clínica veterinária n. 73

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G uarรก

ISSN 1413-571X

Ano XIII, n. 73, marรงo/abril, 2008 - R$ 13,00

E D i TO R A

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Lissandro G. Conceição

Índice

Dermatologia - 26 Complexo granuloma eosinofílico felino

Juliana Werner

Feline eosinophilic granuloma complex Complejo granuloma eosinofílico felino

Dermatologia - 38 Padrões dermatohistopatológicos no diagnóstico dermatológico Dermatopathological patterns in dermatologic diagnosis Patrones dermato-histopatológicos en el diagnóstico dermatológico

Malasseziose. Notar a separação dos queratinócitos pelo edema (seta) e a evidenciação dos desmossomos

Clínica médica - 44

Citologia coletada por decalque cutâneo demonstrando infiltrado inflamatório com predominância de eosinófilos

Roselene Ecco

Sorologia negativa e PCR positiva: a importância da biologia molecular para o diagnóstico de leptospirose aguda em um cão Negative serology and positive PCR: the importance of molecular biology in the diagnosis of acute leptospirosis in a dog Serología negativa, PCR positiva: la importancia de la biología molecular en el diagnóstico de la leptospirosis aguda en un perro

Bruno Benetti Junta Torres

Marcus Antônio Rossi Feliciano

Clínica médica - 50 Fotomicrografia do pâncreas. Acentuada atrofia do parênquima acinar, ressaltada pela maior evidência de ductos (seta), vasos e células acinares esparsas remanescentes dos ácinos pancreáticos

Atrofia do pâncreas exócrino em pastor alemão Exocrine pancreatic atrophy in the German Shepherd Dog Atrofia del páncreas exocrino en pastor alemán

Diagnóstico por imagem - 56 Novas perspectivas no diagnóstico ultra-sonográfico gestacional em cadelas - revisão de literatura New perspectives in the ultrasonographic diagnosis of pregnancy in bitches - a literature review Nuevas perspectivas en el diagnóstico ultrasonográfico gestacional en perras - revisión de literatura

Cirurgia - 62

Imagem ultra-sonográfica de alta resolução do tórax e do abdômen de feto de uma cadela com 51 dias de gestação. Emily Correna Carlo

Luxação congênita bilateral de cotovelo em american pit bull terrier Bilateral congenital elbow luxation in American Pit Bull Terrier

Cão da raça american pit bull terrier, Luxación congénita bilateral de codo en american pit bull terrier macho, com oito semanas de idade e luxação congênita bilateral de cotovelo

Clínica médica - 68

Patrícia Fernandes Nunes

Entendendo e reconhecendo a osteocondrose em cães Understanding and recognizing osteochondrosis in dogs Entendiendo y reconociendo la osteocondrosis en perros

Clínica médica - 78 Nocardiose generalizada em cão - relato de caso Avaliação citológica do líquido intraabdominal, classificado como exsudato séptico, de cadela american pit bull terrier

Generalized nocardiosis in dog - case report Nocardiosis generalizada en perro - caso clínico

Seções

Editorial - 5 • O uso prejudicial de animais no ensino superior • Distribuidores Fort Dodge investem na instalação de câmaras frias para conservação das vacinas • Vanguard Plus tem boa aceitação no mercado brasileiro • Merial investe em novas fábricas e amplia exportações • Ceva Vetbrands faz grande evento e lança Fiprolex® Drop Spot • Será que é possível ser lembrado como a Geração Mais Verde de Todos os Tempos? • Fisioterapia • Centro de imunização veterinária • Tecnologia a serviço da medicina veterinária

ERRATA: No artigo “Shunt portossistêmico: considerações sobre diagnóstico e tratamento” publicado na Clínica Veterinária n. 72, o nome de um das autoras saiu como Augusta Kebauy. O correto é Augusta Kerbauy

Legislação - 18

Livros - 90

Prefeito em exercício sanciona lei que proíbe cães de aluguel em Curitiba/PR

• Toxicologia aplicada à medicina veterinária • Anestesiologia veterinária

Saúde pública - 20

Notícias - 6 6 8 8 8 10 12 14 14 16

Radiografia da articulação umerorradioulnar de um cão com nãounião do processo ancôneo, incidência lateral com o cotovelo em extrema flexão

• Febre amarela - vacinação criteriosa • CCZ de Guarulhos, SP, investe em campanha de castração e na guarda responsável

Pesquisa - 92 20

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Bem-estar animal - 24 HSVMA surge da fusão de duas entidades que protegem os animais: The Humane Society of the United States e Association of Veterinarians for Animal Rights

• Nanotecnologia • Veneno de jararaca no tratamento da pré-eclâmpsia

Lançamentos - 94 Negócios e oportunidades - 96 Ofertas de produtos e equipamentos

Equipamentos - 86

Serviços e especialidades - 97

Luva com sistema de proteção contra perfurações

Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Gestão, marketing e estratégia - 88

Agenda - 104

Gerenciando oportunidades

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008

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Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS Arthur de V. Paes Barretto editor@editoraguara.com.br

Journal of continuing education for small animal veterinarians

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

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Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br

CAPA / COVER Felino fotografado por Jorge Silva Gomes Llaguno

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PUBLICIDADE / ADVERTISING João Paulo S. Brandão midia@editoraguara.com.br (11) 3672-9497

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

IMPRESSÃO / PRINT

CONSULTORIA JURÍDICA / CONSULTING ATTORNEY

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Joakim M. C. da Cunha

TIRAGEM / CIRCULATION

(OAB 19.330/SP) (11) 3251-2670

12.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. - Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 - São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/MBrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).

Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@anestciruvet.com.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br

Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FMV/UEL fibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Luciane Biazzono DCV/CCA/UEL biazzono@uel.br

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008

Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio Dentello Lustoza Agener União mdlustoza@uol.com.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br

Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial H

á cerca de 10 anos foi instituido o dia 10 de dezembro como o dia internacional dos animais, visando alertar que todos os animais – e não apenas os humanos – merecem ter direitos, pretendendo-se assim, ampliar esses direitos humanos fundamentais – proclamados pela Assembleia Geral das Nações Unidas no dia 10 de dezembro de 1948 (Declaração Universal dos Direitos Humanos) – a todas os seres senscientes. Esta campanha anual realizada no Reino Unido é liderada pela organização de direitos dos animais Uncaged Campaigns (www.uncaged.co.uk) e seguida em outros países por várias associações de direitos dos animais. Nos Estados Unidos da América, desde 1981 realiza-se a Animal Rights Conference (www.arconference.org). Este ano, ela está programada para ocorrer em agosto, em Washington, DC. No Brasil, pela primeira vez, teremos algo semelhante: o 1º Encontro Nacional de Direitos Animais (www.veddas.org.br/enda), que será realizado no início de maio, em Porangaba, SP. Esses eventos e mobilizações possuem participantes bastante heterogêneos, formando grupos multidisciplinares de discussão. A participação dos médicos veterinários é fundamental. “Veterinários trazem uma credibilidade e autoridade especiais, no que diz respeito aos animais, e eu estou muito feliz em adicionar esta nova operação a família das organizações da HSUS,” disse Wayne Pacelle, presidente da HSUS e CEO, ao anunciar a união da Humane Society of the United States (HSUS) e a Association of Veterinarians for Animal Rights (AVAR), formando a Humane Society Veterinary Medical Association (HSVMA). A contribuição de profissionais capacitados é fundamental. O médico veterinário Andrew Knight, por exemplo, mantém o sítio www.humanelearning.info, que traz mais de 400 trabalhos descrevendo técnicas de ensino substitutivas. O biólogo Thales de A. e Tréz, por sua vez, tem desenvolvido importante atividade na promoção da adoção de técnicas substitutivas no ensino através da InterNiche Brasil, entidade que faz parte de uma rede que começou em 1988 como EuroNICHE e se transformou em uma rede global no ano de 2000. A mais recente ação da InterNiche Brasil é o lançamento do livro Instrumento Animal: O uso prejudicial de animais no ensino superior, que conta com a contribuição de diversos colaboradores, inclusive com a célebre profa. dra. Irvênia Prada. No meio acadêmico é crucial que seja incluida a disciplina de bem-estar animal. Algumas poucas faculdades já o fizeram. O Instituto Bioethicus (www.bioethicus.com.br), em parceria com o Cambridge E-Learning Institute (CEI), da Inglaterra, inicia em março o curso de formação "Certificado em Bem-estar Animal". Também em março, pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (VPS/FMVZ/USP), com o apoio da Nestlé Purina, será dado início ao Curso Introdutório à Ciência do Bem-Estar e Etologia animal para pós-graduandos e docentes da instituição. Ao mesmo tempo que tantas pessoas no mundo trabalham para que os seres senscientes sejam devidamente respeitados, outras mostram irem contra, como é o caso do deputado Fernando de Fabinho (PFL-BA), autor do projeto de lei 4340/04, que visa legalizar as rinhas de galo, de canário e de cães, que tramita em regime de prioridade pelo Congresso Nacional. A justificativa do deputado é que rinhas fazem parte da nossa cultura. Um dos relatores, o desembargador Munir Feguri, foi bastante prático em defender sua opinião: "é público é notório que rinha de galo existe em todo o Brasil assim com touradas na Espanha." Porém, também é notório, e de inigualável valor, a célebre frase de Mahatma Gandhi "A grandeza de uma nação e o seu progresso moral, podem ser avaliados pela forma como tratam os seus animais". A união contra a violência é fundamental, pelo menos para aqueles que almejam uma vida onde possa haver a paz. Participe da forma como puder, mas não deixe de acreditar e divulgar os direitos dos animais. Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Clínica Veterinária, Ano XII, n. 73, março/abril, 2008

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O uso prejudicial de animais no ensino superior

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uso de animais vem sendo motivo de controvérsias e provocando situações de conflito no ensino superior, sendo cada vez mais explorado pela área científica, educacional, filosófica e jurídica. Trata-se de uma antiga metodologia aplicada ao ensino científico nas áreas das ciências biológicas e da saúde que, além de causar sofrimento e morte de milhares de animais anualmente no Brasil, provoca uma séria reflexão sobre questões referentes ao ensino e à ética. A InterNICHEBrasil, com o apoio da Animal-Free Research (www.animalfreeresearch.org), lançou o livro "Instrumento animal: o uso prejudicial de animais no ensino superior" (210 páginas, Ed. Viena). Este trabalho, de natureza interdisciplinar, é uma contribuição ao debate. Artigos de vários profissionais de distintas áreas expõem o tema de forma crítica e acessível, convidando os leitores a uma reflexão aprofundada sobre as implicações destas práticas.

SUMÁRIO DO LIVRO E INFORMAÇÃO SOBRE OS AUTORES Os animais são seres sencientes – Irvênia Luiza de Santis Prada Irvênia dos Santis Prada é médica veterinária pela Universidade de São Paulo (USP), professora titular em anatomia animal desta mesma instituição, e docente da pós-graduação na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, onde recebeu o título de profa. emérita. Foi presidente e depois assessora 6

da comissão de ética nessa faculdade. Foi presidente do conselho orientador do Zoológico de São Paulo e diretorasubstituta dessa instituição. Dedica-se com especial enfoque à neuroanatomia animal. Encontra-se fortemente inserida no contexto do bem-estar animal, participando de cursos, palestras, congressos e debates sobre temas relacionados à proteção e defesa dos animais. É estudiosa do assunto “interação cérebromente” dos animais, divulgando o assunto em palestras e artigos de divulgação. Defende a postura de que os animais, como seres sencientes, merecem ser respeitados pelo ser humano e especialmente pelos profissionais cuja atividade se relaciona diretamente a eles, o que deve se traduzir em atitudes de ética que promovam e preservem o seu bemestar. Experimentação animal: histórico, implicações éticas e caracterização como crime ambiental – Laerte Fernando Levai e Vânia Rall Daró Laerte Fernando Levai é promotor de Justiça em São José dos Campos e autor do livro Direito dos Animais (Editora Mantiqueira, 2004). Vânia Rall Daró é advogada, tradutora pública e intérprete comercial em língua francesa. O estatuto dos animais usados em experimentos: da negação filosófica ao reconhecimento jurídico – Sônia T. Felipe Sônia T. Felipe é doutora em teoria política e filosofia prática pela Universidade de Konstanz (Alemanha, 1991), pioneira na abordagem da ética animal no Brasil. Realizou projeto de pósdoutorado em bioética animal na Universidade de Lisboa; investigadora permanente do Centro de Filosofia daquela universidade; membro do Bioethics Institute da Fundação Luso-americana para o Desenvolvimento, FLAD (Lisboa); autora de dezenas de artigos sobre ética animal, ambiental e direitos humanos; colaboradora do sítios www.sentiens.net e www.vegetarianismo.org; membro do conselho editorial da revista Ethic@; da Revista Brasileira de Direito Animal; da Phrónesis; publicou em 2003, Por uma questão de princípios (Editora Boiteux),

o primeiro livro escrito no Brasil sobre a ética animalista de Peter Singer; e, em 2007, Ética e experimentação animal: fundamentos abolicionistas (Editora da UFSC). Co-autora nas coletâneas: Tendências da ética contemporânea (Petrópolis: Vozes); Éticas e Políticas Ambientais (Lisboa: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa); Bioética e Direitos Humanos (Florianópolis: Editora da OAB/SC); Kant: liberdade e natureza (Florianópolis: Edufsc); O utilitarismo em foco (Florianópolis: Edufsc); Filosofia e direitos humanos (Fortaleza: Editora da UFC). Professora de ética prática, bioética, ética global e teorias da justiça, nos programas de graduação e pós-graduação em filosofia, e no doutorado interdisciplinar em ciências humanas da UFSC, nos quais orienta dissertações de mestrado e de doutorado, projetos de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso em bioética, com ênfase em ética animal e ética ambiental. O que aprendemos com as aulas de fisiologia? – Rita Leal Paixão Rita Leal Paixão possui graduação em medicina veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1989), mestrado em medicina veterinária (patologia veterinária) pela Universidade Federal Fluminense (1994), mestrado em ciências ambiental pela Universidade Federal Fluminense (2000) e doutorado em saúde pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz (2001). Atualmente é professora adjunta e diretora do Instituto Biomédico da Universidade Federal Fluminense , vice-presidente da Sociedade de Bioética do Estado do Rio de Janeiro, membro da Comissão de Ética, Bioética e Bemestar animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária, membro de corpo editorial da Revista Brasileira de Bioética, revisora de periódico das revistas Clínica Veterinária (São Paulo), Revista CFMV (Brasília) e Revista Brasileira de Educação Médica. Tem experiência na área de medicina veterinária e bioética. Atuando principalmente nos seguintes temas: experimentação animal, ética aplicada, bioética e bem-estar animal.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008


Vozes do silêncio: Ideologia e resolução de conflito psicológico diante da prática da vivissecção – João Epifânio Regis Lima João Epifânio Regis Lima é doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Psicologia pela USP e graduado em Ciências Biológicas pela USP. É atualmente professor de filosofia da ciência e de estética na Faculdade de Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo, e professor de história e filosofia da ciência na Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo. “Não matarei”: considerações e implicações da objeção de consciência e da desobediência civil na educação científica superior – Thales de A. e Tréz Thales de A. e Tréz possui graduação em ciências biológicas (bacharelado e licenciatura) pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000) e mestrado em ética aplicada pela Katholieke Universiteit Leuven (2001). É professor da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG).

Tem experiência na área de ética na educação, atuando principalmente nos seguintes temas: bioética, vivissecção, experimentação animal, métodos alternativos e educação humanitária. Coordena a InternicheBrasil desde 1999, promovendo a substituição do uso de animais no ensino superior. Tem perfil profissional extensionista, coordenando projetos nas áreas de educação ambiental, ensino médio e cultura negra. Objeção consciente ao uso de animais: o conflito na sala de aula – Mariana Coelho Mirault Pinto Mariana Coelho Mirault Pinto é graduada em biologia, licenciatura/bacharelado, pela Universidade Católica Dom Bosco (2003) e em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2004). É mestre em ecologia e conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, trabalhando com comportamento de macacoprego (Cebus apella cay) em Cerrado. Concursada como Fiscal Estadual Agropecuário (bióloga) da Agência Estadual

de Defesa Sanitária Animal e Vegetal – IAGRO/MS, atua hoje como bióloga do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres do Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul – CRAS/IMASUL. Tem experiência nas áreas de biologia geral, clínica médica veterinária, no uso de florais de Bach em animais, em etologia e em ecologia. Método de ensino substitutivo na disciplina de técnica cirúrgicas – Julia Maria Matera Julia Maria Matera possui graduação na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (1972) e doutorado em cirurgia para pequenos animais domésticos pela Tierärtzliche Hochschule Hannover (1975). Profa. titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em clínica cirúrgica animal. Linhas de pesquisa: pequenos animais, cirurgia, artroscopia, cirurgias de reconstrução e neurocirurgia.

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Distribuidores Fort Dodge investem na instalação de câmaras frias para conservação das vacinas

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mpresas que distribuem vacinas da Fort Dodge para o mercado de clínicas veterinárias de São Paulo investem na melhor conservação dos produtos. A Fort Dodge Saúde Animal anuncia que três dos seus distribuidores, Abase, Cooper Nutri e Propet, que atendem o mercado de clínicas veterinárias na capital e em parte do interior do Estado de São Paulo, investiram na instalação de câmaras frias. São equipamentos dotados de sistemas de controle de temperatura e geradores para abastecimento emergencial em caso de falta de energia elétrica, o que garante a segurança do

armazenamento das vacinas da Fort Dodge. Sobre a importância destes investimentos, Tiago Papa, gerente de negócios sênior da linha de pequenos animais da Fort Dodge, lembra que a qualidade da vacina depende de vários fatores. Segundo ele, embora os principais deles estejam relacionados aos processos e tecnologia de fabricação, "de nada adianta uma produção exemplar caso não sejam tomados os devidos cuidados com armazenamento e transporte, que deve ser feito sempre entre 2ºC e 8ºC".

Para o executivo, o investimento é alto, mas compensa. Ele ressalta que, além da preservação das características originais das vacinas, o armazenamento em câmaras frias evita perdas econômicas em casos onde a falta de energia é tão prolongada a ponto de comprometer a qualidade dos produtos, gerando descartes. "Na verdade, a preocupação de nossos distribuidores com o armazenamento das vacinas Fort Dodge significa uma garantia a mais para o médico veterinário", afirma.

Vanguard Plus tem boa aceitação no mercado brasileiro

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Unidade de Negócios de Animais de Companhia da Pfizer lançou no final de 2007 Vanguard Plus, vacina para proteger os cães contra doenças causadas por 10 agentes, inclusive contra os diferentes sorotipos da leptospirose. “Vanguard Plus tem apresentado ótima aceitação desde sua chegada ao mercado brasileiro”, diz Oclydes Barbarini Jr, gerente da Unidade de Negócios Animais de Companhia da Pfizer. “Percebemos que um dos principais motivos do sucesso do produto deve-se à confiança que os veterinários depositam na

qualidade e segurança dos medicamentos e vacinas da empresa”, justifica Barbarini. A vacina integrou o portfólio da Pfizer, fazendo com que a empresa ofereça liberdade de escolha para o médico veterinário, nos protocolos vacinais, adequando-se ao estilo de vida e à idade do animal. Todas as etapas de produção e desenvolvimento de Vanguard Plus envolvem alta tecnologia. O Processo Pfizer de Microfiltragem (PPM) e fabricação de Vanguard Plus em biorreatores garantem maior pureza

da vacina, homogeneidade dos lotes e rigoroso controle de qualidade. Vanguard Plus protege contra as principais doenças dos cães, como cinomose, parvovirose, adenovirose, parainfluenza, hepatite, coronavirose e ainda contra os quatro sorotipos da leptospirose (L. canicola, L. grippotyphosa, L. pomona e L. icterohaemorrhagiae). Além disso, a vacina é a única no Brasil a ter aprovada a duração da imunidade prolongada por até 48 meses após a aplicação para cinco antígenos. Entre outros produtos da Pfizer estão Defensor, vacina contra raiva; BronchiGuard, vacina monovalente e injetável contra a tosse dos cães.

Merial investe em novas fábricas e amplia exportações

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Merial Saúde Animal inicia o ano com olhos voltados para o mercado global e para o atendimento das necessidades dos produtores brasileiros. A empresa está investindo US$ 22 milhões em duas fábricas: uma de pastas antiparasitárias para eqüinos e uma de produtos mastigáveis para pequenos animais, em seu complexo industrial de Paulínia (SP). A primeira será concluída ainda este ano e a de produtos para pets, em 2009. Ambas seguem as exigências do Food and Drug Administration (FDA), o que as credenciará a exportar para o mercado norte-americano e, por extensão, para os mais exigentes mercados internacionais. 8

Em 2007, a fábrica de injetáveis à base de ivermectinas da Merial, também em Paulínia (SP), com capacidade para produção de 150 milhões de doses/ano, tornou-se a primeira planta brasileira a ter certificação do FDA. E o primeiro embarque já aconteceu, com a exportação do endectocida Ivomec Plus para os EUA, num negócio de US$ 3,3 milhões. Com os investimentos nas novas unidades e a certificação FDA, além da GMP, a Merial Saúde Animal avança no planejamento para se tornar a mais importante plataforma de exportação do grupo para todo o mundo. Em 2007, a empresa já enviou produtos para saúde

animal a 15 países; em três anos, espera atender pelo menos 65 nações, com receita em torno de U$ 300 milhões/ano. “A Merial está presente em mais de 150 países. O complexo industrial de Paulínia é um dos mais modernos do mundo e vem recebendo os investimentos necessários para impulsionar os negócios a partir do Brasil. Incluindo a fábrica de injetáveis à base de ivermectinas, colocada em operação há quatro anos, já investimos cerca de US$ 50 milhões em novas tecnologias e no aumento da capacidade de produção”, informa Alfredo Ihde, presidente da Merial para o Cone Sul.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008



Ceva Vetbrands faz grande evento e lança Fiprolex® Drop Spot, um potente pulicida e carrapaticida

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ano de 2007 foi um marco para o laboratório veterinário Ceva Santé Animale, que adquiriu a Vetbrands do Brasil e assim, ampliou sua atuação no mercado veterinário e ingressou no mercado pet brasileiro. A união de forças entre as duas empresas já rende bons frutos com uma novidade muito promissora já no início de 2008: a empresa lançou em grande estilo o Fiprolex® Drop Spot, que apresenta alta eficácia no combate a pulgas e carrapatos e excelente relação custo-benefício. Para lançar a novidade, a CEVA Vetbrands realizou um evento no dia 26 de janeiro, no Mercure Grand Hotel São Paulo, onde estiveram presentes 50 distribuidores convidados, que ouviram sobre o mercado pet brasileiro e mundial e conheceram melhor a atuação da CEVA Santé Animale em todo o mundo. O lançamento deste produto causa grande expectativa ao mercado, pois

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Fiprolex® Drop Spot contém o princípio ativo de grande sucesso no mundo - o fipronil - que representa uma adição interessante para a robusta linha de produtos Ceva Vetbrands e ratifica assim

O grande momento do evento foi o lançamento do Fiprolex® Drop Spot, que surpreendeu a todos os presentes. Após um talk show descontraído, comandado pelo gerente de mercado Edmar Frota, no qual a apresentadora Luisa Mel falou sobre o programa Late Show da Rede TV, patrocinado pela CEVA Vetbrands e o seu envolvimento com a causa animal, ambos surpreenderam o público presente e apresentaram o Fiprolex® Drop Spot

mais um avanço na atuação da empresa no setor pet, o mais promissor dentro do mercado veterinário brasileiro. O departamento de marketing da CEVA Vetbrands desenvolveu uma campanha de sucesso para o Fiprolex® Drop Spot, com ações para divulgação do produto em todo o território nacional junto a distribuidores e lojistas. A estratégia para atrair os amantes de cães foi a criação do personagem “Fiprocão”, um cachorro da raça bernese mountain dog que fala sobre a ação do produto contra pulgas e carrapatos em aparições televisivas previstas na campanha de marketing do novo produto. Nos pontos de venda, o consumidor final poderá participar de promoções para ganhar um “Fiprocão” de pelúcia dentro de uma lata com motivos do Fiprolex® Drop Spot. Diversas outras ações estão previstas em todo o Brasil, praticamente cobrindo todo o território nacional.

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Será que é possível ser lembrado como a Geração Mais Verde de Todos os Tempos?

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Arquivo Alltech

e 20 a 23 de abril de 2008 a Alltech realizará o 24° Simpósio Internacional de Saúde e Nutrição Animal, em Lexington, Kentucky, EUA (www.alltech. com/symposium/en/home.cfm). Durante o encontro serão debatidos temas que poderão definir o futuro do setor de nutrição.

“Como sempre, o Simpósio da Alltech é um momento empolgante para compartilhar o conhecimento e obter novas idéias sobre nosso setor. É também uma oportunidade excelente para que todos no mundo dos agronegócios se reúnam e discutam questões pertinentes, como rastreabilidade, variabilidade e restrições das ofertas, e o uso de novas tecnologias para reduzir o impacto da agricultura no ambiente”, declarou o dr. Pearse Lyons, presidente e fundador da Alltech

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O simpósio estimulará os especialistas do mundo todo a desenvolverem uma nova definição para a indústria, transformando-a na líder da “Geração Mais Verde”, repensando a tecnologia e práticas de negócios. Uma outra meta é encontrar formas construtivas para que a indústria da agricultura possa reagir à revolução verde. “Estamos no início de uma nova revolução verde – uma revolução impulsionada, em parte, por inquietações sobre a produção de bio-combustível e pelos custos cada vez maiores das rações e alimentos”, afirma o dr. Pearse Lyons, presidente e fundador da Alltech. Um fórum de debates e aprendizagem O Simpósio Alltech 2008 conta com palestrantes que são algumas das principais personalidades no mundo da nutrição. Entre eles, John Y. Brown, exgovernador de Kentucky e idealizador da marca Kentucky Fried Chicken, e David Byrne, ex-Comissário da Europa para Saúde e Proteção do Consumidor, que apresentarão suas visões sobre a única questão que interessa à indústria de nutrição da atualidade – como

produzir de forma sustentável. Este ano o Simpósio – reconhecido como um dos fóruns de vanguarda para debates e aprendizagem – também se concentrará em casos de sucesso de empresas que se utilizam de novos conhecimentos sobre a nutrição e estão revolucionando a forma como criamos animais e alimentamos o mundo, de modo natural e com boa relação custo-benefício. O evento analisará como a falta de rastreabilidade subestima não apenas a confiança do consumidor, mas apresenta potencial para a introdução de ingredientes inaceitáveis na cadeia de alimentos. Outras sessões plenárias incluirão discussões de tópicos como: • um legado para o futuro - a estrada para uma economia verde, baseada no conhecimento; • o impacto da bio-refinaria da comunidade rural; • o futuro dos alimentos - para onde caminha nossa indústria; • nutrigenômica - será que podemos usá-la para garantir rastreabilidade e transparência total à cadeia de alimentos?

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Fisioterapia

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Centro de imunização veterinária

esões na coluna, nas articulações, no aparelho locomotor e no sistema nervoso são problemas registrados com freqüências cada vez maiores nos animais, principalmente nos cães. Os tratamentos corretos devem ser feitos por veterinários especializados em fisioterapia. O IBRA (Instituto Brasileiro de Reabilitação Animal), localizado em São Paulo, SP, foi criado com essa proposta. Dirigido pelos médicos veterinários fisioterapeutas, professores Sidney Piesco de Oliveira e Cláudio Ronaldo Pedro, ele conta com equipamentos de última geração que incluem hidroesteira, banheira de hidromassagem, piscina e pista de propriocepção, com diversos pisos para proporcionar diferentes estímulos ao aparelho locomotor. Além disso, também utiliza-se a eletroterapia, a cinesioterapia, a massoterapia, a laserterapia, a hidroterapia e a acupuntura. IBRA: (11 ) 3791-4272 www.ibravet.com.br

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Hospital Veterinário Sena Madureira em parceria com a multinacional Merial acaba de inaugurar o Centro Especializado de Imunização Veterinária (CEI). Conta com sala própria para imunização separada das demais dependências do hospital (com sala de espera também privativa), com horários de vacinação que podem ser previamente agendados, além de utilização de um protocolo vacinal de ponta aumentando assim a comodidade e segurança dos pacientes veterinários a serem vacinados. Similarmente ao que ocorre nos centros de imunizações de humanos, no CEI do Hospital Veterinário Sena Madureira, as vacinas são armazenadas em câmera frigorífica com controle digital da temperatura nas 24 horas do dia, assegurando a utilização de um produto altamente confiável. Além disso, os animais que utilizam o novo serviço farão parte do Programa de Medicina Veterinária

Preventiva do hospital. Durante o Programa (realizado no momento da vacinação), os donos receberão orientações e exame médico focado na prevenção das principais doenças, recebendo informação sobre cuidados com alimentação específica, exercícios, higiene bucal, entre outros. Os proprietários de animais também poderão participar de campanhas educativas ministradas em forma de palestras gratuitas no centro de treinamento do hospital, com agendamento prévio, de acordo com informações de divulgação no sítio www.senamadureira.com. Outra novidade que faz parte do programa de prevenção dos animais vacinados é que os proprietários receberão brindes de acordo com a idade do animal. Proprietários de filhotes, por exemplo, receberão gratuitamente um DVD produzido com orientações e informações detalhadas sobre cuidados na fase inicial de vida e prevenção de doenças.

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Combate o mosquito maniose transmissor da Leish


Tecnologia a serviço da medicina veterinária

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Renalvet – Centro de Hemodiálise, nefrologia e diagnóstico veterinário passou a publicar vídeos na internet, no You Tube, com o objetivo de difundir a utilização da tomografia computadorizada e da hemodiálise. O acesso a eles pode ser feito pelo próprio sítio da Renalvet – www.renalvet.com.br, ou através do You Tube. Para se ter acesso a todos os vídeos publicados pela Renalvet no You Tube, basta utilizar o endereço www.youtube.com/user/marciorjrenalvet. Outra novidade da Renalvet é o lançamento do I Curso Anual de Atualização em Nefrologia da RENALVET SP. O curso abrange as principais áreas da nefrologia utéis no dia-à-dia do clínico veterinário, assim como novidades em diagnóstico e tratamento. As palestras serão ministradas por Marcio Bernstein, responsável pelos setores de nefrologia, tomografia computadorizada e medicina tradicional chinesa da Renalvet SP e

convidados, que serão médicos veterinários que estudam, investigam e atuam profissionalmente nos temas em questão. As palestras transmitem conhecimentos pragmáticos calçados em mecanismos fisiopatológicos recentes. O curso terá inicio em junho, com duração de 2 meses, contando com duas palestras semanais todas as quintas-feiras, entre as 19h30 e as 22h30, no Hotel Blue Tree, em São Paulo, SP. Renalvet SP: (11) 3875-2666 Email: renalvetsp@br.inter.net Temas abordados no curso de nefrologia: 1 - Anatomia fisiológica renal e fisiologia dos néfrons. 2 - O que realmente ocorre nos túbulos renais. 3 - Avaliação laboratorial da doença renal. 4 - Urinálise: porque este exame é o mais importante na avaliação de um nefropata? 5 - Adequação de fluidoterapia no paciente renal. 6 - Compreendendo a anemia do paciente renal. 7 - Diuréticos: quais, quando e como utiliza-los? 8 - Hipertensão arterial

www.youtube.com/user/marciorjrenalvet 9 - Hemodiálise e diálise peritoneal: Quando e porque indicar? 10- Diagnostico e tratamento da IRA e IRC com eficiência. 11 - Distúrbios eletrolíticos no paciente nefrológico. 12 - Cálculos: Prevenção e tratamento. 13 - Diagnóstico radiológico das patologias do sistema urinário 14- Endocrinopatias e doença renal. 15 - Transplante renal 16 - Cirurgias do sistema uro-nefrológico.



Legislação Prefeito em exercício sanciona lei que proíbe cães de aluguel em Curitiba/PR Lei 12.594, sancionada pelo prefeito em exercício Luciano Ducci no dia 2 de janeiro de 2008 e que foi publicada no dia 3 de janeiro de 2008 no Diário Oficial, dispõe sobre a proibição da locação, prestação de serviços, contratos de mútuo e comodato e cessão de cães para fins de guarda no Município de Curitiba, PR, e dá outras providências

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lei municipal que prevê o fim do aluguel de cães provocará efeito colateral no mercado de segurança. A possível troca de animais por humanos pode criar pelo menos 800 novos postos de trabalho, na conta do Sindicato dos Vigilantes de Curitiba e Região Metropolitana (SindiVigilantes). A mesma quantidade de vagas havia sido perdida no início da década, quando empresários da construção civil, industriais e mesmo proprietários de residências passaram a trocar vigilantes por cães de grande porte para proteção de imóveis. A atividade sempre foi contestada pelo sindicato. "O cão não cobra férias, 13º nem traz demandas trabalhistas. Mas só age por instinto e não substitui a presença física de um profissional treinado", afirma o presidente do SindiVigilantes, João Soares. Segundo Soares, a reserva do mercado na segurança privada é capaz de acomodar estas novas vagas – embora o setor esteja entre os que mais crescem no País, a uma taxa superior a 10% anuais. "A cada mês as escolas formam de 500 a 600 profissionais prontos para trabalhar", diz Soares.

A iniciativa partiu de ONGs de defesa de animais e do Ministério Público, que denunciaram maus tratos a que os cães eram submetidos, como falta de

Lei 12.594 Art. 1º . Fica vedado no Município de Curitiba a locação, prestação de serviços, contratos de mútuo e comodato e cessão de cães para fins de guarda. Art.2º. Entende-se por infratores desta Lei o proprietário dos cães, o proprietário do imóvel em que os animais estejam guardando ou vigiando, bem como todo aquele que contrate por escrito ou verbalmente, para se utilizar dos trabalhos de cães para fins de guarda. Art. 3º. Os infratores da presente Lei ficam sujeitos ao pagamento de multa pecuniária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) por animal. § 1º O valor da multa será dobrado na hipótese de persistência, progressivamente até a regularização da infração; § 2º Para os casos de persistência será considerado o período de vinte e quatro horas para a aplicação de nova penalidade; § 3º A aplicação da penalidade prevista neste artigo não exclui a aplicação de penalidades decorrentes de eventuais casos de maus-tratos causados aos animais, nos termos da legislação Federal, Estadual ou Municipal. Art. 4º. Das penalidades aplicadas por infração ao disposto nesta Lei será assegurado o direito de ampla defesa e ao contraditório ao infrator, nos seguintes termos: § 1º. Em primeira instância, Defesa Prévia, dirigida ao Diretor do órgão competente, no prazo de dez dias, a contar da ciência da penalidade aplicada, sem efeito suspensivo da ação fiscal; § 2º . Na hipótese de indeferimento da Defesa Prévia, no prazo de dez dias, a contar da ciência da decisão, caberá Recurso hierárquico dirigido ao Secretário Municipal competente, em última instância, sem efeito suspensivo da ação fiscal. Art. 5º. Decorrido o prazo de dez dias, sem que tenha sido efetuado o pagamento da multa, o valor da penalidade será encaminhado para inscrição em dívida ativa para efeito de cobrança executiva, com os acréscimos correspondentes. Art. 6º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Curso teórico-prático de cardiologia veterinária

Curso de laboratório clínico

Curso de endocrinologia

25 de maio; 8 e 22 de junho; 6 e 20 de julho horário: das 8h às 17h

25 de maio; 1, 8 15 22 e 29 de junho; 15 de julho horário: das 8h às 17h

30 de março; 13 e 20 de abril; 4 de maio

Palestrante: Profº Luciano Pereira Palestrantes: Profº Milton Kolber

- quadros congestivos; - exame físico; - tratamento; - eletrocardiograma Local: 2ª Batalhão de Polícia do Exército* Realização

Laboratório clínico no consultório: material necessário, instalações; hematologia clínica: eritrograma e leucograma; urinálise; bioquímica sérica; parasitologia veterinária; treinamento com exercícios Local: Instituto Biológico**

Informações e inscrições: fone: (11) 6995-9155 • fax: (11) 6995-6860 juna.eventos@uol.com.br - www.junaeventos.com

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água e comida. Quem desrespeitar a norma terá que pagar multa de R$ 500,00 (quinhentos reais), que dobra em caso de reincidência.

