Ano XV,XVI, n. 89, novembro/dezembro, 2010 - R$ 20,00 15,00 Ano n. 90, janeiro/fevereiro, 2011
G uarรก
i TO O RR A A E DE Di T
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e CAB Abstracts
Mariana I. P. Palumbo/FMVZ/Unesp-Botucatu
Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Índice Neurologia - 36
Doença cerebelar em cães e gatos Fábio Alessandro Pieri
Cerebellar disease in dogs and cats
Enfermedad cerebelar en perros y gatos
Odontologia - 42
Doença periodontal em cães e prevenção Periodontal disease in dogs and prevention
Prevención de la enfermedad periodontal en perros
Sistema nervoso central de cão Rogério Martins Amorim - FMVZ/Unesp-Botucatu
Estrutura anatômica do órgão dental de cães
Oncologia - 54
Glioma misto em um cão – relato de caso Danieli Brolo Martins
Mixed glioma in a dog – case report
Glioma mixto en un perro – caso clínico
Imagens comparativas da massa tumoral na tomografia computadorizada e na necropsia (setas)
Oncologia - 60
Diagnóstico de neoplasia epitelial maligna em líquido pleural - relato de caso Malignant epithelial neoplasia in pleural fluid - case report
Erick da Cruz Castelli
Diagnóstico de tumor epitelial maligno en el líquido pleural - relato de caso
Oncologia - 64
Detecção molecular do rearranjo Line-1/c-MYC em tumores venéreos transmissíveis caninos espontâneos
Aglomerado de células epiteliais neoplásicas evidenciando nucléolos (seta preta) e multinucleação (seta vermelha) (1000x, Diff Quik)
Molecular detection of Line-1/c-MYC in spontaneous canine transmissible venereal tumors
Detección molecular de reestructuración de Line-1/c-MYC en tumor venéreo transmisible espontáneo en perros
Teste de detecção do rearranjo Line-1/MYC a partir de DNA de células de TVT
Clínica médica - 70
Hipotireoidismo em cães – revisão Hypothyroidism in dogs – a review
Flávio A. Marques dos Santos
Hipotiroidismo en los perros – revisión
Clínica médica - 78
Tratamento da doença inflamatória intestinal canina com budesonida: relato de caso Treatment of canine inflammatory bowel disease with budesonide: a case report El tratamiento de la enfermedad inflamatoria intestinal canina con budesonida: reporte de un caso
Cirurgia - 84
Cristiano Gomes
Ultrassom abdominal de animal da espécie canina, raça yorkshire, oito anos de idade, demonstrando paredes duodenais espessadas
Reconstrução mandibular em cães: revisão de literatura Mandibular reconstruction in dogs: a literature review
Reconstrucción mandibular en perros: revisión de la literatura
Reconstrução mandibular feita com a placa própria para tal fim (seta preta) e autoenxerto de crista ilíaca (seta azul)
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Seções
Livros - 94
• Conpavepa, Conpavet e Pet South America: permanece o sucesso
Editorial - 8 Notícias - 10
• Resgate de pinguins-de-magalhães no litoral do Estado do RJ
• Neurologia em cães e gatos • Cachorros falam 24
10
Pet food - 96
Arquivo: Associação Proidea
• Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES): ensinando medicina veterinária e cidadania 14
Estande da revista Clínica Veterinária na Pet South America
Saúde pública - 30
• A saúde global marca presença no XXII Panvet, em Lima, no Peru • VII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina
30 32
O tema leishmaniose visceral canina lota o auditório da Emater, em Belo Horizonte
• Merial apóia ação inédita no mercado brasileiro e lança campanha de estímulo ao recolhimento de embalagens 22
4
• A Odisséia de Homero Segurança alimentar e qualidade de alimentos para cães e gatos
Gestão, marketing & estratégia - 97 A nova classe média
Medicina veterinária legal - 98
Óbito em clínica de pequenos animais.A necropsia como ferramenta fundamental
Lançamentos - 100
• Novos alimentos para cães e gatos • Antiparasitário em gel • Novos petiscos funcionais
Negócios e oportunidades - 102 Serviços e especialidades - 103 Agenda - 111
Internet - 92
Crescem as ofertas de ensino à distância (EAD)
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
EDITORES / PUBLISHERS Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684
Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159
PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.
CAPA / COVER Pinguim africano (Spheniscus demersus) – Brand X Pictures. Esta espécie é encontrada na costa sulocidental da África, vivem em colônias em 24 ilhas entre a Namíbia e a África do Sul. Uma população de 1,5 milhão de pinguins estimada em 1910 foi reduzida a cerca de 10% no final do século 20. O pinguim Africano é uma das espécies protegidas pelo Acordo sobre a Conservação das Aves Aquáticas Migratórias EurásiaAfricanas (AEWA) e está listado no Livro Vermelho da IUCN (International Union for Conservation of Nature - www.iucn. org) como uma espécie vulnerável.
IMPRESSÃO / PRINT Ibep Gráfica - www.www.ibepgrafica.com.br.com.br
TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares
CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Caixa Postal 66002 - 05314-970 - São Paulo - SP BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555
é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.
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Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/UNESP-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Aloysio M. F. Cerqueira UFF amfcerqueira@uol.com.br Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia anabalda@terra.com.br Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Angela Bacic de A. e Silva FMU angelbac2002@ yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp/Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp/Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp/Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br
Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP clarissa@usp.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@vm.uff.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/Unesp-Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar
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Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu
Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-Unesp-Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M . R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo A. B. V. Guimarães FMVZ/USP mabvg@usp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/Unesp-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br
Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@ffalm.br Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP maurolantzman@gmail.com Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka FMVZ/USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM
anemiaveterinaria@yahoo.com.br
Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet Pompéia netuno2000@hotmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br
Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Robson F. Giglio Provet e Hosp. Caes e Gatos robsongiglio@gmail.com Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco FMVA/Unesp-Araçatuba silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Int. Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Viviani de Marco UNG, Hovet Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br
Instruções aos autores
Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e de autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Utilizar letra arial tamanho 10, espaço simples. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-room. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas ou desenhos devem possuir indicação do fotógrafo/desenhista e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará. Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” - todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser informadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Caixa Postal 66002 CEP 05314-970 São Paulo SP cvredacao@editoraguara.com.br
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
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Editorial
O
ano de 2010 foi declarado pela ONU o Ano Internacional da Biodiversidade. O objetivo do movimento foi colocar em evidência algumas ações humanas como a ocupação desordenada de áreas naturais, a exploração predatória de recursos da natureza e a poluição. Vem sendo comprovado que ações como estas trazem sérias consequências para o meio ambiente, levando o planeta a perder cada vez mais espécies animais e vegetais. No Brasil, existem inúmeras ações que degradam o meio ambiente de forma constante e algumas até de forma assustadora, como, por exemplo, o projeto da usina de Belo Monte. A candidata do Partido Verde às eleições presidencias de 2010, Marina Silva, ao obter quase 20% dos votos, mostrou que boa parte da população brasileira está atenta ao meio ambiente, à sustentabilidade e às fontes de energias renováveis. Essa consciência ambiental que se espalha pela população é muito importante, pois o Brasil, além de ser uma potência emergente, é dono da maior biodiversidade do planeta. O aumento da consciência ambiental também tem direcionado a atenção para as condições de vida dos animais, fato que é uma tendência mundial. No movimento internacional Help Elephants (www.helpelephants.com), por exemplo, é marcante a pressão exercida para que elefantes mortos nos zoológicos não sejam repostos. No Brasil, esse tipo de conduta também está sendo disseminado, mas a espécie catalisadora do movimento não foi o elefente, mas a girafa. No zoológico da Fundação Zoobotânica do RS (FZB), na cidade de Sapucaia do Sul, no RS, no início de setembro, morreu Dorotéia, a última girafa da instituição. Indícios de que a direção da instituição pretendia trazer novas girafas para o zoológico desencadearam o "Não podemos ver a beleza essencial de um animal enjaulado, movimento Lugar de Animal é em seu Habitat apenas a sombra de sua beleza perdida" - Julia Allen Field, 1937 Natural (www.lugardenaimal.com). Além desses movimentos promovidos por instituições que se dedicam à preservação da vida, muitas empresas passaram a adotar medidas que visam mostrar seu comprometimento com a preservação do meio ambiente. Associados a essas ações empresarias, ganham destaque também os movimentos educacionais que trabalham a questão da sustentabilidade com crianças. Se almejamos uma educação que gere cidadãos capazes de contribuir para um mundo mais justo e pacífico, devemos começar na primeira infância, pois valores, atitudes, comportamentos e habilidades adquiridas nesse período podem ter impacto duradouro por toda a vida. Reverter toda a destruição que já foi feita à natureza é uma tarefa que necessita da colaboração de todos. Recentemente, o professor Maurício Talebi, do departamento de Ciências Biológicas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), campus Diadema, coordenou trabalhos que resultaram na inclusão de duas espécies brasileiras de primatas não-humanos na lista dos 25 primatas não humanos mais ameaçados de extinção no mundo: o macaco-pregogalego (Cebus flavius), encontrado nos Estados do Rio Grande do Norte, da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas; e o guigó-da-caatinga (Callicebus barbarabrownae), que sobrevive nos Estados da Bahia e de Sergipe. A inclusão ocorreu durante o 23º Congresso Internacional de Primatologia realizado em setembro na Universidade de Quioto, no Japão. A lista é revisada a cada dois anos, sob a coordenação do Grupo Especialista em Primatas da União Internacional para a Conservação da Natureza (PSG/IUCN), e tem como principal objetivo ampliar as ações conservacionistas para as espécies listadas. O Ano Internacional da Biodiversidade está terminando, mas as iniciativas para continuar defendendo a vida precisam seguir pelas gerações futuras. O engajamento de todos, mesmo em pequenas ações, é fundamental. “O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor.” (Madre Teresa de Calcutá). Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
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Resgate de pinguins-de-magalhães no litoral do Estado do RJ Por Marcia Chame - Coordenadora do Programa Institucional Biodiversidade & Saúde - Fiocruz
O cardápio dos pinguins resgatados era formado por sardinhas e manjubinhas
N
o início de setembro de 2010, um pinguim-de-magalhães quase morto foi resgatado das águas da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, RJ, por um jovem atleta kitesurfer, Reno Romeu. Tratou de entregá-lo à pessoa que reconhecia como capaz de lutar por aquela vida tão jovem e já tão comprometida. Sorte a do Pingu, nome carinhoso que aquele novo “menino do Rio” recebeu. Mas Pingu estava doente, na verdade quase morto de frio, sede, fome e exaustão. Viajara milhares de quilômetros em água fria, trazido por tempestades e frentes frias e ao aportar nas praias cariocas, não achou local tranquilo para se aquecer e descansar. Permaneceu no mar até encontrar seu salvador. Nos primeiros dias, Pingu foi aquecido, alimentado e hidratado. Sob os cuidados de uma médica veterinária voluntária da Associação Proidea, recebeu medicamentos e repousou o necessário para
No Rio de Janeiro, RJ, pinguins-de-magalhães embarcaram em avião da Gol com destino a Porto Alegre e, posteriormente, foram transportados por rodovia até o CRAM (Centro de Reabilitação de Animais Marinhos), em Rio Grande, RS
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Arquivo: Associação Proidea
Arquivo: Associação Proidea
Arquivo: Associação Proidea
Pinguim-de-magalhães resgatado por jovem atleta kitesurfer. Bastante debilitado, recebeu cuidados e recuperou-se
reagir, para poder ficar de pé e caminhar, como se locomovem os pinguins em terra firme, nadar e reaprender a comer sozinho. Estava inicialmente salvo, mas triste! Pinguins são animais gregários, vivem em grandes colônias e Pingu estava só. Daí foi carinhosamente acolhido pela equipe do Gemm-Lagos, da Fundação Oswaldo Cruz. A instituição mantém projeto de monitoramento de animais marinhos na costa do Rio de Janeiro, uma vez que esses animais indicam condições de saúde e mudanças dos ecossistemas, importantes para a previsão de agravos à saúde humana. Pingu se juntou a outros de sua espécie em Arraial do Arquivo: Associação Proidea
Cabo, RJ, acolhidos pelo veterinário que apoia o Gemm-Lagos na região. Os pinguins foram alimentados com sardinhas frescas mas estas devem ser servidas em tamanho adequado aos animais – nem grandes nem pequenas. Os pinguins foram alimentados também com muitas manjubinhas. Nesse tempo, ao Pingu e aos dois que ele encontrou no Gemm-Lagos juntaram-se mais dois: um, encontrado por pescadores em Itaúnas, Saquarema, e o outro, por pescadores de Araruama. O grupo aumentou e já mostrava o comportamento natural da espécie – conversavam, reclamavam se ficassem longe uns dos outros, sempre na linguagem “tutu-tu-tu”...
Liberdade - Pinguins Rumo ao Sul De que adiantaria o esforço de tantos seres humanos se não fosse para devolver-lhes a liberdade? Entretanto, os pinguins estavam muito longe de casa. As possibilidades de retornarem sozinhos ao sul do continente são desconhecidas; a longa permanência em locais impróprios Detalhe da e em condições tão diferentes das acomodação do pinguimdo seu habitat natural promove de-magalhães doenças; e a criação artificial de um na caixa de ambiente adequado para mantê-los transporte saudáveis requer recursos financeiros e equipe capacitada. Além disso, os animais selvagens necessitam de cuidados especiais e de documentos que atestem não terem sido capturados para fins
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
marinhos, foi a escolhida para receber o grupo de pinguins e que acolheu prontamemente ao chamado da Fiocruz. Os seres humanos vivem neste planeta em um rede complexa de relações biológicas. As diferentes espécie, por mais distantes que sejam da humana, cumprem papel fundamental e não descartável na manutenção dos serviços ambientais que utilizamos para nossa sobrevivência. A vida humana depende dessa rede. A espécie humana vem eliminando a biodiversidade do planeta em taxa recorde e é essa biodiversidade que nos provê alimento, ar respirável, solo fértil, filtro de doenças, medicamentos e muitos outros serviços. A vida de outras espécies está profundamente relacionada à saúde humana, e o valor da vida e da liberdade é inalienável. Nenhuma vida pode ser descartada. Infelizmente ainda não podemos salvar tantas outras! A chegada dos pinguins ao CRAM, em Rio Grande, RS, concluiu a primeira etapa da missão Pinguins Rumo ao Sul. Na segunda etapa, já nas instalações do CRAM, os pinguins passaram por nova avaliação, vermifugação e tratamento, e ingressaram no grupo de pinguins que já estavam nas instalações, recuperando-se
também para serem soltos em novembro. O entendimento do valor da vida e de um planeta saudável reuniu espontaneamente pessoas, instituições e empresas que acreditam que a conservação da biodiversidade, além de justa, é necessária. Que esse esforço sirva de exemplo e de motivação para um mundo melhor para todos. Agradecimentos nominais Ancelmo Mastandrea – GOL Cargas Flavya Mendes de Almeida – Médica Veterinária – PROIDEA/UFF Gabriela Landau Remy – Bióloga/PROIDEA Luciana Ramos Plastino – Centro de Gerenciamento da Fauna/IBAMA-RJ Luzia Maria Felippe - PROIDEA Nelson Bittar Romeu – Acergy Brasil S/A Norma Labarthe – Médica Veterinária – Fiocruz/PIBS Octávio Lisboa – Médico Veterinário Odilo Costa F. de Freitas – Médico Veterinário Paula Breves – Médica Veterinária Renato Bastos – Acergy Brasil S/A Rodolfo Pinho da Silva – Centro de Recuperação de Animais Marinhos – FURG/CRAM Rodrigo Gonçalves dos Santos – 1º Batalhão Ambiental do Rio Grande do Sul Rosane Colares – Médica Veterinária Salvatore Siciliano – Fiocruz/GEMM Lagos Valdir Ramos – Biólogo/PROIDEA Viviane das Graças Pinto - Gol LOG
Pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) J.R.FOSTER, 1781 Vivem no sul do continente, nas ilhas Malvinas (Falklands), na Argentina e no Chile. No inverno, indivíduos jovens chegam até o litoral do Brasil com as correntes de frentes frias e tempestades. São gregários, vivendo em colônias de até 1,8 milhão de indivíduos. Quando adultos, medem 70cm, chegando a pesar 5kg. Alimentam-se de peixes (anchovetas, sardinhas e outros), lulas e crustáceos. As fêmeas são pouco menores que os machos, mas a plumagem de ambos é igual. Fazem ninhos em buracos uma vez ao ano, onde colocam dois ovos que são chocados por quarenta dias. Nos primeiros vinte dias a mãe incuba os ovos, enquanto o pai chega a nadar a 500km ao longo da costa para se alimentar; depois ele se reveza com a mãe, que se alimenta por igual período. Os filhotes ficam nas tocas por setenta dias, alimentados diariamente pelo pai e pela mãe. A plumagem cinza os protege do frio, mas não lhes garante boa flutuação, como a dos adultos. Os pinguins-de-magalhães podem viver vinte anos. A primeira reprodução se dá quando as fêmeas têm quatro anos e os machos cinco. Eles sempre voltam ao local em que nasceram para se reproduzir e são fiés ao parceiro por toda a vida. Fazem uma muda por ano, após a reprodução, quando passam até vinte dias sem comer. Apesar de aparentemente abundante, a espécie tem pequena distribuição geográfica e sua população vem declinando rapidamente, em razão da competição com a pesca comercial e dos impactos causados por atividades offshore de petróleo e gás, além da poluição dos mares. No Chile e na Argentina, onde suas áreas são protegidas, um adulto gasta de dezesseis a dezoito horas buscando alimento para o filhote. Nas ilhas Malvinas, um indivíduo adulto leva 35 horas para obter a mesma quantidade de alimento.
