Clínica Veterinária n. 66

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G uarรก

ISSN 1413-571X

Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007 - R$ 12,00

EDiTORA

Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra)

www.revistaclinicaveterinaria.com.br



Paulo Renato S. Costa

Tilde Rodrigues Froes Paiva

Índice

Odontologia - 28

Gengivite/estomatite linfocítico-plasmocitária em gatos - relato de quatro casos Lymphocytic-plasmacytic gingivitis stomatitis in cats - four cases report

Gingivitis/estomatitis linfocítico-plasmocitaria felina - relato de cuatro casos

Mucosa oral da região das fauces e da gengiva com hiperemia e proliferação tecidual em associação com doença periodontal

Diagnóstico por imagem - 36 Emprego da ultra-sonografia móvel na medicina veterinária: estudo retrospectivo

Taís Barelli Saito

Use of mobile ultrasound in the veterinary medicine: a retrospective study

Uso de ultrasonografía móvil en veterinaria: estudio retrospectivo

Distribuição de freqüências (em %), dos órgãos ou sistemas de origem das lesões ultra-sonográficas, dos 737 animais atendidos pelo serviço de ultra-sonografia móvel - São Paulo Renato de Lima Santos

Clínica médica - 44 Infecção pelo vírus da leucemia felina em gatos de diversas cidades do Brasil Feline leukemia virus infection in cats from various cities of Brazil

Infección por el virus de la leucemia felina en gatos de diversas ciudades de Brasil

Fluorescência do citoplasma de dois leucócitos em esfregaço de sangue periférico indicando a presença de antígeno viral. (Aumento de 400x)

Oftalmologia - 52 Pan-oftalmite em cão com leishmaniose visceral: relato de caso

Carmem Helena de C. Vasconcellos

Panophthalmitis in a dog with visceral leishmaniasis: a case report

Fotomicrografia do globo ocular de cão com LVC

Panoftalmitis en perro con leishmaniasis visceral: relato de caso Diogo José Cardilli

Oncologia - 58 Sarcoma pós-vacinal felino: um alerta Feline vaccine-associated sarcoma: an alert

Sarcomas post-vacunales en gatos: un alerta

Excisão de tumoração localizada no hemitórax lateral esquerdo de um gato doméstico, posteriormente dignosticada como fibrossarcoma

Cirurgia - 64 Disgerminoma ovariano em cadela: relato de caso Ovarian dysgerminoma in bitch: case report

Seções

Editorial - 5 Cartas - 6 Reportagem - 8

Vista da fábrica da Royal Canin, em Aimargues

Arquivo Royal Canin

Campus da Royal Canin em Aimargues, França

Notícias - 12 • 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária 12 • Excelentes palestrantes no III Concevepa 14 Público participante do III Concevepa

Disgerminoma ovárico en perra: relato de caso

• Tomografia computadorizada • Dez anos de C.I.P.O A ortopedia tem sido foco de interesse, tanto de recém-formados, como de clínicos com larga experiência profissional

• 2006, um ano de sucesso para a Vetnil • Especialista norte-americano recomenda vacinas com tecnologia recombinante • Selênio orgânico Sel-Plex® é aprovado para uso como aditivo pela União Européia • 3º Encontro Científico Internacional Atopia, mitos e verdades foi realizado em 5 países Além das palestras, mesaredonda esclareceu dúvidas dos participantes

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Cornos uterinos e ovários, com ovário esquerdo acometido por disgerminoma

Lançamentos - 68 Livros - 69 Lançamentos abordam, de diferentes aspectos, o relacionamento com os animais

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Bem-estar animal - 22 II SIMCOBEA e I Encontro da AMVEBBEA

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

Gestão, marketing e estratégia - 70 Resoluções e ações

Negócios e oportunidades - 72 Ofertas de produtos e equipamentos

Serviços e especialidades - 73 Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Agenda - 80 3


Indexada na base de dados CAB ABSTRACTS (Inglater ra) CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS Arthur Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10159

PUBLICIDADE / ADVERTISING João Paulo S. Brandão midia@editoraguara.com.br (11) 3672-9497

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

CONSULTORIA JURÍDICA / CONSULTING ATTORNEY

Journal of continuing education for small animal veterinarians

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER Paciente do Serviço de Fisioterapia e Reabilitação do Hospital Veterinário da Universidade Anhembi-Morumbi (www.anhembi.br/ hospital_veterinario) fotografado por Arthur Barretto, durante seção de fisioterapia

IMPRESSÃO / PRINT Copypress

Joakim M. C. da Cunha

TIRAGEM / CIRCULATION

(OAB 19.330/SP) (11) 3251-2670

10.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. - Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 05311-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Fone/fax: (11) 3835-4555 é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/Mbrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em disquete de 3.5" ou CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).

Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@anestciruvet.com.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexandre Mazzzanti DCPA/CCR/UFSM mazzal@smail.ufsm.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@cvm.uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@openlink.com.br Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart Vale Verde Parque Ecológico mamiferosecia@uol.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@terra.com.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Christina Joselevitch Netherlands Inst. Neurosciences c.joselevitch@nin.knaw.nl Cristina Massoco Oncocell Biotecnologia cmassoco@usp.br Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino Lab&Vet Diag. e Consult. Vet. fcmaiorino@uol.com.br Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net

Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa FMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão UMESP, FESB e FAJ mouraogb@hotmail.com Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP; ALBA Alangarve@aol.com Jose Fernando Ibañez FMV/UEL ibanez@uel.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Luciane Biazzono DCV/CCA/UEL biazzono@uel.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio Dentello Lustoza Agener União mdlustoza@uol.com.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br

Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes CENA/USP/Piracicaba sadyzola@usp.com Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco Santos FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Depto. Meio Ambiente Foz Iguaçu cubas@foznet.com.br


Editorial D

ia 1º de janeiro, Dia Mundial da Paz. A data ainda não é comemorada como deveria. Poucas são as pessoas que sabem da sua existência e da sua importância, por isso ela é lembrada apenas por alguns e em poucos locais. Atualmente, ela mal consegue existir entre seres humanos, que dirá se falarmos em paz para todos os seres. Lamentavelmente, a maioria dos animais não humanos ainda se encontra em total regime de escravidão, sendo subjugados aos diversos tipos de estresses físicos e psicológicos. Exemplo disso é a existência de rodeios, rinhas, circos com animais, entre outras barbáries, como a vivissecção. A prática do rodeio é um verdadeiro crime contra um ser vivo senciente. Por ser muito lucrativo, também é muito defendido, possuindo um grande lobby que colabora para a sua manutenção. Como podem existir empresas que patrocinem tamanha atrocidade? Talvez os gerentes de marketing das empresas patrocinadoras estejam iludidos pelos defensores dos rodeios, que sempre estão tentando provar que não há sofrimento para o animal... Aliás, faz-se de tudo para tentar isso, até novela. Felizmente, na medicina veterinária brasileira, temos pessoas célebres e que têm coragem, não somente de dizer a verdade, mas de mostrá-la. A profa. dra. Irvênia Prada (FMVZ/USP), neuroanatomista, publicou, o artigo científico "Bases metodológicas e neurofuncionais da avaliação de ocorrência de dor/sofrimento em animais", na Revista de Educação Continuada do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de SP, volume 5, fascículo 1, p.1-13, 2002, que mostra cientificamente o sofrimento dos animais que são usados nos rodeios. Nas faculdades, durante muito tempo, o exemplo e a prática da violência começava cedo. Os calouros, ao ingressarem nas instituições de ensino, eram denominados de “bixos”. Talvez com “x” para diferenciá-los dos bichos não humanos... Porém, assim como nos rodeios, eles eram subjugados, além do tradicional corte de cabelo e pintura no rosto, às práticas de estresses físicos e psicológicos que, algumas vezes, terminaram em morte. E foi somente por isso, que o famoso trote foi sendo contestado e abolido. Sorte dos “bixos”... Enquanto isso, milhões de bichos sofrem os abusos da vivissecção e milhares de alunos de ciências biomédicas são submetidos à prática da dessensibilização, fazendo-os crer que os animais estão aqui para servir ao “bicho homem” e ao que se chama de “ciência”. O bem-estar animal não pode ficar restrito a adesivos e a animais de estimação. Ele precisa estar presente no ensino, na pesquisa e na sociedade. Os médicos veterinários, por serem formadores de opinião, têm importante papel na difusão desses conceitos. A revista Clínica Veterinária, como veículo de comunicação para a classe, procura fazer a sua parte. Por isso, fez-se questão de incluir nesta edição a cobertura do II Simpósio de Comportamento e BemEstar Animal (Simcobea) e do I Encontro da Associação Médico-Veterinária Brasileira de BemEstar Animal (AMVEBBEA), realizados em novembro de 2006, no Rio de Janeiro, RJ, contribuindo para que no futuro, em todas as instituições de ensino, haja dignidade no ensino das ciências biomédicas e paz para todos os seres.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

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Cartas para esta seção devem ser enviadas para cvredacao@editoraguara.com.br ou pelo correio para a Editora Guará Ltda., Seção de Cartas, Caixa Postal 66002, 05311-970, São Paulo - SP. Perguntas, dúvidas, esclarecimentos, comunicados, orientações etc. serão respondidas conforme a ordem de chegada. Os editores poderão resumir o conteúdo da carta, conforme a necessidade.

Carcinoma inflamatório

José Guilherme Xavier

Prezados autores e editores, Gostaria de salientar que o trabalho: “Carcinoma inflamatório de mama em cadela - relato de caso”, publicado na Clínica Veterinária n. 65, p. 40-44, não representa o primeiro caso brasileiro. Existem trabalhos em anais de congresso e em revista indexada:

CARDOSO, M. J. L. ; BARBOSA, M. V. F.; MACHADO, L. H. A.; MOUTINHO, F. Q.; FRANCO, S. R. V. S. & FABRIS, V. E. Metástase cutânea de carcinoma inflamatório mamário Relato de caso. IN: 20º Congresso Brasileiro de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, Águas de Lindóia, SP, 7 a 11 de agosto de 1999. CARDOSO, M. J. L.; BARBOSA, M. V. F.; FRANCO, S. R. V . S.; ROCHA, N. S.; FABRIS, V. E. Carcinoma inflamatório de mama em cadela (Canis familiaris, L. 1758). Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 24, n. 6, p. 262-264, 2002.

Carcinoma inflamatório mamário apresentando blocos de células neoplásicas com áreas necróticas acompanhadas por intenso infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear e numerosos êmbolos neoplásicos

Prof. dr. Mauro José Lahm Cardoso Prof. titular de clínica médica de pequenos animais e semiologia Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP Bandeirantes - PR

Prezado prof. dr. Mauro José Lahm Cardoso, obrigado por prestigiar e estar atento ao conteúdo da Clínica Veterinária. Sua informação é bem-vinda e útil para salientarmos a importância das bases de dados na medicina veterinária. As bases de dados utilizadas para o levantamento bibliográfico empregado na elaboração do artigo foram as que se encontram disponíveis para consulta na internet: Medline/Pubmed, Lilacs, Scielo e Google acadêmico. No resultado da pesquisa não foi encontrada a publicação citada e tampouco o trabalho apresentado no Congresso Brasileiro de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais. O artigo em questão não foi uma detalhada revisão de literatura, mas sim, um relato de caso que teve como objetivo alertar os colegas em relação às suas particularidades, fornecendo subsídios para o seu diagnóstico, e contribuindo para futuros estudos relacionados à moléstia no Brasil. Arthur de V. P. Barretto - editor Henri Donnarumma L. Bentubo - autor



Reportagem

Campus da Royal Canin em Aimargues, França

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Arquivo Royal Canin

m outubro de 2006 a Royal Canin levou uma comitiva formada por convidados do Brasil, Argentina e México para o 31º Congresso Mundial da WSAVA, realizado de 11 a 14 de outubro, em Praga, na República Tcheca. Após o congresso todos os convidados foram levados para Aimargues, no sul da França, na Camargue, para conhecer o Campus da Royal Canin, onde estão reunidos a fábrica, o centro de pesquisas e desenvolvimento, o canil e o gatil. Nessa mesma cidade, há 40 anos, foi criada a Royal Canin pelo médico veterinário Jean Cathary. Atualmente, a Royal Canin já implantou fábricas de alta tecnologia,

Técnico realiza análise para calcular a resistência dos ingredientes à oxidação

por Arthur Barretto

funcionando 24 horas por dia, na França, Estados Unidos da América, Brasil, Argentina, África do Sul e Rússia. Também possui fábricas sendo construídas no Reino Unido e na Polônia.

carga pode ser aceita. Entre as matérias-primas entregues, os produtos sólidos são armazenados nos 33 silos enquanto os líquidos são transferidos para um dos 20 tanques existentes. O tempo médio de permaA fábrica em Aimargues nência de qualquer matéria-prima antes Mais de 130 pessoas trabalham em de ser incorporada, não passa de três turnos de 8 horas, produzindo de 500 a dias. Para evitar a oxidação, é muito 600 toneladas por dia. A produção máimportante limitar o tempo de armazenaxima anual alcança 160.000 toneladas. mento ao estritamente necessário. Para que a qualidade dos alimentos No laboratório de autocontrole destaca-se o sistema NIRS (Normalized produzidos seja garantida todos os forInfrared System), que determina a uminecedores de matérias-primas são seledade, a concentração de proteína e o teor cionados. Além disso, de todos os camide gordura da amostra. É esse sistema que nhões que chegam com matérias-primas, centraliza os resultados das análises das coletam-se amostras para verificar se a matérias-primas apresentadas nas sete unidades de fabricação: Aimargues e Cambrai (França); Johannesburg (África do Sul); Rolla (EUA); Descalvado (Brasil); Buenos Aires (Argentina); e Moscou (Rússia). Outra importante análise realizada é a da concentração de antioxidantes, que é determinada por cromatografia. Membros da comitiva brasileira durante visita ao Campus da Royal Canin em Aimargues, França

Arquivo Royal Canin

Arquivo Royal Canin

Armazenamento de amostras de todas as matérias-primas e de todos os produtos acabados. O prazo de conservação é de seis meses para as matérias primas e de 18 meses para os produtos acabados. Para os produtos acabados, esse prazo corresponde a data de vencimento dos produtos. Mais de 4.000 amostras de matérias-primas e cerca de 70.000 amostras de produtos acabados são conservadas. O objetivo dessa reserva de amostras é garantir a rastreabilidade dos produtos. Caso ocorra um problema, a realização de análises em paralelo sobre o produto acabado e a amostra do mesmo produto permite determinar a sua eventual origem

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Arquivo Royal Canin Arquivo Royal Canin

A avaliação da estrutura do croquete pelo texturômetro é feita por simulação da penetração do dente do cão ou gato. Calcula-se a força necessária para rompê-lo e, avalia-se ao mesmo tempo, a distância de penetração do dente no croquete. Isto é muito importante para a elaboração de produtos destinados a melhorar a higiene dental. O objetivo é uma ação preventiva do alimento contra o cálculo dental

Cão sendo submetido a teste de palatabilidade

A aceitação de uma matéria-prima não significa o encerramento dos controles. Análises adicionais são realizadas posteriormente por uma equipe de técnicos que têm como objetivo primar pela qualidade dos alimentos que serão produzidos, garantir a segurança alimentar e permitir a rastreabilidade dos produtos. Outras importantes avaliações são os teores de amido, de fibras e de proteínas, bem como a digestibilidade dos ingredientes e a densidade energética dos produtos acabados. O cálculo da digestibilidade dos ingredientes é importante para verificar de que maneira a incorporação de novos ingredientes na fórmula pode contribuir para melhorar a digestibilidade do produto final. Uma simulação das reações enzimáticas sofridas na realidade pelo ingrediente permite discriminar os ingredientes e as proteínas com qualidade nutricional superior. O método péptico, simulação da digestão dentro do estômago, foi abandonado em prol do método Boisen, mais exato, que reproduz a digestão no estômago e nos intestinos. Os ingredientes com digestibilidade superior são excelentes candidatos para as novas formulações cuja digestibilidade real é averiguada no canil ou no gatil. Durante o processo de fabricação as matérias-primas são encaminhadas para a torre de trituração e de mistura. Em seguida vão para o processo de extrusão. Em Aimargues, duas pessoas pilotam e controlam permanentemente o processo de extrusão acompanhando-o por meio de monitores de vídeo. Após o processo de extrusão os croquetes passam pela secagem, aromatização e mais uma secagem final. Na fase de empacotamento destacamse as embalagens ATCO e Square. A embalagem ATCO ou embalagem sob atmosfera controlada consiste em substituir o oxigênio por insuflação de gás neutro (azoto), logo antes do fechamento da embalagem. Esta técnica permite aumentar a conservação dos produtos. A embalagem Square permite preservar, mesmo depois de múltiplas manipulações, a apresentação da embalagem. Garante o aspecto estético da apresentação e facilita a valorização dos produtos e da marca nos locais de venda.

Centro de Pesquisa e Desenvolvimento O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento localizado no campus da Royal Canin, em Aimargues, limita-se à pesquisa aplicada, contando com a participação de médicos veterinários e de engenheiros. A pesquisa fundamental é realizada em colaboração com o Waltham Centre for Pet Nutrition (WCPN), na Inglaterra e em diferentes universidades e escolas de medicina veterinária pela Europa, Estados Unidos da América, Austrália e Nova Zelândia. Renaud Sergheraert, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Royal Canin, destaca algumas das inovações que a empresa lançou no mercado: “nos últimos 10 anos seRenaud Sergheraert, diguimos a filosofia de retor do Centro de Pesabrir novos territó- quisa e Desenvolvimento rios e lançamos programas nutricionais inovadores como: a linha Size Nutrition, desenvolvido e adaptado às necessidades nutricionais do cão, de acordo com a idade, o tamanho, a atividade física e o peso do animal; a linha Vet Cat, especialmente desenvolvida para gatos castrados; Persian 30, alimento específico para o gato persa; Giant Adult, alimento adaptado aos cães gigantes; Mini Yorkshire Terrier, o primeiro alimento específico para raça de cães no mercado mundial”. No desenvolvimento de novos produtos, a Royal Canin, além de contar com os cães e gatos residentes no canil e gatil do campus para a realização, por exemplo, de testes de palatabilidade e digestibilidade, conta também com a parceria de criadores e de pesquisadores em universidades que utilizam os produtos, avaliando-os e retornando os resultados obtidos. No caso dos cães, por exemplo, a quantidade de raças é muito grande e não há como ter todas no canil. Além disso, há as dietas terapêuticas. Para a Royal Canin testá-las e avaliá-las, a colaboração com os pesquisadores nas universidades é de grande valia. Esta conduta da empresa em Aimargues é seguida pelas outras unidades, como por exemplo, no Brasil.

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Reportagem

Arquivo Royal Canin

Os testes de preferência para os gatos são bastante diferentes dos testes elaborados para os cães. Devido ao comportamento alimentar específico dos gatos, que podem comer até 20 vezes por dia, não faz sentido realizar testes de preferência de curta duração. Para poder aplicar esses testes foram criados pequenos recintos individuais onde são colocados duas vasilhas com os aliCães do canil divertindo-se em área de lazer mentos que estão sendo avaliados. Eles ficam fechados e são exclusivos para cada gato. O dispositivo que irá abrir o compartimento com os alimentos está presente na coleira de cada gato. Essa tecnologia permite que seja registrado: o O bem-estar no gatil é funnúmero de refeições, a damental, pois qualquer quantidade ingerida e a veloestresse altera o comportamento alimentar dos gatos cidade de ingestão. Em função do risco que a espécie tem da formação de cálculos urinários, também A seta indica os compartimentos coleta-se a urina para avaliar a acidez onde se encontram urinária induzida pelo alimento. os alimentos exclusivos de cada gato

Núcleo de abordagem à obesidade animal - SPA’tas No Brasil, assim como em Aimargues, a Royal Canin também

Profa. dra. Márcia Jericó, coordenadora do hospital veterinário da Universidade AnhembiMorumbi e profa. de clínica de pequenos animais, responsável também pelo SPA’tas

Na maioria dos casos a restrição calórica e a prática de exercícios leva à perda de peso, melhora do humor e disposição do paciente

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conta com a colaboração de diversos pesquisadores para o constante aprimoramento de seus produtos, como por exemplo do alimento Obesity, que é fornecido ao projeto SPA´tas. O projeto é desenvolvido por professores, médicos veterinários e acadêmicos do curso de medicina veterinária da Anhembi Morumbi, em São Paulo, SP. O SPA'tas oferece um programa de redução de peso ao animal obeso. O tratamento da obesidade inclui a avaliação das morbidades relacionadas ao excesso de peso, a conscientização e colaboração do proprietário, a instituição de dieta específica para restrição calórica, definição de um plano de atividades físicas e monitorização periódica do paciente. Os animais que ingressam no projeto recebem gratuitamente quantidade suficiente de ração para garantir o tratamento dietético pelo período de seis meses, desde A natação em piscina aquecida, realizada no Serviço de Fisiote- que compareçam aos retornos parapia e Reabilitação do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi, ajuda na perda de peso e melhora o estado físico dos cães obe- ra as avaliações e não faltem aos sos. “O ideal é 40 minutos, duas vezes por semana, mas para exercícios agendados no Serviço os que estão iniciando, as práticas duram 5 minutos, e, gradati- de Fisioterapia e Reabilitação. vamente, vão sendo ampliadas”, destaca a dra. Márcia Jericó

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

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Arthur Barretto visitou o Campus da Royal Canin,em Aimargues, a convite da

Arquivo Royal Canin

Arquivo Royal Canin

O canil e o gatil Antigamente, o canil e o gatil ficavam na região da Bretanha. No final do ano 2001, todos os animais foram transferidos para Aimargues. Nenhuma experiência invasiva é feita sobre os animais mantidos. A participação dos animais ao processo de desenvolvimento dos alimentos limita-se aos testes de palatabilidade e às avaliações de digestibilidade. O canil conta com 21 raças de cães instaladas em uma área de 10.000m2: 4.000m2 cobertos e 6000m2 de parques de recreio. Dentre as raças mantidas, encontram-se exemplares das raças gigantes, grandes, médias e pequenas. No canil e no gatil, os animais não se reproduzem. Da espécie canina são mantidas apenas fêmeas. A renovação de animais é feita através da aquisição de filhotes que são fornecidos por criadores que respeitam o caderno de especificações definido pela Royal-Canin. Quando um cão fica idoso, ele deixa de participar dos testes, mas continua morando no canil, onde desempenha importante papel na socialização e educação dos filhotes introduzidos. O gatil é composto de dois pavilhões divididos internamente em 7 recintos, mantendo-se em cada um deles, 8 animais de ambos os sexos. Os machos, ao atingirem a idade adulta, são castrados.



7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária

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ndicado para presidir a 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária, Luiz Augusto de Carvalho (Perna) pretende, em 2007, repetir a consagração nacional do evento. Segundo ele: “é fato que ao longo das seis edições anteriores a conferência vêm se confirmando como um dos melhores eventos científicos realizados no Brasil”. Atual presidente da ANCLIVEPA-RJ e candidato (chapa única) à eleição na próxima (17/01/2007) deverá ser reconduzido pelos associados para mais um mandato. Para a ANCLIVEPA-RJ, agora parceira de gestão, foi motivo de júbilo o contrato firmado com a LK que lhe outorgou a responsabilidade de conduzir a 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária. O grande desafio, segundo Perna, “é a qualidade da precedência que nos obriga, e a toda equipe, a uma superação permanente. O fato positivo é que ao longo das edições a LK construiu uma relação de convivência coerente com seu objetivo, o que facilita o excelente relacionamento do grupo e a absorção de novos valores.” Coordenação científica Nádia Regina Pereira Almosny, bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (nível 2) será a coordenadora científica da 7ª Conferência SulAmericana de Medicina Veterinária. A dra. Almosny possui graduação em medicina veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1982), mestrado em medicina veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria (1987) e doutorado em medicina veterinária (parasitologia veterinária) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1998).

por Arthur V. P. Barretto

Luiz Augusto de Carvalho (Perna)

Presidente da 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária Não mediremos esforços para trazer os melhores palestrantes, com novos cursos e mais o que for possível para garantir a qualidade da 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária. Considerando que doravante esta incumbência será da ANCLIVEPA-RJ, pretendo já nesta edição começar a moldar uma gestão diferenciada e sobretudo participativa, valorizando o grupo e eliminando o individualismo.

Atualmente é professora adjunta IV da Universidade Federal Fluminense. Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em patologia clínica animal, atuando principalmente nos seguintes temas: hematologia, bioquímica clínica, hemoparasitoses, zoonoses emergentes, rickettsia, ehrlichia, babesia, hepatozoon, mycoplasmas hemotrópicos, patologia clínica de animais domésticos, patologia clínica de animais selvagens e peixes. Visitando a Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br) no site do CNPq pode-se conhecer detalhes da pesquisadora, que possui vasta publicação científica, participação em mesas

Caminharemos coesos ampliando, nesta 7ª Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária, as experiências de todos. Teremos uma especial preocupação em pontuar os interesses do dia-a-dia do clínico veterinário. Nas demais áreas de conhecimento a ênfase também será o lado prático de sua aplicabilidade. Deveremos nesta 7ª Edição trazer a participação mais direta do mercado na discussão geral do evento. Estamos convidando médicos veterinários, executivos consagrados nas suas áreas de atuação em nutrição e saúde animal para opinarem na evolução de conceitos e temas, inclusive nos subsidiando com suas experiências internacionais em eventos assemelhados. O mundo acadêmico e as entidades vinculadas ao meio também serão alvo de ações específicas. Conto com vocês Um grande abraço. Luiz Augusto de Carvalho (Perna) Presidente da ANCLIVEPA-RJ

de dissertação, orientações em dissertações de mestrado e de doutorado. Os anos de entusiasmo e dedicação à medicina veterinária lhe renderam reconhecimento profissional. Inclusive, recentemente, sua importante pesquisa sobre a epidemiologia, clínica e alterações laboratoriais nas hemoparasitoses de cães e gatos transmitidas por carrapatos nas cidades serranas do entorno Grande Rio, com ênfase ao estudo de zoonoses, foi contemplada com bolsa da FAPERJ (http://www.faperj.br) denominada "Cientistas do Nosso Estado", que são destinadas a apoiar os melhores projetos coordenados por pesquisadores de reconhecida liderança na sua área.



