clínica veterinrária n. 82

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ISSN 1413-571X

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www.revistaclinicaveterinaria.com.br

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Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009 - R$ 15,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice

Marco Antonio Gioso

Ortopedia - 34

Fraturas do corpo mandibular em cães métodos de tratamento Treatment methods for mandibular body fractures in dogs Fracturas del cuerpo mandibular en perros - métodos de tratamiento Katia B. Corgozinho

Cirurgia - 42

Imagem fotográfica da fixação de fratura do corpo mandibular bilateral de cão com resina acrílica

Tireoidectomia felina: técnicas cirúrgicas e complicações pós-operatórias - revisão Feline thyroidectomy: surgery and outcome - a review Tiroidectomía en felinos: técnicas quirúrgicas y sus complicaciones - una revisión

Posicionamento para tireoidectomia

Felipe Purcell de Araújo

Oncologia - 50

Espondilomielopatia cervical por metástase de adenocarcinoma mamário em cadela - relato de caso Cervical spondylomyelopathy induced by metastasis of mammary adenocarcinoma in female dog - case report Espondilomielopatía cervical por metástasis de adenocarcinoma mamario en una perra - relato de caso Eduardo R. Gervazoni

Imagem do neoplasma em corpo da quinta vértebra cervical (seta amarela)

Oncologia - 56

Comparação entre dois protocolos de tratamento do tumor venéreo transmissível em cães Comparison between two treatment protocols for transmissible venereal tumors in dogs

Milena P. Sanchez

Comparación entre dos protocolos de tratamiento del tumor venéreo trasmisible en los perros

Clínica médica - 64

Remissão total de massa tumoral após 5ª administração de vincristina associada a ivermectina

Anemia hemolítica imunomediada em cães: estudo retrospectivo de 32 casos Tilde Rodrigues Froes

Immune-mediated hemolytic anemia in dogs: a retrospective study of 32 cases Anemia hemolítica inmunomediada en perros: estudio retrospectivo de 32 casos

Eritrócitos que perderam a concavidade e a palidez central devido à fagocitose celular, denominados esferócitos

Diagnóstico por imagens - 70

Ultrassonografia nas neoplasias hepáticas em cães e avaliação de critérios sonográficos na diferenciação de lesões malignas Ultrasonography in canine hepatic neoplasms and evaluation of echographical criteria for malignant lesion differentiation

Karin Botteon

Ecografía en el cáncer de hígado en perros y la evaluación de los criterios ecográficos en la diferenciación de lesiones malignas

Dermatologia - 78

Pododermatite plasmocitária felina: relato de caso

Imagem ultrassonográfica do parênquima hepático de um cão com área cavitária complexa – septações internas. Colangiocarcinoma hepático

Feline plasmocytic pododermatitis: case report Pododermatitis plasmacítica felina: caso clínico Patrícia P. C. Chamas

Coxim metatarsiano com aumento de volume, áreas de coloração arroxeada e descamação

Cardiologia - 84

Uso do sildenafil no controle da hipertensão arterial pulmonar em cão - revisão de literatura e relato de caso Use of sildenafil in dog with pulmonary arterial hypertension - review and case report

Eduardo O. Costa Neto

Uso del sidenafil para el control de la hipertensión arterial pulmonar en perro - literatura y relato de caso

Animais silvestres - 94

Fixação de fratura de tibiotarso com uso de pino intramedular e fios de aço de cerclagem em papagaioverdadeiro (Amazona aestiva) mantido em cativeiro domiciliar - relato de caso

Ecocardiografia modo M, demonstrando aumento ventricular direito e septo interventricular retificado, devido á hipertensão arterial pulmonar

Tibiotarsal fracture repair by using intramedullary pin and cerclage in blue-fronted-amazon (Amazona aestiva) kept in domiciliary captivity: case report

Pino de Steinmann e cerclagem com fio de aço no tibiotarso esquerdo de um papagaio-verdadeiro (A. aestiva)

Aproximación de fractura de tibiotársica con clavo intra-medular y cerclaje en papagayo (Amazona aestiva) mantenido en cautiverio domiciliar: relato de caso

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009

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Seções Livros - 98

Lançamentos - 109

Diagnóstico Citológico e Hematologia de Cães e Gatos 98 Controle da dor 98 O cachorro do menino 100 O valente domador 100

• • • •

Gestão - 102

Negócios e oportunidades - 110

Estabelecimentos veterinários e o bem-estar animal

Serviços e especialidades - 111

Bem-estar animal - 22

Ecologia - 104

Agenda - 120

Curitiba e São Paulo põem em prática campanhas para estimular a guarda responsável

Economia ecológica

Saúde pública - 28

Células-tronco de porcos

Editorial - 7 Notícias - 8 • WSAVA 2009 colocou a medicina veterinária brasileira em destaque 8 • Presidente mundial da Royal Canin aposta na coletividade para superar a crise 12 • Pet South America registrou mais de 26.000 visitantes 13

Medicina Veterinária do Coletivo: um novo desafio para os veterinários

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem

Nova vacina para gatos Controle de peso Nova linha de vacinas para gatos Combate à diarréia

Pesquisa - 106 Equipamentos - 108 Celular vira microscópio

ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de lite-

ratura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br



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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

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Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

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JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER

Medow, aliá que durante um cruel período de sua vida, sofreu tanto que chegou a ter lesões irreparáveis na coluna e no quadril. Hoje, Medow está em boas mãos e vive no Elephant Nature Park, na Tailândia, onde zelam por ela e tentam aliviar suas dores. Foto de Sheila Waligora

IMPRESSÃO / PRINT

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TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra/com.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br

Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos UFLA iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br

Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@ffalm.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/UNESP/Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br

Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setempro/outubro, 2009

Rafael Costa Jorge Clínica Veterinária Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet-Pompéia duart7e@gmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University ronaldodacosta@cvm.osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Viviani de Marco UNG, H. V. Pompéia vivianidemarcoterracom.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial

A

* S h e i l a Wa l i g o r a - C l í n i c a Ve t e r i n a r i a n . 7 1

lém das diversas comemorações, o dia 9 de setembro, dia do médi- E u f a l o , Tu f a l a s . . . E l e s f a l a m - I r d i n E d i t o r a co veterinário, também merece muita reflexão. A profissão está em constante expansão e muita informação precisa ser divulgada e assimilada. O artigo Medicina Veterinária do Coletivo: um novo desafio para os veterinários, publicado nesta edição, é um exemplo. Há outros temas que também merecem atenção, como, por exemplo, a medicina da conservação. Nos dias em que esta edição começa a circular, acontece o II Encontro Internacional de Medicina da Conservação (Recife, PE). A realização do evento é resultado de parceria entre o Instituto Tríade - Instituto Brasileiro * Vista lateral da aliá Medow, que evidencia para Medicina da Conservação (www.triade.org.br); a Universidade Federal as drásticas lesões de quadril e de coluna resultantes de abuso e maus tratos Rural de Pernambuco (UFRPE); o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Marcos Daniel. w w w. y o g a p e l a p a z . o r g Outra data de extrema importância no período é o dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis e também Dia Mundial dos Animais. Pensando nela e em todos os animais que sofrem abusos e maus tratos, escolheu-se a capa desta edição: a aliá Medow. Durante um cruel período de sua vida, sofreu tanto que chegou a ter lesões irreparáveis na coluna e no quadril, como mostra a foto acima em que a aliá está de perfil. Hoje, Medow está em boas mãos e vive no Elephant Nature Park, na Tailândia, onde zelam por ela e tentam aliviar suas dores. Muita paz precisa ser incorporada na relação homem-animal. Em muitos lares, cães ou gatos são tidos como membros da família, mas e as outras espécies animais? Na verdade, a sociedade desconhece grande parte do sofrimento dos animais, mas, aos poucos, tem se manifestado contra isso. As leis municipais e estaduais que proíbem a morte de cães sadios que estão em centros de controle de zoonoses são Em 2008, o Yoga pela Paz, realizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, reuniu cerca de 20.000 pessoas. exemplos disso. Aos poucos também propaga-se pelo planeta uma cultura de paz. Este ano, participaram em torno de 25.000 pessoas www.probem Um exemplo é o Yoga pela Paz, evento que vem sendo realizado desde 2006 e que .info torna-se cada vez maior. Ele nasceu inspirado por uma experiência feita em Washington, em 1993, quando um grupo de 2.500 pessoas se juntou para meditar pela diminuição da violência que, assim como em São Paulo, atingia níveis extremamente preocupantes na capital americana. O resultado, comprovado pela polícia local, foi uma diminuição de 25% da violência da cidade. Esse benefício é hoje comprovado pela física quântica. Atualmente, muitos pensamentos estão cheios de medo, angústia e desamor. Eles se espalham pelo universo e geram a violência que é vista no mundo. Eduardo Jorge Martins, Secretário Municipal do Verde e do Meio Ambiente (São Paulo/SP), ao comentar sobre o Yoga pela Paz 2009 declarou que: “As três políticas públicas mais importantes no mundo todo são: superação da injustiça social, a busca do equilíbrio ambiental e a para a superação da cultura de violência pela cultura de paz. A prática do yoga contribui nas três políti- Acordando Paz é exemplo de obra que promove a cultura cas, pois sua prática leva: ao equilíbrio pessoal, às relações harmoniosas com os demais e à con- de paz. Ela foi escrita pelo mestre espiritual Sri Baba, participante do Yoga pela Paz vivência equilibrada com os recursos naturais do planeta. Por isso, hoje, ela é uma prática que Prem 2009. Na obra, destacam-se 8 chaves para o ajuda a alcançar esses grandes objetivos políticos que envolvem a sobrevivência da desenvolvimento da paz interior humanidade e a convivência com as outras espécies do planeta Terra.” A Eldorado, rádio oficial do evento Yoga pela Paz 2009, com a colaboração de Márcia De Luca, tem feito excelente trabalho para propagar a cultura de paz. Ele pode ser conferido ouvindo a rádio ou através do blog Filosofia de bem viver (www.territorioeldorado.com.br). Estar consciente que é necessário desenvolver a cultura de paz é o primeiro passo. O próximo é praticá-la. Participe. Por você, pela comunidade, por todos os seres sencientes e pelo planeta.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

Filosofia de bem viver (www.territorioeldorado.com.br)

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WSAVA 2009 colocou a medicina veterinária por Arthur de V. Paes Barretto brasileira em destaque

Ray Butcher, durante apresentação no painel de bem-estar animal, destacou a importância de ações integradas. As castrações, por exemplo, feitas isoladamente, não trazem resultados. Elas precisam estar incluídas em um programa de controle populacional

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O painel de comportamento também foi contemplado e contou com a participação de Néstor Calderón e de Ruben Mentzel. Calderón tem desenvolvido importantes trabalhos no manejo etológico de cães e gatos, que além de promoverem o bem-estar dos animais, também trazem segurança para as pessoas que trabalham e convivem com eles. Um painel de grande destaque foi o de cirurgia, principalmente pela presença da norte-americana Theresa Fossum (Texas A&M University, EUA). Fossum é autora de importantes livros de cirurgia, adotados Theresa em faculdades do mundo todo. Fossum Quase todas as suas palestras foram patrocinadas pela Vetnil e lotaram o auditório. Prevendo esta situação, a organização providenciou um telão do lado de fora da sala, em amplo saguão, que em pouco tempo também ficou lotado. Suas palestras contaram com dicas práticas para a realização dos diversos procedimentos cirúgicos, como, por exemplo, a retirada de corpo estranho do intestino: “a incisão nunca deve ser feita sobre o corpo estranho e sim, na região imediatamente após”, explicou a cirurgiã. Em entrevista concedida à revista Clínica Veterinária, Fossum foi questionada sobre quais seriam as etapas para o bom aprendizado em cirurgia. “O treinamento deve começar pelo estudo anatômico, passando pelo treinamento com cadáveres e somente quando o estudante estiver seguro das técnicas é que ele deve passar para o treinamento com animais vivos, sendo que, para este fim, a cirurgia de eleição para o treinamento é a castração em animais de abrigos”. Esta parceria com os abrigos, além de promover um ensino humanitário também fornece importantes informações, como, por exemplo, o artigo Long-term outcome of gonadectomy performed at an early age or traditional age in cats, publicado em 2000, no Journal of the American Veterinary Medical Association (JAVMA). Ele descreve a utilização de 263 gatos de abrigos, divididos em dois grupos: um com mais de 24 semanas de idade e outro com menos de 24 semanas. Na conclusão do artigo, a castração precoce, feita em animais com menos de 24 semanas, foi avaliada como segura para os animais.

Auditório completamente lotado para assistir a palestra de Vitor M. Ribeiro sobre leishmaniose visceral canina, patrocinada pela Bayer. “Precisamos ter diagnósticos seguros! Não podemos matar animais havendo a possibilidade de que eles não estejam infectados”, frisou Ribeiro. Destacou também que o tratamento está descrito na literatura. O problema é como ele é visto

O painel de doenças infecciosas foi bastante contemplado com palestras sobre leishmaniose visceral, que abordaram os aspectos do controle em áreas urbanas, vacinas, diagnóstico e tratamento canino. Clarisa B. Palatnik, ao falar sobre a vacina de 2ª geração registrada contra leishmaniose visceral canina (FML-saponina-Leishmune), destacou, além dos bons resultados profiláticos nas regiões onde a vacinação tem sido realizada em grande escala, a sua utilização imunoterapêutica. Lluis Ferrer, por sua vez, deu importante contribuição ao painel destacando que o diagnóstico da leishmaniose visceral canina pode ser bastante complexo e que, em muitos casos, exige árdua investigação para se alcançar o diagnóstico definitivo. Citou alguns casos que aparentemente indicavam leishmaniose, mas se tratavam de outra enfermidade, como, por exemplo, o caso de cão que possuía sorologia 1:80, mas que na verdade estava acometido por lupus discóide eritematoso. Além da contribuição dada no WSAVA 2009, Lluis Ferrer esteve presente dois dias em Belo Horizonte, MG, no tradicional simpósio de leishmaniose visceral organizado anualmente pela Anclivepa-MG e coordenado Arthur Barretto

Arthur Barretto

WSAVA 2009 (World Small Animal Veterinary Association Congress), em sua 34ª edição, aconteceu, pela primeira vez no Brasil, em São Paulo, SP, entre os dias 21 e 24 de julho de 2009. A programação contou com 126 palestrantes de 13 nacionalidades, entre eles os principais nomes da medicina veterinária mundial. Participaram do congresso cerca de 3.600 profissionais. Os brasileiros foram maioria e representaram, aproximadamente, 85% dos congressistas. No total, estavam presentes médicos veterinários de 55 países. Até mesmos os países mais afastados do Brasil como, por exemplo, Afeganistão, Austrália, Índia, Irã, Rússia e Nova Zelândia, tiveram representantes. David Wadsworth, presidente mundial do WSAVA, afirmou: "não tínhamos informações concretas sobre a quantidade e a qualidade dos médicos veterinários brasileiros. É surpreendente que outros países ainda também não tenham conhecimento deste dado. Eventos como este levam este tipo de mensagem para o mundo e estimulam o crescimento e aprimoramento do setor". Assim como nos congressos anteriores, não faltou o painel de bem-estar animal, que foi coordenado pelo médico veterinário Ray Butcher (Reino Unido) e Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil. O painel também contou com a participação de Albino Belotto, que foi o primeiro médico veterinário brasileiro a assumir a direção do Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa). No sítio da ARCA Brasil pode-se ler a entrevista concedida por Belotto: www.arca brasil.org.br/noticias/0907_albino_belotto_en trevista.html.

Arthur Barretto

O

Arthur Barretto

CRMV-SP 6871

Lluis Ferrer enfatizou a necessidade de ampla investigação antes de chegar-se ao diagnóstico definivo de leishmaniose visceral canina

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009


Uma palestra que despertou bastante o interesse dos congressistas foi Patologia forense: novas perspectivas para pequenos animais. O tema foi abordado pelo patologista Paulo César Maior1 ka, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). Maiorka destacou a importância da atuação do médico veterinário, principalmente porque, na área, que é exclusiva do médico 2 veterinário e regulamentada pela lei 5.517, atualmente estão atuando engenheiros, dentistas, agrônomos e até psicólogos. Face à importância do tema, está sendo estudado na Comissão Nacional de 3 Ensino do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), da qual Maiorka faz parte, a normatização da medicina legal como disciplina a ser oferecida nos cursos de medicina veterinária. Arquivo VPT/FMVZ/USP. Obtidas por Marcelo Bittencourt Contieri e cedidas por Paulo C. Maiorka

por Vitor Márcio Ribeiro. O título deste simpósio, “Da infecção à cura”, despertou a atenção tanto de clínicos quanto de autoridades de saúde pública. Em entrevista à Clínica Veterinária Ribeiro explicou que “do ponto de vista médico, a leishmaniose visceral canina tem cura. Do ponto de vista parasitológico, ela não tem cura. Porém, é paradoxal quando se afirma que a leishmaniose visceral no homem tem cura e no cão não. No cão, assim como no homem, a cura também é clínica. A leishmaniose visceral canina tem início, meio e fim. O fim é a cura clínica com a supervisão médico-veterinária que o cão deve ter. Assim como no homem, no cão ela também pode ter recidiva. Nos cães com leishmaniose visceral que são tratados, a infectância é muito baixa. Este é um dos motivos pelos quais as autoridades de saúde pública da Europa, passaram a estimular o tratamento. Na Europa há cinco décadas, a política era matar os cães infectados ou doentes.

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Acima, animal que veio a óbito em pet shop. A principal suspeita era de trauma. Ao lado fotos da necropsia, que evidenciam lesões na pele da superfície do crânio (1), a abertura da pele (2) e a exposição do hematoma subcutaneo (3). Houve traumatismo craniano, afundamento do frontal e hemorragia. "Em São Paulo, cerca de 50% da rotina em patologia forense envolvem traumas", frisou Maiorka. O autor destacou também trabalho de revisão das principais alterações em necropsias de cães e gatos que vieram a óbito durante procedimentos em pet shops de São Paulo. São 350 necropsias documentadas com fins periciais, estratificadas entre as causas de trauma e as de estresse. Este trabalho será apresentado no XIV Encontro Nacional de Patologia Veterinária Enapave (www.enapave2009.com.br)

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Porém, esta política não funcionou porque a sociedade não a aceitou. Com a mudança de postura, o tratamento passou a ser incentivado, porque reduz a infectância dos cães e, consequentemente, reduz também a possibilidade de casos humanos. Uma vez associadas as medidas contra o vetor, os animais em tratamento oferecem segurança. Este ano, a contribuição de Ferrer foi muito importante e nos mostrou que a sorologia não fecha o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. A política de matar cães com título de 1:40 é errada. A sorologia serve apenas para levantamentos de populações. Para se afirmarem individualmente, as sorologias precisam estar acompanhadas de outros exames, particularmente, as que apresentarem títulos até 1:80.” Outro painel bastante interessante foi o de endocrinologia. A palestra sobre síndrome metabólica e dislipidemia, ministrada por Márcia Jericó, mostrou a importância do controle da obesidade. “Ela deve ser considerada como o principal fator de risco da síndrome metabólica e dislipidemia”, frisou Jericó. O software Slim Fit Programme, desenvolvido pela equipe da Royal Canin para ser usado com pacientes que precisam controlar o peso corporal, oferece avaliação gráfica e detalhada da evolução de cada paciente

Urs Ginger, da Universidade da Pensilvânia (EUA), deu importante contribuição abordando as doenças hereditárias em cães e gatos e como a ciência pode ajudar no diagnóstico precoce, evitando doenças por meio de cruzamento de raças de forma adequada. A odontologia veterinária também foi contemplada no congresso e bem representada pelos especialistas brasileiros. Michèle Venturini, atualmente membro da diretoria da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária e diretora do Odontovet, primeiro centro odontológico veterinário da América Latina e segundo no mundo, apresentou as palestras Tratamento de câncer oral e Emergências odontológicas. Outro brasileiro palestrante sobre o tema foi Marcello Roza, que abordou técnicas de implante dentário. Roza é autor do livro Odontologia em pequenos animais, publicado pela LF Livros. Os painéis de emergência e cuidados intensivos também tiveram grande procura e contaram com a participação de vários especialistas da Sociedade Latino-americana de Urgências e Cuidados Intensivos (LAVECCS).

Animais silvestres e exóticos Neonatologia e endoscopia foram temas da medicina aviária que foram abordados pelo italiano Lorenzo Crosta. O especialista destacou, entre outros itens, a doença da dilatação proventricular (PDD): “Em alguns aspectos, é bastante semelhante à síndrome de GuillanBarré, que atinge também os humanos e é caracterizada por uma inflamação aguda que atinge o sistema nervoso”, explicou. No painel de animais silvestres, Roberto Fecchio, diretor da Associação Brasileira de Veterinária para Animais Selvagens (ABRAVAS),

Roberto Fecchio

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s ões no Correç dings procee Roberto Fecchio

Anatomicamente a ranfoteca é subdividida em rinoteca (superior) e gnatoteca (inferior). Ao lado, tucano que teve a gnatoteca restaurada. Abaixo, restauração de rinoteca em psitacídeo com a utilização de prótese metálica contendo liga de cromo-cobalto

apresentou a palestra Restauração da ranfoteca de pássaros: um desafio?”. Fecchio abordou questões como as dificuldades e as inovações para a aderência de próteses aos bicos das aves, apresentando resultados prévios de estudos que podem mudar os conceitos das atuais técnicas de cirurgia e possibilitar grandes avanços.

Luis H. Tello, que além de diretor da LAVECCS é vice-presidente do WSAVA, ministrou palestra sobre as causas, consequências, procedimentos indispensáveis e tratamentos especiais para diferentes graus de queimaduras em animais de pequeno porte. “Atualmente, existem diversos métodos inovadores para tratamento de queimaduras em animais e em humanos. Entre as últimas tendências estão a utilização de câmaras hiperbáricas – nas quais o animal é tratado a partir do contato com oxigênio puro – e o uso de tratamentos naturais como mel e aloe vera, além de pomadas que possuem propriedades de crescimento tissular”, explicou Tello. A ortopedia foi contemplada durante o congresso e também em evento pré-congresso com a realização da reunião anual do IEWG (International Elbow Working Group - www. iewg-vet.org). “Esse é um dos mais importantes grupos na área de ortopedia mundial, com objetivo de realizar estudos relacionados à displasia de cotovelo em cães”, destacou Bruno Lins, diretor científico da OTV (Associação Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Veterinária). Lins também informou que na ocasião foi realizada a assembléia anual da OTV, que definiu a nova diretoria da organização e debateu sobre os preparativos do III Simpósio Internacional de Ortopedia e Traumatologia Veterinária, agendado para 4 a 6 de dezembro de 2009, em São Paulo, SP.

Um dos próximos eventos com destaque para o tema de animais selvagens é o XII Congresso da Abravas - www.abravas.org.br 01 a 05 de dezembro de 2009

Os proceedings do WSAVA 2009 foram publicados em edição especial da Clínica Veterinária. Eles foram entregues aos inscritos tanto na versão impressa quanto digital. Em breve, nova versão dos proceedings estará disponível para download no sítio do WSAVA (www.wsava.org). Esta versão foi atualizada e os artigos corrigidos são os de número: 156, 166, 196, 500, 511, 602, 622, 722, 736, 766 e 856.

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Presidente mundial da Royal Canin aposta na coletividade para superar a crise Jean-Christophe Flatin acredita que o crescimento sólido e contínuo da Royal Canin não se deve a uma história individual, mas à inteligência do grupo. Para ele, a estratégia e a missão da empresa deve ser adaptada ao perfil de cada país. O executivo apresentou palestra exclusiva durante o WSAVA 2009 para médicos veterinários formadores de opinião e para a imprensa

A Royal Canin, desde a sua fundação em 1968 pelo médico veterinário Jean Cathary, tem como missão desenvolver a mais precisa resposta nutricional às necessidades dos cães e gatos. Hoje é destaque em 92 paises, e por detrás desse sucesso está o presidente mundial da empresa, o francês Jean-Christophe Flatin, que apesar de seu grande talento individual, atribui ao grupo o crescimento sólido e contínuo da Royal Canin. “Meus resultados pessoais não têm importância. O sucesso só pode ser coletivo”, acredita. Em relação à crise econômica mundial, Flatin acredita que o papel de um líder é o de mobilizar as forças de cada colaborador na organização. “Apenas a nossa inteligência coletiva pode fazer a diferença. Acreditamos fortemente na virtude da humildade e da inteligência do grupo, o que significa que tentamos utilizar o máximo possível o conhecimento de especialistas, sempre olhando juntos a mesma questão ou a mesma oportunidade para definir o passo em frente, buscando a melhoria contínua.” Flatin afirma que a estratégia e a missão da Royal Canin são as mesmas em todo o mundo, mas o caminho para trazê-las para a vida é adaptado a cada país, filosofia que

chama de “pensar global e agir local”. “Pensar global significa que nós compartilhamos exatamente as mesmas coisas mundialmente, como é o caso, por exemplo, da nutrição e da concepção de engenharia, áreas que devem ser normatizadas”, explica. “Por outro lado, agir local significa nos adaptarmos ou até reinventarmos a maneira como vendemos nosso modelo de distribuição em cada país”, complementa Flatin. O crescimento deste período comprova que a estratégia é vencedora: os negócios da Royal Canin triplicaram nos últimos seis anos, cerca de um colaborador foi contratado por dia nos últimos três anos e está sendo finalizada a construção de uma fábrica na China, em Xangai, a décima-primeira da marca. “Claro que de um lado queremos sustentar o negócio para continuar desenvolvendo, mas ao mesmo tempo nós temos que transformar nossa organização para fazer face a esta nova dimensão e ao desafio de crescimento, sem perder nossa alma. Isso parece um pouco como permanecer pequeno, apaixonado, conectado e ao mesmo tempo abraçar o mundo no qual estamos operando. Como nós somos apaixonados por isso, esse é nosso desafio diário”, revela.

“Nossa missão é a mesma há anos: trazer para os consumidores alimentos secos e úmidos adaptados a cada raça e necessidades de animal. Temos o dever de enxergar como cães e gatos atuam, o ambiente em que vivem, o mundo ao qual cada um deles pertence. Uma vez isso realizado, é possível atender às necessidades específicas dos animais”, explicou Flatin, que ainda detalhou o processo de desenvolvimento dos produtos. “O primeiro passo é o conhecimento, a observação das diferentes raças. Logo depois, a formulação, realizada pelos mais capacitados profissionais. Já a fase da manufatura conta com laboratórios altamente tecnológicos para que sempre exista a segurança alimentar e, por último, a distribuição, também realizada com alta eficiência”, complementou Flatin

Royal Canin do Brasil inaugurou laboratório Durante a visita ao Brasil, JeanChristophe Flatin, presidente da Royal Canin, inaugurou, na fábrica em Descalvado, um novo laboratório que passa a ser referência nacional em pesquisa e desenvolvimento de produtos, igualando-o aos laboratórios de análise humana em quantidade e tipos diferentes de análises realizadas. O

evento contou com a presença de Bernard Pouloux, presidente da Royal Canin do Brasil, a diretora mundial de comunicação Catherine Legros, o diretor das Américas Rob Noxon e toda a equipe Royal Canin do Brasil. Entre as novidades do novo laboratório está o aumento do espaço para a realização das atividades diárias. Hoje, os funcionários contam com 120m2, sendo 94m2 correspondentes à área de trabalho, totalmente voltada para garantir a segurança das matérias-primas utilizadas e dos produtos acabados. A outra parte consiste em estoque, uma sala de limpeza de materiais de uso diário do laboratório e uma área voltada para a recepção das amostras de clientes que chegam ao SAC. Já entre os aparelhos utilizados na fabricação dos produtos, as novidades são um espectro de infravermelho próximo (NIRS), mais eficiente e que otimiza o trabalho dos

técnicos, um cromatógrafo gasoso, um HPLC (análise em cromatografia líquida) e diversos aparelhos que compõem análise de proteína, índice de peróxido e hexanal (mostra se o produto e/ou matéria-prima apresenta oxidação). A inauguração do laboratório reforça a Royal Canin como referência em tecnologia e qualidade, desenvolvendo produtos que colocam o animal em primeiro lugar.

Bernard Pouloux e Jean-Christophe Flatin durante inauguração do laboratório em Descalvado, SP

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Jean-Christophe Flatin, Rob Noxon e Catherine Legros

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Pet South America recebeu mais de 26.000 visitantes Paralelamente ao WSAVA 2009, entre os dias 22 e 24 de julho, ocorreu a 8ª edição da Pet South America. O evento recebeu mais de 26 mil visitantes de 43 países, um crescimento de 30% em comparação com o ano passado. Foram 260 marcas em exposição que mostraram novidades e tendências em saúde animal, alimentação, beleza e acessórios, assim como tecnologias específicas em tratamentos e equipamentos para animais de estimação. A NürnbergMesse Brasil já se prepara para a próxima edição da Pet South America. Em 2010, o evento acontecerá de 6 a 8 de outubro, em São Paulo, SP, no Expo Center Norte. A empresa também organizará o O espaço de internet gratuita foi patrocinado pela Royal Canin. A ação foi bastante propícia, pois durante o evento a empresa anunciou seu novo portal na internet. Confira: www.royalcanin.com.br

3º Conpavet - Congresso Paulista de Medicina Veterinária, realizado pela Sociedade Paulista de Medicina Veterinária (SPMV), e o 6º Seminário de Lojistas Pet, desenvolvido em parceria com o médico veterinário e consultor de marketing Sergio Lobato. Outro evento programado para ocorrer paralelamente é o 3º Seminário Arca Brasil - Veterinário Solidário. Com um volume de transações acima de 150 milhões de euros, o NürnbergMesse Group é uma das 20 maiores empresas organizadoras de feiras do mundo e faz parte do "top ten" da Europa. O portfólio inclui mais de 100 feiras e congressos internacionais em Nuremberg, Alemanha, e em todo o mundo. Anualmente, são mais de 27 mil expositores (37% internacionais), 895 mil visitantes

A Royal Canin lançou treze alimentos inovadores na Pet South America: o Pug 25; o West Highland White Terrier 21; o Bulldog Francês 30 Junior e o Bulldog Francês 26 Adult; o Satiety Support; a linha Wet Feline, composta por seis alimentos úmidos destinados aos gatos; o Feline Urinary S/O High Diluition; e o Renal Feline Special

(20% internacionais) e 395 mil consumidores nos eventos organizados pelo NürnbergMesse Group. O grupo emprega atualmente 285 funcionários, com planos de crescimento. Fazem parte do NürnbergMesse Group as empresas: NürnbergMesse, Nürnberg Global Fairs, NürnbergMesse China, NürnbergMesse North America e, recentemente, a NürnbergMesse Brasil.

A NürnbergMesse também é a organizadora da Interzoo, maior feira para o setor pet do mundo, que terá sua 31ª edição em 2010. O evento, bienal, com o mesmo perfil de público que a Pet South America, em 2008 registrou a presença de 1.436 expositores de 54 países e mais de 37.200 visitantes de 114 países. Interzoo 2010: www.interzoo.com.

Destaque do Feline Urinary S/O High Diluition, alimento voltado ao tratamento de gatos afetados por doenças urinárias

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alexandre.corazza@terra.com.br

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Carinho e integração...... Show proporcionado pela Guabi

Entendimento e ação

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www.datamars.com

Leitora de microchips para locais com grande fluxo de animais, como, por exemplo, aeroportos. Exemplar exposto no WSAVA 2006, em Praga, República Tcheca

alexandre.corazza@terra.com.br

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Membro da equipe do Provet se prepara para fazer demonstração de microchipagem. Os microchips utilizados pelo Provet possuem padrão ISO 11784 e ISO 11785, desenvolvidos para regulamentar e determinar o tipo de microchip e sua numeração

Microchips Animalltag

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Circulando pelos corredores da Pet South America e pelos stands dos expositores, facilmente pôde-se verificar que os animais presentes usavam crachá. Esta identificação temporária é muito importante para propagar o conceito de que todo animal precisa estar identificado. Mundialmente, a identificação padrão é feita através de microchips. A microchipagem é um método moderno de identificação eletrônica. Ela é simples, rápida, eficaz, permanente, inviolável, indolor e obrigatória para cães e gatos poderem viajar para o exterior. A comunidade européia, com exceção do Reino Unido, por exemplo, exige o microchip em cães e gatos desde 2003, conforme regulamento do Parlamento Europeu. De acordo com a lei 14.483/07, do município de São Paulo, os filhotes já devem estar microchipados ao serem vendidos em canis, gatis e pet shops. A implantação de microchips é um dos serviços oferecidos regularmente pelo centro de diagnósticos e especialidades veterinárias Provet e foi demonstrada no stand da empresa durante a Pet South America. Empresas que comercializam microchips e que desenvolvem softwares para estabelecimentos veterinários também estavam presentes.

alexandre.corazza@terra.com.br

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Identificação animal é coisa séria


No stand da Merial, além de informações sobre todos os produtos da empresa, os visitantes puderam encontrar equipe da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA). Uma das ações desenvolvidas no local pela ONG foi a distribuição de material educativo relacionado à guarda responsável de cães e gatos

A exposição de um automóvel, prêmio de promoção realizada pela Vetnil, foi destaque durante o evento. A empresa, que está comemorando 15 anos de operações, lançou produto inédito no mercado brasileiro: o Emagripet

A Labyes apresentou o inovador produto Gerioox, um geriátrico capaz de retardar os sinais característicos do envelhecimento e trazer vitalidade e energia para cães e gatos idosos

A Guabi, em constante expansão no mercado de pet food, despertou a atenção com a sua linha Natural (www. guabinatural.com.br) e apoiando ações da ARCA Brasil

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A Hill’s, além de presença marcante na Pet South America, foi patrocinadora Prime do WSAVA 2009. Patrocinou 31 palestras de diversas especialidades. Há 70 anos a empresa investe no conhecimento veterinário para melhorar a qualidade de vida dos animais de companhia

Com participações consecutivas em todas as edições da feira, a Bayer mais uma vez reforça a importância de cuidar da saúde dos animais e do ambiente em que eles vivem. Durante a feira, os visitantes puderam conhecer todo o portfólio com mais de 30 produtos, bem como suas indicações e modos de aplicação

No stand da Total, destaques para a linha Naturalis, as novas embalagens da linha Equilíbrio e a nova linha Max de alimentos premium para cães e gatos A empresa Lazza Pet lançou na Pet South America, a linha, ecologicamente correta, “De pet para Pet”. São roupas e acessórios para cães e gatos, produzidos com a fibra de poliéster reciclada de garrafa pet - www.lazza.com.br

A Ceva anunciou na Pet South o lançamento do Feliway®, produto que reproduz propriedades pacificadoras dos feromônios faciais dos gatos, capazes de ajudar os animais a se sentirem calmos, mesmo em situações tensas. Produzido há mais de 10 anos pela CEVA na Europa, Feliway® já é consagrado no mercado internacional e utilizado pelos maiores especialistas do mundo em comportamento animal

No stand da Mars, além de conhecerem detalhes sobre o processo de fabricação dos alimentos Pedigree e Whiskas, os visitantes puderam tirar fotos com cães de raça trazidos pela Dog Wold e do projeto Adotar é tudo de bom Alexancre Corazza

Vencofarma expôs sua linha de produtos focada na proteção à saúde animal

O alimento Purina Pro Plan Vital Age 7+ foi a grande novidade da Nestlé Purina. Ele é formulado com Longevis, que é uma mistura exclusiva de ingredientes que inclui antioxidantes, raiz de chicória seca e uma combinação de ácidos graxos ômega 3 e 6. A fórmula é específica para auxilar os sistemas imunológico e digestório dos gatos, mantendo a microflora equilibrada e aumentando a biodisponibilidade de vitamina E para um sistema imunológico fortalecido

Stand da Virbac, multinacional francesa dedicada exclusivamente à saúde animal. Feligen® CRP/R foi a novidade apresentada pela empresa durante o evento

Arthur Barretto (Editora Guará) e Dan Wroblewski (Dog World) no stand da Mars. No colo de Arthur, cadela do projeto Adotar é tudo de bom (www. adotaretudodebom.com.br)

A linhas Ciclos, Must e Evicanto foram os destaques da Evialis www.evialis.com.br



Magic Color (tintura temporária), Body Splash (águas de cheiro), sistema inteligente de alimentação, xampu hipoalergênico e ampliação da linha de produtos desenvolvida com extratos amazônicos 100% naturais, a Megamazon, foram alguns dos destaques da Pet Society

A Organnact esteve presente com seu amplo portfólio de produtos naturais, à base de probióticos, ricos em vitaminas, aminoácidos e minerais equilibrados de maneira diferenciada para cães e gatos, que atendem às necessidades do animal em cada fase da sua vida, desde filhote até a idade avançada. A Fitovet, empresa do grupo Organnact, também marcou presença com sua linha de fitoterápicos

Sempre com muito sucesso, a farmácia veterinária da Agener União marcou presença, bem como o destaque que a empresa deu à arte

A equipe da Fagra trabalhou intensamente divulgando a ampla linha da empresa. Destaca-se o Ciurex Fagra, vermífugo palatável, e a Atropina 1% Fagra, disponível em frasco com 20mL

Biovet, presente na Pet South America e há mais de 50 anos no mercado veterinário

A Pfizer, detentora de uma linha completa de produtos para a saúde de cães e gatos, destacou seus principais medicamentos: Convenia, Revolution, Rimadyl, BronchiGuard e Linha Vanguard Body Fluid (fluido ativador do desembaraço), Body Fragance e o higienizador otológico Higi Care foram as novidades apresentadas pela Centagro

A Ouro Fino Bem Estar Animal esteve presente promovendo sua ampla linha de medicamentos para cães e gatos. O mais novo integrante da linha é o vermífugo palatável Top Dog Em miniauditório montado em seu stand, a Intervet/Schering-Plough promoveu palestras que discutiram atualidades em protocolos de vacinação, diabetes e leishmaniose. Para isso, contou com a presença de especialistas mundiais renomados, que abordaram o que há de mais recente nos seguintes temas: 1. Problemas relacionados à estabilidade diabética em cão e gato – uma abordagem prática – Michael Herrtage MA, BVs, DVs, DVR, DVD, DSAM, DECVIM, DECVDI, MRCS, RCVS – Recognised Specialist in Small Animal Medicine, European Veterinary Specialist in Companion Animal Internal Medicine, Professor for Small Animal Medicine, University of Cambridge; 2. Leishmaniose canina em 2009: onde estamos agora? – Dr. R. Killic-Kendrick PhD, DSC, FIBiol, Honorary Research Fellow, Imperial College, London; 3. Vacinar mais animais com componentes essenciais, mas menos frequentemente – Prof. emer. Dr. DDr.h.c Marian C. Horzinek, Veterinary Research Consult



As hastes bloqueadas, uma alternativa para a correção biológica de fraturas diafisárias de fêmur, foram destaque da Ortovet

Primando pela qualidade, o BET Laboratories, divulgou seus rígidos critérios para análises hormonais, que se baseiam na metodologia de radioimunoensaio e exames em duplicata

A segurança proporcionada pela anestesia inalatória foi bastante procurada no stand da Oxigel, empresa com mais de 30 anos de atividade

A Med-Sinal esteve presente com soluções e uma ampla linha de produtos diferenciados para clínicas veterinárias

Uma novidade apresentada pelo Tecsa foi o teste da relaxina: baseado em uma técnica de imunomigração rápida, ele permite detectar gravidez em cadelas e gatas

Equipamentos para banho e tosa expostos pela Clippertec foram atração na Pet South

A Pet Moura, empenhada em oferecer qualidade na gestão de clínicas e pet shops, destacou a vantagem do software Sismoura estar integrado à nota fiscal paulista

Muitos produtos chegaram à medicina veterinária através da Brasmed. Mantendo este perfil pioneiro, entre diversos itens para hospitais, clínicas e pet shops, os visitantes também puderam encontrar uma máquina de hemodiálise da Nipro

A H. Strattner apresentou uma linha completa de endoscópicos da Karl Storz, desenvolvidos para procedimentos específicos para pequenos animais, dos mais simples aos mais críticos

Focada na terapêutica inteligente, a Centralvet promoveu produtos como Green Twisty, Cosequin, Glutamax, entre outros

Tick Twister®, criativo e inovador instrumento, foi sucesso na Pet South. Ele é o único instrumento que permite ao usuário segurar o carrapato sem comprimi-lo, e removê-lo pelo movimento de rotação, ao invés de puxá-lo. Esta técnica não deixa o aparelho bucal do carrapato inserido na pele e não comprime o abdômen dos carrapatos, reduzindo, dessa forma, o risco de transmissão de patógenos. Confira a demonstração no YouTube: Estetoscópios UltraScope: noO'TOM TICK TWISTER vidade no stand da Bio Brasil

Estreando na Pet South America, o Endocrinovet chegou com excelente solução para o tratamento do hiperadrenocorticismo canino: o Vetoryl® (trilostano)

Um dos destaques do Hermes Pardini foi a sua linha de exames para leishmaniose visceral canina, incluindo o PCR Real Time, para quantificação de carga parasitária



Bem-estar animal Curitiba e São Paulo põem em prática campanhas por Arthur de V. Paes Barretto para estimular a guarda responsável

N

o dia 28 de abril de 2009, Carlos Alberto Richa, prefeito de Curitiba, PR, lançou a Rede de Defesa e Proteção Animal de Curitiba. Desenvolvida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a rede conta, principalmente, com campanhas para a guarda responsável e um sistema de informações e identificação animal, com aplicação de microchips para monitoramento dos animais sob a responsabilidade de seus donos. Participam, como parceiros da prefeitura, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado do Paraná (Anclivepa-PR) e o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Paraná (CRMV-PR). O zootecnista Marcos Traad, coordenador da rede, apresentou-a tanto em Curitiba, durante o lançamento da campanha e na Câmara Municipal de Curitiba, quanto em São Paulo, a convite da Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo. A apresentação em São Paulo ocorreu na reunião ordinária do dia 24 de junho de 2009 e Traad iniciou sua fala destacando o impulso que a proteção animal recebeu em Curitiba, com a assinatura, em 29 de abril de 2005, da lei n. 11398, que criou o Conselho Municipal de Proteção aos Animais - COMUPA. Informou que, inicialmente, 22.000 microchips estão sendo adquiridos pelo município para serem usados no período de um ano, e mais 40 leitoras de microchips, que serão administradas pela rede de parceiros. Destacou que o sucesso da campanha está relacionado a um sistema informatizado, sob o controle do município, aberto a todo cidadão que quiser identificar seus animais e integrado a toda rede de parceiros. “Também pretendemos expandir o sistema de identificação animal para a região metropolitana através da assinatura de convênios com as prefeituras vizinhas”, complementou Traad. 22

CRMV-SP 6871

Ação educativa

Cartaz do concurso Veterinário Mirim (2009)

Para realizar o cadastro de um animal na Rede de Proteção Animal, é necessário que antes seja cadastrado o seu respectivo responsável no Sistema de Identificação do Cidadão (SIC). Todos esses procedimentos podem ser feitos facilmente por formulários disponíveis no sítio www.protecaoanimal.curitiba.pr.gov.br

Há 4 anos, os alunos da rede pública de ensino (1a a 4a series) do município de Pinhais, PR, participam do concurso Veterinário Mirim. Este trabalho tem como objetivo promover uma mudança cultural da população sobre guarda responsável e bem-estar animal, não omitindo o controle de zoonoses. O concurso é realizado através do projeto de extensão Controle de Zoonoses em Curitiba e Região Metropolitana em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) do município de Pinhais, PR. Acadêmicos que participam do projeto ministram palestras sobre bem-estar animal e guarda responsável para os estudantes. Com base nas informações recebidas, eles elaboram desenhos ou redações. Os melhores trabalhos são premiados com visitas ao CCZ de Pinhais e ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Segundo Alexander Biondo (UFPR), “o concurso Veterinário Mirim tem se mostrado uma importante ferramenta na educação em saúde e promoção de cultura sobre guarda responsável e bem-estar animal no município de Pinhais/PR. ”.

