Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Patologia clínica Dermatite necrolítica superficial canina – revisão
Oncologia
Neoplasia testicular em jaguatirica (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758)
Medicina veterinária do coletivo
Variantes genéticas do SARS-CoV-2
Indexada no Web of Science – Zoological Record, no Latindex e no CAB Abstracts DOI: 10.46958/rcv
www.revistaclinicaveterinaria.com.br
Divulgação
Índice Editora Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br Publicidade Alexandre Corazza Curti midia@editoraguara.com.br
Conteúdo científico Patologia clínica
Dermatite necrolítica superficial canina – revisão
Editoração eletrônica Editora Guará Ltda.
Canine superficial necrolytic dermatitis – review
Projeto gráfico Natan Inacio Chaves
Dermatitis necrolítica superficial en perros – revisión
Gerente administrativo Antonio Roberto Sanches admedguara@gmail.com Capa Jaguatirica macho Bernardo José Sader Teixeira
Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária. Editora Guará Ltda. Rua Adolf Würth, 276, cj 2 Jardim São Vicente, 06713-250, Cotia, SP, Brasil Central de assinaturas: (11) 98250-0016 cvassinaturas@editoraguara.com.br Gráfica Gráfica e Editora Pifferprint Ltda.
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Oncologia
Neoplasia testicular em jaguatirica (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758) Testicular neoplasm in ocelot (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758) Neoplasia testicular en ocelote (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758)
Conteúdo editorial Medicina veterinária do coletivo
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Variantes genéticas do SARS-CoV-2
Ecologia
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Tráfico de vidas
Medicina veterinária do coletivo
Sistema público de cadastro, triagem e controle reprodutivo de cães e gatos em um município do Sul do Brasil Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
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Reinventando a extensão 36 acadêmica em tempos de Covid
Saúde coletiva
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A importância do acompanhamento psicológico a médicosveterinários residentes
Bem-estar animal
66
Coelhos domésticos – origens e domesticação – parte 1
Lançamentos
74
Hypoallergenic Moderate Calorie Canine, novo alimento da linha de Nutrição Veterinária Hypoallergenic da Royal Canin®
82
Ambiente hospitalar veterinário
86
Tecnologia da informação
92
Economia circular, você já ouviu falar?
Recepção – como acolher bem o animal e o tutor
Blockchain, bitcoin e computação descentralizada no contexto da medicina veterinária – parte 1
Gestão
Carma e darma
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Ensino
Nutrição básica de cães e gatos é tema de curso online oferecido pela PremieRpet®
Prêmio
Ecologia
Vet agenda 80
PremieRpet anuncia vencedores do 7º Prêmio de Pesquisa ®
Cursos, palestras, semanas acadêmicas, simpósios, workshops, congressos, em todo território nacional e por todo o planeta
Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
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Editorial
Adeus, 400 mil vezes É inevitável continuar falando dessa triste realidade. Ela afeta cada um de nós em grau diferente, a alguns como ameaça, transtorno da vida, infortúnio superado, a outros com a perda de alguém. Um adeus. Como ocorreu com mais de 400 mil famílias, até agora. Um número que poderia ter sido bem menor. Um adeus a pais, mães, primos, irmãos, filhos, vizinhos, tutores, amigos, colegas, companheiros, meros conhecidos. Um adeus repetido mais de 400 mil vezes. Luto, tristeza, incerteza, medo, indignação, choro, desespero. Três entre quatro brasileiros tiveram essa trágica experiência bem próxima. Vítimas de autoenganos, de desorientação, má orientação, irresponsabilidade social ou da inércia de autoridades que priorizaram outros interesses em lugar da saúde pública. Que poderiam ter feito melhor. Muito melhor, ou, pelo menos, ter evitado investir contra o bom senso e a ciência. Uma tragédia também reveladora. De um lado, uma linha de frente formada por pessoas com um mínimo de clareza, caráter, decência, responsabilidade social, empatia, compaixão e solidariedade, com destaque para as equipes médicas, há mais de um ano no corpo a corpo com o problema, com risco de morte. E, de outro lado, a falta de tudo isso, a cegueira de quem não quer ver. Ou a quem não interessa ver. Que a tragédia nos faça valorizar ainda mais o caráter, a coragem, a responsabilidade social e a empatia pelo próximo de alguns, e a dizer não à leviandade, à negligência, à inconsequência e à falta de preocupação social de outros. Somos vítimas não só do vírus, mas da falta de visão e de responsabilidade social. Tanto de quem poderia valorizar o simples ato de usar uma máscara quanto daqueles que poderiam ter cumprido sua responsabilidade, mas se eximiram disso. Quatrocentas mil mortes. E elas não causaram impacto suficiente para nos mobilizarmos efetivamente a fim de interromper isso. Algo precisa mudar, pois como estamos logo chegaremos a 500 mil, 600 mil. Ou mais. Algo precisa mudar. Maria Angela Sanches Fessel CRMV-SP 10.159 6
Clínica Clínica Veterinária, Veterinária, AnoAno XXVI, XXVI, n. 152, n. 152, maio/junho, maio/junho, 2021 2021
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Consultores científicos Adriano B. Carregaro FZEA/USP-Pirassununga Álan Gomes Pöppl FV/UFRGS Alberto Omar Fiordelisi FCV/UBA Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM Alejandro Paludi FCV/UBA Alessandra M. Vargas Endocrinovet Alexandre Krause FMV/UFSM Alexandre G. T. Daniel Universidade Metodista Alexandre L. Andrade CMV/Unesp-Aracatuba Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul Aline Souza UFF Aloysio M. F. Cerqueira UFF Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia Ana Liz Bastos CRMV-MG, Brigada Animal MG Ananda Müller Pereira Universidad Austral de Chile Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran Angela Bacic de A. e Silva FMU Antonio M. Guimarães DMV/UFLA Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP-São Paulo Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal Aury Nunes de Moraes UESC Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP-São Paulo Beatriz Martiarena FCV/UBA Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice A. Rodrigues MV autônoma Camila I. Vannucchi FMVZ/USP-São Paulo Carla Batista Lorigados FMVZ/USP-São Paulo
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Carla Holms Anclivepa-SP Carlos Alexandre Pessoa www.animalexotico.com.br Carlos E. Ambrosio FZEA/USP-Pirassununga Carlos E. S. Goulart EMATER-DF Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal Carlos Mucha IVAC-Argentina Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP-São Paulo Ceres Faraco FACCAT/RS César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA Christina Joselevitch IP/USP-São Paulo Cibele F. Carvalho UNICSUL Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo Clarissa Niciporciukas Anclivepa-SP Cleber Oliveira Soares Embrapa Cristina Massoco Salles Gomes C. E. Daisy Pontes Netto FMV/UEL Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS Daniel G. Ferro Odontovet Daniel Macieira FMV/UFF Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo Dominguita L. Graça FMV/UFSM Edgar L. Sommer Provet Edison L. P. Farias UFPR Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE Elba Lemos FioCruz-RJ Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu Estela Molina FCV/UBA Fabian Minovich UJAM-Mendoza Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR
Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE Fabio Otero Ascol IB/UFF Fabricio Lorenzini FAMi Felipe A. Ruiz Sueiro Vetpet Fernando C. Maiorino Fejal/CESMAC/FCBS Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL Fernando Ferreira FMVZ/USP-São Paulo Filipe Dantas-Torres CPAM Flávia R. R. Mazzo Provet Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu Francisco E. S. Vilardo Criadouro Ilha dos Porcos Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu F. Marlon C. Feijo Ufersa Franz Naoki Yoshitoshi Provet Gabriela Pidal FCV/UBA Gabrielle Coelho Freitas UFFS-Realeza Geovanni D. Cassali ICB/UFMG Geraldo M. da Costa DMV/UFLA Gerson Barreto Mourão Esalq/USP Guilherme G. Pereira guilherme@nayacardiovet.com.br Hector Daniel Herrera FCV/UBA Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB Hélio Autran de Moraes Oregon S. U. Hélio Langoni FMVZ/Unesp-Botucatu Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ Herbert Lima Corrêa Odontovet Iaskara Saldanha Lab. Badiglian Idael C. A. Santa Rosa UFLA Ismar Moraes FMV/UFF
Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
Jairo Barreras FioCruz James N. B. M. Andrade FMV/UTP Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade João G. Padilha Filho FCAV/Unesp-Jaboticabal João Luiz H. Faccini UFRRJ João Pedro A. Neto UAM Jonathan Ferreira Odontovet Jorge Guerrero Univ. da Pennsylvania José de Alvarenga FMVZ/USP Jose Fernando Ibañez FALM/UENP José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal José Ricardo Pachaly Unipar José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP Juan Carlos Troiano FCV/UBA Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu Juliana Werner Lab. Werner e Werner Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG Julio Cesar de Freitas UEL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal Leonardo D. da Costa Lab&Vet Leonardo Pinto Brandão Ceva Saúde Animal Leucio Alves FMV/UFRPE Luciana Torres FMVZ/USP-São Paulo Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Marcello Otake Sato FM/UFTO Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP-São Paulo
Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP-São Paulo Marcelo Faustino FMVZ/USP-São Paulo Marcelo S. Gomes Zoo SBC,SP Marcia Kahvegian FMVZ/USP-São Paulo Márcia Marques Jericó UAM e Unisa Marcia M. Kogika FMVZ/USP-São Paulo Marcio B. Castro UNB Marcio Brunetto FMVZ/USP-Pirassununga Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó S. Animal Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu Marco Antonio Gioso FMVZ/USP-São Paulo Marconi R. de Farias PUC-PR Maria Cecilia R. Luvizotto CMV/Unesp-Araçatuba Maria Cristina Nobre FMV/UFF M. de Lourdes E. Faria VCA/Sepah Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP-São Paulo Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba Marta Brito FMVZ/USP-São Paulo Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba Masao Iwasaki FMVZ/USP-São Paulo Mauro J. Lahm Cardoso Falm/Uenp
Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP Michele A. F. A. Venturini Odontovet Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu Miriam Siliane Batista FMV/UEL Moacir S. de Lacerda Uniube Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL Nadia Almosny FMV/UFF Natália C. C. A. Fernandes Instituto Adolfo Lutz Nayro X. Alencar FMV/UFF Nei Moreira CMV/UFPR Nelida Gomez FCV/UBA Nilson R. Benites FMVZ/USP-São Paulo Nobuko Kasai FMVZ/USP-São Paulo Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz Patricia C. B. B. Braga FMVZ/USP-Leste Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL Paulo Anselmo Zoo de Campinas Paulo César Maiorka FMVZ/USP-São Paulo Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu Paulo S. Salzo Unimes, Uniban Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP-São Paulo Pedro Germano FSP/USP
Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ Renata A. Sermarini Esalq/USP Renata Afonso Sobral Onco Cane Veterinária Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu Ricardo Duarte All Care Vet / FMU Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR Ricardo S. Vasconcellos CAV/Udesc Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ Rita Leal Paixão FMV/UFF Robson F. Giglio H. Cães e Gatos; Unicsul Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba Ronaldo C. da Costa Ohio State University Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio Rosângela de O. Alves EV/UFG Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA
Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu Silvia E. Crusco UNIP/SP Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP-São Paulo Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM Simone Gonçalves Hemovet/Unisa Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu Tiago A. de Oliveira UEPB Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR Valéria Ruoppolo I. Fund for Animal Welfare Vamilton Santarém Unoeste Vania de F. P. Nunes FNPDA e Itec Vania M. V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Victor Castillo FCV/UBA Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG Viviani de Marco UNISA e NAYA Wagner S. Ushikoshi UNISA e CREUPI Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional
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Instruções aos autores
A
Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Enviar por e-mail (cvredacao@editoraguara. com.br) ou pelo site da revista (http:// revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-deartigos-cientificos) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na lar gura 10
de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitali za das, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de re da ção cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail) e uma foto 3x4 de rosto de cada um dos autores. Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus tí tulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser relacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 12, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser
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utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar informações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utilizado, cada capítulo deverá ser considerado uma
referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). Somente autores de trabalhos originais devem ser citados, e nunca de revisões. É preciso ser ético pois os créditos são daqueles que fizeram os trabalhos originais. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www. xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabalho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. Nesse subtítulo devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/ distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua Adolf Würth, 276, cj. 2, 06713-250, Cotia, SP cvredacao@editoraguara.com.br
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Medicina veterinária do coletivo
Variantes genéticas do SARS-CoV-2
Em dezembro de 2019, um vírus emergente ocasionou uma crise global de saúde pública, o SARS-CoV-2 (Severe acute respiratory syndrome coronavírus 2), responsável por causar a Covid-19 (Coronavirus disease 2019). A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou em 30 de janeiro de 2020 que a rápida expansão em diferentes países configura uma Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional – o mais alto nível de alerta da organização. Em 11 de março de 2020, a Covid-19 foi declarada pandemia mundial 1. Até o momento não foi confirmada a origem do novo coronavírus; entretanto, os primeiros casos registrados de Covid-19 foram na cidade de Wuhan, na China, em um grupo de pessoas com ligação direta e indireta com o Mercado de Frutos do Mar de Huanan, onde havia comércio de animais vivos e abatidos, como cães, cobras, morcegos, aves e outras espécies de animais silvestres 2. A hipótese inicial foi de que a espécie animal hospedeira tenha sido o morcego-ferradura (Rhinolophus sinicus), amplamente distribuído na Ásia, no Oriente Médio, na África e na Europa, portador de diferentes tipos de coronavírus, cujos hábitos ocasionam ampla disseminação do patógeno na natureza. Além disso, suspeita-se que haja um hospedeiro intermediário na rota de transmissão do vírus, como o pangolim. Tanto os morcegos como os pangolins são portadores de coronavírus com sequências genéticas muito similares às do SARS-CoV-2, embora nenhum coronavírus identificado em animais tenha sido suficientemente semelhante para ter servido como progenitor direto do SARS-CoV-2 em seres humanos 2,3. 12
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O impacto das mutações genéticas no comportamento viral e sua importância na medicina veterinária
Ilustração em 3D do SARS-CoV-2
Mutações do SARS-CoV-2 O SARS-CoV-2 é um vírus da família Coronaviridae, subfamília Betacoronavirus; além dele, também estão inclusos nessa subfamília o SARS-CoV (Severe acute respiratory syndrome coronavirus) e o MERS-CoV (Middle East respiratory syndrome coronavirus), responsáveis por epidemias no passado 4. O vírus caracteriza-se por ter genoma RNA, ser envelopado e pleomórfico; dessa maneira, quando visto em microscopia eletrônica, tem aparência esférica, com o envelope circundado por projeções externas que conferem à partícula uma aparência similar à de uma coroa 5. Os coronavírus em geral têm um dos maiores genomas de RNA conhecido, com aproximadamente 30 kb 6. O aparecimento de mutações é um evento natural e esperado dentro do processo evolutivo dos vírus. Para avaliar a caracterização genômica e as esperadas mutações genéticas, é necessário que as amostras positivas para SARS-CoV-2 sejam enviadas para
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sequenciamento genético. Quando ocorrem mutações específicas de interesse clinicoepidemiológico, pode-se estabelecer uma nova variante do vírus em circulação, que é classificada como VOC (em inglês, variant of concern) ou variante de preocupação 7. À medida que o vírus vai sofrendo variações genéticas, isso pode afetar o seu comportamento, impactando a transmissibilidade, a gravidade do estado clínico, o diagnóstico laboratorial, o tratamento e a eficácia de vacinas ou medidas preventivas de saúde pública. Devido a isso, é importante acompanhar as alterações genômicas que vêm ocorrendo no SARS-CoV-2 8. A Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a comunidade internacional, como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, vêm monitorando o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2 8-10. A contínua disseminação global do SARS-CoV-2 levou ao surgimento de um grande número de linhagens virais em todo o mundo, incluindo várias variantes de preocupação (VOC), por acumularem grande número de mutações na proteína da espícula e alterarem o fenótipo viral, ou seja, mudarem seu comportamento (Figura 1) 11.
As principais variantes de SARS-CoV-2 no mundo A primeira variante identificada foi a D614G, que surgiu entre janeiro e fevereiro de 2020 e foi responsável por se disseminar e ser a principal cepa circulante na população mundial, substituindo a cepa inicial detectada na China 8. A alteração genética ocorrida nessa cepa foi a substituição do aminoácido aspartato (denominado D) por um aminoácido glicina (G), na posição 614 da glicoproteína da espícula responsável pela entrada do vírus na célula do hospedeiro 12. Essa alteração foi associada ao aumento da carga viral nos indivíduos infectados 13. A D614G foi avaliada para se verificar se há aumento da infectividade em outras espécies, devido à possível origem zoonótica do SARS-CoV-2. Para isso, os pesquisadores infectaram plasmídeos que codificam receptores da enzima conversora da angiotensina 2 (ACE2) – responsável pela entrada do vírus nas células –, de seres humanos (Homo sapiens), morcego-ferradura-ruivo (Rhinolophus sinicus), pangolim-malaio (Manis javanica), gato (Felis catus) e cachorro (Canis lupus). Os resultados mostram que o aumento da infecciosidade da variante D614G não se dá exclusivamente em seres humanos, pois todas as
Linhagem
Data de detecção
Local de detecção
Interesse clinicoepidemiológico
B.1.1.7
Novembro de 2020
Kent (Reino Unido)
- Aumento da transmissibilidade em 50%; - gravidade provavelmente aumentada com base em hospitalizações e taxas de letalidade; - baixo impacto na neutralização por anticorpos monoclonais; - baixo impacto na neutralização por soros convalescentes e pós-vacinação.
B.1.351
Dezembro de 2020
Baía Nelson - Aumento da transmissibilidade em 50%; Mandela - impacto moderado na neutralização por terapia com anticorpos monoclonais; (África do Sul) - redução moderada da neutralização por soros convalescentes e pós-vacinação.
P.1
Janeiro de 2021
Amazonas (Brasil)
- Impacto moderado na neutralização por terapia com anticorpos monoclonais; - neutralização reduzida por soros convalescentes e pós-vacinação.
B.1.427/ B.1.429
Janeiro de 2021
Califórnia (EUA)
- Aumento da transmissibilidade em 20%; - impacto significativo na neutralização por anticorpos monoclonais; - redução moderada na neutralização usando soros de convalescença e pós-vacinação.
Figura 1 – Variantes de preocupação (VOC) circulantes no mundo.
