Clínica Veterinária n. 103

Page 1




38

Cirurgia

Flape tubular de padrão axial toracodorsal para reparação cutânea em cotovelo de cão – relato de caso Thoracodorsal axial pattern flap for skin wound repair in a canine elbow – case report Flap tubular de padrão axial toracodorsal para reparación del piel en codó de perro – reporte de um caso

46

Ortopedia

Correção cirúrgica de fratura no tibiotarso de periquito-australiano (Melopsittacus undulatus) – relato de caso

Surgical correction of tibiotarsal fracture in an Australian parakeet (Melopsittacus undulatus) – case report Corrección quirúrgica de una fractura tibio-társica en un periquito australiano (Melopsittacus undulatus) – relato de un caso

Diagnóstico por imagem

52

Limitações e indicações clínicas da ultrassonografia gestacional em cadelas – revisão de literatura Clinical indications and limitations of gestational ultrasonography in bitches – literature review Las indicaciones clínicas de la ecografía gestacional en perras y sus limitaciones – revisión de la literatura

Clínica

62

Disfunção cognitiva em cães idosos: avaliação clínica e estratégias terapêuticas Cognitive dysfunction in aged dogs: clinical evaluation and therapeutic strategies Disfunción cognitiva en perros viejos: evaluación clínica y estrategias terapéuticas

Cardiologia

74

92

Oncologia

Neoplasias hepáticas primárias em cães e gatos – estudo retrospectivo (2002-2012) Primary liver neoplasms in cats and dogs – a retrospective study (2002-2012) Neoplasias hepáticas primarias en perros y gatos – un estudio retrospectivo (2002-2012)

Oncologia

104

Biópsia óssea por agulha Jamshidi em cães – revisão de literatura Jamshidi needle bone biopsy in dogs – literature review Biopsia ósea con aguja de Jamshidi en perros – revisión de literatura

@ Na internet FACEBOOK www.facebook.com/ClinicaVet TWITTER www.twitter.com/ClinicaVet Site www.revistaclinicaveterinaria.com.br

Fístula arteriovenosa congênita em cão da raça basset hound – relato de caso Congenital arteriovenous fistula in a Basset Hound – case report Fístula arterio venosa congénita en un perro Basset hound – relato de caso

Oncologia

82

Carcinoma inflamatório secundário de mama com metástase intracraniana em cadela – relato de caso Secondary inflammatory mammary carcinoma with Intracranial metastasis in a bitch – case report Carcinoma Inflamatorio secundario de mama con metástasis intracraneales – relato de caso

6

Contato Editora Guará Ltda. Dr. José Elias 222 - Alto da Lapa 05083-030 São Paulo - SP, Brasil Central de assinaturas: 0800 891.6943 cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 / 3641-6845

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



Ecologia • AvistarBrasil 2013 reunirá observadores de aves de todo Brasil • AvistarPatagônia • Ararinhas-azuis voltam para casa • Mata Ciliar em iniciativa pioneira para conservação do gato-do-mato

Notícias • Médico veterinário de animais silvestres conta com moderna tecnologia para a prática clínica • Resolução do CFMV regulamenta veículos utilizados em estabelecimentos veterinários • Visite Buenos Aires e participe das Jornadas Veterinarias en Pequeños Animales

Saúde pública

• Worldleish 5 no Brasil

Medicina veterinária do coletivo Projeto Santuário, exemplo de dedicação de acadêmicos à medicina veterinária do coletivo

8

16

Medicina veterinária legal A ligação entre o abuso de animais e a violência familiar

Comportamento Seres humanos e cães: vida em comum

24

Pet food • Comportamento nutricional dos felinos

Lançamentos • Antibioticoterapia • Controle de pulgas

Gestão, marketing e estratégia Quanto vale seu estoque? E você cuida dele?

32 34

Guia veterinário

116 122 124 126 128 131

Produtos e serviços para o mercado pet e veterinário www.guiavet.com.br

Vet Agenda Eventos nacionais e internacionais www.vetagenda.com.br

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

138



U

m fato inesperado marcou o início do ano de 2013: decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região autorizou o tratamento da leishmaniose visceral canina em todo o país - http://goo.gl/v7ac2. Esta notícia foi uma enorme alegria para os que defendem a saúde da família e a preservação da vida. Há anos, a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de Minas Gerais lidera a discussão e o estudo do assunto, trazendo todos os anos para o Brasil especialistas internacionais, para que o conhecimento seja compartilhado com todos os colegas e abrindo espaço para uma discussão ética sobre as políticas públicas para o controle da leishmaniose visceral. Porém, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) não compartilhou da mesma alegria. Pelo contrário, publicou nota não recomendando o tratamento e ameaçando punir os médicos veterinários que o fizerem http://goo.gl/lx9b5. Não recomendar o tratamento é uma opção do CFMV, mas ameaçar o profissional que o fizer, enquanto estiver válida a decisão do TRF da 3ª Região, é uma coação que revela abuso de autoridade, na forma do artigo 3º ”j” da Lei nº 4898, que assegura os direitos e garantias ao exercício profissional. “Decisão judicial não se contesta, se cumpre” (Fernando Henrique Cardoso). Um ponto importante em toda a discussão sobre o tema do tratamento da leishmaniose visceral canina é a insistência dos que são contra o tratamento em afirmar que ele não existe. Por isso, mais uma vez, divulgamos novamente as diretrizes para o tratamento da leishmaniose visceral canina, publicada em revista científica internacional, por um grupo europeu de especialistas em leishmanioses: LeishVet guidelines for the practical management www.parasitesandvectors.com/content/pdf/17563305-4-86.pdf . Vale também destacar que o tratamento utilizado no cão Scooby, que foi o foco do processo judicial julgado pelo TRF da 3ª Região, teve como base o trabalho publicado em 2009 no Worldleish 4, que ocorreu na Índia: IMMUNOTHERAPY WITH LEISHMUNE® IN DOGS NATURALLY INFECTED WITH L. INFANTUM http://goo.gl/aXYJl. Certamente, ainda há muito a ser discutido. Porém, esperamos que isso seja feito à luz da ciência e não do poder arbitrário e autoritário. No Worldleish 5, que será em maio, em Porto de Galinhas, PE, haverá um dia inteiro de simpósio dedicado à medicina veterinária, o Leish Vet, quando será discutido o tratamento canino. Scientia Vinces (A Ciência Vencerá) são palavras presentes no brasão da Universidade de São Paulo e que representam a enorme resistência do Estado de São Paulo a todas as pressões que sofreu em sua história política. Que essas palavras permaneçam sólidas nas esperanças de todos que defendem a vida e a saúde das famílias.

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684 - www.crmvmg.org.br

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER: - tucanos-toco (Ramphastos toco). Ave pertencente à família dos Ramphastidae Shutterstock

Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 10

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



CONSULTORES CIENTÍFICOS Adriano B. Carregaro FZEA/USP

Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP

Geovanni D. Cassali

Julio Cesar de Freitas

Mary Marcondes Masao Iwasaki

ICB/UFMG

UEL

CMV/Unesp-Araçatuba

Alceu Gaspar Raiser

Ceres Faraco

Geraldo M. da Costa

Karin Werther

Alessandra M. Vargas

César A. D. Pereira

Gerson Barreto Mourão

Leonardo Pinto Brandão

Mauro J. Lahm Cardoso

Alexandre Krause

Christina Joselevitch

Hannelore Fuchs

Leucio Alves

Mauro Lantzman

Alexandre G. T. Daniel

Cibele F. Carvalho

Hector Daniel Herrera

Luciana Torres

Alexandre Lima Andrade

Clair Motos de Oliveira

Hector Mario Gomez

Lucy M. R. de Muniz

Michele A. F. A. Venturini

Clarissa Niciporciukas

Hélio Autran de Moraes

Luiz Carlos Vulcano

Cleber Oliveira Soares

Hélio Langoni

Luiz Henrique Machado

Heloisa J. M. de Souza

Marcello Otake Sato

DCPA/CCR/UFSM Endocrinovet FMV/UFSM

Universidade Metodista

CMV/Unesp-Aracatuba

Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA

Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul

Aloysio M. F. Cerqueira UFF

Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia

Ananda Müller Pereira

Universidad Austral de Chile

Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL

André Luis Selmi

Anhembi/Morumbi e Unifran

Angela Bacic de A. e Silva FMU

Antonio M. Guimarães DMV/UFLA

Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal

A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP

Arlei Marcili FMVZ-USP

Aulus C. Carciofi

FCAV/Unesp-Jaboticabal

Aury Nunes de Moraes UESC

Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP

FACCAT/RS

DMV/UFLA

UAM, UNG, UNISA IP/USP

UNICSUL

FMVZ/USP

ANCLIVEPA-SP EMBRAPA

Cristina Massoco

Salles Gomes C. Empresarial

Daisy Pontes Netto FMV/UEL

Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS

Daniel G. Ferro ODONTOVET

Daniel Macieira FMV/UFF

Denise T. Fantoni FMVZ/USP

Dominguita L. Graça FMV/UFSM

Edgar L. Sommer PROVET

Edison L. P. Farias UFPR

Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE

Elba Lemos Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu

Anclivepa-SP

DMV/UFRPE

FEJAL/CESMAC/FCBS DCV/CCA/UEL FMVZ/USP

Flávia R. R. Mazzo Provet

Flavia Toledo

Univ. Estácio de Sá

Médico veterinário autônomo

FMVZ/Unesp-Botucatu

Carlos E. S. Goulart

Francisco J. Teixeira N.

Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal

Carlos Mucha IVAC-Argentina

12

Herbert Lima Corrêa ODONTOVET

Iara Levino dos Santos

Koala H. A. e Inst. Dog Bakery

Iaskara Saldanha Provet, Lab. Badiglian

Idael C. A. Santa Rosa UFLA

Ismar Moraes FMV/UFF

Jairo Barreras FioCruz

James N. B. M. Andrade FMV/UTP

Jane Megid

FMVZ/Unesp-Botucatu

Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL

Jean Carlos R. Silva FCAV-Unesp-Jaboticabal

João Pedro A. Neto

FMVZ/Unesp-Botucatu

F. Marlon C. Feijo UFERSA

Franz Naoki Yoshitoshi Provet

Jonathan Ferreira Jorge Guerrero

Universidade da Pennsylvania

Merial Saúde Animal FMV/UFRPE FMVZ/USP

FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/Unesp-Botucatu FM/UFTO

Marcelo A.B.V. Guimarães FMVZ/USP

FMVZ/USP

FALM/UENP

Psicologia PUC-SP

ODONTOVET

Michiko Sakate

FMVZ/Unesp-Botucatu

Miriam Siliane Batista FMV/UEL

Moacir S. de Lacerda UNIUBE

Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL

Nadia Almosny FMV/UFF

Marcelo Bahia Labruna

Nayro X. Alencar

Marcelo de C. Pereira

Nei Moreira

Marcelo Faustino

Nelida Gomez

Marcia Kahvegian

Nilson R. Benites

Márcia Marques Jericó

Nobuko Kasai

Marcia M. Kogika

Noeme Sousa Rocha

Marcio B. Castro

Norma V. Labarthe

Marcio Brunetto

Patrícia Mendes Pereira

Marcio Dentello Lustoza

Paulo César Maiorka

Márcio Garcia Ribeiro

Paulo Iamaguti

Marco Antonio Gioso

Paulo S. Salzo

Marconi R. de Farias

Paulo Sérgio M. Barros

FMVZ/USP FMVZ/USP FMVZ/USP FMVZ/USP

UAM e UNISA FMVZ/USP UNB

FMVZ/USP-Pirassununga Biogénesis-Bagó Saúde Animal FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/USP PUC-PR

FMV/UFF

CMV/UFPR

UBA-Argentina FMVZ/USP FMVZ/USP

FMV/Unesp-Botucatu FMV/UFFe FioCruz DCV/CCA/UEL FMVZ/USP

FMVZ/Unesp-Botucatu UNIMES, UNIBAN FMVZ/USP

José de Alvarenga

Maria Cecilia R. Luvizotto Pedro Germano

Jose Fernando Ibañez

M. Cristina F. N. S. Hage Pedro Luiz Camargo FMV/UFV

DCV/CCA/UEL

José Luiz Laus

Maria Cristina Nobre

Rafael Almeida Fighera

José Ricardo Pachaly

M. de Lourdes E. Faria

Rafael Costa Jorge

José Roberto Kfoury Jr.

Maria Isabel M. Martins

Regina H.R. Ramadinha

Juan Carlos Troiano

M. Jaqueline Mamprim

Renata Afonso Sobral

Juliana Brondani

Maria Lúcia Z. Dagli

Renata Navarro Cassu

Juliana Werner

Marion B. de Koivisto

Renée Laufer Amorim

Julio C. C. Veado

Marta Brito

Ricardo Duarte

FMVZ/USP UFPR

FCAV/Unesp-Jaboticabal UNIPAR

Carlos Alexandre Pessoa Flavio Massone FTB

FMV/UFRRJ

Fabiano Séllos Costa

Fernando Ferreira

Carla Holms

FMVZ/UNESP-Botucatu

Odontovet

FMV/UFPR

Camila I. Vannucchi FMU

Dep. Clin. Sci./Oregon S. U.

UAM

Fernando de Biasi

Carla Batista Lorigados

EMV/FERN/UAB

Fabiano Montiani-Ferreira

Berenice A. Rodrigues FMVZ/USP

Univ. de Buenos Aires

João G. Padilha Filho

FioCruz-RJ

Fernando C. Maiorino

Médica veterinária autônoma

Instituto PetSmile

UFRPE, IBMC-Triade

Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI

ESALQ/USP

FCAV/Unesp-Jaboticabal

FMVZ/USP

UBA - Argentina

FMVZ/Unesp-Botucatu Lab. Werner e Werner FMVZ/UFMG

CMV/Unesp-Aracatuba

FMV/UFF

VCA/SEPAH

DCV/CCA/UEL

FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/USP

CMV/Unesp-Araçatuba FMVZ/USP

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

FSP/US

FMV/UFSM

Hovet Pompéia FMV/UFRRJ

Onco Cane Veterinária

Unoeste-Pres. Prudente FMVZ/Unesp-Botucatu Hovet Pompéia


Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR

Ricardo S. Vasconcellos CAV/UDESC

Rita de Cassia Garcia FMV/USP

Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ

Rita Leal Paixão FMV/UFF

Robson F. Giglio

Hosp. Cães e Gatos; Unicsul

Rodrigo Gonzalez

FMV/Anhembi-Morumbi

Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu

Ronaldo C. da Costa CVM/Ohio State University

Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio

Rosângela de O. Alves EV/UFG

Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG

Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU

Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu

Silvia E. Crusco UNIP/SP

Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap

Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP

Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP

Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP

Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM

Simone Gonçalves Hemovet/Unisa

Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu

Suely Nunes E. Beloni DCV/CCA/UEL

Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR

Valéria Ruoppolo

Int. Fund for Animal Welfare

Vamilton Santarém Unoeste

Vania M. de V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu

Viviani de Marco

UNISA e NAYA Especialidades

Wagner S. Ushikoshi

FMV/UNISA e FMV/CREUPI

Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

Instruções aos autores A Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. Relatos de casos são utilizados para apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais, que são discutidas detalhadamente. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo até 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de dez anos de publicação. Critérios editoriais Para a primeira avaliação, os autores devem enviar pela internet (cvredacao@editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na largura de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitalizadas, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de redação cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail). Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus títulos no momento em que o trabalho foi escrito. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 10, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências.

No caso de todo o material ser remetido pelo correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-rom. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de au torização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Evitar citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Procurar se restringir ao "Material e métodos" e às "Conclusões" dos trabalhos. Sempre buscar pelas referências originais consultadas por esses autores. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,3,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar informações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utilizado, cada capítulo deverá ser considerado uma referência. Não serão aceitos apuds. A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www.xxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado

Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo - SP cvredacao@editoraguara.com.br

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

13


ECOLOGIA

AvistarBrasil 2013 reunirá observadores de aves de todo o Brasil O 8º Encontro Brasileiro de Observação de Aves, que se realiza de 17 a 19 de maio próximo no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, terá palestras, oficinas de desenhos, mesas-redondas, fotos e birdwatching metropolitano, além de exposição de fotos do 6º Concurso Avistar e AvistarKids, que oferece atividades para crianças e frequentadores do Parque Villa-Lobos “Eu observo aves!” Esse é o lema que identifica os participantes do 8º Encontro Brasileiro de Observação de Aves – AvistarBrasil 2013, que acontecerá de 17 a 19 de maio próximo no Parque Villa-Lobos, na Zona Oeste de São Paulo. O evento terá congresso e feira, com várias atividades abertas ao público. A previsão é de 3 mil visitantes por dia. Entre os destaques da programação,

que também se estende a outros parques da cidade, há desde palestras à apresentação dos principais locais de observação de aves no Brasil e na América Latina, além da apresentação dos parques nacionais, onde é possível praticar a observação de aves. Além disso, haverá a exposição de fotos de aves brasileiras do 6º Concurso Avistar, jogos, oficinas de desenhos e fotos de aves, mesas-redondas e saídas

para fotos e observação de aves no entorno da cidade. O destaque na área editorial fica por conta do grande número de livros que deverão ser lançados no evento. “Existe um grande movimento editorial na área e isso se reflete nos lançamentos, que abrangem desde livros de grandes fotógrafos a guias práticos de observação, focados na avifauna local” diz Guto Carvalho, organizador do evento.

