clínica veterinária n. 147

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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Cardiologia

Controle de insuficiência cardíaca congestiva e arritmias ventriculares em um cão com cardiomiopatia dilatada – relato de caso

Zoonoses Clínica Veterinária: 25 anos a serviço do médico-veterinário

Dirofilariose em cão na região de Maringá, PR – relato de caso

Indexada no Web of Science – Zoological Record, no Latindex e no CAB Abstracts www.revistaclinicaveterinaria.com.br




Índice Editora Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

Conteúdo científico Cardiologia

Publicidade Alexandre Corazza Curti midia@editoraguara.com.br Editoração eletrônica Editora Guará Ltda. Suporte de TI Natan Inacio Chaves mkt2edguara@gmail.com Gerente administrativo Antonio Roberto Sanches admedguara@gmail.com Capa Retrato outonal de cão shutterstock Hysteria

Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total res­­ponsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou to­tal do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária. Editora Guará Ltda. Rua Adolf Würth, 276, cj 2 Jardim São Vicente, 06713-250, Cotia, SP, Brasil Central de assinaturas: (11) 98250-0016 cvassinaturas@editoraguara.com.br Gráfica Gráfica e Editora Pifferprint Ltda.

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Zoonoses

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Controle de insuficiência cardíaca congestiva e arritmias ventriculares em um cão com cardiomiopatia dilatada – relato de caso

Control of congestive heart failure with and ventricular arrhythmiasarrhytmias in a dog with dilated cardiomyopathy – case report Manejo de una insuficiencia cardíaca congestiva y arritmias ventriculares en un perro con cardiomiopatía dilatada – relato de caso

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Dirofilariose em cão na região de Maringá, PR – relato de caso

Heartworm disease in a dog in the region of Maringá, PR, Brasil – case report Dirofilariosis en un perro de la región de Maringá, PR, Brasil – relato de caso

Conteúdo editorial 25 anos Clínica Veterinária: 25 anos a serviço do médico-veterinário

Medicina veterinária do coletivo

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Acumuladores de animais e/ou objetos – práticas interdisciplinares e intersetoriais

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Cães comunitários em campus universitário – estudo de caso

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Rinha de cães em Mairiporã expõe a banalização da dor no entretenimento humano

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Saúde pública

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Transtornos mentais e autoextermínio: fatos reais, mas ainda negligenciados entre os médicos-veterinários

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Legislação

Notícias

O surgimento e a ressignificação do Itec, que agora será IMVC

Vetnil® lança o anti-inflamatório Metilvet®

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Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Conapra)

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TI Proteção Animal Mundial 80 abre inscrições para a segunda edição do prêmio Cidade Amiga dos Animais

Pesquisa

Questionário online para 82 médicos-veterinários a respeito da sua percepção sobre o covid-19 relacionado aos animais

Lançamentos Dois lançamentos da PremieRpet® para cães e gatos

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Os avanços da tecnologia 92 e o futuro da medicina veterinária

Gestão

As vibrações dos sentimentos

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Vet agenda

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Cursos, palestras, semanas acadêmicas, simpósios, workshops, congressos, em todo território nacional e por todo o planeta

Crédito das imagens easter eggs ao longo desta edição a - Jirik V - pg. 6 b - Grigorita Ko - pg. 12 c - Grigorita Ko - pg. 19 d - Vasiliy Koval - pg. 27 e - anetapics - pg. 36 f - Erni - pg. 48 g - Mauro Matacchione - pg. 60 h - Jonathan Pledger - pg. 67 i - Ostancov Vladislav - pg. 68

j - Eric Gevaert - pg. 71 k - Utekhina Anna - pg. 72 l - rebeccaashworth - pg. 79 m - Iryna Rasko - pg. 81 n - Labrador Photo Video - pg. 82 o - 2xSamara.com - pg. 84 p - dezy - pg. 92 q - Chris Alcock - pg. 95 r - Pakhnyushchy - pg. 5

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shutterstock Paulo Vilela

Editorial

Gratidão Vivemos tempos excepcionais, de mudanças imprevistas e de grande impacto, com toda sorte de incertezas pela frente. É natural que nessas horas nosso primeiro impulso seja agarrar-nos àquilo que vemos como minimamente conhecido, sólido e seguro. Afinal, ninguém tem ideia clara do perfil que irão assumir a economia e a sociedade, para não falar das nossas próprias atividades, da nossa própria vida. Envolvidos numa pandemia trazida por um vírus esquivo aos nossos olhos e aos nossos meios de combatê-lo, temos diante de nós um cenário nebuloso, encerrados numa quarentena que nos limita a um círculo restrito, à esfera mais imediata de nossa casa e também para dentro de nós mesmos. No entanto, talvez esse seja justamente um dos poucos desdobramentos positivos dessa pandemia – esse olhar para dentro que nos leva a contemplar nosso cenário interior. É mais do que esperado que se manifeste agora, junto com nossas incertezas e receios, um sentimento de compaixão. Como ficar insensível diante do luto por tantas vidas perdidas, em meio a tantas famílias em sofrimento, a tanta desesperança e medo? Como não perceber e admirar a coragem e o desprendimento de todas as equipes médicas dedicadas a combater na linha de frente da pandemia e das muitas pessoas obrigadas a pôr em risco a própria vida para prover seu sustento e manter os serviços essenciais em operação, muitas vezes sem as condições que poderiam ser oferecidas a elas? O fato de sermos convidados a olhar mais para dentro de nós e para o outro nos faz constatar que, apesar de tudo o que afeta nossa vida, ainda estamos em condições muito mais favoráveis que a grande maioria. No limite, ainda estamos aqui – não fomos ceifados como as dezenas de milhares de nossos iguais que não tiveram a mesma sorte. Portanto, talvez o sentimento mais legítimo a acolher e manifestar seja a gratidão. Ela é que pode lançar uma luz positiva sobre tudo isso e constituir o melhor remédio para evitar a depressão e outras consequências nefastas destes tempos de tanta intensidade. A gratidão nos nutre e fortalece, a gratidão nos impulsiona e nos ampara. Neste 2020 em que celebramos 25 anos de atividade contínua, somos muito gratos por todas as possibilidades de contribuir para a medicina veterinária que nos foram oferecidas ao longo deste quarto de século da nossa revista. Somos muito gratos pelas oportunidades de trabalhar informações com empenho e carinho e levá-las a tantos colegas de todos os pontos do país e também das Américas, contribuindo dentro de nossas condições para ampliar horizontes e revelar possibilidades. Somos muito gratos a todos os autores que têm contribuído com seu desejo de oferecer aos colegas suas experiências, seu tempo e sua dedicação. Somos muito gratos aos consultores que têm oferecido sua competência, seu tempo e sua dedicação. Somos muito gratos a todos os anunciantes que vêm acreditando em nosso trabalho e dando sua contribuição essencial para levar o conteúdo aos nossos leitores. Somos particularmente gratos a todos os leitores que ao longo desses anos vêm nos estimulando e permitindo que compartilhemos os resultados do nosso trabalho. Nestes 25 anos, traçamos este caminho juntos em épocas bem mais tranquilas. Esperamos que agora aquilo que nos moveu e nos manteve nessa trajetória conjunta possa ser ainda mais valorizado e fortalecido, para podermos enfrentar estes tempos turbulentos e continuar, com compaixão e gratidão, fazendo a nossa parte para o aprimoramento da medicina veterinária e das nossas atribuições. Maria Angela Sanches Fessel CRMV-SP 10.159 6

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Consultores científicos Adriano B. Carregaro FZEA/USP-Pirassununga Álan Gomes Pöppl FV/UFRGS Alberto Omar Fiordelisi FCV/UBA Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM Alejandro Paludi FCV/UBA Alessandra M. Vargas Endocrinovet Alexandre Krause FMV/UFSM Alexandre G. T. Daniel Universidade Metodista Alexandre L. Andrade CMV/Unesp-Aracatuba Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul Aline Moreira de Souza FMV/UFF Aloysio M. F. Cerqueira UFF Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia Ana Liz Bastos CRMV-MG, Brigada Animal MG Ananda Müller Pereira Universidad Austral de Chile Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran Angela Bacic de A. e Silva FMU Antonio M. Guimarães DMV/UFLA Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP-São Paulo Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal Aury Nunes de Moraes UESC Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP-São Paulo Beatriz Martiarena FCV/UBA Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice A. Rodrigues MV autônoma Camila I. Vannucchi FMVZ/USP-São Paulo Carla Batista Lorigados FMU

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Carla Holms Anclivepa-SP Carlos Alexandre Pessoa www.animalexotico.com.br Carlos E. Ambrosio FZEA/USP-Pirassununga Carlos E. S. Goulart EMATER-DF Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal Carlos Mucha IVAC-Argentina Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP-São Paulo Ceres Faraco FACCAT/RS César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA Christina Joselevitch IP/USP-São Paulo Cibele F. Carvalho UNICSUL Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo Clarissa Niciporciukas Anclivepa-SP Cleber Oliveira Soares Embrapa Cristina Massoco Salles Gomes C. E. Daisy Pontes Netto FMV/UEL Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS Daniel G. Ferro Odontovet Daniel Macieira FMV/UFF Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo Dominguita L. Graça FMV/UFSM Edgar L. Sommer Provet Edison L. P. Farias UFPR Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE Elba Lemos FioCruz-RJ Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu Estela Molina FCV/UBA Fabian Minovich UJAM-Mendoza Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR

Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE Fabio Otero Ascol IB/UFF Fabricio Lorenzini FAMi Felipe A. Ruiz Sueiro Vetpet Fernando C. Maiorino Fejal/CESMAC/FCBS Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL Fernando Ferreira FMVZ/USP-São Paulo Filipe Dantas-Torres IAM/Fiocruz Flávia R. R. Mazzo Provet Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu Francisco E. S. Vilardo Criadouro Ilha dos Porcos Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu F. Marlon C. Feijo Ufersa Franz Naoki Yoshitoshi Provet Gabriela Pidal FCV/UBA Gabrielle Coelho Freitas UFFS-Realeza Geovanni D. Cassali ICB/UFMG Geraldo M. da Costa DMV/UFLA Gerson Barreto Mourão Esalq/USP Hector Daniel Herrera FCV/UBA Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB Hélio Autran de Moraes Oregon S. U. Hélio Langoni FMVZ/Unesp-Botucatu Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ Herbert Lima Corrêa Odontovet Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery Iaskara Saldanha Lab. Badiglian Idael C. A. Santa Rosa UFLA Ismar Araújo de Moraes IB/UFF

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Jairo Barreras FioCruz James N. B. M. Andrade FMV/UTP Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade João G. Padilha Filho FCAV/Unesp-Jaboticabal João Luiz H. Faccini UFRRJ João Pedro A. Neto UAM Jonathan Ferreira Odontovet Jorge Guerrero Univ. da Pennsylvania José de Alvarenga FMVZ/USP Jose Fernando Ibañez FALM/UENP José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal José Ricardo Pachaly Unipar José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP Juan Carlos Troiano FCV/UBA Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu Juliana Werner Lab. Werner e Werner Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG Julio Cesar de Freitas UEL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal Leonardo D. da Costa Lab&Vet Leonardo Pinto Brandão Ceva Saúde Animal Leucio Alves FMV/UFRPE Luciana Torres FMVZ/USP-São Paulo Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Marcello Otake Sato Dokkyo Medical University Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP-São Paulo


Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP-São Paulo Marcelo Faustino FMVZ/USP-São Paulo Marcelo S. Gomes Zoo SBC,SP Marcia Kahvegian FMVZ/USP-São Paulo Márcia Marques Jericó UAM e Unisa Marcia M. Kogika FMVZ/USP-São Paulo Marcio B. Castro UNB Marcio Brunetto FMVZ/USP-Pirassununga Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó S. Animal Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu Marco Antonio Gioso FMVZ/USP-São Paulo Marconi R. de Farias PUC-PR Maria Cecilia R. Luvizotto CMV/Unesp-Araçatuba Maria Cristina Nobre FMV/UFF M. de Lourdes E. Faria VCA/Sepah Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP-São Paulo Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba Marta Brito FMVZ/USP-São Paulo Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba Masao Iwasaki FMVZ/USP-São Paulo Mauro J. Lahm Cardoso Falm/Uenp

Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP Michele A. F. A. Venturini Odontovet Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu Miriam Siliane Batista FMV/UEL Moacir S. de Lacerda Uniube Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL Nadia Almosny FMV/UFF Natália C. C. A. Fernandes Instituto Adolfo Lutz Nayro X. Alencar FMV/UFF Nei Moreira CMV/UFPR Nelida Gomez FCV/UBA Nilson R. Benites FMVZ/USP-São Paulo Nobuko Kasai FMVZ/USP-São Paulo Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz Patricia C. B. B. Braga FMVZ/USP-Leste Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL Paulo Anselmo Zoo de Campinas Paulo César Maiorka FMVZ/USP-São Paulo Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu Paulo S. Salzo Unimes, Uniban Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP-São Paulo Pedro Germano FSP/USP

Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia Regina Ruckert Ramadinha IV/UFRRJ / Animalia/Pet Care Renata A. Sermarini Esalq/USP Renata Afonso Sobral Onco Cane Veterinária Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu Ricardo Duarte All Care Vet / FMU Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR Ricardo S. Vasconcellos CAV/Udesc Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ Rita Leal Paixão FMV/UFF Robson F. Giglio H. Cães e Gatos; Unicsul Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba Ronaldo C. da Costa Ohio State University Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio Rosângela de O. Alves EV/UFG Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu Silvia E. Crusco UNIP/SP Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo Silvio A. Vascon­cellos FMVZ/USP-São Paulo Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM Simone Gonçalves Hemovet/Unisa Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu Tiago A. de Oliveira UEPB Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR Valéria Ruoppolo I. Fund for Animal Welfare Vamilton Santarém Unoeste Vania de F. P. Nunes FNPDA e Itec Vania M. V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Victor Castillo FCV/UBA Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG Viviani de Marco UNISA e NAYA Wagner S. Ushikoshi UNISA e CREUPI Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

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Instruções aos autores

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Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Enviar por e-mail (cvredacao@editoraguara. com.br) ou pelo site da revista (http:// revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-deartigos-cientificos) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na lar­ gura 10

de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitali­ za­ das, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de re­ da­ ção cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acom­pa­nha­das de identificação de propriedade e autor). Devem ser en­viadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, tel­efones e e-mail) e uma foto 3x4 de rosto de cada um dos autores. Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus tí­ tulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser re­lacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 12, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser

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utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Uti­li­zar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utili­zar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições an­te­riores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar in­for­mações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utili­za­do, cada capítulo deverá ser considerado uma

referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). Somente autores de trabalhos originais devem ser citados, e nunca de revisões. É preciso ser ético pois os créditos são daqueles que fizeram os trabalhos originais. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www. xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabalho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. Nesse subtítulo devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/ distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua Adolf Würth, 276, cj. 2, 06713-250, Cotia, SP cvredacao@editoraguara.com.br

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25 anos

Clínica Veterinária: 25 anos a serviço do médico-veterinário b

O ano de 2020 sem dúvida entrou para a hiso nosso acervo inteiro e liberarmos para downtória do planeta. Ele nos trouxe o abalo de esload gratuito as edições de 1 a 100. Nosso pectro mais abrangente dos últimos cem anos acervo conta com 800 artigos científicos, abor– no mínimo –, e estamos todos relativamente dando as diversas áreas da medicina veterinádesnorteados sob o seu grande impacto, sem ria, da dermatologia à cirurgia, da saúde púideia ainda da profundidade e da extensão das blica à oftalmologia, passando por reprodução, mudanças em curso, nem do novo perfil que oncologia e tantas outras áreas fundamentais de agora em diante terão todas as nossas atipara o conhecimento do médico-veterinário. vidades e o nosso cotidiano. Além de científicos, temos historicamente ofeÉ apesar dessa incerteza em relação ao furecido artigos fundamentais para a profissão turo, mas também com essa grande abertura das áreas de medicina veterinária do coletivo, a novas oportunidades, que celebramos esses medicina veterinária legal, medicina veteriná25 anos de atividades da nossa revista. Um ria de desastres e bem-estar animal, e também bom momento para renovar propósitos e ajusmatérias sobre tecnologia, gestão, serviços tar procedimentos e enfoques. A melhor hora, de apoio e pós-graduação, entre tantos outros portanto, para introduzir mudanças. assuntos de interesse do setor. Oferecemos A primeira delas é o novo site – não só uma sempre um bom repertório de informações técnova cara, mas um novo núcleo de aglutinanicas e científicas, cobrindo as mais diversas ção e redirecionamento. Vale a pena uma visiespecialidades da medicina veterinária. Um reta para checar algumas das novidades da celebração desses 25 anos. Um site de navegação mais fluente, com acesso às edições, ao blog, com as principais atualizações e informações sobre o setor e as chamadas e links para eventos de destaque – feiras, congressos e simpósios, cursos, semanas acadêmicas, agenda nacional e internacional, entre outros. Entre as conquistas deste ano, con- O novo site da revista Clínica Veterinária é o portal de entrada para as edições, o blog, e as seguimos digitalizar principais atualizações do setor. Acesse: clinicaveterinaria.com.br 12

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O acervo digital da revista Clínica Veterinária conta mais de 800 artigos científicos abordando as principais áreas e especialidades da medicina veterinária

curso de consulta sempre à disposição para o aprimoramento e a atualização profissional. Como ação solidária nestes tempos excepcionais que estamos vivendo, a revista Clínica Veterinária libera gratuitamente, a cada semana, um artigo científico. O nosso blog também passou por uma boa renovação e é alimentado diariamente com notícias atuais, unindo as mais distintas regiões do nosso país. A ideia agora é promover uma sinergia cada vez maior não só entre a revista, o site, o blog e as mídias sociais, mas entre as diversas instâncias da medicina veterinária, incentivando um diálogo cada vez mais consistente entre os diversos atores – médicos-veterinários, estudantes de veterinária, professores, consultores, autores e todo o importante entorno de empresas do setor médico-farmacêutico e de alimentação animal. O cenário da medicina veterinária mudou muito nesses 25 anos, e a expectativa é de

que irá sofrer mudanças ainda mais radicais agora. Âmbitos não completamente explorados dentro da medicina veterinária, como bem-estar animal, medicina de desastres, medicina veterinária legal e medicina veterinária do coletivo, entre outros, são valorizados nas nossas publicações, e a própria revista ainda celebrará em 2020 muitos passos importantes. Um ano inteiro de celebração aos nossos 25 anos. Mas a ideia mais constante em todos esses anos é a do valor da prestação do serviço. Nesse cenário em que todas as estruturas estão sendo sacudidas, direcionamos nosso foco com um olhar renovado e atento para as novas necessidades e as realidades do setor, para podermos continuar a servir e a prestar esse serviço com o máximo de adequação e utilidade. E o nosso sentimento mais presente, aquele que mais nos impulsiona a seguir adiante, é a gratidão a todos aqueles que nos ajudaram até aqui a cumprir a nossa missão.