*Atualizado em 31 de março de 2021
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Medicina veterinária do coletivo espécies avaliadas foram infectadas, sendo essa variante até mais infecciosa em células que expressam o ACE2 de morcego-ferradura e pangolim-malaio 14. Em novembro de 2020, uma nova variante importante foi detectada em amostras de setembro de 2020 no Reino Unido, denominada VOC 202012/01, linhagem B.1.1.7. Essa variante se espalhou rapidamente por todo o Reino Unido e até 13 de abril já havia sido notificada em 132 outros países 7. A B1.1.7 se caracteriza por 17 mutações, sendo que oito ocorrem na proteína de pico, ou proteína da espícula, e 3 delas têm papel importante do ponto de vista biológico 7,15,16. A mutação N501Y substitui o aminoácido asparagina (N) pelo aminoácido tirosina (Y) na posição 501 da glicoproteína da espícula, aumentando a afinidade de ligação do vírus ao receptor ACE2 17. Houve também a deleção de dois aminoácidos nas posições 69 e 70 da glicoproteína da espícula, associada à evasão do sistema imune em pacientes imunocomprometidos e a maior infectividade viral em experimentos in vitro 18. Além disso, essa deleção afetou o desempenho de alguns kits comerciais de diagnóstico por RT-PCR, falhando em detectar o gene da glicoproteína da espícula; no entanto, os kits comerciais utilizam mais de um alvo para o diagnóstico; dessa forma, não se espera um impacto significativo no diagnóstico da nova variante 8,19. A terceira mutação com efeito biológico potencial é a P681H, que está imediatamente adjacente ao local de clivagem da furina, uma região com papel importante para a infecção, pois promove a entrada nas células epiteliais respiratórias e a transmissão em modelos animais 20. Na África do Sul, as autoridades nacionais anunciaram em dezembro de 2020 que uma nova variante está se espalhando rapidamente no país 8. A variante da África do Sul foi chamada de VOC 501Y.V2, linhagem B.1.351, pois também apresenta mutação na posição 501 da glicoproteína da espícula; entretanto, a análise filogenética mostrou que ela é diferen14
te da variante do Reino Unido. A VOC 501Y. V2 tem três mutações na glicoproteína da espícula: K417N (substituição do aminoácido lisina por asparagina na posição 417), E484K (substituição do ácido glutâmico por lisina na posição 484) e N501Y (substituição de asparagina por tirosina na posição 501) 16,21. Essas mutações conferem ao vírus circulante na África do Sul uma carga viral maior e, consequentemente, maior transmissibilidade de pessoa para pessoa, embora não esteja vinculada a casos mais graves da doença 8. Essa variante logo se tornou a predominante em algumas províncias da África do Sul e já foi encontrada em outros países do mundo, como Inglaterra, Escócia, França, Suécia, Suíça e Coreia do Sul, em dezembro de 2020, e Austrália, em janeiro de 2021 22. Há também a VOC B.1.427 e a B.1.429, ambas detectadas na Califórnia (EUA), que estão relacionadas a um aumento de até 20% na transmissibilidade e na alteração da resposta imune do hospedeiro 11. Essas duas variantes compartilham as mesmas mutações na proteína da espícula (S13I, W152C e L452R), mas abrigam diferentes mutações em outros genes 23. Sugere-se que elas tenham surgido em maio de 2020, tornando-se a linhagem dominante em vários condados da Califórnia e disseminando-se para outras regiões dos Estados Unidos. A divulgação pública da existência dessas variantes só ocorreu em janeiro de 2021, pois os Estados Unidos, ao contrário do Reino Unido e da África do Sul, carecem de um sistema organizado de monitoramento em tempo real de novas variantes 23,24. No Brasil, a disseminação do SARS-CoV-2 ocorreu a partir de duas linhagens denominadas B.1.1.28 e B.1.1.33, que possivelmente surgiram em fevereiro de 2020 e se estabeleceram por todo o país no decorrer do ano 25. Em janeiro de 2021, uma nova variante oriunda da linhagem B.1.1.28, designada VOC P.1, foi detectada em amostras de quatro viajantes que retornaram ao Japão após viagem ao estado do Amazonas. Logo na sequência, pesquisadores brasileiros identificaram a mesma
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variante em amostras colhidas em 20 de dezembro em pacientes de Manaus, AM 26. A variante brasileira P.1 sofreu 10 mutações na glicoproteína da espícula, sendo três de maior interesse – K417N/T, E484K e N501Y –, associadas à alteração na transmissibilidade e na resposta imune do hospedeiro 27,28. A P.1 se mostrou refratária a diferentes anticorpos monoclonais neutralizantes e mais resistente à neutralização por plasma convalescente e soros de vacinados. Isso sugere que a variante brasileira é uma ameaça às terapias por anticorpos atuais e, em menor proporção, à eficácia protetora das vacinas 28. Até a semana epidemiológica 14 (4 a 10/4/21), a variante brasileira VOC P.1 já havia sido identificada em 52 países. No Brasil ela já foi encontrada até aquele momento em 24 estados brasileiros, totalizando 1.851 casos. Já a variante VOC B.1.1.7 do Reino Unido foi detectada em dez estados, totalizando 73 casos 7. Em 31 de março de 2021, o governo de São Paulo confirmou ter detectado no interior do estado uma variante que se assemelha muito à da África do Sul; a paciente em questão não tem histórico de viagem nem teve contato com ninguém que tenha viajado. Variantes de SARS-CoV-2 e o impacto nos animais Uma das grandes preocupações dos pesquisadores é a capacidade de o vírus se adaptar a novas espécies de animais e estes se tornarem reservatórios e disseminadores de SARS-CoV-2 para os seres humanos. Alguns estudos laboratoriais já demonstraram que os furões e os gatos são altamente suscetíveis ao vírus, e que os cães e os camundongos o são em menor grau. Já os porcos, galinhas e patos não são suscetíveis, sendo soronegativos para SARS-CoV-2 29. Os animais domésticos constituem uma preocupação menor em relação a outros, apesar de serem suscetíveis, sendo pouco provável que cães e gatos desenvolvam doenças clínicas, pois apresentam sintomas que variam de leves a inexistentes e não
eliminam o vírus após a infecção 30. Não há transmissão do SARS-CoV-2 de animais de estimação para seres humanos, e a transmissão de pessoas para os animais de estimação é quase nula 31. Em relação às novas variantes, em 12 de março de 2021, o Laboratório Nacional de Serviços Veterinários (NVSL) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgou o resultado do sequenciamento do genoma completo dos esfregaços respiratórios coletados de um cão e de um gato, em 12 de fevereiro, e as análises mostraram que as sequências são idênticas à VOC B.1.17. Os animais vivem juntos e pertencem a um tutor que também teve resultado positivo para a Covid-19. Tanto o cão como o gato não apresentaram sinais clínicos no momento dos resultados positivos. Esse é o primeiro relato de infecção natural da variante B.1.1.7 em animais de estimação 32. Testes com camundongos BALB/c e C57BL/6 concluíram que as variantes inglesa, sul-africana e brasileira são capazes de se replicar nas células de camundongos, com diferentes cargas virais, sendo a inglesa em menor grau que a sul-africana e a brasileira. Os resultados levantam a possibilidade de roedores selvagens se tornarem reservatórios secundários e acarretarem risco de transmissão para seres humanos 33. Até o momento, não foi relatado nenhum estudo de infecção pelas novas variantes em grandes felinos como tigres, leões e leopardos que já foram diagnosticados com SARS-CoV-2 e são susceptíveis a desenvolver sintomas respiratórios leves. Entretanto, esses animais continuam sendo diagnosticados com o novo coronavírus, como é o caso de dois tigres malaios do Zoológico da Virgínia, que tiveram resultado positivo para a Covid-19 após o teste preliminar em 14 de abril de 2021, embora ainda não se saiba se se trata de uma VOC ou não 34. Outra repercussão derivada da pandemia do novo coronavírus foi a identificação de uma nova variante em fazendas que cultivam
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Medicina veterinária do coletivo visons na Dinamarca. Devido a 12 casos em pessoas que trabalham nessas fazendas ou moram em comunidades próximas, descobriu-se que os visons são hospedeiros e potenciais transmissores de uma outra variante do SARS-CoV-2 à qual foi dado o nome de cluster 5. Essa variante chamou a atenção dos pesquisadores pelo fato de carregar quatro mudanças na sequência da proteína da espícula, que permitiu sua fácil movimentação entre as pessoas e esses animais, aumentando o risco de novas variantes surgirem nessa transição, com potenciais consequências para a saúde humana 35. Devido a essa preocupação, as autoridades dinamarquesas abateram todos os visons cultivados no país, inclusive as matrizes, totalizando cerca de 17 milhões de animais 36. Mesmo sem revelar uma suscetibilidade significativa, o caso dos visons da Dinamarca pode ser um alerta para todas as fazendas de animais de produção, por estarem próximos aos seres humanos e aos animais domésticos e silvestres 37. Uma nova variante bem adaptada em animais poderia impactar significativamente a economia de muitos países se for necessário adotar medidas drásticas para pausar a evasão do vírus em fazendas de animais de produção, sendo essa pauta de grande importância para a saúde pública. Considerações finais O monitoramento das mutações genéticas que ocorrem em todos os microrganismos de interesse na saúde pública é extremamente importante, em especial a vigilância genômica do SARS-CoV-2. Nos últimos meses surgiram linhagens emergentes do vírus, que se tornaram VOC por alterarem o fenótipo viral – aumentando a capacidade de transmissão de pessoa para pessoa – e que podem aumentar ou não a gravidade da doença, evitar a detecção por testes diagnósticos que utilizam apenas um alvo específico do vírus, diminuir a eficácia de medidas terapêuticas que utilizam anticorpos monoclonais e – a mais preocupante, mas da qual ainda não há evidências 16
definitivas – aumentar a capacidade de evasão da resposta imune natural ou induzida por vacina. A vigilância das variantes emergentes do SARS-CoV-2 é essencial para a condução dos protocolos terapêuticos e de prevenção da Covid-19 e para o desfecho da pandemia. Referências
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Ecologia
Tráfico de vidas
A situação do comércio ilegal de fauna
O comércio internacional de fauna Quando se fala em tráfico internacional de 20
vida silvestre, alguns exemplos emblemáticos podem ser ressaltados, como o marfim dos elefantes, o chifre dos rinocerontes, as escamas dos pangolins, os ossos de tigres e a bile dos ursos 2, os olhos e o pênis dos botos amazônicos, as escamas do pirarucu, os olhos de lobo-guará, a gordura de diversos animais e tantos outros usados na medicina popular. Devido à sua natureza ilegal e complexa, continua sendo um desafio avaliar as proporções em escala e valores desse comércio 5. Estabelecer estratégias eficazes para combater essa atividade é ainda mais desafiador. Muitas vezes, a aplicação da lei é difícil, devido ao afastamento das áreas onde ocorre a caça, à falta de infraestrutura e de funcionários qualificados e ao envolvimento de re-
Rafaella Martini
O tráfico de animais silvestres e plantas é considerado uma das atividades ilegais mais lucrativas do mundo, e seu valor monetário é estimado entre 5 e 20 bilhões de dólares por ano 1. O comércio ilegal e não sustentável dos animais atende a diferentes demandas de mercado, incluindo produtos e subprodutos para alimentação, vestuário, artigos decorativos e medicamentos tradicionais, bem como animais de estimação não convencionais 2. A caça para subsistência e comércio é considerada a segunda maior ameaça à biodiversidade, após a perda de habitat 3. A perda de biodiversidade, a extinção das espécies e a introdução de espécies exóticas invasoras, no entanto, não são as únicas consequências desastrosas do tráfico de animais. Em todos os casos, os indivíduos são submetidos a condições precárias de captura, transporte e manutenção até chegar ao destino final, comprometendo seriamente as cinco liberdades que regem o bem-estar animal 4. Atualmente em destaque, outra consequência importante do tráfico de animais, principalmente para a saúde do ecossistema, é o aumento do risco da circulação de zoonoses e de outras doenças emergentes ou reemergentes 1. Os crimes contra a fauna extrapolam questões de conservação e estão relacionados a fatores geográficos, econômicos, políticos, sociais, culturais e morais, e seu combate envolve estratégias em inúmeras esferas 2,5. A criação comercial legalizada de animais silvestres surge como uma alternativa nesse contexto, mas divide a opinião de especialistas e especialmente da sociedade acerca dos possíveis benefícios e prejuízos à conservação.
Exemplar de araracanga (Ara macao) oriunda do comércio ilegal e em reabilitação após apreensão. O indivíduo apresenta sinais de arrancamento de penas, um distúrbio comportamental que pode ser causado pelo estresse do cativeiro inadequado
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des criminosas transnacionais 1, além da associação de crimes gerais como conspiração, falsificação, lavagem de dinheiro e extorsão, fazendo com que o combate ao uso ilegal da fauna e da flora requeira cooperação internacional 6. A partir da perspectiva da conservação, a criação legalizada de animais silvestres refere-se à prática de fornecer produtos da fauna de maneira mais sustentável, já que, na maioria dos casos, a demanda do mercado é insustentável, e as ações de combate ao comércio ilegal são ineficazes 7,8. Alguns conservacionistas sugerem que a criação sustentável pode ser uma ferramenta para saturar a demanda do mercado e reduzir a pressão de captura de animais na natureza 7. O debate atual envolve o modo como a legalização ou a proibição afetam a demanda por produtos de animais silvestres 9, tendo em vista que o tráfico está condicionado a questões sociopolíticas, econômicas e ecológicas complexas 5. De um lado, alguns estudiosos argumentam que as proibições limitam a oferta e aumentam os preços dos produtos da fauna, o que poderia incrementar a demanda no mercado ilegal e, portanto, estimular a caça e a captura 10. Além disso, a proibição afeta quem depende da produção e do consumo desses produtos, principalmente por questões culturais e de
Critério
subsistência, e os benefícios da conservação, nesse caso, seriam ofuscados pelos impactos socioeconômicos 11. Um possível efeito da proibição seria a busca da população por outras fontes de proteína, aumentando por exemplo o consumo de animais de produção, cuja criação resulta em perda e fragmentação de habitat, que também ameaçam a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas 11. Por outro lado, alguns pesquisadores argumentam que a demanda por produtos da fauna está condicionada a normas sociais determinadas pela legislação. Dessa forma, a legalização pode conotar aceitação social da prática e eventualmente reduzir o estigma e comprometer as campanhas de redução da demanda do mercado ilegal 12. Soma-se a essa situação a falha em tipificar o crime de tráfico, que atualmente não diferencia o consumidor do traficante coletor e vendedor, agravada pela legislação que não considera o comércio ilegal um crime grave e o pune com penas brandas, como medidas socioeducativas 13. Outros pesquisadores apontam que a criação comercial poderia beneficiar a conservação das espécies somente se alguns critérios fossem totalmente cumpridos no processo de legalização 10,14. Os critérios estabelecidos por esses pesquisadores estão expostos na figura 1.
Observações
1. Os produtos de origem legal devem substituir O consumidor não deve ter preferência pelos animais capturados da naturecompletamente os de origem ilegal. za ou ser ludibriado pela raridade ou pela mística. 2. A demanda por produtos da fauna não au- A aceitação social da prática não deve fazer aumentar a demanda dos produmenta. tos ou migrar para o aumento da demanda de outras espécies. 3. Os produtos de origem legal devem ser mais rentáveis.
A produção legalizada deve ter maior custo-benefício que o mercado ilegal; a biologia das espécies deve permitir infraestrutura de criação sem custos elevados, e as taxas reprodutivas devem ser altas, para suprir a demanda.
4. Não deve haver reposição do plantel com animais da natureza de origem ilegal.
As gerações futuras devem ser totalmente reproduzidas em cativeiro.
5. O mercado legal não pode ser utilizado para o escoamento de produtos de origem ilegal.
Isso ocorre devido à corrupção, com emissão de falsas licenças ou permissões. Portanto, os produtos de origem legal devem ser passíveis de diferenciação, e nessa fiscalização é importante o auxílio da medicina veterinária forense ligada à vida silvestre.
Figura 1 – Relação dos critérios a cumprir para que a criação de animais silvestres contribua para a conservação das espécies 14 Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
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Ecologia Apesar do seu potencial para a conservação, a criação legalizada de animais silvestres pode ser uma das estratégias para o combate ao tráfico, mas não deve ser a única, já que a legalização pode trazer consequências negativas se o contexto, a espécie envolvida e o comportamento humano não forem devidamente avaliados 8,9,14. Particularmente, é necessário apoiar as comunidades que dependem economicamente da prática de captura de animais na natureza, no sentido de promover alternativas sustentáveis para essas populações, que são a base do tráfico e muitas vezes são exploradas pelos grandes traficantes 15. O comportamento humano é o responsável pela demanda e pelo consumo dos produtos da fauna silvestre. Os conservacionistas e articuladores políticos devem levar isso em consideração, somando esforços para identificar comportamentos que precisam de mudança e estimular comportamentos desejáveis, a partir de educação, sensibilização e construção de relações de confiança 16. Quaisquer esforços e investimentos em estrutura para combate ao tráfico serão insuficientes se não forem acompanhados por maior conscientização de toda
a sociedade em relação ao problema gerado pelo comércio ilegal de animais silvestres. Esse resultado somente poderá ser atingido mediante esforços continuados de educação ambiental 17. Os programas de conservação baseados na comunidade são essenciais no combate ao tráfico, tendo em vista sua proximidade e seu conhecimento sobre a fauna e a flora locais. A transição de caçadores para conservacionistas pode ser alcançada fomentando os direitos da comunidade acerca do uso da vida silvestre local para subsistência ou criação comercial, garantindo empregos como guardas comunitários ou em empresas de turismo de natureza 18,19.
