animais abandonados, recolhendo-os e reintegrando-os à sociedade por meio da adoção. No entanto, muitas vezes os abrigos acabam ficando superlotados, devido ao grande número de animais recolhidos. Por isso, a identificação dessa realidade é importante para que se possam implementar políticas externas e internas nesse sentido. A pesquisa está sendo realizada por meio de um questionário online divulgado para os abrigos de cães e gatos de toda a América Latina e está disponível em português (https://forms.gle/R2HwccDKZKKVBpoC8) e em espanhol (https://forms.gle/fM7q6f1pKDGD5Mei7). Os pesquisadores solicitam a todos que auxiliem a divulgá-la para todos os abrigos de cães e gatos de suas comunidades e/ou conhecidos.

Sites em português (https://forms.gle/R2HwccDKZKKVBpoC8) e em espanhol (https://forms.gle/fM7q6f1pKDGD5Mei7) nos quais se pode encontrar o questionário online a respeito dos abrigos de cães e gatos de toda a América Latina 88

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Tecnologia da Informação

Um assistente virtual para sua clínica A medicina veterinária é uma atividade baseada na prestação de serviços, e por isso a gestão do tempo é um fator decisivo para o aumento da lucratividade. Os melhores resultados são alcançados quando o veterinário ocupa a maior parte de seu tempo no atendimento clínico e cirúrgico, e conta com colaboradores capacitados para ajudá-lo a manter uma boa produtividade. Mas, antes de o animal ser atendido, as dúvidas do tutor devem ser solucionadas, e ele precisa estar confiante para entregar seu pet aos cuidados do veterinário. O desafio é oferecer o pré-atendimento em tempo real para o maior número de pessoas possível, sem aumento dos custos operacionais. Nesse contexto, o assistente virtual tem se mostrado um aliado importante. Inteligência artificial e chatbots O chatbot, ou assistente virtual, é um software capaz de interagir com seres humanos como se fosse um deles, inclusive expressando emoções e demonstrando cordialidade. Esses softwares são construídos utilizando recursos de inteligência artificial (IA), cuja principal característica é a habilidade de simular a inteligência humana, compreender nossa linguagem, aprender por meio dos dados coletados e resolver problemas. A inteligência artificial está presente na rotina das pessoas já há algum tempo e pode ser vista em carros com sensores de estacionamento, aplicativos de navegação como Waze e Google Maps e tantos outros exemplos, inclusive na área da medicina veterinária. Recentemente, a empresa TecPet (www. tect.pet), sediada em Florianópolis, SC, lançou o PetBot, um assistente virtual para o mercado pet integrado com o Facebook Messenger. Caracterizado como um robô de atendimento, esse assistente virtual facilita o agendamento de serviços e oferece recursos que auxiliam na venda de produtos, atuando também como 90

A gestão informatizada de uma clínica permite aproveitar recursos de software como o assistente virtual, que facilita o agendamento de serviços e a venda de produtos

um vendedor digital. Algumas pessoas podem não gostar de serem atendidas por um robô, mas as vantagens para clínicas veterinárias e petshops são muitas. Automatizar o agendamento de serviços A maior parte do processo de agendamento de consultas ou banho e tosa pode ser automatizada. O assistente digital pode atender seus clientes pelo Facebook Messenger ou pelo WhatsApp, consultar sua agenda e reservar horários automaticamente, oferecendo opções de datas e horário disponíveis. Além disso, o robô pode ser programado para enviar mensagens solicitando a confirmação do tutor. Pré-atendimento virtual Algumas dúvidas dos clientes podem ser solucionadas pelo assistente digital, como informações sobre o horário de atendimento, datas em que os profissionais estariam disponíveis, formas de pagamento, especialidades e outras questões frequentes. As dúvidas não qualificadas, ou seja, aquelas às quais não se pode responder digitalmente, são facilmente

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direcionadas para o atendente, que usará seu precioso tempo para atender às demandas mais específicas. l