Curso de dermatologia 30 de março; 13 e 27 de abril; 4 de maio horário: das 8h às 12h

horário: das 8h às 12h

Palestrante: Profª Ana Claudia

Palestrante: Profª Deise Carla Almeida Leite Dellova Hipotireoidismo; terapia hormonal; diabetes; emergências; insulinoma; hiperadrenocorticismo; papel dos hormônios na insuficência renal Local: Instituto Biológico**

* 2º Batalhão da Polícia do Exército (BPE) Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco Trav.da Av.Getúlio Vargas - Osasco/SP

Balda Dermatologia; semiologia dermatológica; dermatites parasitárias e alérgicas; dermatofitoses e dermatomicoses; piodermites; dermatoses auto-imunes

Local: Instituto Biológico**

** Instituto Biológico Rua Conselheiro Rodrigues Alves 1252 - 4º andar Vila Mariana - São Paulo - SP (próximo a estação Ana Rosa do metrô)

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008



Saúde pública Febre amarela - vacinação criteriosa *

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epois das mais de 40 notificações de casos com suspeita de febre amarela silvestre – das quais 19 foram confirmadas e, dessas, dez terminaram em morte –, a doença deixou parte do país em estado de alerta. Tanto que Bio-Manguinhos, principal fornecedor da vacina contra a doença, decidiu produzir, até o fim do ano, 30 milhões de doses do imunizante. Somente em Goiás, onde ocorreram as dez mortes confirmadas pela doença, estão sendo aplicadas 200 mil doses por dia. Contudo, para Hermann Schatzmayr, do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), especialista na virologia de doenças como dengue e febre amarela, a vacinação deve ser criteriosa. “A vacinação em lugares que não têm a doença é desnecessária. Não há razão de se vacinar em centros como Rio e São Paulo, exceto quando os residentes nessas localidades viajarem para as áreas de risco. Há pessoas se revacinando, tomando três doses da vacina em dez dias, e isso é um grande risco. A vacina é feita de um vírus vivo e pode causar efeitos colaterais, os quais podem até levar a processos de meningite e encefalite, que podem ser fatais. Indivíduos imunodeprimidos, portadores de câncer ou do vírus HIV, podem ter mais problemas que os outros”, disse Schatzmayr à Agência FAPESP. Schatzmayr ressalta que o imunizante contra a febre amarela é uma vacina viva atenuada, como a da pólio, o que significa que ela é produzida a partir de um vírus modificado mantido em laboratório, daí o perigo em se promover a vacinação em áreas em que não há a circulação do vírus. “A vacinação deve ser feita em pessoas que moram em áreas de risco ou que vão viajar para uma delas”, afirmou.

Segundo ele, o que está ocorrendo no momento no Brasil é um fenômeno natural da doença. “A febre amarela não é uma doença humana por definição, isto é, ela não precisa do homem para sobreviver. Ela infecta primatas, que são reservatórios naturais da doença. Quando encontramos esses animais mortos é um sinal de que aumentou a circulação do vírus na natureza e muito provavelmente um novo ciclo de febre amarela está começando”, explicou. O virologista conta que a cada cinco ou oito anos há um aumento no número de casos de febre amarela em primatas e de mosquitos infectados. “Portanto, há uma maior tendência de pessoas que entram na mata sem vacinação serem infectadas, uma vez que há muito mais mosquitos portadores do vírus do que em outros tempos. Os casos atuais estão ocorrendo em pessoas que entraram nas áreas de risco sem vacinação”, disse. Mudanças ecológicas A febre amarela silvestre é transmitida de macacos para macacos pelos mosquitos dos gêneros Sabethes e Haemagogos, vetores que circulam na mata e tendem a viver nas copas das árvores. Por isso, transmitem a doença com muita eficiência aos primatas. E picam o homem eventualmente. Em 1972, na mesma região de Goiás mais afetada atualmente, houve um surto da doença que logo se tornou epidemia, ao se espalhar por outros municípios. Na época, foram registrados mais de 300 casos e 90 pessoas morreram. O problema, explica Schatzmayr, é que, com as mudanças ecológicas, os ciclos da doença, que antes eram constantes, passaram a

ser imprevisíveis, devido à mudança de comportamento das populações. Por isso, o mosquito começa a atingir o homem também. O vírus é agressivo ao fígado e ao sistema renal e atinge o sistema circulatório, provocando hemorragias internas, como a gástrica. Dessa maneira, acaba provocando a falência múltipla dos órgãos e a morte. O ciclo atual da doença podia ter sido previsto, na análise do pesquisador. “Há, todo ano, uma média de 30 casos registrados da doença. Nos últimos 12 anos tivemos 349 casos da doença, dos quais 161 pessoas morreram, o que significa cerca de 13 mortes ao ano. Houve uma baixa nos três últimos anos, quando ocorreram em média três mortes por ano. Essa baixa poderia nos fazer pensar que haveria um aumento em breve, seria um presságio de que os casos aumentariam”, observou. O que não se deve achar, segundo o pesquisador, é que isso somente ocorre no Brasil. “Na América do Sul, por exemplo, Peru e Bolívia têm mais casos de febre amarela ao longo do ano do que aqui – o primeiro registra em torno de 600 casos anuais e o segundo em torno de 200. A Nigéria tem todo ano cerca de 5 mil casos. O Brasil exporta vacinas para a América Latina e África, em um total de mais de 30 países”, disse. Schatzmayr observa que a situação atual e a falta de informação têm gerado uma confusão entre a febre amarela urbana e a silvestre. “O ciclo urbano começa quando um indivíduo chega à cidade infectado no ciclo silvestre e passa a infectar o mosquito Aedes aegypti – o mesmo vetor da dengue – e esse começa a transmitir o vírus em seu ciclo de vida de dois meses. Felizmente, a febre amarela urbana não existe mais no Brasil, foi erradicada em 1942”, disse. * Fonte: Agência FAPESP - www.agencia. fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8361

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23 a 25 de maio - Luminis Belo Horizonte - MG Realização: Anclivepa-MG www.anclivepa-mg.com.br Av. Raja Gabáglia, 3601, sala 106 São Bento - CEP 30350-540 Belo Horizonte / MG Telefax: (31) 3297 2282

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 73, março/abril, 2008



Saúde pública CCZ de Guarulhos, SP, investe em campanha de castração e na guarda responsável

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m Guarulhos, SP, uma iniciativa do Centro de Controle de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde, tem como objetivo ampliar de 40 para 600 o número de castrações realizadas por mês no CCZ. Inicialmente, as cirurgias começaram nos animais dos bairros Jardim Presidente Dutra, Bonsucesso, Jardim Maria Dirce, Parque Residencial Bambi e Ponte Alta, contemplando, em seguida, as outras áreas. Como a meta da prefeitura é incentivar a guarda responsável e reduzir a população animal, especialmente a que fica solta nas ruas, provocando doenças, acidentes de trânsito e sofrendo maus-tratos, justifica-se a seleção desses locais para o início do programa, pois levou-se em consideração o perfil epidemiológico da região e também o pouco acesso da população às clínicas veterinárias, além do excesso de animais soltos nas ruas. Para agendar uma castração em cão

ou gato, deve-se fazer o cadastro pelo telefone (11) 6436-3658, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h. Poderão ser castrados animais saudáveis, com idade mínima de três meses. Para fazer o cadastro e agendar a castração, o proprietário deve ter idade mínima de 18 anos, além de disponibilidade para levar o animal até o Centro de Controle de Zoonoses, onde deverá, obrigatoriamente, participar de uma palestra sobre guarda responsável. Deverá apresentar também documento de identidade, CPF e comprovante de residência. Todos os cães e gatos castrados serão registrados e vacinados contra a raiva. A medida é mais uma ação do programa de controle animal do Centro de Controle de Zoonoses de Guarulhos. Segundo explicou a médica veterinária Cristina Magnabosco, responsável pelo CCZ de Guarulhos, o programa de castrações gratuitas foi implantado porque

a eutanásia de animais sadios é uma prática comprovadamente ineficaz para o controle populacional e, além disso, não estimula a responsabilidade nos proprietários. “Com a oferta de cirurgias de castração em cães e gatos, a feira de adoção e programas educativos nas escolas e na comunidade, queremos conscientizar a população de que devemos cuidar dos animais com responsabilidade e respeito, já que estamos diante de uma vida”, destacou Cristina. As ações do CCZ de Guarulhos têm sido observadas por outros municípios. O prefeito de Porto Feliz, SP, Cláudio Maffei (PT), esteve em janeiro visitando o CCZ de Guarulhos. Ele tomou conhecimento da política de controle animal desenvolvida pela Secretaria Municipal de Saúde de Guarulhos, durante o Simpósio Vida Animal em Ambiente Urbano: Responsabilidade Social e Papel do Estado, promovido pela Unicamp, em outubro de 2007.



Bem-estar animal Humane Society Veterinary Medical Association (HSVMA) surge da fusão de duas entidades que protegem os animais: The Humane Society of the United States (HSUS) e Fonte: hsvma.org Association of Veterinarians for Animal Rights (AVAR)

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o dia 14 de janeiro a Humane Society of the United States (HSUS) e a Association of Veterinarians for Animal Rights (AVAR) anunciaram que os seus respectivos conselhos de diretores aprovaram um acordo que culminou em uma nova e poderosa organização, a Humane Society Veterinary Medical Association (HSVMA). A HSVMA dará aos veterinários, estudantes de veterinária e enfermeiros a oportunidade de participar de programas de bem-estar animal, incluindo a resposta a desastres, de castração e de advocacia legislativa, incluindo reformas em escolas de medicina veterinária. “Veterinários trazem uma credibilidade e autoridade especiais, no que diz respeito aos animais, e eu estou muito feliz em adicionar esta nova operação a família das organizações da HSUS,” disse Wayne Pacelle, presidente da HSUS e CEO. “Por 27 anos, AVAR tem sido uma voz importante. Agora nós seremos capazes de ampliar essa voz e expandir dramaticamente nossos programas relacionados com a veterinária.” “Por muitos anos, AVAR tem trabalhado com um numeroso grupo de dedicados advogados veterinários, mas nossa habilidade para alcançar os veterinários por todo o país foi dificultada pelos recursos limitados,” disse dra. Paula Kislak, presidente do conselho da AVAR. “Quanto mais a HSUS investir em recursos na advocacia veterinária, e nós combinamos nossos ativos com eles, eu antecipo que seremos capazes de capacitar muito mais veterinários nessa ampla causa de proteção aos animais”.

Há, aproximadamente 80.000 veterinários nos Estados Unidos, e 11.000 deles já estão apoiando a HSUS. Desde 2002, a HSUS operou com grande sucesso o programa de Serviços Veterinários na Área Rural (RAVS), prestando serviços gratuitos para animais e pessoas em comunidades afastadas geralmente sem veterinários. Em 2007, RAVS prestou mais de 30.000 tratamentos em animais. Mais de 700 estudantes veterinários por ano participam do programa RAVS, fornecendo assistência a animais necessitados e agregando experiências clínicas de muito valor aos estudantes. A HSUS também tem programas de colaboração muito importantes com as escolas veterinárias na Universidade de Louisiana e na Universidade do Mississipi. A AVAR, fundada em 1981, tem 3.500 veterinários filiados. O programa da entidade foca a redução de crueldade em animais utilizados no ensino, abrangendo os veterinários, enfermeiros e estudantes de veterinária; advocacia para animais de companhia e animais de produção; e educação para outros protetores de animais e questões veterinárias. A entidade publicou duas cartas – uma em alternativas para o uso de animais na educação veterinária, a qual é distribuída três vezes por ano para os estudantes de medicina veterinária nas escolas de veterinária da América do Norte, e a outra, uma carta geral, mandada para os veterinários, estudantes de veterinária e simpatizantes. Ambos os grupos expressaram uma longa frustração pela posição tomada Tr a b a l h o s d e s e n v o l v i d o s • Curso de capacitação em cirurgias de esterilização minimamente invasiva • Curso de capacitação em educação humanitária • Consultoria para Prefeituras, Empresas e ONG’s • Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA)

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com base na indústria pela Associação Americana da Medicina Veterinária (AVMA). A AVMA está do lado oposto dos protetores dos animais ou neutros em uma grande variedade de abusos em animais que são inaceitáveis, incluindo o abate de cavalos para consumo humano, o continuado uso de cachorros e gatos em pesquisas, crueldade com patos e gansos na produção foie gras, o confinamento de bezerros, criação de porcos, e galinhas poedeiras em pequeníssimos engradados e gaiolas. “Muito frequentemente, a AVMA fica do lado das indústrias que usam animais, e não do lado dos animais,” disse Pacelle. “Como pode um veterinário, que faz o juramento de cuidar dos animais, não falar contra a alimentação forçada dos patos para foie gras ou do confinamento dos bezerros em engradados tão pequenos que os animais não conseguem nem se virar? A Humane Society Veterinary Medical Association será a voz para a vasta maioria de veterinários não serem empregados de indústrias que maltratam os animais.” HSMVA continuará o trabalho veterinário da HSUS e da AVAR e explorará novos programas, oferecendo benefícios para os veterinários praticantes e estudantes que acabaram de começar a medicina veterinária em faculdades dos Estados Unidos. Veterinários, enfermeiros, estudantes, e outras profissões associadas no campo da veterinária são encorajadas a visitar o sítio humanesociety.org/vets e interagir com as propostas da nova entidade, a HSVMA. ISTA

ASS

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008

Documentário te si disponível no



Complexo granuloma eosinofílico felino

Gustavo Seixas Dias Médico veterinário autônomo dermatopet@gmail.com

Lissandro Gonçalves Conceição MV, prof. adj. Clinica Médica de Pequenos Animais, DVT/UFV

Feline eosinophilic granuloma complex

lissandro@ufv.br

Complejo granuloma eosinofílico felino Resumo: O complexo granuloma eosinofílico felino, que atualmente vem sendo denominado “dermatoses eosinofílicas felinas”, representa um grupo de padrões de reações cutâneas, que inclui a placa eosinofílica; o granuloma eosinofílico; a úlcera indolente; e uma variante atípica, a hipersensibilidade à picada de mosquito. Embora comumente vista em gatos, esta síndrome permanece pouco compreendida. Existe grande controvérsia em relação à etiologia e à terminologia das lesões. Os achados histopatológicos são variáveis e podem alterar-se de acordo com a cronicidade da lesão. A correlação entre anamnese, achados físicos e a histopatologia é essencial para o diagnóstico. As lesões, uma vez identificadas, devem ser tratadas de acordo com a causa base suspeita, evitando-se assim as freqüentes recidivas. Unitermos: Dermatologia, hipersensibilidade, úlcera Abstract: The feline eosinophilic granuloma complex, which is nowadays generically called “feline eosinophilic dermatoses", is a group of cutaneous reaction patterns. These include the eosinophilic plaque, the eosinophilic granuloma, the indolent ulcer and the mosquito bite hypersensitivity, which is an atypical variety. Although commonly seen in cats, this syndrome remains poorly understood. There is great controversy regarding the etiology and terminology of the lesions. The histopathological findings are variable and may change with the chronicity of the wounds. Correlation between the anamnesis, clinical signs and histopathology is essential to achieve the diagnosis. Once identified, lesions must be treated according to the suspected primary disease, thereby avoiding recurrence. Keywords: Dermatology, hypersensitivity, ulcer Resumen: El complejo granuloma eosinofílico felino, actualmente conocido como “dermatosis eosinofílicas felinas”, representa un grupo de modelos de reacciones cutáneas, que incluye la placa eosinofílica, el granuloma eosinofílico, la úlcera indolente y una variante atípica, la hipersensibilidad a las picaduras de mosquitos. Aunque esto sea comúnmente visto en gatos, este síndrome parece poco comprendido. Existe una gran controversia con relación a la etiología y terminología de las lesiones. Los resultados histopatológicos son variables y pueden cambiar con la cronicidad de la lesión. La correlación entre anamnesis, síntomas físicos y histopatología es esencial para el diagnóstico. Las lesiones, una vez identificadas, deben ser tratadas de acuerdo con la causa primaria encontrada, evitándose las recurrencias. Palabras clave: Dermatología, hipersensibilidad, úlcera

Clínica Veterinária, n. 73, p. 26-34, 2008

Introdução O complexo granuloma eosinofílico felino (CGEF), grupo de enfermidades que ainda permanece pouco compreendido apesar dos contínuos estudos e dos progressos obtidos na área, é constituído por padrões de reações cutâneas freqüentemente vistos em gatos 1,2. As controvérsias existentes com relação a essa síndrome são decorrentes da escassez de conhecimento sobre sua etiologia e da inexistência de consenso quanto à terminologia a ser utilizada. 2,3,4 O CGEF inclui lesões cutâneas, mucocutâneas e da cavidade oral de gatos, e comumente é utilizado como diagnóstico final quando, na verdade, existe uma etiologia primária. 4,5 Tradicionalmente, são identificadas três lesões: a úlcera indolente, a placa eosinofílica e o granuloma eosinofílico. 5 Uma quarta apresentação atípica tem sido incluída nessa síndrome: a hipersensibilidade à picada de mosquito. 6,7 Tais lesões são agrupadas em conjunto porque podem ocorrer no mesmo paciente 26

(concomitante ou seqüencialmente) e responder à mesma terapia. 1,3,5 O papel dos eosinófilos Os principais eventos envolvidos na patogenia das lesões incluídas no CGEF são o recrutamento e a degranulação de eosinófilos 8, que representam o principal tipo celular presente nos tecidos e, em alguns casos, no sangue periférico de gatos com CGEF. Os eosinófilos produzem mediadores como o leucotrieno C4, fator de ativação plaquetária, e as lipotoxinas, que contribuem para a reação alérgica aguda. Além disso, tais células participam do processo de inflamação crônica, pelo desenvolvimento de fibrose decorrente da produção da citotoxina TGF-beta. 3 Os grânulos dos eosinófilos contêm proteínas, que regulam a inflamação e são ativas na destruição de parasitas extracelulares. 4 Nos gatos, os mastócitos são freqüentemente associados aos eosinófilos nos epitélios, e têm participação central na atração química e na ativação eosinofílica.

Uma vez sensibilizados, os mastócitos podem se tornar hiper-reativos e degranular ao menor estímulo, como pressão e trauma. Mastócitos e eosinófilos são os responsáveis pela suposta “necrose de colágeno” – encontrada na histopatologia das lesões do CGEF –, que atuará como um corpo estranho, podendo calcificar e ser eliminada pela epiderme em direção à superfície cutânea. Basicamente, as lesões se apresentam como placas ou nódulos ulcerados e, nesse estágio, até mesmo a eliminação da causa não resultaria necessariamente em rápida resolução clínica. Além disso, qualquer infecção bacteriana, irritação química ou mecânica, ou estímulos alérgicos, podem exacerbar o processo. 9 Etiologia A etiologia do CGEF permanece desconhecida. Muitas hipóteses surgiram nos últimos vinte anos sobre as possíveis causas desse agravo. Entretanto, em muitos casos o diagnóstico do CGEF permanece como idiopático. 10 Foram encontradas evidências histológicas da presença de bactérias filamentosas em um gato com granuloma eosinofílico oral. No estudo mencionado, o organismo não foi cultivado mas sua localização profunda no corte histológico sugeriu tratar-se de um agente anaeróbio. A administração de metronidazol resultou em melhora parcial da lesão. 11 Uma vez que a antibioticoterapia resolve ou melhora significativamente algumas lesões, a infecção bacteriana é citada como possível agente etiológico. 5 Todavia, a resposta aos antibióticos pode ser devida aos efeitos imunomoduladores inespecíficos, e não às propriedades antibacterianas destes. 3,9 Partículas virais foram encontradas nos cortes histológicos de um gato com granuloma eosinofílico. Contudo, nesse achado o vírus não foi considerado como um possível agente causador,

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SPF (livres de patógenos específicos) em uma colônia de reprodução fechada, levou à hipótese de predisposição hereditária, que causaria falhas na regulação da atividade eosinofílica, levando ao desenvolvimento dessas lesões. Os gatos não apresentaram doenças primárias detectáveis, mas o curso sazonal intermitente das lesões sugere a presença de um possível evento desencadeador não identificado. 3 A predisposição genética ajudaria a explicar porque apenas poucos gatos desenvolvem lesões do CGEF, embora os estímulos precipitantes sugeridos anteriormente sejam bastante comuns. 10

Figura 2 - “Gato queixudo” ou “edema de queixo felino”. A tumefação na região mentoniana é uma manifestação do granuloma eosinofílico Vanessa Pimentel de Faria

Placa eosinofílica A placa eosinofílica felina é uma lesão cutânea comum em gatos, e acomete principalmente animais da faixa etária de dois a seis anos, sem predileção por raça ou sexo 2. As lesões são alopécicas, eritematosas, e ocorrem pela coalescência de pequenas pápulas erosivas que formam uma placa elevada, bem circunscrita e

Figura 1 - Apresentação típica do granuloma eosinófilico. Placa eritematosa de configuração linear na face posterior do membro pélvico direito Lissandro Gonçalves Conceição

Apresentação clínica Granuloma eosinofílico Também denominado “granuloma linear” ou “granuloma colagenolítico”, o granuloma eosinofílico é observado principalmente em gatos jovens 3,4,9, sendo duas vezes mais comum em fêmeas 2. As lesões podem variar consideravelmente em aparência 4. A apresentação clássica do granuloma eosinofílico ocorre como uma placa de configuração linear na face caudal ou medial dos membros posteriores ou, menos comumente, na lateral do tronco (Figura 1). Entretanto, essa forma pode se apresentar como lesões ulceradas ou nodulares, únicas ou agrupadas, que se desenvolvem em qualquer local do corpo, incluindo os coxins 3. Outros locais de apresentação são a face, particularmente o lábio inferior (gatos beiçudos) e o queixo (gatos de queixos gordos ou edema felino do queixo) (Figura 2), a língua e o palato 5. A linfadenopatia periférica é achado comum. As lesões não são pruriginosas, e muitas vezes são assintomáticas 3,5,9. O diagnóstico diferencial de granulomas eosinofílicos nodulares inclui a reação a corpos estranhos, abscessos, granuloma estéril, infecção fúngica profunda, esporotricose e neoplasias 3.

Lissandro Gonçalves Conceição

sugerindo que a contaminação de lesões cutâneas por vírus possa se constituir em um complicador do tratamento e da resolução da lesão. 12 Também foi sugerido que o CGEF é um fenômeno auto-imune devido à presença de auto-anticorpos antiepiteliais séricos, demonstrados em um estudo de gatos com úlcera indolente. Entretanto, os danos epidérmicos causados pelo CGEF podem eventualmente ocasionar a liberação de auto-antígenos alterados, que poderiam estimular o sistema imunológico do animal. 13 Recentemente, demonstrou-se que o alérgeno Felis domesticus I (Feld I), presente na saliva e nos pêlos felinos, e importante causa de asma em humanos, pode auto-sensibilizar gatos e contribuir para a patogênese do CGEF. Sugeriu-se que gatos que apresentam problemas comportamentais que resultem em lambedura intensa possam danificar a epiderme devido à superfície áspera de suas línguas, resultando na penetração de Feld I na pele. Isto desencadearia reações alérgicas mediadas por IgE ou intensificaria reações inflamatórias já presentes. Todavia, esse mecanismo explicaria apenas as lesões pruriginosas do CGEF com trauma auto-infligido, pois o Feld I deve penetrar a pele para representar um estímulo antigênico. 14 As evidências de causas alérgicas são fortes, e incluem hipersensibilidade alimentar, atopia, dermatite alérgica a pulgas e hipersensibilidade à picada de mosquitos. 9 Em levantamento sobre manifestações de alergia em gatos, o CGEF foi encontrado em 5,5% dos animais que apresentavam hipersensibilidade a pulgas, 12,5% dos pacientes com atopia e 14,3% daqueles com hipersensibilidade alimentar. 15 A placa eosinofílica e a dermatite à picada de mosquito são basicamente reações de hipersensibilidade. 4,5,6 Entretanto, uma causa alérgica definitiva para o granuloma eosinofílico é documentada com menor freqüência. A úlcera indolente, quando ocorre em conjunto com outras lesões cutâneas, é associada a uma causa alérgica; já quando presente como lesão solitária, a causa inicial é mais difícil de ser encontrada. 3 Estudo realizado com um grupo de gatos que apresentavam alta incidência de granuloma eosinofílico e úlcera indolente, criados sob sistema de biossegurança

Figura 3 - Placa eosinofílica em localização característica. Nota-se a coalescência de pápulas eritematosas formando lesão extensa em placa

brilhante (Figura 3). Os locais comumente acometidos incluem as regiões inguinal, perineal e lateral dos membros posteriores. 3,4,16 As lesões também podem se desenvolver nas regiões umbilical, axilar, umeral – face cranial – 3,

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abrangem todo o lábio superior, causando distorção severa da arquitetura facial 3. Os diagnósticos diferenciais para a úlcera indolente incluem neoplasias, infecções bacterianas profundas e infecções fúngicas sistêmicas 3. Hipersensibilidade à picada de mosquito Uma forma sazonal clinicamente distinta do complexo granuloma eosinofílico felino foi descrita em 1984, e posteriormente sua etiologia foi determinada como hipersensibilidade à picada de mosquito. 6,7 Uma ampla variação na severidade da apresentação clínica é vista, possivelmente devido à densidade da população de mosquitos em determinadas áreas, ao grau de sensibilidade inerente a cada indivíduo, e ao ponto de evolução do quadro no momento em que o animal é apresentado para avaliação. São vistas múltiplas lesões pápulocrostosas na porção pilosa da região da ponte nasal, que, em gatos severamente acometidos, pode estar ulcerada. As lesões podem se apresentar também na região de rarefação pilosa pré-auricular, nas pinas, no carpo e próximas aos coxins. Não se pode afirmar se outros insetos ou artrópodes podem iniciar a reação cutânea comprovadamente causada por mosquitos. 6,7,16 Em gatos moderadamente acometidos, os diagnósticos diferenciais são poucos; já naqueles severamente acometidos, a manifestação clínica pode se assemelhar ao granuloma eosinofílico e ao pênfigo foliáceo 3.

Úlcera indolente A também chamada “úlcera eosinofílica” – ou “úlcera do roedor” – é uma lesão cutânea, mucocutânea ou da mucosa oral comum em gatos 5. É observada em animais de qualquer idade, e não apresenta predileção racial; porém, há evidente predileção sexual, uma vez que em fêmeas a incidência é três vezes maior que em machos 2. As lesões tendem a ocorrer no lábio superior, e não é raro que a úlcera inicie em oposição a um dente canino (Figura 4) 16. É bem circunscrita, ulcerada, de cor vermelhoamarronzada, brilhante e com bordas elevadas 5. A palavra indolente significa “que causa pouca dor”; assim, apesar da aparência, essas lesões parecem causar pouco desconforto aos animais afetados 2. As úlceras indolentes variam em tamanho, desde insignificantes até aquelas que

Vanessa Pimentel de Faria

Figura 4 - Úlcera indolente acometendo bilateralmente o lábio superior

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Diagnóstico A anamnese e os achados físicos são importantes para o diagnóstico do CGEF, e sua correlação com outros testes é essencial para se atingir o diagnóstico definitivo. Raspados cutâneos e citologia de lesões são práticos e ajudam a eliminar outras causas incluídas no diferencial. Muitos pacientes podem apresentar grande quantidade de eosinófilos no exame citológico (Figura 5). 4 Entretanto, infecções secundárias podem complicar os resultados, com neutrófilos e bactérias em quantidades maiores que os eosinófilos 19. Se bactérias intracelulares estiverem presentes, antibióticos devem ser administrados como terapia primária. O achado de bactérias em forma de bastonetes na citologia

Lissandro Gonçalves Conceição

e também acometer as margens palpebrais – uni ou bilateralmente 17. O desenvolvimento da lesão é agudo e pode ocorrer repentinamente. O prurido é intenso e, normalmente, precede o aparecimento da lesão. Gatos acometidos podem lamber a lesão constantemente, o que agrava a sua apresentação clínica. 3 Placas eosinofílicas vistas em associação com a dermatite miliar podem ser lesões alérgicas agravadas por trauma auto-infligido, uma vez que histologicamente as lesões são similares, diferindo em severidade 18. A placa eosinofílica pode se assemelhar a outras doenças, como o granuloma eosinofílico, a dermatofitose ou o pênfigo foliáceo. O adenocarcinoma metastático, embora raro, pode ter aparência clínica semelhante à da placa eosinofílica. 3

Figura 5 - Citologia coletada por decalque cutâneo demonstrando infiltrado inflamatório com predominância de eosinófilos

indica a necessidade de confecção de cultura e antibiograma para o caso. 4 O hemograma completo é útil, uma vez que algumas lesões podem estar associadas à eosinofilia periférica. Em estudo no qual foi avaliada uma amostra de 312 gatos com eosinofilia, constatouse CGEF em dezesseis animais (5%), dos quais oito apresentavam placa eosinofílica, seis granuloma eosinofílico e dois úlcera indolente. Observaram-se maiores contagens de eosinófilos nos casos de placa eosinofílica. 20 Entretanto, em investigação sobre o grau de eosinofilia e o número de eosinófilos ativados (visíveis ultra-estruturalmente pelas alterações de degranulação gradativa), verificou-se que não existe correlação entre as duas variáveis propostas. Assim, os autores sugerem que a contagem não se constitui em critério confiável para avaliar o envolvimento dos eosinófilos sangüíneos no dano tecidual encontrado nas doenças felinas associadas a eosinófilos. 21 Histopatologia As características histopatológicas das diferentes lesões do CGEF são relatadas extensivamente na literatura, existindo grande variedade de descrições microscópicas para as lesões 2,5,16. Placa eosinofílica Observam-se dermatite perivascular hiperplástica superficial e profunda com eosinofilia, até dermatite eosinofílica intersticial ou difusa. 5 São encontradas as chamadas “figuras em chama”, pequenos focos na derme, onde fibras colágenas estão circundadas por eosinófilos e cobertas com agregados de grânulos eosinofílicos e material eosinofílico amorfo, levando a um aspecto intumescido e

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granular. 22 Espongiose difusa e microvesículas também podem ser vistas. 5 As características histológicas das placas eosinofílicas são similares, e mais severas do que aquelas vistas na dermatite miliar felina, que apresenta dermatite eosinofílica leve ou moderada, com espongiose focal, necrose e ulceração focal em alguns casos. 18 Granuloma eosinofílico Observa-se dermatite granulomatosa nodular a difusa, com áreas multifocais de “degeneração colágena”. Notam-se também foliculite e furunculose eosinofílica. 5 Em alguns casos, os eosinófilos e as células gigantes histiocíticas multinucleadas são comuns, formando uma reação granulomatosa em paliçada ao redor das figuras em chama. 8 Úlcera indolente A histopatologia revela dermatite hiperplástica perivascular a intersticial superficial, com predomínio de neutrófilos e células mononucleares com dermatite fibrosante. 5 O infiltrado eosinofílico e

os “focos de colagenólise” são menos proeminentes do que na placa eosinofílica. 8 Úlceras recentes (com menos de 96 horas após o aparecimento) demonstram infiltrado celular composto principalmente por eosinófilos; em úlceras com desenvolvimento entre três dias e três semanas, podem ser vistos pequenos “focos de colagenólise”; nos casos crônicos (com mais de três semanas), as características predominantes são o infiltrado celular rico em células mononucleares e neutrófilos, com fibrose dérmica. 3,9 A úlcera indolente pode, em alguns casos, ter aparência idêntica a um granuloma eosinofílico. 2 Hipersensibilidade à picada de mosquito Os achados histológicos são típicos de hipersensibilidade à picada de insetos. Observam-se infiltrado eosinofílico intradérmico e formação de micropústulas, necrose epidérmica focal, espongiose, celulite eosinofílica com infiltrado variável de mastócitos e linfócitos. Um achado menos freqüente é o

granuloma necrobiótico (eosinofílico) em paliçada. 23 Há, portanto, grande similaridade dos achados histológicos desta lesão com aqueles descritos nas demais lesões do CGEF. 7 Em estudo recente sobre a caracterização histopatológica das lesões clássicas do CGEF, relata-se a visualização de figuras em chama ou os focos de “degeneração colágena” em todos os cortes observados (nove placas eosinofílicas, três úlceras indolentes e doze granulomas eosinofílicos). Com base nessas informações, os autores afirmam que as características histopatológicas do CGEF não são sempre indicativas dos aspectos clínicos ou vice-versa, e que as três lesões clássicas do complexo são indistingüíveis histopatologicamente. No mesmo estudo, relata-se que as lesões microscópicas podem progredir de um infiltrado eosinofílico para figuras em chama, posteriormente para grandes focos de “degeneração colágena”, e então para reações granulomatosas ao redor dessas estruturas. A progressão histopatológica das lesões sugere que o estádio

