Clínica Veterinária n. 74

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G uarรก

ISSN 1413-571X

Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008 - R$ 13,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts

www.revistaclinicaveterinaria.com.br



Heloísa Orsini

Índice

Neurologia - 28

Eduardo B. Santos Júnior

Patogenia das lesões do sistema nervoso central (SNC) na cinomose canina

Pathogenesis of central nervous system (CNS) lesions in canine distemper Patogenia de las lesiones en el sistema nervioso central (SNC) en la cinomosis

Cirurgia - 36

Glossectomia parcial em um cão

Infiltração inflamatória perivascular na substância branca do cerebelo de um cão com cinomose. H/E. Obj. 10x

Cão após cinco meses da realização da glossectomia: observar tecido lingual totalmente cicatrizado

Bernardo Kemper

Partial glossectomy in a dog Glosectomía parcial en un perro

Ortopedia - 40

Fixação percutânea externa complementar na osteossíntese de fratura pélvica cominutiva bilateral - relato de caso em um cão

Renato Moraes Sarmento

Use of the complementary external percutaneous fixation in the osteosynthesis of bilateral comminuted pelvic fractures - case report in a dog Fijación percutánea externa complementar en la osteosíntesis de fractura pélvica conminuta bilateral - relato de caso en un perro

Oncologia - 46

Tumor maligno de bainha nervosa em papagaioverdadeiro (Amazona aestiva) - relato de caso

Peripheral nerve sheath tumor in a blue-fronted amazon parrot (Amazona aestiva) - case report Tumor maligno de vaina nerviosa en loro hablador (Amazona aestiva) - relato de caso

Clínica médica - 52

Tahisa Faria Velloso

Fotomicrografia de tumor maligno de bainha nervosa excisado da face de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), com área de transição entre os tecidos Antoni A (em amarelo) e Antoni B (em vermelho).

Imagem fotográfica pós-cirúrgica imediata, mostrando os pinos de Schantz implantados no coxal e conectados externamente com barra de polimetilmetacrilato

Aelurostrongylus abstrusus - relato de caso em felino

Aelurostrongylus abstrusus - case report in a cat Aelurostrongylus abstrusus - relato de caso en felino

Thais Okamoto

Saúde pública - 58

Leishmaniose tegumentar americana em felino doméstico no município do Rio de Janeiro, Brasil - relato de caso

American tegumentary leishmaniasis in a domestic feline in the city of Rio de Janeiro, Brazil - case report Leishmaniasis tegumentaria americana en un felino doméstico en la ciudad de Rio de Janeiro, Brasil - relato de caso

Clínica médica - 62

Larva de Aelurostrongylus abstrusus encontrada em fezes de gata examinada pelo método de Baermann. (Objetiva de 10x)

Felis catus, SRD, fêmea, três anos, com lesões ulcerativas no plano nasal causadas por L. (V.) braziliensis

Paulo César Maiorka

Vasculite necrosante e focos hemorrágicos no encéfalo de gato acometido pela peritonite infecciosa dos felinos - relato de caso Necrotizing vasculitis and hemorrhagic foci in the encephalon of a cat with feline infectious peritonitis - a case report Vasculitis necrosante y focos hemorrágicos en encéfalo de gato acometido por peritonitis infecciosa felina - relato de caso

Ilvio Mendes Vidal

Clínica médica - 68

Eletrocardiografia em quatis (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) mantidos em cativeiro e contidos quimicamente com quetamina e xilazina

Electrocardiography in coatis (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) maintained in captivity and restrained chemically with ketamine and xylazine Electrocardiografía en coatíes (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) mantenidos en cautiverio y contenidos químicamente con cetamina y xilazina

Vasculite e necrose de vaso sangüíneo e conseqüente extravasamento de sangue para o interior do neurópilo

Quati (Nasua nasua - Linnaeus, 1766)

Editorial - 5

• Relançamento de Duramune® Max • I Seminário de Residência em Medicina Veterinária • Scientific Meeting Royal Canin

Notícias - 6

Bem-estar animal - 26

Seções • Total Alimentos lança selo de comprometimento social, ético e com o meio ambiente • Lista Vermelha do Pará

8 10

• Congresso da Anclivepa 2008 12 • Consumidores de Frontline® ganharão cobertura para emergências e mortes do animal de estimação 18 • O programa do Ministério da Saúde de avaliação externa da qualidade em sorologia para leishmaniose visceral canina certifica o Tecsa Laboratórios 20 • Jundiaí (SP) já tem centro de reabilitação e fisioterapia 20 • Núcleo Diagnóstico Veterinário implanta ensaio de proficiência para controle de qualidade para laboratórios 20 • Bayer Brasil cresce 25% em vendas e planeja dobrar investimentos no Brasil 22

22 24 24

Eventos discutem o bem-estar animal, a vivissecção e o direito animal

Animais silvestres como animais de estimação

Gestão, marketing e estratégia - 91 Queridos Amigos

Lançamentos - 94

Livros - 76

• Virologia veterinária • Seja vegano

Negócios e oportunidades - 96

Ofertas de produtos e equipamentos

Legislação - 78

• Resolução do CFMV normatiza procedimentos cirúrgicos • Caça é proibida no Estado do Rio Grande do Sul

Ecologia - 86

78 80

Pesquisa - 82

Nova linhagem de bactéria, resistência a medicamentos, pobreza e interação com Aids agravam quadro da tuberculose

Serviços e especialidades - 97

Prestadores de serviços para clínicos veterinários

Agenda - 104

Interação homem-animal - 84 Comunicação entre espécies

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008

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Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS SCIENTIFIC COUNCIL Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

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Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br

Journal of continuing education for small animal veterinarians

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER

Cavacué ou papagaiodiadema (Amazona autumnalis). Brand X Pictures.

CRMV-SP 10159

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midia@editoraguara.com.br (11) 3672-9497

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

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CONSULTORIA JURÍDICA / CONSULTING ATTORNEY Joakim M. C. da Cunha

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CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION

Editora Guará Ltda. - Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 - São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Instruções aos autores

Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc ou .rtf) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 600 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). ou do Index Medicus. (www.nlm.nih.gov/ mesh/MBrowser.html). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).

Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexandre Mazzzanti UFSM mazzal@smail.ufsm.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP - SPMV anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto Dinóla Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch Yale Univ. School of Medicine christina.joselevitch@yale.edu Cibele F. Carvalho UNIABC cibelecarv1904@aol.com Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Consult. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira IV/UFRRJ dbmacieira@ufrrj.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat-dmv@ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br

Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez FMV/UNG hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Madison S. V. M./UW demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FMV/UEL fibanez@yahoo.com.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008

Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi Rodrigues de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria Madison S. V. M. / UW mfaria@svm.vetmed.wisc.edu Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Mariangela Lozano Cruz FMVZ/UNESP-Botucatu neca@fmvz.unesp.br Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto FO/CMV/UNESP/Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br

Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Paulo César Maiorka USP/UNISA pmaiorka@yahoo.com Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte CREUPI-SP ricardoduarte@diabetes.vet.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP - Instituto Nina Rosa rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo G. Morato CENAP/IBAMA ronaldo@procarnivoros.org.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo International Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial

http://www.isiwebofknowledge.com/ http://www.thomsonreuters.com/products_services/scientific1/Zoological_Record

E

stamos muito felizes celebrando esta grande conquista que é a indexação desta revista no ISI WEB of Knowledge, na seção Zoological Record, como pode ser observado no site da instituição (vide imagem acima). Esta indexação é a comprovação e o reconhecimento internacional da qualidade editorial da Clínica Veterinária por parte de um organismo que preza a excelência científica. O trabalho de fazer uma revista especializada enfrenta inúmeros obstáculos, especialmente num país como o nosso. É preciso vencer a inércia inicial que qualquer publicação é obrigada a enfrentar, mostrar a seriedade das intenções, a competência, montar uma equipe de autores e consultores, aprender com os erros e acertos, conquistar credibilidade passo a passo, buscar sempre a qualidade, na visão de conjunto e nos detalhes, investir em esforço, em tempo, em obsessão pela precisão e clareza das informações, dentro do amplo propósito de promover a divulgação científica e a educação continuada do médico veterinário. O trabalho envolvido para levar adiante esse projeto e transformá-lo numa realização contou com a persistência da fé pessoal e com o incentivo de muitos que desde o início acreditaram e apoiaram o nosso trabalho, mantendo-se ao nosso lado com coragem e alegria. Esse reconhecimento internacional é resultado da dedicação dos autores e editores e, principalmente, da atuação dos consultores, que ao longo destes treze anos vêm, generosamente, contribuindo com seus conhecimentos e disposição, avaliando, corrigindo, sugerindo e zelando pela qualidade de nossa publicação. Agradecemos imensamente a todos que têm colaborado conosco para que este importante acontecimento pudesse se concretizar. É momento de celebrações, mas também é uma grande responsabilidade. Agora, mais do que nunca, precisamos buscar a qualidade nos trabalhos que publicamos e, para isso, contamos com a participação de todos. Que todos possamos ser cada vez mais abençoados em nossas realizações. Maria Angela Sanches Fessel Clínica Veterinária, Ano XII, n. 74, maio/junho, 2008

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Cartas para esta seção devem ser enviadas para cvredacao@editoraguara.com.br ou pelo correio para a Editora Guará Ltda., Seção de Cartas, Caixa Postal 66002, 05311-970, São Paulo - SP. Perguntas, dúvidas, esclarecimentos, comunicados, orientações etc. serão respondidos conforme a ordem de chegada. Os editores poderão resumir o conteúdo da carta, conforme a necessidade.

Diagnóstico da leishmaniose visceral canina Anclivepa-SP sob os Ao receber o número auspícios da Bayer, no 71 (novembro/dezembro Auditório do Instituto 2007) da excelente “Clíde Psicologia, coordenica Veterinária”, nela nado por mim e apredeparei com o artigo sentado pela médica ve“Imunopatologia da terinária Mary Otsuka leishmaniose visceral (hoje Mary Otsuka canina” de autoria de Ikeda) e pelo prof. dr. MACHADO, J. G. ; Victor Márcio Ribeiro. HOFFMANN, J. L. e Do concorrido evento LANGONI, H. ; este últidevidamente registrado mo afamado professor ti(Livro 2) participaram tular da FMVZ/UNESP, 130 associados excelente e afável pesqui(Anclivepa, SPMV e sador que muito admiro. ABRV). À página 51, referem os Clínica Veterinária n. 71 edição especial de saúde Tal fato foi também, autores, que em 1998 “foi pública (leishmaniose) divulgado à imprensa diagnosticado, pelo Servipela Agência Univerço de Patologia do Hospisitária de Notícias da ECA/USP sob o tal Veterinário da UNESP, a primeira título “USP detecta casos de leishmaocorrência de leishmaniose visceral niose canina na capital paulista” (Ano canina no Estado de São Paulo, na 32, n.15 de 21/9/1999). cidade de Araçatuba”, estribando tal Em 1998, foi o caso da “Sofia” assertiva na Referência 15 (IKEDA et (submetido à eutanásia em clínica veal, Clínica Veterinária, ano VIII, v. 47, terinária por opção de seu dono), juntap. 42-8, 2003). mente com outro caso de poodle, fêmea, Isto posto, gostaria de ressaltar a criada no bairro paulistano da Bela bem da veracidade cronológica que o Vista (Bixiga), todavia infectada no primeiro caso de leishmaniose visceral Maranhão, foi apresentado no 23° canina foi diagnosticado no ano de Congresso Mundial (WSAVA), levado a 1997, no Serviço de Dermatologia do cabo em Buenos Aires. Ambos os casos Hospital Veterinário da FMVZ/USP. (LARSSON, C. E. ; OTSUKA, M. ; Tratava-se de caso alóctone, de cadela MICHALANY, N. S. ; RIBEIRO, V. M. ‘supostamente’ husky siberiana, de nome Canine visceral leishmaniasis - kala“Sofia”, com 19 meses de idade, criada azar - reported cases in the city of São na Av. Brigadeiro Faria Lima, adquirida Paulo/Brazil) estão descritos nos anais em feira de cães do Shopping Butantã e daquele evento à pagina 801. que provinha da região do Triângulo Na expectativa de se ter a devida Mineiro. O diagnóstico foi estabelecido divulgação do fato para que se assegure por exame histopatológico, em que se a primazia do relato e o estabelecimenconstatou uma pletora de agentes, a parto da veracidade da ocorrência da leishtir de biópsia de pele da região auricular, maniose visceral em solo paulista, desde que se apresentava como lesão alopécijá coloco à sua disposição documentos ca, erosiva, eritêmato-crostosa, com que comprovam a assertiva, o saúdo e o intenso sangramento, quando de meneios encorajo a perpetuar a excelência do cefálicos. periódico, mormente em suas “edições O inusitado do achado nos levou a especiais”. notificar ao CCZ/PMSP, através de correspondência postada e de apresentá-lo Atenciosamente, em 9 de maio de 1997, no “Ciclo de Prof. dr. Carlos Eduardo Larsson Reciclagem Clínica Continuada” em VCM/FMVZ-USP evento extraordinário, promovido pela 6

Referente aos comentários do prof. dr. Carlos Eduardo Larsson no que diz respeito à detecção de leishmaniose visceral canina em Araçatuba, Estado de São Paulo, gostaríamos de manifestar que no momento da redação do artigo “Imunopatologia da Leishmaniose Visceral Canina”, publicado nesta revista, n. 71, v. XII, p. 50-58, 2007, utilizamos informações pertinentes, de acordo com a literatura compulsada. É salutar podermos aprofundar os conhecimentos epidemiológicos referentes ao tema, pois de acordo com o artigo “A Leishmaniose Visceral Americana no Estado de São Paulo: Situação Atual” publicado no Boletim Epidemiológico Paulista (BEPA - www.cve. saude.sp gov.br), ano 1, n. 6, p. 1-4, junho de 2004, consta o registro do primeiro caso autóctone e não alóctone, no Estado de São Paulo no ano de 1998. As informações do prof. dr. Carlos Eduardo Larsson são interessantes e contribuem para aprofundar os conhecimentos epidemiológicos na leishmaniose. Lamentamos pela não citação da literatura referida pelo professor, pela importância em saúde pública, pois elas foram apresentadas em congresso, e publicadas em veículo que não tivemos acesso. Desta forma entendemos que não houve omissão de informação, e concordamos com a preocupação do professor Larsson. Estamos satisfeitos pelo esclarecimento, e também por alertar para os riscos de disseminação desta enfermidade que se alastra rapidamente no Estado de São Paulo, e se constitui em séria ameaça para a saúde publica. Atenciosamente, Prof. titular Helio Langoni FMVZ/Unesp-Botucatu

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008



A

Total Alimentos lança selo de comprometimento social, ético e com o meio ambiente

fabricante de pet food divulga, por meio de selo e slogam para 2008, o trabalho que já vem realizando com base em sustentabilidade, que tem como objetivo prover melhor qualidade de vida para as pessoas, para seus parceiros e preservar o ambiente com o aproveitamento de seus próprios recursos. Além da qualidade dos alimentos que oferece aos animais, graças à tecnologia, pesquisa, seleção dos melhores ingredientes em uma das maiores estruturas industriais do mundo, a Total Alimentos agora se diferencia por agregar um conceito de sustentabilidade e traz um novo selo que mostra a preocupação da empresa com a sociedade, com a ética e com o meio ambiente. “Por isso, desenvolvemos um slogan que resume este compromisso e um logotipo que representa este envolvimento Total em

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ações que refletem os valores que temos como empresa, em respeito aos nossos parceiros, aos consumidores e ao planeta”, explica o presidente da empresa, Antônio Miranda de Teixeira Neto. A Total Alimentos tem diversas ações que mostram seu comprometimento social. Um exemplo é a banda composta por crianças carentes que aprendem a tocar instrumentos e se apresentam em vários eventos em Três Corações, MG, onde está localizada a planta fabril da empresa. Também nesta cidade, a Total patrocina o time de vôlei infantil, em parceria com a Secretaria de Educação. Além disso, a empresa contribui com o Lar Anjo da Guarda, Associação do Voluntariado da Oncologia, APAE, Ancianato Antônio Frederico Ozanan, Creche Estefânia Falcão Margotti, Lar Fabiano de Cristo, e favorece, com

empregos diretos e indiretos, mais de três mil famílias na região. Quando a questão é meio ambiente, a Total Alimentos se destaca por possuir uma estação própria de tratamento de água. “Toda a água utilizada pela indústria é potável e os efluentes também são tratados e voltam à natureza limpos e descontaminados”, explica Miranda. Todos os resíduos são encaminhados para reciclagem e a empresa está implantando um processo que elimina os particulados dos gases oriundos das caldeiras produtoras de vapor. Além de toda essa parte industrial, a Total mantém 10 alqueires (250.000 m2) de reserva florestal, com a ampliação desta área pelo plantio gradativo de árvores nativas da Mata Atlântica.

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Lista Vermelha do Pará

C

Por Thiago Romero

Governo do Pará lança programa Extinção Zero. Objetivo é criar um plano de preservação das 181 espécies vegetais e animais ameaçadas de extinção no estado

ento e oitenta e uma espécies vegetais e animais estão oficialmente ameaçadas de extinção no Pará, sendo 13 delas – sete espécies de peixes, duas de plantas, três de mamíferos e uma de pássaro – consideradas como “criticamente em perigo”. Os dados estão na Lista de Espécies Ameaçadas do Pará, nomeada Lista Vermelha, cujo lançamento oficial ocorreu em fevereiro de 2008 durante a assinatura de um decreto, pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, que também oficializou o programa Extinção Zero. A lista e o programa foram criados por meio de iniciativa conjunta entre a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), o Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg) e a Conservação Internacional (CI). O objetivo do programa é criar, com base nas informações da lista, uma nova agenda ambiental que permita ao governo proteger as espécies ameaçadas. A agenda será implementada por um comitê gestor e técnico, cujos nomes ainda serão indicados pelo governo do estado, que será responsável pela criação de um plano de preservação das espécies indicadas pela Lista Vermelha. Em parceria com universidades, instituições científicas, organizações não-governamentais (ONGs), setores produtivos e poder público, a primeira ação do comitê será reconhecer o que os pesquisadores chamam de “Áreas Críticas de Biodiversidade” como regiões prioritárias para conservação. “A Lista Vermelha do Pará contém, além das características de cada espécie, um mapa de distribuição das

espécies associado ao mapa da perda de seus hábitats”, disse Ima Célia Vieira, diretora do Museu Emílio Goeldi, à Agência FAPESP. “Com esse diferencial conseguiremos sobrepor os mapas para identificar essas áreas críticas, a partir do cruzamento de dados georreferenciados da distribuição de cada espécie ameaçada e das áreas alteradas pelo desmatamento”, explicou. Dentre as 181 espécies ameaçadas da lista estão 91 vertebrados, 37 invertebrados e 53 plantas. Entre elas estão o macaco caiarara (Cebus kaapori) e o cuxiú preto (Chiropotes satanas), além das espécies vegetais pau-rosa (Aniba rosaedora Ducke), ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa) e o mogno (Swietenia macrophylla). “O próximo passo será aperfeiçoar, por meio de ferramentas de modelagem computacional, o entendimento da distribuição das 13 espécies da Lista Vermelha consideradas como criticamente em perigo nas modelagens anteriores. O trabalho será complementado por medições em campo e, após essa fase, poderemos intensificar as ações governamentais nessas áreas críticas”, disse Ima Célia. Desmatamento crítico Segundo a diretora do Museu Goeldi, a maior parte das espécies da Lista Vermelha está nas áreas mais desmatadas do estado, especialmente na região conhecida como Centro de Endemismo Belém, localizado entre o Pará e o Maranhão.

“A Amazônia tem oito grandes centros de endemismo que abrigam espécies únicas, sendo o centro de Belém o mais impactado de todos. Essa é uma região com mais de 150 municípios, cujas áreas críticas começaram a ser identificadas após o lançamento do programa Extinção Zero. Agora o objetivo é criar novas unidades de conservação de biodiversidade na região, além de fortalecer as ações nas unidades que já existem”, disse. O Pará tem 55% de seu território dentro de áreas protegidas ou territórios indígenas. Segundo dados divulgados pelo Museu Emílio Goeldi, o estado é o campeão em desmatamento na Amazônia brasileira, com 202,9 quilômetros quadrados de áreas desflorestadas, o que equivale a 16% de seu território e a 30% de toda a área já degradada na região amazônica. A elaboração da Lista Vermelha foi realizada no âmbito do Projeto Biota Pará, coordenado por pesquisadores do Museu Goeldi, e teve início em 2004 com a definição dos critérios e categorias de ameaça a serem adotados na avaliação do estado de conservação das espécies no Pará. Inicialmente os pesquisadores elaboraram uma lista com 928 espécies candidatas a integrar a lista final. Esse banco de dados foi disponibilizado para consulta pública na internet e a decisão das espécies ameaçadas do estado, finalizada em junho de 2006, seguiu os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza: criticamente em perigo, em perigo ou vulnerável. Informações: www.sectam.pa.gov.br.

Fonte: Agência Fapesp - http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8467

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Anclivepa 2008 - Eita coisa boa!

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Outro fato inédito nos palestra de abercongressos da Anclivepa tura do Congresfoi o compromisso social so da Anclivepa que os organizadores se teve um tema inédito: propuseram, direcionanComo ganhar mais dido uma parte da renda do nheiro de forma ética, congresso para a Apala, proferida pelo prof. dr. “Um dos segredos do organização que cuida de Marco Antonio Gioso, sucesso é ler”, afirmou crianças com câncer. que destacou a importânMarco A. Gioso Os colegas que não pucia de planejar e seguir mederam comparecer, não tas. A palestra prendeu a atenção de devem perder o próximuitos clínicos e de veterinários da mo, pois será o munindústria. Inclusive, representantes dial da WSAVA! do segmento pet da indústria farmaA seguir, confira cêutica veterinária aproveitaram essa algumas fotos que registraram o evento. palestra para comunicar aos clínicos a criação da Comissão Animais de Companhia (Comac), braço do Sindan, que visa o crescimento ordenado do setor pet.

Com muita atenção e gentileza, a Anclivepa-AL recebeu todos os participantes do congresso A nutrição enteral do paciente crítico, tema bastante atual, foi abordada por Márcio Brunetto, da Unesp/Jaboticabal. A aplicação dos seus conceitos é viável de ser inserida nas clínicas veterinárias e vital para os pacientes críticos

Nuno Félix, de Portugal, veio ao Brasil dar sua contribuição ao evento, abordando a nutrição parentérica

A cultura do povo alagoana também passou pelo congresso

João Telhado discorreu sobre a interação homemanimal e também transmitiu importantes informação para o tratamento de medos e fobias

Da esquerda para a direita, os palestrantes Ronaldo Casimiro, Hélio Autran e Yves Miceli

O presidente do CBA 2008, André Sandes Moura, deixou registrado no stand da WSPA sua mensagem de apoio ao bem-estar animal

Vitor Márcio Ribeiro lotou o auditório com sua palestra sobre tratamento da leishmaniose visceral canina, a qual foi patrocinada pela WSPA, e também participou de mesa redonda sobre o tema, juntamente com Carlos Muller, Rita Leal Paixão , Norma Labarthe e Lêucio Alves

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Congressistas receberam anais em CD-Rom

A emergência veterinária e a terapia intensiva foram bastante abordadas no congresso. Rodrigo Rabelo, presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária Intensiva (BVECCS) ministrou vária palestras. Quem não foi, não deve perder o I Congresso LatinoAmericano de Emergência e Cuidados Intensivos, que ocorrerá em dezembro, no Rio de Janeiro, RJ

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A avaliação crítica do tratamento da dor em pequenos animais, assunto apresentado por Stélio Luna Pacca, despertou interesse do público participante

Andrés Sánchez Carmona discorreu sobre o tratamento médico e cirúrgico das osteoartroses


A excelente programação científica atraiu um grande público para o evento Nestlé Purina foi a patrocinadora oficial do congresso. A empresa possui produto inovador, o Pro Plan OptiStart Plus, que inclui colostro em sua formulação, ingrediente rico em anticorpos naturais

Dermatopatias foi um dos temas abordados por Andrew Hillier (EUA)

Membros da comissão organizadora do Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária (CBCAV) foram a Maceió literalmente vestir a camisa do CBCAV. O evento ocorre em novembro, em Recife, PE

Bernard Pouloux e Yvex Miceli deram importante contribuição ao evento com Informações sobre a tendência do mercado de pet food e as inovações da Royal Canin

A Royal Canin inovou com seu espaço cultural onde os médicos veterinários puderam participar a um circuito de 4 palestras que apresentavam as últimas inovações em termos de nutrição para gatos castrados, proteção contra herpesvirose em filhotes felinos, diluição de cálculos urinários e alimentação para animais internados. Durante 4 dias foram mais de 400 médicos veterinários em grupos de 8 pessoas que assistiram ao circuito de palestras

A CentralVet, empresa especializada em gestão comercial de marcas e produtos em todo o Brasil, marcou presença no evento apresentando, entre outras, a linha Frenesis Kabi, da qual faz parte o Ketosteril, medicamento composto por cetoanálogos, fórmula patenteada mundialmente e indicada no tratamento da insuficiência renal crônica

Pedigree e Whiskas destacaram-se no congresso e prestaram excelem suporte oferecendo acesso à internet pelo seu cyber space

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Eduardo Batista Borges (presidente - CRMV-RJ) e José Maria dos Santos Filho (presidente CRMV-CE), que estão compondo uma das chapas que serão canditadas à gestão 2008/2011 do CFMV. Já se encontra publicado no sítio do CFMV (www.cfmv. org.br) o edital de convocação dos delegados eleitores dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária

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Presente no Brasil e no exterior, a Vetnil divulgou no congresso que ainda esse ano irá lançar 15 novos produtos e duas novas linhas Bayer manteve seu foco na ZooAção, importante campanha de prevenção de zoonoses, toda apoiada em produtos de qualidade, associados a excelente materiais educativos para serem utilizados pelos médicos veterinários com os proprietários de cães e gatos. A campanha é realizada anualmente durante os meses de maio a agosto e envolve a distribuição de materiais informativos sobre zoonoses aos médicos veterinários e donos de cães e gatos em pontos-de-venda de todo o país

Vanguard Plus foi um dos destaques da Pfizer no evento

Informe técnico da König distribuído no evento, apresenta dados sobre casos de reinsfestação natural de endoparasitas em cães de área urbana

Um dos focos da Fort Dodge durante o evento foi informar que Duramune® Max 5-CvK/4L agora proporciona três anos de imunidade contra a parvovirose, conforme estudo realizado com cães vacinados e desafiados

O grupo Ceva Vetbrands focou suas ações no grande lançamento realizado recentemente: o Fiprolex, ectoparasitário que possui o fipronil como princípio ativo Desde o início do processo de fusão esse foi o primeiro congresso que a Intervet e a ScheringPlough apresentam-se juntas

Além de produtos como a Recombitek e a Pneumodog, a Merial promoveu a nova campanha feita com Frontline: proteção plus, que agrega benefícios ao consumidor

A Total apresentou aos participantes sua mais nova linha de alimentos high premium: naturalis

A equipe da Nutron Pet participou pela primeira vez do Congresso Brasileiro da Anclivepa, levando sua nova linha de alimentos: a wellness

Ouro Fino participou levando novidades aos participantes: Energy Pet e AziCox-2 200mg

Organnact levou ao evento linha que adquiriu recentemente: a Fitovet

Frost, alimento high premium, promovido durante o evento

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Bet Laboratories participou divulgando seus exames especializados em endocrinologia veterinária, que podem ser enviados de qualquer lugar do Brasil

A Bio Brasil expôs vários equipamentos laboratoriais que são comercializados em condições especiais para os clínicos, ajudando-os a inserir a tecnologia no dia-a-dia do atendimento clínico

O Tecsa Laboratórios foi bastante procurado. O laboratório recebeu recentemente cerficado do Ministério da Saúde pelo 100% de acerto nos resultados reportados para leishmaniose visceral canina

Detentora de uma ampla linha de protudos para pets a Coveli também levou uma grande novidade aos participantes do evento: o Coprovet, único anticoprofágico do mercado

Muitos atrativos no stand do Instituto Hermes Pardini, entre eles, a ampla cobertura nacional e resultados pela internet

Diversas ofertas com excelente relação custo/ benefício foram encontradas pelos congressistas no stand da Brasmed

Xandog foi uma das importantes linhas de produtos que a Centagro possui e que levou ao evento

A ControlLab, empresa especializada no gereciamento do controle de qualidade de laboratórios marcou presença em Maceió

Guabi investiu em destacar a linha Natural

Aparelhos de anestesia inalatória específicos para medicina veterinária estavam expostos no stand da Oxigel. Outra oportunidade para pesquisar sobre esse tipo de equipamento será no Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, que ocorrerá em novembro, em Recife, PE

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A linha especializada de produtos amici dottori atraiu a atenção de vários participantes do congresso

A equipe da Agener União apresentou mais um lançamento da empresa: o Revipel, produto que traz grande benefícios aos problemas de calosidades de apoio e escaras

O Laboratório Biovet apresentou novos produtos em seu stand: o Amitraz 12,5% agora em embalagem de 200mL e o Condrovet Pet, suplemento vitamínico apresentado na forma de comprimido palatável, que possui extrato de yucca, glucosamina, colágeno, 100% de sulfato de condroitina A, zinco, cobre, manganês e vitaminas A e E

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Consumidores de Frontline® ganharão cobertura para emergências e mortes do animal de estimação

pós três anos de negociação e estudos detalhados a Merial Saúde Animal e a Royal & SunAlliance firmaram parceria para lançar o único seguro de vida para cães e gatos do Brasil, que resultaram no Proteção Extra Premiada®, um seguro inédito para animais de estimação que poderá ser adquirido gratuitamente na compra da embalagem promocional com duas pipetas de Frontline®. Trata-se de um negócio significativo para as duas empresas. Para a Royal & SunAlliance Seguros, marca a entrada no Programa de Seguros Affinity, distribuição de produtos e serviços massificados, um mercado até então inexplorado no Brasil, já que o foco da seguradora inglesa é corporativo, com 50% do faturamento em transporte. Para a Merial, significa manter a liderança de Frontline®, seu carro-chefe no mercado de produtos veterinários para pets e elevar as vendas do produto, ao estimular seu uso preventivo. Além disso, representa uma estratégia de fidelização, porque estabelece um canal de relacionamento direto da Merial com o consumidor de Frontline®, desafio ainda a ser vencido pelas indústrias veterinárias do Brasil. Segundo representantes das duas empresas, a expectativa é conquistar, com esse novo produto, cerca de 1 milhão de proprietários de animais de estimação. Este programa proporcionará um melhor reconhecimento dos consumidores brasileiros de produtos para animais de estimação e poderá servir de base para lançamento de outros produtos e serviços para as duas empresas. “Já temos grande experiência em seguros de vida para animais de estimação globalmente e agora estamos trazendo essa nossa expertise para o Brasil, com um produto que segue a tendência mundial da Royal & SunAlliance de buscar soluções específicas para os clientes, característica que nos diferencia da concorrência”, afirma o diretor de estratégia e novos negócios da Royal & SunAlliance Seguros, Angelo Colombo. 18

“Temos muito interesse no mercado de Pets, que apresenta grandes oportunidades para o ramo segurador”, completa Colombo. Para Gilberto Maia, gerente de produto Pet da Merial, o novo seguro pode rentabilizar toda a cadeia de produtos para animais de companhia. Ele destaca que a contratação da apólice prevê sorteios mensais no valor de R$ 2,5 mil livres de impostos, além de reembolso para os casos de emergências clínicas. “Dessa forma, o dono do animal segurado é constantemente incentivado a investir na relação com o seu pet, seja na contratação de serviços de médicoveterinários, seja na aquisição de produtos. Assim, a iniciativa gera benefícios para todos os elos da cadeia, rentabilizando os negócios no pet shop e em clínicas”, afirma. O produto - O Proteção Extra Premiada® tem uma logística que permite simples adesão e pagamento da indenização igualmente ágil. Quem comprar a embalagem promocional do Frontline® deverá enviar a carta-resposta preenchida e, após recebimento, passará a contar com seguro para o seu animal de estimação.

Imagem do banner utilizado no ponto de venda para divulgar a campanha Proteção Extra Premiada®, que começou por São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, atingindo as demais regiões durante o desenvolvimento da promoção

Animais sadios de 4 a 96 meses comprovados passam a ter cobertura de R$ 300,00 por seis meses, podendo chegar a R$ 900,00 a partir do quinto mês (por ser acumulativo), a serem usados no reembolso de despesas com médicos veterinários, cirurgias e pós-operatório, exclusivamente na preservação da vida do animal, em qualquer local do território brasileiro, além de cobertura do pós-vida. O produto é chamado Proteção Extra Premiada® por dar a chance de o proprietário concorrer a um sorteio mensal de R$ 2.500,00 (líquidos), no último sábado do mês. Os números da sorte terão de coincidir com a combinação dos últimos dígitos dos algarismos dos cinco primeiros números sorteados pela Loteria Federal. Mais informações sobre detalhes de cobertura estão disponíveis no sítio da empresa: www.merial.com.br . “Os produtos entraram no mercado efetivamente a partir do início de fevereiro. Têm sido observado um crescimento muito rápido na evolução das vendas. Agora, com todos os kits já no mercado, a cada semana regitra-se um crescimneto de 20% e 25% nas vendas, ultrapassando as expectativas, já que a previsão de vendas até julho já está esgotada”, declarou Luiz Luccas, diretor da divisão de animais de companhia da Merial. “Estamos realizando ações em revistas especializadas, inserindo materias de divulgação em pontos de venda, treinamento em várias localidades do país para vendedores e apresentações sobre o produto”, completou Luccas. Sobre a Royal & SunAlliance - A Royal & SunAlliance é um dos maiores grupos seguradores do mundo, com negócios em mais de 130 países e operações em 27 nações. A Companhia tem cerca de 24 mil funcionários e, em 2006, registrou prêmios de £5,5 bilhões. Com um legado de quase 300 anos, a Royal & SunAlliance é a seguradora com mais tempo de mercado no mundo a operar com seu nome original.