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Medicina veterinária do coletivo

Acumuladores de animais e/ou objetos – práticas interdisciplinares e intersetoriais Introdução O transtorno de acumulação compulsiva, de acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, é considerado um distúrbio mental caracterizado pela dificuldade persistente ou permanente de descartar ou se desfazer (descarte, venda, doação ou reciclagem) de pertences, independentemente do seu valor real 1. É um problema multifatorial e interdisciplinar de saúde 2, gerado por um transtorno que leva uma pessoa a ter um número cada vez maior de animais e/ou objetos sem condição para mantê-los. Em 1997, um grupo de estudo interdisciplinar, o Hoarding of Animals Research Consortium (Harc), definiu acumulador como alguém que tem muitos animais, sobrecarregando a capacidade de lhes fornecer padrões mínimos de nutrição, saneamento e cuidados veterinários 3. O transtorno de acumulação, temporário ou permanente, pode estar associado a eventos traumáticos (perda, abandono e violência) e à procura de um objeto que possa compensar a dor que se criou no acumulador. O histórico familiar aparece como um forte componente para a ocorrência do problema  4,5. Comumente, a acumulação trabalha como um instrumento de autocompensação que sai de controle, criando mais um problema. A acumulação foi progressivamente relacionada a uma variedade de transtornos psiquiátricos comórbidos, como, por exemplo, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e a esquizofrenia. A acumulação é o resultado de um déficit de processamento de informação, de dificuldades em formar ligações emocionais, de evitação do comportamento social e de crenças errôneas sobre a natureza das posses. Relativamente ao novo diagnóstico, até há pouco tempo a acumulação era considerada um subtipo do TOC, porém algumas pesquisas sugeriram que ela fosse incluída 14

na CID-11 (Classificação Internacional de Doenças) separadamente do TOC, pois existiam características específicas do transtorno de acumulação que diferiram do TOC 6. Dessa forma, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) atualmente considera o transtorno de acumulação diferente do TOC, sendo reconhecido como uma síndrome clínica por si só 7,8,9. Quais as razões para o acúmulo? Os indivíduos com transtorno de acumulação conservam intencionalmente os pertences e experimentam sofrimento quando encaram a perspectiva de descartá-los. Esse critério enfatiza que guardar os pertences é intencional, o que discrimina o transtorno de acumulação de outras formas de psicopatologia que são caracterizadas pela acumulação passiva de itens ou pela ausência de sofrimento quando os pertences são removidos 1. Diversas razões podem ser atribuídas a essa dificuldade, como, por exemplo, a percepção de alguma utilidade ou valor estético para os itens, forte apego sentimental, responsabilidade pelo destino dos pertences, evitar o desperdício e/ou medo de perder informações importantes. Essa dificuldade geralmente ocorre em consequência de uma forte percepção da necessidade de conservar, guardar ou salvar itens (ou animais) e do sofrimento associado ao descartá-los. A dificuldade de descartar pode ou não estar acompanhada da aquisição excessiva de itens (ou animais) que não são necessários ou para os quais não existe espaço disponível 10. Característica dos acumuladores As características das pessoas que acumulam animais estão descritas na figura 1. Embora os casos que chamam a atenção geralmente envolvam um número muito grande de

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• Ausência de fornecimento de padrões mínimos de saneamento, espaço, alimentação e/ou cuidados veterinários aos animais. Compromete substancialmente o bem-estar e a qualidade de vida dos animais envolvidos. • Incapacidade de reconhecer os efeitos dessas falhas no bem-estar dos animais, da família e do meio ambiente. Em algumas situações extremas, cadáveres de animais em decomposição podem ser encontrados nesses ambientes devido à baixa percepção da situação. • Obsessão por acumular cada vez um número maior de animais, independentemente da progressiva deterioração das condições. Recusa em disponibilizar os seus animais para adoção, sempre colocando empecilhos como o apego pessoal, os cuidados particulares, a idade, o comportamento e o estado de saúde dos animais, o que acaba expondo-os cada vez mais a precárias condições de vida. • Negação ou minimização dos problemas. Evita situações de exposição, não recebe visitas, impede entrada das autoridades e acaba se isolando da sociedade.

Figura 1 – Características utilizadas para definir casos de acumuladores de animais 10

animais e/ou objetos, não é a quantidade que determina um caso de acumulação, e sim a falta de padrões mínimos de cuidado; a falta de visão sobre o problema; a negação das consequências; e as tentativas contínuas de manter/aumentar o número de animais e/ou objetos 11. Consequências e riscos associados à acumulação A acumulação de animais pode causar sofrimento significativo ou prejuízo nos âmbitos emocional, social, físico, profissional, financeiro, legal e/ou em outras áreas importantes na vida do indivíduo, incluindo a falta de manutenção de um ambiente seguro para si e para os outros ¹. A falta de condições para organizar o ambiente é uma das principais características relacionadas ao transtorno. A atenção mostra-se inadequada, em função da quantidade de animais acumulados, fato que compromete a saúde do indivíduo e dos animais 11. Tal situação favorece circunstâncias de vida insalubres, locais inabitáveis com odores insupor-

Figura 2 – Residência de pessoa com transtorno de acumulação de objetos em Curitiba, PR, apresentando acumulação de fezes e urina dos animais, e proliferação de vetores e roedores

táveis produzidos pelas excretas dos animais e por alimentos putrefatos, situações que impossibilitam o convívio, propiciando o surgimento de múltiplas doenças, contaminações 5 e proliferação de vetores e roedores passíveis de disseminação de zoonoses, representando um sério problema de saúde pública. Altos níveis de amônia, que ocorrem pela acumulação de fezes e urina dos animais, podem causar irritação ocular e respiratória 12. Além disso, o barulho provocado pelos animais, principalmente os latidos dos cães, e o odor desagradável do local incomodam significativamente a vizinhança, e geralmente são esses fatores que motivam o registro de denúncias por parte da comunidade 13 (Figura 2). Observam-se também riscos de quedas das pessoas que habitam o local e de incêndio, muitas vezes provocado pela obstrução das saídas de fogo, o que coloca em perigo a segurança e o bem-estar do acumulador e da circunvizinhança local 12 (Figura 3). Além dos efeitos da acumulação na vida diária e sobre os animais, da destruição da propriedade e do risco para a saúde pública, a negligência se reflete no próprio acumulador e em crianças e idosos dependentes; na alienação e no afastamento da família; nos problemas de saúde mental que permanecem não diagnosticados e não tratados; nos riscos para a saúde física do indivíduo e nos custos

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Figura 3 – Residência de pessoa com transtorno de acumulação de animais e objetos em Curitiba, PR, apresentando perigo à segurança e ao bem-estar do acumulador e da circunvizinhança local

da intervenção, assim como nos resultados traumáticos e pouco satisfatórios para todos os envolvidos 14. O perfil e os tipos de acumuladores Estudos epidemiológicos indicam que os casos de acumulação envolvem principalmente mulheres idosas, quase sempre solteiras, divorciadas ou viúvas que vivem sozinhas, na maioria dos casos incapacitadas, aposentadas ou desempregadas e com baixa qualidade de vida 12,15,16. Vários estudos realizados em países desenvolvidos confirmam esse estereótipo. Acredita-se que esse comportamento pode estar presente desde a infância ou a adolescência, intensificando-se os sintomas na fase adulta 16-20, com forte tendência a se agravarem com o passar do tempo e à medida que mais objetos ou animais vão sendo acumulados 12. 16

Até o momento, no Brasil existe pouca informação sobre os casos de acumulação de animais, sendo que o estudos publicados também confirmam o perfil previamente relatado, de acordo com os quais a espécie mais prevalentemente envolvida são os cães, diferentemente dos estudos norte-americanos e de outros países desenvolvidos, que retratam os gatos como a espécie predominante 10. A acumulação de animais não é restrita a pessoas pobres e com baixa escolaridade, e atinge todas as classes sociais e níveis de educação. Há relatos envolvendo professores, corretores 2, médicos, enfermeiros e médicos-veterinários 21. De forma geral, existem três grandes tipos de acumuladores de animais: o cuidador sobrecarregado, os resgatadores de animais com uma missão e os exploradores de animais 22, apresentados na figura 4. Cabe ressaltar que essa classificação não é definitiva, podendo existir sobreposição entre os diferentes tipos; em momentos diferentes, a pessoa que acumula pode apresentar características dos três tipos 10. Abordagens estratégicas para a solução As situações de acumulação geralmente chegam às autoridades locais por meio de denúncias da população relacionadas às condições higiênicos-sanitárias do local, a maus-tratos infligidos aos animais e ao abandono de idosos, ou pela sinalização das equipes da rede pública durante suas práticas cotidianas (agentes comunitários da saúde, agentes de combate a endemias e equipes de estratégia de saúde da família) 10. Pesquisadores brasileiros analisaram denúncias de maus-tratos aos animais registradas na prefeitura do município de Curitiba, no ano de 2012. No período estudado foram recebidas 2.162 denúncias, sendo que 81 delas (3,7%) tratavam de acúmulo de animais 24. Outro levantamento feito no mesmo município junto às secretarias municipais de Saúde, Meio Ambiente e Assistência Social no período entre 2013 e 2015 constatou que

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Cuidador sobrecarregado

Salvador com uma missão

Explorador de animais

• Tem alguma consciência da realidade dos problemas; • alteração social, econômica e/ou médica desencadeia o problema; • quer oferecer cuidados adequados; • os animais são vistos como família; • tem autoestima ligada ao papel de cuidador; • tende a minimizar os problemas, e não negá-los; • permite o acesso à propriedade; • tende a seguir as recomendações; • adquire os animais passivamente.

• Tem forte sensação de missão; • opõe-se à eutanásia; • acredita que é o único que pode cuidar dos animais; • inicialmente pratica o resgate seguido de adoção, que depois é abandonada; • tem dificuldade de recusar a chegada de novos animais; • evita as autoridades e/ou impede o seu acesso; • é menos receptivo à intervenção; • adquire animais ativamente.

• É o tipo mais difícil de lidar; • adquire animais para atender a necessidades pessoais; • não tem empatia; • é indiferente aos danos causados aos animais; • acredita que seu conhecimento é superior ao dos outros; • é articulado e passa confiança; • adquire os animais ativamente.

Figura 4 – Tipos de acumuladores e suas características 22,23

dentre as 226 denúncias, 113 (50%) foram confirmadas como acúmulo compulsivo, das quais 48 (42,5%) de objetos, 41 (36,3%) de animais e 24 (21,2%) de objetos e animais 25. Devido à importância do tema e à necessidade de intervenção diante dos estudos científicos e das epidemiologias retratadas, diversas prefeituras estão articulando e criando políticas públicas para atender a pessoas com transtorno de acumulação. Dentre algumas políticas públicas já criadas estão as dos municípios: São Paulo, SP, pelo Decreto nº 57.570, de 28 de dezembro de 2016; Campinas, SP, pelo Decreto nº 19.684, de 21 de novembro de 2017; e Pinhais, PR, pelo Decreto nº11/2019. Estudos internacionais demonstram que a solução reside na abordagem multidisciplinar, desde a investigação até a resolução, e no monitoramento a longo prazo, para prevenir a reincidência, muito comum nesses casos 26. Mas, por serem ainda pouco entendidas e diagnosticadas nas comunidades brasileiras, essas desordens psicológicas e todas as suas consequências acabam sendo negligenciadas. Parte disso pode estar associada ao desprezo do gestor público para diagnosticar e agir precocemente de forma propositiva e dentro das leis municipais, estaduais e federativas 27. Um dispositivo importante na abordagem de casos é a unidade básica, com suas equipes multidisciplinares de Estratégia de Saúde da Família (ESF). A equipe contempla a vigilân-

cia e a prevenção das doenças e tem uma forte ação comunitária, e com isso pode detectar as questões que repercutem nas condições de saúde do entorno 28. Profissionais de diversas áreas devem unir esforços para discutir o tema e propor estratégias de resolução, criando um grupo de trabalho (GT) especificamente para essa finalidade 10. Psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras, equipes de saúde da família, médicos-veterinários e profissionais da saúde pública, dentre outros, devem formular um Projeto Terapêutico Singular (PTS) voltado para o portador da condição, elencando ações prioritárias de acordo com as necessidades de cada caso 29, o que constitui um desafio para a equipe multiprofissional, os gestores e os atores envolvidos em garantir uma saúde qualificada. De acordo com o Ministério da Saúde, o Projeto Terapêutico Singular (PTS) “é um conjunto de propostas terapêuticas articuladas para um sujeito individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe multidisciplinar”. O PTS se dá em quatro movimentos: definição de hipóteses diagnósticas, definição de metas, divisão de responsabilidades e reavaliação. Também diz respeito à inserção do usuário em diferentes formas de acompanhamento nos serviços, com a articulação de equipamentos da rede intersetorial 30. Nos casos de acumulação, a rede intersetorial local (microrrede) será composta por um conjunto de serviços

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Figura 5 – Fluxograma de atuação diante da suspeita de pessoas acumuladoras

de diferentes funções e complexidades, que devem operar de forma articulada no território, de modo a atender às necessidades específicas do caso. É importante ressaltar que a estratégia de intervenção utilizada é diferente em cada caso, e que a pessoa participa ativamente das decisões. O transtorno da acumulação é um comportamento com causa multifatorial e abrangente e não tem cura definitiva conhecida até o momento, portanto, sugere-se uma abordagem holística em que as ações de um PTS sejam voltadas para o controle da situação de risco e a reinserção do indivíduo na comunidade. Nesse sentido, destaca-se a importância da criação do vínculo de confiança com a pessoa que acumula, do acolhimento e do acompanhamento longitudinal, incluindo a família e os vizinhos, visando reduzir os impactos negativos na saúde humana, animal e ambiental. A figura 5 ilustra como se deve atuar em casos de suspeita de pessoa com transtorno de acu18

mulação. A combinação de tratamentos que apresenta êxito em casos de transtorno de acumulação consiste na aplicação de Reabilitação Cognitiva Combinada (RCC) em conjunto com a abordagem de Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), pois ambas promovem a habituação ao sofrimento causado por descartar ou não adquirir novas posses 9. A TCC é uma modalidade que consiste em um método focado, de caráter breve e com sessões estruturadas, com o objetivo de compreender a reestruturação do pensamento. A RCC e a reorganização ao descarte constituem um tratamento viável, aceitável e promissor, com redução significativa da gravidade da acumulação 31. Dessa maneira, a visita domiciliar é um recurso importante da Estratégia da Saúde da Família, já que tem condições de viabilizar processos de atenção aos indivíduos portadores do agravo. Conhecedor desses possí-

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veis eventos, o profissional da ESF deve estar preparado para uma abordagem fundamentada em três pontos: identificação, proteção à saúde e articulação de rede. O cuidado domiciliar no plano da atenção básica faz parte do processo de trabalho das equipes e prima pela interdisciplinaridade. Cada caso deve ser discutido em equipe, considerando as especificidades técnicas e socioculturais 32. Claro está que muitos indivíduos portadores do transtorno de acumulação podem recusar visitas domiciliares e, com frequência, não permitir acesso ao ambiente. Concomitantemente, a predisposição do profissional em estabelecer de imediato os danos do comportamento do indivíduo portador de desordem de acumulação favorece o distanciamento e propicia a rejeição/recusa em receber assistência e cuidado 29. Para isso, devem-se incluir no PTS interações frequentes com a pessoa que acumula, na maioria das vezes por várias visitas domiciliares, visando o fortalecimento do vínculo e possibilitar que as ações sejam realizadas em consenso com a pessoa 10. No QR code ao lado é possível acessar um modelo de instrumento para a visita domiciliar técnica de pessoas com transtorno de acumulação. O mapeamento das pessoas que acumulam pode ser um início para uma investigação em busca de maiores informações do paciente e de seu histórico familiar e de saúde, e também de compreender seus relacionamentos interpessoais e suas reais condições de vida e dos animais. A formação de um Comitê Regional de Atenção à Saúde da Pessoa com Transtorno de Acumulação poderá ser extremamente útil na manutenção desse cuidado 33. A ação interdisciplinar e intersetorial é fundamental para atingir o objetivo, sendo necessários a inclusão dos serviços de vigilância da saúde e do meio ambiente, a atenção primária, a assistência social e os serviços de limpeza urbana e de defesa civil. Os profissionais de saúde da ESF podem

sentir-se desmotivados diante dessa realidade; contudo, devem se reconhecer como agentes construtores de alternativas. O apoio psicossocial ao indivíduo, o incentivo e campanhas de esterilização de animais, o suporte ao controle zoossanitário, a oferta de condições mínimas, as feiras de adoção e a avaliação clínico-veterinária dos animais são algumas das possibilidades de ações viáveis a serem estabelecidas com parceiros 34,35. De forma geral, a abordagem de uma pessoa acumuladora deve se basear em criar um vínculo (de confiança) e respeitá-lo, desenvolver ações no entorno, definir quem ou que serviços farão as primeiras visitas conjuntamente e utilizar um formulário de visita para obter o máximo de informação em menos tempo e com menos visitas. Qualquer ação não discutida poderá prejudicar e fazer retroceder o processo. Desfazer-se dos objetos/animais é um processo demorado, que envolve muito sofrimento por parte do paciente e pode levar anos. A retirada faz parte do processo terapêutico, devendo ser garantido o cuidado contínuo para evitar a reincidência, ou seja, a realização de monitoramento periódico. O objetivo é ressignificar o sintoma de acumulação e revertê-lo para alguma atividade ou ação socialmente aceita; promover a inclusão social e o resgate da autoestima; e garantir a atenção integral à saúde das pessoas acumuladoras, objetivando o seu bem-estar físico, mental e social. Referências

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MV, CRMV/PR 16.773 Aluno de residência HV/UFPR lucasgaldioli@ufpr.br

Taylison Alves dos Santos Gestor financeiro IMVC taylison@ufpr.br

Rita de Cassia Maria Garcia

MV, CRMV-SP: 5.653, mestre, dra., profa. Depto. de Medicina Veterinária – UFPR ritamaria@ufpr.br