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da doença no qual a biópsia é realizada é crucial para o quadro microscópico. Isso pode explicar a dificuldade de definir características específicas para cada apresentação clínica do CGEF. 8 A histopatogênese das figuras em chama e dos grandes focos de “degeneração colágena” permanece incerta e as duas alterações parecem ter a mesma estrutura histológica, embora em diferentes dimensões. Em estudo com cortes histológicos de granulomas eosinofílicos, demonstrou-se que anormalidades de coloração de colágeno, visíveis pelo método de tricrômico de Masson, não caracterizaram alterações nas fibras colágenas envolvidas nas áreas de “degeneração colágena”. Sugeriu-se que tais focos representam fibras colágenas cobertas por produtos granulares eosinofílicos. Em vista disso, foi proposto evitar o uso do termo “degeneração colágena” para designar os debris eosinofílicos observados nos cortes corados com hematoxilina-eosina. Especulou-se que a degeneração colágena não está envolvida na patogênese das lesões 22, como se acreditava desde as primeiras descrições histológicas relatadas 24. Como proposto nesse estudo, o termo “figuras em chama” deve ser empregado para designar tanto os pequenos quanto os grandes focos de “degeneração colágena”. 22 Estudos de cortes histológicos de lesões do CGEF realizados com o auxílio de microscopia eletrônica demonstraram que as chamadas “figuras em chama” são constituídas de eosinófilos sofrendo degranulação citolítica e gradual ao redor de fibrilas colágenas inalteradas ultra-estruturalmente. Notou-se que o edema, com separação de feixes colágenos, é proeminente. As áreas examinadas ultra-estruturalmente revelam fibras colágenas rompidas, embora as fibrilas colágenas individuais não se apresentem danificadas. Isso sugere que o colágeno não é a estrutura-alvo primariamente danificada nessa doença, mas um participante desavisado, tornando-se parcialmente danificado, envolvido no meio de produtos granulares eosinofílicos. No estudo, todos os eosinófilos encontrados apresentavam sinais de degranulação (citolítica ou gradativa), e os macrófagos com grânulos eosinofílicos intracitoplasmáticos foram observados. Em vista disso, especulou-se que o 30

recrutamento e a degranulação de eosinófilos seja o evento primário na patogênese das lesões. Sugeriu-se novamente que os termos “colagenólise” e “degeneração colágena” não são apropriados para reportar às figuras em chama observadas em cortes histológicos. 25 Tratamento Confirmado o diagnóstico de CGEF baseado nos achados clínico-patológicos, deve-se proceder ao plano terapêutico. O grande número de opções terapêuticas recomendadas para o CGEF reflete as consideráveis dificuldades no tratamento das lesões nele incluídas, mesmo quando a causa primária é conhecida ou suspeita. 26 Pode-se optar por manter o paciente sob observação sem tratamento, uma vez que em alguns casos nota-se resolução espontânea das lesões de granuloma eosinofílico em gatos com menos de um ano de vida. 27 O tratamento estabelecido com base na etiologia é essencial, e reduz a freqüência de recidivas. Tendo as dermatopatias alérgicas como etiologia das lesões, a terapia deve ser direcionada a tais desordens (controle de pulgas para a dermatite alérgica a pulgas, dietas hipoalergênicas para a hipersensibilidade alimentar, e imunoterapia para controlar a dermatite atópica). 2,3 No caso de suspeita de hipersensibilidade à picada de insetos, o simples confinamento do gato dentro de casa ao entardecer e durante a noite pode resolver o problema. Glicocorticóides são administrados quando necessário. O uso de repelentes no plano nasal, pinas e patas é de pouca valia, pois gatos não toleram bem produtos tópicos e lambem-se logo em seguida à aplicação. 28,29 O tratamento da placa eosinofílica pode incluir, além de terapias sistêmicas específicas, o manejo das lesões de forma similar àquele realizado nos casos de dermatites piotraumáticas caninas. Gatos com lesões muito exsudativas demonstram melhores respostas aos tratamentos com uso de colar elizabetano, limpeza da lesão com clorexidine e aplicação de pomada antibiótica local (por exemplo, creme de mupirocina). 19 Os gatos, ao contrário dos cães, freqüentemente necessitam de terapia antiinflamatória específica para a resolução de doenças alérgicas, e não somente a

simples eliminação do estímulo alérgico desencadeante. 3 Os glicocorticóides sistêmicos são as drogas mais utilizadas para tratar as lesões do CGEF e, na maioria dos casos, são bastante eficientes. Os gatos apresentam menores quantidades de receptores esteroidais que a maior parte dos outros animais, incluindo os humanos; portanto, necessitam de doses maiores que as outras espécies. 2 A literatura registra grande variedade de protocolos terapêuticos cuja base são os glicocorticóides. A prednisona pode ser administrada, por via oral, em dose de 4-5mg/kg, SID, com subseqüente redução de dose. A administração de triancinolona pode ser intralesional, na dose de 6mg/cm3 de lesão, semanalmente, ou ainda 0,5-0,75mg/kg, SID, por via oral, com posterior aumento do intervalo entre doses. O acetato de metilprednisolona pode ser administrado por via intramuscular na dose de 4-4,4mg/kg (máximo de 20mg por gato), a cada duas ou três semanas, totalizando três doses no máximo 2,3,4,9. O uso de acetato de metilprednisolona é útil em gatos que têm acesso a áreas externas à casa 30. Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 podem ser adjuvantes na terapia com glicocorticóide, reduzindo a dosagem dos últimos 5. O uso de antibióticos orais pode promover redução e, em alguns casos, remissão completa de úlceras indolentes e granulomas eosinofílicos. 4 Placas eosinofílicas apresentam-se contaminadas por infecções bacterianas secundárias e, muitas vezes, respondem bem à simples antibioticoterapia oral 30. A cefalexina, que tem boa penetração em tecidos com inflamação granulomatosa, é particularmente útil no tratamento de úlceras indolentes, se administrada na dose de 22mg/kg, BID. 2 Outros antibióticos utilizados incluem o trimetoprim-sulfadiazina (30mg/kg, BID) e a amoxicilinaácido clavulânico (12,5mg/kg, BID). 9 Não se sabe se a resposta aos antibióticos constatada está relacionada ao efeito antimicrobiano destes ou a alguma propriedade antiinflamatória não-específica. 4 A doxiciclina é uma tetraciclina que tem sido descrita como eficiente no tratamento da pododermatite plasmocítica felina e do CGEF. Seu modo de ação é desconhecido, mas estudos sobre o uso das tetraciclinas em dermatoses humanas mencionam possíveis influências

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desses antibióticos no sistema imune. Os efeitos citados incluem a inibição da fagocitose, a degranulação e quimiotaxia dos neutrófilos; a inibição da produção de anticorpos e ativação do complemento C3, e a inibição da síntese de prostaglandinas, lipases e colagenases. Dentre as tetraciclinas, a doxicilina é a que apresenta menor frequência de efeitos colaterais, e a dose recomendada é de 20mg diários para um gato de cinco quilos, por quatro semanas. A partir de então, a dose pode ser reduzida, ou pode-se optar pela pulsoterapia. 26 Independentemente da conduta terapêutica adotada, o CGEF deve ser tratado por um período mínimo de três a seis semanas, antes de se tentar a terapia com outro agente. Muitos casos com lesões crônicas extensas apresentam resposta lenta ao tratamento e não demonstram melhora significativa em pelo menos quatro semanas. 31 As drogas imunomoduladoras são opções terapêuticas relatadas no tratamento de lesões do CGEF. Em um estudo no qual 50 gatos foram tratados com levamisol ou com vacina bacteriana mista (VBM), 26 (52%) obtiveram remissão completa da lesão e 17 (34%) apresentaram pelo menos 50% de regressão da lesão. Em média, a resposta à VBM foi de 87%, com duração de seis a oito semanas de terapia; a resposta ao levamisol foi de 82%, em doze a dezesseis semanas. Nos dois casos, a taxa de recidivas variou de 44% a 50% dentro de seis meses após o término da terapia.

O mecanismo de imunomodulação desses agentes pode estar relacionado à ativação de células supressoras e subseqüente supressão da resposta imune humoral. 16 Como imunomodulador, o levamisol é administrado na dosagem de 5mg/kg, três vezes por semana, até que tenha ocorrido 75% a 100% de regressão da lesão (em quatro a seis semanas). A partir de então, sua administração é semanal, por pelo menos duas semanas. O tiabendazol em dosagem de 5-10mg/kg pode ser administrado de maneira similar ao levamisol. 31 Embora se tenha demonstrado que as lesões do CGEF respondem aos imunomoduladores, não se recomenda a utilização desses agentes como terapia primária da doença. 16 Seu uso deve ser cauteloso em gatos, pois tais drogas promovem sérios efeitos colaterais, como supressão de medula óssea. 19 Outras terapias, associadas ou não à corticoterapia, têm sido propostas. Dentre elas, destacam-se o clorambucil (0,12mg/kg a cada 24 ou 48 horas, por via oral) e a ciclofosfamida (1mg/kg, SID, por via oral, quatro vezes por semana). A crisoterapia com aurotioglicose (1mg/kg, por via intramuscular, em aplicações semanais até a remissão, e então mensalmente), apresentou efeitos benéficos no tratamento de úlceras indolentes. 3 Novas terapias têm sido propostas recentemente. A ciclosporina A, administrada por via oral na dose de 5-10mg/kg, SID, por quatro a oito semanas – e então

em esquema de dias alternados –, é uma droga promissora para o tratamento do CGEF, graças à sua capacidade de inibir a inflamação eosinofílica das vias aéreas em um modelo felino de asma atópica experimentalmente induzida. 10 O interferon alfa-2a pode ser administrado oralmente (30-60 unidades por gato, SID) por trinta dias consecutivos, ou em semanas alternadas. Demonstrou-se que o uso de interferon alfa inibe a liberação de proteínas granulares de eosinófilos humanos. 10 Apenas a úlcera indolente parece apresentar boa resposta a essa dispendiosa terapia, que deve ser objeto de estudos mais aprofundados, para se adequar os protocolos terapêuticos 26. O palmidrol (PLR-120), um modulador da degranulação de mastócitos, foi estudado em gatos com granuloma e placa eosinofílicos. A dose utilizada foi de 10mg/kg, VO, BID, durante um mês, havendo melhora no grau de severidade e extensão das lesões em 66% dos animais. Embora pareça encorajador, a taxa de cura com o protocolo utilizado foi de apenas 6%. Um estudo controlado prolongado é necessário para averiguar se o uso contínuo ou o ajuste de dosagens dessa droga poderia levar a uma taxa de resolução satisfatória. 32 No passado, a radioterapia era um tratamento comum para gatos com CGEF. Entretanto, essa técnica é limitada pela disponibilidade de equipamentos próprios para uso, locais de aplicação e fatores econômicos. 31 Aproximadamente

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31


30% a 50% dos granulomas eosinofílicos que não apresentaram melhora com a terapia médica convencional, curamse após radioterapia, em frações semanais de 300 a 500 rads, aplicadas por um período de quatro a oito semanas. 33 Técnicas criocirúrgicas têm sido utilizadas com sucesso variável para tratar lesões cutâneas malignas e benignas, incluindo o granuloma eosinofílico. As desvantagens da técnica incluem alterações locais de pigmentação, demora na resolução da lesão (a cicatrização é por segunda intenção) e formação de cicatrizes. 34 A excisão cirúrgica geralmente é utilizada como adjunto à terapia médica ou como auxílio no diagnóstico, por biópsia cutânea 31. Relata-se o tratamento cirúrgico convencional nos casos de úlceras indolentes e granulomas eosinofílicos focais. Todavia, esse procedimento pode resultar em deformidades no lábio. 4 O acetato de megestrol também é utilizado como alternativa terapêutica nas formas refratárias de CGEF: na dose de 2,5 a 5mg por animal, pela via oral, a cada 48 horas, até a resolução. O intervalo entre as doses pode, então, ser ampliado para administrações semanais ou quinzenais. 9 No entanto, esse tratamento deve ser evitado por força dos efeitos colaterais, que podem se manifestar como polidpsia e poliúria, ganho de peso, hiperplasia fibroadenomatosa de glândulas mamárias (que pode se tornar irreversível após a suspensão da terapia), piometra, desordens de comportamento (letargia, agressão, docilidade), supressão adrenocortical (que pode persistir por semanas após a terapia) e Diabetes mellito irreversível. 3,4,19,31 Discussão sobre a terminologia Os registros da literatura apontam o consenso: a denominação 'complexo granuloma eosinofílico felino' é um termo amplo e etiologicamente não-específico 2,3,8,18. Teoricamente, essas lesões foram arbitrariamente agrupadas porque podem demonstrar uma reação eosinofílica e granulomatosa 27, podem se desenvolver – conjunta ou seqüencialmente – no mesmo animal, e respondem basicamente à mesma terapia 1,2,4,5. Ocorre maior equívoco na terminologia pelo uso de sinônimos para as lesões, como “úlcera do roedor” e “úlcera eosinofílica” para indicar a úlcera indolente, e “granuloma linear” e 32

“granuloma colagenolítico”, referindose ao granuloma eosinofílico. 27 Não há um critério exato na nomenclatura das lesões: para algumas utiliza-se a definição do ponto de vista clínico (por exemplo: úlcera indolente); para outras, do ponto de vista histopatológico (por exemplo: granuloma eosinofílico). 3 Finalmente, o termo “complexo” deveria incluir lesões similares devido a várias causas ou agentes, como na otite externa ou na pododermatite, o que não é o caso do CGEF. 27 Talvez seja prudente adotar a designação proposta por Power e Ihrke em 1995, unificando as lesões sob uma só terminologia: “dermatoses eosinofílicas felinas”. Isso seria apropriado tanto sob o ponto de vista clínico quanto sob o ponto de vista histopatológico 3. Entretanto, outros autores afirmam que a caracterização do CGEF, ou “dermatoses eosinofílicas felinas”, não deve ser feita tomando os eosinófilos tissulares como critério diagnóstico fundamental e negligenciando os aspectos clínicos 8. Considerações finais Apesar das diversas nomenclaturas e das incertezas quanto à sua etiologia, o médico veterinário clínico deve ter em mente que o CGEF não é um diagnóstico, e sim um padrão dermatológico reacional. Uma vez estabelecido o “diagnóstico” da lesão, o sucesso terapêutico dependerá da identificação e eliminação da causa primária. Estudos demonstram que, apesar de poderem ser desencadeadas por diversos fatores etiológicos, as dermatoses alérgicas são uma das principais e mais freqüentes causas do CGEF. Para o diagnóstico destas, como de conhecimento geral, deve-se seguir um protocolo de eliminação das causas mais pertinentes (dermatite alérgica à picada de pulgas, hipersensibilidade alimentar e dermatite atópica), para que então a causa base seja controlada e, com isso, as manifestações do CGEF. Dessa forma, evita-se o uso repetitivo da corticoideterapia nos pacientes felinos que, apesar de mais tolerantes a esse protocolo que os cães, não se encontram livres de seus efeitos colaterais. A expressão “complexo granuloma eosinofílico felino” é antiga e vaga. Trata-se de um grupo de lesões crônicas inflamatórias que afetam a pele, as mucosas ou as junções mucocutâneas dos

gatos. Talvez seja prudente a adoção da terminologia “dermatoses eosinofílicas felinas”, mais apropriada tanto do ponto de vista clínico quanto do histopatológico. Com o contínuo avanço em pesquisas sobre o CGEF, espera-se obter novas e esclarecedoras informações para a compreensão da etiologia e patogênese das lesões. Esse conhecimento possibilitará o desenvolvimento de uma alternativa terapêutica segura e efetiva para essa desordem. Agradecimentos Agradecemos à dra. Vanessa Pimentel pela concessão das figuras 3 e 4. Referências 01-MERCHANT, S. R. Diagnosis of feline skin disease based on cutaneous reaction patterns. Compendium of Continuing Education for the Practicing Veterinarian. v. 16, p. 163-172, 1994. 02-SONG, M. D. Diagnosing and treating feline eosinophilic granuloma complex. Veterinary Medicine. v. 89, p. 1141-1145, 1994. 03-POWER, H. T. ; IHRKE, P. J. Selected feline eosinophilic skin diseases. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice. v. 25, n. 4, p. 833-850, 1995. 04-ROSENKRANTZ, W. S. Feline eosinophilic granuloma complex. In: GRIFFIN, C. E. ; KWOCHKA, K. W. ; McDONALD, J. M. Current veterinary dermatology. Saint Louis, Mosby Year Book, p. 319-324, 1993. 05-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Miscellaneous skin diseases. In: SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Muller & Kirk's small animal dermatology. 6. ed. Philadelphia, Saunders, p. 1125-1183, 2001. 06-MASON, K. V. ; EVANS, A. G. Mosquito bite-caused eosinophilic dermatitis in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association. v. 198, p. 2086-2088, 1991. 07-WILKINSON, G. T. ; BATES, M. J. A possible further clinical manifestation of the feline eosinophlic granuloma complex. Journal of the American Animal Hospital Association. v. 20, p. 325-331, 1984. 08-FONDATI, A. ; FONDEVILA, D. ; FERRER, L. Histopathological study of feline eosinophilic dermatoses. Veterinary Dermatology. v. 12, n. 6, p. 333-338, 2001. 09-MASON, K. ; BURTON, G. Eosinophilic granuloma complex. In: GUAGUÉRE, E. ; PRÉLAUD, P. (Eds), A Practical Guide to Feline Dermatology. Paris, Merial. p. 121-129, 1999. 10-FONDATI, A. Feline Eosinophilic Skin Diseases. Proceedings of the 27th WSAVA Congress, 2002. Página da internet acessada em 15/09/2004. http://www.vin.com/proceedings/Proceedings.pl x?CID=WSAVA2002&PID+2544 11-RUSSEL, R. G. ; SLATTUM, M. M. ; ABKOWITZ, J. Filamentous bacteria in oral eosinophilic granuloma of a cat. Veterinary Pathology. v. 25, n. 3, p. 249-250, 1988. 12-NEUFELD, J. L. ; BURTON, L. ; JEFFERY, K. R. Eosinophilic granuloma in a cat: recovery of

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Padrões dermatohistopatológicos no diagnóstico dermatológico

Juliana Werner Médica veterinária, MS Lab. Patologia Veterinária Werner & Werner laboratório@werner.vet.br

Dermatopathological patterns in dermatologic diagnosis Patrones dermato-histopatológicos en el diagnóstico dermatológico Resumo: A determinação do padrão dermatohistopatológico é essencial para o diagnóstico histopatológico das doenças de pele. Os padrões dermatohistopatológicos mais importantes são: dermatites espongiótica, pustular intra-epidérmica, de interface, perivascular, liquenóide e nodular/difusa; foliculite, paniculite e dermatose atrófica. Uma vez determinado o padrão dermatohistopatológico e conhecendo o histórico clínico do paciente, o dermatopatologista veterinário poderá concluir o diagnóstico da doença de pele, confirmando ou descartando a suspeita clínica, ou mesmo sugerir outras possibilidades diagnósticas. Assim como é importante que o patologista tenha conhecimento da clínica dermatológica para aprimorar seus diagnósticos, é de grande valia para o clínico veterinário conhecer os padrões histopatológicos das doenças de pele para maior compreensão da anatomofisiopatologia das dermatopatias em pequenos animais. Unitermos: Veterinária, dermatologia, biópsia, histopatologia, pele Abstract: Determination of the histological pattern is essential for histopathological diagnosis of skin diseases. The most important dermatopathological patterns found in the veterinary routine are: spongiotic dermatitis, intradermal pustular dermatitis, interface dermatitis, perivascular dermatitis, lichenoid dermatitis, nodular/diffuse dermatitis; foliculitis, paniculitis and atrophic dermatosis. Pattern determination and clinical history of the patient are fundamental to produce a final diagnosis for the skin disease, which can either confirm or discard the clinical suspicion, or even suggest other diagnostic possibilities. Knowledge about the histopathological patterns of skin diseases is an important tool to understand the anatomophysiopathology of dermathopathies. Keywords: Veterinary, dermatology, biopsy, histopathology, skin Resumen: La determinación del patrón dermato-histopatológico es esencial en el diagnóstico histopatológico de las enfermedades de piel. Los patrones dermato-histopatológicos más importantes son, a saber: las dermatitis espongiótica, intradérmica pustular, de interfase, perivascular liquenoide y nodulares o difusas; las foliculitis, las paniculitis, y la dermatosis atrófica. Una vez determinado el patrón dermato-histopatológico y conociendo la historia clínica del paciente, el dermatopatólogo podrá llegar a un diagnóstico final para la enfermedad de piel, confirmando o descartando la sospecha clínica, o podrá mismo sugerir otras posibilidades de diagnóstico. Así como es importante que el patólogo detenga conocimientos en clínica dermatológica para perfeccionar sus diagnósticos, también es importante que el clínico veterinario conozca los patrones dermato-histopatológicos de enfermedades de piel para mejor comprender la anatomofisiopatología de las dermatopatías en pequeños animales. Palabras clave: Veterinaria, dermatología, biopsia, histopatología, piel

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Introdução A dermatopatologia é uma especialidade da anatomopatologia e, na medicina veterinária, está em franco desenvolvimento. Felizmente, a sua importância na dermatologia clínica está sendo reconhecida por cada vez mais clínicos veterinários. O diagnóstico correto é o primeiro passo para o sucesso da terapia das doenças de pele. Existem vários procedimentos, tanto clínicos quanto laboratoriais, que são bastante úteis no estabelecimento do diagnóstico correto da dermatopatia. A combinação dos procedimentos necessários para o diagnóstico irá variar de acordo com o caso e de acordo com a experiência do clínico 1. Apesar do diagnóstico das formas 38

mais clássicas de doenças de pele, na maioria das vezes, depender apenas do reconhecimento das suas características clínicas e epidemiológicas, as dermatopatias mais complexas necessitam de um conjunto de informações obtidas por meio do exame físico minucioso e de testes laboratoriais. Nesse grupo de métodos de diagnóstico, os exames citopatológico e histopatológico são muito indicados. O exame citopatológico permite melhor visualização dos detalhes citoplasmáticos e nucleares das células envolvidas na lesão, mas o exame histopatológico permite visualização da estrutura e arquitetura tissulares, o que o torna muito mais preciso que o exame citológico das dermatopatias 2. Os resultados obtidos com a histopatologia

adicionam informações importantes sobre a condição dermatológica do paciente, mesmo em casos em que não se chegue a um diagnóstico exato. Muitas vezes a causa específica da doença dermatológica não pode ser identificada por meio do exame histopatológico de um fragmento de pele, porém é possível categorizar a dermatopatia genericamente e proporcionar ao clínico veterinário direcionamento para a instituição de novos exames complementares e da terapia mais adequada. Quase sempre, a primeira indicação de que o animal apresenta sinais cutâneos simultâneos de mais de uma doença é dada pelo dermatopatologista 3. A pele é o órgão mais acessível do organismo, oferecendo grande facilidade para a realização de biópsia cutânea para exame histopatológico 4. Para o sucesso na realização de uma biópsia, é necessário saber quando e como realizá-la, qual lesão deve ser retirada para o exame histopatológico e o que fazer com o fragmento de pele obtido. Todas essas informações são de extrema importância, pois podem exercer grande influência no diagnóstico histopatológico 5. As alterações histológicas observadas em um fragmento de pele permitem classificar as dermatopatias em doenças inflamatórias, displásicas, degenerativas, tumorais neoplásicas e tumorais não neoplásicas 6. Este artigo visa familiarizar os clínicos com os principais padrões de lesões tegumentares, para auxiliá-los na interpretação do laudo dermatohistopatológico e na utilização de todas as informações nele contidas, subsidiando a confecção diagnóstica e o estabelecimento de protocolos terapêuticos e prognósticos. Principais padrões dermatohistopatológicos da epiderme Dermatite espongiótica A dermatite espongiótica é caracteri-

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Dermatite de interface A dermatite de interface é a expressão morfológica dos eventos patológicos que têm como alvo a junção dermoepidérmica. Nesse tipo de doença inflamatória da pele, algumas células da camada basal da epiderme e da porção infundibular do epitélio folicular apresentam degeneração hidrópica e/ou apoptose (Figura 3). Existe ainda infiltrado inflamatório leve a moderado que oblitera a junção dermo-epidérmica 6,7. As dermatopatias que têm a dermatite de interface como padrão histopatológico predominante são o lúpus eritematoso discóide, o lúpus eritematoso sistêmico, o eritema multiforme e a farmacodermia 7. Doenças de pele com cornificação anormal A queratinização faz parte da cornificação e constitui-se em processo geneticamente programado para que o

Dermatite espongiótica Juliana Werner

Padrão histopatológico:

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Dermatite de contato alérgica, dermatite atópica, hipersensibilidade alimentar, malasseziose, placa eosinofílica felina Figura 1 - Malasseziose. Notar a separação dos queratinócitos pelo edema (seta) e a evidenciação dos desmossomos (Hematoxilina e Eosina. Obj. 40x)

Dermatite pustular intra-epidérmica Juliana Werner

Padrão histopatológico:

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Impetigo, pênfigo foliáceo, farmacodermia pustular superficial

Figura 2 - Farmacodermia pustular superficial. Notar o grande acúmulo intra-epidermal de neutrófilos (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 5x)

Dermatite de interface Padrão histopatológico: Juliana Werner

Dermatite pustular intra-epidérmica As doenças pustulares são caracterizadas pela formação de pústulas, que podem atingir desde uma única camada até todas as camadas da epiderme (Figura 2). As pústulas resultam da quebra da integridade dos queratinócitos pela espongiose ou pela acantólise, assim como do acúmulo de células inflamatórias que migram dos vasos sangüíneos da derme subjacente em resposta à presença de agentes infecciosos ou de lesão da epiderme. As pústulas podem conter neutrófilos, eosinófilos e queratinócitos necróticos ou acantolíticos 6. As principais dermatopatias que têm a dermatite pustular intra-epidérmica como padrão histopatológico predominante são o impetigo, o pênfigo foliáceo e a farmacodermia pustular superficial 7.

PADRÕES DERMATOHISTOPATOLÓGICOS

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Lúpus eritematoso discóide, lúpus eritematoso sistêmico, eritema multiforme e farmacodermia Figura 3 - Eritema multiforme. Notar a degeneração hidrópica da camada basal (seta) e os abundantes queratinócitos necróticos em todas as camadas da epiderme (ponta de seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 20x)

Hiperqueratose epidermal/ folicular Padrão histopatológico: Juliana Werner

zada por edema do espaço intercelular da epiderme e do epitélio folicular (Figura 1). Geralmente, a migração de células inflamatórias na epiderme (exocitose) é acompanhada de espongiose que, quando muito severa, pode levar à formação de vesículas intra-epidermais 6. As principais dermatopatias que podem ter a dermatite espongiótica como padrão histopatoló-gico predominante são a dermatite de contato alérgica, a dermatite atópica, a hipersensibilidade alimentar, a malasseziose e a placa eosinofílica felina 6.

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Seborréia primária, dermatite seborréica, dermatose responsiva à vitamina A, comedos actínicos, calo, dermatose responsiva a zinco Figura 4 - Dermatose responsiva à vitamina A. Notar a intensa ortoqueratose lamelar epidermal e a severa hiperqueratose infundibular, com dilatação do óstio folicular (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 5x)

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Dermatite liquenóide A dermatite liquenóide é caracterizada pela presença de infiltrado inflamatório superficial lamelar ou em banda, que 40

Dermatite perivascular Juliana Werner

Padrão histopatológico:

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Dermatite atópica/ hipersensibilidade alimentar, dermatite de contato alérgica, dermatite alérgica à saliva de pulga, erupção alérgica urticariforme, dermatite miliar felina, escabiose Figura 5 - Erupção alérgica urticariforme. Notar o edema e o acúmulo de leucócitos ao redor dos vasos sangüíneos (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 10x)

Dermatite liquenóide Juliana Werner

Padrão histopatológico:

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Lúpus eritematoso discóide, síndrome úveo-dermatológica, dermatose liquenóide psoriasiforme Figura 6 - Lúpus eritematoso discóide. Notar, na derme superficial, o infiltrado inflamatório monomorfonuclear em banda (seta), que oblitera a junção dermo-epidérmica. (Hematoxilina e Eosina. Obj. 10x)

Dermatite nodular/ difusa Padrão histopatológico: Juliana Werner

Principais padrões dermatohistopatológicos da derme Dermatite perivascular O padrão inflamatório perivascular reflete os eventos que ocorrem quando os vasos sangüíneos da derme respondem a um estímulo inflamatório (Figura 5). Assim sendo, a dermatite perivascular é um dos padrões mais comuns das doenças inflamatórias da pele, já que qualquer dermatopatia inflamatória, em alguma fase, irá apresentar esse padrão 8. Nas dermatites perivasculares agudas serão observados proeminência dos vasos sangüíneos da derme devido à hiperemia; edema, que é reconhecido pela separação dos feixes de colágeno da derme e pela dilatação dos vasos linfáticos; e presença de leucócitos nas margens dos vasos sangüíneos ou se acumulando no tecido conjuntivo da derme adjacente aos vasos. Já nas dermatites perivasculares crônicas será observada proeminência dos vasos sangüíneos da derme devido ao acúmulo de células inflamatórias, com predominância de macrófagos, linfócitos e plasmócitos 7. As dermatopatias que têm a dermatite perivascular como padrão histopatológico predominante são a dermatite atópica, a hipersensibilidade alimentar, a dermatite de contato alérgica, a dermatite alérgica à saliva de pulga, a erupção alérgica urticariforme, a dermatite miliar felina e a escabiose 6,7.

PADRÕES DERMATOHISTOPATOLÓGICOS

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Granuloma lepróide canino, pseudomicetoma dermatofítico, pseudomicetoma bacteriano, furunculose, histiocitose cutânea reacional, granuloma eosinofílico felino Figura 7 - pseudomicetoma bacteriano. Notar o intenso infiltrado inflamatório piogranulomatoso ao redor de reação de Splendore-Hoeppli (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 10x)

Foliculite pustular Padrão histopatológico: Juliana Werner

queratinócito da camada basal da epiderme amadureça e morra, produzindo a camada córnea. Doenças de pele com cornificação anormal geralmente são caracterizadas pelo acúmulo anormal de queratina na epiderme e nos folículos pilosos superficiais (Figura 4). A hiperqueratose é o aumento da camada córnea e, tecnicamente, pode ser classificada quanto à persistência ou não do núcleo do queratinócito como paraqueratótica e ortoqueratótica, respectivamente 6. Seguem algumas das principais dermatopatias que têm a cornificação anormal como padrão histopatológico predominante: seborréia primária, dermatite seborréica, dermatose responsiva à vitamina A, comedos actínicos, calo e dermatose responsiva a zinco 6.

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Foliculite bacteriana, pênfigo foliáceo, dermatofitose, pustulose eosinofílica estéril

Figura 8 - Pênfigo foliáceo folicular. Notar a formação de pústula intra-epitelial folicular composta por neutrófilos e queratinócitos acantolíticos (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 40x)

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008


Principais padrões dermatohistopatológicos dos folículos pilosos Foliculite pustular A foliculite pustular é caracterizada pela formação de pústulas no epitélio do folículo piloso. As pústulas resultam da quebra da integridade dos queratinócitos pela espongiose ou pela acantólise (Figura 8), assim como do acúmulo de células inflamatórias que migram dos vasos sangüíneos da derme subjacente em resposta à presença de agentes infecciosos ou lesão do folículo piloso. As pústulas podem conter neutrófilos, eosinófilos e queratinócitos acantolíticos 6. As dermatopatias que têm a foliculite pustular como padrão histopatológico são: foliculite bacteriana, pênfigo foliáceo, dermatofitose e pustulose eosinofílica estéril 6. Foliculite mural A foliculite mural é caracterizada por

Foliculite mural Juliana Werner

Padrão histopatológico:

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Demodiciose, dermatofitose, alopecia areata, dermatopatias alérgicas, farmacodermia

Figura 9 - Demodiciose. Notar a presença de Demodex sp. no folículo piloso (ponta de seta) e a infiltração de linfócitos no epitélio folicular (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 20x)

Displasia folicular Juliana Werner

Padrão histopatológico:

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Displasia folicular canina, alopecia sazonal do flanco, alopecia por diluição da cor

Figura 10 - Displasia folicular. Notar os folículos pilosos tortuosos contendo hastes de pêlos mal formadas e adelgaçadas (seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 10x)

Dermatose atrófica Padrão histopatológico: Juliana Werner

Dermatite nodular/difusa As dermatites em padrão nodular e/ou difuso são facilmente reconhecidas histopatologicamente pois a derme é obliterada pela infiltração inflamatória na qual os leucócitos formam nódulos ou faixas difusas (Figura 7). Na maioria dos casos, as lesões são uma combinação de lesões nodulares e difusas, sendo que o tipo de leucócito predominante no infiltrado é de grande ajuda para o diagnóstico etiológico da doença (granulomatosa e piogranulomatosa, eosinofílica, linfocítica ou plasmocítica e neutrofílica) 7. As principais dermatopatias que têm a dermatite nodular/difusa como padrão histopatológico predominante são o granuloma lepróide canino, o pseudomicetoma dermatofítico, o pseudomicetoma bacteriano, a histiocitose cutânea reacional, o granuloma eosinofílico felino, a esporotricose e a criptococose 7.

PADRÕES DERMATOHISTOPATOLÓGICOS

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Hiperglucocorticoidismo (hiperadrenocorticismo), hipotireoidismo, hiperestrogenismo, alopecia X, alopecia Figura 11 - Hiperglucocorticismo. Notar a severa atrofia do epitélio folicular infundibular (seta) e a ausência de hastes de pêlos no folículo piloso. (Hematoxilina e Eosina. Obj. 10x)

Paniculite septal e lobular Padrão histopatológico: Juliana Werner

se localiza logo abaixo da junção dermo-epidérmica (Figura 6). A dermatite liquenóide pode ocorrer com ou sem lesão das células da camada basal (dermatite de interface) 6. As dermatopatias que têm a dermatite liquenóide como padrão histopatológico predominante são: piodermite mucocutânea, lúpus eritematoso discóide, síndrome úveodermatológica e dermatose liquenóide psoriasiforme 6.

