G uarรก
ISSN 1413-571X
Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007 - R$ 12,00
EDiTORA
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Índice Carla R. G. R. Santos
Clínica médica - 33 Hipertensão arterial sistêmica em felinos domésticos: revisão da literatura Systemic hypertension in domestic felines: a literature review Hipertensión arterial sistémica en felinos domésticos: revisión de literatura
Clínica médica - 42
Região plantar do membro posterior para detecção do pulso arterial
Obesidade felina - revisão
Alexandre Mazzanti
Feline obesity - a review Obesidad felina - revisión
Neurologia - 52 Meningoencefalomielite granulomatosa em cães Roberto Silveira Fecchio
Granulomatous meningoencephalomyelitis in dogs Meningoencefalomielitis granulomatosa en perros
Animais silvestres - 59 Artrodese de joelho em cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus)
Alessandra Roll
Meningoencefalomielite granulomatosa. Inclinação da cabeça para o lado direito
Arthrodesis of the knee in Bush dog (Speothos venaticus) Artrodesis de rodilla en zorro vinagre (Speothos venaticus)
Cirurgia - 64 Adrenalectomia para tratamento de tumor ou hiperplasia adrenal em furões (Mustela putorius furo): relato de nove casos (2003-2004) Alopecia total, em furão com doença de adrenal em estágio avançado
Espécime de cachorro-do-matovinagre
Adrenalectomy as treatment for tumor or adrenal hyperplasia in ferrets (Mustela putorius furo): nine case reports (2003-2004) Adrenalectomia para tratamiento de tumor o hiperplasia adrenal en hurones (Mustela putorius furo): relato
Clínica médica - 68 Diogo Benchimol de Souza
Papel dos fármacos na função tireoidiana em cães Drug effects on canine thyroid function Papel de los fármacos en la función tiroidea en los perros
Cirurgia - 78 Hérnia perineal em cães - revisão de literatura Perineal hernia in dogs - a review Hernia perineal en perros - revisión de literatura
Hérnia perineal. Aumento de volume na região perineal direita de cão macho
Editorial - 5 Opinião - 6 Cartas - 10 Reportagem - 12
Seções
26 28
Saúde pública - 30
Tamanduás-bandeira e sua vulnerabilidade
Notícias - 16 • Laboratório na mata • Fundação Vanzolini certifica Parque Zoológico de São Paulo • A ciência da liderança • Nova diretoria da ABRV • Laboratório Biovet comemora meio século de atividades em favor da saúde animal • Fort Dodge investe em divulgação técnico-científica • Clínica Veterinária Santo Agostinho completa 25 anos • Koala Hospital Animal inaugurou serviço 24h de tomografia computadorizada
• Odontologia e felinos atraíram grande público ao Guarujá • Felinos têm destaque na 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária
16 18 20 20 22
• Inseticida natural contra dengue • Leishmaniose: prevalência preocupante em PE
Ecologia - 88 Códigos de Conduta Voluntários são criados para barrar a introdução de espécies exóticas invasoras
22
Bem-estar animal - 90
24
WSPA, Prefeitura de Parintins e Ibama inauguraram centro para tratar animais no Amazonas
24
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Entrevista - 92 Escusa de consciência, direito garantido
Gestão, marketing e estratégia - 94 O monge e o clínico veterinário
Livros - 98 Lançamentos - 100 Negócios e oportunidades - 102 Ofertas de produtos e equipamentos
Serviços e especialidades - 102 Prestadores de serviços para clínicos veterinários
Agenda - 111
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Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
EDITORES / PUBLISHERS Arthur Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871
Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br
Journal of continuing education for small animal veterinarians
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.
CAPA / COVER Tamanduábandeira (Myrmecophaga tridactyla) fotografado no Parque Zoológico de São Paulo por Arthur Barretto
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JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679
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Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/Mbrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).
Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br
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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@anestciruvet.com.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexandre Mazzzanti DCPA/CCR/UFSM mazzal@smail.ufsm.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino CESMAC fcmaiorino@uol.com.br Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br
Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP; ALBA Alangarve@aol.com Jose Fernando Ibañez FMV/UEL ibanez@uel.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Luciane Biazzono DCV/CCA/UEL biazzono@uel.br
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio Dentello Lustoza Agener União mdlustoza@uol.com.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br
Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes CENA/USP/Piracicaba sadyzola@usp.com Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco Santos FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br
Editorial
B
iodiversidade, talvez nunca tenha se falado tanto dela. A Organização das Nações Unidas (ONU) institui a data de 22 de maio como "Dia Internacional da Diversidade Biológica". A biodiversidade ou diversidade biológica é fundamental para manutenção do equilíbrio ecológico. A sua conservação ou degradação gera impactos em diversos setores, dentre eles o social, o cultural, o econômico e o científico. Infelizmente, ela está ameaçada. De acordo com as estimações mais recentes, tendo em conta as taxas atuais de desmatamentos, assistiremos à extinção de 2% a 8% das espécies vivas nos próximos 25 anos. Segundo o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o Brasil tem a maior taxa de desmatamento do mundo. Todos os anos, aproximadamente 18.200 km2 da floresta Amazônica são desmatados, de acordo com relatório elaborado, entre 1995 e 1996, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Ibama. Como conseqüência, há redução da biodiversidade, aumento da erosão e comprometimento dos cursos d’água. No planeta Terra, em toda a sua história evolutiva, várias espécies foram extintas naturalmente. Porém, hoje, devido às atividades humanas, tanto as espécies quanto os ecossistemas são objetos das mais graves ameaças. As drásticas mudanças climáticas não são acontecimento futuro. Elas já estão ocorrendo e evoluem em velocidade acelerada. Grande elemento catalisador desse processo é a ganância do ser humano. Basta constatar algumas manchetes veiculadas em 2007: "Com autorização do governo, fornos queimam a floresta no PI", "Pesquisadores alertam para a matança de botos na Amazônia", "CTNBio não permite presença da sociedade civil e encerra reunião", entre muitas outras. São bastante preocupantes as que alertam sobre o misterioso desaparecimento de milhões de abelhas nos EUA e na Alemanha. Nos EUA, meio milhão de colônias já foram perdidas. Segundo especialistas da Universidade de Cornell, as abelhas geram mais de US$ 14 bilhões, polinizando plantas responsáveis por frutas e legumes, amendoeiras e forrageiras. A causa desse desequilíbrio nas colônias de abelhas ainda não foi identificada, mas herbicidas e organismos geneticamente modificados (OGMs), como o milho transgênico, fazem parte da lista de suspeitos. No Brasil, a CTNBio, órgão que tem dado andamento às liberações de OGMs, tem sido criticada por cientistas e pelo próprio Ministério Público por não agir com transparência e por não seguir condutas preconizadas pela própria Constituição. Enquanto isso, na Suíça, foi realizado refeSímbolo concebido rendo sobre o banimento de cinco anos às plantações de grãos geneticamente modificados, no para identificar produtos com qual 55,7% do eleitorado votou a favor da proibição. No Brasil tem sido bem diferente, pois se presença de OGMs faz de tudo para aprovar às escondidas os OGMs. Além disso, com exceção do que ocorre no Estado do Paraná, não se cumpre a lei que determina que todos os produtos que contêm ingredientes transgênicos sejam identificados conforme padronização, a qual permite que o consumidor identifique a presença dos OGMs nos produtos. O que os OGMs têm de ruim que a sociedade não pode saber? Os médicos veterinários, potenciais agentes de saúde pública, independentemente de serem servidores públicos ou clínicos de pequenos animais, são importantes formadores de opinião e devem aproveitar os momentos oportunos para alertarem seus clientes, amigos e familiares sobre questões de segurança alimentar, como os riscos dos OGMs e a necessidade de promover o consumo consciente. O açúcar refinado convencional, por exemplo, utiliza as queimadas como sistema de colheita, queimando, juntamente com a cana-deaçúcar, diversos animais, como tamanduás-bandeira. O açúcar orgânico, por sua vez, não utiliza as queimadas na colheita, preservando o meio ambiente e a fauna. O dia 22 de maio não é uma data para ser comemorada e sim para ser lembrada o ano inteiro, por meio de gestos que preservem realmente a biodiversidade, garantindo o equilíbrio dos ecossistemas e a perpetuação da vida na Terra. Inclusive gestos simples, como incentivar e praticar a separação do lixo.
Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
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Opinião
Uma revolução silenciosa na clínica de pequenos animais Pedro Nunes Caldas, MV - Veterinária Bom Pastor, São Gonçalo, RJ
E
m pleno começo do século 21 a clínica de pequenos animais, embora com muitos avanços, ainda padece de muitos males decorrentes do subdesenvolvimento do nosso país. Na década de 70, nos grandes centros urbanos surgiram algumas clínicas, que deram início aos modernos tratamentos clínicos e cirúrgicos que conhecemos hoje na clínica veterinária; evidentemente que muitas universidades deram uma imensa contribuição. Técnicas modernas, literatura atualizada, cursos de mestrado e doutorado, congressos nacionais e internacionais, muitos profissionais indo ao exterior se especializar, foram aos poucos contribuindo para a moderna medicina veterinária que temos hoje. No início da década de 90, houve uma explosão de faculdades de medicina veterinária. Além das públicas existentes, surgiram as particulares, que de certa maneira foram mais condescendentes com estudantes de duvidoso preparo, que encontraram certa facilidade em matricular-se nestas faculdades, contando inclusive com facilidade no processo de transferência de uma para outra. Somente no Estado do Rio de Janeiro, um estado pequeno, durante a década de 90 até 2000 foram autorizadas a funcionar mais de 10 faculdades. Embora constatemos um grande avanço no aspecto tecnológico na clínica de pequenos, verificamos que o ensino caiu muito em qualidade, não só nas particulares como também nas públicas. Assistimos a uma verdadeira explosão de
pet shops com pequenos consultórios onde muitos profissionais são submetidos a horas de trabalho, na maioria das vezes dando orientaçãozinha para compradores de ração e outros produtos, mas sem valor agregado aos seus proventos. A medicina veterinária popularizou-se, todas as camadas da população passaram a ter acesso a produtos e serviços veterinários; entretanto, os profissionais oriundos das faculdades, premidos pela urgente necessidade em produzir renda não dão continuidade nos estudos e atualizações, gerando com isso profissionais com pouca ou nenhuma experiência. Isso coloca em risco não só a vida de muitos pacientes que procuram nossos serviços, como deprecia nossa profissão, assim como coloca a população numa retaguarda a nos enxergar com certa desconfiança. Já faz tempo que o veterinário do faz tudo vem desaparecendo. As doenças nos animais sempre foram e sempre serão de uma complexidade muito grande. Quando os diagnósticos começaram a ser mais precisos e confiáveis, também o tratamento se tornou mas complexo. A imagem do cliente mal informado, sem consciência do que é a verdadeira medicina veterinária que chega num balcão de pet shops ou casa de ração e consegue uma consulta virtual, telepática levando uma receita ou mesmo os medicamentos, precisa desaparecer do nosso convívio diário. A ética entre nós; como evoluiu! O próprio avanço da medicina veterinária contribuiu para um padrão de comportamento mais elevado entre os profissionais.
O desenvolvimento das especialidades deram uma enorme contribuição. A interdependência entre os profissionais fizeram-nos mais cordiais e mais éticos, forçando-nos a discutir casos clínicos, com outros colegas, a comparar resultados, e a encaminhar pacientes a outros profissionais mais capacitados. Demos um salto de qualidade nos diagnósticos laboratoriais e por imagem, nos tratamentos cirúrgicos, nas diversas especialidades clínicas, tais como: ortopedia, fisioterapia, acupuntura, endocrinologia, dermatologia, cardiologia, neurologia. Na parte de higiene e embelezamento como avançamos; bem como na psicologia compreendendo as doenças psicogênicas e melhorando o comportamento animal. Contamos com diversos cursos de atualização e especialização. Palestras de educação continuada são oferecidas por diversas entidades, congressos nacionais e internacionais. Num mundo globalizado, competitivo, com informações velozes, onde a internet é a maior aliada do povo, não haverá mais espaços para amadores. Temos que ser extremamente profissionais. Essa é a exigência do mercado. Quem não estiver em perfeita sintonia com tudo que está ocorrendo entre nós em termos de avanços; quem não entender os modernos instrumentos tecnológicos colocados a nossa disposição; quem não pautar seu trabalho nos princípios do conhecimento, qualidade eficiência, transparência e bom atendimento ao cliente, estará inexoravelmente fora do mercado.
Cartas para esta seção devem ser enviadas para cvredacao@editoraguara.com.br ou pelo correio para a Editora Guará Ltda., Seção de Cartas, Caixa Postal 66002, 05311-970, São Paulo - SP. Perguntas, dúvidas, esclarecimentos, comunicados, orientações etc. serão respondidos conforme a ordem de chegada. Os editores poderão resumir o conteúdo da carta, conforme a necessidade.
Comunidade Científica critica falta de regras claras na CTNBio Por meio de Carta Aberta à comunidade científica e à CTNBio, professores de políticas públicas da Universidade de São Paulo lamentam e solicitam providências sobre a não definição de regras para a liberação de transgênicos, por parte da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança. Reivindicam abordagem cuidadosa e transparente por tratar-se de tema que envolve riscos de vida e ameaça à biossegurança nacional. Ainda alegam na Carta que, se os equívocos quanto à falta de regras não forem corrigidos, isso significará “uma ameaça de violação à Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial, de 1996, e à Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica de 1992, das quais o Brasil é signatário”. Carta aberta à comunidade científica e ao 7. Quais são as garantias que o Conselho de degradação do meio ambiente, estudo prévio de CNTBio Biossegurança pode dar à população a respeiimpacto ambiental, a que se dará publicidade; Vimos a público solicitar providências com to do cumprimento das normas de segurança • V - controlar a produção, a comercialização relação à falta de definição de regras claras alimentar (Convenção de Roma)? e o emprego de técnicas, métodos e substâncias para liberação de sementes transgênicas para 8. Qual é a responsabilidade de cada um dos que comportem risco para a vida, a qualidade o uso comercial. Ao contrário das liberações membros da Comissão ou das entidades que de vida e o meio ambiente; restritas para estudo científico - que têm pautarepresentam sobre suas decisões? O artigo 225, no parágrafo 3, estabelece do o trabalho do Conselho até aqui -, a liberaAo nosso ver, do ponto de vista legal, a falta ainda que as condutas e atividades consideração para uso comercial pode ter conseqüências de definição de regras, procedimentos e resdas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os inirreversíveis se feita sem os devidos estudos de ponsabilidades significa uma ameaça de viofratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções impacto e riscos e sem a definição de medidas de lação à Declaração de Roma sobre a Seguranpenais e administrativas, independentemente segurança. ça Alimentar Mundial, de 1996, e à Convenção da obrigação de reparar os danos causados. Portanto, é do interesse público que esse das Nações Unidas sobre a Diversidade BioPor fim, cabe dizer que é característico do tema seja abordado da forma mais cuidadosa e lógica de 1992, das quais o Brasil é signatário. regime tecnocrata a impermeabilização do transparente possível, mediante a exigência de Por outro lado, há graves ameaças de violação governo para a tomada de decisões pouco poestudos e exposição clara e objetiva dos métoa direitos constitucionais consagrados, a saber: pulares. Ao não se alinhar com os interesses dos de avaliação de risco, medidas de segu• ao direito à dignidade da pessoa humana republicanos, tende-se ao esvaziamento da rança e a definição de responsabilidades le(Art. 1º , inciso III) função pública e da política, enfraquecendo gais. A presidência do Conselho de Biossegu• ao Princípio da “cooperação entre os povos severamente a democracia ao apartar os anrança tem utilizado reiteradas vezes o argupara o progresso da humanidade“ que rege as seios e demandas da sociedade civil plenamenmento da autoridade científica dos membros relações internacionais da República Federate apoiadas no Estado de Direito. Entendemos como garantia da legitimidade das decisões. tiva do Brasil (Art. 4º, inciso IX), devido ao que o sistema democrático se pauta pela Como cientistas, sabemos que a ciência descumprimento dos tratados nos quais o participação dos cidadãos nos temas públicos preza a exigência de métodos e procedimentos Brasil é signatário. que os afetam, que devem ser tratados com transclaros e, no caso de organismos vivos, a neces• ao direito à saúde e à segurança (Art. 6º) parência, responsabilidade e ética adequados. sidade de procedimentos éticos adequados. No • Desrespeito aos princípios da ordem econômiComo professores de Políticas Públicas da sentido de contribuir para o esclarecimento da ca, contidos no caput e incisos V e VI do Art. 170: Universidade de São Paulo, membros da cocomunidade científica e atendendo ao interesse - A ordem econômica tem como fim assegurar munidade científica brasileira e cidadãos de público de promover o acesso a informações uma existência digna a todos (caput) uma sociedade pautada por valores democráque devem ser de caráter público, rogamos que - o princípio da defesa do Consumidor (V) ticos e republicanos, solicitamos uma posição o Conselho de Biossegurança responda publi- o princípio da defesa do meio ambiente, clara e pública das entidades envolvidas. camente e com clareza as seguintes perguntas: mediante tratamento diferenciado conforme o Assinam: prof. dr. Alessandro Soares da 1. Quais são os estudos realizados e refeimpacto ambiental dos produtos e serviços e de Silva, profa. dra. Cristiane Kerches; prof. dr. rendados pela comunidade científica para a seus processos de elaboração e prestação (VI) Fernando de A. Coellho, profa. dra. Flávia liberação de cada espécie de semente transDesrespeito ao artigo 225, que estabelece Mori Sarti Machado, profa. dra. Graziela S. gênica? que: Perosa, prof. dr. Jaime Crozzati, prof. dr. Jorge 2. Quais são os critérios e métodos para a ava• Todos têm direito ao meio ambiente ecologiAlberto S. Machado, prof. dr. José Carlos Vaz, liação de uma solicitação? camente equilibrado, bem de uso comum do prof. dr. José Renato de Campos Araújo, prof. 3. Quais seriam os tipos de medidas de sepovo e essencial à sadia qualidade de vida, dr. Manuel Cabral de Castro, prof. dr. Marcelo gurança indicadas no caso de aprovação? impondo-se ao Poder Público e à coletividade Nerling, profa. dra. Maria Cristina Pompa, 4. Quais são as medidas preventivas a serem o dever de defendê-lo e preservá-lo para as profa. dra. Marta Maria Assumpção Rodriadotadas para evitar contaminação de cultivapresentes e futuras gerações. gues, prof. dr. Pablo Ortellado, prof. dr. Wagner res naturais com sementes geneticamente moA Constituição deixa claro ainda que Iglesias e profa. dra.Vivian Urquidi. dificadas? incumbe ao Poder Público (Art. 225, incisos II, São Paulo, 13 de março de 2007 5. A quem é atribuída a responsabilidade legal, IV e V): Uma cópia dessa carta foi enviada ao Gabinete da no caso de dano ou contaminação pela libe• II - preservar a diversidade e a integridade Presidência da República, à Procuradoria Geral da ração das sementes transgênicas? do patrimônio genético do País; República do Ministério Público Federal e às presidências 6. Quais são as medidas reparadoras para o • IV - exigir, na forma da lei, para atividade da Câmara do Deputados e do Senado Federal. caso de contaminação involuntária? potencialmente causadora de significativa Fonte: Terra de Direitos - www.terradedireitos.org.br 10
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Reportagem
Tamanduás-bandeira e sua vulnerabilidade
Projeto Tamanduá Há pouco mais de um ano foi criada a ONG Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil - Projeto Tamanduá, que tem desenvolvido projetos, tanto ex situ (animais em cativeiro), quanto in situ (animais em vida livre). Ainda é preciso estudar muito sobre os tamanduás em cativeiro. Uma dieta balanceada ainda é uma necessidade. "A ração importada para tamanduás (insetívora) possui alto custo, tornando impraticável o seu uso no Brasil. Por outro lado, temos problemas de deficiência de taurina e vitamina K nos animais em cativeiro", explica Flávia Miranda, médica veterinária coordenadora do
Necessidade de água para banhos em recintos para tamanduás-bandeira, uma realidade que precisa ser incluída no plano de manejo da espécie Flávia Miranda
Flávia Miranda
Colheita de sêmen de tamanduábandeira por meio da técnica de eletroejaculação
Avaliação cardíaca, por meio de eletrocardiograma, de tamanduá-mirim. O exame faz parte da avaliação dos animais cativos no Brasil
Projeto Tamanduá. A pesquisadora ressalta também os problemas de manejo, principalmente reprodutivos, em tamanduás-mirim. Por isso, uma das prioridades do momento é a elaboração de um plano de manejo. Entre as atividades ex situ do Projeto Tamanduá destaca-se a avaliação sanitária dos animais cativos no Brasil. O projeto agregou mais de 20 pesquisadores de diferentes áreas e avaliou mais de 20 indivíduos, entre tamanduás-bandeira e tamanduás-mirim. Foram realizados
Flávia Miranda
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Nacional de Pesquisas para Conservação dos Xenarthras, a exemplo do Cenap - Centro Nacional de Pesquisas para Conservação dos Predadores Naturais (www.ibama.gov.br/cenap). Com a criação do órgão centralizariam-se todas as pesquisas realizadas com a ordem, teria-se espaço físico apropriado para manutenção de banco de amostras biológicas, como banco de sêmen, entre outros benefícios para o avanço das pesquisas e a conservação das espécies.
Arthur Barretto
A
ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e o mutum-de-Alagoas (Mitu mitu) são aves da fauna brasileira que fazem parte da lista do Ibama de animais extintos na natureza. Logo atrás, classificados como criticamente em perigo, encontram-se diversos primatas não humanos, como, o muriqui (Brachyteles hypoxanthus). O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e o tietê-de-coroa (Calyptura cristata), são outros dos muitos exemplos... As causas principais dessa situação crítica são sempre as mesmas: captura ilegal, ou seja, o tráfico de animais silvestres, e o desmatamento compulsivo, que acaba com o hábitat de diversos representantes da fauna brasileira. O tamanduá-bandeira, Myrmecophaga tridactyla (Linnaeus, 1758), é encontrado Alexandre Corazza Curti em diversos Estados do Brasil: AC, AM, AP, BA, DF, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PI, PR, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Porém, apesar dessa larga ocorrência no território nacional, ele está entre as espécies ameaçadas de extinção, fazendo parte da lista publicada em 2003 pelo Ibama, sendo classificado como espécie vulnerável. O tamanduaí, Cyclopes didactylus, assim como o tamanduá-bandeira, é membro da ordem Xenarthra. A lista do Ibama não cita esta espécie. Porém, na lista vermelha da IUCN-World Conservation Union (Red list of threatened species - www.iucnredlist.org), constata-se a total falta de dados sobre o Cyclopes didactylus. Comparando a ausência de dados com a pressão negativa que recebe o bioma no qual habita, facilmente pode-se perceber que também é uma espécie que precisa ser pesquisada e tratada com atenção. O Ibama criou, há aproximadamente um ano, o Comitê de Xenarthra. Por meio dele, especialistas traçam diretrizes para um plano de ação geral voltado a conservação das espécies que compõem a ordem: tamanduás, tatus e preguiças. Porém, maiores avanços seriam obtidos se, além do comitê, fosse criado o Centro
por Arthur Barretto
Tamanduá-bandeira sob anestesia inalatória que, preferencialmente, deve ser feita com isofluorano
testes sorológicos para diferentes enfermidades; estudos microbiológicos e micológicos; e avaliações hematológicas, cardíacas e reprodutivas (colheita de sêmen e avaliação citológica das fêmeas). Outra importante atividade foi o desenvolvimento de protocolos anestésicos.
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Flávia Miranda
Flávia Miranda Danilo Kluyber
Utilização de zarabatana para contenção química, na qual se usa a quetamina e o midazolan Alexandre Martins
Danilo Kluyber
Tamanduá-bandeira identificado com brinco e microchip da Animalltag (www.animalltag.com.br). Acima, detalhe do brinco colocado
Na Argentina, a ONG The Conservation Land Trust está promovendo a translocação de tamanduás-bandeira da região do Chaco para Esteiros de Iberá, local onde há 50 anos viviam tamanduás-bandeira
Flávia Miranda
Um exemplo das atividades in situ do Projeto Tamanduá são as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no Projeto SESC Pantanal, realizadas na RPPN SESC Pantanal, em Barão do Melgaço, no Pantanal Matogrossense. "Realizamos campanhas de captura quinzenal, onde desenvolvemos metodologia de captura, identificação dos tamanduás com brincos e microchips, avaliação sanitária e estudos ecológicos", explica a médica veterinária Flávia Miranda. Ela ressalta também que, ainda esse ano, iniciará no Projeto SESC Pantanal o acompanhamento de alguns indíviduos por meio de rádio-colar. Além do auxílio do próprio Sesc Pantanal, o projeto recebe financiamento da WCS - Wildlife Conservation Society (www.wcs.org). O Projeto Tamanduaí (Cyclopes didactylus), em execução na Amazônia e no Nordeste, em fragmentos da mata Atlântica, é outro exemplo de ação in situ desenvolvida pelo Projeto Tamanduá. Ele recebe auxílio financeiro da WCS e da IUCN Edentatas (www.iucn.org), fundamental para o desenvolvimento do projeto, que visa preservar essa espécie da qual muito pouco se sabe.
Coordenadas da captura sendo registradas no GPS Alexandre Martins
Os trabalhos de campo com os tamanduásbandeira em vida livre (in situ) envolvem biometria, observação de ectoparasitas, coleta de material biológico, identificação com microchip e brinco Flávia Miranda
A biometria é feita em todo o animal. A mensuração da caixa torácica é de extrema importância para a colocação de aparelho rádio-colar, importante equipamento para o acompanhamento in situ
O Projeto Tamanduá também está partipando com consultorias na Argentina. Na Província de Corrientes, em Esteiros de Iberá, região semelhante ao Pantanal brasileiro, os tamanduás-bandeira foram extintos há mais de 50 anos. Visando reverter esse quadro, a ONG The Conservation Land Trust - CLT, juntamente com diversos pesquisadores, iniciará em agosto de 2007 a ocupação da região com tamanduásbandeira provenientes da Província do Chaco. A ONG produz materiais, muito úteis para educação ambiental, e informes técnicos, como: Manual Clínico para el Manejo del Oso Hormiguero G i g a n t e (Myrmecophaga tridactyla); Manual de quarentena Manual de Necropsias del Oso Hormiguero Gigante (Myrmecophaga tridactyla); Manual de Cuarentena del Oso Hormiguero Gigante (Myrmecophaga tridactyla). Esses manuais sobre tamanduás-bandeira, todos elaborados com a contribuição do Projeto Tamanduá, estão disponíveis no site da ONG: www.theconservationlandtrust.org.
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reunirá o XXXI Congresso Anual da Sociedade de Zoológicos do Brasil - SZB, o XIV Congresso Anual da “Asociación Latinoamericana de Parques Zoológicos y Acuários - ALPZA” e o XVI Encontro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens Abravas.
Flávia Miranda
Flávia Miranda
Artesanato produzido por tribo Guarani que é revendido pelo Projeto Tamanduá com o objetivo de aumentar a renda das famílias indígenas Tamanduá-bandeira atropelado na BR-262, entre Campo Grande e Aquidauana
Tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla
ao mesmo tempo diverte, ensina e nos leva a refletir sobre uma série de questionamentos que fazem parte de nosso cotidiano, mas que com a correria do dia-a-dia muitas vezes nos passam despercebidos. Em Brichos encontramos outros personagens que são um casal de felinos: professor Jaguar e dona Onça. Munhoz explica que a escolha do nome Jaguar foi feita intencionalmente para recuperar o origem tupi-guarani do nome jaguar, que é o nosso maior felino. A história de Brichos também ganhou uma versão em livro de histórias em quadrinhos, já à venda nas livrarias de Curitiba e na FNAC. É uma versão de luxo, em quatro cores, capa-dura e papel cuchê. “Também estamos investindo na distribuição do filme em DVD”, salienta Paulo Munhoz. Iniciativas como essa colaboram muito para a conscientização e a educação ambiental. Porém, estas também podem e devem ser praticadas durante uma boa conversa, no dia-a-dia do atendimento veterinário.
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Informação técnica e científica Recentemente a Editora Roca lançou a obra Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária. Nela, Flávia Miranda e Antonio Messias Costa deixaram valiosa contribuição sobre a ordem Xenarthra, incluindo informações sobre biologia, hábitat, nutrição, comportamento, reprodução, contenção física e anestesia, entre outras. De 27 de maio a 1º de junho ocorrerá em São Paulo, SP, o evento Todos pela conservação. Ele
Mensagens de grande repercussao também são importantes, mas são mais difíceis de serem colocadas em prática. Felizmente, há outros envolvidos na valorização da fauna brasileira, como é o caso de Paulo Munhoz, produtor que colocou em cartaz, no mês de fevereiro, o filme Brichos (bichos do Brasil), longametragem infanto-juvenil. Bandeira é o nome de um dos personagens. Ele gosta de música, skate, games e esportes. Seu pai, o tamanduá-bandeira Olavo, cultiva práticas alternativas como o vegetarianismo e a acupuntura. Tales, Jairzinho e Bandeira – um jaguar, um quati e um tamanduá – fazem parte da surpreendente população da Vila dos Brichos, um lugar onde todas as espécies da fauna brasileira coexistem em um universo muito parecido com o nosso. Nuanças de humanidade se mesclam com a ingenuidade e a sabedoria dos animais, criando uma gama de personagens que
Tamanduaí (Cyclopes didactylus): pequena espécie arboricola, que pesa em média 400g Flávia Miranda
Educação ambiental Além de toda a pesquisa científica que vem sendo feita sobre os tamanduás-bandeira e os demais membros da ordem Xenarthra, a educação ambiental com as comunidades que têm contato direto com os animais é um fator fundamental para a manutenção e conservação dos animais em seu hábitat natural. O Projeto Tamanduá tem esse importante conceito inserido em suas atividades e, dentro do possível, tem incentivado, por exemplo, artesanatos com figuras de tamanduás-bandeira.
Flávia Miranda
Projeto Rodovias No Brasil, as rodovias são uma grande ameaça para os tamanduás-bandeira. Muitos são atropelados e mortos nas rodovias que passam por fragmentos florestais, devido à falta de sinalização e de acostamento, o que dificulta a visualização do animal. Além disso, os tamanduás-bandeira também são vítimas da superstição. Entre os caminhoneiros, o tamanduá-bandeira é símbolo de mau agouro, principalmente se ele estiver cruzando a estrada na frente do caminhão. Por isso, alguns preferem passar por cima dele do que deixálo cruzar a estrada. Flávia Miranda relata que, ao percorrer 36km da Rodovia Transpantaneira, encontrou seis tamanduásbandeira atropelados. Por isso, o Projeto Rodovias é uma necessidade emergente. A idéia inicial proposta pelos membros do Projeto Tamanduá seria a realização de campanhas educativas em pedágios e postos selecionados. Infelizmente, é um projeto que ainda busca parceiros para ser implementado na prática.
Turma principal de Brichos: Bandeira (tamanduá-bandeira), Tales (jaguar), Jairzinho (quati) e Dumontzinho (joão-de-barro)
Laboratório na mata
E
m estudo publicado em janeiro na revista Science, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e de centros nos Estados Unidos concluíram que o tamanho das unidades de conservação na Amazônia é mais importante do que se pensava: reservas com até 100 hectares perdem metade das espécies de pássaros em até 15 anos. O artigo, cujo autor principal é o biólogo Gonçalo Ferraz, do INPA, foi o último produto do projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), que gerou mais de 400 artigos, além de 115 teses e dissertações. Agora, a equipe se prepara para a nova fase do trabalho relacionado a pássaros. Os objetivos são testar os dados obtidos, identificar as espécies mais suscetíveis ao isolamento e à redução da área florestal e desenvolver tecnologias para o monitoramento das aves na mata, com formas de amostragem mais eficientes. De acordo com Ferraz, o PDBFF, que é uma parceria entre o INPA e o Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos, tem o objetivo de quantificar as mudanças no ecossistema da floresta tropical na região de Manaus, que ocorrem à medida que a floresta é fragmentada. A base de dados do projeto foi desenvolvida a partir de centenas de excursões feitas em 23 localidades no período de 1979 até 1993. “Na primeira fase da pesquisa pretendíamos entender a velocidade com que as espécies desaparecem em diferentes tamanhos de fragmentos florestais. O trabalho envolveu uma série de inovações metodológicas e, ao analisar estaticamente a presença das espécies, produzimos uma série de previsões de ocorrência e de probabilidade de extinção. Agora, vamos testar essas previsões”, disse Ferraz à Agência FAPESP. Os cientistas analisarão gráficos e informações obtidas na fase anterior, identificando as características das espécies mais suscetíveis ao isolamento e ao tamanho da área. “Fizemos, por exemplo, a previsão de que o uirapuru-de-
garganta-preta deveria ocorrer entre 10% e 20% das manchas de 1 hectare na mata contínua. Vamos testar os dados comparando a estimativa da ocorrência com a previsão”, explicou o biólogo. As principais conclusões da fase anterior foram que os fragmentos pequenos perdem espécies com muita rapidez e que, embora o isolamento seja relevante, o tamanho da área protegida é muito mais prejudicial. Observou-se que, de 55 espécies analisadas, metade não foi afetada pelo isolamento, mas sofreu a ação da dimensão da área. O estudo foi o primeiro a acompanhar aves em áreas de tamanhos diversos – de 1, 10 e 100 hectares – de mata contínua e fragmentada. “Pudemos montar um quadro bem completo, porque os fragmentos, ilhados em áreas desmatadas desde a década de 1970, quando o projeto começou, permitiram o monitoramento antes mesmo de as áreas terem sido alteradas. É um verdadeiro laboratório na mata”, declarou Ferraz. O cientista explica que, até agora, as pesquisas compararam o ritmo de desaparecimento das espécies nas áreas isoladas e na mata contínua de modo geral. Na próxima fase, os dados sobre os fragmentos serão comparados com áreas da mata contínua de tamanho semelhante. “É uma forma de dar conta da heterogeneidade da floresta. Quando espécies presentes na região estão faltando num fragmento, é possível que a floresta não tenha resistido ao isolamento. Mas também há a possibilidade de que a espécie já se distribuiu, antes da fragmentação, de forma desigual, segundo exigências ambientais específicas da mata contínua”, disse o cientista. A segunda fase da pesquisa envolve uma equipe de quatro pessoas, incluindo um engenheiro e três biólogos. “A previsão de duração é de dois anos. O projeto tem apoio da Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas)”, disse Ferraz.
por Fábio de Castro
Nova metodologia de monitoramento Um dos objetivos da nova pesquisa é mudar a metodologia para o monitoramento das aves na mata. O método utilizado no projeto desde 1979 para o estudo da avifauna foi o de redes de neblina: séries de redes são instaladas na floresta, os pássaros capturados são catalogados, identificados com anilhas e soltos em seguida. Para Gonçalo Ferraz, a nova técnica possibilitará a detecção de mais espécies, com maior abrangência e mais rapidez. “A amostragem por audição pode ser mais rápida e eficiente para certos fins. Vamos montar e testar um sistema de gravação autônomo com o menor custo possível, combinando equipamentos de vários graus de sofisticação. O sistema será programado para gravar em horários determinados”, afirmou. O pesquisador conta que o principal desafio técnico em relação ao equipamento será seu isolamento contra a umidade. O sistema será composto por microfones omnidirecionais e gravadores eletrônicos de MP3. “Vamos instalá-los em caixas impermeáveis e fazer testes. Outra dificuldade é que os pássaros cantam num período curto do dia e a instalação do equipamento num ambiente como a floresta amazônica é um verdadeiro quebra-cabeça”, disse. A nova metodologia poderá ajudar os cientistas a contornar um dos principais problemas dos levantamentos: as espécies que estão presentes num trecho estudado, mas não são registradas nos relatórios por falha de detecção. “Quando se trabalha com aves no Cerrado ou em campos abertos, a maior parte dos contatos é visual. Um binóculo basta. Mas, na Amazônia, o contato é auditivo, o que agrava o problema de detecção”, disse o pesquisador do INPA. Fonte: Agência FAPESP www.agencia.fapesp.br
Torne-se um associado SOS FAUNA e ajude a combater o tráfico de animais silvestres
www.sosfauna.org 16
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Fundação Vanzolini certifica Parque Zoológico de São Paulo
O
Parque Zoológico de São Paulo recebeu, no dia 13 de abril, da Fundação Vanzolini, o certificado ISO 14001 de Sistema de Gestão Ambiental. O título contempla o sistema de visitação; a manutenção e exposição de animais da fauna silvestre nativa e exótica; os programas de conservação e reprodução de espécies silvestres; as pesquisas na área biológica e de educação ambiental; o gerenciamento e manutenção de infra-estrutura; a produção de alimentos e rações, além do reaproveitamento de resíduos. A cerimônia de entrega do certificado, que aconteceu no próprio Parque Zoológico, contou com a presença do presidente da Fundação Vanzolini, prof. Gregório Bouer, juntamente com Airton Gonzalez, coordenador de certificação da Fundação Vanzolini, além do secretário do Meio Ambiente, Francisco Graziano, do diretor-presidente do Zoológico de São Paulo, prof. dr. João Batista da Cruz e do secretário municipal de São Paulo, Eduardo Jorge. “É uma iniciativa muito importante
do zoológico que passará, a partir de agora, a não apenas expor os animais, mas também a mostrar aos visitantes os cuidados que devem ser tomados em relação à preservação do meio ambiente e dos recursos naturais, criando uma nova consciência de proteção do meio ambiente”, destacou Bouer. “A certificação é o primeiro passo de uma longa jornada em busca do contínuo aprimoramento do Sistema de Gestão Ambiental”, complementou Bouer. As declarações do presidente da Fundação Vanzolini foram endossadas pelo secretário do meio ambiente, que destacou o compromisso assumido pela secretaria e pelo Zoológico de São Paulo. A cerimônia também contou com os depoimentos do diretor presidente do Zoológico de São Paulo e do secretário da Prefeitura Municipal de São Paulo. Após as declarações, foi fixada, junto à porta principal de acesso ao parque, uma placa com os termos contidos no certificado emitido pela Fundação Vanzolini.