Arquivo: Associação Proidea
comerciais, como, por exemplo, o contrabando de espécies. Sem medir esforços, a cada dia novas pessoas se envolveram e colaboraram na obtenção de sardinhas e na busca de uma maneira de viabilizar que Pingu e seus amigos retornassem sãos e salvos ao sul do continente, seu habitat natural. Foi criado o projeto Pinguins Rumo ao Sul a partir de um planejamento cuidadoso e com muitas etapas de execução. Em primeiro lugar, o grupo deveria estar bem de saúde para suportar a viagem até o Sul do Brasil. Por convicção e determinação científica da equipe envolvida, a viagem foi condicionada à certeza de que não levariam consigo novos patógenos nesse retorno. Em segundo lugar, os animais deveriam ser destinados a uma instituição altamente capacitada a recebê-los e a finalizar o processo de recuperação e de libertação. Houve a necessidade de se encontrar uma maneira o mais rápida e segura possível para transportá-los. A documentação deveria estar absolutamente em ordem. Um veterinário capacitado deveria recebê-los para mediar qualquer intercorrência, se necessário. Reunir todas as garantias e a documentação levou mais de uma semana. Isso porque a equipe contava com médicos veterinários e biólogos experientes. Com a cooperação e auxílio de diversas pessoas foi-se construindo uma rede de solidariedade impressionante! Não houve nesse caminho quem não se mostrasse verdadeiramente comprometido com a causa: a volta ao lar de Pingu e seus amigos! Nessa rede, foi obtido o apoio institucional, incondicional e decisivo da Gol Linhas Aéreas, que transportou os animais com atenção e eficiência do Rio de Janeiro a Porto Alegre; da Acergy-Brasil S/A, que doou as caixas de transporte cuidadosamente escolhidas pelos biólogos; do Centro de Gerenciamento da Fauna do Ibama-RJ, que licenciou prontamente a remessa dos animais; da dra. Rosane Colares, responsável pelo recebimento dos animais no aeroporto de Porto Alegre e da sua avaliação antes que embarcassem na viatura do 1º Rio Grande; do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) da FURG/RS, de Rio Grande, instituição que, por possuir recintos adequados e profissionais especializados em animais
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CRAM (Centr o de Recuper a ção
Arquivo Acqua Mundo
Arquivo Acqua Mundo
de Animais Marinhos)
Re pr odução em ca ti veir o
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Jovem pinguim-de-magalhães que passará temporada no Aquário Municipal de Santos
Arquivo Acqua Mundo
O CRAM (Centro de Recuperação de Animais Marinhos), anexo ao Museu Oceanográfico, pertence também à Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG/RS, está localizado em Rio Grande/RS e possui instalações adequadas aos trabalhos de reabilitação de animais marinhos: áreas para despetrolização, tanques para reabilitação, sistemas hidráulicos adequados, água quente em abundância, medicamentos, materiais para resgate e imobilização. O CRAM, além de salvar e reabilitar os animais, educa a comunidade para uma convivência mais equilibrada com a natureza. Contatos: http://www.museu.furg.br/cram.html estagiocram@furg.br • musbird@furg.br
Apesar da reprodução em cativeiro ser um ato difícil de ocorrer, o segundo pinguim-de-magalhães nascido em um aquário no país foi fruto de um casal criado no maior aquário da América do Sul, na cidade do Guarujá, SP – o Acqua Mundo (www. acquamundo.com.br). O filhote, atualmente considerado jovem, nasceu em novembro de 2008 e apresenta histórico saudável de desenvolvimento, pesando quase 4kg. Entretanto, devido ao histórico de ter causado a quebra de ovo na temporada reprodutiva que passou e por seguir apresentando comportamento agressivo, o jovem pinguim irá passar alguns meses no Aquário Municipal de Santos, SP. Esse remanejamento visa favorecer a formação dos casais e a postura de ovos pelos pinguins que estão no Acqua Mundo
Reabilitação de pinguins afetados por petróleo Clínica Veterinária n. 50 e n. 51 Aves e mamíferos marinhos visitantes da costa brasileira - Clínica Veterinária n. 20 Primeiros socorros a cetáceos - Clínica Veterinária n. 5
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Esta temporada reprodutiva teve início em setembro e até agora seis casais já se formaram no Acqua Mundo
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Alexander Welker Biondo
Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES): ensinando medicina veterinária e cidadania Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk
MV, mestre, dr., prof. tit. Depto. Medicina Veterinária - UFPR felipewouk@yahoo.com.br
Rogério Ribeiro Robes
MV, mestre, RT pela UMEES rrrobes@ufpr.br
Alexander Welker Biondo
MV, mestre, dr. prof. assist. Depto. Medicina Veterinária UFPR. prof. visitante - Universidade de Illinois e da Universidade de Purdue, EUA abiondo@illinois.edu
A
densidade populacional de animais domésticos tem aumentado nas vias públicas dos grandes centros urbanos como conseqüência do abandono e guarda irresponsável de cães e gatos. Entre os principais problemas causados por essa fauna urbana e sinantrópica estão vários agravos à saúde pública, como zoonoses e acidentes por mordeduras 1. As atividades isoladas de recolher e eliminar cães e gatos não têm se mostrado efetivas para o controle da dinâmica dessas populações, visto que a disposição de abrigo e alimento, a procriação animal sem controle e a falta de responsabilidade do homem quanto à guarda animal contribuem para manter esse quadro. Estudo retrospectivo do recolhimento e eutanásia de cães em Curitiba de 20012004 demonstrou que, mesmo com mais de 1.000 cães mortos por mês, não houve impacto no controle populacional 2. Um programa ideal de controle de populações animais deveria incluir ações educativas permanentes, controle da reprodução, e registro e identificação animal. A comunidade deve trabalhar em conjunto com o programa para indicar as maiores necessidades da região e colaborar na execução das propostas 3. O Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) realiza desde 2004 projetos de extensão universitária junto à comunidade local, executando trabalhos de educação em zoonoses e guarda responsável, com o intuito de atuar continuamente no controle das populações animais e de seus agravos (www.zoonoses. agrarias.ufpr.br). Com base nessa proposta, surgiu em 2008 a Unidade Móvel de Esterilização 14
de cães e gatos e Educação em Saúde (UMEES), que tem por objetivo auxiliar no ensino de cirurgia de pequenos animais, zoonoses, saúde pública, bemestar animal e áreas correlatas, além de se tornar importante instrumento nessas ações sociais de cidadania para a formação profissional do futuro médico veterinário (Figuras 1 e 2). A intenção é também promover a guarda responsável, dimensionar e cadastrar as populações de cães e gatos de Curitiba e Região Metropolitana e realizar cirurgias de castração, a fim de controlar o crescimento da população de animais domésticos. As atividades realizadas pela UMEES contam com a participação de estudantes de Medicina Veterinária em todas as etapas, sob a supervisão de professores, pós-graduandos e residentes, com a criação de um novo programa de residência: Medicina Veterinária do Coletivo. Para a realização dos procedimentos de esterilizações cirúrgicas e educação no interior de um veículo foi necessário adaptar um ônibus convencional de transporte interestadual para que este tivesse as mesmas características funcionais e higiênicas de um centro cirúrgico, e constituísse uma Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde. A iniciativa foi viabilizada por um convênio entre a Prefeitura Municipal de Curitiba (PMC) e a UFPR, assinado no mês de abril de 2009, com a cessão de equipamentos pela PMC. A liberação do ônibus para funcionamento passou por várias fases, tais como: processo interno de licitação para aquisição e modificação interna por pregão eletrônico do veículo via UFPR; aprovação da UMEES como projeto de extensão na Pró-Reitoria de Extensão e
Figura 1 - Unidade Móvel de Esterilização de cães e gatos e Educação em Saúde (UMEES), da Universidade Federal do Paraná
Cultura (PROEC); estabelecimento do convênio com a Prefeitura de Curitiba; aprovação para trânsito pela Circunscrição Regional de Trânsito (CIRETRANPR); aprovação em reunião ordinária do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR); e aprovação de parceria com a Associação dos Clínicos de Pequenos Animais do Paraná (ANCLIVEPA-PR). A partir disso, formou-se um grupo multidisciplinar que coordenou a adequação do ônibus conforme a área de conhecimento de cada integrante, especialmente quanto aos protocolos de produtos e equipamentos e quanto às instalações elétricas e mecânicas mais adequadas para a realização dos procedimentos cirúrgicos, todas elas minuciosamente verificadas para atender aos regimentos e legislações vigentes da UFPR, do CRMV-PR, da Prefeitura de Curitiba e do CIRETRAN-PR. A modificação foi feita em um ônibus modelo Mercedes-Benz 371RS (ano de fabricação 1989, modelo 1990, cor predominante prata) da UFPR, tanto na sua estrutura interna e externa como nos aspectos hidráulicos, elétricos e mobiliários, segundo as normas técnicas e sanitárias do CRMV-PR e Vigilância Sanitária de Curitiba, estabelecidas pela legislação em vigor. As principais alterações no interior do ônibus foram: troca do assoalho original por outro revestido com napa lavável; isolamento termoacústico em isopor; revestimento do teto e das paredes em fórmica; adaptação de quatro bagageiros em canis e gatis (Figura 2); instalação de duas pias de aço inoxidável, armários complementares, toldo externo, mesas auxiliares e duas mesas cirúrgicas em aço inoxidável; fechamento de oito janelas, sendo quatro de cada lado no ambiente em que fica a sala cirúrgica;
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Rodrigo Juste Duarte
o ambiente o mais asséptico possível (Figura 4). Os cirurgiões, anestesistas, residentes e estagiários entram no ônibus pela sala de educação, realizam a antisepsia e a paramentação na ante-sala e em
Figura 3 - Ponto de acesso à rede externa de energia elétrica e equipamentos de ar condicionado instalados no bagageiro
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abertura de uma porta lateral no final do lado direito do veículo; e colocação de móveis internos. Vale ressaltar que, por se tratar de uma Unidade Móvel de ensino e educação em saúde e não de fluxo de esterilizações, foram instaladas apenas duas mesas no centro cirúrgico. As alterações dos aspectos hidráulicos e elétricos consistiram na colocação de bomba d'água automática, canos e conexões, tomadas, interruptores e fios, luminárias de teto, e na instalação de três equipamentos de ar condicionado e de um cabo de energia com quarenta metros de comprimento para acesso externo a energia elétrica (Figura 3). Na área externa foram instaladas caixas de água potável e para efluentes, compartimento para cilindro de oxigênio e gerador para suprir eventual falta de energia. Outro aspecto importante observado é o fluxo no interior do ônibus, pois, como num centro cirúrgico, é necessário manter
Rodrigo Juste Duarte
Figura 2 - UMEES em atividade em Antonia, cidade do litoral do Estado do Paraná. Ao lado, destaque do canil e gatil instalados no bagageiro do ônibus
seguida adentram a sala cirúrgica, onde serão realizadas as castrações dos animais. No interior da sala cirúrgica existem duas mesas para a realização dos procedimentos (Figura 5) e, portanto, podese castrar dois animais ao mesmo tempo, com amplo espaço para equipamentos de monitoramento (tubo de oxigênio, oxímetro e monitoramento cardíaco, aparelho anestésico volátil e foco cirúrgico) e para os próprios alunos. Além do mais, na parte traseira da UMEES há uma geladeira para armazenar vacinas e medicamentos, um forno micro-ondas e uma autoclave pequena. Para o correto funcionamento da UMEES, o local de instalação deve possuir um ponto de luz e um ponto de captação de água, além de contar com sanitários para uso dos alunos e professores participantes. O animal a ser castrado é mantido em gaiolas adaptadas no porta-malas do ônibus, e para receber a preparação cirúrgica entra pela parte traseira do ônibus, por uma passagem existente entre o exterior e a sala de pré- e pós-operatório (Figura 6). Nessa sala é realizada
Figura 5 - Foto da estrutura interna do centro cirúrgico da UMEES
Alexander Welker Biondo
Figura 4 - Planta baixa da UMEES
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a tricotomia e a medicação pré-anestésiA B ca sobre uma mesa com uma gaiola embutida logo abaixo, onde o animal aguarda para entrar por uma porta convencional na sala cirúrgica. Após o procedimento o paciente volta para essa sala, onde permanece em observação em ambiente aquecido (Figura 7). Deste modo, o cirurgião paramentado só entra em contato com o animal quando este já está preparado para o procedimento, o que diminui o nível de contaminação na sala cirúrgica (Figura 8). Figura 6 - A) Foto da estrutura externa do local de entrada dos animais a serem esterilizados na UMEES. B) Foto monstrando o procedimento da entrada do cão à UMEES A UMEES é utilizada apenas na esterilização de cães e gatos com proprietácada município. Além rios, ou com ao menos disso, as famílias terão um responsável pelo obrigatoriamente de paranimal. Isso faz com ticipar das atividades que a guarda responde educação para guarsável ocorra antes dos da responsável e tornaatos cirúrgicos, otimirem-se multiplicadores zando os recursos indessas atividades na vestidos e aumentanárea onde moram. do o índice de sucesso Durante a realização Figura 10 - Leitor e aplicador de microchip do programa a curto, do procedimento cirúrmédio e longo prazos. gico de esterilização, os Por ocasião dos atos cirúrgicos, são As casas são previaproprietários são mais coletadas amostras de sangue para mente visitadas, as uma vez instruídos soRodrigo Juste Duarte permitir a realização de inquérito sorocondições de vida do bre bem-estar animal, Figura 7 - Sala utilizada nos pré e lógico das principais zoonoses nos anianimal verificadas e zoonoses e guarda respós-operatórios mais submetidos às esterilizações, inos proprietários são ponsável tanto na sala cluindo toxoplasmose, leptospirose e orientados a fazer adequações, como de educação localizada ao lado do motoleishmaniose. muros para evitar o acesso à rua e abrirista, que possui um sofá e monitor de Conforme a vigência na época da Regos contra intempéries. Após essa fase, televisão com DVD, como sob o toldo solução Nº 670 do Conselho Federal de os animais são submetidos a exame clíanexo ao ônibus, onde é possível assistir Medicina Veterinária, de 10 de agosto nico-laboratorial, vacinação espécie-esa vídeos educativos e interagir com estade 2000, Capítulo III, da Unidade Mópecífica múltipla, vacinação contra giários e médicos veterinários (Figura 9). vel de Atendimento Veterinário, Artigo raiva, desverminação e tratamento de Além disso, os animais castrados rece9º: “Unidade Móvel de Atendimento outros problemas, como dermatites. As bem uma identificação eletrônica, via Médico Veterinário é o veículo utilitário intervenções cirúrgicas são, portanto microchip aplicado gratuitamente, convinculado a um estabelecimento médico realizadas apenas em animais clinicatendo os dados do proprietário e do aniveterinário, utilizado unicamente para mente saudáveis, vacinados, desvermimal (Figura 10). transporte de animais, nados e com proprietários que possuam sendo vedada realização as exigências sociais estabelecidas em de consulta, vacinação ou quaisquer outros procedimentos médicos veterinários.” Considerando o descrito nessa Resolução não seria possível a realização do procedimento cirúrgico de castração no interior da UMEES. No entanto, em reunião ordinária do Conselho Regional de Figura 8 - Centro cirúrgico da UMEES, com Figura 9 - Foto da estrutura externa da UMEES, mostrando o toldo Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR), duas mesas cirúrgicas, anexo para realização de atividades educativas
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entendeu-se que a UMEES não constitui uma Unidade Móvel de Atendimento Médico Veterinário, pois tem por objetivo a guarda responsável e está vinculada ao ensino de Medicina Veterinária de uma Instituição Federal de Ensino Superior (IFES), além de estar em sintonia à demanda social em saúde animal e saúde pública. O Conselho Federal de Medicina Veterinária, atento à esta demanda social e à participação do médico veterinário na assistência da saúde da família, e ciente de que "programas desta ordem refletem positivamente na classe Médico Veterinária como alicerce técnico na saúde pública e no próprio Sistema Único de Saúde" recentemente estabeleceu em sua Resolução No. 962, de 27 de agosto de 2010, Artigo 6º: "Os procedimentos de contracepção em cães e gatos também poderão ser realizados em Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES), devidamente regularizada perante o CRMV e demais órgãos competentes, tais como registro no Departamento de Trânsito e Prefeitura Municipal". Ainda determina que "a UMEES deve estar, obrigatoriamente, vinculada a uma instituição pública e, se possível, a uma instituição de ensino superior em Medicina Veterinária". Sendo assim, o termo UMEES se tornou portanto uma sigla genérica de Unidades Móveis vinculadas ao ensino de Medicina Veterinária em todo o Brasil. Os profissionais da UMEES da UFPR não realizam procedimentos de esterilização em animais de rua ou sem dono, por entenderem que não se ensina guarda responsável assumindo a irresponsabilidade de quem os abandonou. As atividades da UMEES da UFPR são voltadas exclusivamente aos animais de população carente, com triagem social realizada por secretaria municipal de ação social ou similar, inserindo socialmente apenas comunidades que não teriam acesso a um atendimento veterinário particular. Deste modo, ao contrário de competir com o médico veterinário particular, a UMEES insere a profissão dentro do contexto social nessas comunidades carentes. Além de esterilizar o animal, a UMEES da UFPR funciona como um atrativo para população de baixa renda, pois facilita o acesso desta aos profissionais da saúde e possibilita o repasse 18
de orientações corretas sobre cuidados com os seus animais e sobre noções de zoonoses. Com base nisso, ressalta-se que a participação social é essencial para o bom desenvolvimento da proposta da UMEES, para que o programa não tenha funcionalidade pontual, mas que perpetue o conhecimento entre as gerações e que a educação e o respeito com os animais se estabeleçam de forma continuada. Vale ressaltar que em estudo realizado com modelos matemáticos ficou evidenciado que, mesmo para altas taxas de esterilização (por exemplo 80%), uma redução de 20% na densidade populacional seria notada apenas após cerca de cinco anos de campanha de esterilização 4. A UMEES e demais propostas de esterilização de cães e gatos devem funcionar como parte de um Programa de Guarda Responsável e Educação em Saúde, e não o inverso, pois a solução para o descontrole populacional de cães e gatos está na educação para a guarda responsável 5. Nesse aspecto, dois projetos se destacam na UFPR: um deles é o Projeto Veterinário Mirim, realizado no município de Pinhais/PR desde 2006, que consiste numa importante ferramenta de educação para guarda responsável nas escolas do município e permite a atuação direta das crianças como multiplicadoras do conhecimento 6. Nesse sentido é de suma importância que se estabeleçam políticas públicas para garantir a eficiência das ações educativas e o impacto das esterilizações na população de animais do local em questão 7. A inserção de temas como zoonoses, bemestar animal e guarda responsável no conteúdo de ciências da rede de ensino público municipal também é outro exemplo de ação de educação continuada em saúde, com dois livros infantis já produzidos pela UFPR, o primeiro intitulado "Zoonoses, bem-estar animal e guarda responsável" e o segundo "A cidade e seus bichos". Em conclusão, o controle e prevenção dos agravos à saúde animal, ao meio ambiente e à saúde pública constituem as bases do conceito de saúde única, onde o êxito de cada programa depende do outro. Assim, entende-se que recursos de secretarias de saúde e meio ambiente podem e devem ser investidos na saúde e controle animal, em particular nos centros urbanos de grandes cidades,
pois afetam diretamente a saúde ambiental e a saúde pública. A UMEES deve ser considerada também como um instrumento no ensino de cirurgia de pequenos animais, zoonoses, saúde pública, bem-estar animal e outras áreas correlatas, mas principalmente na formação profissional e cidadania do futuro médico veterinário. Sugestão de bibliografia 1-SILVANO, D. ; BENDAS, A. J. R. ; MIRANDA, M. G. N. ; PINHÃO, R. ; MENDES-DE-ALMEIDA, F. ; LABARTHE, N. V. ; PAIVA, J. P. Divulgação dos princípios da guarda responsável: uma vertente possível no trabalho de pesquisa a campo. Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2010, v. 9, n. 9, p. 64-86. 2-BIONDO, A. W. ; CUNHA, G. R. ; SILVA, M. A. G. ; FUJII, K. Y. ; UTIME, R. MOLENTO, C. F. M. Carrocinha não resolve. Revista do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná, n. 25, p. 20-21. 2007. 3-São Paulo (Estado). Secretaria de Estado da Saúde São Paulo. Manual: Programa de Controle Populacional de cães e gatos. São Paulo: SMSP, 2006. p. 157 4-AMAKU, M. ; DIAS, R. A. ; FERREIRA, F. Dinâmica populacional canina: potenciais efeitos de campanhas de esterilização. Pan American Journal of Public Health; v. 25, n. 4, p. 300-304. 2009 5-MOLENTO , C. F. M. ; LAGO, E. ; BOND, G. B. Populational control of dogs and cats in ten Rural Villages in the State of Paraná, Brazil: mid-term results. Archives of Veterinary Science; v. 12, n. 3., p. 43-50, 2007. 6-BARROS, C. C. ; PAMPUCH, R. ; ANNUNZIATO, R. J. ; JUNIOR AMORA, D. S. ; CUNHA, G. R. ; BRAGA, K. F. ; SCZEPANSKI, B. ; ALMEIDA, J. C. ; WOUK, A. F. P. F. ; BIONDO, A. W. Veterinário mirim: ferramenta na educação em saúde e promoção de cultura sobre guarda responsável e bem-estar animal no município de Pinhais/PR. Revista Veterinária em Foco, v. 6, n. 2, p. 179-184, Canoas/RS, 2009. 7-GARCIA, R. C. M. ESTUDO DA DINÂMICA POPULACIONAL CANINA E FELINA E AVALIAÇÃO DE AÇÕES PARA O EQUILÍBRIO DESSAS POPULAÇÕES EM ÁREA DA CIDADE DE SÃO PAULO, SP, BRASIL. 2009. 265p. Tese (Doutorado em Ciências - Programa de pós-graduação em Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
Agradecimentos Agradecemos ao prof. dr. da UFPR James Newton Bizetto Meira de Andrade e aos acadêmicos de medicina veterinária da UFPR Graziela Ribeiro da Cunha, Carolina Lacowicz, Daniel Hyroito Sano e Katlyn Barp Meyer, por colaborarem para a produção desta matéria.
