G uarรก
ISSN 1413-571X
Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006 - R$ 12,00
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Journal of continuing education for small animal veterinarians
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A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart Vale Verde Parque Ecológico mamiferosecia@uol.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com
Instruções aos autores
Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/Mbrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em disquete de 3.5" ou CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).
Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br
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Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br
Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa FMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão UMESP, FESB e FAJ mouraogb@hotmail.com Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamesvet@bsione.com.br Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UAM, Ass. Mata Ciliar jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP; ALBA Alangarve@aol.com Jose Fernando Ibañez UniFMU, UNIBAN fe_ibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br
Luiz Henrique Machado PUC/Poços de Caldas lhamachado@yahoo.com.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi@rla01.pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMVZ/USP crishage@usp.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br
Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br
Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br
Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com
Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com
Fernando C. Maiorino Lab&Vet Diag. e Consult. Vet. fcmaiorino@uol.com.br
Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com
Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br
Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br
Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br
Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br
Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cássia Garcia FMVZ/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves FCAV/UNESP/Jaboticabal rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza Faculdade Barão de Mauá rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes CENA/USP/Piracicaba sadyzola@usp.com Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco Santos FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Depto. Meio Ambiente Foz Iguaçu cubas@foznet.com.br
Índice
Simone Tostes de Oliveira
Anestesiologia - 34
Anestesia de cães e gatos com distúrbios neurológicos - artigo de revisão
Anesthesia of dogs and cats with neurological disturbances - review article Anestesia en perros y gatos con problemas neurológicos - revisión
Cardiologia - 48
Cardiomiopatia do boxer: revisão de literatura
Boxer cardiomyopathy: a review Cardiomiopatía del bóxer: revisión de la literatura
Clínica médica - 60
Hipersensibilidade alimentar em cães e gatos
Cão boxer de dez anos de idade, macho, com histórico de tosse e apresentando caquexia e ascite Fábio Luiz da Cunha Brito
Food hypersensitivity in dogs and cats Hipersensibilidad alimentaria en perros y gatos João Pedro de Andrade-Neto
Oftalmologia - 68
Manifestações oculares na leishmaniose visceral canina - revisão
Ocular manifestations in the canine visceral leishmaniasis - review Influenza en perros y gatos
Clínica médica - 76
Encefalite do cão pug: primeiro diagnóstico no Brasil
Pug dog encephalitis: first diagnosis in Brazil Encefalitis necrotizante del perro Pug: primer diagnóstico en Brasil
Clínica médica - 80
Área de necrose em cerebelo. (* área de vacuolização). HE, escala em barra: 250mm
Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi
Aspectos clínico-patológicos das efusões corporais: revisão de literatura
Priscyla Taboada Dias da Silva
Clinical-pathological aspects of body effusions: a review Aspectos clínico-patológicos de las efusiones corporales: revisión de la literatura
Oncologia - 89
Osteossarcoma extra-esquelético no tecido subcutâneo de um cão: relato de caso
Extraskeletal osteosarcoma in the subcutaneous tissue in a dog: case report Osteosarcoma extraesquelético en tejido subcutáneo de un perro: relato de caso
Células mesenquimais neoplásicas delineando trabéculas ósseas mineralizadas - osteossarcoma osteoblástico produtivo (HE 400X)
Seções
Livros - 92
Editorial - 6 Reportagem - 8
Jaulas Vazias, de Tom Regan
A medicina felina brasileira hoje e há 10 anos
Bem-estar animal - 96
Notícias - 10 • Conferência Sul-Americana de Med. Vet. • Animais silvestres • Pesquisa • Pet food • Indústria farmacêutica • Serviços • Paz para todos os seres
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Saúde pública - 28 Anclivepa-MG realizou detabe sobre a leishmaniose visceral canina
28
WSPA lançou Declaração Universal de Bem-Estar Animal
Lançamentos - 100 Negócios e oportunidades - 103
Ofertas de produtos e equipamentos
Serviços e especialidades - 104 Prestadores de serviços para clínicos veterinários
Agenda - 112 Faça saber ao seu governo que os animais são importantes para você - www.animalsmatter.org
Calendário de eventos nacionais e internacionais
Gestão, marketing e estratégia - 98 Ajustando a sua rotina
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
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Editorial C
omerorar o dia 9 de setembro, para os que amam a profissão, sempre é um motivo de satisfação, apesar das dificuldades que possam estar presentes no dia-a-dia. Porém, este ano, as conquistas da classe estão muito mais em evidência do que as dificuldades. A eleição direta no Conselho Federal de Medicina Veterinária, CFMV, é uma delas. Após anos do empenho de alguns colegas que pleiteavam o direito do voto direto nas eleições do CFMV, isto está próximo de ocorrer, sendo essencial que todos os colegas preparem-se para esse momento histórico. Os clínicos veterinários de pequenos animais também tiveram uma conquista bastante significativa: o reconhecimento, pelo Ministério da Saúde, de que em alguns casos, o tratamento de cães soropositivos para a leishmaniose visceral canina é justificável. O Ministério da Saúde ainda não reconhece o tratamento de cães com leishmaniose visceral canina como medida de controle da zoonose, mas somente o fato de estar perto de aceitá-lo, desde que feito sobre condições estabelecidas, já é motivo de reconhecimento na evolução, não somente das novas condutas que o Ministério da Saúde está propondo para a enfermidade, mas também no profissionalismo e na capacitação dos clínicos veterinários de pequenos animais. Falando em evolução não poderia ser deixado de citar alguns conceitos que ainda estão evoluindo na medicina veterinária: a eutanásia humanitária e a posse responsável. O significado da palavra eutanásia é morte sem sofrimento, sem dor. Eutanásia humanitária é uma redundância e o surgimento do termo é devido ao fato de que em alguns locais onde se praticava o sacrifício de animais, prática na qual observa-se o sofrimento e a dor, diziam ou pensavam estar fazendo eutanásia, o que na realidade nunca foi feito. O termo eutanásia humanitária é desnecessário. O que realmente precisa ser feito é não ser permitido o simples sacrifício e substituí-lo, quando não houver outra opção, pela eutanásia verdadeira e ética, ou seja, sem sofrimento e dor.
A posse responsável é um conceito muito importante e que já foi muito trabalhado. Porém, ele precisa ser revisto. Um ente querido não deve ser tratado como objeto e é isto o que a palavra “posse” faz. Luciano Rocha Santana (promotor de justiça do meio ambiente da Comarca de Salvador, BA e doutorando em direitos humanos pela Universidade de Salamanca, Espanha) e Thiago Pires Oliveira (acadêmico de direito da Universidade Federal da Bahia, UFBA, pesquisador em direito ambiental da Cururupeba Organização SócioAmbientalista e da Associação dos Moradores da Costa da Ilha dos Frades) abordam esta questão no artigo Guarda responsável e dignidade dos animais, publicado na edição n. 1, de jan/dez 2006, da Revista Brasileira de Direito Animal. No artigo, o conceito científico de guarda responsável é bem claro: “É a condição na qual o guardião de um animal de companhia aceita e se compromote a assumir uma série de deveres centrados no atendimento das necessidades físicas, psicológicas e ambientais de seu animal, assim como prevenir os riscos (potencial de agressão, transmissão de doenças ou danos a terceiros) que seu animal possa causar à comunidade ou ao ambiente, como interpretado pela legislação vigente”.
Guarda responsável, um novo conceito em prol da dignidade dos animais perante a justiça
Esses temas, que merecem reflexão, são tratados com mais detalhes em algumas matérias nesta edição que abrange no seu período de circulação, além do dia do médico veterinário, o dia mundial de proteção dos animais, dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis. Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 6
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Esse é nosso presente aos Médicos Veterinários... “Sempre tive muito orgulho da Vetnil, pois é uma empresa 100% nacional, e que mais do que ajudar aos veterinários com excelente produtos, nas várias áreas de atuação, mantém parcerias com nossas entidades de classe, com muito peso, entre elas a Anclivepa-SP e SPMV. Nos últimos anos soube ainda que vêm conquistando mercados externos, exportando. Isso ajuda ainda mais a levar o nome da medicina veterinária brasileira à alcançar o nível que todos desejamos.”
*A Vetnil foi eleita entre as 100 melhores Empresas para se trabalhar no Brasil.
"Tão importante quanto oferecer proteção à saúde dos animais é ter segurança nos medicamentos utilizados. Receitar produtos seguros é ter confiança em quem os fabrica. A VETNIL É SINÔNIMO DE PROBIDADE." Zohair Saliem Sayegh Presidente da SPMV
M.V. Marco Antonio Gioso Presidente da Anclivepa-SP e ABOV “Vetnil é um empreendimento que deu certo e hoje é sucesso. Isso se deve principalmente porque seus idealizadores valorizam o médico veterinário. Quanto à seus produtos, estes vieram aumentar as opções no exercício profissional e, espero que esta política se mantenha para que a cada ano tenhamos novos fármacos e assim venha sempre facilitar cada vez mais o nosso dia a dia na atenção aos nossos pacientes.” M.V. César Olímpio de Oliveira Neto Presidente da Anclivepa - BA “Quando o assunto é Vetnil, posso dizer que é um laboratório brasileiro com um controle de qualidade digno de primeiro mundo. Fico feliz em saber que os cães e gatos estão sendo tratados por esta empresa, com um carinho diferenciado e a preocupação constante no que diz respeito a qualidade de vida dos nossos amigos pets. Antes somente os eqüinos e bovinos tinham esse privilégio, graças à sabedoria da equipe Vetnil, temos hoje, um leque enorme de nutracêuticos e ergogênicos para acelerar a cura ou prevenir doenças infecciosas ou não.”
“Antes de comprar um produto, eu sempre analiso três itens: qualidade, assistência e custo. E observando essa tríade, vejo que ela se encaixa perfeitamente na VETNIL. Essa é a empresa que mais valoriza o Médico Veterinário em todo o Brasil, contratando e capacitando mais e mais colegas, realizando eventos técnicos em todo o território Nacional, apoiando as entidades de classe (ANCLIVEPA) e seus eventos.” M.V. André Sandes Moura Presidente da ANCLIVEPA-AL “A Vetnil inova não só em produtos de altíssima qualidade, mas também na forma com a qual se relaciona com sua equipe e com a classe de Médicos Veterinários. Em constante pesquisa sobre as necessidades do mercado, de forma séria e responsável atende às mesmas com uma ousadia invejável. Quisera termos em nosso Brasil muitas empresas com o compromisso VETNIL de qualidade e relacionamento.” M.V. Jorge Pereira Oftalmologista e Proprietário da Clínica Veterinária Animal Teresópolis - RJ
M.V. Vilma F. de Lima - Médica Veterinária UFG
...ser uma empresa feita por eles e para eles! 09 de Setembro - Dia do Médico Veterinário Parabéns à todos os Veterinários do Brasil! *Eleito o melhor laboratório Veterinário do Brasil.
Reportagem
A medicina felina brasileira hoje e há 10 anos
U
m hospital veterinário somente para gatos! Talvez este seja um dos grandes desejos de criadores e proprietários de gatos! Por enquanto, o que o consumidor pode encontrar são algumas clínicas veterinárias com atendimento exclusivo para gatos. Isso, graças ao trabalho de especialistas no assunto, que há decadas empenham-se no ensino, no estudo e na dedicação exclusiva aos felinos.
Medicina felina
No Brasil, a profa. dra. Heloisa Justen Moreira de Souza é um dos grandes nomes da medicina de felinos. Durante muitos anos empenhou-se para poder atuar com capacitação técnica adequada à medicina e cirurgia felina. Além da sua atuação como profissional, destaca-se sua condição de educadora, na qual foi pioneira. Desde 1996 que coordena o atendimento exclusivo de gatos na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), instituição que, além do atendimento, oferece, no curso de pós-graduação, a disciplina de clínica e cirurgia dos gatos domésticos, elaborada pela própria profa. Heloisa Justen. Atualmente, na UFRRJ, há duas salas de atendimento para gatos, 17 estagiários no setor e 5 teses defendidas sobre gatos. Desde 2001, que a profa. Heloisa Justen aceita estagiários vindos de todo Brasil através de convênios com renomadas universidades, como: Botucatu, Jaboticabal, Santa Maria, Lages, UFMG, UNB, dentre outras, em função da carência de disciplina e atendimento de gatos e pelo aumento de estagiários solicitando estágio supervisionado em felinos. A publicação do livro Medicina e cirurgia felina, em 2003, de autoria da profa. Heloisa Justen foi providencial, face à carência da literatura específica na língua portuguesa.
Dra. Heloisa Justen durante lançamento do livro Clínica
Outro passo importante, afirmou a profa. Heloisa Justen, é a necessidade de se criar uma disciplina de felinos para os alunos de graduação. “Na minha aula na pós-graduação, a turma tem apenas 10 alunos, mas a sala fica repleta com os alunos da graduação que buscam o conhecimento da espécie”, explica a professora.
por Arthur Barretto
muitas transfusões sanguíneas devido ao grande número de gatos infectados pelo vírus do FeLv e FIV, doença renal, dentre outras. Tenho 10 gatos, testados, negativos, vacinados, bem alimentados e vivendo com conforto. Assim, eles não ficam enfermos e já salvaram a vida de muitos outros com prontidão”, explica a dra. Heloisa Justen.
Clínicas exclusivas para gatos
Foi em 1997 que a dra. Heloisa Justen, juntamente com seu marido, inaugurou, no Rio de Janeiro, a primeira clínica veterinária exclusiva para gatos, a Gatos e Gatos Vet. Ltda. Ao contrário do que muitos pensavam, a clínica estabeleu-se e continua prestando um serviço diferenciado de alta qualidade. Outras clínicas que também oferecem Diversos produtos para esse serviço diferenciado e exclusivo para gatos e seus donos no cat shop da Sr. Gato gatos são: a clínica Veterinária Mania de Gato, em Curitiba, PR; a Clínica do Gato Quem procura por em Porto Alegre, RS; a clínica Vida de serviços especializaGato, em Blumenau, SC; a Gatomania, dos também gosta de em Vila Velha, ES, Clínica Sr. Gato em encontrar produtos diSão Paulo, SP. ferenciados. Na clínica Um dos motivos do crescimento do Sr. Gato, por exemplo, número de clínicas exclusivas para gatos é há um “cat shop”, que oferece uma linha o fato de os próprios consumidores esde produtos exclusivos para gatos, entre tarem procurando por este tipo de serviço. eles brinquedos, produtos de beleza e “O público que chega a nós está preocuhigiene, rações, acessórios diferenciados, pado com um ambiente que proporcione como coleiras especiais, bolsas para transtranquilidade para o seu gato, de forma a porte, arranhadores desenhados com evitar situações de estresse”, explica exclusividade, fontes utilizadas como Luciana Deschamps, da clínica Sr. Gato. bebedouros, camas confortáveis com teciA Gatos e Gatos Vet. Ltda., em quase do antialérgico, colchonetes - sempre com 10 anos de atividade nunca teve um gato motivos felinos. Além disso, fugindo. A clínica são oferecidos produtos é toda telada e os temáticos para os propriegatos somente são tários, incluindo: brincos, trocados de recinanéis, relógios, pulseiras, tos dentro de caichaveiros, quadros, utenxas de transporte. sílios em louça e cerâmica Outra particulari(cinzeiros, porta-vela, portadade da clínica é a retratos, saboneteiras, portapresença de uma incenso e objetos decorativos área de lazer para em geral). “Nosso cat shop gatos residentes atrai uma clientela fiel, coque são, durante nhecedora da nossa preocudeterminado pepação com o bem-estar e ríodo de sua vida, conforto felino”, enfatiza doadores de sanLuciana Deschamps, da Sr. gue. “Numa clínica Área de lazer de gatos doadores na Gato. clínica Gatos e Gatos Vet. de gatos fazemos Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Atualização e especialização em medicina felina
Estudantes de medicina veterinária e médicos veterinários têm procurado aprofundar seus conhecimentos no assunto. Somente este ano, vários eventos destacaram a grade de felinos em suas programações. Em abril desse ano, o dr. Gary Norsworthy, autor do livro “O paciente felino”, esteve em São Paulo, SP, ministrando palestras no Congresso Internacional de Medicina Felina, que ocorreu paralelamente à Pet Fair.
Fernanda Amorim, Maria Cristina Nobre, Heloisa Justen e Christine Martins, todas especialistas em felinos, marcando presença no Congresso Internacional de Medicina Felina
Em agosto, durante a Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária, que ocorreu no Rio de Janeiro, RJ, a medicina felina também teve destaque com a realização do Fórum Internacional de Medicina Felina, que além de ter contado com profissionais brasileiros de renome, teve a participação dos seguintes palestrantes internacionais: dra. Terry Marie Curtis, da Universidade da Flórida, dr. Hermann Bourgeois (DVM - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Royal Canin - França) e José Lalia (Universidade de Buenos Aires) A dra. Terry Marie Curtis, que veio ao Brasil patrocinada pela “The North American Veterinary Conference”, além
Terry M. Curtis, especialista em comportamento de gatos
de ministrar palestra sobre comportamento felino na Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária, reuniu-se com orientados da profa. dra. Norma V. Labarthe, da Universidade Federal Fluminense (UFF), além de outros alunos da UFF e da Faculdade de Veterinária da Universidade Castelo Branco, realizando apresentação sobre suas pesquisas com comportamento de gatos. Depois da exposição teórica, todos foram visitar o abrigo para gatos da SOS Animal e presenciar momentos de intensa interação da dra. Terry M. Curtis, com seus amigos gatos. O abrigo da SOS Animal - Felinos foi construído em área total de 15.000 m2 na Zona Oeste do Rio de Janeiro, sendo 8.000 m2 de área livre, totalmente adaptada para garantir segurança e qualidade de vida aos gatos.
de 21 a 24 de outubro sua conferência de outono que tem como tema a geriatria e o controle da dor. Para os que estão interessados em dedicar mais tempo ao aprendizado da medicina felina, a regional do Estado de São Paulo, da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-SP - www.anclivepa-sp. org.br), iniciou este ano, a segunda turma do curso de especialização em medicina felina. Com uma duração de 500h, ele é análogo ao curso de pósgraduação lato sensu. Como cada turma suporta apenas 40 vagas, os interessados em participar devem ficar atentos à formação da próxima turma. Há tambem o curso Clínica Médica dos Felinos Domésticos, com carga horária de 180h, promovido pelo Qualittas (www.qualittas.com.br), Instituto de Pós-Graduação em Medicina Veterinária.
Especialistas
Adoção de gatos. Participe: www.sosanimal.org.br
Mais cursos sobre felinos estão programados para ocorrer. Em outubro, em Gramado, RS, Anclivepa-RS estará realizando seu congresso regional, o qual os felinos tem lugar garantido na programação. Para o ano que vem, em janeiro de 2007, está programado curso de medicina felina Participe do curso de felinos a bordo do no navio Island Scape navio Island Scape, com o prof. Archivaldo Reche Junior, especialista de renome e grande difusor da medicina felina no Brasil. Outro programado para 2007 sobre medicina felina é o 1º Congresso Paulista de Felinos, que ocorrerá em abril, no Guarujá, SP. Para quem tem oportunidade de viajar para o exterior, a American Association of Feline Practitioners (AAFP www.aafponline.org) está promovendo,
Apesar de muitos estudantes e profissionais estarem buscando formação em medicina felina, poucos tiveram coragem de segmentar sua prestação de serviço somente à esta espécie. Na América do Norte, a American Association of Feline Practitioners, através do seu site, facilita o encontro de profissionais especialistas na espécie através de um sistema de busca on line. A especialização é um ótimo caminho para oferecer uma prestação de serviço diferenciada e de qualidade. Porém, no Brasil a medicina felina ainda
No site da American Association of Feline Practitioners há sistema de busca de especialistas pelo nome e pela cidade
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Reportagem
Especialista em prática felina, uma das especialidades certificada pela American Board of Veterinary Practitioners - www.abvp.com
não é considerada uma especialidade pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Nos Estados Unidos da América (EUA), por outro lado, isto não ocorre. A American Board of Veterinary Practitioners, por exemplo, certifica médicos veterinários como especialistas em medicina felina, entre outras especialidades.
Comportamento
No site do hospital veterinário de pequenos animais da Universidade da Flórida, vários serviços são oferecidos, inclusive, o atendimento em comportamento animal. Ao buscar mais informações na página que detalha o serviço, encontra-se texto da dra. Terry M. Curtis, explicando como o serviço pode ser útil, citando situações nas quais o serviço especializado em comportamento animal pode atuar beneficamente.
Página na internet sobre o serviço de comportamento animal oferecido na Universidade da Flórida, EUA - www.ufvmc.com
No Brasil, a atividade de ensino mais próxima a isso é o Simpósio de Comportamento e Bem-Estar Animal da UFRRJ, que este ano, além de estar em sua segunda edição, terá paralelamente, o Iº Encontro da AMVEBBEA, 10
Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal. Com relação às pesquisas na área de comportamento, destaca-se Flavya Mendes-deAlmeida, que defendeu tese propondo o controle populacional de colônias de gatos através de técnicas cirúrgicas associadas ao estudo do comportamento dos animais. “A facilidade com que gatos urbanos se organizam em colônias propiciando o crescimento exponencial das populações desafia todos os métodos de controle populacionais conhecidos. O Jardim Zoológico da cidade do Rio de Janeiro (Fundação RIOZOO) convive há mais de uma década com uma colônia de gatos livres que resistiu a várias tentativas de controle, todas mal sucedidas. Por isso mesmo, decidiu-se estudar a colônia urbana de gatos domésticos (Felis catus Linnaeus, 1758) livres, habitante da RIOZOO, pesquisando sua estrutura e composição e acompanhando, durante 36 meses, o impacto da histerectomia como forma de controle populacional. Para a estimativa do tamanho populacional total a cada ano, no período de 2001 a 2004, utilizou-se o método de captura, marcação e recaptura no qual se capturava o maior número possível de indivíduos, independentemente de sexo ou idade. Após os procedimentos de identificação e anestesia, as fêmeas acima de seis meses de idade foram submetidas à histerectomia. No período do estudo capturou-se o total de 96 gatos, sendo 80 adultos e 16 filhotes. Em 2001, 25 gatas foram submetidas à histerectomia, em 2002, 12, em 2003 não se realizou histerectomia em nenhum animal e em 2004, sete gatas foram submetidas à histerectomia. A estimativa populacional anual de gatos livres na RIOZOO mostrou que a população daquele local estabilizou-se entre os anos de 2001 e 2004, com forte tendência ao decréscimo. A não remoção de indivíduos somada à conservação das gônadas de todos os animais preservou o comportamento sócio-natural dos gatos da colônia. Portanto, após dois anos consecutivos de intervenções com histerectomia de gatas adultas, intervenções programadas e realizadas a cada dois anos constituem medida adequada para controle da população urbana de gatos livres da RIOZOO”, explica Flavya
Mendes-de-Almeida, que além ter tido esse tema como objeto de sua tese, recentemente publicou artigo sobre o assunto no v. 4, n. 2, 2006, do periódico eletrônico The International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine (www.jarvm.com).
No periódico eletrônico The International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine os artigos estão disponíveis gratuitamente para consulta - www.jarvm.com
Entender o comportamento dos animais, que vivem ou não em grupos, é muito importante tanto para qualquer medida profilática ou terapêutica, quanto para a opção da seleção de um animal para convívio familiar. É indispensável que qualquer pessoa, antes de optar pela companhia de um felino, que conheça as particularidades da espécie. O Clube Bahiano de Criadores de Gato (CBCG), preocupados com isso, possuem em seu site a seção “escolhendo o gato”, com artigo esclarecedor, que logo no início destaca a frase: "não há decisão mais importante que a decisão de adotar e assumir a responsabilidade por outra vida. Esta decisão traz a obrigação de nutrir essa vida, de lhe dar amor e de cuidar dela (Roger Caras, ASPCA)."
Site do Clube Bahiano de Criadores de Gatos: www.petsbahia.com/cbcg/index.htm
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O Rio de Janeiro é bom de negócio Eduardo Batista Borges, presidente do CRMVRJ, discursa durante a cerimônia de abetura da VI Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária
por Arthur Barretto
O livro “Vamos às compras”, recomendada tanto para quem quer comprar, quanto para quem quer vender, foi sorteado na palestra sobre comunicação realizada por Gilberto Maia, da Merial, no Encontro Nacional de Varejo Pet
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e 3 a 6 de agosto, durante a VI Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária e a Rio Vet Trade Show, os participantes puderam conhecer diversos produtos e serviços ligados à medicina veterinária e ao mercado pet, enriquecidos de excelentes palestras dos mais variados temas. Ao final da tarde do dia 3 realizou-se a cerimônia de abertura, a qual transcorreu com discursos que, em sua grande maioria, destacaram a importância e o apoio que deve ser dado ao evento. O evento, ano após ano, tem contado com a participação de público fiel. Sabendo disso, grandes empresas também não tem deixado de prestigiá-lo. No final da cerimônia realizou-se o sorteio de um automóvel, o qual contemplou um jovem de Porto Alegre, Rafael Monteggia, proporcionando, como sempre, muita emoção, alegria e um ótimo investimento para o congressista contemplado. O Simpósio de Varejo Pet foi um dos eventos que cresceu nesses anos de realizações da Conferência Sul-Americana. Nesta edição de 2006 o evento
Gilberto Maia, da Merial, mostrou, com exemplos básicos e simples, que fazer comunicação é fundamental para atrair o bom cliente, ou seja, aquele que está interessado em bons serviços e que está disposto a pagar por isso
A Brasmed esteve presente e levou uma grande novidade: uma linha ortopédica de alta qualidade. Confira no site www.brasmed.com.br
Med Vet livros, presente no evento com boas ofertas
Nicolau Serra Freire ao lado de sua obra lançada A Center Book, estava com grande pro- pela L.F. Livros: Entomologia e Acarologia na medicimoção exclusiva no livro “5 minutos”. Confira, ela ainda pode estar valendo.... na veterinária
Muita emoção para o jovem Rafael Monteggia. Acabava de ganhar um carro! Fila para garantir bom lugar nas palestras do Encontro Nacional de Varejo Pet. Poucos eventos conseguem isso! Ano que vem tem mais....
Uma das novidades da Med-Sinal no evento foi a esteira para cães
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Além de coordenar o Encontro Nacional de Varejo Pet, Sergio Lobato esteve autografando seu livro sobre Responsabilidade Técnica, lançado pela L.F. Livros
Stand da The North American Veterinary Conference. Oferecer educação continuada aos veterinários brasileiros foi um dos objetivos da presença no evento
amadureceu e contou com o prestígio de grande público. Proprietários de lojas e uma parcela significativa de médicos veterinários formaram a platéia que assistiram diversas palestras relacionadas à área de gestão, marketing e estratégia. Na área da clínica de pequenos animais foram apresentados temas de extrema utilidade, como por exemplo, “Como diagnosticar o prurido?”, apresentado pelo prof. Ronaldo Lucas, dentre outros. Atenta à grande procura pela medicina de felinos, a organização do evento preparou o Fórum Internacional de Medicina de Felinos. O comportamento animal foi tema que seguiu presente na conferência e contou com apresentações de temas atuais e importantes. Outro destaque foi o seminário de células-tronco que contou com a presença de importantes especilistas no setor.
A equipe Vetnil divulgou, durante o evento, a sua recente fusão com o laboratório Vencofarma e apresentou a sua futura linha de biológicos
Fort Rio, distribuidora no Estado do Rio de Janeiro da Fort Dodge, da Labyes, da Hill’s, da König, da Bravet e da Fito Guard é uma empresa que cresce a cada dia, ultrapassando as expectativas do mercado, graças à tecnologia e qualificação dos profissionais que atuam na empresa
José Lalia e Hermann
Terry M. Curtis Bourgeois abordaram a diabetes felina. Acima,
Palestrantes do curso de animais selvagens. O programa contou com temas variados e com profissionais atuantes, que transmitiram importantes conhecimentos do setor, abordando a clínica, o manejo, a conservação e o desenvolvimento sustentável
ambos estão acompanhados de Yves Miceli (DMV -diretor técnico - Royal Canil do Brasil)
O Fórum internacional de Medicina de Felinos foi um dos eventos que atraiu grande parte dos congressistas. Em sua programação, diversos temas foram abordados, como genética, oftalmologia, comportamento, nutrição, dermatologia, cirurgia e analgesia. Heloisa Justen, Regina Ramadinha, Stéllio Pacca Luna, João Guilherme Padilha foram alguns dos palestrantes brasileiros. Os palestrantes estrangeiros foram Terry M. Curtis, da Universidade da Flórida, trazida ao Brasil pela TheNorth American Veterinary Conference, Hermann Bourgeois (DMV - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Royal Canin França)e José Lalia, da Universidade de Buenos Aires, ambos trazidos para o evento pela Royal Canin
João Telhado (UFRRJ) e Mariângela Souza (RJ) foram alguns dos palestrantes do curso de comportamento e bem-estar animal. Telhado já tem um público garantido em suas palestras em função da excelente didática e aplicações práticas dos conceitos transmitidos. Souza, por sua vez, descreveu importante levantamento internacional de abrigos de cães que está sendo feito, apresentando dados do Brasil. Interessados nos temas comportamento e bem-estar animal não devem per der, em novembro, no Rio de Janeiro, o II Simcobea
Bastante atuante no Estado do Rio de Janeiro, a Schering-Plough foi uma empresa muito procurada pelo visitantes da Rio Vet Trade Show, que, durante os dias do evento, puderam manter contato próximo com a empresa
Stand de Pedigree e Whiskas. Quase todos passaram por lá....
Os melhores trabalhos apresentados na VI Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária foram publicados em CD-Rom, na Revista Série Ciências da Vida, v. 26, suplemento, 2006, da UFRRJ. Em pequenos animais, o melhor trabalho selecionado pela comissão foi “Uso de esternotomo de Tonassi para a realização de esternotomia mediana em cães”, de SOUZA, D. B.; SANTOS, C. L.; MARIANO, C. M. A; OLIVEIRA, L. L.; OLIVEIRA, A. L. A.; ABÍLIO, E. J. Na área de animais selvagens o melhor trabalho foi “Caracterização imuno-histoquímica do colágeno tipo I no estômago de sagüis (Callithrix sp, Callitrichidae - Primates), de MELLO, M. F. V.; FONSECA, E. C.; PISSINATTI, A.; FERREIRA, A. M. R.
Eduardo Tudury (UFRPE), Stélio Pacca Luna (Unesp/Botucatu) e Antonio Paulino Wouk (PR) foram alguns dos especialistas palestrantes no evento. À direita, Luiz Augusto de Carvalho (Perna), presidente da Anclivepa-RJ
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Atendimento médico veterinário de animais silvestres Na edição n. 59, de novembro/dezembro de 2005, da revista Clínica Veterinária foi publicada uma notícia sobre Atendimento de animais silvestres em clínicas veterinárias. Nessa matéria foi abordado o receio dos médicos veterinários em atender casos de animais silvestres; o direito e o dever em prestar atendimento médico veterinário aos animais silvestres; e as condutas a serem tomadas durante esse o atendimento, tendo sido citada a Nota Técnica n. 02/04 - CGFAU/LIC, de 7 de outubro de 2004, emitida pelo Ibama. O atendimento, de urgência ou emergência, por médico veterinário, de animais silvestres mantidos em criadouros – obtidos em discordância com a legislação vigente – não se caracteriza como crime ambiental ou infração administrativa previstos na Lei n. 9.605/98 e Decreto n. 3.179/99. Sendo atribuição do Conselho Federal de Medicina Veterinária, CFMV, deliberar sobre as questões oriundas do exercício das atividades afins às de médico veterinário, o documento foi encaminhado ao órgão com algumas sugestões. Depois de pouco mais de um ano houve o pronunciamento do CFMV: publicou-se no Diário Oficial da União, n. 128, de 06-06-2006, Seção 1, a reso-
RESOLUÇÃO Nº 829 DE 25 DE ABRIL DE 2006
•Disciplina atendimento médico veterinário a animais silvestres/selvagens e dá outras providências
. O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA – CFMV, no uso da atribuição que lhe confere a alínea “f” do art. 16 da Lei nº 5.517/68, e considerando a necessidade de disciplinar, uniformizar e normatizar em todo território nacional os procedimentos de atendimento clínico-cirúrgico por parte dos médicos veterinários a animais silvestres/selvagens em estabelecimentos médicos veterinários, criadouros e mantenedouros da fauna silvestre; considerando a garantia dos princípios do livre exercício da profissão; do sigilo profissional; da necessária e obrigatória assistência técnica e sanitária aos animais silvestres/selvagens independentemente da sua posse, origem e espécie; da segurança e privacidade no trabalho clínicocirúrgico e dever funcional da defesa da fauna, especialmente o controle da exploração das espécies animais silvestres/ selvagens, bem como dos seus produtos, RESOLVE: Art. 1º Os animais silvestres/selvagens devem receber assistência médica veterinária independentemente de sua origem. Art. 2º Quando do atendimento a ani-
mais silvestres/selvagens os médicos veterinários deverão: I – elaborar prontuário contendo informações indispensáveis à identificação do animal e de seu detentor; II – informar ao detentor a necessidade de legalização dos animais e a proibição de manutenção em cativeiro dos animais constantes da lista Oficial Brasileira da Fauna Silvestre Ameaçada de Extinção ou dos anexos I e II da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção, quando este, não possuir autorização do órgão competente. Art. 3º O médico veterinário deve encaminhar comunicado a Superintendência do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e ao órgão executor da Defesa Sanitária Animal no Estado, quando do atendimento de doenças de notificação obrigatória. Art. 4º O estabelecido nesta Resolução não prejudica o disposto no Código de Ética do Médico Veterinário. Art. 5 º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação no DOU, revogadas as disposições em contrário.
Fonte: CFMV - www.cfmv.org.br
lução n. 829, de 25 de abril de 2006, que disciplina o atendimento médico veteriná-
rio a animais silvestres/selvagens e dá outras providências.
X Congresso e XV Encontro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - ABRAVAS www.abravas.org.br 22 a 25 de novembro Hotel Fazenda Fonte Colina Verde - São Pedro/SP
Mini-cursos: 1. Reprodução de Animais Selvagens - prof. dr. Marcelo Alcindo de Barros Vaz Guimarães (FMVZ/USP); 2. Documentação Científica: Fotografia Analógica (filme) e Numérica (digital) - prof. dr. Idércio Luiz Sinhorini (curso teórico-prático) (FMVZ/USP); 3. Importância das Doenças Emergentes na Fauna Silvestre para a Saúde Pública - prof. dr. Ulisses E. C. Confalonieri
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(FIOCRUZ); 4. Medicina de Répteis - prof. dr. Rogério Ribas Lange (UFPR); 5. Manejo Comportamental en Animales de Zoológico - M. V. Gerardo Martínez del Castillo (Departamiento de Bienestar Animal de Africam Safári México); 6. Papel do Médico Veterinário na Conservação de Xenarthro (Tamanduás, Tatus e preguiças) - dras. Flávia Miranda (FPZSP) e Mariella Superina (University
of New Orleans, Department of Biological Science).
na Amazônia - M. V. Christina Whiteman (UFRA)
Moderador: profa. dra. Tânia de Freitas Raso
Palestra Inaugural: "Literatura Infantil e Conservação da Biodiversidade" - prof. dr. Ângelo Machado (UFMG).
3. Obtención de Semen de Mamiferos Mediante Condicionamiento - dr. Gerardo Martinez Del Castillo (Departamiento de Bienestar Animal de Africam Safári México)
Debatedores: prof. dr. Ulisses E. C. Confalonieri (FIOCRUZ), dr. Adauto Luiz Veloso Nunes (Zoológico de Sorocaba) e dr. Fernando Gomes Buchala (Ministério da Agricultura)
Palestras: 1. Formas, Cores e Sexualidade Animal - prof. dr. Eduardo C. Farias (USP);
Mesa Redonda: "Gripe aviária X Saúde Pública: Riscos para a Conservação"?
