Clínica Veterinária n. 87

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G uarรก Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010 - R$ 15,00

E D i TO R A

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts

ISSN 1413-571X



Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e CAB Abstracts

Cibele Figueira Carvalho

Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice Diagnóstico por imagem - 32 Aspectos clínicos e ultrassonográficos das encefalopatias vasculares em cães Clinical and ultrasonographic aspects of vascular encephalopathies in dogs

Aspectos clínicos y ultrasonográficos de las encefalopatías vasculares en perros

Roberto Silveira Fecchio

Ultrassonografia transcraniana: janela temporal esquerda em plano coronal oblíquo

Animais selvagens - 42 Correção de fratura de rinoteca em papagaio (Amazona aestiva): relato de caso Rhinotheca fracture repair in a parrot (Amazona aestiva): case report

Luciana Murai Soares

Corrección de fractura de rinoteca en loro amazona (Amazona aestiva): relato de caso

Evidência de fratura unilateral longitudinal esquerda em rinoteca de papagaio (Amazona Aestiva)

Dermatologia - 48 Onicodistrofia lupoide simétrica canina - relato de caso Canine symmetrical lupoid onychodystrophy - case report Onicodistrofia lupoide simétrica canina - reporte de caso

Clínica médica - 54

Tathiana Ferguson Motheo

Membro anterior direito apresentando onicólise, paroníquia, onicomadese, onicomalácia e leuconíquia

Abscessos renais por trauma acidental em ovário-histerectomia em cadela: relato de caso Renal abscesses due to accidental trauma during ovariohisterectomy in a bitch: case report

Abscesos renales por trauma accidental en ovariohisterectomía en perra: relato de caso

Serviço de Diagnóstico por Imagem - Hovet - FMVZ/USP

Exposição de rim direito e abscessos (a) e recessos pélvicos espessados (P) ao corte sagital

Diagnóstico por imagem - 60 Uso da tomografia computadorizada em medicina veterinária: fundamentos e indicações clínicas Computed tomography in veterinary medicine: foundations and clinical indications

Felino sob anestesia geral, aquecido com a ajuda de um cobertor durante o procedimento

Uso de la tomografía computarizada en medicina veterinaria: fundamentos e indicaciones clínicas

Daniela Bernadete Rozza

Patologia - 66 Bruno Benetti Junta Torres

Guia prático de necropsia cosmética em animais de companhia: descrição da técnica e considerações sobre sua aplicação Practical guide for pet cosmetic necropsy: description of the technique and considerations about its application

Guía practico de la necropsia cosmética en animales de compañía: descripción de la técnica y consideraciones sobre su aplicación

Fotomicroscopia de secção transversal da medula espinhal de ratos Wistar coradas em H.E. Epicentro de medula com lesão aguda, mostrando vários focos de malácia extensa e grave tanto da substância branca como da cinzenta (22,1x)

Dermorrafia pré-umbilical

Neurologia - 72 Trauma medular em animais de companhia Spinal cord injury in companion animals

Trauma medular en animales de compañía

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010

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Seções Ensino - 20

Editorial - 7

Cartas - 8 Saúde pública - 10

• Leishmaniose em foco • Participação do Sistema CFMV/CRMVs no CONASEMS supera objetivos iniciais

Notícias - 12

• Especialistas marcaram presença na X Conferência Sul-americana/Riovet • Workshop com o W. H. Miller • Virbac Skin I • Mostra práCACHORRO • Royal Canin do Brasil implementa o HACCP • Empreendedorismo • Marketing de relacionamento • VetOdonto - novo centro especializado

12 14 14 16 16 17 17 18

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc ) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso depar-

• Educação humanitária progride na medicina veterinária • O direito à objeção de consciência na experimentação animal

Lançamentos - 94 20

• Petiscos funcionais • Dermatológico - esteróide em spray

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Negócios e oportunidades - 95

Bem-estar animal - 30

Fórum Nacional de Proteção Animal realiza evento, dá posse a Grassi e homenageia Tripoli

Serviços e especialidades - 96 Agenda - 103

Pet food - 88 Nanoalimentos e nanonutrientes

Medicina veterinária legal - 90 A importância do prontuário na clínica médica veterinária

tamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (endereço, telefone e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte.

Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números, que corresponderão à listagem ao final do artigo, evitando citações de autores e datas. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05311-970 São Paulo - SP e-mail: cvredacao@editoraguara.com.br



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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159

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JORNALISTA / JOURNALIST Aristides Castelo Hanssen MTb-16.679

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER Deco, gato SRD de 3 meses, que foi abandonado em São Paulo, mas que teve a sorte de ser adotado

IMPRESSÃO / PRINT Copypress

www.copypress.com.br

TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05314-970 São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

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Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Aloysio M. F. Cerqueira UFF amfcerqueira@uol.com.br Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia anabalda@terra.com.br Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP clarissa@usp.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes Con.. Empresaria cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@gmail.com Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br

Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/UNESP/Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/UNESP/Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/UNESP-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br

Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-UNESP/Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp/Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/UNESP/Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp/Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/UNESP-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/UNESP-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/UNESP-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/UNESP-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/UNESP-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br

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Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/UNESP-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP maurolantzman@gmail.com Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/UNESP-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/UNESP-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/UNESP-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br

Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/UNESP-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet Pompéia netuno2000@hotmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/UNESP-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/UNESP/Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/UNESP/Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/UNESP/Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Internat.Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Viviani de Marco UNG, Hovet Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br


Editorial

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m época de eleição é muito apropriado falarmos de Constituição Federal, do respeito a ela e da integridade dos que trabalham pela nação. Neste ano, pela primeira vez no Brasil, os candidatos que tiverem ficha “suja” estarão de fora do pleito. Dificilmente esta data será esquecida. Foram mais de 2 milhões de brasileiros que assinaram a petição promovida pela ONG Avaaz (http://www.avaaz.org/po/brasil_ficha_limpa). Grande parte da força de adesão à petição foi promovida pela rápida difusão através da internet. Na medicina veterinária esta força na rede ainda é insipiente. A presença da profissão na internet é notória, mas ainda não há um ponto de convergência de todas as forças para que haja adesão nacional para, por exemplo, pedir pelo voto direto na eleições para presidência do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). A força da medicina veterinária na internet também é menor do que a da proteção animal. Inclusive, as ações dos protetores estão ganhando âmbito nacional. No dia 18 de junho, por exemplo, o deputado estadual (SP) Feliciano Filho promoveu seminário na Assembléia Legislativa, com os melhores especialistas em leishmaniose visceral canina de SP. Esta foi outra data que ficará na história. Não apenas pelos temas apresentados, mas pela participação de dezenas de médicos veterinários (USP, Anclivepas, Sinpavet, Fórum Nacional de Defesa e Proteção Animal, revista Clínica Veterinária, WSPA, CCZs da Grande SP, CRMV-SP, SINDAN, ITEC, entre outros). Ao término do seminário, para grande parte dos participantes que ainda não possuia posição definida sobre a prevenção da leishmaniose visceral, ficou bastante difícil de acreditar que matar cachorro é a solução. O avanço da discussão do tema para locais neutros e que representem o www.felicianofilho.com.br desejo da população é maravilhoso. Estamos longe de ser o exemplo da Suíça que, em 2005, fez um plebiscito para que o povo decidisse se queriam ou não os transgênicos em seu país. Fora com os transgênicos foi a decisão do povo. Esta decisão já foi votada novamente e foi prorrogada até 2012, permanecendo o país com as portas fechadas para esta tecnologia tão contestada. Ainda não fomos brindados em poder exercer a democracia com essa plenitude, mas estamos no caminho. O network está se formando, diriam os especialistas em marketing... Um exemplo disso é o blog de Vivi Vieri - Rede Bichos, ponto de encontro dos protetores (http://redebichos.ning.com). Tão importante quanto as informações que seu blog divulga é o fato divulgar para as redações de diversos jornais e revistas através de emails e do Twitter, como, por exemplo, a notícia da aprovação, pela Comissão de Saúde e Saneamento, do Projeto de Lei 1082/10, de autoria do vereador Sérgio Fernando (PHS), que prevê vacinação gratuita contra a leishmaniose visceral em Belo Horizonte (http://www.cmbh.mg.gov.br). Um núcleo importante na medicina veterinária é o formado pela Anclivepa Brasil e pela regional mineira (Anclivepa-MG). Há anos sustentando a defesa da saúde da família e da vida animal, seus representantes terão a missão, em agosto, de promover a discussão da leishmaniose visceral durante audiência pública. É bem provável que o resultado dos trabalhos desenvolvidos sejam próximos aos obtidos, recentemente, na Assembléia Legislativa de SP. Participe, mesmo que não esteja por perto, procure conectar-se com alguma rede. Fique atento, pois “a luta pela democracia é que desenvolve o mundo e ela se constrói com e através da comunicação (Betinho)”.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

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Cartas para esta seção devem ser enviadas para cvredacao@editoraguara.com.br, editor@editoraguara.com.br ou pelo correio para a Editora Guará Ltda., Seção de Cartas, Caixa Postal 66002, 05314-970, São Paulo - SP. Perguntas, dúvidas, esclarecimentos, comunicados, orientações etc. serão respondidas conforme a ordem de chegada. Os editores poderão resumir o conteúdo da carta, conforme a necessidade

Contribuição Assistencial - Sinpavet (SP)

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Sindicato Patronal dos Médicos Veterinários do Estado de São Paulo tem como objetivo defender os interesses da nossa categoria, procurando celebrar convenções coletivas que atendam ao anseio de todos. É o que vem ocorrendo nos últimos anos, onde temos demonstrado aos vários sindicatos que representam os nossos empregados, que a categoria médico veterinária patronal não têm condições de arcar com todas as reinvindicações, tais como: ticket alimentação, participação nos lucros, salário normativo de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais), exclusão do banco de horas etc. A nossa luta não é fácil e para continuarmos em combate, necessitamos da sua contribuição. A contribuição assistencial está pre-

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vista na alínea "e", do art. 513, da CLT. É aprovada pela assembléia geral da categoria e fixada em convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa e é devida quando da vigência de tais normas, porque sua cobrança está relacionada com o exercício do poder de representação da entidade sindical no processo de negociação coletiva. Na Convenção Coletiva desse ano ficou estabelecida a contribuição assistencial patronal no importe de 11% (onze por cento), incidindo referido percentual sobre a folha de pagamento do mês de maio de 2010, devendo ser efetuado o seu recolhimento em 31/8/2010. Importante ressaltar, que o recolhimento da contribuição assistencial é importante para a manutenção do nosso sindicato, para que possamos

continuar lutando pelos interesses da categoria, o que vem ocorrendo na minha gestão. Devem recolher a contribuição assistencial todos os proprietários de hospitais veterinários, clínicas veterinárias, ambulatórios veterinários, clínicos autônomos, consultórios veterinários, centro de diagnóstico e laboratórios de análises veterinárias, constituídos por pessoas físicas ou jurídicas na condição de empregador.

Ricardo Coutinho do Amaral

Presidente - Sindicato Patronal dos Médicos Veterinários do Estado de São Paulo - Sinpavet www.sinpavet.org.br sinpavet@terra.com.br

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Saúde pública Participação do Sistema CFMV/CRMVs no congresso organizado pelo CONASEMS supera objetivos iniciais Saúde Pública Veterinária do CFMV, Paulo César Augusto de Souza. Além da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária, Souza ressalta o apoio e a participação das Comissões de Saúde Pública dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária. A Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária, do CFMV, também esteve presente no evento para discutir a

Da esquerda para a direita, Carlos Flávio B. da Silva (comissão de Saúde Pública/CRMV-RS); José Luis P. Rosa (comissão de Saúde Pública/CRMV-RJ); Paulo Cesar A. de Souza (comissão Nacional de Saúde Pública/CFMV); José Gomes Temporão (Ministro da Saúde); Marcelo J. Vallandro (comissão Nacional de Saúde Pública/CFMV); Cláudia Ache V. de Souza (comissão de Saúde Pública/CRMV-RS) e José Pedro S. Martins (comissão de Saúde Pública/CRMV-RS)

Vida animal: proteção e indenização

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o Brasil, determina-se que todo cão sorologicamente positivo para leishmaniose visceral deve ser morto. Porém, não se divulga que os proprietários podem pedir indenização. Ou melhor, não se divulgava, pois cidadãos atentos já estão rapidamente divulgando pela internet e por diversos meios de comunicação o resultado do julgamento do recurso especial nº 1.184.775-PR, que fala sobre o direito à indenização de animais que sejam mortos em prol da saúde pública. A Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) definiu que na propositura de ação de indenização, em razão do sacrifício de animais doentes ou destruição de coisas ou construções rurais – para salvaguardar a saúde pública, ou por interesse da defesa sanitária animal –, é aplicável o prazo prescricional de 180 dias, contados da data em que for sacrificado o animal ou destruída a coisa. Em seu voto, o relator, ministro Luiz Fux, destacou que o princípio

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residência multiprofissional na área da saúde. Fonte: Assessoria de Comunicação do CFMV

Divulgação

e 25 a 28 de maio de 2010 o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) realizou em Gramado, RS, o XXVI Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. Representantes do sistema CFMV/CRMVs estiveram presentes e participaram ativamentte. Nos quatro dias do evento, membros das comissões de saúde pública do CFMV, do CRMVRS, do CRMV-SP e CRMV-RJ tiveram a oportunidade de realizar um trabalho de esclarecimento junto aos gestores públicos de saúde sobre a importância de incluir a medicina veterinária no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). “A receptividade dos secretários municipais e dos conselheiros foi excelente. Avalio que tenha sido um dos melhores eventos para a Medicina Veterinária. Pudemos apresentar diretamente aos gestores dos municípios as ações que são desenvolvidas sob a responsabilidade de um médico veterinário. Como fruto, muitos que não tem um profissional como este em sua equipe de trabalho se interessaram por iniciar uma contratação”, declarou o presidente da Comissão Nacional de

Divulgação

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da especialidade afasta a aplicação do artigo 1º do Decreto n. 20.910/1932, regra geral que disciplina a prescrição no direito administrativo, prevalecendo, no caso, a regra do artigo 7º da Lei n. 569/1948, com a redação dada pela Lei n. 11.515/2007. "No caso, a pretensão deduzida na inicial resultou atingida pelo decurso do prazo prescricional de 180 dias, uma vez que o abate dos animais ocorreu em 4/11/2005 e a ação indenizatória foi ajuizada em 17/1/2008; portanto, após o decurso do prazo prescricional estabelecido na legislação especial em foco", afirmou o ministro. Defesa animal Em audiência ocorrida em 24 de maio de 2010, o procurador geral de justiça de São Paulo, Fernando Grella Vieira, anunciou a antecipação da criação do Grupo Atuação Especial de Defesa Animal dentro do Ministério Público de SP, que agirá

Como apoio, foram distribuido um folderes com conteúdo especial sobre saúde pública veterinária e exemplares da revistas do CFMV, edição número 48, que contém material especial sobre o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)

na repressão aos crimes cometidos contra os animais. O grupo contará com promotores de justiça especialistas no tema e responderá diretamente ao procurador geral, atuando nas áreas cível e criminal. O adiantamento em relação a prazo manifestado anteriormente pelo MP ocorre em atenção ao pedido do deputado estadual e procurador de justiça Fernando Capez e dos apoiadores da campanha "Direitos animais, uma questão de JUSTIÇA!", representados no encontro pelo coordenador do grupo Sentiens Defesa Animal, Maurício Varallo. A campanha conta até o momento com o apoio de mais de 17 mil signatários e o endosso de cerca de 210 instituições de todo o país. O procurador Fernando Grella Vieira se comprometeu a concluir a instalaçao do grupo até o próximo mês de dezembro. A equipe terá sua base na Procuradoria Geral de Justiça, em São Paulo, capital. A criação de um Grupo Especial é o primeiro passo para a criação da Promotoria de Defesa Animal.

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Especialistas marcaram presença na X Conferência Sul-americana/Riovet

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ntre os dias 20 e 22 de maio de 2010, diversos especialistas estiveram presentes no Riocentro, no Rio de Janeiro, RJ, para participar de importante evento da medicina veterinária: a X Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária/Riovet. Edward Feldman (EUA), especialista em endocrinologia, foi uma das grandes atenções dos participantes. Outros destaques foram a especialista em felinos, Feldman, ao abordar a síndrome de Cushing canina, recomendou realizar, para o diagnóstico, o teste de supressão com baixa dose de dexametasona, e, para acompanhamento do tratamento, o teste de estimulação com ACTH. Também destacou a importância da palpação da tireóide no exame físico dos gatos e mensuração de T4 total no painel de exames laboratoriais

Margie Scherk, que surpreendeu a todos ao mosMomento registrado no estande da trar suas revista Clínica técnicas Veterinária: de maArthur de V. Paes Barretto e o célen e j o bre Murray Fowler com os gatos durante o atendimento A presença da Bayer no evento foi muito importante, pois um clínico, Hélio Autran, fa- dos seus produtos, o Advantage Max 3, é excelente ferramenmoso especialista brasileiro ta para prevenção da leishmaniose visceral canina. e residente nos EUA, e o O Rio de Janeiro é considerado uma área não endêmica para a leishmaniose. Porém, com frequência há relatos de casos carismático Murray Fowler, caninos em regiões peri-urbanas na zona oeste da cidade. que, com mais 80 anos, con- Recentemente, trabalho publicado na edição de jan/fev/2010 tinua participando de even- da Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, relata caso autóctone de leishmaniose visceral canina na zona sul tos internacionais, levando a do município do Rio de Janeiro, no bairro de Laranjeiras todos o seu brilhante conhecimento. contou com palestras que abordaram o Outros temas importantes abordados reconhecimento do paciente com dor, o no evento foram: o fórum da dor, que manejo desse paciente, a analgesia em felinos e a analgesia preemptiva; o fórum de leishmaniose, que contou com palestras abordando o diagnóstico, a

O evento atraiu profissionais de diversas regiões do Brasil. Acima, representantes da Anclivepa-PA com Cristiano de Sá, da Vetnil

Cão Guia Brasil presente na Riovet www.caoguiabrasil.com.br

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prevenção e os protocolos de tratamento utilizados na Europa; o fórum de bem-estar animal, que contou com a participação de Néstor Calderón, da Universidade de La Salle, Colômbia, abordando a importância da qualidade dos serviços prestados nos diversos estabelecimentos veterinários e sua relação com o bem-estar animal; o fórum de geriatria, que concentrou especialistas de diversas áreas; o curso de marketing empresarial com o prof. Marco Gioso; entre outros.

O CRV Imagem esteve presente divulgando seus serviços especializados, entre eles, a tomografia computadorizada e a radiologia digital, que elimina o uso de substâncias químicas do processo usual de revelação de filmes radiográficos.

Estreiando no mercado veterinário a Green Pet Care, apresentou produtos de excelente relação custo/beNo estande da Brasmed os par- nefício, como, por exemplo, ticipantes puderam conferir seu removedor de odores ofertas especiais para o evento (x.mariopet@gmail.com)

Participantes do fórum de bem-estar animal Adriana Vieira

Néstor Calderón (Universidade de La

(CCZ/SP e CCZ Guarulhos): “devemos promover as adoções responsáveis e monitoradas”

Salle): “Bem-estar animal é a condição fisiológica e psicológica na qual o animal de companhia é capaz de adaptar-se comodamente ao entorno, podendo satisfazer suas necessidades básicas e desenvolver suas capacidades conforme sua natureza biológica”

Ceres Faraco

Marcos Traad

(AMVEBBEA): “pessoa que vivem com animais de estimação geram economia anual para o sistema de saúde da Austrália da ordem de US$ 3 bilhões”

(Departamento. de Zoológicos/Curitiba/PR): “ações integradas de educação ambiental e a identificação massiva e monitoramento de animais são fundamentais”

SPEDA divulgou adoção e esterilização gratuita no RJ: ! 3402-0388

O tema desempenho sustentável não é mais inédito na medicina veterinária. Durante o evento, no estande da LF Livros (www.lflivros.com.br), com a presença do autor, o prof. dr. Márcio R. Costa dos Santos, ocorreu a sessão de autógrafos do livro Desempenho Sustentável em Medicina Veterinária - como entender, medir e relatar!

O Tecsa participou tanto da X Conferência Sul-americana, contribuindo com a coordenação do Fórum de Leishmaniose, quanto da Riovet. Acima, palestrantes no fórum, Afonso Perez, Fábio Nogueira, Márcio Moreira, Luiz Ristow e Vinicius Hermont

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Workshop com o W. H. Miller

Agener União realizou, nos dias 22 e 23 de maio de 2010, em São Paulo, SP, o 1º Dermatoclean - Workshop de Dermatologia Veterinária com o prof. William H. Miller Jr. Foram quinze horas de palestras com temas variados (doenças alérgicas, distúrbios de queratinização, doenças auProf. William H. Miller Jr. (Cornell to-imunes, alopecias e University) pênfigo). Algumas con-

Na avaliação geral, realizada ao final do evento, 89% dos participantes deram nota entre 9 e 10 para o Workshop

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siderações interessantes feitas pelo especialista foram: “- no tratamento tópico da malasseziose eu não uso produtos somente a base de clorexidine, porque algumas cepas de Malassezia não respondem nem mesmo a clorexidine 2%. Dou preferência para produtos que associam clorexidine e um dos azóis (miconazol, por exemplo)”; “- na terapia das otites crônicas os esteróides muito potentes, são potentes demais para serem usados de forma crônica, então, ou inicia-se com produtos com esteróide menos potente, como a hidrocortisona, ou produto do tipo enrofloxacina. Se a hidrocortisona não for potente o suficiente, é possível usar um produto mais potente na primeira semana para poder controlar a inflamação e depois passar para um produto a base de hidrocortisona”; “- nos animais atópicos os banhos para remover a sujeira ou debris devem ser feitos com xampus com lipossomas”.

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Virbac Skin I

m 22 e 23 de maio, na sede da Virbac em São Paulo, SP, aconteceu o Virbac Skin I, curso de dermatologia veterinária ministrado e coordenado pelo prof. dr. Ronaldo Lucas. “A presença de clínicos de diversas partes do Brasil enriquece a troca de Prof. dr. Ronaldo Lucas experiênno Virbac Skin I cias e a abordagem prática do conteúdo é sempre bastante elogiada pelos participantes que conseguem colocar imediatamente em prática tudo aquilo que viram no curso” ressaltou Ana Lúcia Rivera, gerente de produtos da Virbac. Interessados no tema devem ficar atentos para o Virbac Skin II, programado para outubro de 2010.

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Mostra práCACHORRO

ntre 8 de junho e 3 de julho, Pedigree® Adotar é tudo de bom se engajou em mais uma causa em favor dos cães abandonados. Nesse período aconteceu em São Paulo, SP, a mostra práCACHORRO, promovida pela Matilha Cultural (www.matilhacultural. com.br). Com um espaço repleto de atrações, entretenimento e várias novidades, a programação tem espaço cativo para a campanha Pedigree® Adotar é tudo de bom, com atividades de ONGs que trabalham contra o abandono de cães e um stand da marca aos interessados em ganhar um novo amigo. “Essa parceria proporciona um momento pleno de relacionamento entre os donos e seus cães,

reforçando a importância da adoção e guarda responsável”, explica Cynthia Schoenardie, gerente responsável pelo programa Pedigree® Adotar é tudo de bom. Entre os serviços oferecidos durante a mostra encontrou-se um estúdio fotográfico para clicar os donos e seus cães de estimação em diferentes cenários e um lounge para que cães possam relaxar ou brincar à vontade. Outra novidade foi a galeria, que sediou uma exposição de fotos que revelam o olhar do cachorro sobre o mundo a sua volta e uma arena, onde os visitantes conferem painéis ilustrados com a matéria “Nosso amigo Vira-lata”, escrita por Evaristo

Mostra práCACHORRO, promovida pela Matilha Cultural

Eduardo de Miranda, em reportagem especial para a National Geographic Brasil. Sessões de cinema, com volume adequado aos espectadores caninos e uma programação musical variada, completam o mês dedicado a celebrar os cachorros. Já em seu segundo ano de campanha, a ação acumulou novas estratégias, parceiros e uma série de atividades que ajudaram a promover até aqui a adoção direta de 11.276 cachorros abandonados.

Royal Canin do Brasil implementa o HACCP

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esses tempos em que os animais de estimação tornaram-se praticamente membros das famílias, a preocupação com a qualidade dos alimentos e a certificação da origem dos ingredientes e de todos os processos produtivos, que envolvem a elaboração dos produtos disponíveis no mercado, antes exclusivas aos humanos, agora também se estendem aos animais. Um exemplo é que o HACCP (Hazard Analysis and Critical Control Points) ou Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, comumente utilizado na indústria de alimentos para humanos, começa a ser implementado também no mercado pet. A Royal Canin do Brasil, uma das maiores fabricantes mundiais de alimentos de alta qualidade para cães e gatos, subsidiária da francesa Royal Canin e pertencente ao grupo Mars, acaba de passar por um processo de auditoria do HACCP, que comprovou a adoção de boas práticas, gestão da qualidade e segurança dos alimentos que a empresa disponibiliza ao mercado. O sistema começou a ser implantado em março de 2009 e, exatamente um ano após, teve seu processo finalizado, quando os procedimentos da fábrica em Descalvado (SP) foram auditados pelo Lloyd´s Register, organismo certificador contratado pela matriz para auditar todas as filiais do grupo. O resultado saiu no último dia 25 de maio 16

Royal Canin do Brasil - Descalvado - SP

e a empresa obteve a classificação Full Conformance, o que na prática quer dizer que está em conformidade em todos os padrões de qualidade exigidos pelo grupo Mars. Segundo o coordenador da Equipe de Implementação do HACCP da Royal Canin do Brasil, Thiago Farias Cabral, o sistema é reconhecido internacionalmente pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e tem uma abordagem científica e sistemática para o controle de todos os processos que envolvem desde a recepção das matérias-primas até a entrega do produto ao cliente. A finalidade é prevenir a ocorrência de problemas, assegurando que os controles sejam aplicados em determinadas etapas, nas quais são impedidas contaminações químicas, físicas ou microbiológicas. Foi realizado um minucioso levantamento bibliográfico, estudadas as

informações do processo, análises laboratoriais, treinamento de pessoal e melhorias nas instalações. “O HACCP implementado pela Royal Canin do Brasil foi baseado num método lógico e racional para avaliar os riscos associados às matérias-primas, produção, distribuição e consumo de alimentos. O sistema enfoca a prevenção de perigos não apenas na inspeção final do produto, mas permitindo comprovar por meio de documentação técnica apropriada que determinado processo produtivo e/ou manipulação é seguro”, explica. Alicerçada em conceitos de qualidade total e na filosofia de que o animal está em primeiro lugar, antes mesmo do proprietário, a Royal Canin do Brasil não mede esforços para assegurar alimentos de alta qualidade nutricional para cães e gatos, assim como assertivas práticas de gestão envolvendo o processo produtivo. Além do HACCP, a empresa mantém a BPF (Boas Práticas de Fabricação), como ferramenta imprescindível para garantir um alimento seguro ao animal. Tal ferramenta abrange procedimentos higiênicos, sanitários e operacionais aplicados a todo o fluxo de produção, desde a obtenção dos ingredientes e matérias-primas até a distribuição do produto final, visando garantir qualidade, conformidade e segurança dos produtos destinados à alimentação animal.

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Empreendedorismo

Marketing de relacionamento

A qualidade dos serviços de todo estabelecimento veterinário é muito importante e fundamental para obter o sucesso que se almeja. Porém, em um mercado competitivo é necessária a aplicação de ferramentas que divulguem amplamente os serviços, promovam a integração da equipe de colaboradores, incrementem o relacionamento com os clientes, entre outros itens que irão colaborar para uma gestão prática, comercial e lucrativa. Isto está ao alcance de todos, pois há técnicas para que este objetivo seja alcançado. De 21 a 25 de julho, em São Paulo, SP, haverá uma boa oportunidade para aprendê-las: Curso de Gestão e Marketing aplicado a Clínicas e Pet Shops com o prof. Marco Antonio Gioso e equipe de consultores. Informações sobre este e outros cursos que irão incrementar o faturamento, melhorar os serviços e aumentar a satisfação pessoal de toda equipe podem ser conferidas no endereço eletrônico www.gioso.com.br.

O livro Marketing de ResulCD Meditação para Comunitados é uma excelente opção para cação com Seres da Natureos veterinários que buscam estuza, da médica veterinária Sheila dar técnicas que possam increWaligora. O CD começa de mentar seus negócios. Escrito esuma forma encantadora, falanpecialmente para ser ferramenta do sobre a vida mágica e suútil a empresários, executivos, gerindo a reflexão sobre se leprofissionais e estudantes de marvamos uma vida dessa maneira. www.mbooks.com.br keting e comunicação, o livro reúDe forma muito sutil, Sheila, ne processos, metodologias, ferramenconduz o pensamento a um caminho tas e estudos de casos baseados em uma que proporcionará a descoberta do redas mais representativas redes globais lacionamento com todos os seres da de Marketing de Relacionamento, a natureza e o quanto são importantes o Rapp Collins. amor, o respeito e a compaixão. ExpeSegundo Azevedo e Pomeranz, autorimente e sinta a gentileza que pode brores da obra, ela propõe-se a demonstrar tar de você e aplique-a. Gentileza, gera a validade da seguinte equação: Markegentileza (profeta Gentileza). Inseri-la ting de Relacionamento = Marketing em qualquer relacionamento é marade Resultados. "Um é o meio, vilhoso. Com outro é o fim. São duas faces de isso será posum mesmo problema: a busca de sível sentir reretornos máximos sobre os invessultado no boltimento de marketing". so, mas o coOutra obra sobre relacionaração sentirá mento que é de grande valor é o muito mais. www.probem.info

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VetOdonto - novo centro especializado em SP

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á mais de 15 anos cuidando da saúde bucal dos animais de estimação, a médica veterinária Pollyanna Tong, que foi responsável pelo setor de odontologia do Provet (www.provet.com.br) de 1994 a 2008, em sociedade com a médica veterinária anestesiologista Mara Conti, fundaram a VetOdonto no bairro do Campo Belo, em São Paulo, SP. Estima-se que 85% dos cães e gatos acima de quatro anos de idade apresentam problemas periodontais em diferentes níveis de gravidade. Outros problemas comuns são as fraturas de dentes, retenção de dentes de leite, alterações oclusais, tumores orais e muitos outros. A VetOdonto tem um serviço diferenciado e de alta qualidade com atendimento único e exclusivo na área da odontologia veterinária e oferece suporte e apoio de casos odontológicos aos clínicos veterinários. Possui um centro cirúrgico moderno com equipamentos de ponta necessários para a realização das cirurgias odontológicas e anestesia geral

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VetOdonto - centro cirúrgico

inalatória com monitorização de todas as funções vitais, inclusive capnografia. Apesar da grande maioria dos pacientes serem cães, felinos também são atendidos. Infelizmente, a odontologia ainda é pouco indicada para a espécie e é lembrada quando eles deixam de se alimentar. “A prevenção com a higiene bucal ainda é a melhor maneira de evitar inúmeros problemas de saúde dos cães e gatos”, relata Pollyanna Tong. VetOdonto: (11) 5093-7384 www. vetodonto.com.br

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Educação humanitária progride na medicina veterinária Por Arthur de V. Paes Barretto -

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aplicação de manequins para aulas práticas nos cursos de medicina é uma realidade atual. Na medicina veterinária brasileira a adoção de tal medida ainda é insipiente, mas vem evoluindo. Para equiparar-se aos avanços presentes na medicina falta, principalmente, que se exija dos serviços de educação a obrigatoriedade do fornecimento de material didático digno de ser enquadrado no contexto da educação humanitária. Entre as vantagens da aplicação dos manequins no ensino estão: a repetição do procedimento por quantas vezes seja necessário; o treinamento de grande número de estudantes; a ausência de estresse nos estudantes por não estarem manipulando animal vivo; a economia decorrente de não ser necessário manter animais vivos para aulas e funcionários que cuidem deles. A maioria dos manequins existentes são fabricados no exterior. Entretanto,

Em seus 1.200 m2, o Centro de Treinamento e Simulação da Universidade Anhembi Morumbi é composto por 23 ambientes e mais de 70 equipamentos de realidade virtual, entre robôs com softwares, manequins e peças do corpo humano que simulam reações do corpo humano ou a realização de procedimentos

O treinamento com os ossos artificiais no curso de especialização em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, módulo de ortopedia, promovido pelo Instituto Qualittas e ministrado pelo prof. dr. Sandro Alex Stefanes (UPIS), está com excelente aceitação

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CRMV-MG 10.684

alguns especialistas brasileiros vem desenvolvendo protótipos que estão sendo aprimorados e elogiados tanto no Brasil quanto no exterior.

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Não se enquadra na prática da educação humanitária o jargão matar para salvar. O que se aplica é treinar quantas vezes forem necessárias para poder salvar. Isto é válido tanto na graduação quanto para profissionais, pois quem não treina massagem cardíaca com periodicidade, dificilmente terá sucesso em uma ressuscitação cardio-respiratória.

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www.intensivet.com.br

RICO, modelo de treinamento em urgências e cuidados intensivos, foi criado, em 2003, por Rodrigo Rabelo, especialista em urgências e cuidados intensivos. Atualmente RICO possui as seguintes características: a) sistema de sondagem nasal e aspiração nasogástrica, b) tórax com costelas e coração para adequado treinamento de ressuscitação cardio-respiratória (RCP), c) monitorização da pressão torácica durante a RCP, d) sons cardíacos e pulmonares que permitem auscultação, e) sistema venoso central e periférico para palpação e punção, preenchido com sangue artificial, f) sistema completo de vias aéreas Há alguns anos a Universidade Anhembi Morumbi, consciente da necessidade de inovar no ensino da medicina veterinária, adquiriu da Rescue Critters® (www.rescuecritters.com) e da Universidade da Califórnia (UC Davis - www.calf.vetmed.ucdavis. edu) mais de 10 itens para a adoção de técnicas humanitárias de ensino. Acima e ao lado, um dos itens adquiridos: Jerry, manequim de cão dotado de uma representação realística da traquéia, esôfago, epiglote e pulmões funcionais, desenvolvido para as práticas de intubação, ventilação artificial, mensuração do pulso, administração intravenosa e imobilização de membros

Contrário à experimentação animal, o CETAC (Centro de Ensino e Treinamento em Anatomia e Cirurgia Veterinária - www.cetacvet.com.br) investe no ensino em arena, onde até 70 pessoas podem assistir as cirurgias de casos clínicos dentro do Teatro Coliseu. O ambiente é dotado de arquitetura e recursos tecnológicos que permitem que os procedimentos sejam acompanhados ao vivo e nas TVs de LCD (setas). Os comentários e explicações dos cirurgiões e anatomistas, estimulam a interação e o aprendizado

Ossos sintéticos: simples, de excelente utilidade e feitos no Brasil Esta grande novidade é de autoria da Nacional Vet, segmento veterinário da Nacional, empresa que atua desde 1995, criando produtos didáticos que auxiliam no estudo da anatomia humana. Os ossos sintéticos possuem anatomia interna e externa que preservam as características naturais. Por isso, são de excelente aplicação no treinamento de técnicas cirúrgicas e manobras fisioterapeutas. Também são muito úteis na rotina clínica para demonstrar aos clientes o problema do paciente em uma visão tridimensional e explicar o procedimento cirúrgico que deve ser aplicado. Inicialmente, o desenvolvimento dos ossos artificiais veterinários contou com o apoio do Instituto Qualittas. “A possibilidade de obter réplicas de excelente qualidade que pudessem ser usadas em aulas práticas, oferecessem aos pós-graduandos condições saudáveis e propícias para seu desenvolvimento e aperfeiçoamento profissional não podia ser descartada. Por isso, nos empenhamos em colaborar no desenvolvimento dos moldes. O resultado foi excelente, pois os ossos proporciom aos futuros cirurgiões uma sensação operatória realista”, declarou o médico veterinário e professor Francis Flosi (Instituto Qualittas)

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Prof. dr. Paulo Iamaguti, professor titular de cirurgia da Unesp/Botucatu, durante aula prática de curso de ortopedia promovido pelo Hospital Veterinário Cães e Gatos (Osasco/SP).