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O programa do Ministério da Saúde de avaliação externa da qualidade em sorologia para leishmaniose visceral canina certifica o Tecsa Laboratórios

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Tecsa Laboratórios recebeu o certificado do Programa de Avaliação Externa da Qualidade em Sorologia para Leishmaniose Visceral Canina (AEQLVC-01) do Ministério da Saúde (MS). Nesta avaliação o Tecsa obteve nota máxima, com 100% de acerto nos resultados reportados. Esta qualificação foi alcançada por pouquíssimos laboratórios. “Isso significa apuro técnico, exatidão, precisão, cuidado, empenho, estudo e, principalmente, muito compromisso com a qualidade dos exames. Na prática, tudo isto pode ser traduzido pelos cuidados a seguir: ter um médico veterinário exclusivo para o setor de recebimento e preparo de amostras; ter um médico veterinário supervisionando cada etapa da alicotagem do exame de leishmaniose, soro por soro; ter um profissional com 23 anos de experiência em exames diagnósticos, responsável pela liberação de cada exame de leishmaniose, revisando um a um; ter um médico veterinário que há 20 anos gerencia serviços de diagnósticos veterinários e é o único veterinário de empresa privada no Brasil membro da American Association of Veterinary Laboratory Diagnosticians”, explicou o dr. Afonso Perez, diretor do Tecsa Laboratórios. Além da certificação recebida do

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O Tecsa Laboratórios recebeu 100% de acerto nos resultados para leishmaniose visceral canina reportados ao Ministério da Saúde

Núcleo Diagnóstico Veterinário implanta ensaio de proficiência para controle de qualidade para laboratórios

Desde 1996 o Núcleo Diagnóstico Veterinário, centro de diagnósticos localizado na cidade de São Paulo, SP, vem oferecendo serviços especializados para os clínicos veterinários. Atualmente, as atividades do Núcleo abrangem: radiologia, pressão arterial, cardiologia, ecodopplercardiografia, eletrocardiografia, análises laboratoriais, ultra-sonografia

com doppler colorido. Primando pela qualidade dos seus serviços, o Núcleo Diagnóstico Veterinário tornou-se participante do programa de ensaio de proficiência da ControlLab (www.controllab. com.br), empresa especializada no controle de qualidade para laboratórios. Núcleo Diagnóstico Veterinário: (11) 5183-6853

Jundiaí (SP) já tem centro de reabilitação e fisioterapia

om o objetivo de tratar animais de forma intensiva e de dar uma opção de hospedagem a cães que necessitam de cuidados especiais, a equipe de fisioterapia e treinamento de cães Hands On montou um programa de internação para a recuperação no pós-operatório de cirurgias ortopédicas, tratamento de lesões agudas e crônicas do aparelho locomotor, problemas neurológicos, obesidade e distúrbios do comportamento. Oferece também, aos proprietários que necessitem se ausentar, uma alternativa de promover melhora na qualidade de vida durante o período de hospedagem.

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Ministério da Saúde, o Tecsa Laboratórios também é o primeiro laboratório veterinário certificado ISO 9001 da América Latina e também é credenciado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Tecsa Laboratórios: (31) 3281-0500

Os tratamentos ocorrem com a aplicação de sessões diárias de fisioterapia através do uso de aparelhos (eletroterapia, termoterapia, ultra-som, laser), exercícios terapêuticos, hidroterapia e acupuntura.

Paciente sendo submetido à eletroacupuntura

Tudo isso em um ambiente tranqüilo próximo a serra do Japi, rico de estímulos ambientais e com uma equipe que está 24 h por dia se esforçando para reabilitar o cão em seu aspecto físico e comportamental. O principal diferencial dos serviços prestados é a abordagem comportamental, o carinho e a dedicação, aliados ao conceito de que todo organismo tem a capacidade de se adaptar perante aos estímulos corretos, escolhidos através do estudo sistemático de cada caso e com embasamento científico para todos os procedimentos adotados. Hands On: (11) 4586-8400

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Bayer Brasil cresce 25% em vendas e planeja dobrar investimentos no Brasil

mpulsionado pelo excelente desempenho de suas divisões de negócios Bayer HealthCare, Bayer CropScience e Bayer MaterialScience, o Grupo Bayer Brasil registrou crescimento de 25% em vendas no ano de 2007. A Bayer HealthCare, Divisão de Cuidados com a Saúde, apresentou crescimento de 50% em vendas em 2007, totalizando R$ 1,3 bilhão, o que corresponde a 39% do total do Grupo no País. O desempenho, neste caso, é resultado do fortalecimento do Grupo na área de produtos farmacêuticos, no qual a Bayer Schering Pharma ocupa a 5ª posição no mercado brasileiro em unidades. Os negócios da Saúde Animal cresceram especialmente em função do desempenho positivo da linha Advantage de produtos para controle de pulgas, carrapatos e flebotomíneos (mosquito palha),

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cujas vendas com ajustes de câmbio cresceram 21%.

De fácil manuseio, Advantage Max 3 apresenta a tripla proteção pelo efeito sinérgico entre duas moléculas, a imidacloprida e a permetrina, que se espalham por toda a superfície da pele do cão. Dessa forma, com seu efeito aumentado, as substâncias funcionam como uma barreira protetora, repelindo e matando os ectoparasitas e garantindo proteção mínima de 30 dias, eliminando todas as fases dos carrapatos, pulgas adultas e larvas do ambiente, e ainda, repelindo culicídeos e flebotomíneos, que são, respectivamente, transmissores da dirofilariose e da leishmaniose visceral canina

Relançamento de Duramune® Max

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vacina Duramune® Max 5-CvK/4L, produzida e comercializada pela Fort Dodge, está ainda mais atualizada. Produzida com uma nova amostra da cepa do parvovírus canino CPV-2b, denominada FD 2001, Duramune® Max 5-CvK/4L agora proporciona três anos de imunidade contra este antígeno, conforme estudo realizado com cães vacinados e desafiados. A vacina também se destaca por utilizar a tecnologia de subunidade na produção da fração leptospira. Segundo literatura técnica, as vacinas contra a leptospirose canina são apontadas como as principais responsáveis pelas reações pós-vacinais. Para diminuir a ocorrência de tais reações, a Fort Dodge desenvolveu a tecnologia de subunidade OMC, que utiliza apenas as proteínas presentes na membrana externa da leptospira, porção mais imunogênica da bactéria.

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I Seminário de Residência em Medicina Veterinária

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pós quatro anos de um processo de avaliação de Programas de Residência em Medicina Veterinária, a Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNRMV/CFMV) julga necessário relatar os resultados desta ação para

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toda a comunidade universitária. Para que isso seja feito de forma eficiente e participativa foi elaborado o I Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária. O evento está programado para ocorrer na cidade de São Paulo, SP, nos dias 16 e 17 de junho de 2008 e, com a sua realização, espera-se informar a comunidade sobre o trabalho da CNRMV/ CFMV em relação à residência em medicina veterinária e, paralelamente, obter opiniões e experiências desta mesma comunidade acadêmica com vistas à construção de uma segunda etapa ambicionada pelo CFMV, que é a de estabelecer o perfil ideal da residência em medicina veterinária, para que seja possível proporcionar capacitação e competência mediante treinamento profissional supervisionado. Informações: www.cfmv.org.br comissoes@cfmv.org.br

Scientific Meeting Royal Canin

Júlio César C. Veado (UFMG), Luciana Oliveira e Yves Miceli (ambos da Royal Canin Brasil)

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m março de 2008 a Royal Canin realizou, na França, evento especializado sobre urologia e nefrologia (Scientific Meeting - Urology and Nephrology). O evento contou com cerca de 400 convidados, representando mais de 30 países. Diversos especialistas internacionais ministraram palestras sobre temas específicos da área. O prof. dr. Júlio César Cambraia Veado, participante do evento, salientou a presença do tema renoproteção que é tendência mundial na medicina humana e que faz parte de suas pesquisas.

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Bem-estar animal

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Eventos discutem o bem-estar animal, a vivissecção e o direito animal

Arquivo CFMV

o período de 16 a 18 de abril de 2008, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) foram realizados o I Congresso Brasileiro de Bem-Estar Animal e I Seminário Nacional de Biossegurança e Biotecnologia Animal. Participaram das discussões aproximadamente 500 congressistas, entre médicos veterinários, zootecnistas, biólogos, professores, estudantes, dirigentes de Conselhos Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs), membros das comissões assessoras do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), além de profissionais de diversos outros segmentos, como centros de controle de zoonoses e outras instituições.

Os assuntos abordados no I Congresso Brasileiro de Bem-Estar Animal e I Seminário Nacional de Biossegurança e Biotecnologia Animal foram de grande interesse, contando com a participação dos especialistas e do público que lotou o auditório

Renomados especialistas do Brasil e do exterior oriundos de diversas instituições ministraram palestras e conduziram as discussões que ressaltaram que o bem-estar, deve ser entendido no seu sentido amplo, estendendo a preocupação aos sentimentos e sensações vividos pelos animais e não somente para proporcionar a saúde com o sentido de ausência de doença. Neste contexto, os procedimentos que causam estresse, dor e medo precisam ser analisados, compreendidos e evitados na interação homem-animal. A contribuição dos pesquisadores estrangeiros presentes permitiu aos participantes conhecer a realidade dos outros países quanto ao bemestar animal. As situações que causam dor e sofrimento nos animais mostram efeito semelhante ao que ocorre com os seres humanos. Expostos a estas sensações, os animais tem sua imunidade afetada, possibilitando o acometimento de enfermidades de etiologias variadas. O tema é bastante complexo e apresenta diversas facetas. Proporcionar mais bemestar aos animais de produção reduzirá sem dúvida a produtividade e aumentará os preços dos produtos de origem animal. Foram apontados desafios para o futuro: produzir melhor, poluindo menos e proporcionando o

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bem-estar aos animais. A solução – pesquisas, modificações na legislação e mais investimentos – começa com a conscientização dos profissionais, que deve ser trabalhada nas Instituições de Ensino Superior (IES), por meio de disciplinas específicas que proporcionem formação ética e que assegure a dignidade dos animais. Ao final do encontro, o foco do debate voltou-se para as resoluções emanadas do CFMV que visa normatizar o uso científico e garantir o bem-estar dos animais, tanto os de companhia e de produção, quanto os silvestres e aqueles utilizados em pesquisa. Oportuno e de alto nível técnico, o evento agradou aos distintos segmentos presentes ao evento. O dr. Rubenval Feitosa, presidente do CRMV-SE, exaltou a singularidade da iniciativa, por ele analisada como “o pontapé inicial da discussão sobre a relação homem-animal no meio ambiente, nos diversos contextos: produção, animais de companhia, pesquisa etc”. O mais importante, destacou Feitosa, foi “a nova visão proporcionada, que nos leva a uma reflexão do comportamento do próprio homem, dos seus valores intrínsecos, já que estamos perdendo os nossos referenciais como seres humanos.” Heyde Amorim, bióloga, também aprovou a iniciativa e ressaltou a importância da visão proporcionada pelas discussões desenvolvidas em Recife. “Na biologia o animal é entendido como 'coisa'. Mas deve-se respeitar os direitos dos animais e garantir o bemestar deles”, observou. No começo do mês de abril também ocorreu, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), o I Curso Introdutório à Ciência do Bem-estar Animal e Etologia Aplicada, uma realização do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS). O curso proposto teve como objetivo principal a introdução dos conceitos básicos sobre a ciência bem-estar animal e etologia aplicada, preenchendo uma lacuna há tanto tempo existente na formação dos profissionais. A sua continuidade faz parte de uma proposta de educação continuada do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ/USP, juntamente com os pós-graduandos do mesmo departamento. O entendimento do bem-estar animal é tão importante hoje para o profissional médico

Realizado na FMVZ/USP, o I Curso Introdutório à Ciência do Bem-estar Animal e Etologia Aplicada teve apoio da revista Clínica Veterinária, da Nestlé Purina e da WSPA, que também contribuiu cedendo a todos os participantes o CD-Rom Conceitos em Bem-Estar Animal

veterinário e zootecnista assim como os conhecimentos nas áreas de cirurgia, clínica, patologia, epidemiologia etc. Dessa forma, o oferecimento de disciplinas nos cursos de formação desses profissionais é de fundamental importância, não apenas para a inserção dos profissionais no mercado, mas visando melhorias na qualidade de vida dos animais e, indiretamente, dos seres humanos. Entre março e abril desse ano também ocorreu no Brasil, na Argentina, na Bolívia, no Peru e no México, o Latino America Tour InterNICHE (www.internichebrasil.org). O evento, que foi promovido pela InterNICHE (The International Network for Humane Education), teve como tema o "I Encontro sobre Métodos Substitutivos ao Uso de Animais na Educação: a ética no avanço do saber". Entre as novidades, foram exibidos softwares nas áreas de cirurgia e farmacologia e proferidas conferências internacionais pelo coordenador da InterNICHE, Nick Jukes (Inglaterra). Demonstrações de métodos substitutivos, palestras técnicas e mesas-redondas sobre questões éticas e de direitos animais e estudantis, também fizeram parte da programação. A discussão do assunto não pára. Do dia 1º ao dia 4 de maio, realizou-se o 1º Encontro Nacional de Direitos Animais, em Porangaba, SP, e, de 8 a 11 de outubro, em Salvador, B A , s e r á realizado o I Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal.

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Heloísa Orsini

Patogenia das lesões do sistema nervoso central (SNC) na cinomose canina

MV, MS. profa. aux. UNICSUL

helorsini@yahoo.com.br

Eduardo Fernandes Bondan

MV prof. dr. tit. UNIP e UNICSUL

bondan@uol.com.br

Pathogenesis of central nervous system (CNS) lesions in canine distemper Patogenia de las lesiones en el sistema nervioso central (SNC) en la cinomosis Resumo: A cinomose é uma doença importante e freqüente na clínica de cães, conhecida por sua alta morbimortalidade e pelos sinais e sintomas clínicos característicos que gera nos animais acometidos. Apesar de ser reconhecida como a principal enfermidade infecciosa dos cães, e de técnicas para o seu tratamento e profilaxia serem utilizadas rotineiramente pelo médico veterinário, informações acerca dos mecanismos envolvidos na patogenia da doença – especialmente no que se refere ao acometimento do sistema nervoso central (SNC) – são ainda pouco difundidas. Tendo em vista a importância do conhecimento dos mecanismos e processos celulares envolvidos na cinomose para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficientes no tratamento de tal doença, esta revisão traz um resumo dos principais aspectos patológicos da enfermidade e aborda de forma mais aprofundada a patogenia da afecção do SNC, enfocando os tipos celulares possivelmente envolvidos no desenvolvimento das alterações neurológicas. Unitermos: canídeos, paramixovírus, encefalite, glia, desmielinização Abstract: Canine distemper is an important and common disease of domestic dogs, known for its high death rate and for its specific clinical signs and symptoms. Although it is recognized as the main infectious canine disease and in spite of the techniques for its treatment and prophylaxis being routinely used by clinicians, information about the mechanisms involved in the disease's pathogenesis – specially regarding the damage to the central nervous system (CNS) – is still unsatisfactorily shared. Knowledge about the cellular mechanisms and processes involved in canine distemper are crucial to the development of more efficient therapeutic strategies. This review therefore summarizes the main pathological aspects of the illness and accesses in a deeper manner the pathogenesis of CNS damage, concentrating on the cellular types possibly involved in the development of neurological changes. Keywords: canides, paramyxovirus, encephalitis, glia, demyelination Resumen: La cinomosis es una enfermedad importante y frecuente en perros, conocida por su gran morbimortalidad y por sus señales y síntomas característicos. Aunque sea la principal enfermedad infecciosa de los perros, y su tratamiento y profilaxis sean realizados como rutina por el veterinario, poco se conoce sobre los mecanismos implicados en la patogenia de la enfermedad, especialmente sobre los daños al sistema nervioso central (SNC). Considerando la importancia en conocer estos mecanismos, esta revisión trae un resumen de los principales aspectos patológicos de la enfermedad y aborda de forma más profunda la patogenia de la afección del SNC, enfocando los tipos celulares posiblemente implicados en el desarrollo de alteraciones neurológicas. Palabras clave: cánidos, paramixovirus, encefalitis, glía, desmielinización

Clínica Veterinária, n. 74, p. 28-34, 2008

Introdução A cinomose é uma doença viral severa e altamente contagiosa, que acomete cães e outros carnívoros de forma multissistêmica 1,2. Apesar de gerar diferentes alterações orgânicas 1,2, a gravidade do processo e a morte dos animais estão relacionadas às lesões desencadeadas pelo vírus no SNC 2,3. Sabe-se que as alterações neurológicas presentes na doença se associam aos processos desmielinizantes e inflamatórios gerados no parênquima nervoso 3,4,5. No entanto, os mecanismos envolvidos no desenvolvimento de tais processos são ainda pouco esclarecidos 6,7. Uma vez que o SNC é tido como um sítio de privilégio imunológico 8,9, ou 28

seja, é isolado de patógenos e elementos sistêmicos – tais como células inflamatórias – capazes de lesá-lo 8,10, especulase que a desmielinização seja iniciada pela ação de células constituintes do próprio tecido nervoso 5,7,11. Por essa razão e pela semelhança histopatológica das lesões observadas no SNC de animais com cinomose com as originadas em doenças humanas, tais como a esclerose múltipla (de etiologia ainda indefinida) 5,12,13, o esclarecimento dos eventos celulares envolvidos no processo de desmielinização do SNC torna-se essencial. Da mesma forma, para o clínico veterinário, o conhecimento dos mecanismos envolvidos na doença é importante para o desenvolvimento de estratégias

mais adequadas para o seu tratamento e prevenção. O presente trabalho tem como objetivo apresentar um panorama geral da cinomose e descrever mais detalhadamente os processos possivelmente envolvidos no desencadeamento das lesões no SNC. Considerações iniciais sobre a cinomose A cinomose é uma doença que apresenta distribuição mundial 1,2,5. Acomete diversas espécies de carnívoros domésticos e selvagens, tais como os das famílias Canidae (raposas, lobos, chacais e coiotes), Mustelidae (lontras, ferrets e furões), Procyoinidae (quatis e guaxinins) e alguns indivíduos da família Felidae (gatos domésticos e selvagens, leões e tigres). Moléstias semelhantes, causadas por vírus antigenicamente relacionados ao vírus da cinomose, também foram descritas em focas e golfinhos 1,2. No entanto, são os cães domésticos os principais animais acometidos e nos quais a cinomose se manifesta como a principal enfermidade infecciosa 1. A cinomose canina é causada por um morbilivírus, da família Paramyxoviridae, descrito pela primeira vez em 1905 2. Trata-se de um RNA-vírus de fita simples, grande (150 a 350nm), de simetria helicoidal, envelopado 14 e antigenicamente relacionado aos vírus do sarampo humano e da peste bovina 1. Morfologicamente, é constituído por, além de outras moléculas não-estruturais, seis proteínas estruturais – três internas (L, N e P), envolvidas na transcrição e na replicação do RNA viral, e três inseridas no envelope (M, H e F). A proteína N (nucleocapsídeo) é responsável pela proteção do material genético, enquanto as proteínas L e P (complexo polimerase) encontram-se envolvidas na transcrição

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e na replicação do RNA viral 15. A proteína M (matriz) é importante para a maturação viral e funciona como conectora das glicoproteínas de superfície ao nucleocapsídeo. As glicoproteínas F (fusão) e H (hemaglutinina) desempenham papéis importantes na patogenia da doença, sendo a H responsável pela adsorção e a F, pela fusão do vírus à célula hospedeira 14,15. A proteína H, por ser bastante variável, é a principal responsável pela diversidade antigênica observada nos vírus da cinomose 14, e está envolvida na indução da resposta imunológica do hospedeiro à infecção 16. Assim, apesar da existência de apenas um sorotipo do vírus, observa-se grande variação no curso clínico e na severidade da doença, principalmente em relação ao acometimento do SNC. A diversidade antigênica do vírus da cinomose (CDV) gera cepas virais diferentes, algumas mais virulentas e, portanto, mais agressivas do que outras 4. A transmissão do CDV de um animal acometido para um suscetível se dá principalmente pela via aerógena, por meio da inalação de aerossóis provenientes de secreções corporais de animais infectados. A doença não apresenta predileção por raça ou sexo, mas acomete principalmente indivíduos jovens ainda não vacinados 1. Patogenia e sinais clínicos A inalação das partículas virais leva a uma infecção inicial das tonsilas palatinas e dos linfonodos brônquicos. Os vírus iniciam a sua replicação nesses tecidos e, mais tarde, por meio da infecção de macrófagos e linfócitos, disseminam-se para outros órgãos linfóides, tais como baço, timo, linfonodos e medula óssea, onde infectam, além de linfócitos maduros, células naive (virgens), promovendo apoptose e, conseqüentemente, imunossupressão 3. De fato, observase na prática clínica que os animais acometidos pela cinomose apresentam uma imunossupressão inicial, ou seja, uma redução no número de linfócitos circulantes. Antígenos virais são detectados em todos os órgãos e tecidos do organismo em seis a nove dias após a infecção 3, desencadeando as manifestações clínicas mais comuns da doença – alterações gastrintestinais, respiratórias, oculares, dérmicas e neurológicas 1,2. A presença de sintomas, assim como

a sua severidade, parece estar associada ao nível de anticorpos anti-CDV produzidos pelo hospedeiro. Os animais que desenvolvem títulos de anticorpos mais cedo limitam a dispersão viral pelos tecidos, recuperando-se mais facilmente após a infecção. Animais que sofrem algum atraso ou falha na formação de tais anticorpos são mais susceptíveis à infecção dos tecidos epiteliais e do SNC, sendo as lesões geradas mais severas 3. A infecção dos tecidos epiteliais promove sinais e sintomas clínicos que variam de moderados a severos. Os animais acometidos podem apresentar diarréia, vômitos, anorexia, desidratação, descarga nasal e ocular, bronquite, pneumonia, hiperqueratose de coxins, erupções cutâneas e pústulas abdominais, entre outras alterações 1,2. O acometimento do SNC gera ataxia, tremores intencionais de cabeça, movimentos mastigatórios crônicos, andar em círculos, convulsões e, menos freqüentemente, cegueira e paralisia 1,2,16. Em alguns animais, o CDV persiste nos tecidos nervosos e ocasiona uma encefalite tardia, chamada encefalite do cão idoso, que se assemelha à panencefalite esclerosante subaguda desenvolvida em humanos adultos infectados na infância pelo vírus do sarampo 2. As lesões do SNC são as alterações mais graves da doença, e geralmente culminam com o óbito dos animais 2,3. Patogenia da afecção do SNC Devido à alta sensibilidade de seus componentes, o SNC apresenta características anatômicas e fisiológicas altamente especializadas, que visam protegê-lo 8. Além da proteção mecânica dos centros nervosos, desempenhada pelos compartimentos ósseos, pelas meninges e pelo líquido cefalorraquidiano (LCR) 17, os sistemas de irrigação tecidual e monitoração imunológica presentes são diferenciados 8,9,17. Os capilares que penetram no parênquima nervoso, por exemplo, possuem permeabilidade diferente daquela observada nos demais capilares do organismo, apresentando junções muito íntimas entre as células endoteliais (junções ocludentes) e formando, assim, uma barreira de isolamento entre o SNC e a circulação sistêmica 9,10. Tal barreira, denominada barreira hematoencefálica (BHE), é importante na seleção das macromoléculas e das células

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ou por um processo indireto (bystander), pela liberação de fatores tóxicos durante a resposta imunológica antiviral 7,12, ou pela sensibilização do sistema imune contra porções da mielina semelhantes a componentes virais 10,12. Os oligodendrócitos são sensíveis a alguns elementos do sistema imunológico e morrem com maior facilidade do que outras células presentes no SNC, até mesmo neurônios 20. A ação de células e elementos do sistema imunológico tem sido apontada por diversos autores como a principal causa de desmielinização, especialmente nas lesões crônicas 12. Na cinomose, assim como em várias outras afecções do organismo, observa-se a presença de macrófagos, linfócitos e outras células do sistema imune desempenhando suas funções no interior do tecido nervoso 5,8,12. O CDV, assim como outros vírus que codificam proteínas capazes de se integrar à membrana celular, consegue atrair elementos do sistema imunológico para o interior do SNC, na tentativa de proteger o tecido dos agentes infecciosos 5. Os mecanismos pelos quais as células hematógenas conseguem adentrar o tecido nervoso ainda não são bem esclarecidos. Acredita-se que, de forma semelhante à que ocorre em outros tecidos do organismo, o sistema imunológico também monitore o SNC 8,21, visando a eliminação de agentes potencialmente deletérios 10. Assim, linfócitos T e B, por exemplo, independentemente da sua especificidade, conseguem penetrar no SNC após ativação periférica, buscando antígenos específicos 8,10. Além disso, quimiocinas, liberadas por diferentes células presentes nos tecidos nervosos

Figura 1 - Microcavitações teciduais compatíveis com o processo de desmielinização na substância branca do cerebelo de um cão com cinomose. H/E. Obj. 10x

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muitos dos aspectos da neuropatogenia da infecção pelo CDV – como, por exemplo, as bases celulares e moleculares do processo desmielinizante que desencadeia – são ainda pouco esclarecidos 7. A desmielinização do SNC na cinomose se apresenta sob duas formas distintas: uma aguda, inicial, não acompanhada por processo inflamatório, e uma crônica, posterior, na qual a inflamação torna-se presente 5,18 (Figura 2). A forma aguda se correlaciona com a imunossupressão inicial gerada pelo vírus, e a crônica com o restabelecimento do número de linfócitos na circulação periférica 5. As causas da desmielinização, tanto na forma aguda como na crônica, são ainda pouco conhecidas 5,7,12. Alguns mecanismos poderiam ser sugeridos como promotores da perda de mielina, como, por exemplo, a ação direta dos vírus sobre os oligodendrócitos (produtores da mielina no SNC), causando a sua morte ou alterando as suas funções mielinogênicas 7. No entanto, a afecção viral direta dos oligodendrócitos não é observada em nenhuma das duas formas de desmielinização 6. Apesar de nucleocapsídeos virais terem sido encontrados em oligodendrócitos durante a infecção pelo CDV, partículas virais completas não foram identificadas, indicando que a replicação viral não ocorre nesse tipo celular e, portanto, a degeneração dessas células não deve estar associada à infecção pelo CDV 19. Uma vez descartada a ação viral direta sobre os oligodendrócitos, reações imunomediadas desenvolvidas pelo hospedeiro são sugeridas como promotoras da desmielinização 19. Assim, a destruição da mielina poderia ser desencadeada

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que penetram no tecido nervoso, impedindo a entrada de elementos hematógenos que possam provocar danos 9, tais como as células do sistema imunológico 8,10. A atividade dos elementos do sistema imunológico no SNC é, portanto, limitada 8. A entrada de células sistêmicas também é desfavorecida pelas condições microambientais presentes no SNC íntegro 8. Em situações de normalidade, altos níveis de moléculas antiinflamatórias, tais como o fator de crescimento transformante beta (TGF-`), encontram-se presentes no parênquima nervoso 8,10. Há também baixa expressão de elementos que auxiliam no desenvolvimento e na progressão das reações imunológicas, tais como as moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC) 10 e as moléculas de adesão 8,9, que promovem, respectivamente, a ativação de linfócitos e a migração transendotelial de leucócitos provenientes da circulação sistêmica. A apoptose – ou morte celular programada – de células infiltrantes também é observada 9. No entanto, apesar do complexo sistema desenvolvido para preservar a integridade do tecido nervoso, algumas situações permitem o seu acometimento, tal como ocorre na cinomose canina. Na cinomose, o mecanismo exato pelo qual o CDV penetra e se dispersa pelo tecido nervoso ainda não é compreendido 6. Acredita-se que o CDV adentra o SNC por meio de células mononucleares infectadas provenientes da circulação sistêmica 5, visto que é descrita a migração de linfócitos e monócitos hematógenos contendo antígenos virais para o interior do parênquima nervoso, e que a replicação dos vírus no interior de células endoteliais não é observada, descartando-se uma hipótese anterior de que a infecção do SNC se dava dessa forma 13. Uma vez no SNC, o vírus acomete diferentes tipos celulares 3,5,6,13,16 e causa desmielinização, caracterizada histologicamente por vacuolização e perda multifocal de bainhas de mielina 11 (Figura 1). A desmielinização é um evento que sempre está presente em animais com cinomose quando o SNC é acometido pelo vírus 5. Sabe-se que a severidade da desmielinização está relacionada, entre outros fatores, à cepa viral e à imunidade desenvolvida pelo animal 4; entretanto,

Figura 2 - Infiltração inflamatória perivascular na substância branca do cerebelo de um cão com cinomose. H/E. Obj. 10x

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durante a infecção 18, atraem leucócitos da circulação sistêmica para o interior do SNC 21 e citocinas pró-inflamatórias, tais como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-_), o interferon gama (IFN-a) e a interleucina 1 (IL-1), também podem contribuir para o desencadeamento e a manutenção das reações imunológicas, recrutando linfócitos hematógenos 8. O IFN-a e o TNF-_ induzem a expressão de moléculas do MHC e de moléculas de adesão pelas células endoteliais e do tecido nervoso, aumentando a permeabilidade da BHE. A liberação sistêmica de TNF-_ e IFN-a também consegue ativar células presentes no parênquima do SNC, mesmo com a BHE intacta 8. A expressão de MHC no interior do SNC é extremamente aumentada durante a fase crônica de desmielinização 22. No SNC, linfócitos perifericamente ativados desenvolvem uma resposta imune local, em conjunto com demais células inflamatórias, contra antígenos específicos 10, proliferando e recrutando novas células da circulação sistêmica 8. Uma vez que o vírus afeta outras células nervosas que não os oligodendrócitos, muitos autores acreditam que a degeneração mielínica se dá por um mecanismo bystander, pela ação antiviral de células imunológicas que liberam fatores potencialmente tóxicos aos oligodendrócitos 12,16. Assim, as células imunológicas causariam uma lesão acidental do SNC ao tentar combater antígenos 5,8. Nesse sentido observou-se, em um experimento, que complexos imunes (anticorpos anti-CDV ligados ao CDV) podem induzir lesões primárias em oligodendrócitos por meio da ligação com o receptor FC da superfície dos macrófagos 12. A ativação do receptor FC dos macrófagos é importante para o reconhecimento e a neutralização viral, mas promove a liberação de produtos – tais como espécies reativas de oxigênio, óxido nítrico (NO) e proteases – que acabam lesando também os oligodendrócitos 10. Os radicais livres derivados do oxigênio, tais como o ânion superóxido, o peróxido de hidrogênio e o radical hidroxila, reagem com proteínas e lipídeos presentes nas células, podendo causar lesão e morte celular 2, além de danos nas bainhas de mielina 10. Além disso, podem se combinar com o NO, formando intermediários reativos que também danificam estruturas celulares 2. 32