2. Conservação de Carnívoros
Participantes:
Atividades Sociais: 1) Dia 22/11: Coquetel de abertura; 2) Dia 24/11: Baile a Fantasia Tema: "ABRAVAS na Selva"
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o dia 3 de julho de 2006 o site de notícias BBC Brasil divulgou interessante notícia em sua seção “Ciência e saúde”. Trata-se da divulgação de uma nova técnica desenvolvida por cientistas da University College London, na Inglaterra, que permite que membros artificiais sejam ligados diretamente ao osso humano, passando pela pele, sem que haja risco de infecção. Trata-se da prótese de amputação transcutânea intra-óssea. Apesar de ser uma tecnologia muito avançada para que já tenha aplicação na medicina veterinária, ela nasceu da observação dos animais. “A idéia de ligar tecido humano a metal veio dos chifres de veados. Os cientistas estudaram como os chifres cresciam da cabeça dos cervos, atravessando a pele, sem causar infecção”, comenta a notícia. Inicialmente, a implantação das próteses foram realizadas com sucesso em
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por Arthur Barretto
pacientes que haviam perdido dedos. Uma próxima etapa será conseguir o mesmo sucesso em pacientes que tenham perdido membros inteiros. A notícia informa ainda, que os pesquisadores envolvidos esperam que esses resultados sejam apenas um primeiro passo para o desenvolvimento de próteses biônicas controladas pelo sistema Em 29 de agosto de 2005, a BBC Brasil divulgou a notícia de nervoso central. uma elefanta tailandesa que havia perdido uma pata após pisar Na medicina veterinária em uma mina. Depois de 6 anos, ela recebeu uma prótese temtemos muitos pacientes porária. Notícias como essas podem ser enviadas gratuitapor e-mail, basta cadastrar-se no site da BBC Brasil com membros amputados. mente www. bbcbrasil.com Talvez, durante o desenvolvimento dessa tecnologia, alguns há casos muito inusitados, como um que deles possam ser beneficiados. Na espéa própria BBC Brasil divulgou ano pascie canina, a amputação de um membro sado: “Elefanta tailandesa recebe pata muitas vezes é prescrita, mas também artificial”.
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Divulgação
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Nova tecnologia liga próteses a ossos
A necessidade de um programa nutricional específico para cadelas em reprodução e seus filhotes e para cães de esporte e trabalho foram abordados no I Meeting Reprosport
por Arthur Barretto
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os dias 19 e 20 de julho a Royal Canin do Brasil rea lizou o I Meeting Reprosport. O evento aconteceu em duas cidades. No dia 19, em Campinas, SP, foram proO estresse dos cães de trabalho foi abordado feridas palespelo prof. Dominique Grandjean (UMES - França). tras por espeEsses cães, devido à intensidade dos exercícios, podem produzir excesso de radicais livres, caucialistas intersando desequilíbrio metabólico denominado esPontos importantes do manejo nutricional de finacionais. Patresse oxidativo. Por isso, nesses casos, o espelhotes foram destacados por Yves Miceli (DMV ra complecialista justificou a utilização de dieta específica, diretor técnico - Royal Canil do Brasil) provida de antioxidantes mentar os temas aborda- Bernard Pouloux, diretor dos, no dia geral da Royal Canin do Brasil, fez a abertura do I 20, a Royal Meeting Reprosport Canin levou os convidados à cidade de Descalvado, interior de São Paulo, para visitarem a fábrica e o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento. Os visitantes puAs particularidades da nutrição para sucesso no deram observar o processo produtivo, A profa. Rosa María Páramo (UNAM - México) manejo reprodutivo foram abordadas por Herman desde a chegada da matéria-prima à prendeu a atenção de todo o público ao apreBourgeois (DMV - Centro de Pesquisa e sentar com extrema didática falhas corriqueiras distribuição dos alimentos. No Centro Desenvolvimento da Royal Canin - França) que ocorrem no manejo reprodutivo, apontando de Pesquisas e Desenvolvimento, os as soluções para o sucesso visitantes conheceram o canil e o gatil, onde os “degustadores”, cães e gamucosa e determinação da fase exata tos, selecionam os melhores alimendo ciclo estral da cadela, e a avaliação tos para serem lançados no mercado. microscópica do sêmen dos padreadores O público participante era formado são fundamentais para o sucesso de um por criadores e médicos veterinários. manejo reprodutivo. Uma mesa redonda com os palestrantes finaliPorém, vale ressaltar que dentre os criaDurante o evento, a Royal Canin zou os trabalhos do dia 19. Porém, após o dores de cães presentes, alguns também apresentou dois novos programas nutriencerramento e no dia seguinte, durante a ida à Descalvado, os participantes continuaram tendo são médicos veterinários. cionais: Reprodução, adaptado para fêacesso aos especialistas A forma como foram abordadas as meas no período de reprodução e seus questões do manejo nutricional das fêfilhotes e Competition – Energy 4300, meas em reprodução e seus filhotes, das contagem de dias após o início que dá energia reatividades exercidas pelos cães de espordo estro. A realização de exaforçada para cães de te e trabalho e das questões relacionadas mes, como por exem plo, o esporte e trabalho alà infertilidade na espécie canina foram esfregaço vacançarem seu verdadeibastante proveitosas para o desenvolvigi nal, para ro potencial, preveninmento da cinofilia brasileira e da prestaiden tifi cação do a fadiga e o estresse. ção de serviços médicos veterinários das células da especializados. A profa. Rosa María Páramo, do departamento de reprodução da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade do México, durante sua apresentação mostrou, claramente, que o dia certo para fecundação de uma cadela não Acima, canil e gatil do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento. Ao lado, participantes do I Meeting Reprosport pode ser baseado em simples visitam a fábrica da Royal Canin do Brasil, em Descalvado, SP 18
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Purina Pro Plan e FMVZ/USP realizaram evento para a comunidade
Serviços para a qualidade de vida e o bem-estar do animal foram oferecidos gratuitamente à população da capital paulista
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valiação do nível de diabetes e do colesterol em cães e informações sobre câncer de mama, nutrição e infertilidade em animais são alguns dos serviços que a Purina Pro Plan, divisão de negócios da Nestlé, e a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/ USP) ofereceram à comunidade durante o Purina Pet Wellnes. O evento foi gratuito e aconteceu no dia 19 de agosto, no Hospital Veterinário da FMVZ, na cidade de São Paulo. Para participar do evento, foi necessário fazer a inscrição pessoalmente na biblioteca, secretaria ou recepção da Faculdade. “O objetivo foi oferecer aos visitantes orientações sobre saúde, bemestar animal, nutrição e cuidados com o cão”, salientou o médico veterinário Roberto Vituzzo, gerente de marketing da Purina Pro Plan. O espaço contou com dez tendas, onde os animais de estimação tiveram acesso aos exames e avaliações médicas veterinárias, banho e tosa, controle de
Fitness, massoterapia e análises laboratoriais: algumas das atividades realizadas durante o Purina Pet Wellnes
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parasitas e massagem relaxante. Além dos serviços, foram realizadas durante o evento, palestras sobre cuidados específicos em cães e gatos. Os proprietários dos animais puderam registrar seus cães junto à Prefeitura de São Paulo, por meio do cadastramento no Registro Geral Animal (RGA), além de receber informações e instruções de médicos veterinários da Purina Pro Plan e da FMVZ/ USP sobre comportamento animal, uso da focinheira em cães e gatos, dis plasia coxofemoral, nutrição, posse responsável e infertilidade. Houve também uma área dedicada ao agility, onde os visitantes assistiram apresentações de cães adestrados. Ainda no local, os participantes puderam inscrever seus animais para brincar no espaço. Para Vituzzo, o evento Purina Pet Wellnes é um exemplo concreto da preocupação da empresa com o bem-estar animal, que sempre desenvolveu produtos e ações alinhadas com o conceito de qualidade de vida dos cães e gatos. “Todas as iniciativas da Purina Pro Plan estão embasadas neste conceito e a valorização da qualidade de vida do animal é uma tendência mundial”, afirma. Ele ressalta ainda que a relação afetiva entre os donos e suas mascotes tem crescido cada vez mais. “Em fun ção desta mudança comportamental, detectamos que o Purina Pet Wellnes é uma excelente oportunidade para mostrarmos que, além de oferecer uma alimentação saudável e balanceada, estamos preocupados com a qualidade de vida dos animais”, diz. O evento também contou com o apoio das empresas Merial e Roche.
Malu Mader continua campanha da Linha Max
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presentar ao público a tecnologia, a pesquisa, a estrutura da fábrica e da estação de pesquisa, os profissionais e, principalmente, o carinho aplicado na Linha Max, carro-chefe da linha super premium da Total Alimentos, é o objetivo da segunda fase da campanha publicitária, que teve inicio em julho e se estenderá por vários meses, estrelada pela atriz Malu Mader. Serão vários teasers de 15 segundos, nos quais Malu Mader convida os consumidores a assistirem ao filme da Max, que será exibido em diversos programas durante a semana. O filme-revelação de 60 segundos, que mostrará os benefícios e diferenciais da Total Alimentos, será veiculado estrategicamente no Fantástico e no Globo Repórter, em algumas praças brasileiras. Além do comercial televisivo, a campanha na mídia conta com outdoor, folhetos, anúncios em revistas e internet. Para os pets shops foram desenvolvidos displays de balcão, camisetas, banners, stopper, folders, bobinas e bandeirolas.
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Ciclo de conferências com dr. Ettinger marca o lançamento da vacina BronchiGuard
dr. Stephen J. Ettinger, diretor do Califórnia Animal Hospital e autor do livro Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos, esteve no Brasil, no final de julho. Ele participou, como pales-
trante, do ciclo de conferências que a Pfizer realizou nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre, durante o lançamento da BronchiGuard,
vacina injetável contra a tosse dos cães, apresentando a palestra Protocolos de vacinação, o que há de novo? Veja a seguir, entrevista com o dr. Ettinger concedida à Clínica Veterinária.
Entrevista com dr. Stephen J. Ettinger Clínica Veterinária (CV) Quais os principais critérios que os médicos veterinários devem levar em consideração para adotar um programa de vacinação? Esse programa pode variar de animal para animal, em cães e gatos de uma mesma região? Dr. Stephen J. Ettinger (SJE) - Uma das mensagens mais importantes que transmito aos médicos veterinários é que os protocolos vacinais devem atender às necessidades regionais de cada país. Existem vacinas globais que não se aplicam à realidade local e, por vezes, podem ter efeito contrário, causando risco à saúde do animal. Um exemplo é a vacina contra leptospirose. Há no mercado vacinas com vários sorovares da leptospirose, mas no Brasil, os mais importantes do ponto de vista epidemiológico são: o L. canicola, L. icterohaemorrhagiae e a L. Copenhagen. Dentre elas, somente são conhecidas a resposta imunológica e duração da imunidade da L. canicola e L. ictero. É preciso evitar a vacinação desnecessária ou a repetição de agentes em imunizações polivalentes e balancear o risco de reação (existente nesse tipo de antígeno) com o risco de contágio pela doença em questão. CV - Dentre as enfermidades que podem ser prevenidas por meio da vacinação, há alguma na qual a aplicação está relacionada com a época do ano (inverno, verão, outono ou primavera)? SJE - A incidência de algumas doenças estão relacionadas com a estação do ano, por exemplo, presença de leptospirose nos meses chuvosos e cinomose no inverno. No entanto, conside22
rando o fato de que o retorno do cliente à clínica é uma vez ao ano para os reforços vacinais após o primeiro ano de vida, considero conveniente que o veterinário faça a prevenção vacinal que considerar adequada nessa consulta. CV - Na imunização de filhotes, levando-se em consideração as diferentes quantidades de colostro ingeridas e a imunização passiva transferida pela mãe, qual o protocolo que oferece mais segurança para a proteção dos mesmos? SJE - Filhotes devem iniciar o recebimento das vacinas com 6-8 semanas de vida, dentro dos conceitos das vacinas essenciais. Em sendo um filhote saudável ainda em fase de amamentação, não há necessidade de vacinar antes disso. À partir de então deve ser dado seguimento aos protocolos de vacinas polivalentes a cada 4 semanas até 16 semanas de vida. A resposta imune secundária aumenta o nível de anticorpos circulantes e diminui o tempo entre a exposição a um antígeno e a habilidade de produzir uma resposta máxima. Em vacinas, o importante é o intervalo correto, não a quantidade de aplicações. CV - Na sua opinião, os médicos ve teri nários devem oferecer aos seus clientes todas as vacinas disponíveis, ou selecionar um programa de vacinação para cada caso, levando em consideração o estilo de vida do animal como, por exemplo, se vai ou não às ruas? SJE - Podemos considerar as vacinas como essenciais e não essenciais. As essencias são as necessárias e que devem ser feitas, como a cinomose, a
adenovirus tipo 2, a parvovirose e a raiva. As vacinas não essenciais são as recomendadas somente para animais que correm o risco de contágio por estarem em determinada região geográfica. Dentre elas podemos citar a Parainfluenza, a Bordetella, a doença de Lyme e a Leptospira. Por exemplo, no Brasil, as não essenciais como a L. canicola, L. Ictero e Bordetella, podem ser consideradas como vacinas essenciais, dada a sua prevalência e risco de contágio. Com relação à especificação da leptospirose, a escolha dos sorotipos presentes na vacina deve ser muito criteriosa, pois podem ocorrer reações adversas pós-vacinais. E por fim, existem as vacinas não recomendadas, como a contra sarampo, coronavirose, giárdia e picada de cascavel. Os médicos veterinários devem adotar o programa de vacinação coerente, sempre visando o bem-estar do animal. CV - Quais são as diferenças entre as vacinas intranasais e subcutâneas em termos de eficácia? Em sua opinião, qual é mais recomendada em termos de eficácia e facilidade de manejo? SJE - Está comprovado que, de forma geral, as vacinas aplicadas pela via subcutânea conseguem imunização mais rápida e melhor que as intranasais. Eu prefiro a via subcutânea, pois ela é mais fácil de aplicar, melhor aceita pelo dono do cão e induz a uma melhor imunidade em animais que já receberam a primeira dose, ou que já tenham sido expostos ao agente infeccioso.
Stephen J. Ettinger é médico veterinário, diretor do California Animal Hospital e autor do livro Tratado de Medicina Interna de Cães e Gatos.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Atender as necessidades do veterinário, uma das razões do crescimento da Vetnil
“Nos locais onde os médicos veterinários não eram visitados foi que a Vetnil iniciou seu crescimento”, explica Ronald Glanzmann, vice-presidente da empresa. Essa lembrança da Vetnil, dos médicos veterinários localizados fora do eixo comercial SP-RJ-MG, foi bem recebida pelos colegas, que em alguns casos, nunca tinham recebido sido visitados. Associado à esta atenção ao profissional vieram, ano a ano, diversos produtos farmacêuticos que não haviam similar veterinário, apenas na linha humana. O crescimento Desde 1994 atuam no mercado, além de muitos produtos lançados, muitos médicos veterinários e médicas veterinárias tornaram-se integrantes do quadro da empresa, para que, dessa maneira, fosse garantido, aos clínicos veterinários, um bom atendimento. Um salto dado pela empresa foi, em
2005, a aquisição da Univet. Pouco tempo se passou e outro salto foi dado: a fusão com o a Vencofarma; tradicional empresa de Londrina, PR, produtora de biológicos e líder brasileira no segmento de soros antiofídico e antitetânico.
Além de oferecer produtos, a empresa mantém seu foco em servir os profissionais. A conseqüência dessa filosofia está aparecendo. No Anuário do Exame 2006-2007 foi divulgada a lista das melhores empresas do agronegócio. A que se destacou com maior crescimento no setor foi a Vetnil, que teve 37,4% de aumento na sua receita de 2004 para 2005. Outra classifação atual da empresa é estar entre as 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil.
Imago com novos equipamentos
O centro de diagnósticos Imago, localizado em Piracicaba, interior de SP, pioneiro na região e mantendo seu compromisso de prestar serviços de alta qualidade, adquiriu novos equipamentos: • ultra-som Aloka SSD 1700 dynaview II, aparelho com doppler color; • aparelho de eletrocardiograma computadorizado (Cardiovet), com miniholter, que envia traçados via internet.
Traçados registrados no Cardiovet
Campanha em Curitiba já realizou 7440 escovações dentais
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ara alertar a população sobre a importância da higiene bucal dos animais domésticos, o Centro de Odontologia Veterinária Odontocão coordenou por quatro meses uma campanha de incentivo à escovação dental em 20 pet shops de Curitiba. O trabalho foi organizado pela médica veterinária Maria Izabel Ribas Valduga e resultou em 7.440 escovações dentais. As informações levantadas nestes quatro meses formam um banco de dados sobre a saúde bucal de cães e gatos da cidade. Cerca de 80% dos animais atendidos na campanha têm doença periodontal em fase inicial e grave, e 11,9% têm persistência de dente de leite. Lesão de reabsorção de dentes de gato, fratura dental e profilaxia, representam cada uma 2,38% dos animais atendidos. “É apenas uma amostragem da população de animais domésticos, mas já é possível ter um quadro de como está a saúde deles”, esclarece. Maria Izabel. Objetivos - A campanha melhorou não só a saúde dos animais. Alavancou também
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os negócios dos pet shops. “Aumentamos o número de clientes e a venda de kits de escovação”, fala Mércia Regina Lunardon, do pet shop Dengo. Segundo ela, os resultados foram tão bons que muitos compraram kits para fazer a escovação em casa. A mesma mudança foi sentida por Elias Alves Bezerra, do pet shop Bichos e Caprichos. “A idéia da campanha foi esplêndida. Conscientizamos o cliente da importância da higiene bucal dos animais. Além de garantir saúde para o bichinho apresentamos um diferencial de atendimento para os clientes e isso fez o meu movimento dobrar”.
teve os dentes escovados foi preenchida uma ficha e colocada em uma urna. Os cupons foram recolhidos a cada duas semanas para sorteios de avaliações odontológicas no Odontocão. O projeto teve o patrocínio da Total Alimentos e Virbac, apoio da ABOV (Associação Brasileira de Odontologia Veterinária, CRMV - PR (Conselho Regional de medicina veterinária) e Granjinha.
Campanha - Para participar da campanha, os locais selecionados pelo Odontocão assinaram contratos de adesão, receberam banners e kits com escovas e pastas de dentes. Para fazer o levantamento da saúde bucal dos animais, os pet shops ofereceram escovações gratuitas. A cada vez que o animal
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“A higiene bucal é importante porque melhora a vida destes bichinhos que estão dentro de casa, em contato direto com os nossos filhos”, alerta Maria Izabel, médica veterinária do Odontocão
Paz para todos os seres
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ntre os dias 4 e 8 de agosto, ocorreu importante evento que abordou temas como o especismo, o bem-estar animal, a boa nutrição e saúde, a ecologia, a preservação, a espiritualidade e até mesmo o abolicionismo animal. O palco foi o Memorial da América Latina, em São Paulo, SP. Os atores foram todas as pessoas que se mobilizaram pela paz, estando presentes, como palestrantes ou ouvintes no 1º Congresso Brasileiro e Latino-Americano de Vegetarianismo. A cada dia do evento ocorreram diversas demonstrações culinárias, nas quais se utilizaram muitos ingredientes orgânicos e provenientes da agroecologia. Nutricionistas e médicos marcaram presença nas palestras falando sobre o quanto é saudável uma dieta vegetariana. Também houve espaço para denúncias de ambientalistas mostrando o quanto destrutivo está sendo o modelo econômico implantado na amazônia, o da devastação e substituição da floresta pela monocultura da soja e criação de gado. Compondo a programação ocorreram reuniões de ativistas, sendo algumas delas direcionadas para a fundação do Instituto de Abolicionismo Animal, tendo como marco inaugural o lançamento da edição n. 1 da Revista Brasileira de Direito Animal. Outra atividade presente foi a exibição de documentários, como por exemplo, A carne é fraca, Vida de cavalo, Não matarás e Terráqueos. Além disso, a degustação de saborosas receitas esteve aberta ao público e, unindo toda a programação, houve saudáveis momentos de fraternidade. Um dos conceitos que foi muito debatido foi o especismo, termo concebido na
Fundadores do Instituto de Abolicionismo Animal. No centro, Heron José de Santana, um dos idealizadores do instituto
década de 70 pelo filósofo britânico Richard Ryder para fazer um paralelo entre a conduta do homem em relação aos animais, com práticas verificadas no decorrer da história, o racismo (branco versus negro) e o sexismo (homem versus mulher), tendo sido popularizado por outro filósofo, Peter Singer. O especismo sempre será encontrado quando determinarmos qual espécie animal deve ser criada para companhia e qual será subjugada ao que for determinado, como o abate ou o uso em experimentos, não respeitando a integridade física e/ou moral do animal. Como o respeito à todas as formas de vida é a principal forma de agir para não cairmos no especismo, é importante que este termo seja conhecido. Ao utilizá-lo em nossas condutas, automaticamente estaremos refletindo sobre cada ato. Esta reflexão e o nosso livre arbítrio é que farão a diferença na escolha de qual caminho seguir. Para que seja feita a escolha do melhor caminho é fundamental uma boa exploração de nossos princípios para
Revista Brasileira de Direito Animal
por Arthur Barretto
que possamos ver onde nos levam. Isto estimula o raciocínio, resultando em um estudo que pode até salvar vidas. Também falou-se com freqüência em exploração animal, principalmente naquela que não respeita a integridade dos animais. É muito importante o conhecimento dos significados dessa palavra, pois podem ser bons ou ruins. Alguns deles são pesquisar, estudar, sondar e examinar. Por outro lado, quando explorar passa a ter o sentido de sugar, alguém está sendo prejudicado, ficando a mercê de seu explorador, enquanto não houver alguém para salvá-lo. Na área de bem-estar animal o termo exploração é largamente utilizado, na grande maioria das vezes, com o significado de sugar e, desta maneira, está relacionado à crueldade. Porém, principalmente em documentos que são elaborados em prol da proteção animal, faz-se necessário ser bem objetivo e claro. Ao se dizer que determinado criador está explorando cães da raça labrador para oferecê-los a deficientes visuais, não significa que os cães estão sendo submetidos a atividades que os estejam prejudicando. Em documentos, leis, normas, entre outros, é fundamental que as palavras não tenham duplo sentido, não dando margem, por exemplo, para que determinado juiz tenha mais de uma opção na interpretação de uma lei. O saldo do congresso foi positivo, com muitas pessoas felizes pelos conhecimentos adquiridos durante a semana. Muitas sementes foram lançadas e com certeza já estão germinando pois, como disse a própria presidente da So ciedade Ve getariana Brasileira, Marly Winckler, "o solo é fértil!".
Laerte Levai, Sonia Felipe e Heron Santana durante debate sobre o direito dos animais
Deliciosas receitas puderam ser degustadas pelo público
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O inglês Gabriel Buist discorreu sobre diversas evidências que levam a crer que Jesus era vegetariano, assim como alguns seguidores, como Thiago. Buist é vegetariano há 77 anos. Ele nasceu vegetariano. Em seu país, conhece famílias que são vegetarianas há 5 gerações!
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Roupas tão resistentes quanto o couro, sem ser de couro. A matéria prima vem da reciclagem da lona de caminhões
Saúde pública
Anclivepa-MG realizou detabe sobre a leishmaniose
por Arthur Barretto
são resistentes à adoção dos antimoniais na medicina veterinária. Durante os debates, no simpósio, foi colocado que toda a produção do antimoniato de meglumine, Glucantime®, produzido para uso humano pela Sanofi-Aventis é comprada pelo Ministério da Saúde, que proíbe o seu uso em outras espécies que não seja a humana. E por que não se oferece no Brasil a versão veterinária do Glucantime®, produzido e distribuído na Europa pela Merial? Talvez porque os consumidores, no caso a classe médica veterinária, ainda não se pronunciaram pe ran te a empresa utilizando, por exemplo, o serviço de atendimento ao consumidor, solicitando o produto. Até agora não existe pedido de registro do medicamento no Ministério da Agricultura. Outra necessidade urgente no Brasil e bastante colocada no simpósio foi sobre a escassez de kits para o diagnóstico produzidos pela BioManguinhos. O problema ainda aguarda uma solução. A publicação mais recente sobre o controle da leishmaniose visceral no Brasil, ressaltado pela médica veterinária Waneska Alexandra Alves, consultora da Secretaria da Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, é o Manual de Vigilâcia e Controle da Leish ma niose Visceral, dis po nível para download no site do Ministério da Saúde. Nesse manual, o tratamen-
Um dos pontos positivos do III Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina foi a interação da platéia gerando um bom aproveitamento nos debates
os dias 14 e 15 de agosto, em Belo Horizonte, MG, ocorreu o III Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina. A expectativa pelo evento era grande e, conseqüentemente, o público que o prestigiou comportou-se de maneira bastante interessada e participativa. Cuidadosamente elaborado pela Anclivepa-MG, o simpósio promoveu o diálogo de especialistas, sanitaristas, clínicos e consultores do Ministério da Saúde. As contribuições do médico veterinário Javier Encinas Aragón, chefe do Departamento de Saúde Ambiental e Zoonoses, do Instituto de Saúde Públi ca de Madrid, Espanha, foram muito importantes, principalmente pelo respeito que é dado, naquele país, à vida dos cães. Estamos longe de aplicar o modelo espanhol, mas suas declarações foram muito importantes para que as condutas dos clínicos veterinários e do Ministério da Saúde sigam pelo mesmo caminho: o do controle da leishmaniose. Uma grande diferença do universo espanhol para o brasileiro é o fato dos 4 milhões de cães daquele país estarem microchipados. Conduta, que segundo Aragón, quando não é reali zada em clínicas particulares, é feita pelo governo em campanhas públicas de vacinação anti-rábica.
Divulgação
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Glucantime®, solução injetável para o tratamento da leishmaniose visceral canina, disponível na Europa
Outra diferença é o reconhecimento do tratamento, dos cães aptos a recebê-lo, como medida de controle da leishmaniose visceral canina. Na Espanha, o medicamento de eleição para o tratamento é o antimoniato de Nmetilglucamina, solução injetável contra a leishmaniose visceral canina (Glucantime ® Merial). “A dra. Guadalupe Miró Corrales, em suas pesquisas, obteve resultado negativo no xenodiagnóstico de 85% dos cães tratados com a associação de antimoniais e o alopurinol”, citou Aragón. Ele ressaltou, ainda, que não acredita que o uso do medicamento veterinário Glucantime®, da Merial, venha a prejudicar o uso da versão humana do medicamento, pois a sua longa utilização na Espanha não demonstrou isto.
Javier Encinas Aragón e João Carlos Toledo Jr, presidente da Anclivepa-MG. Aragón ressaltou que: “na Europa, a condição do cão de animal de companhia e melhor amigo do homem, faz com que sejam inviáveis e ineficazes os programas de controle baseados na eliminação de cães infectados”
Vitor Márcio Ribeiro, ao coordenar uma das mesas-redondas realizadas no evento, chegou a colocar que, se for necessário, será realizado um novo Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina, que contará com a presença de diversos especialistas que poderão esclarecer as dúvidas que pairam sobre algumas correntes que
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Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral, disponível no endereço eletrônico: www.saude.gov.br/svs/editora/livros
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Saúde pública to dos cães con tinua sendo não recomendado. Porém, após a reunião de especialistas promovida pela Organização Pan-Americana de Saú de, em no vembro de 2005, em Brasília, DF, ficou claro que o tratamento existe, sendo inclusive, descrito na literatura internacional por Lappin, em 2005, no livro Veterinary Internal Medicine, de Ettinger & Feldman. Após esta reunião o tratamento, baseado em di ver sos critérios propostos pela An clivepa, passou a ser encarado de outra forma, iniciando processo de reconhecimento do mesmo. Flebotomíneos Edelberto Santos Dias, do Laboratório de Leishmanioses, do Centro de Pesquisas René Rachour - Fiocruz, foi bastante esclarecedor ao começar sua apresentação explicando basicamente que os flebotomíneos não são mosquitos. A fase larval dos mosquitos ocorre na água. Nos flebotomíneos isto não ocorre. A fase larval é desenvolvida na matéria orgânica. Por isso, locais onde se encontram criações de animais, muito som breados e com acúmulo de
Na página 7 do Boletim Epidemiológico Paulista (BEPA) de dezembro de 2004, ano 2, n. 12 foi publicado o artigo Avaliação da Efetividade da Utilização de Coleiras Impregnadas com Deltametrina a 4% para o Controle da Leishmaniose Visceral Americana no Estado de São Paulo: Resultados Preliminares. Esta e outras edições do BEPA, publicação mensal da CCD – Coordenadoria de Controle de Doenças, da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, estão disponíveis para download no endereço: www.cve.saude.sp.gov.br. O II Informe Técnico, Leishmaniose Visceral Americana, de setembro de 2003, também está disponível na internet. Ele foi elaborado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica “prof. Alexandre Vranjac”, da Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo. O endereço para obtê-lo é: www.cve.saude.sp.gov.br/htm/leishvis.htm
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lixo são grandes potenciais para desenvolvimento dos flebotomíneos. Ambientes como esse não são raros de encontrar, o que torna difícil o controle do vetor. Não basta a borrifação com piretróides. Controlar o repasto sanguíneo feito pelos flebotomíneos nos cães é muito mais simples do que combater o vetor no ambiente. Coleiras impregnadas com deltametrina continuam sendo uma excelente forma de prevenção, conforme mostram os estudos apresentados por Vera Lúcia Fonseca Camargo-Neves (SVS/MS). Elas são recomendadas tanto para os animais sadios, quanto para os animais que estão sob tratamento da leishmaniose visceral canina. Além da coleira, também se pode fazer a associação controlada com piretróides.
infectado de animal vacinado soropositivo”. Menz frisou ainda que “o animal ser soropositivo significa que tem anticorpos e não o agente infeccioso. No caso de dúvidas, o PCR de aspirado de linfonodo é o que recomendamos para concluir o diagnóstico”. A Fort Dodge, fabricante da Leishmune, também foi pioneira ao produzir a vacina intranasal contra a traqueobronquite infecciosa canina (à esquerda) e, em breve, pode estar exportando a Leishmune (abaixo) para países da Europa
Tratamento Vitor Márcio Ribeiro, ao defender o tratamento da leishmaniose visceral canina, frisou que a classe veterinária deve participar com: a notificação dos casos e dos tratamentos; o melhor controle dos tratamentos por meio da sua padronização; o credenciamento dos médicos veterinários; e a emissão de relatórios dos tratamentos, que, segundo o especialista, deve ser feito seguindo-se protocolo da Anclivepa-BR. E CLÍNICA VETERINÁRIA Solicitação para tratamento de leishmaniose visceral canina complementou saDeclaração de responsabilidade lientando que “ele Proprietário:__________________________________________________________________________ somente deve ser iniEndereço: ___________________________________________________________________________ ciado após: confirIdentidade: __________________________________ CPF ___________________________________ Telefone: _______________________________ mação do diagnósNome do animal: _________________________Raça: _________________________________ tico; esclarecimento Data de nascimento: ________________Pelagem: ____________________Sexo: _________ Idade: ___ e adesão do proSolicito a(o) dr.(a)___________________________________, da Clínica Veterinária __________________, a realizar no animal acima identificado, de minha propriedade, todos os procedimentos clínicos e terapêuti- prietário; ava liacos, com o bjetivo de tratar a leishmaniose visceral, declarando ser de minha inteira e livre vontade esta solic- ção laboratorial do itação. Declaro, neste ato, estar ciente de que a leishmaniose visceral canina é uma zoonose e que seu tratamento paciente; avalianão oferece, em geral, a cura parasitológica. O animal em tratamento necessitará de acompanhamento por ção da infecciositoda a vida. Fui devidamente informado dos exames necessários, trimestralmente, para o controle da dade; e mensurainfecção e da infecciosidade do meu cão. Também me responsabilizo em adotar todas as medidas prescritas na seqüência do tratamento inicial, conforme ção dos títulos toorientação médica veterinária, além de adotar as medidas profiláticas de controle do vetor centradas no meu animal e no ambiente em que ele vive, contribuindo para que desta forma ele não represente riscos para a tais de anticorsaúde pública. Caso eu venha desistir da continuidade do tratamento, encaminharei meu cão para eutanásia com o médi- pos.” Vacina Diante de dificuldades para borrifação continuada, demora entre coleta e resultado de sorologia, falta de kits para diagnóstico e reposição de cães eliminados, a vacinação, feita sobre os critérios preconizados, é uma opção que oferece segurança. Contudo, destacou Ingrid Menz em sua palestra, “é importante diferenciar animal
O L E D O M
co veterinário responsável pelo seu acompanhamento. Por ser verdade, firmo esse documento.
Local e data ______________________________
Assinaturas: médico veterinário _______________________ proprietário _____________________________
Vitor Márcio Ribeiro ressaltou a necessidade da formalização do compromisso assumido para a realização do tratamento da leishmaniose visceral canina por meio de documento assinado, o qual deve ser feito em pelo menos 2 vias: proprietário e médico veterinário. O mesmo documento poderia ser aproveitado pelos CCZs como notificação de início do tratamento canino. Nesse caso, 3 vias seria o mais indicado
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“Cão tratado e controlado é melhor do que cão reposto ou cão não controlado!”, salientou Vitor Márcio Ribeiro
Anestesia de cães e gatos com distúrbios neurológicos artigo de revisão
Sérgio Ricardo A. de Melo Silva
MV, mestre, doutorando - PPGCV/DMV/UFRPE silva_sergioricardo@yahoo.com.br
Pedro Isidro da Nóbrega Neto MV, dr, prof. adj. II.- UAMV/UFCG pedroisidro@lif.com.br
Eduardo Alberto Tudury
Anesthesia of dogs and cats with neurological disturbances - review article
MV, dr, prof. adj. IV. - DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.pe
Denise T. Fantoni
MV, dra. profa. ass. - DC/FMVZ/USP dfantoni@usp.br
Anestesia en perros y gatos con problemas neurológicos - revisión Resumo: As desordens neurológicas que acometem cães e gatos podem repercutir sobre as funções respiratória, cardiovascular, homeotérmica, além de provocar excitabilidade neuromuscular e alterações de consciência e comportamento, dentre outras. Para minimizar os efeitos deletérios causados por essas alterações, o anestesiologista deve preservar as funções orgânicas, evitando o desenvolvimento de hipóxia, hipercapnia, hipotermia e instabilidade cardiovascular, entre outras intercorrências, baseado em conhecimentos de neuroanatomia, neurofisiologia e fisiopatologia dos distúrbios neurológicos. A presente revisão objetiva compilar informações importantes para os profissionais da área que recebem pacientes com distúrbios neurológicos, para que possam aumentar as possibilidades de sobrevivência destes e evitar as repercussões indesejáveis dos anestésicos sobre o sistema nervoso, além de minimizar os transtornos já existentes. Unitermos: Anestésicos, neurologia, terapia Abstract: Neurological disorders of dogs and cats can affect the cardiovascular and respiratory function, body temperature, neuromuscular excitability, consciousness and behavior, among other functions. To minimize the harmful effects caused by these alterations, the anesthesiologist should preserve organic functions and avoid hypoxia, hypercapnia, hypothermia and cardiovascular instability, based on principles of neuranatomy, neurophysiology and physiopathology of the neurological disturbances. This review aims to compile important information on anesthetic procedures used by anesthesiologists dealing with patients exhibiting neurological disturbances. This information can help increase survival rates and avoid the undesirable effects of anesthesia on the nervous system, as well as minimize the pre-existing disturbances. Keywords: Anesthetics, neurology, therapy Resumen: Los problemas neurológicos que acometen perros y gatos pueden afectar la función cardiovascular y respiratoria, la temperatura del cuerpo, la excitabilidad neuromuscular, la conciencia y la conducta, entre otras funciones. Para minimizar los efectos dañosos causados por estas alteraciones, el anestesiólogo debe conservar las funciones orgánicas, evitando hipoxia, hipercapnia, hipotermia e inestabilidad cardiovascular, basado en los principios de neuroanatomía, neurofisiología y fisiopatología de las perturbaciones neurológicas. Esta revisión tiene por objeto juntar la información importante sobre los procedimientos anestésicos con pacientes que exhiben perturbaciones neurológicas, buscando obtener proporción más alta de supervivencia, evitar los efectos indeseables de la anestesia en el sistema nervioso, así como reducir los efectos colaterales causados por el uso de anestésicos. Palabras clave: anestésicos, neurología, terapia
Clínica Veterinária, n. 64, p. 34-46, 2006
INTRODUÇÃO As mais freqüentes emergências clínicas que envolvem o sistema nervoso central (SNC) são os traumas cranioencefálicos ou medulares, decorrentes de acidente automobilístico, maus tratos, queda e mordida, entre outros. Entretanto, doenças como a hidrocefalia, os tumores intracranianos, a hérnia de disco, as espondilopatias compressivas, as convulsões ou os distúrbios comportamentais e as intoxicações, que também alteram a saúde neurológica do animal, podem requerer procedimentos diagnósticos e terapêuticos como a tranqüilização e a anestesia geral, preservando o sistema nervoso e evitando fatores lesivos como hipóxia, hipercapnia 34
e instabilidades respiratória e cardiovascular. A presente revisão tem como principal objetivo apresentar as varias técnicas e procedimentos anestesiológicos que podem ser implementados em diferentes disfunções neurológicas, sem agravar ou colocar em risco a vida do paciente, uma vez que a maioria dos agentes anestésicos altera – em maior ou menor grau – a irrigação, a dinâmica do SNC e as funções neuromusculares. As possibilidades de sobrevivência do paciente são maiores quando se conhecem a neuroanatomia e a fisiopatologia do sistema nervoso, bem como as repercussões farmacológicas dos anestésicos sobre este.