Além de investir na identificação animal, o município está divulgando entidades que promovem a adoção de animais e promovendo a guarda responsável, que ganhou um sítio exclusivo: www.elenaovivesemvoce.com.br

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Animais do CCZ/SP passaram a receber ampla divulgação para adoção através do sítio do PROBEM

PROBEM - www.prefeitura.sp.gov.br/probem

PROBEM - Programa de Bemestar de Cães e Gatos O dia 2 de julho de 2009 foi um marco para a proteção animal no município de São Paulo. Nesta data, o prefeito Gilberto Kassab anunciou, durante cerimônia realizada na prefeitura, o lançamento do PROBEM . Estavam presentes os secretários da Saúde, Januário Montone, e do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, o deputado federal Ricardo Tripoli, o vereador Roberto Tripoli (PV) e representantes da proteção animal. Entre as medidas anunciadas por Mantone estão: a construção de um Núcleo de Proteção e Bem-Estar Animal, no valor de R$ 1.300.000,00; a descentralização dos serviços de atendimento, com quatro núcleos regionais; a reforma dos laboratórios do CCZ/SP, na qual serão investidos R$ 700 mil; a convocação de 80 médicos veterinários e 67 biólogos, todos aprovados em concurso; a ampliação do Programa de Controle

Sítio do probem ganhou seção específica para educadores

Reprodutivo de Cães e Gatos, de 41 mil castrações/ano, ao custo de R$ 2,6 milhões, para 100 mil castrações/ano, que custarão R$ 6,4 milhões, e a implantação de Sistema Informatizado de Registro de Animais, que já conta com a aquisição de 50.000 microchips. Os números apresentados são atraentes, mas, na prática, tudo pode ser diferente.

Posse responsável ganhou destaque no sítio do PROBEM

O programa de controle reprodutivo, por exemplo, precisa contar com mais clínicas credenciadas e, atualmente, existem apenas cinco. Por isso, foi publicado, no dia 12 de agosto de 2009, no

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Bem-estar animal

Diário Oficial da Cidade de São Paulo, planejadas são saudána página 58, nota da Coordenadoria de veis, adequadas em terVigilância em Saúde - COVISA informos nutricionais e tramando sobre o processo de credenciazem benefícios para a mento n. 01/2009/COVISA/SMS. O saúde na prevenção e edital de credenciamento para clínicas e no tratamento de deterhospitais veterinários e seus anexos minadas doenças”. poderão ser retirados até o dia 11 de Na semana seguinte, setembro de 2009, no Gabinete da no dia 12 de agosto de Coordenação de Vigilância em Saúde 2009 a comissão seguiu (Covisa), na Rua Santa Izabel, 181, 6º com suas atividades e andar, Vila Buarque, das 10 às 17 horas, realizou reunião que ou consultados na internet: www. teve foco no debate de prefeitura.sp.gov.br/sms. questões que envolvem O lançamento do PROBEM acontea presença de equinos ceu em período em que a Comissão de no ambiente urbano. Estudos para Avaliação da Coexistência No dia 19 de agosto dos Animais Domésticos, Domesticade 2009, outra reunião dos, Silvestres Nativos e Exóticos com foi realizada, desta vez a População Humana, os Reflexos na com foco nas expectaSaúde Pública e Meio Ambiente e a Letivas das ações da gislação Pertinente na Cidade de São Covisa, do CCZ/SP e do Paulo estava em recesso. Porém, a PROBEM. comissão retornou às suas atividades no Em breve, a comisdia 5 de agosto de 2009, debatendo o são deverá publicar revegetarianismo. Esta reunião ordinária latório com informações contou com a participação, entre outras obtidas em todas as reupessoas, do dr. Éric Slywicht, médico niões ordinárias e extraespecialista em nutrologia, que esclareordinárias realizadas. ceu o quanto uma alimentação vegetaNa próxima edição, riana pode ser mais saudável e, ao mais informações sobre mesmo tempo, mais econômica, e de o assunto serão comparMarcio Astrini, do Greenpeace, que tilhadas com os leitores A farra do boi na Amazônia pode ser conferida no endereço: www.greenpeace.org/brasil/amazonia/gado apresentou o resultado da investigação da Clínica Veterinária. de 3 anos da organização (A farra do boi na Amazônia), revelando como a parceria entre a indústria do gado e o governo brasileiro estão resultando em mais desmatamento, trabalho escravo e invasão de terras indígenas. O dr. Éric Slywicht, entre outros pontos importantes, destacou parecer da American Dr Eric Slywitch, médico Dietetic Association: especialista em nutrolo“os profissionais que gia, promove a alimentação sem carne através trabalham com nutrição do sítio www.alimentatêm a responsabilidade caosemcarne.com.br e de apoiar e encorajar do livro Alimentação sem carne, de sua autoria, todos que demonstram que fornece informações interesse pelo consumo consistentes, seguras e, de dietas vegetarianas. Pôster com 350 alimentos de origem vegetal que podem ser utilizados numa dieta vegetaria- sobretudo, imparciais soQuando corretamente na, disponível para encomenda no sítio www.alimentacaosemcarne.com.br bre a dieta vegetariana 24

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Saúde pública Medicina Veterinária do Coletivo: um novo desafio para os veterinários Garcia, R. C. M. 1,2,4; Calderon Maldonado, N. A. 2,3,5 1. Doutorando, Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal; 2. Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC); 3. Universidad de La Sale, Colombia; 4. Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos (PROBEM); 5. CISAE - Centro de Pesquisas das Interações da Saúde Animal, Humana e Ecológica da Universidade de La Sale, Colômbia

A

Medicina Veterinária do Coletivo, considerada uma nova área da medicina veterinária pela Associação Veterinária Americana, tem o seu termo utilizado em inglês como “shelter medicine”, em espanhol “medicina de albergues” e a tradução para o português seria “medicina de abrigos”. Em relação ao melhor vocábulo a ser utilizado, na cultura latino-americana o termo “abrigo” não é utilizado quando a manutenção dos animais é feita pelo poder público, no caso dos serviços de controle de zoonoses e de controle animal. Também pode ter uma conotação de “depósito de animais” e não de instituição que promova o bem-estar desses. Com essas considerações, no Brasil e na Colômbia, o termo atualmente utilizado na construção dessa nova área está sendo Medicina Veterinária do Coletivo (MVC). Em 1999, a Medicina Veterinária do Coletivo (MVC) começou a fazer parte do currículo de algumas escolas veterinárias americanas e programas especiais começam a ser desenvolvidos. A Universidade de Davis criou um programa com o objetivo de apoiar tecnicamente os abrigos, agências de controle animal e criadores. A experiência da Universidade da Flórida envolve, além da escola de medicina

Outro exemplo é a Universidade do Colorado, que tem um programa de formação profissional voltado para os alunos, mas também destinado a promover o avanço da MVC. Outra evolução da especialidade foi a criação de associações que se dedicam ao estudo e prática da MVC.

Alactua County Animal Services: www.alachuacounty.us/government/depts/pw/ animal/

veterinária, o segundo setor (Merial) e a agência de controle animal local (Alactua County Animal Services). A Universidade de Cornell, por sua vez, oferece oportunidade de participação dos estudantes nessa nova área, envolvendo a construção de protocolos de avaliação e tratamento, medicina preventiva, implementação de sistemas de monitoramento e vigilância de enfermidades.

Student Chapter of the Association of Shelter Veterinarians: www.cvmbs.colostate.edu/scasv

Association of Shelter Veterinarians: www.sheltervet.org

Maddie's® Shelter Medicine Program: www.vet.cornell.edu/MaddiesFund

Center for Companion Animal Health: www.vetmed.ucdavis.edu/CCAH/ Koret Shelter Medicine Program: www.sheltermedicine.com/about/welcome.php

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Shelter Medicine for Veterinarians and Staff pode ser encontrado facilmente na Amazon: www.amazon.com

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Saúde pública

como medicina veterinária preventiva, zootecnia, clínica, cirurgia, saúde pública e etologia, sendo um grande desafio dos serviços de controle de zoonoses, nos quais as exigências para o perfil do profissional que trabalha nesses locais foi direcionado para a saúde pública apenas, uma vez que os animais recolhidos eram mantidos por apenas três dias, e a grande maioria eliminada, não havendo protocolos de “cuidados” nem para coibir o sofrimento desses animais. O desafio também se estende para as escolas de medicina veterinária, no oferecimento de disciplinas ou do conteúdo referente ao tema de forma transdisciplinar, proporcionando ao graduando conhecimentos e possibilidades de práticas para uma atuação profissional futura nessa nova área. Tanto para os abrigos de entidades de proteção animal como para os serviços de controle de cães e gatos, a nova área tem o grande desafio de trazer soluções técnicas, éticas e racionais, considerando não apenas os aspectos econômicos e práticos, mas focando o bemestar dos animais, dos funcionários e a saúde ambiental. O objetivo geral da MVC é o de promover a saúde dos cães e gatos que vivem em confinamento, atuando também na prevenção dos problemas que causam o abandoParticipantes do primeiro curso de Medicina Veterinária do Coletivo realizado em junho de 2009, em São Paulo, SP no animal. Os animais

Em 2004, Lila Miller e Stephen Zawistowski escreveram a primeira obra sobre o assunto: Shelter Medicine for Veterinarians and Staff. Na América Latina, desde 2008, o Centro de Pesquisa das Interações da Saúde Animal, Humana e Ecológica (CISAHE) da Universidade de La Sale, Colômbia, implantou uma linha de pesquisa embasada na saúde ecológica em abrigos de animais para apoiar os médicos veterinários no desenvolvimento das ações de abrigos ou de serviços de controle de zoonoses e entidades de proteção animal. No Brasil, o primeiro curso de Medicina Veterinária do Coletivo foi realizado, em junho de 2009, pelo Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos da Cidade de São Paulo (PROBEM www.prefeitura.sp.gov.br/probem), com apoio do CISAHE, Secretaria de Estado da Saúde, Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo e Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC).

Um material educativo lançado pelo ITEC em junho de 2009, durante o III Fórum sobre controle de populações de cães e gatos do Estado de São Paulo e o II Encontro nacional de oficiais de controle animal, é o DVD Introdução ao Manejo Etológico Canino. Durante aproximadamente 20 minutos são apresentadas ferramentas para auxiliar no desenvolvimento de técnicas de manejo que promovam interações positivas e seguras entre os diferentes profissionais e os cães, trazendo noções sobre a biologia, psicologia e bem-estar animal. O desafio A MVC é uma área de interação de grandes áreas da medicina veterinária, 30

O DVD Introdução ao Manejo Etológico Canino, produzido pelo ITEC, com o apoio da WSPA, possui áudio em português e legendas nos idiomas inglês e espanhol

que vivem confinados em abrigos ou em serviços de controle de zoonoses têm alto risco de contrair doenças devido à falta de cuidados veterinários, ao estado de saúde comprometido, à alta densidade de animais em pequeno espaço e ao estresse. Ter um programa efetivo de prevenção de doenças para a diminuição das taxas de morbidade e mortalidade, vai contribuir com a diminuição do tempo de manutenção e preparação do animal para a adoção, redução dos recursos gastos com tratamentos e diminuição do sofrimento animal e do estresse dos funcionários. Uma proposta que está sendo construída para a formação em Medicina Veterinária do Coletivo de profissionais latino-americanos tem o seguinte conteúdo programático: 1. Aspectos gerais dos abrigos e serviços de controle de zoonoses; 2. Medicina populacional, saúde ecológica e desastres; 3. Saúde pública veterinária, epidemiologia e bioestatística; 4. Saúde do trabalhador; 5. Bioética, proteção e direito animal; 6. Programas de vigilância em saúde e controle animal; 7. Políticas públicas: programas comunitários e educação humanitária; 8. Bem-estar animal; 9. Etologia aplicada e manejo etológico; 10. Medicina clínica e cirúrgica no coletivo; 11. Medicina do comportamento (etologia clínica, zoopsiquiatria); 12. Medicina legal e veterinária forense; 13. Tanatologia veterinária (morte, eutanásia e luto); 14. Medicina veterinária familiar (antrozoologia e etnoveterinária); A prática da MVC, no Brasil, tem avançado, principalmente, com as novas realidades jurídicas de cunho ético/moral de alguns estados que impedem a eliminação de animais sadios pelos serviços de controle de zoonoses. Nesse momento de delicada transição, a ciência precisa caminhar junto com a ética e a lei, oferecendo as bases para os médicos veterinários promoverem uma boa qualidade de vida, sem sofrimentos, àqueles que necessitam permanecer confinados, independente da duração desse confinamento.

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Fraturas do corpo mandibular em cães métodos de tratamento

Elisângela Perez de Freitas MV, mestre, doutoranda FMVZ/Unesp-Botucatu eliperezfr@yahoo.com.br

Sheila Canevese Rahal MV, profa. dra. FMVZ/Unesp-Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br

Treatment methods for mandibular body fractures in dogs

Marco Antonio Gioso MV, prof. dr. FMVZ/USP maggioso@usp.br

Oduvaldo C. M. Pereira Júnior

Fracturas del cuerpo mandibular en perros métodos de tratamiento

MV, mestre, doutorando FMVZ/Unesp-Botucatu odujunior@yahoo.com.br

Jorge V. L. Silva Resumo: Em virtude da importância das fraturas do corpo mandibular em cães, a presente revisão teve por objetivos discorrer sobre elas, com ênfase na anatomia, nas características gerais e nos métodos de imobilização interna e externa, de acordo com suas vantagens e desvantagens. Cada mandíbula possui um corpo, onde estão localizados os dentes e um ramo que contém os processos coronoide, condilar e angular. Entre os métodos de imobilização interna e externa, os mais indicados seriam: os fios ortopédicos, especialmente para as fraturas simples; a fixação intraoral, desde que a estrutura dental esteja íntegra; a fixação externa, particularmente em casos de perdas ósseas e fraturas multifragmentares; as placas metálicas, desde que posicionadas ou desenhadas de forma a não comprometer os dentes e as estruturas neurovasculares; e a combinação de técnicas, quando isoladamente essas não são suficientes para a estabilização. Unitermos: mandíbula, cirurgia, osteossíntese

Engenheiro, dr. Centro de Pesquisa Renato Archer (CenPRA)

Abstract: Mandibular fractures in dogs are very important. The aim of this paper was to discuss about such occurrences, emphasizing the anatomy, general characteristics and both internal and external immobilization methods, as well as their advantages and disadvantages. Each mandible has a so-called body, where the teeth are located, and a branch that contains the coronoid, condylar, and angular processes. Among the internal and external methods of fixation of mandibular fractures, the most indicated are: a) orthopedic wires, specially for simple fractures; b) intraoral splints, whenever dental structure is preserved; c) the external fixator, especially in cases of bone loss and multifragmentary fractures; d) bone plate and screws, as long as these are positioned or designed to avoid the teeth and the neurovascular structures; and e) a combination of techniques, if those are not enough for achieving stabilization when used separately. Keywords: mandible, surgery, osteosynthesis

corpo mandibular resultará em distração dorsal do fragmento caudal e deslocamento ventral do fragmento rostral, visto não haver nenhuma tensão muscular para conter o peso do fragmento rostral e da língua apoiando-se sobre ele 6,7 (Figura 2). Existem vários métodos de tratamento para fraturas orais, que podem ser conservativos ou cirúrgicos 2,3,4,8. O tipo de reparo é frequentemente limitado apenas pela imaginação do cirurgião, mas certos princípios devem ser seguidos 9 baseando-se em fatores mecânicos, biológicos e clínicos 10. Independentemente do método de imobilização escolhido, a meta principal é o restabelecimento da oclusão normal e da função mastigatória 3,8,11. Sendo assim, o objetivo da presente revisão é discorrer sobre as fraturas do corpo mandibular, com ênfase na anatomia, nas características gerais e nos métodos de imobilização interna e externa, de acordo com suas vantagens e desvantagens.

Resumen: En virtud de la importancia de las fracturas del cuerpo mandibular en perros, la presente revisión tiene por objetivo discutir sobre ellas, con énfasis en la anatomía, en las características generales y en los métodos de fijación interna y externa de acuerdo con sus ventajas y desventajas. El hueso mandibular tiene un cuerpo, donde están ubicados los dientes, y una rama que incluye los procesos coronoides, condilar y angular. Entre los métodos de inmovilización interna y externa los más indicados serian: los alambres ortopédicos, especialmente para fracturas simples; la fijación intraoral, desde que la estructura dental se encuentre integra; la fijación externa, en particular en casos de perdidas óseas y fracturas multifragmentarias; las placas metálicas, ya sea que estén posicionadas o diseñadas de forma a no poner en peligro los dientes y las estructuras neurovasculares; y la combinación de técnicas, cuando aisladamente estas no son suficientes para la estabilización. Palabras clave: mandíbula, cirugía, osteosíntesis

Clínica Veterinária, n. 82, p. 34-40, 2009

Introdução As fraturas de mandíbula representam de 3% a 6% de todas as fraturas em pacientes da espécie canina, sendo a localização mais comum entre o primeiro pré-molar e o segundo molar 1. A maioria delas é exposta para a cavidade oral e inevitavelmente contaminada 2. Geralmente, as fraturas se devem a trauma provocado por veículos, quedas, chutes, feridas provocadas por projéteis e brigas entre animais 1,3,4. As fraturas patológicas podem ocorrer devido a doença periodontal, neoplasia e doenças metabólicas 1,2,4. Além disso, fraturas iatrogênicas não são incomuns em cães submetidos a tratamento para doença periodontal em 34

que os dentes permanecem firmes no alvéolo, ainda que haja uma perda óssea substancial 1. Três fatores biomecânicos influenciam diretamente as fraturas mandibulares: os músculos da mastigação, a direção da linha de fratura e as forças envolvidas no desenvolvimento da lesão 5. Uma fratura completa do corpo mandibular que é oblíqua ventrorrostralmente tenderá a permanecer oposta à resultante da tração muscular (fratura favorável) e, normalmente, terá uma boa consolidação, especialmente se for unilateral e sem mobilidade na região da sínfise 6,7 (Figura 1). No entanto, a fratura completa transversa ou oblíqua ventrocaudal do

jorge.silva@cenpra.gov.br

Anatomia Todos os mamíferos têm duas mandíbulas, direita e esquerda, unidas pela sínfise mandibular ou articulação intermandibular 12. Entre as estruturas mais importantes da mandíbula podem ser citadas: o corpo, onde estão localizados os dentes; o ramo, no qual se encontram

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inervados pelo nervo mandibular, um ramo do nervo trigêmio 17.

fragmentos fraturados e maximizar a oclusão normal 1,4. Se o dente for relevante do ponto de vista funcional ou servir de ancoragem para os métodos de imobilização, ele pode ser mantido a fim de permitir uma fixação mais rígida e correta anatomicamente – e, após a consolidação da fratura, pode-se realizar o tratamento de canal 18. Por outro lado, dentes com severa doença periodontal devem ser removidos, porque a perda óssea ao redor do dente afetado proporciona acúmulo de placa bacteriana, que contribui para osteomielite e infecção 1,19. Nos casos em que ocorrer união retardada ou falta de união, o dente também deve ser removido, mesmo se não houver mobilidade 1.

Características gerais da fratura de mandíbula As forças primárias atuantes durante a mastigação causam flexão ventral da mandíbula, sendo que o máximo estresse de tensão localiza-se na superfície lingual (alveolar), e o máximo estresse compressivo, na superfície ventral do corpo da mandíbula 3,7,11. As forças compressivas, de cisalhamento e de rotação provavelmente não têm grande importância, em especial nas fraturas unilaterais 6,11. Contudo, a força de cisalhamento torna-se significativa em casos de fratura oblíqua longa 11. O ideal é que os implantes sejam colocados na superfície de tensão, ou seja, na borda alveolar 3,11 (Figura 4). Porém, dependendo do tipo de fixação usada, esta pode não ser adequada para ser aplicada nessa localização, devido à interferência nas raízes dentárias e nas estruturas neurovasculares adjacentes 8,11. Outro fator importante relacionado à fratura óssea é a lesão sobre o órgão dental, que pode ter sua função comprometida tardiamente 18. Recomenda-se a preservação dos dentes posicionados ao longo da linha de fratura, para evitar trauma adicional, movimento dos Elisângela Perez de Freitas

os processos angular, condilar e coronoide; e o canal mandibular 12,13, que se abre cranialmente nos três forames mentais – rostral, médio e caudal 9 (Figura 3). O forame mandibular, localizado no lado medial do terço caudal do corpo mandibular, é a abertura caudal do canal mandibular, através do qual passam a artéria alveolar inferior – que proporciona a nutrição para toda a mandíbula inferior –, a veia e o nervo alveolares inferiores 14. O nervo alveolar inferior é um ramo do nervo trigêmeo que supre a inervação motora e sensorial para a mandíbula e os dentes e, juntamente com a artéria alveolar, é frequentemente lesado em casos de fratura 4,15. As raízes dentárias ocupam a maioria dos dois terços dorsais do corpo da mandíbula, e o terço ventral inclui o canal mandibular, que contém o nervo alveolar inferior e os vasos associados 2. A fórmula dentária para cada mandíbula inferior do cão adulto é composta por três incisivos, um canino, quatro prémolares e três molares 6. Os músculos da mastigação, denominados de elevadores da mandíbula, são o masseter, os pterigoideos medial e lateral e o temporal 16. Todos eles são

Elisângela Perez de Freitas

Figura 3 - Componentes da mandíbula canina. (A) Ramo da mandíbula composto pelos processos angular, condilar e coronoide; forame mandibular, localizado no lado medial, que é a abertura caudal do canal mandibular (seta amarela), e forames mentais: rostral, médio e caudal (seta branca). (B) Corpo da mandíbula onde estão localizados os dentes e o canal mandibular Elisângela Perez de Freitas

Figura 2 - Exemplo de fratura desfavorável do corpo mandibular. A posição oblíqua ventrocaudal da fratura resultará em distração dorsal do fragmento caudal e deslocamento ventral do fragmento rostral

Elisângela Perez de Freitas

Elisângela Perez de Freitas

Figura 1 - Exemplo de fratura favorável do corpo mandibular. A posição oblíqua ventrorrostral da fratura permanece oposta à resultante da tração muscular

Figura 4 - Superfície de tensão (setas brancas). Observe a área ideal de posicionamento dos implantes (setas pretas), localizada na borda alveolar

Métodos de imobilização das fraturas mandibulares Entre os métodos cirúrgicos internos e externos de estabilização das fraturas mandibulares, podem ser citados os pinos intramedulares, os fios ortopédicos, as resinas acrílicas intraorais, os fixadores externos, as placas metálicas e enxerto ósseo associado a fixação externa percutânea, além de combinações desses 1-4,6,8,10,11,19. A abordagem ventral é a mais indicada para a fixação interna das fraturas do corpo mandibular, apesar de muitas fraturas mandibulares estarem associadas com extensa laceração da mucosa oral, o que permite a visualização dos fragmentos ósseos fraturados dentro da cavidade oral 6,11. As vantagens da abordagem ventral são a mínima tensão nos músculos primários da mastigação durante a manipulação; redução dos fragmentos ósseos; melhor visualização dos fragmentos, favorecendo uma melhor redução e fixação; eliminação da retração desnecessária da mucosa

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oral 11; além de evitar a contaminação da ferida cirúrgica com bactérias orais 20. Pinos intramedulares O pino intramedular tem sido utilizado, de forma retrógrada ou normógrada, em fraturas oblíqua ou transversa entre o segundo pré-molar e o primeiro molar 8. Contudo, o método é desaconselhado, visto possibilitar a lesão das raízes dentárias ou das estruturas neurovasculares do canal mandibular, além de biomecanicamente ter a desvantagem de ser aplicado em oposição à superfície de tensão 11. Como o canal mandibular é curvado, um pino posicionado em todo o comprimento do canal causará uma abertura dorsal na linha de fratura 6 (Figura 5). O método está associado a uma alta incidência de má oclusão pósoperatória 9,21, fato também constatado pelos autores da presente revisão, que não o recomendam.

Figura 6 - Imagem radiográfica intraoral da mandíbula de um cão com fratura transversa do corpo mandibular, localizada entre o primeiro e o segundo molares, tratada por meio de fios metálicos interfragmentários

empregados pelos autores da presente revisão (Figura 6). De preferência, devem ser posicionados na borda alveolar, ou seja, do lado da banda de tensão 1,11. Dois fios interrompidos são recomendados para cada fratura 1,19. Adicionalmente, o fio deve ser posicionado perpendicularmente à linha de fratura, porém isso pode não ser possível, dependendo da configuração ou da localização da fratura 4,11. Em casos de instabilidade, pode ser colocado um outro fio paralelo ao primeiro ou um fio interdental 11. Os fios interdentais ou amarrilhos dentais, colocados ao redor das coroas dos dentes e próximos à margem gengival (Figura 7), são indicados para fraturas simples e com presença de dentes sólidos de cada lado da linha de fratura 3. Para prevenir o deslizamento da coroa, o fio pode também ser posicionado no osso, ao redor do colo do dente, por meio de perfurações efetuadas entre os dentes e através da superfície do osso cortical 4. Uma outra modalidade é o uso do fio interarcada modificado 22. Perfuram-se orifícios através da mandíbula e da maxila, da direção vestibular para a lingual, entre as raízes dos dentes e adjacentes ao corpo dental, de ambos os lados. Todos os fios são colocados antes

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Fixação intraoral A fixação com resina acrílica intraoral é indicada em casos de fraturas simples, estáveis e não deslocadas, em especial as fraturas rostrais aos primeiros molares, uma vez que nas fraturas caudais a esses dentes, não há superfície dental suficiente para a fixação da resina acrílica 1,8,23. Um estudo retrospectivo sobre fraturas orais em cães no Brasil mostrou que a maioria das fraturas madibulares na região dos dentes molares ocorre por trauma de mordida ou fratura patológica devido a doença periodontal, enquanto as fraturas na região da sínfise são devidas a acidentes automobilísticos. Dos 100 cães avaliados, 47,1% apresentaram fratura na região dos molares e 20,6% na região da sínfise 24. Os dentes próximos ao foco de fratura devem estar saudáveis e estáveis 6,8, já que a superfície coronal dos dentes é usada para manter a resina acrílica 1. Esse método é o preferido dos autores da presente revisão, por sua simplicidade, seu baixo custo e sua efetividade. Pode-se também realizar a combinação de técnicas, como por exemplo, a fixação intraoral com fio metálico interdental 8. A resina acrílica é aplicada colocando-se um pouco de pó nos dentes, previamente sob ataque ácido, e logo saturando o pó com líquido 8. São aplicadas pequenas quantidades de pó e líquido, alternadamente, até que a resina tenha uma espessura de 1,5 a 2mm. Para reforçar, pode-se incorporar fio metálico, particularmente quando se faz uma ponte sobre áreas sem dentes. Outra opção é colocar a massa acrílica, previamente Elisângela Perez de Freitas

Fios ortopédicos A fixação com fios ortopédicos não apenas oferece vantagens, pela versatilidade de colocação, permitindo que os canais neurovasculares maiores e as raízes dentárias sejam evitados, como pela aplicação dos princípios biomecânicos 11. Os fios podem ser aplicados de forma interdental ou óssea 5. A técnica funciona bem, em particular se a mandíbula oposta estiver íntegra 1. O fio deve ser flexível o suficiente para permitir manipulação através das perfurações ósseas e torção adequada 11. Um fio de diâmetro grande proporciona fixação mais rígida, mas é mais difícil de posicionar e apertar 4,11. Os fios metálicos interfragmentários são indicados para fraturas simples, que podem ser reconstruídas anatomicamente 2,4, sendo um dos métodos bastante

Marco Antonio Gioso

Elisângela Perez de Freitas

Figura 5 - Imagem radiográfica de mandíbula de cão com fixação por pino intramedular em fratura transversa do corpo mandibular. Note que o pino é posicionado em oposição à superfície de tensão, provocando o afastamento da linha de fratura (setas) – e portanto, biomecanicamente inadequado. Observe que o pino perfura completamente a raiz do dente canino

de serem torcidos. Segundo o autor, o método pode ser aplicado em fraturas caudais do corpo mandibular, mínimas ou não deslocadas.

Figura 7 - Esquema de fratura do corpo mandibular de cão tratada por meio de fios interdentais, posicionados ao redor das coroas dos dentes e próximos à margem gengival (A). Vista dorsal da mandíbula mostrando o amarrilho dental (B)

Figura 8 - Imagem fotográfica da fixação de fratura do corpo mandibular bilateral de cão com resina acrílica, previamente preparada e moldada sobre a superfície dos dentes

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com perfil positivo aumenta o tempo de fixação da montagem 4. Contudo, pinos lisos causam menos trauma às estruturas neurovasculares se inadvertidamente colocados 2. Estudo retrospectivo foi realizado em dezessete cães e oito gatos com fraturas mandibulares tratadas com fixação esquelética externa de acrílico ou resina de epóxi 28. Todos os implantes foram dispostos bicorticalmente e, em alguns casos, implantes rostrais foram colocados para transfixar ambas as mandíbulas. Foram utilizados pinos lisos com ponta em trocarte ou pinos de Ellis. Não foram detectados problemas de viabilidade dentária, de vascularidade dos fragmentos mandibulares rostrais ou de perda de sensação da pele mandibular rostroventralmente. Embora se tenha observado afrouxamento do implante na época de remoção do fixador, isso não afetou o êxito do procedimento. Com exceção de dois cães, em todos os demais a fratura se consolidou.

Fixação externa A fixação externa pode ser empregada na maioria das fraturas do corpo mandibular, em especial nas multifragmentares com perda óssea e naquelas em que houver dano extenso aos tecidos moles 2,8. A técnica é vantajosa por requerer mínima dissecção e mínima interrupção do fluxo sanguíneo e por não colocar implante no foco de fratura, além da facilidade de aplicação e de ser bem tolerada pelo animal 8. O método permite ainda versatilidade na localização dos pinos de fixação e na configuração do suporte externo, ambos uni e bilateralmente 11. Entre as complicações, podem-se citar a infecção no trajeto do pino, a infecção do tecido mole, a osteomielite focal e o sequestro de anel 1. Adicionalmente, a rigidez do método pode não ser tão grande quanto a obtida com o uso de fio interfragmentar ou placa 19. A fixação externa pode ser feita com barras convencionais ou com resina 3,4,8,9 (Figura 9). Os pinos são introduzidos do lado lateral da mandíbula, onde há menor cobertura muscular e as marcas anatômicas são facilmente identificadas 1. Além disso, devem ser posicionados no terço ventral do corpo mandibular, para evitar as raízes dentárias e o canal mandibular, que contém artéria, veia e nervo mandibulares 8. O ideal é que seis corticais sejam engajadas em cada fragmento 1. O emprego de pinos rosqueados

Placas metálicas As placas metálicas promovem uma fixação rígida e devem ser aplicadas com pelo menos dois parafusos em cada segmento fraturado 8. O método é indicado em fraturas do corpo mandibular médio e em algumas fraturas do ramo, particularmente nas fragmentares ou com perda óssea 3,4,11, sendo benéficas em paciente com fraturas bilaterais 9. A placa pode ter função de neutralização ou compressão, entretanto, em fraturas multifragmentares ou com perda óssea a função deve ser de apoio ou suporte 11. Miniplacas maxilofaciais podem ser mais facilmente contornadas e facilitam a colocação dos parafusos, além da possibilidade de serem combinadas com placas retas e placas de reconstrução 2,4. Elisângela Perez de Freitas

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vantagens do método a ausência de dano dentário e ao suprimento sanguíneo ósseo e a facilidade de aplicação; e como desvantagens a necessidade da presença de dentes caninos e a possibilidade de desenvolvimento de pneumonia aspirativa em casos de ocorrência de vômito com a fixação no local.