Coleta seletiva no Parque Zoológico de São Paulo
www.ninarosa.org
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Na área livre do Parque Zoológico, além de observar os recintos dos animais, os visitantes contam com a apresentação, por monitor treinado, de peças anatômicas e de alguns animais vivos, como pequenos quelônios, num importante trabalho de educação ambiental
A
A ciência da liderança
tualmente, Marco Antonio Gioso é professor doutor da Universidade de São Paulo, conselheiro do World Veterinary Dental Council, vice-presidente da SPMV - Sociedade Paulista de Medicina Veterinária, presidente da Anclivepa-SP - Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São Paulo, assessor ad hoc da FAPESP, presidente da ABOV – Associação Brasileira Odontologia Veterinária, e consultor do Veterinary Oral Health Council. Além disso, possui experiência na área corporativa, com ênfase em motivação de equipes de voluntários, principalmente nos temas ensino, associativismo, organização de eventos, motivação de grupos corporativos, e também cursa MBA em Gestão de Pessoas e Recursos na USP. Preocupado com a importância da
Prof. dr. Marco Antonio Gioso
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aplicação da liderança na medicina veterinária e com a falta de abordagem do tema na profissão, vem se dedicando a ministrar cursos sobre o assunto. Dr. Gioso utiliza algumas perguntas para exemplificar a importância da aplicação dos conceitos de liderança: - Você sabia que 80% dos problemas têm origem no comportamento das pessoas, e que apenas 20% são de origem técnica? - Sua empresa ou equipe não vão bem, e você sente que poderiam melhorar? Seria culpa dos seus funcionários ou a sua liderança poderia ser melhorada? - Você sabe motivar seus colaboradores (diretores, gerentes, supervisores, vendedores, funcionários)? Existe algum segredinho? - Você já ouviu falar em liderança servidora? Seu grupo teria como usá-la? - Como decifrar as pessoas e conseguir que elas façam o que precisa ser feito? - Como você se definiria? Líder autocrático, democrático, burocrático ou livre? O curso transmite aos participantes os princípios de relacionamento, de modo a identificar papéis e características comportamentais das pessoas, caracterizando os elementos técnicos que interferem na produtividade da equipe e da motivação. Marco A. Gioso maggioso@usp.br
Nova diretoria da ABRV No dia 9 de março, foi eleita a nova diretoria da Associação Brasileira de Radiologia Veterinária (ABRV) para o triênio 2007-2010. Para esta nova fase, a diretoria será formada por Edgar Sommer, presidente; Cibele Figueira Carvalho, vice-presidente; Roberto Villela, tesoureiro e Mariana Filippini, secretária. A ABRV tem como objetivo congregar médicos veterinários interessados em diagnóstico por imagens e em terapias por radiações, promovendo palestras, cursos e congressos nacionais e internacionais. Além disso, também visa estabelecer relacionamento profissional e cultural com outras entidades associativas veterinárias, e com outras profissões ligadas à medicina veterinária. ABRV: www.abrv.com.br
Da esquerda para a direita: Roberto Villela, Mariana Filippini, Cibele Carvalho e Edgar Sommer
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Laboratório Biovet comemora meio século de atividades em favor da saúde animal “Quando a qualidade é tradição, a marca é sempre a mesma”, já afirmava o médico veterinário dr. René Corrêa, fundador da empresa, hoje comandada pelos seus filhos, Paulo Eduardo Alves Corrêa e Antônio Roberto Alves Corrêa. No dia 21 de março, diretoria e funcionários do Laboratório Biovet irmanaramse numa cerimônia para o público interno. Foi a abertura das festividades relativas ao meio século de operações da empresa, fundada em 1957.
A comemoração dos 50 anos do Laboratório Biovet reuniu 300 funcionários na sede da empresa, em Vargem Grande Paulista (SP)
Durante o evento, o administrador de empresas e presidente do Biovet, dr. Paulo, destacou o extraordinário desempenho do Laboratório em toda a sua existência, ressaltando o expressivo crescimento de 40% em seu faturamento, no mais recente exercício fiscal (2006). Esse número deve ser atribuído ao trabalho de toda a equipe ao longo do tempo. Um esforço hercúleo empreendido num país com pouca tradição em pesquisa. O resultado, hoje, é o reconhecimento do mercado veterinário quanto à qualidade dos produtos e serviços disponibilizados pelo Biovet. Prova desse êxito é o market share do Laboratório Biovet, além de outros indicadores significativos, como a presença destacada no ranking elaborado pela revista Globo Rural, ou o fato de estar listada entre as 100 empresas emergentes de maior crescimento no Brasil, conforme pesquisa independente assinada pela consultoria Delloitte. O laboratório brasileiro também é apontado como
modelo em gestão de pessoas. Nesse quesito, o colaborador com mais anos de trabalho dedicados à empresa, José Domingues de Ramos Filho, representando os demais funcionários, teceu o seguinte comentário durante o evento: "O Laboratório Biovet tem o respeito de seus colaboradores porque se preocupa com a segurança do trabalho e a qualidade de vida, oferecendo clareza de papéis e responsabilidades à sua equipe", disse o responsável pelo controle de qualidade do laboratório. Não é para menos. Em seu portfólio, o Biovet oferece hoje mais de cem produtos, sendo que, até o final do ano, outras novidades deverão ser apresentadas graças ao trabalho incessante do setor de pesquisa e desenvolvimento, sob a responsabilidade do médico veterinário dr. Roberto Corrêa, vice-presidente da empresa. "Mais do que investir em tecnologia, é preciso contar com pessoas competentes para gerar inovações", ressaltou dr. Roberto.
Fort Dodge investe em divulgação técnico-científica Durante o mês de abril, a Fort Dodge promoveu o Simpósio Internacional Fort Dodge 2007. O evento ocorreu nas cidades de Porto Alegre, São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e abordou os protocolos de vacinação de animais de companhia. Para abordar o tema “Vacinação: os novos protocolos sob a perspectiva da América Latina”, a Fort Dodge trouxe o mexicano Cesar Torrano, médico veterinário e gerente técnico da Fort Dodge para a América Latina. Torrano trouxe sua experiência de clínica veterinária adquirida na América Latina e nos EUA e propôs a adequação de boas práticas verificadas nessas regiões Cesar Torrano, gerente técnico da Fort Dodge para a América Latina
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à realidade brasileira. Por exemplo, a definição de protocolos de vacinação individualizados, de acordo com os hábitos e estilos de vida de cada cão ou gato e de seus proprietários, e da área que habitam, incluindo suas condições ambientais. Na mesma linha, Torrano também abordou a necessidade dos médicos veterinários considerarem a investigação e o conhecimento sobre os reais riscos aos quais os animais estão sujeitos em uma determinada geografia, o que, no caso do Brasil, é particularmente importante, dadas as diferenças regionais existentes no país. Práticas como essas estão na base do novo programa de Responsabilidade em Saúde Animal que a Fort Dodge começou a apresentar à comunidade veterinária brasileira durante o Simpósio Internacional. A Fort Dodge já desenvolve o programa nos EUA desde 2004 (Responsible Health Care for Pets) e agora começa a implantá-lo no Brasil.
Leptospirose O resultado dos novos levantamentos da casuística da leptospirose canina no Brasil, realizados pela Fort Dodge Saúde Animal junto a Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), especialistas e laboratórios, apontaram um surpreendente resultado: novos sorovares da bactéria, também conhecidos como sorovares emergentes, estão apresentando aumento na incidência, colocando em risco a saúde de cães que, em alguns casos, mesmo vacinados contra a leptospirose, podem se infectar e desenvolver a doença. Esta constatação levou a empresa a criar o sítio web www.leptospirosenobrasil.com.br, o qual pretende ser uma referência para divulgar dados sobre a nova realidade da leptospirose no País, bem como as formas de preveni-la e tratá-la. Também se encontram disponíveis informações sobre epidemiologia, meios de transmissão, curso da enfermidade, manifestações clínicas mais comuns, diagnóstico, tratamento e controle.
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Clínica Veterinária Santo Agostinho completa 25 anos
A
Clínica Veterinária Santo Agostinho (www.veterinariasantoagostinho. com.br), estabelecida em Belo Horizonte, MG, é um renomado estabelecimento veterinário que em março de 2007 completou 25 anos. Ela foi fundada em 1981 por seus sócios, dr. Vitor Marcio Ribeiro e dr. Fernando Ernesto de Oliveira. Durante todos esses anos, sempre manteve o propósito de investir em qualificação profissional, instalações e equipamentos,
À esquerda, prédio atual da Clínica Veterinária Santo Agostinho. Acima, as antigas instalações
além de uma relação muito especial com os seus clientes e profissionais. Para garantir a missão de qualidade nos atendimentos e tratamentos, a clínica conta com mais de 15 médicos veterinários entre os exclusivos e os conveniados, além de um moderno centro de diagnóstico com ultra-sonografia, holter, eletrocardiografia, endoscopia, eletroretinografia, radiodiagnóstico, videolaparoscopia, ecodopplercardiografia e um laboratório de patologia clínica, assegurando diagnósticos rápidos e precisos. O mais novo serviço da clínica, a hemodiálise, está disponível tanto para clientes da própria clínica, como para clientes externos. Destacamse também as cirurgias de transplante renal e de catarata, bem como o serviço completo de oftalmologia. Outros serviços especializados disponíveis são: alimentação parenteral, reprodução, dermatologia e
estética, cardiologia, ortopedia, urologia, homeopatia, acupuntura, neurologia, odontologia, obstetrícia e animais silvestres.
No sítio web da clínica pode-se assistir a vídeos de cirurgias de catarata (facoemulsificação e extracapsular)
Koala Hospital Animal inaugurou serviço 24h de tomografia computadorizada
Sala de tomografia computadorizada do Koala Hospital Animal - www.koalahospital.com.br
A
pós 58 anos de atividades no antigo prédio da avenida Santo Amaro, em São Paulo, SP, o Koala Hospital Animal mudou para novo local, ainda
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na capital paulista, na avenida Brigadeiro Luiz Antônio, 4.869. Investiu-se em novas e modernas instalações, como o centro cirúrgico com microscópio oftálmico e o centro de radiodiagnóstico, entre outras. Destacase o serviço de tomografia computadorizada, disponível 24h. A principal vantagem da tomografia computadorizada é que permite o estudo de "fatias" ou secções transversais do
corpo, ao contrário do que é dado pela radiologia convencional, que consiste na representação de todas as estruturas do corpo sobrepostas. Com a sua utilização é possível a detecção ou o estudo de anomalias que não seriam possíveis senão por meio de métodos invasivos, sendo assim um exame complementar de diagnóstico de grande valor. As demais especialidades que estão disponíveis no Koala Hospital Animal são: acupuntura, anestesiologia, cardiologia, cirurgia de tecidos moles, colonoscopia, dermatologia, endoscopia digestiva, fisioterapia, gastroenterologia, ginecologia e obstetrícia, homeopatia, laboratório de patologia clínica, nefrologia, neurocirurgia, neurologia, odontologia, oftalmologia clínica e cirúrgica, oncologia clínica e cirúrgica, ortopedia, radiologia, ultra-sonografia, urologia e UTI para doenças infecciosas e não infecciosas. Koala Hospital Animal: (11) 3057-2112
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Odontologia e felinos atraíram grande público ao Guarujá
A
10ª edição do Congresso Mundial de Odontologia Veterinária (World Veterinary Dental Congress – WVDC) foi realizada de 25 a 27 de abril, no Guarujá, SP. Simultaneamente, também foi realizado o Congresso Paulista de Felinos (Conpafel). A ocorrência simultânea desses eventos foi resultado da parceria da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (ABOV) com a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São Paulo (Anclivepa-SP). Na odontologia veterinária, merecem destaque a presença de Peter Emily, precursor da odontologia animal moderna, Heidi Lobprise, co-autora de um dos livros mais respeitados da área, Veterinary Dentistry: Principles and Practice, e Colin Harvey, autor de livros e artigos científicos. O público presente, além assistir às palestras, também pôde visitar a área de exposição, na qual várias empresas procuraram destacar seus Peter produtos e lançamentos em Emily, precursor odontologia veterinária e da odontologia animal moderna medicina felina.
Presente ao evento, a Virbac trouxe a sua pioneira linha odontológica
Congressistas recebem amostras de Dog Chow Biscuits, a grande novidade da Nestlé Purina no evento. O novo produto tem formatos e tamanhos adequados para todos os portes de cães e ainda respeita as diferentes necessidades nutricionais de cada fase da vida do animal. Além disso, leva o selo da ABOV (Associação Brasileira de Odontologia Veterinária)
A Bayer fez o pré-lançamento do seu novo vermífugo para gatos: o profender, que une qualidade e praticidade
A realização do WVDC foi muito importante para consolidar a campanha de saúde oral que está sendo promovida pela ABOV. Ela teve início no começo do ano e contou com a distribuição de kits específicos. Ainda há chance de participar. Basta seguir as instruções que estão no sítio web www.abov.org. br. Uma grande novidade divulgada pela Ouro Fino Pet foi o pré-lançamento do AziCox-2, produto que associa a azitromicina e o meloxicam
A Total Alimentos focou alguns alimentos novos, como o Supreme Yorkshire, e destacou a presença de ingrediente que previne a formação dos cálculos dentais nas linhas Supreme e Equilíbrio de alimentos para cães e gatos, o hexametafosfato de sódio
Também atenta à odontologia veterinária, a Pfizer esteve presente destacando o Rimadyl, para controlar a dor aguda, e os antibióticos Antirobe e Synulox, para tratar infecções
A Fort Dodge levou para o evento informes técnicos específicos sobre a vacinação em felinos
A Royal Canin apresentou no evento a sua nova linha, a Dental Health Programme
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Diversos informes eletrônicos foram sorteados pela Merial (Simpósio de Vacinologia Merial, Rabia en las Américas, CD-ROM de Vacinologia, entre outros). O Stomorgyl, de grande utilização na odontologia veterinária, também foi destaque da empresa
por Arthur Barretto
O Tergenvet, um fluidificador de secreções bucais, foi um dos destaques da Vetnil. O espaço da empresa, como sempre, atraiu pesquisadores e profissionais
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
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Felinos têm destaque na 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária
m das características que qualificam um evento como uma ação de vanguarda é sua capacidade de atender às novas demandas emergentes no mercado, reunir as novas tecnologias e antever as novidades que farão parte do cenário profissional dos participantes do evento. A 7ª Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária qualifica-se como evento de vanguarda ao abordar, dentre seus vários temas, um dos assuntos que mais tem chamado a atenção dos médicos veterinários e acadêmicos de todo o Brasil: a medicina felina. Com a mudança comportamental dos proprietários de animais de estimação, que ao longo dos anos modificam suas atitudes, gostos e preferências motivados por uma série de influências e interferências, o gato surge como uma opção cada vez mais presente em muitos lares por todo o Brasil. Como conseqüência, muitos felinos passam a fazer parte da rotina diária de atendimentos de consultórios e clínicas veterinárias. Em busca da qualificação para atuar neste segmento, os profissionais terão à sua disposição na 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária palestrantes de renome nacional e
internacional discutindo os mais variados temas, como enfermidades bacterianas, virais e micóticas e doenças do complexo respiratório, além de participarem de mesas-redondas. Palestrantes como o dr. John R. August, que além de renomado profissional clínico, é o editor do Tratado de Medicina Interna Felina, a dra. Heloísa Justen (RJ), a dra. Fernanda Amorim (SC) e a dra. Christine Martins (DF) estarão debatendo os assuntos mais importantes para a qualificação dos profissionais interessados em dominar o universo felino com técnica e profissionalismo.
Alexandre Corazza Curti
perfis e saiba como este mercado pode ser mais rentável para você”. Cecy Passos, consultora e gestora de produtos específicos para gatos, apresentará a palestra “Como montar o canto do gato em seu pet shop”. Temas que, com certeza, serão o grande destaque para aqueles que buscam compreender o universo felino.
Dr. John R. August, dra. Heloísa Justen, dra. Fernanda Amorim e dra. Christine Martins
O assunto é tão importante que no II Encontro de Varejo Pet dois palestrantes apresentarão temas que complementam a informação obtida no evento técnico de felinos. A Bayer, representada por Antonio Stocco Junior, gerente da unidade de negócios Animais de Companhia, apresentará a palestra: “Proprietários de gatos: conheça os diferentes
Cecy Passos, consultora e gestora de produtos específicos para gatos, estará presente no II Encontro de Varejo Pet e abordará o tema “Como montar o canto do gato em seu pet shop”
Saúde pública
Inseticida natural contra dengue
O
verão destaca ainda mais um grave problema de saúde pública: a dengue. Apenas nos primeiros meses do ano foram notificados 67.840 casos da doença no país, sendo os Estados com maior número o Mato Grosso do Sul, com 35.863 casos, seguido por Mato Grosso (4.350), Rio de Janeiro (4.196) e Minas Gerais (2.499), segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde. Um passo importante para o controle da doença foi dado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, e da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. A partir de uma planta nativa brasileira e pouco conhecida, a Piper solmsianum, eles criaram um biocida, um inseticida natural capaz de eliminar todas as larvas
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seus princípios ativos. O produto final desse processo fitoquímico é um líquido oriundo das lignanas”, disse Guimarães à Agência FAPESP. “Fizemos testes com diferentes dosagens desse líquido até chegar à formulação ideal. Ao utilizarmos 100 microlitros em um litro de água contendo larvas do Aedes aegypti, a mortalidade da larva foi de 100% em 24 horas”, afirmou. Segundo o pesquisador, por serem químicos ou biológicos (feitos com bactérias), os larvicidas utilizados atualmente contra o mosquito da dengue apresentam algum grau de toxicidade, tanto para humanos como para outras espécies animais e vegetais que dependem da água onde eles são aplicados. Fonte: Agência FAPESP www.agencia.fapesp.br
Leishmaniose: prevalência preocupante em PE
melhor amigo do homem é o principal hospedeiro do ciclo doméstico de transmissão da leishmaniose visceral. A leishmaniose visceral é transmitida pelo mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis), vetor que primeiramente pica um animal hospedeiro infectado para depois atingir o homem. Segundo a Secretaria de Saúde de Paulista, município com 300 mil habitantes no litoral norte de Pernambuco, apenas 3% dos cães da cidade estariam infectados com o parasito causador da doença, a Leishmania infantum chagasi. Mas, segundo estudo feito no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Recife, o número de cães infectados em Paulista pode ser mais de dez vezes maior. O veterinário Filipe Dantas Torres selecionou aleatoriamente 322 cães da cidade durante uma campanha de vacinação contra a raiva realizada em 2006 na cidade. Todos os cães tinham proprietários. Amostras sangüíneas dos animais foram coletadas com o auxílio de kits de testes para diagnóstico da doença fornecidos pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/ Fiocruz). Após análises em laboratório, Torres detectou a presença de anticorpos
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do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti, em um reservatório de água. O trabalho, conduzido pela bióloga Marise Maleck e pelo entomologista Anthony Érico Guimarães, pesquisadores do Laboratório de Díptera do IOC, teve como ponto de partida o estudo das lignanas, moléculas lipídicas produzidas pela atividade metabólica de plantas. As plantas naturalmente eliminam tais substâncias para a defesa contra inimigos, como insetos que as têm como fonte de alimentação. Primeiramente, os pesquisadores atestaram a alta toxicidade das lignanas produzidas pela Piper solmsianum, especificamente contra as larvas do Aedes aegypti. “A planta passou por um processo conhecido como maceração, que consiste em extrair quimicamente
por Thiago Romero
contra a Leishmania infantum chagasi em 130 animais (40% da amostra). “Essa é a maior soropositividade da doença em cães já relatada em Pernambuco. A prevalência da leishmania em cães estava sendo subestimada pelos inquéritos municipais de Paulista”, disse Torres, pesquisador do Departamento de Imunologia do CpqAM, à Agência FAPESP. O trabalho, apresentado como dissertação de mestrado, foi orientado pelo professor Sinval Brandão Filho. “A alta prevalência da doença em cães hospedeiros pode estar relacionada com um possível surto da doença na região. Os cuidados com prevenção devem ser redobrados a partir de agora”, disse Torres. Dos 130 animais infectados, 111 não apresentavam sintomas clínicos característicos da doença, como perda de peso, dermatite, úlceras na pele e conjuntivite. “O risco de infecção humana nesse caso é ainda maior. Os donos desconhecem que os animais têm o parasito, pois eles aparentemente estão sadios”, afirmou. O trabalho aponta que, nos últimos 16 anos, 32 casos de leishmaniose visceral foram registrados em Paulista, sendo 80% em crianças menores de 10 anos. Os dados foram extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação da
por Thiago Romero
Secretaria de Saúde do município. Em Pernambuco, há uma média anual de 170 notificações. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil ocorrem em média 3 mil novos registros da doença por ano. “Como a detecção desses casos, na maioria das vezes, ocorre apenas quando os pacientes chegam ao hospital, esses números também podem estar subestimados”, disse Torres. Uma das conclusões do estudo é que, embora seja uma doença originalmente de áreas rurais, a leishmaniose visceral é cada vez mais constante em áreas urbanas. A migração da população traz um grande contigente de pessoas e animais infectados para as grandes cidades. “Podemos dizer que a leishmaniose visceral está urbanizada em todo o Brasil, principalmente em ambientes ligados à pobreza. Paulista foi escolhida para o estudo justamente por ser um município 100% urbano”, explicou o pesquisador. Três artigos científicos sobre o trabalho foram publicados em duas revistas científicas nacionais, a Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e a Revista de Patologia Tropical; e em uma norte-americana, a Veterinary Parasitology. Fonte: Agência FAPESP www.agencia.fapesp.br
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Hipertensão arterial sistêmica em felinos domésticos: revisão da literatura
Carla Regina Gomes Rodrigues Santos Médica veterinária carlavetuff@yahoo.com.br
Ana Maria Barros Soares MV, dra, profa. - MCV/FV/UFF/RJ soaresa@vm.uff.br
Maria Cristina Nobre e Castro MV, MSc, doutoranda/UFF profa. - CV/FV/UFF/RJ
Systemic hypertension in domestic felines: a literature review Hipertensión arterial sistémica en felinos domésticos: revisión de literatura Resumo: A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma doença grave, que acarreta alterações sistêmicas e pode ser fatal. Os gatos geralmente desenvolvem a HAS secundária. Gatos com insuficiência renal crônica e hipertireoidismo representam a maior parte dos pacientes com HAS. Com a aquisição de equipamentos necessários para a realização da mensuração da pressão arterial (PA) de forma não invasiva, a HAS vem sendo diagnosticada com maior freqüência na rotina ambulatorial veterinária. O conhecimento da fisiopatologia da HAS e de suas conseqüências sobre o sistema cardiovascular é primordial para a escolha do tratamento. As classes de fármacos mais utilizadas para o tratamento e o controle da HAS são os inibidores da enzima conversora da angiotensina, os ≤-bloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio. Unitermos: Gato, pressão arterial, diagnóstico, tratamento Abstract: Systemic arterial hypertension (SAH) is a disease with important systemic consequences that can lead to death. Cats usually develop SAH secondarily to systemic diseases. Animals with chronic renal insufficiency and hyperthyroidism represent most of the population with SAH. The acquisition of non invasive equipments to measure blood pressure has enabled more frequent diagnosis of SAH during routine veterinary clinical exams. Understanding of SHT physiology and its consequences on the cardiovascular system is fundamental for the choice of treatment. The drugs most used to treat and control HT are the angiotensin-converting enzyme inhibitors (ACEI), β blockers and calcium channel blockers. Keywords: Cat, blood pressure, diagnosis, treatment Resumen: La hipertensión arterial sistémica (HAS) es una enfermedad con graves repercusiones sistémicas pudiendo ser letal. Los gatos generalmente desarrollan HAS secundaria. Los gatos con insuficiencia renal crónica e hipertiroidismo representan la mayoría de los pacientes con HAS. Con la adquisición de aparatos para medir la presión arterial de forma no invasiva la HAS se está diagnosticando más frecuentemente en la rutina ambulatorial veterinaria. El conocimiento de la fisiopatología de la HAS y sus consecuencias sobre el sistema cardiovascular es fundamental a la hora de elegir el tratamiento. Los tipos de fármacos más usados para el tratamiento y control de la HAS son los inhibidores de la enzima convertidora de angiotensina, los beta-bloqueadores y los bloqueadores de canales de calcio. Palabras clave: Gato, presión arterial, diagnóstico, tratamiento
Clínica Veterinária, n. 68, p. 33-40, 2007
Introdução A pressão arterial (PA) é produto do débito cardíaco e da resistência vascular periférica total. Cada ciclo cardíaco resulta em uma onda de pressão que atinge os vasos sangüíneos. O valor máximo medido durante o ciclo de pressão cardíaca representa a pressão arterial sistólica (PAS), enquanto que o valor mínimo refere-se à pressão arterial diastólica (PAD). A PA é regulada por um sistema de controle extremamente complexo. O fenômeno denominado natriurese pressórica – desenvolvido pelo rim –, e também a ação de agentes vasodilatadores (insulina, prostaciclina, bradicinina, fator natriurético atrial, óxido nítrico) e de agentes vasoconstritores (angiotensina II, vasopressina, catecolaminas), além da aldosterona – que é um retentor de sódio –, estão
relacionados ao controle da PA. 1 A importância clínica da hipertensão arterial sistêmica (HAS) tem aumentado consideravelmente na prática da medicina veterinária. A HAS é definida como a elevação crônica da PAS e/ou da PAD acima dos valores normais para a espécie. Em gatos 2,3 e em cães 4, a PA aumenta com a idade. Cães obesos tendem a apresentar elevação da PA. 5 Já em gatos, não se encontrou diferença significativa de peso corporal entre animais hipertensos e normotensos. 6 A associação entre raça e valor da PA não foi observada. Etiopatogenia A HAS pode ser classificada clinicamente como primária (essencial) ou secundária. Enquanto 90% dos humanos apresentam HAS primária, a maior
mcnobre@predialnet.com.br
parte dos casos identificados de HAS em pacientes veterinários é secundária a uma outra doença. 7 Em um estudo com 69 gatos hipertensos e portadores de lesão oftálmica, 17% não tiveram a causa da HAS identificada. 8 Atualmente, considera-se que os gatos possam apresentar HAS primária semelhante àquela que ocorre em humanos devido à carência ou à inibição da enzima 11-beta-hidroxiesteróide desidrogenase tipo 2, que acarreta a retenção de sódio. 9 Em gatos, a HAS está associada, principalmente, a doenças como insuficiência renal crônica (IRC) 6,8,10,11,12,13 e hipertireoidismo. 10,13 Outras causas menos comuns são hiperaldosteronismo primário, 8 diabetes melitos, 8,10,12 hiperadrenocorticismo, 14 feocromocitoma, 15 esteróides 7, anemia crônica e terapia com eritropoietina 16. A HAS associada com alto teor de sal na dieta foi reportada em gatos, mas mesmo com a redução do sódio na dieta a hipertensão persistiu. 17 A associação entre a IRC e a hipertensão sistêmica é bem reconhecida em humanos, em cães e em gatos, embora a sua patogenia não seja inteiramente compreendida. 11 Na IRC a HAS pode ter origem multifatorial, uma vez que a regulação da PA é alterada pela retenção de sódio, pela expansão de volume do líquido extracelular, pela ativação do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA), pelo aumento nos níveis de norepinefrina ou na resposta vascular a esta, pelo decréscimo da atividade de substâncias vasodilatadoras, pelo aumento do débito cardíaco, pelo aumento da resistência vascular periférica total e pelo hiperparatireoidismo secundário. 18 O aumento na secreção de aldosterona secundário à IRC parece ser causa importante da HAS em gatos. 19
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
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A HAS e a hipertrofia ventricular esquerda ocorrem freqüentemente no hipertireoidismo. 11,20 O mecanismo pelo qual o gato hipertireóideo desenvolve a HAS ainda não está totalmente esclarecido. A diminuição da resistência vascular periférica, a ativação do sistema renina angiotensina aldosterona, o aumento da freqüência cardíaca, bem como o aumento do débito cardíaco são descritos como conseqüência do hipertireoidismo. O desequilíbrio ou o equilíbrio dessas alterações determina ou não o desenvolvimento da HAS. 21,22
tortuosidade dos vasos. 13 Geralmente as lesões são bilaterais 8,23, embora nem sempre apresentem igual gravidade. Gatas hipertensas, castradas e com idade superior a 10 anos apresentam maior risco de desenvolver retinopatia hipertensiva. 3,8 Em um estudo, 80% dos gatos com IRC e 23% com hipertireoidismo apresentavam retinopatia. Sinais clínicos como cegueira e hifema em gatos com hipertireoidismo não têm sido reportados, sugerindo que aumentos extremos de PA são pouco comuns nesses animais. 13
Conseqüências da hipertensão O exame histopatológico de órgãos de animais com HAS permitiu a observação de lesões nos sistemas cardiovascular e cerebrovascular, nos rins e nos olhos, órgãos estes considerados órgãos-alvo. 8,12 A auto-regulação vasoconstritora arteriolar ocorre em resposta à elevação da PA para proteger os capilares nos órgãos-alvo. A elevação crônica da pressão arterial acarreta vasoconstrição prolongada, com decréscimo da perfusão sangüínea e lesões vasculares. 1 Hipertrofia e hiperplasia da musculatura lisa de pequenas arteríolas coronarianas, arteriosclerose hialina dos rins e arteriosclerose cerebral multifocal hemorrágica são lesões encontradas e diretamente relacionadas aos sinais clínicos apresentados por gatos hipertensos. 12
Sinais clínicos e complicações renais A associação entre a HAS e a IRC é bem descrita, mas é difícil estabelecer se são causa ou efeito uma da outra. 3,24,11,16 A prevalência da HAS em gatos com insuficiência renal crônica depende da composição populacional do estudo e do critério utilizado para definir essa condição, e pode variar de 20 a 65%. 6,11,13 Em um estudo com 24 gatos hipertensos todos apresentaram alteração renal, diagnosticada pelo aumento da creatinina e da uréia sérica, pelo tamanho pequeno dos rins e/ou pela glomerulosclerose. 12 A HAS promove aumento do fluxo sangüíneo renal, aumento da pressão intraglomerular e hiperfiltração glomerular, que determinam lesões glomerulares e tubulares. Degeneração tubular e fibrose intersticial, assim como glomerulosclerose, atrofia glomerular e glomerulite proliferativa já foram relatadas. 25 A HAS parece favorecer a progressão da IRC 2 e, dessa forma, utilizam-se medicamentos anti-hipertensivos na tentativa de diminuir a injúria glomerular. 26 Poliúria, polidipsia, perda de peso, fraqueza e vômito podem ser observados nesses animais. 24
Sinais clínicos e complicações oculares As lesões oculares são as mais reportadas em gatos com HAS 3,8,12,13,16,17,23, talvez por serem facilmente detectadas clinicamente. A retinopatia e a coroidopatia hipertensiva secundárias à HAS são seqüelas comuns 6,12, e a cegueira aguda é a principal causa pela qual o gato é levado à clínica veterinária. 12 A retinopatia hipertensiva é caracterizada pelo edema de retina, tortuosidades e hemorragia dos vasos, e a coroidopatia resulta em necrose isquêmica dos coriocapilares e do epitélio pigmentar da retina. 12 Achados clínicos associados à retinopatia hipertensiva incluem tortuosidade das artérias da retina, edema de retina, perivasculites, hemorragia de retina, hemorragia de vítreo, hifema, descolamento de retina, atrofia de retina e glaucoma. 8,13,26,23 Entretanto, apenas 25% dos gatos com hipertensão apresentam 34
Sinais clínicos e complicações cardiovasculares Poucos são os estudos publicados relacionados a lesões cardiovasculares em gatos com HAS. 12,27,28,29 A HAS promove a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) primariamente, pelo aumento da pós-carga. Alterações cardíacas detectadas pelo ecocardiograma em gatos com HAS incluem espessamento do septo interventricular e da parede posterior do ventrículo esquerdo, dilatação de átrio esquerdo, redução do diâmetro diastólico ventricular esquerdo e dilatação
proximal da aorta. 28,29 A HVE esteve presente em 74% dos gatos com HAS. 29 47,5 a 68% dos gatos com cardiomiopatia hipertrófica e 73% dos gatos com IRC e HVE apresentaram HAS. Entretanto, não houve relação significativa entre o valor da PA e o grau de espessura da parede ventricular. Dessa forma, não há confirmação de que a HVE seja causa ou conseqüência da hipertensão. 27 A hipertrofia de pequenas arteríolas coronarianas tem sido reportada em gatos. 12 Embora essas alterações não tenham relevância clínica em gatos e em cães, é de se esperar que a hipertrofia reduza a capacidade de reserva das artérias coronarianas, tornando o coração mais susceptível à isquemia. A hipertrofia ventricular pode promover a insuficiência valvular secundária e o sopro sistólico. 28 Outros sinais clínicos cardíacos descritos incluem arritmias, ritmo de galope e taquicardia. 6,12,27 De 14 gatos com HAS avaliados por radiografia torácica, nove tinham cardiomegalia e dois tiveram efusão pleural secundária à insuficiência cardíaca. 12 Sinais clínicos e complicações cerebrovasculares O sistema nervoso central é susceptível aos danos induzidos pela HAS devido à abundância de pequenas artérias e arteríolas, mas há poucos relatos de lesões cerebrovasculares geradas pela HAS em medicina veterinária. Em dois estudos, 29% e 46% dos gatos com HAS apresentaram sinais neurológicos, condição esta associada a um prognóstico desfavorável. A encefalopatia hipertensiva é evidenciada por inclinação da cabeça, ataxia, depressão, desorientação e convulsões. 8,12 Diagnóstico O diagnóstico da HAS é baseado na determinação da PA. A exata definição da HAS em gatos e cães tem sido discutida em pesquisas e debates porque estudos prévios utilizaram valores diferentes como parâmetro. Valores de pressão arterial sistólica superiores a 141 11, 160 12,13, 170 19, 175 6, e 185mmHg 30 e pressão diastólica acima de 100mmHg 12,13 já foram utilizados para definir a HAS. Entretanto, mais recentemente sugere-se que valores superiores a 150/95mmHg
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
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Figura 2 - Utensílios necessários para aferição da PA. (A) Manguitos neonatais Dixtal de diversos tamanhos. (B) Manguito neonatal Dixtal número 3 acoplado ao esfigmomanômetro BD (Becton Dickinson) e gel de ultra-som
(Figura 3). Após a seleção do local, determina-se o manguito a ser utilizado. Este deve ter entre 30 e 40% de diâmetro da circunferência do membro utilizado ou da cauda, e ser posicionado na região proximal da extremidade escolhida. 17,32 (Figura 4). O diâmetro adequado é de grande importância, pois manguitos menores do que aqueles preconizados levam à obtenção de valores maiores da pressão sistólica, e aqueles de maior tamanho subestimam os valores da pressão arterial. 7,32,34 Para facilitar a propagação do som, uma quantidade de gel de condução é colocada sobre o transdutor, que então é posicionado sobre a artéria distal escolhida (Figura 5). Quando o som do fluxo sangüíneo for ouvido de forma clara e consistente através do doppler, a pressão pode ser mensurada. Com o auxílio do esfigmomanômetro, a braçadeira deve ser inflada até que o som do fluxo sangüíneo não seja ouvido. O ideal é inflá-la 20 a 30mmHg acima do valor que não permitiu a audição do fluxo sangüíneo. 34
obtidos em três mensurações realizadas em três visitas distintas de um paciente, mesmo que este não apresente sinais clínicos atribuídos à elevação da PA, são compatíveis com a hipertensão. Já em pacientes sintomáticos, uma única leitura de valor acima de 150/95mmHg é indicativa de hipertensão. 31 Os métodos doppler, oscilométrico e fotopletismográfico de mensuração indireta da PA têm sido estudados e avaliados para uso na clínica médica de pequenos animais. 32,33 O método doppler é o recomendado para gatos. 7 Nesse método, utiliza-se um aparelho doppler que contém um amplificador eletrônico e um transdutor capaz de transmitir e receber ondas ultra-sônicas que serão transformadas em som audível 34 (Figura 1). Para a condução do ultra-som são necessários ainda esfigmomanômetro, braçadeira e gel (Figura 2). Para obter valores de PA fidedignos, são indispensáveis um protocolo técnico padrão e pessoal treinado. Previamente à mensuração da PA, o animal deverá estar climatizado com o ambiente e, se possível, o proprietário deve estar presente. 35 O estresse induzido pela visita à clínica veterinária pode causar aumento considerável na PA do paciente. Esse fenômeno é tão comum que é conhecido como “síndrome do avental branco”. Para minimizar esse efeito, a pressão arterial deverá ser mensurada em ambiente isento de interferências externas e de qualquer outro animal. 36 As artérias cranial tibial, mediana, metacarpiana e coccígea são comumente utilizadas na mensuração da PA 7,37 36
Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
Figura 1 - Aparelho Doppler Vascular Microen modelo DV-10 tipo pastilha para mensuração da PA
A braçadeira é então gradualmente desinflada, enquanto o operador cuidadosamente observa a pressão marcada pelo esfigmomanômetro. 37 O ponto em que o primeiro som é ouvido corresponde ao valor da pressão sistólica e, quando ocorre a mudança do som curto para um som mais longo, tem-se o valor da pressão diastólica. 34 Embora seja relativamente fácil obter o valor da PAS, o valor da PAD aferido por esse método não é considerado fidedigno. 25,33,34 A primeira leitura deve ser descartada, e então deve-se utilizar a média de três ou cinco mensurações, com 30 segundos a um minuto entre as leituras, como valor da pressão arterial sistólica. 33,38 Apesar dessas recomendações, em estudo recente, a primeira leitura da pressão arterial sistólica não foi significantemente diferente da média das cinco leituras. 33 Tratamento Na maioria das vezes, o controle da HAS em medicina veterinária está
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Figura 3 - Regiões para detecção do pulso arterial devidamente tricotomizadas para evitar interferência ao posicionar o transdutor do Doppler. (A) Região palmar do membro anterior. (B) Região plantar do membro posterior. (C) Região ventral da base da cauda
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
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Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
de exames complementares como hemograma completo, dosagem sérica de creatinina, uréia, eletrólitos e EAS devem ser solicitadas. 7 O tratamento é dividido em duas partes: a dieta e a terapia farmacológica.