Valéria Natascha Teixeira
Valéria Natascha Teixeira
O comércio de fauna no Brasil O Brasil ocupa as melhores colocações no ranking da biodiversidade, sendo o primeiro em número total de espécies e diversidade de mamíferos e anfíbios, o terceiro em espécies de aves e o quarto em répteis 20. A fauna silvestre sempre esteve presente na cultura dos povos tradicionais brasileiros, e as espécies eram utilizadas tanto para alimentação quanto para a fabricação de instru-
Retrato da situação de um Centro de Triagem de Animais Selvagens (Cetas) no Brasil. Inúmeros animais oriundos do comércio ilegal chegam a esses estabelecimentos todos os dias. No tráfico de animais silvestres é comum que as vítimas sejam condenadas ao cativeiro, enquanto os criminosos continuam agindo livres
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to na manutenção de alguns táxons no Brasil, o que sugere ineficácia ou imperícia na atuação dos órgãos deliberativos e executores das normas legais, além de evidenciar uma gestão influenciada por fatores políticos e ideológicos. A criação sustentável de animais silvestres nativos ou exóticos necessita de estabilidade jurídica e regulamentação adequada para se tornar mais uma das frentes de atuação eficazes contra o tráfico de animais e contribuir com ações de conservação das espécies 24. Considerações finais Há uma tendência global na busca de alternativas para combater o tráfico de animais de maneira eficiente. Atualmente, as estratégias precisam levar em consideração fatores transdisciplinares, como particularidades regionais e culturais. Além disso, a legislação deve ser baseada em informações técnicas e aplicada
Valéria Natascha Teixeira
mentos, ferramentas e ornamentos, e ainda como animais de estimação, os denominados “xerimbabos” 3. Até hoje, o hábito de manter animais silvestres ilegais em cativeiro é cultural e, apesar de, junto com a caça, ser proibido por lei, é uma prática disseminada pelo país 21. O primeiro e único relatório publicado sobre o tráfico de animais silvestres no Brasil até o momento estima que 38 milhões de animais são retirados da natureza, e que esse mercado movimenta 2 bilhões de dólares por ano. Além disso, apenas um a cada 10 animais traficados sobrevive até chegar ao consumidor final, dadas as condições impróprias que ameaçam o bem-estar desses indivíduos 3. Apesar da escassez de informação sobre o tráfico no país, a venda de animais vivos para o mercado de estimação parece ganhar destaque. Assim, a criação comercial legalizada apresenta vantagens ao consumidor final, quando comparada ao produto proveniente do tráfico. Os autores consideram que, além de adquirir um animal de origem legal, criado e mantido em condições de qualidade de vida, bem-estar, sanidade e biosseguridade, o consumidor adquire conhecimento e pode mudar seus paradigmas. O valor comercial de animais de origem legal geralmente é mais elevado e pode dificultar a adesão de determinados públicos. No entanto, altos valores reduzem eventos pós-venda como abandono e maus-tratos 22, diminuindo o risco de introdução de espécies exóticas com potencial invasor. Como valor para a conservação, os criatórios legalizados podem apoiar projetos de criação e manejo em cativeiro (ex situ), contribuindo com sua experiência e conhecimento sobre as espécies 23. No entanto, o uso legal da fauna no Brasil carece de amparo e direcionamento que garanta a preservação dos recursos naturais e beneficie aqueles que realizam atividades sustentáveis com eles 24. Os números demonstram que, apesar de determinadas restrições legais, há um aumen-
Animais órfãos são encaminhados aos Centros de Triagem de Animais Selvagens (Cetas) após a morte das mães e são criados artificialmente por seres humanos, perdendo a chance de viver nas condições naturais das espécies
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Ecologia caso a caso, já que há inúmeras consequências possíveis. O comércio legal de animais silvestres é atualmente incentivado por órgãos ambientais e instituições que promovem a conservação das espécies, visando inicialmente a educação da população para evitar a exploração de animais e promover o desenvolvimento sustentável nos locais de vulnerabilidade e poucos recursos. A transformação cultural pode acontecer se houver a conscientização de que é possível conviver com a natureza dentro da legalidade, combatendo o tráfico de espécies silvestres e proporcionando conhecimento e educação para a sociedade. Referências
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Rafaella Martini MV, CRMV-PR: 15.504 aluna de mestrado – UFPR rafaella.martini@ufpr.br
Valéria Natascha Teixeira MV, CRMV-PR: 3.925 MSc., aluna de doutorado – UFPR Profa. PUC-PR valeria.natascha@pucpr.br Aaronson Ramathan Freitas MV, CRMV-PR: 16.774 Aluno de mestrado – UFPR aaron.ramathan@gmail.com
Alexander Welker Biondo MV, CRMV-PR: 6.203 MSc, PhD., prof. associado Depto. Med. Veterinária – UFPR abiondo@ufpr.br Rogério Ribas Lange MV, CRMV-PR: 955 MSc, dr. prof. assistente Depto Med.Veterinária – UFPR rrlange@ufpr.br
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Medicina veterinária do coletivo
Sistema público de cadastro, triagem e controle reprodutivo de cães e gatos em um município do Sul do Brasil
Dados da Sociedade Mundial de Proteção Animal estimam que 75% dos cães do mundo vivem nas ruas, sem lar, abandonados à própria sorte 1, potencializando assim o surgimento de doenças de transmissão zoonótica no sistema de saúde pública, devido à aglomeração de animais em zonas urbanas e periurbanas 2. É crescente e evidente a existência de uma superpopulação de cães e gatos não domiciliados na maior parte dos municípios brasileiros, que trazem problemas associados à ordem urbana e ambiental e relacionados à saúde coletiva, além, é claro, dos maus-tratos 1,3,4. Ao longo do tempo, houve inúmeras propostas e inúmeras técnicas foram utilizadas para controlar a população de animais domésticos em áreas urbanas, algumas das quais foram enjeitadas pelas populações humanas 5. A presença de animais livres em perímetro urbano tem ligação direta com o excesso de natalidade, e a partir da década de 1990 muitos governantes passaram a dar maior atenção ao dilema da superpopulação e do abandono. As políticas de controle populacional então empregadas se distribuíam em dois tipos: “captura e extermínio” e “prevenção ao abandono” 6. Há muito se sabe que, para um controle populacional efetivo, as atitudes não devem ser isoladas ou depender apenas do poder público. Torna-se necessária uma ação conjunta dos médicos-veterinários e da sociedade para que, por meio de trabalhos educativos de tutela responsável, incentivo à adoção, progra26
mas de esterilização cirúrgica, leis rigorosas e fiscalização, seja possível reduzir e finalmente controlar esse problema que afeta a todos 5,7-11. Os maus-tratos e o abandono de animais domésticos são considerados crimes previstos no artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais nº 9.605/98, alterada pela Lei nº 14.064 de setembro de 2020 12, que aumenta as sanções penais e administrativas ao crime de maus-tratos a cães e gatos, com prisão de dois a cinco anos, multa e proibição da guarda. Em um cenário técnico de controle populacional, o ideal é que exista uma tríade envolvendo o controle populacional, norteada por serviços de “educação, fiscalização e castração” 13. Para tais situações, são necessárias estratégias diversas e complementares, com abordagens que facilitem a capacitação da comunidade e objetivem mudanças comportamentais dos indivíduos 14-17. Atualmente, para que o abandono de animais domésticos seja resolvido ou ao menos amenizado, é necessário que haja inovação e planejamento. O tema da inovação quase sempre é tratado como se fosse exclusivo das empresas privadas, porém também está presente nas organizações públicas. Inovar no setor público torna-se mais que uma opção; portanto, é fundamental revisar o que já foi feito sobre a temática do controle populacional de cães e gatos para solucionar esse problema social complexo que envolve diversos atores e instituições 10. A escassez de dados e estudos que avaliem o impacto das intervenções de manejo da
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população canina é notável, e os estudos que existem nem sempre se beneficiam de um delineamento robusto, por não apresentarem grupo de controle, análise estatística ou coleta de dados 14. Os sistemas de informação podem contribuir de forma diferenciada e efetiva com a gestão municipal e com os servidores nas suas atividades cotidianas, gerenciais e estratégicas, fornecendo dados oportunos e compartilhando conhecimentos personalizados relacionados aos referidos serviços municipais. As cidades e prefeituras que colhem informações, mapeiam dados e compartilham as suas melhores práticas podem ser consideradas inovadoras em termos de gestão municipal 18. Utilizando os recursos tecnológicos disponíveis e as premissas de inovação aliadas à implementação de sistemas de gestão, tendo em vista que atualmente o ambiente digital é uma forma de comunicação eficiente e direta 19, os médicos-veterinários residentes em Saúde Coletiva ligados ao setor de Vigilância de Zoonoses da Secretaria do Meio Ambiente e da Atenção Primária em Saúde do município de Ponta Grossa, PR, propuseram a criação de um cadastro de triagem de cidadãos hipossuficientes, bem como de seus animais, dando-lhes acesso ao programa de castração gratuita conforme a Lei nº 13.426/17 20, com o objetivo de gerar um banco de dados para análise estatística que ajudasse a avaliar o impacto das intervenções de esterilização da população canina e felina. Uma hipótese para explicar o excesso de cães e gatos nas ruas e os transtornos decorrentes é a falta de contingências que influenciem adequadamente o comportamento dos tutores de animais domésticos 21. Dados do senso de 2010 mostram que o Brasil tinha 52,2 milhões de cães e 22,1 milhões de gatos de estimação 22. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o Brasil ocupa o segundo lugar do mundo em número de cães e gatos como animais de estimação 23. É comum que os cães e gatos que vivam com tu-
tores sejam colocados em liberdade durante o período noturno, com a intenção de aumentar a área residencial a ser protegida, ficando livres, sem supervisão e sem proteção contra agressões de outros animais ou mesmo contra maus-tratos, e ainda disponíveis para reprodução 5,24. Faz-se necessário então um sistema eficaz que gerencie e efetue um controle rigoroso dos cadastros, sendo os dados obtidos fundamentais para posterior execução da fiscalização e para a emissão de relatórios por meio dos quais seja possível a identificação das áreas que necessitam de intervenção, além do mapeamento das áreas com controle populacional adequado. No sistema proposto, os cadastros podem ser efetuados por tutores, Organizações Não Governamentais (ONGs) ou protetores independentes, desde que fornecida a documentação básica necessária e que os animais sejam vinculados ao munícipe responsável, com limite máximo de cinco animais por CPF. Programa de controle populacional de cães e gatos O Programa de Controle Populacional de Cães e Gatos foi implantado no município de Ponta Grossa, PR, no ano de 2003, com o objetivo de reduzir a quantidade de animais errantes no município. Nos primeiros anos de implantação, eram executadas em média 300 castrações por ano, número insuficiente diante da grande demanda. Em 2014 o referido programa passou por reformulação por meio de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado pela gestão municipal da época. Dentre as medidas do acordo estavam a implantação do Registro Geral Animal (RGA) e a implementação e manutenção de programas de educação ambiental, tutela responsável, bem-estar animal e esterilização cirúrgica de no mínimo 3.200 animais escolhidos entre os classificados como animais errantes ou de munícipes hipossuficientes. Entre o período de 2014 a 2019, a triagem e o encaminhamento dos animais para
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Medicina veterinária do coletivo a realização do procedimento cirúrgico de castração eram feitos pelas ONGs de proteção animal do município, e as castrações, realizadas em clínicas veterinárias credenciadas junto à prefeitura e com chamamento público. O grande entrave dessa logística de acesso, cadastro e controle aos serviços oferecidos se apresentou no preenchimento dos RGAs animais, visto que os tutores de um grande número de animais não estavam vinculados aos microchips, dificultando assim a identificação e a origem nos casos de abandono, fuga ou maus-tratos. Em análise inicial da sistemática em funcionamento e tendo conhecimento também da falta de uma base de dados pública e concisa para o cadastro e o controle das ações financiadas pelo poder público, os médicos-veterinários residentes apresentaram uma proposta de readequação do programa, a ser aplicada a partir de 2020. Visando facilitar o acesso da população aos serviços prestados, o cadastro dos animais passou então a ser realizado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) pelos médicos-veterinários residentes, mediante a apresentação de documentação pessoal e comprovantes de que o munícipe requerente se enquadrava na condição de cidadão hipossuficiente. No ato do cadastro, o munícipe era orientado sobre tutela responsável, maus-tratos, noções de higiene e zoonoses, levando o conceito de saúde única para a população. No exercício de 2020, segundo dados levantados junto à Gerência do Controle de Zoonoses do município, a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa castrou 3.570 aninais (2.500 cães e 1.070 gatos), 370 castrações a mais do que o mínimo exigido no TAC – um investimento de R$ 620.425,10, sendo que o valor pago por cada castração foi de R$185,07 por canino e R$147,43 por felino. A divulgação do programa ocorreu de forma contínua, na TV, em cartazes colocados nas UBS e por meio de publicações em jornais e portais de notícias locais, bem como no site institucional da Prefeitura Municipal de Ponta 28
Grossa e nas redes sociais. A realização dos cadastros se deu por meio de fichas de preenchimento manual. Inicialmente foram criadas duas fichas, uma para a coleta de dados do cidadão responsável (Figura 1) e outra para a coleta de dados dos animais (Figura 2). Dentro da sistemática proposta, para ter direito ao benefício, basta o munícipe interessado dirigir-se a uma das 14 UBSs distribuídas pelo município onde se encontram alocados os médicos-veterinários residentes, munido de cópias e originais da documentação exigida. Foram disponibilizadas cinco castrações por CPF, podendo o munícipe cadastrar machos e fêmeas, felinos e caninos acima de 4 meses de idade, dando preferência para as fêmeas. O agendamento prévio das cirurgias junto às clínicas veterinárias credenciadas se deu por meio de uma agenda virtual mensal (via
Figura 1 – Ficha de cadastro manual do cidadão
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Google Drive), alimentada por médicos-veterinários residentes no momento do cadastro. Dessa forma o munícipe recebia na UBS um comprovante de cadastro com a data, o horário e o local do procedimento cirúrgico, conforme disponibilidade da agenda das clínicas. De acordo com o programa, coube ao munícipe a responsabilidade pelo transporte (ida e volta) dos animais até a clínica credenciada, bem como os cuidados pós-operatórios, devidamente orientados pelos médicos-veterinários que executaram os serviços. O fornecimento gratuito de antibioticoterapia foi garantido pelo período de cinco dias por animal. Para fins de fiscalização e controle de populações animais, utilizou-se a microchipagem (transponder eletrônico) individual, vinculando o cadastro ao CPF do tutor do animal, conforme preconiza a Lei Estadual nº 18.550/15, art. 4, Inc. II 25.
Figura 2 – Ficha de cadastro manual dos animais
A alteração principal sugerida no programa foi a alocação da triagem e o encaminhamento dos animais – que era anteriormente realizada pelas ONGs de proteção animal – para as UBSs, onde o procedimento passou a ser efetuado por médicos-veterinários residentes. Tal estratégia foi primordial para a estruturação do programa, visando então a construção dessa base de dados efetiva e consistente dos serviços de controle populacional de cães e gatos oferecidos e prestados no município. Vale ressaltar que as ONGs são importantes parceiras no resgate voluntário de cães e gatos do município e têm papel importante na promoção de doações dos animais. Em respeito ao trabalho anteriormente desenvolvido, durante toda a execução do projeto a prefeitura manteve um vínculo com as quatro ONGs conveniadas, para as quais foram disponibilizadas no mínimo 15 vagas mensais para a castração de animais, totalizando 600 vagas em 10 meses, para que estas pudessem atender à demanda por meio de cadastro e triagem próprios de cada instituição. Além disso, o saldo mensal de absenteísmo e/ou cancelamentos das castrações previamente agendadas nas clínicas via unidades de saúde foi de 392 animais. Esse total é mensalmente redistribuído entre essas ONGs, ocasionando o aumento de até 65% no número de vagas por instituição. O sistema As facilidades e a interatividade apresentadas de maneira virtual pela utilização do dispositivo Google Drive desencadearam a necessidade de um sistema de cadastro exclusivo, formatado de modo a atender às rotinas específicas do programa, facilitando assim o controle e o acesso da população ao benefício. O desenvolvimento do sistema, que ficou a cargo do Departamento de Informática da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa, sem ônus para o município, levou 14 meses a partir da data de solicitação. Denominado Programa Permanente de Triagem e Registro de Controle
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Medicina veterinária do coletivo Reprodutivo de Cães e Gatos (PPCRCG), sua função consiste em unificar informações por meio da inserção dos dados completos do tutor, tais como como endereço, Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) e de que programa social participa para efetivar a comprovação de hipossuficiência. A transição do cadastro manual via fichas impressas, bem como dos dados dos animais atendidos nas clínicas para o cadastro online via sistema, se deu manualmente; os médicos-veterinários residentes transcreveram cada ficha cadastral dos tutores e posteriormente os vincularam aos animais atendidos nas clínicas; as chaves de ligação entre tutor e animal foram o CPF e o número do microchip. Durante a alimentação do sistema com os cadastros anteriormente executados de forma manual, o programa não parou. Conforme surgiam dúvidas ou sugestões, houve algumas adequações à medida que as demandas aconteciam, até a implementação completa do sistema, que pode ser acessado no endereço https://web.pontagrossa.pr.gov.br/. A interface com o usuário se dá em ambiente da web, e o acesso ao endereço que abriga o sistema é autoexplicativo, tendo como requisito básico a criação de um usuário e senha que dá acesso a esse e a outros programas municipais, conforme ilustrado na figura 3. Para participar do programa, o munícipe precisa ter um endereço de e-mail válido por
meio do qual deve receber a validação de dados e preencher toda a documentação solicitada nos campos, conforme ilustra a figura 4. Após a análise e o deferimento do cadastro pela Gerência de Zoonoses do município, o cidadão cadastrado tem acesso ao sistema para incluir seus animais (Figura 5) e posteriormente realizar o agendamento da cirurgia de castração. Esse agendamento é realizado de maneira simples e individual, bastando cli-
Figura 4 – Campos de dados cadastrais do munícipe
Figura 5 – Aba de cadastro do animal
Figura 3 – Tela de interface inicial do sistema 30
Figura 6 – Lista de animais vinculados ao cadastro do munícipe
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car no ícone localizado no lado direito da tela de cadastro do animal escolhido (Figura 6), no qual são apresentados as datas e os horários disponíveis. Confirmado o agendamento, o munícipe não pode alterar as datas e os horários, e o ícone anteriormente representado pela imagem de um calendário é substituído pela imagem de
Figura 7 – Lista de animais vinculados ao cadastro do munícipe aguardando agendamento e com cirurgia agendada
Figura 8 – Comprovante de agendamento e termo de autorização cirúrgica
uma impressora (Figura 7) por meio da qual se poderá imprimir o comprovante de agendamento do animal (Figura 8), documento esse que deverá ser apresentado na verificação do animal na clínica prestadora de serviço. Para que a legislação que resguarda os direitos dos animais em situação de risco e as políticas públicas que visam o bem-estar desses animais tenham efeito, é necessário implementar programas de conscientização da população quanto à necessidade de adesão às políticas de castração e controle populacional de cães e gatos, objetivando mudanças comportamentais dos indivíduos em prol do coletivo, mas pensando principalmente no bem-estar animal 14,26. Tais medidas têm caráter efetivo somente quando os gestores públicos valorizam os profissionais específicos da área – como os médicos-veterinários residentes que fazem parte do programa em questão e que apresentam de maneira prática e eficiente uma proposta técnica elucidativa relativa ao diagnóstico e ao efetivo controle populacional desses animais –, despertando a conscientização da sociedade quanto à posse responsável, ao mesmo tempo em que promovem o controle de procedimentos e um efetivo acesso das populações menos favorecidas ao benefício. Com a inovação do sistema online, todos os cadastros realizados pela prefeitura são disponibilizados para as clínicas em tempo real. Somado a isso, o projeto alimenta um banco de dados com informações relevantes quanto ao controle populacional e à distribuição dos animais atendidos, facilitando a consulta pública e a transparência na aplicação de recursos públicos 27, uma vez que todas as despesas são indiretamente custeadas pelos munícipes por meio de impostos e acabam por retornar à sociedade como um benefício à coletividade 28. Até janeiro de 2021, 10 meses após a alteração da proposta de cadastramento instituída para o programa, foram atendidos um total de 868 munícipes, com uma média de 3 a 4 animais por munícipe. Foram realizadas 2.956
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Medicina veterinária do coletivo castrações (Figuras 9 e 10), distribuídas entre 4 clínicas conveniadas. A execução do cronograma do saldo de 614 castrações restantes foi agendada até o início de março de 2021. A implementação do sistema informatizado reestruturou o acesso da população, das ONGs e de clínicas veterinárias aos serviços, bem como contribuiu para a obtenção de relatórios de forma rápida e precisa, diminuindo o acúmulo de papéis e promovendo maior transparência e agilidade aos serviços oferecidos à população 27. Com a criação do sistema e a estruturação da base de dados online, foi possível vincular de forma efetiva os tutores aos animaais sob sua responsabilidade. A esterilização e a microchipagem permitem agora que situa-
Figura 9 – Número de animais castrados, divididos por sexo e espécie
Figura 10 – Total de cadastros por bairro 32