Elisângela Perez de Freitas

preparada, sobre a superfície do dente e moldá-la no local 6 (Figura 8). O uso de acrílico em camadas evita uma maior reação exotérmica, que pode ocorrer se uma grande quantidade de monômero e polímero é misturada e aplicada no estágio arenoso da polimerização 1. Além disso, alguns autores recomendam a proteção dos tecidos orais com vaselina, a borrifação do acrílico com água durante a fase de polimerização e o trabalho em áreas bem ventiladas, por causa dos vapores tóxicos 25. O uso de acrílico de cura fria é uma opção para evitar as complicações da reação exotérmica, que causa trauma nos tecidos moles da cavidade oral 1. A fixação com resina acrílica intraoral tem a vantagem biomecânica de estar na superfície de tensão, porém, se não for adequadamente aplicada, pode interferir na oclusão, impedindo o fechamento da boca 11. Ademais, o acúmulo de placa bacteriana e/ou resíduos alimentares entre a resina e a gengiva podem provocar estomatite e gengivite, que se resolvem espontaneamente, uma semana após a remoção do aparato 1,23,25. A limpeza regular da cavidade oral ajuda a limitar os efeitos negativos do acúmulo de placa sob o aparelho 2. A força de flexão foi determinada em cinco tipos de fixação interdental (barra de Erich, método de Stout (amarrilho em alça), acrílico, método de Stout com acrílico, barra de Erich com acrílico) aplicados na mandíbula direita ou esquerda de 24 cadáveres caninos 26. As mandíbulas foram osteotomizadas de forma perpendicular ao longo eixo, entre o terceiro e o quarto pré-molares, e os segmentos fraturados estabilizados. As fixações que combinaram acrílico com metal foram significativamente mais fortes do que as que usaram metal ou acrílico isoladamente. Em outro estudo, empregou-se compósito dental para fixar fraturas mandibulares em onze gatos e seis cães 27. Os dentes caninos foram polidos antes de serem submetidos a ataque ácido e alinhados com compósito dental, deixando aproximadamente 1cm de boca aberta. O compósito quebrou antes de seis semanas em oito animais, e em dois foi necessário recolocá-lo. A média de consolidação das fraturas foi de seis semanas e todas mantiveram a oclusão dental anatômica. Os autores consideraram

Figura 9 - Imagem radiográfica de mandíbula de cão com fratura transversa do corpo mandibular imobilizada pela fixação externa, por meio de barras convencionais e resina acrílica. Note que as barras atravessam o canal mandibular e perfuram as raízes dentárias

Figura 10 - Fratura transversa na região do quarto pré-molar inferior (ausente), imobilizada por meio de placa convencional posicionada próxima à borda alveolar, com risco de os parafusos provocarem lesão das estruturas dentárias e do canal mandibular

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009


As placas devem ser cuidadosamente contornadas, para adequar-se ao formato do osso fraturado e evitar a má oclusão 2,4,19 e devem ser aplicadas na superfície lateral ou caudal da mandíbula, para evitar danos às raízes dentárias associados à inserção do parafuso 3,11 (Figura 10). A desvantagem biomecânica dessa localização pode ser vencida pela orientação da placa em relação às forças de flexão que ocorrem na região do osso alveolar, pela suplementação da fixação com uma segunda placa, em pacientes de grande porte, ou pelo acréscimo de fios interdentais 2,11. Placas de polietileno de alta densidade (peso molecular de 50,000 g/mol) foram usadas para fixar osteotomias mandibulares realizadas em cães, sendo: grupo A - osteotomia entre o quarto prémolar e o primeiro molar, bilateralmente; grupo B - osteotomia única entre o quarto pré-molar e o primeiro molar de um lado e fratura com três segmentos do outro lado; grupo C - osteotomia bilateral única entre o segundo e o terceiro

molares 29. Ocorreu consolidação em onze das catorze osteotomias e falta de união em três, uma das quais desenvolveu osteomielite. Segundo os autores, a placa de polietileno teve por vantagens a disponibilidade, a versatilidade e a facilidade de avaliação pós-operatória, sendo indicada para fraturas em ossos chatos sem grandes perdas ósseas ou naquelas altamente cominutivas. Realizou-se uma osteotomia mandibular transversa unilateral entre o terceiro e o quarto pré-molares, e fixada com placa (2,7 mm de espessura, com seis ou oito furos) – compressão ou reconstrução – e parafusos em quinze cães adultos sem raça definida 30. A placa foi posicionada na superfície dorsolateral da mandíbula, ventralmente à junção mucogengival. Três meses depois da operação, o trauma dental foi avaliado clínica e histologicamente. Ocorreu ulceração da mucosa oral sob a placa em dez de quinze cães e as raízes dentárias foram danificadas por 61% dos parafusos. Sendo assim, os autores concluíram ser

esse método de fixação inadequado para reparar fraturas mandibulares em cães. Dois cães com má oclusão provocada por defeito segmentar (variando de 1,8 a 4,5cm) na mandíbula foram tratados com o emprego de enxerto cortical ósseo autógeno (ulna ou costela), suplementado com enxerto esponjoso colhido da parte proximal do úmero 31. A fixação foi realizada com o emprego de miniplacas maxilofaciais e parafusos, pela facilidade de aplicação e por proporcionarem uma estabilidade rígida tridimensional. Ambos os casos evoluíram de forma satisfatória. Em outro estudo, os autores aplicaram miniplacas maxilofaciais retas (de 0,9mm de espessura e comprimento variando de 2 a 9cm) com parafusos autorrosqueantes bicorticais (de 2mm de diâmetro e comprimento variando de 5 a 15mm), ambas de titânio, em fraturas mandibulares de cães e gatos 32. De acordo com os autores, a cabeça do parafuso e o desenho da placa permitiram que o primeiro fosse colocado em um


ângulo de até 30º em relação à superfície da placa. O contorno da placa, bem como sua aplicação ao longo das linhas biomecânicas apropriadas, foi facilmente efetuado, permitindo que os princípios da banda de tensão pudessem ser aplicados na maioria dos casos, evitando as raízes dentárias. Miniplacas maxilofaciais retas de tamanho ajustável da AO/ASIF foram utilizadas no reparo de cinco fraturas mandibulares em gatos 20. As placas de titânio (0,7mm de espessura) foram facilmente contornadas e posicionadas ao longo da crista coronoide da mandíbula, ou seja, do lado de tensão da fratura. Os parafusos autorrosqueantes (1mm de diâmetro e comprimento variando de 2 a 8mm) podiam ser angulados através da miniplaca, minimizando as lesões nas raízes dentárias. Mesmo nos casos em que alguns dos parafusos foram colocados monocorticalmente, a fixação da fratura foi suficiente para permitir a consolidação. Visando evitar os problemas associados ao uso da placa tradicional, os autores da presente revisão desenvolveram um modelo de placa que permite o uso de parafusos monocorticais, sem risco de afrouxamento da placa, com dispositivo de anel de bloqueio 33. Considerações finais Considerando-se as características anatômicas do corpo da mandíbula canina, pode-se afirmar que entre os métodos de imobilização interna e externa usados no tratamento de fraturas do corpo mandibular canino, os mais indicados seriam: os fios ortopédicos, especialmente para as fraturas simples; a fixação intraoral desde que a estrutura dental esteja íntegra; a fixação externa, particularmente em casos de perda óssea e fraturas multifragmentares; as placas metálicas, desde que posicionadas ou desenhadas de forma a não comprometer os dentes e as estruturas neurovasculares; e a combinação de técnicas, quando isoladamente essas não são suficientes para a estabilização. Agradecimentos Ao prof. dr. Luiz Carlos Vulcano pela realização do exame de tomografia computadorizada (TC). Ao Gustavo H. L. Paschoal, pela confecção dos modelos 3D a partir dos dados da TC. 40

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Tireoidectomia felina: técnicas cirúrgicas e complicações pós-operatórias - revisão

Katia Barão Corgozinho MV, mestre, doutoranda PPGMV - UFF katiabarao@uol.com.br

Heloisa Justen Moreira de Souza MV, profa. dra. adj. Depto. Medicina e Cirurgia - UFRRJ justen@centroin.com.br

Ana Maria Ferreira MV, profa. dra. tit. Depto. Patologia e Clínica Veterinária - UFF

Feline thyroidectomy: surgery and outcome - a review

anamrferreira@br.inter.net

Adriana Neves Médica veterinária Clínica Gatos e Gatos Vet

Tiroidectomía en felinos: técnicas quirúrgicas y sus complicaciones - una revisión

Adriana.n.pereira@hotmail.com

Cristiane Damico Médica veterinária Clínica Gatos e Gatos Vet

Resumo: O hipertireoidismo é uma endocrinopatia comum em gatos idosos e de meia-idade. A maior causa de hipertireoidismo é a hiperplasia adenomatosa benigna de um ou de ambos os lobos tireoidianos. A remoção cirúrgica dos lobos acometidos é uma opção terapêutica comum. A estabilização pré-operatória do gato hipertireoideo com medicamentos antitireoidianos é indicada para minimizar complicações anestésicas e cirúrgicas devido aos efeitos sistêmicos do excesso de hormônios tireoidianos. Várias técnicas cirúrgicas para a remoção da glândula tem sido relatadas (intracapsular, extracapsular e tireoidectomia com implantação da glândula paratireóide) e os resultados pós-cirúrgicos e suas complicações diferem, dependendo da técnica utilizada. O tratamento cirúrgico de gatos hipertireoideos oferece cura permanente sem tratamento médico crônico e sem necessitar de equipamento especializado. Unitermos: gato, hipertireoidismo, tratamento Abstract: Hyperthyroidism is a very common endocrinopathy in middle-aged and old cats. The major cause of hyperthyroidism is a benign adenomatous hyperplasia of one or both glands. Surgical removal of the affected lobes is one of the most commonly used treatment options. Preoperative stabilization of the hyperthyroid cat with antithyroid drugs is preferred to minimize anesthetic and surgical complications due to the systemic effects of excessive thyroid hormone concentrations. Multiple surgical techniques for thyroidectomy have been reported, such as intracapsular or extracapsular thyroidectomy, as well as thyroidectomy with parathyroid implantation. The results of surgery and complications differ among techniques. Surgical treatment of hyperthyroidism in cats offers permanent cure without chronic medical management and no specialized equipment is necessary. Keywords: cat, hyperthyroidism, management Resumen: El hipertiroidismo es una endocrinopatía común en gatos ancianos y de media edad. La mayor causa de hipertiroidismo es la hiperplasia adenomatosa benigna de uno o dos lóbulos de la glándula. La extirpación del lóbulo afectado es una opción para tratar los gatos afectados. La estabilización antes de la cirugía es indicada para reducir los efectos de las hormonas de la glándula durante la cirugía y anestesia. Muchas técnicas quirúrgicas han sido relatadas (intracapsular, extracapsular y tiroidectomía con implante de la glándula paratiroide) siendo que los resultados y complicaciones después de la cirugía suelen ser diferentes según la técnica utilizada. La extirpación de la glándula tiroide puede ser curativa sin la necesidad de tratamientos médicos crónicos y sin exigir del equipamiento especializado. Palabras clave: gato, hipertiroidismo, tratamiento

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Introdução O hipertireoidismo é uma doença endócrina caracterizada pelo aumento da concentração circulante de tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3). O primeiro caso de hipertireoidismo felino foi descrito em 1979 e sua incidência tem-se elevado no decorrer dos anos. Isso se deve ao melhor conhecimento da doença pelos médicos veterinários, ao aumento da sobrevida dos gatos e ao acesso ao diagnóstico laboratorial 1. O hipertireoidismo acomete animais de meia-idade a idosos (entre seis a vinte anos) 2-7 e raramente animais jovens 8. Não apresenta predisposição 42

racial nem sexual 2-7. A causa mais comum de hipertireoidismo em gatos é a hiperplasia adenomatosa funcional 9, sendo que na maioria dos casos dá-se o acometimento glandular bilateral 1,3. Tumores malignos como o carcinoma tireoidiano também foram descritos em gatos 3,7, podendo haver invasão local ou metástase no linfonodo regional, no pulmão ou até em órgãos distantes 7,10. Os sinais clínicos mais observados em gatos com hipertireoidismo são perda de peso, polifagia, poliúria/polidipsia, aumento da atividade e sinais gastrintestinais (diarreia, esteatorreia e vômito).

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Vanessa Pimentel MV, mestranda - UFRRJ vanessapimente@gmail.com

Outros sinais observados são alterações dermatológicas, sinais respiratórios, diminuição do apetite, letargia, fraqueza, intolerância ao calor, hematúria e ventroflexão cervical 1,4-6,10-12. Os hormônios tireoidianos podem interagir com o sistema nervoso, aumentando o impulso simpático e causando hiperexcitabilidade, nervosismo, taquicardia, mudanças de temperamento e tremores 10. Apesar da aparente contradição, alguns animais hipertireoideos podem apresentar diminuição de apetite e até anorexia (hipertireoidismo apático) 1. No exame clínico pode ser observada emaciação, taquicardia sinusal, ritmo de galope, tremores, pelagem malcuidada, aumento da glândula tireóide uni ou bilateralmente (mais comum) 1,5,13. A glândula não é palpável quando se localiza no interior do tórax 1,14. O diagnóstico é realizado pelo aumento da concentração sérica de tiroxina total 1,10,12,15,16. A elevação da concentração sérica de T3 e T4 é extremamente específica para o diagnóstico de hipertireoidismo, com nenhum falso positivo relatado 15,17. Mais de 30% dos gatos hipertireoideos podem ter a concentração sérica de T3 dentro da faixa de referência, enquanto somente 10% dos animais acometidos têm a concentração sérica de T4 total dentro do normal. Isso demonstra

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009


que a avaliação de T4 é mais fidedigna do que a mensuração do T3, o que pode ser explicado por uma tentativa compensatória do organismo de diminuir a conversão de T4 a mais T3 ativo quando há aumento da produção de hormônio tireoidiano 15-17. Quando se suspeita de hipertireoidismo num gato com concentração normal de T4, deve-se observar se os sinais clínicos são compatíveis com essa doença, se os lobos tireoidianos são palpáveis e se o animal apresenta doença sistêmica concomitante 15,17. As possíveis explicações para gatos hipertireoideos possuírem concentração sérica de tiroxina total normal é a flutuação hormonal ou a supressão hormonal provocada por doenças sistêmicas não tireoidianas 1,17,18. Várias doenças não tireoidianas, como diabetes mellitus, hepatopatia, neoplasia ou insuficiência renal, podem suprimir a concentração de tiroxina total circulante e quanto maior a severidade da doença extra-tireoidiana, menor a concentração de T4 17,18. A cintilografia da tireóide demonstra aumento da captação de iodo pela glândula hiperativa e aumento do tamanho do lobo afetado 2,3,9,10. Esse exame é útil em gatos hipertireoideos para avaliar se o acometimento é uni ou bilateral, e para detectar a localização do lobo acometido e as presenças de tecido tireoidiano acessório e de metástases 3,7,10,16. A tomografia pode ser usada como diagnóstico alternativo quando não se tem acesso à medicina nuclear ou quando não se quer usar radiação para detectar o hipertireoidismo. Ela constitui um meio diagnóstico para diferenciar carcinoma de hiperplasia adenomatosa 19. O tratamento do hipertireoidismo em gatos consiste em controlar o excesso de hormônio produzido pela glândula tireóide afetada já que se desconhece a patogênese. Esse controle pode ser feito com fármacos que diminuem a produção do hormônio, pela remoção cirúrgica do lobo acometido ou com a administração de iodo radioativo 9,20. O tratamento clínico é realizado pelo uso do medicamento oral metimazol, na dose de 2,5 a 5mg/gato a cada 12 ou 24 horas, o que diminui os níveis séricos dos hormônios tireoidianos por bloquear a captação de iodo pela tireóide 5,9. Esse tratamento é a opção para casos de risco cirúrgico ou para estabilizar o

paciente antes do tratamento com iodo radioativo ou cirurgia 9,10. A terapia com iodo radioativo pode ser eficaz, simples e segura no tratamento de gatos com hipertireoidismo 7,10. Porém o fato de ela implicar a utilização de equipamentos e de pessoas especializadas, além da internação do animal por sete a dez dias após o procedimento, pode limitar o seu uso. Esse tratamento tem vantagens sobre a cirurgia, pois atinge tecido tireoidiano ectópico ou de difícil acesso para ser retirado cirurgicamente, além de não afetar a glândula paratireóide 1,9. Animais com concomitante aumento da ureia e da creatinina devem ser avaliados minuciosamente para o controle definitivo do hipertireoidismo (cirurgia ou iodo radioativo). O hipertireoidismo diminui a resistência vascular periférica e aumenta o débito cardíaco, levando ao aumento do fluxo plasmático glomerular e ao consequente aumento da taxa de filtração glomerular. Quando o gato retorna ao estado eutireoideo, ocorre diminuição da taxa de filtração glomerular e o aumento das concentrações séricas de creatinina e ureia. Cerca de 30% dos gatos desenvolvem azotemia trinta dias após o retorno do quadro eutireoideo, mas a azotemia tende a permanecer estável na maioria dos pacientes 1,9,21. A presença de tireotoxicose (perda de peso, sopro cardíaco) em pacientes hipertireoideos renais deve ser levada em consideração para tratar esses pacientes, desde que os sinais não estejam relacionados a doença renal 9. Até a presente data, nenhum estudo comprovou consistentemente o desenvolvimento de insuficiência renal após a estabilização do quadro eutireoidiano 1. Tratamento cirúrgico O tratamento cirúrgico é indicado como terapia definitiva diferentemente da terapia clínica. Os animais devem ser estabilizados antes da cirurgia para diminuir os riscos anestésicos e cirúrgicos e controlar a tireotoxicose com o uso do metimazol duas a doze semanas antes da cirurgia 1,22. Em alguns casos, a terapia medicamentosa por sete a dez dias antes da cirurgia, leva à redução ou à normalização do nível sérico de T4, minimiza os riscos e permite o procedimento cirúrgico 9. Se esses animais não responderem ao tratamento clínico ou

desenvolverem efeitos colaterais, devese usar betabloqueadores como propanolol, na dose de 0,5mg/kg a cada doze ou oito horas, pois eles bloqueiam os efeitos cardiovasculares e neuromusculares do excesso dos hormônios da tireóide, apesar de não alterarem os níveis desses hormônios 13,23. Outro betabloqueador que pode ser usado é o atenolol na dose de 3,15 a 6,25mg/gato a cada doze horas, que ajuda a controlar a taquicardia 20. Os pacientes renais geralmente não são candidatos à cirurgia. Anestesia A anestesia pode ser realizada com acepromazina como pré-medicação, pois tem propriedades antiarrítmicas. A quetamina é segura e efetiva. Também se pode usar barbituratos, por possuírem atividade antitireoidiana; entretanto, eles podem deprimir o miocárdio e causar arritmia ventricular 13. Também se pode utilizar propofol para a indução anestésica. O ideal é manter a anestesia com isoflurano ou halotano 3,24. A arritmia cardíaca é comum durante a anestesia desses animais e especialmente em animais que não foram preparados para a cirurgia. Quando ocorre arritmia durante o procedimento anestésico, deve-se diminuir o anestésico e ventilar o paciente com alto teor de oxigênio e se ela persistir, administrar pequenas doses de propanolol por via intravenosa na dose de 0,1mg/gato 9. Técnicas de tireoidectomia É necessário o conhecimento anatômico para a realização da tireoidectomia. No gato adulto, a glândula tireóide consiste em dois lobos separados, sem istmo, que se localizam ao lado da traqueia, próximos ao quinto ou ao sexto anel traqueal 25. Medem em torno de 10mm de comprimento, 4mm de largura e 2mm de espessura. O principal suprimento sanguíneo de cada lobo é a artéria tireóide cranial que se origina da artéria carótida. A artéria caudal não está presente em muitos gatos. O principal retorno venoso é pela veia tireoidiana cranial e pela veia tireoidiana caudal que saem pelos polos cranial e caudal de cada lobo, respectivamente. A glândula tireóide tem uma cápsula distinta que é separada da glândula por dissecção e tem pequenos vasos localizados em sua superfície 9.

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Figura 3 - Técnica de tiroidectomia extracapsular modificada. Após ligadura dos vasos tireoidianos caudais, faz-se incisão de 300 graus na cápsula tireoidiana, ao redor da glândula paratireoide externa, e remove-se a glândula tireoide

Técnica extracapsular A tireoparatireoidectomia foi a primeira técnica cirúrgica descrita e consiste em retirar a glândula tireóide juntamente com as glândulas paratireóides associadas (Figura 2). Após acessar a glândula, o lobo tireoidiano é isolado e 44

Katia Barão Corgozinho

Figura 2 - Técnica de tireoidectomia extracapsular. Após ligadura dos vasos tireoidianos craniais e caudais, ocorre a remoção do lobo tireoidiano afetado, assim como das glândulas paratireoides associadas

Katia Barão Corgozinho

Figura 1 - Posicionamento para tireoidectomia. Gato em decúbito dorsal com membros anteriores posicionados em direção à cauda. Suporte acolchoado embaixo da região dorsal cervical para manter o pescoço estendido

Katia Barão Corgozinho

Katia Barão Corgozinho

Duas glândulas paratireóides são associadas a cada lobo tireoidiano. A glândula paratireóide externa se localiza na fáscia do polo cranial da glândula tireóide e a glândula paratireóide interna se localiza no parênquima tireoidiano. Ambas, porém, podem variar de localização. As glândulas paratireóides externas medem de 3 a 7mm e podem ser diferenciadas do tecido tireoidiano pela coloração clara e pelo formato esférico. O suprimento sanguíneo das glândulas paratireóides consiste em vasos pequenos que se originam na artéria tireóide cranial. O tecido paratireoidiano ectópico pode ser encontrado em 35 a 50% dos gatos e estar localizado na fáscia peritraqueal, no mediastino cranial e no pericárdio 25. Há várias técnicas de tireoidectomia descritas. O acesso à tireóide e o fechamento do foco cirúrgico é o mesmo para todas as técnicas. O animal é posicionado em decúbito dorsal (Figura 1). O acesso à tireóide é efetuado com incisão de pele desde a laringe ao manúbrio. O músculo platisma é incisado e as fibras dos músculos esternotireoideos e esternohioideos são separadas 13,26. Um afastador de Gelpi pode ser utilizado para a exposição dos lobos tireoidianos 26. Os lobos tireoidianos localizam-se na parte posterior da laringe. Após a remoção da tireóide, as fibras musculares são aproximadas com fio absorvível em padrão contínuo ou separado. O tecido subcutâneo é aproximado da mesma maneira e a pele é fechada com fio inabsorvível 9,23.

os vasos tireoidianos cranial e caudal são isolados e ligados, removendo-se completamente o lobo. Desde que os hormônios produzidos pelas glândulas paratireóides são responsáveis pela homeostase de cálcio, a remoção das quatro glândulas paratireóides ao mesmo tempo, no caso de tireoparatireoidectomia bilateral, é associada a severa hipocalcemia ameaçando a vida do paciente. O risco de hipocalcemia é maior quando os dois lobos são retirados ao mesmo tempo, já que o acometimento da hiperplasia adenomatosa tireoidiana é bilateral na maioria dos casos 23. Técnica extracapsular modificada Com o intuito de preservar a glândula paratireóide externa, uma incisão na cápsula tireoidiana de 300 graus é realizada ao redor da glândula paratireóide externa 23, pelo menos 2mm dessa glândula 26 (Figura 3). A glândula paratireóide externa é separada da glândula tireóide e da cápsula que a envolve 13,26. Pode-se utilizar o eletrocautério para separar a glândula paratireóide, tomando cuidado para não lesar a glândula ou sua vascularização 9. O suprimento sanguíneo

Figura 4 - Técnica de tiroidectomia intracapsular. Faz-se incisão na cápsula tireoidiana no aspecto dorsal e remove-se o lobo tireoidiano da cápsula com o auxílio de um cotonete estéril, deixando a glândula paratireoide externa e a cápsula tireoidiana

tireoidiano caudal é ligado e transeccionado. Essa técnica reduziu a hipocalcemia pós-operatória em pacientes que passaram por tireoidectomia bilateral.

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Técnica intracapsular modificada No intuito de reduzir o risco do retorno ao estado de hipertireoidismo, a técnica intracapsular foi modificada, realizando-se a remoção de quase toda a cápsula da tireóide 13,26. Nessa técnica, após a remoção do lobo tireoidiano, a cápsula tireoidiana é excisada próximo a glândula paratireóide externa, permanecendo um mínimo de tecido capsular

(Figura 5). Em um estudo, a recidiva de hipertireoidismo ocorreu em onze de cinquenta gatos submetidos a técnica de tireoidectomia intracapsular e em nenhum dos trinta animais submetidos à técnica intracapsular modificada 26. Tireoidectomia com implantação da glândula paratireóide Há relatos de outra técnica, que consiste na retirada total do lobo tireoidiano e na implantação da glândula paratireóide externa nas fibras do músculo esternoioideo. Realiza-se a ligadura dos vasos tireoidianos craniais e caudais com fio absorvível 4-0 e a remoção do lobo tireoidiano juntamente com a glândula paratireóide externa. A glândula paratireóide externa é separada completamente do lobo tireoidiano com bisturi e é colocada em uma gaze embebida em solução salina (Figura 6). Realiza-se uma incisão de 0,5 a 1cm no músculo esternoiodeo ipsalateral e a glândula é colocada nesse músculo, que é suturado com um ponto simples e fio de náilon 3-0 24,27. Espera-se 30 dias para que a glândula paratireóide implantada seja revascularizada e revitalizada, antes de remover o outro lobo tireoidiano caso o acometimento seja bilateral 24,27. Quando essa técnica é realizada bilateralmente, ocorre hipocalcemia pós-operatória obrigando à reposição de cálcio e vitamina D até que a função da paratireóide retorne, o que se dá cerca de 21 dias depois 27.

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Técnica intracapsular Essa técnica visa reduzir a incidência de hipocalcemia pós-operatória pela remoção da glândula tireóide sem afetar a glândula paratireóide externa. O lobo tireoidiano é isolado e faz-se uma incisão horizontal na cápsula no aspecto ventral da glândula (Figura 4). O parênquima tireoidiano é liberado da cápsula, com auxílio de uma haste flexível estéril embebida em solução salina, deixando a glândula paratireóide e sua vascularização intactas. O lobo tireoidiano é removido deixando-se a cápsula tireoidiana e a glândula paratireóide externa 23. Essa técnica de tireoidectomia tem menor incidência pósoperatória de hipocalcemia após a remoção bilateral quando comparada com a técnica anterior. Sua desvantagem é a permanência de tecido tireoidiano na cápsula e a hiperplasia desse tecido remanescente, que pode levar ao retorno do hipertireoidismo dentro de oito a 63 meses após a cirurgia 23,26.

Figura 5 - Técnica intracapsular modificada. Após a incisão no aspecto dorsal da cápsula tireoidiana, remove o lobo tireoidiano, deixando a glândula paratireoide externa; ligam-se os vasos tireoidianos caudais e remove-se a cápsula tireoidiana remanescente, próximo à glândula paratireoide externa

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C

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E

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B

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Figura 6 - Técnica de tiroidectomia com implantação da glândula paratireóide externa. A) Visualização do lobo tireoidiano aumentado após incisão na pele, no tecido celular subcutâneo e na musculatura. B) Ligadura dos vasos tireoidianos caudais e craniais para a remoção do lobo tireoidiano. C) Glândula tireóide após a sua remoção juntamente com a glândula paratiroide externa (seta preta). D) Glândula paratireóide externa após a remoção do lobo tireoidiano. E) Implantação da glândula paratireóide externa (ponta da pinça hemostática) entre as fibras musculares dos músculos esternohioideos. F) Sutura com fio de náilon (seta branca) nas fibras do músculo esterno-hioideo para marcar o local de implante da glândula paratiroide

Tireoidectomia em etapas A tireoidectomia em etapas é indicada para evitar o hipoparatireoidismo póscirúrgico quando os dois lobos tireoidianos estão acometidos. Retira-se um lobo e após três a quatro semanas retira-se o outro. Isso permite que a glândula paratireóide externa se recupere do trauma cirúrgico e, no caso da tireoidectomia com implantação da glândula paratireóide, permite a revascularização da glândula implantada. Outra vantagem dessa técnica é diminuir o risco de o paciente desenvolver hipocalcemia e, consequentemente, reduzir o tempo de internação 13. Complicações pós-operatórias Algumas complicações podem ocorrer quando se realiza a tireoidectomia, principalmente quando ela é realizada bilateralmente (Figura 7). O hipoparatireoidismo pode ocorrer em um a três dias após a cirurgia, em decorrência da lesão na glândula paratireóide externa e isso é mais frequente quando se realiza a técnica de tireoidectomia bilateral 13. A hipocalcemia transiente resulta da isquemia ou do dano causado à paratireóide durante a cirurgia 13,26. O nível sérico de cálcio é monitorado até o quinto dia após a cirurgia. Os sinais clínicos de hipocalcemia são 46

espasmos musculares, anorexia, depressão, colapso, tetania e até óbito, se ela não for corrigida. Se a hipocalcemia se desenvolver devido à remoção ou ao dano causado à glândula paratireóide, inicia-se tratamento com cálcio e vitamina D. Pode-se indicar uma suplementação de carbonato ou lactato de cálcio na dose de 25 a 50mg/kg/dia, em associação com o calcitriol na dose de 20 a 30ng/kg/dia, por três a quatro dias, e mantido na dose de 5 a 15ng/kg/dia 9. Geralmente não há requerimento permanente desses fármacos após a cirurgia 26, seja pela presença de tecido paratireoidiano acessório ou pela acomodação dos mecanismos reguladores de cálcio 28. Para reduzir o risco de hipocalcemia, o que se pode fazer é operar em etapas: retira-se um lobo e espera-se de três a quatro semanas para operar o outro, permitindo a revascularização da glândula paratireóide 4,6,13,25. A presença de somente uma glândula paratireóide pode manter a normocalcemia 25. Quando a glândula paratireóide externa é retirada inadvertidamente, ela pode ser implantada no tecido muscular, pois a revascularização e o retorno da função acontece dentro de duas a três semanas 4,27. O gato é monitorado para evitar a

hemorragia da ferida cirúrgica. O sangramento pode ocorrer caso não seja feita a ligadura de vasos que irrigam a tireóide ou até de grandes vasos na hora da dissecção da glândula tireóide. Por isso a dissecção da glândula deve ser realizada com cuidado por cirurgião que possua bom conhecimento anatômico da região e faça a ligadura dos vasos tireoidianos 22. A síndrome de Horner pode se desenvolver em decorrência de lesão do nervo laríngeo recorrente durante a dissecção da glândula tireóide. Quando esse nervo é lesado, observa-se ptose, miose, protusão de terceira pálpebra e enoftalmia no olho ipsilateral. Também existem relatos de mudança no miado devido a lesão nervosa 22. O hipotireoidismo é outra complicação pós-cirúrgica. Muitos gatos tratados com tireoidectomia bilateral podem manter normais os níveis de T3 e T4 sem suplementação hormonal. Isso se deve à presença de tecido tireoidiano acessório na maioria dos gatos 1,9. A reposição hormonal com L-tiroxina na dose de 0,1mg/gato/dia é indicada para gatos com tireoidectomia bilateral que apresentem concentração sérica de tiroxina total inferior ao valor de referência e sinais clínicos de hipotireoidismo 9.

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Técnica cirúrgica Intracapsular modificada bilateral Paratireoidectomia com implantação da glândula paratireoide em etapas Extracapsular modificada bilateral Intracapsular bilateral Intracapsular modificada bilateral Extracapsular modificada bilateral Intracapsular modificada bilateral Intracapsular modificada em etapas

Complicações (número de animais) hipocalcemia espasmo retorno do de laringe hipertireoidismo

referência

número de animais

óbito

hemorragia

síndrome de Horner

3

101

5

1

5

2

0

0

24

10

0

0

0

0

0

0

26

26

6

0

1

0

0

0

26 26

50

11

0

11

0

0

0

30

10

0

0

0

0

0

13

11

9

0

1

0

0

0

13

19

7

0

2

0

0

0

13

11

1

0

0

1

0

0

Figura 7 - Complicações após tireoidectomia em gatos usando diferentes técnicas cirúrgicas

A função renal deve ser monitorada principalmente nos gatos que demonstrem evidencia de disfunção renal no pré-operatório 9,21. O hipertireoidismo aumenta a taxa de filtração glomerular, e quando é corrigido, pode elevar a creatinina e a ureia séricas pela diminuição da taxa de filtração glomerular 21. Quando a função renal piora em função da estabilização do quadro eutireoidiano pela cirurgia, a suplementação de tiroxina é indicada e a concentração sérica de tiroxina total deve ser avaliada um mês após a cirurgia 9. O retorno ao quadro de hipertireoidismo ocorre quando se retira somente um lobo e os dois estão acometidos,

quando permanece tecido tireoideo funcional após a cirurgia ou pela presença de tecido tireoidiano ectópico hiperplásico 3,13. O acometimento é unilateral em apenas 30% dos casos 1,3. Considerações finais Os gatos submetidos à terapia cirúrgica têm um prognóstico favorável. Geralmente seu comportamento melhora e apresentam ganho de peso sem que haja necessidade de estressá-los com medicamento oral diário. A tireoidectomia é um tratamento indicado para gatos hipertireoideos, principalmente quando não há disponibilidade de radioterapia. Há várias técnicas cirúrgicas descritas e

a técnica cirúrgica que apresenta menor número de complicações é a tireoidectomia com implantação da paratireóide realizada em etapas. A maior complicação pós-operatória é a hipocalcemia, que pode ser prevenida realizando-se a tireoidectomia unilateral com trinta dias de intervalo, ou, no caso de tireoidectomia bilateral, mensurando o valor de cálcio ionizado sérico após a cirurgia para fazer a reposição de cálcio e vitamina D. Referências 01-FELDMAN, E. C. ; NELSON, R. W. Feline hyperthyroidism (thyrotoxicosis). In: ___. Canine and feline endocrinology and reproduction. 3. ed. St. Louis: Saunders. 2004, p. 152-218.

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009



Espondilomielopatia cervical por metástase de adenocarcinoma mamário em cadela - relato de caso

Bruno Martins Araújo MV, residente (R1) DMV/UFRPE bmaraujo85@hotmail.com

Felipe Purcell de Araújo MV, mestrando DMV/UFRPE felipepurcell@yahoo.com.br

Fernando Leandro dos Santos MV, dr., prof. adj. DMV/UFRPE

Cervical spondylomyelopathy induced by metastasis of mammary adenocarcinoma in female dog - case report

fls@dmv.ufrpe.br

Rosana da Cruz Lino Salvador MV, residente UNIRP/SP rosana_lino@hotmail.com

Espondilomielopatía cervical por metástasis de adenocarcinoma mamario en una perra - relato de caso Resumo: O presente trabalho relata o caso de uma cadela sem raça definida que apresentava histórico crônico progressivo de dor cervical e tetraparesia espástica grave havia aproximadamente um mês. O exame neurológico caracterizou uma síndrome cervical de grau III, suspeitando-se de doença do disco intervertebral ou de neoplasia vertebral. Devido ao estado geral, o animal foi submetido à eutanásia a pedido do proprietário, antes da confirmação do diagnóstico. Na necropsia foram encontrados nódulos na glândula mamária e massa no lado esquerdo do corpo da quinta vértebra cervical, invadindo o canal vertebral e o espaço intervertebral. Os fragmentos foram enviados para exame histopatológico, que diagnosticou adenocarcinoma mamário vertebral metastático causando espondilomielopatia cervical. Unitermos: neoplasia, vértebra, cão Abstract: This report describes the case of a mongrel female dog with a one-month-old history of progressive chronic cervical pain and serious spastic tetraparesis. The neurological examination disclosed a grade III cervical syndrome, probably resulting from either a intervertebral disc disease or a vertebral neoplasia. Due to its general physical condition, the animal was euthanized as requested by the owner before confirmation of the diagnosis. During the necropsy, nodules were found in the mammary gland and a mass was found on the left side of the body of the fifth cervical vertebra, invading the vertebral canal and the intervertebral space. The fragments were sent for histopathological examination, and a diagnosis of vertebral metastatic mammary adenocarcinoma was made as the cause for cervical spondylomyelopathy. Keywords: neoplasia, vertebra, dog Resumen: En este trabajo se describe el caso de una perra sin raza definida que presentaba dolor cervical progresivo crónico y tetraparesia espástica severa de un mes de duración. El examen neurológico caracterizó un síndrome cervical grado III, sospechándose de enfermedad de disco intervertebral o cáncer vertebral. Debido al estado general, el animal fue sometido a eutanasia a pedido del propietario, antes de la confirmación del diagnóstico. En la necropsia fueran encontrados nódulos en la glándula mamaria y una masa en el cuerpo de la quinta vértebra cervical del lado izquierdo, invadiendo el canal vertebral y el espacio intervertebral. Los fragmentos fueron enviados para análisis histopatológico, que diagnosticó adenocarcinoma mamário vertebral causando espondilomielopatía cervical. Palabras clave: neoplasia, vértebra, perro

Clínica Veterinária, n. 82, p. 50-54, 2009

Introdução Tumores na coluna vertebral são incomuns em cães e podem resultar em sinais neurológicos 1-3. Os tipos mais frequentes são os tumores espinhais primários, seguidos por neoplasmas metastáticos advindos de tecido ósseo ou de tecidos moles 1. Contudo, os tumores ósseos metastáticos derivados de neoplasmas primários de tecidos moles – dentre os quais o adenocarcinoma mamário é considerado um dos principais tumores primários – são considerados incomuns em cães e gatos 1,4-9. 50

A coluna vertebral, embora seja local raro de neoplasma metastático, é o órgão terminal para uma ampla gama de tumores 6; os neoplasmas malignos se disseminam para as vértebras através de duas vias: a corrente sanguínea e os vasos linfáticos – sendo a via hematógena o modo mais comum de disseminação no cão 4,6. Os tumores vertebrais classicamente provocam sinais progressivos de mielopatias compressivas quando a massa se expande em contato com a medula espinhal 3,9,10, na qual a instalação dos sinais

Thaiza Helena Tavares Fernandes MV, residente UFCG/PB thaizavet@gmail.com

Eduardo Alberto Tudury MV, dr., prof. ass. II DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br

clínicos pode ser vagarosa e insidiosa, durante várias semanas ou meses, devido ao lento crescimento do tumor 11. Os sinais dependem da localização neuroanatômica 7 e incluem dor cervical, ataxia dos quatro membros, tetraparesia, hemiparesia, tetraplegia, paraparesia e paraplegia 4, sendo uma das principais características das neoplasias vertebrais a hiperestesia causada pela irritação periosteal das meninges e das raízes nervosas, que antecede os déficits proprioceptivos e motores voluntários. Os sintomas geralmente começam unilateralmente do lado da lesão, progredindo para a bilateralidade, à medida que aumenta a compressão da medula espinhal 3,6,9,10. O diagnóstico de neoplasia vertebral baseia-se na anamnese, em sinais clínicos, nos sintomas progressivos e nos resultados de imagens vertebrais 9. Em radiografias da coluna vertebral, pode-se observar osteogênese ou osteólise, pelas quais os neoplasmas geralmente são diagnosticados 3,12,13, embora nem sempre seja fácil detectar tumores ósseos por meio de radiografias, pelo fato de a forma vertebral ser irregular, pela sobreposição das costelas e pelo posicionamento inadequado. Por isso, o diagnóstico definitivo só pode ser estabelecido após histopatologia de uma

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009


Nas radiografias simples não se observaram alterações ósseas evidentes (Figura 1), sendo solicitada mielografia e análise de líquido cefalorraquidiano (LCR). Antes da realização desses exames, o proprietário optou pela eutanásia do paciente e subsequente exame necroscópico. Os achados da necropsia foram nódulo de 1cm de diâmetro na mama abdominal cranial esquerda, nódulo de 7cm de diâmetro na mama abdominal caudal esquerda e outro de 5cm na mama inguinal direita, todos de aspecto irregular, maldelimitados, pouco aderidos, de consistência firme e não ulcerados; nódulo de aproximadamente 2cm do lado esquerdo do corpo da quinta vértebra

a) Tramal® 50 mg - Biolab Searle, São Paulo, SP

Felipe Purcell de Araújo

Figura 1 - Imagens radiográficas da coluna cervical nas projeções ventrodorsal (A) e lateral (B), sem alterações ósseas evidentes compatíveis com neoplasia espinhal Felipe Purcell de Araújo

Felipe Purcell de Araújo

Figura 2 - Imagem do neoplasma em corpo da quinta vértebra cervical (seta amarela), do lado esquerdo (E), causando compressão da medula espinhal (A) e da raiz nervosa do sexto nervo cervical (B) (seta azul) Felipe Purcell de Araújo

Felipe Purcell de Araújo

Relato de caso Foi encaminhada ao setor de neurologia do Hospital Veterinário da UFRPE uma cadela sem raça definida, de catorze anos, pesando 16kg, que apresentava histórico crônico progressivo de dor cervical e tetraparesia espástica grave. Segundo o proprietário, 30 dias antes da consulta, o animal apresentou dificuldade em levantar o pescoço e progressiva intolerância para caminhar, sendo tratado durante esse período por outro profissional com anti-inflamatórios, sem melhora do quadro. Durante o exame clínico constatou-se dor espinhal e que o animal permanecia em decúbito lateral esquerdo, com respiração ofegante, portando nódulos mamários não ulcerados em glândulas abdominais caudais e inguinais, presença de ectoparasitas e sopro cardíaco de grau III. No exame neurológico, evidenciou-se tetraparesia espástica ambulatória assimétrica (pior do lado esquerdo), propriocepção normal nos membros torácicos e ausente nos pélvicos, saltitar diminuído no membro torácico esquerdo e ausente no membro pélvico esquerdo e carrinho de mão normal nos membros torácicos e diminuído nos membros pélvicos. Não foram detectadas alterações nos nervos cranianos. Os membros torácicos demonstravam presença do reflexo extensor cruzado com respostas dos reflexos flexores aumentada e intensa espasticidade. Nos membros pélvicos, o tônus muscular e todos os

reflexos espinhais encontravam-se exacerbados. O reflexo cutâneo do tronco estava diminuído, porém presente cranialmente a partir de L5-L6. Todos esses achados caracterizaram então uma síndrome cervical de grau III. Diante da resenha, do histórico e dos achados clínicos e neurológicos, suspeitou-se de compressão medular crônica causada provavelmente por um neoplasma (primário ou metastático) ou de doença do disco intervertebral. Solici-tou-se exame radiográfico da coluna cervical nas projeções lateral e ventrodorsal e foi prescrito analgésico (Tramadol a, 2mg/kg a cada 8 horas).