Excelentes palestrantes no III Concevepa

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m novembro de 2006 realizou-se o III Concevepa, Congresso do Centro-Oeste de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, em Brasília, DF. Pontos favoráveis à realização de eventos na região são as diversas clínicas veterinárias existentes e duas faculdades de medicina veterinária: a UNB e a UPIS. Além disso, próximo à Brasília encontra-se o exuberante pólo turístico no entorno ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Isso sempre é um atrativo a mais para os eventos, pois oferece aos participantes a opção de unir o período dedicado à educação continuada, com passeios turísticos. O público presente ao congresso foi privilegiado com a excelente qualidade dos palestrantes. Ressalta-se a presença do ortopedista Donald A. Hulse, da Texas A&M University (www.cvm.tamu.edu) e da especialista em reabilitação Sandra Hudson, da Canine Rehabilitation and Conditioning Center (www.caninesportsrehab. com), também do Texas, EUA, que discorreram sobre ortpedia e reabilitação. Donald A. Hulse é consagrado ortopedista tendo, inclusive, ministrado palestra no congresso mundial da WSAVA, ocorrido em outubro de 2006, na República Tcheca. Sandra Hudson mostrou em suas palestras o trabalho de reabilitação que desenvolve na Canine Rehabilitation and Conditioning Center, com a utilização de diversos recursos, desde exercícios simples que promovem o alongamento de determinadas regiões, até a utilização de esteira aquática, a qual foi bastante recomendada. Complementando as palestras de ortopedia e reabilitação, houve uma mesa-redonda formada por Donald A. Hulse, Sandra Hudson e João Guilherme Padilha Filho, da Unesp/ Jaboticabal. A participação de Padilha

Donald A. Hulse, João Guilherme Padilha Filho e Sandra Hudson

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por Arthur Barretto

Comissão organizadora do III Concevepa

Canine Rehabilitation and Conditioning Center

foi muito importante, pois os participantes puderam constatar que a ortopedia no Brasil está bastante atualizada. Porém, ainda nos faltam os modernos recursos de diagnóstico disponíveis nos EUA e ainda escassos no Brasil. Um recurso de diagnóstico simples salienteado por Donald A. Hulse foi a filmagem do animal em movimento para analisar a claudicação. Com o filme registrado, podese analisar o movimento do animal diversas vezes. Porém, o que mais ajuda, principalmente os olhos menos treinados, é a observação em câmera lenta. A vinda de Donald A. Hulse e Sandra Hudson não se limitou ao Concevepa. Logo após o congresso, eles foram para

Sergio Lobato em palestra sobre marketing, assunto bastante procurado O Centro Veterinário Park Hill (www.parkhill. com.br), localizado em Águas Claras, DF, foi um dos expositores no evento. Kevin (ao lado), mascote do Centro Veterinário Park Hill, atraiu a atenção de todos circulando pelo congresso. Ao lado, recebe, de Roberto Zambrano, aplicação de acupuntura realizada no Centro Veterinário Park Hill

o Rio de Janeiro onde participaram do I Fórum Internacional de Ortopedia e Reabilitação Animal, evento realizado para consolidar a formação da Academia Brasileira de Ortopedia Veterinária, que já conta com uma diretoria provisória enquanto os estatutos da entidade são finalizados (Hélia Zamprogno, presidente; João Guilherme Padilha Filho, vice-presidente; André Luis Selmi, secretário geral; Richard Filgueiras, 2º secretário; Luis Renato Verissimo de Souza, tesoureiro geral; Bruno Lins, 2º Tesoureiro; André Lacerda, 1º diretor científico; Sandro Alex Stefanes, 2º diretor científico; Damaris Rizzo, diretora de eventos). Interessados em participar da entidade devem escrever para o endereço: nanehcd@hotmail.com. Destaca-se também a participação de Rodrigo C. Rabelo, presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária Intensiva (www.bveccs.com.br), que, atualmente, encontra-se trabalhando na Universidade de Madri, na Espanha. Além de ter apresentado palestras sobre emergência e terapia intensiva, no précongresso, ministrou minicurso de emergência (teórico-prático), juntamente com Rogério Barroso, também membro da diretoria da BVECCS. O assunto, bastante procurado, já está inserido na programação do Congresso da Anclivepa, que será realizado em maio, em Florianópolis, e contará com a participação de Rabelo e de outros palestrantes, inclusive internacionais. A previsão para o próximo Concevepa é que seja realizado em Goiânia, GO.

A neuro-ortopedia é uma das especialidades do Centro Veterinário Park Hill, que possui centro cirúrgico equipado inclusive com microscópio cirúrgico. Damaris Rizzo, responsável pelo departamento de cirurgia, foi palestrante no III Concevepa

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Tomografia computadorizada

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Renalvet – Centro de Hemodiálise, nefrologia e diagnóstico veterinário, é o primeiro centro de hemodiálise veterinária na América do Sul e um dos poucos existentes no mundo. Seguindo sua filosofia pioneira, a Renalvet também oferece aos clínicos veterinários o serviço de diagnóstico por tomografia computadorizada, técnica de diagnóstico por imagem que consiste na produção de diversas imagens seqüenciais da região do corpo a ser examinada, permitindo identificar alterações estruturais e de densidade em tecidos moles e ossos. Sua utilização pode ser muito útil no diagnóstico de doenças do cérebro, abdômen, tórax, coluna, entre outras regiões que não podem ser vistas no exame clínico ou não podem ser completamente avaliadas por outras

técnicas empregadas rotineiramente na medicina veterinária. Uma breve descrição do método e suas aplicações clínicas podem ser obtidas no artigo “A tomografia computadorizada em medicina veterinária”, escrito por Fabiano M. Ferreira, e publicado na revista Clínica Veterinária n. 12, p. 27-32, 1998. Na década de 70, o surgimento da tomografia computadorizada na medicina humana signifiCão anestesiado www.renalvet.com.br sendo submetido cou uma revolução, à tomografia tornando os diagnóscomputadorizada ticos muito mais pre- Clínica Veterinária n. 12 cisos e rápidos. agora, já está acessível, podendo ser Na medicina veterinária sua utilização incluída na rotina diagnóstica das clínicas foi modesta nas últimas décadas, mas veterinárias.

Dez anos do C.I.P.O.

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riado e ministrado pela primeira vez em 3 de fevereiro de 1997, na Rua Fradique Coutinho, 1579, Pinheiros, São Paulo, SP, por seus coordenadores prof. dr. José de Alvarenga e profa. dra. Kátia Stracieri D'Oliveira, o Curso Intensivo Prático de Ortopedia (C.I.P.O.) possibilitou, nesses quase dez anos de atividade, o aprimoramento em ortopedia veterinária de animais de pequeno porte, de quase 1000 profissionais provenientes das mais diversas regiões do País. O curso, que se divide em dois módulos: básico e avançado, foi ministrado pela 60ª vez, entre os dias 28 e 30 de setembro de 2006. No total, foram ministrados 45 cursos do módulo básico e 15 do módulo avançado. O número limitado de participantes por turma, no máximo dezoito, que são subdivididos em seis grupos de três alunos, permite que o ensino seja bem didático e acessível, facilitando o aprendizado que é eminentemente prático. As 20 horas de duração do curso, divididas das 19h às 23h da quinta-feira e das 8h às 17h da sexta-feira e do sábado, com uma hora de intervalo para almoço, propiciam uma convivência intensa com o conteúdo ministrado, colaborando para o bom aprendizado.

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Pelas aulas práticas do C.I.P.O. já passaram quase 1000 pessoas, entre profissionais e formandos

Ao término do curso, além do certificado, os participantes recebem apostila ilustrativa dos procedimentos cirúrgicos e ortopédicos lecionados. Com o passar dos anos, além da evolução do curso de ortopedia, surgiram outros cursos como: Tópicos em cirurgia de cabeça e pescoço, Módulo de cirurgias de coluna vertebral (raque e medula) e Curso prático de miscelâneas cirúrgicas tóraco-abdominais. "Além do público que prestigia os nossos cursos, formado por profissionais e formandos de medicina veterinária,

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tem sido de grande valor a participação e o patrocínio da Ortovet Instrumentos, Equipamentos e Acessórios Veterinários (www.ortovet.com.br)", destaca o prof. dr. José de Alvarenga. O C.I.P.O. já possui dois módulos programados para 2007: um básico, de 18 a 20 de janeiro, e outro avançado, de 22 a 24 de fevereiro. Os interessados podem obter informações pelo telefone (11) 3819-0594 ou ficarem atentos às novas datas consultando o portal Agenda Veterinária (www.agendaveterinaria.com.br).



2006, um ano de sucesso para a Vetnil

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ano 2006 foi um marco definitivo para a história do laboratório Vetnil, empresa jovem que surgiu timidamente em 1994 e, por meio de seu profissionalismo, qualidade e determinação, transformou-se em um grupo de três empresas fabricantes de produtos veterinários com atuação em quatro continentes. Em 2006, destacou-se por: • exportar produtos para países europeus como Inglaterra, França, Itália, Portugal

e Espanha, com sucesso e reconhecimento pelo mercado; • consolidar a aquisição do Laboratório Univet; • implementar um novo departamento direcionado à coordenar a área de produtos para animais de produção; • ter sido classificada pelo Great Place to Work e Revista Época como uma das 100 melhores empresas para se trabalhar no Brasil e uma das 30 melhores empresas

para as mulheres trabalharem no Brasil; • ter sido classificada em 2006 pelo Anuário do Agronegócio da Revista Globo Rural como a melhor empresa de produtos veterinários do Brasil, bem como a empresa que mais cresceu em 2005 no segmento de produtos veterinários; • ter incorporado o laboratório Vencofarma, trazendo inovações dentro do mercado de biológicos.

Especialista norte-americano recomenda vacinas com tecnologia recombinante

Fonte: Texto Assessoria de Comunicações www.textoassessoria.com.br

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tecnologia das vacinas recombinantes é uma importante ferramenta para a prevenção e o controle de doenças de cães e gatos, como cinomose, leucemia felina e raiva. Dentre estas enfermidades, a raiva representa um sério problema de saúde pública, inclusive no Brasil. “A tecnologia recombinante permite imunizar animais de forma mais segura, minimizando a possibilidade de reações pósvacinais e, sendo mais potente, protege contra as principais doenças”.A opinião é do pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e especialista em vacinologia, dr. Ronald Schultz, que esteve recentemente no Brasil a convite da Merial Saúde Animal. Dr. Schultz participou do Simpósio de Vacinologia Merial, que reuniu mais de 200 médicos veterinários na capital paulista, no final de outubro, quando falou sobre as últimas atualizações em vacinas com tecnologia recombinante. Segundo dr. Schultz, o mercado veterinário já dispõe de vacinas com tecnologia recombinante para diversas doenças e que podem oferecer um novo perfil de eficiência contra enfermidades de pequenos animais. Durante o evento, dr. Ronald Schultz apresentou diversos estudos conduzidos por ele nos Estados Unidos para comprovar a eficácia da vacina recombinante em relação à vacina com vírus vivo modificado convencional. Em todos os estudos, a resposta imunológica do animal imunizado com vacina recombinante foi superior, após o desafio induzido. “Em todas as situações em que podemos aplicar a vacina de vírus vivo modificado,

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“Hoje, as vacinas com vetor viral são tão potentes e eficazes quanto à de vírus vivos modificados. Porém, têm a vantagem de ser mais seguras, pois imunizam o animal apenas contra partes específicas do patógeno, minimizando a probabilidade de reações pósvacinais indesejadas”, afirma o dr. Ronald Schultz, pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madison

podemos aplicar a tecnologia recombinante com uma série de vantagens para o animal”, diz. Entre as vantagens, dr. Schultz ressalta o fato de que a vacina recombinante não tem o risco de sofrer reversão da virulência viral e causar encefalite pós-vacinal (no caso da vacina contra a cinomose canina). “Um dos objetivos de qualquer imunização é estimular a melhor resposta imunológica possível no animal, mas de modo a reduzir ao máximo a possibilidade de reações pós-vacinais. A vacina recombinante favorece este propósito”, afirma dr. Ronald Schultz. Por conta destas qualidades, dr. Schultz, que também é membro da American Animal Hospital Association (www.aahahelpingpets.org), defende a utilização das vacinas nas campanhas oficiais de vacinação contra doenças de pequenos animais e para animais que vivem em abrigos de animais ou áreas de altos desafios em relação aos agentes infecciosos. A pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores autoridades brasileiras em vacinologia veterinária, dra. Mitika K. Hagiwara, fez algumas considerações. Para ela, um programa

de vacinação no Brasil deve levar em conta a variabilidade da carga de patógenos no meio ambiente. Além disso, segundo estudo apresentado pela pesquisadora, mais da metade da mortalidade de cães e gatos no Brasil ocorre entre o segundo e o terceiro ano de vida, principalmente por cinomose (42,9%) e leptospirose (12,1%), cuja vacinação nos Estados Unidos é opcional, de acordo com a incidência em cada região. “No Brasil, a alta carga de patógenos no meio ambiente, decorrente da baixa imunização, é um dos principais obstáculos à erradicação de doenças de pequenos animais. Penso que o Brasil deveria adotar um protocolo sanitário semelhante ao que havia nos Estados Unidos na década de 1950 e que priorize a imunização de animais jovens, com especial intensificação da vacinação contra a cinomose, um dos principais problemas do País”, afirma dra. Hagiwara. A dra. Camila Pardo, pesquisadora chefe da área de pesquisa e desenvolvimento de produtos biológicos da Merial (EUA), também palestrante do evento, anunciou avanços na produção de vacinas para imunização e controle da leptospirose, doença que se dissemina muito facilmente durante o verão brasileiro, especialmente a partir da chegada das chuvas e enchentes. A pesquisadora ainda demonstrou resultados de estudos que confirmam a capacidade de imunização das vacinas da Merial contra a parvovirose canina, mesmo em filhotes com altas concentrações de anticorpos maternos – que dificultam a imunização nos primeiros meses de vida dos cães.

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Selênio orgânico Sel-Plex® é aprovado para uso como aditivo pela União Européia

Alltech anuncia que o selênio orgânico Sel-Plex® recebeu autorização para uso como aditivo nutricional em dietas para todas as espécies animais, sob a regulamentação 1831/2003 da União Européia (UE). Sel-Plex® é derivado da levedura Saccharomyces cerevisiae cepa 1026, e é a única levedura de selênio que completou com êxito o processo de autorização na Europa. No Brasil, o Sel-Plex® é produzido na unidade da Alltech de São Pedro do Ivaí, no Paraná, e exportado para todo o mundo. O selênio cumpre funções indispensáveis na regulação do metabolismo, otimizando o crescimento e o desempenho reprodutivo dos animais, neutralizando

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os radicais livres e defendendo o organismo contra as infecções. Pesquisas demonstram que, apesar da suplementação regular das dietas animais com selênio inorgânico, as deficiências de selênio continuam manifestando-se. O selênio de Sel-Plex® encontra-se na mesma forma em que está disponível naturalmente nas plantas, devido ao fato de ser biossintetizado pelas leveduras. Essa forma inclui os selenoaminoácidos e compostos relacionados, que são ideais para a absorção e metabolismo do mineral. Isso significa que o selênio contido em Sel-Plex® é mais digestível e melhor retido no organismo do que as formas inorgânicas, construindo as reservas de nutrientes no animal para os períodos de

alta exigência, sem riscos de toxicidade. “Estamos contentes com a autorização da UE e esse selo de aprovação aumenta a confiança que temos em nossos aditivos naturais. Isso reforça nosso compromisso com a pesquisa e o desenvolvimento”, diz Aidan Connolly, vice-presidente da Alltech. Ao longo de mais de 26 anos, a Alltech pesquisa e oferece soluções naturais para enfrentar os desafios da indústria de produção animal. Com as tecnologias avançadas Optigen®, Sel-Plex®, BioMos®, Mycosorb®, Bioplex®, NuPro® e Allzyme®SSF, a linha de produtos da empresa é um exemplo de como a tecnologia aliada à pesquisa científica é capaz de impulsionar a indústria.

3º Encontro Científico Internacional Atopia, mitos e verdades foi realizado em 5 países

m novembro de 2006 a Royal Canin iniciou jornada que percorreu cinco países levando o 3º Encontro Científico Internacional - Atopia, mitos e verdades. A estréia foi no México, passando depois por Os eventos contemplaram vários Venezuela, Equador, Brasil e, médicos veterinários com diferentes prêmios. Acima, participante do por último, a Argentina. evento realizado em São Paulo Em cada cidade onde foi recebe microscópio de Yves Miceli realizado o evento a Royal e Hermann Bourgeois Canin aproveitou para comuniHermann Bourgeois, Ronaldo Lucas, Carlos Eduardo Larsson e Royal Canin do Brasil), que car aos médicos veterinários Yves Miceli durante a realização do evento na cidade de São Paulo apresentou as vantagens do mais novo sobre o lançamento do II Concurso de de 20 a 22 de abril, em Viña del Mar, no lançamento da linha Veterinary Diet da Casos Clínicos Royal Canin, que tem Chile. Royal Canin: Skin Support. como tema a dermatologia. Estão conRonaldo Lucas ressaltou que dentro correndo os casos clínicos de afecções Atopia, mitos e verdades da população canina 10% a 15% são atócutâneas pruriginosas crônicas não paNo Brasil, o 3º Encontro Científico picos e que qualquer tratamento deve corasitárias, no cão e no gato, nos quais são Internacional - Atopia, mitos e verdades meçar pela conscientização do proprieutilizados os alimentos específicos da foi realizado em Recife, Salvador, tário, pois não haverá uma cura imediata linha Royal Canin Veterinary Diet: Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. e o animal precisará ser avaliado e tratado Hypoallergenic, Sensitivity Control e Os participantes puderam aperfeiçoar durante toda sua vida. Ressaltou também Skin Support. Apesar do dossiê clínico seus conhecimentos sobre o tema nas a necessidade do controle rigoroso de ectode cada caso poder ser enviado até o dia palestras do prof. Ronaldo Lucas (Uniparasitas, da utilização de xampus que 28 de fevereiro, o prazo para inscrição versidade Anhembi Morumbi); Hermann mantenham a pele hidratada e que alguns expirou no dia 1º de janeiro. Em março Bourgeois (DMV - Centro de Pesquisas e medicamentos como, por exemplo, os o juri irá se reunir para selecionar os Desenvolvimento da Royal Canin corticóides ou a ciclosporina, podem ser dois melhores casos cujos autores serão França), que discorreu sobre as particuutilizados para melhora da qualidade de contemplados com a participação no IV laridades dos ingredientes que comvida e controle da atopia, desde que os Congresso da Federação Ibero-Ameripõem uma dieta para cães com atopia; e pacientes sejam constantemente monitocana de Associações Veterinárias de PeYves Miceli (DMV - diretor técnico rados e as doses ajustadas, caso a caso. quenos Animais (FIAVAC), que ocorrerá

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Bem-estar animal II SIMCOBEA e I Encontro da AMVEBBEA Promovendo o Bem-Estar Animal por meio do ensino, da pesquisa, da extensão e da consultoria, sob a perspectiva técnico-científica médico-veterinária mobilização pelo bem-estar animal aumenta a cada dia no país. No Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ), destaca-se o trabalho de formação desenvolvido pelo prof. dr. João Telhado. Foi graças à sua liderança que nasceu o Simpósio de Comportamento e Bem-Estar Animal da UFRRJ (SIMCOBEA), evento que este ano foi realizado pela segunda vez, concretizando a criação da Associação MédicoVeterinária Brasileira de Bem-Estar Animal (AMVEBBEA). Durante quatro dias, especialistas de diversas regiões do Brasil estiveram presentes transmitindo informações de excelente qualidade com a finalidade de contribuir e promover o bem-estar animal nos diversos segmentos: ensino; pesquisa; atendimento médico veterinário em animais de companhia, em animais silvestres, selvagens e de produção.

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Divulgação

Bem-estar animal no ensino e na pesquisa Odete Miranda, da Faculdade de Medicina do ABC, e Júlia Matera, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, falaram especificamente do bemestar animal no ensino. A profa. Odete Miranda ressaltou que: “já existem mais de 100 faculdades de medicina que não utilizam animais nas práticas de ensino, mas que mesmo assim, ainda há resistência de muitos professores em adotar métodos substitutivos”. Além disso, criticou os experimentos com animais de laboratório: “em uma universidade você é aquilo que você produz e nessse sentido, a experimentação em animais é muito mais fácil do que a pesquisa clínica, pois permite uma produção científica rápida, bastando injetar alguma substância e fazer o acompanhamento e a mensuração”. A profa. Júlia Matera, por sua vez, apresentou sua experiência na disciplina de técnica cirúrgica da FMVZ/USP: “desde 2000 retiramos das salas de aula e fazemos uso somente de

cadáveres que são conservados por meio de técnica desenvolvida, a qual encontra-se disponível para qualquer pessoa, tendo, inclusive, sido publicada em revistas no Brasil (Avaliação do método de ensino da técnica cirúrgica utilizando cadáveres quimicamente preservados, publicado na Revista de Educação Continuada do CRMV-SP, v. 6, n. 1/3. p. 95-102, 2003) e no exterior (Preservation of cadavers for Métodos substitutivos da vivissecção podem ser surgical technique training, encontrados no site www.LearningWithoutKilling.info publicado na Veterinary Surgery, 33(6):606-8, 2004)”. cosméticos, produtos de limpeza e hiEssas apresentações sobre a utilizagiene), práticas médicas (treinamento ção de animais no ensino foram muito cirúrgico, transplante de orgãos), expevaliosas, principalmente para os acadêrimentos na área de psicologia (privação micos presentes. Muitos não concordam materna, indução de estresse), expericom as técnicas adotadas na instituição mentos armamentistas/militares (testes de ensino da qual fazem parte e relatade armas químicas), testes de toxidade ram a pressão que sofrem, tanto de proalcoólica e tabaco, dissecação e muitos fessores, quanto de colegas. Felizmente outros. O documentário, além do queseventos como o SIMCOBEA e a criação tionamento, também traz várias soluda AMVEBBEA estão somando esforções e indica fontes de busca para métoços para reverter esse quadro de crueldos substitutivos como os sites Learnig dade dentro do ensino da medicina veteWithout Killing (aprendizagem sem marinária. Além disso, o apoio de ONGs, tança) e InterNICHE Brasil. Cita tamcomo o Instituto Nina Rosa, tem sido bém o exemplo da Western University, muito importante. O instituto lançou, no na qual todo o curso de medicina veteriano passado, o documentário Não matanária é isento da prática de vivissecção, rás, o qual questiona a vivissecção, contando com experiências em modelos nome que se dá ao uso de animais vivos inanimados e dinâmicos, simulações em em testes laboratoriais (testes de drogas, computadores e treinamento em cadáveres. Além disso, não deixam de ter a vivência da prática médica veterinária, pois esta encontra-se disponível por meio do atendimento no hospital veterinário. Infelizmente, no Brasil, a prática da vivissecção ainda está muito presente nas universidades. A participação dos alunos para que isto deixe de ser uma realidade é fundamental e em diversos locais as mudanças somente ocorreram porque houve a firmeza e o caráter de poucos alunos que se indignaram e não aderiram à prática da perda de sensibilidade. Para quem tem sensibilidade, a vida aniNa Western University o ensino da medicina mal não é para ser usada ao bel prazer veterinária tem como prioridades a ética e educação humanitária - www.westernu.edu do homem, muito menos, quando houver Divulgação

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por Arthur Barretto

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Divulgação

o sofrimento animal. A InterNICHE Brasil é um exemplo real disso. Ela tem como objetivo uma educação com enfoque ético e de alta qualidade nas ciências biológicas, medicina humana e veterinária. Promove a substituição dos experimentos em animais por meio do trabalho com professores na introdução de alternativas e com estudantes no apoio à liberdade de consciência. Um dos links que se encontra no site da InterNICHE Brasil é para o grupo GETEA, Grupo Estudantil pelo Tratamento Ético dos Animais, um grupo criado por estudantes de medicina veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com o objetivo de reunir estudantes interessados na discussão sobre os métodos que podem substituir o uso de animais em experiências para fins didáticos ou científicos. Desde a sua criação, o grupo tem reunido estudantes de universidades de

Belo Horizonte e de outras cidades, além de promover encontros mensais para debater temas relacionados à vivissecção, métodos substitutivos e procurar unir idéias na busca pelas melhores alternativas para a luta pelo bem-estar e direitos dos animais. Antes da organização do grupo, apenas três estudantes da UFMG estavam à frente da luta contra aulas de fisiologia em que eram mortos cães, ratos e rãs. Depois de muitas tentativas de diálogo com professores, esses estudantes entraram em contato com ONGs de proteção dos animais, que organizaram grandes protestos contra essas aulas e entregaram uma representação ao Ministério Público Federal. A Polícia Federal também foi acionada e, em novembro de 2004, agentes federais foram até o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, onde ocorreria uma aula em que seriam mortos quatro cães vindos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Belo Horizonte. A aula foi suspensa e os cães salvos foram levados para canis da ONG CãoViver, que cuida de mais de 100 cães e gatos resgatados das ruas de Belo Horizonte ou vítimas de maus-tratos. Como o departamento de fisiologia estava agindo fora das normas do próprio Comitê de Ética em Experimentação Animal da UFMG, e infringindo as leis 6638/79 e 9605/98, diversas outras aulas em que seriam mortos animais foram suspensas. Devido à importância do tema, ele não poderia faltar no II SIMCOBEA e I Encontro da AMVEBBEA. Os médicos veterinários Alberto Costa e José R. Figueiredo foram os convidados para

falar sobre ética e experimentação. Figueiredo destacou a necessidade de haver compaixão, salientando que este sentimento não deve ser ridicularizado, pois sem ele, é impossível coexistir a ética. Costa, por sua vez, contribuiu descrevendo práticas ainda realizadas, como o cruel teste de Draize, que é uma escala para medir o quão irritante uma substância é quando colocada em contato com o olho de coelho. Costa ressaltou a necessidade de se promover debates esclarecedores e participativos sobre toda a experimentação animal. Especificamente no campo da pesquisa, o fim da experimentação animal é uma tendência mundial. Um exemplo disso, foi a declaração do primeiro ministro da Estônia, Andrus Ansip, concedida ao jornal português "Correio da Manhã", respondendo à pergunta: “Quais os melhores setores para investir na Estônia?”. “A nossa maior aposta está nas novas tecnologias e em projetos de investigação. A Universidade de Tartu, por exemplo, está desenvolvendo um software para testar todos os químicos utilizados. O objetivo é acabar com os testes em animais”, respondeu Andrus Ansip. Enquanto isso, no Brasil, a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação aprovou, em 21 de dezembro de 2006, o projeto de lei n. 1.153, de 1995. O autor, o deputado Sergio Arouca, tem por objetivo regulamentar o inciso VII, do parágrafo 1º do art. 225 da Constituição Federal, de forma a estabelecer normas e definir as responsabilidades administrativa, penal e civil para a criação e o uso científico de animais (cobaias).

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.

