Clínica Veterinária n. 83

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G uarรก Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009 - R$ 15,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts

www.revistaclinicaveterinaria.com.br

ISSN 1413-571X


ENTE M A V O SN JUNTO

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PAIXÃO DO A D I U C NO À VIDA S I A M I N DOS A

APOIO SUPPORT:

EVENTO PARALELO: PARALLEL EVENT:

REALIZAÇÃO REALIZATION:

REALIZAÇÃO REALIZATION: ORGANIZAÇÃO ORGANIZATION:


Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record e no CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice Oftalmologia - 28

Sílvia Franco Andrade

Manometria ocular para estudo experimental da medição de pressão intraocular em cães e gatos: como realizá-la de maneira precisa e barata Ocular manometry for the experimental study of intraocular pressure measurement in dogs and cats: how to perform it in a precise and cost-effective way La manometria ocular para el estudio experimental de la medida del presión intraocular en los perros y gatos: cómo lograrlo de una manera precisa y barata

Oncologia - 34

Adenocarcinoma metastático da glândula da terceira pálpebra em um cão

Thomas Normanton Guim

Estudo in vivo em gato: canulação da câmara anterior com escalpe 23G a 2mm do limbo na posição 10h em OD

Metastatic adenocarcinoma of the gland of the third eyelid in a dog

Adenocarcinoma metastático de la glándula del tercer párpado en un perro

Cirurgia - 38 José Fernando Ibañez

Hérnia inguinoescrotal em basset hound sem histórico de traumatismo - relato de caso Inguinoscrotal hernia in Basset Hound without trauma description - case report Hernia inguino-escrotal en Basset Hound sin historia de trauma - caso clínico

Corte histológico do tecido neoplásico (N) adjacente à cartilagem da terceira pálpebra (C). (HE, Obj 10x)

Cirurgia - 42

James N. B. M. de Andrade

Conteúdo herniário composto apenas de epíploo, dentro da túnica do funículo espermático (seta)

Apresentação de um dispositivo artesanal para treinamento de aplicação de nós cirúrgicos Introducing a device for surgical knot training

Presentación de un dispositivo artesanal para entrenamiento de nudos quirúrgicos

Cirurgia - 46 Fabiano Zanini Salbego

Enxertos cutâneos no reparo tecidual de lesão do membro pélvico de um cão Skin grafts to repair injury of the pelvic limb tissue in a dog Injertos de piel en la reparación de lesión dérmica del miembro pélvico en un perro

Demonstração de aplicação de nó cirúrgico em profundidade através do tubo plástico

Clínica médica - 54

Luciana P. S. Gonçalves

Enxertos em “ilha” realizados na face cranial e lateral da articulação

Apresentações clínicas do hipoadrenocorticismo em cães (Canis familiaris Linnaeus, 1758) Clinical presentations of hypoadrenocorticism in dogs (Canis familiaris Linnaeus, 1758)

Presentaciones clínicas del hipoadrenocorticismo en perros (Canis familiaris Linnaeus, 1758)

Clínica médica - 62 Márcia M. Jericó - HV/AM

Hiperestrogenismo secundário a mestástase de sertolinoma: relato de caso Hyperestrogenism due to a metastatic process of Sertoli cells tumor: case report Hiperestrogenismo debido a metástasis de tumor de células de Sertoli: descripción del caso

Cadela no primeiro dia de internação, apresentando sinais de estupor e ausência de reflexos

Canino, macho, SRD, treze anos. Na posição lateral, notar áreas alopécicas simétricas bilaterais em dorso, região cervical, membros e cauda, além de hiperpigmentação cutânea

Rosana Zanatta

Diagnóstico por imagem - 68

Comparação entre radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética nas afecções do ouvido em caninos e felinos - revisão de literatura Comparison of radiography, computed tomography and magnetic resonance imaging in the diagnosis of ear diseases in canines and felines - a review

Comparación entre radiografía, tomografía computadorizada y resonancia magnética en los trastornos del oído en caninos y felinos - revisión bibliográfica

Imagem de TC em corte transversal de cabeça de felino. Presença de opacidade tecido mole/líquido em parte da bula timpânica esquerda (otite média) e dos canais auditivos (otite externa) (círculo)

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Seções Editorial - 6 Saúde pública - 8

• Saúde pública veterinária: futuro e retrospectiva 2009

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Notícias - 24

• Radiografia computadorizada no HOVET/ FMVZ/USP 24 • EVER - Especialidades Veterinárias Rebouças 24 • Projeto Estética ® Animal Frontline investe na capacitação de profissionais em todo Brasil 24 • Riovet 2009 26 • International Pet Meeting 26

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso depar-

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Ecologia - 78

Ibama multa Basf por agrotóxico irregular

• Sistema inteligente de alimentação • Vasodilatador

Equipamentos - 80

Negócios e oportunidades - 86

Hastes bloqueadas

Pesquisa - 82

• Substância cancerígena tem atuação desvendada • Falso resultado positivo para leishmaniose visceral canina

Serviços e especialidades - 87 Agenda - 96

Lançamentos - 84 • Eutanásia • Alimento super premium • Vermífugo palatável para cães tamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte.

Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br

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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

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Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-SP 6871

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10159

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JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER

Luna, gata SRD de 6 anos, que recebe a guarda da médica veterinária Larissa Dona de Resende, do laboratório Lab Pet Centro de Diagnóstico Veterinário (www.labpet.com.br), fotografada por Jefferson Kim

IMPRESSÃO / PRINT Copypress

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TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05311-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Adriano B. Carregaro DCPA/UFSM carregaro@smail.ufsm.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Walker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Maria Reis Ferreira FMV/UFF anamrferreira@br.inter.net Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues Médica veterinária autônoma berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgourlart@yahoo.com.br Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra/com.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@fmvz.usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br

Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá ftoledo@attglobal.net Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos UFLA iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br

Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP Alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@ffalm.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/UNESP/Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Agener/União mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br

Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Isabel Mello Martins FMV/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009

Rafael Costa Jorge Clínica Veterinária Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet-Pompéia duart7e@gmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University ronaldodacosta@cvm.osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes Zoo/Piracicaba sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vamilton@vet.unoeste.br Viviani de Marco UNG, H. V. Pompéia vivianidemarcoterracom.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br William G. Vale FCAP/UFPA wmvale@ufpa.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br

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Editorial

E

m 2009 a medicina veterinária fará Bonito! Este foi o slogan do congresso realizado, de 25 a 28 de outubro de 2009, em Bonito, MS: o III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária e o I Encontro de Saúde Pública Veterinária. Durante o evento, foram muito importantes as declaraCarta on line contra o PL 4.548/98 ções de alguns especialistas, Texto da carta on line enviada aos deputados que, com muita maturidade e Exmo. Senhor Deputado, experiência, frisaram os passos Tramita atualmente na Câmara dos Deputados o Projeto para que, todos juntos, posde Lei 4.548/98, cuja aprovação representaria um enorme retrocesso legislativo. De autoria do ex-deputasamos construir um ambiente do José Thomaz Nonô, esse PL pretende retirar a exsaudável. pressão “domésticos e domesticados” da Lei 9.605/98. A 9.605/98, também conhecida como Lei de Crimes Albino Belotto, DVM, MPH, Ambientais, representa um marco na história do Direito MSc, primeiro médico veteriAmbiental brasileiro. Em seu artigo 32 está prevista a nário brasileiro a assumir a ditipificação do crime de maus-tratos contra os animais. “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar anireção do Centro Pan-americamais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos no de Febre Aftosa (Panaftosa), ou exóticos: Pena – detenção de três meses a um ano, e multa. é um dos especialistas que me§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência rece ser destacado pela sua dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alterparticipação e importante connativos. tribuição ao evento. Belotto, § 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se frisou a necessidade de que toocorre morte do animal.” O PL 4.548/98 viria a descriminalizar atos de abuso conda a comunidade participe da tra os animais domésticos, o que é claramente inconsticonstrução dos caminhos que tucional. Segundo o artigo 225 da nossa Carta Magna, são expressamente vedadas as práticas que submetam irão nortear as políticas públios animais à crueldade, independentemente da espécie. cas de promoção à saúde. A aprovação do PL 4.548/98, além de explícita afronta ao texto constitucional, representaria um enorme retroEm determinadas situações, cesso na história da proteção animal no Brasil, e um a supressão da vida dos anipasso contrário à crescente tendência mundial de valomais é um polêmico caminho rização do bem-estar animal. A descriminalização dos muitos atos de crueldade cona ser seguido. Um exemplo tra os animais domésticos, que se repetem diariamente atual é a rígida conduta de no Brasil, significaria institucionalizar a impunidade e promover uma cultura de violência em nossa sociedade. eliminação dos cães soroposiDesta forma, venho solicitar à Vossa Excelência que se tivos para leishmaniose visceposicione e vote CONTRA o PL 4.548/98, que encontraImagem da página que promove o envio, para todos os se pronto para votação no Plenário da Câmara dos ral. Diversos grupos, baseados deputados de cada estado do Brasil, da carta on line contra o Deputados, embora não haja previsão para a matéria em dados científicos, não aceiPL 4.548/98 . A carta é uma iniciativa da WSPA. ser pautada. Todos podem e devem participar. Basta acessar o endereço: tam este critério, principalContando com vossa ajuda contra qualquer alteração na www.wspabrasil.org, clicar na imagem da campanha, Lei de Crimes Ambientais que venha a prejudicar os mente, porque em nenhum mopreencher o pequeno formulário e seguir as instruções animais, agradeço-lhe antecipadamente. mento ele foi capaz de controlar os avanços da enfermidade. Ao mesmo tempo, diversas são as alternativas adotadas pela comunidade para escapar da eliminação dos cães. Algumas são seguras, mas outras, como, por exemplo, a remoção dos cães para áreas em que não ocorram inquérito sorológico, podem acelerar a disseminação desta zoonose. Portanto, não trará bons resultados, impôr, arbitrariamente, políticas de saúde . Atualmente, a população tem participado cada vez mais das questões que envolvem os animais. Um exemplo é o significativo número de mais de 1 milhão de cartas enviadas aos deputados estaduais contra o Projeto de Lei 4548/98, que visa descriminalizar atos de maustratos contra animais domésticos ou domesticados. Este número segue aumentando e é um exemplo real do envolvimento da população nas questões relacionadas aos animais. Por isso, é fundamental que as políticas de saúde contem com a participação de todos. Inclusive, com os clínicos veterinários de pequenos animais, importantes formadores de opinião, podendo ser multiplicadores das propostas das políticas públicas, desde que elas sejam discutidas, exequíveis e éticas.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 6

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009



Saúde pública Saúde pública veterinária: futuro e retrospectiva 2009 por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto - CRMV-SP 6871

FUTURO O Brasil passou a ser foco da atenção mundial em função de dois grandes eventos: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Em função disso, muitos investimentos serão feitos para preparar o país para esses momentos históricos. Empregos serão gerados e algumas propagandas já anunciam que virá melhora na qualidade de vida da população. No início de outubro, consciente das adequações que o país precisará passar para receber esses eventos, a Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, declarou que haverá empenho em implementar melhorias: "do ponto de vista do governo demos prioridade um aos aeroportos". Nas prioridades do governo é importante que também sejam consideradas as normas modernas para o trânsito de animais, pois muito colaboram para a garantia da saúde pública. A chegada, por exemplo, da leishmaniose visceral canina na Argentina e em outros países da América Latina, já despertou a consciência da necessidade do microchip para otimizar a fiscalização do trânsito dos animais e gerenciamento dos dados registrados. Na listagem de exigências da INFRAERO, órgão vinculado ao Ministério da Defesa e que administra os aeroportos brasileiros, não consta a necessidade de microchip para a entrada de animais estrangeiros a e também para o trânsito doméstico b de animais. Alguns aeroportos, como, por exemplo, o aeroporto internacional de Guarulhos, SP, já possuem leitora de microchips, mas o seu uso não está implementado na rotina do trânsito dos animais que entram e que circulam pelo país. Na prática, pode-se importar animais da Europa, até de áreas endêmicas de leishmaniose, sem a necessidade de que estejam microchipados. Por sua vez, autoridades da comunidade européia a - Importação de cães e gatos: http://www.infraero.gov.br/cargaaerea/principal/ informacoes/legislacao/IMPORTACAO_CAES_ E_GATOS.pdf b - Transporte doméstico: http://www.infraero.gov.br/cargaaerea/principal/ informacoes/legislacao/EMBARQUE_%20DES EMBARQUE_%20DOMESTICO.pdf

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exigem a microchipagem de todos os animais que entram no seu território. No Brasil, além da identificação dos animais, outro ponto fundamental é a questão da área de quarentena para animais. No aeroporto de Guarulhos, por exemplo, apesar de prevista na teoria, na prática não existe. Cada vez mais os animais passam a ser membros da família e, inclusive, participam das viagens. A tendência desse trânsito e do promovido pelo mercado de animais é aumentar. Isto pode ser conferidos nas ruas, nos parques, nas rádios, nos canais de TV, nas universidades, na literatura infantil, nos debates

Implantador, transponder esterilizado e leitor AnimallTAG Pet (www.animalltag.com.br)

Será que até 2016 a Infraero irá adotar a identificação eletrônica de animais por microchips? Após a confirmação do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 uma declaração da Ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, deixou um pouco de esperança no ar para quem a com que as normas para o trânsito de animais nos aeroportos brasileiros tornem-se modernas: "Do ponto de vista do governo demos prioridade um aos aeroportos. O Galeão tem dupla prioridade, por ser entrada para a Copa do Mundo e por ser entrada para as Olimpíadas.", disse a ministra. Trânsito animal é questão de saúde pública veterinária e é difícil de entender, por exemplo, porque que cães de áreas endêmicas de leishmaniose visceral canina circulam livremente de avião de um estado para o outro. Para administrar este trânsito é imprescindível a microchipagem dos animais, procedimento vital para Leitora com bastão: a execução de faz leitura à distância, diversas outras evitando riscos ao tarefas essen- scanear animais ciais para a ga- agressivos ou rantia da saúde que possam pública veteriná- oferecer riscos ria. www.caochorro.com.br Leitora de microchips (www. datamars.com) para locais com grande fluxo de animais, como, por exemplo, aeroportos. Exemplar exposto pela primeira vez no WSAVA 2006

feitos nas câmaras municipais, assembléias legislativas, senado federal etc. Luiz Carlos da Silva Pereira, médico veterinário e empreendedor de sucesso no mercado pet, defende convictamente a importância sócio-econômica dos animais de estimação no Brasil. Em entrevista concedida à revista Clínica Veterinária, Pereira conta que: "em meados de 1980, fui chamado para atender o cão do diretor de uma emissora de TV. Enquanto examinava seu cão, o caseiro dizia: 'O patrão fica gastando um dinheirão com esse animal, enquanto tem gente passando fome'. Imediatamente disse: ‘Cuide muito bem dele e torça

Por questões de saúde pública, o controle do trânsito de animais merece atenção e controle em todos os aeroportos. Preferencialmente, deveria-se seguir o padrão adotado pela comunidade européia e outros países desenvolvidos. O Rio de Janeiro possui demanda para isso. Há quase 10 anos a cidade possui evento que tem ajudado no crescimento do mercado pet, tanto na região do Estado do Rio de Janeiro quanto fora: a RioVet. Este evento já está com data marcada para 2010 e contará com a realização de exposições internacionais de cães e gatos, entre outras atividades

Exposição internacional de gatos durante a RioVet 2009

Exposição internacional de cães durante a RioVet 2009

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


No dia 3 de agosto de 2009 o Jornal da Globo deu destaque para o fato de que, atualmente, somente na cidade de São Paulo, há mais de 6.000 pet shops! Bem mais do que as 4.500 padarias locais...

para que tenha vida longa, muito longa, pois é ele quem te dá o emprego com casa, luz, gás e água de graça!’. Pereira frisa que: “os animais de estimação não podem ser tratados como supérfluos, em relação aos seus gastos, até mesmo porque é uma indústria geradora de empregos e divisas para nosso país. Eles ajudam na manutenção do homem no campo, pois diversos fazendeiros têm a totalidade de sua produção direcionada diretamente para a indústria de fabricação de rações. Quantas pessoas trabalham nessas indústrias? Quantos empregos? Quantos impostos injustamente taxados com uma alta carga tributária? E no comércio? Na reportagem do Jornal da Globo do dia 3 de agosto de 2009 (g1.globo.com/jornalhoje/ 0,,MUL 1252948-16022,00.html), o destaque era que somente a cidade de São Paulo abriga mais de 6.000 pet shops! Bem mais do que as 4.500 padarias locais... Se colocarmos que em cada loja dessa existe uma média de 4 funcionários, serão 24 mil empregos! Isso, somente na cidade de São Paulo. Além da indústria de ração, há as indústrias de medicamentos veterinários, de acessórios (como coleiras, guias, camas, comedouros, caixas de transporte, casinhas, etc.), de móveis e instrumentais veterinários, de equipamentos altamente sofisticados como tomógrafos, ultrasons e radiologia digital desenvolvidos

para atender exclusivamente o segmento veterinário. O Brasil hoje, é o país que possui o maior número de Faculdades de Medicina Veterinária do mundo: são cerca de 155 escolas e mais de 70 mil médicos veterinários atuantes. Isso tudo jamais poderia ser desprezado e, mesmo assim, o IBGE, se recusa a incluir no próximo censo, em 2010, uma simples pergunta para saber se a família possui algum animal de estimação e qual! Isso, em muito, iria ajudar não só ao governo, mas, principalmente ao mercado animal. Hoje, o Ministério da Saúde e da Agricultura não podem fazer programações confiáveis nos seus planejamentos ligados à saúde animal, como nos casos de vacinação anti-rábica. Quem perde com isso? O próprio governo, pois acaba não sabendo se o que arrecada corresponde com a realidade. Desde 1994, com a abertura no Rio de Janeiro da primeira Pet Boutique do mundo, nosso país sofreu uma verdadeira revolução social, pois o cão saiu do quintal para a cama do seu dono. No ano 2000, a Editora Abril tinha o interesse de lançar uma revista sobre animais e fui chamado para uma consultoria. Por curiosidade, sugeri que fosse feita uma enquete com os editores de algumas das revistas do grupo para saber quantos possuíam um animal de estimação. Qual foi o resultado? 100%! Todos possuíam animal de estimação! Isso é fantástico, e deve ser pensado por nossos governantes, até mesmo porque o amor aos animais gera muito mais que divisas e amor, mas também votos. A defesa e o amor aos bichos foram capazes de eleger vereadores e deputados no Rio e em outras cidades”. Os laços dos seres humanos com os animais de estimação vão muito mais além. Uma pessoa que fala sobre isto com muita propriedade é médica veterinária Ceres Faraco, professora doutora em psicologia e presidente da Associação Médico Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal (AMVEBBEA), também entrevistada pela revista Clínica Veterinária. “Creio que o entendimento sobre a interação ser humano - animal de companhia é ainda muito restrito em nosso meio. Nas minhas pesquisas tive a oportunidade de observar, rotineiramente, como os animais despertam interesse, motivam, facilitam contatos

interpessoais e qualificam a vida de inúmeras pessoas. Pude identificar a existência de um sólido vínculo destas com os animais e refletir a respeito da intrigante força desta relação”, destaca Faraco. A especialista vai mais além e explica que: “a concepção de que animais podem ajudar as pessoas sustenta a argumentação de que a vida humana, compartilhada com os animais, está instituída no nosso contexto, como uma nova realidade de existência e não pode mais ser concebida como um “ajuntamento” sem forma e meramente casual, revela-se como um novo tecido social que atende a necessidades contemporâneas de grupos humanos. Sabe-se dos inúmeros benefícios físicos e psicológicos para os humanos que compartilham suas vidas com os animais de companhia tais como: redução na pressão sanguínea, na freqüência cardíaca, modulação em eventos estressores, redução de sentimentos de isolamento social, auxílio em estados depressivos e incremento na auto-estima. No entanto, apesar disso, a interação ser humano - animal de companhia ainda é uma área de conhecimento pouco explorada e marginal aos olhos de muitos profissionais, da academia e das políticas públicas em

Inúmeros são os benefícios físicos e psicológicos obtidos pelas pessoas que compartilham suas vidas com os animais de companhia tais como: redução na pressão sanguínea, na freqüência cardíaca, modulação em eventos estressores, redução de sentimentos de isolamento social, auxílio em estados depressivos e incremento na auto-estima

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Saúde pública nosso país. Um reflexo deste pensamento é a argumentação que considera aos “pets” como supérfluos e membros do exclusivo mercado de luxo. De forma oposta aos defensores da idéia anterior, se inserem os resultados de um estudo com um grupo de 58 crianças e suas famílias, em Porto Alegre, RS, no ano de 2003. Os dados obtidos chamam a atenção, já que mais do que 60% das famílias relataram ter rendimentos inferiores a dois salários-mínimos regionais. A maior parte das crianças envolvidas possuía animais de estimação

International Pet Meeting, na Av. Paulista, em São Paulo, SP, contou com a participação do público na I Parada Pet e no Pet Show

e o número médio por domicílio era de 2,98 animais. Estes animais eram considerados membros da família e consumiam ração comercial. Refletindo sobre esta informação e aliando-a com outras prestadas pelas crianças, pode-se reconhecer que, para estas famílias, o envolvimento afetivo suplantava o encargo econômico. A condição previamente relatada, aos olhos de muitos dos profissionais da Saúde e responsáveis por elaborar políticas públicas, transforma-se em um problema de grande amplitude e, muitas vezes, incompreensível, mas, sobretudo, evidencia um forte vínculo e é expressão dos laços emocionais mantidos pelas pessoas com seus animais. Talvez exatamente por isso, seja pertinente ampliar o debate e reelaborar concepções e práticas”. Algumas entidades como a Comissão de Animais de Companhia (Comac), do SINDAN (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfalpet) tem investido em di-

vulgar o quanto é forte o vínculo das pessoas com seus animais de companhia e o quanto eles estão presentes nos lares brasileiros. Em abril, a Comac publicou resultados do Radar Pet, importante pesquisa de avaliação do perfil de pessoas das classes A, B e C que possuem animais de estimação. A Anfalpet, por sua vez, no dia 13 de setembro de 2009, em plena Av. Paulista, realizou a abertura do International Pet Meeting, com atividades extremamente interativas: a I Parada Pet e o Pet Show, que contou com a participação de Sergio Vilassanti realizando realces na estética de diversos cães que passeavam com seus donos pelo local. Todas estas atividades e pesquisas são muito importantes, pois são os dados que acabam sendo utilizados pelo mercado, uma vez que não há levantamentos oficiais publicados pelo governo, como, por exemplo, os que estão disponíveis no sítio do IBGE (www. ibge.gov.br) sobre outros setores. Segundo informações desse órgão, os animais de estimação não são importantes para o Censo 2010. A decisão dos tópicos

Primeira pesquisa Radar Pet avalia com profundidade o mercado de cães e gatos do Brasil e identifica as principais características e tendências deste mercado Dados do Radar Pet 2009, pesquisa inédita com representantes das classes econômicas A, B e C, indicam que a posse de animais domésticos ainda está muito relacionada com a faixa etária dos membros da família e com a formação dos lares. Com base na pesquisa, a população estimada total para as classes A, B e C é de 25 milhões de cães e 7 milhões de gatos, no Brasil. O cachorro continua sendo o animal de estimação preferido nos lares que possuem cão ou gato, atingindo 79% das escolhas, sendo que o gato é preferido por 10% destas residências. Cães e gatos coexistem em 11% dos lares que têm animais de companhia. Encomendado pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), do SINDAN (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal) o Radar Pet tem base científica e foi esmiuçado para apresentar características importantes sobre os proprietários de cães e gatos e os seus animais de estimação. Para levantar os números do Radar Pet, a Comac contratou a Diferencial Pesquisa de Mercado que avaliou mais de 2.100 domicílios em abril de 2009. Trata-se de uma pesquisa abrangente envolvendo seis regiões do País que, somadas, representam 20% dos domicílios brasileiros. A pesquisa identificou que 44% dos lares das três classes possuem pelo menos um cão ou gato. Alguns números ajudaram a desmistificar a idéia de que os membros da classe A preferem gatos, que são preferidos por apenas 9% deste grupo. Os cães são prediletos em 85%, e as duas espécies convivem em 6% dos lares desta classe.

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O gato também não é preferido dos solteiros, que – acreditava-se até então – enfrentavam mais desafios para cuidar dos cães. Os felinos são escolhidos por apenas 20% dos solteiros e os cachorros, por 73% destes proprietários. A coexistência está em 7% dos lares de quem vive sozinho. No caso dos casais sem filhos, a preferência por cachorro é ainda maior: 83% contra 6% dos que elegem os gatos. Ainda nos lares dos casais sem filhos a pesquisa mostra que a penetração de cães e gatos é de 43%. Porém, ao considerar o ciclo de vida dos proprietários como casal com filhos pequenos, de até nove anos, esse número cai para 33%, o que demonstra que os casais preferem não manter animais quando estão com filhos pequenos, devido a preocupações e mitos ligados a segurança e higiene. “Essas informações são fundamentais para que possamos investir na desmistificação desse conceito, uma vez que é possível e especialmente, saudável, a convivência entre crianças e animais de estimação. Inúmeras pesquisas indicam claramente o impacto positivo do animal no dia a dia e também na saúde e no comportamento das crianças”, acrescenta Luiz Luccas, presidente da Comac. A pesquisa ainda aponta que os lares de casais com filhos jovens e adolescentes lideram na presença de cães e gatos com 50%. “Esses dados, inclusive, podem nos auxiliar a melhorar o índice citado acima entre os casais com filhos pequenos, pois é justamente o valor dos animais na relação com as crianças, jovens e adolescentes que explicam a

concentração maior de animais nesse ciclo de vida do proprietário. É possível que essas crianças possam se tornar adultos e idosos que prefiram mais ter pets”. Nos lares da terceira idade, nota-se, porém uma queda na presença de cães e gatos, segundo a pesquisa. Isso provavelmente se deve a diversos fatores, desde ao fato de que o animal nesse período está mais velho e morre, até ao fato do filho que morava com os pais ir embora e levar o cão, e ainda ao casal idoso que ficou com o cão do filho que foi morar sozinho, o cão faleceu e não foi reposto. “Diante desse quadro, é também importante realizarmos um trabalho de conscientização da terceira idade para a questão de que os cães são muito benéficos também nesse período de vida. Uma alternativa excelente é a adoção de animais adultos, menos dependentes de seus donos”, analisa Luccas. “O grande valor da pesquisa reside na avaliação do perfil e comportamentos dos lares brasileiros com animais de companhia. Foram analisados diversos aspectos ligados a atitudes e preferências dos diferentes proprietários e núcleos familiares com relação à saúde, alimentação, cuidados e serviços relacionados aos seus pets. “São dados importantes e inéditos que auxiliam na análise do perfil e tendências deste mercado, de acordo com as necessidades dos proprietários, servindo de base para uma orientação sólida aos veterinários e demais envolvidos no setor. Pretendemos atualizar esta pesquisa a cada dois anos para observar a evolução do segmento no Brasil”, conclui Luiz Luccas, da Comac.

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Saúde pública a serem investigados nos questionários levaram em conta a relevância, pertinência e aplicabilidade, com prioridade em informações para: as estimativas e projeções de população, política de foco municipal, subpopulações rarefeitas de interesse político, desde que seja efetivamente possível garantir cobertura, e informação de caráter estrutural de interesse público. E é com base nesses critérios que os animais de estimação não foram incluídos no Censo 2010. Também é muito interessante e, ao mesmo tempo, preocupante, saber que a definição do conteúdo temático a ser investigado no Censo 2010 se deu após ampla consulta a diversos segmentos representativos da sociedade, através da realização de importantes fóruns na fase de planejamento do Censo. Além disso, foram avaliadas as recomendações internacionais e realizadas inúmeras reuniões e discussões internas envolvendo técnicos e analistas da instituição, multidisciplinares, nas áreas de estatística, economia, sociologia, demografia, geografia, e especialistas nas questões de trabalho, saúde, educação etc. Foram realizados vários estudos, testes e duas provas-pilotos até atingir a forma final dos questionários. A partir dessas discussões foram elaborados os questionários para o Censo Experimental, que se encontra em fase de coleta dos dados. Após a realização do Censo Experimental, espera-se que sejam feitos apenas ajustes marginais nos questionários, não cabendo a inclusão de novos temas. Como fazer para que o mercado pet possa ser visto com a dignidade que merece? Este mercado não é novo. Desenvolve-se vertiginosamente há cerca de 20 anos, quando iniciou-se os investimentos no mercado de pet food. O Censo 2010 está com inclusões muito importantes como o acesso à internet e em qual velocidade e o levantamento do número de casais estabelecidos com pessoas do mesmo sexo. Isto mostra visão e consciência da sociedade atual. Porém, é impressionante como o número de pessoas que convivem com animais, para os dias de hoje, seja uma informação tão desprezível. A conclusão que se pode chegar é que para o governo não interessa mensurar e qualificar a população de animais de estimação. Não tendo dados reais e sem o acompanhamento de como evoluem, 12

Para a realização do Censo 2010 considera-se importante, por exemplo, saber se o entrevistado possui computador com ou sem acesso à internet. Os animais de estimação, por sua vez, não foram considerados e não fazem parte da pesquisa, por serem julgados como “não importantes”

como será possível planejar e programar ações de saúde pública que envolvam o controle da raiva, da leishmaniose visceral canina, de casos de mordeduras? Independentemente do conhecimento dos dados questionados, o governo realiza, por exemplo, campanhas de vacinação antirrábica, determina procedimentos para o controle da expansão da leishmaniose visceral canina e, em algum momento, talvez também invista em controle populacional de cães e gatos. Conclui-se, por exemplo, que a população de cães e gatos vacinados contra raiva pode estar sendo subestimada e que o sucesso de todas as ações de prevenção de zoonoses transmitidas por cães, gatos e aves pode não existir, simplesmente porque todas elas não são baseadas em dados reais. Isto tudo gera um problema que não é de ordem médica veterinária, mas sim, administrativa e de gestão em saúde pública. É evidente que se todo o setor do governo que está empenhado na garantia da saúde pública não troca informações com a instituição que é responsável por fornecer dados extremamente úteis e importantes para a gestão planejada dos recursos disponíveis para serem investidos na saúde pública, estamos diante de um caso de falta de probidade administrativa. Vale destacar que o Art. 37 da Constituição Federal determina que: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Além disso, cabe também a aplicação da lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992: “Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições...”. Também é importante considerar que todas as ações e implementações de

políticas públicas devem ser norteadas pela Constituição Federal: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade”. Não esquecendo também do Art. 32 da Lei de crimes ambientais: “Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: pena - detenção, de três meses a um ano, e multa”. Em função dessa exclusão que o mercado pet sofre é vital a promoção da saúde pública veterinária. Felizmente, ela tem ocorrido e importante contribuição tem sido dada pela Associação Brasileira de Saúde Pública Veterinária (ABSPV), entidade que tem realizado congressos, regularmente, a cada dois anos. Além dos importantes temas abordados, destaca-se a grande participação de médicos veterinários e outros profissionais que atuam no setor. Inclusive, vários pontos que estão abordados nessa matéria, foram contemplados no recente congresso realizado de 25 a 28 de outubro, em Bonito, MS. O próximo congresso, ainda não tem data marcada, mas o local já foi definido: Gramado, RS, em 2011. Controle da população de cães e gatos O controle da população de cães e gatos é ponto crucial para a prevenção de vários agravos à saúde pública. Porém, é fundamental que também sejam feitas, paralelamente, campanhas de educação e guarda responsável de animais de estimação. No Brasil, o Estado de São Paulo é o unico que possui

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Saúde pública trabalhos científicos sobre o controle populacional de cães. Desde a edição de seu 8º Informe Técnico de 1992, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza a educação da comuni- Programa de dade e o controle de controle de popude cães e natalidade de cães e lações gatos do Estado de gatos, anunciando que São Paulo (supletodo programa de com- mento n. 6 do BoEpidemiolóbate às zoonoses deve letim gico Paulista contemplar o controle maio/2009) da população canina como elemento básico, ao lado da vigilância epidemiológica e da imunização. Porém, vale lembrar que é fundamental que o relacionamento com a comunidade seja feito por equipe capacitada para o trabalho. No Brasil, alguns centros de controle de zoonoses investem nas suas equipes, capacitando-as nos cursos de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) organizados pelo Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC). Os oficiais de controle animal trabalham baseados no manejo etológico dos animais, beneficiando tanto a segurança do profissional quanto o bem-estar dos animais. Consequentemente, nas comunidades onde atuam os oficiais de controle animal, eles passam a ser vistos como profissionais amigos da população e estimados por ela. Detalhes sobre esta questão podem ser conferidos no artigo Evaluation of X training course for animal control oficcers (FOCA's course), publicado nos anais do congresso mundial World Small Animal Veterinary Association (WSAVA), que este ano, ocorreu em São Paulo, SP. Human, canine and feline demography and animal population control: a study from the region of São Paulo, Brazil é outro importante trabalho também publicado nos anais do referido congresso. Os municípios que tem investido em campanhas de castrações gratuitas tem utilizado recursos próprios, sem nenhuma ajuda federal. Há um projeto de lei tramitando desde 2005 no Senado Federal, que poderia mudar este cenário e fazer com que diversos outros municípios pudessem iniciar campanhas similares (PLC 4/2005 - www.senado. gov.br/sf/atividade/Materia/Detalhes. asp?p_cod_mate=71941). Em maio 14

Colaboradores do curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA/ ITEC) durante entrega do Prêmio Governador Mário Covas, edição 2008. O curso recebeu menção honrosa na categoria de inovação em gestão pública

deste ano, o PLC 4 foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e, atualmente, encontra-se na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). A cidade de São Paulo, SP, destacouse no cenário atual com o lançamento do Programa de Proteção e Bem-estar de Cães e Gatos (Probem - www. prefeitura.sp.gov.br/probem). O programa tem o objetivo de reduzir o número de animais abandonados da cidade de São Paulo e é resultado da união entre a Secretaria Municipal da Saúde e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Gilberto Kassab, prefeito da cidade, durante a cerimônia de apresentação do programa declarou: “admitimos que houve negligência com a questão nas últimas décadas, mas que o programa veio para apoiar os abrigos e instituições que recolhem os animais abandonados”. Outros municípios, por sua vez, tem a sorte de possuir uma instituição de ensino empenhada em integrar o ensino fornecido aos alunos com serviços prestados à comunidade. Este é o caso de Curitiba, PR, onde a Universidade Federal do Paraná fez o repasse de um ônibus (UMEE – Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde) para o Departamento de Medicina Veterinária, que irá auxiliar no programa de controle populacional de cães e gatos. Esta iniciativa, beneficia a região metropolitana de Curitiba, que contará com uma unidade cirúrgica veterinária móvel, de apoio na esterilização de cães e gatos, aliado a um trabalho de educação em guarda responsável de animais.

A UMEE (Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde) servirá primeiramente o município de Curitiba, por meio de convênio firmado com a prefeitura municipal no dia 30 de abril deste ano pelo reitor Zaki Akel e pelo prefeito de Curitiba Beto Richa, no âmbito do Programa “Rede de Defesa e Proteção Animal de Curitiba”, da Secretaria de Meio Ambiente e coordenado pelo zootecnista Marcos Traad. Os projetos de extensão a que a UMEE se encontra vinculada irão em seguida estender a ação para os demais municípios paranaenses – o projeto “Controle populacional e de zoonoses na região metropolitana de Curitiba” e “Controle de cães e zoonoses na APA do Irai” - utilizarão a unidade para a educação em saúde da região metropolitana de Curitiba, e o projeto de extensão “Controle de cães e zoonoses na Ilha do Mel” fará uso da unidade para o litoral paranaense. “O caminho para a UMEE tem sido difícil mas gratificante”, comenta o professor titular dr. Felipe Wouk, responsável pela área de cirurgia de pequenos animais, idealizador do ônibus e coordenador do projeto de extensão. “O ônibus como unidade móvel de esterilização não é novidade, mas ousamos trazê-lo para dentro da universidade e inseri-lo na sociedade com o apoio de todos os atores envolvidos no problema”. Segundo ele “A UFPR mais uma vez mostra sua vocação de vanguarda e sintonia com as demandas da sociedade”. A aprovação de todos os setores da sociedade

A Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEE), veículo do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR, encontra-se na fase de modificação interna, após o pregão eletrônico de empresas para a sua adequação

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aconteceu, comenta o responsável técnico da UMEE dr. Rogério Robes, devido aos trâmites legais a que o ônibus tem sido submetido e aprovado nos últimos seis meses: aprovação de projeto de extensão na PROEC, processo interno de licitação para aquisição e modificação interna via UFPR, convênio com a Prefeitura de Curitiba, aprovação para trânsito pela CIRETRAN, aprovação em reunião ordinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Paraná (CRMV-PR) e aprovação pela Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Paraná (Anclivepa). “Uma iniciativa como essa é pioneira no âmbito de uma universidade e constitui exemplo acadêmico-extensionista às demais escolas de medicina veterinária do país” - diz o prof. dr. Alexander Biondo, outro idealizador e entusiasta do projeto. “As ações de extensão poderão ser realizadas in loco, junto à população alvo, criando oportunidades ao mesmo momento para outras ações satélites de extensão, como educação em saúde, bem-estar animal e controle de zoonoses e de doenças animais. Além disso, o projeto permitirá o treinamento de estudantes do curso de medicina veterinária em técnica operatória, resolvendo um problema atual de limitação no uso de animais para ensino e pesquisa. O efeito multiplicador e de cidadania, base da extensão, deverá ser atingido imediatamente, na formação do médico veterinário como cidadão, em sintonia com a demanda social do nosso estado e do nosso país. O Departamento de medicina veterinária espera, com esta e outras ações de continuidade dos seus projetos de extensão, ter um diferencial de formação do médico veterinário.” Outro município que também está investindo em castrações gratuitas é o do Rio de Janeiro, RJ, pela Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (www.rio.rj.gov.br/defesa_animais), que desenvolve o programa Bicho Rio. Fazem parte do programa cinco minicentros cirúrgicos, onde são realizadas, gratuitamente, esterilizações cirúrgicas de cães e gatos. Outro programa desenvolvido é o Adotar é o bicho!. As campanhas ocorrem duas vezes por semana, em diferentes regiões da cidade, e conta sempre com cerca de trinta animais que foram vítimas de abandono.

Um peça chave que está faltando ser implantada no SPEDA é a identificação eletrônica de animais por microchips. Este procedimento de identificação é muito importante para o desenvolvimento de campanha de guarda responsável, além de ser vital, por exemplo, para coibir o abandono dos animais e para que seja evitado que fêmeas castradas sejam submetidas, desnecessariamente, à nova cirurgia de contracepção. Quando se utilizam as técnicas cirúrgicas minimamente invasivas de contracepção, as cicatrizes são mínimas e podem passar despercebidas. Em muitos municípios a identificação animal tem sido ação de grande importância, como, por exemplo, Curitiba e algumas cidades do interior de São Paulo (Americana, Campinas, Itapira, Sorocaba, Hortolândia, entre outras). Material fornecido exclusivamente para o sistema público pelo projeto Cãochorro (www.caochorro.com.br) para a identificação eletrônica de animais: aplicador de microchip, microchip com cápsula antimigratória e etiquetas com o código numérico do microchip

O projeto de integração para a guarda responsável Cãochorro e outros bichos tem como objetivo principal a identificação e o registro da população animal e seus proprietários e a integração com toda a sociedade. Na sua implantação contemplase o treinamento específico para todos os profissionais (técnicos dos serviços de controles de zoonoses, ONGs e clínicas veterinárias); serviço de banco de dados para os animais identificados e seus proprietários; divulgação e parcerias com o poder público e a iniciativa privada para incentivo ao projeto

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Saúde pública Leishmanioses O início de 2009 foi marcado por um grande evento: o WorldLeish4. Ele foi realizado em local muito distante, na Índia, mas teve uma grande participação de especialistas brasileiros. Aliás, o Brasil é um dos países que mais se destaca no assunto. Alguns pesquisadores brasileiros que se destacaram no evento foram: Carlos Henrique Nery Costa (médico do Governo do Estado do Piauí e Coordenador Executivo da Rede Nordeste de Biotecnologia) e Vitor Márcio Ribeiro (médico veterinário atuante em linhas de pesquisas que envolvem a clínica e o tratamento da leishmaniose visceral canina). Costa, além de contribuir cientificamente para o WorldLeish4, coordenou o Simpósio Internacional de Vacinas para Leishmanioses (International Symposium on Leishmaniasis Vaccines), realizado em março de 2009, em Recife, PE, durante o XLV Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Ribeiro, por sua vez, apresentou trabalhos científicos que mostraram a falta de confiabilidade nos testes de diagnóstico encontrados em instituição de referência e os resultados de cães com leishmaniose visceral canina tratados utilizando-se protocolo imunoterápico. Uma das alegações do grupo que defende a proibição do tratamento canino é que ele representa risco para a população em função de poder promover resistência no agente patogênico às poucas medicações disponíveis para o tratamento da leishmaniose visceral humana. Porém, esta alegação está ficando ultrapassada, pois já foram apresentadas evidências científicas do tratamento de cães por imunoterapia, realizado com produto de uso exclusivamente médico veterinário. Além disso, vale destacar a descoberta das evidências científicas apresentadas pela nimodipina, medicamento genérico utilizado como vasodilatador para pacientes com isquemia cerebral, que apresenta potente atividade contra o parasita causador da leishmaniose. Detalhes do trabalho científico sobre a nimopidina podem ser conferidos no artigo Antileishmanial activity and ultrastructural alterations of Leishmania (L.) chagasi treated with the calcium channel blocker nimodipine, publicado na revista Parasitology Research 2009 Aug;105(2):499-505. Epub 2009 Apr 8. O artigo mostra que 16

os ensaios in vitro, tiveram ação quatro vezes mais efetiva contra a leishmaniose visceral que o glucantime. Em julho de 2009, ocorreu no Brasil o congresso mundial da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA). Foi o maior evento já realizado pela associação. O tema leishmaniose foi contemplado com a apresentação de especialistas do Brasil – Vitor Márcio Ribeiro e Clarisa B. Palatnik – e do exterior, Lluis Ferrer. Ribeiro destacou que: “precisamos ter diagnósticos seguros! Não podemos matar animais havendo a possibilidade de que eles não estejam infectados. O tratamento de cães com leishmaniose visceral está descrito na literatura científica e praticado em países onde a população não aceita a matança indiscriminada de seus cães” Palatnik, ao falar sobre a vacina de 2ª geração registrada contra leishmaniose visceral canina (FML-saponina-Leishmune), destacou, além dos bons resultados profiláticos nas regiões onde a vacinação tem sido realizada em grande escala, a sua utilização imunoterapêutica. Ferrer, por sua vez, deu importante contribuição destacando que o diagnóstico da leishmaniose visceral canina pode ser bastante complexo e que, em muitos casos, exige árdua investigação para se alcançar o diagnóstico definitivo. Citou alguns casos que aparentemente indicavam leishmaniose, mas se tratavam de outra enfermidade, como, por exemplo, o caso de cão que possuía sorologia 1:80, mas que na verdade estava acometido por lupus discóide eritematoso. Além da contribuição dada no WSAVA 2009, Lluis Ferrer esteve presente dois dias em Belo Horizonte, MG, no tradicional simpósio de leishmaniose visceral organizado anualmente pela Anclivepa-MG e coordenado por Vitor Márcio Ribeiro. O título deste simpósio, “Da infecção à cura”, despertou a atenção tanto de clínicos quanto de autoridades de saúde pública. Em entrevista à Clínica Veterinária Ribeiro explicou que “do ponto de vista médico, a leishmaniose visceral canina tem cura. Do ponto de vista parasitológico, ela não tem cura. Porém, é paradoxal quando se afirma que a leishmaniose visceral no homem tem cura e no cão não. No cão, assim como no homem, a cura também é clínica. A leishmaniose visceral canina tem início, meio e fim. O fim é a

cura clínica com a supervisão médicoveterinária que o cão deve ter. Assim como no homem, no cão ela também pode ter recidiva. Nos cães com leishmaniose visceral que são tratados, a infectância é muito baixa. Este é um dos motivos pelos quais as autoridades de saúde pública da Europa, passaram a estimular o tratamento. Na Europa há cinco décadas, a política era matar os cães infectados ou doentes. Porém, esta política não funcionou porque a sociedade não a aceitou. Com a mudança de postura, o tratamento passou a ser incentivado, porque reduz a infectância dos cães e, consequentemente, reduz também a possibilidade de casos humanos. Uma vez associadas as medidas contra o vetor, os animais em tratamento oferecem segurança. Este ano, a contribuição de Ferrer foi muito importante e nos mostrou que a sorologia não fecha o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. A política de matar cães com título de 1:40 é errada. A sorologia serve apenas para levantamentos de populações. Para se afirmarem individualmente, as sorologias precisam estar acompanhadas de outros exames, particularmente, as que apresentarem títulos até 1:80.” No decorrer do ano o tema também foi abordado em eventos como o II Fórum de Discussão sobre o Tratamento da Leishmaniose Visceral Canina (LVC), realizado no início de outubro, em Brasília, DF e, de 25 a 28 de outubro de 2009, em Bonito, MS, no III Congresso Nacional de Saúde Pública Veterinária e I Encontro Internacional de Saúde Pública Veterinária. Presume-se que os objetivos da realização do II Forum de Discussão sobre o Tratamento da Leishmaniose Visceral Canina (LVC) tenham sido apenas políticos, no intuito de reforçar a Portaria Interministerial n. 1.426, de 11 de julho de 2008, que “... proíbe o tratamento da LVC com produtos de uso humano ou não registrados no MAPA”. Esta evidência fica bem clara ao se avaliar a pequena lista dos participantes do fórum, da falta de especialistas com experiência clínica no assunto e da inexpressiva quantidade de médicos veterinários participantes. Obviamente, a exclusão, de especialistas que enriqueceriam as discussões, facilitou bastante o desfecho do evento: a criação de um documento que tem o objetivo de reforçar a proibição do tratamento de cães com

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Saúde pública leishmaniose visceral canina. Os participantes do fórum encontram-se abaixo, em listagem de cor verde e, na página ao lado, outra, de cor vermelha, com sugestão de médicos veterinários e outros profissionais que, pelo notório conhecimento nos temas que envolvem a política brasileira de controle da leishmaniose visceral americana, deveriam ter sido convidados, pois certamente poderiam ter enriquecido as discussões e, talvez, até mudado o resultado final. Afinal, um assunto tão importante e que diz respeito ao tratamento em animais, deveria, no mínimo, possuir 50% de participantes médicos veterinários.

Pouco depois desse fórum realizado em Brasília, foi realizado em São Paulo, SP o seminário Atualização técnica em leishmaniose visceral americana, organizado pela Ong Focinhos Gelados. De forma incompreensível, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de SP (CRMV-SP), tentou impedir a realização do evento enviando ofício à Procuradoria da República no Estado de São Paulo e divulgando esta ação através da página principal do sítio www. crmvsp.org.br. No documento, o CRMV-SP justifica sua atitude com base na Portaria Interministerial n. 1.426. Porém, no evento, não havia nenhum cão

para ser tratado e sim profissionais e estudantes de medicina veterinária interessados em adquirir evolução no conhecimento científico. O documento não causou efeito no órgão ao qual foi encaminhado e o evento foi realizado de forma bastante proveitosa (focinhosgelados. com.br/portal/modules/news/article. php?storyid=38). Provavelmente, porque se a procuradoria agisse da forma solicitada pelo CRMV-SP, acabaria comentendo ato inconstitucional: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

Participantes do II Forum de discussão sobre o tratamento da leishmaniose visceral canina (LVC) - Brasília/DF - 01 e 02/10/2009 Participante* Cláudia Di Lorenzo Oliveira

curriculum vitae lattes.cnpq.br/9001713251226113

Profissão Médica

Elizabeth Ferreira Rangel

lattes.cnpq.br/6355751951334940

Licenciatura e bacharelado em ciências biológicas

Fabiano Borges Figueiredo

lattes.cnpq.br/9632331329760037

Médico veterinário

Geraldo Gileno

lattes.cnpq.br/7000486881446349 de Sá Oliveira

Médico

Guilherme Loureiro Werneck

lattes.cnpq.br/7331062615542814

Médico

lattes.cnpq.br/8497079129889221

Médico

lattes.cnpq.br/6023556317534569

Médico veterinário

ais, Gustavo Adolfo Romero João Carlos França da Silva

Luís Fernando Leanes Renato Gusmão Sergio Coutinho Furtado

www.biomedexperts.com/Profile.bme/ 785759/Luis_Fernando_Leanes lattes.cnpq.br/8092596088578885

Médico

Vera Lúcia Fonseca de Camargo-Neves

lattes.cnpq.br/0583031613093538

Biomédica

Washington Luis Conrado dos Santos

lattes.cnpq.br/9255856779100547

Médico

Contribuição Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: leishmaniose visceral, epidemiologia, controle de endemias, saúde urbana e análise espacial. Tem experiência na área de Zoologia,com ênfase em Taxonomia dos Grupos Recentes e e em Parasitologia atuando principalmente nos seguintes temas: Lutzomyia, Phlebotominae, leishmanioses, leishmania, educação em saúde em leishmanioses. Recentemente vem se especializando em políticas da Gestão da Qualidade, coordenando o grupo de Bolsistas Assessores da Gestão da Qualidade, do Instituto Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em doenças infecciosas, atuando principalmente nos seguintes temas: esporotricose canina e felina e leishmanioses caninas e felinas. Tem experiência na área de Morfologia, Imunologia e Biologia Molecular com ênfase em Doencas Parasitarias, atuando principalmente nos seguintes temas: leishmaniose visceral canina e humana. Desenvolve suas atividades no campo da Saúde Coletiva, com ênfase em Epidemiologia, e suas linhas de pesquisa versam principalmente sobre os seguintes temas: epidemiologia das doenças infecciosas, métodos epidemiológicos, epidemiologia e controle da leishmaniose visceral, análise de dados espacibioestatística, epidemiologia das violências. Dedica-se à pesquisa clínica, principalmente em Sierra HIV/aids, leishmaniose e tuberculose. Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em doenças infecciosas de animais, atuando principalmente nos seguintes temas: parasitologia, ecoepidemiologia e diagnóstico da leishmaniose visceral canina. Centro Pan-Americano de Febre Aftosa - OPAS/OMS Centro Pan-Americano de Febre Aftosa - OPAS/OMS Sua atuação em pesquisa tem sido dedicada principalmente ao estudo das leishmânias e da leishmaniose tegumentar, nas seguintes áreas: imunologia, vacinologia, imunopatogênese, clínica, terapêutica, biologia molecular e epidemiologia. Tem experiência na área de saúde coletiva, com ênfase em epidemiologia, atuando principalmente nos seguintes temas: epidemiologia e controle de zoonoses e de doenças transmitidas por vetores e hospedeiros intermediários. Desenvolve pesquisas nas áreas de adesão e migração leucocitária e imunoregulação na leishmaniose.

* Fonte: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ii_forum_tratamento_relatorio_final.pdf

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Sugestão de médicos veterinários e outros profissionais que, pelo notório conhecimento nos temas que envolvem a política brasileira de controle da leishmaniose visceral americana, deveriam ter sido convidados, pois certamente poderiam ter enriquecido as discussões e, talvez, até mudado o resultado do II Fórum de discussão sobre o tratamento da leishmaniose visceral canina (LVC) - Brasília/DF - 01 e 02/10/2009 Nome Andre Luis Soares da Fonseca

curriculum vitae lattes.cnpq.br/3723543211687462

Profissão Médico veterinário e advogado

Carlos Henrique Nery Costa

lattes.cnpq.br/5795414161401952

Médico

Vitor Márcio Ribeiro

lattes.cnpq.br/7952098345791779

Médico veterinário

Leucio Camara Alves

lattes.cnpq.br/6563157522654726

Fabio dos Santos Nogueira

lattes.cnpq.br/0569976957114689

Médico veterinário Médico veterinário

Clarisa Beatriz Palatnik de Sousa

lattes.cnpq.br/4600976507144146

Bacharelado em ciências biológicas

Fernando Ferreira

lattes.cnpq.br/6077853907626026

Médico veterinário

Rita de Cássia Maria Garcia

lattes.cnpq.br/5410130617608486

Médica veterinária

Marilene Suzan Marques Michalick

lattes.cnpq.br/2404695803185236

Farmacêutica

Júlio César Cambraia Veado

lattes.cnpq.br/3786849380328830

Médico veterinário

Adriane Pimenta da Costa-Val

lattes.cnpq.br/1657716621281030

Médica veterinária

Carlos Eduardo Larsson

lattes.cnpq.br/2949690599137542

Médico veterinário

Contribuição É Professor Adjunto Nível 04 da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde foi Coordenador do Curso de Medicina Veterinária. Tem experiência na área de Imunologia Básica e Aplicada, com ênfase em clínicas Humana e Veterinária. Atuação como Advogado ‘pro bono' em causas ligadas a cidadania, meio ambiente e proteção aos animais. Atualmente, realiza doutoramento na Universidade de São Paulo (USP/SP) no Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Departamento de Imunologia, onde desenvolve pesquisas na área de proteômica de lisosomas secretórios de células citotóxicas. Atua na área de medicina, com ênfase em doenças infecciosas e parasitárias. Em suas atividades profissionais interagiu com 248 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Em seu currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: leishmaniose visceral, calazar, Leishmania chagasi, diagnóstico, Lutzomyia longipalpis, transmissão, AIDS, controle, doença de Chagas e epidemiologia. Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em medicina veterinária preventiva. Linhas de pesquisa: 1. aspectos de tratamento em leihmaniose canina; 2. clínica e tratamento da leishmaniose visceral canina Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em medicina veterinária preventiva. Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em clínica veterinária e atendimento de animais em áreas endêmicas. Desenvolveu o teste prévio de campo para lançamento da vacina Leishmune, fabricada pela Fort Dodge. Entre as atividades desenvolvidas destacam-se a imunoterapia e a imunoprofilaxia da leishmaniose visceral canina utilizando a vacina Leishmune. Descreveu a possivel transmissão da doença por transfusão sanguinea e trabalha no estudo do impacto do controle epidemiológico do calazar no Brasil. Desenvolveu a primeira vacina de 2a geração registrada contra leishmaniose visceral canina (FML-saponina-Leishmune) e atualmente está engajada no desenvolvimento de uma vacina de DNA (3a geração) e de uma vacina sintética com a proteína Nucleosidio hidrolase de Leishmania donovani, no intuito de caracterizar os epítopos da proteina que interagem com os receptores MHC de classe II e de classe I. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, com ênfase em Epidemiologia Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: epidemiologia, geoprocessamento e modelagem matemática Doutorado em andamento no Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ/USP em Epidemiologia Experimental Aplicada ao Controle de Zoonoses, na área de ações de saúde para o equilibrio populacional canino e felino. Tem experiência na área de Parasitologia, com ênfase em protozoologia parasitária animal, diagnóstico das leishmanioses, tratamento da leishmaniose visceral canina, atuando principalmente nos seguintes temas: leishmania e leishmanioses, leishmaniose visceral canina, modelos experimentais para estudos da relação hospedeiro parasito e teste de novas drogas e novas for mulações para o tratamento das leishmanioses Professor adjunto VI da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atua, principalmente, nos seguintes temas: nefrologia, hemodiálise, nutrição parenteral e enteral. Professora adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tem experiência na área de medicina veterinária, com ênfase em clínica veterinária, atuando, principalmente, nos seguintes temas: clínica médica, dermatologia e radiodiagnóstico de pequenos animais e leishmanioses caninas Livre-docente (1988) e professor titular (1998) em patologia médica da FMVZ/USP. Orientador e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Clínica Veterinária, respondendo pelas disciplinas dermatologia comparada e micologia clínica. Desde 1984 chefia o serviço de dermatologia do HOVET/USP. Docente de pós-graduação lato sensu na Argentina, Chile, Colômbia, Portugal, Uruguai. Presidente da Comissão Mista de Especialidades do CFMV. Assessor ad hoc CNPq e FAPESP. Membro do Comitê de Medicina Veterinária da CAPES (1999-2005). Área de atuação: dermatologia e otologia veterinária, clínica médica de cães e gatos, dermatozoonoses.

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Saúde pública do em qual trabalho científico deve-se direito à vida, à liberdade, à igualdade, perímetro e todos os animais que insistir nesta política cruel? Por que não à segurança e à propriedade, nos terestiverem dentro dele deverão ser morse divulga o número de animais mortos e mos seguintes: ... IX - é livre a tos. Isto é feito para destruir o foco e preo quanto que se conseguiu controlar o expressão da atividade intelectual, venir a disseminação da enfermidade. avanço da enfermidade? Provavelmente, artística, científica e de comunicação, Porém, o fazendeiro recebe indenização porque matar animal não resolve. Por independentemente de censura ou por cada animal abatido. Portanto, outro lado, quando os cães possuem licença...”. considerando de que os cães também são condições clínicas para serem tratados e Uma das importantes contribuições considerados como propriedades e que o institui-se o tratamento há diminuição da dadas no seminário promovido em São direito de propriedade é garantido pela parasitemia e eles passam da condição Paulo foi pelo médico veterinário e Constituição Federal (Art. 5º Todos são de transmissores, para portadores. Além advogado André Luis Soares da Fonseiguais perante a lei, sem distinção de disso, é importante os médicos veterináca, que tem viajado pelo Brasil a conqualquer natureza, garantindo-se aos rios estarem cientes do princípio da resvite de entidades de classe, como, por brasileiros e aos estrangeiros residentes ponsabilidade objetiva, pois, em alguns exemplo o CRMV-CE, para falar sobre no País a inviolabilidade do direito à lugares, onde o tratamento já teve sua o tema em questão. Em São Paulo, Fonvida, à liberdade, à igualdade, à segurealização garantida por liminar, ele seca começou sua apresentação fazendo rança e à propriedade, nos termos sepode ser aplicado. Não importa se a seguinte observação: “muitos médicos guintes: XXII - é garantido o direito de alguns médicos veterinários não confiam veterinários responsáveis estão preocupropriedade...), cada proprietário de anino tratamento, ele deve ser informado pados em discutir a questão da leishmamal morto a bem da saúde pública, deve aos clientes, pois, no futuro, se o cliente niose visceral no Brasil. O que se obserser indenizado pela suas perdas”, enfatiperder o animal por não tê-lo tratado, va é que há uma polaridade quando se zou Fonseca. Outros questionamentos uma vez que existe o tratamento descrito discute o tratamento de cães com leishque também foram destacados foram: na literatura científica, ele pode procesmaniose visceral: alguns são a favor e “se a morte dos cães ajuda a controlar a sar o médico veterinário que não tratou outros são contra. Porém, o mais preoleishmaniose visceral, os dados dos núou encaminhou para colega que o cupante, não é esta polaridade, mas a meros de cães mortos precisam ser mosfizesse, vindo a ter que pagar indenizapropagação de várias mentiras, como, trados, bem como os números que ção. Por que não se deve matar cães por exemplo, que não existe tratamenmostram que esta é a forma correta de para controlar a leishmaniose visceral to, que as vacinas contra leishmaniose combater esta antropozoonose. A prócanina? Porque é um método antiético e visceral canina não funcionam etc. prio OMS não recomenda este procediexistem métodos mais inteligentes e mais Tenta-se criar terror baseando-se em mento como forma de prevenção e coneficazes do que matar cães; não é recofatos mentirosos. Por isso, estamos detrole da leishmaniose. E, enquanto se inmendado pela OMS; causa dispersão da senvolvendo trabalho jurídico para siste apenas nessa conduta, como forma doença, pois os proprietários de cães, mostrar as evidências científicas de que de prevenção e controle da leishmaniose principalmente, os que sabem da existêno tratamento funciona e de que existe visceral, a enfermidade alastra-se por cia do tratamento, deslocam o cão para cura clínica do animal. Existe falta de todo o país. Desde que foi implementada região onde sua vida possa ser preservafundamento técnico ao se tentar explia política de matar cães com sorologia de da; denigre a imagem do poder público, car a leishmaniose visceral canina: pre1:40 os casos de leishmaniose somente pois se há anos que se mata cães e a sença do parasita não quer dizer doentem aumentado no país. Portanto, baseaocorrência da leishmaniose apeça, portador não significa transnas aumenta; dificulta as demais missor, PCR positivo não quer ações de saúde pública, como, dizer animal doente. Na Espanha, por exemplo, o controle da para um cão ser considerado dengue, pois proprietários que se como positivo para leishmaniose sentem ameaçados pelos inquérivisceral, ele precisa apresentar tos sorológicos da população sorologia positiva e, depois, concanina passam a não deixar firmado pela biópsia e achado do entrar em sua residência qualparasita. Se o parasita não é quer que seja o agente de saúde encontrado, o cão não é considerapública; após a morte de um cão, do positivo. Atualmente, os cães, imediatamente ele é reposto e para muitos, são membros da pode, facilmente, ser infectado, família e muitos são os vínculos pois o problema esta relacionado que são criados entre estes animais ao ambiente, que na maioria das e os seres humanos. Portanto, não vezes não é tratado. Isto somente se pode simplesmente retirá-los do é feito quando há registro de caso seio familiar e matá-los. Fato relahumano”. tivamente semelhante ocorre com No sítio português ONLEISH (Observatório Nacional das LeishmaOutras importantes contribuigado bovino: quando aparece nioses - www.onleish.org) é recomendado.o tratamento dos cães algum foco de febre aftosa em com leishmaniose visceral. A eutanásia torna-se obrigatória, por ções foram dadas pelo médico algum rebanho, é delimitado um decreto-lei, quando os proprietários não optarem pelo tratamento veterinário Fábio Nogueira, que 20

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Saúde pública destacou recente trabalho publicado por grupo europeu de especialistas em leishmanioses (Leishvet) na revista oficial da American Association of Veterinary Parasitologists (AAVP), European Veterinary Parasitology College (EVPC) e da World Association for the Advancement of Veterinary Parasitology (WAAVP), a Veterinary Parasitology 165 (2009) 1–18: Directions for the diagnosis, clinical staging, treatment and prevention of canine leishmaniosis. O artigo é bastante completo e, com relação ao tratamento dos cães com leishmaniose visceral, destaca que o prognóstico dependerá do estágio clínico em que se encontra o paciente. Estes estágios, que são divididos em quatro, podem ser definidos pelos sinais clínicos e achados laboratoriais. Cães no estágio 1 tem o prognóstico bastante favorável ao tratamento. À medida que o estágio está mais avançado, o prognóstico vai diminuindo, indo de bom para reservado, de reservado para pobre e, finalmente, no estágio 4, ele é pobre. Como se pode constatar, o conhecimento científico nacional e internacional sobre as leishmanioses tem avançado. Porém, no Brasil, a aplicação dos conhecimentos dependerá do avanço de processo jurídico e da criação de jurisprudência sobre o tema para que seja possível, que os médicos veterinários

Directions for the diagnosis, clinical staging, treatment and prevention of canine leishmaniosis foi publicado recentemente na Veterinary Parasitology 165 (2009) 1–18

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possam exercer o seu papel de salvar vidas e de garantir a saúde das famílias. Finalizando, é importante destacar que a Constituição Brasileira, que no seu artigo 225, caput e parágrafo 1º, inciso VII, estabelece a proteção ao meio ambiente e a fauna, ressaltando, expressamente, a questão da dignidade dos animais, proibindo as práticas que submetam os animais à crueldade, bem como à Lei Federal 9.605/1998, que, no seu artigo 32, tipifica como crime ambiental a prática de abuso e maus tratos contra os animais. Porém, esta proteção aos animais não é vista quando se condena a morte centenas de animais tendose como base um exame que serve apenas para triagem, não para diagnóstico definitivo. Além do conhecimento da Constituição Federal é importante analisá-la em conjunto com a lei n. 8429, especialmente na Seção III - Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra os Princípios da Administração Pública, Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência. Esta análise permite constatar que os levantamentos sorológicos de leishamiose visceral canina que condenam centenas de cães à morte ferem a Constituição Brasileira e que procedimentos como este e todos os demais que procuram excluir os cães de condutas dignas carecem de probidade administrativa. Enquanto isso, a leishmaniose se espalha por todo o país, sendo encontrada, atualmente, não somente em cães, mas em muitos gatos. As condutas para a prevenção desta enfermidade carecem de medidas que já poderiam ter sido tomadas há anos e que não são postas em prática por questões de probidade administrativa. Um exemplo é o bloqueio da participação dos médicos veterinários ao NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família). Enquanto os dirigentes não entenderem que os animais de estimação cada vez mais são entes queridos e considerados membros da família, enfermidades como a leishmaniose estarão fora de controle e sendo disseminadas pelo país.

Raiva No dia 14 de outubro de 2008, o Departamento de Vigilância Epidemiológica (DEVEP)/ Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS)/ Ministério da Saúde (MS), por meio da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, foi notificada da suspeita de um caso de raiva humana proveniente do município de Floresta/PE. Detalhes desta notificação e dos procedimentos tomados estão descritos em nota técnica da C O V E V / CGDT/DEVEP/SVS/MS (portal.saude. gov.br/portal/arquivos/pdf/nota_ tecnica_raiva_humana_ 11_08.pdf). Felizmente, o desfecho deste caso de raiva humana foi bom e inédito no país. Em função desse sucesso, o Departamento de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, publicou, na revista Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 18(4):385-394, out-dez 2009 o artigo Protocolo para tratamento de raiva humana no Brasil. O artigo e seus anexos estão disponíveis, respectivamente, nos endereços: portal.saude.gov.br/ portal/arquivos/pdf/protocolo_ tratamento_raiva_humana.pdf e portal.saude.gov.br/portal/arquivos/ pdf/protocolo_tratamento_raiva_ humana_anexos.pdf. Este caso de raiva humana que foi curado teve como transmissor o morcego. Esta espécie animal merece atenção, inclusive, em áreas como São Paulo, onde não são observados casos de raiva humana desde 2001. Recentemente, levantamento feito pela Secretaria de Saúde de São Paulo, entre os anos de 2005 e 2008, que abrangeu 645 municípios paulistas, detectou que os morcegos respondem por 49,6% dos casos de raiva animal confirmados no Estado. Segundo o Instituto Pasteur, órgão da Secretaria da Saúde, o morcego é, atualmente, o principal reservatório do vírus e a raiva não se restringe às espécies hematófogas, sendo fundamental a vigilância para que os municípios paulistas consigam controlar a raiva. O Ministério da Saúde dispõe, na internet, de guia de vigilância epidemiológica para a raiva: portal.saude.gov. br/portal/arquivos/pdf/raiva_gve.pdf e de manual para diagnóstico laboratorial: portal.saude.gov.br/portal/arquivos/ pdf/manual_diagnostico_raiva.pdf .

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A

Radiografia computadorizada no HOVET/FMVZ/USP

caba de entrar em operação o mais novo equipamento de radiografia

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP inaugurou, em 7/7/2009, equipamento de radiografia computadorizada que dispensa a utilização de químicos e repetidas chapas de filmes

C

O

EVER – Especialidades Veterinárias Rebouças, localizado no n. 1.111 da Av. Rebouças, em São Paulo, SP, a partir de novembro de 2009, presta, exclusivamente, serviços nas diversas especialidades veterinárias. O EVER pertence ao Hospital Veterinário Rebouças e fica localizado bem próximo a ele: a 150 metros. O EVER trabalhará seguindo a tradição de 50 anos de atendimento do Hospital Veterinário Rebouças em oferecer serviços éticos e de qualidade à comunidade e aos médicos veterinários. O EVER inova ao oferecer atendimentos com especialistas, nas mais variadas áreas, todos os dias da semana e num só local. Cirurgias, internações, pronto socorro e atendimento ambulatorial continuarão a ser realizados apenas no Hospital Veterinário Rebouças. Hospital Veterinário Rebouças: (11) 3062-3011

Projeto Estética Animal Frontline® investe na capacitação de profissionais em todo Brasil

ada vez mais os animais de companhia conquistam lugares de importância na vida das pessoas, os aspectos comportamentais dessa relação influenciam o mercado e o cotidiano da população. O cachorro que antes dormia fora de casa, hoje tem seu canto garantido dentro das residências. Camas, acessórios, roupas, são itens de consumo cada vez mais comuns entre os proprietários de pet. Um fator, entretanto, é fundamental: a higiene. O banho e a tosa estão em primeiro lugar nos cuidados com o animal de companhia. A tosa traz ainda, o benefício estético ao animal. Para que o corte adequado garanta beleza, bem estar ao pet e satisfação ao proprietário, a Merial Saúde Animal se preocupou em desenvolver um projeto que garantisse a qualidade desse serviço. “O Projeto Tosador promove, desde o início de 2007, a capacitação de profissionais em todo o país. Escolhemos o consultor Sérgio

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computadorizada da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZUSP), que melhora a capacidade diagnóstica por imagens dos mais de 45 mil casos atendidos anualmente na unidade no Serviço de Diagnóstico por Imagem do HOVET/FMVZ/USP. Principais vantagens alcançadas: • redução da dose de radiação; • melhoria na qualidade da imagem; • dispensa o uso de filmes; • sem uso de produtos químicos; nocivos antes usados na revelação convencional; O novo aparelho está instalado no Departamento de Cirurgia da FMVZUSP, sob responsabilidade da professora Ana Carolina Fonseca Pinto. O conjunto de equipamentos custou cerca de R$ 270 mil e foi adquirido com apoio da FAPESP por meio do projeto de pesquisa 08/03650-8 e complementado por parte da reserva técnica da FAPESP destinada à unidade.

EVER Especialidades Veterinárias Rebouças

Villasanti para ministrar as palestras. Ele passa a técnica adequada e o conhecimento correto aos tosadores, além de ser um renomado especialista do segmento”, afirma Geisa Gomes, idealizadora do projeto e responsável pelo Contact Center da área de animais de companhia da Merial. São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Ribeirão Preto, Curitiba, Recife e Fortaleza são exemplo de cidades que já foram contempladas pelo projeto. “Em parceria com a distribuidora Merial da região, a equipe recebe orientação técnica, com dicas de tosa (teórica e prática) e ainda tem a oportunidade de interagir com profissionais da área. Desta forma, cada vez mais proprietários de cães terão acesso a um trabalho de qualidade em clínicas veterinárias e pet shops com banho e tosa”, observa Geisa. “Os hábitos de limpeza garantem bem estar ao pet, auxiliam a evitar problemas secundários e também, são uma forma das

pessoas estarem em contato com um especialista. Ir a uma clínica é tão, ou mais importante, quanto deixar o animal bonito e limpinho. Por meio de consultas periódicas, os donos obtêm informações sobre vacinação e sobre formas eficazes de controle de parasitas”, enfatiza Gilberto Maia, patrono do projeto, médico veterinário e gerente de produtos da operação animais de companhia da Merial Saúde Animal. “Pulgas e carrapatos estão entre os problemas mais comuns em cachorros e gatos. Isto porque os animais os contraem de forma fácil nas ruas em contato com outro animal ou em ambientes infestados”, acrescenta Gilberto. Frontline, antiparasitário da Merial, é líder no mercado nacional e internacional, sua eficácia e segurança são os principais motivos pelos quais o produto ocupa esta posição há doze anos no segmento pet brasileiro.

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Novidades presentes na RioVet 2009

Acompanhe os preparativos para a RioVet 2010 - www.riovet.com.br

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m setembro, o Rio de Janeiro, RJ, sediou a RioVet 2009. Várias empresas apostaram no evento para divulgar seus lançamentos na região, que representa, em número de negócios do setor, o segundo maior mercado. O evento contou com várias atrações, entre elas, destacou-se a 9ª Conferência Sulamericana de Medicina Veterinária. Sua programação científica foi contemplada com temas como a terapia intensiva e a fisioterapia, entre outros. Expandindo-se cada vez mais no mercado, a Syntec marcou presença

Pet Organic, alimento orgânico para pets, foi lançado com destaque durante a RioVet O Hema-Screen 18, contator automático de células, determina simultaneamente 18 parâmetros hematológicos. O equipamento é fornecido pela B4Lab com versão específica para medicina veterinária Oxigel oferenceu soluções de qualidade em anestesia veterinária

Vetnil promoveu seu mais recente lançamento: o Emagripet

Na Lazza, os destaques foram para a utilização de material reciclável e modelos exclusivos para aves

MedSinal, presente com O CRV Imagem divulgou as excemodernas técnicas de diagóstilentes ofertas co por imagem

International Pet Meeting ofereceu entretenimento, conhecimento e negócios

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International Pet Meeting São Paulo, evento organizado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfalpet), aconteceu de 13 a 16 de setembro, em São Paulo, SP, reuniu pesquisadores, profissionais, fabricantes, distribuidores, lojistas e consumidores. Fórum técnico-científico, rodada internacional de negócios e shows de entretenimento fizeram parte da programação. Segundo Carlos Lobo, presidente da Anfalpet, “esta rodada internacional de negócios demonstra o amadurecimento de nosso setor e mostra ao mundo

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a nossa capacidade de produzir e exportar produtos competitivos e de qualidade insuperável. Somos o segundo produtor de alimentos pet do mundo e vamos nos tornar em breve um dos maiores exportadores destes e dos outros produtos relacionados”. Para Avay Miranda, Gestor de Projetos da Apex-Brasil “ a exportação de produtos para animais de companhia é uma ferramenta efetiva de agregação de valor às nossas commodities, gera empregos e fomenta a inovação e a criatividade, que somados ao nosso preço competitivo nos coloca em vantagem frente aos nossos concorrentes.”

Este ano a RioVet também contou com a participação da Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (SPEDA) (www.rio.rj.gov.br/defesa_animais), que desenvolve o programa Bicho Rio, entre outros

Grande procura por instrumentais e equipamentos foi constatada no stand da Brasmed

Feliway, produto para a terapia comportamental de gatos, foi destaque da Ceva

A rodada permitiu a concretização de negócios da ordem de US$ 40.000, com expectativa de serem Diversos compradores de outros países participaram da rodada internacional de negócios. realizados mais de Para várias empresas, a possibilidade de falar US$ 1.300.000 para com este número expressivo de compradores os próximos 12 me- presente na rodada envolveria o investimento milhares de reais. “Isto não foi necessário, ses. Os números só de pois eles vieram aqui, em São Paulo, custeanão foram mais exdos pela Apex-Brasil, para falar conosco”, destacou Dario Costa, da Toy for Bird pressivos devido às dificuldades que o setor de pet food enfrenta para o embarque exportador brasileiro”, suspira de suas mercadorias. “Estamos desalentado Robson Fonseca, perdidos em meio às exigências responsável pela área de comérdo Ministério da Agricultura, Pe- cio exterior da Mogiana Alicuária e Abastecimento (MAPA), mentos S/A, após desligar o que não consegue conversar in- telefone em mais uma ligação ternamente e dificulta a vida do para o MAPA. Sem sucesso...

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Manometria ocular para estudo experimental da medição de pressão intraocular em cães e gatos: como realizá-la de maneira precisa e barata

Sílvia Franco Andrade MV, profa. dra. Curso Medicina Veterinária - Unoeste silviavet@terra.com.br

Caroline Ferreira Lonchiati graduanda Curso Medicina Veterinária - Unoeste

carol_lonchiati@hotmail.com

Cristiane Aparecida Miranda Zachi graduanda Curso Medicina Veterinária - Unoeste

camzachi@yahoo.com.br

Ocular manometry for the experimental study of intraocular pressure measurement in dogs and cats: how to perform it in a precise and cost-effective way

Tatiana Cremonezi graduanda Curso Medicina Veterinária - Unoeste tatianacremonezi@yahoo.com.br

Keila Priscilla Sakamoto MV, residente HV - Unoeste

keilasakamoto@yahoo.com.br

La manometria ocular para el estudio experimental de la medida del presión intraocular en los perros y gatos: cómo lograrlo de una manera precisa y barata

Juliana Dalorossa Amatuzzi MV, residente HV - Unoeste

HV - Unoeste jutuzzi@hotmail.com

Resumo: A manometria ocular é uma técnica utilizada experimentalmente para a medição invasiva da pressão intraocular (PIO) por meio de canulação da câmara anterior com uma agulha fina e medição com aparelhos de detecção de pressão. Este trabalho teve o objetivo de avaliar materiais baratos e de fácil aquisição para a realização de manometria ocular, verificando a acurácia da medição da PIO com os manômetros aneroide e de coluna de mercúrio. Quanto à acurácia, ambos obtiveram o mesmo desempenho. O manômetro aneroide apresentou maior facilidade de ser posicionado, e o de mercúrio, melhor visibilidade para a leitura da PIO. Conclui-se que ambos os manômetros são viáveis e precisos na realização da manometria ocular. Unitermos: manômetro aneroide, manômetro de coluna de mercúrio Abstract: Ocular manometry is a technique used experimentally for the invasive measurement of intraocular pressure (IOP) by cannulation of the anterior chamber with a fine needle and measurement with equipment for pressure detection. This work had the objective of evaluating economical materials of easy acquisition for the accomplishment of ocular manometry. Measurement accuracy was verified by aneroid and mercury column manometers. The two manometers had similar performance: the aneroid manometer was easier to place, while the mercury column manometer offered better visibility for IOP reading. In conclusion, both manometers are viable and precise when used for ocular manometry. Keywords: aneroid manometer, mercury column manometer Resumen: La manometria ocular es una técnica invasiva de medición de la presión intra-ocular (PIO) por medio de la canulación de la cámara anterior con una aguja fina y medición con aparatos de detección de presión. Este trabajo tiene como objetivo evaluar los materiales, baratos y de fácil adquisición, para el logro de manometria ocular, verificando la exactitud de medir PIO por el manómetro aneroide y manómetro de columna de mercurio. En cuanto a la exactitud, los dos obtuvieron la misma actuación. El manómetro aneroide fue mas fácil de posicionar, mientras en el manómetro de columna de mercurio la visibilidad fue mejor para la lectura de la PIO. La conclusión és que los dos manómetros son viables e precisos en la realizatión de la manometria ocular. Palabras clave: manómetro aneroide, manómetro de columna de mercurio

Clínica Veterinária, n. 83, p. 28-32, 2009

Introdução Manometria é a medição da pressão exercida por líquidos ou gases em ambientes fechados utilizando-se instrumentos denominados manômetros. Na área médica, o termo manometria é mais utilizado para medição invasiva da pressão arterial, ocular e esofágica. Por ser um método direto e invasivo, a manometria é considerada “the gold standard” – o método padrão-ouro –, por ser o mais real em termos de medição de pressão 1. 28

A manometria ocular ou manometria direta é um método utilizado exclusivamente de modo experimental, devido à complexidade da sua execução, incompatível com a rotina clínica; entretanto do ponto de vista experimental, é essencial para a pesquisa de drogas que interfiram com a pressão intraocular (PIO) e na avaliação de aparelhos de medição do glaucoma (tonômetros), principalmente para testar a sua eficiência e acurácia para validá-los na utilização em

animais que possuem diferenças corneais importantes em relação à córnea de seres humanos 2-6. A manometria direta já foi utilizada em codornas albinas como modelo de glaucoma de ângulo fechado 7, no efeito de drogas utilizadas experimentalmente na hipertensão arterial sistêmica e intraocular em cães 5 e no estudo da influência da indução de hipertensão ocular com o uso de corticoide tópico em gado 4. Essa técnica também já foi aplicada em diversas espécies animais para validação e avaliação da eficácia e acurácia de mensuração da PIO com diversos tipos de tonômetros, como MackayMarg, TonAir e EMT-20 em cães 3; Alcon e Perkins em coelhos e gatos 8; Mackay-Marg, Tono-pen e Challenger em cães 9; Mackay-Marg e Tono-pen em gatos 10; Mackay-Marg e Tono-pen em cães e cavalos 2; Tono-Pen e MackayMarg em macacos 11; Tono-pen XL em gatos, bovinos e ovinos 6; tonômetro de rebote (Tonovet) em cães e gatos 12 e

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


ANIMAL 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Med ± DP Mínimo Máximo

Aneroide 10 a 9a 16 a 15 a 15 a 18 a 15 a 16 a 15 a 15 a 14,4 ± 2,8 a 9 18

CÃES

Coluna de mercúrio 10 a 9a 16 a 15 a 15 a 18 a 15 a 16 a 15 a 15 a 14,4 ± 2,8 a 9 18

Aneroide 18 a 18 a 14 a 14 a 16 a 15 a 14 a 13 a 14 a 14 a 15 ± 1,8 a 13 18

GATOS

Coluna de mercúrio 18 a 18 a 14 a 14 a 16 a 15 a 14 a 13 a 14 a 14 a 15 ± 1,8 a 13 18

PIO: pressão intraocular Letras diferentes indicam diferença significativa (P<0,05) Med±DP = média ± desvio padrão

Figura 3 - Valores médios obtidos da PIO (mmHg) com os manômetros aneroide e de coluna de mercúrio em cães e gatos no estudo in vivo

leitura maior (Figura 1c). Quanto à praticidade, o manômetro aneroide apresentou melhor desempenho, por ser facilmente regulável na posição zero em relação ao centro do olho. Portanto, esses aparelhos, que são muito utilizados na prática hospitalar para aferição

da pressão arterial 21, podem ser uma alternativa barata e acurada para medição da PIO invasiva, como alternativa aos monitores eletrônicos. Os vinte olhos que receberam a aplicação da cola à base de cianoacrilato no estudo in vivo macroscopicamente não

desenvolveram qualquer tipo de complicação. A placa formada com a polimerização do cianoacrilato teve desprendimento espontâneo em cerca de 24 horas, com bom aspecto da lesão corneana induzida pela canulação (Figura 2f). O uso da cola à base de cianocrialato no tratamento de perfurações corneais é um método que vem sendo muito bem aceito, por mostrar-se seguro 16-18, de baixo custo 14 e de fácil realização 15. A cola de cianoacrilato é recomendada no tratamento de perfurações de córnea de até 3mm de diâmetro em humanos 15,17. Porém, devese ressaltar que quanto maior a lesão, maior é a quantidade necessária da cola, o que aumenta sua toxicidade, podendo causar reações inflamatórias, vascularização e necrose da córnea ao redor da área tratada 15. Quando em contato com um meio líquido, a cola de cianoacrilato polimeriza-se, formando uma placa que serve como suporte para a cicatrização e a epitelização do tecido subjacente e inibe a migração de células inflamatórias 20, além de impedir o crescimento bacteriano

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B

C

E

Sílvia Franco Andrade

Sílvia Franco Andrade

Sílvia Franco Andrade

D

Sílvia Franco Andrade

Sílvia Franco Andrade

Sílvia Franco Andrade

A

F

Figura 2 - Estudo in vivo em gato: A) canulação da câmara anterior com escalpe 23G a 2mm do limbo na posição 10h em OD; B) formação de uma gotícula de cola de cianocrialato na ponta do bisel de uma agulha 25 x 7; C) momentos antes da retirada da agulha da câmara anterior para aplicação da cola; D) a seta indica a gota de cola selando a perfuração feita pelo escalpe; E) polimerização da cola com lavagem de solução fisiológica com uma agulha 25 x 7; F) aparência do animal 24 horas após o experimento

aneroide quanto a coluna de mercúrio estavam na posição zero em relação ao centro do olho (Figura 1d). Técnica de manometria ocular in vivo Os animais foram anestesiados com o seguinte protocolo: medicação préanestésica com diazepam i na dose de 0,5mg/kg IV, e logo em seguida tiopental sódico j na dose de 12,5mg/kg IV. A córnea foi anestesiada topicamente com duas gotas de colírio anestésico à base de proximetacaína a 0,5% k. Os mesmos procedimentos realizados na manometria in situ foram realizados in vivo (Figura 2a), com exceção da elevação artificial da PIO, não havendo portanto necessidade do reservatório no sistema, sendo lida a PIO no momento de canulação da câmara anterior. Depois de realizadas as leituras dos aparelhos de medição da PIO, a cola de cianoacrilato foi gotejada dentro de uma seringa de 1mL d, e a seringa foi acoplada a uma agulha 25x7 f. Foi formada uma gotícula da cola no bisel (Figura 2b), e assim que retirada a agulha da câmara anterior, a gotícula foi aplicada no local da punção da córnea (Figuras 2c e 2d). Em seguida, com o auxílio de uma seringa de 5mL e uma agulha 25x7 f, a córnea foi lavada com solução fisiológica para polimerização da cola e proteção 30

da perfuração (Figura 2e). Após esse procedimento, os animais foram tratados com a instilação de uma gota 3x/dia de colírio antibiótico à base de cloranfenicol l e de colírio anti-inflamatório à base de diclofenaco sódico m durante cinco dias. A recuperação da lesão corneana induzida foi avaliada em exame oftálmico diário. Esse procedimento foi baseado em relatos da literatura 15,16 que citam que perfurações ou lesões de córnea de até 3mm de diâmetro em humanos podem ser tratadas com cola à base de cianoacrilato – que age selando as perfurações e servindo de apoio para o crescimento de tecido cicatricial sobre a área perfurada, além de inibir a migração de células inflamatórias 17,18. Há relatos do uso de cola à base de cianoacrilato no tratamento de úlceras corneais superficiais refratárias em dezessete cães, um gato e um coelho, com excelentes resultados 19. Outro estudo 20 que também usou essa cola em vinte e oito cães e nove gatos também obteve ótimos resultados no manejo de defeitos corneais. Análise estatística Os valores obtidos da manometria ocular com manômetro aneroide e de coluna de mercúrio, tanto in situ quanto in vivo, foram comparados e analisados

estatisticamente pelo teste t de Student. Foi adotado o nível de significância de 5%. Resultados e discussão Quanto à sensibilidade e à acurácia da leitura simultânea da PIO entre os manômetros aneroide e de coluna de mercúrio, ambos tiveram o mesmo desempenho, não havendo diferenças estatísticas significativas quanto aos valores aferidos tanto no estudo in situ quanto no estudo in vivo. Os valores obtidos da PIO real pela manometria do estudo in vivo foram de 14,4±2,8mmHg (9 - 18mmHg) em cães e de 15,0±1,8mmHg (13 - 18mmHg) em gatos (Figura 3). Também não houve diferença estatística significativa entre a PIO medida entre as duas espécies. Observou-se uma maior facilidade de leitura dos valores da PIO com o uso do manômetro de coluna de mercúrio, pelo fato de este apresentar um escala de a) Embramac®. Itapira, SP. b) Super Bonder®. Loctite. Itapevi, SP. c) Equipo Macrogotas Embramed®.Sao Paulo, SP. d) Injex®. Ourinhos. São Paulo, SP. e) Fresenius Kabi®. Campinas, SP. f) Embramed. São Paulo, SP. g) Missouri®. São Paulo, SP. h) Oxygel®. São Paulo, SP. i) Compaz®. São Paulo, SP. j) Thiopentax®. Cristália. Itapira, SP. k) Anestalcon®. Alcon. Guarulhos, SP. l) Visalmin®. Bunker. São Paulo, SP. m) Still®. Allergan. Guarulhos, SP.

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ANIMAL 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Med ± DP Mínimo Máximo

Aneroide 10 a 9a 16 a 15 a 15 a 18 a 15 a 16 a 15 a 15 a 14,4 ± 2,8 a 9 18

CÃES

Coluna de mercúrio 10 a 9a 16 a 15 a 15 a 18 a 15 a 16 a 15 a 15 a 14,4 ± 2,8 a 9 18

Aneroide 18 a 18 a 14 a 14 a 16 a 15 a 14 a 13 a 14 a 14 a 15 ± 1,8 a 13 18

GATOS

Coluna de mercúrio 18 a 18 a 14 a 14 a 16 a 15 a 14 a 13 a 14 a 14 a 15 ± 1,8 a 13 18

PIO: pressão intraocular Letras diferentes indicam diferença significativa (P<0,05) Med±DP = média ± desvio padrão

Figura 3 - Valores médios obtidos da PIO (mmHg) com os manômetros aneroide e de coluna de mercúrio em cães e gatos no estudo in vivo

leitura maior (Figura 1c). Quanto à praticidade, o manômetro aneroide apresentou melhor desempenho, por ser facilmente regulável na posição zero em relação ao centro do olho. Portanto, esses aparelhos, que são muito utilizados na prática hospitalar para aferição

da pressão arterial 21, podem ser uma alternativa barata e acurada para medição da PIO invasiva, como alternativa aos monitores eletrônicos. Os vinte olhos que receberam a aplicação da cola à base de cianoacrilato no estudo in vivo macroscopicamente não

desenvolveram qualquer tipo de complicação. A placa formada com a polimerização do cianoacrilato teve desprendimento espontâneo em cerca de 24 horas, com bom aspecto da lesão corneana induzida pela canulação (Figura 2f). O uso da cola à base de cianocrialato no tratamento de perfurações corneais é um método que vem sendo muito bem aceito, por mostrar-se seguro 16-18, de baixo custo 14 e de fácil realização 15. A cola de cianoacrilato é recomendada no tratamento de perfurações de córnea de até 3mm de diâmetro em humanos 15,17. Porém, devese ressaltar que quanto maior a lesão, maior é a quantidade necessária da cola, o que aumenta sua toxicidade, podendo causar reações inflamatórias, vascularização e necrose da córnea ao redor da área tratada 15. Quando em contato com um meio líquido, a cola de cianoacrilato polimeriza-se, formando uma placa que serve como suporte para a cicatrização e a epitelização do tecido subjacente e inibe a migração de células inflamatórias 20, além de impedir o crescimento bacteriano

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nas áreas superficiais que entram em contato direto com ela 17. De acordo com alguns autores 15, o cianoacrilato deve permanecer no olho até que o processo cicatricial tenha ocorrido, podendo tanto desprender-se espontaneamente como ser removido. Conclusão Neste estudo podemos concluir que a manometria ocular com o uso de manômetros aneroide e de coluna de mercúrio é uma metodologia experimental prática e acurada, além de ter um custo mais acessível que o dos monitores eletrônicos para medição da PIO em cães e gatos, podendo ser útil na pesquisa de drogas que interfiram com a PIO e na avaliação e validação de tonômetros usados para detecção do glaucoma. Referências

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15-FELBERG, S. ; LAKE, J. C. ; LIMA, F. A. ; ATIQUE, D. ; NAUFAL, S. C. ; DANTAS, P. E. C. ; NISHIWAKI-DANTAS, M. C. Adesivo de cianoacrilato no tratamento de afinamentos e perfurações corneais: técnica e resultados. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 66, n. 3, p. 345-349, 2003.

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21-O'BRIEN E. ; COATS A. ; OWENS P. ; PETRIE J. ; PADFIELD P. L. ; LITTLER W. A. ; DE SWIET M. ; MEE F. Use and interpretation of ambulatory blood pressure monitoring: recommendations of the British hypertension society. British Medical Journal, v. 320, n. 7242, p.1128-1134, 2000.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009



Thomas Normanton Guim

Adenocarcinoma metastático da glândula da terceira pálpebra em um cão

MV, MSc, doutorando - PPGV/UFPel

thomasguim@hotmail.com

Melissa Borba Spader MV, mestre

melispader@gmail.com

Tainã Normanton Guim

Metastatic adenocarcinoma of the gland of the third eyelid in a dog

MV, mestranda - PPGV/UFPel

tainanormanton@hotmail.com

Fernanda da Silva Xavier

MV, mestranda - PPGV/UFPel

Adenocarcinoma metastático de la glándula del tercer párpado en un perro

fefavet1981@gmail.com

Cristina Gevehr Fernandes

MV, dra., profa. adj. Depto. Patologia Animal - FV/UFPel cris.gf@uol.com.br

Resumo: O adenocarcinoma da glândula da terceira pálpebra (AGTP) é um neoplasma raro em animais domésticos, com escassos relatos de metástases confirmadas histologicamente. O neoplasma foi diagnosticado em um cão que apresentava um tumor ulcerado comprometendo a órbita e linfonodos submandibulares. O exame radiográfico revelou imagem compatível com metástase pulmonar. Um procedimento cirúrgico paliativo foi realizado e os tumores foram enviados para avaliação histopatológica. O animal foi submetido à eutanásia dois meses após o procedimento cirúrgico, por apresentar recidiva neoplásica e dispneia. Na necropsia foi observada invasão de tecido neoplásico para musculatura periorbital e acometimento neoplásico dos linfonodos submandibulares, subescapulares e pulmões. A caracterização das lesões histopatológicas permitiu o diagnóstico de AGTP e confirmaram-se as suspeitas de metástase. Unitermos: oncologia, neoplasmas palpebrais, membrana nictitante Abstract: Adenocarcinoma of the gland of the third eyelid (AGTE) is a rare neoplasm in domestic animals with scarce reports of metastasis confirmed histologically. The neoplasm was diagnosed in a dog presenting ulcerated tumor involving the orbit and submandibular lymph nodes. The radiographic examination was compatible with pulmonary metastasis. Palliative surgery was performed and the tumors were submitted for histopathological examination. The animal was euthanized two months after surgery due to tumor recurrence and dyspnea. Necropsy disclosed invasion of the periorbital muscular tissue by the neoplasm and metastasis in the lungs and both submandibular and subscapular lymph nodes. The histopathological characterization of the lesions was necessary to enable the AGTE diagnosis and metastasis confirmation. Keywords: medical oncology, eyelid neoplasms, nictitating membrane Resumen: El adenocarcinoma de la glándula del tercer párpado (AGTP) es un neoplasma raro en los animales domésticos, con pocos reportes de metástasis histológicamente confirmadas. El neoplasma fue diagnosticado en un perro que presentaba un tumor ulcerado con comprometimiento de la órbita y de los ganglios linfáticos submandibulares. El examen radiográfico reveló una imagen compatible con metástasis pulmonar. Fue realizada cirugía paliativa y los tumores fueron enviados para evaluación histopatológica. El animal fue eutanasiado dos meses después del procedimiento quirúrgico por presentar recidiva neoplásica y disnea. En la necropsia fue observada invasión del tejido neoplásico para la musculatura periorbital y acometimiento neoplásico de los ganglios linfáticos submandibulares y subescapulares y de los pulmones. La caracterización de las lesiones histopatológicas permitió el diagnóstico del AGTP y confirmó las sospechas de metástasis. Palabras clave: oncología, neoplasmas de los párpados, membrana nictitante

Clínica Veterinária, n. 83, p. 34-36, 2009

Introdução A terceira pálpebra é uma estrutura de proteção móvel, localizada entre a córnea e a pálpebra inferior, na porção nasal do saco conjuntival inferior 1. É responsável por três importantes funções: produção de fluido para o filme lacrimal, distribuição do filme pré-corneano e proteção da córnea 2,3. As lesões nas amostras de tecidos cirurgicamente excisados da terceira pálpebra ficam habitualmente limitadas às alterações inflamatórias e hiperplásicas 4. Foi sugerido que fatores ambientais que levam ao aumento da exposição da conjuntiva em cães podem estar relacionados ao aparecimento de lesões proliferativas e neoplásicas na terceira pálpebra, principalmente os carcinomas 5,6. 34

No cão e no gato, embora raros, os principais neoplasmas relatados na terceira pálpebra são: os adenomas, os adenocarcinomas, os melanomas, os mastocitomas, os papilomas, os hemangiomas, os hemangiossarcomas, os histiocitomas e os fibrossarcomas 1,5,7,8,9,10. O adenocarcinoma da glândula da terceira pálpebra (AGTP) é um neoplasma epitelial maligno que geralmente acomete cães idosos, mas raramente produz metástases 10. Os exames citológico e histopatológico são fundamentais para o estabelecimento do diagnóstico e a cirurgia é o método de terapia mais indicado para remoção desse neoplasma 1,10. Este trabalho tem como objetivo descrever os aspectos clínicos e patológicos do AGTP observados em um cão, com

ênfase no relato e na caracterização de suas metástases. Descrição do caso Uma cadela sem raça definida, de aproximadamente dez anos de idade, foi atendida no Hospital Veterinário Universitário da UFPel. A paciente apresentava massa tumoral localizada na região ocular. Poucos dados puderam ser obtidos na anamnese, pois o animal era errante. Ao exame clínico foi constatada a presença de um tumor medindo 4 x 5 x 3cm, firme, sem mobilidade, ulcerado, envolvendo a região da órbita ocular direita. Não foi possível nesse exame a visualização do bulbo ocular, que estava totalmente recoberto pelo tumor. Os linfonodos ipsilaterais ao tumor encontravam-se aumentados, com consistência firme e mobilidade diminuída. Adicionalmente, foi constatada discreta desidratação e palidez das mucosas; entretanto, o estado geral do animal era bom. A avaliação radiográfica do tórax revelou a presença de estruturas circulares radiopacas de 1 a 3cm de diâmetro, distribuídas aleatoriamente no campo pulmonar, sugestivas de metástases (Figura 1). Por meio da avaliação clínica e radiográfica, foi constatado que se tratava de neoplasma maligno invasivo e com alto poder metastático, indicando prognóstico desfavorável; no entanto, o animal apresentava-se bem-disposto, sem alterações clínicas e comportamentais que

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


indicassem dor ou sofrimento. Optou-se pela realização de procedimento cirúrgico, com o objetivo de remover ao máximo o tecido neoplásico da região orbital e os linfonodos submandibulares. Foi detectado no período transoperatório que o globo ocular estava deslocado e comprimido pela massa – e, portanto, a enucleação do olho afetado foi realizada concomitantemente. As amostras teciduais excisadas durante a operação foram encaminhadas ao Departamento de Patologia Animal da UFPel para avaliação histopatológica. Na avaliação macroscópica, observouse que a massa apresentava consistência firme, aderência na terceira pálpebra e coloração branco-amarelada, homogênea, contendo áreas focais alaranjadas (Figura 2). A superfície de corte do linfonodo submandibular apresentava aspecto similar (Figura 3). Microscopicamente,

adjacente à cartilagem da terceira pálpebra e no linfonodo, havia proliferação de células epiteliais pleomórficas, dispostas em padrão acinar, apresentando crescimento infiltrativo, intenso infiltrado linfocítico na periferia e baixa taxa mitótica (2 a 3 figuras por campo de grande aumento). As células epiteliais neoplásicas apresentavam citoplasma eosinofílico pouco delimitado, por vezes vacuolizado, núcleos basofílicos redondos e ovais, nucléolos evidentes e pouco numerosos (Figura 4). As lesões observadas permitiram confirmar o diagnóstico de AGTP. O pós-operatório evoluiu satisfatoriamente, contudo, não houve cicatrização completa da ferida. Dois meses após o procedimento, foi possível a visualização de lesão nodular ulcerada no local da ferida cirúrgica e novo aumento de volume na região submandibular. O cão

Figura 3 - Aspecto macroscópico dos nódulos metastáticos localizados no parênquima pulmonar. Notam-se múltiplos nódulos esbranquiçados (setas) de diâmetros variados distribuídos aleatoriamente Thomas Normanton Guim

Figura 2 - Superfície de corte da amostra do tecido excisado, contendo o neoplasma (N) e o bulbo ocular (O). Nota-se coloração brancoamarelada e aderência à terceira pálpebra (TP)

Thomas Normanton Guim

Thomas Normanton Guim

Thomas Normanton Guim

Figura 1 - Radiografia torácica em projeção lateral esquerda, demonstrando estruturas redondas radiopacas de diferentes tamanhos (envoltas por círculos) distribuídas no campo pulmonar

Figura 4 - Corte histológico do tecido neoplásico (N) adjacente à cartilagem da terceira pálpebra (C). (HE, Obj 10x)

apresentava respiração laboriosa e, por questões humanitárias, a eutanásia foi realizada. O cadáver foi encaminhado para necropsia, na qual se observou invasão de tecido neoplásico para musculatura periorbital e acometimento dos linfonodos

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Discussão No presente caso, não foi possível a avaliação clínica do olho e de seus anexos, pois o neoplasma recobria e invadia essas estruturas. Há descrições de que o AGTP se caracteriza clinicamente como um nódulo sólido, de coloração rosada, localizado na região do canto medial ocular, e pode apresentar comportamento invasivo, acarretando desordens estruturais e funcionais do olho e de seus anexos 7,10. Existem várias glândulas localizadas na região periorbital. O neoplasma epitelial orbital primário pode se originar da glândula da terceira pálpebra, da glândula salivar zigomática, da glândula lacrimal ou da glândula sudorípara cutânea. Esses neoplasmas apresentam características histológicas e de comportamento biológico semelhantes, tornando o diagnóstico definitivo problemático 11-13. No presente relato, a determinação da origem do neoplasma foi confirmada histologicamente pela observação da proliferação de tecido epitelial neoplásico adjacente à cartilagem da terceira pálpebra. Alguns autores preconizam que técnicas histoquímicas podem auxiliar na definição da histogênese do neoplasma 11,14. Para neoplasmas adequadamente excisados, o AGTP apresenta baixa taxa de recorrência e as metástases são descritas como raras ou inexistentes 10. Em uma série de sete cães acometidos por AGTP, quatro apresentaram recidivas e um sofreu eutanásia sete meses após a cirurgia, por apresentar possível metástase em linfonodo submandibular e no tórax, mas a necropsia não foi realizada 7. No presente caso, observaram-se metástases nos linfonodos e nos pulmões durante a avaliação clínica e radiográfica, confirmadas posteriormente pelo exame histopatológico. As metástases do AGTP ocorrem em casos crônicos e negligenciados 15, o que possivelmente ocorreu nesse caso, pois o animal em questão era um cão errante. 36

Thomas Normanton Guim

submandibulares e subescapulares do lado direito. Nos pulmões foram observados múltiplos nódulos, variando de 0,5 a 3cm de diâmetro, firmes e esbranquiçados, distribuídos aleatoriamente pelo parênquima (Figura 5). A avaliação microscópica permitiu caracterizar essas lesões como decorrentes de recidiva e metástases do AGTP. Figura 5 - Detalhe histológico do tecido neoplásico demonstrando células epiteliais com pleomorfismo intenso e com padrão de ácinos (cabeças de seta) (HE, Obj 100x)

A aparência histológica do AGTP varia de bem diferenciada, com padrão de ácinos evidente, a pobremente diferenciada, constituída por tecido epitelial sólido. As margens dessa lesão neoplásica geralmente são indistintas, com padrão infiltrativo, requerendo exérese cirúrgica com ampla margem de segurança para remoção completa 10. No presente relato, embora se pudessem observar áreas com padrão de ácinos, havia pleomorfismo celular e nuclear acentuado e margens indistintas; no entanto, a ocorrência de mitoses não foi frequentemente observada. Nos casos em que o componente epitelial é muito indiferenciado, a imunoistoquímica pode ser utilizada para diferenciação de lesões inflamatórias 10,16. A cirurgia com remoção completa da terceira pálpebra é descrita como o tratamento de eleição para o AGTP, pois diminui consideravelmente a taxa de recidiva 1,7. A técnica cirúrgica realizada no animal deste relato teve caráter paliativo, pois havia invasão intensa dos tecidos adjacentes e metástases nos linfonodos regionais e nos pulmões. Adicionalmente, além do aspecto estético, havia o desconforto produzido pela massa e pela ulceração, que possibilitava a perda crônica de sangue, a contaminação da ferida e o autotraumatismo 17. Considerações finais O AGTP é um neoplasma maligno raramente diagnosticado em cães. Há escassos relatos de casos nos quais lesões metastáticas foram confirmadas histologicamente. O estado avançado dessa doença pode produzir aumento de volume orbital e periorbital, dificultando o diagnóstico clínico e histopatológico, pois nessa região outros tecidos epiteliais e não epiteliais podem sofrer alteração neoplásica.

Referências

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009



José Fernando Ibañez

Hérnia inguinoescrotal em basset hound sem histórico de traumatismo relato de caso

MV, MSc, dr., prof. Depto. Patologia Geral - UENP/CLM

ibanez@uenp.edu.br

Paula Cava Rodrigues

Médica veterinária autônoma paulacava2@hotmail.com

Carmen Lúcia Scortecci Hilst MV, profa. Depto. Clínicas Veterinárias - UEL

Inguinoscrotal hernia in Basset Hound without trauma description - case report

chilst@sercomtel.com.br

Luciana Giannini

Médica veterinária autônoma lu_giannini@yahoo.com.br

Hernia inguino-escrotal en Basset Hound sin historia de trauma - caso clínico Resumo: As hérnias inguinais são protrusões de órgãos ou tecidos contidos na cavidade abdominal pelo canal inguinal, consideradas raras nos cães machos. Quando ocorrem adjacentes ao cordão espermático, podem ser chamadas também de hérnias escrotais. Relata-se o caso de um cão macho, da raça basset hound, com três anos de idade, atendido devido à presença de aumento de volume intermitente da bolsa escrotal havia quinze dias. O diagnóstico de hérnia inguinoescrotal baseou-se nos achados clínicos pela redução do conteúdo e da palpação do anel hernial. O cão foi prontamente submetido à herniorrafia, não apresentando intercorrências durante ou após o tratamento. O prognóstico dessa afecção é favorável quando a cirurgia é realizada sem a presença de encarceramento de vísceras, como no caso descrito. Unitermos: cão, cirurgia, abdome, inguinal Abstract: Inguinal hernias are rare affections in male dogs that are characterized by protrusions of abdominal contents through the inguinal canal. When adjacent to the spermatic cord, they can also be called scrotal hernias. A three-year-old male Basset Hound was referred to the veterinary hospital with a history of intermittent increased volume in scrotum for 15 days. The diagnosis of inguinoscrotal hernia was based on the clinical findings, as well as the reduction of contents and palpation of the hernial ring. The animal was submitted to surgical repair with no complications during or after treatment. The prognosis is favorable when the surgical repair is made without visceral trapping, as in this report. Keywords: dog, surgical repair, abdomen, inguinal Resumen: Las hernias inguinales resultan de la salida del contenido abdominal por el canal inguinal y son raras en perros. Cuando ocurren adyacentes al cordón espermático pueden también ser llamadas hernias escrotales. Un perro macho, Basset Hound, de tres años de edad, fue presentado al hospital veterinario con historia de aumento de volumen intermitente del escroto, de 15 días de evolución. El diagnostico de hernia inguino-escrotal fue fundamentado en los signos clínicos, la reducción del contenido y la palpación del anillo herniario. El animal fue sometido a reparación quirúrgica y no hubo complicaciones durante o después del tratamiento. El pronóstico de esta enfermedad es favorable cuando no hay encarcelamiento de vísceras, como en el caso descrito. Palabras clave: perro, reparación quirúrgica, abdomen, inguinal

Clínica Veterinária, n. 83, p. 38-40, 2009

Introdução Por definição, hérnia é a passagem de vísceras de uma cavidade – mais frequentemente do abdome – para outra (tórax) ou para fora dela. As hérnias podem ser classificadas como verdadeiras – se seu conteúdo estiver envolto pelo saco herniário, que no caso das hérnias abdominais consiste no peritôneo ou falsas, caso o conteúdo da hérnia não esteja envolvido pelo saco herniário (peritôneo) 1,2. As hérnias abdominais podem ainda ser classificadas como internas – quando o conteúdo se projeta por um anel confinado dentro da cavidade (hérnia de hiato, hérnia diafragmática) – ou externas – quando o conteúdo abdominal se 38

projeta através de um defeito na parede do abdome que não o umbigo, o canal inguinal, o canal femoral ou o escroto. As hérnias externas que não possuem saco herniário também podem ser chamadas de eventrações 2. Dependendo da localização da protrusão, as hérnias abdominais podem ser classificadas em ventrais, paracostais, umbilicais, púbicas, femorais, inguinais, perineais e escrotais 1,2. As hérnias inguinais correspondem à passagem de vísceras abdominais pelo canal inguinal, junto do processo vaginal, e são classificadas como escrotais quando as vísceras protraídas se alojam dentro do processo vaginal, adjacentes ao funículo espermático 2.

O anel inguinal tem dois componentes 2: - anel inguinal interno: formado pela borda caudal do músculo oblíquo abdominal interno (cranial), pelo músculo reto abdominal (medial) e pelo ligamento inguinal (lateral e caudal); - anel inguinal externo: constitui-se de uma fenda longitudinal na aponeurose do músculo oblíquo abdominal externo. A hérnia inguinal em cães resulta de um defeito ou fragilidade do anel inguinal através do qual se protraem vísceras abdominais. Em cães adultos, geralmente ocorre em fêmeas não castradas, e é de rara ocorrência em machos 2-5. As hérnias da região inguinal podem ser divididas em 1,2,4: - diretas: quando as vísceras entram na cavidade do processo vaginal; - indiretas: quando as vísceras se alojam em posição adjacente ao processo vaginal. Em machos podem se alojar no escroto, recebendo o nome de hérnias escrotais. As indiretas ocorrem predominantemente em machos jovens e fêmeas, constituindo-se em urgência nos machos, que possuem canal inguinal mais longo e estreito e nos quais o risco de encarceramento é maior 1. As hérnias inguinais não traumáticas em machos são relatadas com mais frequência em cães com menos de dois anos. Há hipóteses de que ocorram devido a um atraso no fechamento do canal inguinal, em consequência do retardo na descida do testículo 2. Um estudo avaliando defeitos congênitos apresentados por 1.679 filhotes de cães vendidos em uma loja de animais na Califórnia, Estados Unidos, durante

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


Figura 2 - Saco herniário protraído e direcionado caudalmente em direção à bolsa escrotal. Notar o limite cranial do anel inguinal externo (seta verde) e o saco herniário (seta azul) José Fernando Ibañez

Figura 3 - Conteúdo herniário composto apenas de epíploo, dentro da túnica do funículo espermático (seta) José Fernando Ibañez

Relato de caso Um cão da raça basset hound, de três anos de idade, macho, não castrado, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, com histórico de aumento de volume escrotal intermitente havia quinze dias, sem associação com traumatismos ou tratamentos prévios (Figura 1). Ao exame clínico, observou-se bom estado geral, parâmetros vitais dentro do limite da normalidade e aumento de volume da bolsa escrotal, com conteúdo de consistência mole. À manipulação, foi possível a redução do conteúdo através do canal inguinal esquerdo. O diagnóstico de hérnia escrotal unilateral foi confirmado pela possibilidade de redução do conteúdo, pela palpação do anel herniário e pelo histórico clínico. Após o diagnóstico, a correção cirúrgica foi considerada urgente, devido ao risco de encarceramento. Para o tratamento cirúrgico, o cão foi posicionado em decúbito dorsal e as áreas inguinal e abdominal caudal preparadas para cirurgia asséptica. A incisão de pele foi realizada sobre o anel inguinal esquerdo, visualizando-se o saco herniário, que também foi incisado (Figura 2). O conteúdo herniário encontrado era constituído de epíploo e encontrava-se dentro da túnica do funículo espermático (Figura 3).

Figura 1 - Aumento de volume na região inguinal esquerda, projetando-se para bolsa escrotal

José Fernando Ibañez

ser observadas as estruturas anatômicas que passam pelo anel inguinal, como artéria e veia genitofemorais, vasos pudendos externos e o cordão espermático 2,7. Em casos em que o diâmetro do anel inguinal seja muito grande, o que torna o reparo difícil, sugere-se o reforço ou reparo da lesão com telas de polipropileno ou retalhos do músculo sartório 2,9. O uso de tela, entretanto, obriga à orquiectomia, uma vez que o contato da tela com o funículo espermático pode produzir reação inflamatória e degeneração testicular em cães 10. Entretanto, em estudo utilizando tela de polipropileno no reparo de hérnia inguinal em 73 homens submetidos à correção de hérnia escrotal, não foram observadas alterações significativas no fluxo espermático durante o acompanhamento pós-operatório de seis meses 11. O objetivo do presente trabalho é relatar um caso de hérnia inguinoescrotal em cão macho, sem histórico de traumatismo prévio.

José Fernando Ibañez

dois anos, mostrou que a incidência de hérnia inguinal foi de 1,3%, e a de criptorquidia, de 2,6%6. Em outro estudo, onze de 30 cães com hérnia inguinal eram machos, dos quais seis apresentavam hérnia bilateral e destes, quatro com idade inferior a quatro meses 7. Os cães mais acometidos de hérnia inguinoescrotal são: pequineses, cairn terriers, bassets hound e West Highland white terriers 2. Várias teorias foram propostas para explicar a etiologia das hérnias inguinais: os fatores hormonais, os metabólicos e os anatômicos, principalmente nas fêmeas. O aumento da pressão abdominal durante a gestação, a obesidade e as alterações da resistência do colágeno e da musculatura estriada por interferência hormonal são fatores citados por vários autores como responsáveis ou predisponentes à ocorrência de hérnia inguinal nas fêmeas 1-3,8. Entretanto, pouco se sabe sobre os que predispõem à ocorrência da enfermidade nos machos jovens. Em estudo retrospectivo de publicações citando a ocorrência de hérnias inguinais em cães machos, notou-se uma forte relação entre a ocorrência de hérnia inguinal em cães machos adultos, associada à hérnia perineal. A literatura menciona a provável participação da relaxina no mecanismo de flacidez muscular. A relaxina é um hormônio encontrado em grandes concentrações em cistos prostáticos 3. Os sinais clínicos apresentados por cães portadores de hérnia escrotal dependem do tecido encarcerado. Os animais muitas vezes não apresentam nenhuma outra alteração além de aumento de volume escrotal. O lado mais frequentemente acometido é o esquerdo 1,2,7. O tratamento de eleição é o cirúrgico, e deve ser feito com urgência. As indicações são: remoção do testículo ectópico, se presente, e orquiectomia nos casos de hérnia escrotal 2. O acesso cirúrgico pode ser praticado sobre a região escrotal, sendo o conteúdo reduzido para o interior da cavidade e o saco herniário mantido fechado, quando possível. A presença de alças encarceradas e com necrose implica enterectomia e enteroanastomose, e piora o prognóstico 2,7. Reportou-se o conteúdo herniário como sendo de gordura e omento na maioria dos casos atendidos 7. Durante o tratamento cirúrgico, devem

Figura 4 - Bordos dos músculos do anel inguinal interno, secionados para ampliar o anel e reduzir o conteúdo herniário (setas)

O epíploo foi reduzido após pequena ampliação do anel inguinal em sentido cranial com tesoura (Figura 4). As estruturas vasculares foram isoladas e o anel inguinal foi suturado com

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pontos Sultan empregando fio de náilon monofilamento 2-0. O testículo ipsilateral foi tracionado até a incisão, o cordão espermático foi ligado e o ligamento da cauda epididimal seccionado, para finalizar a orquiectomia. Após a aproximação do tecido subcutâneo e a redução do espaço morto com fio de poliglactina 2-0 em padrão simples separado, a pele foi suturada com pontos simples interrompidos com fio de náilon 3-0 em padrão contínuo. Procedeu-se, em seguida, a orquiectomia contralateral por incisão pré-escrotal. Não ocorreram complicações transoperatórias e o cão apresentou boa recuperação anestésica. Após uma semana, retornou ao hospital para reavaliação e encontrava-se em ótimo estado geral, com as feridas cirúrgicas cicatrizadas, ausência de recidiva e pequena quantidade de fibrose ao redor da sutura no canal inguinal. Os pontos cutâneos foram retirados após dez dias e o cão recebeu alta. Discussão A presença de hérnia inguinal no cão macho é rara, o que pode ser observado pela escassa literatura disponível. Os mecanismos pelos quais a enfermidade se manifesta na cadela são bem esclarecidos, ao passo que nos machos várias teorias tentam elucidar a hérnia inguinoescrotal. Vários autores sugerem que a ocorrência concomitante de hérnia perineal e inguinal no macho pode estar relacionada à ação hormonal, bem documentada, sobre o diafragma pélvico 1-3,8. Em cães jovens, sugere-se que o retardamento na migração do testículo para a bolsa escrotal possa manter uma via pérvia no canal inguinal e facilitar a saída de vísceras 2. Entretanto, no caso relatado, o cão tinha idade superior à citada pela literatura e não apresentava ectopia testicular 2,3. Também se sugere a ocorrência de hérnia inguinal em machos de até dois anos e acredita-se que ela esteja mais associada a traumatismo 1,7. Durante a anamnese, o proprietário do animal não relatou ter notado nada de diferente no cão até o aumento de volume referido no atendimento e também negou a ocorrência de traumas. A característica súbita do quadro está 40

de acordo com algumas citações, entre elas, um estudo com 35 casos, em que onze cães apresentavam hérnia inguinal não traumática, observada pelo proprietário no máximo sete dias antes do diagnóstico 7. O diagnóstico de hérnia inguinal pode ser feito pelo exame físico e por anamnese. Exames complementares como o radiográfico e o ultrassonográfico podem fornecer maiores informações sobre a quantidade de vísceras encontradas e se há alças intestinais ou outros órgãos herniados 1,2,4,5. No caso relatado, o diagnóstico foi feito apenas pelo exame físico e pela história clínica, que se demonstraram eficientes. A possibilidade de redução manual do conteúdo e a palpação do anel inguinal foram decisivos, além do ótimo estado geral do paciente, o que seria incompatível com um quadro de encarceramento com necrose ou isquemia de órgãos. Se essas manobras não fossem possíveis, seria imprescindível fazer exames complementares para completar o diagnóstico e avaliar o estado do conteúdo herniário. A presença de alças isquêmicas no conteúdo herniário caracteriza urgência cirúrgica e altas taxas de infecção e mortalidade 1,2,7. Apesar de o conteúdo herniário estar composto somente de epíploo, a necessidade de ampliação do anel durante a cirurgia para recolocação das vísceras indicou aumento de volume do conteúdo herniário, uma vez que durante o exame físico o conteúdo podia ser reduzido manualmente. O aumento de volume pode ter ocorrido por congestão decorrente de estrangulamento pelo anel inguinal. O encarceramento e a isquemia do conteúdo herniário podem provocar peritonite e agravar o quadro do paciente 1,2. Um estudo demonstrou que o índice de complicações observadas em 35 cães submetidos a cirurgias de correção de hérnia inguinal foi de 17%, e o de mortalidade, de 3% 7. Optou-se pela remoção do testículo ipsilateral ao da hérnia inguinal devido à proximidade do funículo espermático e à possibilidade de orquite inflamatória ou aderência na sutura da túnica. A orquiectomia contralateral foi decidida de comum acordo com o proprietário, já que é incerta a característica hereditária da hérnia inguinoescrotal 1,3 e devido ao

fato de o cão conviver com outra fêmea da mesma raça. Considerações finais É certo que a grande maioria das hérnias inguinais em cães ocorre nas fêmeas e sua descrição em machos é rara. As causas não traumáticas da ocorrência de hérnia inguinal no cão macho ainda são obscuras. Relatos isolados de hérnia inguinal, com detalhes sobre seu aparecimento, padrão racial e evolução, podem ser agrupados em estudos maiores de revisão e iluminar proposições para o aparecimento desta afecção nos cães machos. Referências

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009



Apresentação de um dispositivo artesanal para treinamento de aplicação de nós cirúrgicos Introducing a device for surgical knot training Presentación de un dispositivo artesanal para entrenamiento de nudos quirúrgicos Resumo: A correta aplicação de nós cirúrgicos é um importante requisito na técnica operatória, e o treinamento adequado auxilia na precisão de sua realização, evitando o prolongamento dos procedimentos cirúrgicos e as intercorrências pós-operatórias, como a deiscência dos pontos. O objetivo do autor, mediante o presente artigo, foi apresentar um dispositivo artesanal utilizado para o treinamento da aplicação de nós cirúrgicos, simulando algumas situações reais, como a tensão nos bordos de feridas cirúrgicas e a profundidade de planos. O dispositivo é de fácil confecção e mostrou-se eficaz no treinamento da aplicação de diversos tipos de nós cirúrgicos, permitindo assim o treinamento dos cirurgiões. Sugere-se sua utilização como instrumento auxiliar no ensino da disciplina de Técnica Operatória. Unitermos: técnica operatória, hemostasia, síntese

Abstract: Tying surgical knots correctly is an important requirement for the surgical practice. An adequate training improves the surgeon skills, avoiding the prolongation of surgical procedures and complications such as suture dehiscence. The aim of this article is to introduce a handmade device that allows students to practice tying surgical knots, simulating real features such as the tension on wound borders and the depth of surgical planes. The device is easily produced and promotes effective practice in tying surgical knots, being invaluable for training new surgeons. Together, these characteristics suggest that the device herein described could be effectively used as an auxiliary tool in teaching Surgical Techniques for veterinary students. Keywords: surgical technique, hemostasia, syntheses Resumen: La aplicación correcta de nudos quirúrgicos es un requisito muy importante para la técnica quirúrgica. El entrenamiento adecuado ayuda a mejorar la precisión en su realización, evitando prolongar los procedimientos quirúrgicos y disminuyendo la incidencia de complicaciones post-operatorias, como la dehiscencia de puntos. El objetivo del autor fue presentar un dispositivo artesanal usado para entrenamiento de la aplicación de nudos quirúrgicos, simulando algunas situaciones reales, como la tensión en los bordes de heridas quirúrgicas y la profundidad de los planos quirúrgicos. El dispositivo es de fácil elaboración y se mostró eficaz en el entrenamiento de diversos tipos de nudos, permitiendo así el entrenamiento de los cirujanos. De esta forma, se sugiere su utilización como instrumento auxiliar en la disciplina de técnica quirúrgica. Palabras clave: técnica operatoria, hemostasia, síntesis

Clínica Veterinária, n. 83, p. 42-43, 2009

Introdução A correta aplicação de nós cirúrgicos faz parte dos requisitos necessários para uma boa técnica cirúrgica. De acordo com a literatura 1, o nó é o ponto fraco da sutura, pois sua incorreta aplicação pode levar à deiscência. A habilidade do cirurgião pode influenciar diretamente o tempo cirúrgico e, consequentemente, o tempo de anestesia. Um treinamento adequado pode auxiliar os cirurgiões e estudantes a realizar corretamente a aplicação dos nós, melhorando assim a habilidade do cirurgião e a precisão da cirurgia. O treinamento de nós pode ser realizado em cirurgias experimentais, em cadáveres ou em situações não cirúrgicas, 42

geralmente improvisadas. As cirurgias experimentais apresentam situações reais, sendo adequadas para o treinamento da aplicação dos nós. No entanto, envolvem aspectos éticos e apresentam outras implicações, como a necessidade anestésica, o custo e os cuidados pósoperatórios. O uso de cadáveres pode auxiliar na simulação de situações clínicas, porém requer que eles estejam disponíveis, o que nem sempre ocorre. As improvisações realizadas pelos cirurgiões e estudantes para o treinamento da aplicação de nós são diversas, mas raramente apresentam situações semelhantes às encontradas na prática cirúrgica, como a profundidade dos planos e a tensão nos bordos da ferida.

James Newton B. Meira de Andrade

MV, mestre, dr. prof. - UNIFRAN

jamescardio@terra.com.br

Pelo conhecimento deste autor e pela pesquisa realizada na literatura, não foram encontrados dispositivos comercialmente disponíveis no mercado para esse fim específico. Deste modo, o objetivo do autor, mediante o presente artigo, foi apresentar um dispositivo artesanal desenvolvido para ser utilizado por cirurgiões e estudantes de técnica operatória no treinamento da aplicação dos nós cirúrgicos, simulando algumas situações reais como a tensão nos bordos de feridas cirúrgicas e a profundidade de planos. Revisão de literatura A literatura é escassa em relação a aparelhos simuladores de situações destinadas para esse fim. Foi descrito um modelo de dispositivo para treinamento e avaliação das habilidades em técnica operatória, feito de alumínio sobre uma base de fibra de vidro, concluindo-se que o modelo contribui para a melhor formação cirúrgica de acadêmicos e residentes em cirurgia 2. Uma série de equipamentos alternativos para o uso didático de animais no ensino foi apresentada, como os modelos para estudo anátomo-fisiológico do globo ocular e do sistema circulatório, os membros artificiais para a prática de punção venosa e os modelos artificiais para a prática cirúrgica, dentre os quais se destaca o Dasie, que consiste em um cilindro confeccionado em camadas, simulando os planos anatômicos 3. Outros modelos, como o rato de PVC e aparelhos para treinamento de anastomoses vasculares em microcirurgia, foram demonstrados, ressaltando-se a necessidade de ferramentas adequadas para o aperfeiçoamento dos cirurgiões 4. Material e métodos Para a confecção do aparelho foram utilizados uma peça de madeira (MDF) de 20cm de largura x 22,5cm de comprimento x 1,6cm de espessura, quatro

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


James Newton Bizetto Meira de Andrade

James Newton Bizetto Meira de Andrade

Figura 1 - Vista do dispositivo para o treinamento de aplicação de nós cirúrgicos. Notar os ganchos, o tubo transparente e o garrote em forma de “v”

Figura 4 - Demonstração de aplicação de nó cirúrgico em profundidade através do tubo plástico James Newton B. M. de Andrade

Figura 2 - Vista das porções superior e inferior do aparelho para o treinamento de aplicação de nós cirúrgicos. Notar as ventosas para fixação em superfícies planas

James Newton Bizetto Meira de Andrade

pregos 10x10 (2,3cm), dois ganchos com rosca de 4cm, um tubo de látex (garrote) de 25cm, um tubo plástico transparente e quatro ventosas de borracha (Figuras 1 e 2). As ventosas inferiores serviriam para fixar o equipamento sobre a superfície lisa de uma mesa, evitando que ele se movesse durante o treinamento. Um dos ganchos foi fixado em um dos quadrantes, diretamente na base de madeira, visando o primeiro treinamento da aplicação dos nós (Figura 3). O outro gancho foi fixado em outro quadrante, no interior do tubo plástico transparente, para que se pudessem realizar nós em profundidade, permitindo a sua visibilidade e a conferência da técnica adequada (Figura 4).

Conclusões O dispositivo aqui apresentado mostrou-se eficaz para o treinamento dos diferentes nós cirúrgicos, simulando situações reais, como diferentes tensões nos bordos de feridas e profundidade de planos. O aparelho foi confeccionado artesanalmente a um custo baixo, podendo ser utilizado não só para o aprimoramento de cirurgiões, mas também como coadjuvante no ensino da disciplina de Técnica Cirúrgica. Referências

James Newton Bizetto Meira de Andrade

Figura 3 - Demonstração de aplicação de nó cirúrgico no gancho do dispositivo

Os tubos de látex foram pregados nos outros dois quadrantes, de tal maneira que se criasse uma distância diferente entre ambos os bordos, em cada extremidade (Figura 1). Desse modo, criouse um afastamento crescente, de uma extremidade à outra, de tal forma que a tensão seria maior à medida que um tubo de látex se afastasse do outro, ou seja, de uma extremidade em direção à outra. Com isso os nós poderiam ser treinados sob diferentes tensões, iniciando-se o treinamento do bordo em que os tubos estavam menos afastados um do outro (menor tensão) e seguindo, progressivamente, em direção ao bordo com maior tensão (Figura 5).

permitiu o treinamento da aplicação de nós em profundidade, uma vez que o nó não pôde ser completado sem o auxílio do indicador, simulando, portanto, uma situação de plano profundo (Figura 4). O fato de o tubo ser transparente facilitou a visibilidade e, portanto, a certificação de que os nós eram aplicados corretamente, bem como a verificação de possíveis erros de técnica. O garrote, esticado e colocado em forma de “v”, permitiu simular situações de feridas com os bordos afastados, com diferentes tensões, dependendo da distância entre os tubos elásticos. Nessa porção foi possível treinar os diferentes tipos de nós, em especial o nó de cirurgião (com o primeiro tempo duplo), necessário em regiões com tensão aumentada (Figura 5). Essa área também se mostrou adequada para o treinamento dos nós quadrado e deslizante. O dispositivo apresentado no presente artigo é uma versão artesanal de equipamento similar elaborado pela Ethicon 5 para demonstração da aplicação de nós cirúrgicos, a exemplo de outro modelo reportado 2, cujos autores demonstraram aplicabilidade semelhante à do modelo aqui descrito.

Figura 5 - Demonstração da aplicação do nó de cirurgião nos bordos elásticos, simulando uma situação de ferida cirúrgica com tensão elevada

Resultados e discussão O dispositivo pôde ser fixado pelas ventosas sobre mesas de superfície lisas, evitando-se o seu deslizamento. O gancho sobre a madeira foi utilizado inicialmente para o treinamento dos nós, mostrando-se adequado para esse fim (Figura 3). O gancho envolvido pelo tubo plástico

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Larissa Berté

Enxertos cutâneos no reparo tecidual de lesão do membro pélvico de um cão

MV, mestranda - PPGMV/UFSM

laguissa@hotmail.com

Fabiano Zanini Salbego

MV, Msc, doutorando - PPGMV/UFSM prof. - DCPA/CCR/UFSM fabianosalbego@yahoo.com.br

Alceu Gaspar Raiser

Skin grafts to repair injury of the pelvic limb tissue in a dog

MV, prof. dr. - DCPA/CCR/UFSM

raisermv@smail.ufsm.br

Alexandre Mazzanti

MV, prof. dr. - DCPA/CCR/UFSM

Injertos de piel en la reparación de lesión dérmica del miembro pélvico en un perro

alexamazza@yahoo.com.br

Resumo: O enxerto cutâneo é caracterizado por um segmento de epiderme e derme removido completamente de uma região do corpo e transferido para outra. A sobrevida do enxerto no leito receptor depende de uma série de fatores, tais como absorção de líquidos teciduais, controle de infecção e desenvolvimento de neovascularização. Os enxertos em malha são segmentos de espessura completa da pele, enquanto os enxertos por pinçamento têm espessura parcial – e tanto um quanto outro são aplicados em um leito receptor com tecido de granulação viável. As bandagens são importantes na imobilização de enxertos cutâneos e devem ser aplicadas adequadamente, a fim de evitar necrose. O presente trabalho descreve a associação de técnicas de enxertia cutânea no membro pélvico esquerdo de um cão com ferimento de amplas proporções decorrente de acidente automobilístico, dando ênfase à recuperação funcional e estética do paciente. Unitermos: ferida, avulsão, enxerto em malha, enxerto por pinçamento Abstract: The skin graft is characterized by a segment of epidermis and dermis that is completely removed from a region of the body and transferred to another one. The survival of the graft in the recipient bed depends on a series of factors, such as the absorption of tissue fluid, infection control and development of revascularization. Mesh grafts are skin segments of complete thickness, while strip grafts are partial-coverage skin segments. Both types are applied in a recipient bed with viable granulation tissue. Bandages are important in the immobilization of skin grafts and must be applied adequately to avoid necrosis. The present work describes the association of skin grafting techniques in the left pelvic member of a dog with a large wound resulting from an automobile accident, giving emphasis to the functional and esthetic recovery of the patient. Keywords: wound, avulsion, mesh graft, strip graft Resumen: El injerto de piel se caracteriza como un segmento de la epidermis y dermis que es retirado de una región del cuerpo y transferido a otra. La supervivencia de un injerto en el lecho de recepción depende de una serie de factores, tales como absorción de fluidos de los tejidos, control de la infección y desarrollo del revascularización. Los injertos en malla son injertos del espesor completo de la piel mientras que el injerto por pinzamiento representa un injerto de espesor parcial – tanto el primero como el segundo deben aplicarse sobre un lecho de granulación viable. Los vendajes son importantes en la inmovilización de los injertos de piel y se deben aplicar adecuadamente para no causar necrosis. El presente trabajo describe la asociación de dos técnicas de injerto cutaneo en un paciente con lesiones amplias en miembro posterior debidas a accidente automovilistico, con énfasis en la recuperación estética y funcional del miembro. Palabras clave: herida, avulsión, injertos en malla, injertos por pinzamiento

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Introdução As lesões cutâneas de grandes proporções são geralmente decorrentes de traumatismos agudos e amplos, requerendo o emprego de cirurgias reconstrutivas para a reparação do defeito, visto que a falta de elasticidade cutânea pode comprometer a cicatrização, que consequentemente dificulta a integridade funcional do tecido 1. A excessiva perda cutânea nos membros locomotores pode dificultar ou impossibilitar a reaproximação das bordas do tecido, levando esses ferimentos a cicatrizar, por segunda intenção. Esse tipo de cicatrização, quando localizada nos membros locomotores, e principalmente em região 46

articular, poderá gerar sérias consequências para a evolução do tratamento pois tornará o processo de recuperação mais lento e oneroso, produzindo cicatrizes exuberantes que, além de um aspecto estético pouco agradável, podem causar alterações funcionais como contratura de determinados grupos musculares ou restrição de movimento em regiões articulares. Para auxiliar a reparação de defeitos dessas soluções de continuidade da pele e evitar a cicatrização por segunda intenção, podem ser utilizadas técnicas cirúrgicas reconstrutivas. Para as regiões com reduzida elasticidade da pele e que se apresentem inadequadas para a realização

de retalhos pediculados, a enxertia cutânea é a técnica reconstrutiva mais indicada 1,2. O enxerto cutâneo é caracterizado por um segmento de epiderme e derme completamente removido de uma região do corpo e transferido para outra. A sobrevida do enxerto no leito receptor depende de uma série de fatores, tais como absorção de líquidos teciduais, controle de infecção e desenvolvimento de neovascularização 2,3,4. Para a realização de um enxerto cutâneo é necessário que o tecido de granulação esteja saudável, mas que a contaminação e a infecção estejam controladas em sua superfície 2, pois o enxerto sobreviverá nas porções da ferida prontas a aceitá-lo 3,5. Os enxertos não podem ser executados em feridas infectadas 5, devendo esse procedimento ser adiado 4 até que se estabeleça um leito saudável e com tecido de granulação. Os enxertos em malha ou tela são segmentos de espessura completa. Sua utilização é indicada para feridas que não apresentem condições ideais, revestimento de defeitos amplos e reconstrução de defeitos irregulares 3. Esse tipo de enxerto apresenta alto índice de viabilidade quando aplicado sobre um leito receptor sadio, molda-se facilmente sobre superfícies irregulares e proporciona

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boa imobilização pós-operatória. Outra característica desse tipo de enxerto é a sua capacidade de expansão 6. A drenagem do exsudato por meio das fendas da malha favorece a aproximação entre o enxerto e o leito receptor 7. Pode ser realizada em cães e gatos. O sucesso em gatos é de quase 100%, enquanto em cães é de 50-60% 4. O enxerto por pinçamento representa uma variação da técnica de enxertia por punção, resultando na confecção de pequenos segmentos de pele que são aplicados de modo equidistante em um leito receptor com tecido de granulação viável 2. Esse tipo de enxerto é indicado para pequenas feridas nos membros locomotores e para feridas de contorno irregular 3. Algumas das vantagens dessa técnica de enxertia residem na facilidade de execução, na revascularização satisfatória e na falta de exigência de instrumental especial para sua execução. Como desvantagens, são citados o aspecto estético desagradável e a reepitelização escassa e dispersa. A aplicação de forças rotacionais à

pele e aos tecidos de sustentação resulta em lesões de avulsão, ou seja, ocorre a laceração do tecido a partir das suas inserções 5. Lesões de avulsão em membros 5 por agentes agressores de baixa velocidade são conhecidas como lesões de desenluvamento 3. Isso é explicado pela ruptura anatômica ou fisiológica que ocorre frequentemente em traumatismos produzidos por pneus de veículos. Os enxertos livres permitem ao cirurgião corrigir defeitos cutâneos existentes em locais desprovidos de elasticidade cutânea ou em locais em que o emprego de técnicas por retalhos pediculados seja difícil ou impossível. Dentre os tipos de enxertos livres existentes, os enxertos em malha e por pinçamento (em ilha) são os mais rotineiramente empregados em medicina veterinária. O primeiro por permitir ampla cobertura de uma região, devido à capacidade de expansão da malha, e o segundo por permitir a implantação do enxerto em locais formados por superfícies irregulares. Nas lesões por desenluvamento pode

ocorrer inviabilidade do tecido, que será determinada por meio da inspeção e da palpação. Sinais sugestivos presentes na lesão – como coloração azul-enegrecida ou negra, textura papirácea ao toque ou pele muito fina, temperatura cutânea fria e pelos facilmente destacáveis 4 – demonstram a inviabilidade tecidual. Quando o tecido apresentar inviabilidade, deve ser realizado o debridamento cirúrgico e mecânico. O emprego de bandagem aderente, por meio da aplicação de uma camada de gaze seca sobre a área necrótica, atua aderindo aos tecidos desvitalizados, removendo-os à medida que são trocados, além de desempenhar função de dreno para as secreções provenientes do ferimento. Esse procedimento pode ser empregado de forma a complementar o debridamento cirúrgico do ferimento, visto que o tecido em fase inicial de desvitalização pode não ser facilmente identificável durante a cirurgia. A formação de tecido cicatricial nas proximidades da face flexora de uma articulação resulta em contratura de

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C Figura 2 - A) ressecção da pele doadora, B) remoção do tecido subcutâneo do fragmento de pele doador para a preparação da pele doadora, C) incisões paralelas após a pele doadora ser estendida em superfície plana, D) enxerto em malha na face caudal da articulação fixado, com pontos isolados simples, com fio náilon monofilamentar n. 3-0

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Fabiano Zanini Salbego

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Figura 1 - Fotografia apresentando ferida que se estende desde a região mediana do dorso até a região da articulação tarsometatarsiana, com tecido de granulação após quinze dias de tratamento

Uma vez que a paciente apresentou ferida sem contaminação, com tecido de granulação viável, e condições clínicas de suportar uma técnica de enxertia de pele, foi preparada para o procedimento. A lesão de contratura do membro foi desfeita com a realização da extensão da articulação femorotibiopatelar para possibilitar a mobilidade articular. Para reconstrução cirúrgica, optou-se pela associação de duas técnicas de enxertia cutânea. A primeira delas, a enxertia em malha, para recobrir a maior parte da face caudal da coxa, a região caudal da articulação femorotibiopatelar e a região caudal da perna no segmento proximal. A segunda técnica, a enxertia por pinçamento, para recobrir a região cranial da perna e a articulação do joelho. A região lateral esquerda do tórax foi adequadamente preparada para servir de local doador para a obtenção de ambos os enxertos (Figura 2A). Para a confecção do enxerto em malha, foi colhido um retalho de pele de dimensões de 6cm x 4cm que foi preparado para enxertia tendo-se removido todo o tecido subcutâneo (Figura 2B). Após distendê-lo em uma superfície plana, foram realizadas várias incisões no sentido do folículo

Fabiano Zanini Salbego

Relato de caso Foi atendido no hospital veterinário universitário um animal da espécie canina, fêmea, de 4,5kg, sem raça definida, seis meses de idade e com histórico clínico de trauma automobilístico ocorrido aproximadamente uma hora antes. A paciente apresentava perda cutânea ampla de toda a região distal do membro pélvico esquerdo, abrangendo uma área que se estendia desde a região proximal

da coxa até a região da articulação tarsometatarsiana. A paciente foi submetida ao tratamento clínico com antibióticos, anti-inflamatórios e limpezas do ferimento com solução de ringer lactato aquecida a 37 °C, até que o ferimento se apresentasse com leito de granulação viável, pelo período de quinze dias (Figura 1). Larissa Berté

flexão, produzindo consequências deletérias decorrentes da contração e do excesso de tecido cicatricial, como deformidade e perda de função, o que explica a diminuição da mobilidade articular 3. O tratamento clínico por meio de curativos orientados a promover debridamento mecânico e posterior estimulação da migração epitelial é uma alternativa viável, no entanto, o tempo necessário para a conclusão do tratamento e o resultado funcional obtido podem ser considerados insatisfatórios do ponto de vista estético e econômico. Por esse motivo, a intervenção cirúrgica produz resultados mais precoces e diminui o custo do tratamento, além de promover, na maioria dos casos, uma recuperação funcional e estética mais satisfatória. As bandagens, além de serem curativos para as feridas, oferecem proteção, suporte ou compressão para as estruturas esqueléticas, por isso são importantes na imobilização de enxertos cutâneos 8. Devem ser bem acolchoadas para impedir a movimentação do membro 9. Bandagens aplicadas de modo inadequado e com pressão excessiva podem resultar em necrose do enxerto. A colocação de bandagem deve seguir princípios básicos para não apresentar complicações. A bandagem elástica ou de crepom deve ser previamente acolchoada por uma camada de algodão ortopédico. Deve ser aplicada com tensão apenas suficiente para evitar que escorregue, impondo-se pressão em sentido distal-proximal para respeitar o sentido de drenagem venosa e linfática, evitando o garroteamento do membro e o consequente edema de extremidade. O objetivo deste relato foi descrever a associação entre as técnicas de enxertia cutânea em malha e por pinçamento no tratamento de perda cutânea ampla sobre a articulação do joelho, no aspecto funcional e estético.


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Figura 3 - A) pequenos fragmentos retirados para enxertia, B) enxertos em “ilha” realizados na face cranial e lateral da articulação

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piloso, de aproximadamente 0,5cm, orientadas em linha e espaçadas uniformemente entre si (Figura 2C), confeccionandose assim uma malha que foi fixada ao leito receptor, na face caudal da articulação femorotibiopatelar esquerda, por pontos isolados simples, com fio de náilon monofilamentar n. 3-0 (Figura 2D). As faces cranial, lateral e medial foram escarificadas com auxílio de uma lâmina de bisturi n. 24 e recobertas com pequenos segmentos de epiderme de aproximadamente 1cm x 0,5cm, removidos também da face lateral do tórax, caracterizando o enxerto por pinçamento (Figura 3). Pequenas incisões foram feitas no tecido de granulação do leito receptor, com uma lâmina de bisturi n. 24, nas quais os segmentos de pele foram colocados, dando a impressão de uma semeadura. Ao final do procedimento a região doadora para a enxertia em malha foi reconstituída por walking suture e com pontos isolados simples no tecido subcutâneo com fio de náilon monofilamentar n. 3-0, e na pele a sutura foi realizada com pontos isolados simples, com fio de náilon monofilamentar n. 3-0. A região doadora dos segmentos de pele para a enxertia por pinçamento foi tratada por segunda intenção, com curativos diários. Toda a área receptora foi higienizada com solução fisiológica aquecida a 37 °C para a remoção de coágulos e outros detritos, sendo posteriormente recoberta com compressa de gaze esterilizada e umidificada com solução de ringer lactato aquecida a 37 °C. Por sobre ela foram aplicados algodão ortopédico e atadura não elástica e, mais externamente, uma canaleta ortopédica de alumínio para reduzir o movimento articular. A paciente recebeu medicação anti-in-

Figura 4 - A) Aspecto do enxerto cinco dias após o procedimento, B) aspecto do enxerto 10 dias após o procedimento

flamatória, analgésica e antibiótica. A bandagem permaneceu imóvel por 72 horas, quando se removeram a atadura e o algodão ortopédico, mas não a compressa de gaze. Realizou-se outra bandagem nos mesmos padrões, aplicando-se então atadura do tipo elástica, que per-

maneceu por mais 48 horas. Ao final do quinto dia, a bandagem foi removida e a ferida higienizada com solução de ringer lactato aquecida a 37 °C. Nesse momento, ambos os enxertos apresentavam viabilidade adequada (Figura 4A). Uma nova bandagem nos

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mesmos padrões foi recolocada e a paciente permaneceu com ela por mais cinco dias. A bandagem foi então removida ao final do décimo dia e a ferida foi novamente higienizada, observandose “pega” de todo o tecido enxertado (Figura 4B). Diante do sucesso da primeira intervenção, a paciente foi submetida a uma nova cirurgia para a realização de enxertia em malha, com a finalidade de complementar a reparação na ferida do membro, em sua face medial e lateral. Nesse último procedimento, a região doadora utilizada foi a região cervical dorsal. A bandagem realizada seguiu os padrões da realizada no procedimento anterior, sendo mantida imóvel até o quarto dia, quando as trocas passaram a ser diárias. A paciente continuou recebendo curativos por mais um período de 30 dias até o completo fechamento da ferida (Figura 5). Resultado e discussão Antes de ser submetida ao procedi-

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mobilidade articular 3. A contratura ocorreu na parte posterior da articulação, envolvendo o bíceps femoral e mantendo consequentemente o membro em posição de semiflexão. Além disso, a cinta fibrosa produziu compressão da veia safena, provocando edema na extremidade distal do membro acometido. Embora a fisioterapia isolada pudesse auxiliar a mobilizar o membro estimulando o desenvolvimento de vascularização colateral compensatória, a cirurgia certamente demandaria tempo significativamente menor para a resolução do problema. Ao final do procedimento cirúrgico, o enxerto apresentava-se de coloração empalidecida, o que é justificado pela ausência de elementos hemáticos, pois os enxertos devem sobreviver à transferência inicial por meio da absorção de fluidos teciduais do leito receptor pela ação capilar durante as primeiras 48 horas 10. A coloração levemente azularroxeada apresentada após a primeira troca de bandagem, 72 horas após a

Figura 5 - A) visualização da cicatrização e “pega” da enxertia no membro pélvico esquerdo (MPE), B) evolução da cicatrização da ferida na articulação femorotibiopatelar da região caudal e lateral, C) evolução da cicatrização da ferida do MPE e diminuição do edema na extremidade do membro, D) aspecto medial mostrando a evolução da cicatrização total da articulação, E) aspecto lateral da articulação mostrando a evolução da cicatrização total da articulação

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mento de enxertia, a ferida recebeu adequado tratamento pelo período de quinze dias, para proporcionar a formação de um tecido de granulação viável e livre de infecção no leito receptor, pois essas são as prerrogativas básicas para a realização de um enxerto cutâneo 2. A remoção de tecido desvitalizado por debridamento cirúrgico acelera o processo de limpeza da ferida, reduzindo o trabalho das células fagocitárias. A aplicação adequada de curativos previamente à cirurgia auxilia a controlar a infecção, favorecendo a formação de tecido de granulação e a migração epitelial, e produzindo redução do ferimento por cicatrização de segunda intenção. O tecido de granulação viável cobrindo o leito receptor é fundamental para a nutrição do enxerto livre e o sucesso do procedimento. Durante o transoperatório, foi necessário cuidar da lesão de contratura de flexão que se formou sobre a articulação do joelho devido ao acúmulo de tecido cicatricial provocando a diminuição da

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cirurgia 11, é justificada pela inexistência de circulação no enxerto 12. O período de imobilização do enxerto com bandagem durante as primeiras 72 horas após a cirurgia é importante para auxiliar o processo de inosculação, durante o qual os pequenos vasos contidos no enxerto irão se anastomosar com os vasos oriundos do leito receptor. O período ideal para a troca das bandagens após a enxertia, segundo a literatura consultada, ainda é um assunto controverso. No presente trabalho, a primeira troca de bandagem foi feita 72 horas após a operação, com a finalidade de observar o acúmulo de fluido 9. As bandagens diminuem os riscos de mobilidade durante o período crítico das 48 horas iniciais, razão pela qual devem ser trocadas três a cinco dias após o enxerto 10. Em alguns estudos com enxertia de pele 13,14, foram realizadas trocas diárias das bandagens após enxertos em malha. O intenso manuseio do local enxertado pode favorecer a ruptura do selo de fibrina entre o leito doador e receptor 15. No presente caso, foram realizadas trocas de bandagens ao quinto e décimo dias e a manipulação não proporcionou descolamento do enxerto do leito receptor. Entretanto, poucas trocas de bandagens podem favorecer o crescimento bacteriano e algumas dessas bactérias podem causar a dissolução das ligações de fibrina ou produzir exsudato suficiente que pode descolar o enxerto do seu leito receptor 9. No presente caso, os autores observaram que após um intervalo de cinco dias entre as trocas de bandagens, não havia ocorrido formação de exsudato suficiente a ponto de comprometer a ligação do enxerto com o leito receptor. O uso de bandagem de crepom em lugar da bandagem elástica favoreceu a estabilização do enxerto junto ao leito receptor, sem provocar compressão excessiva. Nos casos em

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que ocorre compressão sobre o enxerto em decorrência do efeito elástico da bandagem, associado ao aumento de volume tecidual por consequência do edema pós-operatório, pode ocorrer comprometimento parcial ou total do resultado da operação. Quanto ao resultado estético, o crescimento piloso foi mais uniforme na região submetida à enxertia em malha quando comparado ao que sucedeu à enxertia por pinçamento, pois o enxerto de espessura total favorece o crescimento dos pelos quando comparado ao de espessura parcial 4,16. Nas regiões reparadas cirurgicamente por enxerto de espessura parcial, o crescimento piloso ocorreu de forma dispersa, resultando em locais sem pelos, pois a cicatrização ocorreu por epitelização 4,17. Conclusão Diante dos resultados obtidos, podese concluir que a associação entre as técnicas de enxertia cutânea em malha e por pinçamento proporcionou resultados satisfatórios para o tratamento da perda cutânea sobre a articulação do joelho dessa paciente, principalmente no aspecto funcional. Quanto ao aspecto estético, considerou-se adequado o resultado obtido diante das dimensões e da gravidade da lesão. Referências

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14-PAIM, C. B. V. ; RAISER, A. G. ; CARDOSO, E. ; BECK, C. Enxerto autólogo de pele, em malha, com espessura completa na reparação de feridas carpometacarpianas de cães. Resposta à irradiação laser AsGa. Revista Ciência Rural, Santa Maria, v. 32, n. 3, p. 451-457, 2002. 15-POPE, E. R. Mesh skin graft. In: BOJRAB, M. J. ; ELLISON, G. W. ; SLOCUM, B. Current techniques in small animal surgery. 4. ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1998, p. 603607. 16-PROBST, C. W. ; PEYTON, L. C. Enxertos de pele de espessura parcelada. In: BOJRAB, M. J. Cirurgia dos pequenos animais. São Paulo: Roca, 1986, p. 477-82.

17-POPE, E. R. Mesh skin grafting. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 20, p. 177-187, 1990.

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009



Luciana Peralta S. Gonçalves

Apresentações clínicas do hipoadrenocorticismo em cães (Canis familiaris Linnaeus, 1758)

MV, mestranda - PPGMV/UFF

lucianaperalta@oi.com.br

Gustavo Almeida Gonçalves MV, doutorando - PPGMV/UFF

gustavo@vetypiranga.com.br

Flavya Mendes-de-Almeida

MV, MSc., DSc., profa. adj. Depto. Patologia e Clínica Veterinária/UFF

Clinical presentations of hypoadrenocorticism in dogs (Canis familiaris Linnaeus, 1758)

fma@centroin.com.br

Presentaciones clínicas del hipoadrenocorticismo en perros (Canis familiaris Linnaeus, 1758) Resumo: O hipoadrenocorticismo ou doença de Addison é a síndrome resultante da destruição bilateral das glândulas adrenais. A insuficiência adrenocortical pode ser classificada como primária ou clássica e secundária ou atípica. O diagnóstico do hipoadrenocorticismo é realizado com base no histórico, nos sinais clínicos e nos exames laboratoriais. O teste de estimulação pelo ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) é considerado teste de eleição para a confirmação do diagnóstico. O tratamento de escolha irá variar de acordo com o estado clínico do animal e a natureza da insuficiência. Este trabalho tem como objetivo revisar os principais aspectos diagnósticos e terapêuticos do hipoadrenocorticismo e suas principais alterações laboratoriais, alertando os médicos veterinários para a importância do reconhecimento das diferentes apresentações clínicas do distúrbio e, a necessidade de sua inclusão no diagnóstico diferencial das emergências na clínica médica de pequenos animais. Unitermos: doença de Addison; insuficiência adrenocortical clássica; insuficiência adrenocortical atípica Abstract: Hypoadrenocorticism or Addison's disease is a syndrome resulting from a disorder that leads to the bilateral destruction of the adrenal glands. The adrenocortical insufficiency can be classified in primary (or classical) and secondary (or atypical). The diagnosis of hypoadrenocorticism is accomplished by taking the anamnesis, clinical signs and laboratory exams into consideration. The ACTH (adrenocorticotropic hormone) stimulation test is considered the golden standard to confirm the diagnosis. The treatment may vary according to clinical state of the animal and the nature of the insufficiency. The aim of this work is to review the main aspects of the diagnosis and therapeutic options for hypoadrenocorticism, as well as the main laboratory findings related to this disease. It also calls the veterinarian's attention to the importance of the different clinical presentations of Addison's disease and the need to include it in the differential emergency diagnoses in small animal clinics routine. Keywords: Addison's disease; classical and atypical hypoadrenocorticism Resumen: El hipoadrenocorticismo o enfermedad de Addison es un síndrome resultante de la destrucción de las glándulas adrenales bilateralmente. La insuficiencia corticoadrenal puede clasificarse como primaria o clásica y secundaria o atípica. El diagnóstico de hipoadrenocorticismo se hace con base en el historial del paciente, en las manifestaciones clínicas y en los exámenes de laboratorio. La prueba de estimulación por ACTH (hormona adrenocorticotrófica) se considera la "prueba de oro" para confirmar el diagnóstico. El tratamiento que se elija variará de acuerdo con el estado clínico del animal y la naturaleza de la insuficiencia. Este trabajo tiene como objetivo revisar los principales aspectos diagnósticos y terapéuticos del hipoadrenocorticismo y sus principales alteraciones laboratoriales, alertando a los médicos veterinarios acerca de la importancia del reconocimiento de las diferentes manifestaciones clínicas de la enfermedad de Addison y la necesidad de su inclusión como diagnóstico diferencial en las emergencias en la clínica médica de pequeños animales. Palabras clave: enfermedad de Addison; insuficiencia corticoadrenal primaria; insuficiencia corticoadrenal secundaria

Clínica Veterinária, n. 83, p. 54-60, 2009

Introdução Dentre as poucas emergências endócrinas atualmente descritas na clínica médica veterinária de pequenos animais 1, o hipoadrenocorticismo ou doença de Addison é a síndrome causada pelos distúrbios que afetam as glândulas adrenais bilateralmente 2. Para que os sinais clínicos se desenvolvam, acredita-se que no mínimo 90% do córtex das adrenais devam estar destruídos. O grau de destruição é variável, porém progressivo, com perda total da função adreno54

cortical e deficiência de aldosterona e glicocorticoides, e consequente manifestação de crise metabólica 3. A insuficiência adrenocortical pode ser classificada como primária ou clássica e secundária ou atípica 4. A apresentação clássica é a mais frequente, com destruição do córtex adrenal que resulta tanto na deficiência de secreção de mineralocorticoides quanto de glicocorticoides 1,5, e ocorre provavelmente por destruição imunomediada de todas as camadas do córtex adrenal 2.

A forma atípica é uma rara apresentação da doença de Addison em cães 6, na qual se observa apenas a deficiência dos glicocorticoides 7, e acomete cerca de 10% dos pacientes 5. A insuficiência adrenocortical atípica pode ocorrer pela destruição seletiva de determinadas zonas adrenocorticais 3 ou pela diminuição na secreção de ACTH 6, causada por lesão destrutiva na própria hipófise, no hipotálamo, ou ainda em função da administração exógena de glicocorticoides por tempo indeterminado 7. Esta apresentação eventualmente progride para deficiência também de mineralocorticoides 8,9. O hipoadrenocorticismo é uma doença que atinge principalmente fêmeas desde a juventude até a meia-idade, acometendo animais de quatro a doze anos 10, embora cães com a forma atípica possam ser diagnosticados com idade mais avançada e curso crônico da afecção, diferentemente do que os que apresentam a forma clássica do distúrbio 6,11. Não há predileção racial 1,12,13, embora alguns trabalhos norte-americanos relatem predisposição em poodles standard, West Highland white terriers, rotweillers, boarder collies, cães d'água portugueses e dogues alemães 14. O diagnóstico do hipoadrenocorticismo é realizado com base no histórico, nos sinais clínicos e em exames laboratoriais. A hipercalemia e a hiponatremia são alterações eletrolíticas importantes da insuficiência adrenal clássica – associadas aos valores abaixo da normalidade obtidos nos testes de estimulação pelo hormônio adrenocorticotrófico

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


(ACTH) 15 – e da relação sódio:potássio menor que 27:1 4. O teste de estimulação pelo ACTH é que confirma o diagnóstico 8,12, embora estudos recentes considerem o uso do cortisol basal como teste diagnóstico, desde que dentro de níveis mínimos predeterminados e associado a outras alterações clinicolaboratoriais 4. O diagnóstico diferencial do hipoadrenocorticismo deve incluir a cetoacidose diabética, a pancreatite aguda, a peritonite séptica, a insuficiência renal aguda e os distúrbios gastrintestinais 1,16. Nos casos de hipoadrenocorticismo clássico, as manifestações clínicas são atribuídas à deficiência de cortisol e de aldosterona. A deficiência de glicocorticoides causa letargia, fraqueza, tolerância reduzida ao estresse 7,16 e alterações gastrintestinais como êmese, anorexia e diminuição do peso corporal 3. A aldosterona é responsável pelo controle da homeostasia hidroeletrolítica pela reabsorção de sódio, cloretos e água, e pela excreção do potássio 10,11 e dos íons de hidrogênio 9. No hipoaldosteronismo há diminuição da capacidade dos túbulos distais renais para executarem esse controle e os sinais mais evidentes são a hiponatremia, a hipercalemia e a acidose metabólica 8,17. O volume total do líquido extracelular e o volume sanguíneo ficam reduzidos e caracteriza-se a hipovolemia 9,12. Esta diminuirá o débito cardíaco, com consequente diminuição da taxa de filtração glomerular e azotemia pré-renal. A taxa de filtração glomerular reduzida, combinada à ausência da aldosterona, é responsável pela diminuição da reabsorção do sódio e pela incapacidade de excreção do potássio 18. A hipercalemia resultará em fraqueza muscular generalizada, excitabilidade miocárdica reduzida e nível refratário miocárdico aumentado 10,18. No exame físico, achados adicionais relacionados ao distúrbio incluem desidratação, bradicardia, pulso femoral fraco e dor abdominal. Os sinais clínicos são inespecíficos e facilmente atribuídos a distúrbios que mais comumente envolvem os sistemas digestório e urinário 2. A apresentação clínica da doença varia de sintomatologia leve a grave, podendo evoluir para um quadro de choque hipovolêmico, coma – que pode ser definido como ausência de resposta a estímulos nocivos repetidos 19 – e óbito 4,8.

Nos casos de hipoadrenocorticismo atípico não se observam alterações eletrolíticas. Alguns marcadores bioquímicos importantes nas duas apresentações (clássica e atípica) são hipocolesterolemia (causada provavelmente por diminuição da absorção de lipídios pelo sistema digestório e por esteatorreia responsiva aos glicocorticoides), hipoalbuminemia e hipoglicemia (causadas por hemorragias gastrintestinais graves 10), e anemia normocítica e normocrômica 11, em função do estímulo reduzido à eritropoiese pela ausência dos glicocorticoides. Outras hipóteses para essas alterações são enteropatia com perda proteica e absorção intestinal ineficiente, além de diminuição na síntese de albumina 6. A hipoglicemia também pode ser explicada pela gliconeogênese hepática inadequada ou inexistente, secundária à deficiência dos glicocorticoides. As alterações mais notáveis ao leucograma incluem linfocitose, monocitose e eosinofilia. O leucograma de estresse ou linfopenia, comumente observado em pacientes gravemente enfermos 6,11, não é encontrado na síndrome de Addison. A urinálise pode revelar baixa densidade urinária (valores abaixo de 1.030), variando de isostenúria a hipostenúria, a despeito da desidratação 14,15, fato que, associado à azotemia, torna importante o diagnóstico diferencial de hipoadrenocorticismo quando em suspeita de insuficiência renal aguda 2. A patogenia dessa alteração não é bem estabelecida, entretanto, algumas hipóteses podem ser consideradas, como a perda da tonicidade da região medular renal, devido à falha na reabsorção de sódio e cloreto na alça de Henle e à redução do estímulo para a produção e liberação do ADH (hormônio antidiurético), devido à baixa osmolaridade plasmática, já que há perda renal de sódio e cloreto 11. As alterações radiográficas descritas como frequentemente encontradas são microcardia, diminuição no diâmetro da aorta descendente e estreitamento do lúmen da veia cava caudal, que são observadas através de radiografias laterais do tórax 17. Estes achados podem auxiliar o diagnóstico de insuficiência adrenal e são observados em aproximadamente 25% a 35% dos cães acometidos 2. Porém, a interpretação desses resultados deve ser realizada com cautela,

uma vez que a microcardia também pode ser encontrada em distúrbios que causem sinais clínicos insidiosos, como letargia, fraqueza, hipovolemia e choque 1. A ultrassonografia pode revelar redução significativa no comprimento e na espessura das adrenais quando comparadas às de cães saudáveis cujas medidas podem variar entre 0,51 ± 0,7cm e 0,48 ± 0,63cm 6,10,16. Na maioria dos cães com hipoadrenocorticismo, a espessura da glândula adrenal é menor que 3mm 20. Outro achado ultrassonográfico importante é a chamada hepatomegalia ou aumento do contorno hepático. O fígado normal à palpação deve ocupar a região do paracôndrio direito 21, podendo salientar-se além do arco costal apenas alguns milímetros 22. O eletrocardiograma pode demonstrar alterações no traçado em função da hipercalemia, que deprime a condução cardíaca – o que pode ser demonstrado pelo aumento ou pico da onda T, pelo intervalo R-R irregular e pelo complexo QRS aumentado 10,18. O diagnóstico de hipoadrenocorticismo é confirmado pelo teste de estimulação pelo ACTH, que consiste na determinação do cortisol plasmático antes e uma hora após a administração endovenosa de 0,25mg de ACTH sintético. A administração intramuscular pode ser realizada, embora sua absorção seja variável. Esse teste não diferencia o hipoadrenocorticismo primário do secundário. Para tal, é necessária a determinação da concentração do ACTH endógeno 1,10. A escolha do tratamento irá variar de acordo com o estado clínico do animal e a natureza da insuficiência. Se clássica, será necessária a reposição de mineralocorticoides e glicocorticoides e, no caso de apresentações atípicas, repõe-se apenas os glicocorticoides 3. Em manifestações agudas, a volemia e as anormalidades eletrolíticas e acidobásicas devem ser corrigidas pela administração de fluidoterapia endovenosa, preferencialmente com solução de cloreto de sódio 0,9%, com o volume inicial de 40 a 80mL/kg/h nas duas primeiras horas, seguido de 90 a 120mL/kg/24h 10,13 . Esse procedimento melhora a condição do animal na medida em que restaura a perfusão renal, o que geralmente é suficiente para estabilizar o paciente 4. A administração de glicocorticoides é iniciada tão logo as anormalidades eletrolíticas e a hipoperfusão

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Relato de casos Foram atendidos em um hospital veterinário na cidade do Rio de Janeiro, no período de um ano, quatro cães com sinais de hipoadrenocorticismo, sendo três fêmeas – duas sem raça definida (SRD) e uma da raça poodle – e um macho da raça maltesa, com idades variando entre seis e doze anos. 56

Caso 1 Cadela SRD, de onze anos de idade, porte médio e 12kg de peso corpóreo, foi encaminhada para atendimento com histórico de prostração, êmese e sensibilidade abdominal havia cerca de três dias, com agravamento do quadro clínico. O animal apresentava-se em estupor evidenciado pelo decúbito e pela ausência de reação aos estímulos realizados (Figura 1). Ao exame físico observou-se bradicardia (40 bpm), temperatura retal de 37˚ C, mucosas oral e ocular hipocoradas e tempo de retorno capilar (TRC) diminuído. A aferição do pulso femoral foi dificultada pela baixa celeridade deste e a auscultação pulmonar apresentou ruídos hipofonéticos. Além disso, havia intensa fraqueza muscular e não foi confirmada a sensibilidade abdominal relatada pelo proprietário. Os sinais observados e a presença de grave desidratação (maior que 10%) e hipovolemia, aliados a bradicardia, levaram à suspeita de hipoadrenocorticismo primário. Diante da suspeita, coletou-se sangue para a realização de hemograma e determinação da concentração sérica de ureia, creatinina, alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), gama glutamiltransferase (GGT), colesterol, sódio, potássio, glicose, proteínas séricas totais, albumina e globulinas. Instituiu-se fluidoterapia com solução de cloreto de sódio (NaCl) a 0,9%, e após as primeiras quatro horas de reposição de volume, em que se administraram 80mL/kg/h nas primeiras duas horas iniciais de fluidoterapia, seguidos de 100mL/kg/24h, a paciente apresentava-se menos prostrada. Foram também administrados: metoclopramida a 0,3mg/kg/q 8h/SC, um bloqueador dopaminérgico antiemético e procinético; ranitidina b 1mg/kg/q 12h/EV, antagonista de receptores H2 da Luciana Peralta S. Gonçalves

sejam corrigidas. A dexametasona pode ser utilizada na dose de 0,5 a 2mg/kg/EV, antes ou mesmo durante o teste de estimulação pelo ACTH, sem que altere os resultados deste 10,14. Após a realização do teste, a prednisona pode ser utilizada na dose de 0,6 a 1mg/kg por dia 15. Os mineralocorticoides devem ser administrados para manutenção da homeostase dos eletrólitos. O pivalato de desoxicorticosterona (DOCP) é um mineralocorticoide de longa ação, descrito como de eleição para o tratamento de animais com hipoadrenocorticismo primário, podendo ser utilizado em animais que apresentem êmese na dose de 2,2mg/kg/ IM ou SC a cada 25 dias. Como possui baixa atividade glicocorticoide, é necessária a reposição de doses fisiológicas de corticosteroides (0,2mg/kg/dia) 8,10. No Brasil, como o DOCP não é comercializado, o mineralocorticoide recomendado para cães com hipoadrenocorticismo clássico é o acetato de fludrocortisona na dose de 0,01mg/kg/VO, BID, embora a absorção dessa droga pelos cães seja menos eficiente do que em humanos e só possa ser instituída após o controle da êmese, pois sua apresentação é oral 8,11. A fludrocortisona apresenta pequena atividade glicocorticoide, portanto, em alguns casos, não é necessária a sua suplementação. Este trabalho tem como objetivo principal revisar os principais aspectos diagnósticos e terapêuticos do hipoadrenocorticismo, além das alterações laboratoriais descritas, a partir do relato de caso de quatro pacientes atendidos em um hospital veterinário – um deles com a apresentação atípica do distúrbio –, a fim de alertar o médico veterinário sobre a importância do reconhecimento das diferentes apresentações clínicas da doença de Addison e da necessidade de sua inclusão no diagnóstico diferencial das emergências na clínica médica de pequenos animais.

Figura 1 - Cadela (caso 1) no primeiro dia de internação, apresentando sinais de estupor e ausência de reflexos

histamina, um inibidor de secreções gastroduodenais e procinético; e um composto de substâncias de ação antitóxicas c (aspartato de L-ornitina; cloridrato de L-arginina; L-citrulina; acetil metionina; cloridrato de colina; levedulose e água biodestilada) 1mL/kg/24h, efetivo na reposição de elementos energéticos vitais para desintoxicação de substâncias nocivas, indicado em perturbações funcionais hepáticas. Os exames laboratoriais indicaram anemia normocítica e normocrômica arregenerativa, leucograma dentro dos níveis de normalidade para a espécie, ureia, creatinina, proteínas séricas totais e suas frações, ALT e FA dentro dos valores de normalidade, hiponatremia, hipercalemia e relação sódio:potássio igual a 13,2:1. Havia moderado aumento da atividade sérica da GGT (9,6UI/L) e glicemia com níveis discretamente diminuídos (62mg/dL). Após o resultado dos exames laboratoriais de triagem, a suspeita de hipoadrenocorticismo se tornou mais evidente. Como o quadro clínico poderia se agravar antes da liberação do resultado do teste de estimulação pelo ACTH, realizou-se a aplicação de fosfato de dexametasona d por via endovenosa (2mg/kg) em caráter de emergência. Por volta de 40 minutos após a administração da dexametasona, o animal apresentava melhora do quadro clínico, esboçava reações aos estímulos e tentava se colocar em posição quadrupedal. A remissão de todos os sinais descritos ocorreu dois dias após o início do tratamento. Para a realização do teste de estimulação pelo ACTH, foram coletadas amostras de sangue para dosagem do cortisol antes e uma hora após a administração de uma ampola (0,25mg/mL/cão/EV) de ACTH sintético e. Os valores de referência utilizados pelo laboratório onde foi realizado o exame são de 0,5 a 5,5mcg/dL antes da estimulação e de 6 a 20mcg/dL após a estimulação. Os resultados encontrados foram de 0,5mcg/dL e 2mcg/dL antes e depois da estimulação respectivamente, que confirmaram, juntamente com os valores da relação sódio: potássio e os sinais clínicos, o diagnóstico de hipoadrenocorticismo primário ou clássico. Após três dias de internação (Figura 2), a) Cloridrato de metoclopramida - Neo Química, Anápolis, GO b) Cloridrato de ranitidina - TEUTO, Anápolis, GO c) Ornitil® - Vetnil, Louveira, SP

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


Luciana Peralta S. Gonçalves

Figura 2 - Mesmo paciente da figura 1 três dias após o início do tratamento para hipoadrenocorticismo clássico

o animal recebeu alta médica e prescreveu-se acetato de fludrocortisona e (0,01mg/kg/VO, BID) e prednisona f (0,2mg/kg/VO) em dias alternados. Cerca de quinze dias após a liberação, a paciente foi levada para nova avaliação e seu estado geral era muito bom. Casos 2 e 3 Dois cães, um macho da raça maltesa com seis anos de idade (caso 2) e 4kg de peso corporal e uma fêmea SRD de oito anos de idade (caso 3) e 28kg de peso corporal, foram encaminhados para internação com uma diferença de 67 dias de intervalo entre um e outro. A queixa dos proprietários era de êmese, diarreia, apatia e fraqueza muscular. Os animais apresentavam sinais de coma, evidenciado pela ausência de resposta a estímulos nocivos repetidos, como diminuição de reflexo pupilar e prostração. As mucosas estavam hipocoradas, o TRC diminuído e a desidratação era superior a 10% nos dois casos. A frequência cardíaca do animal do caso 2 era de 49 bpm, e a do caso 3, de 40 bpm, com hipofonese de ruídos respiratórios. O pulso femoral de ambos apresentavase fraco. Diante dos quadros apresentados, a hipótese de hipoadrenocorticismo foi considerada. Coletou-se sangue para hemograma e determinação da concentração sérica de ureia, creatinina, sódio, potássio, cloretos, colesterol, ALT, FA, GGT, proteínas séricas totais, albumina e globulinas dos dois animais. Após cerca de quatro horas de fluidoterapia com solução de cloreto de sódio (NaCl)

a 0,9% com o volume de 80mL/kg/h nas duas primeiras horas, seguidos de 100mL/kg/24h e da administração de fosfato de dexametasona (1mg/kg/EV), os pacientes apresentavam-se responsivos a alguns estímulos. Foram administradas as mesmas medicações de suporte como descrito no relato anterior (caso 1). Os resultados do hemograma do cão maltês (caso 2) demonstraram anemia normocítica e normocrômica arregenerativa e leucograma dentro dos parâmetros de normalidade para a espécie. A determinação das concentrações séricas de ureia, creatinina, FA e ALT evidenciaram valores dentro dos parâmetros de normalidade; já os níveis de GGT encontravam-se moderadamente aumentados (10,2 UI/L). Também foram constatadas hiponatremia, hipocloremia e hipercalemia (relação sódio:potásssio igual a 11,8:1). Não foram observadas alterações nos valores de proteínas totais séricas e frações, assim como na glicemia. Os resultados do cortisol antes e depois da estimulação pelo ACTH foram de 0,2mcg/dL e 1mcg/dL, respectivamente – que, aliados aos sinais clínicos, ao histórico e aos demais exames laboratoriais, confirmaram o diagnóstico de hipoadrenocorticismo primário ou clássico. Os resultados das análises laboratoriais do cão fêmea SRD (caso 3) não apresentaram alterações dignas de nota ao hemograma. Os valores de ureia e creatinina encontravam-se diminuídos (15mg/dL e 0,3mg/dL). Os valores das enzimas hepáticas (ALT, FA e GGT) estavam dentro da normalidade para a espécie. Observou-se ainda hipocolesterolemia (98mg/dL), hipoalbuminemia (1,6g/dL), níveis normais de glicose sanguínea (85mg/dL), hiponatremia, hipocloremia e hipercalemia. As dosagens de cortisol antes e após a estimulação pelo ACTH revelaram valores abaixo dos estabelecidos para a espécie – 0,5mcg/dL e 0,8mcg/dL, respectivamente. Assim como no caso 2, foram realizadas medicações de suporte, fluidoterapia com NaCl 0,9%, utilizando-se o mesmo volume descrito anteriormente, e administração de dexametasona na mesma dose descrita para o paciente do caso 2. Em ambos os casos, os animais apresentaram melhora do quadro clínico inicial 30 a 50 minutos após a administração

da dexametasona. Passados quatro dias do diagnóstico presuntivo e da terapêutica instituída, os resultados dos testes de estimulação com ACTH confirmaram o diagnóstico. A remissão dos sinais clínicos se deu nesse mesmo período. Dois dias após, os pacientes receberam alta médica e recomendação para retorno após quinze dias, para nova avaliação laboratorial e acompanhamento da resolução do distúrbio. Foram prescritos acetato de fludrocortisona (0,01mg/kg/VO, BID) e prednisona (0,2mg/kg/VO) em dias alternados e recomendou-se que retornassem para avaliações e dosagens periódicas para o controle adequado da doença. Até o presente relato, os pacientes se apresentam em bom estado geral e sob controle satisfatório do distúrbio. Caso 4 Cadela da raça poodle, de doze anos de idade e 14kg de peso corporal, foi levada à consulta apresentando como queixa principal do proprietário sintomatologia gastrintestinal crônica, como vômitos recorrentes e frequentes episódios de diarreia, fraqueza de estabelecimento insidioso e aparente dor abdominal ao manuseio. Foram solicitados os mesmos exames (hemograma e exames bioquímicos séricos) dos pacientes anteriormente relatados. Como a paciente não apresentava sinais de choque hipovolêmico ou desidratação, embora se locomovesse com dificuldade e apresentasse apatia e pouca reação a estímulos, os exames solicitados tiveram o objetivo de elucidar melhor o quadro apresentado. Os resultados indicaram ausência de alterações eletrolíticas e relação sódio:potássio de 29:1, hipocolesterolemia (108mg/dL) e eritrograma com resultado normal. Outros achados: monocitose (2.632/ L), aumentos de FA (294 UI/L), GGT (8,9 UI/L) e ALT (386 UI/L) e valores de proteína total e frações normais para a espécie. Diante dos achados laboratoriais, da queixa de apatia contínua e da manutenção das alterações gastrintestinais, aventou-se a possibilidade de hipoadrenocorticismo atípico. O teste de estimulação pelo ACTH foi realizado como descrito d) Azium® - Shering-Plough, Rio de Janeiro, RJ e) Synacthène® - Novartis Pharma S. A., França, Tradefarma, São Paulo,SP f) Florinef® - Bristol Myers Squibb, São Paulo, SP g) Meticorten® 5 mg - Shering-Plough, Rio de Janeiro, RJ

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Figura 3 - Imagem ultrassonográfica da glândula adrenal direita (AD) do animal do caso 4 em corte longitudinal medindo 1,64 x 0,34cm (comprimento x espessura). Imagem sugestiva de atrofia da glândula adrenal direita. (VN.: espessura menor que 0,5cm) 20 Márcia C. Salomão

Discussão e conclusões Os animais dos casos acima relatados apresentavam idade entre seis e doze anos, sendo três fêmeas e um macho. A literatura relata ser o hipoadrenocorticismo doença típica de fêmeas desde a juventude até a meia-idade, acometendo animais de quatro a doze anos 10, embora cães com a forma atípica possam ser diagnosticados com idade mais avançada e curso crônico da afecção 6,11. No caso 4, apesar da idade de doze anos, o animal em questão apresentava a forma atípica da doença. Os relatos 1, 2 e 3 foram diagnosticados como hipoadrenocorticismo primário ou clássico, uma vez que houve diminuição dos níveis séricos tanto de mineralocorticoides quanto de glicocorticoides 5,8. A deficiência de mineralocorticoides foi evidenciada pelo desequilíbrio hidroeletrolítico, pois a aldosterona

Márcia C. Salomão

anteriormente, com resultados antes e após a estimulação de 1ng/mL e 1,2ng/mL, respectivamente. Solicitouse ultrassonografia abdominal, cujo resultado indicou imagens sugestivas de atrofia adrenal bilateral (Figuras 3 e 4) com medidas entre 0,31 e 0,37cm e hepatomegalia. Realizou-se nova coleta de sangue para dosagem de ACTH endógeno, cujo resultado de 5pg/mL confirmou a suspeita de hipoadrenocorticismo secundário ou atípico, uma vez que os parâmetros definidos como normais estão entre 20 e 100pg/mL. O animal ficou internado por três dias, tendo recebido desde o primeiro dia de internação alimentação a cada quatro horas e água à vontade. Após esse período, recebeu alta clínica, e prescreveu-se prednisona (0,2mg/kg/VO) uma vez ao dia, em dias alternados. Recomendou-se o retorno da paciente em quinze dias e a observação da correção das alterações clínicas. Ao retorno, observou-se resposta satisfatória à terapia, confirmada pelo aumento do apetite, pela diminuição da prostração e dos episódios de diarreia e pela ausência de episódios de êmese desde a instituição do tratamento. Um mês após a alta médica, foram repetidos todos os exames laboratoriais, cujos resultados foram considerados normais para a espécie, e ao exame clínico o animal se apresentou alerta e bem-disposto.

Figura 4 - Imagem ultrassonográfica do animal do caso 4 sugestiva de atrofia da glândula adrenal direita (0,34cm de espessura). Valores menores que 0,5cm sugerem atrofia da glândula

é responsável por reabsorver o sódio e água e excretar o potássio nos túbulos renais distais 9,11,17. Sua deficiência causa hiponatremia, hipercalemia, hipocloremia e consequente hipovolemia 11,17. A insuficiência de glicocorticoides foi confirmada pela diminuição dos níveis séricos de cortisol antes e após o teste de estimulação pelo ACTH 1,4,10. Segundo o laboratório que realizou as avaliações hormonais, os resultados do teste de estimulação pelo ACTH entre 8 e 20mcg/dL encontram-se dentro de valores normais, enquanto os valores menores que 5,5mcg/dL são considerados suspeitos para o distúrbio, e valores menores que 2mcg/dL são indicativos de diagnóstico de hipoadrenocorticismo. Outros indícios dessa insuficiência foram a presença de êmese, diarreia e alterações no estado mental, como letargia e ausência de resposta a estímulos dolorosos 3,9,11,17. Não foram realizadas radiografias de tórax para averiguação de microcardia, como relata a literatura,

apesar da hipovolemia observada nos relatos 1, 2 e 3, uma vez que o estado dos pacientes era considerado crítico, e portanto priorizaram-se os exames laboratoriais realizados 1,2,3,7. Além disso, deve-se levar em conta que a microcardia é um achado que pode ser encontrado em distúrbios que causem sinais clínicos insidiosos, como letargia, fraqueza, hipovolemia e choque, não devendo, portanto, ser interpretada de forma isolada 1. Os resultados dos exames laboratoriais do caso 2 demonstraram anemia normocítica e normocrômica, pela ausência do cortisol endógeno, que representa papel importante na estimulação da produção de hemácias pela medula óssea. Em sua ausência, esse estímulo está reduzido, com diminuição da eritropoiese e consequente anemia arregenerativa 10,11. Como era de se esperar, não foram observadas alterações no leucograma dos casos 1, 2 e 3, mesmo na ausência do cortisol, que causa a diminuição da linfólise, aumentando o tempo dos linfócitos na circulação sanguínea e causando linfocitose. Essa alteração foi observada apenas no caso 4 11. Como os linfócitos produzem fatores quimiotáticos para eosinófilos, seu aumento na circulação estimularia a liberação dos eosinófilos pela medula óssea, levando à eosinofilia; entretanto, essa alteração não foi observada em nenhum dos quatro casos relatados 10,11. A alteração eletrolítica encontrada nos casos 1, 2 e 3 (relação sódio:potássio menor que 27:1) foi compatível com a insuficiência adrenocortical primária 3,5,10. O relato do quarto caso suscitou a forma atípica do hipoadrenocorticismo em função dos sinais clínicos e dos achados laboratoriais compatíveis com a insuficiência apenas de glicocorticoides 4,6, tais como alterações gastrintestinais crônicas; poliúria e polidipsia; fraqueza muscular; hipocolesterolemia; alterações em enzimas hepáticas; ausência de alterações eletrolíticas; baixos valores nas dosagens de cortisol antes e após a estimulação pelo ACTH e, por fim, valores séricos do ACTH endógeno diminuídos, considerado o melhor método diagnóstico para diferenciar a apresentação primária da secundária 1-3,5,8,10,12. O ACTH endógeno não foi mensurado nos relatos 1, 2 e 3, em função do diagnóstico de hipoadrenocorticismo

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clássico ter sido firmado, ao contrário do relato 4, cujo diagnóstico foi de hipoadrenocorticismo atípico 1,10. A ultrassonografia abdominal foi realizada no caso 4 e as imagens foram compatíveis com atrofia adrenal bilateral, achado esperado para esta apresentação 7. A emergência clínica nos casos de hipoadrenocorticismo é resultado tanto da deficiência de mineralocorticoides quanto de glicocorticoides 11. O tratamento baseia-se inicialmente no controle da hipotensão, da hipovolemia e dos desequilíbrios eletrolíticos 4, bem como na melhora da integridade vascular, no fornecimento imediato de glicocorticoides e, após o estabelecimento da ingestão de água e de alimentos, também de mineralocorticoides por via oral, o que foi realizado nos casos clássicos da doença (relatos 1, 2 e 3). No caso 4, de apresentação atípica do distúrbio, adotou-se apenas a reposição de glicocorticoides após o diagnóstico definitivo 13,15,16. A solução salina fisiológica foi utilizada nos relatos 1, 2 e 3, fluido intravenoso ideal

para a correção tanto da hipovolemia quanto da hiponatremia. O volume calculado adotado na rotina de atendimentos emergenciais do hospital em questão estava de acordo com o preconizado em literatura 23. Os três pacientes responderam de forma satisfatória nas quatro primeiras horas de fluidoterapia 1,4,10,12,14,15 e à administração de fosfato de dexametasona, que é um glicocorticoide de rápida ação e não causa alterações no resultado do teste diagnóstico de eleição (estímulo pelo ACTH) 3,6,12,13. O tratamento escolhido para esses casos após a resolução do quadro agudo, uma vez que o pivalato de desoxicorticosterona não está disponível no Brasil, foi realizado pela administração de acetato de fludrocortisona, que é capaz de repor tanto os mineralocorticoides quanto uma pequena porção de glicocorticoides 17. Como na maioria dos casos há necessidade de reposição de quantidade maior de glicocorticoides, preconiza-se a utilização de corticoide de média duração, como a prednisona, conforme realizado 1,2,6,14. O prognóstico

do hipoadrenocorticismo, tanto clássico quanto atípico, é considerado favorável quando há correto e rápido diagnóstico, 5 como descrito nos quatro casos apresentados 1-3,5. Considerações finais É importante ressaltar que, por ser muitas vezes uma doença que cursa com episódios de emergência, o animal pode chegar à clínica veterinária apresentando sinais gastrintestinais ou renais que necessitem de tratamento específico além do sintomático imediato. Nesses casos, é importante considerar a hipótese do hipoadrenocorticismo como diagnóstico diferencial, para que o correto diagnóstico e a instituição do tratamento adequado ocorram precocemente e produzam resultados efetivos e melhores prognósticos. O número de casos atendidos no período apresentado nos leva a crer que tanto a forma clássica como a forma atípica do distúrbio podem não ser comumente diagnosticadas, sendo mais frequentes do que descrito.

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Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009



Tatiane Moreno Ferrarias

Hiperestrogenismo secundário a mestástase de sertolinoma: relato de caso

MV, CV/UCS

tatiferrarias@yahoo.com.br

Márcia Marques Jericó MV, dra, profa. - UAM

marciajerico@hotmail.com

Me Rodrigo Gonzalez

Hyperestrogenism due to a metastatic process of Sertoli cells tumor: case report

MV - HV/UAM

rgonzale4@hotmail.com

Milena Piacitelli Sanchez MV, Let Labor

Hiperestrogenismo debido a metástasis de tumor de células de Sertoli: descripción del caso

milenatp@uol.com.br

Marília Takada MV autônoma

mariliakumi@yahoo.com.br

Adriane Provasi

Resumo: Um cão macho sem raça definida, treze anos de idade e apresentando aumento de volume em região inguinal com evolução de dois anos e crescimento progressivo, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi. Por exame ultrassonográfico abdominal e análise histopatológica pós-orquiectomia, constatou-se criptorquidismo e sertolinoma. Mesmo após a retirada dos testículos, a produção hormonal não cessou – sugerindo processo metastático em linfonodos sublombares e ilíacos – e o quadro de síndrome de feminização evoluiu, além de anemia secundária ao hiperestrogenismo. É importante ressaltar que, apesar de raros, deve-se atentar para tumores testiculares metastáticos mesmo em cães castrados com sinais de feminização ou pancitopenia. Unitermos: cão, endocrinologia, criptorquidismo, pancitopenia, feminização Abstract: A 13-year-old male mongrel dog was referred to the veterinary hospital of Anhembi Morumbi University with a twoyear-old inguinal mass that presented progressive growth. Abdominal ultrasonography and post-orchiectomy histopathological analysis revealed cryptorchidism and Sertoli cells tumor. Hormonal production did not cease after testicle removal, suggesting a metastatic process in the iliac and sublumbar lymph nodes. As a result, the feminization syndrome evolved, as well as anemia secondary to the hyperestrogenism. It is important to stress that, although unusual, metastatic tumors of testicular origin can occur even in neutered animals. In these cases, clinicians need to be alert for signs of feminization or pancytopenia. Keywords: dog, endocrinology, cryptorchidism, pancytopenia, feminization Resumen: Se presentó para consulta un perro macho, mestizo de 13 años de edad y que presentaba aumento de volumen en la región inguinal y evolución progresiva de dos años. Con un diagnostico ecográfico de criptorquidismo, fue realizada la orquiectomia y atraves de examen histopatologico, se diagnosticó un tumor de celulas de Sertoli. Aun después de realizada la retirada de los testículos, la producción hormonal no disminuyó, sugiriendo un proceso metastático en linfonodos sub lumbares e ilíacos. El cuadro de sindrome de feminización aumentó, ademas de una anemia secundaria al hiperestrogenismo. Es importante resaltar que, a pesar de su baja incidencia, se debe pensar en la posibilidad de metastasis de tumores testiculares, aun en machos castrados, cuando existan signos de feminización o pancitopenia. Palabras clave: perro, endocrinología, criptorquidismo, pancitopenia, feminización

Clínica Veterinária, n. 83, p. 62-66, 2009

Introdução O testículo é o local anatômico mais comum para o desenvolvimento tumoral em cães machos inteiros, sendo responsável por aproximadamente 90% das neoplasias do sistema reprodutor masculino 1. Tumores testiculares são achados comuns em cães e a prevalência varia de 0,068 a 4,6%, acometendo principalmente os idosos 1-3. Os tumores testiculares primários derivam de três elementos testiculares: células intersticiais de Leydig, células de Sertoli e do epitélio espermático germinativo. As transformações malignas desses elementos originarão, respectivamente: tumores de células intersticiais de Leydig, tumores de células de Sertoli – ou sertolinomas – e seminomas 1. Esses tumores ocorrem com igual 62

frequência, no entanto, afetam treze vezes mais cães criptorquídicos (que apresentam testículos intra-abdominais ou inguinais) 4. Não há predileção pelo testículo direito ou esquerdo, porém, a localização do testículo direito é mais cranial que a do esquerdo, assim, este tem que percorrer uma distância maior até atingir o escroto e, por esse motivo, é mais comumente retido e predisposto a tumorogênese 5. A maioria dos tumores testiculares são localizados e metástases regionais ou distantes são incomuns, ocorrendo em menos de 15% dos casos de sertolinoma 1. Além do criptorquidismo, há outros fatores de risco para a tumorogênese testicular primária: cães com idade a partir de dez anos e das raças boxer, pastor alemão, afghan hound, weimaraner e pastor de Shetland 1.

MV, profa. - HV/UAM

provasi@usp.br

Karina Lourenço Cantagallo

MV, Dermatoclínica

karinacantagallo@globo.com

Os sinais e sintomas associados aos tumores testiculares são variáveis, podendo ser causados por tumores primários, metástases ou em consequência de síndrome paraneoplásica. Na palpação, é comum a presença de aumento de volume testicular ou massas testiculares, abdominais ou inguinais, além de atrofia do testículo contralateral normal. O exame ultrassonográfico de escroto e abdômen auxilia o diagnóstico 1,4. O hiperestrogenismo pode ser uma manifestação paraneoplásica de tumores testiculares primários, mensurado por dosagem sanguínea, e que pode causar a síndrome de feminização, caracterizada por alopecia simétrica bilateral, hiperpigmentação, prepúcio penduloso, ginecomastia, galactorreia, atrofia peniana e metaplasia escamosa da próstata. Assim, durante o exame físico, devese atentar para a inspeção da coloração da pele, do pelame, do prepúcio e das mamas 1. Sertolinomas de testículos criptorquídicos intra-abdominais são mais comumente associados com hiperestrogenismo, sendo que 19% dos cães com sertolinoma apresentam a síndrome de feminização 6. Além dessas alterações verificadas mediante exame físico, o hiperestrogenismo

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Relato de caso Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi um cão macho, sem raça definida (SRD), de médio porte e treze anos de idade, apresentando aumento de volume

em região inguinal com evolução de dois anos e crescimento progressivo. Segundo o proprietário, o animal havia sido medicado com anti-inflamatório, sem melhora. Ao exame físico, o estado geral era regular, destacando-se a presença de alopecia em região dorsal e hiperpigmentação da pele. O animal estava hidratado, com mucosas normocoradas e à auscultação apresentava bulhas regulares normofonéticas sem sopro (Figuras 1 e 2).

Figura 1 - Canino, macho, SRD, treze anos. Na posição lateral, notar áreas alopécicas simétricas bilaterais em dorso, região cervical, membros e cauda, além de hiperpigmentação cutânea

À palpação, presença somente do testículo direito em bolsa escrotal e aumento de volume em região inguinal esquerda (aproximadamente 15cm de diâmetro, consistência firme e não aderido). Na palpação retal, observou-se aumento prostático. Não houve alterações na avaliação hematológica, na bioquímica (creatinina, ureia) e na radiografia torácica, porém o exame ultrassonográfico mostrou aumento de próstata (4,3 x 3,8 x 2,8cm), com áreas císticas difusas pelo parênquima

Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

pode ter consequências hematológicas irreversíveis como hipoplasia de medula óssea, gerando pancitopenia. A mielotoxicidade por estrógeno ocorre em 15% dos cães com sertolinoma que apresentam síndrome de feminização 4. Nos casos de doença não metastática, a orquiectomia com ablação escrotal é o tratamento de escolha e curativo. Após a retirada do testículo, deve-se proceder a análise histopatológica para confirmação de diagnóstico. O prognóstico para animais com alterações hematológicas associadas a infecção secundária ou hemorragia é reservado devido à alta morbidade e mortalidade dessa condição 1. Neste artigo será descrito um caso incomum de hiperestrogenismo secundário a metástases de sertolinoma em linfonodos sublombares e ilíacos.

Figura 2 - Canino, macho, SRD, treze anos. Na posição dorsal, notar áreas alopécicas simétricas em dorso, região cervical, membros e cauda, além de hiperpigmentação cutânea


B

Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

A

C

B

A

Figura 4 - Fotomicrografias da análise histopatológica do testículo criptorquídico corado por hematoxilina e eosina (HE). As objetivas utilizadas foram 10x (A) e 40x (B). Destaca-se a proliferação de tecido epitelial composto por múltiplos lóbulos delineados por espesso estroma fibroso, apresentando estes diversos túbulos revestidos por células altas e cilíndricas, arranjadas em paliçada sobre a membrana basal

(imagens sugestivas de hiperplasia prostática benigna/prostatite); somente um testículo em bolsa escrotal; grande aumento de volume em região inguinal esquerda (formação heterogênea em ecotextura e ecogenicidade) e aumento de cadeia de linfonodos sublombares e ilíacos (medindo até 2,4 x 1,6cm, com ecogenicidade e ecotextura heterogêneas) (Figura 3). O tratamento realizado foi a orquiectomia com a retirada do provável tumor testicular inguinal. No pós-operatório, utilizou-se cetoprofeno (2mg/kg, BID durante quatro dias) e amoxicilina (22mg/kg, BID durante sete dias), ocorrendo evolução favorável da ferida cirúrgica. Na análise histopatológica do testículo criptorquídico, observou-se macroscopicamente superfície lisa e esbranquiçada, que ao corte era acastanhada. E o exame microscópico revelou uma proliferação de tecido epitelial composto por múltiplos lóbulos delineados por espesso estroma fibroso, apresentando estes diversos túbulos revestidos por células altas e cilíndricas, arranjadas em paliçada sobre a membrana basal, as quais apresentavam núcleos polares 64

arredondados e nucléolos conspícuos (Figura 4). Os citoplasmas mostravamse discretamente acidofílicos, com bordos pouco precisos. Figuras de mitoses atípicas foram visualizadas com baixa frequência. Tal descrição levou à conclusão de que se tratava de um sertolinoma. Após vinte dias, o estado do animal era bom. Realizou-se então um exame ultrassonográfico de controle, através do qual se observou que o volume da próstata continuava crescendo e que os linfonodos sublombares e ilíacos tinham aumentado, passando a medir 5 x 3,8 x 3,2cm, com ecogenicidade e ecotextura heterogêneas, devendo-se considerar a possibilidade de processo metastático. Instituiu-se tratamento profilático com enrofloxacina (5mg/kg, BID durante quinze dias) e foi solicitado retorno em quize dias para realização de exames complementares (exame citológico e histopatológico) que confirmassem o diagnóstico de metástases. Porém, o proprietário retornou somente após quatro meses, com a queixa de hiporexia e urina em quantidade menor e de aspecto purulento. O estado geral do animal

Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Emerson F. F. Mota

Emerson F. F. Mota

Figura 3 - Imagens do exame ultrassonográfico abdominal de cão, macho, SRD, treze anos, antes de ser submetido ao procedimento de orquiectomia. A) testículo ectópico, B) próstata, C) linfonodo sublombar

Figura 5 - Canino, macho, SRD, treze anos. Imagem do animal quatro meses após a orquiectomia. Houve progressão dos sintomas. Notar a ginecomastia e o pênis pendular Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Figura 6 - Canino, macho, SRD, treze anos. Destaque para a progressão da área alopécica simétrica bilateral

era ruim, a temperatura normal (38,5 ºC), mucosas congestas, destacando-se a presença de alopecia simétrica bilateral, hiperpigmentação abdominal mais acentuada, ginecomastia, prepúcio penduloso e atrofia peniana. À palpação, presença de formações de aproximadamente 5cm de diâmetro de consistência firme em cavidade abdominal, além de maior aumento prostático (Figuras 5 e 6). Realizaram-se hemograma completo, perfil renal, exame ultrassonográfico e verificação de dosagens de estradiol, progesterona e testosterona. No hemograma, observou-se anemia normocítica e normocrômica (Figura 7) e leucocitose acentuada por neutrofilia com desvio à esquerda; a creatinina estava levemente aumentada e a ureia dentro

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009


* método de radioimunoensaio (Coat-a-count, DPC, USA) ** validado pelo Laboratório Rhesus Veterinária

dos parâmetros de normalidade. A urinálise revelou presença de cocos e bastonetes, leucócitos incontáveis e sangue oculto em grande quantidade. Houve aumento nos valores de estradiol, além de redução nos níveis de testosterona quando comparados aos valores de normalidade para a espécie (Figura 8). O exame ultrassonográfico demonstrou aumento de próstata mais acentuado (6 x 5 x 5,6cm), com áreas císticas/ cavitárias difusas pelo parênquima (sugestivas de hiperplasia prostática benigna/prostatite/neoplasia) e aumento de cadeia de linfonodos sublombares e ilíacos (5 x 4,6 x 4cm), com ecogenicidade e ecotextura heterogêneas, sugestivo de processo metastático (Figura 9). Procedeu-se ao exame de citologia aspirativa por agulha fina dos linfonodos e da próstata. Na punção de linfonodo, havia presença de inúmeros elementos

B

Figura 9 - Imagens do exame ultrassonográfico abdominal de cão, macho, SRD, treze anos, após o procedimento de orquiectomia. A) aumento de próstata, com áreas císticas/cavitárias difusas pelo parênquima (metaplasia escamosa de próstata), B) aumento de linfonodo sublombar (processo mestastático)

celulares neoplásicos apresentando núcleo redondo, cromatina grosseira, nucléolos evidentes, citoplasma basofílico e alguns com pequenos vacúolos, quadro compatível com mestástase de sertolinoma. Na próstata, foram descritas grande quantidade de material amorfo sugestivo de necrose e células epiteliais queratinizadas, compatíveis com metaplasia escamosa da próstata. Sugeriu-se biópsia excisional dos linfonodos e posterior quimioterapia como forma de tratamento. O proprietário não aceitou, devido aos riscos cirúrgicos e optou pelo tratamento de suporte. O proprietário informou por telefone que após 30 dias do retorno, optou pela eutanásia do animal. Discussão A suspeita diagnóstica de tumor testicular se estabeleceu pelo achado do exame físico: massa em região inguinal (testículo criptorquídico), presença de somente um testículo em bolsa escrotal e região dorsal alopécica e hiperpigmentada. A partir desses achados e em função do bom estado geral do animal,

indicou-se a orquiectomia e posterior análise histopatológica testicular, essencial para a verificação do tipo de tumor testicular, com características particulares de sertolinoma, bem como para o procedimento relativo ao quadro de linfadenomegalia. O crescimento tumoral e sua localização estão relacionados com o grau de feminização, pois a produção de estrógeno é geralmente proporcional ao tamanho do tumor e mais elevada em tumores intra-abdominais 7. No caso descrito, o cão era criptorquídico; o tempo de evolução foi de dois anos, de acordo com o proprietário e, além disso, o diâmetro tumoral atingira quase 15cm. Inicialmente ocorreram metástases em linfonodos sublombares e inguinais. Tais dados corroboram os achados da literatura, que sugerem que os processos metastáticos atingem mais comumente linfonodos lombares e inguinais, podendo acometer fígado, parênquima pulmonar, rins, baço, glândulas adrenais, pâncreas, pele, olhos e sistema nervoso central 1. O achado de metástases de sertolinoma após a ressecção dos testículos raramente

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Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Parâmetros Valores Referências*

Estradiol 29,45 inferior a 18ng/mL Progesterona 3,9 inferior a 0,4ng/mL Testosterona 0,1 1,0 a 7,0 ng/mL Figura 8 - Dosagens séricas de estradiol, progesterona, testosterona pelo método de radioimunoensaio

A

Márcia Marques Jericó - HV Anhembi Morumbi

Figura 7 - Índices hematimétricos (valores de hemácias) referentes à avaliação inicial (1) e após a evolução do quadro de hiperestrogenismo (2)


ocorre. Há a descrição do surgimento de metástases em tecido escrotal e cordão espermático em doze cães orquiectomizados, sendo que um apresentava síndrome de feminização 13. No caso descrito, antes do procedimento de orquiectomia, o animal já apresentava sintomas de feminização (alopecia em região dorsal e hiperpigmentação), porém, com a evolução das metástases em linfonodos sublombares e inguinais, houve o agravamento do quadro de hiperestrogenismo: aumento de regiões alopécicas, ginecomastia, prepúcio penduloso e atrofia peniana, sinais e sintomas de síndrome de feminização, caracterizando uma situação incomum, pois, mesmo após a excisão da neoplasia, as metástases mantiveram a produção hormonal 1. Além disso, alterações prostáticas como metaplasia escamosa da próstata, prostatite, cistos e abscessos prostáticos também são manifestações secundárias ao hiperestrogenismo, e foram achadas após a orquiectomia 8. Os exatos mecanismos da síndrome de feminização não são claros. Tal síndrome pode resultar da síntese direta de estradiol pelas células neoplásicas testiculares, da conversão de compostos androgênicos em estradiol pelos tecidos periféricos ou pelas células neoplásicas e pelo desequilíbrio na relação testosterona/estradiol 1. Há três tipos mais importantes de estrógenos circulantes nos machos: estrona, estradiol e estriol, sendo que o estradiol é a forma fisiologicamente ativa. O sertolinoma é o principal tumor testicular produtor de altas concentrações de estrógenos em cães; altos níveis de estradiol, associados à redução da testosterona e da relação testosterona/estradiol, são indicativos de tumores testiculares 9. A diminuição dos níveis de testosterona decorre do hiperestrogenismo, que suprime a secreção do hormônio luteinizante e, consequentemente, a produção de testosterona, pelo eixo hipotálamo-hipófise-gonadal 7. Há relato de dois casos de diminuição significativa de testosterona, que apresentavam hiperestrogenismo associado 9. Pela citologia aspirativa por agulha fina dos linfonodos e da próstata estabeleceu-se respectivamente o diagnóstico de processos metastáticos de sertolinoma (arranjos paliçados, citoplasmas macrovacuolizados e fusões de citoplasma, 66

com formações paliçadas), além de metaplasia prostática 10,11. No presente relato, denota-se quadro de anemia normocítica e normocrômica em fase avançada. O hiperestrogenismo é causa conhecida de pancitopenia em cães e ferrets com características de feminização, que pode evoluir para aplasia medular 12. A pancitopenia aplásica é caracterizada como pancitopenia sanguínea associada a uma medula óssea hipocelular com espaços hematopoiéticos substituídos por tecido adiposo 12. Em cães com doença localizada, o tratamento de escolha é a orquiectomia com ablação escrotal, que na maioria dos casos é curativo; porém, cães com hipoplasia de medula óssea têm prognóstico reservado, pois estão mais sujeitos a infecções secundárias e hemorragias 1,14. No caso descrito, devido ao diagnóstico tardio da doença e à presença de metástases, o prognóstico foi reservado. Deve-se lembrar que o estado geral de animais muito debilitados deve se mostrar estável para que possam ser submetidos a intervenção cirúrgica. O manejo de metástases é limitado e o uso de radioterapia e quimioterapia sistêmica tem sido relatado. Os agentes quimioterápicos usados incluem a cisplatina e a bleomicina e o prognóstico é de cinco a 31 meses de sobrevida 14. Considerações finais O hiperestrogenismo associado ao sertolinoma deve ser suspeito em qualquer macho de idade média a idoso que apresente criptorquidismo ou massas testiculares, principalmente quando associado a sinais e sintomas de feminização. A retirada dos testículos pode não fazer cessar a produção hormonal e o quadro de síndrome de feminização pode se manter ou evoluir, provocando anemia secundária ao hiperestrogenismo. É importante ressaltar que, apesar de raros, deve-se atentar para tumores testiculares metastáticos mesmo em cães castrados com sinais de feminização ou pancitopenia. Agradecimentos Agradecemos a Emerson F. F. Mota, do Histopet, pela atenção e gentileza de ceder as micrografias das análises histopatológicas.

Referências

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Anelise Carvalho Nepomuceno

Comparação entre radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética nas afecções do ouvido em caninos e felinos - revisão de literatura

MV, mestranda - Unesp/Jaboticabal anelisecane@yahoo.com.br

Carlos Artur Lopes Leite MV, prof. adj. - UFLA/MG

caca@ufla.br

Tatiana Silveira

Médica veterinária autônoma tatisilveiravet@yahoo.com.br

Rosana Zanatta

MV, MSc, doutoranda - Unesp/Jaboticabal rosana.zanatta@gmail.com

Comparison of radiography, computed tomography and magnetic resonance imaging in the diagnosis of ear diseases in canines and felines - a review

Marcus Antônio Rossi Feliciano

MV, MSc, doutorando - Unesp/Jaboticabal marcusfeliciano@yahoo.com.br

Júlio Carlos Canola

MV, prof. adj. - Unesp/Jaboticabal

canola@fcav.unesp.br

Comparación entre radiografía, tomografía computadorizada y resonancia magnética en los trastornos del oído en caninos y felinos revisión bibliográfica Resumo: O ouvido, orelha ou sistema vestibulococlear compreende um conjunto de estruturas cuja função está relacionada com a audição e o equilíbrio. Ele pode ser dividido nas porções externa, média e interna. A otite média caracteriza-se pela afecção do sistema vestibulococlear no segmento compreendido entre os ouvidos externo e interno, abrangendo as estruturas da bula timpânica e da cadeia ossicular, além da face interna das membranas timpânica e das janelas coclear e vestibular. É importante estabelecer o diagnóstico de otite média para evitar cronicidade e danos irreversíveis à audição. Técnicas de diagnóstico por imagem como radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são essenciais no diagnóstico e na avaliação de pacientes com suspeita de afecções no ouvido. Este trabalho tem por objetivo descrever as aplicações dessas principais técnicas de obtenção de imagem relacionadas ao sistema vestibulococlear em medicina veterinária, apontando qualidades e dificuldades. Unitermos: cão, gato, diagnóstico por imagem, otite Abstract: The ear or vestibulocochlear system comprises a set of structures related to hearing and balance. It can be divided into external, middle and internal portions. Otitis media is characterized by impairment of the vestibulocochlear system in the segment between the outer and inner ear, affecting the structures of the tympanic bulla and ossicular chain, as well as the inner surface of the tympanic membranes and cochlear and vestibular windows. It is important to establish the diagnosis of otitis media to prevent chronic and irreversible damage to hearing. Imaging diagnostic techniques such as radiography, computed tomography and magnetic resonance imaging are essential in the diagnosis and evaluation of patients with suspected disorders in the ear. This paper describes the main applications of these techniques to the vestibulocochlear system in veterinary medicine, and points to qualities and disadvantages of each method. Keywords: dog, cat, imaging diagnosis, otitis Resumen: El oído o sistema vestibulococlear se compone de un conjunto de estructuras cuya función está relacionada con la audición y el equilibrio. Se puede dividir en tres porciones: externa, media e interna. La otitis media se caracteriza por la deficiencia del sistema vestibulococlear en el segmento entre el exterior y el interior de las orejas, que abarca las estructuras de la bula timpánica y cadena osicular, además de la superficie interna de la membrana timpánica y ventanas coclear y vestibular. Es importante establecer el diagnóstico de otitis media crónica para evitar daños irreversibles a la audición. Técnicas de diagnóstico por imagen como la radiografía, la tomografía computarizada y la resonancia magnética son esenciales en el diagnóstico y la evaluación de pacientes con sospecha de trastornos en el oído. Este documento tiene por objetivo describir las aplicaciones de esas principales técnicas para la obtención de una imagen relacionada con el sistema vestibulococlear en medicina veterinaria, que muestra las cualidades y los obstáculos para realización de cada una de estas técnicas. Palabras clave: perro, gato, diagnóstico por imagen, otitis

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Introdução O ouvido, orelha ou sistema vestibulococlear compreende um conjunto de estruturas cuja função está relacionada com a audição e o equilíbrio. Ele pode ser dividido em porções externa, média e interna 1,2. 68

A otite média caracteriza-se pela afecção do sistema vestibulococlear no segmento compreendido entre os ouvidos externo e interno, abrangendo as estruturas da bula timpânica e da cadeia ossicular, além da face interna das membranas timpânica e das janelas

coclear e vestibular 2. A otite é um problema frequente na rotina prática veterinária e acomete de 5% a 20% da população canina 2. A otite média ocorre mais comumente na bula timpânica, como extensão de uma otite externa primária. A associação entre otite externa e média atinge de 16% a 50% dos cães, sendo que a maioria destes apresenta otite externa crônica 1,2. A radiologia, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética são métodos auxiliares de diagnóstico. As imagens obtidas por esses métodos muitas vezes contribuirão para o diagnóstico clínico conclusivo das afecções do ouvido em pequenos animais. Em casos em que haja suspeita de otite média, deve-se seguir um padrão de exames, iniciando-se pela radiografia. Se o exame radiográfico não for suficiente para estabelecer o diagnóstico, parte-se para a tomografia computadorizada. E se ainda assim as imagens não forem conclusivas, a ressonância magnética torna-se o exame apropriado. Este trabalho tem por objetivo descrever as aplicações dessas principais técnicas de obtenção de imagem relacionadas ao sistema vestibulococlear em medicina veterinária, apontando suas qualidades e dificuldades.

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A projeção DV é preferida à VD (Figura 1), especialmente por evitar a sobreposição de estruturas adjacentes 1 e reduzir a magnificação da imagem da bula 6.

VD

Carlos Artur Lopes Leite

DV

As projeções LL (Figura 2), direita ou esquerda, devem ser evitadas, pois ocorre sobreposição máxima das bulas timpânicas e consequentes erros de interpretação no momento do exame 6. Carlos Artur Lopes Leite

Figura 1 - Crânio de cão com marcação da bula timpânica (em vermelho) posicionado para radiografia dorsoventral (DV) e ventrodorsal (VD), em caso de suspeita de otite média

OVDLLd

Figura 2 - Crânio de cão com marcação da bula timpânica (em vermelho) posicionado para radiografia laterolateral direita (LLd) e oblíqua ventrodorsal laterolateral direita (OVDLLd), em caso de suspeita de otite média

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LLd

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Radiologia convencional O exame radiológico do sistema vestibulococlear constitui um dos principais métodos de diagnóstico da otite média em cães e gatos. A natureza complexa do crânio de cães e gatos, com múltiplas estruturas ósseas e sobreposições em bula timpânica, faz com que as alterações radiográficas associadas à otite média se tornem um desafio à interpretação clínica 3,4. Assim, a avaliação radiográfica deve sempre ser feita por um profissional experiente e qualificado, visto que interpretações diferentes são mais comuns que o esperado 5. A análise radiográfica do sistema vestibulococlear deve ser feita em pelo menos duas projeções, para possibilitar a comparação de imagens. Recomendase que os posicionamentos permitam a comparação bilateral no que se refere à simetria e à radiopacidade. As projeções mais usadas são laterolateral (LL), dorsoventral (DV), ventrodorsal (VD), rostrocaudal de boca aberta (RCd/ba) e oblíquas dorsoventrais e ventrodorsais (ODV e OVD, respectivamente) 1,2,6,7.


Carlos Artur Lopes Leite

Figura 3 - Crânio de cão com marcação da bula timpânica (em vermelho) posicionado para radiografia rostrocaudal de boca aberta (RCd/ba), em caso de suspeita de otite média. Observar a mínima sobreposição das bulas timpânicas com outras estruturas ósseas adjacentes Carlos Artur Lopes Leite

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A projeção RCd/ba exige que o animal esteja anestesiado e seja colocado em decúbito dorsal sobre a mesa. A cabeça deve ser posicionada de modo que o palato duro e o plano sagital formem um ângulo reto em relação ao filme. A boca é aberta com auxílio de mordaças, e o feixe principal de raios X é direcionado verticalmente através da boca aberta do animal. Essa projeção permite uma boa avaliação das bulas timpânicas, com menor grau de sobreposições (Figura 3), embora seja tecnicamente mais difícil que qualquer outra projeção radiográfica para crânio 6,7. A bula timpânica dos gatos difere da dos cães, uma vez que há uma lâmina óssea fina que divide a bula felina em dois compartimentos. Nos gatos, a projeção RCd/ba é particularmente útil por permitir visibilizar essa compartimentalização 1. Na projeção ODV, o animal deve ser posicionado em decúbito dorsal e a articulação atlantocciptal é posicionada em um ângulo de aproximadamente 60º em relação à coluna vertebral. A boca é aberta, de modo que o feixe central de raios X divida em dois o ângulo da articulação temporomandibular aberta. O palato duro e a mandíbula devem ser angulados em aproximadamente 30º quando comparados ao feixe principal de raios X, em direções opostas. Normalmente, a angulação para padronizar as radiografias oblíquas é estabelecida pelo radiologista, por meio de tentativa e erro. A literatura 6 indica a projeção OVD na avaliação da otite média em cães justamente por evitar sobreposições desnecessárias e também por minimizar a magnificação da imagem final. As radiografias oblíquas são alternativas à projeção RCd/ba, pois permitem uma acurácia semelhante a esta 7. Os achados radiográficos mais frequentes na otite média, em caninos e felinos, são 2: a) espessamento e esclerose da bula timpânica: o espessamento se inicia com a instalação de um processo inflamatório, devido ao aumento de células secretórias, com consequente aumento no volume de secreções. A lâmina óssea reage, espessando-se e emitindo espículas ósseas para o espaço intracavitário; b) preenchimento do espaço intracavitário da bula timpânica: outrora ocupado por ar em animais hígidos, o espaço

Figura 4 - Radiografia oblíqua ventrodorsal laterolateral esquerda (OVDLLe) de cão com otite média. Observar radiopacidade aumentada de bula timpânica esquerda (seta)

intracavitário passa a ser ocupado por fluidos oriundos das células, lisozimas e proteinases originárias dos microrganismos presentes no ouvido (que também aumentam a inflamação) e no tecido hiperplásico (Figura 4); c) proliferação óssea envolvendo a parte petrosa do osso temporal e/ou a articulação temporomandibular: o aumento da radiopacidade óssea dessas regiões pode ser originário tanto de processos inerentes ao sistema vestibulococlear como de periaurais; d) calcificação/ossificação do conduto auditivo externo: as cartilagens auricular e anular sofrem deposição acelerada e descontrolada de sais de cálcio (calcificação), normalmente como sequela da otite externa. Em sequência, ocorre o processo de ossificação, podendo, inclusive, ocorrer fraturas espontâneas no osso neoformado; e) alterações na densidade óssea das regiões adjacentes ao sistema vestibulococlear: embora raras, essas alterações sugerem neoplasia (carcinoma de células escamosas, comum em felinos) ou osteopatia craniomandibular em caninos,

como atestam alguns autores 2,6. Os achados radiográficos das neoplasias que afetam o ouvido médio incluem osteólise, distorção da parede da bula, proliferação óssea e aumento da radiopacidade de tecidos moles nas regiões adjacentes 1. Certos autores 1,5 listam outros achados radiográficos na otite média, como lise óssea da bula timpânica e presença de flaps calcificados intracavitários. A avaliação radiográfica da bula timpânica é limitada. Uma angulação imprópria da cabeça ou um mau posicionamento da língua podem resultar em um exame inadequado 4. Existe uma variação normal na densidade das bulas entre as diferentes raças que pode dificultar o reconhecimento das mudanças patológicas nessa estrutura anatômica 8. A aparente densidade da bula também pode ser afetada pelo posicionamento e pela técnica radiográfica. Posicionamentos ou exposições radiográficas inadequados podem criar ou mascarar mudanças na bulas 8. Os achados radiográficos podem fechar o diagnóstico de otite média, entretanto, a ausência de sinais radiográficos compatíveis com essa afecção não exclui a possibilidade da sua presença 2,6. A radiografia é útil nos casos de infecção crônica, mas pode mostrar-se normal no início de uma infecção do ouvido médio 9. Os achados falso negativos parecem ser mais comuns que os achados falso positivos 3. Foram encontrados achados radiográficos falso negativos em 25% dos casos de otite média, confirmados cirurgicamente, em um trabalho realizado com dezenove casos clínicos. Assim, o exame radiográfico não é considerado um método de alta sensibilidade no diagnóstico de otite

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também podem ser empregados para tal fim 6. Com o animal anestesiado, deve ser feita a tricotomia e a limpeza da região auditiva externa, com soluções antissépticas não iodadas (clorexidina). O animal é então posicionado em decúbito esternal e o contraste é depositado no conduto auditivo, o mais profundamente possível, por meio de um cateter flexível. A colocação de um algodão hidrofóbico dentro do conduto é válida para evitar que o contraste extravase para o exterior 6. Todo o procedimento pode ser acompanhado na figura 5. Massagens na região periauricular ajudam na difusão do contraste. Recomenda-se que as radiografias sejam feitas alguns segundos após a colocação do líquido contrastante 6. Os posicionamentos DV e RCd/ba são mais eficientes que os demais, pois evitam ou minimizam sobreposições do contraste com estruturas ósseas. Os pacientes devem ser obrigatoriamente submetidos à lavagem do conduto auditivo e da bula timpânica ao término do exame, pois a presença do contraste no conduto pode causar intoxicação do oitavo par de nervos cranianos 2. Em animais hígidos, a canalografia

radiografia convencional ainda é recomendada como método de avaliação das doenças do ouvido médio 1. Recomendam-se radiografias sequenciais ao tratamento da otite média, para avaliar a evolução da doença 1. As alterações radiográficas sempre devem ser correlacionadas com os sinais clínicos, já que elas podem persistir enquanto os sinais clínicos já estão resolvidos e vice-versa 8. Radiologia contrastada positiva (canalografia) A radiografia contrastada positiva do ouvido ou canalografia tem sido proposta como método de avaliar a integridade da membrana timpânica 1. Ela é considerada um método útil, barato e eficiente de acusar otite média 2. Essa técnica consiste em instilar contrastes positivos dentro do conduto auditivo e submeter o paciente à radiografia. Uma vez identificado contraste na cavidade timpânica, caracteriza-se diagnóstico definitivo de perfuração timpânica. Os contrastes positivos mais utilizados para esse fim são o iohexol (300mg/mL) e a urografina (375mg/ mL), porém, o iopamidol (300mg/mL) e os diatrizoatos de sódio e cálcio (25-50%)

A

Carlos Artur Lopes Leite

Carlos Artur Lopes Leite

B Carlos Artur Lopes Leite

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média 4. As radiografias subestimam a gravidade das doenças do ouvido médio, especialmente nos casos precoces ou quando as alterações ósseas estão ausentes 10. Um estudo revelou que esse método possui sensibilidade de 80% e especificidade de 65% para detecção de fluidos em bula timpânica 11. As alterações do ouvido médio que podem ser avaliadas radiograficamente incluem osteopatia craniomandibular, otite média, pólipos inflamatórios, neoplasia, presença de corpos estranhos radiopacos, alterações ósseas, anomalias congênitas, fraturas e doenças da região petrosa do osso temporal 6,12. Os pólipos inflamatórios são comuns em gatos, sendo uma das causas mais frequentes de otite média nessa espécie. Em felinos jovens, um pólipo inflamatório pode desenvolver-se no ouvido médio e estender-se para dentro da faringe. A causa dos pólipos é desconhecida e não se sabe ao certo se a otite média é precursora ou sequela dos pólipos 8,12. Essas estruturas usualmente produzem um aumento da densidade e espessamento ósseo da bula timpânica 7. A otolitíase consiste na deposição de material mineral na bula timpânica. É de ocorrência rara em cães e pode estar relacionada com otite média crônica. Há relatos de sua identificação como achado radiográfico característico 13. O carcinoma de células escamosas e os adenocarcinomas são tumores malignos que podem afetar a bula timpânica e causar proliferação ou destruição completa dos ossos da bula, dos ossos temporais petrosos e de outras estruturas ósseas adjacentes ao ouvido médio e externo 8,12. A radiografia pode ser útil na determinação de lises associadas com neoplasias, mas a extensão do envolvimento é subestimada pelo método 4. A radiografia não é o meio diagnóstico de escolha para avaliação do ouvido interno 1. A anatomia da região petrosa do osso temporal é complexa e embora a esclerose do osso temporal possa ser identificada na radiografia, a otite interna não fornece sinais radiográficos facilmente aparentes em muitos animais, o que faz com que o diagnóstico de otite interna seja baseado, principalmente, nos sinais clínicos 12. Embora existam desvantagens, a

Figura 5 - Procedimento de canalografia em cão: A) instilação de 3mL do contraste (iopamidol 300mg/mL) no conduto auditivo, B) colocação de tampão de algodão hidrófobo, C) canalograma em posicionamento DV de cão com ruptura de membrana timpânica unilateral – os dois condutos estão delimitados pelo contraste positivo, D) presença de contraste dentro de bula timpânica direita

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permitirá apenas a observação dos condutos, com perfeita delimitação da porção externa da membrana timpânica 2,6. A canalografia também é útil no diagnóstico de alterações do ouvido externo, já que também podem ser detectados distúrbios anatômicos como estenose e presença de massas intraluminais 2,6.

Rosana Zanatta

B

A

Figura 6 - Imagem de TC em corte transversal de cabeça de felinos mestiços com sinais clínicos de doença sinonasal: A) o interior das bulas timpânicas e o canal auditivo normais apresentam opacidade ar (círculo), B) há presença de opacidade tecido mole/líquido em parte da bula timpânica esquerda (otite média) e dos canais auditivos (otite externa) (círculo)

A

Rosana Zanatta

Rosana Zanatta

72

Rosana Zanatta

Tomografia computadorizada A primeira descrição do uso da tomografia computadorizada em pacientes veterinários ocorreu em 1981, porém apenas em 1998 foi descrita no Brasil 14. Nos últimos dois anos, o número de relatos de casos e procedimentos em tomografia computadorizada (TC) vem aumentando no país, mas ainda de forma incipiente. Tanto na medicina humana como na medicina veterinária, a TC é considerada uma ferramenta de diagnóstico preferencial para as alterações do ouvido médio 9. O conhecimento da anatomia do ouvido canino é importante no momento de avaliar as imagens obtidas na TC, pois ajuda a reconhecer condições patológicas do ouvido médio e anormalidades que estejam afetando o ouvido interno 14. Em um estudo de anatomia tomográfica do ouvido médio e interno, foi possível a identificação das principais estruturas, como: membrana timpânica, ossículos auditivos, bula timpânica (ouvido médio), cóclea, meato acústico interno e canais semicirculares do ouvido interno 15. A bula timpânica e o conduto auditivo formam uma imagem conhecida pelos tomografistas veterinários como “dois cisnes na lagoa”, em alusão ao formato, que lembra o dessas aves 6. A sequência de imagens obtida pela TC permite uma boa visibilização da arquitetura anatômica do ouvido, com destaque especial para detalhes do ouvido médio e interno 1. A TC possui alta resolução, mostrando estruturas menores que 1mm 9. Há relatos de identificação de otolitíase pela TC apenas como achado acidental, que não estava relacionado a suspeita ou ao quadro clínico 13. O uso da TC sempre deve ser precedido por avaliação clínica e radiológica. Nos casos em que os sinais clínicos sugerem otite média mas os sinais radio-

para detecção de fluidos dentro da bula 18. As imagens de TC podem fornecer informações importantes sobre a doença do ouvido, incluindo doença unilateral ou bilateral, o grau de envolvimento do ouvido médio e interno, doença vestibular periférica versus central, infecções ou inflamações versus processo neoplásico, cronicidade do processo, envolvimento de estruturas adjacentes e complicações pós-cirúrgicas 4. A interpretação do tomograma não difere muito da de uma radiografia convencional, mas espera-se que o examinador possua vivência na área, para evitar resultados errôneos na avaliação 5. A TC é superior à ressonância magnética na detecção das alterações do ouvido médio e interno que afetem estruturas ósseas 1. Ela pode ser uma alternativa útil à ressonância magnética, quando há suspeita de envolvimento ósseo 15. A TC permite um diagnóstico apurado da otite média, mas é limitada na detecção da otite interna, principalmente quando esta acomete nervos e outras estruturas de tecido mole 19. Como a radiografia convencional, a

gráficos não são conclusivos, a TC torna-se uma ferramenta apropriada 10. A doença sinusal é comum nos felinos, sendo frequentemente diagnosticada como doença inflamatória crônica ou neoplasia. Em uma pesquisa em gatos que apresentavam essa enfermidade, a TC evidenciou a presença de efusão em bula timpânica, caracterizada por radiopacidade do tecido mole ou fluido e espessamento ósseo da bula 16 (Figuras 6 e 7). As vantagens da TC sobre a radiografia convencional consistem na eliminação de estruturas sobrepostas e na utilização de contrastes positivos com imagens de qualidade superior em tecidos moles 5,17. A TC fornece imagens sequenciais, que minimizam as sobreposições 17 . Estudos afirmam que a sensibilidade da TC no diagnóstico de otite média é maior que a fornecida pela radiografia convencional, mas sua especificidade é menor 3,4. De forma geral, a TC é mais rápida e informativa que a radiologia convencional 4. Em um estudo comparativo entre a TC, a radiografia e a ultrassonografia da bula timpânica, a primeira técnica permaneceu como o método de eleição

B

Figura 7 - Imagem de TC em corte transversal de cabeça de duas fêmeas felinas mestiças com sinais clínicos de doença sinonasal: A) o interior das bulas timpânicas e o canal auditivo normais apresentam opacidade ar (círculo), B) há presença de opacidade tecido mole/líquido em parte da bula timpânica direita, compatível com otite média (círculo)

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TC também é falha em detectar alterações precoces associadas à otite média. Essa técnica imaginológica pode dar uma falsa impressão de afilamento da parede da bula timpânica, resultando em diagnósticos falso positivos de otite média 10. Os principais entraves para a adoção da TC estão relacionados ao custo e à experiência do clínico que vai operar o equipamento 17. Na rotina clínica veterinária, devido ao custo elevado e à dificuldade de acesso aos equipamentos necessários, a utilização de técnicas de imagem avançadas, como a TC, ainda está restrita a um pequeno número de animais 14. Ressonância magnética A primeira descrição de uso da ressonância magnética (RM) em medicina veterinária foi feita em 1989, e desde então vem se consolidando como o método de imagem mais indicado para avaliação de estruturas do sistema nervoso central e suas enfermidades 14. As imagens de RM permitem boa distinção dos componentes de tecidos moles intracavitários (como neoplasia e polipose), porém, poucos relatos mencionam o uso da técnica no diagnóstico das doenças do ouvido de pequenos animais 1. Assim como a TC, a RM fornece imagens sequenciais, que minimizam as sobreposições 17. As imagens de RM são divididas em três grupos: baixo, médio e alto campo. A RM de alto campo é uma modalidade de escolha para avaliar estruturas neurais vizinhas do ouvido interno em seres humanos. Em caninos, a RM de baixo campo permite detectar alterações em ouvido médio e interno 19. Todos os tecidos moles podem ser visibilizados no ressonograma, mas a cortical óssea e o ar não produzem sinal nas imagens em quaisquer das sequências utilizadas. Isso ocorre por causa da inabilidade dos prótons em se distenderem na matriz óssea densa e da relativa falta de núcleos de hidrogênio no ar, que é mostrada na tela pela coloração negra e classificada como imagem hipotensa ou com hipossinal. As imagens claras são classificadas como hipertensas ou com hipersinal, e as imagens cinza são caracterizadas como sinal intermediário 20. Na RM, os tecidos moles, fluido, ar e 74

osso são bem individualizados e as alterações inflamatórias precoces especialmente edemas e tecidos de granulação podem ser detectadas. Existe uma boa resolução entre ar, fluido, osso, tecidos moles e restos tissulares. Essa modalidade de exame também possibilita a diferenciação entre tecidos hipervascularizados e edemaciados, assim como entre processos agudos e crônicos 10. A presença de fluido no lúmen da bula timpânica é um dos achados mais comuns na otite média em cães. Em casos agudos, pode ser a única alteração presente 3. A RM é um método útil para detectar a presença de fluido no ouvido médio canino 21, com o líquido aparecendo como uma zona de hiperintensidade intracavitária 1. Da mesma forma que ocorre na TC, o uso da RM sempre deve ser precedido de exame clínico e radiológico 10. Em uma pesquisa com felinos suspeitos de otite média e utilizando a RM como método diagnóstico, pôde-se atestar a alta sensibilidade do teste, com confirmação por procedimentos cirúrgicos 9. A RM permite a visibilização de estruturas ósseas, mas não com a mesma precisão da TC, razão pela qual deve ser preterida em função desta 10. Assim como em seres humanos, os ressonogramas em animais permitem diferenciar estruturas fluidas de estruturas sólidas. A RM nos animais permite descrever a presença e a extensão da afecção 9. A capacidade de obtenção de imagens multiplanares e a ausência de radiação ionizante tornaram a RM a técnica de geração de imagens mais adequada em muitas doenças 20. A RM é uma técnica emergente e tem crescido com a experiência clínica 1. Os ressonogramas podem revelar imagens diagnósticas que não são apontadas pela radiologia. Além disso, a RM pode gerar informação suplementar no momento em que um diagnóstico apurado não puder ser estabelecido pela TC 9. Acredita-se que a RM forneça informações subsidiárias às avaliadas na radiografia e na TC 3. A RM supera por larga margem a TC em sua capacidade de distinguir diferenças sutis nos limites dos tecidos moles 20. A técnica de RM é a modalidade a escolher quando se trata de animais com

suspeita de otite ou síndrome vestibular, devido ao seu potencial para identificar pequenas lesões que afetem estruturas auditivas e neurais 15. Nos casos de sinais vestibulares inequívocos, os ressonogramas poderão ajudar a excluir a presença de lesões cerebrais 10. Quando os sinais presentes não possibilitam a diferenciação entre síndrome vestibular central ou periférica, ou o paciente não responde ao tratamento, as imagens de RM devem ser consideradas para avaliar possíveis lesões do parênquima cerebral e enfermidades do ouvido médio 10. Nos casos em que os sinais clínicos sugerem otite média, mas as radiografias não são sugestivas do quadro, a TC ou a RM tornam-se necessárias 10. As desvantagens da RM relacionamse à má visibilidade do córtex ósseo, ao custo e à vivência do clínico que vai operar o equipamento e interpretar o ressonograma 17. As estruturas do ouvido interno, como labirinto, canais semicirculares, cóclea, vestíbulo e nervos cranianos (VII e VIII), assim como processos patológicos dessas estruturas, têm sido identificados em seres humanos. Em cães, o emprego da RM no diagnóstico de otopatias médias ainda é praticamente insignificante perante as demais técnicas de diagnóstico 10. A presença de massas hipertensas no conduto auditivo e/ou na bula timpânica ajudam a esclarecer quadros dificilmente apontados pela radiologia convencional, especialmente em casos crônicos 10. Em resumo, podem-se estabelecer as principais indicações e limitações da radiografia convencional (RC), da tomografia computadorizada (TC) e da ressonância magnética (RM) na avaliação diagnóstica do ouvido canino e felino (Figura 8). Considerações finais As modalidades de diagnóstico por imagem, como radiologia convencional, tomografia computadorizada e ressonância magnética, muitas vezes são complementares para a avaliação de doenças do ouvido de caninos e felinos. Há algum tempo, as imagens do ouvido médio eram obtidas somente por meio da radiologia convencional, devido à facilidade de manipulação da aparelhagem, além do custo acessível;

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Indicações Limitações

RC Facilidade de acesso ao equipamento

RCP Ruptura da membrana timpânica

TC Melhor avaliação de alterações ósseas

RM Excelente contraste para tecidos moles

Estenose de conduto auditivo externo

Indicada quando a RC não diagnosticou a otite

Avaliação do ouvido médio e interno

Menor sensibilidade

Toxicidade dos contrastes

Avaliação ruim de tecidos moles

Avaliação ruim de tecidos ósseos

Avaliação ruim do ouvido interno

Necessidade de lavagem auditiva após o exame

realizados está crescendo. Provavelmente, em um futuro próximo, essas técnicas poderão ser mais acessíveis, vindo a tornar-se métodos rotineiros de diagnóstico por imagem na medicina veterinária brasileira. Referências

01-GAROSI, L. S. ; DENNIS, R. ; SCHWARTZ, T. Review of diagnostic imaging of ear diseases in the dog and cat. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 44, n. 2, p. 137-146, 2003.

Figura 8 - Indicações e limitações da radiografia convencional (RC), da radiografia contrastada positiva (RCP), da tomografia computadorizada (TC) e da ressonância magnética (RM) na avaliação diagnóstica do ouvido canino e felino

02-LEITE, C. A. L. Caracterização clínica e laboratorial de caninos hígidos e otopatas, com ênfase nas microbiotas aeróbica e anaeróbica dos condutos auditivos. 2003a. 237p. Dissertação (Doutorado em Clínica Veterinária) Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista - Unesp, Campus de Botucatu/SP.

entretanto, a baixa sensibilidade dessa técnica pode limitar a interpretação. Nos últimos vinte anos, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética começaram a ser descritas na medicina veterinária. Porém, a utilização dessas técnicas na rotina do veterinário

04-BISCHOFF, M. G. ; KNELLER, S. K. Diagnostic imaging of the canine and feline ear. Veterinary Clinics of North American Small Animal Practice, v. 34, n. 2, p. 437-458, 2004.

Custo Dificuldade de acesso ao equipamento Necessita de vivência do examinador

brasileiro ainda é limitada. O custo dos equipamentos e o desconhecimento dos profissionais acerca das principais indicações clínicas dessas modalidades de imagem diminuem muito o número de pedidos de exames. Gradativamente, o número de exames

03-DICKIE, A. M. ; DOUST, R. ; CROMARTY, L. ; JOHNSON, V. S. ; SULLIVAN, M. ; BOYD, J. S. Comparison of ultrasonography, radiography and a single computed tomography slice for the identification of fluid within the canine tympanic bulla. Research in Veterinary Science, v. 3, n. 75, p. 209-216, 2003.

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05-ROHLEDER, J. J. ; JONES, J. C. ; DUNCAN, R. B. ; LARSON, M. M. ; WALDRON, D. L. ; TROMBLEE, T. Comparative performance of radiography and computed tomography in the diagnosis of middle ear disease in 31 dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 1, n. 47, p. 45-52, 2006.

06-LEITE, C. A. L. A avaliação radiográfica no diagnóstico da otite média em caninos e felinos. Medvep (Revista Brasileira de Medicina Veterinária - Pequenos Animais e Animais de Estimação), v. 1, n. 1, p. 35-43, 2003b. 07-HAMMOND, G. J. C. ; SULLIVAN, M. ; WEINRAUCH, S. ; KING, A. M. A comparison of the open mouth and rostro 10º ventrocaudodorsal oblique radiographic views for imaging fluid in the feline tympanic bulla. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 46, n. 3, p. 205-209, 2005.

08-BURK, R. L. ; ACKERMAN, N. The skull. In:___. Small animal radiology and ultrasonography. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1996. p. 531-580. 09-ALLGOEWER, I. ; LUCAS, S. ; SCHMITZ, S. A. Magnetic resonance imaging of the normal and diseased feline middle ear. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 41, n. 5, p. 413418, 2000. 10-DVIR, E. ; KIRBERGER, R. M. ; TERBLANCHE, A. G. Magnetic resonance imaging of otitis media in a dog. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 41, n. 1, p. 46-49, 2000.

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11-GRIFFITHS, L. G. ; SULLIVAN, M. ; O'NEILL, T. ; REID, S. W. J. Ultrasonography versus radiography for detection of fluid in the canine tympanic bulla. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 44, n. 2, p. 210-213, 2003.

12-MYER, W. Cranial vault and associated structures. In: THRALL, D. E. Textbook of veterinary diagnostic radiology. 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1998. p. 45-59. 13-ZIEMER, L. S. ; SCHWARTZ, T. ; SULLIVAN, M. Otolithiasis in three dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 44, n. 1, p. 28-31, 2003.

14-ADEODATO, A. G. ; SCHAMALL, R. F. ; MELLO, L. E. Tomografia computadorizada e ressonância magnética em cães e gatos com doenças neurológicas no Rio de Janeiro. Jornal do CRMV/RJ, n. 167, p. 3, 2005.

15-RUSSO, M. ; COVELLI, E. M. ; MEOMARTINO, L. ; LAMB, C. R. ; BRUNETTI, A. Computed tomographic anatomy of the canine inner and middle ear. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 43, n. 1, p. 22-26, 2002. 16-DETWEILER, D. A. ; JOHNSON, L. R. ; KASS, P. H. ; WISNER, E. R. Computed tomography evidence of bulla effusion in cats with sinonasal disease: 2001-2004. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 20, n. 5, p. 1080-1084, 2006. 17-DOUST, R. ; KING, A. ; HAMMOND, G. ;

CAVE, T. ; WEINRAUCH, S. ; MELLOR, D. ; SULLIVAN, M. Assessment of middle ear disease in the dog: a comparison of diagnostic imaging modalities. Journal of Small Animal Practice, v. 48, n. 4, p. 188-192, 2007.

18-KING, A. M. ; WEINRAUCH, S. A. ; DOUST, R. ; HAMMOND, G. ; YAM, P. S. ; SULLIVAN, M. Comparison of ultrasonography, radiography and a single computed tomography slice for fluid identification within the feline tympanic bulla. The Veterinary Journal, v. 173, n. 3, p. 638644, 2007. 19-KNEISSL, S. ; PROBST, A. ; KONAR, M. Low-field magnetic resonance imaging of the canine middle and inner ear. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 45, n. 6, p. 520522, 2004.

20-HAGE, M. C. F. N. S. ; IWASAKI, M. ; KAMIKAWA, L. ; LORIGADOS, C. A. B. ; RABBANI, S. R. ; STERMAN, F. A. ; SHINOHARA, J. L. ; RODRIGUEZ, H. J. ; OTADUY, M. G. ; BOMBONATO, P. P. ; BENEDICTO, H. G. Imagem por ressonância magnética na identificação das estruturas musculoesqueléticas da cabeça do cão. Acta Scientiae Veterinariae, v. 35, n. 2, p. 402-404, 2007. 21-OWEN, M. C. ; LAMB, C. R. ; LU, D. ; TARGETT, M. P. Material in the middle ear of dogs having magnetic resonance imaging for investigation of neurologic signs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 45, n. 2, p. 149155, 2004.

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Ecologia E

Ibama multa Basf por agrotóxico irregular

m outubro, por produção e comercialização de agrotóxicos em desconformidade com a licença obtida, duas filiais da Basf S.A. foram autuadas pelo Ibama, somando mais de R$ 470 mil em multas aplicadas. A empresa tem 20 dias a contar da aplicação da penalidade administrativa para apresentar defesa ao Ibama. A operação chegou a apreender 99 sacos de 15 kg do agrotóxico Granutox 150 G, armazenados na empresa em Ibiporã/ PR. Amostras do produto foram encaminhadas para análise. A fiscalização continua em outras empresas que trabalham com agrotóxicos nos estados do PR, SP e MG. Segundo o diretor substituto de Proteção Ambiental do Ibama, Bruno Barbosa, “esta ação inaugura uma nova frente de batalha para a proteção ambiental. O processo de vistorias fiscalizatórias relacionadas a autorizações para produção de agrotóxicos seguirá adiante.”

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Participam da operação agentes ambientais federais do Ibama de Uberlândia/ MG, Curitiba/PR e São Paulo/SP, que com a colaboração de equipe técnica da Diretoria de Qualidade Ambiental do órgão - Diqua, estão lavrando os autos de infração, termos de apreensão e embargos. A Diqua está realizando o levantamento de todos os ingredientes ativos registrados no Brasil para a produção de agrotóxicos, para que seja possível proceder a reavaliação daqueles que possuam grandes riscos ambientais. A reavaliação de agrotóxicos é um processo contínuo para aperfeiçoar os mecanismos de controle relacionados à segurança ambiental do uso desses produtos. O ingrediente ativo forato, utilizado no Granutox 150 G, foi um dos selecionados para ser reavaliado devido a indícios de danos ambientais constatados por meio de restrições de uso, banimentos e cancelamentos em outros países.

Uma das reavaliações do ingrediente ativo foi conduzida pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos - EPA. A agência norte-americana demonstrou preocupação em relação às características ecotoxicológicas deste ingrediente ativo. Os riscos para aves e peixes foram considerados elevados. Além disso, foram reportados nos Estados Unidos alguns casos de mortandade de pássaros relacionados à utilização de forato. Em 1996, no Canadá, um estudo demonstrou a mortandade de aves devido ao uso de forato na região de Vancouver. Em virtude desse estudo, a empresa AMVAC, que detém o registro do produto, solicitou voluntariamente a retirada do mesmo da região. O forato também se encontra na lista de ingredientes ativos a serem reavaliados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa, devido a indícios de danos à saúde humana. Fonte: Ascom Ibama

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Equipamentos A

Hastes bloqueadas

s hastes bloqueadas possuem vantagens biomecânicas quando comparadas a outras técnicas de imobilização, sendo uma alternativa na correção biológica de fraturas diafisárias de fêmur, tíbia e úmero. O artigo Avaliação do uso de haste bloqueada e bloqueio transcortical no reparo de fraturas diafisárias de fêmur em felinos, publicado na revista Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 28, n. 4, 2008, mostra que as hastes bloqueadas também podem ser utilizadas com sucesso em felinos. Os autores explicam que os animais operados, pacientes do Hospital Veterinário da FMVZ/USP, pesavam entre 3,5 e 5 kg e que receberam hastes de 4mm e 4,7mm de diâmetro. Como houve consolidação óssea em todos os casos, com retorno precoce da função do membro, permitindo a deambulação, concluiu-se que a técnica pode ser empregada com sucesso nesta espécie. As hastes bloqueadas possuem as propriedades mecânicas dos pinos intramedulares e grande resistência às forças de arqueamento. Por serem bloqueadas ao osso em suas extremidades, bloqueiam também forças de rotação, as grandes vilãs quando se tenta corrigir fraturas de ossos longos com pinos. A utilização das hastes bloqueadas permite uma abordagem minimamente invasiva em várias fraturas. Sua instalação necessita de habilidade do cirurgião, equipamentos e gabaritos específicos para que se logre o bloqueio da haste ao osso.

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Fratura diafisária em felino

Equipamentos básicos para aplicação da haste bloqueada fabricados pela Ortovet (disponíveis nas medidas de 4,5 e 6/8mm)

Fratura após aplicação da haste bloqueada e consolidada

Gabarito acoplado para o bloqueio

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!Pesquisa A

Substância cancerígena tem atuação desvendada *

aflatoxina, substância tóxica produzida por alguns tipos de fungos em nozes, amendoim e outras sementes oleosas, pode causar câncer do fígado se ingerida em grandes quantidades, reforça estudo feito nos Estados Unidos e publicado em 22 de outubro de 2009 na revista Nature. O novo estudo revela o processo por meio do qual ocorre esse papel cancerígeno, o que pode levar ao desenvolvimento de métodos de controle. Segundo a pesquisa, a toxina destrói um gene que atua na prevenção de câncer em humanos, conhecido como p53. O trabalho aponta que, sem a proteção do p53, a aflatoxina pode comprometer a imunidade, interferindo com o metabolismo e causando grave desnutrição e, finalmente, câncer. Shiou-Chuan (Sheryl) Tsai, da Universidade da Califórnia em Irvine (UCI), e colegas da mesma instituição e da Universidade Johns Hopkins descobriram também que uma proteína

chamada PT é fundamental para que a aflatoxina se forme em fungos. Até então, não se sabia o que disparava o crescimento da toxina. “A proteína PT é a chave para fazer o veneno. Com esse conhecimento, talvez possamos combatê-la com drogas, inibindo a capacidade do fungo de fazer a aflatoxina”, disse Sheryl. Destruir o fungo é o método tradicional de descontaminação, mas se trata de um processo caro. Eliminar a proteína seria uma alternativa muito mais eficiente. “Essa descoberta levará a um aumento no conhecimento de como a aflatoxina causa câncer de fígado em humanos. Ela deverá permitir o desenvolvimento de inibidores e de, assim esperamos, uma nova abordagem de prevenção química contra essa doença mortal”, disse Frank Meyskens, diretor do Centro de Pesquisa do Câncer da UCI. O estudo aponta que, por causa da legislação insuficiente, cerca de 4,5 bilhões de pessoas

em países em desenvolvimento estão criticamente expostas a alimentos com grandes quantidades de aflatoxina, até centenas de vezes as quantidades consideradas seguras. Em países como China, Vietnã e África do Sul, a combinação de aflatoxina com a exposição ao vírus da hepatite B aumenta os riscos de ocorrência de câncer de fígado em 60 vezes. “É realmente chocante como esses fungos podem afetar a saúde pública”, disse Sheryl. A aflatoxina forma colônias e contamina grãos antes da colheita ou durante a estocagem. A Food & Drug Administration do governo norte-americano considera inevitável a contaminação de alimentos por essa toxina, mas estipula limites toleráveis. O artigo Structural basis for biosynthetic programming of fungal aromatic polyketide cyclization, de Shiou-Chuan Tsai e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

* Fonte: Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br/materia/11254/divulgacao-cientifica/substancia-cancerigena-tem-atuacao-desvendada.htm

D

Falso resultado positivo para leishmaniose visceral canina *

e acordo com um estudo realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, o diagnóstico unicamente com exames sorológicos pode apresentar falhas devido à possibilidade de ocorrências de reações cruzadas com outros microrganismos. Segundo a pesquisa, foram analisados cães nos municípios de Botucatu e Bauru, regiões consideradas como não-endêmica e endêmica, respectivamente. O exame convencional – sorologia pela técnica de imunofluorescência indireta (RIFI) pode detectar o parasita Leishmania sp. como o Trypanosoma cruzi, agente que causa a doença de Chagas. De acordo com professora Simone Baldini Lucheis, pesquisadora científica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para evitar falsos positivos seria necessário realizar exames de contraprova, como o exame parasitológico direto e a PCR. “O exame convencional para Leishmania pode apresentar resultados falsos positivos pois, no momento do exame, o animal pode ter produzido anticorpos contra outros parasitas que são da mesma família da Leishmania, como Trypanosoma cruzi. Em muitos casos, o animal só está infectado por um deles, mas o

exame acusa a presença do outro protozoário” disse à Agência FAPESP. O trabalho foi publicado na revista Veterinary Parasitology. O estudo é resultado da dissertação de mestrado de Marcella Z. Troncarelli, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu, orientada por Simone com Bolsa da FAPESP. Na pesquisa, foram analisadas amostras de 100 cães do Centro de Controle de Zoonoses, em Bauru, área considerada endêmica para leishmaniose visceral, e outros 100 cães do Canil Municipal de Botucatu, município considerado indene para a doença. De acordo com Marcella, como há possibilidade de reações cruzadas à sorologia, objetivou-se com o estudo a elucidação diagnóstica por meio da associação de três técnicas. A RIFI, recomendada pelo Ministério da Saúde, além do exame parasitológico direto, a partir de fragmentos de fígado e baço, e o exame PCR. “A associação das três técnicas ajudou a identificar os animais realmente infectados por Leishmania. E devido à elevada sensibilidade do PCR foi possível detecção de animais que haviam apresentado resultados negativos à sorologia”, disse à Agência FAPESP. Os resultados do exame sorológico apontaram que 16% dos 200 testes tiveram resultado po-

sitivo para ambas as doenças. Nas amostras dos cães de Bauru, 65% dos testes sorológicos foram positivos para Leishmania e 40% para Trypanosoma cruzi. Entre os cães de Botucatu, todas as amostras foram negativas para Leishmania e apenas 4% foram positivas para o parasita da doença de Chagas. “Quando realizamos o exame parasitológico e a PCR para Leshmania, foram obtidos, respectivamente, resultados positivos para 59% e 76% nas amostras de fígado, e 51% e 72% nas amostras de baço dos cães de Bauru. Nenhuma amostra foi positiva pela PCR para pesquisa de T. cruzi. Estes dados reforçam a ocorrência de reações cruzadas à sorologia", disse”, disse a veterinária, que atualmente faz o doutorado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp. Outro problema do exame sorológico, segundo ela, é que o resultado pode apontar também os falsos negativos – isto é, o exame resulta negativo, mas na realidade o animal está infectado. “Por estresse, imunodepressão causada pela doença, ou fatores individuais, o animal pode não produzir anticorpos em níveis detectáveis pelos testes sorológicos. Pela PCR, registramos um número maior de animais infectados do que a própria sorologia. Ou seja, esse exame elucidou os falsos negativos”, afirmou Marcella.

* Fonte: Agência FAPESP (Por Alex Sander Alcântara) - www.agencia.fapesp.br/materia/11225/especiais/resultados-cruzados.htm

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Lançamentos ypnol (pentobarbital sódico 3%) é a novidade da Syntec no segmento veterinário. O obejtivo do produto é atender à demanda para eutanásias, oferecendo segurança tanto para o médico veterinário quanto para o proprietário. O pentobarbital sódico está entre as drogas reconhidas pela AVMA (American Veterinary Medical Association) e pelo CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária) para a prática da eutanásia. A WSPA (World Society for the Protection of Animals) também recomenda este fármaco para eutanásia.

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27 a 29 de novembro Osasco – SP Curso de contracepção cirúrgica - técnica do "gancho"

Encontro - ABRAVAS

! (11) 3579 -1431 10 de dezembro São Paulo - SP O mundo da genética em cães e a sua relação com a clínica veterinária ! (11) 3579-1431 ! www.abravas.org.br 3 a 5 de dezembro São Paulo - SP Curso intensivo prático de ortopedia - módulo avançado

! manufraga@usp.br 21 de novembro a 6 de dezembro São Paulo - SP Curso de introdução a acupuntura e medicina chinesa para cães e gatos ! (11) 3852-6851 23 de 24 de novembro Belo Horizonte - MG Curso de pediatria de pequenos animais ! (31) 3297-2282 26 de novembro São Paulo - SP Argilaterapia nas dermatopatias ! (11) 3852-6851 27 a 29 de novembro São Paulo - SP Abordagem de colônias e criatórios comerciais de felinos - epidemiologia e

6 de dezembro São Paulo - SP Animais silvestres na cínica veterinária ! info@anclivepa-sp.org.br

! (11) 3654-3999

! (11) 3819-0594

28 e 29 de novembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia em pequenos animais ! (11) 3082-3532

4 a 6 de dezembro São Paulo - SP III Simpósio internacional de ortopedia veterinária OTV

30 de novembro São Paulo - SP "Cutis in totum" - "Mitos, lendas e verdades sobre cultivo bacteriano e antibiograma em piodermites" ! (11) 5051-0908 DEZEMBRO 1 a 5 de dezembro Águas de Lindóia - SP XII Congresso - XVIII

! (11) 7894-8583 5 e 6 de dezembro São Paulo - SP “O caminho da fertilização até o desmame”. Fertilização, embriogênese, gestação, parto em cadelas, e cuidados com os neonatos ! (11) 3579-1431

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009

11 a 13 de dezembro São Paulo - SP II Curso emergência e terapia intensiva ! (11) 3579-1431 12 e 13 de dezembro São Paulo - SP Juna eventos - Curso teórico-prático de placa e haste bloqueada ! (11) 2995-9155 12 e 13 de dezembro São Paulo - SP Curso de coluna H.V. Pompéia ! (11) 7693-9151 14 a 18 de dezembro Campos dos Goytacazes - RJ II Simpósio latino-americano de cardiologia veterinária

! www.simposiocardiovet. com.br


14 a 18 de dezembro Campinas - SP Curso de ecodopplercadiografia em pequenos animais

! (19) 9779-3171

2010 JANEIRO 16 de janeiro de 2010 a 14 de janeiro de 2012 Piracicaba - SP Curso de homeopatia veterinária ! (19) 3435-2514 FEVEREIRO fevereiro (início) São Paulo - SP

Curso de especialização endocrinologia e metabologia em pequenos animais ! (11) 3813-6568 21 de fevereiro a 25 de maio Osasco – SP Juna eventos Curso teóricoprático de ortopedia ! (11) 2995-9155

27 e 28 de março Londrina - PR 4° NEUROVET 2ª Mostra de trabalhos científicos em neurologia veterinária

MARÇO 27 de março a 1º de abril São Paulo 20ª SACAVET 7º SIMPROPIRA ! (11) 9658-7656

JULHO 31 de julho a 15 de agosto São Paulo -SP 1º Curso avançado em fisioterapia veterinária

! www.riovet.com.br

! (43) 9151-8889 25 a 27 de fevereiro São Paulo - SP Cirurgias em coluna vertebral ! (11) 3819-0594

MAIO 20 a 22 de maio Rio de Janeiro - RJ RIOVET

ABRIL 17 a 20 de abril Belém - PA • 31º Congresso Brasileiro da Anclivepa • IV COBOV - Congresso Brasileiro de Odontologia Veterinária ! www.anclivepa2010. com.br

8 a 16 de maio São Paulo - SP 2º Curso de atualização em fisioterapia veterinária

! (11) 3644-7764 14 a 16 de maio São Paulo - SP VI ONCOVET

! abrovet@abrovet.org.br

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. 83, novembro/dezembro, 2009

! (11) 3644-7764 OUTUBRO 6 a 8 de outubro São Paulo -SP • Pet South America • III Conpavet - Congresso Paulista de Medicina Veterinária

! www.petsa.com.br

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www.agendaveterinaria.com.br INTERNACIONAL

2010 JANEIRO 16 a 20 de janeiro Orlando, FL - EUA NAVC Conference

JUNHO 14 a 17 de junho Helsinki - Finlândia 11th FELASA Symposium

www.anda.jor.br A imprensa não apenas informa. Ela forma conceitos. Modifica ideias. Influencia decisões. Define valores. Participa das grandes mudanças sociais e políticas trazendo o mundo para o indivíduo pensar, agir e ser. É justamente este o objetivo da ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais: informar para transformar. A ANDA difunde na mídia os valores de uma nova cultura, mais ética, mais justa e preocupada com a defesa e a garantia dos direitos animais. É o primeiro portal jornalístico do mundo voltado exclusivamente a fatos e informações do universo animal. Com profissionalismo, seriedade e coragem, a ANDA abre um importante canal com jornalistas de todas as mídias e coloca em pauta assuntos que até hoje não tiveram o merecido espaço ou foram mal debatidos na imprensa.

! www.FELASA2010.eu ! www.tnavc.org FEVEREIRO 18 a 21 de fevereiro Moscou - Rússia ZooRussia 2010 profissional

! www.zoorus.ru MARÇO 7 a 10 de março Las Vegas, NE - EUA 2010 Mid-Year Conference

A ANDA foi criada pela jornalista, vegana e ativista em defesa dos direitos animais Silvana Andrade, com 25 anos de experiência na imprensa brasileira.

! www.interzoo.com

OUTUBRO 14 a 17 de outubro Jeju - Korea WSAVA 2011

! www.wsava2011.org

SETEMBRO 11 a 15 de setembro San Antonio, TE - EUA IVECCS 2010

NOVEMBRO 4 a 11 de novembro Albuquerque, NM - USA VCS Veterinary Cancer Society - 2011 Annual Conference

! www.vetcancersociety.org MAIO 13 a 16 de maio Nuremberg - Alemanha Interzoo 2010

2011

! www.wsava2010.org

! www.veccs.org

A proposta da ANDA é servir também de referência a toda sociedade, respondendo aos questionamentos e incentivando novas atitudes, sempre sob o foco dos direitos animais.

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JULHO 24 de julho Genebra - Suíça WSAVA 2010

29 de outubro a 1 de novembro San Diego, CA - EUA VCS Veterinary Cancer Society - 2010 Annual Conference ! www.vetcancersociety. org

OUTUBRO outubro (data a confirmar) Lima - Peru LAVC Conference

! www.tnavc.org

Clínica Veterinária, Ano XIV, n. n. 83, novembro/dezembro, 2009

! www.vetcancersociety. org

2012 NOVEMBRO 18 a 21 de novembro Las Vegas, NE - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2012 Annual Conference ! www.vetcancersociety. org




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