clínica veterinária 72

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G uarรก

ISSN 1413-571X

Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008 - R$ 13,00

E D i TO R A

Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra)

www.revistaclinicaveterinaria.com.br



Raquel Calixto de Souza

Índice

Clínica médica - 24

Camila Trevisan Pereira

Hemorragia oral por lesão ulcerativa no palato duro em gatos domésticos Oral bleeding due to erosive lesion on the hard palate in domestic cats Hemorragia oral por lesión ulcerativa en el paladar duro de gatos domésticos

Diaagnóstico por imagem - 28 Shunt portossistêmico: considerações sobre diagnóstico e tratamento

Carlos Eduardo Larsson Jr.

Imagem cintilográfica resultante da Portosystemic shunt: diagnostic and treatment considerations Shunt portosistémico: consideraciones sobre diagnóstico y tratamiento sobreposição de todas as imagens obtidas durante 180s após a admiDermatologia - 36 nistração retal do [99mTc]O4- (pertecMicobacterioses netato, 20mCi ou 740MBq).

Lesão ulcerativa no palato duro, próxima à linha média, localizada entre o canino superior direito e o terceiro pré-molar superior direito em gato doméstico

Juliana Werner

Mycobacteriosis Micobacteriosis

Oncologia - 46

Paniculite micobacteriana (Mycobacterium fortuitum-peregrinum). Lesões disseminadas (epi e mesogastro) fístulo-ulceradas sobre área desvitalizada

Tumor odontogênico epitelial calcificante em um cão - relato de caso Calcifying epithelial odontogenic tumor in a dog - case report Tumor odontogénico epitelial calcificante en perro - relato de caso

(H.E. Objetiva 40x ou aumento de 400x)

Cirurgia - 52

Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Fotomicrografia de neoplasia oral de cão caracterizada por proliferação de células do epitélio odontogênico cincundando áreas de deposição de material eosinofílico homogêneo

Material, instrumental e procedimentos básicos utilizados na cirurgia espinhal de cães e gatos Materials, instruments and basic procedures used in spinal surgery of dogs and cats Material, instrumental y procedimientos básicos utilizados en la cirugía vertebral de perros y gatos

Silvia Gonzalez Monteiro

Clínica médica - 66 Sinais clínicos em cães naturalmente infectados por Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) no RS Clinical signs in dogs naturally infected by Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) in the state of Rio Grande do Sul, Brazil Señales clínicas en perros naturalmente infectados por Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) en Rio Grande do Sul, Brasil

Sara Maria C. e Suzano

Oncologia - 70

Formas tripomastigotas sangüíneas de Trypanosoma evansi em esfregaço sangüíneo de cão naturalmente infectado. 100x

Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) nos linfomas caninos - revisão Fine needle aspiration (FNA) in canine lymphoma - review Punción aspirativa con aguja fina (PAAF) de los linfomas caninos - revisión

Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) em linfonodo

Seções Gestão, marketing e estratégia - 78

Editorial - 5 Opinião - 6 Notícias - 8

Afinal, o que esperar de 2008?

• Novus inaugura fábrica de insumos para alimentação animal no Brasil • Novo membro no conselho diretor da Alltech • Especialista em cirurgias • Centro de diagnóstico é inaugurado em São Bernardo do Campo - SP • Nova diretoria na Anclivepa-MG • Proteção animal foi tema de semana de curso na Anclivepa-SP • Fort Dodge atinge marca de US$ 1 bilhão em vendas • Grandes eventos marcaram lançamento da nova vacina da Pfizer • Virbac comemorou seus 20 anos no Brasil • Simpósio de Nutrição Clínica • IV Encontro Científico Transcontinental Royal Canin • I Simpósio BVECCS de Urgência e Terapia Intensiva Veterinária

Microscópio cirúrgico

Lançamentos - 88 Negócios e oportunidades - 89

Pesquisa - 80

Ofertas de produtos e equipamentos

8 8 10

• Gene que determina cor de cães também está envolvido na defesa contra infecções 80 • Frente contra a dengue 81

Serviços e especialidades - 90

10 12

Bem-estar animal - 82

12

Legislação - 83

14 14 15 16 18 20

O bem-estar animal como ciência • Uso de animais em experimentos científicos 83 • Cães-guia para deficientes visuais, auditos, mentais ou com mobilidade reduzida 84

Livros - 87

Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Agenda - 96

Errata: No artigo Imunopatologia da leishmaniose visceral canina publicado na edição n. 71, nov/dez, 2007, houve troca nas instituições dos autores. O correto é: Juliana Giantomassi Machado

Conhecendo seu melhor amigo

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

FMVZ/Unesp-Botucatu

Juliano Leônidas Hoffmann FM/Unesp-Botucatu

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Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br

Journal of continuing education for small animal veterinarians

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

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CAPA / COVER Exemplar da raça labrador. Foto enviada pelo dr. Neimar V. Roncati, coordenador do curso de medicina veterinária da Universidade Anhembi Morumbi (www.anhembi.br)

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CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. - Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 - São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/Mbrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).

Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@anestciruvet.com.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br

Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FMV/UEL fibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Luciane Biazzono DCV/CCA/UEL biazzono@uel.br

Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio Dentello Lustoza Agener União mdlustoza@uol.com.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


É

Editorial

compreensível o fato de algumas raças de cães, como os labradores, terem grande fascínio pelas águas. A água é elemento essecial. Para usufruí-la é fundamental que ela seja realmente conservada. Porém, atualmente, é brutal o impacto da poluição produzida pelo ser humano sobre as águas. Exemplo disso é o que acontece na região do Estado de Santa Catarina, onde a poluição dos rios pelos dejetos de suínos é alarmante e preocupante. A poluição não é a única forma de acabar com os rios. Nos Estados Unidos da América, na região da Flórida, audacioso projeto de engenharia teve que ser destruído, passando-se a fazer-se de tudo para reverter o que causou a ação de drenar uma enorme região pantanosa. No Brasil, a transposição do rio São Francisco é o exemplo nacional de projeto audacioso que pode acabar muito mal, causando desequilíbrios ecológicos e altíssimos gastos públicos desnecessários e inapropriados. Por que o projeto escolhido tem que ser o projeto mais caro e o que menos favorece o povo? Por que não esgotar a discussão sobre o projeto e, enquanto isso, transformar as cabeçeiras do rio São Francisco em exemplo modelo de conservação? É preciso considerar todo o impacto ambiental para a biodiversidade do São Francisco e de seus afluentes. Para realizar a transposição, será necessário construir barragens em afluentes do São Francisco. Um deles é o Rio das Velhas. “A regularização da vazão desses rios representa grave golpe à fauna de peixes, que dependem da variação das cheias de um rio, processo natural, para completar seu ciclo reprodutivo”, como explica Paulo Pompeu, biólogo, professor da Universidade Federal de Lavras e pesquisador da fauna de peixes do Rio das Velhas. A construção de mais represas para atender à crescente demanda de energia elétrica acabará com o que resta do fenômeno da piracema, reterá mais sedimentos e alterará ainda mais a turbidez e a temperatura das águas. "É importante que a opinião pública brasileira saiba que o Projeto de Transposição atende a menos de 20% da área do Semi-Árido e que 44% da população que vive no meio rural continuará sem acesso a água. Exatamente os que mais precisam vão permanecer excluídos dessa mega iniciativa do Governo Federal", alertou o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, em 23/02/2007, através de nota oficial. Para dom Luiz Flávio Cappio, digno defensor do rio São Francisco, "a transposição não tem nada a ver com a seca. Tanto que os canais do eixo norte, por onde correriam 71% dos volumes transpostos, passariam longe dos sertões menos chuvosos e das áreas de mais elevado risco hídrico. E 87% dessas águas seriam para atividades econômicas altamente consumidoras de água, como a fruticultura irrigada, a criação de camarão e a siderurgia, voltadas para a exportação e com seríssimos impactos ambientais e sociais. Esses números são dos EIAs-Rima (Estudos de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente), públicos por lei, mas, na internet, o governo só colocou peças publicitárias". O projeto Atlas Nordeste (http://parnaiba.ana.gov.br/atlas_nordeste), da Agência Nacional das Águas, também do próprio governo, custaria R$ 3,6 bilhões, metade do custo da transposição, beneficiando com água potável 34 milhões de pessoas, resolvendo o problema de abastecimento de água para todo o Semi-Árido incluindo aí os 9 Estados do Nordeste e os Vales do São Francisco, Pardo, Mucuri e Jequitinhonha em Minas Gerais, com soluções para 502 sedes de Municípios nas áreas denominadas como de elevado risco hídrico, independentemente da transposição. O Governo Federal divulga a utilização de 6,6 bilhões de reais para a obra da transposição, viabilizada através do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento - www.brasil.gov.br/pac). Mas segundo o especialista João Abner – professor de Hidrologia e Irrigação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – esse valor é só para a obra principal. Ele estima que se for considerado o custo para levar a água à população beneficiada os 6,6 bilhões serão multiplicados por três. No dia 20 de dezembro de 2007, dom Luiz Cappio encerrou seu jejum em defesa ao rio São Franscisco, mas frisou: "depois desses 24 dias encerro meu jejum, mas não a minha luta que é também de vocês, que é www.umavidapelavida.com.br nossa. Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, www.manuelzao.ufmg.br fazer crescer nossa mobilização. Até derrotarmos este projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco”. Participe. Diga não ao tráficos de influências, desvios do erário, porcentagens em obras públicas e mensalões. Defenda e apoie os que, como dom Cappio, tem interesse em promover um projeto digno para o rio São Francisco e para o povo brasileiro.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

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Opinião

Cães de ajuda e assistência Por Arthur Barretto - editor - revista Clínica Veterinária

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juda, isso é o que muitas pessoas com necessidades especiais precisam. Porém, há um grande número de pessoas sem atendimento. Como os cães são um excelente auxílio para diversos tipos de pessoas com necessidades especiais, esse é um assunto que merece a participação e conhecimento dos médicos veterinários. Não basta ser óbvia a necessidade de suprir as necessidades dessas pessoas. É necessário que se façam leis para que as pessoas possam conseguir receber os benefícios e, muitas vezes, o respeito também. O projeto de lei n.1.400, publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, n. 231, no caderno do Legislativo, página 30, de autoria do Deputado Estadual Major Olimpio, dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual, auditiva, mental ou com mobilidade reduzida de ter acesso e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia e dá outras providências. O deputado foi assessorado pela dra. Monica Grimaldi, advogada especializada em animais, que na justificativa do projeto de lei aprensentado, esclarece que: "Aqui no Brasil, apesar de ter mais de 20 anos, o emprego de cães-guia ainda é pouco apoiado e difundido. Na Europa e Estados Unidos já se utilizam cães guia de ajuda e assistência a portadores de diversas modalidades de deficiência, há mais de 18 anos, com grande sucesso. O treinamento de cães para ajudar as pessoas surdas e fisicamente inválidas é o mais recente conceito de treinamento para o auxilio de pessoas. Existem diversas organizações no mundo que estão treinando estes cachorros maravilhosos. Cães de ajuda e assistência não só provêem um serviço específico aos seus usuários, mas também aumentam suas vidas com um senso novo de liberdade e independência. Os cães-guia de surdos-mudos são treinados a alertar os portadores de deficiência auditiva a uma variedade de sons domésticos como uma batida de

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Cães de ajuda e assistência não só provêem um serviço específico aos seus usuários , mas também aumentam suas vidas com um senso novo de liberdade e independência

porta ou campainha, despertador, telefone, grito de bebê, chamada de nome ou alerta de incêndio, eis que são treinados a estabelecer o contato físico e conduzir os usuários à fonte do som.” Os benefícios do projeto de lei são evidentes. Assim como é evidente entender que a participação dos cães na vida do ser humano é um fato que dura milhares de anos e que, dependendo da região, é fato o número de 4 ou 7 cães para cada cidadão brasileiro. E isso, observa-se em todas as faixas econômicas, inclusive nas mais pobres. Por isso, é um absurdo falar em cães como supérfluo ou artigo de luxo..... A menos que não se queira assumir as responsabilidades sobre eles, o que implica em educação sanitária, campanhas de castração e identificação animal, entre outras atividades, muito bem esclarecidas pelo Itec, Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (www.itecbr.org). Outro absurdo, é a falta de isenção de impostos em diversos itens veterinários, pois eles proporcionariam, mesmo que

indiretamente, a saúde da população humana. Até mesmo as rações são essenciais. Cães bem alimentados estarão mais saudáveis e menos suscetíveis ao envolvimento com enfermidades zoonóticas. Legislar sobre assuntos veterinários é uma prática que as vezes assusta pela falta de conhecimento sobre o que está se falando. Por isso, importantíssimo é a atenção que devemos dar às pessoas que realmente têm conhecimento no segmento, como por exemplo, a dra. Monica Grimaldi e o dr. Wilson Grassi, médico veterinário com presente atuação no bem-estar animal e promoção da saúde pública, que serão possíveis candidatos na próxima eleição. Convido a todos, a começar o ano atentos aos acontecimentos e às ações dos profissionais que realmente estão aptos a serem eleitos por nós, e que poderão produzir benefícios, não para eles, mas para a promoção da saúde pública e para a integração social de toda a população.

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Novus inaugura fábrica de insumos para alimentação animal no Brasil

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Novus, uma das maiores organizações de nutrição e saúde animal do mundo, com faturamento em torno de US$ 600 milhões inaugurou, em novembro de 2007, sua primeira fábrica de insumos para alimentação animal no Brasil A unidade está estrategicamente localizada em Indaiatuba, no interior de São Paulo. Especializada em alimentação animal, a Novus está presente em mais de 80 países e no Brasil há 16 anos, por meio de escritórios de vendas e da comercialização de produtos importados. “Com a fábrica no Brasil, a Novus avança no seu projeto de ganhar cada vez mais espaço nos países onde há maior oferta de alimentos e de demanda por produtos de origem animal”, ressalta Jorge Muñoz, diretor da

América Látina. A unidade conta com maquinário de última geração, nacionais e importados dos Estados Unidos e Alemanha. Estoque de produtos na fábrica A tecnologia aplicada Novus em da permite que o Indaiatuba, SP processo de produção seja totalmente automatizado. A fábrica tem capacida- Giovanni Gasperoni (esquerda) vice-presidente de marketing e vendas Novus destacou que: “o Brasil é um dos países que ditará o ritmo do de para 300 tonela- da crescimento mundial nas próximas décadas e a Novus não pode ficar das mensais de anti- fora desse mercado” oxidantes, suplementos minerais e à base de metionina e ácide 7.000m2. dos orgânicos. A área total é de 7.000m2, Suplementos de metionina, ácido sendo 3.500m2 de área construída. Exisorgânico, mineral orgânico e antioxitem também ampliações previstas para dantes são exemplos de produtos da 2008, com a aquisição de outro terreno Novus (www.novusint.com).

Novo membro no conselho diretor da Alltech

D

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avid Byrne, ex-comissário da União Européia para Saúde e Proteção do Consumidor, passou a participar do conselho diretor da Alltech na condição de diretor não executivo. A nomeação de Byrne reforça o compromisso com a qualidade na

indústria de rações, já que ele teve papel decisivo na criação da EFSA (European Food Safety Authority - Autoridade Européia de Segurança de Alimentos) e do ECDC (European Centre for Disease Control - Centro Europeu de Controle de Doenças). Graças a esses sistemas as plantas de armazéns Alltech estão em conformidade com o padrão global-

mente aceito HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point - Ponto de Controle Crítico de Análises de Risco), assim como com todas as normas locais e regionais. O dr. Pearse Lyons, presidente da Alltech, disse que a empresa “sempre esteve e sempre estará comprometida com a segurança e qualidade dos alimentos”.

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Especialista em cirurgias

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Centro de diagnóstico é inaugurado em São Bernardo do Campo - SP

prof. dr. José de Alveranga (CRMV-SP 0132), da FMVZ/USP, após se aposentar do serviço público, atendeu, durante anos, no Núcleo de Cirurgia Veterinária Alba. Atualmente, continua desenvolvendo suas atividades de cirurgião, mas em novo estabelecimento veterinário: o CeVe - Centro Veterinário Mourato Coelho, situado à Rua Mourato Coelho, 658 - Pinheiros São Paulo, SP, telefones (11) 3815-1936 e 3034-4482. O centro cirúrgico, que está apto a receber pacientes que necessitam de cirurgias ortopédicas, de tecidos moles, de vísceras torácicas e abdominais, dispõe de: anestesia inalatória (isofluorano); eletrocardiograma; aparelho de raios X no interior do centro cirúrgico; laboratório clínico para exames pré-operatórios; aparelho de ultra-sonografia; entre outros recursos.

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O

centro de diagnóstico veterinário Ruotti & Kamikawa chegou a São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no dia 5 de novembro de 2007, para mostrar que esse segmento, que às vezes passa desapercebido do grande público, é um dos principais responsáveis pela excelência do atendimento dos cerca de 500 veterinários existentes na região. Os serviços encontrados no estabelecimento são exames laboratoriais, radiologia, análises clínicas, ultra-sonografia com dopller colorido, punção aspirativa guiada por ultra-som, ecodopplercardiografia, eletrocardiografia e mensuração de pressão arterial. O Ruotti & Kamikawa Diagnóstico Veterinário está localizado na Rua Mediterrâneo, 918, Jardim do Mar, São Bernardo do Campo, SP. Mais informações sobre os serviços prestados

www.rkdiagnostico.com.br

podem ser obtidas pelo telefone: (11) 4122-3733 ou pelo endereço eletrônico www.rkdiagnostico.com.br. No site, além de encontrar a praticidade dos resultados on line, pode-se conferir a descrição de cada serviço prestado, bem como orientações básicas para coletas.

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Nova diretoria na Anclivepa-MG

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o final de 2007 foi eleita a nova diretoria da Anclivepa-MG. A presidência continua a cargo de João Carlos Toledo Júnior, mas houve alterações no restante da diretoria, que conta com Gustavo de O. Fulgêncio na vice-presidência, Benjamim Maciel Júnior e Márcio Brasil Rocha na tesouraria, Mariana Fernandes Cavalcanti e Marcelo Simões Dayrrel na secretaria, Bruno Divino Rocha na diretoria social, Rodrigo C. Rabelo na diretoria científica e Denerson F. Rocha na diretoria de patrimônio. A nova gestão já está em plena atividade. Para 2008, estão programados 2 grandes eventos internacionais: o I Fórum Latino-americano de Traumatologia em Pequenos Animais e o I Fórum Latino-americano de Dermatologia e Endocrinologia de Pequenos Animais. Fique atento à nossa seção Agenda.

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Proteção animal foi tema de semana de curso na Anclivepa-SP O prof. dr. Marco Antonio Gioso, presidente da Anclivepa-SP, sempre se manteve atento às necessidades da proteção animal. Chegou, inclusive, a participar com depoimento no documentário Não matarás, mostrando-se favorável ao desenvolvimento da educação humanitária e uso de métodos substitutivos. Como presidente da entidade que congrega os clínicos veterinários de pequenos animais do Estado de São Paulo, Gioso também é favorável à democrática discussão de temas polêmicos que envolvem a proteção e o bem-estar animal. Nesta sua atual gestão, o tema da proteção animal foi amplamente abordado pela primeira vez, entre os dias 5 e 8 de novembro de 2007, na sede da entidade, em programação elaborada pelo colega Wilson Grassi (bemestar@anclivepa-sp. org.br), diretor da Anclivepa-SP.

Entre as diversas atividades que o prof. dr. Marco Antonio Gioso, presidente da Anclivepa-SP, tem se dedicado, também se encontra a publicação de livros. No dia 6 de dezembro de 2007, no auditório da Virbac, foi realizado o lançamento de 3 livros de sua autoria: Profissional Liberal : como ganhar mais dinheiro de forma ética; Guia Prático de Sobrevivência. Como estudar ou estagiar no exterior e Odontologia Veterinária para o clínico de pequenos animais. Acima, o prof. Gioso acompanhado de colaboradoras da Virbac

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Fort Dodge atinge marca de US$ 1 bilhão em vendas

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Fort Dodge Animal Health comemora a marca de US$ 1 bilhão de dólares em vendas em 2007, feito inédito para a companhia que tem 95 anos de história. Desse total, o mercado brasileiro, onde a empresa atua há 10 anos, responde por R$ 130 milhões de reais, 7,2% do faturamento mundial. A companhia atribui o resultado

mundial ao lançamento de novos produtos e ao uso de tecnologia de última geração para o mercado veterinário. Para o diretor-presidente da organização no Brasil, Diptendu Mohan Sen, o fato é histórico e precisa ser celebrado. "São poucas as empresas que vendem US$ 1 bilhão ao ano, ainda mais no setor de saúde animal. Esse resultado é fruto do trabalho sério de uma companhia que tem como filosofia o aprimoramento constante", afirma. A área de pets foi a que mais contribui para o desempenho da empresa, registrando um crescimento de 10% em relação a 2006. "Atingimos a marca de 4 milhões de doses de vacinas vendidas nesse setor", afirma Tiago Papa, gerente de negócios de pequenos animais. Hoje, a área de pets responde por 17% do faturamento da Fort Dodge no Brasil.

No Brasil, o ano de 2007 também foi importante para a empresa, pois marcou o início das exportações da Leishmune. O governo da República da Geórgia, na Ásia ocidental, fronteira com a Europa, após analisar os dados de eficácia da vacina e constatar que o produto pode ser usado na prevenção da doença e também em saúde pública, concedeu registro para o produto ser usado imediatamente pelos veterinários no controle da leishmaniose, “É um reconhecimento internacional da ciência brasileira", diz Diptendu Mohan Sen, presidente da Fort Dodge brasileira, cuja fábrica em Campinas é a única a produzir a Leishmune® no mundo. Para o ano de 2008, a Fort Dodge projeta um faturamento de R$ 139 milhões no mercado brasileiro, o que representará um aumento de 6,9% frente a 2007.

Grandes eventos marcaram lançamento da nova vacina da Pfizer

Centenas de veterinários foram conferir o lançamento de Vanguard Plus

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s cidades de São Paulo e Rio de Janeiro tiveram o privelégio de terem sido as escolhidas para a realização de evento de lançamento da nova vacina para cães da Pfizer. Geralmente os eventos de lançamento começam com palestra técnica de um convidado e termina com a apresentação do produto lançado. Porém, ao final dos eventos, o público já está cançado e a atenção à apresentação do produto fica comprometida. No lançamento de Vanguard Plus o produto foi apresentado logo início. Foram destacadas as qualidades da vacina como, por exemplo, a sua produção através de técnica de baixa passagem, que promove atenuação segura dos vírus, mantendo características importantes do vírus original, sendo assim, mais imunogênica. Outro detalhe destacado é o fato

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de Vanguard Plus ser a primeira vacina no Brasil que passa a ter estudo de duração de imunidade em sua bula. “Por ser uma vacina de alta performance, cães com atrasos de 12 a 48 meses na revacinação ainda apresentam títulos que mostram que ainda estão protegidos. Em função disso, médicos veterinários do exterior adotam como rotina a revacinação a cada 2 ou 3 anos. No Brasil, isso não é recomendado em função do grande desafio que os cães estão expostos e pelo fato do número de animais vacinados ser muito baixo. Mas mesmo assim, os médicos veterinários que utilizarem a Vanguard Plus, saberão que se os seus clientes atrasarem a revacinação, não deixarão de estar protegidos. Segurança para o cliente e tranqüilidade para o médico veterinário”, explicou a médica veterinária Simone Lucisario. Outra qualidade da vacina que também foi destacada é a imunização precoce dos filhotes, com o protocolo de 6, 9 e 12 semanas de vida, que além de proteger os filhotes, trata a ansiedade dos proprietários em levá-los para passear. Em seguida, apresentou-se a planta da Pfizer, em Lincoln, nos EUA, destacando

sua qualidade de produção e tecnologia. Apesar de interessantes as informações sobre o produto e a empresa, em função do horário, o público começava a dar sinais de cansaço... Mas aí, chegou a estrela da noite, o consultor financeiro Mauro Halfeld, que possui pós-doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e é professor titular na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Halfeld é reconhecido pela sua grande criatividade e capacidade didática ao tratar temas de economia e de finanças pessoais. Falou muito mais que uma hora e revitalizou a platéia. Algumas dicas de Halfeld: - oferecer serviços de qualidade, cobrar bem por isso e jamais tentar conquistar o cliente pelo preço baixo; - ações são bons investimentos, mas para dormir com tranqüilidade, deve-se investir apenas uma parte do capital; - evitar finaciamento de imóveis através da tabela price e preferir a tabela “sac”; - investir em títulos públicos através do site www.tesourodireto.gov.br; - investir no PIBB11 (www.bovespa. com.br/Mercado/RendaVariavel/Pibb/ pibb_fd_indice.asp.

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Virbac comemorou seus 20 anos no Brasil

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m novembro de 2007, no salão nobre do Jockey Club de São Paulo, a Virbac comemorou seus 20 anos no Brasil. Com a presença de seu diretor presidente mundial, dr. Eric Maré, do diretor da América Latina, dr. Thierry Gozlan, e de toda a equipe brasileira, a festa relembrou a história e todas as conquistas da empresa no país desde a sua fundação. Entre os convidados, marcaram presença representantes do Ministério da Agricultura, a diretoria do SINDAN, executivos do mercado veterinário, distribuidores parceiros, fornecedores e amigos. O clima alegre e descontraído da festa ficou por conta dos vídeos institucionais e da escola de samba que “sacudiu” os convidados no melhor estilo brasileiro. Outra atração foi o páreo comemorativo em homenagem à Virbac. “Para nós é uma grande alegria comemorar 20 anos de sucesso, conquistando cada vez mais espaço no mercado veterinário do Brasil.”festejou o dr. Luca

Eric Maré, em discurso traduzido por Luca Mifano, enalteceu o desenvolvimento da Virbac no Brasil

Luca Mifano, Thierry Gozlan e Eric Maré

Mifano, diretor geral da Virbac Brasil. Para os próximos anos a Virbac promete continuar crescendo e consolidando suas parcerias no país.

História da Virbac • Fundação em 1968, na França, pelo médico veterinário Dr. Pierre Richard Dick; • Presente em mais de 100 países, com 9 unidades de produção e 5 centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados ao redor do mundo; • 2.600 funcionários, sendo 1.000 médicos veterinários, em todo o mundo; • Líder européia em vacinas para felinos; • Líder mundial em dermatologia veterinária; • Líder mundial em odontologia veterinária; • Quarto lugar na Europa e sexto lugar no mercado mundial de animais de companhia; • Nono lugar entre as maiores empresas veterinárias do mundo (Fonte: Wood Mackenzie); • Unidade fabril brasileira responsável por toda a produção de pós, pastas, líquidos e Endogard palatável, que abastece não só o mercado local, como também países da América Latina, África e Ásia. Esta planta está pronta para receber a certificação GMP (Good Manufacturing Practice) Européia, estando apta a exportar também para este continente.

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II Simpósio de Nutrição Clínica

por Arthur Barretto

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urante os dias 9 e 10 de novembro de 2007 foi realizado, na Unesp/Jaboticabal, o II Simpósio de Nutrição Clínica de Cães e Gatos - foco em doenças gastrintestinais. O evento abordou e discutiu conceitos sobre os avanços científicos em nutrição clínica e suporte nutricional para cães e gatos com doenças gastrintestinas, reunindo profissionais das áreas de clínica médica e nutrição, pós-graduandos e estudantes de graduação e profissionais da indústria de pet food. Jürgen Zentek, professor no Instituto de Nutrição Animal da Universidade de Berlim, Alemanha, desde 2005, foi destaque no evento. Zentek possui doutorado em nutrição animal e dietas pela Universidade de Hannover, Alemanha, e foi titulado em 1993, como especialista em nutrição animal e dietas pelo Colégio Europeu de Nutrição Animal. Durante sua palestras no simpósio abordou: as doenças gastrintestinais mais comuns em cães, enfatizando o papel da nutrição; a terapia e o suporte nutricional na pancreatite e insuficiência pancreática exócrina; e a utilização de probióticos e prebióticos como ferramentas para a melhora da microbiota intestinal.

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Nutrição enteral sendo oferecida através de sonda nasoesofágica

Ao lado, os ingredientes mais usados para o preparo das soluções para a nutrição parenteral: aminoácidos, lipídios, dextrose, eletrólitos, vitaminas e minerais. A via mais prática para a administração é a endovenosa periférica. Acima, vista da capela de fluxo laminar, local ideal para o preparo das misturas, para que o procedimento seja feita de forma asséptica. Na falta de um local com a devida assepsia, pode-se prescrever a nutrição desejada e encomendá-la a farmácias de manipulação

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Márcio Brunetto

Archivaldo Reche Junior, da FMVZ/ USP, também marcou presença no simpósio ao abordar os casos de constipação e diarréia crônica em gatos. “Em todo gato com diarréia crônica, por mais que ela lembre uma doença intestinal inflamatória, é importante ter certeza que não há parasitas. A ultra-sonografia é de grande importância para a avaliação das vilosidades intestinais, mas o exame fundamental para o diagnóstico é o histopatológico, que é feito através de fragmento obtido do duodeno, utilizando-se a

vômito (0,5mL/kg/h). Seu objetivo é estimular o funcionamento do trato gastrintestinal, sem causar os efeitos colaterais da nutrição enteral e compensar os possíveis efeitos deletérios do não uso do trato gastrintestinal, sendo bem indicada para ser associada com a nutrição parenteral”, explicou Brunetto. O simpósio foi muito importante para consolidar a importância da nutrição clínica. Interessados no As informações assunto podem transmitidas por todos os ir preparando palestrantes as malas, foram regispois o tema tradas em CD-Rom faz parte da que foi cedigrade científido a todos os ca do Congresso participantes da Anclivepa 2008.

Márcio Brunetto

O especialista alemão Jürgen Zentek foi destaque no II Simpósio de Nutrição Clínica de Cães e Gatos

“Os produtos de baixo custo, ou econômicos, têm como apelo de venda seu preço. Ao serem analisadas, constata-se os baixos teores de proteína e gordura e altos teores de fibra e matéria mineral”, salientou o prof. dr. Aulus C. Carciofi, da Unesp/Jaboticabal

Márcio Brunetto

endoscopia, procedimento que permite também a avaliação da lúmen intestinal. Gatos raramente tem apenas doença intestinal inflamatória. Muito provavelmente, também poderá estar presente a colangiohepatite e a pancreatite. Outro detalhe é que estudos indicam que a doença intestinal inflamatória é precursora do linfoma alimentar”, explicou Archivaldo Reche Junior. O suporte nutricional enteral, microenteral e parenteral nas afecções gastrintestinais foi tema abordado pelo doutorando Márcio Bruneto (Unesp/ Jaboticabal). A nutrição enteral é a mais usada, levando o alimento diretamente ao estômago do paciente. Ela fornece suporte nutricional durante períodos de internação, fazendo grande diferença na velocidade de recuperação do paciente. A prescrição da nutrição parenteral é indicada nos casos em que o trato digestivo não está funcional ou não deve ser estimulado, sendo feita pela via intravenosa. Em casos de pacientes agressivos, em função da dificuldade do manejo, também pode-se lançar mão da nutrição parenteral como alternativa. A nutrição microenteral também é chamada de “fluidoterapia” microenteral. “Ela consiste em pequenas quantidades de água, eletrólitos e nutrientes facilmente absorvíveis (glicose, aminoácidos e pequenos peptídeos) por via digestiva, em bolus, em infusão constante, em volume que não estimule os receptores do



IV Encontro Científico Transcontinental Royal Canin

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m sua 4ª edição, o Encontro Científico Transcontinental Royal Canin - (Gira Transcontinental Royal CaninTM) contou com a participação de empresas associadas: a Editorial InterMedica SA, de Buenos Aires, Argentina e a Idexx Laboratories, representada no Brasil pela Bio Brasil (www.biobrasil. com.br). O evento foi realizado em 22 cidades de nove países, reunindo, aproximdamente, cinco mil médicos veterinários. No Brasil, o evento ocorreu entre os dias 3 e 8 de dezembro de 2007. As capitais escolhidas para sedia-lo foram Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, Campo Grande e Goiânia. “É muito importante trazer este evento para o país e levar atualização com qualidade e credibilidade para os médicos veterinários brasileiros, ainda mais com um tema tão vigente e carente de informação como a geriatria”, declara Yann de Couville, gerente de marketing da Royal Canin do Brasil. Há alguns anos a consulta do animal geriátrico representa uma fração significativa na clínica de pequenos animais. “A conscientização sobre a importância da prevenção de doenças, obtida através das vacinas e dos exames sistemáticos, permite aos proprietários constatar que os animais sofrem dos mesmos problemas que os humanos. Estabelecer um programa específico e um manejo adequado para os cães geriátricos gera benefícios tanto para os animais, como para seus proprietários e médicos veterinários que realizam o acompanhamento clínico”, afirmou o veterinário Yves Miceli, responsável pela Comunicação Científica da Royal Canin no Brasil. A IV Gira Transcontinental Royal Canin contou com nomes de médicos veterinários conceituados como o DVM - MSC - PhD Dipl. Jorge Guerrero, médico veterinário graduado pela Faculdade de Medicina Veterinária da 18

Universidade Nacional Mayor de San Marcos de Lima (Peru), com mestrado e doutorado em imunologia e parasitologia pela Universidade de Illinois (EUA), professor adjunto do departamento de Patobiologia da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia e professor visitante da Universidade Federal Fluminense; e o DVM Hermann Bourgeois, médico veterinário responsável pela Comunicação Científica Royal Canin América Latina Ao final de cada encontro, houve um fórum de debates com os palestrantes e especialistas convidados para discussão das perguntas e informações que possam complementar o assunto. Os profissionais convidados por região foram: dra. Elizabeth Lubke, de Porto Alegre; dra. Josaine Maldaner Borges, de Florianópolis; dr. Marconi Rodrigues de Farias, de Curitiba; dra. Alda Izabel de Souza, de Campo Grande e dra. Maria Clorinda Soares Fioravanti, de Goiânia. Atenta à alimentação específica para cada faixa etária, a Royal Canin disponibiliza alimentos para cães maduros que variam de acordo com o porte, com os produtos MINI Mature, MINI Indoor Mature, MEDIUM Mature e MAXI Mature, com uma formulação diferenciada para cada a necessidade e substâncias que proporcionam longevidade, como um teor elevado de vitamina C e E e polifenol, para favorecer a renovação celular e combater o envelhecimento. Para os casos de animais geriátricos que apresentam enfermidades específicas como, por exemplo, insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca, ósteo-artrites ou insuficiência hepática, a empresa oferece a linha Royal Canin Veterinary Diet.