Entre muitos projetos nacionais e internacionais, a InterNICHE produziu um vídeo sobre alternativas, onde professores de várias disciplinas demonstram as alternativas que utilizam em seus cursos. Este vídeo está disponível em aproximadamente 20 línguas. A segunda edição do livro ‘from Guinea Pig to Computer Mouse’ vem com a descrição de cerca de 500 alternativas projetadas para uma educação científica de maior qualidade e mais ética

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. ... Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. .... Todos os casos de abusos de animais podem ser denunciados junto à promotoria de justiça, por meio de protocolo de representação, ou seja, descrevendo os fatos, e pedindo providências com base no Art. 32 da Lei 9.605/98. Fraturar a perna de um cão para dar uma aula de fratura é um exemplo de abuso. Há outras formas, que não são consideradas crime, de ensinar o procedimento ortopédico que envolve o tratamento de fraturas

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Bem-estar animal

Bem-estar animal e os médicos veterinários de pequenos animais Muitos palestrantes no II SIMCOBEA e I Encontro da AMVEBBEA abordaram temas que estão relacionados diretamente com a clínica veterinária de pequenos animais, como por exemplo, a obesidade canina, a anorexia felina, o tratamento da dor. A obesidade canina e a anorexia felina, abordadas respectivamente por Márcia Jericó e Heloísa Justen, são encontradas cada vez com mais freqüência e é de extrema importância que o médico veterinário seja capaz de avaliar quando esses problemas são decorrentes de alguma enfermidade ou se estão ocorrendo em função de algum problema que tem origem na interação homem-animal. Um proprietário que não exercita seu cão regularmente e que oferece comida em excesso ou indiscriminadamente, certamente não está praticando o bemestar animal. Associado a esses problemas também é possível encontrar distúrbios de comportamento como o da ansiedade pela separação, que é observada em cães e que foi relatada na palestra de Guilherme Soares. João Telhado, que também proferiu palestras no evento, salientou o desconhecimento dos hábitos particulares de cães e gatos pelos proprietários. Ele destacou, por exemplo, o fato de gatos viverem muito bem sozinhos e da necessidade que os cães têm de estar em companhia da família 24

ou de outros cães. Ele relatou as ocasiões em que os proprietários de gatos acham que precisam cuidar da solidão de um gato adulto e, pensando nisso, arrumam um gato filhote para conviver com o outro em um espaço reduzido. Nesse momento começam os problemas... Já com os cães, que são animais que naturalmente têm o instinto de viver em grupo, diversos deles têm como destino ficar sozinhos, durante toda a parte do dia, enquanto seus donos estão fora de casa. A obesidade e problemas comportamentais são apenas alguns dos problemas que começam a surgir. O mercado está atento a isso, tanto é que já existem rações específicas para cães e gatos obesos ou que possuem pouca atividade, spas para animais e serviços como o de dog walker, para que os cães sejam exercitados regularmente. Outra questão importante para o médico veterinário estar ciente e atuante é o diagnóstico e o manejo adequado da dor. Denise Fantoni e Rafael Campello abordaram o tema falando especificamente sobre como avaliar e tratar a dor nos animais. Danielle Bueno, por sua vez, apresentou o resultado de uma pesquisa sobre a utilização de medicamentos para o alívio da dor. Foi constatada subprescrição dos mesmos, sendo que, muitas vezes, o próprio médico veterinário não acreditava na necessidade da sua utilização, ou então, não o prescrevia por concluir, que iria encarecer o tratamento, o que não seria interessante para o proprietário. Porém, é necessário ficar atento e estar bem informado sobre o assunto, pois atualmente, os próprios proprietários já pedem que seus animais

Momentos de uma aula de socialização de cães. Brincadeira, manipulação e até treinamento para escovação de dentes

não sintam dor, fato constatado pela pesquisa de Danielle Bueno. Além disso, já se encontra no mercado, considerável variedade de opções de medicamentos indicados para o tratamento da dor: Rimadyl® e Carproflan® (carprofeno), Previcox® (firocoxib), Zubrin® (tepoxalina) e o opióide Dorless V® (tramadol). Zubrin®, Dorless V® e a apresentação injetável de Carproflan® foram lançados em setembro de 2006 durante o VII Congresso do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, realizado, em Santos, SP. Divulgação

Após restringir seu âmbito de aplicação, o projeto cria ainda o Sistema Nacional de Controle de Animais de Laboratório – SINALAB, fixa os órgãos e entidades que dele participarão, além de sua estrutura e competências. São estabelecidos os procedimentos para o uso de animais e as penalidades para as instituições infratoras. O projeto traz ainda normas de Direito Penal a serem aplicadas pela desobediência aos procedimentos para criação de animais ou por dificultar a ação fiscalizatória do SINALAB. Para o autor do projeto de lei, a proposta visa dirimir os conflitos existentes entre instituições de pesquisa e organizações não-governamentais, estabelecendo limites para a utilização de animais em pesquisas, ao mesmo em que não burocratiza ou dificulta o desenvolvimento tecnológico. Porém, para outros, oficializa a matança desnecessária de animais.

Zubrin, age na inflamação e na dor, sendo muito fácil de ser administrado. Sua pastilha, desenvolvida com exclusiva tecnologia, quando em contato com a saliva, desintrega-se em aproximadamente quatro segundos na boca do animal

Na ocasião também ocorreu, pela primeira vez na América Latina, o 4º Encontro Internacional de Dor da International Veterinary Academy of Pain Management (www.cvmbs. colostate.edu/ivapm). Para tratar da dor, além dos medicamentos, também estão disponíveis serviços especializados de fisioterapia e reabilitação. É possivel a utilização da acupuntura, do ultra-som terapêutico e da esteira aquática para promover a melhora geral do estado dos animais que sofrem, por exemplo, de osteoartrite. Outro tema do bem-estar animal que é bastante importante na clínica de pequenos animais é a socialização de cães. O assunto ja foi abordado na Clínica Veterinaria n. 22, set/out/1999, em entrevista feita com a norte-americana Suzanne Hetts. Cláudia Serra, clínica veterinária atuante em Resende, RJ, é uma pioneira no Brasil em oferecer aulas de socialização de cães, que são realizadas em sua própria clínica. Durante o II SIMCOBEA e I Encontro da AMVEBBEA, Cláudia Serra, apresentou como é realizada a socialização, bem como os resultados, que são surpreendentes para os donos. Possuído e Tarado são nomes de alguns cães considerados problemas pelos seus respectivos

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Bem-estar animal

Bem-estar animal e os centros de controle de zoonose Adriana Vieira abordou esse tema, que, a princípio, pode parecer muito controverso. Ela salientou que diversos municípios não têm controle, por exemplo da sua população de cães, praticando o extermínio em massa, por métodos não humanitários e tendo a falsa impressão de que estão resolvendo o problema. “Já em 1992 a Organização Mundial de Saúde (OMS) dizia que ao recolher animais, a taxa de sobrevivência dos que 26

Divulgação

Bem-estar de animais silvestres ou selvagens A melhor solução para o bem-estar de animais silvestres é que eles permaneçam no hábitat silvestre. Porém, o tráfico de animais silvestres movimenta verdadeiras fortunas e é inevitável o atendimento clínico de animais da nossa fauna, na maioria das vezes, em péssimas condições de saúde por alimentação e manejo totalmente inadequados. Exemplos disso são os freqüentes casos de jabutis que somente são alimentados com alface e papagaios que somente recebem girassol. E, em muitas ocasiões, encontra-se o papagaio, além de mal alimentado, confinado em uma minúscula gaiola ou acorrentado pelo membro no poleiro! Juan Pereira e Francisco Villardo ao ministrarem palestras sobre o assunto no II SIMCOBEA e I Encontro da AMVEBBEA, frisaram a ocorrência desses casos. Villardo salientou a necessidade de oferecer regularmente objetos para a distração e manutenção do ambiente habitado pelos psitacídeos em cativeiro. Essa distração de animais em cativeiro foi mais amplamente abordada na palestra “Enriquecimento ambiental em zoológicos e em ambiente doméstico”, proferida por Gabrielle Landau Remy.

ficam rapidamente repõe aqueles que foram retirados. Sendo que, em 2005, este conceito continua sendo mantido pela OMS”, explicou Adriana Vieira. Ela também contestou vários padrões antigos adotados em CCZs como, por exemplo, o de que o CCZ precisa ficar em local afastado e isolado. “O CCZ precisa ser um local de fácil acesso, que as pessoas visitem, particem, com espaço para socialização de cães, feiras de adoção, enfim, que permita uma interação saudável com a população. Dessa interação também participa o oficial de controle animal, pessoa que sabe abordar os animais de forma segura e humanitária, tanto para o profissional, quanto para o animal. Caso o oficial de controle animal precise fazer o recolhimento de um cão, ele não será feito às escondidas, com medo de ser apedrejado ou, até mesmo, baleado pela comunidade, mas sim, durante o dia, conversando e interagindo com os membros da comunidade, orientando e educando”, ressaltou Adriana Vieira. A figura do oficial de controle animal também é muito importante para o próprio funcionário que, de laçador sem instrução, passou a oficial capacitado. Essa evolução surgiu em Calli e foi abordado na Clínica Veterinária n. 61, p. 28-29, 2006, na matéria “Nova imagem para os serviços de captura de animais”. Para um bom entendimento do assunto a palestrante recomendou a leitura do artigo “Programa de Controle de Populações de Cães e Gatos no Estado de São Paulo”, publicado no Boletim Epidemiológico Paulista (BEPA), v. 3, n. 33, p.14-18, 2006. Para obter o artigo basta acessar o endereço www.cve. saude.sp.gov.br/agencia/bepa_menu. htm.

Confira também as edições de número 16, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24 e 25. Todas trazem temas de interesse aos médicos veterinários

Adriana Vieira terminou sua palestra afirmando que CCZ é lugar para o bemestar animal e que a saúde pública pode caminhar lado a lado com o bem-estar, inclusive, beneficiando-se disso. A forma dos CCZs agirem é que precisa ser mudada. Divulgação

proprietários e que melhoraram consideravelmente depois que passaram pelas aulas de socialização na clínica veterinária de Cláudia Serra. Durante as aulas de socialização, além do convívio com outros cães e pessoas, os animais são manipulados, como se estivessem em uma consulta, para que isto seja normal na vida deles. Destaca-se uma das manipulações praticadas pelos proprietários e alunos: a escovação dos dentes de seus animais.

No mês de novembro, moradores da área rural de Sobradinho II, DF, entraram em pânico por causa da leishmaniose e passaram a entregar seus cães para serem sacrificados. A notícia saiu em televisão e também circulou pela internet, como por exemplo, por meio do Correio Web (www.correioweb.com.br), versão eletrônica do jornal Correio Braziliense. Em outros locais, têm-se instituido outras políticas de controle, associando técnicas humanitárias e seguras de captura, a programas de controle de populações de animais, de guarda e posse responsável

Conexão entre violência doméstica e violência contra os animais A professora de filosofia Sônia Filipe, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também marcou presença no evento. Dentro do tema proposto, a conexão entre violência doméstica e a violência contra os animais, a palestrante salientou, por exemplo, os casos de abuso sexual de crianças. Ao sofrerem esse crime, muitas vezes, por vergonha ou medo, calam-se e descarregam seus sentimentos de humilhação e dor em seres inferiores como os animais indefesos. O lado prático e objetivo desse assunto é que o médico veterinário, ao atender um animal que possivelmente tenha sido vítima de maus tratos, deve desconfiar e, quando necessário, denunciar ao órgão competente, para que os fatos sejam investigados, pois o sofrimento pode ir além da dor do animal. Também pode estar em uma criança.

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Gengivite/estomatite linfocíticoplasmocitária em gatos relato de quatro casos

Paulo Renato dos Santos Costa MV, prof. ass. - DVT/UFV prenato@ufv.br

Lissandro Gonçalves Conceição MV, prof. adj. - DVT/UFV lissandro@ufv.br

Mauro Pires Moraes

Lymphocytic-plasmacytic gingivitis stomatitis in cats - four cases report

MV, prof. adj. - DVT/UFV mpmoraes@ufv.br

Alexandre Couto Tsiomis MV, mestre, doutorando - DVT/UFV tsiomis@hotmail.com

Gingivitis/estomatitis linfocítico-plasmocitaria felina - relato de cuatro casos

Tatiana Schmitz Duarte Médica veterinária contratada - DVT/UFV tduarte-br@yahoo.com.br

Rubens Fabiano Soares Prado Resumo: A gengivite/estomatite linfocítico-plasmocitária felina (GELPF) é uma doença inflamatória severa da cavidade oral de etiologia desconhecida, de evolução crônica e de difícil tratamento. A GELPF caracteriza-se por lesões hiperêmicas, proliferativas e ulcerativas localizadas preferencialmente na região dos arcos glossopalatinos (fauces), porém pode se estender para diferentes locais da cavidade oral. O principal achado histopatológico da GELPF é o infiltrado inflamatório com predomínio de linfócitos e plasmócitos. A doença pode ser controlada pelo tratamento periodontal associado ao controle da placa bacteriana, extrações dentárias, antibioticoterapia e/ou imunossupressão. O presente trabalho descreve quatro casos dessa condição e discute a sua etiopatogenia e as medidas terapêuticas empregadas no controle da doença. Unitermos: Felinos, estomatite crônica felina, faucite felina

MV, especializando - DVT/UFV

Abstract: Feline lymphocytic-plasmacytic gingivitis-stomatitis (FLPGS) is a severe inflammatory disease of the oral cavity of unknown etiology, chronic evolution and difficult treatment. It is characterized by hyperemic and ulceroproliferative lesions localized preferentially in the palatoglossal folds and fauces, but others parts of the oral cavity can be affected. Histopathological examination of affected tissues typically reveals infiltrates of lymphocytes and plasma cells. The disease can be controlled with periodontal treatment and plaque control, dental extractions, antibiotics and/or immune suppression. The present article describes four cases of FLPGS, discusses etiopathogenesis of the disease and several therapeutic methods. Keywords: Felines, feline chronic stomatitis, feline faucitis

MV, pós-graduanda - DVT/UFV

Resumen: La gingivitis/estomatitis linfocítico-plasmocitaria felina (GELPF) es una enfermedad inflamatoria severa de la cavidad oral de etiología desconocida, de evolución crónica y de difícil tratamiento. La GELPF se caracteriza por lesiones hiperémicas, proliferativas y ulcerativas localizadas preferencialmente en la región de los arcos gloso-palatinos (fauces), sin embargo puede extenderse para diferentes lugares de la cavidad oral. El principal hallazgo histopatológico es un infiltrado inflamatorio con predominio de linfocitos y plasmocitos. Esta enfermedad puede ser controlada mediante tratamiento periodontal asociado a control de la placa bacteriana, extracciones dentales, antibioticoterapia y/o inmunosupreción. El presente trabajo describe cuatro casos de esta condición, discute su etiopatogenia y las medidas terapéuticas empleadas en el control de esta enfermedad. Palabras clave: felinos, estomatitis crónica felina, faucitis felina

Clínica Veterinária, n. 66, p. 28-34, 2007

Introdução Gatos com lesões inflamatórias crônicas na região das fauces e/ou outras partes da cavidade oral são vistos freqüentemente na prática clínica. Essa condição tem recebido diversos nomes – de acordo com a sua localização e o tipo de infiltrado inflamatório predominante –, como: “estomatite crônica”, “gengivite crônica”, “estomatite/faucite felina”, “gengivite/faringite plasmocitária” e “gengivite/estomatite linfocíticoplasmocitária” 1,2,3,4. No presente trabalho, adotou-se o termo gengivite/estomatite linfocítico-plasmocitária felina (GELPF) para designar essa afecção. A GELPF é descrita como uma doença específica, caracterizada pela inflamação crônica e severa da mucosa sobre a 28

região dos arcos glossopalatinos (fauces) e/ou outras regiões da cavidade oral, como a mucosa da faringe, o palato mole, a gengiva, a laringe e a língua 1,5. A causa dessa condição é desconhecida. Os achados histopatológicos em biópsias mostram áreas de ulceração intercaladas com áreas de hiperplasia epitelial e infiltrado inflamatório predominantemente linfocítico-plasmocitário 1,6. Existe a suspeita de que gatos portadores dessa doença desenvolvam resposta imunológica exagerada a fatores não conhecidos, bactérias ou vírus presentes na cavidade oral 1,2. O calicivírus felino e o herpesvírus tipo 1 são isolados com maior freqüência da cavidade oral de gatos com GELPF do que de gatos sem estomatite, embora não haja comprovação

rfsprado@zipmail.com.br

Lindomar José Pena Graduando - CMV/UFV Lindomar.vet@zipmail.com.br

Priscila Rochele Barrios pribarrios@uol.com.br

Darlene Aparecida Pena Graduanda em bioquímica - UFV darlenebqi@yahoo.com.br

de que esses agentes possam desencadear a doença 3,7. Outra hipótese é que a placa bacteriana possa atuar com um estímulo para a inflamação e seja responsável pela doença em alguns gatos, porém também não existe comprovação dessa etiologia 1. Os vírus da leucemia felina (FeLV) e da imunodeficiência viral felina (FIV) causam imunodepressão, favorecem o aparecimento de infecções oportunistas e aumentam a gravidade das lesões na cavidade oral dos animais com GELPF 7,8,9. Os sinais clínicos comumente observados na GELPF são halitose, sialorréia com estrias de sangue, disfagia, dor na cavidade oral, anorexia, perda de peso e pelagem sem brilho. As lesões na cavidade oral são hiperêmicas, proliferativas, ulcerativas e localizam-se principalmente sobre a mucosa da região dos arcos glossopalatinos (fauces). O exame completo da cavidade oral deve ser realizado com o animal sob anestesia geral. Gatos

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007


Figura 1 - Caso número um, mostrando lesões hiperêmicas e proliferativas sobre a mucosa das pregas glossopalatinas e região das fauces Paulo Renato dos Santos Costa

Figura 2 - Caso número dois, mostrando a mucosa oral da região das fauces e da gengiva com hiperemia e proliferação tecidual em associação com doença periodontal Paulo Renato dos Santos Costa

Descrição dos casos Caso 1: felino, pêlo curto brasileiro, fêmea castrada, três anos, com histórico de salivação de coloração amarronzada, halitose, anorexia e perda de peso com evolução de quatro meses. Ao exame físico apresentava emaciação, pelagem sem brilho, aumento dos linfonodos submandibulares e dor à palpação e abertura da boca. O animal passou a receber metronidazol a, 25mg/kg via oral, BID, e uma semana depois retornou para tratamento periodontal. Com o animal sob anestesia geral (levopromazina, propofol e isoflurano), foram observadas lesões proliferativas, nodulares, bilaterais sobre a superfície mucosa da região das pregas glossopalatinas (fauces) (Figura 1). Para o tratamento periodontal, realizou-se limpeza com ultra-som, polimento com taça de borracha e pasta profilática b em uma peça de mão de baixa velocidade. Coletou-se biópsia das fauces. Os exames laboratoriais (hemograma e urinálise) e os testes bioquímicos (uréia, creatinina, glicose, colesterol, bilirrubina total e enzimas hepáticas) não apresentavam alterações. A sorologia para FIV e FeLV foi negativa. No pós-operatório o proprietário não conseguiu mais administrar medicação por via oral e o animal passou a ser tratado com ampicilina c, 20mg/kg, via subcutânea, durante duas semanas. O tratamento periodontal e a antibioticoterapia resultaram em melhora parcial. Segundo o proprietário a halitose e a salivação diminuíram. Um novo tratamento periodontal como descrito anteriormente, antibioticoterapia com ampicilina

20mg/kg via subcutânea durante duas semanas, e acetato de metil-prednisolona d na dose total de 20mg via intramuscular, dose única, foram realizados cerca de nove meses depois da primeira consulta. Na semana seguinte do pós-operatório o animal apresentou depressão, anorexia, vômitos e hematêmese. O hemograma mostrou leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda. O animal veio a óbito antes que outras medidas diagnósticas e terapêuticas pudessem ser adotadas. Não foi autorizada a necropsia. Caso 2: felino, pêlo curto brasileiro, fêmea castrada, quatro anos com histórico de halitose, sialorréia e perda de peso. Ao exame físico foram observados pelagem sem brilho, emaciação, exteriorização da língua e salivação com estrias de sangue, aumento de linfonodos submandibulares, dor e desconforto ao exame da cavidade oral. Os exames laboratoriais não revelaram alterações dignas de nota. O animal passou a receber metronidazol 25mg/kg via oral, BID e, três dias depois, retornou para tratamento periodontal, que foi realizado como descrito no caso um. Com o animal sob anestesia geral (levopromazina, propofol e isoflurano) observou-se a mucosa hiperêmica, de aspecto proliferativo sobre as pregas glossopalatinas (fauces) e gengiva, em associação à doença periodontal (Figuras 2 e 3). Realizou-se biópsia das lesões e swab da mucosa oral para isolamento viral, revelando a presença do calicivírus felino. Foi realizada sorologia para FIV e FeLV, com resultados negativos. O animal foi tratado com metronidazol na mesma posologia anterior por quatro semanas no pós-operatório. O tratamento periodontal e a antibioticoterapia melhoraram a sintomatologia, porém cerca de um ano após, houve recidiva e piora do quadro inicial. Nessa ocasião foi utilizada amoxicilina e 20mg/kg via oral, BID, durante 28 dias. Durante a vigência do tratamento os sintomas foram controlados mas, após a interrupção do antibiótico, a sintomatologia recorreu. Cerca de um ano e meio após a consulta inicial, o animal foi submetido a exodontia de todos os dentes pré-molares e molares. No pós-operatório o animal recebeu amoxicilina e acetato de metil-prednisolona na dose total de 20mg via intramuscular, dose única. O animal evoluiu clinicamente bem no pós-operatório e apresentou remissão das lesões.

Paulo Renato dos Santos Costa

portadores de GELPF podem apresentar concomitantemente outras afecções orais, como doença periodontal e lesões por reabsorção odontoclástica 5,7. O tratamento dessa afecção é complexo. Geralmente são empregadas várias medidas, como tratamento periodontal associado ao controle da placa bacteriana, extrações dentárias, antibioticoterapia e/ou imunossupressão com glicocorticóides, azatioprina, ciclosporina e terapia a laser 1,2,3,9,10. A exodontia completa de todos os dentes é citada na literatura como um dos tratamentos que provém melhores resultados no controle da GELPF 1,2,6,9. O presente trabalho tem por objetivo descrever quatro casos de GELPF e discutir a sua etiopatogenia e as medidas terapêuticas empregadas nessa condição.

Figura 3 - Caso número dois, mostrando lesões hiperêmicas e proliferativas sobre a mucosa do arco glossopalatino (fauces)

Caso 3: felino, pêlo curto brasileiro, fêmea castrada, quatro anos de idade, história de sialorréia com estrias de sangue, crostas amarronzadas na superfície labial, disfagia, perda de peso e pelagem sem brilho. Ao exame físico observaram-se emaciação, linfonodos submandibulares aumentados, úlceras e saliva com sangue nos lábios, gengivite e cálculo dentário. Os exames laboratoriais não revelaram alterações dignas de nota. O animal passou a receber metronidazol 25mg/kg via oral, BID e, na semana seguinte, retornou para tratamento periodontal. Sob anestesia geral, com o mesmo protocolo utilizado nos casos anteriores, foram observados gengivite, a) Flagyl pediátrico® - Aventis Pharma S.A. São Paulo - SP b) Pasta Herjos-F- Vigodent S/A Rio de Janeiro - RJ c) Ampicilina veterinária injetável®- Univet S.A. São Paulo - SP d) Depo-medrol® - Pharmacia & Upjohn. São Paulo - SP e) Amoxil® - Smithkline Beecham Brasil Ltda. Rio de Janeiro - RJ

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Paulo Renato dos Santos Costa Paulo Renato dos Santos Costa

Figura 4 - Caso número três, mostrando a mucosa da região das fauces hiperêmica, hemorrágica e friável

Paulo Renato dos Santos Costa

Figura 5 - Caso número quatro, mostrando exteriorização da língua e sialorréia

periodontal, realizou-se limpeza pelo ultra-som, polimento com taça de borracha e pasta profilática em uma peça de mão de baixa velocidade. Procedeu-se à exodontia do terceiro pré-molar esquerdo na arcada mandibular, e do primeiro molar na arcada mandibular direita. Também foram realizados biópsia da mucosa oral e swabs para isolamento viral. O isolamento viral foi negativo. O animal foi tratado com metronidazol na mesma dosagem anterior até completar quatro semanas. Houve melhora clínica durante a vigência do tratamento. Após a interrupção do tratamento com antibiótico houve recidiva dos sinais clínicos. O animal passou e receber aplicações mensais de acetato de metil-prednisolona 20mg via intramuscular e antibioticoterapia (amoxicilina). Esse manejo terapêutico controlava os sintomas, mas quando a medicação era interrompida os sinais retornavam. Cerca de um ano após a consulta inicial, optou-se pela exodontia de todos os pré-molares e molares. A recuperação após a cirurgia foi excelente. O gato passou a se alimentar normalmente com ração seca, e evoluiu para a remissão completa das lesões (Figura 7). Os achados histopatológicos foram semelhantes em todos os casos, revelando ulceração, hiperplasia epitelial, edema e infiltrado inflamatório difuso linfocíticoplasmocitário com variável infiltração neutrofílica superficial (Figura 8). Em um dos casos observou-se plasmócitos com inclusões citoplasmáticas eosinofílicas (corpúsculos de Russell) (Figura 9). Discussão As informações da anamnese caracterizadas como halitose, sialorréia, disfagia, anorexia, perda de peso e mau aspecto da pelagem são indicativas de Paulo Renato dos Santos Costa

Paulo Renato dos Santos Costa

Paulo Renato dos Santos Costa

Figura 6 - Caso número quatro, mostrando lesões hiperêmicas, nodulares e proliferativas sobre a mucosa do arco glossopalatino (fauces)

cálculo dentário e mucosa hiperêmica, friável e hemorrágica na região das fauces (Figura 4). O tratamento periodontal compreendeu limpeza pelo ultra-som, polimento com taça de borracha e pasta profilática em uma peça de mão de baixa velocidade. Realizou-se biópsia da mucosa oral e swabs para isolamento viral. O calicivírus felino foi identificado da mesma maneira descrita no caso anterior. No pós-operatório foi mantida a antibioticoterapia com metronidazol por quatro semanas. Segundo o proprietário os sintomas regrediram, porém três meses depois recidivaram. O uso de antibióticos (amoxicilina) e as aplicações mensais de acetato de metil-prednisolona (20mg intramuscular) por cerca de seis meses mantiveram a sintomatologia controlada. Cerca de um ano após a consulta inicial, optou-se pela exodontia distal aos caninos. A evolução pós-operatória foi favorável, com controle dos sintomas e retorno à alimentação com ração seca a partir do segundo dia depois da exodontia. Entretanto, três semanas depois, o animal veio a óbito de forma súbita. À necropsia, constatou-se cardiomiopatia hipertrófica. Caso 4: felino, pêlo curto brasileiro, fêmea castrada, quatro anos de idade, com sinais clínicos de emaciação, pelagem sem brilho, halitose, sialorréia e exteriorização da língua (Figura 5). Os exames laboratoriais (hemograma e urinálise) e os testes bioquímicos (uréia, creatinina, glicose, colesterol, bilirrubina total e enzimas hepáticas) não revelaram alterações dignas de nota. O animal passou a receber metronidazol 25mg/kg via oral, BID e, após cinco dias, retornou para tratamento periodontal. Sob anestesia geral, seguindo o protocolo anteriormente citado, observaram-se gengivite, cálculo dentário, periodontite e lesões hiperêmicas, nodulares e proliferativas sobre a mucosa da região das fauces (Figura 6). No tratamento

Figura 7 - Caso número quatro, mostrando resolução das lesões após um ano da exodontia distal aos caninos. Comparar com a figura 6, que retrata o animal antes do tratamento

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Figura 8 - Fotomicrografia mostrando hiperplasia epidérmica, edema e infiltrado inflamatório da mucosa oral (coloração H&E, 100 X)

Figura 9 - Fotomicrografia mostrando infiltrado inflamatório com predomínio de plasmócitos, linfócitos e alguns neutrófilos. Observa-se também plasmócitos com inclusões eosinofílicas (corpúsculos de Russell) (coloração H&E, 400 X)

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007



afecções da cavidade oral 1,5,6,11. Os achados de lesões hiperêmicas, ulcerativas e proliferativas localizadas na região dos arcos glossopalatinos (fauces), que podem ou não se estender para outros locais da cavidade oral, são bastante característicos da GELPF 1,2,3,4,5,6,9,11,12. Os quatro casos apresentados no presente relato apresentavam histórico e achados clínicos compatíveis com a doença, conforme citado na literatura consultada 1,2,3,4,5,6,8,9,11,12. Nos casos 2 e 4 observouse exteriorização da língua, achado este não citado na literatura. Nesses mesmos dois animais as lesões nas fauces foram mais proeminentes. Provavelmente o crescimento tecidual na região das fauces contribuiu para o deslocamento cranial da língua nesses animais. A confirmação diagnóstica da GELPF é feita pelo exame histopatológico, embora os achados da anamnese e do exame clínico propiciem fortes evidências do diagnóstico. A biópsia pode ser facilmente obtida diretamente das lesões e auxilia no diagnóstico diferencial, com apresentações atípicas do granuloma eosinofílico e, eventualmente, algumas neoplasias 1,5. Os achados histopatológicos normalmente encontrados na GELPF são ulceração, hiperplasia epitelial e infiltrado inflamatório difuso predominantemente linfocítico-plasmocitário 1,5,6,11, conforme constatado nos casos deste trabalho. A etiologia da GELPF é desconhecida, porém há suspeita da participação de fenômenos imunomediados como

Curso teórico-prático de anestesia veterinária 25 de fevereiro; 4, 11 e 18 de março; 8h às 17h Medicação pré-anestésica; Anestesia injetável; Anestesia geral inalatória.