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Cães comunitários em campus universitário – estudo de caso Introdução A presença de cães errantes é um problema na maioria dos centros urbanos devido aos riscos de acidentes de trânsito e de transmissão de zoonoses, além de eles estarem sujeitos a doenças e à falta de alimento 1,2. A falta de restrição de movimentos e de supervisão, combinada com a falta de políticas para o manejo populacional de cães 3, pode resultar em um grande número de animais errantes, bem como no aumento da probabilidade de conflitos entre seres humanos e cães 4. Cães errantes podem gerar problemas que comprometam a saúde pública e o saneamento ambiental, e o seu bem-estar pode ser afetado 4. Uma parcela dos cães errantes tem tutores, sendo considerada semidomiciliada; uma outra parcela é composta por animais perdidos e abandonados, atraída para áreas onde há fontes de recursos para a sua manutenção – normalmente, áreas urbanas densamente povoadas. Esses animais são denominados “cães comunitários” quando dependem de uma ou mais pessoas da comunidade para fornecimento de alimento e abrigo 1. Em campi universitários, esses cães conseguem encontrar fontes de alimento constantes, facilitando a sua instalação na área, apoiada por cuidadores que frequentam o local. A escassez de estudos sobre a dinâmica e o tamanho da população de cães em campi universitários dificulta a implementação de estratégias de manejo desses animais 5. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi criado o Centro Veterinário de Monitoramento Animal (Cema), onde foram registrados 19 ataques pelos cães errantes, além de outros acidentes envolvendo esses animais, como atropelamentos, perturbação às aulas e ataques a outros animais 6. A Universidade de São Paulo (USP), em 2001, construiu um abrigo para os cães capturados no campus 22

com o objetivo de castrá-los e doá-los posteriormente, mas não se observou diminuição na população desses animais no local 5. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), os problemas gerados por cães comunitários em campi, principalmente os ataques e agressões, já foram temas de reuniões de colegiados setoriais e da própria reitoria. Objetivou-se conhecer as interações e a dinâmica populacional dos cães do Campus Politécnico da UFPR, em Curitiba, a fim de auxiliar a implantação de estratégias que promovam uma convivência harmoniosa entre a comunidade acadêmica e esses animais, diminuindo os riscos de ataques e mordeduras. Metodologia O campus escolhido para o estudo foi o Centro Politécnico da UFPR, devido às reclamações frequentes de ataques aos transeuntes pelos animais comunitários do local. Localizado em Curitiba, PR, no bairro Jardim da Américas, o Centro Politécnico tem uma área total de 644.022,05 m², e não há controle do número de pessoas ou animais que circulam pelo campus. Para precaver o abandono de cães nos campi, a UFPR utiliza a comunicação visual por meio de cartazes informando sobre o crime de abandono de animais – Lei Federal no 9.605/98. A observação dos animais no campus do Centro Politécnico foi realizada por uma graduanda de medicina veterinária em duas etapas: uma durante o período de aulas, às segundas-feiras, das 6h30 até as 16 horas, no período de 23 de outubro a 20 de novembro de 2017; e outra no período de férias, de 9 a 12 de julho de 2018, diariamente. Resultados e discussão Até 2016, havia no campus do Centro Politécnico um grupo fixo de sete cães (Zeus,

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Aramis, Branquinha, Tera, Guela, Belinha e Arisco). Um membro da comunidade assumiu a alimentação, o manejo sanitário e os cuidados dos animais, incluindo a castração das fêmeas e o encaminhamento para o veterinário em casos de acidentes, criando uma interação positiva com os cães. Em 2017, dois deles sumiram e um faleceu devido a cinomose, mostrando a necessidade de se implementarem estratégias para garantir o bem-estar, a saúde e a segurança desses animais dentro da universidade. Os quatro cães que viviam no campus no período da pesquisa (2017-2018) – Zeus, Belinha, Tera e Guela (Figura 1) – já eram conhecidos pela comunidade universitária. Zeus, o mais velho do grupo, já estava havia cerca de 8 anos vivendo no local; de comportamento dócil, permitia a aproximação de pessoas e carinhos, pressupondo-se que deve ter sido socializado com pessoas adequadamente. Os dois mais novos do grupo, Belinha e Guela, com cerca de dois anos, nasceram no bosque do campus e só tiveram contato com o grupo por volta dos seis meses de idade. Esses dois cães apresentavam sinais de agressão por medo e/ou atitude defensiva, provavelmente pelo fato de não terem sido socializados no período de três a doze semanas de idade. A falta de socialização pode ser uma das causas de esses cães apresentarem medo na presença de pessoas, cães, bicicletas, carros e motos 7,8. Esse comportamento também foi descrito em outros estudos, nos quais animais de vida livre com baixa socialização apresentavam evitação a seres huma-

nos 9 e atitude predatória direcionada a carros, presente de forma recorrente em cães aversivos (cães que não permitem aproximação) 10. A socialização inadequada pode levar a problemas comportamentais no futuro, tanto com outros animais como com pessoas e objetos (carros e bicicletas, por exemplo). A terapêutica comportamental para esses problemas pode incluir a dessensibilização e o contracondicionamento. A primeira é utilizada em cães que exibem medo, sensibilidade ou reatividade a um estímulo e são dessensibilizados por meio da técnica de habituação, em que o estímulo causador da reação é repetido com intensidade abaixo do limiar que provoca a reação e aumentado de forma lenta e gradativa, até que o animal não responda mais de forma negativa. O contracondicionamento faz com que o animal relacione o estímulo negativo a uma resposta emocional positiva, substituindo um comportamento inaceitável, e é usado junto com a dessensibilização 7,8. Durante o período de observação dos animais, nenhum ataque contra pessoas ou contra outros animais foi registrado (Figuras 2 e 3), mas várias vezes se observaram os cães latindo e correndo atrás de transeuntes. A agressão pode indicar uma expressão normal de comunicação vocal e postural, podendo ser um comportamento natural ou problemático, dependendo da situação 7. No entanto, cães errantes com potencial agressivo representam um risco para as pessoas e para outros animais 11. Os cães protegem o seu território, principalmente os pontos favoritos de repouso, onde podem passar até 60% do seu

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Figura 1 – Cães do campus do Centro Politécnico da UFPR em Curitiba: a) Tera; b) Zeus; c) Guela; e d) Belinha Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020

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Figura 2 - Imagem inicial de vídeo apresentando cães no campus do Centro Politécnico da UFPR, durante estudo – https://youtu.be/k4ndv6VGvSw

UFPR CampusMap (http://www.campusmap.ufpr.br/map/php/index.php

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Figura 3 - Imagem inicial de vídeo apresentando cães em perseguição a carros e motos, provalmente em função de medo e defesa de território – https://youtu.be/ iuMrd6knuWM

tempo. A defesa do território é um dos motivos mais frequentes de agressão tanto a pessoas 7,12 quanto a outros animais, podendo ser a motivação da agressão a transeuntes 13 no campus. Essa defesa territorial também apresenta um aspecto positivo, pois pode impedir que outros cães invadam o local 14. Os usuários do campus devem ser informados sobre o comportamento desses animais, sua baixa socialização e a dificuldade de interação com seres humanos, para prevenir acidentes 7,8. Programas educativos sobre o comportamento e o bem-estar dos cães, além dos riscos e benefícios da interação entre seres humanos e animais, deveriam ser implantados em campi universitários a fim de diminuir os 24

Figura 4 – Mapa do campus do Centro Politécnico da UFPR mostrando o local de permanência e alimentação dos cães. Ponto 1: Estacionamento do portão da Rua Evaristo F. F. da Costa; ponto 2: bosque do Departamento de Educação Física; ponto 3: bloco PA; ponto 4: entrada pela Av. Cel. Francisco H. dos Santos; ponto 5: entrada do prédio da Administração.

riscos de acidentes e envolver a comunidade na solução da problemática de cães abandonados. Oficinas e reuniões com a comunidade interessada em cuidar dos cães são uma forma de debater propostas e métodos para melhorar seu manejo dentro do campus e unir quem estiver interessado em cuidar desses animais 10. Projetos de extensão e pesquisas sobre o tema também devem ser estimulados, além da inclusão de disciplinas de medicina veterinária do coletivo, bem-estar e comportamento animal no currículo da graduação. A disciplina de bem-estar animal era ofertada em 2013 e 2017, respectivamente, em 46% e 63,4% das instituições de ensino de medicina veterinária; a disciplina de etologia, ofertada em 26% e 28,6% das instituições de ensino, respectivamente em 2013 e 2017 15,16. Segun-

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do as recomendações da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), sugerem-se como disciplinas obrigatórias do curso de medicina veterinária as matérias de bem-estar animal e etologia, para que os estudantes dessa área estejam aptos a reconhecer um animal abaixo das condições adequadas de bem-estar e do comportamento específico de cada espécie 17. Quanto à medicina veterinária do coletivo, ainda é baixa a oferta da disciplina pelos cursos de medicina veterinária do país 18. Os cães eram alimentados diariamente às 6:30 da manhã por uma professora, com ração e comida caseira, perto do estacionamento do portão da Rua Evaristo F. F. da Costa (Figura 4, ponto 1), exceto nos fins de semana. Durante a alimentação, até os cães menos socializados, como a Guela e a Belinha, se aproximavam da professora, mantendo a distância de fuga em cerca de um metro. Quando essa distância não é respeitada e o cão se sente ameaçado, ele tenta fugir e, caso não consiga, pode atacar 7. A presença deles perto do restaurante universitário (RU), onde seria mais esperado encontrar cães pela grande oferta de alimento, não foi observada com frequência, pois esses animais são aversivos e tentam evitar lugares com muita aglomeração. Durante a tarde eles descansavam no campus, ficando principalmente no bosque da Educação Física (Figura 4, ponto 2) que tem aproximadamente 36.000 m², e nos pontos 3, 4 e 5 (Figura 4). Quando os animais permaneciam no bosque (ponto 2), a observação não era possível devido ao difícil acesso. No ponto 3, os cães foram vistos descansando todos os dias nas observações de julho, devido ao baixo movimento de pessoas nesse local durante as férias. Já nos pontos 4 e 5 foram mais observados em outubro e novembro. No ponto 5, em frente ao prédio de Administração, os cães se mantinham em locais mais afastados da movimentação, com exceção de Tera e Zeus, que permitem uma aproximação maior e ficavam em locais mais perto de portas, muitas vezes ganhando alimentos dos transeuntes. Comportamentos semelhantes foram ob-

servados em cães aversivos que frequentam a Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira, da USP, em São Paulo, SP, onde a distância de fuga relatada é de um a dois metros, e que em qualquer tentativa de aproximação acabavam fugindo. Esses animais aversivos da USP utilizavam também com frequência áreas de mata do campus para se manterem distantes do contato com as pessoas 10. Apesar da insuficiência de estudos sobre a existência de cães em campi universitários, diversas estratégias têm sido testadas pelas universidades brasileiras. Em 2001, a USP construiu um abrigo para manter até 120 cães. Infelizmente, sua capacidade máxima foi rapidamente atingida, e não houve diminuição do número de animais no campus, devido à alta taxa de abandono e à grande fonte de alimentação disponível 5. Desde 2014 o projeto de extensão, denominado Projeto Zelo, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), visa conscientizar a comunidade sobre abandono e maus-tratos, além de monitorar a entrada e promover a adoção de novos animais no campus, com a colaboração do Hospital Veterinário, de acadêmicos de cursos variados, de docentes e de técnicos administrativos da UFSM 19. O campus Goiabeiras, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), castra e desvermina os animais com a ajuda do Hospital Veterinário da Ufes 20. Os cães comunitários em campi universitários também têm sido foco de eventos específicos. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) realizou em 2014 o 1° Encontro sobre Animais Abandonados em Campi Universitários, a fim de debater a criação de uma comissão para realizar o manejo de cães e gatos e prevenir o abandono 21. Em 2016 houve o 2º Encontro sobre Animais Abandonados em Campi Universitários, dessa vez na UFSM, iniciativa organizada pelo Projeto Zelo 22. O terceiro encontro será sediado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em novembro de 2020 23, se até lá a epidemia de coronavírus assim o permitir. A Prefeitura de Curitiba mantém o proje-

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Medicina veterinária do coletivo to Cão Comunitário, monitorando a saúde e o bem-estar de animais do município e utilizando-os como sentinelas para o controle e a prevenção de zoonoses. Os animais beneficiados são vacinados, esterilizados, registrados e identificados por meio de coleiras e microchips, passam por exames e recebem tratamento contra endo e ectoparasitas 24. Uma proposta para o monitoramento e a manutenção de bons níveis de bem-estar dos cães no campus do Centro Politécnico da UFPR é a sua inclusão no programa Cão Comunitário, que é definido pela Lei no 17.422/2012 25 como “aquele que estabelece com a comunidade em que vive laços de dependência e de manutenção, ainda que não possua responsável único e definido”, sendo seu cuidador “um membro da comunidade em que vive o animal comunitário e que estabelece laços de cuidados com o mesmo”. O cão comunitário estabelece a função de barreira sanitária no local, criando uma contenção natural para a entrada de novos animais e diminuindo os riscos de transmissão de doenças para a população humana. Em contrapartida, o cão também é beneficiado com vacinação, sua expectativa de vida e seu bem-estar são melhorados e ele terá alimento, água e abrigo constantes. A manutenção desses cães é uma importante alternativa para a melhora do nível de bem-estar dos cães de rua. A proximidade da comunidade com o cão comunitário atribui a essa iniciativa uma função socioeducativa, estabelecendo empatia, deveres e responsabilidades para com os animais em situação mais vulnerável 26. A cidade de Curitiba, onde se localiza o campus estudado, dispõe desde 2010 da Rede de Defesa e de Proteção Animal (RDPA), que atua no manejo de populações animais, tendo por objetivo estabelecer uma relação harmoniosa entre as diversas espécies de animais e a população humana do município. Entre os objetivos específicos dessa rede, destaca-se “buscar o maior equilíbrio na população animal, diminuindo o índice de abandono e maus-tratos de modo a prevenir agravos à saúde pública e as agressões ao 26

meio ambiente” 27. O programa Cão Comunitário oferece pronto atendimento, de acordo com a solicitação do mantenedor, que, por sua vez, é responsável por monitorar a saúde do animal e administrar-lhe antiparasitários de forma regular 28. Cabe à Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) do município a realização do monitoramento sorológico para o controle da leishmaniose visceral nesses cães 29. A observação dos cães do campus do Centro Politécnico da UFPR mostrou a necessidade de haver um programa de manejo da população de cães para que estes possam conviver harmoniosamente com a comunidade local. Uma alternativa para garantir o bem-estar e a segurança desses animais no campus seria incluí-los no programa Cão Comunitário de Curitiba. A possibilidade de adoção não seria viável nesse caso, devido ao comportamento deles, e nem a de levá-los para canis, em função da sua ambientação no local. O cão comunitário contribui para o manejo populacional de cães no âmbito da saúde e do bem-estar únicos 26. Apesar das constantes perseguições a pessoas e veículos, não foram evidenciados ataques, porém, o comportamento de perseguição pode provocar medo nas pessoas e causar acidentes, sendo necessária a implementação de um programa para a modificação comportamental dos cães e também de um programa para educar a comunidade em relação aos animais que frequentam o campus 30. O diagnóstico comportamental e a implantação de uma terapia comportamental são fundamentais para melhorar as interações entre a comunidade e os cães comunitários. Comportamentos inadequados de cães ainda não são compreendidos pelas pessoas por falta de maior conhecimento sobre o assunto e pelo medo que causam, sendo uma das principais causas de abandono 31. A implantação de um programa de manejo populacional de cães em campi universitários é fundamental para a prevenção de ataques e mordeduras e do abandono animal, além de melhorar o nível de bem-estar dos animais

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existentes 3,32,26. Referências

d

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Medicina veterinária do coletivo

Rinha de cães em Mairiporã expõe a banalização da dor no entretenimento humano

O caso No dia 14 de dezembro de 2019, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) da Polícia Civil do Paraná, em conjunto com o Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) de São Paulo, prendeu cerca de 40 pessoas em uma rinha internacional de cães que estava sendo realizada na cidade de Mairiporã, na Grande São Paulo. A competição contava com o apoio de um médico-veterinário que medicava os animais feridos a fim de reabilitá-los para que continuassem lutando. No local também foram apreendidos troféus e camisetas com a listagem das competições. A denúncia chegou até o delegado Matheus Laiola quatro meses antes, com a informação de que nesse dia aconteceria uma rinha de cães internacional, o 21º evento do tipo, da qual participariam inclusive pessoas vindas de outros países. De acordo com a Polícia Civil, os suspeitos poderiam responder por associação criminosa, maus-tratos contra animais com agravante de morte e jogo de azar. Em nota, informou-se que a Polícia Civil de São Paulo, em parceria com a Delegacia de Proteção do Meio Ambiente da Polícia Civil do Paraná, prendeu na noite de sábado (14) 37 pessoas e desarticulou um evento de lutas clandestinas de cães em Mairiporã, região metropolitana de São Paulo. Os detidos foram autuados pelos crimes de maus-tratos a animais, resistência e contravenção penal de aposta em jogo de azar, além do crime de associação criminosa 30

Fernando Gonsales

O delegado Matheus Laiola, que deflagrou a ação, explica o que ainda precisa ser feito

e formação de quadrilha e permaneceram à disposição da Justiça. A Polícia Civil esclarece que, se comprovada a participação de algum membro da instituição, adotará as medidas legais cabíveis 1. Todos os envolvidos foram indiciados por associação criminosa, maus-tratos a animais com agravante de morte e jogo de azar. Apesar de todas as 41 pessoas terem sido imediatamente presas na ocasião, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) pediu prisão preventiva apenas do suspeito de organizar o evento de luta com cachorros da raça pitbull, além de reter os passaportes dos quatro estrangeiros e proibi-los de deixar o Brasil. A fiança paga pelos detidos variou de 2 a 60 salários mínimos. A soltura foi determinada porque eles eram réus primários e tinham residência fixa no país, segundo o juiz. “Em

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020


que pese o comportamento reprovável dos autuados, os fatos não são graves a ponto de justificar a decretação da prisão preventiva”, afirmou o juiz em sua decisão. Entre os detidos que foram liberados estavam um médico-veterinário e um médico que, segundo a Polícia Civil, eram responsáveis por reanimar os cães feridos durante as lutas. O juiz determinou o envio dos termos de flagrante envolvendo os dois para os respectivos conselhos de Medicina e de Medicina Veterinária nos quais eles estão registrados. Como desdobramento da ação, na tarde da segunda-feira (16/12/19) a Polícia Civil de Itu localizou uma chácara com 33 cachorros da raça pitbull, propriedade de um dos peruanos presos na operação que fechou a rinha em

Matheus Laiola

Matheus Laiola

Cartaz distribuído em abrigos de animais pela Humane Society of the United States (HSUS) oferecendo recompensa de U$ 5.000,00 por denúncia de rinha de cães que leve à condenação de praticantes dessa atividade. Foto tirada no saguão do Oakland Animal Shelter, Califórnia, EUA (2013)

Urina com sangue vivo expelido pelo pitbull da rinha de cães de Mairiporã.