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
Merial apóia ação inédita no mercado brasileiro e lança campanha de estímulo ao recolhimento de embalagens Parceria do SINDAN com associações e órgãos públicos resultou na implantação de projeto piloto para a correta destinação de embalagens utilizadas em clínicas e pet shops. A Merial lançou campanha exclusiva de conscientização dos consumidores
A
ções efetivas para o correto cuidado com lixo já começaram a fazer parte da rotina da população brasileira nas últimas décadas. Embora avanços tenham sido conquistados, o conhecimento sobre a destinação correta de alguns tipos de materiais merece uma atenção diferenciada. Poucos sabem, mas assim como as pilhas não devem ser descartadas em lixo comum, embalagens de produtos de uso veterinário, como pipetas de antiparasitários, seringas para vermifugação e outros tipos de materiais, precisam de uma destinação adequada. Preocupada com esta realidade e em respeito à nova Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tramitou no Congresso Nacional (lei federal nº 12.305) e teve sua aprovação em agosto desse ano, a Merial Saúde Animal colaborou com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), com o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Paraná (CRMVPR), com a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (ANCLIVEPA-PR) e a Serquip, empresa de destinação de resíduos, no lançamento, em 17 de setembro, do Projeto Piloto de destinação correta de resíduos
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sólidos no Estado do Paraná. De acordo com dados do Sindan, apenas entre 25% a 30% do lixo gerado em clínicas e hospitais veterinários têm uma destinação final correta. Para colaborar com o projeto a Merial Saúde Animal, de forma pioneira, incentiva seus consumidores e parceiros em clínicas e hospitais veterinários a descartarem corretamente as embalagens de seus produtos. No Paraná, a empresa iniciou o projeto piloto, uma ação exclusiva na indústria veterinária para pequenos animais, que foi lançada em conjunto com um programa de recolhimento de resíduos das clínicas veterinárias do estado, além de ser uma parceria do sindicato da indústria veterinária e a associação de clínicas paranaenses. A campanha pretende desenvolver no consumidor o hábito de retornar as embalagens utilizadas de produtos veterinários no ponto de venda. Assim, os donos de animais de companhia do Paraná têm direito a um desconto na compra do antipulgas Frontline, mas com a condição de que o cliente devolva à clínica ou ao petshop as embalagens vazias. Desta forma, esta ação cria oportunidades que incentivam uma atitude
ecologicamente responsável e ao mesmo tempo, oferece dispositivos aos pontos comerciais como oportunidade de alavancar vendas por meio da fidelização de clientes. Um projeto teste foi realizado no interior de São Paulo, e cerca de 85% do número de embalagens comercializadas retornaram vazias ao estabelecimento. A idéia da empresa é auxiliar na divulgação do Projeto Piloto de destinação de resíduos que foi lançado inicialmente no Paraná. O estado foi escolhido por ser hoje uma referência nacional no respeito ao meio ambiente, seja pela legislação e atuação do poder público ou pela reconhecida consciência ecológica de sua população. “Além de esclarecer à população sobre o descarte correto das embalagens, nossa ação é uma importante oportunidade para clínicas e pet shops aderirem à implantação do projeto. Estamos felizes e orgulhosos em contribuir para o acesso à informação e promover uma mudança de paradigma, na forma como é realizado o comércio e consumo de artigos para a saúde animal no Brasil”, conclui o diretor de operações para animais de companhia da Merial Saúde Animal, Luiz Luccas.
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Conpavepa, Conpavet e Pet South America: permanece o sucesso por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto -
CRMV-MG 10.684 - fotos:
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realização anual do Conpavepa e da Pet South America já era uma associação de eventos bastante produtiva. Este ano, mais um congresso foi incluído: o Conpavet. Isto fez com que a oferta da informação científica aumentasse significativamente.
Alexandre Corazza
Diversas especialidades e assuntos atuais preencheram a grade científica dos dois congressos. Além das palestras, foram apresentados quase 200 trabalhos científicos.
Vários destaques foram marcantes no estande da Vetnil: a ONG Mata Ciliar, nova parceira, que distribuiu durante a feira 3.000 mudas de ipê rosa, pitanga e grumixama; os lançamentos Pet Active Aprendiz e Pet Active Gatos; o sorteio de um carro 0 km; e o designer de todo o estande com material de reciclagem
A Ouro Fino elaborou uma praça para receber todos os visitantes e comemorar as inovações lançadas pela empresa na última década
Cerenia, antiemético para cães, foi a novidade apresentada pela Pfizer
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Na Pet South America os visitantes puderam encontrar uma grande variedade de produtos para pet shops e serviços veterinários especializados. Um detalhe marcante este ano foi a preocupação de diversos expositores em mostrarem sua responsabilidade ambiental e a oferta de produtos ecologicamente corretos.
Cortavance (esteróide em spray), foi uma das novidades apresentadas pela Virbac
O xampu Dermogen, para peles sensíveis de cães e gatos, foi uma das novidades da Agener
A Merial, empresa com produtos reconhecidos no mercado pela sua alta qualidade também investe no meio ambiente. Iniciou em setembro campanha exclusiva de conscientização dos consumidores para o recolhimento de embalagens
O combate às zoonoses foi destaque no estande da Bayer
Com produtos que primam pela qualidade, a Vencofarma chamou a atenção de muitos visitantes
Estande da Ceva onde se destaca a nova identidade visual da logomarca da empresa
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A promoção de Prac-tic, spot-on contra pulgas e carrapatos, foi o foco das ações da Novartis
A promoção de assinatura da Clínica Veterinária contemplou o veterinário Marcio R. de Mello com uma bolsa de estudo no Cetac (www.cetacvet.com.br)
A segunda edição do concurso Groom Brasil foi um dos destaques presentes na Pet South America. Confira os vencedores do concurso no endereço www.groombrasil.com.br
Duprat destacou o granulado higiênico FisioCat
Infertile, produto utilizado como método de contracepção química em cães machos, foi um dos produtos inovadores encontrado no estande da Farmapet
Os suplementos Pet Slim e Cat Malt foram destaques da Vansil
Royal Shower: grande variedade de produtos para promoção da higiene dos animais
O espaco grooming e novos produtos específicos para a estética animal atrairam muitos visitantes à Pet Society
Consultoria especializada e descontos nos produtos movimentaram o estande da Intervet Schering-Plough
O antiparasitário em gel Vermigel foi a novidade apresentada pela Syntec
Diversos equipamentos para o uso em estética animal estavam em exposição na Clippertec
A Royal Canin marcou presença apresentando todo o processo de fabricação de seus alimentos e destacou pontos importantes, como a rastreabilidade de 100% da matéria prima ao produto acabado. Além de conhecer todos esses detalhes da fabricação dos produtos da Royal Canin, os visitantes puderam participar da promoção vinte anos de Royal Canin no Brasil (www.20anosroyalcaninbrasil. com.br), que dará uma viagem à França
A Premier Pet realizou diversos lançamentos no evento: Premier Ambientes Internos Sênior, Premier Raças Específicas Shih Tzu Adultos, Premier Raças Específicas Shih Tzu Filhotes, Premier Raças Específicas Golden Retriever Adultos. Além disso, apresentou sua linha Premier Ambientes Internos Gatos totalmente revitalizada
Linha Ciclos, destaque da Evialis Os alimentos Pedigree Expert e o novo Whiskas Sachê foram destaques da Mars. Além disso, os visitantes puderam participar da comemoração dos catorze mil cães adotados, em dois anos, por meio da campanha Adotar é tudo de bom (www.adotaretudodebom.com.br)
A Farmina Pet Foods estreou sua participação na Pet South America em grande estilo, apresentando uma ampla linha de produtos
Algumas novidades da Total Alimentos foram os alimentos Max ao Molho, Max Cat ao Molho e Big Boss Gatos (Sabor Misto, Filhotes e seis sabores). Outra novidade que chamou muito a atenção foi Equilíbrio Du Chef, alimento inovador que pode ser encontrado em duas diferentes apresentações: em um kit com dois potes menores de 115g ou em uma embalagem de 250g
STICK’S – bastões de carne funcionais foi a novidade apresentada pela Pet Nutrition
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A marca Supra, da Alisul, esteve presente destacando suas exportações para América do Sul, Europa, África e Ásia
A Organnact colocou em destaque no seu estande a família Palitos Organnact, que completou dez anos de sucesso
A divisão de proteção de marcas da Arjowiggins Security desenvolveu TAG protegido para a ONG Cão Guia Brasil. O TAG sendo reconhecido como legítimo é uma garantia do produto comprado pelo consumidor – realmente revertendo benefícios à ONG
TAG desenvolvido para a ONG Cão Guia Brasil
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
No estande da BioBrasil os visitantes puderam conhecer produtos como o analisador hematológico automático da Mindray e os estetoscópios UltraScope
Hermes Pardini, importante empresa do setor de diagnóstico, marcou presença na Pet South America
Bet Laboratories, empresa especializada em endocrinologia veterinária, recebeu clientes de todo o Brasil
Florais de Saint Germain, terapia alternativa presente na Pet South America
A participação da Real H colocou os produtos homeopáticos veterinários em evidência Ressonância magnética é um dos novos serviços que o Provet divulgou no evento
Cristófoli apresentou variedade de equipamentos para biossegurança
Brasmed, presente com excelentes ofertas e muita variedade Ortovet apresentou ampla linha de produtos para ortopedia veterinária
Flox, agulhas para acupuntura veterinária. Novidade presente na Pet South America
Estande da Arca Brasil, ONG que se empenha por um mundo melhor para homens e animais
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Lupa de mão acoplada com lâmpada de Wood e câmara escura foi destaque da Med-Sinal
Estande da REM/Idexx, empresa de referência em equipamentos de diagnóstico
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Saúde pública A saúde global marca presença no XXII Panvet, em Lima, no Peru
O
XXII Congresso Pan-americano de contou com especialistas das áreas de aniCiências Veterinárias (Panvet) mais de companhia, saúde e produção de ocorreu em Lima, Peru, no período ruminantes, suínos, aves, aquicultura e cade 1 a 4 de setembro de 2010. Esse conmelídeos sul-americanos. Um dos diferengresso se reúne a cada dois anos à Associaciais desse congresso é o Fórum de Educação Pan-americana de Ciências Veterináção Veterinária. Neste ano foram discutidos rias, congregando os profissionais veteritemas relacionados a experiências inovanários do continente americano com o objedoras para a aprendizagem; avaliação do tivo de integrar a comunidade desempenho do estudanveterinária para enfrentar os dete; desenvolvimento e vasafios do novo milênio, que lidação de competências exige a participação empenhado estudante; projetos peda dos profissionais ligados aos dagógicos e acreditação setores de saúde, alimentos, dos cursos de medicina biodiversidade e comércio. O veterinária. Dentro desse Panvet visa também fomentar a espírito de integração e interação entre colegas e institroca de experiências tuições afins, a atualização e o entre as instituições, deintercâmbio de experiências, senvolveu-se também um bem como a geração de concluinstigante debate sobre sões técnicas que são repassa- Ana Paula Battaglin, doutoranda saúde pública veterinária, das aos órgãos políticos da re- na UEL, presente no evento com de modo a promover e o doutorando Rafael Fagnani e a gião. profa. Ana Paula F.R.L. Braca- desenvolver o conceito O programa científico rense, também da UEL de saúde como um bem
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dependente, em todo o mundo, de diferentes variáveis, e portanto com diferentes responsáveis (um mundo, uma saúde). O conceito de saúde global foi muito enfatizado como fator transformador para atingir a meta de formar profissionais capazes de avaliar e solucionar problemas de saúde pública. Os objetivos e atividades desenvolvidos dentro desse conceito podem ser acessados pelo endereço eletrônico: www.sapuvetnet.org. Além de cursos pré-congresso, palestras e fóruns, foram apresentados 98 trabalhos em forma oral e 362 em pôster. O Brasil participou apresentando 15 trabalhos orais e 70 pôsteres. O XXIII Panvet ocorrerá em 2012 em Cartagena, Colômbia. Programem-se!
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Saúde pública VII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina “O que eles deveriam fazer” e “O que nós podemos fazer” 25 e 26 de setembro de 2010 - Belo Horizonte - MG
Vitor Márcio Ribeiro Professor adjunto III - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Médico veterinário da Clínica Veterinária Santo Agostinho, Brasil Membro da comissão científica da Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais do Estado de Minas Gerais (Anclivepa-MG) Conselheiro Suplente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais - MG (CRMV-MG).