Desta forma, a atividade macrofágica apresenta-se como uma das principais causas de desmielinização do SNC durante a fase crônica 21. Além dos macrófagos, linfócitos B (e seus anticorpos) e T também são encontrados na fase crônica da desmielinização do tecido nervoso, especialmente nos locais de replicação viral 18,23. Os fatores liberados por tais células podem gerar, como efeito final, a degradação da mielina. O TNF-_ e o IFN-a liberados durante os processos inflamatórios, por exemplo, são descritos em alguns experimentos como lesivos aos oligodendrócitos, promovendo vacuolização da mielina e apoptose de oligodendrócitos 20. A desmielinização imunomediada também é sugerida por autores que acreditam que a perda da mielina possa ser devida a uma reação autoimune, na qual linfócitos podem desenvolver reações imunológicas contra componentes do SNC – tais como a proteína básica da mielina (MBP) – por uma reação cruzada, após ativação na circulação periférica por proteínas virais similares a antígenos próprios 7,10, mesmo quando o CDV não está presente no SNC 7. Os mecanismos descritos, de degeneração mielínica mediada pelo sistema imunológico, podem ser aplicáveis no desencadeamento da forma crônica de desmielinização, visto que células inflamatórias encontram-se presentes em grandes quantidades nessa fase 12. A desmielinização da fase aguda, no entanto, parece não apresentar natureza imunomediada. Apesar de linfócitos T 23 e B 18 terem sido identificados durante a fase inicial de desmielinização, tais células não se encontram em quantidade suficiente para produzir lesões desmielinizantes 23. Acredita-se, portanto, que nesta fase a desmielinização se deva a uma ação direta dos vírus sobre outros tipos celulares, tais como neurônios e células da neuróglia 7, promovendo a degeneração dos oligodendrócitos como efeito secundário 5,7,11,24. Células envolvidas no processo desmielinizante do SNC Muitos tipos celulares presentes no SNC são acometidos pelo CDV 3,5,13,16. O vírus é inicialmente identificado em células mononucleares presentes nas meninges. Em seguida, células mononucleares infectadas são encontradas no

líquor e nas regiões perivasculares do tecido nervoso. Posteriormente, células gliais são infectadas e, por fim, há o acometimento de neurônios 3. Alguns estudos foram realizados com o objetivo de verificar a participação das células do tecido nervoso no desencadeamento da desmielinização. Observou-se que a infecção neuronal direta pode resultar em degeneração axonal e conseqüente perda mielínica; entretanto, a maioria dos neurônios infectados pelo CDV permanece intacta, indicando que tal processo não pode, por si só, desencadear a perda maciça de mielina observada nas lesões desmielinizantes do SNC 6. Assim sendo, diversos autores atribuem a desmielinização aguda à replicação dos vírus nas células gliais 16,24. As células gliais, ou da neuróglia, compreendem, no SNC, astrócitos, oligodendrócitos, microgliócitos e células ependimárias. As células de Schwann também compõem a glia, porém estão presentes apenas no sistema nervoso periférico, envolvendo axônios neuronais 17. O conjunto de microgliócitos é denominado micróglia 17 e corresponde a células da linhagem monocítica fagocitária residentes no SNC 8,21. Acredita-se que tais células sejam originárias do mesoderma, partindo de monócitos hematógenos que penetram no tecido nervoso durante a embriogênese ou nos processos de injúria do SNC 8. Em condições normais, encontram-se na forma quiescente e, quando ativadas por algum processo patológico, desempenham funções semelhantes às dos macrófagos, fagocitando substâncias e desencadeando reações inflamatórias 21,22. Os astrócitos, por sua vez, possuem diversas funções de suporte ao SNC, tais como a manutenção da osmolaridade, da concentração iônica e do pH, a produção e a secreção de proteínas da matriz extracelular, a síntese de moléculas de adesão e de fatores neurotróficos, a indução e a manutenção das características da barreira hematoencefálica e a fagocitose de restos celulares, entre outras. Apresentam também funções imunes, tais como a secreção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-_ e IFN-a) e antiinflamatórias (TGF-` e prostaglandina E) e a expressão de moléculas MHC de classes I e II 25. Frente às agressões do tecido nervoso, os astrócitos

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A

B

Figura 3A e B - Marcação imunoistoquímica da vimentina (proteína dos filamentos intermediários do citoesqueleto) em astrócitos reativos no tronco encefálico de um cão apresentando desmielinização pela cinomose (A) e no tronco encefálico de um cão clinicamente sadio (B). Obj. 10x

respondem prontamente, proliferando e hipertrofiando-se 25,26. A função desse comportamento é ainda desconhecida, mas observa-se que ele acompanha invariavelmente as lesões desmielinizantes do tecido nervoso 27, tal como evidenciado em trabalhos científicos que utilizaram a marcação imunoistoquímica de componentes dos filamentos intermediários dos astrócitos – a proteína glial fibrilar ácida (GFAP) e a vimentina (VIM) –, demonstrando que a desmielinização do SNC promove um aumento na expressão de tais componentes 28,29 (Figura 3A e B). A GFAP é o principal componente estrutural astrocitário de indivíduos adultos 25 e a VIM, nos astrócitos, é predominante no período embrionário, sendo perdida conforme o amadurecimento celular 30. Frente às lesões do SNC, ocorre um aumento na expressão da GFAP e a reexpressão da VIM, indicando reatividade astrocitária 28,29. Uma vez que as funções pró-inflamatórias dos astrócitos e da micróglia são reconhecidas como potencialmente indutoras de desmielinização 5,24, e que a infecção de neurônios 6 e de oligodendrócitos pelo vírus não é capaz de gerar sozinha o processo desmielinizante observado na cinomose 6,24, supõe-se que, quando ativados, micróglia e astrócitos são capazes de iniciar o processo inflamatório e a desmielinização observada no SNC de cães com cinomose 5,24. No entanto, as principais células acometidas pelo CDV são os astrócitos 23,24, e as lesões desmielinizantes iniciais são simultâneas à replicação do vírus nessas células 27. Um experimento realizado em1986 24 demonstrou que, em uma cultura mista de oligodendrócitos e de

astrócitos infectada pelo CDV, o vírus era identificado em astrócitos, porém eram os oligodendrócitos que sofriam degeneração – possivelmente por causa da liberação de substâncias próinflamatórias a partir dos astrócitos. Consideraçõe finais Ainda que diversos estudos demonstrem especialmente a participação dos astrócitos e da micróglia na desmielinização do SNC, muitos dos aspectos da neuropatogenia da doença permanecem ainda desconhecidos. O entendimento dessas questões é importante para definir o papel de tais células como responsáveis pela lesão do SNC nas doenças desmielinizantes, como ocorre na cinomose. O conhecimento da patogênese da doença é essencial quando se buscam formas de tratamento. Assim, já que na cinomose os danos no SNC podem muito provavelmente ser gerados pelo processo inflamatório desenvolvido no tecido nervoso, torna-se compreensível a indicação do uso de métodos de supressão da atividade inflamatória/ imunológica ao invés de estimulação – como era realizado até há pouco tempo. Da mesma forma, o reconhecimento das células que desencadeiam o processo pode fornecer meios para o desenvolvimento de terapias mais específicas, que ajam contra a ação inflamatória/imunológica apenas de um determinado tipo celular. O conhecimento dos mecanismos envolvidos no processo de inflamação e de desmielinização do SNC é um importante passo para o desenvolvimento de métodos de prevenção e de cura da cinomose, assim como de outras doenças desmielinizantes do SNC.

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Palestrante:

Profº Milton Kolber Aprenda a montar seu laboratório clínico no consultório; hematologia clínica; urinálise; bioquímica sérica; enzimas hepáticas; líquidos cavitários; parasitologia veterinária Local: Instituto Biológico* Realização

Neuropathologica, v. 92, n. 3, p. 273-280, 1996. 23-WUNSCHMANN, A. ; ALLDINGER, S. ; KREMMER, E. ; BAUMGARTNER, W. Identification of CD4+ and CD8+ T cell subsets and B cells in the brain of dogs with spontaneous acute, subacute, and chronic demyelinating distemper encephalitis. Veterinary Immunology and Immunopathology, v. 67, n. 2, p. 101-116, 1999. 24-ZURBRIGGEN, A. ; VANDEVELDE, M. ; DUMAS, M. Secondary degeneration of oligodendrocytes in canine distemper vírus infection in vitro. Laboratory Investigation, v. 54, n. 4, p. 424-431, 1986. 25-MONTGOMERY, D. L. Astrocytes: form, functions, and roles in disease. Veterinary Pathology, v. 31, n. 2, p. 145-167, 1994. 26-SHIMADA, A. ; UEMURA, T. ; YAMAMURA, Y. ; KOIMA, S. ; MORITA, T. ; UMEMURA, T. Localization of metallothionein-I and II in hypertrophic astrocytes in brain lesions of dogs. Journal of Veterinary Medical Science, v. 60, n. 3, p. 351-358, 1998. 27-VANDEVELDE, M. ; BICHSEL, P. ; CERRUTISOLA, S. ; STECK, A. ; KRISTENSEN, F. ; HIGGINS, R. J. Glial proteins in canine distemper virus-induced demyelination. Acta Neuropathologica, v. 59, n. 4, p. 269-276, 1983. 28-BONDAN, E. F. ; LALLO, M. A. ; DAGLI, M. L. Z. ; SANCHEZ, M. ; GRAÇA, D. L. Estudo da imunorreatividade astrocitária para GFAP e vimentina no tronco encefálico de ratos Wistar submetidos ao modelo gliotóxico do brometo de etídio. Arquivos de Neuropsiquiatria, v. 61, n. 3A, p. 642-649, 2003. 29. ORSINI, H. Marcação imunoistoquímica da resposta astrocitária de expressão de GFAP (proteína glial fibrilar ácida) e de vimentina no sistema nervoso central de cães com cinomose. 2006. 57f. Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) - Universidade Paulista, São Paulo, 2006. 30-PROBERT, L. ; AKASSOGLOU, K. Glial expression of tumor necrosis factor in transgenic animals: how do these models reflect the “normal situation”? Glia, v. 36, n. 2, p. 212-219, 2001.

Curso teóricoprático de cardiologia veterinária

Curso teórico-prático de afecções cirúrgicas da coluna vertebral

Curso teórico-prático de cirurgia de partes moles

25 de maio; 8 e 22 de junho; 6 e 20 de julho horário: das 8h às 17h

9, 10, 16 e 17 de agosto horário: das 8h às 17h

14, 21, 28 de setembro; 19 de outubro; 9, 23,e 30 de novembro; 7 de dezembro horário: das 8h às 17h

Palestrante:

Profº Luciano Pereira Origens e tratamentos de quadros congestivos; técnicas e procedimentos utilizados na emergência cardíaca (edema pulmonar, hidropericárdio, efusão pleural e ascite); eletrocardiograma Local: 2º BPE**

Informações e inscrições: fone: (11) 2995-9155 • fax: (11) 2995-6860 juna.eventos@uol.com.br - www.junaeventos.com

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VANDEVELDE, M. Canine distempervirusimmune complexes induce bystander degeneration of oligodendrocytes. Acta Neuropathologica, v. 83, n. 4, p. 402-407, 1992. 13-SUMMERS, B. A. ; GREISEN, H. A. ; APPEL, M. J. Possible initiation of viral encephalomyelitis in dogs by migrating lymphocytes infected with distemper virus. The Lancet, v. 2, n. 8082, p. 187-189, 1978. 14-PARDO, I. D. R. ; JOHNSON, G. C. ; KLEIBOEKER, S. B. Phylogenetic characterization of canine distemper viruses detected in naturally infected dogs in North America. Journal of Clinical Microbiology, v. 43, n. 10, p. 5009-5017, 2005. 15-LAMB, R. A. ; KOLAKOFSKY, D. Paramyxoviridae: the viruses and their replication. In: FIELDS, B. N. Virology. 3. ed. New York: Raven Press, 1996, p. 1177-1204. 16-ALLDINGER, S. ; BAUMGARTNER, W. ; ORVELL, C. Restricted expression of viral surface proteins in canine distemper encephalitis. Acta Neuropathologica, v. 85, n. 6, p. 635-645, 1993. 17-MACHADO, C. Tecido nervoso. In: MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 1999. p. 17-34. 18-TIPOLD, A. ; MOORE, P. ; ZURBRIGGEN, A. ; BURGENER, I. ; BARBEN, G. ; VANDEVELDE, M. Early T cell response in the central nervous system in canine distemper virus infection. Acta Neuropathologica, v. 97, n. 1, p. 45-56, 1999. 19-ZURBRIGGEN, A. ; YAMAWAKI, M. ; VANDEVELDE, M. Restricted canine distemper virus infection of oligodendrocytes. Laboratory Investigation, v. 68, n. 3, p. 277-284, 1993. 20-BENN, T. ; HALFPENNY, C. ; SCOLDING, N. Glial cells as targets for cytotoxic immune mediators. Glia, v. 36, n. 2, p. 200-211, 2001. 21-ALOISI, F. Immune function of microglia. Glia, v. 36, n. 2, p. 165-179, 2001. 22-ALLDINGER, S. ; WUNSCHMANN, A. ; BAUMGARTNER, W. ; VOSS, C. ; KREMMER, E. Up-regulation of major histocompatibility complex class II antigen expression in the central nervous system of dogs with spontaneous canine distemper virus encephalitis. Acta

Palestrante: Profº. dr. João Guilherme Padilha Exame neurológico; doença do disco intervertebral; fenestração de discos intervertebrais; uso de fenda ventral (ventral slot); hemilaminectomia; laminectomia dorsal; afecções cirúrgicas da coluna; síndrome de Wobbler; subluxação atlanto-axial; afecções cirúrgicas da coluna; síndrome de compressão da cauda eqüina; fraturas de L7 Local: 2º BPE**

* Instituto Biológico Rua Conselheiro Rodrigues Alves 1252 - 4º andar Vila Mariana - São Paulo - SP (próximo a estação Ana Rosa do metrô)

Palestrante: Profª Aline Machado De Zoppa Cirurgias: da cabeça e do pescoço; das cavidades torácica e abdominal; do trato genito-urinário; da região perineal; da pele; diversas (miscelâneas cirúrgicas) Local: 2º BPE**

** 2º Batalhão da Polícia do Exército (BPE) Rua Raul Lessa, 52 - Saída 17 da Rod. Castelo Branco Trav.da Av.Getúlio Vargas - Osasco/SP

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008



Graziela Kopinits de Oliveira

Glossectomia parcial em um cão

MV, mestranda PPGMV/UFSM

grakopinits@yahoo.com.br

Alceu Gaspar Raiser

MV, prof. tit. Depto. Clínica de Pequenos Animais, CCR/UFSM

Partial glossectomy in a dog

raisermv@smail.ufsm.br

Glosectomía parcial en un perro

Eduardo de Bastos Santos Júnior

MV, doutorando PPGMV/UFSM

edvet@brturbo.com.br

Resumo: Ressecções de grandes porções da língua não têm sido realizadas com freqüência em cães, devido à preocupação com a ocorrência de seqüelas pós-operatórias desfavoráveis. Neste relato é apresentado o caso de um cão levado ao Hospital Veterinário da Universidade de Santa Maria apresentando traumatismo lingual com subseqüente necrose (decorrente da passagem de um projétil de arma de fogo), e submetido à glossectomia parcial de 2/3 da língua como tratamento. Cinco meses após a intervenção cirúrgica, o animal se encontrava bem adaptado à nova situação e não apresentava dificuldade de ingestão de sólidos ou líquidos. A glossectomia parcial pode proporcionar sobrevida digna para os animais, dada à capacidade que eles têm de se adaptar a esse tipo de intervenção. Unitermos: cirurgia, língua, traumatismo lingual

Maicon Pinheiro

Graduando em medicina veterinária UFSM vetpinheiro@hotmail.com

Liandra Vogel Portella

MV, anestesista Hospital Veterinário/UFSM

Abstract: Resection of great portions of the tongue is not common practice in dogs, due to the possibility of postoperative sequels. This article reports the case of a dog presented to the Veterinary Hospital of the University of Santa Maria with lingual traumatism and subsequent necrosis due to the passage of a firearm projectile. The animal underwent partial glossectomy of 2/3 of the tongue. Five months after the surgical intervention, the animal was well adapted to the new situation and it did not have any difficulties in ingesting solids or liquids. The amputation is an option that allows the survival of the animal, due to its capacity of adaptation to the procedure. Keywords: surgery, tongue, lingual traumatism

liandracp@terra.com.br

Resumen: Resecciones de grandes porciones de la lengua no son realizadas con frecuencia en canes, debido a preocupaciones con resultados post quirúrgicos desfavorables. En este relato es mostrado el caso de un perro que fue llevado al Hospital Veterinario de la Universidad de Santa Maria presentando traumatismo lingual con subsiguiente necrosis (debido al pasaje de un proyectil de arma de fuego), y sometido a una glosectomia parcial de 2/3 de la lengua como tratamiento. Cinco meses después de la intervención quirúrgica, el animal se encontraba bien y adaptado a la nueva situación sin presentar dificultad de ingesta de sólidos o líquidos. La glosectomia parcial es una opción que permite la sobrevida digna del animal debido a su capacidad de adaptación a este tipo de situación. Palabras clave: cirugía, lengua, traumatismo lingual

Clínica Veterinária, n. 74, p. 36-38, 2008

Introdução Pacientes com doenças na cavidade oral podem apresentar salivação, disfagia, anorexia, sangramento, odor fétido, ou podem permanecer assintomáticos 1. O traumatismo de língua pode ser conseqüência de complicações resultantes de déficit da vascularização, que promovem isquemia ou a necrose da área 2. Ressecções de grandes porções da língua em cães não são realizadas com frequência, em virtude da preocupação com a ocorrência de complicações pósoperatórias e com o declínio da qualidade de vida, decorrentes da redução da função lingual 3. Amputações de 40% a 60% da porção rostral da língua são bem toleradas, mas após o procedimento pode ser necessária a colocação de uma sonda para alimentação 1. Para verificar a capacidade de preensão e a qualidade de vida no pós operatório, cinco cães que haviam sido submetidos à glossectomia foram avaliados 3. Os exames foram realizados 36

de uma semana até oito anos após as cirurgias e, com base nos resultados obtidos, os autores concluíram que a amputação de parte da língua foi bem tolerada pelos cães e pode ser uma opção de tratamento viável quando necessária. Um cão desenvolveu isquemia seguida de necrose da língua devido à ingestão de pulmão bovino, e ficou com um anel traqueal preso na base da língua por mais de treze horas. Ao exame clínico, realizado após a remoção do anel traqueal, o tecido encontrava-se necrosado, pois os tecidos corporais não toleram mais do que seis horas de isquemia. Diante da impossibilidade de preservar a língua, foi realizada a amputação de todo o segmento livre do órgão 4. A manutenção da língua após a amputação completa ou de grande porção é um evento raro 3. Há relato 5 de revascularização por meio de anastomose, utilizando a artéria lingual esquerda e a veia lingual direita, após a amputação

traumática de 2/3 do órgão em um paciente humano, vitimado por acidente automobilístico, que deixou a porção cranial da língua ligada apenas por um pedículo. Cinco meses depois do procedimento o indivíduo apresentava função normal, boa cicatrização e vascularização do órgão. Depois da cirurgia de ressecção da língua, as manifestações adversas são o acúmulo de alimentos na cavidade oral, a dificuldade no trânsito alimentar e as aspirações durante e após a deglutição 6. O presente relato tem por objetivo apresentar a glossectomia parcial como alternativa para o tratamento de lesões graves da língua, pois quando conduzida de maneira adequada, essa intervenção permite adaptação satisfatória em cão. Relato de caso Um cão, macho, SRD, com suspeita de mordida por gambá, foi atendido no Hospital Veterinário Universitário da

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008


Lígia Henz Silva

Universidade Federal de Santa Maria (HVU/UFSM). Segundo o proprietário, o cão havia desaparecido de casa durante aproximadamente uma semana e, quando foi encontrado apresentava ferimentos na boca e no pescoço, secreção sanguinolenta e um odor fétido na cavidade oral. Ao exame físico constatou-se que o animal estava desidratado, magro, com temperatura elevada, mas com ritmo cardíaco e demais parâmetros normais. O cão foi anestesiado com propofol a (6mg kg-1) para a realização de exame mais detalhado da cavidade oral, que permitiu a observação de necrose em aproximadamente 2/3 da região rostral da língua (Figura 1). Diante desse quadro, foi recomendada a amputação da parte comprometida. Os resultados do hemograma demonstraram anemia com hematócrito de 25%, hemácias 3,74 e hemoglobina 8,6g/dL. Na série branca constatou-se aumento de leucócitos para 20.100/µL, principalmente no número de bastonetes (1,6x103/µL), a contagem das demais células brancas estava dentro dos valores normais. O animal foi encaminhado ao setor de internação do hospital, onde recebeu solução de Ringer com lactato b (60mL kg-1 h-1) e antibioticoterapia – associação de metronidazol c (40mg kg-1) e cefalotina d (30mg kg-1), ambos por via intravenosa. Após ser hidratado, e sob proteção antibiótica, o paciente foi conduzido ao centro cirúrgico do HVUFSM, onde foi submetido à pré-medicação com midazolan e (0,4mg kg-1) e à indução anestésica com propofol (4mg kg-1). Para a manutenção anestésica, utilizou-se halotano f vaporizado em oxigênio em sistema semi-aberto e como terapia analgésica, foi empregado cloridrato de tramadol g (2mg kg-1). O animal foi mantido em

Figura 2 - Retirada do projétil alojado na região rostral da maxila do cão (seta)

Lígia Henz Silva

Figura 1 - Cão apresentando necrose de aproximadamente 2/3 da língua

fluidoterapia intravenosa com solução de Ringer Lactato e transfusão de 500mL de sangue, uma vez que os valores de hematócrito, hemoglobina e hemácias estavam abaixo da normalidade. Em exploração da cavidade oral do cão, realizada após anti-sepsia com clorexidine, foi encontrado e retirado um projétil de arma de fogo que estava alojado na parte rostral da maxila (Figura 2); o ferimento foi curetado e lavado abundantemente. Constatou-se, que a causa da necrose da língua não fora uma mordida de gambá, e sim a passagem do projétil. Para a glossectomia parcial foi realizada uma incisão elíptica ao redor da língua, com bisturi, e removeu-se toda a área que havia sofrido necrose (aproximadamente 2/3). Depois da remoção e da hemostasia da área lesionada, a incisão foi suturada com fio poliglactina 910 3-0, em pontos isolados simples, de modo a aproximar anatomicamente a porção remanescente da língua (Figura 3). Em seguida foi efetuada aplicação de tubo de faringostomia para facilitar a alimentação do animal, e evitar que a presença de alimentos na cavidade bucal interferisse na cicatrização. No pós-operatório foi administrado como antiinflamatório cetoprofeno h (2mg kg-1 ao dia), durante cinco dias e a terapia antibiótica foi mantida por mais dez dias, cada um dos antibióticos sendo administrado duas vezes ao dia, nas mesmas via e doses citadas anteriormente. Foi indicada limpeza do local cirúrgico com clorexidine três vezes ao dia. a) Fresofol 1%. Fresenius Kabi Brasil Ltda. Campinas, SP b) Ringer com lactato. Aster. Sorocaba, SP c) Astergyl. Aster. Sorocaba, SP d) Keflin. Antibióticos do Brasil LTDA. Cosmópolis, SP e) Dormonid. Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. Rio de Janeiro, RJ f) Tanohalo. Cristália. Campinas, SP g ) Tramal. laboratórios Pfizer LTDA. Guarulhos, SP h) Profenid. Sanofi-aventis. Morumbi, SP

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008

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Lígia Henz Silva

Figura 3 - Aproximação anatômica da região remanescente da língua do cão após a glossectomia parcial

Duas semanas após a cirurgia o animal já se mostrava adaptado e não apresentava dificuldades de ingestão de sólidos e/ou líquidos. Passados cinco meses, o cão estava totalmente adaptado à nova situação e não apresentava qualquer sinal de dificuldade decorrente da perda parcial da língua (Figura 4). Eduardo de Bastos Santos Júnior

Figura 4 - Cão após cinco meses da realização da glossectomia: observar tecido lingual totalmente cicatrizado

Discussão e conclusão A ressecção de grandes porções da língua não tem sido realizada comumente em cães devido à preocupação com o pós-operatório 3, porém, no caso relatado, embora 2/3 desse órgão tenham sido retirados, o animal teve adaptação muito boa, o que indica que esse tipo de cirurgia pode promover bons resultados. O exame da região oral, na maioria

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das vezes, requer procedimento anestésico pois, além de facilitar um exame mais completo, evita que partes doloridas manipuladas incomodem o animal 7. A colocação de sonda por faringostomia reduziu o risco de infecção e deiscência, uma vez que preveniu o contato da ferida cirúrgica com alimentos e facilitou a alimentação no período de adaptação 1,8. Embora a cavidade oral seja uma região notoriamente contaminada, a saliva é antimicrobiana e o suprimento sangüíneo que a abastece é excelente, o que isenta o uso de terapia antibiótica prolongada 1. No caso ora relatado, o animal apresentava necrose da língua – e a lesão já era visível havia mais de uma semana –, o que levou os autores a optarem por antibioticoterapia mais agressiva. Embora a princípio a suspeita tenha sido de necrose por mordida de gambá, durante o procedimento cirúrgico constatou-se que a causa havia sido o traumatismo decorrente da passagem do projétil de arma de fogo, que promoveu dano vascular com subseqüente isquemia e necrose 2. Em estudo sobre laceração lingual por barbante em cão, foi realizada amputação de 2/3 da base da língua e, cerca de 21 dias após a cirurgia, o animal estava adaptado à nova situação 8. Já o animal objeto do presente relato adaptou-se à nova situação após 15 dias, o que pode ser explicado quando se estabelece um parâmetro de comparação entre os dois casos: se, no primeiro – e já descrito – (caso), a glossectomia foi implementada na base, neste a cirurgia foi realizada na região oral da língua. E, como é conhecido, amputações na base da língua são mais incômodas, exigindo maior período de adequação. Estudo realizado em uma amostra de cinco cães – dos quais quatro foram submetidos à glossectomia – relata alguns tipos de neoplasias orais e os resultados da intervenção na amostra: dois dos cães glossectomizados (50%)

apresentaram deiscência dos pontos cirúrgicos 9. Esse tipo de complicação não foi observada no caso ora relatado, provavelmente porque o autor citado não utilizou a alimentação por faringostomia no pós-operatório, que diminui o índice de deiscência da sutura. A tentativa de revascularização se mostra satisfatória 5 quando se dispõe de vitalidade do órgão e técnica apropriada para microanastomose. Em pacientes nos quais se constate a desvitalização ou quando o profissional não se sentir preparado para efetuar uma intervenção conservadora, a glossectomia é uma opção que permite a sobrevivência do animal, pois como anteriormente mencionado, a adaptação é rotineira. Referências 1-FOSSUM, T. W. Cirurgia de Pequenos Animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2005, 1390p. 2-WEISSMAN R. ; WILLEMAN, A. ; BERNARDI, F. H. Necrose da língua causada por trauma. Relato de caso. Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial. v. 45, n. 2, p. 79-84, 2004. 3-DVORAK L. D. ; BEAVER, D. P. ; ELLISON, G. W. ; BELLAH, J. R. ; MANN, F. A. ; HENRY, C. J. Major glossectomy in dogs: a case series and proposed classification system. Journal of the American Animal Hospital Association. v. 40, p. 331-337, 2004. 4-PORTILLA, E. Necrose de la lengua por estrangulamiento - Informe de um caso. Veterinária México. v. 22, n. 3, p. 249-250, 1992. 5-EGOZI, E. ; FAULKNER, B. ; LIN, K. Y. Successful revascularization following near-complete amputation of the tongue. Case report. Annals of Plastic Surgery. v. 56, n. 2, p. 190-193, 2006. 6-GOIATO, M. C. ; FERNANDES, A. U. R. Lengua protética articulada para paciente glosectomizado. Acta Odontológica Venezolana. v. 43, n. 1, p. 4-7, 2005. 7-HARVEY, C. E. Cavidade oral, língua, lábios, bochechas, faringe e glândulas salivares. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole; 1998. v. 1. p. 624-635. 8-BRAGA, F. A. ; PIPPI, N. L. ; PEDRAZZI, V. ; DEMORI, G. ; HECKLER, M. C. T. ; PIGATO, J. ; WEISS, M. ; CORREA, R. ; POHL, V. Laceração lingual em um cão: relato de caso. Medvep, v. 2, n. 8, p. 239-243, 2004. 9-DALECK, C. R. ; DE NARDI, A. B. ; SILVA, M. C. V. ; EURIDES, D. ; SILVA, L. A. F. Neoplasia de lingua em cinco cães. Ciência Rural. v. 37, n. 2, p. 578-582, 2007.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008



Bernardo Kemper

Fixação percutânea externa complementar na osteossíntese de fratura pélvica cominutiva bilateral relato de caso em um cão

MV, mestrando DMV/UFRPE

bkemper@bol.com.br

Maira Santos Severo

MV, mestranda DMV/UFRPE

mairasevero@yahoo.com.br

Marcela Luiz de Figueiredo MV, residente DMV/UFRPE

marcellalf@hotmail.com

Use of the complementary external percutaneous fixation in the osteosynthesis of bilateral comminuted pelvic fractures - case report in a dog

Alex Alves da Silva

MV, residente DMV/UFRPE

alex_alvesdasilva@yahoo.com.br

Ricardo Chioratto MV, doutorando DMV/UFRPE

rchioratto@hotmail.com

Fijación percutánea externa complementar en la osteosíntesis de fractura pélvica conminuta bilateral - relato de caso en un perro Resumo: Fraturas da pelve são relativamente comuns, sendo a maioria do tipo múltipla. Os métodos de fixação para as fraturas pélvicas incluem o uso de pinos e fios de Kirschner, placas ortopédicas, parafusos ortopédicos, cerclagem interfragmentar, e parafusos ortopédicos e polimetilmetacrilato. O objetivo deste trabalho é relatar a bem sucedida osteossíntese de uma fratura pélvica bilateral cominutiva pela combinação de duas técnicas ortopédicas de estabilização do coxal: utilizando parafusos e polimetilmetacrilato (PMMC) para a estabilização das fraturas acetabulares, e pinos de Schantz inseridos no ílio e ísquio, conectados externamente com PMMC. As vantagens dessa combinação, como simplicidade e versatilidade da técnica, recuperação funcional precoce, satisfação do proprietário com a evolução clinica do animal, cicatrização óssea apropriada e posterior remoção do fixador, diminuindo o número de implantes, justifica a sua utilização em fraturas pélvicas cominutivas bilaterais em cães. Unitermos: pelve, reparo de fratura Abstract: Fractures of the pelvis are relatively common and occur mostly at multiple sites. Fixation methods for pelvic fractures include the use of pins and Kirschner wires, orthopedic plates, orthopedic screws, interfragmentary cerclage and orthopedic screws and polymethylmetacrylate. The objective of this work is to describe the successful osteosynthesis of a bilateral comminuted pelvic fracture using the combination of two orthopedic surgical techniques: screw and polimetilmetacrilate (PMMA) usage for the stabilization of the acetabulum fractures, and the use of Schantz pins connected externally with PMMA. Many advantages justify the use of this combination in this type of fracture in dogs: simplicity, versatility, precocious functional recovery, owner satisfaction with the clinical evolution of the animal, appropriate bone scarring and subsequent fixative removal, which reduce the number of implants. Keywords: pelvis, fracture repair Resumen: Las fracturas de la pelvis son relativamente comunes y la mayoría de ellas son múltiples. Los métodos de fijación para las fracturas pélvicas incluyen el uso de clavos y alambres del Kirschner, placas ortopédicas, tornillos ortopédicos, cerclaje interfragmental y tornillos ortopédicos y polimetilmetacrilato (PMMC). El objetivo de este trabajo es describir la bien sucedida osteosíntesis de una fractura pélvica conminuta bilateral por la combinación de dos técnicas ortopédicas de estabilización del coxal: utilizando tornillos y PMMC para la estabilización de fracturas acetabulares y la utilización de clavos de Schantz en ilion e isquion, conectados externamente con PMMC. Las ventajas de esta combinación, como simplicidad y versatilidad de la técnica, recuperación funcional temprana, satisfacción del propietario con la evolución clínica del animal, cicatrización del hueso y retiro subsiguiente del fijador, reduciendo el número de implantes, justifica su uso en fracturas pélvicas conminutas en perros. Palabras clave: pelvis, reparación de la fractura

Clínica Veterinária, n. 74, p. 40-44, 2008

Introdução Fraturas da pelve são relativamente comuns e, em muitas clínicas veterinárias, respondem por 20% a 30% do total de fraturas atendidas 1,2,3,4. A maioria dessas fraturas é múltipla, ou seja, envolve mais de três ossos 3,4. Para fazer frente à alta prevalência dessas lesões, os cirurgiões veterinários devem ser 40

capazes de selecionar tratamentos adequados para diferentes tipos de fraturas 2. A pelve é constituída por vários ossos grandes e achatados que, pela sua articulação com o sacro, formam uma estrutura semelhante a um caixão. Essa estrutura contorna a porção caudal do esqueleto axial, conectando-o aos membros pélvicos. Cada hemipelve se compõe

Neuza Marques MV, doutoranda DMV/UFRPE

neuzavet@hotmail.com

Eduardo Alberto Tudury

MV, dr. prof. ass. I DMV/UFRPE

eat-dmv@ufrpe.br

de: ílio, acetábulo, ísquio e púbis 1. Na suspeita de fraturas pélvicas, após o exame clinico geral para estabelecer o estado geral do paciente, deve ser realizado exame ortopédico completo 5. Pela palpação são verificadas a simetria pélvica, a saúde articular e a presença de áreas doloridas ou edemaciadas. Pontos de orientação são as proeminências ósseas, como asa do ílio, trocanter maior e tuberosidade isquiática 6. Uma palpação retal adicional cuidadosa pode trazer informações sobre estreitamento do canal pélvico 5,6, mas o diagnóstico definitivo da extensão da fratura é proporcionado pelo exame radiográfico 5,6,7. Apesar de as fraturas pélvicas poderem ser tratadas com repouso e restrição de exercício, o reparo cirúrgico geralmente resulta em retorno funcional precoce, com menos dor e complicações durante a cicatrização 8. Complicações associadas às fraturas da pelve são usualmente conseqüência da ausência total de tratamento, podendo resultar em obstipação, constipação crônica, e impossibilitar a fêmea de ter partos normais em virtude da má união de fraturas do corpo do ílio 9. Outras complicações associadas ao tratamento