Ensino O direito à objeção de consciência na experimentação animal Laerte Fernando Levai -

Promotor de Justiça no Estado de São Paulo - Mestre em Direito Ambiental - laertelevai@uol.com.br

1. INTRODUÇÃO A experimentação animal, definida como toda e qualquer prática que utiliza animais para fins didáticos ou de pesquisa, decorre de um erro metodológico que a considera o único meio para se obter conhecimento científico. Abrange a vivissecção, que é um procedimento cirúrgico, invasivo ou não, realizado em animal vivo. Ela ocorre com frequência no ensino didático e nas pesquisas de base realizadas nas faculdades de medicina, biologia, veterinária, zootecnia, educação física, odontologia, farmácia etc., apesar de alunos nem sempre a receberem com naturalidade. Sabe-se afinal, que apesar do ilusório paliativo representado pelo emprego de anestesia, os animais perdem a vida em experimentos invariavelmente cruéis, submetidos que são a testes cirúrgicos, toxicológicos, comportamentais, neurológicos, oculares, cutâneos, psicológicos, genéticos, bélicos, dentre outros tantos, sem que haja limites éticos – ou mesmo relevância científica – em tais atividades. Macabros registros de experiências com animais praticadas nos centros de pesquisa, nos laboratórios, nas salas de aula, nas fazendas industriais ou mesmo na clandestinidade, revelam os ilimitados graus da estupidez humana. Sob a justificativa de buscar o progresso da ciência, o pesquisador prende, fere, quebra, escalpela, penetra, queima, secciona, mutila e mata. Nas suas mãos, o animal vítima torna-se apenas a coisa, a matéria orgânica, enfim, a máquinaviva. Predomina no meio acadêmico, via de regra, a mentalidade vivisseccionista. O método científico oficial, herança francesa dos ensinamentos do filósofo Renê Descartes (1596-1650) e do fisiologista Claude Bernard (1813-1878), faz com que ainda hoje o corpo docente repasse aos alunos as informações que recebeu e assimilou passivamente, ao longo de várias gerações, como a única fonte “confiável” de conhecimento. A autoridade do professor, representante da instituição escolar, assim como a metodologia reducionista por ele adotada, raramente é questinada pelo estudante da área de biomédicas, que se cala por 22

receio de se prejudicar na avaliação superior e por temor reverencial, inclusive. Nesse contexto, a ordem emanada da universidade torna-se imperiosa, oriunda de uma autoridade que incorpora uma verdade científica particular e que, sem admitir refutações, decide o que é certo ou errado no ensino, que manda e quem obedece, quem mata e quem morre. Em termos legais, a atividade vivisseccionista estava respaldada na Lei federal 6.638/79, atualmente revogada pela Lei Arouca. Com o advento da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), na qual o legislador inseriu um dispositivo específico sobre crueldade para com animais, sua prática passou a ser considerada delituosa caso não adotados os métodos substitutivos existentes. É que o artigo 32 § 1º do diploma jurídico ambiental incrimina “quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos”, cominando aos infratores pena de três meses a um ano de detenção, além de multa, sem prejuízo da respectiva sanção pecuniária administrativa. Considerando a existência, na atualidade, de uma vasta gama de recursos hábeis a livrar os animais de seus padecimentos na mesa do vivissector, faz-se necessária uma mudança de paradigma na mentalidade dos mestres e dos pesquisadores, uma pequena revolução interior que lhes permita conciliar a ética à atividade didático-científica. O caminho já foi indicado na própria Lei Ambiental: adoção de métodos alternativos à experimentação animal. Mencionado dispositivo ajusta-se perfeitamente ao mandamento supremo expresso no artigo 225, § 1º, VII, da Constituição Federal, em que o legislador houve por bem vedar as práticas que submetam animais à crueldade: “Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade”. Daí a legitimidade de o estudante de biomédicas em buscar meios mais

compassivos de pesquisa, os quais já existem e poderiam ser colocados em prática nas escolas. É preciso, para isso, romper o silêncio que impera no campo da experimentação animal, enfrentando os tabus existentes, desmistificando crenças, questionando verdades preconcebidas, ampliando nossa perspectiva ética e projetando a noção do justo para além da espécie dominante. Como bem escreveu o professor Thales Tréz, no prefácio ao livro “Alternativas ao uso de animais vivos na educação”, de autoria do biólogo Sérgio Greif, a vivissecção faz com que os próprios alunos se tornem vítimas indiretas de seu equivocado método de pesquisa: “O uso de animais expõe o estudante muitas vezes a contradições, como o de matar para salvar, ou desrespeitar para respeitar. Segundo ele, “a prática do uso de animais seja em que área for, é insustentável do ponto de vista econômico, ecológico, ético, pedagógico e principalmente, incompatível com uma postura de respeito e cuidado para com a vida”. Uma das formas legais de o estudante de ciências biomédicas desafiar a ordem cultural vigente é recorrer à cláusula de objeção de consciência à experimentação animal. Semelhante, sob certos aspectos, à desobediência civil, ela constitui uma legítima recusa à metodologia científica oficial, ao permitir que o aluno dissidente resguarde suas convicções filosóficas diante de procedimentos didáticos que se perfazem mediante a matança de outros seres senscientes. A objeção de consciência, portanto, é um ato praticado pelo sujeito que se recusa a obedecer à ordem superior que viola sua integridade moral, espiritual, cultural, política etc. Trata-se de um legítimo direito do estudante, que, de modo pacifico, o invoca não apenas para resguardar as suas convicções íntimas garantidas pela Carta Política, mas sobretudo para salvar a vida e poupar os animais de sofrimentos. Neste ponto há uma interessante hibridez na atitude estudantil objetora, em que a conduta ética ultrapassa a barreira das espécies para constituir em instrumento político para uma mudança de paradigma.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010


O fundamento jurídico para invocar a resistência passiva encontra-se principalmente no capítulo dos Direitos e Garantias Individuais da Constituição Federal – artigo 5º, incisos VIII –, conjugado com incisos II e VI (parte inicial) e no artigo 225 par. 1º, inciso VII (parte final) da Carta da República, podendo ser exercido mediante o exercício do direito de petição no âmbito administrativo (art. 5º, inciso XXXIV), sem prejuízo de o interessado – se necessário – ingressar em juízo com Mandado de Segurança (artigo 5º, LXIX, da CF). 2. O ALTAR CIENTIFICISTA Foi a partir do racionalismo de René Descartes que o uso de animais para fins experimentais tornou-se método padrão na medicina. Tal filósofo justificava a exploração sistemática dos animais, equiparando-os a autômatos ou a máquinas destituídas de sentimentos, incapazes de experimentar sensações de dor e de prazer. Ficaram famosas, a propósito, as vivissecções de animais realizadas por seus seguidores na Escola de PortRoyal, durante as quais os ganidos dos cães seccionados vivos eram interpretados como um simples ranger de uma máquina. Foi o auge da teoria do animal-machine. Em meados do século XIX Claude Bernard lançou as bases da moderna experimentação animal com a obra “Introdução à medicina experimental”, considerada por muitos como sendo a 'bíblia dos vivissectores'. A partir daí a atividade experimental em animais ganhou novo impulso, sem qualquer preocupação ética por parte dos cientistas. Cães, gatos, macacos, ratos, coelhos, dentre outras tantas espécies transformadas em meras “cobaias” em experiências, passaram a sofrer refinada tortura nas mesas cirúrgicas, sob a justificativa de seu 'sacrifício' reverter em prol da ciência. Os pesquisadores contemporâneos, salvo aqueles pertencentes à corrente antivivissecionista atuante em alguns países da Europa e nos Estados Unidos, ainda estão imersos no antigo paradigma reafirmador das ideologias cientificista e tecnicista. Embora significativa parcela deles demonstre certo desconforto em admitir seu envolvimento com o método científico-experimental, justificam-no alegando que a vivissecção é um mal necessário. A respeito desse

assunto o professor João Epifânio Regis Lima propôs séria reflexão sobre a metodologia oficial que legitima a tortura em animais. Em inédita dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, em 1995, sob o título “Vozes do Silêncio – Cultura Científica: Ideologia e alienação no discurso sobre vivissecção”, ele teve o mérito de questionar a postura científica dominante, na qual o capitalismo, o cientifismo e o tecnicismo constituem o tripé ideológico que sustenta as bases do sistema social vigente. Algumas de suas observações, nesse pioneiro trabalho crítico, o qual foi editado em livro pelo Instituto Nina Rosa, merecem ser transcritas: “Defender a vivissecção como técnica única (ou unicamente confiável) de exploração biológica a nível orgânico e médico é partir do princípio (positivista) de que apenas os fatos concretos e diretamente observáveis são fonte seguro de conhecimento”. “Além de considerarem a ciência como a forma por excelência de adquirir conhecimento sobre o mundo, adota-se uma maneira particular de resolver problemas específicos a uma determinada área do conhecimento como sendo única, caracterizando a imersão em um paradigma, o qual, estando acima de qualquer suspeita, não é questionado”. “A vivissecção, ou os pressupostos e princípios de que ela parte, acabaria desempenhando papel importante como afirmadora de uma ordem cultural de uma hegemonia, na medida em que define quem mata e quem morre, quem é sacrificável e quem não o é”. “Mal necessário significando 'não gosto, mas não há saída, não tenho saída' revela um acuamento, um constrangimento de possibilidades de ação”. Daí porque, conclui Regis Lima, o uso experimental de animais, no contexto acadêmico, apresenta-se como uma prática inercial, acrítica e tradicional, funcionando como instrumento de reafirmação de determinada ordem cultural: “Toma-se a instituição científica como acima de qualquer suspeita e joga-se para ela a responsabilidade pela decisão, já que é o próprio paradigma por ela apresentado (que é tido como inquestionável) quem vai definir a prática. Neste caso, mesmo havendo desagrado com relação a ela, a dissonância

e a tensão se encontram bem diminuídas ou mesmo inexistentes”. A prática vivisseccionista – critica o autor – é vista (pelos cientistas) como fato 'consumado', por 'natural' e 'necessária'. Aos olhos do pesquisador, portanto, os animais tornam-se criaturas eticamente neutras, coisas, produtos, matrizes ou peças de reposição, tratados como meros objetos descartáveis. Remanesce, na comunidade científica, um profundo silêncio sobre esse assunto, no qual a vivissecção funciona como instrumento de reiteração da ordem cultural vigente. Em meio a esse contexto impositivo, surge o direito à escusa de consciência como forma legítima de salvaguardar consciências e preservar convicções filosóficas. É possível compreender, portanto, o acuamento do estudante em face de uma situação de conflito. Há que se considerar, nesse contexto, o temor reverencial do aluno em face de uma ordem emanada de seus superiores, até porque se sabe que as universidades costumam valer-se do principio da autoridade para impor sua metodologia. A Lei de Diretrizes e Bases, porém, em nenhum momento afirma que a experimentação animal é obrigatória nos cursos de biomédicas, tampouco permite que seu modelo curricular seja interpretado nesse sentido. Há que se dizer, a propósito, que nenhuma lei ordinária está acima da Constituição Federal, onde a norma da escusa de consciência foi estabelecida como princípio consagrado em meio aos direitos e garantias individuais, à guisa de cláusula pétrea. 3. MÉTODOS ALTERNATIVOS Verifica-se que a norma jurídica ambiental do artigo 32 par. 1º da Lei 9.605/ 98 reconhece a crueldade implícita na atividade experimental sobre animais, tanto que se adiantou em indicar outros caminhos para impedir a inflição de sofrimentos. Se hoje a realização de experimentos está condicionada à ausência de métodos alternativos, isso significa – na lúcida visão dos biólogos Sérgio Greif e Thales Tréz (“A verdadeira face da experimentação animal”) – que, ao menos no plano teórico, a atividade vivisseccionista contraria a lei. Afinal, técnicas alternativas ao uso do animal em laboratórios já existem dentro e fora do país.

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Ensino A busca de um ideal aparentemente utópico, o de abolir toda e qualquer forma de experimentação animal, tanto na indústria como nas escolas, não permite o comodismo nem o preconceito. Imprescindível que o cientista e/ou professor saia da inércia acadêmica para trazer aos centros de pesquisa e às universidades alguns dos métodos alternativos já disponíveis e que poderiam perfeitamente ser adotados no Brasil, dispensando o uso de animais. Há que se relacionar aqui, a título exemplificativo, alguns dos mais conhecidos RECURSOS ALTERNATIVOS que se ajustam ao propósito do legislador ambiental e que poderiam, vários deles, inspirar uma metodologia científica verdadeiramente ética, a saber: • Sistemas biológicos in vitro (cultura de células, de tecidos e de órgãos passíveis de utilização em genética, microbiologia, bioquímica, imunologia, farmacologia, radiação, toxicologia, produção de vacinas, pesquisas sobre vírus e sobre câncer); • Cromatografia e espectrometria de massa (técnica que permite a identificação de compostos químicos e sua possível atuação no organismo, de modo nãoinvasivo); • Farmacologia e mecânica quânticas (avaliam o metabolismo das drogas no corpo); • Estudos epidemiológicos (permitem desenvolver a medicina preventiva com base em dados comparativos e na própria observação do processo das doenças); • Estudos clínicos (análise estatística da incidência de moléstias em populações diversas); • Necrópsias e biópsias (métodos que permitem mostrar a ação das doenças no organismo); • Simulações computadorizadas (sistemas virtuais que podem ser usados no ensino das ciências biomédicas, substituindo o animal); • Modelos matemáticos (traduzem analiticamente os processos que ocorrem nos organismos vivos); • Culturas de bactérias e protozoários (alternativas para testes cancerígenos e preparo de antibióticos); • Uso da placenta e do cordão umbilical (para treinamento de técnica cirúrgica e testes toxicológicos); • Membrana corialantóide (teste CAME, que utiliza a membrana dos 24

ovos de galinha para avaliar a toxicidade de determinada substância) etc. Inúmeros países considerados de primeiro mundo já aboliram o uso de animais em pesquisas didático-científicas, principalmente nas escolas, como se pode constatar das nações que integram a Comunidade Européia, o Canadá e a Austrália. Nos EUA, a propósito, mais de 70% das faculdades de medicina não utilizam animais vivos, enquanto que na Alemanha esse índice é bem maior. Várias diretrizes da União Européia foram firmadas com o propósito de abolir os testes com animais, dentre eles os terríveis Drize Test e LD 50. Assim, em oposição à doutrina científica oficial que fez da vivissecção um dos intocáveis mitos da ciência médica e influenciou seguidas gerações de pesquisadores, a corrente antivivissecionista vem ganhando força. Há que se registrar, ao longo dos tempos, vozes ilustres que se levantaram contra o massacre de animais na medicina, dentre elas as de Voltaire, Gandhi, Donald Griffin, Charles Bell, Alfred Russel Wallace, Pietro Croce, Hans Ruesch, Milly Shär-Manzoli, Carlos Brandt, George Bernard Shaw, Jane Goodall, Henry Salt, Mark Twain, Victor Hugo, Leon Tolstói, Richard Wagner, Richard Ryder, Tom Regan e Gary Francione. Ao alvorecer do século XXI, no Brasil, algumas escolas superiores passaram a se empenhar na busca de alternativas à experimentação animal, como a Universidade de São Paulo (a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia adota o método de Laskowski, que no treinamento de técnica cirúrgica utiliza animais que tiveram morte natural), a Universidade Federal do Estado de São Paulo (que usa um rato de PVC nas aulas de microcirurgia), a Universidade de Brasília (onde o programa de farmacologia básica do sistema nervoso autônomo é feito por simulação computadorizada), afora aquelas cujo departamento de patologia realiza pesquisas apenas com o cultivo de células vivas. Culturas de tecidos, provenientes de biópsias, cordões umbilicais ou placentas descartadas, dispensam o uso de animais. Vacinas também podem ser fabricadas a partir da cultura de células do próprio homem, sem a necessidade das técnicas invasivas experimentais envolvendo a sorologia. Isso sem esquecer

dos modernos processos de análise genômica e sistemas biológicos in vitro, que, se realizados com ética, tornam absolutamente desnecessárias antigas metodologias relacionadas à vivissecção, em face das alternativas hoje existentes para a obtenção do conhecimento científico. Na área didática, portanto, esses novos métodos de ensino podem perfeitamente dispensar o uso de animais. Sua metodologia encontra-se disponível na literatura científica antivivissecionista compilada pela rede Interniche, “From Guinea Pig to Computer Mouse” (2001) e no livro de Sérgio Greif, “Alternativas ao uso de animais vivos na educação – pela ciência responsável” (2003). 4. A OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA Em 1987, nos EUA, a estudante Jenifer Grahan, da Universidade da Califórnia, recusou-se a dissecar um animal e foi ameaçada pela instituição. Não obstante isso, a aluna permaneceu firme em seus ideais e levou o caso ao Tribunal, certa de que a postura antivivissecionista era um direito que lhe assistia. Tal episódio é comentado pelo biólogo e escritor Sérgio Greif em seu livro “Alternativas ao uso de animais vivos na educação”: “Jenifer recorreu a um tribunal da Califórnia, que compreendeu a problemática e abriu precedentes para a atual lei estadual, que estabelece os direitos do estudante de não utilizar animais de forma destrutiva e prejudicial. Atualmente, cursos que utilizam animais vivos ou mortos, ou mesmo suas partes, necessitam notificar antecipadamente os estudantes, para que esses possam usufruir de seus direitos. Os professores podem desenvolver um projeto educacional alternativo com 'tempo e esforço comparáveis' ou permitir que o aluno simplesmente se abstenha do projeto, não o prejudicando na nota final (...). Depois do caso de Jenifer, milhares de estudantes em todo o mundo escolheram por cursar disciplinas nas áreas biológicas de forma humanitária, e muitas escolas concordaram com a idéia, acatando a opção estudantil, por uma educação livre de violência”. A escusa de consciência à experimentação animal, aliás, não se limitou ao Estado da Califórnia, nos EUA. Em 1993, na Itália, surgiu um diploma federal

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Ensino tratando especificamente desse assunto, a Lei 413/93, que deferiu a estudantes de biomédicas o direito à escusa de consciência. Essa avançada lei italiana, por sua vez, serviu de base para a lei municipal 4.428/99, de Bauru, Estado de São Paulo, cujos artigos 7º, 8º e 9º são expressos em permitir a objeção de consciência àqueles que lidam com experimentação animal em escolas ou centros de pesquisa. Ao contrário do que ocorre na hipótese da prestação do serviço militar, de natureza obrigatória, inexiste no Brasil lei que obrigue alguém a praticar vivissecção ou experimentação animal e, portanto, não há que se falar em “obrigação legal a todos imposta”. Daí porque, não havendo lei a ser descumprida, torna-se perfeitamente possível o exercício da objeção de consciência à experimentação animal, em face do consagrado princípio da legalidade. Considerando que a escusa de consciência é uma forma particular de resistência pacífica pelo estudante, ela assemelha-se à chamada desobediência civil, com o diferencial de que naquela hipótese a punição do aluno recalcitrante é incabível. Soa paradoxal, nesse contexto, que estudantes de biologia sejam obrigados a perfazer experimentos cruéis em animais quando seu próprio Código de Ética, no artigo 2º, dispõe o seguinte: “Toda atividade do biólogo deverá sempre consagrar o respeito à vida, em todas as suas formas e manifestações e à qualidade do meio ambiente”. Justificar a necessidade didática da vivissecção sob o fundamento de que as leis visam antes ao interesse coletivo do que o individual e que essa metodogia ainda não pode ser substituída, data maxima venia, é pensar de modo estreito. Afinal, a defesa das liberdades individuais é uma garantia constitucional suprema. Diante de um conflito ético que envolve questões relacionadas à vida e/ou ao sofrimento alheio, cabe ao interessado fazer as suas escolhas, lembrando que a decisão particular de não violentar suas convicções filosóficas pode assumir natureza política e, portanto, coletiva, ao propagar junto à comunidade acadêmica a viabilidade legal de fazer opções compassivas sem risco de ser prejudicado em suas avaliações ou discriminado por suas atitudes. O estudante objetor de consciência 26

não pleitea a mera dispensa de uma atividade estudantil a todos exigida, mas o direito de preservar suas convições filosóficas e de, em razão disso, apresentar um trabalho científico alternativo, de pesquisa e de resultados, com um único diferencial: a metodologia. É possível, na realidade, fazer interessantes estudos na área de anatomia, zoologia ou fisiologia sem que para isso seja necessário matar animais. 5. ASPECTOS JURIDICOS Nenhum aluno deve ser forçado a realizar experimentação animal, principalmente quando essa prática ofende suas convicções filosóficas ou morais. A opção em aderir, ou não, à metodologia didático-científica tradicional, deve ser interpretada não como uma liberalidade docente, mas como um legítimo direito do estudante, a quem se deve facultar contraprestação compatível ao tema proposto (realização de trabalho escolar e/ou desenvolvimento de estudo paralelo de natureza alternativa). O direito à liberdade de consciência, aliás, consta do artigo 18, 1ª parte, da Declaração Universal dos Direitos Humanos, carta proclamada em 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas e devidamente subscrita pelo Brasil: “Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião”. Essa norma também foi consagrada na nossa Constituição Federal, cujo artigo 5º, VI, é expresso: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença...”. Não bastasse isso, o legislador constitucional também tratou da escusa de consciência, fazendo-o no capítulo dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, artigo 5º, inciso VII: “Ninguém será privado de direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”, Resta saber como conciliar, na prática, tais princípios magnos com o legítimo direito do estudante à objeção de consciência à experientação animal. A liberdade de consciência é que fundamenta o pedido de objeção, porque a livre manifestação do pensamento costitui uma prerrogativa dos

regimes democráticos. Assim, qualquer pessoa que se sinta constrangida a fazer ou deixar de fazer algo que contraria seus valores morais, tem o direito de invocar objeção ou escusa de conciência, a não ser que haja uma lei que a obrigue a tal prática ou omissão. Ocorre que em nosso país inexiste lei que obrigue o estudante a perfazer experimentação animal. E, como se sabe, o consagrado princípio da legalidade, insculpido no artigo 5º, inciso II, da CF, informa que: “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Ora, inexiste no Brasil lei que obrigue o aluno a perfazer experimentação animal. Ainda que o artigo 207 da Carta Magna assegure às universidades autonomia didático-científica, há que se dizer que essa autonomia possui limites. Da mesma maneira, a Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.384/96), ao garantir às instituições de ensino, antes de cada ano letivo, a elaboração dos programas dos cursos e demais componentes curriculares (art. 47, par. 1º), bem como a fixação dos currículos dos seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes (artigo 53, II), não pode afastarse do comando ético constitucional que veda a submissão de animais à crueldade. De fato, o artigo 225 par. 1º, inciso VII incumbiu ao Poder Público: “Proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à crueldade”. Sob essa inspiração a própria Lei Ambiental (Lei 9.605/98), dez anos depois, ao tratar de experimentos dolorosos ou cruéis com animais vivos, ainda que para fins didáticos ou científicos, preconizou no par. 1º do artigo 32 a utilização de recursos alternativos: “Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos” (art. 32 par. 1º da Lei 9605/98). Quando um professor ou diretor da faculdade, todavia, nega o direito à escusa de consciência pleiteado pelos estudantes, alegando que a prática vivisseccionista está imersa na autonomia da universidade, gera com isso um sério

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impasse no meio acadêmico: ou os alunos realizam o trabalho cuja metodologia atenta contra suas convicções filosóficas ou se prejudicam na nota final, correndo o risco de reprovação. Agindo dessa forma, o docente acaba assumindo o papel de autoridade coatora. Isso porque, ao violar um direito líquido e certo expressamente previsto na Constituição Federal, possibilita – em contrapartida – a interposição de mandado de segurança pelos alunos ofendidos em suas convições éticas. O argumento de que o artigo 207 da CF e os artigos 47 e 53 da Lei de Diretrizes e Bases garantem à Universidade a autonomia didático-científica para decidir de acordo com seus próprios interesses, não possui caráter absoluto. Isso porque a autonomia didático-científica não é irrestrita, tanto que a Lei de Biossegurança estabeleceu limites para a pesquisa científica. Se assim não fosse, seria desnecessária a autorização legal dada pelo Congresso à utilização de células embrionárias para as pesquisas de células-tronco. Outro exemplo são os trotes acadêmicos – alguns deles de consequências trágicas – que acontecem dentro das universidades. É claro que se crime houver, a instituição não poderá acobertá-lo sob a alegação de que possui autonomia própria para resolver os problemas ocorridos em seu campus. Neste caso, a lei ordinária deverá ser aplicada independentemente do local em que se deu o fato delituoso. Daí porque a autonomia conferida pelo artigo 207 da Constituição da República não é absoluta, e sim relativa, haja vista que a Universidade não pode colocar-se acima da lei. Se por acaso ocorresse no campus um corte ilegal de árvores ou a poluição de um lago, com danos à natureza, evidente que a universidade também não poderá invocar sua autonomia para justificar esse desastre

ambiental. Da mesma forma, não poderá praticar e/ou compactuar com a prática de maus tratos para com os animais – conduta vetada por lei – valendo-se do argumento de que possui autonomia didático-científica para decidir o que seja, ou não, cruel. Ainda que assim não fosse, isto é, ainda que se quisesse entender que a autonomia universitária só encontra limite na Constituição Federal – o que se admite apenas para argumentar – o artigo 225 par. 1º, VII da CF veda as práticas capazes de submeter os animais à crueldade, não se podendo excluir delas a experimentação animal. Se existe um conflito aparente de normas entre os artigos 207 e 225 da Carta Política brasileira, evidente que deve prevalecer o segundo mandamento, por contemplar um valor mais elevado (a vida). Daí a necessidade do reconhecimento legal da cláusula de objeção de consciência à experimentação animal, realidade já existente nos EUA, na Europa e que se inicia, aos poucos, no Brasil. Trata-se de um processo evolutivo do pensamento, voltado à educação humanitária e que busca o conhecimento científico de uma maneira diversa da tradicional. Se a legislação brasileira garante tal direito àqueles que se constrangem em eliminar vidas – consideradas estas em todas as suas formas e manifestações –, por que negá-lo? Por que desprezar as convicções filosóficas de estudantes antivivissionistas que se propõem a elaborar trabalhos alternativos que não violem suas consciências? Por que fechar os olhos para outra forma de pesquisa didático-científica que não implique na coleta e morte de animais? Por que aceitar como justo um sistema de ensino contraditório, que a pretexto de ensinar propõe-se a prender e a matar? Respostas a tais indagações somente serão satisfatórias se houver conciliação

entre os princípios científicos e os filosóficos que envolvem a questão. Ainda que a metodologia oficial adotada pela ciência seja invasiva, não se pode negar o surgimento, principalmente no meio acadêmico, de uma corrente biomédica antivivissecionista, que pleiteia a adoção de recursos substitutivos à experimentação animal e que defende o direito à objeção de consciência aos alunos que assim o desejarem. Obrigá-los a fazer o que seus princípios de vida não recomendam, sob ameaça de reprovação e sem dar a eles a oportunidade da prestação alternativa, isso sim representa uma violência, algo que se traduz em ilegalidade e abuso de poder porque viola um direito líquido e certo. Resta aos alunos, na hipótese de injustificado indeferimento do seu requerimento de escusa pela autoridade administrativa acadêmica, recorrer às vias judiciais. Ao impetrar Mandado de Segurança (Lei 1533/51), com pedido de liminar, o estudante invocará o seu direito à objeção de consciência e, paralelamente, o de apresentar trabalho alternativo sobre o mesmo assunto proposto pelo professor da matéria, com o diferencial de ele ser elaborado sem a necessidade de ferir ou matar criaturas senscientes, preservando o objetor, desse modo, suas convicções morais e filosóficas. O Ministério Público, a quem toca a tutela jurídica da fauna e o cumprimento das leis, não se deve omitir em face da cruel prática da vivissecção. Atuando na condição de substituto processual dos animais (artigo 3º, par. 3º do Decreto nº 24.645/34) e curador do ambiente (artigo 129, III, da Constituição Federal), o promotor de justiça pode agir preventivamente, recomendando às escolas e aos institutos de pesquisa – de modo oficioso – a necessidade da substituição do uso animal pelos métodos

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Ensino alternativos e a garantia do direito de objeção à consciência para os alunos interessados. 6. A LEI AROUCA Em outubro de 2008 foi aprovada a Lei federal 11.794/08, denominada Lei Arouca. Tal diploma legal, a pretexto de regulamentar o artigo 225 par. 1º, inciso VII da Constituição Federal, reafirma a experimentação animal como método oficial de pesquisa científica, revogando expressamente a lei anterior, a da vivissecção (Lei 6.638/79). O mais paradoxal disso tudo é que, em seu preâmbulo, a Lei Arouca se apresenta como se fosse uma salvaguarda dos interesses dos animais, quando na realidade representa exatamente o contrário. Basta dizer que em seu texto o legislador recomenda morte humanitária (eutanásia) nas hipóteses em que os animais forem submetidos a um “mínimo sofrimento físico ou mental”, “elevado grau de agressão” ou “intenso sofrimento”. Fica fácil concluir que essa lei, já regulamentada, acaba legitimando a crueldade para com os animais a pretexto de fazer ciência. Nela está prevista a existência do CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), órgão colegiado presidido pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia e composto, em sua imensa maioria, por representantes de instituições interessadas na experimentação animal: por exemplo, Ministério da Ciência e Tecnologia, CNPq, Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Academia Brasileira de Ciências, Conselho de Reitores, Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência, Sociedade de Biologia Experimental, Colégio Brasileiro de Experimentação Animal e Federação da Indústria Farmacêutica. Não é preciso dizer que, em meio a esse contexto vivissecionista, os representantes da educação, do meio ambiente e da proteção animal estão em nítida desvantagem, porque as decisões ali são tomadas pelo voto da maioria. Já as CEUAs (Comissões de Ética no Uso de Animais) também são constituídas de maneira desigual: médicos veterinários, biólogos, docentes e pesquisadores, além de um único representante de associação protetora de animais, ficando este, quase sempre, como voto vencido nas reuniões do comitê. 28

Há quem diga que a participação de representantes de ONG de defesa animal serve apenas para legitimar a experimentação, porque desta forma a lei acaba sendo cumprida, ainda que de maneira desequilibrada e pouco democrática. Outros sustentam que é importante a presença da proteção animal nos comitês de ética, para que se possa conhecer de perto quais os projetos de pesquisa que utilizam animais, buscando a partir daí informes sobre a metodologia substitutiva. É preciso dizer, entretanto, que a Lei Arouca contraria o espírito do artigo 32 par. 1º da Lei 9.605/98, que há mais de dez anos vem preconizando a adoção de métodos substitutivos à experimentação animal. Os cientistas permaneçam imersos no método científico oficial, invasivo, que é notoriamente cruel. Não bastasse isso, eles se colocam na contramão da história ao fazer tabula rasa do mandamento constitucional que veda a submissão de animais à crueldade. Daí porque se deve insistir na busca de uma metodologia antivivissecionista, a exemplo do que já ocorre em diversos países da Europa, sem a necessidade da sujeição de animais a abusos e torturas. Os métodos substitutivos existem às centenas, mas sua aplicação efetiva no Brasil depende de esclarecimento público, vontade política e postura ética das pessoas envolvidas na questão, até que se possa obter uma mudança no atual paradigma científico. Enquanto os pesquisadores ficarem inertes em sua cômoda posição, ritualizando valores em vez de submetê-los à crítica, nada mudará. É preciso, como passo inicial de uma urgente reviravolta de valores, que se garanta aos estudantes o direito à objeção de consciência, direito este que nos últimos anos foi buscado, nos tribunais, por alunos corajosos e conscientes, como Flávia Machado, Priscila Reis, Robér Bachinski e Juliana Itabaiana. Estes jovens de olhar biocêntrico e transbordantes de idealismo representam, sem dúvida alguma, a esperança de um futuro mais digno e justo para todos os seres. Afinal, como dizia o médico antivivessicionista italiano Pietro Croce, “Estamos diante de um momento histórico inadiável: de um lado a cultura vivisseccionista arcaica, que sedimentaram em nós; de outro lado, a postura

mais compassiva e generosa, que se difunde sobretudo entre os jovens, com a rapidez e espontaneidade típicas dos espíritos inquietos”. 7. CONCLUSÕES ARTICULADAS 7.1. A experimentação animal, prática ainda corriqueira na maioria dos laboratórios, centros de pesquisa ou estabelecimentos de ensino biomédico, no Brasil, é uma atividade imersa na ideologia científica dominante, na qual os animais – tidos como objetos de estudo ou peças descartáveis – são tratados de forma cruel, à guisa de seres eticamente neutros. 7.2 Não bastasse a Constituição Federal vedar a submissão de animais à crueldade (artigo 225 par. 1º, VII), a Lei dos Crimes Ambientais (Lei federal 9.605/98), equipara a crime, no artigo 32 par. 1º, o uso de animais para fins científicos ou didáticos sempre que houver recursos alternativos, métodos esses já são conhecidos e disponíveis no Brasil. 7.3. Semelhante à desobediência civil, o direito à objeção de consciência em face da experimentação animal é uma forma particular de resistência pacífica invocada pelo estudante que, pretendendo resguardar suas convicções filosóficas, recusa-se a perpetrar atos de violência em detrimento de outros seres vivos. 7.4. Ao objetar a consciência em face de uma ordem superior que lhe põe em situação de conflito, o aluno age não apenas em benefício próprio, mas, sobretudo, para salvar a vida e evitar o sofrimento animal, demonstrando uma postura ética ampla que alcança, também, um sentido político. 7.5. Há que se garantir a possibilidade de o estudante da área de biomédicas invocar em seu favor, sem riscos de represálias, a opção pela objeção de consciência à experimentação animal, com fundamento no artigo 5º, inciso VIII, da Constituição Federal, porque ninguém pode ser obrigado a fazer aquilo que desrespeite seus princípios filosóficos, culturais ou políticos, tampouco que ofenda sua integridade moral e espiritual. 7.6. Os preceitos estabelecidos na Lei de Diretrizes e Bases ou respaldados na autonomia didático-científica da Universidade não podem sobrepor-se às

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garantias individuais previstas na Constituição Federal (dentre elas o direito à objeção de consciência) para obrigar o aluno a práticas que violem sua consciência moral, como ferir e matar animais em nome de um suposto aprendizado e/ou progresso científico. 7.7. O direito à objeção de consciência nas atividades de experimentação animal, longe de se constituir mera liberalidade da Instituição de Ensino adepta da metodologia tradicional, é um direito líquido e certo dos alunos, aos quais se permitirá uma contraprestação didática – trabalho alternativo ou atividade similar – compatível com a postura antivivissecionista. 7.8. Para exercer tal direito o estudante deve protocolar seu pleito de resistência junto ao professor da disciplina cuja metodologia é objetada ou diretamente ao diretor da Escola, fazendo-o com fundamento no artigo 5º, incisos VIII (escusa de consciência) e XXXIV, “a” (direito de petição),

da CF e com a possibilidade de recorrer às vias judiciais, por intermédio de advogado, na hipótese de o pedido ser negado. 7.9. Ao Ministério Público, no exercício de suas funções institucionais, cumpre também defender os animais submetidos à vivissecção, podendo o promotor expedir Recomendações, firmar Termo de Ajustamento de Conduta ou ingressar com Ação Civil Pública, sem prejuízo de exigir que as faculdades da área de biomédicas, em sua comarca, disponibilizem ao aluno, desde a ocasião da matrícula, formulários permissivos da cláusula de objeção de consciência à experimentação animal. 7.10 A Lei Arouca (Lei federal 11.794/08), que se propõe a regulamentar justamente o mandamento constitucional que veda a crueldade, acaba por legitimar, à sua maneira, a tortura de animais, merecendo por isso ser revogada por vício de inconstitucionalidade.