NEUROANATOMIA FUNCIONAL Embora seja impossível apresentar uma descrição completa da neuroanatomia no âmbito deste artigo, os tópicos seguintes abordam as áreas do sistema nervoso que são mais acometidas por patologias de interesse para o anestesiologista veterinário. Quando o paciente apresenta algum distúrbio neurológico, a primeira questão a ser formulada é: “Qual a localização da lesão”? Para responder a essa indagação, é essencial conhecer fundamentos de neuroanatomia clínica, que provêem o profissional de informações sobre o funcionamento do SNC e, conseqüentemente, auxiliam-no a identificar as estruturas nervosas envolvidas no
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processo. Tais informações permitem que medidas diagnósticas e terapêuticas sejam adotadas com maior margem de segurança. O sistema nervoso está dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP) 1. O SNC compreende o encéfalo e a medula espinhal, que estão envolvidos no controle e coordenação motores, e em funções mais elevadas, como a consciência e a memória. Já o SNP está principalmente voltado à transmissão de informações sensoriais para o cérebro e à condução de sinais para os órgãos efetores 2,3. AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DOS DISTÚRBIOS NEUROLÓGICOS Em uma primeira etapa, o paciente deve ser cuidadosamente avaliado mediante a mensuração de suas funções vitais, e os sinais e sintomas que possam contribuir para o pronto diagnóstico e o acompanhamento da evolução do quadro devem ser investigados 4,5. ENCÉFALO O tratamento do paciente vitimado por lesão intracraniana deve ser precedido de uma série de avaliações que visam restabelecer as funções vitais, evitando o aumento da pressão intracraniana (PIC), isquemia e possível hérnia de tecido encefálico 4,6. Função respiratória e cardiovascular A hipoventilação grave – que acomete alguns animais com trauma cranioencefálico – pode causar hipoxemia e hipercapnia, promovendo vasodilatação, que implica o aumento do fluxo sangüíneo encefálico com conseqüente edema cerebral 4. Estudos revelam que os distúrbios neurológicos que elevam a PIC podem também causar edema pulmonar intersticial neurogênico 4,7,8. Portanto, a assistência respiratória deve ser implantada com urgência no paciente inconsciente por meio da intubação orotraqueal e, caso o animal esteja consciente, mediante traqueostomia sob anestesia. A manutenção da hiperventilação assistida do paciente reduz a pressão parcial de dióxido de carbono, com conseqüente vasoconstrição e diminuição do volume encefálico 9. Alterações no padrão respiratório indicam grave disfunção do tronco encefálico, e manifestam-se sob a forma
de apnéia, bradipnéia, taquipnéia e outros padrões respiratórios anormais. A respiração de Cheyne-Stokes, por exemplo, ocorre com maior freqüência em lesões no diencéfalo ou doença cerebral bilateral, e é caracterizada por respiração profunda seguida de movimentos respiratórios superficiais ou apnéia. A hiperventilação neurogênica central pode ser observada nas lesões mesencefálicas com respiração apnêustica, caracterizada por inspiração prolongada seguida de expiração curta. Ambos os padrões podem ocorrer em pacientes com disfunção neurológica central, di encefálica, mesencefálica ou lesão caudal ao tronco encefálico, podendo preceder parada respiratória 4,10. A monitoração da freqüência cardíaca e a manutenção da pressão arterial média sistêmica entre 50 a 150mmHg são importantes medidas, pois os distúrbios do tronco encefálico podem levar a alterações cardiovasculares que se refletem sobre o fluxo sangüíneo encefálico e requerem intervenção com fármacos inotrópicos e vasoativos 8,11,12. Desordens autonômicas podem estar relacionadas à injúria hipotalâmica, e são caracterizadas por alterações na pressão arterial, na freqüência cardíaca e na regulação da temperatura corporal, com hipotermia ou predisposição à hipotermia anestésica, assim como modificações da glicemia 9,13. Freqüentemente, tais pacientes sofrem de arritmia cardíaca, razão pela qual devem ser monitorados e tratados prontamente, para prevenir impactos sobre o débito cardíaco e o fluxo sangüíneo encefálico 9. Monitoração do estado de consciência Essa avaliação tem como objetivo estimar o grau de hipóxia e a extensão da lesão encefálica. Para tanto, deve-se investigar a diminuição do estado de consciência, que pode ser classificada como: alerta, delírio, demência, semicoma ou estupor, coma e morte encefálica. No estado de alerta, o animal se relaciona satisfatoriamente com o meio-ambiente, e apresenta comportamento normal. O delírio é caracterizado por alteração da consciência seguida por desorientação, medo e irritabilidade, não devendo confundir-se com os uivos e as reações que eventualmente ocorrem na recuperação anestésica. A demência é um distúrbio comportamental proveniente
de lesões do lobo frontal ou cápsula interna – como a hidrocefalia –, e é caracterizada por deterioração mental que torna o paciente incapaz de desempenhar corretamente atividades psicomotoras, além de causar movimentos de pedalar dos membros. O paciente semicomatoso apresenta-se inconsciente, mas responde a estímulos dolorosos. O animal em estado de coma ou com morte encefálica está inconsciente e não responde a qualquer estímulo doloroso. No caso de morte encefálica, a função respiratória só é mantida com o auxílio de aparelhos 4. Os pacientes cuja pontuação na escala do coma de Glasgow modificada para pequenos animais atinge valor 3 (Quadro 1) ou no estado de morte encefálica, não há necessidade do uso de anestésicos para intubação orotraqueal e/ou procedimentos cirúrgicos, de vez que não têm sensibilidade dolorosa e estão inconscientes, e são mantidos vivos tão somente sob assistência ventilatória e fluidoterapia transcirúrgica 7,10. Monitoração do diâmetro e da reatividade pupilar Como as áreas do tronco encefálico que controlam a consciência são anatomicamente próximas àquelas que controlam a reatividade pupilar, as alterações observadas na função pupilar são indícios de distúrbios do tronco encefálico ou de hipertensão intracraniana. Portanto, a reatividade pupilar serve de parâmetro para a avaliação da evolução do quadro do paciente. O restabelecimento das pupilas ao diâmetro e à reatividade normais é um sinal favorável, mas a progressão de miose bilateral para pupilas fixas normais ou midriáticas indica agravamento do quadro neurológico 10,12. O anestesiologista deve ficar atento a essas mudanças de diâmetro pupilar, pois de forma similar isso também ocorre durante o estágio II da anestesia (estágio de excitação). MEDULA ESPINHAL As lesões do segmento C1-T1 da medula espinhal podem causar tetraparesia, com o desenvolvimento da síndrome de Horner – que se caracteriza por miose, protrusão da terceira pálpebra e endoftalmia decorrentes das lesão das vias simpáticas intermediolaterais 14. Injúrias mais severas também podem
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ocasionar um quadro de insuficiência respiratória, ou mesmo a morte por lesão dos tratos motores responsáveis pe la movimentação do tórax e do diafragma 15,16. NERVOS PERIFÉRICOS O plexo braquial é responsável pela inervação sensitiva e motora dos membros torácicos. As causas mais comuns de lesões no plexo braquial são as contusões ou avulsões, que se manifestam através de déficit neurológico sensitivo e motor 4, e geralmente tornam desnecessária a anestesia profunda para procedimentos cirúrgicos no membro afetado 17. Isso não se aplica aos membros pélvicos, pois lesões conjuntas dos nervos ciático e femoral são muito raras. As lesões diretas sobre os nervos pélvicos estão mais relacionadas às fraturas ósseas e à luxação sacroilíaca pela compressão das raízes nervosas, causando disfunções neurológicas que variam em função do local ou do nervo envolvido 4,18. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO As injúrias do crânio podem envolver danos em estruturas do encéfalo, como os nervos cranianos 19. A morte do paciente com trauma cranioencefálico pode ocorrer em função dos efeitos primários, provenientes das forças biomecânicas aplicadas no crânio pelo choque traumático, ou pelos efeitos secundários, que podem ter inicio logo após o trauma primário ou até dias mais tarde. A injúria encefálica secundária desenvolve-se em função dos eventos extracranianos e das alterações intracranianas, podendo culminar na formação de edema, hemorragia intracraniana e possível efeito direto sobre a área de controle cardiorrespiratória do tronco encefálico, resultando em hipoventilação, hipóxia e hipertensão intracraniana, o que compromete diretamente o suprimento sangüíneo e a oxigenação localizada e global das estruturas encefálicas 12,19,20,21. Medidas emergenciais devem ser tomadas para estabilizar as funções vitais necessárias à manutenção da vida, principalmente se há suspeita de pneumotórax, hemorragias ou arritmias cardíacas traumáticas 17,19,22. Cães submetidos à sobredose de anestésicos podem desenvolver parada cardiorrespiratória, capaz de gerar lesão 36
Quadro 1 - Escala de coma de pequenos animais para avaliação de traumas cranioencefálicos 7,10
Categoria/descrição pontuação Atividade motora: 1. Marcha normal, reflexos espinhais normais 6 2. Hemiparesia, tetraparesia ou sinais de descerebração 5 3. Decúbito, rigidez intermitente de extensores 4 4. Decúbito, rigidez constante de extensores 3 5. Decúbito, rigidez constante de extensores com opistótono 2 1 6. Decúbito, hipotonia muscular, reflexos espinhais deprimidos ou ausentes Reflexos do tronco cerebral: 1. Respostas pupilares à luz e reflexos oculocefálicos normais 2. Respostas pupilares à luz lentas; reflexos oculocefálicos de normais a fracos 3. Miose bilateral não responsiva; reflexos oculocefálicos de normais a fracos 4. Pupilas puntiformes; reflexos oculocefálicos fracos ou ausentes 5. Midríase unilateral não responsiva; reflexos oculocefálicos fracos ou ausentes 6. Midríase bilateral não responsiva; reflexos oculocefálicos fracos ou ausentes
6 5 4 3 2 1
Nível de consciência: 1. Perdas ocasionais do estado de alerta e da resposta ao meio ambiente 2. Depressão ou delírio; capacidade de responder ao meio ambiente 3. Semicoma; resposta a estímulos visuais 4. Semicoma; resposta a estímulos auditivos 5. Semicoma; resposta a estímulos dolorosos 6. Coma; sem resposta a estímulos dolorosos repetidos
6 5 4 3 2 1
Pontuação total 3-8 9 - 14 15 - 18
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cortical cerebral que, após ressuscitação, será explicitada clinicamente como cegueira, surdez ou diminuição do intelecto, com mudança de comportamento 4. Conseqüências danosas por ação dos anestésicos sobre as funções encefálicas ainda podem ser registradas sob a forma de queda da pressão arterial, arritmias cardíacas e diminuição da freqüência respiratória, levando a desmaios isquêmicos. Outros fatores que também podem favorecer a lesão cerebral no cão e no gato são a hipoglicemia provocada pelo jejum exagerado (por exemplo, aquele aplicado a filhotes – 12 horas ao invés de seis horas), pela hipotermia com queda da pressão arterial e pela freqüência respiratória, por depressão bulbar 4,23. Os primeiros minutos posteriores ao trauma cranioencefálico merecem grande atenção e agilidade por parte do clínico, pois o paciente geralmente se encontra em choque hipovolêmico. Nos casos de parada cardiorrespiratória 15 a circulação deve ser restabelecida o mais rapidamente possível, seguida de suporte ventilatório, pois o aspecto mais importante da ressuscitação encefálica envolve o controle cardiorrespiratório para a correção da hipoxemia, da hipercapnia, da hipertermia e da hipotensão
Prognóstico provável Grave Mau a reservado Bom
sistêmica, que são extremamente deletérias às células neuronais, tendo em vista que a isquemia cerebral total por mais de três minutos pode produzir lesão encefálica severa ou morte do animal 15,23. SUPORTE RESPIRATÓRIO O tipo de suporte à respiração dependerá do grau de comprometimento da função respiratória. A oxigenação deve ser incrementada através do fornecimento de oxigênio por cateter nasal ou tubo orotraqueal. A concentração de oxigênio oferecida deve permanecer acima de 95%, que permite reduzir ou prevenir lesões secundárias 15. A monitoração através da análise da concentração de dióxido de carbono (PaCO2) dos gases sangüíneos do paciente (hemogasometria), ou por meio de capnografia, deve ser realizada, para que se possa manter a PaCO2 entre 28 e 32 mmHg, o que pode ser alcançado com ventilação controlada, mantendo-se estável a relação da fração inspirada de O2 (FiO2), a relação ventilação-perfusão e a freqüência respiratória entre 10 e 20 movimentos/ minuto 23. O paciente não deve ser submetido à hiperventilação como medida profilática, na ausência de hipertensão intracraniana adequadamente mensurada
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ou de sinais clínicos sugestivos de hipertensão intracraniana 8. Vale ainda ressaltar que, no momento da manipulação para intubação do animal, não se deve pressionar a região cervical, adotando o devido cuidado para não obstruir as veias jugulares e deve-se manter sempre o paciente com a cabeça elevada em um ângulo de 30° em relação ao plano horizontal 24. Essas medidas promovem a reabsorção liquórica, aumento do retorno venoso, hipocapnia e vasoconstricção encefálica, reduzindo a pressão intracraniana em paciente com trauma cranioencefálico ou submetido a anestésicos que deprimem a respiração 8. FLUIDOTERAPIA EMERGENCIAL Os colóides são os fluidos mais utilizados pelos neurocirurgiões, pois são excluídos pela barreira hematoencefálica, restaurando o volume intravascular sem alterar o teor hídrico cerebral. Em contrapartida, os defensores da utilização de cristalóides isotônicos argumentam que o colóide pode atravessar a barreira hematoencefálica lesionada e exacerbar o edema pelo acúmulo de água na área afetada. A solução de Ringer lactato na dose de 40 a 90mL/kg/h demonstrou ser imprópria para o uso em pacientes com trauma craniano. Já a solução salina hipertônica (7,5%), administrada pela via intravenosa, na dose de 4 a 5mL/kg em cães e gatos hipotensos, demonstrou aumentar a contratilidade miocárdica e o débito cardíaco – com maior benefício do que as soluções salinas isotônicas –, para a redução do teor hídrico cerebral e a restauração da pressão arterial sistêmica 9,21,25. ANESTESIA As alterações fisiopatológicas induzidas pelo trauma cranioencefálico podem ter impacto na escolha do protocolo anestésico, principalmente se o paciente desenvolve sintomas de hipoventilação, hipoxemia, hipotensão sistêmica, taquicardia, arritmia cardíaca e hipertensão intracraniana. Como já citado, no coma e na morte encefálica o paciente encontra-se inconsciente e é incapaz de perceber o estímulo nociceptivo, dispensando o uso de anestesia 9,10. Geralmente, os agentes anestésicos alteram a fisiologia do SNC, e a escolha inadequada de tais fármacos pode agravar ainda mais o estado clínico 38
neurológico e cardiovascular do paciente, podendo aumentar a pressão intracraniana, agravar a isquemia cerebral, prolongar o edema cerebral e produzir herniação encefálica 17,26. Pequenas doses de opióides – como o butorfanol na dose de 0,05 a 0,2mg/kg, ou o fentanil na dose de 2 a 6µg/kg, pelas vias intramuscular ou intravenosa – podem ser importantes para diminuir os efeitos nocivos de substâncias vasoativas endógenas geradas pela dor, amenizando o estresse perioperatório do paciente. Entretanto, a morfina é contraindicada por estar associada à liberação de histamina, o que pode promover vasodilatação e hipotensão. Vale salientar que os opióides, quando em doses elevadas, podem induzir à hipoventilação e, caso sejam utilizados em pacientes com trauma cranioencefálico, deve-se empregar assistência ventilatória mecânica 8,27. O uso de xilazina deve ser evitado em pacientes com disfunção neurológica, por apresentar efeito hipotensor e induzir arritmia cardíaca, podendo ainda produzir êmese, o que aumentaria a PIC 28,29 e desencadearia convulsões 12. Os barbitúricos podem ser usados na indução anestésica de pacientes hemodinamicamente estáveis, pois diminuem significantemente o metabolismo e o fluxo sangüíneo encefálico e, conseqüentemente, a pressão intracraniana 11. Por outro lado, o uso profilático de barbitúricos em pacientes humanos com grave injúria encefálica não conteve a elevação da PIC e, muitas vezes, acentuou o mau estado clínico neurológico quando comparado com outras terapias 12,30. A hipotensão e a hipoventilação geradas pela ação dos barbitúricos podem agravar o foco da lesão e os sintomas neurológicos em conseqüência da elevação dos níveis da PaCO2 e da PIC, o que afeta negativamente a pressão de perfusão cerebral e aumenta os riscos de injúria encefálica secundária 7,9. Seu uso em terapia intensiva tem sido adotado sob constante monitoração do paciente, controlando a função mecânica ventilatória da respiração e a pressão arterial 11,30. Em virtude dos efeitos depressores no tronco encefálico sobre o centro regulador da respiração e da pressão arterial, os barbitúricos devem ser usados com cautela, principalmente em associação com outros fármacos hipotensores,
como o manitol e a furosemida 7. O tiopental sódico – na dose de 10 a 12mg/kg, IV – é o mais utilizado na rotina hospitalar. Como é considerado agente indutor de ultracurta duração, causando hipnose e proteção neurovegetativa, pode ser utilizado na indução anestésica do paciente com trauma cranioencefálico 8. Entretanto, outros anestésicos gerais injetáveis não barbitúricos oferecem maior segurança na indução anestésica do paciente com trauma cranioencefálico. O etomidato – na dose de 0,5 a 1,0mg/kg, IV –, ou o propofol – 2 a 3mg/kg, IV –, associados aos benzodiazepínicos, além de reduzir o fluxo sangüíneo e o metabolismo encefálico, diminuindo a PIC, causam discreta hipotensão sem alterar os valores hemogasométricos ou hematológicos do paciente em relação aos valores basais 31,32,33. Os benzodiazepínicos, diazepam e midazolam, reduzem o fluxo sangüíneo, a pressão intracraniana e a taxa metabólica encefálica. Associações de fármacos benzodiazepínicos com fentanil – em doses 0,2 mg/kg e 5µg/kg, respectivamente – também são indicadas como indutoras para a anestesia 28,29. A cetamina é totalmente contra-indicada em pacientes portadores de disfunções encefálicas, pois aumenta a taxa metabólica cerebral, a pressão intracraniana e o fluxo sangüíneo encefálico, além de reduzir a pressão de perfusão cerebral na presença de pressão sangüínea sistêmica normal ou aumentada 34,35. O halotano provoca vasodilatação cerebral, diminui a resistência vascular e aumenta o fluxo sangüíneo encefálico em 11 a 12% do valor inicial em cães, conseqüentemente elevando a PIC. O enfluorano, da mesma forma, aumentou a PIC e o fluxo sangüíneo encefálico em apenas 30 minutos. O sevofluorano e o desfluorano, apesar de diminuírem o metabolismo de O2 e de não possuírem potencial convulsivo, aumentaram o fluxo sangüíneo cerebral com posterior aumento da PIC, em relação ao isofluorano 8,36. Os anestésicos inalatórios halotano, enfluorano e metoxifluorano, bem como o cloridrato de cetamina, aumentam a pressão intracraniana e podem provocar hérnia cerebral ou cerebelar se o paciente estiver com a pressão intracraniana elevada 8. Além disso, o halotano deprime a contratilidade
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cardíaca em uma proporção 22% maior que o isofluorano. Este último, apesar de elevar um pouco a freqüência cardíaca, causa efeitos menos graves e ainda mantém o débito cardíaco em valores aceitáveis na concentração de até 2 CAM, sendo então considerado o anestésico de escolha para o paciente com trauma cranioencefálico, por diminuir a taxa metabólica e causar mínimos efeitos sobre o fluxo sangüíneo encefálico, conferindo maior proteção encefálica 37. Um importante aspecto no procedimento anestesiológico do paciente com trauma cranioencefálico é a monitoração contínua das funções cardiovascular, respiratória e temperatura corpórea, por meio de eletrocardiografia, monitores de temperatura, pressão arterial, oximetria e capnografia 8,21. Se possível, também é muito importante monitorar a pressão intracraniana, evitando que esta ultrapasse o valor de 20mmHg 9,21. TRAUMA E COMPRESSÃO MEDULAR O trauma da medula espinhal é uma das causas mais comuns de disfunção neurológica no cão, e tem como principais etiologias injúrias endógenas e exógenas 38. As doenças do disco intervertebral são consideradas endógenas, enquanto as fraturas e luxações vertebrais, provocadas por acidente automobilístico, são as causas exógenas que mais acometem os animais 16. As seqüelas fisiopatológicas resultantes da injúria primária geralmente decorrem da secção de processos axonais ou dos corpos celulares dos nervos e estruturas de suporte, como estruturas vasculares e células gliais, resultando na interrupção dos impulsos nervosos 38. Esta interrupção, quando completa (fratura ou luxação vertebral), promove a perda da sensibilidade dolorosa, o que dispensa o uso de anestesia caso haja necessidade de procedimento cirúrgico em região caudal, como a denervação da bexiga por celiotomia e a reparação de fratura tibial em cães e gatos com secção medular torácica 39. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO EMERGENCIAL O paciente com trauma agudo medular merece atenção, principalmente no que concerne às funções vitais. A
integridade das vias aéreas viabiliza a respiração e a dinâmica cardiovascular e, conseqüentemente, evita parada cardiorrespiratória e falência vascular. No caso de choque hipovolêmico, a reanimação através da correção da volemia e da hipotensão deve ser iniciada por meio de fluidos hipertônicos, como NaCl a 7,5%, 4mL/kg, IV, ou colóides e, em seguida, por fármacos vasoativos – como dopamina ou dobutamina, na dose de 5 a 10µg/kg/min, IV, ou efedrina a 0,3mg/kg, IV, diluída em 20mL de solução fisiológica e administrada lentamente, de acordo com os parâmetros vitais (freqüência cardíaca, ritmo e pressão arterial) 40,41. No trauma agudo medular, o tratamento com succinato sódico de metilprednisolona deve ser iniciado até oito horas após a injúria ou cirurgia – a uma dose de 30mg/kg, via intravenosa lenta, podendo repetir-se a aplicação na dose de 15mg/kg, IV 2 e 6 horas após a dose inicial, para prevenir as lesões secundárias 42,43. Outros corticosteróides, como a dexametasona, não demonstraram eficiência na proteção da medula após trauma espinhal 40. PROCEDIMENTO ANESTÉSICO O fluxo sangüíneo espinhal aparenta responder às variações da pressão arterial, e à PaCO2 de forma similar à regulação do fluxo sangüíneo encefálico 44. Estudos anteriores a este trabalho comprovaram que a perfusão da coluna medular foi reduzida em 50% quando a pressão arterial média diminuiu para 50mmHg, chegando a estagnar quando esta caiu para 30mmHg. Assim, o protocolo anestésico desse paciente deve otimizar ambas as funções – cardiovascular e respiratória –, na tentativa de coibir os efeitos da hipoperfusão e hipóxia e, conseqüentemente, a isquemia medular 42,45,46. Lesões medulares, especialmente aquelas craniais ou na própria junção cervicotorácica, podem interromper as conexões de tratos nervosos simpáticos advindos do tronco encefálico, diminuindo as funções motoras cardiovasculares, causando hipotensão e arritmia cardíaca; assim como conexões entre o centro respiratório e a origem medular dos nervos frênico e torácicos, levando à paresia ou paralisia respiratória, o que exige cautela no uso de fármacos
anestésicos, principalmente barbitúricos, pela depressão cardiorrespiratória dose-dependente que causam 46. Estudos revelaram uma elevada incidência de mortalidade provocada por colapso cardiovascular e insuficiência respiratória durante o trans e pós-cirúrgico de cães submetidos à descompressão da medula cervical 47,48,49. Esses pacientes devem ser monitorados com equipamentos como eletrocardiógrafo, monitores de pressão arterial e capnógrafo, que possibilitem o diagnóstico precoce dessas alterações 36. Nas cirurgias cervicais ventrais é imprescindível a intubação pela compressão traqueal. O risco de o animal desenvolver arritmias cardíacas durante a laminectomia da coluna cervical é duas vezes e meia maior do que na descompressão da coluna torácica 8,33,49. Na ocorrência de bradicardia sinusal ou bloqueio atrioventricular, causados pela estimulação transcirúrgica do nervo vago, devem ser administrados anticolinérgicos como a atropina, na dose de 0,04mg/kg, IM ou IV, para diminuir a ação parassimpática 50. Os opióides – como a morfina na dose de 0,5mg/kg, via SC ou IM, ou a meperidina na dose de 3 a 5mg/kg, IM – são indicados na pré-medicação e no pósoperatório de cirurgias espinhais 17,27; também o fentanil (5µg/kg) pode ser utilizado em pacientes com injúria medular para conter a dor e a ansiedade, evitando assim a liberação de aminas vasoativas que alteram a dinâmica circulatória sistêmica 19. Entretanto, deve-se ter cuidado com a sedação profunda, especialmente em animais com instabilidade vertebral com injúria medular ou com luxação atlanto-axial, devido à perda da proteção do tono muscular, o que desestabilizaria o local da lesão, agravando ainda mais a afecção medular 40,42. Para indução anestésica pode-se utilizar com cautela o tiopental, dependendo do estado clinico observado nos exames físico e neurológico, considerando os distúrbios cardiovascular e respiratório secundários. Os barbitúricos promovem um efeito protetor no trauma e na isquemia medular, pois diminuem o consumo de O2 neuronal, redistribuem o fluxo sangüíneo nos tecidos normais, reduzem a perda de potássio e diminuem o edema após a injúria isquêmica e a oxidação da membrana lipídica 51,52,53.
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A intubação do paciente deve ser realizada com cautela, com o auxílio de laringoscópio, principalmente se há suspeita de fratura ou luxação vertebral cervical. Nesse momento, a intubação deve ser procedida com o auxílio de mais uma pessoa, que manterá sempre a cabeça e o pescoço do animal eretos e rígidos, não causando flexão ou extensão cervical. Episódios de arritmias cardíacas, hipotensão, bradicardia e até parada cardíaca, têm sido constatados em função da intubação endotraqueal, pela estimulação vagal, em animais portadores de transtornos cardiovasculares 54,55. O halotano deprime a respiração por atuar sobre a medula e os nervos periféricos, além de causar relaxamento da musculatura bronquial pela inibição da mobilização de cálcio intracelular 56. O isofluorano é mais apropriado para o animal vítima de trauma ou injúria medular do que o halotano, pois seus efeitos cardiovasculares são mínimos, com manutenção do débito cardíaco, não sensibilizando o miocárdio às catecolaminas. No sistema nervoso central, causa redução da taxa metabólica e menor resposta do fluxo sangüíneo à PaCO2, conferindo proteção às células neuronais 54,56. ANESTESIA PARA MIELOGRAFIA A administração de meios de contraste radiopaco no espaço subaracnóideo caracteriza a técnica neurorradiográfica conhecida como mielografia. A mielografia é utilizada na exploração clínica e cirúrgica das enfermidades relacionadas aos distúrbios neurológicos da coluna vertebral de cães e gatos 57,58. Sua aplicação na rotina hospitalar pode ser limitada quando a saúde do paciente não oferece condições clínicas para o procedimento anestésico 59. A estimulação simpática e parassimpática, secundariamente às injúrias da coluna cervical ou mesmo por traumas durante a punção da cisterna cerebelomedular, pode culminar tanto em distúrbios do ritmo e da condução cardíaca como da pressão arterial 48. Isto é explicado pela proximidade entre o local da punção e a região bulbar do tronco cerebral caudal, na qual se localiza o centro vasomotor, onde a estimulação parassimpática poderia diminuir a pressão arterial e a freqüência cardíaca 60, bem como promover parada respiratória 40
transitória. Isso pôde ser verificado em cães com compressão cervical provocada por lesão de estruturas que interligam os centros respiratórios pontobulbares aos nervos espinhais da parede torácica e ao nervo frênico (que inerva o diafragma), durante o posicionamento para o exame mielográfico 3,47. Estudos realizados com macacos demonstram que não somente a compressão aguda sobre a coluna cervical, mas também a compressão da coluna torácica (T5 - T9) geraram graves episódios de arritmias, acompanhados de hipertensão aguda, constatando-se que as arritmias cardíacas podem surgir por envolvimento do sistema nervoso autônomo 48,61. Episódios de taquicardia 34 e bradicardia 62 sem causa justificada também ocorrem em cães submetidos a mielografia por injeção de meio de contraste na cisterna cerebelomedular. Os estudos demonstram que a mielografia, além de causar arritmias cardíacas, pode provocar hipotermia, particularmente em pacientes de pequeno porte ou se o período anestésico for prolongado 50. Por isso, a monitoração do paciente frente às arritmias cardíacas e à hipotensão tornase imprescindível, também para o sucesso da mielografia. Embora bastante utilizado para o exame mielográfico, o tiopental sódico – que tem propriedades sedativas e hipnóticas, pode elevar a freqüência cardíaca e causar taquiarritmias, pela ação simpaticomimética 30. A literatura revela poucos efeitos cardiovasculares do etomidato em cães, quando comparado com o tiopental sódico e o propofol 63, o que o torna o fármaco de eleição para a indução anestésica em procedimentos neurocirúrgicos (diminui a taxa de metabolismo cerebral de oxigênio e tem propriedades anticonvulsivantes) 32,64. Pesquisas demonstram a influência da anestesia sobre a freqüência de convulsões após a mielografia cervical com metrizamide, e certificam que o diazepam, administrado antes do exame, pode diminuir significativamente a freqüência de convulsões 65. Dentre os meios de contraste mais empregados ao longo dos anos na neurorradiologia, podem ser citados, do mais ao menos epileptogênico, o metrizamide, o iopamidol, o iohexol e, mais recentemente, o ioversol 66,67. O ioversol apresentou baixa incidência de convulsões na mielografia
de cães submetidos à associação anestésica de zolazepam-tiletamina ou levomepromazina, xilazina ou diazepam com tiopental 34. Frente à possibilidade de ocorrerem convulsões após a mielografia, deve-se considerar que os fenotiazínicos, como a acepromazina e a levomepromazina, além da cetamina e dos opióides, são epileptogênicos em cães e no homem 68,69, enquanto o diazepam, além de promover poucas alterações no ritmo e na freqüência cardíaca 28, é bastante eficiente na terapia anticonvulsivante de animais 70. Dentre os anestésicos voláteis, o halotano não é recomendado para pacientes com disfunção neurológica, pois aumenta em 200% o fluxo sangüíneo cerebral em cães com 1,1 CAM, podendo causar herniação cerebral ou cerebelar em pacientes com hipertensão intracranial. Visando coibir os efeitos de hipoperfusão e isquemia medular provocados por fármacos hipotensores, há estudos que indicam o isofluorano e o sevofluorano 71 como os mais adequados para a mielografia, pois têm efeitos anticonvulsivos 56. Apesar de promoverem leve diminuição da pressão arterial, mantêm a freqüência e o débito cardíaco mais estáveis que o halotano 37. Não há, na literatura consultada, um protocolo anestésico ideal e único para a mielografia, embora haja registros da obtenção de bons resultados com a combinação de diazepam e tiopental sódico 72. Em investigação experimental na qual esse protocolo anestésico foi utilizado em 30 cães hígidos – com o emprego de ioversol como contraste –, observou-se reação neuromuscular, talvez pré-convulsiva, em apenas dois animais 73. ESTADO CONVULSIVO O estado convulsivo, definido como uma atividade convulsiva contínua que dura mais de 30 minutos, ou como a ocorrência de duas ou mais convulsões sem recuperação total da consciência, é considerado uma emergência médica que requer rápido tratamento, tanto das convulsões como das anormalidades sistêmicas. As principais causas do estado convulsivo são: infecções, neoplasias, intoxicações, hipoglicemia, distúrbios metabólicos renais e/ou hepáticos e diabetes 74,75. As convulsões podem ser acompanhadas de descargas autonômicas, cujas
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manifestações sistêmicas incluem taquicardia, hipertensão e hiperglicemia 75. A elevação da pressão arterial média pode aumentar o fluxo sangüíneo encefálico e elevar à demanda metabólica cerebral. A manutenção desses sintomas por mais de 30 minutos pode promover deterioração fisiológica, cujas conseqüências podem resultar em falha da autorregulação do fluxo sangüíneo encefálico e danos cerebrais irreversíveis 32,76. Além disso, hipoglicemia, rabdomiólise e mioglobinúria podem ser desenvolvidas graças às intensas e contínuas contrações musculares esqueléticas, especialmente nas convulsões tônico-clônicas, acarretando ainda acidose láctica, hipercalemia, hipóxia e hipercapnia 6,77. ESTABILIZAÇÃO SISTÊMICA DO PACIENTE Oxigenação, vias aéreas e equilíbrio ácido-básico A avaliação das vias aéreas e a monitoração da respiração durante o estado convulsivo são de difícil implementação. Para melhorar o fornecimento de oxigênio por meio de máscara ou sonda intranasal, pode ser necessário anestesiar o paciente com fármacos anticonvulsivantes e monitorar a ocorrência de edema pulmonar neurogênico 77,78. A acidose respiratória ou a hipóxia detectada na hemogasometria devem ser tratadas imediatamente com o restabelecimento respiratório, uma vez que a acidose metabólica será resolvida mediante o controle das convulsões 15,75. ACESSO INTRAVENOSO A venopunção com cateter pode ser dificultada pelas intensas contrações musculares convulsivas, mas é necessária para a infusão de fluidos isotônicos e a correção de distúrbios metabólicos, bem com para a administração de fármacos destinados à contenção do estado convulsivo 77. Caso não seja possível realizar a venopunção, pode-se utilizar a via retal para a aplicação de fármacos anticonvulsivantes 79. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA A hipertermia gerada durante o estado convulsivo deve ser tratada prontamente por meio de resfriamento passivo. Caso a temperatura corporal exceda os 40°C, deve-se adotar o resfriamento ativo, incluindo lavagem gástrica, retal 42
e vesical com solução salina isotônica gelada, aplicação de gelo na superfície corporal ou colchão hipotérmico, sempre mantendo a contínua monitoração da temperatura e das funções vitais 74. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Para o tratamento agudo dos estados convulsivos, os fármacos benzodiazepínicos (diazepam, midazolam, lorazepam e clonazepam) são aqueles que têm demonstrado melhores resultados, principalmente o diazepam. Entretanto, devido ao seu curto período de ação, não devem ser instituídos como fármacos de escolha para uma terapia definitiva. Em cães e gatos, a dose recomendada é de 0,5 a 1,0mg/kg pelas vias intravenosa 80 ou retal 79, podendo ser repetida uma ou duas vezes nas primeiras duas horas, até um máximo de 20mg. Também em infusão intravenosa contínua, recomenda-se a dose de 2 a 5mg/kg/h, adicionada em solução glicosada a 5%. Caso o diazepam não controle as convulsões, deve-se considerar a possibilidade de utilizar o propofol, o tiopental sódico ou o fenobarbital 68,81. Em investigação realizada com cães, foi possível controlar estados convulsivos usando a compressão ocular de um ou ambos os olhos durante 10 a 60 segundos, com intervalos de 5 minutos, pela estimulação da função vagal 82. Os fármacos contra-indicados para pacientes epilépticos ou em estado convulsivo são principalmente os agentes tranqüilizantes fenotiazínicos e butirofenonas. Outros fármacos capazes de induzir convulsões são o sulfato de morfina e compostos análogos, bem como os estimulantes do SNC, como as xantinas, a exemplo da aminofilina 68. Os agentes dissociativos, como a cetamina e a tiletamina também devem ser evitados, pois aumentam o fluxo sangüíneo encefálico e a PIC, além de poder causar tremores e hipertonicidade muscular, aumentando o risco de convulsões durante a recuperação anestésica 83. O anestesista também deve estar atento às raças de cães predispostas à epilepsia idiopática – que pode se apresentar em forma subclínica –, como cocker spaniels, beagles, collies, dachshunds, golden retrievers, poodles, huskies siberianos, dentre outras, principalmente quando da escolha de agentes farmacológicos potencialmente epileptogênicos 76,84.