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008


B

Bernardo Kemper

Figura 1 - Imagem radiográfica (A) e desenho esquemático da fratura do coxal (B). Lado esquerdo (E): fratura acetabular com deslocamento da porção acetabular caudal (para medial) sobrepondo-se como parte do corpo do ílio deslocado para lateral; fragmento acetabular ilíaco solto e deslocado craniolateralmente para fora da pelve; fratura de tábua isquiática. Lado direito: fratura acetabular com deslocamento do fragmento caudal, incluindo a cabeça femoral, para o interior do canal pélvico; corpo ilíaco situado lateral e externamente ao acetábulo: deslocamento para o interior do canal pélvico e do colo femoral. Fragmento acetabular do ílio (cranial) livre, discretamente rotacioado lateralmente e situado cranialmente à cabeça femoral

mantido anestesiado, e posteriormente foi intubado sob vaporização com oxigênio 100% e isoflurano f. A anestesia epidural foi complementada com associação de lidocaína g (1mL), bupivacaína h (1mL) e cloridrato de tramadol 5% (0,15mL) injetada no espaço epidural, entre L7-S1. Após preparação do campo cirúrgico e colocação dos panos de campo, foi realizada a abordagem lateral da hemipelve esquerda de acordo com técnica já descrita 11, mantendo-se o nervo ciático afastado e protegido com uma faixa de látex confeccionada a partir de um dedo de luva. O fêmur, juntamente com os fragmentos ósseos que compõem o acetábulo, encontrava-se deslocado cranial e medialmente. A tração caudo-lateral do fêmur com a utilização de pinça Backhaus (fixa no trocanter maior) promoveu redução parcial da fratura. Em seguida foram utilizadas pinças de redução de fragmentos ósseos para manter a fratura alinhada. Conforme descrito na literatura 12,13, foram então realizadas duas perfurações – uma cranial e a outra caudal à linha de fratura acetabular – para a inserção de dois parafusos auto-atarraxantes (aço 304 de 2,9mm), evitando-se a penetração da cavidade acetabular. Para a interligação desses parafusos usou-se um fio de aço (0,8mm de espessura) em banda de tenção: os parafusos foram deixados sobressalentes, o que permitiu sua estabilização pela colocação a) Tramaliv®.Teuto. Anápolis-GO b) Ketofen1%®. Merial Saúde Animal LTDA. Campinas-SP c) Acepram 0.2%®. Univet S/A. São Paulo-S d) Compaz ®. Cristália. São Paulo-SP e) Provine 2%®. Claris. São Paulo-SP f) Isoforine®. Cristália,. São Paulo-SP g) Lidovet®. Bravet. Rio de Janeiro-RJ h) Neocaína 0,5%®. Cristáila. São Paulo-SP

de cimento cirúrgico (PMMC), tomando-se o cuidado de envolver toda a superfície de suas extremidades. Durante a polimerização do PMMC, foi utilizada irrigação com solução fisiológica para minimizar o aquecimento. Com o intuito de complementar essa estabilização e manter os fragmentos fixos e alinhados, foram inseridos dois pinos de 2mm por 120mm com rosca negativa na ponta (tipo Schantz), um no corpo do ílio e outro no ramo acetabular do ísquio, com direção de dorsal para ventral em relação à pelve. Para isso, a musculatura e a pele foram reposicionadas antes da penetração dos pinos, evitando posterior tensão no ponto de inserção. Após lavagem e fechamento da ferida cirúrgica, a extremidades dos pinos foram envergadas para compor a barra externa de PMMC. Esse procedimento foi repetido na hemipelve contralateral e as barras então conectadas entre si, aumentando sua estabilidade mecânica (Figura 2). Bernardo Kemper

Relato de caso Um cão sem raça definida (SRD), de quatro anos de idade, pesando oito quilogramas e apresentando severa impotência funcional dos membros pélvicos foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Na anamenese constatouse que o animal havia sofrido acidente automobilístico cinco dias antes do atendimento, e desde então não se mantinha em estação. O paciente vinha sendo tratado em uma clinica veterinária particular com repouso, analgésicos, laxantes e cuidados de enfermagem, sem apresentar melhoras. Ao exame clínico, observou-se que o animal estava apático e manifestava crepitação e dor na manipulação da região pélvica, cuja conformação estava alterada. O paciente mantinha as funções urinárias normais, mas tinha dificuldade para defecar, e não apresentava alterações ao exame neurológico. Ao exame radiográfico foi evidenciada fratura pélvica cominutiva bilateral com severo estreitamento do canal pélvico e perda do eixo de sustentação (Figura 1). Optou-se pela osteossíntese após anestesia, utilizando cloridrato de tramadol a (2mg/kg/IM), cetoprofeno b (1mg/kg/IM) e acepromazina c (0,05mg/ kg/IM) na preparação pré-anestésica, e indução com diazepam d (0,5mg/kg/IV) e propofol e (4mg/kg/IV). O paciente foi

A

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conservativo de fraturas pélvicas são a claudicação persistente associada a anomalias anatômicas e a doença articular degenerativa da articulação coxofemoral 8. Cada fratura deve ser abordada com plano pré-operatório minucioso, mas o cirurgião deve ter a versatilidade de impor mudanças quando necessário 2. Os métodos de fixação para as fraturas pélvicas incluem o uso de pinos de Steinmann, placas ortopédicas, e/ou parafusos ortopédicos e cerclagem interfragmentar 4. A utilização de parafusos ortopédicos e polimetilmetacrilato (PMMC) para a fixação de fraturas ilíacas e acetabulares apresentou resultados satisfatórios 10,12. O objetivo deste trabalho é relatar a bem sucedida osteossíntese de uma fratura pélvica bilateral cominutiva empregando fixação percutânea externa complementar à estabilização acetabular interna com parafusos e PMMC.

Figura 2 - Imagem fotográfica pós-cirúrgica imediata, mostrando os pinos de Schantz implantados no coxal e conectados externamente com uma barra de polimetilmetacrilato

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i) Rilexine 150. Virbac SA. Franca, SP. j) Meloxican. Merck. Cotia, SP k) Clorexidine 2%. Rioquímica. São José do Rio Preto, SP l) Condromax. Ouro Fino. Cravinhos, SP

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Figura 3 - Imagem fotográfica realizada três dias após o procedimento cirúrgico mostrando a recuperação funcional do paciente, que já deambulava sem dificuldades com a barra externa de PMMC (seta)

seu manejo precoce. Os animais acometidos por esse tipo de trauma apresentam extrema dificuldade para permanecer em estação e caminhar, mostrando dor severa à palpação, com assimetria aparente. Além das injúrias ortopédicas, o trato urinário, os nervos periféricos, o tendão pré-púbico, o reto e a região perineal correm um risco particular de sofrer injúrias adicionais e concomitantes 14. Determinadas fraturas podem ser tratadas conservativamente quando não envolvem áreas de suporte ou transmissão de peso, como: asa do ílio, púbis, ísquio e acetábulo caudal 2,14,15, e quando há limitações financeiras por parte do proprietário 8. No caso relatado o paciente apresentava severa dor e impotência funcional dos membros posteriores, mantendo-se preferencialmente em decúbito, além de ter dificuldade para defecar mesmo utilizando laxantes orais. Conforme citado na literatura 9, essa dificuldade estava associada à dor e ao estreitamento pélvico (Figura 1). O tratamento cirúrgico é indicado quando houver acentuada redução no diâmetro do canal pélvico, instabilidade dos ossos do quadril por fraturas múltiplas, grave deslocamento dos fragmentos, fraturas acetabulares e em fraturas com preensão do nervo ciático 4. Não se recomenda a realização de procedimento cirúrgico após dez dias do trauma, porque a própria manipulação cirúrgica pode induzir a injúria iatrogênica de músculos e nervos da pelve 16. Em fraturas cominutivas o prognóstico é reservado, podendo ser adotado procedimento como ressecção de cabeça e colo femoral 17. Em oposição a esse método, no caso relatado optou-se pela combinação de técnicas cirúrgicas ortopédicas, com o emprego de um método indicado 18

Bernardo Kemper

Discussão A elevada freqüência de complicações e retardo na recuperação funcional das fraturas pélvicas torna importante o

Bernardo Kemper

O exame radiográfico pós-cirúrgico imediato permitiu visualizar a manutenção do canal pélvico com alinhamento dos fragmentos ósseos, porém sem perfeita reconstrução acetabular. No período pós-operatório foi prescrita antibioticoterapia (cefalexina i 25mg/kg/PO/TID durante sete dias), analgesia (cloridrato de tramadol 1mg/ kg/PO/TID durante cinco dias), antiinflamatório (meloxicam j 0,1mg/kg/PO/ SID durante sete dias), repouso em gaiola com passeios mínimos, e limpeza diária dos pontos de saída dos pinos com solução de clorexidina k. No primeiro retorno, quatro dias após a cirurgia, optou-se por acrescentar um pino à barra externa, formando um quadrado que incrementou a estabilização. Nesse momento o paciente já sentava e andava sem grandes dificuldades (Figuras 3 e 4). Oito dias após a cirurgia os pontos foram removidos, a antibioticoterapia suspensa e, como o animal não necessitava mais de laxantes para defecar, a administração destes foi interrompida. O proprietário relatou que o animal já subia as escadas da casa sem apresentar dor ou desconforto. No retorno após 35 dias da cirurgia, o animal não manifestava dor na extensão e na flexão da articulação coxofemoral de ambos os membros, mas apresentava leve assimetria das massas musculares do membro pélvico esquerdo. No exame radiográfico realizado foi possível visualizar formação de calo ósseo e quebra do implante mais caudal da hemipelve esquerda, no ponto de transição da parte rosqueada para a não rosqueada, o que fez com que se procedesse à remoção dos implantes que constituíam a estrutura de fixação externa. A seguir foi instituído um programa fisioterápico com atividades passivas e movimentação ativa em piscina, além de nutracêuticos l (glicosaminoglicanos e sulfato de condroitina A) por 60 dias e analgésicos por mais cinco dias depois da retirada dos implantes.

Figura 4 - Imagem radiográfica realizada após o acréscimo de um pino à barra externa, formando um quadrado, incrementado a estabilização e mostrando a manutenção pós-cirúrgica do alinhamento ósseo e do canal pélvico

para a estabilização de fraturas acetabulares, utilizando parafusos interligados com fio de aço em forma de oito passado em torno das cabeças sobressalentes dos parafusos, e fixação destes com PMMC em substituição à placa de reconstrução. Em decorrência do grau de fragmentação e da localização das linhas de fratura (próximas ao acetábulo), decidiu-se pela utilização complementar dos pinos de Schantz, fixados aos fragmentos ósseos e conectados externamente com PMMC para auxiliar a estabilização anterior (Figura 2), técnica já descrita 19 para a fixação isolada de fraturas pélvicas pouco complexas. Com o tratamento cirúrgico aqui implementado foi possível manter a adequada largura do canal pélvico e o alinhamento quase anatômico dos ossos, evitando uma possível hemipelvectomia posterior, como descrito 20 para casos de estenose do canal. Após quatro dias o animal já andava e sentava sem apresentar dificuldades, evidenciando a eficiência e a estabilidade oferecida pelo método de fixação combinado, sem que os pinos gerassem complicações ou incômodo ao paciente. O repouso em gaiola no período pós-operatório ajudou a evitar a possibilidade de sobrecarga nos implantes, o que contribuiu para o sucesso do tratamento ortopédico instituído e a cicatrização apropriada das fraturas, evidenciados no exame radiográfico realizado 35 dias após o procedimento cirúrgico. A atrofia observada no membro pélvico esquerdo está possivelmente associada à atrofia por desuso induzida

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Considerações finais O tratamento cirúrgico precoce e a técnica de fixação de fratura pélvica bilateral cominutiva, que combinou a utilização de fixador externo com parafusos, cerclagem em banda de tensão e PMMC, possibilitaram rápido retorno da deambulação, sem complicações importantes e com a manutenção do adequado diâmetro pélvico, sugerindo ser esta técnica apropriada para o tratamento de fraturas pélvicas complexas em cães. Referências 01-NEWTON, C. D. Fractures of the pelvis. In: NEWTON, C. D. ; NUNAMAKER, D. M. Textbook of small animal orthopedics.

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pelo repouso, além da fratura do implante nesse lado, sendo a área de transição das partes rosqueada e não rosqueada mais susceptíveis às fraturas 4. O animal voltou a ganhar massa muscular após a remoção dos implantes e a realização de fisioterapia, reforçando essa afirmação (Figura 5). O emprego de nutracêuticos (glicosaminoglicanos e sulfato de condroitina A) ajuda no tratamento e prevenção da osteoartrite 21 que pode evoluir a partir de fraturas acetabulares 4, e foi mantido durante 60 dias. A necessidade de cuidados maiores com o fixador externo, como limpezas diárias dos pontos de emergência dos pinos, e para evitar autotraumatismo, pode ser apontada como desvantagem desse método. Entretanto, as vantagens por ele apresentadas – simplicidade e versatilidade da técnica, recuperação funcional precoce, satisfação do proprietário com a rápida evolução clinica do animal, cicatrização óssea apropriada e posterior remoção do fixador, diminuindo o número de implantes – justificam o seu uso em casos de fraturas pélvicas complexas em cães.

Figura 5 - Imagem fotográfica realizada 45 dias após a remoção dos pinos externos, com completa recuperação funcional Philadelphia; Lipencott, 1985, p. 393-402. 02-OLMSTEAD, M. L. Fractures of the bones of the hind limb. In: OLMSTEAD, M. L. Small animal orthopedics, St. Louis: Mosby, 1995, p. 219-228. 03-OLMSTEAD, M. L. ; MATIS, U. Fractures of the pelvis. In: BRINKER, W. O. ; OLMSTEAD, M. L. ; SUMNER-SMITH, G. ; PRIEUR, W. D. Manual of internal fixation in small animal. Berlin: Springer, 1998, p. 148-154. 04-PIERMATTEI, D. L. ; FLO, G. L. ; DECAMP, C. E. Fractures of the pelvis. In: Small animal orthopedics and fracture repair. 4. ed, St Louis: Saunders, 2006, p. 433-460. 05-OLMSTEAD, M. L. The pelvis and sacroiliac joint. In: COUGHLAN, A. ; MILLER, A. Manual of small animal fracture repair and management, Hampshire: BSAVA, 1998, p. 217-228. 06-BONATH, K. H. ; PRIEUR, W. D. Kleintierkrankheiten: orthopädische chirurgie und traumatologie. Stuttgart: Ulmer, 1998, p. 576-588. 07-JOHNSON, A. L. ; HULSE, D. A. Ilial, ischial, and pubic fractures In: FOSSUM, T. W. Small animal surgery, 2. ed, St. Louis: Mosby, 2003, p. 1093-1101. 08-TOMLINSON, J. L. Fractures of the pelvis. In: SLATTER, D. H. Text book of small animal surgery. 3. ed, Philadelphia: Saunders, 2003, p. 1989-2001. 09-NEWTON, C. D. ; Fracture Repaire. In: LIPOWITZ, A. L. ; CAYWOOD, D. D. ; NEWTON, C. D. ; SCHWARTZ, A. Complications in small animal surgery. Philadelphia: Williams&Wilkins. 1996, p. 563-597. 10-ROEHSIG, C. ; TUDURY, E. A. ; ROCHA, L. B. ;

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Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008



Renato Moraes Sarmento

Tumor maligno de bainha nervosa em papagaioverdadeiro (Amazona aestiva) - relato de caso

Médico veterinário, especialista bolostro@gmail.com

Adrien Wilhelm Dilger Sanches

MV, mestre. prof. adj. Setor de Patologia Animal HV/UNIPAR-Umuarama jabotrix@unipar.br

José Ricardo Pachaly

MV, mestre, dr. prof. tit. Setor de Medicina de Animais Selvagens HV/UNIPAR-Umuarama

Peripheral nerve sheath tumor in a bluefronted amazon parrot (Amazona aestiva) case report

pachaly@uol.com.br

Tumor maligno de vaina nerviosa en loro hablador (Amazona aestiva) relato de caso Resumo: O tumor maligno de bainha nervosa é um neoplasma raro, com poucos relatos em medicina veterinária, especialmente em aves. Este artigo apresenta um caso de tumor maligno de bainha nervosa em papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Realizou-se exérese da massa neoplásica sob anestesia geral dissociativa e acompanhamento da evolução pósoperatória durante 60 dias. O exame histopatológico revelou anisocitose, anisocariose, células gigantes multinucleadas e mitoses aberrantes. As células mesenquimais estavam entremeadas por substância intercelular abundante, conferindo ao tecido aspecto mixóide em algumas áreas (tecido Antoni B). Em outras áreas as células apresentavam-se em feixes sólidos, por vezes em forma curva ou nodular (tecido Antoni A). Os achados microscópicos possibilitaram o diagnóstico definitivo, como primeira ocorrência desse raro neoplasma em uma ave da Família Psittacidae, Ordem Psittaciformes. Unitermos: ave, Psittacidae, neoplasma, neurofibrossarcoma, schwannoma maligno Abstract: The peripheral nerve sheath tumor is a rare type of neoplasia. There are very few reports of this disease in veterinary medicine, and even less in birds. This paper reports the case of a peripheral nerve sheath tumor in a blue-fronted amazon parrot (Amazona aestiva). The neoplastic mass was excised under general dissociative anesthesia and the patient was monitored during 60 days after surgery. The histopathological examination revealed presence of anisocytosis, anisokaryosis, multinucleated giant cells and aberrant mitosis. The mesenchymal cells were interspersed by abundant intercellular substance, giving the tissue a myxoid appearance in some areas (Antoni B tissue), whereas in other areas the cells were gathered in solid bundles, sometimes in curved or nodular form (Antoni A tissue). The microscopic findings enabled the definitive diagnosis of peripheral nerve sheath tumor, to date the first reported occurrence of this rare neoplasia in a psittacine bird (Family Psittacidae, Order Psittaciformes). Keywords: bird, Psittacidae, neoplasia, neurofibrosarcoma, malignant schwannoma Resumen: Se reporta un caso raro de tumor maligno de vaina nerviosa en un loro hablador (Amazona aestiva). Se realizó escisión de la masa tumoral bajo anestesia general disociativa y monitoreo de la evolución post-operatoria por 60 días. El examen histopatológico evidenció anisocitosis, anisocariosis, células gigantes con múltiplos núcleos y mitosis aberrantes. Las células mesenquimales se encontraban intercaladas por sustancia intercelular abundante, dando al tejido un aspecto mixoide en algunas áreas (tejido Antoni B). En otras áreas las células tenían formación en agregados sólidos, por veces en forma curva o nodular (tejido Antoni A). El examen microscópico posibilitó el diagnóstico definitivo de tumor maligno de vaina nerviosa, como la primera ocurrencia de esta rara neoplasia en un ave de la Familia Psittacidae, Orden Psittaciformes. Palabras clave: ave, Psittacidae, neoplasia, neurofibrosarcoma, schwannoma maligno

Clínica Veterinária, n. 74, p. 46-50, 2008

Introdução e revisão da literatura O tumor maligno de bainha nervosa é também chamado de neurofibrossarcoma ou schwannoma maligno. É um tumor neurogênico que pode acometer nervos cranianos, periféricos ou raízes nervosas, originário de células que embainham essas estruturas. 1 Na bainha do nervo são encontrados três tipos celulares – células de Schwann, fibroblastos no epineuro, perineuro e endoneuro, e células perineurais. 2 É opinião preponderante que as células de Schwann 46

constituem a principal fonte desses tumores. Nos nervos periféricos, os ramos sensitivos são mais acometidos que os motores, e os tumores malignos de bainha nervosa são lesões circunscritas, bem encapsuladas e firmes, localizadas excentricamente nos nervos. 1,2,3,4,5,6,7,8 O tumor maligno de bainha nervosa freqüentemente ocorre como uma massa solitária, ao contrário do neurofibroma, que pode ser multilobulado. Os schwannomas são sempre encapsulados, enquanto os neurofibromas são caracterizados por

proliferação difusa. Podem ocorrer intracranialmente ou envolver raízes espinhais. As características patológicas incluem aumento fusiforme do nervo envolvido, e as características histopatológicas incluem células em fuso atípicas em proliferação, com núcleos delgados, serosos e pontiagudos, áreas de hipocelularidade e áreas apresentando espirais organizadas de proliferação fibroblástica. O exame microscópico revela um padrão celular frouxo e desorganizado, com núcleos alongados no meio

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008


de tiras fibrosas. 1,2,3,4,5,6,7,8,9 Na extremidade cefálica extra craniana, a incidência desse neoplasma é rara, o que justifica a escassez de publicações a respeito. 1 Mesmo na literatura internacional, tanto em medicina humana quanto veterinária, verifica-se que poucos são os autores que dispõem de uma casuística maior, e todos são unânimes em afirmar a baixa freqüência desse tumor. 1,3,4,5,6,7,8,9 Em aves, a literatura é ainda mais escassa. Há relato de um caso de neurofibrossarcoma, em conjunto com leiomiossarcoma, observado em galinha (Gallus gallus) com sete semanas de idade, 10 um caso de neurofibrossarcoma na forma multicêntrica em ganso-canadense (Branta canadensis) adulto, 11 e em psitacídeos, no Brasil, um caso de fibrossarcoma em um exemplar de papagaio verdadeiro (Amazona aestiva). 9

Renato Moraes Sarmento

Relato de caso Um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), de sexo indeterminado e com 18 anos de idade, foi atendido na rotina

da Clínica Veterinária Tratadog, na cidade de Americana, interior do Estado de São Paulo. O animal apresentava grande massa, com aproximadamente 3,5cm de diâmetro, na face esquerda (Figuras 1 e 2). Segundo relato do proprietário, o desenvolvimento foi relativamente rápido, pois a massa havia surgido aproximadamente três meses antes da consulta. Inicialmente era uma pequena nodulação sob a pele, que progrediu em termos de volume e se tornou ulcerada. O animal se apresentava apático e inapetente e, ao exame físico, constatou-se acentuada magreza – peso de 0,398kg. À palpação da massa, notou-se que sua consistência era firme e muito aderida, porém o animal não apresentava reações dolorosas. Como primeiro procedimento, após a aplicação de botão anestésico com 0,2mL de cloridrato de lidocaína a a 2%, foi efetuada punção com agulha 40x12, sendo aspirado somente pequeno volume de sangue. O animal permaneceu então internado por 10 dias, sob temperatura controlada e recebendo cuidados de suporte, como hidratação, alimentação forçada à base de queijo petit-suisse, grãos variados e ração comercial para papagaios. A resposta clínica foi positiva, e nesse período o paciente ficou mais ativo e

ganhou peso, chegando a 0,513kg. Uma vez estabilizadas as condições clínicas gerais, optou-se pela exérese da massa, com posterior encaminhamento de fragmento para a realização de exame histopatológico. O procedimento cirúrgico teve início com a indução de anestesia injetável dissociativa, pela associação de cloridrato de xilazina b, cloridrato de cetamina c e sulfato de atropina d, em doses calculadas por meio de extrapolação alométrica interespecífica. 12.13 Usou-se como modelo para os cálculos o cão doméstico de 10kg; a figura 3 indica as doses-modelo e as doses que foram administradas ao paciente, por via intramuscular (musculatura peitoral), após acondicionamento conjunto da associação de drogas em uma mesma seringa. A indução da anestesia ocorreu cinco minutos após a administração da associação de drogas, sendo então as penas da área operatória removidas por arrancamento, com margem de segurança de alguns milímetros (Figuras 4 e 5). A seguir, a pele foi incisada com bisturi elétrico, de forma semi-circular, na base posterior da massa, a qual foi então rebatida rostralmente (Figura 6). Isso possibilitou visualizar o olho esquerdo, que estava sepultado sob a massa, porém ainda íntegro e funcional. Foi efetuada então a excisão plena do

Figura 3 - Protocolo anestésico empregado em papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) para a realização de exérese de massa neoplásica localizada na face. As doses foram calculadas por meio de extrapolação alométrica interespecífica, usando como modelo as indicações para o cão doméstico

Droga Figura 1 - Vista frontal da massa neoplásica localizada na face esquerda de um papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), e posteriormente identificada como tumor maligno de bainha nervosa

Cloridrato de cetamina Cloridrato de xilazina Sulfato de atropina

Dose-modelo, indicada para o cão doméstico de 10kg

Dose calculada para o papagaio de 0,513kg

10mg/kg

23,41mg/kg

2g/kg

4,68mg/kg

0,05mg/kg

0,12mg/kg

Renato Moraes Sarmento

Figura 4 - Vista ventral da massa neoplásica localizada na face esquerda de um papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), após a remoção das penas circunjacentes

Renato Moraes Sarmento

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Figura 2 - Vista lateral esquerda da massa neoplásica localizada na face esquerda de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva)

Figura 5 - Vista lateral esquerda da massa neoplásica localizada na face esquerda de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), após a remoção das penas circunjacentes

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008

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Renato Moraes Sarmento

Figura 7 - Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) em pós-operatório imediato, após a excisão de massa neoplásica localizada na face

Renato Moraes Sarmento

Renato Moraes Sarmento

Figura 6 - Vista lateral esquerda da cabeça de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) após a massa neoplásica localizada na face ser rebatida rostralmente. Observa-se o olho esquerdo, que se encontrava sepultado sob a massa, íntegro

Figura 8 - Visão aproximada da cabeça de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) em pós-operatório imediato, após a excisão de massa neoplásica localizada na face

Renato Moraes Sarmento

Figura 12 - Protocolo medicamentoso empregado em um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) após a realização de exérese de massa neoplásica localizada na face. As doses foram calculadas por meio de extrapolação alométrica interespecífica, usando como modelo as indicações para o cão doméstico

Droga Renato Moraes Sarmento

Flunixin meglumine Enrofloxacina

Figura 13 - Fotomicrografia de tumor maligno de bainha nervosa excisado da face de um papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), mostrando áreas de tecido Antoni A (em azul), com maior celularidade, e Antoni B (em vermelho), com menor celularidade. Em ambas há células mesenquimais de alta relação núcleo/citoplasma, com pleomorfismo distinto. Acima, à esquerda, observa-se um corpúsculo de Verocay (em amarelo) (H.E., 400x)

neoplasma, sendo a hemorragia controlada por meio de cauterização dos vasos nutrizes. A massa removida tinha bordos definidos e era encapsulada (Figuras 6, 7 e 8). 48

Renato Moraes Sarmento

Renato Moraes Sarmento

Figura 9 - Vista lateral esquerda da cabeça de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) após a excisão da massa neoplásica localizada na face, no momento de reposicionamento de retalho de tecido contendo os bordos palpebrais

Figura 10 - Vista lateral esquerda da cabeça de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) após a excisão da massa neoplásica localizada na face no início do processo de sutura

Figura 11 - Vista lateral esquerda da cabeça de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) após finalizado o processo de sutura subseqüente à excisão de massa neoplásica localizada na face

Dose-modelo, indicada para o cão doméstico de 10kg 10mg/kg 1,1mg/kg

Foi então resgatado o retalho cutâneo contendo a comissura palpebral, o qual foi reposicionado sobre o olho (Figura 9), iniciando-se a seguir a sutura de aproximação da tela subcutânea, com fio absorvível de poliglactina e número 4-0, como mostra a figura 10. O procedimento foi finalizado com a sutura da pele, utilizando-se pontos simples isolados com fio mononáilon f cirúrgico número 3-0 (Figuras 7, 8 e 11). Foram administrados antibiótico (enrofloxacina g) e antiinflamatório (flunixin-meglumine h), em doses únicas também calculadas por extrapolação alométrica interespecífica, tendo por base as doses usualmente empregadas para o cão doméstico. A figura 12 indica as doses-modelo e as doses que foram administradas ao paciente pela via intramuscular.

Dose calculada para o papagaio de 0,513kg 23,41mg/kg 2,57mg/kg

A seguir, o paciente foi enrolado em papel e acondicionado em uma caixa térmica, sendo acompanhado até a recuperação anestésica plena, que ocorreu em aproximadamente uma hora, quando finalmente saiu do papel onde estava envolto, empoleirando-se de imediato. A massa neoplásica foi seccionada e fixada em formol a 10% e encaminhada para o Serviço de Patologia do Hospital Veterinário da Universidade Paranaense, a) Lidocaína 2% sem vasoconstritor. Ariston. São Paulo, SP b) Rompun®. Bayer Saúde Animal. São Paulo, SP c) Vetaset, ®. Fort Dodge. Campinas, SP d) Atropina 0,05%. Geyer. Porto Alegre, RS e) Vicril®. Ethicon. São Paulo, SP f) Mononylon®. Ethicon. São Paulo, SP g) Flotril®. Schering-Plough. Cotia, SP h) Banamine®. Schering-Plough. Cotia, SP i) Digluconato de clorexedina 2%, manipulação oficinal j) Bandvet®. Schering-Plough. Cotia, SP

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008



Renato Moraes Sarmento Renato Moraes Sarmento

Figura 14 - Fotomicrografia de tumor maligno de bainha nervosa excisado da face de um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), com área de transição entre os tecidos Antoni A (em amarelo) e Antoni B (em vermelho). Observa-se maior celularidade por células mesenquimais de alta relação núcleo/citoplasma, e pleomorfismo distinto. Destaca-se uma célula gigante multinucleada (em azul) (H.E., 400x)

Renato Moraes Sarmento

Figura 15 - Fotomicrografia de tumor maligno de bainha nervosa excisado da face de um papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), com detalhe do tecido Antoni B. Observam-se células mesenquimais de alta relação núcleo/citoplasma, pleomorfismo distinto e abundante matriz do tipo mixóide, com menor celularidade que no tecido Antoni A (H.E., 400x)

Figura 16 - Fotomicrografia de tumor maligno de bainha nervosa excisado da face de um papagaioverdadeiro (Amazona aestiva), com um corpúsculo de Verocay (em amarelo) ao lado de tecido Antoni B (em azul), observando-se áreas de paralelismo entre os núcleos e citoplasmas das células mesenquimais (H.E., 400x)

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em Umuarama (PR), para a realização de exame histopatológico. O material foi processado rotineiramente, corado com hematoxilina e eosina e examinado sob microscopia óptica. As amostras de pele apresentavam proliferação de células mesenquimais malignas de alta relação núcleo-citoplasma (Figuras 13, 14 e 15), contendo os núcleos de um a três nucléolos. Observou-se presença de anisocitose e anisocariose, havendo ainda células gigantes multinucleadas (Figura 14) e mitoses aberrantes. As células mesenquimais estavam entremeadas por substância intercelular abundante, conferindo ao tecido aspecto mixóide em algumas áreas (Tecido Antoni B, figuras 13, 14 e 15). Tais áreas eram por vezes ladeadas por corpúsculos de Verocay, caracterizados por áreas de paralelismo entre os núcleos e citoplasmas das células mesenquimais (Figuras 13 e 16). Em outras áreas as células apresentavam-se em feixes sólidos, por vezes em forma curva ou nodular (tecido Antoni A, figuras 13 e 14). Também havia presença de edema e neutrófilos ao redor da lesão. Os achados histopatológicos de malignidade estavam de acordo com a descrição macroscópica de invasividade e ulceração. Durante dez dias procederam-se os cuidados pós-operatórios, com curativo local com digluconato de clorexidina i a 2% e pomada de extrato de trigo j. Após esse período, foram removidas as suturas e o animal voltou a se alimentar normalmente, apresentando-se muito ativo, vocalizando e se exercitando. Examinado 60 dias depois do ato cirúrgico, as condições clínicas eram plenamente satisfatórias. Conclusão O exame histopatológico identificou um tumor maligno de bainha nervosa, também chamado de neurofibrossarcoma ou schwannoma maligno. O neoplasma foi removido cirurgicamente, e embora tenha sido observada excelente resposta nos primeiros 60 dias de pós-operatório o paciente está sujeito a recidivas, ocorrência característica dessa neoplasia. 3,5,6,7 Cuidadosa revisão bibliográfica possibilita supor que este seja o primeiro relato de um tumor maligno de

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bainha nervosa em uma ave da Família Psittacidae, Ordem Psittaciformes. Referências 01-ALMEIDA, C. I. R. ; MELLO, R. P. ; MIZUTANI, R. ; FONSECA, N. C. ; DUPRAT, A. C. Schwannoma de nervo facial no ouvido médio - a propósito de um caso. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 55, n. 3, p. 109-112, 1989. 02-ROBBINS, S. ; COTRAN, R. Patologia estrutural e funcional. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1983. 438 p. 03-WORK, W. P. ; HYBELS, R. L. A study of tumors of parapharyngeal space. Laryngoscope, v. 84, n. 10, p. 1748-1755, 1974. 04-LOPES FILHO, O. C. ; CASTRO Jr. , N. P. ; PIALARISSI, P. R. Neurinoma do nervo facial. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v. 43, n. 1, p. 46-52, 1977. 05-VAZQUEZ, V. L. ; LOPES, A. In: LOPES, A. (Ed.). Neurofibromatoses - sarcomas de partes moles. Acta Oncologica Brasileira, v. 18, n. 1, p. 33-37, 1998. 06-NIELSEN, G. P. ; STEMMERRACHAMIMOV, A. O. ; INO, Y. ; Møller, M. B. ; Rosenberg, A. E. ; Louis, D. N. Malignant transformation of neurofibromas in neurofibromatosis 1 is associated with CDKN2A/p16 inactivation. American Journal of Pathology, v. 155, n. 6, p. 18791884, 1999. 07-KORF, B. R. Malignancy in neurofibromatosis type 1. The Oncologist. v. 5, n. 6, p. 477-485, 2000. 08-COLE, P. ; RODU, B. Epidemiology of cancer. In: DeVITA, V. T. ; HELLMAN, S. ; ROSEMBER, S. A. (Eds.). Cancer: principles and practice of oncology. 6. ed. Philadelphia: Lippincott, Williams and Wilkins. p. 228-238, 2001. 09-PACHALY, J. R. ; DeCONTI, J. B. ; ADAMI, S. C. ; WERNER, P. R. Surgical excision of a fibrosarcoma in a blue-fronted amazon parrot (Amazona aestiva). Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, v. 5, n. 2, p. 312, 2002. 10-ANDERSON, W. I. ; McCASKEY, P. C. ; LANGHEINRICH, K. A. ; DREESEN, A. E. Neurofibrosarcoma and leiomyosarcoma in slaughterhouse broilers. Avian Diseases, v. 29, n. 2, p. 521-527, 1985. 11-LOCKE, N. L. Multicentric neurofibrosarcoma in a Canada Goose, Branta canadensis. Avian Diseases, v. 7, n. 2, p. 196202, 1963. 12-PACHALY, J. R. ; BRITO, H. F. V. Interspecific allometric scaling. In: FOWLER, M. E. ; CUBAS, Z. S. (Org.). Biology, medicine, and surgery of South American wild animals. Ames: Iowa State University Press. p. 475-481, 2001. 13-PACHALY, J. R. Terapêutica por extrapolação alométrica. In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. (Eds.). Tratado de animais selvagens - medicina veterinária. São Paulo: Roca. p. 1215-1223, 2006.