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Carla Regina Gomes Rodrigues Santos
Figura 4 - Iniciando a mensuração da PA (A) A largura do manguito deve ter de 30 a 40% da circunferência do membro utilizado. (B) Manguito posicionado no membro anterior próximo à região de colocação do transdutor para oclusão arterial
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Figura 5 - Após a detecção e oclusão do pulso arterial, o manguito é desinflado enquanto o operador observa o valor da PA marcado pelo manômetro
relacionado ao tratamento de doenças pre-existentes (Figura 6). Embora tratar uma doença em desenvolvimento possa resolver a HAS associada em alguns pacientes, outros requerem também terapia específica. O controle da HAS é fundamental para prevenir e/ou retardar a progressão de lesões nos órgãos-alvo. O objetivo do tratamento não é necessariamente tornar o paciente normotenso, mas manter a PAS menor ou igual a 170mmHg. 7 Porém, para alguns autores, gatos com PAS acima de 160mmHg estão susceptíveis ao declínio da função renal, à perda de néfrons, à proteinúria e ao desenvolvimento de glomerulosclerose. 39 Gatos com PAS acima de 180mmHg estão susceptíveis a danos renais e a todos os órgãos-alvo. 39,40,41,42 Após uma a duas semanas do início do tratamento com a menor dosagem do medicamento para a HAS, deve-se realizar reavaliação do paciente, para avaliar a eficácia da terapia e a necessidade de ajuste da dose. Animais que estão sob tratamento anti-hipertensivo necessitam de rotina clínica e laboratorial. A pesquisa de doenças concomitantes e/ou dos efeitos deletérios da HAS deve ser realizada antes e depois
do controle da HAS. Uma vez controlada a pressão arterial, o paciente deve ser reavaliado em intervalos de um a três meses. A mensuração da PA e a realização
Dieta Dieta com restrição de sódio pode ser utilizada no manejo de gatos hipertensos. Porém, estudos demonstraram que variações de sódio na dieta não tiveram efeito na PAS em gatos normais ou em gatos com redução da função renal. 43 Dessa forma, somente a restrição de sódio na dieta não é efetiva no controle da hipertensão em cães e gatos. Em animais com doença renal crônica ou outra doença e HAS, talvez seja mais importante manter uma dieta calórica adequada do que insistir em uma dieta com baixo teor de sódio. A administração de alguns medicamentos anti-hipertensivos, tais como bloqueadores beta-adrenérgicos e vasodilatadores arteriolares pode promover a retenção de sódio, a expansão do volume do líquido extracelular e a redução dos efeitos anti-hipertensivos. 18 Nestes casos, a dieta com restrição de sódio é empregada como uma tentativa de melhorar a eficácia de agentes farmacológicos. 7
Sem doenças concomitantes - A amlodipina pode ser utilizada como único fármaco nesses casos - Reavaliar o paciente em uma a duas semanas - Manter a PAS ≤ 170mmHg - Uma vez controlada a pressão arterial, a reavaliação do paciente deve ser feita em intervalo de um a três meses para diagnóstico precoce dos efeitos deletérios da HAS Com insuficiência renal crônica - Iniciar o tratamento com o maleato de benazepril - Reavaliar o paciente em uma a duas semanas - Adicionar a amlodipina caso o valor da PAS não esteja ≤ 170mmHg - Mesmo com a IRC compensada e a pressão arterial controlada, a reavaliação do paciente deve ser feita em intervalo de um a três meses para diagnóstico precoce dos efeitos deletérios da HAS Com hipertireoidismo - Tratar a doença primária - Se a PAS estiver ≥ 180mmHg, associar o atenolol durante um mês - Reavaliar o paciente durante e após o tratamento - Se o valor da PAS permanecer ≤ 170mmHg, retirar o atenolol - Reavaliar após duas semanas - Se o valor da PAS se mantiver estável, a HAS provavelmente era secundária ao hipertireoidismo - Se ocorrer o aumento da PAS ≥ 180mmHg, adicionar novamente o atenolol - Mesmo com o controle do hipertireoidismo e a pressão arterial controlada, a reavaliação do paciente deve ser feita em intervalo de um a três meses para diagnóstico precoce dos efeitos deletérios da HAS Figura 6 - Manejo clínico e farmacológico da hipertensão arterial sistêmica em gatos
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Terapia farmacológica Inibidores da enzima de conversão da angiotensina ( IECA) A angiotensina II é um potente vasoconstritor, que exerce efeito venoso e arteriolar e atua sobre a secreção de vasopressina e aldosterona. Quando sua síntese é inibida, ocorrem vasodilatação sistêmica e efeitos natriuréticos. O uso de IECA também reduz a pressão dos capilares intraglomerulares devido à dilatação da arteríola eferente, minimizando a proteinúria. 44 Em gatos com HAS experimentalmente induzida, a terapia com IECA resultou em significante decréscimo da hipertrofia ventricular esquerda secundária à hipertensão e das arritmias ventriculares. 45 Em gatos, o cloridrato de benazepril inibe de 90 a 100% da ECA no plasma. 19 Já o maleato de enalapril é ineficiente em 50% dos gatos. 19,46 A dose utilizada para gatos é de 0,25-0,5mg/kg, por via oral, uma vez ao dia. 19 Embora o cloridrato de benazepril diminua a hipertensão intraglomerular em gatos com IRC, a redução da PA sistêmica atingida com essa droga é pequena. 47 Efeitos como letargia, fraqueza, perda de apetite, vômito e diarréia podem acontecer 48 horas após o início do tratamento. 48 Antes e depois de iniciar a terapia com um IECA, dosagens séricas de uréia e creatinina do paciente devem ser realizadas. A administração de IECA associada a bloqueadores dos canais de cálcio pode ser eficaz quando a monoterapia não é suficiente para diminuir a PA. 7 Bloqueadores dos canais de cálcio A amlodipina é considerada a droga de escolha para controlar a HAS em felinos. Nessa espécie, a amlodipina tem sido utilizada com sucesso como único agente hipotensor. 46 O mecanismo de ação deste fármaco tem como base o bloqueio do influxo de cálcio necessário para a contração muscular, diminuindo a resistência vascular sistêmica. 44,46 A amlodipina tem sido muito utilizada para o controle da HAS em gatos devido à sua longa ação, que permite dosagem diária única, com efeito gradual, evitando a rápida redução da pressão arterial. A dose utilizada para gatos é de 0,3125-0,625mg/animal, por via oral, uma vez ao dia. 46 Ocasionalmente, podese observar piora da azotemia em gatos com IRC uma a duas semanas após o 38
início do tratamento. Assim, as dosagens séricas de uréia e creatinina do paciente devem ser avaliadas uma a duas semanas após o início do tratamento. 48 Tanto os inibidores da ECA quanto os beta-bloqueadores podem ser associados à amlodipina se a monoterapia não obtiver sucesso. 48 Bloqueadores beta-adrenérgicos Os bloqueadores β-adrenérgicos diminuem a força de contração e a freqüência cardíaca, promovendo a redução do débito cardíaco. Os receptores βadrenérgicos são encontrados no coração (β1) e nos pulmões (β2). Embora o bloqueio dos receptores β1 diminua a freqüência cardíaca, o bloqueio dos receptores β2 provoca a constrição bronquial. Em gatos asmáticos, o uso de bloqueadores β-adrenérgicos não seletivos é contra-indicado. 49 O atenolol é o fármaco de escolha para gatos, por ser β1 seletivo. Em gatos hipertensos e hipertireóideos, o atenolol é recomendado quando o tratamento para o hipertireoidismo não reduz a PA o suficiente para prevenir danos adicionais a outros órgãos. Nesses casos, o uso de bloqueador β-adrenérgico é o tratamento de escolha, porque age contra o aumento responsivo à circulação de catecolaminas induzido pelo excesso de hormônios tireoidianos. A dose utilizada é de 6,25 a 12,5mg/gato, por via oral, uma vez ao dia. 21 Efeitos adversos como letargia, inapetência e síncope podem ocorrer. 48 Os bloqueadores β-adrenérgicos são também utilizados em cães e gatos quando a primeira droga anti-hipertensiva (IECA ou amlodipina) não foi capaz de induzir o decréscimo desejável da pressão arterial. 7,48 Outros fármacos Os diuréticos são raramente efetivos como único agente, mas podem ser utilizados em combinação com outras drogas anti-hipertensivas. 12 Os efeitos adversos potencias da terapia diurética incluem desidratação, progressão da insuficiência renal em virtude da diminuição da perfusão, hiponatremia e hipocalemia. 25 Dessa forma, os diuréticos não fazem parte do protocolo inicial para o tratamento da HAS em gatos. Há poucos relatos do uso de bloqueadores α-adrenérgicos, como cloridrato
de prazosina ou a fenoxibenzamina, para controle da hipertensão em gatos, pois seu mecanismo de ação pode promover hipotensão grave. 49 Alguns autores utilizam a fenoxibenzamina no tratamento de gatos hipertensos refratários ao tratamento inicial com amlodipina e inibidor da ECA. 48 Esse fármaco também tem sido utilizado no tratamento de feocromocitomas. 15 O uso do cloridrato de hidralazina está restrito aos casos nos quais os inibidores da ECA, os bloqueadores dos canais de cálcio ou beta-bloqueadores não são efetivos 50, ou até mesmo em crises hipertensivas, pois esse fármaco é um potente dilatador arteriolar. 51 Crise hipertensiva A crise hipertensiva é a elevação aguda da PA associada à lesão de órgãoalvo (emergência hipertensiva), ou à ausência de lesão (urgência hipertensiva) no momento da crise. Animais em emergência hipertensiva apresentam sinais diretamente atribuídos à HAS, como manifestações neurológicas, hemorragia e descolamento de retina. 7 Esses animais devem ser tratados agressivamente com vasodilatador arteriolar e venoso (nitroprussiato de sódio) administrado por infusão constante, e mantidos sob monitoração intensa. Caso essa conduta não seja possível, hidralazina (2.5-5,0 mg/gato, PO, SID ou BID) e furosemida podem ser utilizadas em combinação. Em gatos com doença renal, a monitoração de potássio é fundamental para a administração do diurético de alça. Em resposta à hipotensão induzida pela hidralazina, pode ocorrer taquicardia reflexa. O atenolol pode também ser associado caso o valor da PA não diminua em 12 horas. Outra opção é utilizar o diltiazem (bloqueador dos canais de cálcio) na dose de 0,5mg/kg, por via oral, a cada seis horas, como único agente hipotensor. 7,50 Conclusão Ainda não há estudos que demonstrem a prevalência da HAS em gatos no Brasil. Assim, a mensuração da pressão arterial na rotina ambulatorial é indispensável para o diagnóstico da HAS. As lesões geradas pela HAS são, muitas das vezes, de caráter irreversível, razão pela qual a falta do diagnóstico preciso
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pode acarretar a morte do animal. O diagnóstico precoce, bem como o controle e o acompanhamento da HAS, proporcionam maior expectativa de vida para o gato hipertenso. Referências 01-HEIMANN, J. C.; KRIEGER, J. E.; ZATZ, R. Fisiopatologia da hipertensão arterial. In: ZATZ, R. Série Fisiopatologia Clínica: Fisiopatologia Renal. Rio de Janeiro: Atheneu, 2000. v. 2, p. 173-188. 02-BODEY, A. R.; SANSOM, J. Epidemiological study of blood pressure in domestic cats. Journal of Small Animal Practice. v. 39, n. 12, p. 567-573, 1998. 03-SANSOM, J.; ROGERS, K.; WOOD, J. L. N. Blood pressure assessment in healthy cats and cats with hypertensive retinopathy. American Journal of Veterinary Research. v. 65, n. 2, p. 245-252, 2004. 04-BODEY, A. R.; MICHEL, A. R. Epidemiological study of blood pressure in domestic dogs. Journal of Small Animal Practice. v. 37, n. 3, p. 116-125, 1996. 05-JERICÓ, M. M.; SILVA, M. B. F. P.; MACHADO F. L. A. Avaliação cardiovascular em cães obesos: mensuração da pressão arterial e achados eletrocardiográficos. Clínica Veterinária. Ano XI, n. 61, p. 66-72, 2006. 06-SYME, H. M.; BARBER, P. J.; MARKWELL, P.
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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Obesidade felina - revisão
Cynthia Brandão da Costa Médica veterinária - Clínica Veterinária Gatomania cbrandaodacosta@yahoo.com.br
Feline obesity - a review
Andréa Alves MV, doutoranda - FMVZ/USP profa. ass. - Curso de Medicina Veterinária - UVV aalves@uvv.br
Obesidad felina - revisión Resumo: A obesidade ocorre quando a aquisição energética é maior que o gasto dessa energia. Dentre outras causas desse distúrbio, a mais importante é a superalimentação. O gato obeso é mais propenso a moléstias, como diabetes melito, doenças articulares, dermatoses e lipidose hepática. Vários são os métodos de diagnosticar a obesidade, como a palpação, a determinação da concentração sérica de leptina e a absormetria por dupla emissão de raios-X. O tratamento é feito principalmente por meio da restrição calórica e de aumento no gasto energético. No entanto, para evitar a lipidose hepática, a restrição calórica deve ser implementada com cautela. A prevenção da obesidade é fundamentada no cuidado da alimentação e no estímulo ao exercício. Unitermos: Gatos, alimentação, emagrecimento
Abstract: Obesity occurs when there is a greater gain of energy compared to that used by the organism. Overalimentation is the main cause of the disease. The obese cat is more propense to diseases, such as Diabetes mellitus, joint problems, diseases of the skin and hepatic lipidosis. There are many diagnostic methods for obesity: palpation, determination of blood leptin concentration and dual energy X-ray absorptiometry, to cite a few. The main treatment is based on caloric restriction and increase in the energy spent. Caloric restriction, however, should be achieved cautiously to avoid hepatic lipidosis. Prevention can be achieved through careful alimentation and exercise encouragement. Keywords: Cat, alimentation, thinning Resumen: La obesidad ocurre cuando hay una mayor adquisición de energía en comparación con su gasto. Otra de las causas de esta alteración y con mayor importancia es la superalimentación. El gato obeso es mas predispuesto a enfermedades como Diabetes mellitus, enfermedades articulares, dermatosis y lipidosis hepática. Hay varias formas de diagnosticar la obesidad. Entre ellas están la palpación, la determinación de concentraciones séricas de leptina y la absorciometría dual de Rayos X. El tratamiento se realiza principalmente por restricción calórica y aumento del gasto energético. Por otro lado, la restricción calórica debe ser realizada con cautela, para evitar la lipidosis hepática. Su prevención se basa en el cuidado en la alimentación y en el estímulo al ejercicio. Palabras clave: Gato, alimentación, adelgazamiento
Clínica Veterinária, n. 68, p. 42-50, 2007
Introdução De modo geral, a obesidade é definida como o aumento – acima do peso ideal 1 – de 15 1,2,3 a 20% do peso corporal, e ocorre com freqüência na espécie felina 4,5,6,7,8. Habitualmente é provocada pelo aumento da ingestão de alimentos 4,5, e pela diminuição do nível de atividade física 4,9,10,11,12, muito embora, algumas vezes, possa ser uma conseqüência de alterações endócrinas 4,10. A obesidade pode ser identificada de várias formas, como a pesagem do animal 1, a inspeção, a palpação 1,3,4,10, o cálculo do índice de gordura corporal 3, a utilização do diagrama de silhuetas 13, a dosagem de leptina sérica 13,14 e a absormetria por dupla emissão de raios-X 3,14. Independentemente da causa da obesidade, esta alteração pode se constituir em risco para a qualidade de vida do animal 1,3,7,8. Gatos obesos costumam apresentar maior propensão a desenvolver diabetes melito; alterações articulares 1,2,5,7,8,11,15 – como osteoartrite 11 –, dermatoses 1,2,5,7,816,17 – como intertrigo 18 –, além de lipidose hepática 1,2,5,7,8. 42
O tratamento da obesidade requer basicamente o aumento do gasto energético, além da restrição de calorias ingeridas 4. O ideal é que se atinja a perda de peso sem perda de massa magra 8. Embora várias dietas já tenham sido testadas nos últimos tempos 5,8, a adoção de um regime nutricional com alto teor de proteínas e baixa quantidade de carboidratos propiciou diminuição satisfatória de peso com mínima perda de massa magra 8. A prevenção desse problema deve ser feita com base no critério de não ultrapassar o requerimento calórico diário de manutenção e de estimular o exercício durante toda a vida do animal 4. Bases fisiológicas nutricionais dos gatos O consumo nutricional é controlado pelo cérebro através do hipotálamo 19, sendo a porção lateral hipotalâmica relacionada ao centro da fome e a porção ventrolateral ao centro da saciedade 19,20. Estas duas regiões interagem inibindo uma à outra para, juntas, formarem um controle central de regulação do apetite 20. Neurotransmissores – como a serotonina,
a noradrenalina e a dopamina – também participam desse mecanismo 19. Neurônios ativos localizados na porção lateral do hipotálamo iniciam a fome através do aumento do paladar, do olfato e de enzimas digestivas, resultando no ato da ingestão de alimentos e, conseqüentemente, no aumento do preenchimento gástrico e na elevação da quantidade de nutrientes na corrente sangüínea, o que por sua vez ativará o centro da saciedade, deprimindo o apetite e o paladar, resultando em diminuição da ingestão de maior quantidade de alimento 20. As diferenças na atividade ou no metabolismo bioquímicos desses centros são muitas vezes responsáveis pelas alterações do apetite 19. A taxa metabólica de repouso (TMR), a termogênese induzida pelo alimento e os efeitos térmicos do exercício são responsáveis pelo gasto diário de energia do animal. A TMR contribui com 60% a 70% do gasto energético diário, o efeito térmico da termogênese induzida pelo alimento contribui com 20% a 30% e os efeitos térmicos do exercício somam 20% a 30% desse gasto. A TMR constitui-se em uma exigência de manutenção do corpo a uma temperatura homeotérmica. Portanto, em animais sujeitos a extremos nas temperaturas ambientais, a TMR – e, conseqüentemente, as necessidades de energia de manutenção – pode variar de modo significativo. A termogênese induzida pela dieta consiste na energia gasta na digestão, na absorção e no processamento dos nutrientes, gasto energético este que é muito baixo, quando comparado ao dispêndio de energia total. Os efeitos do exercício no consumo de energia incluem o gasto energético por si só, o aumento dos efeitos termogênicos da dieta e a maior eficácia da TMR 19. O requerimento energético de um gato adulto é de 60 a 85kcal por quilograma de peso corporal por dia 21, ou obtido
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por meio da fórmula: (kg x 30) + 70 5. Quando o alimento é oferecido ad libitum, o gato ingere 12 a 20 refeições por dia. Em gatos selvagens, tais refeições consistem de pequenos pássaros, mamíferos e insetos. Os camundongos são presas comuns dos gatos domésticos e cada um deles oferece cerca de 30 kcal ao animal que o ingere. Dessa forma, um gato adulto necessitaria consumir, então, 8 a 15 camundongos por dia para atingir seu requerimento energético diário 21. Na natureza, essa espécie consome alimentos que apresentam altas taxas de proteínas, moderada taxa de gordura e mínima quantidade de carboidratos. Assim, os felinos são adaptados a um metabolismo protéico mais elevado, com menor utilização de carboidratos do que os cães ou outros onívoros 8. Como carnívoros estritos, os gatos têm um metabolismo nutricional único, pois utilizam proteínas para a manutenção dos níveis de glicose sérica, mesmo quando as reservas protéicas estão escassas e, embora possam usar os carboidratos como fonte de energia metabólica, apresentam pouca habilidade em utilizá-los para poupar as proteínas. Assim, independentemente de estar recebendo uma dieta com altos ou baixos níveis de proteínas, o organismo felino não altera o ritmo metabólico protéico conforme a disponibilidade desses nutrientes 8. Um indício de que os felinos são fisiologicamente menos adaptados à ingestão de carboidratos do que os onívoros é o fato de não possuírem amilase salivar, a enzima responsável pelo início da digestão dos carboidratos. Além disso, esses animais apresentam baixo nível de atividade de amilase pancreática e intestinal e de dissacaridases que agem no intestino delgado. Essas diferenças específicas, entretanto, não significam que os gatos não possam utilizar o amido da dieta, mas enfatizam a evolução da espécie como carnívora 8. As particularidades digestivas mencionadas significam que altas quantidades de carboidratos podem propiciar efeitos indesejáveis nos gatos. Exemplo disso é a diminuição da digestibilidade protéica decorrente do aumento da velocidade da passagem do alimento pelo trato gastrointestinal. Outra ocorrência que confirma a afirmação acima é a redução no pH das fezes em virtude da digestão incompleta de carboidratos no
intestino delgado, que resulta no aumento da fermentação microbiana no cólon e na elevação da produção de ácidos orgânicos 44. A presença desses ácidos orgânicos, juntamente com o efeito osmótico do açúcar que escapa à digestão, pode ocasionar episódios de diarréia 22. A enzima hepática responsável por converter a glicose em glicogênio para estocagem no fígado, a glicogênio-sintetase, tem atividade mínima nos gatos. A provável razão da baixa atividade dessa enzima hepática é o mecanismo metabólico que, ao invés de amido, utiliza aminoácidos e gordura da dieta para obtenção de energia. Como resultado, a habilidade dos gatos para minimizar de forma rápida a hiperglicemia de dietas com alta quantidade de glicose é limitada 8. Nos carnívoros, a concentração de glicose sérica é mais consistente, ou seja, apresenta menos flutuações pósprandiais. Isso decorre da liberação de glicose em pequenas quantidades, após um longo período de elaboração através do catabolismo das proteínas. Assim, o amido adicional da dieta que não é estocado como glicogênio muscular ou que não é usado como energia, é armazenado como gordura 8. Outro nutriente responsável pela manutenção do combustível energético dos carnívoros é o ácido graxo, que também é importante no aumento da palatabilidade e da aceitabilidade dos alimentos 4,23,12. Animais domésticos adultos cuja rotina é relativamente sedentária não necessitam de alimentos que contenham elevados níveis de lipídios porque, embora esses elementos possam proporcionar uma nutrição adequada e contribuir para a manutenção da saúde, tais animais podem apresentar consumi-las excessivamente, devido à sua alta palatabilidade 24. Causas da obesidade Muitos felinos domésticos apresentam sobrepeso 6. Assim sendo, a obesidade é a desordem nutricional mais comum nesses animais 4,5,7,8, e sua prevalência vem crescendo com o passar dos anos 11. Nos EUA, em 1973 o distúrbio acometia entre 6% 10 e 12% dos gatos 2,4,11; já no início dos anos 90, 25% estavam acima do peso 1,25,5,7,12, 20% eram gordos 5,11,26 e 5% eram obesos 11,26. A obesidade é definida como o excesso de gordura corporal, decorrente do desequilíbrio entre a aquisição e o
gasto de energia pelo organismo 2,3,4,5,27. Esse excesso de gordura pode ser alcançado pelo incremento no tamanho dos adipócitos – denominado obesidade hipertrófica – ou pela elevação da quantidade de adipócitos – conhecida como obesidade hiperplásica. Na maioria dos casos, a obesidade é conseqüência da hipertrofia dos adipócitos 4, provocada pelo aumento na ingestão de alimentos 4,28 e/ou pela diminuição do nível de atividade física 4,9,10,11,12 e, muito raramente, pela redução da função da glândula tireóide 4,10. A excessiva ingestão energética pode ser provocada pela alta palatabilidade da dieta 1,4,9,14,23, pela alimentação ad libitum 2,4,7,8,10, pelo oferecimento abundante de alimento em horários predeterminados 10, ou pelo fornecimento de petiscos e de comida caseira 1. Já a diminuição do gasto energético pode ser atribuída, por exemplo, ao aumento do período de sono 14, ou ao fato de o gato residir em espaços restritos ou limitados, como apartamentos 2,7,8,9,11,12,14,26, o que limita a atividade física. O envelhecimento do animal também contribui significativamente para a diminuição do gasto de energia 4,7,8,11,14,26, pois a TMR dos pacientes geriátricos decresce de maneira natural à medida que os anos passam, implicando em queda de 30 a 40% das necessidades energéticas em relação àquelas de gatos adultos jovens 29. Estudo recente demonstrou que o tipo de alimento, ou seja, ração seca ou em lata, não exerce qualquer influência sobre o ganho de peso corporal; o que promove esse quadro é a maneira pela qual esse alimento é oferecido. No experimento citado, os gatos alimentados ad libitum engordaram mais do que aqueles que recebiam várias refeições, sem que se constatasse diferença decorrente do tipo de ração oferecida (seca ou úmida). Já a comida caseira foi incriminada como causadora de obesidade apenas quando oferecida duas a três vezes por semana. De modo contrário, quando a comida caseira foi oferecida mais de quatro vezes por semana, o aumento de peso não foi tão significativo. Supõe-se que, em menor freqüência, a comida caseira não supriu a necessidade energética do animal, que teve de suplementá-la com ração, o que resultou em obesidade 7. Em outra pesquisa, que tentou correlacionar a ingestão de comida caseira e petiscos e a ocorrência de obesidade,
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observou-se que a relação de causa e conseqüência não existe, já que os gatos com sobrepeso recebiam esse tipo de comida em proporção igual àquela oferecida a gatos com ótima condição corporal 26. Embora a superalimentação tenha sido apontada como uma das causas mais comuns de obesidade nos gatos 9, verificou-se recentemente que alterações endócrinas também podem ter importante papel nesse distúrbio 10. Mas assim como ocorre nos casos de obesidade humana, acredita-se que tais alterações tenham baixa prevalência 2,3. Um fator endócrino que pode estar envolvido no desenvolvimento da obesidade é a diminuição da produção ou a redução da resposta à leptina 10. A leptina, hormônio produzido exclusivamente pelo tecido adiposo 10,13,14, é responsável pela diminuição da ingestão de alimentos e pelo aumento do gasto de energia pelo organismo, o que resulta em menor adiposidade e obesidade 10,14. O fato de gatos obesos tenderem a apresentar elevados níveis de leptina apóia a teoria que atribui a obesidade à redução da resposta a esse hormônio pelo organismo, em detrimento daquela que responsabiliza a diminuição da produção dessa substância 10,30. Ultimamente, os triglicerídeos têm sido implicados na patogênese da resistência à leptina, pois já se sabe que estes podem inibir o transporte de leptina ao cérebro, no qual esse hormônio atuaria provocando o sinal de saciedade 30. Já o hipotireoidismo, muitas vezes responsável pela obesidade em seres humanos, é extremamente raro em felinos 2,4,5,10,31, principalmente quando adultos 32. É importante ter em mente que, em felinos, o hipotireoidismo congênito ou juvenil geralmente não está associado à obesidade 5,32, e que o hipotireoidismo iatrogênico relaciona-se freqüentemente à perda marcante de peso 32. Já no hipotireoidismo do adulto a obesidade pode ocorrer, mas não é um sinal consistente 2,32. Portanto, não se deve apontar essa doença como causa de obesidade, a menos que o animal apresente outros sinais compatíveis 21, confirmados por testes de estímulo por TSH e por TRH, dosagem de T4 total, T4 livre ou livre por diálise 10,31. As alterações comportamentais são as principais causas da superalimentação em felinos e, na maioria das vezes, são ignoradas pelo médico veterinário. 44
Portanto, nunca se deve deixar de investigar a existência de alterações como ansiedade e depressão, em casos de obesidade instalada. Isto porque, no repertório dos comportamentos autotranqüilizantes do gato, a lambedura excessiva e a alimentação exagerada são atividades orais que desempenham importante papel na regulação do estresse 4. A introdução de fármacos que induzem a polifagia também pode provocar a obesidade, ainda que indiretamente 3. Um exemplo seria a ciproeptadina que, além de anti-histamínico, é anti-serotonínico. O mecanismo pelo qual esses agentes exercem efeito estimulante sobre o apetite ainda não foi bem esclarecido 33, mas acredita-se que seja pela sua função antagonista da serotonina 34. Outro fator que pode ser incluído como causa de obesidade é a gonadectomia 2,4,7,9,8,11,12,14,21,23. Esse procedimento tem sido incriminado como contribuinte no aumento do peso corporal do animal por promover a redução do gasto energético 2,4,9,13 em decorrência da diminuição da atividade física 2,4,9 e do nível metabólico 7,12,23,28. Além disso, provoca o aumento na ingestão de alimentos 2,4,5,7,8,13 graças à ausência do efeito inibitório do apetite causada pelo estrógeno 2,4. Já a contribuição genética não é um fator de importância na espécie felina. Diferentemente do que ocorre com certas raças caninas, as informações referentes à propensão à obesidade entre as raças felinas 2,4 ainda são insuficientes. É importante não confundir algumas condições mórbidas, que provocam aumento do volume abdominal, com a existência de obesidade. São exemplos: acromegalia 5 e hiperadrenocorticismo 1,4,5 – doenças raras em gatos 4,5 –, a presença de massas abdominais 5 ou ascite 1,4,5. Também há que descartar estados fisiológicos, como a prenhez 5. Diagnóstico A obesidade é definida como o aumento de 15 a 20% 1,2,3 – acima do peso ideal 1,4,5 – do peso corporal, levando em consideração, raça, sexo e espécie 5. No entanto, a obesidade felina é difícil de ser diagnosticada objetivamente, pois não há um padrão de peso ideal para as diferentes raças de gatos existentes. Embora a obesidade extrema possa ser facilmente identificada, o diagnóstico de obesidade em menor grau ou de