Alguns trabalhos citam que os agentes tóxicos, como os organofosforados usados para controle de parasitas externos, os carbamatos e a estricnina, também podem causar convulsões, que podem ser controladas com o pentobarbital sódico 4,68. O fenobarbital é considerado o fármaco de primeira escolha no controle da epilepsia e das convulsões prolongadas de cães e gatos, alcançando um percentual de 60 a 80% de cura em cães epilépticos se a concentração sérica for mantida dentro da faixa requerida 85. A dose do fenobarbital varia entre as espécies, sendo que no cão a dose inicial pode oscilar entre 1,5 a 5,0mg/kg via IV ou IM, a cada 12 horas. Deve-se enfatizar a necessidade de monitorar o paciente, a fim de evitar a ocorrência de depressão cardiorrespiratória, principalmente se este estiver sendo submetido à administração de outros fármacos, como a cimetidina, o cloranfenicol e o cetoconazol, que aumentam a concentração sérica do fenobarbital, podendo acarretar toxicidade 75,77. O propofol pode ser utilizado na recuperação de pacientes em estados convulsivos refratários 77. Esse fármaco apresenta efeitos similares àqueles do fenobarbital e dos benzodiazepínicos, suprimindo a atividade metabólica do SNC. Sua dose varia de 2 a 8mg/kg, via intravenosa, em bolus e em infusão contínua de 0,1 a 0,6mg/kg/min 86. Ainda não está bem comprovado o efeito protetor do tiopental e do pentobarbital sobre estruturas encefálicas envolvidas em estados convulsivos refratários. O certo é que ambos, em doses adequadas, quase sempre são eficazes no controle das manifestações físicas das convulsões, ressalvando-se o efeito hipotensor e depressor sobre o miocárdio. A dose dos barbitúricos oscila muito em função da administração prévia de outros fármacos pré-anestésicos durante o estado convulsivo refratário, principalmente se o animal foi submetido aos benzodiazepínicos ou fenobarbital, variando entre 3 a 15mg/kg, via intravenosa 77. A indução do “coma barbitúrico” faz-se necessária algumas vezes – em pacientes que sofrem de estados epilépticos refratários –, para preservar as funções neurovegetativas, requerendo ventilação mecânica contínua, infusão de solução salina e até pequenas doses
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de dopamina, que coíbem os efeitos secundários como depressão da pressão arterial e do metabolismo miocárdico, vasodilatação com diminuição do retorno venoso e redução da perfusão cardíaca 74. Os agentes inalatórios são indicados como última opção para o tratamento de estados convulsivos refratários. O isofluorano é o agente anestésico geral inalatório de eleição para esses casos. Nem todos os anestésicos voláteis apresentam ação anticonvulsivante; o enfluorano, por exemplo, pode aumentar a atividade convulsiva 8,56,75. A presença de movimentos involuntários, como tetanias, tremores, mioclonias e espasmos musculares, são sintomas de disfunção neuromuscular que podem mimetizar-se e confundir-se com episódios convulsivos 4. O opistótono e a hipertonia muscular extensora dos membros são comuns em pacientes com tétano. Esses sintomas, além de poder desenvolver-se diante dos traumas cranioencefálicos, são observados nas intoxicações causadas por estricnina, metronidazol e outros produtos químicos 4,5. Fármacos como os benzodiazepínicos e o pentobarbital sódico foram indicados para animais com tétano, objetivando o relaxamento muscular 87. As tetanias e tremores musculares, por exemplo, podem ser observados na hipocalcemia ou nos casos de eclampsia, bem como nos processos tóxicos causados por organofosforados. Nestas últimas duas afecções os benzodiazepínicos são indicados para controlar as contrações musculares 54. As câimbras musculares são vistas com maior freqüência em cães, principalmente naqueles das raças greyhound e scottie terrier, e seu tratamento compreende o uso da levomepromazina ou do diazepam 54,88. A ANESTESIA E O SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO As manifestações clínicas das neuropatias periféricas no cão são reveladas a partir de alterações sensitivas e do grau de disfunção motora. O grau de sensação pode estar ausente (anestesia), diminuído (hipoestesia) ou aumentado (hiperestesia ou dor). Já as disfunções motoras podem se manifestar através de distúrbios na locomoção, como o arrastar do membro ou a fraqueza muscular, as paresias e paralisias, e podem comprometer a
função respiratória na falha dos nervos torácicos e frênico. Isto gera a necessidade de rígida monitoração e/ou ventilação assistida ao tranqüilizar ou anestesiar pacientes com polineuropatias motoras, como polirradiculoneurites, polineurites, polineuropatias tóxicas, botulismo e miastenia, entre outras 5,54,87,88. As dores radiculares e neurais provenientes de afecções compressivas espinhais, como subluxações, luxações, fraturas, estenose lombossacra, discoespondilite avançada, neoplasias e extrusões ou protrusões de disco podem ser severas. Pacientes portadores dessas desordens devem ser tratados com opióides indicados para dores severas (morfina, buprenorfina, fentanil transdérmico, metadona) 17, antiinflamatórios não esteróides e cirurgia descompressiva das raízes e nervos atingidos 50. As dores neurais intensas também ocorrem em afecções e compressões de nervos periféricos, como a polirradiculoneurite, as fraturas ósseas de úmero (nervo radial) e de pelve, pela ação da extremidade proximal do pino intramedular em fraturas femorais (nervo ciático), e ainda nos schwanomas ou neoplasias
paraneurais e nos neuromas de caudectomia (nervos caudais), os quais requerem o uso de analgesia sistêmica e/ou local, junto à descompressão cirúrgica 18,27,89. VESTIBULOPATIAS Cães e gatos que portem doenças que afetam central ou perifericamente o sistema vestibular exibem, dentre outros, sinais como falta de equilíbrio, postura anormal da cabeça e do corpo, tontura, náuseas, vômitos, nistagmo e estrabismo 4,90. Fármacos vestibulossedativos, como a meclizina – na dose diária de 25mg para cães e de 12,5mg para gatos – e o diazepam, foram indicados para o alívio desses desconfortos em virtude de seus efeitos anticolinérgicos, anti-histamínicos e depressores da excitabilidade dos neurônios dos núcleos vestibulares 90. CONSIDERAÇÕES FINAIS O entendimento e a aplicabilidade das técnicas anestésicas corretas, apresentadas resumidamente no Quadro 2, são ferramentas imprescindíveis no atendimento clínico e cirúrgico de pacientes com distúrbios neurológicos. Deve ser objetivo do anestesista preservar a
Quadro 2 - Resumo dos procedimentos anestesiológicos gerais de cães e gatos com distúrbios neurológicos 8,12,36,37,75
1. Determinar e restaurar o estado cardiovascular, respiratório e neurológico; 2. Corrigir desequilíbrios hídricos, eletrolíticos e ácido-básicos; 3. Selecionar protocolo anestésico: a. Agentes pré-anestésicos: Butorfanol (0,05 a 0,2 mg/kg, IV ou IM) Fentanil (2 a 6 µg/kg, IM ou IV) Diazepam (0,5 mg/kg, IM ou IV) ou midazolam (0,1 a 0,2 mg/kg, IM ou IV) b. Indução anestésica: Propofol (5 mg/kg, IV) Etomidato (0,5 a 1 mg/kg, IV) Tiopental sódico (10 a 12 mg/kg, IV) Benzodiazepínicos + opióides (midazolam 0,2 mg/kg + fentanil 5 µg/kg, IV) 4. Manutenção: Isofluorano Sevofluorano 5. Anticonvulsivantes: Diazepam (0,5 a 1,0 mg/kg, IV ou retal - convulsão aguda) Propofol (5 mg/kg, IV) Fenobarbital (1,5 a 5,0 mg/kg, IV, a cada 12 horas) 6. Agentes vasoativos: Dopamina (5 a 10 µg/kg/min, IV - inotrópico positivo) 7. Iniciar ventilação mecânica ou assistida após a indução anestésica: Cão Gato Volume (mL/kg) 5 a 20 15 a 20 Freqüência (mov./min.) 10 a 20 10 a 12 15 a 20 15 a 18 Pressão respiratória máxima (cm H2O) 8. Monitoração da pressão arterial média: 80 a 100 mmHg 9. Eletrocardiograma (arritmias cardíacas); 10. Freqüência cardíaca: superior a 70 batimentos/minuto (cães) e 80 bpm (gatos) 11. PaCO2: 28 a 32 mmHg
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temperatura corporal, além das funções cardiovascular e respiratória em níveis satisfatórios, uma vez que vários desses parâmetros já podem estar alterados pela doença neurológica. O grande desafio é conhecer os fundamentos básicos de neurofisiologia e fisiopatologia dessas doenças, buscando minimizar as repercussões farmacológicas dos anestésicos em tais pacientes.
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Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Cardiomiopatia do boxer: revisão de literatura
Vivian Cristina Schwantes
Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária, UFRGS vivianschwantes@yahoo.com.br
Simone Tostes de Oliveira
MV, mestre profa. subs. Depto. Medicina Animal, FV/UFRGS
Boxer cardiomyopathy: a review
tostesimone@yahoo.com.br
Cardiomiopatía del bóxer: revisión de la literatura Resumo: A cardiomiopatia do boxer é uma doença familiar herdada que, em virtude de sua semelhança clínica e histopatológica com a cardiomiopatia arritmogênica ventricular direita (CAVD) dos humanos, vem sendo denominada de CAVD do boxer. A apresentação clínica de arritmia sem insuficiência cardíaca (IC) é uma particularidade na cardiomiopatia do boxer. Os cães podem permanecer assintomáticos ou apresentar sinais como síncope ou morte súbita. Uma pequena parcela dos animais afetados desenvolve IC esquerda e sinais de IC congestiva. O diagnóstico de CAVD baseia-se em uma combinação de fatores, como histórico familiar, exame eletrocardiográfico com Holter de 24 horas e achados histológicos de infiltração adiposa ou fibroadiposa no miocárdio. O tratamento geralmente é direcionado ao uso de antiarrítmicos, na tentativa de diminuir as arritmias ventriculares e os episódios de síncope. A suplementação com L-carnitina promove melhora da função cardíaca em alguns cães. Unitermos: Cães, arritmia, complexo ventricular prematuro, síncope Abstract: Boxer cardiomyopathy is an inherited familial disease that has also been called boxer arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy (ARVC) due to its clinical and histopathological similarities to human ARVC. The clinical presentation of arrhythmia without heart failure is fairly unique to this breed. The dogs can either remain asymptomatic or show signals as syncope or even sudden death. A few boxers develop left heart failure and congestive heart failure. The diagnosis of ARVC is based on a combination of factors, including family history, 24-hour Holter monitoring and histological findings of fatty or fibroadipous infiltration into the myocardium. Therapy generally relies on antiarrhythmic drugs in order to reduce syncopal episodes and ventricular arrhythmias. Supplementation with carnitine can sometimes improve the cardiac function in a small percentage of affected dogs. Keywords: Dogs, arrhythmia, ventricular premature complex, syncope Resumen: La cardiomiopatía del bóxer es una enfermedad familiar heredada, que debido a su semejanza clínica e histopatológica con la cardiomiopatía arritmogénica ventricular derecha (CAVD) de los humanos, está siendo llamada de CAVD del bóxer. La presentación clínica de la arritmia sin insuficiencia cardíaca (IC) es una particularidad en la cardiomiopatía del bóxer. Los perros pueden seguir siendo asintomáticos o presentar signos como episodios de síncope o muerte súbita. Una minoría de los animales afectados desarrolla la IC izquierda y signos de IC congestiva. El diagnóstico de CAVD se basa en una combinación de factores como la historia familiar, electrocardiografía con Holter y hallazgo histológico de la infiltración de grasa extensa en el miocardio. El tratamiento se dirige generalmente al uso de antiarrítmico, en el intento de disminuir las arritmias ventriculares y los episodios de síncope. La suplementación con L-carnitina promueve la mejoría de la función cardíaca en algunos perros. Palabras clave: Perros, arritmia, complejo prematuro ventricular, síncope
Clínica Veterinária, n. 64, p. 48-58, 2006
INTRODUÇÃO Por um longo período, os cães da raça boxer que apresentavam síncope e arritmias receberam diagnóstico de cardiomiopatia dilatada, porque alguns indivíduos eventualmente desenvolviam dilatação ventricular esquerda e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). No entanto, a maioria desses cães sofre primariamente de arritmias ventriculares, como resultado de doença miocárdica do ventrículo direito. Essa condição assemelha-se a uma desordem arrítmica que, em humanos, é denominada cardiomiopatia arritmogênica ventricular direita (CAVD); assim, o termo CAVD (ou ARVC, do inglês “arrhythmogenic right ventricular cardiomyopathy”) é atualmente usado para indicar a cardiomiopatia arrítmica do boxer 1,2,3. Em alguns casos, a doença pode progredir e envolver o septo 48
interventricular e a parede livre do ventrículo esquerdo, resultando em dilatação deste e disfunção sistólica 2,4. A cardiomiopatia do boxer é um processo lento e progressivo de degeneração do miocárdio, e suas características clínicas e histopatológicas são exclusivas para essa raça, quando comparadas a desordens miocárdicas primárias descritas em outras raças grandes ou gigantes (à exceção de um grupo de doberman pinscher com cardiomiopatia, nos quais foram relatados achados semelhantes) 5. É uma doença familiar em boxers 1,3,4,6: primariamente, ocorre uma disfunção na condução elétrica, que causa arritmias em determinados períodos 7, síncope ou morte súbita 3,4,5,8. Pode se observar uma grande variedade de sinais clínicos, porém a maioria dos cães com CAVD pode ser disposta em três categorias:
cães assintomáticos, porém com arritmia cardíaca; cães que apresentaram episódios de fraqueza ou síncope; e cães com sinais de insuficiência cardíaca congestiva 3,4,5,9. Em felinos, a CAVD de ocorrência natural também é reconhecida 10,11. ETIOPATOGENIA A CAVD é uma doença familiar herdada como um traço autossômico dominante com penetrância variável 1,3,4,6. Essa afirmação é reforçada por estudo que avaliou 54 boxers com arritmia familiar, 19 dos quais puderam ser distribuídos em três famílias distintas para avaliação do pedigree e, desses, 11 foram considerados portadores. Essa avaliação objetivou determinar um padrão de herdabilidade. Herança ligada ao cromossomo X e padrões autossômicos recessivos puderam ser excluídos, uma vez que dois pais portadores produziram uma descendente fêmea não afetada. Além disso, não se observou predisposição por sexo e havia indivíduos acometidos em todas as gerações 6. Os estudos voltados à identificação da base genética da CAVD no cão estão em rápido desenvolvimento, visto que o genoma canino e as mutações genéticas responsáveis pela CAVD em humanos já foram elucidados 1. Estudos recentes em seres humanos demonstram a ocorrência de apoptose (morte programada da célula) no miocárdio do ventrículo direito de pacientes com CAVD, contribuindo para a perda progressiva de cardiomiócitos e conseqüente IC e morte súbita. O mecanismo pelo qual o processo apoptótico se
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
desenvolve não está bem esclarecido, mas sugere-se que pode ser resultado de taquiarritmias ventriculares repetitivas; entretanto, devido ao padrão de herança familiar autossômico dominante, há indicativos de que esse processo se deva a fatores moleculares ou autossômicos e não simplesmente aos estímulos eletromecânicos da taquicardia ventricular. Em diversas amostras obtidas por biópsia endomiocárdica em humanos, os cardiomiócitos apoptóticos foram freqüentemente encontrados em regiões do miocárdio não substituídas por fibroadipócitos, indicando que a apoptose ocorre antes da infiltração fibroadiposa no miocárdio 12. Outros estudos demonstraram que a apoptose estava presente em 35% dos pacientes humanos com CAVD, especialmente no início da fase sintomática da doença 13. Em boxers com CAVD, a verificação de apoptose de cardiomiócitos associada à miocardite foi consistente com a hipótese de que a perda de células miocárdicas do ventrículo direito e a substituição por gordura e fibrose seja resultado de lesão induzida por miocardite e também mediada por células com morte programada. Há ainda evidências de que a miocardite tenha um papel importante na arritmogênese e morte súbita, por ser um achado freqüente em boxers com CAVD que morreram subitamente 1. Em um estudo em gatos portadores de CAVD, a apoptose foi detectada em 75% dos animais 14, e a miocardite foi um achado característico
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nos casos de substituição do miocárdio por tecido fibroadiposo 1. Outro fator que pode estar envolvido é a deficiência de carnitina, proposta como o mecanismo biológico intracelular responsável por desencadear alterações histológicas encontradas em boxers com a doença 5. Esse transtorno no metabolismo da carnitina ocorreria em alguns casos da forma menos comum da cardiomiopatia do boxer: a cardiopatia com insuficiência do ventrículo esquerdo e ICC 15. Como os ácidos graxos são o principal combustível metabólico do coração, teoriza-se que quantidades inadequadas de L-carnitina livre para transportar ácidos graxos causam disfunção miocárdica em conseqüência do metabolismo energético alterado. Cães com baixas concentrações de L-carnitina miocárdica geralmente apresentam concentrações plasmáticas normais. Isso sugere a possibilidade de defeito de transporte de membrana, e torna a avaliação das concentrações de carnitina plasmática um teste insensível para a deficiência de carnitina miocárdica. Evidências demonstram que a deficiência da L-carnitina não é a causa primária da maioria dos casos de cardiomiopatia dilatada em cães ou humanos, mas secundária a outra anormalidade genética ou adquirida, como um defeito mitocondrial, em cerca de 40% dos casos caninos 16. No entanto, ainda se discute se a cardiomiopatia dilatada é a causa ou o efeito da deficiência de carnitina 17. A
biópsia endomiocárdica se faz necessária para o diagnóstico definitivo da deficiência de carnitina 18. HISTÓRICO E APRESENTAÇÃO CLÍNICA A idade dos cães no momento do diagnóstico pode variar de 1 a 15 anos, com maior concentração (60% dos casos) na faixa etária compreendida entre 6 e 10 anos. Ao contrário do que se observa na cardiomiopatia dilatada em outras raças, não ocorre predisposição por sexo na CAVD 3,5. Os sinais clínicos são variáveis e os cães com CAVD podem ser divididos em três categorias, conforme sua apresentação 4,5,7. 1-Assintomáticos (categoria 1): Nesses casos, geralmente o cão é levado ao médico veterinário devido a outro problema ou para a realização de check-up, e a presença de arritmias pode ser detectada. Pode ocorrer morte súbita sem evidência dos sinais clínicos. 2-Cães com episódios de colapso (categoria 2): O cão pode ter apresentado um ou mais episódios de fraqueza ou síncope. A grande maioria desses episódios ocorre durante exercício ou excitação 2, e o cão freqüentemente parece normal entre os episódios de síncope 19. A queixa mais freqüente é de episódios breves (1 a 2 minutos) de colapso, com rápida recuperação 2 (Figura 1). 3-Cães com insuficiência cardíaca congestiva (categoria 3): Nesses casos, o
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Figura 1 - Cão boxer macho de três anos de idade, com histórico de vários episódios de síncope após exercício. Foram realizados eletrocardiogramas de rotina seriados e não foram detectados CVPs, sendo indicado o Holter para avaliação mais detalhada. Na radiografia mensurou-se escala cardíaca vertebral igual a 11,0
cão freqüentemente tem histórico de letargia progressiva, fraqueza, redução no apetite, tosse e aumento de volume abdominal (ascite) por um período variável de 3 a 7 dias (Figuras 2a, 2b, 3a, 3b). Episódios de colapso podem acompanhar esses sinais 5. Em uma pequena porcentagem (<10%), pode ocorrer dispnéia 3. ACHADOS DO EXAME FÍSICO Muitos animais com CAVD apresentam completa normalidade ao exame físico 2,4. Diversas arritmias podem ser observadas em boxers com CAVD, sendo as arritmias ventriculares as mais comuns 5,7. Destas, os complexos ventriculares prematuros (CVPs) são os mais freqüentes 7,9. Se as arritmias ocorrerem com baixa freqüência ou isoladamente, provavelmente o cão não terá sinais clínicos de doença cardíaca. Se ocorrerem em seqüência, podem resultar em fraqueza, colapso ou morte súbita. A síncope resulta de uma redução abrupta na perfusão cerebral 20, e geralmente ocorre quando há uma seqüência de CVPs 7. Se o coração não conseguir corrigir a arritmia por si e os CVPs continuarem, ocorre taquicardia ventricular, que por sua vez poderá levar à fibrilação ventricular. A fibrilação ventricular é a causa de morte súbita na maioria dos boxers com CAVD. Essas arritmias podem ou não ser detectadas à auscultação cardíaca, e a facilidade na sua detecção depende da freqüência em que o ritmo anormal ocorre 7. Mesmo em cães assintomáticos poderão ser auscultadas arritmias, e nos cães pertencentes às categorias 2 e 3 elas serão mais facilmente detectadas 5. O 50
A
B
C Figura 2 - Cão boxer de dez anos de idade, macho, com histórico de tosse e apresentando caquexia (a) e ascite (b). O traçado eletrocardiográfico revelou freqüência cardíaca de 140 batimentos por minuto e uma média de 20 CVPs/minuto (setas) (c)
CVP pode ser auscultado como um batimento extra sem pulso femoral correspondente (déficit de pulso), o que torna importante que se sinta o pulso simultaneamente à auscultação 3,7. Pode ocorrer pulso jugular positivo 21. Em estudo realizado com 112 boxers, foi constatado sopro devido à insuficiência de mitral em 41,1% dos cães com CAVD, e um ritmo diastólico de galope ou seja, presença da terceira bulha cardíaca, em 9,8% dos animais. Dessas alterações, a presença de ritmo de galope teve grande correlação com achados radiográficos de cardiomegalia e existência de ICC 5. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da CAVD ainda é um desafio, visto que não existe um teste diagnóstico específico para a moléstia.
Assim, o diagnóstico é baseado em uma combinação de fatores, incluindo o histórico familiar da doença, a presença de arritmias ventriculares, o histórico de síncope ou intolerância ao exercício, e achados histológicos de infiltração fibroadiposa do miocárdio 4. Outros exames para avaliação cardíaca, como a ecocardiografia e as radiografias torácicas, juntamente com o exame físico, podem auxiliar na detecção de disfunção sistólica e ICC. Eletrocardiografia Os cães com CAVD apresentam arritmias ventriculares que podem ser intermitentes 4,9, razão pela qual o eletrocardiograma normal não exclui o diagnóstico de CAVD. Os CVPs são comuns e podem ocorrer de forma isolada, em dupla, em bigeminismo ou como taquicardia ventricular paroxística (intermitente) 3,5,7. Alguns boxers podem apresentar CVPs por vários anos antes que ocorra taquicardia ventricular 19. A maioria dos CVPs tem origem no ventrículo direito (o QRS é positivo nas derivações II, III e aVF, com “morfologia de bloqueio de ramo esquerdo”) 2,3,4,5,21 (Figura 2c). Algumas vezes os CVPs são multiformes 3 – ou seja, originados de vários focos no miocárdio ventricular 7 – ou de um mesmo foco porém com alteração na condução dos CVPs 8 (Figura 3d). Também podem ser classificados como regulares, quando ocorrem em intervalos regulares de tempo, ou irregulares, se aparecem sem nenhum tipo de ordem aparente no eletrocardiograma 21. Como o eletrocardiograma de rotina dura apenas 2 a 3 minutos, esse teste não exclui a doença, pois registra arritmias apenas se elas forem freqüentes. Nesse caso, um eletrocardiograma com duração de 24 horas, denominado de Holter, seria o melhor meio para avaliar um boxer em relação à CAVD, registrando a quantidade e a complexidade das arritmias 2,3,4,7,9. A comparação estatística entre o eletrocardiograma e o Holter torna evidente a superioridade do Holter na detecção de arritmias esporádicas: um eletrocardiograma com duração de três minutos registra em média 240 batimentos, enquanto o Holter registra de 90.000 a 110.000 batimentos. Esta é a razão pela qual tantos boxers com CAVD apresentam eletrocardiogramas de rotina normais 7. O número exato
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C Figura 4 - Radiografia torácica de cadela boxer de oito anos de idade, que apresentava cansaço e dispnéia causada por (a) efusão pleural. O líquido foi drenado para alívio sintomático da paciente, e uma nova radiografia torácica permitiu a visualização de (b) uma massa localizada em mediastino cranial (setas) comprimindo caudalmente o coração. Um eletrocardiograma (DII, 50mm/s, 1cm=1mv) realizado na mesma ocasião demonstrou (c) presença de CVPs (seta) uniformes (média de 1CVP/minuto). A análise citológica do líquido detectou a presença de células carcinomatosas. Este caso exemplifica a importância da investigação de outras possíveis causas de arritmias, ou de CAVD concomitante com outras doenças
C
D
Figura 3 - Cão boxer de nove anos de idade, macho, com histórico de tosse e apresentando (a) caquexia, ascite e (b) edema subcutâneo do membro pélvico esquerdo. A radiografia torácica revelou (c) cardiomegalia, com escala cardíaca vertebral igual a 13,1, e edema pulmonar. O eletrocardiograma (DII, 50mm/s, 1cm=1mv) registrou (d) CVPs multiformes (setas vermelhas), períodos de trigeminismo ventricular (representado por seqüências de dois batimentos normais e um CVP – identificado com setas azuis) e duplas de CVPs (setas verdes). Os CVPs ocorreram em uma média de 30 por minuto. Apesar da gravidade do quadro, este cão não apresentava síncope
de CVPs necessários para um cão ser considerado afetado é desconhecido, porém a observação de mais de 100 CVPs em um período de 24 horas é altamente sugestiva da doença, particularmente na presença de arritmias complexas (em duplas, bigeminismo, taquicardia ventricular) 3,4. No entanto, ainda
não se de-monstrou que o número de CVPs esteja correlacionado à severidade da doença 9, já que cães afetados com o mesmo grau de arritmias podem permanecer assintomáticos ou desenvolver sinais clínicos 4. As arritmias supraventriculares são raras, estando geralmente associadas à forma menos comum da doença, a disfunção miocárdica sistólica. Podem estar presentes na forma de batimentos supraventriculares prematuros, taquicardia supraventricular, ou fibrilação atrial 3,5. No caso de ICC, cerca de 25% dos boxers apresentam fibrilação atrial 8.
Radiografia torácica As radiografias torácicas revelam marcada variação nos achados, desde normais até graus severos de cardiomegalia generalizada 5. Na maioria dos casos, as radiografias não apresentam alterações 2,3,4. O boxer apresenta normalmente uma
silhueta cardíaca maior do que aquela observada em outras raças, o que pode ser confirmado pelo valor da sua escala cardíaca vertebral normal (11,6 ± 0,8) 22, maior do que aquela descrita para outras raças (8,7 a 10,7). Outro fator importante a ser considerado é que muitos cães com doença cardíaca clinicamente significativa não apresentam cardiomegalia, e o tamanho do coração tende a ser normal ou menor em pacientes assintomáticos 5, o que limita o valor desse teste como triagem para doença cardíaca 22. Todavia, o exame radiográfico é importante para a diferenciação de outras enfermidades torácicas (Figuras 4a e 4b). Cardiomegalia generalizada com aumento leve a moderado do átrio esquerdo, congestão venosa pulmonar e edema pulmonar são vistos na forma incomum, com disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (Figura 3c) 2,3, sendo que alguns destes casos apresentam também efusão pleural 2. Ecocardiografia Como a cardiomiopatia do boxer é uma doença caracterizada primariamente por arritmias, a ecocardiografia não é o método de escolha para o seu diagnóstico, pois é mais utilizada para detectar
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aumento das câmaras cardíacas e diferenciar dilatação de hipertrofia do miocárdio 7. A maioria dos boxers com CAVD apresenta ecocardiografia normal 3,7. Esse exame é útil para detectar lesões cardíacas importantes, ou seja, para o diagnóstico morfológico; avaliar se há dilatação ou hipertrofia de câmaras e, desta forma, estimar a carga hemodinâmica; avaliar a função sistólica ventricular, estimar a função diastólica ventricular e avaliar a função valvular 23. Uma pequena porcentagem dos animais acometidos (aproximadamente 7%) apresenta evidência de dilatação do ventrículo esquerdo e hipocinese (disfunção sistólica) 3. A ecocardiografia somente será útil se o paciente tiver a forma incomum da doença, com dilatação ventricular 7. ACHADOS PATOLÓGICOS Achados macroscópicos À necropsia é possível encontrar dilatação do átrio e do ventrículo direitos, com redução da espessura da parede do ventrículo direito nas regiões apical, infundibular e abaixo da valva tricúspide, similares ao “triângulo da displasia”, observado em humanos com CAVD 15. Em estudo no qual 23 cães boxers com CAVD foram submetidos à necropsia, foi possível constatar dilatação moderada do ventrículo direito em 35% dos animais e observados aneurismas infundibulares em um cão com dilatação ventricular direita e em outros dois cães srd (sem raça definida) do grupo controle. Quanto ao peso do coração, à espessura da parede ventricular direita e à espessura do ventrículo esquerdo, não houve diferenças significativas em relação aos controles (sete cães srd sem doença cardíaca) 1. A única maneira de se obter um diagnóstico definitivo de cardiomiopatia é a avaliação histológica de amostras de músculo cardíaco 7, que pode ser obtida através de biópsia endomiocárdica ou à necropsia. A biópsia endomiocárdica é utilizada para o diagnóstico de CAVD em humanos 12 e já foi utilizada em estudos em cães e gatos, com relato de poucas complicações relacionadas ao procedimento 24,25. A biópsia endomiocárdica transvenosa é realizada com o cão sedado, em decúbito lateral, sob controle fluoroscópico. Em mãos experientes, esse procedimento não apresenta 52
alto risco nem dificuldade de execução, porém não está disponível na rotina 18. Histopatologia Os achados histopatológicos são semelhantes àqueles observados em humanos com CAVD 1. Ocorre um processo degenerativo das células miocárdicas, sendo a atrofia de miócitos e a infiltração adiposa as primeiras alterações observadas 5,15. Também pode ocorrer substituição de miócitos por tecido fibroso 1,2, forma denominada de fibroadiposa 1. A infiltração adiposa é caracterizada por distribuição difusa, com regiões multifocais de substituição por células adiposas no ventrículo direito, estendendo-se do epicárdio em direção ao endocárdio, muitas vezes em associação com moderada fibrose intersticial. A forma fibroadiposa consiste de regiões focais ou difusas com substituição por adipócitos, associadas com áreas de fibrose 1. Em outras áreas é possível observar degeneração de células miocárdicas como um processo ativo, com miocitólise e necrose de miofibrilas, acompanhado de hemorragias e infiltração celular moderada. Essa resposta celular é mais comumente mononuclear (macrófagos e linfócitos) e, ocasionalmente, há associação de células polimorfonucleares 5. Em estudos recentes, a miocardite caracterizada por infiltrados linfocíticos focais ou multifocais, associada à morte de miócitos, foi constatada em 61% dos boxers com CAVD avaliados. Alguns pesquisadores consideram a infiltração adiposa e fibroadiposa como estágios consecutivos da doença, mediados por miocardite: a forma adiposa seria um estágio inicial, e a infiltração fibroadiposa resultaria de lesão induzida por miocardite 1. A parede livre do ventrículo direito é a primeira e mais severamente afetada, mas outras porções dos átrios e dos ventrículos podem apresentar algum grau de envolvimento 5. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL É importante que se diferencie a CAVD de outras moléstias que cursem com sinais clínicos semelhantes, como: 1-Fraqueza episódica ou síncope 26: - Doenças metabólicas e hematológicas: anemia, hipoglicemia, hipo ou hiperadrenocorticismo, insuficiência renal;
- Doenças respiratórias: tosse (especialmente em raças braquicefálicas), más-formações ou doenças nas vias aéreas superiores, doenças pulmonares; - Doenças neurológicas; - Desordens cardíacas: estenose aórtica, cardiomiopatia dilatada, miocardite 20. 2-CVPs: - Defeitos congênitos (especialmente estenose aórtica), neoplasias cardíacas, valvulopatia crônica, miocardite, intoxicação com digitálicos, torção vólvulogástrica 26,27 (Figura 4c). 3-Morte súbita 26. - Intoxicações; choque; afecções cardíacas como miocardite, cardiomiopatia dilatada, cardiomiopatia hipertrófica; traumatismos 28,29. TRATAMENTO Geralmente, o tratamento é direcionado ao uso de antiarrítmicos, visto que a maioria dos cães com CAVD não apresenta disfunção sistólica ou ICC. Ao se prescreverem medicamentos antiarrítmicos, deve-se considerar os seus benefícios, como a capacidade de diminuir o número de CVPs, a gravidade da arritmia e os episódios de síncope. É importante a avaliação com Holter de 24 horas antes e após o início do tratamento, para determinar se houve resposta positiva ou efeito pró-arrítmico com exacerbação da arritmia, associado ao uso de diversos antiarrítmicos 4. Uma resposta é considerada positiva se houver redução de no mínimo 80% no número de CVPs, bem como redução na complexidade da arritmia. Um aumento superior a 80% no número de CVPs ou a exacerbação dos sinais clínicos após o início do tratamento sugere efeito próarrítmico. Recomenda-se considerar taxas superiores a 80% devido à variação diária no número de CVPs de até 83% observada em boxers com CAVD e não tratados 4,30. Por fim, antes de se iniciar um tratamento antiarrítmico, devem ser discutidos os riscos e benefícios do tratamento com o proprietário, além de considerar a praticidade de realizá-lo 12. Arritmias Em pacientes assintomáticos, ao se detectar arritmia em um exame de rotina, preconiza-se a avaliação por Holter
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de 24 horas, a fim de avaliar a freqüência e a complexidade da arritmia 2,4. É geralmente aceito que o controle farmacológico das arritmias ventriculares deva ser tentado se as extra-sístoles ocorrerem com uma freqüência maior que 20 por minuto em algum momento, se houver mais de 1000 CVPs em 24 horas, bem como o fenômeno R sobre T e também se houver arritmias ventriculares com configurações multiformes, em pares, ou taquicardia ventricular, ou se produzem sinais clínicos de redução do débito cardíaco 4,5,9,31. Em pacientes pertencentes à categoria 2 da doença, devem ser realizados exames laboratoriais para investigar outras causas de fraqueza ou síncope e, após a avaliação eletrocardiográfica, deve ser instituído o tratamento conforme a arritmia diagnosticada. Pacientes da categoria 3, além dos antiarrítmicos, devem receber também terapia para o controle da ICC. 2,4,5 As opções terapêuticas para cães têm sido tradicionalmente o uso de procainamida, mexiletina, quinidina ou betabloqueadores, como atenolol. Embora sejam muito efetivos para controlar ectopias ventriculares na maioria dos cães, esses fármacos não são tão eficazes no controle das arritmias do boxer. Altas dosagens são geralmente necessárias, o que freqüentemente causa efeitos colaterais indesejáveis 32. O sotalol, antiarrítmico da classe III com efeitos betabloqueadores e bloqueador de canais de potássio, tem mostrado bons resultados no tratamento de arritmias graves nessa raça 30. Estudos recentes, avaliando boxers com CAVD com ou sem episódios de síncope com mais de 500 CVPs em 24 horas e que foram submetidos a protocolos terapêuticos com atenolol, procainamida, sotalol e mexiletina associada ao atenolol, demonstraram que o sotalol e a associação de mexiletina e atenolol foram eficientes na redução da gravidade da arritmia. Como efeitos colaterais associados ao uso do sotalol têm-se a síncope ou o aumento dos episódios de síncope em 11,1% dos 18 cães avaliados, e efeito pró-arrítmico em 5,6% dos cães 30. Os efeitos adversos associados ao sotalol em cães em geral incluem hipotensão, bradiarritmias, depressão, náusea, vômito e diarréia 33. Embora a mexiletina tenha alta incidência de efeitos adversos, quando em combinação 54
com o atenolol pode ter sua dose reduzida, diminuindo tais efeitos. A combinação mexiletina-atenolol apresentou mínimos efeitos pró-arrítmicos, e 15% dos 13 cães avaliados apresentaram síncope após o início do tratamento 30. A administração de mexiletina juntamente com o alimento também pode reduzir efeitos adversos 4. Os efeitos adversos da mexiletina incluem letargia, ansiedade ou depressão, e devem ser controlados com a redução da dose. Em altas doses, o atenolol apresenta como efeitos adversos bradicardia ou bloqueio atrioventricular 33. A dose inicial recomendada do sotalol é de 1,5 a 2,0mg/kg, via oral (VO), a cada 12 horas 2,3,4,30, com o eletrocardiograma ou Holter devendo ser reavaliado após 5 a 7 dias. Se a dose não for efetiva, pode ser aumentada até 80mg/cão a cada 12 horas. Na combinação de mexiletina e atenolol, as doses VO são de 5 a 8mg/kg a cada 8 horas, e de 0,3 a 0,6mg/kg (ou 12,5mg/cão) a cada 12 horas, respectivamente 4. O tratamento das arritmias ventriculares no cardiopata descompensado que apresente risco de vida, principalmente naquele com taquicardia ventricular sustentada (contínua), deve ser realizado em âmbito hospitalar, e o fármaco de escolha é a lidocaína. Deve ser administrada uma dose em bolus de 2 a 4mg/kg por via intravenosa (IV), continuando com infusão contínua de 25 a 80µg/kg/ min em glicose a 5% 21,31,34. Se a arritmia ventricular for refratária à lidocaína, o segundo fármaco de escolha é a procainamida, que deve ser administrada por infusão IV lenta (6 a 8mg/kg por 5 minutos) 2,34, seguida por infusão contínua (25 a 30µg/kg/min por 3 horas) 3, ou intramuscularmente, até que seja possível a terapia de manutenção oral 34. O objetivo da medicação não é abolir o foco ectópico (já que isso geralmente requer doses tóxicas), mas controlar os efeitos deletérios da arritmia. Com a melhora do desempenho cardíaco com a medicação e outras modalidades de tratamento associadas, segue-se um aumento da oxigenação do miocárdio, e melhora espontânea da ectopia pode ocorrer. É importante que cada paciente seja reavaliado regularmente 31. Apesar do tratamento, arritmias ventriculares no boxer são difíceis de controlar, e muitos cães permanecem refratários à medicação 31.