Felipe Purcell de Araújo

lesão suspeita, em que é possível a diferenciação entre neoplasmas e outras anormalidades vertebrais, como discoespondilite e osteomielite vertebral, além de determinar o tipo histológico do tumor 7, que é fundamental para se estabelecer o prognóstico e determinar a terapia adequada 12. O prognóstico para os neoplasmas vertebrais em geral é desfavorável 3,7,9,11,14, pois a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia são apenas tratamentos descompressivos paliativos para a maioria dos tumores 6, e os pacientes provavelmente serão submetidos à eutanásia, devido à progressiva disfunção da medula espinhal 9. Este trabalho tem como objetivo relatar uma espondilomielopatia cervical secundária a neoplasma metastático, de ocorrência incomum em cadelas.

Figura 3 - Imagem do neoplasma ocupando o canal vertebral após remoção da medula espinhal (A) e invadindo o espaço intervertebral de C5 e C6. Local após remoção da massa neoplásica (B)

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009

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Fernando Leandro dos Santos

Fernando Leandro dos Santos

A

B

Figura 4 - Aspecto histopatológico do adenocarcinoma mamário, caracterizado por tecido com evidente septação conjuntiva, em arranjo glandular, constituído de células de citoplasma acidófilo de formato maldefinido, com núcleos grandes, arredondados, em sua maioria claros e de nucléolo proeminente. Aumento 10X (A) e 40X (B). Coloração: hematoxilina & eosina (HE) Fernando Leandro dos Santos

Fernando Leandro dos Santos

A

B

Figura 5 - Aspecto histopatológico do neoplasma espinhal metastático, com características histológicas semelhantes aos do adenocarcinoma mamário primário. Aumento 10X (A) e 40X (B). Coloração: HE

cervical (C5), de aspecto irregular, bem delimitado, pouco aderido e de consistência macia, invadindo o canal vertebral e o espaço intervertebral de C5 e C6, (Figuras 2 e 3). Foram coletados fragmentos dos nódulos para realização de exame histopatológico, que identificou no fragmento da glândula mamária tecido com evidente septação conjuntiva, em arranjo glandular, constituído de células de citoplasma acidófilo de formato maldefinido, com núcleos grandes, arredondados, em sua maioria claros e de nucléolo proeminente, caracterizando um adenocarcinoma mamário (Figura 4). No fragmento do tumor retirado da coluna vertebral observaram-se células pequenas de citoplasma acidófilo e núcleos basófilos, a maioria deles de cromatina densa, apesar de se observarem alguns núcleos claros e vacuolizados. Foram detectadas numerosas figuras de mitose e células em apoptose, e foi feito o diagnóstico de adenocarcinoma mamário metastático no fragmento da coluna vertebral (Figura 5). Discussão As suspeitas de neoplasia vertebral e 52

doença do disco intervertebral acometendo o segmento cervical da coluna vertebral foram obtidas através da resenha, da anamnese e de sinais clínicos crônicos progressivos de dor cervical e tetraparesia grave, sem alterações nos nervos cranianos e nos reflexos espinhais. Devido à presença de nodulações na glândula mamária, o neoplasma vertebral metastático tornou-se a principal suspeita de ser o causador da disfunção no presente caso, uma vez que a maioria dos tumores comprime lentamente a medula espinhal e produz sinais semelhantes aos causados pela doença do disco intervertebral 3. Outras afecções comuns do segmento espinhal cervical (síndrome de Wobbler, meningoencefalite granulomatosa e meningite) foram descartadas em função de dados de resenha, evolução clínica e ausência de alterações radiográficas, uma vez que a síndrome de Wobbler acomete com mais frequência animais de raças grandes e específicas. A meningoencefalite granulomatosa acomete mais frequentemente animais mais jovens e apresenta evolução aguda ou subaguda. Em relação à meningite, a

evolução geralmente é aguda ou subaguda. Não foi possível, com o exame radiográfico da coluna vertebral, detectar alterações evidentes compatíveis com neoplasia vertebral – o que está em desacordo com alguns relatos 3,12,13 que mencionam que em radiografias de inspeção da coluna de pacientes com tumores ósseos se podem observar alterações características e diagnósticas, e em concordância com o relato de outros autores 7,14, quando mencionam que nem sempre é fácil detectar tumores ósseos por meio de radiografias, pois o neoplasma vertebral poderá passar despercebido, dependendo da localização, do tipo de tumor, do estágio de desenvolvimento, da opacidade do tecido mole adjacente e da técnica radiográfica, e também pelo fato de a forma vertebral ser irregular, de haver sobreposição das costelas e de o posicionamento ser inadequado. Por isso, devem-se associar alterações radiográficas inespecíficas à história clínica do paciente, e deve-se suspeitar de lesão metastática num cão com história clínica anterior de adenocarcinoma mamário 13. O diagnóstico definitivo só foi obtido na necropsia e no exame histopatológico, seguindo a indicação da literatura 7; por meio dele se diferenciou o neoplasma de outras lesões vertebrais e foi possível a classificação histológica do tumor vertebral como um adenocarcinoma mamário metastático. Pela falta de recursos, não foi possível a realização de imuno-histoquímica dos fragmentos dos tumores primário e metastático. O diagnóstico de adenocarcinoma mamário metastático na coluna vertebral condiz com o relato de autores segundo os quais o local primário de origem dos neoplasmas ósseos metastáticos pode ser a glândula mamária 5-9, cujas células tumorais atingem o segmento vertebral principalmente pela via hematógena 6. Apesar de o adenocarcinoma mamário ser o tumor primário mais comum, a metástase óssea desse neoplasma é considerada um tumor espinhal incomum, que não foi diagnosticado em nenhum dos 24 animais pertencentes a um grupo de portadores de neoplasmas ósseos metastáticos 16, mas apenas em um dos 29 animais com neoplasmas espinhais descritos na literatura 17. Possivelmente, metástases ósseas de

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carcinomas são raramente vistas em cães porque não se fazem pesquisas de metástase nesses órgãos e às vezes os cães sofrem eutanásia antes de tal metástase ocorrer 5. A ocorrência incomum de neoplasmas vertebrais descrita por alguns autores 1-3 pode ser confirmada em trabalho que relata apenas treze casos de neoplasmas espinhais – das quais a maioria era constituída de neoplasmas espinhais primários – num total de 1.047 alterações encontradas em 774 animais radiografados por suspeita de alterações na coluna vertebral num período de dez anos 15. A localização extradural do tumor foi a mais comum descrita pela literatura 1,3,6,9,16, uma vez que a maioria dos tumores espinhais metastáticos são extradurais 10. Em um trabalho que envolvia 37 cães com tumores vertebrais, a maioria dos neoplasmas localizava-se na região cervical e 67% eram tumores extradurais 18, enquanto outros autores citam serem 50 % 19 e 40% 12 os extradurais. Uma vez que a massa tumoral estava localizada na quinta vértebra cervical e comprimindo o segmento C6 da medula espinhal e o sexto nervo espinhal (que contribui para os nervos subescapular, supraescapular, musculocutâneo e, variavelmente, o axilar) 10, anatomicamente esse animal teria uma síndrome cervicotorácica. Contudo, como os reflexos do membro torácico estavam normais e o reflexo extensor cruzado estava presente, o animal apresentava funcionalmente uma síndrome cervical. Isso pode ser justificado pelo fato de os nervos possuírem mais de uma raiz nervosa na sua origem, de receberem contribuição de mais de um segmento da medula espinhal e de a compressão ter atingido principalmente o neurônio motor superior do segmento C6 da medula espinhal. Devido ao estado geral do paciente e ao prognóstico desfavorável, o proprietário optou pela eutanásia, o que acabou com o sofrimento do animal. De acordo com alguns autores, a cirurgia, a quimioterapia e a radioterapia são apenas tratamentos descompressivos paliativos, e esses pacientes provavelmente serão submetidos à eutanásia, devido à disfunção progressiva da medula espinhal 6,9. Em um grupo de 61 animais com tumores vertebrais primários e secundários, a maioria dos cães foram sacrificados 54

imediatamente após a confirmação histopatológica da doença 20. Em outro trabalho, no qual foram avaliados os resultados clínicos e a sobrevivência a longo prazo de 37 cães com neoplasmas vertebrais, doze cães sofreram eutanásia no momento da cirurgia, dois imediatamente após e um animal vinte dias após o procedimento, devido à persistência dos sinais clínicos. Os outros (22 animais) foram acompanhados a longo prazo, com uma sobrevida média de 240 dias 18. Em outro estudo, foram acompanhados os resultados de vinte cães com neoplasmas vertebrais primários e metastáticos, após o tratamento por diferentes métodos (cirurgia, quimioterapia e radioterapia); todos os animais morreram devido à doença, com sobrevida média de 135 dias 21. Considerações finais Os neoplasmas vertebrais metastáticos, embora considerados incomuns em cães, devem fazer parte do diagnóstico diferencial de mielopatias crônicas progressivas nessa espécie, mesmo diante da ausência de alterações evidentes nos exames radiográficos, conforme ocorreu neste caso. Pelo prognóstico desfavorável dessa afecção, devem-se avaliar as condições clínicas de cada caso e estabelecer a melhor conduta a fim de se evitar o sofrimento desnecessário dos animais e dos proprietários, sendo necessário também o desenvolvimento de novos protocolos quimioterápicos e de técnicas cirúrgicas que permitam um tratamento mais eficaz e proporcionem maior sobrevida aos animais acometidos por essa afecção. Referências 01-LONG, S. Spinal Cord Tumors. In: VITE, C. H. ; BRAUND, K. G. Braund's clinical neurology in small animals: localization, diagnosis and treatment. International Veterinary Information Service, Ithaca, NY (www.ivis.org), 2006. Capturado em 25 Jul. 2008. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/advances/Vite/braund 26/chapter.asp?LA=1. 02-DENNY, H. R. ; BUTTERWORTH, S. J. Neoplasia da coluna vertebral. In:____Cirurgia ortopédica de cães e gatos. São Paulo: Roca, 2006. p. 221-222. 03-LORENZ, M. D. ; KORNEGAY, J. N. Paresia, paralisia e ataxia do membro pélvico In:____. Neurologia veterinária. São Paulo: Manole, 2006. p. 131-174. 04-LIU, S. ; HARVEY, H. J. Neoplasias ósseas metastáticas. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Manole, 1996. p. 1065-1071.

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Comparação entre dois protocolos de tratamento do tumor venéreo transmissível em cães

Sílvia Franco Andrade MV, profa. dra. Depto. Clín. Méd. Peq. Animais - CMV/Unoeste silviafranco@unoeste.br

Osimar de Carvalho Sanches MV, Msc, prof. Depto. Anatomia Patológica - CMV/Unoeste osimarsanches@uol.com.br

Eduardo Roberto Gervazoni Graduando - CMV/Unoeste

Comparison between two treatment protocols for transmissible venereal tumors in dogs

edugervazoni@hotmail.com

Fabiana Aguena Sales Lapa MV, mestranda - PCA/Unoeste fabiana_aguena@terra.com.br

Comparación entre dos protocolos de tratamiento del tumor venéreo trasmisible en los perros Resumo: O tumor venéreo transmissível (TVT) é um neoplasma contagioso altamente prevalente na clínica de pequenos animais. O tratamento-padrão consiste no uso da vincristina como agente único, porém o aparecimento de resistência a esse fármaco tem levado ao uso de vincristina associada a outras drogas. Recentemente, um estudo demonstrou o efeito antitumoral das avermectinas quando administradas após a vincristina no tratamento de alguns tipos de tumores em camundongos. O objetivo deste estudo foi comparar a eficácia clínica do protocolo-padrão com o uso de vincristina e de um protocolo que associa vincristina e ivermectina. Houve redução do número de administrações no protocolo associado, o que pode representar uma alternativa terapêutica importante, pois diminui a probabilidade de indução de resistência à vincristina, reduz custos e proporciona uma recuperação mais rápida do cão. Unitermos: tumor de Sticker, TVT, vincristina, ivermectina Abstract: The transmissible venereal tumor (TVT) is a highly prevalent neoplasm in small animal clinics. The standard treatment consists of vincristine administration as single agent. The emergence of resistance to this drug, however, has led clinicians to combine vincristine to other drugs. A study has recently demonstrated the antitumoral effect of avermectins when administered after vincristine in the treatment of some types of tumors in mice. The objective of this study was to compare the clinic effectiveness of the standard protocol with the single use of vincristine and of a protocol that associated vincristine and ivermectin. The combined approach needed fewer administrations, suggesting that it can represent an important therapeutic alternative. It reduces the probability of resistance induction to vincristine, it reduces costs and it provides faster recovery of the dog. Keywords: Sticker tumor, TVT, vincristine, ivermectin Resumen: El tumor venéreo trasmisible (TVT) es un neoplasma de alta prevalencia en la clínica de animales pequeños. El tratamiento normal consiste en la administración de vincristina como agente único. Sin embargo la aparición de resistencia a este fármaco ha hecho que la vincristina se asocie a otras drogas. Recientemente estudios demostraron el efecto antitumoral de las avermectinas, cuando se las administró después de la vincristina, en el tratamiento de algunos de tipos de tumores de ratas. El objetivo de este estudio fue comparar la efectividad clínica del protocolo con el uso único de vincristina y otro en el que se utilizó vincristina asociada a ivermectina. Había reducción del número de administraciones en el protocolo asociado, lo que puede representar una alternativa terapéutica importante, porque reduce la probabilidad de inducción de resistencia a la vincristina, reduce los costos y proporciona una recuperación más rápida del perro. Palabras clave: tumor de Sticker, TVT, vincristina, ivermectina

Clínica Veterinária, n. 82, p. 56-62, 2009

Introdução O tumor venéreo transmissível (TVT) – também denominado condiloma canino, granuloma venéreo, sarcoma infeccioso, linfoma venéreo ou tumor de Sticker 1 – foi primeiramente mencionado por Hüzzard em 1820 e descrito por Delabere-Blaine em 1828, mas foi Sticker quem descreveu de forma detalhada, em 1904, caracterizandoo como um neoplasma transmissível por células transplantáveis com localização e disseminação predominantemente venérea, que afeta principalmente o pênis 56

e a vagina, mas também outras regiões 2-6, como a pele, a cavidade nasal e os olhos 7-11. As metástases são raras, mas podem ocorrer nos linfonodos, na pele, no sistema nervoso central, nos rins, no baço, no fígado, na pleura e no mesentério 9,12. Esse neoplasma é transmitido pelo coito ou por hábitos sociais como cheirar e lamber 4. O TVT é uma afecção cosmopolita, mas apresenta maior incidência em locais onde há cães soltos 5 e principalmente em zonas de clima tropical, tendo alta prevalência no Brasil 6. É uma

Vanessa Massumi Kaneko MV, mestranda - PCA/Unoeste vanessakaneko@yahoo.com.br

neoplasia transmitida naturalmente aos animais suscetíveis por um mecanismo de transplantação de células tumorais viáveis 7. O TVT apresenta-se clinicamente como uma massa solitária ou na forma de lesões múltiplas, em formato de couve-flor, pendular, nodular, papilar ou multilobular, geralmente sanguinolenta 13. As massas são firmes ou friáveis, ulceradas ou não, com diâmetro que varia entre 1cm e 20cm 8,14. Microscopicamente, o TVT se distribui como fileiras de células similares a macrófagos, que variam do formato redondo ao poliédrico 15. Essas células têm de 15 a 30mm de diâmetro 16, citoplasma azul-claro com vacúolos distintos e uma pequena relação núcleo/citoplasma 17. O diagnóstico é baseado em uma associação entre o aspecto clínico e a microscopia, quer seja por citologia aspirativa 13,18, quer seja por histologia 17. O tratamento do TVT envolve várias condutas terapêuticas, dentre elas a criocirurgia 19,20, a radioterapia 15,16, a autovacina 21 e a retirada cirúrgica 19; porém, atualmente, a quimioterapia com um único agente (principalmente a vincristina ou a doxorrubicina) ou ainda combinada com outros agentes consiste no tratamento de escolha do TVT 22. Vale ressaltar que cães adultos saudáveis podem apresentar regressão espontânea desse tumor 8.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009


A vincristina (sulfato de vincristina) é um alcaloide de vinca, uma droga fase-específica que atua durante a fase M do ciclo celular, promovendo ruptura do fuso mitótico 22. A terapia com vincristina preconizada para o TVT é de 0,5mg/m2 ou 0,0125 a 0,025mg/kg. A droga é utilizada por via intravenosa 20. Quase sempre são necessárias de quatro a seis aplicações semanais para obter a cura 20,22,23. Os efeitos adversos mais comuns provocados pelo seu uso são inapetência, vômito, gastrenterite, alopecia pouco significativa, necrose no local da aplicação (se ocorrer extravasamento), neurotoxicidade periférica, fraqueza neuromuscular e mielossupressão 16,22,23. Estudos recentes demonstraram que a vincristina, além de outras drogas como a vimblastina, a doxorrubicina, as avermectinas e a loperamida, utilizam a P-glicoproteína como substrato para a sua metabolização, auxiliando assim na excreção renal, biliar e intestinal desses agentes 24-27. Isso pode explicar o

sinergismo encontrado em um estudo em camundongos que utilizou a vincristina associada a avermectinas no tratamento de carcinoma de Ehrlich, linfoleucemia P388 e carcinomatose 755 28. Além disso, sabe-se que os cães de algumas raças, principalmente collies, apresentam neurotoxicidade frequentemente fatal associada à droga 22. Isso ocorre porque esses cães apresentam mutação no gene MDR1, que é o responsável pela produção de P-glicoproteínas; dessa maneira, ocorre produção de P-glicoproteínas defeituosas, que provocam diminuição da excreção de drogas que as utilizam como substrato 26,27. O efeito sinérgico da associação avermectina-vincristina pode aumentar o efeito antitumoral da vincristina e diminuir a resistência de tumores que vêm crescendo nos últimos anos 28. Portanto, o objetivo deste estudo foi comparar a eficácia clínica do protocolo-padrão com o uso de vincristina e de um protocolo que associa vincristina e ivermectina no tratamento do tumor venéreo transmissível.

Material e métodos Foram utilizados vinte cães provenientes do atendimento de rotina do Hospital Veterinário (HV) da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) com diagnóstico clínico e histopatológico de TVT. Todos os cães eram avaliados semanalmente por exame físico – temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial sistólica (PAS) pelo método Doppler – e hemograma antes da administração do(s) quimioterápicos(s). O número de administrações foi determinado pela análise clínica do aspecto macroscópico da regressão da neoplasia, simulando o que é rotineiramente realizado no protocolo de tratamento 29-32. Os cães foram divididos aleatoriamente em dois grupos de dez indivíduos cada; tais grupos foram denominados da seguinte maneira: - grupo vincristina (GV): dez cães, três machos e sete fêmeas, com 4,9 ± 1,4 anos, 11,7 ± 7,2kg – administração intravenosa (IV) de sulfato de vincristina a


na dose de 0,5mg/m2, uma vez por semana (Figura 1); - grupo vincristina associada a ivermectina (GVI): dez cães, dois machos e oito fêmeas, com 5,6 ± 2,4 anos, 12,8 ± 8,4kg. Nesse grupo foi utilizada a mesma dose de vincristina e intervalo entre dose do grupo GV; logo após a administração de vincristina, ocorria a administração de ivermectina b na dose de 0,04mL/kg (400 g/kg) por via subcutânea (SC), também uma vez por semana (Figura 2). Obtiveram-se amostras de sangue por venopunção da jugular para realização de hemograma e dosagem de proteínas plasmáticas, fibrinogênio e contagem de plaquetas. O tratamento foi suspenso temporariamente quando a contagem de leucócitos estava abaixo de 3.000/mm3 ou de plaquetas abaixo de 50.000/mm3, ou ainda se havia sinais clínicos de vômito e diarreia grave,

F Eduardo Roberto Gervazoni

Eduardo Roberto Gervazoni

H além de outros sintomas que poderiam comprometer o bem-estar ou a vida do animal conforme orientações da literatura 22,29. Foi utilizada para comparação de médias do número de administrações entre os dois grupos a análise de variância pelo teste T de Student. Foi adotado o nível de significância de 5%. O experimento foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unoeste (protocolo no 020/06). Todos os proprietários aceitaram que seus cães participassem da pesquisa após assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Resultados e discussão Os resultados quanto ao número de administrações do protocolo GV e GVI estão descritos na figura 3. No GV houve 5,3 ± 2,1 administrações, enquanto no GVI houve 3,9 ± 2,1 administrações.

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Eduardo Roberto Gervazoni

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E

G

58

C

B

D

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A

Figura 1 - Sequência de imagens (A-H) de número de administrações da vincristina com diminuição e remissão do TVT do animal n. 1 do GV. A) 1ª administração (observa-se o tamanho inicial da massa tumoral); B) 2ª administração; C) 3ª administração; D) 4ª administração; E) 5ª administração; F) 6ª administração; G) 7ª administração (a seta indica ainda a presença de pequena massa tumoral); H) 8ª administração final, com remissão total da massa tumoral.

Número de administrações Grupo

Total

Mínimo

Máximo

GV

5,3±2,1*

4

9

GVI

3,9±2,1*

2

8

GV: grupo vincristina (n = 10): nove administrações de vincristina (n = 2); seis administrações de vincristina (n = 1); cinco administrações de vincristina (n = 1); quatro administrações de vincristina (n = 6)

GVI: grupo vincristina associada a ivermectina (n = 10): oito administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); sete administrações administrações administrações administrações

de vincristina e ivermectina (n = 1); cinco de vincristina e ivermectina (n = 1); três de vincristina e ivermectina (n = 5); duas de vincristina e ivermectina (n = 2)

*Não houve diferença significativa (p>0,05)

Figura 3 - Médias e desvios-padrão dos valores obtidos quanto ao número de administrações com vincristina ou vincristina associada a ivermectina no protocolo de tratamento de cães diagnosticados com tumor venéreo transmissível no Hospital Veterinário da Unoeste, Presidente Prudente, SP

a) Tecnocris® (frasco-ampola de 1mg/1mL), Zodiac, São Paulo, SP b) Hipermec® (frasco-ampola de plástico com 50mL com 1g/100mL), Allvet, Londrina, PR

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Eduardo Roberto Gervazoni

Eduardo Roberto Gervazoni

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A

C

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D

Figura 2 - Sequência de imagens (A-E) de número de administrações de vincristina associada a ivermectina com diminuição e remissão do TVT do animal n. 7 do GVI. A) 1ª administração (observa-se o tamanho inicial da massa tumoral); B) 2ª administração; C) 3ª administração; D) 4ª administração; E) 5ª administração final, com remissão total da massa tumoral

E

Momentos de administração do protocolo I

II

1

2

3

4

5

6

7

8

9

T

GV GVI

38,4 ± 0,4 39,0 ± 0,3

38,8 ± 0,3 38,5 ± 0,2

38,5 ± 0,5 38,7 ± 0,9

38,4 ± 0,7 38,1 ± 0,7

38,7 ± 0,4 38,4 ± 0,7

38,2 ± 0,2 38,4 ± 0,4

38,2 ± 0,4 38,8 ± 0,8

38,4 ± 0,6 38*

38,5 ± 0,3 -

FR

GV GVI

28,9 ± 9 32,4 ± 8,4

31,7 ± 13,3 28,7 ± 9,9

34,7 ± 9,9 30,6 ± 12,2

31,8 ± 15,2 33,3 ± 19,7

35,4 ± 4,6 38 ± 20,9

27,3 ± 6,4 31,0 ± 7,1

27,0 ± 1,4 30,0 ± 8,5

29 ±4,2 40*

27,0 ± 7,1 -

FC

GV GVI

117 ± 24 102 ± 18

118 ± 22 103 ± 23

107 ± 18 103 ± 19

105 ± 18 107 ± 23

118 ± 44 102,7 ± 30

111 ± 10 106 ± 37

118 ± 37 93 ± 13

112 ± 17 120*

117 ± 13 -

PAS GV GVI

114 ± 22 104 ± 12

118 ± 15 104 ± 8

106 ± 18 106 ± 12

102 ± 15 110 ± 10

113 ± 14 110 ± 14

100 ± 20 107 ± 10

105 ± 20 105 ± 21

105 ± 21 110*

95 ± 7 -

*valor referente a um único animal; I = Parâmetros e II = Grupos.

GV: grupo vincristina (n = 10): nove administrações de vincristina (n = 2); seis administrações de vincristina (n = 1); cinco administrações de vincristina (n = 1); quatro administrações de vincristina (n = 6).

GVI: grupo vincristina associada a ivermectina (n = 10): oito administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); sete administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); cinco administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); três administrações de vincristina e ivermectina (n = 5); duas administrações de vincristina e ivermectina (n = 2). Valores normais 36: T (38,1 - 39,2ºC); FR (10 - 30mpm); FC (80 - 160bpm); PAS (100 - 160mmHg).

Figura 4 - Médias e desvios-padrão dos valores obtidos de temperatura (T) (ºC), frequência respiratória (FR) (mpm), frequência cardíaca (FC) (bpm) e pressão arterial sistólica (PAS) (mmHg) em cães diagnosticados com tumor venéreo transmissível e tratados com vincristina ou vincristina associada a ivermectina no Hospital Veterinário da Unoeste, Presidente Prudente, SP

A literatura cita que o protocolo de tratamento do TVT é de cerca de quatro a seis administrações com intervalo de uma dose por semana 14,20,22,23, e que em muitos casos, devido ao aumento da resistência do tumor à vincristina, esse número de administrações vem aumentando 22,29. Apesar de a redução do número de

administrações não ser estatisticamente significativa, clinicamente esse achado é relevante, pois diminui os custos do tratamento, acelera a recuperação do cão e a probabilidade de resistência à vincristina – o que está de acordo com o relato de outros estudos que comprovaram que a ivermectina, além de apresentar propriedade inseticida e

anti-helmíntica, é um potente inibidor da P-glicoproteína e, consequentemente, inibe a resistência a múltiplas drogas 28,33-35 até nove vezes mais do que os atuais inibidores, ciclosporina A e verapamil 35. Em camundongos infectados experimentalmente com alguns carcinomas, nos quais diferentes avermectinas foram administradas

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Sílvia Franco Andrade

Figura 5 - Visão da área de necrose duas semanas após extravasamento de vincristina, apresentando sinais de cicatrização no animal n. 7 do grupo GVI

posteriormente ao quimioterápico 27, houve uma supressão do crescimento tumoral em até 70-80%. Com relação aos parâmetros físicos (Figura 4), os valores obtidos em ambos os grupos estiveram dentro da

normalidade da espécie 36, demonstrando segurança terapêutica nesse aspecto nos dois protocolos avaliados. Apenas um cão do grupo GVI apresentou necrose tecidual na área de administração de vincristina, devido ao extravasamento do medicamento (Figura 5); tratada com antibiótico sistêmico, limpeza diária e pomada cicatrizante, a lesão cicatrizou completamente em quatro semanas. Com relação aos parâmetros hematológicos (Figura 6 e 7), no eritrograma, os valores da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) sempre estiveram abaixo da normalidade referida para a espécie, provavelmente devido à característica do TVT, que altera a concentração de hemoglobina, produzindo hipocromia 37. No leucograma houve, em geral, redução de todos os valores obtidos, o que é esperado, porque o uso de antineoplásicos po-

de induzir leucopenia, linfopenia, monocitopenia e eosinopenia, além de provocar diminuição do número de plaquetas, fibrinogênio e proteínas totais nos animais 22,30. Conclusão Um novo protocolo de tratamento do TVT associando o uso da vincristina ao da ivermectina se mostrou relevante na terapêutica dessa enfermidade, podendo ser utilizado em cães nos quais a ivermectina não seja contraindicada, como os da raça collie, entre outros, pois diminui o número de administrações, promove uma recuperação mais rápida do paciente, reduz os custos da terapia e a probabilidade de indução de resistência do tumor à vincristina – fator este significativo devido ao aumento dessa incidência nos últimos anos com o protocolo convencional.

Momentos de administração do protocolo I

II

1

2

3

4

5

6

7

8

9

ERI

GV GVI

5,77 ± 0,83 5,71 ± 1,01

5,92±1,06 5,64±1,02

5,84±0,89 5,83±1,25

5,84±1,04 5,92±1,76

5,59±0,14 5,97±1,16

5,55±0,80 5,41±0,90

5,90±1,00 5,38±1,37

5,91±0,80 5,87*

5,95±0,90 -

HG

GV GVI

13,6 ± 3 13,7 ± 1,8

13,5 ± 2,8 13,1 ± 2,2

13,5 ± 3,9 13,4 ± 2,4

13,5 ± 3,8 13,2 ± 3

14,9 ± 3,2 13,2 ± 2,1

12,3 ± 1,6 13,2 ± 0,2

13,8 ± 3 13,3 ± 0,4

13,7 ± 2,8 13,9*

13,8 ± 2,6 -

VG

GV GVI

40,1 ± 7,8 42 ± 5,5

38,2 ± 8,1 38,9 ± 7,4

36,7 ± 7,9 40,4 ± 8,5

37,4 ± 7,6 39,3 ± 8,7

34,5 ± 2,9 39,3 ± 6

37 ± 0,8 38 ± 2,8

36,5 ± 0,7 38,5 ± 2,1

36,5 ± 0,7 42*

37 ± 1,4 -

VGM

GV GVI

70,3 ± 6,1 71± 4,4

67,6 ± 5 67,6 ± 2,6

69,7 ± 6,5 70,7 ± 4,8

61,4 ± 3,8 68,4 ± 11,2 67,5 ± 6,1 66,3 ± 4,5

67,9 ± 4 69,8 ± 5

64,7 ± 10 74,3 ± 7,1

65,5 ± 5,5 71,5*

66,5 ± 7,6 -

CHGM GV GVI

28,1 ± 4 29,8 ± 3,7

27 ± 5,2 28,2 ± 4,2

27,5 ± 4,4 28,6 ± 4,7

30 ± 5 29,2 ± 4,2

27,3 ± 3,5 28,8 ± 4,9

28 ± 2,5 29,5 ± 0,7

27,5 ± 0,7 30,5 ± 1,3

28 ± 1,4 29,6*

29 ± 1,4 -

PPT

GV GVI

7,9 ± 1,4 7,6 ± 0,7

7,6 ± 1,5 7,1 ± 0,7

7,6 ± 1,3 7,3 ± 0,6

7 ± 0,7 7,5 ± 1

7,6 ± 0,57 7,8 ± 0,7

8,2 ± 0,8 8,2 ± 0,1

8,5 ± 0,7 8,1 ± 0,1

8,5 ± 0,7 8*

8,3 ± 1,1 -

FIB

GV GVI

320 ± 103 340 ± 92

340 ± 135 320 ± 98

400 ± 133 315 ± 105

280 ± 109 280 ± 110

300 ± 200 350 ± 100

200 ± 0 200 ± 0

300 ± 141 300 ± 141

300 ± 141 200*

200 ± 0 -

PLA

GV GVI

208 ± 51 213 ± 56

210 ± 63 257 ± 84

249 ± 86 267 ± 79

213 ± 35 218 ± 58

215 ± 6 220 ± 28

203 ± 6 240 ± 28

212 ± 18 287 ± 74

205 ± 7 290*

237 ± 53 -

*valor referente a um único animal; I = Parâmetros e II = Grupos

GV: grupo vincristina (n = 10): nove administrações de vincristina (n = 2); seis administrações de vincristina (n = 1); cinco administrações de vincristina (n = 1); quatro administrações de vincristina (n = 6)

GVI: grupo vincristina associada a ivermectina (n = 10): oito administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); sete administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); cinco administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); três administrações de vincristina e ivermectina (n = 5); duas administrações de vincristina e ivermectina (n = 2)

Valores normais 37: ERI (5,5-8,5 x 106/mm3); HG (12-18 g/dL); VG (37-55%); VGM (60-77fL); CHGM (31-36%); PPT (6-8g/d); FIB (200-400mg/dL); PLA (200-900 x 103/mm3)

Figura 6 - Médias e desvios-padrão dos valores obtidos de eritrócitos (ERI), hemoglobina (HG), volume globular (VG), volume globular médio (VGM), concentração de hemoglobina globular média (CHGM), proteína plasmática total (PPT), fibrinogênio (FIB) e plaquetas (PLA) em cães diagnosticados com tumor venéreo transmissível e tratados com vincristina ou vincristina associada a ivermectina no Hospital Veterinário da Unoeste, Presidente Prudente, SP

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009


I LEU

II GV GVI

1 12,2 ± 4,1 12,1 ± 2,6

2 11,9 ± 4,5 11,5 ± 5,6

Momentos de administração do protocolo 3 4 5 6 7 11,3 ± 5 8,2 ± 2,7 8,8 ± 3,9 7,9 ± 2,5 8,5 ± 5,1 12,8 ± 3,9 7,1 ± 8,5 9,1 ± 4,4 6,9 ± 9,8 6,8 ± 1,49

MON

GV GVI

820 ± 480 600 ± 178

827 ± 326 720 ± 111

825 ± 746 660 ± 167

602 ± 476 464 ± 156

675 ± 526 401 ± 149

515 ± 91 542 ± 116

EOS

GV GVI

911 ± 626 975 ± 652

459 ± 415 274 ± 135

463 ± 530 540 ± 443

407 ± 314 167 ± 12

221 ± 160 157 ± 112

LIN

GV GVI

2,3 ± 1,4 2,2 ± 0,9

2,2 ± 1,7 2,4 ± 2,1

2,5 ± 1,9 1,2 ± 1

1,6 ± 1,5 0,5 ± 0,1

BAS

GV GVI

98 ± 294 270 ± 409

136 ± 248 294 ± 605

127 ± 166 51 ± 112

NEU

GV GVI

8,1 ± 3 10,5 ± 3,8

9,5 ± 6,5 7,2 ± 3,5

8,2 ± 5,9 5,6 ± 2,9

8 9,4 ± 4 7,6*

9 8,8 ± 3,7 -

497 ± 59 407 ± 52

615 ± 141 504*

660 ± 71 -

335 ± 160 170 ± 127

220 ± 119 59 ± 22

362 ± 299 90*

321 ± 360 -

2,4 ± 2,5 0,8 ± 0,2

2,1 ± 3 0,7 ± 0,4

3,9 ± 3,5 0,8 ± 0,1

3,9 ± 3,8 0,9*

3,8 ± 3,7 -

36,3 ± 89 0±0

23 ± 34 0±0

210 ± 297 0±0

0±0 0±0

0±0 0*

0±0 -

5,2 ± 2,9 3,6 ± 1,2

3,8 ± 2,6 6,9 ± 3,6

3,7 ± 2,4 3,5 ± 0,4

4,3 ± 0,8 4,6 ± 2,2

4,3 ± 1,5 4,2*

3,8 ± 0,5 -

*valor referente a um único animal; I = Parâmetros e II = Grupos.

GV: grupo vincristina (n = 10): nove administrações de vincristina (n = 2); seis administrações de vincristina (n = 1); cinco administrações de vincristina (n = 1); quatro administrações de vincristina (n = 6).

GVI: grupo vincristina associada a ivermectina (n = 10): oito administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); sete administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); cinco administrações de vincristina e ivermectina (n = 1); três administrações de vincristina e ivermectina (n = 5); duas administrações de vincristina e ivermectina (n = 2).

Valores normais 37: LEU (6-17 x 103/mm3); MON (0-1.200); EOS (100-1.250); LIN (1.0-4.8 x 103); BAS (0-300); NEU (3-11.5 x 103).