A
Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais – Regional Minas Gerais, ANCLIVEPA-MG, realizou nos dias 25 e 26 de setembro de 2010 o VII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina. O tema proposto para o simpósio foi “O QUE ELES DEVERIAM FAZER” e “O QUE NÓS PODEMOS FAZER”. Com essa motivação crítica os organizadores se propuseram a discutir com coragem temas como “Leishmaniose no Brasil e no mundo”, “Transmissão sexual e vertical da Leishmania infantum”, “Leishmaniose visceral felina”, “Controle do vetor em comunidades”, “O canicídio adotado como estratégia prioritária de controle”, “Aspectos jurídicos que envolvem a doença”, “Controle populacional e posse responsável como alternativa de controle da doença”, entre outros. Entretanto, as atenções foram centralizadas no canicídio atualmente praticado em nosso país. Os pesquisadores demonstraram por meio de evidências científicas que muito se tem a aprender sobre a leishmaniose visceral canina e que muito pode se feito. Ficou claro que algumas medidas devem ser tomadas prioritariamente e precisam ser melhor discutidas e divulgadas. Em primeiro lugar está a educação em saúde. Essa medida, básica em qualquer programa de controle de doenças, exige que a política de saúde pública seja integral. A leishmaniose visceral acomete principalmente a população pobre, que necessita de melhor alimentação, educação e estrutura social. É nessas populações que a doença acomete e mata o maior número de pessoas, e apesar de seus cães serem mortos em larga escala – até sem diagnóstico que confirme sua infecção –, os números 32
Auditório da Emater repleto de participantes provenientes de diversas partes do país
Carlos Henrique Nery Costa, profissional com doutorado em saúde pública tropical (Harvard, 1997) é Coordenador Executivo da Rede Nordeste de Biotecnologia, Diretor do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella e Supervisor da residência médica em Infectologia da UFPI. Em seu currículo Lattes os termos mais freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: leishmaniose visceral, Calazar, Leishmania chagasi, diagnóstico, Lutzomyia longipalpis, transmissão, AIDS, controle, doença de Chagas e epidemiologia. Para o especialista, as medidas para controle da leishmaniose visceral continuarão não surtindo efeito, pois não focam ações e pesquisas para o controle do vetor, que deveria ser o principal alvo das ações e das pesquisas
não indicam redução da doença nessas áreas. O que será que acontece? Será que a educação em saúde, voltada para o controle da leishmaniose visceral deixa a desejar? Será que a prática anti-ética e sem resultados consistentes do canicídio não é a máscara da falta de investimento em educação e em estrutura social da população carente? Durante a conferência sobre a leishmaniose visceral humana, destacou-se que a questão da leishmaniose visceral não
pode ser encarada como algo restrito às grandes cidades. Parece haver desvio da apresentação do problema, quando o serviço público focaliza a discussão nos grandes centros. Sabemos que nas regiões de maior carência social do nosso país o canicídio é praticado livremente, mas os resultados obtidos são inconsistentes. Nos grandes centros, da mesma forma, as ações de controle implementadas centralizam-se no canicídio. Os resultados de tal conduta têm sido contestados do ponto de vista técnico e ético. Para isso cita-se Otranto et al. (2007): “A prática da eutanásia de cães infectados é uma abordagem inaceitável para grande parte da sociedade, em vários países. Nessas sociedades, os esforços são empreendidos para busca de vacinas e proteção dos cães contra as picadas de flebotomíneos”. Essa não tem sido a trilha proposta pelos nossos servidores públicos. Outro agravante discutido, foram as evidências de falhas dos métodos de diagnóstico da infecção em cães, que levaram à morte milhares de animais. Por menos sensíveis que sejam os técnicos públicos, isso não pode continuar. Durante o simpósio foram apresentados dados mostrando que o diagnóstico canino está sujeito a reações cruzadas e resultados falso-positivos com os métodos atuais de diagnóstico. Esses dados são do conhecimento do mundo científico e estão indicados até nos kits de métodos de diagnóstico utilizados na rotina. Mesmo assim, tivemos, recentemente, em São Paulo, inexplicável reação do
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Saúde pública setor público quanto a adotar critérios seguros para o diagnóstico da doença canina, em projeto de lei (PL 510/2010) que regulamentava tal questão. Isso parece novamente um problema de análise ética. Onde estão os órgãos responsáveis quando muitos animais são mortos por exames ineficientes ou quando são mortos sem resultados que justifiquem tão triste conduta? Não seriam os órgãos de classe profissionais responsáveis por zelar pelo bem-estar da sociedade ? O paradigma de que acima de tudo está o homem diz que os animais podem ser mortos por nada, até com diagnósticos errados ou inconsistentes? Por que a conduta pública tem se radicalizado na prática da eliminação dos cães? Por que tem se concentrado em buscar apoio somente na literatura favorável a tal condição e por que convida para as discussões somente pesquisadores que simpatizam com tal conduta? Também, durante o simpósio foi analisada a questão do vetor. Todas as ações públicas que temos visto em nosso país indicam que o controle do vetor não é priorizado. Por que não se concentram esforços em tal medida? Recente revisão sistemática realizada por Romero & Boelaert (2010), apresentada durante o simpósio, indicou que as intervenções de controle do vetor são mais bem aceitas pela sociedade, por motivos óbvios, e os modelos matemáticos confirmam e encorajam sua eficiência. Esses autores chamam a atenção para que seja adquirido melhor conhecimento da sazonalidade do vetor e do seu comportamento para otimização e qualificação dessas intervenções. Por que isso não é adotado? Por que as medidas contra o vetor não têm sido radicalmente efetuadas? O controle do vetor, aparentemente, vem sendo negligenciado,
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Durante o simpósio o dr. Fernando Lender recebeu homenagem da Anclivepa-MG pela sua constante dedicação em proteger a vida e promover a saúde. Acima, da esquerda para a direita, dr. Fernando Lender e dr. Vitor Márcio Ribeiro (Anclivepa-MG)
pois o serviço não instrui a população de forma sistemática a respeito das medidas necessárias para evitar que ocorra a transmissão entre os cães. Os nossos funcionários públicos, quando visitam as casas para coleta de sangue de cães para diagnóstico, não informam as pessoas sobre a prevenção da transmissão para seus animais. As pessoas não são orientadas para o uso dos colares inseticidas, para o manejo ambiental que desfavoreça criadouros dos insetos, para aplicação de inseticidas nos canis e para a vacinação dos cães. Por que isso não acontece? Será que os funcionários que visitam as casas não têm conhecimento ou treinamento adequados para esse serviço? Será que a prevenção não é prioridade dos articuladores públicos da saúde? Por que insistem no diagnóstico duvidoso e na duvidosa eliminação canina? Lembramos enfaticamente que o controle do vetor é apontado por estudos reconhecidos cientificamente como a principal medida de controle da leishmaniose visceral. Outras discussões apresentadas durante o simpósio foram as irrefutáveis
evidências científicas da existência de outros reservatórios em meio urbano – gatos, gambás, roedores e o próprio homem. Essas evidências trazem a pergunta: o serviço público partirá para a eliminação de todas as espécies animais envolvidas? Evidências científicas da transmissão sexual e vertical da Leishmania infantum foram apresentadas, alertando os clínicos sobre a necessidade do controle dos animais reprodutores. A questão do tratamento dos cães também foi analisada e as publicações que demonstram a neutralização ou redução da infecciosidade dos cães tratados foram apresentadas. Tem sido consolidado o conceito de que os cães podem ser submetidos a tratamentos. Os animais tratados vivem com qualidade e são protegidos contra o vetor com medidas comprovadas pela literatura científica. Aliás, todos os cães, infectados ou não, em tratamento ou não, devem ser constantemente protegidos da picada do vetor, por meio do uso de inseticidas em forma de colar ou tópicos em forma de spray, pour on ou banhos. A questão jurídica foi analisada durante o simpósio e a ANCLIVEPA coloca à disposição dos clínicos um assessor jurídico, para auxílio em casos pontuais. É do conhecimento dos clínicos que existem várias ações, em todo o Brasil, que defendem a vida de cães, por meio do tratamento de animais infectados. Por tudo isso, a ANCLIVEPA reiterou após o VII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina sua discordância da política do canicídio e se coloca disponível para colaborar com práticas que visem o benefício de toda a sociedade, buscando ações pautadas na literatura científica e não guiadas por conflitos de interesses ou por interesses pessoais.
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
Doença cerebelar em cães e gatos Cerebellar disease in dogs and cats Enfermedad cerebelar en perros y gatos Resumo: As doenças do cerebelo são comuns em pequenos animais e resultam em uma síndrome clínica caracterizada por hipermetria, base ampla de sustentação e tremores intencionais de cabeça e tronco. Todos os movimentos dos membros são espásticos e desajeitados. O exame neurológico auxilia a localização de lesões cerebelares ou a detecção de disfunções relativas a outras porções do sistema nervoso, caracterizando um processo patológico multifocal. As afecções neurológicas de cães e gatos podem sugerir uma lista muito extensa de diagnósticos diferenciais, pois podem ser causadas por processos infecciosos, degenerativos e traumáticos, entre outros. As possíveis etiologias para a síndrome cerebelar incluem: aplasia, hipoplasia, abiotrofia, neoplasia, infarto vascular e distúrbios inflamatórios. O objetivo do presente trabalho é revisar os sinais clínicos que auxiliam na localização da lesão cerebelar e discorrer sobre as possíveis causas dessa síndrome em cães e gatos. Unitermos: neurologia veterinária, etiologia, síndromes neurológicas Abstract: Diseases of the cerebellar system are common in small animals, and result in a clinical syndrome characterized by hypermetria, base-wide stance and intentional tremors of the head and body. All movements of the limbs are spastic and awkward. The neurological examination assists in the localization of lesions restricted to the cerebellum or in the detection of disorders relating to other parts of the nervous system, which characterizes a multifocal disease process. Neurological disorders in dogs and cats may suggest a very extensive list of differential diagnoses, since they may be caused by infectious, degenerative and traumatic processes, among others. The possible etiologies for cerebellar syndrome include: aplasia and hypoplasia, abiotrophy, cancer, vascular stroke and inflammatory disorders. The aim of this paper is to review the clinical signs that aid in the location of the cerebellar lesion and discuss the possible causes of this syndrome in dogs and cats. Keywords: veterinary neurology, etiology, neurological syndromes Resumen: Los trastornos del sistema cerebeloso son comunes en los pequeños animales, y dan lugar a un síndrome clínico caracterizado por hipermetría, aumento de la base de apoyo y temblores de la cabeza y del tronco. Todos los movimientos de las extremidades son espásticos e incoordinados. El examen neurológico ayuda en la localización de las lesiones en el cerebelo o en la detección de los trastornos relacionados con otras partes del sistema nervioso, caracterizando así una enfermedad multifocal. Los trastornos neurológicos en perros y gatos pueden tener origen en una gran cantidad de procesos infecciosos, degenerativos y traumáticos, entre otros. Las posibles causas para el síndrome cerebeloso son: aplasia o hipoplasia, abiotrofia, cáncer, derrames vasculares e inflamatórias. El objetivo de este trabajo es revisar los signos clínicos que ayuden en la localización de la lesión cerebelosa y discutir las posibles causas de este síndrome en perros y gatos. Palabras clave: neurología veterinaria, etiología, síndromes neurológicos
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hipoplasia, abiotrofia, neoplasia, trauma, alterações vasculares e distúrbios inflamatórios. O objetivo do presente trabalho é revisar os sinais clínicos que auxiliam na localização da lesão cerebelar e discorrer sobre as possíveis causas dessa síndrome em cães e gatos. Anatomia funcional O cerebelo, que em latim significa “pequeno cérebro”, localiza-se caudal ao córtex cerebral e dorsal ao tronco do encéfalo (Figuras 1 e 2). Embora constitua apenas 10% do encéfalo, ele contém mais da metade de todos os neurônios cerebrais 3. O cerebelo não é necessário para a sensação ou para o movimento. A força muscular permanece quase inalterada com a destruição completa do cerebelo. Mas ele desempenha um papel crucial
MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu palumboma11@yahoo.com.br
Felipe Gazza Romão MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu fgazza_vet@hotmail.com
Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
henrique@fmvz.unesp.br
Maria Lúcia Gomes Lourenço MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
mege@uol.com.br
Michiko Sakate MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
michikos@fmvz.unesp.br
na coordenação dos movimentos iniciados por outras partes do cérebro, fazendo-o por meio do ajuste dos impulsos que são emitidos pelos sistemas piramidal e extrapiramidal 3. Como o cerebelo não inicia a atividade motora, a paresia não é um sinal de disfunção cerebelar 4, a menos que o tronco do encéfalo também esteja acometido 5. As lesões do cerebelo causam importantes déficits clínicos na harmonia com que se realiza o movimento 3. A ataxia simétrica, caracterizada por marcha hipermétrica de base ampla, a ataxia do Mariana Isa Poci Palumbo/FMVZ/Unesp-Botucatu
Introdução As afecções neurológicas de cães e gatos podem sugerir uma lista muito extensa de diagnósticos diferenciais, pois podem ser causadas por processos infecciosos, degenerativos e traumáticos, entre outros. A realização de exame neurológico completo e a localização da lesão são fundamentais para conduzir ao diagnóstico 1. O exame neurológico auxilia a localização de lesões apenas no cerebelo ou a detecção de disfunções relativas a outras porções do sistema nervoso, caracterizando um processo patológico multifocal. A gravidade da disfunção cerebelar pode ser estimada e exames neurológicos seriados podem monitorizar seu desenvolvimento 2. As doenças do sistema cerebelar são comuns em pequenos animais e suas possíveis etiologias incluem: aplasia,
Mariana Isa Poci Palumbo
Figura 1 - Sistema nervoso central de cão
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
Ana Augusta Pagnano Derussi
Figura 2 - Esquema da localização anatômica do cerebelo (caudal ao encéfalo e dorsal ao tronco encefálico)
tronco e o tremor intencional, que é mais pronunciado na cabeça, são muito sugestivas de doença cerebelar 5. Os sinais clínicos incluem uma resposta exagerada dos membros quando o movimento é iniciado (hipermetria), ou durante as reações posturais, tais como o saltitamento. Às vezes, o animal ultrapassa a vasilha de alimentos quando tenta se alimentar 6. Animais afetados frequentemente colocam as patas muito distanciadas umas das outras (marcha de base ampla) e andam de maneira descoordenada (ataxia), o que reflete a incapacidade do sistema vestibulocerebelar e do trato espinocerebelar em coordenar o equilíbrio e o movimento do esqueleto axial 3. O comportamento e o nível de consciência não são afetados por lesões cerebelares 5. Diferentemente dos tremores do sistema extrapiramidal, os tremores de intenção são muito menos graves quando o animal está relaxado e imóvel, piorando quando um movimento está sendo executado 3. A lesão aguda no cerebelo causa um quadro clínico diferente, sem depressão da consciência, com hipertonia extensora dos membros torácicos e flexão dos membros pélvicos e opistótono. Esses sinais são mais pronunciados quando combinados com lesões no tronco do encéfalo, no nível do mesencéfalo ou da ponte 5. Na doença cerebelar, observa-se tremor do bulbo ocular, que predomina sobre o nistagmo, mais associado à doença vestibular. O nistagmo vestibular é mais pronunciado à medida que o animal substitui o olhar de um campo visual por outro (tremor intencional) 5. As lesões dos lobos floculonodulares
do cerebelo produzem a doença vestibular paradoxal, com sinais semelhantes aos da doença vestibular, incluindo perda do equilíbrio, nistagmo e tendência a cair. Nesses casos, o corpo se inclina para o lado oposto da lesão e a cabeça mostra desvio para o lado oposto dela 7. O envolvimento da cabeça diferencia as lesões cerebelares das lesões dos tratos vestibuloespinhais, que podem produzir sinais semelhantes nos membros 5. A resposta à ameaça pode ficar prejudicada de modo ipsilateral à lesão nos animais com doença cerebelar difusa, mesmo que a visão e a função do nervo facial estejam normais 6. Etiologias As possíveis etiologias da doença cerebelar incluem: aplasia, hipoplasia, abiotrofia, neoplasia, trauma, alterações vasculares e distúrbios inflamatórios. Aplasia e hipoplasia cerebelares As más-formações incluem aplasia e agenesia parcial ou hipoplasia, referindo-se respectivamente a uma falta parcial ou uniforme do tecido cerebelar. Os sinais clínicos geralmente não são progressivos e podem melhorar com a adaptação 8. O termo “hipoplasia cerebelar” é reservado para doenças como alterações hereditárias, deficiências nutricionais e exposições teratogênicas, em que fatores intrínsecos ou extrínsecos alteram o desenvolvimento normal da população germinativa das células neuroepiteliais 9. A causa mais comum de hipoplasia cerebelar em cães e gatos neonatos é uma infecção viral intrauterina no meio ou no fim da gestação 10. Em cães, a hipoplasia cerebelar não tem sido descrita como secundária à infecção viral intrauterina 10, sendo geralmente hereditária 8. A hipoplasia cerebelar hereditária foi relatada em cães das raças airedale, setter irlandês e chow chow 11. Foi relatada também a ocorrência de hipoplasia cerebelar em seis cães de diferentes raças, incluindo Labrador, weimaraner, dachshund e bull terrier 12. O parvovírus, responsável pela enterite infecciosa felina (panleucopenia), pode produzir uma variedade de más-formações cerebelares, incluindo a hipoplasia cerebelar. Além da virulência do vírus, a vacina modificada com vírus vivo também pode produzir essa síndrome.
Os gatos que são acometidos com o vírus após duas semanas de vida raramente desenvolvem sinais neurológicos, mesmo que os sinais sistêmicos possam ser graves 5. O herpesvírus canino acomete os filhotes de cães com menos de duas semanas de vida e causa ataxia cerebelar. Deve-se considerar a possibilidade de essa forma de doença cerebelar ocorrer em filhotes de cães que sobrevivem aos efeitos sistêmicos do vírus 5. Em cães e gatos ocorre desenvolvimento cerebelar contínuo após o parto, e o grau de incapacidade pode não ser aparente até que tenha ocorrido maturação cerebelar. Nesse caso, os animais acometidos podem ser comparados com outros da mesma ninhada que tenham se desenvolvido normalmente, o que faz com que o problema clínico se torne óbvio. Na maioria dos pacientes, os sinais são estáticos, pois a condição não é progressiva 11. A falta de progressão clínica de um distúrbio cerebelar costuma ser a base para o diagnóstico, que ocorre por exclusão. Técnicas de imagens avançadas, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, podem demonstrar o cerebelo pequeno em muitos pacientes acometidos, mas não em todos 11. Atualmente não há tratamento para promover a maturidade cerebelar normal nem para aliviar os sinais clínicos 5. Os animais acometidos não devem ser usados para reprodução, por causa da possível natureza hereditária da condição 11. Abiotrofia cerebelar O termo abiotrofia é utilizado para descrever um processo prematuro de degeneração do sistema nervoso, tipicamente causado por uma anormalidade intrínseca na estrutura celular, alterando o processo metabólico necessário para a vitalidade e a função celular 13. A degeneração cortical cerebelar primária referese à degeneração e à perda das células de Purkinje e das células granulosas 8, sendo um processo usualmente pósnatal 4. Normalmente, a abiotrofia cerebelar limita-se ao cerebelo, de modo que os animais acometidos exibem apenas sinais cerebelares 11. Com poucas exceções, os filhotes são neurologicamente normais ao nascimento, mas desenvolvem
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déficits cerebelares progressivos 4,10. Na maioria dos animais, os sinais surgem a partir dos dois meses de idade. Os sinais clínicos em geral são lentamente progressivos, acabando por incapacitar o animal 11. O diagnóstico da abiotrofia cerebelar também é de exclusão. Em geral, é fácil distinguir essa lesão da hipoplasia cerebelar à necropsia, pois as abiotrofias cerebelares refletem disfunção e morte celular em um tecido antes normal. As lesões macroscópicas são variáveis, mas em geral há uma redução mínima no tamanho do cerebelo 11. A distrofia neuroaxonal é uma abiotrofia caracterizada por grave degeneração das células neuronais, resultando em tumefações axonais proeminentes denominadas esferóides. Há relato de ocorrência de distrofia neuroaxonal em dois cães da raça papillon que apresentavam ataxia cerebelar progressiva aos seis meses de idade 14. Foi relatada a ocorrência de abiotrofia cerebelar em uma cadela da raça schnauzer miniatura que apresentou sinais de ataxia cerebelar progressiva aos três meses e meio de idade 15. Há trabalho descrevendo os achados clínicos e histopatológicos de 63 cães da raça american staffordshire terrier e a hereditariedade da doença 16. A idade de início dos sinais clínicos variava de dezoito meses a nove anos e a hereditariedade foi mais consistente com um modo de transmissão recessivo, com prevalência estimada de um em 400 cães. A ocorrência de abiotrofia cerebelar cortical foi relatada em uma raça de cão italiana chamada lagotto romagnolo 5. O animal começou a apresentar sinais de ataxia cerebelar com treze semanas de idade e passou por eutanásia com dezessete semanas, devido à rápida progressão da doença. Neoplasia cerebelar As neoplasias que afetam o sistema nervoso central (SNC) podem ser classificadas como primárias ou secundárias, dependendo da célula de origem 17. Os tumores primários surgem de células que normalmente são encontradas no encéfalo e nas meninges, enquanto os secundários são aqueles que atingem o SNC como metástase de um foco primário fora do sistema nervoso, ou como invasão de tecidos não neuronais 38
adjacentes (como o crânio ou vértebra) que invadem ou comprimem estruturas do SNC 18. Os tipos de tumores que podem afetar o cerebelo são: meningiomas, astrocitomas, oligodendrogliomas, meduloblastomas, reticuloses, papilomas do plexo coroide, neoplasias metastáticas e sarcomas de crânio. Um histórico de adenocarcinoma de próstata ou mama pode indicar metástases cerebelares desses tumores 2. Os tumores comprometem a função do sistema nervoso por meio da destruição do parênquima, compressão das estruturas circunjacentes, interferência na circulação, desenvolvimento de edema cerebral vasogênico e interrupção da circulação do líquor. O aumento da pressão intracraniana decorrente dos efeitos combinados da presença da massa, do edema e do acúmulo do líquor pode provocar a herniação do cérebro, ventral ao tentório do cerebelo, ou a herniação do cerebelo em direção ao forame magno 5. Os sinais de neoplasia cerebelar geralmente progridem lentamente, mas a piora aguda pode seguir a hemorragia ou a obstrução do fluxo do líquor com secundário aumento da pressão intracraniana. O diagnóstico deve ser feito com tomografia computadorizada ou ressonância magnética. A punção espinhal para análise do líquor é contraindicada por causa do risco de herniação 5. Há quatro tipos de tratamento indicados para a redução ou a erradicação da massa tumoral: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia 19. Alguns gliomas caninos são cirurgicamente acessíveis, mas a remoção cirúrgica dos gliomas é considerada mais complicada do que a dos meningiomas, pois eles tentam infiltrar o parênquima cerebral normal e é difícil discernir a margem tumoral do tecido encefálico durante a cirurgia 20. Agentes quimioterápicos específicos, que atingem adequadamente o SNC, incluem as nitrosureias (carmustina, lomustina e semustina) 5. Vários cães com histopatologia confirmada de glioma melhoraram após a administração da nitrosureia lomustina, isolada ou associada a outras formas de tratamento 17. Vários autores recomendam o uso da lomustina na dose de 60mg/m2 a cada seis a oito semanas para cães 20.