Curso de Cardiologia

4 e 18 de março; 1 e 15 de abril - 8h às 12h

22 e 29 de abril; 6, 20 e 27 de maio; 3 de junho - 8h às 12h

Palestrante: Dra. Renata Afonso Sobral Introdução á oncologia veterinária; Carcinogênese; Semiologia oncológica; Abordagens terapêuticas em oncologia veterinária; Introdução á quimioterapia antineoplásica; Diagnóstico e terapêutica dos tumores mais frequentes em cães e gatos, de tumores hematopoiéticos e neoplasias malignas.

Palestrante: Profª. Luciano Pereira Auscultei um animal com sopro no coração - O que fazer?; Novidades farmacológicas no tratamento da I.C.C.; Emergências cardiológicas; Eletrocardiograma.

Local: Instituto Biológico**

Informações e inscrições: fone: (11) 6995-9155 • fax: (11) 6995-6860 juna.eventos@uol.com.br - www.junaeventos.com

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importante na evolução desses casos é que o tratamento periodontal e o uso de antibióticos resultam em melhora clínica parcial, conforme citado na literatura 1,6,8,11 e observado nos casos do presente relato. Portanto, a profilaxia e o tratamento periodontal são recomendadados em todos os casos de GELPF. A profilaxia por intermédio da escovação é difícil de ser implementada pelos proprietários devido ao comportamento pouco cooperativo dos gatos, ainda mais exacerbado nos casos de estomatite. As infecções pelo calicivírus felino são geralmente subclínicas ou de curso agudo com manifestação de febre, sinais respiratórios moderados, claudicação e ulcerações na língua e na região glossopalatina 4,8. Um possível papel patogênico do calicivírus nas faucites crônicas foi sugerido pelo freqüente isolamento desse vírus em gatos com GELPF 3,7,8,12. O calicivírus é mais freqüentemente isolado de gatos com GELPF do que daqueles acometidos apenas por doença periodontal ou daqueles que não apresentam afecções orais 3,7. A associação entre a erradicação do calicivírus e a melhora da GELPF foi observada em um caso 13. Apesar de haver algumas evidências da relação entre o calicivírus e a GELPF, mais estudos são necessários para estabelecer uma correlação entre essas condições. Nos casos aqui relatados, o calicivírus foi isolado em dois animais. Nesses dois casos, a exposição ao calicivírus foi provavelmente facilitada pelo fato de

Curso de Oncologia

Local: 2º Batalhão da Polícia do Exército* Realização

perpetuadores do processo 1,5,6,10,11. O infiltrado inflamatório com linfócitos e plasmócitos vistos nos casos de GELPF indica processo inflamatório crônico, porém não é um achado específico para uma determinada causa 1. Como nenhum agente específico foi comprovado como desencadeador da resposta imune, uma das hipóteses na etiopatogenia da doença é a de um defeito imunológico do hospedeiro, que promove uma resposta exagerada e autodestruição dos tecidos orais envolvidos no processo inflamatório 2. Muitos dos gatos com GELPF apresentam diminuição da inflamação e melhora sintomática quando submetidos a tratamento imunossupressor 1. Esse fato reforça o caráter imunomediado da doença. Vários fatores foram apontados como possíveis desencadeadores da resposta imunológica exagerada na GELPF, entre os quais a placa bacteriana e o calicivírus, embora não haja comprovação de uma relação de causa e efeito entre esses agentes e a GELPF 2,12. A gengivite e a periodontite são as doenças inflamatórias mais freqüentes da cavidade oral 12. Esse fato deve ser considerado quando se estabelece correlação entre a doença periodontal e a GELPF. Os quatro animais descritos aqui também apresentavam doença periodontal, entretanto mais estudos de longo prazo são necessários para verificar se existe relação entre essas doenças, porque nem todos os gatos com gengivite e periodontite apresentam a GELPF 2. Um aspecto

* 2º BPE (Batalhão da Polícia do Exército) Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco Trav.da Av.Getúlio Vargas - Osasco/SP

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Local: Instituto Biológico** ** Instituto Biológico Rua Cons. Rodrigues Alves, 1252 3º andar - Vl. Mariana - São Paulo - SP (próximo a estação Ana Rosa do metrô)


esses animais serem oriundos da mesma casa, onde conviviam com vários outros gatos que manifestaram sinais do complexo respiratório viral felino quando jovens. É possível que a persistência do calicivírus na mucosa oral possa resultar em resposta imunológica anormal, exagerada, e possa contribuir para o processo inflamatório observado em alguns gatos com a GELPF 12. A extração completa de todos os dentes pré-molares e molares é citada na literatura como um dos tratamentos que melhores resultados apresenta no controle da GELPF 1,2,6. Um dos autores 2 cita a evolução de longo prazo em 30 gatos com GELPF tratados pela exodontia da maioria ou todos os dentes pré-molares e molares. Nesse estudo, 80% dos animais apresentaram evolução favorável (60% de cura e 20% de melhora significativa). Essa conduta também foi adotada em três dos casos do presente relato devido às constantes falhas do tratamento clínico. Em dois casos (casos 2 e 4), observou-se remissão completa das lesões. No caso 3 não foi possível verificar o resultado pelo óbito precoce do animal depois da cirurgia, em virtude de problema não relacionado à doença da cavidade oral. A extração dos dentes remove a superfície disponível para a formação da placa bacteriana e pode diminuir o estímulo para o processo inflamatório oral. Raízes retidas podem ser uma fonte residual de bactérias e, se associadas com inflamação oral, devem ser extraídas.

As radiografias são necessárias para confirmar a extração completa de todos os dentes em gatos com GELPF 1,2. Uma preocupação freqüente dos proprietários quando é discutida a possibilidade de exodontia radical é de como o animal irá se alimentar sem os dentes. Entretanto, em vários estudos, observase que os gatos toleram bem esse procedimento, alimentando-se normalmente, inclusive com rações secas 1,2, fato este também observado em dois casos do presente estudo, que apresentaram evolução favorável após a exodontia de todos os pré-molares e molares. Considerando o caráter imunomediado e a etiologia desconhecida da GELPF, uma opção é o tratamento imunossupressor para o controle da doença. Os fármacos utilizados com esse objetivo são os glicocorticóides, a azatioprina e outros imunomoduladores. Entre os glicocorticóides, a prednisona, a prednisolona e o acetato de metilprednisolona são os mais utilizados. O acetato de metilprednisolona apresenta efeito prolongado, exigindo aplicações em intervalos de duas a quatro semanas. Essa é uma característica positiva da substância para pacientes felinos, pois é difícil administrar diariamente medicamentos em tais animais. Entretanto, pode oferecer maiores riscos ao paciente pela impossibilidade de suspender seu efeito caso ocorram reações adversas. Talvez esse fármaco possa ter contribuído para o óbito em um dos animais do presente relato (caso 1). Infelizmente não foi

possível estabelecer a causa do óbito, mas os achados clínicos e o hemograma apontavam para condição de septicemia. Os gatos são mais resistentes aos efeitos adversos dos glicocorticóides do que os cães, porém eventualmente podem desenvolver complicações 14. O tratamento imunossupressor associado ou não com antibióticos produziu melhora sintomática em três dos quatro animais. Essa melhora pode estar associada ao controle dos mecanismos imunomediados da doença, entretanto não houve cura em nenhum dos animais. Considerando a possibilidade de efeitos adversos e a obtenção de melhores resultados com a exodontia, a terapia imunossupressora com glicocorticóides deve ser considerada em segundo plano para controle da GELPF. Exames laboratoriais como hemograma, urinálise, testes bioquímicos, sorologias e isolamento viral estão indicados em todos os casos de GELPF para a pesquisa de doenças subjacentes que podem favorecer o aparecimento ou agravar o quadro inflamatório da cavidade oral 6. Insuficiência renal, diabetes mellitus, neoplasias, FIV, FeLV e condições que cursam com desnutrição protéicocalórica são exemplos que devem ser considerados na lista de diagnósticos diferenciais em gatos com estomatite e faucite de evolução crônica. Os resultados normais encontrados no hemograma, na urinálise e nos testes bioquímicos permitiram excluir a maioria destas afecções.

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Considerações finais A etiologia da GELPF ainda não é conhecida, embora haja suspeita da participação de múltiplos fatores (ex: placa bacteriana, calicivírus) como desencadeantes de resposta imunológica anormal e exagerada em alguns indivíduos. Existem várias modalidades de tratamento. Atualmente, a recomendação mais aceita é o tratamento periodontal com extrações dos dentes severamente comprometidos pela periodontite ou pelas lesões reabsorsivas, antibioticoterapia e controle da placa bacteriana. Caso o animal não melhore, indica-se a extração dos dentes, inicialmente distais aos caninos e, se nem assim houver remissão da doença, a extração total. Os casos refratários mesmo após exodontias, ou aqueles cujos proprietários não concordem com a extração dentária radical podem ser controlados com antiinflamatórios, imunossupressores ou imunomodulação com ciclosporina. A remoção do tecido proliferativo com laser reduz antígenos teciduais e a área disponível para adesão e multiplicação bacteriana, podendo ajudar no controle da doença.

Referências 01-DEBOWES, L. J. Feline stomatitis and faucitis. In: BONAGURA, J. D. Kirk's Current Veterinary Therapy XIII - Small Animal Practice. Philadelphia: Saunders, p. 600-602, 2000. 02-HENNET, P. Chronic gingivo-stomatitis in cats: long-term follow-up of 30 cases treated by dental extractions. Journal Veterinary Dentistry, v. 14, n. 1, p. 15 - 21, 1997. 03-PEDERSEN, N. C. Inflammatory oral cavity diseases of the cat. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 6, p. 1323 - 1346, 1992. 04-SCHORR-EVANS, E. M.; POLAND, A.; JOHNSON, W. E.; PEDERSEN, N. C. An epizootic of highly virulent feline calicivirus disease in a hospital setting in New England. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 5, n. 4, p. 217-226, 2003. 05-HARVEY, C. E. Oral and dental diseases. In: SHERDING, R. G. The Cat - Diseases and Clinical Management, 2. ed. Philadelphia: Saunders, p. 1117-1152, 1994.

Immunology, v. 18, n. 2, p. 131-134, 2003. 08-GASKELL, R.; DAWSON, S. Feline respiratory disease. In: GREENE, C. E. Infectious Diseases of the Dog and Cat, 2. ed. Philadelphia: Saunders, p. 97-106, 1998. 09-LYON, K. F. Gingivostomatitis. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 35, n. 4, p. 891-911, 2005. 10-WILLIAMS, C. A.; ALLER, M. S. Gingivitis/stomatitis in cats. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 6, p. 1361-1383, 1992. 11-GREENE, C. E. Gastrointestinal and Intra-abdominal infections. In: GREENE, C. E. Infectious Diseases of the Dog and Cat, 2. ed. Philadelphia: Saunders, cap. 89, p. 595-614, 1998. 12-REUBEL, G. H.; HOFFMANN, D. E.; PEDERSEN, N. C. Acute and chronic faucitis of domestic cats. A feline Calicivirus-induced disease. The Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 6, p. 1347-1360, 1992.

06-CRYSTAL, M. A. Gengivite-estomatite-faringite. In: NORSWORTHY, G. D.; CRYSTAL, M. A.; GRACE, S. F.; TILLEY, L. P. O Paciente Felino, 2. ed. Barueri: Manole, p. 279-284, 2004.

13-ADDIE, D. D.; RADFORD, A.; YAM, P. S.; TAYLOR, D. J. Cessation of feline calicivirus shedding coincident with resolution of chronic gingivostomatitis in a cat. Journal of Small Animal Practice, v. 44, n. 4, p. 172-176, 2003.

07-LOMMER, M. J.; VERSTRAETE, F. J. M. Concurrent oral shedding of feline calicivirus and feline herpesvirus 1 in cats with chronic gingivostomatitis. Oral Microbiology

14-FERASIN, L. Iatrogenic hyperadrenocorticism in a cat following a short therapeutic course of methylprednisolone acetate. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 3, n. 2, p. 87-93, 2001.



Emprego da ultra-sonografia móvel na medicina veterinária: estudo retrospectivo Use of mobile ultrasound in the veterinary medicine: a retrospective study

Uso de ultrasonografía móvil en veterinaria: estudio retrospectivo Resumo: Nos últimos anos, o emprego da ultra-sonografia em medicina veterinária tem crescido continuadamente. Depois de se capacitarem para a especialidade – participando de estágios e cursos específicos –, muitos médicos veterinários passam a utilizar a ultra-sonografia móvel para prestar atendimento em clínicas e hospitais, com vistas à futura implantação de um serviço – ou mesmo um centro – de diagnóstico imaginológico fixo. O objetivo deste trabalho é reportar a casuística, as vantagens, as limitações e as dificuldades da ultra-sonografia móvel na cidade de São Paulo, no período de janeiro de 2004 a junho de 2005. Trata-se de um estudo retrospectivo no qual foram analisados os resultados de 737 exames, classificados quanto à freqüência, ao horário de tomada, aos dias da semana, à gravidade das lesões encontradas e ao sistema ou órgão afetados. Essa avaliação permitiu concluir que a ultra-sonografia móvel é eficaz e viável, apesar de todas as dificuldades que permeiam esse tipo de prestação de serviço. Unitermos: Cães, gatos, ultra-som, portátil Abstract: The use of ultrasonography in veterinary medicine has grown continuously in the last years. After specializing through the attendance of courses and practical training, many veterinarians start performing a mobile ultrasound service in clinics and hospitals. This aims at a later implantation of a non-mobile ultrasound service or diagnostic work-up veterinary station. This work reports the casuistry, advantages, limitations and difficulties of the mobile ultrasonography, through a retrospective study of 737 scans performed with portable ultrasound devices in the city of São Paulo between January 2004 and June 2005. The scans were classified according to the frequency and schedule of examinations, days of the week, gravity of injury and affected system or organ. We conclude that mobile ultrasonography is viable, despite the difficulties involved in this type of service. Keywords: Ultrasound, dogs, cats, portable Resumen: La utilización de la ultrasonografía en medicina veterinaria viene creciendo continuamente. Muchos veterinarios, así que deciden por la especialidad y después de entrenamiento con cursos específicos, comienzan a prestar un servicio móvil de ultrasonografía en clínicas y hospitales para después implantar un servicio fijo de diagnóstico por imágenes. El objetivo de este estudio es divulgar la casuistica, las ventajas, las limitaciones y las dificultades de la ultrasonografía móvil en la ciudad de São Paulo, en el período de enero de 2004 a junio de 2005. Se realizó un estudio retrospectivo, adonde se estudiaron 737 exámenes con ultrasonido móvil. Estos casos fueron categorizados en frecuencia, horario de examen, día de la semana, gravedad de lesión y sistema u órgano afectado. Concluimos que la ultrasonografía móvil está justificada, a pesar de todas las dificultades que este tipo de servicio enfrenta. Palabras clave: ultrasonografía, perros, gatos, portátil

Clínica Veterinária, n. 66, p. 36-42, 2007

Introdução Na medicina humana, a ultra-sonografia é utilizada há mais de três décadas como um procedimento de imagem formal, conduzido por radiologistas nos serviços de diagnóstico por imagem 1. Também na medicina veterinária essa técnica imaginológica teve rápido crescimento. Parte dessa popularidade advém das características do exame ultra-sonográfico, técnica não invasiva, que não requer o uso de tranqüilizantes e anestésicos e não emprega radiação ionizante. Além disso, o equipamento é de fácil manipulação e instalação 2,3,4. 36

Muitas são as indicações para o emprego dessa técnica em animais de companhia: ela facilita muito o diagnóstico, seja de enfermidades complexas (como os tumores abdominais), seja de doenças mais simples (como piometra ou cálculos vesicais) 2,3,4,5,6. Entretanto, há que lembrar que esse método apresenta limitações decorrentes de uma característica que lhe é intrínseca e que não existe em qualquer outra técnica de diagnóstico por imagem: a interpretação do operador é fundamental para a obtenção de informações precisas 7,8. Isto porque as imagens

Tilde Rodrigues Froes Paiva MV, profa. adj. - UFPR tilde@ufpr.br

Renata Novak Bentes Graduanda - UFPR re_novak@yahoo.com

são produzidas e interpretadas em tempo real, o que exige o conhecimento das propriedades físicas do som e dos diferentes tipos de artefatos 9. De qualquer forma, mesmo com a limitação imposta por esse aspecto operador-dependente, as características dessa modalidade de imagem permitiram que a técnica fosse levada para dentro das salas e das unidades de emergência médicas, dando origem à ultra-sonografia ambulatorial (USA) 10,11. Via de regra, esse tipo de exame tem o objetivo prédeterminado de responder a um questionamento clínico bem definido – como presença ou ausência de hemoperitônio, uropatia obstrutiva e apendicite, entre outras condições emergenciais –, diferentemente do exame minucioso e completo realizado na USG formal 10,12. A USA emprega aparelhos portáteis, com boa resolução de imagem, que ocupam pouco espaço nas salas de emergência e que podem ser facilmente transportados. O emprego desse tipo de aparelho visa não somente a precocidade diagnóstica, mas também o auxílio à conduta terapêutica quando de situações emergenciais nas quais são necessárias decisões rápidas 10,11,12. Também na medicina veterinária a ultra-sonografia ambulatorial é empregada. Em um estudo com 124 cães, os resultados obtidos justificaram o emprego deste tipo de ultra-sonografia como método de triagem em pacientes com síndrome de abdômen agudo, fornecendo precocidade diagnóstica, rapidez no encaminhamento cirúrgico, redução na taxa de mortalidade, melhor seleção de testes diagnósticos, redução do tempo de internação e, conseqüentemente, diminuição dos custos hospitalares 1. As maiores dificuldades da USA relacionam-se a fatores como a impossibilidade de escurecimento satisfatório do ambiente, o intenso afluxo de pessoal, o excesso de ruídos, a ansiedade do médico veterinário responsável pelo caso e a

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007


ansiedade e a curiosidade do proprietário. Como anteriormente mencionado, essas peculiaridades metodológicas são de fundamental importância na análise dos resultados e na interpretação das imagens sonográficas 1,10,11,12. Historicamente, a ultra-sonografia veterinária no Brasil começou de forma tímida e bravamente desafiadora, por algumas médicas veterinárias que carregavam os equipamentos no carro, abrindo assim um novo mercado de diagnóstico por imagem. Na época era uma técnica nova, cujas verdadeiras aplicabilidades, contribuições, limitações e dificuldades não eram conhecidas pelos clínicos. Essas médicas veterinárias “ultrasonografistas” estavam sujeitas às dificuldades de ensinar aos colegas a aplicabilidade da técnica e desafiar uma antiga modalidade imaginológica – a radiologia. Hoje, sabe-se da contribuição diagnóstica e da inter-relação entre as duas modalidades de imagem mas, àquela época o desafio do ultra-sonografista era ainda maior, principalmente pelo medo do novo 13,14,15. Informalmente, a ultra-sonografia móvel é citada em alguns livros e artigos de medicina veterinária, embora não haja estudos sobre as dificuldades, vantagens e limitações dessa forma de realização do exame 3,16. Em medicina humana, a ultra-sonografia móvel foi recentemente citada e diferenciada da ultra-sonografia ambulatorial e emergencial, já bem conceituadas. Na guerra do Iraque, os americanos estabeleceram unidades médicas operacionais de diagnóstico por imagem constituídas por equipamentos de radiologia, ultra-sonografia portátil, tomografia computadorizada e ressonância magnética. A ultra-sonografia portátil demonstrou ser uma técnica rápida, eficiente e facilmente executável, tendo marcante atuação como modalidade de apoio diagnóstico durante a guerra: a sua utilização no campo de batalha melhorou a habilidade de fornecer um diagnóstico definitivo e com qualidade nas unidades médicas das forças de combate 17. De fato, as vantagens dessa modalidade de imagem são inúmeras, ainda que as possíveis falhas no exame devam ser discutidas. Além de a técnica ser altamente operador-dependente, outras causas passíveis de erros são mencionadas

na literatura, principalmente no que se refere à ecocardiografia. Recentemente, médicos veterinários ecocardiografistas discutem as possíveis causas dos exames falso-negativos e dos erros diagnósticos, atribuindo tais falhas a diferentes fatores, como contenção inadequada do paciente, necessidade de considerar sedação em pacientes não cooperativos ou em animais idosos que, devido a problemas ósteo-articulares, não se mantêm na posição adequada para o exame durante muito tempo. Outros fatores citados, como o bom posicionamento e a pressão do transdutor para a aquisição das imagens, também influenciam o exame e a sua interpretação 18. Acredita-se que uma boa correlação entre a ecocardiografia, os sinais clínicos, o histórico do paciente, o exame físico e o exame radiográfico sejam valiosos na interpretação das imagens encontradas, promovendo maior gama de diagnósticos diferenciais 18. Na medicina humana, o número de exames realizados por técnicas sofisticadas de diagnóstico por imagem tem aumentado à medida que os resultados dos exames tornam-se mais precisos e conduzem a diagnósticos mais confiáveis. Sem dúvida, há grandes avanços tecnológicos na qualidade da imagem dos novos equipamentos, ainda que as condições ergonômicas aparelho-operador não tenham evoluído. Conseqüentemente, constata-se maior índice de lesões músculo-esqueléticas nos ultrasonografistas, demostrando que o posicionamento do médico veterinário, no momento do exame, influencia a qualidade dos laudos emitidos e a qualidade de vida do sonografista 19. Artigos relatam que o trabalho do ultra-sonografista sempre exige concentração intensa, e essa atividade é considerada mentalmente difícil para 45% dos profissionais que militam na área. Além das condições ergométricas, a influência do estresse como causa determinante de dores músculo-esqueléticas também é reportada. A percepção dos atrasos e o acúmulo de pessoas na sala de espera, associados à necessidade de intensa concentração para evitar erros e ao fato de terem que tomar decisões rápidas – as quais podem ter conseqüências sérias para a saúde dos pacientes – podem tornar essa atividade tensa e contraproducente 19.

O objetivo do presente trabalho foi descrever a casuística, as vantagens, as limitações e as dificuldades da ultra-sonografia móvel na cidade de São Paulo, de janeiro de 2004 a junho de 2005. Resultados Os exames eram agendados por telefone celular. Inicialmente o número de exames era pequeno, cerca de três por semana, e as solicitações provinham de clínicas veterinárias localizadas nas regiões Oeste e Sul da grande São Paulo, e de hospitais veterinários que mantinham atendimento durante 24h/dia. Com o passar do tempo e devido à indicação de colegas, outras clínicas e hospitais passaram a solicitar o serviço, aumentando a freqüência e a quantidade dos exames. Na maioria das vezes os exames eram considerados pelo clínico veterinário como emergências, ou destinavam-se a pacientes internados no hospital solicitante. O exame era realizado nas dependências das clínicas e/ou hospitais, geralmente em uma sala de internação ou mesmo na sala de atendimento, sob condições naturais de iluminação, e com a ultra-sonografista em estação, ao lado da mesa. A contenção do paciente era realizada por enfermeiros, estagiários, clínicos ou mesmo pelo proprietário do animal; algumas vezes, uma única pessoa realizava esse procedimento. Raras vezes o paciente foi sedado ou anestesiado. O preparo do animal – ou seja, a tricotomia – era realizado pelo ultra-sonografista. Raramente o paciente estava em jejum, até porque os exames eram emergenciais e, quando não o eram, o clínico que os agendava se esquecia de solicitar o prévio preparo. Durante os exames as imagens eram gravadas no equipamento de ultra-som por meio de um software, instalado com o intuito de arquivá-las. O laudo, tanto verbal quanto manuscrito na ficha clínica do paciente, era dado imediatamente após o exame. Após a realização dos exames, o ultra-sonografista anotava em caderneta própria as informações relativas à identificação do paciente e aos achados sonográficos. O laudo descritivo e a impressão das imagens sonográficas e do laudo eram realizados no domicílio do ultra-sonografista, e enviados pelo correio. Uma cópia do laudo era

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Tilde Rodrigues Froes Paiva

enviada ao médico veterinário, por e-mail, imediatamente após a sua realização. Nos dois hospitais que possuíam equipamentos de ultra-som, os laudos descritivos e as imagens impressas eram emitidas imediatamente após a realização dos exames. No período de 18 meses consecutivos foram examinados 737 pacientes: 679 cães e 58 gatos. A distribuição dos cães incluídos no estudo foi a seguinte: 430 fêmeas e 249 machos; 566 CRD (com raça definida) e 113 SRD (sem raça definida); faixa etária entre 18 dias e 17 anos, com média igual a 6,9 anos. Com relação aos gatos, tem-se a seguinte distribuição: 33 machos e 25 fêmeas; 35 SRD e 23 CRD; faixa etária entre 30 dias e 16 anos, com média igual a 7,4 anos. Dos 737 exames realizados, 240 (32,5%) foram considerados emergenciais e caracterizados como abdômen agudo ou TAF (trauma abdominal fechado), em decorrência de atropelamento ou queda de altura; 319 (43,3%) exames foram considerados eletivos ou com diagnóstico sonográfico simples. Em 178 (24,2%) animais não foram encontradas alterações sonográficas: na maioria desses casos, a ultra-sonografia fôra solicitada pelo clínico para auxiliar o diagnóstico diferencial, possibilitando a exclusão de determinadas enfermidades. A figura 1 ilustra a distribuição dos casos no que concerne ao órgão e/ou sistema de origem e à sua classificação:

Figura 1 - Distribuição de freqüências (em %), dos órgãos ou sistemas de origem das lesões ultrasonográficas, dos 737 animais atendidos pelo serviço de ultra-sonogafia móvel - São Paulo (jan. 2004 - jun. 2005)

Figura 2 - Número de casos (n.) e respectivas freqüências (em %) dos tipos de exame ultrasonográfico realizados nos 737 animais atendidos pelo serviço de ultra-sonografia móvel - São Paulo (jan.2004 - jun.2005)

Determinação da dificuldade do exame ultra-sonográfico Simples AA/ TAF NDN Total

(n.) 319 240 178 737

f (%) 43,3 32,5 24,2 100

AA/ TAF - Abdômen agudo ou trauma abdominal fechado NDN - Nada digno de nota - sem alterações ultra-sonográficas

emergenciais, simples ou sem sinais de alterações sonográficas. A casuística e a distribuição dos casos emergenciais de

TAF ou AA, dos exames simples e daqueles sem alterações sonográficas constam da figura 2.