Em animais com taquicardia supraventricular (sustentada ou paroxística), é improvável que a digoxina como agente único controle as arritmias, sendo indicada a associação de quinidina, ou o uso de quinidina apenas, pois esta é mais efetiva no controle das arritmias ventriculares, que freqüentemente estão presentes 5. O tratamento de cães da raça boxer que desenvolvem ICC assemelha-se ao tratamento de cães com cardiomiopatia dilatada de outras raças 4,5. De acordo com os sinais clínicos apresentados, devem ser incluídos fármacos vasodilatadores, digitálicos, diuréticos e tratamento sintomático como drenagem da ascite nos casos de desconforto do animal. Em alguns casos raros de fibrilação atrial associada a arritmias ventriculares, indica-se substituir a digoxina (que poderia piorar a arritmia ventricular) por agentes betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio para controlar a freqüência ventricular 5. Aspectos nutricionais A suplementação oral com L-carnitina (50mg/kg em intervalos de 8 horas) pode ser recomendada na cardiomiopatia dilatada, mas tal prática é onerosa e não deve ser considerada uma recomendação universal 4,10,16,35. A melhora da função cardíaca ocorre em uma pequena porcentagem dos casos de boxers que recebem L-carnitina 17. Apenas o isômero L-carnitina deve ser administrado, e é extremamente seguro, porém a D-carnitina e a mistura D-L-carnitina não devem ser utilizadas, pois a D-carnitina não é convertida a L-carnitina em mamíferos 18,36. Nos casos de ICC que apresentam retenção de água e de sódio, a restrição deste último elemento é recomendada. Para tal existem formulações caseiras ou dietas comerciais disponíveis no mercado 17. A seleção da dieta ideal para cada paciente depende do estágio da doença, dos sinais clínicos, dos parâmetros laboratoriais e do apetite do paciente 35. Se ocorrer caquexia é necessário instituir uma dieta que forneça suporte nutricional e module a produção de citocinas. A caquexia é um processo multifatorial causado por anorexia, aumento de requerimentos energéticos e aumento na produção de citocinas (fator de necrose tumoral – TNF –, interleucina-1) 37,38. Um
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dos métodos para reduzir a produção e os efeitos das citocinas é a suplementação com ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (ácidos eicosapentaenóico – EPA – e docosahexaenóico – DHA) 37, que também diminuem a susceptibilidade à ocorrência de arritmias cardíacas 21,39. A inclusão de óleo de peixe, rico em ômega-3, na dieta pode melhorar a condição corpórea em cães com ICC e, em alguns cães com anorexia induzida pela ICC, pode melhorar o apetite 37. A dose diária recomendada é de 30 a 40mg/kg para o EPA e de 20 a 25mg/kg para o DHA. Uma alternativa ao óleo de peixe é a administração de EPA e DHA em cápsulas 37,38. Também foi comprovado que a administração de vitaminas antioxidantes como vitaminas C (ácido ascórbico) e E (alfa-tocoferol) previnem o aparecimento de lesões oxidativas em células miocárdicas 21, mas estudos adicionais são necessários para definir quando usá-los e qual a dose adequada para cada caso 37. A dose recomendada de vitamina E é de 200 a 500UI/cão/dia 39. Esses produtos podem ser obtidos em farmácias da linha humana, e no Brasil estão disponíveis também nutracêuticos da linha veterinária. PROGNÓSTICO Pacientes assintomáticos ou aqueles com arritmia facilmente controlada podem viver por vários anos 4. Entretanto, uma pequena porcentagem dos cães poderá desenvolver dilatação ventricular e ICC, e a expectativa de vida nesses
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casos é de 3 a 6 meses. A probabilidade de desenvolvimento de arritmias nãoresponsivas ou morte súbita é elevada em boxers com CAVD 5,31. RECOMENDAÇÕES PARA O ACOM PANHAMENTO DE BOXERS QUE PARTICIPAM DE PROGRAMAS DE REPRODUÇÃO Tendo em vista o desafio de realizar um diagnóstico perfeito em cães assintomáticos, devem ser adotados critérios cuidadosos para auxiliar a determinar se um indivíduo assintomático é portador. Como a CAVD é uma doença que se manifesta em adultos e o grau de arritmia parece aumentar com a idade, aconselha-se uma monitoração anual com Holter. Também devem ser investigadas outras doenças sistêmicas ou outras doenças cardíacas que possam levar ao desenvolvimento de CVPs. Esse cuidado se justifica pois, a remoção inadvertida de um número significante de animais não portadores de programas de reprodução, pode levar ao detrimento do “pool” genético da raça. Sugere-se que sejam considerados com CAVD e possivelmente retirados de programas de reprodução aqueles cães que, após Holter de 24 horas, tenham de 100 a 300 CVPs com graus de complexidade (freqüentemente duplos ou com períodos de taquicardia ventricular), e aqueles que apresentem mais de 300 CVPs isolados. Pacientes com 100 a 300 CVPs isolados são considerados como suspeitos e devem ser retirados dos programas de
reprodução por um ano, após o qual procede-se à realização de novos testes. Aqueles com 20 a 100 CVPs são interpretados como indeterminados, sugerindo-se reavaliação depois de 6 a 12 meses, e cães com até 20 CVPs em 24 horas são considerados normais 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora o diagnóstico da CAVD continue sendo um desafio, diversos estudos ao longo dos anos permitiram diferenciá-la de outras doenças cardíacas. O conhecimento de que mesmo cães assintomáticos podem apresentar arritmias graves e risco de morte súbita permite ao clínico direcionar a rotina de avaliação e os exames em boxers, bem como implementar o tratamento adequado, quando necessário. O Holter de 24 horas é fundamental para o diagnóstico da CAVD, e é o exame mais eficiente para determinar o número e a complexidade das arritmias. REFERÊNCIAS
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Patrícia da Silva Nascente MV, MSc, doutoranda PPGCV/FV/UFRGS patsn@bol.com.br
Melissa O. Xavier MV, mestranda PPGV/FV/UFPel
Food hypersensitivity in dogs and cats
melissaxavier@bol.com.br
Cristiano Silva da Rosa
Hipersensibilidad alimentaria en perros y gatos
MV, mestrando PPGV/FV/UFPel csr@ufpel.tche.br
Lorena Leonardo Souza MV, MSc., doutoranda Biotecnologia/UFPel
Resumo: A alergia ou hipersensibilidade alimentar (HA) é um tipo de reação ao alimento com base imunológica, cuja patogenia é pouco conhecida. Um pequeno número de cães e gatos desenvolve sinais clínicos devido a essa reação imunológica, desencadeada pela ingestão de antígenos específicos da dieta, geralmente proteínas ou glicoproteínas. A HA está associada a prurido de intensidade variável, generalizado ou similar àquele encontrado na atopia e na hipersensibilidade à picada de pulga. Os sinais clínicos não são sazonais e apresentam pouca resposta à terapia com glicocorticóides. A idade dos cães que apresentam a enfermidade varia de seis meses a 12 anos. Essa enfermidade, de importância na clínica de cães e gatos, é revisada no presente trabalho. Unitermos: Pequenos animais, alergia
souzall@bol.com.br
Mário Carlos Araújo Meireles
MV, dr. Sc., prof. adj. Depto. Veterinária Preventiva/FV/UFPel meireles@ufpel.tche.br
Abstract: Allergy or food hypersensitivity is an immunological reaction to food that presents a poorly understood pathogeny. A small number of dogs and cats develop clinical signs due to the immune reaction triggered by the consumption of specific antigens of the diet, usually proteins or glycoproteins. Food hypersensitivity is associated with a generalized itch of variable intensity, sometimes similar to that found in atopic dermatitis or flea bite hypersensitivity. Clinical signs are not seasonal and do not cease upon glucocorticoid therapy. Affected dogs are usually between six months and 12 years old. This important disease in dogs and cats is reviewed in this work. Keywords: Small animals, allergy Resumen: Alergia o hipersensibilidad alimentaria (HA) es una reacción al alimento, con base inmunológica, que posee patogenia poco conocida. Un pequeño número de perros y de gatos desarrolla los síntomas clínicos debido a esa reacción inmunológica accionada por el consumo del antígeno específico de la dieta, generalmente proteínas o glicoproteínas. La HA se asocia al prurito con intensidad variable, generalizado o similar al encontrado en la atopia y en la hipersensibilidad a la mordedura de pulga. Los síntomas clínicos no son estacionales y presentan poca respuesta a la terapia con los glucocorticoides. La edad de los perros que presentan la enfermedad varía de seis meses a 12 años de edad. Esa enfermedad, de importancia en la clínica de perros y gatos, se revisa en este trabajo. Palabras clave: Pequeños animales, alergia
Clínica Veterinária, n. 64, p. 60-66, 2006 INTRODUÇÃO A alergia é uma resposta imunológica exagerada, que se desenvolve após a exposição a um determinado antígeno e que ocorre em indivíduos geneticamente susceptíveis e previamente sensibilizados. O termo hipersensibilidade alimentar (HA) também pode ser utilizado para esse tipo de reação adversa de natureza imunológica. A HA que acomete cães e gatos é uma desordem cutânea pruriginosa e não sazonal, associada presumivelmente ao material antigênico presente na dieta, e quase que exclusivamente causada por proteínas (primariamente, glicoproteínas) e peptídios, que escapam à digestão e são absorvidos intactos através da mucosa. A reação imunológica presente na alergia alimentar é similar àquela promovida pela defesa do organismo contra agentes infecciosos ou outros que lhe possam causar danos 1,2,3,4. 60
As reações adversas a alimentos em pequenos animais estão bem documentadas na literatura especializada. Os termos “alergia alimentar” e “hipersensibilidade alimentar” são amplamente utilizados, tanto na literatura médica humana quanto na literatura médicoveterinária, para descrever os sintomas induzidos pela ingestão de alimentos com posterior reação imunológica. As expressões “intolerância alimentar” – e ocasionalmente “sensibilidade alimentar” – são empregadas quando a etiologia imunológica se torna improvável ou não é estabelecida, ou seja, a intolerância alimentar é o quadro clínico ocasionado pela falta de uma ou mais enzimas ali mentares – como, por exemplo, a lactase (enzima do leite). Essa enzima ajuda a digerir um dos açúcares do leite, e a sua carência pode provocar, entre outros sintomas, cólicas e/ou diarréias. Muitas pessoas
João Roberto de Braga Mello
MV, MS, dr. prof. adj. Depto. Farmacologia/ICBS/UFRGS jmello@ufrgs.br
in to lerantes à lactose podem consumir determinados derivados do leite – como queijos secos ou iogurtes –, nos quais grande parte da lactose já foi eliminada 1,2,4,5. A HA é uma das condições que mais estressam animais, proprietários e médicos veterinários. Estima-se que 15% da população canina sofre de alergia, contexto no qual a HA ocupa o terceiro lugar de incidência, antecedida pelas alergias inalatórias (atopia) e pelas picadas de pulga (DAPP) 1. Alguns estudiosos acreditam que a HA pode ser a causa de 1% de todas as dermatoses observadas na clínica de pequenos animais, enquanto outros investigadores postulam que essa enfermidade representa entre 23 e 62% de todas as dermatoses alérgicas não sazonais 6,7,8. Entretanto, não há dados sobre a freqüência de dermatites alérgicas no Brasil. ETIOLOGIA Todas as proteínas da dieta são potencialmente alergênicas, pois são reconhecidas como estranhas pelo sistema imune e, muitas vezes, são os únicos alérgenos alimentares encontrados. A habilidade de uma proteína alergênica induzir um
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anticorpo IgE parece ser dependente de seu tamanho e estrutura: aparentemente, aquelas com peso molecular entre 10.000 e 70.000 daltons – especialmente aquelas cujo peso molecular varia entre 18.000 e 36.000 daltons – são capazes de estimular uma resposta imune 1. Os alérgenos dietéticos suspeitos ou confirmados são numerosos e incluem carnes bovinas, suínas, eqüinas, além de frango, peixe, leite bovino, ovos, trigo, aveia e mesmo carne de baleia, além dos derivados de soja e dos fungos presentes na água de beber. Um estudo prospectivo realizado com 20 cães alérgicos a ração listou os principais ingredientes encontrados nesses produtos comerciais: os resultados indicaram que 70% desses animais desenvolveram sinais de hipersensibilidade à carne bovina. O grande número de ingredientes alimentares utilizados nas rações comerciais de animais de estimação, bem como os métodos de processamento variáveis, são responsáveis pelo grande número de alérgenos descritos 8.
Há sugestão de que o desmame precoce de cães e gatos possa predispô-los à alergia alimentar. Em animais hígidos, o intestino delgado apresenta uma barreira protetora que limita a absorção de macromoléculas, mas essa capacidade funcional não é completa em animais jovens. Assim, algumas proteínas estranhas que chegam ao intestino imaturo podem atravessar essa barreira, penetrar no tecido linfóide e desencadear a reação imunológica 1. Possivelmente, um trato intestinal lesado – por parasitas ou enterite viral – permite a passagem do antígeno pelo mecanismo normal de defesa 3. PATOGENIA Embora a HA, manifestada principalmente pelas alterações cutâneas, tenha sido bem descrita na literatura médicoveterinária, a prevalência e a patogenia desse distúrbio são controversas. Reações de hipersensibilidade tipo I são bem documentadas, pois são as mais comuns em humanos, embora haja suspeitas do
envolvimento de reações do tipo III e IV 7,10. Assim, as reações alérgicas aos alimentos podem ser divididas basicamente naquelas de início rápido (tipo I) e de início lento (tipo IV). Os dois tipos de reação podem ocorrer isolada ou concomitantemente 11,12,13. As reações de hipersensibilidade do tipo I – conhecidas também como anafiláticas ou imediatas – são classicamente descritas como produtoras de anticorpos (IgE) reagentes e degranulação de mastócitos. Essas reações ocorrem em minutos, e desaparecem gradualmente dentro de uma hora. Tais respostas anafiláticas podem ser reações sistêmicas, que produzem choque, dificuldade respiratória – e algumas vezes são fatais –, ou reações localizadas que incluem condições alérgicas comuns como asma e urticária em humanos. Outros exemplos desse tipo de reação, além da hipersensibilidade alimentar em pequenos animais, são atopia, angioedema, DAPP e algumas erupções por drogas. A anafilaxia sistêmica está associada à sensibilidade
de antígenos injetados por via parenteral, porém a anafilaxia localizada está associada a agentes ingeridos ou inalados, e os sintomas dependentes da via pela qual o antígeno entra no organismo 4,13. Reações de hipersensibilidade tipo III, ou mediadas por imunocomplexos, caracterizam-se pela deposição de complexos circulantes de antígeno-anticorpo nas paredes dos vasos sangüíneos. Esses imunocomplexos, geralmente contendo IgG ou IgM, fixam complemento atraindo neutrófilos que ao se infiltrarem liberam enzimas proteolíticas e hidrolíticas, provocando lesão tecidual. Reações de hipersensibilidade e liberação de histamina podem ser importantes no início da deposição de imunocomplexos. Também são exemplos do tipo III de hipersensibilidade em cães e gatos o lúpus eritematoso sistêmico, algumas erupções por drogas e a hipersensibilidade bacteriana 3,4. Reações mediadas por células, tardias ou tipo IV, não envolvem anticorpos e sim células, principalmente as células T. Ao invés de ocorrerem dentro de poucos minutos ou horas após o indivíduo sensibilizado ser novamente exposto a um antígeno, essas reações tardias não são aparentes por um dia ou mais. Um importante fator no atraso é o tempo requerido para as células T e macrófagos participantes migrarem e acumularem-se junto aos antígenos estranhos. As células já sensibilizadas, em contacto com o antígeno, ativam células T, que liberam citocinas, fator importante nesse tipo de reação, contribuindo para a reação inflamatória e atraindo e ativando macrófagos. Hipersensibilidade de contacto, DAPP e algumas erupções a drogas são exemplos clássicos desse tipo de reação 3,4. SINTOMATOLOGIA Embora as causas da HA nos seres humanos e animais sejam muito semelhantes, a manifestação dos sintomas é bastante diferente: em humanos, os sintomas mais comuns são respiratórios – bronquites e rinites acompanhadas ou não de coriza –, ao passo que, nos animais e principalmente nos cães, a principal característica da alergia são manifestações relacionados com a pele. O animal alérgico apresenta prurido intenso e, na maioria dos casos, esse prurido leva ao autotraumatismo, que pode 62
desencadear o aparecimento de outras doenças secundárias na pele, tornando o diagnóstico e o tratamento uma tarefa difícil e demorada 15. Em geral, a queixa primária é o prurido, que aparece principalmente nos pés, nas orelhas, na face e nas axilas, de modo semelhante ao que ocorre na atopia, tendo o aspecto não sazonal e baixa reatividade ao uso de glicocorticóides 3. Porém, existe um estudo cujos resultados demonstram que 18 de 51 cães com HA responderam completamente à terapia com glicocorticóides 10. Os sinais clínicos associados ou secundários à HA resultam de autotraumatismo e infecções bacterianas ou fúngicas secundárias. Com a evolução do processo – e dependendo da gravidade dos sintomas ou da ocorrência de outras doenças de pele –, esses animais passam a apresentar prurido disseminado, que pode promover o aparecimento de lesões localizadas ou generalizadas. Essas lesões quase sempre se contaminam com as próprias bactérias presentes na microbiota cutânea do animal, fazendo com que o processo se agrave. Não há um sinal patognomônico para a HA no cão ou no gato, mas diversas lesões primárias ou secundárias são observadas nessa patologia, incluindo pápulas, pústulas, urticárias, eritema, escoriações, escamas, crostas, colarinhos epidérmicos, pododermatite, desqueratinização e otite externa bilateral. O prurido estacional pode ser associado à alergia alimentar, mas o prurido intenso não sazonal é o sinal mais comum nos cães 3. O prurido ótico é uma característica significante em alguns cães 10. Raramente são descritos animais sem prurido e não se observa predisposição etária ou sexual em cães ou gatos com HA: essa disfunção pode ocorrer em cães jovens ou adultos, machos ou fêmeas. A idade de aparecimento da enfermidade é variável e, na maioria dos casos, decorre da alimentação com a dieta ofensora por pelo menos dois anos. Os proprietários raramente relacionam o início de sinais clínicos a qualquer alteração recente na dieta 1,8. Em algumas raças, as alergias aparecem com mais freqüência, principalmente devido a fatores de ordem genética. Dentre as raças mais predispostas, incluem-se: cocker spaniel inglês, rotweiller, akita, retriever do labrador,
golden retriever e poodle, dentre outras 6. Há autores que consideram que os cães das raças pastor alemão e golden retriever e os gatos siameses são mais susceptíveis a alergias no universo das raças, embora não tenha sido demonstrada influência de fatores genéticos 8. Entretanto, a maioria dos estudiosos concorda que não há predisposição racial evidente 16,17. Sintomas gastrintestinais, como diarréia, ocorrem em menos de 15% dos cães acometidos; já nos gatos, esses sintomas são mais comuns 8,18. Foi demonstrado que 97% dos animais alérgicos mostram apenas sinais dermatológicos, enquanto que 10 a 15% desenvolvem a enfermidade gastrintestinal, com ou sem manifestações cutâneas 19,20. Outros sinais clínicos associados a essa alergia incluem além de otite externa crônica – que pode ser o único sinal clínico ou estar associado com prurido generalizado –, pioderma recorrente por estafilococos, dermatite recorrente por Malassezia spp. e desqueratinização. Nos felinos esse prurido geralmente é mais restrito à face e ao pescoço, associado a padrões de reação cutânea como dermatite miliar, angioedema-urticáriopruriginoso, placa eosinofílica e úlcera eosinofílica. Além disso, ainda pode ocorrer a manifestação de colite linfocítica-plasmocítica que, habitualmente, é pouco evidente nos cães. Ocasionalmente, descrevem-se sinais neurológicos (convulsões epileptiformes) e angústia respiratória 7,18. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O diagnóstico de HA requer cooperação e paciência do proprietário do animal. Primariamente, deve-se descartar outras causas de dermatoses alérgicas, o que inclui atopia, DAPP e alergia medicamentosa, além de outras dermatites não alérgicas 1. Sugere-se que a HA em felinos deve ser diferenciada de outras lesões pruriginosas ulcerativas e crostosas, como a escabiose, o pênfigo foliáceo, a queratose actínica e o carcinoma espinocelular 17. Os testes intradérmicos com antígenos de alimentos e testes sorológicos para IgE, antígeno específico por RAST (Radio allergosorbent test) e ELISA são raramente úteis, pois podem causar confusão na interpretação do resultado. Os indivíduos alérgicos freqüentemente
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Quadro 1 - Rações comerciais para hipersensibilidade alimentar existentes no Brasil
Ração
Fonte protéica
Canine d/d rice & egg - Hill´s
Ovo
Pedigree Sensitive
Carne de cordeiro
Canine z/d low allergen - Hill´s
Fígado de frango hidrolizado
Sensitivity Control S/O E - Royal Canin
Hypoallergenic canine DR 21- Royal Canin Hypoallergenic feline DR 25 - Royal Canin Proplan skin/stomach formula - Purina
Proplan Puppy Sensitive Skin formula - Purina Eukanuba Response Fórmula
Equilíbrio Cães Adultos Sensíveis - Total
têm concentração sérica mais alta de anticorpos IgE que os não-alérgicos. No entanto, um indivíduo alérgico pode apresentar níveis muito mais altos de IgE contra um ou poucos alérgenos específicos, mesmo sem ter níveis de IgE totais elevados no seu sangue. Assim, o uso da concentração da IgE total como diagnóstico é limitado 10,13. O teste de ELISA, apesar de ter uma sensibilidade de 100%, possui uma especificidade de 0%. O teste de RAST apresenta resultado negativo sempre verdadeiro, porém o resultado positivo nem sempre o será. O teste intradérmico é realizado com extratos alimentares, mas geralmente sua realização não é compensadora devido a alterações na composição do alérgeno no momento da digestão ou devido à diluição apropriada do antígeno teste 13,17. O único método eficiente e mais freqüentemente utilizado para o diagnóstico de hipersensibilidade alimentar é a dieta de eliminação. A dieta de eliminação consiste em retirar, da alimentação do animal – por determinado período (no mínimo 45 dias) –, todos os ingredientes que este já tenha ingerido anteriormente, e reintroduzí-los aos poucos. Ao retirá-los, implementa-se a substituição por alimento desconhecido ao animal; muitos pacientes necessitam de período maior do que este, até que os sintomas dermatológicos se resolvam. Esse tempo costuma ser de oito a dez semanas. Deve-se fornecer ao animal uma dieta com número muito limitado de ingredientes alimentares, baseada em uma fonte de proteína e em uma fonte de carboidrato, como por exemplo, arroz e carne de ovelha, em uma mistura 1:1 para cães ou uma comida para
Carboidrato
Arroz
Batata
Observações do Fabricante -
-
Arroz
-
Frango
Arroz
Livre de glúten e de lactose
Proteína de soja hidrolizada
Arroz
-
Proteína de soja hidrolizada
Arroz
-
Salmão
Arroz
Carne de peixe
Batata e polpa de beterraba
Salmão
Salmão
-
Arroz
Arroz
bebês com base em carne de ovelha para os gatos, considerando-se que tais animais não tenham ingerido tal proteína há algum tempo. A dieta deve ser individualizada de acordo com o caso, e sempre baseada nos dados obtidos pela anamnese 9,10,17. Não existe uma única dieta de eliminação para todos os cães suspeitos de apresentarem HA e, para alguns, a única dieta apropriada é aquela de preparação caseira. As diversas opções de ração comercialmente formuladas para uso como dieta de eliminação oferecem como vantagem a fácil utilização pelos proprietários, além de serem nutricionalmente completas e balanceadas. Entretanto, não devem conter corantes, conservantes e aromatizantes, e os suplementos vitamínicos e minerais devem ser suspensos 23. Também há registro de que alguns cães pruríticos não melhoraram com o uso de rações comerciais, mas apresentaram melhora acentuada quando alimentados com dietas caseiras. Isto explica por que alguns animais domésticos alérgicos toleram as dietas caseiras, embora desenvolvam reação alérgica a dietas comerciais formuladas com os mesmos ingredientes 21,22,23. O objetivo do uso de rações comerciais – conhecidas também como rações hipoalergênicas – é a obtenção de uma proteína modificada, na qual há alteração das características físicas das moléculas que a tornará incapaz de promover uma resposta imune. Isto tem sido obtido através da proteólise enzimática, processo que reduz o peso molecular da proteína para menos de 18.000 daltons, o que representa o limite inferior para muitos antígenos alimentares. Muitas
Opção para filhotes
Farinha de arenque -
outras rações oferecem novas fontes de proteína, pois são fabricadas com ingredientes incomuns à dieta animal, mas estes produtos, não costumam ser hipoalergênicos. A eficácia na redução dos sintomas, neste caso, deve-se única e exclusivamente ao aspecto novo da proteína. Nenhuma proteína, animal ou vegetal, é conhecida por ser menos alergênica do que outra, dado que a predisposição à hipersensibilidade alimentar parece ter um caráter genético, tanto que a estratégia da nova proteína poderá falhar se o animal desenvolver hipersensibilidade a ela 24. Cães com dermatite alérgica 24, excluindo DAPP, foram estudados e observou-se melhora do quadro clínico em 45,7% dos animais que utilizaram uma dieta de eliminação comercial a,b. Dietas comerciais (Quadro 1) são indicadas na forma seca para serem utilizadas como dieta de eliminação c. Outros autores sugerem para cães uma ração comercial d que contenha os ácidos graxos essenciais ômega 3 e ômega 6, indicados para tratamento de cães pruríticos 13,15. Duas outras rações 15 também foram avaliadas por estudiosos e o resultado revelou que, dentre os cães hipersensíveis a alimentos pesquisados e que receberam tais dietas, 15 a 25% tornaram-se pruriginosos novamente 9,16. Em outra investigação de 30 cães com alergia alimentar 21 a maioria demonstrou melhora durante a segunda ou a terceira semana em que receberam dieta de eliminação, embora tal melhora não fosse uma a) Pedigree® Selected Protein diet - Masterfoods. Guararema, SP b) Prescription diet® canine d/d - Hill´s. São Paulo, SP c) Eukanuba veterinary diets Response FórmulaFPTM, Iams Company. São Paulo, SP d) Canned d/d e dry d/d. Hill's Pet Products. São Paulo, SP
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melhora máxima. Ocasionalmente, pode-se apresentar ao clínico um animal com prurido tão severo que justifique a administração de corticosteróide oral enquanto a dieta está em progresso. A predinisona ou predinisolona na dose de 0,5 a 1mg/kg a cada 24hs por via oral, durante 10 dias, pode ser uma opção. No entanto, deve-se alertar o proprietário de que seu efeito poderá não ser satisfatório. No caso de sua utilização, a medicação deve ser interrompida no mínimo duas semanas antes da interrupção da dieta, para ava liar sua resposta. Os mesmos parâme tros devem ser aplicados quando da administração de antibióticos a animais com piodermite secundária 8. Logo após, pode-se desafiar o animal com sua dieta original e observar recidiva entre 72 horas a dez dias, para confirmar o diagnóstico. Esse teste muitas vezes é recusado pelo proprietário do animal, devido ao receio de retorno dos sintomas clínicos. Tal teste pode confirmar o diagnóstico de HA, porém não identifica claramente qual o alérgeno componente da dieta original que provocou referida reação. As opções do proprietário são: retornar à dieta de eliminação permanentemente, ou pesquisar exatamente qual o componente alérgeno. A identificação exata do(s) alérgeno(s) envolvido(s) é fundamental, e isso pode ser feito por meio de nova remissão dos sintomas, com o uso da dieta de eliminação seguida pela reintrodução de componentes da dieta original, um a um, semanalmente. Esse método é mais demorado, porém fornece mais informações, permitindo identificar cães com múltiplos alérgenos, já que o reaparecimento dos sintomas indica que o animal é alérgico a tal ingrediente. Há relato de retorno dos sinais clínicos 14 dias após o reinício da dieta anterior 8, e também registro de que três cães apresentaram retorno dos sinais clínicos sete a nove dias e um cão 14 dias depois da reintrodução da dieta anterior 10. O êxito no manejo de animais alérgicos também depende da identificação de outros possíveis alérgenos que possam contribuir para o prurido. Muitos proprietários preferem simplesmente encontrar a dieta tolerada sem tentar identificar os ingredientes antígenos específicos. 64
Porém, a simples mudança para um novo alimento comercial raramente é efetiva devido ao fato de que a maioria das rações contém ingredientes semelhantes 1. Uma alternativa que vem sendo utilizada para controlar os sintomas são as vacinas preparadas individualmente, de acordo com os resultados dos testes para o diagnóstico da alergia. Esse método de tratamento é denominado hipossensibilização ou imunoterapia, e consiste na aplicação de extratos altamente purificados das substâncias às quais o animal é sensível durante um tempo bastante prolongado, que pode variar de nove meses a três anos. O tratamento injetável é aplicado em concentrações progressivas, aumentando o nível de tolerância do animal às substâncias que causam os processos alérgicos, diminuindo os sintomas progressivamente e fazendo com que o animal viva mais confortavelmente. A melhora do estado clínico é observada, na maioria dos casos, após três a cinco meses do início do tratamento e, nesta fase, as injeções são aplicadas somente uma vez a cada 20 dias. Os efeitos colaterais são extremamente raros e, caso alguma reação venha a ocorrer, é uma manifestação temporária e não apresenta nenhum risco de vida ao animal 15. As doenças alérgicas podem ser confundidas com outras doenças, como a dermatite seborréica, as piodermites e a sarna sarcóptica ou demodécica; muitas vezes, essas doenças podem aparecer associadas com a alergia propriamente dita. É preciso, ainda, diferenciar a HA da carência ou intoxicação nutricional, pois, na totalidade de um ou outro caso, a maioria dos sinais clínicos está presente, e muitos deles se assemelham em vários pontos 24. As deficiências minerais em maior ou menor grau, causam inapetência e crescimento anormal, com diversos graus de intensidade. A alopecia, a dermatite e as lesões cutâneas de paraqueratose ou hiperqueratose são características de deficiência de zinco em todas as espécies animais e, portanto, cons ti tuem-se em um forte indicativo para a suspeita de carência de zinco na ração. Porém, esse tipo de lesão pode ocorrer como conseqüência de uma grave deficiência de vitamina
A, cobre ou de intoxicação por selênio, além de carências de biotina, ácido pantotênico e riboflavina. O antagonismo entre minerais e mi neraisvitaminas também deve ser levado em consideração 24. Não há achados laboratoriais consistentes da HÁ em pequenos animais. A eosinofilia periférica pode ou não estar presente. A biópsia cutânea reflete a variabilidade da morfologia macroscópica das lesões de pele. Os achados histopatológicos não são diagnósticos, e geralmente se caracterizam por dermatite perivascular, com predomínio de neutrófilos ou células mononucleares e alterações supurativas secundárias variáveis. A eosinofilia tecidual é incomum, mas já foi descrita por alguns autores 7,25. CONSIDERAÇÕES FINAIS Não se sabe perfeitamente por que algumas substâncias são alergênicas e outras não, nem por que nem todos os indivíduos desenvolvem reação alérgica após exposição aos alérgenos. É possível que haja uma contribuição genética às doenças alérgicas, pois em humanos há estudos que indicam que crianças cujos pais são alérgicos são mais propensas a serem também alérgicas 15. A HA em cães e gatos sempre deverá ser pesquisada quando um animal desenvolver dermatite pruriginosa não sazonal. A identificação de um ou mais alérgenos dietéticos, responsáveis pela hipersensibilidade alimentar, poderá consumir muito tempo e requerer muita confiança por parte do proprietário, porém sua confirmação deverá garantir o sucesso terapêutico, com remissão da sintomatologia clínica. Uma perfeita anamnese, contemplando tudo o que o animal ingere ou já ingeriu, torna-se necessária até que se possam identificar todas as origens da dieta do animal, em especial as protéicas 15,24. O prognóstico é bom, apesar de alguns animais tornarem-se alérgicos novamente quando expostos a nova fonte protéica. O objetivo terapêutico consiste em controlar esse transtorno, já que a hipersensibilidade alimentar não pode ser curada, e ainda pode propiciar outras enfermidades secundárias 1.