Mairiporã. Além disso, 5 cães da raça pitbull foram apreendidos na manhã de terça-feira (17/12/19) em um canil localizado no bairro de Guatupê, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. O canil pertencia ao criador dos cães encontrados na rinha de Mairiporã. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) enviou na quarta-feira (18/12/19) ofício recomendando a abertura imediata de processo ético-disciplinar contra o médico-veterinário servidor da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas (Adaf-AM), preso em flagrante na rinha de cães em Mairiporã (SP), ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Amazonas (CRMV-AM).

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Matheus Laiola

Matheus Laiola

Medicina veterinária do coletivo

Matheus Laiola

Pitbull encontrado no local da rinha com lesões na cabeça, no corpo e membros, compatíveis com mordeduras e arranhaduras, e muito debilitado

Camisetas apreendidas no local, o que demonstra o grau de organização da quadrilha

Pitbull encontrado no local da rinha com lesões na cabeça, no corpo e membros, compatíveis com mordeduras e arranhaduras, e muito debilitado

Em nota 2, o CFMV lamentou profundamente a suspeita da participação de um médico-veterinário na quadrilha que promovia rinhas de 32

cães no município de Mairiporã, SP, manifestando repúdio a todo e qualquer tipo de maus-tratos contra animais, crime previsto pela Lei Federal nº 9.605/98, e perplexidade com os fatos, desconhecendo as justificativas racionais para o envolvimento de um profissional da medicina veterinária em rinhas de cães. O CRMV-AM ressaltou que, de acordo com a Resolução nº 1.236/2018 do Conselho Fe-

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020


Matheus Laiola

Matheus Laiola

Animal encontrado em situação deplorável, apresentando um estado de saúde comprometido, com muitos machucados decorrentes de lutas que aconteceram antes da intervenção policial, e que estava sendo tratado no local

Matheus Laiola

Matheus Laiola

Alguns dias após a rinha de Mairiporã, outros pitbulls também usados em rinhas foram encontrados em um canil localizado no bairro de Guatupê, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. O canil pertencia ao criador dos cães encontrados na rinha de Mairiporã

deral de Medicina Veterinária (CFMV) – cujo texto ressalta o dever do médico-veterinário de prevenir e evitar quaisquer atos que configurem crueldade, abuso e maus-tratos aos animais –, o profissional que comete esses atos ou é conivente com eles deve responder por falta ético-profissional.

As rinhas de cães no mundo A rinha é uma luta entre cães especialmente criados ou treinados para esse fim – uma atividade milenar que hoje é considerada ilegal em muitos países do mundo. Na Ásia Central, a justificativa tem sido a seleção secular de cães guardiões de gado, como os da raça

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Matheus Laiola

Matheus Laiola

Medicina veterinária do coletivo

Matheus Laiola

Pitbull utilizado nas rinhas, bastante sujo e cansado, aguardando um próximo combate

Matheus Laiola

Animal encontrado no local da realização da rinha, após ter participado de uma das lutas

Animal em péssimo estado físico e bastante debilitado, descansando junto aos restos de um membro possivelmente de outro cão morto na rinha, e utilizado como alimento para os cães Cão apresentando lesões causadas por mordedura nos membros posteriores

mastim, utilizados para proteger rebanhos de ovelhas contra ursos, lobos e outros predadores. Essas raças usavam colares especiais de proteção para o pescoço, e suas orelhas eram cortadas na inserção do pavilhão auri34

cular, costume atualmente banido em muitos países e no Brasil proibido pela Resolução n. 1.027/2013 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que proíbe o corte estético de orelhas e rabo de cães e a retirada de unhas de gatos sem indicação clínica 3. A Humane Society of the United States

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(HSUS) estima que mais de 40 mil pessoas em todo o país compram e vendem cães de briga e estão envolvidas em rinhas. Em agosto de 2013, a incursão de uma força-tarefa nos estados americanos do Mississípi, da Geórgia e do Alabama resultou na segunda maior ação de combate às rinhas de cães da história dos Estados Unidos, com 367 cães apreendidos 4. O juiz responsável pelo caso impôs severas sentenças a oito dos acusados, que variaram entre seis meses a oito anos de prisão, as mais longas decretadas em um caso federal de rinha de cães. Além disso, a Corte do Alabama ordenou que os acusados pagassem perto de U$ 2 milhões a grupos de bem-estar animal. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente no Paraná O delegado Matheus Araújo Laiola, natural do interior do estado de São Paulo, assumiu

a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) no dia 21 de janeiro de 2019. Na DPMA, o fluxo de investigação não se concentra nos poucos (cerca de 5 em média) boletins de ocorrência (BOs) diários, mas nas 30 denúncias que chegam todos os dias pelo telefone 181 (Disque Denúncia da Secretaria de Segurança) e pelo 156 (Disque Denúncia da Prefeitura de Curitiba), diferentemente do que ocorre em Delegacias de Furtos e Roubos (DFR) onde o volume diário pode chegar a centenas de BOs. Com a utilização dos serviços de Disque Denúncia, a DPMA alcançou números nunca vistos: apreensão de quase 700 animais silvestres ou vítimas de maus-tratos (Curitiba e RMC), 110 pessoas presas e R$ 500 mil em multas, aplicadas pelos municípios ou pelo estado até outubro de 2019, menos de um ano após sua chegada. O delegado dr. Matheus Laiola conta com o

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Medicina veterinária do coletivo auxílio de médicos-veterinários residentes de Medicina Veterinária do Coletivo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ele comenta que “é preciso termos médicos-veterinários capacitados e preparados para auxiliar no registro fotográfico e no preenchimento dos relatórios de vistoria e de possíveis maus-tratos, que podem ser utilizados como laudos futuramente pelo juiz do processo”. Em parceria, o delegado Laiola e docentes do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR participam de videoconferências e trocam imagens e vídeos dos locais das vistorias, trazendo celeridade às ações. Ainda em trâmite, o Projeto de Lei do Senado nº 650/2015, que dispõe sobre a proteção e a defesa do bem-estar dos animais, ressalta a importância e a demanda por profissionais médicos-veterinários especializados em medicina veterinária legal. Após capacitação, esses profissionais poderiam atuar na linha de frente das ações, para que um dia a medicina veterinária possa estar em sintonia com as leis e projetos de lei contra maus-tratos. Além disso, a medicina veterinária legal deveria fazer parte do currículo obrigatório, a fim de facilitar a inserção dos alunos de graduação e pós-graduação em ações junto às respectivas delegacias dos municípios. e Considerações finais Faz-se necessária uma resolução que normatize as ações de vistoria de maus-tratos, estabeleça um guia para que os relatórios técnicos constituam laudos robustos e institua normas para a criação de instâncias municipais, estaduais e federal nessa área. Dessa forma, como diz o delegado dr. Matheus Laiola, “a ocorrência de maus-tratos se tornaria notificação obrigatória, sendo identificada pelo profissional médico-veterinário no cotidiano do seu atendimento”.

Referências

Gabriela Bacarji

MV, residente. Medicina Veterinária do Coletivo – UFPR bacarjig@gmail.com

Matheus Araujo Laiola

Delegado-chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente do Paraná, Polícia Civil do Paraná matheuslaiola@gmail.com

Alexander Welker Biondo

01-G1. Polícia civil do Paraná resgata 19 cães em rinha de SP; churrasco com carne de cachorro era servido. Curitiba: G1 PR, 36

2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/ pr/parana/noticia/2019/12/15/policia-civildo-parana-resgata-19-caes-de-rinha-em-spchurrasco-com-carne-de-cachorro-era-servido. ghtml>. Acesso em 21 de abril de 2020. 02-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Nota CRMV-AM: CRMV vai apurar fatos sobre médico-veterinário envolvido em rinha de cães em Mairiporã (SP). CFMV, 2019. Disponível em: <http://portal. cfmv.gov.br/noticia/index/id/6351/secao/6>. Acesso em 21 de abril de 2020. 03-CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA. Resolução nº 1027 de 10 de maio de 2013. Proíbe cirurgias estéticas desnecessárias em animais. CFMV, 2013. 04-THE HUMANE SOCIETY OF THE UNITED STATES. Multi-state dogfighting raid saves 367 dogs. Humane Society, 2013. Disponível em: www.humanesociety.org/news/multi-statedogfighting-raid-saves-367-dogs>. Acesso em 21 de abril de 2020. 05-HOFFMAN, G. Projeto de lei do senado nº 650, de 2015. Dispõe sobre a proteção e bemestar dos animais e cria o Sistema Nacional de Proteção e Defesa do Bem-Estar dos Animais (SINAPRA) e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-Estar dos Animais (CONAPRA). Senado Federal, 2015. Disponível em: <https:// www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/ materia/123360>. Acesso em 21 de abril de 2020.

MV, CRMV/PR 6.203. MSc, PhD. Departamento de Medicina Veterinária, UFPR abiondo@ufpr.br

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020


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Cardiologia Controle de insuficiência cardíaca congestiva e arritmias ventriculares em um cão com cardiomiopatia dilatada – relato de caso Control of congestive heart failure with and ventricular arrhythmiasarrhytmias in a dog with dilated cardiomyopathy – case report Manejo de una insuficiencia cardíaca congestiva y arritmias ventriculares en un perro con cardiomiopatía dilatada – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147 p. 38-50, 2020

Estela Dall’Agnol Gianezini MV CRMV-PR: 14.962 Residente PRMSP/UFPR-Palotina egianezini@gmail.com

Flavio Shigueru Jojima MV CRMV-PR: 5.547 Prof. Depto. de Ciências Veterinárias - UFPR-Palotina fsjojima@gmail.com

Abstract: We report a case of a dog, male, eleven year old, american cocker spaniel with a history of acute dyspnea and exercise intolerance. The electrocardiography examination revealed the presence of ventricular arrhytmias, and, through echocardiographic examination, the patient was diagnosed with dilated cardiomyopathy and congestive heart failure. Treatment was performed, with improvement in congestive signs and arrhytmias. Ventricular arrhytmias are difficult to control in patients treated only for underlying heart disease, without the administration of antiarrythmics. The patient survived for fifteen months, emphasizing the need for early diagnosis and treatment, in order to obtain an improvement in life expectancy of patients with heart disease. Keywords: dogs, cardiomyopathy, ventricular tachyarrhythmia

Ana Paula Smiderle MV CRMV-PR: 15.415 Residente PRMSP/UFPR-Palotina apsmiderle@gmail.com

Vanessa Tiemi Endo MV CRMV-PR: 15.500 Residente do PRMSP/ UFPR-Palotina

vanessaendoo@gmail.com

Mônica Kanashiro Oyafuso MV CRMV-PR: 5.006 Profa. Depto. de Ciências Veterinárias - UFPRmokanashiro@yahoo.com.br

Luciana Wolfran MV CRMV-PR:14.211 Residente PRMSP/UFPR-Palotina

Resumo: No presente trabalho relata-se o caso de um cão, macho, cocker spaniel americano de onze anos com histórico de dispneia aguda e intolerância ao exercício. O exame eletrocardiográfico evidenciou a presença de arritmias ventriculares, e, por meio do exame ecocardiográfico o paciente foi diagnosticado com cardiomiopatia dilatada e insuficiência cardíaca congestiva. Realizou-se o tratamento, com melhora dos sinais congestivos e das arritmias. Arritmias ventriculares são difíceis de se controlar em pacientes tratados somente para a doença cardíaca de base, sem a administração de antiarrítmicos. O paciente atingiu uma sobrevida de quinze meses, evidenciando a necessidade de se realizar diagnóstico e tratamento precoces, a fim de se obter uma melhora na expectativa de vida de pacientes cardiopatas. Unitermos: cães, ventrículo, cardiomiopatia, taquiarritmia

Resumen: El presente trabajo relata el caso de un perro Cocker spaniel americano macho, de once años con histórico de disnea aguda e intolerancia al ejercicio físico. El electrocardiograma mostró arritmias ventriculares y la ecocardiografía evidenció la presencia de una cardiomiopatía dilatada y insuficiencia cardíaca mayor. La enfermedad fue tratada y el paciente mostró mejoría del cuadro congestivo y de las arritmias. Las arritmias ventriculares son difíciles de controlar en pacientes tratados solo por enfermedad cardíaca subyacente, sin la necessidad de administrar medicamentos antiarrítmicos. El animal tuvo una supervivencia de quince meses. Los resultados muestran la importancia de realizar un diagnóstico y un tratamiento precoces, con el objetivo de mejorar la expectativa de vida de pacientes con cardiopatías. Palabras clave: perros, ventrículo, cardiomiopatía, taquiarritmias

lucianawolfran@gmail.com

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Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020



Zoonoses Dirofilariose em cão na região de Maringá, PR – relato de caso Heartworm disease in a dog in the region of Maringá, PR, Brasil – case report Dirofilariosis en un perro de la región de Maringá, PR, Brasil – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147 p. 52-63, 2020

Carlos Maia Bettini MV, CRMV-PR: 3.111 dr., prof., UniCesumar

carlos.bettini@unicesumar.edu.br

Alefe Caliani Carrera Aluno de graduação UniCesumar

alefe_luiz@hotmail.com

Isabela Ferraro Moreno Aluna de graduação UniCesumar

isabelaferrarom@gmail.com

Marcela Baggio Luz Aluna de graduação UniCesumar

mbaggioluz@gmail.com

Guilherme B. C. Coelho MV, CRMV-PR: 13.600 Autônomo, cardiologista sinus.vet@gmail.com

Jéssica Caroline Marochi MV, CRMV-PR: 12.589 patologista, Núcleo de Apoio Veterinário jessicamarochi@gmail.com

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Resumo: A dirofilariose (Dirofilaria spp.) é uma zoonose vetorizada por mosquitos hematófagos em três fases: larval, de microfilaremia e adulta, na qual pode haver presença dos vermes nas câmaras cardíacas, podendo causar sinais de insuficiência cardíaca congestiva direita e síndrome da veia cava caudal. Objetiva-se relatar a ocorrência de dirofilariose em cão assintomático, confirmada por teste rápido ELISA e exame parasitológico direto, porém sem evidências de adultos em câmaras cardíacas na ecodopplercardiografia, não havendo relatos anteriores na região de Maringá, PR. O paciente foi tratado com ivermectina 50 µg/kg subcutânea em três doses com intervalo de 60 dias e doxiciclina 10 mg/kg/dia por 30 dias, a partir da terceira dose de ivermectina, e mantido com coleira repelente à base de imidacloprida por uso contínuo. O paciente foi reavaliado pelo teste parasitológico sanguíneo direto 60 dias após o início do tratamento, constatando-se ausência de microfilárias. A dirofilariose é passível de manter-se silenciosa nos cães, e pode estar em emergência na região devido à grande presença de vetores. Unitermos: cão, zoonose, Dirofilaria immitis, microfilárias Abstract: Heartworm disease (Dirofilaria spp) is zoonosis transmitted by hematophagous mosquitoes. It has a larval phase, microfilaremia, and an adult phase. The infestation with the adult form is typically manifested by the presence of worms in the cardiac chambers, which can cause right congestive heart failure and caudal vena cava syndrome. We describe a case in which microfilaremia was confirmed by rapid ELISA and direct parazitologic examination in an asymptomatic dog in Maringá, PR, region with no previous reports of canine dirofilariasis. Echo Doppler Cardiography showed no evidence of adult form in cardiac chambers of the dog. The patient was treated with subcutaneous administration of ivermectin (50 µg/kg) three times with an interval of 60 days between doses, and doxycycline (10 mg/kg day) for 30 days, along with the third dose of ivermectin. A repellent collar based on imidacloprid was prescribed for continuous use. Sixty day after beginning the treatment, the patient was reevaluated, and blood samples were negative for the presence of microfilariae. Heartworm disease can remain silent in dogs, and it may be emerging in the region. The ubiquitous presence of vectors is a cause for concern and could contribute to disease spreading in the region of North Paraná, Brazil. Keywords: dog, zoonosis, Dirofilaria immitis, microfilariae Resumen: La dirofilariosis (Dirofilaria spp) es una zoonosis transmitida a través de mosquitos hematófagos que poseen tres fases, la larval, de microfilaria, y la fase adulta, en la que pueden presentarse parásitos en las cámaras del corazón, que llevan a provocar signos de insuficiencia cardíaca congestiva derecha y síndrome de la vena cava caudal. El objetivo del presente trabajo es relatar el diagnóstico de dirofilariosis en un perro asintomático en la región de Maringá, estado de Paraná, Brasil – región sin relatos –, confirmado por test de Elisa y examen parasitológico directo, aunque sin evidencias de adultos en cámaras cardíacas, hecho confirmado por ecocardiograma Doppler. El paciente fue tratado con ivermectina (50 µg/kg, SC) en tres dosis con intervalo de 60 días entre cada una, y doxiciclina (10 mg/kg/día) durante 30 días a partir de la tercera dosis de ivermectina. También se colocó un collar repelente a base de imidacloprida. El paciente fue controlado a través de examen parasitológico directo en sangre 60 días después de comenzado el tratamiento, en el que se constató la ausencia de microfilarias. La dirofilariosis puede mantenerse silenciosa en perros, y puede también representar una emergencia en la región debido a la gran presencia de vectores. Palabras clave: perro, zoonosis, Dirofilaria immitis, microfilarias

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020



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Saúde pública

Transtornos mentais e autoextermínio: fatos reais, mas ainda negligenciados entre os médicos-veterinários Introdução Os transtornos mentais, com ou sem o comportamento autodestrutivo ou suicida, são uns dos principais problemas de saúde ocupacional na atualidade, causando sofrimento, anormalidade ou incapacidade funcional cotidiana no trabalho 1. Quando a questão envolve os médicos-veterinários (MVs), o número de casos de transtornos mentais mostra-se ainda mais crescente e alarmante se comparado ao de outras profissões. Apesar de o autoextermínio ser muito citado entre os cirurgiões e anestesistas, o número de suicídios entre os MVs brasileiros foi duas vezes maior que o observado nos médicos de seres humanos, equiparando-se apenas ao de policiais – ambas as profissões apresentaram uma taxa de suicídio elevada de 10,8 pessoas a cada 100 mil habitantes (Figura 1) 2,3. Pode-se considerar que na área de saúde o suicídio laboral está muito relacionado com o tempo de estudo, a excessiva jornada de trabalho, a baixa remuneração, associados à insatisfação profissional devido às cobranças desmedidas e à responsabilidade emocional de lidar com vidas 4. Além disso, na medicina veterinária, a falta de recursos técnicos e estruturais, a falta de reconhecimento social 5, o envolvimento emocional com os pacientes e tutores, a realização de eutanásias, os conflitos éticos e as dificuldades nas relações interpessoais no ambiente de trabalho público ou privado, bem como o fácil acesso a medicamentos controlados, desencadeiam um esgotamento emocional crônico nos profissionais e favorecem a tentativa ou a consumação do ato suicida 6. Com poucas estratégias de implementação 66

de ferramentas realmente efetivas de prevenção à baixa saúde mental e ao comportamento suicida laboral, esses fatores não só influenciam negativamente o bem-estar físico/mental do médico-veterinário, como também as suas relações familiares 7. Tudo isso pode resultar em transtornos de ansiedade (TA), depressão (DP), síndrome de burnout (SB) e fadiga por compaixão, isolados ou concomitantemente (Figura 2) 5,6,8. Mas como suspeitar dos transtornos mentais antes que os quadros se agravem e resultem em incapacidade funcional e/ou suicídio? O reconhecimento prévio dos sintomas dos transtornos mentais, mesmo que subjetivos, já é um passo para que o médico-veterinário ou qualquer outro profissional reconheça os sinais em si e possa auxiliar outros colegas com as mesmas manifestações clínicas e/ou psicológicas. Muitos empregados e empregadores não dão a devida importância aos problemas de saúde mental, podendo o transtorno evoluir rapidamente para um quadro mais complicado do estado emocional e da saúde 9. Uma decisão importante é procurar ou indicar um profissional capacitado, como os psicólogos e/ou psiquiatras, para realizar o diagnóstico e designar a melhor conduta ou tratamento para cada pessoa, já que os transtornos mentais podem estar presentes de forma única ou associados 10. Os transtornos mentais são disparados por um “gatilho” de origem nem sempre conscientemente reconhecida, e resultam em sentimentos de insatisfação, indignidade e inutilidade, nutrindo a sensação de adoecimento intelectual e falta de criatividade, e, consequentemente, afetando a produtividade, o desempenho e a satisfação no emprego.