sobrepeso é mais difícil 2,3. Até recentemente, a pesagem do animal 5, a inspeção – juntamente com a palpação das costelas 1,3,4,10, dos processos espinhais dorsais e da base da cauda 1 – eram os métodos utilizáveis e confiáveis para verificar a obesidade em gatos 5,13,15. Entretanto, outros métodos permitem uma classificação mais precisa, que possibilita saber a quantidade de gordura no organismo do animal 3. Um deles é o cálculo do índice de gordura corporal. Primeiramente, com o gato em estação, deve-se calcular a medida de sua caixa torácica (CT), em centímetros, obtendo-se a circunferência do tórax no ponto da nona costela. Depois, deve-se obter o índice de medida do membro pélvico (IMMP), para o que, a distância entre a patela e a tuberosidade do calcâneo do membro pélvico esquerdo deve ser aferida em centímetros. Com essas medidas, calcula-se o índice de gordura corporal 3: % gordura corporal = {[(CT÷ 0,7067) IMMP] ÷ 0,9156} - IMMP Apesar das poucas informações existentes sobre a relação entre a obesidade e a composição corporal nos felinos, dados importantes e experiências clínicas indicam que gatos com 30% ou mais de índice de gordura corporal podem ser considerados acima do peso ou obesos. Os gatos com índice de gordura corporal entre 30% e 10% são considerados de peso normal ou não obesos 3. Outro método usado para a determinação da obesidade em gatos é a avaliação da condição do escore corporal com o auxílio do diagrama de silhuetas 13. Alguns autores utilizam a classificação de 1 a 9 5,7 (classificação 1 da figura 1), enquanto outros trabalham de modo mais simplificado, classificando o escore de 1 a 6 (classificação 2 da figura 1) 11,26. No entanto, como estas avaliações requerem habilidade na palpação das costelas 5, elas são subjetivas 13. A dosagem de leptina sérica por meio da técnica de radioimunoensaio (RIA) tem sido realizada por pesquisadores, para a detecção de obesidade em gatos 14. Em gatos obesos, as concentrações desse hormônio apresentam-se aumentadas e naqueles com baixo peso corporal estão diminuídas 30. Em experimento cuja amostra era constituída por 16 gatos, verificou-se aumento de três vezes no valor da leptina após o período de 10
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meses de programa de ganho de peso 14. As concentrações desse hormônio podem ser determinadas com o auxílio de kit comercial humano de RIA 13,14. Além desse método, o ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) também foi usado com sucesso 13. Os valores de concentração sérica da leptina felina considerados normais variam de 3,19 a 19,81ng/dL HE 14. Embora ainda não aplicada comumente na rotina clínico-veterinária 3, a absormetria por dupla emissão de raios-X pode ser usada para estimar a quantidade Grau Classificação 1 1 caquético
de gordura corporal 3,14. Por outro lado, a utilização da radiografia simples somente ajuda na diferenciação entre obesidade e aumento do volume abdominal por outras causas – como organomegalia e neoplasia intra-abdominal, por exemplo 10. Independentemente do método escolhido para a identificação da obesidade, é de suma importância que o clínico indague o proprietário sobre o regime alimentar do gato. Portanto, informações sobre o tipo de dieta 9,20,21, a quantidade de alimento consumida 9,20, a freqüência
Classificação 2 caquético
1,5
caquético/muito magro
-
2
muito magro
2,5
muito magro/magro
3
magro
3,5
magro/abaixo do peso
4
abaixo do peso
4,5
abaixo do peso/ideal
5
ideal
5,5
ideal/acima do peso
6
acima do peso
6,5
acima do peso/pesado
-
7
pesado
-
7,5
pesado/obeso
-
8
obeso
-
8,5
obeso/extremamente obeso
-
9
extremamente obeso
-
magro otimamente magro peso ótimo acima do peso
obeso
das refeições 5,6,10, o oferecimento de petiscos 6,10 e a rotina de atividade do animal devem ser explicitadas durante a anamnese 5,6,10. Conseqüências A despeito da etiologia, a obesidade pode comprometer a saúde e o bem-estar do animal 1,3,7,8. É possível observar, por exemplo, que gatos obesos apresentam maior dificuldade para realizar seus cuidados higiênicos por meio da lambedura e, portanto, são mais propensos ao desenvolvimento de alterações
Características Classificações 1 e 2: costelas visíveis; gordura não palpável; asa do íleo e vértebra lombar facilmente palpáveis Classificação 1: características entre 1e 2 Classificação 2: Classificaçãoes 1 e 2: costelas, vértebra lombar, asa do íleo e cintura óbvias Classificação 1: características entre 2 e 3 Classificação 2: Classificação 1: costelas facilmente palpáveis, com mínima cobertura de gordura; vértebra lombar e cintura óbvias; mínima gordura corporal Classificação 2: os ossos são distinguidos pela palpação Classificação 1: características entre 3 e 4 Classificação 2: Classificação 1: os ossos são distinguidos pela palpação Classificação 2: cintura observada após as costelas, que são palpáveis, com leve cobertura de gordura; mínimo ou nenhum volume abdominal Classificação 1: características entre 4 e 5 Classificação 2: Classificação 1: cintura observada após as costelas, que são palpáveis, com leve cobertura de gordura; mínimo ou nenhum volume abdominal Classificação 2: costelas geralmente palpáveis, com moderada cobertura de gordura; cintura presente mas menos definida; presença de mínimo volume abdominal Classificação 1: características entre 5 e 6 Classificação 2: Classificação 1: costelas geralmente palpáveis, com moderada cobertura de gordura; cintura presente mas menos definida; presença de mínimo volume abdominal Classificação 2: costelas não facilmente palpáveis, com grande depósito de gordura; não há cintura; abdome muito saliente; grande depósito de gordura no abdome Classificação 1: características entre 6 e 7 Classificação 2: Classificação 1: costelas não facilmente palpáveis, com moderada camada de gordura; cintura dificilmente visualizada; arredondamento óbvio do abdome; moderada gordura abdominal Classificação 2: Classificação 1: características entre 7 e 8 Classificação 2: Classificação 1: costelas não facilmente palpáveis, com grande depósito de gordura; não há cintura; abdome muito saliente; grande depósito de gordura no abdome Classificação 2: Classificação 1: características entre 8 e 9 Classificação 2: Classificação 1: costelas não palpáveis, com grande camada de gordura; muita gordura depositada no abdome, na área lombar, na face e nos membros; abdome muito distendido e penduloso Classificação 2: -
Figura 1 - Classificações de escore corporal e suas características 5,7,11,26
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É mais provável que a obesidade seja conseqüência, e não a causa, dos distúrbios respiratórios, devido à pouca resistência ao exercício 16. No âmbito da medicina veterinária, alguns autores apontam a obesidade como um fator complicador de doenças respiratórias 5,10,19. Nos animais obesos, as restrições do volume pulmonar decorrentes dos depósitos de gordura intratorácica – assim como o deslocamento cranial do diafragma pela gordura abdominal – podem causar redução da capacidade pulmonar 19. Tratamento Antes de qualquer planejamento de redução de peso em gatos, é importante que o proprietário reconheça a necessidade de implementar ações voltadas a esse fim 5 e participe ativamente do programa, o que inclui a eliminação da oferta de guloseimas 5,10. O tratamento da obesidade requer o aumento do gasto energético e/ou a restrição de calorias ingeridas 4, mas o último método é o ponto principal para se alcançar o objetivo 10,13. As dietas restritas em energia, como aquelas com pouca gordura e/ou muita fibra, podem resultar em perda de peso, mas freqüentemente promovem diminuição de massa magra, e o ideal é que isso não ocorra. Muitas dessas dietas que contêm alta concentração de fibra insolúvel aumentam o bolo fecal por meio da absorção de água, aumentando o risco de desidratação em gatos que não ingerem quantidade suficiente de água 8. Para obter perda de peso em gatos, tentou-se utilizar uma dieta com alto teor protéico e baixa quantidade de carboidratos, o que resultou em redução satisfatória do peso, sem grande perda de massa magra 8. Já o oferecimento de menor quantidade de ração comum não é aconselhável pois pode causar deficiências nutricionais 4,5 e, ainda, prolongar a duração do programa de redução de peso, causando frustração ao proprietário e, conseqüentemente, o abandono prematuro do programa 5. Dentre as diferentes dietas experimentadas algumas obtiveram sucesso, como aquelas constituídas por grande quantidade de fibras e baixo teor de gordura, por pouca quantidade de fibras e pouca gordura, e – até mesmo – por alto teor de gordura e muita proteína 5. Entretanto, há que destacar que as 48
rações formuladas para filhotes – que contêm 45 a 55% de proteína, 8 a 15% de amido, 15 a 25% de gordura e menos de 1% de fibra – são as que mais se aproximam da dieta ideal para o gato. Além disso, são altamente benéficas para gatos com diabetes, diminuindo a hiperglicemia pós-prandial e, muitas vezes, resultando em redução de mais de 50% na quantidade de insulina requerida para o tratamento da doença em certos casos 8. A dieta voltada à redução de peso deve ser palatável 5,12 para que seja aceita pelo gato, e sua ingestão deve ser constantemente monitorada a fim de evitar a ocorrência de lipidose hepática 2,6,28. É importante esclarecer que a rápida perda de peso, além de predispor à lipidose hepática 2,10,15,26,28, também pode promover maior perda de massa magra 2,3,13,28,43, o que não é desejável 2,3,43 pois a perda de tecido funcional precisará ser reconstruída 2,43. Na verdade, a perda de massa magra juntamente com a perda de gordura é fisiológica, mas os aspectos efetivamente relacionados à maior diminuição de massa magra são o índice corporal de gordura inicial e o grau de restrição calórica. Assim, quanto mais gordo for o gato, menor perda de massa magra sofrerá quando da perda de gordura, e quanto maior for a restrição calórica, maior quantidade de massa magra será perdida 43. A adoção de dieta com restrição energética moderada – composta por aproximadamente 60% da manutenção calórica diária exigida 3,4,10,27 – durante um período de 18 semanas faz com que o gato perca cerca de 1% de peso por semana, com diminuição de 90% de gordura e de somente 8% de massa magra, o que é considerado ideal. No entanto, quando a restrição energética é aumentada – com oferta de somente 45% da manutenção exigida –, obtém-se perda de peso de aproximadamente 1,3% em 18 semanas, com diminuição de 18% de massa magra e de somente 80% de gordura 3,27. Alguns programas de emagrecimento estipulam a restrição calórica ideal ao redor de 75% 1,44 da manutenção exigida, outros determinam que 85% de restrição calórica é mais seguro 44, enquanto outros preferem o cálculo de ingestão de 40kcal para cada quilograma de massa magra por dia 6. O que se nota é que os índices adequados de restrição calórica
variam de indivíduo para indivíduo 1. A maioria dos cálculos é baseada no peso corporal ótimo estimado 1, mas alguns utilizam como parâmetro o peso corporal do animal ao início do programa. No entanto, deve-se destacar que qualquer cálculo é somente o ponto inicial do programa, e deve ser conduzido de acordo com a quantidade de calorias que o gato obeso ingere normalmente 1,6. Em investigação relacionada ao assunto objeto deste artigo, os autores obtiveram perda de 25 a 30% do peso corporal de gatos obesos em sete a nove semanas, sem que ocorresse lipidose hepática 12 . É importante ressaltar que não se deve diminuir em mais de 50% as calorias que o gato ingere habitualmente 6. A ingestão calórica calculada deve ser oferecida em duas ou três refeições, embora a alimentação contínua possa ser aceitável desde que não sejam ultrapassadas as necessidades diárias calculadas 10. Um aspecto que, ao que tudo indica, tem grande importância na eficiência de programas de perda de peso é a suplementação com carnitina 8,10,30,44. Isto porque há indicações de que a carnitina aumentaria o metabolismo dos lipídios e que, na sua ausência, haveria menor oxidação de ácidos graxos, promovendo maior acúmulo de lipídios nos tecidos 30,44. Ainda assim, não se tem observado qualquer deficiência desse nutriente nos gatos obesos 8. A L-carnitina tem sido usada com bons resultados por pessoas obesas, pois otimiza a oxidação dos ácidos graxos em fase de redução de peso, e por atletas em competição, para a manutenção da massa magra. Em experimento realizado com 28 gatos, foram administrados 250mg/gato de L-carnitina por via oral, em intervalos de 24 horas durante as 18 semanas do programa de emagrecimento, e verificou-se que os animais que receberam essa suplementação emagreceram mais rapidamente. No entanto, como nesse estudo não foi realizada análise de composição corporal, não foi possível verificar se a L-carnitina possibilitou o emagrecimento de forma ideal, ou seja, com maior perda de gordura e menor perda de massa magra 44. Outros nutrientes, como a vitamina A e o crômio, têm sido utilizados experimentalmente, e os resultados indicam que tais substâncias podem ajudar a evitar o ganho de peso, ou mesmo contribuir para
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predisposto, para estimulá-lo a implementar um programa de redução de peso eficaz quando preciso, e até mesmo para que ele evite que esse ponto crítico seja atingido. Referências 01-BAUER, J. E. Guidelines for obesity management in companion animals. The Veterinary Quarterly, v. 20, n. 1, p. 72-73, 1998. 02-BUTTERWICK, R. F.; WILLS, J. M.; SLOTH, C.; MARKWELL, P. J. A study of obese cats on a calorie-controlled weight reduction programme. The Veterinary Record, v. 134, p. 372-377, 1994. 03-BUTTERWICK, R. F. How fat is that cat? Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 2, n. 2, p. 91-94, 2000. 04-CASE, L. P.; CAREY, D. P.; HIRAKAWA, D. A. Nutrição Canina e Felina. 1. ed. Madrid: Harcourt Brace, 1998. Desenvolvimento e tratamento da obesidade. p. 247-267. 05-CONNALLY, H. E. Obesity and polyphagia. In: LAPPIN, M. R. Feline Internal Medicine Secrets. 1. ed. Philadelphia: Hanley & Belfus, 2001. p. 311-313. 06-BUFFINGTON, C. A. T. Nutritional diseases and nutritional therapy. In: SHERDING, R. G. The Cat: Diseases and Clinical Management. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1994. v. 1, p. 172-176. 07-RUSSEL, K.; SABIN, R.; HOLT, S.; BRADLEY, R.; HARPER, E. J. Influence of feeding regimen on body condition in the cat. Journal of Small Animal Practice, v. 41, n. 1, p. 12-17, 2000. 08-ZORAN, D. L. The carnivore connection to nutrition in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 221, n. 11, p. 1559-1565, 2002. 09-ALLAN, F. J.; PFEIFFER, D. U.; JONES, B. R.; ESSLEMONT, D. H. B.; WISEMAN, M. S. A cross-sectional study of risk factors for obesity in cats in New Zealand. Preventive Veterinary Medicine, v. 46, n. 3 p. 183-196, 2000. 10-CRYSTAL, M. A. Obesidade. In: NORSWORTHY, G. D.; CRYSTAL, M. A.; GRACE, S. F.; TILLEY, L. P. O Paciente Felino. 2. ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 87-89. 11-SCARLETT, J. M.; DONOGHUE, S. Associations between body condition and disease in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 212, n. 11, p. 1725-1731, 1998. 12-SZABO, J.; IBRAHIM, W. H.; SUNVOLD, G. D.; DICKEY, K. M.; RODGERS, F. B.; TOTH, I. E.; BOISSONNEAULT, G. A.; BRUCKNER, G. G. Influence of dietary protein and lipid on weight loss in obese ovariohysterectomized cats. American Journal of Veterinary Research, v. 61, n. 5, p. 559-565, 2000. 13-SHIBATA, H.; SASAKI, N.; HONJOH, T.; OHISHI, I.; TAKIGUCHI, M.; ISHIOKA, K.; AHMED, M.; SOLIMAN, M.; KIMURA, K.; SAITO, M. Feline leptin: immunogenic and biological activities of the recombinant protein, and its measurement by ELISA. Journal of Veterinary Medical Science, v. 65, n. 11, p. 1207-1211, 2003. 14-APPLETON, D. J.; RAND, J. S.; SUNVOLD, G. D. Plasma leptin concentrations in cats: reference range, effect of weight gain and
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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Meningoencefalomielite granulomatosa em cães
Raquel Rubia Rech MV, doutoranda - Depto. Patologia - UFSM keka_rrr@yahoo.com.br
Marcia Cristina da Silva MV, doutoranda - Depto. Patologia - UFSM mctogni@yahoo.com.br
Granulomatous meningoencephalomyelitis in dogs
Soraia Figueiredo de Souza MV, mestranda - Depto. Clín. Peq. An. - UFSM soraiasouza@yahoo.com
Alexandre Mazzanti
Meningoencefalomielitis granulomatosa en perros
MV, dr., prof. adj. - UFSM mazzal@smail.ufsm.br
Glaucia Denise Kommers MV, PhD, profa. adj. - Depto. Patologia - UFSM glaukommers@yahoo.com
Resumo: Meningoencefalite granulomatosa (MEG) é uma doença inflamatória esporádica e idiopática do sistema nervoso central de cães. Tem sido descrita freqüentemente em fêmeas adultas jovens de raças de pequeno porte. As lesões são classificadas como disseminada, focal e ocular. Caracterizam-se histologicamente por infiltrado mononuclear e reação granulomatosa dispostos de forma angiocêntrica, principalmente no tronco encefálico, no cerebelo e na medula espinhal. Os sinais clínicos estão relacionados com o local da lesão no sistema nervoso central (SNC). No presente estudo são descritos três casos de MEG, com os sinais clínicos correlacionados à distribuição histomorfológica das lesões no SNC. No diagnóstico diferencial são mencionadas as principais encefalites infecciosas e ligadas a raças, descritas em cães. Unitermos: Neuropatologia, sistema nervoso central, encefalite
Dominguita Lühers Graça MV, PhD, profa. tit. - Depto. Patologia - UFSM dlgraca@smail.ufsm.br
Claudio Severo Lombardo de Barros MV, PhD, prof. tit. - Depto. Patologia - UFSM
Abstract: Granulomatous meningoencephalitis (GME) is a sporadic, idiopathic inflammatory disease of the central nervous system of dogs. It is often described in young adult small breed bitches. Lesions are classified as disseminated, focal and ocular. They are histologically characterized by mononuclear infiltrates and a granulomatous reaction around blood vessels mostly in the brain stem, cerebellum and spinal cord. Clinical signs are related to the site of the lesion in the central nervous system. In the present study, three cases of GME are described, correlating the clinical signs to the histomorphological distribution of the lesions in the central nervous system. The main infectious encephalitides and breed-related diseases are mentioned in the differential diagnosis. Keywords: Neuropathology, central nervous system, encephalitis
claudioslbarros@uol.com.br
Resumen: La meningoencefalitis granulomatosa (MEG) es una enfermedad inflamatoria esporádica e idiopática del sistema nervioso central de perros. Ha sido descripta frecuentemente en hembras adultas jóvenes de razas pequeñas. Las lesiones son clasificadas como diseminada, focal y ocular y se caracterizan histológicamente por un infiltrado mononuclear y granulomas dispuestos de forma angiocéntrica, principalmente en el tronco encefálico, cerebelo y médula espinal. Los signos clínicos están relacionados con el local de la lesión en el sistema nervioso central. Son descriptos tres casos de MEG, con correlación de los signos clínicos con la distribución histomorfológica de las lesiones en el sistema nervioso central. En el diagnóstico diferencial son mencionadas las principales encefalitis infecciosas y ligadas a razas, descriptas en perros. Palabras clave: Neuropatología, sistema nervioso central, encefalitis
Clínica Veterinária, n. 68, p. 52-58, 2007
Introdução A meningoencefalite granulomatosa (MEG) é uma doença inflamatória descrita em diversas espécies domésticas, incluindo caninos, felinos, eqüinos e bovinos 1,2. Apresenta maior prevalência em cães adultos de três a seis anos de idade, com predileção por fêmeas de raças pequenas, principalmente terriers e poodles 2,3,4. Atualmente, a denominação MEG designa a forma inflamatória da reticulose, que inclui três processos patológicos: reticulose inflamatória, reticulose neoplásica e microgliomatose 2,5. A MEG representa de 5 a 25% dos distúrbios neurológicos em cães e é classificada em três formas, de acordo com a distribuição das lesões no sistema nervoso central (SNC): disseminada (a mais freqüente), focal e ocular 6,7. Os sinais clínicos têm aparecimento abrupto, 52
evolução que oscila de dias a poucos meses e estão intimamente relacionados à localização das lesões. Déficits das funções do tronco encefálico, do cerebelo e da medula espinhal são os mais comuns 2,6. Na forma disseminada os sinais clínicos aparecem subitamente, sugerindo lesões multifocais e rapidamente progressivas. A forma focal produz sinais clínicos sugestivos de uma única lesão com início insidioso e progressão lenta, e geralmente se localiza no tronco encefálico e na substância branca subcortical 7,8. A forma ocular é caracterizada pelo surgimento agudo de midríase que não responde a estímulo luminoso, atribuída à neurite óptica 4. As lesões são localizadas predominantemente na substância branca do tronco encefálico, do cerebelo e da medula espinhal e podem se estender às
leptomeninges 1,2,8. Recentemente, foi descrito um caso de MEG com acentuado envolvimento do sistema nervoso periférico, com denervação e atrofia muscular secundária 8. Histologicamente, a MEG é caracterizada por infiltrado perivascular de linfócitos, plasmócitos, macrófagos, raramente neutrófilos e granulomas no neurópilo 1,2. Um achado característico é a diferenciação epitelióide do componente histiocítico, que por vezes forma ninhos dentro do manguito perivascular. Embora a causa da MEG seja desconhecida 9, há evidências de que uma reação auto-imune (hipersensibilidade do tipo IV) esteja envolvida na patogênese da doença 3,10. Ainda que o diagnóstico definitivo de MEG seja possível apenas por exame histopatológico pós-morte ou por biópsia 11, a tomografia computadorizada
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Cãp Raça Idadf Sfxp 1 maltês 4 anos fêmea
3
SRD = sem raça definida
Figura 1 - Dados gerais e sinais clínicos de três cães com meningoencefalomielite granulomatosa
como acentuadas quando compostas de manguitos perivasculares linfoplasmocitários, constituídos por mais de seis camadas de células, com grandes granulomas, astrocitose e desmielinização da substância branca; como moderadas quando havia duas a seis camadas de células inflamatórias perivasculares, pequenos granulomas, astrocitose e malacia focal; e como leves quando
Figura 3 - Vista medial do encéfalo de cão com a demarcação dos locais para exame histológico. 1) bulbo na altura do óbex; 2) cerebelo; 3) ponte com pedúnculos cerebelares; 4) mesencéfalo na altura dos colículos rostrais; 5) diencéfalo através da massa intermédia e córtex parietal; 6) lobo frontal na altura do joelho do corpo caloso e dos núcleos da base Marcia Cristina da Silva
2
Curtp cmínicp Sinait cmínicpt eutanásia após 1 mês anorexia, apatia, tremores musculares, ataxia, ptose palpebral esquerda e inclinação da cabeça para o mesmo lado, trismo mandibular e rigidez cervical SRD 4 anos fêmea eutanásia após 23 dias andar em círculo e cabeça inclinada, ambos para o lado direito (Figura 2). Sonolência, reação de ameaça hiporreativa no lado esquerdo, estrabismo ventromedial, crises convulsivas e paralisia facial unilateral direita poodle 1 ano fêmea eutanásia após 3 meses crises convulsivas, sonolência, ataxia dos membros pélvicos, opistótono intermitente com dor à palpação na região cervical e reflexos espinhais torácicos e pélvicos aumentados
Figura 2 - Sinais clínicos, cão 2. Meningoencefalomielite granulomatosa. Inclinação da cabeça para o lado direito
Raquel Rubia Rech
Relato dos casos Os dados referentes à raça, à idade, ao sexo e aos sinais clínicos dos três cães afetados por MEG estão sumarizados na figura 1. Hemograma, radiografias da região cervical (cães 2 e 3) e da bula timpânica (cão 3) e análise do líquor (cães 2 e 3) estavam dentro dos parâmetros normais, exceto o exame do líquor do cão 3, que revelou 250 mg/dL de proteína com contagem celular que evidenciava pleocitose (52 células/mm3) com 100% de linfócitos. Todos os cães foram tratados com antiinflamatórios esteroidais. O cão 1 foi tratado com 4,6mg.kg-1 de dexametasona. O cão 2 foi tratado com 2mg.kg-1 de prednisolona por via oral, a cada 24 horas durante sete dias, e o cão 3 foi tratado com 1mg.kg-1 de prednisolona por via oral, a cada 12 horas. Após o tratamento, os cães apresentaram considerável melhora do quadro clínico, mas aproximadamente 15 dias após a interrupção
da corticoterapia, os sinais clínicos de distúrbios nervosos retornaram. Em virtude da deterioração do quadro clínico, os proprietários optaram pela eutanásia. No encéfalo do cão 2 foram observados macroscopicamente pontos cinzapálidos multifocais na substância branca do mesencéfalo e da ponte. No cão 3 observaram-se dilatação dos ventrículos laterais e do aqueduto mesencefálico, e uma área cinza-pálida na porção ventral e lateral dos colículos caudais do mesencéfalo. Os achados macroscópicos extraneurais foram inespecíficos em todos os casos. Fragmentos representativos de diversos órgãos, incluindo o encéfalo e a medula espinhal, foram coletados, fixados em formol a 10%, clivados e processados rotineiramente para histopatologia. Após a fixação, os seguintes fragmentos do encéfalo foram selecionados para exame histológico (Figura 3): (1) bulbo na altura do óbex; (2) cerebelo; (3) ponte com pedúnculos cerebelares; (4) mesencéfalo na altura dos colículos rostrais; (5) diencéfalo através da massa intermédia e córtex parietal e (6) lobo frontal na altura do joelho do corpo caloso e dos núcleos da base. A medula espinhal foi seccionada em três regiões: intumescência cervical, medula espinhal torácica e intumescência lombar. Em cada um desses locais, a intensidade da lesão foi classificada como acentuada, moderada, leve ou ausente e foi estabelecida a porcentagem de envolvimento da substância branca e cinzenta. As lesões foram classificadas
Alexandre Mazzanti
(TC) e a ressonância magnética (RM) podem ser empregadas no diagnóstico presuntivo da doença 11,12,13. Na TC, são observadas áreas de contraste aumentadas, com margens da lesão indefinidas 13. Na RM, as lesões são caracterizadas por uma hiperintensidade em T2 e intensidades variadas em T1 14. Em alguns cães, observa-se hidrocefalia secundária 13. O presente trabalho apresenta a descrição de três casos de MEG, e correlaciona os sinais clínicos à distribuição das lesões histológicas no sistema nervoso central.
Figura 4 - Mesencéfalo na altura dos colículos rostrais (pedúnculo cerebral), aspecto histológico, cão 2. Meningoencefalomielite granulomatosa. Acentuados manguitos perivasculares constituídos por numerosos macrófagos epitelióides e linfócitos na substância branca. Aumento 250x
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
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Área do encéfalo Bulbo na altura do óbex Cerebelo Ponte na altura dos pedúnculos cerebelares Mesencéfalo na altura dos colículos rostrais Diencéfalo através da massa intermédia Córtex telencefálico occipital Córtex telencefálico sobre o tálamo Córtex telencefálico frontal Núcleos da base Intumescência cervical Medula espinhal torácica Intumescência lombar
cão 1 +++ + ++ ++ + ++ + + o ++ + +
cão 2 +++ ++ ++ +++ o o o o o o o o
cão 3 + o +++ +++ + o ++ o o o + +
o = ausente, + leve, ++ moderada, +++ acentuada
Figura 5 - Distribuição e intensidade das lesões no encéfalo e medula espinhal de três cães com meningoencefalomielite granulomatosa
Histologicamente, nos três casos, a lesão foi caracterizada por infiltrado perivascular multifocal, composto predominantemente por linfócitos e alguns plasmócitos, e ninhos multifocais de macrófagos epitelióides na substância
Raquel Rubia Rech
constituídas por uma a duas camadas de células e formação incipiente de granuloma no neurópilo. O infiltrado nas leptomeninges foi classificado de forma similar à aplicada aos manguitos perivasculares.