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Manifestações oculares na leishmaniose visceral canina revisão Ocular manifestations in canine visceral leishmaniasis - review
Fábio Luiz da Cunha Brito
MV, doutorando Depto. Clín. Cir. Vet. - FCAV/UNESP-Jaboticabal prof. ass., UEM-Umuarama fabiobrito@click21.com.br
Leucio Câmara Alves
MV, prof. adj. Depto. Medicina Veterinária - UFRPE leucioalves@walla.com
José Luiz Laus
MV, prof. tit. Depto. Clín. Cir. Vet. - FCAV/UNESP-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br
Manifestaciones oculares en la leishmaniasis visceral canina - revisión Resumo: Uma das mais singulares manifestações clínicas decorrentes do calazar canino são as afecções oculares. Podem ser observadas desde pequenas alterações nos anexos oftálmicos até a perda da visão. Ambos os segmentos oftálmicos podem estar acometidos, porém o anterior é notadamente o mais afetado. A uveíte e a conjuntivite são as condições mais comumente observadas em cães infectados. Na etiopatogenia das lesões, estão envolvidas a presença local do parasito e mecanismos imunogênicos. Embora menos freqüentes que outros sinais clínicos - ou até mesmo ausentes em certos casos -, as afecções oculares, quando presentes, devem ser incluídas no diagnóstico diferencial de outras oftalmopatias, principalmente em animais procedentes de áreas endêmicas. Unitermos: Cães, olho, Leishmania Abstract: Ocular lesions are among the most peculiar clinical manifestations of the canine kalazar. They can vary from small alterations in the ophthalmic enclosures until complete visual loss. Both ophthalmic segments can be involved, although the anterior one is the most affected. Uveitis and conjunctivitis are the most usual conditions observed in infected dogs. The etiopathogeny is linked to the local presence of the parasite and immunogenic mechanisms. Even though ocular lesions are less frequent than other clinical signs of leishmaniasis and may even be absent in some cases, they should be included in the differential diagnosis for other ophthalmopathies in animals coming from endemic areas. Keywords: Dogs, eye, Leishmania Resumen: Entre las manifestaciones clínicas secundarias a la leishmaniasis visceral canina, las afecciones oculares se caracterizan como las más singulares. Pueden ser observadas desde pequeñas alteraciones en los anexos oftálmicos hasta la pérdida de la visión. Ambos segmentos oftálmicos pueden estar acometidos, sin embargo, el anterior es notadamente más afectado. Uveítis y conjuntivitis son las condiciones más comúnmente observadas en perros infectados. En la etiopatogenia de las lesiones, está implicada la presencia en el local del parásito y mecanismos inmunogénicos. Mismo siendo menos frecuentes comparativamente a los otros señales clínicos, o mismo estando ausentes en ciertos casos, las afecciones oculares, cuando presentes, deben ser incluidas en el diagnóstico diferencial de otras oftalmopatías, principalmente en animales que procedan de áreas endémicas. Palabras clave: Perros, ojo, Leishmania
Clínica Veterinária, n. 64, p. 68-74, 2006
INTRODUÇÃO Além das oftalmopatias primárias do olho, as enfermidades sistêmicas imunomediadas, metabólicas, infecciosas, parasitárias e neoplásicas podem promover alterações oftálmicas. A leishmaniose visceral canina (LVC), por exemplo, vem despertando grande interesse, seja pelos transtornos provocados aos animais, seja pelos riscos que representa à saúde pública, dada a forma clínica como se manifesta em seres humanos. A leishmaniose visceral canina – também conhecida como calazar canino – é uma antropozoonose causada por um protozoário intracelular de macrófagos, e inclui-se no Complexo Donovani. A principal responsável pela forma visceral da doença na população canina 68
brasileira é a espécie Leishmania (Leishmania) chagasi. A transmissão é realizada pela picada de insetos infectados, denominados flebotomíneos, particularmente aqueles da espécie Lutzomyia longipalpis 1,2,3. No Brasil, os cães têm uma participação significativa na epidemiologia da enfermidade, uma vez que são considerados os principais reservatórios urbanos da doença; além disso, a contaminação dessa doença na espécie canina geralmente precede o seu acometimento em seres humanos 4,5. Usualmente, a infecção por Leishmania sp. resulta em doença sistêmica de evolução crônica, que pode se manifestar em período de três meses a alguns anos após a infecção; a gravidade
do quadro dependerá da imunocompetência do hospedeiro vertebrado 6,7. Os sinais observados na leishmaniose canina assemelham-se àqueles encontrados no homem 8, e podem manifestarse isoladamente ou em associação. Sinais inespecíficos, como febre intermitente e duradoura, anemia, perda de peso progressiva e caquexia, freqüentemente estão presentes em cães com leishmaniose visceral 5,9,10,11. As alterações decorrentes da leishmaniose visceral são bastante comuns, e incluem alopecia e ulcerações cutâneas, principalmente nas bordas das pinas, no focinho e nas margens palpebrais 8,9,12. Em muitos dos animais acometidos, verificam-se ainda sinais de envolvimento neurológico, articular, epistaxe, além de doenças renal e hepática 7,9,11,13. Considerando que quadros de leishmaniose visceral canina podem suscitar afecções oculares – que variam de lesões nos anexos oftálmicos à perda da visão 14,15,16 –, o reconhecimento precoce das manifestações oculares reveste-se de grande importância para o clínico veterinário que, se adequadamente informado, poderá obstar a evolução para lesões irreversíveis ou até mesmo a cegueira. Além disso, há que ressaltar que a capacidade de identificar as afecções oftálmicas decorrentes da doença são fundamentais para o estabelecimento do diagnóstico diferencial de outras desordens visuais, notadamente em animais provenientes de áreas endêmicas.
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que o segmento anterior foi acometido em 76% (19/25) de todos os animais estudados, e 4% (1/25) dos animais apresentaram alterações nos dois segmentos oculares 14. BLEFARITE Três formas de blefarite já foram descritas em cães com LVC 12, a saber: blefarite erosiva, blefarite nodular e blefarite granulomatosa, as duas últimas notadamente em cães da raça boxer. A associação de blefarite a dermatite facial representa um dos achados mais comuns no calazar canino 8,18. Nas blefarites associadas à LVC, nota-se o espessamento difuso das pálpebras, que se mostram com aspecto fibroso e edematoso, associado à área de alopecia periocular adjacente às margens palpebrais, freqüentemente acompanhadas por lesões seborréicas úmidas e descamação (Figura 1). Granulomas não são comuns 16,17,19. Fábio Luiz da Cunha Brito
ALTERAÇÕES OCULARES NA LVC Das desordens suscitadas pela leishmaniose visceral, aquelas de manifestação ocular constituem-se em uma das mais intrigantes e pouco conhecidas, tanto no âmbito da medicina humana quanto no âmbito da medicina veterinária. Os primeiros relatos de envolvimento ocular na leishmaniose datam do início do século passado: em 1913, LAVERAN relatou dois casos de cães acometidos que desenvolveram ceratite. Desde então, vários relatos de acometimento ocular em animais da espécie canina têm sido descritos na literatura mundial. Os achados oculares decorrentes da LVC ocorrem em 24,4% a 80,49% dos cães com a enfermidade. Os animais infectados apresentam alterações oculares isoladas ou associadas. As lesões podem ter caráter unilateral ou, mais comumente, bilateral, sendo o segmento anterior do olho o mais acometido 14,15,16,17. Em estudo realizado no Estado de Pernambuco em cães infectados naturalmente por Leishmania (Leishmania) chagasi, 76% (19/25) apresentaram lesões oculares ao exame oftálmico. Dos 19 cães com lesões oculares 73,69% (14/19) possuíam apenas um tipo de alteração, enquanto 26,31% (05/19) exibiram mais de uma lesão no mesmo olho. Dos animais acometidos por oftalmopatias, 10,53% (02/19) apresentaram alterações unilaterais, enquanto 89,47% (17/19) apresentaram alterações bilaterais. Nesse mesmo estudo, descreveu-se
Figura 1 - Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar edema, vascularização, pigmentação corneais, em associação à blefarite, secreção seromucosa, edema e alopecia periocular
Lesões de pele, usualmente, são relatadas como conseqüência da ação direta do parasito 12. Apesar de o parasito ter papel importante nas lesões, acredita-se que as dermatopatias associadas à leishmaniose são atribuídas a vasculite necrosante causada por depósitos de imunocomplexos 20. Lesões das pálpebras, em muitos dos casos, podem ser confundidas com alterações cutâneas decorrentes da presença do Demodex canis ou outro agente parasitário que, quando associado(s) ou não à LVC pode(m) dificultar o diagnóstico, assim como outras causas de dermatopatias, como o pênfigo e dermatites bacterianas e micóticas, que devem ser considerados no diagnóstico diferencial 17. Deve-se ressaltar que, apesar da presença do Demodex canis, ou mesmo de outro agente parasitário em cães com lesões cutâneas perioculares, não se deve descartar a possibilidade de parasitismo associado, tendo em vista que a resposta imune do animal estará afetada (sendo este um dos principais fatores para desencadear a demodicose). CONJUNTIVITE A inflamação da conjuntiva tem sido apontada como uma condição ocular bastante freqüente em cães na LVC 7,11,15. Em recente estudo, a conjuntiva mostrou-se acometida em 40% dos casos 14, porém a condição pode estar presente em até 75,62% dos cães infectados por Leishmania chagasi 15. Mecanismos imunomediados, possivelmente, encontram-se
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envolvidos na patogenia das alterações conjuntivais na LVC, já que a conjuntiva é o tecido ocular externo imunogenicamente mais ativo. Quando acometida, a conjuntiva mostra-se hiperêmica, com quemose difusa bilateral havendo exsudato mucoso (Figura 2). Discretos nódulos brancos multifocais são, ocasionalmente, observados na conjuntiva, na margem da membrana nictitante e, por vezes, no limbo 14,16,17. Nesses casos, o diagnóstico diferencial para episclerite nodular, usando citologia e visualização do parasito, pode ser considerado. Fábio Luiz da Cunha Brito
Figura 2 - Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar conjuntivite, secreção mucosa, com formação de crostas e alopecia periocular
UVEÍTES Em cães, a inflamação do trato uveal tem sido descrita como a oftalmopatia mais freqüente na leishmaniose visceral, podendo apresentar-se em até 70% dos animais acometidos que habitam áreas endêmicas 9,13,14,17. Inicialmente, observa-se uveíte, geralmente bilateral, associada ou não a edema corneano, miose e depósitos de fibrina na câmara anterior. Há, ainda, a formação de nódulos discretos ou multifocais (Figura 3) no estroma da íris e sinéquias 8,16. Em cães tratados com antimoniato
pentavalente, inflamação bilateral da íris, epífora, episclerite, sinéquia anterior, hipertensão ocular e opacidade corneana podem ocorrer 24. Como conseqüência da uveíte, podem decorrer hifema (Figura 4) e glaucoma 14,15,17. Na LVC, a uveíte pode advir da intensa participação de leucócitos e de formas de Leishmania, como ocorre na pele, ou decorrer de resposta imunomediada (hipersensibilidade do tipo III) a antígenos de Leishmania e/ou por depósitos de imunoglobulinas específicas e não específicas, como ocorre na barreira de filtração glomerular 25,26. A inflamação do trato uveal tem sido um sinal freqüentemente observado em doenças sistêmicas com produção de imunocomplexos. Assim sendo, a uveíte deve ser considerada no diagnóstico diferencial de alterações oculares decorrentes de outras enfermidades, como erhlichiose, por exemplo. SEGMENTO POSTERIOR Apesar de pouco freqüentes, as lesões no segmento posterior podem se desenvolver. Dentre as condições envolvendo o fundo do olho, a coriorretinite constitui-se no achado mais freqüente; todavia, outros eventos, como descolamento e atrofia da retina, têm sido habituais 16,17. A despeito da possível ocorrência de catarata em cães com leishmaniose visceral, sua relação direta com a infecção por Leishmania sp. ainda é controversa 19,22. Manifestações tais como ciclite, coriorretinite, hemorragias retinianas e descolamento de retina foram encontradas ocasionalmente na LVC 8,11,20,22,27. Outros sinais oculares, como distrofia corneana, exoftalmo e estrabismo são
Fábio Luiz da Cunha Brito
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CÓRNEA Raramente o envolvimento da córnea é um evento isolado. Com freqüência, observa-se ceratite concomitante a conjuntivite (ceratoconjuntivite), com envolvimento da úvea anterior 21,22. Na ceratoconjuntivite, observam-se edema corneano focal ou difuso, vascularização e infiltrado celular intersticial, geralmente próximo à junção corneoescleral 15. Ceratoconjuntivite seca (CCS) encontra-se
também presente em muitos dos cães infectados por Leishmania sp. 11,14,23. A presença de CCS pode decorrer do processo inflamatório que acomete as glândulas lacrimais, ou por obstrução de ductos secretores ensejada pela inflamação conjuntival 22. É, portanto, oportuno que se faça o diagnóstico diferencial com outras enfermidades, como a cinomose, na qual se observa déficit lacrimal. Outras condições corneanas – como ceratite superficial e intersticial – podem ser observadas em cães com calazar. A ceratite superficial parece ser a mais freqüentemente identificada, sendo caracterizada por erosão epitelial, vascularização e, eventualmente, pigmentação 15,22. Ceratite ulcerativa com a presença de formas amastigotas de Leishmania chagasi na área da lesão também foi referida. O autor supõe que a lesão pode ter sido causada pela ação direta do parasito, ou por resposta imune local 14. Ceratites profundas com grandes vasos invadindo a córnea e alterações endoteliais são secundárias à uveíte anterior 17.
Figura 3 - Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar edema corneal moderado, uveíte anterior e edema multifocal da íris
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Figura 4 - Fotografia de olho de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar discreto edema de íris com presença de hifema
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incomuns, porém em áreas endêmicas devem ser considerados 17. Não raro, a perda da transparência de estruturas do segmento anterior dificulta a visualização de regiões do segmento posterior. Nesses casos, a ultra-sonografia e a eletrorretinografia podem ser utilizadas 17.
ALTERAÇÕES TECIDUAIS, À HISTOPATOLOGIA EM OLHOS NA LVC No que concerne aos achados histopatológicos, a primeira investigação a estabelecer a LVC como possível causa de oftalmopatias em cães, como anteriormente mencionado, remonta a 1913. Os autores relataram ceratite intersticial e presença de parasitos internamente a células mononucleares entremeadas ao estroma corneano. Posteriormente, em 1932, foi assinalada a ocorrência de um caso de ceratoconjuntivite 30. De forma genérica, as lesões são similares àquelas observadas em outros tecidos, nos quais se encontra infiltrado inflamatório linfoplasmocitário e de histiócitos contendo, em algumas ocasiões, formas amastigotas de Leishmania. Geralmente, a intensidade do parasitismo não é elevada e as amastigotas podem ser visualizadas mesmo por meio da histologia convencional 28. Infiltrados linfohistioplasmocitários têm sido reportados em diferentes segmentos do compartimento anterior do bulbo do olho de cães com LVC; entretanto a presença do parasito não tem sido observada com freqüência à histopatologia rotineira 15. Externamente ao bulbo do olho, o processo inflamatório localiza-se mais intensamente no aparato lacrimal, caracterizado por infiltração focal e difusa, necrose generalizada do epitélio, granulação com abundantes linfócitos e células
plasmáticas no tecido conectivo, além de formas amastigotas de Leishmania sp. no interior de macrófagos 15,24. À microscopia, na esclera e no limbo esclerocorneal evidenciam-se intensa vasculite com dilatação dos vasos linfáticos, fibras colágenas em desorganização, linfócitos, células plasmáticas e infiltrado macrofágico – distribuído de forma focal ou difusa – permeando o tecido conectivo, além de trombose. Na esclera, e igualmente no limbo esclerocorneano, evidenciaram-se intensa vasculite com dilatação dos vasos linfáticos e trombose. Edema intersticial, infiltrado de células mononucleares em graus variados e formas amastigotas de Leishmania sp. no interior de macrófagos são igualmente relatados 28. Na conjuntiva e na terceira pálpebra, infiltrado inflamatório mononuclear plasmocitário e hiperplasia das células caliciformes são evidentes (Figura 5). Nessas estruturas observa-se grande quantidade de formas amastigotas de Leishmania chagasi à imunohistoquímica (Figura 6). O corpo ciliar e a íris mostram intensos focos de infiltrados inflamatórios, com abundância de células redondas e linfócitos 28, além de infiltrado mononuclear plasmocitário associado a edema do conjuntivo e dilatação das veias e dos vasos linfáticos 31 (Figura 7). As alterações mais evidentes na coróide são congestão e dilatação dos vasos. Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário é mais presente no estroma e ao redor dos vasos (perivasculite). Na retina, congestão dos vasos tem
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ALTERAÇÕES IMUNOGÊNICAS DO OLHO NA LVC A exacerbada resposta imune mediada por anticorpos proporciona a formação de imunocomplexos, que não são totalmente degradados pelas células de Kupffer no fígado e que, circulantes, tendem a se depositar em algumas regiões, como os olhos 28. A barreira sangue-humor aquoso é especialmente, sensível 29 o que, sob o ponto de vista imunológico, reforça a teoria da participação de respostas imune, sistêmica e local no desenvolvimento de oftalmopatias em cães com leishmaniose visceral. A presença de imunoglobulinas G (IgG) no humor aquoso – verificada por técnica de imunoadsorção enzimática (ELISA) utilizando peptídio recombinante S7 14 – corrobora essa assertiva. No que concerne aos valores de imunoglobulina G, altos títulos têm sido obtidos no humor aquoso de cães com leishmaniose visceral. A técnica de Imunoblot permite evidenciar diferentes proteínas de Leishmania sp. separadas por eletroforese, revelando que as reações são similares no sangue e no humor aquoso 29. Não obstante, a presença de correlação quanto à concentração de IgG no soro e no humor aquoso
ainda é objeto de controvérsia.
Figura 5 - Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar hiperplasia das células caliciformes com metaplasia, e infiltrado mononuclear plasmocitário subepitelial (seta) na conjuntiva da terceira pálpebra. H&E. 400x
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Figura 6 - Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar intenso grau de amastigotas de Leishmania sp. imunomarcadas entremeadas ao tecido conjuntivo (setas). Complexo Streptavidina-peroxidase. 40x
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Figura 7 - Fotomicrografia da terceira pálpebra de cão naturalmente infectado por Leishmania (chagasi) chagasi. Notar dilatação dos vasos da coróide com células inflamatórias perivasculares (seta). Também está presente congestão dos vasos retinianos (estrelas) e células inflamatórias (setas larga). HE. 40x
sido a alteração predominante. A presença de células inflamatórias na retina comumente associa-se à da coróide, caracterizando quadro de coriorretinite. Células inflamatórias são notadamente localizadas entre as camadas de fibras do nervo óptico e aquelas de células ganglionares ou, ainda, entre as camadas plexiforme externa e as de células ganglionares (Figura 7). CONSIDERAÇÕES FINAIS As manifestações oculares nos cães com leishmaniose visceral são variadas, sendo a uveíte e a conjuntivite as mais freqüentes. No que concerne à sua patogenia, os mecanismos envolvidos ainda carecem de maior elucidação, pois há controvérsias. Entretanto, sabe-se que eventos imunomediados estão presentes. Os achados histopatológicos são predominantemente de caráter inflamatório, composto por células mononucleares. Afecções oculares devem ser consideradas no diagnóstico diferencial entre a leishmaniose visceral canina e outras doenças que produzam repercussão oftálmica, notadamente em cães provenientes de áreas endêmicas. REFERÊNCIAS
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Sylvia de Almeida Diniz
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João Pedro Andrade-Neto MV, prof. Universidade Anhembi-Morumbi
joaopedrovet@hotmail.com
Fernando Yutaka Moniwa Hosomi
Pug dog encephalitis: first diagnosis in Brazil
Granduando, iniciação científica Depto. Patologia/FMVZ/USP fernando_hosomi@yahoo.com.br
Kalan Bastos Violin
Encefalitis necrotizante del perro Pug: primer diagnóstico en Brasil
Granduando, iniciação científica Depto. Patologia/FMVZ/USP kalanviolin@yahoo.com.br
Adriano Tony Ramos
MV, doutorando Depto. Patologia/FMVZ/USP
Resumo: Um cão macho de sete meses da raça pug foi levado para avaliação clínica por apresentar quadro de disfagia, crises com tremores, micção involuntária, opistótono e andar em círculos. Provas sorológicas foram negativas para dirofilariose, erlichiose e borreliose, e a reação em cadeia pela polimerase (PCR) para cinomose também foi negativa. Foi instaurada corticoideterapia com melhora acentuada do quadro. Porém, ao longo de seis meses, o quadro evoluiu para tetraplegia e amaurose, o que levou o proprietário a optar pela eutanásia. O exame necroscópico permitiu a observação de deformidades e achatamento do córtex cerebral nas regiões parietal, temporal e occipital, com áreas de malácia e dilatação ventricular. Ao exame histopatológico constatou-se meningoencefalite não-supurativa, com acentuada necrose de substância cinzenta cortical. Os achados clínicos e anatomopatológicos permitem concluir ser este o primeiro diagnóstico de encefalite necrotizante do cão pug no Brasil. Unitermos: Doença do sistema nervoso, patologia, necrose
adrianotony@hotmail.com
Gisele Fabrino Machado
MV, profa. dra Depto. Clín. Méd./UNESP-Araçatuba giselem@fmva.unesp.br
Paulo César Maiorka
MV, prof. dr. Depto. Patologia/FMVZ/USP
Abstract: A seven-month-old male Pug dog was referred to the clinic with a history of dysphagia, tremor crisis, incontinence, opisthotonus and circling behaviour. Serologic tests were negative for dirofilariasis, ehrlichiosis and borreliosis, as well as PCR for canine distemper. Corticoid therapy was established, with great status improvement. However, clinical signs evolved in the following six months to tetraplegia and amaurosis, which led the owner to choose to euthanize the animal. Necroscopic examination revealed brain cortex deformities and flattening of parietal, temporal and occipital regions, with areas of malacia and ventricular dilation. Histopathological evaluation showed non-suppurative meningoencephalitis with intense cortical gray matter necrosis. Clinical and anatomopathological findings allow concluding that this is the first diagnosis of necrotizing meningoencephalitis in Pug dogs in Brazil. Keywords: Nervous system disease, pathology, necrosis Resumen: Un perro macho de la raza Pug fue llevado para evaluación clínica por presentar cuadro de disfagia, crisis de temblores, micción involuntaria, opistótono y caminar en círculos. Pruebas serológicas fueron negativas para dirofilariosis, erlichiosis y borreliosis y PCR para distemper también fue negativa. Fue instituida terapia con corticoides y hubo mejora acentuada del cuadro clínico. Pero, a lo largo de seis meses, el cuadro evolucionó para tetraplegia y amaurosis, lo que llevó el propietario a escoger la eutanasia. El examen necroscópico demostró deformidades y aplastamiento del cortex cerebral en las regiones parietal, temporal y occipital, con áreas de malacia y dilatación ventricular. El examen histopatológico reveló una meningoencefalitis no-supurativa con acentuada necrosis de la sustancia gris cortical. Los hallazgos clínicos y anatomopatológicos permiten concluir ser este el primer diagnóstico de Encefalitis Necrotizante del Perro Pug en Brasil. Palabras clave: Enfermedad del sistema nervioso, patología, necrosis
Clínica Veterinária, n. 64, p. 76-78, 2006
INTRODUÇÃO A encefalopatia do cão pug faz parte do complexo meningoencefalite necrotizante canina (MNC), doença inflamatória única que acomete cães de pequeno porte. A doença já foi diagnosticada em cães das raças maltês 1,2, yorkshire terrier 3, pequinês 4 e pappilon 5, mas indubitavelmente animais da raça pug são os mais freqüentemente acometidos 5. A primeira descrição de MNC na raça pug foi feita por Cordy e Holliday em 1989 6. Posteriormente a doença foi descrita em cães pug no Japão 7, na Alemanha 8, na Suíça, na Itália 9 e, mais recentemente, na França 10. 76
A MNC no cão pug caracteriza-se pelo surgimento de sinais clínicos relacionados ao cérebro, como crises com tremores, convulsões parciais ou generalizadas, perda de consciência, alteração de comportamento, andar em círculo e ataxia 6,11. Em alguns animais, observam-se alterações oftalmológicas 8,10, e, menos freqüentemente, sinais vestibulares centrais e alterações cerebelares 5,11,12. Ao exame necroscópico constatamse dilatação dos ventrículos laterais, achatamento do córtex, áreas de malácia e cavitações que se assemelham à formação de pseudocistos no córtex cerebral. Essas alterações são facilmente detectáveis
maiorka@usp.br
quando são realizados exames como tomografia computadorizada 10 e ressonância magnética 1,12. O exame histopatológico revela áreas de necrose liquefativa na substância cinzenta do córtex, que correspondem às áreas de cavitação e formação pseudocística encontradas na macroscopia. Há presença de infiltrado inflamatório composto de linfócitos, plasmócitos, histiócitos e poucos polimorfonucleares. São observados neurônios picnóticos, vacuolização neuronal, satelitose e neuronofagia. Nas áreas de malácia ocorrem proliferação da micróglia e infiltração macrofágica; muitos desses macrófagos apresentamse repletos de conteúdo fagocitado no seu citoplasma, formando acúmulos de macrófagos espumosos (Gitter Cells). Ao redor das áreas de malácia também são observadas astrocitose e presença de gemistócitos. Além disso, constatam-se intensa neovascularização e ativação endotelial nas áreas preservadas ao redor dos focos de necrose.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/novembro, 2006
1,009 8,6 96,41 84,71 (++) Positivo (++) 36.000 109
Figura 2 - Fotomicrografia (detalhe da figura 1) mostrando áreas de necrose em córtex cerebral (HE, escala em barra: 2mm) João Pedro de Andrade-Neto
Densidade pH Proteína Glicose Sangue oculto Teste de Pandy He Leucócitos
DESCRIÇÃO MACROSCÓPICA Ao exame macroscópico foram observados deformidades e achatamento do córtex das regiões parietal, temporal e occipital. Aos cortes transversais do encéfalo foram observadas áreas de malácia, predominantemente no centro semi-oval e corona radiata, correlatas às regiões corticais supracitadas, resultando em dilatação ventricular ex vacum (Figuras 1 e 2). Áreas de malácia também foram observadas na substância branca do cerebelo (Figura 3).
Figura 1 - Aspecto macroscópico do córtex cerebral João Pedro de Andrade-Neto
Quadro 1 - Características do líqüor, segunda coleta
vírus. O quadro neurológico progrediu em novembro de 2004 para tetraplegia com extensão de membros torácicos e opistótono, com o nistagmo horizontal alternando em ventral quando do posicionamento da cabeça. Coletou-se uma segunda amostra de líqüor, que mostrou pleocitose do tipo mononuclear marcada por infiltrados linfocíticos, com leucócitos pequenos e maduros em sua grande maioria; além de pequena quantidade de linfócitos jovens reativos. Foram observados raras células ependimárias, raras hemácias e raríssimos polimorfonucleares. Não foram observados agentes infecciosos ou células com características neoplásicas. O quadro clínico mantevese estacionário até fevereiro de 2005, evoluindo com sinais de paralisia e amaurose. Uma vez que o paciente não mais reagia à terapia com corticóides, optou-se pela eutanásia em março de 2005.
João Pedro de Andrade-Neto
HISTÓRIA CLÍNICA Um cão macho não castrado da raça pug, com 7 meses de idade e histórico de vacinações completo, foi levado ao médico veterinário em agosto de 2004 apresentando disfagia associada a crises com tremores, micção involuntária, opistótono e andar em círculos para a direita. Realizou-se sorologia para dirofilariose, erlichiose e borreliose, cujos resultados foram negativos. Imediatamente instituiu-se corticoideterapia com prednisona em dosagem imunossupressora (1mg/kg/dia), associada a fenobarbital, o que promoveu melhora acentuada do quadro. Em outubro de 2004, prescreveu-se concentração de prednisona a 0,5mg/kg/dia. Após a redução da dose, o animal passou a apresentar inclinação da cabeça para o lado direito e nistagmo horizontal, com fase rápida para a esquerda. O quadro clínico não apresentou melhora mesmo com administração de 2mg/kg/dia de prednisona. Assim, foram realizados exame de líqüor (Quadro 1) e pesquisa por PCR para o vírus da cinomose, que não demonstrou amplificação do genoma do
Figura 3 - Área de necrose em cerebelo. (Asterisco: área de vacuolização. HE, escala em barra: 250mm)
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/novembro, 2006
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DISCUSSÃO A etiologia do complexo MNC ainda é desconhecida, sendo possivelmente multifatorial e influenciada por fatores genéticos e ambientais 13. Agentes infecciosos e causas imunomediadas já foram sugeridas 2,6 e a presença de um autoanticorpo anti-astrócito já foi demonstrada 15. Até o presente momento, o tratamento dos pacientes tem sido paliativo, com uso de corticóides em dosagens imunossupressoras e anticonvulsivantes, e apresenta resultados variados 2,3,10. O curso da doença é geralmente fatal, com período de evolução variando de dois dias a mais de seis anos, sendo que a maioria dos animais morre ou é eutanasiada em poucos meses 5. AGRADECIMENTOS À dra. Fernanda Bernardi, pela 78
João Pedro de Andrade-Neto
04-CANTILE, C.; CHIANINI, F.; ARISPICI, M.; FATZER, R. Necrotizing meningoencephalitis associated with cortical hippocampal hamartia in a Pekingese dog. Veterinary Pathology, v. 38, n. 1, p. 119-122, 2001. 05-SUZUKI, M.; UCHIDA, K.; MOROZUMI, M.; HASEGAWA, T.; YANAI, T.; NAKAYAMA, H.; TATEYAMA, S.; A Comparative Pathological Study on Canine Necrotizing Meningoencephalitis and Granulomatous Meningoencephalomyelitis. Journal of Veterinary Medical Science, v. 65, n. 11, p. 1233-1239, 2003.
João Pedro de Andrade-Neto
Figura 4 - Área de necrose em córtex cerebral (HE, escala em barra: 250mm)
06-KOBAYASHI, Y.; OCHIAI, K.; UMEMURA, T.; GOTO, N.; ISHIDA, T.; ITAKURA, C.; Necrotizing meningoencephalitis in pug dogs in Japan. Journal of Comparative Pathology, v. 110, n. 2, p. 129-136, 1994. 07-HINRICHS, U.; TOBIAS, R.; BAUMGARTNER, W.; A case of necrotizing meningoencephalitis in a pug dog (pug dog encephalitis--PDE). Tierarztliche Praxis, v. 24, n. 5, p. 489-492, 1996. 08-HOFF, E. J.; VANDEVELDE, M. : Necrotizing vasculitis in the central central nervous system of two dogs. Veterinary Pathology, v. 18, p. 219223, 1981.
Figura 5 - Infiltrado inflamatório perivascular em córtex cerebral (HE, escala em barra: 100mm) João Pedro de Andrade-Neto
HISTOPATOLÓGICO No cérebro verificou-se espessamento das leptomeninges e congestão de vasos, acompanhados por infiltrado composto de células mononucleares. O córtex das áreas parietal, temporal e occipital apresentava áreas de vacuolização, mais evidentes nas proximidades da substância branca (Figura 4). Foram constatadas proliferação e congestão de capilares, e as células endoteliais encontravam-se hipertrofiadas e com aspecto reativo. Observou-se intensa gliose difusa, além de satelitose e neuronofagia nas áreas com perda neuronal e neurônios isquêmicos (dark neurons). Nas áreas de transição para a substância branca, além da exuberante proliferação vascular e da rarefação/liquefação do tecido nervoso, observou-se infiltrado perivascular composto por linfócitos e plasmócitos. Infiltrando o parênquima também havia células mononucleares (Figura 5), com elevado número de macrófagos espumosos (Gitter Cells) (Figura 6). Além dos macrófagos, observou-se presença de linfócitos e plasmócitos e raros neutrófilos. Lesão semelhante foi observada no cerebelo, particularmente na substância branca e com menor comprometimento cortical. No tronco encefálico, observaram-se neurônios com cromatólise central e vacuolização dos tratos de mielina. No plexo coróide do quarto ventrículo verificou-se infiltrado inflamatório misto, com predomínio de neutrófilos.
09-BELTRAN, W. A.; OLLIVET, F. F.; Homonymous hemianopia in a pug with necrotising meningoencephalitis. Journal of Small Animal Practice, v. 41, n. 4, p. 161-164; 2000. 10-CORDY, D. R.; HOLLIDAY, T. A.; A necrotizing meningoencephalitis of Pug dogs. Veterinary Pathology, v. 26, p. 191-194, 1989. 11-SUMMERS, B. A.; CUMMINGS, J. F. , DE LAHUNTA, A. : Principles of neuropathology. In: Veterinary Neuropathology, p. 39-47, Mosby-Year Book Inc. , St. Louis, MO 1995. 12-KUWABARA, M.; TANAKA, S.; FUJIWARA, K.; Magnetic resonance imaging and histopathology of encephalitis in a Pug. Journal of Veterinary Medical Science, v. 60, n. 12, p. 1353-1355, 1998.
Figura 6 - Macrófagos espumosos (células de Gitter) (HE, escala em barra: 10mm)
tradução do resumo em espanhol e revisão crítica do texto. REFERÊNCIAS
01-PANCIERA, D. L.; DUNCAN, I. D.; MESSING, A.; RUSH, J. E.; TURSKI, P. A.; Magnetic Resonance imaging in two dogs with central nervous system disease. Journal of Small Animal Practice, v. 28, p. 587-596, 1987. 02-STALIS, I. H.; CHADWICK, B.; DAYRELL-HART, B.; SUMMERS, B. A.; VAN WINKLE, T. J.; Necrotizing meningoencephalitis of Maltese dogs. Veterinary Pathology, v. 32, n. 3; p. 230-235; 1995. 03-TIPOLD, A.; FATZER, R.; JAGGY, A.; ZURBRIGGEN, A.; VANDEVELDE, M.; Necrotizing encephalitis in Yorkshire Terriers. Journal of Small Animal Practice, v. 34, p. 623-628, 1993.