ções de abandono e controle de natalidade possam ser monitoradas com maior facilidade por meio da busca de informações sobre o animal. Vale ressaltar também que com o sistema ativo é possível restabelecer a tutela do animal em casos de fuga, furto ou roubo, utilizando informações do microchip para comprovar a responsabilidade a partir dos dados cadastrais, e dar suporte também para ações oficiais de fiscalização, intervenções em situações de saúde pública, resgate e autuações de infrações, maus-tratos e crimes contra animais de estimação, fortalecendo assim as políticas públicas de controle de natalidade e combate ao abandono animal. A grande procura por castrações para felinos sugere que a população felina do município é maior do que o esperado, visto que muitas vezes não foi possível o agendamento da cirurgia para o mesmo mês por falta de vagas disponíveis na agenda das clínicas, o que demonstra que o número de castrações dessa espécie ainda é insuficiente no município de Ponta Grossa. Essa situação é preocupante, visto que os gatos têm instinto predador e muitas vezes se alimentam de morcegos e pequenos roedores, sendo potenciais vetores de zoonoses 29. O gerenciamento de agravos praticado atualmente tem os cães como elemento central; todavia, dada a constatação do aumento significativo da presença de gatos nas residências, é necessário reavaliar esse segmento da saúde pública, adequando-o aos novos desafios 30. Considerações finais O acesso virtual ao sistema teve boa aceitação pela população, com diversos relatos de fácil acessibilidade ao Programa de Castração Gratuita por meio dos agendamentos realizados nas Unidades Básicas de Saúde pelas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), juntamente com os médicos-veterinários residentes em Saúde Coletiva. Houve também uma aprovação por parte das clínicas
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veterinárias prestadoras de serviço sobre a facilidade e agilidade do sistema para organizar a agenda, controlar vagas de animais faltosos e disponibilizar um novo agendamento em tempo real. Referências
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Rivair Gonçalves Junior MV, CRMV-PR: 13.327 aluno de residência Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa, PR juniorgoncalvesvet@gmail.com Carlos Eduardo Coradassi MV, CRMV-PR: 3.555 mestre, dr., prof. adjunto UEPG Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa coradassi@gmail.com Gabriela M. de Oliveira Castoldi Zibetti MV, CRMV-PR: 16.209 aluna de residência Fundação Municipal de Saúde de Ponta Grossa vetgabrielacastoldi@gmail.com
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premierpet contato@premierpet.com.br Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
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Medicina veterinária do coletivo
Reinventando a extensão acadêmica em tempos de Covid-19
A extensão universitária é um processo educativo, cultural e científico responsável por viabilizar uma relação entre a universidade e a comunidade na qual está inserida. A população ganha assistência/conhecimento, enquanto o meio acadêmico aprende com o saber dessa sociedade, além de conhecer suas reais necessidades e anseios 1. O projeto de extensão Manejo Populacional de Cães e Gatos e Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) surgiu com o objetivo de desenvolver ações para o manejo populacional ético de cães e gatos, visando principalmente a educação para a guarda responsável, o controle reprodutivo, o registro e a identificação, e a participação social. Já o projeto de extensão Medicina Veterinária em Ação nas Comunidades da UFPR objetiva desenvolver ações para promover a saúde dos indivíduos e das comunidades e os cuidados ao meio ambiente, atendendo a demandas específicas de cidades da Grande Curitiba. Em consequência da pandemia de Covid-19 no primeiro semestre de 2020, as atividades presenciais foram inviabilizadas, sendo necessárias novas abordagens, feitas de forma virtual. A nova proposta consistiu em levar à comunidade informações com base científica de forma clara e objetiva. Além dos temas que envolviam a pandemia de Covid-19 e sua relação com os animais, outros temas também foram incluídos, como a prevenção ao abandono de cães e gatos, a conexão existente entre a violência doméstica e os maus-tratos 36
aos animais, a educação humanitária, a saúde mental em tempos de isolamento social e a prevenção ao suicídio (Setembro Amarelo). A atuação virtual começou com o intuito de combater as fake news que desde o início da pandemia ocorrem de forma desenfreada 2. A promoção do conhecimento foi realizada por meio de redes de comunicação, como as rádios e as redes sociais, site, criação de uma biblioteca virtual, palestras virtuais (Setembro Amarelo e Simpósio de Manejo Populacional de Cães e Gatos) e cursos (Educação Humanitária e Violência Doméstica e os Maus-tratos aos Animais). Cada projeto contou com aproximadamente 30 alunos voluntários e 3 bolsistas (Figuras 1 e 2) de diversas regiões do Brasil, sendo a grande maioria do curso de medicina veterinária, mas também com graduandos dos cursos de psicologia, assistência social e relações públicas. Cada bolsista ficou responsável por 2 a 3 grupos de 2 a 5 voluntários cada. Residentes de Medicina Veterinária do Coletivo e pós-graduandos de Saúde Única do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da UFPR também participaram, auxiliando os graduandos na confecção e na correção dos materiais. Os cursos foram organizados pelos residentes, com o apoio dos alunos de extensão. A publicação e a veiculação dos materiais elaborados foram realizadas pelas mídias sociais (Instagram, Youtube, Facebook, Portal MVC-UFPR), além de spots de rádio veiculados por cinco rádios paranaenses parceiras – Tamandaré, UNIFM, Web RCW, POP FM,
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culadas 32 postagens com alcance total aproximado de 18 mil pessoas, sendo o público principal discentes e profissionais das áreas da saúde. Nas páginas do Facebook de ambos os projetos (QRcodes abaixo) foram veiculadas cerca de 25 postagens que alcançaram em média um público de 500 visitantes semanalmente.
Figura 1 – Coordenadora, vice-coordenadores, bolsistas e voluntários participantes do projeto Manejo Populacional de Cães e Gatos e Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (MPCG-UMEES)
Figura 2 – Coordenadora, vice-coordenadores, bolsistas e voluntários participantes do projeto Medicina Veterinária em Ação nas Comunidades (MVAC)
Massa FM – e pelo Jornal Cidade Notícias. No Instagram @mvcufpr (QRcode ao lado) foram vei-
No canal do Youtube (QRcode Abaixo) foram promovidas palestras para a prevenção do suicídio e a promoção da qualidade de vida, além da realização do I Simpósio de Medicina Veterinária do Coletivo – UFPR de forma totalmente online e gratuita, ocorrido nos dias 27 e 28 de novembro de 2020, que contou com 9 palestrantes e 337 inscritos de diversas regiões do Brasil. O curso sobre teoria do elo intitulado Enfrentamento da Violência Doméstica e Maus-tratos aos Animais em Tempos de Covid teve como público-alvo profissionais e alunos de medicina veterinária, psicologia, direito, assistência social e ciências sociais, e de saúde em geral. Os professores convidados eram de diferentes áreas. O curso estruturou-se em sete módulos, com aulas, textos de apoio, atividades e fóruns de discussão, totalizando 949 visualizações até a data final de oferta. Os módulos foram estruturados da seguinte maneira: Ambientação à plataforma UFPR Virtual; Perspectivas sociais da violência; Psicologia da violência; Aspectos legais dos maus-tratos aos animais e violência doméstica; Teoria do elo e maus-tratos; Combate à violência contra pessoas e animais; Encerramento e autoavaliação. Os temas das aulas do curso Enfrentamento da Violência Doméstica e Maus-tratos aos
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Medicina veterinária do coletivo Animais em Tempos de Covid incluíram: perspectivas sociais da violência; psicologia da violência; direito animal, maus-tratos e violência; teoria do elo e maus-tratos (introdução, conceitos, epidemiologia e perícia); política de assistência social; maus-tratos aos animais; e violência contra os idosos. Ao todo foram ofertadas 9 aulas gravadas, que somaram 949 visualizações. O curso contou com estudantes e profissionais das cinco regiões do país, sendo eles oriundos de instituições de ensino superior públicas e privadas, e órgãos públicos. Os participantes responderam a um questionário de avaliação previamente e posteriormente ao início dos estudos, a fim de se analisar o impacto do curso no seu conhecimento. O curso também permitiu a integração entre os estudantes por meio de discussões de situações-problema apresentadas. Os participantes compartilharam opiniões e experiências baseadas em suas atuações profissionais diárias, possibilitando a troca de conhecimento para o enfrentamento de situações reais. Ao fim da oferta do conteúdo, os participantes contaram com espaço para sugestões visando ao aperfeiçoamento do curso para futuras edições. O curso Educação Humanitária em Valores teve como principal objetivo empoderar os professores da rede pública do município de Campo Magro, PR, para atuarem como facilitadores da promoção da cultura da paz por meio da educação. O curso foi estruturado em sete módulos, sendo eles: Introdução ao curso de educação humanitária; Respeito aos animais; Respeito pelas pessoas que conheço; Respeito por todas as pessoas; Respeito pela minha cidade; Respeito por meu estado e meu país; e Respeito por outros países e culturas. O grande trunfo do curso foi a parceria firmada com o Centro Internacional de Formação de Autoridades e Líderes (Cifal), que contribuiu com excelentes palestrantes. Cada módulo teve a duração de duas semanas, ao final das quais os professores apresentaram propostas de melhoras para as comunidades às quais pertencem. Aproximadamente 130 38
pessoas participaram diretamente: 97 participantes inscritos, 21 ministrantes/palestrantes convidados, 8 coordenadores articuladores, 2 membros da Secretaria Municipal de Saúde e 2 membros da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de Campo Magro. A última atividade do curso foi uma roda de conversa inspiradora sobre boas práticas para uma vida melhor (QRcode ao lado). Considerações finais A condução dos projetos de extensão durante o período de pandemia apresentou resultados positivos nas plataformas operadas como veículo para informações. As redes sociais utilizadas apresentaram aumento no número de pessoas que tiveram proximidade com os materiais produzidos e disponibilizados. Ademais, os e-books publicados na biblioteca virtual e os spots em rádios parceiras são estratégias promissoras para entrar em contato com a comunidade. Os voluntários que participaram do projeto relataram majoritariamente satisfação ao desenvolverem as atividades propostas. Essa satisfação também foi compartilhada pelos membros envolvidos na organização. As atividades contribuíram para o desenvolvimento acadêmico dos alunos na obtenção de conhecimento sobre a área da medicina veterinária do coletivo e nas habilidades de comunicação escrita, ilustrada ou falada. Apesar dos esforços, a situação-problema que o projeto enfrenta exige o embate contínuo da comunidade científica por meio da produção de pesquisa e informação responsável, pois sabe-se que é complexo cessar a disseminação de fake news. Agradecimentos À Prefeitura de Campo Magro, em especial à Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Semec), presidida por Giovana Mion Casagrande; à Cifal Curitiba; a todos os professores participantes do curso de
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Educação Humanitária; aos professores Antônio Waldir da Silva Cunha e Roberta Carareto, pela atuação incansável na coordenação dos projetos; aos bolsistas, por toda a dedicação e o afinco; aos residentes e pós-graduandos, pelas muitas horas dedicadas a correções e revisões; e, principalmente, a todos os voluntários responsáveis por levar adiante os projetos, mesmo em tempos tão difíceis. Referências
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science/article/pii/S0736585320301349>. Acesso em 12 de novembro de 2020. Bruno Pedon Nunes MV, CRMV-PR: 14.537 Aluno de mestrado – UFPR-Curitiba Brunopedonnunes@gmail.com Aaronson Ramathan Freitas MV, CRMV-PR: 16.774 Aluno de mestrado – UFPR-Curitiba aaron.ramathan@gmail.com Luis Fernando Turozi Mausson MV, CRMV-PR: 17.862 Aluno de residência, Serviço de Perícia Animal – UFPR-Curitiba turozi@ufpr.br
Rita de Cassia Maria Garcia
MV, CRMV-SP: 5.653 Mestre, dra., profa. Depto. Medicina Veterinária – UFPR-Curitiba ritamaria@ufpr.br
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Saúde coletiva
A importância do acompanhamento psicológico a médicos-veterinários residentes O exercício da profissão da medicina veterinária é um desafio para os profissionais recém-formados. Diversos deles ingressam em programas de residência médico-veterinária – que são modalidades diferenciadas de ensino de pós-graduação destinadas a médicos-veterinários, caracterizadas por um programa intensivo de treinamento profissional supervisionado em serviços de assistência médico-veterinária – prestados por instituições de ensino superior que oferecem Programa de Residência Médico-Veterinária 1. Durante esse período de aperfeiçoamento, o profissional deve fazer um balanço entre seus deveres profissionais de cuidar e de curar, estabelecendo os limites de sua identidade pessoal e profissional e lidando muitas vezes com sentimentos de desamparo em relação ao complexo sistema assistencial. Sabe-se que os residentes são submetidos a diversos tipos de fatores estressantes que podem produzir efeitos danosos, afetando tanto a sua qualidade de vida quanto a da assistência prestada aos pacientes 2. São muitos os fatores que comprometem a saúde e a qualidade de vida de médicos residentes. O período de transição aluno/médico, a responsabilidade profissional, o isolamento social, a fadiga, a privação do sono, a sobrecarga de trabalho, o medo de cometer erros e outros ligados ao processo de formação na residência estão associados a reações psicológicas, psicopatológicas e comportamentais 3, incluindo estados depressivos que desencadeiam ideias suicidas, tornando os médicos residentes um grupo de risco no que se refere a distúrbios emocionais como depressão, 40
ansiedade, estresse, síndrome de burnout e fadiga por compaixão. Diversos estudos demonstram que os principais fatores que contribuem para o nível de estresse elevado na rotina dos médicos-veterinários são as longas horas de trabalho, o tempo pessoal insuficiente, a falta de dias de folga ou férias, insultos pessoais por parte de clientes e colegas, salário inadequado, falta de reconhecimento pelo seu trabalho por parte do público e falta de tempo por paciente 4,5. Todos esses estressores interpessoais crônicos presentes no ambiente de trabalho podem levar ao desenvolvimento de síndromes mais graves, como a síndrome de burnout. Além disso, o estresse crônico não tratado tem sido relacionado ao aparecimento de condições potencialmente debilitantes, como a depressão 6,7. Um estudo mostra que os níveis de depressão em profissionais veterinários são significativamente maiores do que na população em geral 8. A síndrome de burnout, uma das condições às quais os residentes estão sujeitos, é definida como exaustão emocional relacionada ao trabalho e à sua inefetividade 9,10. Os médicos residentes vivenciam uma duplicidade de funções, pois são cobrados por seus supervisores, pela sociedade e por si mesmos como alunos em aprendizagem, com exaustivas jornadas de trabalho e tarefas obrigatórias, mas devem agir como profissionais dos quais se exige cada vez mais responsabilidade, competência e eficiência. Exaustão emocional, despersonalização, redução da realização pessoal no trabalho, insatisfação, insuficiência, baixa autoestima e desmotivação são
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alguns dos indicadores dessa síndrome. Um estudo realizado no Canadá demonstrou que 38,8% de uma população de 1.272 médicos-veterinários analisada poderiam ser classificados como apresentando síndrome de burnout, dentre os quais a parcela de mulheres era significativamente maior em comparação ao número de homens 11. Outro importante problema que acomete os residentes é a sonolência excessiva decorrente das longas jornadas de trabalho. Um estudo realizado nos Estados Unidos aponta que grande parte dos médicos residentes apresentam privação crônica de sono, fazendo utilização regular de álcool ou medicamentos para ajudar a dormir. Embora no Brasil haja resoluções que estipulam uma jornada máxima de 60 horas semanais 1, e destas, 80% de práticas em serviço e 20% de atividades teóricas, muitos estudos apontam importantes problemas de saúde decorrentes da excessiva jornada de trabalho, como síndrome de burnout, depressão, fadiga, estresse e ansiedade 2. Há também um grande diferencial para essa classe profissional em comparação a
outras da área da saúde: a eutanásia dos seus pacientes. O ato não é livre de efeitos colaterais, podendo ocasionar alguns efeitos psicológicos. Devido a todos esses fatores, a taxa de suicídio dos médicos-veterinários é quatro vezes superior à da população geral e duas vezes superior à de outras profissões da área da saúde 12. Um estudo demonstrou que a implementação de programas de assistência aos residentes com apoio profissional psicológico produz uma melhora tanto na qualidade da capacitação profissional, em termos de lidar com o estresse do treinamento, como também na qualidade de vida pessoal 13. Objetivou-se com este estudo avaliar a percepção dos residentes de medicina veterinária do Programa de Residência em Área Profissional de Saúde do Hospital Veterinário da UFPR (Praps-HV/UFPR) em relação à importância do acompanhamento psicológico durante a residência. O estudo foi realizado em novembro de 2017 com os residentes de medicina veterinária do Praps-HV/UFPR. Desenvolveu-se um questionário (Figura 1) com perguntas abertas e fechadas como instrumento de coleta de dados. Os questionários
Questionário
Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino Idade: ____________ anos Área de especialização: _______________________________________________________ Você já realiza algum tipo de acompanhamento psíquico? ( ) Sim ( ) Não De que tipo? ( ) Psicológico ( ) Psiquiátrico ( ) Outro _____________________________________________ Você considera importante haver acompanhamento psicológico para os profissionais veterinários? ( ) Sim ( ) Não Se houvesse no hospital veterinário algum tipo de acompanhamento psicológico para os médicos-veterinários residentes, você o utilizaria? ( ) Sim ( ) Não Dentre as seguintes situações, qual(quais) lhe causa(m) maior incômodo/angústia na rotina médica? ( ) Maus-tratos ( ) Negligência ( ) Abandono ( ) Eutanásia ( ) Outra: _________________________________________________________________________________ Figura 1 – Questionário sobre o acompanhamento psicológico para médicos-veterinários residentes do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
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Saúde coletiva eram anônimos, e, antes de iniciar o preenchimento, os residentes concordavam em participar da pesquisa. Perguntou-se se os residentes já realizavam algum tipo de acompanhamento psíquico (psicológico ou psiquiátrico), se consideravam importante haver acompanhamento psicológico para os profissionais veterinários, se eles utilizariam algum tipo de acompanhamento psicológico caso fosse disponibilizado no hospital veterinário e quais eram as questões que mais lhes causavam incômodo/angústia na rotina médica. Do total de 48 residentes, 39,5% (19/48) de nove diferentes áreas de especialização responderam ao questionário (Figura 2). Dos respondentes, 79% (15/19) eram do gênero feminino e 21% (4/19) do gênero masculino. Constatou-se que 42,1% (8/19) já realizavam algum tipo de acompanhamento psíquico, sendo que, desses 8 residentes, 25% (2/8) realizavam acompanhamento psiquiátrico, 25% (2/8) acompanhamento psicológico e 50% (4/8) ambos. Quando questionados sobre a importância do apoio psicológico para médicos-veterinários residentes, 100% (19/19) dos respondentes afirmaram considerar importante a existência de algum tipo de acompanhamento e 84,2% (16/19) afirmaram que utilizariam um serviço de acompanhamento psicológico caso
Figura 2 – Gráfico de distribuição dos médicos-veterinários residentes respondentes por área de especialização 42
fosse ofertado pelo programa. Com relação às questões vivenciadas na rotina médico-veterinária que mais traziam incômodo para os residentes, as mais citadas foram os maus-tratos aos animais (17/19); relacionamentos interpessoais, sobrecarga de trabalho, carga horária excessiva e falta de valorização profissional foram agrupados na categoria “outros” (Figura 3). As situações de maus-tratos, negligência e abandono, frequentes na rotina clínica e apresentadas pelos residentes, podem ocasionar aos médicos-veterinários uma condição causada por vinculação empática aos pacientes, a fadiga por compaixão, definida como fardo emocional de cuidar do outro, em consequência da exposição contínua e excessiva a eventos traumáticos. Considerada um tipo especial de burnout, refere-se à exaustão de profissionais que lidam com sofrimento 14. Devido a essa conexão emocional, os profissionais podem ser afetados negativamente, o que os torna emocionalmente vulneráveis 15. Com relação à eutanásia, também citada pelos residentes como situação causadora de incômodo e angústia, sabe-se que a realização do procedimento está relacionada à ocorrência de estresse nos profissionais veterinários 16. As situações de eutanásia podem
Figura 3 – Gráfico das situações com animais que causavam maior incômodo/angústia aos residentes na rotina médica
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envolver o profissional em dilemas morais estressantes pela dificuldade em conciliar as suas convicções com o que lhe é pedido ou com o que tem de fazer 17. Apesar de a prática ser considerada rotineira, o assunto é tratado com indiferença pelos profissionais mais experientes, um fenômeno conhecido como dessensibilização 18. Os residentes expressaram a vontade de participar de programas de apoio psicológico durante o programa de residência, e o estudo demonstrou a necessidade desse apoio. Atendendo a essa demanda, no final de 2017 foi implantado um programa de acompanhamento psicológico com encontros quinzenais coletivos para que os residentes pudessem compartilhar e resolver situações conflituosas de sua rotina médico-veterinária. O programa contou com a ajuda do prof. Márcio Cesar Ferraciolli, docente da UFPR, e de seus alunos extensionistas. Devido ao fato de que múltiplos fatores podem contribuir para o comportamento suicida de médicos-veterinários, as estratégias de prevenção do suicídio devem adotar uma abordagem holística, que reconheça a importância dos fatores ocupacionais e psicossociais associados aos transtornos psicológicos na profissão, para melhorar o estado psicológico dos profissionais e, em última análise, reduzir o número de casos de suicídio 19. É necessário também que os veterinários reconheçam problemas de saúde mental em
si mesmos e procurem ajuda antes que eles se tornem crônicos e levem ao suicídio. Nesse aspecto, o acompanhamento psicológico pode auxiliar os médicos-veterinários na resolução de conflitos pessoais e interpessoais, nas questões éticas e a lidar melhor com o estresse, proporcionando maior bem-estar mental aos profissionais e, consequentemente, melhor qualidade na assistência prestada aos pacientes. Referências
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Larissa Rachel Wolf Bacharela em medicina veterinária Aluna de mestrado – UFPR larissarwolf@hotmail.com Bruno Pedon Nunes MV, CRMV-PR: 14.537 Aluno de mestrado – UFPR Brunopedonnunes@gmail.com Lucas Galdioli MV, CRMV-PR: 16.773 Aluno de mestrado – UFPR lucasgaldioli@ufpr.br
Rita de Cassia Maria Garcia
MV, CRMV-SP: 5.653 Mestre, dra., profa. Depto. Medicina Veterinária – UFPR ritamaria@ufpr.br
Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
NUTRIÇÃO E C I Ê N C I A PA R A UMA VIDA LONGA.