Trauma e alterações vasculares Qualquer idade, raça ou sexo de cão ou gato é suscetível a trauma craniano. A causa mais comum de traumatismo de cabeça em cães e gatos é acidente com veículo motorizado. Outras causas menos comuns incluem ferimentos penetrantes (por exemplo, ferimentos por bala ou mordedura), quedas e chutes 21. Um traumatismo craniano resulta geralmente em isquemia cerebral, edema, hemorragia e hipoxia. A isquemia é causada por destruição e obstrução mecânica de pequenos vasos sanguíneos na área traumatizada. Os pacientes devem ser submetidos a exames neurológicos cuidadosos e repetidos para avaliar a localização e o grau dos danos intracranianos 21. O tratamento médico deve ser orientado para reverter o edema, a hipoxia e a isquemia encefálicos, a pressão intracraniana aumentada e evitar infecção. Os cuidados de enfermagem são de máxima importância até o animal poder deambular 2. A descompressão cirúrgica do cerebelo pode ser necessária se os fragmentos ósseos estiverem alojados no tecido nervoso 2. Geralmente, pacientes admitidos com traumatismo de cabeça grave (ou seja, que estão em estupor ou coma) devem ser tratados inicialmente com fluidoterapia intensiva – para reverter o estado de choque –, succinato sódico de metilprednisolona e furosemida, além de oxigenioterapia 21. A maioria das doenças que acometem o cerebelo é relativamente lenta no início, mas as lesões vasculares como infarto dos vasos sanguíneos cerebelares podem causar sinais clínicos agudos e não progressivos 5. A ocorrência de sinais neurológicos agudos, unilaterais e não progressivos deve alertar o clínico para a possibilidade de doença cerebrovascular em cães e gatos 22. As doenças vasculares não são relatadas com frequência na literatura veterinária, mas alguns autores confirmaram a ocorrência de infarto cerebelar em sete animais necropsiados no período de cinco anos 22. Esses autores ainda relataram a ocorrência de infarto cerebelar em dois cães diagnosticados por ressonância magnética. Os animais apresentavam síndrome cerebelar grave de evolução aguda, com melhora total do quadro. Em medicina veterinária, o tratamento
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de infartos é de suporte. São necessários maiores estudos clínicos para definir os protocolos ideais de tratamentos 22. Distúrbios inflamatórios Cães e gatos de qualquer idade, raça ou sexo podem apresentar sinais cerebelares resultantes de um processo inflamatório 2. As alterações inflamatórias podem ser causadas por agentes infecciosos específicos, como os vírus da cinomose e da raiva, os protozoários (toxoplasmose e neosporose) e os fungos (criptococose e histoplasmose), além dos de origem inespecífica ou não determinada 23. A infecção e/ou inflamação do SNC podem causar uma série de sinais clínicos inespecíficos e multifocais, tais como: ataxia, dor, rigidez cervical, paresia, paralisia, hiper-reflexia, nistagmo, inclinação de cabeça, febre, convulsões, déficits de nervos cranianos, entre outros 24. A cinomose canina e a peritonite infecciosa felina são as infecções virais mais comuns. As infecções causadas pelo vírus da cinomose devem ser consideradas em qualquer cão adulto com sinais cerebelares progressivos 2. Pode ocorrer uma doença multifocal progressiva crônica do sistema nervoso central em animais adultos de qualquer idade, sendo primariamente uma doença da substância branca, em que costumam predominar sinais vestibulocerebelares com acometimento da medula espinhal e do cérebro. O prognóstico da forma neurológica da cinomose é reservado, com pequena porcentagem de pacientes que se recuperam, mas com sequelas 11. A encefalite fúngica pode ser vista em qualquer idade, sendo mais comum em adultos 11. A criptococose é a encefalite micótica mais frequente e a maioria dos pacientes tem sinais neurológicos 2. Quando se examina o líquor, o microrganismo pode ser visto ao exame citológico, em especial nas infecções criptocócicas. O tratamento de eleição é a flucitosina, isolada ou associada à anfotericina B, mesmo que esta apresente baixa permealibidade na barreira hematoencefálica 25. Há poucos relatos de tratamento bem sucedido da encefalite fúngica 11. As infecções por protozoários são importantes causas de alterações neurológicas em cães, sendo o Toxoplasma gondii e o Neospora caninum os principais
agentes associados a neuropatias nessa espécie 23. Em alguns casos, a infecção com esses protozoários coccídios pode originar sinais neurológicos, porém a maioria dos casos é subclínica ou apresenta a doença sistêmica 11. A infecção bacteriana é rara 2. Alguns fatores contribuem para o diagnóstico deficiente de doenças bacterianas do SNC por meio de culturas do LCR, como a pequena quantidade de material coletado para o exame; a pequena concentração de microrganismos no líquor em função da sua presença no parênquima cerebral; o crescimento lento de alguns microrganismos; e antibioticoterapia realizada antes da coleta do material destinado a cultura 26. O índice de mortalidade associado a infecções bacterianas no sistema nervoso central é muito alto em cães (87%) e muitos animais que se recuperam ficam com sequelas neurológicas permanentes, como andar em círculos, ataxia, inclinação de cabeça, déficits proprioceptivos e paralisia de nervos
cranianos 27. A meningoencefalite granulomatosa (MEG) é uma doença inflamatória não supurativa do SNC de cães – e menos comumente de gatos – associada à proliferação perivascular acentuada de células reticuloendoteliais (RE). Embora as lesões possam ocorrer em qualquer parte do sistema nervoso central, parecem ter predileção pelo cérebro e pelo ângulo pontinocerebelar 11. Alguns autores relataram a ocorrência de MEG focal no cerebelo de um cão da raça dachshund que apresentava ataxia cerebelar e vestibular 28. A MEG tende a ocorrer mais em fêmeas de raça toy. É principalmente uma doença que afeta desde cães jovens aos de meia-idade (de um a oito anos), mas que pode ocorre em qualquer idade. O tratamento padrão consiste em administrar imunossupressores, radioterapia ou uma combinação de ambos. O imunossupressor mais usado é a prednisona (de 1 a 2mg/kg/dia); contudo, outros fármacos, como citoxano, azatioprina 7 e citosina arabinose 29, também têm sido empregados.
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Considerações finais Doenças do sistema cerebelar são comuns em pequenos animais e resultam em uma síndrome clínica caracterizada por hipermetria, base ampla e tremores intencionais. A doença cerebelar em cães e gatos pode ser causada por: aplasia e hipoplasia, abiotrofia, neoplasia, trauma, alterações vasculares e distúrbios inflamatórios. A realização do exame neurológico completo é fundamental para localizar a lesão, determinar os possíveis diagnósticos diferenciais e formular um plano diagnóstico, permitindo a instituição do tratamento e a estimativa do prognóstico. Agradecimentos Aos docentes e residentes do Serviço de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Júlio de Mesquita Filho - Unesp, campus de Botucatu, que realizaram a retirada do encéfalo para a figura 1 do trabalho. Referências 01-CONCEIÇÃO, L. C. ; ANTUNES, M. I. P. P. ; MACHADO, L. H. A. ; CREMASCO, A. C. M. ; VAILATI, M. C. F. ; LOURENÇO, M. L. G. ; SEQUEIRA, J. L. Meningite supurativa secundária a otite média e interna em um gato: relato de caso. Clínica Veterinaria, n. 84, ano 15, p. 54-58, 2010. 02-CHRISMAN, C. L. Incoordenação da cabeça e membros. In:___. Neurologia dos pequenos animais. São Paulo: Roca, 1985. p. 279-292. 03-CUNNINGHAM, J. G. O cerebelo. In:___. Tratado de fisiologia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 78-82. 04-DE LAHUNTA, A. ; GLASS E. Cerebellum. In:___. Veterinary neuroanatomy and clinical neurology. 3. ed. St. Louis: Saunders Elsevier. 2009. p. 348-388. 05-LORENZ, M. D. ; KORNEGAY, J. N. Localização das lesões no sistema nervoso central. In: ___. Neurologia veterinária. São Paulo: Manole, 2006. p. 45-75. 06-MARCONDES, M. Semiologia do sistema
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Doença periodontal em cães e prevenção
Fábio Alessandro Pieri MV, M.Sc., doutorando - DVT/UFV
fabio.pieri@ufv.br
Maria Aparecida S. Moreira MV, M.Sc., D.Sc., profa. adj. - DVT/UFV
Periodontal disease in dogs and prevention
masm@ufv.br
Prevención de la enfermedad periodontal en perros Resumo: A doença periodontal é um processo que envolve a infecção e inflamação do tecido de suporte e proteção dos dentes e pode acarretar a sua perda. A placa bacteriana dental é reconhecida como o agente etiológico da doença. Dessa forma, conhecendo as estruturas periodontais, os microrganismos da placa bacteriana e a evolução da doença, pode-se estabelecer um plano preventivo envolvendo técnicas de escovação e aplicação de antissépticos. Tais substâncias, administradas ao animal por uso tópico ou adicionadas à composição de alimentos para cães, poderiam reduzir significativamente a incidência da afecção, que interfere de maneira importante na qualidade de vida dos animais e na sua convivência com seus donos. Unitermos: doenças dos animais, periodontia, gengivite, placa dentária, odontologia preventiva Abstract: Periodontal disease is a process that can cause teeth loss and involves infection and inflammation of the supporting and protecting tissues of the teeth. Since the bacterial plaque is the causing agent of the disease, knowledge about the periodontal structures, the microorganisms of the bacterial plaque and the evolution of the disease can lead to the establishment of a preventive plan involving brushing techniques and the use of antiseptics. If such substances would be administered topically or added to the dog feed, they could significantly decrease the incidence of this disease, which interferes considerably in the quality of life of the animals and in the relationship with their owners. Keywords: animal diseases, periodontics, gingivitis, dental plaque, preventive dentistry Resumen: La enfermedad periodontal tiene mayor prevalencia en perros adultos, y es un proceso que envuelve la infección e inflamación del tejido de soporte y protección de los dientes, pudiendo llevar a la pérdida de los mismos. La placa bacteriana es reconocida como el agente causal de la enfermedad. Conociendo las estructuras periodontales, la ecología de la placa bacteriana y la evolución de la enfermedad, se puede establecer un plan preventivo que englobe técnicas de cepillado y de aplicación de antimicrobianos. La vía de administración puede ser tópica o mediante adicionados a la composición de alimentos para perros, buscando reducir de forma significativa la incidencia de esa patología, que a su vez interfiere de manera importante en la calidad de vida de los animales y en la convivencia de los mismos con sus amos. Palabras clave: enfermedades de los animales, periodoncia, gingivitis, placa dental, odontología preventiva
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Para correto manejo dessa afecção de importância elevada na medicina veterinária, é necessário amplo conhecimento a respeito da estrutura dental e das estruturas adjacentes ao elemento dental – o periodonto –, dos agentes etiológicos da doença, da sua evolução, dos tipos de tratamento e das técnicas preventivas 3. O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão da literatura atualizada para fornecer conhecimento sobre a doença periodontal em cães e a sua prevenção. Anatomia do órgão dental dos cães A anatomia do órgão dental dos cães possui subdivisões e estruturas semelhantes às dos humanos, diferindo na forma da cavidade – que varia inclusive entre as raças 8 –, na anatomia e na quantidade dos elementos dentais contidos 1. Os cães possuem, assim como os seres humanos, dentes incisivos, caninos, prémolares e molares, diferindo entre si quanto às funções e o número de raízes 8-10.
Os cães domésticos têm, na dentição decídua, 28 dentes (12 incisivos, 4 caninos e 12 pré-molares), e na permanente 42 elementos dentais (12 incisivos, 4 caninos, 16 pré-molares e 10 molares) 8. Independentemente do número de raízes, da função, do tamanho e da forma, os dentes possuem subdivisões comuns a todos os tipos 8 e, em conjunto com o periodonto, formam o órgão dental 11,12 (Figura 1). Fábio Alessandro Pieri
Introdução A periodontia é a ciência que tem por objetivo o estudo do periodonto e o diagnóstico, tratamento e prevenção das doenças periodontais, visando a promoção e o restabelecimento da saúde periodontal 1,2. O periodonto é o conjunto de estruturas que fornecem suporte e proteção ao elemento dental. Essas estruturas são: gengiva, cemento, osso alveolar e ligamento periodontal 1-4. A doença periodontal tem sido relatada como a afecção que mais acomete os cães 1, chegando a até 85% de prevalência em animais com idade acima de quatro anos 2,3,5,6. A placa bacteriana dental é considerada agente etiológico, que promove reação inflamatória na gengiva, ponto de partida da doença periodontal 4,7. Com o avançar da doença, as estruturas de suporte e proteção do dente passam a ser destruídas, podendo haver perda do elemento dental envolvido 1.
Figura 1 - Estrutura anatômica do órgão dental de cães
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Periodonto O periodonto (peri – em volta de; odonto – dente) 13 é o conjunto de tecidos moles e duros 10 que dão suporte aos dentes 1,14,15, fixando-os, fazendo-os aderir ao osso alveolar 8,13 e protegendo-os 8. As estruturas que compõem o periodonto são: o ligamento periodontal, o cemento, a gengiva e o osso alveolar 13,16,17. Essas estruturas estão divididas de acordo com suas funções: o periodonto de sustentação formado pelo cemento, o ligamento periodontal, o osso alveolar e a gengiva que, além de participar da sustentação, também compõe o periodonto de proteção 8. Gengiva É a parte da mucosa mastigatória que circunda a porção cervical do dente e recobre o processo alveolar 13. Tem como principal função proteger as estruturas adjacentes ao dente, sendo então a primeira barreira de defesa contra a doença periodontal 1. Podem ser diferenciadas duas partes: a gengiva livre e a aderida 1,13,18.
A gengiva livre pode ser rósea ou, em algumas raças, pigmentada, de consistência firme e superfície opaca 13. A margem da gengiva livre é a borda. Entre a gengiva livre e o dente se forma um vale conhecido como sulco gengival 10, cuja profundidade, em condições normais, varia entre 1 e 3mm 1,8. O sulco é recoberto por um epitélio gengival em cuja base se insere o dente e que é denominado epitélio juncional. Esse epitélio secreta um fluido com células mediadoras de inflamação, imunoglobulinas e substâncias antibacterianas, importantes na proteção física e imunológica do epitélio juncional e dos tecidos profundos 19. O epitélio juncional se localiza no fundo do sulco, com células planas e alongadas 17,18,20,21 que aderem ao esmalte através de hemidesmossomos, promovendo a junção entre a gengiva e o dente 1,18. O epitélio juncional termina na junção cemento-esmalte 8. A gengiva aderida é a continuação da gengiva livre que, resistente, é firmemente ligada ao osso subjacente e se estende até a junção mucogengival 16.