Tilde Rodrigues Froes Paiva

Tilde Rodrigues Froes Paiva

Figura 3 - Foto da imagem ultra-sonográfica da região epigástrica direita de um felino, apresentando pâncreas aumentado de tamanho e espessamento da parede duodenal – pancreatite mais duodenite.

As causas mais freqüentes de doenças emergenciais diagnosticadas foram: hemoperitônio, uroperitônio, piometra, pancreatite, massa esplênica com sangramento ativo, obstrução intestinal por corpo estranho, intussuscepção ou massa intestinal, granulomas pós-castração abscedidos – associados ou não a peritonite – e pneumoperitônio como conseqüência de ruptura de vísceras ocas. Em gatos, na maioria das vezes as causas emergenciais estavam relacionadas ao complexo tríade felina, envolvendo colecistite/colangioepatite, duodenite e pancreatite, ou complicações de doença do trato urinário inferior (Figuras 3 e 4). Como anteriormente mencionado, dos 737 exames, 319 (43,3%) foram considerados não emergenciais e/ou simples, incluindo achados como hepatomegalia ou esplenomegalia, nódulos incidentais em fígado ou baço, gestação, cálculos e microcálculos vesicais e renais, espessamento de paredes vesicais craniais – sugerindo cistites inflamatórias infecciosas –, hiperplasia endometrial cística, hiperplasia prostática, testículos ectópicos, pieloectasia renal e hiperplasia de adrenais. Diagnósticos de quadros suspeitos de processos neoplásicos abdominais ou torácicos também foram incluídos; nesses pacientes, os achados ultra-sonográficos foram: massas cavitárias em fígado ou baço, massas renais, nefromegalia em felinos,

Figura 4 - Foto da imagem ultra-sonográfica do fígado de um felino, apresentando aumento difuso da ecogenicidade hepática e entremeado hipoecóico leve associado. Vesícula biliar severamente espessada e irregular. Lipidose secundária à colangioepatite

espessamentos focais ou infiltrativos das vísceras ocas, com perda de estratificação parietal. Os horários dos exames foram divididos em três turnos, e suas respectivas porcentagens estão representadas na Figura 5. Quanto à correlação entre dias de semana e finais de semanas e/ou feriados, os dados e suas respectivas porcentagens constam da Figura 6. Subjetivamente, acredita-se que as vantagens desse tipo de serviço diagnóstico são: o acesso direto ao clínico e às características clínicas do paciente, e a aparente boa correlação custo-benefício. Quanto às desvantagens e às limitações Figura 5 - Número de casos (n.) e respectivas freqüências (em %) dos horários de exames ultra-sonográficos realizados nos 737 animais atendidos pelo serviço de ultra-sonografia móvel - São Paulo (jan. 2004 - jun. 2005)

Horário dos exames Manhã Tarde Noite Total manhã 08h30 às 12h tarde 12h01 às 18h noite 18h01 à 1h

(n.) 212 252 273 737

f (%) 28,7 34,2 37,1 100

do emprego da ultra-sonografia móvel podem-se citar: iluminação inadequada na sala de exame, geralmente muito clara; barulho e conversas paralelas devido à presença do clínico e/ou do proprietário, o que pode dificultar a concentração do ultra-sonografista e/ou ocasionar pressão e estresse. A falta de preparo prévio do animal não influenciou na análise das imagens. Como os laudos eram apresentados verbalmente, algumas informações deixaram de ser percebidas pelo clínico. Quanto à emissão dos laudos, algumas vezes o proprietário exigia as imagens sonográficas impressas logo ao final do exame. Em outros casos, os laudos foram extraviados em função de endereços incorretos ou trocas. O trânsito e a dificuldade de estacionar o veículo para descarregar o aparelho em algumas clínicas ocasionaram alguns atrasos, e tornaram-se um limitador do número de exames realizados. Também os atrasos dos proprietários constituem-se em fator limitante, pois implicam um efeito cascata que compromete toda a agenda do profissional.

Figura 6 - Número de casos (n.) e respectivas freqüências (em %) dos dias de semana, finais de semana e feriados de exames ultra-sonográficos realizados nos 737 animais atendidos pelo serviço de ultra-sonografia móvel - São Paulo (jan. 2004 - jun. 2005)

Correlação entre dias de semana e finais de semana/feriados Dias da semana Finais de semana e feriados Total

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

(n.) 524 213 737

f (%) 71,1 28,9 100

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Discussão O número de ultra-sonografistas veterinários nos grandes centros vem crescendo nos últimos anos. Na maioria das vezes, tais profissionais iniciam suas atividades na área prestando serviços móveis, como anteriormente mencionado. Essa modalidade de prestação de serviços é, aparentemente, uma forma simples de se inserir no mercado de trabalho médico-veterinário – ou seja, obter remuneração adequada à atividade profissional de escolha, atualmente marcada pela pletora de profissionais. Entretanto, também os aspectos negativos desse tipo de atividade devem ser considerados. É importante avaliar a verdadeira relação custo-benefício do trabalho proposto – aí se incluindo a qualidade de vida do profissional –, bem como os riscos de erros diagnósticos que essa metodologia pode ocasionar. O fato de a ultra-sonografia portátil ter se revelado uma técnica rápida, eficiente e facilmente executável na guerra do Iraque 17 deve-se, em grande parte, à existência de uma estação móvel de diagnóstico por imagem completamente preparada para eventuais esclarecimentos ou diagnósticos diferenciais, o que não ocorre na medicina veterinária: nesse âmbito de atuação, o conforto é precário e, muitas vezes, o profissional não conta sequer com uma sala calma e preparada para a realização do exame. Em relação à casuística de 737 exames,

constatou-se razoável semelhança entre o número de exames simples e o número de exames mais complexos e verdadeiramente emergenciais. Como reportado, a ultra-sonografia fornece importantes subsídios propedêuticos para auxiliar o diagnostico de inúmeras enfermidades 1,3,4,5,6. A experiência de aproximadamente um ano e meio nesse tipo de prestação de serviço permite-nos concluir que essa prática é permeada por riscos até porque, em situações emergenciais, a ultra-sonografia móvel é tão ou mais complexa que a ultra-sonografia formal. O sonografista que opta por esse tipo de atividade deve estar preparado para lidar com certas situações, razão pela qual é imprescindível um treinamento adequado, principalmente nas enfermidades emergenciais, que requerem raciocínio rápido e destreza nos momentos decisivos do diagnóstico. Como exemplo, pode-se citar o sangramento ativo decorrente de manobra não calculada ou acidental durante o procedimento cirúrgico. Ou seja, a condição não ideal no momento do exame ultra-sonográfico móvel, a situação de estresse à qual o sonografista é submetido – geralmente provocada pelo proprietário, pelo colega médico veterinário e pela condição clínica do paciente nos casos de AA e TAF – exigem presteza e rapidez do profissional, o que indica que talvez essa não seja a melhor ou primeira opção para quem deseja se iniciar na especialidade.

Já para exames agendados com características mais simples, o treinamento básico com cursos e estágios permite a boa interpretação diagnóstica, o que deve ser considerado pelos novos sonografistas. Sabe-se que, quanto maior o número de exames realizados, melhor será o desempenho do profissional, assim como em qualquer outra especialidade. Ainda não se sabe quantos exames são realmente necessários para capacitar o indivíduo e melhorar a sua acurácia dentro das técnicas imaginológicas médico-veterinárias. Na medicina humana, pesquisas destinadas a determinar as diretrizes do programa de treinamento em ultra-sonografia mostraram que o residente deve realizar no mínimo 500 exames, acompanhado por um ultra-sonografista experiente, antes de ser considerado apto a realizá-los sozinho 20. Em salas de emergência, é indicado que o residente seja submetido a treinamento intensivo de um mês em ultra-sonografia. Após esse período, ele estará apto a avaliar a exclusão de coleção fluida abdominal, aneurisma de aorta e doenças da vesícula biliar. Ainda assim, acredita-se que somente com esse tempo de treinamento o residente não seja capaz de avaliar perfeitamente enfermidades parenquimatosas, tumores abdominais ou em órgãos retroperitoniais 21. Há que ressaltar, ainda, que o bomsenso é imprescindível para coibir a banalização da especialidade, até porque,



há anos, ultra-sonografistas experientes têm lutado muito para que a técnica seja realmente conceituada no Brasil 13,14,15. Com relação aos dados relativos às características de espécie e raça dos animais avaliados, o presente estudo não teve o objetivo de traçar um panorama epidemiológico e compará-lo à literatura, uma vez que não se teve acesso às informações epidemiológicas da população avaliada. Ainda que já mencionadas, vale enfatizar as vantagens da técnica: a forma móvel/portátil de realizar os exames; o peso do equipamento; o custo de manutenção e os custos relacionados à execução do exame, que são pequenos quando comparados às outras modalidades imaginológicas. Além disso, a ultra-sonografia é um exame de fácil execução, rápido, não invasivo e não emissor de radiação ionizante 1,3,4,5,6. As características e as vantagens da forma portátil de realização desse exame estão relacionadas à diminuição dos custos – que, caso contrário, exigiria uma sala e uma secretária – bem como o contacto com diferentes clínicas e hospitais, o que permite a observação e o aprendizado de diferentes condutas clínico-cirúrgicas. O contacto com o paciente e com o médico veterinário responsável pelo caso permite maior acesso à história clínica e aos exames clínicos e laboratoriais do paciente o que, como mencionam os ecocardiografistas veterinários, auxilia muito nas abordagens dos diagnósticos diferenciais 18. Deve-se considerar que, apesar da redução dos custos de uma instalação fixa, o trânsito, os riscos com o equipamento e com os demais utensílios utilizados aumentam o estresse do profissional e, conseqüentemente, corroboram para uma agenda mais estreita, com menor número de exames passíveis de realização em 24 horas. Os horários de exames também devem ser considerados. Habitualmente, o serviço ultra-sonográfico móvel é mais requisitado em horários nos quais os centros diagnósticos e de especialidades estão fechados, ou seja, diminuise o número de folgas. E, em grandes centros urbanos, os horários noturnos implicam maior risco de assaltos e ocorrências que podem causar desconforto ao sonografista, principalmente ao chegar ou sair da clínica. Além disso, os 42

exames noturnos são caracterizados por maior ansiedade dos proprietários e dos médicos veterinários pois têm caráter emergencial, o que aumenta o estresse e a responsabilidade do ultra-sonografista e, em consonância com o descrito na literatura médica, pode-se dizer que o exame é particularmente difícil e muitas vezes implementado sob a influência do estresse, podendo levar a dores músculo-esqueléticas 19. Em relação ao momento do exame, pode-se reportar que a dificuldade na contenção do paciente, associada à falta de aquisições de imagens adequadas pode promover diagnósticos falsos negativos 18. A par disso, as características da sala de exame – cujo grau de iluminação não é satisfatório –, que têm intenso afluxo de pessoal, que apresentam ruídos associados à ansiedade do médico veterinário e do proprietário 1 são fatores a ser considerados. O proprietário e o médico veterinário responsável pelo caso devem ser avisados sobre as possíveis falhas e as condições limitadoras desse tipo de execução do exame sonográfico. Intercorrências no momento do exame devem ser descritas no laudo, até porque o documento apresenta maior valor legal caso haja ocorrência e implicância de erros de diagnóstico. Como exemplo de intercorrências, podem ser citados animais dispnéicos ou mesmo inquietos. Conclusões Acredita-se que o emprego da ultrasonografia móvel é justificado, apesar de todas as dificuldades que esse tipo de prestação de serviço envolve.

Agradecimentos Agradeço aos médicos veterinários, clínicas veterinárias e hospitais veterinários que colaboraram para este estudo. Referências 01-GONZALEZ, J. R. M.; IWASAKI, M. Emprego da ultra-sonografia ambulatorial na abordagem diagnóstica de cães com abdômen agudo: estudo de casos. Clínica Veterinária, v. 56, n. 1, p. 5868, 2005 02-GREEN, R. W. The veterinarian and ultrasound. In: GREEN, R. W. Small animal ultrasound. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1996. p. 1-7. 03-NYLAND, G. T.; MATTOON, J. S. Small animal diagnostic ultrasound. 2. ed. WB Saunders, 2002, 461p. 04-CARVALHO, C. F. Ultra-sonografia em Pequenos animais. São Paulo, Roca, 2004.

05-KEALY, K. J.; McALLISTER, H. Radiologia e Ultra-sonografia do cão e do gato. 3. ed. Traduzido. Manole: São Paulo, 2005. 06-THRALL, D. E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology, 4. ed, Philadelphia: WB saunders, 2002. 07-RODRIGUES, M. B.; AMARO, E. Jr.; KODAIRA, S. K. Anatomia ultra-sonográfica do abdômen. In: CERRI, G. G.; OLIVEIRA, I. R. S.; Ultra-sonografia abdominal. 2. ed. São Paulo: Revinter, 2002. p. 31-54. 08-RESENDE, C. M. C. Técnica e equipamentos. In: CERRI, G. G.; ROCHA, D. C. Ultra-sonografia abdominal: convencional, doppler, técnicas endoscópicas, pediatria, intervenção. São Paulo: Salvier, 1996. p. 15-30. 09-SAUNDERS, H. M. Ultrasonography of abdominal cavitary parenquimal lesions. The Veterinary Clinics of North American: Small Animal Practice, v. 28, n. 1, p. 755-797, 1998. 10-HELLER, M.; MELANSON, S. W. Applications for ultrasonography in the emergency department. Emergency Medicine Clinics of North America. v. 15, n. 4, p. 735-744, 1997. 11-PUYLAERT, J. B.; VAN der ZANT, F. M.; RIJKE, A. M. Sonography and the acute abdomen: practical considerations. American Journal of Roentgenology, v. 168, n. 1, p. 179186, 1997 12-RIVIERRE, C.; CORLOUER, J. Apport de léchographie dans léxplorations du syndrome abdominal aigu: à porpos de 58 cas. Pratique Medicale et Chirurgicale de Lánimal de Compagnie. v. 33, n. X, p. 29-45, 1998. 13-GONZALEZ, J. R. M. Comunicação pessoal, 1996 14-DOMINGOS, C. Comunicação pessoal, 1998 15-CARVALHO, C. F. Comunicação pessoal, 1998 16-RAMIREZ, S.; TUCKER, R. L.; Ophthalmic imaging. Veterinary Clinics of North American: Equine practice, v. 20, n. 2, p. 441457, 2004. 17-ROZANKI, T. A.; EDMONDSON, J. M.; JONES, S. B. Ultrasonography in a forwarddeployed military hospital. Military Medicine, v. 170, n. 2, p. 99 - 102, 2005 18-COTÊ. E. Echocardiography: Common pitfalls and practical solutions. Clinical Techniques in Small Animal Practice. v. 20, n. 3, p. 156-163, 2005 19-BARBOSA, C. H.; COURY, H. J. C. G. A atividade do médico ultra-sonografista apresenta riscos para o sistema músculo-esquelético?. Radiologia Brasileira, v. 37, n. 3, São Paulo, 2004. 20-HERTZBERG, B. S.; KLIEVER, M. A.; BOWIE, J. D.; CARROLL, B. A.; DELONG, D. H.; GRAY, L.; NELSON, R. C. Physican training requirements in sonography: How many cases are needed for competence? American Journal Roetgenology, v. 175, 5, p. 1221-1227, 2000. 21-SURAMO, I.; MERIKANTO, J.; PÄIVÄNSALO, M.; REINIKAINEN, H.; RISSANEN. T.; TAKALO, R. General practitioner's skills to performe limited goal-oriented abdominal US examinations after one month of intensive training. European Journal of Ultrasound, v. 15, n. 3, p. 133-138, 2002.

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007



Infecção pelo vírus da leucemia felina em gatos de diversas cidades do Brasil

Mitika K. Hagiwara MV, profa. tit. Depto. Clínica Médica - FMVZ/USP mkhagiwa@usp.br

Juliana Junqueira-Jorge MV, Ms julijunqueira@yahoo.com.br

Claudia Stricagnolo

Feline leukemia virus infection in cats from various cities of Brazil

Biomédica, técnica de Nível Superior Depto. Clínica Médica - FMVZ/USP lab_imuno@hotmail.com

Infección por el virus de la leucemia felina en gatos de diversas ciudades de Brasil Resumo: Com o objetivo de mapear a ocorrência da infecção pelo vírus da leucemia felina (VLF), foram analisadas 1.952 amostras de esfregaços de sangue periférico de felinos por meio da técnica de IFI para a detecção de antígenos do VLF nos leucócitos e nas plaquetas circulantes. As amostras foram enviadas de diferentes partes do Brasil ao Laboratório de Imunologia do Departamento de Clínica Médica da FMVZ-USP. A freqüência de reações positivas foi de 6,04% no total, e de 6,2% entre os felinos do município de São Paulo. Houve uma ampla variação na freqüência de reações positivas – de zero a 34,9% – entre as diferentes localidades refletindo a heterogeneidade das amostras, que incluíam felinos doentes ou sadios, mantidos isoladamente ou em grupos e abrigos, oriundos da rua ou de origem conhecida. A ocorrência de reações positivas foi maior entre os felinos de três a seis anos de idade, oriundos da rua ou que tinham acesso à rua e que mantinham atividade reprodutiva. Unitermos: Epidemiologia, fatores de risco, imunofluorescencia indireta Abstract: The aim of this study was to investigate the occurrence of the feline leukemia virus (FeLV) infection among cats in Brazil, by means of the IFA test for FeLV antigens in peripheral blood leukocytes and platelets. 1,952 blood smears samples from different parts of the country were examined at the Laboratory of Immunology of the Department of Medical Clinics, FMVZ, University of São Paulo . The overall frequency of positive reactions was 6.04%, and in cats from the city of São Paulo, 6.2%. A large variation in the frequency of positive results (zero to 34.9%) was observed among cats from different cities. This result reflected the heterogeneity of the samples, taken from both healthy and ill animals, kept either isolated or living in multiple-cats households. The frequency of FeLV infection was higher among three- to six-year-old, intact cats of unknown origin or free-roaming cats. Keywords: Epidemiology, risk factors, indirect immunofluorescence assay Resumen: Con el objetivo de evaluar la ocurrencia de la infección por el virus de la leucemia felina (VLF) en Brasil, 1952 muestras de frotis de sangre de felinos fueron analizadas por la técnica de inmunofluorescencia indirecta para detección de antígenos del VLF en leucocitos y plaquetas circulantes. Las muestras de sangre fueron colectadas por médicos veterinarios y enviadas de diferentes partes de Brasil por correo al Laboratorio de Inmunología del Departamento de Clínica Médica de la FMVZ-USP. La positividad de la infección por el VLF fue de 6,04% en la totalidad de las muestras y de 6,2% en la ciudad de Sao Paulo. Se observó una amplia variación en la frecuencia de reacciones positivas entre las diversas localidades (cero a 34%), reflejando la heterogeneidad de las muestras, que incluyeron felinos enfermos o asintomáticos, mantenidos aislados o agrupados, procedentes de la calle o de origen conocida. La frecuencia de reacciones positivas fue más alta en los felinos entre tres y seis años de edad, oriundos de la calle o que tenían acceso a la calle y que mantenían actividad reproductiva. Palabras clave: Epidemiología, factores de riesgo, immunofluorescencia indirecta

Clínica Veterinária, n. 66, p. 44-50, 2007

INTRODUÇÃO O vírus da leucemia foi reconhecido há mais de quatro décadas, como um retrovírus imunossupressivo e leucemogênico transmitido pelo contágio direto. O curso progressivo da infecção pelo VLF nos felinos é caracterizado por viremia persistente, resposta imunológica antiviral ineficaz em uma parcela considerável dos gatos infectados, imunossupressão 1 e disfunção hematológica e hematopoética 2 que, no estágio terminal, resultam em várias doenças e síndromes clínicas proliferativas e degenerativas 3,4. O VLF pode infectar também os felinos silvestres 5,6,7, incluindo os felídeos brasileiros 8. 44

O linfoma é a neoplasia mais freqüentemente associada à infecção pelo VLF e ocorre em cerca de 20% dos animais infectados 9. O felino infectado pelo VLF apresenta risco 62 vezes maior do que gatos não-infectados de desenvolver qualquer uma das formas anatômicas de linfoma 2. Outras formas de neoplasias hematopoéticas, embora menos freqüentes, também podem ser observadas nos felinos infectados 10. A anemia não regenerativa, resultante da hipoplasia medular, é uma das conseqüências mais graves da infecção e pode ser complicada pela infecção por Mycoplasma hemofelis (anteriormente denominada Hemobartonella felis) 4. A

infecção primária das células-tronco hematopoéticas e das células do estroma medular também resulta nas mais variadas formas de citopenias, principalmente a neutropenia, que pode contribuir para o quadro de imunossupressão, predispondo a infecções bacterianas 2. Os felinos infectados pelo VLF também se tornam mais predispostos a outras infecções, como peritonite infecciosa canina, micoses superficiais ou profundas e infecções respiratórias e intestinais, as quais contribuem para o desfecho fatal mais precoce. As doenças associadas à imunossupressão, indistinguíveis da síndrome de imunodeficiência causada pelo vírus da imunodeficiência dos felinos (VIF) 11, respondem por uma alta proporção de morbidade e mortalidade dos gatos infectados pelo VLF. A transmissão da infecção entre os felinos susceptíveis ocorre mais comumente por via horizontal, oronasal ou mordeduras. Após a exposição, parte dos felinos desenvolve imunidade humoral e se torna imune; entretanto, cerca de 30% torna-se persistentemente infectado 2, vindo a óbito de três a cinco anos após o aparecimento da viremia. A baixa taxa de persistência da infecção é explicada pela rápida inativação do vírus fora do organismo hospedeiro,

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007


MATERIAL E MÉTODO Foi elaborada uma ficha padrão de identificação que contemplava informações sobre sexo, idade, raça, origem, vida reprodutiva, contactantes (no domicílio/gatil/pet shop), acesso à rua e estado de higidez e antecedentes mórbidos ou familiares do felino, além das instruções quanto à coleta de material e envio ao Laboratório de Imunodiagnóstico do Departamento de Clínica Médica da FMVZ- USP. As amostras de sangue foram colhidas por venopunção pelos clínicos veterinários que colaboraram com o projeto. Os esfregaços de sangue foram preparados em duplicata, secos ao ar livre, adequadamente acondicionados – de sorte a evitar a lise celular – e enviados ao laboratório em período não superior a sete dias, por SEDEX. Imediatamente após o recebimento, as lâminas foram fixadas com uma mistura de acetona e metanol na proporção de 3:1 durante 20 minutos em TA, com a finalidade de preservar o antígeno viral presente nos leucócitos, secas e processadas imediatamente ou conservadas a -70ºC até o momento da realização do teste. Foram incluídos no estudo 1.952 amostras de felinos, de ambos os sexos, com faixa etária variando de seis meses a 20 anos, com ou sem raça definida, domiciliados ou pertencentes a abrigos ou criatórios de animais, castrados ou não. As amostras foram provenientes dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Ceará. Técnica de imunofluorescência indireta Em cada lâmina de esfregaço sangüíneo foram demarcadas duas áreas circulares de aproximadamente um centímetro de diâmetro, utilizando-se caneta esferográfica de tinta metálica. O círculo da esquerda correspondia ao controle negativo. Neste sítio de reação foram colocados 10µL de tampão PBS com 1% de soroalbumina bovina. No círculo da direita, foi realizado o teste para pesquisa do VLF utilizando 10µL de anticorpos anti-VLF a. Para cada grupo de lâminas testadas utilizou-se uma lâmina sabidamente positiva, como controle positivo da reação. As lâminas foram incubadas a 37 ºC em câmera úmida por 30 minutos; a seguir foram mergulhadas,

rapidamente, em tampão de lavagem diluído em água destilada na proporção 1:4, para retirar o excesso de reagente, e mantidas imersas nesse tampão por mais 10 minutos. Posteriormente, foram lavadas em água destilada e deixadas na posição inclinada, para que o excesso de líquido fosse drenado. Após a secagem, foram adicionados 10µL do conjugado anti-IgG-fluoresceína b em cada sítio, repetindo-se as etapas de incubação e lavagem. Terminada a reação, as lâminas foram cobertas com uma gota de glicerina tamponada e montadas com lamínulas de vidro. Para a leitura da reação foi utilizado microscópio de fluorescência c com epiiluminação. A amostra foi considerada positiva quando os leucócitos e plaquetas apresentaram nítida fluorescência 20 (Figura 1). Taís Barelli Saito

pela resistência natural do hospedeiro (principalmente relacionada à idade), pelo tipo do vírus (A, B ou C) infectante e pela carga viral. Os felinos que mantêm contacto próximo e prolongado com os portadores são aqueles que apresentam maior probabilidade de se infectarem, justificando-se assim a alta freqüência da infecção em animais que vivem em abrigos ou domicílios com outros gatos 2,4. O diagnóstico da infecção é baseado na detecção de antígenos virais ou de partículas virais, pelo método ELISA ou IFI, pelo isolamento (raramente) 12 ou por PCR 13. Destas, a IFI realizada em esfregaços de sangue periférico apresenta altas sensibilidade e especificidade, equiparando-se ao isolamento viral 14,15. A infecção dos felinos domésticos pelo VLF apresenta distribuição mundial, com prevalência relativamente baixa: de 1 a 8 % entre os gatos sadios 2 e de 12 a mais de 30% entre os felinos doentes ou em grupos de animais, nos quais a infecção foi recentemente introduzida 4,16. A incidência da infecção é significativamente maior em gatos que têm acesso à rua do que entre os animais confinados 17,18. A profilaxia da leucemia viral felina nos felinos que vivem em grupo se baseia na identificação e no isolamento dos animais infectados e na vacinação daqueles expostos ao risco. A adoção dessas medidas resultou em considerável redução dos casos de infecção pelo VLF nos Estados Unidos e na Europa. Recentemente, o aumento dos casos de fibrossarcoma pós-vacinal e sua possível associação com o uso de vacinas com adjuvantes serviu de alerta contra o uso indiscriminado da vacina antileucemia felina, que deve ser utilizada preferencialmente naqueles animais expostos ao risco da infecção 17. A grande variação observada na taxa da infecção e a ausência de informações sobre a leucemia viral felina no Brasil, excluindo os estudos realizados em três capitais 4,18,19, motivou a realização de um estudo abrangendo outras cidades do estado de São Paulo e de outras regiões do Brasil no período de abril de 2003 a março de 2004. Os principais objetivos do inquérito foram procurar mapear a ocorrência da infecção pelo VLF e analisar os fatores de risco eventualmente envolvidos na infecção.