Bibliografia FELIPE, Sônia T. Por uma questão de princípios - Alcance e limites da ética de Peter Singer em defesa dos animais. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2003. FELIPE, Sônia T. Ética e experimentação animal - fundamentos abolicionistas. Florianópolis: UFSC, 2007. GARCIA, Maria. Desobediência Civil - Direito Fundamental. São Paulo: RT, 1994. GREIF, Sérgio; TRÉZ, Thales. A Verdadeira Face da Experimentação Animal: a sua saúde em perigo. Rio de Janeiro: Sociedade Educacional Fala Bicho, 2000. GREIF, Sérgio. Alternativas ao uso de animais vivos na educação - pela ciência responsável. São Paulo: Instituto Nina Rosa, 2003. INTERNICHE. From Guinea Pig to Computer Mouse. International Network for Humane Education, England: 2003. LEVAI, Laerte Fernando. Direito dos Animais. Campos do Jordão: Ed. Mantiqueira, 2004. LIMA, João Epifânio Regis. Vozes do Silêncio Cultura Científica: ideologia e alienação no discurso sobre vivissecção. São Paulo: Instituto Nina Rosa, 2009.

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Bem-estar animal

Fórum Nacional de Proteção Animal realiza evento, dá posse a Grassi e homenageia Tripoli

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eunião extraordinária do Fórum pela cerimônia de posse do novo geNacional de Proteção e Defesa rente executivo do Fórum Nacional de Animal aconteceu na noite do Proteção Animal, o médico veterinário dia 31 de maio de 2010, na Sala Sérgio Wilson Grassi e homenagens a persoVieira de Mello, na Câmara Municipal nalidades que se destacaram na defesa de São Paulo e reuniu cerca de 100 pesanimal (www. forumnacional.com.br soas, entre parlamentares, promotores federação de entidades de proteção anide justiça, presidentes de entidades de mal e ambiental procedentes de diferenproteção animal e protetes cidades e estados tores independentes. O do Brasil). evento também contou com Em discurso, o a presença do promotor púmédico veterinário blico Laerte Levai, do deWilson Grassi falou putado estadual Feliciano sobre a responsabiliFilho e do presidente da dade de assumir o Anclivepa-SP Ricardo Coucargo e falou tamWilson Grassi toma posse da tinho do Amaral. bém sobre seus progerência executiva do Fórum A reunião foi motivada Nacional de Proteção Animal jetos como gerente

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executivo “É muito difícil somar com uma entidade que já é tão grande, mas eu pretendo atuar administrativamente para que possamos profissionalizar cada vez mais o Fórum, dobrar o número de entidades afiliadas, ter representãção em todos os Estados brasileiros e assim, potencializr nossas ações estratégicas, técnicas e políticas em prol da proteção animal." disse. Para Sônia Fonseca, a presença do médico veterinário faz parte de um crescimento da entidade e deve trazer grandes vitórias. A cerimônia também rendeu homenagens ao vereador Roberto Tripoli, como o parlamentar pioneiro na defesa animal.

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Aspectos clínicos e ultrassonográficos das encefalopatias vasculares em cães

Fernanda Helena Saraiva Médica veterinária autônoma

fehsaraiva13@yahoo.com.br

Cibele Figueira Carvalho MV, profa. dra. - UniCSUL Serviço de ultrassonografia - PROVET

cibelefcarvalho@terra.com.br

Paulo Cesar Maiorka MV, prof. dr. - VPT/FMVZ/USP

maiorka@usp.br

Clinical and ultrasonographic aspects of vascular encephalopathies in dogs Aspectos clínicos y ultrasonográficos de las encefalopatías vasculares en perros Resumo: O diagnóstico das encefalopatias vasculares em cães parece estar aumentando, assim como a expectativa de vida desses animais. Essas doenças são definidas como alterações ocasionadas pela deficiência de suprimento sanguíneo cerebral. Embora sejam consideradas importantes enfermidades causadoras de sinais neurológicos em cães, a literatura veterinária é escassa. Foram avaliados retrospectivamente os dados de 512 cães que apresentaram sinais compatíveis com acidentes vasculares cerebrais, submetidos ao exame ultrassom Doppler (USDTC) transcraniano durante 2007 e 2008. Foram selecionados 52 cães de raças pequenas, sem predisposição sexual, apresentando sinais clínicos agudos e não progressivos de alteração cerebral focal e diagnóstico de doença cerebrovascular, confirmados na necropsia até 2009. USDTC foram realizados como descrito na literatura, pelo mesmo operador com transdutores de 3-10MHz. Essa pesquisa teve como objetivo descrever os principais aspectos clínicos e os achados ultrassonográficos desses pacientes comparados com os achados de necropsia. Unitermos: pequenos animais, neurologia, diagnóstico por imagem

apresentar uma revisão das informações encontradas na literatura internacional sobre o tema e descrever os achados clínicos e ultrassonográficos encontrados em cães acometidos por encefalopatias vasculares cujo diagnóstico foi comprovado após a necropsia desses animais.

Abstract: The diagnosis frequency of vascular encephalopathies seems to be increasing in dogs, as well as the life expectancy of these animals. These diseases are defined as brain abnormalities caused by blood supply impairment. Although these strokes are considered important causes of neurological symptoms in dogs, reports in veterinary literature are scarce. Medical records of transcranial Doppler sonography (TCDS) examinations performed between 2007 and 2008 in 512 dogs with clinical signs of central nervous disease were reviewed. The criteria for selection of the 52 patients reported here were: small breed dogs with no predilection for sex, showing acute onset of clinical signs with no progressive focal cerebral dysfunction and diagnosis of cerebrovascular disease confirmed at post-mortem examination until 2009. TCDS examinations were performed as described in literature, by the same operator with 3-10 MHz transduceres.The aim of this study was to describe the underlying causes and ultrasonographic findings of cerebrovascular diseases in small breed dogs, comparing them with the post-mortem findings. Keywords: small animals, neurology, diagnostic imaging

Revisão da literatura A encefalopatia isquêmica é definida como interrupção focal ou global do fluxo sanguíneo no parênquima cerebral, resultando em lesão neuronal e disfunção neurológica transitória ou permanente 3. As encefalopatias isquêmicas focais podem ocorrer secundariamente a alterações vasculares que limitam o fluxo sanguíneo regional em qualquer porção do cérebro. Possíveis causas incluem trombose, embolismo, hemorragia, inflamação e neoplasia vascular metastática ou primária. O comprometimento hemodinâmico pode resultar em decréscimo da perfusão cerebral global. As causas potenciais de dano isquêmico global do encéfalo incluem severa hipotensão, doença pulmonar avançada, parada cardiopulmonar, edema cerebral difuso ou “acidente” anestésico com aporte insuficiente de oxigênio para o cérebro 3. As alterações que podem resultar em doença cerebrovascular incluem: oclusão do lúmen por trombo ou êmbolo, ruptura da parede do vaso sanguíneo, lesão ou alteração da permeabilidade da parede do vaso e aumento da viscosidade ou outras mudanças na qualidade do sangue 4.

Resumen: El diagnóstico de encefalopatías vasculares en perros parece estar creciendo así como la expectativa de vida de estos animales. Estas enfermedades son definidas como alteraciones ocasionadas por deficiencia de aporte sanguíneo cerebral. Aunque sean consideradas importantes enfermedades causadoras de disturbios neurológicos en perros, la literatura veterinaria es escasa. Fueron evaluados retrospectivamente los datos clínicos de 52 perros seleccionados que presentaron signos compatibles con accidentes vasculares cerebrales sometidos al examen de ultrasonido con Doppler transcraniano durante 2007 y 2008. Fueron seleccionados 52 perros de razas pequeñas, sin predisposición sexual, presentando signos clínicos agudos y no progresivos de alteración cerebral focal y diagnóstico de enfermedad vascular cerebral, confirmados en necropsia hasta 2009. Fueron realizados exámenes de ultrasonido con Doppler transcraniano, de acuerdo con la literatura, por un solo operador con transductores de 3-10MHz. El objetivo de esta investigación fue describir los principales aspectos clínicos y los hallazgos ultrasonográficos encontrados en estos pacientes comparados a los hallazgos de necropsia. Palabras clave: pequeños animales, neurología, diagnóstico por imagen

Clínica Veterinária, n. 87, p. 32-40, 2010

Introdução As encefalopatias vasculares não são diagnosticadas com muita frequência em animais. Atualmente, com o aumento da expectativa de vida dos animais de estimação, tem-se dado maior importância a desordens que costumam ter maior incidência na fase geriátrica, como é o caso da doença vascular cerebral. Essa síndrome está começando a ser reconhecida devido ao aumento da sua importância como potencial causa de distúrbios neurológicos e ao aumento da 32

disponibilidade dos meios de diagnóstico por imagem, como a ultrassonografia, a tomografia computadorizada e até mesmo a ressonância magnética. A doença vascular cerebral, decorrente da presença de neoplasias e/ou alteração cardiovascular, é a terceira causa principal de morte em seres humanos 1,2. A literatura veterinária nacional apresenta uma lacuna no que se refere aos dados de ocorrência desse tipo de doença. Este trabalho tem como objetivo

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Acidente vascular cerebral (AVC) – denominado atualmente, com seu conceito ampliado, de acidente vascular encefálico (AVE) – é a apresentação clínica mais comum de doenças cerebrovasculares. É definido como um ataque repentino de sinais cerebrais focais não progressivos secundários a uma doença cerebrovascular. Por convenção, esses sinais devem continuar por mais de 24 horas para qualificar o diagnóstico de AVE, que é frequentemente associado com o dano permanente do encéfalo ou sequela. Se os sinais clínicos se resolverem em até 24 horas, o episódio é chamado de ataque isquêmico transitório (AIT). Do ponto de vista patológico, as lesões que afetam os vasos sanguíneos cerebrais são divididas em duas vastas categorias: isquemia com ou sem infarto secundário à obstrução de vasos sanguíneos e hemorragias causadas por ruptura de parede de vasos sanguíneos 4. AVE isquêmico Com reserva limitada, o encéfalo precisa de suplemento permanente de

glicose e oxigênio para manter a função da bomba iônica. Quando a pressão de perfusão cai para níveis críticos, desenvolve-se a isquemia, que resulta em infarto se isso persistir por tempo suficiente. Um infarto é uma área de parênquima cerebral comprometida, causada pela oclusão de um ou mais vasos sanguíneos. Isso pode se dar devido tanto a uma obstrução vascular que se desenvolve em vasos ocluídos (trombose) como devido a material obstrutivo originado de outro leito vascular que viaja até o encéfalo. Dependendo do tamanho do vaso envolvido, o infarto pode ser visto como a consequência de uma doença de vaso pequeno (infarto lacunar) ou de uma doença de vaso maior (infarto territorial). Em contraste com o núcleo, onde a isquemia é severa e o infarto se desenvolve rapidamente, as áreas ao redor do centro (chamadas de penumbra) mostram um decréscimo moderado do fluxo sanguíneo cerebral e podem tolerar durações maiores de estresse isquêmico. Na penumbra, os neurônios continuam viáveis, mas correm o risco de

se tornarem irreversivelmente lesados 4. O AVE isquêmico é relatado com pouca frequência na literatura médica veterinária quando comparado com a literatura médica 4. A maioria é baseada em resultados post mortem de cães que vieram a óbito – ou passaram por eutanásia – como resultado de um AVE isquêmico severo. Isso pode afetar a detecção da real prevalência e o tipo de causa básica, já que apenas os mais severamente afetados – ou os cães com infarto ocorrido secundariamente a uma doença com prognóstico ruim – morreram e foram necropsiados. As causas básicas identificadas em casos histologicamente confirmados incluem: tromboembolismo séptico, aterosclerose associada ao hipotireoidismo primário, migração parasitária ou êmbolo parasitário (Dirofilaria immitis), êmbolo de células tumorais metastáticas, linfoma intravascular e embolismo fibrocartilaginoso 5. Em um recente estudo baseado na suspeita clínica e no diagnóstico de AVC isquêmico nas imagens por ressonância magnética, foi detectada em pouco mais

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de 50% dos cães com infarto cerebral uma condição clínica simultânea: a doença renal crônica e o hiperadrenocorticismo. A hipertensão foi documentada em 30% dos cães. A doença renal crônica e o hiperadrenocorticismo foram as causas básicas mais suspeitas também para essa hipertensão 4. AVE hemorrágico No AVE hemorrágico o sangue sai do vaso em direção ao encéfalo, formando um hematoma no parênquima cerebral ou no espaço subaracnoideo. A massa do coágulo sanguíneo causa compressão ao redor dos tecidos do encéfalo. Em contraste com a alta incidência em seres humanos, a hemorragia intracerebral resultante de uma ruptura espontânea de vasos é considerada rara em cães 4. A hemorragia secundária foi descrita em cães associada a várias causas, como ruptura de vascularização anormal congênita, hemorragias em tumores primários e secundários, doença inflamatória de artérias ou veias (vasculites), linfoma intravascular, infarto cerebral ou distúrbios de coagulação. A hemorragia subaracnoide não traumática foi relatada em cães, mas permanece muito rara quando comparada à sua ocorrência em seres humanos, espécie na qual a ruptura aneurismática é a causa básica mais comum 4. Fatores de risco e incidência Em animais, poucos fatores de risco para o AVE foram completamente estabelecidos, mas o hiperadrenocorticismo e a doença renal crônica foram identificados como os maiores fatores potenciais de risco na literatura internacional 4. A encefalopatia isquêmica não é de ocorrência rara, e é na verdade subdiagnosticada devido à falta de suspeita clínica e de disponibilidade de aparelhos de imagem por ressonância magnética, e devido à diversidade de sinais clínicos presentes 3. No entanto, a verdadeira incidência de doenças cerebrovasculares é desconhecida até o momento. O primeiro caso de infarto cerebral publicado mais de três décadas atrás estava associado com a migração da Dirofilaria immitis 5. Desde então, muitos casos foram descritos e publicaram-se diversos estudos retrospectivos a respeito de insultos vasculares cerebrais. As causas mais relatadas de 34

embolismo arterial cerebral ou trombose em animais incluem infarto espontâneo da artéria cerebelar 6, infecção bacteriana 7, trauma ou fratura de ossos longos 7, aterosclerose 8,9 e neoplasia 7,8. Um caso de trombose idiopática venosa na veia basilar também foi relatado 10. Um estudo retrospectivo avaliou dezessete casos de infarto cerebral provocado por várias causas 11. A literatura não cita que há predisposição racial descrita para a encefalopatia isquêmica; no entanto, existem relatos sobre três greyhounds 12 e raças spaniel 4 cujos achados de imagem por ressonância magnética revelaram cursos clínicos consistentes com infarto cerebral. O infarto cerebral em cães é tipicamente não hemorrágico 13. Apesar de conhecidas como raras, também há relatos de hemorragias intracranianas secundárias à trombose arterial e embolismo 10,11. A isquemia global é mais frequente devido à insuficiência cardíaca e pulmonar secundária à parada cardiopulmonar ou complicações anestésicas como hipotensão sistêmica profunda e hipóxia. As áreas do encéfalo mais susceptíveis à isquemia global incluem aquelas localizadas entre os territórios das artérias cerebrais, incluindo o córtex cerebral e cerebelar, tálamo, hipocampo e núcleos da base 14. Em um estudo anatomopatológico 8 realizado em cães com insuficiência cardíaca congestiva crônica, observouse uma forma de dano isquêmico global moderado com presença de encefalomalácia nesses animais. Fisiopatologia Existem muitas teorias a respeito dos mecanismos fisiopatológicos que tentam explicar a lesão neuronal durante a encefalopatia isquêmica e em seguida a restauração do fluxo sanguíneo 15. A lesão neuronal primária induzida por um insulto isquêmico focal ou global começa com a interrupção do fluxo sanguíneo, resultando em privação de energia e oxigênio. Isso é seguido pela lesão de reperfusão, induzida principalmente pela presença dos radicais livres de oxigênio que afetam o tecido cerebral após o restabelecimento do fluxo sanguíneo no local da lesão 16. O infarto hemorrágico resulta em extravasamento imediato de proteínas séricas com formação tanto de edema vasogênico quanto de eventual edema

citotóxico. Além disso, a hemorragia não controlada pode provocar lesões focais que ocupam espaço, resultando em efeito de massa do parênquima cerebral, com compressão e necrose isquêmica ao redor 17. Sinais clínicos Os sinais clínicos são variáveis e fundamentalmente relacionados à área (telencéfalo; tálamo ou mesencéfalo; cerebelo; tronco encefálico: mesencéfalo, ponte ou medula) e ao tipo (global ou focal, isquêmico ou hemorrágico) do insulto. Por causa das muitas doenças de base que podem predispor o paciente à encefalopatia vascular, são essenciais a obtenção de um histórico médico detalhado e exames físico e neurológico completos. Um exame para pesquisa de hemorragia, presença de vasos tortuosos e papiledema pode ajudar a estabelecer tanto a doença vascular como a causa da desordem neurológica apresentada. Os sinais típicos são agudos, focais e não progressivos 11,13,17. No entanto, pode ocorrer progressão do déficit neurológico no período de 24 a 72 horas que sucede o infarto inicial. Encontramos na literatura um trabalho que relata o caso de um cão com aterosclerose cerebrovascular que apresentou episódios recorrentes de head tilt e ataxia com intervalos de dois a três meses durante um ano, que podem ter sido a representação de ataques isquêmicos transitórios nesse paciente 9. Os episódios convulsivos foram relatados, porém são considerados uma manifestação incomum de lesão isquêmica focal do encéfalo em cães 9,11,13,17. A isquemia global pode ser facilmente diferenciada da isquemia focal com base nos fatores de risco da primeira: anestesia recente, doença crônica das vias aéreas ou doença cardiovascular. Os sinais clínicos que se seguem à isquemia global comumente incluem convulsões, cegueira cortical cerebral, alteração de comportamento e ataxia 14. Esses sinais clínicos podem aparecer até 24 horas após o evento inicial, devido à progressão do edema vasogênico 14. Diagnóstico A angiografia, a tomografia computadorizada angiográfica e a angiorressonância magnética são métodos de diagnóstico considerados padrão ouro

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para a detecção dessas lesões. No entanto, são métodos muito caros, consomem muito tempo e não oferecem monitoração contínua do fluxo sanguíneo cerebral 18. Os estudos de imagem do encéfalo – como a ressonância magnética e a tomografia computadorizada – são necessários para confirmar a suspeita de AVE, para definir o território vascular envolvido e a extensão da lesão e para distinguir entre AVE isquêmico ou hemorrágico. Também é necessário pesquisar outras causas de déficit neurológico, como, por exemplo, tumores e encefalite 13. Assim, é recomendável a obtenção do estudo anatomopatológico, quando possível. Os testes diagnósticos auxiliares do AVE isquêmico devem priorizar a avaliação do animal em relação a hipertensão (e sua potencial causa base), doenças endócrinas (hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo, diabetes melito), doenças renais, doenças cardíacas e doenças metastáticas. No caso de AVE hemorrágico, os testes diagnósticos devem ser focados na pesquisa de distúrbio de coagulação (e possível doença de base), hipertensão (e possível causa) e doença metastática 4. A ultrassonografia transcraniana (USTC) é conhecidamente utilizada na medicina para examinar o cérebro dos seres humanos, e sua aplicação tem sido ampliada na veterinária 19. Os ossos do crânio da região frontal e da face de cães e gatos são muito mais espessos em

comparação com os dos humanos, dificultando a avaliação sonográfica por esses acessos. Porém, a região temporal possui espessura e trabeculação óssea mais fina, permitindo a formação de imagem em diversos planos de corte 19. A USTC parece ser um método de fácil acesso usado na medicina veterinária, com baixo custo e boa sensibilidade para a detecção de lesões focais cerebrais em pequenos animais 20. O ultrassom Doppler transcraniano (USDTC) é um método não invasivo, de baixo custo e efetivo em monitorar a velocidade sanguínea das grandes artérias intracranianas 21. Material e métodos Foi feito um estudo retrospectivo de todos os laudos de ultrassonografia Doppler transcraniana (USDTC) realizados durante o período de agosto de 2007 a junho de 2008. Durante o período selecionado, foram encontrados nos arquivos digitais 512 laudos de USDTC em cães encaminhados inicialmente para a realização do exame por apresentarem sinais clínicos de origem neurológica central ou ataque focal repentino de caráter agudo e não progressivo 22. Foram incluídos nesse estudo os cães que vieram a óbito natural ou receberam eutanásia, foram submetidos a necropsia e cujo laudo histopatológico confirmou achados compatíveis com os provocados por acidente vascular encefálico. Os laudos histológicos foram realizados no Laboratório Provet (6 casos)

e na FMVZ/USP (46 casos). Foram selecionados somente 52 cães de 16 raças diferentes e idade entre um e dezoito anos. Foi utilizado um equipamento marca GE®, modelo P5, com aplicativos Doppler pulsado e colorido (modos duplex e triplex), transdutores convexos multifrequenciais, um de 3 a 5MHz e outro de 4 a 6MHz, além de um transdutor linear de 7 a 10MHz. As imagens foram adquiridas pela saída USB em formato JPEG. A técnica de avaliação ultrassonográfica modo B foi realizada por um único examinador durante todo o período selecionado e conforme descrito em literatura 19,20. Após a ultrassonografia modo B, o encéfalo foi avaliado por meio do mapeamento Doppler colorido para estudo da arquitetura vascular. Foram observadas as artérias cerebrais (rostral, média e caudal) direitas e esquerdas e o sistema vertebrobasilar intracraniano. O Doppler pulsado foi acionado e o cursor foi posicionado nas artérias cerebrais principais, em janelas acústicas temporais e/ou fontanela rostral quando aberta conforme descrito em literatura 23. Quando o traçado se apresentou livre de artefatos, a imagem foi congelada e após a correção do ângulo, procedeu-se à análise da morfologia das ondas. Foram medidas: a velocidade de pico sistólico máximo e a velocidade diastólica final em cada um dos vasos observados, e também foram calculados os índices de resistividade (IR) destes, utilizando-se

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os parâmetros de normalidade estabelecidos na literatura internacional 23,24,25,26. Foi utilizado como referência normal do índice de resistividade para as artérias cerebrais (rostral, média e caudal) o valor de 0,55 ± 0,05, conforme citado na literatura 24. Resultados e discussão Os acidentes vasculares encefálicos são eventos que culminaram na ruptura e/ou oclusão de um ou mais vasos cerebrais, ocasionando morte celular do território irrigado pelo vaso ou vasos em questão, observados na necropsia e/ou confirmados no exame histológico. Somente em dezesseis cães observou-se oclusão total ou parcial de um ou mais vasos ocasionando áreas isquêmicas. A presença de ruptura de pelo menos um vaso em decorrência de oclusão por infiltrado inflamatório foi detectada em sete animais. Em vinte animais detectouse oclusão associada a fragilidade vascular com pelo menos um vaso apresentando ruptura e área de hemorragia. Em seis cães observaram-se áreas de hemorragia e em três cães essas áreas foram associadas à presença de rede vascular anômala decorrente de neoplasia. Mediante as informações das fichas clínicas e dos achados histopatológicos, a distribuição de frequência das causas de base encontra-se descrita na figura 1. Foram revistos os laudos ultrassonográficos dos animais selecionados e a distribuição de frequência dos achados ultrassonográficos foi resumida e disposta nas figuras 2 e 3. No modo B observouse que as lesões focais únicas e/ou múltiplas foram mais numerosas em relação às difusas. As imagens de alterações hemorrágicas de parênquima encefálico geralmente tendem à hiperecogenicidade, assim como em afecções onde há substituição do tecido original por outro de densidade maior 20. Este achado é inespecífico e pode ser complementado com as informações hemodinâmicas fornecidas pelo estudo Doppler transcraniano. Neste estudo, em cinco animais o IR das artérias cerebrais principais obtido pelo mapeamento duplex Doppler colorido apresentou-se diminuído em um ou mais vasos, ou seja, menor que 0,50. Essa condição geralmente está relacionada a processos que aumentam a permeabilidade do leito vascular ou a condições que aumentam 36

o calibre dos vasos, como, por exemplo, em processos inflamatórios. As encefalites, meningoencefalites e as vasculites (idiopáticas ou desencadeadas pela presença de hematozoários) ocasionam processos inflamatórios 17. Em 38 animais observou-se IR aumentado (ou seja, maior que 0,60) em um ou mais vasos e em nove animais não se observaram alterações dopplervelocimétricas dos parâmetros analisados. Sabe-se que as áreas hemorrágicas também podem ocasionar efeito de massa nos vasos adjacentes, assim como neoplasias ou outras afecções que levam à estenose vascular 23. O mapeamento Doppler pulsado de um vaso cerebral com estenose pode demonstrar uma alteração na morfologia da onda capaz de caracterizar e, em alguns casos, de quantificar a estenose vascular 23,25.

O cérebro possui mecanismos hemodinâmicos compensatórios eficientes que são capazes de manter a pressão intracraniana e índices de resistividade (IR) normais, porém a morfologia da onda pode apresentar-se alterada no vaso do território afetado 25. Embora a deposição de placas ateromatosas não aconteça naturalmente no processo de senescência do cão, sabe-se que as doenças que levam a alterações do metabolismo do colesterol podem ocasionar estenose vascular no cão semelhante à que ocorre na espécie humana 4,8,9. Essas placas promovem estenose vascular em diversos graus, que podem ser detectados principalmente por meio do estudo Doppler pulsado 21. Os dados referentes à distribuição de frequência de sexo, raça e idade foram dispostos nas figuras 4, 5 e 6.

Causas Número absoluto de base de AVE animais acometidos diabetes 5 diabetes e hiperadrenocorticismo 1 hiperadrenocorticismo 6 hipotireoidismo 1 hiperlipemia do schnauzer 3 meningoencefalite do pug 1 meningoencefalite granulomatosa 6 neoplasias 3 angiopatia amiloide cerebral 14 hemoparasitas 8 distúrbios de coagulação 2 origem desconhecida 2 Total 52

Percentagem de animais acometidos (%) 10 2 11 2 6 2 11 6 27 15 4 4 100

Figura 1 - Distribuição de frequência das causas base de acidentes vasculares encefálicos (AVE) em cães entre agosto de 2007 a junho de 2008

Achados ultrassonográficos em modo B lesão focal hiperecogênica única lesão focal hiperecogênica múltipla lesão focal hipoecogênica única lesão focal hipoecogênica múltipla lesão difusa: aumento da ecogenicidade lesão difusa: diminuição da ecogenicidade ausência de lesões sonográficas Total

Número de animais 13 5 1 3 15 5 10 52

Percentagem de animais (%) 25 10 2 6 29 10 18 100

Figura 2 - Distribuição de frequência de achados ultrassonográficos em cães com acidentes vasculares encefálicos entre agosto de 2007 e junho de 2008

Achados Doppler ultrassonográficos IR diminuído em um ou mais vasos IR aumentado em um ou mais vasos ausência de alterações no mapeamento Doppler Total

número de animais 5 38 9 52

Figura 3 - Distribuição de frequência dos achados Doppler ultrassonográficos em cães com acidentes vasculares encefálicos entre agosto de 2007 e junho de 2008

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Figura 4 - Prevalência quanto ao sexo dos pacientes com alterações ultrassonográficas sugestivas de acidente vascular encefálico

É importante relacionar a predisposição sexual, etária e racial encontradas nesta pesquisa com as respectivas causas primárias de acidentes vasculares cerebrais, para que se tenha um perfil da ocorrência dessas afecções em nosso meio. Assim, o clínico veterinário pode ter subsídios para reconhecer mais prontamente os sinais que podem estar presentes nesses casos. Confirmando a literatura veterinária, de acordo com os resultados deste estudo, não foi observada predisposição sexual na espécie canina 22, conforme descrito na figura 4. Quanto à distribuição racial, notou-se

Figura 5 - Distribuição entre raças dos pacientes com alterações ultrassonográficas sugestivas de acidente vascular encefálico

Figura 6 - Distribuição entre idades dos pacientes com alterações ultrassonográficas sugestivas de AVE

que a raça poodle foi a mais prevalente, conforme dados da figura 5. O fato de os cães da raça poodle apresentarem com maior frequência endocrinopatias como a diabetes e o hiperadrenocorticismo pode justificar a alta ocorrência

das encefalopatias vasculares nessa raça. Além disso, o grande número de exemplares na amostra da população canina em geral demonstra a grande popularidade dessa raça. A literatura não relaciona predisposição racial, pois há

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Cibele Figueira Carvalho

Cibele Figueira Carvalho

B

A

Paulo Cesar Maiorka

Cibele Figueira Carvalho

Figura 7 - A) Ultrassonografia transcraniana: janela temporal esquerda em plano coronal oblíquo. Marcadores (+) evidenciando área de alteração focal hiperecogênica em região temporal anterior de hemisfério cerebral esquerdo em cão com histórico de distúrbio de coagulação decorrente de hemoparasitose. B) Posição do transdutor na cabeça do cão para realização do plano de imagem correspondente

Figura 9 - Meningioma em cão – tumor de crescimento lento, geralmente encontrado na superfície dos hemisférios cerebrais (HE, escala em barra 100µm)

uma lacuna no que se refere à publicação de dados para o reconhecimento dessa doença 27 e de sua relação com os sinais de AVC. O USDTC pode auxiliar na detecção de lesões focais, conforme descrito em literatura 20. Provavelmente devido à presença de lesões focais que

Figura 10 - Microangiopatia congofílica ou angiopatia amiloide cerebral em cão: observase um espessamento pronunciado da parede dos vasos sanguíneos pelo depósito de amiloide, geralmente observado em vasos da porção do córtex em animais idosos (Vermelho congo, escala em barra 100µm)

Paulo Cesar Maiorka

Figura 8 - Ultrassonografia Doppler transcraniana em cão: janela temporal esquerda em plano coronal oblíquo. Em modo B observam-se os marcadores (+) medindo alteração focal hiperecogênica em região temporoccipital de hemisfério cerebral esquerdo (HCE) envolvendo também parte de área correspondente a cerebelo (Cereb). No mapeamento triplex Doppler notase traçado de artéria cerebral rostral esquerda (ACR E) com picos sistólicos mais altos e afilados sugerindo estenose vascular. Velocidade de pico sistólico (VS) Paulo Cesar Maiorka

relatos relacionados a várias raças diferentes 11-13. A raça schnauzer também chama a atenção, ficando em terceiro lugar, neste estudo, entre as mais acometidas. Este fato pode estar vinculado ao fato de esses cães apresentarem predisposição a hiperlipemia 22. De qualquer forma, devido à falta de referências na literatura, acreditamos que seja fundamental a realização de mais estudos específicos relacionando os achados de imagem com a necropsia e os resultados histológicos em cães idosos normais e acometidos por doenças vasculares cerebrais. Destaca-se neste estudo a ocorrência das encefalopatias vasculares em cães jovens (Figura 6), que não possuíam histórico clínico de endocrinopatias, de processos inflamatórios, infecciosos ou ainda de neoplasias. Em grande parte deles (15%) pode-se relacionar a ocorrência com uma causa diferente do que aparece na literatura internacional, as alterações de coagulação pela presença de hemoparasitas. Entretanto, como este estudo foi desenvolvido em um país tropical, devemos levar em consideração o fato de as infestações por ectoparasitas serem um problema comum. Assim, as hemoparasitoses podem ser uma justificativa da ocorrência de AVC em pacientes caninos jovens a se considerar (Figura 7). Na espécie humana, uma das causas da ocorrência do AVC relaciona-se à alta frequência de deposição de placas ateromatosas nos grandes vasos que originam a vasculatura cerebral. No entanto, a espécie canina parece produzir uma proteína alfa que diminui esse risco 18,22. Neste estudo, as neoplasias cerebrais (Figuras 8 e 9) e a angiopatia amiloide cerebral (Figura 10) foram as principais causas básicas da ocorrência de encefalopatias vasculares em animais idosos. No entanto, ainda há poucos estudos que descrevem as alterações degenerativas esperadas em cães idosos normais, o que dificulta inclusive a prática da medicina preventiva em relação a essas afecções. Outra causa primária da ocorrência de AVC a ser considerada em animais adultos jovens são as alterações inflamatórias e infecciosas como as meningoencefalites 25,27. Na literatura, esta é a segunda alteração infecciosa cerebral mais frequente 22, no entanto há também

Figura 11 - Meningoencefalite granulomatosa em cão – processo inflamatório crônico com intenso acúmulo de células mononucleares ao redor de vasos sanguíneos e superfície subpial (HE, escala em barra 100µm)

ocasionam efeito de massa nos vasos cerebrais, ocorre a estenose desses vasos, promovendo o desenvolvimento de áreas de hipóxia ou isquemia em diferentes graus, e o consequente AVC 1,16. Assim, a presença de lesões focais decorrentes de meningoencefalites também pode resultar em episódios de AVC ou AIT (Figura 11).