Figura 7 - Médias e desvios-padrão dos valores obtidos de leucócitos (LEU), monócitos (MON), eosinófilos (EOS), linfócitos (LIN), bastonetes (BAS) e neutrófilos (NEU) em cães diagnosticados com tumor venéreo transmissível e tratados com vincristina ou vincristina associada a ivermectina no Hospital Veterinário da Unoeste, Presidente Prudente, SP

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009



Anemia hemolítica imunomediada em cães: estudo retrospectivo de 32 casos

Milena Piacitelli Sanchez MV - Veterinária Vet Labor milenatp@uol.com.br

Tatiane Moreno Ferrarias MV - Hovet Unicsul tatiferrarias@yahoo.com.br

Marcio Antonio Batistela Moreira MV, mestre - Universidade Anhembi Morumbi mabmoreira@anhembi.br

Immune-mediated hemolytic anemia in dogs: a retrospective study of 32 cases Anemia hemolítica inmunomediada en perros: estudio retrospectivo de 32 casos Resumo: A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) é caracterizada pela destruição de eritrócitos que possuem anticorpos na sua superfície, podendo ser classificada como primária ou secundária. Foi realizado um estudo retrospectivo de 32 cães cuja história, sinais clínicos e exames laboratoriais eram compatíveis com o diagnóstico de AHIM, sendo 15 machos e 17 fêmeas, sete sem raça definida e 25 de raça definida, entre os quais a maioria apresentava esferocitose, anemia severa, leucocitose, trombocitopenia, mucosas pálidas, febre e hepatoesplenomegalia. Com base neste estudo, conclui-se que o diagnóstico de cães que apresentem os sinais acima referidos – principalmente fêmeas de raça pura com idade de cinco a oito anos com anemia de moderada a severa e presença de esferócitos, corpúsculos de Heinz e autoaglutinação no esfregaço sanguíneo, hemólise e/ou icterícia plasmática, leucocitose e trombocitopenia – deve ser a AHIM. Unitermos: esferócitos, hemólise, autoimune Abstract: Immune-mediated hemolytic anemia is characterized by the destruction of erythrocytes that have antibodies on their surface and can be classified as primary or secondary. A retrospective study was conducted with 32 dogs that showed signs and symptoms, medical history and laboratory tests compatible with the disease. The cases of 15 males and 17 females, seven of which were mixed-breed animals, were examined. Most animals showed spherocytosis, severe anemia, leukocytosis, thrombocytopenia, pale mucous membranes, fever and hepatosplenomegaly. Based on the findings of this study, we conclude that immune-mediated hemolytic anemia should be the diagnosis in dogs showing the signs and symptoms mentioned above, especially when these are five- to eight-year-old female purebreds with moderate to severe anemia showing spherocytes, bodies of Heinz and autoagglutination in the blood smear, hemolysis and/or jaundiced plasma, leukocytosis and thrombocytopenia. Keywords: spherocytes, hemolysis, auto-immune disease Resumen: La anemia hemolítica inmunomediada (AHIM) se caracteriza por la destrucción de los glóbulos rojos que poseen anticuerpos en su superficie y puede ser clasificada como primaria o secundaria. Se realizó un estudio retrospectivo de 32 perros que presentaron historia, signos clínicos y pruebas de laboratorio compatibles con AHIM, siendo 15 machos y 17 hembras, siete sin raza definida y 25 de diversas razas, la mayoría mostrando esferocitosis, anemia severa, leucocitosis, trombocitopenia, mucosas pálidas, fiebre y hepatoesplenomegalia. Basado en este estudio, se concluye que la AHIM debe ser el diagnóstico en perros que muestren los signos clínicos mencionados, principalmente hembras de raza definida con edad comprendida entre cinco y ocho años con anemia moderada a severa y con presencia de esferocitos, cuerpos de Heinz y autoaglutinación en frotis de sangre, hemólisis y / o ictericia plasmática, leucocitosis y trombocitopenia. Palabras clave: esferocitos, hemólisis, autoinmune

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Introdução A anemia hemolítica imunomediada (AHIM) era pouco diagnosticada antigamente, havendo apenas alguns relatos descritos 1. Atualmente a AHIM é uma enfermidade relativamente comum em cães com anemia moderada a severa, porém ainda pouco se sabe a respeito de suas causas, o que faz do diagnóstico precoce e do tratamento adequado fatores fundamentais no sucesso desses casos 2,3. A AHIM é caracterizada pela redução do número de eritrócitos que apresentam anticorpos com ou sem complemento na sua superfície, em decorrência 64

da destruição, por imunoglobulinas, pelo sistema complemento ou pela remoção através do sistema monocítico fagocitário, o que leva a uma diminuição do tempo de vida das hemácias, aumentando a resposta eritropoiética 2,4,5. Podem ocorrer hemólise intravascular e extravascular, sendo que a extravascular é o tipo predominante com participação do baço e do fígado na destruição celular 6. As causas de AHIM permanecem desconhecidas, porém algumas hipóteses existem, como: depressão do sistema imune por ação viral, alteração do equilíbrio das células T citotóxica e T

auxiliar, alteração dos antígenos de superfície dos eritrócitos por vírus ou drogas e, finalmente, reação cruzada dos anticorpos induzidos por agentes infecciosos contra antígenos de superfície 5. Ela pode ser classificada como primária ou idiopática (cerca de 70% dos casos), ou secundária quando induzida por drogas, neoplasias, outras doenças imunomediadas e diversas doenças infecciosas 2,7. O prognóstico dessa enfermidade é ruim, visto que, em cerca de 70% dos casos classificados como primários, os animais em média vêm a óbito entre dez e quatorze dias após o início do tratamento, sendo o tromboembolismo a principal causa 7. A razão de a percentagem de óbito ser tão alta não é conhecida, porém acredita-se que o aumento da concentração de fatores pró-coagulantes, a diminuição da concentração de agentes fibrinolíticos e anticoagulantes, a vasculite e a coagulação intravascular disseminada, entre outras questões, contribuam para esse resultado 6. Diagnóstico Os sinais clínicos apresentados pelos animais afetados incluem letargia, inapetência, membranas mucosas pálidas, intolerância ao exercício, taquicardia, taquipneia, febre e hepatoesplenomegalia 6. Dentre as alterações laboratoriais observadas, a ocorrência de anemia moderada a intensa com hematócrito geralmente menor que 15% com características regenerativas (anisocitose, policroma-

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sia, reticulocitose e eritroblastose) é a mais comumente encontrada; entretanto, a forma não regenerativa pode ser observada quando existem anticorpos contra precursores eritroides ou em quadros agudos com hemólise intensa em um período inferior a 72 horas 4,6. Anemia sem etiologia aparente, presença de esferócitos (Figura 1) e eritroblastos circulantes, fragilidade eritrocitária e aglutinação (Figura 2) indicam presença de AHIM 1. Corpúsculos de Heinz também podem ser observados em casos de AHIM devido à oxidação das hemácias, gerando precipitados de hemoglobina 8. Os esferócitos apresentam menor quantidade de membrana devido à fagocitose parcial decorrente da presença de anticorpos na superfície da hemácia, tornando-a menor e com coloração escura devido à perda da palidez central. A pesquisa de esferócitos é muito importante, pois sua presença, juntamente com as evidências de autoaglutinação observadas através do esfregaço sanguíneo, são consideradas achados consistentes com o diagnóstico de AHIM 6,9. Milena Piacitelli Sanchez - Hovet UAM

Figura 1 - Eritrócitos que perderam a concavidade e a palidez central devido à fagocitose celular, denominados esferócitos Milena Piacitelli Sanchez - Hovet UAM

Figura 2 - Aglutinação sanguínea que ocorre devido a reação antígeno-anticorpo na superfície das hemácias

O teste de Coomb's é um método de hemaglutinação indicado para a complementação diagnóstica da AHIM, uma vez que detecta antiglobulinas na superfície das hemácias. Entretanto, falsos negativos e falsos positivos podem ser observados devido a erros de metodologia, soluções e reagentes inadequados, contaminação do sangue e/ou dos reagentes por bactérias, baixa concentração de anticorpos na superfície das hemácias analisadas (menor que 2001 moléculas de IgG por glóbulo vermelho) ou presença de anticorpos não específicos 10. Alguns autores descrevem que a sensibilidade desse método é de aproximadamente 50%, dependendo do tipo de reagente utilizado 5,10. Devido ao grande número de resultados falsos negativos, estão sendo desenvolvidas técnicas alternativas ao teste de Coomb's para o diagnóstico da AHIM com sensibilidade variando de 42 a 100%, como o teste da antiglobulina direta, o teste com gel contendo antígenos específicos, que vão promover a aglutinação em caso da presença de anticorpos contra eritrócitos, o radioimunoensaio, a fixação de complemento, a imunofluorescência direta e a citometria de fluxo 10-12. Tratamento O tratamento é direcionado à imunossupressão e à imunomodulação com uso de corticóides (2 a 4mg/kg/SID ou 1 a 2mg/kg/BID), ciclofosfamida (50mg/m2 a cada 48 horas), azatioprina (2mg/kg/SID), imunoglobulina humana (0,5 a 1,5g/kg), ciclosporina (10 a 15mg/kg/BID), damazol (5mg/kg/BID ou 4mg/kg/ TID), juntamente com a terapia de suporte com fluidoterapia, as transfusões sanguíneas, os antibióticos, e a aspirina (0,5mg/kg/SID) para evitar o tromboembolismo, entre outros 6,7,13,14. O protocolo mais adotado tanto na medicina veterinária quanto na humana é a utilização de glicocorticóides, azatioprina em associação e doses baixas de aspirina. Estudos mostram que o uso da azatioprina juntamente com a aspirina pode prolongar o tempo de vida dos cães afetados 13. Objetivo O objetivo desse trabalho é estabelecer um padrão epidemiológico, racial, etário, sexual e laboratorial dos casos de

AHIM, de modo a aumentar a eficácia do tratamento – visto que o diagnóstico precoce é um adjuvante para a cura ou o aumento da sobrevida dos animais acometidos por essa enfermidade. Material e métodos Foi realizado um estudo retrospectivo de todos os casos de cães com anemia atendidos no Hospital Veterinário Anhembi Morumbi de janeiro de 2006 a dezembro de 2007, que completou 24 meses. Foram incluídos no estudo os animais com sinais clínicos consistentes de AHIM sem outras enfermidades concomitantes, que tenham tido confirmação do diagnóstico pela observação de esferócitos e autoaglutinação no esfregaço sanguíneo com base em metodologias de trabalhos anteriores 6,7. As fichas clínicas dos animais com AHIM foram avaliadas quanto a idade, sexo, raça e sinais clínicos. Nos exames realizados foram observados a intensidade da anemia baseada no valor de hematócrito, a hemoglobina e o número de hemácias, a presença ou não de sinais de regeneração, como contagem de reticulócitos, anisocitose, policromasia e eritroblastose, a contagem de leucócitos relativa e absoluta e a concentração de proteína total plasmática. Na análise do tratamento, foi observada a realização de transfusão de sangue total ou de hemocomponentes, os fármacos e doses utilizadas e a sobrevida dos animais afetados. As variáveis estudadas foram agrupadas e analisadas de acordo com os preceitos de estatística descritiva. Resultados Dos 753 cães com anemia atendidos no Hospital Veterinário Anhembi Morumbi de janeiro de 2006 a dezembro de 2007, 32 (4,24%) apresentavam história, sinais clínicos e exames laboratoriais compatíveis com AHIM. Desses 32 animais, 15 (46,9%) eram machos e 17 (53,1%) fêmeas, sendo sete (21,8%) sem raça definida e 25 (78,2%) de raça definida – entre as quais cocker spaniels, poodles, pastores alemães, pit bulls, yorkshires, pinschers, rotweilers, weimaraners, labradores, teckels, bassets hound, boxers e schnauzers (Figura 3). A idade dos animais variou de sete meses a doze anos (média de 5,9). Dividindo os animais em duas faixas etárias,

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Definição racial Sem raça definida cocker spaniel poodle pastor alemão pit bull yorkshire pinscher rotweiller weimaranner labrador teckel basset hound boxer schnauzer

número por raça/ frequência (%) 25 / 78% 5 / 20% 5 / 20% 4 / 16% 2 / 8% 1 / 2,5% 1 / 2,5% 1 / 2,5% 1 / 2,5 % 1 / 2,5% 1 / 2,5% 1 / 2,5% 1 / 2,5% 1 / 2,5%

Figura 3 - Distribuição de cães com AHIM (n = 32) separados por raça, atendidos no Hovet UAM no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007 segundo a definição racial

Figura 5 - Distribuição dos sinais e sintomas observados em cães com AHIM (n = 32) atendidos no Hovet UAM no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007

verificou-se que havia doze animais (37,5%) na faixa etária de zero a cinco anos e vinte animais (62,5%) na faixa etária de seis a dez anos (Figura 4). As informações observadas na anamnese juntamente com os sinais clínicos foram: apatia (100%), anorexia (80%), febre (56,2%), vermifugação desatualizada (25%), hiporexia (20%), ixodidiose (21%), melena (15,6%), esplenomegalia (15,6%), êmese (12,5%), hepatomegalia (9,3%) e hematúria (9%) (Figura 5). Dos 32 animais, 23 (71,8%) receberam transfusão sanguínea num total de 41 bolsas de concentrado de hemácia, treze bolsas de sangue total, sete bolsas de plasma fresco congelado e três bolsas de concentrado de plaquetas. Alguns animais receberam apenas uma transfusão e outros receberam duas ou mais, como o caso de um animal que recebeu oito transfusões de concentrado de hemácias e quatro de sangue total (Figura 6).

No hemograma dos 32 animais foram observadas informações como valor de hematócrito, presença de esferócitos, copúsculos de Heinz, sinais de regeneração como anisocitose, policromasia, eritroblastose, reticulocitose e presença de corpúsculos de Howell Jolly, bem como o valor absoluto de leucócitos e de plaquetas representados nas figuras 7 e 8. Mediante a investigação de hemoparasitos, observou-se em um animal (3,2%) a presença de estruturas sugestivas de Anaplasma platys em plaquetas do esfregaço sanguíneo, e em seis animais (18,7%) a sorologia para Erliquia canis foi positiva. Com base nessas informações, a AHIM foi considerada primária em 25 casos (78,2%) e secundária em sete casos (21,8%). Até o momento da realização deste estudo, dos 32 animais, 10 (31,2%) vivem sob controle da doença ou foram curados e não recebem mais fármacos imunossupressores, porém 22 animais (68,75%) vieram a óbito, em média após vinte dias do início do tratamento. Os animais foram tratados com diversos protocolos baseados na recomendação de estudos realizados anteriormente 6,7,13,14. O protocolo mais utilizado foi o glicocorticóide associado a azatioprina e/ou Variáveis hematócrito % hemoglobina g/dL

Figura 4 - Distribuição de cães com AHIM (n = 32) atendidos no Hovet UAM no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007 segundo a faixa etária

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Figura 6 - Número de transfusões realizadas nos animais com AHIM (n = 32) atendidos no Hovet UAM no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007

ciclosporina (n = 9), com obtenção de bons resultados quanto ao tempo de vida dos animais, visto que, dos dez animais que não vieram a óbito, seis foram submetidos a esse protocolo de tratamento. Além da terapia imunomoduladora, os animais receberam tratamento de suporte com antibióticos, eritropoetina, aspirina, heparina e fluidoterapia, entre outros. Discussão e conclusão Os achados hematológicos obtidos neste estudo – como anemia de discreta a intensa com hematócrito variando de 8 a 35%, observação de esferócitos em 90% dos casos e sinais de regeneração em 87,5% – são consistentes com os estudos de outros autores 1,6. A contagem de plaquetas variou de 4.000/ L a 528.000/ L, coincidindo também com estudos realizados por outros autores 7, em que a contagem de plaquetas variou de 0 a 435.000/ L, bem como a maioria dos animais apresentou leucocitose. Concordando com trabalho anteriormente realizado 2, observou-se neste estudo a prevalência de fêmeas (n = 17) em relação a machos (n = 15), bem como a maior incidência de animais de raça definida, sendo o cocker spaniel (n = 5), o poodle (n = 5) e o pastor alemão

média / desvio padrão

intervalo de referência

18,9 / 6,4

37 a 54%

6 / 2,03

12 a 18g/dL

leucócitos / L

23.375 / 18.823,94

6.000 a 15.000/ L

plaquetas / L

141.062 / 145. 681

200.000 a 500.000/ L

Figura 7 - Variáveis do hemograma dos cães com AHIM (n = 32) atendidos no Hovet UAM no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007 em valor médio e desvio padrão

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Figura 8 - Presença de sinais de regeneração, aglutinação, esferocitose e corpúsculos de Heinz nos animais com AHIM (n = 32) atendidos no Hovet UAM no período de janeiro de 2006 a dezembro de 2007

(n = 4) as raças mais acometidas. Em estudo realizado com 33 animais portadores de AHIM, 30 cães eram de raça pura e três não tinham raça definida, sendo a maioria constituída de cocker spaniels (n = 10), bichons frisés e pinschers 3. Alguns autores relatam que há um risco maior de fêmeas desenvolverem AHIM, devido ao fato de serem mais suscetíveis ao lúpus eritematoso sistêmico, sendo a AHIM secundária a essa enfermidade 3. Em outro trabalho 7 avaliaram-se vinte cães com AHIM em relação à faixa etária, e observaram-se animais com idade entre dois e doze anos, com média de sete anos, o que está de acordo com este estudo, no qual a média de idade dos animais era de 5,7 anos. A média de idade um pouco menor do que a referida na literatura pode ser explicada pela presença de um animal com sete meses de idade com AHIM secundária à erliquiose. Os sinais clínicos mais observados por autores de outros estudos 2,6 foram anorexia, letargia, mucosas pálidas, icterícia, esplenomegalia, hepatomegalia, hematúria, taquicardia e fraqueza, concordando com as conclusões do estudo em questão, que obteve como sinais clínicos mais recorrentes a apatia, a anorexia, a febre, a hiporexia, a esplenomegalia e a hepatomegalia. Dos animais avaliados, cerca de 71% receberam transfusão de hemocomponentes sanguíneos mostrando o caráter agressivo da doença, visto que a maioria dos animais chegam ao clínico com um quadro avançado possuindo prognóstico reservado. 68

Os protocolos de tratamento realizados nos animais deste estudo são parecidos com os de estudos anteriores 13, com a utilização de glicocorticóides associados à azatioprina e/ou ciclosporina e à obtenção de resultados muito semelhantes quanto à sobrevida dos animais (índice de mortalidade muito alto). A classificação da AHIM segundo a origem primária ou secundária foi de 78,2% e 21,8% respectivamente, concordando com os demais estudos realizados 5,7 e também em relação à mortalidade, que é de 70%, com o tempo de vida variando de um mês a um ano depois de diagnosticada a enfermidade 6. Devido a todos esses achados, a conclusão que se faz é que a AHIM é uma enfermidade grave, com alto índice de mortalidade, que apresenta sinais clínicos inespecíficos, diagnóstico difícil e tratamento longo e monetariamente dispendioso. Com base nos achados deste estudo quanto a alterações laboratoriais e informações epidemiológicas, a AHIM deve entrar no diagnóstico diferencial de anemia em cães, principalmente em fêmeas de raça pura com idade de cinco a oito anos, apresentando anemia de moderada a severa, sem doenças intercorrentes, anorexia, hepatoesplenomegalia, mucosas pálidas, febre de origem desconhecida, histórico de ixodidiose, presença de esferócitos, corpúsculos de Heinz e autoaglutinação no esfregaço sanguíneo, hemoglobinemia e/ou icterícia plasmática, leucocitose e trombocitopenia. Entre as possíveis falhas de um tratamento efetivo que colaboram para o prognóstico ruim dessa doença estão o diagnóstico tardio, protocolos não uniformes e tratamentos errôneos quanto ao suporte do animal, no objetivo de prevenir complicações do quadro como tromboembolismo, coagulação intravascular disseminada e toxicidade medicamentosa, entre outros. Por esses motivos, mais estudos sobre essa doença devem ser realizados a fim de melhorar o seu diagnóstico, tratamento e prognóstico. Agradecimentos A toda equipe do hospital veterinário da Universidade Anhembi Morumbi, (www.anhembi.br) pela ajuda e dedicação.

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Ultrassonografia nas neoplasias hepáticas em cães e avaliação de critérios sonográficos na diferenciação de lesões malignas Ultrasonography in canine hepatic neoplasms and evaluation of echographical criteria for malignant lesion differentiation Ecografía en el cáncer de hígado en perros y la evaluación de los criterios ecográficos en la diferenciación de lesiones malignas Resumo: O exame ultrassonográfico é extremamente útil para a avaliação hepática da suspeita de neoplasias. Os objetivos do presente trabalho foram rever e determinar algumas das principais características ultrassonográficas nos diferentes tipos de neoplasias hepáticas em cães, identificar critérios sonográficos mais relacionados com malignidade e verificar o poder desse exame de analisar a propensão à malignidade. A amostra foi constituída por quinze cães, sendo que em doze a neoplasia hepática primária foi confirmada pelos exames citológicos ou histopatológicos. Os critérios morfológicos sonográficos utilizados nas descrições das imagens foram: forma, contorno, ecogenicidade, ecotextura e sinais secundários. Confirma-se que apenas pelos padrões sonográficos categorizados não é possível determinar um tipo específico de tumor. Todavia, alguns critérios sonográficos podem ser utilizados como indicativos de malignidade. Unitermos: fígado, diagnóstico, ultrassom, tumores Abstract: The ultrasonographic exam is extremely useful for hepatic evaluation when neoplasic processes are suspected. The aims of the present study were to review and to determine some of the most important ultrasonographic features of the different types of canine liver neoplasm, as well as to identify the sonographic criteria most related to malignancy and to evaluate their potential as malignancy predictors. The sample consisted of 15 dogs; in 12 of these animals, primary liver tumors had been confirmed by either cytological or histopathological examinations. Sonographic morphological criteria were: shape, contour, echogenicity, echotexture and secondary signs. It was not possible to determine a specific tumor type based only on sonographic findings. However, some sonographic criteria could be confidently used as indicative of malignancy. Keywords: liver, diagnosis, ultrasound, neoplasm Resumen: El ultrasonido es muy útil en la evaluación de hígado cuando la sospecha de cáncer. Los objetivos del presente trabajo fueron revisar y determinar algunas de las principales caracteristicas ecográficas de las neoplasias hepaticas de los perros, identificar los criterios ecográficos que estan mayormente relacionados con la malignidad del tumor, y verificar el poder de este examen en cuanto a analisar la propension a la malignidad. La muestra fue de 15 perros, de los cuales 12 tenian confirmado la presencia de cáncer primario de hígado a través de exámenes histopatológicos o citologicos. Los criterios sonográficos utilizados en las descripciones morfológicas de las imágenes fueron: la forma, contorno, ecogenicidad, ecotextura y signos secundarios. Se pudo confirmar que sólo con resultados ecográficos no es posible determinar un tipo de tumor. Sin embargo, algunos criterios ecográficos se pueden utilizar como indicativo de malignidad. Palabras clave: hígado, diagnóstico, ultrasonido, neoplasias

Clínica Veterinária, n. 82, p. 70-76, 2009

Introdução O diagnóstico por imagem, importante auxiliar na oncologia veterinária, evoluiu substancialmente nos últimos anos. A ultrassonografia, apesar de suas limitações, é um excelente método diagnóstico para a avaliação hepática da suspeita de neoplasias primárias ou metastáticas 1-3. A detecção de lesões compatíveis com neoplasia no parênquima hepático é a aplicação diagnóstica mais importante da ultrassonografia hepatobiliar 3. 70

Os autores recomendam a graduação de cães velhos com hepatomegalia, para descartar ou confirmar a hipótese de neoplasia 3. Os tipos histológicos descritos são: adenoma hepatocelular, carcinoma hepatocelular, cistoadenomas biliares e colangiocarcinomas, além de tumores linfoides e tumores mesenquimais como o hemangiossarcoma e o leiomiossarcoma. As metástases podem originar-se de neoplasias do trato gastrintestinal ou do

Tilde Rodrigues Froes MV, profa. adj. II Depto. Medicina Veterinária - UFPR tilde9@hotmail.com

Masao Iwasaki MV, prof. tit. Depto. Cirurgia - FMVZ-USP miwasaki@usp.br

pâncreas, e de adenocarcinoma mamário, hemangiossarcoma e linfoma 4-6. Os tumores hepáticos primários são mais observados em cães com idade superior a dez anos. Os sinais clínicos geralmente são vagos e pouco específicos; os sinais de disfunção hepática normalmente só aparecem quando o tumor se encontra em estágio avançado. Os sinais clínicos mais consistentes dessa moléstia são anorexia, apatia, letargia, perda de peso, poliúria, polidipsia, vômitos e distensão abdominal. Outros sinais menos comuns são icterícia, diarreia e sangramento 4-6. A aparência ultrassonográfica da neoplasia é determinada pela homogeneidade de seu tipo celular, pela quantidade de vascularização, pela extensão da hemorragia ou da necrose, pela presença de tecido fibroso e pela deposição de minerais 7. Os tumores hepáticos primários e secundários apresentam manifestações ultrassonográficas bastante variáveis, incluindo o padrão normal 3,8,9. Essas variações de configurações lesionais ocorrem tanto entre diferentes tipos de tumores quanto entre tipos iguais – ou seja, tumores histologicamente diferentes podem apresentar imagens semelhantes 3,8-10. Apesar dessa sobreposição de achados e embora a biópsia seja imprescindível para o diagnóstico definitivo do tipo neoplásico, a ultrassonografia pode sugerir linhas gerais de orientação de lesões tumorais 2. Além de utilizar a técnica sonográfica como base de orientação, na medicina, a modalidade é preconizada para análise da propensão à malignidade de diferentes tipos tumorais em diversos órgãos. Em seres humanos, alguns padrões sonográficos de lesões em ovários, fígado ou baço são amplamente discutidos como predecessores de malignidade. Ressaltam-se aqui, além da ultrassonografia bidimensional, as

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técnicas Doppler (colorido e pulsado), Doppler de amplitude e também os contrastes ultrassonográficos 11-14. Na medicina veterinária, somente um trabalho de comprovação de parâmetros morfológicos ultrassonográficos em tumores abdominais hepáticos e esplênicos foi realizado em cães e gatos com o intuito de demonstrar seu valor preditivo da malignidade 15. Essa investigação retrospectiva pesquisou especificamente o valor preditivo de malignidade dos nódulos alvo no fígado ou no baço desses animais. A amostra era constituída de vinte cães e um gato que apresentavam esses nódulos; ao exame histopatológico, doze das dezesseis lesões alvo hepáticas revelaram-se malignas, bem como cinco das sete lesões alvo esplênicas. Nessa série, o achado de uma ou duas lesões em alvo no fígado ou no baço teve um valor preditivo de malignidade em 74% dos casos; quando verificadas múltiplas lesões com esse mesmo aspecto em um órgão, o valor preditivo de malignidade foi de 81%.

Diferentes neoplasias malignas correlacionam-se a esse aspecto; entretanto, há também quadros benignos correlacionados a esse padrão: a hiperplasia nodular do fígado ou do baço, a hepatite piogranulomatosa, a cirrose e a hepatite ativa crônica 15. Esse aspecto alvo também foi descrito em casos de metástase de tumor venéreo transmissível 16. Os aspectos sonográficos das diferentes neoplasias hepáticas em cães já foram previamente discutidos; todavia, apesar de características frequentes serem encontradas em determinados tipos, não há determinação de padrões que indiquem um tipo histológico específico. Além dos diferentes tipos neoplásicos, uma enfermidade comumente discutida que deve ser ressaltada como diagnóstico diferencial para tais padrões é a hiperplasia nodular hepática, que pode ocorrer em 70% dos cães idosos, apesar de nem sempre ser identificada durante o exame sonográfico 3,8-10. Verificam-se pelas descrições prévias que realmente é muito difícil a

determinação de um tipo neoplásico hepático específico somente pelo exame sonográfico 3. Todavia, não se sabe se além dos nódulos alvo existe algum outro critério facilitador da determinação de malignidade em tais processos 15. Na medicina, como supracitado, contínuas investigações tentam estabelecer tais características, incluindo aqui todas as nuances da ultrassonografia diagnóstica 12,14. Os objetivos do presente trabalho foram rever e determinar algumas das principais características ultrassonográficas nos diferentes tipos de neoplasias hepáticas e analisar a eficácia da ultrassonografia bidimensional em apontar a malignidade dos processos neoplásicos hepáticos de cães. Materiais e métodos Entre outubro de 2002 e outubro de 2003, realizou-se um estudo prospectivo, observacional e seccional descritivo, no qual foram analisados exames sonográficos de cães com suspeita de neoplasia abdominal.


Os critérios de inclusão usados no estudo foram de cães com suspeita de neoplasia hepática. Os critérios de exclusão foram de cães nos quais não foi possível o acompanhamento até a obtenção do diagnóstico definitivo, citológico, cirúrgico-histopatológico ou necroscópicohistopatológico, e ainda de cães com diagnóstico de linfoma multicêntrico. O exame ultrassonográfico foi realizado em equipamento dinâmico, bidimensional de alta resolução, com transdutores convexos e lineares, com frequência variando de 4 a 12MHz, de acordo com o porte do animal. Um único observador realizou e analisou todos os exames, no qual seguiu um método preestabelecido quanto à sequência e ao detalhamento das características ultrassonográficas 17. A interpretação foi realizada durante o exame, pela observação dinâmica das alterações. As lesões eram caracterizadas como benigna, maligna e impossível de determinar. As lâminas de citologia e os exames histopatológicos foram processados, interpretados e classificados de acordo com as descrições padronizadas 18,19. A interpretação das imagens ultrassonográficas em relação à distribuição se deu como: lesões focais, multifocais ou difusas. As lesões difusas foram caracterizadas como aumento ou diminuição da ecogenicidade do órgão. As lesões focais ou multifocais foram caracterizadas com relação à ecogenicidade como: nódulos hiperecoicos, hipoecoicos, mistos – heterogêneos –, em alvo ou cavitários (lesões císticas com parede irregular, com presença ou não de septações). As lesões focais ou multifocais também foram coordenadas em três grupos, adaptadas da classificação previamente determinada 13: - tipo I: alterações focais ou multifocais de contorno regular e aspecto homogêneo, hiperecoicas ou hipoecoicas – baixa complexidade; - tipo II: alterações focais ou multifocais de contorno irregular, hipoecoicas, hiperecoicas ou em alvo – média complexidade; - tipo III: alterações focais ou multifocais de ecogenicidade mista – heterogênea –, nódulos alvo irregulares, nódulos cavitários com microcalcificações ou calcificações, e que alteram o contorno e/ou a cápsula do órgão – alta complexidade. 72

As lesões do tipo II associadas a linfadenomegalia abdominal, ascite ou alteração sonográfica em outro órgão e as lesões do tipo III foram então consideradas suspeitas de neoplasias malignas. As características ultrassonográficas bidimensionais foram também analisadas de forma descritiva e correlacionadas aos resultados citológicos, e quando possível macroscópicos e em conjunto com o exame histopatológico. Resultados Dos 114 animais avaliados com suspeita de neoplasias na cavidade abdominal, quinze encontravam-se dentro dos critérios; em três animais o exame sonográfico excluiu a hipótese de neoplasia hepática – achados esses confirmados pelos outros métodos diagnósticos. Dos doze casos de tumores hepáticos diagnosticados, onze eram neoplasias malignas e somente um caso revelou-se uma neoplasia benigna. Os pacientes com neoplasia hepática apresentaram a seguinte distribuição: oito (66,6%) machos e quatro (33,4%) fêmeas, cinco (41,6%) cães sem raça definida e sete (58,4%) cães de raça definida, com faixa etária entre três e dezesseis anos, e mediana igual a 10,5 anos. Os sinais clínicos mais frequentes foram: anorexia (8), massa hepática ou hepatomegalia à palpação (7), icterícia (5), perda de peso (5), distensão abdominal fluida (4), prostração (3), diarreia (2) e dispneia (2). Os tipos cito-histopatológicos foram colangiocarcinoma (6 50%), carcinoma hepatocelular (3 25,1%), tumor de células mesenquimais - hemangiossarcoma (1 - 8,3%), linfoma de pequenas células (1 - 8,3%) e cistoadenoma de vias biliares (1 8,3%). Os métodos de diagnóstico definitivo empregados foram: necroscópico-histopatológico (8 - 75%), citológico (2 - 16%) e cirúrgico-histopatológico (1 - 9%). As características sonográficas dos seis cães com colangiocarcinoma foram: parênquima aumentado de tamanho com contorno irregular (6), nódulos cavitários complexos – ou seja, com septações internas – associados a nódulos alvo (5); parênquima hepático heterogêneo apresentando nódulos hiperecoicos e em alvo (1). Em todos os animais foram identificados nódulos alvo e

linfadenomegalia regional. Líquido livre abdominal (4), nódulos hipoecoicos em baço (3) e severo espessamento da parede duodenal com perda da estratificação parietal (1) também se somaram aos achados. O diâmetro dos nódulos complexos variou de 4 a 9,45cm. Nos três cães com carcinoma hepático, os aspectos ultrassonográficos foram: parênquima aumentado de tamanho com contorno irregular (3) e nódulos hiperecoicos maiores associados a múltiplos nódulos alvo – estes nódulos de contornos irregulares (1). Em todos os animais, o fígado tinha o aspecto de padrão “mosaico” – padrão caracterizado por nódulos entremeados semelhantes a um desenho mosaico. Foram visualizados linfadenomegalia regional (2) e nódulos alvo no parênquima esplênico (1). A variação de diâmetro dos nódulos foi de 1,3 a 3cm. No cão com diagnóstico de hemangiossarcoma hepático e linfoma hepático de pequenas células, as características ultrassonográficas presentes foram: hepatomegalia com contorno irregular, micronódulos multifocais irregulares e hipoecoicos maiores. No linfoma hepático, o aspecto em mosaico também foi definido. Os nódulos hiperecoicos foram vistos somente no caso do hemangiossarcoma. Nos dois casos, os nódulos maiores apresentavam diâmetro de 1,5cm. No cão com diagnóstico de cistoadenoma de vias biliares, os aspectos sonográficos constatados foram: hepatomegalia com contorno arredondado e múltiplos nódulos hipoecoicos, cujo diâmetro variou de 1 a 5cm. Com relação à categorização dos critérios preestabelecidos neste trabalho para a diferenciação entre tumores hepáticos benignos e malignos, onze casos (100%) suspeitos de malignidade foram confirmados no exame citológico ou anatomopatológico-histopatológico. Contudo, parâmetros suspeitos para malignidade também foram observados em um caso de tumor benigno (cistoadenoma de vias biliares). As figuras 1 e 2 demonstram esses achados. O exame ultrassonográfico descartou a suspeita de tumores hepáticos em três cães. Os diagnósticos destes foram: hepatopatia crônica – fibrose hepática, cirrose hepática – e hepatomegalia por congestão.

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Classificação USG Tipo I Tipo II Tipo III Total

Benignas Malignas 1 (+1) 5 (+5) 6 (+6) 1

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Tipo I: Lesões focais e multifocais de contorno regular (hipoecoicas ou hiperecoicas) em somente um órgão abdominal. Tipo II: Alterações focais ou multifocais de contornos irregulares, hipoecoicas, hiperecoicas ou alvo (média complexidade). Tipo III: Alterações focais ou multifocais de contornos irregulares, hipoecoicas, hiperecoicas ou alvo, nódulos cavitários com microcalcificações ou calcificações que alteram o contorno e/ou a cápsula do órgão (alta complexidade). + : Representa alterações em outros órgãos ou linfadenomegalia adjacente ou ascite.

Figura 1 - Distribuição conjunta do padrão ecotextural (USG) dos tumores dos doze cães com neoplasias hepáticas, de acordo com a sua natureza – outubro de 2002 a outubro de 2003

Discussão O exame ultrassonográfico é uma ótima alternativa de investigação das neoplasias abdominais, por ser de baixo custo e porque as características de imagem permitem uma boa avaliação da arquitetura interna do parênquima 1-3. Dentre as neoplasias hepáticas diagnosticadas neste estudo, houve uma pequena divergência entre os achados de outros pesquisadores, uma vez que os colangiocarcinomas apresentaram maior prevalência que os carcinomas hepatocelulares 4,5. Os pacientes com neoplasias hepáticas apresentaram distribuição clínica e sinais clínicos similares aos descritos na literatura 5,6. Os achados ultrassonográficos

Animal Característica sonográfica no fígado 1 hepatomegalia com contorno irregular, nódulos maiores hiperecoicos e múltiplos nódulos alvo, aspecto mosaico

Outras alterações linfadenomegalia regional

Tipo de lesão tipo II (+)

encontrados estiveram em consonância com os de outros pesquisadores: os tumores hepáticos primários e secundários apresentaram manifestações amplamente variáveis e com sobreposição dos achados 3,9. Embora a biópsia seja imprescindível para o diagnóstico definitivo do tipo neoplásico, acreditamos, assim como os demais pesquisadores, que a ultrassonografia possa sugerir linhas gerais de orientação das lesões tumorais, principalmente no que tange à busca de lesões secundárias (alterações em outros órgãos ou estruturas) que auxiliem na categorização de agressividade 1,3,13. Ressalta-se dentre os aspectos dos colangiocarcinomas os nódulos cavitários Classificação sonográfica maligna

Diagnóstico final carcinoma hepatocelular

2

hepatomegalia com contorno irregular, nódulos maiores hiperecoicos heterogêneos e múltiplos nódulos alvo, aspecto mosaico

linfadenomegalia regional

tipo II (+)

maligna

carcinoma hepatocelular

3

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos hiperecoicos de contornos irregulares, aspecto mosaico

1 nódulo cavitário em baço e 2 nódulos alvo

tipo II (+)

maligna

carcinoma hepatocelular

4

hepatomegalia com contorno irregular, ecogenicidade difusamente grosseira, múltiplos nódulos hiperecóicos com microcalcificação e em alvo

linfadenomegalia regional mesentério hiperecóico, segmentos de alças intestinais plissados, nódulo hipoecóico em baço

tipo III (+)

maligna

colangiocarcinoma

5

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos alvo complexos £

linfadenomegalia regional, nódulos alvo no baço

tipo III (+)

maligna

colangiocarcinoma

6

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos alvo complexos £

linfadenomegalia regional, efusão peritoneal, severo espessamento da parede duodenal com perda de estratificação das camadas

tipo III (+)

maligna

colangiocarcinoma

7

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos alvo complexos £

linfadenomegalia regional, efusão peritoneal e pleural

tipo III (+)

maligna

colangiocarcinoma

8

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos alvo complexos £

linfadenomegalia regional e efusão peritoneal

tipo III (+)

maligna

colangiocarcinoma

9

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos alvo complexos £

linfadenomegalia regional, efusão peritoneal e nódulos hipoecoicos no baço

tipo III (+)

maligna

colangiocarcinoma

10

hepatomegalia com contorno irregular, micronódulos multifocais, nódulos hiperecoicos e hipoecoicos maiores

linfadenomegalia regional

tipo II (+)

maligna

hemangiossarcoma hepático

11

hepatomegalia com contorno irregular, múltiplos nódulos hipoecoicos, aspecto mosaico

severo espessamento de alça intestinal e perda de estratificação desse segmento

tipo II (+)

maligna

linfoma de pequenas células

12

hepatomegalia com contorno arredondado, múltiplos nódulos hipoecoicos e mistos

efusão peritoneal

tipo II (+)

maligna *

cistoadenoma de vias biliares

* Animal cuja ultrassonografia foi erroneamente classificada como neoplasia hepática maligna £ Nódulos complexos = lesões cavitárias com septações internas, parede espessada e irregular (+) Linfonodomegalia e/ou efusão peritoneal, lesão em outro órgão

Figura 2 - Descrição dos achados ultrassonográficos do fígado e demais alterações detectadas no abdômen, caracterização do tipo de lesão, classificação sonográfica e diagnóstico final dos doze cães com neoplasia hepática – outubro de 2002 a outubro de 2003

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Tilde Rodrigues Froes Depto. Patologia FMVZ/USP

Tilde Rodrigues Froes

Tilde Rodrigues Froes

Figura 3 - Imagem ultrassonográfica do parênquima hepático de um cão com área cavitária complexa – septações internas – medindo 9,45x8,65cm. Colangiocarcinoma hepático

Figura 4 - Imagem ultrassonográfica de lesão em aspecto alvo no parênquima hepático de um cão. Colangiocarcinoma hepático

Figura 5 - Fotografia demonstrando o aspecto macroscópico do colangiocarcinoma hepático em um cão. Septação (seta azul) observada no exame sonográfico

complexos com septações internas ainda não relatados na medicina veterinária (Figura 3). Esse padrão sonográfico é característico do colangiocarcinoma intra-hepático no ser humano, embora não muito frequente 20. As descrições em pacientes humanos referem também a presença de nódulos satélites à lesão maior, do mesmo modo verificados nesta pesquisa, em que todos os animais com colangiocarcinoma apresentavam concomitantemente as lesões cavitárias nódulos satélites alvo (Figura 4). Destaca-se ainda que essas lesões cavitárias e complexas visualizadas foram inteiramente comprovadas no exame anatomopatológico (Figura 5). Do exposto, fica evidente que essas características de imagens são altamente sugestivas de colangiocarcinoma hepático canino, mas novos estudos que contemplem casuísticas maiores devem ser empreendidos para confirmar ou não a importância desses achados sonográficos para tal diagnóstico. Na literatura consultada não foi mencionada a possível localização específica de metástases pulmonares em cães com colangiocarcinoma. Nesta investigação, evidenciou-se a presença de metástase em linfonodos periportais em todos os animais (6), nódulos esplênicos (3), detecção de efusão peritoneal (3) e alterações em alças intestinais (2) – tudo isso confirmado nos exames necroscópico e histopatológico. Tais achados podem ser explicados devido à comunicação vascular da circulação hepatoesplênica e da drenagem portossistêmica, que provavelmente influenciam na disseminação metastática dos tumores hepáticos.