IDEXX VetTest

A rapidez em obter resultados de exames detalhados e completos é uma grande vantagem no dia-a-dia da clínica. A Bio Brasil esteve presente nos eventos brasileiros apresentando suas soluções e as vantagens dos equipamentos da Idexx

Wandréa de Souza Mendes (Royal Canin), Josaine Maldaner Borges (médica veterinária Florianópolis/SC), Jorge Guerrero (Universidade da Pensilvânia), Hermann Bourgeois (Royal Canin) e René Rodrigues Junior (Royal Canin)

Os cães das raças gigantes são considerados geriátricos a partir dos 7 anos, enquanto as raças miniaturas, a partir dos 12 anos

Em cada uma das 22 cidades por onde passou a IV Gira Transcontinental Royal Canin foi sorteada uma viagem incluindo transporte, inscrição e hospedagem para o V Congresso FIAVAC (Federación Iberoamericana de Asociaciones Veterinarias de Animales de Compañía - www.fiavac.org), que acontecerá entre os dias 28 e 30 de agosto de 2008, em Cartagena, na Colômbia. Acima, Hermann Bourgeois entrega o prêmio ao médico veterinário sorteado em Florianópolis, SC. Nas cidades brasileiras sorteou-se ainda uma inscrição para o Congresso da Anclivepa, em Maceió, AL e um exemplar da Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition

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Academia Brasileira de Urgência e Terapia Intensiva realizou seu primeiro simpósio por Arthur Barretto

Alice Gress (BVECCS) entrega o certificado de participação ao palestrante Patricio Torres, que é considerado o pai do intensivismo na América Latina. Há anos, Torres tem realizado no Chile o Curso de reanimacion basica y avanzada en animales pequeños (RABAP). Para a especialidade em questão, o curso é referência, tanto pela participação de renomados palestrantes quanto pelo fato de também possuir módulo prático. No I Simpósio BVECCS de Urgência e Terapia Intensiva Veterinária, Torres abordou o trauma torácico, a estabilização dos pacientes que precisam ser operados e os que somente tem chances de estabilizarem se forem operados

Márcio Brunetto (Unesp/Jaboticabal), César Villalta (Chile), Rodrigo Rabelo (BVECCS e LAVECCS) e Fernando Riviera (Vet Center) Rodrigo Rabelo

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A organização da sala de atendimento de pacientes críticos é fundamental para a rapidez e a eficiência nos procedimentos

Rodrigo Rabelo

“Treinamento gera padrão e padrão gera sobrevida. Não basta saber entubar. É necessário saber fazer isso rápido, em diversas posições e em qualquer raça, inclusive braquiocefálicos. E para isso, a receita é treinar, treinar e treinar...”, enfatizou Rodrigo Rabelo

o estabelecimento como unidade de terapia intensiva, quando oferece a ventilação, ou semi-intensivo, quando não a oferece”, explicou Rabelo. Outro equipamento bastante útil e recomendado por Rabelo é o doppler: “Fazendo bom uso do doppler é possível avaliar, por exemplo, ritmo, fluxo e pressão arterial”. Além dos equipamentos específicos, ele frisou a necessidade da sala de urgência, que deve ter fácil acesso e bem integrado aos outros setores do estabelecimento veterinário, e a sala de cuidados intensivos, onde estarão apenas pacientes que precisam de cuidados 24h e equipamentos específicos para a manutenção da vida desses pacientes. Patricio Torres, diretor científico da Sociedade Latino-americana de Medicina Veterinária de Emergência e Cuidados Intensivos (LAVECCS www.laveccs.org) ao abordar o trauma torácico destacou o cuidado e a atenção que se deve ter com as fraturas de costelas. “O paciente com fratura de costela compensa a disfunção respiratória com aumento da freqüência respiratória. Dessa maneira, mantém um volume/minuto aceitável. Porém, os músculos intercostais e diafragmáticos não

Rodrigo Rabelo

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ntre os dias 24 e 25 de novembro de 2007 foi realizado, no Rio de Janeiro, RJ, o I Simpósio BVECCS de Urgência e Terapia Intensiva Veterinária. O evento teve grande procura, superando as expectativas, pois semanas antes da sua realização, suas vagas já estavam esgotadas. Rodrigo Rabelo, presidente da BVECCS (Academia Brasileira de Medicina Veterinária Intensiva), abriu o simpósio com palestra sobre princípios e protocolos nas emergências, enfatizando o que se espera de uma unidade de terapia intensiva (UTI). Rabelo salientou o fato da especialidade ser muito nova, inclusive na medicina humana, fazendo comparações importantes como, por exemplo, o fato de que na medicina humana há diferentes níves de hospitais (primários, secundários e terciários) e que por lei, se o hospital não possui o nível adequado, é obrigado a transferir o paciente. Na medicina veterinária, o receio de perder o cliente para outro estabelecimento faz com que essa transferência não ocorra, com prejuízo vital para o paciente. Em função disso, Rabelo frisou a necessidade do clínico tomar ciência de que ao encaminhar o paciente para especialistas, não estará perdendo seu cliente, mas sim, conquistando-o. “O especialista em urgência e terapia intensiva somente recebe paciente grave e está preparado para isso”, enfatizou Rabelo. Rabelo também destacou a necessidade da infra-estrutura apropriada para o atendimento de urgência. “A oferta da ventilação mecânica é fator limitante para classificar

Acima e ao lado, unidades de terapia intensiva (UTI), mostrando equipamentos vitais para a manutenção da vida. Ao lado, reparar a manutenção dos animais em local de fácil manuseio e o paciente sentado, que por já estar nessa posição, está prestes a ter alta da UTI

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Felino com sonda esofágica colocada para que seja nutrido regularmente durante o perído de hospitalização Márcio Brunetto

abordado por Aline Bonfim, da UFF; e a sedação e o controle da dor no paciente crítico, que teve como palestrante, João Soares, da Unigranrio. A nutrição enteral e parenteral é de fácil admnistração, podendo ser feita com facilidade nas clínicas, fazendo a diferença no resultado de tratamentos de casos em que os pacientes apresentam, por exemplo, vômitos, gastroenterites hemorrágicas e fraturas de mandíbula que exigem a imobilização da mandíbula. Aline Bonfim, ao abordar as emergências endócrinas, destacou os casos de cetoacidose diabética. Eles acontecem, principalmente, em pacientes de meia idade a idosos. Comu“A gasometria é muito útil pa- mente, será ra o acompanhamento da evolução dos casos de cetoaci- encontrado dose”, destacou Aline Bonfim desidratação

Márcio Brunetto

possuem características que possam permitir uma alta freqüência por longo tempo, levando o paciente a fadiga muscular por acumulação de ácido lático e, não intervindo a tempo, a morte do animal”. Outro detalhe importante salientado por Torres nos traumas torácicos é o comprometimento da respiração em função da dor resultante da fratura de costela. Para que o animal tire o melhor proveito possível da sua atividade respiratória, é fundamental que a utilização de analgésicos para alivar a dor. Na programação científica, além da apresentação de temas específicos para unidades de terapia intensiva equipadas com aparelhos de ventilação mecânica, gasometria, doppler, entre outros, também destacaram-se procedimentos de urgência que podem ser feitos na própria clínica ou hospital veterinário, como, por exemplo, a terapia nutricional enteral e parenteral, apresentada por Mácio Brunetto, do Laboratório de Nutrição Clínica da Unesp/Jaboticabal; o atendimento de emergências endócrinas,

Detalhe de cicatrização por segunda intenção, após a retirada da sonda esofágica


severa, taquipnéia e hálito cetônico. “Geralmente o paciente com cetoacidose é diabético, ou então, pré-diabético. Nos pacientes diabéticos, a cetoacidose pode ser decorrente do fato do proprietário deixar de administrar a insulina. Já os pré-diabéticos, geralmente são acometidos de alguma enfermidade, que deflagra a diabetes, como por exemplo, a piometra”, explicou Aline Bonfim, que também destacou que as fitas de urinálise somente mensuram os corpos cetônicos do grupo cetona. “Para avaliar a presença do o ß-hidroxibutirato, que na medicina humana já é considerado o corpo cetônico mais importante na cetoacidose diabética, há como opção a dosagem sérica, mas que não é um exame convencional na veterinária, ou a utilização da água oxigenada, em conjunto com as fitas de urinálise. Deve-se fazer a análise da urina normalmente com a fita e, em seguida, repetir o exame, mas incluindo gotas de água oxigenada na urina. Isso transformará todo o ß-hidroxibutirato presente na urina em ácido aceto-acético, que será evidenciado na fita de urinálise”, esclareceu Aline Bonfim. Também destacou, nos pacientes com hiperglicemia severa, a necessidade de reposição de fluidos antes da administração de insulina cristalina. “Deve ser evitada a correção brusca da glicemia”, frisou Aline, que deu ênfase à utilização de bomba infusora para a reposição de fluidos. João Soares, abordando a sedação e o controle da dor no paciente crítico, indicou para a sedação os fenotiazínicos (acepromazina), benzodiazepínicos (diazepan e midazolan), opióides, propofol, agonistas “Ao utilizar a acepromazina no paciente alfa 2 adrenérgicos, em estado hemoanestésicos inalatódinâmico instável, rios em baixas condeve-se prestar atenção na pressão centrações, quetamiarterial. O recomenna e o pentobarbital dado é usar baixas doses, não passando sódico. Para o controde 0,05mg/kg e, le da dor indicou os quando necessário, opióides, antiinflamaassociar o uso de tórios não esteroidais, opiódes”, orientou anestésicos locais, a João Soares quetamina e também a utilização do magnésio, potencializando 22

a ação de analgésicos, especificamente em pacientes críticos. “Estudos em pacientes humanos revelaram que o tratamento da dor diminui o índice de infarto do miocárdio e que, a dor pós-operatória, por sua vez, leva a uma depressão da função imunológica, sangramento excessivo e dificuldades respiratórias. A dor tem uma grande e vital importância. Na medicina veterinária mais estudos precisam ser feitos, mas os estudos em humanos já mostram a importância do controle da dor no paciente em estado crítico”, destacou João Soares. Fernando Riviera, médico veterinário do Vet Center (Passo Fundo, RS) discorreu sobre a utilização da ventilação mecânica na medicina veterinária, que pode ser feita com o Bird Mark 7, equipamento com mais de 30 anos, que já foi largamente utilizado na medicina humana. “A principal indicação da ventilação mecânica é a insuficiência respiratória, seja ela por hipoventilação, por insuficiência de oxigenação ou por qualquer outra situação na qual o paciente não consegue manter a via aérea”, explicou Riviera.

Bird Mark 7, equipamento para ventilação mecânica, acessível para os médicos veterinários, e que se presta muito bem para a medicina veterinária, tornando a ventilação mecânica viável aos pacientes críticos que chegam aos hospitais veterinários

André Lacerda, da UENF, na sua apresentação sobre cuidados pós-operatórios na cirurgia de tórax, apresentou imagens do centro cirúrgico do hospital veterinário da UENF (www.uenf.br), o qual dispõe de equipamento que permite a realização de cirurgias que exigem André Lacerda, diretor do hospital veterinário da UENF, falou a circulasobre cirurgias torácicas ção extra-

corpórea. O hospital, além de bem equipado, foi obra de Oscar Niemeyer, eleito um dos dez maiores gênios vivos da atualidade e que, em 15 de dezembro de 2007, completou 100 anos de vida. Outro tema de extrema importância foi abordado por Rodrigo Rabelo: a hipoperfusão oculta (choque oculto). “O paciente dá entrada com freqüência cardíaca normal, mucosas boas, tempo de perfusão adequado, consciente, mas na realidade, ele está morrendo, pois está fazendo choque oculto”, frisou Rabelo. “O grande aliado para a detecção do choque oculto é a mensuração do lactato. É ele que dá o alarme para o médico veterinário, quando o paciente ainda não mostra sinais clínicos e evidentes de choque”, destacou Rabelo. Muitas outras informações importantes foram transmitidas durante o I Simpósio da BVECCS. Interessados no assunto podem aproveitar o acordo firmado em agosto de 2007, com a LAVECCS – Latin American Veterinary Emergency and Critical Care Society, que prevê que os associados quites com a BVECCS poderão associar-se à entidade Latino-americana e à VECCS Veterinary Emergency and Critical Care Society (entidade mãe, norte americana, que publica o Journal of Veterinary Emergency and Critical Care) por apenas 75US$ anuais, podendo pagar diretamente à BVECCS ou, via cartão de crédito, à LAVECCS (www.laveccs.org). Os que ainda não são associados à BVECCS poderão pagar a quantia de 100 U$ e terão filiação tripla garantida, com benefícios em todas as sociedades e recebendo trimestralmente o Journal of Veterinary Emergency and Critical Care. Outra opção para aprender sobre emergência e terapia intensiva é estar atento aos próximos eventos que ocorrerão em 2008: o I Fórum Latino-americano de Traumatologia em Pequenos Animais e o Congresso Latino-americano de Emergência e Terapia Intensiva. Além desses eventos, está prestes a ser iniciada a primeira turma de pós-graduação lato sensu em medicina veterinária intensiva, resultante de uma parceria da BVECCS com a Equalis – Ensino e Qualificação Superior.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



Katia Barão Corgozinho

Hemorragia oral por lesão ulcerativa no palato duro em gatos domésticos

MV, doutoranda PPGMV/UFF katiabarao@uol.com.br

Heloisa Justen Moreira de Souza MV, profa. dra. adj. Depto. Medicina e Cirurgia - UFRRJ justen@centroin.com.br

Oral bleeding due to erosive lesion on the hard palate in domestic cats

Ana Maria Reis Ferreira MV, profa. dra. tit. Depto. Patologia e Clínica Veterinária - UFF anamrferreira@br.inter.net

Adriana Neves Pereira

Hemorragia oral por lesión ulcerativa en el paladar duro de gatos domésticos

Médica veterinária adriana.n.pereira@hotmail.com

Raquel Calixto de Souza Médica veterinária rscalixto@terra.com.br

Resumo: Lesões ulcerativas no palato duro de gatos ocorrem na prática clínica por várias doenças e o sangramento dessas lesões pode ser a causa de anemia severa nessa espécie quando se localizam ventralmente à artéria palatina. O objetivo do presente trabalho é relatar três casos de gatos portadores de lesões ulcerativas no palato duro em decorrência do trauma mecânico repetido das papilas cornificadas da língua, como conseqüência da lambedura excessiva do corpo por problemas alérgicos cutâneos, causando intenso sangramento oral. Dois deles se tornaram anêmicos e necessitaram de transfusão sangüínea. O curativo local das lesões com adesivo cirúrgico cessou o sangramento local, e o uso de colar elisabetano e dieta úmida permitiu a cicatrização da úlcera palatina, impedindo o atrito das lesões com o corpo do paciente ou com alimentos de consistência dura. O problema dermatológico desses gatos foi tratado, prevenindo assim a recidiva das lesões no palato. Unitermos: felino, úlcera, sangramento

em plaquetas. O tratamento consiste em eletrocauterização da lesão 4, ou reparo cirúrgico com fio absorvível monofilamentar e sutura em colchoeiro horizontal interrompida 3. O presente trabalho descreve três casos de sangramento oral severo em decorrência de lesões ulcerativas no palato duro em gatos com lesão de pele, dos quais dois apresentaram anemia.

alterações na cavidade oral, com exceção de duas úlceras no palato duro, localizadas de cada lado da linha palatina média, na altura do canino ao terceiro pré-molar, medindo em torno de 0,8 x 0,4cm, e com 2mm de profundidade (Figura 1). A mucosa oral estava hipocorada, e o hematócrito apresentava o valor de 8%, sendo o paciente submetido a transfusão sangüínea. As lesões de pele foram compatíveis com processo alérgico alimentar, e a indicação terapêutica foi a administração de 20mg de acetato de metilprednisolona a, por via intramuscular, e substituição da dieta por ração hipoalergênica b. O paciente foi sedado com 0,2mg/kg de butorfanol c associado a 0,2mg/kg de diazepan d, por via intramuscular e, após 15 minutos, foram aplicados 4mg/kg de propofol e por via intravenosa, para inspeção da cavidade oral. Durante a avaliação oral, observou-se sangramento intenso da lesão ulcerada esquerda. Várias tentativas foram realizadas para o tamponamento do sangramento da úlcera, como ligadura da ferida com fio cirúrgico e uso de bisturi elétrico, mas não obtiveram sucesso. Realizouse então compressão da ferida e aplicação de curativo com adesivo cirúrgico f,

Relato de caso Caso 1: um gato de dois anos de idade foi atendido com a queixa de sangramento oral intenso e lesões cutâneas com alopecia e prurido. Não foram detectadas

a) Depo-medrol ®, Laboratórios Pfizer Ltda., São Paulo, SP b) Ração Royal Canin Feline Hipoalergênica ®, Royal Canin do Brasil Indústria e Comércio Ltda., Descalvado, SP c) Torbugesic ®, Fort Dodge Saúde Animal Ltda., Campinas, SP d) Valium ®, Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A., São Paulo, SP e) Propovan ®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., São Paulo, SP f) Vetbond ®, 3M Animal Care, EUA.

Abstract: Hard palate ulcerative diseases in cats are caused by many diseases. Bleeding palatine erosive lesions can cause severe anemia in this species when the lesions are located ventrally to palatine artery. The aim of this study is to report the cases of three animals with palatine erosive lesions with intense oral bleeding resulting from repetitive mechanical rubbing by the cornified tongue papillae. The pathogenesis of these lesions is excessive licking as a result of pruritic skin conditions. Two cats became anemic and needed blood transfusion. Local dressing with surgical adhesive ceased local bleeding. Concomitant use of an elizabethan collar and wet diet permitted the healing of the palatine ulcerative lesions and avoided friction with body parts or diets of hard consistency. The skin problems of these cats were treated, thus preventing relapsing lesions. Keywords: feline, erosion, bleeding Resumen: Lesiones ulcerativas en el paladar duro de gatos son causadas en la práctica clínica por muchas enfermedades. El sangrado de estas lesiones puede ser causa de anemia severa en gatos cuando las lesiones son localizadas ventralmente a la arteria palatina. El objetivo de este trabajo es relatar tres casos de gatos con lesiones ulcerativas en paladar duro como resultado de trauma mecánico repetido de papilas cornificadas de la lengua consecuente al lamido demasiado del cuerpo por problemas alérgicos, causando intensa hemorragia oral. Dos de ellos presentaron anemia y se realizó transfusión sanguínea. El curativo local con un adhesivo quirúrgico cesó el sangrado y el uso del collar isabelino y alimento húmedo permitieron la cicatrización de las lesiones palatinas debido a la falta de contacto de las lesiones con el cuerpo del paciente o con alimentos duros. El problema de piel fue solucionado y no hubo recidiva de las lesiones. Palabras clave: gato, úlcera, sangrado

Clínica Veterinária, n. 72, p. 24-26, 2007

Introdução As lesões ulcerativas no palato duro podem ser causadas por neoplasias, doenças auto-imunes, alergias e microrganismos 1,2. Tais lesões também podem ser provocadas por traumatismo das papilas da língua no palato duro, em decorrência de excessiva lambedura do corpo em animais que apresentam problemas dermatológicos pruriginosos 3. Essas lesões ulcerativas podem levar a hemorragia intensa, provocando anemia nos animais acometidos 3,4. Nesses casos, os exames laboratoriais demonstram como alteração a presença de anemia e eosinofilia, sem qualquer alteração 24

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


Katia Barão Corgozinho

Raquel Calixto de Souza

Figura 1 - Presença de uma lesão ulcerativa no palato duro (seta), localizada do lado esquerdo, próximo à linha média, entre o canino superior esquerdo e o terceiro pré-molar superior esquerdo em gato doméstico (caso 1). Observase sangramento intenso, oriundo dessa ulceração palatina. Nota-se também a presença de ulceração no lado direito do palato, localizada próximo à linha média e entre o canino superior direito e o terceiro pré-molar superior direito

seguidas da aplicação de bicarbonato de sódio, para evitar atrito do curativo com a língua. Novo episódio de sangramento oral ocorreu quatro dias depois, sendo que o hematócrito declinou para 10%. Nova transfusão sangüínea foi realizada e novo curativo foi aplicado sobre a úlcera. O gato foi mantido com colar elisabetano e alimentado com ração pastosa, e a úlcera cicatrizou após 21 dias. Caso 2: o paciente foi atendido em função da presença de sangue nos lábios e na língua. Ao exame da cavidade oral, não foram observadas fratura dentária, lesões gengivais ou fenda palatina. O gato parecia não sentir dor ou desconforto oral, apresentando apetite normal. Detectou-se uma úlcera no lado direito

Figura 2 - Lesão ulcerativa no palato duro, próxima à linha média, localizada entre o canino superior direito e o terceiro pré-molar superior direito em gato doméstico (caso 2). Verifica-se intensa hemorragia, oriunda da úlcera palatina

do palato duro, entre o canino e o terceiro pré-molar, medindo 0,7cm x 0,4cm, com 2mm de profundidade. Havia também lesões escoriativas na face, e o gato tinha histórico de dermatite alérgica alimentar; os resultados de hemograma e bioquímica sérica se encontravam normais. Esse paciente também foi sedado com 0,2mg/kg de butorfanol associado a 0,2mg/kg de diazepan, por via intramuscular e, após 15 minutos, foram aplicados 4mg/kg de propofol por via intravenosa. Durante a avaliação da cavidade oral, foi observado sangramento intenso oriundo da úlcera do palato duro (Figura 2). A hemorragia cessou após compressão digital do local e, na tentativa de evitar

novo sangramento, aplicou-se curativo com adesivo cirúrgico e bicarbonato de sódio. Indicou-se a administração de 20mg de acetato de metilprednisolona, por via intramuscular, associada a mudança da alimentação. Dois dias depois, o gato apresentava mucosa oral hipocorada e hematócrito de 8%. Foi novamente sedado, verificando-se ausência do curativo. Realizou-se transfusão sangüínea e aplicação de novo curativo local. O gato foi mantido com colar elisabetano, recebendo somente ração úmida e, três semanas depois, a úlcera estava cicatrizada e não mais se observou sangramento oral. Caso 3: um gato de seis anos de idade foi atendido em função da queixa de sangramento oral intenso. Ao exame físico, foram observadas mucosas orais normais, sem sangramento, e presença de pediculose associada a ferimentos cutâneos. Na inspeção da cavidade oral, observaram-se periodontite grau 1 e presença de duas úlceras no palato duro, que não apresentavam hemorragia no momento, localizadas próximo à linha média palatina, uma entre o canino superior esquerdo e o terceiro pré-molar superior esquerdo, e a outra entre o canino superior direito e o terceiro prémolar superior direito, que não estavam sangrando (Figura 3A). As úlceras mediam aproximadamente 0,5 a 0,8cm x 0,4 a 0,6cm, com profundidade de 1mm.

Curso de atualização em cirurgia, anestesia e ortopedia

Curso de endocrinologia

Curso de dermatologia

Curso teórico-prático de cardiologia veterinária

16 e 17 de fevereiro; 1, 2, 15, 16, 29 e 30 de março; 12, 13, 26 e 27 de abril; 3, 4, 17 e 18 de maio; 1, 15 e 29 de junho; 13 e 27 de julho horário: das 8h às 17h

17 e 24 de fevereiro; 2 e 9 de março horário: das 8h às 12h

17 de fevereiro; 2, 16 e 30 de março horário: das 8h às 12h

25 de maio; 8 e 22 de junho; 6 e 20 de julho horário: das 8h às 17h

Palestrantes: Profº Newton Nunes; Profª Aline M. Palestrante: de Zoppa; Profº João Guilherme Padilha Anestesia: pré-anestesia; anestesias gerais injetáveis e inalatórias; anestesias locais e regionais; Cirurgias: da cabeça e do pescoço; das cavidades torácica e abdominal; do trato genito-urinário; da região perineal; da pele; miscelâneas cirúrgicas; Ortopedia: exames; redução de fraturas; implantes e placas; luxações; displasias; osteocondrite dissecante Local: 21º Depósito de Suprimentos* Realização

Informações e inscrições: fone: (11) 6995-9155 • fax: (11) 6995-6860 juna.eventos@uol.com.br -www.junaeventos.com

Profª Deise Carla Almeida Leite Dellova

Palestrante: Profª Ana Claudia Balda

Prof. Luciano Pereira

Hipotireoidismo; terapia hormonal; diabetes; emergências; insulinoma; hiperadrenocorticismo; papel dos hormônios na insuficência renal

Semiologia dermatológica e exames complementares; dermatites parasitárias e alérgicas; dermatofitoses e dermatomicoses; piodermites; dermatoses auto-imunes; corticoterapia racional

Local: Instituto Biológico**

Local: Intituto Biológico**

* 21º Depósito de Suprimentos Rua Raimundo Pereira de Magalhães, 147 Lapa - Vl. Anastácio - São Paulo/SP

Palestrante: Quadros congestivos; exame físico; tratamento; emergência cardíaca; eletrocardiograma (teórico e prático)

** Instituto Biológico Rua Conselheiro Rodrigues Alves 1252 Vila Mariana - São Paulo/SP (próximo a estação Ana Rosa do metrô)

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

Local: 2ª Batalhão de Polícia do Exercito*** *** 2º Batalhão da Polícia do Exército (BPE) Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco

Trav.da Av.Getúlio Vargas - Osasco/SP

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C

Katia Barão Corgozinho

B

Katia Barão Corgozinho

Katia Barão Corgozinho

A

Figura 3 - Palato duro de um gato doméstico (caso 3) apresentando duas lesões ulcerativas. A) Uma lesão ulcerativa se localiza próximo ao canino superior direito e ao terceiro pré-molar superior direito, e a outra lesão se localiza próximo ao canino superior esquerdo e ao terceiro pré-molar superior esquerdo. B) Aplicação de adesivo cirúrgico (Vetbond ®) sobre as lesões ulcerativas palatinas. C) Úlceras palatinas dez dias após a aplicação do adesivo cirúrgico. Nota-se a redução das lesões em mais de 50%

Discussão O diagnóstico de lesões no palato deve incluir doenças neoplásicas, imunomediadas, virais e alérgicas, como o granuloma eosinofílico 1,2. Entretanto, a presença concomitante de lesões cutâneas pode levar à suspeita de úlcera por excesso de lambedura, já que o resultado do exame histopatológico da lesão do caso 3 detectou somente a presença de infiltrado inflamatório e não de infiltrado eosinofílico. A úlcera no palato duro, apesar de pequena (em torno de 0,8 x 0,4cm), pode promover anemia aguda, o que implica g) Advantage antipulgas para gatos ®, Bayer S.A., São Paulo, SP

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necessidade de transfusão 3, assim como aconteceu com o primeiro e o segundo animais deste relato, pois as úlceras se localizavam ventralmente à artéria palatina maior, ocorrendo dano vascular e hemorragia 4. Isso indica a necessidade de avaliação completa da cavidade oral, tanto para detectar a localização da lesão como para excluir causas de anemia aguda em gatos. As úlceras palatinas, geradas por excesso de lambedura do corpo, geralmente se localizam na altura do segundo e terceiro pré-molares superiores, o que também foi observado nos casos relatados neste trabalho. Durante a lambedura do corpo, as papilas filiformes da língua atritam com o palato duro, e esse traumatismo repetido pode provocar lesões ulcerativas nessa região 3 (Figura 4). Nesses três casos, o uso de eletrocauterização ou sutura do palato não foi eficaz, ao contrário do relatado por outros autores 3,4. Já a utilização do curativo com adesivo cirúrgico e bicarbonato de sódio foi essencial para cessar a hemorragia aguda oriunda da úlcera palatina, e o uso do colar elisabetano, associado à dieta úmida, permitiu a cicatrização das úlceras por impedir o atrito das papilas da língua com a pele durante o hábito de auto-limpeza dos gatos, e o atrito das úlceras com alimentos de consistência dura. Outros episódios de hemorragia podem acontecer durante a cicatrização das úlceras, levando à necessidade de transfusão sangüínea, associada à reposição do curativo local. Os pacientes devem permanecer sob observação até a completa cicatrização das úlceras, sendo também necessário corrigir a causa primária das lesões cutâneas pruriginosas,

Katia Barão Corgozinho

O gato foi sedado com o mesmo protocolo anestésico descrito nos casos relatados acima, e realizou-se biópsia incisional de um fragmento da úlcera direita. A seguir, as úlceras foram cobertas com curativo de adesivo cirúrgico e bicarbonato de sódio em pó (Figura 3B). Indicou-se o uso doméstico de colar elisabetano e a oferta de ração úmida. O paciente foi medicado com 20mg de acetato de metilprednisolona, por via intramuscular, e recebeu aplicação de antiparasitário tópico à base de imidacloprid g. Quatro dias depois, o animal teve novo episódio de sangramento oral, sendo novamente sedado e submetido à aplicação do curativo oral, sem se observar necessidade de transfusão sangüínea. O exame histopatológico da peça cirúrgica revelou presença de infiltrado inflamatório composto por neutrófilos, linfócitos e plasmócitos. A úlcera reduziu bastante em 10 dias (Figura 3C), e cicatrizou completamente em aproximadamente 25 dias.