Figura 6 - Representação esquemática da média de intensidade da lesão e tipo de infiltrado inflamatório nos cortes obtidos das seções do encéfalo e da medula espinhal dos três casos de meningoencefalomielite granulomatosa. A) intumescência lombar; B) medula espinhal torácica; C) intumescência cervical; 1) bulbo na altura do óbex; 2) cerebelo; 3) ponte com pedúnculos cerebelares; 4) mesencéfalo na altura dos colículos rostrais; 5) tálamo e córtex parietal; 6) córtex frontal e núcleos da base. = granuloma ∆ = manguitos mononucleares SB = substância branca SC = substância cinzenta
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branca e ao redor de vasos (Figura 4). O mesmo tipo de células inflamatórias foi encontrado nas leptomeninges. No interior de alguns granulomas foram observadas algumas células gigantes multinucleadas do tipo Langhans. Parte de alguns desses granulomas era substituída por tecido conjuntivo e evidenciavase desmielinização ao redor dos granulomas e dos manguitos perivasculares mononucleares. Essas lesões apresentavam intensidade variável de acordo com os locais do encéfalo e da medula espinhal examinados (Figura 5). Na figura 6 estão representados os locais das lesões e a porcentagem de substância branca e cinzenta envolvida em cada um dos cortes examinados. Colorações histoquímicas adicionais, como ácido periódico de Schiff (PAS) e impregnação pela prata (GMS), foram realizadas em seções com lesão acentuada, para descartar a possibilidade da presença de fungos no interior dos granulomas. O resultado foi negativo nos três casos. Discussão Todos os três cães apresentaram sinais clínicos evidentes de envolvimento do sistema nervoso central. A idade (1-4 anos), a predisposição racial (raças de pequeno porte) e a predisposição pelo sexo (feminino) foram semelhantes àquelas descritas em outros estudos sobre MEG 1,4,6,15. Os sinais clínicos foram variáveis e caracterizaram a forma disseminada da doença, o que foi confirmado histologicamente. Em casos de envolvimento multifocal, os sinais clínicos refletem diversas síndromes (da medula espinhal, do tronco encefálico e cerebral) e incluem incoordenação, ataxia, dor cervical, balançar da cabeça, nistagmo, paralisia do nervo facial e/ou trigeminal, andar em círculos, convulsões e depressão 1. A maioria dos sinais clínicos acima citados foram observados nos três cães deste relato, mas predominaram aqueles relacionados ao envolvimento do tronco encefálico, do cerebelo e da medula cervical (Figura 1). Diversos estudos indicam que o exame do líquor é o método auxiliar mais indicado para confirmar o diagnóstico de MEG 6,10,15,16. Pleocitose mononuclear ocorreu somente no cão 3. Contudo, a falta de hiperproteinemia não
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exclui o diagnóstico de MEG, como observado em outros relatos 9 e no cão 2, em que o resultado da análise do líquor ficou dentro dos parâmetros normais. Valores resultantes da análise do líquor podem ser normais quando a inflamação é intraparenquimal e após a administração de corticóide 17. Outros exames complementares como hemograma, testes bioquímicos e radiografias do crânio e da coluna vertebral comumente não apresentam alterações e o eletroencefalograma geralmente é inespecífico 1. Ressonância magnética e tomografia computadorizada podem ser ferramentas no diagnóstico quando a lesão é focal e pode ser vista macroscopicamente, ou seja, quando ela ocupa espaço 10, mas deve ser diferenciada de neoplasia 18. Na maioria das vezes é difícil estabelecer clinicamente o diagnóstico conclusivo de MEG 17. Macroscopicamente, as lesões podem estar ausentes, e quando presentes, na maioria das vezes, são discretas 6. Dessa forma, a análise representativa das diversas áreas do encéfalo e da medula espinhal, com a realização de cortes transversais seriados em intervalos de 0,5-1cm – que são examinados em ambas as faces –, pode revelar lesões cinza-amareladas com margens indefinidas e aspecto granular 1. Nos casos aqui descritos, as lesões macroscópicas da superfície de corte do encéfalo foram compatíveis aos locais em que a lesão microscópica angiocêntrica foi mais acentuada (Figura 5). As meninges podem estar opacas e espessas, e hidrocefalia interna pode estar presente em alguns casos 1, como observado no cão 3. Nesse caso, a hidrocefalia é decorrente do infiltrado granulomatoso nas leptomeninges, que não permite a drenagem do líquor para o sistema venoso por meio dos vilos da aracnóide 19. Histologicamente, as lesões típicas de MEG aqui descritas são consistentes com as de outros relatos para a doença 1,2. O diagnóstico e a forma da doença (disseminada, focal ou ocular) são firmados pelo exame histológico do encéfalo e da medula espinhal. Como mencionado anteriormente, macrófagos epitelióides e linfócitos foram predominantes, mas a porcentagem dessas células é variável. Um estudo imunomorfológico sugere que essas células consistem de uma população heterogênea de macrófagos ativados, com forte expressão do complexo 56
maior de histocompatibilidade (MHC) da classe II e linfócitos CD3 3. Isso corrobora a possível reação de hipersensibilidade do tipo IV recentemente proposta para essa doença. Outro estudo imunohistoquímico revelou expressiva reação astrocitária, associada com aumento do número de células anti-IgG e anti-IgM 20. A distribuição histomorfológica permitiu a correlação com a maioria dos sinais clínicos observados. Por exemplo, nos cães 2 e 3, as lesões unilaterais moderadas e acentuadas na ponte e no mesencéfalo, respectivamente, foram ipsilaterais aos sinais de ptose palpebral, paralisia facial e inclinação da cabeça. Esses sinais se manifestaram provavelmente devido à extensão da lesão aos núcleos de nervos cranianos que se localizam nessa área (nervos VI, VII e VIII) 19. Histologicamente, não havia lesão no pericário dos neurônios, mas a desmielinização ao redor dos manguitos e granulomas sugere lesão axonal e explica a presença desses sinais clínicos. Em todas as seções examinadas, a lesão foi mais acentuada na substância branca (Figura 5), característica descrita também por outros autores 1,9 e que pode ser correlacionada com o curso crônico da doença, já que nos cães deste relato, apesar da corticoterapia, foi realizada eutanásia após algumas semanas até três meses do início dos sinais clínicos (Figura 1). Em um estudo que avaliou o perfil eletroforético do líquor, foi sugerido que a produção de imunoglobulina pode representar uma resposta imunomediada e caracterizar um curso clínico crônico para alguns casos de MEG 6. O estudo histológico também permitiu diferenciar a MEG de outras doenças inflamatórias. Em cães, encefalite e meningite são as doenças mais comuns que resultam em sinais multifocais do sistema nervoso central 2,17. Causas infecciosas comuns incluem cinomose, toxoplasmose, neosporose, infecções fúngicas como criptococose, blastomicose, coccidiomicose, candidíase e aspergilose e infecções por algas saprófitas como prototecose 5,17,21. Nesse estudo, não foram encontrados cistos de protozoários, inclusões virais ou estruturas intralesionais morfologicamente compatíveis com fungos ou algas nas seções coradas com H&E, PAS ou GMS. Tem sido postulado que a MEG pode ser
conseqüência da infecção pelo vírus da cinomose; contudo, estudos imunohistoquímicos não detectaram o antígeno viral de cinomose no SNC de cães afetados 3. Adicionalmente, por meio da técnica de PCR, não foi detectado ácido nucléico de herpesvírus, adenovírus ou parvovírus em tecidos emblocados em parafina de seções de encéfalo de cães afetados 22. Condições inflamatórias em que agentes etiológicos não têm sido descritos incluem aquelas de origem imunomediada e encefalites associadas a raças 5. Essas encefalites são diferenciadas de MEG sob diversos aspectos, como raça, local e tipo de lesão. A mais prevalente delas é a meningoencefalite necrosante, que ocorre principalmente em cães da raça pug, mas também pode acometer malteses e yorkshire terriers e se carateriza por infiltrado mononuclear com malacia localizada predominantemente no córtex telencefálico 23,24,25,26. Outras meningoencefalites associadas a raças incluem meningoencefalite eosinofílica idiopática que acomete rottweilers e golden retrievers, meningite supurativa dos cães montanhês-deBerna 27, leptomeningite granulomatosa dos beagles 28 e meningoencefalite nãosupurativa dos greyhounds 23. Condições neoplásicas que devem ser diferenciadas microscopicamente de MEG incluem histiocitose central maligna, linfoma 29 e gliomatosis cerebri 30. Nesses casos, muitas vezes é necessário o uso da imunohistoquímica para marcar especificamente o tipo celular. Nos casos aqui observados, foi notável a melhora do quadro clínico após a corticoterapia. Embora com apenas três casos, esse dado permite sugerir que essa terapia possa ser útil no diagnóstico de MEG, já que cães com encefalites infecciosas apresentam piora dos sinais clínicos quando tratadas com corticóides 17. A rápida resposta clínica inicial à corticoterapia sugere um prognóstico mais favorável 31. Terapias adjuvantes podem ser usadas para aumentar a taxa de sobrevida de cães com MEG, como radioterapia, ciclosporina 32, procarbazina 33 e citosina arabinosida, potente antiinflamatório que ultrapassa a barreira hematoencefálica 16. O uso combinado de prednisona com citosina arabinosida tem sido adotado como terapia empírica quando a encefalite tem causa desconhecida, já que o diagnóstico definitivo
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de MEG pode ser feito apenas histologicamente. Nesses casos, o tempo de sobrevida dos cães foi de 531 dias 31. Mesmo assim, o prognóstico a longo prazo é desfavorável, porque a MEG é reconhecida como uma doença progressiva e fatal. A interrupção da corticoterapia é invariavelmente associada com rápida deterioração clínica 1,34, como observado nos três cães deste relato. Referências 01-BRAUND, K. G. Granulomatous meningoencephalomyelitis. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 186, n. 2, p. 138-141, 1985. 02-SUMMERS, B. A.; CUMMINGS, J. F.; DE LAHUNTA, A. Inflamatory diseases of the central nervous system. In: SUMMERS, B. A.; CUMMINGS, J. F.; DE LAHUNTA, A. Veterinary Neuropathology, Missouri: Mosby, 1995. p. 110-111. 03-KIPAR, A.; BAUMGÄRTNER, W.; VOGL, C.; GAEDKE, K.; WELLMAN, M. Immunohistochemical characterization of inflammatory cells in brains of dogs with granulomatous meningoencephalitis. Veterinary Pathology, v. 35, n. 1, p. 43-52, 1998. 04-MUÑANA, K. R.; LUTTGEN, P. J. Prognostic factors for dogs with granulomatous
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WINKLE,
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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Artrodese de joelho em cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus)
Anderson Coutinho da Silva MV, prof. - Universidade Metodista de São Paulo ad_couto@yahoo.com.br
Roberto Silveira Fecchio Médico veterinário colaborador - LOC/FMVZ/USP bob_vetmeto@hotmail.com
Marcelo da Silva Gomes
Arthrodesis of the knee in Bush dog (Speothos venaticus)
Médico veterinário - Zoológico Municipal SBC hardtgomes@uol.com.br
Celso Braga Sobrinho MV, prof. - Universidade Metodista de São Paulo
Artrodesis de rodilla en zorro vinagre (Speothos venaticus) Resumo: Uma fêmea de cachorro-do-mato-vinagre foi encaminhada ao hospital veterinário da Universidade Metodista de São Paulo com histórico de artrite crônica, sem melhora do quadro após tratamento com antiinflamatório não esteroidal e condroprotetores. O desvio do eixo articular e o início de anquilose pressionavam as estruturas adjacentes e promoviam dor crônica, excluindo o animal do manejo reprodutivo e diminuindo substancialmente sua qualidade de vida. Com a finalidade de realizar artrodese de joelho, excisaram-se os demais ligamentos, meniscos, cápsula articular e patela, proporcionando melhor abordagem das extremidades ósseas. Os ângulos de ostectomias das extremidades foram determinados com auxílio de goniômetro estéril em 140°. Em seguida, duas placas foram fixadas com o intuito de obter maior estabilidade. A colocação da segunda placa também proporcionou a diminuição das forças de tensão na articulação, reduzindo a probabilidade de eventuais problemas pós-cirúrgicos. Unitermos: Cirurgia, articulação Abstract: A female Bush dog was presented to the veterinary hospital of the University Metodista of São Paulo with report of chronic arthritis, with no improvement after treatment with non-steroidal anti-inflammatory drugs (AINEs) and chondroprotectors. The deviation of the joint axis and the beginning of the knee anchilosis pressed the adjacent structures and caused chronic pain, which prevented the animal from breeding and reduced its quality of life substantially. With the purpose of performing knee arthrodesis, the other ligaments, meniscuses, articular capsule and patella were removed, providing better approach of the extremities of shinbone and femur. The ostectomy angles of the extremities were established with the aid of a sterile goniometer at 140°. After this procedure, two plates were fixed to provide more stability. The placement of the second plate helped decrease joint tension forces, reducing the probability of eventual post-surgical problems. Keywords: Surgery, joint Resumen: Una hembra de zorro vinagre fue encaminada al hospital veterinario de la Universidad Metodista de São Paulo con una historia de artritis crónica, sin mejora del cuadro después de tratamiento con antiinflamatorio no esteroide y condroprotectores. La desviación del eje articular y el inicio de la anquilosis presionaban las estructuras adyacentes y promovían dolor crónico, excluyendo al animal del manejo reproductivo y disminuyendo sustancialmente su calidad de vida. Con la finalidad de realizar artrodesis de rodilla, se extirparon los demás ligamentos, meniscos, cápsula articular y patela, proporcionando mejor abordaje de las extremidades de tibia y fémur. Los ángulos de las ostectomias de las extremidades fueron determinados con ayuda de un goniómetro estéril en 140˚. En seguida, dos placas fueron fijadas para obtener más estabilidad. La colocación de la segunda placa también proporcionó una reducción de las fuerzas de tensión en la articulación, disminuyendo la probabilidad de eventuales problemas post-quirúrgicos. Palabras clave: Cirugía, articulación
Clínica Veterinária, n. 68, p. 59-62, 2007
Introdução A artrodese (ART) definitiva é indicada para as diferentes espécies de mamíferos terrestres, e consiste na união óssea de uma ou mais extremidades articulares, que elimina por completo o movimento articular. Essa técnica pode ser realizada com manobras cirúrgicas via implantes ortopédicos ou imobilização articular com pensos, que demandam mais tempo para a resolução do problema e requerem cuidados intensivos. A ART é indicada para reparar lesões irreversíveis, em detrimento a neurites ou neuromas periféricos irreparáveis clinicamente, tendinopatias crônicas ou traumáticas 1,2,3,4,5, luxações ou subluxações crônicas, fraturas intra-articulares e ruptura de ligamento(s) – que requerem cuidados e
observação porque geralmente evoluem para a osteoartrose (OA), a qual pode ser tratada com medicamentos alopáticos, medicina complementar ou intervenção cirúrgica. Para avaliar a OA, a tomada de radiografias é o procedimento mais rotineiramente utilizado, pois constitui um meio diagnóstico barato e não invasivo. Nos casos de OA, as imagens radiográficas possibilitam a observação de diminuição do espaço intra-articular, presença de esclerose óssea subcondral e neoformações ósseas, que originam osteófitos marginais. Clinicamente, os pacientes portadores de AO apresentam queixa de dor, rigidez e limitação progressiva dos movimentos, que evoluem para intervenção cirúrgica como a ART. 6,7,8,9,10,11,12,13,14,15
celso.sobrinho@metodista.br
Nilton Abreu Zanco MV, diretor - Curso de Medicina Veterinária Universidade Metodista de São Paulo nilton.zanco@metodista.br
Para a realização de uma ART bemsucedida, faz-se necessário cumprir alguns pré-requisitos 2, como verificar se o resto do membro envolvido e as articulações adjacentes mantêm-se funcionais 6,16. Além disso, deve-se determinar, no pré-operatório, a posição em que se pretende unir a articulação, que deve ser a mais funcional para o animal. Para tanto, o cirurgião deve considerar os três planos, a saber: ângulo de extensão ou flexão, grau de varo ou valgo e alinhamento rotacional ou axial apropriado 3,4,13,16,17,18. Os ângulos normais para as diferentes articulações constam da literatura especializada, mas o método mais simples para determinar o ângulo correto consiste em medir o membro normal oposto durante a sustentação do peso, por meio da utilização de um goniômetro 4,19. O tipo de fixação e a técnica cirúrgica devem ser avaliados criteriosamente, sendo desejável o emprego da remoção da cartilagem articular para que o contato ósseo aumente e a união óssea precoce seja facilitada 4,20. Entretanto, algumas complicações pós-cirúrgicas podem comprometer o sucesso de todo o procedimento. A principal delas consiste na quebra ou soltura dos implantes ortopédicos utilizados, que pode acontecer em virtude da inquietação de alguns animais, da falta de cuidados por parte do proprietário, da rejeição à liga do material, ou da falta de experiência do profissional. 4,20 A ART de joelho tem sido utilizada há mais de um século para o tratamento de afecções 21. O primeiro relato é creditado ao professor Albert em 10 de julho
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Roberto Silveira Fecchio
de 1878, em uma paciente de 15 anos portadora de poliomielite. Desde então, diversas técnicas cirúrgicas foram descritas em algumas espécies 22. Os principais objetivos da realização da técnica de ART são a identificação e a eliminação da causa primária de dor e instabilidade articular, a obtenção de fixação rígida do implante e a promoção do retorno da função do membro afetado. Para isso, a remoção de toda a cartilagem articular por curetagem ou ostectomia deve ser seguida por estabilização, revascularização tecidual e estimulação da formação de calo ósseo precoce, eventos importantes para o sucesso do procedimento 16,23. Figura 2 - Evidência radiográfica de artrose e anquilose
Roberto Silveira Fecchio
Figura 3 - Excisão da patela e ligamentos
Roberto Silveira Fecchio
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Figura 5 - Ostectomia da tíbia Roberto Silveira Fecchio
O animal apresentava os seguintes sinais clínicos: claudicação assimétrica, relutância em pular e exercitar-se, preferência por se manter deitada em vez de sentada ou em pé, mudança de atitude e vocalização exacerbada. Ao exame físico, foi possível constatar: articulação com edema firme (hipertrofia/fibroplasia dos tecidos conjuntivos), crepitação, diminuição da amplitude do movimento e atrofia muscular da região afetada. Ao exame radiográfico foram observados espessamento e opacificação da cápsula articular, esclerose óssea nas superfícies articulares de tíbia e fêmur, formações osteofíticas em face medial e lateral da articulação, fibrose tecidual, luxação de patela grau III e provável rompimento de ligamento cruzado cranial, além de lesões indicativas de anquilose (Figura 2).
Figura 4 - Utilização de goniômetro para determinação do ângulo de fusão Roberto Silveira Fecchio
Figura 1 - Espécime de cachorro-do-mato-vinagre
O desvio do eixo articular e o início de anquilose da articulação do joelho pressionavam as estruturas adjacentes e promoviam dor crônica, excluindo o animal do manejo reprodutivo e diminuindo substancialmente a sua qualidade de vida. Como a manutenção pós-cirúrgica é complicada em todo animal selvagem, preconizou-se a utilização de pinos cruzados e duas placas: uma cranial (compressiva) e outra medial (reconstrução) ao membro. Os demais ligamentos (cruzado caudal e patelar), meniscos, cápsula articular, patela e crista da tíbia (Figura 3) foram excisados para proporcionar melhor abordagem das extremidades da tíbia e do fêmur. Os ângulos de ostectomias das extremidades são importantes pois determinam o ângulo final de fusão, razão pela qual foram determinados com o auxílio de goniômetro estéril em 140° de angulação (Figura 4). Ambas as extremidades (tíbia e fêmur) foram ostectomizadas com o auxílio de cinzel (formão) e martelo (até atingir o osso subcondral)
Roberto Silveira Fecchio
Relato de caso Uma fêmea de cachorro-do-matovinagre (Speothos venaticus) (Figura 1) foi encaminhada ao hospital veterinário da Universidade Metodista de São Paulo com histórico de OA sem melhora do quadro clínico após o tratamento com antiinflamatório não esteroidal (AINE) e condroprotetores.
(Figura 5). A angulação correta da articulação foi estabilizada com a colocação de dois pinos de Steinmann cruzados (um desde o côndilo femoral medial até o córtex tibial lateral, e o outro desde o côndilo femoral lateral até o córtex tibial medial) (Figura 6), o que manteve o ângulo apropriado enquanto a placa era fixada. O músculo quadríceps foi elevado subperiostalmente para a aplicação da placa no córtex cranial do fêmur, e esta foi contornada sobre a tíbia. Em seguida, fixou-se a placa autocompressiva – de 2,7mm e 12 furos – na porção cranial do fêmur e da tíbia (abrangendo cerca de metade do comprimento de cada osso), utilizando 11 parafusos compressivos (2,7mm), com o objetivo de impedir as forças indesejáveis de curvatura cranial. Ao final, os pinos foram seccionados e recalcados para dentro das superfícies ósseas, visando proporcionar estabilização secundária. Com o intuito de obter maior estabilidade para impedir a força de rotação
Figura 6 - Estabilização da angulação por meio da utilização de pinos de Steinmann
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
em espécies selvagens. Além disso, os mecanismos neuro-endócrinos desencadeados pelo estresse da contenção física podem significar a morte do animal.
Roberto Silveira Fecchio
Figura 7 - Fixação das placas em ângulo reto entre si a) Maxicam 0,2% injetável, Ouro Fino Saúde Animal. Ribeirão Preto, SP
Resultados e discussão De acordo com os autores consultados, a fusão da articulação do joelho tem como objetivo primordial abolir por completo a dor decorrente da OA. As formas de estabilização adotadas no caso ora descrito se devem ao fato de o paciente ser um animal selvagem que, mesmo criado em cativeiro, tende a dificultar a manutenção pós-cirúrgica. Animais selvagens que necessitam de avaliação e cuidados médicos são usualmente sedados, o que aumenta o risco de morte principalmente quando esse ato é repetido diariamente, como no caso da retirada de fixadores e das trocas periódicas de bandagens; assim, optou-se pelo emprego de implantes que ficassem internos. O uso de duas placas associadas aos pinos cruzados reforça o propósito inicial, além de tentar evitar a ação de forças excessivas que possam
Roberto Silveira Fecchio
e curvatura láteromedial, uma segunda placa (de reconstrução) foi remodelada e fixada medialmente com oito parafusos (2,7 mm), ancorando os dois ossos envolvidos (fêmur e tíbia) (Figura 7). Para obtenção analgesia pós-operatória foi utilizado antiinflamatório não estereoidal a base de meloxican a (0,1mg/kg), SID, por via intra-muscular, durante três dias consecutivos. A aplicação dos fármacos durante o pós-operatório foi realizada por meio de dardos pneumáticos propelidos com auxílio de zarabatana, haja vista a impossibilidade de sucessivas contenções físicas, necessárias para a infusão de medicamentos
Figura 8 - Aspecto radiográfico do pós-cirúrgico imediato
ser aplicadas no local da ART em decorrência do intenso movimento sofrido no ponto quando o animal se levanta e se locomove (Figura 8). Os diâmetros dos implantes seguiram os mesmos critérios utilizados para pequenos animais 10,20, ou seja, considerouse o peso do animal, pois, embora a angulação também seja relatada na literatura, optou-se pela comparação com o membro contralateral. Essas escolhas se basearam na rotina médica de pequenos animais, uma vez que não há especificações técnicas para essa espécie de animal. A ausência de trabalhos voltados a esse tema faz com que o presente relato seja de grande importância para a
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espécie em questão, atualmente classificada como vulnerável à extinção pela IUCN (1990). O animal apresentou melhora do quadro clínico, sem complicações, dez dias após a cirurgia, e atingiu a completa união óssea em aproximadamente setenta dias. Ele passou a apresentar quadro comportamental compatível com excelente qualidade de vida, cessando as vocalizações, diminuindo a claudicação e passando a permitir a cópula, o que possibilitou seu retorno ao manejo reprodutivo. Conclusão A artrodese de joelho realizada em um só tempo – utilizando duas placas – é um método que promove a consolidação com segurança, sem os inconvenientes promovidos pelo grande volume dos fixadores externos. Esse resultado é de extrema importância para o manejo reprodutivo da espécie no Brasil, pois evitou novas contenções físicas e químicas para a retirada de fixadores e as trocas periódicas de bandagens. Dessa forma, promoveu-se o retorno imediato à qualidade de vida do animal, que passou a permitir a cópula, o que contribui para a conservação ex situ da espécie. Agradecimentos Ao médico veterinário Marco Antonio Leon Romàn, pós-graduando do Departamento de Cirurgia FMVZ-USP. Referências 01-DEE, J. F.; DEE, L. G.; EARLY, T. D. Tarsal
fractures, luxations and subluxations. In: BRINDER, W. O. B.; PRIEUR, W. D. Small animal manual of internal fixation. New York: Springer-Verlag, 1984. 02-EARLY, T. D.; DEE, J. F. Trauma to the carpus, tarsus and phalanges of dog and cats. Veterinary Clinics of North America, n. 10, p. 717, 1980. 03-FROST, W. W.; LUMB, W. V. Radiocarpal arthrodesis: a surgical approach to brachial paralysis. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 149, p. 1073, 1966. 04-LESSER, A. S. Artrodese. In: SLATTER D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1998. v. 2. p. 2228-2242. 05-TURNER, T. M.; LIPOWITZ, A. J. Artrodese. In: BOJRAB, M. J.; BIRCHARD, S. J.; TOMLINSON, J. L. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, 1996. p. 775-786. 06-ARNOCZKY, S. P. Pathomechanics of cruciate ligament and meniscal injuries. In: BOJRAB, M. J. Disease mechanisms in small animal surgery, 2. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. p. 764-776. 07-FIRTH, A. M.; HALDANE, S. L. Development of a scale to evaluate postoperative pain in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 214, p. 651-659, 1999. 08-FITCH, R. B.; MONTGOMERY, R. D.; MILTON, J. L.; GARRETT, P. D.; KINCAID, S. A.; WRIGHT, J. C.; TERRY, G. C. The intercondylar fossa of the normal canine stifle: an anatomic and radiografhic study. Veterinary Surgery, v. 24, n. 2, p. 148-155, 1995. 09-FULLER, R.; HIROSE-PASTOR, E. Osteoartrose. In: YOSHINARY, N. H.; BONFÁ, E. D. O. Reumatologia para o clínico. São Paulo: Roca, 2000, p. 139-148. 10-HULSE, D. A.; JOHSON, A. L. Artropatias. Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2005, p. 1017-1033. 11-INNES, J. F.; BARR, A. R. S.; SHARIF, M. Efficacy of oral calcium pentosan polysulphate for the treatment of osteoarthritis of the canine stifle joint secondary to cranial cruciate ligament deficiency. Veterinary Record, v. 146, n. 15, p. 433-437, 2000. 12-KIMURA, T.; NAKATA, K.; TSUMAKI, N.; MIYAMOTO, S.; MATSUI, Y.; EBARA, S.;
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Adrenalectomia para tratamento de tumor ou hiperplasia adrenal em furões (Mustela putorius furo): relato de nove casos (2003-2004) Adrenalectomy as treatment for tumor or adrenal hyperplasia in ferrets (Mustela putorius furo): nine case reports (2003-2004) Adrenalectomia para tratamiento de tumor o hiperplasia adrenal en hurones (Mustela putorius furo): relato de nueve casos (2003-2004) Resumo: A crescente importação de furões tem mostrado a necessidade de compreender melhor as moléstias que os acometem, sobretudo a doença de adrenal, que tem sido diagnosticada com freqüência. Tal doença é observada em animais de meiaidade a mais velhos e caracteriza-se por perda de pêlo e prurido, em ambos os sexos, e edema de vulva em fêmeas. O tratamento é cirúrgico, uma vez que a terapia medicamentosa usual em cães não surte efeito em furões e o prognóstico após a intervenção é bom. Neste trabalho foram avaliados nove animais submetidos à adrenalectomia, e traçadas as incidências da doença por sexo, sinais clínicos, glândula mais afetada, análise histopatológica do tumor, recorrência e moléstias conjuntas. Unitermos: Animais silvestres, cirurgia veterinária, doenças do córtex da supra-renal Abstract: The increasing importation of ferrets brings up the need to better understand its most frequent pathologies, such as the adrenal cortical disease, which is very common nowadays. It occurs in middle-aged to old ferrets and is characterized by alopecia and pruritus in both sexes and vulva enlargement in females. The treatment of choice is adrenalectomy, since it has good prognosis and canine drug therapy has no effect in ferrets. In this research nine animals that underwent adrenalectomy were evaluated and the prevalence was studied based on sex, clinical signs, most affected gland, histopathology of the tumor, recurrence and concurrent abnormalities. Keywords: Wild animals, veterinary surgery, adrenal cortex diseases Resumen: La importación creciente de hurones ha mostrado la necesidad de comprender mejor sus molestias más comunes, especialmente la enfermedad de la adrenal que ha sido diagnosticada con frecuencia. Esta enfermedad es encontrada en animales de media edad a viejos y se caracteriza por pérdida de pelos y prurito, en ambos sexos, y edema de vulva en hembras. El tratamiento es quirúrgico, ya que el tratamiento medicamentoso usual en perros no tiene efecto sobre hurones y el pronóstico después de la cirugía es bueno. En este trabajo fueron evaluados nueve animales sometidos a adrenalectomia y fueron vistos la incidencia de la enfermedad por sexo, señales clínicos, glándula mas afectada, análisis histopatológico del tumor, recurrencia y enfermedades conjuntas. Palabras clave: Animales silvestres, cirurgía veterinaria, enfermedades de la corteza suprarrenal
Clínica Veterinária, n. 68, p. 64-66, 2007
Introdução Muitas vezes definida inadequadamente como hipercortisolismo do furão, a doença da adrenal é uma endocrinopatia comum nos Estados Unidos da América (cerca de 25% dos furões são acometidos), mas ainda pouco descrita na Europa. A importação recente (últimos dez anos) desses animais e a crescente tendência a torná-los animais de companhia na América do Sul tem aumentado a necessidade de conhecer as doenças 64
que os acometem e, sobretudo, de estipular a prevalência regional destas. O objetivo do presente estudo é determinar a incidência da doença de adrenal em furões na Clínica Veterinária Toca dos Bichos (Porto Alegre, Rio Grande do Sul) no período de 2003 a 2004. Revisão de literatura A causa da doença de adrenal em furões é ainda desconhecida. É provável que a esterilização precoce desses
Alessandra Roll MV, especialista em cirurgia alessandraroll@hotmail.com
Gleide Marsicano MV, especialista em toxicologia gleidemarsicano@ig.com.br
animais seja a responsável pelo desenvolvimento de tumores ou hiperplasia de adrenais. Estudos realizados em algumas raças de camundongos mostraram que a esterilização precoce pode promover a hiperplasia adrenal nodular ou a formação de tumor em uma ou duas adrenais, que hipersecretam estrógenos e andrógenos 1,2. Tumores pituitários são a causa de hiperadrenocorticismo em várias espécies, mas o papel da glândula pituitária na doença de adrenal em furões é desconhecido. Nessa espécie, assim como ocorre entre os roedores, a doença é mediada pela ação do excesso de gonadotrofinas no córtex adrenal, resultantes da esterilização precoce, que podem deflagrar hiperatividade desse córtex por meio da secreção excessiva de esteróides sexuais 3. Os sintomas clínicos da doença de adrenal em furões diferem daqueles que caracterizam a síndrome de Cushing clássica em cães. Além disso, nos furões as concentrações de cortisol sérico raramente estão elevadas, mas os níveis de estradiol ou 17-hidroxiprogesterona podem estar elevados como resultado de hiperplasia, adenoma ou adenocarcinoma 4. Os sinais clínicos mais observados são alopecia simétrica (Figuras 1, 2 e 3) e prurido em ambos os sexos. As fêmeas podem apresentar edema de vulva 4,6,7, enquanto os machos podem apresentar poliúria e polidipsia 10, estrangúria ou disúria, devido ao aumento prostático ou parauretral secundário ao aumento dos andrógenos produzidos pelo tecido neoplásico 11, além de retorno ao comportamento sexual normal 6,7 O diagnóstico de tumores adrenocorticais em furões é baseado nos sinais clínicos característicos da doença e na ultra-sonografia, que mostra aumento da adrenal em mais de 50% dos animais afetados 12. Nesse exame, glândulas adrenais normais ou anormalidades estruturais, como mudança de tamanho, forma e ecogenicidade, podem ser observadas claramente 13. A estimulação
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Figura 6 - Resultado dos exames histopatológicos das glândulas removidas Alessandra Roll
Figura 7 - Furão com alopecia na região da base da cauda
Figura 2 - Alopecia total, em furão com doença de adrenal em estágio avançado Alessandra Roll
Relato de casos Foram estudados nove casos de furões atendidos na Clínica Veterinária Toca dos Bichos. Os animais foram levados à clínica por apresentarem prurido, perda de pêlos e edema vulvar, em fêmeas. Todos os animais foram encaminhados para ecografia, que permitiu a constatação de aumento unilateral de adrenal. Após o diagnóstico os furões foram submetidos à adrenalectomia unilateral por meio de celiotomia ventral (Figura 4), e a glândula foi enviada para análise histopatológica (Figura 5). Resultados Dos nove animais estudados, oito (88,9%) eram fêmeas e somente um (11,1%) era macho. Os sinais clínicos
apresentados por esses animais consistiam em alopecia na cauda e no dorso (100%), aumento vulvar nas fêmeas (50%) e prurido (44,4%). A glândula esquerda foi a mais afetada (55,5%), embora sem diferença estatística em relação à glândula direita. Os resultados dos exames histopa- Figura 8 - Mesmo furão tológicos estão da figura 8 após 45 dias adrenalectomia, com demonstrados na da recuperação total dos Figura 6. Após pêlos adrenalectomia, todos os animais, à exceção de um deles, que foi a óbito no pós-operatório imediato, apresentaram remissão dos sinais clínicos (Figuras 7 e 8). Dos animais que sofreram intervenção cirúrgica, dois tiveram doença na glândula contralateral, e foram submetidos à adrenalectomia parcial, que fez com que os sinais clínicos regredissem. Esses dois animais foram os únicos a apresentar moléstias conjuntas, como piometra associada a leimioblastoma uterino e insulinoma.
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Alessandra Roll
Alessandra Roll
Figura 5 - Glândula adrenal logo após remoção cirúrgica
Alessandra Roll
Alessandra Roll
Figura 4 - Identificação da adrenal no transoperatório
Figura 1 - Alopecia simétrica na região das escápulas, em furão com doença de adrenal
Figura 3 - Alopecia na região da cauda e do dorso, em furão com doença de adrenal
Alessandra Roll
Com a remoção cirúrgica o prognóstico é excelente 4,12. Na maioria dos furões, tão logo a glândula doente é removida os sinais clínicos associados regridem. Em machos, a estrangúria e a disúria passam a diminuir 48 horas após o procedimento cirúrgico. Em fêmeas, a vulva retorna ao tamanho normal cerca de uma ou duas semanas depois da intervenção. Em ambos os sexos, o crescimento dos pêlos começa em duas semanas, e geralmente está completo dois meses após a cirurgia 12. As maiores complicações após o tratamento cirúrgico são a recorrência do tumor por metástase (muito rara) 4 ou o aparecimento de tumor na outra glândula 5. Alessandra Roll
de hormônio adrenocorticotrófico e os testes de supressão de dexametasona não são confiáveis 14,15. Há duas modalidades de tratamento para tumores adrenocorticais: manejo medicamentoso e remoção cirúrgica da glândula afetada, mais utilizada porque o manejo medicamentoso com as drogas atualmente disponíveis no mercado não apresenta resultados satisfatórios e pode provocar efeitos colaterais perigosos 5. Quando somente uma glândula estiver afetada, deve-se realizar a adrenalectomia unilateral. Se ambas as glândulas estiverem doentes, deve-se remover completamente uma glândula e parcialmente a outra. A decisão sobre qual glândula deve ser removida completamente baseia-se no grau de comprometimento da mesma 5. Torna-se necessário observar que, se parte da glândula doente não for removida, os sinais da doença podem não se dissipar inteiramente e que, se ambas as glândulas forem retiradas completamente, haverá necessidade de suplementação glicocorticóide 16 e mineralocorticóide.