Possível de ser encontrado nas seguintes doenças: Paniculite pós-injeção, paniculite traumática, paniculite nodular idiopática estéril

Figura 12 - Paniculite pós-injeção. Notar o infiltrado inflamatório, tanto em padrão lobular (seta) quanto em padrão septal (ponta de seta). (Hematoxilina e Eosina. Obj. 10x)

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reação inflamatória direcionada ao epitélio folicular infundibular, istmal ou bulbar 6 (Figura 9). As dermatopatias que têm a foliculite mural como padrão histopatológico são a demodiciose, a dermatofitose, a alopecia areata, as dermatopatias alérgicas e a farmacodermia 6. Displasia folicular As doenças displásicas dos folículos pilosos e glândulas associadas são caracterizadas por desenvolvimento e crescimento anormais dessas estruturas (Figura 10). Ressalte-se que, aqui, o termo “displasia” não tem qualquer relação com lesão pré-neoplásica. Nesse padrão lesional, a displasia anexal é caracterizada basicamente por distorção de folículos pilosos, formação inadequada de hastes de pêlos e deposição anormal de melanina 6. As dermatopatias que têm a displasia folicular como padrão histopatológico predominante são: displasia folicular canina, alopecia sazonal do flanco e alopecia por diluição da cor 6. Dermatose atrófica A dermatose atrófica é caracterizada principalmente por alterações atróficas observadas nos folículos pilosos e anexos e, menos freqüentemente, na derme e na epiderme (Figura 11). As lesões histológicas típicas das dermatoses atróficas são: sinais de inatividade folicular (predomínio de folículos em fase telógena e catágena); atrofia folicular; hiperqueratose ortoqueratótica, atrofia epidermal (principalmente do epitélio infundibular); dilatação do infundíbulo folicular que contém poucas ou nenhuma hastes de pêlo; atrofia de glândulas sebáceas; atrofia da derme; e hiperpigmentação da epiderme. É importante ressaltar que, apesar das dermatoses atróficas tipicamente não exibirem padrão lesional inflamatório, lesões inflamatórias podem ser observadas associadas a lesões secundárias que poderão

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obstruir o padrão atrófico. Além disso, ocasionalmente, o padrão atrófico pode ser o estágio final de uma dermatopatia originalmente inflamatória como, por exemplo, a adenite sebácea, o lúpus eritematoso e a alopecia areata 7. As dermatopatias que têm a dermatose atrófica como padrão histopatológico predominante são: hiperglucocorticoidismo (hiperadrenocorticismo), hipotireoidismo, hiperestrogenismo, alopecia X e alopecia por tração 6,7. Principais padrões dermatohistopatológicos do panículo adiposo Paniculite septal/lobular O panículo é a parte da gordura subcutânea que fica entre a derme e a fáscia muscular. Ele é dividido em lóbulos de adipócitos por septos de tecido conjuntivo que contêm nervos, vasos sangüíneos e linfáticos. A paniculite, tradicionalmente, é dividida em três grupos anatômicos: paniculite lobular (os lóbulos de tecido adiposo são o alvo principal da reação inflamatória), paniculite septal (lesões localizadas no tecido conjuntivo interlobular) e paniculite difusa (tanto os lóbulos adiposos quanto os septos são afetados pela reação inflamatória) 6,7,8 (Figura 12). As dermatopatias que têm a paniculite como padrão histopatológico predominante são a paniculite pós-injeção, a paniculite traumática e a paniculite nodular idiopática estéril 6,7. O quadro “Padrões dermatohistopatológicos” ilustra, na coluna da esquerda, fotomicrografias de cortes histológicos de pele na coloração de hematoxilina e eosina de Harris dos principais padrões dermatopatológicos. Na coluna da direita estão listadas as principais doenças de pele que exibem aquele padrão lesional. Considerações finais O exame histopatológico de um

fragmento de pele tem como principal objetivo a determinação do padrão lesional histológico da doença, que permite confirmar ou descartar a suspeita clínica, propor outras possibilidades diagnósticas ou, muitas vezes, fechar o diagnóstico da doença de pele. A histopatologia das dermatopatias apresenta grande capacidade informativa e diagnóstica para o clínico veterinário que se encontra frente a uma doença de pele. Porém, por ser um método diagnóstico minucioso e, muitas vezes, extremamente subjetivo, depende diretamente da experiência do patologista em dermatopatologia, da qualidade da amostra enviada para o exame histopatológico e da troca de informações entre o clínico e o patologista. Referências 1-KRULL, E. A. ; BABEL, D. E. Diagnostic procedures of the skin. Part two: Skin biopsy and other tests. Journal of Family Practice, v. 3, n. 4, p. 427-431, 1976. 2-AITKEN, M. L. ; PATNAIK, A. K. Comparison of needle-core (trucut) biopsy and surgical biopsy for the diagnosis of cutaneous and subcutaneous masses: a prospective study of 51 cases (November 1997 - August 1998). Journal of the American Animal Hospital Association, New York, v. 36, n. 2, p. 153-157, 2000. 3-LANGHAM, R. F. ; SCHIRMER, R. G. Value of histopathologic examination in diagnosis of dermatologic disorders of small animals. Journal of American Veterinary Medical Association, v. 153, n. 12, p. 1754-1758, 1968. 4-PINKUS, H. Skin biopsy: a field of interaction between clinician and pathologist. Cutis, v. 20, n. 5, p. 609-614, 1977. 5-ANGARANO, D. W. Biopsies of the skin and mucous membranes. Seminars in Veterinary Medicine and Surgery (Small Animal), v. 8, n. 4, p. 235-238, 1993. 6-GROSS, T. L. ; IHRKE P. J. ; WALDER E. J. ; AFFOLTER V. K. Skin diseases of the dog and cat: clinical and histopathologic diagnosis. 2. ed. Blackwelll Publishing, 2005. 932p. 7-YAGER, J. A. ; WILCOCK, B. P. Color atlas and text of surgical pathology of the dog and cat: dermatopathology and skyn tumors. London: WolfeMosby - Year Book Europe, 1994. 320p. 8-ACKERMAN, A. B. Histologic diagnosis of inflamatory skin diseases. 2. ed. Baltimore: Willians & Wilkins, 1997. 944p.

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Clínica Veterinária, Ano XIX, n. 109, março/abril, 2014


Sorologia negativa e PCR positiva: a importância da biologia molecular para o diagnóstico de leptospirose aguda em um cão

Maria Ângela Teixeira MV, MSc Centro Diagnóstico Marcos Enrietti - CDME mateixeira@seab.pr.gov.br

Maria Luíza L. Gonçalves Médica veterinária CDME marialuiza@brturbo.com.br

Irina N. Riediger Farmacêutica e bioquímica Laboratório Central do Estado do Paraná - LACEN iriediger@yahoo.com.br

Negative serology and positive PCR: the importance of molecular biology in the diagnosis of acute leptospirosis in a dog

Christiane Seraphim Prosser Médica veterinária autônoma Universidade Federal do Paraná christianeprosser@yahoo.com.br

Simone Ferreira Couto e Silva

Serología negativa, PCR positiva: la importancia de la biología molecular en el diagnóstico de la leptospirosis aguda en un perro

Médica veterinária Centro Diagnóstico Marcos Enrietti - CDME

Resumo: Este relato exemplifica o uso da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) para o diagnóstico de leptospirose em um cão da raça boxer, macho, de 5 anos de idade, com insuficiência renal aguda e negativo ao teste de microaglutinação. O cão apresentava apatia, vômitos biliares, febre, alterações na bioquímica sérica e no hemograma, hematúria, cilindrúria e densidade urinária de 1,016. À necropsia e ao exame histopatológico foram encontradas alterações compatíveis com sepse. Microrganismos semelhantes a Leptospira spp foram isolados do fígado em meio Fletcher. Uma fração do DNA – extraída dos rins, da urina e do fígado – foi amplificada com primers específicos para um fragmento do gene 16SrRNA do gênero Leptospira, e outra para um fragmento do gene secY de leptospiras patogênicas. Amplicons do tamanho esperado foram obtidos no fígado e no rim. Assim, a PCR pode ser utilizada como ferramenta diagnóstica mais sensível que a sorologia na leptospirose aguda. Unitermos: Insuficiência renal, zoonoses, leptospira

Patrícia Regina Erdmann Mosko

simonefcsilva@seab.pr.gov.br

Sônia Maria Biesdorf Médica veterinária, MSc CDME smbiesdorf@seab.pr.gov.br

Médica veterinária Clinivet patricia1804@hotmail.com

Hélio Autran de Morais MV, PhD, prof. ass. Universidade de Wisconsin demorais@svm.vetmed.wisc.edu

Abstract: This article reports the use of the Polymerase Chain Reaction (PCR) in the diagnosis of leptospirosis in a 5-year-old male boxer with acute renal failure and negative to the microscopic agglutination test. The dog showed apathy, biliary vomiting, fever, altered serum biochemical and leukogram values, hematuria, casts and urine specific gravity of 1.016. Necropsy and histopathological results were compatible with sepsis. Microorganisms resembling Leptospira spp were isolated from the liver in Fletcher medium. DNA was extracted from kidneys, urine, and liver and amplified with specific primers for a fragment of Leptospira spp 16SrRNA gene and a fragment of the secY gene of pathogenic leptospira. Amplicons of the expected size were obtained from liver and kidney samples. In conclusion, PCR is a much more sensitive diagnostic tool when compared to serological testing, providing a definitive diagnosis in cases of acute leptospirosis. Keywords: Renal failure, zoonosis, leptospira

Alexander Welker Biondo MV, PhD, prof. adj. I Universidade Federal do Paraná abiondo@uiuc.eduxra

Resumen: Este relato ejemplifica el uso de la Reacción en Cadena de Polimerasis (PCR) en el diagnóstico de leptospirosis en un perro de raza boxer, macho, de 5 años, con insuficiencia renal aguda, negativo en la técnica de microaglutinación. El perro presentaba apatía, vómitos biliares, dolor abdominal, fiebre, alteraciones en los valores bioquímicos y en el hemograma, hematuria, cilindruria y densidad urinaria de 1,016. En la necroscopia y en el examen histopatológico fueran observadas alteraciones compatibles con sepsis. Microorganismos similares a Leptospira spp fueron aislados del hígado en medio de Fletcher. Se extrajo DNA de hígado, riñones y orina y se amplificó con primers específicos para un fragmento del gen 16SrRNA de Leptospira spp y otro fragmento del gen secY de leptospiras patogénicas. Se obtuvieron amplicones del tamaño esperado en hígado y riñón. Finalmente, el PCR puede ser usado como una herramienta de diagnóstico más sensible que el diagnóstico serológico en los casos de leptospirosis aguda. Palabras clave: Insuficiencia renal, zoonosis, leptospira

Clínica Veterinária, n. 73, p. 44-48, 2008

Introdução A Leptospira é uma bactéria gramnegativa, aeróbica classificada como Spiroqueta, da família Leptospiraceae 1. A leptospirose é uma doença infecciosa re-emergente causada pela Leptospira interrogans e pela L. kirschneri. Trata-se de doença cosmopolita, associada a diversos surtos em seres humanos no sudeste da Ásia 44

e em países como a Nicarágua, o Brasil, a Índia, e os Estados Unidos 2,3. São suscetíveis à doença os mamíferos domésticos e selvagens, além do homem. A doença é mantida na natureza pela infecção crônica dos túbulos renais dos hospedeiros e reservatórios, com a maioria dos sorovares se multiplicando nos rins e sendo eliminada na urina 2,3,4.

Fisiopatologia Após a penetração por meio de lesões – no epitélio ou nas mucosas –, as leptospiras multiplicam-se rapidamente na corrente sangüínea. Elas então se espalham pelo organismo e distribuemse por vários órgãos como rins, fígado, baço, olhos, órgãos do sistema nervoso central e trato genital, nos quais continuam a se multiplicar. O aumento da

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008


NOTÍCIAS concentração de anticorpos circulantes promove a remoção das espiroquetas da maioria dos órgãos acometidos, mas os microrganismos podem persistir nos rins e ser eliminados pela urina por semanas a meses e, em alguns casos, anos 3,5. A Agener União realizou nos dias severidade das lesões varia conforme a 21 e 22 de setembro de 2013 o virulência da leptospira e a suscetibiIV Simpósio Agener União – lidade do hospedeiro. Alguns sorovares Neurologia Veterinária, com o prof. dr. tendem a causar hemorragia aguda, Ronaldo Casimiro da Costa (MV, MSc, insuficiência hepática e, na maioria das PhD, Dipl. ACVIM – Neurologia). Fovezes, insuficiência renal. É sabido que ram 16 horas dedicadas a vasto conteúinfecções em hospedeiros acidentais do sobre importantes tópicos da neurotendem a produzir uma forma de inlogia veterinária presentes tanto no fecção clínica muito mais séria do que atendimento clínico quanto cirúrgico. aquela que se desenvolve nos hospedeiO dr. Ronaldo Casimiro da Costa é ros habituais 3,4,6. professor e chefe do Serviço de NeuroA viabilidade da Leptospira spp no logia e Neurocirurgia Veterinária da ambiente é dependente do clima, da The Ohio State University, em Columdensidade populacional e do grau de bus, EUA, e referência mundial em contato entre reservatórios e hospedeineurologia veterinária, ministrando paros acidentais 3,4,7. As condições ideais lestras em congressos internacionais, para a manutenção da leptospira – onde como ocorreu no Congresso do Coléela pode permanecer viável durante gio Americano de Cirurgiões Veterinávários meses – são: água estagnada rios (ACVS), em outubro de 2013, no com pH neutro a levemente alcalino, Texas, EUA. associado a temperatura elevada, entre No IV Simpósio Agener União, o 28 °C e 30 °C 3,6. professor começou sua apresentação frisando conceitos básicos da neuroloAchados clínicos gia veterinária: “É comum ouvir dizer A leptospirose clássica é uma doença que neurologia é muito difícil e combifásica com uma fase aguda ou leptosplicada. Este dogma tem se disseminapirêmica, seguida por uma fase imune, do e talvez por isso a neurologia é frecaracterizada pela produção de anticorquentemente deixada por último plano pos e pela presença de leptospirúria. A nos currículos acadêmicos. O fato é fase leptospirêmica pode persistir por que a neurologia não é mais difícil ou até uma semana após a infecção e, mais fácil que outras especialidades, durante este período, podem ocorrer mas requer, diferentemente de outras febre, depressão, mialgia e inflamação áreas, que se aborde o paciente iniciandos túbulos renais 3,4,6. do pelo mais importante fundamento A maioria das complicações da da neurologia clínica que é a localizaleptospirose está associada à localização de lesões. Quando se aborda o ção da bactéria. Na grande maioria dos paciente suspeito de ter um problema casos, a leptospirose desenvolve-se de neurológico usando um exame rápido e forma subclínica ou muito branda, o que tentando estabelecer logo de início o dificulta o diagnóstico 3,4,6. As infecções diagnóstico ou possíveis diagnósticos, superagudas pela leptospira causam muitas vezes o diagnóstico final é equileptospiremia maciça, choque e óbito. As infecções menos graves provocam febre, anorexia, vômito, desidratação, polidipsia e relutância à movimentação. A deterioração progressiva da função renal resulta em oligúria ou anúria, ocorrendo icterícia secundária à lesão hepática em alguns cães. Em sua maioria, as infecções em cães são crônicas e subclínicas, mas os animais podem apresentar insuficiência renal aguda 7. O órgão mais atingido na leptospirose

clínica varia de acordo com o sorovar envolvido. Por exemplo, a L. interrogans sorovar Icterohaemorrhagiae causa classicamente hemorragia aguda ou insuficiência hepática severa e uremia subagudas. A elevação das enzimas hepáticas, da bilirrubina, da uréia e da creatinina é relativamente comum em casos subagudos. A L. kirschneri sorovar Grippotyphosa e a L. interrogans sorovar Pomona também são associadas à insuficiência renal severa e lesões hepáticas em cães 8,9,10. Leucocitose e trombocitopenia estão geralmente presentes na leptospirose clássica. Nas infecções pela L. interrogans sorovar Canicola os animais apresentam mais freqüentemente nefrite intersticial aguda, com menor envolvimento hepático 4. A L. interrogans sorovar Bratislava causa insuficiência renal aguda, que pode ser severa 11. Infecção experimental com os sorovares Pomona e Bratislava da L. interrogans é associada com leProf. dr. RonaldoeCasimiro sões inflamatórias hemorrágicas nos da Costa IVeSimpósio pulmões, nosno rins no fígado 12, enquanUnião toAgener infecção experimental com L. kirschneri sorovar Grippotyphosa é vocado. àDenefrite nada adianta ter com deassociada intersticial o melhor recurso diagnóstigeneração tubular e necrose. Pode tamco causar possível (por exemplo, bém hemorragia pulmonar 13. ressonância magnética) quando nãolaboratorial se sabe a região Diagnóstico aAser examinada. Portanto, sorologia – usando o teste de para que se obtenha microaglutinação (MAT)suces– é indicativa no diagnóstico tratadesodoença em presençae de altos títulos, mento de problemas neurosoroconversão ou aumento de pelo lógicos é fundamental que em uma menos quatro vezes no título o processo se inicie pela localização segunda amostra, colhida duas a quatro das lesões”. semanas após a amostra inicial 3,4,14,15. O simpósio realizado no Hotel Embora o MAT foi seja a metodologia Blue Tree Morumbi, em São Paulo, SP, padrão para o diagnóstico da Leptospira e pode-se afirmar que foi mais um spp, constitui uma técnica imprecisa e evento de sucesso realizado pelacom Agener dependente de contato prévio o União, pois contou com a participação agente, que detecta os anticorpos sode 500 todo o Brasil3.e mente seteveterinários a dez dias de após a infecção obteve alto índice de satisfação dos Embora seja esperada uma relação direparticipantes: 95%. ta entre o agente infectante e a reação no

para o sorovar Autumnalis foi maior – e manteve-se por um maior período – que a titulação obtida para os sorovares Grippotyphosa e Pomona 14. Em cães adultos, no mesmo experimento, a titulação do sorovar Autumnalis chegou a 1:12.800 em um dos cães quatro semanas após a vacinação e também foi maior que a titulação dos sorovares Grippotyphosa e Pomona. Portanto, em alguns casos a magnitude do MAT não corresponde necessariamente à presença de infecção por um determinado sorovar 14. A técnica de Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) vem substituindo gradativamente o MAT e outras técnicas sorológicas, pois, embora de maior custo, é um método mais rápido, seguro, sensível e preciso para o diagnóstico precoce da leptospirose 6,16,17,18. A PCR também permite o rastreamento da Leptospira em outros tecidos e fluidos, mas ainda é de uso limitado na clínica médica de animais de companhia 5,6,15,19. Os testes sorológicos não identificam se um cão apresenta leptospirúria e pode ser a fonte de infecção. Quando comparados com a PCR na urina, os exames sorológicos possuem baixa sensibilidade e baixo valor preditivo positivo para a identificação de pacientes leptospirúricos 20. Em um trabalho desenvolvido nos Estados Unidos, foi demonstrado que a PCR da urina pode ser positiva antes do exame sorológico, demonstrando o potencial do exame molecular em detectar a doença "Durante a em sua fase inicial antes de existirem abordagem anticorpos circulantes. Nesse clínicaestudo, de dezesseis cães apresentap a cPCR i e n t eurinária s ram positiva e sorologia com sinais negativa para a leptospirose. Esses reneurológicos sultados podem ser explicados pela é muito importante avaliar a locomoocorrência de infecção por um sorovar ção do animal. Ela é normal ou anornão presente no teste; por imunossumal? Se anormal, quais membros pressão e conseqüente ausência de resestãoimune; afetados? todos, ipsiposta pela Pélvicos, presença de leptospilaterais?", destacou o prof. dr. ras em um único local seqüestrado do Ronaldoimune Casimiro Costa túbulos sistema (pordaexemplo, renais); pelo fato de o animal ser um carreador assintomático; ou por serem falso-positivos 19. Raramente a cultura da Leptospira é solicitada na rotina clínica. As amostras para esse exame devem ser colhidas antes da antibioticoterapia e, preferencialmente, durante a fase aguda da doença. A urina é o fluido ideal a ser cultivado após a primeira semana de infecção e deve ser alcalinizada até atingir pH 8

IV Simpósio Agener União – Neurologia Veterinária

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MAT, esse assunto ainda é controverso. Em estudo recente em cães, nenhum dos quarenta filhotes (vacinados para os sorovares Grippotyphosa e Pomona) desenvolveu titulação > 1:100 para o sorovar Grippotyphosa. Todos os animais avaliados desenvolveram titulação > 1:100 para o sorovar Autumnalis, embora esse sorovar não estivesse presente na vacina utilizada. Ainda, o título de anticorpos observado nesses animais

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008 Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 107, novembro/dezembro, 2013

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durante o transporte, já que as leptospiras não sobrevivem mais que algumas horas em ambiente ácido. Amostras teciduais – especialmente dos rins e do fígado – obtidas no período ante mortem também podem ser cultivadas 6. Em um estudo comparativo entre o diagnóstico sorológico, a PCR e o cultivo bacteriano, não foi detectado crescimento bacteriano nos animais que, de acordo com os resultados da PCR, tinham DNA de leptospiras na urina. A dificuldade de cultivo da leptospira parece ter sido fator determinante para esse resultado, visto que não houve crescimento da bactéria mesmo na amostra de um animal com sorologia e PCR positivos 19. Dos 500 animais analisados, 41 (8,2%) foram diagnosticados pelo exame de PCR na urina e, destes, apenas nove possuíam títulos sorológicos 1:100. Um dos animais sorologicamente positivos foi considerado negativo no exame de PCR. Acredita-se que o número de leptospiras presentes na urina desse animal tenha sido insuficiente para a sensibilidade do teste 20. Caso clínico Um cão da raça boxer, macho e com cinco anos de idade, foi atendido em um hospital veterinário, com histórico clínico de apatia e vômitos com evolução de dois dias. O programa de vacinação do animal não havia sido cumprido e o proprietário não notou outras alterações em seu estado físico. Ao exame físico, foram constatadas sensibilidade abdominal intensa e presença de bernes. O paciente foi admitido e, no primeiro dia de internação, apresentou hipertermia e vômitos biliares. Foram realizados hemograma e exame bioquímico sérico, que revelaram leucocitose acentuada (55100/mm3) por neutrofilia madura (49590/mm3) e agregados plaquetários, ALT: 386,0 U/L, uréia: 261,0 mg/dL e creatinina: 2,71 mg/dL. O exame ultrasonográfico revelou diminuição da diferenciação córtico-medular renal e alteração inespecífica da ecogenicidade esplênica. No segundo dia de internação os vômitos tornaram-se escuros, o paciente apresentou também diarréia e hematúria e encontrava-se hipotérmico e anoréxico. Não foram encontrados anticorpos anti-Leptospira no exame de microaglutinação. No exame de urina foram detectadas proteínas (2+), hematúria 46

e hemoglobinúria (4+), cilindrúria (granulosos, 1+), densidade urinária de 1,016 e pH de 6. O animal veio a óbito no terceiro dia de internação por falência múltipla de órgãos, apesar da instituição de tratamento de suporte com fluidoterapia endovenosa, metoclopramida, ranitidina, escopolamina e cefalosporina de terceira geração. À necropsia, o animal exibia bom estado nutricional e moderada palidez nas mucosas oral e ocular. Havia hemorragia pulmonar, severa congestão hepática e em ambas as adrenais, além de estrias de sangue na mucosa gástrica; os rins encontravamse aumentados de volume, com manchas acinzentadas na superfície. Ao exame histopatológico, foram observados hipoplasia linfóide com aumento do número de eritrócitos nos seios medulares e infiltração plasmocitária no baço; congestão, infiltração inflamatória difusa e aumento do número de eritrócitos nos seios medulares nos linfonodos; congestão severa, infiltração inflamatória difusa por mononucleares, necrose de hepatócitos difusa, dissociação dos cordões de hepatócitos e retenção biliar discreta em fígado. Nos rins foram constatados hiperemia, tumefação das células epiteliais tubulares, degeneração e necrose do epitélio tubular, infiltração inflamatória por mononucleares e eritrócitos no interstício e espessamento da membrana basal glomerular. Ainda foram encontrados hiperemia, hemorragia e edema difusos com infiltração inflamatória no parênquima pulmonar e espessamento do endocárdio, infiltração inflamatória mista, degeneração e necrose das fibras miocárdicas. Foram observadas descamação epitelial, congestão e infiltração inflamatória no estômago e intestino. Com base na necropsia e na histopatologia, chegou-se à conclusão de que se tratava de esplenite, linfadenite, hepatite aguda, nefrite intersticial, endocardite e miocardite supurativas, que por sua vez sugerem quadro de síndrome da resposta inflamatória sistêmica, possivelmente desencadeado pela Leptospira spp. Foram ainda colhidas amostras renais e hepáticas para cultivo bacteriano. Após catorze dias de cultivo, foram isoladas e observadas espiroquetas ao exame bacterioscópico (método de Fontana-Tribondeau) da amostra hepática em meio semi-sólido de

Fletcher. Uma fração do DNA extraído do fígado, dos rins e da urina foi subseqüentemente amplificada com primers específicos para um fragmento de 331bp do gene ribossomal 16S do gênero Leptospira 17 e outra para um fragmento de 285 pb do gene secY de leptospiras patogênicas 21, à exceção da L. kirschneri. A corrida eletroforética foi realizada sob 160V por 45 minutos. O gel foi então visualizado sob luz ultravioleta e os fragmentos gerados foram comparados a um marcador de peso molecular. Amplicons do tamanho esperado foram gerados pela PCR do fígado e do rim, mas não da urina. Discussão e conclusão Bastante comum em países tropicais como o Brasil, a leptospirose é – muito provavelmente – subestimada, devido à grande quantidade de animais assintomáticos embora cronicamente afetados 3,4,6,7. O presente relato constitui um exemplo de caso no qual os métodos tradicionais não diagnosticariam a leptospirose e a etiologia do problema não seria determinada sem o uso da PCR e do cultivo bacteriano. O cão descrito neste artigo apresentou anorexia, vômitos, hipertermia e dores abdominais, manifestações inespecíficas que podem ocorrer em muitas doenças, inclusive na leptospirose 3,4,6, apesar de ausência de icterícia. A leucocitose intensa e a neutrofilia madura severa refletem a inflamação induzida pela leptospira. A lesão hepatocelular decorrente da hepatite aguda explica a elevação dos níveis séricos da ALT, enquanto a insuficiência renal secundária à nefrite intersticial levou ao aumento das concentrações séricas de uréia e creatinina 3,4,22. Os achados de necropsia e histopatologia, entre eles a linfadenite, a esplenite, a hepatite aguda e a nefrite intersticial, também são compatíveis à infecção aguda por Leptospira spp 3,23. Testes diagnósticos, como o exame bacteriológico, a avaliação da urina em microscópio em campo escuro, a MAT, a imuno-histoquímica, a histopatologia e os exames de patologia clínica são todos indicadores de leptospirose, mas devem ser interpretados em associação 22. A técnica diagnóstica mais comum é o teste de microaglutinação (MAT), que só apresenta resultados quando anticorpos aparecem na circulação (somente

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sete a dez dias após a infecção) 3,4,6. Considerando que casos como o supradescrito podem não ser diagnosticados durante a fase inicial, o uso de técnicas rápidas – que identifiquem o antígeno e sejam independentes da produção de anticorpos – deve ser incentivado, pois aceleram o diagnóstico e, por conseqüência, permitem a instituição da terapêutica adequada a tempo de interferir no curso da enfermidade, aumentando as possibilidades de recuperação dos pacientes. A PCR vem sendo cada vez mais utilizada, em humanos, para o diagnóstico de doenças infecciosas causadas por microorganismos de cultivo lento e fastidioso, como o Mycobacterium leprae, o Mycobacterium tuberculosis, o Treponema pallidum, a Borrelia burgdorferi e a Leptospira interrogans 16,17. Visto que a leptospirose humana é similar à canina, essa técnica também pode oferecer subsídios ao diagnóstico da leptospirose em cães 16,17,18. O resultado negativo da PCR na urina do animal objeto do presente relato pode ter ocorrido pela quantidade insuficiente de espiroquetas na urina quando ainda na fase inicial de leptospiremia, pela intermitência na leptospirúria, ou ainda por alguma interferência da urina do cão – colhida post mortem – na extração e amplificação do DNA da Leptospira spp 19,20. Sabe-se que a Leptospira sofre lise após permanecer 90 minutos em contato com a urina ácida (ph 6,8) e que seu DNA pode ser perdido junto ao sobrenadante após a centrifugação 24. Tal fato também pode ter ocorrido no caso em questão, visto que o pH da amostra era de 6. Além disso, diversos fatores podem inibir a ação da Taq polimerase, como a quelação de íons magnésio, sais biliares e polissacarídeos ácidos e as variações extremas de pH e hemoglobina, esta última observada no exame de urina do animal cuja avaliação é aqui relatada 5,24. Os autores acreditam que a antibioticoterapia utilizada teve mínima influência no resultado, visto que as cefalosporinas não são as drogas de eleição para o tratamento da leptospirose 4. Os resultados obtidos no caso relatado no presente artigo sugerem que a PCR pode ser utilizada como ferramenta diagnóstica mais sensível do que a sorologia nos casos de leptospirose aguda, e demonstram a possibilidade de 48

empregá-la, bem como a outros métodos não-imunológicos, para o correto diagnóstico da leptospirose canina. Referências 01-OKUDA, M. ; SAKAI, Y. ; MATSUUCHI, M. ; OIKAWA, T. ; WATANABE, M. ; ITAMOTO, K. ; ITAWA, H. ; KANO, R. ; HASEGAWA, A. ; ONISHI, T. INOKUMA, H. Enzyme-Linked Immunosorbent Assay for detection of canine Leptospira antibodies using recombinant OmpL1 protein. Journal of Veterinary Medicine Clinical Pathology, v. 67, n. 3, p. 249-254, 2005. 02-BROD, C. S. ; ALEIXO, J. A. G. ; JOUGLARD, S. D. D. ; FERNANDES, C. P. H. ; TEIXEIRA, J. L. R. ; DELLAGOSTIN, O. A. Evidência do cão como reservatório da leptospirose humana: isolamento de um sorovar, caracterização molecular e utilização em inquérito sorológico. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 38, n. 4, p. 294-300, 2005. 03-LEVETT, P. N. Leptospirosis. Clinical Microbiology Reviews, v. 14, n. 2, p. 296-326, 2001. 04-WOHL, J. S. Canine Leptospirosis. The Compendium of Continuing Education for the Practicing Veterinarian - Small Animal, v. 18, n. 11, p. 1215-1241, 1996. 05-BAL, A. E. ; GRAVEKAMP, C. ; HARTSKEERL, R. A. ; MEZA-BREWSTER, J. ; KORVER, H. ; TERPSTRA, W. J. Detection of leptospires in urine by PCR for early diagnosis of leptospirosis. Journal of Clinical Microbiology, v. 32, n. 8, p. 1894-1898, 1994. 06-LANGSTON, C. E. ; HEUTER, K. J. Leptospirosis - a re-emerging zoonotic disease. The Veterinary Clinics of North America - Small Animal Practice, v. 33, p. 791-807, 2004. 07-GREENE, C. E. Doenças Bacterianas. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 418-419. 08-BIRNBAUM, S. C. ; BARR, S. C. ; CENTER, S. A. , SCHERMERHORN, T. ; RANDOLPH, J. F. ; SIMPSON, K. W. Naturally acquired leptospirosis in 36 dogs: serological and clinicopathological features. Journal of Small Animal Practice, v. 39, p. 231-236, 1998. 09-BROWN, C. A. ; ROBERTS, A. W. ; MILLER, M. A. ; DAVIS, D. A. ; BROWN, S. A. ; BOLIN, C. A. ; JARECKI-BLACK, J. ; GREENE, C. E. ; MILLER-LIEBL, D. Leptospira interrogans serovar grippotyphosa infection in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 209, n. 7, p. 1265-1267, 1996. 10-HARKIN, K. R. ; GARTRELL, C. L. Canine leptospirosis in New Jersey and Michigan: 17 cases (1990-1995). Journal of the American Animal Hospital Association, v. 32, n. 6, p. 495501, 1996. 11-ADIN, C. A. ; COWGILL, L. D. Treatment and outcome of dogs with leptospirosis: 36 cases (1990-1998). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 216, n. 3, p. 371-375, 2000. 12-GREENLE, J. J. ; ALT, D. P. ; BOLIN, C. A . ; ZUERNER, R. L. ; ANDREASEN, C. B. Experimental canine leptospirosis caused by Leptospira interrogans serovars pomona and bratislava. American Journal of Veterinary Research, v. 66, n. 10, p. 1816-1822, 2005.

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Atrofia do pâncreas exócrino em pastor alemão

Silvia Diniz Janot Pacheco Papini MV, residente Setor de Patologia Veterinária - EV/UFMG silviajanot@ig.com.br

Roselene Ecco MV, mestre, dra., profa. adj. Setor de Patologia Veterinária - EV/UFMG

Exocrine pancreatic atrophy in the German Shepherd Dog

ecco@vet.ufmg.br

Marina Rios de Araújo Graduanda EV/UFMG

Atrofia del páncreas exocrino en pastor alemán

ninariacho@yahoo.com.br

Carla Emanuela Tertuliano Caires Graduanda EV/UFMG

Resumo: A atrofia do pâncreas acinar é caracterizada pela destruição seletiva das células acinares. Este artigo descreve um caso de atrofia do pâncreas exócrino em um cão pastor alemão, fêmea, de 18 meses de idade. Clinicamente, o cão mostrava perda de peso progressiva havia 2 meses mas com apetite voraz, além de sinais de apatia, vômito ocasional, esteatorréia, diarréia e coprofagia. Na necropsia havia acentuada atrofia da musculatura e do tecido adiposo. O pâncreas estava difusamente atrofiado, e no intestino havia grande volume de fezes pastosas e gordurosas. Histologicamente, o parênquima pancreático mostrou pequenas células exócrinas remanescentes, ductos e vasos. Não havia evidência de reação inflamatória. As alterações observadas são consistentes com a atrofia do pâncreas acinar. Unitermos: Cão, insuficiência do pâncreas exócrino, atrofia acinar, auto-imunidade

carlacaires3m@yahoo.com.br

Wériton Bernardes Almeida Graduando EV/UFMG weritonbernardes@yahoo.com.br

Abstract: Pancreatic acinar atrophy is characterized by selective destruction of pancreatic acinar cells. The present report describes a case of an 18-month-old female German Shepherd Dog. Clinical signs included progressive weight loss for two months, persistent voracious appetite, apathy, occasional vomiting, steatorrhea, diarrhea and coprophagia. At necropsy, muscles and adipose tissue had intense atrophy. The pancreas was diffusely atrophied, and the intestines were dilated and filled with a large volume of fatty and pasty feces. Histologically, the pancreatic parenchyma showed small remnants of exocrine cells, ducts and vessels. There was no evidence of an inflammatory reaction. These findings were consistent with the diagnosis of pancreatic acinar atrophy. Keywords: Dog, exocrine pancreatic insufficiency, acinar atrophy, autoimmunity Resumen: La atrofia acinar pancreática es caracterizada por la destrucción selectiva de las células acinares. En el presente relato se describe un caso de atrofia del páncreas exocrino en una hembra canina de 18 meses de edad de la raza pastor alemán. Clínicamente el animal presentó pérdida de peso progresiva por dos meses consecutivos, desde el inicio de la enfermedad, pero se observó apetito voraz, además de señales de apatía, vómitos esporádicos, esteatorrea, diarrea y coprofagia persistentes. En la necropsia, había acentuada atrofia de la musculatura y tejido adiposo. El páncreas se encontró difusamente atrofiado y los intestinos dilatados con heces abundantes grasosas y pastosas. En la evaluación histológica del parénquima pancreático se observaron pequeñas células exocrinas remanentes, además de vasos y conductos. No había evidencia de reacción inflamatoria. Estas alteraciones son compatibles con el diagnóstico de atrofia acinar pancreática. Palabras clave: Perro, insuficiencia pancreática exocrina, atrofia acinar, autoinmunidad

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na forma autossômica recessiva 6,10. A inflamação mediada por linfócitos, associada à perda de ácinos pancreáticos, oferece evidência de uma doença auto-imune. Quando os sinais clínicos aparecem,

Figura 1 - A) Musculatura do membro pélvico; cão da raça pastor alemão com atrofia acinar pancreática. Os músculos da região da coxa estão intensamente diminuídos de volume, e não há tecido adiposo no subcutâneo. B) Fotomicrografia do músculo estriado esquelético; cão da raça pastor alemão com atrofia acinar pancreática. Há fibras musculares esqueléticas com diâmetro normal intercaladas (*) por fibras intensamente diminuídas de tamanho (seta), caracterizando acentuada atrofia muscular. Hematoxilina e Eosina. 200 x

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pancreática em cães jovens da raça beagle 7, mas a ocorrência é principalmente em cães da raça pastor alemão e collie 8,9. É mais relatada em pastores alemães, e parece ser transmitida hereditariamente, Roselene Ecco

Introdução A destruição seletiva de células acinares pancreáticas coincide com sinais clínicos típicos de insuficiência pancreática exócrina em cães, e caracteriza uma patologia denominada atrofia pancreática acinar (APA) 1. Outras denominações já foram utilizadas para essa doença incluindo atrofia pancreática juvenil, hipoplasia pancreática, colapso pancreático e atrofia pancreática degenerativa 2,3,4,5. Na atrofia pancreática acinar há destruição seletiva das células acinares, responsáveis pela produção das enzimas digestivas (amilase, lipase, fosfolipase, tripsina e quimiotripsina). A perda de tecido acinar ocasiona inadequada secreção de enzimas pancreáticas e sinais típicos de má-digestão. O pâncreas endócrino normalmente não é afetado 5,6. Foram relatados casos de atrofia


Relato do caso Um cão da raça pastor alemão, fêmea, de dezoito meses de idade, pesando 13,8kg de peso vivo, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais, com estado geral ruim e histórico de emagrecimento progressivo havia dois meses, embora com apetite voraz e polidipsia. Segundo o proprietário, havia quatro meses o animal tivera diarréia intensa, tendo se recuperado após antibioticoterapia. No atendimento clínico, verificouse que a fase evolutiva da doença estava bem avançada. No exame físico foram observados pêlos secos e sem brilho, além de sinais de apatia, vômito, desidratação, diarréia aquosa parda e coprofagia. Pouco tempo após o atendimento o animal morreu, e foi encaminhado para necropsia. Na necropsia observou-se que o cão tinha tamanho bastante inferior àquele considerado padrão para a faixa etária e a raça. A musculatura estava difusamente diminuída de tamanho e volume (Figura 1A e 1B). A gordura subcutânea estava acentuadamente diminuída. Havia atrofia gelatinosa da gordura epicárdica e peri-renal. A mucosa gástrica da região do piloro tinha erosões multifocais.