Figura 4 - Cavidade oral de um felino doméstico. Observam-se as papilas filiformes na língua (reta preta), a localização da artéria palatina maior (reta vermelha) e a possível localização da úlcera (círculo azul) provocada pelo traumatismo das papilas filiformes ao palato duro

como observado nos três casos ora descritos, em que os gatos foram tratados com corticoterapia sistêmica associada à mudança de dieta ou eliminação de ectoparasitos. Conclui-se que a úlcera palatina é uma lesão importante, especialmente quando se localiza ventralmente à artéria palatina maior, necessitando de criteriosa avaliação da cavidade oral, principalmente quando o paciente apresenta transtornos cutâneos concomitantes, podendo ser causa de anemia severa em gatos. Referências 1-HARVEY, C. E. Oral and dental diseases. In: SHERDING, R. G. The cat diseases and clinical management, 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1994. p. 1117-1152. 2-MENRATH, V. H. ; MILLER, R. The repair and prevention of bleeding palatine erosive lesions in the cat. Australian Veterinary Practice, v. 25, n. 4, p. 202-205, 1995. 3-PEDERSEN, N. C. Inflammatory oral cavity diseases of the cat. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 6, p. 1323-1345, 1992. 4-WILDGOOSE, W. H. Palatine arterial haemorrhage in a cat. The Veterinary Record, v. 126, n. 11, p. 273, 1990.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



Camila Trevisan Pereira

Shunt portossistêmico: considerações sobre diagnóstico e tratamento

MV, mestre camilatp@usp.br

Fabio Luiz Marques Químico, mestre e doutorando chefe da Radiofarmácia - CMN/FM/USP fabiomarques@hcusp.usp.br

Augusta Kebauy

Portosystemic shunt: diagnostic and treatment considerations

Médica veterinária autônoma akerbauy@uol.com.br

José Roberto July MV, mestre July & Associados Medicina Veterinária

Shunt portosistémico: consideraciones sobre diagnóstico y tratamiento

julyvetcir@uol.com.br

Benedicto Wlademir De Martin MV, doutor IVI e Setor Experimental - CMN/HC/FM/USP

Resumo: As novas técnicas de diagnóstico por imagem, juntamente à introdução de novas raças e à facilidade de acesso à informação, têm proporcionado novos desafios. Algumas afecções, até então raras, como o shunt ou desvio portossistêmico, começam ser mais freqüentemente diagnosticadas. O presente trabalho traz uma revisão da literatura sobre os fatores predisponentes, o diagnóstico e o tratamento desta afecção, correlacionando tais informações àquelas obtidas em dois casos de animais cujos desvios portossistêmicos foram confirmados pelo exame cintilográfico. Esta técnica foi importante para a confirmação do diagnóstico e o monitoramento pós-cirúrgico, enquanto que a avaliação ultra-sonográfica foi determinante para o tratamento dos pacientes. Unitermos: Cães, cintilografia, portografia, ultra-sonografia

ivi@ivi.vet.br

Abstract: In addition to new imaging diagnostic techniques, the introduction of new breeds and the easy access to information have provided new challenges. Some diseases previously classified as rare, such as the portosystemic shunt, have been more frequently diagnosed in daily practice. This article reviews the predisposing factors, diagnostic and treatment of portosystemic shunt confirmed, correlating the literature data with that obtained in two clinical cases of portosystemic shunt confirmed by portal scintigraphy. This nuclear medicine imaging technique was important for diagnosis confirmation and post-surgery monitoring, whereas ultrasound examination helped determining the treatment for the animal. Keywords: Dogs, scintigraphy, portography and ultrasonograph Resumen: Las nuevas técnicas de diagnóstico por imágenes, sumadas a la introducción de nuevas razas y a la facilidad de acceso a la información, impusieron nuevos desafíos a los médicos veterinarios brasileños. Algunas raras affecciones empiezan a ser diagnosticadas, como el shunt, o desvío portosistémico. En este artículo presentamos revisión de la literatura acerca de factores predisponentes, diagnóstico y tratamiento de esta afección, correlacionando las informaciones con las obtenidas en dos casos de perros cuyo desvío portosistémico ha sido confirmado por la cintigrafía. La cintigrafía ha sido importante para confirmar y monitorizar los animales, en cuanto que la ultrasonografía ha sido determinante para definir el tratamiento del perro. Palabras clave: Perros, cintigrafía, portografía y ultrasonografía

Clínica Veterinária, n. 72, p. 28-34, 2008

INTRODUÇÃO Os avanços das técnicas de diagnóstico por imagem em animais, associados à introdução de novas raças e à facilidade de acesso à informação, têm proporcionado novos desafios aos médicos veterinários, pois algumas afecções, até então raras, começam ser mais freqüentemente diagnosticadas 1. Um bom exemplo dessa realidade é o “shunt” ou desvio portossistêmico (DPS), afecção que acomete principalmente os cães das raças maltês, australian cattle dog, bichon frisé, shih tzu, schnauzer miniatura, border collie, jack russell terrier, silky terrier, irish wolfhound, pastor alemão e o felinos das raças persa e himalaia 2,3,4. O DPS, anomalia vascular congênita ou adquirida, permite que o sangue 28

venoso do sistema porta seja encaminhado à circulação venosa sistêmica sem antes passar pela metabolização hepática 4,5. Na maioria dos casos essa anomalia vascular é congênita e representada por apenas um vaso comunicante de localização extra-hepática. Outras anomalias congênitas, como a aplasia ou hipoplasia portal, causam aumento da pressão intra-hepática e conseqüente formação de desvios portossistêmicos intra-hepáticos. Também a displasia microvascular hepática – embora menos freqüente – e a fibrose hepato-portal podem estar associadas aos desvios portossistêmicos intra-hepáticos 2,6,7,8. Técnicas de diagnóstico A primeira conseqüência direta do

DPS é a redução hepática progressiva (microhepatia) conseqüente à diminuição do fluxo sangüíneo e à falta de fatores hepatotróficos 9. Quando há desvio do sangue venoso da circulação portal para a circulação sistêmica, substâncias tóxicas como a amônia, a metionina, as mercaptanas, os ácidos graxos de cadeia curta e o ácido gama-aminobutírico, que seriam encaminhadas pelo sistema porta para metabolização hepática, ficam circulantes e funcionam como falsos neurotransmissores, causando sinais de encefalopatia hepática, que são agravados principalmente após ingestão de alimentos ricos em proteínas, uma vez que a amônia circulante é produto da degradação protéica bacteriana intestinal 4,10. As litíases também são achados comuns em animais com DPS, pois a

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


monitoramento dos animais submetidos ao tratamento cirúrgico 15,16. Tratamentos Para a normalização dos distúrbios ácido-base em animais com DPS, alguns autores indicam a fluidoterapia (NaCl 0,9% ou 0,45% e dextrose a 2,5%) como suporte geral, e a suplementação com potássio (caso seja necessária), além de dieta de alta digestibilidade. Para os animais não azotêmicos, com o objetivo de reduzir a produção de toxinas neurotóxicas – como a amônia – pela flora intestinal, são prescritos neomicina oral, metronidazol ou ampicilina 4. A ultra-sonografia com Doppler colorido também é recomendada para avaliar a conveniência ou não do tratamento cirúrgico, o que dependerá do acometimento hepático e da extensão das alterações microvasculares intrahepáticas 4. A vida média dos pacientes com DPS por displasia microvascular hepática submetidos ao tratamento terapêutico é de 36,5 meses, aproximadamente três anos 10, principalmente para os pacientes que apresentam sinais clínicos brandos no início da terapia 7. Durante o procedimento cirúrgico, deve-se examinar cuidadosamente a veia cava caudal, pois a portografia contrastada fluoroscópica auxilia a localizar o desvio 12 e pode confirmar a presença ou não de outro desvio além daquele identificado e corrigido 4. A utilização de fios de sutura para a oclusão do desvio portossistêmico geralmente causa o aumento da pressão portal e o óbito do animal. Desta forma, o uso do anel ameróide, que apresenta características higroscópicas e proporciona oclusão progressiva do vaso, tem sido a conduta mais utilizada 3,4, embora alguns autores tenham obtido o mesmo efeito do anel ameróide usando o celofane para a oclusão do DPS 14. DESCRIÇÃO DOS CASOS Desde a década de 70 do século XX, quando o médico veterinário prof. dr. Benedicto Wlademir De Martin realizou sua tese de doutorado junto ao Setor Experimental do Centro de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o equipamento de cintilografia daquele setor tem sido disponibilizado

para médicos veterinários particulares. Os pacientes são encaminhados para o exame por médicos veterinários que obtêm informações pela internet, entram em contato com centros de diagnósticos veterinários e agendam a cintilografia com a médica veterinária responsável pelo serviço junto ao Setor Experimental do Centro de Medicina Nuclear. Os dois casos clínicos descritos neste artigo referem-se a pacientes que foram submetidos ao exame cintilográfico sob câmera de cintilação LEM (Siemens®) (Figura 1), imediatamente após a administração retal do radiofármaco pertecnetato ([99mTc]O4-, 7-20mCi). As imagens foram obtidas de forma dinâmica, em projeção lateral (decúbito lateral direito), durante 180 segundos, e determinamos a duração de 2 segundos para cada imagem, conforme protocolo já publicado 16. Camila Trevisan Pereira

hiperuricemia e a hiperamoniemia causam aumento da excreção de amônia e urato, que se precipitam e originam os cristais de biurato de amônia renais, ureterais, uretrais ou em bexiga urinária, que podem causar cistites e outros sintomas associados como a polidipsia, poliúria, polaciúria, disúria e hematúria 9. Dentre os sinais clínicos mais comuns incluem-se alterações neurológicas pós-prandiais, a êmese, o crescimento tardio, os cristais de biurato de amônia na urina, as altas dosagens sangüíneas de sais biliares pré e pós-prandiais, anemia não regenerativa leve com microcitose, pequeno aumento das enzimas hepáticas (ALT, AST, FA) e a recuperação anestésica tardia 4,11. Esta variedade de sinais clínicos ocorre devido à possibilidade de acometimento de diferentes órgãos 4,10. Portanto, faz-se necessário o emprego de técnicas de diagnóstico por imagem para o estabelecimento do diagnóstico definitivo e, conseqüentemente, a eleição do tipo de tratamento ao qual o paciente será submetido 12. A avaliação histopatológica do parênquima hepático é utilizada para confirmação de DPS intra-hepáticos, que quando associados à displasia microvascular em mais de um lobo hepático podem inviabilizar o tratamento cirúrgico 7. O exame ultra-sonográfico fornece informações sobre as alterações vasculares (vasos tortuosos), as alterações do parênquima hepático e as litíases e, quando realizado por um profissional experiente, pode identificar a comunicação vascular, principalmente em casos de desvios porto-cava ou porto-ázigos 13. O exame radiográfico simples demonstra a diminuição do parênquima hepático 12 e a tomografia computadorizada contrastada, embora exija anestesia geral e seja dependente do estado clínico do paciente, é eficaz para a localização precisa do shunt 14. Assim sendo, a cintilografia portal é a técnica de diagnóstico de eleição para pacientes que apresentam sinais físicos e laboratoriais inespecíficos de DPS. O procedimento é extremamente simples e exige apenas três minutos de contenção, além de oferecer diagnóstico definitivo e possibilitar o cálculo da fração de desvio, informação importante para a definição do prognóstico e

Figura 1 - Câmera de cintilação planar modelo LEM, marca Siemens® (Siemens Ltda.) (A), com colimador paralelo de baixa energia (B) e computador equipado (PIP - Portable Imaging Processing for Processing Images in Medicine v. 5.2, Leapfrog Technology Ltd., 1995) ©

O cálculo aproximado da quantidade de radiação no fígado e no coração – durante os 180s – foi estimado por meio do programa de computação “Image J” e permitiu calcular a fração de DPS, além de obter o gráfico que demonstrou a curva cinética da chegada do radiofármaco ao fígado e ao coração. Caso 1 - Desvio portossistêmico intrahepático Animal da espécie canina, pastor de Shetland, com idade de oito meses, crescimento tardio e sinais neurológicos agravados após as refeições. Os resultados do exame de bioquímica clínica mostraram ausência de alterações dignas de nota, à exceção de discreta hipoproteinemia (proteínas totais 2,1g/dL).

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

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Figura 2 - Curvas gráficas representando a quantidade de radiação no coração e no fígado do animal descrito no caso 1, durante os 60 segundos posteriores à administração retal de [99mTc]O4- (pertecnetato)

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Doppler evidenciou sinais intra-hepáticos de displasia vascular e desvio circulatório e alterações congênitas que inviabilizam o tratamento cirúrgico. Portanto o animal vem sendo mantido com dieta hipoprotéica e acompanhamento clínico há mais de um ano. Caso 2 - Desvio portossistêmico extrahepático Animal da espécie canina, raça pastor alemão, com onze meses de idade, que apresentava discreto retardo no crescimento, episódios de êmese e sinais neurológicos agravados após as refeições. Os resultados dos exames laboratoriais mostraram as seguintes alterações: presença de cristais de biurato de amônio na urina, aumentos dos sais biliares pré e pós-prandiais (256µmol e 314µmol, respectivamente) e discreta leucocitose (16000/dL). A cintilografia portal confirmou a existência de DPS, com valor da fração de DPS 28%, sendo 15% o valor referencial máximo para animais normais (Figura 3). Durante a avaliação ultra-sonográfica identificou-se micro-hepatia e diminuição dos vasos portais, mas o DPS não foi identificado. Em virtude da confirmação do DPS pela cintilografia, o animal foi submetido a intervenção cirúrgica exploratória, que permitiu a localização do shunt, representado por um vaso bastante tortuoso que comunicava a veia porta à veia ázigos. Durante a cirurgia foi realizada a portografia fluoroscópica por meio da

Figura 3 - Curvas demonstrando alto índice de contagens no coração, logo após a administração retal do radiofármaco no paciente descrito no caso 2 Camila Trevisan Pereira

Ao exame ultra-sonográfico, identificou-se diminuição hepática. O lobo hepático medial direito apresentou alterações vasculares de fluxo, diâmetro e disposição. A vesícula biliar apresentava litíase única de 14,6 x 13,0mm de diâmetro e a bexiga urinária apresentava moderada quantidade de sedimento hiperecogênico. Na figura 2 observam-se os valores obtidos pela contagem da radiação emitida pelo radiofármaco, o qual chegou simultaneamente ao coração e ao fígado. Vinte (20) segundos após a administração retal do radiofármaco, constatouse que a quantidade de radiação no coração já ultrapassava a quantidade contabilizada no fígado. O resultado da “fração de desvio portossistêmico” foi 59%, bem acima do valor referencial máximo de 15% indicado para animais normais. A avaliação ultra-sonográfica com

Figura 4 - Cateter acoplado a um equipo, possibilitando a administração do contraste pela veia jejunal para realização da portografia fluoroscópica e identificação do DPS

administração de Urografina 292® pela veia jejunal (Figura 4). A aquisição das

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



Camila Trevisan Pereira

Camila Trevisan Pereira

Figura 7 - Imagem cintilográfica resultante da sobreposição de todas as imagens obtidas durante 180s após a administração retal do [99mTc]O4- (pertecnetato, 20mCi ou 740MBq). Cintilografia realizada cinco dias antes da colocação do anel ameróide

Camila Trevisan Pereira

Camila Trevisan Pereira

Figura 5 - Imagem fluoroscópica demonstrando que o vaso tortuoso (V) identificado durante a intervenção cirúrgica foi preenchido pelo contraste proveniente do sistema porta. A pinça (P) foi colocada apenas para referencial de localização

Figura 6 - Imagem fluoroscópica demonstrando a falha de preenchimento do vaso tortuoso (V) após a colocação do anel ameróide (A)

imagens demonstrou que o vaso tortuoso observado no transcirúrgico foi preenchido por contraste proveniente da veia porta (Figura 5). O desvio foi parcialmente ocluído pela colocação do anel ameróide (Research Instruments NW, Inc.) (Figura 6) e vinte dias após a cirurgia foi realizada novamente a cintilografia portal, para confirmar se o animal não apresentava outro DPS. A fração de shunt que era 28% passou a ser 10,8%, ou seja, 4,2% menor do que o valor referencial máximo para animais normais (Figura 7, Figura 8 e Figura 9 ). Um mês após a correção cirúrgica, os episódios de êmese e sinais neurológicos não eram mais observados e a avaliação ultra-sonográfica com Doppler colorido evidenciou ausência de fluxo pelo anel ameróide, além de parênquima hepático sem alterações dignas de nota, embora o exame de urina tipo I tenha apresentado presença de cristais de oxalato de cálcio. DISCUSSÃO Autores afirmam que os desvios 32

Figura 8 - Imagem cintilográfica resultante da sobreposição de todas as imagens obtidas durante 180s após a administração retal do [99mTc]O4- (pertecnetato, 20mCi ou 740MBq). Cintilografia realizada 30 dias após a colocação do anel ameróide

Figura 9 - Curvas demonstrando o índice de contagens após a correção cirúrgica do DPS, que passou a ser maior no fígado do que no coração, indicando o sucesso da correção cirúrgica à qual o paciente descrito no caso 2 foi submetido

portossistêmicos extra-hepáticos são mais freqüentes em cães de pequeno porte, e que desvios portossistêmicos intra-hepáticos em cães de grande porte apresentam maior prevalência em cães de raças grandes 5. Entretanto, a ocorrência de DPS no pastor de Shetland (caso 1), pode ser explicada por seu

parentesco com o border collie 19, que se insere entre as raças mais freqüentemente acometidas por essa desordem 3. O tipo de DPS extra-hepático identificado no caso 2 – entre a veia porta e a ázigos – está entre os mais freqüentes e mais fáceis de serem identificados, embora comunicações porto-cava, espleno-cava, porto-ázigos, porto-gástrica direita, porto-cólica e porto-frênica devam ser sempre pesquisadas durante a avaliação ultra-sonográfica e a laparotomia 5. Em ambos os casos, a avaliação ultra-sonográfica foi decisiva para o tratamento do animal; porém, nos centros que dispõem do serviço de tomografia computadorizada, o exame contrastado auxilia na localização exata e na caracterização dos desvios extra-hepáticos, diminuindo o tempo cirúrgico e evitando que animais com determinadas alterações sem indicação cirúrgica – como a hipoplasia portal – sejam submetidos à laparotomia 5,15. Muitos cirurgiões consideram o portograma radiográfico desnecessário 5, mas em estudo que avaliou 119 casos, quando esta técnica foi utilizada antes e após a colocação do anel, foram obtidas informações importantes, como o número de DPS, a morfologia vascular e a localização 12. Durante esse exame, a imagem hepática após a administração do contraste deve demonstrar a vascularização intra-hepática após a oclusão do vaso que provocava o DPS, confirmando o sucesso da manobra cirúrgica. A portografia contrastada não é realizada com freqüência em virtude da falta de centros veterinários que disponham de facilidades intra-operatórias para a realização desse procedimento por meio da fluoroscopia. Nos animais com sinais clínicos de DPS em que a avaliação ultra-sonográfica não é suficiente para identificar a comunicação vascular, a cintilografia portal deve ser realizada, pois se constitui em um exame minimamente invasivo, rápido e eficaz para a confirmação do distúrbio, de acordo com nossa experiência junto ao Centro de Medicina Nuclear e os relatos de outros autores 16. Além disso, a “fração de DPS” antes e após o tratamento cirúrgico fornece um valor numérico capaz de confirmar se ainda há algum desvio que possa não

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



ter sido identificado durante a laparotomia e/ou portografia. O número de animais encaminhados ao Setor Experimental do Centro de Medicina Nuclear do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo foi 15, dos quais 12 foram encaminhados nos últimos dois anos. CONCLUSÕES As avaliações clínicas, laboratoriais e os exames ultra-sonográficos, especialmente com a utilização do Doppler, são indispensáveis, mas a cintilografia portal é uma técnica que possibilita a avaliação dinâmica e não invasiva do desvio portossistêmico, de maneira fácil e eficaz, e deve ser realizada antes e após a intervenção cirúrgica, ou apenas para confirmação da presença do desvio. O cálculo da fração de shunt é importantíssimo para definir o prognóstico desses pacientes e para verificar a eficácia da manobra cirúrgica, indicando a presença ou não de outros desvios além daquele corrigido durante o procedimento cirúrgico. Merece consideração especial a utilização do arco cirúrgico para exame fluoroscópico, que auxilia o sucesso da intervenção cirúrgica. Referências 01-ASSOCIAÇÃO CINOLÓGICA DO BRASIL. Proibição de Criação de Algumas Raças. São Paulo: São Paulo. Disponível em: http://www.acb.org.br/>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2006.

02-HUNT, G. B. Effect of breed on anatomy of porto-systemic shunt resulting from congenital diseases in dogs and cats: a review of 242 cases. Australian Veterinary Journal, v. 82, n. 12, p. 746-749. 2004. 03-TOBIAS, K. M. ; ROHRBACH, B. W. Association of breed with the diagnosis of congenital portosystemic shunt in dogs: 2,400 cases (1980-2002). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 223, n. 11, p. 1636-1639. 2003. 04-FOSSUM, T. W. ; HEDLUND, C. S. ; HULSE, D. A. ; JOHNSON, A. L. ; SEIM, H. B. ; WILLARD, M. D. ; CARROL, G. L. Cirurgia de Pequenos Animais. Anomalias Vasculares Porto-sistêmicas. 1 ed. Editora Rocca, São Paulo. p. 413-425. 2002. 05-NICKEL, R. ; SCHUMMER, A. ; SEIFERLE, E. The anatomy of domestic animals. Berlim: Verlag Paul Parey, 1981. v. 3. 630 p. 06-WINKLER, J. T. ; BOHLING, M. W. ; TILLSON, M. ; WRIGHT, J. C. ; BALLAGAS, A. J. Portosystemic shunt: diagnosis, prognosis, and treatment of 64 cases (1993-2001). American Animal Hospital Association, v. 39, p. 169-185. 2003 07-CHRISTIANSEN, J. S. ; HOTTINGER, H. A. ; ALLEN, L. ; PHILLIPS, L. ; ARONSON, L. R. Hepatic microvascular dysplasia in dogs: a retrospective study of 24 cases (1987-1995). Journal of the American Veterinary Medical Animal Hospital Association, v. 36, n. 5, p. 385389. 2000. 08-ALLEN, L. ; STOBIE, D. ; MAULDIN, G. N.; BAER, K. E. Clinicopathologic features of dogs with hepatic microvascular dysplasia with and without portosystemic shunts: 42 cases (19911996). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 214, n. 2, p. 218-220, 1999. 09-BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Manual Saunders de Clínica de Pequenos Animais Hepatopatias e Doenças do Trato Biliar. 1. ed. Editora Rocca, São Paulo. p. 847-84. 1998. 10-PAPAZOGLOU, L. G. ; MONNET, E. ; SEIM, H. B. Survival and prognostic indicators for dogs with intrahepatic portosystemic shunt: 32 cases (1990-2000). Veterinary Surgery, v. 31, n. 6,

p. 561-570. 2002. 11-TISDALL, P. L. C. ; HUNT, G. B. ; TSOUKALAS, G. ; MALIK, R. Post-prandial serum bile acid concentrations and ammonia tolerance in Maltese dogs with and without hepatic vascular anomalies. Australian Veterinary Journal, v. 72, n. 6 4, p. 593-600, 1995. 12-WHITE, R. N. ; MACDONALD, N. J. ; BURTON, C. A. Use of intraoperative mesenteric portovenography in congenital portosystemic shunt surgery. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 44, n. 5, p. 514521. 2003. 13-D'ANJOU, M. ; PENNINCK, D. ; CORNEJO, L. ; PIBAROT, P. Ultrasonographic diagnosis of portosystemic shunting in dogs and cats. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 45, n. 5, p. 424-437. 2004. 14-ZWINGENBERGER, A. L. ; SCHWARZ, T. ; SAUNDERS, H. M. Helical computed tomographic angiography of canine portosystemic shunt. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 46, n. 1, p. 27-32. 2005. 15-MORANDI, F. ; COLE, R. C. ; TOBIAS, K. M. ; BERRY, C. R. ; AVENELL, J. ; DANIEL, G. B. Use of 99mTco4 trans-splenic portal scintigraphy for diagnosis of portosystemic shunts in 28 dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 46, n. 2, p. 153-161. 2005. 16-BRAWNER, W. R. ; DANIEL, G. B. Nuclear Imaging. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 23, n. 2, p. 379-398. 1993. 17-YOUMANS, K. R. ; HUNT, G. B: Experimental evaluation of four methods of progressive venous attenuation in dogs, Veterinary Surgery, v. 28, n. 1, p. 38-47, 1999. 18-THE ENGLISH SHETLAND SHEEPDOG CLUB. The Shetland Sheepdog Standard: an Elaboration. Maldon: England. Disponível em: <http://www. essc.org.uk>. Acesso em 20 de fevereiro de 2006. 19-SASSAKI, R. A. ; SASSAKI, E. L. ; SASSAKI, M. S. Desvio portossistêmico congênito simples extra-hepático: correção com constritor ameróide - relato de caso. Clínica Veterinária, Ano VI, n. 33, p. 27-32, 2001.

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



Carlos Eduardo Larsson

Micobacterioses

MV, MVSP, MS, DS Depto. de Clínica Médica - FMVZ/USP larsderm@usp.br

Mycobacteriosis

Simoni Maruyama MV, pós-graduanda Depto. de Clínica Médica - FMVZ/USP

Micobacteriosis

simonimaruyama@bol.com.br

Resumo: Dentre as dermatopatias bacterianas incluem-se as micobacterioses, caracterizadas como dermatoses pouco freqüentes, de aspecto insólito, evidenciadas em quadros paucissintomáticos. Afora as clássicas micobactérias dotadas de potencial zoonótico, agentes da tuberculose e da lepromatose, destacam-se aquelas geradoras de enfermidades piogranulomatosas. Há poucas décadas se tem descrito no Brasil, na Australásia, na África e nos EUA, doenças paniculares e granulomatosas superficiais, tanto em caninos como em felinos, que causam preocupação e desalento aos proprietários. Constituemse em manifestações insólitas e desafiantes pois, a despeito da evidenciação bacterioscópica e histopatológica, não se obtém êxito no isolamento,in vivo e tampouco in vitro, mimetizando, nesse aspecto, a hanseníase humana. Revisa-se a bibliografia e caracterizam-se, clínica e epidemiologicamente, aquelas micobacterioses mais contumazes, enfatizando-se os aspectos de diagnóstico, prognóstico e terapia. Unitermos: cães, gatos, paniculite, granuloma lepróide, Mycobacterium spp Abstract: Mycobacteriosis is an uncommon bacterial dermopathy characterized by unusual aspects and relatively few symptoms. With the exception of the classic mycobacteria with zoonotic potential, which are the etiological agents of tuberculosis and lepromatosis, others can cause pyogranulomatous lesions. In the last decades, panicular and granulomatous diseases in cats and dogs were reported in Brazil, Australasia, Africa and USA, raising much concern and sorrow in owners. These infections pose a clinical challenge, because even after bacterioscopical and histopathological identification, in vivo or in vitro, isolation hardly ever succeeds, which resembles human hanseniasis. This article reviews the literature concerning mycobacterioses and emphasizes the clinical and epidemiological characteristics of the cutaneous forms, as well as their diagnostic and therapeutical strategies. Keywords: dogs, cats, panniculitis, granuloma, leprosy, Mycobacterium spp Resumen: Entre las dermatopatías bacterianas se incluyen las micobacteriosis caracterizadas como infecciones poco frecuentes, de aspecto insólito, evidenciadas en cuadros oligosintomáticos. Además las clásicas micobacteriosis, dotadas de potencial zoonótico, tales como las productoras de la tuberculosis y la lepromatosis, se destacan aquellas generadoras de cuadros piogranulomatosos. En las últimas décadas se han descrito, en Brasil, Australasia, África y EUA, cuadros paniculares y granulomatosos superficiales, tanto en caninos como en felinos, generadores de preocupación y desaliento en sus dueños. Se constituyen en cuadros raros y desafiantes, pues a pesar de la evidenciación bacterioscópica e histopatológica, no se obtiene éxito en el aislamiento in vivo ni tampoco in vitro del agente, mimetizando en ese aspecto a la hanseniasis humana. Se revisa la bibliografía y se caracterizan aquellas micobacteriosis tegumentarias más contumazes. Palabras clave: perros, gatos, paniculitis, granuloma leproide, Mycobacterium spp

Clínica Veterinária, n. 72, p. 36-44, 2007

INTRODUÇÃO As infecções ou enfermidades micobacterianas decorrem da multiplicação de bactérias da família Mycobacteriaceae, ordem Actinomycetales, gênero M y cobacterium. A designação Mycobacterium (fungo-bactéria) relaciona-se à natureza hidrofóbica da parede celular, rica em lípides, que propicia, a este gênero, a tendência de crescer na superfície de meios líquidos, de forma similar aos bolores. O maior constituinte da parede celular é o ácido micólico, que responde pela ácido-resistência. Em tal gênero se incluem bactérias imóveis, não formadoras de esporos, aeróbicas, morfometricamente similares, com vasta afinidade espécie-específica e com distintos potenciais patogênicos. De há muito, são classificadas segundo as suas características bioquímicas e de crescimento em cultivo. O advento de técnicas de seqüenciamento genético permitiu não só corroborar, mas, também, ampliar a classificação taxonômica. Pelo acesso e tradição desta caracteri36

zação, ainda hoje, na rotina, se recorre à capacidade de formação de pigmento e à velocidade de crescimento do agente para situá-las taxonomicamente. Têm, as micobactérias, algumas características bastante marcantes e próprias, tais como a extrema resistência térmica, à ação de desinfetantes, às alterações de concentração hidrogeniônicas e, ainda, a propriedade de reter a coloração pela carbolfucsina, a quente, após tratamento com alcoóis, ácidos ou ambos. Isto se deve aos altos teores de ácido micólico na sua parede celular, que lhes propiciam a decantada álcoolácido resistência. 1 Clinicamente, as micobactérias, afora o cortejo mórbido desencadeado em distintos sistemas orgânicos dos hospedeiros humanos ou animais, são classificadas pelo padrão de velocidade de crescimento, pela capacidade de formação de tubérculos (nódulos) ou pelo quadro granulomatoso, com eventual disseminação. O escopo da presente abordagem é o de envolver apenas os quadros micobacterianos tegumentares, não se

detalhando o quadro em outros sistemas orgânicos de caninos e felinos. De qualquer sorte, no que se segue, usar-se-á o modelo classificatório do agente e de suas conseqüências, segundo tradicional classificação em: - micobactérias de crescimento lento com a eventual produção de tubérculos (nódulos); - micobactérias produtoras de granulomas lepróides; - micobactérias de rápido crescimento. Nas figuras 1 e 2 se dispõem, respectivamente, aquelas micobactérias de interesse veterinário pluriespecífico e aquelas capazes de multiplicar-se em espécimens caninos e felinos, segundo o disposto em clássico tratado de infectologia veterinária 1. INFECÇÕES POR MICOBACTÉRIAS DE CRESCIMENTO RÁPIDO Etiopatogenia Preteritamente, os agentes causais recebiam a denominação de “oportunistas” ou “atípicos”, e hoje de micobactérias de rápido crescimento. As infecções

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


GRUPO

Hospedeiros naturais

Persistência

Tuberculose M. tuberculosis M. bovis M. microti “simile” M. microti

H,c,f,su H,f,c,b,su,bf,ex F,ex H,f,m,fe,cm

IF IF IF IF

... … ... ...

Lepromatose M. leprae M. lepraemurium M. visibilis

H F,m F

IO IO IO

incultivável cultivo difícil ?

B

IF

...

H,c H,av,c,f H,av,c, f,fe H,f P,f

S,IF S,IF S,IF S,IF S,IF

F F F,c,fe

S S S

II III IV

C,f F F

S S S

IV IV IV

Outros M. avium subsp. paratuberculosis Oportunistas (não tuberculose) Crescimento lento M. kansasii Complexo M. avium intracellulare M. genavense Complexo M. terrae M. simiae Crescimento rápido M. thermoresistible M. xenopi Grupo M. chelonae M. abscessus Grupo M. fortuitum M. phlei Grupo M. smegmatis

Classificação de Runyon*

I III **2* III I

H - homem, C - canino, F - felino, Su - suíno, B - bovino, Bf - bubalino, Ex - Exótico/silvestre, M - murino, Fe - ferret, CM - camelídeo, AV - aves, P - primata IF - intracelular facultativo, IO - intracelular obrigatório S - sapróbio, ** necessita de micobactina • Classificação segundo características de cultivo I - Fotocromógenas, pigmentos amarelo à luz ou marrom no escuro II - Escotocromógenas, pigmento alaranjado independentemente da luz III - Acromógenas - na forma filamentosa amarelo ou marrom, independentemente da luz; em crescimento lento acromógena IV - Acromógenas - crescimento rápido com colônias maduras entre 4 e 6 dias a 37º C; algumas requerem 7 a 14 dias

Figura 1 - Micobactérias de interesse em medicina veterinária 1

decorrem de heterogêneo e de grande número de espécies que crescem bem e rapidamente (uma semana, em média) em meios sintéticos, em intervalo térmico de 24ºC a 45ºC. Em a natureza são ubíquas, podendo ser isoladas a partir da reserva telúrica e aqüífera. Os agentes se agrupam em M. fortuitum (espécies: M. fortuitum, M. peregrinum), M. smegmatis (espécies M. smegmatis, M. goodii, M. wolinskyi, M. phlei, M. thermoresistible), M. chelonae e M. abscessus. Por suas características de saprobiedade, tão somente, mostram-se dotadas de altas patogenicidade e virulência naqueles espécimens (animais e humano) com grave imunocomprometimento (natural ou iatrogênico).

Portanto, após a entrada do agente no organismo, geralmente por via percutânea, estes acessam tecido propício à multiplicação, sucumbindo à intensa resposta imunitária quando da existência de sistema imune competente. Nos imunocomprometidos disseminam-se pelas rotas linfática e hemática. Tipicamente, não infectam suscetíveis em eventuais contactos havidos. Os quadros clínicos acarretados em caninos e felinos são de paniculite micobacteriana (freqüente no Brasil, embora subdiagnosticada), pneumonias piogranulomatosas e enfermidade sistêmica disseminada. Paniculite micobacteriana No Brasil, há poucos relatos 2,3 destas

infecções crônicas do panículo. Na Austrália, dispõem-se de coleções de quase meia centena de quadros diagnosticados em felinos 4. Todavia, são menos freqüentes em caninos em todas as latitudes 5. A preferência por tecido adiposo deve-se à presença de triglicérides, favorecedores de sua perpetuação, e à proteção, naquele nível, das ações fagocitária e imune. Uma vez penetrando, por lesões traumáticas, iatrogênicas (incisões cirúrgicas, paracenteses etc.) e contaminadas (solo, fômites sujos ou não devidamente esterilizados), migram para o panículo adiposo do tegumento ou de áreas de pele especializada (coxins palmo-plantares). Experimentalmente, tem-se verificado que a reprodução in vitro da infecção é difícil quando da escassez, no ponto de inoculação, de tecido adiposo. De forma insólita, mas bem tipificada, no gênero humano as infecções por micobactérias de crescimento rápido sucedem as manipulações cirúrgicas (mamoplastias, lipoesculturas, lipossucção) e as aplicações de esteróides anabólicos dispostos em frascos/ampolas com veículos oleosos, contaminados por agulhas não bem esterilizadas, quando de sucessivas retiradas. O ambiente climático (úmido, quente) favorece a ocorrência das paniculites, embora em países de clima temperado o quadro também tenha sido assinalado. Contrariamente à maior ocorrência de paniculites humanas pelo M. fortuitum, a espécie M. smegmatis é a mais contumaz em pacientes (felinos) de clínicas veterinárias. Nos animais brasileiros, a chamada “úlcera de verão” ou “úlcera das piscinas”, tão habitual em dermatopatas humanos no período pós-estival, é bastante rara 6. A espécie micobacteriana, resistente à ação do cloro de piscinas, responsável pelo quadro sediado, habitualmente, nos joelhos e cotovelos, é o M. marinum. Tal espécie é também evidenciada como causa de lesões em aquaricultores 7. Quadro clínico Em caninos, o quadro é aventado quando de decursos prolongados de soluções de descontinuidade tegumentar, refratárias à antibiose ortodoxa. Topograficamente, as lesões são

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AGENTE/ ENFERMIDADE

AMBIÊNCIA

ASPECTOS CLÍNICOS

Tuberculose (crescimento lento): nódulos e linfoadenite, disseminação M. tuberculosis Urbano. Zooantroponose M. bovis Rural. Gatos (leite, carne e derivados) M. microti “simile” Rural. Suburbano Caçadores. Mordeduras

Pulmonar, dissemina-se sistemicamente Gastrintestinal, respiratório, tegumentar, linfático Tegumentar, linfático, miosite, artrite, osteomielite

Lepromatose (dermatose nodular): lepra felina M. lepraemurium

Tegumentar

M. visibilis

Invernal. Gatos (<36m) caçadores Australásia, Nova Zelândia Gatos senectos (>120m) Gatos FIV/FelV pos. Não caracterizado

Piogranulomatoso (sapróbios de lento crescimento) Solos, água, lixo Complexo M. avium Contaminação com carcaças de aves. Basset hound e siamês M. genavense Ambiente. Complexo M. terrae Ambiente M. simiae Ambiente Granuloma lepróide Picaduras (mosquitos?) canino (espécies novas)

Tegumentar Tegumentar Tegumentar linfático gastrintestinal, corneal Imunocomprometimento linfático Tegumentar Tegumentar Tegumentar (orelhas, cabeça)

Figura 2 - Micobactérias acarretadoras de infecções em caninos e felinos 1

seqüência, ao tecido subcutâneo adjacente das regiões axilares, meso, hipogástrica e perinealmente. Afora as lesões pelas garras, citam-se aquelas decorrentes de traumas por veículos (bicicletas, automóveis), arames, ferro e alumínio (portões, grades), espinhos e galhos de árvores e mordeduras de cães 2. (Figura 4) Assemelham-se, de início, aos contumazes abscessos, embora desprovidos de pus e de forte odor. As lesões são pápulo-nódulo-tumorais no sítio de entrada. Evoluem como áreas alopécicas, com uma miríade de fístulas exsudativas dispostas em áreas de pele de cor vinhosa e aspecto desvitalizado. Há rápida progressão, em extensão e profundidade, por vezes , envolvendo todo o abdomen

Carlos Eduardo Larsson Jr.