Discussão No estudo ora descrito observou-se predileção por sexo (fêmeas). Nos EUA, o número de fêmeas acometidas pela doença chega a ser duas vezes maior do que o número de machos 15. Entretanto, em estudo realizado nos Países Baixos em 2000 17, o sexo não foi associado à prevalência da doença. Outros autores supõem que a maior incidência de registros da moléstia em fêmeas é decorrente do aumento vulvar, que causa maior preocupação aos proprietários. A predileção sexual da moléstia é aparente, ou seja, é uma conseqüência dos sinais clínicos, que se manifestam com maior evidência em fêmeas, e não revela a real diferença na taxa de incidência 5. O sintoma clínico mais observado na amostra objeto desta investigação foi a alopecia 5,18, embora outros estudiosos tenham demonstrado que mais de 70% das fêmeas afetadas apresentam aumento vulvar 5. Com relação aos achados histopatológicos em adrenais, os relatos encontrados na literatura mostram grande variação: alguns autores encontraram cerca de 56% de adrenais com hiperplasia 8, outros encontraram maior índice de adenomas 5,7. Já na presente investigação constatou-se maior incidência de carcinoma adrenocortical, o que ressalta a importância de levantamentos de prevalência regionais. Embora a maioria dos tumores encontrados neste estudo fossem malignos, observou-se tumor na glândula contralateral em somente dois animais, quatro a seis meses após a cirurgia, dos quais um apresentou metástase seis meses após a última cirurgia. Vários autores relatam que metástases são raras, mas que alguns tumores podem apresentar infiltração local na veia cava 5,6,7. As afecções comumente relacionadas com a doença de adrenal são insulinomas, esplenomegalia, problemas cardíacos e linfoma 5,6,9,19. Um furão que cursava com hiperadrenocorticismo complicado por cardiomiopatia dilatada apresentou hepatite crônica e doença renal 20. Vale observar que tumores e problemas cardíacos são achados comuns em animais mais velhos, mas ainda não foi possível determinar uma correlação entre tais doenças. Há registro de ocorrência da doença de adrenal em três de cinco furões 66
portadores de leiomiossarcoma dermal 21. Um dos animais deste estudo desenvolveu leiomioblastoma uterino, mas não foi possível estabelecer qualquer correlação entre tal achado e aquele da investigação anteriormente citada. Conclusão O presente estudo pode subsidiar futuras investigações sobre a incidência regional da doença de adrenal, uma vez que os resultados obtidos diferem dos achados de investigações, também voltadas à prevalência dessa moléstia, realizadas em outros países, como os Estados Unidos da América e a Inglaterra. A importância de se aferirem prevalências regionais é manter os médicos veterinários atentos aos sintomas clínicos precoces da doença e, assim, realizar a cirurgia sem que o tumor prolifere rapidamente. Este trabalho também é importante porque traz esclarecimentos essenciais para o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico da doença de adrenal, uma vez que, em furões, essa moléstia difere muito do quadro apresentado em cães. Referências 01-BIELINSKA, M.; PARVIAINEN, H.; PORTERTINGE, S. B.; KIIVERI, S.; GENOVA, E.; RAHMAN, N.; HUHTANIEMI, I. T.; MUGLIA, L. J.; HEIKINHEIMO, M.; WILSON, D. B. Mouse strain susceptibility to gonadectomy-induced adrenocortical tumor formation correlates with the expression of GATA-4 and luteinizing hormone receptor. Endocrinology. n. 144, v. 9, p. 41234133, 2003. 02-BIELINSKA, M.; GENOVA, E.; BOIME, I.; PARVIAINEN, H.; KIIVERI, S.; RAHMAN, N.; LEPPALUOTO, J.; HEIKINHEIMO, M.; WILSON, D. B. Nude mice as a model for gonadotropininduced adrenocortical neoplasia. Endocrine research. n. 30, v. 4, p. 913-917, 2004. 03-SCHOEMAKER, N. J.; VAN DER HAGE, M. H.; FLIK, G.; LUMEIJ, J. T.; RIJNBERK, A. Morphology of the pituitary gland in ferrets (Mustela putorius furo) with hyperadrenocorticism. Journal of Comparative Pathology. n. 130, v. 4, p. 255-265,2004. 04-JAVOROUSKI, M. L.; PASSERINO, A. S. M. Carnivora - Mustelidae (ariranha, lontra, furão, irara, ferret). In: CUBAS, Z. L.; SILVA, J. C. R.; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2006. p. 547-570 05-ROSENTHAL, K. L. Part II: adrenal gland disease. In: HILLYER, E. V.; QUESSENBERRY, K. E. Ferrets, rabbits and rodents - clinical medicine and surgery. WB Saunders Company: Philadelphia, 1997. p. 91-98 06-QUINTON, J. F. Novos animais de estimação pequenos mamíferos. São Paulo: Roca, 2002. p. 53-59. 07-LAWRENCE, H. J.; GOULD, W. J.; FLANDERS, J. A.; ROWLAND, P. H.; YEAGER, A. E. Unilateral adrenalectomy as a treatment for adrenocortical tumors in ferrets: five cases (1990-1992). Journal of the
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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Papel dos fármacos na função tireoidiana em cães
Mauro José Lahm Cardoso MV, dr. prof. tit. DPG/FFALM/UNESPAR maurolahm@ffalm.br
Ademir Zacarias Júnior MV prof. ass. DPG/FFALM/UNESPAR
Drug effects on canine thyroid function
zacariasvet@hotmail.com
Papel de los fármacos en la función tiroidea en los perros
Rodrigo dos Reis Oliveira MV, mestre, prof. ass. DPG/FFALM/UNESPAR rodrigoreisvet@hotmail.com
Resumo: Dentre os vários fatores que podem influenciar a função da tireóide dos cães incluem-se os fármacos: glicocorticóides, sulfonamidas e fenobarbital. Estes são alguns exemplos de drogas conhecidas que afetam o eixo hipotálamo-hipófise-tireóide de várias espécies. Muitas vezes, o desconhecimento dos efeitos dessas drogas sobre os hormônios tireoidianos leva ao diagnóstico errado de hipotireoidismo e à terapia de reposição com levotiroxina sódica. O objetivo desta revisão de literatura é fornecer, aos médicos veterinários, informações sobre as drogas que podem atuar sobre o eixo hipotálamo-hipófisetireóide e os cuidados que devem ser tomados quando cães submetidos a testes da função tireoidiana encontram-se sob a administração desses fármacos. Unitermos: Drogas, tireóide, canino
Eduardo Stefano Maciéski discente CMV/FFALM/UNESPAR
Abstract: Drugs are among the factors that can influence the canine thyroid function. Glucocorticoids, sulfonamides and phenobarbital are examples of substances that affect the hypothalamic-pituitary-thyroid axis in many species. Not knowing the effect of these drugs on thyroid hormones can lead of the wrong diagnosis of hypothyroidism and the subsequent replacement therapy with sodium L-thyroxine. The goal of this review is to supply veterinarians with information about the drugs that can act on the hypothalamic-pituitary-thyroid axis and the precautions that must be taken when testing thyroid function in animals that are receiving these substances. Keywords: Drugs, thyroid, dogs Resumen: Muchos factores pueden influir en la función del tiroides de los perros. Entre ellos los fármacos glucocorticoides, sulfonamidas y fenobarbital son algunos medicamentos conocidos que afectan el eje hipotálamo-hipófisis-tiroides de diferentes especies. Muchas veces el desconocimiento de los efectos de los medicamentos sobre las hormonas de la tiroides lleva a un diagnóstico erróneo de hipotiroidismo y a la terapia de reposición con levotiroxina de sodio. La finalidad de esta revisión de literatura es proveer a los médicos veterinarios informaciones a respecto de los medicamentos que pueden actuar sobre el eje hipotálamo-hipófisis-tiroides y las precauciones que se deben tomar cuando los perros sometidos a testes de la función tiroidea estén recibiendo estos medicamentos. Palabras clave: Medicamentos, tiroides
Clínica Veterinária, n. 68, p. 68-76, 2007
Introdução Vários fatores não tireoidianos – como idade, raça, doenças concomitantes e administração de certas drogas podem influenciar o diagnóstico do hipotireoidismo em cães 1. Glicocorticóides, sulfonamidas e fenobarbital são algumas das drogas conhecidas que afetam o eixo hipotálamo-hipófise-tireóide (H-H-T) 2,3. Há fármacos que afetam tanto os testes de função tireoidiana quanto a própria glândula de cães. Assim sendo, conhecer aqueles que alteram a concentração dos hormônios tireoidianos ou que elevam o hormônio estimulante da tireóide sérico (TSH) facilita a interpretação correta dos resultados dos testes. Tendo em vista o intrincado eixo HH-T, vários fármacos podem induzir alterações na concentração dos hormônios tireoidianos, o que pode complicar a avaliação dos testes e, até mesmo, levar ao diagnóstico equivocado de hipo68
tireoidismo. O diagnóstico errado pode resultar em tratamento inadequado e em efeitos deletérios para o paciente. Os resultados dos testes clinicopatológicos e as concentrações dos hormônios tireoidianos devem ser interpretados juntamente com a história clínica e com os achados compatíveis do exame físico. Os resultados dos testes de função tireoidiana devem ser avaliados meticulosamente em pacientes sob terapia e/ou terapia prolongada, especialmente se esta compreender a administração de glicocorticóides, antiinflamatórios não esteróides (AINES), fenobarbital, sulfonamidas, furosemida ou clomipramine 2,3,4,5. As doses, a duração e a via de aplicação também devem ser consideradas. Entretanto, as conseqüências de muitas dessas drogas sobre a tireóide em cães não foram comprovadas. As diferenças fisiológicas entre roedores, humanos e cães impossibilitam a extrapolação de uma espécie para outra. Mas,
enquanto essa relação não for comprovada em cães, a interpretação dos testes de função tireoidiana deve ser conduzida com cautela quando da utilização dos fármacos elencados. Glicocorticóides Estudos realizados em humanos, ratos e cães já demonstraram que os glicocorticóides endógenos e exógenos inibem diretamente o eixo H-H-T, além de influenciar o metabolismo periférico dos hormônios tireoidianos 6. Mais precisamente em humanos, os glicocorticóides inibem a secreção de TSH pela hipófise, diminuem a 5'-deiodinase periférica e a concentração sérica da tireoglobulina (TBG). Em humanos submetidos a terapia com glicocorticóides ocorre diminuição da concentração sérica da tiroxina total (TT4), da tiroxina livre (FT4), da triidotironina total (TT3) e do TSH, bem como aumento da concentração da triidotironina reversa
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(rT3). Os mecanismos propostos para explicar o aumento da rT3 incluem a diminuição da depuração da rT3 e a inibição da 5'-desiodinase 7,8. Os resultados obtidos em cães não apontam claramente os efeitos da utilização dos fármacos anteriormente citados sobre a hipófise, que dependem da dosagem, da duração da terapia, da via de administração e do tipo de preparo adotado. Cães que receberam uma dose única de dexametasona (0,5-0,7mg/kg PO) apresentaram diminuição significativa na concentração de T3, enquanto a T4 permaneceu inalterada 24 horas após a terapia 9. A administração da prednisona em dose imunossupressora (1,1-2mg/kg PO, duas vezes por dia) provoca diminuição na concentração de TT4 e TT3 e, em menor grau, da FT4, enquanto o TSH endógeno normalmente permanece inalterado. Ocorre supressão da resposta da T4 à estimulação pelo hormônio liberador de tireotropina (TRH) e da T3 em resposta ao TSH. A supressão na secreção dos hormônios da hipófise é a mais provável explicação para a diminuição moderada da concentração de FT4 10. A administração de prednisona em dose antiinflamatória (0,5mg/kg, duas vezes ao dia) durante um mês não alterou as concentrações de TT4, FT3, FT4 ou rT3, mas acarretou diminuição da TT3 e leve aumento da T4 após a aplicação do TSH. Provavelmente, a utilização dessa droga promove a supressão da secreção do hormônio estimulante da tireóide sérico pela hipófise, resultando em hipersensibilidade dos tirócitos após a administração de dose farmacológica desse hormônio 8. Dose idêntica de prednisona em cães tireoidectomizados que recebiam levotiroxina diminuiu a fração livre de T4 em 30% e de FT3 em 49%, sem que se observassem alterações nas concentrações de TT4 e TF4 6, o que permitiu concluir que as alterações foram provocadas pelos efeitos periféricos do uso crônico da prednisona, incluindo aumento da T4 ligada às proteínas séricas carreadoras, diminuição fracional do nível de transferência da T4 do espaço extravascular para o plasma, redistribuição dos hormônios tireoidianos do plasma para a pele e músculos, diminuição da conversão da T4 em T3, e conseqüente queda da T3 sérica. Tais
achados não são necessariamente correlacionados às alterações induzidas por altas doses de glicocorticóides em cães com o eixo H-H-T intacto. Embora todos os hormônios tireoidianos sejam influenciados pelos glicocorticóides, a T3 parece ser mais intensa e precocemente afetada. Uma vez que aproximadamente 50% da T3 circulante – que se constitui em um hormônio intracelular – deriva da desiodinação da T4, a mensuração da concentração da T3 é menos efetiva na avaliação da função tireoidiana 4. Em humanos com hipotireoidismo primário, os glicocorticóides diminuem acentuadamente a TT3 e a TT4, com menor queda da FT4. Cães tratados com glicocorticóides em doses imunossupressoras por aproximadamente três semanas apresentam diminuição da FT4 e da T4 séricas, o que pode levar ao estabelecimento de diagnóstico de hipotireoidismo 4,5, tornando difícil a interpretação dos resultados dos testes de função tireoidiana 5. Ainda assim, a suplementação com hormônio nesses animais é contra-indicada, pois eles retornam ao eutireoidismo após uma semana de interrupção da terapia 4. Fenobarbital O fenobarbital é um anticonvulsivante da classe dos barbitúricos. Vários estudos em humanos e ratos demonstram que esse fármaco altera os testes de função tireoidiana porque aumenta o metabolismo hepático da T4 pela indução da atividade enzimática mitocondrial no fígado 11. O aumento na desiodinação hepática dos hormônios tireoidianos resulta em diminuição da concentração de T4, que é eliminada perifericamente. O aumento da excreção biliar e fecal dos hormônios tireoidianos após a glicuronização provavelmente contribui para a redução da concentração dos hormônios da tireóide 12, o que pode ser particularmente importante em cães, visto que cerca de 50% da T4 e 30% da T3 são eliminados nas fezes 13. Em medicina veterinária, o fenobarbital é descrito como droga que potencialmente diminui a concentração de TT4 em cães, mas essa hipótese somente foi verificada nos últimos anos. A administração de fenobarbital por pouco tempo não afeta as concentrações séricas de TT4, FT4 ou TSH 10. Em tratamentos que utilizaram o fenobarbital por períodos
mais longos de tempo, verificou-se que a concentração da FT4 e da TT4 inseria-se na faixa de cães caracterizados como hipotireóideos 3,14,15,16,17, visto que os sinais clínicos e os efeitos da administração desse fármaco (ganho de peso, letargia, hipercolesterolemia) são semelhantes àqueles decorrentes do hipotireoidismo 18. Portanto, a avaliação dos testes de função tireoidiana nesses cães deve ser interpretada com extremo cuidado, para que o diagnóstico de hipotireoidismo não seja estabelecido incorretamente. Após quatro semanas da interrupção do tratamento com fenobarbital, a função tireoidiana se normaliza 15, razão pela qual, quando possível, os testes de função tireoidiana devem ser realizados decorridas quatro a seis semanas do final da terapia. Mas, uma vez que a interrupção da administração do fenobarbital pode piorar o quadro convulsivo, a decisão de interromper ou não o tratamento deve ser bem avaliada. Portanto, quando há diminuição da concentração sérica dos hormônios tireoidianos em cães com epilepsia, é recomendável uma minuciosa avaliação antes de recomendar a prescrição da suplementação com tiroxina 5. A despeito da queda na concentração da FT4, o TSH endógeno permanece dentro dos valores de referência 14 ou diminui pouco 3,15,17. Esses achados corroboram a hipótese de que a depuração de T4 é aumentada por fatores deiodinativos ou não deiodinativos na terapia com fenobarbital 5, ainda que a concentração de TT3 não seja alterada pela administração de fenobarbital (o que explica a concentração de TSH normal) 14,17. Porém, em cães portadores de hipotireoidismo ou de doenças não tireoidianas, os testes de mensuração da FT3 não são sensíveis para avaliar a disfunção tireoidiana primária 19,20, o que também ocorre em cães que estejam recebendo fenobarbital 5. A diminuição da TT4 e da FT4 pode ocorrer precocemente, isto é, na terceira e quinta semanas após o início do tratamento, enquanto que a concentração sérica de TSH aumenta somente decorridos seis meses ou mais do início da terapia 16,17. Em estudo in vitro, foram avaliados os efeitos do fenobarbital e da fenitoína na ligação com as proteínas séricas de cães: o fenobarbital não alterou a ligação da T4, ao passo que a fenitoína diminuiu
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a ligação da T4 às proteínas plasmáticas de transporte 21, e interferiu minimamente na determinação da FT4. Assim sendo, é improvável que a alteração na ligação protéica seja responsável pela diminuição da T4 observada em cães tratados com fenobarbital 5. Brometo de potássio O brometo de potássio é um anticonvulsivante usado no tratamento da epilepsia canina, como alternativa ou terapia adjuvante ao fenobarbital. Ocorre que esse fármaco também pode afetar a função tireoidiana pois, por ser quimicamente semelhante ao iodo, tem potencial para interagir com o iodo da glândula tireóide. Em ratos, o brometo produz relativa deficiência de iodo graças à interferência com a ligação ao iodo, ao transporte do iodo e à iodinação dos resíduos da tirosina e dos resíduos da tireoglobulina (TG) 22. Esse quadro não foi observado em cães, talvez porque haja diferenças entre as espécies para captar o iodo, para a organificação e o acoplamento aos resíduos da tirosina ou em decorrência do metabolismo dos hormônios 23. Diminuição das concentrações de TT4 e TSH normal e alterações morfológicas da glândula tireóide foram observadas após a administração de brometo de potássio em ratos, o que levou à conclusão de que os efeitos desse fármaco são dose-dependentes 24. Não foram observadas alterações nos testes de função da tireóide em estudo com cães epilépticos que receberam brometo de potássio por um período de 14,5 meses 14. Achados semelhantes foram obtidos em outro estudo, implementado com cães sadios que receberam brometo de potássio durante seis meses: as concentrações de T4, TSH e FT4 permaneceram inalteradas 25. Aparentemente, a administração de brometo de potássio não afeta significativamente a função tireoidiana em cães quando em doses terapêuticas 4. As alterações da função tireoidiana em cães epilépticos submetidos à terapia com fenobarbital, ou naqueles portadores de hipotireoidismo indicam a terapia com brometo de potássio como opção terapêutica. Entretanto, o brometo de potássio deve ser administrado em longo prazo (três a cinco meses) para alcançar o nível terapêutico, o que sugere que a troca da administração do fenobarbital para o 70
brometo de potássio não é prudente para determinar se o animal é ou não hipotireóideo 5. Sulfonamidas As sulfonamidas são antimicrobianos derivados da sulfanilamida. Embora o mecanismo exato pelo qual as sulfonamidas interferem na tireóide seja pouco conhecido, supõe-se que estas atuem por inibição da peroxidase tireoidiana (POT) 2,26. Uma vez que essa enzima faz a organificação e a reação de acoplamento para formar a T4 e a T3 na TG, o resultado da inibição é a diminuição da concentração sérica dos hormônios tireoidianos. Os tirótropos hipofisários respondem à diminuição dos hormônios tireoidianos pela redução da inibição da retroalimentação negativa, resultando em aumento na secreção de TSH 4, e provocam alterações proliferativas da tireóide 27. As sulfonamidas são, portanto, bociogênicas, o que secundariamente promove a diminuição da síntese e da secreção dos hormônios da tireóide. A administração de sulfonamidas em longo prazo, e a estimulação prolongada da tireóide pelo TSH podem estar associadas à neoplasia tireoidiana em ratos. Há consideráveis variações interespécies em relação à inibição da POT pelas sulfonamidas 28. Vale salientar que o trimetoprim, agente usado em associação com as sulfonamidas, não causa alteração detectável na função da tireóide de ratos 29 e gatos 5. Durante o tratamento com sulfonamidas, ocorre discreta diminuição da função tireoidiana em humanos, mas em ratos essa desordem é grave 29. Vários estudos prospectivos avaliaram a influência das sulfonamidas na tireóide de cães. A administração de sulfadiazinatrimetoprim (15mg/kg BID VO) em cães normais durante quatro semanas não apresentou efeito significativo na concentração sérica de T4, T3 e FT4; a T4 respondeu à administração do TSH 30. Em outro estudo, no qual foi utilizado sulfametoxazol-trimetoprim (30mg/kg BID PO) em cães com piodermatite durante seis semanas, ocorreu diminuição significativa da concentração de T4 e T3, e aumento subseqüente do TSH 2. Esses achados indicam que os efeitos das sulfonamidas na função tireoidiana são dose e tempo-dependentes, embora os diferentes tipos de sulfas também
possam influenciar os resultados 4. Embora as sulfonamidas possam causar hipertrofia da tireóide em neonatos de roedores e suínos, isso provavelmente não ocorre em neonatos caninos nascidos de fêmeas que estejam recebendo sulfadiazina-trimetoprim 31. As sulfonamidas não somente alteram os resultados dos testes de função tireoidiana, mas também levam ao hipotireoidismo clínico em alguns cães. Em cães que receberam sulfadiazina-trimetoprim (24mg/kg/dia) durante um período de 30-126 dias, os testes de função da glândula tireóide foram indistingüíveis daqueles dos cães com hipotireoidismo espontâneo 26,32. Em ambas as situações, houve diminuição da TT4 e da FT4, aumento do TSH e diminuição da resposta à estimulação pelo TSH. A utilização da cintilografia, além da história clínica, pode ser útil na diferenciação entre ambos. Sabe-se que as sulfonamidas não inibem a entrada de iodeto e, portanto, a entrada de pertecnato na tireóide apresentar-se-á entre normal a aumentada em cães com hipotireoidismo secundário à utilização desses antimicrobianos 33. Já em cães com hipotireoidismo espontâneo secundário à tireoidite linfocítica ou atrofia idiopática, a entrada de pertecnato pode estar diminuída. Entretanto, é importante salientar que raramente a cintilografia é exigida quando ocorre hipotireoidismo secundário à utilização das sulfonamidas, pois os sinais clínicos associados e a depressão dos níveis hormonais se resolvem uma vez interrompido o tratamento. O estado hipotireóideo (sinais clínicos e resultados dos testes) resolvese gradualmente, dentro de um período de sete dias a vários meses após a retirada das sulfonamidas 32. Os efeitos das sulfonamidas na função tireoidiana são espécie-específicos, e dependem da dose e duração do tratamento. Os resultados dos testes de função tireoidiana em cães normalizam-se depois de 8 a 12 semanas do término do tratamento. Se o clínico não estiver atento aos efeitos dessa droga na função da tireóide, o diagnóstico errado de hipotireoidismo pode ser estabelecido. Drogas antiinflamatórias não esteroidais Os antiinflamatórios não esteroidais (AINES) provocam alterações nos testes
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de função da tireóide em humanos e ratos, principalmente pela alteração na ligação dos hormônios tireoidianos às proteínas plasmáticas de transporte. Visto que os hormônios tireoidianos circulantes são altamente ligados às proteínas, vários AINES podem deslocá-los dos seus locais de ligação às proteínas séricas, resultando em aumento transitório da concentração sérica de FT4. A elevação da concentração de FT4 serve como retroalimentação negativa no hipotálamo e hipófise, resultando finalmente em diminuição da concentração sérica de T4, a despeito da concentração de FT4 normal. Esses animais permanecem eutireóideos, mas a alteração nos resultados dos testes pode levar ao diagnóstico errado de hipotireoidismo. Além disso, a desiodinação dos hormônios tireoidianos também pode estar levemente diminuída 4. A ligação dos hormônios tireoidianos às proteínas séricas carreadoras e a taxa de metabolização dos hormônios variam entre as espécies. Portanto, parece ser razoável pensar que os efeitos dos AINES nos hormônios da tireóide sejam diferentes entre cães e humanos. A afinidade desses hormônios pelas proteínas carreadoras é menor em cães do que em humanos 34. Então, é possível que os efeitos dos diferentes AINES sejam mais pronunciados em cães do que em humanos. As alterações digestórias e renais dos AINES estão bem descritas na literatura 35, mas estudos dos efeitos dos AINES na função tireoidiana em cães são escassos 36,37. O hipotireoidismo acomete tipicamente raças médias ou grandes, com idade variando entre dois e seis anos 38. Essa população também sofre maior risco de osteoartrite e a terapia com AINES e/ou nutracêuticos – contendo sulfato de condroitina e glucosaminoglicanos – é utilizada para melhorar a qualidade de vida do animal 39. Eventualmente, cães que recebem essas drogas são apresentados com sinais clínicos compatíveis com hipotireoidismo, e é importante lembrar que tais drogas alteram os testes de função tireoidiana, o que implica que a interpretação dos resultados deve ser meticulosa. Alguns AINES foram bem estudados em cães: a fenilbutazona não tem efeito significativo na ligação da T4, o flunixin 72
meglumine aumenta a fração da FT4 e os salicilatos diminuem a concentração de T4. A influência dos AINES na função tireoidiana pode ser explicada pela competição entre os hormônios e as drogas pelas proteínas de ligação 4. Cães sadios recebendo etodolac (15mg/kg BID PO) por quatro semanas não tiveram alteração significativa na concentração de T4, FT4, T3 e TSH 40. A administração de 25mg/kg de ácido acetil salicílico (AAS), duas vezes ao dia, levou à diminuição das concentrações de TT4 41. Essas alterações provavelmente refletem o deslocamento dos hormônios tireoidianos de seus locais de ligação às proteínas de transporte, apesar de não haver aumento nas concentrações da FT4. Pode-se postular que o hormônio não ligado foi mais rapidamente eliminado ou que a rápida resposta da hipófise no aumento da FT4 resultou em diminuição da secreção da T4. É possível que o AAS afete a depuração dos hormônios, suprima a síntese de TSH, afete a síntese dos hormônios tireoidianos ou altere a sensibilidade da tireóide ao TSH. De acordo com a maioria dos estudos, em humanos a administração em curto prazo de doses terapêuticas de salicilatos promove a diminuição da concentração sérica de TT4, o aumento transitório nos níveis dos hormônios não ligados e a supressão da concentração de TSH 7,42,43, enquanto o tratamento em longo prazo induz a um novo estado de equilíbrio, refletindo o aumento do nível de renovação da T4, que provoca pequena diminuição da TT4 e da FT4 normal ou diminuída 7,42,43. A concentração de TSH retorna aos valores de referência dentro de poucas semanas após o final do tratamento 42. Os salicilatos alteram a função tireoidiana primariamente por meio da competição com os locais de ligação de baixa afinidade às proteínas ligantes dos hormônios, mas outros mecanismos, como a diminuição da captura de iodo pela glândula tireóide, a inibição da 5'-monodeiodinase hepática e a competição pelos locais de ligação na membrana plasmática, citosólica ou nuclear também foram sugeridos 44. Porém, a contribuição desses distúrbios no metabolismo periférico em humanos não é clara 43. A administração do cetoprofeno (1mg/kg/dia, durante sete dias) em cães
não alterou as concentrações séricas de TT4, TT3, FT4, rT3 e TSH 41, o que também foi detectado em humanos 45. O hormônio mais afetado, tanto em humanos quanto em cães, foi a TT3. A explicação para esses achados é a menor avidez da T3 na ligação às proteínas de transporte que, conseqüentemente, provoca maior deslocamento dos locais de ligação do que a T4 45. A diminuição da 5'-deiodinase pode ser responsável pela diminuição da T3 sérica na terapia com AINES 4. A baixa variação nas concentrações séricas de TT3 e TT4 em cães que estejam recebendo AAS e cetoprofeno justifica a concentração normal de TSH, pois estes hormônios são responsáveis pela regulação da retroalimentação da secreção de TSH 41. Embora tenha sido menos afetada por estes AINES, a mensuração da T3 tem efeito limitado na avaliação clínica da função tireoidiana 14,17,41. O carprofeno é um AINES comumente usado em cães, e possui alta ligação às proteínas. Ocorre uma leve diminuição na concentração de TT4 e TSH após a administração de carprofeno em cães (2,2-3,3mg/kg duas vezes ao dia, por cinco semanas), enquanto que a FT4 permanece praticamente inalterada 36. O deslocamento da T4 dos locais de ligação no soro explica a redução da TT4, e o deslocamento dos hormônios tireoidianos do local de ligação na hipófise é a provável causa da supressão persistente do TSH. Em outro estudo realizado em cães, as concentrações séricas da TT4, da FT4 e do TSH não foram afetadas pelo uso do carprofeno (1,72,3mg/kg, durante sessenta dias), do meloxicam (0,2mg/kg no primeiro dia, e 0,1mg/kg durante 59 dias) ou de nutracêuticos contendo sulfato de condroitina e glucosaminoglicanos. Com base nesses resultados, conclui-se que o carprofeno, o meloxican e os nutracêuticos não alteram a função tireoidiana 37. Os resultados divergentes entre os dois estudos, provavelmente, devem-se às diferentes doses de carprofeno utilizadas. Assim como em humanos e em eqüinos, em cães os AINES podem afetar os resultados dos testes de função tireoidiana 46,47,48. São várias as implicações clínicas disso: primeiro, a importância dos AINES na função tireoidiana pode ser marcada, mas varia de droga para
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droga. Portanto, aconselha-se cautela na interpretação dos testes de função da tireóide em cães sob terapia de AINES, pois o diagnóstico de hipotireoidismo não pode ser baseado somente na mensuração de TT4. Recomenda-se no mínimo sete dias entre o fim da terapia e a realização dos testes de função tireoidiana em cães 41. Portanto, os efeitos da administração dos AINES em longo prazo necessitam de novas e mais controladas investigações. Embora os AINES diminuam a concentração da T4, não há descrição de hipotireoidismo induzido por AINES em cães. Como o efeito primário dos AINES incide sobre o transporte plasmático, as concentrações de FT4 e TT4 podem ser alteradas durante terapia em longo prazo. Caso seja necessário avaliar a função tireoidiana de cães submetidos a tratamentos com AINES, parece prudente suspender o tratamento por sete a dez dias antes da realização dos testes, e incluir a mensuração sérica da FT4 por diálise de equilíbrio, visto que a concentração da TT4 pode não refletir com acurácia a função da tireóide 4. Antidepressivos tricíclicos O clomipramine é um antidepressivo tricíclico utilizado no tratamento de várias desordens psíquicas no homem e, na medicina veterinária, seu uso tem aumentado nos últimos anos, especialmente no tratamento da ansiedade em cães. O clomipramine exerce potente e relativamente seletivo efeito na recaptação de serotonina por bloqueio nos neurônios serotoninérgicos e o seu metabólito, a desmetilclomipramine, é um inibidor da recaptação de noradrenalina 49. A administração em longo prazo da clomipramine (3mg/kg PO, BID) diminuiu a concentração da TT4, da FT4 e da rT3, enquanto o TSH permaneceu inalterado 50. Na investigação mencionada,
não se observou evidência clínica de hipotireoidismo. A clomipramine causa alterações na função tireoidiana por mecanismos variados nas diferentes espécies. A clomipramine liga-se ao iodo e, desse modo, inibe a síntese de T4. Além disso, essa droga é capaz de doar elétrons e diminuir a disponibilidade de iodo na glândula tireóide (40 vezes o necessário para causar hipotireoidismo), e possui cerca de 20% da potência do metimazole. Os antidepressivos tricíclicos também diminuem a produção de T4 via inibição irreversível da POT 51,52,53,54, não permitindo a ligação das moléculas de iodo na porção heme da POT 55. Além disso, interferem no eixo H-H-T pelo sistema noradrenérgico e serotoninérgico e, portanto, podem diminuir as concentrações de TSH, T4 e T3 50. Além dos seus efeitos na síntese dos hormônios tireoidianos, os antidepressivos tricíclicos também influenciam o metabolismo. Ratos tratados com desipramine, droga similar à clomipramine, manifestaram aumento da atividade da 5'-deiodinase cerebral e diminuição na concentração de T4 e T3 56. Entretanto, não foram observados efeitos das concentrações na desiodinação realizada por rins e fígado. É importante salientar que a concentração sérica dos hormônios tireoidianos é mais influenciada pela 5'-desiodinase periférica, e provavelmente a diminuição da enzima do SNC tenha tido pouca influência na queda dos hormônios. A diminuição da rT3 pode ter sido resultante da diminuição na secreção de T4. A importância clínica da diminuição da T4 e da FT4 na terapia prolongada com clomipramine decorre da interferência que provoca no diagnóstico do hipotireoidismo e no potencial de induzir essa moléstia. Portanto, deve-se fazer o monitoramento da função da tireóide,
além do exame físico, do hemograma e do perfil bioquímico antes e durante a terapia com clomipramine, para evitar diagnóstico errado de hipotireoidismo e o conseqüente tratamento desnecessário dessa moléstia 50. O efeito do clomipramine nos testes de avaliação tireoidiana pode levar ao diagnóstico equivocado de hipotireoidismo caso os testes sejam realizados durante a terapia com essa droga 50. O tempo necessário entre o final da terapia e a realização dos testes não é conhecido. Propanolol Em humanos o propanolol, um bloqueador α-adrenérgico da classe II dos antiarrítmicos, ocasiona pequena diminuição da T3 sérica devido à diminuição da atividade da 5'-deiodinase, enquanto que a concentração do TSH permanece inalterada 57. Beagles sadios que receberam propanolol (20mg BID PO durante duas semanas, seguidos por 40mg BID PO durante duas semanas) não apresentaram alteração na função tireoidiana 58. Portanto, a administração de propanolol em cães eutireóideos provavelmente não altere os testes de função da tireóide durante terapia por curto período, mas os efeitos da administração dessa droga em longo prazo são desconhecidos 4. Furosemida No homem, a administração de altas doses de furosemida, um diurético de alça, induz a diminuição da concentração da T4 e o aumento da FT4, provavelmente em virtude da menor ligação da T4 às proteínas plasmáticas 59. Em um estudo in vitro, a furosemida diminuiu marcadamente a ligação da T4 às proteínas plasmáticas de ligação canina 21. Esse achado fez com que os autores aventassem a hipótese de que isso resultaria em aumento similar na concentração de FT4 e em diminuição na concentração
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de TT4, como ocorre em humanos 4. Até que mais estudos sejam realizados, é necessário cautela na interpretação da concentração dos hormônios tireoidianos em cães que estejam recebendo furosemida por longo prazo. Estanozolol O estanozolol é um andrógeno utilizado como anabolizante. Os andrógenos diminuem a concentração de T4 e T3 em humanos, pois reduzem a capacidade de ligação ou a circulação da TBG 4, enquanto que seus efeitos na FT4 e no TSH são variáveis. Os efeitos específicos variam dependendo da composição do esteróide anabólico e da dose administrada. Cães que receberam estanozolol (2mg/kg BID) durante três semanas não apresentaram alterações nas concentrações de T4, T3 e FT4 60. Portanto, pode-se concluir que o uso do estanozolol em cães, por três semanas ou menos, tem mínimos efeitos sobre os testes de função tireoidiana. Amiodarona A amiodarona é um derivado benzofurânico que estruturalmente assemelha-se à T4 e contém 37% de iodo 61, sendo uma droga antiarrítmica da classe III utilizada em cães. Em humanos, a amiodarona pode causar alteração nos testes de função tireoidiana, hipertireoidismo ou hipotireoidismo. Essa droga afeta a função da tireóide através da inibição da atividade da 5'-deiodinase, inibindo a entrada dos hormônios nos tecidos, competindo com a T3 pelos receptores celulares, diminuindo a resposta das células da tireóide ao TSH e reduzindo a síntese e a secreção de TSH pela hipófise. O hipotireoidismo pode ocorrer secundariamente à exacerbação da tireoidite pré-existente ou devido à inabilidade da glândula tireóide para escapar dos efeitos supressivos do excesso de iodeto na síntese e na secreção dos hormônios tireoidianos (efeito de Wolf-chaikoff). Pode-se suspeitar de tireotoxicose devido aos efeitos citotóxicos da amiodarona ou em função da superprodução – induzida por iodo – de hormônios tireoidianos, secundária ao excesso de iodo liberado pela droga 61. A administração de amiodarona (2236mg/kg ao dia, por quatro semanas) em cães normais resultou em aumento na concentração sérica de T4, enquanto 74
a T3 permaneceu inalterada 62. As concentrações séricas da amiodarona nesses cães foram duas e meia a três vezes maiores que aquela recomendada para fins terapêuticos. Tais achados são consistentes com a diminuição na atividade da 5'-deiodinase. Os efeitos de doses terapêuticas da amiodarona na função tireoidiana em cães ainda não foram determinados 4. Atualmente, aconselha-se a monitoração periódica da função tireoidiana em cães submetidos à administração de amiodarona, visto que tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem causar efeitos cardiovasculares adversos. Citocinas O tratamento de neoplasias e algumas doenças infecciosas com imunoterapia têm sido crescentemente adotados em medicina veterinária. Interferons e citocinas são moléculas que modulam a resposta imune. Os agentes mais utilizados para a imunoterapia são a interleucina-2 (IL-2) e o interferon α. Tais agentes podem induzir a disfunção da tireóide, agravando uma tireoidite auto-imune preexistente ou levando a alterações semelhantes à síndrome do doente eutireóideo 63. Cães submetidos a altas doses de IL-2 tiveram diminuição das concentrações séricas de T4 e T3 durante a infusão 64. Esses cães não apresentaram anticorpos anti-TG após a administração de IL-2, sugerindo que a administração desse fármaco em curto prazo não induz tireoidite auto-imune em tais animais. Apesar disso, recomenda-se que os testes da função tireoidiana sejam realizados somente após o final da imunoterapia 4. Agentes radiográficos Agentes de contraste orais para colecistografia, como o ipodato e o ácido iopanóico, afetam a tireóide de várias maneiras, incluindo potente inibição da 5'-deiodinase, que resulta em decréscimo na concentração sérica de T3 em humanos e felinos hipertireóideos 65. A inibição da desiodinação foi demonstrada em cães normais, nos quais o aumento da concentração de T4 e a diminuição da concentração de T3 ocorreram 48 horas após a administração de seis gramas de ipodato 9. O ipodato também causa deslocamento da T4 do local de ligação nos hepatócitos e nas proteínas
séricas ligadoras, e o excesso de iodo liberado pela medicação pode bloquear a secreção tireoidiana de T4 66. Heparina A heparina é uma droga anticoagulante e antitrombótica. Em humanos, promove o aumento transitório da concentração de T4 67. Estudo in vitro descreve que esse quadro resulta da inibição da ligação da T4 às proteínas plasmáticas secundárias, e que o aumento dos ácidos graxos livres decorre da ativação da lipase lipoprotéica pela heparina 68. Apesar de não haver estudos in vivo sobre os efeitos da heparina na função tireoidiana de cães, o estudo in vitro demonstrou aumento da ligação da T4 às proteínas ligadoras, com conseqüente aumento da TT4 e diminuição da FT4 sérica 21. Os efeitos da heparina nas concentrações dos hormônios tireoidianos podem ser importantes em animais hospitalizados e mantidos com cateter de demora intravenoso, nos quais a heparina é aplicada freqüentemente para evitar a formação de coagulação ou como terapia anticoagulante 4. Até maiores investigações serem realizadas, os testes de função tireoidiana devem ser protelados até que a terapia com a heparina seja interrompida. Considerações finais O conhecimento das drogas que atuam no eixo H-H-T, bem como dos efeitos de cada uma dessas drogas sobre esse eixo, tornam a interpretação dos resultados dos testes de função tireoidiana mais confiável. Além disso, a possibilidade de diagnóstico errado de hipotireoidismo fica mimimizada. Portanto, recomenda-se que, antes da realização dos testes de função tireoidiana, as terapias com drogas que provocam alterações nesses testes sejam interrompidas sempre que possível, ou que os resultados sejam interpretados com cautela, pois o diagnóstico equivocado terá como conseqüência a reposição desnecessária de levotiroxina. Referências 01-FERGUSON, D. C. Euthyroid sick syndrome. Canine Practice, v. 22, p. 49-51, 1997. 02-HALL, I. A.; CAMPBELL, K. L.; CHAMBERS, M. D.; DAVIS, C. N. Effect of trimethoprim/sulfamethoxazole on thyroid function in dogs with pyoderma. Journal of American Veterinary Medical Association, v. 202, n. 12, p. 1959-
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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
Hérnia perineal em cães revisão de literatura
Diogo Benchimol de Souza MV, mestrando CPGPA - CCTA - UENF diogo@uenf.br
Edmundo Jorge Abílio MV, prof. ass. - Lab. San. An. - CCTAUENF
Perineal hernia in dogs - a review Hernia perineal en perros revisión de literatura Resumo: A hérnia perineal é uma afecção conhecida há bastante tempo entre médicos veterinários que se dedicam ao atendimento de animais de companhia. Como não possui saco herniário constituído de peritônio parietal, é classificada como falsa hérnia. Cães machos adultos ou idosos são os animais mais freqüentemente acometidos por essa doença. Não se sabe ao certo a sua causa, embora vários fatores possam estar envolvidos, como afecções prostáticas que causem aumento de volume, afecções retais, efeitos de hormônios gonadais sobre o diafragma pélvico, atrofia neurogênica dos músculos elevador do ânus e coccígeo e atuação do hormônio relaxina sobre os músculos do diafragma pélvico. O principal sinal clínico da hérnia perineal é o aumento de volume da região, e o diagnóstico da doença pode ser feito com base nos achados clínicos e radiográficos. O tratamento cirúrgico é o mais indicado e diversas técnicas já foram relatadas. Unitermos: Cirurgia veterinária, patologia cirúrgica, fisiopatologia
Abstract: Perineal hernia is a well-known condition in small animal medicine. It is regarded as a false hernia, since it does not present a hernial sac constituted by parietal peritoneum. Male adult or senior dogs are most frequently involved. Although its cause is not exactly known, many factors seem to be involved in its pathogenesis. Among these, one can cite prostatic affections that cause volume increase, rectal affections, gonadal hormone effects on the pelvic diaphragm, neurogenic atrophy of the levator ani and coccygeus muscles and the effect of relaxin on the pelvic diaphragmatic muscles. The most important clinical sign of perineal hernia is a regional swelling, and the diagnosis of this illness can be made based on clinical and radiological findings. The surgical treatment is indicated for most cases and several techniques have been described. Keywords: Veterinary surgery, surgical pathology, physiopathology
Resumen: La hernia perineal es una afección bien conocida hace mucho tiempo en medicina de pequeños animales. Se clasifica como una hernia falsa por no tener un saco hernial de peritoneo parietal. Los perros machos adultos o viejos son los animales implicados con más frecuencia. No se conoce exactamente su causa, pero muchos factores parecen estar implicados, como las afecciones prostáticas que causan aumentos de volumen, afecciones rectales, efectos de las hormonas gonadales sobre el diafragma pélvico, atrofia neurogénica de los músculos elevador del ano y coccígeo y el efecto de la relaxina en los músculos diafragmáticos pélvicos. La señal clínica más importante de la hernia perineal es la hinchazón regional, y la diagnosis de esta enfermedad puede basarse en resultados clínicos y radiológicos. El tratamiento quirúrgico se indica para la mayoría de los casos y se han descrito varias técnicas. Palabras clave: Cirugía veterinaria, patología quirúrgica, fisiopatología
Clínica Veterinária, n. 68, p. 78-86, 2007
Introdução As hérnias ocorrem freqüentemente em animais domésticos, constituindo-se em importante capítulo no âmbito da patologia e clínica cirúrgica veterinárias, e despertam especial interesse no cirurgião veterinário 1,2. A hérnia perineal em cães é conhecida há mais de um século 3 e, embora muitos autores já tenham discorrido sobre essa afecção, ainda há muito o que descobrir sobre ela. Nesse contexto, o presente trabalho objetiva revisar a literatura sobre o tema, agrupando e confrontando suas informações, com o objetivo de elucidar os fatos que envolvem as hérnias perineais nos cães e, dessa forma, contribuir para a melhor compreensão da doença. 78
Classificação As hérnias podem ser classificadas, de acordo com a freqüência, época de aparecimento, estrutura, percurso, relação anatômica, conteúdo, localização e topografia 1,2,4. De acordo com a estrutura, as hérnias podem ser classificadas em falsas ou verdadeiras. As hérnias verdadeiras contêm todas as partes anatômicas de uma hérnia (anel, saco e conteúdo), sendo o saco constituído especificamente de peritônio parietal. As hérnias falsas são aquelas em que há um defeito estrutural, pois possuem conteúdo, mas sem saco peritoneal ou algum dos elementos de formação das hérnias 2. Nas hérnias verdadeiras, o saco herniário é constituído fundamentalmente
de peritônio parietal, que se mantém inalterado enquanto não sofrer compressões ou estrangulamentos, permanecendo brilhante e liso. As hérnias falsas não contêm um saco herniário verídico, mas sim um saco formado pela pele, subcutâneo, fáscia ou qualquer outra estrutura 1. Nas hérnias perineais, o saco herniário não costuma ser constituído de peritônio 5,6,7, o que faz com sejam classificadas como hérnias falsas. Foi sugerido que a nomenclatura mais correta para essa moléstia seria “ruptura do diafragma pélvico”, e não hérnia perineal 5. Quatro tipos de hérnias ocorrem na região perineal do cão, sendo classificadas como isquiática, dorsal, caudal ou ventral, de acordo com a sua localização anatômica 8,9. A hérnia perineal isquiática ocorre entre o músculo coccígeo e o ligamento sacrotuberoso 8. Trata-se de uma afecção rara e, embora alguns autores tenham sugerido que sua origem é congênita 8, um estudo mais recente a descreve como afecção adquirida 9. A hérnia dorsal ocorre entre os músculos coccígeo e elevador do ânus, também é incomum, e apresenta etiologia similar àquela da hérnia perineal caudal 8. A hérnia caudal é o tipo mais comumente encontrado, ocorrendo entre os músculos elevador do ânus, esfíncter externo e obturador interno 8. A hérnia ventral ocorre ventralmente ao músculo isquiouretral, é considerada rara e parece ser atribuída às fêmeas 8. Anatomia O períneo é a parte da parede corporal que recobre a abertura caudal da pelve e circunda os canais anal e urogenital 10, tendo como principal estrutura o diafragma pélvico 11, constituído pelos músculos elevadores do ânus, coccígeos e pelas fáscias internas e externas 10,12 (Figura 1).