Concurso de fotografias, uma das tradicionais atrações do AvistarBrasil – www.avistarbrasil.com.br 16

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


Neste ano, cerca de 12 livros serão lançados durante o AvistarBrasil 2013: “Para olhar a natureza, é importante contar com bons livros e guias. Isso enriquece sobremaneira a atividade”, completa. O 8º Encontro Brasileiro de Observação de Aves – AvistarBrasil 2013 será composto por um congresso com oficinas práticas, mesas-redondas, minicursos e encontros de praticantes. Um curso sobre como implementar o turismo de observação em pousadas é um dos destaques do evento. A feira vai abrigar cerca de 40 estandes com hotéis, pousadas, editoras, empresas e órgãos governamentais e não governamentais ligados à atividade.

• Birdspot – on the road drawing birds, com Catherine Hamilton. • Palestras – Colóquio: fotografia e conservação; Bandos mistos; Aves do Dossel; O nome científico das aves; Fotografia de aves, de Haroldo Palo Jr.; e Mulheres observadoras. • Atividades extras: sobrevivência na selva e observação para iniciantes, com Lucas Longo, ornitólogo e biólogo. • Avistar Kids: aves e cores – oficina de desenho e pintura de aves.

Destaques da programação no Parque Villa-Lobos • Exposição de fotos de aves com a retrospectiva dos vencedores da 6º edição do Concurso Avistar de Fotografia – Aves Brasileiras. • Novas fronteiras – a descoberta de novos locais de observação, com Edson Endrigo. • Birdwatching na América Latina – Panorama da observação de aves nos diferentes contextos culturais e econômicos: aves da Patagônia, aves do Equador e aves do Peru.

Conheça o AvistarBrasil e a observação de aves O AvistarBrasil, Encontro Brasileiro de Observação de Aves, é o maior evento de birdwatching da América Latina. Composto por congresso, feira de produtos e serviços, AvistarKids e concurso de fotografias, é realizado em parceria da AvistarBrasil com SAVEBirdlife.

Avistar no Viva a Mata Dia 25 de maio, 8h – Passeio de observação de aves no Parque Ibirapuera, em parceria com o SOS Mata Atlântica.

A observação de aves é uma atividade praticada ao ar livre, em parques, fazendas, no campo ou na cidade. É o segmento de ecoturismo com maior potencial de crescimento no Brasil. Os observadores se interessam somente por aves livres, viajam por todo o país, registram as aves em fotos, discutem a identificação, gravam os sons e anotam o comportamento. Com cerca de 100 milhões de praticantes em todo o mundo, a observação de aves cresce dia a dia no Brasil, onde se estima reunir aproximadamente 10 mil pessoas. Para a prática da atividade há um item indispensável: a conservação da natureza. Mais Avistar AvistarBrasil, ao longo de oito edições, foi um dos núcleos onde o crescimento do birdwatching brasileiro se tornou mas visível e constante. Consequentemente, as ações do AvistarBrasil, gradualmente, passaram também a ocorrer fora de São Paulo. Em 2013 já estão programados o AvistarSC, nos dias 22 e 23 de junho; AvistarBH, nos dias 6 e 7 de julho; AvistarBrasília, nos dias 3 e 4 de agosto; AvistarRJ, nos dias 24 e 25 de agosto. Haverá também o primeiro Avistar internacional, o AvistarPatagônia, de 29 outubro a 3 de novembro, na Patagônia chilena.

Workshops e AvistarKids, atividades que promovem a criatividade e que, ao mesmo tempo, também conseguem inserir importantes conceitos para a conservação ambiental

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

17


ECOLOGIA

AvistarPatagônia

Parque Nacional Torres del Paine, na Patagônia chilena

AvistarPatagônia é um workshop internacional de fotografia a ser realizado de 29 de outubro a 3 de novembro em Puerto Natales, na Patagônia chilena. Reúne fotógrafos de renome internacional, especializados em aves, como Edson Endrigo, Arthur Morris e David Tipling, além de outros com grande conhecimento de tratamento de imagem, como Denise Ipolitto e Octávio Campos Salles. Complementam a programação Álvaro Jaramillo e Cláudio Vital, renomados guias ornitológicos especializados em Patagônia e Antártica. O workshop é uma iniciativa AvistarBrasil em parceria com a FarSouth, operadora especializada na Patagônia, com mais de 15 anos de atividades em Punta Arenas. O evento surge com uma proposta diferenciada e oferece oportunidade de vivência prática com os grandes mestres da fotografia de aves e seus diferentes estilos. Realizado na região do Parque Torres del Paine, a programação explora uma grande diversidade de habitats, como as estepes patagônicas e os bosques e florestas subantárticos, todo o conjunto cercado por montanhas e geleiras, em uma paisagem de beleza extraordinária. 18

A dinâmica A programação prevê uma grade diária de atividades que se inicia com uma expedição fotográfica seguida de um workshop técnico e finaliza com uma palestra. No retorno dos trabalhos de campo está previsto um intervalo para um bate-papo descontraído e recap das fotos. Também estão previstos passeios para familiares e acompanhantes. Os fotógrafos Para ministrar os workshops foram escolhidos palestrantes de alto rigor técnico e grande conhecimento da fotografia de aves, mas também de grande carisma, didática e capacidade de comunicação. Arthur Morris é reconhecido internacionalmente como um dos mais importantes fotógrafos especializados em aves. Seu trabalho Bird as Art é uma referência no segmento. David Tipling é britânico e fotógrafo de natureza desde 1992 e já publicou mais de 40 livros. Há seis anos desenvolve um trabalho sobre as relações entre as aves e as pessoas. Edson Endrigo é talvez o mais conhecido fotógrafo de aves brasileiro. É um dos autores que mais publicaram fotos no prestigioso HBW Handbook of

Birds of the World, além dos inúmeros livros publicados por Aves e Fotos, sua editora. Completam o time a norte-americana Denise Ipollito e o brasileiro Octávio Campos Salles, fotógrafos premiados e detentores de grande técnica no tratamento de imagens. Autores de livros e líderes de expedições em toda a Patagônia e na Antártica, os guias chilenos Álvaro Jaramillo e Cláudio Vital têm grande conhecimento da vida selvagem dessa região. A luz A luz da Patagônia é inesquecível: o sol, atenuado pela latitude do paralelo 51, oferece ao fotógrafo uma fonte suave e transversa, que desenha os volumes e ressalta os detalhes. No final de outubro, quando o solstício de verão se aproximando os dias são longos e o aproveitamento, integral. O Hotel O Remota Lodge é o hotel que vai hospedar o evento. Com uma arquitetura diferenciada e um projeto ousado o Remota oferece uma estadia confortável e com estilo. Conta com recursos completos de centro de convenções e um sofisticado restaurante, além de toda infraestrutura de guias e traslados.

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



ECOLOGIA

Mata Ciliar em iniciativa pioneira para conservação do gato-do-mato

Transferência de embrião em um gato-do-mato

P

ela primeira vez no mundo, médicos veterinários conseguiram realizar a transferência de embrião em um gato-do-mato, animal ameaçado de extinção. O procedimento realizado na Mata Ciliar durante o mês de janeiro de 2013, contou com a participação do médico veterinário do zoológico de Cincinnati, William Frederich Swanson, que trouxe as técnicas desenvolvidas por ele nos Estados Unidos. A utilização de “barriga de aluguel”, inédita em felinos, servirá como base para pesquisas sobre a reprodução da espécie. Segundo os cientistas, a partir dos dados observados, será possível a criação de técnicas que permitam a conservação da espécie. “Com a transferência de embriões, minimizamos os problemas do cativeiro, já que, com embriões congelados, menos animais

22

precisam ser mantidos nessas condições”, explica a coordenadora de fauna Cristina Adania. "A técnica ainda permite maior variação genética, já que os felinos deixam de se reproduzir entre parentes. Isso traz, entre outros benefícios, maior resistência a doenças". Os embriões que foram utilizados em Tigger, a primeira gata-do-mato a ser uma “barriga de aluguel”, estavam armazenados em um recipiente com nitrogênio líquido e permaneceram congelados por doze anos. “Em um único botijão, temos 80 embriões de jaguatiricas e 40 de gatos-do-mato. Isso mostra quantas variações genéticas distintas a transferência de embriões permite”, analisa William, que já comemora os bons resultados de seus estudos no Brasil. “Encontrei aqui pessoas muito entusiasmadas em trabalhar pela con-

servação das espécies. É justamente isso o que eu procuro: pessoas apaixonadas pelo trabalho com animais.” A Mata Ciliar foi a instituição escolhida para os estudos, devido à grande quantidade de animais e por abrigar dois centros de conservação de felinos selvagens. “No Brasil, a Mata Ciliar é o melhor lugar para estudar essas espécies”, comenta William.

Fundada em 1987, a Associação Mata Ciliar é uma entidade civil sem fins lucrativos com sede em Pedreira (SP) e unidades em Jundiaí e Águas de Lindóia. Desenvolve trabalhos de conservação ambiental e um dos seus principais projetos é o Águas do Piracicaba, que trabalha com preservação de matas ciliares e educação ambiental em 20 municípios paulistas. Também é referência na área de reabilitação da fauna, com o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, e na área de pesquisa, com o Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais.

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



NOTÍCIAS

Resolução do CFMV regulamenta veículos utilizados em estabelecimentos veterinários

N

a seção 1, páginas 172-173 do Diário Oficial da União, foi publicada a Resolução 1.015 (http://goo.gl/5KXK5), do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), de 9 de novembro de 2012. Ela conceitua e estabelece condições para o funcionamento de estabelecimentos médicos veterinários, e dá outras providências. É pertinente que todo proprietário de estabelecimento veterinário esteja consciente de todo o conteúdo da resolução. Vale destacar três pontos importantes: - as salas cirúrgicas dos hospitais veterinários e das clínicas veterinárias devem possuir equipamento para anestesia inalatória, com ventiladores mecânicos; - unidade de transporte e remoção é o veículo destinado unicamente à de remoção de animais que não necessitem de atendimento de urgência ou emergência. Sua utilização dispensa a presença de um médico veterinário; - ambulância veterinária é o veículo identificado como tal, cujos equipa-

Ambulância veterinária é veículo inexistente no Código de Trânsito Brasileiro

mentos, utilizados obrigatoriamente por um profissional médico veterinário, permitam a aplicação de medidas de suporte básico ou avançado de vida, destinadas à estabilização e ao transporte de doentes que necessitem de atendi-

Aparelhos de anestesia inalatória é um dos itens que podem ser adquiridos com o cartão BNDES A cartilha Cartão BNDES – Como as micro, pequenas e médias empresas podem se beneficiar é um documento que tem como objetivo divulgar e estimular o uso desse importante instrumento de crédito pelas empresas. A iniciativa mostra os benefícios da linha de crédito e como as empresas devem proceder para ter acesso a ela. O Cartão BNDES funciona como um crédito rotativo, com limite de até R$ 1.000.000,00 (um milhão) para aquisição de bens de capital, insumos e serviços credenciados no Portal de Operações do Cartão BNDES (http://www.cartaobndes.gov.br). Confira a cartiha Cartão BNDES http://issuu.com/clinicavet/docs/bndes 26

mento de urgência ou emergência. No que se refere à ambulância veterinária, há um ponto positivo que estabelece um critério para que um veículo seja chamado de ambulância veterinária. Na prática, há muitos veículos sem nenhum diferencial interno que os qualifique como ambulâncias e que rodam pelas ruas com o nome de ambulância veterinária. No Brasil há legislação específica para as ambulâncias, e a Resolução n. 268, do Conselho Nancional de Trânsito (CONTRAN), em seu Art. 1º, estabelece que “Somente os veículos mencionados no inciso VII do art. 29 do Código de Trânsito Brasileiro poderão utilizar luz vermelha intermitente e dispositivo de alarme sonoro. Além disso, todo condutor de ambulância precisa ser capacitado para o transporte de veículos de emergência http://goo.gl/bfiM5 . A iniciativa do CFMV teria sido mais bem aproveitada se tivesse integrado suas propostas com ao Código de Trânsito Brasileiro, fazendo valer à classe médico veterinária os direitos e deveres desses veículos especiais.

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



NOTÍCIAS

Visite Buenos Aires e participe das Jornadas Veterinarias en Pequeños Animales

XXII Jornadas Veterinarias en Pequeños Animales, em Buenos Aires, Argentina, tem a expectativa de reunir mais de 2.000 médicos veterinários - www.jornadasveterinarias.com

D

urante os dias 28 e 29 de abril de 2013 ocorrerá, em Buenos Aires, na Argentina, a 22ª edição das Jornadas Veterinarias en Pequeños Animales. O evento sempre reúne veterinários de diversas regiões da Argentina, de outros países latinoamericanos e empresas dos mais variados produtos e serviços, propiciando bons negócios. Este ano os palestrantes convidados são J. W. Bartges e María Montserrat Díaz Espiñeira.

Brasileiros de Santa Catarina presentes nas Jornadas Veterinárias de 2012 28

Coffee-break PROGRAMAÇÃO Casos clínicos em medicina interna (M. Domingo, 28 de abril de 2013 M. Díaz Espiñeira) Entrega de credenciais: 8:00 9:00 – Doença renal crônica (J. W. Segunda-feira, 29 de abril de 2013 Bartges) 9:00 – Problemas gastrointestinais em Coffee-break 10:20 – Atualidades no manejo do stress cães e gatos (II): diarreia (M. M. Díaz em cães e gatos (Laura Diana - Royal Espiñeira) Coffee-break Canin) 10:20 – Momento científico 10:45 – Urolitíase (J. W. Bartges) 10:45 – Casos clínicos de endocrinoloAlmoço 14:15 – Antibióticos com ação-concen- gia (M. M. Díaz Espiñeira) tração dependente: vantagens na clínica Almoço diária (Jorge Errecalde/Ernesto Hutter - 14:15 – Momento científico 14:40 – Enfermidades do trato urinário Brower) 14:40 – Problemas gastrointestinais en (J. W. Bartges) Coffee-break cães e gatos (I): vômitos e regurgitação Alterações da micção (J. W. Bartges) (M. M. Díaz Espiñeira) Desde cedo e durante todo o evento é servido um farto e livre bufê. Todos os inscritos presentes receberão gratuitamente o livro "Nefrología y Urología de Pequeños Animales", de Joe Bartges y David J. Polzin. Promoção para inscrições no Brasil: inscrição nas Jornadas Veterinarias e assinatura bienal ou renovação da Clínica Veterinária por R$ 400,00. Ligue 0800 891.6943

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



SAÚDE PÚBLICA

Worldleish 5 no Brasil

S

Segundo o presidente do congresso, o dr. Sinval P. Brandão Filho (Fundação Oswaldo Cruz, Pernambuco), a realização do 5th World Congress on Leishmaniasis representa uma oportunidade especial para toda a comunidade científica envolvida em estudos sobre leishmaniose, até porque o Brasil é o país que possui provavelmente o maior número de pesquisadores dessa importante doença parasitária e uma extensa comunidade de profissionais envolvidos nos serviços de diagnóstico e controle, entre médicos veterinários, biólogos, médicos, técnicos de vigilância em saúde etc. Essa força e liderança do país levou a proposta de sediar o evento no Brasil, capitaneada por SBMT, SBPz, SBP e Fiocruz, a ser escolhida pelo conselho do comitê científico internacional e pelos fundadores do Worldleish). “Na proposta que articulamos com uma extensa lista de “leishmaníacos” do Brasil, apresentamos a bucólica praia de Porto de Galinhas como sede do evento, tendo em vista a capacidade hoteleira instalada e por estar sediada no Nordeste, região que apresenta historicamente a maior incidência de ambas as formas de leishmaniose, a visceral e a tegumentar”, destaca o dr. Brandão Filho. “Registramos o recorde em quantidade de trabalhos submetidos, com mais de 1.400 resumos no total. Para se ter uma ideia em relação às edições anteriores, a maior quantidade havia sido registrada na Índia, em 2009, com 729 resumos”, frisa o dr. Brandão Filho. “Em todas as edições anteriores do Worldleish e nesta próxima, que ocorrerá no Brasil, sempre são apresentados os mais recentes avanços no estado da arte do conhecimento sobre leishmaniose, com aplicações potenciais em diagnóstico, tratamento, profilaxia e controle. O congresso propicia a integração da comunidade científica com os mais diversos profissionais e estudantes en-

32

“Convido toda a comunidade que se interessa e lida com leishmaniose em seu dia a dia que não percam esta oportunidade única em aproveitarem tão especial congresso e curtirem também nossa bela Porto de Galinhas. Até breve!” Sinval P. Brandão Filho (Fundação Oswaldo Cruz, Pernambuco)

volvidos diretamente com leishmaniose em áreas endêmicas de todo o mundo, possibilitando a atualização de todos no debate intenso e do mais elevado nível científico sobre o temário geral em torno da leishmaniose, em especial sobre o controle dessa doença tão importante quanto negligenciada”, explica o dr. Brandão Filho. Simpósios satélites “Os simpósios satélites já se torna-

ram tradição dentro do Congresso Mundial sobre Leishmaniose. De particular interesse para os médicos veterinários, esse ano o LeishVet, grupo formado por médicos veterinários especialistas em leishmaniose canina, realizará a segunda edição do Simpósio LeishVet e contará com a presença de pesquisadores de vários países, inclusive do Brasil. Serão discutidos vários aspectos relacionados à leishmaniose canina, como epidemiologia, diagnós-

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


tico, tratamento e controle. É uma oportunidade única para os médicos veterinários e pesquisadores obterem informações atualizadas sobre a doença”, destaca Filipe Dantas-Torres (Fundação Oswaldo Cruz, Recife), membro do comitê científico do congresso. Políticas públicas “Serão apresentados trabalhos (pôsteres e comunicações orais) relacionados ao controle da leishmaniose visceral no Brasil. Além disso, a comissão organizadora proporá um simpósio satélite para que pesquisadores e autoridades de saúde pública possam discutir as evidências científicas sobre as atuais medidas de controle e elaborar diretrizes para a modernização do Programa de Controle da Leishmaniose Visceral no Brasil. Esse simpósio satélite será certamente um marco na história da leishmaniose visceral no Brasil, na busca de medidas de controle mais éticas e eficazes dessa doença no país”, informa o dr. Dantas-Torres. Idioma do Worldleish “As apresentações orais terão tradução simultânea inglês/português. Porém, é importante enfatizar que, em se tratando de um congresso internacional, a língua oficial é o inglês. Infelizmente, sabemos que apenas que uma pequena parcela da população brasileira domina outra língua além do português, mas, se o Brasil pretende se colocar em uma posição melhor no âmbito da ciência mundial, é fundamental que todos os pesquisadores dominem o inglês, a língua oficial da ciência”, frisa o dr. Dantas-Torres. Worldleish 6 – 2017 Segundo o dr. Brandão Filho, naturalmente, a Espanha deverá manter sua proposta para realizar o próximo congresso. Porém, também há interesse de Portugal e de Bangladesh sediarem o WL6 em 2017. O congresso é realizado a cada quatro anos e sua primeira edição aconteceu em Istambul (Turquia), em 1997, seguida por Creta (Grécia), em 2001, Sicília (Itália), em 2005, e Lucknow (Índia), em 2009.