Carlos Eduardo Larsson

evidenciadas em áreas mais expostas a mordeduras, traumatismos, aplicações de fármacos injetáveis e naquelas submetidas a incisões cirúrgicas (laparotomias, exérese mamária etc.), tais como: cervical, escapular e flancos. (Figura 3) Os quadros são paucissintomáticos, não pruriginosos, pouco piréticos e discretamente dolorosos, por vezes gerando claudicação. As lesões constituem-se em alterações de espessura e consistência (edemas), perdas teciduais (fístulas, erosões, úlceras), formações sólidas (pápulas, nódulos) que se disseminam, centrifugamente, a partir da área de inoculação por micobactérias. Dentre os felinos, topograficamente, sediam-se, inicial e habitualmente, na região inguinal, e decorrem de brigas ou de folguedos, disseminando-se, na

Figura 3 - Paniculite micobacteriana iatrogênica (pós-laparotomia) com pressuposta utilização de instrumental não esterilizado. Canina, SRD, fêmea, 3 anos. Áreas exsudativas múltiplas, erodo-ulceradas

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Figura 4 - Paniculite micobacteriana (Mycobacterium fortuitum-peregrinum). Gata, SRD, 56 meses. Lesões disseminadas (epi e mesogastro) fístulo-ulceradas sobre área desvitalizada

e os membros. De forma insólita, não há relação direta e proporcional entre a extensão lesional e o quadro sintomático. Somente em animais com quadros generalizados, o cortejo mórbido se traduz por disorexia, perda de peso, relutância à deambulação, pirexia e depressão. Não raramente o quadro, no Brasil 2, confunde-se com as paniculites esporotricóticas ou criptococócicas. Inicialmente, podem mimetizar quadros abscedativos, por anaeróbios, ou reações farmacodérmicas nos pontos de aplicação. Pneumonia micobacteriana No contexto bibliográfico mundial, tem-se referido a ocorrência em espécimens caninos e, raramente, em felinos. Não há, até o momento, descrições de quadros pneumônicos deste tipo no Brasil. Diagnóstico A marcha de diagnose se dá por dados anamnésticos (tipo de criação, causas prováveis, decurso, sintomas iniciais), achados lesionais do exame dermatológico, complementando-se por exames complementares (citologia, bacterioscopia, cultivo e histopatologia). O exame citológico e bacterioscópico é precedido pela colheita com agulha calibrosa montada em seringa, colhendo-se, às cegas ou guiado por ultra-som,

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o material contido nos bolsões subcutâneos. A colheita deve ser antecedida por desinfecção alcoólica com etanol 70ºGL, visando a destruição de possíveis micobactérias contaminantes sapróbias dispostas na superfície. A colheita com saca-bocado ou bisturi estéreis, também, de áreas lesadas primariamente, mas melhor preservadas, propicia farto material para cultivo e histopatologia. Executam-se esfregaços em lâminas, cora-se pelo Giemsa modificado (Diff Quick®), pelo Gram ou Ziehl-Neelsen. Citologicamente, o quadro é de inflamação piogranulomatosa, com a presença do agente (Gram-positivo ou ácido-álcool resistente), nem sempre tão evidente. Contrariamente aos quadros de lepra felina, micobacteriose por M. avium ou granuloma lepróide do cão, o número de agentes é bem menor 1. O cultivo micobacteriano, de homogeneizados de tecido ou de pus, se dá em placas de Ágar-sangue 5%, Meios de Löwestein-Jensen (LJ) ou de Ogawa (MO) incubados a 37 ºC (LJ) ou 25 ºC (MO). O crescimento de colônias, não hemolíticas e puntiformes, se dá, no geral, entre 48 e 72 horas, mormente no meio de Ágar-sangue semeado. Naqueles casos em que o material se origina de lesões evoluídas, com contaminação bacteriana secundária, pode-se prétratar o inóculo com NaOH a 4% e, a seguir, neutralizá-lo com solução aquosa de HCl. É bastante indicado determinar não só a espécie micobacteriana, mas também a sensibilidade desta. A caracterização por espécie pode ser executada por laboratórios especializados (na Capital de São Paulo, no Instituto Biológico ou no Depto. de Medicina Veterinária Preventiva da FMVZ/USP) 7. A sensibilidade da cepa isolada deve ser testada frente a quinolonas (cipro e enrofloxacina), sulfonamídicos potencializados, aminoglicosídeos (gentamicina), macrolídeos (claritromicina) e tetraciclínicos (doxiciclina), por meio da técnica do Etest. O quadro histopatológico caracteriza-se por processo inflamatório piogranulomatoso, pandérmico, envolvendo o tecido subcutâneo, a derme e até as fascias musculares, quando não o próprio tecido muscular. Os bacilos, mesmo com a técnica histológica clássica e indicada 40

de Ziehl-Neelsen, não são de fácil 8 evidenciação. São, por vezes, detectados no interior de vacúolos lipídicos extracelulares. Terapia Os protocolos de terapia medicamentosa são exitosos, exceto naqueles casos extremos e bastante crônicos que, aliás, não são infreqüentes, face ao desconhecimento da existência do quadro por alguns clínicos. Empiricamente, enquanto se aguardam resultados de antibiogramas, pode-se recorrer à doxiciclina, à claritromicina (cara!) e à enrofloxacina. Em casos graves, há indicação de associação de exérese e debridamento cirúrgico. Uma vez obtido o resultado dos testes de sensibilidade micobacteriana, deve-se recorrer ao(s) antibiótico(s) adequado(s), isoladamente ou em associação, enfatizando a necessidade comum de longo curso de tratamento, por muitos meses. Na figura 5, dispõem-se alguns dos antibióticos indicados na terapia das micobacterioses decorrentes de agentes de crescimento rápido. INFECÇÕES POR MICOBACTÉRIAS PRODUTORAS DE GRANULOMAS LEPRÓIDES Tais infecções tegumentares, também denominadas “granulomas lepróides caninos” e “lepra canina”, constituem-se Antibiótico

em quadro granulomatoso, clinicamente bem caracterizado, com sede dermoepidérmica e panicular, de aspecto nódulo-ulcerocrostoso, acometendo caninos de pelame curto e com evidente predisposição racial 6,8,9,10,11,12. Há cerca de 24 anos foi descrito, na antiga Rodésia (hoje Zimbábue), quadro tegumentar em boxer e bull mastiff, referido pelo autor 13 como “tuberculose cutânea canina”, renominado em 1979 como “granuloma micobacteriano cutâneo canino”. Em 1984, a enfermidade foi evidenciada em São Paulo, e inicialmente foi pressupostamente considerada “tuberculose cutânea” em cão paulista 8,9,11,12. Submetido o caso à discussão anatomoclínica, pôde-se, então, caracterizá-lo histologicamente como o hoje bem conhecido quadro de granuloma lepróide canino (GLC). A designação “lepróide” se deu pelo fato de o agente ser facilmente evidenciável em exames bacterioscópico e histopatológico, corados pelo ZiehlNeelsen, embora não sendo cultivável nos meios clássicos de semeadura de micobactérias, guardando facetas distintas da histopatologia da lepra humana e felina. Em cerca de seis anos pôde-se, em São Paulo, colecionar razoável quantidade de casos com perfil epidemiológico similar, apresentados em distintos congressos, brasileiro 6 e venezuelano 9,

Espécie animal

Dose (mg/kg)

Via (intervalo em horas)

Duração (dias)

Aminoglicosídeos Gentamicina Amicacina

C/F C/F

2 5-10

SC/IM (8-12) SC/IM (8-12)

14-30 14-30

Iminofenazina Clofazimina

C/F

8-12

VO (24)

90

C/F F

10-15 62/gato

VO (12) VO (12-24)

84-365 84-365

C/F C F

10-20 5-15 5

VO (12) VO (24) VO (24)

84-365 84-365 84-365

C F

15-30 10

VO (12) VO (12)

28-42 28

C/F

5-10

VO (12)

84-365

Macrolídeo Claritromicina Quinolonas Ciprofloxacina Enrofloxacina Sulfonamídicos Sulfa-trimetoprim Tetraciclínicos Doxiciclina

Figura 5 - Esquemas posológicos de antibioticoterapia segundo a espécie, via de aplicação e duração 1 (C = espécie canina e F = espécie felina)

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Manifestações sintômato-lesionais O quadro sintomático é pouco alarmante, não se denota sofrimento aparente do animal. Na dependência da localização lesional, podem-se evidenciar lambedura localizada, menear de cabeça, roçadura da área e autotraumatismo. A linfoadenomegalia é pouco referida 7,8,16,17. Como lesões primitivas e características têm-se pápulas, evoluindo para formações nódulo-tumorais. Permanecem

Figura 7 - Granuloma lepróide canino. Bóxer, macho, “adulto”. Lesões nódulo-papulotumorais auriculares erosadas, bilaterais Carlos Eduardo Larsson

Etiologia O agente causal se constitui em micobactéria, ainda inominada, de baixas patogenicidade e virulência, com melhor crescimento em áreas corpóreas de temperatura mais reduzida. É ele filogeneticamente relacionado às espécies M. tilburgi, M. simiae e M. genavense. Estudos comparativos por PCR e seqüência gênica 20,21 de cepas isoladas comprovaram que aquelas provindas da Austrália, da Nova Zelândia e dos EUA não tinham qualquer variabilidade e apresentavam homologia de 99%. A partir de análises de material biopsiado (emblocado em parafina ou a fresco) pela PCR, identificou-se, em casos australianos, uma mesma seqüência de bases, indicando que a espécie micobacteriana assim caracterizada é, muito provavelmente, o agente causal principal do GLC. Os autores ressaltam que a espécie identificada pela seqüência ainda não havia sido evidenciada em granulomas tegumentares ou paniculares de carnívoros, herbívoros ou onívoros, e tampouco no homem. Aventa-se, portanto, que o contacto com os cães enfermos não acarreta risco de contágio humano 17.

Figura 6 - Granuloma lepróide canino. Fox terrier, macho, treze anos. Lesão geográfica relevada, erosada, úmida. Pré-terapia Carlos Eduardo Larsson Jr.

Epidemiologia O GLC tem aspectos de predisponência bem caracterizados e similares em todas as latitudes. Em São Paulo, estado brasileiro com a maior casuística, acomete animais de pelame curto, de porte grande, de raça definida, mormente bóxer, Staffordshire terrier, doberman, mastiff, pastor alemão, bem como aqueles de porte menor, como o terrier brasileiro. A faixa etária dos acometidos é bastante ampla, variando entre dois e treze anos, com 33% dos casos tendo, em média, cinco anos. No Brasil, destoando dos demais países, é freqüente em fêmeas caninas (66,5%). O decurso evolutivo, em 75% dos casos paulistas, é igual ou menor a duas semanas, com extremos de um a 48 meses 8. Os aspectos clínico-epidemiológicos do GLC nos países da Oceania (Austrália, Nova Zelândia) e no Brasil são idênticos: ressalte-se que tais países se situam nas mesmas latitudes (20-40º), e sob o mesmo Trópico de Capricórnio 9. No Brasil, não se pode caracterizar, dentre os casos reunidos, qualquer tendência sazonal de ocorrência. Já na Austrália, relaciona-se o surgimento de maior número de casos no outono e no inverno 18. Embora esse quadro tenha sido referido, pela vez primeira, há mais de 30 anos, a sua etiologia ainda é motivo de controvérsias. Por que a maior incidência em animais de raça definida e de porte grande? Por que ocorre, principalmente, em bóxeres? Por que as lesões se assestam sempre nos pavilhões auriculares? 7,8,9 A resposta para tais indagações já

havia sido proposta no trabalho original 19 (1973), e muito pouco se pode acrescentar a ela. Afirmava, aquele autor, que “as lesões surgiam abruptamente em áreas anatômicas de cães incomodados por picadas de mosquito”. Com isto, a hipotética etiologia seria a de veiculação de micobactérias por artrópodes picadores sugadores que as transmitiriam, tendo como porta de entrada áreas anatômicas habitualmente picadas e que têm temperatura de magnitude excelente para a formação de nichos de perpetuação desta espécie criófila.

Carlos Eduardo Larsson

e publicados em tradicional periódico brasileiro 11. Nos anais da quarta edição do World Congress of Veterinary Dermatology, evidencia-se o relato de doze casos de GLC em período de dez anos (1990 - 1999), diagnosticados em serviço especializado de dermatologia do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP 12. Ainda no Brasil, há casos observados no Paraná 14 e na Bahia 15. O GLC 16,17 é a mais comum das enfermidades micobacterianas da Austrália. Tem distribuição mundial, já estando referida, afora a África, na Nova Zelândia e nos EUA (Califórnia, Flórida, Geórgia e Nova Iorque).

Figura 8 - Granuloma lepróide canino. Bóxer, macho, “adulto”. Lesões auriculares erodocrostosas

confinadas nas camadas epidérmicas ou do panículo. (Figura 6) Variam desde lesões solitárias até algumas poucas formações. São firmes e insensíveis à palpação, cujo diâmetro, quando os pacientes são trazidos para atendimento, varia entre 2 e 50 milímetros. As lesões maiores tornam-se alopécicas, erosadas (poucas vezes ulceram verdadeiramente), de aspecto úmido e encimadas por crostas, habitualmente hemáticas 3,7,11 (Figuras 7 e 8) A localização corriqueira é a auricular dorsal, podendo, em poucas ocasiões, evidenciarem-se lesões cefálicas e em extremidade de membros. Na casuística estrangeira, afirma-se que é corriqueira a regressão espontânea, em “semanas ou meses” (sic). Tal

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Diagnóstico A marcha para a consecução diagnóstica é exatamente a mesma referida para as paniculites por micobactérias de crescimento rápido descrita anteriormente, e que deve ser seguida para afastar a possibilidade de isolamento das espécies fortuitum, peregrinum, smegmatis, phlei, thermoresistible etc., do Grupo IV de Runyon 21. Sumarizando, face à predisposição por animais de pêlo curto, no geral de porte grande, de raça definida (mormente os bóxeres), geralmente fêmeas, em que se refere quadro paucissintomático mas lesional evidente em topografia constante, poucas dúvidas deverão ser suscitadas para a escolha do protocolo de diagnose 7. Confirma-se a ocorrência do GLC por exames citológico direto ou histopatológico, habitualmente exitosos e, paradoxalmente, pelo insucesso dos cultivos bacterianos nos meios clássicos. O material aspirado das formações sólidas ou decalcado das superfícies erosadas deve ser submetido à coloração (tipo Romanovsky) pelo Giemsa modificado (Diff Quick®), na tentativa de evidenciar a presença de macrófagos, linfócitos, plasmócitos e neutrófilos (poucos, no geral). De permeio, com as células inflamatórias, ou no interior dos macrófagos, podem-se detectar imagens negativas de bacilos em número moderado 1,7,8. O histopatológico 8,10,15,17,21,22 permite a cabal confirmação da suspeita clínica. No geral, a epiderme se mostra acantótica e erosada. Evidenciam-se, no centro de formações granulomatosas, áreas de necrose de coagulação. A derme e o subcutâneo apresentam-se infiltrados 42

Carlos Eduardo Larsson

evolução não tem sido observada em casos brasileiros 7. Nos poucos casos 15 em que os animais foram submetidos a exérese das formações, e na totalidade dos casos tratados em serviço especializado do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, verificou-se a remissão total e sem recidivas 7,11,12. O quadro sintomático, e principalmente o lesional, leva à necessidade de diferenciação diagnóstica com nódulos neoplásicos, dermatofíticos (quérions), grânulo ou piogranulomatosos (estéreis ou bacterianos) 8,16.

Figura 9 - Granuloma lepróide canino. ZiehlNeelsen (1000X). Macrófagos contendo bacilos por vezes granulosos, álcool-ácido-resistentes intracitoplasmáticos

(difusa ou nodularmente) por macrófagos e neutrófilos, entremeados por linfócitos e/ou plasmócitos. Os macrófagos grandes, com citoplasma claro, por vezes assumem, pela confluência, um aspecto epitelióide. No interior destes evidenciam-se, pelo Ziehl-Neelsen, pelo Fite-Faraco, pelo Gomori ou pelo Grocott, bacilos com aspecto rupestre, ácido-resistentes, por vezes como globias. (Figura 9) Tais bacilos se apresentam, morfometricamente, com aspecto curto, de cocóides a longos, e filamentosos. Terapia Nos casos de GLC a terapia tem ainda aspectos controversos. Consideram alguns autores 3,16,17,18,23 que muitos casos são autolimitantes dentro de 30 a 90 dias. Tal constatação não tem sido usual na rotina da clínica dermatológica brasileira 14,15,17, além do fato de serem poucos os proprietários que aceitam a conduta expectante, pois o aspecto lesional e a sempre aventada possibilidade de transmissão inter-espécies preocupa os angustiados e ansiosos donos. Pode-se, nos casos com número limitado e escasso de lesões, proceder à exérese lesional pura e simplesmente, ficando a critério do clínico o acompanhamento do caso sem a associação de antibioticoterapia. É recomendável, quando da terapia cruenta isolada, a execução de exames histopatológicos controle da área cicatrizada 3,17. Há 22 anos, quando da evidenciação do primeiro caso de GLC, preconizouse, no Brasil, por sugestão de dermatologista humano 7, o emprego de antibióticos da classe dos ansamicínicos,

representados pela rifampicina (VO) e rifamicina (tópica). Esse protocolo, denominado “protocolo brasileiro” por autores estrangeiros 3, tem se mostrado pleno de sucesso. A rifampicina age por se ligar e por inativar o DNA bacteriano dependente da RNA polimerase. Logo após a sua ingestão, é rápida e quase que completamente absorvida no trato gastrintestinal, mormente quando administrada fora do momento do arraçoamento 10. Tem ela alta lipossolubilidade, distribuindo-se por todos os tecidos, inclusive pelo SNC, penetrando inclusive em fagócitos e em organismos localizados em lesões caseosas e em espaços cavitários. Pelo fato de ser metabolizada a nível hepático, com a posterior excreção de metabólitos ativos, pela bile (70%) e urina (30%), é bastante recomendável que se avalie preteritamente a função hepática do paciente, mormente nos hepatopatas e naqueles com obstrução biliar. Há dois relatos anedóticos 7 de evolução fatal em dois cães brasileiros acometidos por GLC tratados com rifampicina, embora não se tenha descartado, previamente à terapia, a possibilidade de serem animais portadores de disfunção hepatobiliar. A dosagem recomendada é de 5 a 15mg por quilograma de peso, em administração única e diária, por via oral, durante várias (4 a 8) semanas 10,11. A resposta tem oscilado entre 30 e 90 dias de tratamento. Comenta-se que pode haver a ocorrência de resistência ao ansamicínico, fato muito raramente constatado na casuística paulista 7. Como efeitos colaterais contumazes têm-se colúria ou presença de urina, fezes, saliva e lágrimas tintas e de cor alaranjada 10. Referem-se, ainda, a êmese, a icterícia, o aumento das transferases e a anemia hemolítica, efeitos estes não verificados até hoje na casuística do Hospital Veterinário da Universidade de São Paulo 7. Em termos de interação medicamentosa, pode acelerar a metabolização e, conseqüentemente, reduzir a eficácia de drogas metabolizadas pelo fígado (esteróides, glicosídeos cardíacos, benzodiazepínicos, azólicos, teofilina, cloranfenicol, doxiciclina). Os protocolos referidos na bibliografia internacional envolvem o emprego, por clínicos australianos 3,16,18,22, de

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Figura 11 - Pós-terapia (enrofloxacina 5mg/kg/ bid/”per os”; rifamicina tópica tid) de 92 dias Figura 10 - Granuloma lepróide canino. Bóxer, macho, seis anos. Lesões auriculares relevadas, placopapulares erosadas, úmidas, encimadas por exsudato em “leite condensado símile”. Pré-terapia AFFOLTER, V. K. Ed. Skin diseases of the dog and cat. 2. ed, Iowa, Blackwell, p. 281-287, 2005. 08-GREENE, C. E. ; HARTMANN, K. ; CALPIN, J. Antimicrobial drug formulary. Appendix 8 In: GREENE, C. E. Infectious diseases of the dog and cat. Saunders, Philadelphia, p. 1229-1230, 1243-1246, 1310-1311, 2006. 09-LARSSON, C. E. ; MICHALANY, N. S. ; PINHEIRO, S. R. Controvérsias em dermatologia úlceras micobacterianas del perro. In: Anais do XV Congresso Panamericano de Ciências Veterinárias; 1996, Campo Grande (MS): 1996. 10-LARSSON, C. E. ; MICHALANY, N. S. ; PINHEIRO, S. R. ; LEDON, A. L. B. P. ; VASCONCELLOS, S. A. Micobacterioses atípicas em caninos domésticos - relato de casos em São Paulo. Brasil - In: Anais do XIII Congresso Brasileiro de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais; 1990, Gramado (RS): 1990. 11-LARSSON, C. E. ; MICHALANY, N. S. ; PINHEIRO, S. R. ; LEDON, A. L. B. P. ; VASCONCELLOS, S. A. Mycobacteriosis in domestic dogs - Report of two cases. Revista da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, v. 31, p. 35-41, 1994. 12-LARSSON, C. E. ; OTSUKA, M. ; MICHALANY, N. S. Canine leproid granuloma syndrome (CLGS) in Brazil (São Paulo). Veterinary Dermatology, v. 11, suppl. 1, p. 44, 2000. 13-SMITH, R. I. E. Canine mycobacterial skin granuloma . Rhodesian Veterinary Journal, v. 10, p. 24, 1979. 14-FARIAS, M. R. ; WERNER, J. ; COSTA, T. A. ; CAVALCANTE, C. Z. ; SCHENATO Jr, L. A. Estudo retrospectivo de 13 casos de Síndrome do granuloma lepróide canino em Curitiba, Brasil. In: Anais do XXVII Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA; 2006, Vitória (ES): 2006.

Tr a b a l h o s d e s e n v o l v i d o s

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Carlos Eduardo Larsson

REFERÊNCIAS

Carlos Eduardo Larsson

combinação antibiótica, a exemplo da claritromicina (7,5-12,5mg/kg, BID, VO por um ou dois meses), da doxiciclina (5-7,5mg/kg, BID, VO por 4 a 8 semanas), da rifampicina (dose de 1015mg/kg, “per os”, SID, também por um a dois meses). Das associações, aquela menos custosa é a da doxiciclina com rifampicina. Ainda, como alternativa, pode-se recorrer às fluorquinolonas, dotadas de ação bactericida, agindo em infecções por micobactérias, excetuando-se aquelas pelo Complexo Mycobacterium aviumintracellulare 23. Recomenda-se a dose de 5mg por quilograma de peso a cada 24 horas, por via oral, por até dez a doze semanas 10. Os resultados obtidos têm-se mostrado alentadores, constituindo-se em protocolo exitoso. (Figuras 10 e 11)

• Curso de capacitação em cirurgias de esterilização minimamente invasiva • Curso de capacitação em educação humanitária • Consultoria para Prefeituras, Empresas e ONG’s • Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA)

15-TORRES, H. M. O. ; MACEDO, C. L. ; MICHALANY, N. S. ; LARSSON Jr, C. E. ; ZANUTTO, M. S. ; LARSSON, C. E. Granuloma lepróide canino-primo relato no nordeste brasileiro. In: Anais do XVII Congresso Estadual de Medicina Veterinária; 2006, Gramado (RS): 2006. 16-MALIK, R. ; HUGHES, M. S. ; MARTIN, P. ; WIGNEY, D. Canine leproid granuloma syndrome (canine leprosy). In: GREENE, C. E. Infectious diseases of the dog and cat. 3. ed, Saunders, Philadelphia, p. 480-483, 2006. 17-MALIK, R. ; MARTIN, P. ; WIGNEY, D. I. ; FOSTER, S. Infections caused by rapidly growing mycobacteria. In: GREENE, C. E. Infectious diseases of the dog and cat. 3. ed, Saunders, Philadelphia, p. 483-488, 2006. 18-SMITH, R. I. E, Canine skin tuberculosis. Rhodesian Veterinary Journal, v. 3, p. 63-64, 1973. 19-FOLEY, J. E. ; BORJESSOON, D. ; GROSS, T. L. ; RAND, C. ; NEEDHAM, M. ; POLAND, A. Clínical, microscopic and molecular aspects of canine leproid granuloma in the United States, Veterinary Pathology, v. 39, p. 234-239, 2002. 20-HUGHES, M. S. ; JAMES, G. ; BALL, N. Identification by 16S rRNA gene analyses of a potencial novel mycobacterial species as an etiological agent of canine leproid granuloma syndrome. Journal of Clinical Microbiology, v. 38, p.959-969, 2000. 21-MALIK, R. ; LOVE, D. N. ; WIGNEY, D. I. Mycobacterial nodular granuloma affecting the subcutis and skin of dogs (GLC). Australian Veterinary Journal, v. 76, p. 403-407, 1998. 22-MALIK, R. ; MARTIN, P. ; WIGNEY, D. I. Treatment of canine leproid granuloma syndrome: preliminary findings in seven dogs. Australian Veterinary Journal, v. 79, n. 1, p. 30-36, 2001. 23-KAUFMAN, A. C. ; GREENE, C. E. ; RAKICH, P. M. Treatment of localized M. avium complex infection with clofazimine and doxycycline in a cat. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 207, p. 457-459, 1995.

ASS

ISTA

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

Documentário te si disponível no



Tumor odontogênico epitelial calcificante em um cão relato de caso

Antônia Maria Binder do Prado MV, MSc., dra., profa. PUC/PR antonia.prado@pucpr.br

Sabrina Marin Rodigheri MV, mestranda Depto. Clín. Cir. Vet., FCAV/Unesp/Jaboticabal smrodigheri@yahoo.com.br

Calcifying epithelial odontogenic tumor in a dog - case report

José Ademar Villanova Júnior MV, MSc., prof. PUC/PR josé.villanova@pucpr.br

Juliana Werner

Tumor odontogénico epitelial calcificante en perro - relato de caso

MV, MSc, Lab. Patologia Veterinária Werner & Werner juliana@werner.vet.br

Ubirajara Tasqueti MV, MSc., prof. PUC/PR

Resumo: Embora os neoplasmas orais sejam comuns em cães, os tumores de origem odontogênica são raros em animais e seres humanos. Os principais são denominados ameloblastoma, tumor odontogênico epitelial calcificante, cementoma, dentinoma e odontoma. O tumor odontogênico epitelial calcificante origina-se de remanescentes embriogênicos do epitélio dental. Representa de 0,08 a 0,3% de todas as neoplasias orais, afetando principalmente cães com idade entre seis e onze anos, sem predisposição racial ou sexual. Devido a sua raridade, existem poucas informações a respeito do comportamento biológico desse neoplasma. O objetivo deste relato é descrever os principais aspectos clínicos e anatomopatológicos de tumor odontogênico epitelial calcificante diagnosticado em uma fêmea canina, de doze anos de idade, apresentada ao hospital veterinário devido à presença de um tumor intra-oral. Unitermos: Oncologia, neoplasia, cavidade oral, canina

ubirajara.tasqueti@pucpr.br

Rebeca Bacchi MV, residente PUC/PR rebeca_bacchi@hotmail.br

Abstract: Although oral neoplasms are common in dogs, tumors of odontogenic origin are rare in animals and human beings. The main forms are called ameloblastoma, calcifying epithelial odontogenic tumor, cementoma, dentinoma and odontoma. The calcifying epithelial odontogenic tumor originates in embryogenic remnants of the dental epithelium. It represents 0,08 to 0,3% of all oral neoplasias and affects mainly six- to eleven-year-old dogs of both genders. There is little information regarding the biological behavior of this neoplasm. The aim of this paper is to describe the main clinical and histopathological aspects of a calcifying epithelial odontogenic tumor diagnosed in a 12-year-old bitch presented to the veterinary hospital. Keywords: Oncology, neoplasia, oral cavity, canine Resumen: Aunque los neoplasmas orales sean comunes en los perros, los tumores de origen odontogénica son raros en animales y seres humanos. Los principales son: ameloblastoma, tumor odontogénico epitelial calcificante, cementoma, dentinoma y odontoma. El tumor odontogénico epitelial calcificante se origina de restos embriogénicos del epitelio dental. Representa de 0,08 a 0,3% de todas las neoplasias orales, afectando principalmente perros con edad entre seis y once años, sin predisposición racial o sexual. Debido a su rareza, pocas informaciones existen con respecto a la conducta biológica de este neoplasma. El objetivo de este informe es describir los aspectos clínicos y anatomopatológicos principales del tumor odontogénico epitelial calcificante diagnosticado en una hembra canina, con doce años, presentada al hospital veterinario debido a la presencia de un tumor intraoral. Palabras clave: Oncología, neoplasia, cavidad oral, canina

Clínica Veterinária, n. 72, p. 46-50, 2007

Introdução Os neoplasmas orais são relativamente comuns em cães e representam 6% de todas as neoplasias na espécie 1,2,3. Os tumores orofaringeanos podem se originar na mucosa gengival, na língua, na mandíbula, na maxila, no palato, nas tonsilas e nas estruturas dentárias 2. Os tumores odontogênicos, infreqüentes nos animais domésticos, são provenientes de alterações neoplásicas desenvolvidas em estruturas dentárias primitivas 4. Os sistemas de classificação utilizados em medicina veterinária são baseados na diferenciação tecidual exibida pelo neoplasma. Entre os tumores derivados do epitélio odontogênico 46

são encontrados o ameloblastoma, o tumor odontogênico epitelial calcificante, o fibro-odontoma ameloblástico e o odontoma complexo. Os tumores derivados do ectomesênquima odontogênico são conhecidos como cementoma, fibroma cementificante e epúlides fibromatoso 5,6. O tumor odontogênico epitelial calcificante (TOEC), também denominado tumor odontogênico produtor de substância amilóide, caracteriza-se pela proliferação do epitélio odontogênico, mineralização do epitélio e estroma, e deposição de substância amilóide ou materiais semelhantes à substância amilóide entre as células epiteliais neoplásicas 7,8.