Cemento O cemento é um tecido duro e sem vascularização 22,23 que cobre a raiz do dente 10, composto por fibras colágenas embutidas em uma matriz orgânica e possui em sua porção mineral, que é responsável por cerca de 65% do seu peso, cristais de hidroxiapatita 13. Sua deposição ocorre continuamente por toda a vida do animal 1,13. Possui, como principais funções, a inserção das fibras do ligamento periodontal à raiz do dente 1,8,13, a contribuição para o processo de reparação da superfície radicular e a manutenção das fibras do ligamento periodontal 12,13. Existem dois tipos de cemento: o primeiro, denominado cemento primário ou acelular, é formado em associação com a formação da raiz e a erupção do dente 13, ocupa os terços coronal e médio da raiz dentária e é constituído em sua maior parte pelas fibras de Sharpey – fibras colágenas do ligamento periodontal, que se prendem em uma extremidade ao cemento e na outra ao osso alveolar 8; o outro tipo de cemento é chamado
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de cemento secundário ou celular, forma-se após a erupção do dente 13, localiza-se normalmente na região periapical e é secretado pelos cementócitos ou cementoblastos, células que ficam aprisionadas à matriz orgânica do cemento e que, por este não possuir vascularização, são nutridas a partir do ligamento periodontal. As células secretam o cemento celular em resposta às demandas funcionais 17. Apesar da descrição da localização de cada tipo de cemento, em alguns casos, eles podem ocorrer alternadamente em algumas áreas da superfície radicular 13. Osso alveolar São os ossos da maxila, osso incisivo e mandíbula que dão suporte aos elementos dentais, em cavidades onde estes se inserem. Essas cavidades são denominadas alvéolos 1,8,12. Composto por 65% de sais minerais 17, esse osso possui consistência dura e é muito denso e compacto, mas difere do cemento radicular, por possuir inervação e vascularização sanguínea e linfática 13. É no interior dos alvéolos que se localiza a placa cribiforme que, radiograficamente, recebe a denominação de lâmina dura, caracterizada como uma linha radiopaca ao redor do alvéolo. Essa placa é constituída pelas fibras do ligamento periodontal que fixa o dente, e é por aí que passam os vasos que irrigam o ligamento e nutrem a matriz orgânica do cemento 1,8. O osso alveolar pode ser reabsorvido ou remodelado de acordo com os estímulos que possa vir a sofrer 1,8. Ligamento periodontal É uma estrutura de tecido conectivo que liga o dente ao seu alvéolo, fixando-o 13,24. Tem origem nas células mesenquimais do saco dental 12,17. O espaço periodonal é preenchido pelo ligamento periodontal – composto por fibras periodontais –, nervos e grande vascularização, além de outras células e se localiza entre o cemento radicular e a placa cribiforme. A altura, a largura, a qualidade e o estado do ligamento periodontal são determinantes para conferir ao elemento dental a sua mobilidade característica 1,8,13. Existem três categorias diferentes de fibras no ligamento periodontal: as fibras 44
do grupamento gengival, compostas pelas dentogengivais (que ligam o cemento à gengiva), as alveologengivais (que ligam a placa cribiforme à gengiva) e as circulares (que circundam o dente na altura da gengiva livre); as fibras do grupamento transeptal (que ligam o cemento supra-alveolar de dentes circunvizinhos); e as fibras do grupamento alveolodental, que são as da crista alveolar (que ligam a crista alveolar ao cemento de forma obliqua), as horizontais (que ligam a crista ao cemento horizontalmente), as oblíquas (que ligam o cemento ao osso alveolar, o qual possui maior número de ligamentos), as apicais (que ligam o osso alveolar ao cemento em torno do ápice) e as inter-radiculares (que ficam entre as raízes dos dentes multirradiculares) 8,17. O ligamento periodontal desempenha várias funções no órgão dental, como: funções físicas, de sustentação, de absorção ao choque provocado pela força mastigatória e de transmissão das forças oclusivas ao osso 24; função formadora, promovida pelos osteoblastos, cementoblastos e fibroblastos; função reabsorvente, promovida pelos osteoclastos, cementoclastos e fibroclastos 4; função sensorial, pois ele é abundantemente inervado por fibras nervosas sensoriais capazes de transmitir sensações táteis, de pressão e de dor pelas vias trigeminais; função nutritiva, já que ele possui vasos sanguíneos, os quais fornecem nutrientes e outras substâncias requeridas pelos tecidos do ligamento, pelos cementócitos e pelos osteócitos mais superficiais do osso alveolar; e função homeostática, pois ele tem a capacidade de reabsorver e sintetizar a substância intercelular do tecido conjuntivo do ligamento, do osso alveolar e do cemento 16,24. Em casos em que se dá a avulsão completa do elemento dental, existe a possibilidade de ele se reintegrar ao organismo 25, desde que restituído ao alvéolo de forma rápida, pois o ligamento periodontal tem a capacidade de aderir novamente ao cemento 26. Nesses casos, deve-se realizar o devido tratamento endodôntico, visto que a vascularização apical do dente se rompeu 25. Doença periodontal A doença periodontal é a afecção que acomete o periodonto, ou seja, as
estruturas que, circunjacentes ao elemento dental, têm a função de protegê-lo e de lhe fornecer suporte 3. É uma doença infecciosa 10 que acomete mais de 75% dos cães 1,8,27, chegando a cerca de 85% no caso de animais com mais de quatro anos 2,3 – o que a coloca na posição de doença mais prevalente em cães 1,10,28. A doença é causada pelo acúmulo de placa bacteriana nos dentes e na gengiva 1,28, por causa da toxicidade do metabolismo desses microrganismos e da resposta imunológica do hospedeiro contra a infecção 10, desencadeando então um processo inflamatório. Inicialmente esse processo acomete apenas os tecidos gengivais, caracterizando a denominada gengivite, mas posteriormente pode se agravar e evoluir para um processo de periodontite, que envolve alterações nos outros tecidos do periodonto e pode acarretar perda óssea, de ligamento periodontal, em alguns casos de cemento e até do elemento dental envolvido 1. Em processos como inflamação, hiperplasia ou a junção dos dois processos, o epitélio juncional pode migrar apicalmente ou a gengiva aumentar, tornando o sulco gengival mais profundo 1. Na hiperplasia gengival, o aprofundamento do sulco se dá sem perda de tecido periodontal, sendo denominado pseudobolsa; porém, quando já existe perda do tecido que sustenta e protege o elemento dental, o sulco passa a ser chamado de bolsa periodontal, que pode ser de dois tipos: supraóssea, quando o fundo da bolsa é coronário ao osso alveolar de suporte, e intraóssea, quando o fundo se encontra apicalmente localizado em relação ao osso alveolar adjacente. A profundidade da bolsa pode variar entre as regiões da boca e até entre dentes vizinhos 21. As bactérias envolvidas no processo patológico do periodonto podem migrar por bacteremia para outras regiões do corpo pela corrente sanguínea e colonizá-las, causando doenças diversas, como endocardite, nefrite 1,11,27,29, hepatite 11,27 e miocardite 1. Outra doença que pode ser causada pela progressão dos microrganismos envolvidos na doença periodontal é um processo patológico conhecido como lesão periodontal-endodôntica ou simplesmente lesão perioendo. Há infecção e inflamação da polpa dental, causada pela migração das
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bactérias periodontais ao ápice do dente e pela penetração no canal radicular através das foraminas, que são pequenos orifícios por onde passa o feixe vasculonervoso 25. A conduta ideal para o manejo da saúde oral do cão é a prevenção da doença periodontal, que deve ser feita por meio de escovação diária dos dentes do cão, da aplicação de soluções antissépticas orais, do fornecimento de alimentos ou petiscos contendo substâncias com a mesma finalidade 3,10,11 e do uso de ossos artificiais e brinquedos para promover a remoção mecânica da placa bacteriana 3,28. Mesmo o animal submetido a uma conduta preventiva correta deve ser levado anualmente ao médico veterinário para que a eficácia do tratamento seja avaliada e para que ele seja submetido a profilaxia clínica 8,28 caso isso seja necessário. Para animais nos quais a doença periodontal esteja na fase inicial de gengivite, a promoção de cuidados profiláticos como os tomados na prevenção parece ser suficiente para a regressão da
enfermidade. O diagnóstico da doença periodontal é obtido por meio de inspeção visual, de sondagem periodontal com sonda milimetrada e, se necessário, de exame radiográfico 3. A doença se divide em duas fases: a fase inicial, de gengivite, que pode ser revertida porque ainda não houve perda de tecido; e a periodontite, caracterizada por perda tecidual, que é irreversível – ou seja, a gengiva retraída não retorna ao ponto de inserção inicial no dente e o osso destruído também não se refaz 11. O tratamento profissional, realizado pelo médico veterinário, tem dois objetivos: 1) remover todo cálculo e placa dental; em casos mais simples, em que há discreto acúmulo de cálculo e gengivite, o tratamento profissional também é indicado, pois a presença de cálculo favorece um acúmulo maior de placa bacteriana, fazendo que a doença progrida mais rápido; 2) restabelecer a profundidade fisiológica do sulco gengival em casos de periodontite instalada; nesses casos, o tratamento cirúrgico – a cirurgia periodontal – pode ser
necessário, por meio de procedimentos como gengivectomias, gengivoplastias, execução de raspagem a céu aberto por meio de retalho mucogenvival e extrações 1,8,11. Placa bacteriana dental A placa bacteriana é um material pegajoso, amarelado, que coloniza toda a boca 11, as faces dos dentes em sua estrutura amelar (esmalte) 30,31 e os seus sulcos gengivais 15. Essa placa, considerada a maior causadora do processo patológico (agente etiológico) 35,36, é um biofilme 8,32, ou seja, uma comunidade microbiana indefinida associada à superfície do dente 33,34. A placa tem como principais constituintes as glicoproteínas salivares, os sais minerais, as bactérias orais, os polissacarídeos extracelulares que aderem à superfície dentária, as células epiteliais descamadas, os leucócitos, os macrófagos e os lipídeos 1,8. Inicialmente, há sobre as superfícies dentais e outras regiões da boca a formação de uma película, chamada película
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aderida, que é um filme constituído de glicoproteínas salivares e sais minerais e que, a princípio, não possui microrganismos 37. Posteriormente, a película adquirida se torna um biofilme, com a adesão dos primeiros microrganismos, que são em sua grande maioria cocos gram-positivos aeróbios 11,34,37, principalmente do gênero Streptococcus – os quais produzem um exopolissacarídeo, uma substância que atua como “cola”, facilitando a fixação dessas bactérias às superfícies em questão 8,11,17, principalmente em locais onde ocorrem pequenas irregularidades, fissuras ou rugosidades 37. A primeira camada normalmente é monocelular e se apresenta irregularmente distribuída sobre a superfície dental. A partir do crescimento microbiano, a camada passa a sair dessas zonas de irregularidades na superfície do esmalte e, aumentando de volume, as placas isoladas passam a se unir, formando uma placa única. Com o passar do tempo, novas cepas microbianas com menor capacidade de aderência às estruturas dentais aderem à placa já formada, caracterizando novas microcolônias e aumentando a sua biodiversidade 37. Nesse processo, chamado de organização da placa bacteriana, as bactérias precisam de aproximadamente 24 a 48 horas para se organizarem a ponto de causar a doença 11. Nessa fase, a simples desorganização da placa bacteriana faz estagnar e retroceder o processo, constituindo portanto o melhor meio de combatê-la 38. Não havendo interferência na formação da placa bacteriana, pode então ocorrer um processo inflamatório que marca o início da doença periodontal, propiciando ambiente favorável à alteração da sua composição microbiana, que passa então a um biofilme com características mais patogênicas, dando sequência às fases posteriores da doença 11,37,39. Microbiologia da doença periodontal Durante todo o processo patológico que acomete as estruturas do periodonto, como já citado, há uma série de modificações na população microbiana da placa dental. Tais alterações envolvem desde a quantidade de microrganismos até os tipos de bactérias e o seu grau de patogenicidade 1,11,40. Os constituintes bacterianos presentes 46
na placa dental se modificam de acordo com a evolução da doença. Na gengiva sadia, os cocos representam cerca de dois terços das bactérias presentes, seguidos por bastonetes imóveis pequenos. As bactérias presentes são essencialmente gram-positivas e praticamente não há representação considerável de tipos bacterianos mais virulentos. Já na fase de gengivite, os bastonetes grampositivos (imóveis) aumentam gradualmente, ultrapassando os cocos, havendo também um crescimento na quantidade de bactérias gram-negativas. Sem o tratamento adequado, ocorre a destruição do epitélio juncional e assim as bactérias passam a invadir estruturas mais profundas de suporte, gerando ambiente anaeróbio, o que favorece o crescimento de bactérias gram-negativas anaeróbias com motilidade, que por sua vez passam a produzir metabólitos mais agressivos, acentuando o processo de destruição do tecido periodontal 8,15. Nesse momento, na fase de acometimento do periodonto (periodontite), há um grande aumento de microrganismos mais patogênicos gram-negativos, que atingem então um grande percentual das bactérias presentes, chegando as espiroquetas a representar quase a metade das bactérias presentes, enquanto os gram-positivos são pouco representativos 40. As principais bactérias envolvidas na formação da placa dental são Streptococcus sp 1,30,31,34,38,39,41-47, 31,38 Actinomyces sp e Lactobacilus sp 8,46. Estas colonizam inicialmente a película que aderiu ao esmalte dental, passando então a se multiplicar e a se agregar. A partir daí, os receptores de superfície dos cocos e bastonetes gram-positivos permitem a aderência de microrganismos gram-negativos, que, com o passar do tempo, passam a se apresentar com maior biodiversidade e potencial patogênico 34. Deste grupo, podem-se citar como os gêneros mais importantes em cães: Veillonella, Bacterioides, Prevotella 15,48, Fusobacterium 45,49 e Porphyromonas 15,31,48,49. Evolução da doença periodontal Nos cães, a progressão da doença periodontal pode ser dividida em fases com base na aparência clínica da gengiva (classificada de acordo com um índice que varia do grau 0 – atribuído à gengiva sadia – ao grau 4 – gengiva
severamente comprometida) 8,10 e no nível clínico de inserção, isto é, a distância entre a porção mais apical do epitélio juncional (fundo do sulco ou bolsa) e o local onde ele originalmente estaria sob higidez, que é a junção amelocementéria. Deve-se então praticar a sondagem com sonda milimetrada. Logo, se um animal apresenta retração gengival de 6mm e sulco de 2mm (sem bolsa porque a gengiva se retraiu), não se pode dizer que ele está hígido por não apresentar bolsa; a perda do nível clínico de inserção de 4mm (6mm de retração menos 2mm do sulco) já denota um estágio de periodontite 10. Na primeira fase da doença, o periodonto ainda está sadio (estágio 0) 1, a gengiva tem coloração uniforme e a placa bacteriana presente, de características pouco patogênicas, é imperceptível. Não há halitose 3. Com o aumento da placa bacteriana e sua alteração no que diz respeito à quantidade, à especificidade e à patogenicidade dos microrganismos presentes, começa a surgir então uma inflamação que marca o início da doença periodontal propriamente dita, que pode ser dividida nas seguintes fases: gengivite (estágio 1), periodontite inicial (estágio 2), periodontite moderada (estágio 3) e periodontite severa (estágio 4) 1. Gengivite O estágio 1 da doença periodontal inicia-se com o surgimento de bactérias que, por meio de seus metabólitos, passam a provocar inflamação no tecido gengival, primeira defesa do órgão dental, porém sem grande patogenicidade e sem causar danos às estruturas do periodonto de sustentação. A referida inflamação é semelhante à que ocorre em outros tecidos conjuntivos. Apresenta vasodilatação, marginalização leucocitária, migração celular e produção de prostaglandinas e enzimas destrutivas 11, fazendo com que a gengiva se apresente avermelhada, edemaciada (Figura 2) e dolorida, podendo apresentar halitose 3. Nessa fase ainda há a possibilidade de involução da doença mediante o correto manejo da saúde oral do animal, com medidas como a escovação, que pode promover a remoção do agente etiológico (placa bacteriana) 11,50. Nesse momento podem-se também utilizar antissépticos bucais em conjunto com a escovação,
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para obter aumento da eficiência da remoção bacteriana 4. A doença periodontal pode permanecer nesse estado ou progredir para a perda de inserção da gengiva ao dente, ou seja, perda da aderência do epitélio juncional e, consequentemente, a formação de bolsa periodontal, que caracteriza o estágio patológico denominado periodontite inicial 7.
o seu agente etiológico e sim a placa bacteriana. Grandes quantidades de cálculo não são indicativas da fase em que a doença se encontra, devendo-se então fixar o diagnóstico da doença na sondagem gengival para avaliar a perda de adesão do epitélio 8,11. Periodontite moderada e severa São os estágios mais avançados da doença periodontal e diferem entre si apenas em relação ao grau das lesões 1. Alguns autores não relatam a presença da periodontite moderada, considerando apenas a periodontite severa, após o processo inicial de agressão aos tecidos de sustentação do elemento dental 3. Nessas fases a microbiota da placa dental é completamente diversa da inicial, possuindo apenas pequena quantidade de cocos gram-positivos imóveis e porcentagens grandiosas de espiroquetas gram-negativas com motilidade, praticamente ausentes em indivíduos sadios 40. Essa fase apresenta inflamação severa, com sangramento como resposta ao mínimo estímulo, grande acúmulo de placa bacteriana, mau hálito intenso 3, mobilidade dental leve (na moderada) ou grande (na severa) 1 e, na maioria dos casos, há também retração gengival e grande acúmulo de cálculo dental (Figura 4). As bactérias entram na circulação e causam danos ao coração, ao fígado, aos rins, às articulações e a outros órgãos 3,11. No caso da periodontite moderada, chega a haver entre 25 e 50% de perda de periodonto de sustentação
Técnicas preventivas A prevenção é considerada um aspecto essencial da manutenção dos dentes dos animais por toda a vida, impossibilitando a formação do processo patológico periodontal 55. A escovação,
Figura 3 - Dentes incisivos, caninos e pré-molares da arcada superior direita de um cão Yorkshire de quatro anos, com periodontite inicial. Na região do terceiro e do quarto PM há grande edemaciação (seta amarela). Percebese alteração do contorno gengival, que não acompanha a linha cervical (limite entre coroa e raiz, e logo entre esmalte e cemento – linha preta) do dente canino superior direito, indicando retração gengival. Grande acúmulo de cálculo (seta vermelha). A remoção do cálculo se faz necessária para um completo exame por meio de inspeção e sondagem periodontal
Fábio Alessandro Pieri
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Periodontite inicial Sendo a sequela da gengivite não tratada, é a fase que se inicia com a perda da inserção do epitélio juncional, considerada a primeira fase irreversível da doença, a partir da qual passa a ser possível apenas estabilizá-la 3,8,11. O processo inflamatório já atingiu o periodonto de sustentação (ligamento periodontal, cemento e osso alveolar), o que leva à destruição progressiva dos tecidos relatados 1,7. A gengiva pode apresentar topografia ainda normal – apesar de algumas raças apresentarem já uma leve retração gengival (Figura 3) –, porém, já estando muito inflamada, pode sangrar quando tocada. Já há leve inflamação no ligamento periodontal e a perda óssea ainda é pouco evidente 1. A halitose pode se apresentar já com forte intensidade 3. Em geral há também a formação de cálculo dentário, popularmente chamado de tártaro, que nada mais é do que a mineralização da placa dental por meio de sais da saliva, o que torna ainda mais fácil a aderência de novos microrganismos com características ainda mais patogênicas, aumentando então a severidade das lesões causadas aos tecidos periodontais. A quantidade de cálculo não deve ser utilizada para a classificação da doença, visto que não constitui
Figura 2 - Dentes incisivos, caninos e prémolares superiores de cão poodle de dois anos com gengivite, apresentando leve hiperemia (a) na gengiva próxima à região cervical (limite entre coroa e raiz, e logo entre esmalte e cemento - linha preta) dos dentes. Percebe-se edemaciação na face distal do terceiro prémolar superior (seta amarela)
(que pode ser mascarada por grande hiperplasia gengival em alguns animais), levando à necessidade de tratamento e cuidados especiais para a manutenção do elemento dental no alvéolo. Na periodontite severa, existe perda de mais de 50% do tecido periodontal de sustentação, podendo haver exposição de furca em dentes multirradiculares e levando em muitos casos à esfoliação dos dentes 1. É importante ressaltar que a doença periodontal pode se apresentar com graus de acometimento diferentes em cada face de um mesmo dente e/ou em dentes diversos, sendo assim importante a análise criteriosa de todas as faces dos dentes para o correto diagnóstico da afecção 13. Devem-se ressaltar as pesquisas que têm sido realizadas com a finalidade de estabelecer maneiras de regenerar o tecido periodontal perdido e assim tornar a doença reversível. Porém, o estudo de substâncias e compostos – por exemplo, o biovidro, a hidroxiapatita e os peptídeos sintéticos, entre outros 51-54 – que possam participar da regeneração do periodonto acometido ou substituir as estruturas perdidas funcionalmente ainda constitui um desafio.
Figura 4 - Cão poodle, de catorze anos, com doença periodontal severa. Note-se a coroa dental do canino superior direito, com grande presença de cálculo (a), retração gengival visível (b) e gengiva hiperêmica e hiperplasiada (c) mascarando uma retração gengival ainda maior
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Escovação A escovação dental, que vai removendo o biofilme dental por meio de atrito 57, é considerada uma técnica de efeito superior na redução do acúmulo de placa bacteriana 7. A frequência de escovação dos dentes dos animais deveria ser diária, para evitar constantemente a formação da placa dental 58 e para que se estabeleça uma rotina para o dono e para o animal; porém, pelo fato de menos de 10% dos proprietários seguirem essas recomendações 56 e de a placa bacteriana levar de 24 a 48 horas para se organizar, tem-se preconizado a escovação dental dos cães três vezes por semana com resultados satisfatórios 57,58. Existem inúmeras escovas dentais veterinárias disponíveis no mercado atualmente, porém uma escova infantil com cerdas macias é considerada efetiva para a remoção da placa dental dos cães. Várias pastas dentais veterinárias também se encontram disponíveis, elaboradas com palatalizantes para que o animal aceite melhor a escovação, além de produzirem um acréscimo no atrito promovido nos dentes 58. Percebe-se, porém que o simples emprego correto das técnicas de escovação minimizaria a necessidade desse efeito aditivo da pasta dental sobre o atrito aplicado aos dentes 56. Substâncias antimicrobianas também podem auxiliar efetivamente na eliminação do biofilme dental 56,58,59, utilizadas em conjunto com a escova, adicionadas em cremes dentais ou empregadas como soluções, potencializando os efeitos da técnica de escovação em alguns pontos de difícil acesso na boca do animal. Independentemente do material utilizado para a escovação, é muito importante a realização da prática, para evitar ou retardar o surgimento da doença até o 48
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os produtos mastigáveis promotores de atrito e a utilização de substâncias antimicrobianas são consideradas técnicas preventivas, em função da eliminação da placa dental supra e subgengival. Deve-se destacar a necessidade do acompanhamento da eficácia da técnica preventiva por um médico veterinário, cuja intervenção será necessária na maioria das vezes para realizar a profilaxia dental e para eliminar a placa e os cálculos residuais em locais de difícil acesso 56.