Mariana Caetano Teixeira

Aelurostrongylus abstrusus relato de caso em felino

MV, mestranda PPGCV/UFRGS

caetano_teixeira@hotmail.com

Tahisa Faria Velloso MV, esp. mestranda PPGCV/UFRGS

Aelurostrongylus abstrusus case report in a cat

tahisa@cbov.org

Cristina Germani Fialho MV, MSc. doutoranda PPGCV/UFRGS

Aelurostrongylus abstrusus relato de caso en felino

cristina.fialho@gmail.com

Sandra Tietz Marques

Médica veterinária, mestre, dra. sandra.tietz@terra.com.br

Resumo: Relata-se um caso clínico de parasitismo por Aelurostrongylus abstrusus em fêmea felina castrada, sem raça definida, de dois anos de idade, apresentando dispnéia, episódios de tosse seca e engasgos. O diagnóstico parasitológico, realizado pelas técnicas de Baermann, esfregaço direto e Willis-Mollay, detectou grande quantidade de larvas de A. abstrusus. A radiografia de tórax apresentou infiltrados peribrônquicos e padrão intersticial difuso, compatível com pneumonia. O tratamento à base de fenbendazol promoveu redução de 70% e 100% das larvas, redução esta observada nos exames parasitológicos, realizados, respectivamente, três e sete dias após o tratamento. Antibioticoterapia com amoxicilina e ácido clavulânico tratou a pneumonia bacteriana secundária, com diminuição considerável do desconforto respiratório. Unitermos: diagnóstico por imagem, coproparasitológico

Karla Escopelli MV, MSc

kescopelli@gmail.com

Flávio Antônio P. de Araújo

MV, MSc, prof. dr. Lab. Protozoologia, FV/UFRGS

faraujo@via-rs.net

Abstract: Here we report a clinical case of infection by Aelurostrongylus abstrusus in a two-year-old female mixed-breed cat with dyspnea, dry cough and gagging. The parasitological diagnosis by direct smearing and by Baermann's and Willis-Mollay's techniques revealed a large amount of A. abstrusus larvae. The chest radiograph showed peribronchial infiltration and a diffuse interstitial pattern compatible with pneumonia. Fenbendazole therapy caused a 70% and 100% reduction in larval count at three and seven days after treatment, respectively. Amoxicillin and clavulanic acid were used to treat the secondary bacterial pneumonia, with remarkable reduction of respiratory distress. Keywords: imaging diagnosis; coprological test Resumen: Se relata un caso clínico de parasitismo por Aelurostrongylus abstrusus en un felino hembra castrada, sin raza definida, dos años de edad, presentando disnea, episodios de tos seca y atoros. El diagnóstico parasitológico, por las técnicas de Baermann, Frotis Directo y Willis-Mollay, detectó gran cantidad de larvas de A. abstrusus. La radiografía presentó infiltrados peribrónquicos y patrón intersticial difuso, compatible con neumonía. El tratamiento a base de fenbendazol mostró reducción de 70% y 100% de las larvas al examen parasitológico, en tres y siete días pos tratamiento, respectivamente. Antibioticoterapia con amoxicilina y ácido clavulánico trató la neumonía bacteriana secundaria, con disminución considerable de la molestia respiratoria. Palabras clave: diagnóstico por imagen, coproparasitológico

Clínica Veterinária, n. 74, p. 52-54, 2008

Introdução O Aelurostrongylus abstrusus (Railliet, 1898), helminto da família Angiostrongylidae, é um nematódeo do trato respiratório de gatos 1,2. É de distribuição cosmopolita e independente de raça, idade e sexo 3, não sendo considerado zoonose 4. No pulmão, os parasitos adultos, medem ao redor de 14-15mm 5. Em achados macroscópicos, apresentam-se finos e delicados 6. As larvas L1 se caracterizam por apresentar uma estrutura em forma de gancho na extremidade posterior 7,8. O A. abstrusus, cujo ciclo biológico é heteroxeno, tem como hospedeiros intermediários os moluscos do gênero Subulina sp 9 ; e como vetores de transporte, roedores e pássaros. Assim os felinos são susceptíveis à doença em decorrência de seus hábitos alimentares 1,6. 52

As larvas aparecem nas fezes cinco a seis semanas após a infecção 2, podem sobreviver no ambiente por mais de um ano 10, e permanecer nos pulmões por vários anos 6. A aelurostrongilíase se apresenta sob as formas assintomática ou sintomática. Quando sintomática, detecta-se desde uma tosse branda até quadro clínico de angústia respiratória, e morte 1 decorrentes da consolidação pulmonar 5. O quadro sintomatológico deve ser associado também a deficiência imunológica 7. Na auscultação pulmonar identificam-se sibilos e crepitações, também presentes em outras afecções respiratórias como bronquite felina, asma, peritonite infecciosa felina e hérnia diafragmática 10,12 e ocasionalmente podem ocorrer complicações como a pneumonia bacteriana secundária 1,7. Intolerância a exercícios e

perda de peso também podem ser verificados 11. O diagnóstico de aelurostrongilíase é feito pela identificação das larvas do parasito nas fezes de felinos pelas técnicas de Baermann, flutuação em sulfato de zinco a 33%, esfregaço direto e solução hipersaturada com NaCl 11,12. As técnicas de flutuação em sulfato de zinco a 33% e o esfregaço direto são as mais utilizadas quando os felinos estão clinicamente infectados 1,12. Para a identificação do helminto A. abstrusus também pode ser utilizado o lavado transtraqueal 13. O diagnóstico por imagem (Raios X) mostra características de padrão bronquial e intersticial difuso, com densidade nodular mal definida, na porção caudal do pulmão, em decorrência do acúmulo de ovos no parênquima pulmonar 1,7,11. Os anti-helmínticos indicados são:

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Atualmente os felinos são reconhecidos como os melhores animais de companhia, e a população de gatos vem crescendo principalmente em países desenvolvidos como os EUA, a Inglaterra, a Alemanha e a França, onde atinge 8,4 milhões de indivíduos 20. Considerando tais informações e a escassez de relatos clínicos de verminose pulmonar em felinos, o presente trabalho pode fornecer subsídios ao clínico veterinário quando se deparar com essa parasitose. Relato de caso A investigação partiu da suspeita de aelurostrongilíase em uma gata castrada, sem raça definida, de dois anos de idade, pesando três quilos, alimentada com ração comercial e com acesso à rua, domiciliada em Porto Alegre (RS). Os gatos são caçadores natos e, portanto, qualquer animal da espécie que tenha acesso à rua e contato com os hospedeiros intermediários ou paratênicos está exposto ao risco. Ao exame clínico foram verificados dispnéia, taquipnéia, ortopnéia, episódios de tosse seca e engasgos, abdômen ligeiramente abaulado, sem cianose. O animal apresentava fezes amolecidas com coloração acastanhada, melena, normúria e normorexia, e não vomitava. Diante da suspeita de verminose pulmonar, as fezes coletadas foram encaminhadas ao Laboratório de Protozoologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As técnicas

Tahisa Faria Velloso

fenbendazol, ivermectina, selamectina e levamisol. A terapia de eleição é o fenbendazol (50 a 100mg/kg), via oral, a cada 24 horas durante quatro dias, com intervalo de dez dias, repetindo a mesma dosagem por mais quatro dias 3,10. Como alternativa de tratamento antihelmíntico utiliza-se a ivermectina (400µg/kg), via oral ou subcutânea, repetindo após duas semanas 3,10, ou por quinze dias, na mesma dose 12. A selamectina (6mg/kg) via oral é utilizada como terapia profilática 12. Quando a infeccção é grave podem ser utilizados como terapia coadjuvante, antibióticos com ação em vias áreas inferiores, e corticóide para redução da inflamação eosinofílica 1. A prevalência de gatos infectados na Espanha foi de 1,7% (4/231) 14; na Alemanha, de 2,7% (21/771) 15; na Bulgária, de 33,3% (24/58) 4. Em trabalho desenvolvido na América do Norte, a infecção foi detectada pelo método de Baermann em amostras de fezes da maioria dos gatos (90%) 7. Na Austrália, em uma análise realizada pelo método de lavado traqueal em felinos com infecção do trato respiratório inferior, verificou-se índice de 9,52% (2/21) de infecção 16. No Brasil, um estudo realizado no estado de Minas Gerais entre 2000 e 2001 aponta uma freqüência de 18% (9/50) 17 de animais infectados. A parasitose foi diagnosticada por técnicas histológicas e de impressão de tecido pulmonar em necropsias realizadas no Rio Grande do Sul 18 e no Rio de Janeiro 19.

Figura 1 - Larva de Aelurostrongylus abstrusus encontrada em fezes de gata examinada pelo método de Baermann, caracterizada por espinho cuticular ventral, e dorsal (proeminentes) em sua cauda. (Objetiva de 10x)

utilizadas para o diagnóstico parasitológico foram: flutuação com NaCl (Willis-Mollay), Baermann e flutuação em sulfato de zinco a 33%. A paciente foi encaminhada ao Setor de Diagnóstico por Imagem da UFRGS para complementação diagnóstica. Pela técnica de Willis-Mollay, foram detectadas trinta larvas (L1) de A. abstrusus apresentando motilidade por campo (Figura 1). Essas larvas apresentavam estrutura em forma de gancho na extremidade posterior. As técnicas de Baermann e flutuação em sulfato de zinco a 33% também evidenciaram larvas. O diagnóstico por imagem apresentou infiltrados peribrônquicos e padrão

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008

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Discussão e conclusões Embora mantidos sob dieta adequada e nutritiva nos domicílios que habitam os felinos que têm acesso à rua – pela condição de caçadores natos – podem se alimentar de pequenos roedores e/ou pássaros urbanos, que muitas vezes hospedam larvas de A. abstrusus nas carcaças. Além disso, ambientes marcados pela presença de terra e de grama podem albergar moluscos, fonte primária de transmissão do parasito. No caso objeto do presente relato, a anamnese detalhada e cuidadosa foi fundamental para a boa condução terapêutica: sem ela, não se teria aventado a hipótese de aelurostrongilíase como causadora da doença pulmonar. Quando existe a suspeita de aelurostrongilíase, o clínico veterinário deve solicitar exames parasitológicos e de imagem. Nas imagens radiográficas da região do tórax observam-se sinais de broncopneumonia 12, que não comprovam a existência da verminose em si, e que podem ser confundidos com sinais de neoplasia pulmonar, pneumonia fúngica, asma felina e lesões causadas pelos vírus da calicevirose ou rinotraqueíte viral felina 2. A dispnéia pronunciada na sintomatologia clínica de distúrbio pulmonar por parasito pode estar associada à pneumonia bacteriana secundária 10. O prognóstico é satisfatório com a utilização de anti-helmínticos 7,10, porém a infecção de gatos por A. abstrusus pode causar problemas brônquicos crônicos 3, razão pela qual acompanhar a evolução do quadro com o auxílio de exames de fezes para verificar a presença de larvas é tão importante. Após a) Panacur, AKZO Nobel LTDA. Cruzeiro, SP b) Synulox, Laboratório Pfizer Ltda. Guarulhos, SP

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Tahisa Faria Velloso

intersticial difuso, compatível com pneumonia bacteriana ou fúngica (Figura 2.). Foi instituído como tratamento de eleição o fenbendazol a (100mg/kg) 3,10 via oral a cada 24 horas, por quatro dias consecutivos, com espaçamento de dez dias e repetição por mais quatro dias. Como tratamento auxiliar para a pneumonia foi administrada amoxicilina com ácido clavulânico b 125 mg/kg, via oral, em intervalo de doze horas, por um período de quinze dias.

Figura 2 - Imagem radiográfica látero-lateral de gata diagnosticada com aelurostrongilíase apresentando infiltrados peribrônquicos e padrão intersticial difuso

o tratamento, foram realizados exames coproparasitológicos para constatar a ausência dos helmintos. Os resultados desses exames revelaram redução de 70% do número de larvas após o primeiro tratamento, e negativação após a segunda dose de fenbendazol, confirmando a eficiência do tratamento instituído. O paciente foi acompanhado por um período de três meses, a partir do início do tratamento. Exames de fezes e tomadas radiográficas foram realizadas em intervalos de quinze dias durante esse período. Agradecimentos Aos médicos veterinários Daniel Menezes da Rosa e Denise Veiga, do Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pelo diagnóstico radiológico. Referências 01-COLLERAN, E. J. Parasitos respiratórios. In: LAPPIN, M. R. Segredos em medicina interna de felinos: respostas necessárias ao dia-a-dia em rounds, na clínica, em exames orais e escritos. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 71-74. 02-SHAW, D. H. ; IHLE, S. L. Medicina interna de pequenos animais. Artes Médicas Sul Ltda: Porto Alegre, 1999. 03-TILLEY, L. P. ; SMITH, Jr. F. W. K. Consulta veterinária em 5 minutos - espécies canina e felina. Manole: São Paulo, 2003. 04-STOICHEVA, I. ; SHERKOV, S. H. ; HALACHEVA, M. Pathology of cats from a region of Bulgaria with human endemic nephropathy. Journal of Comparative Pathology. v. 1, n. 92, p. 99 -107, 1982. 05-FOREYT, W. J. Parasitologia veterinária manual de referência. 5. ed. Roca: São Paulo, 2005. 06-URQUHART, G. M. ; ARMOUR, J. ; DUNCAN, J. L. ; DUNN, A. M. ; JENNINGS, F. W. Parasitologia veterinária. Guanabara Koogan: São Paulo, 1998. 07-HAWKINS, E. C. Afecções do sistema

respiratório inferior. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. São Paulo: Manole, 1997. p. 11091111. 08-SLOSS, M. W. ZAJAC, A. M. ; KEMP, R. L. Parasitologia clínica veterinária. 6. ed. Manole: São Paulo, 1999. 09-DAEMON, E. ; D'ÁVILA, S. ; DIAS, R. J. P. ; BESSA, E. C. A. Resistência à dessecação em três espécies de moluscos terrestres: aspectos adaptativos e significado para o controle de helmintos. Revista Brasileira de Zoociências, v. 6, n. 1, p. 115-127, 2004. 10-NORSWORTHY, G. D. Vermes pulmonares. In: NORSWORTHY, G. D. ; CRYSTAL, M. A. ; GRACE, S. F. ; TILLEY, L. P. O paciente felino: tópicos essenciais de diagnósticos e tratamento. São Paulo: Manole, 2004. p. 383-385. 11-BONAGURA, J. D. ; SHERDING, R. G. Infecção respiratória. In: BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Manual Saunders - clínica de pequenos animais. São Paulo: Roca, 1998. p. 651-652. 12-GRANDI, G. ; CALVI, L. E. ; VENCO, L. ; PARATICI, C. ; GENCHI, C. ; MEMMI, D. ; KRAMER, L. H. Aelurostrongylus abstrusus (cat lungworm) infection in five cats from Italy. Veterinary Parasitology. v. 134, n. 1-2, p. 177182, 2005. 13-FOSTER, S. F. ; MARTIN, P. ; BRADDOCK, J. A. ; MALIK, R. A retrospective analysis of feline bronchoalveolar lavage cytology and microbiology (1995-2000). Journal of Feline Medicine and Surgery. v. 6, n. 3, p. 189-198, 2004a. 14-MIRÓ, G. ; MONTOYA, A. ; JIMÉNEZ, S. ; FRISUELOS, C. ; MATEO, M. ; FUENTES, I. Prevalence of antibodies to Toxoplasma and intestinal parasites in stray, farm and household cats in Spain. Veterinary Parasitology. v. 126, n. 3, p. 249-255, 2004. 15-BARUTZKI, D. ; SHAPER, R. Endoparasites in dogs and cats in Germany 1999 - 2002. Parasitology Research. v. 90, n. 2, p. 148-150, 2003. 16-FOSTER, S. F. ; MARTIN, P. ; ALLAN, G. S. ; BARRS, V. R. ; MALIK, R. Lower respiratory tract infections in cats: 21 cases (1995 - 2000). Journal of Feline Medicine and Surgery. v. 6, n. 3, p. 167-180, 2004b. 17-MUNDIM, T. C. D. ; OLIVEIRA, Jr. S. D. ; RODRIGUES, D. C. ; CURY, M. C. Freqüência de helmintos em gatos de Uberlândia, Minas Gerais. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v. 56, n. 4, p. 562-563, 2004. 18-SCOFIELD, A. ; MADUREIRA, R. C. ; OLIVEIRA, C. J. F. ; GUEDES, Jr. D. S. ; SOARES, C. O. ; FONSECA, A. H. Diagnóstico pós-morte de Aelurostrongylus abstrusus e caracterização morfométrica de ovos e mórulas por meio de histologia e impressão de tecido. Revista Ciência Rural. v. 35, n. 4, p. 952-955, 2005. 19-FERREIRA, A. M. R. ; SOUZA-DANTAS, L. M. ; LABARTHE, N. Registro de um caso de Aelurostrongylus abstrusus (Railliet, 1898) em um gato doméstico no Rio de Janeiro, RJ. Brazilian Journal of Veterinary Reserch and Animal Science. v. 44, n. 1 , p. 24-26, 2007. 20-ALMEIDA, F. M. Comportamento de gatos domésticos livres em ambiente urbano. Boletim Anclivepa-RJ, Rio de Janeiro, p. 10-12, 2007.

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008





Fabiano Borges Figueiredo

Leishmaniose tegumentar americana em felino doméstico no município do Rio de Janeiro, Brasil relato de caso American tegumentary leishmaniasis in a domestic feline in the city of Rio de Janeiro, Brazil - case report Leishmaniasis tegumentaria americana en un felino doméstico en la ciudad de Rio de Janeiro, Brasil - relato de caso

MV, MSc, doutorando Lab. Pesq. Clínica Dermatozoonoses em Animais Domésticos IPEC/FIOCRUZ fabiano.figueiredo@ipec.fiocruz.br

Sandro Antonio Pereira

MV, MSc, doutorando Lab. Pesq. Clínica Dermatozoonoses em Animais Domésticos IPEC/FIOCRUZ sandroantonio@ipec.fiocruz.br

Isabella Dib Ferreira Gremião

MV, MSc, doutoranda Lab. Pesq. Clínica Dermatozoonoses em Animais Domésticos IPEC/FIOCRUZ dib@ipec.fiocruz.br

Lílian Dias Nascimento

Biomédica, MSc., doutoranda Lab. Vigilância em Leishmanioses IPEC/FIOCRUZ lilian@ipec.fiocruz.br

Maria de Fátima Madeira

Bióloga, DSc., pesquisadora adjunta Lab. Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animas Domésticos IPEC/FIOCRUZ fmadeira@ipec.fiocruz.br

Tânia Maria Pacheco Schubach

Resumo: As leishmanioses são zoonoses que acometem os seres humanos e outras espécies de mamíferos. São causadas por protozoários do gênero Leishmania e transmitidas através da picada de insetos vetores do gênero Phlebotomus. A primeira descrição de leishmaniose felina no mundo data de 1927. Desde então a doença tem sido esporadicamente notificada, tanto na forma cutânea quanto na forma visceral, em diversos países. O presente artigo relata um caso de leishmaniose tegumentar em gato doméstico no município do Rio de Janeiro, com ênfase nos achados parasitológicos, sorológicos, hematológicos, bioquímicos e histopatológicos. Unitermos: Leishmania, gato, diagnóstico

MV, DSc., pesquisadora associada Lab. Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animas Domésticos IPEC/FIOCRUZ schubach@ipec.fiocruz.br

Abstract: Leishmaniasis are zoonoses that affect humans and other mammalian species. They are caused by protozoa of the genus Leishmania, which are transmitted through the bite of sandflies of the genus Phlebotomus. The first case of feline leishmaniasis in the world was reported in 1927. Since then the occurrence of both cutaneous and visceral forms of the disease has been reported sporadically in several countries. The present report describes a case of tegumentary leishmaniasis in a domestic cat in the city of Rio de Janeiro, with emphasis in the parasitological, sorological, hematological, biochemical and histopathological findings. Keywords: Leishmania, cat, diagnosis Resumen: Las leishmaniasis son zoonosis que afectan seres humanos y otras especies de mamíferos. Son causadas por protozoarios del género Leishmania y la transmisión ocurre a través de la mordedura de los insectos del género Phlebotomus. El primer caso de la leishmaniasis felina en el mundo fue descrito en 1927. Desde entonces la enfermedad se ha informado de forma esporádica, en las formas cutánea y visceral en varios países. Se relata en la ciudad de Rio de Janeiro un caso del leishmaniasis tegumentaria en gato doméstico, enfatizando las alteraciones clínicas observadas, así como los resultados de los exámenes parasitológicos, serológicos, hematológicos, bioquímicos e histopatológicos. Palabras clave: Leishmania, gato, diagnóstico

Clínica Veterinária, n. 74, p. 58-60, 2008

Introdução As leishmanioses, zoonoses que acometem o ser humano e outras espécies de mamíferos silvestres e domésticos de forma crônica, apresentam grande diversidade de manifestações clínicas. São causadas por protozoários do gênero Leishmania e transmitidas através da picada de insetos vetores da subfamília Phlebotominae 1,2. A primeira descrição de leishmaniose felina data de 1927 3. Desde então a doença tem sido esporadicamente notificada, em diversas partes do mundo, 58

tanto na forma cutânea quanto na forma visceral 4,5,6. No Brasil, o primeiro diagnóstico dessa doença, em um gato naturalmente infectado no Estado do Pará, foi firmado em 1939 com base na visualização de formas amastigotas ao exame citológico 7. Posteriormente, em Minas Gerais, pesquisadores identificaram, pela reação em cadeia da polimerase (PCR), parasitas do subgênero Viannia como causadores da doença em felinos 8. Dois casos autóctones de leishmaniose felina, nos quais o parasita foi isolado em

cultura e caracterizado como Leishmania (Viannia) braziliensis, foram diagnosticados pela primeira vez no Rio de Janeiro 9. A apresentação clínica das leishmanioses felinas varia de acordo com o parasita envolvido. Na leishmaniose visceral, os sinais clínicos mais freqüentes são: febre, perda de peso, icterícia, vômitos, alopecia recorrente no abdômen e na cabeça, descamação difusa, ulcerações junto a saliências ósseas, edema na borda das orelhas, linfadenopatia e úlcera de córnea 10,11. Na leishmaniose cutânea, as alterações comumente relatadas são: áreas de

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alopecia arredondadas, nódulos e lesões ulceradas principalmente no nariz e nas orelhas, e lesões vegetantes nas regiões interdigital e plantar 5,6,7,8,9,12. Diferentes estudos sugerem que a coinfecção Leishmania spp. e vírus da leucemia felina (FeLV) ou vírus da imunodeficiência felina (FIV) pode favorecer a evolução clínica da leishmaniose 11,13,14,15. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, o diagnóstico diferencial da leishmaniose tegumentar americana (LTA) felina deve ser estabelecido principalmente em relação à esporotricose, doença cujos sinais clínicos mais freqüentes são lesões cutâneas ulceradas, espirros e dispnéia 9,16. O diagnóstico da LTA felina baseiase na apresentação clínica, nas evidências epidemiológicas, na demonstração do parasito e na detecção de anticorpos específicos, mediante testes sorológicos como a imunofluorescência indireta (IFI) e o ensaio imunoenzimático (ELISA) 17. O presente estudo descreve os principais achados clínicos e laboratoriais de um caso de leishmaniose tegumentar felina.

animal estava apático, desidratado, desnutrido, caquético, com nariz e plano nasal edemaciados, mucosas nasais congestas e narinas totalmente obstruídas (Figura 2), mucosas oral e ocular hipocoradas e linfonodos mandibulares infartados. A partir de fragmentos de lesão cutânea foram realizados cultivos parasitológico e micológico, além de exame histopatológico e citopatológico. Para a coleta dos fragmentos o felino foi submetido a sedação com cloridrato de quetamina a 10% (10mg/kg), associado a acepromazina b 1% (0,2mg/kg) por via intramuscular. Após a anestesia local com cloridrato de lidocaína c 2%, anti-sepsia e assepsia, foram realizadas biópsias da borda da lesão com o auxílio de um punch de 3mm. Todos os procedimentos foram aprovados pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA - FIOCRUZ). Na cultura parasitológica 18 foram visualizadas formas promastigotas que, posteriormente, foram caracterizadas como L. (V.) braziliensis. O exame histopatológico revelou formas amastigotas compatíveis com o gênero Leishmania e processo inflamatório granulomatoso. No exame citopatológico não foram observadas formas amastigotas, e no cultivo micológico não houve isolamento de fungos patogênicos. Não foram constatadas alterações significativas nos exames hematológicos e bioquímicos. A pesquisa de anticorpos anti-L. (V.) braziliensis resultou positiva nas técnicas de ELISA e IFI, a última com título 1280. O resultado dos testes de detecção de antígenos de FeLV e anticorpos para FIV (SNAP Combo FeLV Ag/ FIV Ab ") d foi negativo.

Thais Okamoto

Thais Okamoto

Relato de caso A partir de inquérito epidemiológico visando a busca ativa de felinos domésticos na região do Mendanha, zona oeste do município do Rio de Janeiro, foi encontrado caso suspeito de leishmaniose felina. O animal, fêmea sem raça definida e não-castrada, tinha três anos e pesava 2,8kg. Ao exame dermatológico foram observadas duas lesões cutâneas ulceradas, com bordas elevadas e regulares e fundo granulomatoso, localizadas no plano nasal e com diâmetros de 12 e 7mm (Figura 1). No exame físico, verificou-se que o

Figura 1 - Felis catus, SRD, fêmea, três anos, com lesões ulcerativas no plano nasal causadas por L. (V.) braziliensis

Figura 2 - Felis catus, SRD, fêmea, três anos, com narinas totalmente obstruídas devido ao edema causado pela infecção por L. (V.) braziliensis

Discussão As alterações clínicas verificadas no presente relato são semelhantes àquelas descritas na literatura em casos similares, com predomínio do acometimento de mucosas nasais e obstrução das narinas, além de linfadenopatia regional 19. A presença de sinais de desidratação e caquexia pode ser atribuída à obstrução das narinas, que tende a provocar anorexia, como tem sido evidenciado em obstruções nasais de felinos causadas por diferentes afecções 20. A lesão no plano nasal verificada no presente caso já havia sido registrada em relato anterior, no Rio de Janeiro 9. Em contraste, a maioria das descrições de leishmaniose em felinos reporta, predominantemente, lesões tegumentares nas orelhas e nos membros 3,8,21. Com efeito, os achados do presente estudo reforçam a importância do exame clínico minucioso em animais suspeitos de leishmaniose – especialmente em regiões endêmicas –, em virtude da ampla variedade de sintomas nos felinos. Os achados histopatológicos desta investigação corroboram os resultados obtidos em estudo similar em gatos domésticos, que também evidenciou numerosas estruturas intracelulares compatíveis com o gênero Leishmania 11, reforçando a importância desse exame no diagnóstico da afecção em animais de companhia. Entretanto, não foram encontradas formas similares no exame citopatológico, o que difere dos resultados obtidos por outros pesquisadores, que obtiveram êxito na visualização de formas amastigotas do parasito em felinos 8. No Estado do Rio de Janeiro, a esporotricose felina é considerada importante causa de diagnóstico diferencial com a leishmaniose. De vez que o cultivo fúngico de fragmento de lesão cutânea do animal objeto do presente relato não evidenciou o agente etiológico da esporotricose, descartou-se a possibilidade de acometimento por aquela zoonose 9. Na literatura médico-veterinária, não há relatos sobre a detecção de infecção a) Ketamina Agener 10%®. União Química Farmacêutica Nacional S/A. Embu-Guaçu, SP. b) Acepran 1%®. UNIVET S/A - Industria Veterinária. São Paulo, SP. c) Lidovet®. Laboratório Bravet LTDA. Rio de Janeiro, RJ. d) SNAP Combo FeLV Ag / FIV Antibody Test TM, IDEXX Laboratories, Wesbrook, USA. Sander 2004 Comércio em Geral Ltda. São Gonçalo, RJ

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pelo L. (V.) braziliensis em felinos com o auxílio de exames sorológicos. No entanto, foi demonstrado que felinos respondem à infecção por Leishmania sp. produzindo taxas significativas de anticorpos específicos, mensuradas pela técnica de IFI 22. Estudos voltados à investigação da resposta sorológica de felinos expostos à infecção por L. donovani na IFI reportaram títulos iguais ou superiores a 160 10,23, mostrando a validade dos testes sorológicos no diagnóstico da enfermidade em felinos. A coinfecção pelos vírus da FIV e/ou pelo vírus da FeLV tem sido considerada um fator predisponente para a leishmaniose em felinos 14,15,24. Já na presente investigação, não foi detectada presença de anticorpos anti-FIV e antígenos do FeLV contra esses vírus. Resultados semelhantes foram descritos por outros autores 5,10,11,21,25, ratificando que a infecção felina por Leishmania sp. não está obrigatoriamente relacionada a animais soropositivos para FIV e FeLV. Conclusão O presente artigo relata a ocorrência de infecção felina por L. (V.) braziliensis em animal que apresentava manifestações clínicas na região de face, e reforça a necessidade de associar os achados clínico-epidemiológicos com várias técnicas laboratoriais, até para facilitar a eficácia do diagnóstico da enfermidade. Agradecimentos Agradecemos à Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e ao Laboratório Bravet LTDA. O estudo foi apoiado pela FAPERJ e PAPES. T.M.P.S. é pesquisadora do CNPq. Referências 01-DEANE, L. M. ; DEANE, M. P. Visceral leishmaniasis in Brazil: geographical distribution and transmission. Revista Instituto Medicina Tropical de São Paulo, v. 4, p. 198-212, 1962. 02-MARZOCHI, M. C. A. ; MARZOCHI, K. B. F. Tegumentary and visceral leishmaniasis in Brazil: emerging anthropozoonosis and possibilities for their control. Cadernos de Saúde Pública, v. 10, n. 2, p. 359-375, 1994. 03-BONFANTE-GARRIDO, R. ; URDANETA, I. ; URDANETA, R. ; ALVARADO, J. Natural infection of cats with Leishmania in Barquisimeto, Venezuela. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 85, n. 1, p. 53, 1991.