Auxiliar na venda de produtos Boa parte dos consumidores busca ofertas de produtos fora do horário comercial. O assistente virtual pode atender esses clientes informando produtos e preços, uma vez que tem a capacidade de entender o que o cliente procura e de fazer uma busca no banco de dados da loja. Aprimorando a gestão do tempo A lucratividade de uma clínica veterinária está diretamente relacionada ao tempo que o profissional leva em um atendimento e ao valor cobrado pelo serviço. As clínicas mais lucrativas normalmente executam uma quantidade maior de cirurgias, que são serviços mais caros. Os profissionais que trabalham com medicina veterinária integrativa e homeopatia costumam realizar consultas mais longas. Além do valor do serviço e da duração do atendimento, existem outros parâmetros a considerar na análise da lucratividade, como as despesas, os custos fixos e as variáveis. Os hospitais veterinários necessitam de uma infraestrutura mais robusta, e por isso terão custos mais elevados quando comparados com consultórios e clínicas. Ao analisar esses dois índices – o ticket médio (valor médio cobrado pelos serviços em

um período) e o tempo médio de cada atendimento –, você saberá um pouco mais sobre o comportamento das receitas da clínica, que, em última análise, é um reflexo da gestão do tempo no atendimento clínico. Para aplicar esses conceitos na rotina de sua clínica, é necessário implementar um bom sistema informatizado de gestão. Independentemente do sistema utilizado em sua clínica, registre todos os serviços efetuados, os valores cobrados e as despesas efetuadas. Identifique o valor do ticket médio e do tempo médio dos atendimentos e passe a monitorá-los mensalmente. Verifique os índices antes e depois da implementação do assistente virtual e compare o valor investido na ferramenta com os resultados obtidos. Aqueles que ainda não adotaram a gestão informatizada da clínica ou usam um sistema que não possibilita a análise de dados financeiros podem criar uma conta no VetGo (www. vetgo.com.br) e colocar os conceitos de gestão apresentados neste artigo em prática gratuitamente. O VetGo é um sistema de gestão de clínicas veterinárias online, desenvolvido por mim a partir de mais de 30 anos de experiência na área de informática aplicada à medicina veterinária. Marcelo Sader Consultor em TI para o mercado veterinário NetVet Tecnologia para Veterinários www.netvet.com.br Marcelo@netvet.com.br

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Gestão

Crises e oportunidades

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tinham há um mês, e não voltarão a ter. Continuar com a mesma pobreza de sentimentos, pensando apenas em alimentar o próprio ego e em obter resultados materiais, significa estar na contramão de uma ordem maior, que nos aponta para a necessidade mais premente de todas – a de preservar a vida, a natureza, a criação, coisas que já estavam em risco. No entanto, o momento presente nos alerta para o fato de que esse risco nunca foi tão grande, nunca se revelou tão evidente e assustador como agora. Talvez o aspecto mais positivo da gravíssima situação que estamos vivendo seja que ela nos coloca uma série de questões fundamentais nas quais, talvez por falta de tempo, não vínhamos pensando. Está sendo dada a nós a oportunidade de encarar nosso talento e nosso trabalho como uma verdadeira dádiva dos céus, e de perceber que isso nos permite fazer parte de um plano maior e contribuir para que as pessoas, a sociedade, o ambiente e a humanidade melhorem. Temos agora também maior clareza sobre como é importante retribuir e conduzir nossa vida com mais amor e gratidão. O momento é de reclusão forçada, mas também de aproveitar para olhar para dentro de nós mesmos e dar maior atenção aos nossos sentimentos, em vez de ficarmos o tempo todo à merRenata Apanaviciene shutterstock