Figura 1 - Teste positivo para VLF. Fluorescência do citoplasma de dois leucócitos em esfregaço de sangue periférico de um dos felinos infectados, indicando a presença de antígeno viral. (Aumento de 400x)

RESULTADOS E DISCUSSÃO Do total de 1.952 amostras processadas, incluindo a Capital e o interior do estado de São Paulo e outras cidades do Brasil, 6,04 % foram positivas para o teste de leucemia felina. A distribuição das amostras positivas e negativas, de acordo com a origem geográfica, está apresentada na Figura 2. A distribuição dos felinos infectados de acordo com a faixa etária, sexo, origem, número de contactantes, acesso à rua, vida reprodutiva e raça, consta da Figura 3. Das amostras provenientes da Capital paulista, 6,2% foram positivas para o VLF. Essa porcentagem sobe para 12% a) Primary reagente for FeLV IFA,VMRD, Inc. Adquirido de:Interprise Instrumentos Analíticos. Ltda. www.interprise.com.br b) anti-IgG -FITC Conjugate (Secondary reagent for IFA, VMRD Inc. Pullman-Albion Road, Pullman, WA 99163, USA; www. VMRD.com c) Microscópio OLYMPUS BX605. www.olympus.americalatina.com

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

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Figura 2 - Freqüência de reações positivas ao VLF em amostras de felinos (n=1.952) de diferentes partes do Brasil, de acordo com a origem das amostras. São Paulo, 2005

Origem São Paulo (SP) Araçatuba (SP) Atibaia (SP) Bauru (SP) Botucatu (SP) Campinas (SP) Cotia (SP) Espírito Santo do Pinhal (SP) Guarujá (SP) Itapeva (SP) Ituiutaba (SP) Jaboticabal (SP) Mogi das Cruzes (SP) Ribeirão Preto (SP) Santos (SP) São João da Boa Vista (SP) Sorocaba (SP) Valinhos (SP) Brasília (DF) Rio de Janeiro (RJ) Curitiba (PR) Foz do Iguaçu (PR) Cascavél (PR) Londrina (PR) Alfenas (MG) Betim (MG) Juiz de Fora (MG) Uberlândia (MG) Porto Alegre (RS) Recife (PE) Fortaleza (CE) Salvador (BA) Total geral

VLF (-) 762 2 75 1 12 36 18 15 11 4 7 31 7 166 3 17 11 6 14 127 34 36 17 3 5 8 41 137 108 19 90 11 1834

VLF (+) 50 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 1 1 6 0 0 0 0 1 15 9 0 0 0 0 0 22 3 7 0 0 0 118

Total 812 2 76 1 12 37 19 15 11 4 7 32 8 172 3 17 11 6 15 142 43 36 17 3 5 8 63 140 115 19 90 11 1952

Positividade (%) 6,20 0 1,31 0 0 2,70 5,30 0 0 0 0 3,10 12,50 3,50 0 0 0 0 6,70 10,60 20,90 0 0 0 0 0 34,90 2,10 6,10 0 0 0 6,04

Figura 3 - Freqüência da infecção pelo VLF em felinos (n=1.952) segundo sexo, faixa etária, origem, número de contactantes, vida reprodutiva e acesso à rua. São Paulo, 2005

Variável Sexo Faixa etária

Origem

Contactante

Vida reprodutiva Acesso à rua Raça

46

Fêmea Macho Não declarado < 3 anos 3-6 anos > 6 anos Não declarado Domicílio Gatil Pet shop Rua Não declarado Nenhum 1a5 6 a 15 Mais de 15 Não declarado Inativa Ativa Não declarado Não Sim Não declarado CRD SRD Não declarado

VLF (-) 1.000 820 14 713 610 414 97 314 357 56 502 605 181 315 352 911 75 1.276 475 83 714 274 896 300 772 762

VLF (+) 50 65 3 35 55 24 4 20 11 3 68 16 20 23 17 55 3 57 58 3 22 43 3 6 62 50

Total 1.050 885 17 748 665 438 101 334 368 59 570 621 201 338 369 966 78 1.333 533 86 736 317 899 306 834 812

Positividade (%) 4,76 7,34 17,60 4,67 8,27 5,47 4,00 5,98 2,98 5,08 11,92 2,57 9,95 6,80 4,60 5,69 3,84 4,27 10,88 3,48 2,99 13,56 0,33 1,96 7,43 6,15

quando considerados apenas os animais doentes submetidos ao teste de leucemia felina. Em pesquisa anterior 4, também havia sido observada freqüência de 12,6% nos felinos atendidos no HOVET/USP. As amostras oriundas do município de São Paulo se prestaram a um estudo epidemiológico detalhado, no qual se procurou estabelecer os fatores de risco envolvidos na infecção pelo VLF 20. Analisando as diferentes variáveis pela análise univariada, observouse diferença na freqüência da infecção nas variáveis, acesso à rua, atividade reprodutiva, origem dos animais, sexo e faixa etária. Idade, sexo, vida reprodutiva, origem e acesso à rua são fatores fortemente associados à infecção pelo VLF. Outros autores 17,21 também consideraram o acesso à rua um dos fatores de risco mais importantes na ocorrência de infecção, o que foi evidenciado entre os felinos do município de São Paulo 20, e aparentemente ocorre entre os demais felinos. Entre os animais positivos, os adultos entre três e seis anos foram os mais freqüentemente acometidos. Nessa fase da vida o animal apresenta maior vigor físico e intensa atividade sexual e, dessa forma, está mais propenso ao acesso à rua 20. Os adultos com idade superior a seis anos são menos acometidos, o que pode estar associado às próprias características da doença. Como é uma doença fatal e de curso relativamente curto, o gato com viremia persistente sobrevive, no máximo, por três a cinco anos após a infecção 21. Outra característica da infecção pelo VLF é a de que apenas 30% dos gatos que entram em contacto com o VLF desenvolvem viremia persistente; os demais são capazes de desenvolver imunidade e eliminar a infecção em sua fase inicial ou, ainda, de extinguir a infecção após algumas semanas, tornando-se resistentes 21. Assim, é possível que uma considerável parcela dos gatos com mais de seis anos de idade já tenha adquirido imunidade contra o vírus, o que justifica o baixo número de gatos infectados observado nessa faixa etária ou em faixa etária superior. A associação entre a infecção viral e os fatores raciais, sexuais e reprodutivos foi revelada pela análise univariada nos felinos da capital paulista. Entretanto, essas variáveis perderam a significância quando analisadas no modelo múltiplo, e não foram consideradas

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fatores de risco na amostragem estudada. O único fator de risco ressaltado foi o fato de ter acesso à rua ou ser originário da rua 20. Considerando a totalidade da amostra avaliada independentemente do estado de higidez dos felinos, a taxa de 6,04 % observada permanece praticamente a mesma daquela obtida na amostragem do município de São Paulo e à prevalência geral da infecção na população felina ao redor do mundo 1,22,23 de 1 a 5% e de 1 a 8%, respectivamente. A heterogeneidade numérica das amostras das diferentes regiões do Brasil e a ausência de informações não permitiram a inclusão desses animais no estudo epidemiológico mais detalhado. Da mesma forma, influiu também na taxa de positividade ao teste, que variou de zero a 34,9% e 20,9%, estas últimas observadas nas amostras originárias de Juiz de Fora e de Curitiba, respectivamente, nas quais foram obtidas freqüências mais altas de reagentes ao teste de leucemia felina. As amostras haviam sido enviadas para fins de diagnóstico, já que casos de

leucemia viral felina haviam sido observados no grupo de felinos analisados. Por outro lado, a maioria das amostras provenientes de diferentes cidades do interior do estado de São Paulo ou de outros estados havia sido encaminhada por profissionais interessados em conhecer o “estado sanitário” de felinos ou de grupos de felinos mantidos por pessoas afeiçoadas a esses animais. Os diferentes percentuais de infecção citados na literatura em diversos países do mundo 15,23,24 e no Brasil 4,18,19 parecem estar relacionados à característica das amostras, constituídas por felinos doentes, contactantes ou hígidos, em diferentes proporções. A leucemia viral felina é considerada uma doença mais comum entre os gatos que vivem em grupos e mantêm contacto amigável 23,25. Quando um gato infectado é introduzido em um grupo fechado, ocorre o contágio dos felinos susceptíveis; o diagnóstico da leucemia viral felina só é estabelecido quando se realiza o teste específico, por causa do óbito ou do desenvolvimento de alguma das

formas clínicas associadas à infecção viral. Nesse momento, uma parcela considerável dos membros do grupo já pode estar infectada, o que possivelmente ocorreu com as amostras oriundas de Juiz de Fora e de Curitiba. Cerca de 1/3 dos felinos que entram em contacto com o vírus é capaz de eliminar a infecção, e apenas 30 a 35% dos residentes apresentam viremia persistente, o que é detectado pelo teste de IFI. Em grupos fechados, independentemente do número de contactantes, a positividade ao teste de leucemia felina deve ser nula quando não houver um animal infectado entre eles ou a entrada de um novo elemento previamente infectado. Sendo o acesso à rua, ou o fato de ser originário da rua, a variável epidemiológica mais importante na leucemia viral felina, a real prevalência da infecção no Brasil poderá ser estimada pela análise da freqüência da infecção pelo VLF entre os gatos realmente errantes (abandonados ou criados na rua); é possível, entretanto, que também seja próxima daquela relatada para os gatos domiciliados.



Estudos realizados com gatos de rua em outros países demonstram que a freqüência relativa da infecção pelo VLF está em torno de 3,5 a 4,3% da população testada, não havendo diferença em relação à prevalência observada em gatos domiciliados 25,26,27. Conhecendo-se os fatores de risco relacionados à infecção pelo VLF, o uso da vacina contra a leucemia viral felina pode ser indicado de forma mais seletiva, somente para aqueles felinos mais expostos ao risco de infecção. O controle da leucemia viral felina em abrigos ou colônias de gatos inclui a realização do teste em todos os membros do grupo, o isolamento dos animais positivos e a imunização dos felinos negativos ao teste. Medidas de prevenção e controle da LVF em gatos domiciliados individualmente ou em pequenos grupos devem ser baseadas na limitação do acesso à rua e do contacto com gatos de status desconhecido quanto à infecção pelo VLF. Nos casos em que isto for impossível, deve-se optar pela vacinação dos gatos pertencentes ao grupo de risco para a infecção, levando-se em consideração as características da vacina 28,29,30, a duração da imunidade resultante, a resistência natural à infecção e os riscos inerentes ao desenvolvimento de sarcomas nos sítios de injeção 31. AGRADECIMENTOS À FAPESP, pela concessão de bolsa de Mestrado a um dos autores (JJ) e ao CNPq, pela bolsa de Pesquisador (MKH) e bolsa de apoio técnico (CS); aos clínicos veterinários que cooperaram com este projeto, enviando materiais; à Fort Dodge Saúde Animal, nas pessoas de MV Ingrid Menz, Stefan Mihailov e Nilder Lagana, pelo apoio financeiro inicial no desenvolvimento da técnica de IFI; ao MV Alir de Biaggio, pelo esforço na padronização da técnica de IFI. À Royal Canin, na pessoa do MV Yves Micelli, pelo apoio na confecção do material impresso e na divulgação do projeto. REFERÊNCIAS 01-JARRETT, O. Strategies of retrovirus survival in the cat. Veterinary Microbiology, v. 69, n. 1-2, p. 99-107, 1999. 02-LEVY, J. K. FeLV and non-neoplastic FeLVrelated disease, In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. (Eds.) Textbook of Veterinary Internal Medicine. W.B.Saunders

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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007



Pan-oftalmite em cão com leishmaniose visceral: relato de caso

Alcina Vieira Carvalho Neta MV, mestre, doutoranda Depto. Clínica e Cirurgia Vet./EV/UFMG alcinavcn@yahoo.com

Tatiane Alves da Paixão MV, mestranda Depto. Clínica e Cirurgia Vet./EV/UFMG tatipaixao@brfree.com.br

Panophthalmitis in a dog with visceral leishmaniasis: a case report

Fabiana Lessa Silva MV, mestre, doutoranda Depto. Clínica e Cirurgia Vet./EV/UFMG fabiana.lessa@gmail.com

Panoftalmitis en perro con leishmaniasis visceral: relato de caso Resumo: A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença crônica progressiva associada a esplenomegalia, linfadenomegalia, hepatomegalia, lesões cutâneas, emaciação progressiva e insuficiência renal. Ocasionalmente, cães com leishmaniose visceral apresentam manifestações oculares, como conjuntivite, uveíte e blefarite, que podem ou não estar associadas à manifestação sistêmica da doença. O presente relato descreve o caso de uma cadela poodle de 18 anos de idade, com panoftalmite linfo-histio-plasmocitária intensa, crônica, difusa e bilateral com miríade de amastigotas intracitoplasmáticas em macrófagos. O agente foi identificado como Leishmania sp. por imunohistoquímica, e como pertencente ao complexo donovani pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR). Unitermos: Olho, inflamação, uveíte, Leishmania chagasi Abstract: Canine visceral leishmaniasis (CVL) is a progressive chronic disease associated with splenomegaly, lymphadenopathy, hepatomegaly, cutaneous lesions, progressive emaciation, and renal failure. Ocular manifestations such as conjunctivitis, uveitis and blepharitis are occasionally observed in dogs with visceral leishmaniasis. These ocular lesions may or may not be associated with the systemic manifestation of the disease. This report describes a case of an 18-year-old Poodle bitch with intense chronic diffuse bilateral lympho-histio-plasmacytic panophthalmitis, with a myriad of intracytoplasmic amastigotes in macrophages. The agent was identified as Leishmania sp. by immunohistochemistry and as a member of the donovani complex by polymerase chain reaction (PCR). Keywords: Eye, inflammation, uveitis, Leishmania chagasi Resumen: La leishmaniasis visceral canina (LVC) es una enfermedad infecto-contagiosa crónica, progresiva, asociada a esplenomegalia, linfadenomegalia, hepatomegalia, lesiones cutáneas, emaciación progresiva e insuficiencia renal. Ocasionalmente son observadas manifestaciones oculares en perros con leishmaniasis visceral, asociadas o no a signos sistémicos, donde se destacan las conjuntivitis, uveítis y blefaritis. El presente relato describe el caso clínico de una hembra canina de raza Poodle de 18 años de edad, con panoftalmitis linfo-histio-plasmocitária intensa, crónica, difusa y bilateral con gran cantidad de amastigotas intracitoplasmáticas en macrófagos. El agente etiológico fue identificado como Leishmania sp. por técnica de inmunohistoquímica, y pertenece al complejo donovani debido a la identificación por la reacción en cadena de la polimerasa (PCR). Palabras clave: Ojo, inflamación, uveítis, Leishmania chagasi

Clínica Veterinária, n. 66, p. 52-56, 2007

Introdução A leishmaniose visceral canina (LVC) é uma doença crônica progressiva, e constitui-se em uma antropozoonose de grande importância devido à elevada taxa de mortalidade humana em regiões endêmicas, ao grande número de cães infectados e ao intenso parasitismo que ocorre nesses animais 1,2, fazendo com que, em áreas urbanas, o cão seja o reservatório mais importante para a transmissão da doença ao homem 3. Dessa forma, verifica-se alta correlação positiva entre a distribuição espacial de cães soropositivos e de casos humanos da doença em áreas urbanas 4. No Brasil, a LVC é causada pelo protozoário Leishmania chagasi (ordem Kinetoplastida, família Tripanossomatidae) 5. O L. chagasi é um 52

parasito intracelular obrigatório de células do sistema mononuclear fagocitário 6 que, nas Américas, é transmitido principalmente pelo hospedeiro intermediário invertebrado Lutzomia longipalpis. A manifestação clínica da doença é bastante variável, sendo que alguns cães apresentam poucos sinais clínicos ou sequer os apresentam. A doença clínica é caracterizada por linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia, dermatite periorbital e nasal com tendência à disseminação; o pêlo torna-se opaco, surgindo alopecia associada à onicogrifose. Em casos mais graves, observa-se caquexia associada a sinais clínicos de insuficiência renal crônica 7,8. Nesses casos, a doença renal é conseqüência da deposição de imunocomplexos nos glomérulos, resultando em glomerulonefrite

Renato de Lima Santos MV, mestre, PhD, prof. adj. Depto. Clínica e Cirurgia Vet./EV/UFMG rsantos@vet.ufmg.br

membranoproliferativa e insuficiência renal crônica 9,10. Além de sua manifestação clínica clássica, a LVC pode se apresentar clinicamente de forma extremamente variável, como doença esquelética – manifestando-se com poliartrite 11,12 ou osteomielite 13 –, ou mesmo com alterações genitais que freqüentemente estão associadas aos sinais sistêmicos da doença 14. Embora não estejam necessariamente presentes em todos os animais doentes, outros sinais freqüentes são febre, coriza, apatia, diarréia, hiperceratose, despigmentação, ulcerações cutâneas particularmente no focinho e nas orelhas, ceratoconjuntivite e uveíte 15,16. A LVC é endêmica em muitos estados do Brasil e apresenta manifestações clínicas diversas no cão, sendo a lesão ocular um achado ocasional 17. Manifestações oculares, geralmente associadas a sinais sistêmicos e raramente independentes destes sinais, têm sido descritas em cães com leishmaniose visceral. Ceratoconjuntivites, uveítes e blefarites são as alterações descritas com maior freqüência, mas outras manifestações oculares também têm sido relatadas, como: ciclites, coriorretinites, ceratoconjuntivite seca, catarata e glaucoma, sendo que tanto a catarata quanto o glaucoma podem ser enquadrados como seqüelas da uveíte 18,19,20. Diante da crescente importância da LVC para a área oftalmológica, conforme recentemente detalhado em artigo de revisão 20, o presente artigo tem como objetivo descrever um caso de panoftalmite severa, com abundância de amastigotas intralesionais, em um cão com leishmaniose visceral.

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007


94ºC por 4 minutos, seguida de 49 ciclos de desnaturação (94ºC por 30 segundos), anelamento (59 ºC por 30 segundos) e extensão (72 ºC por 30 segundos), seguidos de uma extensão final a 72 ºC por 10 minutos. Os produtos da PCR (145 pares de bases) foram resolvidos por eletroforese em gel de agarose. Ao exame histopatológico do globo ocular esquerdo foi observado infiltrado inflamatório linfo-histio-plasmocitário intenso, difuso, localizado predominantemente na íris e no corpo ciliar (Figura 1), estendendo-se para as câmaras anterior e posterior, com predomínio de plasmócitos e macrófagos repletos de formas amastigotas, de 2 a 3µm de diâmetro, com morfologia compatível com Leishmania sp. (Figura 2). Foi evidenciada também fibroplasia moderada e difusa no corpo ciliar e na íris, com grande número de macrófagos contendo pigmentos intracitoplasmáticos com características de hemossiderina e lipofucsina. A câmara posterior continha grande quantidade de exsudato fibrinoso parcialmente organizado, com angioplasia e fibroplasia discretas, pequena quantidade de células inflamatórias e hemorragia multifocal. Também verificou-se lente com coagulação e fragmentação das fibras subcapsulares, desprendimento da cápsula e

acúmulo de estruturas esféricas com diâmetro variando de 30 a 80µm de diâmetro na câmara posterior, amorfas, fracamente basofílicas, que foram interpretadas como glóbulos de Morgagni (Figura 3), circundadas por macrófagos, plasmócitos e linfócitos. Foi observada perda de extensas áreas da retina, sendo que os focos remanescentes da retina tinham distribuição multifocal, com hipotrofia severa. Na córnea, foram observados infiltrado inflamatório neutrofílico multifocal, discreto, associado à vascularização, e infiltrado inflamatório linfohistio-plasmocitário superficial, difuso, moderado, com macrófagos repletos de formas amastigotas intracitoplasmáticas e uma área focal de ulceração no epitélio corneal. Na conjuntiva, havia infiltrado linfo-histio-plasmocitário, multifocal, perivascular, moderado, com macrófagos repletos de formas amastigotas. No globo ocular direito foram observadas lesões semelhantes, porém com fibroplasia mais intensa e aderência da íris à membrana de Descemet, caracterizando sinéquia anterior. A imunohistoquímica resultou em intensa marcação das formas amastigotas intracitoplasmáticas em macrófagos (Figura 4), permitindo a identificação do agente como Leishmania sp. Renato de Lima Santos

Renato de Lima Santos

Figura 1 - Fotomicrografia da íris de cão com LVC. Observa-se infiltrado inflamatório intenso e difuso. H.E. 50x

Figura 2 - Fotomicrografia do globo ocular de cão com LVC. Observa-se infiltrado linfo-histioplasmocitário, com inúmeros macrófagos repletos de formas amastigotas de 2 a 3µm de diâmetro, cuja morfologia é compatível com Leishmania sp. H.E. 200x

Figura 3 - Fotomicrografia da câmara posterior do globo ocular de cão com LVC. Observam-se exsudato fibrinoso e acúmulo de glóbulos de Morgagni circundados por plasmócitos, macrófagos e linfócitos. H.E. 100x Renato de Lima Santos

Renato de Lima Santos

Relato de caso Uma cadela da raça poodle de 18 anos de idade, procedente do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais, sem histórico clínico disponível, foi encaminhada ao Setor de Patologia para diagnóstico post mortem. Durante a necropsia, foram observados globos oculares assimétricos. O globo ocular direito estava diminuído de volume, com opacidade de córnea e opacidade de lente moderadas, e havia um nódulo de aproximadamente 1cm de diâmetro localizado caudalmente à íris. O globo ocular esquerdo apresentava opacidade de córnea e de lente moderada, e grande quantidade de exsudato acinzentado no interior das câmaras oculares. A cadela apresentava também doença periodontal intensa com retração gengival, tártaro e mobilidade dos dentes incisivos. Foi observado nódulo hepático de 3 x 5cm de diâmetro, pobremente delimitado, de coloração amarelo-avermelhada e consistência friável, semelhantes ao parênquima hepático adjacente. Os rins estavam intensamente pálidos e havia lesões características de uremia, como estômago com odor amoniacal e mineralização focal da mucosa da faringe. Os globos oculares direito e esquerdo foram fixados em formalina a 10%, processados para inclusão em parafina, cortados a 5µm de espessura e corados pela hematoxilina-eosina. Os cortes foram submetidos à técnica de imunohistoquímica, utilizando-se o método da estreptoavidina-peroxidase (LSAB+ Kit, DAKO, California, USA) e soro canino hiperimune como anticorpo primário, conforme descrito previamente 21. O diagnóstico foi complementado pela técnica de PCR (reação em cadeia da polimerase), utilizando-se DNA extraído de fragmentos de tecido fixado em formol e incluído em parafina para amplificação de um segmento do minicírculo de Leishmania sp. do complexo donovani 22. Um µg de DNA foi adicionado a 15,6µL de uma solução contendo 5,1µL de tampão de PCR 10x, 5,1µL de uma solução de 200µM de dNTP, 0,2µM do primer A (5'-CTTTTCTGGTCCCGCGGGTAGG-3'), 0,2µM do primer B (5'-CCACCTGGCCTATTTTACACCA-3'), 3mM de MgCl2 e 1,5U de Taq polimerase. Os parâmetros para os ciclos foram os seguintes: desnaturação a

Figura 4 - Fotomicrografia da câmara posterior do globo ocular de cão com LVC. Observam-se inúmeras formas amastigotas de Leishmania intracitoplasmáticas em macrófagos. IHQ. 200x

Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007

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A PCR resultou em amplificação de um produto de 145 pares de base, conforme previamente descrito 22, confirmando a classificação do agente como Leishmania sp. pertencente ao complexo donovani. Os resultados histopatológico, imunohistoquímico e da PCR permitiram o estabelecimento do diagnóstico morfológico e etiológico de pan-oftalmite linfo-histio-plasmocitária intensa, crônica, difusa e bilateral, com miríade de amastigotas intracitoplasmáticas em macrófagos, compatível com Leishmania sp. do complexo donovani. Discussão e conclusão O achado histopatológico de um infiltrado inflamatório mononuclear observado no presente caso também tem sido descrito por outros autores que verificaram intenso infiltrado plasmocitário uveal, metaplasia escamosa da conjuntiva, separação das fibras de colágeno na córnea caracterizando edema, assim como a presença de exsudação na câmara posterior e em outros compartimentos oculares, associados ao parasitismo por Leishmania sp. 23,24 De forma geral, as doenças oculares em cães têm prevalência de 16 a 80,49% 18,24,25,26,27, sendo que em cães com leishmaniose, sinais oculares podem representar 3,48% a 7% das queixas conhecidas, e podem ser a única manifestação clínica observável 28. Além da Leishmania sp., outros agentes podem causar endoftalmites em cães 27. No presente caso, o diagnóstico diferencial deve considerar principalmente Histoplasma capsulatum, Toxoplasma gondii e Neospora caninum, embora tais agentes tenham características morfológicas que podem ser consideradas para diferenciação em cortes histológicos. Outros agentes, como Cryptococcus neoformans, Blastomyces sp. e Prototheca sp. podem potencialmente causar oftalmites, mas têm características morfológicas distintas – particularmente com relação ao tamanho – que permitem a sua diferenciação, podendo ainda ser diferenciados por técnicas imunohistoquímicas. Dentre os agentes listados no diagnóstico diferencial, a Leishmania sp. diferencia-se por constituir-se morfologicamente de uma estrutura redonda a ovalada de aproximadamente quatro a seis micrô54

metros de diâmetro com núcleo e um cinetoplasto – estrutura intracitoplasmática especializada –, que permitem a diferenciação morfológica e molecular do agente 29. Várias espécies de Leishmania podem potencialmente infectar o cão, no entanto a doença visceral é causada pela Leishmania do complexo donovani 22, que inclui as espécies L. chagasi, L. infantum e L. donovani. Considerando que no Brasil o agente da leishmaniose visceral é a L. chagasi, e que os tecidos oculares do cão objeto deste relato foram positivos na PCR específica para o complexo donovani, pode-se assumir que o animal estava infectado por L. chagasi. Tem sido proposto que os processos inflamatórios oculares em cães com leishmaniose visceral, entre eles a blefarite, a conjuntivite, a ceratite, a uveíte, a retinite e a endoftalmite podem ocorrer devido à presença de formas amastigotas com infiltração leucocitária intensa, e/ou em decorrência da resposta imunomediada por deposição de complexo antígeno-anticorpo 30. A grande quantidade de imunoglobulinas, não somente em estruturas oculares, mas em diversos tecidos e órgãos dos cães com leishmaniose visceral, favorece a hipótese da patogênese imunomediada das lesões oculares 27. Entretanto, a resposta imune nos casos de LVC ainda é um campo de estudo bastante complexo e não completamente elucidado 31. Deve-se destacar, portanto, a importância de se incluir a LVC como diagnóstico diferencial das doenças oculares, principalmente em regiões endêmicas. No presente caso, foi possível o diagnóstico definitivo de panoftalmite bilateral associado à leishmaniose visceral canina. Referências 01-ABRANCHES, P. ; SILVA-PEREIRA, M. C. D. ; CONCEIÇÃO-SILVA, F. M. ; SANTOSGOMES, G. M. ; JENZ, J. G. Canine l eishmaniasis: pathological and ecological factors influencing transmission of infection. Journal of Parasitology, v. 77, n. 4, p. 557-561, 1991b. 02-ASHFORD, D. A. ; BOZZA, M. ; FREIRE, M. ; MIRANDA, J. C. ; SHERLOCK, I. ; EULALIO, C. ; LOPES, U. ; FERNANDES, O. ; DEGRAVE, W. ; BARKER, R. H. ; BADARO, R. ; DAVID, J. R. Comparison of the polymerase chain reaction and serology for the detection of canine visceral leishmaniasis. American

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visceral canina - estudo imunológico em olhos de cães - parte II. Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 58, n. 5, p. 331-337, 1999a. 16-DIAS, D. V. ; COSTA, C. A. ; TOLEDO, V. P. C. P. ; BAMBIRRA, E. ; GENARO, O. ; MICHALICK, M. S. M. ; COSTA, R. T. ; MAYRINK, W. ; ORÉFICE, F. Leishmaniose visceral canina - estudo parasitológico e histológico em olhos de cães - parte I. Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 58, n. 5, p. 331337, 1999b. 17-MCCONNELL, E. E. ; CHAFFEE, E. F. ; CASHELL, I. G. ; GARNER, F. M. Visceral leishmaniasis with ocular involvement in a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 156, n. 2, p. 197-203, 1970. 18-CIARAMELLA, P. ; OLIVA, G. ; LUNA, R. D. ; GRADONI, L. ; AMBROSIO, R. ; CORTESE, L. ; SCALONE, A. ; PERSECHINO, A. A retrospective clinical study of canine leishmaniasis in 150 dogs naturally infected by Leishmania infantum. Veterinary Record, v. 141, n. 21, p. 539-543, 1997. 19-ROZE, M. Manifestations oculaires de la leishmaniose canine. Recueil de Medicine Veterinaire, v. 162, n. 1, p. 19-26, 1986. 20-BRITO, F. L. C. ; ALVES, L. C. ; LAUS, J. L. Manifestações oculares na leishmaniose visceral canina - revisão. Clínica Veterinária, n. 64, p. 68-74, 2006.