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Belo Horizonte

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Vasculite necrosante e focos hemorrágicos no encéfalo de gato acometido pela peritonite infecciosa dos felinos - relato de caso

Alexandre Gonçalves Teixeira Daniel

Necrotizing vasculitis and hemorrhagic foci in the encephalon of a cat with feline infectious peritonitis - a case report

Audrey Cristina Rosatti de Souza

Vasculitis necrosante y focos hemorrágicos en encéfalo de gato acometido por peritonitis infecciosa felina - relato de caso

dando início ao processo de reação imunológica que resulta na formação de piogranulomas, vasculite, falência de órgãos e morte 6,7,8,9. Anticorpos específicos para o coronavírus entérico felino são encontrados em 80 a 90% dos gatos que vivem em colônias, e em 10 a 50% dos gatos que vivem em residências, sem companhia ou contato com outros animais da espécie 10. Entretanto, somente 5 a 10% dos gatos que vivem em colônias desenvolvem a PIF, e gatos não pertencentes a colônias ou ambientes de risco têm uma incidência menor de desenvolvimento da doença 10. A manifestação neurológica da PIF ocorre em cerca de 1/3 dos gatos acometidos pela doença, e apresenta sintomas como ataxia, convulsões, hiperestesia, hiper-reflexia, propriocepção reduzida, paralisia de cauda, head tilt (cabeça pendente para a direita ou para a esquerda), depressão mental e paralisia, entre outras manifestações neurológicas 9,11,12. A PIF é responsável por cerca de 16% dos casos de desordens do sistema nervoso central dos felinos domésticos 4. Também é predominante entre as doenças medulares em gatos 13. Convulsões provocadas em gatos pela forma neurológica da doença são associadas a extenso quadro de lesões cerebrais, existindo uma pior evolução da doença 14 . As alterações histopatológicas verificadas no sistema nervoso são variáveis, e podem ser difusas, multifocais ou localizadas. As lesões definitivas e características da PIF são caracterizadas por piogranulomas resultantes de processo

Resumo: A peritonite infecciosa dos felinos é uma doença comum e fatal, que pode ocorrer sistemicamente ou em órgãos isolados, sendo a afecção neurológica uma manifestação habitual. Uma fêmea felina, de um ano de idade, foi atendido com quadro de disorexia, paralisia de membros posteriores e hematúria. Os exames laboratoriais e radiográficos do animal não mostraram alterações. Após 20 dias de tratamento suporte, o animal apresentou panuveíte e foi submetido à eutanásia. O exame necroscópico mostrou diversas áreas de vasculite necrótica, malácia e hemorragia em tecido nervoso, com presença de polimorfonucleares, neutrófilos e aneurismas, secundários a severa vasculite necrótica, além de congestão, edema e degeneração neuronal. Embora o quadro histopatológico seja condizente com a peritonite infecciosa dos felinos, a manifestação exacerbada do sistema imune gerando vasculite necrótica e formação de aneurismas mostrou-se incomum. Unitermos: neurologia, coronavírus, patologia Abstract: Feline infectious peritonitis is a common and fatal disease that may occur systemically or in any single organ. Primary neurological disease is a common manifestation. A one-year-old female cat with dysorexia, hind limb paralysis and hematuria was attended. CBC, biochemical and radiographic exams had no alterations. Twenty days after support treatment, the cat presented panuveitis and was euthanized. The necropsy showed several areas of necrotic vasculitis, malacia and hemorrhage in nervous tissue, with polymorphonuclears, neutrophils and aneurysm secondary to severe necrotic vasculitis, as well as congestion, edema and neuronal degeneration. Although the histopathological exam was compatible with feline infectious peritonitis, the intense immune response, which caused vasculitis and aneurysm, was most uncommon. Keywords: neurology, coronavirus, patology Resumen: La peritonitis infecciosa felina es una enfermedad común y fatal. Puede presentarse sistémicamente o en órganos aisladamente y la afección neurológica es la manifestación más común. Un felino hembra, de un año de edad, fue atendido con disorexia, parálisis de miembros posteriores y hematuria. Exámenes de laboratorio y radiografías no evidenciaron alteraciones. Luego de 20 días de tratamiento, el animal presentó panuveítis y fue eutanasiado. La necropsia mostró diversas áreas de vasculitis necrosante, malacia y hemorragia en tejido nervioso, con presencia de polimorfonucleares, neutrófilos y aneurismas, secundarios a una severa vasculitis necrosante, además de congestión, edema y degeneración neuronal. Aunque el cuadro histopatológico sea concordante con la peritonitis infecciosa, la manifestación exacerbada del sistema inmune, generando vasculitis necrosante y formación de aneurismas, son poco comunes. Palabras clave: neurología, coronavíru, patología

Clínica Veterinária, n. 74, p. 62-66, 2008

Introdução As causas de manifestações neurológicas em gatos são bem documentadas na literatura médico-veterinária 1,2,3 e podem ser incitadas por diversos fatores, dentre os quais se incluem, principalmente, as alterações congênitas, degenerativas, inflamatórias/infecciosas e neoplásicas 4. A peritonite infecciosa dos felinos (PIF) é uma doença imunomediada progressiva 62

com desenvolvimento de reação do tipo Arthus (hipersensibilidade tipo III), que acomete predominantemente gatos que vivem em colônias 5. É causada por uma variante mutante do coronavírus entérico felino (FCoV) que tem predileção pelos macrófagos, através dos quais adentra o sistema imune dos animais e, aí instalada, espalha intracelularmente a infecção. Portanto, os macrófagos infectados disseminam sistemicamente o vírus,

Médico veterinário autônomo alegtd@yahoo.com.br

Archivaldo Reche Junior

MV, prof. dr. Depto. Clínica Médica FMVZ/USP valdorec@usp.br

Paulo César Maiorka

MV, prof. dr. Depto. Patologia FMVZ/USP

maiorka@usp.br

Médica veterinária autônoma audreycrs@ig.com.br

Clínica Veterinária, Ano XIII, n. 74, maio/junho, 2008


imunomediado não totalmente compreendido 14,15. O mecanismo de entrada do vírus no sistema nervoso central é desconhecido 15. Provavelmente, esta entrada ocorre através dos macrófagos infectados pelo vírus da PIF (VPIF), e há evidências imuno-histoquímicas da existência do VPIF em macrófagos de vasos sangüíneos do plexo coróide de gatos infectados 15. Após o estabelecimento do vírus no sistema nervoso central, os mecanismos imunomediados envolvem a imunidade humoral e celular. Os macrófagos infectados pelo VPIF desencadeiam a ativação massiva do sistema complemento, com deposição de C3 e fibrinogênio nas superfícies acometidas, gerando coagulopatia intravascular, necrose vascular e efusão 15. A deposição de imunocomplexos nos vasos sangüíneos desencadeia um agressivo processo piogranulomatoso imunomediado, com grande envolvimento dos macrófagos no processo, caracterizado como vasculite 14,15. Os macrófagos aderem-se à parede dos vasos, liberando substâncias quimiotáticas como o fator de necrose tumoral (TNF-_) e a interleucina-1`, e atraem outros macrófagos ao sítio, ativando as células endoteliais e promovendo destruição da lâmina vascular basal, o que promove o início do processo de formação dos granulomas 16. Sendo assim, após o início da vasculite, existe a perpetuação do processo por estimulação autócrina e parácrina macrofágica 16. Este tipo de reação inflamatória, gerada pelo VPIF, é restrita a vasos de pequeno e médio calibres, principalmente em leptomeninge, além de sítios extraneurológicos, como os rins, os olhos e, menos freqüentemente, os pulmões e o fígado 16. Em pequenos vasos, a vasculite caracteriza-se por infiltrados circulares venosos e perivenosos, predominantemente compostos por macrófagos e linfócitos, além de plasmócitos e neutrófilos 14,16. Em vasos de médio calibre, o infiltrado costuma ser focal 16. O processo inflamatório da PIF é restrito principalmente a veias, especialmente em órgãos como o cérebro. Uma possível explicação para esse fato é que as células endoteliais venosas induzem maior adesão leucocitária que o endotélio arterial. Além disso, nesses sítios, particularmente naqueles localizados no encéfalo,

o índice de ligação dos leucócitos é baixo, embora a resposta à adesão ativada pelo TNF-_ e pelo inferferon-a (INF-a) seja bastante aumentada 16. O fato de os neutrófilos não expressarem receptores VLA-4 e `-integrina (mediadores da regulação e da interação entre o TNF-_ e o INF-a com leucócitos) pode explicar a restrição e a baixa quantidade desse tipo de célula nos infiltrados inflamatórios característicos da PIF 16. Na vasculite observada na PIF, parece existir um alto grau de viremia associado a monócitos, encontrando-se macrófagos perivasculares ativados e infectados pelo VPIF, que é considerado o desencadeador central da moléstia 16. Os granulomas mais comumente observados no parênquima cerebral permitem a identificação de extensas áreas necróticas, circundadas por células inflamatórias compostas, quase na sua totalidade, por macrófagos com variável expressão viral. Também se visualizam alguns neutrófilos, linfócitos B e plasmócitos, alguns positivos para anticorpos específicos para o coronavírus. Poucos linfócitos T são encontrados nesses granulomas 17. Macroscopicamente, tais lesões são caracterizadas por opacificação das meninges, dilatação ventricular, lesões em superfície ventral cerebral (freqüentemente acompanhadas de hidrocefalia obstrutiva secundária) e hemorragia 3,9. As lesões histológicas observadas no sistema nervoso central são a meningite, a ependimite, a periventriculite e a coroidite na área posterior do tronco cerebral e no quarto ventrículo 9,14,15. A meningite pode ser mais severa nas regiões ventrocaudais do cérebro, especialmente na base do cerebelo e no tronco cerebral. Nas meninges, o infiltrado inflamatório tem distribuição predominantemente perivascular, formando manguitos perivasculares em vênulas, o que caracteriza o processo como flebite. Existe exsudação de fluido rico em proteínas e astrocitose reativa periventricular 9,14. A inflamação pode se estender até a superfície do neurópilo, assim como às raízes dos nervos cranianos 9,15. Quando as lesões são muito profundas, podemse observar cicatrizes gliais nodulares com infiltrado perivascular 15. Outras alterações também descritas são: degeneração de estruturas parenquimatosas (principalmente substância branca),

arterite necrosante, trombose e hemorragia 14. Quando os infiltrados perivasculares estão presentes, freqüentemente são encontradas alterações em outros órgãos, como rins, fígado e linfonodos mesentéricos 4. Alterações em exames de imagem são encontradas apenas na ressonância magnética, que pode acusar aumento de contraste periventricular, dilatação ventricular e hidrocefalia 9. O diagnóstico ante mortem da PIF neurológica pode ser difícil. Títulos sorológicos e RT-PCR não diferenciam a infecção pelo vírus da PIF daquela provocada pelo FCoV, assim como a sorologia e o PCR liquóricos. Até o momento, não existem exames capazes de detectar os genes mutados ou as proteínas alteradas, passíveis de uso como provas diagnósticas. Isso ocorre porque ambos os vírus são antigenicamente indistingüíveis, podendo o animal ter forte reação positiva sorológica e PCR positivo para o FCoV, embora não necessariamente esteja acometido pela PIF 5,18,19. Além do aspecto único da vasculite induzida pelo VPIF, a imuno-histoquímica positiva de macrófagos lesionais é considerada o teste diagnóstico mais confiável para a PIF. Considerando que somente os FCoV mutados se replicam em monócitos, esse teste é considerado de grande significância diagnóstica 19. As informações mais importantes no diagnóstico da PIF não são as laboratoriais, e sim o histórico. Muitos gatos, com idade entre seis meses e três anos e provenientes de colônias ou abrigos, apresentam quadro de febre que não cede ao uso de antibióticos, e manifestações clínicas específicas dependentes da forma da doença e localização da lesão. A segunda informação relevante acerca da característica da efusão (quando presente), são achados como leucocitose com neutrofilia e linfopenia, hiperglobulinemia, anemia não regenerativa (doença crônica), hipoalbuminemia e aumento dos níveis de fibrinogênio 4,10,19. A eliminação de outras possíveis causas etiológicas também é parte importante do diagnóstico 4,10. Sendo assim, a única prova diagnóstica definitiva é a detecção de lesões histológicas consistentes à PIF, e a confirmação com o achado de macrófagos positivos para o FCoV no teste de imunofluorescência ou RT-PCR 19.

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Discussão O quadro anatomopatológico observado no caso aqui relatado é condizente com achados anteriormente observados na PIF, no que se refere a vasculite necrótica, malácia, manguitos perivasculares com predominância de macrófagos, ependimite e coroidite 9,15. Entretanto, a manifestação exacerbada do sistema imune nos vasos, que gerou a vasculite necrosante, é pouco comum nos quadros lesionais causados pelo vírus visto que, na maioria dos casos, verificam-se vasculite com predominância de macrófagos, necrose central do piogranuloma, sem necrose com formação de aneurismas nas vênulas acometidas. A região acometida que, na avaliação histopatológica, compreendeu a porção caudal do encéfalo, o mesencéfalo, a ponte e o cerebelo, assim como a coroidite, explicam o quadro de paralisia de membros pélvicos inicialmente, que poderia progredir. O histórico epidemiológico do gato, o ambiente onde vivia, a idade e a forma súbita da manifestação Hemograma Eritrócitos Leucócitos Neutrófilos segmentados Linfócitos Monócitos Hematócrito Plaquetas Reticulócitos Perfil bioquímico Uréia Creatinina Sódio Potássio Proteína total Albumina AST ALT Fosfatase Alcalina GGT Blirrubina total

Figura 2 - Corte histológico do encéfalo, no qual se observa a formação de hematoma decorrente da necrose da parede do vaso e hemorragia (HE, 4x). São Paulo, 2007

reforçam a suspeita de que a paralisia estivesse ligada à manifestação neurológica encontrada em casos de infecção pelo vírus da peritonite infecciosa dos felinos, sendo esta possibilidade diagnóstica diferencial aventada desde o início do quadro, pelo fator epidemiológico associado à inespecificidade da doença, e pela freqüência com que esta acomete o sistema nervoso central 4,9,19. A vasculite, achado histopatológico freqüentemente associado à infecção pelo vírus da PIF, pode ter sido determinante para Paulo César Maiorka

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(Figuras 3 e 4), com malácia e hemorragia, presença de macrófagos espumosos, discreta infiltração de neutrófilos polimorfonucleares, proliferação das células ependimárias e coroidite moderada (Figura 5). Os pontos avermelhados observados no exame macroscópico foram caracterizados como aneurismas secundários a severa vasculite necrótica, principalmente em vênulas, além de congestão e edema moderados e degeneração neuronal.

Paulo César Maiorka

Relato de caso Uma fêmea felina, de um ano de idade, foi atendida no serviço de Pronto Atendimento Médico do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, com quadro de anorexia, hematúria e paralisia de membros posteriores havia cinco dias. O animal fora submetido a intervenção cirúrgica – ovariosalpingo-histerectomia – 10 dias antes do atendimento, e os sintomas tiveram início subitamente, sem histórico de trauma ou lesão medular. O animal vivia com outros oito felinos assintomáticos, todos provenientes de abrigos ou de origem desconhecida. Ao exame físico, o animal apresentava leve desidratação, paralisia de membros pélvicos com diminuição de reflexos patelares e tibiais, ausência de dor profunda e propriocepção negativa, mais evidente em membro posterior esquerdo. A observação dos exames radiográficos não demonstrou alterações em coluna cervical, torácica, lombar e sacral, bem como na região coxofemoral. Nos exames laboratorias, verificou-se hematúria macro e microscópica, e nenhuma alteração em hemograma completo, perfil bioquímico completo (uréia, creatinina, proteínas totais, albumina, ALT, AST, GGT, fosfatase alcalina) (Figura 1). O quadro do animal teve uma evolução desfavorável, com persistência da anorexia, da prostração e da perda de peso, durante 20 dias. No 21º dia, o animal apresentou quadro de panuveíte e, por força disso e do mau estado geral que apresentava, foi submetido à eutanásia. O exame necroscópico revelou o acometimento de diversos órgãos, como pulmão, fígado e rins, e lesões comumente observadas em casos de PIF, tais como piogranulomas em superfície capsular renal e parênquima hepático. Foram realizados cortes seriados do encéfalo, no qual se detectou a presença de dilatação ventricular discreta e pontos avermelhados, com cerca de 0,5cm de diâmetro, localizados na porção posterior do encéfalo, principalmente nas regiões caudal de lobos temporais, caudal do mesencéfalo (Figura 2), e na ponte e no córtex cerebelar. Essas alterações foram interpretadas como focos hemorrágicos. O exame histopatológico do tecido nervoso mostrou diversas áreas de vasculite necrótica nas regiões supracitadas

Figura 3 - Vasculite e necrose de vaso sangüíneo e conseqüente extravasamento de sangue para o interior do neurópilo (HE, 20X)

Valores do animal 5.5 milhões/ L 12.800 células/ L 10.648 células/ L 1.348 células/ L 768 células/ L 25% 500000/ L 0 Valores do animal 50 mg/dL 1,1mg/dL 147 mmol/L 3,5 mmol/L 7,4 g/dL 3,1 g/dL 38 U/L 46 U/L 30 U/L 2,3 U/L 0 mg/dL

Valores de referência 5,5 a 10 milhões/ L 5500 - 16500 células/ L 3000 - 13000 células/ L 1200 - 9000 células/ L 0 - 750 células/ L 25 - 45% 300.000 - 800.000/ L 0 Valores de referência 10 - 40 mg/dL 1,5 - 2 mg/dL 146 - 157 mmol/L 3,5 - 5,0 mmol/L 5,5 - 8,5 g/dL 2,7 - 4,6 g/dL 1 - 40 U/L 30 - 70 U/L 20 - 70 U/L 1 - 5 U/L 0,15 - 0,25 mg/dL

Figura 1 - Valores dos exames laboratoriais de felino acometido pela PIF neurológica

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Paulo César Maiorka Paulo César Maiorka

Figura 4 - Vasculite e necrose de vaso sangüíneo e conseqüente extravasamento de sangue para o interior do neurópilo. Observar o infiltrado inflamatório composto por células polimorfonucleares e mononucleares

Figura 5 - Moderada infiltração de células mono e polimorfonucleadas e congestão no plexo coróide. (HE, 10x)

o aneurisma e a ruptura da parede dos vasos do encéfalo. Em um animal com alta produção de substâncias quimiotáticas e grande adesão macrofágica, associada à alta perpetuação autócrina e parácrina, a exacerbada reação frente à lâmina própria basal das vênulas pode gerar necrose de endotélio e ruptura das mesmas vênulas, promovendo a formação da vasculite necrosante, e mesmo de focos hemorrágicos no encéfalo, como relatado anteriormente 14, manifestação esta pouco observada. Reações súbitas de estresse, como o procedimento cirúrgico ao qual o animal foi submetido, podem desencadear o desfecho da sintomatologia frente a um sistema imune parcialmente debilitado. Embora estivesse clinicamente saudável, em virtude do ambiente que habitava e de diversos fatores estressores e epidemiológicos, possivelmente o animal estava parcialmente imunossuprimido, o que o tornou mais susceptível à doença. Frente à alteração histopatológica não usual do quadro, ou pouco descrita na literatura 3,14, o caso se mostrou incomum na óptica dos autores, merecendo o presente relato, assim como a sugestão de realização do exame acurado de cortes seriados de encéfalo de felinos portadores 66

de sintomatologia neurológica, de forma a possibilitar a melhor descrição e compreensão dos eventos patofisiológicos relacionados ao surgimento da manifestação clínica de distúrbios neurológicos. Também se sugere que, em casos de síndromes neurológicas em felinos, a peritonite infecciosa felina esteja entre os principais diagnósticos diferenciais, levando em conta outros fatores como a epidemiologia, as alterações laboratoriais e a eliminação de demais causas predisponentes. Conclusão Considerando a literatura revisada e o presente caso, tem-se que a peritonite infecciosa dos felinos é um importante diferencial entre as principais causas de doença neurológica em felinos domésticos, sendo importante a investigação da mesma com exames complementares em animais acometidos, e estando atento ao histórico e à procedência do animal. Ressalta-se também a importância do exame histopatológico, tanto para a confirmação da doença, como de outras manifestações neurológicas de forma geral, visando estabelecer o correto diagnóstico e, com isso, descartar ou confirmar possíveis causas zoonóticas ou de grande potencial infeccioso. O perfeito conhecimento e descrição de quadros pouco relatados se faz necessário para a melhor compreensão da fisiopatologia e, principalmente, para auxílio no diagnóstico diferencial de outras formas de encefalite. Referências 01-HOPKINS, A. Feline neurology - Part 1: Intracranial disorders. In Practice, v. 14, p. 59-65, 1992. 02-JUBB, K. V. F. ; HUXTABLE, C. R. The nervous system. In: KENNEDY, P. C. ; JUBB, K. V. F. ; PALMER, N. Pathology of domestic animals, Ed. Academic Press, v. 1, p. 267-439, 1993. 03-SUMMERS, B. A. ; CUMMINGS, J. F. ; DeLAHUNTA, A. Viral diseases. In: SUMMERS, B. A. ; CUMMINGS, J. F. ; DELAHUNTA, A. Veterinary Neuropathology, 1. ed. , Mosby, p. 95-119, 1995. 04-BRADSHAW, J. M. ; PEARSON, G. R. ; GRUFFYDD-JONES, T. J. A retrospective study of 286 cases of neurological disorders of the cat. Journal of Comparative Pathology, v. 131, n. 2-3, p. 112-120, 2004. 05-FOLEY, J. E. ; RAND, C. ; LEUTENEGGER, C. Inflammation and changes in cytokine levels in neurological feline infectious peritonitis. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 5, n. 6, p. 313-322, 2003. 06-PEDERSEN, N. C. ; BOYLE, J. F. Immunologic phenomena in the effusive form of feline

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Rinaldo Cavalcante Ferri

Eletrocardiografia em quatis (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) mantidos em cativeiro e contidos quimicamente com quetamina e xilazina

Médico veterinário autônomo, mestre DMV/UFRPE naldoferri@gmail.com

Fabrício Bezerra de Sá MV, prof. dr. - DMFA/UFRPE

crleucas@yahoo.com

Cyro Rego Cabral Jr

Bioestatístico, prof. dr. - FANUT/UFAL

zoocrcj@gmail.com

Simona Teobaldo Sanchez

Electrocardiography in coatis (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) maintained in captivity and restrained chemically with ketamine and xylazine

MV, mestre, dra.

monasanchez@ig.com.br

Taciana Pontes Spinelli Médica veterinári autônoma spinellitaciana@yahoo.com

Electrocardiografía en coatíes (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) mantenidos en cautiverio y contenidos químicamente con cetamina y xilazina Resumo: Este trabalho teve por objetivo avaliar o perfil eletrocardiográfico de 21 quatis (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) mantidos em cativeiro. Para tanto, os animais foram submetidos à contenção química com quetamina e xilazina. As variáveis analisadas foram: freqüência cardíaca (FC), ritmo, eixo elétrico médio (EEM), onda P, complexo QRS, intervalos PR e QT, segmento ST e onda T. Os resultados encontrados foram: FC (157,62±28,22 bpm); onda P (0,058±0,021 mV e 0,03±0,0056 seg); QRS (0,551±0,20 mV e 0,0335±0,0055 seg); PR (0,07±0,0097 seg); e QT (0,165±0,017 seg). O ritmo dominante foi o sinusal (90,48%). O EEM variou de -30˚ a +90˚ sendo que, em 90,48% dos animais, estava dentro do intervalo +60˚ a +90˚. Os valores observados para os quatis foram similares aos de gatos (mensurações e configurações do complexo P-QRS-T) e cães domésticos (EEM). Unitermos: procyonidae, eletrofisiologia, coração, anestesia Abstract: The objective of this work was to evaluate the electrocardiographic profile in 21 coatis (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) kept in captivity. Animals were anesthetized with ketamine and xylazine. The variables analyzed were: heart rate (HR), rhythm, mean electrical axis (MEA), P wave, QRS complex, PR and QT intervals, ST segment and T wave. Results were as follows: FC (157.62±28.22 bpm); P (0.058±0.021 mV and 0.03±0.0056 s); QRS (0.551±0.20 mV and 0.0335±0.0055 s); PR (0.07±0.0097 s); QT (0.165±0.017 s.). Normal sinus rhythm was dominant (90.48%). The MEA varied from -30˚ to +90˚; in 90.48% of the cases it was between +60˚ and +90˚. The values observed in coatis were similar to those of domestic cats (voltage and P-QRS-T complex) and domestic dogs (MEA). Keywords: procyonidae, electrophysiology, heart, anesthesia Resumen: Este trabajo tuvo como objetivo evaluar el perfil electrocardiográfico de 21 coatíes (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) mantenidos en cautiverio y contenidos químicamente utilizando cetamina y xilazina. Las variables analizadas fueron: frecuencia cardiaca (FC), ritmo, eje eléctrico medio (EEM), onda P, complejo QRS, intervalo PR y QT, segmento ST y onda T. Los resultados encontrados fueron: FC (157,62±28,22 bpm); onda P (0,058±0,021 mV y 0,03±0,0056 s); QRS (0,551±0,20 mV y 0,0335±0,0055 s); PR (0,07±0,0097 s); y QT (0,165±0,017 s). El ritmo dominante fue el sinusal normal (90,48%). El EEM varió de -30˚ a +90˚, aunque en 90,48% de los animales estaba en el intervalo de +60˚ a +90˚. Los valores observados para los coatíes fueron similares a los de gato (mensuraciones y configuraciones del complejo P-QRS-T) y de perro domésticos (EEM). Palabras clave: procyonidae, electrofisiología, corazón, anestesia

Introdução A família Procyonidae pertence à ordem carnívora e todos os seus representantes habitam o Novo Mundo, possuindo extensões territoriais que adentram a região neotropical. Está dividida em seis gêneros, com 18 espécies. Na América do Sul encontram-se quatro 68

gêneros (Procyon, Nasua, Potos e Bassaricyon) e quatro a sete espécies 1. Filogeneticamente, a família Procyonidae é considerada um ramo do ancestral da família canídea 2. O quati (Nasua nasua - Linnaeus, 1766) é um procionídeo identificado pelo formato do corpo e pelo focinho

Ilvio Mendes Vidal

Clínica Veterinária, n. 74, p. 68-74, 2008

longo, que se destaca diante de olhos e orelhas pequenos. Mede entre 70 e 120 centímetros e pesa de três a seis quilogramas. Sua dieta, que varia sazonalmente, inclui frutas, insetos, ovos e pequenos vertebrados. É encontrado na América do Sul, desde o leste dos Andes (a partir da Colômbia e da Venezuela), até a Argentina e o Uruguai. No Brasil, é criado como animal de estimação por alguns povos indígenas, enquanto outros o incluem em sua dieta (Figura 1) 1,3,4. Embora seja uma técnica antiga, a eletrocardiografia é de uso recente na medicina veterinária de animais selvagens e os padrões de normalidade e a avaliação das alterações do traçado elétrico associadas às doenças ainda não estão suficientemente elucidados nessas espécies. Assim, a aplicação dos

Figura 1 - Quati (Nasua nasua - Linnaeus, 1766)

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conhecimentos e das interpretações utilizadas para as espécies já estudadas parece ser viável e de importância clínica 5. Cabe ressaltar, ainda, outra particularidade da utilização dessa técnica em animais selvagens, que é a necessidade de estarem sob a condição de contenção química ou mesmo anestesia geral, o que agrega mais um pressuposto à análise dos resultados, de vez que muitos padrões de normalidade devem ser estruturados em função do protocolo de intervenção química utilizado 5. O eletrocardiograma (ECG) é uma técnica sensível e específica para a identificação e a qualificação de arritmias cardíacas. Além da análise do ritmo cardíaco, o ECG também tem outras indicações de utilização na rotina clínica, aí se incluindo a detecção do aumento de câmaras cardíacas, o monitoramento do ritmo durante e após cirurgias e durante contenção química, o auxílio diagnóstico para inúmeros tipos de cardiopatias, distúrbios eletrolíticos, doenças metabólicas, além de efusão pericárdica 6. O exame também pode auxiliar no diagnóstico de afecções não cardíacas. Em uma série de estudos utilizando aves, observaram-se alterações que obedeciam a um padrão, no traçado eletrocardiográfico de animais acometidos por deficiência de niacina, riboflavina, tiamina, vitamina E e potássio, bem como infecções por E. coli 7,8,9,10. Os estudos sobre a fisiologia animal são fundamentais para a conservação e a preservação de espécies selvagens. A literatura sobre animais selvagens brasileiros é ainda escassa nas áreas de fisiologia, patologia e mesmo de semiologia. Assim, há necessidade de maiores estudos que abranjam essas especialidades. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi determinar o perfil eletrocardiográfico dos Nasua nasua mantidos em cativeiro e avaliados sob o protocolo anestésico quetamina e xilazina. Material e métodos As avaliações foram realizadas nas dependências das instituições que seguem: parque dois Irmãos (13 animais), em Recife (PE); zoológico Melo Verçosa (quatro animais), em Vitória de Santo Antão (PE); zoobotânico Arruda

Câmara (quatro animais), em João Pessoa (PB), entre agosto de 2005 e setembro de 2006. Foram utilizados 21 quatis (Nasua nasua) considerados sadios, pesando entre 2 e 9kg, machos e fêmeas, adultos (idade igual ou superior a 12 meses) e mantidos em recintos apropriados, onde recebiam dieta recomendada pelas instituições, geralmente à base de frutas, carne bovina, ração canina e presas vivas, além de água ad libitum. Todos os animais selecionados eram adultos pois, segundo alguns autores 11,12, o crescimento corpóreo influencia as variáveis eletrocardiográficas. A captura e a contenção física dos animais foram realizadas de acordo com a literatura compilada 2, ou seja: a captura dos animais em seus recintos, bem como a contenção física, foram feitas com o auxílio de puçá, garantindo a imobilidade com manobras de giros em torno do eixo deste, restringindo o espaço da sua malha. Em seguida, os animais foram transportados para pesagem e depois para a sala onde se realizou o exame eletrocardiográfico. Em face da necessidade de contenção química para a realização do exame, dado o comportamento agressivo da espécie, todos os animais foram submetidos a jejum alimentar prévio de doze horas. Foi utilizada a associação quetamina a (10,0mg/kg) e xilazina b (2,0mg/kg) aplicada pela via intramuscular, protocolo freqüentemente utilizado para contenção química nos zoológicos 1,2,4,13. Para o exame eletrocardiográfico foi utilizado o aparelho da marca ECAFIX®, modelo ECG-6 c. A técnica do registro e sua análise foram realizadas conforme padronização para cães e gatos 12,14,15,16,17. Os animais anestesiados foram posicionados em decúbito lateral direito, sobre uma mesa coberta por manta de borracha, para evitar interferências elétricas. Tomou-se o cuidado de manter os membros torácicos paralelos entre si e perpendiculares ao maior eixo do corpo. Para registro das derivações dos planos frontais, I, II, III, aVR, aVL e aVF, os eletrodos foram fixados à pele a) Vetanarcol ®. Konig do Brasil. Santana do Parnaíba, SP b) Kensol ®. Konig do Brasil. Santana do Parnaíba, SP c) ECG-6 ®. Ecafix funbec Industria e Comércio Ltda. São Paulo, SP

por meio de clipes tipo “jacaré”, na região do olécrano, nos membros torácicos e da patela, nos membros pélvicos, com a aplicação de álcool 70° nos pontos de fixação. Foram registrados três a quatro complexos P-QRS-T para as seis derivações, onde o traçado foi padronizado para sensibilidade N (1mV = 1cm) e velocidade de 50mm/s, repetindo-se durante um minuto a derivação II à velocidade de 25mm/s. A análise dos registros dos traçados foi sistemática, e avaliou as seguintes variáveis: (1) a freqüência cardíaca (FC), pela multiplicação do número de complexos QRS em três segundos por 20; (2) o ritmo cardíaco, considerando a presença da onda P, sua relação com o complexo QRS, regularidade dos intervalos P-P e R-R, constância do intervalo P-R, além da configuração e uniformidade da onda P e do complexo QRS; (3) o eixo elétrico médio (EEM) calculado no plano frontal, tendo como base a polaridade do complexo QRS nas derivações I, II, III, aVR, aVL e aVF; (4) a amplitude e duração da onda P e do complexo QRS, duração dos intervalos PR e QT, o nivelamento do segmento ST, além da polaridade da onda T e de sua amplitude relativa à onda R. Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística descritiva para obtenção de médias e desvios-padrão. Após terem sido analisados quanto a normalidade e homogeneidade das variâncias dos erros pelos testes de Lilliefors e Cochran, respectivamente, observou-se que os mesmos não estavam de acordo com os pressupostos para a realização de análise de variância paramétrica. Sendo assim, optou-se pela análise não-paramétrica para o cálculo do coeficiente de correlação linear de Spearman (R), onde foram considerados significativos os que apresentaram valores de probabilidade em relação ao erro experimental menores que 5% (p<0,05). Em alguns casos, quando estes valores foram maiores (p≥0,05), adotou-se o conceito de significância biológica 18, num intervalo sugerido pela literatura 19 para tendência significativa, que abrange valores iguais ou maiores a 5%, e iguais ou menores a 15% para a probabilidade do erro aleatório ocorrer (0,05≤p≤0,15).

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Resultados e discussão Os resultados para algumas das variáveis analisadas estatisticamente estão apresentados na figura 2. Os coeficientes de correlação linear Spearman (R) para algumas variáveis de importância clínica estão apresentados na figura 3. Os animais estudados apresentaram peso entre 2 e 9kg, e 14,28% estavam acima do padrão para a espécie. A obesidade é freqüente em quatis mantidos em cativeiro 1,4. O período de indução anestésica variou entre quatro e oito minutos como sugerido na literatura 4. Decorridos dez minutos da aplicação do anestésico, adequada imobilidade, miorrelaxamento e analgesia foram observados, momento considerado ideal para o início do exame eletrocardiográfico, por minimizar os artefatos provocados por tremores e hipertonia muscular. A FC apresentou correlação linear (p<0,05) inversamente proporcional ao

aumento do peso dos animais estudados. Esses resultados corroboram estudo 21 que afirma que a FC está relacionada ao tamanho corporal, à taxa metabólica e ao equilíbrio autonômico. De maneira similar, a FC dos cães de pequeno porte tende a ser mais elevada do que aquela dos cães de grande porte 12,16. O ritmo sinusal (RS) ocorreu em 90,48% dos animais avaliados (Figura 4). Um animal com RS (5,26%) apresentou padrão sugestivo de bloqueio fascicular anterior esquerdo (BFAE) (Figura 5), com desvio do EEM para a esquerda (-30˚) e ondas S profundas, excedendo a onda R, nas derivações II, III e aVF. Essa alteração é comum no gato e menos comum no cão, pois está freqüentemente associada à cardiomiopatia hipertrófica e restritiva felina, causa de hipertrofia ventricular esquerda, hipercalemia e isquemia, além de modificação da posição do coração dentro do tórax 12. O uso combinado de quetamina e xilazina pode ocasionar isquemia

coronariana e hipóxia miocárdica 21, o que, de acordo com a literatura 12, representa uma das causas de BFAE. Entretanto, como não foi possível realizar exames complementares, a causa exata desse achado eletrocardiogáfico isolado não pôde ser elucidada. Dos animais analisados, 9,52% mostraram arritmia sinusal com marcapasso migratório (Figura 6). Esse ritmo pode ocorrer em cães sadios ou cães e gatos com tônus vagal aumentado, decorrente de doenças respiratórias, gastrintestinais e do sistema nervoso central (SNC), além de secundário aos efeitos parassimpatomiméticos de algumas drogas, como a xilazina 12,16,17. O EEM variou de -30˚ a +90˚: um animal (4,76%) apresentou EEM em -30˚, um (4,76%) em +30˚, oito (38,1%) em +60˚, 10 (47,62%) com eixo aproximado entre +60˚ e +90˚, e um (4,76%) em +90˚. Não houve correlação linear entre o EEM e o peso. Observou-se tendência (p = 0,052) inversamente

Figura 2 - Resultados das variáveis peso, FC, amplitude e duração da onda P, duração do intervalo PR, amplitude e duração do complexo QRS, e duração do intervalo QT em relação ao eletrocardiograma convencional em quatis (Nasua nasua) mantidos em cativeiro e contidos quimicamente com quetamina e xilazina

Variável Peso (kg) FC (bpm) P (mV) P (seg.) PR (seg.) QRS (mV) QRS (seg.) QT (seg.)