Embora alguns pesquisadores indiquem que quase sempre haja massas hiperecoicas e solitárias associadas ao carcinoma hepatocelular, não se observou essa mesma característica sonográfica nos casos avaliados na presente pesquisa 2,10. Além de outras características, um achado relevante foi o aspecto pavimentoso em mosaico (Figuras 6, 7 e 8), quadro esse ainda não relatado anteriormente, provavelmente correlacionado às variações da composição citoarquitetural dessa neoplasia, semelhantemente ao descrito no ser humano – mas tais diferenças também precisam ser mais investigadas. O hemangiossarcoma hepático primário e o linfoma hepático primário no cão não foram encontrados com frequência neste estudo. As características sonográficas indicaram nódulos mistos, hipoecoicos, hiperecoicos e em alvo. O aspecto em mosaico foi detectado no caso do linfossarcoma de pequenas células. Ou seja, as características nodulares ou ainda o aspecto pavimentoso em mosaico são variantes presentes em diferentes tipos neoplásicos e não devem ser correlacionados a qualquer tipo específico de tumor, afirmando-se mais uma vez a baixa especificidade para essas características sonográficas 3,8,9. Entretanto, vale ressaltar que nesses pacientes, as alterações da forma e do contorno do órgão, associadas à irregularidade dos nódulos, indicam a classificação da lesão como de tipo II, que em conjunto com as alterações em demais estruturas sugere malignidade. Não há, na literatura medicoveterinária, descrições das características ultrassonográficas específicas do cistoadenoma

de vias biliares no cão. O arredondamento do contorno hepático nesse paciente e a presença de linfadenomegalia periférica foram as características que dificultaram a exclusão de uma neoplasia maligna para tal paciente, provando que a classificação predeterminada como tipo II pode apresentar falsos positivos para malignidade, devendo sempre ser determinada com cautela e não devendo nunca ser substituta da biópsia hepática. Apesar de a hiperplasia nodular hepática ser considerada um dos principais diferenciais para neoplasia em cães velhos, nenhum caso foi observado neste estudo 3,4,6. Provavelmente porque tais nódulos de hiperplasia, quando visíveis na ultrassonografia, são considerados achados sonográficos geralmente assintomáticos e descobertos de forma incidental em exames de rotina em cães idosos. Com base nos resultados, acredita-se que realmente os achados mais relevantes indicativos de tumor maligno na ultrassonografia bidimensional são: a complexidade da lesão, a alteração de contorno desta, do órgão ou de ambos, associadas a demais alterações abdominais como sinais de metástase – em baço, alças intestinais e linfonodos mesentéricos periportais –, ou a detecção de efusão peritoneal. De acordo com tais critérios preestabelecidos, onze (100%) dos casos suspeitos de malignidade foram confirmados realmente como neoplasias malignas por meio de exames citopatológicos ou histopatológicos. A análise permite considerar que a alteração de contorno do órgão e do nódulo,

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as características agressivas de uma lesão (como lesões cavitárias) e a presença de sinais secundários indicando lesão em outro órgão nos fazem crer que essas podem indicar realmente malignidade. Contudo, é necessário um maior número

Tilde Rodrigues Froes

Tilde Rodrigues Froes Depto. Patologia FMVZ/USP

Tilde Rodrigues Froes

Figura 6 - Imagem ultrassonográfica do parênquima hepático de um cão com múltiplos nódulos hiperecoicos e hipoecoicos entremeados – aspecto pavimentoso mosaico. Carcinoma hepatocelular

Figura 7 - Fotografia demonstrando o aspecto macroscópico do carcinoma hepatocelular

Figura 8 - Fotomicrografia - carcinoma hepatocelular H&E (40x)

de trabalhos para formar um consenso sobre quais seriam dentre essas as mais relevantes e que poderiam influenciar a interpretação de uma imagem ultrassonográfica em relação ao risco de malignidade. De qualquer maneira, sabe-se que as previsões de malignidade das lesões classificadas como do tipo II são mais passíveis de erro, até porque não caracterizam maior agressividade. A despeito de não existir nenhuma característica patognomônica de malignidade na ultrassonografia hepática,

algumas são fortemente sugestivas, como as lesões alvo, caracterizadas como lesões sólidas de tamanho variado com um halo hipoecoico ao redor. Ou seja, em consonância com demais investigadores, afirma-se que um halo hipoecoico em torno de uma massa hepática é considerado um mau prognóstico, pois apresenta um alto índice de associação com tumores malignos. Pode-se então afirmar que, apesar de esse halo (formando um aspecto alvo) não ser uma indicação absoluta da presença de

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malignidade, ele é visto em lesões que demandam uma investigação detalhada e a confirmação de sua natureza 15. Na medicina, a correlação sonográfica-histológica de um halo hipoecoico em volta de uma massa hepática demonstra que, na maioria dos casos, a camada hipoecoica corresponde ao parênquima hepático normal que é comprimido pela rápida expansão do tumor. Mais raramente, essa borda hipoecoica representa células malignas em proliferação, fibrose ou vascularização tumoral 21,22. Com base em todos os dados encontrados, confirmam-se as vantagens da ultrassonografia como ferramenta de triagem em pacientes com suspeita de neoplasia hepática, entre elas uma precisão relativa, a rapidez, a ausência de radiação ionizante, bem como a possibilidade de descrições indicativas de malignidade. Estudos recentes demonstram também inovações na tentativa de melhorar a acurácia na detecção de lesões malignas e metástases, sendo os meios de contrastes sonográficos uma forma promissora para tais análises 2,23,24. Comprovou-se que existe uma alta significância na associação de nódulos hipoecoicos circundados por parênquima normal após a fase de alto pico do contraste para malignidade depois de sua administração, sendo essa, a utilização de contrastes sonográficos mais uma alternativa de previsão de malignidade e na diferenciação entre nódulos malignos e benignos 23,24. Conclusão Em resumo, pode-se concluir que determinados critérios de análise sonográfica hepática, mesmo no modo bidimensional, podem sugerir malignidade, considerando-se que tais critérios nunca devam excluir a realização de técnicas mais invasivas para confirmação e determinação da classificação histológica tumoral.

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Pododermatite plasmocitária felina: relato de caso

Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br

Mariana Isa Poci P. Antunes

Feline plasmocytic pododermatitis: case report Pododermatitis plasmacítica felina: caso clínico Resumo: Pododermatite plasmocitária é uma doença cutânea rara, que atinge os coxins dos gatos, cuja etiopatogenia ainda é desconhecida. Este trabalho relata a ocorrência de pododermatite plasmocitária em uma gata sem raça definida, de três anos de idade atendida no Hospital Veterinário da FMVZ/Unesp-Botucatu. O animal apresentava edemaciação e eritema nos coxins havia um mês. A biópsia dos coxins revelou intenso processo dérmico difuso composto basicamente por plasmócitos com alguns corpúsculos de Russell, em meio a macrófagos e alguns focos com exsudato neutrofílico, permitindo o diagnóstico de pododermatite plasmocitária. Foi realizado o tratamento com 25mg de doxiciclina, a cada 24 horas, por via oral. Em quatro semanas houve cura clínica, mas optou-se por manter o medicamento por mais duas semanas. Após dois anos de acompanhamento, não houve recidiva do quadro, demonstrando a eficiência do tratamento proposto. Unitermos: gatos, dermatopatia, terapia Abstract: Plasmocytic pododermatitis is a rare cutaneous disease of unknown pathogeny that affects pawpads of cats. The present study reports the occurrence of plasmocytic dermatitis in a mongrel three year-old female cat presented to the Veterinary Hospital of FMVZ/Unesp-Botucatu. The pawpads had been edematous and eritematous for one month. Biopsy revealed an intense and diffuse dermic process, composed mainly of plasmocytes, with some Russell corpuscles surrounded by macrophages and some foci of neutrophilic exudate, which led to the diagnosis of plasmocytic pododermatitis. The animal was treated with oral administration of 25mg of doxyciclin at 24-hour intervals. Although clinical cure was reached in four weeks, treatment was extended for two further weeks. There was no recurrence of clinical symptoms up to two years post-treatment, which demonstrates the efficacy of the proposed therapy. Keywords: cats, dermatopathy, therapy

MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu palumboma11@yahoo.com.br

Rafael Torres Neto MV, doutorando Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu rphtorres@yahoo.com.br

Karin Botteon MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu katbotteon@yahoo.com.br

Viciany Erique Fabris MV, prof. ass. dr. Depto. Patologia - FM/Unesp-Botucatu vfabris@fmb.unesp.br

Maria do Carmo Fernandez Vailati MV, profa. subst. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu mfvailati@yahoo.com.br

Maria Lúcia Gomes Lourenço Resumen: La pododermatitis plasmacítica es una enfermedad cutánea rara, que afecta las almohadillas de los gatos y cuya etiopatogénesis es todavía desconocida. Este trabajo describe la ocurrencia de pododermatitis en una gata sin raza definida, con tres años de edad, atendida en el Hospital Veterinario de la FMVZ/Unesp-Botucatu. El animal presentaba edema y eritema en las almohadillas hacía un mes. La biopsia de las almohadillas reveló proceso dérmico difuso intenso, compuesto básicamente por células plasmáticas con algunos corpúsculos de Russell, en medio de macrófagos y algunos focos de exudado neutrofílico, lo que permitió el diagnóstico de pododermatitis plasmacítica. Se llevó a cabo tratamiento con 25mg de doxiciclina cada 24 horas, por vía oral. Se obtuvo cura clínica a partir de la cuarta semana, sin embargo, se optó por mantener el medicamento por dos semanas más. Después de dos años de observación, no hubo recidivas, demostrando la eficiencia del tratamiento mencionado. Palabras clave: gatos, dermatopatía, terapia

MV, profa. subst. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu mege@uol.com.br

Clínica Veterinária, n. 82, p. 78-82, 2009

Introdução A pododermatite plasmocitária felina é uma doença rara 1-4, cuja etiopatogenia é desconhecida 5-8. Entretanto, a resposta à terapia imunossupressiva, particularmente a altas doses de glicocorticoides, sugere uma reação imunomediada 9-11. Essa relação com o sistema imune é questionável pois, além de localizada, responde a intervenção cirúrgica, o que nos faz crer que provavelmente há o envolvimento de outros fatores em sua patogenia 12,13. Alguns autores pesquisaram a presença de agentes infecciosos na pododermatite plasmocitária felina, porém os resultados negativos reforçaram a ideia de que, na maioria dos gatos, a doença é idiopática e autoimune 8. A doença é caracterizada clinicamente por edemaciação e amolecimento dos coxins 1-4, ocorrendo também ulcerações, infecção secundária, dor e linfoadenopatia 8,14. Alguns gatos apresentam, 78

associados, estomatite plasmocitária, títulos de anticorpos antinucleares, glomerulonefrite e amiloidose renal 15,16. Os diagnósticos diferenciais dessa doença incluem infecções, neoplasias, complexo granuloma eosinofílico e as dermatopatias autoimunes, como pênfigo e lúpus eritematoso 4. A suspeita diagnóstica da pododermatite plasmocitária felina é feita com base na história e no exame clínico e citológico, sendo confirmada pela histopatologia 17-19. A biópsia e a histopatologia dos coxins afetados revelam tipicamente uma infiltração da derme e do tecido subcutâneo por células inflamatórias, principalmente por plasmócitos 2-4,15, podendo estes encontrar-se degenerados, quando são chamados então de corpúsculos de Russell 20. Os tratamentos recomendados para a pododermatite plasmocitária felina incluem desde a terapia imunossupressora 9

até a remoção cirúrgica dos coxins acometidos 12,13. Devemos ponderar sempre que a terapia imunossupressora pode levar a sérios efeitos colaterais e que a intervenção cirúrgica é muito invasiva e mutilante 5. Alguns animais podem apresentar remissão espontânea das lesões, enquanto outros apresentam uma exacerbação sazonal da doença 1. As tetraciclinas, por apresentar efeitos imunomodulatórios em muitas espécies 21-23, são usadas para o tratamento de dermatopatias imunomediadas em seres humanos 24 e em animais 25,26. Há relatos de casos em que a terapia realizada com doxiciclina – um antibiótico efetivo contra diversos agentes infecciosos dos gatos – teve resultados eficazes 27. Se se considerar a pododermatite plasmocitária uma doença de característica autoimune, como sugerido pela sua resposta a glicocorticoides, os

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Figura 1 - Coxim metatarsiano com aumento de volume, áreas de coloração arroxeada e descamação. Há estriamentos na superfície do coxim, resultantes do aumento de volume e da descamação

Karin Botteon

Relato de caso Foi atendida no Hospital Veterinário da FMVZ/Unesp-Botucatu uma gata de três anos de idade, sem raça definida, apresentando edema de coxins plantares e palmares com um mês de evolução. Não foi relatada a presença de prurido ou claudicação. O estado geral do animal era bom, não sendo notada nenhuma alteração sistêmica, o que foi corroborado pelo exame físico geral, cujos parâmetros estavam dentro dos padrões de normalidade.

No exame dermatológico observaram-se lesões apenas nos coxins, que apresentavam aumento de volume, áreas de eritema e hematomas, além de descamação leve. Havia ainda estriamentos na superfície dos coxins, resultantes do aumento de volume e da descamação (Figuras 1 e 2). Apesar de o exame físico geral apontar para a normalidade, foram realizados hemograma e dosagem da creatinina sérica, para avaliar a possibilidade de hipoxia e de infecções bacterianas ou fúngicas, além de possível acúmulo de compostos nitrogenados. Foram coletados pelos da região próxima aos coxins, para a realização de cultura fúngica. Testou-se também para FIV e Felv. Todos os resultados foram considerados normais ou negativos. Com o intuito de firmar diagnóstico, o animal foi submetido a uma anestesia de curta duração para a realização de uma biópsia incisional com utilização de punch de 8mm. Foram coletados três fragmentos – dos coxins palmar esquerdo, plantar direito e plantar esquerdo –,

Karin Botteon

relatos de resposta à doxiciclina se justificarão devido aos efeitos imunomodulatórios desse fármaco 6. Apesar de haver casos de animais que não respondem ao tratamento ou que apresentam recidiva 7, o prognóstico para a doença geralmente é bom, embora alguns casos requeiram um longo tempo de terapia de manutenção 28. Este trabalho tem como objetivo relatar a eficácia da terapia realizada num caso de pododermatite plasmocitária em um felino.

Figura 2 - Coxim metacarpiano esquerdo antes do tratamento


sendo o material enviado para análise histopatológica. Os cortes histológicos das amostras demonstraram pele com hiperceratose ortoceratótica e acantose regular (Figura 3), presença de intenso processo dérmico difuso composto basicamente por plasmócitos com alguns corpúsculos de Russell (Figuras 4 e 5), em meio a macrófagos e alguns focos com exsudato neutrofílico. Não havia presença de ácaros, fungos ou células neoplásicas na análise microscópica do material. Os achados da biópsia e da histopatologia dos coxins permitiram firmar o diagnóstico de pododermatite plasmocitária felina. Diante do diagnóstico, optou-se por tratar o animal com doxiciclina a (25mg, via oral, uma vez ao dia, por seis semanas), havendo melhora clínica total em quatro semanas (Figura 6 e 7). O tratamento foi mantido por mais duas

semanas e após acompanhamento de dois anos, o animal não apresentou recidiva do quadro clínico.

Viciany Erique Fabris

Viciany Erique Fabris

Discussão O animal do presente relato era uma gata fêmea, de três anos de idade e sem raça definida, refletindo a literatura, que, em um estudo de oito casos de pododermatite plasmocitária felina, não relatou a ocorrência de predisposição sexual, racial ou etária 1. A gata apresentava como sinais clínicos edemaciação, eritema e presença de pontos cianóticos nos coxins palmares e plantares, novamente refletindo a literatura, que relata que 100% dos animais apresentam edemaciação e amolecimento dos coxins, 50% eritema, 60% esfoliação e 20% ulceração 29. Há relatos da ocorrência de hemorragia crônica pelas almofadas plantares em gatos com pododermatite plasmocitária 30. O animal do presente caso apresentava a topografia lesional normalmente relatada pela literatura 1.

Figura 5 - Infiltração predominantemente plasmocitária. Notam-se plasmócitos típicos (A), binucleados (B) e plasmócitos contendo corpúsculos de Russell (célula Mott) (C). HE. 400x Karin Botteon

Figura 3 - Inflamação difusa, com a substituição do tecido adiposo do coxim pela infiltração inflamatória Viciany Erique Fabris

Figura 6 - Coxim metacarpiano esquerdo após quatro semanas de tratamento Karin Botteon

Figura 4 - Fotomicroscopia demonstrando intenso processo inflamatório dérmico difuso, composto basicamente por plasmócitos, alguns com binucleação(*) e corpúsculos de Russell (seta), em meio a macrófagos

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Figura 7 - Coxim metatarsiano esquerdo após quatro semanas de tratamento

Um estudo realizado com gatos com pododermatite plasmocitária revelou que 70% dos animais apresentavam trombocitopenia, 40% leucocitose, 30% linfopenia e 100% hipergamaglobulinemia 29. O gato do presente estudo não mostrou tais alterações hematológicas, com exceção da última, que não foi testada, pois a proteína total sérica encontrada estava dentro da normalidade. A suspeita diagnóstica advém do histórico, do exame físico e da citologia das lesões, porém a confirmação é feita por meio da histopatologia. Os cortes histológicos das amostras do caso atendido demonstraram intenso processo dérmico difuso composto basicamente por plasmócitos com alguns corpúsculos de Russell, em meio a macrófagos e alguns focos com exsudato neutrofílico, achados esses compatíveis com a literatura 17,19,31, permitindo o diagnóstico de pododermatite plasmocitária felina e demonstrando a importância desse exame. A infecção pelo vírus da leucemia felina tem sido apontada como um fator predisponente para a ocorrência da pododermatite plasmocítica em gatos 32,33, porém o animal do presente relato não apresentava tal infecção, o que pode reforçar a hipótese de etiologia imunemediada. Apesar de ser recomendada a realização de cultura bacteriana e fúngica dos tecidos afetados para excluir granulomas infecciosos nos gatos com pododermatite 8, optou-se por realizar somente a cultura fúngica, devido à ausência clara de indícios de infecção bacteriana e de granulomas. O exame micológico negativo, bem como a ausência de bactérias e fungos na histopatologia, demonstram o acerto da decisão. Ressaltamos ainda a ausência de ácaros e células neoplásicas no material colhido. Os tratamentos recomendados para a pododermatite plasmocitária felina são a terapia imunossupressora e/ou a remoção cirúrgica dos coxins acometidos 12,13. Por possuir múltiplos efeitos no sistema imune, como inibição da quimiotaxia de neutrófilos polimorfonucleares em seres humanos 34, supressão da fagocitose 35,36, da secreção de IL-1 por timócitos estimulados 37 e da proliferação de linfócitos 38, associada a histórico prévio de remissão total ou parcial dos sinais a) Cápsulas de 25mg - Farmácia de manipulação

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clínicos em mais de 50% dos casos de pododermatite plasmocitária 5,29, com menos efeitos adversos que os provocados pelos glicocorticoides, optamos pelo tratamento com a doxiciclina. Um estudo avaliou a eficácia do trata-mento da pododermatite plasmocitária felina com 25mg de doxiciclina monoidratada administrada a cada 24 horas por via oral durante três a oito semanas 5. Dos animais avaliados, 23% apresentaram remissão completa dos sinais com três a quatro semanas de tratamento, e, após seis a oito semanas de tratamento, 56% dos gatos apresentavam resposta parcial e 12% resposta total ao tratamento. O protocolo escolhido, além do custo acessível, mostrou-se totalmente efetivo e foi bem tolerado, devendo em nossa opinião ser recomendado como primeira opção de tratamento para gatos com pododermatite plasmocitária. O prognóstico para a doença geralmente é bom, apesar da possibilidade de a terapia de manutenção ser muito longa 28, o que foi observado neste caso. Considerações finais A pododermatite plasmocitária felina é uma doença rara, de etiopatogenia ainda desconhecida, caracterizada clinicamente por edemaciação e amolecimento dos coxins. Seu diagnóstico é feito por meio da histopatologia e tem como tratamentos recomendados a terapia imunossupressora e/ou a remoção cirúrgica dos coxins acometidos. Este relato demonstra que o uso de doxiciclina é eficaz e deve, em nossa opinião, ser a primeira escolha para o tratamento. Referências 01-PEREIRA, P. D. ; FAUSTINO, A. M. R. Feline plasma cell pododermatitis: a study of 8 cases. Veterinary Dermatology, v. 14, n. 6, p. 333337, 2003. 02-DROLET, R. ; BERNARD, J. Case report: plasma cell pododermatitis in a cat. Canadian Veterinary Journal, v. 25, p. 448-449, 1984. 03-GRUFFYDD-JONES, T. J. ; ORR C. M. ; LUCKE, V. M. Foot pad swelling and ulceration in cats: a report of five cases. Journal of Small Animal Practice, v. 21, p. 381-389, 1980. 04-MULLER, G. H. ; KIRK, R. W. ; SCOTT, D. W. Plasma cell pododermatitis. In: Small animal dermatology. 3. ed. Philadelphia: W.B. Saunders Co, p. 713-714, 1983. 05-BETTENAY, S. V. ; MUELLER, R. S. ; DOW, K. ; FRIEND, S. Feline plasmacytic pododermatitis: a prospective study of a novel treatment using systemic doxycycline. Veterinary Record, v. 152, p. 564-566, 2003.

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06-BETTENAY, S. V. ; LAPPIN, M. R. ; MUELLER, R. S. An immunohistochemical and polymerase chain reaction evaluation of feline plasmacytic pododermatitis. Veterinary Pathology, v. 44, p. 80-83, 2007. 07-MAN, M. D. What was your diagnosis? Plasma cell podoermatitis and plasma cell dermatitis of the nose apex in a cat. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 5, n. 4, p. 245-247, 2003. 08-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Plasmacytic pododermatitis. In: MULLER & KIRK, Small animal dermatology. 6. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Co. p. 1129-1130, 2001. 09-MEDLEAU, L. ; KASWAN, R. L. ; LORENZ, M. D. ; DAWE, D. L. Ulcerative pododermatitis in a cat: immunofluorescent findings and response to chrysotherapy. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 18, p. 449-451, 1982. 10-SCOTT, D. W. Feline dermatology 1979-1982: introspective retrospections. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 20, p. 537-563, 1984. 11-KOCH, H. ; SOHNS, A. ; SCHEMMEL, U. ; RIES, C. Plasmazelluläre pododermatitis bei einem Kater. Kleintierpraxis, v. 41, p. 853-858, 1996. 12-GUAGUERE, E. ; HUBERT, B. ; DELABRE, C. Feline pododermatoses. Veterinary Dermatology, v. 3, p. 1-12, 1992. 13-YAMAMURA, Y. A surgically treated case of feline plasma cell pododermatitis. Journal of the Japanese Veterinary Medical Association, v. 51, p. 669-671, 1998. 14-ORDEIX, L. Pododermatite plasmacellulare felina: caso clinico. Quaderni di dermatologia, v. 8, n. 2, 2003. 15-FOIL, C. S. Facial, pedal and other regional dermatoses. The Veterinary Clinics of North America-Small Animal Practice, v. 25, n. 4, p. 923-944, 1995. 16-MATA, R. P. ; VICH, C. Pododermatitis plasmacítica felina: caso clínico. Revista Electrónica de Veterinária REDVET, v. 6, n. 2, 2005. 17-GROSS, T. L. ; IHRKE, P. J. ; WALDER, E. J. ; AFFOLTER, V. K. Plasmacytic pododermatitis. In: Skin diseases of the dog and cat: clinical and histopathologic diagnosis. 2. ed. Oxford: Blackwell Science, p. 363-364, 2005. 18-WEIGLER B. J. ; BABINEAU, C. A. ; SHERRY, B. ; NASISSE, M. P. High sensitivity polymerase chain reaction assay for active and latent feline herpesvirus-1 infections in domestic cats. Veterinary Records, v. 140, p. 335-338, 1997. 19-YAGER, J. A. ; WILCOCK, B. P. Plasmacytic pododermatitis. In: Colour atlas and text of surgical pathology of the cat and dog. London: Wolfe Publishing, p. 366-368, 1994. 20-SAMPAIO, S. A. P. ; RIVITTI, E. A. In: Dermatologia. 3. ed., São Paulo: Artes Médicas, p. 1585, 2007. 21-LIU, J. ; KUSZYNSKI, C. A. ; BAXTER, B. T. Doxycycline induces Fas/Fas ligand- mediated apoptosis in Jurkat T lymphocytes. Biochemical and Biophysical Research Communications, v. 260, p. 562-567, 1999. 22-BELLAHSENE, A. ; FORSGREN, A. Effect of doxycycline on immune response in mice. Infection and Immunity, v. 48, p. 556-559, 1985. 23-GABLER W. L. ; SMITH, J. ; TSUKUDA, N. Doxycycline reduction of F-actin content of

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Uso do sildenafil no controle da hipertensão arterial pulmonar em cão revisão de literatura e relato de caso

Patrícia Pereira Costa Chamas MV, mestre, profa. adj. UNIP, UNIMES, UNICSUL pchamas@yahoo.com.br

Luciana da Silveira Bonilho Médica veterinária autônoma lu.bonilho@gmail.com

Lilian Caram Petrus MV, mestre ZOOLAB, PROVET, RK Diagnósticos lilipetrus@hotmail.com

Silmara Bonomi da Silva

Use of sildenafil in dog with pulmonary arterial hypertension - review and case report Uso del sidenafil para el control de la hipertensión arterial pulmonar en perro literatura y relato de caso Resumo: Hipertensão arterial pulmonar é o aumento anormal da pressão nas artérias pulmonares, cujas manifestações clínicas incluem taquipneia, distrição respiratória, síncopes e sinais de insuficiência cardíaca congestiva (ICC) direita. Para diagnóstico utiliza-se a mensuração, por ecodopplercardiografia, do fluxo regurgitante pelas valvas pulmonar e tricúspide, estimando-se de forma indireta os gradientes de pressão da artéria pulmonar. É importante a identificação das causas subjacentes, como ICC esquerda, tromboembolismo pulmonar ou doenças pulmonares crônicas, muitas vezes irreversíveis. Para controle do quadro pode-se utilizar citrato de sildenafil, inibidor da fosfodiesterase-5, que induz à vasodilatação arterial pulmonar mediada por óxido nítrico, melhorando as manifestações clínicas da doença. Unitermos: cardiologia, inibidores da fosfodiesterase, pressão arterial Abstract: Pulmonary arterial hypertension (PAH) is an abnormal increase in pulmonary arterial pressure, associated with clinical signs of tachypnea, respiratory distress, syncope and right-sided heart failure. Diagnosis of PAH relies on Doppler measurement of pulmonic and tricuspid regurgitation, used to indirectly assess pulmonary arterial pressure. It is important to search for underlying causes as left heart failure, pulmonary thromboembolism and chronic pulmonary disease, sometimes not readily reversible. Control of this condition is better achieved with sildenafil citrate, a type 5 phosphodiesterase inhibitor that produces nitric oxide-mediated vasodilatation, ameliorating clinical signs of pulmonary hypertension. Keywords: cardiology, phosphodiesterase inhibitors, arterial pressure Resumen: La hipertensión arterial pulmonar es el aumento anormal de la presión en las arterias pulmonares, cuyas manifestaciones clínicas incluyen taquipnea, dificultad respiratoria, síncopes y síntomas de insuficiencia cardíaca congestiva (ICC) derecha. Para el diagnóstico se utiliza la medición por ecocardiografía Doppler, mediante la evaluación del flujo regurgitante de las válvulas pulmonar y tricúspide, estimandose de forma indirecta los gradientes de presión de la arteria pulmonar. Es importante la identificación de las causas subyacentes, como la ICC izquierda, tromboembolismo pulmonar o enfermedades pulmonares crónicas, muchas veces irreversibles. Para el control del cuadro se puede utilizar el citrato de sildenafil, inhibidor de la fosfodiesterasa 5, que induce a la vasodilatación arterial pulmonar mediada por el óxido nítrico, mejorando las manifestaciones clínicas de la enfermedad. Palabras clave: cardiología, inhibidores de la fosfodiesterasa, presión arterial

Clínica Veterinária, n. 82, p. 84-92, 2009

INTRODUÇÃO A hipertensão arterial pulmonar (HAP) é definida como o aumento anormal da pressão sanguínea no sistema vascular pulmonar, observando-se pressão arterial pulmonar sistólica e média, respectivamente, superiores a 30 e 20mmHg à cateterização cardíaca, na ausência de estenose pulmonar 1-5. Esse aumento da pressão arterial pulmonar é uma condição que ocorre esporadicamente como uma doença idiopática, quando é denominada HAP primária; mais frequentemente, ocorre como complicação de outras doenças cardio84

vasculares ou respiratórias, chamada de HAP secundária. A HAP é uma condição clínica frequentemente associada a mau prognóstico 6,7. A HAP secundária é documentada, em medicina veterinária, em associação a algumas doenças cardíacas congênitas que causam desvios de sangue da esquerda para a direita, como persistência de ducto arterioso e defeitos septais ventriculares 5,8. Animais adultos com insuficiência valvar mitral, dirofilariose, cardiomiopatias ou doença pulmonar crônica também podem desenvolver HAP secundária 1.

MV, mestre Hospital Veterinário - UNIP bonomisilmara@hotmail.com

Em um estudo, a média de idade quando foi feito o diagnóstico de HAP era de 5,2 anos e a maioria dos cães afetados eram fêmeas não castradas. Até o presente momento não foi identificada predisposição racial para HAP 9. Pressão arterial sanguínea A pressão arterial (PA) é a força que o sangue exerce sobre qualquer área da parede de um vaso sanguíneo 10-13. A PA é o produto do débito cardíaco e da resistência periférica total, expressa pela fórmula: PA = débito cardíaco (DC) x resistência periférica total (RPT) 14-16. O DC é a velocidade com que o sangue é bombeado pelo coração (mL ou L/minuto) e a RPT é a resistência total dos vasos, desde a origem da aorta até as veias que desembocam no átrio direito 11,14. O valor máximo medido durante o ciclo de pressão cardíaca representa a pressão arterial sistólica (PAS), enquanto o valor mínimo refere-se à pressão arterial diastólica (PAD) 10,16. A pressão arterial média (PAM) representa a média da pressão durante o ciclo cardíaco e está em algum ponto entre os níveis de pressão sistólica e diastólica 13-15,17. A pressão normal da artéria pulmonar de cães é de 15 a 25mmHg para pressão sistólica, de 5 a 10mmHg para pressão diastólica e de 10 a 15mmHg para pressão média 18,19. Determinantes normais da pressão sanguínea A PA é resultante de uma série de mecanismos reguladores que trabalham de forma inter-relacionada, com a única e

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primordial função de manter adequada a perfusão de todo o organismo 12. O sistema circulatório é influenciado por neurotransmissores simpáticos e parassimpáticos, que agem nas células musculares cardíacas, nas células endoteliais e nas células musculares lisas dos vasos sanguíneos. A ativação simpática leva ao aumento da frequência cardíaca, do volume sistólico e do débito cardíaco, bem como à vasoconstrição de arteríolas e veias abdominais, aumentando a resistência vascular periférica e o fluxo sanguíneo para os órgãos nobres 17. A ativação parassimpática leva à diminuição da frequência e do débito cardíaco, e a vasodilatação secundária à síntese de óxido nítrico 11. Os fatores envolvidos no controle da pressão sanguínea podem ser de ação rápida ou agir a longo prazo 20. Os mecanismos de ação rápida para regulação da PA são: - retroalimentação pelos barorreceptores do arco aórtico e dos seios carotídeos, que regulam a atividade simpática de acordo com as mudanças de pressão que ocorrem nos vasos durante a sístole cardíaca 12,13,15,17,20; - quimiorreceptores dos corpos carotídeos e aórticos, que aumentam a pressão sanguínea por via simpática quando ocorre hipoxemia 12,20; - secreção de epinefrina e de norepinefrina, que aumentam a frequência e a força da contração cardíaca e causam vasoconstricção periférica 20; - secreção de hormônio antidiurético (ADH ou vasopressina), que regula o volume plasmático, retendo água por ação nos túbulos renais 12; - secreção de substâncias vasodilatadoras pelo endotélio vascular, como óxido nítrico e prostaciclinas, e vasoconstritoras, como a endotelina 12; - liberação do peptídeo natriurético atrial (ANP), que apresenta propriedades

natriuréticas, vasodilatadoras e inibidoras da renina 12,20; - ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA), que produz vasoconstrição arteriolar, aumentando a pressão arterial, e secreção de aldosterona pelo córtex renal, que diminui a excreção de sódio e água pelos rins 11,20. Circulação pulmonar normal A circulação sanguínea pulmonar compreende a quantidade de sangue, por unidade de tempo, que passa das artérias às veias pulmonares. A circulação pulmonar é um sistema de baixa pressão, baixa resistência e alta capacitância 18,19. O trabalho realizado pelo ventrículo direito é menor do que o realizado pelo esquerdo, devido à baixa pressão da circulação pulmonar 5. Esse circuito de baixa pressão é mantido pela complacência pulmonar, pela resistência das vias aéreas e pela pressão negativa intrapleural 18. ETIOLOGIA O sistema vascular pulmonar é vulnerável a várias condições mórbidas que podem precipitar hipertensão arterial pulmonar (HAP). A hipertensão pulmonar pode ser classificada como primária ou secundária. A primária ou idiopática é aquela de causa desconhecida, considerada rara em cães 3,21. A secundária frequentemente resulta, em pequenos animais, das seguintes condições: sobrecarga na circulação sanguínea pulmonar, observada nos casos de desvios cardíacos de certas cardiopatias congênitas; elevação crônica da pressão atrial esquerda, que ocorre na insuficiência cardíaca congestiva esquerda (ICCE) por doença valvar mitral avançada; ou aumento da resistência vascular pulmonar, observada nos casos de dirofilariose, tromboembolismo pulmonar e enfermidades pulmonares graves 1,18,19.