13-SCHATZBERG, S. J.; HALEY, N. J. , BARR S. C. , DE LAHUNTA, A. , SHARP N. J. Polymerase chain reaction screening for DNA viruses in paraffin-embedded brains from dogs with necrotizing meningoencephalitis, necrotizing leukoencephalitis, and granulomatous meningoencephalitis. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 19, n. 4, p. 553-559, 2005. 14-UCHIDA, K.; HASEGAWA, T.; IKEDA, M.; YAMAGUCHI, R.; TATEYAMA, S.; Detection of an autoantibody from Pug dogs with necrotizing encephalitis (Pug dog encephalitis). Veterinary Pathology, v. 36, n. 4, p. 301-307, 1999. 15-MATSUKI, N.; FUJIWARA, K.; TAMAHARA, S.; UCHIDA, K.; MATSUNAGA, S.; NAKAYAMA, H.; DOI, K.; ONO, K.; Prevalence of autoantibody in cerebrospinal fluids from dogs with various CNS diseases. Journal of Veterinary Medical Science, v. 66, n. 3, p. 295-297, 2004. 16-SAWASHIMA, Y.; SAWASHIMA, K.; TAURA, Y.; SHIMADA, A.; UEMEMURA, T. Clinical and pathological findings of a Yorkshire terrier affected with necrotizing encephalitis. Journal of Veterinary Medical Science, v. 58, n. 7, p. 659-61; 1996.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/novembro, 2006
Aspectos clínico-patológicos das efusões corporais: revisão de literatura Clinical-pathological aspects of body effusions: a review
Aspectos clínico-patológicos de las efusiones corporales: revisión de la literatura Resumo: Normalmente, um pequeno volume de fluido encontra-se presente nas cavidades corporais; esse fluido atua como lubrificante durante a movimentação dos órgãos. O volume de um fluido cavitário é determinado pelo equilíbrio existente entre sua formação - que ocorre através da ultrafiltração do sangue – e sua absorção – realizada através dos vasos linfáticos e capilares. A efusão é o acúmulo anormal de fluido em qualquer cavidade corporal revestida por células mesoteliais, como a torácica, a pericárdica e a abdominal. Esse distúrbio não deve ser considerado uma enfermidade em si, mas sinal de um processo patológico associado ao aumento da produção ou da diminuição na remoção do líquido intracavitário. Assim, recomenda-se a avaliação desse fluido para que, em conjunto com os sinais clínicos apresentados pelo paciente, seja possível firmar um possível diagnóstico e instituir a ação terapêutica adequada. Unitermos: Efusão pleural, efusão peritoneal, efusão pericardica, fluidos cavitários Abstract: A small volume of fluid is normally present in body cavities. This fluid acts as a lubricant during the movement of the organs. The volume of a cavitary fluid is determined by the balance between its formation, which occurs through ultrafiltration of the blood, and its absorption, accomplished by lymphatic vessels and capillaries. Effusion is the abnormal accumulation of fluid in any body cavity covered by mesenthelial cells, such as the thoracic, pericardic and abdominal cavities. This disturbance should not be regarded as a disease per se, but rather as a sign of a pathological process associated to either an increase in the production or a decrease in the removal of intracavitary fluid. It is thus recommended that the fluid and the clinical signs presented by the patient be evaluated to establish a possible diagnosis and adequate therapy. Keywords: Pleural effusion, peritoneal effusion, pericardic effusion, cavitary fluids Resumen: Normalmente, un pequeño volumen de fluido se encuentra presente en las cavidades corporales con el objetivo de lubrificar los órganos durante el movimiento. El volumen de un fluido cavitario es determinado por el equilibrio existente entre su formación, que ocurre a través de la ultrafiltración de la sangre, y la absorción, realizada a través de los vasos linfáticos y los capilares. Se denomina efusión al acúmulo anormal de fluido en cualquier cavidad corporal revestida por células mesoteliales, como la torácica, la pericárdica y la abdominal. Este disturbio no debe ser considerado una enfermedad y si la señal de un proceso patológico asociado al aumento en la producción o disminución en la remoción del líquido intracavitario. De esta manera, se recomienda la evaluación de este fluido para que, en conjunto con los signos clínicos presentados por el paciente, pueda ser confirmado un posible diagnóstico e instituida la acción terapéutica adecuada. Palabras clave: Infusión pleural, infusión peritoneal, infusión pericárdica, fluidos cavitarios
Clínica Veterinária, n. 64, p. 80-88, 2006
INTRODUÇÃO Em condições normais, um pequeno volume de fluido intracavitário é formado a partir da filtração do plasma pelo endotélio capilar, que ocorre pela interação entre a pressão hidrostática destes capilares, a pressão oncótica plasmática, a reabsorção linfática e a permeabilidade capilar 1. O acúmulo de líquido no interior das cavidades peritoneal, pleural e pericárdica é denominado efusão, e é indicativo de alteração na interação dessas forças 2. A formação de efusão pode ser decorrente de várias moléstias e, nessa situação, a colheita e a avaliação dos fluidos podem ter valor terapêutico, bem como importância diagnóstica nas doenças inflamatórias, hemorrágicas, neoplásicas, linfáticas ou biliosas 3. Desta forma, o presente trabalho 80
apresenta uma revisão bibliográfica atualizada sobre os mecanismos de formação, os métodos de colheita, a análise e a interpretação dos parâmetros físicos, químicos e celulares das efusões, a fim de auxiliar os clínicos de pequenos animais no diagnóstico das inúmeras desordens relacionadas com o acúmulo de líquidos intracavitários. MECANISMOS DE FORMAÇÃO DAS EFUSÕES Aproximadamente dois terços da água total do organismo encontram-se no interior das células (LIC); o restante compõe o fluido extracelular (LEC), distribuído entre o compartimento vascular e o espaço intersticial 4. Em condições normais, os gradientes sangue-interstício de pressão hidrostática e oncótica,
Paula Nunes Rosato
MV, mestranda Depto. Clín. Cir. Vet./FCAV/UNESP-Jaboticabal paula_rosato@yahoo.com.br
Fernanda Gomes Velasque Gama
MV, doutoranda Depto. Clín. Cir. Vet./FCAV/UNESP-Jaboticabal fe_velasque@yahoo.com.br
Marcia Ferreira da Rosa Sobreira
MV, profa. Depto. Ciências Agrárias/CUML-Ribeirão Preto marsobr@netsite.com.br
Aureo Evangelista Santana
MV, prof. adj. Depto. Clín. Cir. Vet./FCAV/UNESP-Jaboticabal santana@fcav.unesp.br
juntamente com a drenagem linfática, são os fatores responsáveis pela filtração e a absorção de líquidos na microcirculação, sem que haja acúmulo excessivo de líquido no interstício 5. Em organismos normais, a pressão hidrostática intracapilar é superior à pressão hidrostática intersticial, embora seja antagonizada, em parte, pela pressão oncótica do plasma. Como resultado da interação entre essas forças, ocorre a formação de pequeno volume de fluido liberado no espaço intersticial, que deve ser reabsorvido pelos vasos linfáticos sem que haja ganho ou perda de líquido no interstício e nas cavidades 6 (Figura 1). O aumento da pressão hidrostática no interior dos vasos sangüíneos, a queda da pressão oncótica plasmática, as obstruções linfáticas e a alteração da permeabilidade vascular são os mecanismos primários de formação das efusões 6,7. Além desses mecanismos – e colaborando com eles –, devem ser consideradas as enfermidades relacionadas à retenção de sódio, que facilitam a formação de edemas e efusões, visto que o sódio total do organismo é o principal determinante do volume fluídico extracelular 6,8. Elevação da pressão hidrostática intravascular O aumento da pressão hidrostática no interior dos vasos sangüíneos eleva a pressão de filtração, o que promove o aumento da saída de fluido intravascular para o interstício 9 (Figura 2). Esse evento está relacionado a processos de hiperemia ativa ou passiva que ocorrem,
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Fernanda G. V. Gama
Fernanda G. V. Gama
Figura 1 - Representação esquemática dos constituintes intra e extravasculares responsáveis pela formação dos líquidos cavitários
principalmente, em casos de obstrução do fluxo sangüíneo portal em pacientes portadores de cirrose hepática e nos processos congestivos associados à insuficiência cardíaca, sendo esta última a enfermidade mais comumente relacionada à formação de efusões decorrentes do aumento da pressão hidrostática intravascular 5,6,7.
Alterações na drenagem linfática Na maioria dos edemas, o fluxo de linfa aumenta consideravelmente, o que indica que o sistema linfático desempenha importante papel na drenagem do excesso de líquido no espaço intersticial. Em sistemas linfáticos que estejam em condições de normalidade, a maior oferta de líquido ao espaço intersticial e às cavidades, e a menor reabsorção de líquido pelos vasos sangüíneos são compensadas pelo aumento da drenagem linfática. Assim, a efusão só repercurtirá clínico-patologicamente quando a capacidade de compensação do sistema linfático for ultrapassada 5 (Figura 4). Tal ação mecânica e obstrutiva torna-se evidente em neoplasias compressivas e em processos infecciosos e inflamatórios nos linfonodos, os quais podem causar obstruções nas vias linfáticas 7,8.
Participação da retenção de sódio nas efusões O edema generalizado e a ascite são indicativos de elevação no teor de sódio do organismo, conseqüentes à retenção
Figura 4 - Representação esquemática da obstrução da drenagem linfática como mecanismo de formação de efusões Fernanda G. V. Gama
Fernanda G. V. Gama
Alteração da permeabilidade vascular O aumento da permeabilidade vascular ocorre em capilares e vênulas e relaciona-se, com grande freqüência, à ação de numerosas subs tâncias,
sobretudo histamina e cininas 5. Essa alteração tra duz-se morfologicamente pela ampliação dos espaços interendoteliais e pelo adelgaçamento da parede vascular, que permite o escape de um fluido rico em proteínas e culmina na redução da pressão coloidosmótica intravascular e na elevação da pressão coloidosmótica intersti cial5,10(Figura 5). A alteração da permeabilidade vascular é um evento ca racterístico de processos inflamatórios, cuja lesão tecidual no local da injúria propicia a liberação de substâncias como prostaglandinas, histamina, heparina e serotonina, que promovem vasodilatação e aumento da permeabilidade endotelial 10,11.
Fernanda G. V. Gama
Diminuição da pressão coloidosmótica plasmática A diferença de pressão existente entre os compartimentos intravascular e intersticial é determinada, em grande parte, pela concentração de proteínas plasmáticas, principalmente a albumina. Assim sendo, a baixa pressão coloidosmótica do plasma promove a predominância da pressão hidrostática do sangue e, conseqüentemente, a saída de fluido para o interstício 6,9(Figura 3). A redução da pressão oncótica do plasma pode resultar tanto de perdas excessivas quanto de síntese diminuída de albumina relacionadas, respectivamente, a síndrome nefrótica e a enfermidades hepáticas 8. Entretanto, deve-se considerar que dietas pobres em proteína e algumas infestações parasitárias intestinais também são comumente descritas como causas da diminuição da pressão coloidosmótica plasmática 7.
Figura 2 - Representação esquemática da ele vação da pressão hidrostática vascular como mecanismo de formação de efusões. Notar o extravasamento de células e de proteínas
Figura 3 - Representação esquemática da diminuição da pressão coloidosmótica plasmática como mecanismo de formação de efusões. Notar a baixa concentração das proteínas plasmáticas
Figura 5 - Representação esquemática da alteração da permeabilidade vascular como mecanismo de formação de efusões. Notar a passagem ativa de células e proteínas pelo endotélio vascular
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
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Fernanda G. V. Gama
ser analisado físicoquímica e citologicamente, em apoio ao diagnóstico da enfermidade. A colheita de qualquer líquido cavitário deve ser precedida de procedimento antiFigura 6 - Representação esquemática da elevação da retenção de séptico do local de sódio como mecanismo secundário de formação de efusões. Notar a acesso e conduzida concentração elevada de sódio plasmático com o auxílio de agulhas hipodérmide sódio pelos rins 6. A retenção de sódio cas, cateteres, válvulas de três vias e e de água é considerada um fator que seringas 2,12,13,14. contribui para a formação de efusão visto que, em muitas situações, a retenToracocentese ção de sódio – e a conseqüente retenção A efusão pleural apresenta-se frede água – busca refazer o volume sanqüentemente de forma abundante e bilagüíneo circulante em virtude da perda teral, mas pode aparecer de forma mode fluido vascular que ocorre em alguderada, unilateral e/ou compartimentalimas enfermidades 8. Contudo, essa rezada. Exames radiográficos e ultra-sotenção hidrossalina impede a queda da nográficos podem auxiliar a determinar pressão hidrostática e o aumento da a extensão e a localização da efusão, pressão oncótica na microcirculação, além de guiar a toracocentese nos casos colaborando com a manutenção ou a inde efusões compartimentalizadas. Se o tensificação do quadro efusivo 5 (Figura 6). fluido não estiver compartimentalizado, A retenção de sódio e de água ocorre em a toracocentese deve ser realizada com algumas enfermidades, como glomeo paciente em decúbito esternal, na porrulonefrite, insuficiência cardíaca conção ventral do tórax, entre o sétimo e o gestiva e cirrose hepática 6,7,9. oitavo espaços intercostais (EIC) 15. Deve-se acoplar à seringa uma válvula de FORMAS DE APRESENTAÇÃO três vias e uma agulha hipodérmica ou DAS EFUSÕES um cateter, e o líquido colhido deve ser Uma coleção líquida pré-formada, acondicionado em tubo contendo antilocalizada em cavidades corporais, poscoagulante EDTA, para contagem glosui designação especial 11. As cavidades bal das células nucleadas, análise prodo corpo nas quais há formação de téica e avaliação citoscópica do fluido 12. efusões são os espaços pleural, peritoneal e pericárdico, e o acúmulo de Abdominocentese líquido nessas cavidades são denominaA abdominocentese é usualmente reados, de acordo com a natureza da lizada após os exames radiográficos e coleção, em: hidrotórax, piotórax, heultra-sonográficos, e tem como objetivo motórax, quilotórax, ascite ou hidropeconfirmar a suspeita de fluido peritoneal ritôneo, hemoperitônio, hidropericárdio livre 16. A paracentese abdominal deve ser 6,9,11 e hemopericárdio . realizada com o paciente em decúbito lateral, que propicia a punção do líquido COLHEITA DAS EFUSÕES pela linha média, um a dois centímetros As técnicas de colheita de efusões caudalmente à cicatriz umbilical, com o abdominais, torácicas e pericárdicas são auxílio de seringas, agulhas hipodérmisimilares, com pequenas adaptações 12. cas ou cateteres 3,12,16. O esvaziamento da Antes da colheita do material, devem bexiga deve preceder a intervenção na ser utilizadas técnicas exploratórias cavidade abdominal, para evitar a ocorcomo raios-x e ultra-som, a fim de se rência de cistocentese acidental 3,15. localizar o local ideal da punção, bem como estimar o volume da efusão líPericardiocentese quida 2. A drenagem de uma efusão posA pericardiocentese é um procedisui valor terapêutico e, adicionalmente, mento relativamente seguro e necessário permite a colheita de material, que pode para a monitoração do paciente por 82
eletrocardiografia, visto que a punção acidental do epicárdio pode resultar em arritmias ventriculares 17. Para a remoção do fluido do saco pericárdico, recomenda-se sedar o paciente, posicioná-lo em decúbito lateral ou esternal e proceder à anestesia local. Com o auxílio de um cateter venoso, uma válvula de três vias e uma seringa, introduz-se o cateter cuidadosamente no quarto EIC (preferencialmente pelo lado direito), na altura da junção costocondral, em direção ao coração, até que se perceba a resistência oferecida ao cateter pelo pericárdio, momento no qual a punção é realizada 3. AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E CITOLÓGICA DAS EFUSÕES A avaliação físico-química e citológica das efusões corporais apresenta normalmente grande valor diagnóstico e possibilita, inclusive, o estabelecimento do diagnóstico etiológico ou, com maior freqüência, a identificação geral do distúrbio de base que levou à efusão cavitária 18. As efusões devem ser avaliadas segundo características físico-químicas de cor, aspecto, concentração protéica, odor e densidade, características citológicas – por meio da contagem global e diferencial das células nucleadas – e avaliação morfológica dessas células e, quando necessário, do exame bacteriológico do fluido 19,20. CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS Cor A coloração normal de um fluido cavitário varia entre incolor e amarelo palha, muito embora as efusões possam apresentar várias colorações, dependendo dos componentes presentes no fluido. Efusões contendo bilirrubina têm, normalmente, coloração amarelo escuro; eritrócitos e/ou hemoglobina são componentes de fluidos vermelhos a acastanhados; a presença de bile, comumente, confere cor marrom a líquidos intracavitários 19,20. Aspecto O aspecto da efusão está relacionado ao número total e à natureza das células presentes no fluido, podendo apresentar-se límpido ou turvo em efusões com pouca ou elevada celularidade, respectivamente 19,20. Odor De maneira geral, os líquidos cavitários
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são inodoros, a menos que estejam associados a processos putrefativos. Assim, essa característica apresenta pouco significado diagnóstico 19.
são mais adequadas 15. Vários tipos de células podem ser encontrados nas efusões, e suas porcentagens podem variar em função da causa do acúmulo de fluido (Figura 7). Nos líquidos cavitários normais, podem ser identificados pequenas quantidades de células mesoteliais, fagócitos mononucleares, linfócitos e neutrófilos 3. Os neutrófilos estão presentes na maioria das efusões de origem inflamatória; de outra parte, pequenos linfócitos encontram-se presentes em número reduzido em muitas efusões, e podem se constituir no tipo de célula mais abundante em efusões quilosas, oriundas de linfossarcomas 15. As células mesoteliais compreendem o revestimento seroso das cavidades pericárdica, pleural e peritoneal, e estão presentes nos fluidos cavitários, sob formas isoladas ou em grupos celulares, mas em número reduzido. Porém, quando há um processo irritativo na cavidade, tais células sofrem hiperplasia e esfoliam-se facilmente 18. O macrófago, provavelmente,
Densidade A densidade de um líquido cavitário normal é inferior a 1,017; contudo, valores superiores podem ser encontrados em efusões cuja concentração protéica esteja elevada 19.
Contagem diferencial das células nucleadas A contagem diferencial das células nucleadas de uma efusão é realizada a partir de um esfregaço confeccionado diretamente, ou após centrifugação da amostra, dependendo da celularidade desta 12. Esfregaços de amostras homogeneizadas são adequados para fluidos com contagens superiores a 5000 células por microlitro; porém, em líquidos cavitários com contagens inferiores, a centrifugação e a preparação da extensão a partir das células sedimentadas 84
Figura 7 - Fotomicrografia de efusão abdominal. Observar a presença de células mesoteliais reativas, macrófago vacuolizado, mastócito, neutrófilo segmentado e algumas hemácias. MMG. (Objetiva de 100X) Aureo E. Santana
CARACTERÍSTICAS CITOLÓGICAS Contagem global das células nucleadas A contagem global das células nucleadas pode ser realizada pelos mesmos métodos de contagem total de leucócitos no sangue, sejam eles manuais ou automáticos 20. Para prevenir a formação de coágulo no fluido – o que reduziria a contagem celular –, a amostra deve ser coletada em tubo contendo EDTA 12. Outro fator que pode influir na enumeração das células nucleadas é a fragmentação celular, achado freqüente nas efusões. Em um líquido cavitário sem alterações, espera-se uma contagem de células nucleadas inferior a 3000 células por microlitro (µL) 20,21.
Aureo E. Santana
Concentração protéica A determinação da concentração de proteínas de um líquido cavitário deve ser realizada a partir do sobrenadante de uma amostra centrifugada, visto que a turvação interfere na avaliação do teor protéico, tanto por refratometria quanto por espectrofotometria 3,21. A concentração protéica e a enumeração das células nucleadas são utilizadas na classificação da efusão e na elaboração da lista de causas prováveis à sua formação 3,15. A concentração de proteínas em um fluido cavitário normal não ultrapassa 2,5g/dL 12.
Figura 8 - Fotomicrografia de efusão peritoneal de mesotelioma em cão. Observar tamanho exagerado da célula vacuolizada, binucleada, com um dos núcleos em posição angular e outro central. O núcleo central revela a presença de quatro nucléolos bem distintos e de várias silhuetas de nucléolos inconspícuos permeando cromatina descondensada. MMG (Objetiva de 100X)
é o tipo celular mais comumente encontrado nos fluidos cavitários normais ou não inflamatórios 3. Outras células encontradas nas efusões, embora menos freqüentes, são os eosinófilos, os mastócitos e as células neoplásicas 20. Os eosinófilos são observados em efusões secundárias a mastocitomas e a reações alérgicas ou de hipersensibilidade. Já as células mastocitárias podem estar associadas a mastocitomas e a desordens inflamatórias. As células neoplásicas são constatadas em efusões que têm como causas de fundo diferentes neoplasias: tais células esfoliam-se nas cavidades corporais (Figura 8). Os eritrócitos também podem estar presentes nas efusões, evidenciando um processo hemorrágico, ou mesmo uma contaminação no momento da colheita 15. Avaliação morfológica das células nucleadas Morfologicamente, os neutrófilos podem ser classificados em normais e degenerados 15. Os neutrófilos estão presentes nas efusões quando há demanda para uma ação microfagocitária-inflamatória – especialmente na presença de bactérias, como resultado da ação de toxinas bacterianas –; nesses casos, os neutrófilos entram em processo degenerativo 15,20. Os linfócitos isentos de alterações e encontrados nas efusões cavitárias caracterizam-se por apresentar citoplasma riniforme, núcleo redondo – preenchendo quase a totalidade da célula –, e cromatina condensada 3. Alterações morfológicas de linfócitos são evidenciadas em efusões linfossarcomatosas, cujas células presentes podem ser linfócitos jovens, também denominados linfoblastos 15. As células mesoteliais reacionais, basofílicas e acidófilas são células esfoliadas a partir do mesotélio de revestimento visceral e parietal, que se alteram morfologicamente em resposta a um processo irritativo intracavitário 18. No caso das células neoplásicas, independentemente do tipo celular envolvido, devem ser observadas alterações morfológicas que evidenciem processo de malignidade 20. Contudo, a avaliação morfológica das células mesoteliais, no que diz respeito a características malignas, deve ser realizada com cautela pois, em casos de irritação da cavidade e proliferação desse tipo celular, observa-se uma
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variedade de alterações morfológicas, geralmente displásicas, que podem ser confundidas com características neoplásicas 1. Exame bacteriológico O exame bacteriológico deve ser conduzido com o auxílio de esfregaço e cultivo, sendo recomendada a cultura para bactérias aeróbicas e anaeróbicas se a avaliação citológica sugerir um processo infeccioso 15,19. CLASSIFICAÇÃO DAS EFUSÕES A classificação das efusões auxilia a determinação do mecanismo pelo qual elas ocorreram. Os critérios utilizados na classificação das efusões incluem a contagem global de células nucleadas e a concentração protéica do fluido 15. As efusões podem ser classificadas em transudatos puros, transudatos modificados, exsudatos sépticos e exsudatos assépticos 15,21,22,23. Transudatos puros Os transudatos são efusões que apresentam concentração protéica e celularidade reduzidas 12. Esses fluidos apresentam coloração clara – normalmente límpidos a ligeiramente turvos –, concentração de proteínas inferior a 2,5g/dL e menos de 1000 células nucleadas por microlitro 2. Citoscopicamente, observa-se uma população celular mista contendo eritrócitos, neutrófilos, macrófagos, linfócitos e células mesoteliais basofílicas 14. Efusões transudativas ocorrem em resposta à elevação da pressão hidrostática vascular ou à queda da pressão coloidosmótica vascular 3. As condições clínicas que resultam na formação desse tipo de fluido incluem: queda na produção de albumina, observada em pacientes com insuficiência hepática crônica, má-nutrição, má-digestão ou má-absorção; aumento da perda de albumina, que pode ocorrer na glomerulonefrite, na síndrome nefrótica e em enteropatias; ou ainda a hipertensão portal pré-hepática ou pós-hepática e a obstrução da drenagem linfática 16,24,25,26. Transudatos modificados Freqüentemente, os transudatos modificados têm apresentação física semelhante àquela dos transudatos puros. Entretanto, a concentração de proteínas de um transudato modificado está compreendida
entre 2,5 e 5,0g/dL, e a contagem total de células nucleadas varia entre 1000 e 8000 células por microlitro (µL) 12. Os resultados da análise de uma efusão cavitária podem justapor dados que classifiquem-na entre transudato puro e transudato modificado e, nessas circunstâncias, a concentração de proteínas do fluido tem papel decisivo na classificação do tipo de efusão 15. Ao exame microscópico, a população celular presente em um transudato modificado encerra a presença de eritrócitos, neutrófilos, linfócitos, macrófagos, células mesoteliais e, em algumas situações, eosinófilos e mastócitos 23. Os mecanismos envolvidos na formação do transudato modificado são o aumento da pressão hidrostática ou a obstrução da drenagem linfática, havendo o extravasamento de fluido com alta concentração protéica 15. No âmbito clínico, a insuficiência cardíaca congestiva é a enfermidade mais comumente associada à formação de efusões transudativas modificadas, muito embora as atelectasias, as torções agudas de órgãos, a obstrução das veias cava cranial, caudal ou hepática por neoplasias ou trauma, a pericardite constritiva, ou as enfermidades que resultem em hipertensão portal também possam originar a formação desse tipo de líquido cavitário 12. Exsudatos O exsudato é caracterizado por concentração de proteínas superior a 3,0g/dL e contagem de células nucleadas superior a 7000 células por microlitro, composta predominantemente por neutrófilos e menor número de macrófagos e linfócitos. Alguns fluidos podem apresentar características mistas de transudatos modificados e exsudatos e, nesses casos, a contagem total de células nucleadas deve ser adotada como o parâmetro que diferenciará o tipo de efusão 15. Nos exsudatos, causas inflamatórias infecciosas e não-infecciosas são, via de regra, distintas no exame microscópico, o que implica a classificação em exsudatos sépticos e não sépticos, respectivamente 18. Os exsudatos resultam do extravasamento de fluido através da parede vascular devido ao aumento da permeabilidade endotelial, que decorre de um processo inflamatório presente na cavidade corporal da efusão líquida 27.
Exsudatos não sépticos Quando do exame de um exsudato não séptico, verificam-se elevadas concentrações de proteína, e a contagem celular é predominantemente representada por neutrófilos íntegros, com uma pequena quantidade de neutrófilos hipersegmentados e células picnóticas 2,12. Variadas condições clínicas – como peritonite infecciosa felina, corpo estranho estéril na cavidade corporal, pancreatite, esteatite, bile ou urina na cavidade, neoplasias e torção ou inflamação de órgãos – podem resultar na formação desse tipo de exsudato 15,22,27. Exsudatos sépticos Os exsudatos sépticos apresentam características semelhantes àquelas dos exsudatos não sépticos no que se refere à concentração de proteína e à contagem celular. Porém, citologicamente, esse tipo de efusão engloba, predominantemente, neutrófilos degenerados e macrófagos, além da possível observação da presença de bactérias no próprio esfregaço 15. Outros microrganismos – como fungos e micoplasmas – também podem ser responsáveis pelo surgimento de exsudatos sépticos e podem ser observados no esfregaço 22. A formação de exsudato séptico ocorre pela introdução de microrganismos em uma cavidade corporal, seja por contusões perfurantes, perfurações do trato intestinal, migração de corpo estranho, ruptura pulmonar, abscessos hepáticos ou prostáticos, piometra, pneumonia, pleurite, sepse bacteriana e, ainda, por infecções fúngicas, parasitárias e ricketsias 12,21. EFUSÕES DE DESORDENS ESPECÍFICAS Uroperitônio O uroperitônio é definido como o acúmulo de urina na cavidade peritoneal por extravasamento de urina a partir dos rins, do ureter, da bexiga ou da uretra. Em cães e gatos, esse tipo de efusão comumente resulta de traumas abdominais ou pélvicos 28,29. Esse fluido, quando analisa do laboratorialmente, apresenta características de exsudato, em decorrência da irritação causada pela urina ao peritônio 23. A mensuração simultânea da concentração de uréia e/ou creatinina do fuido abdominal e do soro do paciente auxilia no diagnóstico do uroperitônio pois, nesse tipo de
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efusão, a concentração de tais substâncias será superior à concentração sérica 15. O conteúdo protéico do fluido pode se apresentar baixo devido à diluição causada pela urina, mas a contagem celular e a população celular predominante geralmente indicam a presença de um exsudato inflamatório 3. Efusão quilosa O quilo é uma emulsão de quilomicrons e linfa presente no ducto torácico 22. A formação da efusão quilosa ocorre em casos de ruptura ou obstrução do ducto torácico e, freqüentemente, apresenta-se de forma bilateral, embora a ascite quilosa também possa ocorrer 12,30. Esse tipo de fluido caracteriza-se pela coloração branca e opaca mesmo após a centrifugação e, citologicamente, os componentes celulares predominantes são os pequenos linfócitos, embora em alguns casos observe-se a predominância de neutrófilos e macrófagos 15. A efusão quilosa é classificada como um transudato modificado, mas a concentração protéica do quilo pode se constituir em um parâmetro difícil de ser avaliado, visto que a alta turbidez desse fluido interfere na mensuração das proteínas. Sendo assim, a confirmação da efusão quilosa deve compreender a mensuração da concentração de triglicérides, que deve ser superior a 100mg/dL do fluido 15. O diagnóstico desse tipo de efusão é relevante, pois pode influir no manejo e no prognóstico do paciente 2. Efusão biliosa A efusão biliosa resulta da ruptura ou injúria ao ducto biliar, ou seja, a bile extravasada torna-se uma substância irritante à cavidade peritoneal, promovendo um processo inflamatório não séptico quando agudo mas que, em estágios posteriores, pode se tornar séptico 12. Geralmente, essa efusão apresenta coloração amarronzada a esverdeada, chegando a intensamente amarelada. Ao exame citológico, o pigmento biliar pode ser encontrado no interior dos macrófagos. A população celular predominante é constituída por neutrófilos discretamente degenerados e, em menor quantidade, por outros tipos celulares 3. Quando a coloração do fluido sugere a presença de bile, a concentração total de bilirrubina deve ser mensurada simultaneamente no fluido abdominal e no 86
soro do paciente; nos casos de efusão biliosa, a concentração de bilirrubina será superior na efusão 15. Efusão hemorrágica A efusão hemorrágica pode ser resultante de traumas hepáticos ou esplênicos, torção esplênica, defeitos de coagulação, injúrias a um vaso sangüíneo e neoplasias 14. Citologicamente, esse tipo de efusão apresenta grande quantidade de eritrócitos e pequena quantidade de plaquetas: cerca de 10% a 25% da concentração de plaquetas do sangue periférico do paciente 31. Em hemorragias com duração superior a um dia, a avaliação microscópica do fluido evidenciará a presença de eritrofagocitose, diferenciando o processo de contaminação sangüínea iatrogênica embora, em hemorragias superagudas, possa haver a ausência de eritrofagocitose 15. Muitas das efusões pericárdicas são classificadas como efusões hemorrágicas, particularmente nos cães, e podem ser resultado de neoplasias, hemorragias pericárdicas idiopáticas, traumas, coagulopatias e ruptura atrial, como seqüela de insuficiência de válvula mitral 3. Efusão neoplásica As efusões podem ocorrer secundariamente a neoplasias e, em situações em que a neoplasia esfolie suas células, o diagnóstico pode ser feito citoscopicamente. Em neoplasias não esfoliativas, o líquido formado classifica-se como um transudato modificado e, se houver inflamação, em exsudato 15. Destacamse como neoplasias comumente relacionadas a efusões os carcinomas, os adenocarcinomas, os linfomas, os hemangiossarcomas, os mesoteliomas e os mastocitomas 12. Peritonite infecciosa felina A peritonite infecciosa felina, em sua forma efusiva, pode promover o acúmulo de fluido no abdômen e/ou tórax, e a avaliação dessa efusão pode conduzir o clínico à obtenção de um diagnóstico presuntivo da enfermidade 15. Essa efusão é classificada como exsudato não séptico, cuja concentração protéica é superior a 3,5g/dL, com contagem total de células nucleadas compreendida entre 1000 e 30000 células por microlitro 12. A eletroforese desse fluido pode ser útil no auxílio diagnóstico da enfermidade:
valores superiores a 32% de gamaglobulinas têm mostrado grande correlação com a doença 3,32. Citologicamente, os tipos celulares predominantes são neutrófilos íntegros e alguns macrófagos e linfócitos 2. CONSIDERAÇÕES FINAIS As efusões são formadas a partir de processos patológicos capazes de alterar a interação das forças existentes nos espaços intra e extravasculares. As características da efusão refletem os mecanismos responsáveis por sua formação. Por essa razão, deve-se realizar a colheita e a análise do fluido para que, de acordo com suas características físico-químicas e citológicas – em conjunto com o conhecimento dos mecanismos de formação das efusões – seja possível identificar o distúrbio de base que levou à efusão cavitária ou mesmo, em algumas situações, alcançar um diagnóstico etiológico. REFERÊNCIAS
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Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Osteossarcoma extra-esquelético no tecido subcutâneo de um cão: relato de caso
Lucia Maria Guedes Silveira MV, MsC, profª adj. FMV/Universidade Paulista
lmgsilveira@hotmail.com
Fernando Malagutti Cunha
MV, MsC, prof. adj. FMV/Universidade Paulista
nandomalagutti@hotmail.com
Caio Biasi
MV, prof. FMV/Universidade Paulista
Extraskeletal osteosarcoma in the subcutaneous tissue in a dog: case report
Priscyla Taboada Dias da Silva
MV, MsC, patologista Histopet® - Serv. de Anat. Patológica Veterinária
Osteosarcoma extraesquelético en tejido subcutáneo de un perro: relato de caso
priscyla.taboada@bol.com.br
Milton Kolber
MV, MsC, DVM, prof. adj. FMV/Universidade Paulista mkolber@uol.com.br
Resumo: O osteossarcoma extra-esquelético é uma desordem neoplásica maligna rara no cão, cujo diagnóstico baseia-se na histopatologia e no descarte da existência de sítio neoplásico ósseo primário por meio de exames apropriados. Um cão da raça labrador retriever, fêmea, com oito anos de idade, foi atendido no serviço de cirurgia do Hospital Veterinário da Universidade Paulista, apresentando formação de consistência firme no tecido subcutâneo da região torácica lateral esquerda. O diagnóstico baseou-se na análise histológica e na exclusão de neoplasia esquelética primária por meio de exames radiográficos. O cão foi submetido à quimioterapia com doxorrubicina e carboplatina, porém 50 dias após o diagnóstico, foi notificado o óbito do paciente. Unitermos: Oncologia, neoplasia, tecidos moles
Resumen: Osteosarcoma extraesquelético es una enfermedad neoplásica maligna rara en el perro, cuyo diagnóstico se basa en la histopatología y en el descarte de sitio neoplásico óseo primario a través de exámenes apropiados. Un perro Labrador Retriever, hembra, con ocho años, fue atendido en el servicio de cirugía del Hospital Veterinario de la Universidad Paulista, presentando formación de consistencia firme en tejido subcutáneo de la región torácica lateral izquierda. El diagnóstico fue fundado por análisis histológico y exclusión de neoplasia esquelética primaria a través de exámenes radiográficos. El perro fue sometido a quimioterapia con doxorrubicina y carboplatino, pero 50 días después del diagnóstico fue notificada la muerte del paciente. Palabras clave: Oncología, neoplasia, tejidos blandos
Clínica Veterinária, n. 64, p. 89-90, 2006
INTRODUÇÃO Os osteossarcomas extra-esqueléticos são neoplasias mesenquimais malignas produtoras de matriz osteóide, mas que não emergem do sistema ósteoarticular 1-5. Esses tumores podem acometer tecidos moles, vísceras e glândulas, e são considerados raros no cão 1,3-7. Osteossarcomas extra-ósseos não têm causa definida, embora alguns registros sugiram a participação de células pluripotenciais indiferenciadas na etiopatogênese dessa alteração 8,9. A enfermidade acomete principalmente animais idosos, não havendo predileção racial ou sexual definida 1,10,11. O diagnóstico dos osteossarcomas extra-esqueléticos baseia-se na ausência de evidências físicas e/ou radiográficas de tumor esquelético primário e na
presença de critérios histopatológicos próprios, representados pela observação de células neoplásicas produtoras de os teóide primitivo ou pobremente organizado 3,11-13. A terapia para osteossarcomas extra-ósseos envolve excisão cirúrgica ampla e/ou quimioterapia 5,11,14. O prognóstico é considerado desfavorável em virtude do curto período de sobrevida, resultante do comportamento biológico extremamente agressivo dessa neoplasia 1-3,5,7,10,12. RELATO DE CASO Um labrador retriever, fêmea, de oito anos de idade, foi apresentado ao serviço de cirurgia do Hospital Veterinário da Universidade Paulista, com queixa principal de massa de rápido crescimento em parede torácica havia cerca de 20
MV, MsC, DVM, prof. dr. Depto. de Cirurgia/FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br
dias, acompanhada por disorexia e apatia. Ao exame físico, observou-se estado geral regular, parâmetros vitais inalterados, linfonodos periféricos sem alterações e presença de formação de consistência firme com cerca de 15 centímetros de diâmetro, indolor, em tecido subcutâneo e aderida à camada muscular, situada em região torácica lateral esquerda próxima à axila (Figura 1). Foi realizada biópsia incisional e o material colhido foi encaminhado para análise histológica, que revelou proliferação tecidual mesenquimal em arranjo randômico, células neoplásicas poligonais e fusiformes apresentando citoplasmas
Lucia Maria Guedes Silveira
Abstract: Extraskeletal osteosarcoma is a rare malignant neoplasm in dogs. The diagnosis is based on histopathology and on the exclusion of primary osseous neoplastic foci through appropriate exams. An eight-year-old female Labrador Retriever was presented to the surgical service of the Veterinary Hospital from Universidade Paulista with a hard subcutaneous mass on the left lateral thoracic region. Diagnosis was reached through histological analysis and exclusion of primary skeletal neoplasia by radiographic exams. The dog was submitted to chemotherapy with doxorubicin and carboplatin. However, the patient came to die 50 days after the diagnosis. Keywords: Oncology, neoplasia, soft tissues
Cássio Ricardo Auada Ferrigno
Figura 1 - Osteossarcoma extra-esquelético. Observar formação localizada em região de parede torácica esquerda
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Priscyla Taboada Dias da Silva
amplos e basofílicos, núcleos REFERÊNCIAS 01-LANGENBACH, A.; ANDERSON, grandes e pleomórficos e nuM. A.; DAMBACH, D. M.; cléolos múltiplos. Também SORENMO, K. U.; SHOFER, F. D. foram observadas síntese de Extraskeletal osteosarcomas in dogs: a retrospective study of 169 cases (1986matriz osteóide com diversas 1996). Journal of the American áreas de mineralização e traAnimal Hospital Association, v. 34, n. 2, béculas ósseas, bem como fip. 113-120, 1998. guras de mitose atípica em 02-PARDO, A. D.; ADAMS, W. H.; elevada freqüência, o que levou McCRACKEN, M. D.; LEGENDRE, A. M. Primary jejunal osteosarcoma assoao estabelecimento do diagnósciated with a surgical sponge in a dog. tico de osteossarcoma osteoJournal of the American Veterinary blástico produtivo (Figura 2). Medical Association, v. 196, n. 6, p. 935-938, 1990. O hemograma indicou anemia normocítica normocrômica 03-PATNAIK, A. K. Canine extraskeletal osteosarcoma and moderada e o perfil bioquímichondrosarcoma: a clinicopathologic co, valores situados dentro dos Figura 2 - Células mesenquimais neoplásicas delineando trabéculas study of 14 cases. Veterinary padrões de referência habi- ósseas mineralizadas - osteossarcoma osteoblástico produtivo (HE 400X) Pathology, v. 27, n. 1, p. 46-55, 1990. tualmente adotados. Realizou04-RINGENBERG, M. A.; NEITZEL, um labrador retriever, fêmea, de oito se minucioso exame físico do esqueleto L. E.; ZACHARY, J. F. Meningeal osteosarcoma in a dog. Veterinary Pathology, v. 37, n. 6, anos de idade. Osteossarcomas cutâ(axial/apendicular) e avaliação radiop. 653-655, 2000. neos e subcutâneos sem envolvimento gráfica integral e seriada de seus consti5-SCHENA, C. J.; STICKLE, R. L.; DUNSTAN, R. ósseo pri mário são considerados tuintes ósseos, descartando-se a existênW.; TRAPP, A. L.; REIMANN, K. A.; WHITE, J. raros, com menção a apenas cinco cia de focos neoplásicos primários nessa V.; KILLINGSWORTH, C. R.; HAUPTMAN, J. casos em cães domésticos em toda a estrutura. O estudo radiográfico toráciG. Extraskeletal osteosarcoma in two dogs. Journal of the American Veterinary Medical literatura compulsada 13. Não há co demonstrou presença de formação Association, v. 194, n. 10, p. 1452-1456, 1989. predileção racial ou sexual claramente com aproximadamente cinco centíme1,10,11 6-JERAJ, K.; YANO, B.; OSBORNE, C. A.; definida . tros de diâmetro em campo pulmonar WALLACE, L. J.; STEVENS, J. B. Primary A ausência de evidências físicas e/ou cranial esquerdo, sugerindo afecção hepatic osteosarcoma in a dog. Journal of the radiográficas de comprometimento esmetastática. Não havia alterações visAmerican Veterinary Medical Association, v. 179, n. 10, p. 1000-1003, 1981. quelético e detecção de alterações histocerais abdominais dignas de nota à lógicas clássicas, destacando-se a pre07-KIPNIS, R. M.; CONROY, J. D. Canine ultra-sonografia. Os dados compilados extraskeletal osteosarcoma. Canine Practice, sença de tecido mesenquimal composto na anamnese e nos exames físico e por v. 17, n. 1, p. 34-37, 1992. por células neoplásicas produtoras de imagem, aliados às informações 08-SEILER, R. J. Primary pulmonary osteosarcoma fornecidas pela análise his topatológica matriz osteóide, contemplaram os prinin a dog with associated hypertrophic osteopathy. cipais critérios diagnósticos previameninicial, permitiram diagnosticar osteosVeterinary Pathology, v. 16, n. 3, p. 369-371, te propostos 3,11,12. 1979. sarcoma extra-esquelético de tecido Embora haja um tipo de neoplasia subcutâneo. 09-THOMSEN, B. V.; MYERS, R. K. Extraskeletal osteosarcoma of the mandibular salivary gland in cutânea benigna com diferenciação Dada a inviabilidade de excisão cia dog. Veterinary Pathology, v. 36, n. 1, p. 71óssea (osteoma), e outras que sofram rúrgica, optou-se pela adoção de qui73, 1999. metaplasia óssea, como por exemplo o mioterapia, utilizando-se um protocolo 10-BARDET, J. F.; WEISBRODE, S.; DeHOFF, W. a pilomatricoma, a análise histopatológialternando doxorrubicina na dose de D. Extraskeletal osteosarcomas: literature review ca realizada no caso estudado permitiu a 30mg/m2 endovenosa e carboplatina b na and a case presentation. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 19, diferenciação para com tais afecções, dose de 300mg/m2 pela mesma via, com n. 5, p. 601-604, 1983. assim como o estabelecimento do intervalo de 21 dias entre a administra11-KUNTZ, C. A.; DERNELL, W. S.; POWERS, B. diagnóstico de osteossarcoma osteoção destes fármacos. Cinqüenta dias E.; WITHROW, S. Extraskeletal osteosarcomas blástico produtivo localizado em tecido após o diagnóstico, foi informado o óbiin dogs: 14 cases. Journal of the American subcutâneo 13. to do cão. Animal Hospital Association, v. 34, n. 1, p. 26-30, DISCUSSÃO O osteossarcoma extra-esquelético é uma neoplasia maligna de origem mesenquimal cuja ocorrência já fora documentada em vísceras 1-3, sistema nervoso central 4, glândulas salivares 9 e mamas 11. O presente trabalho relata um caso dessa enfermidade no tecido subcutâneo de a) Adriblastina 50mg. Farmitália. Rui de Janeiro, RJ b) Carboplatina 150mg. Günther. São Paulo, SP
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CONCLUSÕES Considerando as informações obtidas na literatura consultada, concluiu-se que osteossarcoma extra-esquelético em tecido subcutâneo é uma enfermidade neoplásica rara no cão. A associação entre os dados fornecidos pelos exames físico e radiológico completo e os estudos histológicos da formação subcutânea foi satisfatória para estabelecer o diagnóstico.