Média ± desvio-padrão 4,27±1,77 157,62±28,22 0,058±0,021 0,03±0,0056 0,07±0,0097 0,551±0,20 0,0335±0,0055 0,165±0,017

1 Coeficiente de variação

C.V.1 (%) 41,44 17,90 36,70 18,65 13,83 36,47 16,41 10,55

Valor mínimo 2,0 110 0,05 0,02 0,06 0,2 0,025 0,14

Valor máximo 9,0 205 0,125 0,04 0,10 0,9 0,04 0,20

Amplitude total 7,0 95 0,075 0,02 0,04 0,7 0,015 0,06

Figura 3 - Coeficientes de correlação de Spearman (R) para as variáveis peso, FC, EEM, duração do intervalo PR e duração do intervalo QT em relação ao eletrocardiograma convencional, em quatis (Nasua nasua) mantidos em cativeiro e contidos quimicamente com quetamina e xilazina

Peso (kg) FC (bpm) EEM (graus) PR (seg.) QT (seg.)

Peso 1,00 p = 0,0 -0,41* p = 0,035 -0,36 ns p = 0,052 0,33 ns p = 0,070 -0,07 ns p = 0,371

FC 1,00 p = 0,0 n.d. -0,25 ns p = 0,137 -0,52** p = 0,01

ns = não significativo estatisticamente (p < 0,05) ** ou * = significativo estatisticamente (p < 0,01) e (p < 0,05), respectivamente n.d. = não determinado

EEM 1,00 p = 0,0 n.d. n.d.

PR (seg.) 1,00 p = 0,0 n.d.

QT (seg.) 1,00 p = 0,0

Figura 4 - Eletrocardiograma de quati contido quimicamente com quetamina e xilazina, demonstrando ritmo sinusal normal (derivação II, sensibilidade 1mV = 1cm, velocidade 50mm/s). Recife (PE), 2006

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Figura 5 - Eletrocardiograma de quati contido quimicamente com quetamina e xilazina, demonstrando padrão sugestivo de bloqueio fascicular anterior esquerdo, com ondas S maiores que ondas R nas derivações II, III e aVF. O animal apresentou EEM, com desvio à esquerda, igual a -30°. Recife (PE), 2006

proporcional (R = -0,36) para os animais de menor peso apresentarem os maiores valores de EEM. O peso pode estar relacionado à idade dos animais, o que, segundo a literatura 12, poderia explicar essa relação inversamente proporcional, na qual os animais mais

jovens tendem a ter um eixo mais vertical (próximo a +90˚). De qualquer modo, a maioria dos animais ficou com valores de EEM similares aos do cão (+60˚ a +90˚) 12, o que pode representar a faixa normal para a espécie. Deve-se ratificar, em relação a essa variável, que

o que fez um animal apresentar eixo -30º foi um possível BFAE. Houve prolongamento do intervalo PR (0,10 seg.) em um dos animais (Figura 6), que se distanciou da média do grupo. Esse fato pode estar relacionado com a ação parassimpatomimética da xilazina que, segundo alguns autores 22,23,24, pode promover bloqueio atrioventricular (BAV) de primeiro grau. Isso não indica, contudo, que se está diante de um BAV de primeiro grau, pois não há valores de referência para a espécie em animais não anestesiados. Observou-se uma tendência para as correlações lineares entre esse intervalo e o peso (R = 0,33) e a FC (R = -0,25). O intervalo PR maior pode ser decorrente de uma via de condução atrioventricular relativamente mais extensa nos animais maiores do que nos animais menores de uma mesma espécie 25, o que também poderia explicar a ocorrência do intervalo PR acima da média dos animais estudados, dado que foi observado no animal com maior porte e peso. Em cães e gatos, quanto maior a FC menor será o tempo para a condução do impulso do nodo sinoatrial até o final do nodo atrioventricular, ou seja, menor será o intervalo PR 12. Com relação ao segmento ST, apenas um animal apresentou infradesnivelamento (0,1mV) (Figura 7). A depressão desse segmento pode indicar alterações

Figura 6 - Eletrocardiograma de quati contido quimicamente com quetamina e xilazina, demonstrando arritmia sinusal com marcapasso migratório e intervalo PR = 0,10 seg., sugerindo bloqueio atrioventricular de primeiro grau (derivação II, sensibilidade 1mV = 2cm, velocidade 50mm/s). Recife (PE), 2006

Figura 7 - Eletrocardiograma de quati contido quimicamente com quetamina e xilazina, demonstrando ritmo sinusal normal com segmento ST abaixo da linha base do traçado (0,1 mV) e onda T maior que 25% da altura da onda R (derivação II, sensibilidade 1mV = 2cm, velocidade 25mm/s). Recife (PE), 2006

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Figura 8 - Comparação da voltagem, do tempo e da configuração dos complexos QRS do quati, gato e cão (traçados na derivação II, sensibilidade 1mV = 1cm e velocidade 50mm/s). Recife (PE), 2006

eletrolíticas e ácido-básicas do coração, bem como hipóxia regional do miocárdio 26. Em cães, essa alteração só é considerada quando a depressão for maior do que 0,2mV 12. Por outro lado, como os achados aqui são próximos dos valores descritos para o gato doméstico, pode-se discutir esse valor para infradesnível do segmento ST, visto que no gato é anormal qualquer desnível desse segmento 12. A polaridade da onda T foi positiva em 100% dos animais na derivação II, mas 15 quatis (71,43%) apresentaram onda T acima de 25% da altura da onda R

(Figura 7). Em cães, a altura de T não deve exceder a um quarto da altura da onda R na derivação II pois, se isso ocorrer, anormalidades classificadas como primárias ou independentes da despolarização ventricular (hipóxia miocárdica, por exemplo) e secundárias ou dependentes do processo de despolarização (alargamentos ventriculares, por exemplo) podem ocorrer 12. O uso combinado de quetamina e xilazina pode causar elevações na freqüência cardíaca e na pós-carga, aumentando, conseqüentemente, o trabalho cardíaco e o consumo de oxigênio pelo

miocárdio. Ocorre redução do volume de ejeção, que resulta em diminuição do débito cardíaco e, subseqüentemente, da perfusão coronariana, ocasionando hipóxia do miocárdio 21,27. Desse modo, o segmento ST abaixo da linha base do traçado bem como a alta ocorrência da referida anormalidade da onda T poderia ter ocorrido por hipóxia do miocárdio, ocasionada pelo protocolo anestésico utilizado 12,20. O intervalo QT apresentou correlação linear altamente significativa (p<0,01) com a FC (R = -0,52), corroborando a maioria dos autores 11,12,15,17,25,


que relatam uma relação inversamente proporcional entre a sístole elétrica (intervalo QT) e a FC. Não houve correlação linear (R = -0,071) significativa desse intervalo com o peso dos animais (p = 0,371). Os quatis avaliados apresentaram complexos P-QRS-T com voltagens, tempos e configurações na derivação II semelhantes aos parâmetros fixados na literatura para o gato doméstico (Figura 8). As voltagens observadas do QRS foram menores ou iguais a 0,9mV. O intervalo do EEM (vetor do QRS) mais freqüente (90%) variou de +60˚ a +90˚, aproximando-se da média para o cão doméstico 12,16,17. Achados semelhantes foram obtidos em dois trabalhos, um utilizando “raccoons” (Procyon lotor) 25 e outro mãos-peladas (Procyon cancrivorus) 4, animais pertencentes à mesma família do quati.

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Conclusões Com base na metodologia empregada neste estudo pode-se concluir que: em relação às mensurações e à morfologia do complexo P-QRS-T, os quatis apresentam índices semelhantes aos de gatos domésticos; já a orientação do complexo QRS no plano frontal comportouse analogamente à do cão doméstico; o protocolo anestésico foi satisfatório no que tange a imobilidade, miorrelaxamento e analgesia, que possibilitaram a obtenção de registro eletrocardiográfico de boa qualidade para a interpretação; a associação anestésica quetamina e xilazina pode ter influenciado nas alterações encontradas em algumas variáveis como o ritmo, o intervalo PR e a repolarização ventricular (segmento ST e onda T). Tendo em vista os resultados obtidos na presente investigação, é necessário desenvolver estudos adicionais para melhor caracterizar e padronizar eletrocardiograficamente quatis que estejam sob efeitos mínimos de fármacos sedativos ou anestésicos, ou mesmo sob outros protocolos de contenção, com menores interferências cardiovasculares.

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SEJA VEGANO pequenos animais, é diretor da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de São Paulo (Anclivepa-SP) e membro da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), dedicando-se à difusão do veganismo e da proteção animal Wilson Grassi, através de experiências pessoais, mostra, de uma forma descontraída, como ele se tornou vegano, o porquê de ser vegano e o quanto isso é bom para a saúde, para a consciência, para os animais e para o planeta. De leitura fácil, Seja vegano pode ser lido por qualquer pessoa, adulto ou criança. Para incentivar as pessoas a tornarem-se veganas, também incluiu no livro receitas culinárias para que todos possam desfrutar de saborosas refeições que não possuam absolutamente nada de origem animal. Os animais devem ter direitos? Sentem dor? Têm inteligência e sentimentos afetivos? E o mais importante, têm interesses? As respostas são comentadas por Grassi, que além de utilizar ilustrações bem humoradas, inclui

diversas frases de celebridades, como, por exemplo, uma de Pitágoras: “Enquanto o homem continuar a ser o destruidor dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor”. “Muitos ainda não sabem o que significa ser vegano. Aliás, a palavra ainda não consta oficialmente na lígua portuguesa... Os veganos reconhecem que os animais têm direitos. Principalmente, direito à vida e à liberdade. Para serem coerentes com este princípio, os veganos são contra a exploração dos animais, seja para quaisquer fins. Portanto, contra a utilização dos animais como comida, vestuário, diversão, experiências científicas, comércio de animais etc”, explica o autor. Veterinário Wilson Grassi: www.wilsonveterinario.com.br

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Legislação Resolução do CFMV normatiza procedimentos cirúrgicos RESOLUÇÃO N. 877, DE 15 DE FEVEREIRO DE 2008* Dispõe sobre os procedimentos cirúrgicos em animais de produção e em animais silvestres; e cirurgias mutilantes em pequenos animais e dá outras providências. *www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/resoluca_877.pdf

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA – CFMV, no uso das atribuições que lhe são conferidas pela alínea “i” do Artigo 6° e alínea “f” do Artigo 16 da Lei no 5.517, de 23 de outubro de 1968, combinado com os Artigos 2°, 4° e 6° inciso VIII, Artigo 13 inciso XXI e Artigo 25 incisos I, II e III da Resolução n. 722, de 16 de agosto de 2002, considerando a necessidade de disciplinar, uniformizar e normatizar procedimentos cirúrgicos em animais de produção e em animais silvestres; considerando que esses procedimentos cirúrgicos devem ser realizados em condições ambientais aceitáveis, com contenção física, anestesia e analgesia adequadas, e técnica operatória que respeite os princípios do pré, trans e pós-operatório; considerando a necessidade de disciplinar, uniformizar e normatizar cirurgias mutilantes em pequenos animais; considerando que as intervenções cirúrgicas ditas mutilantes, em pequenos animais, têm sido realizadas de forma indiscriminada em todo o País e que muitos procedimentos são danosos e desnecessários, o que fere o bem-estar dos animais; considerando que é obrigação do médico-veterinário preservar e promover o bem-estar animal, RESOLVE: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 1° Instituir, no âmbito do Conselho Federal de Medicina Veterinária, normas regulatórias que balizem a condução de cirurgias em animais de produção e em animais silvestres; e cirurgias mutilantes em pequenos animais. Art. 2º As cirurgias devem ser realizadas, preferencialmente, em locais fechados e de uso adequado para esta finalidade. Art. 3º Todos os procedimentos anestésicos e/ou cirúrgicos devem ser realizados exclusivamente pelo médico 78

veterinário conforme previsto na lei n. 5.517/68. Parágrafo único. Devem ser respeitadas as técnicas de antissepsia nos animais e na equipe cirúrgica, bem como a utilização de material cirúrgico estéril por método químico ou físico. CAPÍTULO II DOS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS EM ANIMAIS DE PRODUÇÃO Art. 4º Não se recomenda o uso exclusivo de contenção mecânica para qualquer procedimento cirúrgico, devendo-se promover anestesia e analgesia adequadas para cada caso (conforme estabelecido no Anexo 1). Art. 5º O escopo desta Resolução abrange as cirurgias realizadas em locais onde não haja condições ideais para garantir um ambiente cirúrgico controlado. §1º Todos os procedimentos devem ser realizados de acordo com o previsto no Anexo 1 desta Resolução, observadas as suas indicações clínicas. §2º São considerados procedimentos proibidos na prática médico- veterinária: castração utilizando anéis de borracha, caudectomia em ruminantes ou qualquer procedimento sem o respeito às normas de antissepsia, profilaxia, anestesia e analgesia previstos no Anexo 1 desta resolução. §3º São considerados procedimentos não recomendáveis na prática médicoveterinária: corte de dentes e caudectomia em suínos neonatos e debicagem em aves. CAPÍTULO III DAS CIRURGIAS EM ANIMAIS SILVESTRES Art. 6° As cirurgias realizadas em animais silvestres devem ser executadas de preferência em salas cirúrgicas ou em ambientes controlados e específicos para este fim, respeitado o disposto nos

Artigos 2º e 3º desta Resolução. Parágrafo único. Fica proibida a realização de cirurgias consideradas mutilantes, tais como: amputação de artelhos e amputação parcial ou total das asas conduzidas, com a finalidade de marcação ou que visem impedir o comportamento natural da espécie. CAPÍTULO IV CIRURGIAS ESTÉTICAS MUTILANTES EM PEQUENOS ANIMAIS Art. 7° Ficam proibidas as cirurgias consideradas desnecessárias ou que possam impedir a capacidade de expressão do comportamento natural da espécie, sendo permitidas apenas as cirurgias que atendam as indicações clínicas. §1° São considerados procedimentos proibidos na prática médico-veterinária: conchectomia e cordectomia em cães e, onicectomia em felinos. §2° A caudectomia é considerada um procedimento cirúrgico não recomendável na prática médico-veterinária.

A conchectomia, comum em algumas raças de cães, como o schnauzer miniatura, fica proibida a partir da publicação da resolução n. 877

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Legislação Caça é proibida no Estado do Rio Grande do Sul Em 2004 as entidades União pela Vida e Movimento Gaúcho de Defesa Animal ingressaram com ações civis públicas contra a caça amadorística. Foram quatro anos de luta, reunindo material para derrubar uma prática de extrema crueldade. O Ministério Público Federal também atuou. Todas as ações foram julgadas procedentes no primeiro grau. Contudo, a ação mais importante, sob o ponto de vista legal, já que atacou a prática da caça amadorística confrontando-a com a Constituição Federal, e requerendo a aplicação da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, foi julgada improcedente no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em recurso apresentado pelo IBAMA e pela FEDERAÇÃO DE CAÇA E TIRO. No entanto, por não ter sido unânime a decisão possibilitou a apresentação de outro recurso, embargos infringentes, que foram elaborados pela JUS BRASIL e pelo Ministério Público Federal, ambos os recursos tiveram êxito, e a caça amadorística está proibida no Rio Grande do Sul - único estado da federação que possuía legislação regulamentando essa atividade. Acreditase que eventuais recursos aos Tribunais Superiores não terão sucesso, diante dos argumentos trazidos aos autos pela entidade autora.

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EMBARGOS INFRINGENTES EM AC Nº 2004.71.00.021481-2/RS EMENTA AMBIENTAL. CAÇA AMADORÍSTICA. EMBARGOS INFRINGENTES EM FACE DE ACÓRDÃO QUE, REFORMANDO A SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA COM VISTAS À VEDAÇÃO DA CAÇA AMADORISTA NO RIO GRANDE DO SUL, DEU PROVIMENTO ÀS APELAÇÕES PARA JULGAR IMPROCEDENTE A ACTIO. PRÁTICA CRUEL EXPRESSAMENTE PROIBIDA PELO INCISO VII DO § 1° DO ART. 225 DA CONSTITUIÇÃO E PELO ART. 11 DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS, PROCLAMADA EM 1978 PELA ASSEMBLÉIA DA UNESCO, A QUAL OFENDE NÃO SÓ I. O SENDO COMUM, QUANDO CONTRASTADO O DIREITO À VIDA ANIMAL COM O DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER DO HOMEM (QUE PODE SER SUPRIDO DE MUITAS OUTRAS FORMAS) E II. OS PRINCÍPIOS DA PREVENÇÃO E DA PRECAUÇÃO, MAS TAMBÉM APRESENTA RISCO CONCRETO DE DANO AO MEIO AMBIENTE, REPRESENTADO PELO POTENCIAL TÓXICO DO CHUMBO, METAL UTILIZADO NA MUNIÇÃO DE CAÇA. PELO PROVIMENTO DOS EMBARGOS

INFRINGENTES, NOS TERMOS DO VOTO DIVERGENTE. Com razão a sentença ao proibir, no condão do art. 225 da Constituição Federal, bem como na exegese constitucional da Lei n.º 5.197/67, a caça amadorista, uma vez carente de finalidade social relevante que lhe legitime e, ainda, ante à suspeita de poluição ambiental resultante de sua prática (irregular emissão de chumbo na biosfera), relatada ao longo dos presentes autos e bem explicitada pelo MPF. Ademais, i. proibição da crueldade contra animais - art. 225, § 1°, VII, da Constituição - e a sua prevalência quando ponderada com o direito fundamental ao lazer, ii. incidência, no caso concreto, do art. 11 da Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 1978 pela Assembléia da UNESCO, o qual dispõe que o ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio, ou seja, um crime contra a vida e iii. necessidade de consagração, in concreto, do princípio da precaução. 3. Por fim, comprovado potencial nocivo do chumbo, metal tóxico encontrado na munição de caça. 4. Embargos infringentes providos.

A íntegra da decisão: www.trf4.gov.br/trf4/processos/visualizar_documento_gedpro.php?local=trf4& documento=2130570&hash=1e5af6f45bbf991939481469e8a46b9a

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!Pesquisa Nova linhagem de bactéria, resistência a medicamentos, pobreza e interação com Aids agravam quadro da tuberculose*

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* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia. fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8722 - por Carlos Fioravanti

ois estudos que mostram quão dramático é o quadro de uma das doenças mais temidas da humanidade, a tuberculose, ganharam o mundo no mês de março. Um deles descreve uma nova linhagem da principal espécie de bactéria causadora de tuberculose, o bacilo Mycobacterium tuberculosis, que apresenta uma perda do genoma uma vez e meia maior que a maior perda já encontrada em qualquer outra das seis espécies do gênero Mycobacterium que causam tuberculose. Mesmo assim sobreviveu, reforçou a capacidade de escapar das células de defesa do organismo e se tornou a responsável por um em cada três casos de tuberculose registrados no Rio de Janeiro. A infecção por essa linhagem, chamada de RD-Rio por ter sido descoberta lá, está associada com emagrecimento mais intenso, mais escarro

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de sangue e mais perfurações no pulmão. O outro trabalho, com laboratórios de nove países, mostra que essa linhagem predomina sobre centenas de outras nos Estados Unidos, na América Central e na África. Este mês deve sair um terceiro artigo mostrando que essa mesma variedade causa um terço da tuberculose registrada também em Belo Horizonte. “Nossa hipótese é que essa linhagem pode passar despercebida e se espalhar mais facilmente por ter perdido parte dos genes que levam à produção de proteínas que a denunciariam ao organismo hospedeiro, mas aparentemente não apresenta mais resistência do que as outras ao tratamento com antibióticos”, diz Luiz Cláudio Lazzarini de Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que voltou ao Brasil no mês passado após três anos na Universidade Cornell, Estados Unidos.

Esses estudos, dos quais ele participou, exibem não só um dos mecanismos pelos quais a bactéria da tuberculose sobrevive e ganha vigor, mas também o desamparo diante de uma doença que, quando não mata logo, torna a vida uma sucessão de angústias e dores regidas pela sombra da morte. O Mycobacterium tuberculosis instala-se nos pulmões de 9 milhões de pessoas a cada ano no mundo e mata um indivíduo a cada 15 segundos.

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Veja também: Uma revisão sobre a tuberculose em cães e gatos Clínica Veterinária, n. 48, p. 54-62, 2004



Interação homem-animal

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Comunicação entre espécies

ciência da comunicação entre espécies tem sido propagada no Brasil pela médica veterinária Sheila Waligora, por meio de cursos, palestras e material informativo que é composto pelos CD’s de audio A Aventura da Comunicação entre Espécies, recém lançados pela Editora Irdin, editados a partir de palestra ministrada em agosto de 2007, do livro Eu falo, Tu falas... Eles falam, que se encontra na 3ª edição, de autoria da própria Sheila Waligora, e do sítio www.comunicacaoentreespecies.com.br. No exterior, um importante propagador do assunto é o biólogo Rupert Sheldrake (www.sheldrake.org), que também é autor de livros, alguns traduzidos para o português, e de artigos científicos sobre o tema. Os cursos de prática de comunicação entre espécies que têm sido ministrados, em diversas regiões do Brasil, por Sheila Waligora visam permitir a abertura dos

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canais de comunicação para acessar a comunicação com outras espécies e receber o que eles comunicam telepaticamente por pensamentos, imagens, impressões e sentimentos. Recomendase a leitura do livro Eu Falo, Tu falas... Eles falam, como preparação para participar do curso. Este livro poderá ser usado depois como manual para treinamento dos exercícios propostos durante o curso.

Sheila Waligora acompanhada do grupo que participou do curso de práticas de comunicação entre espécies realizado em São Lourenço, MG, em março de 2008

A Aventura da Comunicação entre Espécies, CD’s de audio recém lançados pela Editora Irdin, editados a partir de palestra ministrada por Sheila Waligora, em agosto de 2007 A 3ª edição do livro Eu falo, Tu falas... Eles falam - guia para comunicação entre espécies está disponível desde abril de 2008

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Ecologia Animais silvestres como animais de estimação

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Ibama realizou consulta pública, que se encerrou no dia 6 de abril de 2008, para estudar a possibilidade de algumas espécies da fauna silvestre serem criadas e comercializadas com a finalidade de animal de estimação. A ação recebeu cerca de 10 mil e-mails. “A análise da consulta pública vai ser feita baseada nos critérios do Conama [Conselho Nacional do Meio Ambiente]. Serão consideradas apenas as contribuições encaminhadas no sentido de justificar a inclusão ou exclusão de alguma espécie”, informou a coordenadora substituta de Gestão do Uso da Fauna do Ibama, Raquel Sabaine, em entrevista à Agência Brasil. De acordo com Raquel Sabaine, a lista definitiva das espécies que poderão ser criadas como animais de estimação deverá ser publicada em maio deste ano. A seguir, publicamos algumas manifestações sobre o assunto, que merece atenção e discussão.

A fauna silvestre como mercadoria: mais uma vitória do especismo?*

Por Paula Brügger (brugger@ccb.ufsc.br), bióloga, professora do Departamento. de Ecologia e Zoologia

da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ex-membro da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), mestra em educação e doutora em ciências humanas - sociedade e meio ambiente. É autora dos livros "Educação ou adestramento ambiental?", que está na 3ª edição, e "Amigo Animal – reflexões interdisciplinares sobre educação e meio ambiente". Atualmente, coordena o projeto educacional "Amigo Animal".

* Fonte: Pensata Animal, n. 10, ano I, abril 2008 - http://www.sentiens.net/top/PA_TRI_paulabrugger_10_top.html

O Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - disponibilizou para Consulta Pública uma lista com mais de 50 espécies da fauna silvestre nativa que poderão ser criadas e comercializadas como animais de estimação1. Répteis como iguanas e o lagarto-preguiça e uma grande variedade de aves como o tucano, o tico-tico, a graúna, e diversos tipos de psitacídios - como periquitos, araras, caturritas e papagaios poderão compor o novo rol de animais que serão criados e vendidos como “pets”. Na contramão de uma ética biocêntrica:

O primeiro preceito de ordem ética que tal consulta afronta é o fato de os animais não-humanos serem seres vivos sencientes e não coisas. Portanto, jamais poderiam ser “objetos” passíveis de mercantilização. Já não basta termos interferido ao longo de nossa trajetória histórica no planeta – por meio da domesticação - no curso de tantas outras espécies? Mesmo desconsiderando nesta discussão todo o sofrimento imposto aos bilhões de animais criados com a finalidade de serem abatidos para consumo humano (e os conseqüentes impactos ambientais e sociais decorrentes dessa prática), 1 - Conforme determina o Art. 3º da Resolução Conama nº 394 de 6 de novembro de 2007. A Consulta Pública esteve disponível até o dia 6 de abril de 2008 no site do Ibama

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os problemas advindos da domesticação de animais como cães e gatos, sobretudo nos ambientes urbanos, ainda estão longe de ter uma solução. Por que, então, persistir, ampliar e legitimar uma relação com o entorno que tem sido tão problemática? A resposta para essa pergunta jaz, em grande parte, na visão antropocêntrica de mundo que guia nossa cultura. Vemos a natureza como uma grande fábrica, ou seja, como um conjunto de recursos ou meios para se atingir um fim: o de servir aos interesses humanos. E esse ideário está presente inclusive no nome do órgão responsável pela estapafúrdia consulta. Na contramão da prudência ecológica:

O Ibama argumenta que como o Brasil é signatário da “Convenção sobre Diversidade Biológica”, cujo objetivo é - em tese – a conservação da diversidade biológica e a utilização sustentável de seus componentes, tal medida seria importante para prevenir e combater na origem as causas da redução ou perda da diversidade biológica e controlar ou erradicar e impedir que se introduzam espécies exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espécies, entre outras questões. Mas é no mínimo contraditório que um país signatário de tal “Convenção” tenha uma política agrícola baseada na produção de commodities como grãos e carne – cuja produção é responsável pela devastação de uma das

florestas mais ricas em biodiversidade do planeta: a Amazônica. E a própria resolução 394 do CONAMA (que trata da mencionada consulta) reconhece que, para a aprovação da lista, diversas questões deverão ser levadas em conta. Entre elas estão: o potencial de invasão dos ecossistemas fora da área de distribuição geográfica original de tais espécies (incluindo outros países); o potencial de riscos à saúde humana, animal, ou ao equilíbrio das populações naturais; a possibilidade de introdução de agentes biológicos com potencial de causar prejuízos de qualquer natureza; o risco de os espécimes serem abandonados ou de fuga etc. A quem interessa tal lista? Como ficam os interesses dos animais?

Uma vez que há também muitas vozes que se levantam contra tal proposta, é fácil perceber que a criação e comercialização de animais silvestres visam tão somente a atender a satisfação dos desejos hedonistas de alguns seres humanos e criadores que lucrarão às custas do sofrimento dos animais. Tal medida, além de não respeitar o atributo de senciência e de desconsiderar os animais não-humanos como sujeitos de suas vidas (veja os filósofos Peter Singer e Tom Regan), poderá causar danos à biosfera mesmo sob um ponto de vista meramente instrumental, pois não se encontra em consonância com uma visão sistêmica

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de sustentabilidade e tampouco com um “uso sustentável da biodiversidade”, como desejam seus proponentes. Além de excluir a dimensão ética da sustentabilidade (evoca-se apenas a dimensão cultural na forma dos “anseios da sociedade brasileira” – sic-, uma questão de ordem estética, não ética), a medida poderá gerar um sem-número de externalidades que serão pagas por toda a sociedade e inclusive pelas gerações futuras, como os riscos apontados antes e questões mais imediatas como: animais abandonados, atropelados ou estropiados (necessitando de cuidados); a necessidade de intervenções cirúrgicas como castrações etc; os absurdos gastos com fiscalização para saber quais animais são nascidos em criadouro comercial legalmente estabelecido (uma meta cujo sucesso me parece extremamente difícil, além de não justificar sob o ponto de vista ético a comercialização dos animais), etc. Em vez de facilitar e legitimar a produção de tais riscos, o Poder Público deveria investir em projetos de educação e em medidas que visem a proibir a criação e a venda de animais de estimação. E isso seria apenas um começo, pois, a rigor, nenhum animal deveria ser criado e comercializado, para nenhuma finalidade. Um triste cenário?

Caso a consulta pública em questão venha a dar respaldo a tal ato de insensatez poderá haver, em breve, um novo cenário no país no qual o encarceramento de répteis e aves se tornará uma prática corriqueira e legal (sic). Privados de seu bem mais precioso, sua liberdade – e aprisionados em jaulas, fossos, viveiros e gaiolas - espécimes da fauna silvestre serão apenas a sombra do que foram um dia na natureza, independentemente de terem sido criados para isso ou não. Serão mais uma mercadoria nas vitrines de pet shops e outros pontos de venda, produtos prontos para “divertir” os seres humanos. Termino com um trecho da belíssima música “Passaredo” de Chico Buarque e Francis Hime: “Some rolinha; Anda, andorinha; Te esconde, bem-te-vi; Voa, bicudo; Voa, sanhaço; Vai, juriti; Bico calado; Muito cuidado; Que o homem vem aí; O homem vem aí”

A SOS Fauna é uma organização não governamental que trabalha há quase duas décadas lidando diretamente com a problemática do tráfico de animais silvestres no Brasil e, com base em seu conhecimento de campo e vivência direta com a questão, expõem a seguir seu posicionamento perante esta consulta pública: Queremos deixar bastante claro que nossos posicionamentos em relação ao tema serão abordados tanto pelo lado da conservação como também por questões que envolvem ética e consciência em relação à condição de bem estar animal, assim como questões ligadas aos processos educativos. Também queremos expor neste documento que durante anos, inúmeros fatos ocorreram, fatos estes que conduzem a um triste cenário e que justificam nosso posicionamento contrário perante a prática de criação comercial em cativeiro destinada a atender ao mercado de animais de estimação.

pessoas que quer a posse destas aves são do sexo feminino. Mulheres que acham fantástico - por exemplo - ter um papagaio em casa e lhe ensinar a reproduzir uma série de palavras e pequenas frases, além de tratar a ave como se esta fosse um membro de sua própria família, oferecendo-lhe uma diversidade de alimentos consumidos por seres humanos como café, pão, leite, arroz com feijão etc., isso se chama-se antropomorfismo, ou seja, é a tendência para interpretar os hábitos dos animais segundo os hábitos e sentimentos humanos; c) E, por último, temos aqueles que gostam de manter sob seu domínio, mamíferos e répteis, para os quais este ato parece trazer a estas pessoas uma espécie de status social perante os outros que às cercam.

I - UM HÁBITO CULTURAL Desde a época do descobrimento, tornou-se um hábito cultural manter um animal selvagem como bicho de estimação, atualmente podemos dividir as pessoas que querem ter estes animais sob sua posse em três categorias: a) Aquelas pessoas que têm prazer, sentem-se bem, tendo em suas residências pássaros que cantam mesmo que em cativeiro, isso na verdade é um hobby, é algo que faz parte da vida destas pessoas, adoram apreciar o canto de curiós, canários-da-terra, bicudos, picharros, coleirinhas, entre outros. Neste grupo também há aqueles que, com o passar do tempo e utilizando-se de técnicas criadas pelo próprio homem, melhoram e alteram a forma de canto destas aves, como por exemplo, maior tempo de canto, alterações das notas musicais e até mesmo, no caso dos canários-da-terra, estimulando-os à rinha, verdadeiros duelos travados entre dois indivíduos machos da espécie, onde ocorrem apostas entre os “proprietários” das aves e a platéia expectadora, onde muitas vezes um dos combatentes chega a óbito; b) Existem também aqueles que apreciam ter em casa aves da família dos psitacídeos (papagaios, araras, maritacas e periquitos em geral). Nestes casos a maioria das

III - FALHAS GRAVÍSSIMAS NA FISCALIZAÇÃO Apontem quantos criadores comerciais de fauna silvestre foram fiscalizados desde que a criação da Portaria que autorizou a Criação Comercial de Fauna Silvestre (Portaria Ibama 117/97) foi lançada e quantos foram os casos de suspeita de fraudes (bichos “esquentados”) e consequentemente realizados testes de paternidade (DNA). São quase onze anos que esta Portaria está em vigor. Há alguns meses, em uma reunião no Ministério Público do Estado de São Paulo, nos foi informado pela Policia Federal que eles tinham um banco com cerca de trezentas amostras de material genético para teste de paternidade, mas não havia recursos financeiros para a realização dos mesmos. Então fica difícil trabalhar desta forma!