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Em 3,4% do total dos pacientes estudados, não podemos discorrer sobre os fatores de risco, pois nesses animais as causas básicas permaneceram desconhecidas, apesar dos sinais clínicos, das alterações encontradas no exame ultrassonográfico e dos achados da necropsia. Finalmente, vale ressaltar que todos os animais incluídos neste estudo apresentavam tamanho pequeno (no máximo 15kg), o que está de acordo com informações já descritas em literatura 19,23 em relação à limitação técnica do exame, ou seja, à atenuação do feixe sonoro em animais de grande porte, nos quais a espessura da calota craniana dificulta a formação de imagens adequadas ao ultrassom. Considerações finais Com o aumento da expectativa de vida desses animais e com meios de diagnóstico por imagem de melhor resolução, esperamos que um maior número de estudos seja realizado para que se possa conhecer melhor a etiopatogenia dessas doenças. O USDTC apresenta-se como uma alternativa para o diagnóstico de lesões focais e a pesquisa de alterações em casos de encefalopatias vasculares em cães de pequeno porte. Por fim, pode ser considerada assim uma opção econômica, como o exame de triagem para a pesquisa das causas básicas de AVE, a monitoração do tratamento e o direcionamento de outros exames complementares. A angiorressonância magnética cerebral é considerada o método de imagem padrão ouro para o diagnóstico dos acidentes vasculares cerebrais. Porém, esse método ainda não está disponível para a nossa realidade brasileira. Agradecimentos Aos colegas veterinários clínicos que militam na área de neurologia e que colaboraram direta ou indiretamente enviando casos suspeitos de alteração neurológica de origem central para a realização do exame de ultrassonografia Doppler transcraniana. Em especial aos colegas: dr. João Pedro de Andrade Neto; dra. Sylvia Almeida Diniz; dra. Carolina Dias Jimenez; dra. Thais C. Santos de Souza; dra. Helena Arantes Amaral; dra. Bruna M. P. Coelho; dr. Roberto Siqueira; dr. Daniel Hato; dr. Daniel Bernardes Calvo; dr. Rafael 40

Parra Lessa; dr. Marcos Malta Migliano; dr. Ricardo Stanchi Lopes; dra. Elizabete Yumi Barbosa; dr. Luiz Toshio Yamanoto e dr. Dorival Correa Barbosa. Referências 01-BRALOW, L. Brain: ischemic (and atrophic) disease. In: BRALOW, L. Clinical magnetic resonance imaging. Philadelphia, WB Saunders, 2002, p. 48-76. 02-WASS, C. T. ; LANIER, W. L. Glucose modulation of ischemic brain injury: review and clinical recommendations. Mayo Clinic Proceedings, v. 71, n. 8, p. 801-812, 1996. 03-HILLOCK, S. M. ; DEWEY, C. W. ; STEFANACCI, J. D. ; FONDACARO, J. V. Vascular encephalopathies in dogs: incidence, risk factors, pathophysiology, and clinical signs. Http: www.compendiumvet.com visitado em 18 de junho de 2008. 2006. 04-GAROSI, L. ; McCONNELL J. ; PLATT, S. R. ; ADAMS, V. J. ; (Baronne G, Baron JC, de Lahunta A, Schatzberg SJ.) MURPHY, S. Results of diagnostic investigations and outcome of suspected and confirmed brain infarct in dogs. In: ANNUAL AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE FORUM, 22., Minneapolis, Proceedings… 2004. p.819. 05-SEGREDY, A. ; HAYDEN, D. Cerebral vascular accident caused by Dirofilaria immitis. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 14, p. 752-756, 1978. 06-BAGLEY, R. S. ; ANDERSON, W. I. ; de LA HUNTA, A. ; KALLFELZ, F. A. ; BOWERSOX, T. S. Cerebellar infarction caused by arterial thrombosis in a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 192, n. 6, p. 785-787, 1988. 07-HOERLEIN, B. F. Primary disorders of the central nervous system In: ___. Canine neurology: diagnosis and treatment. 3. ed., Philadelphia, WB Sauders, 1987, p. 340-342. 08-FANKHAUSER, R. ; LUGINBUHL, L. ; McGRATH, J. T. Cerebrovascular disease in various animal species. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 127, p. 817-859, 1965. 09-PATTERSEN, J. S. ; RUSLEY, M. S. ; ZACHARY, J. F. Neurologic manifestations of cerebrovascular atherosclerosis associated with primary hypothyroidism in a dog. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 186, n. 5, p. 499-503, 1985. 10-SWAYNE, D. E. ; TYLER, D. E. ; BARKER, J. Cerebral infarction with associated venous thrombosis in a dog. Veterinary Pathology, v. 25, p. 371-320, 1988. 11-JOSEPH, R. J. ; GRENLEE, P. G. ; CARRILO, J. M. ; KAY, W. J. Canine cerebrovascular disease: clinical and pathological findings in 17 cases. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 24, p. 569-576, 1987. 12-WEST, C. ; BAGLEY, R. S. ; WADROP, K. Suspected cerebral vascular abnormalities in greyhounds dogs. In: ANNUAL AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE FORUM, 22., Minneapolis, Proceedings… 2004. p. 816. 13-GAROSI, L. ; McCONNELL J. ; PLATT, S. R. Clinical characteristics and topographical magnetic resonance of suspected brain infarction in dogs. In: ANNUAL AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE

FORUM, 22., Minneapolis, Proceedings… 2004. p. 817. 14-PANARELLO, G. L. ; DEWEY, C. W. ; BARONE, G. ; STEFANACCI, J. D. Magnetic resonance imaging of two suspected cases of global brain ischemia. Journal Veterinary Emergency and Critical Care, v. 14, n. 4, p. 269-277, 2004. 15-HIGUCHI, T. ; GRAHAM, S. H. ; FERNANDEZ, E. ; ROONEY, W. D.; GASPARY, H. L.; WEINER, M. W. ; MAUDSLEY, A. A. Effects of severe global ischemia on N-acetylaspartate and other metabolites in the rat brain. Magnetic Resonance in Medicine, v. 37, p. 851-857, 1997. 16-GUYTON, A. C. ; HALL, J. E. Cerebral blood flow, the cerebrospinal fluid, and brain metabolism. In: SCHMITT, W. Textbook of medical physiology. 10. ed. , Philadelphia, WB Saunders, 2000, p. 709-715. 17-THOMAS, W. B. Cerebrovascular disease. Veterinary Clinics North America Small Animal Practice, v. 26, n. 4, p. 925-943, 1996. 18-BURGIN, W. S. ; MALKOFF, M. ; FELBERG, R. A. ; DEMCHUK, A. M. ; CHRISTOU, I. ; GROTTA, J. C. ; ALEXANDROV, A. V. Transcranial Doppler ultrasound criteria for recanalization after trombolysis for middle artery stroke. Stroke, v. 31, n. 5, p. 1128-1132, 2000. 19-ANDRADE NETO, J. P. Ecoencefalografia. In: CARVALHO, C. F. Ultrassonografia em pequenos animais. Roca: São Paulo, ed. 1, 2004. p. 262-278. 20-CARVALHO, C. F. ; ANDRADE NETO, J. P. ; JIMENEZ, C. D. ; DINIZ, S. A. ; CERRI, G. G. ; CHAMMAS, M. C. Ultra-sonografia transcraniana em cães com distúrbios neurológicos de origem central. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 59, n. 6, p. 1412-1416, 2007. 21-CAPLAN, L. R. ; BRASS, L. M. ; DeWITT, L. D. ; ADAMS, R. J. ; GOMEZ, C.; OTIS, S. ; WESCHLER, L. R. ; Von REUTERN, G. M. Transcranial Doppler ultrasound. Neurology, v. 40, n. 4, p. 696, 1990. 22-BRAUND K. G. Clinical syndromes in veterinary neurology. 2. ed. St. Louis: Mosby Year Book, 1994; p. 113-114. 23-CARVALHO, C. F. ; DUPRÉ, A. S. A. ; PEREZ, R. B. Ultrassom Doppler transcraniano. In: CARVALHO, C. F. Ultrassonografia Doppler em pequenos animais. Roca: São Paulo, 2009. p. 159-177. 24-SEO, M. ; CHOI, H. ; LEE, K. ; CHOI, M. ; YOON, J. Transcranial Doppler ultrasound analysis of resistive index in rostral and caudal cerebral arteries in dogs. Journal of Veterinary Science of Korea, v. 6, n. 1, p. 61-66, 2005. 25-NAGAI, H. ; MORITAKE, K. ; TAKAYA, M. Correlation between Transcranial Doppler ultrasonography and regional cerebral blood flow in experimental intracranial hypertension. Stroke, v. 28, p. 603-608, 1997. 26-DUQUE, F. J. ; DOMINGUEZ-ROLDAN, J. M. ; RUIZ, P. ; ZARAGOZA, C. ; CHACON, R. B. Assessing circle of willis blood circulation in dogs with transcranial color-coded duplex sonography. Veterinary Radiology and Ultrasound, v. 50, n. 5, p. 530-535, 2009. 27-RECH, R. R. ; SILVA, M. C. ; SOUZA, S. F. ; MAZZANTI, A. ; KOMMERS, G. D. ; GRAÇA, D. L. ; BARROS, C. S. L. Meningoencefalite granulomatosa em cães. Clínica Veterinária, n. 68, ano 12, p. 52-58, 2007.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010



Roberto Silveira Fecchio

Correção de fratura de rinoteca em papagaio (Amazona aestiva): relato de caso

Médico veterinário LOC/FMVZ/USP rfecchio@usp.com

Marcelo Silva Gomes

MV, mestre Zoológico de São Bernardo do Campo zoosbc.marcelo@gmail.com

Melissa Sanzone Cruz Mauro

Médica veterinária Fauna Especialidades Veterinárias

Rhinotheca fracture repair in a parrot (Amazona aestiva): case report

melissascmauro@hotmail.com

Daniel Delafiori

Médico veterinário Fauna Especialidades Veterinárias

Corrección de fractura de rinoteca en loro amazona (Amazona aestiva): relato de caso

danieldelafiori@hotmail.com

Rodrigo Filippi Prazeres

MV, especialista em pequenos animais, pós-graduando em animais selvagens e exóticos - Instituto Qualittas

Resumo: O bico das aves é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos maxilares superior e inferior cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas. Exemplos de problemas adquiridos envolvem más-formações, necrose do bico ou traumas incluindo perfurações, lacerações, rachaduras e avulsões. Uma fratura unilateral de rinoteca foi diagnosticada em um papagaio verdadeiro (Amazona aestiva), com base no histórico, no exame clínico e nos achados radiográficos. O animal foi apresentado com histórico de trauma recente e subsequente inabilidade de preensão de alimento. Foi realizada intervenção cirúrgica para resolução do quadro. As margens da fratura foram debridadas e aproximadas por meio de sutura para guiar a cicatrização e o crescimento ósseo do bico, sendo a região coberta com resina fotopolimerizável. Após quatro semanas, a avaliação radiográfica evidenciou sensível crescimento ósseo na região afetada, e após oito meses o animal encontrava-se em bom estado, alimentava-se normalmente e também utilizava o bico para se locomover. Unitermos: ave, psitacídeo, bico, ranfoteca

rodrigo.prazeres@aspecto.com.br

Abstract: The avian beak is a dynamic structure in constant growth that is constituted by the maxillary and mandibular bones and covered by epidermic hems. Examples of acquired problems include malformations, necrosis of the beak or traumas such as perforations, lacerations, cracks and avulsions. A unilateral beak fracture was diagnosed in an adult Blue-Fronted Parrot (Amazona aestiva) on the basis of history, clinical examination, and radiographic findings. The bird had a history of recent head trauma and subsequent inability to apprehend food. A surgical intervention was recommended. The margins of the fracture were debrided, approximated with suture to guide scar formation and growth of the beak, which was covered with photopolymerizable resin. Four weeks after the surgery, the radiographic evaluation showed considerable bone growth in the affected area and after eight months the animal was in good health and able to feed normally, using the beak for locomotion as well. Keywords: avian, psitacide, beak, rhamphotheca Resumen: El pico de las aves es una estructura dinámica en crecimiento constante, constituida por los huesos maxilares superior e inferior cubiertos por vaina epidérmica queratinizada. Ejemplos de problemas incluyen malformaciones, necrosis del pico o traumas como perforaciones, laceraciones, grietas y avulsiones. Una fractura unilateral de rinoteca fue diagnosticada en un loro amazona (Amazona aestiva) basado en la historia clínica, en el examen clínico y en hallazgos radiográficos. El animal fue presentado con historia de trauma reciente y subsiguiente incapacidad de aprehensión de alimento. Fue realizada intervención quirúrgica para resolución del cuadro. Las márgenes de la fractura fueron desbridadas y aproximadas por sutura para guiar la cicatrización y el crecimiento óseo del pico. La región fue cubierta con resina fotopolimerizable. Después de cuatro semanas la evaluación radiográfica evidenció sensible crecimiento del hueso en el área afectado y después de ocho meses el animal se encontraba en buena condición, se alimentaba normalmente y también utilizaba el pico para la locomoción. Palabras clave: ave, psitácida, pico, ranfoteca

Clínica Veterinária, n. 87, p. 42-46, 2010

Introdução e revisão de literatura O bico das aves é uma estrutura dinâmica em crescimento constante, constituída pelos ossos maxilares superior (pré-maxila e nasal) e inferior (mandíbula), cobertos por bainhas epidérmicas queratinizadas denominadas ranfoteca 1,2. Além disso, outras estruturas, como feixes vasculonervosos, articulações e bainhas germinativas, compõem o bico 3. Anatomicamente, a ranfoteca é subdividida em rinoteca (superior) e gnatoteca (inferior) 1. A consistência da ranfoteca difere entre as espécies, sendo 42

firme em Psitaciformes (papagaios, periquitos e araras) e macia e flexível em Anseriformes (gansos) 2. A ranfoteca é considerada como estrato córneo do bico e a derme é bem vascularizada e conectada ao periósteo. Fatores causais como trauma e necrose da derme podem frequentemente resultar em lesões que induzem deformidades no bico 2. O crescimento da queratina do bico ocorre sempre que houver uma camada germinativa subjacente (aderida ao periósteo), mas as linhas de crescimento inclinam-se no sentido da

ponta do bico 4. O tempo de reposição de queratina da ranfoteca está intimamente ligado ao uso do bico. Em grandes psitacídeos a substituição completa da ranfoteca ocorre em aproximadamente seis meses, ao passo que nos ranfastídeos há uma taxa de crescimento aproximada de 0,5cm num período de dois anos 2. Normalmente a queratina da gnatoteca é substituída de duas a três vezes mais rápido do que a da rinoteca 2. A ranfoteca possui variadas funções em diferentes espécies de aves, como preensão de alimento e preparo para a deglutição, defesa e ataque, interação social e sexual, locomoção, bem como construção de ninhos 1-3. A mucosa da cavidade oral e da língua das aves é recoberta por epitélio escamoso estratificado e o grau de queratinização varia de acordo com a localização do epitélio na cavidade oral 3 e a espécie animal. Defeitos congênitos e adquiridos podem interferir na função normal do

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bico. Em galináceos (pavão, mutuns, jacutingas), a deformidade da rinoteca pode estar associada a deficiências embriogênicas de ácido fólico, biotina e ácido pantotênico 5. Exemplos de problemas adquiridos envolvem más-formações, necrose do bico ou traumas que incluem perfurações, lacerações, rachaduras e avulsões. As anormalidades do bico podem também ocorrer como resultado de má nutrição, incubação inapropriada, infecção viral, bacteriana, fúngica e parasitária e ainda por traumas 1,2. Esses fatores podem gerar crescimento exagerado do bico, cruzamento de rinoteca e gnatoteca (“bico em tesoura”), encurtamento do bico superior (prognatismo), infecções, necrose e fraturas 1-3. As fraturas de rinoteca e gnatoteca são decorrentes de traumas intensos devido a disputas entre machos, agressões interespecíficas, agressões entre companheiros de recinto e choques mecânicos contra objetos do recinto (principalmente em animais recém-introduzidos no cativeiro) 6. As lesões decorrentes de traumatismos são as mais prevalentes das lesões de bico e variam de acordo com a intensidade do trauma. As fendas e fissuras são decorrentes de traumas leves e normalmente são tratadas por meio de antissepsia local e recobertas com resina acrílica, de forma a evitar infecções secundárias 1-3. As lesões perfurantes são decorrentes de traumas específicos por meio de materiais pontiagudos e devem

ser recobertas com resina acrílica ou composta até a completa reposição de queratina, que ocorre entre duas e três semanas 1. Já as fissuras e lesões perfurantes pouco extensas podem ser recobertas com esparadrapo à base de celulose e cola instantânea à base de cianocrilato. Muitas vezes são utilizados produtos comerciais não produzidos para área médica, que possuem substâncias potencialmente tóxicas que podem acarretar problemas aos animais quando depositadas diretamente sobre o bico. Em casos de infecção bacteriana secundária, utiliza-se antibiótico sistêmico, preferencialmente após teste de cultura e antibiograma. As fraturas necessitam de fixação e estabilização, de forma a reposicionar corretamente os fragmentos 1,5-7 e promover imediato retorno do bico à sua função. Fraturas horizontais sobre o eixo nasomaxilar apresentam maior complicação no reparo, necessitando de maior tempo transcirúrgico e prognóstico reservado. Por sua vez, fraturas verticais completas de rinoteca são relativamente comuns e envolvem extrema dificuldade de reparo, principalmente em tucanos, necessitando de próteses complexas e com grande número de insucessos no tratamento. Nos demais tipos, o tratamento está diretamente ligado à extensão da fratura e do local da ranfoteca acometido, sendo as localizadas próximo à face mais complicadas, em função das forças biomecânicas

envolvidas durante o pós-cirúrgico 5,8. Proposição Diversos fatores – como a anatomia particular e o peso bastante reduzido do bico, além do desconhecimento da intensidade e da distribuição das forças aplicadas regularmente sobre estes e da interação das resinas com a superfície de queratina – são responsáveis por um grande número de insucessos nos tratamentos 5,8. O presente relato visa descrever uma técnica cirúrgica que culminou em sucesso de tratamento de correção de fratura de rinoteca em papagaio (Amazona aestiva), que apresentou regeneração óssea maxilar e poderá contribuir para futuros estudos de padronização da técnica cirúrgica de correção de bicos de aves. Relato de caso clínico Um papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), adulto, de sexo indefinido e mantido como animal de companhia, foi encaminhado à Fauna Especialidades Veterinárias apresentando deformidade na rinoteca e incapacidade de preensão de alimento. Na anamnese evidenciouse histórico de trauma contra objetos da gaiola e consequente fratura da rinoteca, cerca de seis meses antes do atendimento. No exame clínico observou-se fratura unilateral longitudinal esquerda (paralela ao eixo crânio caudal), como demonstrado na figura 1. A avaliação radiográfica evidenciou

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a) Vicril® - Ethicon Divisão de Johnson & Johnson, São Paulo, SP b) Hemospon® - Technew, Rio de Janeiro, RJ c) Micropore Nexcare, 3M do Brasil. Sumaré, SP d) Primer & Bond 2.1® - Dentsply, Petrópolis, RJ e) Fill magic® - Vigodent, Rio de Janeiro, RJ

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Roberto Silveira Fecchio

Figura 5 - Vista palatina da rinoteca no póscirúrgico imediato Roberto Silveira Fecchio

Roberto Silveira Fecchio

Figura 3 - Preenchimento do espaço entre as margens da região de perda óssea com esponja de fibrina de forma a acelerar a formação de matriz celular orgânica e subsequente mineralização na região Roberto Silveira Fecchio

perda óssea na pré-maxila e na maxila esquerdas (Figura 2A). Como tratamento indicou-se a intervenção cirúrgica, na tentativa de corrigir o crescimento ósseo e restituir a anatomia normal do bico. Inicialmente as margens da fratura foram debridadas com ponta diamantada cônica acoplada em caneta de baixa rotação odontológica, de forma a remover a queratina cicatricial da região e expor as margens ósseas sob a rinoteca. Em seguida cerclaram-se as margens ósseas com fio absorvível de poligalactina 910 2-0 a, com o objetivo de guiar o crescimento ósseo, sem completa aproximação das margens ósseas. O espaço ósseo entre as margens foi, então, preenchido com esponja de fibrina b , de forma a acelerar a formação de matriz celular orgânica, mineralizando a seguir a região (Figura 3). Toda a superfície do bico foi desengordurada com álcool 70% e então recoberta com uma fina camada de adesivo à base de celulose c. Em seguida todo o adesivo foi recoberto com agente de união odontológico d e resina composta fotopolimerizável e (Figura 4). Acredita-se que o agente de união, devido ao baixo peso molecular, penetre entre as camadas de queratina, possibilitando a aderência da resina por microrretentividade. Nesse momento optou-se por polimerizar um excesso lateral de resina em função do comportamento de desgaste do bico da espécie, que promoveria desgaste do excesso da resina sem comprometer a área de reparo da fratura. Observam-se nas figuras 5 (vista

Figura 2 - A avaliação radiográfica pré e pós-cirúrgica do animal da figura 1. A) Evidência précirúrgica de perda óssea em pré-maxila e maxila esquerdas. B) Aspecto radiográfico de reconstituição óssea no foco da fratura trinta dias depois da intervenção cirúrgica

Figura 6 - Vista lateral da rinoteca no pós-cirúrgico imediato Roberto Silveira Fecchio

Roberto Silveira Fecchio

Roberto Silveira Fecchio

Figura 1 - Evidência de fratura unilateral longitudinal esquerda (paralela ao eixo craniocaudal) em rinoteca de papagaio (Amazona Aestiva)

Figura 4 - Fotopolimerização do agente de união odontológico, criando-se uma camada de adesividade que promova melhor aderência da resina

Figura 7 - Avaliação clínica da rinoteca trinta dias depois da intervenção cirúrgica

palatina) e 6 (vista lateral) o aspecto final no pós-cirúrgico imediato, bem como o excesso de resina na lateral da rinoteca. Nova avaliação foi realizada trinta dias após a intervenção cirúrgica, durante a qual se observou excelente aspecto clínico (Figura 7) e novo crescimento ósseo abrangendo quase totalmente a região da fratura (Figura 2B). A figura 2 representa o aspecto radiográfico da região fraturada na data do exame

clínico (Figura 2A) e trinta dias após a intervenção cirúrgica (Figura 2B). Decorridos aproximadamente oito meses desde a primeira consulta, o animal retornou para a avaliação clínica de rotina. Segundo o proprietário, o animal se alimentava normalmente e também utilizava o bico para locomoção, tanto na gaiola quanto solto pela residência. Durante o exame físico constatou-se o sucesso da correção cirúrgica, pois não foi diagnosticada nenhuma evidência de

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quaisquer alterações na rinoteca; o animal apresentava boas condições gerais e nenhuma alteração clínica evidente. Fizeram-se algumas recomendações sobre o manejo nutricional do animal e os cuidados com o bico. Decorridos dez meses após a cirurgia, no intuito de obter informações sobre o animal, estabeleceu-se contato por telefone com o proprietário, que havia se mudado para outra cidade. O papagaio estava em perfeitas condições e o proprietário foi aconselhado a procurar um colega da região de sua nova residência que estivesse apto a trabalhar com animais selvagens para continuar o acompanhamento. Discussão e considerações finais O presente relato demonstra o sucesso obtido na correção de fratura de rinoteca em papagaio (Amazona aestiva), nas condições técnicas e cirúrgicas citadas. As correções cirúrgicas de bicos de aves ainda são um desafio para o médico veterinário, porém os conhecimentos de ortopedia e odontologia empregados em

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mamíferos domésticos, somados às particularidades anatômicas e fisiológicas da aves, auxiliam na decisão da técnica cirúrgica a ser empregada nesses casos. Acreditamos que o presente caso possa auxiliar médicos veterinários nas correções de fraturas de bico de aves, contribuindo para o avanço dessa especialidade. Referências

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Onicodistrofia lupoide simétrica canina relato de caso

Mariana Isa Poci Palumbo MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu

palumboma11@yahoo.com.br

Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu

henrique@fmvz.unesp.br

Canine symmetrical lupoid onychodystrophy case report Onicodistrofia lupoide simétrica canina reporte de caso Resumo: A onicodistrofia lupoide simétrica, ou oniquite lupoide, é uma onicopatia imunomediada de etiologia multifatorial. Nosso objetivo é relatar a ocorrência de oniquite lupoide em um canino atendido no Serviço de Dermatologia Veterinária do Hospital Veterinário da FMVZ/Unesp de Botucatu. Este apresentava claudicação e onicólise em cinco dígitos, observando-se paroníquia, onicomadese, onicomalácia e leuconíquia, além de crostas melicéricas em espaços interdigitais e leitos ungueais. Não havia qualquer alteração sistêmica não dermatológica. Os exames complementares foram negativos. Após quinze dias de tratamento, houve melhora parcial, com recorrência posterior. Realizou-se então uma onicoectomia em dois dedos, para exame histopatológico e cultivo fúngico, este último resultando negativo. Os cortes histológicos foram compatíveis com oniquite lupoide, demonstrando a importância desse exame complementar. Unitermos: cães, dermatite imunomediada, oniquite Abstract: Symmetric lupoid onychodystrophy, or lupoid onychitis, is a multifactor immune-mediated onychopathy. The aim of the present study is to report the occurrence of lupoid onychitis in a two year-old mongrel dog helped at the Small Animal Dermatology Service of Sao Paulo State University Veterinary Hospital, in Botucatu, São Paulo. The animal presented lameness, onycholysis in five digits, paronychia, onychomadesis, nail softening and leuchonychia, as well as melicerous crusts in interdigital spaces and nailbeds. No non-dermatological systemic symptoms were observed. Complementary exams were negative for parasites or fungi. After 15 days of treatment there was partial recovery followed by recurrence. Onychectomy was performed in two digits for histopathological examination and fungal culture, which was negative. Histopathology was consistent with lupoid onychitis, reinforcing the importance of this complementary exam. Keywords: dogs, immune-mediated dermatitis, onychitis Resumen: La onicodistrofia lupoide simétrica u oniquitis lupoide, es una onicopatía inmunomediada de etiología multifactorial. Nuestro objetivo es reportar la presencia de oniquitis lupoide en un perro atendido en el sector de Dermatología de la FMVZ/Unesp, de Botucatu. El animal presentaba claudicación y onicolisis en cinco dígitos, paroniquia, onicomadesis, onicomalacia y leuconiquia, además de costras melicéricas en los espacios interdigitales y lechos ungulares. No había ninguna alteración sistémica ni dermatológica. Los exámenes complementarios fueron negativos. Hubo mejora parcial después de 15 días de tratamiento, con reincidencia posterior. Fue entonces que se realizó oniquectomia en dos dedos, para examen histopatológico y para cultivo fúngico, siendo este último negativo. Los cortes histológicos fueron compatibles con oniquitis lupoide, demostrando la importancia de este examen complementario. Palabras clave: perros, dermattitis inmunomediada, oniquitis

Clínica Veterinária, n. 87, p. 48-52, 2010

Introdução A onicodistrofia lupoide simétrica ou oniquite lupoide (OL) é uma onicopatia imunomediada que foi primeiramente descrita em 1992 1 e recebeu esse nome pela similaridade de seus achados histológicos com lúpus eritematoso 2. “Lupoide” é um adjetivo usado em medicina humana; é derivado de “lúpus”, e o sufixo “-oide” denota forma, aspecto 3. A designação de onicodistrofia lupoide é referida na literatura, porém outros autores 4 preferem o termo oniquite lupoide, por enfatizar que as alterações ungueais são consequentes a um processo inflamatório abaixo do leito ungueal. A onicodistrofia é uma formação anormal 48

da unha e esse termo pode ser utilizado para descrever doenças ungueais sem etiologia conhecida 5. A etiologia da OL é multifatorial, porém, na maioria dos casos, ainda é descrita como idiopática 4. Traumas, desordens metabólicas, infecções bacteriana e fúngica, doenças imunomediadas (ex. pênfigos, lúpus eritematoso sistêmico, doença da aglutinina fria, erupção por drogas, vasculite) e neoplasias são sugeridos como possíveis causas 6,7. Os diagnósticos diferenciais incluem infecções fúngicas e bacterianas das unhas, alergia alimentar, distúrbios dermatológicos autoimunes, farmacodermia e vasculite 8.

Luciana Murai Soares Médica veterinária autônoma

lumurai02@yahoo.com.br

Rafael Torres Neto MV, pós-graduando Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu

rphtorres@yahoo.com.br

Viciany Erique Fabris MV, prof. ass. dr. Depto. Patologia - FM/Unesp-Botucatu

vfabris@fmb.unesp.br

Maria Lúcia Gomes Lourenço MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu

mege@uol.com.br

Maria do Carmo Fernandez Vailati MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu mfvailati@yahoo.com.br

A apresentação clínica mais frequente é onicomadese com exsudato sob a placa ungueal de uma ou mais unhas 9. Na maioria das vezes, a hemorragia não acompanha o destacamento das unhas 4. A paroníquia e a pioníquia são evidenciadas somente quando há infecção bacteriana secundária 10. Inicialmente, as alterações ungueais se desenvolvem simultaneamente em vários dígitos, em mais de uma pata 4, sendo que em duas a nove semanas todas as patas são acometidas 11. Pode ser encontrada linfadenomegalia periférica, porém nenhuma outra anormalidade é observada no exame físico 10. O diagnóstico definitivo da OL é realizado por histopatologia da unha e do leito ungueal; amostras da avulsão ou de restos de tecido morto da unha raramente são úteis, pois não contêm a matriz ungueal, que é frequentemente necessária para estabelecer o diagnóstico 12. Vários tratamentos foram avaliados para OL, mas nenhum deles é completamente efetivo 10. A terapia de longo

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010


Luciana Murai Soares Luciana Murai Soares

Figura 2 - Membro anterior esquerdo apresentando onicólise, paroníquia, onicomadese, onicomalácia e leuconíquia

Luciana Murai Soares

Figura 4 - Membro anterior direito após quinze dias de cefalexina, com melhora parcial

Figura 3 - Membro anterior direito após quinze dias de cefalexina, com melhora parcial Luciana Murai Soares

a) Cefalexina comprimidos de 500mg, Teuto, Anápolis, GO b) Soapex 1% barra, Galderma, São Paulo, SP c) Rifocina spray, Sanofi-Aventis, São Paulo, SP

Figura 1 - Membro anterior direito apresentando onicólise, paroníquia, onicomadese, onicomalácia e leuconíquia

Luciana Murai Soares

Figura 5 - Membro posterior direito após amputação de terceira falange

com o intuito diagnóstico, sendo uma amostra enviada para exame histopatológico e outra para cultivo fúngico. Os cortes histológicos (Figura 7) demonstraram unha com alterações na junção com a pele. Na epiderme da porção dorsal da unha, observou-se degeneração hidrópica da camada basal e focos de espongiose. Na derme verificou-se processo inflamatório mononuclear de interface, constituído por linfócitos, histiócitos, poucos plasmócitos e melanófagos. Não se observaram coleções purulentas, fungos ou outro agente etiológico. O osso falangiano apresentou-se histologicamente normal e não houve crescimento fúngico na amostra

Figura 6 - Membro posterior direito após amputação de terceira falange Rafael Torres Neto/Viciany Erique Fabris

Relato de caso Um animal da espécie canina, sem raça definida, de dois anos de idade, foi atendido no Serviço de Dermatologia de Pequenos Animais do Hospital Veterinário da FMVZ/Unesp - Campus de Botucatu, com queixa de claudicação e alterações em todas as unhas havia trinta dias. O animal apresentava histórico de onicólise em cinco dígitos e no exame físico observou-se paroníquia, onicomadese, onicomalácia e leuconíquia (Figuras 1 e 2). Os espaços interdigitais e os leitos ungueais apresentavam crostas melicéricas. O animal apresentava ainda onicalgia e lambedura de toda a região podal. Durante a anamnese, foi negada a ocorrência de qualquer alteração sistêmica não dermatológica. No exame físico, todos os parâmetros avaliados estavam dentro da normalidade. Realizaram-se exame micológico pela lâmpada de Wood e exame parasitológico por raspado cutâneo e colheu-se material para cultivo fúngico. O resultado desses três exames foi negativo. Iniciou-se tratamento com cefalexina a oral (30mg/kg, BID), sabonete à base de triclosan b e rifamicina c spray a cada doze horas. Após quinze dias, o animal retornou ao atendimento apresentando melhora de 50% (Figuras 3 e 4). Optamos então por manter o tratamento instituído anteriormente. Em novo retorno após dez dias, o animal apresentou onicólise de outras unhas, optando-se então por realizar onicoectomia em dois dedos do membro posterior direito (Figuras 5 e 6)

Luciana Murai Soares

prazo pode resultar em resolução ou remissão da afecção; entretanto, as recidivas são muito comuns 5. O tratamento conservativo na OL deve ser considerado, mantendo somente o corte cuidadoso das unhas acometidas para prevenir excessivo crescimento e reduzir a pressão do leito ungueal quando o animal caminha 11. Há descrição de amputação da terceira falange como forma de tratamento da OL quando houver recidiva da afecção diante de terapia apropriada 5. O presente trabalho tem por objetivo relatar a ocorrência de onicodistrofia lupoide simétrica em um cão atendido no Serviço de Dermatologia de Pequenos Animais da FMVZ/Unesp-Botucatu.