Representa de 0,08 a 0,3% de todos os neoplasmas orais, afetando principalmente cães com idade entre seis e onze anos, sem predisposição racial ou sexual 9. O objetivo deste trabalho é descrever os principais aspectos clínicos e anatomopatológicos do TOEC observados em um cão, pois, ao que tudo indica, este é o primeiro relato desse neoplasma na literatura veterinária nacional. Relato de caso Um animal da espécie canina, sem raça definida, com doze anos de idade, foi atendido no Hospital Veterinário para Animais de Companhia da PUC-PR

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


devido à presença de um tumor intraoral com evolução de dois anos. Ao exame clínico foi constatada a presença de um tumor com 6x5x3cm, localizado no corpo mandibular direito, que envolvia os dentes pré-molares e o primeiro molar (Figura 1). O tumor apresentava base aderida aos tecidos subjacentes, consistência firme e superfície irregular não ulcerada. O linfonodo submandibular ipsilateral à lesão encontrava-se aumentado de tamanho. Apesar da extensão e da cronicidade da lesão, o animal estava em boas condições gerais, sendo classificado, segundo a semiologia oncológica, em grau 1 (hábil para desempenhar a maioria das funções de um animal de companhia, com sutil restrição de suas atividades habituais e manutenção ou perda discreta do peso corporal). Os resultados obtidos com a realização de hemograma, urinálise e avaliação bioquímica sérica não demonstraram alterações significativas. A radiografia do crânio revelou lise e proliferação óssea em corpo mandibular direito (Figura 2). A avaliação radiográfica do Tumor primário (T)

Juliana Werner

Ubirajara Tasqueti

Antônia Maria Binder do Prado

Figura 4 - Fotomicrografia de neoplasia oral de cão caracterizada por proliferação de células do epitélio odontogênico cincundando áreas de deposição de material eosinofílico homogêneo (H.E. Objetiva 40x ou aumento de 400x)

Figura 1 - Aspecto macroscópico do tumor odontogênico epitelial calcificante diagnosticado em uma fêmea canina, sem raça definida, de doze anos de idade

Figura 2 - Imagem radiográfica evidenciando lise e proliferação óssea em corpo mandibular direito, conseqüentes ao envolvimento ósseo neoplásico

tórax não revelou alterações compatíveis com metástase pulmonar. Segundo a classificação da Organização Mundial da Saúde, o estadiamento tumoral foi classificado como T3bN1bM0 (Figura 3). A avaliação histopatológica da amostra, obtida por biópsia incisional, permitiu a observação de proliferação de células neoplásicas poliédricas com características odontogênicas. Estas formavam cordões e grupos celulares interligados envoltos por tecido conjuntivo fibroso e circundavam áreas com abundante deposição de material eosinofílico homogêneo morfologicamente compatível com amilóide, porém negativo na coloração especial de Cristal Violeta e não birrefringente sob luz polarizada. Em determinados locais, esse material

exibia mineralização laminada. As células epiteliais neoplásicas demonstraram atipia nuclear e índice mitótico elevado (Figura 4). O laudo histopatológico permitiu a conclusão do diagnóstico de tumor odontogênico epitelial calcificante (tumor odontogênico produtor de substância amilóide). O animal foi submetido a hemimandibulectomia rostral, exérese do linfonodo submandibular direito, queiloplastia e faringostomia. O período pós-operatório foi conduzido com a instituição de nutrição enteral durante 15 dias, antibioticoterapia sistêmica (metronidazol e espiramicina a, 125mg/75.000UI/10kg, a cada 24 horas, durante 10 dias), terapia analgésica (cloridrato de tramadol b, 2mg/kg, a cada 8 horas, durante 5 dias) e antiinflamatória (meloxicam c, 0,1mg/kg, a cada 24 horas, durante 7 dias). A recuperação do paciente no pósoperatório imediato foi favorável a) Stomorgyl 10 ® - Merial Saúde Animal Ltda., São Paulo, SP b) Tramal ® - Pharmacia Brasil, São Paulo, SP c) Movatec ® - Boehringer Ingelheim, São Paulo, SP

Linfonodos Regionais (N)

T1 a b

Tumor < 2 cm Sem invasão óssea Com invasão óssea

N0

Sem evidência de envolvimento linfonodal

T2 a b

Tumor entre 2 e 4 cm Sem invasão óssea Com invasão óssea

N1 a b

Linfonodos ipsilaterais móveis Sem metástase Com metástase

T3 a b

Tumor > 4 cm Sem invasão óssea Com invasão óssea

N2 a b

Linfonodos contralaterais móveis Sem metástase Com metástase

N3

Linfonodo fixo

Metástases distantes (M) M0

Sem metástases distantes

M1

Com metástases distantes

Figura 3 - Estadiamento clínico (classificação TNM) das neoplasias orais em cães segundo a Organização Mundial da Saúde

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

47


Antônia Maria Binder do Prado

Figura 5 - Imagem fotográfica demonstrando boa recuperação do paciente após exérese neoplásica mediante técnica de hemimandibulectomia rostral direita

(Figura 5), porém, 30 dias após a intervenção cirúrgica, constatou-se a presença de múltiplos nódulos localizados em região cervical ventral direita apresentando diâmetro variável, superfície irregular, consistência firme e abrangência epidermodermal com aderências à musculatura subjacente. A avaliação histopatológica revelou ocorrência de recidiva neoplásica. Devido ao rápido crescimento tumoral, intenso edema subcutâneo e impossibilidade de exérese neoplásica, foi instituído protocolo quimioterápico com doxorrubicina d (30mg/m2, IV, a cada 21 dias) e prednisona oral e (1mg/kg/dia). Não houve resposta clínica favorável após 45 dias de tratamento, e o paciente foi submetido a eutanásia devido à ocorrência de angústia respiratória e dificuldade de deglutição associadas ao neoplasma. Naquele momento, o paciente se encontrava no 3º grau da semiologia oncológica (dependente de cuidados do proprietário, apresentando fadiga ou dispnéia mesmo em repouso, submetido a alimentação forçada, impossibilitado de urinar e defecar em locais aceitáveis). Discussão A cavidade oral representa o quarto lugar de ocorrência de neoplasmas em cães. O melanoma, o carcinoma escamoso, o fibrossarcoma e o epúlides fibromatoso são as neoplasias orais mais d) Adriblastina RD ® - Pharmacia Brasil, São Paulo, SP e) Meticortem ® - Schering-Plough, Rio de Janeiro, RJ

48

freqüentes em animais domésticos, sendo os tumores odontogênicos de origem epitelial considerados extremamente raros em animais e seres humanos 2,11,12. O TOEC é um neoplasma oral originário de remanescentes embriogênicos do epitélio dental 13. Em seres humanos, foi primeiramente descrito por Pindborg, em 1958, sendo também conhecido como tumor de Pindborg 14. Na literatura veterinária, o primeiro caso de TOEC em cão foi descrito por Head, em 1976 9. Histologicamente, o tumor odontogênico epitelial calcificante é caracterizado por grupos e cordões intercruzados de células epiteliais odontogênicas pleomórficas que exibem intensa anisocariose. Esse neoplasma tem como característica principal, a presença de acúmulos focais de material eosinofílico pálido por entre as células epiteliais tumorais e o estroma 4. Esse padrão histopatológico foi observado no presente caso. Segundo diferentes autores, o material eosinofílico observado cora-se positivamente nas colorações histológicas especiais para amilóide, Congo Red e Cristal Violeta, além de exibir birrefringência verde quando examinado sob luz polarizada 4,15. No presente caso, a coloração especial de Cristal Violeta resultou negativa e não se observou birrefringência do material eosinofílico quando examinado sob luz polarizada, fato também evidenciado por alguns autores 16, que argumentam que o diâmetro das fibrilas da matriz intercelular do tumor odontogênico epitelial calcificante fala contra o amilóide na microscopia eletrônica 16. O comportamento biológico do TOEC é considerado benigno na maioria dos casos citados na literatura, sendo caracterizado por crescimento lento e baixos índices de metástase 4,15. Relatos recentes têm demonstrado maior ocorrência desse neoplasma em corpo mandibular, afetando principalmente os dentes pré-molares e molares, conforme ocorreu no caso referido 11,13. Em seres humanos, 50% dos casos de TOEC estão associados à presença de dentes temporários retidos, porém essa característica não foi evidenciada no presente relato 9,11. O tratamento do TOEC é baseado em ressecção cirúrgica com ampla margem

de segurança, devido à grande capacidade de invasão tecidual local. Uma vez que a maioria desses neoplasmas apresenta envolvimento intra-ósseo, as técnicas de mandibulectomia são recomendadas 9. A exérese dos linfonodos regionais acometidos pelo tumor é imprescindível na prevenção de metástases e recidivas neoplásicas 3,17. Na maioria das vezes, o TOEC apresenta baixos índices de recidiva e comportamento pouco agressivo 8,11. Essa observação se contrapõe com aquilo que foi observado no caso em tela, no qual se constatou recidiva local 30 dias após a terapia cirúrgica agressiva. Além disso, observou-se crescimento tumoral acelerado e extremamente invasivo, gerando um tempo de sobrevida de apenas 90 dias após o diagnóstico da neoplasia. Devido à sua raridade, as informações existentes sobre os tumores odontogênicos com comportamento maligno são escassas, o que indica a necessidade de novos estudos para definir o comportamento biológico e as estratégias terapêuticas para esses neoplasmas 11,18. A doxorrubicina é um antibiótico antitumoral amplamente utilizado em oncologia veterinária, sendo indicada no tratamento de linfomas, leucemias, sarcomas de tecidos moles e carcinomas 19. No presente relato, a utilização da doxorrubicina associada à prednisona não demonstrou resultados satisfatórios no controle do TOEC. Conclusão Devido à baixa incidência dos tumores odontogênicos em animais domésticos, poucos patologistas confiam no diagnóstico histológico que o aponta, e um número extremamente reduzido de clínicos inclui esses neoplasmas em seus diagnósticos diferenciais. O diagnóstico preciso é passo fundamental para a instituição de terapia adequada no manejo de neoplasias que incidam sobre a cavidade oral. Estudos envolvendo a biologia molecular, o crescimento e a progressão tumorais, o tratamento cirúrgico e o quimioterápico são necessários para o melhor conhecimento das neoplasias odontogênicas, possibilitando o diagnóstico, o prognóstico e a implementação de tratamento adequado.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



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Marcella Luiz de Figueiredo

Material, instrumental e procedimentos básicos utilizados na cirurgia espinhal de cães e gatos

MV, residente DMV/UFRPE marcellalf@hotmail.com

Eduardo Alberto Tudury MV, dr. prof. adj. IV DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br

Mônica Vicky Bahr Arias

Materials, instruments and basic procedures used in spinal surgery of dogs and cats Material, instrumental y procedimientos básicos utilizados en la cirugía vertebral de perros y gatos Resumo: O aperfeiçoamento da neurocirurgia em medicina veterinária tem crescido consideravelmente nos últimos tempos, em virtude do aumento de interesse por parte dos cirurgiões veterinários, do aprimoramento dos métodos de diagnóstico e do treinamento qualificado. A eficiência dos procedimentos cirúrgicos na coluna vertebral de cães e gatos depende também da disponibilidade de instrumental e material específicos para essa especialidade, sendo que muitos destes foram adaptados da neurocirurgia humana. O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre esse material e instrumental, assim como sobre os procedimentos cirúrgicos básicos e os cuidados pré, trans e pós-operatórios necessários ao bom desempenho da neurocirurgia espinhal de cães e gatos. Unitermos: Coluna vertebral, neurocirurgia, instrumental cirúrgico

Abstract: Neurosurgical procedures in veterinary medicine have seen a considerable development in recent years due to the interplay of multiple factors, such as the increased interest of veterinary surgeons, the improvement of diagnostic methods and the increased availability of qualified training. However, the efficacy of spinal surgery in dogs and cats also depends on the availability of specific instruments and a number of materials exclusive to this specialty, many of which are adapted from human neurosurgery. The aim of this paper is to discuss the materials and methods necessary for successful spinal neurosurgery of dogs and cats, as well as the procedures involved in pre-, trans- and post-surgical care. Keywords: Spine, neurosurgery, surgical instruments

Resumen: El perfeccionamiento de la neurocirugía en la medicina veterinaria ha crecido considerablemente en los últimos tiempos. Este gran interés por el asunto se debió a la mejoría de los métodos de diagnóstico y a la capacitación de los profesionales. La eficiencia de los procedimientos quirúrgicos en la columna vertebral de perros y gatos depende también de la disponibilidad de instrumental y material específicos para esta especialidad, muchos de los cuales fueron adaptados de la neurocirugía humana. Este texto tiene como objetivo discurrir sobre ese material y instrumental, así como sobre los procedimientos quirúrgicos básicos y los cuidados pré, trans y post-operatorios necesarios al buen resultado de la neurocirugía vertebral de perros y gatos. Palabras clave: Columna vertebral, neurocirugía, instrumental quirúrgico

Clínica Veterinária, n. 72, p. 52-64, 2008

INTRODUÇÃO Os avanços observados na neurocirurgia veterinária são resultado do aumento de interesse e treinamento qualificado na área de neurocirurgia, do refinamento e disponibilidade das técnicas diagnósticas (ex.: tomografia computadorizada, ressonância magnética, mielografia) e da facilidade de acesso a equipamentos específicos da neurocirurgia humana, adaptados para a neurocirurgia veterinária 1. O tratamento cirúrgico das afecções 52

espinhais depende do conhecimento de cada cirurgião sobre as peculiaridades anatômicas e fisiológicas do sistema nervoso, cuidados pré, trans e pós-operatórios, técnica cirúrgica, material e instrumental adequados para cada tipo de cirurgia 2. PROCEDIMENTOS PRÉ-OPERATÓRIOS A preparação do paciente para a intervenção cirúrgica requer atenção a muitos pormenores. O paciente deve

MV, dra. profa. adj. Depto. Clínicas Veterinárias - UEL vicky@uel.br

ser submetido a exame físico completo, seguido de minucioso exame laboratorial 3. A estabilização e a preparação préoperatórias dos pacientes que serão submetidos a procedimentos cirúrgicos minimizam o risco e o potencial de complicações no período pós-operatório 4. A medicação pré-anestésica deve incluir a estabilização do paciente por fluidoterapia, o controle do esvaziamento vesical com medicação ou por meio de sonda vesical, e a aplicação de antibióticos pré-operatórios 5. Deve-se utilizar analgésicos de longa duração, que reduzem a dor nos períodos pré e pós-operatórios, além de requererem menor dosagem 6. Antibióticos A maioria dos procedimentos neurocirúrgicos pode ser classificada como asséptica (não contaminada), e não requer antibióticos profiláticos a menos que haja falha na esterilização, ou quando ocorrem infecção cutânea, afecção periodontal, infecção do trato urinário, choque, septicemia, utilização de implantes cirúrgicos, utilização excessiva de eletrocautério e tempo cirúrgico maior que 90 minutos 7. A cefazolina é recomendada por sua boa penetração nos tecidos, e pelo seu amplo espectro de ação contra estafilococos e outros microorganismos gram-positivos 8, apresentando baixa toxicidade 9. INSTRUMENTAL E EQUIPAMENTOS Procedimentos neurocirúrgicos requerem equipamentos e instrumental especializados em adição ao kit cirúrgico padrão 10. O ponto de partida é uma caixa de instrumental cirúrgico geral bem equipada, que possa ser utilizada para a maioria dos procedimentos em tecidos moles e ortopédicos 11. O tipo de instrumental utilizado na neurocirurgia

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


B

C

Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 3 - pinça de Kerrison Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 1 - (A) cisalha; (B) pinça goiva de StilleLuer e (C) Ruskin Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 4 - pinça Love

Figura 2 - pinça goiva de Lempert

gatos, mas é facilmente danificada pelo uso em osso espesso e denso 2. A pinça goiva de Kerrison (Figura 3) é instrumento de ação simples, com lâminas longas e afiladas. Uma das lâminas termina em placa em forma de pé, e a outra é cortante simples. Quando o instrumento está fechado, a lâmina cortante contacta a placa em forma de pé e pode ser inserida entre a medula espinhal e a lâmina ou pedículo ósseo, durante as laminectomias 14 e em procedimento de “slot” ventral 17. Pode ser usada para a remoção rápida da lâmina dorsal, especialmente em região cervical da coluna, ou para remover porções do pedículo na hemilaminectomia e na minihemilaminectomia toracolombar 10. Na medicina humana, quando se realiza microcirurgia para hérnia de disco (microdiscectomia), utiliza-se pinça Love “de disco” (Figura 4) para a remoção do disco deslocado. Microdissectores Esses instrumentos são importantes para estimar a profundidade do osso a ser penetrado e para a remoção da camada cortical interna durante laminectomias. Também são utilizados para a remoção de fragmentos de discos extrudados que se encontram no canal vertebral, e para suspender o ânulo e o ligamento longitudinal dorsal na cirurgia cervical de “slot” ventral, permitindo a excisão dessas

estruturas. Existem vários tipos de microdissectores: rombo, pontiagudo, de ângulo curvo ou reto. Os tipos rombos (Figura 5A) são necessários para a exploração do forame intervertebral, e aqueles com a ponta em 90º são requeridos para a remoção de material de disco extrudado no procedimento de “slot” ventral 10. Na ausência desses instrumentos, alguns instrumentos odontológicos (Figura 5) – espátulas para resina, esculpidor de Hollenback e removedor de cálculo dental – podem ser utilizados com a mesma função 18. Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Instrumentos cirúrgicos Pinças goivas Uma variedade de pinças goivas é necessária para a realização de diferentes procedimentos neurocirúrgicos 13. As pinças grandes de dupla articulação são excelentes para ossos fortes e muito espessos (como laminectomia descompressiva em cães de raças de grande porte e gigantes). As pinças delicadas são utilizadas para a remoção fina de tecido 12. Essas pinças são equipadas com mandíbulas em forma de taça, sendo utilizadas na fragmentação de segmentos ósseos maiores e na remoção de lâminas, pedículos, apófises e fragmentos de osso cortical, para a exposição das estruturas subjacentes. O mecanismo de oclusão das mandíbulas consiste numa ação simples ou dupla/articulada. A dupla ação proporciona maior desempenho mecânico, o que evita a necessidade de exercer muita força 14. As pinças grandes de dupla ação podem ser utilizadas para remover o processo espinhoso na realização de laminectomias 9, assim como as cisalhas (Figura 1A) 15 e o costótomo 16. O tipo de pinça selecionada varia com a densidade do osso a ser removido. A Stille-Luer (Figura 1B) é uma pinça goiva de dupla ação com mandíbulas rombas, capaz de retirar porção de 9mm de largura do osso. A de Ruskin (Figura 1C) também tem dupla ação, mas tem mandíbulas afiladas de dois tamanhos, para a retirada de porção de 3 a 7mm de largura do osso. As de Cicherelli e de Lempert (Figura 2) possuem mandíbulas afiladas, com a ponta e a borda de corte apropriadas para uso em neurocirurgia 14. A Lempert é a mais delicada dos dois instrumentos 17, e ideal para o trabalho apurado na coluna espinhal 13: suas pontas estreitas permitem bom acesso para remover fragmentos do ânulo dorsal durante a técnica de descompressão em cone invertido “slot modificado” 10; é excelente para cães de pequeno porte e

A

Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

depende da experiência e da preferência de cada cirurgião 2, mas não há dúvida de que certos instrumentos tornam a tarefa mais fácil e mais eficiente 12. O instrumental neurocirúrgico básico inclui pinças goivas (ex.: Lempert, Ruskin e Kerrison), afastadores auto-estáticos (ex.: Weitlaner e Gelpi) e manuais, elevadores de periósteo e removedores de cálculo dentário, entre outros 1,3.

Figura 5 - (A) microdissector; (B) esculpidor de Hollenback; (C) espátula de resina; (D) removedor de cálculo dental

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

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Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 6 - (A) Tesoura para íris; (B) Porta-agulha Castroviejo; (C) Pinça para córnea com dente de McPherson

O gancho dural, instrumento utilizado para segurar e afastar a dura-máter incisada, apesar de estar disponível, é grande demais para pequenos animais. Uma agulha hipodérmica fina (n. 25x7) com ponta angulada (Figura 7D) pode ser utilizada se a ponta for dobrada em ângulo de 90° pelo cirurgião, assim como uma lâmina de bisturi n. 12 (Figura 7C), e acoplada em cabo de bisturi n. 3 (Figura 7A) 19; a agulha hipodérmica também pode ser utilizada para a incisão

de durotomia. A mielotomia é mais bem executada utilizando-se lâmina de barbear seccionada ao meio, fixa a um porta-agulha 10. A lâmina de bisturi n. 11 (Figura 7B) é essencial para a realização de fenestração de disco intervertebral 20,21,22. Elevadores de periósteo Os elevadores de periósteo são instrumentos úteis para rebater o músculo do osso mediante ruptura das inserções periosteais 17, como realizado no afastamento de músculos das vértebras 12. O elevador de periósteo de Langenbeck é provido de lâmina romba ou cortante, com largura que varia de 7 a 17mm. Os elevadores de Sayre e de Freer são duplos e disponibilizados em uma combinação de pontas retas, curvas, cortantes ou rombas. O de Key apresenta uma única lâmina romba de variáveis larguras 14,17. Curetas As curetas são projetadas para a raspagem de tecidos ou de outros elementos existentes em paredes de cavidades. São utilizadas na obtenção de enxertos de osso trabecular, no debridamento e na coleta de amostras ósseas e na remoção de núcleo pulposo durante a fenestração do disco intervertebral. As curetas apresentam extremidades em forma de taça oval ou redonda, com bordas cortantes, e são confeccionadas em diversos tamanhos. A cureta óssea de Spratt (Figura 8) tem taça redonda na extremidade do corpo e cabo de aço inoxidável. A de Volkman é dupla, com uma taça redonda ou oval em cada extremidade 14,17. Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 8 - Curetas de Spratt

Figura 7 - (A) Cabo de bisturi n. 3; (B) Lâminas de bisturi n.11 e (C) n. 12; (D) Agulha hipodérmica (n. 25x7) com ponta angulada para durotomia

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Trépano de Michel É um instrumento freqüentemente utilizado para a obtenção de amostras para biópsias ósseas, e atualmente em desuso para a realização de hemilaminectomias. Pode cortar facilmente um

Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Instrumentos de microcirurgia Por serem menores e mais delicados que outros, os instrumentos oftálmicos são essenciais em muitos procedimentos neurocirúrgicos 13. Podem ser úteis quando se quer incisar a dura-máter. A tesoura de Íris, pinça para córnea com dente de McPherson e porta-agulha de Castroviejo (Figura 6) são particularmente úteis; a pinça de relojoeiro pode ser mais eficiente do que o porta-agulha oftálmico 10. O uso desses instrumentos irá ajudar na manipulação dos tecidos nervosos delicados da coluna vertebral e na manipulação e remoção de pequenos fragmentos ósseos 13.

Figura 9 - Trépanos de Michel

orifício circular através do osso cortical 14, mas é menos satisfatório que os instrumentos elétricos 12 (Figura 9). Perfuratrizes elétrica e pneumática Apesar das muitas descrições de procedimentos neurocirúrgicos realizados com instrumentos manuais, o uso correto de perfuratrizes e brocas permite a execução de operações mais rápidas, com menor possibilidade de produzir lesões iatrogênicas. Certos procedimentos podem ser executados utilizando apenas esses instrumentos 10. Alguns cirurgiões veterinários preferem remover o osso espinhal com brocas afixadas em perfuratrizes pneumáticas 17 acionadas por ar comprimido ou nitrogênio, ou mesmo com brocas elétricas 10. Esses instrumentos são particularmente úteis para a laminectomia em cães de grande porte 17 – que, geralmente, promove abundante quantidade de osso cortical externo na lâmina –, reduzindo assim o tempo do procedimento cirúrgico 23. São essenciais na realização do procedimento de “slot” ventral. As perfuratrizes podem estar recobertas por dispositivo de segurança apropriado, para prevenir a aderência dos tecidos à broca 14,17. A escolha da broca depende do tamanho do orifício a ser produzido. Elas são projetadas em pequeno, médio e longo comprimento para se adequarem à profundidade da exposição cirúrgica 17. Existe uma variedade de tamanhos e formas de brocas, porém todos os procedimentos podem ser realizados com as esféricas multilaminadas (Figura 10A). Diferentes materiais são utilizados para a confecção de brocas: aço, tungstênio, diamante e carboneto; o aço não parece perfurar bem e desgastase rapidamente, e o carboneto tem ótima perfuração e maior durabilidade; o diamante não perfura, mas é abrasivo como uma lixa, podendo ser usado para

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Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 11 - Perfuratriz pneumática Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 10 - (A) Caneta de baixa rotação acionada por motor elétrico; (B) Brocas esféricas multilaminadas

polimento e remoção final de osso em cima de estruturas delicadas 10. As brocas não devem ser reutilizadas ou superutilizadas, pois geram calor quando desgastadas 2. É melhor utilizar brocas grandes, que tendem a ser mais eficientes mesmo em animais de pequeno porte. O procedimento é seguro porque é improvável que uma broca grande penetre repentinamente em todas as camadas ósseas, diferentemente de uma broca pequena 10. Ainda assim, a broca grande jamais deve ser usada para acesso ao canal espinhal, pois pode causar lesão iatrogênica à medula 24. As perfuratrizes cirúrgicas pneumáticas (Figura 11), que funcionam a uma velocidade de 100.000 a 120.000rpm, transmitem uma força sustentável durante procedimentos longos, não produzem faísca e funcionam em temperaturas frias devido a dois estágios de resfriamento do ar turbinado. Elas são pequenas em tamanho, e aceitam esterilização a vapor ou a gás. Quando usadas corretamente, proporcionam maneira rápida e segura de penetrar no canal espinhal 23. Perfuratrizes elétricas funcionam a uma velocidade de 25.000 a 30.000rpm, com tamanho, força e peso equivalentes a alguns instrumentos cirúrgicos pneumáticos. São consideravelmente menos dispendiosas do que o sistema pneumático, e apresentam desempenho aceitável 24. Alternativamente, pode ser usada uma caneta de baixa rotação odontológica, acionada por motor elétrico (Figura 10B). A esterilização é um problema, e o óxido de etileno pode ser utilizado, embora sua disponibilidade seja limitada. Métodos de envolvimento do instrumento em panos esterilizados estão disponíveis 12. O uso de perfuratrizes é reconhecido, por ser rápido e mais exato do que as técnicas manuais nas laminectomias 25. 56

Figura 13 - Afastador de Hohmann (A) Afastador de Senn (B)

Figura 12 - (A) Afastador de Gelpi; (B) Afastador de Weitlaner

Afastadores Afastadores de vários tipos são necessários na cirurgia espinhal. Os tipos auto-estáticos são os mais úteis. Cada cirurgião tem sua preferência, mas o afastador de Gelpi (Figura 12A) é provavelmente o mais utilizado e versátil 10. É fabricado nos tamanhos pediátrico e regular. Tem pontas aguçadas e anguladas para fora, o que permite uma boa alavancagem do tecido a ser afastado. Existem coberturas esféricas para as pontas, para que a penetração nos tecidos fique limitada 14, mas cuidado é necessário para prevenir lesões acidentais a vasos e nervos 2. É particularmente útil nas abordagens dorsal e dorsolateral da coluna vertebral, promovendo a adequada exposição do campo cirúrgico 12. Outro afastador utilizado é o de Weitlaner (Figura 12B), que é multidentado. As várias pontas das lâminas podem ser pontiagudas ou rombas. Esses dois afastadores são providos de mecanismos de travamento para que as lâminas permaneçam na posição de afastamento 14,17. Para o acesso ventral da coluna vertebral é utilizado um afastador auto-estático rombo, como o de Gosset ou o pediátrico de Balfour 12, que também possuem utilidade na abordagem dorsal. Afastadores manuais são úteis em determinados estágios da intervenção cirúrgica 10. O afastador de Hohmann (Figura 13A) é fabricado em diversos comprimentos, e tem lâminas de várias larguras. As lâminas possuem um

Figura 14 - (A) Pinça do eletrobisturi bipolar; (B) Caneta monopolar; (C) Tubo de PVC com as canetas do eletrobisturi

“bico” rombo (estreito ou largo), que é utilizado para a exposição óssea, enquanto a lâmina retrai e afasta o músculo 14. É um afastador útil na reparação da luxação atlanto-axial ventral. O afastador de Senn (Figura 13B) é útil nas abordagens dorsal, dorsolateral e lateral da coluna vertebral 12. Instrumentos eletrocirúrgicos Uma unidade eletrocirúrgica é vantajosa para controlar hemorragias de pequenos vasos. A eletrocoagulação de pequenos vasos adjacentes aos nervos deve ser completada com o mínimo de potência e duração, para prevenir lesões ao tecido neural 2. O bisturi monopolar (Figura 14B) é útil durante a dissecação inicial 10, servindo para a coagulação e a incisão dos tecidos. Não deve ser usado muito próximo à medula espinhal, pois a corrente trafega pelo corpo do paciente, podendo lesioná-la; nesses casos, deve-se utilizar o eletrobisturi bipolar (Figura 14A) 12. O bipolar é preferível ao redor de tecidos neurais 2, por permitir ao cirurgião executar coagulação discreta próximo de estruturas vitais. Algumas unidades de

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Sucção e irrigação Em adição ao instrumental cirúrgico padrão, um adequado método de lavagem interna e sucção é obrigatório para manter o tecido nervoso úmido e remover coágulos de sangue. A sucção deve ser controlada para não lesionar estruturas, não devendo ser aplicada na medula sem a interposição de algodão neurocirúrgico irrigado com solução fisiológica a 0,9% 2, podendo também ser executada com o auxílio de seringa. Os artifícios de sucção/irrigação são particularmente úteis e economizam tempo. Pontas finas de sucção são essenciais para trabalhar ao redor da medula espinhal 13, mas em áreas limitadas um cateter intravenoso pode funcionar melhor 10. As sondas de sucção são acopladas a uma mangueira fixada a aspirador cirúrgico (Figura 15), o qual é indicado para a execução de aspirações de secreções e/ou substâncias líquidas. Há vários tipos de sondas de sucção. A sonda de sucção de Yankauer é grande e funciona bem na remoção de grandes volumes de líquido da cavidade abdominal ou torácica. Entretanto, a sua ponta não funciona adequadamente na sucção de sangue durante a dissecção. A sonda de sucção de Poole possui múltiplas aberturas em sua extremidade, o que reduz em muito o problema de tamponamento. As sondas de sucção de Frazier-Ferguson (Figura 16) e de Cushing apresentam um orifício de descompressão perto de seu cabo e são indicadas para neurocirurgia, pois a aplicação do dedo indicador sobre o orifício varia o padrão de sucção exercido na ponta do instrumento 14. Agentes hemostáticos A hemorragia não é única para a neurocirurgia, mas os métodos de hemostasia são. Embora grandes vasos devam ser

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bisturis bipolares têm a capacidade de coagular um tecido úmido ou ensangüentado, o que é desejável. Quando não estiverem em uso, as pontas da pinça do bisturi devem ser limpas com gaze umedecida em solução fisiológica, para reduzir a aderência aos tecidos 10. Um tubo de PVC esterilizado e fixado aos panos de campo pode ser de grande utilidade para conter as ponteiras e pinças do bisturi, quando este não estiver em uso (Figura 14C).

Figura 15 - Aspirador cirúrgico

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Figura 16 - Sonda de sucção de FrazierFerguson

evitados, pequenos vasos e seios venosos podem ser lesionados durante a dissecção e a manipulação. Vasos da meninge podem ser ligados com fio 6-0 não reativo, ou com grampo de aço inoxidável cuidadosamente aplicados. Hemorragias de vasos capilares do músculo e de outros tecidos podem ser controladas com eletrocoagulação bipolar. Todas as hemorragias adjacentes ao sistema nervoso deverão ser controladas antes de os tecidos serem fechados 2. Os agentes disponíveis para controlar hemorragias durante uma cirurgia são: cera óssea, músculo autólogo triturado e materiais hemostáticos fabricados com colágeno ou celulose 26. Cera óssea A cera óssea (Figura 17) é uma mistura estéril de cera de abelha semi-sintética e

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Figura 17 - Cera óssea

de um agente amolecedor (palmitato de isopropil) 26. Esse produto é utilizado para controle do sangramento de superfícies ósseas esponjosas incisadas 10. Serve para tamponar pequenos vasos da camada esponjosa óssea por compressão sobre o local do sangramento 12. É aquecido e moldado na mão, e então pressionado dentro da superfície incisada 26. A cera pode ser pressionada contra a camada esponjosa óssea após craniotomia, laminectomia ou “slot” do corpo vertebral, para coibir a hemorragia trabecular 2. É mais fácil de aplicar com os dedos, mas em cavidades profundas e estreitas, instrumentos de metal devem ser utilizados – aqueles com superfícies planas e amplas são os melhores. Produtos similares, que são impregnados com substâncias hemostáticas, parecem não funcionar a contento e podem ser mais difíceis de aplicar ao osso 10. O sangramento do osso esponjoso, que surge durante a perfuração, pode muitas vezes ser estancado por perfuração contínua: o pó do osso será distribuído centrifugamente dentro das superfícies ósseas, ajudando na hemostasia 10. Músculo autólogo triturado O controle da hemorragia venosa pode ser obtido utilizando pequeno segmento de músculo. Ele é primeiro esmagado, depois aplicado no local cirúrgico, sendo então cuidadosamente comprimido sobre o defeito vascular 12. É um método biológico, possui colágeno e tromboplastina, que ativam as plaquetas e os fatores de coagulação 27, além de servir como adjuvante à hemostasia devido à pressão exercida sobre o local. Celulose, colágeno e gelatina O Surgicel® (Figura 18) é fabricado com celulose regenerada oxidada 26, produzido como fina malha delicada impregnada com trombina 10. Quando saturado de sangue, ele se torna uma massa gelatinosa que proporciona um

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Figura 18 - Celulose regenerada oxidada (Surgicel®)

Figura 19 - Esponja de gelatina (Spongostan)

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Algodão neurocirúrgico O algodão neurocirúrgico é feito de algodão, rayon ou poliéster comprimidos. É utilizado para absorver sangue ou outros fluidos em tecidos neurais delicados em lugar da gaze pois, além de absorver o sangue sem promover hemostasia, possui a vantagem de não soltar fibras. O algodão neurocirúrgico deve ser umedecido com solução salina e colocado em superfície plana de metal, para impedir aderências com as fibras do pano de campo, antes de ser utilizado. É mais utilizado em cirurgias

Figura 20 - Algodão neurocirúrgico

realizadas no interior da dura-máter 10. Possui um fio de sutura para segurança que auxilia a sua identificação e facilita o seu resgate (Figura 20). Instrumentos ortopédicos A maior parte dos instrumentos ortopédico-padrão pode ser utilizada em neurocirurgias. Instrumentos e implantes são certamente preferíveis, mas não são essenciais em situações em que placas e parafusos são utilizados. Esses implantes são usados para a colocação de placas no corpo vertebral, para a fixação de fraturas ou luxações e para a fixação através de articulações diartrodiais vertebrais. No lugar dos pinos, parafusos também podem ser utilizados para a fixação de fraturas ou luxações. O fio de aço inoxidável ortopédico é utilizado para muitos tipos de fixação 21. Pinos com rosca com perfil positivo (Figura 21) têm ótimas vantagens, porque a migração é reduzida e o perfil positivo diminui a probabilidade de quebra na rosca. Uma perfuratriz elétrica de baixa velocidade (Figura 22) é muito útil para direcioná-los e para fazer o orifício e fixar o parafuso 10. O cimento ósseo de polimetilmetacrilato (PMMA) esterilizado (Figura 23) é usado em diversos procedimentos cirúrgicos 12. Esse material versátil pode ser usado para a fixação de muitas fraturas e luxações Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

Figura 21 - Pinos com rosca positiva Marcella L. Figueiredo e Eduardo A. Tudury

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substrato para a formação de coágulo. Pode ser cortado no tamanho desejado e colocado na área de hemorragia 26. A celulose cirúrgica é muito utilizada para auxiliar no controle de hemorragias de seios venosos ou, ocasionalmente, de osso esponjoso incisado. É útil para hemostasia e revestimento de defeitos no canal vertebral. Apesar de ser definitivamente absorvível é um corpo estranho, e como tal é preferível não deixá-lo no local 10. Esse material é bactericida in vitro contra ampla variedade de microrganismos gram-positivos e gram-negativos 27. Um grande número de agentes hemostáticos à base de colágeno é disponibili-

zado no mercado. Tais agentes se constituem em alternativas à celulose cirúrgica, mas têm o inconveniente de ser menos fáceis de acondicionar dentro de espaços limitados. A esponja de gelatina (Gelfoam ®, Spongostan®) (Figura 19) é um tampão de gelatina absorvível que pode ser usado de maneira semelhante à do Surgicel 26. É extremamente utilizada para hemostasia e para preencher os espaços deixados no osso após a excisão cirúrgica 10. Quando aplicada em área de hemorragia, ela incha e exerce pressão sobre o ferimento. A absorção ocorre no período de quatro a seis semanas. Pode causar formação de granuloma, e não deve ser deixada em locais infectados ou em áreas com alto risco de infecção 26,27. A cola de gelatina (colagel®) é um adesivo biológico cirúrgico e hemostático à base de gelatina, resorcina e solução polimerizante, esterilizado a raios gama, eficaz no controle de hemorragias, vedação de anastomoses e na aderência de tecidos. É indicada para cirurgia cardiovascular e torácica, cirurgia geral e neurocirurgia, sendo utilizada para a síntese da dura-máter, o tamponamento de seios venosos e a fixação de enxertos ósseos.