O mundo todo está às voltas com a grande crise humanitária provocada pelo coronavírus (covid-19) e suas consequências. Vivemos uma das piores crises mundiais, e estamos – absolutamente todos – suscetíveis a uma contaminação que pode ser fatal, independentemente de raça, cor, riqueza ou poder. Existe um ditado da sabedoria espiritual que diz: “Tudo são ondas na vida, e após a tempestade virá a bonança”. Portanto, uma primeira constatação é que esta crise, como todas as outras, é momentânea. Mas será que a bonança virá para todos? Certamente não. Portanto, esta aguda crise sem dúvida constitui um aviso importantíssimo de que os atuais paradigmas de vida, trabalho, empreendimentos, família, sociedade, economia, saúde e educação estão todos sendo reavaliados, especialmente por estarem em desacordo com a verdade, o amor e a beleza. A evidência mais gritante neste momento é que o essencial agora, o que está realmente em falta, não são apenas máscaras e providências sanitárias e econômicas, mas sim a grande riqueza de sentimentos positivos, que a maneira como temos vivido nos vinha impedindo de enxergar e de oferecer, e que se tornam agora fundamentais para a nossa sobrevivência. O grande cataclismo que estamos presenciando e que nos obriga a uma inesperada reclusão social é também uma grande oportunidade para fazermos uma profunda reflexão sobre nossa vida e nosso trabalho, um ótimo momento para repensar valores, reconstruir, recomeçar a partir de uma situação totalmente nova. A pandemia está exigindo uma profunda reformulação das nossas prioridades. Vivemos uma mudança tão radical e repentina, não só da nossa vida cotidiana como do cenário que se avizinha, que somos obrigados a repensar e reposicionar todos os nossos valores. Dinheiro, status social, poder e influência passaram a ter outro peso, outro sentido, não têm mais o mesmo valor que

Vivemos um ótimo momento para refletir sobre nossa vida e nosso trabalho, repensar nossos valores e inaugurar uma nova visão da vida

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Jaromir Chalabala shutterstock

Valores como a verdade, o amor e a beleza constituem um tesouro de sentimentos positivos cada vez mais fundamentais para a nossa sobrevivência

cê dos pensamentos de sempre, das preocupações constantes, da escravização às rotinas do dia a dia. Temos agora a grande oportunidade de constatar que os sentimentos têm uma força criativa e de materialização muito mais poderosa que a do pensamento. Não seria o caso de tornar de uma vez por todas a estratégia de colocar os nossos bons sentimentos no comando a grande fonte de inspiração de nossa vida? No meio da grande preocupação que passamos a ter com a própria saúde e a das pessoas mais próximas, vale muito a pena lembrar como os sentimentos negativos de ansiedade, preocupação, insatisfação, reclamação, críticas e julgamentos abrem brechas para baixar a imunidade a

doenças, tornando-nos muito mais suscetíveis e expostos à contaminação pelo coronavírus. Sempre soubemos que a nossa saúde depende de bons sentimentos, mas agora eles se tornaram essenciais à nossa própria sobrevivência. Todas essas ponderações nos levam a concluir que a nossa sobrevivência a esta grande crise e a nossa participação na bonança dependem menos dos outros do que de nossas próprias escolhas de vida e de trabalho. Afinal, será que temos mesmo consciência da razão da nossa existência aqui na Terra? A grande pandemia nos traz a grande oportunidade de refletir sobre tudo isso e perceber finalmente com maior clareza como é equivocado pensar e fazer as coisas apenas para si. O mundo nos mostra agora, com toda a evidência, que é crucial contribuir para o bem geral e fazer todo o esforço possível para deixar aos nossos descendentes o legado de um planeta saudável. Esta crise certamente nos levará a momentos muito difíceis, mas também pode proporcionar ao mundo um ganho de consciência que chega em muito boa hora.

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Celso Morishita Gestor empresarial espiritualista celsomorishita@yahoo.com

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Vet agenda Acupuntura

Botucatu, SP

XI Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária www.abravet.com.br/

Anestesiologia 15 a 17 de abril

Evento adiado

13 de novembro

Módulo Miscelâneas Cirúrgicas Torácicas e Abdominais - CIPO http://www.cipo.vet.br/

Curso Medicina Tradicional Chinesa Veterinária: O que mais há para fazer? https://www.sympla.com.br/cursomedicina-tradicional-chinesaveterinaria-o-que-mais-ha-parafazer__704525

São Paulo, SP

Evento adiado

Dermatologia

2021

4 de outubro

São Paulo, SP

João Pessoa, PB

Comdor 2021 – Congresso Medvep de Dor e Anestesiologia Veterinária https://www.shopmedvep.com.br/ produtos/comdor-2021/