Figura 7 - Exame histopatológico. H&E. Fotomicrografia de lesão em leito ungueal. Seta grande: infiltrado de interface; asteriscos verdes: incontinência do pigmento melânico. Setas pequenas amarelas: degeneração hidrópica da camada basal

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enviada para cultura. Com base no exposto, o diagnóstico firmado foi de onicodistrofia lupoide simétrica ou oniquite lupoide. Diante do diagnóstico e após explicações ao proprietário, este optou por não realizar nenhum tratamento adicional, alegando falta de condições financeiras, e após isso não mais houve retorno. Discussão As onicopatias representam aproximadamente de 1,3 a 2,2% dos casos atendidos por dermatologistas veterinários especialistas 1, sendo a OL uma das causas menos frequentes de desordens ungueais 3. Além disso, seborreia primária, cinomose, leishmaniose, infestação severa por áscaris, nematódeos, deficiência nutricional e ergotismo também podem causar variadas anormalidades nas unhas 7. Apesar do exposto acima, a suspeita e o diagnóstico só foram feitos após insucesso do tratamento empírico. O histórico de vacinação deve ser avaliado 5, pois a reação de hipersensibilidade do tipo II ou III pode ocorrer, e é possível que agentes vacinais possam promover reações cruzadas com proteínas na junção epiderme-derme da unha, resultando na lesão lupoide característica. A detecção de antígenos virais rábicos foi evidenciada em parede vascular sanguínea 13. Essa possibilidadde foi prontamente descartada, pois o cão do presente relato não havia sido vacinado recentemente. O cão em discussão não tinha raça definida, encontrando-se dentro do referido na literatura, que diz que as raças mais predispostas são pastor alemão, rottweiler, schnauzer gigante, golden retriever, labrador retriever e cães sem raça definida 14,15. Outros referem os pastores alemães e rottweilers como raças predispostas 8. A referência a predisposição racial sugere envolvimento genético 3, o que não pode ser confirmado neste caso. A idade dos cães acometidos por OL varia de três a oito anos, sendo que o referido estava abaixo dessa faixa etária, pois tinha dois anos no momento do diagnóstico. Os animais apresentam onicomadese, onicorrexe, onicomalácia e onicoclasia, mostrando-se sadios em relação a outros sistemas 3. Todas as unhas do animal deste relato apresentavam paroníquia, onicomadese, onicomalácia e leuconíquia e os espaços interdigitais e os leitos ungueais apresentavam crostas melicéricas. 50

Aproximadamente metade dos cães acometidos apresenta dor e claudicação de intensidade leve a moderada 3,4 e o cão deste trabalho claudicava havia um mês. Em todos os casos de OL, devem-se realizar testes de triagem, como exame parasitológico por raspado de pele, análise citológica e culturas bacteriana e fúngica 10, o que foi feito no caso em questão, descartando-se causas fúngicas e por ácaros. Optamos por não realizar testes para leishmaniose 11, por se tratar de animal oriundo de área livre da doença. O diagnóstico definitivo da OL é realizado por histopatologia da unha e do leito ungueal; amostras da avulsão ou de restos de tecido morto da unha raramente são úteis, pois não contêm a matriz ungueal que é frequentemente necessária para estabelecer diagnóstico 12. Optou-se por realizar onicoectomia em dois dedos do membro posterior direito, sendo uma amostra enviada para exame histopatológico e outra para cultivo fúngico. Como descrito na literatura, pôde-se chegar ao diagnóstico por meio da histopatologia. De acordo com outra técnica descrita em literatura 12, que fornece amostras apropriadas do epitélio ungueal, retirase apenas parte do leito ungueal, evitando-se a amputação da terceira falange. As vantagens desse procedimento em relação à amputação da terceira falange incluem rapidez de execução, duração mínima de anestesia geral e diminuição da dor e do desconforto pós-operatórios, uma vez que somente parte da matriz ungueal é removida. Optamos por outra técnica descrita 4, com amostras obtidas por amputação da terceira falange, pois a amostragem é maior, além de que uma remoção parcial do epitélio do leito ungueal resulta em uma unha permanentemente desfigurada. Após a exposição dos fatos, optamos pela amputação da terceira falange, sendo que o resultado estético e principalmente o pós-operatório foram considerados excelentes pelo proprietário. Os achados histopatológicos na OL incluem uma faixa de infiltrado mononuclear com dermatite de interface, degeneração de células hidrópicas basais, degeneração ou necrose de queratinócitos individuais na camada de células basais e incontinência pigmentar, sem a presença de banda de lúpus confirmada pela imunofluorescência direta 11,16. A dermatite de interface e o infiltrado mononuclear são sugestivos de lúpus

eritematoso discoide e lúpus eritematoso sistêmico em cão, porém, na OL não há sinais sistêmicos como títulos elevados de anticorpos antinucleares (ANA), anemia, trombocitopenia ou evidência de glomerulonefrite baseada na urinálise e no painel bioquímico 15. Os cortes histológicos demonstraram unha com alterações na junção com a pele. Na epiderme da porção dorsal da unha, observou-se degeneração hidrópica da camada basal e focos de espongiose. Na derme verificou-se processo inflamatório mononuclear de interface, constituído por linfócitos, histiócitos, poucos plasmócitos e melanófagos. Não se observaram coleções purulentas, fungos ou outro agente etiológico. O osso falangiano apresentou-se histologicamente normal, e não houve crescimento fúngico na amostra enviada para cultura. Em vista desses achados histopatológicos, foi possível tanto descartar outras doenças definitivamente quanto firmar o diagnóstico de onicodistrofia lupoide. A suplementação com ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 pode ser utilizada, e a resposta a eles varia de boa ou parcial a ruim 10,17. Em casos não responsivos aos ácidos graxos na OL, é recomendado o uso associado de tetraciclina e niacinamida, ou doxiciclina e niacinamida 6,14. Quando esse tratamento falhar, é indicado o uso de pentoxifilina, uma metilxantina que age como imunomoduladora 6. Diferentemente do que diz a literatura, optamos por manter a cefalexina, pois já havíamos obtido uma resposta favorável com esse antibiótico. A prednisolona, em dose imunossupressora 10, pode ser utilizada como terapia de doenças imunomediadas devido a sua atividade anti-inflamatória e imunossupressora, porém, deve-se tomar cuidado para evitar efeitos adversos. A azatioprina também pode ser utilizada na OL, juntamente com a prednisolona 10 ou com a pentoxifilina 6. Quando o crescimento é retomado, as unhas mostram-se onicodistróficas, deformadas e distorcidas 10. O proprietário do cão deste relato optou por não realizar nenhum tratamento adicional, alegando falta de condições financeiras, e após isso não mais houve retorno para acompanhamento da evolução do quadro, o que não deve ter sido um grande contratempo, pois após a correção cirúrgica o quadro evoluiu bem.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010



Consideração finais A onicodistrofia simétrica canina ou oniquite lupoide é uma das causas menos frequentes de distúrbios ungueais em cães e gatos, o que dificulta a sua suspeita clínica. É uma onicopatia imunomediada, cujo diagnóstico definitivo é realizado por histopatologia da unha e do leito ungueal, sendo ambas as regiões incomuns na rotina de colheita de fragmentos por biópsia para histopatologia; porém, como essa afecção tem como diagnósticos diferenciais doenças importantes, faz-se necessária a colheita desses fragmentos. Referências 01-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. Disorders of the claw and clawbed in dogs. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 14, n. 6, p. 1448-1457, 1992. 02-MUELLER, R. S. Diagnosis and management of canine claw diseases. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 29, n. 6, p. 1357-1371, 1999. 03-SCOTT, D. W. ; ROUSSELLE, S. ; MILLER JR, W. H. Symmetrical lupoid onychodystrophy in dogs: a retrospective analysis of 18 cases (19891993). Journal of the American Animal

Hospital Association, v. 31, n. 3, p. 194-201, 1995. 04-GROSS, T. L. ; IHRKE, P. J. ; WALDER, E. J. ; AFFOLTER, V. R. Skin disease of the dog and cat: clinical and histopathologic diagnosis. 2. ed. Oxford: Blackwell, 2005. p. 70-74. 05-BOORD, M. J. ; GRIFFIN, C. E. ; ROSENKRANTZ, W. S. Onychectomy as a therapy for symmetric claw and claw fold disease in the dog. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 33, p. 131-138, 1997. 06-MUELLER, R. S. ; ROSYCHUK, R. A. W. ; JONAS, L. D. A retrospective study regarding the treatment of lupoid onychodystrophy in 30 dogs and literature review. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 39, n. 2, p. 139-150, 2003. 07-SCOTT D. W. An approach to diseases of claws and claw folds. In: FOSTER, A. ; FOIL, C. Manual of small animal dermatology. 2. ed. Gloucester: BSAVA Publications, 2003. p. 116-120. 08-MEDLEAU, L. ; HNILICA, K. A. Diseases of eyes, claws, anal sacs and ear canals. In:__. Small animal dermatology - a color atlas and therapeutic guide, 2. ed, Elsevier: St Louis, 2001, p. 367-368. 09-HARVEY, R. J. ; McKEEVER, P. J. Manual colorido de dermatologia do cão e do gato diagnóstico e tratamento. Revinter: Rio de Janeiro, 2004, p. 202. 10-AUXILIA, S. T. ; HILL, P. B. ; THODAY, K. L. Canine symmetrical lupoid onychodystrophy: a retrospective study with particular reference to management. Journal of Small Animal Pratice,

v. 42, p. 82-87, 2001. 11-VERDE, M. T. ; BASURCO, A. Symmetrical lupoid onychodystrophy in a crossbred pointer dog: long term observations. The Veterinary Record, v. 146, n. 13, p. 376-378, 2000. 12-MUELLER, R. S. ; OLIVRY, T. Onychobiopsy without onychectomy: description of a new biopsy technique for canine claws. Veterinary Dermatology, v. 10, n. 1, p. 55-59, 1999. 13-WILCOCK, B. P. ; YAGER, J. A. Focal cutaneous vasculitis and alopecia at sites of rabies vaccination in dogs. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 188, p. 131-138, 1997. 14-ROSYCHUCK, R. A. W. Diseases of the claw and claw fold. In: Kirks current veterinary therapy XII. Small animal pratice. 2. ed. Philadelphia: Sauders, 1995. p. 641-647. 15-SCOTT, D. W. ; MILLER JR, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Diseases of eyelids, claws, anal sacs and ears. In: Muller & Kirks small animal dermatology. 6. ed. Philadelphia: Saunders, 2001. p. 1185-1235. 16-MUELLER, R. S. ; WEST, K. ; BETTENAY, S. V. Immunohistochemical evaluation of mononuclear infiltrates in canine lupoid onychodystrophy. Veterinary Pathology, v. 41, n. 1, p. 37-43, 2004. 17-BERGVALL, K. Treatment of symmetrical onychomadesis and onychodystrophy in five dogs with omega-3 e omega-6 fatty acids. Veterinary Dermatology, v. 9, n. 4, p. 263-268, 1998.



Marcy Lancia Pereira

Abscessos renais por trauma acidental em ovário-histerectomia em cadela: relato de caso

MV, Ms, profa., coordenadora CMV - Anhanguera Educacional marcylancia@yahoo.com

Tathiana Ferguson Motheo

MV, mestre, doutoranda DRAMVP/FCAV/Unesp-Jaboticabal tfmotheo@hotmail.com

Wilter Ricardo Russiano Vicente MV, prof. tit. dr. DRAMVP/FCAV/Unesp-Jaboticabal

Renal abscesses due to accidental trauma during ovariohisterectomy in a bitch: case report

wilter@fcav.unesp.br

Abscesos renales por trauma accidental en ovariohisterectomía en perra: relato de caso Resumo: A ocorrência de abscessos renais é rara em cães e, até o momento, não havia sido relatada como consequência de trauma acidental em procedimento de ovário-histerectomia (OH). Foi encaminhada ao Hospital Veterinário da FCAV/UnespJaboticabal uma cadela rottweiller de dez anos de idade com queixa de letargia, anorexia e emese, iniciada após a OH, indicada devido à apresentação de piometra. O colega veterinário informou que houve lesão na cápsula renal no período transcirúrgico e, com base nos exames físico, laboratoriais e de imagem, indicou-se a laparotomia exploratória. O rim direito mostrou-se aumentado de volume e hiperêmico e o ureter apresentava-se dilatado. Optou-se pela realização de nefrectomia total. Ao corte sagital do rim, foi possível observar presença de abscessos corticais e espessamento de recessos pélvicos. No pós-operatório, foi prescrita fluidoterapia e antibioticoterapia, que resultaram em melhora clínica significativa da paciente. Unitermos: rim, infecção, castração Abstract: The occurrence of renal abscesses is rare in dogs and, to date, there were no reports of accidental trauma during ovariohysterectomy (OH) that resulted in kidney abscesses in this species. A ten-year-old Rottweiller female was presented to the Veterinary Hospital of FCAV-Unesp, Jaboticabal, with lethargy, anorexia and emesis after OH as a treatment for pyometra. The referring veterinarian informed the occurrence of lesion on the kidney capsule during the procedure. Based on physical examination, laboratory findings and abdominal ultrasound, laparotomy was indicated for definitive diagnosis. During the procedure, the right kidney was hyperemic and enlarged, and the urether was dilated. Total nephrectomy was performed. Sagittal sectioning of the excised kidney revealed cortical abscesses and thickening of pelvic recesses. Post-operative therapy included fluid and antibiotic therapies, which contributed to significant clinical improvement of the patient. Keywords: kidney, infection, castration Resumen: La ocurrencia de abscesos renales es rara en perros y, hasta el momento, no ha sido relatada como consecuencia de traumatismo accidental en procedimiento de ovariohisterectomía (OH). Fue encaminada al Hospital Veterinario de la FCAV/Unesp de Jaboticabal una perra Rottweiller con edad de 10 años, con queja de letargia, anorexia y emesis, iniciada después de una OH, indicada debido a un cuadro de piómetra. El colega veterinario informó que hubo lesión en la cápsula renal en el periodo transquirúrgico y, con base en los exámenes físico, laboratoriales y de imagen, fue indicada la laparotomía exploratoria. El riñón derecho se mostró aumentado de volumen e hiperémico y el uréter se presentaba dilatado. Se optó por la realización de nefrectomía total. En el corte sagital del riñón, fue posible observar la presencia de abscesos corticales y espesamiento de recesos pélvicos. En el post-operatorio, fueron prescritos fluidoterapia y antibioticoterapia, que resultó en mejora clínica significativa de la paciente. Palabras clave: riñón, infección, castramiento

Clínica Veterinária, n. 87, p. 54-58, 2010

Introdução A ovário-histerectomia (OH) é uma cirurgia praticada rotineiramente por médicos veterinários de pequenos animais. A indicação mais comum para sua realização é o controle populacional, embora também seja recomendada para a prevenção de neoplasias mamárias e o tratamento de algumas doenças reprodutivas, como a piometra, doenças hormonais – como diabetes melito – e dermatológicas – como o hiperestrogenismo 1,2. Como qualquer outro procedimento cirúrgico, a OH pode apresentar compli54

cações que eventualmente acometem os sistemas reprodutivo, gastrintestinal e urinário. Dentre as intercorrências, podem-se citar hemorragia de pedículo ovariano 2,3, de vasos uterinos e de parede uterina 2, granulomas 4, síndrome do ovário remanescente 5,6, piometra associada a imperícia 7, obstrução colônica parcial 8,9, hidronefrose 1,2, fístulas ureterovaginal, vesicovaginal 10,11 e vaginoperitoneal 11, urinoma 12 e pielonefrite 13. Entretanto, até o momento, não há relatos sobre a formação de abscessos renais como consequência de trauma acidental de OH em cadelas.

A ocorrência de abscessos renais é rara em cães e pode se associar a pielonefrite, biópsia renal 14, traumas renais 15, nefrolitíase 16 ou diabetes melito 17. Este caso tem como objetivo descrever o primeiro relato de abscesso renal como consequência de lesão traumática por agulha durante a cirurgia de OH para tratamento de piometra em uma cadela. Relato de caso Foi atendida, no Hospital Veterinário da FCAV/Unesp-Jaboticabal, uma cadela plurípara, da raça rottweiller, de dez anos de idade. O animal foi levado pelo proprietário por apresentar dispneia, anorexia, oligodipsia e êmese havia três dias. Além disso, a paciente estava sob tratamento havia dois dias com ampicilina 22mg/kg, TID, VO. Foi informado que a cadela havia sido submetida a OH para tratamento de piometra havia três semanas. O profissional responsável pelo encaminhamento relatou um trauma acidental, que consistiu em lesão da cápsula renal correspondente ao pedículo ovariano direito no momento em que essa estrutura era transfixada. Ao exame físico, a paciente apresentava-se prostrada, moderadamente desidratada e com dores abdominal e lombar intensas à palpação. Não se observaram alterações relevantes referentes aos demais parâmetros físicos. Foram solicitados hemograma completo e creatinina sérica, cujas amostras foram obtidas por venopunção jugular. Por meio de cateterização transuretral, foi obtida amostra de urina para urinálise completa.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010


Hemograma pré-operatório hemácias (x103células/ L) 3940 hemoglobina (g/dL) 9,3 hematócrito (%) 30,2 VCM (fL) 76,6 HCM (pg) 23,6 CHCM (%) 30,9 leucócitos (x103células/ L) 64,4 basófilos (células/ L ) 0 eosinófilos (células/ L) 0 neutrófilos bastonetes (células/ L) 3220 neutrófilos segmentados (células/ L) 54740 linfócitos (células/ L) 2576 monócitos (células/ L L) 3864 plaquetas (x103/ L) 255 Bioquímica sérica creatinina (mg/dL)

1,68

3º dia pós-cirúrgico 2730 6,8 20,8 76,2 25 32,8 28 0 1120 560 22680 1960 1680 134

13º dia pós-cirúrgico 4460 11,4 31,01 69,4 25,6 36,9 14,7 0 735 294 9849 3087 735 781

2,55

1,86

30º dia pós-cirúrgico 4360 10,7 30,2 69,3 24,5 35,3 9,8 196 1470 0 5292 2548 294 572 1,35

Figura 1 - Resultados de hemograma e bioquímica sérica obtidos na avaliação inicial (pré-operatória) e aos três, treze e trinta dias após a nefrectomia Urinálise Exame físico odor cor aspecto densidade Exame químico pH proteínas (mg/dL) sangue oculto (eri/ L) Sedimentoscopia hemácias por campo leucócitos por campo cilindros granulosos por campo bactérias por campo células epiteliais de transição por campo

Pré-operatório

3º dia pós-cirúrgico

alterado amarelo-escuro turvo 1,026

característico amarelo-claro turvo 1,018

5 100 250 25 incontáveis 7 75 isoladas (8) em bloco (0)

5,5 100 250 40 8 7 0 isoladas (40) em bloco (25)

Figura 2 - Resultados de urinálise obtidos na avaliação inicial (pré-operatória) e três dias após a nefrectomia

B

Tathiana Ferguson Motheo

A

Tathiana Ferguson Motheo

Os exames laboratoriais estão representados nas figuras 1 e 2. O eritrograma revelou anemia com anisocitose e policromasia. Já no leucograma, verificaram-se leucocitose com neutrofilia e leve desvio à esquerda. Na bioquímica sérica, constatou-se discreto aumento de creatinina. A urinálise revelou hematúria, leucocitúria e bacteriúria. Adicionalmente, realizou-se ultrassonografia abdominal. Foi visualizada, em topografia de rim direito, uma estrutura arredondada, com inúmeras lojas de conteúdo hipoecoico e paredes espessadas hiperecoicas. Com base no histórico e nos exames físico e complementares, não foi possível chegar ao diagnóstico definitivo. Entretanto, devido à forte suspeita de que a estrutura visualizada na ultrassonografia fosse o rim direito e que ele estivesse severamente acometido por processo infeccioso ou neoplásico, indicouse a laparotomia exploratória como meio diagnóstico e possivelmente terapêutico. Na celiotomia, evidenciou-se alteração morfológica do rim direito, que se mostrava globoso, com contornos irregulares, aumentado de volume e aderido à artéria aorta abdominal. Além disso, o ureter direito apresentava calibre aumentado (Figura 3A). Sendo assim, optou-se pela realização de nefrectomia total. Após corte sagital do rim excisado, foi possível observar aderência da cápsula renal ao córtex, inúmeros abscessos corticais e espessamento de recessos pélvicos (Figura 3B).

Figura 3 - Exposição de rim direito (RD) e ureter correspondente com calibre aumentado (U) na laparotomia exploratória (A) e abscessos (a) e recessos pélvicos espessados (P) ao corte sagital do rim excisado (B)

No pós-operatório, a paciente permaneceu sondada (sonda uretral flexível número 8) por três dias, de modo a evitar retenção urinária, e o tratamento

baseou-se em fluidoterapia por dez dias, período no qual a paciente permaneceu internada, além de receber administração de metronidazol a (15mg/kg, BID, IV),

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tramadol b (2mg/kg, BID, SC) e ranitidina c (2,2mg/kg, TID, VO) por cinco dias e enrofloxacina d (7,5mg/kg, BID, IM) por sessenta dias, uma vez que havia possibilidade de infecção do rim contralateral por ascensão de bactérias provenientes de exsudação purulenta contida na bexiga, proveniente do rim afetado. Realizou-se acompanhamento clínico e laboratorial da paciente no pósoperatório (Figuras 1 e 2), período no qual foi constatada melhora clínica significativa. A alta médica foi concedida ao término do tratamento clínico prescrito. Discussão A incidência de abscessos renais em cães é rara e sua patofisiologia não está completamente elucidada 17. Em seres humanos, os abscessos renais são classificados em intrarrenais ou perirrenais 18. No presente caso, evidenciou-se abscedação em todo o parênquima renal, semelhante à de relato de abscesso corticomedular em cão da raça dálmata acometido por diabetes melito 17. Os abscessos renais de cães e gatos aparecem, na ultrassonografia, como estruturas ovais, hipoecoicas e com margens espessadas 19, o que se equipara à imagem obtida no exame da paciente do presente relato. Não se indicou aspiração guiada por ultrassom do conteúdo devido ao risco de extravasamento para a cavidade abdominal, já que havia suspeita de processo neoplásico ou infeccioso. a) Metronidazol. Equiplex indústria farmacêutica. Goiânia, GO b) Tramadon. Cristália produtos químicos e farmacêuticos LTDA. Itapira, SP c) Cloridrato de ranitidina. Laboratório TEUTO Brasileiro. Anápolis, GO d) Enrofloxacino 5%. Vencofarma. Londrina, PR

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Os exames hematológicos obtidos na avaliação inicial revelaram leucocitose com neutrofilia e leve desvio à esquerda, compatíveis com processo infeccioso e inflamatório decorrente da abscedação renal. No terceiro dia do pós-operatório, observou-se piora da contagem de plaquetas, uma vez que houve hemorragia intensa no transoperatório. Por outro lado, o leucograma evidenciou melhora significativa. No décimo terceiro e trigésimo dias de avaliação pós-cirúrgica, houve melhora progressiva dos quadros eritrocitário, leucométrico e plaquetário. Apesar de alguns autores relatarem ocorrência de infecção urinária decorrente de cateterização 20, outros autores 21 sugerem que somente após o quarto dia de sondagem o paciente apresenta maior risco de infecção resistente. No caso da paciente em questão, optou-se pela sondagem durante três dias para evitar a retenção urinária por dor no pós-cirúrgico imediato. Com relação aos valores séricos de creatinina, no pré-operatório havia leve azotemia, o que mostra que a função renal estava comprometida pelo processo infeccioso do rim afetado. No terceiro dia após a nefrectomia, a concentração sérica de creatinina aumentou em consequência de déficit transitório da função renal, já que não houve tempo hábil para adaptação funcional do rim remanescente. No décimo terceiro dia após o procedimento cirúrgico, notou-se diminuição dos valores de creatinina sérica, e no trigésimo dia esse parâmetro retornou aos valores de referência para a espécie, o que mostra que houve recuperação da funcionalidade renal. A urinálise mostrou resultado favorável no terceiro dia do pós-cirúrgico, já

que houve diminuição da leucocitúria e da bacteriúria, devido à excisão do rim abscedado. Com relação ao aumento de hemácias e células epiteliais de transição, deve-se considerar que a paciente permaneceu sondada nos três dias subsequentes à cirurgia. O tratamento de abscessos renais em seres humanos inclui nefrectomia ou drenagem percutânea e, em todos os casos, antibioticoterapia. A seleção do tipo de tratamento varia conforme o tamanho dos abscessos, a condição geral e a idade do paciente 22. Já em medicina veterinária, até o momento, não há relatos de drenagem percutânea para essa enfermidade. No presente caso, a nefrectomia e o uso de antibióticos foram indicados como terapia, assim como preconizados na literatura consultada 15,17. Conclusão Apesar da pressuposição de que a OH seja um procedimento simples, pela sua prática rotineira em clínicas veterinárias, o presente relato mostra a formação de abscessos renais por trauma acidental que causou lesão da cápsula renal. O diagnóstico e o tratamento definitivos foram obtidos após laparotomia exploratória e nefrectomia total, indispensáveis para a recuperação adequada da paciente. Referências 01-JOHNSTON, S. D. ; KUSTRITZ, M. V. R. ; OLSON, P. N. Prevention and termination of canine pregnancy. In: JOHNSTON, S. D. ; KUSTRITZ, M. V. R. ; OLSON, P. N. Canine and feline theriogenology. Philadelphia: Saunders, 2001, p. 168-192. 02-FOSSUM, T. W. ; HULSE, D. ; HEDLUND, C. S. ; JOHNSON, A. ; SEIM, H. Cirurgia dos sistemas reprodutivo e genital. In: FOSSUM, T. W. ; HULSE, D. A. ; JOHNSON, A. L. ; SEIM,

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Contrariamente à literatura consultada, o animal apresentado era do sexo feminino 1,11,12,21. Neste relato, o fato de o animal ser ovário-histerectomizado pode ter influenciado o desenvolvimento da neoplasia, já que nos casos de quimiodectoma o estado reprodutivo do animal parece ter relação com o desenvolvimento da neoplasia, uma vez que as fêmeas ovário-histerectomizadas apresentam um risco relativo 3,8 vezes maior de desenvolver essa neoplasia, em comparação às fêmeas intactas 12. Os sinais clínicos de intolerância ao exercício, cansaço fácil, cianose e dispneia apresentados pelo animal são consistentes com as manifestações clínicas apresentadas em diversas doenças que acometem o sistema cardiovascular 1,10,15. Embora o quimiodectoma seja uma doença de frequência incomum, deve ser incluído nos diagnósticos diferenciais quando esses sinais estiverem presentes. As características macroscópicas encontradas neste caso coincidem com as descritas na literatura. Os tumores de corpo aórtico geralmente são massas solitárias, encapsuladas, intrapericárdicas, próximas à base cardíaca, com origem na camada adventícia de grandes vasos 1,22, podendo circundar o tronco aórtico 3 e a aorta ascendente 19 e medir entre 0,5 e 12,5cm 1,3,19,22. A superfície externa pode ser lisa ou irregularmente lobulada 8,19 e é comum encontrar focos necróticos e hemorrágicos na superfície de corte, o que confere coloração heterogênea ao tumor 1,8,19,22. O deslocamento atrial por compressão tumoral observado também é citado na literatura 1. Não foram encontrados indícios de invasão local de estruturas adjacentes tais como o pericárdio, o epicárdio, o miocárdio e/ou a parede vascular, como é frequentemente descrito 1,3. Embora o tronco aórtico tenha sido totalmente circundado pelo tecido neoplásico, não houve evidência de constrição vascular, como descrito pela literatura 1. As neoplasias de corpo aórtico em animais tendem a ter comportamento mais benigno quando comparadas às do corpo carotídeo 4,20,23. Apresentam crescimento lento e expansivo e baixo potencial metastático 1,3,8,10,11,21. No paciente avaliado, não foram encontrados sinais de metástase em outros órgãos, especialmente no fígado e no pulmão, órgãos sabidamente preferenciais 24. Há relatos de ocorrência concomitante de quimiodectomas e outros tumores primários de origem endócrina em cães, porém neste caso não foi verificada tal associação 3,21. Para o diagnóstico por imagem das afecções do corpo aórtico dispomos de diversas modalidades, entre as quais o exame radiográfico – que funciona como triagem –, o ultrassonográfico e o tomográfico, este último mais sensível – pois evita sobreposições – tornando-se de eleição para a avaliação da região mediastinal, onde se encontram o corpo aórtico e a base cardíaca 25. Massas mediastinais são comuns em cães e gatos, sendo os linfomas e os timomas as causas neoplásicas mais frequentemente descritas, seguidos de cistos idiopáticos, tumores tireoidianos ectópicos e o quimiodectoma 25-27. A avaliação radiográfica do mediastino é limitada, pois as estruturas ali presentes, excetuando-se a traqueia, possuem radiopacidade muito próxima, o que torna a localização da lesão e as suas dimensões informações importantes para um diagnóstico mais acurado. Para isso, o mediastino é dividido radiograficamente em três áreas – cranial ou pré-cardíaco, médio ou pericárdico e caudal ou pós-cardíaco –, e também 58

em ventral e dorsal por uma linha imaginária que passa pelo hilo pulmonar 28-30. Encontramos na porção cranial, entre outras estruturas, a traqueia, o esôfago, os linfonodos mediastinais craniais, o timo, o ducto torácico, a veia ázigo, as artérias carótidas comuns e as artérias e veias subclávias, além de vasos linfáticos e nervos, enquanto o coração e as estruturas da base cardíaca são encontrados na porção média 28,29. Na descrição do presente caso, o aumento de volume estava localizado no terço médio da porção cranioventral do mediastino e caracterizava-se como um aumento mediastinal focal, de margens parcialmente definidas, o que conduz a princípio aos seguintes diagnósticos diferenciais; abscessos, cistos, granulomas, timo, timoma, linfoma tímico, linfoadenopatia (metastática ou reativa), tumores ectópicos de tireoide ou paratireoide e alargamento esofágico. A localização radiográfica encontrada neste relato não é a mais frequente nos casos de tumores de base cardíaca descritos pela literatura 28,30,31. Por envolverem estruturas presentes na porção média ou peri-hilar mediastinal, os tumores da base cardíaca resultam, normalmente, no aumento da radiopacidade ao redor da bifurcação atrial, podendo causar ou não a compressão dos brônquios principais 29. A ultrassonografia do mediastino cranial é considerada um meio diagnóstico útil e de baixo custo. No presente caso, o animal não apresentava efusão pleural ou alterações pulmonares com pouco ou nenhum ar que proporcionassem acesso à região mediastinal, logo, foi utilizada a janela cardíaca. Tal modalidade também é capaz de detectar massas mediastinais não encontradas no exame radiográfico e diferenciar alargamentos mediastinais secundários ao acúmulo de gordura de massas, nódulos, edema e hemorragia, entre outras lesões 27,29,32. Os achados ultrassonográficos foram fundamentais no diagnóstico. Por meio desse exame descartou-se o comprometimento dos linfonodos mediastinais craniais e do timo, sendo possível a localização precisa da lesão. Encontrou-se uma massa adjacente à aorta, cranial à base cardíaca, heterogênea e pouco vascularizada, características essas que diminuíram a possibilidade de linfoma ou timoma, uma vez que essas neoplasias têm como sinais ultrassonográficos mais comuns, respectivamente, uma grande massa hipoecogênica, de contornos finos e extensa vascularização, e uma massa com grandes lojas, no caso dos timomas 26,29. As características histológicas dos tumores de órgãos quimiorreceptores são similares, visto que derivam do corpo aórtico ou carotídeo 1. O principal diagnóstico histológico diferencial são as neoplasias tireoidianas ectópicas com arranjo sólido, geralmente caracterizadas por conter células menores, não consistentemente subdivididas em pequenos ninhos por faixas finas de tecido conjuntivo, estroma menos proeminente e células gigantes tumorais infrequentes 1. A avaliação de múltiplas secções histológicas do tumor não revelou a presença de estruturas foliculares primitivas ou folículos preenchidos por coloide, derivados de células neoplásicas foliculares em neoplasias tireoidianas ectópicas 1,22. Os critérios histológicos observados no presente relato dispensaram a utilização de técnicas mais específicas. No entanto,

Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 90, janeiro/fevereiro, 2011



Uso da tomografia computadorizada em medicina veterinária: fundamentos e indicações clínicas

Lenin Arturo Villamizar Martinez MV, MS, doutorando Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

leninvillamizar@hotmail.com

Carolina de Oliveira Ghirelli MV, MS, doutoranda Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

carolghirelli@bol.com.br

Thelma Regina Cintra da Silva MV, MS, doutoranda Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

thelmacintra@yahoo.com.br

Computed tomography in veterinary medicine: foundations and clinical indications

Gabriela Paola Ribeiro Banon

Uso de la tomografía computarizada en medicina veterinaria: fundamentos e indicaciones clínicas

Ana Carolina B. de C. F. Pinto

MV, mestranda Depto. Cirurgia - FMVZ/USP

gabibanon@usp.br

MV, MS, dra., profa. Depto. Cirurgia - FMVZ/USP anacarol@usp.br

Resumo: A tomografia computadorizada (TC) é uma técnica de diagnóstico por imagem que tem sido amplamente utilizada na medicina veterinária nos últimos anos, tanto em centros de ensino superior quanto por centros médicos veterinários de referência. Desde o surgimento do primeiro tomógrafo, a TC tem incorporado os avanços tecnológicos da informática e da área de diagnóstico por imagem. A TC utiliza raios-X para formar imagens em cortes de um objeto em diferentes planos, sem sobreposição das estruturas internas que o compõem. Essa modalidade de imagem tem sido utilizada na medicina veterinária especialmente na avaliação da cavidade nasal e dos seios paranasais, de neoformações musculoesqueléticas, alterações de bula timpânica, traumas e fraturas de crânio, afecções da articulação temporomandibular, degeneração ou hérnia de disco intervertebral, neoplasias pulmonares ou do mediastino e neoplasias cerebrais, entre outras. Este artigo revisa as bases da TC e sua utilização na medicina veterinária. Unitermos: cães, gatos, diagnóstico por imagem Abstract: Computed tomography (CT) is an imaging technique that has been widely used in veterinary medicine in recent years, both in veterinary schools and veterinary medical reference centers. Since the first scanner appeared, it has incorporated technological advances inherent to the use of computers and of diagnostic imaging. CT uses X-rays to form slice images of an object in different planes without overlapping of its internal structures. In veterinary medicine, this technique is currently used to evaluate the nasal cavity and paranasal sinuses, musculoskeletal tumors, tympanic bulla abnormalities, trauma and skull fractures, temporomandibular joint disorder, degeneration or herniated intervertebral discs, pulmonary and mediastinal neoplasms, brain tumors and others. This article reviews the basis of CT and its clinical applications in veterinary medicine. Keywords: dogs, cats, diagnostic imaging Resumen: La tomografía computarizada (TC) es una técnica de diagnóstico por imagen utilizada con mayor frecuencia en medicina veterinaria en los últimos años, tanto por centros de enseñanza superior como por centros veterinarios de referencia. Desde la aparición del primer tomógrafo, la técnica de tomografía computarizada ha incorporado los avances tecnológicos de la computación y del diagnóstico por imagen. La TC utiliza rayos-X para formar imágenes en cortes de un objeto en diferentes planos sin sobreposición de las estructuras internas. Esta ha sido utilizada en medicina veterinaria especialmente para evaluación de afecciones de la cavidad nasal y senos paranasales, neoformaciones del sistema musculoesquelético, alteraciones de bulla timpánica, fracturas craneanas, afecciones de la articulación temporomandibular, degeneración o hernia de disco intervertebral, neoplasias pulmonares o del mediastino y neoplasias cerebrales, entre otras. Este artículo revisa las bases de la TC y su utilización en medicina veterinaria. Palabras clave: perros, gatos, diagnóstico por imagen

Clínica Veterinária, n. 87, p. 60-64, 2010

Introdução Nas últimas décadas o diagnóstico por imagem em medicina veterinária tem evoluído rapidamente, permitindo ao médico veterinário obter informações claras e oportunas no que se refere à condição clínica do paciente. O avanço tecnológico em áreas como a radiologia tem facilitado o desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico por imagem, como é o caso da tomografia computadorizada (TC). Na atualidade, a TC é um componente importante do diagnóstico 60

por imagem nos centros de referência de medicina veterinária 1. Desde a descoberta dos raios-X, em 1895, pelo professor de física Wilhelm Conrad Röentgen, passaram-se 77 anos até que os físicos Godfrey N. Hounsfield e Allan M. Cormack criassem o primeiro tomógrafo, que na época receberia o nome de tomógrafo axial computadorizado 2,3, e lhe dessem uso clínico. Os primeiros tomógrafos que apareceram foram denominados de primeira

geração. Com o passar do tempo novas tecnologias foram incorporadas, abrindo o caminho a tomógrafos mais avançados de segunda, terceira e quarta geração. A partir do ano de 1980 apareceram os tomógrafos helicoidais ou espirais, sendo que os primeiros desta classe apresentavam uma fileira de detectores, razão pela qual foram denominados tomógrafos espirais singleslice 3-5. Já em 1998, apareceria o primeiro aparelho de TC espiral multislice (com duas ou mais fileiras de detectores), que permitiu obter grande quantidade de imagens reconstruídas de uma extensa área de tecido a partir de uma única exposição, reduzindo consideravelmente o tempo da anestesia e a exposição aos raios-X, diferentemente dos tomógrafos de primeiras gerações, que precisavam de uma exposição para produzir uma única imagem transversal 3,5,6. A figura 1 apresenta a evolução da tomografia no tempo. Formação da imagem A tomografia computadorizada emprega os raios-X para formar uma imagem num computador. Essa imagem corresponde a um corte que pode ser realizado em diferentes planos de um

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Figura 1 - Em 1972, apareceu o primeiro tomógrafo utilizado com fins médicos; assim, junto com os avanços tecnológicos, a TC foi evoluindo desde os tomógrafos de 1ª geração até os tomógrafos helicoidais (singleslice) da década de 80, que precederiam a aparição do primeiro tomógrafo multislice, em 1998

objeto sem sobreposição das suas estruturas internas; essas fatias podem ter diferentes espessuras (1, 2, 5 e 10mm). A TC pode captar diferenças da ordem de 0,05%, entre os tecidos de diversas densidades, sendo que as radiografias captam diferenças de 0,5%; essa característica melhora a resolução da imagem, permitindo assim detectar alterações nos tecidos que não apareceriam nas radiografias 1,3,7. Independentemente da geração do tomógrafo, todos utilizam três sistemas para formar uma imagem na tela do computador. O primeiro deles é o sistema de aquisição de dados; este componente, o mais importante do tomógrafo, contém a ampola de raios-X e os detectores sensíveis à radiação. O segundo sistema é o de reconstrução, encarregado de processar matematicamente a informação obtida pelo sistema de aquisição; Serviço de Diagnóstico por Imagem - Hovet - FMVZ/USP

Figura 3 - Esquema de funcionamento do equipamento de tomografia computadorizada: a ampola de raios-X (A) gira ao redor do paciente emitindo radiação em diferentes incidências; essa radiação (B) é atenuada pelos tecidos do paciente e logo captada pelos detectores eletrônicos que estão localizados do lado oposto do tubo (faixa azul - C)

Figura 2 - Partes do equipamento de tomografia computadorizada. A) Gantry, B) Mesa, C) Console de controle, * estação de trabalho, * visor com vidro plumbífero, D) Foco da estação de trabalho. CT Toshiba Xpress/GX, Serviço de Diagnóstico por Imagem da FMVZ/USP

o resultado desse processo são os sinais digitais. Finalmente, o sistema de exibição transforma os sinais digitais em sinais elétricos, utilizados pela tela do computador para formar a imagem 4. Um tomógrafo é composto pela entrada do aparelho (gantry), a mesa, um console de controle e uma estação de trabalho (Figura 2). O gantry é o dispositivo em forma de anel que contém a ampola dos raios-X e os detectores sensíveis à radiação. Uma das diferenças entre os tomógrafos de primeira geração e os mais recentes é que os últimos têm incorporado maior número de detectores mais sensíveis à radiação, o que tem permitido melhorar a qualidade da imagem 4,6. Durante a aquisição de dados, a ampola de raios-X gira a 180º ou 360º (dependendo da geração do tomógrafo) em plano perpendicular em relação ao corpo estudado numa área específica, gerando uma radiação constante que atinge a área estudada em diferentes projeções (Figura 3). A radiação que atinge o corpo é atenuada diferentemente pelos tecidos, dependendo de sua respectiva densidade (número atômico). Após interagir com o objeto, os raios-X

atenuados são captados pelos detectores eletrônicos alinhados do lado oposto da ampola de raios X 1,8. Até os tomógrafos de terceira geração, os detectores giravam junto com a ampola de raios-X. A partir do desenvolvimento dos tomógrafos de quarta geração, os receptores foram dispostos de maneira fixa em toda a circunferência do gantry, sendo o tubo de raios-X a única parte que gira ao redor do paciente 3,4,6. Para se obter uma imagem nos tomógrafos de primeira geração, o tubo de raios-X gira uma vez ao redor do paciente e a mesa se desloca dentro do gantry a intervalos previamente estabelecidos pelo operador, de 1, 2, 5, 10mm ou mais, dependendo das necessidades do exame 3-5. Já nos tomógrafos helicoidais, o tubo de raios-X gira constantemente, enquanto a mesa atravessa o gantry a uma velocidade constante (Figura 4). Assim, a radiação forma uma cortina em espiral em volta do paciente, que após ultrapassar os tecidos e ser atenuada por eles, é captada pelos detectores e transmitida ao console, onde são reconstruídos cortes de espessura milimétrica ou submilimétrica. Em outras