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Sarcoma pós-vacinal felino: um alerta

Letícia Mattos de Souza-Dantas MV, mestre - PPGMV/FV/UFF souza_dantas@yahoo.com.br

Norma Labarthe MV, profa. adj. - PPGMV/FV/UFF labarthe@centroin.com.br

Feline vaccine-associated sarcoma: an alert

Sarcomas post-vacunales en gatos: un alerta Resumo: A vacinação contra diversas enfermidades infecciosas tem sido rotina na clínica veterinária em todo o mundo, espelhando um avanço no controle de doenças infecciosas que se configuram em agravos à saúde animal e, em alguns casos, à saúde humana. Porém, principalmente em gatos, injeções intramusculares ou subcutâneas podem resultar em reações inflamatórias granulomatosas, que podem evoluir para sarcomas. O desenvolvimento de sarcomas tem sido freqüentemente associado às vacinas utilizadas na clínica de pequenos animais. De forma geral, os sarcomas relatados são agressivos e invasivos, e apresentam alta taxa de recorrência após procedimentos cirúrgicos. São ainda, pouco responsivos à quimioterapia e à radioterapia. Até a atualidade não há tratamento eficaz contra os sarcomas pós-vacinais e, portanto, seu prognóstico é desfavorável, tornando imperativa a prevenção e o esclarecimento aos proprietários. Unitermos: Gatos, vacinação, efeitos adversos Abstract: Vaccination against several infectious diseases has been routine in small animal practice all over the world, showing an advance in controlling infectious diseases that threatens animal health, and in some cases, human health. However, intramuscular or subcutaneous injections can result in granulomatous inflammatory reactions that could lead to neoplasia, particularly in cats. Sarcoma development has been frequently associated to vaccines used in small animal clinics. Reported sarcomas are generally aggressive and invasive, and present high recurrence rate after surgical removal. In addition, they do not respond well to chemotherapy and radiotherapy. To date there is no efficient treatment against vaccine-associated sarcomas, which renders the prognosis is unfavorable. The prevention and education of owners are therefore imperative. Keywords: Cats, vaccination, adverse effects Resumen: La vacunación contra diversas enfermedades infecciosas ha sido rutina en la clínica veterinaria en todo el mundo, reflejando un avance en el control de molestias infecciosas que agravan la salud animal, y en algunos casos, la humana. Sin embargo, principalmente en gatos, inyecciones intramusculares o subcutáneas pueden resultar en reacciones inflamatorias granulomatosas que pueden evolucionar a sarcomas. El desarrollo de sarcomas ha sido frecuentemente asociado a las vacunas utilizadas en clínica de pequeños animales. De manera general, los sarcomas reportados son agresivos e invasivos, poseyendo alto índice de recurrencia después de procedimientos de cirugía. Estos sarcomas todavía responden poco a la quimioterapia, tanto como a la radioterapia. Hasta ahora no hay tratamiento eficaz contra sarcomas post-vacunales, y por lo tanto, el pronóstico es desfavorable, haciéndose imperativo la prevención y esclarecimiento de los clientes. Palabras clave: Felinos, vacunación, efectos adversos

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Introdução A vacinação é um procedimento fundamental no controle de doenças infecciosas que afetam os animais e o seres humanos 1,2. Todavia, não é incomum que seja esquecido que, como qualquer procedimento médico, essa conduta não possui apenas vantagens, mas pode também apresentar efeitos adversos 2,3,4,5. Reações leves a moderadas, como dor e edema no local da aplicação, febre branda e diminuição do apetite e da atividade do animal são freqüentemente observadas, após algumas horas ou alguns dias, bem como, ocasionalmente, o desenvolvimento de tumoração ou massa pequena, firme e indolor, que tende a desaparecer em alguns dias 2,6,7. Sabe-se, todavia, que a ocorrência de reações anafiláticas e o desenvolvimento de tumores a partir do granuloma formado no local são possíveis 1,2,4,7. É crescente o aparecimento de sarcomas relacionados 58

à vacinação e à aplicação de outros medicamentos injetáveis por via subcutânea ou intramuscular em gatos 3,8,9. Embora os sarcomas não sejam um novo tipo de tumor e, em sua maioria, não estejam associados à vacinação, 10,11 o fato de poderem se desenvolver após a aplicação de vacinas provoca apreensão. A relação entre o desenvolvimento de tumores e um procedimento recomendado pelos médicos veterinários de pequenos animais como medida para preservar a saúde dos pacientes pode voltar a opinião pública contra a profissão médicoveterinária como um todo 1,2,3.

de ser feita com vacinas com vírus atenuados para ser feita com vírus inativados e, portanto, com a adição de adjuvantes 3,4,12. Estudos se intensificaram na tentativa de explicar a patogênese dos sarcomas, visando também a confirmação da correlação entre as vacinas e o desenvolvimento desses tumores 3,13. Em resposta a essa preocupação em 1996 foi formada, nos Estados Unidos da América, a Vaccine-Associated Feline Sarcoma Task Force 3,9, associação criada com o objetivo de elucidar várias dúvidas sobre a etiopatogenia, a epidemiologia e o tratamento dos sarcomas pós-injeção, além de fornecer novas diretrizes para a vacinação em gatos 7,14,15. Concomitantemente, os relatos continuaram, gerando controvérsia e polêmica 16. O isolamento de hidróxido de alumínio de macrófagos em torno de sarcomas possivelmente associados à vacinação reforçou as suspeitas acerca do envolvimento de vacinas com adjuvantes 4,12,13. Além disso, a maioria dos sarcomas relatados localizava-se nas regiões cervical e interescapular, nas quais as vacinas são habitualmente aplicadas. 17,18,19 Em seguida, foi estudada a relação entre o desenvolvimento de sarcomas e as vacinas contra a leucemia felina (FeLV) – que também eram compostas por vírus inativados e, portanto, continham adjuvantes –, assim como, em menor número, a associação com outras vacinas e medicamentos injetáveis utilizados na rotina clínica, como a amoxicilina e a dexametasona 4,9,18,20,21,22.

Histórico No início dos anos 90, iniciou-se a discussão sobre a possibilidade de associação entre o aumento do desenEpidemiologia volvimento de sarcomas em gatos, A proporção de animais acometidos principalmente fibrossarcomas, e a vaci- por sarcomas relacionados às injeções nação contra a raiva, que havia deixado ainda é desconhecida. Estima-se entre

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um e 10 casos em 10.000 gatos, e o número total de felinos que desenvolvem esses tumores pode chegar a 22.000 a cada ano nos EUA 3,4,6,9,13. Em relação ao período de tempo de surgimento dos tumores e ao número de doses de vacinas aplicadas, um estudo retrospectivo mostrou que o risco de um gato desenvolver sarcoma pós-vacinal após a administração de uma única dose de vacina na região cervical ou interescapular foi de 50%, comparado a um animal não vacinado nessa região. O risco para os gatos vacinados duas vezes foi 127% maior, enquanto que, em gatos vacinados três ou quatro vezes, foi superior a 175%. O tempo de aparecimento dos tumores foi de, no mínimo, três meses e de, no máximo, quatro anos após a vacinação 3,10,12,23. Não foi estabelecida correlação entre o aparecimento do sarcoma pós-vacinal e o estado de portador dos vírus da imunodeficiência (FIV) 9,12 ou da leucemia felina (FeLV) 3,12,24, bem como parece não haver predisposição racial ou sexual 12,18,23. Sabe-se apenas que esse risco é relacionado a injeções que causem inflamação crônica 3,4 ou terapias injetáveis prolongadas 18, e procura-se ainda esclarecer se há predisposição genética e quais oncogenes ou agentes carcinógenos poderiam estar envolvidos 1,3,25,26.

Diagnóstico e tratamento Os sarcomas associados à injeção são tumores altamente invasivos, muitas vezes de crescimento rápido e com alta taxa de recorrência 3,28. Portanto, requerem intervenção agressiva, o que pode incluir combinação de cirurgia, radioterapia e quimioterapia 3,23. Podem ocorrer metástases, risco que aumenta com o passar do tempo 22,23,29,30. Para o diagnóstico acurado, recomenda-se anotar sempre na ficha clínica do paciente o local onde foram feitas aplicações de vacinas ou outros medicamentos e, no caso do surgimento de qualquer tumoração no animal, descrever o local, a forma, o tamanho e o tempo transcorrido após a última vacinação ou medicação injetável e o surgimento da massa tumoral 7,9. Tratando-se de pacientes felinos, deve-se considerar qualquer tumoração, em local de prévia aplicação de vacina ou medicação injetável, como tumor maligno, até que se prove o contrário (Figura 1) 3,14. Qualquer massa que persista três meses ou mais no local de aplicação de injeções, ou que seja maior que dois centímetros de diâmetro, ou que continue crescendo após um mês da aplicação, deve ser submetida a exame histopatológico, com o cuidado de que a região afetada pela biópsia possa ser completamente retirada no procedimento cirúrgico 3,6,14. A citologia aspirativa Carmem Helena de Carvalho Vasconcellos

Etiopatogenia Os sarcomas associados à aplicação de vacinas são, em sua maioria fibrossarcomas, mas outros tipos de tumores já foram relatados 3,11,23. Os tumores caracterizam-se por pleomorfismo, alta taxa mitótica e área central necrótica 3,11,21. Freqüentemente observa-se infiltrado inflamatório com predominância de linfócitos e macrófagos em torno da lesão 10,27. Os tipos celulares predominantes são fibroblastos e miofibroblastos, provavelmente estimulados pela presença de adjuvantes ou outras substâncias que produzam inflamação 9,10,13,20,21. A inflamação – associada ou não a oncogenes – está envolvida na formação tumoral 9,10,13. Embora a etiopatogenia dos sarcomas vacinais não seja plenamente compreendida, está claro que envolve a estimulação celular prolongada por substâncias imunogênicas, como os adjuvantes utilizados nas vacinas inativadas 1,4. A reação inflamatória de longa duração, causada principalmente pela expressão

de oncogenes leva à transformação neoplásica e ao desenvolvimento do tumor 3,10. Zonas de transição de granuloma inflamatório para sarcoma já foram identificadas 3,13, sustentando a hipótese de que a resposta inflamatória local à vacinação ou a medicamentos antecede a formação do tumor 1,10,13.

Figura 1 - Excisão de tumoração localizada no hemitórax lateral esquerdo de um gato doméstico, posteriormente dignosticada como fibrossarcoma

não é recomendada para o diagnóstico de sarcoma vacinal, sendo utilizada apenas para a eliminação de outras causas de tumoração, como abscessos e granulomas 14. Nos casos em que o diagnóstico de sarcoma for confirmado, deve-se incluir nos exames pré-operatórios radiografias torácicas e outros métodos de diagnóstico por imagem – quando disponíveis –, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética 3,14,23. Esse procedimento é recomendado porque esses tumores tendem a se disseminar pelas fáscias dos tecidos 3,14,23, além de poder desenvolver metástases pulmonares 3,29. No procedimento de exérese da neoplasia, é recomendada a retirada de no mínimo dois centímetros de margem de segurança ao redor da massa tumoral, incluindo o plano abaixo do tumor 14,23,29. Em muitos casos, isto levará à necessidade de reconstrução de tecidos adjacentes 3,19. Toda a área removida deve ser enviada para a realização de exame histopatológico 14. O diagnóstico por imagem, além de delimitar precisamente a área a ser extirpada e as margens necessárias, delimita a área a ser tratada no caso de optar-se por radioterapia 23. A radioterapia, antes ou depois da remoção cirúrgica, tem trazido bons resultados no controle, embora a cura nem sempre aconteça 3. Os sarcomas pós-vacinais são sensíveis a alguns medicamentos quimioterápicos, como doxorrubicina 23,31, carboplatina 6, mitoxantrona 31 e ciclosfofamida 6,23. Entretanto, sua adição à radioterapia e ao tratamento cirúrgico têm, na maioria dos casos, apenas aumentado o intervalo entre recidivas 3,6. O paciente deve ser avaliado mensalmente durante três meses após a cirurgia e, posteriormente, em intervalos de três meses por pelo menos um ano 14. Diante dessa situação, a única forma de tratamento eficiente é a prevenção 3,6, que impõe o desenvolvimento tecnológico de novas vacinas sem adjuvantes 5,6,32. Prevenção e profilaxia Devido à característica invasiva desses tumores, à dificuldade encontrada durante os procedimentos cirúrgicos e ao impacto negativo que cada animal acometido tem sobre a reputação da profissão médico-veterinária, a Vaccine-Associate Task Force, a partir

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dos dados das pesquisas realizadas, desenvolveu um novo protocolo para a vacinação de gatos 3,6,17. O protocolo visa, principalmente, a redução do número de aplicações de injeções e, portanto, a redução do número das vacinações que cada indivíduo receba durante a vida 3,6,7,23. As recomendações sugerem que todos os gatos sejam vacinados contra a panleucopenia, a herpesvirose, a calicivirose e a raiva com vacinas sem adjuvantes, sempre que possível 4,13,17. Mostra ainda que não há necessidade de vacinar-se todos os animais anualmente 1,2,4,17,33, e prevê o local de injeções nos membros para que, no caso de desenvolvimento de tumor maligno, seja possível atingir as margens cirúrgicas adequadas através da amputação 3,6,7. É evidente que a periodicidade com que se revacinam animais é dependente de vários fatores, como por exemplo o desafio viral de cada ambiente 2,34, embora seja claro que não há justificativa para a revacinação anual contra todas as doenças preveníveis por vacinação 8,33,34. Assim, nos EUA, recomenda-se que gatos adultos recebam vacinações a cada três anos 17. No Brasil, a lei obriga que gatos sejam anualmente vacinados contra a raiva e, como vacinas atenuadas não são permitidas, o único recurso seria a utilização de vacinas recombinantes. Entretanto, apesar destas vacinas já estarem disponíveis no mercado internacional, ainda não são comercializadas no mercado brasileiro 17,32. Vacinações contra qualquer

outro patógeno devem ser realizadas apenas quando o animal está sob risco, e devem seguir as regras: evitar o excesso de aplicações e o uso de adjuvantes 2,7,13. Recomendações 3,17 Apenas vacinar contra doenças às quais o animal realmente esteja exposto, e repetir de forma coerente com cada caso. Preferir vacinas sem adjuvantes. Preferir a via oral para a administração de medicamentos. Anotar o local e a data de administração de qualquer injeção. Variar o local de vacinação. Jamais reutilizar seringas ou agulhas. Realizar biópsia de qualquer nódulo que persista por três meses após a vacinação, com mais de dois centímetros, a qualquer tempo após a vacinação, ou crescendo um mês após a vacinação. Sempre esclarecer os proprietários sobre os riscos, prós e contras de qualquer procedimento médico. Considerações finais A individualização dos protocolos de vacinação deve levar em consideração: 1) o risco ao qual o paciente está realmente exposto 2,7,17; 2) o risco à saúde animal e humana 6,7,17; 3) a eficiência das vacinas disponíveis 4,7,17; 4) a idade e o estado de sanidade do indivíduo a ser vacinado 2,7; e 5) quaisquer reações às vacinações ou outros medicamentos injetáveis que o animal já tenha apresentado no passado 3,7. Cabe aos clínicos veterinários de pequenos animais reivindicar,

junto às indústrias, que o mercado brasileiro disponibilize produtos adequados para maior segurança dos pacientes felinos 2. Resumidamente, é mandatório encontrar o equilíbrio entre a prevenção de doenças pela vacinação e o risco de desenvolvimento de reações adversas 4,8. Por uma questão moral, os proprietários devem ser esclarecidos sobre todos os aspectos e possibilidades de reações adversas que a vacinação de seus animais envolve 2,3,7,23. Agradecimentos À dra. Carmen Helena de Carvalho Vasconcellos, pela cessão da foto contida neste artigo. Referências 01-BERGMAN, P. J. Etiology of feline vaccineassociated sarcomas: history and update. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 213, n. 10, p. 1424-1425, 1998. 02-MEYER, E. K. Vaccine-associated adverse events. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 31, n. 3, p. 493-513, 2001. 03-BERGMAN, P. ; HENDRICK, M. J. ; MACY, D. ; McGILL, L. ; STARR, R. M. ; VAN KAMPEN, K. R. Feline Sarcoma and Vaccination: Roundtable on the Injection-Site problem in cats. Veterinary Forum, v. 16, n. 3, p. 40-47, 1999. 04-SMITH, C. A. Are we vaccinating too much? Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 207, n. 4, p. 421-425, 1995. 05-RICHARDS, J.R. Advances in feline health research: Impact of recent developments in vaccinology on feline welfare. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 208, n. 4, p. 505-510, 1996. 06-COUTO, G. C.; MACY, D. W. Review of treatment options for vaccine-associated feline sarcoma. Journal of the American Veterinary



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Clínica Veterinária, Ano XII, n. 66, janeiro/fevereiro, 2007



Disgerminoma ovariano em cadela: relato de caso

Diogo José Cardilli MV, residente - FCAV/Unesp-Jaboticabal djcardilli@yahoo.com.br

Gilson Hélio Toniollo MV, prof. tit. Depto. Méd. Vet. Prev. e Reprod. Animal FCAV/UNESP-Jaboticabal

Ovarian dysgerminoma in bitch: case report

toniollo@fcav.unesp.br

Giuliano Queiroz Mostachio

Disgerminoma ovárico en perra: relato de caso

MV, residente - FCAV/Unesp-Jaboticabal wise_uel@yahoo.com.br

Tathiana Fergusom Motheo MV, residente - FCAV/Unesp-Jaboticabal ihtat@yahoo.com.br

Resumo: O presente trabalho visa relatar o caso de uma fêmea canina de sete anos, da raça rottweiler, que apresentava sinais de estro prolongado e emagrecimento progressivo. À palpação abdominal, foi notado aumento de volume de consistência firme em região hipogástrica. O exame ultra-sonográfico mostrou uma estrutura de contornos irregulares, heterogênea, com porções sólidas e áreas cavitárias com conteúdo anecogênico. Ao exame radiográfico do tórax não foram detectados sinais de metástases. A laparotomia exploratória revelou uma massa de aproximadamente 10cm de diâmetro no ovário esquerdo. Após a ovariossalpingoisterectomia (OSH), fragmentos da massa foram enviados para exame histopatológico, que apontou disgerminoma ovariano, um tipo incomum de tumor em cadelas. Unitermos: Oncologia, ovário, doenças dos cães Abstract: The present work reports the case of a seven-year-old Rottweiller female dog that presented prolonged oestrus and progressive emaciation. An enlarged mass of firm consistency in the hypogastric area was noticed through abdominal palpation. Ultrasonographic examination showed a structure of irregular and heterogeneous contours, with solid portions and cavities with anechoic content. Radiographic examination of the thorax showed no signs of metastasis. Exploratory lapatoromy revealed a mass of approximately 10 cm of diameter in the left ovary. Fragments of the mass were sent for histopathological analysis after ovariosalpingohysterectomy (OVH) and an ovarian dysgerminoma, an unusual type of tumor in bitches, was diagnosed. Keywords: Oncology, ovary, diseases of dogs

Resumen: Este relato describe el caso de una Rottweiler hembra de siete años que presentó estro prolongado y adelgazamiento progresivo. En la palpación abdominal, un gran volumen de consistencia firme fue notado en el área hipogástrica. La ultrasonografía mostró una estructura de contornos irregulares, heterogénea, con porciones sólidas y cavidades con contenido anecogénico. La radiografía del tórax no mostró ninguna señal de metástasis. La lapatoromía exploratoria reveló una masa en el ovario izquierdo, de aproximadamente 10 cm de diámetro. Después de ovariohisterectomía (OVH), los fragmentos de la masa fueron enviados para histopatología, y resultaron en disgerminoma ovárico, un tipo poco común de tumor en perras. Palabras clave: Oncología, ovario, enfermedades de perros

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Introdução Os tumores primários de ovário são raros em cadelas, provavelmente devido à prática da ovariossalpingoisterectomia (OSH) precoce 1,2,3. Representam 0,5 a 1% de todas as neoplasias em cães, e 25% dos animais com doenças ovarianas apresentam neoplasias 2. Esses tumores são classificados em: epiteliais (adenoma, adenocarcinoma); de células estromais dos cordões sexuais (tumores das células da granulosa, das células intersticiais, luteoma e tecoma); de células germinativas (disgerminomas e teratomas); e mesenquimais (fibroma, leiomioma, hemangioma). Acometem com maior freqüência animais na faixa etária entre 5 e 15 anos, porém os tumores de células da granulosa e os teratomas acometem animais jovens. As raças boxer, buldog e yorkshire terrier têm maior predisposição ao desenvolvimento dessas anomalias que, na maioria das vezes, são unilaterais. 1,2,3,4,5 64

Os tumores epiteliais e os de células estromais dos cordões sexuais são mais comumente encontrados e representam, respectivamente, 46 e 34% dos casos, enquanto os tumores de células germinativas representam 20% dos casos 1,2,3,4,5,6. Um estudo envolvendo 71 casos de tumores ovarianos mostrou que 29% deles induziram metástases. As maiores taxas foram observadas nos adenocarcinomas (48% de metástases) e nos teratomas (50% de metástases) 6. Metástases são encontradas em 10 a 20% dos casos de disgerminomas. Os sítios metastáticos mais comuns dos tumores ovarianos são os órgãos abdominais, os ossos, os linfonodos e os pulmões 2,3,6. A patogenia das neoplasias ovarianas é desconhecida, porém alguns autores conseguiram induzir tumores ovarianos com terapia hormonal exógena (estrógenos ou progesteronas). 2,3 Os sinais clínicos mais comuns em

Ingrid Grubber Ferreira Lima MV, residente - FCAV/Unesp-Jaboticabal ingridgruber@bol.com.br

Wilter Ricardo Russiano Vicente MV, prof. tit. Depto. Méd. Vet. Prev. e Reprod. Animal FCAV/UNESP-Jaboticabal wilter@fcav.unesp.br

animais portadores de tumores epiteliais ou de células germinativas são ascite e distensão abdominal e, raramente, sinais de disfunção hormonal 1,2,3,5. Isso não ocorre com os tumores estromais dos cordões sexuais, cuja capacidade de produzir estrógeno ou progesterona em excesso faz com que o animal apresente sinais clínicos tais como estro prolongado, secreção vaginal sanguinolenta, alopecia bilateral e simétrica, hiperplasia endometrial cística, piometra, anemia arregenerativa e trombocitopenia; os dois últimos sinais decorrem da ação prejudicial do estrógeno sobre a medula óssea 1,2,3,5,6,7. Muitos dos tumores ovarianos podem ser assintomáticos, ou seja, muitas vezes são apenas achados de OSHs eletivas 2,3. O diagnóstico dos tumores ovarianos é baseado nos sinais clínicos, nos exames radiográficos e na ultra-sonografia, mas sua confirmação só é possível após o exame histopatológico. O tratamento indicado em tais casos é a OSH 1,2,3. Quimioterapia adjuvante é realizada apenas quando são detectadas metástases 1,2,3,8. O disgerminoma é um tumor raro, e ocorre com maior freqüência em cães do que em outras espécies domésticas 9. Macroscopicamente, os disgerminomas variam de tamanho, mas podem tornarse muito grandes antes de serem detectados. Geralmente são tumores redondos a

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tecido homogêneo, de coloração cinzaesbranquiçada (Figura 4). O animal foi submetido à OSH, e fragmentos da massa foram encaminhados para exame histopatológico. No período pós-operatório, foram administrados amoxicilina (22mg/kg/tid/7dias/VO), meloxican (0,1mg/kg/sid/5dias/VO) e, no local da incisão cirúrgica, rifocina spray (tid/10dias). Resultados e discussão A aparência ultra-sonográfica dos tumores ovarianos é muito variável, o que dificulta a sua diferenciação 14,15. No caso ora descrito, a ultra-sonografia foi de grande valor pois, apesar de não concluir o diagnóstico, mostrou a localização da massa (região de ovário) e excluiu a possibilidade de metástases na cavidade abdominal, o que foi confirmado após a laparotomia. A citologia vaginal revelou predomínio de células superficiais queratinizadas, confirmando o relato de estro persistente apresentado pelo proprietário. O hemograma completo mostrou leucocitose

Figura 3 - Disgerminoma: aspecto macroscópico (ovário esquerdo): aproximadamente 10cm de diâmetro, encapsulado, superfície irregular e amplamente vascularizado

Diogo José Cardilli

Figura 2 - Peça cirúrgica: cornos uterinos e ovários de cadela. Ovário esquerdo acometido por disgerminoma

Diogo José Cardilli

Figura 1 - Imagem ultra-sonográfica de tumor ovariano de cadela, demonstrando massa heterogênea, com porções sólidas e áreas cavitárias com conteúdo anecogênico Diogo José Cardilli

Material e métodos Uma fêmea rottweiler de sete anos, que apresentava sinais de estro prolongado e emagrecimento progressivo, foi atendida no Setor de Reprodução e Obstetrícia do Hospital Veterinário da FCAV-Unesp-Jaboticabal. O histórico reprodutivo do animal reportava cinco gestações, sendo todos os partos eutócicos. O proprietário relatou o uso de anticoncepcional em uma única ocasião, e citou que havia aproximadamente seis meses o animal apresentava sinais de estro, que permaneciam por aproximadamente 40 dias, em intervalos de três semanas.