III Curso: Bases da Medicina Integrativa na Veterinária https://www.eventbrite.com.br/e/iiicurso-bases-da-medicina-integrativana-veterinaria-tickets-79847254287

Bem-estar animal

Evento adiado

8 a 10 de abril

Jaboticabal, SP

Comdev 2021 – Congresso Medvep Internacional de Dermatologia Veterinária https://bit.ly/35ozZBC

14 a 16 de agosto

São Paulo, SP

II Curso de Manejo Comportamental e Bem-Estar aplicado a Felinos https://bit.ly/2PFKoSR 7 a 9 de outubro

Cuiabá, MT

VII Congresso mundial de bioética e direito animal https://www.facebook.com/ InstitutoAbolicionistaAnimal/

Evento adiado

Rio de Janeiro, RJ

Curso de mínima invasão veterinária https://www.instagram.com/minivet_ courses/

Endocrinologia

Online

I Curso de emergências endócrinas https://www.sympla.com.br/curso-deemergencias-endocrinas__843031

Jataí, GO

Nefrologia clínica para pequenos animais: como atender seu paciente hoje? https://www.aprimoryvet.com.br/

14 e 15 de outubro

Jaboticabal, SP

III Curso de obesidade perspectivas e desafios https://eventos.funep.org.br/Eventos/ Detalhes#/exibir/5516

30 de outubro a 21 de novembro

São Paulo, SP

V Curso de endocrinologia clínica de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br Evento adiado

Rio de Janeiro, RJ

Curso de mínima invasão veterinária https://www.instagram.com/minivet_ courses/

São Paulo, SP

Congresso Internacional de Medicina e Saúde Integrativa Área Humana e Veterinária http://cimsi.com.br

Data a confirmar

Recife, PE

Pré-Conferência Medicina Veterinária do Coletivo http://portal.itecbr.org 16 e 17 de novembro

Petrolina, PE

III Encontro Nacional sobre animais abandonados em campi universitários http://portais.univasf.edu.br/propladi/ auditorios/complexo-multieventos-1

Medicina veterinária felina

14 a 16 de agosto

São Paulo, SP

II Curso de Manejo Comportamental e Bem-Estar aplicado a Felinos https://bit.ly/2PFKoSR 9 a 11 de outubro

São Paulo, SP

CAT Congress SP 2020 https://www.treevet.com/curso/115cat-congress-sp-2020

V Curso de endocrinologia clínica de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

Comfel 2020 – Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina https://www.shopmedvep.com.br/ produtos/comfel-2020/

27 de junho

Módulo Ortopedia Cirurgias da Coluna Vertebral - CIPO http://www.cipo.vet.br/

Medicina veterinária do coletivo

12 a 14 de novembro

Medicina veterinária integrativa

Evento adiado

2021

30 de outubro a 21 de novembro

São Paulo, SP

Cirurgia

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Diagnóstico por Imagem

15 e 16 de maio

Clínica

São Paulo, SP

2021

13 a 15 de maio

São Paulo, SP

VIII Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ambiência e bem – estar Animal https://eventos.funep.org.br/Eventos/ Detalhes#/exibir/5490

Evento adiado

São Paulo, SP

São Paulo, SP

I Simpósio de Medicina Integrativa Veterinária https://www.facebook.com/gepaunip/

Campinas, SP

16 de maio

Nutrição

Online

Curso Online de Alimentação Natural Terapêutica para cães https://www.facebook.com/ events/395310314541687/

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 146, maio/junho, 2020

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Vet agenda Reprodução

11 e 12 de setembro

São Paulo, SP

Evento Adiado

14 e 15 de outubro

6º Curso de Obstetrícia, Neonatologia e Reprodução Aplicada a Prática Clínica de Pequenos Animais http://famesp.com.br/cursopos-graduacao-oftalmologiaveterinaria/#1534336810581-0f6fb7549a32

Jaboticabal, SP

I Curso de nutrição e nutrologia de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

Jaboticabal, SP

III Curso de obesidade perspectivas e desafios https://eventos.funep.org.br/Eventos/ Detalhes#/exibir/5516