Simpósio satélite Bayer / LeishVet 14 de maio de 2013 – terça-feira Início: 9h00 1ª parte: das 9h às 11h / 2ª parte: das 11h15 às 13h15 / 3ª parte: das 14h às 16h Moderador: Gad Baneth, DVM, Ph.D

Dipl. ECVCP Professor of Veterinary Medicine Koret School of Veterinary Medicine, The Robert H. Smith Faculty of Agriculture, Food & Environment, The Hebrew University of Jerusalem

Temas do simpósio 1ª parte – das 9h às 11h Introdução – Moderador – 5 minutos Introdução no LeishVet (Lupe and Gad Baneth) – 10 minutos Contribuição da Bayer para as doenças tropicais – 5 minutos 1. A abordagem da saúde única para a leishmaniose visceral (Clarisa B. Palatnik-de-Sousa) – 20 minutos 2. Genética e respostas imunitárias em cães infectados com Leishmania infantum (Christine Petersen e Lluis Ferrer) – 20 minutos 3. Atualização sobre os patomecanismos na leishmaniose canina clínica (Alek Koutinas) – 20 minutos 4. Atualização sobre transmissão vetorial da Leishmania infantum e outras modalidades (Filipe Dantas-Torres) – 20 minutos Discussão: 20 minutos 2ª parte – das 11h15 às 13h15 5. Epidemiologia da leishmaniose canina na região do Mediterrâneo (Patrick Bourdeau) – 20 minutos 6. Epidemiologia da leishmaniose canina na América do Sul (Filipe Dantas Torres) – 20 minutos 7. Novas descobertas sobre hospedeiros reservatórios conhecidos e emergentes de Leishmania infantum (Gad Baneth) – 20 minutos 8. Surgimento de leishmaniose canina e humana na Argentina (Octavio Esteve) – 20 minutos 9. Leishmaniose felina: dez perguntas mais frequentes (FAQ) (MG Pennisi/Laia Solano-Gallego) – 20 minutos 10. Atualização sobre o diagnóstico da leishmaniose canina no Velho Mundo (Luis Cardoso and Laia Solano-Gallego) – 20 minutos 3ª parte – das 14h às 16h 11. Atualização sobre o diagnóstico da leishmaniose canina no Novo Mundo (com especial ênfase na perspectiva brasileira) (Vitor Ribeiro) – 20 minutos 12. Novas perspectivas sobre a terapia da leishmaniose canina I: tratamentos parasiticidas (Guadalupe Miro) – 20 minutos 13. Novas perspectivas sobre a terapia da leishmaniose canina II: tratamento com imunes potenciadores (Lluis Ferrer) – 20 minutos 14. A vacinação contra a leishmaniose canina no Brasil (Clarisa B. Palatnik-deSousa) – 15 minutos 15. Estado actual da vacinação contra a leishmaniose canina na Europa (Gaetano Oliva) – 15 minutos 16. Atualização sobre inseticidas para prevenção de leishmaniose canina (Domenico Otranto) – 20 minutos Discussão: 10 minutos

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

33


MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Projeto Santuário, exemplo de dedicação de acadêmicos à medicina veterinária do coletivo

Arquivo Projeto Santuário

Um cachorro perdido! O que fazer! Crianças aprendem e interagem com a apresentação teatral de uma situação corriqueira.... 34

Há alguns meses, temos o prazer de ler nesta coluna os artigos que abordam temas de suma importância sobre a medicina veterinária do coletivo, escritos pelo prof. dr. Alexander Welker Biondo, da Universidade Federal do Paraná, um dos ícones da área no Brasil. Vale destacar que no início de fevereiro de 2013 o prof. Biondo assumiu o Departamento de Pesquisa e Conservação de Fauna de Curitiba, que inclui a Rede de Proteção Animal, tendo como um dos objetivos a criação da Guarda Municipal de Proteção Animal. A 410 km de Curitiba, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZUSP), há quatro anos, um grupo de acadêmicos também vem mergulhando com afinco nessa mais nova vertente da medicina veterinária. O Projeto Santuário FMVZ-USP, coordenado pela profa. dra. Paula de Carvalho Papa, foi criado em 2009, quando um grupo de calouros se reuniu com a professora para estudar temas relativos ao controle populacional de cães e gatos, Arquivo Projeto Santuário

O

s anos de 2011 e 2012 foram anos de grandes e importantes passos para a medicina veterinária no tocante à sua colocação como área de fundamental contribuição para a saúde pública. O conceito One World, One Health (http://www.onehealthinitiative.com/) reafirma a inegável interrelação de dependência entre todos os seres vivos, conceitos básicos que aprendemos no estudo da ecologia quando jovens. Com isso, vimos concretizar-se: a inclusão do profissional médico veterinário no Núcleo de Assistência à Saúde da Família (Nasf), a criação do primeiro hospital veterinário público do Brasil, na Zona Leste da cidade de São Paulo, a oficialização pelo Ministério da Educação da residência multiprofissional em medicina veterinária e o envolvimento mais íntimo do poder público com questões voltadas à saúde animal, questões essas que demandaram o apoio a uma área emergente – com foco no coletivo, e não no indivíduo –, a medicina veterinária do coletivo. A comunidade acadêmica, que tem como um dos seus objetivos a promoção de todas as formas de conhecimento, deverá encabeçar a concretização dessa nova tendência em parcerias com o poder público, organizações não governamentais (ONGs) e a sociedade, como já temos visto acontecer.

Apresentação da peça Um dia de cão em escola pública, promovendo a guarda responsável

zoonoses, relação entre homem e animal e como agir de forma a contribuir com a resolução de problemas dessa ordem. De lá para cá, os alunos estudaram e amadureceram muito e, junto com eles, o projeto. O grupo logo entendeu que as castrações de cães e gatos em massa têm o seu valor quando se pensa no indivíduo, mas não é o suficiente quando se trabalha com o coletivo. O projeto então assumiu uma identidade centrada no processo educativo, abordando os temas: população a respeito de controle populacional, guarda responsável, zoonoses e bem-estar animal. Trabalhando em parceria com ONGs conveniadas à Prefeitura de São Paulo, os alunos do projeto dividem as suas atividades de estudo e pesquisa com as atividades de extensão universitária, atuando em escolas e em campanhas de castração, nas quais interagem com as crianças e com os proprietários adultos, respectivamente. Desde 2009, o grupo já apresentou mais de 30 sessões da peça teatral

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


Arquivo Projeto Santuário

FMVZ-USP oferece bolsas financiadas pela PróReitoria de Cultura e Extensão da USP para a maioria dos alunos integrantes e viabiliza a participação periódica dos alunos em importantes eventos, como fóruns de saúde pública, simpósios e, mais recentemente, a III Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo, que ocorreu em Curitiba em novembro de Crianças de 4 a 10 anos em CEU de São 2012. Paulo (Centro Educacional Unificado) depois Para os alunos, é difícil de apresentação do Projeto Santuário descrever toda a contribuição que a vivência do Um dia de cão, na qual os temas da projeto traz para a sua formação acadêguarda responsável são abordados com mica. A possibilidade de estar em concrianças de 4 a 10 anos. Além disso, já tato com a comunidade, de participar houve mais de 100 participações em de importantes discussões, de assumir mutirões de castração, conversando responsabilidades e habilidades de gescom os proprietários sobre os mitos e tão e comunicação e, principalmente, verdades a respeito da castração. Em de retribuir à população o investimento 2011 o grupo viajou a Curitiba para a aplicado em seus estudos é constante realização de um intercâmbio e a partir no testemunho desses alunos. Além de então firmaram-se intensos laços de disso, eles incorporam e consolidam, parceria e amizade com a equipe do ao longo de sua participação no projeto, a importância do médico veterinário prof. Biondo. Atualmente, o Projeto Santuário como agente promotor de saúde animal

e, consequentemente, de saúde pública – de saúde única. Algumas realizações do Projeto Santuário FMVZ-USP podem ser acessadas por meio da página no portal da FMVZ-USP (www.fmvz.usp.br) e do Facebook (www.facebook.com/projetosantuario). E para aqueles que se interessarem por essas atividades, acadêmicos da USP ou não, fica aqui o convite para conhecer o projeto mais de perto.

Vinícius Perez Aluno de graduação FMVZ/USP Membro do Projeto Santuário - FMVZ/USP kadikle@ig.com.br

Renata Ramos Rodrigues Aluna de graduação FMVZ/USP Membro do Projeto Santuário - FMVZ/USP renataramos.veterinaria@gmail.com

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

35


Cirurgia Flape tubular de padrão axial toracodorsal para reparação cutânea em cotovelo de cão – relato de caso Thoracodorsal axial pattern flap for skin wound repair in a canine elbow – case report Flap tubular de padrão axial toracodorsal para reparación del piel en codó de perro – reporte de um caso Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 38-44, 2013

Artur Gouveia Rocha

médico veterinário PPG da FCAV/Unesp-Jaboticabal artur.rocha@gmail.com

Gláucia de Oliveira Morato

médica veterinária PPG da FCAV/Unesp-Jaboticabal glaumorato@gmail.com

Josiane Morais Pazzini

médica veterinária PPG da FCAV/Unesp-Jaboticabal josipazzini@hotmail.com

Andrigo Barboza De Nardi MV, prof. FCAV/Unesp-Jaboticabal

andrigobarboza@gmail.com

João Guilherme Padilha Filho MV, prof. PhD FCAV/Unesp-Jaboticabal

jgpadilhafilho@yahoo.com.br

Paola Castro Moraes

MV, prof. dra., pesq. científica Binderware - São Carlos pcastromoraes@yahoo.com.br

38

Resumo: As cirurgias reconstrutivas são fundamentais na reparação de feridas abertas e com grandes extensões, decorrentes de traumas, anomalias congênitas e neoplasias. A região doadora deve possuir quantidade de pele suficiente para a correção do defeito; além disso, é importante ter cuidado com a preservação da microcirculação e dos vasos nutrientes da pele. A técnica cirúrgica a ser escolhida varia conforme a situação de cada ferida, sendo importante identificar a mais apropriada para cada lesão, evitando complicações e custos desnecessários. A palpação e demarcação das linhas de incisão realizadas na pele do paciente previamente ao ato cirúrgico mostraram-se de fundamental importância para o sucesso da técnica. O presente estudo objetiva relatar um caso de correção de ampla falha cutânea na região do cotovelo, com técnica reconstrutiva de padrão axial tubular toracodorsal em um cão. Unitermos: canino, ferida, cirurgia plástica Abstract: Reconstructive surgeries are essential in repairing exposed and extensive wounds due to traumas, congenital anomalies or neoplasia. The donor area must have sufficient amount of skin to correct the defect; moreover, care must be taken to preserve the microcirculation and nutrient vessels of the skin. The choice of surgical technique differs according to the situation of each wound, such as to use the most appropriate surgical technique for each lesion and to avoid complications and unnecessary costs. Palpation and the demarcation of incision lines in the patient's skin prior to surgery proved to be of crucial importance for the success of the technique. This study aims to report the correction of a wide cutaneous fault in the elbow region with a thoracodorsal axial pattern flap in a dog. Keywords: canine, wound, plastic surgery Resumen: Las cirugías reconstructivas son esenciales en la reparación de heridas abiertas y extensas, generalmente resultantes de traumas, malformaciones congénitas y cáncer. La región donadora debe poseer suficiente cantidad de piel como para corregir el defecto; además, es importante tener cuidado con la preservación de la microcirculación y de los vasos nutrientes de la piel. La técnica quirúrgica a ser utilizada, puede variar de acuerdo a la situación de cada herida, siendo importante identificar la mejor opción para cada lesión, evitando las complicaciones y costos innecesarios. La palpación y marcado de las líneas de incisión a ser realizadas en la piel del paciente, previamente al acto quirúrgico, son de fundamental importancia para el éxito de la técnica. El presente trabajo tiene como objetivo relatar un caso de corrección de una gran solución de continuidad cutánea en la región del codo, mediante técnica reconstructiva de tipo tubular axial toracodorsal en un perro. Palabras clave: canino, herida, cirugía plástica

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


www.revistaclinicaveterinaria.com.br

Introdução As feridas de pele acometem com frequência animais de pequeno porte e geralmente são decorrentes de atropelamentos, mordeduras, quedas, queimaduras e neoplasias. Podem ocorrer falhas cutâneas de pequena ou grande extensão 1. As falhas cutâneas de pequena extensão na maioria dos casos cicatrizam por segunda intenção; no entanto, as de grande extensão em regiões com mobilidade constante, como as articulações, podem ser de difícil reparação por primeira ou segunda intenção, sendo necessária a utilização de técnicas de cirurgias reconstrutivas 2. As cirurgias reconstrutivas são realizadas para corrigir lesões de grande extensão decorrentes de traumas e anomalias congênitas e para corrigir os defeitos gerados após a exérese de neoplasias. A escolha da técnica é um fator importante para o sucesso da cirurgia, evitando assim complicações e custos desnecessários 3. A região doadora deve ter uma quantidade de pele móvel suficiente para permitir, simultaneamente, a criação do enxerto e a correção do defeito secundário de uma forma simples. A fim de prevenir possíveis deiscências ou limitações da mobilidade do sítio doador, as áreas sujeitas a movimentos intensos e estresse devem ser evitadas. De modo similar, esses fatores são considerados prejudiciais para a manutenção da viabilidade do enxerto no leito receptor, sendo necessário um planejamento rigoroso e a escolha do adequado padrão reconstrutivo para cada situação 4. Retalhos cutâneos de padrão axial são flapes pediculados que incluem uma artéria e uma veia cutâneas diretas em sua base. São retalhos que apresentam melhor perfusão quando comparados com aqueles cuja circulação provém somente do plexo subdérmico; além disso, eles acabam promovendo grande quantidade de pele para reparação 5. Durante a execução das cirurgias reconstrutivas, é fundamental a preservação da microcirculação e dos vasos nutrientes da pele, para manter a sua viabilidade. No entanto, quando a microcirculação não é preservada, seja por manipulação cirúrgica inadequada ou pelo uso indevido de produtos químicos, pode se iniciar um processo de isquemia local que posteriormente levará à necrose local da região cirúrgica, comprometendo todo o procedimento de reconstrução realizado 6. O presente estudo objetiva relatar um caso de correção de ampla falha cutânea na região do cotovelo, com técnica reconstrutiva utilizando flape de padrão axial tubular toracodorsal em um cão. Relato de caso Um cão sem raça definida, macho, com oito anos e 22kg, foi levado ao Serviço de Oncologia de Pequenos Animais do Hospital Veterinário Governador Laudo Natel devido à presença de nódulos pelo corpo e tumor com necrose localizada na região do cotovelo esquerdo (Figura 1). Após a tricotomia da região, foi possível a adequada visualização e a palpação do referido tumor, que apresentava conformação arredondada com cerca de 10cm de diâmetro. Observou-se ulceração e presença de áreas de infecção e

necrose, que causavam odor e atraíam moscas. Para fins de diagnóstico, realizou-se punção biópsia aspirativa da massa, obtendo-se resultado de proliferações de células uniformes com núcleos de redondos a poliédricos, com nucléolos bem evidentes e citoplasma escasso, grande quantidade de figuras de mitoses, não delimitação do tumor e áreas de necrose. A coloração histoquímica azul de toluidina foi utilizada e o resultado foi negativo para mastocitoma, sendo o diagnóstico sugestivo de neoplasia de células redondas; entretanto, para a obtenção do diagnóstico definitivo, sugeriu-se a imuno-histoquímica, mas esse exame não foi realizado para a confirmação do diagnóstico, em virtude de o proprietário considerar o seu custo muito elevado. Dessa forma, foi indicada a remoção cirúrgica do tumor. O paciente foi submetido a avaliação pré-operatória pelo Setor de Cardiologia do Hospital Veterinário da Unesp, campus de Jaboticabal. Foram realizadas dosagens séricas de alanina aminotransferase e creatinina, além do hemograma. O paciente apresentou parâmetros fisiológicos considerados normais para a espécie nas referidas avaliações. Não foram visibilizadas metástases no exame radiográfico simples do tórax (Figura 2). Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais da Unesp, Campus de Jaboticabal

Figura 1 - Neoplasia em membro torárico na região do cotovelo esquerdo Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais da Unesp, Campus de Jaboticabal