Figura 22 - Perfuratriz elétrica

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Figura 24 - Distrator/distensor ósseo

Figura 23 - Cimento ósseo ortopédico esterilizado de PMMA

espinhais, e para a reposição de defeitos ósseos. Cuidado deve ser tomado em seu uso por causa da reação exotérmica, sendo necessário o arrefecimento com solução salina para acelerar a dissipação desse calor. O PMMA é um corpo estranho e pode ocasionar infecção. Assepsia rigorosa é obrigatória durante seu uso 10. A mistura de cefalotina sódica ao cimento ósseo contribui na profilaxia da infecção óssea 28. Pode-se adotar a proporção de 1g para 40g do PMMA 12. Quando impregnado com antibiótico, o cimento apresenta grande efeito bactericida durante pelo menos sete a dez dias 29. O PMMA também tem sido utilizado com sucesso em medicina veterinária, para a realização de vertebroplastia e cifoplastia 30.

TÉCNICAS NEUROCIRÚRGICAS BÁSICAS Os principais objetivos da cirurgia vertebral são a descompressão da medula, dos nervos e das raízes espinhais; a estabilização espinhal; o alívio da dor e das parestesias; e o diagnóstico (incluindo biópsias e culturas), prognósticos e prevenção de compressões.

Microscópios cirúrgicos Os microscópios cirúrgicos (Figura 25) fornecem imagens de excelente nitidez – com adequada visualização de pormenores –, definição e qualidade, permitindo a realização de microcirurgias e o desenvolvimento de procedimentos

Fenestração É a criação de janela ou fenestra no ânulo fibroso lateral, dorsal ou ventral, para remover o núcleo pulposo a partir do espaço intervertebral 21 (Figura 26). Essa técnica tem sido recomendada para tratar cães com extrusão de disco e, profilaticamente, para reduzir a recidiva de extrusão em outro espaço de disco. Pode ser realizada via dorsal, dorsolateral, lateral ou ventral 32. Técnica - Com o auxílio de lâmina de bisturi n. 11, o anel fibroso é seccionado na forma de janela retangular para permitir acesso ao núcleo pulposo. Todo o material do núcleo pulposo é então removido com pequena cureta ou com extrator rombo de cálculo 12,20,32.

Figura 25 - Microscópio cirúrgico

Figura 26 - Fenestração de disco intervertebral toracolombar realizada com removedor de cálculo (1), por meio de abertura tipo janela realizada na face lateral do ânulo fibroso

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Aparelho de distração/distensão O uso de distrator pode ser proveitoso em casos de fratura ou luxação na coluna vertebral. A distração pode ser alcançada manualmente, mas realizá-la de maneira controlada pode ser difícil. Algumas vezes, o cirurgião certamente precisará transferir os instrumentos de distração para o assistente, o que pode resultar em perda do alinhamento e traumatismo às delicadas estruturas neurais. O problema pode ser resolvido com o auxílio de um distrator/distensor ósseo 10 (Figura 24). Um pino ortopédico de aço inoxidável de tamanho adequado é inserido em ângulo reto através do corpo vertebral caudal, e cranialmente ao local da fratura/luxação. Esse pino não tem que ser

transfixado próximo à área afetada, permitindo espaço para trabalhar. O instrumento de distração é fixado aos pinos e a distração axial controlada pode ser aplicada e mantida. Durante a distração, a fratura ou a luxação se alinhará satisfatoriamente, ou poderá ser manipulada e fixada temporariamente enquanto a fixação definitiva é aplicada. O distrator pode ser deixado no local até que a redução e a fixação sejam finalizadas 10. A injeção de PMMA no interior do corpo vertebral (vertebroplastia/cifoplastia) serve para evitar o colapso estrutural após a retirada do aparelho 30. A redução da luxação também pode ser realizada através da distensão de vértebras adjacentes, com o auxílio de pinças de Backhaus robustas presas à base dos processos espinhosos das vértebras. O afastador de Gelpi, modificado com pontas rombas, também é útil para a distração vertebral durante procedimentos de estabilização 3.

menos invasivos e mais seguros para o paciente, possibilitando cortes precisos e suturas quase invisíveis a olho nu. Neles pode estar acoplado o “carona” (outra ocular), que facilita ao cirurgião auxiliar acompanhar, com a mesma clareza, cada passo da cirurgia. Também pode estar instalado um sistema de circuito interno de TV, que mostre todo o ato cirúrgico à equipe que o está acompanhando. Durante a sua utilização, os microscópios cirúrgicos devem ser encapados com proteção plástica esterilizada 31.

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A profundidade da fenda pode ser avaliada segundo o aspecto do osso que está sendo perfurado. A camada cortical externa, branca e densa, é a primeira a ser encontrada; em seguida, há uma camada trabecular mais espessa de coloração castanho-avermelhada e, finalmente, uma camada interna e delgada de osso cortical branco adjacente ao ligamento longitudinal dorsal. A lavagem e sucção intermitentes durante todo o processo de perfuração evitam a queima do osso e aumentam a visibilidade do campo cirúrgico. O sangramento ósseo pode ser controlado mediante a aplicação de pequena quantidade de cera óssea no osso esponjoso que está sangrando 22. 60

Distração vertebral Distração vertebral durante uma cirurgia pode ser alcançada por distrator, por distensor ósseo fixado a pinos, ou por tração manual, dificilmente controlada e, portanto, não recomendada. Técnica - As pontas do instrumento de distração ou afastador de Gelpi modificado são colocadas nos corpos vertebrais, cranial e caudal à lesão, afastando-os em sentidos opostos 36. Técnicas de distração envolvendo a fenestração de discos para a colocação do instrumento podem aumentar a instabilidade vertebral e contribuir para o desenvolvimento de protrusões de discos adicionais 37. Portanto, é mais eficiente ancorar as pontas do distrator nos corpos vertebrais. O distensor ósseo é fixado a dois pinos que são inseridos em ângulo reto através dos corpos vertebrais caudal e cranial ao local da fratura/luxação, e a distração axial controlada pode ser aplicada e mantida 10. Laminectomia, hemilaminectomia e mini-hemilaminectomia A laminectomia envolve a remoção dos processos espinhosos dorsais, das lâminas dorsais, e de quantidades variáveis dos processos articulares e pedículos de pelo menos duas vértebras consecutivas 22 (Figura 28). Os processos espinhosos dorsais são geralmente removidos com cisalha ou costótomo, ou com pinça goiva grande de dupla articulação. É importante que sejam removidos os processos espinhosos dorsais, sem que sejam exercidas forças torcionais sobre as vértebras durante os cortes/secções. A hemilaminectomia (Figura 29) refere-se à remoção unilateral dos pedículos

Figura 28 - Exploração e descompressão da medula espinhal mediante laminectomia dorsal tipo Funkquist B Eduardo A. Tudury

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Figura 27 - Espondilectomia cervical ventral em sulco/fenda (“slot”), permitindo ressecção de protrusão discal mediante a utilização da cureta de Spratt

Após penetrar a cortical interna, ela pode ser removida com cureta óssea pequena (3-0 ou 4-0), removedor de cálculo ou pinça de Kerrison 34. Com exposição adequada, o ligamento longitudinal dorsal pode ser retirado cuidadosamente com uma pinça oftálmica fina e uma lâmina de bisturi n. 11, para evitar hemorragia do seio venoso vertebral, permitindo o acesso ao canal espinhal 3. O material de disco no canal vertebral é removido centralmente, e depois lateralmente, com o auxílio de instrumentos dentais ou microdissectores 35.

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Fenda ventral tipo “slot” Refere-se à criação de defeito ósseo na face ventral de um espaço intervertebral e entre as vértebras cervicais, para entrar e visualizar o canal espinhal ventral (Figura 27). Essa técnica é realizada para descomprimir a medula espinhal de pacientes com protrusão discal cervical, ou combinada com procedimentos de estabilização para animais com espondilomielopatia cervical caudal 9. Técnica - O processo ventral dos corpos vertebrais afetados é removido com pinças goivas. O ânulo fibroso ventral é excisado com lâmina n. 11 para que seja preparado o interespaço para a perfuração 22. Uma broca e perfuratriz pneumática de alta velocidade podem ser utilizadas para criar um defeito retangular na linha média dos corpos das duas vértebras adjacentes ao espaço intervertebral afetado 3. A dimensão do “slot” (fenda) não deve exceder 50% de largura e 33% de comprimento do corpo vertebral 22. A remoção excessiva de osso durante o procedimento pode promover instabilidade e subluxação vertebrais 33.

Figura 29 - Hemilaminectomia toracolombar, evidenciando compressão medular por protrusão discal

e das lâminas dorsolaterais, além das facetas articulares 9. É iniciada com a remoção unilateral dos processos articulares por meio de pinças goivas grandes de dupla articulação. Para alcançar o canal vertebral e visualizar a medula espinhal, tanto na laminectomia quanto na hemilaminectomia, as camadas ósseas podem ser removidas com broca pneumática ou elétrica. Na ausência desses instrumentos, pinças goivas podem ser utilizadas 12. Máxima atenção deverá ser tomada com relação às mudanças de coloração e textura do osso que está sendo perfurado em direção ao canal vertebral 22. Enquanto se trabalha com a perfuratriz elétrica ou pneumática, deve-se apoiar a mão no paciente para maior controle durante a perfuração. A outra mão deverá sustentar o instrumento para evitar a ocorrência de qualquer movimento descendente da broca 12. Após a remoção da cortical externa, é encontrada a espessa camada de osso esponjoso e, em seguida, a delgada cortical interna. Com cuidado, a cortical interna é adelgaçada até atingir espessura de casca de ovo. Perfuração cuidadosa é necessária para que a broca não escape para o interior do canal vertebral 38. Então, com o auxílio de pinça de Kerrison, pinça goiva de Lempert ou

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cureta, o periósteo é penetrado e removido 3. Com esses instrumentos, a força de corte é sempre aplicada de tal forma que, se um instrumento porventura deslizar, ele se afastará da medula óssea, e não em sua direção 22. Lavagem e sucção cuidadosas são necessárias para manter o campo limpo durante o processo de perfuração. A hemostasia meticulosa contribui em muito para a técnica neurocirúrgica atraumática. O uso do bisturi bipolar e de aplicações tópicas de cera óssea, esponja de gelatina e de tecido muscular fragmentado, podem limitar a hemorragia ao longo de todo o procedimento 39. O material discal extrudado no canal vertebral é eliminado cuidadosamente, descomprimindo a medula espinhal e as raízes nervosas, e é removido do canal vertebral com a ajuda de pinça hemostática mosquito, uma pequena cureta, removedores de cálculo, esculpidores ou espátulas para resina 22. A mini-hemilaminectomia implica na remoção do osso pedicular e do processo acessório existentes entre o corpo vertebral e os processos articulares 32 (Figura 30). Facetectomia e foraminotomia Quando, durante a laminectomia dorsal lombossacra, observa-se que as raízes nervosas de L7-S1 estão comprimidas dentro dos forames ou por facetas articulares aumentadas de tamanho, a foraminotomia e/ou a facetectomia são realizadas para estabelecer a completa descompressão radicular 3. Técnica - Com uma broca de alta velocidade, o processo articular cranial de S1 e o processo articular caudal de L7 são removidos. A broca pode ser usada para alargar o forame intervertebral, e as pinças goivas de Lempert

Durotomia A durotomia, ou incisão da dura-máter, é praticada algumas vezes depois da laminectomia ou da hemilaminectomia. Ela é útil para avaliar lesões intradurais e tem sido indicada para descomprimir a tumefação/edema da medula espinhal. Ainda que possa fornecer descompressão adicional, os relativos riscos e benefícios da técnica não são claros 12. Quando a durotomia é praticada imediatamente após o trauma, o edema medular causado pode ser minimizado, com redução da pressão intramedular 43 sem dano à medula espinhal, podendo ocorrer deficiência neurológica discreta e temporária 19. A durotomia não é benéfica quando realizada após duas horas do traumatismo 44,45, sendo de valor para determinar o prognóstico quando se suspeita de mielomalácia 12. Geralmente, é mais bem executada usando uma lâmina de bisturi n. 12 19 ou uma agulha hipodérmica n. 26 fixada a uma seringa, usando o bisel para atingir cuidadosamente a meninge 35 (Figura 31). Neuroproteção Movimentação após a anestesia Deve-se ter cuidado na manipulação dos pacientes anestesiados que apresentarem considerável instabilidade da espinha, pois essa manobra, quando Eduardo A. Tudury

Eduardo A. Tudury

Figura 30 - Mini-hemilaminectomia obtida por pediculectomia unilateral, evidenciando compressão medular por protrusão discal

para entrar no forame por meio da remoção de qualquer faceta articular remanescente 40. Essa exposição permite a visualização do forame intervertebral e da raiz nervosa que emerge em L7 3. A facetectomia pode desestabilizar potencialmente a articulação lombossacral e, se possível, deve ser evitada 40. A facetectomia unilateral não costuma pôr em perigo a estabilização espinhal, mas a bilateral poderá necessitar de fixação interna e fusão vertebral 41,42.

Figura 31 - Durotomia longitudinal realizada com agulha hipodérmica angulada na extremidade, após abertura do canal vertebral mediante laminectomia do tipo Funkquist B

realizada de forma inadequada, pode produzir um traumatismo adicional à medula espinhal 46. Em pacientes com instabilidade atlantoaxial, cuidado excessivo deve ser tomado durante todo o preparo préoperatório, principalmente durante a intubação, evitando a manipulação excessiva (hiperflexão da articulação atlantoaxial), que poderá comprimir a medula espinhal 21 ou, ainda, promover a sua transecção, resultando em paralisia motora e respiratória, que conduz à morte 47. Posicionamento do paciente O posicionamento do paciente é muito importante 5. O animal deve ser colocado em posição adequada à técnica cirúrgica – evitando a oclusão das jugulares ou veias cavas –, conveniente e confortável para o cirurgião e segura para o paciente 2. Nas cirurgias toracolombares não se deve exercer nenhum tipo de pressão sobre as vísceras abdominais que diminua o retorno venoso pela veia cava caudal, pois isso pode aumentar o retorno venoso alternativo através dos plexos venosos vertebrais, provocando sangramento de difícil controle na área cirúrgica. Na região cervical, o sangramento venoso é controlado pela descompressão das jugulares e pelo correto posicionamento do paciente. A cabeça pode ser elevada levemente em relação ao coração, mas sem excesso, pois existe o risco de provocar embolia venosa 5. Sacos de areia poderão ser colocados lateralmente ao tórax do paciente em decúbito dorsal ou ventral, ou dorsal ao pescoço do animal mantido em decúbito dorsal. Abordagens ventrais às vértebras cervicais são facilitadas pela extensão do pescoço, porém uma extensão mínima deverá ser mantida para evitar o aumento da pressão na medula espinhal. Isso inclui protrusão de disco tipo II e muitas malformações articulares vertebrais cervicais 48. Os membros torácicos devem ser posicionados caudalmente, e faixas ou fitas adesivas são usadas para fixar a cabeça e o tórax 12. Pacientes que serão submetidos à laminectomia dorsal devem ter as costas flexionadas levemente para abrir as facetas articulares e os espaços interarqueados. Na hemilaminectomia, o lado afetado deve ser girado dorsalmente

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(cerca de 15 °) para facilitar a exposição lateral da lâmina vertebral e das facetas articulares 21. Animais com estenose lombossacra (síndrome da cauda eqüina) devem ser posicionados com os membros pélvicos sob o abdômen, conseqüentemente esticando o ligamento amarelo e acentuando o espaço lombossacral dorsal, facilitando a exposição para a laminectomia dorsal e a hemilaminectomia, para descomprimir a cauda eqüina 49. Os pacientes com fratura/luxação espinhal devem ser posicionados para estimular a redução desses processos e a descompressão da medula espinhal 21. Neuroprotetores O uso de neuroprotetores é estabelecido na prática clínica de lesões espinhais, tanto em seres humanos quanto em animais 50, para prevenir ou limitar a lesão secundária à medula espinhal 51. Os glicocorticóides têm sido usados extensivamente no tratamento clínico do traumatismo medular, com o intuito de reduzir o edema, a inflamação e as lesões vasculares que ocorrem após o traumatismo agudo da medula espinhal 35, além de melhorar o fluxo sangüíneo protegendo o tecido neuronal contra os efeitos citotóxicos dos radicais livres 52. O uso da dexametasona para o tratamento da lesão aguda da medula espinhal não tem sido recomendado devido à freqüência dos efeitos adversos que provoca, como úlceras e hemorragias gastrintestinais, pancreatite e imunossupressão, além da incerteza de sua eficácia 53. O succinato sódico de metilprednisolona (Solumedrol) é, no momento, a droga de eleição no tratamento da lesão aguda da medula espinhal, devido aos seus efeitos neuroprotetores contra a cascata de eventos secundários que se desenvolvem após o trauma medular 54. Para obter efeitos benéficos, a droga deve ser administrada em dose alta nas primeiras oito horas após o traumatismo, em uma dose inicial de 30mg/kg intravenosa, seguida por duas outras doses de 15mg/kg, duas e seis horas após a dose inicial, e posterior infusão constante de 2,5mg/kg/h por 18-24 horas 51. O tratamento mantido por até 48 horas mantém as concentrações teciduais do medicamento em níveis terapêuticos úteis para inibir o desenvolvimento de lesões secundárias 55. 62

CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS Freqüentemente, animais submetidos à cirurgia espinhal necessitam de cuidados de enfermagem. Muitos desses pacientes estão imóveis e podem ser incapazes de controlar a micção e a defecação. A dor pré ou pós-operatória pode complicar também os cuidados de enfermagem, porque tenderá a tornar o animal mais apreensivo e, conseqüentemente, mais difícil de lidar. Aqueles que ficam em decúbito por tempo prolongado estarão também em risco de complicações como fraqueza muscular grave, pneumonia, infecção do trato urinário e úlceras de decúbito. O cuidado de enfermagem intenso e a correta aplicação de terapia física podem ajudar a reduzir a incidência e a gravidade desses problemas 56. Fisioterapia A fisioterapia tem importante papel na reabilitação precoce de pequenos animais portadores de danos espinhais 56. Pode melhorar a força muscular e a velocidade de cicatrização de tecidos inflamados e lesionados, e ajudar a manter o movimento de extensão normal das articulações 57, reduzindo a incidência de rigidez articular pós-operatória 58. Terapias pós-operatórias, como a crioterapia e as massagens, devem ser iniciadas imediatamente ou dentro de 48 horas após a cirurgia, para aliviar a dor e os espasmos musculares 59. A massagem deve ser aplicada da direção distal para a proximal do membro, a fim de promover o retorno venoso 12. Os animais podem ser estimulados ao exercício tão logo tenham se recuperado da cirurgia, desde que a dor tenha sido adequadamente controlada e que o local cirúrgico esteja estável o bastante para permitir uma razoável execução das atividades 56. Os animais somente poderão caminhar em superfícies seguras para a deambulação, sem acidentes. Concreto e grama são geralmente boas superfícies 56. Animais paraparéticos, que são capazes de tentar caminhar mas não suportam o próprio peso, podem ser encorajados pelo suporte de seus membros pélvicos. Uma toalha ou um elástico – passados por baixo do abdômen – podem ser usados para esse propósito; alternativamente, um cão de porte menor pode ser suportado segurando a base da cauda 60. A hidroterapia é a forma ideal de

exercício ativo 59. A flutuação natural do animal e a pressão hidrostática da água dão suporte e ajudam a melhorar a circulação. Um paciente paraparético irá mover suas articulações voluntariamente mais facilmente na água 32. CONSIDERAÇÕES FINAIS A neurocirurgia de cães e gatos é prática comum em centros especializados, permitindo muitas vezes a recuperação funcional dos animais afetados, assim como a recuperação da qualidade de vida e o retorno ao convívio familiar. Para tal, é necessário que os profissionais interessados conheçam o material, o instrumental e os procedimentos inerentes (cirúrgicos, médicos e de enfermagem) necessários à obtenção de eficiência operatória nas diferentes afecções da coluna vertebral. REFERÊNCIAS 01-SHORES, A. Diagnostic techniques. In: BRAUND, K. G. Clinical Syndromes in veterinary neurology, 2. ed. Missouri: 1994, p. 423-456. 02-KNECHT, C. D. Principles of neurosurgery. In: OLIVER, J. E. Veterinary neurology. Philadelphia: W. B. Saunders, 1987. p. 408-415. 03-FOSSUM, T. W. Surgery of the thoracolumbar spine. In:__. Small Animal Surgery. 2. ed. Missouri: Mosby, 2002. p. 1269-1301. 04-FRIES, C. L. Avaliação e preparo do paciente cirúrgico. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1998, v. 1, p. 174-186. 05-JACOMET, L. Anestesia no paciente neurológico. In: PELLEGRINO, F. C. ; SURANITI, A. ; GARIBALDI, L. Síndromes neurológicas em cães e gatos. São Paulo: Interbook, 2003. p. 362371. 06-CRUZ, M. L. Anestesia em ortopedia. In: FANTONI, D. T. ; CORTOPASSI, S. R. G. Anestesia em cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca, 2002, p. 280-285. 07-DALY, W. R. Wound infections. In: SLATTER, D. H. Textbook of small animal surgery. Philadelphia: W. B. Saunders, 1985, p. 37-51. 08-RICHARDSON, D. C. ; AUCOIN, D. P. ; DEYOUNG, D. J. ; TYCZKOWSKA, K. L. ; DEYOUNG, B. A. Pharmacokinetic disposition of cefazolin in serum and tissue during canine total hip replacement. Veterinary Surgery, v. 21, p. 1-4, 1992. 09-FOSSUM, T. W. Cirurgia da espinha toracolombar. In:__. Cirurgia de pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca, 2002. p. 1216-1248. 10-YARROW, T. G. Instrumentation. In: JEFFERY, N. D. Handbook of small animal spinal surgery. Philadelphia: W. B. Saunders, 1995. p. 1-8. 11-NIEVES, M. A. ; MERKLEY, D. F. ; WAGNER, S. D. Surgical instruments. In: SLATTER, D. Textbook of small animal surgery. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1993, v. 1, p. 154168. 12-WHEELER, S. J. ; SHARP, N. J. H. Diagnóstico

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Aleksandro Schafer da Silva

Sinais clínicos em cães naturalmente infectados por Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) no RS

Graduando em medicina veterinária Bolsista de iniciação científica LAPAVET/UFSM aleksvet2002@yahoo.com.br

Régis Adriel Zanette Graduando em medicina veterinária Bolsista de iniciação científica LAPEMI/UFSM regnitro@yahoo.com.br

Cristina Braccini Colpo Médica veterinária autônoma

Clinical signs in dogs naturally infected by Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) in the state of Rio Grande do Sul, Brazil

cristinabraccini@hotmail.com

Janio Morais Santurio MV, dr., prof. adj. Depto. Microbiologia e Parasitologia LAPEMI/UFSM santurio@smail.ufsm.br

Silvia Gonzalez Monteiro

Señales clínicas en perros naturalmente infectados por Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) en Rio Grande do Sul, Brasil Resumo: O Trypanosoma evansi é um protozoário hemoflagelado, digenético, da família Trypanosomatidae, transmitido por uma variedade de moscas hematófagas, principalmente dos gêneros Stomoxys e Tabanus. Animais selvagens e domésticos podem desenvolver a doença clínica, ou tornarem-se infectados e atuarem como reservatórios. O objetivo deste trabalho foi relatar sinais clínicos em quatro cães naturalmente infectados por T. evansi no Rio Grande do Sul. Foram avaliados quatro animais, nos quais foi confirmada a tripanossomíase por meio da presença da forma flagelada do T. evansi no esfregaço sangüíneo. Ao exame clínico, observaram-se edema dos membros pélvicos, anorexia, apatia, incoordenação motora, hálito urêmico, desidratação, mucosas pálidas, secreção ocular, anemia, febre, estertor pulmonar e perda de peso. Unitermos: Tripanossomíase, caninos, infecção natural, protozoário Abstract: The Trypanosoma evansi is a hemoflagellated digenetic protozoan of the family Trypanosomatidae. It is transmitted by various blood-sucking flies, mainly pertaining to the genera Stomoxys and Tabanus. Infected wild and domestic animals may either develop the disease or become reservoir hosts. The aim of this work was to report the clinical signs of four dogs naturally infected by T. evansi in the state of Rio Grande do Sul, Brazil. Trypanosomiasis was confirmed by the presence of the flagellated form of T. evansi in blood smears. Clinical signs included edema of the hind limbs, anorexia, apathy, uncoordinated gait, uremic halitosis, dehydration, pale mucosa, ocular secretion, anemia, fever, stertor and weight loss. Keywords: Trypanosomiasis, canine, natural infection, protozoan Resumen: Trypanosoma evansi es un protozoo hemoflagelado, digenético, de la familia Trypanosomatidae, transmitido por una variedad de moscas hematófagas, principalmente de los géneros Stomoxys y Tabanus. Los animales silvestres y domésticos pueden desarollar la enfermedad clínica o infectarse y actuar como reservorios. El objetivo de este trabajo fue relatar señales clínicas en perros infectados naturalmente por el T. evansi en Rio Grande do Sul. Fueron evaluados cuatro animales en que se confirmó la tripanosomiasis a través de la presencia del flagelo T. evansi en frotis de sangre. En el examen clínico se constató edema en los miembros pélvicos, anorexia, apatía, incoordinación motora, aliento urémico, deshidratación, mucosas pálidas, secreción ocular, anemia, fiebre, estertor pulmonar y pérdida del peso. Palabras clave: Tripanosomiasis, perros, infección natural, protozoo

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Introdução A doença causada pelo Trypanosoma evansi (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) é comumente denominada mal das cadeiras em eqüinos 1,2. O protozoário é geralmente monomórfico, tem um pequeno cinetoplasto subterminal, embora existam formas acinetoplásticas, como as cepas brasileiras 3. O T. evansi é um hemoprotozoário flagelado conhecido por causar infecção em uma diversidade de mamíferos. Esse parasita apresenta distribuição geográfica ampla e causa 66

doença significativa em animais que habitam áreas de clima tropical, especialmente a África e a América Latina 4. Segundo a literatura, os insetos tabanídeos multiplicam-se nas estações quentes do ano, sendo responsáveis pela transmissão mecânica do protozoário entre hospedeiros 5, embora também exista a possibilidade de infecções por morcegos hematófagos 6. A rota oral pode ser importante na dispersão da infecção por T. evansi em cães, quatis e capivaras, em conseqüência das brigas freqüentes

MV, dra., profa. adj. Depto. Microbiologia e Parasitologia LAPAVET/UFSM sgmonteiro@uol.com.br

entre animais parasitados e sadios 7. No Brasil, foram descritas duas formas da doença causada pelo T. evansi: a síndrome aguda, que causa morte rápida em eqüinos e cães não-tratados, e a crônica, que afeta diversos animais silvestres, principalmente capivaras (Hydrochaeris hydrochaeris) e quatis (Nasua nasua) 7. A fase aguda da doença caracteriza-se pelo surgimento de febre intermitente, edema subcutâneo, anemia progressiva, cegueira, letargia e alterações hemostáticas. Durante a fase subaguda, há a resolução dos sinais clínicos, o que faz com que, muitas vezes, a doença não seja identificada ao exame clínico menos atento, sendo diagnosticada apenas na fase crônica, com a piora do estado geral do animal e o agravamento dos sinais clínicos 8. O objetivo deste trabalho foi relatar os sinais clínicos em quatro cães naturalmente infectados por T. evansi em diferentes localidades do Rio Grande do Sul. Descrição dos casos Caso 1: em maio de 2004, um cão da raça labrador de oito anos de idade, macho, pesando 30kg e oriundo da zona rural do município de Uruguaiana, chegou ao Hospital Veterinário da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Campus de Uruguaiana, em estado agônico. Foi reportado pelo proprietário que o animal já não se alimentava bem nas últimas semanas e

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que, nos últimos cinco dias, permanecia somente em decúbito lateral. Observouse que o canino apresentava hálito urêmico, febre, desidratação, estertor pulmonar, edema dos membros pélvicos e mucosas pálidas. No hemograma, observou-se uma anemia grave e, no esfregaço sangüíneo corado com Panótico Rápido®, foram visualizadas em média 30 formas flageladas por campo microscópico pertencentes ao gênero Trypanosoma. O exame bioquímico de creatinina apresentou elevada concentração, com 18mg/dL-1 (valores normais oscilam entre 0,5 e 1,4mg/dL-1). Para confirmar o diagnóstico, o animal foi submetido à colheita de sangue, que foi inoculado, intraperitonealmente em Rattus norvergicus, que desenvolveram a doença após oito dias. O canino morreu 24 horas após o atendimento no hospital. Caso 2: no mês de fevereiro de 2005, uma cadela sem raça definida (SRD), com três anos de idade, foi examinada por médico veterinário autônomo no município de Uruguaiana. O animal, oriundo de zona

rural, apresentava-se apático, com mucosas pálidas, edema de membros pélvicos e dificuldade de locomoção. Realizou-se esfregaço sangüíneo com sangue periférico corado com Panótico Rápido®, retirado da orelha do animal, observando-se formas tripomastigotas sangüíneas de Trypanosoma. Não foram realizados exames complementares devido à condição financeira do proprietário. Mantido na residência do médico veterinário, o animal recuperou-se da enfermidade após tratamento com aceturato de diminazeno a na dose de 3,5mg/kg-1 via intramuscular, pois não houve retorno dos sinais clínicos e da forma flagelada na corrente sangüínea até janeiro de 2007. Caso 3: em projeto de pesquisa desenvolvido no bairro Santa Marta, localizado no município de Santa Maria, no mês de janeiro de 2006, foi atendido um cão macho, SRD, de cinco anos de idade que, segundo o proprietário, apresentava-se a) Diazeg®, Indústria Química e Farmacêutica Shering Plough S/A. Rio de Janeiro, RJ

apático havia 15 dias, não se alimentava direito e estava emagrecendo rapidamente. No exame clínico foram observados mucosa conjuntiva pálida, secreção ocular, linfonodos mandibulares aumentados, desidratação, edema nas orelhas e patas, além de dificuldade de locomoção. O animal tinha grande número de carrapatos dos gêneros Rhipicephalus e Amblyomma. Procedeu-se o esfregaço sangüíneo da veia marginal da orelha e coleta de fezes. Na lâmina confeccionada, verificaram-se formas tripomastigotas de T. evansi e, na amostra fecal, presença de ovos de helmintos. O cão em questão tinha vida livre e freqüentava área de mata ciliar e banhados onde caçava preás (Cavia aperea aperea), conforme descrição do proprietário. O animal morreu dois dias após o atendimento. Caso 4: no mês de janeiro de 2007, foi coletado sangue de um cão macho, da raça labrador, com seis anos de idade, oriundo da zona rural do município de Cruz Alta. A amostra de sangue foi enviada ao Laboratório de Parasitologia

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

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Discussão e conclusões Em três animais mencionados, observou-se edema dos membros pélvicos, alteração esta comumente observada em eqüinos com tripanossomíase 11,12, mas raramente descrita em cães. No entanto, caninos com T. evansi podem apresentar edema subcutâneo nas pernas e no focinho 13. Os sinais clínicos citados neste trabalho e descritos em outros estudos 8 sugerem que cães que se encontram na fase crônica da doença apresentam comprometimento renal, o que possivelmente causou a morte de três deles. Conforme a literatura, a presença do parasito na circulação induz a produção de imunoglobulinas, que podem se depositar na camada basal glomerular, causando redução da taxa de filtração glomerular 8. Essas alterações foram observadas no caso 1 e comprovadas por meio do exame bioquímico de creatinina e presença de hálito urêmico. Nos outros três casos, devido à ausência de exames complementares, não foi possível confirmar o diagnóstico de glomerulonefrite. Sinais clínicos de tripanossomíase, como perda de peso, fraqueza progressiva, inapetência, febre intermitente, anemia, conjuntivite, edema de pernas e partes ventrais do animal, aumento dos linfonodos superficiais e mucosas pálidas, observados nos cães deste relato, também foram descritos em outros estudos com caninos 1,2,11,14, e podem sugerir ao clínico veterinário outras enfermidades (bacterianas e virais), sendo necessário 68

Silvia Gonzalez Monteiro

Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria para pesquisa de hemoparasitas. O animal apresentava anorexia, perda de peso, edema de membros pélvicos, incoordenação motora e mucosas pálidas. No esfregaço sangüíneo observaram-se formas flageladas do gênero Trypanosoma. Na mesma propriedade coletou-se sangue de cavalos que apresentavam incoordenação motora e manqueira, sendo identificada a presença do protozoário. O canino morreu um dia após confirmação do diagnóstico, não tendo sido possível medicá-lo. Os hemoparasitos encontrados nos quatro cães examinados foram identificados morfológica e biometricamente como T. evansi, conforme chave de classificação 9,10. Os flagelados encontrados neste estudo não apresentavam cinetoplasto, conforme a literatura 3.