Figura 5 - Escovação dental praticada por proprietário em cão da raça poodle, com escova infantil de cerdas macias, em ângulo de 45° em relação à gengiva
momento do emprego do tratamento profissional 60. Uma das técnicas de escovação mais indicadas utiliza movimentos circulares sobre as faces dentais, com a escova inclinada a um ângulo de 45° da margem gengival (Figura 5), sendo a mais citada na literatura veterinária 58. Terapias com antissépticos orais Alguns estudos têm sido conduzidos com a intenção de estabelecer novas terapias de combate ao acúmulo microbiano nas faces dentais, tanto para auxiliar a escovação quanto como agente preventivo de eleição contra a doença periodontal, nos casos da ineficiente prática da escovação, como em animais indóceis que não permitem as práticas mecânicas de manejo oral 28,61. Várias formas de introdução dessas terapias no manejo do animal têm sido testadas e muitas delas disponibilizadas comercialmente por empresas do ramo pet – entre elas a utilização de biscoitos a e objetos mastigatórios para higiene oral por meio da abrasão da placa bacteriana dental 28,58, aditivos para a água de beber b com ação inibitória do crescimento das bactérias 62, soluções enxaguatórias bucais c, além de couros e biscoitos com adição de agentes antimicrobianos d 58,63. Pesquisadores, em estudo recente 5 visando ampliar a quantidade de alternativas no combate ou retardo da formação de cálculo dental, testaram o hexametafosfato de sódio e o tripolifosfato de sódio, com resultados significativos em ambas as substâncias, contradizendo o apresentado por outro trabalho, que a) Biscrok®, Pedigree, Mogi-Mirim, SP b) CET® AquaDent™, Virbac Saúde Animal, São Paulo, SP c) CET® Oral Hygiene Rinse, Virbac Saúde Animal, São Paulo, SP d) CET® Enzymatic Oral Hygiene Chews For Dogs, Virbac Saúde Animal, São Paulo, SP
não encontrou vantagem no seu uso 64. Já com relação à redução da formação da placa bacteriana oral em si, estudo demonstrou a ineficiência de biscoitos com hexametafosfato de sódio e tripolifosfato de sódio 65. Várias opções de biscoitos e rações para cães de inúmeros fabricantes estão disponíveis no mercado, com essas e outras substâncias, tais como clorexidina e complexos enzimáticos que liberam o íon hipotiocianato, que elimina bactérias formadoras da placa dental. O adoçante natural xilitol vem sendo utilizado em pacientes humanos em gomas de mascar, enxaguatórios bucais e cremes dentais com a finalidade de reduzir a placa bacteriana. Um trabalho demonstrou in vitro a atividade antimicrobiana do açúcar sobre bactérias da placa dental como Streptococcus 66, sendo possivelmente esse o seu mecanismo de ação na inibição da placa bacteriana dental. Adicionalmente, um trabalho realizado no ano de 2006 apresentou significativa redução de placa e cálculo dental utilizando um produto à base de xilitol e acrescido à água bebida pelo animal; esse produto já se encontra disponível no mercado de produtos veterinários 62. A aplicação tópica de um medicamento para o controle da doença é considerada a mais desejável, tendo em vista a menor incidência de efeitos colaterais quando comparada a outras vias de aplicação. Para a prevenção da doença periodontal, levando-se em consideração a natureza menos nociva das bactérias no início da doença e a maior prevalência da placa supragengival, aconselham-se as soluções de aplicação tópica oral, como os enxaguatórios bucais, suficientes para combater as bactérias em questão com grande vantagem, devido à facilidade com que podem ser aplicadas na maioria dos pacientes 67. Entre as substâncias químicas que podem ser utilizadas dessa forma para a redução do acúmulo de placa em faces dentais têm sido bastante avaliadas as bisguanidas, as amônias quaternárias e os fenóis 7,68. A substância de maior eficácia comprovada na inibição da placa bacteriana oral é a clorexidina 7, que tem boa atividade antisséptica contra todos os patógenos orais e mais diretamente e) CET® AquaDent™, Virbac Saúde Animal, São Paulo, SP
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sobre os organismos da placa bacteriana 1. A principal concentração da clorexidina f de uso comercial é a solução alcoólica a 0,12%, também encontrada em soluções sem álcool e em forma de gel 69. Apesar da indicação supracitada para o uso da clorexidina no combate à placa dental, ela apresenta uma série de efeitos desagradáveis quando utilizada em terapias prolongadas, como perda do paladar pelo paciente, pigmentação do esmalte dental, ardência e até ulcerações na mucosa jugal 70. Tais efeitos justificam a utilização dessa substância apenas por poucos dias 11, o que poderia inviabilizar sua aplicação na prevenção da doença periodontal, terapia que exigiria uso contínuo do agente quimioterápico eleito para essa finalidade 71. Recentemente o óleo de girassol ozonizado foi testado, apresentando resultados positivos na redução microbiana em pacientes humanos com doença periodontal 72 e o óleo de copaíba foi aplicado de forma tópica em cães, com auxílio de gaze embebida em solução a 10% do mesmo, tendo sido obtidos resultados iguais aos da clorexidina na redução de mais de 50% da população microbiana oral destes, comparados a um controle negativo 61. Adicionalmente alguns ensaios in vitro foram realizados para análise da atividade antimicrobiana do óleo de copaíba (Copaifera sp) sobre bactérias formadoras de placa dental 61,73,74 e avaliação da inibição da aderência de Streptococcus sp em capilares de vidro causada pelo mesmo fitoterápico 61, obtendo em ambos os casos resultados positivos. Vale ressaltar que para ambas as substâncias ainda não há comercialização de produtos com a finalidade de combater a placa dental, visto que novos estudos têm sido desenvolvidos para confirmação da atividade antimicrobiana, mecanismo e espectro de ação e possíveis efeitos colaterais. Muitos outros produtos naturais têm sido estudados como potenciais fontes de compostos para uso na prevenção da doença periodontal pela inibição de bactérias formadoras de placa dental, porém ainda sem aplicabilidade comercial, tais como: própolis 47, chá verde (Camellia sinensis) 75, jurema-preta (Mimosa tenuiflora) 76, uva de Amur f) Periogard®, Colgate-Palmolive Company, São Paulo, SP
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(Vitis amurensis) 77, snake jasmine (Rhinacanthus nasutus) 78, folhas de curry (Murraya koenigii), alho (Allium sativum) e óleo de melaleuca (Melaleuca alternifolia) 79. Desta forma, os pesquisadores prosseguem em suas análises à procura de novos produtos para uso na prevenção da doença periodontal por meio da inibição da placa bacteriana, com possibilidade de uso contínuo 61, buscando com especial interesse um quimioterápico que combine propriedades como atividade antimicrobiana sem provocar resistência bacteriana e inibição de aderência microbiana nas superfícies dentais, que sugeririam grande potencial para utilização em terapias na cavidade oral e como auxiliar na higiene oral 44,80. Para utilização na terapêutica de animais domésticos, sugere-se a inclusão deste possível agente antisséptico e antiaderente em formulações contendo palatabilizantes à base de galinha, carne bovina, peixes entre outros 3. Considerações finais Conclui-se que por meio do prévio conhecimento das estruturas periodontais, da microbiota oral envolvida na patogenia da doença periodontal, tal como o processo patogênico e sua progressão, além das técnicas e substâncias com possível aplicação no combate à placa dental, podem-se estabelecer diferentes terapias preventivas para evitar a formação da doença. Se aplicadas de maneira correta, tais terapias poderiam reduzir significativamente a incidência da afecção, que interfere de maneira importante na qualidade de vida dos animais e na sua convivência com seus proprietários. Entretanto, é importante salientar que o tratamento profissional é indispensável na maior parte dos casos, principalmente na população predisposta à doença, geralmente uma vez por ano, apresentando assim limitações, pois a placa dental volta a se acumular, devendo ser acompanhada das técnicas preventivas disponíveis, como a escovação dental na frequência preconizada e as outras formas de prevenção disponíveis no mercado veterinário. Referências 01-HARVEY, C. E. ; EMILY, P. P. Small animal dentistry. St. Louis: Mosby - Year Book Inc,
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Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
Glioma misto em um cão – relato de caso
MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
Mixed glioma in a dog – case report
MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
Mariana Isa Poci Palumbo palumboma11@yahoo.com.br
Rogério Martins Amorim rmamorim@fmvz.unesp.br
Glioma mixto en un perro – caso clínico Resumo: Os neoplasmas intracranianos são causas comuns de disfunções neurológicas em cães de idade média a avançada. Com a viabilidade da realização de tomografia computadorizada, tornou-se possível a determinação da extensão e a localização exata dos tumores cerebrais em cães e gatos, bem como a sua identificação ante mortem. O presente trabalho tem como objetivo relatar a ocorrência de glioma misto em um cão da raça boxer atendido no Hospital Veterinário da FMVZ-Unesp, campus de Botucatu. O animal apresentava uma síndrome cerebral de início agudo e curso progressivo. No exame de tomografia computadorizada observou-se a presença de massa no hemisfério cerebral direito, que se estendia da região frontal até a parietal, envolvendo os núcleos da base. Diante da gravidade das alterações neurológicas, optou-se pela realização da eutanásia e a análise microscópica da massa permitiu o diagnóstico de glioma misto. Unitermos: neoplasia, sistema nervoso central, neurologia Abstract: Intracranial neoplasms are common causes of neurological disorders in middle-aged and elderly dogs. With the feasibility of computed tomography, it is now possible to determine the extent and exact location of brain tumors, identifying them ante mortem in dogs and cats. This paper aims to report the occurrence of a mixed glioma in a Boxer dog examined at the Veterinary Hospital of Unesp, Botucatu Campus. The animal presented with a brain syndrome of acute onset and progressive course. CT scan showed the presence of a mass in the right cerebral hemisphere extending from the frontal to the parietal region and involving the basal ganglia. Given the gravity of the neurological disorder, the owner chose to perform euthanasia. Microscopic analysis of the mass allowed the diagnosis of mixed glioma. Keywords: neoplasm, central nervous system, neurology
Didier Quevedo Cagnini Médico veterinário PPGMV/Unesp-Botucatu didiercagnini@yahoo.com.br
Júlio Lopes Sequeira MV, prof. ass. dr. Depto. Patol. Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu sequeira@fmvz.unesp.br
Vânia Maria de Vasconcelos Machado MV, profa. ass. dra. Depto. Radiol. Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu vaniamvm@fmvz.unesp.br
Luiz Carlos Vulcano MV, prof. adj. Depto. Radiol. Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
vulcano@fmvz.unesp.br
Resumen: Los neoplasmas intracraneales son causas comunes de trastornos neurológicos en perros de edad media a avanzada. Con el advenimiento de la tomografía computarizada fue posible determinar la extensión y la ubicación exacta de los tumores cerebrales en perros y gatos, y su identificación con el animal vivo. Este artículo tiene por objeto informar la aparición de un glioma mixto en un perro Boxer en el Hospital Veterinario de la Clínica Veterinaria de la Unesp, campus de Botucatu. El animal tenía un síndrome cerebral de comienzo agudo y curso progresivo. La TC mostró la presencia de masa en el hemisferio cerebral derecho que se extendía desde la región frontal a la parietal involucrando los ganglios basales. Dada la gravedad de los trastornos neurológicos, se optó por realizar la eutanasia. El análisis microscópico de la masa permitió el diagnóstico de glioma mixto. Palabras clave: cáncer, sistema nervioso central, neurología
Clínica Veterinária, n. 89, p. 54-58, 2010
Introdução Apesar dos neoplasmas intracranianos aparentemente serem mais comuns em cães do que em outras espécies domésticas, existem poucos dados sobre a incidência de tumores cerebrais na espécie canina 1,2. Em média, estima-se que ocorram em 14,5% dos cães e 3,5% dos gatos 3. Os neoplasmas que afetam o sistema nervoso central (SNC) podem ser classificados como primários ou secundários, dependendo da célula de origem 1,4-6. Os tumores primários surgem de células normalmente encontradas no encéfalo e nas meninges, enquanto os secundários são os tumores metastáticos que afetam o SNC e são originários de um foco primário fora do sistema nervoso, ou ainda, por extensão direta, de neoplasmas infiltrativos de tecidos não neuronais adjacentes (como o crânio ou uma vértebra) que invadem ou comprimem estruturas do SNC 2,7. 54
Os meningiomas e os gliomas são os neoplasmas intracranianos primários mais comuns em cães e gatos 1,8-10. Os neoplasmas da glia são um grupo pleomórfico e sua classificação é baseada no tipo celular predominante, isto é, astrócitos ou oligodendrócitos 11. Desde meados de 1990, alguns patologistas observaram que, além dos gliomas monocíticos, existem neoplasmas que misturam dois ou mais tipos de células da glia 12. Um exemplo disso é o glioma misto, também designado oligoastrocitoma, que apresenta duas populações celulares neoplásicas distintas: os oligodendrócitos e os astrócitos 11. Os tumores causam disfunção cerebral por efeitos primários ou secundários. Os efeitos primários ocorrem devido à infiltração do tecido cerebral normal, à compressão de estruturas adjacentes e à necrose local 13. Os efeitos secundários incluem edema vasogênico, hemorragia e distúrbios na drenagem do
líquor (hidrocefalia obstrutiva) 8. Os sinais clínicos de tumores no SNC variam com a localização, a extensão e a presença de efeitos secundários da massa 1,8,13-15. Atualmente, a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) são utilizadas para diagnosticar os neoplasmas do SNC 8,14. Os contrastes utilizados na TC e na RM não ultrapassam a barreira hematoencefálica normal, mas ultrapassam a barreira lesada ou com alterações associadas a neoplasmas 16. Efeitos secundários dos tumores, como edema vasogênico e hidrocefalia, também podem ser observados pela TC ou pela RM 16. Outra técnica diagnóstica utilizada em animais com alterações neurológicas é a análise do líquido cefalorraquidiano (LCR). Para esta, deve-se tomar cuidado durante a colheita nos animais com suspeita de neoplasmas intracranianos, pois a pressão intracraniana
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(PIC) geralmente está aumentada e a colheita do líquor pode levar à herniação cerebelar – compressão medular aguda com parada respiratória 13,17. De modo geral, um aumento na concentração de proteínas sem um aumento concomitante na contagem celular é observado em neoplasmas cerebrais 18. Em um relato, apenas 39,6% dos animais apresentaram alterações típicas na análise do LCR 19. O eletroencefalograma pode ajudar no diagnóstico de tumores corticais pela demonstração de anormalidades focais 16. Outros métodos utilizados menos comumente incluem: radiografias, angiografia cerebral e biópsia cerebral. Há quatro tipos de tratamento indicados para a redução ou a erradicação da massa tumoral: cirurgia, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia 20-22. Alguns gliomas caninos são cirurgicamente acessíveis, mas a remoção cirúrgica dos gliomas é considerada mais complicada do que a de meningiomas 8. Os gliomas tendem a infiltrar o parênquima cerebral normal, tornando-se difícil discernir a margem tumoral do tecido encefálico durante a cirurgia 8. Agentes quimioterápicos específicos, que atingem adequadamente o SNC, incluem: nitrosureias, carmustina, lomustina e semustina 16. Vários cães com histopatologia confirmada de glioma melhoraram após a administração de nitrosureia e lomustina sozinha ou associada a outras formas de tratamento 1. É recomendado o uso da lomustina na dose de 60mg/m2 a cada seis a oito semanas para cães 8. O uso da radioterapia para o tratamento de tumores primários em cães e gatos está bem estabelecido 20,23. Ela
pode ser utilizada como agente único ou associada a outros tipos de tratamento 24. A imunoterapia consiste na cultura e na estimulação de linfócitos do paciente in vitro para aplicação em sítios tumorais durante cirurgias 25 e esta pode ser uma modalidade de tratamento efetiva 16. Os gliomas são associados a um prognóstico desfavorável 8. A maioria desses animais morre ou é submetida a eutanásia em um a quatro meses por piora do quadro neurológico 8. O presente trabalho tem como objetivo relatar os aspectos clínicos, laboratoriais, tomográficos e histológicos de um glioma misto diagnosticado em um cão da raça boxer atendido no Hospital Veterinário da FMVZ-Unesp, campus de Botucatu. Relato de caso Um cão da raça boxer, macho, de doze anos de idade, foi trazido ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UnespBotucatu com histórico de distúrbios comportamentais (agressividade para com outros cães) havia sete dias. O animal relutava em andar e, quando se locomovia, andava em círculos. O paciente apresentou vacinas éticas atualizadas e os dois cães contactantes estavam assintomáticos. Durante o exame físico, não foram observadas alterações nos parâmetros vitais avaliados. Foram realizados exames complementares como: hemograma, urinálise, teste de função renal, glicemia e dosagem do cálcio sérico, cujos valores estavam dentro da normalidade. Os testes de função hepática estavam discretamente alterados (ALT: 140,8UI/L; FA: 229,6UI/L; GGT: 9,5UI/L).