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A

B

Figura 4 - (A) No tomógrafo convencional, a mesa se movimenta a intervalos predeterminados através do gantry (setas pretas); em cada posição o tubo de raios-X gira uma vez (linha vermelha) para formar uma imagem transversal. (B) Nos equipamentos helicoidais, a mesa realiza um movimento contínuo através do gantry, enquanto o tubo de raios-X gira constantemente em volta do paciente, criando uma cortina em forma de espiral (espiral vermelha)

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010

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Figura 5 - (a) Imagem tomográfica transversal da região dos etmoturbinados e septo nasal. (b) Representação dos pixels que compõem a imagem. (c) Cada pixel corresponde a um voxel, unidade volumétrica tridimensional, que representa a atenuação média de um tecido nos planos X, Y e Z

palavras, podem-se reconstruir muitos cortes a partir de uma única exposição 4,8. Na tela do monitor, a imagem é formada por pixels, que são a representação digital de uma unidade de volume, o voxel – que, além da largura e da altura, representa a espessura do corte (Figura 5). Cada pixel da imagem é representado por um valor específico de densidade, medido em unidades Hounsfield dentro da escala de atenuação exponencial (escala de Hounsfield), que representa a densidade média do voxel. Essa escala recebe valores unitários que variam desde -1.000UH (ar), 0UH (água) até 3.000UH (metal). Na imagem, os valores negativos aparecem mais escuros e são denominados hipoatenuantes, e os valores positivos aparecem mais

brancos, sendo denominados hiperatenuantes 1,8. A TC utiliza uma ampla gama de cinzas para determinar as diferentes densidades dos tecidos; essa escala vai desde a cor branca (hiperatenuante ou hiperdensa) dos tecidos mais densos, como o tecido ósseo, passando para cinza, que corresponde a tecidos menos atenuantes, como os tecidos moles (musculatura, linfonodos), até a cor preta (hipoatenuante ou hipodensa), própria de estruturas que contêm ar, como os pulmões e a cavidade nasal. Já a imagem apresentada no monitor pode ser manipulada pelo operador com o objetivo de apresentar as imagens de diferentes formas. Isso é realizado com a ajuda de filtros específicos (janelas e

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Figura 6 - Diferentes seleções de janelas e nível utilizadas para visualizar partes moles (A) e pulmão (B). A) 1. veia cava cranial; 2. tronco braquiocefálico; 3. artéria subclávia esquerda; 4. medula espinhal; 5. músculo supraespinhoso; 6. músculo longuíssimo cervical; 7. músculo longuíssimo torácico; 8. músculo longo do pescoço. B) 9. esôfago; 10. traqueia; 11. lobo cranial do pulmão direito e brônquios (setas); 12. lobo cranial do pulmão esquerdo

Figura 7 - Janela para os ossos: 1. osso frontal; 2. septo nasal; 3. ossos etmoturbinados; 4. osso palatino; 5. corpo da mandíbula; 6. osso zigomático

níveis), ferramentas que permitem escolher uma determinada escala de tons de cinza para avaliar melhor cada tipo de tecido. As janelas utilizadas rotineiramente para visibilizar e avaliar as diferentes estruturas anatômicas são: janela para tecidos moles, janela para tecido ósseo e janela para tecidos que contêm ar, como os pulmões e a cavidade nasal (Figuras 6 e 7). Na medicina veterinária, o exame de TC deve ser realizado com o paciente sob contenção química 9, a fim de prevenir a sua movimentação, evitando-se a formação de artefatos de moção que impedem a adequada aquisição e a posterior interpretação das imagens, e para que não se perca a referência da radiografia Serviço de Diagnóstico por Imagem - Hovet - FMVZ/USP

Figura 8 - Felino sob anestesia geral, monitorado constantemente pela equipe de anestesistas, que permanece protegida da radiação na sala de controle. O paciente é aquecido com a ajuda de um cobertor durante o procedimento. Serviço de Diagnóstico por Imagem da FMVZ/USP

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digital. Assim, o médico veterinário anestesista permanece junto ao operador na sala de controle enquanto o tomógrafo emite radiação, podendo monitorar o paciente durante os intervalos entre as aquisições das imagens (Figura 8). Indicações da tomografia computadorizada Quando corretamente utilizada, a TC complementa outras técnicas de diagnóstico por imagem como a radiografia convencional e o ultrassom, mas não as substitui, e em todos os casos é essencial que a TC seja precedida por esses exames 9. Assim, a TC vem sendo indicada na avaliação de diversas condições clínicas, tanto no seu diagnóstico quanto na determinação do prognóstico. Além de auxiliar na avaliação pré-cirúrgica e pós-cirúrgica dessas condições, a TC também permite guiar a coleta de material para estudo citológico ou histológico. As principais indicações da tomografia computadorizada estão arroladas na figura 9 Considerações finais A TC fornece informações adicionais

importantes para o diagnóstico, o planejamento cirúrgico e o acompanhamento do tratamento de diferentes afecções. Não obstante, essa ferramenta deve ser utilizada criteriosamente, sendo indicada como complemento às demais técnicas de diagnóstico por imagem. Na medicina veterinária, a TC vem se tornando uma modalidade de diagnóstico mais comum 9, porém, ressalta-se a necessidade de constantes estudos que busquem o estabelecimento de novas indicações e protocolos para que essa ferramenta possa ser utilizada em todo o seu potencial na clínica e na cirurgia veterinária. Referências 01-TIDWELL, A. S. Principles of computed tomography and magnetic resonance imaging. In: THRALL, D. E. Textbook of veterinary diagnostic radiology. 5. ed. St. Louis: Saunders Elsevier, 2007. p. 50-56. 02-VAN-TIGGELEN, R. Since 1895, orthopaedic surgery relies on x-ray imaging: a historical overview from discovery to Computed Tomography. Acta Orthopaedica Belgica, v. 67, n. 4, p. 317-329, 2001. 03-FARFALLINI, D. Tomografia computarizada. In: PELLEGRINO, F. ; SURANITI, A. ; GARIBALDI, L. El libro de neurologia para la

Região

práctica clínica. Buenos Aires: Intermedica, 2003. p. 475-481. 04-MIRALDI, F. ; SIMS, M. S. ; WIESEN, E. J. Imaging principles in computed tomography. In: HAAGA, J. R. ; LANZIERI, C. F. ; GILKESON, R. C. CT and MR imaging of the whole body. 4. ed. St. Louis: Mosby, 2003. v. 1, p. 2-36. 05-CAVALCANTI, M. G. ; SALES, M. A. Tomografia computadorizada. In: CAVALCANTI, M. G. Diagnóstico por imagem da face. São Paulo: Livraria Santos Editora, 2008. p. 3-43. 06-ASSEHEUER, J. ; SAGER, M. Principles of imaging techniques. In:___. MRI and CT atlas of the dog. Berlin: Blackwell Science, 1997. p. 449-461. 07-REVENAUGH, A. F. Computed tomography and magnetic resonance imaging in veterinary dentistry and oral surgery diagnostics. In: DEFORGE, D. H. ; COLMERY, B. H. An atlas of veterinary dental radiology. 1. ed. Ames: Iowa State University Press, 2000. p. 261-263. 08-FEENEY, D. A. ; FLETCHER, T. F. ; HARDY, R. M. Multiplanar imaging. In:___. Atlas of correlative imaging anatomy of the normal dog. Philadelphia: W.B Saunders Company, 1991. p. 335-352. 09-HATHCOCK, J. T. ; STICKLE, R. L. Principles and concepts of computed tomography. Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, v. 23, n. 2, p. 399-415, 1993.

principais indicações

cabeça e

cavidade nasal e seios paranasais

rinite, neoplasias

pescoço

cavidade oral

fraturas ou neoplasias de palato duro, maxila e mandíbula

região cervical

avaliação de linfonodos regionais

bula timpânica e canal auricular

otite, pólipos ou neoplasia

articulação temporomandibular crânio

fraturas, luxação, anquilose, processos degenerativos ou neoplásicos fraturas, fissuras ou neoplasias

encéfalo

neoplasias, dilatação ventricular, hemorragia (menos sensível do que a ressonância magnética)

axial

hérnia de disco, fratura, neoplasias óssea ou de partes moles, processos degenerativos extensão de neoplasias ósseas e de partes moles, displasia do cotovelo e fraturas articulares

musculoesquelético

apendicular

tórax

abdômen

campos pulmonares e mediastino

massas/metástases pulmonares (mais sensível que as radiografias), massas mediastinais, complementar ao exame radiográfico nos diagnósticos indeterminados neoplasias, ureter ectópico

A TC possibilita guiar procedimentos invasivos para coleta de material para exames citológicos, histopatológicos, microbiológicos, colocação de drenos, entre outros Figura 9 - Apresentação, por regiões, das principais afecções em pequenos animais em razão das quais se sugere a realização da tomografia computadorizada

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Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010



Guia prático de necropsia cosmética em animais de companhia: descrição da técnica e considerações sobre sua aplicação

Breno Souza Salgado MV, mestrando - FMB/Unesp-Botucatu

brenosalgado@globo.com

Thaís Larissa Lourenço Castanheira Médica veterinária patologista

thaisllcastanheira@gmail.com

Gabriel Domingos Carvalho MV, mestre, doutorando - UFV, prof. - UNIVIÇOSA

gabriel@univicosa.com.br

Gisele Fabrino Machado MV, mestre, dra., profa. ass. FMVA/Unesp-Araçatuba

Practical guide for pet cosmetic necropsy: description of the technique and considerations about its application

giselem@fmva.unesp.br

Daniela Bernadete Rozza MV, mestre, dra., profa. ass. FMVA/Unesp-Araçatuba

danielarozza@fmva.unesp.br

Guía practico de la necropsia cosmética en animales de compañía: descripción de la técnica y consideraciones sobre su aplicación Resumo: A necropsia é um exame post mortem criterioso que auxilia no diagnóstico clínico e que consiste na análise externa e interna das cavidades corporais e órgãos de um cadáver, no intuito de elucidar a causa da morte ou verificar a extensão e a natureza das lesões provocadas pelas doenças. Considerando o vínculo existente entre proprietários e animais de estimação, muitos médicos veterinários visualizam a necropsia como uma tarefa difícil de ser realizada. Na medicina veterinária a necropsia é geralmente negligenciada, mesmo sendo uma prática muito importante tanto para o aprendizado do profissional quanto para a obtenção de um diagnóstico fidedigno de algumas doenças. Por essas razões, este artigo objetiva descrever o método de realização da necropsia cosmética, que mantém as características externas dos animais e aumenta a aceitação dos proprietários, por não desfigurar o cadáver. Unitermos: patologia, necropsia, vínculo homem/animal de estimação Abstract: Necropsy is a careful post-mortem exam that helps clinical diagnosis. It consists of the external and internal analysis of body cavities and organs of a corpse in order to determine the cause of death or to verify the extension and the nature of lesions caused by diseases. Many veterinarians regard necropsy as a difficult task, due to the bonds between owners and their pets. Necropsy in often neglected in veterinary medicine despite being a very important practice for professional learning and for reaching a reliable diagnosis of certain diseases. For this reason, this article describes how to perform a cosmetic necropsy, which increases the acceptance of owners by keeping the external appearance of the corpse relatively intact. Keywords: pathology, necropsy, human-pet bonding Resumen: Necropsia es un examen post-mortem criterioso que ayuda en el diagnóstico clínico y que se basa en el examen externo y interno de las cavidades corporales y órganos de un cadáver, con el fin de determinar la causa de la muerte o verificar la extensión y naturaleza de lesiones provocadas por enfermedades. Considerando el vínculo existente entre dueños y animales de compañía, muchos veterinarios acaban por ver la necropsia como una tarea difícil. En medicina veterinaria la necropsia muchas veces no es realizada aunque tenga suficiente importancia para el aprendizaje profesional y para obtener un diagnóstico fiable de determinadas enfermedades. En consecuencia, el objetivo del presente trabajo es la descripción de la técnica de realización de la necropsia cosmética, que mantiene las características externas de los animales y favorece la aceptación de los dueños ya que no ocurre la desfiguración del cuerpo. Palabras clave: patología, necropsia, vínculo ser humano-animal

Clínica Veterinária, n. 87, p. 66-70, 2010

Introdução O vínculo entre proprietários e seus animais tem evoluído a um ponto no qual os animais de companhia são considerados mais que isso – são tidos também como membros da família 1,2. Essa é uma particularidade principalmente relativa a cães e gatos, que têm sido elevados a uma posição na sociedade cujas principais funções são prover companhia, 66

criar vínculo de amizade com seu proprietário e preencher o espaço deixado por pessoas próximas 3. Sendo assim, nos casos de morte, o cadáver do animal recebe igual respeito e a partir disso não é incomum encontrar proprietários que se opõem à realização de um exame post mortem convencional em seus animais, podendo, assim, dificultar um diagnóstico mais preciso.

Roselene Ecco MV, mestre, dra., profa. adj. - EV/UFMG

ecco@vet.ufmg.br

A necropsia (do grego nekros: morte ou cadáver, e opsis: ação de ver ou examinar) é um exame criterioso externo e interno de um cadáver com a finalidade de definir a causa mortis. Entende-se por causa mortis as doenças, os estados mórbidos e as lesões que ocasionaram a morte ou contribuíram para que ela ocorresse. Portanto, necropsia é o estudo da morte e de tudo que se relaciona com ela, tendo como centro o cadáver e, como epicentro, descobrir a causa da morte 4. A realização da necropsia é necessária para responder às questões clínicas, revelar informações que não foram previamente identificadas quando o paciente ainda estava vivo e direcionar para a tomada de decisões futuras 5. Acima de tudo, é uma ferramenta de aprendizado não só para o patologista como também para o clínico, permitindo que tais profissionais relacionem achados prévios com aqueles demonstrados pela necropsia, sendo assim um excelente meio de educação continuada 4,6. Muitas vezes, os proprietários não se opõem ao propósito da necropsia em si, mas optam por não realizá-la devido aos procedimentos utilizados na técnica, que consiste no desmembramento do cadáver em várias partes corporais, retirando-se dele todos os órgãos e estruturas. Isso obviamente não é de interesse de muitos proprietários, que gostariam de dar ao

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Execução da técnica e colheita de material De maneira semelhante ao que é

preconizado no exame post mortem rotineiro, deve-se analisar a história clínica e realizar uma avaliação externa rigorosa do animal. É importante lembrar que o exame post mortem deve ser realizado com o uso de paramentação adequada (macacões, aventais, jalecos, botas plásticas, luvas, óculos de proteção e máscara cirúrgica) e em local restrito ao acesso público, livre de insetos, coberto, com fonte de água corrente e luz de boa qualidade 4,8. Como o exame necessita da realização de incisões no cadáver animal, faz-se necessário discutir previamente com o proprietário a técnica a ser utilizada, bem como obter a sua autorização por escrito para a execução da necropsia no animal. O principal fator a ser definido para a realização de uma necropsia cosmética é limitar o número de incisões. Ao planejá-las, algumas questões devem ser consideradas, como o local e o tamanho das incisões, considerando sempre a acessibilidade aos órgãos. Na técnica de necropsia cosmética, o mais indicado é que o cadáver do

animal fique posicionado em decúbito dorsal, com os membros amarrados à mesa para estabilizar a carcaça. A partir da região xifoidiana esternal até a região da cicatriz umbilical, deve-se fazer uma incisão longitudinal na pele com o uso de um instrumento cortante (faca Magarefe ou bisturi, preferencialmente). A pele e a musculatura do abdômen devem ser dissecadas para propiciar o acesso à cavidade abdominal (Figura 1). Com a cavidade abdominal exposta, deve-se observar se há ou não a existência de líquidos. Em caso afirmativo, tais líquidos devem ser analisados e sua Daniela Bernadete Rozza

animal de estimação um funeral, e muitas vezes temem que o cadáver seja manuseado de forma desrespeitosa. Esse pensamento é similar ao que ocorre entre os seres humanos 5,6, tendo em vista a posição atual dos animais na sociedade. Nesse contexto, é necessário ter em mente a possibilidade de realizar uma necropsia cosmética (do grego kosmetikós: o que serve para ornamentar), utilizando procedimentos que limitam as ações que desfigurem o cadáver. Cabe lembrar que a necropsia não é um simples retalhamento ou um esquartejamento do animal, mas sim uma análise sistemática e científica de um cadáver, que deve ser realizada com todo o respeito 7. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é fornecer um guia prático de execução da técnica de necropsia cosmética, bem como atentar para as vantagens e desvantagens da sua realização dentro da rotina médico-veterinária.

Figura 1 - Incisão longitudinal pré-umbilical sobre a linha alba

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Daniela Bernadete Rozza

Daniela Bernadete Rozza Daniela Bernadete Rozza

Figura 2 - Incisão no diafragma e realização de prova de pressão negativa

Daniela Bernadete Rozza

Figura 6 - Retirada do conjunto constituído pelo fígado, a vesícula biliar, o estômago e o duodeno

Daniela Bernadete Rozza

Figura 3 - Retirada do baço e do omento

Daniela Bernadete Rozza

Figura 7 - Evisceração do conjunto urinário

Figura 4 - Ligadura dupla cranial ao pâncreas, permitindo a separação do duodeno e do estômago

Figura 5 - Ligadura no esôfago próximo à cárdia

Daniela Bernadete Rozza

Figura 8 - Excisão dos testículos

Daniela Bernadete Rozza

quantidade mensurada, utilizando-se para isso seringas, conchas e provetas. Uma vez localizado o diafragma, ele deve ser perfurado com instrumento cortante (bisturi ou faca) de modo a se avaliar a presença ou não de pressão negativa na cavidade torácica (Figura 2). Em seguida, são retirados o baço e o omento maior (Figura 3), sendo posteriormente realizada no intestino dupla ligadura cranial ao pâncreas (Figura 4) e outra caudal à bexiga, permitindo assim a extração do segmento intestinal do jejuno até a porção inicial do reto. Na altura do hiato esofágico, deve ser feita a ligadura do esôfago (com barbante, linhas ou outro material de amarrio) (Figura 5), de modo a permitir a retirada do fígado e da vesícula biliar, ainda conectados ao duodeno e ao estômago, com posterior verificação de eventual obstrução das vias biliares (Figura 6). Os rins devem ser localizados e liberados da cavidade abdominal, juntamente com os ureteres e bexiga (Figura 7). É recomendado que um dos rins seja marcado com uma incisão sobre a sua superfície natural, utilizando-se instrumento cortante para posterior discriminação entre rim direito e esquerdo. No caso de fêmeas, devem ser retirados em conjunto o útero, os ovidutos e os ovários (realizar procedimento de marcação tal qual efetuado para os rins). Em machos, duas incisões no escroto podem ser realizadas para expor as gônadas masculinas, permitindo assim sua excisão (Figura 8). O acesso à cavidade torácica é obtido cortando-se o diafragma em suas regiões de aderência ao gradil costal interno. Para a retirada dos órgãos da cavidade torácica são realizadas incisões nas inserções dos ossos hioides através da cavidade oral, de modo a liberá-los (Figura 9). Após isso, com acesso através da cavidade abdominal, localiza-se o esôfago e o conjunto cardiorrespiratório na entrada da cavidade torácica, incidindo-os e liberando assim essas estruturas, que devem ser separadas para exame posterior (Figura 10). Após a remoção dos órgãos abdominais e torácicos, um meio (como jornal ou papel-toalha) embebido em solução de formol a 20% deve ser colocado dentro da carcaça para diminuir o extravasamento sanguíneo para o exterior do

Figura 9 - Incisão na inserção dos ossos hioides pela cavidade oral

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010


Daniela Bernadete Rozza

Daniela Bernadete Rozza

Daniela Bernadete Rozza

Daniela Bernadete Rozza

animal, mantendo-se a estrutura corpórea o mais próximo possível do normal. O exame do encéfalo não deve ser excluído, principalmente em casos de suspeita de neuropatias. Para remover o encéfalo da caixa craniana, faz-se uma incisão na pele a partir da região frontal da cabeça, baseando-se no plano sagital mediano, até a primeira vértebra cervical. Posteriormente, a musculatura temporal é rebatida, facilitando assim a remoção da calota craniana (Figura 11). Os ossos frontais, parietais, temporais e a crista occiptal são osteotomizados com o auxílio de uma serra ou machadinha, martelo e escopro. É importante ter cuidado para não danificar o encéfalo. Após a remoção da calota craniana, com o auxílio da tesoura cortamse as meninges, expondo assim cérebro e cerebelo (Figura 12). Ainda com a utilização de tesouras, os nervos cranianos e o quiasma óptico são seccionados, para facilitar a remoção do encéfalo.

Figura 11 - Incisão e separação da pele da cabeça do animal para retirada do encéfalo

Daniela Bernadete Rozza

Figura 13 - Dermorrafia pré-umbilical Figura 10 - Retirada do conjunto de órgãos torácicos pela cavidade abdominal

Figura 14 - Dermorrafia da região cefálica

Figura 12 - Remoção da calota craniana e exposição do encéfalo

A medula espinhal, por sua vez, pode ser retirada tanto por incisão na pele e na musculatura dorsalmente à sua localização ou pelo acesso às vértebras, conseguido na incisão abdominal previamente realizada. Os processos transversos devem ser osteotomizados (com auxílio, preferencialmente, de um costótomo), possibilitando a retirada do processo

espinhoso ou do corpo da vértebra (dependendo do local de acesso), permitindo assim a retirada da medula espinhal. Após a retirada dos órgãos cavitários para análise, as incisões feitas no cadáver do animal devem ser suturadas, e as manchas de sangue e outros fluidos corpóreos, limpos (Figura 13). Na região cefálica, a calota craniana deve ser reposicionada em seu local original e, na sequência, a pele que recobre a área deve ser suturada (Figura 14).

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Amostras de todos os órgãos devem ser fixadas em solução de formol a 10%, para posterior realização de exame histopatológico. A melhor zona para a coleta é a zona de transição entre a lesão e o tecido normal adjacente 9. Deve-se evitar a coleta de amostras muito pequenas ou fragmentadas, que correm o risco de se perderem na manipulação ou não conterem material suficiente para o processamento e a análise, impedido assim a emissão de um diagnóstico 9. Sugerem-se amostras com dimensão aproximada de no máximo de 1cm x 1cm x 1cm, para melhor penetração do formol e consequente fixação de melhor qualidade. É importante armazenar as amostras em frasco de boca larga, para melhor manuseio por parte do patologista veterinário 4. Se necessário, coletam-se amostras para exames microbiológicos ou toxicológicos, se a anamnese ou os achados clínicos indicarem alguma doença infecciosa ou intoxicação 4,10,11,12. Para amostras de interesse toxicológico, coletam-se amostras de rim, fígado (cada um de 50 a 100g) e todo o conteúdo gástrico, estocando-os em sacos plásticos e mantendo-os sob refrigeração para envio aos centros de análise competentes. Quando for necessária a colheita de sangue (devendo ser colhidos de 10 a 20mL), esta pode ser armazenada em tubos sem anticoagulantes, exceto para a análise de chumbo, para a qual o sangue deve ser armazenado em tubos contendo heparina ou EDTA 13. Para amostras microbiológicas, por sua vez, devem ser obtidas amostras livres de contaminantes (utilizando-se de precauções de assepsia semelhantes às utilizadas para procedimentos cirúrgicos), usando instrumentos como agulhas, seringas e tesouras esterilizadas e alocando as amostras em sacos plásticos ou tubos de coleta próprios com meios de cultivo adequados, substâncias anticoagulantes, etc., para posterior resfriamento 4,8,14,15. Considerações finais Com o recente avanço das técnicas de diagnóstico ante mortem, muitos profissionais têm negligenciado a execução do exame post mortem do animal 11. Entretanto, essa prática ainda 70

constitui uma ferramenta importantíssima de diagnóstico e proporciona uma correlação melhor entre os sinais clínicos apresentados por um animal em vida com as lesões e achados macroscópicos observados após a morte, validando os achados ante mortem e muitas vezes encontrando outros que não foram aparentes durante a vida 4,8,14. A necropsia convencional tem menor aceitação junto aos proprietários por não manter o aspecto externo dos animais e desfigurar os cadáveres. A técnica de necropsia cosmética, por sua vez, aumenta a aceitação do procedimento pelos proprietários ao seguir o mesmo princípio das autópsias humanas não desfigurativas, que possibilitam a realização do exame post mortem de forma que ao final de sua execução o cadáver esteja o mais próximo possível de seu estado externo original 14. Isso confere as condições ideais para a avaliação da conduta médica e terapêutica ao compará-las com os achados de necropsia, prática fundamental na instituição do diagnóstico, aprendizado e controle da qualidade da atividade do médico veterinário. É importante ressaltar que a necropsia cosmética baseia-se na preservação de cadáveres, o que torna interessante sua aplicação também nos animais silvestres ou selvagens para fins científicos e educacionais 16-18, visto que atualmente os clínicos têm se mostrado cada vez mais interessados na medicina de animais de companhia exóticos 19. Salienta-se também que a necropsia cosmética é uma técnica de maior custo do que a convencional, já que oferece dificuldades de execução, necessitando de mais tempo para a realização das incisões, a retirada dos órgãos e as dermorrafias, além de requerer pessoal especializado. Nesse contexto, ressalta-se a importância da supervisão e do auxílio do patologista veterinário, figura indispensável para que se consiga uma análise acurada da causa da morte 14. Referências 01-BROWN, S. The human-animal bond and self psychology: toward a new understanding. Society and Animals, v. 12, n. 1, p. 67-86, 2004. 02-LORENZ, K. E o homem encontrou o cão... Relógio D'Água editores, 258p. , 1997.

03-ALLEN, K. M. Coping with life changes & transitions: the role of pets. Interactions, v. 13, n. 3, p. 5-6, 8-10, 1995. 04-SILVA, J. C. P. VARGAS, M. I. V. Necropsia em medicina veterinária. 3. ed. Editora UFV. 36 p. 2005. 05-HULL, M. J. ; NAZARIAN, R. M. ; WHEELER, A. E. ; BLACK-SCHAFFER, W. S. ; MARK, E. J. Resident physician opinions on autopsy importance and procurement. Human Pathology, v. 38, n. 2, p. 342-350, 2007. 06-BURTON, J. L.; UNDERWOOD, J. C. E. Clinical, educational and epidemiological value of autopsy. Lancet, v. 369, n. 9571, p. 14711480, 2007. 07-CARVALHO, H. V. Anatomia patológica criminal. Arquivos da Polícia Civil, v. 4, n. 2, p. 488, 1942. 08-SMITH, H. General principles of necropsy procedures. In: JONES, T. C. ; GLEISER, C. A. Veterinary necropsy procedures. Philadelphia, PA: B. Lippincot Company. p. 3-9, 1954. 09-PIRES, M. A. Recolha e envio de material para análise histopatológica. CONGRESSO DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS - 100 ANOS DA SPCV PROCEEDINGS OF THE VETERINARY SCIENCES CONGRESS, 2002, Taguspark-Oeiras: SPCV, 2002. p. 229238. 10-BENBROOK, E. A. The importance of necropsy. In: JONES, T. C. ; GLEISER, C. A. Veterinary necropsy procedures. Philadelphia, PA: B. Lippincot Company. p. 1-2. 1954. 11-PEIXOTO, P. V. ; BARROS, C. S. L. A importância da necropsia em medicina veterinária. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 18 , n. 3, p. 3-4, 1998. 12-CONSTANTINESCU, G. M. Anatomia clínica de pequenos animais. Editora Guanabara Koogan. 355p. 2005. 13-OLIVEIRA, P. ; OLIVEIRA, J. ; COLAÇO, A. Recolha e envio de amostras biológicas para o diagnóstico de intoxicações em carnívoros domésticos. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 97, n. 544, p. 161169, 2002. 14-BAKER, R. D. ; ALVARADO, D. M. Tecnicas de necropsia. México: Talleres de Edimex. 175 p. 1969. 15-NIWAYAMA, G. Postmortem blood microbiology using sterile autopsy technique. The Tohoku Journal of Experimental Medicine, v. 105, n. 3, p. 247-256, 1971. 16-WOBOSER, G. Forensic (medico-legal) necropsy of wildlife. Journal of Wildlife Diseases, v. 32, n. 2, p. 240-249, 1996. 17-MUNRO, R. Forensic necropsy. Seminars in Avian and Exotic Pet Medicine, v. 7, n. 4, p. 201-209, 1998. 18-STROUD, R. K. Wildlife forensics and the veterinary practitioner. Seminars in Avian and Exotic Pet Medicine, v. 7, n. 4, p. 182-192, 1998. 19-KERWICK, C. M. ; MEERS, J. ; PHILLIPS, C. J. C. Training veterinary personnel for effective identification and diagnosis of exotic animal diseases. Journal of Veterinary Medical Education, v. 35, n. 2, p. 255-261, 2008.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010



Trauma medular em animais de companhia Spinal cord injury in companion animals Trauma medular en animales de compañía Resumo: As consequências do trauma medular são graves e a abordagem imediata dos pacientes é primordial para evitar a progressão dos danos e permitir a restauração da função neurológica. A medula espinhal sofre inicialmente um trauma primário que não pode ser evitado e é caracterizado por necrose tecidual no local do impacto. Após esse evento, inicia-se uma cascata de alterações celulares e moleculares que dão origem à lesão secundária, caracterizada por morte celular programada em áreas distantes do local primeiramente acometido. O entendimento dos mecanismos da lesão secundária pode favorecer a identificação de novas estratégias terapêuticas. A identificação e a localização precisas da lesão são primordiais para que seja possível uma intervenção apropriada, antecipando e amenizando as consequências em curto, médio e longo prazo. Como ainda não existe uma terapia capaz de reverter os danos decorrentes do trauma medular, busca-se, por meio dos recursos disponíveis até o presente momento, o incremento do potencial regenerativo dos neurônios lesados e a promoção de plasticidade dos circuitos sobreviventes. Unitermos: cães, gatos, neurologia, fisiopatologia, tratamento

Bruno Benetti Junta Torres MV, especialista, MSc., doutorando

brunobjtorres@yahoo.com.br

Fátima Maria Caetano Caldeira MV, MSc., doutoranda Depto. Clínica e Cirurgia Veterinárias - EV/UFMG

caldeirafat@yahoo.com.br

Karen Maciel de Oliveira MV, mestranda Depto. Clínica e Cirurgia Veterinárias - EV/UFMG

karenmacieloliveira@yahoo.com.br

Eliane Gonçalves de Melo MV, MSc, DSc, profa. assoc. Depto. Clínica e Cirurgia Veterinárias - EV/UFMG

elianemelo@ufmg.br

Abstract: The consequences of spinal cord injury are severe and the immediate patient assistance is paramount to prevent the progression of damage and allow the restoration of neurological function. The spinal cord is affected at first by a primary trauma that can not be avoided, which is characterized by tissue necrosis at the site of impact. This event triggers a cascade of cellular and molecular changes that lead to secondary injury, characterized by programmed cell death in distant areas from the first site damaged. Understanding the mechanisms of secondary injury may facilitate the identification of new therapeutic strategies. The identification and precise localization of the lesion are essential in order to intervene properly, anticipating and alleviating the consequences in short, medium and long terms. Since at the moment no therapy is able to revert damage resulting from spinal cord injury, one tries to increase the regenerative potential of injured neurons and promote plasticity of surviving circuits. Keywords: dogs, cats, neurology, physiopathology, treatment Resumen: Las consecuencias del trauma medular son severas y la asistencia inmediata de los pacientes es fundamental para prevenir la progresión de los daños y permitir el restablecimiento de la función neurológica. La médula espinal sufre una lesión primaria que no puede evitarse, que se caracteriza por necrosis del tejido en el lugar del impacto. Después de este evento se inicia una cascada de cambios celulares y moleculares que conducen a la lesión secundaria, que se caracteriza por muerte celular programada en las zonas alejadas de los primeros sitios afectados. La comprensión de los mecanismos de lesión secundaria puede facilitar la identificación de nuevas estrategias terapéuticas. La identificación y localización precisas de la lesión son esenciales a fin de intervenir adecuadamente, anticipar y minimizar las consecuencias a corto, mediano y largo plazo. Todavía no existe tratamiento capaz de curar el daño de la lesión espinal, por eso se busca por medio de los recursos disponibles por el momento, el aumento del potencial de regeneración de las neuronas lesionadas y la promoción de plasticidad de los circuitos supervivientes. Palabras clave: perros, gatos, neurología, fisiopatología, tratamiento

Clínica Veterinária, n. 87, p. 72-86, 2010

Introdução As espécies domésticas são frequentemente acometidas por afecções neurológicas, dentre as quais a lesão da medula espinhal é uma das mais comuns. Esse quadro patológico, além de comprometer a qualidade de vida, pode evoluir para a morte ou determinar a eutanásia do paciente acometido 1,2. O trauma medular é causado por fatores extrínsecos e/ou intrínsecos que acometem a coluna vertebral, a medula espinhal ou ambas. Os fatores extrínsecos incluem atropelamentos, quedas, chutes e pisoteios, mordidas e projéteis de armas de fogo e comumente acarretam fratura ou luxação vertebral 3,4. As causas intrínsecas compreendem protrusão ou extrusão do disco intervertebral, má-formação vertebral, fraturas 72

patológicas devido a osteopenia, osteomielite e massas compressivas extrameduares, como abscessos e neoplasias 5-7. Quando um paciente se apresenta com trauma agudo da medula espinhal, o tempo é seu maior inimigo. A abordagem terapêutica imediata é primordial para a restauração da melhor função neurológica possível, visto que a progressão dos danos teciduais encontra-se concluída entre oito e 24 horas após uma injúria aguda e grave. Portanto, para que um tratamento seja efetivo, ele deve ser instituído nesse período 8. Além do restabelecimento da função neurológica, o controle da dor e o curto período de hospitalização constituem objetivos importantes no tratamento da lesão medular, evitando

assim complicações em longo prazo. Dessa maneira, busca-se o incremento do potencial regenerativo dos neurônios lesados, seja pela limitação das consequências do dano celular secundário ao trauma inicial, seja pela promoção de plasticidade em circuitos sobreviventes por meio de procedimentos de reabilitação 9-11. Estudos abordando a fisiopatologia das injúrias medulares têm se tornado cada vez mais frequentes. Existe um expressivo interesse em reconhecer e entender os mecanismos de degeneração e reparo neuronais, a fim de aumentar as chances de sucesso da recuperação dos pacientes 12. Diante dessa afecção que acarreta disfunções consideráveis, o objetivo que se impõe é descobrir um medicamento capaz de reverter o quadro patológico e que possa ser empregado nas medicinas humana e veterinária. Portanto, a presente revisão tem por finalidade aproximar do médico veterinário o conhecimento profundo dos mecanismos da lesão envolvidos no trauma medular, discorrer sobre os sinais clínicos e a localização das lesões, os tratamentos experimentais e correntes, e os demais cuidados de que nossos pacientes necessitam em longo prazo.