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O conhecimento anatômico da região perineal e de algumas estruturas ali presentes é fundamental para a prática da herniorrafia perineal. O músculo coccígeo origina-se na espinha isquiática, localizando-se dorsocaudal e medialmente ao ligamento sacrotuberoso, espalhando-se para se inserir entre os músculos intertransversais na segunda à quinta vértebras coccígeas 13. O músculo elevador do ânus localizase lateralmente ao reto e medialmente ao músculo coccígeo, tem sua origem no corpo ilíaco e no ramo cranial do púbis e se insere no músculo esfíncter externo do ânus por meio de sua fáscia 10. O músculo esfíncter anal externo é um músculo estriado voluntário que circunda o canal anal. Esse esfíncter pode ser dividido em três partes de acordo com a sua profundidade 11. O músculo obturador interno surge da superfície interna do assoalho pélvico, tem uma origem larga no púbis e no ísquio, medialmente ao forame obturador, o qual cobre à medida que as fibras convergem para formar um tendão que se insere na fossa intertrocantérica do fêmur 13.
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Epidemiologia Algumas peculiaridades foram constatadas no estudo das características epidemiológicas da hérnia perineal. Tais peculiaridades são importantes pois apontam ou sugerem algumas possíveis causas da afecção, além de indicar grupos com predisposição ao acometimento. A hérnia perineal é uma afecção bastante comum em cães, representando entre 31,8 e 44% das hérnias diagnosticadas 4. A prevalência parece variar bastante entre os diferentes hospitais, indo de 0,09% a 0,40% dos cães atendidos 3,14.
Figura 1 - Representação das principais estruturas anatômicas da região perineal do cão
Em estudo no qual foram computados dados de 14 hospitais veterinários durante 12 anos, a prevalência de hérnia perineal foi de 0,09% 3. A espécie canina é sem dúvida a mais acometida. Porém, embora considerada rara nessas espécies, a afecção foi descrita em humanos, gatos, vacas, búfalos, ovelhas e macacos 11,15. Podem ser acometidos animais de qualquer idade, já que os relatos mostram incidência entre dois e 16 anos de idade. Porém entre 59 e 62% das hérnias perineais ocorrem em cães entre sete e nove anos de idade 7,14,16. A hérnia perineal acomete principalmente cães machos não castrados. Estudos diferentes obtiveram aproximadamente o mesmo resultado: cães machos não castrados representam 92% dos animais acometidos, enquanto cães machos castrados representam 5% e fêmeas representam 3% dos animais acometidos 3,16. Investigações também apontam maior incidência de hérnia perineal em algumas raças, como: boston terrier, boxer, collie, corgi, kelpi e pequinês 3,14,16. Em estudo realizado no Brasil, 69% de 13 cães acometidos não possuíam raça definida 17. De 453 casos compilados de vários trabalhos 11, 270 (60%) eram unilaterais e 183 (40%) eram bilaterais. Dos casos unilaterais, 183 (68%) localizavam-se do lado direito, enquanto 87 (32%) foram encontrados do lado esquerdo; nenhum motivo foi encontrado para que o lado direito fosse mais comprometido que o esquerdo. Patogênese Vários fatores têm sido incriminados na patogênese da hérnia perineal nos cães, mas ainda não se sabe ao certo a causa real dessa afecção. Alguns fatores comumente incriminados são o tenesmo crônico em decorrência de prostatomegalia ou afecção retal, a atrofia da musculatura do diafragma pélvico e o desequilíbrio hormonal 18. Ainda não foi descoberta relação causal direta, mas a prostatomegalia é apontada por muitos autores como importante fator na formação da hérnia perineal em cães 11. O aumento de volume da próstata atuaria comprimindo o reto e provocando tenesmo, que aumentaria a pressão exercida sobre o diafragma
pélvico 18. Entretanto, um autor observou baixa incidência de prostatomegalia em cães portadores de hérnia perineal 18. As moléstias retais que podem exercer papel na formação da hérnia perineal no cão são divertículo, saculação e desvio retal 18,19. Entretanto, essas alterações parecem ser mais evidentes em hérnias antigas, o que sugere que não seriam a causa, mas uma conseqüência da hérnia perineal 18. De qualquer modo, as moléstias retais são consideradas importantes fatores no fracasso da herniorrafia e devem ser corrigidas cirurgicamente 19. As teorias sobre o efeito dos hormônios gonadais sobre a formação da hérnia perineal são baseadas no predomínio dessa doença em cães machos mais idosos e nos resultados de alguns estudos que demonstraram algum efeito protetor da castração sobre a formação da hérnia 3,7. Uma teoria é a de que o testículo envelhecido secretaria estrogênio em excesso, enfraquecendo o diafragma pélvico 7. Outra teoria aponta a falta de andrógenos como causa do enfraquecimento do diafragma pélvico 3. Outras investigações desafiaram as teorias sobre o efeito dos hormônios gonadais na patogênese da hérnia perineal. O efeito protetor da castração foi questionado e alguns pesquisadores sugeriram que a orquiectomia fosse realizada apenas em cães portadores de prostatopatias tratáveis por esse procedimento 16,20,21. Foi demonstrado que não há diferença entre os níveis séricos de testosterona e 17β-estradiol entre cães normais e cães portadores de hérnia perineal 23. Porém, mais recentemente, um estudo demonstrou que o número de receptores para hormônios andrógenos nos músculos elevador do ânus e coccígeo estavam diminuídos nos cães portadores de hérnia perineal em comparação ao número desses receptores em cães normais. Nessa investigação, o autor sugeriu que a causa do enfraquecimento desses músculos seria a falta de estímulo andrógeno 22. O mesmo autor também aventa a hipótese de que a diminuição desses receptores poderia ser causada por uma anormalidade no gene de formação de receptores andrógenos do cão 22. Vários estudiosos observaram que os músculos elevador do ânus e coccígeo
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Sinais clínicos e diagnóstico Histórico de tenesmo, disquezia, constipação ou obstipação pode preceder a hérnia perineal e/ou estar associado a ela 6,29,30. Vômitos, flatulência, incontinência fecal, prolapso retal, diarréia, ulceração de pele, incontinência urinária e atitude alterada da cauda podem ser outras queixas apresentadas 11,15,16,29. A presença da bexiga no saco herniário pode acarretar uma emergência, sendo que dor visceral pode estar presente, acompanhada de disúria, oligúria ou anúria 6,11,31. O principal sinal clínico da hérnia 80
perineal é o aumento de volume (que pode variar de discreto a imenso) em posição ventrolateral ao ânus. Esse aumento de volume é freqüentemente redutível e geralmente não doloroso 6,11,29 (Figura 2).
Dois artigos descrevem o uso de suportes externos para a sustentação do períneo 11: em um deles, uma espécie de suspensório feito de couro envolve a região perineal, reduzindo o volume herniado 34. Diogo Benchimol de Souza
freqüentemente se apresentam atrofiados em cães portadores de hérnia perineal 3,20,24. Em outro trabalho foram realizadas biópsias desses músculos e a análise histopatológica revelou lesões sugestivas de atrofia neurogênica 20. Em outra pesquisa, tanto o exame histopatológico do músculo elevador do ânus quanto o exame eletromiográfico dos músculos do diafragma pélvico de cães com hérnia perineal indicaram a presença de atrofia neurogênica nesses músculos 25. Foi sugerido que a próstata aumentada poderia comprimir a inervação dos músculos do diafragma pélvico, causando a atrofia neurogênica 25. A correlação entre a hérnia inguinal adquirida em cães machos e a hérnia perineal permitiu verificar que muitos animais portadores da hérnia inguinal possuíam também hérnia perineal, mas nenhum motivo foi sugerido para isso 26. Recentemente, dois estudos apontaram um possível fator importante na formação das hérnias perineais em cães 27,28. A relaxina – hormônio que interfere no metabolismo do colágeno e causa relaxamento dos tecidos conectivos do corpo – foi encontrada em grande concentração no epitélio prostático e em líquido de cistos paraprostáticos de cães com hérnia perineal, indicando que a ação local desse hormônio pode enfraquecer os músculos do diafragma pélvico 28. No outro estudo, o número de receptores para relaxina encontrados nos músculos do diafragma pélvico de cães portadores de hérnia perineal foi significativamente maior do que aquele constatado em cães normais, sugerindo que, de alguma forma, tal hormônio participa na formação das hérnias perineais dos cães 27.
Figura 2 - Hérnia perineal. Aumento de volume na região perineal direita de cão macho
O diagnóstico das hérnias perineais é feito com base na história clínica, no exame físico e nos achados radiográficos, caso necessário 6,29. A palpação retal deve ser feita para avaliar desvios, saculações ou divertículos retais e, para realizá-la, o reto deve ser esvaziado manualmente. O diafragma pélvico contra-lateral e a próstata também devem ser palpados e avaliados 16,29,31. Terapia clínica O tratamento clínico das hérnias perineais não parece apresentar bons resultados em longo prazo, seja no sentido do agravamento dos sintomas relacionados à hérnia 11,31, seja quanto ao perigo de ocorrer retroflexão da bexiga a qualquer momento 32. De qualquer forma, a terapia clínica deve ser recomendada para aliviar os sintomas no período que antecede a cirurgia. Laxantes lubrificantes, osmóticos ou volumosos podem ser usados para facilitar a eliminação das fezes. Enemas periódicos podem ser recomendados, com a utilização de água ou salina morna, soluções de óleo mineral ou soluções comerciais 6,29,31. A bexiga pode ser descomprimida por cateterização ou cistocentese caso necessário, porém o uso prolongado dessas medidas é contra-indicado 6,29,33. Considerando o aumento do volume prostático como um possível fator predisponente ao tenesmo e às hérnias perineais, o diagnóstico e o tratamento das doenças prostáticas tornam-se importantes.
Tratamento cirúrgico A avaliação dos riscos cirúrgicos deve ser meticulosa, pois muitos animais com hérnia perineal são idosos e/ou possuem doenças intercorrentes. A aplicação de enemas doze horas antes da cirurgia é indicada para favorecer o esvaziamento colônico, porém alguns cirurgiões defendem que estes potencializam o risco de trauma retal e fluidificam as fezes, tornando mais difícil a retenção destas durante a cirurgia. No momento que antecede a cirurgia, a ampola retal deve ser esvaziada manualmente 6,29. Embora a grande maioria dos autores indique a colocação de sutura em bolsa de fumo no ânus após a indução anestésica 6,11,29, um estudo que comparou duas técnicas de oclusão anal (sutura em bolsa de fumo e tampão retal) e a não oclusão anal para correção de hérnia perineal obteve taxas de infecção da ferida cirúrgica significativamente menores quando o ânus não foi ocluído 35. O decúbito indicado é freqüentemente o ventral, com os membros posteriores pendentes da mesa, a cauda fixada sobre o dorso com o auxílio de cordas ou esparadrapo, a pelve elevada e a região cranial das coxas acolchoada para evitar lesões aos nervos femoral e fibular 6,11,29. Também foi sugerido o decúbito dorsal, com as pernas estendidas cranialmente para a correção de hérnias bilaterais, e o decúbito lateral para a correção de hérnias unilaterais 2. Diversas técnicas cirúrgicas foram descritas para a correção da hérnia perineal, dentre as quais as mais comumente utilizadas são a herniorrafia tradicional, a transposição do músculo obturador e o uso de implantes. Outras técnicas descritas são a transposição do músculo glúteo superficial 21, a transposição do músculo semitendinoso 36 e a divisão anal 37. Foi proposto que hérnias perineais recorrentes com grandes dilatações retais, com retroflexão da bexiga e/ou associadas à doença prostática, fossem tratadas com dois procedimentos cirúrgicos 38.
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Se algum tecido se encontrar contaminado, pode-se fazer uso de drenos de penrose colocados na fossa isquiorretal saindo ventralmente à ferida cirúrgica. A ferida deve ser lavada e o tecido subcutâneo e a pele fechados rotineiramente. Se houver excesso de pele, esta deve ser excisada 6,29,33. Quanto ao fio utilizado para as suturas, prevalece a preferência pessoal do cirurgião; são citados fios absorvíveis e inabsorvíveis, orgânicos e inorgânicos, de calibres que variam entre 2-0 e 1 6,29,33. Na literatura consultada, não foi encontrado qualquer estudo que comparasse a eficácia dos fios para a herniorrafia perineal. Acreditamos que a escolha do fio deve levar em consideração que a região operada é bastante susceptível a infecções pós-operatórias; por essa razão, o uso de fios multifilamentares (ácido poliglicólico, poligalactina 910, algodão, seda, poliéster) ou fios que têm sua resistência tênsil perdida precocemente na presença de infecções (categute) devem ser evitados. Independentemente da técnica escolhida, preferimos os fios inabsorvíveis monofilamentares (náilon ou prolene) de calibre 2-0 ou 0 para a sutura. Transposição do músculo obturador interno Na técnica de transposição do mús-
Figura 4 - Herniorrafia por transposição do músculo obturador interno. O músculo é mobilizado da sua inserção no ísquio com auxílio de um elevador de periósteo ou cabo de bisturi Diogo Benchimol de Souza
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Figura 3 - Herniorrafia perineal tradicional. Os pontos são colocados nos músculos esfíncter anal externo e coccígeo
culo obturador interno, este é mobilizado de sua inserção na borda caudal do ísquio. Para tanto, pode-se fazer uso do bisturi ou de um elevador de periósteo. Há que ter o cuidado de elevar o músculo somente até a borda cranial do forame obturador, para preservar o nervo e a artéria obturadora 24,41 (Figura 4). Rompe-se o tendão do músculo na altura em que este se condensa. Toma-se cuidado para não lesionar o nervo isquiático que atravessa o tendão lateralmente ao ísquio. O músculo é deslocado dorsalmente para preencher o espaço herniário 41. Suturas envolvendo os músculos coccígeo (ou ligamento sacrotuberoso), o esfíncter anal externo e o músculo obturador interno são pré-colocadas e somente devem ser ajustadas após a colocação de todas elas 11 (Figura 5). O defeito hernial é palpado para certificar-se de que foi ocluído satisfatoriamente. A ferida é lavada e o tecido subcutâneo e a pele são ocluídos rotineiramente. Diogo Benchimol de Souza
Herniorrafia tradicional Para a herniorrafia tradicional, os pontos são posicionados entre os músculos esfíncter anal externo, elevador do ânus e coccígeo, mas não são apertados. Preferencialmente começa-se pela parte dorsal e, à medida que a colocação progride ventralmente, o ligamento sacrotuberoso pode ser utilizado para ancoragem das suturas. Deve-se ter cuidado ao incorporar o ligamento, para evitar a
artéria e veia glútea e o nervo isquiático, que passam crânio-lateralmente ao ligamento. Os pontos na porção ventral do defeito devem ser colocados entre os músculos esfíncter anal externo e obturador interno. Atenção deve ser tomada para não lesionar os vasos e nervos pudendos 6,29,33. Os pontos pré-colocados são apertados e a gaze pinçada que afastava as vísceras é retirada (Figura 3). Diogo Benchimol de Souza
No primeiro procedimento, são realizadas colopexia, cistopexia e/ou vasopexia por laparotomia ou laparoscopia, e somente no segundo procedimento é realizada a herniorrafia. Esse procedimento não é indicado como alternativa à herniorrafia, mas sim como medida adjuvante 39,40. Para a correção cirúrgica das hérnias perineais realiza-se a incisão cutânea diretamente sobre a hérnia, disseca-se o tecido subcutâneo e identifica-se o saco herniário. Abre-se o saco herniário com cuidado para não lesionar os órgãos herniados e examina-se o conteúdo herniado (qualquer estrutura anormal deve ser retirada para biópsia ou excisada). O conteúdo herniado viável deve ser reposicionado na cavidade e mantido reduzido pela aplicação de um chumaço de gaze umedecido e preso por uma pinça de Allis. Deve-se identificar a artéria, veia e nervo pudendo, que devem estar localizados na região ventral do saco herniário. É essencial que esta última estrutura seja preservada para que se conserve a defecação normal. Devem ser identificados e examinados os músculos envolvidos na hérnia (esfíncter anal externo, elevador anal, coccígeo e obturador interno), vasos e nervos retais caudais, ligamento sacrotuberoso e reto. O músculo elevador do ânus freqüentemente apresenta-se atrofiado e pode não ser identificável. Saculações, dilatações ou divertículos retais devem ser corrigidos 6,11,29,33. Independentemente da técnica escolhida para a correção da hérnia, é importante que todas as suturas sejam ancoradas em pontos anatômicos fortes, o que requer o conhecimento anatômico da região e uma cautelosa exploração cirúrgica da área. A colocação de suturas em fáscias flácidas ou tecido subcutâneo para a herniorrafia fatalmente resulta em recidiva da hérnia.
Figura 5 - Herniorrafia por transposição do músculo obturador interno. São colocadas suturas entre os músculos obturador interno e esfíncter anal externo (porção ventral do defeito herniário), e entre os músculos coccígeo e esfíncter anal externo (porção dorsal do defeito herniário)
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Em uma série de cem cães portadores de hérnias perineais operados por essa técnica, apenas três tiveram recorrência da hérnia 42. Implantes Para que haja um fechamento sem tensão do defeito herniário, implantes como tela de polipropileno 43, colágeno dermal suíno 44, peritônio bovino conservado em glicerina 17, submucosa de intestino delgado suíno 45 e, mais recentemente, a fáscia lata autógena 46 foram testados na herniorrafia perineal. Em todos esses estudos, após a exposição e a redução da hérnia, os implantes foram suturados ao anel herniário com pontos simples, separados ou de colchoeiro horizontal, com o auxílio de fios de categute, polidioxanona ou polipropileno. Os resultados foram diferentes para cada técnica e estão resumidos na figura 6. Chama a atenção a não recorrência de hérnias nos cães operados com a fáscia lata autógena, mas, como tal estudo 46 era constituído por uma amostra de apenas doze animais,
referência animais testados Implante Malha de polipropileno 43 6 Colágeno dermal suíno 44 21 Peritônio bovino 17 13 Submucosa de intestino suíno 45 6 Fáscia lata autógena 46 12
recorrência da hérnia 16,7% 41,7% 23,1% 33,4% 0%
Figura 6 - Resultados da herniorrafia com o uso de diferentes materiais de implante
novas investigações, com maior número de animais, devem ser implementadas para a consolidação técnica. Complicações A infecção da ferida cirúrgica e a deiscência da sutura parecem ser as complicações mais comuns da herniorrafia perineal, ocorrendo em aproximadamente 27% dos cães operados 14,16. Caso se suspeite de contaminação, deve ser obtido material para cultura e antibiograma e, até que saiam os resultados desses testes, deve ser iniciada a antibioticoterapia de amplo espectro 6. O prolapso retal parece ocorrer nos primeiros dias do pós-operatório, sendo facilmente reduzido manualmente
e fixado com sutura de bolsa de fumo ao redor do ânus 6. O tenesmo pós-operatório é comum e pode ocorrer devido à dor. O uso de analgésicos e amolecedores fecais normalmente resolve o problema. Suturas que possam ter invadido o lúmen retal podem ser outra causa do esforço. O esforço persistente para defecação pode favorecer a ocorrência de prolapso retal e recidiva da hérnia 6. A incontinência fecal é causada por danos ao nervo pudendo e ao seu nervo retal, caudal ou ao próprio músculo esfíncter externo do ânus. Danos unilaterais aos nervos normalmente são reversíveis em duas ou três semanas. Os danos bilaterais aos nervos ou danos
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graves ao músculo esfíncter anal externo são associados à incontinência permanente 6,47. A paralisia do nervo isquiático ocorre quando este fica preso ou é penetrado por uma sutura mal colocada no ligamento sacrotuberoso. O animal apresenta dor intensa e paralisia do nervo logo após o retorno anestésico e o tratamento para tal é a retirada da sutura agressora 6. Os problemas relacionados ao trato urinário são freqüentes (dano uretral, disúria, estrangúria, atonia vesical, necrose vesical e incontinência urinária) e estão relacionados à retroflexão com hiperdistensão da bexiga por longos períodos 16,29. A insuficiência renal aguda aparece raramente após a herniorrafia perineal em cães idosos, com doenças renais preexistentes, que receberam excesso de medicação durante o tratamento 14,16. As taxas de recorrência da hérnia perineal após herniorrafia variam entre 0 e 46%. O tipo de técnica empregada, herniorrafias perineais anteriores e a experiência do cirurgião parecem ser fatores importantes para a recorrência da hérnia perineal 7,16,42,45,47.
prostáticas que causam aumento de volume, as afecções retais (divertículo, saculação e flexura), os efeitos de hormônios gonadais, a atrofia neurogênica dos músculos elevador do ânus e coccígeo e a atuação da relaxina sobre os músculos do diafragma pélvico. O principal sinal clínico da hérnia perineal é o aumento de volume na região perineal. O diagnóstico pode ser feito com base nos achados clínicos e com apoio radiológico. Diversas técnicas para a correção cirúrgica da hérnia perineal foram descritas, sendo a herniorrafia clássica, a transposição do músculo obturador interno e o uso de implantes as mais comumente usadas.
Prognóstico Dentre os fatores que contribuem para o prognóstico da hérnia perineal, podem ser destacados o tamanho da hérnia, o tempo da formação da hérnia até a sua correção cirúrgica, o comprometimento da bexiga e a experiência do cirurgião 29,32,47. O prognóstico é bom para a correção de hérnias pequenas e recentes, sem comprometimento vesical e operadas por cirurgião experiente. Porém, em hérnias de longa duração, nas quais há o encarceramento da bexiga, o volume herniário é grande e não há um cirurgião experiente para realizar a herniorrafia, o prognóstico torna-se reservado 32.
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Considerações finais A hérnia perineal é uma afecção freqüente na clínica cirúrgica veterinária e, segundo as definições clássicas, deve ser considerada uma hérnia falsa. Tem como característica epidemiológica o acometimento predominante de cães machos de meia idade ou idade avançada. Desconhece-se a sua verdadeira causa, porém diversos fatores têm sido incriminados, como as afecções 84
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Ecologia
Códigos de Conduta Voluntários são criados para barrar a introdução de espécies exóticas invasoras
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om o objetivo de criar uma barreira à introdução e distribuição de plantas e animais invasores – que não pertencem à flora e fauna locais –, The Nature Conservancy, em parceria com diversas instituições, lança dois Códigos de Conduta Voluntários – um para os setores de plantas ornamentais e o outro para os setores de animais de estimação. A iniciativa, inédita, busca o apoio de paisagistas e médicos veterinários no controle da disseminação de espécies invasoras, além de conscientizar a população sobre os impactos causados à natureza pela soltura de animais de estimação e pelo cultivo de plantas ornamentais, fazendo-as compreender o seu papel na preservação do meio ambiente. Os códigos foram pensados a partir de um levantamento nacional sobre espécies exóticas invasoras, realizado pela The Nature Conservancy e pelo Instituto Hórus, que mostrou, por exemplo, que 21,8% das espécies exóticas invasoras de plantas que foram introduzidas intencionalmente no país têm causa no uso ornamental. O cultivo, criação, comercialização e distribuição de plantas ornamentais e animais de estimação são práticas diretamente relacionadas à disseminação de espécies da flora e fauna ao redor do planeta. “Muitas vezes belas plantas ou bichinhos encantadores podem trazer sérios problemas se forem parar na natureza. Profissionais bem preparados podem não somente reduzir o comércio e utilização dessas espécies, como também convidar a população a fazer a sua parte”, comenta Silvia Ziller, coordenadora do Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul. Riscos à biodiversidade As ações do homem vêm mudando drasticamente a distribuição das espécies no planeta, causando não apenas impactos econômicos e sobre a saúde humana, mas também impactos ecológicos, como a descaracterização de ecossistemas e a extinção de espécies. Os números são alarmantes: estimativas revelam que mais de 1/3 das extinções de espécies nos últimos 400 anos foram 88
causadas por animais, plantas e pragas exóticas invasoras. À medida em que ocupam o espaço de espécies nativas e modificam a dinâmica de ambientes naturais, as espécies invasoras podem causar vários prejuízos, mas seus riscos ainda são desconhecidos de grande parte da população, que ignora os perigos relacionados à soltura de animais de estimação na natureza e ao cultivo de plantas exóticas invasoras como ornamentais, como a trepadeira madressilva (Lonicera japonica), o tigre-d’água (Trachemys scripta e T. dorbigni) e a paina ou capim-dos-pampas (Cortaderia selloana). A perda de hábitat das espécies nativas, a competição por alimento, a predação e a descaracterização dos ciclos ecológicos naturais são alguns dos mais freqüentes impactos causados por espécies exóticas invasoras. Não há uma avaliação para o prejuízo causado pelas espécies exóticas invasoras nos recursos naturais do Brasil (solo, água, ar, paisagem etc.), mas para a agricultura e a saúde humana este custo está estimado em US$50 bilhões por ano. Os Códigos de Conduta Voluntários O trabalho de conscientização que já vem sendo feito pela TNC passou, em pouco tempo, a contar com o apoio de veterinários e paisagistas, já que a demanda por animais de estimação e plantas ornamentais é muito grande e a conscientização dos pontos-de-venda e distribuição destas espécies é um meio efetivo de controle da disseminação de espécies invasoras. Esse trabalho culminou na criação dos Códigos de Conduta Voluntários, que são um conjunto de regras sobre práticas éticas e responsáveis, propostas para promover a conscientização sobre o risco do uso e disseminação de espécies exóticas invasoras. Estes códigos valorizam indivíduos ou empresas que se preocupam em desempenhar seu trabalho respeitando preceitos sociais e ambientais, além dos econômicos, fundamentando-se na responsabilidade ambiental. Um dos principais objetivos destes documentos é criar uma barreira à
introdução e distribuição de plantas reconhecidamente ou potencialmente invasoras, por meio da realização de análises de risco que, baseadas nas características biológicas e ecológicas das espécies, podem prever quais espécies têm tendência a se tornar problemas ambientais ou configurar riscos à saúde humana. Podem aderir aos respectivos Códigos de Conduta Voluntários pessoas e instituições interessadas em contribuir com o combate às espécies exóticas invasoras e com a promoção do uso de espécies nativas dos ecossistemas brasileiros. Quem adere aos Códigos deve desenvolver um plano de trabalho onde estarão listados os compromissos e as metas assumidas. Os parceiros São parceiros nesta iniciativa a Associação Paranaense de Paisagismo e Jardinagem, o Laboratório de Paisagismo da Universidade Federal do Paraná, a Coordenação Geral de Fauna do Ibama, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), a Clínica de Vida Livre, a Cinemática Produções e Publicidade, o Grupo Fowler e os cursos de Medicina Veterinária e Ciências Biológicas da Universidade Tuiuti do Paraná. Sobre a TNC The Nature Conservancy (TNC), criada em 1951, é uma das maiores e mais antigas ongs ambientais do mundo. Atuante em mais de 30 países, tem como missão proteger ecossistemas naturais, plantas, animais e os que representam a diversidade de vida no planeta, conservando as terras e águas de que precisam para sobreviver. Presente no Brasil desde 1988, desenvolve mais de 20 grandes iniciativas nos principais biomas brasileiros (Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Caatinga), com o objetivo de compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a conservação dos ecossistemas naturais. Nos últimos anos, suas ações contribuíram para a conservação de mais de 20 milhões de hectares em todo o país. TNC: www.tnc.org/brasil
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Bem-estar animal
WSPA, Prefeitura de Parintins e Ibama inauguraram centro para tratar animais no Amazonas
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oi inaugurado, em Parintins (AM), o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), paralelamente ao lançamento da campanha “Respeito à Vida”. Com infra-estrutura pequena, porém bem equipado, o centro receberá animais entregues ou confiscados para serem tratados e, quando aptos, devolvidos ao seu hábitat natural. Financiado pela Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA - World Society for the Protection of Animals) e pela Prefeitura de Parintins, ele será operado pelo Ibama. O centro é parte do projeto Arca Amazônica, que existe desde 2003 e também inclui programa de permacultura, de resgate de filhotes de peixe-boi, de controle da população de animais e de educação humanitária. Elizabeth Mac Gregor, a Gerente de
Desenvolvimento da WSPA, que esteve em Parintins para a inauguração, também se reuniu com chefes da Vigilância Sanitária e coordenadores do Projeto Agentes de Saúde para levar, pela primeira vez, a questão de controle populacional de cães para ser discutida com as Secretarias de Saúde do Baixo Amazonas. Fundada há 25 anos, a WSPA tem por missão elevar os níveis de bem-estar dos animais em todo o mundo, assegurando que esse princípio seja universalmente compreendido e respeitado. A organização possui uma frente ampla e diversa de trabalho, que inclui projetos educativos, capacitação profissional, resgate de animais e suporte técnico para afiliadas, além de uma mobilização constante para a criação e aplicação de leis específicas de proteção aos animais.
A Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) realizará, de 9 a 11 de agosto no Riocentro (RJ), o II Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal – Teoria, Docência, Aplicação. O congresso, que é parte da 7ª Conferência SulAmericana de Medicina Veterinária, tem como público-alvo médicos veterinários, zootecnistas e profissionais de áreas afins, ramos de atividade que exercem um papel central na melhoria do bem-estar animal por meio de suas próprias ações, influenciando outros profissionais e o público
em geral. São profissionais importantes na construção permanente da relação ser humanoanimal. A demanda de vários segmentos da sociedade pela atuação profissional que leva em conta o bem-estar animal vem crescendo de forma exponencial. Novas diretrizes comerciais e legislativas, nacionais e internacionais, assim como novos parâmetros éticos nas pesquisas científicas, são algumas das evidências dessas novas exigências. Torna-se, portanto, essencial a compreensão da ciência do bem-
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Precisa-se de médico veterinário
A
Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA Brasil) está recrutando um(a) médico(a) veterinário(a) para assumir o cargo de Gerente de Programas Veterinários, para trabalhar em seu escritório no Rio de Janeiro, RJ. Aos interessados solicita-se enviar para elizabethmacgregor@wspabr.org, juntamente com seu curriculum vitae, em inglês, um texto, também em inglês, de no máximo duas páginas, sobre as questões abaixo: • What are the main issues in Brasil regarding animal welfare in general? • What are the main issues in Brasil regarding the welfare of companion animals (dogs/cats/horses) and what could be done to improve it? WSPA: www.wspabrasil.org
estar animal por parte destes profissionais. Faz-se necessário que também as faculdades de medicina veterinária, zootecnia e ciências afins ofereçam aos seus alunos uma formação específica nessa área. O “I Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal – Teoria, Docência e Aplicação tem como proposta incentivar o fluxo de informação científica e promover o intercâmbio de idéias e a troca de experiências. Para isso, reunirá no país alguns dos maiores expoentes do assunto em todo o mundo.