Figura 1 - Formas tripomastigotas sangüíneas de Trypanosoma evansi em esfregaço sangüíneo de cão naturalmente infectado no município de Uruguaiana em 100x (caso 1)

o diagnóstico diferencial, que se constitui principalmente no achado do parasita (Figura 1). No presente estudo, os animais infectados eram oriundos de zonas rurais, o que reforça os registros de presença do protozoário em reservatórios silvestres e a transmissão por tabanídeos 5,7. Segundo o proprietário, o animal do caso 4 tinha o hábito de banhar-se em um lago freqüentado por capivaras, ambiente este também utilizado por eqüinos que apresentaram a enfermidade. De acordo com a literatura, esse roedor e os cães podem ser reservatórios do parasito e também apresentar a doença clínica 7,15. Nos casos descritos, verificaram-se sinais clínicos típicos da tripanossomíase, à semelhança do que ocorre em eqüinos parasitados pelo T. evansi. Esse dado pode ser utilizado para o diagnóstico da enfermidade, associado aos demais sinais clínicos comuns da doença. O presente relato tem como finalidade chamar a atenção dos clínicos veterinários para o aumento dos casos de tripanossomíase em cães e eqüinos no Rio Grande do Sul nos últimos anos 12,13,14,16, hemoparasitose endêmica no Pantanal Mato-Grossense 7, e pouco conhecida no sul do Brasil. A realização do esfregaço sangüíneo com sangue periférico é importante para se obter o diagnóstico parasitológico precoce da doença. Referências 01-SILVA, R. A. M. S. ; AROSEMENA, N. A. E. ; HERRERA, H. M. ; SAHIB, C. A. ; FERREIRA M. S. Outbreak of trypanosomosis due to Trypanosoma evansi in horses of Pantanal Matogrossense, Brazil. Veterinary Parasitology, v. 60, n. 167-171, 1995. 02-AQUINO, L. P. C. T. ; MACHADO, R. Z. ; ALESSI, A. C. ; MARQUES, L. C. ; CASTRO, M. B. ; MALHEIROS, E. B. Clinical, parasitological and immunological aspects of experimental infection with Trypanosoma evansi in dogs. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz,

v. 94, p. 255-260, 1999. 03-VENTURA, R. M. ; TAKATA, C. S. A. ; SILVA, R. A. M. S. ; NUNES, V. L. ; TAKEDA, G. F. ; TEIXEIRA, M. M. G. Molecular and morphological studies of brazilian Trypanosoma evansi stocks: The total absence of kDNA in trypanosomes from both laboratory stocks and naturally infected domestic and wild mammals. Journal of Parasitology, v. 86, p. 1289-1298, 2000. 04-LUN, Z. R. ; DESSER, S. S. Is the broad range of hosts and geographical distribution of Trypanosoma evansi attributable to the loss of maxicircle kinetoplast DNA? Parasitology Today, v. 11, p. 131-133, 1995. 05-MONZON, C. M. ; MANCEBO, O. A. ; ROUX, J. P. Comparison between six parasitological methods for diagnosis of Trypanosoma evansi in the subtropical area of Argentina. Veterinary Parasitology, v. 36, p. 141-146, 1990. 06-HOARE, C. A. The Trypanosomes of mammals: a zoological monograph. Oxford, Blackwell. 1972, 749p. 07-HERRERA, H. M. ; DAVILA, A. M. R. ; NOREK, A. ; ABREU, U. G. ; SOUZA, S. S. ; DaANDREA, P. S. ; JANSEN, A. M. Enzootiology of Trypanosoma evansi in Pantanal, Brazil. Veterinary Parasitology, v. 125, n. 3-4, p. 263275, 2004. 08-BRANDÃO, L. P. ; LARSSON, M. H. M. A. ; BIRGEL, E. H. ; HAGIWARA, M. K. ; VENTURA, R. M. ; TEIXEIRA, M. M. A. Infecção natural pelo Trypanosoma evansi em cão - Relato de caso. Clínica Veterinária, Ano VII, 36, p. 23-26, 2002. 09-SILVA, R. A. M. S. ; SEIDL, A. ; RAMIREZ, L. ; DÁVILA, A. M. R. Trypanosoma evansi e Trypanosoma vivax: biologia, diagnóstico e controle. Corumbá: Embrapa Pantanal. 2002. 141p. 10-RAMIREZ, L. ; DAVILA, A. M. R. ; VICTORIO, A. M. ; SILVA, R. A. M. S. ; TRAJANO, V. ; JANSEN, A. M. Measurements of Trypanosoma evansi isolates from the pantanal. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 92, p. 483-484, 1997. 11-LEVINE, N. D. Protozoan parasites of domestic animals and of man. 2. ed. Burgess Publishing Company, Minneapolis. 1973, 406p. 12-CONRADO, A. C. ; LOPES, S. T. A. ; OLIVEIRA, L. S. S. ; MONTEIRO, S. G. ; VARGAS, D. L. B. ; BUENO, A. Infecção natural por Trypanosoma evansi em cavalos na região central do Estado do Rio Grande do Sul. Ciência Rural, v. 35, n. 4, p. 928-931, 2005. 13-COLPO, C. B. ; MONTEIRO, S. G. ; STAINKI, D. R. ; COLPO, E. T. B. ; HENRIQUES, G. B. Infecção natural por Trypanosoma evansi em cães. Ciência Rural, v. 35, n. 3, p.717-719, 2005. 14-FRANCISCATO, C.; LOPES, S. T. A. ; TEIXEIRA, M. M. G. ; MONTEIRO, S. G. ; WOLKMER, P. ; GARMATZ, B. C. ; PAIM, C. B. Cão naturalmente infectado por Trypanosoma evansi em Santa Maria, RS, Brasil. Ciência Rural, v. 37, n. 1, p. 288-291, 2007. 15-FRANKE, C. R. ; GREINER, M. ; MEHLITZ, D. Investigation on naturally ocurring T. evansi infections in horses, cattle, dogs and capybaras (Hydrochaeris hydrochaeris) in Pantanal de Poconé (Mato Grosso, Brazil). Acta Tropica, v. 58, p. 159-169, 1994. 16-RODRIGUES, A. ; FIGHERA, R. A. ; SOUZA, T. M. ; SCHILD, A. L. ; SOARES, M. P. ; MILANO, J. ; BARROS, C. S. L. Surtos de tripanossomíase por Trypanosoma evansi em eqüinos no Rio Grande do Sul: aspectos epidemiológicos, clínicos, hematológicos e patológicos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 25, n. 4, p. 239-249, 2005.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


Combate o mosquito maniose transmissor da Leish


Sara Maria de Carvalho e Suzano

Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) nos linfomas caninos - revisão

MV, profa. dra. Univ. Castelo Branco e Univ. do Grande Rio smsuzano@uol.com.br

Julio Lopes Sequeira MV, prof. ass. dr. Depto. Clín. Vet. - FMVZ/Unesp-Botucatu sequeira@fmvz.unesp.br

Fine needle aspiration (FNA) in canine lymphoma - review Punción aspirativa con aguja fina (PAAF) de los linfomas caninos - revisión Resumo: Os linfomas estão entre as neoplasias mais freqüentes na espécie canina, e apresentam semelhanças epidemiológicas, clínicas e morfológicas com os linfomas não-Hodgkin dos seres humanos. A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é um método muito utilizado para o diagnóstico desse tipo de neoplasia nos seres humanos, porém ainda pouco empregado na medicina veterinária, tanto para o diagnóstico como para a classificação citológica da neoplasia. No presente trabalho, apresentamos uma revisão de literatura sobre a utilização da técnica de punção aspirativa (PAAF) no diagnóstico dos linfomas caninos e os resultados da aplicação da classificação morfológica de Kiel. Unitermos: Cães, neoplasia, citologia Abstract: Lymphomas are among the most frequent canine neoplasias. They resemble non-Hodgkin human lymphomas in epidemiological, clinical and morphological aspects. Although fine needle aspiration (FNA) is a useful method widely used in human medicine in order to diagnose this type of tumor, its use is not widespread either for lymphoma diagnosis or for tumor cytological classification in veterinary medicine. This article presents a short review about FNA use in the diagnosis of canine lymphoma and also evaluates the application of the morphological Kiel classification in cytological smears collected by this method. Keywords: Dog, tumors, cytology Resumen: Los linfomas están entre las neoplasias más frecuentes en la especie canina. Esta neoplasia puede ser similar a linfomas no Hodgkin humanos en aspectos epidemiológicos, clínicos e morfológicos. La punción aspirativa con aguja fina (PAAF) es un método bastante utilizado para el diagnóstico de esta neoplasia en los seres humanos, pero todavía de poco uso en medicina veterinaria como método de diagnóstico y de clasificación citológica de neoplasias. En este estudio presentamos una revisión de la utilización de esta técnica como diagnóstico de linfomas caninos y resultados de la aplicación de la clasificación morfológica de Kiel. Palabras clave: Perros, neoplasia, citología

Clínica Veterinária, n. 72, p. 70-76, 2008

Introdução O linfoma é uma das neoplasias mais freqüentes na espécie canina, e representa cerca de 7 a 24% de todas as neoplasias caninas e 83% dos tumores de origem hematopoiética. Anatomicamente, os linfomas caninos são classificados em: multicêntrico, digestivo, tímico, cutâneo e solitário ou extranodal; também se pode classificá-los de acordo com o grau de malignidade em linfomas de baixo, médio e alto grau 1. Na espécie canina, a incidência dessa neoplasia é de seis a trinta casos em cada 100.000 cães/ano 2, maior que na espécie humana 1,3,4. Ocorre mais freqüentemente em animais adultos entre cinco e 11 anos, mas há relatos de casos em cães com menos de um ano e acima de 12 anos 1,5,6. Os linfomas caninos apresentam várias características em comum com os linfomas não-Hodgkin (LNH) do homem, 70

particularmente com relação à epidemiologia, à etiologia, à clínica e à morfologia celular. Graças a essas semelhanças, os critérios para a classificação morfológica propostos para os LNH – como, por exemplo, a de Kiel 7 – são utilizados com sucesso por diversos autores para diagnosticar os linfomas da espécie canina. As características morfológicas dos LNH no homem servem como base para o estabelecimento do prognóstico e de protocolos de tratamento 8,9,10. No cão, o tipo celular determinado pela classificação de Kiel é um importante fator prognóstico para indicar o tempo de remissão da doença em animais tratados 11. Os estudos comparativos entre as espécies humana e canina evidenciaram semelhanças suficientes para embasar a proposição de empregar a espécie canina como modelo experimental para o

Noeme Sousa Rocha MV, profa. dra. Depto. Clín. Vet. - FMVZ/Unesp-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br

estudo dessa doença, inclusive para teste de terapias e procedimentos clínico-cirúrgicos contra os linfomas nãoHodgkin na espécie humana 4,11,12,13,14,15. O diagnóstico desse tipo de neoplasia tem sido feito principalmente por meio de biopsias ou durante os exames necroscópicos. Na atualidade, também é possível utilizar a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) no diagnóstico dos linfomas e, além de classificar a neoplasia, realizar a sua imunofenotipagem, por meio da imunocitoquímica 15,16. Outro método diagnóstico que pode ser utilizado nos casos de linfomas, porém ainda pouco utilizado na medicina veterinária, é a citometria de fluxo. Essa técnica pode ser usada tanto no diagnóstico quanto na imunofenotipagem dessas neoplasias 17. Alguns autores, quando comparam a eficácia da citometria de fluxo com a PAAF, concluem que esta pode ser considerada mais eficaz tanto no diagnóstico quanto no estadiamento da neoplasia 18. A PAAF tem sido empregada, tanto no homem quanto nos animais, como método de diagnóstico de lesões das mais diversas origens, inclusive neoplásicas 16,19. As vantagens desse método estão relacionadas à rapidez do diagnóstico, ao baixo custo e à sua eficácia 19,20. No homem, esse método tem sido utilizado com freqüência no diagnóstico dos linfomas, porém no cão poucos são os estudos que empregam a PAAF como método 22,23. Nos casos de linfadenopatia, esse exame permite a diferenciação rápida entre processos reacionais benignos e neoplásicos 9. Quando há suspeita de lesão ou alteração em órgãos internos, como vísceras abdominais ou torácicas, a PAAF também pode ser realizada com auxílio da ultra-sonografia 24.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008


Figura 1 - Seringa descartável (10mL) e agulha (30x7mm) acopladas ao citoaspirador de Valeri

Sara Maria de Carvalho e Suzano

Figura 2 - Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) em linfonodo

Sara Maria de Carvalho e Suzano

Técnica da punção aspirativa A punção aspirativa por agulha fina

(PAAF) vem sendo utilizada na medicina veterinária por ser um método de diagnóstico eficaz, rápido e de baixo custo. Além dessas vantagens, não há necessidade de sedar o animal, pois causa desconforto mínimo ao paciente. Isso permite que se realizem múltiplas colheitas e amostragens em série, particularmente interessantes quando surgem resultados inconclusivos ou quando existe suspeita de recidiva da lesão 29. Essa versatilidade da citologia aspirativa, somada à rapidez com que as colorações podem ser realizadas, proporciona aos clínicos diagnósticos rápidos, seguros e definitivos na maioria das situações 18,21. As punções geralmente são realizadas utilizando uma seringa descartável de plástico de 10mL e agulha 30x7mm acopladas ao Citoaspirador de Valeri (Figura 1). Os locais a serem puncionados devem ser previamente submetidos à anti-sepsia. Após a delimitação da lesão, deve ser introduzida a agulha acoplada à seringa e ao citoaspirador de Valeri, e feita a pressão negativa. Sem retirar a agulha da lesão, devem ser realizados movimentos em várias direções, a fim de obter amostras de várias regiões do tumor (Figura 2). A pressão negativa é relaxada e a agulha é desconectada da seringa, aspirando para dentro desta um volume de ar suficiente para expulsar o conteúdo da agulha para a lâmina histológica. O material colhido deve ser distendido em lâminas histológicas (squash) (Figura 3),

Sara Maria de Carvalho e Suzano

Estudos mostram correlação entre os resultados obtidos pela PAAF e por biopsias, tanto na classificação morfológica como na imunofenotipagem dos linfomas 25. Alguns autores sugerem, como principais indicações da PAAF as punções em massas internas de pacientes com grandes riscos cirúrgicos e que não apresentem massas superficiais – uma vez que essa técnica não requer qualquer tipo de sedação do paciente –; e as avaliações de novas massas e do estadiamento da doença. Na espécie humana, a acurácia da PAAF nos casos de linfomas não-Hodgkin chega a 85% e, quando combinada a citomorfometria com outros exames como, por exemplo, imunocitoquímica, essa eficácia chega a 91% 26. Segundo estudos recentes realizados pelo Laboratório de Patologia Veterinária da Unesp, Botucatu, a citologia tem 100% de precisão na observação do grau de malignidade da neoplasia 27. Os métodos de obtenção de material para exame citológico, particularmente a PAAF, apresentam como principal limitação a impossibilidade de obter dados sobre a arquitetura da lesão. No entanto, nos linfomas dos cães, esse tipo de exame tem sido aceito como uma eficiente técnica de diagnóstico, visto que, nessa espécie, a grande maioria dos tumores apresenta forma difusa, sendo a forma folicular bastante rara 28.

Figura 3 - Preparação do esfregaço citológico: squash

e posteriormente fixado de acordo com a coloração a ser empregada, Romanovisk e/ou Papanicolaou 31.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

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CLASSIFICAÇÃO KIEL Baixo grau Linfocítico

Centrocítico Centrocítico-centroblástico Alto grau Centroblástico

Linfoblástico

Imunoblástico

descritas nas diferentes classificações de linfomas humanos, como as de Kiel 7 e a Working Formulation 33. Porém, a primeira classificação, por se basear principalmente em critérios citomorfológicos bem definidos, não dando ênfase ao padrão arquitetural da neoplasia, torna-se o tipo de classificação ideal para ser empregada nos exames citopatológicos 16. Os achados morfológicos correspondentes à classificação de Kiel 7 proposta para linfomas humanos estão apresentados na figura 4. Essa classificação ainda divide os tipos de linfomas, de acordo com o seu grau de malignidade, em baixo e alto grau. Dentre os de baixo grau encontram-se os linfocíticos (Figura 5) e os centrocíticos, ambos de pequenas células; além dos centrocítico-centroblásticos compostos por células pequenas e grandes. Os linfomas linfoblásticos apresentam células médias, e os centroblásticos (Figura 6) e imunoblásticos (Figura 7) têm células grandes, todos de alto grau de malignidade e com presença de inúmeras figuras de mitose. Os tipos de linfomas mais freqüentes na espécie canina, segundo a classificação de Kiel 7, são aqueles de grau alto de malignidade, dentre eles os centroblásticos e imunoblásticos 3,4,5,12,14,16,17,23. Em estudo anterior realizado no serviço de Patologia Veterinária da Unesp, Botucatu, foram classificados 59 casos de linfomas de acordo com a classificação de Kiel, e predominaram os de grau alto de malignidade (61,02%). Para os linfomas de grau baixo, foram identificados sete casos de linfomas linfocíticos,

ACHADOS MORFOLÓGICOS Células pequenas, apresentando núcleos redondos, cromatina com padrão denso e pequenos agregados mais grosseiros, não sendo observados nucléolos e citoplasma escasso Núcleo pequeno e clivado, com aspecto irregular, cromatina densa e citoplasma escasso População celular bimórfica. Células pequenas com núcleo irregular ou clivado e células grandes com núcleos não clivados (esféricos) e nucléolos evidentes Células grandes, cromatina vesicular, nucléolos múltiplos e periféricos, figuras de mitose freqüentes e citoplasma escasso ou abundante Células pequenas, distribuição da cromatina uniforme, ausência de nucléolos evidentes, figuras de mitose freqüentes e citoplasma escasso, fracamente basofílico Células de tamanho médio ou grande, cromatina vesicular, nucléolo proeminente e central. As figuras de mitose são freqüentes e o citoplasma é variável, anfófilo ou basofílico

Figura 4 - Classificação de Kiel para os linfomas não-Hodgkin humanos

órgãos internos com o auxílio da ultrasonografia, além das efusões, nas quais se pode utilizar a citocentrífuga para concentrar o número de células 32. Classificação citológica Vários autores utilizam as classificações propostas para os linfomas nãoHodgkin do homem para diagnosticar os linfomas dos cães 3,4,11,14,28. No entanto, na maioria dos estudos foi utilizado material incluído em parafina, sendo ainda escassos os trabalhos que empregam o exame citopatológico para esse fim 14,23,25,28. As características citomorfológicas encontradas nas amostras de linfomas caninos permitem incluí-los nas categorias Sara Maria de Carvalho e Suzano

Sara Maria de Carvalho e Suzano

Figura 5 - Linfoma linfocítico (Kiel). Neoplasia composta por células pequenas que possuem núcleos redondos, de contorno regular e hipercromático. Giemsa 1000X

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Sara Maria de Carvalho e Suzano

Um dos aspectos mais importantes do exame citopatológico é a fixação do esfregaço. Quando esse procedimento não é realizado adequadamente, ocorre distorção da morfologia celular 28,29,31. Segundo alguns autores, o artefato mais comum presente nos esfregaços não fixados é a alteração dos núcleos 29,32. A preservação da morfologia nuclear e do padrão de distribuição da cromatina e dos nucléolos é elemento importante na determinação do tipo celular predominante na neoplasia e na classificação citológica do tipo de linfoma. O método de Giemsa para coloração das lâminas é eficiente tanto para o diagnóstico como para a classificação citológica dos linfomas 16. A punção aspirativa também pode ser utilizada nas massas localizadas em

Figura 6 - Linfoma centroblástico (Kiel). Neoplasia composta por células grandes que possuem núcleos redondos, nucléolos múltiplos e periféricos com citoplasma amplo. Giemsa, 400X

Figura 7 - Linfoma imunoblástico (Kiel). As células mostram nucléolo único, proeminente e central. Giemsa, 400X

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oito casos de linfomas centrocíticos e oito casos do tipo centrocítico-centroblástico 16. Dentre os linfomas de grau alto, foram diagnosticados vinte casos de linfomas centroblásticos, sete imunoblásticos, oito casos de linfomas linfoblásticos e um anaplásico. Outra técnica que pode ser utilizada no material citológico é a imunocitoquímica, que permite determinar a linhagem das células tumorais. A determinação do imunofenótipo T ou B e do grau de maturação das células linfóides neoplásicas auxilia tanto no diagnóstico dos linfomas como no monitoramento da recidiva desses tumores. Atualmente, a imunofenotipagem é indispensável para determinar o diagnóstico de linfoma não-Hodgkin de acordo com as classificações mais atuais: Kiel, Real e Classificação da Organização Mundial da Saúde (WHO). No que diz respeito à determinação do imunofenótipo dos linfomas caninos, podem ser utilizados marcadores específicos para a espécie humana tendo em vista as semelhanças morfológicas desses tumores nas duas espécies. O emprego de anticorpos CD3 e CD79a e marcadores de células T e células B, respectivamente, tem permitido a imunofenotipagem dos tumores tanto em material fixado em formol e incluído em parafina, como em esfregaços citológicos 16,17. Considerações finais A punção aspirativa é um método confiável para o diagnóstico dos linfomas devido à facilidade e rapidez na colheita, à qualidade e quantidade do material obtido e por permitir a imunofenotipagem, além da classificação morfológica das neoplasias. A classificação citológica dos linfomas caninos, assim como acontece na medicina humana, tem grande importância na determinação do prognóstico, do tempo de vida do paciente e, principalmente, na escolha do tratamento mais adequado a cada tipo de neoplasia. De acordo com a literatura, os tumores de grau alto respondem melhor ao tratamento quimioterápico, mas apresentam maiores índices de recidiva 17,25,28,34. A determinação da origem T ou B dos linfomas não-Hodgkin tem valor prognóstico e não pode ser definida 74

pela morfologia celular 3,35. Os cães portadores de linfomas T respondem menos ao tratamento quimioterápico e têm tempo de sobrevida menor do que os cães portadores de linfomas B 3,4,17. Portanto, a classificação imunocitoquímica dos linfomas torna-se um procedimento importante para a definição do comportamento clínico da neoplasia e sua resposta ao tratamento quimioterápico 11,14,15,16,17,25,33. De acordo com inúmeros estudos realizados, os linfomas caninos apresentam muitas semelhanças com os linfomas não-Hodgkin humanos, do ponto de vista epidemiológico e morfológico. Portanto, aplicar as classificações citohistológicas nos linfomas caninos, além de adicionar dados aos estudos dessa neoplasia, permite relacioná-los com o quadro apresentado pelo animal e possibilita a instituição do tratamento mais adequado, garantindo o estabelecimento de um prognóstico mais acurado 25,28,36. Por outro lado, os resultados poderão ser incorporados em estudos comparativos, utilizando-se a doença do cão como modelo experimental da doença humana. Referências 01-JACOBS, R. M. ; MESSICK, J. B. ; VALLI, V. E. Tumors of the hemolymphatic system. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals. 4. ed. Ames: Iowa State University Press, 2002, p. 119-198. 02-VONDERHAAR, M. A. ; MORRISON, W. B. Lymphosarcoma. In: MORRISON, W. B. Cancer in dogs and cats. Philadelphia: Williams & Wilkins. 1998. p. 667-695. 03-APPELBAUM, F. R. ; SALE, G. E. ; STORB, R. ; CHARRIER, K. ; DEEG, H. J. ; GRAHAM, T. ; WULFF, J. C. Phenotyping of canine lymphoma with monoclonal antibodies directed at cell surface antigens: classification, morphology, clinical presentation and response to chemotherapy. Hematological Oncology, v. 2, p. 151-168, 1984. 04-GREENLEE, P. G. ; FILIPPA, D. A. ; QUIMBY, F. W. ; PATNAIK, A. K. ; CALVANO, S. E. ; MATUS, R. E. ; KIMMEL, M. ; HURVITZ, A. I. ; LIEBERMANN, P. H. Lymphoma in dogs: a morphologic, immunologic and clinical study. Cancer. v. 66, p. 480-490, 1990. 05-VALLI, V. E. O. The hematopoietic system. In: JUBB, K. V. F. ; KENNEDY, P. C.; PALMER, N. Pathology of domestic animals, 4. ed. San Diego: Academic Press, 1993. v. 3, p. 101-265. 06-JONES,T. C. ; HUNT, R. D. ; KING, N. W. Sistemas Hêmico e Linfático. In: ___. Patologia Veterinária. 6. ed. Philadelphia: Williams & Wilkins, 2000, p. 1027-1061. 07-LENNERT, K. ; FELLER, A. C. Histopathology of Non-Hodgkin's Lymphomas, 2. ed. Berlim: Springer-Verlag, 1990, 312p.

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



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30-ROCHA, N. S. Citodiagnóstico no Hospital Veterinário da Unesp de Botucatu: implantação, padronização e monitoramento. 2004. 113f. Tese (Livre Docência) - Universidade Estadual Paulista, Campus de Botucatu.

26-CARTAGENA, N. ; KATZ, R. L. ; HIRSCH-

31-CANIATTI, M. ; ROCCABIANCA, P. ;

SCANZIANI, E. ; PALTRINIERI, S. ; MOORE, P. F. Canine lymphoma: immunocytochemical analysis of fine needle aspiration biopsy. Veterinary Pathology, v. 33, n. 2, p. 204-212, 1996. 32-SNEIGE, N. ; DEKMEZIAN, R. H. ; KATZ, R. L. ; FANNING, T. V. ; LUKEMAN, J. L. ; ORDONEZ, N. F. ; CABANILLAS, F. F. Morphologic and immunocytochemical evaluation of 220 fine needle aspirates of malignant lymphoma and lymphoid hyperplasia. Acta Cytology, v. 34, n. 3, p. 311-322, 1990. 33-National Cancer Institute sponsored study of classifications of non-Hodking's lymphomas: summary and description of a working formulation for clinical usage. Cancer, v. 49, n. 10, p. 2112-2135, 1982. 34-DOBSON, J. M. ; BLACKWOOD, L. B. ; McINNES, E. F. ; BOSTOCK, D. E. ; NICHOLLS, P. ; HOATHER, T. M. ; TOM, B. D. M. Prognosyic variables in canine multicentric lymphosarcoma. Journal of Small Animal Practice, v. 42, p. 377-384, 2001. 35-FOURNEL-FLEURY, C. ; MAGNOL, J. P. ; GUELFI, J. F. Color atlas of cancer cytology of the dog and cat. Paris: Conference Nationale des veterinaires Specialisés en Petits Animaux, 1994. p.243-267. 36-KIUPEL, M. ; TESKE, E. ; BOSTOCK, D. Prognostic factors for treated canine malignant lymphoma. Veterinary Pathology, v. 36, n. 4, p. 292-300, 1999.



Afinal, o que esperar de 2008?

O

ano começa e caminha rumo à normalidade, rumo à rotina de mais um período de dias de trabalho e esforço por parte de todos os profissionais do mercado veterinário. Recomeçam as rotinas clínicas, as visitas técnicas, os congressos, as reuniões das entidades de classe, as vendas nas distribuidoras, os atendimentos domiciliares, as cirurgias, as aulas nas faculdades de todo o país... Enfim, começa o ano veterinário de 2008. Mas será que ele tem que ser igual a todos os que passaram? Será que precisamos seguir a letra da canção: “todo dia ela faz tudo sempre igual..”? Em um ano onde se espera o melhor e a mudança, será que não seria hora de perceber que a mudança está em nosso dia-a-dia? Em nossas atitudes? No conjunto de nossas posturas? Por todo o ano de 2007 tive a oportunidade de conversar com profissionais de todos os segmentos do mercado pet, em várias cidades de vários estados do país, do norte ao extremo sul, passando pelo nordeste e pelo centro-oeste; e pude fazer um levantamento de muitas situações que foram o foco de grandes discussões, e outras que sequer eram levadas em consideração pela classe veterinária e pelo mercado pet como um todo, apesar de serem, em muitas situações CRUCIAIS, FUNDAMENTAIS E DECISIVAS para toda e qualquer mudança que se desejasse, ou que fosse realmente necessário para atender a tantas reclamações, a tantas lamúrias e a 78

Por Sergio Lobato

tanta indiferença, quase criminosa, de muitos que se dizem profissionais, mas que cometem atos que beiram a negligência, a imprudência e a imperícia. Será que em 2008 ainda teremos que ver colegas veterinários fazendo cirurgias em condições que não vale a pena descrever, tamanha a falta de estrutura? Será que ainda teremos que ver colegas atendendo de graça aos sábados em mesinhas enferrujadas em locais escuros no fundo de lojas sujas? Será que ainda veremos a abertura de mais uma faculdade de medicina veterinária em uma cidade do interior, financiada pelo dinheiro sabe lá de que setor da economia (formal ou não...), sem a menor condição de formar profissionais que sejam capazes de honrar o título que um dia pretendem ostentar? Será que ainda veremos estabelecimentos veterinários sem a menor condição de higiene funcionando pelo Brasil afora? Será que em 2008 o mercado pet ainda será apontado como o eldorado do mercado de serviços? Como uma grande fonte geradora de riquezas para todo e qualquer investidor, seja ele do ramo que for, que se decida por este mercado? Será que ainda veremos a inércia de muitas entidades de classe interessadas em apenas perpetuar um teatro de tristes personagens burlescas em um pretenso cenário de poder e imagem? Será que a ética ainda será considerada em 2008 uma atitude de idiotas e inocentes úteis? Será que fazer o certo será ainda punido pela onda de oportunismo ainda baseado na antiga e tão viva “Lei de Gerson”? Será que ainda fecharemos os olhos para os erros do mercado pet? Será que ainda vamos desrespeitar colegas de diferentes áreas, como os colegas da indústria, por não serem da nossa própria especialidade? Será que ainda veremos médicos

veterinários que não ajustam suas rotinas às necessidades do mercado consumidor de seus próprios serviços? Será que veremos “idéias espetaculares” como a “veterinária popular” surgindo no mercado? Será que ainda teremos veterinários atendendo em veículos de comunicação, dando receitas sem sequer ver os animais em questão, se achando super médiuns da profissão? Será que teremos tosadores ainda clinicando em salões de banho e tosa, experts em dermatologia e vacinando com a cobertura criminosa de colegas que lhes repassam vacinas de uso exclusivo? Será que ainda teremos que conviver com a realidade de uma carga tributária aviltante? Será que ainda esqueceremos que todos temos uma carreira e não apenas uma profissão? Será que ainda teremos relações de trabalho sem a menor preocupação com a ética, a legalidade e a preservação dos direitos dos profissionais e empreendedores do mercado pet? Será que ainda nos calaremos diante do exercício ilegal da profissão? Será que ainda fugiremos do estudo, da educação continuada e do aperfeiçoamento profissional com as mais deslavadas desculpas? Será que ainda vamos deixar que as coisas continuem assim? São muitas perguntas e muitas delas bem incômodas. Outras, petulantes e impertinentes, como costumam denominar os antigos baluartes da profissão. Porém, todas necessárias e capazes de gerar aquele sentimento de que algo precisa ser feito para que as mudanças comecem a acontecer... Mas por onde começar? Comece acreditando que as coisas mudam, basta querer. Não acredite nas verdades absolutas de ninguém, nem nas suas.... Acredite nas mudanças, que as chances dela acontecerem serão muito maiores. Acredite que 2008 pode ser um período de ultrapassar desafios que trarão benefícios à sua carreira! Feliz 2008 para todos vocês!