A OMS classifica, em seres humanos, a hipertensão pulmonar em cinco grupos de acordo com sua etiologia 22: - grupo 1: HAP primária (idiopática), familiar e associada a outras condições (shunts sistêmico-pulmonares congênitos, esclerose sistêmica, Lupus eritematoso sistêmico, infecção por HIV, anemia falciforme, drogas e toxinas, etc....); - grupo 2: hipertensão pulmonar secundária a doenças do coração esquerdo; - grupo 3: hipertensão pulmonar associada a doenças respiratórias e/ou hipoxemia (incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica); - grupo 4: hipertensão pulmonar por doença trombótica e/ou embólica crônica; - grupo 5: linfangiomatose, histiocitose de células de Langerhans e sarcoidose levando ao desenvolvimento de hipertensão pulmonar. PATOGENIA A pressão sanguínea pulmonar é, em condições normais, em torno de um oitavo da pressão sistêmica. Quando ocorre redução da área transversal dos vasos pulmonares ou elevação do fluxo sanguíneo pulmonar, desenvolve-se aumento da resistência vascular pulmonar (RVP), e a pressão pulmonar média chega a um quarto ou mais do valor sistêmico, estabelecendo-se o quadro de hipertensão pulmonar. A disfunção das células endoteliais das artérias de médio calibre que ocorre na hipertensão pulmonar acarreta a redução da produção de agentes vasodilatadores (óxido nítrico e prostaciclinas) e aumento de mediadores responsáveis por vasoconstrição, como a endotelina, além da produção de fatores de crescimento e citocinas que induzem à proliferação da musculatura lisa vascular, causando espessamento das camadas média e íntima e menor distensibilidade dos vasos, com

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consequente estreitamento do lúmen vascular. Nas artérias elásticas principais desenvolvem-se ateromas semelhantes àqueles da aterosclerose sistêmica. Nas artérias e arteríolas menores ocorre hipertrofia e espessamento da camada média e reduplicação das membranas elásticas interna e externa, sendo que esse espessamento da parede pode exceder o diâmetro do lúmen e obliterar o vaso 23. O desenvolvimento de HAP depende da existência de uma ou mais mudanças na fisiologia vascular pulmonar, entre elas, sobrecarga na circulação sanguínea pulmonar, aumento contínuo da pressão atrial esquerda, elevação na resistência vascular pulmonar ou aumento da viscosidade sanguínea 5. Sobrecarga na circulação sanguínea pulmonar Em animais com grandes desvios cardíacos da esquerda para a direita, como nos casos de persistência de ducto arterioso (PDA), defeito septal atrial e defeito septal ventricular, a HAP pode ocorrer simplesmente por conta de aumento na circulação sanguínea pulmonar, excedendo a capacidade do leito vascular pulmonar 5,19. A exposição prolongada a essa situação pode resultar em aumento permanente da resistência vascular pulmonar e consequente desvio de sangue da direita para a esquerda (ex.: PDA reverso) 18,19. O débito cardíaco elevado por diversas causas, como anemia, exercício e febre, pode, teoricamente, provocar HAP. Entretanto, a hipertensão nessas condições é geralmente leve, não acarretando manifestações clínicas 19. Aumento da pressão atrial esquerda É frequentemente referido como obstrução pós-capilar, que leva à hipertensão venosa pulmonar. As causas mais comuns dessa obstrução pós-capilar incluem doença crônica da valva mitral e cardiomiopatias. O aumento da pressão atrial esquerda também pode ocorrer em outras condições, incluindo estenose mitral e lesão valvar mitral congênita 1,5. Aumento da resistência vascular pulmonar As doenças do parênquima pulmonar, a doença pulmonar obstrutiva ou o tromboembolismo pulmonar levam à 86

vasoconstrição hipóxica e ao consequente aumento da RVP. Essa hipóxia crônica ou intermitente, causada por doenças respiratórias do parênquima pulmonar (bronquite crônica, bronquiectasia e fibrose pulmonar) e extraparenquimais (paralisia laringeal e colapso traqueal), leva a impactos significativos sobre a função vascular pulmonar, alterando a morfologia vascular pulmonar. Denomina-se cor pulmonale a cardiopatia hipertensiva pulmonar relacionada a doenças primárias do pulmão, na qual ocorrem hipertrofia e/ou dilatação do ventrículo direito 1,5,18,24. A complacência pulmonar diminuída por essas enfermidades resulta em maior resistência para a circulação de ar, inflamação pulmonar com liberação de mediadores vasoativos e diminuição do leito capilar pulmonar, resultando em pressão arterial pulmonar aumentada 5. Também o tromboembolismo pulmonar – obstrução de vasos pulmonares que ocorre em condições de hipercoagulabilidade e estase circulatória – pode levar a HAP quando houver oclusão de 25 a 50% da artéria pulmonar 1,25,26. O amplo sistema vascular de baixa pressão dos pulmões é local comum de alojamento de êmbolos, até por ser o primeiro leito vascular de passagem dos trombos formados na rede venosa sistêmica. Algumas doenças sistêmicas que levam ao desenvolvimento de tromboembolismo são: hiperadrenocorticismo, síndrome nefrótica, pancreatite, policitemia e anemia hemolítica imunomediada 5. Na dirofilariose, pode ocorrer HAP devido a doença vascular obstrutiva, embolização de vermes mortos e inflamação parenquimal crônica com fibrose pulmonar. A oclusão das artérias causa mudanças proliferativas na camada íntima das mesmas e lesão vascular irreversível, resultando em hipertensão pulmonar 1,5. Raramente, o aumento da RVP também pode ocorrer secundariamente a hiperviscosidade sanguínea causada por doenças que levam à hipoxemia e à policitemia, como a tetralogia de Fallot. Quando o hematócrito excede 55% pode ocorrer HA, e a correção da policitemia pode reduzir a hipoxemia e a quantidade de desvio direito-esquerdo 18,19. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Geralmente, as manifestações clínicas

de HAP se desenvolvem tardiamente, pois a HAP leve a moderada é, na maioria dos casos, clinicamente silenciosa. Os animais podem ser assintomáticos ou apresentar sinais relacionados à doença de base, normalmente pulmonar ou cardíaca, também observados na avaliação de animais com doença pulmonar crônica ou insuficiência cardíaca direita por outras causas 8,19,27. A manifestação clínica mais comumente observada é a dispneia, mas também podem ocorrer síncopes e sinais de insuficiência cardíaca direita, como fadiga, ascite e intolerância ao exercício 4,18,19. Outros sinais respiratórios não específicos – como taquipneia, tosse e, ocasionalmente, hemoptise – também são comuns, mas normalmente devido à anormalidade respiratória primária 19. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de HAP compreende o histórico do animal, resultados do exame físico e exames complementares, como o ecodopplercardiograma 5. Para estabelecimento preciso da presença de HAP, a pressão na artéria pulmonar deve ser diretamente mensurada por cateterização cardíaca ou indiretamente estimada por ecodopplercardiografia 19. Exame físico Ruídos pulmonares anormais, como sibilos e crepitações, além de sopros cardíacos, são achados comuns na auscultação. O sopro cardíaco pode ter origem na valva mitral, na tricúspide ou, mais raramente, na aórtica ou na pulmonar 18,27. O sopro da insuficiência mitral é comum em animais com doença valvar ou cardiomiopatia. Hiperfonese e desdobramento da segunda bulha cardíaca podem ser auscultados quando a valva pulmonar estiver fechando sob condições de alta pressão pulmonar 1,8. Outras anormalidades que podem ser observadas no exame físico incluem ascite, cianose e distensão da veia jugular 27. Exames laboratoriais É recomendada a realização de exames laboratoriais como hemograma, dosagens bioquímicas e sorologia para dirofilariose, quando se suspeita de HAP 1. Em relação ao hemograma, a presença de células vermelhas jovens e policitemia absoluta são indicadores de hipóxia

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contínua 27. Quando há tromboembolismo pulmonar, a contagem de plaquetas pode estar diminuída e os produtos da degradação da fibrina, aumentados 18. A bioquímica sérica estabelece o diagnóstico de condições que favorecem o tromboembolismo pulmonar, como hiperadrenocorticismo, doença autoimune, pancreatite, coagulação intravascular disseminada e neoplasias 27. A hemogasometria revela hipoxemia ou acidose como fator contribuinte para HAP 1. A sorologia para dirofilariose, que detecta antígenos de vermes adultos, é recomendada para animais que vivem em áreas endêmicas ou que viajam para áreas nessas condições 27. Diagnóstico por imagem As radiografias torácicas podem estar normais ou mostrar anormalidades não patognomônicas 8,27. Normalmente, observa-se aumento no calibre da artéria pulmonar principal e em seus ramos, bem como aumento do ventrículo direito. Às vezes, visualiza-se edema pulmonar não cardiogênico, com sua típica distribuição caudo-dorsal 19,27. Na dirofilariose observa-se ventrículo direito dilatado e artérias pulmonares dilatadas e tortuosas 18. No tromboembolismo pulmonar, pode-se identificar dilatação da artéria pulmonar, cardiomegalia e efusão pleural, embora essa possibilidade não seja excluída por radiografias normais 26,27. A ecodopplercardiografia proporciona um meio não invasivo de avaliar a pressão arterial pulmonar e pode ser um indicador mais sensível de envolvimento cardíaco direito, particularmente nos gatos 5,8. As principais alterações ecocardiográficas observadas na hipertensão pulmonar são: dilatação ou hipertrofia do ventrículo direito, insuficiência da valva tricúspide, aumento do diâmetro da artéria pulmonar, diminuição do tamanho do ventrículo esquerdo (com função ventricular normal), aumento da espessura de septo e parede livre do ventrículo esquerdo (pseudo-hipertrofia), e prolapso das valvas tricúspide e pulmonar 18. Na HAP congênita, normalmente a ecocardiografia demonstra hipertrofia concêntrica (aumento da espessura da parede) do ventrículo direito de moderada a severa, com ou sem aumento do átrio direito. Quando a HAP é adquirida, a 88

resposta do ventrículo direito normalmente inclui hipertrofia excêntrica (dilatação) e concêntrica do ventrículo direito 19. Deve-se ter cuidado para diferenciar a HAP de outras causas de mudanças estruturais do coração direito, tais como estenose pulmonar ou displasia da valva tricúspide 5. Na ecodopplercardiografia, a equação modificada de Bernoulli ( Pressão arterial pulmonar = 4 x velocidade 2) converte a velocidade mensurada do jato de insuficiência tricúspide ou pulmonar para uma avaliação da pressão arterial pulmonar, permitindo, assim, a classificação da HAP em três graus de severidade: leve, moderada ou importante 5. Portanto, a avaliação com doppler da regurgitação pelas valvas tricúspide e pulmonar pode ser usada para acessar indiretamente a pressão arterial pulmonar sistólica e diastólica, respectivamente. Essas estimativas não invasivas da pressão arterial pulmonar são fortemente relacionadas com as mensurações invasivas realizadas em seres humanos. No entanto, esse método possui algumas limitações, como a inexistência de padronização do limiar de normalidade para a pressão arterial pulmonar, uma vez que esta pode aumentar em certas condições fisiológicas como altitude e estado atlético, ausência de regurgitação tricúspide ou pulmonar em casos de HAP discreta e presença comum desses achados em cães saudáveis. Devido a essas limitações, recomenda-se também, para o diagnóstico da HAP, a realização do ecocardiograma com doppler tecidual (tissue doppler), que fornece avaliação indireta com maior sensibilidade e especificidade da elevação da pressão arterial pulmonar sistólica em cães. O doppler tecidual avalia a função miocárdica sistólica e diastólica do ventrículo direito, detectando inclusive elevações discretas da pressão arterial pulmonar 6. Eletrocardiograma O eletrocardiograma (ECG) não é um exame sensível para o diagnóstico de HAP, podendo estar normal ou revelar ondas P de maior amplitude (P pulmonale) – sugerindo sobrecarga atrial direita – e ondas Q profundas e desvio do eixo elétrico para a direita, sugerindo sobrecarga ventricular direita. Também podem ocorrer alterações na onda T e

segmento ST por hipóxia miocárdica. Raramente se observam arritmias e distúrbios de condução 18,19. Cateterização cardíaca O diagnóstico definitivo de HAP exige mensuração da pressão cavitária cardíaca direita e pressão dos capilares pulmonares, por meio de cateterização cardíaca. No entanto, é possível o estabelecimento do diagnóstico apenas pela avaliação ecodopplercardiográfica 5,19. Na cateterização, o cateter de SwanGanz é direcionado da veia jugular até o átrio e o ventrículo direitos e a pressão é medida durante a expiração, evitando-se interferência da pressão intratorácica negativa nos valores determinados 1. Diagnóstico diferencial Deve-se fazer um diagnóstico diferencial de insuficiência cardíaca esquerda sem hipertensão pulmonar, colapso de traqueia, doença cardíaca primária direita, pneumopatia significativa sem hipertensão pulmonar, dirofilariose cardíaca, pneumotórax, piotórax, hemotórax e paralisia laringiana 2. TRATAMENTO Sempre que possível, o tratamento deve ser direcionado à eliminação da causa primária, nos casos de HAP secundária 8. Existem poucos dados sobre o tratamento da HAP em medicina veterinária, e a maioria das recomendações são extrapoladas da medicina humana ou de modelos animais usados para doença humana 27. O tratamento da HAP primária em humanos pode incluir administração de oxigênio, digoxina, adenosina, infusão de prostaciclina, óxido nítrico e bloqueadores dos canais de cálcio. No tratamento da HAP secundária podem ser utilizados oxigênio, anticolinérgicos, agonistas -adrenérgicos, teofilina, corticosteroides, digitálicos, óxido nítrico e I-ECA ou outros vasodilatadores 3. A administração de oxigênio, potente vasodilatador pulmonar, alivia a hipoxemia arterial e atenua a HAP 27. A teofilina, droga de ação inotrópica positiva, vasodilatadora e broncodilatadora, melhora a função ventricular direita em seres humanos com doença pulmonar obstrutiva crônica e HAP. A terbutalina é um agonista -adrenérgico, que diminui a pressão sistêmica e pulmonar 18,27.

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A digoxina é eficaz em prevenir redução da contratilidade do ventrículo direito. Os corticoides, como a prednisolona, podem ser úteis em algumas doenças do parênquima pulmonar, por seu efeito anti-inflamatório e antifibrótico 18,27. Na HAP avançada, o uso de diuréticos pode auxiliar a diminuir a pressão ventricular esquerda. Porém, em cães com doença pulmonar crônica, eles podem desidratar o muco bronquial, piorando a troca de gases 27. O uso de anticoagulantes (heparina e warfarina) é indicado quando a microtrombose é a causa subjacente da HAP, prevenindo a formação de novos trombos 5,18,26. Podem ser usados vasodilatadores por infusão intravenosa, como a prostaciclina, a adenosina e o óxido nítrico, e por via oral, como a nifedipina e o diltiazem. Os I-ECA são benéficos por sua propriedade vasodilatadora e por inibir o remodelamento vascular pulmonar 18,27. Os inibidores da fosfodiesterase-5 (sildenafil, tadalafil e vardenafil) são medicamentos que inibem a isoforma tipo 5 da fosfodiesterase, enzima localizada nas células musculares lisas das artérias do pênis, diversas vísceras e plaquetas 28. Essa enzima é responsável pela degradação do monofosfato cíclico de guanosina (GMPc), produzido pela ativação do óxido nítrico liberado pelas células endoteliais; quando há inibição dessa enzima, ocorre acúmulo de GMPc, que leva à diminuição do cálcio intracelular nas células da musculatura lisa dos vasos, o que acarreta a vasodilatação 29. Existem sete tipos diferentes de fosfodiesterases, porém o citrato de sildenafil age inibindo seletivamente a fosfodiesterase-5, resultando em vasodilatação arterial pulmonar e consequente diminuição da pressão e da resistência vascular pulmonar, embora também tenha poder inibitório em menor grau sobre as outras isoenzimas da fosfodiesterase. Esse fármaco pode ainda ter efeito sobre o remodelamento vascular. A metabolização do sildenafil é hepática, e sua excreção é predominantemente fecal (80%) e apenas 13% urinária; embora seja bem tolerado, alguns efeitos colaterais são relatados em humanos, como os relacionados à vasodilatação (rubor, cefaleia, tontura, hipotensão comum e postural), distúrbios gastrintestinais, visuais ou musculoesqueléticos 29.

Em um estudo, apenas 18% dos cães que receberam sildenafil para tratamento da HAP apresentaram efeitos colaterais atribuídos a esse medicamento, como letargia, sonolência e descarga nasal serosa; tais efeitos foram discretos e não levaram à descontinuação da terapia. A dose recomendada do sildenafil em cães é de 0,5 a 1mg/kg, duas ou três vezes ao dia 4,5,7. Alguns estudos têm sido realizados com o uso desse medicamento para controlar a HAP em pacientes humanos e em cães. Em um estudo, no qual ele foi utilizado em 44 pessoas com hipertensão pulmonar de diversas etiologias, observou-se melhora da capacidade funcional dos pacientes (mensurada com testes de caminhada) e dos parâmetros hemodinâmicos, com boa tolerância ao medicamento; as ações benéficas iniciaram-se com duas semanas de tratamento e eram dose-dependentes 30. O sildenafil foi utilizado durante quatro anos no tratamento de um cão com HAP secundária a cardiopatia congênita, observando-se que o paciente teve excelente qualidade de vida durante esse período, sem apresentar efeitos colaterais 31. Em outro estudo em que o medicamento foi utilizado para tratar a HAP em treze cães, observou-se tempo médio de sobrevida de 91 dias e diminuição média de 16,5mmHg na pressão arterial pulmonar, com melhora dos sinais clínicos na maioria dos animais, sem efeitos colaterais 4. O uso do sildenafil em 22 cães com evidências clínicas e ecocardiográficas de HAP não diminuiu significantemente a velocidade de regurgitação valvar tricúspide, porém resultou em melhora clínica e maior qualidade de vida dos cães afetados (maior tolerância a exercícios, melhora do padrão respiratório, etc...). Embora muitos desses animais também recebessem outros medicamentos para tratamento das doenças concomitantes (PDA reverso, doença respiratória ou doença valvar mitral), os autores relacionaram a melhora clínica dos pacientes com o início do tratamento com sildenafil. No entanto, afirmam que o número de animais estudados foi pequeno, pois muitos não retornaram para reavaliação, necessitando-se de novos estudos para corroborar tal correlação 7. Pode-se também realizar tratamentos cirúrgicos em casos de HAP, como 18:

- septostomia atrial: abre-se o forâmen oval, melhorando o enchimento do ventrículo esquerdo e elevando o débito cardíaco. No entanto, esse procedimento pode causar edema pulmonar por sobrecarga de volume; - tromboendarterectomia pulmonar: utilizada na tromboembolia crônica, podendo ser realizada por cateterismo; - cirurgia de derivação: ligadura da artéria pulmonar ao átrio esquerdo, para baixar a pressão no ventrículo direito. Em alguns casos de HAP em humanos, realiza-se o transplante pulmonar, sem o qual o prognóstico seria reservado 23. PROGNÓSTICO O prognóstico da HAP depende da reversibilidade da doença subjacente e da extensão da lesão nas artérias pulmonares 8. A sobrevida de cães afetados não é alta e o prognóstico na maioria das vezes é ruim, devido ao desenvolvimento de sinais congestivos, mesmo com o uso do sildenafil 5,21. O acompanhamento com radiografias, ecocardiogramas e hemogasometria seriados pode fornecer indicações da progressão da doença8. RELATO DE CASO Relata-se o caso de um animal da espécie canina, uma fêmea da raça pinscher de quinze anos de idade, com histórico de tosse seca frequente, diuturna, com evolução de aproximadamente dois meses, sem descrição de outras manifestações clínicas (Figura 1). No exame físico detectava-se sopro sistólico em foco mitral de grau III/VI, sem outros achados relevantes. Foram realizados exames radiográficos do tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma. A radiografia do tórax revelou discreta cardiomegalia, desvio dorsal da traqueia e campos pulmonares de padrão misto (intersticial difuso e brônquico), com discreta calcificação das paredes brônquicas. O eletrocardiograma denotava ritmo sinusal normal, sem quaisquer alterações dignas de nota. No ecodopplercardiograma, notou-se espessamento dos folhetos da valva mitral e insuficiência valvar mitral de grau leve, com discreta repercussão hemodinâmica no átrio esquerdo, além de aumento discreto do ventrículo direito, sem alterações nos fluxos

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Patrícia Pereira Costa Chamas

valvares tricúspide ou pulmonar. Diante desses achados, optou-se por tratar o animal com antitussígeno de ação periférica (dropropizina a) para alívio da tosse, atribuída à provável existência de doença respiratória do parênquima pulmonar (bronquite crônica ou fibrose pulmonar) ou extraparenquimal, como colapso traqueal. Após cinco meses de tratamento, o animal apresentava persistência das manifestações clínicas e o proprietário referia ocorrência de um episódio de síncope. Nessa ocasião, a radiografia do

Patrícia Pereira Costa Chamas

Silmara Bonomi da Silva

Figura 1 - Cão com hipertensão arterial pulmonar

Figura 2 - Ecocardiografia modo M do animal da figura 1, demonstrando aumento ventricular direito e septo interventricular retificado, devido á hipertensão arterial pulmonar

Figura 3 - Ecodopplercardiografia do animal da figura 1, demonstrando insuficiência valvar tricúspide de grau moderado secundária à hipertensão arterial pulmonar

tórax mostrava padrões semelhantes aos anteriores e o ecodopplercardiograma revelava aumento moderado de ventrículo direito, septo interventricular retificado, dilatação de tronco de artéria pulmonar e insuficiência valvar tricúspide de grau moderado (velocidade = 4,2m/s e gradiente de pressão = 70,6mmHg), confirmando o diagnóstico de hipertensão arterial pulmonar (Figuras 2 e 3). Por ocasião desse exame, observou-se não ter havido evolução do quadro de insuficiência valvar mitral, descartandose a possibilidade de que esse fosse o fator desencadeante da HAP. Após alguns dias, o animal apresentou mais dois episódios de síncopes e ascite e então foram prescritos diuréticos (furosemida b e espironolactona c), benazepril d e sildenafil e (0,5mg/kg BID). Após oito meses com esse tratamento, realizou-se um ecodopplercardiograma, que revelou

não haver progredido o quadro de hipertensão pulmonar, permanecendo estacionados o aumento ventricular direito e a regurgitação tricúspide. O animal sobreviveu por treze meses recebendo esse tratamento, período no qual houve melhora clínica do quadro, sem presença das manifestações clínicas anteriormente descritas. DISCUSSÃO O citrato de sildenafil vem sendo utilizado em seres humanos e em cães no tratamento de HAP primária ou secundária, observando-se, a partir do início de sua utilização, melhora na qualidade de vida do paciente e ausência quase completa de efeitos colaterais. a) Vibral ® - Solvay Farma, Assis, SP b) Lasix ® - SANOFI AVENTIS, São Paulo, SP c) Aldactone ® - Pfizer, São Paulo, SP d) Fortekor ® - Novartis, São Paulo, SP e) Viagra ® - Solvay Farma, Assis, SP

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Embora a melhora do quadro clínico do animal do presente relato não possa ser atribuída exclusivamente ao uso do sildenafil, uma vez que ele recebia outros medicamentos, pôde-se observar que o início da remissão das manifestações clínicas coincidiu com a introdução desse medicamento no protocolo terapêutico utilizado, à semelhança do que foi relatado por outros autores 4,7,30,31. CONSIDERAÇÕES FINAIS As informações sobre HAP em medicina veterinária ainda são escassas. Os animais acometidos são levados à clínica devido a tosse, intolerância ao exercício ou dificuldade respiratória, e quando encaminhados para ecodopplercardiografia e radiografias torácicas, a HAP é frequentemente detectada associada a doenças primárias pulmonares crônicas ou a cardiopatias congênitas ou adquiridas. Embora o diagnóstico definitivo de HAP seja concluído por cateterização cardíaca, a ecodopplercardiografia mostra-se um método não invasivo de grande utilidade para esse fim. Os protocolos de tratamento de HAP são extrapolados da medicina humana, sendo que o fármaco mais usado atualmente é o citrato de sildenafil – que, embora não leve à cura da doença, auxilia no controle das manifestações clínicas, como foi observado no caso relatado. O diagnóstico precoce e a eliminação da enfermidade subjacente são cruciais no controle da HAP secundária, que é o tipo mais frequente de hipertensão arterial pulmonar em cães. REFERÊNCIAS 01-JOHNSON, L. Diagnosis of pulmonary hypertension. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 14, n. 4, p. 231-236, 1999. 02-SCHROPE, D. P. Hipertensão pulmonar. In: TILLEY, L. P. ; SMITH Jr. , F. W. K. Consulta veterinária em 5 minutos - espécies canina e felina. 2. ed. São Paulo: Manole, 2003. p. 826827. 03-PYLE, R. L. ; ABBOTT, J. ; MACLEAN, H. Pulmonary hypertension and cardiovascular sequelae in 54 dogs. The International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine, v. 2, n. 2, p. 99-109, 2004. 04-BACH, J. F. ; ROZANSKI, E. A. ; MACGREGOR, J. ; BETKOWSKI, J. M. ; RUSH, J. E. Retrospective evaluation of sildenafil citrate as a therapy for pulmonary hypertension in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 20, n. 5, p. 1132-1135, 2006.

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Fixação de fratura de tibiotarso com uso de pino intramedular e fios de aço de cerclagem em papagaioverdadeiro (Amazona aestiva) mantido em cativeiro domiciliar - relato de caso Tibiotarsal fracture repair by using intramedullary pin and cerclage in blue-fronted-amazon (Amazona aestiva) kept in domiciliary captivity: case report Aproximación de fractura de tibiotársica con clavo intra-medular y cerclaje en papagayo (Amazona aestiva) mantenido en cautiverio domiciliar: relato de caso Resumo: As lesões musculoesqueléticas são comuns nas aves, principalmente as fraturas. O método de reparo da fratura é determinado por vários fatores, tais como local da lesão, idade e tamanho da ave. Dentre os reparos cirúrgicos realizados em aves em geral, as duas técnicas mais comumente citadas na literatura são a fixação esquelética externa e o uso de pinos intramedulares. Relata-se o tratamento clinicocirúrgico de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) que apresentou fratura oblíqua transversa completa fechada no terço distal do tibiotarso esquerdo. Trinta dias após a realização do procedimento cirúrgico de osteossíntese com colocação de pino intramedular e fios de aço de cerclagem, o animal recuperou a atividade motora. O tratamento mostrou-se eficaz, pois permitiu a consolidação óssea e a recuperação completa das funções do membro fraturado. Unitermos: aves silvestres, osteossíntese, claudicação Abstract: Osteomuscular injuries are very common in birds, specially fractures. The best approach technique is determined by several factors such as lesion location, age and size of the bird. Among the surgical approaches used in birds in general, those most commonly cited in the literature are the external skeletal splint and intramedullary pinning. Here, we report the clinical and surgical treatment of a blue-fronted-amazon (Amazona aestiva) with a complete closed oblique transverse fracture of the distal portion of the left tibiotarsus. The animal completely recovered its motor activity thirty days after surgical procedure for osteosynthesis with intramedullary pinning and steel wire cerclage. The treatment has proven useful, as it allowed for bone consolidation and complete functional recovery of the injured limb. Keywords: wild birds, osteosynthesis, lameness Resumen: Las lesiones oestomusculares son frecuentes en las aves, especialmente las fracturas. La mejor técnica de reparación es determinada por vários factores, como localización de la fractura, edad y tamaño del ave. Entre los procedimientos quirúrgicos utilizados para aves, las dos técnicas mas citadas en la literatura son la fijación externa y el uso de clavos intramedulares. Este es el relato del tratamiento clínico y quirúrgico de un papagayo (Amazona aestiva) con fractura oblicua transversa completa cerrada de la porción tibiotársica distal izquierda. Treinta días después de la realización del procedimiento quirúrgico por medio de la técnica de osteossíntese con colocación de clavo intramedular y cerclage con hilos de acero, el animal tuvo su actividad motriz recuperada. El tratamiento propuesto fue eficaz por promover consolidación ósea y recuperación completa de las funciones del miembro lesionado. Palabras clave: aves silvestres, osteosíntesis, claudicación

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Introdução A criação de espécimes silvestres em cativeiro domiciliar, apesar de ser crime contra a fauna brasileira quando não legalizada, está cada vez mais frequente. Dentre esses animais, as aves são consideradas as mais predominantes 1. 94

Consequentemente, a demanda por atendimentos clinicocirúrgicos em clínicas veterinárias se torna cada vez maior, havendo a necessidade de o médico veterinário de pequenos animais expandir seus conhecimentos para atender esses casos.

Daniel Barreto Siqueira MV, mestrando - DMV/UFRPE danielbsiqueira@yahoo.com.br

Eduardo Oliveira Costa Neto Médico veterinário autônomo eocn09@hotmail.com

Marcio André Silva MV, mestrando - DMV/UFRPE marcioandre_mv@hotmail.com

As lesões musculoesqueléticas são comuns nas aves, principalmente as fraturas, sendo comum as fraturas induzidas por traumatismos 2 ou decorrentes de ossos enfraquecidos por doenças osteometabólicas, como a osteoporose juvenil ou o raquitismo 3. O tratamento de fraturas nas aves é um grande desafio, pois são animais sensíveis ao estresse e que apresentam particularidades anatômicas como ossos frágeis e finos e alguns ossos longos pneumáticos. As fraturas não tratadas podem causar incapacidade locomotora, dificuldade no exercício da alimentação, incapacidade de defesa e podem ser foco primário de processos infecciosos, o que pode levar o paciente à morte 4. O método de reparo da fratura é determinado por vários fatores, tais como: local da lesão; idade e tamanho da ave; tempo de ocorrência da fratura; tipo de fratura (simples ou cominutiva, aberta ou fechada) e também o conhecimento e a destreza cirúrgica do médico veterinário. Algumas fraturas respondem bem às imobilizações externas ou talas, enquanto outras requerem reparo cirúrgico para promover a estabilidade e o rápido retorno da função motora 5. Dentre os reparos cirúrgicos realizados em aves em geral, as duas técnicas mais comumente citadas na literatura são a fixação esquelética externa 6-8 e o uso de pinos intramedulares 8-10. Para esta última técnica, outros autores citam a utilização de pinos intramedulares de Shanz, associados ao uso do polímero polimetilmetacrilato, ambos introduzidos no canal medular, como sendo eficientes na cicatrização de fraturas em úmero de

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A

B

Figura 2 - Procedimento cirúrgico no tibiotarso esquerdo de um papagaio-verdadeiro (A. aestiva). A) Colocação de pino de Steinmann na porção proximal do osso. B) Fratura reduzida com pino de Steinmann e cerclagem com fio de aço

procedimento cirúrgico de osteossíntese com aplicação de pino intramedular e sutura das extremidades ósseas fraturadas com fios de aço de cerclagem a. O protocolo anestésico utilizado foi: sulfato de atropina b (0,1mg/kg, IM) como medicação pré-anestésica e anestesia dissociativa com associação de cloridrato de cetamina c (15mg/kg, IM) e cloridrato de xilazina d (1mg/kg, IM) 12,13. A assepsia do campo operatório foi feita com solução de álcool a 70% e iodopovidona e a 10%. O acesso cirúrgico à fratura se deu por uma incisão cutânea na face lateral do membro esquerdo, sobre o foco da fratura. Localizada a fratura, aplicou-se um pino de Steinmann de 1mm de espessura (Figura 2A) com o uso de uma furadeira ortopédica, seguindo o sentido retrógrado e tendo o cuidado de não comprometer as estruturas articulares da epífise proximal do osso (Figura 2B). Após a redução manual da fratura, introduziu-se o pino na porção distal fraturada e em seguida, verificando-se o alinhamento ósseo adequado, foi aplicada a cerclagem com fio de aço de 0,5mm ao redor da circunferência periosteal, aproximando as extremidades fraturadas em sua posição anatômica padrão, para promover melhor estabilização da

Relato de caso Um papagaio-verdadeiro (A. aestiva), de três anos de idade, sexo indefinido, pesando 300g, apresentou fratura oblíqua transversa completa fechada no terço distal do tibiotarso esquerdo (Figura 1). O trauma ocorreu devido ao uso de uma corrente que prendia o animal à gaiola. O exame clínico foi realizado dois dias após o incidente e o animal apresentava claudicação e ferida extensa na área da fratura. Foi relatado pelo proprietário que o animal vinha apresentando prostração e hiporexia. Após o exame radiográfico e a constatação de fratura oblíqua transversa completa no terço distal do tibiotarso esquerdo, optou-se pela redução da fratura e pela aplicação de tala de Schroeder-Thomas modificada, utilizando-se fio de aço, atadura de gaze e esparadrapo leve na perna 5. O comportamento de inquietação do animal fez com que as extremidades ósseas não permanecessem coaptadas e por esse motivo, no dia seguinte, foi realizado o

Eduardo Oliveira Costa Neto

Eduardo Oliveira Costa Neto

Figura 1 - Fratura oblíqua transversa completa fechada no terço distal do tibiotarso esquerdo de um papagaio-verdadeiro (A. aestiva)

Daniel Barreto Siqueira

Daniel Barreto Siqueira

pombos (Columba livia) 11. Em alguns casos, fios ortopédicos chamados de fios de aço de cerclagem ou hemicerclagem são utilizados para suplementar o apoio axial, rotacional e de curvatura das fraturas. A utilização dessa técnica é comum em reparo de fraturas de ossos longos em aves e foi eleita para promover melhor estabilidade do foco de fratura, atuando como um coadjuvante do pino intramedular. O objetivo deste trabalho é descrever o tratamento de fratura de tibiotarso em papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) mantido em cativeiro domiciliar, utilizando técnica de fixação cirúrgica com pinos intramedulares e cerclagem.

Figura 3 - Pino de Steinmann e cerclagem com fio de aço no tibiotarso esquerdo de um papagaio-verdadeiro (A. aestiva)

fratura (Figura 3). A sutura de aproximação dos tecidos moles adjacentes à lesão foi realizada com fio categute cromado 3-0 em padrão festonado f, e a pele foi suturada em padrão interrompido simples com o uso de fio de náilon 3-0 g. O tratamento pós-cirúrgico consistiu no uso de 20mg/kg de enrofloxacino h, q12h, IM, durante sete dias, e 10mg/kg de flunixin meglumine i, q24h, IM, durante quatro dias; complexo vitamínico j , VO, e cuidados relacionados ao manejo, tais como repouso em viveiro; fisioterapia com movimentos de adução e abdução das garras, realizada diariamente; poleiro colocado ao chão para evitar possíveis acidentes e facilitar o empoleiramento do animal; alimentação com frutos, sementes, ração peletizada e água ad libitum. Um colar elisabetano confeccionado com filme de raio-X foi colocado e mantido durante 30 dias e a imobilização externa foi feita com atadura de crepom e esparadrapo, removida no décimo dia, juntamente com a sutura da pele. No dia seguinte após o procedimento cirúrgico, o animal começou a apoiar o membro afetado e já escalava o viveiro. Por esse motivo, foi transferido para uma gaiola menor, de 50cm de comprimento, 25cm de largura e 35cm de altura, para que seus movimentos pudessem ser limitados. Um novo exame radiográfico foi realizado no décimo terceiro dia após o procedimento cirúrgico, e observou-se boa coaptação das extremidades

a) Fio em carretel, Ortovet, São Paulo,SP b) Atrofarma 0,25mg/mL, Farmace, Barbalha, CE c) Vetanarcol 5%, König, Santana de Parnaíba, SP d) Kensol 2%, König, Santana de Parnaíba, SP e) PVP-I Solução degermante, Icaraí, Santa Rita do Passa Quatro, SP f)Cat-gut cromado agulhado 3-0, Somerville, Jaboatão dos Guararapes, PE g) Nylon agulhado 3-0, Somerville, Jaboatão dos Guararapes, PE h) Quinolon 2,5%, Bravet, Rio de Janeiro, RJ i) Flumegan Injetável 50mg, Marcolab, Duque de Caxias, RJ j) Hidrovit, Vetnil, Louveira, SP

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ósseas e formação discreta de calo ósseo. O pino intramedular foi removido trinta dias após o procedimento cirúrgico e o paciente recuperou a atividade motora. O exame radiográfico mostrou completa formação de calo ósseo, representando um sinal evidente do processo de consolidação da fratura. Resultados e discussão A osteossíntese com aplicação de pino intramedular e fios de aço de cerclagem é uma técnica segura e eficaz para a estabilização das fraturas de tibiotarso em aves mantidas em cativeiro 8-10,14. Tal sucesso pôde ser comprovado pelos exames radiográficos realizados no décimo terceiro e no trigésimo dia após o procedimento cirúrgico, observandose boa coaptação das extremidades ósseas e formação de calo ósseo. A utilização do colar elisabetano, apesar de ser um pouco desconfortável para o paciente, foi bastante eficaz no tratamento pós-cirúrgico, pois evitou que a ave bicasse a região operada. A tala de Schroeder-Thomas modificada mostrou-se ineficaz nesse relato, pois o movimento realizado pelo animal fez com que as extremidades ósseas não se mantivessem alinhadas. Por outro lado, a aplicação dessa tala é recomendada para aves com até 200g de peso 5, podendo esta também ter sido uma provável causa de seu insucesso, uma vez que o paciente se apresentava com massa corpórea de 300g. O protocolo anestésico utilizado mostrou-se seguro, corroborando com o descrito por alguns autores 12,13,15, embora nem sempre as complicações estejam associadas ao agente anestésico, mas sim à particularidades individuais 16,17. Contudo, para minimizar o desconforto e os estímulos dolorosos, a utilização de analgésicos opioides é recomendada 18. O fio de cerclagem é utilizado para melhorar a estabilidade das fraturas longas oblíquas, das fraturas espirais e das fraturas cominutivas, podendo ser utilizado para proporcionar estabilidade adicional a uma fratura ou para mantê-la alinhada enquanto outros implantes proporcionam a estabilidade 5. A aplicação da cerclagem concomitantemente ao uso do pino intramedular proporcionou o alinhamento ósseo desejado para a recuperação da fratura e a formação do calo ósseo. 96

A remoção do pino intramedular ocorreu no trigésimo dia após o procedimento cirúrgico. Esse período mostrouse eficaz, visto que o animal apresentou completa formação de calo ósseo e o membro afetado recuperou as funções de forma adequada sem que houvesse comprometimento de qualquer estrutura adjacente à fratura. A fisioterapia instituída no período pós-operatório também contribuiu para o sucesso do tratamento, uma vez que é comum haver comprometimento funcional por desuso dos membros 19-21. Com os resultados observados, sugere-se que o protocolo utilizado neste relato possa ser aplicado em outros psitacídeos de médio porte, especialmente os do gênero Amazona spp. Vale a pena salientar que é mais vantajoso instruir os proprietários sobre o correto manejo das aves, a fim de evitar que elas corram o risco de sofrer acidentes traumáticos. Conclusão O tratamento proposto mostrou-se eficaz por promover consolidação óssea e recuperação completa das funções do membro pélvico lesionado. Referências 01-FREIRE, A. C. B. ; SANTOS, R. M. B. , PESSANHA, M. M. Pernambuco na rota nacional do tráfico de animais silvestres. In: I ENCONTRO INTERNACIONAL DE MEDICINA DA CONSERVAÇÃO. Anais... Vitória/ES: Instituto Marcos Daniel, 2007, p. 55. 02-DE CONTI, J. B. Dois métodos de fixação externa para osteossíntese de tíbiotarso em galinhas (Plimouth rock-white): modelo experimental para uso em aves selvagens. Santa Maria, 2005, 48 p. (Dissertação de mestrado) Universidade Federal de Santa Maria UFSM, Rio Grande do Sul, 2005. 03-FOWLER, M. E. Metabolic bone disease. In:___. Zoo & wild animal medicine. Denver: Morris Animal Foundation, 1986, p. 69-90. 04-MANTOVANI, P. F. ; RESENDE, C. M. F. ; VASCONCELOS, M. N. F. ; AMBRÓZIO, D. ; MALTA, M. C. C. Estudo retrospectivo de aves de vida livre recebidas com diagnóstico de fratura no CETAS/IBAMA-MG no ano de 2006. In: I ENCONTRO INTERNACIONAL DE MEDICINA DA CONSERVAÇÃO. Anais... Vitória/ES: Instituto Marcos Daniel, 2007, p. 20. 05-RUPLEY, A. E. Sinais musculoesqueléticos. In:___. Manual de clínica aviária. São Paulo: Roca, 1999, p. 213-242. 06-MELLER, M. A. ; HIPPLER, R. A. ; GIACOMELLI, L. ; GUIMARÃES, L. ; SCHOSSLER, J. E. Fixação esquelética externa para artrodese de joelho em papagaio (Amazona aestiva). Ciência Rural, v. 31, n. 6, p. 10691072, 2001. 07-TORRES, B. B. J. ; MUZZI, L. A. L. ; ALVES, E. G. L. ; LEITE, C. A. L. ; FELICIANO, M. A.

R. ; SAMPAIO, G. R. ; MUZZI, R. A. L. Fixação esquelética externa em fratura tarsometatársica de seriema (Cariama cristata): relato de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 59, n. 1, p. 155-159, 2007. 08-HELMER, P. ; REDIG, P. Surgical resolution of orthopedic disorders. In: HARRISON, G. J. ; LIGHTFOOT, T. L. Clinical avian medicine. Flórida: Spix Publishing, 2006, v. 2, p. 761-774. 09-CASTRO, P. F. ; MATERA, J. M. ; FANTONI, D. T. ; GUIMARÃES, M. B. Uso de pino de aço intramedular na reparação de fraturas de ossos longos em psitacídeos: arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), arara-canindé (Ara ararauna) e papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Clínica Veterinária, Ano IX, v. 52, p. 56-64, 2004. 10-TRANQUILIM, M. V. ; BOTELHO, G. G. K. ; BORTOLINI, Z. ; LEHMKUHL, R. C. ; LANGE, R. R. Osteossíntese de úmero em Ramphastos dicolorus (tucano-de-bico-verde): relato de caso. Ambiência, v. 3, n. 2, p. 261 - 266, 2007. 11-ALIEVI, M. M. ; OLIVEIRA, A. N. C. ; FERREIRA, P. A. ; TRAESEL, C. ; GUIMARÃES, L. D. ; FLORES, F. ; SILVA, S. F. ; SCHOSSLER, J. E. W. Osteossíntese de úmero em pombos domésticos (Columba livia) associando-se pinos metálicos e polimetilmetacrilato intramedulares após osteotomia diafisária. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 60, n. 4, p. 843-850, 2008. 12-VIANA, F. A. B. Guia terapêutico veterinário. Belo Horizonte: Gráfica e Editora CEM Ltda, 2003, 324 p. 13-GODOY, S. N. Psittaciformes (arara, papagaio, periquito). In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens - medicina veterinária. São Paulo: Roca, 2006, p. 222-251. 14-MARTIN, H. ; RITCHIE, B. W. Orthopedic surgical techniques In: HARRISON, G. Avian medicine: principles and application. Flórida: Wingers Publishing, 1994, p. 1137-1170. 15-DEHGHANI, S. ; MOHAMMADI, M. ; NADDAF, H. Anesthetic protocol for pigeon undergoing orthopedic operation. Indian Journal of Veterinary Surgery, v. 26, p. 47, 2005. 16-MACHIN, K. Waterfowl anesthesia. Seminars in Avian and Exotic Pet Medicine, v. 13, n. 4, p. 206-212, 2004. 17-GUNKEL, C. ; LAFORTUNE, M. Current techniques in avian anesthesia. Seminars in Avian and Exotic Pet Medicine, v. 14, n. 4 p. 263-276, 2005. 18-NATALINI, C. C. Terapêutica e controle da dor em animais. In:___. Teoria e técnicas em anestesiologia veterinária. Porto Alegre: Artmed, p. 236-242, 2007. 19-SOUZA, S. F. ; MAZZANTI, A. ; RAISER, A. G. ; SALBEGO, F. Z. ; FONSECA, E. T. ; FESTUGATTO, R. ; PELIZZARI, C. ; BECKMANN, D. V. ; BERNARDI, L. ; PASSOS, R. ; CUNHA, M. M. Reabilitação em cães submetidos a artroplastia do joelho. Ciência Rural, v. 36, n. 5, p. 1456-1461, 2006. 20-VEENMAN, P. Animal physiotherapy. Journal of Bodywork and Movement Therapy, v. 10, n. 4, p. 317-327, 2006. 21-BARBIERI, G. ; MONTE-RASO, V. V. Tratamento fisioterapêutico pós-operatório do ligamento cruzado cranial em cães. Acta Science Veterinary, v. 35, p. 662-663, 2007.

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DIAGNÓSTICO CITOLÓGICO E HEMATOLOGIA DE CÃES E GATOS

O conteúdo do Manual de Controle da Dor em Medicina Veterinária, segunda edição, ajuda a avaliar e determinar o melhor tratamento para a dor em uma variedade de espécies. Ele é composto por recentes informações na avaliação da dor, opções de tratamento farmacêuticas e não farmacêuticas, guias para controle da dor aguda e crônica, terapia física e reabilitação, e qualidade de Manual de Controle da Dor em vida e cuidados termi- Medicina Veterinária – James S. Gaynor & William W. Muir III nais. ISBN: 978856245102-7 São destaques da Número de páginas: 664 segunda edição: • atualização de informações de drogas e novas técnicas para controle da dor; • inclusão de oito novos capítulos: - controle da dor em gatos; - controle da dor em pássaros de estimação; - casos clínicos para analgesia em répteis; - casos clínicos para analgesia em ferrets e coelhos; - terapia física e reabilitação em cães; - métodos de reabilitação e modalidades para gatos; - índice de qualidade de vida; - e cuidados paliativos e terminais; • formato prático que ajuda o leitor a acessar as informações de maneira rápida; • quadros e tabelas resumindo protocolos farmacológicos e aplicações clínicas para uma consulta rápida; • avançadas estratégias alternativas e complementares para controle da dor por meio de de intervenções não farmacológicas, oferecendo mais opções para o tratamento; • estudos de casos ilustram cenários clínicos reais para ajudar o leitor a aprender a avaliar e controlar a dor nos seus casos clínicos. MedVet: www.medvetlivros.com.br

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Divulgação

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Divulgação

A terceira edição do livro Diagnóstico Citológico e Hematologia de Cães e Gatos é uma fonte completa para desenvolver e enriquecer o conhecimento e as habilidades necessárias para o diagnóstico clínico laboratorial. O aprendizado sobre o assunto é favorecido pela grande quantidade de ilustrações detalhadas e descrições de amostras citológicas e hematológicas. A obra é uma fonte concisa de técnicas de avaliação microscópica e guia de interpretação para amostras de tecido, sangue e outros fluidos corpóreos, Diagnóstico Citológico e oferecendo entendimento básico de Hematologia de Cães e Gatos coleta e preparação das amostras. Além – Cowell, Tyler, Meinkoth & disso, algoritmos úteis e fáceis de DeNicola ISBN: 978856245101-0 entender são amplamente distribuídos Número de páginas: 498 pelo texto, oferecendo um guia claro e direto para concluir diagnósticos e aplicar tratamentos. São destaques da terceira edição: • mais de 1.000 fotografias microscópicas de alta resolução e representações diagramáticas auxiliam a identificação de células normais versus anormais, permitindo a realização de um diagnóstico preciso; • quatro novos capítulos - Tipos Celulares e Critérios de Malignidade, Principais Agentes Infecciosos, Células Redondas e O Pâncreas apresentam informação detalhada nestes tópicos e a relação deles com o diagnóstico e acompanhamento da doença clínica; • trinta e sete especialistas colaboradores compartilham seus conhecimentos provenientes tanto da academia como dos laboratórios diagnósticos para oferecer a melhor e mais atualizada informação disponível; • muitos capítulos foram expandidos - incluindo Os Pulmões e as Estruturas Intratorácicas; O Trato Gastrintestinal e Efusões Abdominal, Torácica e Pericárdica - para oferecer uma abordagem mais completa e atualizada destes importantes tópicos; • instruções detalhadas guiam o leitor por meio de avalições laboratoriais na própria clínica, assim como submissão e transporte de amostras para interpretação de laboratórios comerciais ou acadêmicos. • mais tabelas e algoritmos para facilitar a conclusão do diagnóstico. MedVet: www.medvetlivros.com.br

CONTROLE DA DOR



O CACHORRO DO MENINO O cachorro do menino, escrito por César Obeid e publicado pela Editora Moderna, conta a história de Oscar, menino que acaba de convencer sua mãe a comprar um cachorro igual ao do seu amigo. Porém, em pouco tempo descobre que o filhote tem um sério problema que vai provocar tramas e reações inesperadas durante as férias do menino. No desenrolar da história entra um importante personagem, o médico veterinário, que irá O cachorro do menino: ensinar toda a família o conceito de www.probem.info guarda responsável. O menino Oscar aprende bem a lição e fica muito feliz com a solução proposta pelo médico veterinário para resolver o problema do seu companheiro: a utilização de um carro ortopédico veterinário. A mesma história é contada de duas maneiras distintas: por meio da literatura, onde a criança pode ler a história e acompanhar as ilustrações, e em teatro de cordel, acompanhando as falas de cada personagem. Esta última é bastante apropriada para o desenvolvimento de ações educativas através de atividades teatrais nas escolas.

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O VALENTE DOMADOR O valente domador, escrito por César Obeid e publicado pela Editora Scipione, conta a história de que o grande sucesso do circo era o espetáculo do valente domador. Ao estalo do seu chicote, macacos, leões, ursos e elefantes obedeciam às suas ordens. No auge da carreira, porém, o domador viu seu mundo desabar por causa de uma lei proibindo os maus tratos de animais. Foi então que O valente domador: www.probem.info um menino, que fazia flores de papel, mostrou a ele uma nova maneira de encarar a vida e lidar com os animais. A partir daí, o domador descobre que o seu talento podia ser adaptado e transformado em arte. E foi assim, que a vida do domador mudou completamente, para melhor. Seu trabalho passou a ser exibido em um circo sem animais, onde não havia o sofrimento de qualquer ser senciente, e os aplausos que passou a receber, tinham como origem, não a valentia que exibia anteriormente, mas sua habilidade e destreza com o chicote.

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Estabelecimentos veterinários e o bem-estar animal

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ecentemente, o Brasil inteiro voltou os olhos para a cidade de São Paulo, que, em 2 de julho, lançou o Programa de Proteção e Bemestar de Cães e Gatos, o chamado PROBEM. Na ocasião, o prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab, disse: “admitimos que houve negligência com a questão nas últimas décadas, mas que o programa veio para apoiar os abrigos e instituições que recolhem os animais abandonados”. Há alguns meses atrás, na cidade de São Paulo, também houve a realização de blitz em pet shops, formada por representantes do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo (CCZ/SP), do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) e por vereadores participantes da Comissão de Estudos para Avaliação da Coexistência dos Animais Domésticos, Domesticados, Silvestres Nativos e Exóticos com a População Humana, os Reflexos na Saúde Pública e Meio Ambiente e a Legislação Pertinente na Cidade de São Paulo. Mas e o que você tem a ver com isso estando aí sentado na sua clínica ou no seu consultório? Primeiro, vamos a uma pergunta que não quer calar... Você tem noção do que seja bem-estar animal? Já leu algo sobre os conceitos e as diretrizes deste tema tão importante e inerente ao seu dia a dia profissional? De uma forma resumida podemos contribuir lembrando: • que o bem-estar animal é um estado de completa saúde física e mental, em que o animal está em harmonia com o ambiente que o rodeia (Hughes, 1976); • que o conceito de bem-estar animal refere-se a uma boa ou satisfatória qualidade de vida, que envolve determinados aspectos referentes ao animal tais como a saúde, a felicidade, a longevidade (Tannenbaum, 1991; Fraser, 1995); • as cinco liberdades dos animais, teoria criada pelo professor John Webster e divulgada pelo Farm Animal Welfare Council (FAWC): ele deve ser livre de fome e de sede; livre de desconforto; 102

livre de dor, lesões ou doença; livre para expressar os seus comportamentos normais; e livre de medo e aflição. Começou a clarear um pouco o cenário onde você profissional da medicina veterinária está inserido, seja como clínico, proprietário ou responsável técnico de um estabelecimento pet? Não quero direcionar este conhecimento para o universo da ética e da responsabilidade conceitual apenas, quero a partir de agora dar uma roupagem diferenciada a um conceito ético, tornando-o uma ferramenta aplicável ao universo da gestão dos estabelecimentos veterinários. Tal visão não deve ser vista como oportunista, materialista ou distanciada da imagem que o profissional clínico médico veterinário tem na sociedade, e sim apenas ser mais um auxílio que garanta ao profissional um diferencial competitivo na conquista e manutenção de seus clientes no cenário atual do mercado pet. Quando um cliente procura por seus serviços e por seu estabelecimento ele busca resolver um problema imediato, seja ele a necessidade de vermifugação, um controle vacinal, uma solução para um problema de pele, um esclarecimento sobre a nutrição de seu melhor amigo. Enfim, ele busca encontrar algumas das liberdades citadas no conceito mencionado anteriormente, não é mesmo? Preenchendo os pré-requisitos básicos para atender aos preceitos do bemestar animal no dia a dia profissional Primeiramente, vamos lembrar que quando um animal dá entrada como paciente em seu estabelecimento, ou permanece sob sua supervisão no período do banho e tosa em quw você é o responsável técnico, ou fica internado para que seja realizado algum tipo de procedimento clínico-cirúrgico, ele está sob sua responsabilidade e você deverá assumir que este animal precisa receber um protocolo de ações cuja criação, supervisão e execução é sua prerrogativa como profissional e como prestador do serviço contratado por seu cliente.

Por Sergio Lobato

Espera-se que um animal nestas condições receba : • instalações adequadas compatíveis com o porte e com a espécie em questão, além de estarem higienizadas e serem capazes de prover conforto e redução de estresse; • atendimento qualificado por todos os funcionários e profissionais médicos veterinários que tenham contato e manuseio com o mesmo, prevenindo os excessos e acidentes como quedas e torções; • alimentação e água de acordo com as necessidades específicas e gerais; • instalações seguras com instrumentos de segurança que previnam fugas e brigas; • conforto térmico e sonoro compatível com os níveis aceitáveis, reduzindo o estresse e o estado de aflição; • medicação que previna, controle e minimize a dor e o desconforto que possam ser inerentes ao quadro clínico específico; • e isolamento especial em caso de enfermidades infecto-contagiosas Quando essas condições são satisfeitas o conceito de bem-estar animal pode e deve ser utilizado como um diferencial na promoção e divulgação dos serviços médicos veterinários para o seu mercado consumidor, pois jamais devemos esquecer que a avaliação de um

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serviço é essencialmente intangível e o cliente irá somar uma série de fatores que possam ajudar na avaliação, e irá se decidir pelo profissional e/ou estabelecimento que apresentar este diferencial no tratamento de seus animais de estimação. Esteja apto a oferecer estes fatores de captação de clientes O mais importante é manter o seu fundamento técnico em dia, estando atualizado com as modernas técnicas de controle de redução da dor nos procedimentos médicos veterinários e atento ao treinamento das pessoas que compõem a equipe de trabalho que esteja sob a sua supervisão e responsabilidade, transmitindo a eles conceitos de prevenção de acidentes através do uso de EPIs, de treinamento em manejo etológico para as respectivas espécies às quais se presta atendimento e uso correto do

mobiliário e das instalações. Também é importante ser capaz de olhar com visão técnica cada unidade fisica de seu estabelecimento e verificar se ele atende ao mínimo das normas técnicas previstas em lei e se oferece segurança aos animais, aos profissionais e aos clientes que lá circulam durante seu expediente de trabalho. Não tenha receio ou medo de mostrar seu estabelecimento ao seu cliente. Convide-o para conhecer a clínica ou a loja e mostre cada setor com uma informação que transmita tranquilidade e segurança para aquela pessoa que irá deixar seu animal de estimação sob a sua guarda. Esta visita conduzida costuma garantir e repercurtir muitos elogios. Use seu papel de responsável técnico (RT) como um excelente relações-públicas do estabelecimento. Somente a presença do RT no expediente predeterminado em contrato já é potente ferramenta

na conquista da confiança dos clientes. Finalizando, se formos lembrar de nosso juramento profissional, pode parecer um tanto estranho estar aqui falando de bem-estar animal, mas infelizmente algo se tornou dissonante entre as palavras daquele juramento e a realidade que se mostra nos estabelecimentos veterinários deste país... Espero que esse texto seja apenas um lembrete ou despertar para os leitores da revista e não um guia de como proceder profissionalmente. Desejo a todos que façam um exercício de autocrítica e avaliem seus estabelecimentos, procurando pontos importantes que possam distingui-los dos demais, que não se esforçam para sair do mar da acomodação que parece insistir em inundar o mercado veterinário brasileiro. Não tenha medo de remar contra a maré!

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Ecologia Economia ecológica* Especialistas de instituições de ensino e pesquisa da Amazônia apontam necessidade de o sistema econômico mundial se submeter às leis da natureza

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egundo pesquisadores reunidos em mesaredonda durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho de 2009, em Manaus, olhar a Amazônia sob o ponto de vista da perspectiva econômicoecológica deve provocar uma mudança de paradigma à medida que os problemas e desafios da região passem a ser tratados prioritariamente com enfoque ecológico, antes de o aspecto econômico vir à tona. Clóvis Cavalcanti, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, destacou que os conceitos de meio ambiente são anteriores à economia. “Mas o meio ambiente pode e precisa existir sem a sociedade. O sistema econômico mundial deve se submeter e ser subordinado ao ecossistema e às leis da natureza”, disse o também membro fundador da Sociedade Internacional para a Economia Ecológica (ISEE, na sigla em inglês) e da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica (Ecoeco). “Estamos acabando com o meio ambiente e com a vida social da Amazônia em troca de promessas muitas vezes vazias de aceleração do crescimento e do bem-estar humano, em que o aumento do PIB [Produto Interno Bruto] traz a destruição

dos valores ambientais e culturais cultivados ao longo de séculos de convivência entre os habitantes da região”, disse. Gonzalo Vasquez Enriquez, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), disse que “não é possível só crescer de forma exponencial, pois essa curva ascendente levaria o mundo a uma situação de colapso”, alertou ele, citando em seguida a importância do relatório The limits of growth, produzido em 1972 por uma equipe do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, para a organização não governamental The Club of Rome. O relatório trata de problemas cruciais para o desenvolvimento da humanidade, como energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional. “A sociedade pode e está destruindo a Amazônia, mas de alguma forma a humanidade terá que pagar por isso”, disse Enriquez. “Os avanços tecnológicos não estão sendo suficientes para resolver o problema dos limites físicos dos bens naturais. O crescimento pelo crescimento está deixando cada vez mais evidente o limite dos recursos do meio ambiente, não trazendo soluções técnicas para a manutenção da biodiversidade e promovendo o aumento do poder e da necessidade de consumo pela sociedade

moderna”, afirmou. Para Philip Fearnside, pesquisador titular do Departamento de Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), um grande desafio para o futuro da Amazônia é a criação de meios de conversão dos serviços oferecidos pela floresta, como a manutenção da biodiversidade e dos estoques de carbono, em um fluxo de renda para as comunidades que garanta o desenvolvimento sustentável da região. “É bem melhor transformar algo que é sustentável em desenvolvimento do que tentar fazer com que uma forma de desenvolvimento não-sustentável se converta em sustentável”, disse o pesquisador que há mais de 30 anos tem se destacado no trabalho de apoio à valorização dos serviços ambientais da Amazônia. “O desenvolvimento implica a criação de uma base econômica de suporte para a população e, a fim de ser sustentável, essa base de suporte deve manter-se por muito tempo”, apontou Fearnside que, antes do Protocolo de Quioto (1997), já havia proposto a compensação dos serviços ambientais da floresta amazônica com base na manutenção de estoques de carbono, ou com pagamentos na forma de uma porcentagem anual do valor dos estoques.

* Fonte: Agência FAPESP (por Thiago Romero) - http://www.agencia.fapesp.br/materia/10788/noticias/economia-ecologica.htm

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!P e s q u i s a Células-tronco de porcos *

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m grupo de cientistas chineses conseguiu obter células-tronco pluripotentes – capazes de se desenvolver em qualquer tipo de tecido corporal – a partir de células de porcos. É a primeira vez que se consegue tal feito a partir de células somáticas de animais com cascos (conhecidos como ungulados). A pesquisa foi publicada no Journal of Molecular Cell Biology, novo periódico da Oxford Press. De acordo com a editora, as implicações são importantes, uma vez que o estudo pode levar à criação de modelos para doenças genéticas humanas e de órgãos animais próprios para transplante em humanos, além do desenvolvimento de animais resistente a doenças. Lei Xiao, coordenador do laboratório de células-tronco do Instituto de Bioquímica e Biologia Celular de Xangai, e colegas induziram as células pluripotentes a partir do uso de fatores de

transcrição, de modo a reprogramar células extraídas da orelha e da medula espinhal de porcos. Depois que o coquetel químico de fatores de reprogramação foi introduzido nas células por meio de um vírus, as células se desenvolveram em laboratório em colônias de células-tronco parecidas com as embrionárias. Testes confirmaram que elas eram capazes de se diferenciar nos tipos de células que compõem os três folhetos embrionários – endoderme, mesoderme e ectoderme –, uma qualidade de todas as célulastronco embrionárias. Com as informações obtidas a partir da indução bem-sucedida de células pluripotentes, será mais fácil para os pesquisadores desenvolver células-tronco embrionárias originárias de porcos ou de embriões de outros ungulados. “Células-tronco pluripotentes de porcos serão muito úteis de diversas

formas, como produzir exemplares geneticamente modificados para uso em transplantes de órgãos para humanos. As espécies de porcos são consideravelmente semelhantes ao homem em sua forma e função, como nas dimensões dos órgãos”, disse Xiao. “Podemos usar células-tronco embrionárias ou induzir células-tronco para modificar genes do sistema imunológico de porcos de modo a fazer com que o órgão do animal seja compatível com o sistema imune humano. Com isso, usaríamos esses porcos como doadores para fornecer órgãos para pacientes, que não apresentarão rejeição”, apontou. O artigo Generation of pig induced pluripotent stem cells with a druginducible system, de Lei Xiao e outros, pode ser lido na íntegra acessando o endereço http://jmcb.oxfordjournals. org (Journal of Molecular Cell Biology).

* Fonte: Agência FAPESP - http://www.agencia.fapesp.br/materia/10589/divulgacao-cientifica/celulas-tronco-de-porcos.htm

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Equipamentos Celular vira microscópio*

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oca música, faz foto e vídeo, tem agenda e jogos, troca mensagens curtas ou e-mails, tem GPS e serve até mesmo como telefone. É cada vez maior o número de funções no celular, que rapidamente se tornou o principal equipamento eletrônico para milhões de pessoas. A mais nova utilidade é uma mão na roda para cientistas. Um grupo da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, está desenvolvendo um dispositivo para transformar o celular em um microscópio. Com o CellScope, a câmera do telefone recebe um dispositivo extra e tem sua capacidade ampliada o suficiente para registrar imagens coloridas de parasitas ou até mesmo de bactérias com marcadores fluorescentes. O protótipo, descrito em artigo publicado em 22 de julho de 2009, na revista PLoS ONE, representa um importante avanço no sentido de levar a microscopia clínica para fora dos laboratórios e até os trabalhos de campo. Um importante uso está no diagnóstico de doença no próprio local em que ocorre. “As mesmas regiões do mundo que têm carência de instalações na área de saúde são, paradoxalmente, bem servidas por redes de telefonia móvel. Podemos tirar vantagem dessa infraestrutura de modo a oferecer a áreas remotas equipamentos laboratoriais de baixo custo e fáceis de usar”, disse Dan Fletcher, professor de bioengenharia da universidade e chefe da equipe de desenvolvimento do produto. O CellScope é composto por lentes compactas e é preso no celular. Usa luz branca simples, como a do sol ou de uma lâmpada, para iluminar as amostras. A partir de amostras de sangue, os pesquisadores conseguiram capturar imagens do Plasmodium falciparum, parasita que causa malária em humanos. Também funciona como um microscópio fluorescente, quando um marcador emite uma onda de luz específica de modo a identificar o objeto, como uma bactéria, por exemplo. O artigo descreve imagens fluorescentes feitas do

O artigo Mobile Phone Based Clinical Microscopy for Global Health Applications* pode ser lido na íntegra acessando o endereço http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0006320. Acima, imagem do artigo que ilustra o funciomento do protótipo e a qualidade das imagens obtidas ao capturar imagens microscópicas com o aparelho celular * David N. Breslauer 1,2, Robi N. Maamari 2, Neil A. Switz 3, Wilbur A. Lam 2,4, Daniel A. Fletcher 1,2,3 1 UCSF/UC Berkeley Bioengineering Graduate Group, 2 Department of Bioengineering, University of California Berkeley, Berkeley, California, United States of America, 3 Biophysics Graduate Group, University of California Berkeley, Berkeley, California, United States of America, 4 Department of Pediatrics, University of California San Francisco, San Francisco, California, United States of America

Mycobacterium tuberculosis, causador da tuberculose. “Microscopia fluorescente exige mais equipamentos do que um microscópio de luz comum, como filtros ou iluminação especial, o que faz com que seja mais cara. Em nosso artigo, mostramos que um sistema fluorescente completo pode ser construído em um celular por meio do uso de sua câmera e de componentes relativamente baratos”, disse Fletcher. Por meio do uso de filtros para bloquear a luz de fundo e de um LED que custa poucos dólares, os pesquisadores conseguiram uma onda de 460 nanômetros, capaz de excitar o marcador verde fluorescente no sangue com tuberculose. Com um celular comum, equipado com uma câmera de 3.2 megapixels, foi

possível obter uma resolução espacial de 1.2 micrômetros – para se ter uma idéia de tamanho, uma hemácia humana tem cerca de 7 micrômetros de diâmetro. Os autores apontam que as imagens podem ser analisadas no local em que foram feitas ou enviadas pelo próprio celular para centros clínicos de diagnóstico. “O sistema pode ser usado para fornecer alertas em estágios iniciais de epidemias, ao diminuir o tempo necessário para os exames e diagnósticos”, disse David Breslauer, outro autor do estudo. O grupo pretende avançar no desenvolvimento do CellScope de modo a construir modelos mais robustos que possam ser usados em diversos cenários de pesquisas em campo. Ainda não há estimativa a respeito de quando o produto poderá ser comercializado.

* Fonte: Agência FAPESP - http://www.agencia.fapesp.br/materia/10807/divulgacao-cientifica/celular-vira-microscopio.htm

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magripet, suplemento lançado pela Vetnil, age de maneira efetiva no controle do peso corporal animal, favorecendo a queima de gordura, a melhora do trânsito intestinal e a redução da sensação de fome. Além do uso de Emagripet, para controlar o ganho de peso, é indispensável que o animal tenha uma dieta regrada, seguindo orientações profissionais.

Vetnil: 0800 109 197 www.vetnil.com

NOVA LINHA DE VACINAS PARA GATOS

Divulgação

A

Fel-O-Vax® IV + CaliciVax®, Fel-O-Vax® Lv-K IV + CaliciVax® e Fel-O-Vax® PCT + CaliciVax® são as novas vacinas da Fort Dodge que conferem proteção contra a calivirose sistêmica

partir de setembro encontra-se disponível a nova linha de vacinas para gatos da Fort Dodge: a Fel-O-Vax® + CaliciVax®. Ela inclui na sua composição a nova cepa causadora da calicivirose sistêmica, além de proteger também contra a calicivirose tradicional. Diferentemente da calicivirose tradicional, cujos sintomas já são bem conhecidos entre os médicos veterinários, a calicivirose sistêmica, causada por uma mutação do calicivírus tradicional, é uma doença bem mais severa, que pode levar os gatos à morte entre 24h e 48h após a infecção, mesmo os animais vacinados contra o calicivírus tradicional. A vacinação pode ser feita a partir dos 60 dias de vida e bastam apenas duas doses para conferir proteção por um ano. O reforço anual é necessário para garantir uma imunização permanente. Fort Dodge: 0800 701 9987 - ww.fortdodge.com.br

COMBATE À DIARRÉIA

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Floramicina, produto lançado pela Intervet Schering-Plough, tem como ingredientes ativos a kanamicina e a isopropamida. Ela é indicada para o tratamento de infecções gastrentéricas causadas por bactérias sensíveis à kanamicina e no tratamento sintomático de diarréias inespecíficas. A Floramicina elimina as bactérias indesejáveis, reduz a hipersecreção e a hipermotilidade, protege a mucosa gastrintestinal e promove a adsorção de toxinas. Intervet Schering-Plough: 0800 707 0512

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eligen CRP/R, vacina lançada no mercado brasileiro pela Virbac, protege contra as principais doenças dos gatos: rinotraqueíte, panleucopenia, calicivirose e raiva. Feligen CRP/R é ideal como última dose de proteção nos filhotes ou para reforço anual em gatos adultos. Sua grande vantagem é a proteção completa com uma só aplicação. Isso facilita o manejo das vacinações e reduz muito o estresse dos animais. Com mais de 10 milhões de doses vendidas na Europa, Feligen CRP/R é reconhecidamente segura e eficaz. Sua praticidade e excelente custo x benefício ajudam a aumentar o número de animais adequadamente imunizados, tanto jovens como adultos.

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CONTROLE DE PESO

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009

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ANESTESIA INALATÓRIA as anestesias são marcadas na sua clínica Luiz Otávio Gonzaga CRMV-SP 6117

tels: 0**(11) 6994-1029 0**(11) 6204-8801 cel: (011) 8259-1351 tomada@superig.com.br

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www.agendaveterinaria.com.br NACIONAL 10 a 12 de setembro São Paulo - SP Curso intensivo prático de ortopedia - módulo básico ! (11) 3819-0594 10 de setembro a 12 dezembro Curitiba - PR Diagnóstico por imagem do abdômen de animais de companhia - radiografia e ultra-sonografia ! (41) 3350-5696 12 e 13 de setembro São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária módulo 5 ! (11) 2331-2450 12 e 13 de setembro Bandeirantes - PR 1° Curso de oncologia veterinária

13 a 16 de setembro São Paulo - SP

International Pet Meeting 2009 ! www.anfalpet.org.br 13 de setembro a 4 de outubro São Paulo - SP Curso teórico de dermatologia ! (11) 2995-9155 14 a 17 de setembro Seropédica - RJ VIII Semana de dermatologia em pequenos animais & IV Simpósio de oncologia veterinária

! (21) 2682-1637 ! (43) 9116-4575 12 e 13 de setembro Londrina - PR II Curso de comportamento em cães e gatos ! (43) 9936-0952 12 a 20 de setembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de afecções cirúrgica da coluna vertebral ! (11) 2995-9155

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15 de setembro Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária endocrinologia ! (31) 3281-0500

16 a 18 de setembro Guarapari - ES XXXVI Semana capixaba do médico veterinário ! (27) 3324-3877 19 de setembro Maceió - AL Interpretação rápida do eletrocardiograma ! (82) 3221-2086 19 de setembro a 15 de agosto Piracicaba - SP Curso de homeopatia veterinária

! (19) 3434-2514 21 e 22 de setembro Belo Horizonte - MG Curso de cardiologia de pequenos animais ! (31) 3297-2282 21 a 26 de setembro São Paulo - SP XIV SUSAVET

! (11) 2141-8619

15 a 20 de setembro Araçatuba - SP XV SEMEV

23 a 26 de setembro Búzios - RJ 8º Congresso brasileiro de bioética

! (82) 3221-2086

! www.congressodebioetica2009.com.br

24 a 26 de setembro Rio de Janeiro - RJ RioVet - 9ª feira de negócio Pet & Vet 9ª Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária ! (21) 2580-3125 26 e 27 de setembro Florianópolis - SC Reprodução em pequenos animais ! (48) 3035-4388 28 de setembro a 2 de outubro Belo Horizonte - MG Curso de cuidados e suporte a cães e gatos hospitalizados

4 de outubro a 6 dezembro Osasco – SP Curso teórico-prático de cirurgia de partes moles ! (11) 2995-9155 5 a 9 de outubro Fortaleza - CE I Simpósio cearense de animais selvagens ! geasce@gmail.com 5 a 9 de outubro Salvador - BA Curso perícia judicial ambiental ! (53) 3035-3622 5 a 10 de outubro São Paulo - SP X Jovet & II Encontro científico ! (11) 7635-1110

! cursocuidados@yahoo. com.br 29 de setembro a 2 de outubro Campo Grande - MS IV Congresso brasileiro de homeopatia veterinária ! (67) 8451-2004 3 de outubro a 6 de dezembro São Paulo - SP I Curso de atualização em fisioterapia veterinária VETSPA ! (11) 3644-7764

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009

11 de outubro Rio de Janeiro - RJ Primeiro encontro da ABFel ! abfelinos@gmail.com 12 a 16 de outubro Águas de Lindóia - SP XIV Encontro nacional de patologia veterinária ENAPAVE ! enapave2009@ acquaviva.com.br 16 de outubro São Paulo - SP Seminário de atualização técnica leishmaniose visceral americana ! www.focinhosgelados. com.br


16 a 18 de outubro Maceió - AL Simpósio norte nordeste de leishmaniose visceral canina ! (82) 3221-2086 17 e 18 de outubro Jaboticabal - SP Curso de endocrinologia em animais de companhia ! (16) 3209-1300 17 e 18 de outubro São Paulo - SP Neurologia de pequenos animais

22 a 24 de outubro Rio de Janeiro - RJ Semana acadêmica de veterinária da faculdade Estácio de Sá (Unesa) ! thiagoridis@yahoo. com.br

24 e 25 de outubro Belo Horizonte - MG II Forum Latino Americano de dermatologia e endocrinologia de pequenos animais ! (31) 3297-2282

22 a 24 de outubro Vargem Pequena - RJ I Semana acadêmica de medicina veterinária Nicolau Maués SerraFreire ! (21) 9925-6890

25 a 28 de outubro Bonito - MS III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária ! (67) 3301-8915

! (11) 8440-5442

23 e 24 de outubro São Paulo - SP Cirurgias em cabeça e pescoço ! (11) 3819-0594

19 a 23 de outubro Campos dos Goytacazes - RJ I COMVET - I Congresso de medicina veterinária do Norte Fluminense

23 a 25 de outubro Curitiba - PR Curso teórico e prático das doenças da coluna em cães e gatos ! (41) 3257-4326

! coordenadoriacomvet2009@gmail.com

23 e 25 de outubro Botucatu - SP Curso de odontologia veterinária em pequenos animais ! gepabotucatu@yahoo. com.br

19 a 23 de outubro Viçosa - MG II Semana da pósgraduação em medicina veterinária da UFV

! (31) 3899-1457

24 e 25 de outubro São Paulo - SP Ciclo de atualização em ortopedia veterinária módulo 6 ! (11) 2331-2450

26 a 30 de outubro Campos dos Goytacazes - RJ I Curso nacional de ecodorcardiografia em pequenos animais ! (22) 2739-7313 26 a 29 de outubro São Paulo - SP VI Curso de emergências e terapia intensiva ! (11) 5572-8778 30 de outubro a 2 de novembro São Carlos - SP V Encontro pesquisa em educação ambiental Configuração do campo de pesquisa em educação ambiental - EPEA ! www.epea.tmp.br

2 a 6 de novembro Natal - RN Curso perícia judicial ambiental ! (53) 3035-3622 3 a 6 de novembro Araçatuba - SP 1° Simpósio da pós-graduação em ciência animal e IX Semana de divulgação científica do curso de medicina veterinária ! veterinaria.eventos@ fmva.unesp.br

São Paulo - SP III Simpósio BVECCS ! www.bveccs.com.br

! (71) 2102-6600 9 a 13 de novembro UENF - Campos dos Goytacazes - RJ XII SACAMEV ! sacamev2009@gmail.com

4 a 6 de novembro Goiânia - GO IX Encontro brasileiro de anestesiologia veterinária ! (62) 3521-1650

10 a 19 de novembro Santos - SP Curso de endocrinologia veterinária ! (11) 2995-9155

5 a 7 de novembro Bonito - MS V CONCEVEPA - MS

11 a 13 de novembro Ribeirão Preto - SP 1º Simpósio regional de direito animal ! (16) 3632-1054

! (67) 3026-1414 6 a 8 de novembro Botucatu - SP Curso de felinos ! (14) 3811-6019 7 de novembro Vitória - ES Nutrição clínica em cães e gatos ! (27) 9902-1584

novembro (data a confirmar)

8 a 12 de novembro Porto Seguro - BA 36º Conbravet

7 e 8 de novembro Florianópolis - SC Cirurgia oncológica ! (48) 3035-4388

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009

14 e 15 de novembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia ! (11) 3082-3532 18 de novembro Belo Horizonte - MG Curso Tecsa de medicina laboratorial veterinária cardiologia ! (31) 3281-0500 23 de 24 de novembro Belo Horizonte - MG Curso de pediatria de pequenos animais ! (31) 3297-2282

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www.agendaveterinaria.com.br 30 de novembro São Paulo - SP "Cutis in totum" - "Mitos, lendas e verdades sobre cultivo bacteriano e antibiograma em piodermites" ! (11) 5051-0908 3 a 5 de dezembro Águas de Lindóia - SP XII Congresso - XVIII Encontro - ABRAVAS

endocrinologia e metabologia em pequenos animais ! (11) 3813-6568 21 de fevereiro a 25 de maio São Paulo -SP Curso teórico-prático de ortopedia ! (11) 2995-9155 27 e 28 de março Londrina - PR Mostra de trabalhos científicos em neurologia veterinária ! (43) 9151-8889 27 a 28 de março Londrina - PR 4° NEUROVET ! (43) 9151-8889

! www.abravas.org.br

17 a 20 de abril Belém - PA 3 a 5 de dezembro 31º Congresso da AssociaSão Paulo - SP ção Nacional de Clínicos Curso intensivo prático de ortopedia - módulo avançado Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) ! (11) 3819-0594 4 a 6 de dezembro São Paulo - SP III Simpósio internacional de ! belem-para@ anclivepa ortopedia veterinária - OTV 2010.com.br ! (11) 7894-8583 6 a 8 de outubro 7 a 11 de dezembro São Paulo -SP Campos dos Goytacazes - RJ 9º Pet South II Simpósio latinoamericano America. de cadiologia veterinária III Conpavet - Congresso paulista de medicina ! (22) 2739-7364 veterinária

2010

fevereiro (início) São Paulo -SP Curso de especialização -

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INTERNACIONAL

15 a 17 de setembro Mandalay Bay Las Vegas EUA Super Zoo 2009 ! www.superzoo.org

24 a 27 de setembro Barcelona - Espanha Iberzoo - Feira Internacional de Animais de Companhia ! www.iberzoo.com

29 a 31 de outubro Edinburgh, Escócia - UK 7th International Veterinary Behaviour Meeting - IVBM ! www.behaviourmeeting. co.uk

3 a 5 de novembro Bangkok - Tailândia 2nd FASAVA 2009 ! www.fasava2009.com

11 a 15 de setembro San Antonio, Texas - EUA IVECCS 2010 ! www.veccs.org 29 de outubro a 1 de novembro San Diego, California EUA VCS Veterinary Cancer Society - 2010 Annual Conference ! www.vetcancersociety. org/

2011

1 a 4 de outubro Barcelona - Espanha SEVC - Southern European Veterinary Conference - 44 Congresso Nacional AVEPA ! www.tnavc.org

2010 16 a 20 de janeiro Orlando, Florida - EUA NAVC Conference ! www.tnavc.org 13 a 16 de maio Nürnberg - Alemanha Interzoo 2010 ! www.interzoo.com

16 a 19 de outubro Austin - Texas - EUA 2009 Annual Conference VCS Veterinary Cancer Society ! www.vetcancersociety.org 16 a 9 de outubro Lima - Peru Latin American Veterinary Conference 2009 ! www.tlavc-peru.org

14 a 17 de junho Helsinki - Finlândia 11th FELASA Symposium ! www.felasa.eu/ Announcements.htm 24 de julho Genebra - Suiça WSAVA ! www.wsava2010.org

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 82, setembro/outubro, 2009

14 a 17 de outubro Jeju - Korea WSAVA

! www.wsava2011.org 4 a 11 de novembro Albuquerque, NM - USA VCS Veterinary Cancer Society - 2011 Annual Conference ! www.vetcancersociety.org

2012 18 a 21 de novembro Las Vegas, Nevada - EUA VCS Veterinary Cancer Society - 2012 Annual Conference ! www.vetcancersociety. org




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