CONTROLE DO pH DA URINA
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oral diário, pois minimiza a
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que auxiliam na manutenção do
formação dos cálculos
as células do coração, auxiliando na
trato urinário.
dentários.
função cardíaca.
www.specialdog.com.br | alimentosprime Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
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Patologia clínica Dermatite necrolítica superficial canina – revisão Canine superficial necrolytic dermatitis – review Dermatitis necrolítica superficial en perros – revisión
Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, p. 46-52, 2021 DOI: 10.46958/rcv.2021.XXVI.n.152.p.46-52
Millena Leme de Campos MV, CRMV-SP: 20.932 mestre micampos.vet@gmail.com
Isabella Paulucci bacharela em medicina veterinária
isa-paulucci@hotmail.com
Haila Cristiane Lucena MV, CRMV-SP: 34.192 Centro Diagnóstico Savana hailalucena@hospitalsavana. com.br
Jonas Moraes Filho MV, CRMV-SP: 21.361 dr., prof. Unisa jmfilho@prof.unisa.br
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Resumo: A dermatite necrolítica superficial canina (DNS) é uma doença progressiva, um distúrbio cutâneo debilitante comumente associado a anormalidades hepáticas. É erosiva, com distribuição multifocal, geralmente nos coxins, nas junções mucocutâneas e nas extremidades dos membros. A etiopatogenia em cães não é conhecida, podendo estar relacionada a enfermidade hepática, micotoxicose e uso de drogas anticonvulsivantes. Manifesta-se de forma insidiosa, sobretudo em cães adultos, sem predisposição racial ou sexual. A terapia consiste na melhora da qualidade de vida e sobrevida dos animais; grande parte deles evolui a óbito poucos meses após o estabelecimento do diagnóstico, independentemente do tratamento proposto. Unitermos: hepatopatia, cães, dermatite, necrose Abstract: Canine superficial necrolytic dermatitis (SND) is a progressive debilitating skin disorder commonly associated with liver abnormalities. It is an erosive skin disease with multifocal distribution, usually in the foot pads, mucocutaneous junctions and extremities of the limbs. The pathogenesis of SND in dogs is not known, and may be related to liver disease, mycotoxicosis and use of anticonvulsant drugs. SND manifests itself insidiously, especially in adult dogs, with no breed or gender predisposition. Therapy is supportive, improving the animal’s quality of life and survival time, with most animals dying within a few months of diagnosis, regardless of the proposed treatment. Keywords: liver disease, dogs, dermatitis, necrosis Resumen: La dermatitis necrolítica superficial de los perros (DNS) es una enfermedad cutánea progresiva y debilitante frecuentemente relacionada con alteraciones hepáticas. Provoca lesiones erosivas multifocales, que se localizan generalmente en almohadillas plantares, uniones mucocutáneas y extremidades de los miembros. La etiología es desconocida, aunque se la puede relacionar con enfermedades hepáticas, micotoxicosis y el uso de anticonvulsivantes. Se manifiesta en forma insidiosa, sobretodo en perros adultos, y no tiene predisposición por raza o sexo. El tratamiento consiste en mejorar la calidad de vida y conseguir una mayor supervivencia de los pacientes, muchos de los cuales mueren pocos meses después del diagnóstico, independientemente del tratamiento realizado. Palabras clave: hepatopatía, perros, dermatitis, necrosis
Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
Porque, cada vez mais, proteção é essencial.
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Oncologia Neoplasia testicular em jaguatirica (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758) Testicular neoplasm in ocelot (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758) Neoplasia testicular en ocelote (Leopardus pardalis – Linnaeus, 1758) Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, p. 54-65, 2021 DOI: 10.46958/rcv.2021.XXVI.n.152.p.54-65 Rodrigo H. F. Teixeira MV, CRMV-SP: 11.339 mestre, dr. Zoológico Mun. Sorocaba, Uniso-Sorocaba rhftzoo@hotmail.com
André Luiz Mota da Costa MV, CRMV-SP: 11.662 mestre Zoológico Mun.Sorocaba almotacosta@yahoo.com.br
Mayara Grego Caiaffa MV, CRMV-SP: 47.956 Aluna de residência Zoológico Mun.Sorocaba mayaracaiaffa@gmail.com
Maraya Lincoln Silva MV, CRMV-SP: 49.713 Aluna de residência Zoológico Mun.Sorocaba marayals@yahoo.com.br
Milena Cassemiro Biagioni Aluna de graduação Uniso-Sorocaba milena_biagioni@hotmail.com
Juliana Pires Silveira MV, CRMV-SP: 20.876 Vetver Serviços Veterinários julilufe.ps@hotmail.com
Bruna Emely P. Barbosa MV, CRMV-SP: 15.489 Aluna de residência UFRRJ brunaepb@id.uff.br
Resumo: O crescimento neoplásico é definido como proliferação autônoma e progressiva das células, que na maioria dos casos está correlacionada à presença de massa ou tumor. As neoplasias são pouco relatadas em felinos silvestres e a indicação quase sempre é a exérese da neoformação. Há um significativo aumento na incidência de neoplasias em animais silvestres mantidos sob cuidados humanos, provavelmente relacionadas ao aumento da taxa de longevidade dos animais em zoológicos. Um exemplar de jaguatirica (Leopardus pardalis) apresentou aumento de volume do testículo direito e foi submetido a exames de imagens e laboratoriais. O exame citológico e histopatológico foi conclusivo para seminoma, e o paciente foi submetido a orquiectomia unilateral. O felino apresentou recuperação satisfatória e será acompanhado pelos próximos anos para o monitoramento da neoplasia no organismo. Esse é o primeiro relato de seminoma em jaguatirica. Unitermos: animais silvestres, felídeo, zoológico, cirurgia, tumor Abstract: Neoplastic growth is defined as an autonomous and progressive proliferation of cells which, in most cases, is correlated with the presence of a mass or tumor. Neoplasms are rarely reported in wild cats and the indicated treatment is almost always the excision of the new formation. There is a significant increase in the incidence of neoplasms in wild animals under human care, probably related to the increase in the longevity rate of animals kept in zoos. A specimen of ocelot (Leopardus pardalis) showed an increase in the volume of the right testicle and the patient was submitted to imaging and laboratory tests. The diagnosis was conclusive for seminoma and the patient underwent a unilateral orchiectomy. The patient has recovered well and will be followed-up over the next few years to monitor the presence of neoplasm in the body. This is the first report of seminoma in an ocelot. Keywords: wild animals, felid, zoological, surgery, tumor Resumen: El crecimiento de una neoplasia se caracteriza por la proliferación autónoma y progresiva de las células, que en la mayoría de los casos está relacionada con la presencia de una masa o un tumor. Existen pocos relatos de tumores en felinos salvajes, en los que está indicada casi siempre su extirpación. Se ha comprobado un aumento significativo de las neoplasias en animales salvajes bajo cuidados humanos, probablemente relacionado con la mayor longevidad de esos animales en zoológicos. Un ocelote (Leopardus pardalis) presentó aumento de volumen del testículo derecho. Fueran realizados exámenes de laboratorio y de imágenes. Los exámenes citológicos e histopatológicos evidenciaron la presencia de un seminoma, por lo que fue realizada una orquiectomía unilateral. El felino tuvo una recuperación satisfactoria y será controlado durante los próximos años ante la eventual aparición de otros tumores, recidiva o metástasis. Este es el primer relato de un seminoma en un ocelote. Palabras clave: animales salvajes, felino, zoológico, cirugía, tumor
Viviane Cristhiane Nemer MV, CRMV-SP: 18.974 Soronemer Ex. Patológicos vi_cris71@hotmail.com
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Bem-estar animal
Coelhos domésticos: origens e domesticação – parte 1
A domesticação de coelhos O coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus), nativo da península Ibérica, é o único ancestral reconhecido dos coelhos domésticos 1,2. Um estudo sugere que o processo de domesticação dos coelhos se iniciou aproximadamente em 600 d.C. 3. Alguns autores propuseram que a domesticação teve início com os monges franceses e foi promovida pela suposta permissão do papa Gregório I aos cristãos para consumirem carne de coelho recém-nascido durante a Quaresma 4-6. No entanto, não há evidências da existência de nenhum documento em que conste essa permissão, e essa passagem histórica foi desmistificada em 2018 por um grupo de cientistas que associou esse fato a outro documento erroneamente traduzido 7. Nesse mesmo estudo, os pesquisadores avaliaram amostras de material genético provenientes de restos de animais em sítios arqueológicos e mostraram que a divisão entre os coelhos selvagens e domésticos ocorreu entre 12.200 e 17.700 anos atrás 7. Não obstante, como o processo de domesticação é contínuo e dinâmico, resultando em mudanças graduais nas relações entre os seres humanos e outras espécies de animais 8, é impossível afirmar que uma pas66
sagem da história tenha sido o marco da domesticação dos coelhos 7. Charles Darwin afirmou que os coelhos domésticos compartilham com outras espécies de animais domesticados uma variedade de características comportamentais, fisiológicas e morfológicas que estão associadas ao aumento da docilidade e às alterações tanto na cor da pelagem como na morfologia da região craniofacial e das orelhas. Em 2018, alguns cientistas propuseram uma hipótese que explica que a docilidade das espécies domésticas decorre de uma deficiência de células embrionárias da crista neural que, por sua vez, originam células responsáveis pela pigmentação da pele, constituem partes da face e das cartilagens e também produzem adrenalina, elemento essencial para vencer a luta pela sobrevivência 9. Além disso, os cientistas mostraram que os coelhos domésticos têm uma redução acentuada no tamanho da amígdala e apresentam um aumento do córtex pré-frontal medial em comparação com os coelhos selvagens 10. Isso implica que a resposta de defesa ao medo foi atenuada nos coelhos domésticos, adaptando-os a uma vida em cativeiro e ao contato próximo com seres humanos, uma vez que eles têm menos
Edgar Rene Ruiz Lopez
Os coelhos domésticos têm se tornado cada vez mais presentes no dia a dia das famílias brasileiras, e, para que os médicos-veterinários possam lhes dar a devida assistência, é importante que se conheça melhor seu comportamento e como esse padrão comportamental está associado ao dos seus ancestrais selvagens. Este artigo, é a primeira parte de um trabalho que tem como finalidade auxiliar os médicos-veterinários brasileiros a entender melhor a origem do coelho doméstico e as peculiaridades comportamentais desse animal.
Coelho europeu (Oryctolagus cuniculus) silvestre
Clínica Veterinária, Ano XXVI, n. 152, maio/junho, 2021
Ancestralidade comportamental do coelho doméstico A observação do comportamento é uma ferramenta fundamental utilizada em diversas áreas como etologia, bem-estar animal e farmacologia comportamental 15. O coelho doméstico compartilha características comportamentais de seu ancestral selvagem, o coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus) 6. O livro intitulado The Private Life of the Rabbit (A vida
Paul Maguire
necessidade de exibir os comportamentos de luta ou fuga que se manifestavam na presença de predadores 10. As diferenças fenotípicas entre os ancestrais de coelhos selvagens e domésticos surgiram a partir do século XVIII 11. Somente em meados de 1800 surgiram coelhos de diferentes tamanhos e com variações no padrão de cores de pelagem, despertando o interesse em criar raças, várias das quais se desenvolveram a partir de 1900 6. As raças de coelhos exibem uma variedade de tamanhos, conformações corporais, tipos e cores de pelame e comprimento das orelhas, sendo que essa grande exuberância de variação morfológica é superior à diversidade fenotípica observada nos ancestrais selvagens 3. Quarenta e sete raças de coelhos são reconhecidas pela Associação Americana de Criadores de Coelhos (American Rabbit Breeders Association – Arba), aproximadamente 50 são reconhecidas no Reino Unido e 40 são encontradas no Brasil 6,12. A importância de conhecer as vias e razões da domesticação dos animais auxilia a compreender o seu comportamento 5,13. Diferentemente dos coelhos, os cães foram domesticados em um processo comensal, resultando em uma coevolução paralela de seleção de certos genes de seres humanos e cães associados a processos neurológicos 14. Já os coelhos foram selecionados de acordo com certas características como peso e tipo de pelagem, porém as características comportamentais jamais foram essenciais nesse processo 5.