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Pesquisa Frente contra a dengue * Pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina desenvolvem repelente com substância sintética e extratos de duas plantas, que se mostrou fatal para as larvas do Aedes aegypti

U

m repelente produzido por pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) pode ser uma nova arma no combate à dengue. O produto, que concentra substâncias de três fontes distintas em uma cápsula biodegradável, mostrou-se fatal para as larvas do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da doença. A dengue é um dos principais problemas de saúde pública no mundo, infectando de 50 milhões a 100 milhões de pessoas anualmente, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. No Brasil, de janeiro a julho de 2007 foram registrados cerca de 440 mil casos. O novo larvicida é uma mistura de substâncias extraídas de duas plantas da família das meliáceas – a andiroba (Carapa guianensis) e o cinamomo (Melia azedarach) –, além de uma terceira substância produzida sinteticamente por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco. Segundo a bióloga Onilda Santos da Silva, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Imunoparasitologia (Impar) da Unisul, a intenção do projeto é fazer um repelente mais barato, que dificulte a resistência da larva do inseto ao produto e que não acarrete danos ambientais. “Atualmente, o Bacilus thuringiensis é utilizado com freqüência para matar o mosquito da dengue. Mas as cápsulas com essa bactéria são importadas e muito caras”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP. Por se basear em substâncias naturais, o novo larvicida teria um custo mais baixo e seria mais viável para o uso da população. Onilda cita outros produtos sintéticos,

como o Temephós, utilizados no combate ao mosquito. Por terem pouca diversificação de substâncias, a droga facilita a criação de resistência pelo inseto. “Alguns desses produtos são muito tóxicos e podem prejudicar animais não-alvos e trazer malefícios à saúde humana”, disse. Os projetos para produzir o larvicida, iniciados em 2006, foram recomendados pelo Ministério da Saúde e contam com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc). A previsão é que sejam concluídos em 2009. Plantas versus insetos As propriedades larvicidas são comuns nas plantas da família meliácea (Meliaceae). O cinamomo é utilizado em larga escala na agricultura em países asiáticos e a neem (Azadirachta indica) também é aplicada no controle de insetos. Quanto à andiroba, sua função larvicida foi descoberta pela própria Onilda em uma pesquisa na Amazônia com um grupo de cientistas estrangeiros. “Agora, trabalhamos com a associação entre o cinamomo, a andiroba e mais uma substância sintética para produzir o novo repelente”, explicou a pesquisadora. Segundo ela, o mosquito dificilmente criaria resistência a uma mistura com diferentes substâncias. Para chegar à mistura ideal, foram testados vários extratos etanólicos, metanólicos e cetônicos. Os pesquisadores aplicaram cada substância nas larvas e selecionaram, para compor o polímero,

as que apresentaram maior efeito em uma menor concentração. Entre elas, a azadiractina (do cinamomo) e a andirobina (da andiroba). “As plantas têm vários limonóides, mas esses dois foram os mais eficientes”, afirmou a bióloga. Limonóides são substâncias químicas que possuem, dentre outras propriedades, a função repelente e que são produzidas como autodefesa das plantas contra os insetos. A intenção é englobar produtos de baixa concentração em cápsulas biodegradáveis, que resistam ao menos uma semana. Gradativamente, as cápsulas se decompõem e liberam o composto no meio ambiente. Onilda faz questão de frisar que as substâncias são inócuas. “Não há problemas, a andiroba é usada em produtos de beleza, e o cinamomo, há tempos, é aplicado na agricultura.” A. aegypti inofensivos Outra pesquisa da equipe de Onilda procura descobrir se alguns espécimes do Aedes aegypti são resistentes à infecção pelo vírus da dengue, não transmitindo a doença. “Nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, apesar de, na maioria das cidades, existir o mosquito, não há casos autóctones da doença”. A pesquisa, ainda na fase inicial, usará a biologia molecular para fazer um estudo genético das populações de mosquito nos dois estados. É comum que ocorra diferenciação genética em insetos da mesma espécie e a previsão é que os mosquitos dos dois estados possuam características distintas dos outros.

*Fonte: Agência Fapesp - por Murilo Alves Pereira - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7829

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Pesquisa Gene que determina cor de cães também está envolvido na defesa contra infecções*

U

m grupo de pesquisadores dos Estados Unidos e Canadá, em busca do gene específico que controla a cor dos pêlos em cães, descobriu o que procurava e algo a mais e inesperado: que o gene codifica um membro de uma família de proteínas que até então se achava que estivesse envolvido apenas na defesa do organismo contra infecções. Na maioria dos mamíferos, a cor é determinada por dois genes que são responsáveis ou por pelagem escura (receptor de melanocortina 1) ou clara (agouti – antagonista endógeno dos receptores da melanocortina). Em cães, entretanto, um terceiro gene está envolvido. Os cientistas encontraram o terceiro gene em uma pequena área do genoma canino conhecida como locus K.

Segundo o estudo, o gene relacionado à cor dos pêlos é responsável pela codificação da CDB103, que integra as betadefensinas – família de pequenas proteínas envolvidas na imunidade inata. De acordo com os pesquisadores, a descoberta abre um importante caminho para o aumento do conhecimento a respeito das defensinas. “Além do gene que procurávamos, encontramos algo ainda mais importante. Descobrimos que essa família de proteínas não tem apenas um único papel, como se imaginava. Novos estudos poderão dizer em que mais as defensinas estão envolvidas além de combater microrganismos e determinar a cor dos pêlos dos cães”, disse o coordenador do estudo, Gregory Barsh, do Departamento de Ciência Animal da Universidade de Saskatchewan, no Canadá.

O artigo A beta-defensin mutation causes black coat color in domestic dogs, de Sophie Candille e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencexpress.org.

*Fonte: Agência Fapesp - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7916

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Bem-estar animal O bem-estar animal como ciência

O

Instituto Bioethicus, juntamente com o Cambridge E-Learning Institute (CEI), da Inglaterra, promove o curso de formação “Certificado em Bem-estar Animal”. A duração do curso será de dois anos e o conteúdo englobará os principais conceitos da ciência do bem-estar animal, seus métodos de avaliação, os principais temas envolvendo os animais, a sociedade e legislação. Haverá foros de discussão on-line, por meio dos quais, participantes e tutores podem trocar idéias e experiências. O curso on-line se inicia em 8 de março e consiste em 13 módulos, cada um com duração variável alternados entre semanas de leitura e de fórum de discussão. Adicionalmente, fornecem cinco módulos presenciais, com atividades didáticas, práticas, interativas e de discussão. As leituras consistem em textos e artigos científicos que destacam pontos importantes para cada módulo e materiais para download. Também é disponibilizada uma lista de referências bibliográficas e web links de utilidade. Este é um curso de formação para médicos veterinários, zootecnistas, biólogos, agrônomos, médicos, advogados, filósofos e outros profissionais com graduação em qualquer ciência que envolva o uso de animais do ponto de vista prático ou teórico.

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Inscrições e informações podem ser obtidas pelo telefone (14) 3882-4243 ou pelos endereços secretaria@bioethicus. com.br e www.bioethcus.com.br.

A WSPA Brasil, através de convênio com o Instituto Bioethicus, selecionará uma pessoa que participará do curso gratuitamente. A vaga será destinada a

profissional com graduação em qualquer ciência que envolva o uso de animais dos pontos de vista prático ou teórico. Para concorrer à vaga, envie o seu currículo para cursos@wspabr.org. É importante lembrar que o candidato deve ter disponibilidade para realizar o curso durante dois anos. O critério de seleção será curricular e o nome selecionado será divulgado em 10 de fevereiro de 2008 no site www.wspabr.org.

Curso de Introdução à Docência em Bem-estar animal A WSPA Brasil promove, de 13 a 15 de março, o Curso de Introdução à Docência em Bem-estar Animal, na Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia. Para inscrever professores da sua instituição, escreva para o endereço eletrônico leticiadantas@wspabr.org e requisite a carta convite. Foi a partir de 2000 que a WSPA investiu no ensino desta ciência nos cursos de graduação em medicina veterinária e zootecnia através do projeto Conceitos em Bem-estar Animal. Em 2003, por meio de uma parceria com a Universidade de Bristol, a WSPA desenvolveu material didático em CD com aulas em formato Power Point e textos auxiliares, que foram traduzidos e revisados para o contexto brasileiro. Em 2004, 2005 e 2006 a WSPA ofereceu o curso “Introdução à Docência em Bem-estar Animal” por meio de parcerias em âmbito nacional com os Conselhos Regionais de classe, na Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Universidades Federais do Paraná (UFPR/LABEA), de Santa Maria (UFSM), de Brasília (UnB), da Bahia (UFBA), de Pernambuco (UFRPE), Fluminense (UFF) e de Minas Gerais (UFMG). Em abril de 2007, foi realizado mais um curso, desta vez nas Faculdades Associadas de Uberaba – FAZU, Uberaba, MG.

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Legislação Uso de animais em experimentos científicos

O

s defensores da prática da vivissecção têm pleiteado, na Câmara dos Deputados, urgência na apreciação do projeto de lei 1153/95. A Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FESB), a qual vem pedindo há anos a aprovação imediata do projeto de lei, lançou em seu site na internet, abaixo assinado a Petição das organizações de defesa animal, favor da experimentação animal. encabeçadas pelo grupo Veddas: Porém, durante os meses de novembro e www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?veddas dezembro de 2007 a FESB não conseguiu atingir nem a metade do número de pessoas que assinaram a petição proposta por organizações de defesa dos direitos dos animais, encabeçadas pelo grupo Veddas/SP, que pede ampla discussão sobre este projeto de lei, antes que entre em votação. Os números mostram que o tema não foi devidamente debatido e que há forte rejeição da sociedade ao projeto proposto. Sônia Felipe, professora e pesquisadora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Petição dos vivissecionistas divulgada pela FESBE: Catarina, destaca que: “na história da www.fesbe.org.br/fesbev4/abaixoassinado humanidade, nenhuma regulamentação da tortura e do tormento conseguiu tornar éticas tais práticas. Não é porque algo é regulamentado por lei que então se torna moralmente justificável. Experimentos cruéis em humanos foram regulamentados pelo nacional socialismo, e antes disso, o seqüestro, tráfico e escravização de africanos também eram regulamentados por lei. Nem por isso as experiências nazistas e o tráfico e tortura dos afrodescendentes tornaram-se éticos. Regulamentar a crueldade não altera em nada a Através do endereço www.camara.gov.br é possível dor e o sofrimento sofridos pelos animais. acompanhar o andamento do projeto de lei Somente alivia a consciência dos vivissectoquímico não sabem como pesquisar a não res. Por isso, agora querem aprovar o ser usando este modelo obsoleto e fracassaPL1153/95, para que a vivissecção, no do. Com Primatt e Bentham, no século Brasil, possa ser feita sem temor. A XVIII, e com Peter Singer, Tom Regan, Paul aprovação desta lei, no entanto, não tornará Taylor, no século XX, configura-se a crítica ética, essa prática hedionda. A inteligência à deficiência moral tradicional e pela prihumana já deveria ter sido usada para criar meira vez a formulação de uma proposta étimodelos não vivos para a realização das ca na qual os interesses de seres não-humaobservações experimentais. Mas, dado que nos sencientes são levados em consideraos negócios da indústria química estão comção. A vida é o bem máximo e a expressão pletamente atrelados ao uso do modelo exlivre na qual cada vida animal se manifesta. perimental in vivo, os cientistas que têm sua É o bem próprio de cada animal, não lhe atividade financiada pelo complexo comercial

restando outro bem que supere este. Tirar a liberdade do animal com vistas a tirarlhe em seguida a vida, quando o animal empreende esforços para manter-se vivo, é tirar-lhe o bem que ele claramente defende. Nesse contexto, surgiu a ética abolicionista, que propõe a eliminação de todas as formas de apropriação, exploração e morte de animais não-humanos, hoje usados para consumo humano sem qualquer respeito e consideração.” Enquanto não há uma definição sobre o projeto de lei em questão, a objeção de consciência, direito garantido pela constituição, tem sido usada por alguns estudantes. Sônia Felipe destaca a importância dos estudantes das áreas de biomédicas seguirem a tendência mundial, que é o fim da vivissecção no ensino. “O objetor de consciência é um cidadão política e eticamente ativo, não apenas em defesa dos animais, mas em defesa do direito humano de produzir conhecimento e treinar habilidades destinadas à preservação da saúde e da vida, sem destruir a estruturação moral dos agentes do ensino e do aprendizado.Os estudantes das chamadas áreas da vida (por ironia, as que mais matam para “ensinar o que seja a vida”) jamais são orientados pelos professores vivisseccionistas a conhecerem o texto da legislação em vigor, porque estes mesmos professores, via de regra, o desconhecem. Práticas acadêmicas são cercadas de uma aura de nobreza que elas de fato não têm, e o que se passa atrás das paredes dos laboratórios acadêmicos dificilmente pode ser considerado ético. Resta aos estudantes e docentes conscientes argumentar com firmeza, recusando-se a aprender ou ensinar por vias tão nefastas. Se todos os estudantes e docentes (ou se, pelo menos, uma pequena parte deles) se opusessem a aprender e a ensinar às custas da vida dos animais, os métodos de ensino já teriam sido completamente substituídos, porque não há necessidade de matar para mostrar como a vida ou a saúde se constituem. A objeção de consciência requer do estudante e dos docentes lucidez e disciplina moral. A objeção de consciência é hoje um espaço de atuação política em favor de seres vulneráveis, tanto para estudantes, quanto para docentes”, esclarece Sônia Felipe.

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Legislação Cães-guia para deficientes visuais, auditivos, mentais ou com mobilidade reduzida Em 11 de dezembro de 2007 foi publicado no Diário Oficial do Estado de São Paulo, n. 231, no caderno do Legislativo, página 30, o projeto de lei n. 1400, que dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual, auditiva, mental ou com mobilidade reduzida de ter acesso e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia e dá outras providências. A seguir, publicamos o projeto de lei na íntegra

PROJETO DE LEI Nº 1400, DE 2007 Dispõe sobre o direito do portador de deficiência visual, auditiva, mental ou com mobilidade reduzida de ter acesso e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhado de cão-guia e dá outras providências. A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA: Artigo 1º - A presente lei estabelece o direito de acessibilidade de pessoas deficientes quando acompanhadas de cães-guia a locais, transporte e estabelecimentos de acesso público, bem como as condições a que estarão sujeitos os animais quando no desempenho da sua missão. Artigo 2º - Os cães especialmente treinados para ações de ajuda e assistência a pessoas portadoras de diversas modalidades de deficiência, em especial as deficiências visual e auditiva, são designados cães-guia. Artigo 3º - É assegurado à pessoa portadora de deficiência visual, auditiva, mental ou com mobilidade reduzida de fazerse acompanhar de cão-guia para ter acesso aos seguintes locais: I - transportes públicos, notadamente os metroviários, ferroviários e rodoviários, inclusive táxis; II - estabelecimentos de ensino, públicos ou privados; III - centros de formação profissional ou de reabilitação; IV - recintos desportivos de qualquer natureza, notadamente em estádios, ginásios, pavilhões desportivos, piscinas e outros; 84

V - salas e recintos de espetáculos ou de jogos; VI - edifícios dos serviços da administração pública; VII - estabelecimentos de saúde, públicos ou privados; VIII - locais de prestação de serviços abertos ao público em geral, tais como estabelecimentos bancários, seguradoras, correios e outros; IX - estabelecimentos de comércio em geral, incluindo mercados, supermercados, hipermercados e centros comerciais; X - estabelecimentos relacionados com a indústria da restauração e do turismo, incluindo restaurantes, cafeterias, casas de bebidas e outros abertos ao público; XI - estabelecimentos de alojamento, tais como hotéis, pousadas, pensões e outros congêneres; XII - locais de lazer e de turismo em geral, tais como praias, parques, jardins, termas, áreas de campismo e similares. Parágrafo único - É vedada a exigência do uso de focinheira nos animais, de que trata esta lei, como condição para o acesso e a permanência nos locais indicados nos incisos deste artigo. Artigo 4º - O direito de acesso não pode ser exercido quando o animal apresentar sinais manifestos de agressividade, falta de asseio, doença, ou qualquer outra característica anormal suscetível de provocar fundados receios nas pessoas, ou assustar outros animais, bem como se comportar de forma inadequada de modo a perturbar o normal funcionamento das atividades no local. Artigo 5º - O direito de acesso previsto nesta lei não implica em qualquer custo suplementar para o deficiente, mediante a cobrança de tarifas ou quaisquer acréscimos, e prevalece sobre quaisquer proibições, não legalmente estabelecidas, que contrariem o disposto na presente lei, ainda que assinaladas

por placas ou outros sinais distintivos. Artigo 6º - Nos casos em que as especiais características, natureza ou finalidades do local assim o exija, notadamente no que respeita aos incisos II, VII, X e XI do artigo 3º, o direito de acesso será objeto de regulamentação que explicite o modo concreto do seu exercício. Parágrafo único - No exercício do direito de acesso o deficiente deverá zelar pelo correto comportamento do animal, sendo responsável, nos termos previstos na legislação civil e penal pelos danos que este venha a causar a terceiros, devendo para tanto, contratar um seguro de responsabilidade civil por eventuais danos causados a terceiros pelo cão-guia. Artigo 7º - As condições de acesso previstas na presente lei são aplicáveis aos animais em treinamento, desde que estejam acompanhados pelo respectivo treinador, instrutor ou pela família de acolhimento. § 1º - Considera-se treinador a pessoa civil e penalmente capaz, habilitada para treinar o cão para o desempenho de suas tarefas, e instrutor a pessoa civil e penalmente capaz, habilitada para treinar o conjunto cão-guia usuário deficiente. § 2º - Considera-se família de acolhimento aquelas devidamente credenciadas e aptas a receber o animal durante sua fase de adaptação à convivência humana e durante a sua adequação às tarefas de cão-guia, sendo denominado de acompanhante habilitado, o membro dessa família. Artigo 8º - A identificação do deficiente usuário de cãoguia e a comprovação do treinamento se darão por meio da apresentação dos seguintes itens: I - arreio com alça ou colete e coleira com características e/ou inscrição que

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possibilitem a identificação visual do animal como sendo um cão-guia; II - plaqueta de Identificação, que deve ser utilizada no pescoço do animal, na qual conste o nome do deficiente usuário; o nome do cão-guia que o acompanha; e o nome da pessoa jurídica ou do instrutor autônomo responsável pelo treinamento do conjunto; III - carteira de identificação expedida pela pessoa jurídica ou pelo instrutor autônomo responsável pelo treinamento, na qual conste o nome e o Registro Geral do deficiente usuário; o nome do cão-guia; o nome da pessoa jurídica e seu número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica - CNPJ ou do instrutor autônomo e seu número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF e foto do usuário deficiente e do cãoguia; IV - carteira de vacinação atualizada, com comprovação da vacinação múltipla e anti-rábica, assinada por médico veterinário com registro no órgão regulador da profissão. § 1º - O cão em fase de socialização e treinamento deverá ser identificado por uma plaqueta, presa à coleira, com a inscrição “cão-guia em treinamento”, aplicando-se as mesmas exigências de identificação do cão-guia, dispensado o uso de arreio com alça. § 2º - Os centros de treinamento e instrutores autônomos reavaliarão, sempre que julgarem necessário, o trabalho do conjunto em atividade, devendo retirar o arreio da posse do usuário caso constatem a necessidade de desfazer o conjunto, seja por inaptidão do usuário, do cão-guia, de ambos ou por mau uso do animal. Artigo 9º - O descumprimento do disposto nesta lei sujeitará o infrator, sem prejuízo das responsabilidades penais, cíveis e administrativas cabíveis, às seguintes sanções: I - na hipótese de impedir ou dificultar o acesso e a permanência do usuário deficiente em quaisquer dos locais indicados nesta lei ou em seu regulamento, ou condicionar o acesso à separação do conjunto, caberá a aplicação de multa no valor mínimo de R$ 1.000,00 (mil reais) e no máximo de R$ 30.000,00 (trinta mil reais); II - na hipótese de impedir ou dificultar o acesso e a permanência do treinador,

instrutor ou acompanhante habilitado, que conduza cão em fase de socialização ou de treinamento, em quaisquer dos locais indicados nesta lei ou em seu regulamento, ou condicionar o acesso à separação do conjunto, caberá a aplicação de multa no valor mínimo de R$ 1.000,00 (mil reais) e no máximo de R$ 20.000,00; III - na hipótese de reincidência caberá aplicação de multa no valor correspondente ao dobro do valor da sanção que tiver sido anteriormente aplicada, até o limite máximo de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Artigo 10 - São competentes para elaborar os autos de infração para imposição das multas por infrações ao disposto nesta lei os integrantes da Polícia Militar do Estado de São Paulo, no exercício das atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, nos termos em que dispuser o regulamento desta lei. Parágrafo único - O Estado poderá firmar convênios com os Municípios com vistas a que agentes municipais credenciados, em especial os integrantes das Guardas Municipais, possam exercer a competência estabelecida neste artigo. Artigo 11 - A receita arrecadada com a cobrança das multas de que trata esta lei será aplicada, exclusivamente, na melhoria das condições de acessibilidade dos órgãos públicos do Estado, bem como em programas destinados a educar a população acerca da importância da inclusão social dos deficientes em geral. Artigo 12 - As despesas resultantes da aplicação desta lei correrão à conta das dotações próprias consignadas no orçamento vigente da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania. Artigo 13 - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICATIVA Considerando que se impõe à sociedade moderna não apenas respeitar as diferenças existentes nos indivíduos que compõem a raça humana, mas exteriorizar esse respeito mediante a implementação de medidas efetivas que possam contribuir para que determinadas minorias não fiquem à margem da sociedade, mas tenham adequadas condições de acessibilidade, é que nos

empenhamos em apresentar o presente projeto de lei, o qual encerra alternativa para que os portadores de deficiência visual, auditiva, mental ou com mobilidade reduzida tenham direito a uma vida mais dinâmica, participativa e produtiva, perspectivas que se inserem dentre os seus direitos inerentes à cidadania. Assim, mediante assessoramento da Doutora Mônica Grimaldi, advogada especializada e referência nacional em direito dos proprietários de animais de estimação, concluímos que a Lei Federal nº 11.126, de 27-06-2005, dispondo sobre o direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes de uso coletivo acompanhada de cãoguia, apresenta-se extremamente sucinta, de forma que, constituída de apenas seis artigos, ainda teve os artigos 2º e 5º vetados totalmente pelo Presidente da República. Conquanto referida lei viesse a consagrar o direito de acesso aos locais, transportes e estabelecimentos de deficientes visuais acompanhados de cãesguia, e mesmo sendo tão recente no ordenamento jurídico brasileiro, a Lei nº 11.126/05 desconsiderou a evolução das técnicas de treino dos cães, que na atualidade permite que eles sejam igualmente treinados para auxiliar pessoas com deficiências mentais, orgânicas e motoras, independentemente da limitação de atividade e participação que enfrentam. Especificamente em relação aos “cães-guia de cegos” estes vêm sendo utilizados na Europa e Estados Unidos da América há mais de oitenta anos. A história moderna do cão-guia começa durante a 1ª Guerra Mundial, na qual os cães que serviram de mensageiros viriam a ser treinados como guias para cegos e isto se deu graças a um médico alemão chamado Gerhard Stalling, que teve a idéia de treinar cães, em massa, para ajudar milhares de soldados que retornavam cegos das batalhas, devido a gases venenosos. Em agosto de 1916, foi aberta a primeira escola de cães-guia do mundo para cegos em Oldenburg. Em 1923 foi criada, em Postdam, uma organização de cães-guias para cegos civis. Em 1930 é fundada a primeira escola de treinamento em Wallassey, Cheshire. Aqui no Brasil, apesar de ter mais de 20

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Legislação anos, o emprego de cães-guia ainda é pouco apoiado e difundido. Na Europa e Estados Unidos já se utilizam cães guia de ajuda e assistência a portadores de diversas modalidades de deficiência, há mais de 18 anos, com grande sucesso. O treinamento de cães para ajudar as pessoas surdas e fisicamente inválidas é o mais recente conceito de treinamento para o auxilio de pessoas. Existem diversas organizações no mundo que estão treinando estes cachorros maravilhosos. Cães de ajuda e assistência não só provêem um serviço específico aos seus usuários, mas também aumentam suas vidas com um senso novo de liberdade e independência. Os cães-guia de surdos-mudos são treinados a alertar os portadores de deficiência auditiva a uma variedade de sons domésticos como uma batida de porta ou campainha, despertador, telefone, grito de bebê, chamada de nome ou alerta de incêndio, eis que são treinados a estabelecer o contato físico e conduzir os usuários à fonte do som. No entanto, de toda a gama de tarefas que esses cães podem realizar destacase o fato de que as pessoas deficientes sobretudo os apreciam em razão do fim da solidão e isolamento. Já, os cães-guia de ajuda e assistência para deficientes físicos, além de propiciar-lhes maiores facilidades no dia-adia, evidenciam o aspecto psicológico positivo que resulta da união deficiente/cão-guia de ajuda e assistência, pois o cão é estímulo, esultando em uma relação de amor, de carinho, que inspira confiança e vontade de viver ao deficiente, integrando-o à sociedade. O cãoguia de ajuda e assistência comprovadamente trás ao deficiente vários benefícios como independência e lealdade, sendo um elo entre o deficiente e a sociedade. Segundo o Programa de Ação Mundial para Pessoas Deficientes, da ONU (1982), a experiência tem demonstrado que, em grande medida, é o meio que determina o efeito de uma deficiência ou de uma incapacidade sobre a vida cotidiana da pessoa. A pessoa vê-se relegada à invalidez quando lhe são negadas as oportunidades de que dispõe, em geral, a comunidade, e que são necessárias aos 86

aspectos fundamentais da vida, inclusive a vida familiar, a educação, o trabalho, a habitação, a segurança econômica e pessoal, a participação em grupos sociais e políticos, as atividades religiosas, os relacionamentos afetivos e sexuais, o acesso às instalações públicas, a liberdade de movimentação e o estilo geral da vida diária. Com isso, a ONU afirma ter por perspectiva que as pessoas deficientes sejam consideradas cidadãs possuidoras de direitos e obrigações, participantes e construtoras da sociedade. Nesse sentido, vem à tona o destaque de alguns dos direitos contidos na Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes, proclamada pela ONU em 1975: Direito ao respeito por sua dignidade humana, ou seja, poder desfrutar dos mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, visando ter uma “vida decente”, tão normal e plena quanto possível; direitos civis e políticos iguais aos demais seres humanos; direitos à capacitação visando à conquista da autoconfiança; direito a tratamento médico, psicológico e funcional, a aparelhos, à reabilitação médica e social, à educação, ao treinamento vocacional e à reabilitação, à assistência, ao aconselhamento e outros serviços que possibilitem ao máximo o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades, acelerando o processo de “integração social”. Direito à segurança econômica e social, obtido mediante o desenvolvimento de atividades úteis, produtivas e remuneradas, realizadas de acordo com suas capacidades, além da participação em sindicatos. Importante destacar, também, que sendo a Polícia Militar à única Instituição policial presente em todos os seiscentos e quarenta e cinco Municípios do Estado de São Paulo, importa atribui-lhe esta nobre missão de, em sendo acionada para deslindar questão envolvendo deficientes físicos nos termos abordados por este projeto de lei, possa exercer a competência legal de elaborar o documento necessário à posterior imposição da multa. Por derradeiro, cumpre transcrever texto da Declaração de Direitos das Pessoas Deficientes, Resolução aprova-

da pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 09-121975, onde se lê: “PROCLAMA esta Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes e apela à ação nacional e internacional para assegurar que ela seja utilizada como base comum de referência para a proteção destes direitos: 1 - O termo “pessoas deficientes” refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. 2 - As pessoas deficientes gozarão de todos os diretos estabelecidos a seguir nesta Declaração. Estes direitos serão garantidos a todas as pessoas deficientes sem nenhuma exceção e sem qualquer distinção ou discriminação com base em raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem social ou nacional, estado de saúde, nascimento ou qualquer outra situação que diga respeito ao próprio deficiente ou a sua família. 3 - As pessoas deficientes têm o direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível.” Neste aspecto, considerando que a lei federal citada no início desta justificativa mostra-se manifestamente insuficiente para garantir o direito das pessoas com deficiência que pretendem utilizar cães como meio auxiliar da sua mobilidade, autonomia segurança é que apresentamos o presente projeto de lei, no aguardo de que os nobres Deputados desta Casa de Leis emprestem o imprescindível apoio à presente propositura, que tão-somente busca aprimorar normas acerca da acessibilidade. Sala das Sessões, em 6/12/2007 a) Olímpio Gomes - PV

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elefantes a cangurus. É mestre em psicologia animal pela USP e coordena a Organização Cão Cidadão. Alves é médico veterinário graduado pela Universidade de São Paulo. Atua como clínico e

cirurgião veterinário. Também é juiz da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), diretor da comissão técnica pra assuntos de saúde dos cães, da CBKC e consultor cinotécnico do Clube Paulistano de Cinofilia. Informações: (11) 3289-8133

O yorkshire é muito inteligente e assimila tudo com facilidade Dócil e inteligente, o labrador é geralmente brincalhão e divertido. Tem necessidade de carinho e atenção. É um cão que precisa de espaço e atividade constante

A fidelidade é uma das características do comportamento do maltês

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008



www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL início - pág. 96

16 a 30 de março São Paulo - SP Exames laboratoriais solicitação e interpretação (11) 5181-1506 17 de março a 14 de maio São Paulo - SP Curso teórico prático de patologia clínica: diagnóstico e interpretação (11) 3034-5447 27 a 29 de março São Paulo - SP Cirurgia de coluna (11) 3819-0594 28 a 30 de março São Paulo - SP Fundamentos e aplicações do ultra-som doppler em medicina veterinária. (11) 3579-1427 30 de março 4 de abril Sorocaba - SP Congresso da Sociedade de Zoológicos do Brasil (15) 3227-5454 30 de março; 6, 13 e 27 de abril; 4 de maio São Paulo - SP Curso de auxiliar de enfermagem veterinária na clínica de pequenos animais (11) 6995-9155

11 a 13 de abril São Paulo - SP Ultra-sonografia de pequenas partes: sistema músculo esquelético (11) 3579-1427

27 de maio a 3 de julho São Paulo - SP Curso teórico-prático de aprimoramento em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447

23 a 26 de abril Maceió - AL XXIX Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (82) 3326-6663

1º a 22 de junho Jundiaí - SP Curso de atualização em gastroenterologia de pequenos animais (11) 4529-7861

30 de abril Jundiaí - SP Hemoparasitoses em cães e gatos (11) 4529-7861 5 a 9 de maio Seropédica - RJ 25ª SEMEV - Semana do médico veterinário (21) 9155-1455 9 a 11 de maio São Paulo - SP Curso básico, teórico e prático, de ultra-sonografia em cabeça e pescoço (11) 3579-1427 16 a 18 de maio São Paulo - SP V Oncovet abrovet@abrovet.org.br

5 de abril a 6 de março de 1010 Porto Alegre – RS Curso de especialização em acupuntura veterinária (14) 3882-4243

23 a 25 de maio Belo Horizonte - MG I Fórum Latino-Americano de Traumatologia (31) 3297-2282

9 de abril a 12 de junho São Paulo - SP Curso intensivo de comportamento de cães e gatos (11) 3813-6568

25 de maio; 8 e 22 de junho; 6 e 20 de julho Osasco - SP Curso teórico-prático de cardiologia veterinária (11) 6995-9155

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5 a 8 de junho Brasília - DF I Simpósio de medicina felina de Brasília (61) 3965-4090

14 de julho a 13 de agosto São Paulo - SP Curso de ultra-sonografia em pequenos animais (teórico-prático) (11) 3034-5447 5 de agosto a 11 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização e aperfeiçoamento em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447 7 a 9 de agosto Rio de Janeiro - RJ • Riovet - Feira de negócios pet & vet • Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária • 1º Encontro Brasileiro de Marketing - Pet Vet • II Seminário de Nutrição Pet • Grooming Meeting & tosa (21) 3295-2803

17 a 19 de setembro São Paulo - SP • 8º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (CONPAVEPA) • Pet South America (11) 3813-6568

INTERNACIONAL 17 a 21 de fevereiro Las Vegas - Nevada - USA Western Veterinary Conference www.wvc.org

3 a 5 de abril Colombia IV Congreso SOVEMEVEPA info@sovemevepazulia.com 17 a 21 de setembro São Paulo - SP XXIX Congresso Brasileiro de Homeopatia (11) 3051-6121

27 a 28 de abril Buenos Aires - Argentina XVII Jornadas Veterinarias en Pequenos Animales www.jornadasveterinarias.com

26 a 28 de setembro Belo Horizonte - MG I Fórum Latino-americano de Dermatologia e Endocrinologia (31) 3297-2282

14 a 17 de maio Orlando, Florida - USA Animal Care Expo www.animalsheltering.org/ expo

19 a 22 de outubro Gramado - RS 35º Conbravet (51) 3326-7002

22 a 25 de maio Nürnberg - Alemanha Interzoo 2008 www.interzoo.com 13 a 17 de julho Budapeste - Hungria 16º Congresso Internacional de Reprodução Animal www.icar2008.org

27 a 30 de outubro Fortaleza CE Fort Pet Vet (85) 3257-6382 7 a 9 de novembro Goiânia - GO IV Concevepa (62) 3241-3939 10 a 14 de novembro Recife - PE VIII Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária (81) 3466-5551

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 72, janeiro/fevereiro, 2008

27 a 31 de julho Canada - Vancouver 29th World Veterinary Congress www.worldveterinary congress2008.com 20 a 24 de agosto Dublin - Irlanda 33º Congresso Mundial da WSAVA www.wsava2008.com 28 a 30 de agosto Cartagena - Colombia V Congresso Ibero-americano FIAVAC www.fiavac.org



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