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Entrevista Escusa de consciência, direito garantido
Dr. Laerte Fernando Levai
O direito à escusa de consciência (ou objeção de consciência) foi o tema da entrevista com o dr. Laerte Fernando Levai, promotor de Justiça de São José dos Campos, SP, também formado em jornalismo e autor do livro Direito dos Animais, publicado pela Editora Mantiqueira. Como integrante do Ministério Público do Estado de São Paulo, o dr. Laerte Levai promove diversas ações civis públicas contra os abusos praticados em animais não humanos, principalmente no que se refere ao entretenimento e à experimentação animal. Em novembro de 2006, o autor publicou a tese “O direito à escusa de consciência na experimentação animal”, que pode ser encontrada no site do Ministério Público do Estado de São Paulo: www.mp.sp.gov.br
Clínica Veterinária (CV) - O que podem fazer os estudantes de medicina veterinária – e de outros cursos relacionados às ciências biomédicas – que não concordem em participar de práticas vivisseccionistas? Laerte Fernando Levai (LFL) - Os alunos que não quiserem matar animais durante seu curso acadêmico têm o direito de invocar em seu próprio favor, sem risco de represálias, a opção pela escusa de consciência à experimentação animal, porque ninguém pode ser obrigado a fazer aquilo que desrespeite seus princípios filosóficos, culturais ou políticos, ou que ofenda sua integridade moral e espiritual. CV - Há fundamento jurídico que garanta a escusa de consciência na experimentação animal? LFL - O fundamento para a escusa de consciência está em nossa Constituição Federal, compreendendo o artigo 5º, inciso II (“Ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”), mesmo porque não existe lei que obrigue o aluno a praticar vivissecção; o artigo 5º, inciso VIII (“Ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”); e, ainda, o artigo 225, parágrafo 1º, inciso VII (que incumbe o Poder Público de “proteger a fauna, vedadas as práticas que submetam os animais à crueldade”.) 92
CV - A escusa de consciência na experimentação animal, cada vez mais abordada no Brasil, também é discutida internacionalmente? Poderia citar alguns exemplos? LFL - Sim, na Itália a Lei n. 413/93 deferiu aos estudantes de biomédicas o direito à escusa de consciência na experimentação animal. Essa avançada lei italiana, por sua vez, serviu de base para a Lei n. 4.428/99, de Bauru, Estado de São Paulo, cujos artigos 7º, 8º e 9º são expressos em garantir a escusa àqueles que lidam com experimentação animal em escolas ou centros de pesquisa. Mais recentemente, a Lei Estadual 11.977/05, de São Paulo, tratou do tema em um dispositivo específico, assegurando tal direito ao estudante que quiser invocá-lo. CV - Em dezembro de 2006, a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação aprovou o projeto de lei n. 1.153/ 1995, do deputado Sérgio Arouca, também conhecido como Lei da Cobaia. Uma das colocações do relator, o deputado Sérgio Miranda, foi a seguinte: “Com efeito, o pesquisador ou professor que ingressa voluntariamente em um estabelecimento que utiliza animais para fins experimentais, conhecedor desse fato, e assina um contrato com aquela instituição sem que haja nenhum vício de manifestação de sua vontade, não pode, posteriormente, alegar escusa de consciência para eximir-se do cumprimento de suas obrigações contratuais e continuar fazendo jus à contrapartida do empregador na forma
Direito dos Animais
do recebimento de seu salário e demais benefícios. Observe-se que, se tinha ele restrições morais às tarefas que lhe caberiam desempenhar ali, não estava obrigado a aceitar o cargo nem está impedido de buscar outro cargo que melhor atenda aos ditames de sua consciência”. Será que foi proposital a não inclusão dos estudantes nessa colocação? Será que uma faculdade dispensaria todos os seus alunos se esses exigissem o oferecimento de ensino ético e humanitário, a exemplo das mais de 100 faculdades de medicina que deixaram de utilizar práticas vivisseccionistas? LFL - Foi lamentável, a meu ver, a Comissão de Constituição e Justiça ter aprovado um substitutivo global ao PL 1.153/95 (Dep. Sérgio Arouca), que se agregou ao PL 3.964/97 (do Poder Executivo), quando na realidade um outro projeto sobre o mesmo assunto, o de n. 1.691/2003 (Dep. Iara Bernardi), tratava da questão referente ao uso experimental de animais de maneira infinitamente superior aos outros dois. Dentre os pontos favoráveis do PL 1.691/03, rejeitado, havia a garantia à escusa de consciência, a prioridade aos recursos alternativos e, ainda, a proibição de experimentos repetidos ou cujos resultados são conhecidos. Além disso, ele atribuía incentivos fiscais e ambientais às empresas que não testassem em animais, mediante a atribuição de um selo verde, estimulando assim a busca pelos métodos substitutivos. É triste ver que este último projeto, de caráter restritivo, não
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tenha sido prestigiado pelos parlamentares, porque ele era o único que verdadeiramente poderia acabar com os horrores da experimentação animal e garantir o direito à escusa de consciência. Mais triste ainda é ver os fundamentos de sua rejeição, como que reduzindo os parâmetros morais humanos às regras do mercado perverso que financia a vivissecção. Não tenho dúvidas de que a eventual aprovação de um PL abolicionista mexeria em grandes interesses econômicos. Mas, como diz um ditado popular, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. CV - Em março de 2007 foi protocolado na Câmara dos Deputados requerimento solicitando urgência na apreciação do projeto de lei n. 1.153/1995. Enquanto não é apreciado, há alguma coisa que a sociedade civil possa fazer para garantir a preservação da escusa de consciência na experimentação animal? LFL - Barulho. É preciso que a opinião pública saiba o que acontece entre as
quatro paredes de um laboratório ou durante uma aula de fisiologia. Sob a justificativa de buscar o progresso da ciência, o pesquisador prende, fere, quebra, escalpela, penetra, queima, secciona, mutila e mata, perfazendo um autêntico massacre consentido. Em suas mãos criaturas vivas tornam-se cobaias, modelos, simples exemplares e depois peças descartáveis. Isso tudo apesar da conhecida existência de recursos substitutivos de que a maioria dos vivisseccionistas nem quer ouvir falar. É necessária, urgentemente, uma mudança de paradigma na mentalidade do pesquisador, uma pequena revolução interior que lhe permita conciliar a ética à atividade científica, livrando os animais de tanta barbárie. CV - Caso o projeto de lei n. 1.153/ 1995 seja finalmente aprovado e se torne lei, o que pode acontecer com as pessoas que alegarem escusa de consciência nas práticas que envolvam a experimentação animal?
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LFL - O direito à escusa de consciência, independentemente do surgimento de leis que legitimem a experimentação animal, continuará sempre a existir. Isso porque ele faz parte do capítulo dos Direitos e Garantias Fundamentais da Constituição Federal, que preserva as convicções íntimas do cidadão e não obriga ninguém a cometer violência moral contra si próprio. Assim, o estudante que deseja garantir sua postura antivivisseccionista poderá requerer ao professor da disciplina ou ao diretor da faculdade dispensa das aulas que envolvem experimentação animal, mediante a elaboração de um trabalho acadêmico que utilize metodologia substitutiva. Se ainda assim não for atendido em sua legítima pretensão, poderá ingressar com mandado de segurança perante a Justiça. Obrigar alguém a perfazer experimentação animal é perseverar em um erro metodológico, é contribuir para a difusão da insensibilidade, é subestimar a própria inteligência humana, enfim, é ofender e desrespeitar a ética da vida.
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Por Sergio Lobato
O monge e o clínico veterinário
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ecentemente um livro do autor James Hunter vendeu mais de dois milhões de exemplares em todo o Brasil e fez muitos segmentos profissionais questionarem suas posições e posturas nas relações entre chefes e equipes de trabalho. O livro resumidamente conta a estória de um empresário famoso que abandona sua carreira de sucesso e se torna um monge beneditino, e de um bem-sucedido homem de negócios que passa por uma triste conclusão: se vê fracassado como pai, marido e empresário. Decidido a mudar sua vida, o homem de negócios decide fazer um retiro espiritual no mosteiro onde o famoso empresário vive como monge, e lá ele aprende os ensinamentos fundamentais do que o monge chama de princípios da verdadeira liderança. O grande mote do livro é mostrar que a verdadeira liderança não é o velho e bom poder, mas sim a autoridade conquistada por meio da dedicação, do respeito, do amor verdadeiro e da responsabilidade e respeito com a sua equipe de colaboradores. É o que chamo de a real empatia necessária nos dias atuais, para aqueles que realmente desejem imprimir um pouco de humanidade em suas relações e, assim, obter diferencial competitivo. Em um primeiro momento, confesso que me vi perdido sem saber como
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Palestrante: MV Sergio Lobato Marketing aplicado à clínica veterinária; aspectos legais e éticos na aplicação do marketing; comunicação empresarial avançada; estratégias diferenciais para clínicas veterinárias Local: Instituto Biológico* Realização
balcão do petshop). E esta avaliação não depende somente de você doutor(a)! Na grande maioria das situações, o seu conhecimento técnico, a sua resolução clínica para o caso que está atendendo em sua rotina, é o seu maior desafio profissional, mas, lembre-se: até chegar em você seu cliente passou por uma série de experiências sensoriais e muito pessoais, como por exemplo ter sido atendida por sua secretária. É o que eu costumo chamar de linha de frente do serviço médico veterinário! Começamos a entender a importância das pessoas que estão em nosso dia-adia profissional não é mesmo? Mas será que o ponto mais importante deste artigo seria apenas o reconhecimento do papel que nossas equipes de trabalho têm em nossos negócios? Muitos podem perguntar: “Sérgio, por que você não usa o termo ‘colaboradores’, tão comum em revistas que falam sobre este assunto?” Por uma simples razão: porque na medicina veterinária ainda não conseguimos sequer visualizar a importância das equipes de trabalho, que dirá entender seus componentes como colaboradores. Pois a realidade é que em nosso próprio processo de formação como profissionais sequer somos alertados sobre as funções gerenciais que farão parte de nosso dia-a-dia enquanto
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22 e 29 de julho; 5, 12, 19 e 26 de agosto;
5, 12, 19 e 26 de agosto; 2 e 9 de setembro - horário: das 8h às 17h
2 de setembro horário: das 8h às 17h
26 de agosto; 2, 9, 23 e 30 de setembro; e 7, 14 e 21 de outubro horário: das 8h às 17h
Palestrante:
Palestrante: Prof. Milton Kolber Hematologia clínica (eritrograma e leucograma); urinálise; bioquímica sérica; parasitologia veterinária
Profª Terezinha Knöbl
Palestrante:
Manejo nutricional e reprodutivo; técnicas de sexagem; anamnese, contenção e exame clínico; administração de medicamentos; enfermidades; diagnóstico laboratorial; emergências, fraturas e intoxicações; necropsia; terapias alternativas; responsabilidade técnica em criatórios de aves; anestesia e cirurgia
Cirurgias: de cabeça e pescoço; de cavidade torácica; de cavidade abdominal; do trato genitourinário; da região perineal; da pele; miscelâneas cirúrgicas
Profª Aline Machado de Zoppa
Local: 2º Batalhão da Polícia do Exército (BPE)** Local: 2º Batalhão da Polícia do Exército (BPE)**
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começar a falar sobre este tema para o universo da medicina veterinária, pois precisamos “cair na real” e admitir que essa conversa sobre liderança, sobre como estar à frente de nossas equipes de trabalho, é algo ainda muito distante de nossa formação acadêmica, e que somos apresentados a esta realidade sem ao menos notar que é ela que se apresenta em nossas rotinas de forma mais presente do que possamos imaginar. Quantos dos colegas que estão lendo essa frase agora não começam o dia dizendo bom-dia para suas secretárias, atendentes, vendedores e auxiliares de serviços veterinários (estes últimos, não custa nada lembrar, ainda sem regulamentação!), e também para os profissionais de higiene e estética animal que prestam serviços nos seus estabelecimentos? Gostaria de lembrar a todos os profissionais da medicina veterinária que estamos inseridos em um segmento chamado Prestação de Serviços, e um dos pilares para o sucesso neste segmento é a superação das expectativas dos consumidores de nossos serviços. Ao mesmo tempo convém lembrar que os consumidores de nossos serviços avaliam os “nossos serviços” por meio de um somatório de dados coletados durante a execução e avaliação imediata do serviço (seja ele uma consulta, uma tosa higiênica ou uma simples venda no
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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
empreendedores do mercado veterinário. Sequer é citado que desenvolver as habilidades de relacionamento interpessoal e gerenciais deverá ser um grande exercício diário de autoconhecimento. Quero ainda tocar em um ponto que pode parecer nevrálgico e causar um certo incômodo em alguns profissionais (e realmente quero que seja essa a sensação!): a eterna postura de estar sempre em um pedestal branco, um “Olimpo profissional” construído sob o véu do pseudo-título de doutor. Tal postura esconde muitas fraquezas institucionais e muitas mazelas pessoais, mas cada caso é um caso. De qualquer modo, é notório que este distanciamento nos faz pensar em segregação! Caso fosse possível fazer uma grande pesquisa nacional e rastreássemos a origem familiar de grande parte dos profissionais médicos veterinários deste país, veríamos que a maioria vem da classe média, de estruturas familiares que lhe permitiu ter acesso ao ensino superior. E nossas equipes de trabalho? Qual
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seria a origem da grande maioria em uma análise sócioeconômica? Preciso responder? Classes menos favorecidas! Anteriormente falamos em desenvolver habilidades de relacionamento interpessoal, e o grande desafio é aprender a comunicar-se, desenvolver uma linguagem adequada e evitar ao máximo os ruídos nas mensagens entre você e sua equipe de trabalho. Mas como fazer isso? Entendendo todas as nuances destas diferenças sócioculturais, entendendo que seu papel é muito mais importante do que ser apenas um...chefe! Alguém que paga os salários no final do mês. Mas creio que o mais importante nesse estágio é você reconhecer-se, disporse a conhecer a sua equipe de forma verdadeira. Isto é a base do ensinamento explicado no livro citado no início. É ver como seu trabalho, sua vida, sua postura, seus clientes, enfim, como seu universo é trabalhado do ponto de vista da sua equipe de trabalho. Como eles interagem, decidem e pensam... Isso não é fácil... Não existe uma
receita mágica e isso eu faço questão de citar, pois o processo é único e, às vezes, muito particular. Você primeiro precisa reconhecer-se, conhecer-se e classificar-se quanto ao seu estilo de relacionamento com sua equipe de trabalho, para somente então pensar em classificar-se como um tipo de líder. Desenvolver a liderança é algo muito importante para que todos nós possamos profissionalizar nossos negócios veterinários e, felizmente, ter a chance de melhorar como pessoas, o que muitas vezes fica de lado nas horas a fio de plantão e, principalmente, debaixo de um uniforme branco intimidador. Mas como mudar? Como começar a me relacionar com minha equipe de trabalho? O que posso fazer para ser um líder em meu trabalho? Vamos conversar sobre isso em outras edições e você verá que é mais fácil do que imagina, basta querer, basta deixar de lado seus preconceitos e suas verdades absolutas, e se dispor a sentir muitos incômodos nessa caminhada. Vamos juntos?
Clínica Veterinária, Ano XII, n. 68, maio/junho, 2007
TRATADO DE ANIMAIS SELVAGENS - MEDICINA VETERINÁRIA
T
ratado de Animais Selvagens Medicina Veterinária é uma obra imprescindível para o médico veterinário especializado em animais selvagens e para o clínico de pequenos animais que atende animais silvestres, como hamsters, papagaios, periquitos e tartarugas. A obra reúne informações inéditas e exclusivas, compartilhadas por 88 especialistas brasileiros e quatro convidados estrangeiros. Epidemiologistas, microbiologistas e médicos veterinários sanitaristas considerarão este livro útil na compreensão do envolvimento dos animais selvagens no ciclo de zoonoses e doenças emergentes. Dividido em 10 seções, totalizando 77 capítulos, o texto aborda diversos
aspectos da medicina veterinária dos animais selvagens e exóticos, e contém: •Aspectos biológicos, anatômicos, fisiológicos, clínicos, anatomopatológicos e terapêuticos de peixes, répteis, aves e mamíferos, com ênfase nos animais sulamericanos; • 395 tabelas com informações sobre doenças, hematologia e terapêutica (doses sugeridas) para cada grupo animal; • Protocolos anestésicos estabelecidos a partir de décadas de experiência dos autores; • Descrição detalhada dos vários métodos de captura, contenção física, transporte e equipamentos utilizados em animais selvagens; • Diagnóstico por imagem, patologia
clínica e extrapolação alométrica; • Técnicas necroscópicas, cirúrgicas e reabilitação de animais feridos; • Odontoestomatologia, oftalmologia, eletrocardiografia, neurologia e endoscopia aviária; • Nutrição e doenças nutricionais; • Temas relativos à medicina de conservação, gestão ambiental e planejamento de instalações veterinárias; • Aspectos éticos e legais; • Profilaxia e sanidade. Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária é uma fonte de consulta completa, amplamente ilustrada e totalmente colorida. Com linguagem acessível, é destinada a estudantes e médicos veterinários.
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Tratado de Animais Selvagens - Medicina Veterinária , 1.376 páginas - Editora Roca: www.editoraroca.com.br Autores: Zalmir Silvino Cubas. Médico Veterinário. Mestrando em Ciências Veterinárias (Patologia Veterinária), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba. especialista em medicina de animais selvagens, Universidade da Califórnia (UCD), campus de Davis. Médico Veterinário do Zoológico Roberto Ribas Lange e do Criadouro de Animais Selvagens da Itaipu Binacional (CASIB), Foz do Iguaçu, PR. Consultor do Projeto Mundo Selvagem, Foz do Iguaçu, PR. Jean Carlos Ramos Silva. Médico Veterinário. Mestre e doutor em epidemiologia experimental e aplicada às zoonoses, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP). Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária (DMV), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, PE. Diretor executivo do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação (Tríade). José Luiz Catão-Dias. Médico Veterinário. Doutor em patologia experimental e comparada, Universidade de São Paulo (USP). Livre-docente em patologia comparada de animais selvagens. Professor associado de patologia do Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. Diretor técnico-científico da Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP).
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C
CIRURGIA ORTOPÉDICA EM CÃES E GATOS irurgia Ortopédica em Cães e Gatos, em sua quarta edição, apre-
senta um guia preciso para médicos veterinários em sua prática clínica diária, para que se mantenham atualizados quanto aos principais aspectos da cirurgia ortopédica em pequenos animais. O livro foi reescrito e atualizado a fim de fornecer uma extensa revisão dos aspectos ortopédicos e espinhais de cães e gatos. As ilustrações foram redesenhadas e outras acrescentadas, combinadas com fotografias e radiografias para facilitar o diagnóstico e a compreensão das
Cirurgia Ortopédica em Cães e Gatos Tradutores: • Prof. dr. João Guilherme Padilha Filho. Médico veterinário. Doutor em cirurgia de pequenos animais pela Escola Superior de Hannover - Alemanha. Professor doutor de cirurgia de pequenos animais na UNESP Jaboticabal. • Dra. Ângela Maria Mantoan Padilha. Médica veterinária pelo Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto-SP Editora Roca: www.editoraroca.com.br
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técnicas cirúrgicas. Dividido em sete seções, totalizando 51 capítulos, Cirurgia Ortopédica em Cães e Gatos - Quarta Edição apresenta os temas: • doenças articulares; • tratamento das fraturas; • crânio e coluna; • membros dianteiros; • membros traseiros; • condições ortopédicas diversas. O livro é uma obra completa e amplamente ilustrada. Com abordagem prática, é um guia de referência rápida e uma fonte preciosa de informações para estudantes e residentes, que nele encontrarão uma base sólida para seus estudos e leituras adicionais, e para médicos veterinários que diagnosticam e tratam de problemas espinhais e ortopédicos.
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LANÇAMENTOS NOVOS ALIMENTOS PARA CÃES sendo comercializados em embalagens de 1 e 15 quilos. A linha Supper conta com as versões Filhotes e Adultos. Sua comercialização está sendo feita em embalagens de 2, 15 e 25 quilos, no sabor Carne e Ossinhos. Essencial Pet Care: www.essencialpetcare.com.br
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alance e Supper são as marca das rações para cães lançadas em abril pela Perdigão, marcando sua entrada no mercado de pet food. Os produtos são os primeiros do portfólio da Essencial Pet Care, divisão criada especialmente para o segmento. A entrada nesse mercado levou em conta a disponibilidade de infra-estrutura produtiva e matérias-primas na variada cadeia de produção da empresa. As rações estão comercializadas, inicialmente, na região Sul e em São Paulo, praças com maior concentração de cães no Brasil. A linha Balance é encontrada em cinco diferentes variedades: Filhotes Raças Pequenas, Filhotes Raças Médias e Grandes, Adultos Raças Pequenas, Adultos Raças Médias e Grandes e Adultos Sênior. Estes produtos estão
Balance Adultos Sênior
Supper Adultos
NOVOS ALIMENTOS SUPER PREMIUM
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m maio, no Congresso Nacional da Anclivepa, em Florianópolis, SC, a Nestlé Purina lançará uma novidade na sua linha de alimentos super premium para cães filhotes, o novo Pro Plan Optistart Plus, especialmente formulado com uma combinação inovadora de nutrientes, incluindo anticorpos naturais do colostro e proteínas de alta qualidade do frango, que reforçam o sistema imunológico do filhote. O colostro utilizado no novo Pro Plan Puppy Optistart Plus é uma grande inovação tecnológica e é produzido de acordo com exigentes padrões de qualidade animal e de saúde. Um estudo desenvolvido pelo Centro
de Pesquisa e Desenvolvimento Purina com 24 cães adultos comprovou que uma dieta completa e balanceada suplementada com colostro aumenta a condição imunológica sistêmica dos cães e os mantém mais propensos a responder melhor quando expostos a um agente infeccioso ou vacinas; também eleva os níveis de IgA fecal e mantém a população da flora intestinal mais estável. O produto estará disponível nas variedades: Puppy Small Breed (raças pequenas), Puppy Complete Protection (raças médias) e Puppy Large Breed (raças grandes). Nestlé Purina: 0800-7701190 Divulgação
Novos alimentos super premium: Puppy Small Breed (raças pequenas), Puppy Complete Protection (raças médias) e Puppy Large Breed (raças grandes)
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NUTRACÊUTICO
Para cães e gatos, o Imunologic possui apresentação específica, em embalagem com 60 comprimidos palatáveis, no sabor fígado
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ioneira no desenvolvimento de nutracêuticos, a Vetnil acaba de lançar o Imunologic. Segundo o fabricante, o produto ajuda a fortalecer o sistema imunológico, sendo indicado para caninos, felinos, aves, roedores, bovinos, eqüinos, ovinos, caprinos e suínos. O Imunologic contém 22 nutrientes que estimulam as células de defesa do organismo. Entre eles estão extrato de shitake, coenzima Q10, ginkgo biloba, extrato de echinacea, além de aminoácidos, vitaminas e minerais. O produto é recomendado para os animais que precisam melhorar a resposta do sistema imunológico. A recomendação do fabricante é para o seu uso em: • animais hospitalizados, na prevenção e tratamento de neoplasias e doenças infecto-contagiosas, como cinomose e parvovirose; • filhotes que não ingeriram colostro suficiente, fêmeas gestantes e lactantes, animais com anemia, idosos ou submetidos a condições de estresse, como transporte; • associação ao esquema de vacinação. O Imunologic pode ser adicionado ao alimento ou administrado diretamente ao animal. Ele está disponível em duas versões: em pó (frascos com 100 gramas, no sabor bacon, e 500 gramas, no sabor cenoura) e em comprimidos palatáveis, versão específica para cães e gatos (embalagem com 60 comprimidos, no sabor fígado). Vetnil: 0800 109 197 www.vetnil.com
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NACIONAL 11 a 13 de maio Belo Horizonte - MG I Encontro de herpetologia ☎ (31) 9162-2020
22 a 26 de maio Curitiba - PR III Jornada Grupo Fowler Encontro Nacional de Medicina de Répteis ☎ (41) 3343-2871
12 e 13 de maio Curitiba - PR IV Curso de oncologia veterinária ☎ (41) 3297-4479
23 a 26 de maio Alegre - ES Semana de Educação Continuada em Medicina Veterinária da UFES ☎ (28) 3552-8924
14 a 19 de maio Recife - PE IX Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal ! rita@vps.fmvz.usp.br
24 a 27 de maio Florianópolis - SC XXVIII Congresso Brasileiro da Anclivepa ☎ (48) 3035-4388
15 de maio Porto Alegre - RS Síndrome do banho e tosa. Será que posso evitá-la? ! patronalvetrs@uol. com.br 15 e 16 de maio São Paulo - SP Cardiologia. O que esperar do eletrocardiograma ! spmv@uol.com.br 17 de maio São Paulo - SP Medicina legal e perícia. Acidentes em pet shops uma questão legal ! (11) 5055-1427 18 a 20 de maio São Paulo - SP Ultra-sonografia em cabeça e pescoço ☎ (11) 5055-1427 20 e 27 de maio; 3, 10, 17 e 24 de junho; 1º e 8 de julho São Paulo - SP Curso teórico-prático de radiologia veterinária em pequenos animais ☎ (11) 6995-9155
25 a 27 de maio São Paulo - SP VI Curso de reabilitação de pequenos animais. Módulo I. ☎ (11) 3714-6570 27 de maio a 1º de junho São Paulo - SP Todos pela conservação: • XXXI Congresso Anual da Sociedade de Zoológicos do Brasil - SZB; • XIV Congresso Anual da “Asociación Latinoamericana de Parques Zoológicos y Acuários ALPZA” e • XVI Encontro da Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens - Abravas ! www.todospelaconservacao.org.br 28 a 30 de maio Santa Maria - RS I Simpósio regional de atualização em terapia regenerativa com células-tronco ☎ (55) 3026-8917
21 a 25 de maio São Paulo - SP Cardiologia - Principais arritmias em cães e gatos, mecanismo de formação, etiologia e tratamento das mesmas ☎ (11) 5055-1427
31 de maio a 2 de junho Curitiba - PR XVII Congresso Brasileiro de Reprodução Animal ! cbra@cbra.org.br
21 a 26 de maio Salvador - BA X Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal - FOCA ! rita@vps.fmvz.usp.br
2 e 3 de junho Londrina - PR SIDAC - Simpósio de Dermatologia em Animais de Companhia ☎ (43) 9151-8889
4 de junho a 5 de julho São Paulo - SP; IVI Curso teórico-prático de ultra-sonografia ☎ (11) 3034-5447
19 de junho Belo Horizonte - MG Noite da oftalmologia ! anclivepa@anclivepamg.com.br
9 e 10 de junho Goiânia - GO Oncologia em Pequenos Animais ☎ (62) 3565-4608
23 e 24 de junho Londrina - PR 2º Simpósio de Anestesiologia e Cirurgia de Animais de Companhia ☎ (43) 3347-9147
11 a 15 de junho Ribeirão Preto - SP VI Jornada Acadêmica de Medicina Veterinária ☎ (16) 3637-2288
25 de junho São Paulo - SP Curso de cardiologia ! (11) 5055-1427
12 a 14 de junho Seropédica - RJ V Jornada de Anestesiologia Veterinária ! paula.penna@yahoo. com.br
30 de junho a 1 de julho Niterói - RJ IV Encontro em tópicos especiais na clínica médica de felinos ☎ (21) 2629-9506
13 e 14 de junho São Paulo - SP Animais silvestres. Primatas: clínica e zoonoses. Clínica de aves ! spmv@uol.com.br
2 a 6 de julho Seropédica - RJ XXVIIII Semana do Médico Veterinário da Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ) ! semev_ufrrj@hotmail. com
21 de julho Rio de Janeiro - RJ Requisição e interpretação de exames laboratoriais ☎ (21) 2437-4879
2 a 7 de julho São Paulo - SP Radiologia ☎ (11) 5055-1427
22 a 24 de julho Curitiba - PR Feira Pet 2007 ☎ (55) 3333-1988
6 de julho (início) São Paulo - SP Curso de especialização em diagnóstico por imagem veterinário ☎ (11) 3813-6568
22 a 27 de julho Belo Horizonte - MG XII Congresso Brasileiro de Primatologia ! www.carangola.br/ primatologia/index.html
15 a 17 de junho São Paulo - SP VI Curso de reabilitação de pequenos animais. Módulo II. ☎ (11) 3714-6570 16 e 17 de junho São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia ☎ (11) 3082-3532 16 e 17 de junho Araguaína - TO II Curso de eletrocardiografia em pequenos animais ! geringbr@yahoo.com.br 17 e 24 de junho São Paulo - SP 1º Workshop em gestão de clínica veterinária ☎ (11) 6995-9155 18 a 22 de junho Campos dos Goytacazes RJ IX SACAMEV Semana Acadêmica de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Norte Fluminense UENF ! coordenacaosacamev 2007@yahoo.com.br
14 e 15 de julho São Paulo - SP I Congresso brasileiro de atividade, educação e terapia assistida por animais ! www.projetocao.org.br 15, 22 e 29 de julho; 5, 12 e 19 de agosto São Paulo - SP Curso de auxiliar de enfermagem veterinária na clínica de pequenos animais ☎ (11) 6995-9155 16 e 17 de julho Belo Horizonte - MG IV Simpósio internacional de leishmaniose visceral canina ! anclivepa@anclivepamg.com.br 20 a 22 de julho Santos - SP Expo Pet Shopping ☎ (13) 3227-9441
6 e 7 de julho São Paulo - SP Miscelâneas cirúrgicas tóraco-abdominais (curso prático) ☎ (11) 3819-0594
22 e 29 de julho; 5, 12, 19 e 25 de agosto; 2 de setembro Osasco - SP Curso teórico-prático de laboratório clínico ☎ (11) 6995-9155
10 a 27 de julho São Paulo - SP Tópicos em fisiologia comparativa ! cursodeinverno@ gmail.com
30 de julho a 13 de dezembro São Paulo - SP; IVI Curso de especialização em diagnósticos por imagens e urgências clínico-cirúrgicas ☎ (11) 3034-5447
12 de julho Porto Alegre - RS Direitos trabalhistas dos funcionários das clínicas, pets e estéticas ! patronalvetrs@uol. com.br
31 de julho a 13 de dezembro São Paulo - SP; IVI Curso de especialilzação e aperfeiçoamento em radiodignóstico veterinário ☎ (11) 3034-5447
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www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 1 a 4 de agosto Pirenópolis - GO III Encontro de Cirurgia do CBCAV ☎ (61) 9967-1447
4 e 5 de agosto Londrina - PR Comportamento de cães e gatos ☎ (43) 9151-8889 5, 12, 19 e 26 de agosto; 2 e 9 de setembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de atendimento de aves silvestres ☎ (11) 6995-9155
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9 a 11 de agosto Rio de Janeiro - RJ • 7ª Conferência SulAmericana de Medicina Veterinária; • 2º Encontro Nacional do Varejo Pet; • II Congresso Internacional de Conceitos em BemEstar Animal; • Seminário de alimentação e nutrição pet ! www.riovet.com.br
16 a 19 de agosto Ouro Preto - MG 8th International Veterinary Immunology Symposium ☎ (11) 3361-3056 20 a 24 de agosto São Paulo - SP XII SUSAVET ! davetunisa@yahoo. com.br 22 e 23 de agosto São Paulo - SP Ética, legislação e responsabilidade ! spmv@uol.com.br
6 a 18 de agosto Araçatuba - SP XIII SEMEV ☎ (18) 3636-3283
26 de agosto; 2, 9, 23 e 30 de setembro; 7, 14 e 21 de outubro São Paulo - SP Curso teórico-prático de cirurgia de partes moles ☎ (11) 6995-9155
11 e 12 de agosto Goiânia - GO Medicina de animais silvestres ! www.anclivepago.com.br
27 e 28 de agosto Porto Alegre - RS II Ciclo Regional de Atualização Clínica ! patronalvetrs@uol. com.br
27 de agosto a 2 de setembro São Paulo - SP II Simpósio de oftalmologia veterinária da FMVZ/USP ! simpoftavet_usp@ yahoo.com.br
9 e 10 de setembro São Paulo - SP Dermatologia ! spmv@uol.com.br 10 a 12 de setembro Santos - SP 34º Conbravet Congresso Brasileiro de Veterinária ☎ (11) 3129-4486 11 de setembro Belo Horizonte - MG Noite da odontologia ! anclivepa@anclivepamg.com.br
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15 e 16 de setembro Londrina - PR CTI-PET. Curso de Terapia Intensiva em Animais de Companhia ☎ (43) 9151-8889 23 e 30 de setembro; 7, 14 e 21 de outubro São Paulo - SP Curso teórico-prático de anestesia veterinária ☎ (11) 6995-9155 25 a 29 de setembro São Paulo - SP • 7º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais • Pet South America ! www.anclivepa-sp.org.br
4 a 6 de outubro Belo Horizonte - MG IV Congresso Mineiro da Anclivepa ! anclivepa@anclivepamg.com.br
www.agendaveterinaria.com.br
NACIONAL início - pág. 111
6 e 7 de outubro Londrina - PR Curso de terapia intensiva em animais de companhia ! pet_eventos@yahoo. com.br 8 a 11 de outubro Fortaleza - CE II Congresso Nacional de Saúde Publica Veterinária ☎ (85) 3257-6382 19 a 21 de outubro Botucatu - SP Curso de atualização em dermatologia de cães e gatos ! cursodermato@yahoo. com.br
9 a 11 de novembro Porto Alegre -RS FEBRAPET - Feira brasileira de produtos e serviços para animais de companhia ☎ (51) 3337-8575
10 e 11 de novembro Porto Alegre - RS Simpósio Internacional de Dermatologia Veterinária em Pequenos Animais ! patronalvetrs@uol. com.br
21 e 22 de outubro São Paulo - SP Oftalmologia: teórico-prático ☎ (11) 3082-3532
10 e 11 de novembro Goiânia - GO Fisioterapia e reabilitação em pequenos animais ! www.anclivepago.com.br
23 de outubro Porto Alegre - RS Quimioterapia na rotina das clínicas ! patronalvetrs@uol. com.br
13 de novembro Belo Horizonte - MG Noite da fluidoterapia ! anclivepa@anclivepamg.com.br
27 e 28 de outubro Botucatu - SP VI Simpósio internacional de patologia clínica veterinária ☎ (14) 3811-6115
26 e 27 de novembro Belo Horizonte - MG Curso de medicina de felinos ! anclivepa@anclivepamg.com.br
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2008 14 a 19 de janeiro Santos - Angra dos Reis Santos Curso de felinos a bordo do navio Splendour of the Seas ☎ (11) 6995-9155
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24 e 27 de maio México FCI - FCM - AMMVEPE World Congress of Veterinary Medicine ! www.fcmac.org.mx 21 a 25 de janeiro Santos - Florianópolis Santos Curso de dermatologia a bordo do navio Island Escape ☎ (11) 6995-9155
Data a confirmar Maceió - AL XXIX Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais -Anclivepa ! www.anclivepabrasil. com.br
6 a 9 de junho Seattle, Washington Congresso do Colégio Americano de Medicina Interna Veterinária - ACVIM Forum ! acvim@acvim.org
20 a 23 de agosto de 2007 Sidney - Austrália 32º Congresso Mundial da WSAVA ! www.wsava2007.com
19 a 23 de janeiro de 2008 Orlando - FL, EUA The North American Veterinary Conference ! www.tnavc.org
20 a 24 de agosto de 2008 Dublin - Irlanda 33º Congresso Mundial da WSAVA ! www.wsava2008.com 30 de julho a 23 de agosto Buenos Aires - Argentina II Curso de ciências aplicadas na oftamologia veterinária ! hdh@fvet.uba.ar
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