Figura 2 - Radiografia simples do tórax, evidenciando ausência de metástase pulmonar

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

39


Ortopedia Correção cirúrgica de fratura no tibiotarso de periquitoaustraliano (Melopsittacus undulatus) – relato de caso Surgical correction of tibiotarsal fracture in an Australian parakeet (Melopsittacus undulatus) – case report Corrección quirúrgica de una fractura tibio-társica en un periquito australiano (Melopsittacus undulatus) – relato de un caso Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 46-50, 2013

David Baruc Cruvinel Lima

acadêmico de medicina veterinária CCA/UFPI davidbaruc@ig.com.br

Marcelo Campos Rodrigues médico veterinário, dr. HVU/UFPI

marcelocampos@ufpi.edu.br

Dayanne A. Silva Dantas Lima médica deterinária PPGCAA/UFPI

dayannevet@yahoo.com.br

Márcia dos Santos Rizzo

médica veterinária, dra. Depto .de Clínica e Cirurgia do CCA/UFPI marciarizzo@ufpi.edu.br

Ana Maria Quessada médica veterinária, dra. HVU/UFPI

quessadavet@gmail.com

Wagner Costa Lima médico veterinário PPGCA/UFPI

atsocamil@yahoo.com.br

46

Resumo: A criação de aves exóticas é uma atividade em intenso crescimento, o que torna a presença delas em clínicas e hospitais veterinários uma prática comum. O objetivo deste trabalho foi relatar a realização de osteossíntese no membro pélvico de um psitacídeo por meio do implante de uma agulha hipodérmica no canal medular. Um periquito-australiano (Melopsittacus undulatus), agredido por uma ave de rapina, sofreu fratura medial do tibiotarso esquerdo. Após avaliação clínica e procedimentos pré-operatórios, a ave foi submetida a osteossíntese, com a colocação de pino intramedular. O procedimento foi eficaz ao permitir a justaposição dos componentes ósseos afetados e a sustentação do membro operado. O uso de agulha hipodérmica como prótese intramedular em ossos longos de aves de pequeno porte para correção de fraturas representa uma alternativa como método de tratamento. Unitermos: aves, ortopedia, anestesia, analgesia Abstract: The rearing of exotic birds is an increasingly growing activity, which increases the presence of these animals in veterinary clinics and hospitals. The objective of this study was to report the accomplishment of pelvic limb osteosynthesis in a psittacid by means of implantation of a hypodermic needle in the medullary canal. An Australian parakeet (Melopsittacus undulatus) suffered medial fracture of the left tibiotarsus upon being attacked by a bird of prey. After clinical and pre-operative procedures, the bird was subjected to osteosynthesis with intramedullary pin placement. The procedure was effective in allowing the juxtaposition of the bone components and supporting the affected member. We hereby conclude that the use of hypodermic needles as intramedullary prostheses represents an alternative as method of treatment for fracture repair of long bones in birds. Keywords: birds, orthopedics, anesthesia, analgesia Resumen: La cría de aves exóticas es una actividad en constante crecimiento, lo que ha provocado que estos animales sean frecuentemente llevados a clínicas y hospitales veterinarios. El objetivo del presente trabajo fue relatar la realización de una osteosíntesis en el miembro pélvico de un psitácido, mediante el implante de una aguja hipodérmica en el canal medular. El periquito australiano (Melopsittacus undulatus) había sido agredido por un ave de rapiña, dando como resultado una fractura medial tibio-társica en el miembro izquierdo. Después del examen clínico y los procedimientos pre operatorios, el ave fue sometida a una osteosíntesis mediante la colocación de un clavo intramedular. El procedimiento quirúrgico fue exitoso, permitiendo la yuxtaposición de las estructuras óseas afectadas, así como la conservación del miembro operado. El uso de una aguja hipodérmica como prótesis intramedular en huesos largos de aves de pequeño tamaño para la corrección de fracturas se mostró como una alternativa terapéutica viable. Palabras clave: aves, ortopedia, anestesia, analgesia

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



Diagnóstico por imagem Limitações e indicações clínicas da ultrassonografia gestacional em cadelas – revisão de literatura Clinical indications and limitations of gestational ultrasonography in bitches – literature review Las indicaciones clínicas de la ecografía gestacional en perras y sus limitaciones – revisión de la literatura Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 52-60, 2013

Elaine Mayumi Ueno Gil

médica veterinária autônoma nani_pr@yahoo.com

Daniela Aparecida Ayres Garcia médica veterinária PPGCV/UFPR

daniapag@yahoo.com.br

Tilde Rodrigues Froes Paiva MV, profa. adj. II CMV/UFPR

froestilde@gmail.com

Resumo: Diferentes questões surgem durante a realização do exame ultrassonográfico gestacional em fêmeas caninas. Tais questionamentos correlacionam-se: a confirmação diagnóstica da gestação, o cálculo da idade gestacional, a avaliação do número de fetos e o diagnóstico de sofrimento fetal. Contudo, nem todos esses questionamentos apresentam respostas simples, pois algumas dificuldades enfrentadas pelo ultrassonografista durante o exame podem gerar incertezas no resultado. As características fisiológicas, clínicas e fisiopatológicas precisam ser consideradas, evitando-se assim erros de interpretação diagnóstica. O objetivo deste texto é expor as limitações do exame ultrassonográfico gestacional em cadelas e exibir as possibilidades de utilização de algumas inovações tecnológicas associadas à ultrassonografia para esse diagnóstico. Unitermos: ultrassom, gestação, desafios, diagnóstico Abstract: Different issues arise during the course of gestational ultrasound in female dogs. Such questions are correlated: the diagnostic confirmation of pregnancy, the calculation of gestational age, the evaluation of the number of fetuses and the diagnosis of fetal suffering. However, not all of these questions have simple answers, because some difficulties faced by the examiner during the procedure may generate uncertainty in the result. The physiological, pathophysiological and clinical characteristics need to be considered in order to avoid errors due to misinterpretation of diagnostic findings. The aim of this paper is to expose the limitations of ultrasound in pregnant bitches and show the possibilities of certain technological innovations associated with ultrasonography for attaining an accurate diagnosis. Keywords: ultrasound, pregnancy, challenges, diagnosis Resumen: Durante el examen ecográfico gestacional en las perras, suelen ser varias los cuestionamientos que pueden aparecer. Estas preguntas están relacionadas con la confirmación diagnóstica de la gestación, el cálculo de la edad gestacional, la evaluación del número de fetos y el diagnóstico de sufrimiento fetal. No todos los cuestionamientos planteados tienen una respuesta simple, y ciertas dificultades con las que se enfrenta el ecografista durante el examen, pueden crear dudas en el resultado. Las características fisiológicas, clínicas y fisiopatológicas deben ser siempre tenidas en cuenta, evitando de esa forma los errores de interpretación diagnóstica. El objetivo del presente trabajo es plantear las limitaciones del examen ultrasonográfico gestacional en perras, y mostrar las posibilidades que ofrecen algunas innovaciones tecnológicas asociadas a la ultrasonografía en este tipo de examen diagnóstico. Palabras clave: ultrasonido, gestación, desafíos, diagnóstico

52

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



Clínica Disfunção cognitiva em cães idosos: avaliação clínica e estratégias terapêuticas Cognitive dysfunction in aged dogs: clinical evaluation and therapeutic strategies Disfunción cognitiva en perros viejos: evaluación clínica y estrategias terapéuticas Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 62-70, 2013 Ricardo Souza Vasconcellos médico veterinário, prof. adj. DZO - UE Maringá e F. Ingá

ricardo.souza.vasconcellos@gmail.com

Helena Arantes do Amaral médica veterinária autônoma helarantes@gmail.com

Cristiana Corrêa Kuci

graduanda CMV, Depto. de Medicina Veterinária CAV/UDESC cristianakuci@gmail.com

Murilo Moretti

graduanda CMV, Depto. de Medicina Veterinária CAV/UDESC murilo_moretti@hotmail.com

Márcio Antônio Brunetto

médico veterinário, prof. dr. Depto. de Nut. e Prod. Animal FMVZ/USP-Pirassununga brunettovet@yahoo.com.br

Daniela Ramos

médica veterinária, dra. Depto. de Clínica Médica FMVZ/USP-São Paulo daniela.ramos@usp.br

Resumo: O sistema nervoso central é particularmente suscetível aos efeitos do envelhecimento, uma vez que os danos nesse local se acumulam ao longo da vida, culminando com distúrbios comportamentais em animais idosos. Nos últimos anos tem sido reconhecida em cães uma síndrome relacionada à idade com achados patológicos muito semelhantes à doença de Alzheimer em seres humanos, denominada síndrome da disfunção cognitiva canina (SDCC), que acomete aproximadamente 1/3 dos animais a partir dos onze anos de idade. Apesar disso, essa doença tem recebido pouca atenção na prática clínica. Nesta revisão de literatura, o objetivo consistiu em discutir aspectos fisiopatológicos, clínicos e terapêuticos da SDCC, visando facilitar a abordagem diagnóstica da doença e discutir os recursos terapêuticos existentes que podem melhorar a qualidade de vida do animal e a interação com o proprietário. Unitermos: amiloide, antioxidantes, doença de Alzheimer, envelhecimento Abstract: The central nervous system is particularly susceptible to the effects of aging, since damage to this system accumulates throughout life, culminating with behavioral disturbances in older animals. In recent years, a syndrome with agerelated pathological findings very similar to Alzheimer's disease in humans has been described in dogs. The disease is called canine cognitive dysfunction syndrome (CCDS) and can affect about 1/3 of animals from the age of 11. In spite of that, it has received little attention in clinical practice. This literature review aimed to discuss the pathophysiological, clinical and therapeutic aspects of CCDS, in order to facilitate the diagnostic approach of the disease and discuss the therapeutic resources available that can improve the quality of life of the animal and the owner-animal interaction. Keywords: amyloid, antioxidants, Alzheimer’s disease, aging Resumen: El sistema nervioso central es particularmente susceptible a los efectos del envejecimiento, ya que las lesiones se van acumulando a lo largo de la vida del paciente, culminando en disturbios comportamentales en los animales de edad avanzada. En los últimos años se ha reconocido un síndrome en los perros, que correlaciona la edad con las lesiones histopatológicas, que es similar a la enfermedad de Alzheimer de los humanos, denominada Síndrome de Disfunción Cognitiva Canina (SDCC), y que suele afectar aproximadamente 1/3 de los animales a partir de los once años de edad. No obstante, esta enfermedad ha recibido poca atención en la práctica clínica. En esta revisión de la literatura, se tuvo como objetivo discutir los aspectos fisiopatológicos, clínicos y terapéuticos de la SDCC, en un intento por facilitar el abordaje diagnóstico de la enfermedad, discutiendo también las alternativas terapéuticas existentes, que pudieran mejorar la calidad de vida del animal y la interacción con el propietario. Palabras clave: amiloide, antioxidantes, enfermedad de Alzheimer, envejecimiento

Introdução A cognição é definida como o conjunto de processos mentais de percepção, consciência, aprendizagem, memória e tomada de decisão em resposta aos estímulos do meio ambiente. Em seres humanos e animais a capacidade cognitiva é modificada ao longo da vida 1. O envelhecimento 62

representa um processo biológico complexo, caracterizado por modificações progressivas de tecidos e células com perda gradual da capacidade adaptativa, o que acarreta diminuição do potencial de aprendizagem, memória e performance geral 2. Devido aos avanços da medicina, do manejo e da nutrição, os cães na atualidade apresentam expectativa de

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013





Cardiologia Fístula arteriovenosa congênita em cão da raça basset hound – relato de caso Congenital arteriovenous fistula in a Basset Hound – case report Fístula arterio venosa congénita en un perro Basset hound – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 74-80, 2013

Elthon Silveira Cressoni

médico veterinário, chefe executivo Kardiovet kardiovet@kardiovet.com.br

Roberta Valeriano dos Santos

médica veterinária PPG - Depto. Rep. Animal e Radiol. Vet. FMVZ/Unesp-Botucatu robertavaleriano@yahoo.com.br

Zara Bortolini

médica veterinária PPG - Depto. Rep. Animal e Radiol. Vet. FMVZ/Unesp-Botucatu zarabortolini@yahoo.com.br

Alfredo Maia Filho

médico veterinário, prof. UNIRP alfredo@unirp.edu.br

Resumo: A fístula arteriovenosa se refere a uma comunicação anormal e permanente entre uma artéria e uma veia que cursa com dilatação venosa e consequente estagnação do sangue, levando a aumento da pressão local, edema e prejuízo da nutrição tecidual. Relata-se o caso de um filhote da raça basset hound, encaminhado para avaliação cardiovascular devido a um edema persistente do membro torácico esquerdo. Após a realização do eletrocardiograma, observou-se diminuição da frequência cardíaca quando se realizava compressão vascular do membro (Nicoladoni-Branhan positivo), comum em pacientes com fístula arteriovenosa. O paciente foi submetido a uma angiografia que confirmou o diagnóstico presuntivo de fístulas arteriovenosas múltiplas a partir da artéria braquial. Devido à complexidade das fístulas, foi instituído tratamento clínico com fármacos diosmina e flavonoides, que diminuíram o edema e evitaram as ulcerações de pele, proporcionando assim a melhora da qualidade de vida do paciente. Unitermos: angiografia, diosmina e flavonoides Abstract: An arteriovenous fistula is an abnormal and permanent communication between an artery and a vein, which leads to venous dilation and consequent stagnation of blood, increased local pressure, edema and impairment of tissue nutrition. We here report the case of a basset hound puppy that was referred for cardiovascular evaluation due to a persistent edema of the left forelimb. After completion of the electrocardiogram, a decrease in heart rate was observed upon vascular compression of the limb (Nicoladoni-Branham positive), which is common in patients with arteriovenous fistula. The patient was submitted to an angiography, which confirmed the presumptive diagnostic of multiple arteriovenous fistulas from the brachial artery. Due to the complexity of the fistulas, a treatment with diosmin and flavonoids was instituted to decrease the edema and prevent skin ulcerations, providing an improvement in life quality to the patient. Keywords: angiography, diosmin, flavonoids Resumen: La fístula arterio venosa es una comunicación anormal y permanente entre una arteria y una vena, que cursa con dilatación venosa y consecuente estasis del flujo sanguíneo y aumento de la presión local, edema y compromiso nutricional de los tejidos. Se presenta un caso de cachorro Basset hound que fue encaminado para evaluación cardiovascular, debido a un edema persistente en el miembro anterior izquierdo. Después de realizado el electrocardiograma se pudo observar una disminución en la frecuencia cardíaca cuando se hacía la compresión vascular del miembro (signo de Nicoladoni-Branhan positivo), algo común en pacientes con fístula arterio venosa. El paciente fue sometido a una angiografía que confirmó el diagnostico presuntivo de fístulas arterio venosas múltiples con origen en la arteria braquial. Debido a la complejidad de las fístulas, se realizó un tratamiento clínico con diosmina y flavonoides, que disminuyeron el edema y evitaron las úlceras de piel, proporcionando una mejoría en la calidad de vida del paciente. Palabras clave: angiografía, diosmina, flavonoides

74

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



Oncologia Carcinoma inflamatório secundário de mama com metástase intracraniana em cadela – relato de caso Secondary inflammatory mammary carcinoma with Intracranial metastasis in a bitch – case report Carcinoma Inflamatorio secundario de mama con metástasis intracraneales – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 82-90, 2013 Lorena Gabriela Rocha Ribeiro

MV, profa. subst. Depto. Patologia e Clínica - EMVZ/UFBA lorenagrr@gmail.com

Alessandra Estrela-Lima

MV, mestre, dra., prof. adj. Depto Patologia e Clínica - EMVZ/UFBA alestrela@gmail.com

João Moreira da Costa-Neto

MV, mestre, dr., prof. adj. Depto. Patologia e Clínica - EMVZ/UFBA Jmcn@ufba.br

Eduardo Luiz Trindade Moreira

MV, mestre, dr., prof. adj. Depto. Patologia e Clínica - EMVZ/UFBA bteluiz@terra.com.br

Rosana de Deus S. de Carvalho médica veterinária autônoma

rosadeus_silveira@yahoo.com.br

Mário Jorge Melhor Heine D’Assis MV, mestre, oncologista

mariojorgeeh@uol.com.br

Emanoel Ferreira Martins Filho MV, mestre PPG/FCAV/Unesp-Jaboticabal gugaossa@gmail.com

Geovanni Dantas Cassali

MV, mestre, dr., prof. titular. Lab. de Patologia Comparada Depto. Patologia Geral, ICB-UFMG cassalig@icb.ufmg.br