II - GRANDES DIFERENÇAS DE VALORES O que ocorre entre as diferenças de valores atribuídos a animais silvestres de origem legal e ilegal é um fenômeno genérico. Alguns exemplos em relação à lista sugerida pelo IBAMA:

IV - SISPASS Durante o período em que o SISPASS esteve em operação, quantas fraudes não ocorreram em cima do sistema, pessoas tentando burlar de todas as maneiras, anilhas falsas, avalanches de procuradores agindo como representantes de uma série de pessoas que possuíam aves silvestres em casa e alegando a estas - PASMEM que suas aves poderiam ser “registradas!”

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Ecologia Valores de alguns animais silvestres criados em cativeiro e oriundos do tráfico

Valor mínimo do animal vindo de criador comercial ANIMAL REALMENTE NASCIDO EM CATIVEIRO

Nome científico

Nome popular

Passerina brissonii Saltator similis

azulão picharro, trinca-ferro-verdadeiro pintassilgo pássaro-preto papagaio-verdadeiro arara-canindé jandaia-estrela periquito-da-caatinga cardeal curió tucano-toco canário-da-terra coleirinha bigodinho coleiro-baiano

Carduelis magellanica Gnorimopsar chopi Amazona aestiva Ara ararauna Aratinga aurea Aratinga cactorum Paroaria coronata Oryzoborus angolensis Ramphastos toco Sicalis flaveola Sporophila caerulescens Sporophila lineola Sporophila nigricollis

Valor (individual) médio do animal adquirido pelo consumidor final com origem do tráfico

Valor (individual) médio do animal adquirido pelo traficante nas regiões de captura

R$ 250,00

R$ 20,00

R$ 2,00

R$ 400,00

R$ 40,00

R$ 3,00

R$ 200,00 *(1)R$ 200,00 R$ 1.200,00 R$ 1.400,00 R$ 400,00 R$ 400,00 R$ 400,00 R$ 300,00 R$ 1.800,00 R$ 150,00 R$ 200,00 R$ 200,00

R$ 15,00 R$ 20,00 R$ 150,00 *(2)Não há R$ 30,00 R$ 30,00 R$ 40,00 R$ 50,00 Não há R$ 20,00 R$ 10,00 R$ 15,00

R$ 1,00 R$ 2,00 R$ 35,00 *(3)Desconhecido R$ 3,00 R$ 2,00 R$ 5,00 R$ 10,00 *(4)Desconhecido R$ 1,00 R$ 0,50

Os exemplos de valores de animais silvestres de origem legal são os baseados em animais que ainda não tiveram seu canto preparado, como ocorre em muitos casos, são considerados como animais que nasceram em cativeiro e tão logo estivessem se alimentando sozinhos, seriam disponibilizados para venda. Os itens marcados com *(1), *(2), *(3) e *(4) referem-se: *(1): Não há comprovação que a reprodução da espécie Gnorimopsar chopi ocorra com facilidade em cativeiro. Esta espécie é apontada pela comunidade científica como uma ave de manejo reprodutivo em cativeiro ainda desconhecido e muito difícil, no entanto vez ou outra surgem ofertas desta ave para venda, informando que a mesma tem origem legal e documentação necessária. O mesmo acontece com o Icterus jamacaii (corrupião), não citado nesta lista, porém houve épocas em que esta espécie era oferecida como se sua reprodução em cativeiro fosse tão simples quanto a de galinhas. *(2): Há muitos anos não se encontra filhotes de Ara ararauna à venda no mercado ilegal, e também não se tem idéia de preço nas regiões de captura de filhotes. O que teria ocorrido então? Os traficantes ficaram conscientes em relação à esta espécie e decidiram não mais captura-la? Óbvio que não. Na verdade o que pode estar ocorrendo - e não é somente com a Ara ararauna, mas com vários psitacídeos - é a canalização dos mesmos para criadores comerciais mal intencionados, com o propósito de esquentar legalmente a ave, pois é necessário notar que um animal que custaria em uma feira algo em torno de duzentos/trezentos reais, documentado passa a ter um valor não inferior a R$ 1.400,00. Já presenciamos Ara ararauna sendo vendida em um shopping center de São Paulo por R$ 7.500,00. Melhor vender por R$ 7.500,00 do que por R$ 300,00, não é mesmo? *(3): Não temos conhecimento do valor desta arara nas regiões de captura, mas a captura ocorre. Então onde vão parar? *(4): O caso do Ramphastos toco talvez seja o que mais ilustra a estranheza desta lista, pois é de amplo conhecimento que a reprodução desta espécie em cativeiro é algo quase impossível de acontecer. Se houver maneira de realizar uma busca de quantos criadores de tucano-toco existem e quantos filhotes já foram vendidos, seria conveniente realizar teste de paternidade em todos.

V - TERIA A PORTARIA 117/97 TRAZIDO ALGUM BENEFÍCIO PARA NOSSA FAUNA SILVESTRE? No início imaginávamos que esta Portaria estimularia a criação em cativeiro, com isso animais silvestres deixariam de ser capturados na natureza para atender ao comércio ilegal. Contudo não foi isso que aconteceu, havendo grande diferença de preços entre animais oriundos do tráfico e de criadores legais, praticamente de nada resolveu, são dois públicos consumidores distintos, na verdade o que ocorreu foi a estimulação maior ainda do tráfico, muitas pessoas de má fé enxergaram a possibilidade de esquentar animais vindos da natureza e vendendo-os como animais de origem absolutamente legal, valorizando animais 88

do tráfico em 800/900/1000%, um alto negócio, não é mesmo? VI - EDUCAÇÃO E CONSCIÊNCIA O hábito de “criar” animais silvestres em casa - diga-se de passagem que o termo criar é muito estranho, pois o animal silvestre se cria sozinho, não precisa do “auxílio” do homem - data de muitos anos, séculos. Existem pessoas que ficam literalmente doentes quando este seu hobby lhe é ceifado, fato que nos leva a entender que esta prática na verdade é para muitos algo que causa até dependência, uma doença. O fato de classificar isso como uma espécie de dependência, leva ao entendimento que esta fará com que muitas pessoas, hoje e no futuro, se utilizem das

práticas que entenderem necessárias para ter em casa seu animal de estimação, a qualquer custo. Esta dependência, este hábito cultural estranho e sádico, nunca, jamais e em tempo algum permitirá que o tráfico de animais silvestre termine e nem mesmo que ele diminua em todo o território brasileiro. Estamos falando de vida silvestre, de indivíduos que têm função biológica na natureza, em ecossistemas. A permissão da criação de espécies nativas em cativeiro, abre um precedente, que facilita muito a retirada de espécimes da natureza para sua posterior "lavagem" e legalização. Cada indivíduo retirado da natureza torna-se geneticamente morto e não contribui para a formação da próxima geração. Com isso

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ocorre uma redução no número efetivo da espécie, o que pode levar à sua erosão genética, com conseqüências sérias não só para a espécie, mas para todo o ecossistema em questão. É o comprometimento de uma série de espécies que poderão vir a sofrer em função de atos lesivos ao meio ambiente, inclusive a espécie humana. Onde está a racionalidade do homem quando o mesmo destrói conscientemente parte de algo que está ligado diretamente à continuidade de sua existência sobre a Terra? Onde está o processo de educação que damos aos nossos filhos quando lhes mostramos ser algo “bonito” submeter um animal de vida livre ou os seus descendentes ao cárcere? É bonito ensinar a uma criança que passarinho em gaiola é algo legal? VII - COMEÇANDO ERRADO Há um ditado popular que diz que quando algo começa errado, é melhor parar, pois tudo sairá errado. Vejam que até nisso o próprio Ibama errou, trocando os nomes na cópia fiel da lista que está no site do mesmo, como podem observar na outra tabela abaixo. Vejam que na lista do Ibama, o que há mais são psitacídeos, ou melhor, as aves que são as mais fáceis de realizar uma fraude, pois podem ser coletadas da natureza até mesmo com poucos dias de vida, são as que mais tem, isso é um prato cheio para quem quer praticar atos criminosos como esquentar bichos vindos da natureza. Se ocorrer um posicionamento do órgão à partir de agora alegando que a fiscalização irá ocorrer de maneira austera, é difícil acreditar, pois os erros cometidos no passado foram muitos.

www.wspabrasil.org A Sociedade Mundial de Proteção Animal - WSPA vem, por meio desta, manifestar-se em relação à Resolução Conama nº. 394 de 06 de novembro de 2007, que estabelece os critérios para a determinação de espécies silvestres a serem criadas e

VIII - CONCLUSÕES FINAIS Somos absolutamente favoráveis à criação de animais silvestres em cativeiro com a finalidade científica, visando conservação de espécies silvestres da fauna silvestre brasileira, objetivando revigoramentos populacionais de espécies que se encontrem com populações depauperadas, reintrodução de espécies silvestres extintas em determinadas regiões e estudo de comportamento também visando conservação. Jornais, revistas, ou até mesmo com um simples olhar a nossa volta, um simples ouvir - buraco na camada de ozônio, asfixia dos oceanos, furações, enchentes, criadores de gado e madeireiras nacionais e estrangeiras devastando as florestas, turistas e sem terras se instalando em lugares de preservação, traficantes de animais silvestres, calotas polares derretendo, mosquitos levando a morte em sua forma alada, gripe do frango, tubarões mais próximos da costa e tantos e tantos etc's. O ser humano pode criar leis, portarias etc, isso não é problema, afinal o papel existe para isso mesmo. Para ser preenchido. Mas e quanto à eficácia das Leis? Podemos garanti-la? Não. A falta de conscientização associada à vaidade humana cega-nos a tal ponto que estes dois “atributos” passam a ser as únicas leis que verdadeiramente tem eficácia garantida. O resultado? Criamos uma “Constituição” cujos artigos baseiam-se na morte e na destruição. Não somos todos assim, mas sabemos que, apesar da ação de uma minoria surtir os mesmos efeitos de um vazamento nuclear (quem não se lembra do caso da Usina de Chernobyl, 28 de abril de 1986?), comercializadas como animais de estimação. Com base nesses critérios fica o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) responsável pela publicação da lista das espécies que poderão ser criadas e comercializadas como animais de estimação, no prazo de até 7 de maio de 2008. A atividade comercial de animais silvestres em nosso país é legalizada, e inclusive estimulada, desde 1967 por meio da

ainda assim, os mesmos encontram o respaldo de que necessitam para seus atos na vaidade, na cobiça, na miséria humana, na falta de vontade política, na corrupção, na tecnologia (equipamentos de destruição em massa)... O resultado? Uma morte lenta, mas inexorável, de toda forma existente de vida no planeta. Essa legalização da comercialização de animais silvestre é um ato que perpetra e justifica legalmente os atos de depredação do meio ambiente. É a forma enganosa e generosa de livrar-se do problema, “se não podemos vencê-lo, unamo-nos a ele”, de quem menos esperamos... A afronta à garantia Constitucional à vida e à liberdade não deve ser interpretada em stricto sensu, apenas em relação à vida humana, mas lato sensu, pois a vida depende da sobrevivência de cada um, nas suas mais variadas formas. O planeta está morrendo e vai morrer cada vez mais rápido na medida em que tomamos atitudes como essa de liberar a comercialização de animais silvestres, vítimas inocentes, tudo em nome da comodidade, do medo, da falta de vontade, da falta de respeito a si mesmo e ao próximo, seja ele humano ou não. Tudo justificado pela vaidade humana, que sempre se sobrepõe ao bem maior que é a vida. Simplesmente, a vida. Com base em tudo que aqui foi exposto, face aos fatos, entendemos que tornar a criação de animais silvestres legal para atender ao mercado PET é algo absolutamente sem fundamento, ferindo brutalmente a natureza e os princípios da ética, da educação e de tudo que queremos deixar para as presentes e futuras gerações, portanto somos contrários à regulamentação. Lei Federal nº. 5.197, também conhecida como Código de Fauna: “Artigo 3° - É proibido o comércio de espécimes da fauna silvestre e de produtos e objetos que impliquem na sua caça, perseguição, destruição ou apanha. § 1° - Excetuam-se os espécimes provenientes de criadouros devidamente legalizados. Artigo 6º - O Poder Público estimulará: b) a construção de criadouros destinadas à criação de animais silvestres para fins econômicos e industriais.”

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Ecologia Este artigo é regulamentado pela Portaria Ibama 118 de 1997, que em seu artigo 1º resolve: “Art. 1º - Normalizar o funcionamento de criadouros de animais da fauna silvestre brasileira com fins econômicos e industriais.” Pela legislação atual ainda vigente, a resolução e a lista publicadas pelo IBAMA não serão responsáveis pela liberação do comércio de animais silvestres em nosso país, visto que este já é autorizado desde 1967. A resolução pretende colocar critérios na criação, delimitar e restringir o número de espécies a serem criadas levando à regulamentação. O que ocorre atualmente é que a autorização para criação comercial de animais silvestres fica a critério do analista ambiental que estiver analisando o processo. Por falta de regulamentação, existem hoje criadouros comerciais de onças, macacos, tartarugas, dentre outros e, no futuro serão permitidos apenas criadouros comerciais dos animais constantes na lista, que hoje gira em torno de 50 espécies, em sua maioria aves. Levando em conta constatações científicas hoje já bastante desenvolvidas, a Sociedade Mundial de Bem-Estar Animal - WSPA discorda da criação de animais silvestres em cativeiro para a finalidade de animal de companhia por ser fato que a criação de silvestres em cativeiro fere o princípio das cinco liberdades, reconhecido universalmente como uma forma simples de identificar se um animal está ou não em condições de bemestar. O conceito de bem-estar animal é definido a partir do estado físico e psicológico do animal, assim como pelas condições em que vive. Pode-se afirmar que há bem-estar quando o animal está saudável e livre de qualquer sofrimento causado pela intervenção humana. As cinco liberdades são: livres de fome e da sede; livres de desconforto; livres de lesões e doenças; livres de medo e estresse; e livres para manifestar seu comportamento natural. Fica evidente que nenhuma forma de manutenção de aves em cativeiro atende aos princípios acima, haja visto que sequer permitem o vôo ou outra forma de comportamento que evite a atrofia da musculatura peitoral das aves. Tão pouco é respeitada a manutenção das aves em grupos ou em casais que evite o estresse do cativeiro, uma vez que os criadouros são 90

desenvolvidos em função da reprodução comercial, desconsiderando as condições do bem-estar e das necessidades inerentes aos animais criados. Além disso, a criação de animais silvestres para fins de companhia gera grandes riscos à população humana pela transmissão de zoonoses (aves: psitacose, toxoplasmose, salmonelose, aspergilose, histoplasmose; répteis: salmonelose) e pela introdução de espécimes em biomas cuja ocorrência natural não exista. Tendo em vista a grande dificuldade do IBAMA em fiscalizar todas as pessoas que possuem animais silvestres, sejam eles oriundos de criadouros ou não, também haverá um aumento da pressão sobre os animais traficados, pois o custo de retirada de animais da natureza é zero. Não há médicos veterinários capacitados em atendimento de silvestres em quantidade suficiente para suprir a demanda, até mesmo porque o conhecimento sobre a etologia e a fisiologia desses animais ainda é bastante raso. A população igualmente não está preparada para tratar esses animais, pois o que se constata hoje nas residências são animais obesos ou com deficiências nutricionais, doenças metabólicas, atrofiados, presos em espaços minúsculos e isolados de seus bandos. Muitos são forçados a exibir comportamento antropizado e apresentam comportamentos típicos de animais estressados. Outro fator preocupante é o abandono e a já existente superpopulação de algumas espécies que estão na lista. É sabido que o IBAMA recebe diariamente animais por motivos diversos e não há destinação para todos. Com o estímulo da reprodução em criadouros comerciais, e com a reprodução sem controle desses animais após sua venda, este problema tende a se agravar cada vez mais. Portanto, levando-se em consideração a inadequação das espécies silvestres como animais de companhia conforme todas as justificavas expostas acima, a WSPA recomenda o trabalho junto ao legislativo para modificar a lei nº. 5197/67, assegurando que a criação comercial de animais silvestres tenha fim. Acreditamos que por ser de 1967, esta lei não contempla a atual visão sobre os animais, o meio ambiente e a sustentabilidade. Com a promulgação da nova

Constituição Federal em 1988 e da Lei de Crimes Ambientais em 1998, fica clara a nova preocupação com as espécies, com o bem-estar animal e com o meio ambiente. Neste contexto, os criadouros comerciais comprometem a função ecológica das espécies e submetem os animais a crueldade, o que é claramente vedado: CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988 CAPÍTULO VI DO MEIO AMBIENTE Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.” LEI 9.605/98 CAPÍTULO V DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE Dos Crimes contra a Fauna: Art. 32. Praticar ato de abuso, maustratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos.” Por fim, a Sociedade Mundial de Proteção Animal - WSPA urge o IBAMA a acatar o princípio da lei maior acima citada em consonância com o avanço das ciências tanto do bem-estar animal quanto da etologia, elevando o Brasil ao patamar das nações mais desenvolvidas do mundo, onde já chegou-se ao consenso de que as diferenças entre animais, seus hábitos, necessidades e comportamento impõem um controle humano sobre que tipos de espécies são compatíveis com o convívio humano, causando à saúde humana, ao meio ambiente e à biodiversidade, os mínimos riscos possíveis e preservando o bem-estar natural dos animais silvestres, respeitado o princípio universal das “5 liberdades”.

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Queridos Amigos

R

Por Sergio Lobato

ecentemente, esta minissérie baseada em um livro da escritora Maria Adelaide Amaral ocupou as noites de muitas pessoas, entre elas este colunista que vos escreve. A minissérie em sua proposta poética, focava os relacionamentos entre um grupo de amigos e os vários personagens que circulavam em torno deles no desenrolar do enredo. Uma bela noite, assistindo a um dos capítulos, pensei em como é difícil exercer a arte do relacionamento interpessoal e, automaticamente, caí em um cenário de lembranças do mercado pet. Me vi recordando várias situações que vivi em clínicas, petshops, agropecuárias e salões de banho e tosa. Situações onde o X da questão sempre foi o relacionamento humano, suas trocas, suas dependências, suas codependências, seus valores, suas escalas de valores, suas crises, seus problemas e suas necessidades. “Mas como isso tudo se aplica ao meu dia-a-dia como proprietário de um estabelecimento veterinário?” Quando nos lembramos que a prestação de serviços veterinários pertence ao universo do varejo e do marketing de serviços, necessitamos situar nosso exercício profissional em um esquema

de ações onde trocaremos informações, valores, ordens, solicitações, pedidos, demandas com PESSOAS! Em quase a totalidade de nossas horas de trabalho estaremos interagindo com pessoas, seja no universo de nossas relações com os nossos funcionários, seja na prestação de nossos serviços aos nossos clientes. Creio que já fica claro para todos que a sobrevivência de nossos negócios veterinários tem uma importante parcela baseada na conscientização da necessidade de um bom relacionamento interpessoal em diferentes níveis, pois vamos por partes: 1 - Você tem um comércio! Em um negócio do varejo presumese que haverá uma troca, e creio que todos sabemos que desde que o mundo é mundo, o “escambo” sempre foi uma realidade quando pessoas necessitavam obter produtos e serviços. Havia interesse, havia necessidade e havia negociação! Era determinado o quanto de valor representava cada produto ou serviço e as partes chegavam a um acordo para que ambos saíssem satisfeitos. Os produtos e serviços eram PERCEBIDOS em seus valores e equi-

parados até que se chegasse a um consenso e a troca realizada. O que você faz hoje em dia, seja na sua clínica, seja no seu petshop? Nada mais nada menos do que uma ação muito similar ao antigo escambo; acontece a negociação, são feitas avaliações e após a percepção do valor ser criada na mente do consumidor dos seus serviços é realizada a venda. E quem está envolvido em todo este processo desde os primórdios da humanidade mercantil? Pessoas!

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São as pessoas, suas necessidades e suas habilidades de negociação que norteiam este universo. São a base do comércio! 2 - Você tem colaboradores (funcionários)! Eu poderia escrever páginas e mais páginas de estratégias de motivação de equipes de trabalho, de programas de endomarketing e de programas de bonificação. São importantes? Sim, porém quero focar naquilo que mais tem sido uma das fraquezas em nosso sistema de empresas pet. Percebo muitas reclamações, de ambas as partes, proprietários e funcionários, sobre a falta de uma definição clara dos papéis e funções de cada colaborador dentro do dia-a-dia profissional. Para que você exija de seus funcionários a realização de tarefas, que tal defini-las claramente ? Um grande problema é a ausência de roteiros de limpeza, de rotinas diárias, ou seja, roteiros de ações práticas que sinalizem o que se espera de cada funcionários, seja ele um plantonista, um vendedor, um auxiliar de serviços veterinários ou um profissional da área de higiene e estética animal. Defina ações, prazos e metas. Porém, explique e determine as regras do jogo

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desde o início para que no decorrer de seu dia-a-dia não se depare, por exemplo, como aquele tosador que se recusa a limpar seu material de trabalho ao final de um dia de serviços intenso. 3 - Você tem clientes! Não é fácil, mas aqui reside a maior necessidade de aprender a trabalhar seu relacionamento interpessoal, pois caso você se recorde de alguns parágrafos acima, trabalhar a PERCEPÇÃO DE VALOR de seu cliente envolverá uma série de habilidades e competências para que seja feito o processo de “escambo”. Em nosso mercado não se fixe às velhas fórmula de técnicas de venda que falam... “cliente nervoso, trate assim... cliente apressado, trate assim... cliente calado, trate assim...”. Lembre-se que temos um fator emocional muito forte chamado RELAÇÃO HOMEM-ANIMAL que servirá como base para toda e qualquer estratégia desenvolvida dentro do seu estabelecimento, sendo capaz até mesmo de criar alternativas a pressões externas, como por exemplo, as questões econômicas sazonais. E esteja disposto a ouvir os seus clientes, mas não somente escutar as suas palavras, mas “escute” seus comportamentos como um todo! “Escute” seu perfis de

compras, suas freººqüências, seus tickets médios e suas motivações de compras! O relacionamento interpessoal foi por muito tempo deixado de lado, como se fosse “uma arte menor” dentro dos ramos de prestações de serviços veterinários. Sempre se valorizou a técnica acima de tudo. E isso é mesmo fundamental, mas em um processo acelerado de mudança comportamental de nosso mercado consumidor, fechar os olhos à necessidade do desenvolvimento de habilidade acessórias como as técnicas de relacionamento interpessoal, o autoconhecimento e posterior fortalecimento pessoal, são fundamentais para que todo empreendedor veterinário encontre espaço para poder realizar-se como profissional e como pessoa. Eu fico um pouco preocupado quando vejo camisas como a que traz os dizeres: “Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto de meu cão”... Cuidado, pode ser uma camisa muito popular entre acadêmicos e mesmo entre pessoas comuns, mas recomendo que os profissionais pensem um pouco mais nas implicações de uma frase como essa no universo de seu dia-a-dia profissional... Afinal, um cão jamais paga a conta com um cartão de crédito, dinheiro ou cheque... Pense nisso!

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Lançamentos

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Ouro Fino Pet Bem Estar Animal, lançou no mercado o Energy Pet, um suplemento vitamínico aminoácido com aroma de morango destinado a melhorar o metabolismo energético de cães, gatos e pequenos animais (aves e roedores). O produto é indicado durante as fases de gestação, lactação, crescimento, convalescença, estresse e falta de apetite. O diferencial do Energy Pet é a facilidade na administração, pois o suplemento

possui aroma de morango, o que proporciona alta aceitabilidade pelos animais. O Energy Pet pode ser encontrado em frascos conta-gotas de 30 mL e em frascos de 125 mL e 250 mL com seringa dosadora e acoplador. Ouro Fino: www.ourofino.com

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Problemas dermatológicos, gastrintestinais e otites são os sintomas mais comuns em cães alérgicos, hipersensíveis ou Supreme Cães Sensíveis é formulado com carne de cordeiro, com intolerânarroz e proteína hidrolisada de cia alimentar. A soja, ingredientes nobres de maioria dos elevada digestibilidade pesquisadores considera que de 10 a 20% de todas as respostas alérgicas em cães são reações adversas por ingestão de alimentos. Portanto, a opção mais inteligente é a exclusão total de alimentos potencialmente alergênicos. Atenta à necessidade de criar uma opção nutricional para os pets alérgicos, a Total Alimentos investiu em pesquisas e elaborou o Supreme Cães Sensíveis,

indicado para cães de raças de pequeno porte e formulado com carne de cordeiro, arroz e proteína hidrolisada de soja, ingredientes nobres de elevada digestibilidade que favorecem a digestão. “A proteína hidrolisada de soja é uma fonte protéica que apresenta baixa alergenicidade, em função do menor tamanho de suas moléculas. O sistema imunológico do animal é incapaz de reconhecer as moléculas protéicas hidrolisadas, havendo redução da reação alérgica ao alimento”, explicou Márcia Fernandez, médica veterinária da Total Alimentos. O produto apresenta um complexo de minerais quelatados, vitaminas e ácidos graxos essenciais, importantes na otimização da saúde da pele e dos pêlos. “Os minerais quelatados são absorvidos intactos pelo organismo, ou seja, sua ligação com o aminoácido permanece inalterada. Assim, os minerais são

transportados juntamente com os aminoácidos para os seus sítios específicos de ação. Já o zinco exerce um papel importante no metabolismo celular, estando envolvido em sistemas enzimáticos, na síntese protéica, na melhora da resposta imune, além de manter a integridade celular, pois age na síntese de queratina e na proliferação celular”, completou Fernandez. Supreme Cães Sensíveis é enriquecido com vitaminas A, C e E e apresenta excelente equilíbrio de ômega 3 e 6, o que modula a reação inflamatória, além de serem importantes fontes de energia, desempenhando papel vital na manutenção da estrutura e funcionamento normal da pele. Outro destaque na formulação do produto é a combinação dos prebióticos FOS e MOS, que favorecem o bom funcionamento do intestino dos cães. Total: 0800 55 8500. www.totalalimentos.com.br

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16 a 17 de maio São Paulo - SP Miscelâneas cirúrgicas ! (11) 3819-0594 16 a 18 de maio São Paulo - SP V Oncovet ! www.abrovet.org.br 17 e 18 de maio Palotina - PR Neurologia clínica veterinária ! (44) 3649-3444 17 a 18 de maio São Paulo - SP Curso dos Florais de Saint Germain ! (11) 4121-4107 18 de maio a 22 de junho Osasco - SP Curso de auxiliar de enfermagem veterinária na clínica de pequenos animais ! (11) 2995-9155

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23 a 25 de maio Belo Horizonte - MG I Fórum LatinoAmericano de Traumatologia ! (31) 3297-2282

1 a 22 de junho Jundiaí - SP Curso de atualização em gastroenterologia de pequenos animais ! (11) 4529-7861

25 de maio; 8 e 22 de junho; 6 e 20 de julho Osasco - SP Curso teórico-prático de cardiologia veterinária ! (11) 2995-9155

2 a 6 de junho Seropédica - RJ III Simcobea - Simpósio de Comportamento e Bem-estar Animal ! simcobearuralrj@yahoo. com.br

27 de maio a 3 de julho São Paulo - SP Curso teórico-prático de aprimoramento em radiodiagnóstico veterinário ! (11) 3034-5447 30 de maio a 1 junho Vitória - ES Oncologia ! anclivepaes@gmail. com 30 de maio a 1 junho São Paulo - SP Tópicos avançados em acupuntura veterinária ! (11) 5181-1506

12 a 14 de junho Belo Horizonte - MG Curso de emergências na clínica de cães e gatos ! (31) 3409-2001

16 e 17 de junho São Paulo - SP I Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária ! (61) 2106-0400

5 a 8 de junho Brasília - DF I Simpósio de Medicina Felina ! (61) 3965-4090

17 de junho Belo Horizonte - MG Endocrinologia reprodutiva ! (31) 3281-0500

5 de junho a 25 de julho São Paulo - SP I Curso Anual de Atualização em Nefrologia ! (11) 3875-2666

21 e 22 de junho Londrina - PR 2º SIDAC - Simpósio de dermatologia veterinária ! (43) 9151-8889

6 a 8 de junho Botucatu - SP Curso teórico-prático de fisiotepia e reabilitação em animais de companhia ! (14) 3811-6019

23 a 26 de junho São Paulo - SP II Curso teórico-prático de terapia intensiva em pequenos animais ! (11) 5572-8778

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28 e 29 de junho São Paulo - SP Acupuntura auricular ! (11) 5181-1506 7 e 8 de julho Belo Horizonte - MG V Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina ! (31) 3297-2282 14 de julho a 13 de agosto São Paulo - SP Curso de ultra-sonografia em pequenos animais (teórico-prático) ! (11) 3034-5447 19 e 20 de julho Rio de Janeiro - RJ I Simpósio de dermatologia veterinária ! (21) 8820-1899 24 a 26 de julho São Paulo - SP Curso Intensivo Prático de Ortopedia - módulo básico ! (11) 3819-0594



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27 de julho a 21 de dezembro São Paulo - SP Curso de terapias alternativas para animais ! (11) 5061-4429 5 de agosto a 11 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização e aperfeiçoamento em radiodiagnóstico veterinário ! (11) 3034-5447 7 a 9 de agosto Rio de Janeiro - RJ • Riovet - Feira de negócios pet & vet • Conferência Sul-americana de medicina veterinária • 1º Encontro brasileiro de marketing - Pet Vet ! (21) 3295-2803

14 a 17 de agosto Araçatuba - SP XIV SEMEV ! semev.unesp@hotmail. com

5 a 7 de setembro Botucatu - SP I Curso clínico-cirurgico em animais de companhia ! (14) 3811-6019

18 a 22 de agosto São Paulo – SP XIII Susavet ! da_vetunisa@yahoo. com.br

10 a 12 de setembro Guarapari - ES XXXV Semana Capixaba do médico veterinário e III Encontro regional de saúde pública em medicina veterinária ! (27) 3324-3877

20 de agosto Belo Horizonte - MG Diagnóstico das pancreatites e Diabetes mellitus ! (31) 3281-0500 26 a 29 de agosto São Paulo – SP III Semana acadêmica da UNICSUL ! pr.custodio@bol.com.br 28 a 30 de agosto São Paulo - SP Cirurgias em coluna ! (11) 3819-0594

8 a 10 de agosto Vitória - ES Cardiologia em cães e gatos ! anclivepaes@gmail.com 9 a 17 de agosto Osasco - SP Curso teórico-prático de afecções cirúrgica da coluna vertebral ! (11) 2995-9155

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31 de agosto a 28 de setembro São Paulo – SP Curso de neonatologia ! (11) 2995-9155 1 a 5 de setembro São José do Rio Preto - SP SAMVERP ! (17) 3201-3360

8 a 11 de outubro Salvador - BA I Congresso mundial de bioética e direito animal ! congresso@ abolicionismoanimal.org.br

14 de setembro a 17 de dezembro Osasco - SP Curso teórico-prático de cirurgia de partes moles ! (11) 2995-9155

13 a 17 de outubro Santo André - SP III Simpósio de Medicina Veterinária (SIMVET) ! cmedvetuniabc@ yahoo.com.br

17 a 19 de setembro São Paulo - SP • 8º Copavepa • Pet South America ! (11) 3813-6568

19 a 22 de outubro Gramado - RS 35º Conbravet ! (51) 3326-7002

17 a 21 de setembro São Paulo - SP XXIX Congresso brasileiro de homeopatia ! (11) 3051-6121

30 de agosto a 6 de setembro São Paulo – SP XI SAMVET ! (11) 4366-5350

26 a 28 de setembro Vitória - ES I Fórum Latino Americano de Dermatologia e 3º Congresso Brasileiro de Odontologia Veterinária ! (31) 3297-2282

26 e 27 de setembro São Paulo - SP Curso de cirurgia em cabeça e pescoço ! (11) 3819-0594 26 a 28 de setembro Vitória - ES Gastroenterologia em cães e gatos ! anclivepaes@gmail.com

21 de outubro Belo Horizonte - MG Urinálise - Urolitíase e Função renal ! (31) 3281-0500

INTERNACIONAL 4 a 7 de julho San Antonio - TX, USA 2008 ACVIM Forum ! www.acvim.org

13 a 17 de julho Budapeste - Hungria 16º Congresso Internacional de Reprodução Animal ! www.icar2008.org 27 a 31 de julho Canada - Vancouver 29th World veterinary congress ! www.worldveterinary congress2008.com 14 a 18 de agosto Washington - DC, USA Animal Rights 2008 ! www.arconference.org 20 a 24 de agosto Dublin - Irlanda 33º Congresso Mundial da WSAVA ! www.wsava2008.com 28 a 30 de agosto Cartagena - Colombia V Congresso Ibero-americano FIAVAC ! www.fiavac.org

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