Na palpação abdominal detectou-se uma massa de consistência firme na região hipogástrica, massa esta que, à ultra-sonografia, apresentava contornos irregulares, aproximadamente 10cm de diâmetro, heterogênea, com porções sólidas e áreas cavitárias com conteúdo anecogênico (Figura 1), localizada caudalmente ao rim esquerdo e ao baço. Citologia vaginal, hemograma completo e exame radiográfico do tórax foram implementados como auxílio ao diagnóstico. O animal foi submetido a uma laparotomia exploratória. Como medicações pré-anestésicas foram administradas levomepromazina (1mg/kg/IM) e buprenorfina (10µg/kg/IM). Decorridos 20 minutos, induziu-se o animal com 5mg/kg/IV de propofol, sendo a manutenção anestésica feita com isofluorano. Durante a laparotomia, visualizou-se uma massa de forma arredondada, encapsulada, de superfície nodular e de aproximadamente 10cm de diâmetro no ovário esquerdo (Figuras 2 e 3). Ao corte, a massa tinha consistência macia, com áreas cavitárias entremeadas por Diogo José Cardilli

ovóides, com superfície lisa a lobulada. Na superfície de corte, a consistência varia de macia a firme, sendo composta por tecido homogêneo, de cor cinzaesbranquiçada a amarelada, que pode apresentar áreas de hemorragia e necrose, principalmente em tumores maiores. Microscopicamente, os disgerminomas caracterizam-se como neoplasias altamente celulares, constituídas por células que se assemelham às células germinativas primitivas, volumosas, redondas a poliédricas, com núcleo vesicular, um a dois nucléolos proeminentes e citoplasma anfofílico ou basofílico escasso. As células se agrupam formando cordões ou lençóis entremeados por finos septos de tecido conjuntivo, com aparência histológica semelhante àquela do seminoma do testículo. Figuras de mitoses são freqüentes. Histologicamente os disgerminomas são malignos, embora o grau de malignidade desses tumores não seja facilmente distinguível à microscopia. Os casos em que o tumor está contido por cápsula robusta e intacta são considerados de melhor prognóstico 9,10,11. Os teratomas também são derivados de células germinativas ovarianas primitivas, porém diferem dos disgerminomas porque as células neoplásicas, ao invés de serem monomórficas, exibem diferenciação em vários tecidos derivados de todas as três camadas de células germinativas embrionárias (ectoderma, endoderma e mesoderma) 9,11,12, 13. O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos clínico-cirúrgicos de uma cadela acometida por disgerminoma ovariano, que desenvolveu sinais clínicos considerados atípicos em animais com esse tipo de tumor.

Figura 4 - Disgerminoma: superfície de corte: aspecto cavitário

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quanto à importância da reavaliação do quadro clínico do animal em intervalos de um a três meses. Essa advertência é decorrente de relato de metástase cerebral em um animal de dois anos da raça rottweiler, portador de disgerminoma ovariano que, duas semanas após a cirurgia, apresentou sinais neurológicos 16. Não é possível afirmar que a administração de anticoncepcional tenha tornado o animal mais susceptível ao desenvolvimento do tumor, ainda que alguns autores tenham induzido tumores ovarianos em cadelas utilizando estrógenos ou progesteronas exógenas 2,3,9. Assim, embora haja a suspeita de que o uso de anticoncepcionais possa ter contribuído para o aparecimento do disgerminoma, a etiologia dessa moléstia ainda é desconhecida. O animal em estudo apresentou sinais clínicos atípicos, pois foi atendido com sinais de disfunção hormonal – mais especificamente, com sinais de estro persistente – e a massa abdominal foi um achado do exame físico. De acordo com a literatura, disgerminomas raramente causam sinais clínicos de disfunção hormonal, mas são caracterizados por ascite e distensão abdominal; ocorre que tais sinais de disfunção hormonal são comuns apenas em tumores das células da granulosa 1,2,3,5,7. O útero não apresentou hiperplasia endometrial cística/piometra, embora um estudo envolvendo sete casos de disgerminomas tenha encontrado hiperplasia endometrial cística/piometra em quatro dos casos, o que também mostrou que animais com disgerminoma sofrem alterações ocasionadas por produção exacerbada de hormônios sexuais 12. Após um ano da cirurgia o animal encontra-se hígido, o que indica que esse procedimento pode se constituir em um método curativo.

Diogo José Cardilli

por neutrofilia, e o exame radio-gráfico do tórax descartou a possibilidade de metástase pulmonar. Disgerminoma ovariano foi o diagnóstico obtido no exame histopatológico; o tumor apresentava células arredondadas a poliédricas, com núcleo grande e central com cromatina frouxa. As células estavam arranjadas em cordões e lençóis entremeados por septos conjuntivos, e havia algumas figuras de mitose (Figuras 5, 6 e 7). Os aspectos macro e microscópicos encontrados no presente caso se assemelham aos registros da literatura 9,10,11. Ainda assim, o tumor em estudo apresentou várias regiões cavitárias à superfície de corte, comuns apenas nos disgerminomas encontrados em vacas 9. A quimioterapia adjuvante é empregada após a eliminação do loco regional do tumor, por cirurgia ou radioterapia. Em geral, essa modalidade de tratamento antineoplásico é dirigida a pacientes que apresentam margens de risco de moderadas a grandes, de recidivas ou metástases 8. Nenhum sinal de metástase foi encontrado em órgãos abdominais ou em pulmões, o que confirma o baixo potencial metastático do tumor 1,2,3,5,6,9. Justamente por não haver sinais de metástase, e como o tumor foi retirado com ampla margem de segurança, a quimioterapia adjuvante não foi indicada, embora o proprietário tenha sido instruído

Diogo José Cardilli

Diogo José Cardilli

Figura 5 - Disgerminoma: ninhos de células neoplásicas delimitadas por septos de tecido conjuntivo. Hematoxilina-Eosina (HE) 10x

Figuras 6 e 7 - Disgerminoma: notar formações de “ninhos celulares” delimitados por septos de tecido conjuntivo. As células são pleomórficas, com núcleo central, nucléolo evidente e bordas citoplasmáticas pouco definidas. Raras figuras de mitose (seta). Hematoxilina-Eosina (HE) 40x

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Referências 01-GROOTERS, A. M. Ováriopatias e Uteropatias. In: BIRCHARD, J. S. ; SHERDING, R. G. Clínica de Pequenos Animais. 1. ed. São Paulo: Roca, 1998. p.1002-1015. 02-JONSTON, S. D. ; KUSTRITZ, M. V. R. ; OLSON, N. S. Disorders of the Canine Ovary. In: Canine and Feline Theriogenology. Philadelphia: W. B. Sauders Company, 2001. p. 193-205. 03-O'KEEF, D. A. Tumores do Sistema Genital e das Glândulas Mamárias. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4. ed. São Paulo: Manole LTDA, 1997. p. 2344-2351. 04-HARVEY, M. Conditions of the non Pregnant Female. In: SIMPSON, G. Manual of Small Animal Reproduction and Neonatology. 1. ed. United Kingdom: BSAVA, 1998. p. 17-34. 05-SFORNA, M. ; BRACHELENTE, C. ; LEPRI, E. ; MECHELLI, L. Canine Ovarian Tumours: A Retrospective Study of 49 Cases. Veterinary Research Communications. v. 27 suppl. 1, p. 359-361, 2003 06-PATNAIK, A. K. ; GREENLE, P. G. Canine ovarian neoplasms: a clinicopathologic study of 71 cases, including histology of 12 granulosa cell tumors. Veterinary Pathology. v. 24, n. 6, p. 509-514, 1987. 07-YAMINI, B. ; VANDENBRINK, P. L. ; REFSAL, K. R. Ovarian Steroid Cell Tumor Resembling Luteoma Associated with Hyperadrenocorticism (Cushing's Disease) in a dog. Veterinary Pathology. v. 34, p. 57-60, 1997. 08-RODASKY, S. ; DE NARDI, A. B. Quimioterapia Antineoplásica em Cães e Gatos. 1. ed. Curitiba: Maio, 2004. 09-MACLACHLAN, N. J. ; KENNEDY P. C. Tumours of the genital systems. In: MEULTEN D. J. Tumors in domestic animals. 4. ed. IOWA: Iowa State Press, 2002. p. 547-574. 10-ASHLEY, D. J. B.Tumours of the ovary. In: ASHLEY, D. J. B. Evans histological appearances of tumors. 3. ed. Edimburg: Churchill Livingstone, 1978. p. 663-704. 11-JONES, T. C. ; HUNT, R. D. ; KING, N. W. Sistema Genital. In: Patologia Veterinária. 6. ed. São Paulo: Manole, 2000. p. 1169-1244. 12-GREENLEE, P. G. ; PATNAIK, A. K. Canine Ovarian Tumors of Germ Cell Origin. Veterinary Pathology. v. 22, n. 2, p. 117-122, 1985. 13-NAGASHIMA, Y. ; HOSHI, K. ; TANAKA, R. ; SHIBAZAKI, A. ; FUJIWARA, K. ; KONNO, K. ; MACHIDA, N. ; YAMANE Y. Ovarian and Retroperitoneal Teratomas in a Dog. The Journal of the Veterinary Medical Science. v. 62, n. 7, p. 793-795, 2000. 14-DIEZ-BRU, N. ; GARCIA-REAL, I. ; MARTINEZ, E. M. ; ROLLAN, E. ; MAYENCO, A. ; LLORENS, P. Ultrasonographic appearance of ovarian tumors in 10 dogs. Veterinary Radiology & ultrasound. v. 39, n. 3, p. 226-233, 1998. 15-JARRETA, G. B. Ultra-sonografia do Aparelho Reprodutor Feminino. In: CARVALHO, C. F. Ultra-sonografia em Pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca Ltda, 2004. p. 181-206. 16-FERNANDEZ, T. ; DIEZ-BRU, N. ; RIOS, A. ; GOMEZ, L. ; PUMAROLA, M. Intracranial Metastases from an Ovarian Dysgerminoma in a 2-year-old Dog. Journal of the American Animal Hospital Association. v. 37, n. 6, p. 5536, 2001.

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LANÇAMENTOS ANALGÉSICO OPIÓIDE

Dorless V é encontrado em caixas com 10 comprimidos

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rimociclin 100mg, novo lançamento da Coveli, tem como princípio ativo a enrofloxacina, antimicrobiano de amplo espectro de ação para cães e gatos. Ele pode ser usado no tratamento de gastrenterites, pneumonias, bronquites e broncopneumonias, nefrites, cistites e pielonefrites, além de outras infecções causadas por bactérias sensíveis à enrofloxacina. Cada embalagem contém um blister com 10 comprimidos de 100mg de enrofloxacina cada, acondicionados em cartucho. Esta nova apresentação oferece ao veterinário mais praticidade e segurança na sua administração, por apresentar concetração ideal para o tratamento de cães de médio e grande porte. Coveli: (21) 2493-2425 - www.coveli.com.br

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Agener União lançou o primeiro opióide em comprimidos palatáveis para cães e gatos - Dorless V (tramadol), indicado para o alívio da dor nos quadros agudos e crônicos e nos protocolos pré e pós-cirúrgicos. Dorless V apresenta rápida absorção após a administração oral, ação analgésica comparada à morfina em doses equipotentes, baixa incidência de efeitos colaterais e excelente efeito quando associado aos antiinflamatórios não esteroidais. Agener União: 0800 701 1799

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ENROFLOXACINA PARA CÃES E GATOS

Primociclin 100mg, mais praticidade para tratar de cães de médio e grande porte

SUPLEMENTO MINERAL, VITAMÍNICO E AMINOÁCIDO Pearson, divisão veterinária da Eurofarma Laboratórios, acaba de lançar SupraPet, suplemento mineral, vitamínico e aminoácido para cães. O produto fornece a suplementação para todas as fases dos cães: crescimento, adulto, treinamento, gestação, lactação e geriátrico. Os cães se beneficiam de várias maneiras com a utilização do Suprapet. Os minerais quelatados presentes na fórmula asseguram uma melhor absorção dos nutrientes. Com isso, há um

aumento na imunidade e uma diminuição dos efeitos do estresse. Já a associação dos prebióticos (MOS e FOS) e probióticos contribui para a boa funcionalidade da flora intestinal, o que melhora o aspecto e odor das fezes. A ação antioxidante contribui para a longevidade do cão. Suprapet conta com a parceria da Tortuga, pioneira na fabricação e comercialização de suplementos minerais de alta tecnologia. Disponível em embalagens de 150g,

distribuídos por 30 ossinhos de 5g, o suplemento pode ser consumido diariamente com a indicação de um ossinho para cada 10kg de peso corporal.

FORTY DOG E FRENZY - NOVOS ALIMENTOS PARA CÃES E GATOS

C

om as linhas de alimentos Frenzy e Forty Dog, para gatos e cães, respectivamente, a Josapar, maior beneficiadora de arroz do continente e produtora do Arroz Tio João, líder nacional de mercado, entra no disputado mercado pet. Para concorrer com as marcas mais vendidas no Brasil, as linhas Frenzy e Forty Dog foram desenvolvidas por meio do exclusivo Sistema de Nutrição Total, que utiliza somente ingredientes nobres e selecionados para suprir todas as necessidades nutricionais dos animais de estimação. Segundo Paulo Vianna, superintendente da Unidade de Negócios Pet da Josapar, a empresa utilizou toda a sua experiência em produtos alimentícios de ponta para criar a sua linha pet e entrar com vigor neste mercado. “A Josapar possui mais de 80 anos de experiência fabricando produtos que 68

se tornam líderes de mercado em virtude da sua qualidade, como o Arroz Tio João, por exemplo. Com a nossa linha pet, utilizamos todos os princípios que são aplicados nestes produtos para apresentar ao mercado uma linha premium, com um preço bastante competitivo e que veio para ficar. Nosso intuito é desenvolver um trabalho extremamente sério e duradouro para conquistar a confiança que os nossos produtos inspiram

nos seus consumidores”, afirma o executivo. Cinco produtos compõem a linha Forty Dog: as rações Cães Adultos, Filhotes e Pequenas Raças, e os Bifinhos Carne e Frango. A linha Frenzy apresenta alimentos para gatos adultos ou em fase de crescimento, com os sabores Blend e Carne. Josapar: www.josapar.com.br

Josapar entra no mercado de pet food com os produtos Frenzy e Forty Dog

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COMUNICAÇÃO ENTRE ESPÉCIES

“Meu melhor amigo e eu” é uma obra recente, escrita por, Eduardo Martínez, que tem formação em medicina veterinária e em jornalismo. Desde o início do livro percebe-se, inclusive pelo título, que Martínez é uma pessoa que gosta muito dos cães. Porém, durante a leitura, constata-se que, além disso, ele conhece bastante sobre o comportamento dessa espécie, transmitindo dicas e ensinamentos que são muito importantes para a prevenção de problemas comportamentais em cães, os quais se apresentam como a principal causa da ruptura da relação entre o homem e o cão. Ele não é um livro com técnicas de adestramento, mas sim de condutas para a boa socialização dos cães, tanto com outros cães, quanto com os seus amigos humanos. Como o seu conteúdo é acessível para qualquer pessoa, a sua leitura aumenta muito as chances de se começar bem o re“Não isole seu cão do lacionamento de convívio social, mesmo amizade com os que você queira um cão cães. de guarda. Ter contato Ótimo item para com outras pessoas, mesmo estranhos, não se ter para venda, atrapalhará seu desemtanto em pet shops, penho como guardião”, é quanto em clínicas uma das dicas de Eduardo Martínez para a socialização dos cães veterinárias. Paulo Martínez: edumetvet@click21.com.br

A Editora Nossa Cultura está lançando o audiolivro “Dr. dog”, uma publicação em formato inovador (CD de áudio) que traz as principais dicas para convívio pacífico e prazeroso entre o cão e seu dono. Passo a passo, aborda o conceito de posse responsável, a escolha da raça mais adequada ao perfil de cada um, a educação e os cuidados necessários como alimentação, higiene, comportamento e saúde. O trabalho deixa claro ainda que um

cão não é um objeto para se presentear, depois deixar de lado ou descartar, mas um ser vivo que merece cuidado e atenção. Tudo explicado numa linguagem acessível e clara, valorizada com um apurado trabalho de edição de áudio, que inclui vinhetas e canções. O resultado é um CD dinâmico e envolvente, para se ouvir sozinho ou acompanhado, no carro ou em casa. Editora Nossa Cultura: (41) 3244-0242 www.nossacultura.com.br

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OUVINDO DICAS PARA O CONVÍVIO COM OS CÃES

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“Porque sintonizar apenas uma estação de rádio a vida inteira se podemos ouvir várias estações?” Esta é uma das analogias feitas pela médica veterinária Sheila Waligora para explicar aos leitores sobre a comunicação entre espécies em seu livro “Eu falo, Tu falas... Eles falam - um guia completo para comunicação entre espécies”. Waligora conta no livro sobre sua experiência nessa área, nos ensina como praticar para abrirmos os canais “Eu falo, Tu falas... Eles falam” torna acessível uma para a comunicalinguagem universal originalmente compreendida ção com as outras por todas as espécies espécies e nos abre a imaginação para que possamos compreender esse assunto tão fascinante. O importante é estar aberto e praticar. Os resultados chegarão. A publicação veio complementar o trabalho que há anos já é desenvolvido pela autora por meio de cursos práticos e, mais recentemente, no site www.comunicacaoentreespecies.com.br. O livro possui uma linguagem clara e simples, mostrando ao leitor que, por meio da comunicação, poderá sentir-se ainda mais unido aos seres e espécies que ama, admira e com que compartilha tantas alegrias e tantos momentos importantes de sua vida. “A proposta do guia não se limita à conexão intuitiva com os animais, mas com toda a criação”, ressalta Waligora. Livraria Asabeça: www.asabeca.com.br

SOCIALIZAÇÃO DE CÃES

Áudiolivro “Dr. dog”

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Uma das formas de comercialização no atacado é a compra de kits com 4 audiolivros

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Por Sergio Lobato

Resoluções e ações

www.sergiolobato.com.br

R

ecentemente, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou a Resolução 844, de 20 de setembro de 2006, que dispõe sobre os atestados de sanidade e óbito de animais, assim como os de vacinação de animais e os de sanidade dos produtos de origem animal e dá outras providências. Essa resolução afeta diretamente o diaa-dia do médico veterinário que atua nos consultórios, clínicas, hospitais, petshops com assistência e profissionais que trabalham em atendimentos domiciliares, pois normatiza um dos mais importantes e rotineiros processos do exercício do clínico veterinário: a vacinação! Em um primeiro momento, acredito que a esmagadora maioria dos profissionais vai reclamar: “mais um ato burocrático, uma medida sem importância, sem relevância...” Mas e se eu dissesse que esta resolução pode ser uma excelente ferramenta de marketing pessoal e profissional? Você me daria uma chance para explicar isso melhor? Então continue lendo os parágrafos seguintes, ok? A Resolução 844 versa sobre como devem ser preenchidos documentos importantes como o atestado de vacinação, sanidade e óbito; que representam, a grosso modo, todos os estágios da vida de um animal sob seus cuidados, não é mesmo? Por si só a Resolução 844 carrega uma idéia de qualificação do serviço médicoveterinário em todas as fases citadas

anteriormente, e esta idéia se traduz na necessidade do cumprimento de normas para a redação dos documentos que atestam os estados em cada uma das fases de vida dos animais tratados ou que estejam sob sua responsabilidade legal e técnica. Quando qualificamos processos rotineiros como preencher corretamente um documento, estamos exercendo uma das ações previstas em um plano de marketing, mais especificamente entrando no universo da comunicação empresarial. Mas como? O que seria exatamente esta comunicação empresarial? A Comunicação Empresarial é uma área do Marketing que trata da forma como um profissional ou uma empresa se comunica com seu mercado, com sua equipe de trabalho, com a concorrência e fornecedores. É um conjunto de ações e ferramentas como os folders, anúncios em revistas e jornais, murais e quadros de avisos internos, logomarcas, identidade visual, cartões de visita, posturas e cultura empresarial e... seus materiais gráficos internos e externos! Atestados são documentos não são? Então fica claro que quando nos preocupamos com a emissão, formatação e apresentação de documentos estamos nos preparando para atuar dentro dos preceitos da Comunicação Empresarial, pois estamos nos conscientizando de que toda forma de comunicação com nossos clientes deve ser o mais profissional possível. E isso sem nos esquecermos dos aspectos legais.

“Mais uma vez, uma obrigação!” Não pense apenas por este lado, mas a documentação citada na resolução é a prova documental da ação profissional médica-veterinária, e como tal deverá ser vista como uma defesa para o próprio profissional em questões ou momentos de litígio que possam surgir na relação com os clientes, e nós sabemos que isso é uma ocorrência muito freqüente no dia-a-dia de nossas rotinas clínicas. Procure não só cumprir a legislação ao pé da letra, mas interprete-a com a visão de um profissional que fará esta legislação trabalhar a seu favor. Como? Preocupe-se com a criação dos seus formulários, documentos e impressos de seu estabelecimento, pois eles além de atuarem como verdadeiros “cartões de visita” de seu negócio, passam a reorganizar toda a rotina administrativa nesses processos, melhorando sua performance como profissional. Em um primeiro momento essa preocupação em ajustar essa rotina pode parecer preciosismo, mas quando nos deparamos com a falta de zelo e cuidado que vemos nas relações cliente-profissional que chegam a situações de litígio legal, passamos a entender que ações como a que propomos aqui podem ser um grande diferencial competitivo na conquista, manutenção e fidelização dos clientes de seus serviços. Use a legislação a seu favor! Seja inteligente e estratégico!

Resolução nº 844, de 20 de setembro de 2006 Dispõe sobre atestado de sanidade e óbito de animais, assim como os de vacinação de animais e os de sanidade dos produtos de origem animal e dá outras providências. O Conselho Federal de Medicina Veterinária, no uso das atribuições que são conferidas pelo Art. 16, alínea 'f” da Lei nº 5.517, de 23.10.68, RESOLVE: Art. 1º É privativo do médico veterinário atestar a sanidade e o óbito dos animais, assim como certificar a sanidade dos produtos de origem animal. Art. 2º O atestado de óbito deverá obedecer no mínimo os seguintes requisitos: I - nome, espécie, raça, porte, sexo; II - pelagem, quando for o caso; III - idade real ou presumida; IV - local do óbito; V - hora, dia, mês e ano do falecimento; VI - causa do óbito; VII - identificação do proprietário: nome, CPF e endereço completo; VIII - outras informações que possibilitem a identificação posterior do animal; IX - identificação do médico veterinário: carimbo (legível) com o nome completo, número de inscrição no CRMV e assinatura; X - identificação do estabelecimento (razão social, CNPJ, registro no CRMV),

quando for o caso. Art. 3º O atestado sanitário deverá conter, no mínimo: I - nome, espécie, raça, porte, sexo; II - pelagem, quando for o caso; III - idade real ou presumida; IV - informação sobre o estado de saúde do animal; V - declaração de que foram atendidas as medidas sanitárias definidas pelo serviço veterinário oficial e pelos órgãos de saúde pública; VI - informações sobre imunização anti-rábica; VII - identificação do médico veterinário: carimbo (legível) com o nome completo, número de inscrição no CRMV e assinatura; VIII - identificação do proprietário: nome, CPF e endereço completo; IX - data e o local. Art. 4º É privativo do médico veterinário atestar a vacinação dos animais. § 1º Nos atestados e/ou carteiras de vacinação deverá conter, no mínimo: I - nome, espécie, raça, porte, sexo; II - pelagem, quando for o caso; III - idade real ou presumida; IV - data e o local em que se processou; V - dados da vacina: nome, número da partida, fabricante, datas de fabricação e validade; VI - dados da vacinação: dose, datas de aplicação e revacinação; VII - identificação do proprietário: nome, CPF e endereço completo; VIII - identificação do estabelecimento:

razão social ou nome fantasia, endereço completo, CGC e inscrição estadual, número de registro no CRMV; IX - identificação do médico veterinário: carimbo (legível) com o nome completo, número de inscrição no CRMV e assinatura. § 2º A vacinação e a aplicação de qualquer produto em animal só pode ser feita sob a orientação e o controle de médico veterinário. § 3º O atestado de vacinação ou de aplicação de qualquer produto em animal só pode ser assinado após a conclusão do trabalho. § 4º Fica a critério do médico veterinário a confecção do atestado e/ou carteira de vacinação, respeitando-se o disposto no artigo anterior. § 5º O atestado e/ou carteira de vacinação não poderá veicular publicidade de produtos ou serviços de terceiros. Art. 5º As campanhas de vacinação realizadas por órgãos públicos não se subordinam aos dispositivos da presente Resolução, devendo, no entanto, dispor de médico veterinário como responsável técnico. Art. 6º Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação revogando as Resoluções nºs 59/71 e 656/99 e demais disposições em contrário.

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Publicada no DOU, de 29-09-2006, Seção 1, Pág. 198.

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