1998.
12-FOX, L. E.; KING, R. R.; MAYS, M. C.; ACKERMAN, N.; COOLEY, A. J.; MEYER, D.; BOLON, B. Primary pulmonary osteosarcoma in a dog. Journal of Small Animal Practice, v. 35, n. 6, p. 329-332, 1994. 13-GOLDSCHMIDT, M. H.; SHOFER, F. S. Skin tumors of the dog & cat. Oxford: Pergamon Press, 1992. p. 291-295: Uncommon skin tumors. 14-RODASKI, S.; DE NARDI, A. B. Quimioterapia antineoplásica em cães e gatos. Curitiba: Editora Maio, 2004. p. 161-224: Protocolos quimioterápicos antineoplásicos.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
ENTOMOLOGIA E ACARALOGIA
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livro Manual de Responsabilidade Técnica para Clínicas Veterinárias e Pet Shops é um dos mais recentes lançamentos da L.F. Livros. Sergio Lobato, autor da obra, é médico veterinário formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; pós-graduado em marketing pela Universidade Estácio de Sá; freqüentemente convidado para palestras em vários eventos técnicos nacionais e internacionais; consultor de marketing aplicado à medicina veterinária e proprietário da Sergio Responsabilidade técnica, Lobato Soluções em Pet assunto tratado a fundo por Marketing. Sergio Lobato Como as palestras e treinamentos feitas por Sergio Lobato são bastante requisitadas, seu livro deve seguir a mesma tendência. O conteúdo do livro é composto pelos temas: conceito de responsabilidade técnica; responsabilidade técnica e formação profissional; o responsável técnico e o mercado pet; sugestões de roteiros de tarefas em responsabilidade técnica; aspectos gerais da responsabilidade técnica. Além desses temas, o livro também aborda as leis, os decretos, as resoluções e as portarias relacionadas ao setor. L.F. Livros: (21) 2270-1979 www.lflivros.com.br
obra Entomologia & Acarologia na Medicina Veterinária, de Nicolau M. SerraFreire e Rubens Pinto de Mello, foi recém lançada pela L.F. Livros, com aproximadamente 200 páginas, diversas figuras, ilustrações e esquemas. Trata-se de uma obra de grande utilidaEntomologia e Acaralogia na Medicina Vetede para a identi- rinária, uma importante obra para consultas ficação dos principais ectoparasitas e no reconhecimento de alguns vertebrados envolvidos na casuística clínica do homem e dos animais domésticos, relacionados aos aspectos de vetoração de agentes patógenos ou então como causadores de acidentes graves por substâncias tóxicas por eles produzidas. L.F. Livros: (21) 2270-1979 www.lflivros.com.br
ABOLICIONISMO ANIMAL
OBSTETRÍCIA VETERINÁRIA
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“Em um mundo onde a exploração de outras espécies tornou-se mecanizada e institucionalizada, os animais necessitam um porta-voz. Essa voz pertence a Tom Regan.” Jim Motavalli, editor da E: The Environmental Magazine
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aulas vazias: encarando o desafio dos direitos animais é mais uma obra que tem como objetivo a nossa reflexão sobre os conceitos éticos envolvidos na utilização do animais pelos humanos. Após esta reflexão e chegando-se a conclusão de que os animais têm tanto direito à vida, quanto qualquer humano, talvez não se possa falar de utilização ética de animais, pois na grande maiorias dos casos, utilizar os animais já passaria a ser antiético. Seu autor, Tom Reagan, é professor emérito de filosofia na Universidade da Carolina do Norte, sendo reconhecido mundialmente como um dos maiores nomes da bioética. Editora Lugano: (51) 3466-4721 www.luganoeditora.com.br
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Editora Roca traz à classe médica veterinária a obra Obstetrícia Veterinária, de Peter G G Jackson, da Universidade de Cambridge, do Reino Unido. As 328 páginas da obra são bem ilustradas e abordam, entre outras informações, a distocia e a cesariana na cadela, na gata, na vaca, na égua, na ovelha, na cabra e Lista de verificação do obstetra: novidade incluída na 2ª edição da obra na porca; problemas pós-parto em grandes animais, na cadela e na gata; e também técnicas para a prevenção da distocia. Editora Roca: (11) 3331-4478 www.editoraroca.com.br
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RESPONSABILIDADE TÉCNICA
raças nacionais: o fox paulistinha e o fila brasileiro. Para ganhar um exemplar de “Os Cães”, basta o consumidor adquirir um pacote de 15kg ou duas embalagens de 10,1kg de ração Purina Pro Plan para cães. Já para De forma didática e divertida, livros reúnem informações, fotos, curiosidades e características de 180 raças de cães e gatos quem prefere “Os Gatos” é casas do ramo. Os livros podem ser ensó adquirir um pacote de 10,1kg ou três contrados nas melhores livrarias do embalagens de 3kg de ração para gatos País, Os Cães (R$ 89,00) e Os Gatos Purina Pro Plan. A ação é de abrangên(R$ 69,00). cia nacional e contempla pet shops e
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Purina Pro Plan e a Editora Melhoramentos firmam parceria e lançam a primeira edição das versões brasileiras dos livros “Os Cães” e “Os Gatos”, do autor David Taylor. De origem inglesa, os guias são práticos e trazem, consolidados em mais de 200 páginas, a origem e características de mais de 100 raças de cães e 80 de gatos; orientações e cuidados especiais; comportamento; importância da posse responsável; dicas para viagem e treinamento; entre outras informações. Para tornar a leitura mais interessante, os guias trazem fotos detalhadas dos animais. O conteúdo foi revisado por veterinários e juízes de raças da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), garantindo a qualidade das informações, inclusive em função das diferenças climáticas entre os países. Além disso, o guia de cães acrescentou duas
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PURINA PRO PLAN E MELHORAMENTOS TRAZEM AO BRASIL GUIAS DE RAÇAS DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
Bem-estar animal WSPA lançou Declaração Universal de Bem-Estar Animal Documento estabelece proteção animal como importante meta para o desenvolvimento social das nações
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om a proximidade da Semana dos Animais, junto ao dia 4 de outubro – dia de São Francisco de Assis – a WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal) se antecipou e realizou o lançamento de campanha que promove a Declaração Universal de Bem-Estar dos Animais. A exposição de fotos ‘Animais em Foco’, realizada no hall de entrada do Senado Federal, em Brasília, teve início no dia 28 de agosto, indo até 14 de setembro e marcou o lançamento da campanha. Essa exposição itinerante internacional está sendo exibida em vários países do mundo. “Mais do que um alerta, ‘Animais em Foco’ é um chamado para que o governo e a sociedade despertem para o entendimento de que os animais são seres sencientes, providos de sensações e sentimentos”, destaca Antônio Augusto Silva, gerente de campanhas da WSPA Brasil. A WSPA lançou, em junho deste ano, um importante documento para estabelecer critérios uniformes para a proteção dos animais em todo o mundo. Trata-se da Declaração Universal de Bem-Estar Animal. O documento integra a campanha da WSPA ‘Os animais são importantes para mim’ e estabelece diretrizes básicas de bem-estar, reconhecendo os animais como seres senscientes e sua proteção como importante meta para o pleno desenvolvimento social das nações de todo o mundo. O objetivo é recolher 10 milhões de assinaturas e encaminhar o documento à ONU. Com isso, a WSPA pretende garantir métodos efetivos para livrar dos
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maus-tratos bilhões de animais em todo o mundo, criando normas e padrões a serem seguidos por todos os países membro da ONU. Durante o lançamento oficial do documento – que ocorreu no simpósio de afiliadas da WSPA, em Londres, Noah Wekesa, ministro da Educação, Ciência e Tecnologia do Quênia disse que, apesar das diferenças sociais, econômicas, religiosas e culturais é dever de cada sociedade cuidar e tratar dos animais de forma humana e sustentável. Nesse sentido, a declaração estabelece o direito à vida, destacando a presença humana como parte de um ecossistema que deve ser reconhecido e respeitado para que haja harmonia e equilíbrio entre as sociedades. Algumas das emendas propostas estabelecem
que o bem-estar inclui zelar pela saúde dos animais e que os médicos veterinários possuem um papel essencial na manutenção da saúde e bem-estar desses animais; que os humanos partilham o planeta com outras espécies e formas de vida, co-existindo num ecossistema interdependente; e que é de extrema importância o trabalho contínuo da Organização Mundial para a Saúde Animal na criação de normas globais que assegurem o bem-estar animal.
www.wspabrasil.org
Assine a petição
A WSPA Brasil recolherá assinaturas durante a exposição de fotos 'Animais em Foco', que acontece no hall de entrada do Senado Federal, em Brasília, de 28 de agosto a 4 de setembro. Também é possível assinar a petição via internet no endereço eletrônico www.animalsmatter.org Assiná-la pode ajudar na obtenção do reconhecimento e da proteção dos animais de todo o mundo, unindo a sua voz à de 10 milhões para apoiar a campanha. Os animais e o tratamento que lhes damos são importantes, incluindo o seu. Faça com que os animais sejam importantes para o Governo. Faça saber ao seu governo que os animais são importantes para você
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Ajustando sua rotina e evitando problemas
odos os dias recebo mensagens com vários questionamentos sobre como o marketing pode ajudar o médico veterinário a aumentar seus lucros no dia-a-dia da clínica, se o marketing pode aumentar o número de clientes, se o marketing os ensinará a vender mais, afinal “marketing é vendas, não é mesmo Sergio?” Bem, vamos começar a pôr alguns pingos nos “is” e dizer que antes de campanhas promocionais dos sonhos, eventos e estratégias comerciais arrojadas, o clínico veterinário deverá estar atento ao velho ditado “por fora bela viola, por dentro pão bolorento” e voltar seus olhos para dentro dos seus negócios e literalmente arrumar a casa no que diz respeito à rotina auxiliar dos serviços veterinários. O termo auxiliar em um primeiro momento pode ser mal interpretado, como algo que não tem uma devida importância e que pode ser relegado a um segundo plano. Porém, são essas rotinas e ferramentas auxiliares, notadamente do universo administrativo, que são extremamente importantes para prevenir uma série de problemas que ocorrem em clínicas e consultórios de todo o Brasil, que se refletem fortemente no relacionamento com clientes. Há um grande número de reclamações feitas tanto pelos clínicos quanto por proprietários de animais de estimação que, quando avaliadas e analisadas mais cuidadosamente, conclui-se que poderiam ter sido evitadas desde que houvesse o seguinte conjunto de ações de forma profissional: - criação de um protocolo definido de atendimento e administrativo; - definição clara do papel cliente e profissional; - treinamento diário da equipe de trabalho; - comunicação clara e direta. Criação de um protocolo definido de atendimento e administrativo É um dos mais claros pontos de falha na postura do médico veterinário no que diz respeito à sua rotina como gestor de suas ações no dia a dia dentro dos consultórios e clínicas. Desde nossa formação universitária somos “adestrados” a acreditar que os únicos 98
impressos que devemos aprender a escrever são o receituário e a ficha de anamnese e que seremos, assim, capazes de resolver nossos problemas e estabelecer nossa relação com os clientes de forma profissional. Ledo engano! Não estamos acostumados a pensar que o registro de nossas ações dentro da clínica é muito importante, pois em tempos de Códigos de Defesa do Consumidor, é de extrema necessidade a criação de um “back up” de tudo o que se “fala”, “explica”, “comenta” ou “orienta” aos clientes. Pense na criação de um programa de documentos importantes para sua segurança e para o profissionalismo de seu negócio: - ficha de cadastro; - termos de autorização (cirurgia, internação, exames, transporte e serviços acessórios); - contratos de prestação de serviços (afinal somos prestadores de serviços, não somos?); - protocolos de atendimento; - modelos de prontuário; - cartas de autorização; - receituários; - cartas para especialistas; - cartas para generalistas; - solicitação de diagnóstico compartilhado; - atestados de sanidade; - atestados de óbito; - solicitações de exames auxiliares. Definição clara do papel cliente e profissional Outro ponto crítico dentro do atendimento médico veterinário, que leva à uma situação que em um primeiro instante pode ser vista como uma vitória, é a intimidade conquistada com o cliente. Mas até onde deve ir esta intimidade? Como gerenciar essa tão delicada relação sem que haja interferência na performance profissional? O maior erro feito pela classe é, de forma simplória, proporcionar benefícios a todos os clientes com o objetivo de conquistá-los e manter sua freqüência de compras e de visitas à clínica. Peço, encarecidamente, que os colegas parem com esse tipo de postura pois, em determinados momentos, essa permissividade com certeza os colocará em maus
Por Sergio Lobato www.sergiolobato.com.br
lençóis, quando os clientes que, antes tão amigos, tão compreensivos, se posicionarem muitas vezes de forma agressiva e, em casos extremos, acusatória. Aí escutamos as frases clássicas: “Nossa, e eu fiz de tudo! Até atender na casa dele, sem cobrar, eu fui!”, “Eu sempre dei desconto para essa pessoa e agora ela me ataca” ou “Por que ela que sempre vinha aqui à clínica me trocou por outro?” Lembre-se: por mais carinhosa, simpática e sorridente que ela possa parecer, ela é sua cliente!!! Ela deve ser tratada de forma profissional! Treinamento diário da equipe de trabalho É fundamental que toda esta rotina faça parte da política organizacional, da cultura do negócio e todos os que trabalham devem entender a importância de todas estas rotinas para a própria sobrevivência do estabelecimento onde trabalham. Você, como gestor e líder, deve assumir a responsabilidade de explicar cada vez com mais freqüência e com muito cuidado a todos os seus funcionários como preencher, organizar e guardar essas informações tão valiosas. Comunicação clara e direta É indiscutível que a comunicação entre as pessoas é algo muito difícil e que devemos ser capazes de diminuir cada vez mais os ruídos que prejudicam esta comunicação. Seja assertivo, direto e claro. Deixe bem claro como são os procedimentos do estabelecimentos, bem como valores e formas de pagamento. Crie um mural de avisos que fique bem visível e com todas as informações necessárias para a compreensão do cliente, que deverá ainda ser orientado corretamente sobre todas as dúvidas que possam surgir. Não crie promoções sem que haja algum documento escrito sobre isso, pois é necessário que todo e qualquer valor agregado seja bem percebido pelo cliente, mas deverá estar fundamentado. E lembre-se: proteja-se contra “clientesproblemas profissionais”! Use o marketing como uma ferramenta para evitar problemas!
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
12, 13 e 14 de outubro de 2006
Escola de Veterinária da UFMG - Belo Horizonte - MG RELAÇÃO DE TEMAS E PALESTRANTES !Dermatologia
Ronaldo Lucas (Anhembi Morumbi - SP)
!Comportamento animal
João Telhado - (UFRRJ - RJ)
!Anestesiologia e choque
Denise Fantoni - (USP - SP)
!Nefrologia
Juliana Oliveira - (UFMG)
!Neurologia clínica
Eliane Gonçalves - (UFMG)
!Neurocirurgia
Sandro Alex Stefanes - (UPIS - DF)
!Nutrição
Flavia Borges - UFLA
!Diagnóstico por imagem
Bruno Divino - (Unipac - MG)
!Fisioterapia
Cristina Lamas Silva - (M.V. Autônoma - MG)
!Doenças infectocontagiosas
Vitor M. Ribeiro - (PUC MG)
!Doenças infectocontagiosas
Múcio Flávio Ribeiro - (UFMG)
!Oncologia
Gleidice Lavalle - (UFMG)
!Marketing e administração
Francis Flosi - (Quallitas)
!Cardiologia clínica
Aparecido A. Camacho - (Unesp Jaboticabal)
!Cardiologia - Imagens
Guilherme Albuquerque - (UFMG)
!Bem-estar animal
Luís Lago - (UFMG)
!Oftalmologia
José Luís Laus - (Unesp Jaboticabal)
!Gastroenterologia
Paulo Renato - (UFV - MG)
!Cirurgia
Marcelo Teixeira - (UFRPE)
Informações: ANCLIVEPA MG - Fone: (31) 3297 2282 Av. Raja Gabaglia, 3.601 Sl. 106 - São Bento - Belo Horizonte - MG Email: anclivepa@anclivepa-mg.com.br Apoio
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Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
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túrbios cardiovasculares, entre outras. Entre os nutrientes presentes no Vitamici estão: cálcio, fósforo, potássio, iodo, quelato de cobre, quelato de manganês, quelato de zinco, vitaminas A, E, D3, C, B1, B2, B6 e B12, biotina, niacina, ácido fólico, ácido pantotênico e extrato de Yucca schidigera.
ROYAL CANIN COM NOVOS ALIMENTOS E PROGRAMAS NUTRICIONAIS e para os filhotes, do desmame até o 5º mês de idade. Sua composição é rica em energia me tabolizável, em torno de 4.300kcal/kg; contém ingredientes de alta digestibilidade (acima de 90%); vitaminas e minerais adaptados à esta fase e baixo teor de amido. Starter é produzida por meio de um processo de extrusão diferenciado, que produz croquetes bastante aerados, facilitando sua reidratação e oferecimento para os filhotes que estão iniciando o desmame. Maxi babydog Assim como o alimento Starter, Maxi babydog tem o objetivo de atender as necessidades especiais presentes a partir do 43º dia de gestação até o final do desmame e para os filhotes, do desmame até o 5º mês de idade. A diferença é que Maxi babydog tem sua composição balanceada para raças grandes e gigantes. Nas raças grandes e gigantes, desde o desmame até os 5 meses o crescimento é intenso. Para assegurar o crescimento de seu esqueleto, o filhote necessita o dobro de energia de um adulto. Como seu sistema digestivo é ainda imaturo,
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Programa Nutricional Reprodução O Programa Nutricional Reprodução foi elaborado para atender as fêmeas em período reprodutivo, desde o primeiro dia do cio até o final do desmame, melhorando a performance da fêmea e dos seus filhotes. Os alimentos que fazem parte desse programa nutricional estão sendo fornecidos com exclusivadade apenas para criadores profissionais por meio do programa Professional Breeders. Veja a seguir os alimentos que o compõem. HT42 d Este alimento é direcionado para fêmeas de todas as raças desde o primeiro dia do cio até o 42º dia de gestação. HT 42d fornece à fêmea pré-gestante os nutrientes necessários para manter uma condição física ideal, graças a sua composição rica em energia, proteínas de alta digestibilidade e outros ingredientes que atendem as necessidades da fêmea, assegurando o desenvolvimento embrionário e do feto graças a ação do ácido fólico, dos antioxidantes, EPA e DHA. Starter As fêmeas durante a lactação e os filhotes durante o desmame e o crescimento necessitam de reposição rápida de energia devido ao grande esforço físico a que são submetidos. Starter é indicado para as fêmeas das raças pequenas e médias, a partir do 43º dia de gestação até o final do desmame,
HT42 d
Maxi babydog
ele deve receber essas calorias de maneira concentrada. Maxi Babydog satisfaz as necessidades da primeira etapa de crescimento graças à concentração de energia (em torno de 4300kcal/kg), uma quantidade de cálcio e fosforo adaptada, associada à condroitina e à glucosamina para a construção de uma ossatura harmoniosa e saudável. Maxi babydog facilita a preensão do filhote graças aos croquetes de tamanho perfeitamente adaptado à sua mandíbula, suficientemente suaves para permitir a mastigação sem dificuldade ou reidratrar até formar uma papinha.
Outras novidades da Royal Canin
COMPETITION - ENERGY 4300 Para manter a temperatura corporal constante, os cães de esporte e trabalho queimam uma maior quantidade de energia. Devido à intensidade dos exercícios, eles também estão suscetíveis à maior liberação pelo organismo, de radicais livres e, conseqüentemente, ao estresse oxidativo. Um dos objetivos da
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Competion - Energy 4300 é evitar essa condição por meio do fornecimento de antioxidantes, que estão presentes na sua composição. Além disso, o alimento mantém grande segurança digestiva graças às proteínas altamente digestíveis e selecionadas para obter um nível de assimilação superior a 90%. Essas proteínas otimizam o tempo de duração no trato digestivo, reduzindo a indigestibilidade e diminuindo, significativamente, o volume de fezes.
Clínica Veterinária, Ano XI, n. 64, setembro/outubro, 2006
Labrador Retriever Junior 33 O novo alimento atende melhor a todas as necessidades dos filhotes de labrador. O formato do croquete, desenvolvido especialmente para a raça, não permite que o cão coma rápido, favorecendo assim, a sensação de saciedade. Pastor Alemão Junior 30 Alimento rico em energia para que o crescimento dos ossos seja saudável, já que, com 5 meses, o animal atinge 50% de seu peso adulto.
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SOS Fauna, dando continuidade ao seu projeto, onde neste está incluso a implantação de dois Centros de Recepção, Reabilitação e Reintrodução de Avifauna endêmica da Caatinga, necessitará, a partir de janeiro de 2007, de dois profissionais de medicina veterinária para coordenar em parceria com dois biólogos(as) estas duas unidades (um(a) para cada unidade) acima citadas, trabalhando com aves silvestres apreendidas localmente (passeriformes e alguns psitacídeos) e na recepção de aves da caatinga apreendidas em SP e anteriormente reabilitadas em nosso Centro de Manejo sede, no Vale do Ribeira. Salientamos que ainda precisamos de mais dois profissionais de medicina veterinária para trabalho em Juquitiba, Vale do Ribeira, a partir de meados de 2007. No Centro de Manejo sede. As unidades serão implantadas uma no estado da Bahia, próximo ao Raso da Catarina e outra na região da Chapada do Araripe, em Pernambuco. O trabalho será sempre realizado em parceria com IBAMA, DPF Departamento de Policia Federal e Ministérios Públicos. Precisamos que estes profissionais - inicialmente - preencham as seguintes qualificações: a. tenham residência fixa em São Paulo ou região metropolitana; b. sejam recém formados ou com pouco tempo de formação; c. tenham muita iniciativa para solução de problemas; d. comuniquem-se bem em público; e. se possível, que falem inglês; f. que tenham CNH - Carteira Nacional de Habilitação; g. e principalmente, que amem sua profissão e sobretudo o trabalho com aves silvestres. Os interessados devem enviar o mais breve possível currículo e texto falando sobre si mesmos para mpr@sosfauna.org ou sosfauna@sosfauna.org Para 2007 (a partir de abril/maio) ainda necessitaremos de mais dois profissionais de medicina veterinária para trabalhar fixos nos mesmos locais e uma dupla (biólogo(a) e veterinário(a) para circular por todos os Estados da Bahia, Pernambuco e Paraíba, também trabalhando com avifauna da caatinga.
www.sosfauna.org
Torne-se um associado SOS FAUNA e ajude a combater o tráfico de animais silvestres
A programação detalhada e sites de eventos podem ser encontrados em nosso site, http://www.agendaveterinaria.com.br
NACIONAL 12 a 16 de setembro Santos - SP • IX World Congress of Veterinary Anaesthesiology • VII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária • Meeting of the International Veterinary Academy of Pain Management ! www.cbcav.org.br
13 de setembro São Paulo - SP Noite do tegumento ! (11) 5051-0908 14 de setembro Porto Alegre - RS Pancreatite em cães e gatos ! (51) 3344-2785
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18 de setembro São Paulo - SP Epilepsia de difícil controle ! (11) 3813-6568 19, 21, 26 e 27 de setembro Santos - SP Odontologia veterinária ! (11) 6995-9155 20 a 22 de setembro São Paulo - SP • 6º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais • Pet South America ! www.anclivepa-sp.org.br ! www.petsa.com.br
24 de setembro; 8, 15 e 22 de outubro São Paulo - SP Curso de emergências em pequenos animais ! (11) 6995-9155
25 a 29 de setembro Seropédica - RJ; UFRRJ SEMEV 2006 ! www.ufrrj.br/eventos/ semev
5 a 8 de outubro São Paulo - SP Semana Acadêmica de Veterinária da Universidade Anhembi-Morumbi ! da_macruz@hotmail.com
15 a 20 de outubro Brasília - DF XVII Reunião Internacional de Raiva nas Américas ! www.rabies-in-theamericas.org
28 a 30 de setembro São Paulo - SP Curso Intensivo Prático de Ortopedia - CIPO ! (11) 2157-5838
8, 15 e 22 de outubro; 5, 12, 19 e 26 de novembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de laboratório clínico ! (11) 6995-9155
16 a 18 de outubro Rio de Janeiro - RJ I Congresso Internacional de Bem-Estar Animal – Teoria, Docência, Aplicação ! www.wspabrasil.org
2 a 6 de outubro Santos - SP 8ª Semana Acadêmica Unimes de Medicina Veterinária (VIII SAUMVET) ! veterinaria.unimes@ yahoo.com.br 2 a 7 de outubro São Paulo - SP VII JOVET - Jornada Acadêmica Veterinária da UniFMU) ! andreamessa@hotmail. com
9 e 10 de outubro São Paulo - SP I Fórum sobre Controle de População de Cães e Gatos do Estado de SP ! ccd@saude.sp.gov.br 12 a 14 de outubro Belo Horizonte - MG 3º Congresso Mineiro da Anclivepa ! (31) 3297-2282
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16 a 20 de outubro Jaboticabal - SP III Curso Teórico-Prático de Anestesia em Pequenos Animais ! (16) 3209-1300 16 a 20 de outubro Valença - RJ III SEMAVET ! medevet@faa.edu.br
A programação detalhada e sites de eventos podem ser encontrados em nosso site, http://www.agendaveterinaria.com.br
NACIONAL início - página 112 21 e 22 de outubro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia ! (11) 3082-3532 21 e 22 de outubro Londrina - PR Geriatria em animais de companhia ! (43) 3342-6757 21 e 22 de outubro Curitiba - PR III Curso Teórico e Prático de Eletrocardiograma em Pequenos Animais ! (41) 297-4479 23 a 27 de outubro Campinas - SP Semana Acadêmica Veterinária - UNIP ! (19) 3776-4080 25 a 28 de outubro Gramado - RS XVII Congresso Estadual de Medicina Veterinária; II Congresso Estadual da Anclivepa-RS (clínica de felinos, comportamento de cães e gatos, dermatologia e odontologia); - I Seminário Nacional de Ética Profissional em Medicina Veterinária; V Encontro de Especialista em Pequenos Ruminantes do Cone Sul ! (51) 3228-1194
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INTERNACIONAL 27 e 28 de outubro São Paulo - SP Curso prático: miscelâneas cirúrgicas tóraco-abdominais ! (11) 2157-5838 27 a 29 de outubro Salvador - BA II Simpósio Baiano sobre Animais Silvestres e Exóticos ! gease_ufba@yahoo. com.br 28 e 29 de outubro Santa Cruz - ES Plantas medicinais e fitoterapia básica ! www.ruschicolibri.com.br novembro (data a confirmar) Porto Alegre - RS II Ciclo regional de atualização clínica ! (51) 3344-2785
9 e 10 de novembro Santa Maria - RS Simpósio Gaúcho de Animais Selvagens ! (55) 3220-8072
(11) 6995-9155 16 de novembro São Paulo - SP Alopecias não inflamatórias ! (11) 5051-0908
11 e 12 de novembro Curitiba - PR III Curso Teórico e Prático de Ultra-Sonografia ! (41) 297-4479
22 a 25 de novembro São Pedro - SP X Congresso e XV Encontro da Abravas ! www.abravas.org.br
11 a 14 de novembro Brasília - DF III CONCEVEPA ! (62) 32413939 12, 19 e 26 de novembro; 3 de dezembro São Paulo - SP Curso de dermatologia !
25 e 26 de novembro São Paulo - SP V Ciclo de emergências ! (11) 3813-6568 25 a 28 de novembro Rio de Janeiro - RJ • II Simpósio de Comportamento e Bem-
2 a 5 de novembro Brasília - DF XXIV Encontro Anual de Etologia ! (61) 3307-2294 6 a 9 de novembro Ilhéus - BA VI Encontro de Med. Vet. do Sul da Bahia & I Sem. de Vigilância Sanitária e Saúde Pública da UESC ! damvuesc@gmail.com
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29 de setembro a 2 de outubro Lima - Peru The Latin American Veterinary Conference 2006 ! www.tlavc-peru.org 5 a 7 de outubro Washington - EUA 2006 ACVS (American College of Veterinary Surgions) Veterinary Symposium ! www.acvs.org/Symposium 6 a 8 de outubro Chicago, IL- EUA Backer's 40th Annual Pet Industry Trade Show and Educational Conference ! www.hhbacker.com 11 a 14 de outubro Praga - República Tcheca 31º Congresso Mundial da WSAVA ! www.wsava2006.cz 13 a 17 de janeiro de 2007 Orlando - FL, EUA The North American Veterinary Conference ! www.tnavc.org 25 a 27 abril de 2007 Brasil 10th World Veterinary Dental Congress ! www.anclivepa-sp.org.br