Semanas acadêmicas

21 e 22 de outubro

Evento adiado

XIX Congresso CBNA PET 2020 http://www.cbna.com.br/Eventos/Ver/ XIX-Congresso-CBNA-PET-2020

SEVAM EXPO 2020 - UAM

https://bit.ly/38fJ13O

Feiras, Congressos & Simpósios

Neurologia

11 a 15 de maio

7 e 8 de novembro

Online

Goiânia, GO

VETScience Academy https://www.sympla.com.br/ vetscience-academy__683076

Curso internacional de neurologia de cães e gatos secretaria@anclivepa.com.br

Belo Horizonte, MG

São Paulo, SP

Mini Curso de Introdução à Neurologia em Pequenos Animais https://bit.ly/2wiqiaC

Jataí, GO

Nefrologia clínica para pequenos animais: como atender seu paciente hoje? https://www.aprimoryvet.com.br/

4 a 6 de novembro

São Paulo, SP

Pet South America 2020 https://www.petsa.com.br

Ortopedia

21 a 23 de agosto

São Paulo, SP

VI Curso de Biomecânica Aplicada a Pequenos Animais https://bit.ly/2TheHlh

1 a 3 de abril

2021

São Paulo, SP

2ª Veterinaria Expo & Congress https://www.veterinariaexpo.com/

15 a 17 de outubro

12 a 14 de Maio

São Paulo, SP

Maceió, AL

Curso Intensivo Prático de Ortopedia - Avançado www.cipo.vet.br

41º Congresso Brasileiro da Anclivepa https://www.cbamaceio.com.br/

Oncologia

27 a 29 de julho

Bento Gonçalves, RS

15 a 17 de setembro

Bento Gonçalves, RS

1º Comov – Congresso Medvep Internacional de Oncologia Veterinária https://bit.ly/3fau5c0

Pós-graduação

Início em setembro

São Paulo, SP

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16 a 19 de outubro XX Simpósio Paraibano de Medicina Veterinária http://20simposioparaibanodemv.com/ inscricao2lote/

Evento adiado

Pós em Oftalmologia Veterinária https://bit.ly/2PVMzSL

Conexão Expovet 2020 https://www.expovet.com.br

Patos, PB

Nefrologia

Congresso Medvep Internacional de Especialidades Veterinárias 2021 https://bit.ly/32GWcto

Agenda internacional

23 a 26 de setembro

Varsóvia, Polônia

WSAVA Congress https://bit.ly/2m0UaTN 19 a 21 de setembro 6° Congreso de la Asociacíon EAVLD https://eavld2020.org/ 15 a 17 de outubro

Florida, EUA

2020 VCS Annual Conference http://vetcancersociety.org/vcsmembers/links-of-interest-2/calendarof-events/

Barcelona, Espanha

1st European Congress of Veterinary Endoscopy and Image-guided Interventions http://bit.ly/2FgHej8 20 a 24 de outubro

Sydney, Austrália

9th World Congress of Veterinary Dermatology http://www.vetdermsydney.com 21 a 24 de outubro

Washington DC, EUA

2020 ACVS Surgery Summit https://bit.ly/2kyNE6a 22 e 23 de outubro

Miami, EUA

International Conference on Animal Science & Veterinary Medicine https://phronesisonline.com/animalscience-conference/

26 e 27 de maio

2021

Dublin, Irlanda

2nd World Congress on Veterinary Medicine https://veterinarymedicine. pulsusconference.com/

Evento adiado

22 a 24 de julho

Galapagos Veterinary Experience https://bit.ly/2I9wEvJ

Congreso VEPA Nacional 2020 https://www.facebook.com/vepa.col

Baquerizo Moreno, Ecuador o

Congress of the European Society of Veterinary and Comparative Nutrition http://bit.ly/2MRrBTb

16 e 17 de outubro

Evento adiado

7 e 8 de novembro

Vila Real, Portugal

Sevilla, Espanha

São Paulo, SP

Campinas, SP

17 e 19 de setembro

Cartagena de Indias, Colômbia

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