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010


Karen M. Oliveira e Bruno B. J. Torres

Karen M. Oliveira e Bruno B. J. Torres

Figura 1 - Representação esquemática anatômica de corte transversal da medula espinhal íntegra de cães e gatos

Figura 2 - Representação dos eventos progressivos da injúria medular, desde o trauma mecânico agudo até as lesões secundárias subsequentes. Horas após a lesão primária, caracterizada por necrose tecidual local, há degeneração walleriana e morte celular por apoptose nos segmentos medulares cranial e caudalmente adjacentes ao local do trauma inicial

Fisiopatogenia do trauma medular Eventos primários A transferência de um impacto mecânico para a medula espinhal resulta em ruptura de vasos sanguíneos, de corpos neuronais, de axônios e de demais células nervosas (ver Figura 1 para revisão anatômica da medula espinhal íntegra). Esse impacto é considerado a causa da lesão medular primária e a gravidade das alterações histológicas será proporcional à magnitude do trauma inicial (Figura 2) 13-15. A lesão primária não pode ser evitada e em seu estágio agudo ocorre destruição da barreira hematoencefálica e dos vasos sanguíneos locais. A injúria vascular gera hemorragia, edema e isquemia locais e, na presença de hipoxia e hipoglicemia, o metabolismo torna-se anaeróbio, instaurando-se acidose lática. O conjunto desses eventos resulta em necrose hemorrágica central da substância cinzenta, que se inicia dentro de aproximadamente quinze minutos após o trauma. A degeneração neuronal é observada por volta de uma a quatro horas depois, e após cerca de quatro a oito horas ocorrem edema e tumefação

axonal focal na substância branca 1,16-18. Dependendo da gravidade da lesão, a necrose vai se estender em sentido cranial e/ou caudal. Enquanto nos traumas moderados a medula apresenta cavitações císticas centrais, em alguns casos mais graves toda a medula se torna necrótica e sofre liquefação, sendo mantida no lugar apenas pelas meninges (Figuras 3 e 4) 7. As razões para o envolvimento preferencial da substância cinzenta não foram ainda totalmente esclarecidas. Contudo, a disposição e a compactação das substâncias branca e cinzenta são fatos contributivos. Em contraste com as fibras intimamente compactadas na substância branca, os neurônios e seus processos estão frouxamente dispostos na cinzenta e, portanto, são mais predispostos à separação pela hemorragia e pelo edema. A predominância de hemorragias na substância cinzenta também pode ser associada à sua grande rede capilar, suscetível ao trauma mecânico. O aumento da pressão intramedular espinhal pós-traumática também está mais concentrado centralmente, predispondo essa área a lesões mais intensas. Além

disso, a maior demanda metabólica da substância cinzenta em comparação à substância branca é fator adicional para sua maior susceptibilidade ao trauma, em particular durante os períodos de isquemia 17. As alterações vasculares produzem diminuição do aporte de adenosina trifosfato (ATP), gerando disfunção de processos dependentes de energia, como a bomba de sódio e potássio, responsável pela preservação da homeostase celular. De maneira concomitante, o edema que comprime os tecidos produz variação anormal nas concentrações de eletrólitos (cálcio, sódio e potássio) no líquido intersticial. Tais alterações interferem na excitabilidade e na transmissão sináptica, o que justifica a possível interrupção da condução do estímulo nervoso imediatamente após o trauma 2,19. Seguindo-se à lesão vascular, instaura-se um processo inflamatório e imunológico que inibe a reparação axonal 13. As respostas imunomediadas envolvem componentes celulares (neutrófilos, macrófagos e células T) e componentes não celulares (citocinas e prostaglandinas). Aproximadamente entre três a seis Bruno Benetti Junta Torres

Bruno Benetti Junta Torres

Bruno Benetti Junta Torres

Figura 3 - Fotomicroscopias de secções transversais da medula espinhal de ratos Wistar coradas em H.E. A) Medula espinhal morfologicamente normal, circundada pelas meninges, dividida em substâncias branca (SB) e cinzenta (SC). A seta indica o canal ependimário. B) Epicentro de medula com lesão aguda, mostrando vários focos de malácia extensa e grave tanto da substância branca como da cinzenta (22,1x). C) Degeneração axonal em segmento adjacente ao epicentro de lesão (25,3x)

Clínica Veterinária, Ano XV, n. 87, julho/agosto, 2010

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Bruno Benetti Junta Torres

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Bruno Benetti Junta Torres

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Figura 4 - Fotomicroscopias de secções da medula espinhal de ratos Wistar coradas em HE (A a F) ou Tunel (G) mostrando detalhes de lesões medulares. A) Degeneração walleriana observada em corte longitudinal (441,7x). B) Células Gitter (setas) em área de malácia (559,4x). C) Degeneração de raiz nervosa dorsal em corte transversal (326,8x). D) Gliose e câmara de digestão (asterisco) em área de malácia (327,1x). E) Corte transversal de segmento adjacente ao epicentro contendo neurônios com características de apoptose (setas finas) e neurônios íntegros (seta cheia) (435,7x). F) Área de malácia em corte transversal apresentando neurônios com características de apoptose (seta fina) e neuroniofagia (seta cheia) (285,5x). G) Núcleos de corpos neuronais (setas) com características apoptóticas marcados com Tunel em corte transversal de segmento adjacente ao epicentro da lesão (368x)

horas após o trauma, o local é invadido por neutrófilos que secretam enzimas líticas e citocinas, as quais podem, no futuro, danificar o tecido e acionar outras células inflamatórias. Monócitos e macrófagos são recrutados e as micróglias residentes no local são ativadas. Essas células contêm lisossomos e vacúolos 74

de aspecto espumoso (células Gitter) (Figura 4B), que iniciam o processo de fagocitose do tecido lesado e resultam na formação de cavitações. Essas e outras células reativas produzem citocinas como fator de necrose tumoral (TNF-_), interleucinas e interferons, que, além de mediadores da resposta inflamatória,

também vão contribuir para futuros danos teciduais 15,20-23. A redução do fluxo sanguíneo para o segmento lesado é ocasionada por alteração anatômica do canal vertebral, hemorragia, edema e redução da pressão sistêmica, que acarretam uma lesão medular adicional, denominada lesão secundária. Dessa forma, a produção e o acúmulo de metabólitos resultantes de necrose tecidual (devido ao impacto primário) e o desequilíbrio de eletrólitos intra e extracelulares, ocasionados pela redução do fluxo sanguíneo local, provocam a morte de células nervosas e de axônios que não foram inicialmente lesados, inclusive em áreas distantes do ponto de impacto mecânico inicial 15,22,24,25. Eventos secundários A fisiopatologia da lesão secundária é complexa e ainda não está completamente esclarecida. Entretanto, sabe-se que ocorre uma cascata de mecanismos bioquímicos, moleculares, intra e extracelulares, desencadeada pela necrose inicial, que sinaliza as células adjacentes para uma morte programada, conhecida como apoptose celular (Figura 5). A morte celular por apoptose pode ser detectada horas, dias e até semanas após a injúria medular inicial em diversos tipos celulares, incluindo neurônios, células da glia e células inflamatórias, dentre elas neutrófilos, micróglias e macrófagos 20,22,23,26-28. A transmissão sináptica é dependente de íons cálcio, que têm papel primordial na regulação da permeabilidade dos íons sódio e potássio durante a excitação neuronal, atuando ainda no controle das atividades de enzimas e no armazenamento e na liberação dos neurotransmissores em suas respectivas vesículas sinápticas 2,19. Imediatamente após o trauma, ocorre uma despolarização induzida mecanicamente, acompanhada pela abertura dos canais iônicos dependentes de voltagem. Isso permite uma maciça liberação de neurotransmissores, incluindo o glutamato, o mais importante neurotransmissor excitatório do sistema nervoso central 17,29,30. O glutamato atua por meio da ligação às proteínas receptoras específicas, denominadas receptores glutamatérgicos, que são divididos em dois grandes grupos, de acordo com sua estrutura e seus mecanismos de ação: ionotrópicos e

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Em circunstâncias normais, o glutamato é rapidamente removido da fenda sináptica por mecanismos existentes nos neurônios présinápticos e nos astrócitos vizinhos, que interrompem sua ação. Entretanto, quando ocorre uma lesão medular aguda, a concentração extracelular de glutamato se torna elevada, causando superestimulação de receptores excitatórios e elevação das concentrações de cálcio e sódio intracelular, predispondo a toxicidade e à morte neuronal 21,33. Essa lesão neuronal permite a liberação e manutenção de mais glutamato no espaço extracelular, perpetuando a cascata degeFigura 5 - Principais mecanismos envolvidos na fisiopatogenia do trauma medular agudo em cães e gatos nerativa 21. O conjunto dos efeitos deletérios das células provocados pela metabotrópicos. Os receptores ionotróestimulação excessiva dos receptores picos estão associados a canais iônicos glutamatérgicos é conhecido como excie, quando ativados, permitem a entrada totoxicidade 20,22,30,31. de cátions (cálcio e sódio) na célula, O desequilíbrio do sódio também imcausando uma despolarização da memplica a fisiopatologia da lesão medular, brana neuronal. Já os receptores metaem particular nas lesões de axônio e de botrópicos estão associados a proteínas componentes da glia. O aumento do sóG, agindo por meio de sinalização intradio intracelular ocorre por meio do incelular por mensageiros 29,30. Os receptofluxo realizado pelos canais dependenres ionotrópicos, por sua vez, subdivites de voltagem e dos associados aos redem-se em receptores N-metil-D-asparceptores de glutamato, além da troca tato (NMDA), _-amino-3-hidroxi-5cálcio-sódio, na qual o cálcio é transmetil-4-isoxazol ácido propiônico portado para fora da célula em troca de (AMPA) e kainato 29-31. Embora a ativasódio. O acúmulo deste último aumenta ção dos receptores AMPA e kainato rea quantidade de água no interior dos sulte em influxo de sódio do meio extraaxônios, levando-os à morte 22,24,25. celular, alguns subtipos também são Como visto anteriormente, o acúmupermeáveis ao cálcio. Em contraste, os lo do cálcio intracelular ocorre por meio receptores NMDA são responsáveis do influxo realizado pelos canais depenprincipalmente pela entrada de cálcio na dentes de voltagem e pelos canais assocélula 30-32.

ciados aos receptores NMDA. Além disso, o principal incremento intracelular desse íon ocorre pela ativação dos receptores metabotrópicos, que leva ao metabolismo de fosfolipídios de inositol. Esses, por sua vez, são responsáveis pela mobilização de reservas intracelulares de cálcio ao estimularem os receptores rianodina (RYR) nas mitocôndrias e no retículo endoplasmático. Por outro lado, os receptores metabotrópicos inativam os transportadores de cálcio dependentes de energia, cuja função é bombear o cálcio citoplasmático através da membrana celular, ou sequestrá-lo para dentro de compartimentos como a mitocôndria e o retículo endoplasmático, mantendo assim esse íon em altas concentrações citoplasmáticas. A ativação dos receptores NMDA também resulta na mobilização das reservas intracelulares de cálcio 32. O aumento de cálcio intra-axonal inicia-se cerca de trinta minutos após a lesão e aproximadamente oito horas depois atinge seu valor máximo, permanecendo em elevadas concentrações por até uma semana 2. Tal acúmulo permite desencadear uma amplitude de processos calciodependentes, que alteram letalmente o metabolismo celular dos neurônios remanescentes. Esses processos incluem: 1) disfunção da fosforilação oxidativa mitocondrial, levando à falência do metabolismo aeróbio e ao acúmulo de ácido láctico; 2) ativação de óxido nítrico sintetase (NOS) mitocondrial e citoplasmático e produção de óxido nítrico; 3) ativação de fosfolipases C e A2, que alteram as membranas celulares, liberando ácidos graxos poli-insaturados e produzindo ácido araquidônico, que será convertido pelas enzimas cicloxigenases (COX 1 e 2) e lipoxigenases (LOX). As COX convertem o ácido araquidônico em prostanoides deletérios, como as potentes prostaglandinas vasoconstritoras (PGF2_) e os tromboxanos (TXA2), que são vasoconstritores e promotores de agregação plaquetária. As LOX convertem o ácido araquidônico em leucotrienos (LTS), quimiotáticos para leucócitos polimorfonucleares e macrófagos; 4) ativação das calpaínas e caspases, que são proteases de cisteína dependentes de cálcio que modulam diversos substratos, incluindo proteínas citoesqueléticas, e contribuem para a transdução do sinal apoptótico 20,22,27,29,34,35.

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Uma das principais consequências da disfunção mitocondrial, da atividade das COX e das LOX e da ativação de NOS é a formação de radicais livres de oxigênio (RLO), os quais promovem alterações estruturais em proteínas, carboidratos, ácidos nucleicos e lipídeos, permitindo a formação de lipoperóxidos que destroem as membranas celulares 1,2,28,29. O trauma induz ainda a liberação de opioides endógenos, que exacerbam o processo da lesão secundária pela estimulação de receptores NMDA e pela ativação de receptores opiáceos, os quais contribuem para promover disfunção vascular e distúrbios iônicos e metabólicos 29. A morte de neurônios e oligodendrócitos interfere com a condução sináptica e induz a degeneração da mielina. O processo de degeneração axonal e de seu estrato mielínico distal ao local de separação do corpo neuronal é denominado degeneração walleriana. A degeneração dessas estruturas resulta numa série de segmentos ovoides conhecidos como elipsoides, que são removidos por macrófagos, deixando vacúolos residuais por toda a substância branca. A distribuição anatômica dessas alterações na medula espinhal reflete a organização das vias aferentes (sensitiva – corpos celulares caudais a lesão) e eferentes (motoras – corpos celulares craniais a lesão) da medula espinhal. Os vacúolos e axônios em processo de degeneração são mais evidentes nas colunas dorsolaterais (principalmente aferentes), cranialmente à lesão, e nas colunas ventrolaterais (principalmente eferentes), caudalmente à lesão. Nas Localização da lesão na medula espinhal* cervical (C1-C5) cervicotorácia (C6-T2) toracolombar (T3-L3) lombossacra (L4-S3) * Segmentos da medula espinhal

proximidades do local traumatizado, as terminações axonais ainda aderidas ao corpo celular tornam-se distendidas com o axoplasma, formando balões axonais 17. A partir de quatro horas depois do trauma, podem-se detectar células neuronais e gliais apoptóticas, com picos em oito e 24 horas respectivamente 20. Dentro de sete dias ocorre um aumento progressivo da área lesada e as cavitações aumentam, com mais morte neuronal e glial. Um terceiro pico de apoptose, dessa vez de oligodendrócitos, é detectado no sétimo dia, associado com o agravamento da degeneração axonal. Os oligodendrócitos tardiamente mortos reduzem a possibilidade de remielinização após a lesão axonal. Existem indícios de que os axônios, quando alterados, não produzem estímulo para a sobrevivência dos oligodendrócitos, ou seja, estes dependeriam dos axônios intactos para sobreviver 36. No período de uma a quatro semanas já existem áreas bem demarcadas de cavitações dentro das substâncias branca ou cinzenta, a degeneração walleriana é extensa e o tecido cicatricial é preenchido por astrócitos, outras células da glia e até por fibroblastos, representando os estágios finais da evolução histopatológica da lesão medular 24,37. Resposta ao trauma Uma vez destruídos os neurônios do sistema nervoso central, eles não serão substituídos, embora se possam formar novos padrões de circuito que carrearão impulsos nervosos. Tanto os oligodendrócitos quanto os astrócitos podem ser regenerados no SNC. A regeneração dos

paresia/paralisia hemiparesia ipsilateral até tetraplegia hemiparesia ipsilateral até tetraplegia paraparesia espástica até paraplegia paraparesia até paraplegia flácida (L4-S1); normal (apenas S2-S3)

Alterações clínicas e localização das lesões medulares A manifestação clínica do trauma medular depende de sua localização (Figura 6), sendo que a disfunção vai refletir a intensidade da lesão na substância branca ou cinzenta. O prognóstico

reflexos em membros torácicos normal a aumentado diminuído a ausente

reflexos em membros pélvicos normal a aumentado normal a aumentado

normal

normal a aumentado diminuído a ausente

normal

± Pode ou não estar presente

Figura 6 - Sinais clínicos das síndromes espinhais (adaptado de 41)

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oligodendrócitos possibilita a reposição da bainha de mielina nos axônios acometidos, levando assim à restauração de uma condução segura. Esse processo, entretanto, nem sempre ocorre de forma espontânea, por motivos ainda não esclarecidos, talvez devido a alterações de fluxo sanguíneo na região acometida ou à depleção da reserva dos progenitores de oligodendrócitos. Após a degeneração axonal, há proliferação e hipertrofia astrocítica, denominada astrocitose ou gliose reativa, que costuma evoluir, produzindo uma cicatriz prejudicial que atua como uma barreira, impedindo o crescimento axonal 17. Em alguns casos, ocorre o restabelecimento da função perdida após considerável dano tecidual. A função recupera-se espontaneamente, como resultado da resolução de lesões reversíveis, ou por meio da reorganização dos circuitos sobreviventes, um processo denominado “plasticidade”. Além disso, sinapses inativas podem ser convertidas em funcionais, formando novos padrões de circuitos alternativos 17. Esses processos tendem a ocorrer em tempos diferentes após a lesão. A reversão da disfunção geralmente ocorre de forma rápida após a lesão, em cerca de catorze dias, enquanto a plasticidade continuará ocorrendo por um período de semanas ou meses 16.

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outros sinais dor e rigidez cervical ± síndrome de Horner (T1-T2), perda ipsilateral do reflexo do músculo cutâneo do tronco (C8/T1) retenção urinária e fecal; ± postura de Schiff-Sherrington incontinência urinária e fecal; cauda flácida



é influenciado por fatores como grau, cronicidade e local da injúria medular 38,39. As consequências do trauma da medula espinhal variam desde compressão mínima em herniações discais discretas até ruptura completa da medula espinhal em fraturas vertebrais com deslocamento e, por isso, os níveis de deficiência neurológica variam de discreta ataxia, perda de propriocepção consciente e paresia até perda completa dos movimentos, que pode ser acompanhada de diminuição ou ausência da sensação de dor profunda 40,41. As afecções agudas e crônicas da medula espinhal são síndromes clinicopatológicas distintas, com diferentes sinais clínicos, graus de lesão e tempo de recuperação 14,17. Por isso, o tipo de trauma é um fator importante na avaliação da lesão 42,43. Uma compressão gradual lenta tem um prognóstico mais favorável que uma compressão aguda, pois possibilita a acomodação da medula espinhal e, assim, a disfunção neurológica inicial é menor. Nesse caso, não há hemorragia aguda e necrose e a função da medula permanece preservada 7,38,44. Clinicamente, o trauma crônico é caracterizado por déficit neurológico lentamente progressivo, diminuição da propriocepção e paresia, algumas vezes intercalados por períodos de normalidade. Nesse caso, a substância branca é a principal estrutura acometida com desmielinização e perda dos axônios 7,14. Já as lesões agudas são acompanhadas por hemorragia, reação inflamatória e edema, que começam na substância cinzenta e em poucas horas se estendem até a substância branca e segmentos

medulares adjacentes 5,38. A substância cinzenta é mais sensível ao trauma agudo e à isquemia que a substância branca 7 , conforme discutido anteriormente. A recuperação neurológica após uma compressão crônica é proporcional ao tempo de duração e, portanto, a descompressão precoce propicia melhores chances de reparação 7,13,14,43. Em cães, o canal vertebral é relativamente estreito comparado com o diâmetro da medula, em especial na região toracolombar, justificando assim a maior frequência de disfunções por compressão nesse local 1. As afecções espinhais toracolombares tendem a causar lesões mais graves que os cervicais, pois na região cervical o canal vertebral é proporcionalmente maior em relação à medula, o que determina maior tolerância à compressão. A região torácica é a mais estável da coluna vertebral do cão, sendo, em contrapartida, a junção toracolombar a de maior ocorrência de fraturas, luxações e discopatias 1,7,38,45. A gravidade dos déficits sensorial e motor está diretamente relacionada à intensidade da injúria e à área de tecido nervoso danificado. Portanto, o conhecimento da função das vias sensitivas e motoras da medula espinhal auxilia na determinação da intensidade e na localização da lesão medular (Figura 7) 46-52. O controle da locomoção é regulado pelos tratos contidos nos funículos ventrais e ventrolaterais, isto é, tratos reticuloespinhal, vestibuloespinhal e projeções do proprioespinhal. As lesões dos tratos dos funículos dorsais (corticoespinhal e rubroespinhal) danificam gravemente a precisão dos movimentos, mas permitem boa recuperação funcional locomotora,

incluindo a sustentação do peso. Entretanto, o controle refinado e o equilíbrio durante a locomoção permanecem deficientes 50,51,53. Quando o trauma agudo ocorre em uma área de substância cinzenta essencial para a locomoção, como nas intumescências cervical (C6- T2) e lombossacra (L4-S3), em geral os neurologistas afirman que o prognóstico tende a ser desfavorável, pois essa substância é mais sensível a esse tipo de injúria 54, mas os resultados de trabalho recente relacionado à doença do disco intervertebral que afeta a medula lombosacral contestam esse postulado 55. Como essas regiões inervam respectivamente os membros torácicos e pélvicos, uma lesão envolvendo a substância cinzenta de uma delas resultará em sinais de neurônio motor inferior (NMI) para os membros correspondentes 14,16,39 (Figura 8). Os sinais de uma lesão que afeta os neurônios motores inferiores são: fraqueza, diminuição ou ausência dos reflexos espinhais, diminuição do tônus muscular, paralisia flácida e atrofia muscular grave e precoce. Uma lesão grave da substância cinzenta no segmento cervical caudal, além de afetar os membros torácicos, pode danificar os neurônios que originam o nervo frênico, resultando em falência respiratória e até mesmo na morte do animal. Já uma lesão na intumescência lombossacra pode afetar a inervação da bexiga, determinando incontinência urinária 38 (Figura 6). Entretanto, se existe acometimento de área de substância cinzenta não essencial para os membros, como o segmento de T3 a L3, a lesão não vai acarretar déficit relevante sobre a locomoção e terá pouco significado clínico,

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Karen M. Oliveira e Bruno B. J. Torres

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Figura 7 - Representação esquemática de corte transversal da medula espinhal, mostrando as posições relativas dos tratos ascendentes e descendentes

Figura 8 - Representação esquemática dos segmentos medulares correlacionados com sinais clínicos de neurônios motores superior (NMS) ou inferior (NMI) para os membros torácicos e pélvicos, de acordo com a localização da lesão

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Tratamento do trauma medular Estabilização primária do paciente traumatizado O tratamento do paciente com traumatismo medular (Figura 10) deve começar durante seu resgate e transporte, momento no qual toda a coluna deve ser imobilizada com o objetivo de evitar lesões adicionais ou a complicação das já existentes. O principal objetivo do tratamento emergencial consiste na manutenção e no restabelecimento das funções vitais do paciente, das vias aéreas, da respiração e da circulação, de modo que o tratamento específico da lesão medular é realizado somente após a resolução dessa fase 57,58.

Após o trauma medular, o paciente desenvolve choque neurogênico, cuja gravidade está relacionada com a magnitude da injúria e com o nível de comprometimento anatômico. Embora a frequência cardíaca, a pressão sanguínea e o nível de catecolaminas possam estar momentaneamente aumentados após o trauma, geralmente são seguidos de bradicardia e de hipotensão prolongadas. Nessa etapa, o tratamento visa prevenir o desenvolvimento de hipotensão e hipoperfusão sistêmicas (que futuramente irão exacerbar a injuria isquêmica medular) por meio de monitoramento hemodinâmico e de fluidoterapia associada a suporte vasopressor, quando necessário 57,58. Karen M. Oliveira e Bruno B. J. Torres

pois nenhum grande grupo muscular ou órgão vital será desnervado 14,16,38,39. Nos traumatismos cervicais craniais ou toracolombares, os sinais clínicos refletem, primariamente, danos aos tratos ascendentes e descendentes da substância branca 38. Uma lesão da substância branca em qualquer local afeta a coordenação dos membros, produzindo paresia e ataxia, por interferir com a condução do impulso a partir e através de estruturas supraespinhais. A injúria da substância branca cranial a um membro produz sinais de neurônio motor superior (NMS) para aquele membro 16,39. A injúria do NMS causa tônus muscular normal ou aumentado (espasticidade), paresia ou paralisia tônica e reflexos espinhais exacerbados 56. Os tratos de substância branca da medula espinhal são compostos por fibras nervosas de diferentes diâmetros, a maioria das quais tem estrato mielínico. As fibras de diâmetro maior são mais suscetíveis a lesões por compressão do que as mais delgadas. É necessário um trauma grave na medula espinhal para interromper a sensação de dor profunda, carreada por fibras delgadas e amielínicas 39,54. Desse modo, em traumas e compressões medulares, a percepção de dor profunda caudal à lesão constitui o teste prognóstico mais importante do exame neurológico e é um indicador confiável da integridade fisiológica da medula espinhal 3,41,56. Portanto, a propriocepção consciente se perde em primeiro lugar, seguindo-se a atividade motora voluntária, a função de micção, a sensação da dor superficial e a sensação da dor profunda. A recuperação neurológica ocorre na ordem inversa, entretanto, a perda de propriocepção pode ser permanente 38 (Figura 9). Karen M. Oliveira e Bruno B. J. Torres

Figura 9 - Representação esquemática de corte transversal da medula espinhal, mostrando a relação entre o diâmetro da fibra, sua localização e respectivas funções

Figura 10 - Tratamento emergencial e de apoio do paciente com trauma medular agudo

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Não existe até o momento nenhum tratamento cirúrgico capaz de restaurar as funções da medula espinhal danificada; sendo assim, os objetivos do tratamento cirúrgico são reduzir, realinhar e estabilizar a coluna vertebral, de modo a evitar lesões adicionais e favorecer a sua recuperação. Uma vantagem adicional dos modernos métodos de fixação vertebral é a possibilidade da mobilização precoce dos pacientes sem a utilização de imobilização externa, o que facilita a reabilitação no período pósoperatório 57,59.

são utilizadas em caráter experimental. Corticoideterapia Os glicocorticoides têm sido exaustivamente pesquisados em trauma medular, por suas diversas ações moduladoras sobre os mecanismos secundários da lesão. Embora seus efeitos protetores sejam, na prática, alvos de controvérsia, esses fármacos são amplamente utilizados. Dentre seus efeitos benéficos estão a supressão do edema vasogênico, a restauração da barreira hematoencefálica, o aumento do fluxo sanguíneo medular, a estabilização das membranas lisossomais, a inibição da liberação de endorfinas hipofisárias, a alteração da concentração eletrolítica em tecidos lesados e a atenuação da resposta inflamatória. Todos esses efeitos são creditados à capacidade antioxidante desses agentes, que fazem a varredura de radicais livres de oxigênio, diminuindo assim a destruição tecidual induzida pela peroxidação lipídica 1,29,57,63. O succinato sódico de metilprednisolona apresenta propriedades antioxidantes superiores às da dexametasona e da hidrocortisona, por atravessar a membrana celular mais rapidamente e resultar em menor indução de neutropenia. Embora existam controvérsias sobre o uso de corticoideterapia no tratamento do trauma medular, a utilização da metilprednisolona em altas dosagens ainda tem sido o protocolo de eleição de alguns autores para pacientes que tenham

Modulação farmacológica da lesão secundária Como o trauma primário não pode ser evitado nem tampouco amenizado com tratamento farmacológico, os mecanismos secundários têm sido alvo de tais terapias. Cada agente terapêutico atua sobre um ou mais mecanismos da lesão secundária, objetivando conferir a neuroproteção e/ou a restauração do tecido lesado 15,60. Já foi demonstrada a capacidade de controle voluntário da movimentação em animais com apenas 5% a 10% de axônios íntegros no foco da lesão, o que justifica os esforços para a preservação ou a restauração do tecido nervoso lesado 61,62. A figura 11 sumariza os protocolos terapêuticos mais empregados pelos autores na terapia farmacológica do trauma medular de pequenos animais, sendo que as demais classes de drogas que serão citadas abaixo ainda Fármaco meloxicam

dose 0,2mg/kg

carprofeno

2,2mg/kg

frequência q24h

duração 28 dias

q12h

14 dias

q24h

até 90 dias

ou ou firocoxib

5mg/kg ou

prednisona (esquema de redução) omeprazol

complexo B tramadol

2mg/kg q12h 2mg/kg q24h 1mg/kg q24h 1mg/kg q48h adicionalmente 0,7 - 1,5mg/kg q12 - 24h

5 5 5 5

-

7 7 7 7

dias dias dias dias

durante todo o tratamento à base de anti-inflamatórios

1.000mg/10kg/dia

q24h

6 - 8 semanas

2mg/kg

q6 - 12h

5 - 10 dias

Figura 11 - Terapia farmacológica do paciente com trauma medular agudo

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sofrido trauma menos de oito horas antes. Após esse período, sua utilização parece ser ineficaz, pois sua capacidade de distribuição dentro da medula diminui rapidamente após a injúria, e a peroxidação lipídica instaurada poucas horas depois da lesão se torna irreversível. Alguns estudos afirmam que após oito horas esse fármaco seria prejudicial, agravando o resultado final das lesões. Dentre os principais efeitos deletérios relatados podemos citar a inibição da remielinização, a supressão do sistema imunológico e a indução de ulceração gastrintestinal 17,29,64-66. Lazaroides Também conhecidos como 21-aminosteroides, possuem propriedades antioxidantes e aumentam a estabilidade das membranas. Atuam sobre os receptores não esteroidais, por isso são denominados agentes antioxidantes não glicocorticoides. O mezilato de tirilazade é um agente que, em modelos animais, mostrou ser cem vezes mais potente que a metilprednisolona na inibição da peroxidação lipídica, sendo também capaz de aumentar o fluxo sanguíneo medular e de reverter a isquemia. Sua ação está relacionada a três mecanismos principais. O primeiro consiste na varredura dos radicais livres de oxigênio e no bloqueio das reações em cadeia dos lipoperóxidos, de uma maneira similar à da vitamina E. Como competem pela mesma reação, a vitamina E endógena é poupada, o que retarda sua degradação e aumenta seu tempo de ação, sendo esse o segundo mecanismo de atuação desse agente. O terceiro mecanismo condiz com a estabilização de membrana por meio do rearranjo lipídico da bicamada das membranas fosfolipídicas, diminuindo a fluidez das membranas e, consequentemente, a liberação de ácido araquidônico das membranas celulares lesadas 1,29,57,67. Antagonistas de receptores opioides A liberação de opioides endógenos após o trauma medular aumenta os níveis de endorfinas, o que resulta em hipotensão e diminuição do fluxo sanguíneo medular, agravando a isquemia instaurada. A naloxona, um antagonista não específico de receptores opioides, tem sido amplamente estudada para reverter esses mecanismos. Estudos



demonstram sua capacidade de aumentar o fluxo sanguíneo medular, reduzir o influxo de cálcio celular, aumentar a concentração de magnésio livre e a taxa bioenergética celular, além de modular a liberação de aminoácidos excitatórios. Seus efeitos benéficos foram constatados quando utilizada dentro de oito horas após o trauma medular 22,57. Gangliosídeos São ácidos glicolipídicos complexos presentes em altas concentrações dentro das células do sistema nervoso central (SNC) que estão localizadas na camada externa da membrana celular. O monossialotetraexosilgangliosídeo (GM-1) é encontrado nos axônios, na bainha de mielina e nas células da glia, dentro da substância branca. Evidências experimentais sugerem que sua administração acelera o crescimento da placa neurítica e estimula a regeneração axonal. Também atenua a excitotoxicidade e previne a progressão apoptótica, além de regular a proteína quinase C, responsável pela velocidade da condução nervosa, aumentando assim a plasticidade da função neurológica do paciente 25,27,68-70. Hormônio liberador de tirotropina (TRH) e análogos do TRH São tripeptídeos que estão sendo pesquisados no tratamento do trauma medular devido a seus efeitos de prevenir e amenizar tais lesões. Os mecanismos propostos para seus efeitos neuroprotetores incluem propriedades anti-inflamatória, antioxidante e estabilizadora de membranas celulares. Demonstram ainda a capacidade de antagonizar os efeitos autodestrutivos dos opioides endógenos, do fator ativador de plaquetas, dos leucotrienos e dos aminoácidos excitatórios. Aumentam o fluxo sanguíneo medular, restauram o equilíbrio iônico e o estado bioenergético celular 57,60. Antioxidantes e varredores de radicais livres A peroxidação lipídica resultante do trauma medular é atenuada pelos antioxidantes endógenos. Entretanto, foi demonstrado que os níveis de antioxidantes endógenos como _-tocoferol (vitamina E), ácido retinoico (vitamina A), ácido ascórbico (vitamina C), selênio e certas ubiquinonas, como a coenzima Q, estão diminuídos após o trauma. Por 82

isso, a reposição de tais antioxidantes é eficaz em amenizar lesões causadas pela peroxidação lipídica. Outros compostos também mostram benefícios ao atuarem como varredores de radicais livres de oxigênio, dentre eles o superóxido desmutase, alopurinol, desferroxamina e o polietilenoglicol 28,57,67. Sulfato de magnésio Estudos comprovam sua ação neuroprotetora contra as convulsões induzidas por receptores gabaérgicos e contra a neurodegeneração hipocampal em ratos. Seu efeito benéfico em lesões isquêmicas induzidas no cérebro e na medula espinhal também foi demonstrado. Além de prevenir a excitotoxicidade por sua ação antagonista de receptores NMDA em estruturas neurais, o magnésio parece inibir a ativação da caspase-3, exercendo um efeito antiapoptótico após lesões isquêmicas. Além disso, a suplementação do magnésio está associada à diminuição da peroxidação lipídica, ao aumento significativo de taxas bioenergéticas celulares e, consequentemente, à melhora da função neurológica 34,71,72. Bloqueadores de canais de sódio Agentes anestésicos locais, antiarrítmicos e certos anticonvulsivantes estão sendo avaliados por sua capacidade de bloquear canais de sódio, sugerindo efeito neuroprotetor. Estudos avaliaram a tetrodotoxina, um potente bloqueador de canais de sódio, em trauma medular de ratos. Após sua administração local observou-se preservação tecidual em longo prazo e diminuição dos déficits neurológicos. Outros estudos mostraram que a utilização do riluzole, outro agente dessa classe, em trauma medular promoveu um efeito neuroprotetor significativo, preservando tanto a substância branca quanto a cinzenta e melhorando a função neurológica 22,57,73,74. Antagonistas de receptores glutamatérgicos O reconhecimento de que a ativação dos receptores NMDA ou não NMDA (AMPA ou kainato) tem um papel importante na lesão por excitotoxicidade após o trauma medular estimulou o desenvolvimento de intervenções farmacológicas que inibam esse mecanismo. Assim, antagonistas de receptores