Resumo: O carcinoma inflamatório de mama (CIM), tanto em mulheres quanto em cadelas, é uma neoplasia pouco frequente, muito agressiva e que apresenta o pior prognóstico dentre os tumores mamários. A taxa de sobrevida é reduzida principalmente pelo desenvolvimento precoce de métastases em diversos órgãos ou de anormalidades hematológicas como coagulação intravascular disseminada. Neste trabalho, relata-se o caso de uma cadela racialmente indefinida, portadora de CIM secundário, com sobrevida de 21 dias. Na necropsia, observaram-se múltiplos sítios de disseminação neoplásica, destacando-se metástase intracraniana associada a extensa hemorragia, além de quadro anátomo-histopatológico sugestivo de septicemia. Para o diagnóstico de neoplasia primária e sítios secundários, foi realizado exame histopatológico, além de imuno-histoquímica em secções histológicas do sistema nervoso central. Unitermos: canino, oncologia, neoplasia mamária, sistema nervoso central Abstract: The inflammatory mammary carcinoma (IMC) of female dogs or the inflammatory breast cancer (IBR) of women is an uncommon and extremely aggressive neoplasm that has the poorest prognosis among mammary tumors. The survival rate is low by the early development of metastases in distant organs or hematological abnormalities, such as disseminated intravascular coagulation (DIC). This report describes a case of secondary IMC in a mixed-breed bitch with a 21-day survival history. Multiple sites of neoplastic dissemination were observed during necropsy, especially intracranial metastases with extensive cerebral hemorrhage. Anatomical and histopathological features were suggestive of septicemia. The diagnosis of tumor and secondary sites were based on histopathology and immunohistochemistry in histological sections of the central nervous system. Keywords: canine, oncology, mammary tumors, central nervous system Resumen: El carcinoma inflamatorio de mama (CIM) es, tanto en mujeres como en perras, una neoplasia poco frecuente, muy agresiva, y que, dentro de los tumores mamários, es la que posee peor pronóstico. La tasa de sobrevida es reducida, principalmente por la precoz presentación de metástasis en varios órganos, o por la presentación de anomalías hematológicas, como la coagulación intravascular diseminada. En este trabajo se relata el caso de una perra mestiza con un CIM secundario, que tuvo 21 días de sobrevida post diagnóstico. Durante la necropsia se observaron múltiples sitios de diseminación neoplásica, llamando la atención la metástasis intracraneana asociada a una extensa hemorragia, además de un cuadro anatomo patológico sugestivo de septicemia. Para la realización del diagnóstico de la neoplasia primaria y los sitios de metástasis, se realizaron exámenes histopatológicos, además de inmuno histoquímica en secciones histológicas del sistema nervioso central. Palabras clave: canino, oncología, neoplasia mamaria, sistema nervioso central

Introdução O carcinoma inflamatório de mama (CIM) é uma neoplasia pouco frequente e considerada um subtipo à parte na classificação dos tumores mamários caninos 1-2. Esse tumor muito agressivo apresenta o pior prognóstico dentre as neo82

plasias mamárias 3-5, com taxa de sobrevida que varia de 10 a 60 dias após o diagnóstico 6. A cadela é considerada um modelo natural para o estudo comparativo do CIM, uma vez que, nessa espécie, o tumor desenvolve-se espontaneamente, a exemplo do que se observa na mulher. Além disso, as

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



Oncologia Neoplasias hepáticas primárias em cães e gatos – estudo retrospectivo (2002-2012) Primary liver neoplasms in cats and dogs – a retrospective study (2002-2012) Neoplasias hepáticas primarias en perros y gatos – un estudio retrospectivo (2002-2012) Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 92-102, 2013 Rogério Anderson Marcasso médico veterinário PPGCA/UEL

rogeriomarcasso@gmail.com

Antônio Carlos Faria dos Reis

MV, prof. assoc. Depto. Med. Vet. Preventiva da UEL reis@uel.br

Giovana Wingeter di Santis

MV, profa. assoc. Depto. Med. Vet. Preventiva – UEL giovanaws@hotmail.com

Ana Paula F. R. L. Bracarense MV, profa. assoc. Depto. Med. Vet. Preventiva – UEL anapaula@uel.br

Resumo: As neoplasias hepáticas são uma importante causa de mortalidade no homem e nos animais e podem estar associadas a agentes infecciosos e tóxicos. Este trabalho objetivou revisar os aspectos epidemiológicos, morfológicos e clínicos de animais com neoplasias hepáticas primárias. Foram avaliados 3.289 registros de neoplasias em animais de companhia em um período de dez anos. A prevalência de neoplasias hepáticas primárias foi de 0,41% e 3,47% em cães e gatos, respectivamente. A idade média dos cães foi de 11,7 anos, e dos gatos, de 10,5 anos. Não foi verificada a predisposição sexual ou racial. Os sinais clínicos mais prevalentes foram anorexia (71,4%) e apatia (64,3%). O tempo de sobrevida variou entre um e 30 dias. Morfologicamente, a apresentação maciça foi observada em 66,6% dos cães, e a nodular em 80% dos gatos. O diagnóstico mais frequente em cães (61,5%) e em gatos (100%) foi de colangiocarcinoma. Unitermos: hepatopatia, carcinogênese, estudo epidemiológico Abstract: Liver neoplasms are an important cause of mortality among men and animals and may be associated with infectious and toxic agents. This study aimed to review the epidemiological, clinical and morphological aspects of animals with primary hepatic neoplasm. We evaluated 3,289 cancer records in pets within a ten-year period. The prevalence of primary hepatic neoplasm was 0.41% and 3.47% in dogs and cats, respectively. The mean age of affected animals was 11.7 years for dogs and 10.5 years for cats. Sexual or racial predisposition were not verified. The most prevalent clinical signs were anorexia (71.4%) and apathy (64.3%). The survival time ranged from one to 30 days. Morphologically, presentation was massive in 66.6% of dogs and nodular in 80% of cats. The most frequent diagnosis in dogs (61.5%) and cats (100%) was cholangiocarcinoma. Keywords: liver disease, carcinogenesis, epidemiological study Resumen: Las neoplasias hepáticas son una causa importante de mortalidad tanto en el hombre como en animales, y pueden estar asociadas a agentes infecciosos y tóxicos. Este trabajo tuvo como objetivo evaluar los aspectos epidemiológicos, morfológicos y clínicos de pacientes con neoplasias hepáticas primarias. Fueron analizados 3.289 registros de neoplasias en perros y gatos durante un período de diez años. La prevalencia de neoplasias primarias hepáticas fue de 0,41% en perros y 3,47% en gatos. El promedio de edad en perros fue de 11,7 años y en gatos de 10,5 años. No se comprobó ningún tipo de predisposición sexual o racial. Los signos clínicos con mayor frecuencia fueron anorexia (71,4%) y apatía (64,3%). El tiempo de sobrevida varió entre uno y treinta días. En relación al aspecto morfológico de las neoplasias, la forma maciza fue observada en el 66,6% de los perros, y la forma nodular se presentó en el 80% de los gatos. El tipo tumoral con mayor frecuencia diagnóstica fue el colangiocarcinoma en el 61,5% de los perros y en el 100% de los gatos. Palabras clave: hepatopatia, carcinogénesis, estudio epidemiológico

92

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


www.revistaclinicaveterinaria.com.br

Introdução O termo câncer abrange uma diversidade de doenças conhecidas há alguns séculos. Considerado uma doença de países desenvolvidos, nas últimas quatro décadas esse perfil mudou, convertendo o câncer em um problema de saúde pública mundial. Para o enfrentamento do câncer são necessárias ações que incluam análises epidemiológicas a partir dos sistemas de informação e vigilância disponíveis. Essas informações, no tocante a neoplasias que acometem seres humanos, são sistematizadas e analisadas por setores específicos do sistema de saúde, de modo a promover ações de prevenção e estímulo à formulação de leis que permitam monitorar a ocorrência de casos 1. Em relação a animais de companhia acometidos por neoplasias, os dados disponíveis na literatura provêm principalmente de estudos retrospectivos realizados em hospitaisescolas veterinários. Considerando que há poucos dados no Brasil sobre a ocorrência de neoplasias hepáticas primárias em cães e gatos abrangendo longos períodos de avaliação, objetivou-se neste estudo determinar a frequência desses tumores em animais de companhia atendidos em um hospital-escola, bem como revisar aspectos epidemiológicos, morfológicos e clínicos.

Aspectos morfológicos A classificação das neoplasias hepatobiliares pode utilizar aspectos macroscópicos ou microscópicos. A classificação morfológica considera principalmente os aspectos macroscópicos da lesão, sendo subdividida em três formas 5 (Figura 1). A classificação histológica baseia-se no tipo celular envolvido. As células do sistema hepatobiliar podem sofrer iniciação e promoção, e resultar no desenvolvimento de tumores hepáticos que se subdividem em quatro categorias: neoplasias hepatocelulares, dos ductos biliares, neuroendócrinas e sarcomas 3,5 (Figura 2). Adenoma hepatocelular São neoplasias benignas que acometem cães e gatos e podem apresentar-se como massa única, nodular ou difusa 2,4. Os hepatócitos são bem diferenciados, entretanto há perda da arquitetura tecidual 4. Normalmente é um achado acidental e raramente causa sinais clínicos 5. O tratamento empregado é a lobectomia. A recidiva é rara e o tempo de sobrevida médio é de quatro anos 2. Ana Paula F. R. L. Bracarense

Aspectos epidemiológicos As neoplasias hepáticas são consideradas de rara ocorrência em animais. Os cães apresentam uma prevalência de 0,6 a 2,6%, e os gatos de 1,5% a 2,3% 2. Contrariamente às neoplasias hepatobiliares primárias, a ocorrência de metástases é bastante frequente, acometendo de 30,6% a 36,8% dos cães 2. Em gatos há poucas informações, mas acredita-se que esteja entre 56 e 67% 3. O fígado é o segundo órgão mais afetado por metástases 4 de neoplasias originárias do baço, pâncreas, trato gastrointestinal 2,5 e glândulas mamárias, além de linfomas e mastocitomas 3. Em seres humanos, a ocorrência de neoplasias hepáticas tem aumentado ao longo dos anos, sendo considerada a terceira causa de morte por câncer em todo o mundo. A prevalência desses tumores é maior em países desenvolvidos, provavelmente devido a uma exposição maior a agentes carcinogênicos ou a infecções 6. Aproximadamente 15% das neoplasias hepáticas primárias estão associadas a infecções crônicas virais ou parasitárias. As infecções pelo vírus da hepatite B e C estão relacionadas a uma ocorrência maior de carcinoma hepatocelular 7. A infecção crônica pelos trematódeos Opisthorchis viverrini e Clonorchis sinensis foi classificada como carcinógeno tipo I, por sua associação com o colangiocarcinoma em seres humanos 8. A infestação por trematódeos em seres humanos é considerada um fator de risco para o colangiocarcinoma, que também também pode estar envolvido na etiologia em cães 5. Em gatos, o Platynosomum fastosum causa uma infecção crônica, contínua e assintomática, que pode favorecer o desenvolvimento do colangiocarcinoma 9. Em modelos experimentais com ratos, constatou-se que a infecção por Helicobacter spp está associada à hepatite persistente e à ocorrência de hepatoma e carcinoma hepatocelu-

lar 10. Em diversos estudos sugere-se a interação entre a infecção por helicobactérias e o desenvolvimento de câncer hepático, biliar e pancreático em seres humanos 11-14. Recentemente detectou-se Helicobacter spp em amostras de fígado de cães e gatos portadores de cirrose e neoplasias hepáticas 15. Tanto a infecção bacteriana como a replicação viral nos hepatócitos pode alterar a expressão de citocinas locais e as respostas de proliferação celular ou apoptose das células infectadas 7. A resposta imune às proteínas dos patógenos pode levar a um estado de inflamação crônica 7 que pode resultar na progressão da hepatite crônica à carcinogênese hepática, como demonstrado em um modelo murino 16. A exposição crônica a metabólitos fúngicos, como a aflatoxina B1, carcinógeno químico de ocorrência natural 17, também já foi relacionada ao desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (CHC), principalmente em pessoas infectadas pelo vírus da hepatite B 17,18.

Figura 1 - Classificação morfológica das neoplasias hepatobiliares em cães e gatos. A) Observa-se a forma maciça caracterizada por uma massa solitária (cabeça de seta), grande e confinada a um lobo hepático. B) Observa-se a forma nodular (setas) que se apresenta com múltiplos nódulos em diferentes lobos hepáticos. C) Observa-se a forma difusa que se caracteriza por múltiplos nódulos coalescentes em todos os lobos hepáticos

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

93


Oncologia Biópsia óssea por agulha Jamshidi em cães – revisão de literatura Jamshidi needle bone biopsy in dogs – literature review Biopsia ósea con aguja de Jamshidi en perros – revisión de literatura Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 103, p. 104-114, 2013 Camila Barbosa Amaral

médica veterinária, mestre PPG da UFF profa. assistente Depto. de Medicina Veterinária da UFES camilaosso@gmail.com

Mario Antonio Pinto Romão MV, dr., prof. associado UFF romaomap@vm.uff.br

Ana Maria Reis Ferreira

MV, mestre e dra., profa. titular Depto. de Patol. e Clin. Vet. da UFF ana_ferreira@id.uff.br

Resumo: As neoplasias ósseas em cães são sempre um dilema clínico, sendo algumas alterações radiográficas comuns a diversos tipos de neoplasias ósseas primárias. Dessa forma, a determinação do tipo tumoral é fundamental para a tomada de decisão quanto ao tratamento e ao prognóstico. A biópsia óssea percutânea é um método rápido, pouco invasivo e eficiente de obter fragmentos da lesão para avaliação histológica, configurando um importante método diagnóstico na oncologia veterinária. Apesar dessas características positivas, os riscos de metástases devem ser sempre avaliados antes de se optar pelo procedimento. O presente artigo detalha a técnica de biópsia óssea percutânea por agulha Jamshidi em lesões ósseas neoplásicas em cães, comentando suas indicações e contraindicações, seus riscos e complicações, e apontando suas vantagens e desvantagens. Unitermos: neoplasia óssea canina, diagnóstico, histopatologia Abstract: Canine bone neoplasms are always a clinical dilemma because some alterations are common to several types of primary bone cancers. Determination of tumoral type is therefore paramount to treatment choice and prognosis. Percutaneous bone biopsy is a fast, little invasive and efficient method to obtain lesion fragments for histological evaluation, figuring as an important diagnostic tool in veterinary oncology. Despite these positive characteristics, the risks of metastases need to be evaluated prior to adopting the procedure. The present article describes the percutaneous bone biopsy technique and its application to canine bone neoplasms as regards indications and contraindications, risks and complications, as well as advantages and disadvantages of the practice. Keywords: canine bone neoplasms, diagnosis, pathology Resumen: Las neoplasias óseas de perros suelen representar un dilema clínico, ya que algunas alteraciones radiográficas son coincidentes en varios tipos de neoplasias óseas primarias. Debido a esto, la determinación del tipo tumoral es fundamental para la toma de decisiones en relación al tratamiento y el pronóstico. La biopsia ósea percutánea es un método rápido, poco invasivo y eficiente para obtener fragmentos de la lesión para su posterior examen histológico, representando un importante método diagnóstico en la oncología veterinaria. A pesar de sus ventajas, los riesgos de metástasis deben ser siempre evaluados antes de elegir este procedimiento. El presente trabajo detalla la técnica de biopsia ósea percutánea con aguja de Jamshidi en lesiones neoplásicas en hueso de perros, comentando sus indicaciones y contraindicaciones, riesgos y complicaciones, resaltando sus ventajas y desventajas. Palabras clave: neoplasia ósea canina, diagnóstico, histopatología

Introdução As lesões neoplásicas musculoesqueléticas são desafiadoras e constituem sempre um dilema clínico, pois apresentam uma considerável variação de imagem radiográfica tanto em medicina humana quanto em veterinária. O avanço tecnológico do diagnóstico por imagem em ambas as áreas permitiu a identificação do estágio inicial de muitas delas, tornandose crucial conhecer histopatologicamente tais formações 1-5. Inicialmente, em seres humanos essas lesões eram tratadas por meio da exérese cirúrgica radical, removendo-se a maior quantidade possível de tecido lesado e, na maioria das vezes, 104

culminando na amputação 3. Assim como os métodos diagnósticos por imagem evoluíram, o mesmo ocorreu com as possibilidades de tratamentos, principalmente com a descoberta dos agentes antineoplásicos. A identificação histopatológica da neoplasia tornou-se mandatória para que se chegasse ao protocolo terapêutico mais adequado a ela, considerando a possibilidade de exérese ou não. A biópsia, isto é, a retirada de um fragmento representativo da lesão que preservasse os seus componentes estruturais para ser examinado microscopicamente, passou a responder às dúvidas dos radiologistas e oncologistas médicos e veterinários e a guiá-los

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


www.revistaclinicaveterinaria.com.br

anemias e mielofibrose, entre outras afecções 7. A qualidade do material obtido através dessa agulha Jamshidi levou alguns autores a utilizá-la não apenas para a obtenção de amostra estrutural de medula óssea, mas também de fragmentos de lesões musculoesqueléticas 7, uma vez que sua ponta afiada e cônica possibilita a entrada na cortical óssea e causa pouca distorção celular 1 (Figura 3). Os primeiros relatos da utilização de agulha de biópsia em lesões ósseas de pequenos animais se deram em 1985, com a utilização do trépano de Michelle para obtenção de amostras de tumores em ossos longos 2. No final da década de 1980, alguns autores trabalharam em 62 casos de lesões ósseas em pequenos animais utilizando a agulha Jamshidi com quatro polegadas de comprimento e diâmetro de 8 e 11 G 1. No mesmo ano, a agulha foi empregada com bons resultados tanto na obtenção do fragmento quanto na capacidade de avaliação das lesões de placa de crescimento ósseo para diagnóstico de doenças relacionadas ao crescimento 10. Camila Barbosa Amaral

nos passos seguintes relativos a um determinado paciente 1,4,5. No passado, em medicina humana, realizava-se rotineiramente a biópsia aberta, sendo que o produto final era um fragmento com finalidade diagnóstica em vez de uma peça cirúrgica com finalidade curativa. Esse método apresentava algumas desvantagens, como a contaminação dos tecidos periféricos com células tumorais 3,6. Com o aumento do uso e o melhoramento de técnicas que preservam os membros, tornou-se importante modificar a técnica de biópsia para permitir sua realização. Passou-se então à obtenção da biópsia de uma maneira menos invasiva e até mesmo mais segura para o paciente 4,5,7,8. A introdução de uma agulha hipodérmica associada à aspiração da lesão por seringa fornecia material interessante quando observado em microscopia óptica sobre uma lâmina de vidro. Ainda assim, esse material muitas vezes não era satisfatório para se firmar um diagnóstico 3,6,9. Era preciso produzir um instrumental com menor poder invasor, mas que, uma vez introduzido na lesão, fosse capaz de retirar um fragmento pequeno, porém com tamanho suficiente para ser analisado histologicamente. A solução para tal dilema foi a criação de diversos tipos de agulhas que permitiram a realização de biópsias de lesões ósseas neoplásicas ou não de maneira menos invasiva e na maioria das vezes tão efetiva quanto a biópsia aberta 4-9. Histórico Os relatos do uso de agulha de biópsia em lesões ósseas de pequenos animais surgiram em meados da década de 1980 2, trinta anos mais tarde que na medicina humana, quando foi descrita a utilização de agulhas para a obtenção de amostra de tecidos ósseos lesionados – método diferente da biópsia aspirativa –, detalhando todo o procedimento e os resultados obtidos em dez casos no Hospital Elliot, em Manchester, Estados Unidos 3. As agulhas utilizadas inicialmente para a biópsia óssea em seres humanos foram a Turkel, a Craig, a Ackerman e a Vim Tru Cut, de acordo com o tipo de lesão a ser biopsiada 1-5. No início da década de 1970, foi apresentada uma nova agulha para biópsia de medula óssea em seres humanos (Figuras 1 e 2), que alcançou 100% de sucesso na obtenção de fragmentos de 2mm de diâmetro por 0,5 a 3,5cm de comprimento com mínima ou nenhuma alteração estrutural, permitindo o diagnóstico de leucemias, linfomas, diversas