No exame neurológico o animal demonstrou andar rígido, tetra-ataxia, propriocepção consciente diminuída nos quatro membros, hiperestesia, hiper-reflexia em todos os membros e andar em círculos compulsivos para o lado esquerdo. Todos os testes clínicos de nervos cranianos mostraram normalidade, e constatou-se nível de consciência alerta. Quando colocado em decúbito lateral, o animal apresentou rigidez de decerebelação (opistótono, espasticidade de membros anteriores, flexão de posteriores e nível de consciência normal). Realizaram-se exames sorológicos para toxoplasmose e neosporose, cujos resultados foram negativos. O resultado do PCR da urina para cinomose também foi negativo. Foram realizadas TC e coleta de líquor. A análise das imagens obtidas na TC revelou efeito de massa caracterizado pelo desvio à esquerda da foice cerebral, colabamento do ventrículo lateral direito, aspecto isoatenuante (35 HU) pré-contraste, evidenciando heterogeneidade do parênquima cerebral com áreas hiperatenuantes que sofreram realce de imagem após injeção de meio de contraste (46 HU) e hipoatenuantes (22 HU) pós-contraste, sugerindo presença de massa que se estendia da região frontal até a parietal, com envolvimento dos núcleos da base (Figura 1). Na análise do líquor foi observada discreta pleocitose linfocítica (47%) e presença de células mononucleares (27%), neutrófilos segmentados (17%), macrófagos (7%) e eosinófilos (2%), além de presença de hemossiderina em macrófagos. O valor da proteína total apresentou-se normal (19,2mg/dL). Prescreveu-se prednisona (1mg/kg, a cada doze horas) e sulfa com trimeto-
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Rogério Martins Amorim - FMVZ/Unesp-Botucatu
prim (30mg/kg, a cada doze horas) e cloridrato de tramadol (2mg/kg, a cada oito horas), porém, diante da gravidade dos sinais neurológicos, o proprietário optou pela realização da eutanásia do animal. Posteriormente foi realizado o exame necroscópico. Na avaliação macroscópica observou-se aumento de volume do córtex parietal e occipital, causando compressão do cerebelo. Verificou-se herniação da porção caudal do verme do cerebelo através do forame magno. Ao corte, observou-se massa de coloração heterogênea, variando entre branco-acinzentada e rósea, medindo 1,5cm de diâmetro, localizada na região subcortical desde a região frontal até a parietal, que acometia os núcleos da base e o tálamo, com destruição do parênquima cerebral, deslocamento do hipocampo, do tálamo e do mesencéfalo e aumento do volume de LCR, com dilatação dos ventrículos laterais (Figura 1). A análise microscópica mostrou a presença de massa neoplásica composta por populações morfologicamente distintas. A primeira, composta por oligodendrócitos, caracterizou-se pela presença de células com pequenos núcleos redondos e basofílicos, com cromatina condensada, dispostos centralmente e circundados por citoplasma pálido, não corável, criando um halo perinuclear (Figura 2). As células estavam arranjadas em um padrão “favo de mel”. A segunda população era composta por astrócitos fibrosos e gemistocíticos. Essas células apresentavam núcleos redondos e discretamente vesiculosos e citoplasma acidofílico e estrelado (Figura 3). Os astrócitos gemistocíticos demonstravam núcleo excêntrico e amplo citoplasma acidofílico. Viam-se ainda extensas áreas de necrose intratumoral e neovascularização moderada. 56
Didier Cagnini - FMVZ-Unesp-Botucatu
Didier Cagnini - FMVZ-Unesp-Botucatu
Figura 1 - Imagens comparativas da massa tumoral na tomografia computadorizada e na necropsia (setas)
Figura 2 - Área de diferenciação oligodendrocitária. Os oligodendrócitos apresentam núcleos pequenos, redondos e basofílicos, com cromatina condensada, dispostos centralmente e circundados por citoplasma pálido, não corável, criando um halo perinuclear. HE, obj 400x (setas)
Figura 3 - Área de diferenciação astrocitária. Os astrócitos fibrosos apresentam núcleos redondos, discretamente vesiculosos, citoplasma acidofílico e estrelado. HE, obj 400x (setas)
Discussão Os tumores cerebrais ocorrem em cães de qualquer idade, de todas as raças e de ambos os sexos, porém são mais frequentes em cães idosos, com maior incidência após cinco anos de idade 1,8,23,26,27. Mais de 70% dos tumores primários cerebrais ocorrem em cães com mais de seis anos de idade 21,28. A idade do animal deste relato está de acordo com um estudo que refere que o risco maior para tumores da glia ocorreu em cães de dez a quatorze anos de idade 29. Outros estudos mostram que a média das idades de 183 cães com neoplasma cerebral estudados era de nove anos 23,27. Neste caso, o tumor intracraniano ocorreu em um cão da raça boxer, o que, por sua vez, corrobora o afirmado por outros autores que citaram as raças braquicefálicas como as mais predispostas a desenvolver gliomas 6,18,30. O animal apresentava histórico de distúrbios comportamentais (agressividade para com outros cães) havia sete dias e aparecimento das demais alterações neurológicas havia um dia. Na maioria dos casos, os sinais clínicos da disfunção neurológica ocorrem lentamente; entretanto, pode ocorrer desenvolvimento agudo ou subagudo por exaustão dos mecanismos compensatórios e pelo desenvolvimento de hemorragias ou de hidrocefalia obstrutiva secundária ao tumor 8,16. Os tumores cerebrais que afetam o córtex podem resultar em ataxia, andar em círculos, andar contínuo e pressão da cabeça contra objetos 16,17. Os gliomas provocam um grande edema peritumoral, por sua natureza expansiva e comportamento invasivo 31,32. Outros sinais
clínicos frequentemente associados a tumores cerebrais em cães e gatos incluem: pleurotótono, alterações comportamentais, convulsões, depressão mental, incontinência urinária e hiperestesia da coluna cervical 17,27,30,33,34. Todos os sinais neurológicos apresentados pelo animal são compatíveis com as alterações descritas pela literatura. Os exames laboratoriais realizados permitiram a exclusão de possíveis causas metabólicas. Também foi descartada a possibilidade de toxoplasmose, neosporose e cinomose. A análise do LCR coletado sugeriu processo inflamatório. As células tumorais raramente são vistas na análise do LCR 7,29. De modo geral, observa-se aumento na concentração de proteínas sem um aumento concomitante na contagem celular em neoplasmas cerebrais 18, porém o líquor pode apresentar-se normal 19. A TC mostrou a presença e a localização exata da massa intracraniana 7. A aparência dos gliomas na TC é variada, e pode não haver realce após injeção de meio de contraste iodado 31,35,36. Neste relato, a análise da TC revelou a presença de uma massa tumoral isoatenuante nas imagens pré-contraste, com leve realce após a aplicação do contraste, corroborando os achados de outros autores, que descrevem que os gliomas exibem pobre realce ao meio de contraste 31. Os gliomas são neoplasias parenquimatosas com aspectos tomográficos similares: são únicos, de localização intra-axial, mais frequentemente rostrotentorial, apresentam aspecto ovaloide ou difuso, com produção de efeito de massa severo, edema adjacente e
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heterogeneidade pós-contraste com presença de anel peritumoral (em 1/3 dos casos) 8,21,31. Os astrocitomas podem se apresentar, quanto à densidade pré-contraste, isoatenuantes ou hiperatenuantes, enquanto os oligodendrogliomas são hipodensos 31. No entanto, apenas este critério não é suficiente para classificar esses neoplasmas 31, já que se observaram neste caso aspectos tomográficos compatíveis tanto com os astrocitomas quanto com os oligodendrogliomas, fato este justificável quando há populações celulares distintas, como nos casos dos gliomas mistos. A prednisona tem sido utilizada como terapia de suporte, pois deve diminuir a PIC, aliviando o edema cerebral associado e diminuindo a produção de LCR 8,29. Prescreveram-se prednisona, analgésico e antibiótico de amplo espectro após a realização da coleta de líquor e do exame tomográfico, porém, perante a gravidade dos sinais neurológicos, o proprietário optou pela realização da eutanásia do animal. Os achados microscópicos apresentaram-se de acordo com os descritos na literatura nos casos de gliomas mistos compostos por astrócitos e oligodendrócitos 6,28. Considerações finais Neoplasmas intracranianos são relativamente comuns em cães e gatos. O diagnóstico ante mortem é dificultado pela limitada disponibilidade de recursos avançados de neuroimagem no Brasil. Embora alguns achados de tomografia sejam altamente sugestivos de neoplasia, o diagnóstico definitivo só pode ser estabelecido com biópsia ou necropsia, associadas a exame histopatológico. Referências 01-BAGLEY, R. S. ; KORNEGAY, J. N. ; PAGE, R. L. Central nervous system. In: SLATTER, D. H. Textbook of small animal surgery, 2. ed., Philadelphia: WB Saunders, 1993. p. 2137-2166. 02-BRAUND, K. G. Clinical syndromes in veterinary neurology. St Louis: Mosby, 1994. p.477. 03-VANDEVELDE, M. Brain tumors in domestic animals: an overview. In: Proceedings of a Conference on brain tumors in man and animals, Research Triangle Park, NC, 1984. 04-BRAUND, K. G. Neoplasia of the nervous system. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 6, p. 717-722, 1984. 05-JOHNSON, G. C. Genesis and pathology of
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Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
Diagnóstico de neoplasia epitelial maligna em líquido pleural - relato de caso
Raqueli Teresinha França MV, residente - Patologia Clínica - HVU/UFSM
raquelifranca@yahoo.com.br
Danieli Brolo Martins MV, mestre, doutoranda - PPGMV/UFSM
vetdanielimartins@yahoo.com.br
Cinthia Melazzo Mazzanti
Malignant epithelial neoplasia in pleural fluid - case report Diagnóstico de tumor epitelial maligno en el líquido pleural - relato de caso
MV, profa. adj. Depto. Clínica de Pequenos Animais - UFSM
cmelazzo@yahoo.com.br
Rafael Almeida Fighera MV, prof. adj. Depto. Patologia Veterinária - UFSM
anemiaveterinaria@yahoo.com.br
Sonia Terezinha dos Anjos Lopes MV, profa. adj. Depto. Clínica de Pequenos Animais - UFSM
sonia@smail.ufsm.br
Resumo: As neoplasias constituem importante causa de morte em pequenos animais. Algumas neoplasias que acometem as cavidades corporais e os órgãos internos são responsáveis pela formação de líquido no seu interior, sendo de suma importância avaliá-lo para esclarecer sua etiologia. Relata-se um caso de efusão pleural neoplásica em uma cadela fox de treze anos de idade com histórico de dispneia e tosse havia um mês, em decorrência de efusão pleural. Realizaram-se hemograma completo, testes bioquímicos e análise de líquido pleural. A avaliação citológica do líquido pleural revelou agregados celulares interpretados como epiteliais e neoplásicos, permitindo um diagnóstico citológico de carcinoma posteriormente confirmado na histopatologia. Este relato evidencia a importância da análise citológica de líquidos para o diagnóstico precoce de neoplasmas, em especial aqueles formadores de efusões. Unitermos: cão, efusão, carcinoma, citologia Abstract: Neoplasms are an important cause of death in small animals. Some cancers that affect the body cavity and internal organs are responsible for the formation of liquid inside, and the examination of such fluid is extremely important to reveal its etiology. This report describes a case of neoplastic pleural effusion in a 13-yearold female Fox Terrier dog presenting with dyspnea and cough for around a month. Complete blood count, biochemical tests and cytological analysis were carried out. Cytological evaluation of the pleural fluid showed clusters of neoplastic epithelial cells, leading to a cytological diagnosis of carcinoma later confirmed by histopathology. This article points out the importance of the cytological analysis of fluids for early diagnosis of neoplasms, especially those that present effusions. Keywords: dog, effusion, carcinoma, cytology Resumen: Las neoplasias son una causa importante de muerte en los animales pequeños. Algunos tipos de cáncer que afectan las cavidades corporales y órganos internos son responsables de la formación de líquido en su interior, cuya evaluación suele ser extremadamente importante para aclarar su etiología. En el presente trabajo se relata un caso de efusión pleural neoplásica en una perra Fox Terrier de 13 años de edad con historia de disnea y tos de un mes, en consecuencia de efusión pleural. Se realizó hemograma completo, exámenes bioquímicos y análisis de líquido pleural. La evaluación citológica del líquido pleural reveló agregados celulares interpretados como epiteliales y neoplásicos permitiendo un diagnóstico de carcinoma posteriormente confirmado por histopatología. Este relato evidencia la importancia del análisis citológico de líquidos para el diagnóstico precoz de neoplasias, en especial aquellas formadoras de efusiones. Palabras clave: perros, efusión, carcinoma, citología
Clínica Veterinária, n. 89, p. 60-62, 2010
Introdução A análise do líquido das cavidades corporais é essencial para o diagnóstico de doenças que cursam com efusão pleural e/ou abdominal e muitas vezes complementa a determinação da etiologia dessas doenças. Além disso, esse exame muitas vezes auxilia o clínico a realizar a terapia ou a intervenção médica/cirúrgica adequada. Sua avaliação permite um rápido e acurado diagnóstico, minimizando a morbidade e mortalidade dos pacientes. A citologia do líquido é valiosa para a identificação de diversos processos, como infecção por 60
parasitas, inflamação séptica ou asséptica e neoplasias 1-4. As neoplasias constituem importante causa de morte em cães, sendo o segundo motivo de óbito na clínica médica de animais adultos, enquanto em animais idosos essa é a causa principal 5. O envolvimento das cavidades serosas em tumores malignos tem importante implicação na terapêutica e no prognóstico. Em alguns pacientes, a presença de células neoplásicas em efusões é a primeira indicação de câncer. Assim, a identificação e o tratamento precoce do derrame pleural maligno se tornam
fundamentais para promover uma melhor qualidade de vida aos animais portadores de neoplasmas em estágios avançados 6. A detecção de tumores malignos pela análise de líquidos cavitários tem demonstrado sensibilidade de 64% e especificidade de 99% para cães. Quase dois terços das doenças malignas que causam derrame pleural ou peritoneal são detectados pelo exame citológico. A diferenciação entre determinados tipos de neoplasmas, como, por exemplo, o mesotelioma maligno e o carcinoma, é difícil, uma vez que as células mesoteliais têm critérios de malignidade semelhantes 2. Além disso, deve-se ressaltar que a diferenciação entre neoplasma mesotelial e hiperplasia mesotelial é um dos assuntos mais controversos em se tratando desse tema. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de neoplasia epitelial maligna em um cão, diagnosticado por meio da análise do líquido pleural. O relato evidencia a importância da avaliação citológica, um teste rápido, eficaz e de baixo custo, em casos de acúmulo de líquido nas cavidades corporais. Descrição do caso Uma cadela fox de treze anos de idade foi encaminhada ao Hospital Veterinário
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Danieli Brolo Martins
Danieli Brolo Martins
Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (HVU-UFSM), por apresentar dispneia e tosse havia um mês, com piora gradual do quadro. No exame físico observou-se taquicardia, taquipneia, ausculta cardíaca e pulmonar dificultada, aumento do reflexo tussígeno e nódulo em uma das mamas. Na avaliação radiológica constatou-se presença de líquido na cavidade torácica. Foram realizadas coletas de sangue e de líquido pleural para análise. Não foram observadas alterações no eritrograma e o leucograma foi interpretado como de estresse, pois se caracterizava por leve leucocitose, neutrofilia, monocitose e linfopenia. No painel bioquímico, a atividade da enzima alanina aminotransferase (ALT) estava no limite de normalidade e a fosfatase alcalina (FA) apresentava um aumento significativo. Na análise do líquido pleural foi encontrada alta contagem de células nucleadas (6.100/µL), proteína (5g/dL), aspecto turvo, pH 6,5 e ausência de glicose. Na avaliação citológica do líquido pleural havia agrupamentos de células epiteliais que apresentavam citoplasma basofílico e vacuolizado, núcleo formado por cromatina frouxa com nucléolos angulares, múltiplos e evidentes, anisocitose, anisocariose, células multinucleadas e figuras de mitoses atípicas. Esses achados citológicos permitiram classificar o neoplasma como tendo origem epitelial maligna (Figura 1).
Figura 1 - Aglomerado de células epiteliais neoplásicas evidenciando nucléolos (seta preta) e multinucleação (seta vermelha) (1000x, Diff Quik)
Após os resultados obtidos na avaliação do líquido pleural, realizou-se toracotomia exploratória e drenaram-se aproximadamente 400mL de líquido serosanguinolento da cavidade torácica (Figura 2). Na ocasião, também foram retirados fragmentos de pleura, na altura da inserção esternal do pericárdio, para exame histopatológico. Na análise histopatológica da pleura foi observada proliferação neoplásica em ilhas e as escassas células individuais eram circundadas por moderada reação desmoplásica. Essas células eram poliédricas e tinham limites citoplasmáticos pouco distintos. Seus citoplasmas eram eosinofílicos e os núcleos tinham disposição central, redondos ou, menos frequentemente, reniformes e constituídos
Figura 2 - Líquido pleural apresentando aspecto serosanguinolento
por cromatina frouxamente arranjada. Havia acentuado pleomorfismo, que incluía a presença de células com núcleos bizarros e algumas figuras de mitoses atípicas. Após a cirurgia, o cão teve melhora significativa. Porém, ao sexto dia do pós-operatório, o paciente apresentou dispneia súbita e morreu. Discussão Os líquidos neoplásicos podem ser classificados como transudato modificado ou exsudato e, ocasionalmente, como transudato puro 3. Contudo, devido
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à variabilidade na concentração de proteínas e células nucleadas, algumas efusões não se enquadram nas classificações normalmente utilizadas 7. A concentração de proteína, a quantidade de células nucleadas e o aspecto turvo permitiram classificar a amostra como um transudato modificado; entretanto, ressaltamos a importância da análise do sedimento, pois a avaliação citológica foi fundamental para determinar a origem do líquido pleural. O diagnóstico de células neoplásicas em líquidos cavitários requer experiência e cautela. As efusões resultantes de carcinoma geralmente apresentam grandes agrupamentos de células redondas com limites citoplasmáticos mantidos. 8 A distinção de células mesoteliais reativas e macrófagos das células do carcinoma requerem a identificação de quatro ou mais critérios de malignidade, a saber: marcada anisocariose, nucléolos angulares grandes e múltiplos, anormalidade de cromatina, pleomorfismo, multinucleação e figuras de mitoses atípicas 8. Contudo, na avaliação citológica do líquido pleural deste caso, foi possível observar mais de cinco critérios de malignidade. Aproximadamente um terço dos derrames neoplásicos em seres humanos apresentam pH menor que 7,3 e estão associados a níveis baixos de glicose; esses dois aspectos avaliados juntamente parecem ser denotadores de doença avançada no espaço pleural, com menor sobrevida do paciente 9. Entretanto, em medicina veterinária é escassa a literatura que faça referência a essa correlação. O derrame pleural é de moderado a elevado, variando de 500 a 2.000mL, em 75% dos pacientes que apresentam envolvimento da pleura com carcinoma, e esse líquido pode variar de seroso ou serosanguinolento a sanguinolento 10. Apesar de ter se encontrado, neste caso, um volume um pouco menor (400mL) de líquido serosanguinolento no interior da cavidade torácica do que o citado pela literatura, este foi considerado alterado, pois apresentava uma significativa esfoliação do material celular. O diagnóstico definitivo do tipo de tumor envolvido na avaliação citológica de líquidos requer exame histopatológico, uma vez que as células de mesotelioma e de carcinoma são facilmente 62
confundidas no exame citológico 2. