Clínica Veterinária 86

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G uarรก

ISSN 1413-571X

Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010 - R$ 15,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts

www.revistaclinicaveterinaria.com.br



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e CAB Abstracts

Kleber Moreno

Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice Oncologia - 32

Mitika Kuribayashi Hagiwara

Linfoma cutâneo em cães: epidemiologia, morfologia, resposta terapêutica e sobrevida Cutaneous lymphoma in dogs: epidemiology, morphology, response to therapy and survival Linfoma cutáneo en perros: epidemiología, morfología, respuesta terapéutica y sobrevida

Maíra Cremaski

Fotografia de nódulos pequenos, eritematosos, alguns com ulceração, no prepúcio de cão

Clínica médica - 40

Infecção de filhotes e de cães adultos pelo adenovírus canino (CAV-1) - relato de casos

Canine adenovirus (CAV-1) infection of puppies and adult dogs - case report Infección de cachorros y de perros adultos por el adenovirus canino (CAV-1) - relato de casos

Cão aparentando edema de córnea com aspecto de “olho azul”

Clínica médica - 48

Cistite enfisematosa em cães - revisão de literatura Patrícia K. de M. Brettas

Emphysematous cystitis in dogs - review Cistitis enfisematosa en perros - revisión de literatura

Clínica médica - 54

Imagem ultrassonográfica da vesícula urinária de um cão. Há hiperecogenicidade da parede vesical (seta grossa) e artefatos de reverberação (seta fina)

Doença do rim policístico em felinos - relato de caso

Polycystic kidney disease in cats - case report Enfermedad poliquística renal en felinos - relato de caso

Vanessa Andrea Pincelli

Clínica médica - 62

Incidência e tratamento de cães com reações transfusionais agudas

Felino da raça bobtail. Animal deprimido e com aumento de volume abdominal

Patrícia M. Pereira / HV - UEL

Incidence and treatment of acute transfusion reactions in dogs Incidencia y tratamiento de perros con reacciones transfusionales agudas

Clínica médica - 68

Avaliação do volume globular antes e após a transfusão sanguínea: estudo retrospectivo Cão apresentou reação urticariforme durante transfusão de sangue

The packed cell volume evaluation before and after blood transfusion: retrospective study Evaluación del volumen globular antes y después de la transfusión de sangre: estudio retrospectivo

Viviani De Marco

Clínica médica - 72

Avaliação da relação proteína/creatinina urinária e hipertensão arterial sistêmica em cães com hiperadrenocorticismo hipófise dependente

Animal submetido a transfusão com mucosas pálidas

Cadela poodle com hiperadrenocorticismo hipófise dependente, com marcante distensão abdominal, alopecia, atrofia cutânea e muscular

Fernando Gonsales

Urinary protein:creatinin ratio and systemic arterial hypertension in dogs with pituitary-dependent hyperadrenocorticism Evaluación de la relación proteína/creatinina urinaria e hipertensión arterial sistémica en perros con hiperadrenocorticismo dependiente de la hipófisis

Zoonoses - 78

Contato com gatos: um fator de risco para a toxoplasmose congênita?

Contact with cats: a risk factor for congenital toxoplasmosis? Contacto con gatos: ¿un factor de riesgo para la toxoplasmosis congénita?

Contato consciente com o gato durante o período gestacional

Carolina Ghirelli

José Fernando Ibañez

Diagnóstico por imagens - 86

Estudo radiográfico e tomográfico de seis cães portadores de neoplasia mandibular

Radiographic and tomographic studies of six dogs with mandibular neoplasm Estudio radiográfico y tomográfico de seis perros con neoplasia mandibular

Ortopedia - 96

Hastes bloqueadas ou interlocking nails - relato de caso

Exame radiográfico em projeção laterolateral direita com acentuada osteólise irregular e expansiva do corpo mandibular esquerdo

Interlocking nails - case report Clavos bloqueados o “interlocking nails” - relato de caso

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

Imagem radiográfica – projeção mediolateral – da fratura múltipla de fêmur direito de gato


Seções • Terapêutica com células tronco

Editorial - 10

Saúde pública - 28

Cartas - 12 Notícias - 16

• O Congresso Brasileiro da Anclivepa superou as expectativas • Passaporte de cães e gatos • Mutirões de esterilização cirúrgica passam a ter normas em SP • Labyes conquista certificação ISO 14001:2004 de gestão ambiental • Estudo prova que três milhos da Monsanto são prejudiciais à saúde • Mars usará somente peixes de fontes sustentáveis até 2020 • Odontologia veterinária por Peter Emily

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Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso depar-

• Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo • Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária e o NASF

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Bem-estar animal - 30 ITEC realizou curso de comportamento canino

Medicina veterinária legal - 102 O exercício da medicina veterinária legal

Gestão - 103

Livros - 106

• Reminiscências de um professor • Guia do universo animal • A leoa vegetariana

Pet food - 108 III International Pet Meeting Anfalpet

Lançamentos - 109 Negócios e oportunidades - 110 Serviços e especialidades - 110 Agenda - 119

Éstratégia competitiva para clínicas veterinárias tamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte.

Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br


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Edições publicadas - complete sua coleçãouará (11) 3835-4555 Nº 85, março/abril, 2010 Anestesiologia Animais selvagens Clínica médica Oftalmologia 2 Oncologia Zoonoses Nº 84, janeiro/fevereiro, 2010 Clínica médica Dermatologia Nutrição Odontologia Animais selvagens Nº 83, novembro/dezembro, 2009 Oftalmologia Oncologia Cirurgia Clínica médica Diagnóstico por imagem Nº 82, setembro/outubro, 2009 Ortopedia Cirurgia Oncologia Clínica médica Diagnóstico por imagem Dermatologia Cardiologia Animais silvestres Nº 81, julho/agosto, 2009 Neurologia Oncologia Nutrição Animais silvestres Dermatologia Nº 80, maio/junho, 2009 Edição especial diagnóstico por imagem

Nº 79, março/abril, 2009 Emergência e cuidados intensivos Ortopedia Oncologia Odontologia Clínica médica Nº 78, janeiro/fevereiro, 2009 Emergência e cuidados intensivos Anestesiologia Diagnóstico por imagem

Consulte pela internet a lista de artigos/resumos

- cvassinaturas@editoraguara.com.br - www.revistaclinicaveterinaria.com.br

Nº 75, julho/agosto, 2008 Oftalmologia Oncologia Clínica médica

Nº 65, novembro/dezembro, 2006 Clínica médica 4 Saúde pública Oncologia

Nº 55, março/abril, 2005 Animais selvagens Oftalmologia Diagnóstico por imagem Clínica médica 2 Dermatologia

Nº 74, maio/junho, 2008 Neurologia Cirurgia Ortopedia Oncologia Clínica médica Saúde pública Animais silvestres

Nº 64, setembro/outubro, 2006 Anestesiologia Cardiologia Clínica médica 3 Oftalmologia Oncologia

Nº 54, janeiro/fevereiro, 2005 Clínica de aves Ortopedia Diagnóstico por imagem Oftalmologia Animais silvestres Zoonose

Nº 73, março/abril, 2008 Dermatologia Clínica médica Diagnóstico por imagem Cirurgia Nº 72, janeiro/fevereiro, 2008 Clínica médica Diagnóstico por imagem Dermatologia Oncologia Cirurgia Nº 71, novembro/dezembro, 2007 Edição especial de saúde pública leishmaniose

Nº 70, setembro/outubro, 2007 Reprodução Dermatologia Animais silvestres Cirurgia Oncologia Anestesiologia Diagnóstico por imagem Nº 69, julho/agosto, 2007 Edição especial de dermatologia

Nº 68, maio/junho, 2007 Clínica médica Neurologia Animais silvestres Cirurgia

Nº 77, novembro/dezembro, 2008 Cirurgia Oftalmologia Parasitologia Anestesiologia Oncologia Animais selvagens

Nº 67, marco/abril, 2007 Bem-estar animal Clínica médica Comportamento Toxicologia Cirurgia

Nº 76, setembro/outubro, 2008 Saúde pública Ortopedia Oncologia Clínica médica Nutrição Dermatologia Animais silvestres

Nº 66, janeiro/fevereiro, 2007 Odontologia Diagnóstico por imagem Clínica médica Oftalmologia Oncologia Cirurgia

Nº 63, julho/agosto, 2006 Diagnóstico por imagem 2 Ortopedia Clínica médica Oncologia Dermatogia Animais silvestres

Nº 53, novembro/dezembro, 2004 Clínica médica 3 Animais silvestres Diagnóstico por imagem

Nº 62, maio/junho, 2006 Saúde pública Oftalmologia Clínica médica 2 Oncologia 2

Nº 52, setembro/outubro, 2004 Dermtaologia Oncologia Cirurgia Odontologia Oftalmologia

Nº 61, março/abril, 2006 Saúde pública 2 Oftalmologia Oncologia Clínica médica

Nº 51, julho/agosto, 2004 Dermtaologia Clínica médica 2 Diagnóstico por imagem Animais silvestres Ecologia

Nº 60, janeiro/fevereiro, 2006 Diagnóstico por imagem Clínica médica 2 Epidemiologia Cirurgia Dermatologia Nº 59, novembro/dezembro, 2005 Anestesiologia Cirurgia Neurologia Ortopedia Dermatologia Neurologia Oncologia Saúde pública Nº 58, setembro/outubro, 2005 Clínica médica Saúde pública Clínica médica Dermatologia Anestesiologia Oncologia Nº 57, julho/agosto, 2005 Clínica neonatal Doenças infecciosas Clínica médica 2 Toxicologia Dermatologia Homeopatia Nº 56, maio/junho, 2005 Clínica médica 2 Cirurgia Dermatologia Diagnóstico por imagem

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

Nº 50, maio/junho, 2004 Cirurgia Anestesiologia Reprodução Doenças infecciosas Nº 49, março/abril, 2004 Anestesiologia Cirurgia Ortopedia Clínica médica Homeopatia Nº 48, janeiro/fevereiro, 2004 Clínica médica 3 Ortopedia Saúde pública

Nº 47, novembro, dezembro, 2003 Ultrassonografia Clínica médica 2 Ortopedia Homeopatia Nº 46, setembro/outubro, 2003 Ortopedia Zoonoses 2 Reprodução Cardiologia Nº 45, julho/agosto, 2003 Clínica médica 4 Dermatologia Cirurgia

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Edições publicadas - complete sua coleção (11) 3835-4555 Nº 44, maio/junho, 2003 Reprodução Dermatologia Diagnóstico por imagem Clínica médica Homepatia Nº 43, março/abril, 2003 Reprodução Dermatologia Doenças infecciosas Parasitologia Nº 42, janeiro/fevereiro, 2003 Parasitologia Anestesiologia Cardiologia Clínica médica Nº 41, novembro/dezembro, 2002 Radiologia Reprodução Clínica médica 2 Homeopatia Nº 40, setembro/outubro, 2002 Odontologia Clínica médica Reprodução Ortopedia Nº 39, julho/agosto 2002 Oftalmologia Cardiologia Doenças infecciosas Anestesiologia Homeopatia Nº 38, maio/junho, 2002 Cirurgia Oncologia Cirurgia Saúde Pública Nº 37, março/abril, 2002 Epidemiologia Ortopedia Clínica médica Ecologia Nº 36, janeiro/fevereiro, 2002 Clínica médica Clínica médica Oncologia Ortopedia Nº 35, novembro/dezembro, 2001 Ultra-sonografia Radiologia 2

Nº 34, setembro/outubro, 2001 Ortopedia 2 Clínica médica Parasitologia Ecologia

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Consulte pela internet a lista de artigos/resumos

- cvassinaturas@editoraguara.com.br - www.revistaclinicaveterinaria.com.br Nº 10, setembro/outubro, 1997 Parasitologia Anestesiologia Patologia cirúrgica Medicina nuclear Semiologia Ecologia Nº 9, julho/agosto, 1997 Animais selvagens Reprodução Patologia Ultrassonografia

Nº 33, julho/agosto, 2001 Cirurgia 2 Radiologia Nefrologia Interação homem-animal Cinofilia

Nº 22, setembro/outubro, 1999 Ortopedia 2 Cirurgia

Nº 32, maio/junho, 2001 Cirurgia Oncologia 2 Cardiologia

Nº 20, maio/junho, 1999 Ortopedia Cirurgia Clínica Cirúrgica Homeopatia Ecologia

Nº 31, março/abril, 2001 Anestesiologia Zoonose 2

Nº 18, janeiro/fevereiro, 1999 Nutrição Patologia clínica Clínica médica

Nº 8, maio/junho, 1997 Radiologia Animais silvestres Imunologia Nutrição Ultrassonografia

Nº 30, janeiro/fevereiro, 2001 Parasitologia Zoonose Odontologia Ecologia

Nº 17, novembro/dezembro, 1998 Clínica cirúrgica Zoonose Clínica médica

Nº 7, março/abril, 1997 Anestesiologia Ultrassonografia Ecologia Patologia clínica

Nº 29, novembro/dezembro, 2000 Zoonose Cirurgia 2 Homeopatia

Nº 16, setembro/outubro, 1998 Cirurgia Patologia Dermatologia Clínica médica

Nº 6, janeiro/fevereiro, 1997 Saúde Pública UItrassonografia Zoonose Patologia cirúrgica Reprodução

Nº 28, setembro/outubro, 2000 Anestesiologia Clínica médica Oncologia

Nº 15, julho/agosto, 1998 Ortopedia Reprodução Cirurgia Zoonose

Nº 27, julho/agosto, 2000 Cardiologia Reprodução Clínica médica

Nº 14, maio/junho, 1998 Endoscopia Ultrassonografia Reprodução Clínica médica

Nº 5, novembro/dezembro, 1996 Odontologia Dermatologia Ultrassonografia Radiologia Ecologia Oncologia Anestesiologia

Nº 26, maio/junho, 2000 Radiologia 2 Zoonose

Nº 13, março/abril, 1998 Reprodução Odontologia Dermatologia Cirurgia

Nº 25, março/abril, 2000 Dermatologia Neurologia Reprodução

Nº 12, janeiro/fevereiro, 1998 Doenças infecciosas Saúde Pública Animais selvagens Diagnóstico por imagem Oftalmologia

Nº 24, janeiro/fevereiro, 2000 Cirurgia Dermatologia

Nº 23, novembro/dezembro Doença infecciosa Oncologia Neurologia

Nº 11, novembro/dezembro, 1997 Clínica Médica Ortopedia Ultrassonografia Saúde Pública Anestesiologia Patologia cirúrgica Odontologia

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

Nº 4, setembro/outubro, 1996 Nutrição Oncologia Medicina nuclear Odontologia Nº 1, março/abril, 1996 Oftalmologia Fisioterapia Informática

Assinatura da revista Clínica Veterinária (1 ano/6 edições)

Veterinários - R$ 86,00 Estudantes de veterinária - R$ 77,00 Exemplares avulsos da revista Clínica Veterinária:

R$ 15,00 (preço de capa da edição atual)



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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10159

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER

Filhote de bullmastiff, fotografado por Arthur Barretto, no canil Hillsborough, de propriedade dos médicos veterinários Davi e Katia Tárraga (www.bullmastiff.com.br)

IMPRESSÃO / PRINT Copypress

www.copypress.com.br

TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05314-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

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Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br

Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br

Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/UNESP/Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br

Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Rafael Costa Jorge Clínica Veterinária Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet-Pompéia netuno2000@hotmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Viviani de Marco UNG, H. V. Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br



Editorial

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tualmente, muitos são os que estão se empenhando em conseguir que o Projeto de Lei da Ficha Limpa (PLP 518/2009) seja aprovado. Talvez, se não for adiada a votação, quando esta edição chegar ao leitor, já haja resultado desse projeto que tem o objetivo de remover das eleições candidatos que cometeram crimes sérios como desvio de verba pública, corrupção, assassinato e tráfico de drogas. A campanha feita pela ONG AVAAZ, disponível no endereço www.avaaz.org/po/brasil_ficha_limpa , totalizava, no final de abril de 2010, quase 2 milhões de assinaturas a favor da aprovação do Projeto de Lei da Ficha Limpa. Outra instituição que se empenha na questão é o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), divulgando, em seu sítio (www.mcce.org.br), muito informação sobre a importância do voto e destacando que “voto não tem preço, tem consequências”. Outra questão que merece atenção nas eleições são os políticos envolvidos com os maus-tratos aos animais. Pensando nisso e nos interesses de todos os animais que compartilham este planeta conosco, o sítio Sentiens Defesa Animal lançou a campanha Voto Senciente, que visa divulgar o nome de todos os políticos que cometeram ações contra o bem-estar animal, desconsiderando que os animais são seres sencientes. Abaixo, encontra-se uma relação de políticos que não agem pensando no bem-estar dos animais, e uma descrição de suas nefastas ações, publicada no sítio www.sentiens.net/voto-senciente. Infelizmente, esta lista vem aumentando. Nome Dilceu Sperafico

Base eleitoral PR

Partido PP

Edison Portilho

RS

PT

Eduardo M. Suplicy SP

PT

Jair Meneguelli

PT

SP

José Thomaz Nonô AL Marcelo Barbieri

SP

PMDB

Sandoval Cardoso TO

PMDB

Wilson Pereira

PDT

MG

Ação Comandou a votação na Comissão de Agricultura da Câmara Federal contra o Projeto de Lei n° 7586/06, que previa a proibição da comercialização do aldicarbe, ingrediente do devastador veneno conhecido como "chumbinho", que mata milhares de animais e pessoas todos os anos. Para outras informações sobre o histórico do político acesse: www.hbe.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=28&Itemid=1. Como deputado estadual, criou um projeto de lei que permite que os animais sejam torturados e sacrificados em rituais religiosos, aprovado pela Assembléia Legislativa do RS. Na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, votou contrariamente à aprovação do Projeto de Lei da Câmara nº 04/2005, que prevê a esterilização como método de controle populacional de cães e gatos. Autor do Projeto de Lei federal nº 3456/97, que institui normas gerais relativas a atividade de peão de rodeio, que dá amparo legal para a realização deste tipo de evento. Autor do Projeto de Lei federal nº 4548/98, que retira a proteção jurídica de animais domésticos e domesticados conferida pelo artigo 32 da Lei 9605/98 (Lei dos Crimes Ambientais). Aprovou Lei federal nº 10.220, de 11 de abril de 2001, que regulamenta a profissão de peão de rodeio e, portanto, permite este tipo de evento; Em 2010, ocupando o cargo de prefeito, vetou Projeto de Lei municipal que proibia rodeios em Araraquara. Aparece em foto, com espingarda, exibindo como "troféu" uma onça assassinada em sua fazenda. Ocupando o cargo de vereador, foi detido por caça ilegal (flagrado assassinando pacas). Veja informações em http://bit.ly/bhRzeS e http://bit.ly/briwrr

A participação dos médicos veterinários nas atividades políticas é fundamental tanto para o bem-estar dos animais quanto para o reconhecimento da importância dos médicos veterinários na saúde pública. Por isso, além do voto senciente e consciente, é importante, por exemplo, participar dos conselhos municipais de saúde. “A cidadania não é atitude passiva, mas ação permanente, em favor da comunidade” (Tancredo Neves).

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 10

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Cartas para esta seção devem ser enviadas para cvredacao@editoraguara.com.br, editor@editoraguara.com.br ou pelo correio para a Editora Guará Ltda., Seção de Cartas, Caixa Postal 66002, 05311-970, São Paulo - SP. Perguntas, dúvidas, esclarecimentos, comunicados, orientações etc. serão respondidas conforme a ordem de chegada. Os editores poderão resumir o conteúdo da carta, conforme a necessidade

Leishmaniose visceral - considerações sociais e científicas Na edição de março/abril da revista Clínica Veterinária, nesta seção de cartas, nas páginas 12 e 13, Vanessa Pinheiro Borges, Coordenadora do Núcleo de Comunicação/Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde (MS) descreveu considerações sobre a leishmaniose visceral (LV) sob o ponto de vista da instituição. Porém, principalmente, para os clínicos veterinários de pequenos animais, profissionais que lidam diretamente com o problema, as considerações do MS merecem algumas ponderações. A presença do agente tem sucesso em instalar a doença na população porque esta encontra-se suscetível por fatores imunossupressores, principalmente, pela desnutrição. Também é interessante acentuar que a maior incidência de casos humanos é verificada na região norte e nordeste. Na maior parte dessas áreas a eliminação canina é feita livremente, pois as populações carentes não podem arcar com exames mais específicos ou com tratamento de seus cães. Seria transparente se pudéssemos publicar a origem dos casos para termos condições de análise dentro da realidade do problema. A política de eliminação canina para a prevenção da LV torna-se insustentável quando se reconhece as evidências e a evolução de outros reservatórios envolvidos nas áreas urbanas: gatos, gambás e roedores. Além disso, estudos estatísticos demonstram que o controle do vetor 1 (Lutzomyia longipalpis) é significativamente muito mais eficiente que a eliminação canina. No Brasil, as medidas normatizadas não são devidamente cumpridas. O diagnóstico e tratamento humano tem sido divulgado e parece ser feito, embora saibamos que a demora no diagnóstico pode ser fator de elevação da mortalidade. O diagnóstico sorológico canino carece de maior eficácia, com menor número de resultados falso positivos ou negativos, conforme já publicado na literatura especializada. Quanto à vigilância entomológica, ela tem sido inex12

pressiva. No início de 2010, técnico representando a saúde pública do município de Belo Horizonte, declarou a um jornal que a prioridade no controle da LV é a eliminação canina e justificou esta conduta alegando que o controle do vetor não é possível. Diferentemente desse ponto de vista, desde o encontro da OPAS, em 2005, a Anclivepa-Brasil vem alertando sobre a importância das ações serem focadas no controle do vetor e nas orientações preventivas. Vale ressaltar que nesse mesmo encontro da OPAS, o tratamento canino foi amparado e aceito, desde que as medidas de controle do vetor fossem adotadas e que um médico veterinário estivesse responsável pelo paciente. A descontinuidade das ações, são constantes desde o início dos casos em Belo Horizonte e, aparentemente, também pelo Brasil. Em 2001, publicação na revista de Medicina Tropical 2, cujos autores representavam o MS, declarava a ineficiência da política de eliminação canina e clamava por maior dedicação no controle do vetor. O artigo elenca 12 motivos que consolidam a inoperância dessa medida. Apesar disso, o MS mantém a eliminação canina como principal opção de controle da LV. Nas considerações do MS publicadas uma chama a atenção: “há uma tendência na estabilização no número de casos e uma redução de 31% no número de municípios com transmissão intensa e moderada, passando de 314 municípios em 2003, para 217 em 2009”. Seria interessante conhecermos a realidade desses municípios, para podermos retirar de cada experiência de sucesso quais foram as prioridades ali aplicadas, pois as informações que circulam são de que a LV se expande de forma alarmante, já sendo encontrada até na Argentina. O MS justifica a política de eliminação de cães pelo fato de que a remoção desses animais reduz o pool de fontes de infecção para os insetos transmissores do agente, limitando sua capacidade

de transmitir o parasito para humanos e outros cães. Porém, existem estudos que não amparam tal afirmativa. Aqui, novamente a literatura aponta para o controle vetorial como sendo a medida de maior impacto no controle da transmissão do agente. A portaria apócrifa, publicada na edição de jan/fev/2010 da revista Clínica Veterinária, regulamentava o tratamento canino da LV. Ela foi escrita dentro do MS, com as evidências científicas obtidas até aquela ocasião. Os argumentos apresentados pelos técnicos do MS para a não publicação da portaria redigida com a participação de médicos veterinários, técnicos do MS e CFMV não são convincentes, a não ser pela mudança do pessoal de encaminhamento das discussões, procurando o apoio científico de pesquisadores sabidamente contrários ao tratamento canino. A forma como os trabalhos foram conduzidos naquela ocasião já foi denunciada em encontros acadêmicos e de profissionais em várias ocasiões. A exigência no debate de que não fossem discutidas as medidas de forma global e a indagação permanente de que somente seriam aprovados tratamentos com 100% de garantia de não transmissibilidade, inviabilizaram qualquer discussão biológica. É evidente que o próprio órgão não pode oferecer 100% de garantia de que a eliminação em massa dos cães vai eliminar o agente e, consequentemente, a doença do nosso meio. Com relação ao que foi colocado sobre indução de cepas resistentes à miltefosina, nenhuma evidência científica ampara tal afirmativa. Sabemos que a resistência é muito diferente entre as espécies de leishmanias. Além disso, cabe frisar que os trabalhos sobre resistência que constam nas referências do II Fórum sobre a Leishmaniose Visceral Canina são todas de trabalhos realizados na Índia, onde o agente transmissor da leishmaniose visceral se difunde diretamente através das picadas do vetor em seres humanos, não existindo o reservatório canino. Por essas diferenças do

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agente, a utilização dessas referências como justificativas para alegar a possível indução de cepas resistentes no Brasil, não passam de especulações sem comprovação científica. Além disso, um dos medicamentos para o tratamento da leishmaniose visceral canina, o alopurinol, possui mecanismo de ação baseado no bloqueio da síntese de xantina, substância vital para o desenvolvimento do agente patogênico, minimizando riscos de geração de resistência. Cabe destacar que existem evidências científicas que grande redução da infectividade dos animais tratados é obtida quando aplica-se nos cães os protocolos descritos na literatura internacional. Isso ainda é complementado com as medidas de combate ao vetor. Inclusive, existe uma publicação da própria OMS que sustenta o tratamento canino como fator de negativação de transmissão ao vetor3. Concordamos com a necessidade de parcerias e não de imposições. Todas as questões que envolvem a LV são com-

plexas e muitas são polêmicas. As medidas são, em geral, questionáveis. Não há dúvida do caráter pessoal das decisões e da falta de real investimento no controle, como a utlização dos colares inseticidas ou produtos afins centrados nos cães; melhoria das condições de diagnóstico em cães; adoção de vacinação piloto em áreas de grande transmissão, conforme trabalho publicado na revista Vaccine sobre a redução de casos em locais de maior cobertura vacinal canina em Belo Horizonte e Araçatuba 4; orientação preventiva ambiental nas visitas dos agentes de saúde espalhados pelo Brasil e reconhecimento de que o tratamento canino tem suficientes evidências de sua eficácia. Além disso, modalidades de tratamento que não apontam riscos hipotéticos já existem e os cães em tratamento podem ser monitorados e acompanhados adequadamente. Isso é o que se espera de uma sociedade que valoriza a vida humana como prioridade e dos animais com critério ético.

Vitor Márcio Ribeiro Professor Adjunto III - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Médico veterinário da Clínica Veterinária Santo Agostinho, Brasil Membro da comissão científica da Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de Minas Gerais (Anclivepa-MG) Conselherio Suplente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais MG (CRMV-MG).

Referências

1-DYE, C. The logic of visceral leishmaniasis control. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 55, p. 125-130, 1996. 2-COSTA, C.H.N.; VIEIRA, J.B.F. Changes in the control of visceral leishmaniasis in Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,v. 34, p. 223-228, 2001. 3-WORLD HEALTH ORGANIZATION. Control of Leishmaniasis. Report of a WHO Experts Committee - Technical Report Series 793, Geneva, p.55-60, 1990. 4-PALATNIK-DE-SOUSA , C. B. ; SILVAANTUNES, I. ; MORGADO, A. d. A. ; MENZ, I. ; PALATNIK, M. ; LAVOR, C. Decrease of the incidence of human and canine visceral leishmaniasis after dog vaccination with Leishmune® in Brazilian endemic areas. Vaccine, v. 27, n. 27, p. 3505-3512, 2009.




O Congresso Brasileiro da Anclivepa superou as expectativas por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto -

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CRMV-MG 10.684

ela primeira vez, o Congresso Brasileiro da Anclivepa foi realizado, de 17 a 20 de abril, na região norte do País, em Belém, PA. Durante a abertura do congresso, o presidente da Anclivepa Brasil, Wanderson Pereira, ressaltou que o setor de serviços, atualmente, está destacando-se no mercado veterinário e ultrapassando os 15% de participação em comparação com as outras atividades presentes no setor. Um crescimento bem maior do que o registrado há 10 anos, que era

apenas de 6%. Pereira informou que a intenção é investir em educação continuada por meio das Anclivepas regionais, para democratizar e facilitar o aperfeiçoamento dos profissionais de todas as partes do país e atingir níveis de países de primeiro mundo, onde o setor de serviços participa com cerca de 40% de participação no mercado. Em 2011, o 32º Congresso Brasileiro da Anclivepa segue para o centro-oeste do Brasil e será realizado na capital do Estado de Goiás. “Hoje somos muito co-

Paulo Henrique Sá Maia, presidente do congresso, durante o discurso de abertura destacou importantes quesitos para o exercício profissional: o amor e a ética. “Sejam verdadeiros e empenhados médicos veterinários”, frisou o presidente

Aproximadamente 1.600 congressistas estiveram presentes, de 17 a 20 de abril, do início da manhã ao final do dia, no 31º Congresso Brasileiro da Anclivepa, realizado em Belém, PA, pela primeira vez. A infra-estrutura e a programação superaram as expectativas. Além de desfrutarem de ambiente climatizado, os participantes contaram com grande quantidade de computadores com internet gratuita

Guará (Eudocimus ruber)

Além de apresentar novos produtos no congresso, a Vetnil empenhou-se em difundir a preservação da natureza. Para isso, apresentou-se no congresso com um estande totalmente montado com material reciclável, mostrando uma postura de compromisso com o meio ambiente

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brados pelos proprietários de animais para excelência de conhecimento como também no atendimento clínico e prestação serviço, por isso precisamos de informação e constante processo de educação continuada”, frisou Sérgio Luis Pereira, presidente da AnclivepaGO e responsável pelo próximo congresso, que será realizado de 27 a 30 de abril no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia, GO. A seguir, confira alguns registros feitos em Belém, PA.

Rodrigo Rabelo, ao ministrar palestra sobre ressustição, mostrou a importância de uma mesa desenvolvida especificamente para atendimentos de emergência. Altura, resistência, angulação, entre outros, são quesitos fundamentais

João Pedro de Andrade Neto durante palestra sobre as alterações comportamentais do cão idoso, patrocinada pela Agener União. O especialista destacou o sucesso obtido em outros continentes nos tratamentos com propentofilina, droga que melhora a circulação global por meio do aumento do fluxo sanguíneo e da oxigenação e que agora, já se encontra disponível no Brasil

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O Fórum Tecsa de Atualização sobre Leishmaniose Visceral Canina foi um dos destaques do evento. Participaram como palestrantes: Vítor Marcio Ribeiro, Fábio Nogueira, Manfredo Werkhauser, Afonso Alvarez Perez, Luiz Eduardo Ristow e Vinicius Hermont

Vitor Ribeiro destacou a importância da prevenção da leishmaniose com ações focadas no cão

Os palestrantes Fernando Elisio, Rebecca Dung e Sergio Lobato ministraram palestras, respectivamente, sobre gestão técnica de setores, demanda de exigências sanitárias em estabelecimentos veterinários e marketing

Da esquerda para a direita: Fábio Nogueira, Manfredo Werkhauser, Luiz Eduardo Ristow e Afonso Alvarez Perez

Estande do Grupo Organnact, empresa com mais de 20.000 pontos de venda espalhados pelo Brasil

Durante o evento a Bayer manteve o foco na sua importante campanha para a saúde da relação entre homem e seu animal de estimação. Há anos a empresa mantém a campanha Zooação com o objetivo de conscientizar os proprietários de cães e gatos sobre os riscos de zoonoses causadas por vermes e protozoários

Diversos participantes procuraram a equipe técnica da Real H em busca de informações sobre a Linha Homeo Pet. A empresa montou, em uma pequena sala, um espaço para mini palestras de introdução à homeopatia com foco em pequenos animais. Em quatro dias a Real H ministrou mais de 40 palestras

O Laboratório Vencofarma esteve presente divulgando sua ampla linha de produtos para cães e gatos. O Aceproven (acepromazina), disponível tanto em gotas quanto injetável, foi um dos produtos destacados pela empresa

Materiais de consumo (expansores plasmáticos, colóides, ampolagens e outros) e produtos veterinários, como, por exemplo, Glutamax, Cosequin DS e Cosequin RS, expostos na CentralVet, atrairam a atenção dos participantes do congresso


A Royal Canin ocupou lugar de destaque, bem na entrada do evento, onde pode realizar ampla divulgação de suas linhas de alimentos, principalmente, a linha terapêutica. Também patrocinou palestrantes de renome como Archivaldo Reche Junior e Maria Helena Larsson

Rosangela Ribeiro

Carla Molento

A WSPA participou do evento tanto com estande, no qual distribuiu material informativo e orientou procedimentos de denúncias de maus-tratos, quanto com palestras técnicas como: “O elo entre a violência humana e a crueldade contra animais: um problema de bem-estar animal e saúde pública”, ministrada por Rosangela Ribeiro, e “A relevância da dor para o bem-estar animal”, proferida por Carla Molento. Ribeiro destacou a importância da identificação de casos de maus-tratos em animais, pois muitas vezes, eles podem ser indicativos de que também pode estar ocorrendo maus-tratos aos membros da família, principalmente em crianças e mulheres. Ao encontrar situações como essas a denúncia é fundamental

O BET Laboratories participou divulgando sua ampla linha de exames específicos para endocrinologia veterinária e divulgou o seu mais recente exame: a dosagem da 17-OH progesterona, que é utilizada como teste de função adrenal para diagnóstico do hiperadrenocorticismo atípico

A Nestlé participou ativamente envolvendo os congressistas em atividades relacionadas a linha de alimentos Pro Plan. Além disso, patrocinou importantes palestrantes como, por exemplo, o dermatologista Marconi de Farias e o intensivista português Nuno Paixão

No estande da Syntec houve a promoção de dois lançamentos: o Apromazin 1% injetável (maleato de acepromazina 1%) e o Hypnol 3% (pentobarbital sódico); além de entrega de amostras de Aurisept, Gelsept e Supregatos

Grande procura por equipamentos e instrumentais no estande da Ortovet. Alguns dos destaques da empresa durante o evento foram as caixas de ortopedia e as hastes bloqueadas (interloking-nail)

Membros da diretoria da Anclivepa-GO, regional responsável pela organização do 32º Congresso Brasileiro da Anclivepa, que será realizado de 27 a 30 de abril de 2011 em Goiânia, GO. A expectativa é de um público médio de 2.500 congressistas provenientes de todos os Estados da união. Além disso, estão previstos outros 2.500 participantes compostos por expositores, visitantes e demais convidados, totalizando um público na ordem de 5.000 pessoas. Palestrantes confirmados para o congresso: 1. Alceu Gaspar Raiser (UFSM/RS) cirurgia 2. André Lacerda (UENF/RJ) ortopedia 3. Andréia Vitor C. do Amaral (UFG/GO) oftalmologia 4. Andrew Hillier (USA) dermatologia 5. Andrigo Braboza de Nardi (UFT/TO) oncologia cardiologia 6. A. A. Camacho (UNESP) 7. Arquivaldo Reche Júnior (FMVZ/USP) felinos 8. Alexander W. Biondo (UFPR/PR) patologia clínica otologia 9. Carlos Artur Lopes Leite (UFLA/MG) 10. Carlos Eduardo Larsson (FMVZ/USP) dermatologia 11. Cássio Ricardo A. Ferrigno (FMVZ/USP) ortopedia 12. Cláudio R. Pedro (UNIP e Fisiovet / SP) fisioterapia 13. Cleuza M. de F. Rezende (UFMG/MG) artroscopia nefrologia 14. Dennis J. Chew (USA) 15. Fabián Minovich (Argentina) felinos 16. Fernando Bretas (UFMG/MG) terapêutica 17. Francisco J. T. Neto (UNESP) anestesiologia 18. Hélio Autran (USA) medicina interna felinos 19. Heloísa Justen (UFRJ/RJ) 20. Jean G. F. Joaquim (Inst. Bioethicus) acupuntura 21. José Luiz Laus (UNESP) oftalmologia 22. Juan Carlos D. Moreno (UFG/GO) anestesiologia 23. Kellen de Sousa Oliveira (UNESP) reprodução silvestres 24. Luciana Batalha de Miranda (UFG/GO) 25. Luis H. Tello (USA) emergência 26. Marcello Roza (Odontozoo, Brasília/DF) odontologia 27. Marcelo S. de B. e Silva (UFG e UNIP/GO) criocirurgia 28. Márcio Brunetto (UNESP) nutrição 29. M. Clorinda S. Fioravanti (UFG/GO) patologia clínica 30. Moacir Leomil Neto (PUC/MG) cardiologia 31. Naida Cristina (UFG/GO) imagem 32. Paulo Eduardo Ferian (FEAD/MG) pneumologia 33. Pedro Camargo (UEL, Paraná) gastroenterologia 34. Ricardo Duarte (UNIPINHAL/SP) gastroenterologia 35. Rita Leal Paixão (UFF/RJ) bem-estar 36. Ron Ofri (Jerusalem/Israel) oftalmologia 37. Ronaldo Casimiro da Costa (USA) neurologia 38. Ronaldo Lucas (Anhembi-Morumbi/SP) dermatologia 39. Rubens A.Carneiro (UFMG/MG) patologia clínica 40. Thereza W. Fossun (USA) cirurgia Mais informações: www.anclivepa2011.com.br

Equipe do centro de medicina diagnóstica O Laboratório Tecsa participou com Hermes Pardini marcan- estande e organizando o fórum de do presença no evento leishmaniose visceral canina

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Passaporte de cães e gatos

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* Fonte: CFMV - http://www.cfmv.org.br/portal/noticia.php?cod=637

oi publicado no dia 30 de março de 2010, o Decreto n. 7.140, de 29 de março de 2010, que institui a utilização do passaporte para trânsito de cães e gatos, como certificação sanitária de origem para o trânsito internacional, e dá outras providências. O documento denominado Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos poderá

ser utilizado em substituição ao certificado sanitário internacional e ao atestado de saúde para trânsito de cães e gatos. Ele será expedido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e Abastecimento (Mapa) que também reconhecerá documentos similares de outros países. O passaporte, cujo modelo será defi-

nido pelo Mapa, também será utilizado para o trânsito nacional de animais e será individual, intransferível e válido por toda a vida do animal. Dentre as informações exigidas para o passaporte está o nome, número de registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária e assinatura do médico veterinário responsável pela vacinação.

DECRETO No- 7.140, DE 29 DE MARÇO DE 2010

passaporte como certificação sanitária, será aceito o certificado sanitário de origem, desde que atendidos os requisitos sanitários do Brasil e fornecidas as informações obrigatórias estabelecidas neste Decreto. Art. 2º O Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos será utilizado também para o trânsito nacional dos animais e será individual, intransferível e válido por toda a vida do animal. Art. 3º O Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos expedido pela República Federativa do Brasil na forma deste Decreto e os passaportes expedidos pelos países terceiros, que desejem sua aceitação para o envio de cães e gatos para o Brasil, deverão conter, obrigatoriamente, as seguintes informações: I - nome completo e endereço do proprietário do animal; II - dados do animal: a) nome, espécie, raça, sexo, data estimada de nascimento e pelagem; e b) identificação do animal: 1. número do elemento de identificação eletrônica do animal em microchip; e 2. data de aplicação e localização do microchip; III - dados da vacinação antirrábica: a) data de aplicação e validade de

vacinação; b) nome comercial da vacina, fabricante e número do lote ou partida; e c) nome, número do registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária - CRMV e assinatura do médico veterinário responsável pela vacinação; IV - dados de outras vacinações, tratamentos, exames laboratoriais e análises exigidas pelo país de destino dos animais; V - dados do exame clínico realizado por médico veterinário responsável; e VI - legalização pela autoridade veterinária do país exportador. Art. 4º O Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos será confeccionado em modelo oficial estabelecido em ato próprio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que fixará as regras para cumprimento do disposto neste Decreto. Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Institui a utilização do passaporte para trânsito de cães e gatos, como certificação sanitária de origem para o trânsito internacional, e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea "a", da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 27, inciso I, alínea "e", da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, DECRETA: Art. 1º Fica instituído o documento denominado Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos, que poderá ser utilizado em substituição ao certificado sanitário internacional e ao atestado de saúde para trânsito de cães e gatos. § 1º O passaporte previsto no caput será expedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que reconhecerá também como certificado sanitário de origem os passaportes expedidos por países que o aceitem como documento equivalente para fins de reciprocidade. § 2º Para países que não emitam o

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Brasília, 29 de março de 2010; 189º da Independência e 122º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Reinhold Stephanes

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Mutirões de esterilização cirúrgica passam a ter normas em SP O CRMV-SP publicou, em março de 2010, resolução que dispõe a respeito dos mutirões de esterilização cirúrgica em todo o Estado. Abaixo segue o conteúdo publicado RESOLUÇÃO Nº 1892 30.03.2010 Dispõe sobre recomendações dos procedimentos de contracepção em cães e gatos em mutirões de esterilização cirúrgica com a finalidade de controle da reprodução. O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo CRMV-SP, no uso das atribuições legais que lhe confere a alínea “r”, do artigo 4º, da Resolução CFMV no 591, de 26.06.92,

Considerando a necessidade de se recomendar os procedimentos de contracepção em cães e gatos em mutirões de esterilização cirúrgica com a finalidade de controle da reprodução;

cirúrgica com a finalidade de controle da reprodução, conforme anexo. Art. 2º. Esta Resolução entrará em vigor nesta data, revogando-se as disposições em contrário.

Considerando a decisão da Reunião Plenária Ordinária no 392, de 16 de março de 2010; e,

São Paulo, 30 de março de 2010.

RESOLVE: Art. 1º. Instituir no âmbito Estadual os procedimentos de contracepção em cães e gatos em mutirões de esterilização

DR. FRANCISCO C. DE ALMEIDA

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CRMV-SP N. 1012 - Presidente

DR. ODEMILSON D. MOSSERO

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CRMV-SP N. 2889 - Secretário Geral Fonte: CRMV-SP (www.crmvsp.org.br)

ANEXO 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS 1.1. Entende-se por MUTIRÃO DE ESTERILIZAÇÃO CIRÚRGICA: método de trabalho caracterizado pela mobilização coletiva, programada, com a finalidade de controle da reprodução, que envolve a realização de procedimentos cirúrgicos de esterilização de cães e gatos (machos e fêmeas), em local e espaço de tempo pré-determinados; 1.2. O escopo desta recomendação abrange exclusivamente as cirurgias com a finalidade de controle populacional, realizadas fora de estabelecimentos descritos como médicos- veterinários, em ambientes não específicos para a realização de cirurgias, conforme recomendações de programas oficiais; 1.3. Os procedimentos anestésicos e/ou cirúrgicos devem ser realizados exclusivamente por médicos-veterinários conforme previsto na legislação vigente; 1.4. É obrigatória a averbação de Responsabilidade Técnica (RT) junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo para a realização de mutirão de esterilização cirúrgica; 1.5. Sempre que possível, estabelecer parcerias entre estabelecimentos médicos-veterinários (clínicas e hospitais), entidades de proteção animal e órgãos públicos, para a realização dos mutirões de esterilização cirúrgica. 2. PLANEJAMENTO E ORGANIZAÇÃO 2.1. Definição do local considerando-se

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recursos físicos, sociais e de infra-estrutura, facilidade de acesso, vulnerabilidade (probabilidade de ocorrências que afetem seres humanos e/ou animais) e estimativa de animais a serem atendidos; 2.2. Dimensionar recursos físicos, materiais e equipes para o evento; 2.3. A área física deve contemplar ambientes para recepção dos responsáveis pelos animais; pré- operatório; trans-operatório; pós-operatório; espera para o responsável até a liberação do animal no pós-operatório e sanitários para uso da equipe e do público; 2.4. Estabelecer critérios de triagem dos animais; 2.5. Capacitar os integrantes da equipe sobre suas atribuições (preenchimento das fichas, identificação dos animais, orientações aos responsáveis pelos animais, entre outros); 2.6. Definir métodos e meios de informação e divulgação de assuntos pertinentes; 2.7. Planejar métodos que garantam a preservação do meio ambiente; 2.8. Estabelecer parâmetros de avaliação e elaborar relatórios. 3. RESPONSABILIDADE TÉCNICA 3.1 O médico-veterinário responsável técnico pelo evento deve participar do planejamento e organização; 3.2 O médico-veterinário responsável técnico pelo evento poderá desempenhar outras atribuições no evento; 3.3 O médico-veterinário responsável técnico pelo evento deve promover a gestão da qualidade dos procedimentos

em todas as suas etapas (limpeza e esterilização do material; qualidade e validade dos medicamentos e outros insumos; higiene e limpeza dos ambientes; assepsia e antissepsia dos procedimentos cirúrgicos; gerenciamento de resíduos de serviços de saúde animal; procedimentos anestésicos e cirúrgicos; período de recuperação anestésica; definição e manutenção dos fluxos técnicos e administrativos e outros); 3.4 O médico-veterinário responsável técnico deverá atender ao disposto na RESOLUÇÃO Nº 1.753 DE 16/10/2008, que aprova o “Regulamento Técnico Profissional” destinado ao Médico Veterinário e ao Zootecnista que desempenham a função de Responsável Técnico junto a estabelecimentos que exercem atividades atribuídas à área da Medicina Veterinária e da Zootecnia e demais disposições legais. 4. PROCEDIMENTOS 4.1 Os responsáveis pelos animais devem ser devidamente orientados, por escrito e verbalmente, quanto a importância da esterilização, das vacinações, do controle de endo e ectoparasitas, do risco operatório, do pós-operatório, de eventuais retornos e atendimentos posteriores; 4.2 Os responsáveis pelos animais devem ser informados da necessidade de aguardar o restabelecimento do animal, pelo tempo que for necessário, conforme a logística do evento; 4.3 Orientar os responsáveis pelos animais sobre a importância de

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acompanhamento periódico por profissional médico-veterinário para garantir a saúde, o bem-estar e evolução etária de seus animais de estimação; 4.4 Os animais atendidos no evento devem ser identificados e registrados. 5. AMBIENTAÇÃO 5.1 As cirurgias de contracepção em cães e gatos devem ocorrer em ambiente fechado, restrito, de tamanho compatível com o número de animais a serem atendidos por fase do procedimento, de acordo com o previsto no item II, do artigo 5o, Seção II da Resolução CFMV 670/00; 5.2 Os procedimentos para cães devem ser realizados preferencialmente em horários distintos daqueles reservados aos gatos. 6. TRANSPORTE DOS ANIMAIS 6.1 Os animais devem ser transportados em caixas, gaiolas ou compartimentos individuais, de tamanho suficiente ao seu porte, de preferência específicos para esta finalidade. Não transportar os animais soltos nos compartimentos de carga ou volumes dos veículos; 6.2 Evitar o transporte simultâneo de animais de espécie e origem distinta; 6.3 Não permitir a permanência dos animais nos veículos, após o transporte. Caso isto não seja possível, o veículo deve ser estacionado em local sombreado; 6.4 Garantir um período de descanso dos animais, de no mínimo 30 minutos antes do início dos procedimentos précirúrgicos; 6.5 Prever e disponibilizar equipamentos como, por exemplo, macas ou similares, para transporte de animais em recuperação, incapazes de se locomoverem por si. 7. EQUIPAMENTOS E MATERIAIS NECESSÁRIOS 7.1 Fonte(s) de água tratada para usos diversos e limpeza; 7.2 Balança para pesagem dos animais; 7.3 Suportes para soluções de fluidoterapia ou local para fixação das mesmas; 7.4 Kit de emergência para ressuscitação cardiorrespiratória: cilindro de oxigênio, sondas endotraqueais de tamanhos compatíveis aos animais, AMBU e fármacos de emergência; 7.5 Material para acondicionamento e descarte dos resíduos, de acordo com a legislação vigente; 7.6 Disponibilizar equipamentos de

esterilização de materiais ou materiais de reserva para caso de emergências cirúrgicas; 7.7 Possuir recursos medicamentosos específicos para casos de processos alérgicos, cardíacos, respiratórios ou hemorrágicos; 7.8 Prever um estabelecimento médicoveterinário para encaminhamento de ocorrências de urgência/emergência, que não possam ser resolvidos no local definido para realização de cirurgias. 8. EQUIPE DE TRABALHO 8.1 As equipes de trabalho deverão ser compostas por médicos-veterinários e auxiliares, capacitados para atividade de contracepção cirúrgica para cães e gatos; 8.2 As pessoas da equipe de trabalho envolvidas diretamente com o manejo dos animais devem estar com esquemas vacinais atualizados conforme recomendações dos programas oficiais, em especial contra tétano e raiva. 8.3 Sugere-se como composição mínima da equipe, um médico-veterinário e três auxiliares para cada 25 animais, por dia, a serem submetidos à contracepção cirúrgica. 9. PROCEDIMENTO CIRÚRGICO 9.1 PRÉ-OPERATÓRIO 9.1.1 A cirurgia contraceptiva deve ser realizada apenas em animais clinicamente sadios e submetidos a jejum de acordo com orientação prévia, adequado à faixa etária e espécie animal; 9.1.2 Preencher termo de autorização cirúrgica com as informações do responsável e do animal, com nome e CRMV do cirurgião responsável; 9.1.3 Realizar anamnese e exame clínico e preencher a ficha clínica de cada animal, incluindo histórico vacinal e desverminação; 9.1.4 Evitar submeter à cirurgia animais com a evidência de infestação por carrapatos, pela possibilidade de portarem erlichiose; 9.1.5 Usar antibioticoterapia sistêmica de amplo espectro; 9.1.6 Empregar analgésicos opióides e antiinflamatórios no pré, trans e/ou pósoperatório. 9.2 TRANS-OPERATÓRIO 9.2.1 Recomendam-se as técnicas de cirurgia minimamente invasivas conforme as condições gerais do animal; 9.2.2 Para a realização da cirurgia, empregar anestésicos gerais e/ou dissociativos, neste último caso associar, obrigatoriamente, analgésicos opióides

e/ou agonistas adrenorreceptores alfa2 e/ou similares, conforme protocolos cientificamente recomendados; 9.2.3 Respeitar as técnicas de antissepsia nos animais e equipe cirúrgica, bem como utilizar material cirúrgico higienizado, esterilizado e de uso individual, para cada procedimento cirúrgico; 9.2.4 Todos os envolvidos com os procedimentos cirúrgicos e auxiliares que permanecerem dentro do ambiente cirúrgico devem usar gorro, máscara, roupa cirúrgica ou avental especifico; 9.2.5 Cirurgiões e auxiliares de cirurgia devem usar avental cirúrgico e luvas cirúrgicas esterilizados para cada procedimento cirúrgico; 9.2.6 Os campos cirúrgicos utilizados na área cirúrgica devem ser esterilizados e de uso exclusivo por animal e por procedimento. 9.3 PÓS-OPERATÓRIO 9.3.1 Garantir assistência ao animal durante o pós-operatório imediato até sua liberação clínica; 9.3.2 Em casos de intercorrências durante o procedimento cirúrgico, se necessário, o médico-veterinário deve prescrever conduta terapêutica específica para o caso; 9.3.3 Para evitar contato direto do animal com o piso, com a finalidade de prevenir intercorrências no pós-operatório, deve-se disponibilizar forro protetor na sala de recuperação; 9.3.4 Garantir a separação de animais de acordo com a espécie e características comportamentais para prevenir riscos de acidentes no período de recuperação anestésica; 9.3.5 A liberação dos animais para os proprietários e/ou transporte, deve ser realizada após a constatação, pelo médico-veterinário, do restabelecimento de reflexos protetores e tônus cervical e condições de segurança; 9.3.6 Orientar e entregar por escrito ao responsável pelo animal as recomendações pós- operatórias, a saber: • Acomodação e alojamento do animal no período de recuperação e restabelecimento cirúrgico; • Orientação de cuidados de enfermagem e curativos para prevenir a deiscência de pontos ou contaminação da ferida cirúrgica; • Prescrição de antibióticos e analgésicos e de medicamentos complementares, quando for o caso. 9.3.7 Disponibilizar um telefone de contato para orientações no período de pós-operatório e marcar retorno, quando necessário.

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Labyes conquista certificação ISO 14001:2004 de gestão ambiental

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norma internacional ISO 14001 estabelece as melhores práticas a serem adotadas na condução do sistema de gestão ambiental da empresa. Na prática, significa produzir sem poluir e diminuir os resíduos industriais, utilizando eficientemente os recursos naturais e respeitando as preocupações ecológicas dos colaboradores e da sociedade como um todo. A mesma preocupação que a Labyes tem

com o bem estar e com a qualidade de vida dos animais, agora se reflete no cuidado da natureza, ao oferecer ao mercado produtos e serviços ambientalmente adequados e não poluentes. Com a obtenção do ISO 14001, somado aos já existentes ISO 9001/9002 e GMP, a Labyes reafirma seu compromisso com a excelência. Labyes: www.labyes.com.br

Estudo prova que três milhos da Monsanto são prejudiciais à saúde

U

m estudo publicado na revista International Journal of Biological Sciences (http://www.biolsci.org) demonstra que três milhos geneticamente modificados da empresa Monsanto são tóxicos e prejudiciais à saúde, anunciou em 11 de dezembro o Comitê de Pesquisa e Informação Independente sobre a Engenharia Genética (Criigen, com sede em Caen, na França), que participou do estudo. “Provamos pela primeira vez ao mundo que estes OGMs (organismos geneticamente modificados) não são saudáveis, nem suficientemente corretos para serem comercializados. (...) Os três OGMs causam problemas nos rins e no fígado, que são os principais órgãos a reagir quando há intoxicação alimentar química”, declarou Gilles-Eric Séralini, especialista membro da Comissão para a Reavaliação das Biotecnologias, criada em 2008 pela União Europeia (UE). Professores universitários de Caen e Rouen e pesquisadores do Criigen se basearam nos relatórios fornecidos pela Monsanto às autoridades de saúde para obter a autorização para comercializar o produto, mas suas conclusões são diferentes das da multinacional depois de novos cálculos estatísticos. Segundo Séralini, as autoridades de saúde se baseiam na leitura das conclusões apresentadas pela Monsanto e não no conjunto dos números. Os pesquisadores conseguiram a íntegra dos documentos da Monsanto depois de uma decisão judicial. “Os testes da Monsanto, feitos em noventa dias, não são suficientemente longos

para comprovar se os OGMs provocam ou não doenças crônicas. Por isso pedimos testes de pelo menos dois anos”, explicou um pesquisador. Os cientistas pedem, em conseqüência, a “proibição enérgica” da importação e do cultivo desses OGMs nos países da União Europeia. Vários países da Europa já proibiram a produção e importação de OGMs autorizadas pela União Europeia: • Alemanha (milho Mon810, da Monsanto) • Áustria (milho Mon810 e 863, da Monsanto; milho Bt-176, da Syngenta, e T25, da Bayer; e colza GT73, MS8Rf3) • França (milho Mon810, da Monsanto) • Hungria (milho Mon810, da Monsanto) • Grécia (colza Topas 19/2, da Bayer, e milho Mon810, da Monsanto) • Luxemburgo (milho Bt-176, da Syngenta, e Mon810, da Monsanto). Os três OGMs (MON810, MON863 e NK603) “são aprovados para consumo animal e humano na União Europeia e nos Estados Unidos” sobretudo, esclarece Séralini. “Na União Europeia, só o MON810 é cultivado em alguns países, sobretudo na Espanha, os outros são importados”, acrescenta. Segundo a secretária para a Ecologia da França, Nathalie Kosciusko-Morizet, os lóbis das multinacionais dos transgênicos são muito fortes na União Europeia, e influenciam na redação das diretrizes do organismo, que valem para os 27 países da UE. “É um problema com o qual nos confrontamos, pois as diretrizes deixam pouca margem de manobra para cada país da Europa”, afirma.

Fonte: www.transgenicos.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=172

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Mars usará somente peixes de fontes sustentáveis até 2020

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Mars Incorporated anunciou, globalmente, em 31 de março de 2010 seu compromisso de usar somente peixes de fontes sustentáveis até 2020 para o segmento de Petcare. Diante do cenário de redução do estoque global de peixes, a Mars, uma das maiores empresas de alimentos para animais de estimação, trabalhou com o World Wildlife Fund (WWF) para desenvolver seu compromisso de sustentabilidade para pescados. É mais uma inovação da empresa na indústria de alimentos para animais. A companhia está determinada a alcançar os seguintes objetivos em todo seu portfólio de alimentos para animais de estimação: • usar somente peixes provenientes de fontes 100% sustentáveis, vindos tanto da pesca como da piscicultura; • substituir os peixes inteiros e os filés de peixe por partes e derivados de peixes oriundos de fontes sustentáveis; • somente utilizar alternativas sustentáveis aos ingredientes derivados de peixes marinhos. Um marco importante nesta jornada de sustentabilidade da Mars será a introdução na Europa de alimentos para animais de estimação certificados pelo Marine Stewardship Council (MSC), até o final de 2010. Este ano, a Mars Petcare Europa começará a distribuir para todo o continente europeu suas variedades de peixes dos portfólios das marcas SHEBA® e WHISKAS® com a certificação do MSC, oferecendo pela primeira vez aos clientes uma opção de alimentos para animais de estimação mais sustentável. Este anúncio faz parte de um compromisso da Mars Incorporated para obter, de forma responsável, matérias-primas para todo o seu negócio. Em 2009, a Mars tornou-se a primeira empresa global de chocolates que se comprometeu a certificar todo seu suprimento de cacau para que seja produzido de forma sustentável até 2020. Há 30 anos, a Mars vem liderando a indústria do chocolate nos seus esforços para conseguir uma produção sustentável de cacau, investindo mais de 10 milhões de dólares por ano em uma ampla gama de iniciativas, incluindo parcerias de certificação com a Rainforest Alliance e a UTZ.

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Odontologia veterinária por Peter Emily

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eter Emily, especialista considerado como pai da odontologia veterinária moderna e introdutor de conceitos específicos sobre o trato da saúde, esteve no Brasil ministrando cursos para pequenos animais e para animais selvagens. No final de março e início de abril dedicou-se ao curso prático de odontologia veterinária em pequenos animais realizado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) durante a XX Semana Acadêmica de Medicina Veterinária (SACAVET). Depois do evento em São Paulo, Peter Emily foi para Foz do Iguaçu, PR, onde, juntamente com Marco Antonio Gioso (FMVZ/USP), pioneiro da odontologia veterinária no Brasil, ministrou curso inédito na região, promovido pela Itaipu Binacional em parceria com a Associação Brasileira de Animais Selvagens (Abravas). O curso apresentou exposições teóricas no Refúgio Bioló-

gico Bela Vista (RBV), uma das áreas preservadas pela Itaipu Binacional, e prosseguiu com aulas práticas no Zoológico de Itaipu, localizado em Hernandárias, no Paraguai. Segundo Roberto Fecchio, presidente da Abravas, a escolha de Itaipu como local do curso se deu pela importância de oferecer capacitações como essa em diversas áreas do Brasil, por Itaipu ser um centro de referência em medicina de animais selvagens e pelo vasto campo de exploração à disposição no zoológico paraguaio, onde há muitos animais selvagens em cativeiro, de diferentes espécies, que nunca foram submetidos a tratamentos odontológicos. Na aula prática de contenção química e tratamento odontológico em espécime selvagem também foram instrutores o brasileiro Zalmir Cubas e o paraguaio José Barriocanal. “Faz parte do nosso trabalho prezar pela saúde e bemestar do animal, o que, impreterivelmente, inclui cuidados odontológicos”,

ressalta Cubas. “Sem esses princípios básicos não há como pensar, por exemplo, em reprodução em cativeiro”, afirma o veterinário. Um curso desse nível, segundo Cubas, traz diversos benefícios. “Além de promover o aprimoramento técnico dos profissionais da Itaipu, o treinamento ainda facilita o intercâmbio com veterinários que são referências no tema”, avalia. Queremos promover a difusão do conhecimento e melhorar a saúde de nossos animais”, conclui.

Considerado "idoso", o puma de 17 anos nunca havia passado por um tratamento odontológico

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Terapêutica com células tronco Parceria entre Celltrovet e Hospital Veterinário Sena Madureira possibilitará a aplicação clínica do uso de células tronco na medicina veterinária brasileira pesquisa abre vagas para tratamento gratuito no Sena Madureira

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uso de células tronco para fins terapêuticos vem sendo muito estudado em protocolos científicos em animais em diversos países para possibilitar o uso rotineiro da técnica em seres humanos. No entanto, como muitos estudos foram realizados em animais, a medicina veterinária acabou se beneficiando por possuir dados clínicos precocemente, o que possibilitou a realização da parceria de grandes empresas do segmento para uso clínico e desenvolvimento de estudos científicos com a utilização destas células na veterinária brasileira, o que já vem ocorrendo nos Estados Unidos. As células-tronco são multipotentes e indiferenciadas, capazes de se multiplicar por longos períodos (capacidade de autorrenovação). Para possibilitar a aplicação clínica, muitos estudos estão sendo realizados para utilizar a terapia celular na regeneração de tecidos doentes como no caso de diabetes, cardiopatias, doenças articulares, dentre outras. Em alguns desses casos, as células tronco entrariam como coadjuvantes à terapia convencional, possibilitando melhorar a resposta ao tratamento. Atualmente, existe grande potencial de indicação para casos como aplasia de medula, lesão renal, dentre outros. Além disso, já existem os casos de sucesso nos tratamentos de lesão ligamentar, lesão tendínea, fissuras e fraturas. Com o objetivo de iniciar a aplicação clínica desta nova tecnologia no Brasil a Celltrovet e o Hospital Veterinário Sena Madureira acabam de firmar uma parceria para implementação do tratamento clínico bem como a realização de protocolos científicos em áreas aind a pouco estudadas em cães e gatos. A Celltrovet, conta com uma equipe científica composta apenas por PhDs nacionais e estrangeiros, com mais de 30 anos de experiência na área. A empresa é única em pesquisa, desenvolvimento da terapia celular com células tronco no Brasil, com serviços direcionados ao mercado veterinário. Com tecnologia de ponta para extração, isolamento e caracterização de células adultas, apresenta uma exclusividade ao mercado: um serviço composto por 100% de células-tronco, isoladas de gordura ou polpa dentária, previamente caracterizadas, que 26

resulta em um tratamento mais eficiente e uma recuperação mais rápida e segura do animal. Por este motivo, a Celltrovet não conta com concorrentes no Brasil e na América Latina, uma vez que obtém células-tronco em grandes quantidades para aplicação terapêutica, garantindo tratamentos repetitivos, caso seja necessário, além de possibilitar a opção de armazenamento das células-tronco do animal para um tratamento futuro. “Por meio de trabalhos de alto impacto, publicados em revistas especializadas e com patentes depositadas no Brasil e nos Estados Unidos, nossa equipe se tornou reconhecida internacionalmente”, afirma Pavel Kerkis, diretor comercial da empresa. Para possibilitar a aplicação clínica, muitos estudos estão sendo realizados para utilizar a terapia celular na regeneração de tecidos doentes como no caso de diabetes, cardiopatias, doenças articulares, dentre outras

O Hospital Veterinário Sena Madureira, possui experiência de 40 anos de atuação no segmento hospitalar em cães e gatos na cidade de São Paulo e está sempre empenhado na implementação de novas tecnologias de ponta na área veterinária. "Nos Estados Unidos por exemplo é rotineiro o tratamento com células tronco oriundas de tecido adiposo em doenças articulares, e nossa parceria será pioneira na implementação deste tipo de tratamento para cães e gatos no Brasil” explica Mário Marcondes, diretor clínico do Hospital Veterinário Sena Madureira. Outras áreas ainda em estudo como a cardiologia serão destaques desta parceria. Segundo Mário Marcondes, o Sena Madureira foi pioneiro na realização de protocolos científicos com o Incor-SP para trazer novas técnicas para o tratamento da doença cardíaca em cães. Agora, com esta nova parceria, serão selecionados donos de animais que queiram participar de um estudo

para o uso de células tronco no tratamento dessa doença , o que deve auxiliar para uma melhora da qualidade de vida desses animais. Dessa forma serão obtidos dados importantes sobre a evolução da doença com este tipo de terapia. Segundo Kerkis, a parceria possibilita a união de duas grandes empresas que focam suas experiências de anos que visam o mesmo ideal: oferecer tratamentos de ponta para uma melhor qualidade de vida e recuperação dos animais. Esta mesma filosofia fez com que as empresas unissem forças para viabilizar um acompanhamento detalhado dos pacientes. “Com a estrutura de nosso laboratório poderemos oferecer o que há de melhor em terapia celular aliado à tecnologia de ponta do Hospital Sena Madureira, que utilizará todos estes recursos para a avaliação clínica, tratamento e acompanhamento desses pacientes, uma vez que não realizamos atendimento aos animais”, conclui Kerkis. Aparelhos de ponta como a tomografia computadorizada, ultrassonografia e ecocardiografia Doppler e tecidual, dentre outros parâmetros clínicos e laboratoriais, aliados a uma equipe multidisciplinar de aproximadamente 60 especialistas, entre eles, médicos veterinários especializados, pesquisadores, biomédicos, biólogos, dentistas e cientistas do Hospital Veterinário Sena Madureira e da Celltrovet, estarão envolvidos na avaliação dos pacientes, para a excelência do tratamento. Nesta primeira fase, o hospital realizará uma triagem gratuita aos clientes e pacientes voluntários, potenciais candidatos para a pesquisa, cujo tratamento será também gratuito. Por outro lado, será realizada uma avaliação médica e seleção de pacientes para o tratamento clínico para áreas em que o tratamento para cães e gatos já é rotineiro nos EUA. Neste caso, o tratamento é particular e o custo avaliado de acordo com o caso clínico, região acometida e protocolo utilizado. Os proprietários de cães e gatos que tiverem interesse em participar da terapia com células tronco poderão entrar em contato com o hospital pelo telefone (11) 5572-8778.

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Saúde pública Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo

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os dias 14 e 15 de agosto de 2010, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), será realizada a Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo. A conferência contará com participantes dos Estados Unidos da América, da Colômbia e do Brasil. Dra. Melinda Merck e Kate Pullen, ambas da The American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA www.aspca.org), e Néstor Alberto Calderón Maldonado, da Universidade de La Salle, na Colômbia, são os palestrantes internacionais confirmados. A organização do evento é uma iniciativa do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC), instituição de referência profissional, que atua de forma estratégica e em permanente evolução, com responsabilidade social, ambiental e alto grau de comprometimento com a saúde única.

Uma nova área da medicina veterinária Medicina Veterinária do Coletivo, considerada uma nova área da medicina veterinária pela Associação Veterinária Americana, tem o seu termo utilizado em inglês como “shelter medicine”, em espanhol “medicina de albergues” e a tradução para o português seria “medicina de abrigos”. Em relação ao melhor vocábulo a ser utilizado, na cultura latino-americana o termo “abrigo” não é utilizado quando a manutenção dos animais é feita pelo poder público, no caso dos serviços de controle de zoonoses e de controle animal. Também pode ter uma conotação de “depósito de animais” e não de instituição que promova o bem-estar desses. Com essas considerações, no Brasil e na Colômbia, o termo atualmente utilizado na construção dessa nova área está sendo Medicina Veterinária do Coletivo (MVC). O objetivo geral da MVC é o de promover a saúde dos cães e gatos que vivem em confinamento, atuando também na prevenção dos problemas que causam o abandono animal. Os animais que vivem confinados em abrigos ou em serviços de

controle de zoonoses têm alto risco de contrair doenças devido à falta de cuidados veterinários, ao estado de saúde comprometido, à alta densidade de animais em pequeno espaço e ao estresse. Ter um programa efetivo de prevenção de doenças para a diminuição das taxas de morbidade e mortalidade, vai contribuir com a diminuição do tempo de manutenção e preparação do animal para a adoção, redução dos recursos gastos com tratamentos e diminuição do sofrimento animal e do estresse dos funcionários. A prática da MVC, no Brasil, tem avançado, principalmente, com as novas realidades jurídicas de cunho ético/moral de alguns estados que impedem a eliminação de animais sadios pelos serviços de controle de zoonoses. Nesse momento de delicada transição, a ciência precisa caminhar junto com a ética e a lei, oferecendo as bases para os médicos veterinários promoverem uma boa qualidade de vida, sem sofrimentos, àqueles que necessitam permanecer confinados, independente da duração desse confinamento.

Dia 14/08/2010 Medicina veterinária do coletivo: uma nova área da medicina veterinária. Prof. dr. Néstor Alberto Calderón Maldonado, Universidad de La Salle, Colômbia; prof. dr. Alexander Biondo, UFPR (a confirmar); prof. dr. Fernando Ferreira, FMVZ/USP.

Plano de contingência para manejo de animais de estimação em desastres. Kate Pullen, ASPCA Forensic Veterinarian.

Técnicas comportamentais para avaliar o bem-estar. Ceres Faraco, AMVBBEA.

Prevenção e tratamento de infecções nos canis. Dra. Mitika Hargiwara, FMVZ/USP (a confirmar).

Manejo em canis e gatis coletivos. Rita de Cássia Maria Garcia, ITEC; Prof. dr. Néstor Alberto Calderón Maldonado, Universidad de La Salle, Colômbia.

Considerações da arquitetura de canis e gatis de abrigos e de centros de controle de zoonoses. Kate Pullen, ASPCA Forensic Veterinarian.

Envenenamento e rinhas de cães. Negligência e colecionadores de animais. Dra. Melinda Merck, ASPCA Forensic Veterinarian.

Reconhecendo causas não acidentais de traumas com os animais de estimação. Dra. Melinda Merck, ASPCA Forensic Veterinarian.

Medicina veterinária forense: crueldade animal e investigação da cena do crime. Dra. Melinda Merck, ASPCA Forensic Veterinarian.

Dia 15/08/2010 Construindo um abrigo. Centro de controle de zoonoses “No Kill”: bem-estar animal e humano. Projetos de adoção. Kate Pullen, ASPCA Forensic Veterinarian.

Medicina veterinária forense no Brasil. Prof. dr. Paulo César Maiorka, FMVZ/USP (a confirmar); Sérvio Túlio Jacinto Reis, ABMVL; Elza, Polícia Militar do Estado de São Paulo (a confirmar).

• Associados ITEC • Estudantes de graduação • Associados da ABMVL ou da AMVBBEA • Afiliadas do Fórum Nacional de Proteção Animal ou da Sociedade Mundial de Proteção Animal • Outros profissionais

Até 6/6/2010

Até 6/07/2010

Até 6/08/2010

No local do evento

R$ 160,00

R$ 190,00

R$ 220,00

R$ 250,00

R$ 180,00

R$ 210,00

R$ 240,00

R$ 270,00

R$ 200,00

R$ 230,00

R$ 260,00

R$ 290,00

Valores para participação. A ficha de inscrição está disponível no sítio www.itecbr.org. Ela deverá ser preenchida e enviada on-line. O boleto de pagamento será gerado automaticamente e enviado ao e-mail cadastrado. Dúvidas: cursos@itecbr.org

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Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária e o NASF Comissão de Saúde Pública se reúne com Secretário do Ministério da Saúde

A Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV), do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) foi recebida, no dia 24 de março, pelo secretário nacional de atenção à saúde, Alberto Beltrame, do Ministério da Saúde. Na reunião, os representantes da Comissão explicaram diretamente ao secretário a importância de que o médico veterinário participe das discussões sobre as políticas relacionadas à saúde da família, especificamente o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os integrantes aproveitaram para reencaminhar documentos já enviados sobre o tema. De acordo com o coordenador da CNSPV, Paulo César Augusto de Souza, a reunião permitiu abrir espaço para que o tema volte a ser discutido dentro do Ministério da Saúde. Por sua vez, o Secretário explicou as

dificuldades internas e as demandas que tem de muitas outras profissões também interessadas em participar do programa. Integrante da comissão do CFMV, Celso dos Anjos enfatiza que, inicialmente, não há interesse de pleitear que o médico veterinário integre a equipe mínima de atendimento, mas que a categoria possa ser contemplada no grupo que assessora os responsáveis pelo NASF. Sua justificativa é embasada no fato de que cerca de 70% das doenças do mundo são zoonoses. Reunião – A Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV) se reuniu nos dias 22 a 24 de março, na sede do CFMV, em Brasília, DF. Dentre as discussões administrativas, foi definida a realização do Seminário de Saúde Pública do Piauí. O evento está programado para a segunda quinzena de setembro, e tem como tema “Dá para imaginar a Saúde Pública sem o Médico Veterinário?”. Em cada ano, a comissão orga-

niza o seminário em diferentes Estados da Federação. Os últimos a receberem o evento foram Mato Grosso, São Paulo e Maranhão. Os integrantes da comissão também definiram ações para que, em conjunto com os conselhos regionais, sensibilizem os formadores de opinião sobre a importância da participação do médico veterinário no NASF. Também foram avaliados os resultados preliminares do Censo de Ensino da Saúde Pública. Das 149 universidades, registradas no Ministério da Educação na época do início da pesquisa, 95 responderam aos questionamentos, sendo a maioria da região sudeste e de universidades particulares. Além do presidente da CNSPV, Paulo César Augusto de Souza, todos os membros estiveram presentes: Celso Bittencourt dos Anjos, Lúcia Regina Montebello Pereira, Aurélio Belém de Figueiredo Neto, Marcelo Jostemeier Vallandro, Sthenia dos Santos Alvano Amora e Roberto Francisco Lucena.

II Oficina de Trabalho apresenta propostas ao sistema CRMV/CFMV Com a representação de quinze conselhos regionais de medicina veterinária, a II Oficina de Trabalho “Integrando as comissões de saúde pública do sistema CFMV/CRMV” elaborou uma proposta para ações unificadas de saúde pública veterinária dentro do sistema CFMV/CRMV. O evento foi realizado nos dias 25 e 26 de março, na sede do CFMV. O presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV) do CFMV, Paulo César Augusto de Souza, avalia que, a partir da primeira oficina realizada em 2008, é notável a evolução das discussões sobre o tema nos conselhos regionais. Exemplos foram as comissões criadas a partir daquele evento e que trouxeram suas experiências de atuação para este ano. “Porém, precisamos que as comissões de saúde pública existam em todos os Estados, sem exceção”, enfatiza, explicando que o principal objetivo das comissões é assessorar os presidentes dos conselhos regionais para os temas relacionados à saúde pública. Ações - A oficina definiu três eixos importantes de atuação. Primeiramente, os participantes apoiaram a sugestão da CNSPV para criação de uma resolução que institua uma comissão permanente de saúde pública veterinária nos conselhos regionais. Na percepção dos participantes da oficina, é interessante que os membros que formarão esses grupos tenham conhecimento e experiência nas áreas diretamente relacionadas à saúde pública. O segundo eixo de trabalho sugeriu ações para incentivar a formação acadêmica dos alunos de Medicina Veterinária na área de Saúde Pública. Uma das propostas é a criação

Fonte: assessoria de comunicação CFMV

Fonte: assessoria de comunicação CFMV

Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Também estiveram presentes os membros da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do CFMV.

Participantes da II Oficina de Trabalho realizada na sede do CFMV, em Brasília, DF

de uma semana de ação integrada do sistema CFMV/CRMV para sensibilização das faculdades e da própria sociedade sobre o tema. “Esperamos implementar uma cultura de saúde pública nas faculdades para que o profissional entenda todo o campo de atividades em que pode atuar”, comenta Paulo Souza, presidente da CNSPV. Por fim, os participantes da II Oficina de Trabalho entenderam que devem ser incentivadas ações estratégicas dos conselhos regionais junto aos gestores públicos para inserção do médico veterinário em cargos relacionados à saúde pública. Como sugestão, é esperado o estímulo para que os profissionais participem de Conselhos Municipais, Estaduais e Conferências de Saúde para que possam atuar e esclarecer o papel do médico veterinário na saúde pública. A proposta também enfatiza a importância de se trabalhar em nível municipal e estadual para motivar a participação da classe no NASF. Participaram das discussões 31 médicos veterinários. Entre eles estavam representantes dos Estados do Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro,

Apresentações incentivam a troca de experiências Além das definições descritas no relatório final, o evento motivou a troca de experiências entre coordenadores e integrantes das Comissões regionais de Saúde Pública já existentes nos Estados. Entre os temas mais abordados, estiveram as ações junto aos centros de controle de zoonoses locais. Também, de diferentes formatos, os representantes apresentaram ações para esclarecimentos de gestores públicos sobre as atividades da saúde pública e como o médico veterinário pode estar inserido. As comissões regionais também trabalham para defender a abertura de vagas para médicos veterinários em concursos públicos que contemplam atividades que podem ser exercidas por esses profissionais. Os participantes também apresentaram a preocupação com as ações de inspeção sanitária e o combate ao abate clandestino. De modo geral, os presentes concordaram que há uma falta de entendimento dos próprios colegas, principalmente os recémgraduados, sobre as atividades que podem ser exercidas pelo médico veterinário na saúde pública. Também foi constatado que nos Estados, nos quais já existem as comissões de saúde pública, não há uma uniformidade já que elas são integradas por número diferentes de membros e representantes.

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Bem-estar animal

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ITEC realizou curso de comportamento canino

os dias 20 e 21 de março de 2010, na sede do CRMV-SP, em São Paulo, SP, foi realizado o curso de comportamento canino, uma realização do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC).

décima segunda semana de idade). O isolamento dos filhotes nesse período, que coincide com a fase de desenvolvimento de imunidade promovida pela aplicação de vacinas, pode causar sérios problemas comportamentais no futuro. Ainda este ano, o ITEC tem programa-

do outros importantes eventos: a Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo (agosto/2010) e o Congresso Internacional de Agressividade Canina e Felina (dezembro/2010). Informações: itecbr@gmail.com www.itecbr.org

Palestrantes do curso de comportamento canino: Néstor Calderón, Mauro Lantzman e Lígia Panachão

O curso teve como foco o estudo do comportamento canino, destacando a anamnese do paciente com distúrbios de comportamento e as experiências com testes comportamentais. Néstor Alberto Calderón Maldonado, da Universidade de La Salle, na Colômbia, destacou a importância de reconhecermos que os animais são seres sencientes e da necessidade de estudarmos ciências como a neurobiologia e a etologia clínica veterinária (zoopsiquiatria). Os testes de comportamento são de grande valia para a seleção de animais para adoção, pois um grande receio de todos que se empenham pela causa é que um animal adotado seja causador de agressão. Até o momento nenhum teste é capaz de excluir que um cão será capaz de cometer uma agressão. Porém, de forma geral, todos os cães com histórico de agressão, costumam ser reprovados nos testes. Os problemas comportamentais são geradores de muitos casos de abandono ou sacrifício de cães. Para que se previnam ambas as situações é vital que as orientações sobre comportamento animal façam parte da rotina de todas as clínicas veterinárias. Mauro Lantzman, em suas palestras durante o curso, enfatizou a importância das formas de abordagem às pessoas que convivem com os cães para que seja possível identificar a origem dos problemas comportamentais e as formas de intervenção. Destacou também, a importância do período de socialização dos filhotes (da terceira à 30

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010



Kleber Moreno

Linfoma cutâneo em cães: epidemiologia, morfologia, resposta terapêutica e sobrevida

MV, prof. adj. Depto. Clínicas Veterinárias - UEL mvkmoreno@gmail.com

Claudia Cristina Boselli

MV, mestre Lab. Patologia Animal - UEL boselligrotti@yahoo.com.br

Elisângela Olegário da Silva

acadêmica medicina veterinária, bolsista iniciação científica/CNPq - UEL

Cutaneous lymphoma in dogs: epidemiology, morphology, response to therapy and survival

eli-vet@bol.com.br

Ana Paula F. R. Loureiro Bracarense

MV, profa. assoc. Depto. Medicina Veterinária Preventiva - UEL

Linfoma cutáneo en perros: epidemiología, morfología, respuesta terapéutica y sobrevida Resumo: A forma cutânea é uma das manifestações do linfoma canino. Neste estudo investigamos os aspectos epidemiológicos, morfológicos e terapêuticos do linfoma cutâneo em 49 cães. Destes cães, 35 eram fêmeas e 14 machos, com idade variando de dois a catorze anos. Trinta e sete animais apresentavam raça definida. O tumor mostrou-se mais frequente em animais de pequeno porte (47%). Em 21 cães foi realizada a classificação morfológica; estabeleceu-se o diagnóstico de linfoma não epiteliotrópico em doze animais e da forma epiteliotrópica em nove. As lesões ocorreram predominantemente no abdômen, no dorso (caudal) e no tronco. Na maioria dos cães tratados com múltiplos fármacos, a remissão clínica foi completa ou parcial. Ao utilizar protocolos monoterápicos, a doença permaneceu estável ou progrediu, com exceção de pacientes tratados com lomustina. A sobrevida foi maior em pacientes tratados com protocolos com múltiplos antineoplásicos. Unitermos: câncer, pele, linfoide, classificação, tratamento Abstract: The cutaneous lymphoma is one of the clinical presentations of canine lymphomas. In this study, epidemiological, morphological and therapeutic aspects of cutaneous lymphoma were analyzed in 49 dogs. From these, 35 were females and 14 males, and the age ranged from 2 to 14 years. Thirty-seven were pure breed dogs. The tumor was found most frequently in small breed animals (47% of the cases). Morphological classification of the tumor in 21 dogs lead to the diagnosis of epitheliotropic lymphoma in twelve animals and non-epitheliotropic lymphoma in nine cases. Lesions were mainly located to the abdomen, dorsum (back) and trunk. Remission was complete or partial in most dogs that were treated with multiple drugs. In single-drug therapy the disease remained stable or progressed, except in patients treated with lomustine. The survival was longer in animals treated with multiple drugs. Keywords: cancer, skin, lymphoid, classification, treatment Resumen: La forma cutánea es una de las manifestaciones del linfoma canino. En este estudio investigamos los aspectos epidemiológicos, morfológicos y terapéuticos del linfoma cutáneo en 49 perros. De éstos, 35 eran hembras y 14 machos, con edades entre 2 y 14 años. 37 animales presentaban raza definida. El tumor se mostró más frecuente en animales de pequeño porte (47%). En 21 perros fue hecha la clasificación morfológica. Doce animales recibieran el diagnóstico de linfoma no epiteliotrópico y nueve del tipo epiteliotrópico. Las lesiones predominaron en el abdomen, en la región dorsal (posterior) y en el tronco. En la mayoría de los perros tratados con múltiples fármacos, la remisión clínica fue total o parcial. Cuando fueron utilizados protocolos monoterápicos, la enfermedad permaneció estable o progresó, a excepción de pacientes tratados con lomustina. La sobrevida fue más grande en pacientes tratados con protocolos de múltiples antineoplásicos. Palabras clave: cáncer, piel, linfoide, clasificación, tratamiento

Clínica Veterinária, n. 86, p. 32-38, 2010

Introdução Linfoma é o termo utilizado para designar um grupo heterogêneo de tumores malignos que se originam no sistema hemolinfático. É o principal neoplasma desse sistema e o terceiro em ocorrência dentre todos os tumores malignos dos cães 1-3. Esses tumores não possuem um agente etiológico conhecido na patogenia da doença entre os cães 4,5. Apesar de especulações como alteração genética causada por pesticidas ou ambientes com alta tensão elétrica e da presença de partículas de retrovírus no tecido tumoral, nada foi comprovado quanto à real participação desses agentes na etiologia 32

dos linfomas caninos, sendo a doença considerada de aparecimento espontâneo 6. Sabe-se que bull mastiffs, ottherhounds e uma família de rottweilers apresentaram maior predisposição ao linfoma em decorrência de falhas genéticas 6. Outras raças, como boxer, scottish terrier, golden retriever e pastor alemão, têm maior ocorrência, mas sem causa específica 1,7-9. Em seres humanos, há relatos da associação entre linfoma e a exposição ocupacional a alguns produtos químicos, como o ácido 2,4 diclorofenoxiacético (2,4D), ou infecções por retrovírus 4. No entanto, assim como em cães, o aparecimento do linfoma é considerado

anauel2@yahoo.com.br

espontâneo. O envolvimento de vírus como o HTLV-1 (vírus linfotrópico humano T, tipo 1) e possivelmente o HTLV-2 (vírus linfotrópico humano T, tipo 2) foi sugerido na etiologia do linfoma de células T em seres humanos 4. O linfoma possui diversas apresentações clínicas que estão diretamente relacionadas ao local de aparecimento da doença, ao seu grau de malignidade, ao fenótipo e ao índice de proliferação celular, entre outros. Em decorrência dessa diversidade clínica, a doença foi classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de acordo com o local de origem, como linfoma multicêntrico, alimentar, mediastínico, cutâneo ou extranodal 10,11. A forma cutânea possui baixa ocorrência clínica em comparação com a multicêntrica, correspondendo a 3 a 12% de todas as apresentações clínicas. O cão com linfoma cutâneo pode apresentar nódulo isolado ou múltiplo, com ou sem ulceração, geralmente alopécico, eritematoso e com as bordas elevadas. Ocasionalmente, as lesões podem adquirir aparência bizarra, arciforme e serpiginosa, ou aspecto eritematoso difuso com descamação 12-16. Morfologicamente, os linfomas cutâneos são subdividos em não epiteliotrópico e epiteliotrópico 17. A forma não epiteliotrópica caracteriza-se por uma infiltração difusa da derme e do subcutâneo por linfócitos anaplásicos. Essas células geralmente são grandes, similares aos histiócitos, com núcleos ovoides ou denteados e com citoplasma abundante. Arranjam-se como agregados

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


nodulares com disposição perivascular, possibilitando a invasão vascular e a subsequente formação de êmbolos, similar à granulomatose linfomatoide em seres humanos 18,19. A forma epiteliotrópica é caracterizada pela infiltração de células linfoides anaplásicas na epiderme, no epitélio de mucosas ou em estruturas anexas. Os linfócitos neoplásicos intraepidérmicos podem estar difusamente distribuídos ou formando pequenos agregados de-nominados microabscessos ou microagregados de Pautrier 20. O tropismo por estruturas anexas pode ser mais proeminente do que a infiltração da epiderme. Em seres humanos quatro padrões morfológicos foram descritos. A mycosis fungoides é a mais frequente, caracterizada pela infiltração de células neoplásicas na epiderme, em estruturas anexas e na derme superficial, sendo frequente a obliteração da junção dermoepidérmica 20. A síndrome de Sézary consiste na presença de células tumorais na epiderme e em linfocitose neoplásica concomitante 20, ou seja, por definição é considerada uma expressão eritrodérmica do linfoma cutâneo de células T, com circulação de células neoplásicas no momento do diagnóstico. Clinicamente, é caracterizada por eritema cutâneo esfoliativo, associado a prurido intenso e a linfonodomegalia periférica 21,22. Estes dois padrões morfológicos já foram descritos no cão 20. A doença de Paget ou reticulose pagetoide, caracterizada por infiltração difusa restrita à epiderme e à parede de folículos pilosos e glândulas sudoríparas, e a doença de WoringerKolopp, na qual se observa um padrão focal da reticulose pagetoide, foram descritas apenas no homem 13,15,18,20,23. Os linfomas cutâneos são constituídos predominantemente por células T tanto no cão como no homem; no entanto, em humanos a frequência de linfoma cutâneo de células B é maior do que em cães 24,25. O linfoma multicêntrico de células B pode causar metástase ou infiltração na pele, e não deve ser confundido com o linfoma cutâneo primário, pois esta apresentação também pode determinar linfonodomegalia 4. O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos epidemiológicos, morfológicos e terapêuticos do linfoma cutâneo em cães atendidos em um hospitalescola.

Material e métodos Foram avaliados 265 prontuários de cães com diagnóstico citológico ou histopatológico de linfoma, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina (HV-UEL) no período de janeiro de 1990 a agosto de 2008. Estabelecido o diagnóstico, esses cães foram classificados de acordo com a apresentação anatômica da doença, seguindo os critérios propostos pela OMS 11,12. Dos animais com apresentação cutânea foram obtidos dados de resenha, localização da lesão, número de nódulos, porte do animal e quadro clínico da doença. Para os animais sem raça definida (SRD), o porte foi estabelecido pelo peso corpóreo, sendo considerados de pequeno porte cães com peso 10kg, porte médio > 10 e 20kg, grande porte > 20 e 40kg e cães gigantes com peso > 40kg 16. Para a classificação morfológica foram utilizados os fragmentos de tecidos inclusos em parafina, provenientes do Laboratório de Patologia Animal da Universidade Estadual de Londrina. Dos cães com diagnóstico histopatológico, foram separados os blocos de parafina com os fragmentos correspondentes, para novo corte e coloração pelo método de hematoxilina e eosina (HE). Os tumores foram classificados em não epiteliotrópico e epiteliotrópico de acordo com os padrões histológicos já descritos 20. Nos cães com linfoma cutâneo, o protocolo utilizado no tratamento, a resposta terapêutica e o tempo de sobrevida dos animais também foram avaliados. Para análise da resposta terapêutica foram definidos os seguintes critérios: i. remissão completa da doença quando não era detectada a presença de nódulos ou qualquer outra alteração clínica do linfoma cutâneo; ii. remissão parcial quando havia redução de até 75% no tamanho e na quantidade de nódulos do tumor; iii. doença estável quando reduzido à metade o tamanho das lesões cutâneas sem aparecimento de outros nódulos; iiii. doença progressiva quando havia no máximo 25% de redução das lesões cutâneas e nítido aparecimento de outros nódulos ou infiltração em outros órgãos 6. Para análise da sobrevida, foi considerado o número de semanas que o

animal permaneceu vivo após o diagnóstico de linfoma em relação ao tratamento ou até a morte natural. Cães que foram submetidos à eutanásia logo após o diagnóstico não foram considerados para determinação da sobrevida. Resultados Dos 265 cães com linfoma, 49 (18,5%) apresentavam a forma cutânea da doença (Figura 1). Destes, 71% (35/49) eram fêmeas e 29% (14/49) machos. A distribuição racial foi heterogênea, porém com maior ocorrência em cães de raça definida (Figura 2). Esses animais apresentavam idade variando entre dois e catorze anos, sendo a média de 7,6 anos.

Figura 1 - Ocorrência das apresentações anatômicas de 265 cães com diagnóstico de linfoma, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, no período de janeiro de 1990 a agosto de 2008, Londrina, PR, 2008

Distribuição das raças cocker spaniel inglês teckel boxer rottweiler pinscher poodle pastor alemão akita chow-chow collie lhasa apso weimaraner sem raça definida (srd) total

Total de animais (%) 7 (15%) 5 (10%) 5 (10%) 4 (8%) 4 (8%) 4 (8%) 3 (6%) 1 (2%) 1 (2%) 1 (2%) 1 (2%) 1 (2%) 12 (25%) 49 (100%)

Figura 2 - Distribuição da frequência das raças dos cães com linfoma cutâneo, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, no período de janeiro de 1990 a agosto de 2008, Londrina-PR, 2008

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Localização abdômen dorso tronco cabeça cervical dígitos membros torácicos perianal membros pélvicos não informado

Total* 27 23 15 11 9 7 6 5 4 12**

Figura 7 - Fotomicrografia de pele com linfoma não epiteliotrópico. Observar na derme a presença de células tumorais redondas, com nucléolo proeminente em posição central (setas brancas) e figuras de mitose (setas pretas). HE. Objetiva 40x

Ana Paula F. R.s Loureiro Bracarense

Quanto ao porte físico, nenhum cão SRD possuía peso corpóreo superior a vinte quilos, três apresentavam porte médio e nove eram de pequeno porte. Dessa forma, considerando também o porte dos cães com raça definida, observamos a ocorrência do linfoma cutâneo de acordo com o porte físico da seguinte forma: 47% em cães de pequeno porte, 31% em cães de grande porte e 22% em cães de porte médio. Ao avaliarmos a distribuição das lesões, verificamos que 23 cães apresentavam múltiplos nódulos pelo corpo, dezoito possuíam de dois a quatro nódulos, sete tinham lesões únicas e um apresentava ulcerações em mucosa nasal, oral e despigmentação (Figuras 3, 4, e 5). A distribuição dos tumores, considerando a localização corpórea, está descrita na figura 6. Sinais sistêmicos inespecíficos como apatia, vômito, anorexia e diarreia foram observados em nove (18%) cães. A classificação morfológica foi realizada a partir de cortes histológicos em

Ana Paula F. R.s Loureiro Bracarense

Figura 5 - Fotografia de nódulo interdigital, alopécico, não ulcerado, com evolução de dois meses em um cão da raça chow-chow, macho, cinco anos de idade. Diagnóstico: linfoma cutâneo Kleber Moreno

Figura 4 - Fotografia de lesão ulcerativa interdigital com evolução de três semanas em um cão macho, SRD, de quatro anos de idade. Diagnóstico: linfoma cutâneo

Kleber Moreno

Kleber Moreno

Figura 3 - Fotografia de nódulos pequenos (0,5cm de diâmetro), eritematosos, alguns com ulceração, no prepúcio de um cão da raça teckel, macho, de sete anos de idade. Diagnóstico: linfoma cutâneo

* Nos animais com nódulos múltiplos foram consideradas todas as localizações apresentadas ** A localização das lesões não foi informada

Figura 6 - Distribuição das lesões neoplásicas do linfoma cutâneo de acordo com a localização corpórea de 49 cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina no período de janeiro de 1990 a agosto de 2008, Londrina-PR, 2008

Figura 8 - Fotomicrografia de pele com linfoma epiteliotrópico. Observar a presença de células linfoides infiltradas na epiderme (setas). HE. Objetiva 40x

Protocolos com monoterapia antineoplásica

protocolo

prednisona lomustina dexametasona total

Protocolos com múltiplos fármacos antineoplásicos

cães tratados 11 8 1 20

protocolo

cães tratados

COP velcap-L coap total

9 5 3 17

COP = ciclofosfamida, sulfato de vincristina e prednisona; velcap-L = sulfato de vincristina, L-asparaginase, ciclofosfamida, doxorrubicina e prednisona; coap = ciclofosfamida, sulfato de vincristina, citarabina e prednisona

Figura 9 - Protocolos utilizados no tratamento de linfoma cutâneo de cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, no período de janeiro de 1990 a agosto de 2008, Londrina, PR, 2008

21 cães com diagnóstico prévio de linfoma. Os demais cães tiveram apenas o diagnóstico citológico, e os proprietários não autorizaram a colheita de fragmento de pele para avaliação histopatológica. A forma epiteliotrópica foi diagnosticada em nove cães, e a não epiteliotrópica em doze (Figuras 7 e 8). Dos 49 cães com diagnóstico de linfoma cutâneo, 36 foram submetidos a

tratamento quimioterápico. Os principais protocolos utilizados estão listados na figura 9. Os cães tratados apresentaram uma grande diversidade de respostas, independentemente do protocolo utilizado. Ao associarmos a resposta terapêutica com a classificação morfológica, observamos que os cães com linfoma epiteliotrópico tratados apenas com lomustina ou Velcap-L apresentaram

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protocolo prednisona COP lomustina velcap-L coap dexametasona total

epiteliotrópico RC RP DE DP 0 0 0 1 0 1 1 0 2 0 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 3 2 2 1

CLASSIFICAÇÃO MORFOLÓGICA não epiteliotrópico RC RP DE DP 0 1 1 0 1 2 0 0 1 3 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 3 7 1 0

sem classificação morfológica RC RP DE DP 0 2 4 2 0 4 0 0 0 1 1 0 0 2 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 0 11 5 2

total 11 9 8 5 3 1 37

COP = ciclofosfamida, sulfato de vincristina e prednisona; velcap-L = sulfato de vincristina, L-asparaginase, ciclofosfamida, doxorrubicina e prednisona; coap = ciclofosfamida, sulfato de vincristina, citarabina e prednisona; RC = remissão completa; RP = remissão parcial; DE = doença estável; DP = doença progressiva

Figura 10 - Resposta terapêutica de cães com linfoma cutâneo tratados com diversos protocolos, associada à classificação morfológica

protocolo tratados prednisona COP lomustina velcap-L coap dexametasona não tratados eutanásia *

epiteliotrópico número média de intervalo de cães sobrevida* 8 1 2 2 2 1 0 1 0

39,9 5 26 43 67 29 0 4 0

5 - 96 13 - 52 32 - 54 38 - 96 0 0

não epiteliotrópico número média de intervalo de cães sobrevida* 11 2 3 4 1 1 0 1 1

49,2 17,5 51,3 55 78 49 0 0 0

12 12 44 43

sem classificação morfológica número média de intervalo de cães sobrevida*

- 65 - 23 - 62 - 65 0 0

18 8 4 2 2 1 1 10 4

31,8 16 44,5 49 55,5 38 19 6,8 0

3 - 64 3 - 35 37 - 54 43 - 55 47 - 64 2 - 14 0

Média de sobrevida em semanas. (-) Não há intervalo

Figura 11 - Sobrevida dos cães com linfoma cutâneo com ou sem instituição de protocolo antineoplásico, associada à classificação morfológica em número de semanas

resposta terapêutica superior aos tratados com qualquer outro protocolo. No entanto, entre os cães com linfoma não epiteliotrópico, a remissão completa ou parcial também foi obtida utilizando-se outros protocolos (Figura 10). A sobrevida desses animais variou de acordo com o protocolo utilizado e a classificação morfológica. Doze cães não foram tratados com nenhum fármaco nem submetidos a eutanásia logo após o diagnóstico por opção de seus responsáveis (Figura 11). Discussão Dentre as apresentações clínicas do linfoma em cães, a forma cutânea tem ocorrência relatada de 3 a 8% 6,15. No entanto, neste estudo constatamos uma ocorrência de 18,5%, superior inclusive a estudo anterior que abrangeu a mesma localização geográfica 16. Esse fato pode estar relacionado à maior intensificação na pesquisa da doença nos cães atendidos no HV-UEL nos últimos quatro anos. Em seres humanos, o HTLV-1 tem papel importante na indução do linfoma de células T, incluindo a apresentação cutânea 4,26. Outros fatores ambientais,

como exposição a pesticidas e a permanência em áreas industriais, podem favorecer as mutações genéticas, o que contribuiria para uma maior ocorrência da doença 6,27. Dessa forma, é possível que a frequência mais elevada de linfoma cutâneo em nossa região seja modulada por fatores ambientais, tornando necessários estudos epidemiológicos que investiguem essa relação 27. A influência do gênero na ocorrência do linfoma em cães é controversa. Vários trabalhos relatam uma frequência maior em machos 7,16,28. No entanto, nesses trabalhos consideraram-se todas as apresentações anatômicas do linfoma canino. Apenas na Holanda foi descrita uma maior ocorrência em fêmeas 4. O maior número de fêmeas com linfoma cutâneo em nosso estudo sugere que os hormônios sexuais possam modular o desenvolvimento desses tumores. Essa hipótese também foi considerada quando se observou uma menor ocorrência de linfoma em cães castrados 29. Em 1998 foi descrito o primeiro caso de involução de linfoma cutâneo em égua após a remoção de um tumor ovariano 30. Os autores relataram a expressão positiva

para receptores de progesterona e negativa para receptores de estrógeno nas células tumorais. Em mulheres, os fatores reprodutivos e a utilização de contraceptivos hormonais conferem algum risco de desenvolvimento de determinados subtipos de linfoma 31. Determinadas raças como boxer, basset hound, golden retriever, pastor alemão, scottish terrier e buldogue inglês apresentam maior risco de desenvolver linfoma 7-9, enquanto a predisposição genética foi descrita nas raças bull mastiff, rottweiler e otterhound 6. No grupo de cães avaliados, verificamos um maior número de cocker spaniel ingleses, teckels e pinschers. Dentre essas três raças, apenas o cocker spaniel inglês é descrito como predisposto ao aparecimento de linfoma 6,23. No entanto, as três raças são muito frequentes em nosso meio, e possivelmente o grande número de casos diagnosticados esteja diretamente relacionado à população delas em nossa região. Outra hipótese é que a forma cutânea apresente predisposição racial diferente. Os artigos que avaliaram a predisposição racial ao linfoma consideraram todas as apresentações

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anatômicas, sendo que a forma multicêntrica nesses estudos é sempre a de maior ocorrência. Contudo, como há no Brasil uma grande quantidade de cães mestiços ou sem definição racial, ao trabalhar com estudos epidemiológicos, sempre se encontra um grande número de cães SRD dentre a população estudada. Nesta amostragem, aproximadamente 25% dos cães acometidos não possuíam definição de raça. Raças de grande porte ou gigantes são consideradas de maior risco para o desenvolvimento do linfoma 4,31. Contudo, ao avaliarmos os cães com raça definida, constatamos que 59,5% deles eram de pequeno ou médio porte. Quando incluímos os cães SRD, essa ocorrência subiu para 69,5%. Dessa forma, cães de pequeno porte apresentam maior frequência de linfoma cutâneo. No entanto, considerando que em nosso meio há uma grande quantidade de raças de pequeno ou médio porte e que os cães SRD são geralmente pequenos, a maior frequência em cães de pequeno porte pode não refletir a realidade. O linfoma canino é observado frequentemente em animais adultos e idosos, com idade média de 6,3 a 7,7 anos 4,7. Aproximadamente 80% dos casos diagnosticados acometem cães na faixa etária de 5 a 11 anos 32. Resultados similares foram obtidos no Brasil considerando 80% dos casos de linfoma em cães na faixa etária de 4 a 13 anos, com média de 5,9 anos. Neste estudo observamos que a idade média dos cães com linfoma cutâneo (7,6 anos) não difere daqueles com outras apresentações clínicas do linfoma. A distribuição das lesões não segue um padrão clínico. O fato de o animal apresentar apenas um ou poucos nódulos está relacionado com o tempo de aparecimento da doença e não com a sua gravidade. Lesões na cabeça e no períneo normalmente envolvem áreas de mucosas, principalmente a mucosa oral e a junção anorretal 24. A presença de nódulos em maior quantidade no abdômen, no tronco e na região dorsal consiste apenas em maior área corpórea para o desenvolvimento do tumor, não caracterizando maior ou menor gravidade. Ao contrário da distribuição das lesões pela área corpórea, a presença de sinal clínico inespecífico sistêmico indica maior evolução da doença e invariavelmente 36

pior prognóstico em decorrência da menor resposta terapêutica 6. Em seres humanos predomina o linfoma epiteliotrópico, sendo a mycosis fungoides a mais frequente 15,24. No cão, a apresentação não epiteliotrópica aparenta ser mais frequente, porém faltam estudos que possam sustentar essa afirmação 6,20. Em nosso trabalho, 43% (21/49) dos cães com linfoma cutâneo foram avaliados morfologicamente. Nos demais cães houve desinteresse do proprietário ou falta de condições financeiras para autorizar a biopsia e o exame histopatológico, e, em alguns casos, falta de indicação do médico veterinário. Dentre os cães em que os tumores foram submetidos à classificação morfológica, 57% foram diagnosticados como linfoma não epiteliotrópico. Essa ocorrência é semelhante à descrita na literatura 6,20,33. Vários protocolos antineoplásicos são descritos para o tratamento de pacientes com linfoma 6. Invariavelmente, os protocolos com múltiplos fármacos proporcionam melhor resposta terapêutica, eliminando células tumorais por diversos mecanismos. Esses protocolos contribuem para uma sobrevida maior com qualidade de vida, permitindo uma remissão completa ou parcial da doença com intervalo maior. Outra importante vantagem ao escolher esses protocolos consiste na menor probabilidade de desencadear resistência das células tumorais a esses ou a outros fármacos. A proteína P, existente na membrana celular como um mecanismo de defesa que impede a entrada de toxinas deletérias, está superexpressa nas células tumorais, afetando a entrada adequada dos agentes antineoplásicos 34. Quando é realizado o tratamento com apenas um fármaco, principalmente na monoterapia com prednisona, há maior indução de resistência inespecífica, dificultando inclusive o uso de outras medicações no tratamento. Por esses motivos, protocolos como o Velcap-L, COP e Coap apresentam melhores resultados do que a monoterapia 34. O linfoma cutâneo tende a responder menos aos protocolos terapêuticos em comparação a outras apresentações anatômicas, devido a diferenças na concentração tissular dos quimioterápicos na pele em comparação a outros órgãos 6,35. Portanto, em alguns pacientes, mesmo

utilizando protocolos com múltiplos medicamentos, não é possível obter uma remissão satisfatória. Ao mesmo tempo, pacientes tratados apenas com lomustina podem apresentar remissão igual ou superior à dos protocolos combinados 6. Neste estudo observamos que, apesar de o número de animais tratados com cada protocolo ser pequeno, em pacientes tratados com lomustina, a remissão clínica foi similar à dos pacientes tratados com Velcap-L. Ao mesmo tempo, é nítida a baixa qualidade da resposta terapêutica dos pacientes tratados apenas com prednisona, em decorrência do rápido desenvolvimento de resistência e recidiva da doença, com posterior falha na reindução da remissão e óbito subsequente. Pacientes com linfoma epiteliotrópico responderam bem ao tratamento com lomustina ou Velcap-L, sendo o COP um protocolo com indicações limitadas para esses pacientes. O comportamento biológico da forma epiteliotrópica tende a ser mais agressivo em comparação com o linfoma não epiteliotrópico 15,24. Com isso, o uso de protocolos mais complexos ou da lomustina pode permitir melhor remissão, períodos sem quimioterapia agressiva e, em consequência, maior sobrevida. Nos cães com linfoma não epiteliotrópico, foi possível obter remissão completa ou parcial, inclusive com o COP. Assim, para pacientes com essa forma de linfoma cutâneo, há pelo menos outras duas boas opções de tratamento com o COP e o Coap. Apesar de o protocolo monoterápico com a lomustina parecer ser melhor que o Velcap-L ou o COP, por ser medicação única com administração a cada 21 dias e proporcionando uma remissão semelhante à de protocolos mais complexos, esse agente tem a grande desvantagem de ser hepatotóxico e extremamente mielossupressor, o que favorece quadros de sepse, hepatite e subsequente morte. Portanto, o uso da lomustina é limitado e indicado principalmente para pacientes refratários a outros medicamentos 34-36. Em relação à sobrevida, verificamos que a remissão do tumor está diretamente associada a esta variável, ou seja, cães tratados com protocolos complexos como o Velcap-L podem ter uma

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sobrevida com qualidade variando de dez a vinte meses. Entretanto, cães tratados apenas com prednisona tendem a sobreviver poucas semanas, podendo chegar a poucos meses, resposta similar à obtida em pacientes não tratados. O único ponto favorável ao uso da prednisona consiste na possibilidade de minimizar a progressão da doença de forma rápida, permitindo apenas pouco tempo de qualidade de vida aceitável aos pacientes que não serão tratados com protocolos mais adequados. Considerações finais Neste estudo, constatamos que o linfoma cutâneo é frequente em cães de nossa região e deve ser considerado dentre os diagnósticos das afecções que acometem a pele. As fêmeas foram mais acometidas, o que implica a necessidade de investigações futuras sobre uma modulação hormonal na patogênese da doença. Não houve diferença na ocorrência das formas epiteliotrópica e não epiteliotrópica, no entanto a classificação histológica do tipo de linfoma cutâneo auxilia na escolha do protocolo terapêutico mais adequado, e, consequentemente, no aumento da sobrevida do paciente. Referências

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Mitika Kuribayashi Hagiwara

Infecção de filhotes e de cães adultos pelo adenovírus canino (CAV-1) relato de casos

MV, profa. colaboradora Depto. Clínica Médica - FMVZ/USP

mitika.hagiwara@gmail.com

Cláudia de Paula Ferreira Costa

Médica veterinária - CIAVET ciavet@click21.com.br

Vera Assunta B. Fortunato Wirthl MV - Hospital Veterinário - FMVZ/USP

Canine adenovirus (CAV-1) infection of puppies and adult dogs - case report

vwirthl@gmail.com

Denise Maria Nunes Simões

MV - Hospital Veterinário - FMVZ/USP

denisesimoes@usp.br

Infección de cachorros y de perros adultos por el adenovirus canino (CAV-1) - relato de casos

Khadine Kazue Kanayama

MV - Hospital Veterinário - FMVZ/USP

khakavet@ig.com.br

Resumo: A hepatite infecciosa canina (HIC), causada por adenovírus-1 (CAV-1), é raramente incluída no rol dos diagnósticos diferenciais de moléstias infecciosas, por causa da ampla proteção dada pelas vacinas atualmente existentes. A clássica forma de “olho azul” ainda é vista esporadicamente. Entretanto, a HIC pode ser mais frequente do que se imagina. São relatados um surto de gastrenterite, icterícia e morte em uma ninhada de pastores alemães com quarenta dias de vida; um caso de gastrenterite, pneumonia e “olho azul” em um cão de cerca de três meses de idade que ainda não havia sido imunizado; e dois casos de cães adultos com hepatite crônica cujo histórico de vacinação não foi relatado, em que se estabeleceu o provável diagnóstico de HIC por meio da técnica de PCR, com a amplificação de bandas de 221pb tanto das amostras clínicas quanto do controle (adenovírus cepa GMV-775). Conclui-se que a infecção por CAV-1 deve ser incluída no diagnóstico diferencial dos casos de gastrenterite ou de icterícia, ao lado de outros diagnósticos como a parvovirose, coronavirose, giardíase ou leptospirose. Unitermos: gastrenterologia, hepatite infecciosa canina, PCR

Camila Santos Manoel

MV, mestranda Depto. Clínica Médica - FMVZ/USP

camilamanoel@gmail.com

Abstract: The canine infectious hepatitis (CIH) due to adenovirus-1 (CAV-1) is rarely included in the set of differential diagnoses of infectious diseases, because it is assumed that the disease became rare as a result of efficient immunization. The classic blue-eyed form is still occasionally found. Nevertheless, CAV-1 infection of dogs might be more frequent than expected. Herein we describe an outbreak of gastroenteritis, jaundice and sudden death in a forty-day-old German shepherd dog litter, as well as one case of “blue eye” in a four-month-old mongrel dog and two additional cases in adult animals presented with chronic hepatitis. CAV-1 infection was confirmed by PCR, in which 221bp amplicons were obtained from clinical samples of all dogs as well as from CAV-1 GMP 775, used as control for PCR. We conclude that CAV-1 infection should be included in the differential diagnosis of gastroenteritis or jaundice, beside other diagnosis as parvovirus and coronavirus infection, giardiasis or leptospirosis. Keywords: gastroenterology, canine infectious hepatitis, PCR Resumen: : La hepatitis infecciosa canina (HIC), causada por el adenovirus canino 1 (CAV-1), es raramente incluida en el rol de los diagnósticos diferenciales de molestias infecciosas, a causa de la amplia protección dada por las vacunas actualmente existentes. La clásica forma de “ojo azul” aún es vista esporádicamente. Sin embargo, la HIC puede ser más frecuente de lo que uno se imagina. Son relatados un surto de gastroenteritis, ictericia y muerte en una cría de pastores alemanes con 40 días de vida; un caso de gastroenteritis, neumonía y “ojo azul” en un perro alrededor de los 3 meses de edad que todavía no había sido inmunizado; y dos casos de perros adultos, con hepatitis crónica, con historia de vacunación no relatada, en que se estableció el probable diagnóstico de HIC a través de la técnica de PCR, con la amplificación de bandas de 221pb tanto de las muestras clínicas cuanto del control (adenovirus cepa GMV-775). Se concluye que la infección por CAV-1 debe ser incluida en el diagnóstico diferencial de los casos de gastroenteritis o de ictericia, juntamente con otros diagnósticos como la parvovirosis, coronavirosis, giardiasis o leptospirosis. Palabras clave: gastroenterología, hepatitis infecciosa canina, PCR

Clínica Veterinária, n. 86, p. 40-46, 2010

Introdução Dois tipos de adenovírus canino (CAV-1 e CAV-2) são encontrados em cães. O primeiro é o agente etiológico da hepatite infecciosa canina (HIC), reconhecida como uma doença específica dos cães por Rubarth há mais de cinco décadas 1. O CAV-1 se replica nas células do endotélio vascular, resultando em infecção generalizada caracterizada por hepatite aguda ou crônica, glomerulonefrite e uveíte. Já o CAV-2 apresenta afinidade por epitélio do trato respiratório e é encontrado associado a surtos de doenças respiratórias em cães mantidos em canis. 40

Variantes do vírus foram também isolados das fezes de cães com doença entérica. 2 O CAV-1 é um DNA vírus sem envelope lipoproteico e encontra-se amplamente disseminado ao redor do mundo. O CAV-1 é resistente à inativação ambiental, ao clorofórmio, ao éter, a ácidos, à formalina, e é estável à radiação ultravioleta. Em temperatura ambiente, sobrevive por vários dias e permanece viável por meses a temperaturas menores que 4 ºC. O vírus é inativado após cinco minutos a temperaturas de 50 a 60 ºC. A desinfecção química pode ser bem sucedida com iodo, fenol e hidróxido de sódio. 2

O CAV-1 causa doença em cães, coiotes, raposas e outros canídeos e ursídeos. Anticorpos neutralizantes são naturalmente encontrados nos canídeos silvestres, o que sugere a ampla disseminação do vírus da HIC na natureza. Durante o estágio agudo da doença, o CAV-1 é isolado de todos os tecidos do organismo e secreções de cães. Ao redor de dez a catorze dias pós-infecção, o vírus pode ser encontrado somente nos rins e é excretado na urina por pelo menos seis a nove meses. A disseminação do vírus pode ocorrer pelo contato com os fômites, inclusive os utensílios de alimentação. Ectoparasitas podem albergar CAV-1 e podem estar envolvidos na transmissão natural da doença 3,4. Após a exposição oral, o CAV-1 se dissemina por via hematógena por todo o organismo. O endotélio vascular e as células do parênquima hepático constituem o sítio de replicação viral, resultando em hepatite necrótica aguda e grave, principalmente nos animais jovens ou naqueles que não apresentam

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


resposta humoral adequada 3,4. A hepatite aguda pode ser autolimitante e restringir-se à região centrolobular. A regeneração hepática é observada nos cães que sobrevivem a essa fase. Em alguns cães sem resposta humoral adequada, o processo inflamatório pode persistir como consequência da infecção hepática latente e crônica do vírus e resultar em hepatite crônica ativa e fibrose hepática. A proteinúria transitória ou persistente ocorre devido à deposição de imunocomplexos nos glomérulos. A localização ocular do CAV-1 virulento ocorre em aproximadamente um quinto dos cães infectados. A injúria ocular se inicia ainda na fase da viremia, com a entrada do vírus no humor aquoso e a sua replicação nas células endoteliais corneanas. O edema de córnea e a uveíte anterior resultantes são, em geral, autolimitantes e se resolvem após alguns dias 3,5. O edema de córnea provoca a tonalidade esbranquiçada de toda a córnea, dando origem à denominação de “doença do olho azul” 4, pela qual a doença é conhecida popularmente.

O uso de vacinas inativadas, inicialmente, e posteriormente o de vacinas vivas modificadas (VVM) de CAV-1 resultou na diminuição dos casos naturais de HIC 6. Entretanto, a vacina de VVM era associada com complicações oculares em uma pequena parcela de cães vacinados, e foi substituída na maioria das vacinas pelo CAV-2, que, embora distinto do CAV-1, confere adequada proteção contra a infecção natural pelo CAV-1 6. A vacinação reduziu efetivamente a circulação de CAV-1 na população canina, de sorte que a HIC se tornou uma doença pouco relatada a partir da introdução da vacinação dos suscetíveis em todo o mundo 4. Entretanto, a HIC ainda é encontrada esporadicamente em diversos países do mundo 1,6-8 em infecções únicas ou associada à coronavirose ou à cinomose 9. Embora não esteja claramente evidenciado o papel desempenhado pelo adenovírus canino do tipo 1, o vírus tem sido constantemente citado como possível causa de hepatite crônica e fibrose hepática 10,11, ao lado de leptospiras patogênicas 5,10,12,13.

O diagnóstico de HIC baseia-se no encontro de inclusões intranucleares acidofílicas em hepatócitos no exame post mortem ou nos animais vivos, no isolamento do CAV-1, na presença de títulos de anticorpos ou na detecção molecular do material genético do vírus por PCR 6,14. No presente trabalho, relata-se a ocorrência da infecção por CAV-1 em cães com diferentes formas de manifestação clínica em que a técnica molecular (PCR) possibilitou a amplificação do material genético de CAV-1. Discute-se o papel desempenhado pelo vírus da HIC na etiologia da hepatite crônica e da fibrose hepática. Relato de casos Caso n. 1 Espécie: canina Raça: pastor alemão Sexo: macho Idade: quarenta dias Histórico: Em um canil de criação de cães da raça pastor alemão, em que são observados rigorosos controles sanitário

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Figura 2 - Cão n. 2 aparentando mau estado geral e edema de córnea conferindo o aspecto de “olho azul”

existência de pneumonia. Além da infecção por CAV-1, o cão também se encontrava infectado pelo vírus da cinomose e pelo adenovírus 2 (CAV-2), como foi demonstrado por PCR (Figura 3), justificando o quadro respiratório apresentado. Caso n. 3 Espécie: canina Raça: labrador Sexo: fêmea Idade: oito anos Histórico: A cadela foi encaminhada ao Hospital Veterinário da FMVZ-USP por apresentar prostração, icterícia e ascite. Já decorriam mais de dois anos desde a última imunização. Ela apresentava bom estado geral, apesar da discreta icterícia. O exame ultrassonográfico abdominal revelou a presença de microhepatia, contornos irregulares e ecotextura grosseira do órgão, indicando possível fibrose hepática. Discreta anemia (hemácias = 4,1 x 106/µL) sem sinais de regeneração e plaquetopenia (plaquetas = 21.000/µL) foram as alterações hema-

Mitika Kuribayashi Hagiwara

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Figura 1 - Fígado de aspecto degenerado e coloração amarelada do cão pastor alemão de quarenta dias de idade (caso n. 1)

Figura 3 - Banda de 221pb amplificada a partir do sangue periférico do cão n. 2 e revelada após eletroforese em gel de ágar Mitika Kuribayashi Hagiwara

Caso n. 2 Espécie: canina Raça: sem raça definida Sexo: macho Idade: quatro meses Histórico: O animal havia sido encontrado na rua e vacinado com vacina multicomponente. Alguns dias após a vacinação, houve sangramento no local da aplicação da vacina. Na apresentação para a consulta, havia o histórico do uso de corticoide e as manifestações clínicas relatadas foram inapetência, prostração, diarreia, hematoquezia e tosse. No exame clínico observaram-se mau estado geral, secreção nasal discreta e dispneia inspiratória, linfonodos submaxilares e pré-escapulares palpáveis e discretamente aumentados. A opacificação bilateral da córnea, que conferia um aspecto azulado ao olho, era evidente (Figura 2). A imagem radiográfica do pulmão revelou um padrão alveolar difuso de ambos os campos pulmonares, indicando a

Cláudia de Paula Ferreira Costa

e ambiental e vacinação sistemática dos adultos e dos filhotes, ocorreu a morte súbita de vários filhotes de uma mesma ninhada, ao redor da sexta semana de idade. A ninhada era oriunda de mãe imunizada. Em 12 a 24 horas ocorreram prostração e morte. Aqueles que sobreviveram por um período maior de tempo, como o animal deste caso, apresentaram icterícia e, posteriormente, ocorreu o óbito. Os filhotes haviam sido anteriormente medicados com anti-helmínticos de amplo espectro e haviam recebido tratamento específico contra Giardia canis. Os exames coproparasitológicos e hematológicos não apresentaram nenhuma indicação de se tratar de infecção parasitária ou bacteriana. No hemograma, foi observada apenas discreta leucocitose neutrofílica e linfopenia. O exame anátomo e histopatológico revelou comprometimento hepático (Figura 1) e pulmonar, com infiltrado inflamatório predominantemente mononuclear, sugerindo a etiologia viral do processo mórbido. A reação em cadeia da polimerase (PCR) para a amplificação do material genético de CAV-1 foi positiva, resultando na demonstração de uma banda de 221pb no gel de ágar após eletroforese do material amplificado. Obteve-se também o isolamento do vírus em cultivo celular a partir do material fecal desse animal.

tológicas observadas, não havendo alterações em relação aos elementos da linhagem branca sanguínea. Na figura 4 apresenta-se o perfil bioquímico do cão. O aumento da atividade sérica das enzimas (que indicam lesão direta do hepatócito) e de indução hepática (ALT, AST e FA, respectivamente), assim como as concentrações séricas de bilirrubina, direta e indireta, revelaram a existência de um processo inflamatório. As alterações do proteinograma (Figura 5), associadas à considerável redução do volume hepático, indicaram uma provável fibrose hepática. A reação de soroaglutinação microscópica para pesquisa de anticorpos antileptospiras a foi negativa, e a PCR para CAV-1, positiva. Caso n. 4 Espécie: canina Raça: sem raça definida Sexo: fêmea Idade: dez anos Histórico: Sem antecedentes mórbidos. Sem histórico de imunização. Cinco meses antes, havia sido exposta a água estagnada durante o período chuvoso do ano. Após o incidente, o cão havia apresentado febre, distúrbio gastrentérico e pneumonia, com melhora espontânea. Alguns meses após observou-se a tonalidade amarelada da pele e das mucosas. As alterações clínicas mais evidentes consistiram em icterícia e discreta diminuição da ecotextura hepática, revelada pelo exame ultrassonográfico. Os valores bioquímicos indicaram processo hepático inflamatório, com aumento da a) Laboratório de Zoonoses Bacterianas - Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, FMVZ-USP, São Paulo, SP

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Caso n. 3 4,1 10,8 100 10,4 1 9,2 779 779 826 4,83 2,16 2,67 52 1,8 positivo

Caso n. 4 7,3 13.100 58 10,4 2,2 8,2 594 126 44 3,4 1 2,4 60 2 positivo Sv. autumnalis (800)

Referência* 5-8 6 - 15 200 - 500 5,5 - 7,7 2,3 - 3,8 2,3 - 5,2 10 - 88 10 - 88 20 - 150 0,1 - 0,6 0,1 - 0,3 0 - 0,3 15 - 40 1-2

* Valores de referência utilizados no Laboratório Clínico do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP

Figura 4 - Valores hematológicos e bioquímicos sanguíneos, PCR para detecção de material genético de adenovírus canino (CAV-1) e título de soroaglutinação microscópica (SAM) para pesquisa de anticorpos antileptospiras nos cães n. 3 e 4. São Paulo, 2005

atividade sérica de ALT de cerca de dez vezes o valor de referência e da FA (Figura 4), desmonstrando lesão direta do hepatócito. O teste molecular (PCR) mostrou-se positivo para CAV-1. Na soroaglutinação microscópica (SAM) 1 para diagnóstico de leptospirose, o cão foi reagente ao sorovar autumnalis, em título igual a 800. Seis meses após, os valores da bioquímica sanguínea (atividade sérica das enzimas hepáticas) haviam retornado aos padrões de referência, sendo também negativo o resultado do teste molecular (PCR) para o CAV-1. Reação em cadeia da polimerase - PCR A amplificação de material genético do adenovírus canino do tipo 1 foi realizada em laboratório comercial b, de acordo com técnica previamente descrita 5, que permite a amplificação tanto do CAV-1 quanto do CAV-2, cujos fragmentos amplificados possuem 508pb e 1030pb, respectivamente. A partir dos fragmentos amplificados, foi utilizado um segundo protocolo, específico para o adenovírus causador da hepatite infecciosa canina, desenvolvido no próprio laboratório, utilizando o par de primers: 5' ATC AGA TCA GCA TCC CGT TTA TGT C - 3' e 5' - GCG CTC GAC GGA GGT TGT AG - 3', sendo a ciclagem de PCR de 94 º C 5'; 45 ciclos de 94º C 30", 63º C 30", 72º C 40"; extensão final de 72 ºC 5' e resfriamento a 4 ºC. O fragmento amplificado corresponde a 221pb. b) Genoa Veterinária - Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346, 4º andar, São Paulo, SP

Discussão Fragmentos de 221pb foram amplificados a partir do fragmento hepático (caso 1) e do sangue periférico (casos 2, 3 e 4), e de forma análoga no controle positivo (cepa adenovírus canino GMB 775), confirmando a infecção pelo adenovírus canino do tipo 1 (Figura 3). A hepatite necrótica e fulminante é a consequência mais evidente da infecção de cães jovens, desprovidos de imunidade específica, pelo CAV-1. Em geral, observa-se necrose centrolobular, com a presença de corpúsculos de inclusão nos hepatócitos, nas células endoteliais e no epitélio do duto biliar 3,15. No caso n. 2, o exame histopatológico do fígado revelou a presença de infiltrado predominantemente mononuclear, sem no entanto terem sido observadas inclusões do CAV-1 nos hepatócitos. Outros autores também não observaram inclusões em hepatócitos em um cão de cinco meses de idade que havia desenvolvido cirrose hepática e insuficiência hepática grave, embora inclusões intranucleares basofílicas, reagentes a anticorpos antiadenovírus policlonais, tivessem sido observadas em macrófagos esplênicos 16. A ausência de inclusões virais no cão n. 1 pode ser creditada à sobrevida maior desse cão em relação aos demais membros da ninhada. O CAV-2 também pode estar envolvido em surtos de doença entérica de etiologia viral 2, o que aparentemente não ocorreu com a ninhada. O CAV-1 e o CAV-2 podem ser diferenciados por meio de técnicas moleculares 17 cujo protocolo foi aplicado nos casos

Mitika Kuribayashi Hagiwara

Variáveis hemácias (x106)/ L leucócitos (x103)/ L plaquetas (x103)/ L proteína total (g/dL) albumina (g/dL) globulina (g/dL) ALT (U/L) AST (U/L) fosfatase alcalina (U/L) bilirrubina total (mg/dL) b. indireta (mg/dL) b. direta (mg/dL) ureia sanguínea (mg/dL) creatinina sérica (mg/dL) PCR (CAV-1) SAM para leptospirose

Figura 5 - Perfil eletroforético das proteínas séricas do cão n. 4. Ponte `-a globulinas evidente

relatados, tendo revelado a presença de bandas de 221pb, idênticas às da cepa GMB 577 do CAV-1, utilizada como controle positivo da reação. No segundo caso, a manifestação ocular classicamente conhecida como “olho azul” observada nos casos naturais de HIC 10,18,19 ou em alguns cães no período pós-vacinal, com vacinas que contêm o CAV-1 vivo modificado 7, aliada à faixa etária e ao histórico do animal, já havia fortemente sugerido a possibilidade diagnóstica de hepatite infecciosa canina. O tratamento prévio com esteroide anti-inflamatório, bem como a infecção múltipla, mascaram as possíveis alterações hematológicas ou bioquímicas que muitas vezes são observadas nos casos de hepatite infecciosa canina 18, principalmente na fase de vire-mia. Infecções concomitantes por outros vírus caninos, principalmente entre os filhotes, são comumente observadas em associação com o CAV-1 9,20. A hepatite crônica é encontrada frequentemente em cães de qualquer raça 9, e em geral progride invariavelmente para fibrose ou cirrose hepática 11. O termo “hepatite crônica” é utilizado em medicina humana como uma condição histológica claramente definida, em que se observa infiltrado inflamatório misto com necroses pontuais e variável grau de fibrose hepática, combinada com evidência clínica ou bioquímica de disfunção hepatocelular, sem melhora clínica por pelo menos seis meses 15. Entretanto, em medicina veterinária, o termo é utilizado de forma inespecífica para descrever qualquer processo hepático de curso crônico, com persistente elevação da atividade enzimática no soro, das enzimas hepáticas, especialmente alanina aminotransferase 3,4,21. No terceiro

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caso, havia evidências clínicas de fibrose hepática com a observação de microhepatia, ascite, hiperproteinemia, principalmente hipergamaglobulinemia, formando uma ponte beta-gama no perfil eletroforético (Figura 5), e aumento de cerca de dez vezes os valores basais da atividade sérica de ALT e AST. No quarto caso, a evolução clínica relatada era de mais de quatro meses, antes que ele fosse submetido à avaliação clínica. Quanto à etiologia, a PCR positiva para CAV-1, em ambos os cães, revelou a possível associação entre o vírus da HIC e o quadro mórbido apresentado. Entre as possíveis causas infecciosas da hepatite crônica, são citados o CAV-1 2 e o vírus da hepatite das células acidófilas 4. O primeiro é reconhecido como causa de hepatite aguda fulminante em cães com baixa imunidade, mas ainda não está claramente definido se a infecção e a hepatite podem se tornar crônicas 18. Em relação ao cão n. 4, a PCR realizada dois meses após, quando a atividade enzimática do soro da ALT já havia retornado ao intervalo de

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referência, foi negativa. Nesse animal, foi também observado título de anticorpos antileptospira para o sorovar autumnalis (igual a 800), indicando infecção recente por leptospiras patogênicas num animal que não recebera vacinação específica. Tanto o CAV-1 quanto as leptospiras patogênicas podem ser encontrados em coleção líquida estagnada, e o cão havia sido exposto ao risco quatro meses antes. Diversos sorovares de leptospiras patogênicos, como grippotyphosa, australis, autumnalis e sejroe, podem estar associados à hepatite crônica 5,10,13. Especificamente no cão n. 4, a infecção pelo CAV-1 e por leptospira sorovar autumnalis, ambos adquiridos por ocasião da enchente, pode ter-se somado à hepatopatia preexistente, com a agudização do processo hepático resultando no aumento da atividade enzimática. Os casos descritos, em que se demonstrou o possível envolvimento do CAV-1 por meio da amplificação do material genético do vírus, podem ser formas de manifestação clínica de

infecção causada por um mesmo agente, que, apesar da imunoprofilaxia recomendada, ainda pode ser encontrado entre os caninos domésticos. Assim, a infecção pelo CAV-1 deve ser incluída no rol dos diagnósticos diferenciais das hepatopatias e dos quadros gastrentéricos. Referências 01-DECARO, N. ; CAMPOLO, M. ; ELIA, G. ; BUONAVOGLIA, D. ; COLAIANNI, M. L. ; LORUSSO, A. ; MARI, V. ; BUONAVOGLIA, C. Infectious canine hepatitis: an "old" disease reemerging in Italy. Research in Veterinary Science, v. 83, n. 2, p. 269-273, 2007. 02-PRATELLI, A. ; MARTELLA, V. ; ELIA, G. ; TEMPESTA, M. ; GUARDA, F. ; CAPUCCHIO, M. T. ; CARMICHAEL, L. E. ; BUONAVOGLIA, C. Severe enteric disease in an animal shelter associated with dual infections by canine adenovirus type 1 and canine coronavirus. Journal of Veterinary Medicine Series B, v. 48, n. 5, p. 385-392, 2001. 03-GREENE, C. E. Infectious canine hepatitis and canine acidophil cell hepatitis. In:___. Infectious disease of the dog and the cat. 1. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, p. 38-45, 1998. 04-GREENE, C. E. Infectious canine hepatitis and canine acidophil cell hepatitis. In: ___.

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10-BOOMKENS, S. Y. ; PENNING, L. C. ; EGBERINK, H. F. ; INGH ,T. S. G. A. M. van den; ROTHUIZEN, J. Hepatitis with special reference to dogs. A review on the pathogenesis and infectious etiologies, including unpublished results of recent own studies. The Veterinary Quarterly, v. 26, n. 3, p. 107-114, 2004. 11-WATSON, P. J. Chronic hepatitis in dogs: a review of current understanding of the aetiology, progression, and treatment. The Veterinary Journal, v. 167, n. 3, p. 228-241, 2004. 12-ANDRE-FONTAINE, G. Canine leptospirosis do we have a problem? Veterinary Microbiology, v. 117, n. 1, p. 19-24. 2006. 13-BISHOP, L. ; STRANDBERG, J. D. ; ADAMUS, R. J. ; BROWNSTEIN, D. G. ; PATTERSON, R. Chronic active hepatitis in dogs associated with leptospires. American Journal of Veterinary Research, v. 40, n. 6, p. 839-844, 1979. 14-KISS, I. ; MATIZ, K. ; BAJMOCI, E. ; RUSVAI, M. ; HARRACH, B. Infectious canine hepatitis: detection of canine adenovirus type 1 by polymerase chain reaction. Acta Veterinaria Hungarica, v. 44, n. 2, p. 253-258, 1996. 15-STERCZER, A. ; GAAL, T. ; PERGE, E. ; ROTHUIZEN, J. Chronic hepatitis in the dog - a review. The Veterinary Quarterly, v. 23, n. 4, p. 148-152, 2001. 16-LUCENA, R. ; MOZOS, E. ; BAUTISTA, M. J. ; GINEL, P. J. ; PEREZ, J. Hepatic

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Maíra Cremaski

Cistite enfisematosa em cães - revisão de literatura

Médica veterinária

mairacremaski@yahoo.com.br

Ademir Zacarias Junior

MV prof. aux. Depto. Patologia Geral - UENP

Emphysematous cystitis in dogs - review

zacariasvet@hotmail.com

Francielle Gibson da Silva Zacarias

Cistitis enfisematosa en perros - revisión de literatura

MV, profa. dra. adj. Depto. Veterinária e Produção Animal - UENP franciellegs@yahoo.com.br

Carlos Frederico G. K. T. da Silva

Resumo: A cistite enfisematosa é uma infecção incomum da vesícula urinária com formação de gás no lúmen ou na parede vesical. É comumente encontrada em cães com controle ineficaz de diabetes mellitus e o aspecto clínico é muito variado. O diagnóstico é frequentemente obtido de forma acidental, através de exames ultrassonográficos ou radiográficos. A radiografia pode revelar uma linha radiolucente ao redor da parede vesical ou pontos radiolucentes em seu lúmen, indicando a presença de gás na parede da bexiga e no lúmen, respectivamente. O tratamento consiste geralmente em drenagem urinária, antibioticoterapia e eliminação do fator predisponente. De qualquer modo, o diagnóstico e o tratamento precoces promovem o prognóstico favorável. Unitermos: bexiga, diabetes mellitus, infecção do trato urinário

MV, mestre, prof. ass. Depto. Veterinária e Produção Animal - UENP cfgkts@gmail.com

Abstract: Emphysematous cystitis is an uncommon infection of the bladder with formation of gas within the bladder (lumen) or within its wall. It is most commonly seen in dogs with poorly controlled diabetes mellitus, and clinical signs vary. The diagnosis is often made incidentally through ultrasonographic or radiographic exams. The radiography may reveal a radiolucent line around the bladder wall or radiolucent spots within the lumen, indicating the presence of gas within the bladder wall or within the lumen, respectively. The treatment generally consists on urinary drainage, prompt initiation of antibiotic therapy and elimination of predisposing factors. Nevertheless, early diagnosis and treatment promote a favorable prognosis. Keywords: bladder, diabetes mellitus, urinary tract infections Resumen: La cistitis enfisematosa es una infección incomún de la vesícula urinaria con formación de gas en el lumen o en la pared vesical. Es más usualmente encontrada en perros con control ineficaz de la diabetes mellitus y el aspecto clínico es muy variado. El diagnóstico es frecuentemente obtenido accidentalmente por medio de ultrasonografías o radiografías. La radiografía puede revelar una línea radiolucente alrededor de la pared vesical o puntos radiolucentes en su lumen indicando la presencia de gas en la pared de la vejiga y en el lumen respectivamente. El tratamiento consiste generalmente en el drenaje urinario, antibioticoterapia y eliminación del factor predisponente. Sin embargo, diagnóstico y tratamiento precoces promueven el pronóstico favorable. Palabras clave: vejiga, diabetes mellitus, infección del trato urinario

Clínica Veterinária, n. 86, p. 48-52, 2010

Introdução A cistite enfisematosa é condição incomum que consiste na infecção da vesícula urinária acompanhada de fermentação bacteriana, resultando em formação de bolhas de gás nos ligamentos, luz e parede vesical 1,2. Na medicina veterinária, foi primeiramente descrita por Heuper em 1926, durante a necropsia de um cão diabético com hiperglicemia, glicosúria e lesões típicas da afecção 3. Muitos casos são observados em animais diabéticos, sugerindo que as bactérias formadoras de gás usem a glicose como substrato. Porém, a cistite enfisematosa também é relatada em animais não diabéticos, com ou sem anormalidades vesicais concomitantes 4. Sua patogenia não está completamente esclarecida 5; no entanto, a cistite enfisematosa parece ser resultado de infecção vesical primária 6. Etiologia Em seres humanos, vários microrganismos causadores de cistite enfisematosa 48

foram isolados na urocultura, sendo a bactéria Escherichia coli a de maior prevalência. Outros microrganismos relatados incluem Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Proteus mirabilis, Candida albicans, Candida tropicalis, Aspergillus fumigatus, Staphylococcus aureus, Streptococcus spp, Enterococcus faecalis, Enterobacter aerogenes, Clostridium perfringens e Clostridium welchii 7. Em cães e gatos, os microrganismos comumente isolados são Escherichia coli e Clostridium spp, sendo que algumas espécies de Clostridium (C. septicum, C. chauvoei, C. perfringens, C. sordellii, C. novyi e C. welchii) são capazes de causar lesões necrosantes e enfisematosas. Os microrganismos E. coli e Clostridium spp são saprófitas e fazem parte da microbiota natural do intestino 8. A maioria das cistites bacterianas é causada por bactérias da microbiota cutânea ou intestinal que ascendem através da uretra. Defeitos anatômicos e lesões nas barreiras das mucosas, como,

urolitíase, neoplasia e espessamento da parede vesical causada por inflamação crônica, favorecem a infecção enfisematosa vesical por afetarem os mecanismos naturais de defesa 9. A virulência da bactéria e o número de microrganismos invasores são os principais fatores que determinam o estabelecimento da infecção do trato urinário inferior. A capacidade da bactéria de aderir à superfície do epitélio do trato urinário impede sua remoção e permite sua proliferação no intervalo entre as micções. Essa condição é facilitada pelas fímbrias encontradas em muitas enterobactérias, que se caracterizam também pela presença ou não de flagelo ou antígeno "H" – responsável pela motilidade da bactéria –, cápsula ou antígeno "K" – que confere resistência à fagocitose –, polissacarídeos ou antígeno "O" – que diminuem a contratilidade do músculo liso –, podendo interromper o peristaltismo uretral por facilitar a ascensão das bactérias para a bexiga 10. A cistite enfisematosa está quase

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


sempre associada a pacientes diabéticos com glicosúria e infecção do trato urinário, mas também pode ocorrer associada à realização de terapia prolongada com corticóide, levando a linfopenia persistente. Outro fator que também deve ser considerado é a cateterização, pois as bactérias passam da uretra para a bexiga, podendo lesionar a mucosa vesical. A infecção do trato urinário crônica ou recorrente, além de promover a lesão da mucosa, também acarreta hipóxia, predispondo à multiplicação de microrganismos anaeróbios, como o Clostridium spp. Todos esses fatores constituem risco comprovados para o desenvolvimento de cistite enfisematosa 9,11-13. Como diferencial para a presença de gás na vesícula urinária, há a condição iatrogênica, o uso de instrumentos no trato urogenital pode causar fístulas ligando a bexiga ao cólon ou à vagina 11, ou ainda por sondagem ou cistocentese 14. Patogenia A patogenia da cistite enfisematosa ainda não é completamente compreen-

dida, porém algumas teorias tentam explicar essa rara infecção 7. O diabetes mellitus é fator predisponente para a cistite enfisematosa, pois associa fatores como alta concentração de glicose no tecido, função leucocitária diminuída e menor perfusão tecidual. A união desses fatores, associada a microrganismos formadores de gás, é favorável ao desenvolvimento de infecção enfisematosa do trato urinário. Suspeita-se que a alta concentração de glicose no tecido atue como substrato favorável para a produção de dióxido de carbono e hidrogênio pelo processo de fermentação bacteriana 7,11. Em pacientes não diabéticos, é a albumina urinária que pode agir como substrato para a multiplicação dos patógenos produtores de gás. Há também uma teoria que sugere a diminuição da resposta do hospedeiro envolvendo comprometimento vascular e diminuição do catabolismo nos tecidos, predispondo assim os pacientes à infecção enfisematosa 7. O mecanismo pelo qual o gás está

presente na parede da vesícula urinária pode envolver o desprendimento transluminal do gás ou uma real infecção com presença do patógeno na parede vesical 15. O gás produzido pelos microrganismos pode se acumular na submucosa ou no lúmen da bexiga, penetrando através da mucosa e da camada muscular e inflando a serosa como um balão 16. O gás livre no lúmen vesical pode ser causado pela ruptura das vesículas presentes na parede vesical 3. O esvaziamento vesical é um mecanismo de defesa natural eficiente contra as infecções. A micção completa é responsável pela remoção de mais de 95% das bactérias não aderidas que conseguem chegar à bexiga. As propriedades antibacterianas, como a combinação de pH baixo e concentração elevada de ureia e ácidos orgânicos da urina, também constituem importante mecanismo de defesa. No entanto, a urina diluída formada por animais com problemas de poliúria e polidipsia, em decorrência do diabetes mellitus, tem menos propriedades antibacterianas, pois a urina mais

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diluída tem concentração de ureia mais baixa e pH alterado, tendo assim ação antibacteriana diminuída 9. Com relação à hipótese do desenvolvimento da cistite tendo a albumina como substrato ou a diminuição da resposta do hospedeiro como fator desencadeante, nada foi encontrado na literatura consultada que explicasse como atuariam esses mecanismos. Sinais clínicos A cistite enfisematosa pode ser assintomática nos seres humanos, aparecendo como achado radiográfico acidental, ou causar disúria, hematúria, febre e severa dor abdominal. A pneumatúria é descrita como sinal clínico específico 6,17. Nos animais com cistite enfisematosa previamente diagnosticados, sinais clínicos como dor abdominal, polaquiúria e hematúria, podem estar presentes 3. A apresentação clínica da cistite enfisematosa é pouco específica, podendo variar de um quadro leve ao choque séptico. A evolução da cistite enfisematosa pode se complicar, levando a necrose da parede vesical, propagação da infecção para todo o trato urinário, enfisema subcutâneo, perfuração vesical e choque séptico 18.

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também estar presente nos casos de cistite enfisematosa 24. A deposição de gás na parede de órgãos ocos é característica de destruição e necrose dessas estruturas 25. A cistite necrosante pode também estar presente concomitantemente à cistite enfisematosa 22. Em casos de cistite enfisematosa, o diagnóstico precoce é muito importante, pois o tratamento é difícil e a recorrência é frequente 20. Na medicina veterinária de pequenos animais, a modalidade de imagem mais precisa para a avaliação abdominal é a tomografia computadorizada. Entretanto, por tratar-se de exame mais oneroso para o proprietário, ela é mais indicada nos casos em que os exames radiográfico e ultrassonográfico são ineficientes para o diagnóstico 13. A celiotomia exploratória é o método de diagnóstico que pode ser indicado nos casos em que os diagnósticos por imagem são inconclusivos, com a grande vantagem de se poder realizar biópsia da mucosa vesical, sendo esse material enviado para cultivo laboratorial. A cultura a partir da amostra do tecido vesical tem resultados mais satisfatórios quando comparados com os resultados da urocultura 26.

Maíra Cremaski

Diagnóstico O diagnóstico da cistite enfisematosa é difícil, pois os sinais clínicos podem ser brandos, severos ou inespecíficos e são frequentemente obtidos de forma acidental em exames radiográficos. A imagem é essencial para o diagnóstico de pacientes com diabetes, infecção do trato urinário inferior ou dor à palpação abdominal, porque pode detectar a presença de gás na parede vesical. A radiografia convencional e a ultrassonografia são os métodos mais utilizados para avaliar esses pacientes, sendo a tomografia computadorizada e a celiotomia exploratória também eficazes 19-21. Em casos de cistite enfisematosa, encontram-se, em radiografias simples, gás na parede, nos ligamentos e na luz da vesícula urinária. Pode-se realizar exame contrastado, como a cistografia de duplo contraste, que é a injeção por via uretral de contraste negativo e positivo, o que irá evidenciar de forma precisa a parede vesical 14. Ocasionalmente o gás pode se desprender da parede da vesícula urinária e ir para o tecido

adiposo perivesicular 22. No entanto, a pequena aglomeração de gás é difícil de detectar por meio de radiografia; nesse caso, o exame ultrassonográfico parece ser a técnica mais sensível para a detecção de gás na parede da vesícula urinária no estágio inicial da cistite enfisematosa 23. A ultrassonografia permite a avaliação da anatomia interna sem o uso de contraste, levando em consideração que a bexiga é um órgão de fácil acesso ultrassonográfico, por suas propriedades acústicas, devido ao conteúdo fluídico e à localização superficial. Assim como no exame radiográfico, a bexiga normalmente se apresenta com formato arredondado ou oval, e seu contorno pode variar dependendo do grau de distensão, da posição do paciente, da pressão das estruturas abdominais adjacentes e dos processos patológicos. Lesões neoplásicas, cálculos vesicais, coágulos sanguíneos e alterações inflamatórias podem ser visibilizados e, algumas vezes, diferenciados entre si baseando-se em suas características ultrassonográficas e nos sintomas apresentados 13. No exame ultrassonográfico de cistite enfisematosa (Figura 1), artefatos hiperecóicos multifocais podem ser visibilizados na parede, com marcada reverberação e sombreamento acústico causados pelo gás intramural. Essas sombras são imóveis e atingem todas as margens da parede, devendo ser diferenciadas das bolhas de gás intraluminais livres. As bolhas de gás livre são focos hiperecoicos que se movem e oscilam no lúmen, subindo até a área superior do lúmen da bexiga e formando artefato de reverberação ou “cauda de cometa”. Entretanto, o gás intraluminal livre pode

Figura 1 - Imagem ultrassonográfica da vesícula urinária de um cão macho sem raça definida, de dois anos de idade. Há hiperecogenicidade da parede vesical (seta grossa) e artefatos de reverberação (seta fina)

Tratamento Antes de se iniciar o tratamento, a realização de urocultura e de antibiograma é prioritária. A realização da coloração de Gram permite a identificação do patógeno como gram-positivo ou gramnegativo, o que também será muito útil para determinar a terapia inicial 27. A cistite enfisematosa é considerada infecção do trato urinário complicada, pois está associada a defeitos dos mecanismos de defesa do animal. Nesses casos, o tratamento com antibioticoterapia apenas não costuma ser eficiente: os sinais podem persistir durante o tratamento ou recidivarem logo após a retirada do antibiótico. Então torna-se mais difícil padronizar a recomendação de antibióticos e o tratamento irá depender da condição associada (cateterização por tempo prolongado, obstrução, diabetes, etc.) e do microrganismo identificado 10. Os agentes Clostridium spp e E. coli são os mais comumente identificados em casos de cistite enfisematosa.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010



A realização de antibioticoterapia por longo período mostrou-se eficaz com enrofloxacina para bactérias gram-negativas como E. coli e amoxicilina ou metronidazol para anaeróbicos como Clostridium perfringens 3,28. O tratamento da cistite enfisematosa pode ser dividido em duas fases. A primeira tem o intuito de resolver o quadro infeccioso mediante correta hidratação, drenagem urinária, antibioticoterapia e controle dos níveis de glicose. A fase posterior consistirá na eliminação dos fatores predisponentes, como urolitíase, cistite crônica e diabetes mellitus 18. A infecção do trato urinário inferior complicada, como a cistite enfisematosa, deve ser tratada por quatro a seis semanas. A eficácia da antibioticoterapia pode ser confirmada pela ausência de bactérias na urina após três a cinco dias. Sete a dez dias após o fim do tratamento também é indicada nova urocultura para determinar se a infecção foi eliminada 9,27. Os pacientes que não respondem ao tratamento médico ou os que tiverem infecção necrosante severa podem requerer cistectomia parcial ou debridamento cirúrgico 7. O prognóstico favorável frequentemente é esperado, principalmente em casos em que o tratamento é instituído precocemente. O prognóstico reservado é esperado quando há envolvimento de ureteres e rins, necessitando de intervenção cirúrgica, ou se há presença de sepse 16. Conclusão A cistite enfisematosa é afecção rara, acometendo com maior frequência animais diabéticos com glicosúria. Pode também estar presente em animais não diabéticos, com outros fatores predisponentes para a proliferação de bactérias formadoras de gás na vesícula urinária, como urolitíase, cistite crônica, neoplasia e divertículo urinário. A realização de exames radiográficos e ultrassonográficos em animais diabéticos, com infecção do trato urinário inferior ou dor à palpação é importante para o diagnóstico, porque a cistite enfisematosa não apresenta sinais clínicos específicos, quase sempre sendo achado acidental. A escolha do antibiótico deve ser baseada em urocultura e antibiograma, e 52

os fatores predisponentes devem ser solucionados para que o tratamento seja eficaz. Quando a cistite enfisematosa é diagnosticada e tratada precocemente, o prognóstico para a doença é favorável. O prognóstico será reservado se a infecção ascender para os rins, ou na presença de sepse. Agradecimentos Agradecemos ao professor dr. Júlio Carlos Canola da Unesp-Jaboticabal, por gentilmente co-orientar a autora Maíra Cremaski em seu estágio curricular, quando da obtenção da imagem da figura 1. Referências

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Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010



Patrícia Kelly de Moraes Brettas

Doença do rim policístico em felinos - relato de caso

MV, residente Hospital Veterinário de Uberaba pattybrettas@yahoo.com.br

Katriny Pereira de Freitas

Polycystic kidney disease in cats - case report

MV, residente Hospital Veterinário de Uberaba katypf@hotmail.com

Enfermedad poliquística renal en felinos - relato de caso

Juliana de Bortoli

MV, residente Hospital Veterinário de Uberaba jubortoli@hotmail.com

Resumo: A doença renal policística (DRP) é uma doença grave, de caráter hereditário autossômico dominante e que se caracteriza por uma grave degeneração cística do parênquima renal. O diagnóstico da DRP pode ser estabelecido com uso de ultrassom abdominal, em combinação com os achados clínicos e laboratoriais. Esse diagnóstico pode ser obtido precocemente, antes de surgirem os sintomas, por ultrassonografia e pelo teste genético de DNA, o que deve ser utilizado pelos criadores para retirar os animais acometidos da reprodução. Não há tratamento específico, sendo recomendada apenas a instituição da terapia adotada para pacientes renais crônicos. Um felino macho da raça bob tail, de catorze anos de idade, foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade de Uberaba, Minas Gerais-MG, apresentando obnubilação e anorexia progressiva havia quatro dias, aumento de volume abdominal, constipação intestinal, poliúria e polidipsia. Os exames laboratoriais demonstraram uma grave azotemia, e a ultrassonografia exploratória abdominal revelou a presença de múltiplos cistos em ambos os parênquimas renais, caracterizando a DRP. Unitermos: gatos, insuficiência renal, cistos

Moacir Santos de Lacerda MV, prof. dr. FMV/UNIUBE

moacir.lacerda@uniube.br

Abstract: Polycystic kidney disease (PKD) is a serious hereditary disease of autosomal dominant origin, which is characterized by severe cystic degeneration of the renal parenchyma. The diagnosis of PKD can be established by abdominal ultrasound, in combination with clinical and laboratory findings. This diagnosis can also be achieved prior to the appearance of symptoms, through an ultrasound examination and genetic testing of DNA, which must be used by the breeder to remove affected animals from breeding pools. There is no specific treatment; the establishment of the same therapy adopted for chronic renal patients is recommended. This article describes the case of a 14-year-old male bobtail cat presented at the Veterinary Hospital of the University of Uberaba, Minas Gerais (MG). The animal was suffering from abdominal distention, constipation, polyuria and polydipsia, as well as progressive numbness and anorexia for 4 days. Laboratory tests showed a severe azotemia and exploratory abdominal ultrasound revealed the presence of multiple cysts in both renal parenchyma, which is a characteristic feature of PKD. Keywords: cats, renal failure, cysts Resumen: La enfermedad poliquística renal (EPR) es una enfermedad severa, de carácter hereditario autosómico dominante y se caracteriza por la degeneración quística grave del parénquima renal. El diagnóstico de la EPR puede ser establecido por ultrasonografía abdominal, en combinación con los hallazgos clínicos y laboratoriales. Ese diagnóstico puede ser realizado precozmente, antes que surjan los síntomas, por ultrasonografía y por el teste genético del DNA, que debe ser utilizado por los criadores para descartar de la reproducción los animales acometidos. No hay tratamiento específico, siendo recomendada solamente la institución de la terapia adoptada para enfermos renales crónicos. Un gato macho de la raza Bobtail, con 14 años, fue recibido en el Hospital Veterinario de la Universidad de Uberaba, Minas Gerais (MG), presentando obnubilación y anorexia progresiva a 4 días, distensión abdominal, estreñimiento, poliuria y polidipsia. Las pruebas de laboratorio mostraron una azotemia grave y la ultrasonografía abdominal exploratoria reveló la presencia de múltiples quistes en el parénquima de ambos riñones, caracterizando la EPR. Palabras clave: gatos, insuficiencia renal, quistes

Clínica Veterinária, n. 86, p. 54-60, 2010

Introdução A doença renal policística felina (DRP) é caracterizada pela presença de cistos de vários tamanhos (de 1mm até 1cm ou mais) no córtex ou na medula renal, e menos frequentemente no fígado, no pâncreas e no baço. Tal enfermidade assemelha-se à doença renal policística autossômica dominante que ocorre em seres humanos. Ambas apresentam caráter hereditário autossômico dominante e por isso não possuem predileção sexual 1. Estima-se que 37% dos gatos de todo o mundo possuam a DRP, o que torna essa enfermidade a mais importante dentre as doenças hereditárias felinas 2,3. Os cistos renais são considerados dilatações de segmentos dos néfrons, que 54

podem envolver a cápsula glomerular ou qualquer porção dos túbulos renais 4. As teorias de formação dos cistos incluem a hipertensão intratubular, que ocorre secundariamente à obstrução proveniente da hiperplasia polipoide do epitélio tubular, além de defeitos metabólicos da integridade da porção tubular. Portanto, mesmo com uma pressão normal dos néfrons, podem ocorrer abaulamentos e invaginações, que finalmente formam os cistos renais 5. A DRP é caracterizada clinicamente pelo desenvolvimento progressivo de cistos no parênquima renal, resultando na compressão e no comprometimento deste e, consequentemente, em um quadro de insuficiência renal 6. Os cistos renais geralmente não são detectados até

que tenham alcançado tamanho ou quantidade suficientes para comprometerem a função renal 7. O diagnóstico da DRP pode ser realizado associando-se sinais clínicos, achados laboratoriais, biópsia renal e imagens obtidas em exames como a radiografia abdominal simples, o ultrassom abdominal, a tomografia computadorizada e a urografia excretora 8. Tal diagnóstico pode até mesmo ser realizado precocemente, isto é, antes do desenvolvimento da insuficiência renal, pelo exame ultrassonográfico 8 e pelo teste genético de DNA, que indica que o indivíduo poderá desenvolver DRP no futuro 9. Porém, tal como acontece com os seres humanos, os gatos têm uma vasta gama de progressão e severidade da doença; assim, outros fatores genéticos e ambientais podem influenciar na sua evolução 9. Portanto, pelo teste de DNA, os criadores podem identificar os animais que não possuem essa predisposição genética e selecioná-los para a reprodução, auxiliando, assim, tanto no controle como na eliminação da doença na população felina 9. Com relação ao fator racial, deve-se ressaltar que a DRP felina é uma doença relatada em gatos

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


da raça persa e em descendentes do persa (exotic shorthair e himalaios). É apenas nesses felinos que se reconhece uma alta frequência de DRP 9. Cistos renais podem ser encontrados no exame ultrassonográfico de gatos não portadores da DRP, não possuindo relevância clínica. Nesse caso, os cistos geralmente são únicos, pequenos e corticais, além de permanecerem inalterados quanto ao tamanho em exames seriados subsequentes 2. No exame radiográfico do abdômen, notam-se os rins aumentados de tamanho e com contornos irregulares. A urografia excretora pode demonstrar múltiplas estruturas arredondadas, circunscritas e alterações da pelve renal em ambos os rins com múltiplos cistos, os quais substituem o parênquima renal e tendem a aparecer como múltiplas áreas radioluscentes 8. Durante a punção de cistos renais muito grandes, pode-se coletar somente fluido do cisto ou puncionar uma região de fibrose renal, o que pode levar a um diagnóstico errôneo de nefrite crônica

tubulointersticial. O exame histopatológico demonstra estruturas císticas, múltiplas e de tamanhos variáveis no parênquima renal. Outras áreas podem demonstrar um número reduzido de glomérulos e fibrose intersticial 10. Com relação à terapêutica, não há um tratamento específico para a DRP. Portanto, os animais acometidos devem ser tratados como portadores de insuficiência renal crônica, visando melhorar a sua qualidade de vida e prolongar a sua sobrevivência 4. A infecção bacteriana dos cistos é um fator complicador em alguns casos. O líquido dos cistos renais tende a ser ácido; alguns antibióticos de uso comum também são ácidos, assim, não penetram satisfatoriamente nos cistos, como as cefalosporinas e as penicilinas. Já os antibióticos alcalinos lipossolúveis, como a enrofloxacina, ultrapassam melhor a barreira epitelial dos cistos, ficando retidos nessas estruturas após sua ionização 11. A aspiração do conteúdo cístico com fins terapêuticos não aumenta a sobrevida do animal, porém pode contribuir para

melhorar a qualidade de vida e controlar a dor, o que justifica a sua indicação 2. A diminuição da dor tem grande importância no controle do desconforto do paciente, fazendo com que os gatos tenham mais disposição e se alimentem melhor. O emprego de inibidores da cicloxigenase-1 (COX-1) e da cicloxigenase-2 (COX-2), que são fármacos nefrotóxicos, é indicado, porém com cautela e por curto período de tempo 2. A fluidoterapia é considerada uma importante etapa do tratamento de animais com insuficiência renal crônica 12. Esses pacientes sempre devem ter livre acesso a água fresca 13. A terapia dietética também é uma das bases para o tratamento. Essa dieta é restrita em proteína, reduzindo assim a ingestão de fosfato e a produção de catabólitos nitrogenados, o que faz com que o felino se sinta melhor e se alimente mais adequadamente. Essas dietas hipoproteicas também não são acidificantes, o que é desejável, devido à acidose metabólica que ocorre nos pacientes renais crônicos 11.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

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Este trabalho tem como objetivo relatar a ocorrência de DRP em um felino da raça bobtail, ressaltar a importância de os criadores utilizarem o diagnóstico precoce de DRP para selecionar os reprodutores não predispostos à doença e alertar sobre a necessidade de se incluir essa doença no diagnóstico diferencial de felinos com insuficiência renal, inclusive nos pacientes não pertencentes à raça persa.

Figura 1 - Felino da raça bobtail, de catorze anos de idade, pesando 4,8kg. Animal deprimido e com aumento de volume abdominal

Relato de caso No Hospital Veterinário da Universidade de Uberaba (HVU), MG, foi atendido uma gato não castrado, da raça bobtail, de catorze anos de idade, 4,8kg de peso, com história de obnubilação e anorexia progressiva havia quatro dias, aumento de volume abdominal, constipação intestinal, poliúria e polidipsia. O gato recebia alimentação caseira e ração, apresentava vacinação e vermifugação atrasadas e vivia dentro de casa com outro felino saudável. No exame físico, o animal apresentou desidratação moderada, hipotermia (o termômetro não conseguiu nem mesmo registrar a temperatura retal do paciente), pulso regular, mucosas hipocoradas, estupor, estado nutricional regular, estertor sibilante na auscultação torácica e bexiga urinária extremamente repleta à palpação abdominal, durante a qual o animal urinou com facilidade (Figura 1). Foram coletadas amostras de sangue e de urina para a realização de exames complementares: hemograma, urinálise e bioquímica sérica, incluindo ureia, creatinina e glicemia. As alterações observadas no hemo-

grama (Figura 2) foram anemia normocítica normocrômica severa, trombocitopenia e linfopenia. Na urinálise (Figura 3), notou-se baixa densidade urinária, proteinúria, glicosúria, cilindrúria e pH ácido. Por fim, na bioquímica sanguínea (Figura 4), verificou-se a presença de uma grave azotemia e um valor glicêmico normal. Analisados os resultados dos exames, foi solicitada uma ultrassonografia exploratória abdominal, que revelou principalmente a presença de múltiplos cistos no parênquima renal direito e esquerdo, na região cortical e medular (Figuras 5 e 6), sendo o maior cisto, que continha 24,3mL de líquido, encontrado no rim esquerdo (Figura 7). Tais imagens foram compatíveis com o diagnóstico de rins policísticos. Diante do comprometimento do estado clínico do paciente, da sua idade já avançada e do seu prognóstico bastante desfavorável, a proprietária optou pela eutanásia do animal no final do mesmo dia do seu atendimento, que havia sido realizado no início da manhã. Na necropsia, realizada no Laboratório de Anatomia Patológica do HVU, o rim esquerdo do animal apresentava-se

Patrícia Kelly de Moraes Brettas

A correção dessa acidose é de extrema importância para o bem-estar do animal 14. Para isso, além do consumo de uma dieta hipoproteica, recomenda-se também uma dieta contendo agentes alcalinizantes ou ainda a adição de tais agentes à dieta 14. A restrição dietética de sódio é indicada para auxiliar no controle da hipertensão que ocorre na maioria dos animais portadores de insuficiência renal 12, nos quais a hipocalemia também é muito frequente, devendo ser corrigida com a administração de gluconato de potássio 13. Uma dieta restrita em fósforo também pode diminuir os sinais de uremia e evitar a progressão da insuficiência renal crônica. Porém, à medida que a insuficiência renal progride, tornam-se necessárias medidas adicionais à dieta, como a administração de conjugadores de fosfato 13. Na insuficiência renal crônica, observa-se uma anemia cuja gravidade depende diretamente do grau de falência renal. A patogenia dessa anemia é multifatorial, porém sabe-se que a sua causa predominante é a deficiência da produção renal de eritropoietina 15. A transfusão de sangue completo ou de papa de hemácias deve ser realizada em pacientes com sinais clínicos intensos como dispneia e letargia extrema. Atualmente, a administração de eritropoietina recombinante humana é o método mais confiável para se corrigir tal anemia 13. A hipertensão sistêmica é comum em cães e gatos portadores de insuficiência renal crônica 16. Em pacientes com sinais clínicos, desde que seja possível aferir a sua pressão sanguínea regularmente, recomenda-se a instituição do tratamento com agentes hipotensores 15. A diálise peritoneal, embora apresente um resultado inferior ao da hemodiálise, deve ser considerada nos casos de uremia grave e persistente, acidose, hipercalemia, sobrecarga de volume e para acelerar a eliminação de compostos tóxicos do organismo 17. O transplante renal em cães e gatos é considerado, assim como no ser humano, uma excelente opção no tratamento da insuficiência renal crônica, pois prolonga a vida do paciente e permite que este retorne às suas atividades normais 18. Há relatos de que o transplante garantiu uma sobrevida de um a três anos ao paciente 19.

HEMOGRAMA Eritrograma (série vermelha) Hemácias 3,56 milhões/mm3 Hemoglobina 5,9g% Hematócrito 18,3% Proteína plasmática 7,8g/dL VCM 51,4 fL CHCM 32,24% HCM 16,57 pg Eritroblastos 1% Plaquetas 149.000/mm3

Valores de referência 5 - 10 8 - 15 24 - 45 6-8 39 - 55 30 - 36 12,5 - 17,5 ausente 300.000 - 800.000

Leucograma (série branca) Leucócitos totais 12.600/mm3 Segmentados 93% - 11.718/mm3 Linfócitos 5% - 630/mm3 Monócitos 2% - 252/mm3

Valores de referência 5.500 - 19.500 2.500 - 12.500 1.500 - 7.000 0 - 800

Figura 2 - Valores do hemograma do felino com rim policístico

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


URINA

Características gerais Volume Cor Odor Aspecto Densidade

23mL amarelo-clara sui generis límpido 1.012

Valores de referência variável amarela sui generis límpido 1.020 - 1.040

+ ++ negativo ++ negativo 5 normal

Valores de referência negativo negativo negativo negativo negativo 6-7 normal

Elementos anormais Proteína Glicose Corpos cetônicos Sangue oculto Bilirrubina pH Urobilinogênio Sedimento urinário Célula pelve Célula vesical Leucócitos Cilindros hialinos Microbiota bacteriana Sedimento urinário

raras p/c raras p/c raros p/c raros normal presença de espermatúria

ciência renal crônica e de doença renal policística do paciente, que era de uma raça considerada exótica e rara no Brasil. Discussão Relata-se que a DRP ocorre mais frequentemente em gatos persas e mestiços de persa 8,20. Entretanto, no Brasil, gatos sem raça definida e de pelo curto também são amplamente afetados pela doença 21. Portanto, a sua maior incidência em gatos persas pode, na realidade, estar relacionada à maior presença dessa raça nos países onde a doença é estudada há mais tempo 21. O animal do presente relato era da raça bobtail, que é pouco conhecida e estudada no nosso país, podendo apresentar uma casuística significativa e ainda não conhecida da DRP dentre os seus representantes. O gato tinha catorze anos de idade, refletindo a literatura, que relata que, com relação à faixa etária, os cistos podem ocorrer em animais jovens, porém a manifestação clínica da doença é mais comum após a meia-idade 1. O animal do presente relato apresentava

Valores de referência ausente raras raros ausente normal

Figura 3 - Valores da urinálise do felino com rim policístico

Exame Ureia Creatinina Glicose

BIOQUÍMICO Resultados 376mg/dL 7,14mg/dL 107mg/dL

Valores de referência 42,8 - 64,2 0,8 - 1,8 70 - 110

Figura 4 - Valores da bioquímica sérica do felino com rim policístico

Figura 6 - Exame ultrassonográfico do gato da figura 1, apresentando rim esquerdo com múltiplos cistos

Figura 8 - Aspecto policístico dos rins do gato da figura 1. A) Rim direito. B) Rim esquerdo de tamanho aumentado

Katriny Pereira de Freitas

Katriny Pereira de Freitas

B

Figura 7 - Exame ultrassonográfico do rim esquerdo do gato da figura 1, com o maior cisto (volume: 24,3mL) Katriny Pereira de Freitas

Figura 5 - Exame ultrassonográfico do gato da figura 1, apresentando rim direito com múltiplos cistos

A

Patrícia Kelly de Moraes Brettas

Patrícia Kelly de Moraes Brettas

Patrícia Kelly de Moraes Brettas

bastante aumentado (Figura 8), e ambos os rins continham múltiplos cistos em praticamente todo o seu parênquima (Figuras 9 e 10), confirmando as suspeitas clínicas de insufi-

Figura 9 - Rim esquerdo do gato da figura 1 com múltiplos cistos no parênquima

Figura 10 - Rim direito do gato da figura 1 com múltiplos cistos no parênquima

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

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como sinais clínicos apatia, anorexia, poliúria, polidipsia, desidratação, hipotermia e mucosas hipocoradas, novamente refletindo a literatura, que relata que, quando o comprometimento é bilateral, os sinais clínicos da doença estão associados a insuficiência renal: depressão, anorexia, êmese, polidipsia, poliúria e perda de peso 22. Além disso, se os cistos se tornarem infectados, o animal poderá apresentar febre, hematúria, piúria e leucocitose 23. No exame físico, é comum a presença de desidratação, rins aumentados de volume e irregulares à palpação, mucosas pálidas e emaciação 10. Porém, quando o comprometimento renal é unilateral, os gatos portadores da DRP podem ser assintomáticos 22. Com os dados da anamnese e do exame físico, verificou-se que o paciente apresentava alterações no funcionamento do trato urinário. Porém, como tais alterações eram inespecíficas, foram solicitados exames complementares (hemograma, bioquímica sanguínea, urinálise e ultrassonografia) para elucidar o caso, obter um diagnóstico correto e instituir a terapia mais adequada para o animal. Na DRP, as alterações laboratoriais mais comuns são a azotemia, hiperfosfatemia, isostenúria, anemia não regenerativa e acidose metabólica, devido à falência renal 10. Assim como na literatura, o gato do relato em questão também apresentava azotemia e anemia não regenerativa.

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A ocorrência de proteinúria, glicosúria (apesar de um valor glicêmico normal - figura 4), cilindrúria, isostenúria e grave azotemia permitiu o diagnóstico de glomerulopatia e insuficiência renal crônica, da qual, devido à produção prejudicada de eritropoietina 15, também resultou a anemia observada no paciente. Como descrito na literatura, o diagnóstico definitivo da DRP foi obtido pela visualização de múltiplos cistos no parênquima renal do paciente durante a realização da ultrassonografia exploratória abdominal, que é um método diagnóstico rápido, não invasivo, sensível e altamente específico para detectar a DRP nos gatos, permitindo visualizar até mesmo cistos muito pequenos, inferiores a 2mm. No córtex renal, os cistos são facilmente identificados como estruturas esféricas, anecoicas e regulares 8, e podem alterar o contorno do rim 24 ou causar dilatação do sistema coletor em consequência de uma obstrução parcial 25. Já os cistos localizados na medula renal são dificilmente detectados, devido à relativa hipoecogenicidade desta quando comparada à do córtex renal. Cistos que apresentam complicações como hemorragias ou infecções geralmente apresentam conteúdos ecoicos e hipoecoicos e paredes delgadas, devendo ser diferenciados de linfomas, hematomas, tumores e abscessos renais 8. Apesar de ser recomendada a instituição de uma terapia para insuficiência renal crônica como o tratamento

para felinos com DRP 4, optou-se pela eutanásia do paciente em questão, devido à idade já avançada, ao estágio muito grave de falência renal e ao prognóstico extremamente desfavorável, em função do comprometimento bilateral do parênquima renal, do qual, de acordo com a literatura, depende o prognóstico dos animais acometidos pela DRP. Quando tal comprometimento é unilateral, o prognóstico é reservado 4. No entanto, quando é bilateral, o prognóstico torna-se desfavorável devido à rápida evolução para o quadro de insuficiência renal terminal, em consequência da degeneração cística do parênquima renal 20. Após o estabelecimento dos sinais clínicos, a sobrevida do paciente é restrita a aproximadamente 5,5 meses 6. Considerações finais A DRP é uma doença grave, de caráter hereditário autossômico dominante, caracterizada clinicamente pelo comprometimento da função renal, devido à degeneração cística do parênquima. O seu diagnóstico pode ser feito, fácil e precocemente, através da ultrassonografia abdominal e do teste genético de DNA, que indica que o individuo poderá desenvolver DRP no futuro. Tal diagnóstico precoce deve ser uma preocupação rotineira dos criadores para que os animais predispostos não sejam utilizados como reprodutores, auxiliando, assim, a reduzir a ocorrência da doença nos felinos.

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A DRP não possui nenhum tratamento específico, sendo recomendada apenas a instituição da terapia adotada para pacientes renais crônicos. Este trabalho, ao relatar pela primeira vez a ocorrência da DRP na raça bobtail, demonstra que a doença também ocorre em gatos não pertencentes à raça persa ou mestiços de persa, e não deve, portanto, ser ignorada no diagnóstico diferencial de qualquer paciente felino com um quadro de insuficiência renal, devendo ser avaliada a sua real incidência em outras raças. Referências

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Vanessa Andrea Pincelli

Incidência e tratamento de cães com reações transfusionais agudas Incidence and treatment of acute transfusion reactions in dogs Incidencia y tratamiento de perros con reacciones transfusionales agudas Resumo: O paciente que recebe transfusão sanguínea está sujeito a reações adversas, devendo, portanto, ser rigorosamente monitorado com a finalidade de se detectar e tratar essas reações precocemente. Foram avaliado 113 cães, transfundidos por sangue total, concentrado de hemácias e plasma fresco congelado, no período de abril de 2006 a julho de 2008, com o objetivo de verificar a frequência de reações transfusionais agudas e a efetividade do tratamento empregado. Obteve-se a incidência de 13,27% de reações entre os pacientes, sendo elas reações urticariformes, hemólise imunomediada aguda, sobrecarga circulatória e hipertermia. Na maioria dos casos, o tratamento precoce e adequado permitiu melhorar o estado geral dos animais e prosseguir a transfusão. Unitermos: efeitos adversos, transfusão sanguínea, hemoterapia, canino Abstract: Patients that receive blood transfusion might have several adverse reactions. Due to that, they need to be strictly monitored in order to detect and treat those reactions precociously. We analyzed the cases of 113 dogs that received whole blood, packed red cells and frozen fresh plasma transfusions in the period between April, 2006 through July, 2008 to verify the frequency of acute transfusion reactions and whether the employed treatment was appropriated. There was 13,27% incidence of adverse reactions such as urticaria, hemolisys, circulatory overload and hyperthermia. In most cases, early and correct treatment improved the animal's general health and allowed continuing transfusion. Keywords: adverse effects, blood transfusion, hemotherapy, canine Resumen: El paciente que recibe transfusión de sangre está sujeto a reacciones adversas, por lo que debe ser vigilado rígidamente para detectar y tratar estas reacciones precozmente. 113 perros fueron evaluados, transfundidos con sangre total, concentrado de eritrocitos y plasma fresco congelado, en el período comprendido entre abril de 2006 y julio de 2008, con la finalidad de verificar la frecuencia de reacciones transfusionales agudas y la eficacia del tratamiento empleado. Se obtuvo el 13,27% de incidencia de reacciones entre los pacientes, siendo reacciones urticariformes, reacciones inmunes mediadas por hemólisis aguda, sobrecarga circulatoria e hipertermia. En la mayoría de los casos, un tratamiento adecuado y precoz ha permitido mejorar el estado general de los animales y proseguir la transfusión. Palabras clave: efectos adversos, transfusión de sangre, hemoterapia, canino

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Introdução O objetivo da transfusão sanguínea é a reposição temporária, efetiva e segura de componentes do sangue. A realização da transfusão sanguínea não deve ser baseada apenas em valores numéricos: é preciso também fazer uma avaliação geral da condição clínica do paciente 1. A transfusão deve ser feita somente quando os riscos forem menores que os benefícios esperados 2,3. Reação transfusional é qualquer efeito colateral indesejável resultante da infusão de componentes sanguíneos 4. Na maioria das vezes, sua gravidade é dose-dependente e seu reconhecimento precoce por meio de monitoração intensiva e tratamento adequado pode evitar maiores complicações 5. A incidência de reações transfusionais 62

agudas em cães encontrada na literatura variou de 2,9% a 28,49% 1,6-11. Em seres humanos, pode-se estimar que menos de 3% das transfusões sanguíneas provocam reação transfusional. As reações mais comuns são a não hemolítica febril, a reação alérgica, a lesão pulmonar aguda e a contaminação bacteriana 12,13. As reações transfusionais são classificadas como agudas ou tardias, imunomediadas ou não imunomediadas e hemolíticas ou não hemolíticas 5. As reações mais frequentes no cão e no gato são: hemólise, reações de hipersensibilidade aguda, febre, contaminação bacteriana da bolsa de transfusão, hipocalcemia, vômito, sobrecarga circulatória e transmissão de doenças infecciosas 14. Porém, a reação imunomediada hemo-

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lítica aguda é a mais temida, tanto no homem quanto em animais 15. O objetivo deste trabalho foi verificar a incidência de reações transfusionais em pacientes que receberam transfusão sanguínea no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina, assim como o resultado do tratamento empregado na ocorrência dessas reações em cães transfundidos com sangue total, concentrado de hemácias e plasma fresco congelado. Material e métodos Foram avaliadas 113 transfusões sanguíneas em cães; destas, 71 de sangue total, 26 de concentrado de hemácias e 16 de plasma fresco congelado, realizadas no Hospital Veterinário da Universidade Estadual de Londrina no período entre abril de 2006 e julho de 2008. Os cães doadores tinham entre dois e oito anos de idade, peso acima de 28kg, eram vacinados, vermifugados, saudáveis, dóceis ou permitiam manipulação na presença do proprietário, visto que não se realizou tranquilização. Foram submetidos a exame físico e hemograma antes de cada doação; anualmente, realizava-se perfil bioquímico sérico, PRC para identificação de Ehrlichia canis e pesquisa de hemoparasitas. O volume de sangue colhido de cada animal foi de aproximadamente 450mL a cada três meses. Para a colheita e armazenamento do sangue, foram utilizadas bolsas próprias com o anticoagulante citrato, fosfato, dextrose e adenina (CPDA-1). O sangue foi colhido da veia jugular ou cefálica e

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no local da colheita realizaram-se tricotomia e antissepsia cirúrgica. O sangue fresco total (sangue colhido no máximo seis horas antes) foi centrifugado e separado em concentrado de hemácias e plasma fresco congelado, quando possível. O armazenamento do sangue total e do concentrado de hemácias foi feito em geladeira comum, a temperatura de 4ºC e validade máxima de 28 dias. O plasma fresco congelado foi armazenado em um freezer comum a -18 ºC, por um ano. O volume do hemocomponente a ser transfundido foi calculado empregando as fórmulas indicadas na figura 1. O método utilizado para verificar a compatibilidade sanguínea entre doador e receptor foi a reação cruzada, também chamada de teste de compatibilidade, realizada em todos os animais que haviam passado por transfusão anterior. Para a realização dessa reação, coletaram-se amostras de sangue em tubo de EDTA do receptor, separando-se amostras de sangue da bolsa de transfusão dos possíveis doadores. As amostras

Volume (mL) sangue total = 90 x peso do paciente (kg) x [(VG% pretendido - VG% paciente) / VG do doador] Volume (mL) concentrado de hemácias = peso do paciente x (VG% pretendido - VG% paciente) x 1,1 Volume (mL)

plasma

= 10 a 15mL/kg

Figura 1 - Fórmulas utilizadas para calcular o volume a ser transfundido de sangue total, concentrado de hemácias e plasma fresco congelado

Tubo 1 - Prova maior = plasma do receptor + hemácias do doador

Tubo 2 - Prova menor = plasma do doador + hemácias do receptor

Tubo 3 - Controle do receptor = plasma do receptor + hemácias do receptor Tubo 4 - Controle do doador = plasma do doador + hemácias do doador Figura 2 - Provas realizadas na reação cruzada

foram centrifugadas (1000 x g por cinco minutos), e o plasma de cada uma foi removido com pipeta e transferido para um tubo identificado. As hemácias foram lavadas com solução fisiológica três vezes e em seguida ressuspendidas em solução de 0,98mL de solução fisiológica para 20 L de hemácias. Foram preparados para cada doador quatro tubos identificados e adicionaram-se em cada tubo 4 gotas (100 L) de plasma e 2 gotas (50 L) da suspensão de hemácias (Figura 2).

Cada tubo foi homogeneizado e incubado a 37 ºC por quinze minutos, e em seguida centrifugado. Foi verificada a presença de hemólise no sobrenadante e o botão de hemácias foi ressuspendido para verificação de aglutinação macroscópica. Além disso, realizou-se a análise microscópica da amostra. O resultado positivo foi dado pela presença de hemólise e/ou aglutinação e o negativo pela ausência de hemólise e aglutinação, o que indica compatibilidade sanguínea.

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Resultados e discussão A incidência de reações transfusionais agudas em cães encontrada na literatura variou de 2,9% a 28,49% 1,6-11. Neste estudo, ocorreram reações em quinze (13,27%) cães, representadas por: reação urticariforme (9/15) (Figuras 3), dentre elas, duas apresentadas pelo mesmo animal; hemólise imunomediada intravascular aguda (2/15), sobrecarga circulatória (2/15), hipertermia (1/15) e vômito (1/15) (Figura 4). Vale salientar que apenas dois animais apresentaram reação hemolítica, o que se Nome

Sexo

Idade

Thor Suzi Ink Bidu Raika Amanda Dunga

M F M M F F M

1 ano 5 anos 6 anos 4 anos 1 ano 7 anos 6 meses

Ceci Lobo Rodolfo Floquinho Tiquinha Suzi Cisco

F M M M F F M

5 meses 6 anos 6 anos 8 anos 1 ano 1 ano 9 meses

Vanessa Andrea Pincelli

O volume transfundido na primeira meia hora foi de 0,25mL/kg. Se o paciente não apresentasse nenhuma reação, a velocidade era aumentada para 4 a 5mL/kg/hora em animais normovolêmicos. Em cães desidratados a velocidade era de até 10 a 15mL/kg/hora. Em pacientes cardiopatas ou nefropatas, a velocidade era de 1 a 2mL/kg/hora. Durante a transfusão, foram monitorados os parâmetros vitais dos pacientes a cada quinze minutos durante a primeira hora e a cada meia hora no período restante, sendo que o tempo máximo de transfusão foi de quatro horas. Os parâmetros avaliados foram frequência cardíaca e respiratória, temperatura, tempo de preenchimento capilar e coloração de mucosas. Na ocorrência de sinais de reações adversas, seguiu-se a interrupção da transfusão, avaliação do paciente, administração de fármacos quando necessário e retorno à transfusão quando possível.

Figura 3 - Cão que apresentou reação urticariforme durante uma transfusão de sangue total realizada no HV-UEL

contrapõe ao estudo de um autor que considera essa reação a mais comum em cães 16. Houve maior incidência de reações relacionadas à transfusão de sangue total em comparação à transfusão de concentrado de hemácias, representadas por 16,9% (12/71) e 11,5% (3/26), respectivamente. Resultado semelhante foi obtido na literatura em relação ao hemocomponente utilizado, sendo 45% (9/20) dos casos representados por animais que receberam sangue total e 20,9% (27/129) por animais que receberam concentrado de hemácias 10. Entretanto, a incidência descrita foi maior que a observada no presente estudo. Além disso, todas as reações urticariformes ocorreram em animais transfundidos por sangue total, o que provavelmente está associado à maior quantidade de antígenos neste componente, devido à presença do plasma 15,16.

Componente sanguíneo sangue total sangue total sangue total sangue total sangue total sangue total sangue total sangue total sangue total sangue total concentrado de hemácias sangue total sangue total concentrado de hemácias concentrado de hemácias

Transfusão em que ocorreu primeira primeira primeira primeira primeira primeira primeira segunda segunda primeira primeira segunda primeira terceira segunda

O fracionamento do sangue e o uso de componente específico têm grande importância, visto que minimizam a exposição do paciente a fatores desnecessários, reduzindo assim o risco de reação. O concentrado de hemácias é indicado para animais com anemia normovolêmica, porque estes estão mais propensos a sobrecarga circulatória 16. Desse modo, acredita-se que a presença dessa reação nos dois cães foi decorrente do uso de sangue total, já que eram animais normovolêmicos e de pequeno porte – o que aumenta o risco dessa reação, uma vez que, para se atingir o número de eritrócitos desejado, é necessário maior volume em comparação ao concentrado de hemácias. A maioria dos animais avaliados apresentou melhora após o tratamento, com desaparecimento dos sinais clínicos. Os animais com reação urticariforme, além da interrupção imediata da transfusão, foram tratados com prometazina em dose de 0,2 a 1mg/kg por via subcutânea e hidrocortisona 50mg/kg por via intravenosa (IV), retornando à transfusão em ritmo mais lento, quinze a trinta minutos após a melhora do quadro clínico. Os cães com sobrecarga circulatória apresentaram melhora após a administração de furosemida (4mg/kg, IV), porém a transfusão foi interrompida definitivamente. Já os cães com hemólise, além da interrupção da transfusão sanguínea, foram tratados inicialmente com fluidoterapia intensiva, porém ambos vieram a óbito após dois e onze dias. Apesar de nenhum deles ter

Tempo de transfusão Classificação (minutos) da reação 215 urticariforme 125 urticariforme 90 urticariforme 60 urticariforme 210 urticariforme 60 urticariforme 150 urticariforme 20 urticariforme 10 urticariforme 90 hemolítica aguda 215 hemolítica aguda 180 sobrecarga circulatória 180 sobrecarga circulatória 105 hipertermia 45 vômito

Figura 4 - Descrição dos pacientes que apresentaram reações transfusionais, componente sanguíneo utilizado, transfusão em que ocorreu a reação, tempo de transfusão em que incidiu a reação e classificação das reações observadas nas transfusões sanguíneas realizadas no Hospital Veterinário UEL no período entre maio de 2006 e julho de 2008

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apresentado febre, uma amostra de sangue da bolsa de cada animal foi enviada para cultivo, sem apresentar crescimento de bactérias. Quanto ao cão que apresentou hipertermia, diminuiu-se a velocidade de infusão sem quaisquer problemas posteriores. No animal que apresentou vômito, a transfusão foi interrompida e administrou-se metroclopramida, e retornou-se ao procedimento mais lentamente. Porém, o vômito persistiu, optando-se por interromper a transfusão definitivamente. Outro dado observado é que as reações transfusionais ocorreram bem no início (primeiros dez minutos) até 3,5 horas depois de iniciada a transfusão sanguínea, sendo, dessa forma, necessário o controle do paciente durante todo o período transfusional. Conclusão De acordo com os casos avaliados, a incidência de reações transfusionais foi alta comparada à incidência em seres humanos. Além disso, foi possível observar que com a administração de produtos sanguíneos fracionados há diminuição do risco de reações transfusionais, o que mostra a importância do uso de componentes sanguíneos adequados. Por fim, por meio da monitoração constante durante o período de administração, foi possível detectar as reações precocemente e, quando necessário, realizar tratamento adequado e retornar à transfusão, dependendo da reação apresentada e do estado clínico do animal.

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Agradecimentos Agradecemos a todos os participantes do Projeto Vida – Banco de Sangue de Cães (UEL), pela valorosa colaboração no acompanhamento das transfusões sanguíneas. Referências

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Avaliação do volume globular antes e após a transfusão sanguínea: estudo retrospectivo

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Marcel Ken Morikawa Médico veterinário

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Vanessa Andrea Pincelli MV, mestranda - UEL

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The packed cell volume evaluation before and after blood transfusion: retrospective study

Patrícia Fernandes Nunes Silva

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Evaluación del volumen globular antes y después de la transfusión de sangre: estudio retrospectivo

Mara Regina Stipp Balarin

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Patrícia Mendes Pereira

MV, profa. dra. Depto. Clínicas Veterinárias - UEL

Resumo: A transfusão sanguínea é indicada para pacientes com alterações clínicas decorrentes de hipóxia tecidual causadas por queda acentuada no volume globular (VG). Foram avaliados 51 cães, transfundidos com sangue total. O objetivo da transfusão foi aumentar o VG desses animais para valores entre 25 e 30%. Avaliou-se o resultado do cálculo de volume empregado e a importância da mensuração do VG uma e 24 horas após a transfusão. Os resultados indicaram que o método para calcular o volume a ser transfundido pode subestimar o volume total de sangue. Quanto à avaliação do VG, concluiu-se que não é necessário realizar a mensuração uma hora após a transfusão nos cães com sinais de melhora clínica. Unitermos: cão, hemoterapia, eritrócitos Abstract: Blood transfusion is indicated for patients with clinical alterations due to a pronounced decrease in packed cell volume (PCV). In this study, 51 dogs that had received total blood transfusion were evaluated. The target of the transfusion was to increase PCV values to 25-30%. PCV values and the importance of this assessment were evaluated one and 24 hours post-transfusion. Results showed that the method used to calculate the blood volume to be transfused may underestimate the total blood volume. As for PCV evaluation, we conclude that it is not necessary to perform measurements one hour post-transfusion in dogs that show improvement in their clinical signs after blood transfusion. Keywords: dog, hemotherapy, erythrocytes Resumen: La transfusión de sangre es indicada para pacientes con cambios clínicos ocasionados por hipoxia tisular causada por fuerte reducción en el volumen globular (VG). Se evaluaron 51 perros transfundidos con sangre total. El objetivo de la transfusión fue aumentar el VG de estos animales para valores entre el 25 y el 30%. Se evaluó el resultado del cálculo de volumen empleado y la importancia de medir el VG una y 24 horas después de la transfusión. Los resultados indicaron que el método para calcular el volumen a ser transfundido puede subestimar el volumen total de sangre. En cuanto a la evaluación de VG, se concluye que, para perros con signos de mejoría clínica, no es necesaria la medición de VG una hora después de la transfusión. Palabras clave: perro, hemoterapia, eritrocitos

Clínica Veterinária, n. 86, p. 68-70, 2010

Introdução A transfusão sanguínea é indicada quando a contagem de eritrócitos está reduzida a valores inferiores aos do nível de referência, de forma a comprometer a capacidade do sangue de carrear oxigênio e, desse modo, causar hipóxia tecidual. A indicação da transfusão envolve diversos fatores, incluindo causa, grau e duração da anemia, e não deve ser baseada somente em parâmetros laboratoriais 1. O sangue total é indicado para pacientes que requerem diferentes componentes sanguíneos ou com perda aguda de sangue, com o objetivo de restabelecer a capacidade de carrear oxigênio e a atividade oncótica 2. O sangue total estocado fornece hemácias, proteínas plasmáticas 68

e fatores de coagulação estáveis, como o fibrinogênio. Já o sangue fresco total, colhido imediatamente antes da transfusão, fornece plaquetas viáveis, todos os fatores de coagulação, além de hemácias e proteínas plasmáticas, sendo um bom componente em casos de sangramento agudo. O concentrado de hemácias, obtido da centrifugação do sangue total, é o componente ideal para a reposição de hemácias em pacientes com volemia normal e perda sanguínea crônica 3. O fator mais importante para determinar a necessidade de transfusão é a condição clínica do paciente 4. A transfusão é indicada em pacientes anêmicos que exibem sinais de comprometimento clínico como fraqueza, distrição respiratória

pmendes@uel.br

e taquipneia, taquicardia, baixa tolerância à manipulação e ao estresse, além de sopro sistólico 5. Contudo, mesmo os pacientes com anemia grave e com sinais clínicos leves podem sobreviver sem transfusão 6. O valor do volume globular (VG) também auxilia na decisão da realização da transfusão sanguínea. Cães cujo VG estiver abaixo de 10% devem, obrigatoriamente, receber transfusão de sangue, evitando os danos decorrentes de hipóxia grave nos órgãos vitais. A transfusão também é necessária quando o VG diminui rapidamente para menos de 20%, e em animais muito debilitados, com o VG entre 10 e 17%. Em perdas superiores a 30% do volume sanguíneo ou em hemorragia aguda com baixa resposta ao tratamento convencional do choque, a hemoterapia deve ser realizada 3. Em anemia hemolítica imunomediada, a transfusão deve ser utilizada apenas em quadros muito graves e quando a vida do paciente corre risco, pois pode acelerar a hemólise 7. Na medicina, os valores de hemoglobina são mais utilizados do que os de VG para o auxílio na decisão. Concentrações de hemoglobina menores que 7g/dL justificam a realização da transfusão sanguínea, já que os riscos de mortalidade aumentam em pacientes com hemoglobina abaixo de 5g/dL 8,9.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


O volume de sangue a ser transfundido pode ser estimado a partir das fórmulas da figura 1. A fórmula 1, para o cálculo da dose recomendada, prevê que o VG do doador seja de 40% 10,11. A fórmula 2 utiliza a volemia do cão e os valores de volume globular 3,12,13. Na fórmula 3, o cálculo de volume é feito por meio dos valores de hemoglobina (Hb) 7, e a fórmula 4 é a dose para aumentar em 10% o VG do receptor 14. O objetivo deste estudo foi avaliar as alterações do VG pré e pós-transfusional imediato (uma hora) e após 24 horas dos cães que receberam transfusão de sangue total, usando um cálculo predeterminado 3,12,13, verificando por meio da variação de VG, a adequação do volume transfundido.

1 - V(mL) = 2.2 x peso do receptor (kg) x (VG desejado - VG do receptor) 2 - V(mL) = 90 x peso do receptor (kg) x [(VG desejado - VG do receptor) / VG do doador] 3 - V(mL) = 70 x peso do receptor (kg) x [(Hb desejada - Hb do receptor) / Hb do doador (g/dL)] 4 - V(mL) = 20mL/kg Figura 1 - Fórmulas para o cálculo do volume de sangue total a ser transfundido

sangue em cães com anemia é aumentar o VG pós-transfusional para valores entre 25 e 30% 3,13, que seria suficiente para diminuir a hipóxia tecidual, sem interferir no processo regenerativo 11. Não há relatos de vantagens em se transfundir de volta para os valores de referência de volume globular, o que poderá acarretar sobrecarga e outras reações 13. O VG pré-transfusional dos 51 cães obteve média de 10% (DP ± 3%). Em 35 dos 51 cães (68,63%), o VG foi aferido uma hora após a transfusão, sendo a média de 20,06% (DP ± 7,35%). Já a média após 24 horas de todos os animais testados foi de 22,38% (DP ± 6,37%). As duas últimas médias apresentaram diferença significativa (p<0,05), quando comparadas à do prétransfusional, porém não houve diferença significativa entre elas (Figura 2). O aumento do VG 24 horas após o término da transfusão de sangue total, comparado aos valores obtidos imediatamente após a transfusão, se justifica pela redistribuição e acomodação do líquido intra e extravascular, visto que o sangue total contendo plasma é um tipo de fluido coloidal 11. A partir disso, acredita-se que não haja necessidade de mensurar o VG uma hora após o término da transfusão

em pacientes que apresentem melhora nos parâmetros clínicos, uma vez que os dados encontrados 24 horas depois estão ligeiramente mais próximos dos valores esperados. Entretanto, quando se suspeita de alguma reação hemolítica, a avaliação do VG duas horas após o início da transfusão e uma hora após o término pode fornecer dados importantes para o clínico 15. Os sinais clínicos de Material e métodos uma reação hemolítica incluem febre, Foram avaliados resultados dos exafraqueza, salivação, vômito, tremor, dismes laboratoriais de 51 cães que recebetrição respiratória, taquicardia, hipotenram transfusão de sangue total, no pesão e convulsão. Também podem ocorríodo de abril de 2006 a julho de 2008, rer hemoglobinemia e hemoglobinúria junto ao Hospital Veterinário da Univerminutos após o início da transfusão 16, sidade Estadual de Londrina (UEL) devendo-se, portanto, ficar atento aos Paraná. Foi verificado o VG anterior à sinais. transfusão, e também uma e 24 horas Em um estudo realizado em 41 cães depois dela. Para todas as transfusões transfundidos com sangue total, conserealizadas, foi usado o seguinte cálculo guiu-se um aumento médio de 15,2% do de volume a ser transfundido: 90 x peso VG com a transfusão, utilizando-se a do receptor x [(VG desejado - VG do redose de 29mL/kg 17; já outro estudo 14 ceptor) / VG do doador]. O valor do VG alcançou o aumento de 10% do VG com desejado variou de 25 a 30%. dose de 20mL/kg – ambos próximos ao O sangue foi colhido de doadores de resultado do presente trabalho, cujo grande porte, saudáveis, com idade aumento foi de 12,34%. entre dois e oito anos, acima de 28kg, Apesar desse aumento médio de vacinados, vermifugados e testados para 12,43% do VG, o cálculo do volume Ehrlichia canis por meio de PCR. Para usado neste estudo foi apropriado em a colheita utilizaram-se bolsas de 37,25% (19/51) dos cães, que alcansangue com 63mL do anticoagulante ciçaram o VG desejado (25-30%). Essa trato, fosfato, dextrose e adenina baixa eficiência do cálculo empregado (CPDA-1). Todos os doadores pode ser explicada por este utipossuíam volume globular acima lizar o VG do doador, que não de 40% e o volume colhido foi considera o volume de anticoaguem média 450mL. lante presente na bolsa. Avaliou-se a eficiência do cálEntretanto, 29 dos 51 cães culo de volume empregado para (56,86%) atingiram valores de atingir os valores de VG desejaVG acima de 21%, o que já dos (25-30%) e a importância de diminui o risco de lesões por hisua mensuração uma e 24 horas póxia tecidual causada pela aneapós o término da transfusão. Utimia, pois cães com VG abaixo de lizou-se o teste Anova de fator 21% correm maior risco de ter leúnico e o nível de significância são progressiva no coração, no adotado foi de 5%. fígado e nos rins, podendo sofrer arritmias ventriculares, necrose Figura 2 - Gráfico representando a média e o desvio padrão Resultados e discussão centrolobular hepática e necrose dos valores de VG obtidos no período pré-transfusional, uma e 24 horas após o término da transfusão O objetivo da transfusão de tubular renal 18. A maioria dos Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

69


Agradecimentos Agradecemos a todos os participantes do Projeto Vida – Banco de Sangue 70

A

Patrícia M. Pereira / Hospital Veterinário - UEL

Conclusão Os resultados obtidos indicam que o cálculo de volume empregado neste estudo pode subestimar o volume total de sangue a ser transfundido. Sendo assim, recomenda-se optar pela mensuração e utilização do VG da bolsa de sangue na fórmula do cálculo, em vez do VG do doador. Quanto à avaliação do VG uma e 24 horas após a transfusão sanguínea, concluiu-se que em cães com sinais de melhora clínica não é necessária a realização do VG após uma hora, exceto se houver suspeita de hemólise.

Patrícia M. Pereira / Hospital Veterinário - UEL

animais, mesmo sem alcançar o volume globular desejado, apresentou melhora clínica evidente, sendo que em muitos ela ocorreu até antes do término da transfusão (Figuras 3A e 3B). Durante a estocagem da bolsa de sangue, podem ocorrer alterações de acordo com os níveis de ATP e glicose e perda da forma discoide das hemácias, diminuindo assim seu índice de sobrevivência 12. Em seres humanos, sabe-se que as hemácias com menores níveis de ATP em decorrência do armazenamento sofrem um enrijecimento da membrana celular, sendo rapidamente retiradas da circulação sanguínea pelo sistema mononuclear fagocitário do receptor 8. Dessa forma, em geral após 21 dias de estocagem, 70% dos eritrócitos caninos transfundidos sobrevivem 24 horas após a infusão de sangue 8,12. Entretanto, é importante evidenciar que neste estudo, o sangue utilizado nas transfusões esteve armazenado por sete dias em média, não havendo diminuição importante de glicose e ATP nesse período 19. Vale ressaltar que o alcance do VG desejado varia individualmente dentre os pacientes, dependendo da doença apresentada. Em casos em que o receptor não recebeu anteriormente nenhuma transfusão e se não ocorrer um processo hemolítico imunomediado, as células transfundidas poderão sobreviver normalmente na circulação, caso resistam às primeiras 24 horas após transfusão e não haja produção de anticorpos 20.

B

Figura 3 - Animal submetido a transfusão de sangue total. Em A, ele aparece com mucosas pálidas antes da transfusão sanguínea; em B, mostra a alteração da coloração de mucosas depois de duas horas de transfusão

de Cães – (UEL) pela valorosa colaboração na monitoração das transfusões sanguíneas. Referências

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Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010



Avaliação da relação proteína/creatinina urinária e hipertensão arterial sistêmica em cães com hiperadrenocorticismo hipófise dependente

Viviani De Marco MV, profa. dra. - Clínica médica - UnG MV, endocrinologista - H. V. Pompéia

vivianidemarco@terra.com.br

Cínthia Ribas Martorelli MV, residente - HV/UnG

cicirm@ig.com.br

Valter de Medeiros Winkel MV, residente - HV/UnG

vmwinkel@yahoo.com.br

Urinary protein:creatinin ratio and systemic arterial hypertension in dogs with pituitary-dependent hyperadrenocorticism Evaluación de la relación proteína/creatinina urinaria e hipertensión arterial sistémica en perros con hiperadrenocorticismo dependiente de la hipófisis Resumo: Glomerulopatias, proteinúria e hipertensão arterial sistêmica têm sido associadas ao hipercortisolismo crônico, característico da síndrome de Cushing. O presente trabalho teve como objetivos avaliar a frequência de hipertensão arterial sistêmica e de proteinúria renal através da relação proteína/creatinina urinária (PUr:CUr), bem como a associação desses dois parâmetros em 23 cães (dezessete fêmeas e seis machos com idade média de nove anos) com hiperadrenocorticismo hipófise dependente atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Guarulhos, sem doença renal crônica e infecção urinária. Foram constatadas hipertensão arterial sistólica (PAS *160mmHg) e PUr:CUr superior a 0,5 em 78% e 46% dos casos, respectivamente. A associação de hipertensão arterial sistólica e proteinúria foi identificada em 35% dos casos. Recomenda-se que tais parâmetros sejam monitorados cautelosamente em cães com síndrome de Cushing. Unitermos: cortisol, Cushing, proteinúria, pressão arterial Abstract: Glomerulopathy, proteinuria and systemic arterial hypertension have been associated with chronic hypercortisolism, the hallmark of Cushing's syndrome. The aim of our study was to evaluate the frequency of systemic arterial hypertension and proteinuria, the latter based on the urinary protein:creatinine ratio (UrP:UrC), as well as the association of these two parameters in 23 dogs with pituitary-dependent hyperadrenocorticism (17 females; 6 males, median age of 9 years). The animals were referred to the Veterinary Hospital of Guarulhos University (São Paulo, Brazil). None of them were presented with chronic renal disease or urinary infection. Systolic hypertension (PAS *160mmHg) and UrP:UrC above 0,5 were found in 78% and 46% of cases, respectively. The association between systolic hypertension and proteinuria was identified in 35% of cases. It is recommended that such parameters be carefully investigated in dogs with Cushing's syndrome. Keywords: cortisol, Cushing, proteinuria, arterial pressure Resumen: Glomerulopatías, proteinuria e hipertensión arterial sistémica han sido asociadas al hipercortisolismo crónico, característico del síndrome de Cushing. El objetivo de este trabajo fue evaluar la frecuencia de hipertensión arterial sistémica y de proteinuria renal, basado en la relación proteína/creatinina urinaria (PUr:CUr) y la asociación entre estos dos parámetros en 23 perros (17 hembras y seis machos, con media de edad de 9 años) con hiperadrenocorticismo dependiente de la hipófisis, atendidos en el Hospital Veterinario de la Universidad Guarulhos (São Paulo, Brasil). Los perros no sufrían de enfermedad renal crónica o de infección urinaria. Fueron evidenciadas hipertensión arterial sistólica (PAS *160mmHg) y relación PUr:CUr superior a 0,5 en el 78% y 46% de los casos, respectivamente. La asociación entre hipertensión arterial sistólica y proteinuria fue identificada en el 35% de los casos. Así, se recomienda que tales parámetros sean cuidadosamente evaluados en perros con el síndrome de Cushing. Palabras clave: cortisol, Cushing, proteinuria, presión arterial

Clínica Veterinária, n. 86, p. 72-76, 2010

Introdução Hiperadrenocorticismo ou síndrome de Cushing é um termo genérico que se refere às anormalidades clínicas resultantes da exposição crônica a concentrações elevadas de glicocorticoides na corrente sanguínea. A principal causa de hiperadrenocorticismo endógeno é 72

representada por um tumor corticotrófico secretor de ACTH que compreende 85% dos casos de hipercortisolismo endógeno na espécie canina, sendo denominado hiperadrenocorticismo hipófise dependente (HACHD) ou doença de Cushing 1. O hiperadrenocorticismo hipófise

dependente acomete, geralmente, cães de meia-idade ou idosos, sem uma franca predisposição sexual, destacando-se as raças poodle, teckel, terrier e beagle 2,3. A evolução clínica do HACHD é insidiosa e progressiva, resultando no desenvolvimento de uma combinação clássica de sintomas clínicos decorrentes dos efeitos catabólicos, lipolíticos, gliconeogênicos, anti-inflamatórios e imunossupressores dos glicocorticoides, incluindo polifagia, poliúria, polidipsia, letargia, abdômen pendular, dispneia e diversas alterações tegumentares, como alopecia, comedos, hiperpigmentação, atrofia cutânea e telangiectasia 4-6. Os principais achados laboratoriais são leucograma de estresse, eritrocitose, trombocitose, hiperfosfatasemia, hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia, hiperglicemia discreta, hipostenúria, proteinúria, infecção urinária e hipertensão arterial sistêmica. O diagnóstico é embasado na ausência de supressão dos níveis séricos de cortisol oito horas após a aplicação endovenosa de dexametasona (0,01mg/kg, IV) e adrenomegalia bilateral ao exame ultrassonográfico 4. Em virtude da exposição crônica a níveis excessivos de glicocorticoides na circulação, podem surgir complicações clínicas associadas ao hiperadrenocorticismo, a exemplo de: hipertensão

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


arterial sistêmica, glomerulopatia, pielonefrite, insuficiência cardíaca congestiva, pancreatite, diabetes mellitus ou cetoacidose diabética, comprometimento do sistema nervoso central e tromboembolismo pulmonar 5-7. A hipertensão arterial sistêmica e as glomerulopatias são bem documentadas em pacientes humanos com síndrome de Cushing 8. Estima-se que 50% a 80% dos cães com síndrome de Cushing sejam hipertensos. Enquanto nos cães normais a pressão sanguínea sistólica, diastólica e média é de 150, 90 e 105mmHg, respectivamente, os cães com hiperadrenocorticismo endógeno apresentam valores pressóricos de 162, 116 e 135mmHg 4,8,9. Fatores múltiplos podem estar implicados no desenvolvimento da hipertensão sistêmica, incluindo secreção excessiva de renina, aumento da suscetibilidade vascular às catecolaminas e aos agonistas adrenérgicos, redução das prostaglandinas vasodilatadoras e aumento da secreção de mineralocorticoides não provenientes da zona glomerulosa do córtex adrenal 10,11. A hipertensão sistêmica pode conduzir à hipertrofia do ventrículo esquerdo e exacerbar ou causar insuficiência cardíaca congestiva, além de colaborar para o desenvolvimento de glomerulopatias, ocasionando perda proteica renal e predispondo o paciente a eventos tromboembólicos. Os órgãosalvos que também são sensíveis à hipertensão, além do sistema cardiovascular e renal, são o sistema nervoso central e o globo ocular 3,11. As consequências do hipercortisolismo no sistema renal incluem uma hiperfiltração glomerular e consequente vasodilatação das arteríolas que suprem os néfrons, aumento do fluxo plasmático e da pressão capilar glomerular. A hipertensão arterial sistêmica, quando presente e transmitida ao glomérulo, pode acelerar os efeitos da vasodilatação arteriolar. O aumento da pressão capilar glomerular pode provocar uma cicatrização e eventual oclusão dos vasos pelo aumento da síntese da matriz mesangial induzida pela pressão e da ruptura mecânica da parede capilar, levando a proteinúria 1,12-14. Os mecanismos pelos quais a proteinúria pode se estabelecer em alguns cães com HAC compreendem: alteração da permeabilidade capilar glomerular,

aumento da excreção tubular e diminuição da reabsorção tubular de proteínas, além de hiperfiltração das proteínas que supera a capacidade de reabsorção dos túbulos renais 15-18. A proteinúria associada à glomerulopatia promove a perda de importantes proteínas da coagulação, tais como a antitrombina III, predispondo o animal a um estado de hipercoagulabilidade sanguínea e consequente tromboembolismo pulmonar 14,19,20. A constatação de proteinúria renal em cães, diante de condições pressóricas elevadas, pode refletir uma situação de causa e efeito 2,4,6. Portanto, a investigação desses dois parâmetros faz-se necessária em cães com síndrome de Cushing. A relação proteína/creatinina urinária é amplamente utilizada como marcador da proteinúria renal após a exclusão de causas pré e pós-renais. No entanto, em cães com glomerulopatia em estágio inicial essa relação pode se mostrar normal, devendo a microalbuminúria ser investigada. O termo microalbuminúria refere-se a uma quantidade anormal de albumina na urina, que geralmente está associada a resultados negativos dos exames convencionais de rotina 14,15. O presente trabalho tem como objetivo avaliar a frequência da hipertensão arterial sistêmica; da proteinúria renal, através da relação proteína/creatinina urinária (PUr:CUr); e da associação entre hipertensão e proteinúria em cães com hiperadrenocorticismo hipófise dependente (HACHD). Material e métodos Foram incluídos no estudo 23 cães (17 fêmeas e 6 machos) com HACHD, idade média de nove anos, atendidos no Serviço de Clínica Médica do Hospital Veterinário da Universidade Guarulhos (UnG). A distribuição racial desses 23 cães compreendeu as raças poodle (78,3% dos casos, n = 18/23), pinscher (4,3% dos casos, n = 1/23), teckel (4,3% dos casos, n = 1/23), husky siberiano (4,3 %, n = 1/23) e 8,7% de cães sem raça definida (n = 2/23). O diagnóstico do HACHD foi embasado em anamnese, exame físico, exames laboratoriais, testes hormonais e ultrassonografia abdominal. Os critérios de inclusão foram: níveis séricos de cortisol oito horas após a administração de dexametasona

na dose de 0,01mg/kg, EV maiores ou iguais a 14ng/mL, além de adrenomegalia bilateral à ultrassonografia abdominal. Animais com glândulas adrenais assimétricas, de aspecto ultrassonográfico heterogêneo ou com formato irregular foram excluídos. A investigação da proteinúria foi fundamentada na relação entre proteína e creatinina urinária (PUr:CUr), considerando-se valores normais os inferiores a 0,5 19. Os níveis séricos de albumina foram mensurados para pesquisa de hipoalbuminemia concomitantemente a proteinúria. Cães com infecção do trato urinário e/ou azotêmicos foram excluídos. A constatação da hipertensão arterial foi baseada em níveis pressóricos sistólicos acima de 160mmHg 19,20, utilizando-se um aparelho de pressão não invasivo e estetoscópio ultrassônico doppler com manguitos selecionados de acordo com o diâmetro do membro (40% da circunferência do membro) 12,21,22. Tanto a relação proteína/creatinina urinária como a mensuração da pressão arterial foram determinadas previamente à instituição de qualquer terapia. Os exames mencionados foram realizados no Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Veterinário da UnG, com exceção da dosagem de cortisol, através de radioimunoensaio encaminhado a laboratório particular especializado a. Resultados Os sintomas clínicos comuns ao hipercortisolismo, a exemplo da poliúria, polidipsia, polifagia e distensão abdominal, foram identificados em 100% dos animais. Os exames laboratoriais realizados foram os que com maior frequência se apresentam alterados em cães com síndrome de Cushing, quais sejam: alanino aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), colesterol, triglicérides e teste de supressão com dexametasona (Figura 1). Nos exames complementares subsidiários para o diagnóstico de hiperadrenocorticismo endógeno, constatou-se que 78,3% (n = 18/23) dos cães estudados apresentavam perfil hepático alterado, com valores elevados tanto de ALT quanto de FA. As médias e desvios padrão de ALT e de FA foram,

a) BET Laboratories, Rio de Janeiro, RJ

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

73


M DP VR

ALT (U/L)

FA (U/L)

Colesterol (mg/dL)

Triglicérides (mg/dL)

Cortisol 8hs pósdexametasona (ng/mL)

245 171 21-102

491 391 20-156

359 142 135-270

186 107 50 - 100

47,8 32,2 < 10

Figura 1 - Valores médios (M) e desvios padrão (DP) e valores de referência (VR) de ALT, FA, colesterol, triglicérides e cortisol oito horas após supressão com dexametasona de 23 cães com HACHD (UnG, 2007-2008)

Animal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 M DP VR

PA sistólica (mmHg) 206 162 130 140 193 202 177 140 183 200 140 180 190 165 180 161 150 192 167 162 172 200 146 171 23 120 - 160

PUr:CUr 1 2 0,02 1 0,01 0,75 1,34 0,01 0,43 0,02 0,46 0,4 0,4 0,04 2 0,4 0,43 1 0,46 0,43 0,86 1,5 0,6 0,68 0,59 < 0,5

Albumina (g/dL) 2,7 3,8 3,8 2,7 2,9 3,8 2,9 3,8 3,5 3 2,4 3,8 3,9 2,6 2,4 3,3 2,6 3,9 3,8 3,3 3,7 3,4 2,7 3,25 0,54 2,5 - 4,5

Figura 2 - Valores pressóricos (PA sistólica), relação proteína/creatinina urinária (PUr:CUr) e albumina sérica de 23 cães com HACHD atendidos no Hospital Veterinário da UnG (2007-2008)

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Discussão As características epidemiológicas e clínicas encontradas no presente trabalho, tais como raça, sexo, idade, sinais clínicos e alterações verificadas no exame físico estão de acordo com a literatura veterinária. O HACHD acomete com maior frequência fêmeas caninas com idade superior a seis anos, notadamente da raça poodle, sendo os sintomas clínicos mais frequentes poliúria, polidipsia, polifagia, abdômen abaulado secundário a obesidade visceral e a

hepatomegalia e atrofia muscular, além de diversas alterações cutâneas 3 (Figura 4). A hipertensão sistêmica está presente em aproximadamente 75% dos pacientes humanos com doença de Cushing 23. Na população canina com síndrome de Cushing, estima-se que mais de 50% dos cães sejam hipertensos 3, chegando a 86% dos casos 9, resultado este também observado em nosso estudo, que constatou hipertensão sistólica em 74% dos casos. Uma associação entre glicocorticoides e doença glomerular foi reconhecida em um estudo realizado em 1987, que demonstrou que 34% dos cães com evidência histológica de doença glomerular e proteinúria apresentavam histórico de hiperadrenocorticismo espontâneo ou de administração exógena de glicocorticoides 14. Acredita-se que a hipertensão sistêmica, comum nos cães hiperadrenocorticoideos, contribua para o desenvolvimento de doença glomerular, através de hiperfiltração e de eventual esclerose glomerular 23-25. A proteinúria renal patológica pode ser decorrente de processos de lesão Viviani De Marco

respectivamente, de 245 +/- 171U/L e 491 +/- 391U/L. A hipercolesterolemia e a hipertrigliceridemia foram observadas em 73,9% dos cães (17/23), sendo os valores médios e de desvios padrão para o colesterol de 359 +/- 142mg/dL, e para o triglicérides, de 186 +/107mg/dL. A hipercolesterolemia associada a hipertrigliceridemia foi observada em 65,2% (15/23) dos casos. A ausência de supressão dos níveis séricos de cortisol após a aplicação endovenosa de 0,01mg/kg de dexametasona foi

evidenciada em 100% dos casos, sendo a média e o desvio padrão do cortisol oito horas após supressão de 47,8 +/- 32,2ng/mL. A hipertensão arterial e PUr:CUr superior a 0,5 foram identificadas em 74% (n = 17/23) e 43,5% dos casos (n = 10/23), respectivamente (Figuras 2 e 3). A média e o desvio padrão da pressão arterial sistólica nos 23 cães estudados foram de 171 +/- 23mmHg e da relação proteína:creatinina urinária de 0,68 +/- 0,59. Dentre os dez animais que apresentaram PUr:CUr superior a 0,5, sete (30,4%) tinham valores maiores ou iguais a 1 (variação de 0,6 a 2). A associação entre hipertensão arterial sistólica e relação PUr:CUr acima de 0,5 foi encontrada em 35% dos casos (n = 8/23), e hipertensão em associação com PUr:CUr superior a 1 em 26% dos casos (6/23) (Figura 3). Discreta hipoalbuminemia foi observada em dois cães, sendo que um deles apresentava PUr:CUr = 0,46 (limite superior da normalidade), e o outro PUr:CUr de 2.

Figura 3 - Valores pressóricos e relação proteína/creatinina urinária (PUr:CUr) isolados e em associação de 23 cães com HAC hipofisário atendidos no Hospital Veterinário da Universidade de Guarulhos (2007-2008)

Figura 4 - Cadela poodle com hiperadrenocorticismo hipófise dependente, demonstrando marcante distensão abdominal, alopecia, atrofia cutânea e muscular

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tubular ou glomerular. A relação proteína/creatinina urinária é um método laboratorial rápido e prático, que pode ser realizado em uma única amostra de urina, sendo capaz de confirmar uma suspeita de proteinúria renal 16-18. Atualmente, a proteinúria renal é monitorada cada vez mais precocemente, a fim de se poderem identificar estágios iniciais da doença renal. Dessa forma, PUr:CUr menor que 0,2 indica perda normal de proteínas urinárias, ao passo que valores entre 0,2 e 0,5 indicam proteinúria em magnitude questionável (borderline), que deve ser investigada. Para pacientes caninos não azotêmicos, recomenda-se monitorar a proteinúria quando a PUr:CUr for maior que 0,5 17,18. Por esse motivo, foram considerados neste trabalho valores de referência para PUr:CUr até 0,5. A frequência de PUr:CUr superior a 0,5 em nosso estudo foi de 43,5% (n = 10/23), sendo que em sete desses casos a PUr:CUr foi igual ou maior que 1 (30,4%). Vale ressaltar que todos os cães com valores

PUr:CUr igual ou maior que 1 eram hipertensos, denotando uma associação entre esses dois parâmetros. O desenvolvimento de glomerulopatias em cães com síndrome de Cushing pode estar relacionado diretamente à hipertensão arterial, representando uma relação de causa e efeito 9,10,24, mas também a disfunção renal pode colaborar para a elevação da pressão arterial ou para a manutenção de uma hipertensão previamente estabelecida 13. Em nosso trabalho, a frequência de proteinúria mostrou-se inferior à demonstrada em outros estudos, onde até 75% dos cães com síndrome de Cushing podem apresentar esses valores alterados, com níveis entre 1 e 5 9,25. Em estudo prévio baseado na avaliação morfológica renal de cães com síndrome de Cushing, notou-se que todos os cães com relação PUr:CUr entre 1 e 5 apresentavam hiperplasia glomerular leve a moderada, sugestiva de proliferação celular mesangial, o que demonstra a importância desses achados laboratoriais 24,26.

Neste estudo, utilizamos a PUr:CUr como marcador da proteinúria renal. No entanto, não podemos descartar a presença de lesões glomerulares em estágios iniciais em cães com PUr:CUr inferior a 0,5, uma vez que a investigação precoce de glomerulopatias seja efetuada de forma mais eficiente e precisa, com a determinação de microalbuminúria 27,28. Vale ressaltar que o diagnóstico definitivo de glomerulopatia é determinado pela biópsia do córtex renal, desde que seja avaliado o segmento adequado, porém esse instrumento diagnóstico é utilizado com pouca frequência, dadas as suas limitações 29. Nos casos em que a PUr:CUr é considerada normal, mas em que o cão apresenta doença sistêmica passível de evoluir, tal como o hipercortisolismo endógeno, recomenda-se a monitoração desses valores durante todo o curso da doença 17,18. Ao comparar as frequências de proteinúria e hipertensão nos diferentes trabalhos, deve-se levar em consideração o tempo de evolução da doença,


visto que quanto maior for a exposição aos glicocorticoides, maior será o risco de o animal desenvolver hipertensão arterial sistêmica e doenças glomerulares 17,30-32. No presente estudo, somente dois animais (8,7%) apresentaram discreta hipoalbuminemia, sendo um deles associado a marcante proteinúria (PUr:CUr = 2). Usualmente, a concentração sérica de albumina encontra-se diminuída em aproximadamente 30% dos casos que apresentam proteinúria renal concomitante. Entretanto, nos casos de glomerulopatia induzida por hipercortisolismo crônico, a perda de proteínas raramente provoca hipoalbuminemia significativa, embora colabore intensamente para o desenvolvimento de tromboembolismo pulmonar, devido à perda urinária de antitrombina III 26,29-32. Sendo assim, o achado de hipoalbuminemia e intensa proteinúria em um único animal de nossa casuística pode sugerir a presença de doença glomerular preexistente. Concluímos, dessa forma, que a proteinúria e principalmente a hipertensão arterial sistêmica são achados frequentes em cães com hiperadrenocorticismo hipófise dependente. Visto que todos os cães com PUr:CUr maior ou igual a 1 também eram hipertensos, pode-se sugerir uma relação de causa e efeito. No entanto, devem ser levados em consideração os mecanismos inerentes ao excesso de cortisol, potencialmente capazes de causar hipertensão arterial e proteinúria. Desse modo, sugere-se que a hipertensão arterial e a proteinúria sejam investigadas em cães com doença de Cushing, uma vez que, de forma isolada ou em associação, ambas podem contribuir para o desenvolvimento de doença glomerular com progressão para doença renal crônica. Referências 01-FELDMAN, E. C. ; NELSON, R. W. Canine hyperadrenocorticism (Cushing's syndrome). Canine and feline endocrinology and reproduction. 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Co, p. 252-357, 2004. 02-BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Hiperadrenocorticismo em cães. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. São Paulo: Ed. Roca, p. 290-299, 1998. 03-FELDMAN, E. C. ; NELSON, R. W. Acromegaly and hyperadrenocorticism in cats: a clinical perspective. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 2, n. 3, p. 153-158, 2000. 04-FELDMAN, E. C. Hiperadrenocorticismo. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado

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Patrícia Yukiko Montaño

Contato com gatos: um fator de risco para a toxoplasmose congênita?

Médica veterinária autônoma patymontano@inbox.com

Marúcia de Andrade Cruz

MV autônoma, mestre Medicina Felina - UTP

maniadegato@maniadegato.com.br

Contact with cats: a risk factor for congenital toxoplasmosis?

Leila Sabrina Ullmann

MV, mestranda PPG/FMVZ/Unesp-Botucatu leila_ullmann@yahoo.com.br

Contacto con gatos: ¿un factor de riesgo para la toxoplasmosis congénita?

Helio Langoni

MV, MSc, Phd, prof. tit. FMVZ/Unesp-Botucatu

hlangoni@fmvz.unesp.br

Alexander Welker Biondo

Resumo: A toxoplasmose é uma importante zoonose e uma das infecções parasitárias mais comuns em todo o mundo, que pode causar, entre outros problemas, diversas alterações patológicas fetais. A toxoplasmose congênita é resultante da transmissão transplacentária do Toxoplasma gondii, devido à primoinfecção da mãe durante a gestação. Vários estudos determinaram que o principal fator de risco para a infecção de gestantes é o consumo de carne mal cozida, que contribuiu com 30% a 63% dos casos; outros 6% a 17% das infecções foram relacionados ao solo contaminado. O convívio entre gestantes e seus gatos constitui nada mais do que uma experiência saudável quando se tem conhecimento dos principais mecanismos de transmissão e dos fatores de risco correlacionados com a doença. Unitermos: zoonose, gestação, Toxoplasma gondii Abstract: Toxoplasmosis is an important zoonosis and one of the most common parasitic infections throughout the world, which may cause among other problems several fetal pathologic alterations. Congenital toxoplasmosis is a result of transplacental transmission of Toxoplasma gondii due to a prime infection of the mother during pregnancy. Several studies have determined that the main risk factor for infection in pregnant women is the consumption of uncooked meat, which contributed from 30 to 63% of cases; other 6% to 17% of infections were related to contaminated soil. The relationship between pregnant women and their cats constitutes nothing more than a healthy experience when main transmission mechanisms and risk factors related to the disease are known. Keywords: zoonose, pregnancy, Toxoplasma gondii Resumen: La toxoplasmosis es una importante zoonosis y una de las infecciones parasitarias más comunes en todo el mundo, que puede causar entre otros problemas diversas alteraciones patológicas en el feto. La toxoplasmosis congénita resulta de la transmisión transplacentaria de Toxoplasma gondii debido a la primoinfección de la madre durante la gestación. Varios estudios determinaron que el principal factor de riesgo para la infección en gestantes es el consumo de carne mal cocida, que contribuyó con el 30 a 63% de los casos; otros 6% a 17% de las infecciones se relacionaron con suelo contaminado. La convivencia entre gestantes y sus gatos constituye nada más que una sana experiencia cuando se conocen los principales mecanismos de transmisión y los factores de riesgo relacionados con la enfermedad. Palabras clave: zoonosis, gestación, Toxoplasma gondii

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parasita, ou pela ingestão acidental de oocistos esporulados provenientes das fezes de gatos que contaminam alimentos como frutas, verduras, leite e água, além de ocorrer também durante a realização de atividades de jardinagem 4. As mulheres podem apresentar maior risco de infecção pelo T. gondii pelo fato de terem maior contato com os gatos ao recolherem suas fezes e por lidarem com carne crua mais frequentemente que os homens durante o preparo das refeições 1. O desconhecimento de boa parte dos profissionais da saúde a respeito das vias de transmissão e do verdadeiro papel do gato no ciclo da toxoplasmose é um grande problema 5 (Figura 1). A recomendação de não ter nenhum contato com qualquer gato durante o período gestacional pode acarretar um aumento

abiondo@illinois.edu

do número de gatos errantes no município, devido ao fato de muitos donos simplesmente abandonarem seus animais à própria sorte. Outro aspecto importante é o emocional, pois a gestante possui laços afetivos com o seu gato e acaba vivendo uma situação de estresse ao ter que se separar de seu animal 6,7. Toxoplasmose congênita A toxoplasmose congênita representa atualmente a segunda causa mais comum de infecção congênita 8 e é resultante da transmissão transplacentária do T. gondii, devido ao fato de a mãe ter uma infecção aguda durante a gestação. Ao atingir o feto, o parasita pode causar danos de diferentes graus de gravidade, dependendo da virulência da cepa, da Fernando Gonsales

Introdução A toxoplasmose é uma zoonose com importância na segurança alimentar, saúde humana e animal, considerada uma das infecções parasitárias mais comuns em todo o mundo. Embora a infecção seja crônica e latente em pessoas imunocompetentes, representa risco a pessoas imunocomprometidas e fetos 1,2. Como os gatos são os únicos animais domésticos no qual o T. gondii completa o estágio sexual de seu ciclo de vida, eliminando assim milhões de formas infecciosas (oocistos) no meio ambiente, eles desempenham importante papel no ciclo de vida desse protozoário 3. Porém, é importante reconhecer que a principal forma de infecção do homem não ocorre pelo contato direto com os gatos, mas principalmente pelo consumo de carne crua ou mal passada contendo cistos do

MV, MSc, Phd, prof. adj. Depto. Medicina Veterinária - UFPR

Figura 1 - Pessoas erroneamente amedrontadas pelo contato direto com o gato, por acreditarem que esse é o principal fator de risco que a toxoplasmose oferece para os seres humanos

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capacidade de resposta imune da mãe e do período gestacional em que a mulher se encontra 9. Transmissão O risco de transmissão vertical está praticamente restrito às primoinfecções 7, tendo-se observado que as mulheres que já apresentavam soropositividade antes da gravidez geralmente não infectam seus fetos 10. A taxa de transmissão ao feto durante a primoinfecção é de 25, 54 e 65% no primeiro, segundo e terceiro trimestres, respectivamente 11. Nas pacientes imunocomprometidas, pode ocorrer reativação da infecção crônica, havendo risco de transmissão ao feto em qualquer período gestacional 10,12. A gravidade da doença no neonato é dez vezes maior quando a infecção materna ocorre no primeiro trimestre, embora a frequência de transmissão vertical seja menor quando comparada ao terceiro trimestre 10. Manifestações clínicas A infecção intrauterina pode ser

muito grave, culminando em abortamento, natimortos, doença neonatal grave ou prematuridade 13 e alterações oftalmológicas 14. O feto pode sobreviver se na infecção congênita não ocorrer manifestação intrauterina; entretanto, mesmo esses casos assintomáticos podem desenvolver sequelas graves ao longo da vida do indivíduo 12,13. As características clássicas dos quadros mais graves dessa infecção são denominadas tétrade de Sabin, que consiste em hidrocefalia ou microcefalia, coriorretinite severa, calcificação intracraniana e retardamento mental 12-4. Esse quadro representa a associação entre a lesão causada pelo agente e a reparação tecidual fetal, que leva à obstrução dos sistemas de transporte do líquido cefalorraquidiano e a uma grande destruição de tecidos nervosos como o cérebro e a retina 13,15. Fatores epidemiológicos Em geral, o risco de adquirir toxoplasmose durante o período gestacional correlaciona-se a três fatores: a prevalência,

o número de contatos com uma fonte de infecção e o número de mulheres suscetíveis (não imunizadas por infecção prévia) existente na comunidade 10. A prevalência de soropositividade em gestantes varia conforme as regiões geográficas, as características climáticas, os fatores culturais e os hábitos alimentares 16. No Brasil, existem alguns estudos de prevalência em gestantes soropositivas para IgG anti-Toxoplasma de 77,1% no Rio de Janeiro, 69,4% no Recife, 54,3% em Porto Alegre, 42% em Salvador, 32,4% na região metropolitana da cidade de São Paulo e 45,4% em Curitiba 10,17. Na cidade de Porto Alegre, RS, Brasil, foi constatado que a idade da gestante mostrou um leve aumento no risco de soropositividade, que teve significância estatística a partir dos 32 anos. Essa associação encontra explicação no maior tempo de exposição ao agente causal, e reforça a importância da triagem sorológica de rotina durante a gestação 18.

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Diagnóstico O diagnóstico precoce durante a gravidez é de suma importância, já que a redução da frequência e da gravidade da infecção fetal depende do título de anticorpos contra T. gondii apresentado pela gestante 19. O diagnóstico da infecção materna é feito pelo perfil sorológico da doença aguda, que avalia tanto anticorpos IgM como IgG. Como os níveis de IgM podem manter-se positivos por até dezoito meses após a infecção, outros métodos devem ser utilizados para diferenciar a infecção aguda da crônica, como o teste de avidez de anticorpos IgG, que demonstra baixa avidez (<30%) nos casos de infecção ocorrida nas últimas doze semanas e alta avidez (>60%) naqueles que tenham ocorrido há mais de doze semanas 10. O diagnóstico de infecção fetal pode ser realizado por meio da cordocentese, realizada até a 22ª semana de gestação para detecção da resposta imune fetal (pesquisa de anticorpos IgM). Além deste, dispõe-se da amniocentese para realização da reação em cadeia da polimerase (PCR) no líquido amniótico, cuja sensibilidade atinge 97,4%, bem como da ecografia, cuja sensibilidade é de 20%. Constituem achados sugestivos de infecção fetal por ultrassonografia a ventriculomegalia cerebral, a microcefalia, as calcificações intracranianas, a hepatoesplenomegalia, a ascite e a placentomegalia 10. As recomendações para triagem sorológica em gestantes diferem de um país para outro, porque a relação custo/efetividade de cada programa varia de acordo com a prevalência da infecção pelo toxoplasma durante a gravidez 16,20,21. Tratamento A transmissão vertical da toxoplasmose ocorre em torno de metade das pacientes não tratadas, podendo variar de 20 a 70% 22, sendo o tratamento capaz de reduzir os riscos de infecção congênita em 50% 10,22. O tratamento realizado durante a gravidez pode reduzir os sintomas em crianças infectadas 23. Apesar de não haver, ainda, um esquema de excelência para o tratamento pré e pós-natal da toxoplasmose congênita, a terapia prénatal parece de fato minimizar os efeitos da infecção, tornando-se uma alternativa 80

prática e real para as gestantes 24. Nesse caso, preconiza-se terapia específica para o feto, com a associação da piretamina à sulfadiazina, acompanhada de ácido folínico alternado com espiramicina, que, segundo alguns estudos, geralmente não atravessa a placenta 25,26. Apesar de o tratamento controlar as formas de rápida proliferação, não existe nenhuma droga capaz de eliminar os cistos teciduais latentes em humanos e animais, que se mantêm viáveis por longo período, podendo reativar a infecção 27. Fatores de risco para as gestantes O principal fator de risco para a infecção em gestantes é o consumo de carne crua ou inadequadamente cozida, que contribuiu com 30% a 63% dos casos; outras 6% a 17% das infecções foram atribuídas ao solo contaminado 24,28. Dentre os animais utilizados para consumo, os suínos, ovinos, caprinos e coelhos são os mais comumente infectados com o T. gondii quando comparados com os bovinos e equinos 29. A carne suína é considerada a principal via de transmissão para os seres humanos nos Estados Unidos da América. O T. gondii pode sobreviver por mais de um ano no suíno, persistindo na musculatura, inclusive nos cortes mais utilizados para consumo humano 23. Dentro desse contexto, a contaminação pode ocorrer ainda de diversas formas, como pela manipulação de carnes cruas ou dos instrumentos que entraram em contato com estas, pela ingestão de frutas e verduras mal lavadas e de leite (principalmente de cabra, in natura) e água contaminados, pela manipulação de fezes de gatos com oocistos esporulados, e na jardinagem executada sem o uso adequado de luvas 4,26. No entanto, a toxoplasmose não foi caracterizada como doença ocupacional em profissionais de abatedouros 30. Fatores de risco para os gatos Em geral, gatos que habitam apartamentos infectam-se pela ingestão de cistos em carnes cruas ou mal cozidas fornecidas por seus responsáveis. Gatos errantes parecem mais propensos a serem infectados após a ingestão de caça como pequenos roedores e pássaros 31. No entanto, tanto para gatos de rua como de apartamento, os oocistos

esporulados podem ser ingeridos por meio de materiais diversos como: leite não pasteurizado, água, solo e vetores mecânicos como baratas e outros insetos 4. Desmistificação do papel do gato na toxoplasmose O papel do gato na toxoplasmose consiste principalmente na perpetuação do parasita e na sua capacidade de contaminar o solo com grande número de oocistos, por ser o único hospedeiro em que este completa seu ciclo 4. Assim sendo, a possibilidade de transmissão para seres humanos pelo simples ato de tocar ou acariciar um gato, ou até mesmo por arranhões e mordidas, é mínima ou inexistente 32-34, devido às características de eliminação do agente e de higiene desses animais 32. O período de eliminação de oocistos pelas fezes é muito curto, com duração de uma a duas semanas; esses oocistos levam aproximadamente três dias no ambiente em condições adequadas de umidade e temperatura para esporularem e, depois disso, se tornarem infectantes 34. Dificilmente os oocistos permanecerão nos pêlos, já que os gatos estão constantemente se limpando, e durante o período de eliminação geralmente não ocorre diarreia 32. É importante lembrar ainda que nem todo gato entrou em contato com o agente, portanto, nem todo gato é portador. No caso dos portadores crônicos, estes dificilmente irão eliminar oocistos novamente mesmo após uma reinfecção, pois os gatos normalmente eliminam o agente apenas na primoinfecção, tornando-se imunes por toda a vida 35,36. Nem mesmo quando se tornam imunodeficientes, como nas infecções por FIV e FeLV, há um risco maior de esses gatos se reinfectarem e eliminarem oocistos 37. Os gatos que habitam apartamentos e se alimentam apenas de alimento comercial ou dietas caseiras apresentam menor risco de contato com o agente e, consequentemente, um potencial de transmissão ainda menor para seus responsáveis 31. Principalmente no caso das gestantes, é necessário desmistificar a crença de que o simples fato de ter contato com gatos durante o período gestacional, sem analisar os fatores de risco envolvidos para os animais e para essas mulheres, seja motivo para que elas tenham que se

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desfazer de seus animais 5 (Figura 2). Evitar a exposição aos gatos não significa evitar exposição aos oocistos 34. Portanto, considerando todas as outras fontes, o afastamento ou até mesmo a eutanásia de gatos de estimação não soluciona o problema 32. Exames realizados previamente nas mulheres e nos seus gatos auxiliam na conduta profilática, pois os gatos soropositivos para toxoplasmose já passaram pela fase de eliminação de oocistos, e praticamente não apresentam riscos de transmitir a doença. Para os

gatos soronegativos, é importante que se mantenha a soronegatividade pela restrição dos animais aos principais fatores de risco.

Fernando Gonsales

Figura 2 - Contato consciente com o gato durante o período gestacional

Medidas profiláticas Pessoas consideradas suscetíveis à infecção por T. gondii, como, por exemplo, as gestantes soronegativas, devem tentar evitar o contato com cistos teciduais e oocistos, mediante uma série de medidas simples e muitas vezes ignoradas quando se leva em consideração apenas a presença de gatos na casa 4,33,35,38. Ainda não existem estudos que evidenciem o benefício do tratamento materno para evitar a transmissão vertical da toxoplasmose. Ainda não foram confirmadas vacinas eficazes contra a toxoplasmose humana, que previnam a infecção congênita ou a reativação de cistos 39. Portanto, ações como a orientação verbal ou por escrito de medidas profiláticas às gestantes suscetíveis que fazem o seu pré-natal na rede pública de saúde, bem como a triagem de rotina dessa população, permitiriam identificar

e diminuir os casos de infecção aguda. Consequentemente, seriam reduzidos os casos de infecção congênita e o aparecimento de sequelas no futuro pela instituição precoce do tratamento em crianças congenitamente infectadas 18. Principais medidas profiláticas para evitar a toxoplasmose congênita: 1 - Não ingerir carne crua ou parcialmente cozida, principalmente a suína. Além disso, considera-se que o preparo da carne no forno de microondas não seja capaz de inativar os cistos, devido ao cozimento desigual 40. 2 - Lavar cuidadosamente as mãos, tábuas de carne, superfícies de pias e outros utensílios que entraram em contato com carne crua (cistos), frutas e/ou verduras (oocistos) com água e sabão, pois a água eliminará os estágios do T. gondii encontrados nesses alimentos 32. 3 - Lavar cuidadosamente também frutas e verduras antes do consumo, pois podem estar sujas de terra contaminada com oocistos 5,32,34. 4 - Não ingerir leite cru, nem água de procedência desconhecida 41,42.

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5 - Evitar atividades de jardinagem que exijam contato com terra ou usar luvas para evitar contato com os oocistos presentes no solo, e lavar bem as mãos logo após essas atividades 5,32,34. 6 - Remover diariamente as fezes das caixas de areia com o auxílio de uma pá, pois os oocistos serão removidos antes que possam esporular; lavar bem as mãos logo após 34. 7 - Evitar o acesso a caixas de areia de praças públicas 4. 8 - Não fornecer carnes cruas, vísceras ou ossos para os gatos, e evitar ao máximo atividades de risco, como a caça 5,32,34. 9 - Combater os vetores mecânicos (baratas e outros insetos) 32.

Referências

Considerações finais É provado que, além de serem cada vez mais comuns, as interações entre o homem e os animais são muito importantes para o bem-estar emocional das pessoas. Médicos e veterinários devem trabalhar juntos para tornar esse contato o mais saudável possível para ambos os lados. O convívio entre mulheres gestantes e seus gatos representa nada mais do que uma experiência saudável quando se tem conhecimento dos principais mecanismos de transmissão e dos fatores de risco relacionados com a doença (Figura 3). Marúcia de Andrade Cruz

Figura 3 - Convívio saudável entre grávida, filha e seus gatos em Curitiba, PR

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Estudo radiográfico e tomográfico de seis cães portadores de neoplasia mandibular

Carolina de Oliveira Ghirelli MV, pós-graduanda Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

carolghirelli@bol.com.br

Lenin Arturo Villamizar MV, pós-graduando Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

leninvet@usp.br

Ana Carolina B. C. Fonseca Pinto MV, profa. dra. Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

Radiographic and tomographic studies of six dogs with mandibular neoplasm

anacarol@usp.br

Estudio radiográfico y tomográfico de seis perros con neoplasia mandibular Resumo: As neoplasias orais representam a quarta neoplasia mais comum em cães. A radiografia e a tomografia computadorizada são importantes métodos complementares para o diagnóstico das neoplasias orais. Este estudo visou avaliar as neoplasias mandibulares por meio do exame radiográfico e tomográfico, comparando os achados destes métodos em seis cães com diagnóstico histopatológico de neoplasia mandibular. Os exames radiográfico e tomográfico do crânio verificaram comprometimento ósseo em 66,7% e 83,3% dos casos, respectivamente. A despeito do comprometimento ósseo, apenas a tomografia computadorizada identificou invasão das estruturas adjacentes (66,8% dos casos). Conclui-se que a tomografia computadorizada foi mais detalhada na detecção de comprometimento ósseo, além de ter observado invasão de outras estruturas adjacentes, demonstrando sua importância na determinação do prognóstico e da viabilidade do tratamento. Unitermos: tumores, tomografia, cavidade oral

Abstract: Oral cancers represent the fourth most common cancer in dogs. Conventional radiography and computed tomography (CT) are important diagnostic methods for the evaluation of oral neoplasms. The aim of this study is to evaluate mandibular neoplasms by using radiographic and tomographic exams and to compare the results obtained with these methods in six dogs with histological diagnosis of mandibular tumor. Radiographic and CT exams showed bony changes in 66.7 and 83.3% of the cases, respectively. Despite bony lesion identification, only CT could help detect invasion of adjacent structures (66.8% of the cases). We conclude that CT scans were more detailed and therefore more effective in the detection of bone lesion than conventional radiography, in addition to detecting invasion of tissues adjacent to the tumors. This demonstrates the importance of this kind of examination in determining the prognosis and treatment viability. Keywords: tumors, tomography, oral cavity Resumen: Las neoplasias orales representan la cuarta neoplasia más común en perros. La radiografía y la tomografía computarizada son importantes métodos complementarios para el diagnóstico de las neoplasias orales. Este estudio objetivó evaluar las neoplasias mandibulares por medio de examen radiográfico y tomográfico, comparando los hallazgos de estos métodos en seis perros con diagnóstico histopatológico de neoplasia mandibular. Los exámenes radiográfico y tomográfico del cráneo evidenciaron comprometimiento óseo en 66,7% y 83,3% de los casos respectivamente. En relación al comprometimiento óseo, solamente la tomografía computarizada identificó invasión de las estructuras adyacentes (66,8% de los casos). Se concluye que la tomografía computarizada fue más detallada en la detección de comprometimiento óseo, además de haber evidenciado invasión de las estructuras adyacentes, demostrando su importancia en la determinación del pronóstico y en la viabilidad del tratamiento. Palabras clave: tumores, tomografía, cavidad oral

Clínica Veterinária, n. 86, p. 86-94, 2010

Introdução A neoplasia da cavidade oral é comum em pequenos animais, superada apenas por tumores de pele e tecidos moles, tumores mamários e hematopoiéticos 1. Representando aproximadamente 6% de todos os tumores malignos, é considerada a quarta neoplasia mais frequente em cães 1-3. As neoplasias orais podem se originar na mucosa bucal, na língua, no periodonto, na mandíbula, na maxila, no tecido odontogênico, nos lábios e nas tonsilas 4. As neoplasias 86

malignas mais comuns dessa região em cães são o melanoma maligno, o carcinoma de células escamosas e os fibrossarcomas 5,6. A neoplasia benigna mais comum nos cães é a epúlide 7. As manifestações clínicas das neoplasias mandibulares incluem disfagia, dificuldade de mastigação, halitose, hemorragia, ptialismo, deslocamento ou perda dentária, edema facial, espessamento ósseo de mandíbula e perda de peso 8-11. O diagnóstico por imagem das neoplasias orais é necessário para determinar

a extensão tumoral e o comprometimento dos tecidos locais, que são fatores importantes para a escolha do tratamento apropriado 3,12. Essas informações podem ser obtidas por meio do exame radiográfico convencional do crânio 10, que pode identificar envolvimento ósseo a partir de graus variados de reabsorção ou proliferação óssea 9,13. As projeções radiográficas preconizadas na avaliação da cabeça são: laterais oblíquas, intraorais, dorsoventral ou ventrodorsal 10. As projeções laterais oblíquas facilitam a individualização de cada hemimandíbula 10,13. Já na projeção ventrodorsal, as lesões do ramo vertical mandibular são mais bem observadas 10. A projeção intraoral frequentemente fornece informações adicionais 6, especialmente nos casos de neoformações que acometem as porções rostrais da mandíbula 10. Contudo, as lesões da porção caudal da boca são de difícil avaliação pelo exame radiográfico, pois a sobreposição de outras estruturas não permite isolar a área afetada 12, sendo essa uma das desvantagens dessa modalidade diagnóstica. Outra limitação do exame radiográfico é a necessidade de uma perda de 40% ou mais da densidade mineral óssea para que esta seja detectada nas radiografias; dessa forma, exames aparentemente normais não excluem a invasão óssea 14. Por outro lado, as principais vantagens do exame radiográfico, quando comparado a métodos de imagem avançados como a tomografia computadorizada, são a acessibilidade e o menor custo, além de ele possibilitar uma avaliação panorâmica da região examinada.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


Em 1991, um estudo sobre mandibulectomia parcial em 136 cães com neoplasia mandibular evidenciou osteólise por meio do exame radiográfico em 63,2% dos casos e concluiu que a osteólise forneceu informação adicional sobre a extensão tumoral, apesar de não ter sido um fator determinante para o estadiamento tumoral 15. Outro estudo sobre neoplasias maxilares em 69 cães observou osteólise tanto em tumores malignos como em benignos 16, demonstrando que o comprometimento ósseo não determina a malignidade da neoformação. Mesmo no caso do ameloblastoma, que tem a destruição óssea cística como aparência radiográfica característica, o diagnóstico definitivo não pode ser feito apenas pelas radiografias, porque não existe um padrão radiográfico estabelecido para cada tipo histológico específico 3,13,17. Contudo, por meio do exame radiográfico é possível caracterizar lesões agressivas e não agressivas. Os parâmetros para distinguir lesões benignas de lesões agressivas são: a presença de descontinuidade óssea

(especialmente do córtex), padrão de lise óssea, tipo de reação periosteal característica da zona de transição. As lesões agressivas geralmente apresentam um padrão radiográfico lítico de permeio ou com aspecto de roído de traça, reação periosteal de aspecto amorfo ou sunburst, e suas margens são imprecisas, o que é denominado zona de transição indistinta 18. Toda vez que for possível e quando estiverem disponíveis, devem-se utilizar técnicas avançadas de imagem, como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RM), para complementar a avaliação. Essas modalidades diagnósticas fornecem informações úteis para a definição da extensão das neoformações, especialmente na avaliação da invasão tumoral da cavidade nasal, da faringe caudal e da órbita 14. Apesar das limitações inerentes ao exame radiográfico, como a sobreposição de estruturas, a necessidade de perda importante da densidade mineral para a detecção de lise no exame radiográfico e a impossibilidade de caracterização ou

diferenciação de tecidos moles e fluido, a literatura 19 recomenda que a tomografia seja precedida por uma avaliação radiográfica 20, visto que a principal vantagem desse método é propiciar informação panorâmica da região estudada 21. A tomografia utiliza a mesma radiação eletromagnética que produz a imagem do exame radiográfico convencional, porém, ao contrário da radiografia, na qual a imagem é resultado da sobreposição de estruturas, a grande vantagem da TC é ser uma imagem seccional, que permite melhor detalhamento anatômico por ser livre de sobreposição de estruturas adjacentes 21,22, facilitando assim o diagnóstico de anormalidades em estágios mais precoces 23. Devido à complexa anatomia do crânio, sua avaliação radiográfica tornase difícil; assim, os métodos de imagem seccionais passam a ser ferramentas diagnósticas úteis no estudo dessa região 24, como já foi comprovado na prática médica 25,26. As áreas de osteólise e/ou proliferação óssea são mais aparentes na tomografia

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computadorizada do que no exame radiográfico 27, pois a TC pode discernir diferenças de densidade menores que 1%, enquanto se faz necessário uma diferença de 5% para detectá-las nas radiografias convencionais 27,28. A administração de contraste iodado intravenoso pode ser uma importante parte da investigação tomográfica, sendo útil na determinação da extensão e da vascularização das lesões 29, e na distinção entre fluido e tecidos moles, o que também não é possível pela radiografia convencional 20. Além disso, a TC pode guiar biópsias de áreas específicas da lesão 24. Nos seres humanos, sabe-se que os indicadores tomográficos diretos de tumores malignos dessa região são: crescimento expansivo com obliteração da gordura, infiltração dos músculos e destruição óssea; já os indiretos são heterogeneidade estrutural com necrose, metástase em linfonodos e realce tumoral pós-aplicação do meio de contraste 30. Na literatura veterinária são encontrados poucos estudos da avaliação de tumores orais pelos métodos de imagem seccionais. Em 2004, num estudo sobre a contribuição diagnóstica da TC e da RM em dezenove cães com massas orais, os autores concluíram que a ressonância magnética oferecia informação acurada quanto ao tamanho do tumor e à invasão das estruturas adjacentes, porém, comparativamente, os métodos mostraram acurácia semelhante em observar o comprometimento ósseo. Contudo, a tomografia visibilizou melhor a calcificação e a destruição da cortical óssea. Na TC, o realce pósinjeção intravenosa de contraste não foi observado em nenhum dos dezenove casos, não se mostrando importante na avaliação das lesões nesse estudo 31. Além da avaliação do tumor primário, a análise dos linfonodos regionais também se faz necessária para determinar o comprometimento; dessa forma, aspectos como o tamanho, o formato e a atenuação dos linfonodos devem ser verificados 13. Também não se pode deixar de avaliar a possibilidade de metástases à distância. A técnica de imagem prontamente disponível para essa avaliação é a radiografia 21,32. As radiografias de tórax nas projeções ventrodorsal e laterolaterais direita e esquerda podem identificar a presença de metástases pulmonares 10,12,32, porém os achados negativos 88

não excluem a possibilidade da presença de pequenas lesões (< 5mm) 32. Massas ou nódulos múltiplos, bem definidos e de aspecto intersticial sólido são a aparência radiográfica mais comum da doença metastática pulmonar. Outros padrões incluem nódulo intersticial solitário, consolidação alveolar lobar, nódulos mal definidos e opacificação intersticial difusa, podendo ser esta última confundida com alteração em decorrência da idade 33. O exame radiográfico do tórax também pode evidenciar linfonodomegalia hilar, esternal ou mediastinal 32. O objetivo do presente estudo foi avaliar as neoformações mandibulares por meio dos exames radiográfico e tomográfico simples e contrastado, descrevendo as alterações observadas nessas modalidades diagnósticas. Materiais e métodos Foi realizado um estudo prospectivo de seis casos de neoformações orais em cães que apresentavam comprometimento mandibular, atendidos entre dezembro de 2006 e dezembro de 2007 pelo Laboratório de Odontologia Comparada da FMVZ-USP e encaminhados para avaliação imagenológica. Esses animais foram submetidos a exames radiográficos de cabeça e tórax e exames tomográfico simples e contrastado da cavidade oral. Os exames radiográficos eram realizados no dia do atendimento ou no mesmo dia do exame tomográfico. Os exames tomográficos foram obtidos no máximo sete dias após os radiográficos. Para o exame radiográfico da cabeça foram realizadas as projeções dorsoventral e laterolaterais oblíquas direita e esquerda. De forma aleatória em três cães submetidos aos exames radiográfico e tomográfico no mesmo dia, também foi realizada a projeção de boca aberta com os animais sob anestesia geral injetável, sendo o protocolo anestésico escolhido pelo anestesista responsável de acordo com a condição de cada paciente. Os exames radiográficos da cabeça foram analisados a fim de identificar a localização e radiopacidade da neoformação, a presença ou não de comprometimento ósseo, a extensão tumoral e a ocorrência de perda dentária correlacionada. Para o exame radiográfico de tórax foram feitas as projeções ventro-

dorsal e laterolaterais direita e esquerda, nas quais se buscavam alterações que indicassem a possibilidade da presença de metástases como opacificações pulmonares, principalmente nodulares, linfonodomegalias, comprometimento ósseo ou derrame pleural. Os exames tomográfico simples e contrastado da região da neoformação mandibular foram realizados com o animal sob anestesia geral inalatória para haver adequada contenção, e assim se obter o posicionamento e a imobilidade necessários para a realização da sequência de cortes tomográficos, e também evitar a formação de artefatos de moção. Os pacientes foram posicionados em decúbito esternal, com os membros torácicos fora da entrada do aparelho (gantry). Os cortes transversais foram realizados do início ao fim da região acometida pela neoformação oral. A espessura dos cortes foi de 2, 5 ou 10mm, com incremento de 2, 5 e 10mm, dependendo do porte do paciente e do tamanho da neoformação. As imagens foram obtidas antes e depois da injeção intravenosa de contraste iodado hidrossolúvel não iônico a no volume aproximado de 1,5mL/kg de peso, administrado em bolo. As imagens tomográficas foram analisadas em janela que permitia adequada avaliação de partes moles e em janela óssea. No exame tomográfico foi identificada a localização da neoformação, sua atenuação e realce pós-injeção intravenosa de contraste, suas dimensões, possibilidade de comprometimento ósseo e invasão local. Em todos os casos foram coletados fragmentos da neoformação para a realização de exame histopatológico. Resultados Dos cães estudados, três eram animais de raça: um pastor alemão, um schnauzer e um pinscher. Observou-se que metade eram fêmeas. Quanto à idade, classificada em quatro faixas etárias – zero a dois anos, três a seis anos, sete a dez anos e mais de dez anos –, os animais na faixa de sete a dez anos predominavam (66,7%). As neoformações avaliadas obtiveram como diagnóstico histopatológico: a) Urografina 292® Berlimed S.A. Alcalá de Henares/Madrid. Schering do Brasil, São Paulo, SP

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1 2 3 4 5

6

Idade (anos) 17 6 9 10 10 9

Histopatológico melanoma ameloblastoma acantomatoso mastocitoma grau III sarcoma de células alongadas condrossarcoma melanoma

M: macho; F: fêmea; srd: sem raça definida

A Figura 3 - A) Exame radiográfico em projeção laterolateral direita do animal n. 5 ilustra osteólise B e proliferação óssea irregular e permeativa em corpo mandibular esquerdo com envolvimento cortical; B) Corte tomográfico transversal com 2mm de espessura em reconstrução óssea do animal n. 5, evidenciando proliferação e osteólise irregular mandibular esquerda com invasão do canal mandibular e lise periapical do segundo molar superior esquerdo

maxilar e do processo temporal do zigomático (um caso); e 80%, exclusivamente osteólise (quatro casos). Foi observada invasão local (canal mandibular ou órbita) em quatro casos, e em um deles houve suspeita, já que na órbita ipsilateral à neoformação da cavidade

Radiopacidade da formação corpo mandibular tecidos moles esquerdo heterogênea corpo mandibular tecidos moles esquerdo heterogênea mandíbula rostral tecidos moles (adjacente à sínfise mandibular) homogênea corpo mandibular tecidos moles esquerdo heterogênea corpo mandibular tecidos moles esquerdo homogênea

DP: doença periodontal PMID: pré-molar inferior direito

Sexo M F M F F M

Figura 1 - Descrição dos animais com neoformação localizada em mandíbula quanto a idade, sexo e raça, juntamente com o diagnóstico histopatológico da neoformação mandibular - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo - SP

Localização

corpo mandibular bilateral

Raça pinscher srd schnauzer srd pastor alemão srd

Carolina Ghirelli

Cão

Cão 1 2 3 4 5 6

Carolina Ghirelli

melanoma (2), ameloblastoma acantomatoso (1), mastocitoma grau III (1), sarcoma de células alongadas (1) e condrossarcoma (1) (Figura 1). No exame radiográfico da cabeça, quanto à radiopacidade da neoformação, observou-se que metade apresentava radiopacidade de tecidos moles homogênea, e a outra metade, radiopacidade de tecidos moles heterogênea, com ou sem calcificação. Em relação ao envolvimento ósseo, quatro cães apresentaram comprometimento mandibular, que em três deles consistia exclusivamente em osteólise (75%) (Figura 2). Nenhum apresentou imagens compatíveis com invasão local relacionada ao canal mandibular ou órbita. No exame radiográfico de tórax, em nenhum dos casos foram observadas imagens que pudessem caracterizar metástases à distância. No exame tomográfico da cavidade oral, quanto à textura, quatro neoformações se mostraram homogêneas e duas heterogêneas (Figura 3). Após a injeção intravenosa de contraste, em um caso não foi observado realce, e nos cinco casos em que este foi identificado, os realces caracterizaram-se como heterogêneo periférico (dois casos), heterogêneo de permeio (dois casos) e homogêneo (um caso) (Figura 4). Em cinco cães observou-se comprometimento ósseo (83,3%): envolvendo exclusivamente os ossos da mandíbula (quatro casos); associado ao comprometimento ósseo

tecidos moles homogênea

oral foi observada uma estrutura com atenuação de partes moles e de dimensões assimétricas quando comparada à orbita contralateral – entretanto, não foi possível determinar se essa estrutura era extensão da neoformação da cavidade oral.

Comprometimento ósseo e localização não

Caracterização radiográfica ----

Invasão local não

Perda dentária DP grave

lise irregular expansiva da mandíbula com envolvimento cortical não

agressiva

não

não

----

não

não

lise irregular expansiva da mandíbula com envolvimento cortical proliferação óssea e lise da mandíbula de aspecto irregular e de permeio com envolvimento cortical lise irregular da mandíbula com envolvimento cortical

agressiva

não

sim

agressiva

não

não

agressiva

não

1º PMID

Figura 2 - Descrição dos achados dos exames radiográficos dos cães com neoformação mandibular caracterizados quanto a localização, radiopacidade, envolvimento ósseo, invasão local e perda dentária correlacionada - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo - SP

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Cão 1

2

3

4

5

6

Localização

Textura

terço médio e caudal do corpo mandibular esquerdo terço médio do corpo mandibular

homogênea

região rostral da mandíbula (adjacente à sínfise mandibular) terço médio e caudal do corpo mandibular esquerdo terço rostral, médio e caudal do corpo mandibular esquerdo corpo mandibular bilateral, terço rostral e médio à direita e terço rostral, médio e caudal à esquerda

heterogênea e calcificação homogênea

Realce pós- contraste não houve realce

heterogêneo periférico esquerdo heterogêneo de permeio

Comprometimento ósseo e localização lise da maxila, processo temporal do zigomático, mandibular lise expansiva mandibular com envolvimento cortical

Caracterização

não

----

----

agressiva

Invasão local suspeito (órbita?) canal mandibular esquerdo não

homogênea

heterogêneo de permeio

lise expansiva da mandíbula com envolvimento cortical

agressiva

canal mandibular

heterogênea

heterogêneo periférico

agressiva

canal mandibular

homogênea

homogêneo

lise e proliferação irregular permeativa da mandíbula com envolvimento cortical lise mandibular com envolvimento cortical

agressiva

canal mandibular

Figura 4 - Descrição dos achados do exame de tomografia computadorizada simples e contrastada das neoformações mandibulares caracterizadas quanto a localização, textura, realce pós-injeção intravenosa de contraste, envolvimento ósseo e invasão local - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo - SP

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Carolina Ghirelli

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Discussão e conclusão Diante da frequência das neoplasias orais caninas – que correspondem a aproximadamente 6% de todos os tumores malignos caninos 1,2,3 – e da escassez de relatos na literatura veterinária sobre as principais alterações observadas pelos métodos de imagem e o valor diagnóstico e prognóstico que eles apresentam, verificou-se a necessidade de estabelecer as possibilidades de aplicação e a contribuição dos exames radiográfico e tomográfico no estudo das neoplasias orais, como já foi estabelecido na prática médica 25,26. Observou-se maior número de animais com idade superior a nove anos, sendo a média de idade de 10,2 anos, em concordância com a literatura 4,5,34,35. Na literatura veterinária é possível encontrar alguns estudos sobre as alterações radiográficas observadas nas neoplasias orais de cães 5,15-17. Na tentativa de diminuir as sobreposições e isolar as alterações no exame radiográfico, de acordo com estudo realizado anteriormente 10, diferentes projeções radiográficas foram realizadas, como laterolaterais oblíquas, intraorais e dorsoventral. Deve-se ressaltar que o exame radiográfico proporciona a avaliação panorâmica da região examinada, permitindo a análise de outras regiões do crânio. Além disso, a utilização da projeção de boca aberta se mostrou importante pelo isolamento da área afetada, especialmente para as neoformações localizadas nas porções caudais da mandíbula, permitindo uma avaliação detalhada do trabeculado ósseo, devido à ausência de sobreposição, porém, para a sua realização, é necessário que o animal esteja sob contenção química. Como descrito em outro estudo 16, tanto os tumores malignos como os benignos apresentaram comprometimento ósseo com predomínio de lise. No exame radiográfico, quatro casos apresentaram comprometimento ósseo, sendo que três foram caracterizados por osteólise exclusivamente, duas delas de aspecto expansivo (Figura 5), porcentagem semelhante relatada em estudo prévio (63,2%) 15, porém neste último não foram descritas as projeções radiográficas realizadas. Ao comparar os achados dos exames radiográfico e tomográfico simples em relação ao comprometimento ósseo,

A Figura 5 - A) Exame radiográfico em projeção laterolateral direita do animal n. 4 ilustra acentuada osteólise irregular e expansiva do corpo manB dibular esquerdo; B) Corte tomográfico transversal com 5mm de espessura em janela óssea do animal n. 4 mostra osteólise expansiva do corpo mandibular esquerdo com invasão do canal mandibular

pôde-se verificar que enquanto o exame radiográfico observou comprometimento ósseo em 66,7% dos casos, na tomografia computadorizada a porcentagem aumentou para 83,3%, sendo que no caso em que o exame radiográfico não observou comprometimento ósseo (falso negativo), a tomografia computadorizada não apenas o detectou, mas também identificou lesão em três ossos: maxila, mandíbula e processo temporal do zigomático (animal 1). Acredita-se que a diferença entre essas frequências possa estar relacionada à necessidade da perda de 40% ou mais da densidade mineral óssea para detecção nas radiografias 14, sendo a extensão do comprometimento ósseo subestimada por esse método 12. Apesar do pequeno número de casos, este estudo ilustra a superioridade do exame tomográfico em relação à sensibilidade em diferenciar densidades e detalhamento anatômico dessa região. Assim, diferenças maiores ou menores na densidade permitem que áreas de osteólise e/ou proliferação óssea sejam mais aparentes na tomografia computadorizada 26, característica que irá auxiliar na determinação da extensão da neoplasia e no prognóstico. Outro importante fator analisado foi em relação à suspeita de invasão de estruturas adjacentes, que o exame radiográfico não detectou em nenhum dos casos, mas foi observada em quatro animais por meio de TC; em um caso foi considerada suspeita (animal 1), já que não foi possível determinar se a estrutura de atenuação de partes moles na órbita

era extensão da neoformação da cavidade oral. A porcentagem de falso negativo verificada nesses casos pode estar relacionada principalmente pela caracterização à tomografia de invasão do canal mandibular em quatro animais, detalhamento anatômico que não é possível observar no exame radiográfico. Ao contrário da literatura 31, no presente estudo foi possível observar realce em cinco das seis neoformações na TC contrastada. O realce foi caracterizado como heterogêneo periférico quando o maior realce ocorria na região periférica da lesão; heterogêneo de permeio quando o realce se apresentava em intensidade diferente nas diversas regiões da neoformação; ou homogêneo quando o realce era uniforme em toda a neoformação. O realce é uma informação importante, pois permite avaliar a vascularização e a viabilidade tecidual, e assim inferir acerca da possibilidade de sangramento durante o procedimento cirúrgico ou de ulceração nos casos em que a área de necrose seja identificada. Apesar de ser uma informação adicional da TC, neste estudo o realce não permitiu caracterizar o tipo histológico ou determinar um padrão de realce para cada neoplasia. Além disso, a tomografia computadorizada permite avaliar os linfonodos mandibulares para detectar metástases regionais, porém na medicina veterinária ainda não há estudos suficientes acerca do protocolo adequado para essa avaliação. Devido ao pequeno número de casos e à diversidade de tipos histopatológicos, não foi possível inferir um padrão

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de comportamento radiográfico ou tomográfico das neoplasias estudadas. As neoplasias mandibulares apresentam diferentes aspectos no exame tomográfico, impossibilitando sua caracterização histopatológica exclusivamente pela imagem. Neste estudo, apesar do pequeno número de casos, a TC apresentou melhor detalhamento anatômico e resolução das estruturas, e maior sensibilidade na detecção de alterações ósseas e de invasão local, quando comparada ao exame radiográfico para avaliação das neoplasias mandibulares, devendo por isso ser considerada como importante ferramenta diagnóstica complementar aos achados de exame físico e radiográfico. Ao fornecer informações quanto ao comprometimento ósseo e à invasão local, ela determina com maior precisão a extensão da doença, o prognóstico e a viabilidade do tratamento cirúrgico. Todavia, há necessidade de realizar-se estudos com casuística mais expressiva para que as neoplasias mandibulares à imagem sejam caracterizadas de modo mais representativo. Agradecimentos Ao professor doutor Stefano Carlo Filippo Hagen pela revisão do resumo em inglês. Referências 01-MORRIS, J. ; DOBSON, J. Cabeça e pescoço. In: ___. Oncologia em pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca, 2007. p. 105-118. 02-DORN, C. R. ; TAYLOR, D. O. N. ; FRYE, F. L. ; HIBBARD, H. H. Survey of animal neoplasms in Alameda and Contra Costa Counties, California. I. Methodology and description of cases. Journal of the National Cancer Institute, v. 40, n. 2, p. 307-318, 1968. 03-VERSTRAETE, F. J. M. Mandibulectomy and maxillectomy. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 35, n. 4, p. 1009-1039, 2005. 04-VOS, J. H. ; GAAG, V. D. Canine and feline oral-pharyngeal tumours. Journal of Veterinary Medicine, v. 34, n. 6, p. 420-427, 1987. 05-TODOROFF, R. J. ; BRODEY, R. S. Oral and pharyngeal neoplasia in the dog: a retrospective survey of 361 cases. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 175, n. 6, p. 567-571, 1979. 06-DHALIWAL, R. S. ; KITCHELL, B. E. ; MARRETTA, S. M. Oral tumors in dogs and cats. Part I. Diagnosis and clinical signs. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 20, n. 9, p. 10111021, 1998. 07-GORLIN, R. J. ; BARRON, C. N. ; CHAUDHRY, A. P. ; CLARK, J. J. The oral and pharyngeal pathology of domestic animals: a

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Hastes bloqueadas ou interlocking nails relato de caso

José Fernando Ibañez MV, prof. dr. - CMV/UENP

ibanez@ffalm.br

Interlocking nails - case report Clavos bloqueados o “interlocking nails” relato de caso Resumo: A preocupação no tratamento das fraturas nas últimas décadas tem se voltado cada vez mais à preservação do microambiente da fratura e do calo ósseo, em detrimento da reconstrução anatômica. Os conhecimentos adquiridos em relação aos fatores que desencadeiam e sustentam a evolução do calo ósseo levam cada vez mais a optar por essa alternativa. Diversos implantes e técnicas têm sido desenvolvidos ou adaptados para esse tipo de abordagem conservadora da fratura. Com as propriedades de resistência de um pino intramedular associadas a maior resistência às forças de rotação resultantes do bloqueio, as hastes bloqueadas podem ser uma opção tentadora no tratamento minimamente invasivo de fraturas. O presente trabalho relata o uso de haste bloqueada no tratamento minimamente invasivo de uma fratura de fêmur em gato, com bons resultados na evolução e bloqueio da haste sem acidentes ou intercorrências Unitermos: osso, fratura do fêmur, fixação de fratura Abstract: The concerns about fracture repair during the last decades have been redirected to less invasive approaches and maintenance of fracture and callus microenvironment, rather than perfect anatomical reconstruction. Acquired knowledge about triggering and maintaining factors of callus evolution has directed orthopedic techniques more and more towards minimally invasive principles. Various implants and techniques have been developed or adapted for this conservative fracture repair approach. Adding rotational resistance by the blocking screws to the mechanical properties of an intramedullary pin, interlocking nails can be a tempting option for the minimally invasive treatment of a fracture. The present paper reports the use of an interlocking nail for the minimally invasive treatment of a cat femoral fracture, with evolution and nail blockage and no accidents or further occurrences Keywords: bone, femoral fracture, fracture fixation Resumen: La preocupación en el tratamiento de fracturas en las últimas décadas ha recaído más hacia la preservación del microambiente de la fractura y del callo óseo en detrimento de la reconstrucción anatómica. Los conocimientos adquiridos sobre los factores que empiezan y sostienen la evolución del callo óseo llevan cada vez más a optar por esta alternativa. Diversos implantes y técnicas están sendo desarrollados o adaptados para este tipo de abordaje conservadora de la fractura. Con las propiedades de resistencia de un clavo intramedular asociadas a una mayor resistencia a las fuerzas de rotación resultantes del bloqueo, los clavos bloqueados pueden ser una tentadora opción en el tratamiento mínimamente invasivo de fracturas. El presente artículo relata el uso de clavo bloqueado para el tratamiento mínimamente invasivo de una fractura de fémur en un gato, con buenos resultados en la evolución y bloqueo de clavo sin accidentes o intercurrencias. Palabras clave: hueso, fractura del fémur, fijación de fractura

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Introdução O tratamento das fraturas sob os conceitos mais modernos da ortopedia visa principalmente a preservação do ambiente biológico no local da fratura, mais do que a reconstrução anatômica do osso envolvido 1. O calo ósseo inicia seu desenvolvimento no momento da fratura, com a liberação, pelas plaquetas do coágulo que se forma, de mediadores quimiotáticos que atraem macrófagos e fibroblastos, de modo que o processo de consolidação da fratura tem início no momento em que ela ocorre 1,2. O coágulo decorrente da hemorragia no momento da fratura também é fundamental na liberação de mediadores que estimulam a angiogênese na malha de fibrina que se forma, rede de vasos esta 96

que será fundamental nas modificações da tensão de oxigênio, variante decisiva na diferenciação dos condroblastos em osteócitos e osteoblastos durante o processo de reparação óssea 3. Com base neste pensamento conservador do ambiente da fratura, têm se desenvolvido técnicas de abordagem e correção das fraturas que visam tocar o menos possível no foco de fratura, quando não deixando-o intacto sem nem expô-lo para a osteossíntese. Dentre essas técnicas pode-se citar a MIPO (minimaly invasive plate osteotomy osteossíntese com placa minimamente invasiva), a osteossíntese biológica e a OBDT (open but don't touch - abra mas não toque). Todas essas técnicas visam a máxima preservação do calo que se iniciou, prevendo consolidação secundária

da fratura através de um método rígido de fixação que mantenha alinhadas as articulações proximal e distal do osso fraturado e são conhecidas como abordagens biológicas da fratura 1,4,5. O interlocking nail ou haste bloqueada é um implante que pode ser utilizado de modo biológico no reparo das fraturas. Sua aplicação permite que ele seja instalado no osso com mínimo dano ao foco da fratura e, às vezes, sem mesmo chegar a expô-la 1,3,4. As hastes bloqueadas consistem em um pino intramedular que é bloqueado nas corticais do osso por meio de parafusos passantes em orifícios disposto na haste 6,7. O uso desse tipo de implante em seres humanos remonta aos anos 1950. Na medicina veterinária, começaram a ser utilizados na década de 1990 8. A opção pelo uso de uma haste intramedular no reparo de uma fratura se baseia na grande resistência às forças de arqueamento que esse tipo de implante pode proporcionar. Isso se dá devido à forma cilíndrica das hastes intramedulares, o que mantém homogênea sua área de momento de inércia; em outras palavras, a resistência ao arqueamento é a mesma, qualquer que seja o sentido em que a força incida. Outro ponto positivo em relação aos implantes cilíndricos é que eles são colocados dentro do canal medular, ou seja, coincidem com o eixo longitudinal do osso, por onde passa a menor quantidade possível de forças de arqueamento. Quanto mais distante do eixo longitudinal do osso estiver um implante ósseo, maiores serão essas forças que incidirão sobre ele 3,6,7. Mas as hastes intramedulares não são excelentes. Por fixarem-se apenas nas extremidades de osso esponjoso dos ossos longos e somente por atrito, não oferecem boa resistência às forças de rotação que incidem sobre os ossos longos. Pensando em conter esse tipo de

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força, responsável pela maioria dos casos de não união, foram desenvolvidas as hastes bloqueadas 5,8. A resistência e a estabilidade conferidas pelas hastes bloqueadas são boas e permitem a consolidação em grande número de casos. Entretanto, um estudo comparando a resistência à torção de modelos de fraturas com intervalo interfragmentar de 1cm fixados com haste bloqueada ou com combinação de placa e pino intramedular demonstrou que é maior a resistência à torção da combinação placa e pino. Não houve diferenças significativas entre os métodos de estabilização comparados na resistência à curvatura e à compressão 9. Outro estudo comparando a resistência conferida por fixação de placas de compressão dinâmica e hastes bloqueadas demonstrou maior resistência ao arqueamento das hastes bloqueadas em relação às placas e maior resistência à torção e cargas axiais das placas 10. A eficácia do uso de hastes bloqueadas no tratamento de fraturas pode ser comprovada em estudos retrospectivos

que demonstram boa evolução dos casos tratados com esse método tanto em cães como em gatos, em diferentes ossos 4,10-12. Ao serem fixadas nas corticais, as hastes intramedulares ganham novo comportamento mecânico, resistindo, além das forças de encurvamento, às forças de rotação e mantendo estável o foco de fratura. Entretanto, elas não podem ocupar totalmente o canal medular devido à conformação dos ossos; assim, ao manterem-se afastadas das corticais ao longo do canal medular, pode ocorrer maior instabilidade do foco da fratura e não união 13,14. A ausência de algum tipo de fixação do parafuso à haste permite micromovimentos de rotação da fratura. Recentemente, um novo conceito de fixação do parafuso de bloqueio à haste vem sendo testado com resultados animadores, diminuindo a instabilidade à torção em relação às hastes com bloqueio tradicional 15. Outra limitação das hastes bloqueadas é o local da fratura. Fraturas muito proximais ou muito distais dificultam o

adequado bloqueio da haste e podem concentrar as forças nos parafusos, aumentando a incidência de quebra 8,16. O número de parafusos de bloqueio também interfere. Ao comparar hastes bloqueadas em tíbias de cães, bloqueadas com um ou dois parafusos distais, alguns autores 17 concluíram que a presença de um só parafuso distal aumenta a fadiga e diminui o torque máximo e o número de ciclos antes da falha do parafuso. Esses achados não contraindicam o bloqueio com só um parafuso, mas fazem refletir no tempo esperado para consolidação 17. O material necessário para a colocação das hastes bloqueadas envolve basicamente as hastes propriamente ditas, que são perfuradas para que se possa bloqueálas nas corticais do osso fraturado, e uma régua, que, acoplada à haste intramedular, permite que se perfure a cortical óssea exatamente nos pontos correspondentes à furação da haste dentro do canal medular. Outros equipamentos essenciais envolvem os guias de broca, fresas e parafusos para bloqueio (Figura 1).

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Relato do caso Trata-se de um gato macho, de nove meses, com fratura múltipla, oblíqua, do terço medioproximal de fêmur direito (Figura 2). A fratura era recente, decorrente de queda. Após exame clínico que constatou não haver alterações outras decorrentes da queda, foi indicada osteossíntese planejada com abordagem biológica do foco da fratura. O acesso à fratura se deu na região média do fêmur direito, na face lateral. Após incisão da pele e pequena divulsão de subcutâneo, incisou-se a fáscia lata e rebateram-se os músculos vasto lateral e bíceps femoral, podendo-se visualizar o foco da fratura. O acesso se fez exclusivamente para que a haste pudesse ser direcionada ao interior do canal medular do segmento distal da fratura, ou seja, pequeno e sem tocar os fragmentos. Não foi feita fresagem do canal medular por ser um animal jovem, de canal amplo. Elegeu-se uma haste bloqueada com 4,5mm de diâmetro e 8cm de comprimento e bloqueios com parafusos corticais de 2mm, inserida por via normógrada, a partir da fossa intertrocantérica. No sistema utilizado, o intervalo entre os orifícios de bloqueio é de 15mm em todas as hastes. Para o bloqueio, após a acoplagem da régua-guia foram feitas outras duas incisões pequenas de pele, uma proximal e outra distal, para perfuração do osso e inserção dos parafusos. O exame radiográfico pós-operatório imediato mostrou adequado alinhamento ósseo e presença das esquírolas próximas ao foco de fratura (Figura 3). Aos sessenta dias, o controle radiográfico

A Figura 2 - Imagem radiográfica de fratura múltipla no terço medioproximal do fêmur direito de gato. A) projeção mediolateral. B) projeção anteroposterior

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José Fernando Ibañez

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a) ORTOVET - Ortopedia Veterinária Comercial Ltda. São Paulo, SP

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A Figura 3 - Imagem radiográfica de fratura múltipla no terço medioproximal do fêmur direito do gato da figura 2, após a redução com haste bloqueada de 4,5mm e o bloqueio com parafusos corticais 2mm. A) Projeção mediolateral. B) projeção anteroposterior. Note que, ao se ganhar comprimento do membro, as esquírolas se aproximaram do foco de fratura

mostrou formação de calo ósseo e consolidação da fratura (Figura 4), quando se deu alta ao paciente.

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Figura 1 - Imagem dos equipamentos essenciais para a instalação de haste bloqueada sistema 4,5mm a

José Fernando Ibañez

José Fernando Ibañez

Este artigo apresenta uma breve revisão do uso de haste bloqueada e relata a redução de uma fratura de fêmur em gato pela técnica OBDT.

Discussão e considerações finais Um ponto importante e fundamental na instalação de sistemas de hastes bloqueadas é a possibilidade de se fazer uma furação perfeita no osso, que possa resultar em bloqueio da haste na cortical. Com a restrição de acesso, em medicina veterinária, de dispositivos de amplificação de imagem como fluoroscopia ou intensificadores de imagem, as réguas-guias e os adaptadores têm que ser extremamente precisos para permitirem o bloqueio 8,10. No caso relatado, o sistema utilizado de hastes permitiu o bloqueio em

B todas as primeiras tentativas. O uso de hastes bloqueadas em felinos também é prática que vem sendo utilizada e não é tão difundida. Isso se deve talvez ao diminuto canal medular dos felinos e à dificuldade de fazer hastes delgadas e resistentes 5,15. As hastes muito finas possuem ponto de fragilidade na região onde há menos massa, que é a dos orifícios, e podem fraturar. Outro ponto a ser destacado é que os parafusos para bloquear hastes muito finas devem ser também finos – fator que diminui a sua resistência e os torna passíveis de se quebrar ou entortar 11,12,15. Não houve no decurso do caso referido qualquer sinal de falha da haste ou do parafuso de bloqueio.

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B

Figura 4 - Imagem radiográfica da fratura múltipla em terço medioproximal do fêmur direito do gato da figura 2, sessenta dias após a cirurgia. A) Projeção mediolateral. B) Projeção anteroposterior. Note-se a formação de calo ósseo nas duas projeções, a integridade dos parafusos de bloqueio e o envolvimento, no calo, das esquírolas

Outro ponto relevante na colocação de hastes bloqueadas nos felinos é a necessidade de fresagem de alguns canais

quando se utilizam hastes de maior diâmetro. A fresagem tem por objetivos ampliar o canal, deixando-o pelo menos

José Fernando Ibañez

José Fernando Ibañez

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1mm mais largo que a haste desejada, e retificar o canal, evitando que a haste se desvie ao atingir a extremidade curva do osso. No caso em questão, como a haste tinha diâmetro menor que os 90% da porção mais estreita do canal medular a ser instalada, não se realizou a fresagem 14. Conforme postulado por vários autores, a preservação do microambiente da fratura propicia consolidação adequada, e as hastes bloqueadas fazem parte dos implantes que permitem esse tipo de abordagem biológica 1,3,7,16. No caso avaliado, embora com a abordagem para expor a fratura, o acesso foi conservador, sem manipulação dos fragmentos ósseos e com bom alinhamento do eixo ósseo. A despeito de o acesso ter sido o mesmo que o de uma abordagem tradicional, o tamanho da incisão foi reduzido, e os fragmentos não foram manipulados, realizando-se o acesso tão somente para visualização do canal medular do fragmento distal. Um ponto a ser considerado é que as hastes bloqueadas pelo método tradicional, ou seja, com parafusos corticais


ou locking bolts, mantêm certo grau de mobilidade rotacional no foco da fratura 9,15,18. No felino tratado com o sistema tradicional de bloqueio, isso não constituiu um impedimento. Houve formação de um grande calo ósseo que poderia denotar excesso de mobilidade do foco da fratura, mas também pode ter havido calo exuberante devido ao fato de a esquírola estar relativamente longe do foco da fratura. A estabilidade antirrotacional das hastes bloqueadas não é maior que a conferida pelas placas e parafusos, mesmo quando utilizadas com a função de ponte 9,14,15,17,18. Talvez sua indicação seja maior nas fraturas em que a redução será biológica e não anatômica. A presença de um pequeno intervalo entre fragmentos resulta em maior taxa de deformação das células que o preenchem quando há movimentação da fratura, pois esse espaço é preenchido por um menor número de células do que seria se fosse um intervalo grande entre fragmentos. Essa deformação excessiva pode ser crítica para os osteócitos que formarão o calo, resultando em sua morte e em não união. Quando a redução da fratura não é anatômica, prefere-se que o intervalo entre fragmentos seja maior, permitindo a ocupação por um maior contingente de células, que dividirão entre si a deformação do gap 2. Esse mecanismo faz com que, deformando-se menos, apesar de o calo ser mais exuberante, a consolidação evolua de modo satisfatório. Com relação à instabilidade rotacional que pode haver no foco da fratura, talvez as hastes bloqueadas sejam mais indicadas quando a falha óssea for grande. Sabe-se que são necessárias forças mecânicas e piezoelétricas essenciais no foco da fratura para possibilitar a diferenciação celular e a evolução do calo ósseo, de modo que toda estabilização deve permitir micromovimentos

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que gerem esses potenciais 1-3. A escolha por hastes bloqueadas não era a única disponível, e talvez outros cirurgiões optassem por outros métodos no caso relatado. As hastes bloqueadas em comparação com as placas em sua aplicação tradicional causam menos danos aos tecidos adjacentes se instaladas por técnicas pouco invasivas ou biológicas, e produzem estabilidade satisfatória, como se pôde observar no caso relatado 6. Referências 01-BEALE, B. S. Practical treatment of comminuted fractures for the general practioner. NAVC NORTH AMERICAN VETERINARY CONFERENCE. Proceedings... Jan. 13-27, p. 869-872, Orlando, Florida, 2007. 02-SUMMER-SMITH, G. Bone in clinical orthopedics. 2. ed. Thieme Medical Publishers. 2002. 492p. 03-BEALE, B. S. Orthopedic clinical techniques femur fracture repair. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 19, n. 3, p. 134-150, 2004. 04-HORSTMAN, C. L. ; BEALE, B. S. ; CONZEMIUS, M. G. ; EVANS R. R. Biological osteosynthesis versus traditional anatomic reconstruction of 20 long-bone fractures using an interlocking nail: 1994-2001. Veterinary Surgery, n. 33, v. 3, p. 232-237, 2004. 05-JOHNSON, K. A. Interlocking nailing of fractures in cats. In: ESVOT CONGRESS, 12., 2004, Munich, Anais... Munich: European Society of Veterinary Orthopaedics and Traumatology, 2004. p. 65-66. 06-STIFFLER, K. S. Internal fracture fixation. Clinical Techniques in Small Animal Practice, n. 19, v. 3, p. 105-113. 2004. 07-WHEELER, J. L. ; STUBBS, W. P. ; LEWIS, D. D. ; CROSS, A. R. ; GUERIN, S. R. Intramedullary interlocking nail fixation in dogs and cats: biomechanics and instrumentation. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, n. 26, v. 7, p. 519528. 2004. 08-DURALL, I. ; DIAZ-BERTRANA, M. C. Fracture fixation using interlocking nails. WSAVA CONGRESS, 30. Proceedings… Mexico City, Mexico 2005. http://www.vin.com/ proceedings/Proceedings.plx?CID=WSAVA200 5&Category=1562&PID=11061&O=Generic, ACESSO EM 12/04/2010 - 18:12 09-BERNARDE, A. ; DIOP, A. ; MAUREL, N. ; VIGUIER, E. An in vitro biomechanical comparison between bone plate and interlocking

nail 3-D interfragmentary motion and bone strain analysis in ostectomized canine femurs. Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology, v. 15, n. 2, p. 57-66. 2002. 10-DIAZ-BERTRANA, M. C. ; DURALL, I. ; PUCHOL, J. L. ; SANCHEZ, A. ; FRANCH, J. Interlocking nail treatment of long-bone fractures in cats: 33 cases (1995-2004). Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology, n. 18, v. 3, p. 119-126, 2005. 11-DUHAUTOIS, B. Use of veterinary interlocking nails for diaphyseal fractures in dogs and cats: 121 cases. Veterinary Surgery, n. 32, v. 1, p. 8-20, 2003. 12-MOSES, P. A. ; LEWIS, D. D. ; LANZ, O. I. ; STUBBS, W. P. ; CROSS, A. R. ; SMITH, K. R. Intramedullary interlocking nail stabilisation of 21 humeral fractures in 19 dogs and one cat. Australian Veterinary Journal, n. 80, v. 6, p. 336-343, 2002. 13-PATIL, D. B. ; ADAMIAK, Z. ; PIÓREK, A. Veterinary interlocking nailing and its augmentation for fracture repair. Polish Journal of Veterinary Sciences, n. 11, v. 2, p. 187-191, 2008. 14-SUBER, J. ; BASINGER, R. R. Effect of stack pins on the stiffness of interlocking nails in an unstable osteotomy model. Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology, n. 2, v. 11, p. 15-20, 2008. 15-DÉJARDIN, L. M. ; LANSDOWNE, J. L. ; SINNOTT, M. T. ; SIDEBOTHAM, C. G. ; HAUT, R. C. In vitro mechanical evaluation of torsional loading in simulated canine tibiae for a novel hourglass-shaped interlocking nail with a self-tapping tapered locking design. American Journal of Veterinary Research, n. 67, v. 4, p. 678-685, 2006. 16-SCOTTI, S. ; KLEIN, A. ; PINK, J. ; HIDALGO, A. ; MOISSONNIER, P. ; FAYOLLE, P. Retrograde placement of a novel 3.5 mm titanium interlocking nail for supracondylar and diaphyseal femoral fractures in cats. Veterinary and Comparative Orthopaedics and Traumatology, n. 20, v. 3, p. 211-218, 2007. 17-REEMS, M. R. ; PLUHAR, G. E. ; WHEELER, D. L. Ex vivo comparison of one versus two distal screws in 8 mm model 11 interlocking nails used to stabilize canine distal femoral fractures. Veterinary Surgery, v. 35, n. 2, p. 161167, 2006. 18-VON PFEIL, D. J. F. ; DÉJARDIN, L. M. ; DECAMP, C. E. ; MEYER, E. G. ; LANSDOWNE, J. L. ; WEERTS, R. J. H. ; HAUT, R. C. In vitro biomechanical comparison of a plate-rod combination-construct and an interlocking nail-construct for experimentally induced gap fractures in canine tibiae. American Journal of Veterinary Research, n. 66, v. 9, p. 1536-1543, 2005.

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Sérvio Túlio Jacinto Reis Perito Criminal Federal, Presidente da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal – ABMVL (11) 8723-1650 www.abmvl.org.br www.abmvl.com/blog servio.reis@abmvl.com

O exercício da medicina veterinária legal

À

medida que a sociedade avança em setores como economia, ciência e tecnologia, as áreas do conhecimento humano se diversificam, sendo cada vez mais necessária a assistência técnico-científica especializada como ferramenta de auxílio na solução das lides. Em relação à medicina veterinária, vemos o surgimento de novas áreas de atuação e campos de conhecimento. Somos testemunhas do aprofundamento de debates em torno de temas como bem-estar animal, direitos dos animais, guarda responsável, proteção ao meio-ambiente e saúde pública. Com a expansão do acesso à informação e à tutela jurídica, vemos um maior número de processos judiciais envolvendo animais e produtos de origem animal, criando uma demanda crescente pela perícia médica veterinária. Nesse contexto, emerge a medicina veterinária legal, que pode ser conceituada como a ciência que ensina a aplicação de todos os ramos da medicina veterinária aos fins da lei. Envolve a atuação do médico veterinário como perito, assistente técnico, consultor ou auditor. Como perito, o médico veterinário aplicará os seus conhecimentos técnicocientíficos em procedimentos judiciais e extrajudiciais, elaborando laudos, informações e pareceres em relação a animais e produtos de origem animal, visando o estabelecimento da justiça. As principais áreas de atuação do perito médico veterinário são meio-ambiente, alimentos, maus-tratos, clínica, patologia, avaliação de rebanhos, seguro animal, saúde pública, bem-estar e proteção animal. Para o adequado desempenho da função pericial nessa área, o perito deve possuir, além da formação veterinária, conhecimento sobre medicina veterinária legal, direitos e deveres da profissão e os requisitos legais e éticos da atividade. Além disso, há outros requisitos 102

éticos e deontológicos como o suficiente conhecimento específico, discrição e imparcialidade. Algumas poucas faculdades possuem a disciplina de medicina veterinária legal em sua grade curricular. Devido à demanda, espera-se a expansão da especialidade para os demais cursos de graduação e pós-graduação. Além disso, os interessados em matéria forense podem buscar cursos que são oferecidos, ao longo do ano, por diversas instituições. Ainda temos um longo caminho a percorrer até que essa atividade tenha o seu valor plenamente reconhecido. Para isso, é essencial a organização dos médicos veterinários interessados em perícias, com intercâmbio de informações, estabelecimento de protocolos e padronização de procedimentos, visando a qualidade e consequente credibilidade dos resultados. Devemos estreitar os laços entre os profissionais do Brasil e do exterior, o meio acadêmico, o Poder Judiciário e a sociedade como um todo. Previsão legal a A lei que regulamenta o exercício da profissão de médico veterinário, em seu Capítulo II, estabelece entre as competências privativas do médico veterinário: “CAPÍTULO II - DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL Art. 5º É da competência privativa do médico veterinário o exercício das seguintes atividades e funções a cargo da União, dos Estados, dos Municípios, dos Territórios Federais, entidades autárquicas, paraestatais e de economia mista e particulares: ... a - Lei Nº 5.517, de 23 de outubro de 1968 http://www.cfmv.org.br/portal/legislacao/leis/lei_5517.pdf b - Resolução Nº 722, de 16 de agosto de 2002 http://www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/re solucao_722.pdf

g) a peritagem sobre animais, identificação, defeitos, vícios, doenças, acidentes, e exames técnicos em questões judiciais; h) as perícias, os exames e as pesquisas reveladoras de fraudes ou operação dolosa nos animais inscritos nas competições desportivas ou nas exposições pecuárias;” “Art. 6º Constitui, ainda, competência do médico veterinário o exercício de atividades ou funções públicas e particulares, relacionadas com: ... c) a avaliação e peritagem relativas aos animais para fins administrativos de crédito e de seguro; ... g) os exames periciais tecnológicos e sanitários dos subprodutos da indústria animal;” Código de Ética b O Código de Ética do médico veterinário, em seu Capítulo XII, prevê expressamente algumas obrigações do médico veterinário na função de perito: “CAPÍTULO XII - DAS RELAÇÕES COM A JUSTIÇA Art. 28. O médico veterinário na função de perito deve guardar segredo profissional, sendo-lhe vedado: I- deixar de atuar com absoluta isenção, quando designado para servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites das suas atribuições; II- ser perito de cliente, familiar ou de qualquer pessoa cujas relações influam em seu trabalho; III- intervir, quando em função de auditor ou perito, nos atos profissionais de outro médico veterinário, ou fazer qualquer apreciação em presença do interessado, devendo restringir suas observações ao relatório.”

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Por Sergio Lobato

Estratégia competitiva para clínicas veterinárias

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forma a torná-lo incapaz de pedir ensando em como mudar o rumo ajuda quando não souber todos os de trabalho de alguns clientes e caminhos e ferramentas, pois conversando, ao final do 31º Conessa postura poderá por abaixo togresso Brasileiro da Anclivepa, reada e qualquer estratégia competilizado em Belém, PA, de 17 a 20 de tiva que se pretenda instituir na abril de 2010, com o editor desta reclínica. vista, resolvi dividir com vocês um O que desejo ao adotar uma estratema que foi grande sucesso nas patégia? Você já se perguntou isso? lestras que apresentei no evento. A Pois é fundamental que você saiba o abordagem fez com que muitos paque quer e como quer chegar até a rassem e refletissem sobre qual o esse ponto. É importante que você melhor caminho a se tomar para defina se quer um novo visual na clítornar nossas carreiras e nossos neAo atender a estes 3 pilares é importante que você seja consnica, se deseja uma nova equipe, se gócios produtivos e competitivos ciente e capaz de enxergar suas fraquezas e fortalezas. Os deseja aumentar um faturamento esnesse cenário tão desafiador chamaresultados pretendidos jamais serão alcançados se os dados não forem reais pecífico, se deseja mudar de espaço do mercado de serviços veterinários. físico, se deseja mudar a logo de sua O mais importante é que todos empresa, se deseja eliminar ou adiciosejam capazes de fazer uma reflexão ponto de mudança de sua clínica é ennar unidades de negócios ao seu estabesobre o vício comportamental da classe tender de uma vez por todas que você lecimento... Enfim, é preciso saber o veterinária de viver em uma inércia prodeve assumir um papel de liderança onque se quer e para onde se deseja ir. fissional e um marasmo de movimentos de a responsabilidade deve ser o ponto Caso contrário, não existe estratégia que operacionais que a coloca em um pataque norteie as suas ações, e mais ainda, se sustente. mar perigoso onde o tempo pode atuar comprometa-se com essa responsabiliPlaneje toda sua estratégia com antede forma muito perigosa na saúde prodade sem que isso lhe suba a cabeça de cedência, pois, sinfissional e financeira da mesma. ceramente, não Tendo consciência desse cenário que acredito em estraé real e presente, causado por anos de tégias one-minute um lapso de orientação sobre o que é ter em medicina veteum negócio veterinário aliado ao fato do rinária por uma sécrescimento desordenado de nosso merrie de razões. Por cado, seja na oferta, seja nos conceitos isso, vá com caldivulgados no mercado consumidor e ma: a pressa é inimídia afins, é importante que agora esmiga da perfeição! tejamos aptos a pensar que é tempo de Lembre-se: é mudar, pensar, agir e criar uma estratépreciso começar e gia que possa, com o tempo, tornar-se não desistir antes competitiva! do tempo certo. Mantenha sua estratégia bem orientada. A escolha das ferramentas a serem Não existem resulEstratégia utilizadas, as avaliações regulares e os resultados obtidos são fundamentais tados instântaneos! Assumir uma estratégia como o para a fluência da estratégia adotada

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REMINISCÊNCIAS DE UM PROFESSOR

prof. dr. Flavio Massone, especialista que muito já contribuiu para a anestesiologia veterinária brasileira, acabou de publicar mais um livro. Porém, esta obra recente não tem como foco sua especialidade. É Reminiscências de um um relato autoprofessor (uma vida dedicada ao ensino) biográfico da vida

do professor, desde a sua infância na cidade do Cairo (Egito), contando todas as suas peripécias no orfanato e no internato, onde esteve por força de contingências. Narra também o ocorrido durante o famoso sábado negro, em 26 de janeiro de 1952, quando a cidade do Cairo ardia em chamas, bem como as passagens durante as duas guerras (a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Israel-Egito). O mais interessante é que o autor cita com clareza a saída do Egito e a entrada no Brasil, apesar da tenra idade (11 anos),

GUIA DO UNIVERSO ANIMAL

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Guia do Universo Animal é uma obra que tem o foco no direito animal. O direcionamento dos temas que envolvem os proprietários, criadores, detentores, amigos, simpatizantes e todos aqueles que direta ou indiretamente estão ligados à área animal e ambiental, foi feito de forma direta com linguagem simples, mas empregando os termos técnicos necessearios para o devido esclarecimento do assunto tratado. Ele foi escrito por uma advogada, Monica Grimaldi, e por um médico veterinário, Guilherme Durante Cruz. Esta parceria muito enriqueceu a obra, pois

apesar dos autores serem de profissões diferentes, ambos atuam tanto no direito quanto na medicina veterinária. Grimaldi, advogada criminalista, tem vasto coGuia do Universo Animal nhecimento dentro da cinofilia, destacando, por exemplo, situações que envolvem fraudes de pedigree. Além disso, é presidente da

para onde veio sem conhecer a língua e defrontando-se com costumes diferentes. O livro relata a historia a vida docente do professor, com fatos hilariantes decorridos com os alunos e colegas e contando fatos políticos sem nominações. Traça ainda, paralelo entre o ensino público e privado dentro do ensino universitário, com a experiência obtida durante a sua vida profissional. O autor narra como é encerrar uma carreira com dignidade, deixando a sua contribuição para a nobre missão de docente universitário. Livraria do Campus: (14) 3815-1991

Associação Cão Guia de Cego e também colabora com diversas revistas e jornais, elaborando temas pertinentes à legislação de animais e posse responsável. Cruz é médico veterinário, mestre em patologia animal, professor das disciplinas de patologia geral e especial veterinária, histologia veterinária e anatomia veterinária na Universidade de Santo Amaro (UNISA), ministra aulas na pós-graduação em medicina veterinária legal (Inbrapec) e no curso de manejo e conservação de animais silvestres (UNISA). Suprema Cultura: (11) 3208-9020 www.supremacultura.com.br

A LEOA VEGETARIANA - a incrível e comovente história de Litte Tyke

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pequena Tyke era uma leoa vegetariana que viveu em um rancho em Hidden Valley, Califórnia, EUA, cercada por todos os seus amigos animais. Tyke nasceu no cativeiro e foi rejeitada pela mãe. Com um dia de vida, muito machucada, a pequena Tyke foi resgatada e adotada pelo casal George e Margaret Westbeau, que possuíam um rancho nas proximidades. Para grande surpresa do casal e dos "experts", a pequena Tyke nunca tocava em carne. Até mesmo se uma pequena gota de sangue caísse em seu leite, ela recusava-o. Após meses de tentativas mal sucedidas tentando fazê-la comer alimentação normal de leões, eles aceitaram o fato de que ela nascera vegetariana e a alimentavam somente com uma mistura de grãos cozidos, leite e ovos. Tyke chegou aos 4 anos, ao peso 106

de 160 quilos. A pequena Tyke tinha uma natureza excepcionalmente gentil e amável e todos os animais da fazenda vinham sem medo para ser afagados por ela, inclusive Becky, a ovelha. Esta conduta faz lembrar uma profecia bíblica: "Morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o cabrito se deitará; e o bezerro, e o leão novo e o animal cevado viverão juntos; e um menino pequeno os conduzirá (Isaías 11:6)".

Na vida de Little Tyke ocorreram uma tragédia e um milagre. A tragédia levou apenas alguns segundos. O milagre perduraria nove anos e, para muitos, perdura até hoje

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A história da pequena Tyke começou a espalhar-se na época da grande depressão americana, trazendo esperança e renovando a fé das pessoas dos mais variados estilos de vida. Ela foi levada em "tours" para ser exibida ao público desesperadamente faminto por amor e inocência. Esta incrível e comovente história de Little Tyke, relatada por Georges H. Westbeau, foi publicada originariamente em inglês. Ela foi recém-lançada em português pela Editora Pensamento-Cultrix e encontra-se disponível no sítio da Ed. Guará: www.probem.info.



alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação

III International Pet Meeting Anfalpet: mais conhecimento e mais negócios

Yves Miceli de Carvalho ymvet.consulting@yahoo.com.br

YMVet Consulting - Consultoria em Medicina Veterinária e Nutrição Animal • Mestre em nutrição animal (FMVZ/USP) • Membro da comissão científica do CBNA (www.cbna.org.br) e da Anclivepa-SP (www.anclivepa-sp.org.br) • Membro do comitê técnico e do conselho técnico da ANFAL Pet (www.anfalpet.org.br)

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Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos e Produtos para Animais de Estimação - Anfalpet realizará entre os dias 21 e 23 de Junho de 2010, o III International Pet Meeting, das 10h às 17h, no espaço FIESP, na Av. Paulista, n. 1313, São Paulo, SP. O evento contará com uma grade de palestras com renomados especialistas do Brasil e do exterior, e acesso gratuito a todas as pessoas interessadas. No dia 21, segunda-feira, ocorrerá o II Pet Show apresentando o Desfile Pet Fashion Brazil e, em paralelo ocorrerão o Fórum de Negócios, voltado à rede de comercialização e as equipes de vendas das indústrias; o Fórum de Moda Pet Brasil, empresas do setor com foco em exportação de produtos relacionados ao Setor Moda e Acessórios e a Pet Fair, exposição de produtos das indústrias, onde as empresas participantes do evento terão um espaço aberto ao público, destinado a exposição de seus produtos. No dia 22, terça-feira, ocorrerá a III Rodada Internacional de Negócios, evento realizado em parceria com a

III International Pet Meeting Programação Segunda-feira - 21 de junho: Fórum de Negócios Fórum Moda Pet Brasil II Pet Show - Desfile Pet Fashion Brazil Pet Fair Terça-feira - 22 de junho: III Rodada Internacional de Negócios Fórum Técnico Fórum de Negócios Pet Fair II Pet Show - Desfile Pet Fashion Brazil Quarta-feira - DIA 23 de junho Fórum Científico Fórum Business Vet Pet Fair II Pet Show - Desfile Pet Fashion Brazil

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Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos - Apex-Brasil, que tem por objetivo promover encontros de negócios entre fabricantes brasileiros e compradores do Chile, Portugal, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Argentina, Peru e África do Sul. A participação é gratuita e aberta a todas as empresas participantes do Programa Pet Products Brasil. O Fórum Técnico é direcionado aos técnicos das Indústrias de Pet Food de processo fabril, nutrição e também aos demais profissionais, acadêmicos, consultores e médicos veterinários clínicos de pequenos animais. Os temas abordados trarão novidades e prováveis mudan-

ças para o setor, como a aplicação da nutrigenômica, das aminas biogênicas e da nanotecnologia na indústria de alimentos e medicamentos para animais de estimação. No dia 23, terceiro e último dia, os destaques ficam por conta do Fórum Científico, voltado para os professores e alunos de pós-graduação e aos técnicos da indústria, e do I Fórum Business Vet, voltado para os profissionais, proprietários de clínicas e hospitais veterinários, empresários e empreendedores do setor. AnfalPet: (11) 3541-1760 anfalpet@anfalpet.org.br www.anfalpet. org.br

II International Pet Meeting Anfalpet Histórico de sucesso comprovado na sua edição 2009 Na edição de 2009, durante os três dias dos fóruns, o evento reuniu um público O II International Pet Meeting, realizado em 2009, na aproximado de 1.000 pesAv. Paulista, em São Paulo, SP, contou com a particisoas e, a II Rodada pação do público na I Parada Pet e no Pet Show Internacional de Negócios conseguiu incrementar as exportações do setor. Ela recebeu compradores de países como Argentina, Chile, China, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Paraguai e Portugal e teve a participação de dezenove empresas nacioDiversos compradores de outros países participaram da rodada internais, resultando nacional de negócios. Para várias empresas, a possibilidade de falar em mais de 200 encom este número expressivo de compradores presente na rodada envolveria o investimento de milhares de reais. “Isto não foi contros de negónecessário, pois eles vieram aqui, em São Paulo, custeados pela cios. Apex-Brasil, para falar conosco”, destacou Dario Costa, da Toy for Bird

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010


Lançamentos ALIMENTO PARA CÃES

LINHA DE ALIMENTOS TRAZ OPÇÃO LIGHT

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As embalagens apresentam uma inovação exclusiva no mercado nacional: o sistema PetZip, que além de manter o alimento fresco por mais tempo, pode ser aberto e fechado diversas vezes sem a necessidade de dispositivos adicionais, o que torna a rotina dos donos muito mais prática

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A Adimax lança a Magnus Fórmula Natural, linha de alimentos high premium que conta com a tecnologia de nutrição Bio Complex, um conjunto exclusivo de ingredientes que promove o equilíbrio da flora intestinal, a redução do odor das fezes, além de auxiliar na saúde da pele e no brilho da pelagem.

Adimax: www.adimaxpet.com.br

ax Light é novo alimento para cães da Total Alimentos. O lançamento possui menor quantidade de gorduras e ingredientes que ajudam a queimar calorias. Indicado para animais adultos – acima de um ano de idade – o produto reúne menor quantidade de gorduras e proteínas associada a uma alta quantidade de fibras. "O animal obeso está com o estômago dilatado e para se sentir saciado deve consumir fibras, que promovem um bom preenchimento gástrico", explica o médico veterinário Wander Palomo, Max Light

da Total Alimentos. Outro ingrediente fundamental no processo de emagrecimento é a L-Carnitina, que atua como aceleradora da queima de gorduras porque facilita seu transporte para dentro das células. Palomo alerta que para se ter um bom resultado de emagrecimento, é importante associar o exercício físico duas vezes por dia e dividir a quantidade ideal diária de Max Light em quatro vezes. "Dessa forma temos sempre pequenas porções passando lentamente pelo sistema digestivo, o que melhora a digestão e a absorção do alimento", esclarece. Total Alimentos: 0800 725 8575 www.totalalimentos.com.br

MÁXIMA PROTEÇÃO PARA ANIMAIS ALÉRGICOS

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Virbac traz ao Brasil a terceira geração em produtos dermatológicos: a geração Glyco, que é mais uma tecnologia exclusiva Virbac. Baseada na incorporação de açúcares às formulações, essa tecnologia traz importantes benefícios, entre Allermyl eles o efeito anti-irritante e Glyco oferece anti-aderente. benefícios “O primeiro produto que reais aos chega ao mercado brasileiro pacientes

com essa tecnologia é o Allermyl Glyco” relata Ana Lúcia Rivera, gerente de produtos da Virbac. “Allermyl é um xampu especialmente desenvolvido para proteger a pele dos animais alérgicos, aliviando o prurido e reduzindo a exposição antigênica. Sua formulação é rica em ácidos graxos, ceramidas e açúcares (tecnologia Glyco) o que garante alívio do prurido e menor adesão de agentes externos à pele” completa Ana. O uso contínuo restabelece o equilíbrio

e a função da barreira cutânea ajudando a manter os animais alérgicos com o prurido controlado. Allermyl Glyco já é sucesso de vendas na Europa e é possível encontrar diversos trabalhos científicos publicados comprovando a eficácia e benefícios do xampu no controle de animais alérgicos, especialmente atópicos. Virbac: 0800 136533 www.virbac.com.br

IDENTIFICAÇÃO ANIMAL POR MICROCHIP

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identificação eletrônica de cães e gatos com microchips já é uma realidade em vários países do mundo. No Brasil, a conscientização sobre a posse responsável já tem se refletido na criação de leis que tornam a identificação eletrônica obrigatória em diversos municípios. O médico veterinário, como principal formador de opinião junto aos proprietários de animais, tem importante papel na mudança de cultura, implantação das práticas da posse responsável e promoção do bem-estar animal. A Virbac, sempre parceira do médico

veterinário, traz ao Brasil sua linha mais moderna de produtos para identificação eletrônica de animais de companhia: a linha BackHome Biotec. “A Virbac já atua nesse segmento pelo mundo há 16 anos e hoje está presente em 18 países, com mais de 8 milhões de microchips vendidos” esclarece Ana Lúcia Rivera, gerente de produtos da Virbac. A solução BackHome é composta por: exclusivo microchip tipo FDX-B, produzido de acordo com as normas ISO 11784 e NBR 14766, encapsulado em polímero biocompatível PMMA (polymethylmethacrylato) e 20% mais leve que os microchips de vidro, o que reduz em até 80% a chance de migração; aplicador ergonômico individual esterilizado que possui o sistema "Click anti-retorno" que garante a correta e segura aplicação do microchip no tecido subcutâneo; leitora FDX-B (ISO standard 11784/85), FDX-A (Destron/FECAVA, com capacidade para armazenaAvid/FECAVA), HDX (Tiris) e EM H4102

mento de mais de 1.000 códigos e conexão direta ao computador e banco de dados completo via internet. Mas o principal diferencial da solução está, sem dúvida, na proximidade da Virbac com os médicos veterinários. “Somos especialistas em saúde animal e parceiros dos médicos veterinários. Por isso acreditamos que poderemos ajudá-los a divulgar os conceitos e a gerar a demanda. Nossa missão é tornar a identificação eletrônica parte da rotina dos procedimentos clínicos de todos os animais. Assim como a vacinação e a vermifugação, o microchip deve fazer parte dos serviços oferecidos ao animal desde filhote.” completa Ana Lúcia. Além de cães e gatos, o microchip BackHome pode ser aplicado em eqüinos, roedores e silvestres, entre outros. Virbac: 0800 136533 www.virbac.com.br BackHome: www.backhome.com.br

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$ NEGÓCIOS E OPORTUNIDADES $

Manual de fluidoterapia em pequenos animais

saiba sobre os diferentes fluidos para as diferentes alterações orgânicas • • • • •

anorexia vômito crônico obstrução intestinal diabetes melito e outras

Escolha os eletrólitos

mais adequados e Pedidos: administre doses precisas (11) 3835-4555 www.editoraguara.com.br










www.agendaveterinaria.com.br Nacional MAIO 14 e 15 de maio São Paulo - SP Tópicos em cirurgia de cabeça e pescoço ! (11) 3819-0594 14 a 16 de maio Viçosa - AL I Simpósio de animais selvagens ! geasufal@gmail.com 14 a 16 de maio São Francisco Xavier - SP Workshop ética e consciência ambiental ! (11) 8791-2020

15 e 16 de maio São Paulo - SP Doença renal crônica em cães e gatos - diagnóstico precoce e terapia ! (11) 3579-1427

18 a 21 de Maio Belo Horizonte - MG I Curso de Reprodução de Cães ! cursoreproducaocaes@ig. com.br

21 de maio a 21 de setembro On line - UFPR Diagnóstico por imagem - radiologia e ultrassonografia do abdome ! (41) 3350-5787

15 e 16 de maio Osasco - SP Cirurgia do sistema gastro-intestinal ! (11) 3684-1080

19 a 29 de maio Campo Grande - MS SIEV - Semana Intensiva de Estudos em Medicina Veterinaria ! www.siev2010.blogspot.com

22 a 23 de maio Avaré - SP Cirurgia em cães e gatos ! www.pratica.vet.br

15 e 16 de maio São Paulo - SP Curso de emergências ! (11) 8116-9951 16 de maio São Paulo – SP Curso de clínica médica do Hospital Veterinário Pompeia ! (11) 3673-9455

14 a 16 de maio Curitiba - PR I Módulo Internacional de Saúde Pública ! (41) 3350-5623

17 a 21 de maio São Paulo - SP I SEVAM ! camila_mix@hotmail.com

15 e 16 de maio São Paulo - SP Ultrassonografia músculo esqueletica - joelho e calcâneo ! (13) 3251-3737

17 a 21 de maio São José do Rio Preto - SP Eletrocardiograma, holter e pressão arterial: curso teórico-prático ! (17) 3011-0927

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20 a 22 de maio Rio de Janeiro - RJ Rio Vet • X Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária ! www.riovet.com.br

23 de maio (prova de seleção) São Paulo - SP Cursos de especialização: • Dermatologia em cães e gatos • Neurologia em cães e gatos ! (11) 3813-6568

21 a 23 de maio São Paulo - SP Terapia intensiva ! (11) 3579-1427

23 de maio a 18 de julho São Paulo - SP Curso de cardiologia ! (11) 2995-9155

21 a 23 de maio Jaboticabal - SP Workshop de comportamento e adestramento canino ! (16) 8128-2061

25 a 28 de maio Gramado - RS XXVI Congresso Nacional de Sec. Muni. de Saúde - CONASEMS ! www.conasems.org.br/xxvi

21 a 23 de maio Londrina - PR IV Noites infecciosas felinas ! (43) 3371-4821

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www.agendaveterinaria.com.br 27 de maio São Paulo - SP Coaching e oficina de negócios ! marketing@newimage.com.br

29 de maio a 1 de junho Belo Horizonte - MG Expo Vet Minas ! (31) 3444-9002

11 a 13 de junho Viçosa - MG Curso de odontologia ! (31) 3899-7069

17 de junho Belo Horizonte - MG Jornada Tecsa -alergologia vet. ! (31) 3287-3404

26 a 30 de maio São Paulo - SP Curso de gestão e marketing aplicado a clínicas e petshops ! (11) 5543-6690

29 e 30 de maio Osasco - SP Artropatias do membro torácico ! (11) 3684-1080

12 e 13 de junho São Paulo - SP Fixação esquelética externa ! (11) 3673-9455

18 a 20 de junho São Paulo - SP Clínica de felinos ! (11) 3579-1427

JUNHO 3 a 6 de junho Campinas - SP Curso de YNSA, caudopuntura e técnicas japonesas ! (19) 3294-5345

12 e 13 de junho Porto Alegre – RS Curso de Florais de Saint Germain ! (51) 3384-8376

18 a 20 de junho Belém - PA I Semana Paraense de medicina veterinária de pequenos animais ! (91) 3721-1686

14 de junho Belo Horizonte - MG Intensivet - Trauma crânio encefálico ! (31) 7818-8361

19 e 20 / 26 e 27 de junho São Paulo - SP 2º Curso de atualização em fisioterapia veterinária

27 de maio a 1 de outubro de 2011 Botucatu - SP Curso de quiropraxia veterinária ! (14) 3882-4243 28 a 30 de maio São Paulo - SP Curso de odontologia veterinária ! (11) 3579-1427 28 a 30 de maio Bandeirantes - PR Curso de dermatologia em pequenos animais ! thaispitelli@hotmail.com

5 de junho a 19 de dezembro Curitiba - PR Anestesiologia e medicina intensiva ! (41) 3332-5590 ou 9649-2664 9 a 12 de junho UEL - Londrina - PR XXVII Ciclo Vet UEL ! (43) 9918-4605

14 a 18 de junho Campinas - SP Curso de ultrassonografia ! (19) 3365-1221

! (11) 3644-7764 20 a 23 de junho São Paulo - SP III International Pet Meeting ! www.anfalpet.org.br 21 de junho Belo Horizonte - MG Diagnóstico diferencial de icterícia em felinos. Ênfase em lipidose ! (31) 3297-2282 24 e 25 de junho Curitiba – PR III Encontro LABEA: a relevância da dor para o bem-estar animal ! (41) 3350-5788

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25 a 27 de junho São Paulo - SP Eletrocardiografia ! (11) 3579-1427 26 e 27 de junho Brasília - DF II Encontro da ABFel ! (61) 3965-4090 26 e 27 de junho São Paulo - SP Princípios e aplicações do USDoppler em medicina veterinária ! (11) 3069-7067 26 e 27 de junho Osasco - SP Curso de anestesiologia ! (11) 3684-1080 27 de junho São Paulo – SP Exames em dermatologia ! (11) 3673-9455 28 de junho a 4 de agosto São Paulo – SP Curso teórico-prático de ultrassonografia em pequenos animais ! (11) 3034-5447 30 de junho a 2 de julho Campinas – SP Curso avançado de fisioterapia e reabilitação ! (19) 3294-5345 JULHO 1º de julho a 1º de junho de 2012 Botucatu - SP Acupuntura veterinária ! (14) 3882-4243

3 e 4 de julho Belo Horizonte - MG VII Simpósio internacional de leishmaniose visceral ! (31) 3297-2282 3 e 4 de julho Osasco - SP 1º Curso de artropatias e cirurgias articulares - Mód. 4 - artropatias ! (11) 3684-1080 9 a 11 de julho São Paulo - SP Endocrinologia veterinária ! (11) 3579-1427 12 a 16 de julho Campinas - SP Curso intensivo básico de ultrassonografia em pequenos animais ! (19) 3365-1221 16 a 25 de julho São Paulo - SP Radiologia veterinária ! (11) 3579-1427 17 e 18 de julho São Paulo Cirurgia do sistema urinário ! (14) 3882-4243 19 a 23 de julho São José do Rio Preto - SP Cardiologia clínica em pequenos animais - ECG, PA e Holter (teórico-prático) ! (17) 3011-0927 24 e 25 de julho Osasco - SP Artropatias do membro posterior ! (11) 3684-1080

26 a 30 de julho Rio de Janeiro - RJ 37º Conbravet ! (21) 2539-1351 26 a 30 de julho São José do Rio Preto - SP Ecodopplercardiograma em pequenos animais (teórico-prático) ! (17) 3011-0927

14 e 15 de agosto São Paulo - SP Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo ! cursos@ itecbr.org

31 de julho a 15 de agosto São Paulo - SP 1º Curso avançado em fisioterapia veterinária ! (11) 3644-7764 AGOSTO 3 de agosto a 16 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização em radiodiagnóstico veterinário ! (11) 3034-5447 6 a 8 de agosto São Paulo - SP Curso de oftalmologia ! (11) 3579-1427 14 e 15 de agosto São Paulo - SP Inseminação artificial em cães ! (11) 3579-1427

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

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www.twitter.com/vetagenda 14 e 15 de agosto Osasco - SP Cirurgias oculares ! (11) 3684-1080

27 a 29 de agosto São Paulo - SP Oncologia veterinária ! (11) 3579-1427

17 e 18 de agosto Belo Horizonte - MG Controle de hemorragias e fluidoterapia ! (31) 7818-8361

28 e 29 de agosto São Paulo - SP Curso teórico prático de oftalmologia de pequenos animais ! barbosa.a@uol.com.br

21 de agosto a 21 de julho de 2012 São Paulo - SP Fisioterapia e ortopedia veterinária ! (11) 3791-4272

SETEMBRO 8 a 10 de setembro Brasília - DF VI Concevepa ! www.concevepa2010.com.br

21 e 22 de agosto São Paulo Cirurgia do sistema reprodutivo ! (14) 3882-4243 22 de agosto São Paulo - SP Efusões pleurais: do diagnóstico ao tratamento ! (11) 3673-9455 25 a 28 de agosto Salvador - BA II Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal ! www.abolicionismoanimal. org.br

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10 a 12 de setembro São Paulo - SP Curso de ecodopplercardiografia aplicada à clínica médica ! (11) 3579-1427

Internacional JUNHO 2 a 5 de junho Genebra - Suiça WSAVA 2010 ! www.wsava2010.org 3 a 5 de junho Buenos Aires - Argentina 3º Congreso Latino Americano LAVECCS ! www.laveccs.org 14 a 17 de junho Helsinki - Finlândia 11th FELASA Symposium ! www.FELASA2010.eu

17 a 19 de setembro São Paulo - SP Dermatologia veterinária ! (11) 3579-1427

23 de junho a 14 de novembro Maracay – Venezuela I Curso de certificacion internacional de acupuntura veterinaria ! http://venezuelacupuntura2010. wordpress.com

20 a 24 de setembro Viçosa - MG Simpósio de pesquisa em med. vet. 2010 - III Semana da pósgraduação em med. vet. - UFV ! (11) 3579-1427

24 e 25 de junho Buenos Aires - Argentina VII Curso del manejo quirúrgico de las fracturas ! cursomiat@hospitalitaliano. org.ar

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 86, maio/junho, 2010

24 e 25 de junho Londres - Reino Unido UFAW (Universities Federation for Animal Welfare) Conference 2010 ! www.ufaw.org.uk 19 de julho a 12 de agosto Buenos Aires - Argentina 2º Curso de ciencias basicas aplicadas a la oftalmologia veterinaria ! www.oftalmovet.com.ar SETEMBRO 11 a 15 de setembro San Antonio, Texas - EUA IVECCS 2010 ! www.veccs.org OUTUBRO 25 a 27 de outubro Lima - Peru Latin American Veterinary Conference ! www.tlavc-peru.org 29 de outubro a 1 de novembro San Diego, CA EUA VCS Veterinary Cancer Society 2010 Annual Conference ! www.vetcancersociety.org




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