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020


h

Muitas vezes, o profissional apresenta sinais inespecíficos, como apatia, perda de apetite, emotividade exagerada, irritabilidade, raiva, tensão, insônia, fadiga, ansiedade, esquecimento, concentração prejudicada, baixo desempenho físico e intelectual, queixas álgicas e somáticas, ideação ou planejamento suicida, bem como ideias de culpa e inutilidade, sendo a estrutura ocupacional e as condições de vida os fatores determinantes para o aparecimento do adoecimento psíquico 11. Caracterizada por tensão, estado de vigilância e desconforto antecipado ao perigo e a situações desconhecidas ou estranhas, a ansiedade é um sentimento fisiológico comum a todos os seres humanos. Mas torna-se patológica quando a sua manifestação se mostra exacerbada e desproporcional em relação ao estímulo, interferindo no estado emocional, na qualidade de vida e no desempenho diário do indivíduo em situações corriqueiras 12. Quando considerada patológica, é classificada como transtorno de ansiedade, com caráter multifatorial, que apresenta quadros clínicos com sintomas primários, ou seja, não derivados de outras condições psiquiátricas. Dentre os diversos tipos de TA, citam-se os transtornos de pânico, obsessivo-compulsivo, de separação, de ansiedade social e de ansiedade generalizada 13. Suas manifestações

Ocupações específicas Médicos-veterinários

emocionais, somáticas e comportamentais englobam tensão muscular, palpitações, dificuldades de percepção e de aprendizado e maior suscetibilidade ao choro 13,14. De acordo com o boletim epidemiológico de transtornos mentais relacionados ao trabalho no Brasil, realizado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC-UFBA), no período de 2006 a 2017 foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 8.474 casos de pessoas com distúrbios psicoestressores ocupacionais. Contudo, a relação entre transtornos mentais e a ocupação é ainda pouco investigada e diagnosticada, além de subnotificada. Para termos uma ideia, a variável “ocupação” é considerada secundária no preenchimento das causas de suicídio no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), o principal banco de dados sobre mortalidade de notificações compulsórias do país, baseado na Classificação Internacional de Doenças (CID) 2,3. Muito relacionada com os TAs ou outras afecções, a depressão vem se tornando crescente nos profissionais e nos estudantes de saúde. Em um estudo realizado com graduandos de medicina veterinária de uma universidade norte-americana, foram observados altos níveis de estresse, ansiedade e Anos

2006

2007

2008

2009

Taxa média 2006-2009

9,68

8,94

17,07

7,53

10,81

Policiais

9,78

13,48

6,29

13,64

10,80

Farmacêuticos

1,54

14,67

15,38

7,65

9,81

Trabalhadores agrícolas

7,17

8,89

10,63

8,47

8,79

Dentistas

6,15

5,25

4,96

5,28

5,41

Químicos

3,86

12,34

1,86

3,04

5,28

Médicos e anestesistas

6,43

5,27

4,61

3,44

4,94

Enfermeiros

2,80

5,55

5,10

4,62

4,52

Vigilantes e vigias

3,10

3,96

6,60

6,76

4,36

Motoristas de veículos

5,36

3,46

3,59

4,95

4,34

Vendedores ambulantes

1,98

2,56

1,75

3,53

3,53

Figura 1 – Taxas de suicídio a cada 100 mil habitantes, padronizadas segundo ocupações específicas no Brasil entre 2006 a 2009. Fonte: SIM/Datasus & PNAD/IBGE (Adaptado 3) Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020

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Saúde pública depressão entre os participantes, detectados por meio de um questionário (Patient Health Questionnaire-4), em que cerca de 22% dos discentes se mostraram propensos à depressão, número mais elevado que o avaliado na população americana (16,6%) e nos estudantes de medicina (14,3%). Observou-se ainda que os discentes com notas baixas estavam sujeitos a apresentar sinais de TA. Os autores sugeriram que as medidas de prevenção a estresse, ansiedade e depressão devam incluir a redução no foco em comportamentos competitivos, assim como no desempenho acadêmico por meio de pontuações. Deve-se estimular a motivação ao sucesso, reforçada pelo contínuo monitoramento, pela realização de treinamentos e pela promoção à saúde mental 15. A DP é dividida em sete subtipos, sendo o principal o transtorno depressivo maior, que se caracteriza pela predominância do sentimento de tristeza, vazio e desesperança 16 e pela diminuição de interesse ou prazer em quase todas as atividades diárias, afetando a qualidade do sono, levando à fadiga ou à perda de energia, à redução ou ao ganho de apetite, à perda ou ao ganho excessivo de peso e à agitação ou ao retardo psicomotor. Ainda interfere nos estados mentais, causando sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou imprópria, capacidade reduzida de pensar e se concentrar ou indecisão, podendo, em alguns casos, levar a intenção suicida com pensamentos recorrentes de morte 16-18. Contudo, o transtorno depressivo maior é o subtipo mais conhecido pelas pessoas, que frequentemente negligenciam as outras formas de depressão de sinais mais brandos e muitas vezes imperceptíveis, tais como alterações de humor, cognitivas, psicomotoras e vegetativas – caracterizadas por sentimentos duradouros ou transitórios de tristeza, irritabilidade, incapacidade de sentir prazer, apatia e alterações relacionadas ao sono e ao apetite. Frases negativas como “estou cansado”; “não consigo”; “estou sem vontade”; “depois eu faço” ou mudanças no comportamento ha68

bitual do profissional devem ser observados pelos colegas ou em si mesmo, pois podem ser indicativos de um estado depressivo ou de uma depressão propriamente dita. Grande parte das pessoas com ou sem DP que cometeram suicídio ou manifestaram comportamentos autodestrutivos manifestaram sinais sutis da intenção do ato que foram negligenciados ou detectados tarde demais 19. A síndrome de burnout (SB) é resultante do estresse ocupacional prolongado, que incapacita os profissionais para realizar suas atividades laborais rotineiras 20 e se caracteriza por três aspectos centrais: a exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização pessoal 1. Seus sintomas psicológicos e comportamentais incluem principalmente falta de concentração em tarefas rotineiras; desinteresse em realizar atividades sociais e manter hábitos saudáveis; isolamento social; cansaço físico e mental constante e em excesso; falta de concentração; constante negatividade; sobreposição das necessidades e vontades alheias às próprias; alterações repentinas de humor (com muitos períodos de irritação); lapsos de memória; e sentimento de insatisfação sobre aquilo que se faz. Apesar de os sintomas serem em sua maioria psicológicos, podem ainda manifestar-se fisicamente através de palpitações, distúrbios gastrintestinais e do sono, dores de cabeça e musculares 1,21. Em 1992, realizou-se um estudo com 572 médicas-veterinárias norte-americanas, constatando-se, naquela época, que dois terços (66,5%) das participantes apresentaram indícios da síndrome 22, de modo semelhante ao observado em 2011, quando MVs australianos também apresentaram altos níveis de sofrimento psicológico 23. Contudo, a maior parte dos profissionais eram recém-formados, o que indica que o estresse laboral pode já ter ocorrido desde o período da graduação ou antes dele, tornando-se mais intenso após a formação acadêmica. Deve-se salientar que nos Estados Unidos, por exemplo, fatores como altos débitos contraídos em financiamentos

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educacionais e competitividade por bolsas de estudo podem levar ao sofrimento desses jovens profissionais, uma vez que as universidades são privadas e de alto custo para o graduando 24. Prova disso foi observada em um estudo recente sobre o bem-estar de MVs nos EUA, onde veterinários com menos de 45 anos de idade apresentaram sofrimento psi-

Distúrbios psicológicos Ansiedade

cológico grave nos últimos 30 dias 25. Porém, no Brasil, apesar de haver diversas instituições de ensino superior federais e estaduais que propiciam a formação gratuita em medicina veterinária, a estada na cidade, por exemplo, não é financiada pelo governo 26. Além disso, o país conta com 137.657 profissionais atuantes regularmente inscritos,

Sinais Comportamentais/emocionais Ocupacional Dificuldade de concentração

Físicos

Pessoal Tensão/nervosismo Medo constante Descontrole dos pensamentos Preocupação exagerada Irritabilidade Agitação de braços e pernas Ataques de pânico

Insônia Dor ou aperto no peito Palpitações cardíacas Falta de ar/respiração ofegante Tremores nas mãos ou em outras partes do corpo Fraqueza/cansaço Boca seca Sudorese Náusea Tensão muscular Distúrbios gastrintestinais

Humor depressivo Pensamento lento Sensação de tristeza Incapacidade de sentir prazer ou alegria Ausência de sentimentos Pensamentos suicidas

Apatia Retardo motor Falta de energia Preguiça ou cansaço excessivo Falhas de memória Insônia ou sonolência Apetite diminuído/aumentado Redução de libido/interesse sexual Dores musculares e no peito Distúrbios gastrintestinais Sudorese Taquicardia

Fadiga por compaixão

Dissociação Desesperança Falta de prazer Estresse Ansiedade constante Atitude negativa generalizada Hipervigilância Evitamento e/ou obsessão

Insônia Pesadelos Apatia Vontade frequente de chorar

Síndrome de burnout

Cansaço mental excessivo Negatividade constante Sentimento de derrota e desesperança Alterações repentinas de humor Isolamento Depressão

Cansaço físico excessivo Dor de cabeça frequente Alterações no apetite Insônia Fadiga Pressão alta Dores musculares Problemas gastrintestinais Taquicardia

Falta de vontade e de iniciativa Diminuição da produtividade Autodesvalorização Depressão

Sentimento de culpa e incompetência Sentimento de fracasso e insegurança Frustração Isolamento

Figura 2 – Miscelânea de sinais comportamentais/emocionais e físicos mais comuns nos distúrbios psicológicos de ansiedade, depressão, fadiga por compaixão e síndrome de burnout e suas correlações Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020

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Saúde pública segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), com cerca de 8 mil recém-formados anualmente e aproximadamente 440 cursos de graduação em operação – ou seja, cerca de um terço dos cursos de medicina veterinária registrados em todo o mundo 26,27. Esse crescente aumento da abertura de cursos e do número de recém-graduados todos os anos ocasiona um desequilíbrio perigoso na demanda e na oferta de trabalho para esses profissionais. Essa situação leva a uma inevitável desvalorização e à frustração, principalmente para os jovens profissionais 26,27, ainda mais quando associada a outros fatores como a falta de reconhecimento social, a realização de eutanásias e os conflitos éticos, entre outros 28. Recentemente notou-se que os profissionais de residência veterinária das áreas clínicas de uma universidade estadual no Brasil tiveram os maiores escores de exaustão emocional, despersonalização e ausência de realização profissional quando avaliados por meio de uma ferramenta desenvolvida para medir o burnout, em comparação com os residentes de medicina veterinária preventiva. Entre os dois grupos, 24,2% apresentaram SB, e os preditores para a síndrome foram as variáveis “satisfação em lidar com pacientes” e “atuação em desacordo com os princípios” 29. Assim, é de suma importância a criação de programas de promoção à saúde mental e à prevenção de distúrbios psicopatológicos para os profissionais residentes, além de estudos que possam contribuir para a melhora da sua qualidade de vida 30-32. Sabe-se que o sofrimento psicológico presente na realidade de MVs pode ser influenciado pela coexistência de outras enfermidades psicológicas com a SB, como, por exemplo, a fadiga por compaixão (FC) 33,34. Isso ocorre porque o médico-veterinário, no contato com animais e seus tutores, pode se sentir tocado pelo sofrimento deles 35. A FC é também conhecida como estresse traumático secundário (ETS) e ocorre em ca70

sos de exposição pessoal a eventos estressantes ou ao sofrimento de outros, podendo ainda se dar repentinamente em qualquer ambiente 36. Esse transtorno se desenvolve lentamente, havendo uma diminuição gradual da compaixão ao longo do tempo. Suas manifestações são sinais emocionais e somáticos (físicos), como apatia (ausência de sentimentos), isolamento, hipervigilância, distúrbios do sono, sensibilidade ao choro, comportamentos evasivos e/ou obsessivos 33, e pode culminar com o burnout 34. Em 2015 foram analisados 11.627 MVs norte-americanos por meio de um questionário online quanto aos fatores de risco associados ao suicídio, a atitudes ligadas à doença mental e a estressores ocupacionais. Um entre 11 jovens veterinários com menos de cinco anos de atuação apresentaram sintomas de depressão e de ansiedade, e 1 entre 6 respondentes já haviam tido intenções suicidas desde a graduação 6. Infelizmente, tem havido relatos de morte autoinduzida por estudantes de veterinária. Quanto à predisposição sexual, verificou-se que os discentes do sexo masculino têm 1,6 vezes mais probabilidade de cometerem suicídio que a população geral norte-americana, enquanto no caso das mulheres essa taxa sobe para 2,4 37. Em contraste com o estudo anterior, em que a faixa etária nos casos de suicídio variava entre 30 e 39 anos, outros autores 38 relataram que 75% das mortes por suicídio de veterinários se referiam a profissionais de 65 anos ou menos. Considerando-se todos os profissionais médicos-veterinários, formados ou não, a taxa de suicídio é quatro vezes maior do que a da população norte-americana em geral e duas vezes maior do que a dos outros profissionais da saúde 8. Já no Brasil, em um estudo que analisou dados de mortalidade de médicos-veterinários entre 2006-2012, observou-se uma frequência de aproximadamente 37% de óbitos por suicídio em mulheres – três vezes maior que a frequência de suicídio em homens 39. Segundo relatos pretéritos, apesar do crescente número de casos de autoextermínio, no

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Brasil ainda há poucos estudos sobre o assunto na medicina veterinária 3,39. Ainda que subestimados, esses dados são alarmantes e enfatizam a necessidade urgente de melhorar o ambiente profissional, com atenção especial à saúde mental e principalmente à determinação dos fatores predisponentes a essas doenças, com posterior instituição de políticas de atenção básica à saúde mental dentro da medicina veterinária 37. Em 2018, a Associação Americana de Medicina Veterinária (American Veterinary Medical Association – AVMA), em conjunto com outras associações, representantes de indústrias, corporações, iniciativa privada e outras fundações e parcerias, desenvolveu a ferramenta de treinamento on line gratuita denominada Perguntar, Persuadir, Referir (Question, Persuade, Refer training – QPR), com o objetivo de ensinar pessoas que não dispõem de apoio psicológico a reconhecer em si e nos outros colegas de trabalho sinais de alerta a um potencial suicida (exemplos: preocupação com a própria morte ou falta de esperança; expressão de ideias ou de intenções suicidas; isolamento; exposição a crises, agressões, traumas, conflitos, doenças crônicas), auxiliando-os a estabelecer um diálogo e a procurar ajuda profissional 40. De cinco anos para cá, algumas mudanças se fizeram notar. O mês de setembro no Brasil marca uma série de ações voltadas à prevenção ao suicídio e à promoção da saúde mental de todos os cidadãos brasileiros, denominada Setembro Amarelo (https://www. setembroamarelo.com/). Essa campanha nacionalmente difundida conta com a ação conjunta do Conselho Federal de Medicina (CFM), da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Centro de Valorização da Vida (CVV) (https://www.cvv.org.br/), e oferece um canal de comunicação direto entre a pessoa passível de ideação ou planejamento suicida e a central de apoio, além de realizar outras atividades, como fornecer apoio emocional e ações abertas à comunidade para estimular o autoconhecimento e melhorar a convivência

consigo mesmo e em grupo 41,42. Em 2019 foi criado o projeto Sobre(o)viver (http://crmvrj.org.br/sobreoviver/), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ). Com o lema “Cuide-se para resistir!”, fornece informações em links, bibliografia de apoio e artigos de especialistas com orientações semanais sobre como viver e sobreviver em tempos desafiadores 43. Assuntos envolvendo o estresse laboral e o suicídio de médicos-veterinários também vêm sendo abordados pelo CFMV e apontam as longas horas de trabalho, o relacionamento com colegas e clientes, a falta de recursos e de reconhecimento da profissão, a alta complexidade do trabalho, o sofrimento, a tristeza ou insensibilidade dos tutores e a sensação de impotência por não poder tratar o paciente, assim como o equilíbrio entre trabalho e vida privada, como fatores preponderantes de estresse nesses profissionais. No entanto, restam ainda outras vertentes a abordar e incluir como métodos de preservação da saúde mental dos médicos-veterinários no Brasil 44. A proatividade, a autoeficácia, a assertividade, o otimismo e o comportamento reflexivo são importantes no ambiente de trabalho, ao passo que a autonomia, o autocuidado e a autoconfiança são mais importantes no âmbito doméstico ou social. A cultura sem julgamentos, não focada no perfeccionismo, e a constante promoção da busca por ajuda também são importantes para um ambiente de trabalho saudável 45. j