Na luz do intestino delgado, grosso e reto, o conteúdo era abundante, pastoso e acinzentado (Figura 2). O pâncreas estava intensamente diminuído de volume, com perda da aparência lobular, bastante delgado e transparente. Os ductos e vasos eram bem evidentes sob a cápsula (Figura 3A e 3B). Cortes do pâncreas, de vários músculos e das vísceras foram coletados, fixados em formalina 10%, processados para inclusão em parafina e corados rotineiramente pela técnica de hematoxilina e eosina. Coloração adicional pelo tricrômico de Masson foi realizada nos tecidos pancreático e muscular. No exame histopatológico, verificou-se inexistência da estrutura lobular pancreática. O estroma de sustentação, principalmente os capilares e as fibras, era mais evidente, e havia leve a moderado aumento de fibras colágenas. Apenas células acinares pequenas e dispersas ou em pequenos grupos de três ou quatro eram evidentes. Essas células possuíam núcleo basal e citoplasma levemente basofílico. Os ductos pancreáticos, em sua maioria, eram bem evidentes, e alguns apresentavam o lúmen levemente dilatado (Figura 4). O tecido muscular esquelético de diferentes grupos musculares mostrava fibras acentuadamente diminuídas

Discussão O diagnóstico definitivo de atrofia do pâncreas exócrino foi baseado nas alterações macroscópicas e histopatológicas, embora os sinais clínicos fossem característicos de insuficiência pancreática crônica. Geralmente, os sinais clínicos da insuficiência ou da má absorção têm início entre os seis meses e os oito anos de idade 8. Segundo o proprietário, o cão do presente relato apresentara sinais de diarréia e evidência de emagrecimento aos dezesseis meses de idade, quadro que progrediu e culminou com a morte dois meses depois. De acordo com estudo realizado com vinte cães da raça pastor alemão e quatro cães da raça collie, o aparecimento dos sinais pode variar de um a doze anos, sendo a faixa etária compreendida entre três e 3,7 anos a mais freqüentemente acometida 1. A perda de peso pode ser significativa em curto período de tempo. Há relato sobre um cão pastor alemão que aos treze meses de idade pesava 40kg e, em dois meses de evolução da insuficiência, perdeu 50% do peso 12. Cães das raças pastor alemão, collie e beagle com APA mostraram sinais clínicos típicos de insuficiência pancreática crônica, incluindo esteatorréia, aumento no volume fecal e aumento na freqüência

Roselene Ecco

Roselene Ecco

Figura 3 - A) Pâncreas de cão da raça pastor alemão com atrofia acinar pancreática. Observam-se parte da mucosa do estômago e parte inicial do duodeno. O pâncreas ocupa a extensão anatômica normal, porém a glândula está acentuadamente atrofiada, com quase total desaparecimento dos lóbulos. B) Maior aproximação da figura 3A. A glândula está acentuadamente delgada. Observam-se ductos e vasos evidentes

de volume, com estriações menos evidentes intercaladas por algumas fibras de tamanho aparentemente normal. Em algumas áreas havia aparente perda de fibras e substituição por tecido conjuntivo fibroso. As fibras colágenas do pâncreas e do tecido muscular foram evidenciadas em azul pela coloração de tricrômico de Masson. Nenhuma alteração foi observada nos demais tecidos.

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Figura 2 - Intestino delgado; cão da raça pastor alemão com atrofia acinar pancreática. No lúmen intestinal há grande volume de fezes pastosas acinzentadas, caracterizando a presença de gordura

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geralmente o animal já está em avançado estado de insuficiência pancreática, o que dificulta o estudo da etiopatogenia da doença 9. O pâncreas exócrino tem uma considerável reserva funcional. Apenas os distúrbios que afetam porções significativas desse órgão (80-90%) podem causar má digestão, o que caracteriza a insuficiência pancreática exócrina 6,11. O objetivo deste artigo é abordar a etiopatogenia e as alterações clínicas e patológicas de um caso de atrofia do pâncreas exócrino em cão da raça pastor alemão.

Figura 4 - Fotomicrografia do pâncreas da figura 3B. Observa-se acentuada atrofia do parênquima acinar, ressaltada pela maior evidência de ductos (seta), vasos e células acinares esparsas remanescentes dos ácinos pancreáticos. Hematoxilina e Eosina. 200 x

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de defecação 5,7,12. Sinais de polifagia, perda de peso, ocasional coprofagia, diarréia e distensão abdominal por vários dias antes da morte também são observados 2,3,5,12, coincidindo com os sinais apresentados pelo cão deste relato. Sinais gastrintestinais prolongados e não específicos podem às vezes preceder os sinais clínicos típicos de insuficiência pancreática crônica. Entretanto, os sinais gastrintestinais usualmente pré-existentes não são detectados, e os sinais de insuficiência pancreática exócrina se desenvolvem em curto período de tempo em animais previamente sadios 5. Alguns cães estão emaciados e exibem atrofia muscular grave e nenhum tecido adiposo palpável. Freqüentemente a pelagem está em más condições e alguns animais podem exalar odor fétido devido à sujidade dos pêlos com material fecal gorduroso, e também por causa da emissão excessiva de gases. Pode haver história de vômitos, e geralmente ocorrem borborigmo e flatulência significativos 11,13. A proliferação acentuada das bactérias intestinais é comum em cães com insuficiência do pâncreas exócrino, e pode ser relacionada à perda da atividade bacteriostática de componentes enzimáticos e não enzimáticos da secreção pancreática, além de alterações na motilidade intestinal 5,8. Complicações como a torção mesentérica podem ocorrer devido a desordens na motilidade intestinal e excessiva produção de gases 14. Embora os sinais de insuficiência pancreática crônica sejam considerados típicos eles não são patognomônicos da APA, e o diagnóstico diferencial inclui doenças do intestino delgado que causam sinais de má absorção ou má digestão 13. As alterações hematológicas, séricas e bioquímicas descritas nos casos de APA são de leve anemia e diminuição da proteína total, principalmente a albumina. As concentrações de lipídios totais e colesterol estão freqüentemente diminuídas. Essas alterações são seqüelas da deficiência na absorção de nutrientes promovida pela deficiência enzimática, que também é responsável pelo atraso no desenvolvimento corporal, pela atrofia muscular e pela acentuada diminuição das reservas adiposas 7,13. A atividade sérica da amilase e da lipase caninas tende a ser normal ou estar levemente diminuída na insuficiência do pâncreas exócrino, não tendo valor 52

diagnóstico preciso 13. Os exames laboratoriais do cão mencionado neste relato incluíam apenas hemograma e glicose. Os níveis de glicose estavam normais e o hemograma revelou anemia normocrômica normocítica leve, e discreta linfopenia. Macroscopicamente, o pâncreas tem a mesma extensão do pâncreas normal, mas encontra-se fino e transparente. Não há tecido fibroso ou hemorrágico. A estrutura glandular é dificilmente reconhecível, e os ductos pancreáticos e os vasos estão claramente visíveis 7,12. As alterações macroscópicas da atrofia pancreática acinar são típicas e podem ser consideradas patognomônicas para a doença 5. O cão deste artigo mostrava acentuada atrofia muscular e grande quantidade de conteúdo intestinal pastoso cinza, caracterizando a presença de gordura e principalmente a evidência de desaparecimento da estrutura lobular pancreática, típicos para essa condição. As alterações histopatológicas encontradas na APA podem variar dependendo da fase de evolução em que o pâncreas é analisado microscopicamente 7,9. Um estudo com treze cães na fase subclínica e seis cães na fase clínica dividiu a progressão das alterações em duas fases: a fase de pancreatite linfocítica, com destruição ativa da estrutura acinar, e a fase final de atrofia da APA, na qual a estrutura acinar é substituída por parênquima atípico, ductos e tecido adiposo 9. A pancreatite linfocítica atrófica que ocorre na fase subclínica afeta somente a porção exócrina, com ausência de fibrose, permitindo o diferencial morfológico com a pancreatite crônica. Na APA subclínica, observam-se infiltrado de linfócitos intra-acinares e extensa infiltração de linfócitos nas áreas de destruição parcial e progressiva do parênquima acinar. Além disso, pode haver presença de grandes grupos de linfócitos, que lembram folículos linfóides com centros germinativos ativados. Essas alterações indicam destruição tecidual imunomediada 1,9,13. O estágio final da APA é o mais comumente encontrado, por isso é o mais típico. Não há tecido normal restante ou, se este está presente, é encontrado em um lóbulo isolado. Tipicamente, o parênquima normal é substituído por tecido atípico; células pequenas desorganizadas com um núcleo central acidofílico, citoplasma

granular e ductos dilatados. Geralmente há leve substituição do parênquima acinar por tecido conjuntivo fibroso e, em alguns casos, por tecido adiposo 9. Macrófagos, linfócitos e plasmócitos são encontrados dispersos ou em infiltrações pequenas ao redor do tecido atrofiado. Geralmente o pâncreas endócrino está bem preservado em cães com APA 13. Histologicamente, as alterações pancreáticas do cão descrito neste artigo indicavam perda quase total das células acinares, não havendo evidência de infiltrado inflamatório. Foi observada, também, leve a moderada quantidade de tecido fibroso substituindo o tecido normal. No entanto, adipócitos não foram encontrados. Essas alterações correspondem à fase final da doença pancreática atrófica. Estudos buscando a comprovação auto-imune da APA em cães mostraram evidência morfológica indicativa de doença imunomediada 14. Na histologia havia extenso infiltrado por linfócitos no pâncreas de cães da raça pastor alemão e em cães da raça collie na fase subclínica da APA. A análise pela imuno-histoquímica identificou principalmente linfócitos T citotóxicos CD8, além de linfócitos T auxiliares CD4, como os principais linfócitos infiltrados no pâncreas em processo progressivo de atrofia acinar. Esses achados sugerem que a destruição imune é mediada pelos linfócitos T citotóxicos. Além dos linfócitos T, linfócitos B, plasmócitos e anticorpos séricos reagindo com as células acinares pancreáticas também foram encontrados, indicando que o mecanismo humoral também está envolvido na destruição do parênquima acinar 1,13. Alterações ultra-estruturais em cães com APA são caracterizadas por células em vários estágios de degeneração e necrose. O retículo endoplasmático rugoso (RER) aparece com desorganização e dilatação das cisternas, edema de mitocôndria, diminuição de tamanho e fusão dos grânulos de zimogênio, núcleo picnótico e linfócitos intra-acinares 8,9. Infiltrado por linfócitos foi observado em ácinos degenerados e em ácinos ainda normais, mostrando que o infiltrado precede a degeneração, o que reforça a teoria autoimune para a APA 14. As alterações histológicas da APA são similares àquelas da tireoidite

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linfocítica, que é descrita como doença auto-imune em cães e em humanos. Em ambas as desordens, o pâncreas acinar e a glândula tireóide, respectivamente, apresentam extensa infiltração por linfócitos associada à destruição do parênquima normal 9. Essa infiltração, que ocorre na fase subclínica da APA, não foi observada no cão deste relato, que se encontrava na fase crônica terminal da condição. Vários testes estão descritos para o diagnóstico de insuficiência do pâncreas exócrino em cães. Atualmente, o mais indicado e seguro é o teste para imunorreatividade sérica tipo tripsina (TLI), considerado o mais seguro e aquele que apresenta resultados exatos, possibilitando o diagnóstico na fase subclínica 8,15. A detecção da elastase fecal usando o método ELISA comercialmente disponível também é indicada, porém resultados considerados patológicos (baixos) já foram encontrados em cães normais 13,15. O teste com um filme de raio-x (determinação da atividade da enzima proteolítica fecal) e o teste da absorção de gordura são utilizados, mas são pouco específicos 8,13,16. A presença ou não da tripsina fecal identificada pelo teste de digestão da gelatina em filme de raio-x, embora de baixa sensibilidade para a doença, é a técnica mais acessível economicamente. Esse teste, quando associado aos sinais clínicos típicos, fornece um diagnóstico presuntivo de insuficiência pancreática crônica 7,13. Muitos cães e gatos com insuficiência pancreática exócrina podem ser tratados com êxito mediante a suplementação de cada refeição com enzimas pancreáticas presentes em extratos pancreáticos desidratados de pâncreas de bovino ou suíno. Essas preparações comerciais em pó, cápsulas ou tabletes geralmente são de custo elevado, mas podem ser utilizados pâncreas processados frescos de bovino, ovino ou suíno. Os melhores resultados

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são obtidos com suplementos tamponados. O tratamento com suplementação enzimática à base de produtos comerciais é eficaz e tem bom prognóstico. Além disso, a diminuição da gordura da dieta é recomendada 13,14. Quando possível, é indicado investigar a árvore genealógica do animal para identificar condição similar em familiares, já que a APA tem caráter hereditário 6,17. Não foi encontrada documentação da ocorrência de casos de APA no Brasil. Sendo assim, a verdadeira prevalência da doença é desconhecida. Ressalta-se a importância da suspeita clínica e, no caso de morte, a solicitação da necropsia para confirmação da doença e para o diagnóstico diferencial. Os achados macroscópicos e histopatológicos são característicos da APA. Referências 01-WIBERG, M. E. ; SAARI S. A. M. ; WESTERMARCK, E. ; MERI, S. Cellular and humoral immune responses in atrophic lymphocytic pancreatitis in German shepherd dogs and rough-coated Collies. Veterinary Immunology and Immunopathology. v. 76, n. 1-2, p. 103-115, 2000. 02-HILL, F. W. G. ; OSBORNE, A. D. ; KIDDER, D. E. Pancreatic degenerative atrophy in dogs. Journal of Comparative Pathology, v. 81, p. 321-333, 1971. 03-RIMAILA-PARNANEN, E. ; WESTERMARCK, E. Pancreatic degenerative atrophy and chronic pancreatitis in dogs. Acta Veterinary Scandinavia, v. 23, p. 400-406, 1982. 04-JUBB, K. V. F. The pancreas. In: JUBB, K. V. F. ; KENNEDY, P. C. ; PALMER, N. Pathology of Domestic Animals. 4. ed. San Diego: Academic Press, 1993. v. 2, p. 407 - 424. 05-WIBERG, M. E. Pancreatic acinar atrophy in German shepherd dogs and rough-coated Collies: etiopathogenesis and response to long-term enzyme replacement treatment. 2003. 87 p. Dissertação (Mestrado) - Faculty of Veterinary Medicine, University of Helsinki, Finland. 06-MOELLER, E. M. ; STEINER, J. M. ; CLARK, L. A. ; MURPHY, K. E. ; FAMULA, T. R. ; WILLIAMS, D. A. ; STANKOVICS, M. E. ; VOSE, A. S. Inheritance of pancreatic acinar atrophy in German shephered dogs. American Journal of Veterinary Research. v. 63, p. 1429-

1434, 2002. 07-PRENTICE, D. E. ; JAMES, R. W. ; WADSWORTH, P. F. Pancreatic atrophy in young Beagle dogs. Veterinary Pathology, v. 17, n. 5, p. 575-580, 1980. 08-WESTERMARCK, E. ; BATT, R.M. ; VAILLANT, C. ; WIBERG, M. E. Sequential study of pancreatic structure and function during development of pancreatic acinar atrophy in a German shepherd dog. American Journal of Veterinay Research, v. 54, n. 7, p. 1088-1094, 1993. 09-WIBERG, M. E. ; SAARI, S. A. M. ; WESTERMARK, E. Exocrine pancreatic atrophy in German shepherd dogs and roughcoated Collies: an end result of lymphocytic pancreatitis. Veterinary Pathology, v. 36, n. 6, p. 530-541, 1999. 10-MACLACHLAN, N. J. ; CULLEN, J. M. Fígado, sistema biliar e pâncreas exócrino. In: CARLTON, W. W. ; McGAVIN, M. D. Patologia veterinária especial de Thomson. Porto Alegre: ArtMed, 2. ed., p. 125-127, 1998. 11-NEIGER, R.; JAUNIN, V. B. ; BOUJON, C. E. Exocrine pancreatic insufficiency combined with insulin-dependent diabetes mellitus in a juvenile German shepherd dog. The Journal of Small Animal Practice, v. 37, n. 7, p. 344-349, 1996. 12-HASHIMOTO, A. ; KITA, I. ; OKADA, K. ; FUJIMOTO, Y. Juvenile acinar atrophy of the pancreas of a dog. Veterinary Pathology, v. 16, n. 1, p. 74-80, 1979. 13-WESTERMARCK, E. ; WIBERG, M. E. Exocrine pancreatic insufficiency in dogs. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. v. 33, n. 5, p. 1165 - 1179, 2003. 14-WIBERG, M. E. Pancreatic acinar in German shepherd dogs and rough-coated Collies. Etiopathogenesis, diagnosis and treatment. A review. Veterinary Quarterly. v. 26, n. 2, p. 6175, 2004. 15-SPILLMANN, T. ; WITTKER, A. ; TEIGELKAMP, S. ; EIM, C. ; BURKHARDT, E. ; EIGENBRODT, A. ; SZIEGOLEIT, A. An immunoassay for canine pancreatic elastase 1 as an indicator for exocrine pancreatic insufficiency in dogs. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation. v. 13, n. 6, p. 468-474, 2001. 16-WESTERMARCK, E. The diagnosis of pancreatic degenerative atrophy in dogs: a practical method. Acta Veterinary Scandinava, v. 23, p. 197-203, 1982. 17-WESTERMARK, E. The hereditary nature of canine pancreatic degenerative atrophy in the German shepherd dog. Acta Veterinary Scandinava, v. 21, p. 389-394, 1980.

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Novas perspectivas no diagnóstico ultra-sonográfico gestacional em cadelas revisão de literatura

Marcus Antônio Rossi Feliciano MV, mestre, doutorando Unesp/Jaboticabal marcusfeliciano@yahoo.com.br

Wilter Ricardo Russiano Vicente MV, prof. tit. Unesp/Jaboticabal wilter@fcav.unesp.br

Carlos Artur Lopes Leite

New perspectives in the ultrasonographic diagnosis of pregnancy in bitches a literature review

MV, prof. adj. DMV/UFLA caca@ufla.br

Leonardo Augusto Lopes Muzzi MV, prof. adj. DMV/UFLA lalmuzzi@ufla.br

Nuevas perspectivas en el diagnóstico ultrasonográfico gestacional en perras revisión de literatura Resumo: A ultra-sonografia é um exame complementar com alta sensibilidade no diagnóstico gestacional, que permite a avaliação da idade e das características fetais vitais e a avaliação estrutural e do fluxo sangüíneo dos ovários, do útero e de outras estruturas envolvidas na gestação. A ultra-sonografia bidimensional de alta resolução, a ultra-sonografia tridimensional e a mensuração de índices vasculares do corpo lúteo são novas técnicas descritas em medicina veterinária, para uso no acompanhamento da gestação em cadelas. Na medicina humana também é descrita a avaliação da perfusão sangüínea em outras estruturas envolvidas no processo gestacional, ainda não aplicada na medicina veterinária. As novas técnicas ultrasonográficas em medicina veterinária mostram-se promissoras no diagnóstico gestacional precoce e no acompanhamento do desenvolvimento fetal em pequenos animais. Unitermos: Ultra-sonografia, método de diagnóstico, gestação Abstract: Ultrasonography is a highly sensitive complementary exam in the diagnosis of pregnancy, which allows the assessment of gestational age and fetal vital characteristics, as well as the evaluation of structure and blood flow to the ovaries and uterus. High resolution two-dimensional ultrasonography, three-dimensional ultrasonography and the measurement of the vascular index of the corpus luteum are some of the new techniques described for pregnancy follow-up in bitches. Assessment of blood perfusion in other structures related to pregnancy has also been described in human medicine, but these have so far not been employed in the veterinary practice. These new ultrasonographic techniques are promising in the early pregnancy diagnosis and in the assessment of fetal development in small animals. Keywords: Ultrasonography, diagnostic methods, pregnancy Resumen: La ultrasonografía es un examen complementario con alta sensibilidad en el diagnóstico gestacional, posibilitando la evaluación de la edad y de características vitales del feto, además de la evaluación estructural y de flujo sanguíneo de ovarios, útero y otras estructuras relacionadas al embarazo. La ultrasonografía bidimensional de alta resolución, la ultrasonografía tridimensional y la medición de los índices vasculares del cuerpo lúteo son nuevas técnicas descritas en la medicina veterinaria, en el acompañamiento de la gestación de perras. En la medicina humana también se describe la evaluación de la perfusión sanguínea en otras estructuras que participan en el proceso de gestación, pero todavía no se aplican en la medicina veterinaria. Las nuevas técnicas ultrasonográficas en veterinaria se muestran prometedoras en el diagnóstico gestacional temprano y en la supervisión del desarrollo fetal en pequeños animales. Palabras clave: Ultrasonografía, método de diagnóstico, embarazo

Clínica Veterinária, n. 73, p. 56-60, 2008

Introdução O diagnóstico precoce da gestação e o acompanhamento pré-natal são procedimentos comumente solicitados aos ultra-sonografistas veterinários. Os proprietários e os criadores encontram-se freqüentemente ansiosos para confirmar a gestação e a viabilidade dos fetos 1. As condições anormais relacionadas à gestação, como fetos pouco desenvolvidos em relação à idade gestacional, reabsorção fetal e abortamento, também são avaliadas ao exame ultra-sonográfico da cadela gestante 2. A ultra-sonografia não é o método de 56

escolha para a avaliação do tamanho da ninhada. O campo de visão restrito criado pelo transdutor e a natureza tortuosa dos cornos uterinos caninos impedem a avaliação contínua dos cornos individualmente. Na avaliação do número fetal, o ultra-som mostrou ser preciso em 31,8% a 36% das vezes, com superestimação de ninhadas pequenas e subestimação de ninhadas grandes. Um estudo relatou maior precisão do método para ninhadas de até cinco filhotes 3. O exame ultra-sonográfico é o meio de diagnóstico mais preciso para a avaliação da gestação, além de ser totalmente

inócuo para a fêmea e para os fetos. Por meio dele pode-se confirmar a prenhez, estimar a idade gestacional, avaliar as condições dos ovários e do útero e verificar os sinais de viabilidade fetal 4,5. Existem três modalidades ultra-sonográficas para o diagnóstico gestacional em pequenos animais: modo-A, modo Doppler e modo-B. O modo-A, ou ultrasom de amplitude profunda, identifica a presença de fluido por meio da oscilação de traçados, ou seja, capta as ondas vibratórias do fluido e as transforma em dados paramétricos. Esse exame não define com precisão se o fluido é de origem intra-uterina, e não permite a avaliação da viabilidade ou do número de fetos. Trata-se de um tipo de ultra-sonografia pouco utilizado atualmente, por não fornecer o diagnóstico preciso da gestação 6. O exame de ultra-som em modo Doppler fornece um sinal audível, que identifica os batimentos cardíacos fetais, mas não estima o número de fetos e pouco informa sobre o processo gestacional. Apesar de não possibilitar a identificação dos fetos por meio de imagem, o modo Doppler diagnostica a presença de fetos vivos e auxilia no diagnóstico do sofrimento fetal (angústia ou estresse) 6. O modo-B, ou ultra-som em tempo real, transforma os impulsos ultra-sônicos em imagem bidimensional com escalas de cinza (efeito piezelétrico). Esse exame permite a avaliação do processo gestacional, da viabilidade fetal e ainda possibilita a investigação do útero, dos ovários e das demais estruturas

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Figura 2 - Imagem ultra-sonográfica de alta resolução do tórax e do abdômen de feto de uma cadela com 51 dias de gestação. Verifica-se, ao Doppler em cores, a circulação sangüínea no coração (a) e no fígado do feto (b e c) Marcus Antônio Rossi Feliciano

Ultra-sonografia tridimensional A utilização de imagens ultra-sonográficas tridimensionais como método diagnóstico em medicina humana foi proposta na década de 50, e desde o fim dos anos 80 a ultra-sonografia tridimensional (3D) tem sido utilizada, pelos profissionais das áreas de obstetrícia e ginecologia 12. A técnica tridimensional faz cortes consecutivos bidimensionais na movimentação do transdutor, processando as imagens continuamente. Os dados ultrasonográficos são convertidos em representações cúbicas regulares, antes da apresentação nos diferentes modos de visualização tridimensionais. A obtenção de diversos cortes tridimensionais ultrasonográficos e o contorno da superfície das estruturas de interesse auxiliam no diagnóstico de anormalidades congênitas e dismorfologia, como macrocefalia e deformidades faciais, em fetos humanos 12. Adicionalmente, a possibilidade de calcular o volume de áreas (como é exemplo a mensuração do volume pulmonar) com o uso da ultra-sonografia tridimensional é considerada inovadora na medicina humana. Ainda assim, e até o momento, quase todas as informações diagnósticas obtidas por meio de imagens tridimensionais também são fornecidas pela ultra-sonografia bidimensional, o que será mantido por algum tempo 12. Existem algumas limitações na aplicação da ultra-sonografia 3D em mulheres, quando comparada ao ultra-som

Figura 1 - Imagem ultra-sonográfica de alta resolução de feto de uma cadela com 51 dias de gestação. (A) Fêmures fetais (setas). (B) Imagem do crânio fetal com identificação do olho (seta) Marcus Antônio Rossi Feliciano

Ultra-sonografia de alta resolução Para a avaliação do trato genital de cadelas, geralmente é utilizada a ultrasonografia de modo bidimensional convencional. Os transdutores de 3,5MHz a 10,0MHz são empregados para o diagnóstico da gestação, assim como de piometra, tumores ovarianos e outras afecções do sistema reprodutor 1. A ultra-sonografia bidimensional com transdutor de alta resolução (transdutor com freqüência maior – 10 a 15MHz) possibilita uma resolução espacial e lateral de melhor qualidade do que as imagens obtidas pelo ultra-som bidimensional convencional, possibilitando o diagnóstico e o acompanhamento da gestação com uma avaliação detalhada das estruturas e órgãos fetais 2. Alguns autores também citam a utilização desse exame para a avaliação oftálmica, músculo-esquelética e cardíaca do feto 7,8,9. Utilizando o transdutor de 15MHz para avaliar e acompanhar a gestação em cadela, pesquisadores verificaram melhor qualidade de imagem e maior precocidade diagnóstica no exame ultrasonográfico bidimensional de alta resolução do que no exame ultra-sonográfico bidimensional convencional (diferença média de cinco dias entre os dois

exames) 10. A realização do exame ultra-sonográfico com transdutor de alta resolução pode antecipar o diagnóstico gestacional em cadelas 11. No entanto, os autores descrevem apenas a visualização das vesículas gestacionais precocemente, e não especificam a freqüência do transdutor utilizado. Em trabalho no qual as imagens obtidas pela ultra-sonografia bidimensional convencional e de alta resolução foram comparadas, observou-se que a técnica de alta resolução apresenta melhor qualidade, permitindo a caracterização detalhada das estruturas embrionárias e fetais (Figuras 1, 2 e 3) 15. Contudo, deve-se ressaltar o alto custo dos equipamentos de alta resolução em relação aos equipamentos bidimensionais convencionais, geralmente portáteis e menores.

Marcus Antônio Rossi Feliciano

abdominais extra-reprodutivas. Para a maioria das cadelas os exames ultra-sonográficos convencionais podem ser realizados com transdutores de 5MHz. Em cadelas de raças pequenas, o exame pode ser realizado com transdutor de 7,5MHz, enquanto que em cadelas de raças grandes ou gigantes podem ser utilizados transdutores de 3,5MHz 6. O diagnóstico gestacional e a avaliação das estruturas fetais e uterinas ganharam grande impulso na medicina humana. Na medicina veterinária, verificou-se esse impulso com o advento da ultra-sonografia bidimensional de alta resolução, que permite a verificação dos índices de fluxo sangüíneo dos corpos lúteos, e da ultra-sonografia tridimensional, utilizada para a avaliação da morfologia fetal 6. O objetivo desta revisão é demonstrar novas técnicas do exame ultra-sonográfico gestacional em cadelas, ainda pouco utilizadas em medicina veterinária, e outros métodos de diagnóstico ultra-sonográfico gestacional em medicina humana, que podem ser de grande valia para a medicina veterinária.

Figura 3 - Imagem ultra-sonográfica de alta resolução do tórax e do abdômen de feto de uma cadela com 51 dias de gestação. Verifica-se, ao Doppler em cores, a aorta abdominal bifurcando-se nas artérias renais do feto

bidimensional 13. A ultra-sonografia tridimensional exige quantidade adequada (alta) de líquido intraplacentário, além de fase fetal já avançada, para a resolução das imagens 12. Da mesma forma, a ultra-sonografia 3D em cadelas não traz contribuições para a avaliação da gestação na fase do desenvolvimento embrionário, devido à pouca quantidade de líquido intraplacentário e ao pequeno desenvolvimento do organismo estudado 14. Relato da realização de exames

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Figura 5 - Imagem ultra-sonográfica tridimensional de feto de uma cadela com 51 dias de gestação. Observam-se os detalhes da cabeça do feto, destacando o focinho (a), o olho (b) e a pina (c) Marcus Antônio Rossi Feliciano

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Figura 4 - Imagem ultra-sonográfica tridimensional de feto de uma cadela com 35 dias de gestação. À esquerda nota-se a delimitação ultra-sonográfica bidimensional do feto. À direita observa-se a imagem ultra-sonográfica tridimensional do feto, destacando-se cabeça (a), tronco (b) e membros em formação (c) Marcus Antônio Rossi Feliciano

Pico de velocidade sístólica e índice de resistência vascular do corpo lúteo Em medicina humana, a viabilidade gestacional no primeiro terço da gravidez é verificada mediante a avaliação do fluxo sangüíneo do corpo lúteo. Para esse fim, é utilizada a mensuração do pico de velocidade sistólica (PVS) e do índice de resistência (IR) vascular do corpo lúteo 18,19. Em mulheres, os valores do PVS estão em torno de 27cm/s, e aqueles do IR variam de 0,41 a 0,57 20. Esses índices foram avaliados em uma cadela com a utilização de Doppler pulsado e transdutor de alta resolução 21. No ovário esquerdo, os valores de PVS e IR foram de 30,31cm/s e 0,52, respectivamente. No ovário direito, o PVS e o IR tiveram valores de 20,46cm/s e 0,42,

Marcus Antônio Rossi Feliciano

tridimensionais em cadela aos 15, 35 e 51 dias de gestação 15 aponta que: no 15º dia de gestação, o exame ultra-sonográfico 3D não forneceu imagens satisfatórias da vesícula embrionária; aos 35 dias de gestação foi possível identificar os fetos em desenvolvimento, podendo ser visualizados os membros em formação, a cabeça e o tronco dos fetos (Figura 4); no 51º dia, foi possível avaliar a morfologia fetal, sendo observados os membros já formados e detalhes da cabeça (focinho, olhos e orelhas) e do tronco dos fetos (Figura 5). Nesse estudo, não foram observadas alterações anatômicas nos fetos. O exame tridimensional não é eficaz para se observar a viabilidade fetal, pois não permite avaliar as estruturas de órgãos como o coração e outros mas apenas a morfologia externa do feto, e perde em informação diagnóstica quando comparado ao exame bidimensional 16. A ultra-sonografia 3D é um método auxiliar no diagnóstico ultra-sonográfico da gestação em humanos 17 e serve como complemento à ultra-sonografia bidimensional convencional, pois possibilita a avaliação da estrutura anatômica do feto. É importante ressaltar que o exame ultra-sonográfico 3D permite a identificação de anomalias fetais incompatíveis com a sobrevivência dos filhotes ou passíveis de causar distocia, como a hidrocefalia ou a macrocefalia. De qualquer maneira, as informações disponíveis sobre a eficácia diagnóstica dessa técnica ainda são insuficientes para justificar a aquisição da aparelhagem para uso no pré-natal em pequenos animais.

Figura 6 - Imagem ultra-sonográfica de alta resolução do ovário direito de uma cadela com 15 dias de gestação. Observa-se o ovário (seta) com presença de corpos lúteos (a). Ao Doppler pulsado verifica-se o fluxo sangüíneo para os corpos lúteos

respectivamente (Figura 6). Na comparação entre os valores de PSV e IR descritos para mulheres e aqueles obtidos pela análise do fluxo ovariano da cadela verificou-se similaridade nos índices de fluxo ovariano, indicando que os corpos lúteos do animal eram viáveis e funcionais. Já em outro estudo 22, no qual foram avaliados os mesmos índices em artérias uteroplacentárias de cadelas gestantes clinicamente saudáveis, observou-se que os índices de pulsatilidade e de resistência

vascular diminuíram ao longo da gestação, mantendo-se constantes apenas na artéria carótida comum fetal. Esse achado é relevante porque o desenvolvimento fetal depende de adequado suprimento sangüíneo. As alterações progressivas e características dos fluxos sangüíneos maternos e fetais durante a gestação, ao Doppler, mostram um aumento do pico de velocidade sistólica e uma diminuição do índice de resistência vascular 23. Entretanto, a determinação dos valores normais do PVS e do IR em cadelas gestantes requer novas e mais aprofundadas investigações, aí se incluindo pesquisas comparativas entre os índices vasculares dos corpos lúteos de cadelas gestantes e não-gestantes no diestro, com ou sem pseudociese. Assim, a escassez de trabalhos na espécie impede conclusões maiores sobre o assunto, até porque só será possível aprofundar a discussão quando os padrões para a espécie forem estabelecidos – o que demanda a realização de outras pesquisas. Outras técnicas de diagnóstico ultra-sonográfico Uma variação do Doppler em cores é o Doppler power ou energy, indicado para a avaliação da perfusão do estroma ovariano, do corpo lúteo, do endométrio, da placenta e da vascularização do pulmão e do cérebro do feto em humanos. A maior aplicabilidade dessa técnica é a avaliação da placenta e da unidade fetoplacentária, bem como de suas anomalias (fluxo sangüíneo uteroplacentário diminuído, ou seja, tendo como conseqüência a hipóxia fetal) 24. Não há relato da aplicação dessa técnica de diagnóstico em medicina veterinária. Considerações finais As novas técnicas ultra-sonográficas são promissoras na clínica de pequenos animais porque permitem precocidade no diagnóstico da prenhez e de outras alterações uterinas não fisiológicas (patológicas). O exame ultra-sonográfico bidimensional de alta resolução fornece melhor qualidade de imagem e maior precocidade para o diagnóstico gestacional em cadelas do que a ultra-sonografia bidimensional convencional, possibilitando avaliação mais eficaz das estruturas fetais e definição mais precisa da idade fetal em cadelas.