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NMDA como o MK801 e a gaciclidina (GK11) estão sendo investigados experimentalmente, e têm apresentado efeitos neuroprotetores e aumento da função locomotora, possivelmente pela redução da perda de células gliais na substância branca. Tais agentes apresentam certa toxicidade, uma vez que sua administração sistêmica pode interferir com a transmissão sináptica em vias glutamatérgicas essenciais. Portanto, é necessário que se façam mais pesquisas, já que continuam sendo uma estratégia terapêutica promissora 15,22,30,31. Modulação do metabolismo do ácido araquidônico Os metabólitos resultantes da conversão do ácido araquidônico possuem um papel fundamental no mecanismo secundário das lesões medulares. Nessa etapa, a terapia farmacológica visa inibir as enzimas responsáveis pela conversão do ácido araquidônico em tais metabólitos, sejam elas as COX (cicloxigenases) ou as LOX (lipoxigenases). Assim, diversos fármacos, dentre eles os anti-inflamatórios não esteroidais, que apresentam ações inibitórias contra essas enzimas, têm sido testados e vêm sendo indicados como os principais agentes farmacológicos no tratamento do trauma medular agudo. Os compostos inibidores específicos e seletivos de COX-2 demonstram efeitos neuroprotetores, por aumentar o fluxo sanguíneo medular, diminuir a formação de radicais livres, impedir a agregação plaquetária e modular a resposta inflamatória 15,22,57. Progesterona A progesterona apresenta efeitos neuroprotetores, por prevenir a morte celular induzida pela excitotoxicidade presente nos traumas medulares. Sua função é modular o ácido a-aminobutírico (Gaba) e os receptores NMDA, além de diminuir a permeabilidade da barreira hematoencefálica e apresentar propriedades antioxidantes, inibindo assim a peroxidação lipídica. Todavia, contrariando pesquisas prévias, alguns estudos não foram capazes de associar tais propriedades a efeitos neuroprotetores concretos 75-77. Dimetilsufóxido (DMSO) Esse agente possui um potencial benéfico no trauma medular, devido a sua


ação antiedematosa, vasodilatadora, anti-inflamatória, varredora de radicais livres, inibidora de agregação plaquetária, bloqueadora de canais de cálcio e facilitadora de regeneração da fibra nervosa. Sua infusão sistêmica foi proposta como um meio de aumentar o fluxo sanguíneo medular 63. Bloqueadores de canais de cálcio O agente mais estudado dessa classe é a nimodipina, por ter seus efeitos sobre a função circulatória do SNC. Ela age sobre a microvasculatura, atenuando o vasoespasmo induzido pela lesão, o que faz aumentar o fluxo sanguíneo medular e reverte a isquemia póstraumática em modelos experimentais. Age também sobre o processo de excitotoxicidade, impedindo sua progressão, embora alguns estudos mostrem que, quando administrada após o trauma, a nimodipina não parece ter efeito benéfico significativo, e sim quando a terapia é iniciada antes do trauma 22,57. Recentemente foi demonstrado o efeito neuroprotetor do dantrolene sódico, um derivado da hidantoína que impede o acúmulo de cálcio intracelular ao diminuir a apoptose e preservar a viabilidade de neurônios espinhais em ratos submetidos a trauma medular 78,79. Cuidados em longo prazo As consequências do trauma medular são graves e, além da incapacidade locomotora, manifestam-se na perda de controle sensorial, urológico, fecal e sexual 11,18,41,80-83. O decúbito prolongado e a falta de movimentação desencadeiam anormalidades dos sistemas respiratório, cardiovascular, digestório, imune, tegumentar e musculoesquelético. Essas complicações requerem a devida atenção para que seja possível prolongar e proporcionar melhor qualidade de vida ao paciente 18,84,85. Em geral, os pacientes que sofreram trauma medular apresentam algum nível de dor devido à lesão inicial, às lesões secundárias associadas ao trauma ou às intervenções cirúrgicas que se façam necessárias. Entretanto, a dor tardia não é comum em pacientes tratados de forma conservativa após quatro a seis semanas de repouso. Além disso, o uso de analgésicos adequados, principalmente na primeira semana, é de extrema

importância e deve ser assistido de perto, para que sejam identificados e tratados possíveis sinais de dor 11,18,83. Devido à perda de mecanismos termorreguladores, alguns pacientes com trauma medular desenvolvem hipotermia ou hipertermia, dependendo da temperatura ambiente. Por isso é importante o monitoramento desses pacientes, especialmente durante o exame clínico inicial, já que a hipotermia agrava a bradicardia e pode gerar arritmias cardíacas. Ademais, fontes de aquecimento externo, como colchões térmicos, podem causar graves queimaduras em pacientes com déficit termossensorial 41,83. O paciente com trauma medular está mais propenso ao desenvolvimento de coágulos sanguíneos, conhecidos como trombose venosa. Essa condição é de origem multifatorial e está associada à diminuição da pressão sanguínea, às alterações do tônus vascular, às imobilizações de membros e às paralisias. O trombo migra de seu local original e se instala nos vasos pulmonares, onde bloqueia a passagem sanguínea. Isso é conhecido como embolismo pulmonar e pode levar à morte súbita. Em seres humanos, cerca de 80% dos pacientes com trauma medular desenvolvem trombose venosa, por isso se indica o tratamento profilático à base de anticoagulantes e inibidores da agregação plaquetária, desde que sejam avaliadas as possibilidades de coagulopatias concorrentes ou de intervenção cirúrgica 80,85. A função respiratória é comandada pelo diafragma e pelos músculos intercostais, inervados pelos ramos nervosos oriundos do segmento cervical e torácico, respectivamente. Muitos traumatismos resultam em falência respiratória, necessitando, portanto, de ventilação mecânica para manter a vida. Essa falência ocorre devido à perda da capacidade inspiratória e à inabilidade em tossir, o que impede o paciente de expelir as secreções pulmonares. O acúmulo de secreções e a incapacidade de expansão pulmonar levam ao desenvolvimento de afecções como pneumonia e ate-lectasia. A instauração de um bom regime de fisioterapia respiratória é imprescindível para evitar tais complicações. A manutenção do paciente em decúbito external e a realização de movimentos vibratórios e de percussão da parede torácica facilitam a expulsão de tais secreções.

Em alguns casos é necessário usar broncodilatadores e umidificadores para ajudar a manter uma boa função respiratória 80,83,85,86. A perda da capacidade de controle voluntário dos esfíncteres gera incontinência ou retenção de fezes e urina. A retenção fecal resulta em desequilíbrio eletrolítico e constipação, que evolui para fecaloma, requerendo a administração de emolientes fecais ou a realização de enemas. A manutenção de uma dieta rica em fibras, a ingestão apropriada de fluidos e refeições feitas em horários regulares tornam-se primordiais no tratamento em longo prazo desses pacientes com comprometimento intestinal. Já a perda da função vesical leva a problemas devastadores se não tratada apropriadamente. Grande parte das mortes, em função de complicações do trauma medular, se deve a complicações urológicas secundárias, sejam elas a infecção do trato urinário ou a falência renal. A retenção deve ser assistida por esvaziamento vesical, seja por meio de massagens abdominais ou de cateterização uretral. Alguns fármacos também ajudam no relaxamento do esfíncter uretral ou na contração da musculatura da bexiga, auxiliando a eliminação urinária. Em casos de incontinência fecal ou urinária, o paciente deve ser mantido sempre higienizado e seco, para evitar assaduras e outras complicações cutâneas 41,80,83,85,87,88. Devido à perda da sensibilidade dolorosa, desenvolvem-se feridas nos locais de maior pressão de contato, chamadas úlceras de decúbito. Essa complicação também é responsável pelo aumento do tempo de hospitalização, elevando assim as taxas de morbidade e de mortalidade desses pacientes. Mais uma vez, a prevenção é o melhor tratamento. Devemos trocar o decúbito do paciente a cada, no máximo, duas horas e proporcionar uma cama acolchoada e de material impermeável para facilitar a limpeza. No caso de animais que se arrastam, cadeiras de rodas são necessárias para evitar tais lesões. Depois de instauradas, essas feridas devem ser mantidas limpas e secas e alguns casos mais graves requerem intervenções cirúrgicas 41,80,83. Devemos ter em mente que os pacientes tratados com corticoideterapia ou com anti-inflamatórios não esteroidais por tempo prolongado podem

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apresentar gastrenterites que evoluem para óbito se não tratadas adequadamente. Para isso, tratamentos profiláticos à base de protetores de mucosa gastrentérica e inibidores de secreção gástrica devem ser associados a essas terapias 1,80. Uma das consequências do trauma medular consiste na depressão do sistema imune, que expõe os pacientes a um alto risco de desenvolver infecções respiratórias, urinárias e dermatológicas, que podem inclusive evoluir para uma septicemia. Entretanto, a utilização de antibióticos profiláticos deve ser desencorajada, sendo que nesses casos a realização de antibiogramas faz-se necessária para a prescrição da antibioticoterapia adequada 83,85. Pacientes que não conseguem se movimentar, como é o caso dos tetraparalíticos, estão propensos à desidratação e precisam ser monitorados – e, caso seja necessário, devem receber líquidos por via oral ou por via intravenosa. Inicialmente, as taxas metabólicas desses pacientes traumatizados aumentam e eles devem receber aporte nutricional adequado para minimizar a tendência à depressão proteica do organismo. Por outro lado, um cão inativo necessita de redução do aporte nutricional, pois o ganho de peso excessivo sobrecarrega diretamente a coluna 41,89. O decúbito prolongado e a falta de movimentação geram contraturas musculares, dos tendões e dos ligamentos e a irrigação sanguínea de tais estruturas se reduz e enfraquece. Complicações subsequentes ao enfraquecimento ósseo, principalmente fraturas, são frequentemente observadas devido ao desenvolvimento de um processo de osteoporose 80. A fim de reduzir o tempo de decúbito do paciente, diminuindo assim as chances de desenvolvimento de muitas das complicações anteriores, a fisioterapia é um suporte imprescindível, que deve ser instaurado precoce e efetivamente. Massagem ou movimentação passiva por meio de movimentos de flexão e extensão de membros, natação, hidromassagem, utilização de ultrassom, neuro e mioestimulação elétrica e acupuntura são procedimentos de reabilitação que visam fortalecer o sistema musculoesquelético, combater a dor e promover a plasticidade dos circuitos sobreviventes, o que vai ajudar no retorno 84

precoce das funções e da deambulação, elevando assim a qualidade e a expectativa de vida do paciente 9,11,80,85,90-92. Perspectivas futuras Estudos experimentais continuam buscando um melhor entendimento das interações entre os mecanismos fisiopatológicos que ocorrem imediatamente após o trauma medular, a fim de intervir com novas estratégias terapêuticas que diminuam a lesão neurológica 12,15,84,93-95. Dentre essas estratégias há uma diversidade de abordagens que visam bloquear esses mecanismos, permitindo assim a regeneração axonal, seja por meio da utilização de oxigenioterapia hiperbárica para diminuir a isquemia medular, seja pelo desenvolvimento de proteases que atuam bloqueando a síntese de certas proteínas e interrompendo a instauração ou a progressão da apoptose neuronal, como é o caso dos inibidores de calpaína ou da caspase-3, ou ainda pelo bloqueio dos receptores responsáveis pela excitotoxicidade 34,58,84,96,97. O avanço do conhecimento sobre o trauma medular e o entendimento da resposta imune contribuirão para a modulação da inflamação e do suporte neurotrófico específico para cada tipo de lesão, com o intuito de promover a regeneração tecidual 12,21,23,96,98. Por último, recentes pesquisas utilizando neurotofinas – que são fatores de crescimento neuronal – e transplante de células e tecidos, associados ou não entre si, vêm demonstrando que essas são opções importantes e promissoras para a terapia, preservando o tecido nervoso, interrompendo o avanço das lesões e revertendo os danos neuronais provocados por traumas medulares. Esses estudos necessitam de maior investigação e podem, em um futuro próximo, ser a base do tratamento e da recuperação de pacientes portadores de déficits neurológicos 10,92,95,99,100. Considerações finais Pacientes com trauma medular devem ser tratados em caráter emergencial, a fim de se evitar que os danos secundários à lesão inicial se propaguem. Para isso, o conhecimento dos mecanismos da lesão, das estruturas anatômicas envolvidas e de sua relação com os sinais clínicos apresentados é imprescindível para a identificação e a localização

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precisa da lesão. Direcionar esforços contra a cascata de mecanismos secundários vem sendo o grande objetivo do desenvolvimento de novas intervenções terapêuticas que impeçam a progressão da lesão, revertam os danos causados por ela e resgatem a capacidade neurológica do paciente. Referências 01-BERGMAN, R. ; LANZ, O. ; SHELL, L. A review of experimental and clinical treatments for acute spinal cord injury. Veterinary Medicine, v. 95, n. 11, p. 855-866, 2000. 02-CHACÓN, S. C. ; NIETO-SAMPEDRO, M. Pathophysiology of spinal cord injury. A review. Veterinary México, v. 36, n. 1, p. 75-86, 2005. 03-BAGLEY, R. S. ; HARRINGTON, M. L. ; SILVER, G. M. ; CAMBRIDGE, A. J. ; CONNORS, R. L. ; MOORE, M. P. Exogenous spinal trauma: clinical assessment and initial management. Veterinary Neurology, v. 21, n. 12, p. 1138-1144, 1999. 04-BAGLEY, R. S. Spinal fracture or luxation. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, v. 30, n. 1, p. 133-153, 2000. 05-COLTER, S. ; RUCKER, N. C. Acute injury to the central nervous system. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, v. 18, n. 3, p. 545-563, 1988. 06-SHORES, A. ; BRAUND, K. G. ; BRAWNER, W. R. Management of acute spinal cord trauma. Veterinary Medicine, v. 85, p. 724-739, 1990. 07-SUMMERS, B. A. ; CUMMINGS, J. F. ; DELAHUNTA, A. Injuries to the central nervous system. In:___. Veterinary neuropathology. St. Louis: Ed. Mosby, 1995. p. 189-207. 08-JANSSENS, L. A. A. Mechanical and pathophysiological aspects of acute spinal cord trauma. Journal of Small Animal Practice, v. 32, p. 572-578, 1991. 09-BEREYRE, F. M. ; KERSCHENSTEINER, M. ; RAINETEAU, O. ; METTENLEITER, T. C. ; WEINMANN, O. ; SCHWAB, M. E. The injuried spinal cord spontaneously forms a new intraspinal circuit in adult rats. Nature Neuroscience, v. 7, n. 3, p. 269-277, 2004. 10-FERNANDEZ, E. ; MANNINO, S. ; TUFO, T. ; PALLINI, R. ; LAURETTI, L. ; ALBANESE, A. ; DERANO, L. The Adult “paraplegic” rat: treatment with cell graftings. Surgical Neurology, v. 65, n. 3, p. 223-237, 2006. 11-SIDDALL, P. J. ; MIDDLETON, J. W. A proposed algorithm for the management of pain following spinal cord injury. Spinal Cord, v. 44, p. 67-77, 2006. 12-DUMONT, A. S. ; DUMONT, R. J. ; OSKOUIAN, R. J. Will improved understanding of the pathophysiological mechanisms involved in acute spinal cord injury improve the potential for therapeutic intervention? Current Opinion in Neurology, v. 15, n. 6, p. 713-720, 2002. 13-DELAMANTER, R. B. ; SHERMAN, J. ; CARR, J. B. Pathophysiology of spinal cord injury. Recovery after immediate and delayed decompression. The Journal of Bone and Joint Surgery, v. 77, n. 7, p. 1042-1049, 1995. 14-KRAUS, K. H. The pathophysiology of spinal


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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação

Nanoalimentos e nanonutrientes

Yves Miceli de Carvalho ymvet.consulting@yahoo.com.br

YMVet Consulting - Consultoria em Medicina Veterinária e Nutrição Animal • Mestre em nutrição animal (FMVZ/USP) • Membro da comissão científica do CBNA (www.cbna.org.br) e da Anclivepa-SP (www.anclivepa-sp.org.br) • Membro do comitê técnico e do conselho técnico da ANFAL Pet (www.anfalpet.org.br)

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ara falarmos de nanoalimentos e nanonutrientes precisamos falar antes da nanotecnologia. O ano considerado como nascimento da nanociência e da nanotecnologia é o de 1959. No dia 29 de dezembro, no CalTech, Califórnia, Estados Unidos, o físico Richard Feynman proferiu, na reunião anual da American Physical Society, a palestra "There's plenty of room at the bottom" ("Há mais espaços lá embaixo"). Feynman declarava ser possível concentrar, na cabeça de um alfinete, as páginas dos 24 volumes da Enciclopédia Britânica para, desse modo, afirmar que muitas descobertas se fariam com a fabricação de materiais em escala atômica e molecular. Seus estudos ganharam impulsos na década de 80, evoluiram e hoje o setor movimenta US$ 10 bilhões por ano. Estudos realizados até então indicam ser uma área promissora de pesquisa e desenvolvimento A nanomedicina Nanotecnologia já está disponível no comércio e na medicina e é esperança na cura de várias doenças em humanos, como AIDS e câncer, e para animais. Essa ciência traz promessas de beleza, saúde e conforto para o dia a dia. Você já pensou em curativos inteligentes que aceleram a cicatrização? Embalagem que prolonga por meses a vida útil de alimentos? De acordo com os cientistas, em teoria, nanorobôs poderiam ser introduzidos no corpo, por via oral ou intravenosa, para identificar e destruir as células cancerosas ou infectadas por vírus. Também poderiam regenerar tecidos destruídos. Agir onde medicamentos não conseguem ser eficientes ou são muito demorados. Utilizando nanotubos, as medicinas humana e veterinária também poderão aumentar a precisão de 88

cirurgias e exames. Que tal alimentos e bebidas "interativas" que mudam de cor? Ou ainda consumir um produto cuja embalagem nos indicaria quando efetivamente o alimento não estaria mais adequado ao consumo? Esses são produtos da nanotecnologia, a grande promessa do século XXI. Nanoalimentos e nanonutrientes A nanotecnologia apresenta grande potencial na área de alimentos para humanos e para animais de estimação. Algumas de suas utilizações são: - purificação da água; - liberação lenta de nutracêuticos; - microencapsulação de aditivos; - tônicos a base de nanofibras para pacientes obesos e ou diabéticos; - desodorização; - como antimicrobiano e antifúngico; - embalagens mecanicamente mais fortes e termicamente melhores; - embalagens que indiquem ao consumidor que o produto não está mais em condições de consumo. Nanotecnologia em alimentos x Nanotecnologia na cosmética Apesar de ser uma tecnologia ainda muito recente e pouco estudada, a nanotecnologia já faz sucesso na área da cosmética humana. Produtos com nanoesferas já não são novidades e ganham cada vez mais destaque no mercado. Graças aos seus efeitos mais satisfatórios, nesse ramo, a nanotecnologia se mostra como um chamariz, sendo destacada nas embalagens, nos comerciais, e em alguns casos, fazendo parte até mesmo do nome do produto. Segundo estudos, o uso de nanotecnologia na área de alimentos traria muitos benefícios. E talvez já o faça. No entanto, as indústrias não assumem o uso

dessa tecnologia, apesar de especialistas afirmarem que "nanoalimentos" e “nanonutrientes” já fazem parte do nosso cardápio e brevemente dos de nossos animais de estimação. A grande pergunta é porque as indústrias do ramo de alimentos não confirmam o uso de nanotecnologia, se no ramo da cosmética ela funciona até como atrativo para o consumidor? Será que é por questão da segurança? Ainda faltam estudos até que se chegue à conclusão do quão segura é a utilização de nanotecnologia em alimentos. As nanopartículas, ao caírem na corrente sanguínea, podem alcançar órgãos como cérebro, gerando efeitos indesejados. Além disso, a nanotecnologia aumenta a absorção e diminui a eliminação dos produtos pelo intestino, o que aumenta a biodisponibilidade destes no organismo. Mas, se a aplicação tópica também pode causar toxicidade, então porque a indústria cosmética humana não teve o mesmo cuidado antes de "popularizar" a nanotecnologia? Outra questão que pode explicar o fato da não divulgação da nanotecnologia em alimentos é a aceitação do público. Os consumidores, que já não tem informações suficientes sobre nanotecnologia, podem ficar muito receosos quanto à sua segurança diante dessas mudanças, e com isso as indústrias perderiam clientes. Somente o avanço nas pesquisas científicas vai responder se a nanotecnologia nos alimentos vai conseguir chegar – abertamente – às prateleiras. Por enquanto, o assunto começa a aparecer na mídia e a ser discutido pela sociedade. Podemos prever que a discussão será longa, porque quando o assunto é alimento, seja para o homem ou para os animais, e principalmente para os animais de estimação, a resistência é grande.

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Ana Paula Tognato da Silva Médica veterinária, presidente da Comissão de Ética da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal - ABMVL paulatognato@uol.com.br www.abmvl.org.br www.abmvl.com/blog

A importância do prontuário na clínica médica veterinária

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prontuário médico veterinário é a documentação produzida na prática da clínica veterinária que deve observar os critérios técnicos, administrativos, legais e de arquivamento adequados, para que possa servir como fonte de dados do animal-paciente, guardando informações que servirão para finalidades acadêmicas e administrativas, além de ter uma função como prova documental em processos éticos e/ou judiciais. O Código de Defesa do Consumidor assim como o Código de Ética do Médico Veterinário exigem a observação desses preceitos. Hoje em dia podemos encontrar duas maneiras de apresentação do prontuário. A primeira e mais tradicional, é a manuscrita em papel, sendo obrigatória a legibilidade da letra do profissional que atendeu o paciente, com sua assinatura e seu número de registro profissional. Atualmente, com o avanço da tecnologia, temos encontrado cada vez mais o uso dos prontuários eletrônicos, que trazem mais recursos ao profissional, mas, por outro lado, necessitam de maiores cuidados com a segurança, para mantê-los íntegros, invioláveis e confidenciais, uma vez que ali estão registrados dados sujeitos ao sigilo profissional. O prontuário é composto por todo o acervo documental referente aos serviços prestados, possuindo os seguintes elementos básicos: 1 - Ficha clínica a) Identificação completa do paciente incluindo nome, espécie, raça, idade, sexo, porte, pelagem e número do microchip. Quando possível, incluir fotografias e/ou uma resenha com as características físicas do animal. Além disso, deve conter a identificação completa do proprietário com nome, endereço, telefone, RG e CPF. b) Histórico de saúde do animal, redigido 90

de forma técnica, baseado em dados médico veterinários, onde constarão os sinais e manifestações clínicas descritas detalhadamente, tratamentos já realizados, intervenção cirúrgicas feitas; incluindo prontuários de outras clínicas. c) Anamnese, composta pela descrição do estado do animal segundo seu cuidador. Deve ser colhida por meio de perguntas dirigidas a este e redigido de forma coloquial, nas palavras do proprietário. Deve incluir o local onde vive o animal, se há outros que coabitam, tipo de alimentação, rotina de passeios etc. d) Exames físicos e complementares realizados pelo profissional responsável. Os resultados dos exames devem ser processados corretamente para sua utilização e durabilidade, identificados e anexados ao prontuário. e) Tratamento: o médico veterinário, sendo um profissional liberal, tem a liberdade para definir a melhor conduta terapêutica a adotar em cada caso clínico. A sua descrição no prontuário é de vital importância, pois é o documento que justifica a técnica adotada, assim como os seus limites e os objetivos do tratamento. f) Evolução do paciente que deve ser feita diariamente no paciente internado ou a cada visita do paciente que volta para casa. Para tanto devem ser feitos histórico e exame clínico focados nos problemas previamente identificados. 2 - Termo da autorização De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o profissional deve fornecer todas as informações necessárias ao proprietário do paciente. O proprietário, uma vez ciente de todos esses dados, deve materializar a sua aceitabilidade por meio do Termo da Autorização, que prova a aquiescência voluntária do proprietário às técnicas de tratamento propostas, protegendo assim o

profissional que a está realizando. O Código de Ética da Medicina Veterinária deixa muito claro no Capítulo IV: Art. 13. É vedado ao médico veterinário: IX - deixar de elaborar prontuário e relatório médico veterinário para casos individuais e de rebanho, respectivamente; XI - deixar de fornecer ao cliente, quando solicitado, laudo médico veterinário, relatório, prontuário, atestado, certificado, bem como deixar de dar explicações necessárias à sua compreensão. O mesmo Código de Ética prescreve que o Médico Veterinário será responsabilizado pelos atos que, no exercício da profissão, praticar com dolo ou culpa, respondendo civil e penalmente pelas infrações éticas e ações que venham a causar dano ao paciente e ou ao cliente (Capítulo V, Art.14). Na verificação de supostos erros profissionais, cabe lembrar que a responsabilidade nessa atividade é de meio, e não de resultado, o que significa que o médico veterinário não é obrigado a alcançar o resultado almejado (cura), mas deve empregar as técnicas adequadas à solução do problema (em procedimentos de natureza estética, há a responsabilidade do resultado prometido). A legislação brasileira adota a teoria da responsabilidade civil subjetiva, prevista no artigo 14, parágrafo 4º do Código de Defesa do Consumidor, onde a culpa do profissional deve ficar suficientemente demonstrada, em uma ou mais de suas modalidades: negligência, imprudência ou imperícia. Cabe ressaltar que em todos os questionamentos judiciais ou éticos, o prontuário bem elaborado mostra-se fundamental para que o médico veterinário possa produzir uma defesa técnica de qualidade.

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anorexia vômito crônico obstrução intestinal diabetes melito e outras B - manutenção diária

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www.agendaveterinaria.com.br Nacional JULHO 19 a 23 de julho São José do Rio Preto - SP Cardiologia clínica ! (17) 3011-0927 21 a 25 de julho São Paulo - SP Gestão e marketing aplicados a clínicas e pet shops ! (11) 5543-6690 21 a 25 de julho Cananéia - SP Encontro Acadêmico-científico de Resgate, Recuperação e Reabilitação e Reintrodução à Natureza de Animais Marinhos (ENACRES) ! (11) 9652-5766 22 a 24 de julho Vila Velha - ES I Simpósio Abravas de medicina e conservação de animais selvagens ! (27) 3357-3712 24 e 25 de julho Osasco - SP Artropatias do membro pélvico ! (11) 3684-1080

24 e 25 de julho Maringá - PR Curso teórico-prático de ortopedia veterinária - 3° módulo ! (44) 3227-4180 24 e 25 de julho São Paulo - SP Inseminação artificial em cães ! (11) 3579-1427 26 a 30 de julho Rio de Janeiro - RJ 37º Conbravet ! (21) 2539-1351 26 a 30 de julho São José do Rio Preto - SP Ecodopplercardiograma em pequenos animais (teórico-prático) ! (17) 3011-0927 26 a 30 de julho São Paulo - SP Curso teórico-prático de radiologia torácica ! (11) 3579-1427 31 de julho a 15 de agosto São Paulo - SP 1º Curso avançado em fisioterapia veterinária do Vet Spa ! (11) 3644-7764

AGOSTO 1 a 10 de agosto São Paulo - SP Curso de fitoterapia tradicional chinesa nas patologias veterinárias ! (11) 3083-4516 3 de agosto a 16 de dezembro São Paulo - SP Curso de especialização em radiodiagnóstico veterinário

! (11) 3034-5447 4 a 6 agosto Belo Horizonte - MG II Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal

! www.cfmv.org.br

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14 e 15 de agosto São Paulo - SP Conferência Internacional de medicina veterinária do coletivo

! www.itecbr.org 14 e 15 de agosto Osasco - SP Cirurgias oculares ! (11) 3684-1080 14 e 15 de agosto Londrina - PR Curso de atualização em nutrição ! (43) 9151-8889 16 de agosto Belo Horizonte - MG Diagnóstico de prenhes em cães e gatos. Interpretando as provas de função endócrina ! (31) 3281-0500 16 e 17 de agosto São Paulo - SP II Seminário brasileiro de residência em medicina veterinária ! www.cfmv.org.br

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www.agendaveterinaria.com.br 17 e 18 de agosto Belo Horizonte - MG Controle de hemorragias e fluidoterapia ! (31) 7818-8361 18 e 19 de agosto São Paulo - SP Empreendedorismo - Planejando sua empresa - Módulo IV ! gioso@usp.br 20 a 22 de agosto Campos dos Goytacazes - RJ Medicina felina ! (22) 9944-1894 20 a 24 de agosto São Paulo - SP XVII Congresso da Sociedade Paulista de Zoológicos

25 a 28 de agosto Salvador - BA II Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal

! www.abolicionismoanimal. org.br 27 de agosto (início) Salvador - BA Gestão profissional de revendas agropecuárias e pet shops (108h) ! (71) 2108-8500 27 a 31 de agosto Rio de Janeiro - RJ Curso de gestão e marketing ! gioso@usp.br

! (11) 5073-0811

28 e 29 de agosto São Paulo - SP Curso teórico prático de oftalmologia de pequenos animais ! barbosa.a@uol.com.br

21 e 22 de agosto Botucatu - SP Cirurgia do sistema reprodutivo ! (14) 3882-4243

28 de agosto a 30 de julho de 2011 São Paulo - SP II Curso de quiropraxia veterinária ! (11) 9573-7677

21 de agosto a 21 de julho de 2012 São Paulo - SP Fisioterapia e ortopedia veterinária ! (11) 3791-4272

30 de agosto a 3 de setembro São José do Rio Preto-SP Semana Acadêmica da Medicina Veterinária - UNIRP ! (17) 3201-3360

22 de agosto São Paulo - SP Efusões pleurais: do diagnóstico ao tratamento ! (11) 3673-9455

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30 de agosto a 3 de setembro Santo André - SP V SIMVET ! www.uniabc.br

30 de agosto Belo Horizonte - MG Oftalmologia Veterinária ! (31) 3297-2282 SETEMBRO 4 a 5 de setembro Botucatu - SP Cirurgia oncológica e plástica reconstrutiva ! (14) 3882-4243 8 a 10 de setembro Brasília - DF VI Concevepa ! www.concevepa2010.com.br 10 de setembro (início) Belo Horizonte - MG Manejo de animais silvestres (390h) ! www.pucminas.br 11 a 12 de setembro Londrina - PR Atualização em comportamento animal ! (43) 9151-8889 11 a 19 de setembro São Bernardo do Campo – SP XIII SAMVET da Metodista ! www.metodista.br/veterinaria 12 de setembro São Paulo - SP Ressonância magnética em pequenos animais, animais silvestres e exóticos ! (11) 3253-5704 13 a 18 de setembro Imperatriz - MA II Semana de medicina veterinária de Imperatriz ! (99) 9138-7886

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20 de setembro Belo Horizonte - MG Neurologia Veterinária ! (31) 3297-2282 20 a 24 de setembro Viçosa - MG Simpósio de pesquisa em medicina veterinária 2010 III Semana da pós-graduação em medicina veterinária - UFV ! (31) 3899-1457 20 a 24 de setembro Seropédica - RJ XXVI SEMEV Semana do médico veterinário ! www.ufrrj.br 21 de setembro Belo Horizonte - MG Perólas no tratamento do doente com gastroenterite hemorrágica ! (31) 7818-8361 24 a 26 de setembro Jaboticabal - SP III Jornada de reprodução canina ! (16) 3209-1303 25 a 26 de setembro Osasco – SP Curso de oncologia e cirurgias plásticas ! (11) 9234-7888 26 de setembro São Paulo – SP Provas de função renal ! (11) 3673-9455 28 de setembro Belo Horizonte - MG Interpretando corretamente as provas bioquímicas ! (31) 3281-0500


28 de setembro a 1º de outubro São Paulo - SP Empreendedorismo - Planejando sua empresa - Módulo V ! gioso@usp.br

15 a 17 de outubro Botucatu - SP VI Curso de atualização em oncologia veterinária ! www.fmvz.unesp.br

OUTUBRO 2 e 3 de outubro Botucatu - SP Cirugia de anexos oculares ! www.bioethicus.com.br

16 a 17 de outubro Osasco – SP Fraturas e luxações articulares ! (11) 9234-7888

2 e 3 de outubro Osasco – SP Curso de emergência e medicina intensiva ! (11) 3684-1080 6 a 8 de outubro São Paulo - SP Pet South America/ Conpavet/ Conpavepa

16 a 31 de outubro São Paulo Administração e marketing para médicos veterinários ! (11) 3209-9747 18 a 22 de outubro Campos do Jordão - SP XIII Congresso da Abravas

22 a 24 de outubro São Paulo - SP II Conferência brasileira de enriquecimento ambiental

28 a 31 de outubro Búzios - RJ IX Congresso do CBCAV

! www.cbcav2010.com.br ! (11) 3091-1231 22 a 24 de outubro Águas de São Pedro - SP III ISABR 2010 ! www.cbra.org.br 23 e 24 de outubro São Paulo - SP Curso teórico prático de oftalmologia de pequenos animais ! (11) 3082-3532

! www.petsa.com.br

! www.abravas.com.br

9 a 12 de outubro Porangaba - SP Encontro nacional de direitos animais - ENDA ! www.enda.org.br

19 a 20 de outubro Belo Horizonte - MG Intensivet - Emergência e terapia intensiva em felinos ! (31) 7818-8361

24 de outubro São Paulo – SP Testes em endocrinologia ! (11) 3673-9455

23 e 24 de outubro Jaboticabal - SP V Curso teórico-prático sobre nutrição de cães e gatos - Uma visão industrial ! (16) 8171-3821

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NOVEMBRO 8 a 12 de novembro São Luís - MA XXIII Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) ! www.itecbr.org 9 de novembro São Paulo - SP Lidando com clientes ! gioso@usp.br 13 e 14 de novembro Botucatu - SP Cirurgia do sistema gastrintestinal ! (14) 3882-4243

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www.twitter.com/vetagenda 18 a 20 de novembro Búzios - RJ ENDOVET 2010 - Congresso Internacional de Endocrinologia Veterinária

DEZEMBRO 4 e 5 de dezembro São Paulo - SP Cirurgia da cabeça e pescoço ! (14) 3882-4243

! www.endovet2010.com

4 e 5 de dezembro Osasco - SP Tópico avançado em artropatias ! (11) 3684-1080

20 e 21 de novembro São Paulo - SP Simpósio internacional em anestesiologia veterinária ! www.apavet.com.br

5 de dezembro Piracicaba - SP Desvendando FIV/FeLV: abordagem clínico-laboratorial ! (19) 3432-2704

21 de novembro São Paulo - SP Exames complementares em cardiologia ! (11) 3673-9455

6 a 10 de dezembro Campos dos Goytacazes - RJ 3º Simpósio Latino-Americano de Cardiologia Veterinária ! (22) 2739-7061

27 e 28 de novembro Uberlândia - MG Florais de Saint Germain ! www.fsg.com.br

10 e 11 de dezembro São Paulo -SP Congresso internacional de agressividade canina e felina

27 e 28 de novembro Rio de Janeiro - RJ Simpósio Internacional em anestesiologia veterinária ! (14) 3882-4243 30 de novembro Belo Horizonte - MG Fórum internacional de alergologia veterinária ! (31) 3281-0500

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! www.itecbr.org

2011 27 a 31 de abril Goiânia - GO 32º Congresso Brasileiro da Anclivepa

! www.anclivepa2011.com.br

Internacional JULHO 23 a 25 de julho Punta del Este - Uruguay Curso de Acreditación - abc Trauma LAVECCS ! www.laveccs.org SETEMBRO 11 a 15 de setembro San Antonio, Texas EUA IVECCS 2010 ! www.veccs.org 14 a 16 de setembro Las Vegas - EUA SUPERZOO

! www.superzoo.org 23 e 24 de setembro Buenos Aires - Argentina Curso de anestesiologia ! cursomiat@hospitalitaliano. org.ar

OUTUBRO 15 a 17 de outubro Athens - Greece Pets Today Trade Exhibition 2010 ! www.petstoday.gr 25 a 27 de outubro Lima - Peru Latin American Veterinary Conference

! www.tlavc-peru.org 29 de outubro a 1 de novembro San Diego, CA EUA VCS Veterinary Cancer Society - 2010 Annual Conference ! www.vetcancersociety.org

2011

30 de setembro a 3 de outubro Barcelona - Espanha The Southern European Veterinary Conference (SEVC)

JANEIRO 15 a 19 de janeiro Orlando - EUA North American Veterinary Conference (NAVC) ! tnavc.org

! www.tnavc.org/sevc

OUTUBRO 14 a 17 de outubro Jeju - Korea WSAVA 2011 ! www.wsava2011.org

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