Figura 2 - Modelo de agulha Jamshidi calibre 11 com mandril removido Camila Barbosa Amaral

Camila Barbosa Amaral

Figura 1 - Modelo de agulha Jamshidi calibre 11 com mandril posicionado

Figura 3 - Detalhe das extremidades das cânulas dos dois modelos de agulha Jamshidi (cônico à esquerda e garra à direita)

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

105


MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

A ligação entre o abuso de animais e a violência familiar

U

Implicações da crueldade contra os animais na prevenção da violência doméstica, de maus-tratos a menores e abuso de idosos

m corpo crescente e convincente de pesquisa, com base em centenas de anos de sabedoria convencional, está renovando a atenção para as ligações entre o abuso de animais e outras formas de violência familiar. Esses achados confirmam indícios de que em famílias nas quais o comportamento violento é prevalente, os investigadores ou assistentes sociais podem muitas vezes encontrar outras formas de abuso fora do seu alcance imediato. Não é incomum que o abuso de animais, o abuso de crianças e a violência doméstica coexistam em duplas ou em uma tríade de comportamentos disfuncionais. Normalmente, os profissionais de uma determinada área não estão preparados para olhar para além do seu campo imediato de especialização. Isso está mudando, no entanto, com a consciência crescente da prevalência e do significado emocional dos animais de companhia para as pessoas em uma sociedade cada vez mais urbana. Embora grande parte da pesquisa relacionada tenha sido realizada nos Estados Unidos, vê-se também um interesse nesse tema em países como Reino Unido, Itália, Canadá, Austrália, África do Sul, Brasil, Holanda, Nova Zelândia e Japão. Hoje, sabemos que o abuso de animais é bastante complexo. Sabemos também que: • os infratores que abusam de animais representam uma ameaça significativa para as populações vulneráveis de animais e pessoas (crianças, idosos e mulheres); • o abuso de animais não é uma atividade inofensiva, mas sim deve ser considerado um sintoma potencial de psicopatologia. Qual é a ligação? Os investigadores de crueldade contra animais, veterinários, assistentes sociais para casos envolvendo adultos 116

ou menores ou policiais especializados em violência doméstica foram capacitados para procurar provas dentro da sua área de pesquisa. Mas muitas vezes é provável que eles se deparem com duas, três ou até quatro formas de violência familiar. Embora eles não precisem ser autoridades em todas as formas de violência familiar, devem estar cientes de que essas outras formas muitas

vezes coexistem. Precisam ter linhas de comunicação preestabelecidas com agências relevantes nesses campos específicos para que essas possam ser diretamente contactadas na necessidade de investigar esse aspecto da situação, como é o caso dos conselhos tutelares da criança e do adolescente. Esse processo de reconhecimento e notificação cruzada é fundamental se quisermos

Estudo revela: 60% das famílias investigadas por abuso de crianças também tinham cometido abusos contra animais de estimação Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


acabar com a violência que envolve as famílias. A conexão é simples: quando os animais sofrem abuso, as pessoas em casa estão em risco, e vice-versa. Muitas vezes, a escolha da vítima é oportunista; se a vítima tem duas ou quatro pernas, é uma questão de conveniência e disponibilidade. Quatro estudos de caso demonstram como os animais são muitas vezes fantoches indefesos na batalha de uma família por poder e controle – e como sua vitimização pode ser um indicador e preditor de outros crimes. Em uma noite de muito frio e neve em 1999, a polícia de um subúrbio da Filadélfia foi chamada para verificar o bem-estar de dogue alemão emaciado que se encontrava no quintal de uma casa insegura e em ruínas. A polícia encontrou o corpo de um menino de 4 anos de idade, que havia sido barbaramente espancado até a morte. Seis dos sete filhos da casa tinham sido espancados por diversas vezes na vida. O pai adotivo da criança foi posteriormente preso e condenado por abuso infantil e homicídio, sendo sentenciado a 22 anos de prisão. É interessante notar que ele havia sido condenado por crueldade contra animais em 1991 e por violência doméstica em 1995. Esse caso demonstra também que o abuso de animais é muitas vezes mais facilmente observado e mais propenso a ser relatado por testemunhas. Consequentemente, os investigadores de abuso animal devem ser considerados como sinalizadores para a violência familiar e o primeiro ponto de prestação de serviços sociais para famílias em crise. Um segundo caso, também da Filadélfia, tragicamente descreve como os animais são maltratados para coagir e controlar mulheres agredidas. A mulher disse à polícia que estava pensando em seus cães quando puxou o gatilho. Por 13 anos seu marido a vinha espancando. Mas uma noite ele não apenas bateu nela com um cabo de aspirador de pó, mas também golpeou um de seus quatro cães. Ele disse que se ela o deixasse, iria encontrá-la e cortar a garganta dos cães na frente dela. Mais tarde, enquanto o marido dormia, ela carregou uma pistola e apontou-a para si mesma. A um passo do suicídio, no

entanto, viu o seu cão mais velho e perguntou-se quem iria cuidar dos cães se ela se fosse. Então, ela entrou no quarto e atirou em seu marido. Ela está cumprindo atualmente de 10 a 20 anos por assassinato em terceiro grau. Milhares de mulheres estão presas em situações similares, vivendo como reféns por recear o destino de seus animais de estimação ou criação se elas partirem. Vemos situações semelhantes com crianças vítimas de abuso sexual: os animais podem ser prejudicados ou ameaçados caso a criança não participe do abuso ou fale sobre ele. Um terceiro caso envolve uma agência de polícia rural. Uma jovem ligou para o xerife para informar que seu pai havia pisoteado seu cãozinho até a morte. O pai foi preso e acusado de crueldade contra animais. Investigação subsequente levou a polícia a acusá-lo de abuso infantil e violência doméstica. Esse caso também demonstra que, quando você não pode retirar um criminoso das ruas por outros crimes, pode ser bem sucedido com as penas por crueldade contra animais. A polícia de Chicago está usando essa tática – eles descobriram que mais de um terço das prisões por brigas de cães também resultam em acusações apresentadas por armas, drogas ou violações de gangues. O quarto caso foi assim descrito pelo promotor: "Justamente quando você pensa que já viu todas as formas possíveis de manipular alguém, aparece alguma nova". Nesse caso, o sr. Davis disse à sua ex-esposa quando ela chegou em casa: "O jantar está pronto". A sra. Davis descobriu que seu ex-marido havia assado seu gato no forno a 500° Fahrenheit (260° Celsius). A polícia e as agências de serviço social devem levar a sério o abuso de animais, que muitas vezes identifica pessoas envolvidas em outras atividades criminosas e violência contra a família. É um crime preditor e um crime indicador. As crianças que cometem atos de violência contra os animais correm grande risco de ferir a si mesmas e aos outros, tanto na infância quanto na vida adulta. Esses atos podem ser também uma reencenação com os animais daquilo que elas mesmas sofrem. As testemunhas e as víti-

mas falam mais à vontade sobre seus animais, e os criminosos admitem a crueldades praticada contra seus animais sem escrúpulos, o que facilita a obtenção de informações detalhadas por parte dos investigadores. E por último, mas não menos importante: os animais vivenciam a dor e o sofrimento, e seus interesses devem ser protegidos. Desafios Um desafio permanente é tentar definir o abuso de animais, que varia muito com os padrões históricos e culturais. As leis muitas vezes fornecem exceções para maus-tratos "necessários" de animais ou práticas "normais" de produção animal, com advertências propositadamente vagas que refletem os interesses agrícolas locais e a opinião pública. Até o advento recente da ciência forense veterinária, era quase impossível diferenciar o abuso acidental do deliberado. Definir a crueldade é como tentar definir pornografia: é impossível de quantificar, mas você sabe reconhecer. As definições populares, profissionais e legais variam amplamente. "Crueldade" implica intenção maliciosa por parte do autor, o que é extremamente difícil de provar em um tribunal de direito. O termo "abuso de animais" tem sido amplamente utilizado, pois este implica a ocorrência de maus-tratos, independentemente das motivações do agressor. O abuso de animal individual abrange uma grande variedade de comportamentos prejudiciais aos animais: tortura; atos deliberados para intimidar um cônjuge; abandono devido a problemas econômicos; lutas de cães e de galos; acumuladores compulsivos que têm muitos animais em condições inadequadas. Enquanto isso, o abuso comercial de animais pode incluir abusos institucionais como laboratórios de pesquisa, lojas de animais, fazendas de criação e os animais sacrificados em cerimônias religiosas. Como os sistemas legais em todo o mundo têm historicamente definido o abuso de animais como crime contra a propriedade alheia e como as motivações psicológicas das pessoas que cometem esses atos variam tanto, os legisladores e os tribunais relutam em adotar leis que ofereçam maior proteção aos animais. O resulta-

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

117


MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

do é a baixa prioridade comunitária para o bem-estar animal. Os sistemas de justiça penal tradicionalmente hesitam em punir os casos de abuso de animais. Esses casos são extremamente difíceis de investigar e provar. Muitos deles estão ligados a interesses econômicos vultosos. Poucos promotores são especializados em direito animal. E há uma pressão constante da comunidade para a concentração de esforços dirigidos a crimes percebidos como mais graves. No entanto, os vizinhos estão mais propensos a ver e relatar o abuso de animais. Esses casos têm impacto emocional elevado, que desperta o sentimento do público. Falar sobre os animais é uma maneira eficaz de possibilitar aos policiais conhecer sua comunidade e se envolver em proteção preventiva em vez de reativa. Além disso, os policiais frequentemente lidam com os mesmos autores, independentemente de as vítimas terem duas ou quatro pernas. Sinais e motivações para o abuso de animais Se uma pessoa tiver dúvidas sobre o bem-estar de um animal, ela deve contatar o órgão de proteção animal apropriado ou a agência de aplicação da lei (assumindo-se a existência de leis de proteção animal e de pessoal treinado para aplicá-las). Essas situações incluem animais de estimação em má condição física, alimentos, água ou abrigo inadequados, a falta de cuidados veterinários, desidratação ou desnutrição, falhas no pelo, parasitas ou provas de que o proprietário abandonou o animal. Da mesma forma, podem-se notar aspectos ambientais que levantam questões. Estes incluem animais alojados em condições insalubres e/ou imundas; animais em demasia, animais mortos na propriedade, iluminação, ventilação ou temperatura inadequadas, prevalência de fezes ou urina, ou animais que vivem em veículos motorizados. Ao deparar com donos de animais de estimação com problemas deve-se contatar a agência de serviços sociais adequada. Não é raro encontrar donos de animais vivendo sozinhos em isolamento e comendo alimentos de origem animal, com pouca higiene pessoal. 118

Pode haver evidência de abuso sexual dos animais. Muitas vezes é encontrado material usado em brigas de cães ou de galos, ou animais utilizados em sacrifícios religiosos. Pode ser encontrada uma grande variedade de lesões físicas em animais, desde ferimentos a bala, contusões e queimaduras até pessoas que administram drogas de efeito psicotrópico para os seus animais de estimação. Existem várias razões pelas quais as pessoas prejudicam os animais. Stephen Kellert e Alan Felthous identificaram nove principais motivações psicológicas; outros pesquisadores, incluindo Eleonora Gullone, Ascione Frank, Linda Merz-Perez e Heide Kathleen, estudaram a psicopatologia das pessoas que abusam de animais. No entanto, as pesquisas ainda são poucas; este é um campo pronto para a continuidade do estudo. Evolução da ligação Pesquisas iniciais na década de 1970 identificaram atos de crueldade contra os animais, incêndios premeditados e enurese noturna como uma tríade de comportamentos altamente prevalentes nas histórias da infância de sociopatas assassinos. Na década de 1980 começamos a voltar a atenção para as histórias de matadores em série (serial killers). Um número significativo deles tinha cometido atrocidades contra os animais na infância, atos que foram ignorados porque, em vez de ver esses fatos como potenciais indicadores de personalidade perturbada, considerava-se que "os meninos são assim mesmo". O caso de Jeffrey Dahmer (1991), o criminoso sexual e assassino que matou e devorou 17 homens e meninos ao longo de um período de 13 anos, exemplifica esse paradigma. Quando criança, ele tinha um cachorro de estimação chamado Frisky, o qual matou. Mas ele também praticou taxidermia em animais que foram encontrados mortos ao longo da estrada – uma habilidade que ele empregou anos mais tarde para preservar partes de suas vítimas humanas. Os vizinhos ficaram tão horrorizado com as caveiras empaladas em estacas no seu quintal que tiraram fotos – e

ainda as tinham anos mais tarde, quando as acusações de mutilação e canibalismo vieram à tona. Mas nenhum dos vizinhos pensou em bater na porta e sugerir à sra. Dahmer que Jeffrey talvez necessitasse de aconselhamento ou terapia. Na década de 1990, o interesse passou para as crescentes tragédias de tiroteios em escolas. Pelo menos 50% desses agressores têm histórias de abuso de animais. Muitas pessoas ficam surpresas ao saber que o movimento de proteção da criança originou-se da proteção de animais. Em 1874, as crianças eram consideradas propriedade fiduciária, como são definidos hoje os cães. O ex-embaixador americano Henry Bergh, que fundou a Sociedade Americana para a Prevenção da Crueldade contra os Animais, usou as leis contra a crueldade para com os animais para resgatar Mary Ellen Wilson, uma jovem que tinha sofrido abuso por parte do padrasto. O homem foi preso, a menina foi entregue ao Estado em custódia preventiva, e as organizações de proteção dos animais começaram uma dupla missão de ajudar animais e crianças vítimas de violência. Essa dupla responsabilidade existiu até a década de 1970, quando a legislação federal promulgou uma rede nacional de agências governamentais de proteção à criança. Esse foi o resultado de um artigo seminal escrito em 1962 pelo dr. Henry Kempe, pediatra, que definiu "a síndrome da criança espancada", uma condição clínica de crianças que sofreram ferimentos graves. Anteriormente, as crianças que compareciam às salas de emergência dos hospitais com queimaduras e contusões inexplicáveis eram chamadas de "propensas a acidentes". Esse artigo único mudou o paradigma e convenceu os médicos a suspeitar da síndrome da criança espancada quando os pacientes apresentavam fraturas, retardo de crescimento, hematomas subdurais, inchaço dos tecidos moles, raspões na pele, morte súbita ou histórias inconsistentes com as lesões. "Os médicos têm o dever e a responsabilidade para com a criança de exigir uma avaliação completa do problema e garantir que não se permita a repetição do trauma", escreveu ele.

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


Hoje, os pesquisadores estão investigando novamente as conexões entre o abuso de animais e o abuso de crianças. Muitos psicólogos reconhecem que o ato de maltratar os animais durante a infância está entre os critérios mais antigos e mais conclusivos de diagnóstico de transtorno de conduta, e começa por volta dos 6,5 anos de idade. Em um estudo de referência, os pesquisadores descobriram que 60% das famílias investigadas por abuso de crianças também tinham cometido abusos contra animais de estimação; para as famílias em que houve abuso físico (em vez de abuso emocional, abuso sexual ou negligência), a correlação foi de 88%. Esse estudo também demonstrou que havia 11 vezes mais mordidas de cães dessas famílias do que em lares em que não se cometiam abusos, o que nos obriga a considerar a saúde pública e as implicações da raiva para a violência familiar. Além disso, o estudo revelou que essas famílias visitam o veterinário com a mesma frequência que famílias em que não há abuso, o que nos obriga a reconhecer que os veterinários receberão pacientes e clientes que são vítimas de abuso. Resultado de pesquisa Um crescente corpo de literatura vem documentando essa conexão, com mais de 800 citações no www.animaltherapy.net. Embora reconheçamos que o abuso de animais raramente seja uma ocorrência descontextualizada ainda não está claro se é causa ou está relacionado a outros crimes, se faz parte de um padrão geral de desvio antissocial, se é introjetado em uma hipótese de dessensibilização gradual, se é produto contextual de ambientes e experiências familiares e culturais ou qualquer outra coisa. Arnold Arluke e Carter Lucas descobriram que 70% das pessoas que abusam de animais tiveram registros de outros crimes violentos, em comparação a um grupo controle dos quais apenas 22% tinham outros antecedentes criminais. Curiosamente, 44% dos abusadores de animais passaram a maltratar pessoas, mas 56% deles cometeram outros crimes antes disso. Esse estudo demonstra que o abuso de animais é parte de uma complexa constelação de

comportamentos. Não há relação direta de causa e efeito, mas não devemos ficar surpresos quando encontramos uma ligação. O estudo também revelou que 97% dos agressores eram do sexo masculino. Menos de 1% dos casos foi ao tribunal. E, nos poucos casos que foram julgados, apenas 44% foram condenados, e as sentenças foram mínimas. A Humane Society of the United States informou que os homens são responsáveis por 94% dos casos de abuso intencional de animais, mas as mulheres são responsáveis por 68% dos casos de acúmulo ou coleta animal. Quase um terço dos casos de abusos intencionais são cometidos por adolescentes, e 21% desses casos envolvem outras formas de violência familiar. E enquanto três quartos das vítimas são animais de estimação, os animais de fazenda e os

animais selvagens também estão em risco. Um estudo sul-africano examinou casos de 117 criminosos agressivos em uma prisão para ver se eles haviam cometido atos de violência contra os animais na infância. Os resultados foram impressionantes: 63% tinham deliberadamente abusado de animais na infância; 38% não gostavam dos animais; 19% tinham visto outro membro da família maltratar dos animais; 67% tinham sido caçadores; 41% tinham ferido um animal por medo; 16% haviam sido atacados por animais. Os pesquisadores concluíram: "A crueldade para com os animais como manifestação de uma agressividade subjacente e como um indicador potencial de comportamento violento posterior contra seres humanos não deve ser ignorada".

A rede de cuidadores da comunidade – incluindo veterinários e suas equipes – deve ser preparada para reconhecer e denunciar todas as formas de violência familiar para as agências habilitadas a investigar e processar esses casos

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

119


MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

Violência doméstica e abuso de crianças Quando olhamos para as conexões entre violência doméstica e abuso de crianças, vemos muitas sobreposições. Apenas em 1993 se reconheceu que os atos de violência doméstica criam mais vítimas entre as crianças da família. Milhões de crianças estão expostas à violência doméstica a cada ano, com efeitos negativos significativos sobre seu desenvolvimento comportamental, emocional, social e cognitivo. Quando os pais brigam e a violência irrompe, as crianças aprendem que não há lugar seguro e que os adultos não podem proteger a si mesmos ou a seus filhos. E muitas vezes assumem a responsabilidade de proteger a mãe ou outras vítimas. Essas crianças têm sentimentos conflitantes de amar e odiar seus agressores. Seu medo crônico muitas vezes as leva a desenvolver comportamento agressivo. Em lares com violência doméstica, as crianças sofrem 15 vezes mais abusos do que em lares não violentos. Violência doméstica e abuso de animais Extensa pesquisa está focalizada na relação entre o abuso de animais e a violência doméstica. Mais de uma dúzia de estudos nos Estados Unidos, na Nova Zelândia, nos Países Baixos e no Canadá mostram que de 15% a 48% de mulheres agredidas adiam a decisão de procurar por segurança porque temem pelo bem-estar dos animais que são forçadas a deixar para trás. Em um desses estudos, Frank Ascione descobriu que 71% das mulheres que entram em um abrigo feminino relataram que seu agressor havia matado, ferido ou ameaçado um animal; 32% disseram que seus filhos haviam ferido ou matado animais, o que caracteriza mais um testemunho de como os ciclos de violência são intergeracionais. Em outro estudo, Ann Quinlisk revelou que 68% das mulheres agredidas relataram violência contra os animais; 87% desses incidentes ocorreram em sua presença e 75% na presença de crianças, uma vez que os agressores utilizam os animais para coagir, controlar, intimidar e humilhar suas vítimas humanas. 120

Um estudo canadense concentrou-se na violência doméstica nas comunidades rurais, nas quais a violência familiar é muito mais problemática pela ausência de abrigos; as mulheres estão presas em fazendas sem transporte, e o bem-estar dos animais de criação é um fator a ser considerado. Uma vítima relatou: "Meu marido disse que, se eu o deixasse, ele mataria o cão e deixaria os bezerros morrerem, e seria por minha culpa. Quando ele ameaçou me matar, eu pensei: quem ficaria sabendo? A fazenda é muito isolada". Uma solução emergente para esse problema é o estabelecimento de programas conjuntos entre os abrigos de mulheres e os abrigos de animais, veterinários e grupos de resgate de animais, para fornecer o que chamamos de "portos seguros" – programas de assistência social para esses animais de estimação que visam remover as barreiras que impedem a fuga das mulheres. Em um programa similar no Canadá, 20% das mulheres relataram que o receio por seus animais de estimação tinha impedido a sua fuga; antes da implementação do programa, a taxa era de 50%. Cerca de 1.100 abrigos femininos nos Estados Unidos possuem tais programas de encaminhamento, e 70 abrigos construíram canis de animais no local para manter toda a família protegida, em um programa chamado SAF-T – Abrigo de Animais e Famílias em Conjunto. Abuso de idosos e abuso de animais Dados de alguns relatórios sobre o impacto do abuso de animais e abuso de idosos: 35% dos assistentes sociais dos Serviços de Proteção a Adultos relataram que seus clientes falam sobre seus animais sendo feridos ou ameaçados; 45% desses assistentes sociais presenciaram abuso de animais ou negligência; 92% notaram que a negligência com relação a animais coexiste com a incapacidade de seus clientes de cuidar de si, e reconhecem que a negligência para com os animais é um importante sinal de alerta; três quartos de seus clientes baseiam suas decisões sobre a aceitação de intervenção ou outros serviços na preocupação com os seus animais de estimação. Os cenários mais comuns aqui são:

anciãos que negligenciam seus animais de estimação; anciãos que negligenciam o cuidado pessoal a fim de cuidar de seus animais de estimação; e o colecionamento compulsivo de animais, encontrado principalmente entre as populações idosas. Três pontos-chaves Há três pontos-chaves sobre a conexão e as suas implicações para os serviços sociais, a medicina veterinária, a aplicação da lei e os tribunais. Primeiro, o abuso de animais deve ser percebido e documentado como uma questão de bem-estar humano. Cada nação tem leis de proteção animal, mas elas foram promulgadas para proteger a propriedade e os sentimentos do público. Podemos usar essa realidade legislativa em nosso benefício, demonstrando aos legisladores as implicações da violência animal para os seres humanos. Essa é uma mensagem que eles podem entender. Em segundo lugar, o abuso de animais deve ser redefinido como violência familiar. Mais uma vez, essa é uma mensagem que o público, os tribunais e as legislaturas podem compreender. E terceiro, a rede de cuidadores da comunidade – incluindo veterinários e suas equipes – deve ser preparada para reconhecer e denunciar todas as formas de violência familiar para as agências habilitadas a investigar e processar esses casos. Políticas públicas e respostas profissionais Helen Munro, patologista veterinária no Reino Unido, identificou uma dúzia de fatores de risco que devem levar os veterinários a suspeitar do abuso de animais. Se há discrepâncias nos relatos de diferentes membros da família a respeito da história de um caso, ou se um cliente visita várias clínicas para tentar evitar a detecção, ou se o animal tem múltiplas fraturas de idades diferentes, ou se há lesões em vários animais da casa ou um histórico repetitivo de acidentes, mortes ou violência contra seres humanos, deve-se suspeitar de abuso. Os animais jovens e os idosos são mais vulneráveis a abusos; determinadas raças, como rottwei-

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


lers e pit bulls, correm maior risco. O sexo do animal não é tanto um fator, mas sim o gênero do agressor: a maioria dos abusadores, como já vimos, é do sexo masculino. Evidência de pobreza, de abuso de substâncias ou sinais comportamentais incomuns devem ser motivo de preocupação. Finalmente, Munro descobriu um percentual significativo de casos de síndrome de Munchausen por procuração, um transtorno psicológico que leva as pessoas a maltratar os seus animais como uma desculpa para ver um profissional médico, em um grito desesperado por atenção. Mais recentemente, os cursos de medicina veterinária forense na Universidade da Flórida e a formação oferecida pela International Veterinary Forensic Sciences Association vêm desenvolvendo procedimentos clínicos detalhados para auxiliar o sistema de justiça criminal no emprego de técnicas de coleta de provas semelhantes às utilizadas há décadas pelos médicos examinadores em medicina humana. Um guia novo produzido pela American Veterinary Medical Association, a National Link Coalition e o Links Group do Reino Unido vem fornecendo aos profissionais da área estratégias práticas de gestão para reconhecer e reportar maus-tratos a animais. Os códigos de ética dos veterinários e o juramento de veterinária nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Nova Zelândia foram alterados nos últimos anos para resolver esse problema. Esses códigos geralmente dizem que o veterinário tem a obrigação ética de tentar resolver os problemas de violência familiar por meio da educação, mas quando essa educação falhar, a divulgação às autoridades apropriadas pode ser necessária. A legislação em muitos estados dos Estados Unidos está fazendo do grave abuso de animais um crime mais sério. Funcionários de proteção animal e veterinários estão sendo adicionados à lista de profissões obrigadas por lei a relatar suspeita de abuso com imunidade de responsabilidade civil e criminal. Vários estados requerem que as pessoas condenadas por abuso de animais se submetam a gestão de raiva ou aconse-

lhamento psicológico e ao serviço comunitário, ou proíbem esses indivíduos de possuir animais de estimação. Muitos estados permitem agora que os juízes incluam os animais de estimação em ordens judiciais de proteção contra abuso doméstico, e sete estados incluem o ato intimidatório de maltratar um animal dentro de suas definições de violência doméstica e abuso de idosos. Muitas comunidades estabeleceram coligações por meio das quais as agências de serviços humanos e de organizações de defesa dos animais treinam uns aos outros para reconhecer e denunciar as diferentes formas de violência familiar. Muitos programas colocam delinquentes juvenis para cuidar de cães oriundos de abrigos; os adolescentes adestram os cães por meio de técnicas de reforço positivo e de treinamento com clicker para que possam ser adotados com mais facilidade, e aprendem assim a resolver seus próprios conflitos de forma não violenta. Os jovens se sentem produtivos e ganham autoconfiança quando seus animais são adotados em novas casas. Eu chamo esses programas de "crianças descartáveis treinando cães descartáveis." As campanhas de educação pública estão ensinando às comunidades que o pai que chega em casa e chuta o gato está provavelmente apenas se aquecendo para fazer algo pior. Recursos Alguns recursos excelentes podem ser encontrados nos sites da National Link Coalition (www.nationallinkcoalition.org), da Latham Foundation (www.latham.org), do Animals and Society Institute (www.animalsandsociety.org), da National District Attorneys Association (www.ndaa.org) e da American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (www.aspca.org). As duas últimas organizações oferecem um webinar gratuito mensal sobre as estratégias de acusação do abuso de animais. Há um registro online de casos graves de abuso de animais em www.petabuse.com. Foi compilada uma extensa bibliografia de pesquisa acadêmica sobre a conecção no www.animaltherapy.net.

Conclusão Em 1962, a expressão "síndrome da criança espancada" entrou na terminologia médica. Em 1979, Lenore Walker escreveu "A mulher maltratada", que introduziu o campo de aplicação da lei à violência doméstica. Em 1996, Helen Munro cunhou o termo "animais de estimação agredidos”. Fizemos um grande progresso em um curto período de tempo, mas temos muito mais a fazer. Nos Estados Unidos, os animais de estimação não são mais considerados propriedade fiduciária. Noventa e nove por cento dos americanos os consideram companheiros ou membros valiosos da família. O principal mercado para os animais de estimação consiste em famílias com filhos: dois terços das famílias com crianças com menos de seis anos e três quartos das famílias com crianças com mais de seis anos têm animais de estimação. A mulher é o principal cuidador dos animais de estimação em 74% dos lares que possuem animais. Isso mostra que a principal clientela do médico veterinário são as três populações que sofrem maior risco de violência familiar: os animais, as crianças e as mulheres. A conexão não é nova. A antropóloga Margaret Mead escreveu sobre isso há 50 anos. Livros infantis da era vitoriana escritos há 175 anos relatam isso. O filósofo John Locke escreveu sobre isso há 300 anos. E São Tomás de Aquino escreveu sobre isso há 750 anos. A violência familiar é uma questão de poder e controle. Muitas vezes, a escolha da vítima é oportunista. Sempre que um membro da família sofre abuso, todos os outros membros da família estão em risco. Phil Arkow Coordenador da National Link Coalition; presidente da Animal Abuse & Family Violence Prevention Project, The Latham Foundation; consultor da American Society para a prevenção do abuso animal; consultor da Animal Welfare Institute; diretor da American Association of HumanAnimal Bond Veterinarians arkowpets@snip.net

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

121


COMPORTAMENTO

Seres humanos e cães: vida em comum

P

ara muitos, os animais de estimação são membros do núcleo familiar e cumprem a função de proporcionar conforto e companhia. São núcleos constituídos por aqueles que estão próximos emocionalmente e essa proximidade é possível pela capacidade dos cães de vivenciar subjetivamente as emoções, perceber e sentir. Os cães fazem parte da sociedade humana há longa data. Curiosamente, a domesticação dos canídeos precede a dos primeiros herbívoros domesticados (ovelha e cabra), provedores de carne e outros subprodutos. Essa evidência suscita uma indagação: por que, entre tantas espécies, os canídeos foram selecionados para domesticação? Tem-se dito frequentemente, na etologia tradicional, que a resposta-chave é o comportamento social e gregário, o fato de originalmente viverem em grupos, estabelecerem vínculos e interagirem em todas as épocas do ano e não somente em períodos reprodutivos. No entanto, não devem ser ignorados os mecanismos biológicos de vinculação como o comportamento de apego 1

122

(Bowlby, 2002). Identifica-se no ser humano e no cão o apego de forma similar ao manifestado pelos seres humanos durante a infância em relação aos seus cuidadores. Esse comportamento é fundamental para as espécies sociais e caracteriza uma relação afetiva de dependência do bebê, ou filhote, que persiste por tempo variável, segundo a espécie, e se manifesta pela necessidade de um em relação ao outro. Além disso, o cão desenvolveu traços comportamentais (não evidenciados em outros animais) funcionalmente análogos aos humanos para adaptar-se ao ambiente comum. Acredita-se que uma das principais diferenças comunicativas entre o cão doméstico e o lobo é o comportamento de olhar a expressão facial de seus parceiros humanos. Esse comportamento tem a função de iniciar e manter a interação comunicativa e é congruente com os sistemas humanos de comunicação. Outra característica do cão doméstico é de “buscar auxílio” para suas necessidades; para tanto, utilizase de dispositivos comunicacionais para demonstrar ao seu cuidador/parceiro humano que está enfrentando problemas

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


de difícil resolução – diferentemente de outros animais, como gatos e lobos, que tentam solucionar seus problemas sozinhos. Essa característica oferece uma explicação além da que foi dada para a seleção dos canídeos, restrita à domesticação e às características gregárias de vida social. A comunicação interespecífica com os seres humanos exerce um importante papel na aprendizagem canina. Os cães evidenciam as melhores adaptações às demandas humanas, quando comparados às outras espécies de animais de companhia, e usam de estratégias comunicativas sustentadas principalmente por três sentidos: audição, visão e olfato. A visão, a audição e o olfato são os recursos sensoriais usados pelos cães para a identificação de pessoas. A comunicação visual e, em especial, o reconhecimento de expressões faciais são utilizados na interação entre canídeos para assegurar uma conduta congruente à interação. Essa mesma via comunicativa é recorrente entre os seres humanos e os cães. Esse dado sugere que o reconhecimento dos sinais humanos é uma habilidade singular do cão que lhe permite modular seu comportamento às expectativas e às demandas de seu parceiro humano. É interessante assinalar ainda que há similaridade entre a organização social e os sistemas de comunicação das duas

espécies. Tanto os seres humanos como os canídeos vivem em extensos grupos familiares, proveem os filhotes de cuidados parentais, compartilham os cuidados dos mais jovens com outros membros do grupo (familiares ou não familiares), e os recém-nascidos, para sobreviver, dependem de cuidados de seus progenitores por extenso período: poucas semanas ou muitos meses, segundo a expectativa de vida. Considerando essas similaridades, não é de surpreender que os seres humanos incorporem cães em seu grupo social e por sua vez sejam incorporados nos grupos caninos. Fonte:

1-FARACO, C. B. Interação humano-cão: o social constituído pela relação interespécie. Tese de Doutorado, PUCRS, 2008.

Profa. dra. Ceres Berger Faraco

Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA) www.psicologiaanimal.com.br Médica veterinária, clínica de comportamento animal, doutora em psicologia e presidente da AMVEBBEA (Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal) www.amvebbea.com.br

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

123


PET FOOD

Comportamento nutricional dos felinos – parte I

V

ários fatores podem influenciar nas escolhas e/ou preferências dos alimentos pelos felinos. Alguns deles são: - fatores da evolução; - fatores comportamentais; - fatores comportamentais adquiridos. Evolução O comportamento alimentar do gato selvagem nos permite compreender o gato doméstico. O gato é um caçador solitário e se alimenta várias vezes no decorrer do dia e da noite. Por apresentar uma extraordinária aptidão para a caça, ele é muito adaptável às mudanças, podendo facilmente retornar à vida selvagem e sobreviver na natureza sem a ajuda humana. A "domesticação" do gato teve início há cerca de 6 mil anos (Bradshaw 1996), mas não inibiu seus instintos de caçador. Alguns estudos (Liberg, 1984; Niewold, 1986) demonstraram a grande diversidade dos alimentos dos gatos quando livres na natureza: coelhos, lebres e outros... Tudo dependendo da disponibilidade das presas no ambiente. Os gatos são carnívoros com maiores necessidades de energia do que os cães e os seres humanos. Isso se traduz nas características anatômicas de sua dentição, que apresentam os dentes caninos e molares de forma a serem utilizados para cortar carne (Thorne, 1995). O gato caça instintivamente e é um equívoco afirmarmos que se o superali-

O comportamento de se alimentar e o comportamento de caçar são dissociados no gato 124

mentarmos ele perderá a vontade de caçar. Um estudo realizado por Liberg demonstrou que gatos domésticos devidamente alimentados e com acesso ao ambiente externo também apresentam comportamento de caça. O gato, ao contrário do cão, corre o risco de ser enganado pela palatabilidade de um alimento: pode preferir um alimento pobre em nutrientes que são essenciais para ele, mas acaba por consumi-lo por este ser mais palatável (Cook et al., 1985). O gato não tem capacidade para procurar alimentos que contenham os nutrientes de que necessita, pois na natureza as presas que ele abate (roedores, aves etc ...) possuem essas propriedades. É, portanto, mais vulnerável a erros nutricionais. Diferentemente dos cães, que apresentam comportamento onívoro e que conseguem se alimentar de frutas ou vegetais, os gatos, estando em um ambiente onde as presas são escassas, ficarão sem se alimentar. De acordo com Fitzgerald e Turner (2000), os gatos realizam várias tentativas de caça, em média de três a cinco vezes, antes de abaterem suas presas. Para caçar, o gato deve estar em forma e com o peso equilibrado. Caso esteja com sobrepeso ou obeso, não conseguirá caçar. Isso certamente explica por que ele tem a capacidade de autorregular o seu consumo de energia (Kane et al., 1981 e 1987; Bradshaw et al., 1996). Porém, em alguns casos, não precisa caçar e pode perder essa capacidade de autorregulação, tornando-se obeso. Em síntese, o gato é um carnívoro e rea liza em média de 12 a 20 re fei ções/dia. Podemos dizer que ele é um bom provador de alimentos. Comportamento relacionado ao alimento O comportamento do gato na seleção de seu alimento é extremamente variável. Ele corresponde às necessidades de adaptação ao ambiente e é o resultado da seleção natural.

O gato é seletivo e utiliza os sentidos na escolha de um determinado alimento: caso esse alimento apresente um odor que venha a atraí-lo, é porque até mesmo um ser humano poderá consumí-lo. Além das considerações sensoriais, o animal não reconhecerá o alimento, podendo agir de acordo com suas experiências passadas. Dependendo do alimento que está sendo ofertado, o gato poderá selecioná-lo por meio de diferentes estratégias: pela neofilia, pela neofobia e não pelo sabor. Quando o gato reconhece o alimento, sua escolha poderá ser influenciada pela disponibilidade relativa; isso é conhecido como antisseleção ou seleção apostática. A neofilia A neofilia é a preferência por um alimento novo, com o qual o animal nunca teve contato ou que tenha sido oferecido em um passado recente. É comum entre os carnívoros e tem sido demonstrada em gatos. Ela permite que os animais diversifiquem a sua dieta e assim melhorem o seu equilíbrio nutricional. A intensidade do comportamento neófilo depende da palatabilidade do alimento. A neofilia pode ser considerada apenas um fator na seleção alimentar dos animais; isso não significa que, necessariamente, eles sempre terão preferência por um novo alimento em vez daqueles aos quais eles já se estejam habituados. O efeito da novidade é acompanhado por um consumo excedente e temporário. Durante os primeiros trinta dias, os gatos podem consumir mais calorias, em média até 50% a mais. Em seguida, esse efeito diminui e se estabiliza em torno de 60 dias. O tempo de duração de um comportamento neófilo irá depender do período de exposição do animal ao alimento. A neofobia Neofobia é o oposto do neofilia e corresponde a uma menor preferência

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


por um novo alimento em comparação com o alimento habitualmente utilizado, podendo ser chamada também de fixação de hábitos alimentares. Muitos gatos manifestam neofobia. Esse comportamento faz parte da estratégia de seleção de alimentos. Um animal que consome um ou mais alimentos que lhe permitam desfrutar de uma dieta equilibrada não corre o risco de ingerir um novo alimento desconhecido. Algumas dicas para superar a neofobia: 1. oferecer o novo alimento por três dias; 2. colocar um pouco de alimento diretamente na boca do gato; 3. no caso de alimentos úmidos, podemos passá-lo em suas patas e deixá-los lambê-las. Na natureza, os carnívoros apresentam com maior frenquência o comportamento neófilo – o contrário do que acontece com os onívoros (Thorne, 1982). A aversão A aversão é uma estratégia usada por animais para evitar os alimentos que não lhes convêm. É uma forma de condicionamento negativo. No caso dos gatos, a aversão é estabelecida muito rapidamente. Um alimento associado a uma má experiência provoca uma rejeição do animal no momento de consumi-lo. Apenas o odor de um determinado alimento associado a desordens digestivas (intoxicação, diarreias, vômitos etc...) ou a experiências negativas (internação, contenção etc...) é suficiente para estimular o comportamento de aversão, evitando assim o seu consumo. As necessidades de espaço Os gatos necessitam sentir-se seguros em um ambiente familiar. É responsabilidade dos propietários proporcionalhes um lugar adequado para se alimentar, dormir e brincar, além de dar a possibilidade ao gato de controlar seu próprio nível de estresse através dos mecanismos naturais que o levam a esconder-se ou a isolar-se. As medidas adequadas para proporcionar ao gato um ambiente estável e previsível, tanto no refente a estrutura física como do meio “olfativo”, permite aumentar a sensação de segurança do animal e

conseguirá diminuir os comportamentos como na higiene excessiva e a bulemia. As recomendações mínimas de espaço entre os utensilios (comedouro, bebedouro, cama, liteira) devem respeitar um espaço de 1,5m entre cada um. Desse modo proporcionamos uma área mínima para que o gato se sinta seguro e confortável. Comportamento alimentar adquirido A análise do comportamento alimentar adquirido é possivel após a realização de estudos que comparam as preferências dos animais de acordo com seu estilo de vida e os alimentos consumidos no passado. As diferenças entre as preferências alimentares dos gatos domésticos e dos gatos selvagens explicam o estilo de vida e as experiências alimentares passadas. O último alimento O último alimento desempenha um papel-chave no estabelecimento das preferências alimentares. Isso é verdadeiro para os gatos criados em diferentes ambientes e manejos, mas também pode afetar os animais criados em condições semelhantes. Fase pré-natal A aquisição de determinadas preferências pode se dar em uma idade muito jovem do animal – até mesmo na gestação (líquido amniótico). Durante a lactação, a composição do leite varia de acordo com a alimentação da mãe. O desmame O desmame pode ser considerado um dos períodos mais críticos para o filhote, pois o leite materno não está sendo mais suficiente para cobrir suas necessidades nutricionais. O momento em que o gato consome o seu primeiro alimento sólido pode ser o mais importante em termos de impacto, especialmente se ocorre na presença da mãe. Ao consumir o seu primeiro alimento sólido, o filhote, como critério, não escolhe o alimento mais palatável. A importância da mãe na aceitação de um alimento é fundamental para o gatinho. Além disso, privá-los da oferta

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

O período do desmame exerce bastante influência na formação do comportamento alimentar

de alimentos pode influenciar as experiências de aprendizado. Os filhotes alimentados por seringas ou por entubação têm experiências de percepção de gosto muito limitadas em comparação com os que são alimentados normalmente. Em testes de condicionamento, cujo sucesso é recompensado com alimento, os filhotes alimentados por entubação, foram mais lentos para passar nos testes e muitas vezes se recusaram a comer a recompensa (Zernicki et Stasiak, 2000). Após o desmame O manejo nutricional e as características do alimento têm grande influência no comportamento nutricional dos felinos. É indiscutível que o modo de vida e o tipo de dieta influenciam na escolha de um determinado alimento. Para alguns autores é possível fixar os hábitos alimentares dos animais criando-os com os mesmos alimentos desde o nascimento. Para outros, os animais não desenvolvem uma preferência particular pelo alimento com que foram criados. Na segunda parte deste artigo, abordaremos a influência das caraterísticas do alimento e da palatabilidade, a capacidade olfativa e as diferenças quanto a raça, idade, sexo e em situações particulares, como, por exemplo doenças, entre outras. Yves Miceli de Carvalho

ymvet.consulting@yahoo.com.br Mestre em Nutrição Animal (FMVZ-USP) Membro Comitê Pet CBNA Membro do Comitê Técnico da ABINPET Coordenador do Grupo de Estudos da Interação Humano Animal da ABINPET (INTERHA) Conselheiro Suplente CRMV-SP Departamento Técnico e Cientifico Nano Vet Bionanotecnologia em Medicina Veterinária Nutricionista Anhambi Cães e Gatos

125


LANÇAMENTOS

ANTIBIOTICOTERAPIA

A

Virbac, multinacional francesa dedicada exclusivamente à saúde animal, traz mais uma inovação ao mercado brasileiro. Agora o Rilexine conta com uma nova fórmula palatável, comprimidos revestidos e de liberação gradual. Esses fatores representam um grande avanço nos tratamentos com antibióticos, pois o Rilexine palatável é a Cefalexina de eleição para tratamento de piodermites, podendo ser administrada uma vez ao dia, com eficácia e segurança. Os comprimidos de Rilexine, além de palatáveis, também podem ser facilmente partidos, para adequado ajuste ao peso do animal.

Virbac: (11) 5525-5000 www.virbac.com.br

Rilexine possui apresentação em blister com 7 comprimidos para facilitar a administração semanal

CONTROLE DE PULGAS

A

MSD Saúde Animal lançou no mercado brasileiro um produto inovador para o tratamento e a prevenção de infestações causadas por pulga (Ctenocephalides felis) em cães e gatos, o ActivylTM. “ActivylTM é um produto único que alia alto poder inseticida contra todos os estágios de desenvolvimento da pulga à tecnologia inovadora da bioativação, que expõe minimamente os animais e seus proprietários ao ingrediente ativo, uma vez que sua ação inseticida ocorre somente no interior da pulga”, explica Andrei Nascimento, Gerente Técnico da Linha de Animais de Companhia da MSD Saúde Animal. Outro diferencial do produto é a dosagem única mensal e sem cheiro. ActivylTM permite ainda fácil aplicação, mantém sua eficácia mesmo após o banho e é indicado para filhotes a partir de 8 semanas de vida, sendo, inclusive, utilizado como parte estratégica do controle e tratamento da Dermatite Alérgica à Picada de Pulga (DAPP). MSD: www.msd-saude-animal.com.br

126

ACTIVYL™: Solução pour-on à base de indoxacarbe

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013



GESTÃO, MARKETING & ESTRATÉGIA

Quanto vale seu estoque? E você cuida dele?

A

gestão dos estoques é uma das atividades mais importantes dentro de uma empresa e, mesmo assim, ainda é negligenciada por muitos empresários. Há duas ou três décadas havia o costume de investir em grandes estoques, pois isso era uma forma de se proteger da inflação que aumentava os custos dos produtos diariamente, porém, nos dias atuais, quanto menor o estoque, melhor (compare o espaço de armazenagem que existia nos supermercados com o existente hoje). A estabilização da economia, a melhora dos processos logísticos, a informatização e o surgimento de sistemas de identificação mais eficientes, como o código de barras, fizeram com que a gestão dos estoques se tornasse mais precisa e estratégica para fábricas, distribuidoras e comércio em geral. Infelizmente, na maior parte das empresas veterinárias esse controle é inexistente e, quando existe, limita-se a uma contagem esporádica que no máximo identifica a quantidade errada de produtos, não conseguindo esclarecer e corrigir suas causas: faz-se a correção do estoque e tudo fica na mesma. Isso ocorre porque esquecemos que estoque é dinheiro e, mais que isso, dinheiro parado na prateleira. Como controlar estoques? Existem várias maneiras de fazê-lo. Antes dos computadores, as empresas faziam a escrituração manual de todos os movimentos do estoque, e para cada compra, venda ou extravio, era feita uma anotação com data, quantidade e saldo. Geralmente criava-se uma ficha para cada produto, o que exigia o trabalho de muitas pessoas. A informática facilitou esse processo, primeiramente por meio do uso das planilhas eletrônicas, que tornaram o procedimento mais confiável e ágil. Mas ainda não era o ideal, pois a inserção dos dados dependia de pessoas, não existindo integração com os outros processos da empresa (compras, vendas, etc). Com o tempo, surgiram os softwares de gestão, que permitem a movimentação 128

automática do estoque ao realizar uma venda ou uma compra. O advento do código de barras fez com que a seleção da mercadoria na compra ou na venda se tornasse mais precisa, melhorando ainda mais o controle do estoque. Infelizmente, muitas empresas não realizam o inventário periódico de seu estoque e sequer possuem as ferramentas adequadas para fazê-lo. Por que meu estoque nunca está correto? A atualização do estoque é um cálculo matemático simples, baseado nas operações de adição e subtração. O problema quase sempre se encontra no processo (o modo como fazemos as coisas) e, principalmente, nos erros humanos, já que depender de pessoas para realizar um grande volume de tarefas aumenta as chances de ocorrerem erros. Como esperar bons resultados se temos que criar comandas em papel e, ao final do dia, somar item por item e transferir a informação para uma planilha a fim de atualizar nosso estoque? A fórmula a seguir mostra quais são os fatores que influenciam o estoque de um produto num determinado período: estoque inicial + estoque atual = compras + devoluções - vendas - perdas - extravios

Cada uma dessas operações é suscetível de várias falhas: 1 - As quantidades em estoque são obtidas por meio dos inventários (contagem do estoque) atual e inicial: como o controle de estoque costuma ser ineficiente, esses valores quase sempre estão incorretos. O ideal é fazer a contagem quando a empresa está fechada, pois evitamos erros decorrentes da alteração do estoque por conta de vendas. É importante ter certeza de que todos os produtos foram contados e impedir a contagem repetida do mesmo produto. Os softwares modernos permitem que a contagem seja feita com a empresa em funcionamento e atualizam as vendas automaticamente

2 - Compras: pode ocorrer falha na conferência das mercadorias recebidas do fornecedor ou no momento de colocar a informação no sistema. São comuns os erros relacionados às unidades de compra e venda. Por exemplo: compramos 2 caixas de vacinas com 25 doses, e no momento de informar ao sistema ou à planilha a quantidade comprada, colocamos 2 (pensando em caixas) quando deveríamos colocar 50 (pensando em doses). Alguns softwares já trabalham com unidades distintas para compra e venda. 3 - Devoluções: se a mercadoria é devolvida, temos que nos lembrar de acrescentá-la ao estoque, o que nem sempre ocorre. 4 - Perdas: quase sempre nos esquecemos de dar baixa no estoque quando retiramos uma mercadoria da prateleira por vencimento ou por problemas que inviabilizem sua comercialização. Também é comum retirarmos mercadorias para uso interno e não atualizarmos o estoque. 5 - Vendas: deixar para depois é o principal erro. Quando temos muitos clientes para atender, acabamos nos esquecendo de realizar a venda no sistema. Aqui o uso de comandas é outro problema, pois aumenta muito o trabalho e exige uma conferência que acaba sendo mal realizada. Outro grande problema é a confusão no momento de selecionar o produto que está sendo vendido, o que se resolve facilmente com a utilização de uma leitora de código de barras, que custa cerca de 150 reais. 6 - Extravios e furto: geralmente são o bode expiatório dos erros do estoque. Toda vez que encontramos uma quantidade menor do que a prevista, é costume supor que houve furto e precisamos melhorar a segurança. Como pudemos ver acima, são tantos os fatores que influenciam o estoque, que é no mínimo imprudente culpar clientes ou funcionários pela falta da mercadoria. Um bom indicador é saber se os erros no estoque são sempre para menos ou se existem erros para mais: quando temos uma quantidade maior do que esperávamos de um produto na prateleira, é certo

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013


que existem falhas no processo. A correta gestão dos estoques se reflete diretamente na eficiência dos processos de compra, no controle de perdas e extravios de mercadorias, na garantia de disponibilidade de produtos aos clientes e no resultado financeiro,

A combinação de código de barras, RFID e smartphones pode automatizar várias tarefas

visto que as margens de contribuição (diferença entre o preço de venda ao cliente e o custo da mercadoria) em nosso setor são tão pequenas, que qualquer erro tem um impacto significativo na lucratividade.. A próxima tecnologia para facilitar nossa vida deverá ser a utilização das etiquetas identificação por radiofrequência (RFID) – dispositivos que permitem a armazenagem de dados como validade, origem e data de fabricação, entre

outros, permitindo inclusive a rastreabilidade do produto. Elas são lidas por meio de portais que emitem campos magnéticos e recebem a informação de volta, o que permite a passagem de múltiplos produtos simultaneamente. Exemplos desses dispositivos em nosso cotidiano são os TAGs para pedágio e os microchips implantados em nossos animais. Veja um supermercado que já utiliza essa tecnologia, combinando código de barras, RFID e smartphones: http://www.youtube.com/watch?v= KGslt5hnXAw .

Renato Brescia Miracca renato.miracca@q-soft.net

Médico veterinário, bacharel em direito, MBA Q-soft Brasil Tecnologias da Informação www.qvet.com.br

Clínica Veterinária, Ano XVIII, n. 103, março/abril, 2013

129



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.