Coelhos europeus silvestres na entrada da toca
privada do coelho), de Ronald Mathias Lockley, é um dos poucos que descrevem o comportamento do coelho-europeu selvagem 16. Oryctolagus significa “lebre cavadora”, e cuniculus, “túnel subterrâneo” 4. O próprio nome “coelho”, em português, deriva da palavra latina cuniculus 4. Os coelhos-europeus selvagens escavam um sistema complexo de túneis com várias saídas e compartimentos; dessa forma, suas características anatômicas e comportamentais evoluíram para permitir que realizem essa tarefa, o que lhes possibilita esconder-se de predadores e proteger a si e aos seus filhotes de temperaturas extremas 4,6,16,17. Os coelhos selvagens e domésticos têm unhas longas e membros posteriores fortes, e usam os membros anteriores para soltar a terra, e os posteriores para chutarem esse material para trás 16,17. Eles permanecem quase todo o tempo vigilantes, já que os ataques de predadores podem surgir de diferentes lugares: no nível do solo, de cima, ou ainda virem do subsolo 6. Os coelhos selvagens passam parte do tempo nesses túneis subterrâneos e só saem para se exercitar e pastar 6. Geralmente pastam em conjunto, enquanto um deles fica alerta, com o pescoço estendido e as orelhas eretas, para que os outros possam pastar em segurança 6. Eles vivem em grupos grandes de até 100 indivíduos, e cada colônia se organiza em pequenos grupos normalmente
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Bem-estar animal
John Navajo
compostos por 2 a 8 membros 4,6,16. São animais sociais e gregários, que passam parte do tempo dormindo e comendo juntos, brincando e fazendo a limpeza do pelame (grooming, em inglês) de seus companheiros, porém necessitam de um tempo sozinhos em seus compartimentos nos sistemas de túneis 6. O sistema social é complexo e dispõe de uma escala hierárquica em que um macho está no topo e os outros membros ocupam diferentes posições 4,6. Os coelhos podem conviver pacificamente e desenvolver vínculos mais estreitos com certos companheiros, sendo que os animais que estão em posições mais altas escolhem os parceiros mais disputados 6. Os termos dominante e subordinado descrevem o relacionamento entre dois coelhos, e não o animal, já que um coelho pode ser dominante em um relacionamento com um coelho específico, porém pode ter um relacionamento de subordinação em relação a outro 5. Os coelhos selvagens são animais extremamente territorialistas e defendem sua área de coelhos invasores, geralmente perseguindo-os e raramente combatendo-os 6. Na presença de um predador, eles geralmente fogem e também alertam o resto do grupo batendo simultaneamente as duas patas traseiras no solo, um meio de comunicação conhecido como batida (thump, em inglês) 4,6. Passam boa parte do tempo dormindo em suas tocas e são animais crepusculares 6. No entanto, os
Família de coelhos europeus (Oryctolagus cuniculus) em habitat natural, enquanto um membro vigia os demais se alimentam 68
coelhos domésticos podem exibir pequenas alterações de seu ciclo circadiano, quando comparados com os que estão naturalmente expostos à luz solar 6,18. Além de o comportamento desses animais ser afetado pela luz artificial, também é influenciado pelos sons da família e pela hora de refeição, e portanto podem ser mais flexíveis 6. De modo geral, coelhos domésticos herdaram um padrão de resposta comportamental de seus ancestrais selvagens 4-6. Assim sendo, são animais sociais, que correm, saltam, cavam e geralmente fogem e se escondem quando se sentem ameaçados, são territorialistas e vivem em um grupo hierárquico 5,6. Todas essas características devem ser consideradas em estudos e análises do comportamento e do bem-estar de coelhos domésticos. Coelhos como membros da família Os coelhos estão presentes em várias áreas e setores, diferentemente dos cães e gatos, que já têm status de animais de companhia no Ocidente 4,19. A maioria dos coelhos criados no mundo são destinados ao mercado de carne e pele, ao passo que uma parcela menor é destinada aos laboratórios, para servir como ferramentas de avaliação de testes para cosméticos e produção de anticorpos, além de outras funções associadas às pesquisas da área de biomedicina 4,20-22. Dessa forma, os coelhos podem ter um valor intrínseco quando criados como animais de estimação, um valor instrumental quando destinados aos setores de alimentos, cosméticos, vestimentas e pesquisa científica, e também podem não ter valor algum, quando são considerados pestes 23. A popularidade dos coelhos domésticos como animais de companhia está aumentando, e há um número crescente de coelhos convivendo e formando vínculos estreitos com os seres humanos, promovendo o conceito de família multiespécie, assim como é observado com os cães e gatos 4. Houve uma drástica mudança em relação ao status dos coelhos nos últimos 25 anos 24,25. Esses animais se tor-
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naram o terceiro mamífero mais comum como animal de companhia nos Estados Unidos e no Reino Unido (aproximadamente 6,2 milhões e 1 milhão de coelhos, respectivamente 26). Já no Brasil, o Instituto Pet Brasil contabilizou 2,3 milhões de répteis e pequenos mamíferos com base em dados levantados pelo IBGE em 2018 27. Apesar de não haver uma estimativa oficial do número de coelhos, pode-se avaliar que há um interesse considerável nessa espécie como animais de estimação, dado o aumento de produtos no mercado pet destinados a eles e o grande número de cunicultores pets localizados no Brasil 28,29. A Associação Científica Brasileira de Cunicultura (ACBC) estima que aproximadamente 468 mil coelhos convivem com seres humanos 29. Embora estejam entre as espécies mais populares de animais de companhia, os coelhos são uma das mais mal compreendidas e menosprezadas 17. O lado negativo do aumento da sua popularidade como animais de estimação está associado ao aumento do número de coelhos abandonados. Eles são a terceira espécie de animais de estimação mais abandonada nos Estados Unidos, e estima-se que 67 mil coelhos são colocados em abrigos no Reino Unido por ano 26. As razões mais comuns pelas quais os tutores desistem da guarda de coelhos são: perda de interesse, falta de tempo, mudança de moradia e problemas comportamentais 26. Uma vez que eles são erroneamente considerados animais fá-
Sharomka
Gato e coelho em interação harmoniosa
ceis de manter e cuidar, há uma grande chance de frustração associada às expectativas de tutores de coelhos quando comparados aos tutores de cães e gatos 30. A taxa de coelhos deixados por tutores em abrigos dos Estados Unidos é superior à de gatos e cães, indicando a necessidade de os profissionais que trabalham no mercado pet informarem melhor os potenciais tutores de coelhos sobre as reais necessidades desses animais 30. Muitos tutores de coelhos descrevem seus animais como monótonos, tímidos e agressivos 6,26. Isso é resultado da falta de oportunidades para que eles expressem seus comportamentos normais, da falha em prover um ambiente que supra suas necessidades e também da carência de conhecimento sobre o comportamento da espécie 5. Quando os coelhos são criados de forma adequada, são amigáveis, sociáveis e brincalhões, o que resulta no estreitamento entre eles e os seres humanos e na diminuição da probabilidade de desistência da guarda e abandono desses animais 17,31. Portanto, auxiliar os tutores de coelhos a compreender o comportamento de seus animais, assim como prevenir e tratar problemas comportamentais, é muito importante na prática da medicina veterinária 17. Além disso, muitos dos trabalhos referentes ao comportamento de coelhos são baseados em animais mantidos em laboratórios; nessas circunstâncias, eles são alojados em gaiolas pequenas, que os impedem de exibir seus comportamentos normais 4. Em relação à promoção de mudanças resultantes da disseminação de informações sobre os cuidados gerais e a complexidade comportamental dos coelhos, é imprescindível destacar a atuação de profissionais de diversas áreas envolvidos em duas organizações: House Rabbit Society (HRS – Sociedade do Coelho Domiciliado) e Rabbit Welfare Association & Fund (RWAF – Associação e Fundação do Bem-Estar do Coelho) 6. A organização House Rabbit Society (https://rabbit. org), com sede no norte da Califórnia (EUA), fundada em 1988, é responsável por grande
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Bem-estar animal parte da divulgação de conhecimento sobre o comportamento de coelhos domésticos e é renomada na defesa, no abrigo e na proteção desses animais 24. A Rabbit Welfare Association & Fund (https://rabbitwelfare.co.uk), com sede no Reino Unido, é responsável pela divulgação de estudos sobre o comportamento, o bem-estar e a saúde dos coelhos 6. Profissionais dedicados aos coelhos Os médicos-veterinários entram em contato com os coelhos durante a faculdade na área relativa à produção animal – mais especificamente, na disciplina de cunicultura 32. A área de produção animal associa os animais como um produto; esse conceito é conflitante e resulta em um grande paradoxo em relação à área de medicina que visa o tratamento, os cuidados e a cura dos animais 33. Os profissionais de medicina veterinária comumente ganham experiência em coelhos quando optam por estagiar ou trabalhar em clínicas de animais exóticos 34. Alguns deles acreditam que a persistente designação dos coelhos como animais exóticos constitui um grande obstáculo para que esses animais alcancem o mesmo status dos cães e gatos 35. Apesar de ser fácil adquiri-los como animais de companhia, eles sofrem com a crise de superpopulação e abandono 26,36. Os tutores de coelhos normalmente têm dificuldade de encontrar veterinários que ofereçam a mesma qualidade de atendimento e serviços que estão disponíveis para cães e gatos 37. Por isso, seria importante incluí-los no currículo básico das faculdades de medicina veterinária e assim aumentar as chances de serem tratados de modo similar aos cães e gatos 35,38. A ideia de criar uma área dedicada à medicina de coelhos é recente, e é possível encontrar livros direcionados exclusivamente ao tratamento veterinário dessa espécie 39-42. A médica-veterinária Frances Harcourt-Brown, autora do livro Textbook of Rabbit Medicine (O livro de medicina de coelhos) 39, foi a primeira a ser reconhecida com o título de especialista em medicina e cirurgia de coelhos pela Royal Col70
lege of Veterinary Surgeons (Faculdade Real de Cirurgiões-veterinários) 34. A House Rabbit Society foi a promotora da primeira conferência sobre medicina de coelhos, em 1997 24. Desde então ocorreram outras conferências sobre essa especialidade 43,44. Visto que eles são os animais mais abandonados em abrigos, os tópicos referentes às áreas de medicina, cirurgia, comportamento e bem-estar de coelhos também são abordados na grande área conhecida como medicina de abrigos 36,45,46. É importante destacar que a figura de um coelho está incluída no símbolo da Association of Shelter Veterinarians (Associação de Veterinários de Abrigos – ASV – https://www.sheltervet.org/), juntamente com a de um cão e um gato, indicando que os coelhos merecem os mesmos cuidados que esses animais. Considerações finais Os coelhos são animais amigáveis, sociáveis e podem ser companheiros fantásticos para a família multiespécie. São animais complexos, assim como outros. É importante que o médico-veterinário conheça a origem dos coelhos domésticos e a herança comportamental associada aos seus ancestrais selvagens. Além disso, é fundamental estabelecer uma área da medicina veterinária dedicada aos coelhos domésticos, que ofereça uma assistência especializada a esses animais. Agradecimentos Agradeço a Carine Diaz, pela revisão deste artigo, e ao médico-veterinário Renato Silvano Pulz, pela revisão técnica. Referências
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AUTODESTRUIÇÃO: A PRÓXIMA PANDEMIA JÁ ESTÁ PROGRAMADA, E A CULPA É NOSSA. Estudos científicos apontam que, em razão do crescimento populacional e do consumismo desenfreado, nossa espécie em futuro próximo encontrará grandes dificuldades de adaptação e sobrevivência. Se não modificarmos o curso desse processo, teremos não só outras pandemias como escassez de água e alimento, além de prejudicarmos a vida no planeta como um todo. Nós, médicos-veterinários, como profissionais da saúde, temos o dever de atuar na prevenção de uma nova pandemia, realizando as práticas veterinárias sob hábi a ótica da Saúde Única, adotando hábitos sustentáveis no cotidiano e divulgando essas ações aos nossos clientes. Desse modo, estaremos contribuindo para minimizar o impacto causado pelas ações humanas sobre o meio ambiente.
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Lançamentos
Royal Canin® amplia linha dermatológica com alimento que auxilia o controle de peso
A Royal Canin®, líder em nutrição e saúde para gatos e cães, investe constantemente em pesquisas para identificar as diferentes necessidades dos pets e lançar alimentos que contribuam para a sua qualidade de vida, saúde e bem-estar. Com base nesse compromisso, a marca acaba de trazer ao Brasil o alimento Hypoallergenic Moderate Calorie Canine, que chega para auxiliar no tratamento da hipersensibilidade alimentar em cães e ainda ajudar no controle de peso. Hypoallergenic Moderate Calorie Canine complementa a linha de Nutrição Veterinária da Royal Canin®, que já conta com o alimento Hypoallergenic Canine como a principal solução nutricional para cães com hipersensibilidade alimentar. A nova versão, exclusivamente formulada para cães que apresentam necessidades específicas, assim como o Hypoallergenic Canine, tem como destaque a proteína hidrolisada de baixo peso molecular, colaborando na redução do potencial alergênico da dieta. Além da formulação específica para auxiliar no suporte à barreira protetora da pele, este lançamento se diferencia pelo teor calórico e de fósforo moderado, ajudando na manutenção do peso ideal em cães com sensibilidades alimentares e tendência ao ganho de peso, assim como no suporte à função renal a longo prazo. “O sistema imunológico dos animais funciona como uma barreira de proteção, inclusive para possíveis agressores externos. Em 74
Divulgação
Inovação chega para atender às necessidades de cães com tendência ao sobrepeso e que apresentam sensibilidades alimentares!
Hypoallergenic Moderate Calorie Canine, novo alimento da linha de Nutrição Veterinária Hypoallergenic da Royal Canin®
relação às alergias alimentares, ele pode reagir de forma diferente às proteínas presentes em determinadas dietas, o que pode desencadear desconfortos como coceiras, vermelhidão na pele e, em alguns casos, até alterações nas fezes e vômitos”, explica Larissa Lima, médica-veterinária e coordenadora de Comunicação Científica da Royal Canin® Brasil. Dentre os casos de alergias cutâneas relatadas em cães, cerca de 20% são relacionadas a reações adversas aos alimentos.
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Por isso, podemos dizer que as sensibilidades alimentares não são raras nos animais de estimação e estão se tornando cada vez mais frequentes na rotina do médico-veterinário. O alimento Hypoallergenic Moderate Calorie Canine é indicado para cães adultos com tendência ao sobrepeso e que também foram diagnosticados com reação adversa a diversos alimentos, apresentando alterações dermatológicas e/ou gastrintestinais. Além disso, devido a sua composição com proteína hidrolisada de baixo peso molecular e ingredientes de fácil digestão, casos específicos de doença inflamatória intestinal também podem se beneficiar do alimento. O diagnóstico de hipersensibilidade alimentar é desafiador, sendo o teste alimentar o padrão-ouro, embora não forneça informações sobre o mecanismo imunológico relacionado às alergias alimentares; mesmo assim, é bastante utilizado na rotina clínica. Todos os alimentos da Linha de Nutrição Veterinária Hypoallergenic da Royal Canin ®, incluindo o novo Hypoallergenic Moderate Calorie Canine, podem ser indicados pelo médico-veterinário após o diagnóstico de hipersensibilidades alimentares. A dieta de
eliminação deve ser seguida por três a oito semanas pelo menos; caso os sinais de sensibilidade ou intolerância alimentar desapareçam, poderá ser utilizada durante toda a vida do animal. “O objetivo da dieta de eliminação é fornecer alimentos aos quais o animal não tenha sido exposto antes. A ideia é limitar estritamente as fontes de proteínas e carboidratos na dieta por um período específico, alimentando o pet com ingredientes que nunca foram introduzidos anteriormente e de baixo potencial alergênico, como a proteína hidrolisada”, explica Larissa. Durante a dieta restritiva, é imprescindível suspender qualquer outro tipo de alimento que eventualmente seja fornecido como adicional pelo tutor, como petiscos ou sobras de alimentos humanos. O manejo alimentar deve ser conduzido com rigor, e todas as pessoas que convivem com o animal devem estar cientes de sua importância. O Hypoallergenic Moderate Calorie Canine já está disponível para compra em todo o Brasil. Royal Canin http://www.royalcanin.com/br
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Ensino
Nutrição básica de cães e gatos é tema de curso online oferecido pela PremieRpet® Destinado a estudantes de medicina veterinária e médicos-veterinários, o curso é gratuito e está com inscrições abertas!
Desde 2011, a avaliação nutricional é considerada um dos cinco parâmetros vitais no exame clínico de pequenos animais, de acordo com a Associação Mundial de Medicina Veterinária de Pequenos Animais (World Small Animal Veterinary Association/WSAVA). Isso significa que uma das responsabilidades do médico-veterinário na atuação clínica é avaliar a alimentação dos pets como um dos fatores comprovadamente mais relevantes para a saúde e o bem-estar deles. Para fomentar e compartilhar conhecimentos a respeito do tema, a PremieRpet®, por meio da Universidade PremieRpet®, apresenta a Escola de Nutrição, um curso online e gratuito destinado a estudantes universitários do 3º ao 5º ano de medicina veterinária e médicos-veterinários que buscam aprimorar seus conhecimentos. O curso, que estreia em 1º de maio, contará com renomados professores de nutrição de pequenos animais do Brasil. A plataforma de ensino faz parte de uma série de investimentos permanentes da PremieRpet® que impulsionam o aprimoramento do segmento. “O caminho para o desenvolvimento da medicina veterinária e para a inovação em nutrição de cães e gatos em nosso país passa por fomentar a formação e a especialização dos profissionais da área. Por isso temos várias frentes de atuação junto às universidades, aos hospitais e às clínicas veterinárias, sempre promovendo e disseminando os mais modernos conhecimentos em nutrição pet”, afirma a diretora de Planejamento Estratégico 78
e Marketing Corporativo da PremieRpet®, Madalena Spinazzola. Sobre o curso A Escola de Nutrição terá início com o módulo sobre nutrição básica de cães e gatos, composto por 10 videoaulas que abordam temas como fisiologia geral, necessidades nutricionais nas diferentes fases da vida, leitura de rótulos e os principais nutrientes envolvidos na nutrição de cães e gatos. As aulas serão ministradas pelo prof. dr. Marcio A. Brunetto, coordenador do Centro de Pesquisas em Nutrologia de Cães e Gatos da FMVZ/USP (Cepen Pet); prof. dr. Thiago Vendramini, do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP; prof. dr. Aulus Carciofi, coordena-
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dor do Laboratório de Pesquisa em Nutrição e Doenças Nutricionais de Cães e Gatos da FCAV/Unesp; prof. dra. Ananda Felix, da Universidade Federal do Paraná (UFPR); e prof. dr. Luciano Trevizan, coordenador do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na plataforma, o aluno seguirá uma trilha de conhecimento em que cada aula será liberada mediante a finalização da anterior. Ao término de cada aula, o aluno fará uma prova e, se obtiver nota média maior ou igual a 7 ao concluir as 10 provas, receberá um certificado de conclusão. As inscrições estão abertas, e as vagas são
limitadas. A primeira turma terá início em 1º de maio, e o aluno poderá concluir o curso em até 60 dias. Para 2021, estão previstas ainda mais três turmas até dezembro. Serviço: Universidade PremieRpet® – Escola de Nutrição Curso online gratuito: Nutrição Básica de Cães e Gatos Data de início da primeira turma: 1º de maio de 2021 Inscrições e informações: https://escoladenutricao.premierpet.com.br/pre-cadastro/
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Prêmio
PremieRpet® anuncia vencedores do 7º Prêmio de Pesquisa
A iniciativa contempla os melhores trabalhos sobre nutrição de cães e gatos elaborados por profissionais e estudantes de medicina veterinária e zootecnia A PremieRpet® acredita que o investimento na geração de conhecimento científico é um dos fatores fundamentais para impulsionar a evolução na área de nutrição de cães e gatos no Brasil. Por isso, a empresa reconhece e destaca o trabalho de pesquisadores através do seu Prêmio de Pesquisa, que está na sétima edição e acaba de registrar seus ganhadores. O Prêmio de Pesquisa faz parte de uma série de ações e investimentos permanentes da PremieRpet® que envolvem parcerias com universidades, financiamento de pesquisas, realização de eventos científicos, investimentos no Centro de Desenvolvimento Nutricional (CDN), dentro do parque fabril da PremieRpet®, e no Centro de Pesquisas na FMVZ/USP de Pirassununga (Cepen Pet), que consolida a maior parceria público-privada do segmento. Foco no conhecimento Segundo a diretora de Planejamento Estratégico e Marketing Corporativo da PremieRpet®, Madalena Spinazzola, os fortes investimentos da empresa para fomentar a produção científica e promover o vínculo entre as áreas acadêmica e clínica e a indústria vêm gerando resultados efetivos nos cuidados com a nutrição, o manejo alimentar e a inovação em produtos com conceitos nutricionais diferenciados. “O prêmio é uma iniciativa que reconhece e destaca excelentes trabalhos. Além disso, temos a oportunidade de promover o estreitamento do contato entre profissionais que são referências da medicina veterinária e jovens 80
em especialização, que estão trilhando um caminho de aprendizado científico e conduzirão um legado de conhecimento e profissionalismo na área”, afirma Madalena. “A nutrição vem assumindo cada vez mais a importância que todos nós sabemos que ela tem, a fim de promover a saúde e o bem-estar dos animais”, destaca. O prof. dr. Marcio Antonio Brunetto, responsável pela disciplina de Nutrição de Cães e Gatos na FMVZ/USP e coordenador do Centro de Pesquisa em Nutrologia de Cães e Gatos (Cepen Pet), foi o orientador do primeiro colocado desta edição e de parte dos ganhadores das edições anteriores. Ele destaca a importância desse investimento contínuo realizado pela PremieRpet®. “É uma iniciativa que fomenta o desenvolvimento dos pesquisadores, mobilizando alunos e acadêmicos rumo à geração de conhecimento”, aponta. Vencedores do 7º Prêmio de Pesquisa PremieRpet® 1º lugar – Prof. dr. Fábio Alves Teixeira Orientador: Prof. dr. Marcio A. Brunetto Trabalho: “Comparação entre dois teores de proteína dietética no manejo nutricional de cães com desvio portossistêmico” Prêmio: Participação no Acvim Forum 2021 ou em outro congresso internacional à escolha (inclusos: inscrição para o congresso, passagem aérea de
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ida e volta em classe turística, hospedagem em hotel à escolha da PremieRpet®, deslocamento e alimentação). “Agradeço à PremieRpet® por continuar desenvolvendo o Prêmio de Pesquisa, que neste ano eu tive a felicidade de ganhar em primeiro lugar. É um grande incentivo para continuarmos fazendo pesquisas na área de nutrição de cães e gatos e na medicina veterinária. Nessa pesquisa, observamos que a recomendação clínica habitual de que os cães com doenças no fígado deveriam comer alimentos com quantidades baixas de proteína não necessariamente precisa ser aplicada a todos os pacientes. Isso é importante para o desenvolvimento futuro dessa e de outras doenças, auxiliando o paciente no manejo nutricional e melhorando sua qualidade de vida.” 2º lugar – MV Renan Medico da Silva Orientador: Prof. dr. Fábio Alves Teixeira Trabalho: “Aplicação dos probióticos brasileiros nas doenças gastrintestinais caninas” Prêmio: Participação no 41º Congresso Brasileiro da Anclivepa (inclusos: inscrição para o congresso, passagem aérea de ida e volta em classe turística, hospedagem em hotel à escolha da PremieRpet®, deslocamento e alimentação). “Estou muito honrado com a segunda colocação e quero agradecer à PremieRpet® por mais um ano de incentivo à pesquisa. No nosso trabalho, buscamos comparar diferentes cepas de bactérias e concentrações dos probióticos brasileiros com as de outros países em casos de doenças gastrintestinais caninas, e concluímos que nenhum probiótico brasileiro foi capaz de atingir as doses mínimas utilizadas em pesquisas com resultados satisfatórios. Possivelmente, no futuro, com a popularização das técnicas de metagenômica, poderemos individualizar os protocolos e obter resultados mais satisfatórios.”
3º lugar – MV Paloma Santos Santana Orientadora: Profa. dra. Bruna Agy Loureiro Trabalho: “Avaliação das concentrações de cálcio e fósforo em alimentos comerciais coadjuvantes e suplementos mineral-vitamínicos para cães e gatos com doença renal crônica” Prêmio: Dois kindles e dois e-books Applied Veterinary Clinical Nutrition (Andrea J. Fascetti & Sean J. Delaney). “Esse reconhecimento representa um retorno de tanto estudo e dedicação na área, além de ter sido muito gratificante representar a Bahia e todo o Nordeste. Premiações como essa são importantes para o desenvolvimento técnico e científico do Brasil, com potencial repercussão em nível internacional. Esse trabalho pode ajudar no controle de qualidade de empresas de alimentos para cães e gatos, além de servir de embasamento para aumentar o rigor na legislação da alimentação pet no Brasil.” O 7º Prêmio de Pesquisa PremieRpet® recebeu 39 trabalhos originados em 25 universidades e 37 cidades de todo o Brasil. Todos os trabalhos inscritos foram avaliados por uma comissão julgadora formada por profissionais do Centro de Desenvolvimento Nutricional da PremieRpet® (CDN), além de duas especialistas convidadas: dra. Cecília Villaverde Haro, membro da European College of Veterinary and Comparative Nutrition, e dra. Luciana Domingues de Oliveira, consultora na área de pesquisa e desenvolvimento de pet food com mais de 17 anos de experiência em nutrologia clínica de cães e gatos. A metodologia utilizada garante o anonimato dos candidatos em todas as etapas da avaliação. A oitava edição do prêmio já está confirmada para 2022. https://www.premierpet.com.br/ universitarios/premios-de-pesquisa/
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Ecologia
Economia circular, você já ouviu falar?
Há tempos existem informações que buscam “salvar o mundo”. Compreendemos como os canudos e as sacolas plásticas poluem os rios e o oceano (assim como os descartáveis plásticos de uso único); aprendemos o que devemos comer (e como comer) e a respeito dos princípios da agricultura regenerativa para evitar o uso de pesticidas 1; compreendemos que as redes fantasmas ficam no oceano, causando a pesca não intencional (e colaborando com a extinção de várias espécies); etc. Trata-se de uma grande diversidade de fontes poluidoras e, infelizmente, apenas com saídas paliativas não resolveremos esse problema de tão graves consequências, que são os resíduos! Desde a grande Revolução Industrial e a globalização vivida por nós (ou pelo menos por alguns de nós) no último século, colaboramos com uma “economia linear” que se estende até os dias de hoje 2, muito bem retratada no documentário de Annie Leonard The Story of Stuff (A história das coisas), de 2007, segundo o qual utilizamos o modelo linear da retirada da matéria-prima do meio ambiente, que passa por processo de fabricação e consumo, gerando poluentes e resíduos que são descartados no ambiente, em função de um consumo global desenfreado. Essa economia linear não só potencializa as ameaças ao meio ambiente como também aumenta a desigualdade social. Diversos pesquisadores e organizações têm buscado encontrar soluções para essa problemática. Uma mudança significativa aconteceu em 1987 quando o conceito de “desenvolvimento sustentável” foi criado na Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da 82
Ilustração do modelo de economia linear desenvolvida por www.ideiacircular.com 6,8
Organização das Nações Unidas (ONU) 3. Seguindo essa linha, em 1989, surgiu o conceito de “economia circular”, citado em um artigo dos economistas e ambientalistas britânicos David W. Pearce e R. Kerry Turner. Na época, eles mostraram que a economia linear não levava em conta a reciclagem, transformando o mundo em um simples reservatório de resíduos, ou seja, num grande depósito de lixo 4. A partir da declaração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) pela ONU em 2015, líderes mundiais se comprometeram a buscar o desenvolvimento sustentável, enfrentando os desafios específicos de seus país. Quanto ao Objetivo 12 – assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis – foram estabelecidas metas para implementar Programas sobre Produção e Consumo Sustentáveis. Esses programas visam, entre outras coisas, reduzir a geração de resíduos por meio de medidas de prevenção, reciclagem e reuso, e de apoio aos países para o desenvolvimento e o fortalecimento de suas capacidades científicas e tecnológicas, que os possibilitem mudar para padrões mais sustentáveis de produção e consumo 5.Ficou clara a urgência de mudar a forma de uso e exploração dos recursos naturais, sem deixar
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Ilustração do modelo de economia circular desenvolvida por www.ideiacircular.com 6,8
ninguém para trás, além de transformar desafios socioambientais em oportunidades de negócio 1. Portanto, a economia circular, em um conceito oposto ao da economia linear na qual vivemos, inspira-se na eficiência da natureza para fechar o ciclo, modificando produtos desde o design até o uso pelo consumidor final, com atenção a todas as etapas, desde a matéria-prima até a reutilização do resíduo. Desse modo, o resíduo deixa de ser descartado e passa a integrar uma nova cadeia de ações ao longo de todo o processo, permitindo que a poluição até então gerada seja reduzida ou eliminada. Assim, a economia linear que emergiu das revoluções industriais anteriores, baseadas em extrair, produzir e descartar, está sendo substituída pela economia circular 2, que cresceu no mundo inteiro nos últimos anos, oferecendo um novo enfoque para a presença e produção humana no planeta 6. Nesse sentido, todos nós tendemos a ganhar, e não apenas o meio ambiente. As empresas, por exemplo, podem reduzir falhas e perdas no ciclo produtivo; a sucata gerada no processo de fabricação é reciclada internamente; desenvolvem-se objetos biodegradáveis; reduz-se a demanda de água ou implementam-se ciclos fechados de água 7;
há o sequestro ou a redução da emissão de carbono para atmosfera; oferecem-se alternativas circulares às embalagens plásticas de uso único; identificam-se oportunidades de recuperação de materiais a partir de produtos em fim de vida útil; implantam-se sistemas de logística reversa; etc. Além disso, nesse sistema, é feita uma verificação da matéria-prima para ver se atende aos princípios Cradle to Cradle®, ou seja, “do berço ao berço” – título de um livro-manifesto publicado em 2002 pelo arquiteto americano William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart, e que se tornou uma das obras mais influentes do pensamento ecológico mundial 1,6,8. A economia circular, além de gerar significativas reduções nos custos e de criar benefícios ambientais, como a diminuição das emissões dos gases do efeito estufa (dentre outras), permite também uma redução de custos para os consumidores, que deixam de pagar taxas de descarte em aterros sanitários e podem passar a usar peças recuperadas e menos custosas, em vez de peças novas. Não podemos mais manter nosso crescimento econômico à custa da extração insustentável de recursos finitos, da contaminação generalizada por resíduos inutilizados e potencialmente tóxicos, tanto para os seres humanos quanto para os sistemas naturais. Temos que trabalhar por uma indústria saudável e regenerativa, na qual o valor seja mantido em circulação de forma intencional por vários ciclos e cadeias produtivas 6. Porém, para permitir que ocorra um crescimento econômico sustentável que viabilize a restauração de ecossistemas é necessário que se proponham e se divulguem soluções viáveis para a economia, para que a sociedade possa conhecer as medidas relativas a essa restauração e pressionar pela criação de políticas públicas, bem como estimular as empresas a criarem um sistema de trabalho mais alinhado com os interesses da sociedade, fomentando a inovação na oferta de produtos aos consumidores 1.
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Ecologia Nesse sentido, criou-se a campanha: Economia Circular, Você Já Ouviu Falar?. Ela atingirá o público do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, República Dominicana, Guatemala e México, por meio de ações em redes sociais (Facebook e Instagram) durante a Semana Mundial do Meio Ambiente (de 5 a 9 de junho) por uma rede de organizações e instituições voltadas para ações de conservação – Instituto Mar, Aquário de São Paulo, revista Clínica Veterinária, Drogavet , Mar de Idéias, Aiuká, Associação R3 Animal, Unidad Conservación - Parque Safari Chile, Projeto Amar,
Aguará Popé Educación y Gestión Ambiental, Ocean Eyes, Octomares, Cram-Furg, Escola Canto Vivo, Altamar, Projeto Menos Plástico é Mais - Cefet/RJ, Projeto Baleia Jubarte, Geaqua-USP, Geaqua-Unip, Tinctus, Cedmar-USP, Cedepem, InPact, Instituto Tamanduá, Projeto Tudo Junto e Misturado - Cefet/RJ, Zoológico de Guadalajara, Projeto Bichos do Pantanal, Projeto Cavalos Marinhos RJ, Projeto Meros do Brasil, Zoológico Nacional Zoodom, Africam Safari, Fundación Zoobotánica y Zoológica de Barranquilla, Reprocon, A Liga Animal, Bioparque Santos Javier, Arca do Noah, Projeto
Organização
Apoio
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Bióicos, Fauna em Foco, Projeto Mantas do Brasil, Fundación Jaime Duque, Cenoteando, Getoca-USP, Liga das Mulheres pelo Oceanos, Zoojóias, Gebim - UFSC, La Aurora Zoo, Laelia - UFSC, Fundação Parque Zoológico de São Paulo, Instituto Biopesca, Projeto Albatroz, Fundación Mundo Marino, Ideia circular, Apaza, Unemat, Instituto Sustentar, Centro de Conservación Marina - AGHN, Buin Marino, Save Brasil, InPact, Laboratório de Mamíferos Aquáticos da UFSC e Escola Mario Quintana. Para documentar as ações da semana serão utilizadas as hashtags: #ResíduosSãoRecursos, #ResíduosSonRecursos, #EconomiaCircularEmRede, #EconomíaCircularEnRed, #EconomiaCircular, #OceanDecade, #DécadaOceánica, #OceanLiteracy, #EconomíaCircular, #LiteraturaOceánica. O destino da crescente quantidade de lixo urbano é um problema a ser pensado pela administração pública e pela sociedade como um todo. Quando se trata de resíduos de serviços de saúde, o tema se torna ainda mais complexo pelo seu maior grau de periculosidade, seja para o ser humano, para os animais ou para o meio ambiente 9. O Brasil vive um momento de sérios problemas de saúde pública, além dos relevantes problemas relativos à questão ambiental. Então convidamos as clínicas e os hospitais veterinários, bem como toda a cadeia da indústria de produtos para animais de companhia, a participar ativamente da economia circular, apoiando, propondo e implementando iniciativas para a reciclagem dos resíduos e dando preferência a parceiros envolvidos em uma logística reversa dos seus produtos. Referências
1-CE100 BRASIL. Uma economia circular no Brasil: apêndice de estudos de caso. São Paulo: 2º Workshop de Aceleração da rede CE100 Brasil, 2017, 15p. 2-WEETMAN, C. Economia circular: conceitos e estratégias para fazer negócios de forma mais inteligente, sustentável e lucrativa. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 1 ed.
São Paulo: Autêntica Business, 2019. 3-UN GENERAL ASSEMBLY. Report of the world commission on environment and development: our common future. Oslo, Norway: United Nations General Assembly, Development and International Co-operation: Environment, 1987. 4-PEARCE, D. W. ; TURNER, R. K. Economics of natural resources and the environment. New York, NY Harvester Wheatsheaf 1998. 5-UN GENERAL ASSEMBLY. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. 70th session. United Nations General Assembly A/RES/70/1, 2015, 35p. 6-IDEIA CIRCULAR. 28 estudos de caso: design e inovação para a economia circular no Brasil e no mundo. São Paulo: 2021. Disponível em: <https://www.ideiacircular.com/estudos-de-caso-economia-circular/>. Acesso em: 22 de abril de 2021. 7-NET-WORKS. Why be inclusive?. Disponível em: <https://net-works.com/about-net-works/ inclusive-business>. Acesso em: 22 de abril de 2021. 8-IDEIA CIRCULAR. O que é upcycle ou superciclagem e por que seu uso é defendido pela economia circular?. 2018. Disponível em: <https://www.ideiacircular.com/o-que-e-upcycle-ou-superciclagem-e-por-que-seu-uso-e-defendido-pela-economia-circular/>. Acesso em: 20 de abril de 2021. 9-SOUSA, I. R. O. Análise da aplicação da logística reversa de resíduos no Serviço de Saúde: um estudo de caso em um hospital público de grande porte do Distrito Federal. Monografia (Graduação - Administração), Universidade de Brasília, 2018. Laura Ippolito bióloga, especialista em Conservação e Manejo de Vertebrados Marinhos. Instituto Mar laura.ippolito@institutomar.org.br Helen Colbachini bióloga, mestre em Zoologia. Aquário de São Paulo helen@aquariodesaopaulo.com.br
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Ambiente hospitalar veterinário
Recepção – como acolher bem o animal e o tutor
Figura 1 – Recepção de um centro de diagnóstico veterinário. Notam-se a logomarca em destaque com iluminação própria, balcão com duas alturas (setas amarelas) para atendimento ao cliente (cadeirante ou em pé) e direcionamento pelo corredor (seta vermelha) para esperas segregadas ao fundo (ver figura 2) 86
se deve esquecer a diferenciação não óbvia, a segregação de espécies animais, por exemplo. Dessa maneira, ter uma sala de espera para tutores com cães e outra para tutores com gatos cada vez mais faz sentido em muitas cidades, dado o crescimento vertiginoso da população felina doméstica. Obviamente, isso deve ser avaliado pelo empreendedor, que verificará se seu negócio pode dispor ou não de um espaço exclusivo para os gatos (Figuras 1 e 2). Uma estratégia interessante de uso do espaço destinado à recepção é separá-lo em três áreas: recepção para cadastro inicial e caixa isolado (sempre que possível) (Figura 3), espera de cães e espera de gatos (dependendo da localidade). Em um estabelecimento misto, ou seja, em um consultório veterinário/estética/ loja, convém separar a espera de estética (Figuras 4 e 5A) da espera veterinária (Figuras 5B e 6), em razão de se atender à recomendação de biossegurança que prega a diminuição do contato entre animais potencialmente sadios e animais potencialmente doentes. Renato Couto Moraes
Renato Couto Moraes
O tutor entrou no seu estabelecimento! Isso significa que uma série de estratégias de negócios, desde nome comercial (ou fantasia), fachada, contato por meio de mídias sociais, indicação por outro cliente ou médico-veterinário, foram postas em prática. E agora? Daqui em diante, o cliente inicia uma nova experiência de relacionamento com o especialista em saúde de seu animal. Alguns aspectos são primordiais, comuns a todos os negócios de atendimento ao público, entre os quais podemos citar: uma recepcionista atenciosa e com amplo domínio das informações sobre os serviços prestados; oferecimento de água; ambiente climatizado (sobretudo em dias mais quentes ou mais frios); sanitário limpo, etc. Pela recepção, o cliente começará a ter a percepção da qualidade do estabelecimento veterinário que escolheu para o atendimento à saúde do seu animal. Assim, tudo precisa ser coerente com a diferenciação escolhida. Quando se fala de diferenciação, pensa-se prontamente no perfil do público-alvo, mas não
Figura 2 – Espera de cães de um centro de diagnóstico veterinário. Notam-se o maior distanciamento entre os assentos para permitir a acomodação de cães no piso (seta azul) e, ao fundo, a espera de gatos (setas vermelhas) segregada com parede e porta de vidro
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Alguns cuidados particulares devem ser adotados na espera de gatos. São eles: a) proteção acústica tanto do meio externo (estacionamento, passeio público) como interno (espera de cães, banho & tosa); b) ventilação constante para evitar maus cheiros de outros animais, podendo-se ou não usar odorizadores de ambiente não irritantes; c) luminosidade
controlada preferencialmente com temperatura de cor quente; e, por fim: d) móvel para apoiar a caixa de transporte de modo a não ficar no chão ou no colo do tutor enquanto espera o atendimento (Figuras 7 e 8). Dependendo do imóvel, oferecer uma recepção externa, ao ar livre, é um atrativo. Mas recomenda-se que esteja segregada da área externa por meio de visores, cobogós, cercas e outros elementos construtivos, de modo a pro-
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Figura 3 – Recepção geral de um centro de diagnóstico veterinário. A logomarca está em destaque atrás do móvel de atendimento. Notar o isolamento do caixa no mesmo móvel (seta vermelha), para maior privacidade do cliente, e o posicionamento estratégico da balança (seta azul) para pesagem dos cães
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Figura 4 – Recepção geral comercial de um estabelecimento misto (consultório veterinário, estética e loja). Notam-se o caixa ao fundo (seta azul) e uma área delimitada com sofá (contorno amarelo) para acolhimento do cliente, com oferecimento de água e bebidas no frigobar (seta rosa)
Figura 5 – Áreas de espera de um estabelecimento misto. A) A recepção para o setor de estética apresenta duas poltronas voltadas para os visores do setor de banho (seta verde) e do setor de secagem e tosa (seta laranja); o consultório tem um visor com persiana retrátil (seta rosa) voltado para a loja, de modo a possibilitar que o médico-veterinário visualize a loja enquanto executa tarefas administrativas. B) Área de espera do consultório; o ambiente não está isolado do restante do estabelecimento, mas há proximidade entre o consultório veterinário (setas rosa e amarela) e o setor de estética; água e café disponíveis (seta vermelha); balança para pesagem dos animais (seta roxa); uma comunicação visual identifica o consultório veterinário, que pode ser visualizado por clientes que estejam fora do estabelecimento pela vitrine (seta azul)
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Ambiente hospitalar veterinário
Figura 6 – Espera para atendimento veterinário de um estabelecimento misto. Nota-se a proximidade aos consultórios, com oferecimento de água e bebidas no frigobar (seta vermelha)
mover segurança e evitar a fuga de animais. Novamente, a identidade visual deve estar presente e transmitir a “personalidade” da empresa com o direcionamento correto ao público-alvo pretendido. Por exemplo, se as cores principais da logomarca são amarelo e roxo, não se pode ter uma decoração azul e laranja predominante, que não condiz com a identidade visual. Outro exemplo: se a clínica veterinária está situada num bairro de classe média alta e se quer atender a esse público, não se pode colocar poltronas plásticas como se fossem confortáveis. A recepção é considerada em medicina veterinária como área não crítica; assim, a restrição de decoração é pequena quando comparada a uma área crítica, como uma sala de cirurgia. Uma questão importante na escolha dos acabamentos é que é preciso atender à legislação sanitária; assim, os sofás e poltronas não podem ser constituídos de tecido permeável; devem-se evitar papéis de parede comuns (limitados a algumas áreas) e enfeites demais nas faces das paredes, e também a escolha de piso de baixa porosidade, ou seja, menor que 3% (tipo B Ib). Nesse aspecto, cabe afirmar que não são permitidos pisos do tipo drenante, granilite (sem aplicação regular de resina), laminado (conhecido por alguns como carpete de ma88
Figura 7 – Recepção geral de um centro veterinário de especialidades. Notar a parte nominativa da logomarca em destaque atrás do móvel de atendimento e a parte figurativa fixada diretamente no balcão. A identidade visual é marcante, e as cores aparecem em diversos elementos decorativos. Há um móvel específico para oferecer medicamentos veterinários (seta laranja)
deira), granito, cerâmica com absorção maior que 3,0% (tipo BIIa). Mas o porcelanato não é a única opção disponível. O porcelanato polido inclusive não é recomendável em recepções, por ser escorregadio na presença de água. Algumas alternativas ao “piso frio” (porcelanato ou cerâmica) são: epóxi, vinílico em placa, vinílico em réguas, vinílico em manta e cimento queimado com resina aplicada. Deve-se observar, no caso de cerâmicas e porcelanatos, o índice de desgaste por abrasão (PEI) maior ou igual a 3, para que não haja perda do esmalte em curto prazo. É interessante que a comunicação visual seja suficientemente clara. As placas indicarão os ambientes, desde o sanitário até o consultório médico, e também os caminhos que levam a eles. Contudo, devem sempre que possível fazer parte da mesma identidade visual, ou seja, artes próprias para placas e não adesivos genéricos comprados prontos. Existem diversos tipos de placas e materiais para placas de comunicação visual, sendo os mais comuns o acrílico adesivado, o acrílico sobressalente em placa lisa, em PS adesivado e em aço inox. Atualmente, a escolha de melhor custo-benefício é o PS adesivado. A importância da comunicação visual é demonstrar de modo harmônico os ambientes
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Figura 8 – Espera de gatos de um centro veterinário de especialidades. A) Segregação do espaço com uso de visores e pintura temática com as cores da logomarca para entendimento imediato do uso do ambiente. B) Presença de balança colocada dentro da sala permite a pesagem do animal, mesa para preenchimento do cadastro de paciente e móvel para colocação da caixa de transporte
existentes em seu negócio já na recepção, além do atendimento normativo. Nesse último caso se enquadram as placas de sinalização de segurança e os avisos, tais como: saída de emergência, classe do extintor, proibido fumar, cadastro de coleta de lixo hospitalar, etc. Sugere-se apresentar a logomarca – parte figurativa, nominativa ou ambas – numa das paredes da recepção, preferencialmente atrás do móvel do atendimento inicial (Figura 7). Dessa forma, estreita-se a relação profissional com o cliente, já que ele não está em qualquer lu-
gar, e sim em um estabelecimento que tem um nome específico. A iluminação deve ser coerente com o espaço e com a decoração pretendida. Alternar pontos de iluminação focal e difusa é bem interessante. Dessa forma, pode-se ter objetos de iluminação focal direcionados à logomarca e quadros decorativos e objetos de iluminação difusa bem posicionados em toda a área da recepção. Caso exista vitrine para atividade não exclusiva ao segmento veterinário, pode ser importante usar iluminação direcionada a esse ponto. Alguns aspectos da recepção que não devem nunca ser negligenciados são: oferecimento de água ao tutor (e se possível ao animal), sanitário o mais próximo possível da recepção, balcão para recepção em diferentes alturas (cliente em pé ou sentado), espaço dedicado a balança e controle de acesso por meio de clausura (duas portas para evitar a fuga de animais). Segundo a ABNT NBR 9.050/2015, o sanitário deve atender a diferentes pessoas com agravos à saúde. Assim, aconselha-se um único sanitário familiar acessível, ou seja, atendimento a qualquer gênero e condição, e que também permita a troca de fraldas de crianças. Deve ter minimamente, além das famosas barras para cadeirantes, uma pia grande, um trocador e lixeira para descarte de fraldas. Em resumo, a recepção é uma ótima oportunidade de apresentar a qualidade do seu espaço físico desde a entrada do cliente, além de todos os serviços oferecidos por meio de comunicação visual. Uma boa recepção possibilita um atendimento de qualidade a diferentes espécies animais (notadamente cão e gato), memória afetiva do tutor, tranquilidade do animal na espera, conforto do tutor enquanto aguarda e geração de valor agregado. Renato Couto Moraes MV, CRMV-SP: 16.509, mestre, dr., engenheiro-civil especializado em arquitetura de saúde www.ambientepet.com contato@ambientepet.com
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Tecnologia da informação
Blockchain, bitcoin e computação descentralizada no contexto da medicina veterinária – parte 1 Talvez a primeira coisa que nos vem à mente quando falamos sobre blockchain seja a bitcoin, mas a tecnologia vai muito além das criptomoedas. Aplicações baseadas nessa tecnologia estão começando a aparecer no âmbito da medicina veterinária, forçando profissionais a enfrentar mais esse desafio. Mas, para entender o que é blockchain, é preciso considerar a computação como um conjunto de processos que podem ser executados por um conjunto de máquinas localizadas em um data center ou por um conjunto de máquinas espalhadas pela internet. A maioria dos sistemas de gestão de clínicas veterinárias, por exemplo, funciona online, oferecendo o que conhecemos como “aplicações hospedadas em nuvem”, ou seja, é necessário estar conectado com a internet para poder acessar as fichas dos pacientes, registrar um atendimento clínico ou extrair um relatório financeiro. Essas operações são realizadas usando um navegador como o Google Chrome, ou mesmo um software para acessar sites na internet. Nesse formato de computação, todos os dados ficam armazenados em um servidor instalado fisicamente em um data center. Os três principais fornecedores de computação em nuvem, Amazon AWS, Microsoft Azure e Google Cloud, têm centenas de data centers espalhados pelo mundo, cada um dos quais contêm milhares de computadores operando 24 horas por dia, sete dias por semana. É o que chamamos de computação centralizada. Usando um exemplo mais próximo da realidade do dia a dia do veterinário, o VetGo, sistema de gestão de clínicas veterinárias mantido pela NetVet, está hospedado no data center da Microsoft localizado em São Paulo. 92
megaflopp (Alexander Korzh) alliesinteract (Abdul Qaiyoom)
A tecnologia chamada de blockchain permite a criação de uma contrato inteligente, que pode ser entendido como um documento inviolável, assinado digitalmente, cuja autenticidade é criptografada e inquestionável
Em contraponto a esse formato centralizado de computação, que concentra enorme poder de processamento nas mãos de poucas empresas, Satoshi Nakamoto 1 desenvolveu em 2009 a blockchain, uma tecnologia baseada em computação descentralizada. O termo “blockchain” vem do inglês e significa “cadeia de blocos”. De uma forma mais abstrata, a cadeia de blocos é um protocolo de confiança formado por um conjunto de informações interligadas, de modo que o bloco seguinte precisa estar ligado intrinsecamente ao bloco anterior para continuar a construção da cadeia. Nesse novo formato, o processamento não é realizado em um servidor, mas em vários computadores espalhados pela internet. Essa tecnologia se popularizou em razão da sua implementação em um sistema mundial de transações financeiras realizadas por meio da criptomoeda digital bitcoin, idealizada por Nakamoto. A cada transação financeira envolvendo uma fração da bitcoin, uma chave criptografada é gerada, tornando a transação segura. Esse código passa
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por uma série de servidores que o validam, tornando-o inviolável, imutável e resiliente, condição que viabiliza uma transação financeira segura, rápida e sem intermediários 2. Em diversos países vêm surgindo iniciativas de utilização desse tipo de tecnologia na área da medicina humana, indicando um caminho totalmente novo para a tecnologia da informação também na medicina veterinária. As mais promissoras aplicações dessa tecnologia estão ligadas à gestão de dados sensíveis coletados na relação entre veterinário e paciente, como o prontuário clínico. Entretanto, diversas iniciativas nas áreas de capacitação profissional e identificação animal também mostram potencial para serem adotadas em larga escala muito em breve. Prontuário clínico descentralizado Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Universidade de Ontário (Ontario Institute of Technology – OIT) publicaram em abril de 2019 uma revisão detalhada sobre pesquisas em andamento relacionadas ao uso da blockchain na área da saúde 3. Nessa revisão, os autores selecionaram 65 trabalhos, publicados entre 2016 e 2018 em 23 países, a maioria em periódicos da China (17) e dos Estados Unidos (15). O estudo mostra que a blockchain tem sido muito usada na área da saúde, incluindo gerenciamento de registros médicos eletrônicos de medicamentos e da cadeia de fornecimento farmacêutico, pesquisa e educação biomédica, monitoramento remoto de pacientes, análise de dados de saúde e medicina legal, entre outros. É importante salientar que essas aplicações baseadas na blockchain ainda estão em estágio inicial, e mesmo os protótipos já desenvolvidos são apenas para fins experimentais, com funcionalidades muito básicas. Entre as vantagens que estariam relacionadas à adoção dessa tecnologia, os pesquisadores destacam a descentralização, a alta disponibilidade, a robustez e a segurança do sistema. Um aspecto polêmico abordado no
estudo é a questão da privacidade dos dados. Na maioria dos trabalhos analisados, os autores caracterizam o ecossistema e o papel dos usuários (pacientes, médicos, laboratórios, universidades e empresas) em diferentes cenários, avaliam quem deveria estar no controle dos dados e definem as regras de acesso às informações armazenadas. Os desafios apresentam particularidades regionais. A Regulamentação Geral de Proteção de Dados (General Data Protection Regulation – GDPR) da União Europeia, por exemplo, estipula que o usuário tem o direito de solicitar a exclusão completa e permanente de todos os dados, e isso não é possível em sistemas baseados na blockchain. Embora seja possível que o usuário assuma o controle dos dados por meio de senha pessoal e intransferível, as informações nunca serão excluídas, justamente por não estarem gravadas em um computador central, mas espalhadas em computadores conectados à internet. Tudo indica que iniciativas como essas serão comuns na área de medicina veterinária em um futuro próximo, levando empresas desenvolvedoras de sistemas de gestão de clínicas e hospitais a uma mudança profunda na maneira de lidar com os dados do prontuário clínico. Na próxima edição continuaremos a análise. Referências
1-Bitcoin: A peer-to-peer electronic cash system. https://bitcoin.org/bitcoin.pdf 2-Blockchain e a perspectiva tecnológica para a administração pública: uma revisão sistemática. https://doi.org/10.1590/ 1982-7849rac2020190171 3-Blockchain technology in healthcare: a systematic review. https://dx.doi.org/10.3390%2Fhealthcare7020056 Marcelo Sader Consultor em TI para o mercado veterinário NetVet Tecnologia para Veterinários www.netvet.com.br marcelo@netvet.com.br
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Gestão
Em muitas situações da vida, especialmente em tempos tensos como os atuais, a depressão, a tristeza e o sofrimento ficam à espreita e podem se instalar em nós quando encontram uma brecha. Por serem inevitáveis, resta-nos decidir o que fazer com eles, isto é, como encará-los a fim de poder superá-los. Essa é uma das maiores e mais antigas batalhas da humanidade. Como lidar com o sofrimento? Como eliminar o sentimento negativo que as adversidades da vida deixam em nós? Antes de tudo, é preciso desprender-se desses sentimentos negativos, lutar contra os sentimentos de culpa e evitar sentir-se vítima do destino, dos outros ou das circunstâncias da vida. Para sair desse labirinto, precisamos enxergar as coisas por um prisma mais amplo e mais elevado. Aqueles que adotam uma postura mais espiritualizada podem encarar a depressão, a tristeza e o sofrimento como um processo de “limpeza de carma”. Muitos têm fé que ao final desse processo de limpeza serão agraciados com um destino melhor. Por isso, diante das adversidades, agradecem a oportunidade de realizar essa “limpeza”. Para pessoas com essa compreensão espiritual, a morte e outras circunstâncias adversas não são meros infortúnios, e o que essas situações nos pedem é uma escolha: ficar atolado no sofrimento ou, por paradoxal que pareça, encará-lo como um caminho para a felicidade, que permitirá, com esforço, compreender o propósito da vida. De acordo com essa maneira de encarar a vida, a tristeza e o infortúnio são oportunidades para que o ser humano manifeste sua capacidade intelectual ou sua sabedoria em nível mais elevado. Porque, ao deparar com problemas ou 94
Markus Schmidt-Karaca
Carma e darma
Nossas escolhas nos conduzem ao carma ou ao darma, a ficar apegados a sentimentos e paixões negativos ou então a praticar as qualidades mais nobres, gerindo melhor a vida pessoal, os negócios e os contatos com clientes, fornecedores, colegas e funcionários
incidentes complexos, somos capazes de compreender que se trata de situações que nos dão a oportunidade de aprimorar nosso espírito, nossa ética, nossos padrões. Nessa visão, fazer a limpeza de carma é muito necessário – e é algo com que deparamos muitas vezes na vida. Teríamos o melhor dos mundos se ninguém mais gerasse carma, de modo consciente ou inconsciente. Ao contrário, se todos gerássemos apenas darma (isto é, carma positivo), seguiríamos juntos pela vida como seres puros, radiantes, corretos e retos. Nosso mundo oscila entre a dura realidade e uma visão utópica, mas podemos sempre escolher libertar-nos das paixões mundanas e procurar o aprimoramento – o nosso e o do mundo à nossa volta. As grandes e milenares tradições espiritualistas da história sempre ensinaram que o caminho para a cessação do sofrimento pas-
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sa pelo desapego das paixões mundanas, que provêm dos nossos seis sentidos (visão, audição, olfato, tato, paladar e mente). São essas paixões que nos levam a ser “filhos da matéria”, “filhos do dinheiro” e “obcecados pelo dinheiro”. Já o oposto disso, isto é, gerar darma, é praticar as qualidades positivas voltadas à benevolência, em contraponto a mostrar-nos impiedosos; é nutrir grande compaixão por aqueles que, em suas trevas, tiram a vida de outros seres; é viver de modo a buscar o contentamento quando nos vemos ciumentos, o desapego quando somos apegados, a caridade quando somos avarentos, a humildade quando somos arrogantes, a paciência quando somos coléricos, a perseverança quando somos indolentes, a serenidade quando a mente nos inquieta, a sabedoria quando somos ignorantes. É compreender o valor das ações virtuosas em comparação com as maléficas. É procurar despertar a constância quando somos inconstantes e a determinação quando nos desencorajamos. É buscar libertar-nos das imperfeições quando as possuímos em excesso e eliminar as ilusões quando somos dominados por elas. Portanto, gerar darma significa principalmente entender o valor dos sentimentos nobres – amor
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altruísta, gratidão, sorriso, humildade, sinceridade, verdade, honestidade, perdão, harmonia, perseverança, determinação, bondade e beleza, entre outros. Trata-se de escolher um caminho de vida e compreender que apenas o esforço dirigido a todo momento nesse sentido pode trazer luz e sabedoria e colocar a nossa vida e a dos demais no caminho da felicidade e da superação do sofrimento. É manter o tempo todo a atenção e a intenção, para que a luz dos bons sentimentos elimine a negatividade e abra os nossos caminhos. Colocar em prática essa sabedoria nos ajuda a gerir melhor nossos negócios, a nos relacionar melhor com nossos clientes e fornecedores, colegas e funcionários, e a transformar todas as esferas das nossas relações, fazendo com que nossos empreendimentos tenham qualidades muito mais próximas do sucesso, por estarem alinhados com um sentido mais positivo.
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Congresso Internacional de Medicina e Saúde Integrativa – Área Humana e Veterinária https://www.cimsi.com.br
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