Considerações finais A saúde mental vem ganhando importância na medicina veterinária a partir de estudos publicados nos últimos anos sobre o autoextermínio. A busca por ajuda profissional especializada é fundamental para se avaliar a necessidade da instituição da terapia ideal para cada caso, baseada em metas e planos de trabalho conjuntos, de forma realmente efetiva. Além disso, o apoio social desde o início da carreira é de extrema importância para estabelecer bases sólidas nas relações interpessoais, assim

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Saúde pública como em todos os órgãos de classe, afastando o estigma que paira sobre a saúde mental da nossa profissão e estimulando de forma rotineira a busca por ajuda e também a adoção de medidas para o estímulo ao autocuidado, à resiliência e à promoção de ambientes de trabalho saudáveis, que são os meios mais efetivos para mudar a realidade sobre suicídio na profissão. Referências

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Carina Rodrigues da Silva

MV, CRMV-PE: 4.519 aluna do PMCVS/CCA/Univasf mvcarinarodrigues@gmail.com

Ana Amélia Domingues Gomes MV, CRMV-PE: 3.948 Profa. adj. – CMVET/Univasf anaamelia.gomes@univasf.edu.br

Alexandre Redson Soares Silva MV, CRMV-PE: 4.697 Prof. adj. – CMVET/Univasf alexandre.redson@univasf.edu.br

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O surgimento e a ressignificação do Itec, que agora será IMVC O ano é 2020. Estamos enfrentando uma pandemia, e com isso muitas coisas estão se ressignificando. Conosco também não está sendo diferente; seja pessoal ou profissionalmente, o momento nos transforma, e também a nossos sonhos e realizações; estamos sempre buscando um mundo mais justo e inclusivo a todas as formas de vida, dentro de nossos valores e objetivos enquanto time. Por isso o Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (Itec) está se transformando. Antes de chegarmos aos dias de hoje e falarmos do futuro, é necessário que se conheça a história de tudo o que nos motivou a nos reunir e a construir uma nova forma de lidar com o manejo populacional de animais, em especial de cães e gatos. No século XIX, com a descoberta da presença do vírus da raiva na saliva dos cães por Louis Pasteur, eles começaram a ser capturados e eliminados ao redor do mundo. Afogamento, choque elétrico, câmaras de descompressão, morte por asfixia, pauladas, envenenamento e armas de fogo eram métodos usados para eliminar esses animais. Milhares deles eram mortos de forma cruenta, pois pouco se sabia para atuar de forma ética. Essas e outras práticas cruéis motivaram o surgimento de ONGs (organizações não governamentais) em prol da proteção animal em várias partes do mundo. Mesmo com o passar das décadas e estando nós já há 20 anos no século XXI, ainda existe falta de conhecimento, de vontade técnica e de políticas públicas eficientes para um manejo adequado, eficiente e ético desses animais. Nos Estados Unidos, nos anos 1980, surgiu o movimento No kill (Não matar), que tinha como missão garantir um lar para cães e gatos adotáveis. No Brasil, e em especial no estado de São Paulo, já em meados da década 76

de 1990, as autoridades de saúde pública foram pressionadas pela sociedade a encontrar uma solução mais ética para a destinação de animais que viviam nas ruas, porque o controle da raiva e o não aparecimento de casos em cães e gatos, assim como em seres humanos, já era uma realidade, graças a programas de controle que intensificaram estratégias como a vacinação de animais, o acompanhamento de casos de agravos com seres humanos e o envio de amostras de animais com protocolo sugestivo – ou seja, um implemento da vigilância em si. As ONGs promoviam à época discussões a respeito das alternativas para o controle ético de animais sadios e inseriam essas propostas em um conceito de valores sociais como a coletividade, a inclusão, a compaixão, visando o desenvolvimento de ações de promoção à saúde. Em 1995, a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) – atualmente World Animal Protection (WAP) –, em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), realizou no Brasil a primeira Conferência Internacional Pet Respect, trazendo a metodologia de manejo humanitário e guarda responsável de cães e gatos. Nesse mesmo ano, a Prefeitura de Taboão da Serra, SP, em parceria com a ONG Arca Brasil, iniciou a implantação do programa de Manejo Populacional de Cães e Gatos (MPCG), e em 1996 a dra. Rita de Cássia Maria Garcia e o sr. Marco Ciampi iniciaram ações de controle reprodutivo canino e felino, com mutirões de castração. Em 1997, pela Prefeitura de Guarulhos, SP, por meio da MV Adriana Maria Lopes Vieira, e, pela Prefeitura de Jundiaí, SP, da MV Vania de Fátima Plaza Nunes, iniciaram-se ações de controle e manejo populacional de cães e gatos nessas cidades de forma coletiva. O ano de 2003 ficou marcado pela Reunión

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com o bem-estar desses animais, os capturavam utilizando laços e os jogavam em um caminhão com brutalidade, levando-os para canis onde na maioria das vezes eram eliminados. A partir dessa realidade surgiu o curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (Foca), que capacita profissionais não só para o resgate seletivo dos animais de forma correta, mas também buscando sensibilizar os participantes a serem agentes de uma transformação necessária e eficaz, e disseminadores da informação e da mudança. O Foca é o único curso no país que faz esse tipo de capacitação e treinamento com profissionais qualificados, sendo, portanto, pioneiro no Brasil. De uma ação inicialmente nacional, já foram capacitados cerca de 4 mil profissionais em toda a América Latina e em Portugal.

Reunião Latino-americana de Especialistas em Guarda Responsável e Controle Populacional de Cães e Gatos, organizada pela WSPA e Opas no Rio de Janeiro, RJ, em 2003 1

Demonstrações em sala de aula de procedimentos para o manejo humanitário do curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (Foca)

Equipe ITEC/IMVC

Latinoamericana de Expertos en Tenencia Responsable de Mascotas y Control de Poblaciones, organizada pela WSPA e pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) no Rio de Janeiro, RJ. Esse evento contou com a participação de alguns profissionais que no futuro se uniriam para a criar a ONG inicialmente denominada Itec, em maio de 2004. Nesse contexto surgiu o Itec, objetivando trazer conhecimento, aprimorá-lo de acordo com a realidade e as necessidades nacionais e capacitar gestores, agentes, médicos-veterinários e demais profissionais envolvidos nas políticas de manejo populacional de cães e gatos nos municípios brasileiros, sempre com os mais novos conhecimentos da ciência, com atitudes e técnicas mais éticas, contrapondo-se de forma efetiva ao que era proposto até então. A castração, o registro e a identificação, o manejo humanitário, a educação para a guarda responsável, a legislação, o controle de recursos e a criação de políticas públicas eficientes ao controle das populações de cães e gatos eram algumas das propostas do Itec. Nessa época ainda era regra muito comum encontrar pelo país as carrocinhas e os laçadores municipais para retirar animais – em especial cães – das ruas, tivessem ou não tutores. Com pouco ou nenhum treinamento, esses servidores, sem qualquer preocupação

Equipe ITEC/IMVC

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Demonstração prática de técnicas de manejo humanitário de animais do curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (Foca)

As Conferências de Medicina Veterinária do Coletivo, organizadas pelo Itec, também foram eventos pioneiros no Brasil, trazendo discussões técnicas sobre uma área nova da medicina veterinária que surgia naquele momento e que abrange conhecimentos de bem-estar animal, medicina de abrigos (shelter medicine), medicina veterinária legal, a saúde coletiva e, mais recentemente, a medicina veterinária de desastres. O evento já passou por São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre e João Pessoa, e tem como objetivo principal promover a disseminação e o aprimoramento dos conhecimentos da medicina veterinária do coletivo, sempre com o que há de mais recente e moderno na área. Recentemente foi criada, também pelo Itec, em parceria com a Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna do Ministério Público de Minas Gerais (Cedef-MPMG), a Capacitação para a Gestão do Manejo Populacional de Cães e Gatos, que treinará gestores e profissionais envolvidos em programas e políticas públicas de 200 municípios do estado de Minas Gerais para gerirem de forma racional os recursos aplicados nos programas, buscando os melhores resultados. A evolução do pensamento com relação à medicina veterinária do coletivo, todo esse histórico de atuação do Itec e nosso constante desejo de mudanças e avanços têm nos 78

Equipe ITEC/IMVC

Equipe ITEC/IMVC

Equipe ITEC/IMVC

Notícias

Demonstrações práticas de técnicas de manejo humanitário de animais do curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (Foca)

levado a cada vez mais incluir novos e fundamentais conceitos, como o da Saúde Única. Nela, os animais e os seres humanos interagem de forma constante com o ambiente, e é necessário que se criem ações comuns de promoção, preservação e cuidado, lembrando que precisamos evoluir e renovar, tornando-nos mais abrangentes, sem perder a essência e a base da nossa atuação. Dessa forma, agora o Itec se ressignifica, tornando-se o Instituto de Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC). Continuaremos capacitando profissionais, produzindo conhecimento e práticas técnicas racionais e humanitárias para a melhora do ambiente e da qualidade de vida de seres humanos e animais. O IMVC contribui com a bagagem intelectual e prática de todos os que foram e estão

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Equipe ITEC/IMVC

Reunião da equipe ITEC/IMVC e alunos do curso Foca, realizado em São Paulo em 2005

Veja pelo QR code ao lado uma animação que está no instagram a respeito da mudança do Itec para o IMVC. l

Referências

1-GARCIA, R. C. M. ; NUNES, V. F. P. ; VIEIRA, A. M. L. Introdução à medicina veterinária do coletivo. In: GARCIA, R. C. M. ; CALDERÓN, N. ; BRANDESPIM, D. F. Medicina veterinária do coletivo: fundamentos e práticas. 1. ed. São Paulo: Integrativa, 2019. p. 10-23. ISBN: 978-6580244-00-3. Taylison Alves dos Santos

envolvidos com os projetos desempenhados pela ONG, trazendo práticas intersetoriais e multiprofissionais para a construção de melhor qualidade de vida para os seres humanos, os animais e o ambiente em que todos habitam – ao passo que a evolução ética social das comunidades as desperta cada vez mais para os direitos dos animais, fortalecendo a presença da medicina veterinária na saúde pública e trazendo à luz o conceito de Saúde Única.

Gestor financeiro IMVC taylison@ufpr.br

Gustavo de M. D. Rodrigues Xaulim MV, CRMV-MG: 20.955 Aluno de mestrado pela EV/UFMG IMVC gustavo.xaulim@hotmail.com

Vânia de Fátima Plaza Nunes MV, CRMV-SP: 4.119 Grad Brasil e FMPDA vania.vet@gmail.com

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Notícias

Proteção Animal Mundial abre inscrições para a segunda edição do prêmio Cidade Amiga dos Animais Os municípios inscritos serão avaliados em nove categorias, e o vencedor ganhará equipamentos e investimento em treinamentos de capacitação

A Proteção Animal Mundial (PAM ou em inglês, World Animal Protection – WAP), organização não governamental (ONG) que atua em prol da melhora do bem-estar animal, abre as inscrições para a segunda edição da premiação Cidade Amiga dos Animais. Voltado para cidades latino-americanas, o prêmio visa identificar e difundir estratégias inovadoras de manejo humanitário de populações caninas e felinas aplicadas de forma integrada por governos locais. Em 2019, três cidades foram premiadas: Bogotá (1º lugar), Conselheiro Lafaiete (2º lugar) e São Paulo (3º lugar). Já neste ano, o concurso contará com nove categorias, e os candidatos poderão se inscrever em todas as que desejarem e estiverem relacionadas às ações aplicadas pela sua secretaria. A cidade que se destacar em mais categorias poderá ganhar o prêmio de Ganhador Geral. Para difundir e valorizar iniciativas inovadoras, garantindo que elas possam ser implementadas em outros municípios, a Proteção Animal Mundial publicará um livro digital com as nove melhores estratégias de manejo de cães e gatos e com as ações da cidade vencedora. “Os efeitos positivos da convivência com animais na saúde e no bem-estar humano são bastante conhecidos. Porém, o excesso de cães e gatos em situação de rua pode trazer conflitos com a comunidade, e as formas de lidar com isso ainda são pouco exploradas. Cães e gatos abandonados nas ruas podem trazer problemas como transmissão de zoonoses, mordidas, poluição ambiental, poluição 80

Programas de manejo de populações de cães e gatos, como controle reprodutivo, educação em guarda responsável e outros concorrem ao prêmio Cidade Amiga dos Animais 2020

sonora, acidentes de trânsito e até impacto no turismo”, explica Rosângela Ribeiro, gerente de campanhas veterinárias da PAM no Brasil. No país, cerca de 30 milhões de cães e gatos vivem nas ruas. Diante da atual crise enfrentada em virtude da pandemia de covid-19, essa população sofre com questões como desnutrição, maus-tratos e abandono. Políticas claras em relação ao manejo de animais, como medidas de cuidados com a saúde, controle reprodutivo, educação, identificação, legislação e controle do comércio, ajudam a melhorar o bem-estar de toda a comunidade

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Divulgação

em momentos como esse. de Animais de Companhia (International ComPara concorrer, as cidades precisam ter panion Animal Management Coalition – Icam). programas relacionados ao manejo humaniNesta edição, o Panaftosa-Opas/OMS tário de populações de cães e gatos, como apoiará o processo de avaliação dos projetos. controle reprodutivo, educação em guarda responsável, etc. Visite o regulamento e veja Sobre a Proteção Animal Mundial as categorias em que seu município poderá A Proteção Animal Mundial (World Animal concorrer. Protection – WAP) move o mundo para proteA cidade vencedora do prêmio geral receger os animais há mais de 50 anos. A organiberá uma recompensa de R$ 25.000,00 em zação trabalha para melhorar o bem-estar dos materiais e/ou treinamentos de capacitação animais e evitar seu sofrimento. Suas atividapara melhorar as ações de manejo. Já os mudes incluem aliar-se a empresas para garantir nicípios vencedores por categoria serão recoaltos padrões de bem-estar para os animais nhecidos e homenageados pela ONG. sob seus cuidados; colaborar com governos Apenas funcionários ou gestores do dee outras partes interessadas para impedir que partamento responsável pelos programas de animais silvestres sejam cruelmente negomanejo podem se inscrever. Para isso, basta ciados, presos ou mortos; salvar a vida dos acessar o site https://www.worldanimalpro animais e garantir os meios de subsistência tection.org.br/cidade-amiga, ler o reguladas pessoas que dependem deles em situamento e preencher o formulário online. ções de desastre. A organização influencia os As inscrições estão abertas até 21 de agostomadores de decisão a colocar os animais to. Os vencedores serão conhecidos no dia 19 na agenda global e inspira as pessoas a mude outubro, por meio de publicação no site da darem a vida dos animais para melhor. Para organização. mais informações, acesse: www.protecaoa Criado e coordenado pela Proteção Animal nimalmundial.org.br. Mundial, o prêmio m Cidade Amiga dos Animais conta com o apoio da Organização Mundial de Saúde Animal (World Organisation for Animal Health – OIE), do Instituto de Medicina Veterinária do Coletivo (IMVC/ITEC), do Conselho Federal de Medicina Veterinária do Brasil (CFMV), da Associação Mundial de Veterinários de Pequenos Animais (World Small Animal Veterinary Association – WSAVA) e da As inscrições estão abertas até 21 de agosto, e os vencedores serão conhecidos no Coalizão Internaciodia 19 de outubro, por meio do site da organização Proteção Animal Mundial https:// www.worldanimalprotection.org.br/cidade-amiga nal para o Manejo Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020

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Pesquisa

Questionário online para médicosveterinários a respeito da sua percepção sobre o covid-19 relacionado aos animais A profa. dra. Aline Santana da Hora, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia (Famev-UFU), desenvolveu um questionário online para médicos-veterinários de pequenos animais e de animais silvestres. Esse questionário visa avaliar a percepção dos médicos-veterinários que atuam na clínica de pequenos animais e de animais silvestres e exóticos com relação ao papel dos animais de estimação durante a pandemia do coronavírus, e aborda questões relacionadas com as mudanças nas práticas clínicas para a prevenção contra o covid-19, os conhecimentos sobre a participação de animais na cadeia

epidemiológica e a procura por tutores que trabalhem nesse âmbito. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFU e está registrado na Plataforma Brasil (Caae: 11554919.5.0000.5152). Os dados serão importantes para a compreensão do papel do profissional veterinário na disseminação de informações durante a pandemia.
Almeja-se a colaboração e da participação de todos os profissionais da área!

 Ao final do questionário, o entrevistado terá acesso a um texto baseado em evidências científicas que esclarece os principais aspectos das questões abordadas.

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Acesse o questionário pelo endereço: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdOtO8lTo5mrKRTC2vm2p F7ZjHgrQo9336Mi3kppY7u4ydnwA/viewform 82

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Shih tzus são únicos. Nosso alimento, também.

Mais que amigos e companheiros, eles são verdadeiros membros da família, que a gente ama e faz de tudo para que estejam sempre saudáveis e felizes. Mas, acima de tudo,

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Lançamentos

A PremieRpet®, especialista em alimentos de alta qualidade para cães e gatos, apresenta dois novos produtos: o primeiro é o PremieR Nutrição Clínica Gastrointestinal para Cães, um alimento coadjuvante no tratamento de cães com distúrbios gastrointestinais; o segundo lançamento é uma nova opção de alimento coadjuvante para cães com hipersensibilidade e intolerância alimentar: o PremieR Nutrição Clínica Hipoalergênico Proteína Hidrolisada e Mandioca. PremieR Nutrição Clínica Gastrointestinal para Cães É um coadjuvante para apoiar o médico-veterinário no tratamento de cães com distúrbios gastrointestinais, como megaesôfago, gastrite, má digestão, síndrome de má absorção, enteropatia aguda e crônica, insuficiência pancreática exócrina, disbiose e colite. Tem ingredientes de alta digestibilidade para facilitar a digestão e proporcionar melhor absorção de nutrientes. Sua principal fonte proteica é a proteína hidrolisada de frango. Tem uma combinação exclusiva de prebióticos (FOS, GOS e MOS), que, em associação com as fibras, auxiliam a manter a saúde intestinal, e é enriquecido com vitaminas do complexo B, para uma adequada reposição de nutrientes. PremieR Nutrição Clínica Hipoalergênico Proteína Hidrolisada e Mandioca Para cães com hipersensibilidade e intolerância alimentar, o bem-estar e a qualidade de vida dependem da oferta de um produto específico com menor potencial de causar alergia, a fim de reduzir ou evitar a ocorrência dos sintomas dermatológicos (coceira, dermatite, alopecia e lesões) e intestinais (flatulência, cólica e diarreia). Para cães que precisam de um alimento coadjuvante para auxiliar esse tipo de tratamento, a PremieRpet® ampliou a linha 84

Divulgação

Dois lançamentos da PremieRpet® para cães

PremieR Nutrição Clínica Hipoalergênico Proteína Hidrolisada e Mandioca, nas apresentações para cães de pequeno porte (10,1 kg) e para cães de médio e grande portes (10,1 kg). o

PremieR Nutrição Clínica e apresenta PremieR Nutrição Clínica Hipoalergênico Proteína Hidrolisada e Mandioca. “O principal diferencial é a proteína hidrolisada de frango como exclusiva fonte de proteína do produto. Ela reduz significativamente as chances de reações adversas, pois tem peso molecular bastante reduzido, de modo que as partículas não são reconhecidas pelo sistema imune como um alergênico e apresentam alto teor de digestibilidade”, explica Cristiana F. Ferreira Pontieri, doutora em nutrição de cães e gatos e diretora de Desenvolvimento de Produtos da PremieRpet®. Além disso, a fonte exclusiva de carboidrato do alimento é a mandioca, ingrediente inédito nesse tipo de produto, que minimiza as possibilidades de reações adversas ao alimento. “Os ingredientes da fórmula propiciam ótima absorção de nutrientes. Para um cuidado maior com a pele, o produto é rico em ácidos graxos ômega 3 e 6, zinco e biotina, que auxi-

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Para cães com hipersensibilidade e intolerância alimentar: PremieR Nutrição Clínica Hipoalergênico

liam a manter a integridade do órgão”, explica Cristiana. Ambos os lançamentos estão disponíveis nas opções para cães adultos e filhotes de pequeno, médio e grande portes. Coadjuvantes do tratamento convencional Assim como todos os produtos da linha PremieR Nutrição Clínica, o alimento é um coadjuvante e não substitui o tratamento convencional, que deve ser feito sob a supervisão de um especialista. “É o médico-veterinário que vai recomendar e acompanhar o uso do produto, por um período mínimo de geralmente 3 a 8 semanas, mas que pode variar conforme

a avaliação do profissional. Se os sinais desaparecerem, ele poderá ser utilizado continuamente por toda a vida do animal”, ressalta a diretora de desenvolvimento de produtos da PremieRpet®. A linha PremieR Nutrição Clínica Resultado de fortes investimentos da PremieRpet® em tecnologia e inovação, a linha PremieR Nutrição Clínica tem como base a evolução das pesquisas nutricionais para cães e gatos no Brasil. Os produtos contemplam doenças que afetam os animais com elevada prevalência e demandam interferência nutricional. Oferecem suporte diferenciado para os animais em tratamento e devem ser utilizados sob prescrição e supervisão do médico-veterinário como coadjuvantes para apoiar medidas clínicas. Parte do valor obtido com a venda de todos os produtos da linha é revertida para o Instituto PremieRpet®, braço social da PremieRpet®, que financia pesquisas, estudos e ações que objetivam a promoção da saúde, da qualidade de vida e da longevidade de cães e gatos, além de apoiar ações sociais das mais diversas. Os produtos PremieRpet® são vendidos exclusivamente no canal especializado do qual fazem parte clínicas veterinárias e pet shops. Mais informações no site www.premierpet. com.br ou pelo PremieRpet Responde: 080055-6666 (de segunda a sexta das 8h30 às 17h30).

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Lançamentos

Vetnil® lança o anti-inflamatório Metilvet® Medicamento com potente ação corticosteroide e reduzidos efeitos mineralocorticoides

portes. É importante citar ainda que os comprimidos têm aroma, que facilita a sua administração ao animal. As quatro apresentações estão disponíveis no mercado em embalagens finais de cartuchos contendo 1 blister com 10 comprimidos e em display contendo 12 blisters com 10 comprimidos cada, sendo que esta última forma otimiza a utilização em casos de terapias crônicas. O uso do produto deverá ser feito sempre mediante prescrição do médico-veterinário, após avaliar o paciente por meio de exames físicos e complementares e instaurar o melhor protocolo de tratamento. Recomenda-se que os profissionais conscientizem o tutor acerca do acompanhamento clínico frequente e que analisem minuciosamente o processo de interrupção do tratamento, a fim de não causar impactos significativos sobre o eixo hipotalâmico/hipofisário/adrenal do paciente. Sobre a Vetnil ® Fundada há 25 anos pelo médico-veterinário dr. João Carlos Ribeiro, a Vetnil®, empresa 100% nacional, atua em pesquisas e no desenvolvimento de produtos para a saúde e a performance de pets e de equinos, estando entre as líderes de mercado nesses segmentos no Brasil. Vetnil https://www.vetnil.com.br/

Divulgação

A Vetnil®, uma das maiores empresas brasileiras do setor veterinário, lança no mercado Metilvet®, um produto com ação anti-inflamatória, analgésica e imunossupressora para uso oral em cães e gatos. Por se tratar de um potente corticoide, Metilvet® tem ampla aplicação em situações que envolvam alterações inflamatórias, como no controle do prurido em dermatopatias alérgicas ou mesmo como parte do protocolo em terapias imunossupressoras. O produto tem em sua composição a metilprednisolona, um glicocorticoide mais potente que a prednisolona e com mínimos efeitos mineralocorticoides, diminuindo assim a ocorrência de efeitos colaterais indesejados. Em comparação aos anti-inflamatórios não esteroidais (Aines), os glicocorticoides inibem diretamente a enzima fosfolipase A2, atuando no início da cascata da inflamação. Além disso, apresentam mecanismos genômicos que alteram a resposta da célula, diminuindo a ação de fatores de transcrição e liberação de citocinas e permitindo, além do bloqueio da produção de prostaglandinas, a inibição da liberação de vários outros componentes inflamatórios. O medicamento está disponível desde abril em quatro apresentações, contendo 5, 10, 20 e 40 mg de metilprednisolona, que facilitam a prescrição do médico-veterinário e a administração por parte do tutor para os diversos

Metilvet®, metilprednisolona com ação anti-inflamatória, analgésica e imunossupressora para uso oral em cães e gatos em quatro apresentações, de 5 mg, 10 mg, 20 mg e 40 mg 86

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Legislação

Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Conapra) O Projeto de Lei O Projeto de Lei do Senado – PLS n° 650 (Social/Meio Ambiente – https://www25.se nado.leg.br/web/atividade/materias/-/ma teria/123360), submetido em 29/9/2015, dispunha sobre a proteção e a defesa do bem-estar dos animais, definia conceitos como maus-tratos e outros (ainda hoje ambíguos), e criava duas instâncias federais de forma pioneira, ambas ancoradas no Ministério do Meio Ambiente: o Sistema Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Sinapra) e o Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Conapra) 1. Submetido pela então senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), ele não foi votado e infelizmente foi arquivado ao final de legislatura da senadora (art. 332 do Risf) em 21/12/2018. Mesmo após esse arquivamento, o projeto poderia ter sido reapresentado no Senado por algum senador em mandato atualmente, mas não foi. Ele ainda pode ser apresentado como Projeto de Lei (PL) na Câmara de Deputados pela própria ex-senadora, atualmente no mandato de deputada federal, ou por quaisquer dos demais deputados federais que foram eleitos com a responsabilidade de proteger o bem-estar dos animais. Enquanto essa legislação não é aprovada, a população humana e animal aguarda leis que permitam ações eficientes de proteção e bem-estar animal. O projeto n° 650 alterava também a Lei nº 7.173/83, que dispunha sobre o estabelecimento e o funcionamento de jardins zoológicos; a Lei no 9.605/98, que determinava as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente; e a Lei no 11.794/08, que estabelecia procedimentos para o uso científico de ani-

Fernando Gonsales

Quanto tempo ainda vamos esperar?

O Projeto de Lei do Senado – PLS n° 650, submetido em 29/9/2015, cria o Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Conapra), além de diversas outras ferramentas pioneiras em prol do bem-estar animal

mais; e revogava a Lei nº 10.519/02, que dispunha sobre a promoção e a fiscalização da defesa sanitária animal quando da realização de rodeios. A seguir, alguns pontos ainda controversos que poderiam ser todos discutidos em instâncias específicas no âmbito federal, e que poderiam ser também repassados ou discutidos nas esferas estaduais e municipais. Direito dos animais ao bem-estar No Art. 6º, “todos os animais têm direito à existência em um contexto de equilíbrio biológico e ambiental, de acordo com a diversidade das espécies, raças e indivíduos”, ou seja, de preservação da integridade física e mental e do bem-estar dos animais, que seriam considerados interesse difuso, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de protegê-los e de promover ações que garantam o direito estabelecido no caput, além de coibir práticas contrárias à lei. Assim, segundo o Art. 7º, toda pessoa física ou jurídica que mantenha animal sob sua guarda deverá tomar todos os cuidados necessários para prover a ele condições mínimas de bem-estar.

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Legislação

Políticas públicas de proteção do bem-estar dos animais Segundo o Art. 9º, o Poder Público adotaria ações e políticas voltadas à proteção e ao bem-estar dos animais de acordo com as diretrizes propostas, promovendo políticas de conscientização para a prevenção e o combate aos maus-tratos e para a guarda responsável de animais. A inovação consiste em estimular a educação e a orientação de profissionais voltados à proteção e ao bem-estar dos animais, bem

Fernando Gonsales

Segundo o PLS n° 650/2015, “todos os animais têm direito à existência em um contexto de equilíbrio biológico e ambiental, de acordo com a diversidade das espécies, raças e indivíduos” 88

Fernando Gonsales

Vedação dos maus-tratos Segundo o Art. 8°, seriam vedadas quaisquer formas de maus-tratos aos animais, considerando-se maus-tratos, sem prejuízo de outras condutas decorrentes de ação ou omissão, dolosa ou culposa, direta ou indireta, expor o animal a perigo ou a danos diretos ou indiretos à vida, à saúde e ao seu bem-estar, inclusive a doenças infectocontagiosas e que possam ser consideradas e constatadas por autoridade sanitária, policial ou judicial. Nesse tópico, é inovadora a atenção ao comportamento de acumulação compulsiva de animais, considerando-se maus-tratos, segundo o item XXVI, “acumular animais de forma compulsiva, com número exagerado de animais de estimação, sem ter como abrigá-los ou alimentá-los de forma adequada, mesmo sem crueldade deliberada”.

De forma pioneira, o PLS n° 650/2015 incumbe o Poder Público de promover políticas nacionais de conscientização e guarda responsável de animais

como incentivar e fomentar a abertura de hospitais veterinários para atendimento gratuito de animais que necessitem de cuidados e serviços médicos, preferencialmente vinculados às instituições de ensino superior em medicina veterinária. Fim do uso de animais em espetáculos Na Seção VII, do Uso de Animais em Espetáculos, o Art. 21 vedaria a exibição, o uso e a manutenção de animais em circos, exibições de lutas, casas de espetáculos ou semelhantes, e pelo Art. 22. estaria vedada a realização de rodeios, touradas, vaquejadas ou eventos similares que envolvessem maus-tratos e atos cruéis aos animais. Excluíam-se das atividades previstas a exposição de animais e sua utilização em provas hípicas, procissões religiosas, desfiles cívicos ou militares ou em atividades similares que não lhes causassem danos e não configurassem maus-tratos. Criação do Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Conapra) No Art. 35, o PLS criaria o “Conselho Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais (Conapra), órgão integrante da estrutura do Ministério do Meio Ambiente, de caráter consultivo e de assessoramento na formulação e avaliação de políticas públicas, constituindo espaço de articulação entre as esferas de governo e a sociedade civil e de controle social das ações voltadas ao bem-es-

Clínica Veterinária, Ano XXV, n. 147, julho/agosto, 2020


Infrações e penalidades relativas a maus-tratos aos animais De acordo com o Art. 43, constituía “infração à proteção e defesa do bem-estar dos animais toda ação ou omissão que importe em ato de abuso ou maus-tratos, na inobservância de preceitos estabelecidos nesta Lei, especialmente no art. 8º, ou na desobediência às determinações de caráter normativo

dos órgãos e das autoridades administrativas competentes”. As penas variariam compreendendo advertência, prestação de serviços voltados à promoção do bem-estar animal, prestação pecuniária (contribuições financeiras), multa de um quarto do salário-mínimo a 13 mil salários-mínimos, apreensão do animal e dos instrumentos, perda definitiva da guarda, posse ou propriedade do animal, proibição de guarda, Fernando Gonsales

tar dos animais e sua interação com o meio ambiente e a população humana”. O Conapra teria como função “promover a articulação, a cooperação e a integração dos órgãos e entidades da administração pública federal, e desses com as demais esferas de governo e entidades privadas com ou sem fins lucrativos, que tenham, no âmbito de suas competências, políticas, programas e ações que impactem a vida e o bem-estar dos animais, sua utilização pelo homem e suas interações com o meio ambiente e com a população”. Segundo o Art. 42, o Conapra convocaria, em periodicidade não superior a quatro anos, a Conferência Nacional de Proteção e Defesa do Bem-estar dos Animais, com o objetivo de indicar diretrizes e prioridades para as políticas e ações voltadas para a proteção e defesa do bem-estar dos animais e sua interação com o meio ambiente e a população humana, e fomentar a participação e o controle social.

Fernando Gonsales

Fernando Gonsales

No Art. 22. do PLS n° 650/2015, estaria vedada a realização de rodeios, touradas, vaquejadas ou eventos similares que envolvessem maus-tratos e atos cruéis aos animais

De forma inovadora, o item XXVI do PLS n° 650/2015 reconhece o problema da acumulação compulsiva de animais, considerando maus-tratos “acumular animais de forma compulsiva, com número exagerado de animais de estimação sem ter como abrigá-los ou alimentá-los de forma adequada, mesmo sem crueldade deliberada”

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Legislação Fernando Gonsales

A. W. Biondo

posse ou propriedade de animais e reclusão com pena aumentada de metade em caso de lesão grave permanente ou mutilação, e ainda aumentada em dobro em caso de morte do animal. Cabe lembrar que não existe na legislação brasileira lei que proíba a guarda, posse ou propriedade de animais em consequência de maus-tratos, como acontece em vários outros países. Mudança da razão social dos zoológicos Segundo o Art. 50, caberia ao Ministério do Meio Ambiente, “no prazo de dois anos e, posteriormente, a cada cinco anos, averiguar as condições dos zoológicos existentes, determinando sua continuidade ou o encerramento de suas atividades, tomando as providências devidas para a proteção da vida e do bem-estar dos animais envolvidos”. Os zoológicos que permanecessem em atividade, na forma do parágrafo anterior, deveriam promover obrigatoriamente programas continuados de preservação da fauna nativa brasileira, de combate ao tráfico de animais selvagens, de prevenção de riscos de introdução de fauna exótica, de educação e sustentabilidade ambiental. Além disso, não seria permitida a aquisição 90

Os zoológicos, segundo o PLS n° 650/2015, devem promover obrigatoriamente programas continuados de preservação da fauna nativa brasileira, de combate ao tráfico de animais selvagens, de educação e sustentabilidade ambiental. Acima, Projeto Veterinário Mirim de Guarda Responsável da Prefeitura de Curitiba

de novos animais para o acervo de zoológicos, ressalvados os casos de animais provenientes de apreensões, doações, em condições de maus-tratos, acidentados, mutilados ou que não pudessem mais ser devolvidos ao seu habitat natural, mediante autorização do órgão competente. Finalmente, ficaria proibida a reprodução intencional de animais exóticos para o acervo de zoológicos sem prévia autorização do órgão competente. Considerações finais Projetos de Lei como o n° 650, arquivados, precisam ser recolocados em debate, pois são oportunidades de se tornarem as leis tão necessárias em nosso país. É importante que esse projeto seja reapresentado, pois, enquanto isso, carecemos de uma instância federal que oriente os estados e municípios numa ação coordenada e padronizada de proteção e bem-estar animal.

Alexander Welker Biondo

MV, CRMV/PR 6.203. MSc, PhD. Departamento de Medicina Veterinária, UFPR abiondo@ufpr.br

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Tecnologia da informação

Acompanhamos a influência da tecnologia na medicina veterinária há mais de 30 anos. Nossos primeiros atendimentos clínicos foram registrados em planilhas do Lotus 123 e em arquivos de texto escritos em PCs como o 286, equipados com um monitor de fósforo verde. Presenciamos o lançamento do Windows, a chegada da internet e o aparecimento dos primeiros celulares. A miniaturização dos componentes e o aumento da capacidade de processamento e armazenamento de dados abriram o caminho para novos lançamentos, que ocorrem em espaços de tempo cada vez mais curtos. Mas qual o atual estágio da tecnologia e como seu avanço impactará a medicina veterinária no futuro? Em primeiro lugar, é importante entender que a tecnologia da informação (TI) não se resume a sistemas de gestão de clínicas veterinárias que o veterinário opera a partir de um notebook ou celular, ou à implementação de ações de marketing digital nas redes sociais. A informática está presente nas universidades, onde o professor, além de ter que passar seu conhecimento, passou a atuar também como um guia, indicando os melhores caminhos em meio a um universo de websites e plataformas de EAD. Os equipamentos de suporte ao diagnóstico como os aparelhos de ressonância magnética, ultrassons e eletrocardiógrafos têm capacidade de processamento similar à de um computador e estão conectados à internet. Como resultado, temos um diagnóstico mais rápido e preciso, um tratamento mais eficiente e uma montanha de dados gerados e armazenados em nuvem. 92

belchonock(Olga Yastremska) 3drenderings (Michael Bescec)

Os avanços da tecnologia e o futuro da medicina veterinária

Fotomontagem que ilustra a situação na qual o aluno estuda anatomia acessando imagens realistas em três dimensões p

Quebrando paradigmas na educação Modelos 3D interativos estão ganhando cada vez mais espaço nas universidades, com destaque para a disciplina de anatomia. O sucesso dessa nova ferramenta no ambiente universitário tem despertado o interesse das empresas de tecnologia, que já estão reposicionando seus orçamentos com o objetivo de conquistar esse mercado. A empresa LlamaZOO, sediada no Canadá, estabelecida no setor de mineração, desenvolveu o sistema EasyAnatomy (www.easy-anatomy.com/) e vendeu sua ideia para várias universidades de veterinária pelo mundo. Professores e alunos aprovaram a iniciativa e relatam uma melhora significativa na fixação do conteúdo apresentado. Em poucos anos, os estudantes terão suas aulas de anatomia em casa, usando óculos especiais que permitem a visualização de modelos 3D em projeções holográficas de alta definição, dando a impressão de que es-

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tão em uma sala de aula, podendo inclusive interagir com o professor e com outros alunos. Além dos animais de companhia, como cães e gatos, que já possuem vasta quantidade de modelos disponíveis, outras espécies também serão mapeadas em breve, promovendo uma verdadeira revolução no estudo de animais silvestres. A internet das coisas e o consultório do futuro O veterinário contará com computadores e celulares ainda mais rápidos, a conexão com a internet será mais estável, e a velocidade de transmissão de dados continuará crescendo. Os equipamentos de suporte ao diagnóstico seguirão a tendência de queda nos preços e de facilidade de uso. As clínicas serão capazes de oferecer resultados imediatos, e a integração com sistemas de gestão do prontuário eletrônico dos pacientes será ainda mais

natural. A internet das coisas (ou internet of things – IoT) estará presente em todos os equipamentos da sala de atendimento. A InPulse Animal Health, com sede em Florianópolis, SC, é uma pioneira na aplicação de IoT em soluções para veterinários. A empresa desenvolveu um eletrocardiógrafo portátil que pode ser usado a partir de um celular, e envia o traçado a um especialista para a elaboração do laudo. Impressão 3D na ortopedia veterinária Na última década, a impressão 3D passou de um processo especializado extremamente caro para uma ferramenta acessível, e sua aplicação em medicina veterinária tem aumentado nos últimos anos, principalmente na área da ortopedia. Modelos tridimensionais de ossos de animais são criados a partir de um protótipo gerado com base em imagens coletadas nas tomografias computadoriza-

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Tecnologia da informação das, permitindo que veterinários e cirurgiões tenham uma compreensão bastante precisa da estrutura óssea ou muscular interna de um paciente antes de entrar em cirurgia. A tecnologia está ajudando também os animais silvestres, como as tartarugas que tiveram parte do exoesqueleto danificadas. Nesses casos, a impressora 3D é usada para criar uma peça exatamente igual à parte comprometida, que então é fixada ao corpo do animal.

Wavebreakmedia (Sean Prior)

Quebrando paradigmas Não vemos espaço no futuro próximo para tarefas como ir ao banco ou enviar documentos via correio. As impressoras já não são mais necessárias. Gerar documentos com base em modelos preexistentes e em dados do prontuário eletrônico do paciente é muito mais rápido, e eles ainda podem ser assinados digitalmente. Outro paradigma que será quebrado em breve está relacionado à maneira como o veterinário registra a anamnese. Escrever um texto usando o teclado será coisa do passado. Os sistemas de gestão serão equipados com recursos de reconhecimento de voz, tanto para acionar um determinado comando quanto para transformar o texto falado em texto escrito.

Projeções holográficas devem revolucionar, em um futuro próximo, a maneira como médicos-veterinários realizam diagnósticos por imagem 94

Softwares desenhados para aprender com os veterinários Os veterinários usarão cada vez mais os sistemas de gestão para estabelecer tratamentos mais eficazes. À medida que as bases de dados são alimentadas com protocolos e guidelines estabelecidos pela comunidade científica, os sistemas ganham poder para correlacionar diagnóstico e tratamentos. O crescente uso da inteligência de máquina (ou machine learning – ML) permitirá ainda que os sistemas aprendam e passem a sugerir tratamentos, informando ao usuário as chances de sucesso de uma terapia específica. Usuários do VetGo, o sistema de gestão de clínicas veterinárias da NetVet (www.netvet. com.br/vetgo), contam com um recurso que realiza o cálculo de doses que devem ser administradas ao paciente. O sistema utiliza dados do prontuário, como espécie e peso vivo, e informações fornecidas pelos fabricantes de medicamentos e suplementos alimentares. Em janeiro de 2020 começamos a alimentar o banco de dados com informações de fármacos e quantidades recomendadas para cães e gatos. O próximo passo é a padronização dos diagnósticos e a implementação de algoritmos de inteligência artificial para criar recursos de suporte ao diagnóstico. Os sistemas inteligentes e o aprendizado de máquina podem causar uma certa sensação de desconforto entre os veterinários, criando uma ideia de que as máquinas podem tomar o lugar das pessoas, mas o fato é que as novas tecnologias estão tirando os profissionais da zona de conforto, levando-os a aprender a lidar com ferramentas mais complexas. Os dados continuarão sendo coletados por veterinários a partir do exame clínico do paciente, e as decisões mais importantes sempre estarão nas mãos deles. Marcelo Sader Consultor em TI para o mercado veterinário NetVet Tecnologia para Veterinários www.netvet.com.br Marcelo@netvet.com.br

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Gestão

As vibrações dos sentimentos Na última edição da revista Clínica Veterinária, concluímos nosso artigo de gestão com as seguintes ideias: “Todas essas ponderações nos levam a concluir que a nossa sobrevivência a esta grande crise e a nossa participação na bonança dependem menos dos outros do que de nossas próprias escolhas de vida e de trabalho. Mas, afinal, será que temos mesmo consciência da razão da nossa existência aqui na Terra? Esta grande pandemia nos oferece a grande oportunidade de refletir sobre tudo isso e de perceber finalmente com maior clareza como é equivocado pensar e fazer as coisas apenas para si. O mundo nos mostra agora, com toda a evidência, o quanto é crucial contribuir para o bem geral e fazer todo o esforço possível para deixar aos nossos descendentes o legado de um planeta saudável. Esta crise certamente continuará a nos fazer enfrentar situações muito difíceis, mas também pode proporcionar ao mundo um ganho de consciência que chega em muito boa hora”. A reflexão e a compreensão das ideias acima – ou seja, de que em resumo a nossa sobrevivência a esta grande crise depende menos dos outros do que de nossas escolhas de vida e de trabalho – nos transportam de modo inevitável para um segundo estágio, de enfoque mais prático: “O que fazer? Como fazer? Com quem contar?”, ou seja, quais são as medidas que devemos começar a tomar para efetivamente realizar, construir, implantar e materializar a nossa contribuição? Antes, porém, de arregaçar as mangas e partir para o aspecto concreto, é preciso dar um passo essencial: trabalhar nossos sentimentos e desejos. O passo principal consiste em abrigar e nutrir um profundo sentimento de amor, pois só ele nos permite criar uma sintonia com as vibrações do universo. Isso obviamente começa por um exame honesto e sincero de nosso interior e por uma atenção constante para podermos separar o joio do trigo, isto é, para nos desapegarmos dos sentimentos negativos, fazê-los perder força e impor-

Pixabay 164989

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Abrigar e nutrir profundos sentimentos de amor e gratidão nos permite criar sintonia com as vibrações do universo, muito mais sutis e elevadas que as que regem nosso cotidiano

tância, e abrir com isso um espaço maior para a presença desse sentimento amoroso. Trata-se de um trabalho paciente e determinado, que tem como resultado aumentar o número de pessoas que baseiam a vida na compaixão pelo próximo e que irá engajar um número cada vez maior de pessoas no mesmo objetivo. Com isso, essas ondas de amor se tornarão mais poderosas e passarão a viajar por toda parte, contribuindo para que a paz mundial se torne uma realidade. O primeiro passo para irradiar esse sentimento de amor é ter uma profunda gratidão por tudo, por todos os acontecimentos da nossa vida, tanto os bons quanto os ruins, já que estes últimos são os que mais nos ajudam a aprender, corrigir e alimentar as qualidades necessárias para tomarmos o melhor caminho na vida. Aos poucos, nosso esforço renderá frutos e nos fará mudar o foco do amor, para que fique menos concentrado em nós próprios e se volte para o próximo. Para isso, temos que manifestar amor por todos os que nos cercam e envolver com uma aura amorosa tudo o que fazemos, seja na profissão, na família, na sociedade ou nas nossas relações com todas as pessoas com as

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Gestão quais convivemos. Existe uma correlação invisível, quase mágica, entre a gratidão e o amor. Embora o invisível seja sentido pelo nosso corpo mental e físico, a gratidão por tudo, por todos os acontecimentos na totalidade da nossa vida, nos permite a conexão com o mundo espiritual e nos faz interagir com ondas de vibrações muito mais sutis e elevadas do que as que nos conduzem normalmente. Elas podem então ser captadas pela mente e se refletir e se espalhar pelo nosso corpo físico, pelas nossas células, regenerando-as e dando-nos mais vitalidade e melhores condições para usufruir uma vida saudável e prazerosa. Assim, apesar de exigir atenção e esforço constante, a reorientação de nossos sentimentos se assenta num segredo muito simples: manter o coração sintonizado com este profundo senti-

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mento de gratidão e amor. Essa é a chave que abre o caminho para uma vida mais consciente, mais plena e mais feliz, com saúde, harmonia e prosperidade. Então, sim, envolvidos nesses sentimentos de gratidão e amor, poderemos arregaçar as mangas, produzir e enfrentar as grandes transformações e reorientações que temos pela frente. Com um enfoque novo, saberemos de que maneira contribuir, recriar e materializar um novo modelo econômico e de convivência que está sendo proposto a partir do imenso impacto do Codiv-19 e que está em nossas mãos ajudar a cultivar. Celso Morishita Gestor empresarial espiritualista celsomorishita@yahoo.com

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Vet agenda Anestesiologia

Cirurgia

8 a 10 de julho

20 a 22 de agosto

Semana de Anestesiologia da Gepa Anhanguera https://www.instagram.com/gepa_ anhanguera/

Módulo Ortopedia Cirurgias da Coluna Vertebral - CIPO http://www.cipo.vet.br/

27 a 39 de agosto

25 e 26 de julho

Simpósio Internacional de Anestesia Veterinária Labest UFPR https://www.instagram.com/gepa_ anhanguera/

Seminário Internacional da ABMeVeC http://abmevec.com.br/iiiseminaacuterio-internacionalabmevec-on-line.html

São Paulo, SP

Online

Comportamento

Dermatologia

2021

8 a 10 de abril

João Pessoa, PB

Comdor 2021 – Congresso Medvep de Dor e Anestesiologia Veterinária https://www.shopmedvep.com.br/ produtos/comdor-2021/

Animais selvagens

2021

São Paulo, SP

Comdev 2021 – Congresso Medvep Internacional de Dermatologia Veterinária https://bit.ly/35ozZBC

Endocrinologia

6 a 8 de julho

7 de julho

I Simpósio Online de Medicina Veterinária de Animais Selvagens https://www.sympla.com. br/i-simposio-online-demedicina-veterinaria-de-animaisselvagens__870885

Trilostanoterapia e monitorização do hiperadrenocorticismo www.youtube.com/drogavetsp

Evento online

Online

10 e 11 de julho

Online

Curso de imagem no paciente endocrinopata www.endocrinovet.com.br

Bem-estar animal

14 a 16 de agosto

São Paulo, SP

II Curso de Manejo Comportamental e Bem-Estar aplicado a Felinos https://bit.ly/2PFKoSR 7 a 9 de outubro

Cuiabá, MT

VII Congresso mundial de bioética e direito animal https://www.facebook.com/ InstitutoAbolicionistaAnimal/

18 a 21 de julho

22 a 24 de julho

Online

Workshop Internacional de Pesquisas Hormonais - Monitoramento endócrino-comportamental de animais selvagens www.endocrinovet.com.br 7 e 8 de agosto

Online

Curso de dermatologia no endocrinopata www.endocrinovet.com.br

2021

Jaboticabal, SP

VIII Congresso Brasileiro de Biometeorologia, Ambiência e bem – estar Animal https://eventos.funep.org.br/Eventos/ Detalhes#/exibir/5490

Cardiologia

14 e 15 de novembro

Jaboticabal, SP

III Curso de obesidade perspectivas e desafios https://eventos.funep.org.br/Eventos/ Detalhes#/exibir/5516 30 de outubro a 21 de novembro

17 de agosto a 21 de setembro

Online

18 a 20 de setembro

São Paulo, SP

III Curso: Bases da Medicina Integrativa na Veterinária http://abre.ai/biVK

Medicina veterinária do coletivo

Online

Online

15 a 17 de abril

Medicina veterinária integrativa

São Paulo, SP

Eletrocardiografia veterinária - básico eventosvetcardio@gmail.com

V Curso de endocrinologia clínica de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br

7 de julho

Recife, PE

Reunião aberta: Cães no IF Campus Muzambinho: de quem é a responsabilidade e o que pode ser feito ? https://meet.google.com./rvy-xpas-asf 16 e 17 de novembro

Petrolina, PE

III Encontro Nacional sobre animais abandonados em campi universitários http://abre.ai/biVO

Medicina veterinária felina

14 a 16 de agosto

São Paulo, SP

II Curso de Manejo Comportamental e Bem-Estar aplicado a Felinos https://bit.ly/2PFKoSR 9 a 11 de outubro

São Paulo, SP

CAT Congress SP 2020 https://www.treevet.com/curso/115cat-congress-sp-2020 12 a 14 de novembro

Campinas, SP

Comfel 2020 – Congresso Medvep Internacional de Medicina Felina https://www.shopmedvep.com.br/ produtos/comfel-2020/

Nutrição

18 e 19 julho Evento online Mini - Curso de Nutrologia Funcional para Tutores-Online https://bit.ly/2VHR2LF 11 e 12 de setembro

São Paulo, SP

I Curso de nutrição e nutrologia de cães e gatos http://www.endocrinovet.com.br 14 e 15 de novembro

Jaboticabal, SP

III Curso de obesidade perspectivas e desafios https://eventos.funep.org.br/Eventos/ Detalhes#/exibir/5516

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Vet agenda 21 e 22 de outubro

Campinas, SP

XIX Congresso CBNA PET 2020 http://www.cbna.com.br/Eventos/Ver/ XIX-Congresso-CBNA-PET-2020

Neurologia

7 e 8 de novembro

Goiânia, GO

Curso internacional de neurologia de cães e gatos secretaria@anclivepa.com.br

Nefrologia

Evento adiado

Jataí, GO

Nefrologia clínica para pequenos animais: como atender seu paciente hoje? https://www.aprimoryvet.com.br/

Ortopedia

21 a 23 de agosto

São Paulo, SP

Feiras, Congressos & Simpósios

Evento adiado

Belo Horizonte, MG

Conexão Expovet 2020 https://www.expovet.com.br 6 a 8 de julho

Online

I Simpósio Online de Medicina Veterinária de Animais Selvagens https://www.sympla.com. br/i-simposio-online-demedicina-veterinaria-de-animaisselvagens__870885 6 a 9 de julho

Evento Online

1º Encontro virtual de especialidades veterinárias https://faculdadeanclivepa.edu.br/ 16 a 19 de outubro

Patos, PB

VI Curso de Biomecânica Aplicada a Pequenos Animais https://bit.ly/2TheHlh

XX Simpósio Paraibano de Medicina Veterinária http://20simposioparaibanodemv.com/ inscricao2lote/

15 a 17 de outubro

4 a 6 de novembro

Curso Intensivo Prático de Ortopedia - Avançado www.cipo.vet.br

Pet South America 2020 https://www.petsa.com.br

São Paulo, SP

Oncologia

São Paulo, SP

2021 25 a 27 de março

17 e 19 de setembro

Vila Real, Portugal

Congress of the European Society of Veterinary and Comparative Nutrition https://esvcn.org/ 23 a 26 de setembro

Varsóvia, Polônia

WSAVA Congress https://bit.ly/2m0UaTN 3 e 4 de outubro

Evento online

I vivência internacional de medicina veterinária sistêmica: brasil e portugal https://bit.ly/3f0HJ0I 15 a 17 de outubro

Flórida, EUA

2020 VCS Annual Conference http://vetcancersociety.org/vcsmembers/links-of-interest-2/calendarof-events/ 16 e 17 de outubro

Barcelona, Espanha

1st European Congress of Veterinary Endoscopy and Image-guided Interventions http://bit.ly/2FgHej8 20 a 24 de outubro

Sydney, Austrália

9th World Congress of Veterinary Dermatology http://www.vetdermsydney.com

Rio de Janeiro, SP

22 e 23 de outubro

1 a 3 de abril

International Conference on Animal Science & Veterinary Medicine https://phronesisonline.com/animalscience-conference/

Início em setembro

2ª Veterinaria Expo & Congress https://www.veterinariaexpo.com/

26 e 27 de maio

Pós em Oftalmologia Veterinária https://bit.ly/2PVMzSL

12 a 14 de Maio

15 a 17 de setembro

Bento Gonçalves, RS

1º Comov – Congresso Medvep Internacional de Oncologia Veterinária https://bit.ly/3fau5c0

Pós-graduação

São Paulo, SP

Reprodução

Evento adiado

Jaboticabal, SP

6º Curso de Obstetrícia, Neonatologia e Reprodução Aplicada a Prática Clínica de Pequenos Animais https://bit.ly/2C1ghBt

Semanas acadêmicas

8 a 10 de julho

Online

Semana de Anestesiologia da Gepa Anhanguera https://www.instagram.com/gepa_ anhanguera/

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Congresso Veterinário de León – CVDL https://www.cvdlinrio.com/

Miami, EUA

São Paulo, SP

Maceió, AL

41º Congresso Brasileiro da Anclivepa https://www.cbamaceio.com.br/ 27 a 29 de julho

Bento Gonçalves, RS

Congresso Medvep Internacional de Especialidades Veterinárias 2021 https://bit.ly/32GWcto

Agenda internacional

2021

Dublin, Irlanda

2nd World Congress on Veterinary Medicine https://veterinarymedicine. pulsusconference.com/ 22 a 24 de julho

Cartagena de Indias, Colômbia

Congreso VEPA Nacional 2020 https://www.facebook.com/vepa.col 6 a 9 de outubro

Illinois, EUA

2021 ACVS Surgery Summit https://bit.ly/2kyNE6a

Evento adiado

25 a 27 de outubro

Galapagos Veterinary Experience https://bit.ly/2I9wEvJ

6° Congreso de la Asociacíon EAVLD https://eavld2020.org/

Baquerizo Moreno, Equador

Sevilla, Espanha

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