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Em pequenos animais, a realização da ultra-sonografia tridimensional pode ser indicada para a avaliação da morfologia fetal na fase final da gestação. Outras técnicas ultra-sonográficas, como o Doppler power ou energy, que no momento são empregadas somente na medicina humana, futuramente poderão ser utilizadas para a avaliação da gestação em cadelas. De qualquer forma, os elevados custos dos equipamentos de alta resolução e acoplados à ultra-sonografia tridimensional em relação aos mais simples (ultra-sonografia bidimensional convencional) devem ser considerados pelo ultra-sonografista, com foco na relação custo-benefício. Referências 01-NYLAND, T. G. ; MATTOON, J. S. Ultrasonography of the genital system. In: ______. Veterinary diagnostic ultrasound. Philadelphia: W. B. Saunders, 1995. p. 141-164. 02-ENGLAND, G. C. W. Ultrasonographic assessment of abnormal pregnancy. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, v. 28, n. 4, p. 849-868, 1998. 03-KUSTRITZ, M. V. R. Pregnancy diagnosis and abnormalities of pregnancy in the dog. Theriogenology, v. 64, n. 3, p. 755-65, 2005. 04-SERRA, E. G. ; GUIMARÃES, K. S. Avaliação ultra-sonográfica da gestação na espécie canina. Clínica Veterinária, Ano 1, n. 5, p. 18-19, 1996. 05-JARRETA, G. B. Ultra-sonografia do aparelho reprodutor feminino. In: CARVALHO, C. F. Ultra-sonografia em pequenos animais. São Paulo: Roca, 2004. p.181-206. 06-FELICIANO, M. A. R. Ultra-sonografia bidimensional convencional, de alta resolução e tridimensional no acompanhamento da gestação em cadela. Lavras: UFLA, 2006. 41p. 07-BENTLEY, E. ; MILLER, P. E. ; DIEHL, K. A.

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Luxação congênita bilateral de cotovelo em american pit bull terrier

Bruno Benetti Junta Torres MV, especialista, mestre brunobjtorres@yahoo.com.br

Leonardo Augusto Lopes Muzzi MV, MSc., dr.., prof. adj. III UFLA lalmuzzi@ufla.br

Bilateral congenital elbow luxation in American Pit Bull Terrier

Endrigo Gabellini Leonel Alves MV, especialista, mestrando UFMG endrigogabellini@yahoo.com.br

Gabriela Rodrigues Sampaio

Luxación congénita bilateral de codo en american pit bull terrier

MV, MSc., dra., profa. adj. III UFLA gabsampa@ufla.br

Ruthnéa Aparecida Lázaro Muzzi MV, MSc., dra., profa. adj. III UFLA

Resumo: Um cão macho da raça american pit bull terrier, com oito semanas de idade e histórico de deformidade e claudicação dos membros torácicos desde o nascimento, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Lavras. Por meio de exames clínico e radiográfico foi diagnosticada luxação congênita bilateral de cotovelo. Não foi obtido sucesso na tentativa de redução fechada da luxação, sendo indicada redução aberta. No mesmo procedimento cirúrgico realizou-se intervenção em ambos os membros. Redução e fixação temporária (por 14 dias no membro direito e 21 dias no esquerdo) com pinos transarticulares e tala de coaptação externa foram realizadas. O método cirúrgico permitiu a reparação do alinhamento articular, possibilitando a recuperação do apoio funcional dos membros acometidos. Unitermos: Cão, cirurgia, ortopedia, malformação, articulação úmero-radio-ulnar, pino transarticular

ralmuzzi@ufla.br

Karen Maciel de Oliveira Médica veterinária autônoma UFLA karenmacieloliveira@yahoo.com.br

Abstract: An eight-week-old male American Pit Bull Terrier was referred to the veterinary hospital of Universidade Federal de Lavras with a history of deformity and lameness of both forelimbs since birth. Clinical and radiographic examinations led to the diagnosis of bilateral congenital elbow luxation. Surgical open reduction was performed because closed reduction was not successful. Both members were treated during the same surgical procedure, in which both open reduction and joint fixation (for 14 days for the right member and 21 days for the left member) with temporary placement of transarticular pins and external splinting were performed. The surgical method allowed the recovery of joint arrangement and functional weight bearing was achieved. Keywords: Dog, surgery, orthopedics, malformation, elbow joint, transarticular pin Resumen: Un perro macho, de la raza american pit bull terrier, de ocho semanas de edad, con historia de deformidad y claudicación de los miembros torácicos desde su nacimiento, fue presentado al hospital veterinario de la Universidad Federal de Lavras. Por medio de exámenes clínicos y radiográfico se diagnosticó luxación congénita bilateral de codo. El intento de reducción cerrada no obtuvo suceso y entonces fue indicada la reducción abierta. En un mismo procedimiento quirúrgico fueron tratados ambos los miembros. Se procedió reducción quirúrgica y estabilización temporaria de la articulación (por 14 días en el miembro derecho e 21 días en el izquierdo) por medio de la colocación de agujas transarticulares y una férula de coaptación externa. El método quirúrgico permitió la reparación de la alineación articular, permitiendo la recuperación de la funcionalidad de los miembros acometidos. Palabras clave: Perro, cirugía, ortopedia, malformación, articulación humeroradiocubital, aguja transarticular

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Introdução A luxação congênita do cotovelo é uma alteração do desenvolvimento que resulta em incongruência da articulação úmero-rádio-ulnar, uni ou bilateral, e raramente descrita em pequenos animais 1,2 A causa dessa desordem ainda é desconhecida, embora se acredite que o problema seja resultado de uma falha embrionária na formação dos ligamentos intra-articulares 3,4. Foi proposta a origem hereditária com base na observação do envolvimento de vários irmãos de ninhada, mas esses mesmos elementos também podem sugerir uma causa teratogênica não relacionada à genética 2,3. De acordo com a literatura, na luxação congênita do cotovelo ocorrem aplasia ou hipoplasia do ligamento colateral 62

medial e do ligamento anular, e hipertrofia do ligamento colateral lateral, levando à hipoplasia dos processos coronóide e ancôneo, e ao arrasamento da incisura troclear 2,3,5,6,7. Em cães hígidos, o ligamento colateral lateral é mais largo e mais resistente do que o ligamento colateral medial, mais fino e comprido, mas não existem diferenças estruturais entre eles 8,9,10. Comumente, os casos relatados ocorreram em cães de pequeno porte e puros de raça, embora cães de raças de grande porte e gigantes ocasionalmente possam ser afetados 3,4,6,7. A ocorrência é rara em gatos 2,11. O distúrbio pode ocorrer ao nascimento ou manifestar-se até os quatro meses de idade 3,7. Geralmente, é identificado

quando o filhote tem de três a 16 semanas de idade, mas a consulta profissional é, na maioria das vezes, adiada até várias semanas mais tarde, sendo que a queixa principal é a claudicação contínua 2,3. A forma clássica da luxação congênita de cotovelo caracteriza-se pelo deslocamento lateral da ulna e pela rotação interna do antebraço 2,3. A terapia conservadora não resulta em melhora, sendo que a redução da luxação e a estabilização articular deverão ser feitas o mais breve possível, antes que ocorram alterações degenerativas secundárias, remodelagem articular e hipotrofia muscular. O tipo de técnica de redução utilizado depende da intensidade da luxação presente. A redução fechada pode ser bem sucedida se for possível, pela manipulação, retornar a articulação à posição anatômica; caso contrário, indicam-se a redução e fixação cirúrgica aberta 12. O presente trabalho tem como objetivo descrever o caso de luxação congênita bilateral do cotovelo em um cão, dando ênfase aos resultados do tratamento cirúrgico para redução e fixação da luxação e estabilização articular.

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Bruno Benetti Junta Torres

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olécrano, passando por entre os côndilos umerais, até atingir o canal medular umeral. A articulação do cotovelo foi mantida em angulação de apoio, em torno de 140º (Figuras 3A e 3B). No membro direito, foram utilizados dois pinos transarticulares (Figura 3B). As suturas da cápsula articular, fáscias, subcutâneo e pele foram realizadas de forma rotineira. No período pós-operatório, foi administrado meloxicam e (0,2mg/kg) por via oral, em intervalos de 24 horas, durante dez dias. Os membros foram mantidos com tala em espiga até a retirada dos pinos. Os dois pinos do membro direito foram retirados 14 dias após a cirurgia, e o pino do membro esquerdo foi retirado aos 21 dias. Foi sugerido repouso por quatro semanas após a cirurgia e, a seguir, fisioterapia por meio de movimentação passiva da articulação, com 15 a 20 movimentos de flexão e extensão, repetidos três vezes ao dia, pequenas caminhadas de dez minutos duas vezes ao dia, e natação por cinco minutos duas vezes ao dia. O animal foi acompanhado clínica e radiograficamente no período pós-operatório imediato e após 30, 60 e 180 dias. O presente paciente apresentou hiperextensão carpiana bilateral, sendo esta de grau moderado no membro esquerdo e de grau leve no membro direito, o que se tornou evidente no período de convalescença à redução dos cotovelos. Após quatro meses da cirurgia corretiva da luxação de cotovelo, o cão foi submetido

Figura 1 - Cão da raça american pit bull terrier, macho, com oito semanas de idade e luxação congênita bilateral de cotovelo. Em posicionamento ortostático, os cotovelos mantinham-se abduzidos e em flexão, com rotação interna do membro. Os carpos mantinham-se flexionados e o cão sustentava o peso na porção craniomedial do antebraço

A

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a) Clorpromaz® - União Química Farmacêutica Nacional S/A. Embu-guaçu. SP b) Dormire® - Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda. Itapira. SP c) Propovan® - Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda. Itapira. SP d) Isofluorane® - Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda. Itapira. SP e) Maxicam® - Ouro Fino Saúde Animal. Ribeirão Preto. SP

indução com propofol c (5mg/kg). Realizou-se a manutenção anestésica com isoflurano d inalável em circuito semi-fechado. Não foi obtido sucesso na tentativa de redução fechada da luxação, sendo indicada a redução aberta e fixação cirúrgica. No mesmo procedimento anestésico, realizou-se intervenção em ambos os membros. Foi utilizado acesso caudolateral na articulação do cotovelo, seguido de capsulotomia lateral, desmotomia do ligamento colateral lateral e miotomia do músculo ancôneo. Após a redução da luxação, o alinhamento articular foi mantido com a utilização de pino transarticular. Com auxílio de furadeira em baixa rotação, foi introduzido um pino de Steinmann, de 1,5mm de diâmetro, desde a porção caudal do Bruno Benetti Junta Torres

Relato de caso Um cão macho da raça american pit bull terrier, com oito semanas de idade e histórico de deformidade dos membros torácicos desde o nascimento, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Lavras. Em posicionamento ortostático, os cotovelos mantinham-se abduzidos e em flexão, com rotação interna da extremidade distal do membro (Figura 1). O cão mantinha os carpos flexionados e sustentava o peso na porção craniomedial do antebraço, o que propiciou ulceração cutânea devido ao apoio irregular dos membros. À palpação observou-se deslocamento lateral do olécrano e do tendão do tríceps, acompanhado de moderada hipotrofia muscular. Havia diminuição da amplitude de movimentos da articulação do cotovelo, sem presença de dor ou crepitação. À avaliação radiográfica dos cotovelos, pôde-se visualizar aumento do espaço articular e incongruência da articulação úmero-rádio-ulnar, bilateralmente. A extremidade proximal da ulna encontrava-se deslocada lateralmente, e não havia sinais de doença articular degenerativa (Figura 2). O cão foi submetido à tranqüilização com a administração intravenosa da associação de clorpromazina a (1mg/kg) e midazolam b (0,3mg/kg), seguida pela

Figura 2 - Imagem radiográfica em projeção mediolateral da articulação úmero-rádio-ulnar de cão da raça american pit bull terrier, com oito semanas de idade e luxação congênita bilateral de cotovelo. Notar aumento do espaço articular, incongruência da articulação e deslocamento da extremidade proximal da ulna

B

Figura 3 - Imagens radiográficas em projeção mediolateral da articulação úmero-rádio-ulnar de cão da raça american pit bull terrier de oito semanas de idade. Articulações dos cotovelos esquerdo (A) e direito (B) mostrando redução da luxação e manutenção do alinhamento articular por meio da utilização de pino transarticular, mantendo a angulação de apoio em torno de 140º. No membro direito (B) foram utilizados dois pinos transarticulares

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à artrodese pancarpal do membro esquerdo, com emprego de placa cirúrgica. Resultados e discussão O presente relato refere-se a um cão com faixa etária, histórico e alterações clínicas semelhantes aos casos de luxação congênita de cotovelo descritos na literatura 2,3,7. No citado animal, não havia presença de dor e crepitação à manipulação dos membros acometidos. Dor e crepitação não estão presentes na maioria dos casos de luxação congênita, ao contrário do que ocorre nas luxações traumáticas, nas quais esses sinais são observados com freqüência 13,14,15,16. De forma similar ao caso ora descrito, a literatura traz relatos de que há o comprometimento bilateral na maioria dos cães com luxação congênita de cotovelo 6. Segundo diversos estudos, ainda que a raça american pit bull terrier não esteja relacionada entre aquelas predispostas à afecção, há registros de acometimento em raças de grande porte 3,4,6,7. Seguindo recomendações descritas anteriormente, foram realizadas imagens radiográficas nas projeções mediolateral e craniocaudal em ambos os membros, permitindo uma avaliação detalhada da alteração articular 17. No exame radiográfico foram encontradas alterações semelhantes aos achados de estudos anteriores, como acentuado deslocamento lateral da porção proximal da ulna e permanência da articulação radio-umeral relativamente inalterada 3,18. Além disso, não havia sinais radiográficos de doença articular degenerativa, o que está em conformidade com os relatos de outros autores 2,3,7. À artrotomia, o ligamento colateral lateral encontrava-se hipertrofiado e impedia a redução da luxação. Durante a capsulotomia medial, os ligamentos colateral medial e anular não puderam ser distinguidos da cápsula articular incisada. Os côndilos umerais encontravam-se aumentados, a fossa troclear rasa e, aparentemente, os processos coronóide e ancôneo encontravam-se hipoplásicos. Acredita-se que as alterações articulares presentes nesse caso sejam secundárias às alterações ligamentares. Estudo anterior explica que a hipertofia do ligamento colateral lateral pode ocorrer em função da hipoplasia dos ligamentos colateral medial e anular 5. Tais autores 64

ainda citam que a instabilidade advinda dessas alterações ligamentares permite que as superfícies articulares se tornem incongruentes. No presente relato, tanto as alterações ligamentares como as articulares estavam presentes à artrotomia, confirmando os achados radiográficos. Não está elucidado se a hipoplasia dos ligamentos colateral medial e anular levaram a uma instabilidade tal que pudesse provocar a luxação articular encontrada. Provavelmente, o ligamento colateral lateral encontrava-se hipertrofiado para compensar a hipoplasia do ligamento contralateral. À artrotomia, os processos coronóide e ancôneo mostravam-se aparentemente hipoplásicos. Entretanto, fica difícil concluir se essas alterações articulares eram realmente anormalidades, ou se esses processos ainda não estavam totalmente formados. Os processos ancôneo e coronóide medial podem não estar totalmente formados em um cão muito jovem, fase em que os casos de luxação são apresentados 17. Desta forma, recomenda-se que radiografias sejam realizadas com o animal em idade mais avançada. Nos casos de luxação congênita do cotovelo detectada antes de doze semanas de vida, o tratamento cirúrgico de eleição é a redução fechada acompanhada de imobilização do membro. Já em filhotes mais velhos, está indicada a prática de redução cirúrgica aberta, seguida pela manutenção do alinhamento articular com utilização de pino transarticular 7,19. A artrodese do cotovelo ou a amputação do membro devem ser consideradas como último recurso para a recuperação do animal 20,21,22. No atual estudo, embora o cão tenha sido apresentado com oito semanas de idade, a redução fechada mostrou-se impraticável devido ao encurtamento e à hipertrofia do ligamento colateral lateral observados durante a redução aberta. Somente após a desmotomia desse ligamento foi possível reduzir a luxação. A abordagem caudolateral permitiu acesso adequado à articulação do cotovelo, acesso este recomendado pela maioria dos autores devido à maior facilidade de exposição articular 12,23. Todavia, outros autores obtiveram bons resultados por meio da abordagem caudomedial 6. A escolha de intervir em ambos os lados no mesmo procedimento cirúrgico baseou-se em relatos anteriores,

que referem maior precocidade na utilização dos membros afetados quando operados simultaneamente, do que quando submetidos a duas intervenções separadamente 6. A técnica de utilização de pinos transarticulares mostrou-se de fácil aplicação, permitindo manter o alinhamento ósseo e articular (Figura 4). É importante que a articulação do cotovelo seja fixada em angulação de apoio do membro, em torno de 140º 20. Essa angulação possibilita ao animal o apoio do membro operado durante o período de recuperação. Além disso, caso haja diminuição da amplitude de movimentos ou anquilose da articulação, o cotovelo se encontra em uma angulação que permite o uso funcional do membro. Não há consenso sobre o período de manutenção do pino transarticular para fixação da luxação congênita do cotovelo. Relatou-se manutenção do pino transarticular por dez dias, e após esse período, as alterações na amplitude de movimentos foram mínimas 1. Alguns autores recomendam a manutenção do pino por quatro semanas 24, enquanto outros indicam a retirada dos pinos após sete dias de pós-operatório 3. Um estudo descreve redução de luxação congênita no cotovelo em um cavalier King Charles spaniel no qual o pino transarticular foi mantido por onze dias 25. No atual trabalho, os dois pinos do membro direito foram mantidos por duas semanas, e o pino do membro esquerdo foi mantido por três semanas. Esse período mostrou-se suficiente para que os tecidos periarticulares mantivessem a articulação em adequado posicionamento após a retirada dos implantes. Entretanto, após sessenta dias da intervenção cirúrgica, as articulações ainda apresentavam acentuada diminuição da amplitude de movimentos, principalmente aquela que permaneceu fixada por três semanas. Apesar disso, o animal mostrava apoio satisfatório dos membros, sendo restabelecido o eixo ósseo e articular. Optou-se pela retirada precoce dos pinos do membro direito, justamente pela rigidez da fixação conferida pela presença de dois pinos, supondo-se que a manutenção desses por período mais prolongado, como realizado no membro esquerdo, pudesse resultar em uma redução demasiada e irreversível da amplitude articular. Existem três problemas associados à

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utilização de pinos transarticulares:1 o pino viola o princípio de não atravessar uma superfície articular com um implante; o dano à cartilagem articular, que pode contribuir para alterações degenerativas do cotovelo; a possibilidade de fechamento ou alteração das placas epifisárias que foram atravessadas pelo pino. No presente caso, a diminuição da amplitude de movimentos pode estar associada com lesão iatrogênica à cartilagem, causada pelo pino transarticular, entretanto, não havia sinais de alterações articulares degenerativas 180 dias após a intervenção. Acredita-se que a diminuição da amplitude de movimentos tenha ocorrido devido à fibrose dos tecidos periarticulares, sendo recomendado o tratamento fisioterápico para reabilitação pós-operatória. Além disso, a técnica empregada não interferiu no crescimento dos membros acometidos. A luxação congênita de cotovelo também pode ocorrer em associação à frouxidão articular generalizada (artrodisplasia) 3,6. Radiografaram-se os carpos de seis cães com luxação congênita de cotovelo, e cinco deles apresentaram desvio lateral do carpo e dos dígitos 17. Enfatizando esses achados, o presente paciente também apresentou hiperextensão carpiana bilateral. Dois meses após a artrodese pancarpal do membro esquerdo já se observava radiograficamente a fusão dos ossos do carpo e o cão apresentava apoio funcional dos

Figura 4 - Imagem radiográfica em projeção mediolateral da articulação úmero-rádio-ulnar de cão da raça american pit bull terrier, de oito semanas de idade, que apresentava luxação congênita bilateral de cotovelo. Aspecto da articulação do cotovelo esquerdo 30 dias após redução da luxação. Observar a manutenção do alinhamento ósseo e articular

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membros torácicos. O membro direito que apresentava hiperextensão carpiana de grau leve não necessitou de intervenção cirúrgica, já que o problema foi minimizado com a utilização de tala durante quinze dias. O objetivo primário da cirurgia para redução da luxação de cotovelo, que deve ser o retorno satisfatório da função do membro, foi alcançado neste cão, embora muitas vezes uma incongruência na articulação do mesmo possa persistir 6,19. Nas avaliações radiográficas pós-operatórias observou-se discreta incongruência articular. Assim, foram instituídos exercícios fisioterápicos e, após seis meses da intervenção cirúrgica dos cotovelos, o cão já apresentava massa muscular bem desenvolvida nos membros operados, alinhamento adequado do eixo ósseo e pequeno aumento na amplitude dos movimentos, o que lhe possibilitava uma deambulação satisfatória, muito próxima à de um cão normal. Referências 01-WITHROW, S. J. Management of a congenital elbow luxation by temporary transarticular pinning. Veterinary Medicine, Small Animal Clinician, v. 72, n. 10, p. 1597-1602, 1977. 02-CHAMBERS, J. N. Problemas do desenvolvimento e problemas congênitos do antebraço e articulações adjacentes. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996. p. 966-973. 03-KOMTEBEDDE, J. ; VASSEUR, P. B. Luxação do cotovelo (Articulação úmero-rádio-ulnar). In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1998. v. II, p. 2048-2056. 04-HOSKINS, J. D. Defeitos congênitos do cão. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária: doenças do cão e do gato. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. v. II, apêndice 3, p. 2087-2101. 05-BINGEL, S. A. ; RISER, W. H. Congenital elbow luxation in the dog. The Journal of Small Animal Practice, v. 18, n. 7, p. 445-456, 1977. 06-MILTON, J. L. ; HORNE, R. D. ; BARTELS, J. E. ; HENDERSON, R. A. Congenital elbow luxation in the dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 175, n. 6, p. 572-582, 1979. 07-PIERMATTEI, D. L. ; FLO, G. L. A articulação úmero-rádio-ulnar (do cotovelo). In: ______. Manual de ortopedia e tratamento das fraturas dos pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Manole, 1999. parte II, p. 270-300. 08-SISSON, S. Articulações do carnívoro. In: GETTY, R. Anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. 09-VOGELSANG, R. L. ; VASSEUR, P. B. ; PEAUROI, J. R. ; KASS, P. H. ; SHARKEY, N. Structural, material, and anatomic characteristics of the collateral ligaments of the canine cubital

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Entendendo e reconhecendo a osteocondrose em cães

Emily Correna Carlo MV, especialista, mestre Depto. Veterinária/UFV emilycarlo@yahoo.com.br

Andrea Pacheco Batista Borges

Understanding and recognizing osteochondrosis in dogs

MV, mestre, dra., profa. Depto. Veterinária/UFV andrea@ufv.br

Entendiendo y reconociendo la osteocondrosis en perros Resumo: A osteocondrose, doença caracterizada por uma deficiência na ossificação endocondral, deve ser considerada entre os diagnósticos diferenciais de cães jovens apresentados ao médico veterinário com claudicação. Acredita-se que sua etiologia seja multifatorial, envolvendo condições como trauma, consumo excessivo de nutrientes, fatores hereditários e rápido crescimento. No cão, afeta principalmente a cabeça do úmero, mas também o côndilo medial da epífise distal do úmero, o côndilo medial ou lateral do fêmur e a extremidade medial ou lateral do tálus. A não união do processo ancôneo e a fragmentação do processo coronóide também são manifestações da osteocondrose. O histórico, o exame clínico minucioso e radiografias precisas são suficientes para o diagnóstico na maioria dos casos, fornecendo a base necessária para um tratamento efetivo e um prognóstico correto. Unitermos: Ortopedia, claudicação, osteocondrite dissecante Abstract: Osteochondrosis is a disease characterized by an endochondral ossification deficiency. It needs to be considered for differential diagnosis when a dog is presented with lameness to the veterinary medical hospital. It is believed to have multifactor etiology. Possible causes include trauma, excessive food intake, hereditary factors and fast growth. The most affected area in dogs is the humeral head, but it can also involve the humeral distal epiphysis, the medial or lateral condyle of the femur, as well as the lateral or medial trochlear ridge of the talus. The ununited anconeal process and fragmented coronoid process are also manifestations of osteochondrosis. History, detailed physical examination and meticulous radiographs are enough for the diagnosis in most cases, providing the necessary basis for an effective treatment and correct prognosis. Keywords: Orthopedics, lameness, osteochondritis dissecans Resumen: La osteocondrosis, enfermedad caracterizada por una deficiencia en la osificación endocondral, debe ser considerada entre los diagnósticos diferenciales en pacientes caninos jóvenes que llegan a consulta veterinaria por claudicación. Se cree que tenga etiología multifactorial, con causas como factores traumáticos, consumo excesivo de nutrientes, factores hereditarios y crecimiento rápido. En el perro afecta principalmente la cabeza del húmero, pero también el cóndilo medial de la epífisis humeral, el cóndilo medial o lateral del fémur o latero-medial del calcáneo. La no unión del proceso ancóneo y la fragmentación del proceso coronoide también son manifestaciones de osteocondrosis. La historia, el examen clínico detallado y radiografías adecuadas son suficientes para el diagnóstico en la mayoría de los casos, proporcionando los fundamentos necesarios para un tratamiento efectivo y un pronóstico correcto. Palabras clave: Ortopedia, claudicación, osteocondritis disecante

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Introdução A osteocondrose é uma desordem multifatorial que ocorre na cartilagem epifisária articular e na placa de crescimento na espécie humana e em diversas espécies animais, inclusive nos cães 1,2. A doença apresenta diferentes aspectos, dependendo do estágio em que é constatada, mas há grandes similaridades entre as manifestações da osteocondrose nos animais e nos humanos, tais como o acometimento na fase de crescimento, a natureza bilateral da lesão e sua capacidade de envolver múltiplos locais 3. Nos cães, comumente ocorre na cabeça do úmero, no côndilo medial da epífise distal do úmero, no processo ancôneo, no processo coronóide, no côndilo medial ou lateral do fêmur e na extremidade medial ou lateral do tálus 4, locais estes que apresentam características 68

comuns: são relativamente lentos para ossificar e estão mais expostos a pequenas injúrias, pressão e tensão, devido ao seu formato. Pode ocasionalmente ocorrer em outros locais, como a superfície glenóide da escápula (na região lateral do processo ancôneo), as vértebras cervicais e a margem dorsal do acetábulo 5. Ao se deparar com um cão com dor em determinada articulação, é comum o médico veterinário atribuir aquela manifestação a uma doença de ocorrência mais comum, como a ruptura do ligamento cruzado no joelho e a não-união do processo ancôneo no cotovelo. Contudo, deve-se ter em mente a gama de agravos passíveis de ocorrência em cada articulação para evitar erros de diagnóstico, o que prejudicaria o tratamento e o prognóstico.

Diferentemente do que se observa na medicina humana, os métodos de diagnóstico mais avançados para as doenças articulares ainda não estão disponíveis na rotina da clínica veterinária, mas o adequado conhecimento da etiologia e da fisiopatologia desses agravos pode superar essa deficiência, constituindo-se na principal ferramenta para o clínico de pequenos animais. Além de se constituir em um alerta sobre a osteocondrose, doença conhecida já há algum tempo mas muitas vezes esquecida na rotina do clínico de pequenos animais, o presente trabalho apresenta formas simples de diagnóstico – disponíveis a todos os profissionais – que possibilitam o pronto reconhecimento da doença, e esclarece detalhadamente a sua etiofisiopatogenia, facilitando a escolha o tratamento mais adequado para cada caso.

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Cartilagem e ossificação endocondral Com exceção de alguns ossos do crânio, o esqueleto é cartilaginoso antes de sua ossificação. Dos três meses de idade até que o crescimento do indivíduo esteja completo, a ossificação é uma parte integrante do processo de desenvolvimento, que é mantido pela metáfise e pela epífise 6. O processo de ossificação endocondral envolve toda a cartilagem metafisária. Na parte mais próxima do interior da epífise está a zona de repouso, onde as células são achatadas. Essas células sofrem mitoses e crescem respectivamente em direção à diáfise ou à superfície articular, tornando-se mais redondas e formando colunas na zona das células colunares. Elas continuam sendo empurradas nessas direções, tornam-se vesiculadas e sua matriz calcifica. As células morrem e são reabsorvidas junto com sua matriz por condroclastos. Túneis se formam na cartilagem e são invadidos por vasos sangüíneos e células osteogênicas. Os osteoblastos iniciam a formação do osteóide (a matriz óssea), que logo mineraliza e cobre as paredes desses túneis, o que resulta no osso esponjoso primário, rede delicada de trabéculas com um centro cartilaginoso. As trabéculas são reabsorvidas e outras se formam, constituindo o osso esponjoso secundário. Com a continuação do crescimento, o osso trabecular – na altura da parte média da diáfise – é substituído por medula óssea 7,8. Como foi citado acima o mesmo processo ocorre na cartilagem articular, na qual estão localizadas as zonas de repouso e de células proliferativas e, em seguida, a zona de células hipertróficas vesiculadas, onde a cartilagem é invadida por vasos que pavimentam o caminho para a ossificação 6,8. A cartilagem articular possui poucos ou nenhum vaso sangüíneo, o que compromete a sua reparação em casos de injúria. Sabe-se que os condrócitos próximos a uma lesão respondem a esta com produção de matriz e divisões celulares, mas essa resposta não é duradoura e muito menos eficiente no reparo de defeitos 1. Etiologia/fatores de risco Embora a etiologia da osteocondrose seja considerada multifatorial, não necessariamente todos os possíveis fatores

estão envolvidos na evolução da doença em um mesmo animal 1. Trauma, fatores hereditários, fatores nutricionais e rápido crescimento foram sugeridos como os mais importantes no início e na evolução das lesões 2. A teoria mais amplamente proposta em todas as espécies a respeito da etiologia da osteocondrose refere-se ao trauma. É pouco provável que essa condição seja a causa base da osteocondrose, mas certamente participa do quadro, podendo ser o fator deflagrador dos sinais clínicos. Os aspectos macro e microscópicos das lesões crônicas são compatíveis com essa teoria, assim como o fato de algumas das áreas de predileção se localizarem em regiões de estresse biomecânico maior 1. Estudos da biomecânica da articulação escapuloumeral sugerem que a superfície articular caudal da cabeça do úmero suporta mais peso proveniente da região caudal da cavidade glenóide, especialmente com a articulação estendida 12,15. Além disso, verificou-se que pisos rígidos aumentam a prevalência e a gravidade da moléstia 1. A teoria da isquemia local foi proposta quase na mesma época em que o trauma foi apontado como fator etiológico da osteocondrose. A isquemia local secundária a defeitos nos vasos sangüíneos dos canais da cartilagem seria um fator chave para o início das lesões de osteocondrose, e explica muitas das manifestações da doença 9. O surgimento e a evolução da osteocondrose sofrem influência da predisposição genética como pode ser constatado em cães, espécie na qual algumas raças apresentam maiores índices de acometimento 1. Em estudo realizado com 630 cães portadores de osteocondrose, encontraram-se muitas amostras de ninhadas em que um terço ou mais dos filhotes foram acometidos 6. Alguns trabalhos mencionam o rápido crescimento como participação importante na etiologia da osteocondrose 6. Em todas as espécies, exceto nos suínos, os machos são mais predispostos, mas não se sabe ao certo se existe um fator ligado ao sexo, ou se este é um efeito da maior taxa de crescimento de cães machos 20. Existem hipóteses de que uma incongruência transitória nas taxas de crescimento do rádio e da ulna possa ser um

fator para a não-união do processo ancôneo e a fragmentação do processo coronóide, bem como para as lesões de osteocondrose localizadas na porção distal do úmero 1. A osteocondrose ocorre em animais em crescimento, mais comumente naqueles de raças grandes e gigantes – ambas de crescimento rápido –, podendo possuir um componente nutricional em sua etiologia. Em cães com menos de um ano de idade, a incidência de problemas músculo-esqueléticos é de aproximadamente 22%, sendo que em 20% destes a etiologia foi relacionada a um componente nutricional. O esqueleto é mais susceptível a agressões metabólicas e físicas durante os primeiros doze meses de vida, já que nessa época a atividade metabólica é mais intensa 4. Pesquisas em algumas espécies sugerem que componentes dietéticos específicos influenciam o desenvolvimento da osteocondrose. Diversos aspectos nutricionais foram estudados como fatores de risco para a osteocondrose, como dietas com alta energia, alta quantidade de proteínas, consumo excessivo de cálcio e fósforo e desbalanço de cálcio, fósforo e vitamina D 12. Pesquisas indicam que a quantidade absoluta de cálcio da dieta tem maior influência sobre o desenvolvimento esquelético do que o desequilíbrio na relação cálcio:fósforo. Cães de raças gigantes alimentados com excesso de cálcio e quantidade normal de fósforo – ou quantidade aumentada desse componente para manter a relação cálcio:fósforo – tiveram maior freqüência de osteocondrose, e também maior severidade da doença 4. A alimentação ad libitum em jovens cães dinamarqueses levou à ocorrência de várias anormalidades esqueléticas e a distúrbios cartilaginosos, inclusive a osteocondrose 23. O consumo de energia afeta não só a velocidade do crescimento como os vários mecanismos reguladores endócrinos do organismo, aí se incluindo o hormônio de crescimento, fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IgF-1), à tiroxina e à insulina 4. Um exemplo da ação dos hormônios é o fato de que os hormônios sexuais influenciam o crescimento da cartilagem. A testosterona tem efeito estimulante no crescimento epifisário, e age em sinergia com o hormônio do crescimento. O estrógeno exibe efeitos contrários, promovendo o

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aumento da calcificação e o estreitamento da zona de ossificação endocondral da cartilagem epifisária 23.

Figura 1- Formação do espessamento cartilaginoso para a ocorrência de osteocondrose

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que esses fragmentos cicatrizem de volta ao leito da lesão. Os fragmentos cartilaginosos podem ser reabsorvidos ou nutridos pelo líquido sinovial e continuar a crescer, mesmo depois da separação 2,13. Podem também se fixar à membrana sinovial, passar por uma vascularização parcial, e calcificar 6 ou se deslocar para a bainha sinovial do tendão biceptal, quando a artrografia se torna de grande utilidade. Doença inflamatória aguda na articulação pode ocorrer quando o osso é exposto ao líquido sinovial, mediadores da inflamação e fragmentos de cartilagem são liberados na articulação e perpetuam o ciclo da doença degenerativa 4. Terminações nervosas livres estão presentes no osso subcondral, motivo pelo qual é possível que a dor associada à osteocondrite dissecante seja decorrente da exposição do osso subcondral a mediadores inflamatórios presentes no líquido sinovial da articulação afetada. Uma teoria alternativa é que a sinovite que acompanha a osteocondrite dissecante pode não ser grave o suficiente para causar sinais clínicos de dor e de claudicação até que as fissuras ocorram. Sabese que a cartilagem articular possui Emily Correna Carlo

Fisiopatologia Na osteocondrose, falhas locais no processo de ossificação endocondral ocorrem quando as células da cartilagem não diferenciam normalmente. As células da zona de repouso multiplicam normalmente e formam colunas, mas não hipertrofiam ou se tornam vesiculadas como deveriam. Isso aparentemente impede que os condroclastos “trabalhem”, e tal ocorrência ergue uma barreira para a penetração vascular, a despeito da abundância de vasos nas proximidades da cartilagem 6. Os vasos sangüíneos e os osteoblastos não chegam ao local, e assim a ossificação não ocorre. A continuação do crescimento da cartilagem, a não absorção da cartilagem e a não formação de osso na extremidade óssea resultam no espessamento da cartilagem nesse local 1,9,10 (Figura 1). Alguns autores sugerem que a osteocondrose não é apenas uma falha na ossificação endocondral, mas uma seqüela do fim prematuro de suprimento sangüíneo para a cartilagem epifisária de crescimento causada pela interrupção focal dos vasos da medula óssea aos canais da cartilagem. De acordo com esses estudiosos, a osteocondrose ocorre secundariamente à necrose isquêmica causada por microtraumas nos vasos sangüíneos dos canais da cartilagem, na zona de transição entre osso e cartilagem. Esses traumas podem ser influenciados por fatores hereditários, como conformação anatômica e/ou qualidade do osso e da cartilagem circundante, que podem ser agravados por estresse mecânico na área, durante o curto período de tempo em que esses vasos existem. Múltiplos fatores podem contribuir para a vulnerabilidade desses vasos: eles podem ser o resultado de anastomoses recentemente formadas ou em formação e, por esse motivo, instáveis; eles atravessam a zona de ossificação, que tem fatores de crescimento em abundância – como as angioproteínas, por exemplo –, os quais podem ter efeito desestabilizante em suas paredes; a cartilagem e o osso circundantes são relativamente mais fracos, apresentando alta relação célula/matriz quando comparados com outras partes da cartilagem, e baixa

mineralização quando comparados ao osso maduro, resultando em suporte mecânico insuficiente; as áreas predispostas à osteocondrose são expostas a forças mecânicas maiores, que podem facilitar a compressão e a ruptura desses vasos 11. A cartilagem necrótica é mais fraca e mais friável do que o osso trabecular que deveria estar nesse local e, por esse motivo, mais susceptível a trauma 1. Forças na articulação, causadas por exercício vigoroso, podem ser responsáveis por criar essas fissuras na cartilagem patologicamente espessada, levando ao desenvolvimento de um retalho (flap) cartilaginoso nessa área e aos sinais clínicos 12 (Figura 2). O termo osteocondrite refere-se ao processo inflamatório que se instala na articulação, e a palavra dissecante está relacionada ao flap de cartilagem desconectado da base 6. É nessa fase que existe a osteocondrite dissecante, e que aparecem os sinais clínicos de sinovite 1. Esse flap cartilaginoso pode permanecer aderido à cartilagem por uma extremidade ou se soltar, constituindo um ou mais fragmentos livres dentro da articulação 1. Após a separação, não é possível

Figura 2- Formação do retalho (flap) cartilaginoso para a ocorrência de osteocondrite dissecante

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muito poucas terminações nervosas, competindo à membrana sinovial e ao osso subcondral o papel sensitivo. Fissuras da cartilagem e exposição do osso subcondral podem resultar na liberação de microscópicos fragmentos de cartilagem, sabidamente causadores de sinovite 2. Outra fonte potencial de dor é a estimulação de nociceptores no osso subcondral pelo movimento entre o flap de cartilagem e o osso, ou por alteração na carga mecânica e na transmissão da pressão ao osso subcondral ou tecidos periarticulares 14. Os sinais da doença degenerativa variam de acordo com a extensão e a severidade da lesão e a idade do paciente quando apresentado ao médico veterinário 15,16,17. Pesquisadores apresentaram hipóteses que apontam as mudanças moleculares primárias na matriz pericelular da cartilagem como causa da osteocondrose em humanos e animais. Dentre essas mudanças está a perda de glicosaminoglicanos – incluindo o sulfato de condroitina – nas cartilagens com lesões de osteocondrose. Em cartilagens articulares provenientes de suínos com ocorrência natural de osteocondrose, foram observados decréscimo no conteúdo total de colágeno tipo II, e redução das ligações entre moléculas de colágeno tipo II 3. Demonstrou-se também que a quantidade de glicosaminoclicanos e colágenos tipo X é menor na cartilagem afetada pela osteocondrite dissecante, e que esta possui maior quantidade de colágeno tipo I do que a cartilagem normal 18. Já há algum tempo, estudos em suínos têm servido como base para o entendimento da fisiopatologia da osteocondrose em cães, eqüinos e humanos 3. Pesquisadores demonstraram que a viabilidade celular e a composição da matriz em culturas tridimensionais de condrócitos provenientes de lesões de osteocondrose são inferiores àquelas da cartilagem normal. Isso indica que pelo menos uma parte das alterações na matriz de cartilagens afetadas pela osteocondrose pode ser atribuída à interrupção da produção de matriz pelos condrócitos. Contudo, ainda não se sabe se essas mudanças constituem-se em causa ou efeito da doença. Em adição à reduzida produção macromolecular da matriz pelos condrócitos, o remodelamento anormal e a degradação da matriz extracelular também podem contribuir 72

com alterações nas características biomecânicas da cartilagem afetada pela osteocondrose 19. Existem quatro gradações da lesão, desde a mais branda, de primeiro grau – em que a superfície articular está macroscopicamente normal, embora seja observado pequeno defeito no osso subcondral –, até a de quarto grau – que apresenta fratura vertical da cartilagem articular e separação do pedículo cartilaginoso do osso subjacente. A grande freqüência de diagnósticos de osteocondrose de quarto grau em cães, deve-se à ausência de sinais clínicos dos graus anteriores 2. A osteocondrose das placas de crescimento de cães tem importância clínica relativamente pequena, exceto nas placas de crescimento da ulna e, em alguns casos, nas placas do rádio. A hipótese mais aceita é que um hipercrescimento da ulna aplica carga anormal no processo coronóide medial e no côndilo medial do úmero e que, se tais estruturas estão enfraquecidas por retardo da ossificação, surgirão a fragmentação do processo coronóide e a osteocondrite dissecante 20,21. Existe também a hipótese de que um desenvolvimento anormal da incisura troclear resultaria em incisura elíptica, com um arco de curvatura pequeno para conter a tróclea umeral 21. Já no caso da não-união do processo ancôneo, o hipercrescimento do rádio parece forçar a tróclea do úmero na direção proximal, exercendo maior pressão sobre o processo ancôneo, o que resulta em lesão à cartilagem articular e ao centro de ossificação do processo ancôneo. Em decorrência da osteocondrose, toda a estrutura fica menos resistente ao traumatismo, e uma laceração na cartilagem enfraquecida pode causar separação impedindo que o tecido ósseo promova a união óssea entre o processo ancôneo e o restante da ulna 6. As fissuras são menos comuns na cartilagem metafisária de crescimento, mesmo nos casos em que a necrose se desenvolveu. Aparentemente, essa cartilagem não é tão susceptível à mesma quantidade de estresse e pressão que a cartilagem articular. Também se deve ressaltar que, em muitos casos em que há retenção de cartilagem metafisária, não ocorre necrose. Sua nutrição é aparentemente melhor do que aquela da cartilagem articular 6,22.

Osteocondrose da cartilagem das superfícies articulares O local de ocorrência mais freqüente da osteocondrose da cartilagem das superfícies articulares é a articulação escapuloumeral, na região caudocentral ou caudocentromedial da cabeça do úmero 14. Ocorre também a osteocondrose do côndilo medial do úmero – que apresenta maior incidência unilateral –, que acomete igualmente os cotovelos direito e esquerdo 2. A osteocondrose do joelho é quase idêntica à da cabeça umeral, e atinge predominantemente o côndilo femoral lateral. Lesões unilaterais no côndilo medial são muito raras, mas lesões bilaterais já foram descritas 24. A osteocondrite dissecante do tarso não é tão freqüente quanto a osteocondrite dissecante da cabeça do úmero, da articulação umeroradioulnar e do côndilo femoral, mas é comum o suficiente para ser incluída entre os diagnósticos diferenciais em casos de claudicação de membro pélvico em cães jovens 25. O local mais comumente afetado é a superfície plantar da tróclea medial, mas também pode afetar a superfície lateral do tálus, com maior ocorrência unilateral 13,25. Estudos envolvendo grande número de casos demonstraram relação macho:fêmea de 2,24:1, e estudos que avaliaram pequeno número de casos relatam relação de 2:1 a 6:1 14. No caso da osteocondrite dissecante do tarso, diferentemente das outras manifestações de osteocondrose, machos e fêmeas são igualmente acometidos 21. De acordo com a literatura, a idade de aparecimento dos sinais clínicos varia de três meses a cinco anos, com maioria entre cinco e dez meses de idade 2 e entre cinco e seis meses de idade 23. Deve ser ressaltado, contudo, que um estudo retrospectivo mostrou que, em aproximadamente 17% dos casos, os animais tinham mais de doze meses de idade quando foi feito o diagnóstico 23. Na maioria das vezes os cães são afetados unilateralmente e, dentre aqueles bilateralmente acometidos, cerca de 32% apresentam claudicação apenas unilateral 14. Entre as raças mais acometidas, podem ser citadas: São-Bernardo, terranova, dogue alemão, cão da montanha dos Pirineus, wolfhound, old english sheepdog, retriever do labrador, setter

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nos resultados do exame físico e nas tomadas radiográficas do local. A sedação do animal auxilia grandemente na realização das radiografias 14. No caso de osteocondrose da cabeça do úmero, a projeção radiográfica mediolateral é a mais útil. O cão é posicionado em decúbito lateral sobre o membro afetado, que é tracionado para que o ombro seja direcionado cranial e ventralmente a fim de evitar sobreposição de imagens. A cabeça é estendida e o membro oposto é tracionado caudalmente, para não ocorrer sobreposição 24. O diagnóstico é confirmado pela presença de uma área de radioluscência na região caudal da cabeça do úmero. Essa área corresponde à região na qual não houve ossificação endocondral. Nos casos mais brandos, somente um achatamento no contorno da região caudal da cabeça do úmero é vista 6 (Figura 3). Na osteocondrite dissecante da cabeça do úmero, ocasionalmente o flap pode migrar para a bainha do tendão do músculo bíceps 14. A artrografia, radiografia com injeção de contraste na articulação, é indicada em casos de suspeita de osteocondrite dissecante nos quais o achatamento da cabeça do úmero é muito discreto. Essa modalidade de exame também é indicada quando não foi possível identificar os flaps soltos dentro da articulação, pois possibilita a visualização Emily Correna Carlo

irlandês, pastor alemão e rottweiler. Embora as raças grandes sejam as mais predispostas, cães dobermann, collie e husky siberiano estão na faixa de baixo risco de ocorrência 22. O sinal clínico mais comum é a claudicação de intensidade média a moderada, com ligeiro apoio do membro 2. Quando a cartilagem está apenas espessada sem que apareça o flap cartilaginoso os cães raramente claudicam ou mostram dor, mas demonstram-na quando a fratura vertical na cartilagem articular está presente. A claudicação é óbvia quando o cão se levanta após um longo período de descanso, tende a desaparecer depois de alguns minutos de caminhada, e retorna após exercício vigoroso 22. Também é comum observar rigidez da articulação após o repouso 6. Ao exame físico observa-se dor quando da extensão e flexão da articulação, e a manipulação desta pode exacerbar a claudicação 14. No caso de osteocondrose da cabeça do úmero, a dor é mais frequentemente notada na plena extensão da articulação escapuloumeral do que na flexão ou rotação, e a pressão direta sobre o tendão do músculo bíceps braquial pode resultar em desconforto devido à sinovite que se estende para a bainha deste 13. No caso de osteocondrite dissecante do côndilo medial do úmero, pode-se estimular a dor pela palpação profunda sobre o ligamento colateral medial ou pela tensão sobre o ligamento, flexionando o carpo em um ângulo de 90° e rotacionando-o lateralmente 2 (teste de Campbell). Na osteocondrose do tarso são comuns a hiperextensão da articulação e a redução da amplitude de flexão, invariavelmente está presente a tumefação dos tecidos moles e, nos casos crônicos, o paciente sofre de afecção articular degenerativa 15,25. A atrofia dos músculos do membro afetado pode estar presente mas raramente será significativa, a menos que a claudicação seja grave e já venha se prolongando há muito tempo 2. A presença de crepitação é variável. No caso de osteocondrose do joelho, a palpação da articulação não é frequentemente utilizada, embora um “movimento de gaveta” muito ligeiro possa ser notado se também houver atrofia muscular 5,24. O diagnóstico é estabelecido com base no histórico, nos sinais clínicos,

Figura 3 - Radiografia mediolateral da articulação escapuloumeral de um cão macho da raça rottweiler com osteocondrose, mostrando achatamento no contorno da região caudal da cabeça do úmero (seta)

destes na bainha sinovial do bíceps ou a sua interferência no preenchimento normal da bainha. Tais flaps são também chamados “ratões articulares” – do inglês: joint mouse – devido à sua aparência radiográfica 24. Na osteocondrite dissecante do côndilo medial do úmero, um defeito em formato triangular ou oval pode ser visto na superfície do côndilo medial em radiografias na posição craniocaudal. Esse defeito é muitas vezes circundado por uma zona esclerótica 6,13. Na claudicação do joelho, radiografias nas posições caudocranial – em flexão e extensão – e mediolateral são essenciais para o diagnóstico precoce da osteocondrose 13. Uma área achatada na superfície de sustentação de peso do côndilo femoral (porção medial do côndilo femoral lateral) e a presença de fragmentos cartilaginosos livres podem ser observadas na incidência mediolateral, não devendo essa área ser confundida com a área de inserção do tendão do extensor digital longo. Comumente existe a formação de retalho cartilaginoso, mas não é tão comum que este se transforme em um fragmento livre na cartilagem 5. A projeção craniocaudal não ajuda muito no diagnóstico da osteocondrite dissecante da crista medial da tróclea do tálus. As vistas mediolaterais ou oblíquas são as mais úteis, porque o calcâneo está superposto à crista lateral da tróclea na vista craniocaudal. As mesmas incidências, com a articulação flexionada, também podem ajudar no diagnóstico 2. Espaço articular aumentado é observado freqüentemente, e ossículos livres podem ser vistos ocasionalmente. As posições mediolaterais podem mostrar achatamento da crista medial do tálus 13. A osteoartrite secundária não é freqüente em cães jovens (com menos de um ano de idade), mas pode estar presente em animais mais velhos. Suas alterações – como presença de osteófitos, densidade aumentada do osso subcondral (esclerose), remodelação das superfícies articulares e calcificação do flap cartilaginoso – podem ser constatadas nas radiografias 14. Foi estimado que até 15% de todos os casos de doença articular degenerativa do joelho em cães em idade avançada seja secundária à osteocondrite dissecante não diagnosticada 23.

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Deve ser ressaltado que algumas vezes é difícil diferenciar a claudicação causada pela dor no cotovelo daquela decorrente de dor proveniente do ombro. As três manifestações de osteocondrose encontradas na articulação umerorradioulnar são: fragmentação do processo coronóide, osteocondrite dissecante do côndilo medial do úmero e não-união do processo ancôneo 6.

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Não-união do processo ancôneo O processo ancôneo forma a continuação proximal da incisura troclear. Quando a articulação está em extensão o processo ancôneo encaixa na fossa do olécrano do úmero, prevenindo instabilidade lateral e rotação durante o apoio 21. No neonato, o processo ancôneo consiste de cartilagem, iniciando sua ossificação quando o indivíduo tem por volta de dez a treze semanas de idade. Em um cão normal ele deveria se unir à ulna até no máximo vinte semanas de idade 6,21. A não-união do processo ancôneo foi recentemente reconhecida como a causa mais comum de osteoartrite do cotovelo, e pode ser bilateral 21. É uma condição encontrada principalmente em cães de raças de grande porte. Foi relatada com maior freqüência em cães das raças pastor alemão, basset hound, São-Bernardo, dogue alemão, retriever do labrador, weimaraner, wolfhound irlandês, pointers, bloodhound, cão da montanha dos Pirineus e terranova, mas também é registrada em cães condrodistróficos, como teckel e bulldog francês 13. As alterações da articulação resultam da instabilidade causada pela perda da correta congruência entre o processo ancôneo e a fossa do olécrano, e da inflamação promovida pela presença de um

osso livre ou instável na articulação, levando à osteoartrite 21. Os sinais clínicos, que geralmente não são aparentes antes de seis a doze meses de idade, consistem inicialmente de claudicação ligeira – exacerbada pelo exercício –, com a porção inferior do membro e cotovelo levemente abduzida (desvio varo dos cotovelos e valgo dos carpos). O cão fica em pé e senta com o membro rotacionado externamente, e os dedos “espalhados” 26. A dor é observada ao exame da articulação quando esta é flexionada e estendida. Podem ser palpados espessamento da cápsula articular, atrofia muscular e crepitação 21. O diagnóstico deve ser baseado na radiografia da região em incidência lateral, com o cotovelo em flexão extrema (Figura 4). O diagnóstico é feito em animais acima de cinco meses de idade, nos quais se observa uma linha radiotransparente que separa o processo ancôneo da diáfise da ulna 26. Alterações crônicas incluem grave doença articular degenerativa com osteófitos, perda de cartilagem articular, remodelamento de estruturas e grave diminuição na amplitude de movimentos, melhor visualizados na radiografia craniocaudal 21,26. Emily Correna Carlo

Fragmentação do processo coronóide medial O côndilo medial do úmero se articula com o processo coronóide medial da ulna. A ossificação do processo coronóide é completada entre 20 e 22 semanas de idade, aproximadamente. Assim como outras manifestações de osteocondrose, ocorre mais comumente em cães de raças grandes e gigantes, mas já foi relatada em raças menores. Dentre as raças mais afetadas estão rottweiler, bernese mountain, retrievers, terranova, pastor alemão, dogue alemão e chow-chow. Os machos são mais afetados, correspondendo a 75% dos casos ou mais 20. A osteocondrite dissecante ocorre concomitantemente à fragmentação do processo coronóide em 37% dos casos 13 e, na maioria das vezes, constitui-se em uma afecção radiograficamente bilateral, embora clinicamente o cão possa apresentar claudicação unilateral 20. Nos estágios iniciais da doença, a claudicação intermitente pode estar presente desde os quatro ou cinco meses de idade, ainda que nada de anormal seja visualizado radiograficamente até os sete meses 13. Manifestações de dor durante a flexão e a extensão do cotovelo, bem como rotação lateral do membro, são um pouco mais evidentes quando existe fragmentação do processo coronóide medial. Algumas vezes, constata-se posicionamento valgo dos cotovelos (mais próximos ao tórax) e varo do carpo 20. Em cães com mais de onze meses de idade, a crepitação e o aumento de volume geral, resultante do espessamento proveniente da produção de osteófitos, também são evidentes 13. Para o diagnóstico, três incidências radiográficas da articulação umerorradioulnar são recomendadas: lateral, flexionada lateral e craniocaudal. Habitualmente, os sinais radiográficos não são específicos. O processo coronóide

medial fragmentado é dificilmente identificado devido à osteoartrite excessiva e à sobreposição da cabeça do rádio 6. Na maioria das vezes, o primeiro sinal radiográfico observado é o aparecimento de osteófitos próximos ao processo ancôneo na vista lateromedial. Na vista craniocaudal, os osteófitos aparecem medialmente ao processo coronóide e no côndilo umeral medial 6. Em condições normais, a incidência lateral mostra o processo coronóide com uma projeção cranial em forma de bico. Na fragmentação do processo coronóide medial, essa incidência pode apresentar uma margem cranial quadrada ou romba, sem o bico 13. O fragmento que sofreu avulsão do processo coronóide medial não pode ser visualizado nas radiografias convencionais, a menos que seja muito grande e esteja frouxamente aderido. Com a cronicidade, pode haver esclerose da porção proximal da ulna ao redor da incisura semilunar entre oito e dez meses de idade 6.

Figura 4 - Radiografia da articulação umerorradioulnar de um cão com não-união do processo ancôneo, incidência lateral com o cotovelo em extrema flexão. Linha radiotransparente no local de não-união (seta vermelha), esclerose (setas brancas largas) e remodelamento (seta branca fina)

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Outros métodos de diagnóstico Outros métodos podem ser utilizados para o diagnóstico por imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. Esses métodos podem ser usados para a detecção da osteocondrose nos seus estágios iniciais, quando o prognóstico para o tratamento é melhor. A artroscopia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética podem ser indicadas nos casos em que se suspeita de osteocondrite dissecante, e a radiografia ou a artrografia contrastada não demonstraram as lesões ou os fragmentos. Relatos provenientes da medicina humana indicam que a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são efetivas na detecção da estabilidade do fragmento cartilaginoso ou de lesão na cartilagem 14. Considerações finais A exposição aqui realizada demonstra que a osteocondrose é uma importante causa de osteoartrite em diversas articulações do cão, e não apenas na articulação escapuloumeral, como muitos a consideram. O entendimento da etiofisiopatogenia dessa doença permite que o clínico de pequenos animais faça o diagnóstico precoce utilizando métodos simples, exame clínico detalhado e radiografias corretas para cada suspeita. Além disso, permite a eleição do melhor tratamento, com base nas reais possibilidades de reparação do defeito cartilaginoso e na prevenção da osteoartrite, ou no controle de uma osteoartrite já estabelecida. Referências 01-EKMAN, S. ; CARLSON, C. S. The pathophysiology of osteochondrosis. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 28, n. 1, p. 17-32, 1998. 02-PROBST, C. W. ; JOHNSTON, S. A. Osteocondrose. In: Slatter, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. Manole Ltda: São Paulo,

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Nocardiose generalizada em cão - relato de caso

Giorgio Queiroz Pereira MV, residente Depto. Clínicas Veterinárias/HV/UEL giorgioqueiroz@yahoo.com.br

Mariana Buffalo Biz

Generalized nocardiosis in dog - case report Nocardiosis generalizada en perro - caso clínico

MV, residente Depto. Clínicas Veterinárias/HV/UEL maribbiz@yahoo.com.br

Patrícia Fernandes Nunes Silva MV, residente Depto. Medicina Veterinária Preventiva/UEL patriciafnuness@yahoo.com.br

Resumo: As Nocardia spp são bactérias saprófitas oportunistas responsáveis por infecções localizadas ou disseminadas em animais e humanos, sendo os sinais clínicos atribuíveis às áreas envolvidas e dependentes da imunocompetência do hospedeiro. Este artigo relata um caso de nocardiose generalizada em uma cadela american pit bull terrier de um ano de idade, atendida com histórico de apatia, disorexia, aumento de volume abdominal, ataxia e convulsões. A análise do líquido peritoneal revelou exsudato séptico e isolamento da bactéria Nocardia spp. Mesmo com a instituição do tratamento adequado, não houve melhora do quadro de peritonite e dos sinais neurológicos. Optou-se pela eutanásia do animal e a necropsia foi realizada. Os achados histopatológicos revelaram lesões piogranulomatosas compatíveis com o agente encontrado. Sendo assim, a nocardiose deve ser um diagnóstico diferencial em quadros de doença sistêmica generalizada. Unitermos: Imunocompetência, peritonite, Nocardia spp

Julieta Catarina Burke MV, residente Depto. Medicina Veterinária Preventiva/UEL julieta_burke@yahoo.com.br

Antônio Carlos Faria Reis MV, dr., prof. adj. Depto. Medicina Veterinária Preventiva/UEL reis@uel.br

Abstract: Nocardia spp are opportunistic saprophytic bacteria responsible for local or disseminated infections in animals and humans. Clinical signs are related to both involved areas and the host immune response. This article relates a case of nocardiosis in a 1-year-old female American Pit Bull Terrier with a history of apathy, dysorexia, abdominal distension, ataxia and seizures. Abdominal fluid analysis revealed a septic exudate from which the bacteria Nocardia spp was isolated. Despite an appropriate treatment, the peritonitis and neurological signs aggravated. The animal was euthanized and a necropsy was performed. Histopathological observation showed pyogranulomatous lesions compatible with the agent found. Therefore, nocardiosis must be a differential diagnosis in cases of generalized systemic disease. Keywords: Immune response, peritonitis, Nocardia spp Resumen: Las Nocardia spp son bacterias oportunistas saprofitas y son responsables por las infecciones localizadas o diseminadas en animales y humanos, siendo los signos clínicos dependientes de la inmunocompetencia del hospedero y asignables a las regiones acometidas. Este artículo relata un caso de nocardiosis en una perra american pit bull terrier con 1 año de edad, cuya historia fue apatía, disorexia, aumento del volumen abdominal, ataxia e convulsiones. En la análisis del fluido peritoneal fue observado un exudado séptico y el aislamiento de la bacteria Nocardia spp. A pesar del tratamiento adecuado, no hubo mejora del cuadro de peritonitis y del cuadro neurológico. Se optó por la eutanasia del animal y la necropsia fue realizada. La observación histopatológica reveló lesiones piogranulomatosas compatibles con el agente encontrado. Así, la nocardiosis debe ser un diagnóstico diferencial en cuadros de enfermedad sistémica generalizada. Palabras clave: Inmunocompetencia, peritonitis, Nocardia spp

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Introdução As Nocardia spp são bactérias aeróbicas Gram-positivas intracelulares facultativas em forma de cocos e bastonetes filamentosos com ramificações, responsáveis por infecções localizadas ou disseminadas em animais e humanos. São saprófitas do ambiente, ocorrendo no solo, na grama, na palha, em matéria vegetal em decomposição e na água, onde contribuem com a microflora por quebra de matéria orgânica e reciclagem de nutrientes. Não fazem parte da flora normal dos mamíferos, embora possam ser carreadas mecanicamente na pele ou nas unhas. Normalmente, as infecções surgem por inoculação direta em tecidos moles em lesões penetrantes, causadas por materiais ou inoculação de aerossóis (poeira) contendo os microrganismos 1,2,3,4,5,6. Em cães e gatos, a nocardiose pode causar síndromes clínicas similares àquelas descritas em casos de actinomicose, 78

como infecções piogranulomatosas localizadas em órgãos ou em cavidades corpóreas, incluindo abcessos, fístulas drenantes crônicas e infecções ósseas. Freqüentemente envolve o trato respiratório, podendo também acometer linfonodos regionais, tecidos adjacentes e articulações (poliartrite) 1,3,7,8,9. Por se tratar de um agente oportunista, a imunocompetência do hospedeiro é importante para determinar o acesso e a disseminação da infecção, sendo que a prevalência dessa doença em humanos tem se elevado substancialmente em associação ao aumento do número de pessoas imunocomprometidas. Esse quadro também ocorre em animais de companhia, em função do uso difundido de corticosteróides, quimioterápicos e drogas citotóxicas, além das doenças imunossupressoras 2,3,5. Entre os animais de companhia, é mais comum em cães com menos de um ano de idade 3,5,7,9. A infecção também

Patrícia Mendes Pereira MV, dra., profa. Depto. Clínicas Veterinárias/UEL pmendes@uel.br

pode ocorrer no filhote (troca de dentição, por exemplo), sofrendo encapsulamento, e somente se manifestar durante o período de imunossupressão 4. Em gatos, é mais comum em adultos machos de vida livre, pela ocorrência de ferimentos por briga, ou mesmo em associação com o Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) 5. Geralmente, os sinais clínicos são atribuíveis às áreas envolvidas, podendo ocorrer infecções de pele e tecido subcutâneo por feridas perfurantes, piotórax, peritonite, pneumonia, ou pela doença em sua forma disseminada (algumas vezes incluindo a pele) 3,5,6,7,9,10,11,12. O início da doença é geralmente lento e, na maioria dos casos, secundário a uma doença crônica 9. O curso clínico varia de crônico, indolente, a infecções inicialmente localizadas progredindo para doença fulminante, havendo relatos de óbitos com apenas quatro dias de evolução clínica 4,5. O diagnóstico definitivo só pode ser obtido por cultura e identificação do agente. Os exames complementares, como análise hematológica, são característicos de processo inflamatório piogênico. Radiografias e ultra-sonografias são utilizadas para determinar os

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disorexia havia sete dias, aumento de volume abdominal e ataxia havia três dias, e dois episódios de convulsões generalizadas no dia do atendimento foi atendida, no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (HV/UEL) - Paraná (PR). O proprietário também relatou fezes diarréicas de coloração amarelada um dia após o animal ingerir comida caseira, mas negou a presença de vômitos. O cão era alimentado com ração, mas estava aceitando somente pequena quantidade de comida caseira com carne, havia recebido apenas uma vacina óctupla não ética quando filhote, e vermífugo havia sete dias. O paciente vivia em quintal sem acesso à rua, à terra ou à grama, e não foram observados contactantes. Ao exame físico, o animal apresentou desidratação moderada, febre de 39,8 ºC, pulso regular, mucosas rosadas, nível de consciência deprimido, estado nutricional pobre (magro), ataxia, pústulas em região abdominal, dispnéia expiratória e aumento de volume abdominal. À palpação, constatou-se presença de líquido intra-abdominal (Figura 1). Foram colhidas amostras de sangue e de líquido abdominal para a realização de exames complementares, como hemograma e contagem plaquetária, análise

do líquido e bioquímica sérica, incluindo creatinina, uréia, proteínas totais, fosfatase alcalina (FA), alaninoaminotransferase (ALT) e glicose. As alterações observadas no hemograma foram discreta anemia (volume globular 32,0%, e hemoglobina 9,4g/dL) e leucocitose (17600/mm3), com neutrofilia (17072/ L) e linfopenia (352/ L). Outras alterações encontradas foram hipoproteinemia (3,3g/dL), aumento da concentração sérica da enzima FA (640,6U/L) e hipoglicemia (28mg/dL). À análise completa da efusão abdominal, verificou-se líquido de coloração alaranjada (piossanguinolento) e de aspecto turvo (Figura 2), com densidade de 1.026, concentração protéica de 2,4g/dL, celularidade de 95% de neutrófilos (em sua maioria degenerados), e bactérias, sendo classificado como exsudato séptico (Figura 3). Após o resultado da análise, material foi enviado para o Laboratório de Microbiologia do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Estadual de Londrina, para realização de cultura e antibiograma e, depois de 48 horas, observou-se crescimento de colônias de Nocardia spp resistentes aos antibióticos ampicilina, cefalexina, enrofloxacina, norfloxacina e penicilina. Dentre os Patrícia Mendes Pereira

órgãos acometidos e a extensão das lesões, e colheitas de amostras para o diagnóstico 3,6,9,13,14. O tratamento de infecções por Nocardia spp ainda é difícil, e envolve a drenagem e o debridamento cirúrgico das áreas acometidas, exceto nos casos nos quais a infecção está disseminada, especialmente quando há doença sistêmica ou envolvimento do sistema nervoso central (SNC). As sulfonamidas ou trimetoprim-sulfazonamidas são a primeira escolha, mas pacientes com envolvimento do SNC e doença severa têm resposta não satisfatória quando tratados somente com esses antibióticos. Penicilinas, aminoglicosídeos e tetraciclinas podem ser utilizados. O tempo de tratamento recomendado é de seis semanas ou mais, a menos que uma resolução precoce seja notada, sendo que a terapia deve ser continuada por algumas semanas após o desaparecimento de todos os sinais clínicos, pois recidivas são freqüentes 3,9,10,12,15,16. O prognóstico geralmente é ruim pela imunossupressão do animal (acometido por alguma doença primária), pelo tempo de terapia e pela possibilidade de recidivas, sendo agravado quando há a disseminação do foco primário. No entanto, o diagnóstico precoce, juntamente com a adoção de tratamento adequado, pode diminuir a gravidade da doença 3,4,7,13. O presente trabalho descreve o caso de um cão com quadro clínico inespecífico, sendo um dos diagnósticos diferenciais a cinomose, e com diagnóstico microbiológico de Nocardia spp.

Patrícia Mendes Pereira

Figura 2 - Grande quantidade de líquido intraabdominal piossanguinolento e aspecto turvo, classificado como exsudato séptico, retirado através de abdominocentese, de uma cadela american pit bull terrier, com um ano de idade, pesando 20kg

Relato de caso Uma cadela não castrada, american pit bull terrier, com um ano de idade, pesando 20kg, com queixa de apatia e

Patrícia Fernandes Nunes

Patrícia Fernandes Nunes

Patrícia Mendes Pereira

A Figura 1 - Cadela american pit bull terrier, com um ano de idade, pesando 20kg. Animal deprimido, com aumento de volume abdominal

B

Figura 3 - Avaliação citológica do líquido intra-abdominal, classificado como exsudato séptico, da cadela american pit bull terrier, com um ano de idade, pesando 20kg. A) Presença de macrófagos ativados e neutrófilos degenerados. B) Neutrófilos degenerados fagocitando bactérias. Fotomicrografias coradas pelo método Panótico rápido com aumento de 1000 x

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antibióticos testados, os microrganismos foram sensíveis apenas a gentamicina e trimetoprim-sulfazonamida. A terapia adotada, anteriormente ao resultado da cultura e antibiograma, foi fluidoterapia com solução glicofisiológica a, vermífugo b e diazepam c na dose de 0,5mg/kg via intravenosa em caso de convulsão generalizada. Antibioticoterapia via intravenosa, com cefalotina d na dose de 30mg/kg em intervalos de oito horas e metronidazol e na dose de 15mg/kg em intervalos de 24 horas, foi também iniciada devido à presença de peritonite. No terceiro dia de internamento, o proprietário autorizou a realização da laparotomia exploratória, na qual não foi observada nenhuma causa primária evidente da peritonite. Após o resultado da cultura microbiológica, a administração dos antibióticos inicialmente utilizados foi interrompida, e adotou-se a associação de trimetoprimsulfazonamida f na dose de 15mg/kg em intervalos de 12 horas – via intravenosa – e gentamicina g na dose de 4mg/kg em intervalos de 24 horas – via intravenosa. Nesse mesmo dia, além da persistente ataxia, o animal começou a apresentar episódios de convulsões focais faciais (não responsivas ao diazepam) e sialorréia. Não houve melhora do quadro, a) Sol. Glicofisiologica - Basa, Caixias do Sul. RS b) Drontal Plus - Bayer S.A., Sao Paulo. SP c) Compaz - Cristalia, Itapira. SP d) Cefariston - Ariston, Sao Paulo. SP e) Metronidazol - JP Industria Farnaceutica, Ribeirao Preto. SP f) Trimetoprim-sulfazonamida - Hipolabor, Belo Horizonte. MG g) Gentamicina - Nova Farma, Sao Paulo. SP

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mesmo após a laparotomia com lavagem da cavidade abdominal com solução fisiológica e utilização da associação dos antibióticos, e a formação da efusão abdominal piossanguinolenta persistiu. O exame neurológico revelou presença de síndrome multifocal, que se agravou no decorrer dos dias: no 12º dia de internamento o animal passou a andar em círculos, e o proprietário optou pela eutanásia. O laudo da necropsia, realizada no Laboratório de Anatomia Patológica do HV/UEL - PR, confirmou o isolamento de Nocardia spp no líquido peritoneal, sendo as lesões piogranulomatosas compatíveis com o agente encontrado. O pâncreas apresentava congestão e hemorragia de vasos da serosa capsular, além de espessamento capsular pela presença de elementos inflamatórios mononucleares (linfócitos e macrófagos) e poucos polimorfonucleares, e os linfonodos mesentéricos mostraram reação capsular infiltrativa por linfócitos e macrófagos. No fígado havia reação degenerativa vacuolar e discreta necrose, e os intestinos deixavam evidenciar serosite mononuclear com elevada quantidade de elementos macrofágicos e poucos linfócitos, além de elementos polimorfonucleares neutrofílicos, vascularização ativada em região de serosa, congestão vascular e reação necrótica de coagulação nas vilosidades 1. No sistema nervoso central, não foram descritos sinais compatíveis com cinomose.

Discussão A maioria dos casos de nocardiose descritos na literatura demonstra que essa doença tem evolução clínica variável e sinais clínicos inespecíficos, podendo o paciente apresentar desde uma lesão cutânea até sinais generalizados envolvendo mais de um órgão 2,6,7,11,12,14,15. Informações sobre esse tipo de infecção em animais são limitadas quando comparadas aos dados registrados em humanos. Embora haja relatos de casos individuais, poucos estudos demonstram um substancial número de casos consecutivos 12. Com os dados da anamnese e as alterações encontradas no exame físico, verificou-se que o paciente apresentava sinais inespecíficos, podendo haver mais de uma enfermidade envolvida no caso. Dessa forma, amostras de sangue e do líquido abdominal foram encaminhadas para a realização de exames complementares. Esses exames foram realizados com o intuito de melhor elucidar o caso, para obtenção do diagnóstico e de informações sobre as complicações orgânicas presentes, visando a adequada terapia. Nos casos de nocardiose descritos, os achados hematológicos são típicos de qualquer processo inflamatório piogênico 7,15. Já no presente relato, houve apenas discreta leucocitose sem desvio à esquerda, além de evidente linfopenia. As causas responsáveis por linfopenia, como administração de corticóides, hiperadrenocorticismo e perda linfocitária

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(quilotórax, linfangectasia intestinal, enteropatias) não se enquadram, recaindo as suspeitas sobre estresse, enfermidade sistêmica e/ou infecção viral aguda (cinomose, por exemplo). A presença de uma síndrome neurológica multifocal aguda acrescentou diagnósticos diferenciais, como intoxicações, neoplasias, causas metabólicas e trauma, e reforçou a suspeita da presença de um agente inflamatório/infeccioso. A avaliação bioquímica sérica mostrou quadro de hipoproteinemia que poderia ser causado por glomerulopatia, insuficiência hepática ou apenas por um quadro de desnutrição e verminose. Os valores de uréia e creatinina séricas indicaram que não havia insuficiência renal, mas sem a urinálise não é possível descartar a hipótese de glomerulopatia com proteinúria. O aumento da enzima FA pode ser atribuído apenas à inflamação presente e às prováveis injúrias tóxicas pela infecção, pois não houve sinais de colestase, não havia envolvimento ósseo e não havia histórico de administração de corticosteróides. Apesar de não terem sido dosadas a albumina e a concentração de ácidos biliares séricos, havia indícios de lesão e de perda da função hepática, pois o cão apresentava hipoglicemia e hipoproteinemia e, mesmo com os valores da enzima ALT dentro dos padrões de normalidade, a necropsia confirmou a intensa degeneração hepática. Por outro lado, a hipoglicemia poderia ser atribuída ainda a excessivo uso de glicose pelas convulsões, sepse ou algum processo neoplásico. A análise do líquido peritoneal confirmou a presença de peritonite, sendo a indicação subseqüente à realização da laparotomia exploratória, realizada com o intuito de avaliar, caracterizar e até mesmo corrigir lesões em órgãos abdominais que poderiam ser responsáveis pelo quadro clínico. Essa avaliação permitiu descartar possíveis causas de peritonite, como rupturas, obstruções, estrangulamentos e dilatações mecânicas intestinais e/ou abcessos em algum órgão cavitário, sugerindo que as alterações encontradas poderiam ser de origem hematógena ou linfática, por disseminação de um foco primário não identificado 8,11,17. Como descrito na literatura, o 82

diagnóstico definitivo foi obtido através da cultura do líquido abdominal, com posterior identificação da bactéria Nocardia spp 7,11,13,15,16. A nocardiose, geralmente secundária a algum fator imunossupressor, é uma doença de prognóstico pobre, pela já conhecida resistência da bactéria e pelo tempo de terapia 2,5,12,16,17. O prognóstico é ainda pior quando mais de um sistema está envolvido, principalmente o sistema nervoso central, como ocorreu no caso ora relatado 2,7,8,13. As lesões encontradas na necropsia foram compatíveis com o achado microbiológico de Nocardia spp 1. Mesmo não tendo sido descritas lesões no sistema nervoso compatíveis com cinomose, esta não pôde ser descartada. Deve-se lembrar que, apesar de ser uma bactéria oportunista, em humanos há relatos da infecção sem nenhuma doença pré-existente 2. Considerações finais Na presença de exsudatos sépticos, a instituição de antibioticoterapia empírica se faz necessária, embora deva ser acompanhada de cultura e antibiograma, pois é possível que o clínico se depare com infecções incomuns e de difícil tratamento como a descrita, sensível apenas a gentamicina e trimetoprim-sulfazonamida 7,10,12. No presente relato, a suspeita de cinomose não foi comprovada. O quadro apresentado pelo paciente pode ser totalmente atribuído à presença da bactéria, mas não há como descartar algum fator oculto 5,12,14. Conclui-se que a nocardiose deve ser mais um diagnóstico diferencial, havendo ou não fatores imunossupressores concomitantes, principalmente em quadros inespecíficos que acometem um ou mais órgãos. Referências 01-CABRERA, L. V. ; GONZALEZ, E. ; CHOI, S. H. ; WELSH, O. In vitro activities of new antimicrobials against Nocardia brasiliensis. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 48, n. 2, p. 602-604, 2004. 02-FAWI, M. T. ; TAG EL DIN, M. H. ; EL SANOUSI, S. M. Canine distemper as a predisposing factor for Nocardia asteroides infection in the dog. The Veterinary Record, n. 88, v. 13, p. 326-328, 1971. 03-GREENE, C. E. Doenças bacterianas. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária - doenças do cão e do gato. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan S. A., 5. ed., p. 410-421, 2004. 04-KINCH D. A. A rapidly fatal infection caused by Nocardia cavie in a dog. Journal of Pathology and Bacteriology, n. 95, v. 2, p. 540-546, 1968. 05-MALIK, R. ; KROCKENBERGER, M. B. ; O'BRIEN, C. R. ; WHITE J. D. ; FOSTER, D. ; TISDALL, P. L. C. ; GUNEW, M. ; CARR, P. D. ; BODELL, L. ; McCOWAN C. ; HOWE, J. ; OAKLEY, C. ; GRIFFIN, C. ; WIGNEY, D. I. ; MARTIN, P. ; NORRIS J. ; HUNT, G. ; MITCHELL, D. H. ; GILPIN, C. Nocardia infections in cats: a retrospective multiinstitucional study of 17 cases. Australian Veterinary Journal, v. 84, n. 7, p. 235-245, 2006. 06-TILGNER S. L. ; ANSTEY S. I. Nocardial peritonitis in a cat. Australian Veterinary Journal, v. 74, n. 6, p. 430-432, 1996. 07-BUCHANAN, A. M. ; BEAMAN, B. L. ; PEDERSEN, N. C. ; ANDERSON, M. SCOTT, J. L. Nocardia asteroids recovery from a dog with steroid and antibiotic unresponsive idiopathic polyarthritis. Journal of Clinical Microbiology, v. 18, n. 3, p. 702-708, 1983. 08-LAPPIN, M. R. Diagnóstico laboratorial das doenças infecciosas. In: NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., 2. ed., p. 974-984, 2001. 09-LOBETTI, R. G. ; COLLETT, M. G. ; LEISEWITZ, A. Acute fibrinopurulent pneumonia and haemoptysis associated with Nocardia asteroides in three dogs. The Veterinary Record, v. 133, n. 19, p. 480-481, 1993. 10-FLORES, A. G. ; WELSH, O. ; FERNÁNDEZ, S. S. ; GARZA, G. L. ; ALEJANDRO, R. E. T. ; CABRERA, L. V. In vitro and in vivo activities of antimicrobials against Nocardia brasiliensis. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 48, n. 3, p. 832-837, 2004. 11-RADAELLI, S. T. ; PLATT, S. R. Bacterial meningoencephalomyelitis in dogs: a retrospective study of 23 cases (1990-1999). Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 16, n. 2, p. 159-163, 2002. 12-ZARAGOZÁ, J. A. Q. ; RICO, E. B. ; ALACREU, J. M. A. ; DURANTEZ, M. S. ; PLUMED, J. S. ; CRUZ, J. F. J. Nocardial infection in immunosuppressed kidney transplant recipients. Scandinavian Journal of Urology and Nephrology, v. 38, n. 2, p. 168-173, 2003. 13-MARINO, D. J. ; JAGGY, A. Nocardiosis. A literature review with selected case reports in two dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 7, n. 1, p. 4-11, 1993. 14-ZIMMERMANN, M. ; RAISER, A. G. ; MAZZANTI, A. ; LOPES, S. T. A. ; SALBEGO, F. Z. Peritonite em cães. Ciência Rural, v. 36, n.5, p. 1655-1663, 2006. 15-ELLIOTT, B. A. B. ; WARD, S. C. ; CRIST, C. J. ; MANN, L. B. ; WILSON, R. W. ; WALLACE, R. J. In vitro activities of linezolid against multiple Nocardia species. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 45, n. 4, p. 12951297, 2001. 16-LAPPIN, M. R. Quimioterapia antimicrobiana. In: NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2. ed., p. 985-993, 2001. 17-BARKER, I. K. The peritoneum and retroperitoneum. In: JUBB, K. V. F. ; PALMER, N. Patology of domestic animals. San Diego: Academic Press, 4. ed., v. II, p. 425-445, 1993.

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equipamentos Luva com sistema de proteção contra perfurações milhões de microgotas separadas entre si por finíssimas paredes de elastômero; - a camada interna (0,10mm), também resistente, que é revestida com uma substância inerte que facilita o calçamento (não se utiliza látex de borracha natural, nem talco). A proteção da G-VIR se dá pela combinação de três fatores: barreira física (as camadas externa e interna), um exclusivo sistema de esguicho automático desinfetante (efeito mecânico) e, na camada central, um composto de detergentes comprovadamente eficientes no bloqueio dos vírus encapsulados, como os da AIDS, hepatite C, gripe aviária, herpes, raiva etc. (uma mistura de 2 amônios quaternários - o cloreto de didecildimetil amonio e o cloreto de benzal-

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partir de intensas pesquisas, a empresa francesa Hutchinson Santé - subsidiária do grupo Hutchinson - desenvolveu a luva ativa G-VIR, a primeira projetada para reduzir drasticamente os riscos de contaminação quando perfurada nos mais diversos procedimentos médicos. Essa conquista tecnológica chegou ao Brasil, pela Mucambo S/A, indústria do grupo Hutchinson no País. A luva G-VIR é composta por três camadas, como um “sanduíche” de 0,5mm totais de espessura; o equivalente à de uma luva dupla: - a camada externa (0,15mm), de alta resistência à perfuração, que mantém contato direto com pacientes, produtos e instrumentos cirúrgicos; - a camada central (0,25mm), a frente de resistência biológica, que contém 8mL de líquido desinfetante distribuídos homogeneamente por cerca de 300

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cónio - com o digluconato de clorexidina). Quando um ponto da luva é pressionado pelo objeto perfurante, entra em ação o mecanismo exclusivo que aumenta a quantidade de líquido desinfetante disponível no ponto ameaçado de rompimento, de forma semelhante a um fato comum: quando uma laranja é descascada, os poros da pele do fruto induzem o líquido sob pressão, que pode ser esguichado a vários metros. Assim, a energia elástica da deformação da luva é convertida em pressão exercida sobre o detergente, projetandoo com vigor no ponto da perfuração. Informações: 0800-7074435 www.g-vir.com.br



Gerenciando oportunidades

Por Sergio Lobato

O que é oportunidade? Qual o significado de oportunidade? Qualidade do que é oportuno; ensejo; ocasião favorável.

O que é gerenciamento? Qual o significado de gerenciamento?

Ato de administrar, dirigir uma organização ou uma empresa.

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omeço este artigo com a descrição do significado literal do título, e espero poder mostrar de forma didática uma das dicas escolhidas para dar andamento ao nosso trabalho em 2008: o gerenciamento de oportunidades. Mas vamos conhecer um pouco mais de cada significado deste nosso título. Começo pela definição do ato de gerenciar, do universo do gerenciamento e das implicações desse ato e desta atividade. Antes quero que você se pergunte: “Quem vai exercer esta função dentro de meu estabelecimento veterinário?” Essa é uma questão fundamental, pois um dos maiores erros vistos no nosso diaa-dia profissional é a definição sobre as funções, ou melhor a falta dela, e, todas as conseqüências que possam acarretar positiva ou negativamente. Quando é definido o papel de gestor somem as velhas situações muito comuns nas clínicas veterinárias, o “inocente lavar de mãos” , o “ eu sou obrigado a saber de tudo?”. Atitudes que prejudicam e muito a aplicação de todo e qualquer processo de reforma, reconstrução, análise e real mudança pois a RESPONSABILIDADE é fundamental para que as metas sejam alcançadas. Quando nos tornamos responsáveis pelo nosso negócio veterinário nos tornamos capazes de assumir erros com mais facilidade, aprender com eles, e evitalos em ações e momentos futuros, não culpamos outros por nossos fracassos e fraquezas, sabemos distinguir os caminhos mais adequados para seguir sem “achismos” e com mais fundamentação técnica e motivação pessoal necessária. Seremos ainda capazes de aprender a usar várias ferramentas como o simples delegar de tarefas e o controle das mesmas,

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estipulando metas reais e atingíveis para sua equipe de trabalho por exemplo. E as oportunidades? Quais são as oportunidades que podem surgir na rotina de nossos negócios veterinários? Para facilitar nosso trabalho fiz uma pequena lista daquilo que podemos chamar de oportunidades, situações, momentos e acontecimentos, e que em sua grande maioria não são percebidos como momentos oportunos para reflexão, ação e mudanças. OPORTUNIDADE Rotina pediátrica Rotina geriátrica Abertura de estabelecimentos vizinhos Novos serviços implantados Cursos de Especialização concluídos Eventos técnicos

AÇÃO Programas de fidelidade ativos Reformas físicas no estabelecimento Aproveitamento das datas festivas do calendário Datas festivas do estabelecimento Treinamento de equipes de trabalho Parcerias produtivas com indústrias pet

As oportunidades mostradas acima, podem e devem ser trabalhadas de forma individualizada em cada estabelecimento, pois por mais que o básico deva ser seguido como uma receita de bolo, é importante frisar que cada estabelecimento tem uma “personalidade”, características impressas em seu perfil em razão da cultura empresarial e pessoal de cada proprietário. Seja capaz de criar um plano de ação baseado nos dados coletados, e tenha certeza dos objetivos que você quer alcançar... Claro que pensamos logo no aumento do lucro, mas isso seria amplo e vago demais, o que queremos é que você seja capaz de estabelecer metas e

objetivos com cada ação , com cada oportunidade citada aqui. Escolha uma situação pela qual você esteja passando, ou passará em breve. Procure desenvolver um olhar crítico porém positivo em relação a cada situação, seja mais positivo e escolha as ferramentas que irá usar para criar sua estratégia de ação. Não pense em metas surreais, ou fórmulas mágicas. Trabalhe cada idéia e divida com sua equipe as opiniões, as decisões e as dúvidas. Só decida-se pela ação quando tiver feito muitas e muitas vezes um exercício de visualização do que poderá dar certo e o que poderá dar errado e ainda por cima, as alternativas para suprir possíveis obstáculos e problemas pelo meio do caminho, pois você não pode jamais desistir no meio do projeto. Se tiver dúvidas se aquilo que se posta perante a sua vida é algo que seja classificado como uma oportunidade, pare, pense e reveja seus conceitos e planos, mas retome logo sua caminhada. Por isso a importância do GERENCIAMENTO das OPORTUNIDADES! É ser capaz de, estrategicamente, observar tudo que cerca seu negócio, observar suas características internas e somar todas essas observações em prol de uma ATIVIDADE . Fuja da inércia gerencial que parece ter tomado parte de grande parte do mercado veterinário deste país! Mova-se! Gerencie! Faça da oportunidade uma produtiva realidade!

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TOXICOLOGIA APLICADA A MEDICINA VETERINÁRIA Divulgação

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Toxicologia aplicada à Medicina Veterinária 942 páginas - Editora Manole

obra Toxicologia aplicada à Medicina Veterinária, de autoria de Helenice de Souza Spinosa, Silvana Lima Górniak e João Palermo-Neto, lançada no início do ano, fornece importantes informações a respeito dos principais agentes responsáveis por quadros de intoxicação em animais de companhia e produção e auxilia bastante o profissional em sua lida diária, oferecendo de maneira simples, sucinta e atualizada os assuntos mais relevantes da toxicologia veterinária. Os primeiros capítulos da obra trazem introdução sobre a toxicologia veterinária (toxicocinética, toxicodinâmica e avaliação da toxicidade). Os capítulos que se seguem abordam a toxicologia clínica (diagnóstico, conduta de urgência, zootoxinas, toxicologia dos medicamentos e dos domissanitários), a toxicologia dos praguicidas (organoclorados, piretróides, anticolinesterásicos,

entre outros); a toxicologia das plantas (tanto as ornamentais quanto as de interesse agropecuário). Também abordam-se, em capítulos específicos, as toxinas e outros agentes tóxicos na alimentação, como por exemplo, as micotoxicoses e a intoxicação produzida por algas de água doce. No final do livro, complementando ainda mais esta ampla obra de 942 páginas, estão concentrados outros tópicos de interesse em toxicologia veterinária, como por exemplo: • Carcinogênese e mutagênese: introdução à toxicologia genética; • Toxicologia forense; • Doping e controle antidopagem; • Ecotoxicologia; • Imunotoxicologia. Informações: (11) 4196-6000 www.manole.com.br

ANESTESIOLOGIA VETERINÁRIA Farmacologia e Técnicas

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s especialidades na medicina veterinária progrediram muito nos últimos 15 anos. Algumas progrediram pela necessidade gerada pela própria

Anestesiologia Veterinária – Farmacologia e Técnicas - 571 páginas - Editora Guanabara Koogan

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demanda, outras pelo excelente trabalho e dedicação de alguns especialistas. O prof. dr. Flávio Massone, especialista em anestesiologia veterinária, enquadra-se entre os que sempre se dedicaram, não somente à especialidade, mas também ao ensino e, principalmente, aos alunos. Pioneiro na anestesiologia veterinária, criou, em 1977, a primeira disciplina específica de anestesiologia veterinária no Brasil e, em 1982, a primeira residência específica na área. Massone foi mestre de muitos excelentes anestesiologistas que estão presentes em diferentes universidades brasileiras. Atualmente, mesmo aposentado, tem atuado em diversas universidades do país e também se dedicado à literatura técnico-científica, publicando, logo no início de 2008, a 5ª edição, ampliada e atualizada, da obra Anestesiologia Veterinária – Farmacologia e Técnicas – texto e atlas. “As técnicas propostas, selecionadas por espécies de animais, são aquelas consagradas pela rotina hospitalar e pelas pesquisas realizadas nas três últimas décadas. Fugimos aos procedimentos

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anestésicos onerosos ou subjetivos, citando apenas aqueles empregados com facilidade e desenvoltura, fundamentados na boa prática diária hospitalar, visando ao bem-estar do paciente e buscando adequações de acordo com seu estado, idade e período cirúrgico particulares”, explica Massone. A obra é bastante abrangente, reunindo figuras e informações sobre: medicação pré-anestésica; anestesia local; planos anestésicos; anestesias gerais barbitúrica e não-barbitúrica; aparelhos e circuitos anestésicos; anestesia geral volátil ou inalatória; neuroleptoanalgesia e anestesia dissociativa; miorrelaxantes; anestesias para cesarianas; emergências e complicações anestésicas; contenção física e anestesia em animais silvestres; síndrome choque, equilíbrio ácido-base e eletrolítico em anestesiologia; emprego da acupuntura em anestesia; eutanásia; ética e moral em anestesiologia veterinária; atlas de anestesiologia veterinária; entre outros tópicos. Informações: (21) 3970-9480 www.editoraguanabara.com.br



Pesquisa Nanotecnologia abre caminho para biocompósitos que poderão substituir ossos e tecidos e para medicamentos dirigidos

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anoestruturas para carregar fármacos que combatem o câncer, doenças infecciosas e parasitárias e também para ser empregadas como agentes de diagnóstico são exemplos de pesquisas realizadas em universidades brasileiras que têm como foco o uso da nanotecnologia para a produção de novos medicamentos. Uma das linhas de pesquisa, inovadora, utiliza nanotubos de carbono e colágeno para obter novos tecidos como a pele, por exemplo, ou ajudar na regeneração óssea. Os nanotubos de carbono são estruturas cilíndricas sintetizadas a partir do carbono, dotadas de propriedades mecânicas, térmicas e elétricas

bastante superiores às de outros materiais, e o colágeno é uma molécula importantíssima para todo o sistema vivo, responsável pela estruturação do esqueleto e dos órgãos. Os estudos realizados na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conduzidos inicialmente pelos professores Luiz Orlando Ladeira e Rodrigo Lacerda, no Laboratório de Nanomateriais do Departamento de Física, mostram que esse é um biocompósito muito promissor. A idéia de criar o biomaterial surgiu a partir de uma observação de Ladeira de que tanto o colágeno como os nanotubos de carbono têm dimensões semelhantes.

Os nanotubos de carbono são produzidos no laboratório mineiro com medidas que variam de 1 a 3 nanômetros (nm) de diâmetro (1 nanômetro equivale a 1 milímetro dividido 1 milhão de vezes) e até mil nm de comprimento, para aplicações variadas e sob encomenda para vários grupos de pesquisa brasileiros. Existem mais de 20 tipos de colágeno nos seres vivos, mas o tipo 1, humano, presente em cartilagens e ossos, é constituído de três tipos de cadeias de aminoácidos, que formam um arranjo helicoidal, de três hélices. “É uma molécula parecida com uma fibra, com 1 nanômetro de diâmetro e 300 nanômetros de comprimento”, diz Ladeira.

*Fonte: www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8295

Veneno de jararaca no tratamento da pré-eclâmpsia A Secretaria de Estado da Saúde, por intermédio do Instituto Butantan, está desenvolvendo um medicamento inédito que atua diretamente no combate à pressão alta na gravidez. Conhecida como pré-eclâmpsia, a doença atinge mulheres a partir da vigésima semana de gestação e pode até matar. Pesquisadores do Centro de Toxinologia Aplicada do Butantan acabam de encontrar uma substância presente no veneno da jararaca capaz de atuar diretamente

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nos casos de hipertensão gestacional. Os responsáveis pelo trabalho pesquisam há quatro anos as aplicações medicinais de moléculas sintéticas derivadas do veneno de cobras. Cerca de 3,2 milhões de mulheres ficam grávidas por ano no Brasil. Segundo o Conselho Brasileiro de Cardiopatia e Gravidez, 10% dessas gestantes apresentam pré-eclâmpsia, que é responsável por cerca de 30% dos óbitos maternos. Ou seja, cerca de 320 mil mulheres por ano

seriam usuárias diretas desse medicamento. Além da pressão arterial alta, a préeclâmpsia se caracteriza por retenção de líquidos (edema) e presença de proteína na urina (proteinúria), podendo evoluir para um quadro de convulsão e coma (eclâmpsia). A pré-eclâmpsia precisa ser diagnosticada e tratada de forma rápida (durante o pré-natal), já que pode restringir de maneira severa o fluxo de sangue para a placenta, prejudicando perigosamente o feto.

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Lançamentos CONTROLE DE PULGAS E CARRAPATOS

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Os ensaios de pesquisa do produto foram realizados de acordo com as normas internacionais do EMEA e WAAVP, para constatar a eficácia contra pulgas, carrapatos e testar a segurança do produto. Ceva Vetbrands: www.vetbrands.com.br Divulgação

Fiprolex Drop Spot controla pulgas e carrapatos em cães e gatos

ALIMENTO PARA CÃES COM MAIS DE 7 ANOS

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“O alimento contém ainda aminoácidos sulfurados, que contribuem para a renovação da pelagem; vitamina E e selênio, antioxidantes naturais que auxiliam no combate aos radicais livres, contribuindo para uma vida longa e saudável; e hexametafosfato de sódio, para prevenção da formação de cálculo dental”, explica a médica veterinária da Total Alimentos, Marcia Fernandes. Equilíbrio Mature Active Total: pode ser encontrado em 0800 55 8500. embalagens de 3kg e de 15kg

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Total Alimentos, primeira empresa brasileira a obter a certificação de GMP/ BPF internacional para a divisão de pet food, lança no mercado o alimento Equilíbrio Mature Active, uma opção nutricional para cães de todas as raças acima dos sete anos de idade, que auxilia na manutenção da saúde e ajuda a manter a vitalidade do animal mesmo em idade avançada. O segredo da ação benéfica que o Equilíbrio Mature Active proporciona para os cães acima de sete anos está na formulação, que atende especificamente as necessidades nutricionais desta fase da vida. Para tanto, possui ingredientes como sulfato de glucosamina e condroitina, que auxilia na proteção das articulações pelo processo de hidratação das cartilagens, e taurina, que auxilia no bom funcionamento cardíaco.

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Vetnil desenvolveu uma nova fórmula especial para o Probiótico Vetnil Cães e Gatos, que conta com quatro diferentes bactérias benéficas naturalmente presentes no trato intestinal dos animais, além da adição de leveduras vivas. Esses novos ingredientes dão um reforço especial à ação do produto na prevenção da colonização das bactérias causadoras de doenças e, conseqüentemente, melhoram a absorção de nutrientes. O produto contém microrganismos vivos essenciais, naturalmente presentes no trato intestinal, que auxiliam na digestibilidade dos alimentos e na eficiência alimentar. Indicado para manutenção e recuperação da microbiota intestinal em cães e gatos, principalmente em ocasiões especiais como: nascimento (para rápida colonização da flora intestinal), diarréias (para recompor a flora intestinal benéfica através do princípio da exclusão competitiva), desmama (mudança repentina da alimentação do leite para sólido causando grande desequilíbrio da flora intestinal), troca de rações (rápida adaptação entre as mudanças de rações proporcionando um melhor aproveitamento nutricional), atos cirúrgicos (causam alterações metabólicas levando o animal ao desequilíbrio da flora intestinal prejudicando a recuperação), antibioticoterapia (reconstitui a flora intestinal) e estados de debilidade física e estresse (transportes, feiras, exposições, competições, mudança de ambiente, vacinação, e outros). Vetnil: www.vetnil.com

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controle pulgas e carrapatos passou a contar com mais um produto no mercado pet, o Fiprolex Drop Spot. O produto, que contém como princípio ativo o fipronil, é um lançamento da Ceva Vetbrands. A empresa desenvolveu pesquisas científicas para criar um produto de qualidade e perfeitamente adequado para as condições de desafio e clima brasileiros. Para tanto, foi realizado um projeto de autoria dos médicos veterinários prof. dr. Fábio Scott e prof. dr. Laerte Grisi, responsáveis pelo Departamento de Parasitologia Animal do Instituto de Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

PROBIÓTICO

SUPLEMENTOS E NUTRACÊUTICOS

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rações vendidas em nosso país". "Temos como objetivo ser reconhecidos como a empresa mais técnica desse segmento", diz Valdemir Volante, diretor comercial da Rhobi. "A qualidade que já nos diferencia na produção de injetáveis para várias empresas agora também faz parte de nossa linha de produtos". A linha Suplemento rh é composta atualmente por 3 linhas distintas: - Suplemento rh - pós para uso conjunto com rações; - CartiloDog - suplementos para a matriz cartilaginosa; - DermaDog - suplementos para pele e pelame. "Vários outros produtos encontram-se

em desenvolvimento" diz Ricardo Lucas, "tendo, sempre, a diferenciação técnica e a qualidade de produção como diferenciais". Rhobifarma: www.rhobifarma.com.br

A suplementação diária de rações para cães pode ser feita com a linha de produtos da Rhobi, que possui opções para cadela gestante, filhote de raça pequena, filhotes de raça grande, adulto e sênior

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008

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Rhobifarma, empresa veterinária especializada na produção de injetáveis veterinários, acaba de lançar uma linha de suplementos para cães. "A linha Suplemento rh prima por seu diferencial técnico", diz Ricardo Lucas, diretor de marketing da empresa. "Desenvolvemos nossos produtos tendo em vista o que a literatura técnica internacional recomenda, sem perder de vista as necessidades locais. Como exemplo, nossa linha de suplementos de uso diário em pó é a única do mercado desenvolvida especificamente para a suplementação de rações industrializadas, tendo como base levantamento do perfil nutricional das diferentes categorias de



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Paramentação

4:50'

Mesa cirurgica

3:50'

Cães • macho 4:10' • fêmea 12:10' Gatos • macho • fêmea

5:20' 8:50'


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www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 15 a 20 de março São Paulo e Pirassununga XVIII Sacavet e V Simpropira www.sacavet.com.br 16 a 30 de março São Paulo - SP Exames laboratoriais solicitação e interpretação (11) 5181-1506 17 a 20 de março São Paulo - SP Curso prático de odontologia veterinária ccexfmvz@usp.br 17 de março a 14 de maio São Paulo - SP Curso teórico prático de patologia clínica: diagnóstico e interpretação (11) 3034-5447 27 a 29 de março São Paulo - SP Cirurgia de coluna (11) 3819-0594

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28 a 30 de março São Paulo - SP Fundamentos e aplicações do ultra-som doppler em medicina veterinária. (11) 3579-1427

30 de março; 6, 13 e 27 de abril; 4 de maio São Paulo - SP Curso de auxiliar de enfermagem veterinária (11) 6995-9155

11 a 13 de abril São Paulo - SP Ultra-sonografia de pequenas partes: sistema músculo esquelético (11) 3579-1427

28 a 30 de março Vitória - ES Interpretação de exames laboratoriais anclivepaes@gmail. com

5 e 6 de abril Curitiba - PR Curso teórico e prático das doenças da coluna cervical de cães e gatos (41) 3257-4326

12 de abril de 2008 a 12 de abril de 2010 Belo Horizonte - MG Curso de acupuntura veterinária e filosofia oriental (31) 9663-9705

29 a 30 de março Londrina -PR Endocrinologia veterinária na clínica de pequenos animais (43) 9161-0771

5 de abril a 6 de março de 2010 Porto Alegre - RS Curso de especialização em acupuntura veterinária (14) 3882-4243

14 a 17 de abril FMVZ - USP Curso de medicina felina (11) 9633-0087

29 de março de 2008 a 16 de agosto de 2009 São Paulo - SP Clínica médica e cirúrgica de pequenos animais (11) 3567-4401

6 a 11 de abril Presidente Venceslau - SP Curso FOCA (formação de oficiais de controle animal) lhgomes@saude.sp. gov.br

30 de março 4 de abril Sorocaba - SP Congresso da sociedade de zoológicos do Brasil (15) 3227-5454

9 de abril a 12 de junho São Paulo - SP Curso intensivo de comportamento de cães e gatos (11) 3813-6568

23 a 26 de abril Maceió - AL XXIX Congresso brasileiro da Anclivepa (82) 3326-6663

30 de abril Jundiaí - SP Hemoparasitoses (11) 4529-7861 1 a 4 de maio Porangaba - SP 1º Encontro nacional de direitos animais www.veddas.org.br 5 a 9 de maio Seropédica - RJ 25ª SEMEV - Semana do médico veterinário (21) 9155-1455 9 a 11 de maio São Paulo - SP Curso básico, teórico e prático, de ultra-sonografia em cabeça e pescoço (11) 3579-1427 16 a 17 de maio São Paulo - SP Miscelâneas cirúrgicas (11) 3819-0594

24 a 26 de abril São Paulo - SP CIPO (curso Intensivo prático de ortopedia) (11) 3819-0594

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 73, março/abril, 2008

16 a 18 de maio São Paulo - SP V Oncovet www.abrovet.org.br



www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL início - pág. 104

23 a 25 de maio Belo Horizonte - MG I Fórum Latino-Americano de traumatologia (31) 3297-2282 25 de maio; 8 e 22 de junho; 6 e 20 de julho Osasco - SP Curso teórico-prático de cardiologia veterinária (11) 6995-9155 27 de maio a 3 de julho São Paulo - SP Curso teórico-prático de aprimoramento em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447 30 de maio a 1 junho Vitória - ES Oncologia anclivepaes@gmail. com 1 a 22 de junho Jundiaí - SP Curso de atualização em gastroenterologia de pequenos animais (11) 4529-7861 5 a 8 de junho Brasília - DF I Simpósio de medicina felina de Brasília (61) 3965-4090

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14 de julho a 13 de agosto São Paulo - SP Curso de ultra-sonografia em pequenos animais (teórico-prático) (11) 3034-5447 27 de julho a 21 de dezembro São Paulo - SP Curso de terapias alternativas para animais (11) 5061-4429 5 de agosto a 11 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização e aperfeiçoamento em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447 7 a 9 de agosto Rio de Janeiro - RJ • Riovet - Feira de negócios pet & vet • Conferência Sulamericana de medicina veterinária

10 a 12 de setembro Guarapari - ES XXXV Semana Capixaba do médico veterinário e III Encontro regional de saúde pública em medicina veterinária (27) 3324-3877

10 a 13 de novembro Recife - PE VIII Congresso brasileiro de cirurgia e anestesiologia veterinária (81) 3466-5551

17 a 19 de setembro São Paulo - SP • 8º Copavepa • Pet South America (11) 3813-6568

20 a 22 de novembro São Paulo - SP II International symposium on animal biology of reproduction - ISABR cbra@cbra.org.br

17 a 21 de setembro São Paulo - SP XXIX Congresso brasileiro de homeopatia (11) 3051-6121 19 a 22 de outubro Gramado - RS 35º Conbravet (51) 3326-7002 27 a 30 de outubro Fortaleza - CE Fort Pet Vet (85) 3257-6382

• 1º Encontro brasileiro de marketing - Pet Vet • II Seminário de nutrição Pet • Grooming meeting & tosa (21) 3295-2803 8 a 10 de agosto Vitória - ES Cardiologia em cães e gatos anclivepaes@gmail.com

7 a 9 de novembro Goiânia - GO IV Concevepa (62) 3241-3939 7 a 9 de novembro Vitória - ES Indicações e interpretações de exames de diagnóstico por imagem anclivepaes@gmail.com

INTERNACIONAL

3 a 5 de abril Colombia IV Congresso Sovemevepa info@sovemevepazulia. com

20 a 23 de abril Lexington - KY, USA 24th International Animal Health and Nutrition Industry Symposium www.alltech.com

27 a 28 de abril Buenos Aires - Argentina XVII Jornadas veterinarias en pequenos animales www.jornadasveterinarias. com

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14 a 17 de maio Orlando, Florida - EUA Animal Care Expo www.animalsheltering. org/expo 22 a 25 de maio Nürnberg - Alemanha Interzoo 2008 www.interzoo.com 13 a 17 de julho Budapeste - Hungria 16º Congresso internacional de reprodução animal www.icar2008.org 27 a 31 de julho Canada - Vancouver 29th World Veterinary Congress www.worldveterinary congress2008.com 20 a 24 de agosto Dublin - Irlanda 33º Congresso mundial da WSAVA www.wsava2008.com 28 a 30 de agosto Cartagena - Colombia V Congresso Ibero-americano FIAVAC www.fiavac.org 3 a 6 de outubro Lima - Peru Latin american veterinary conference www.tlavc-peru.org 17 a 19 de outubro Barcelona - Espanha SEVCO www.sevc.info




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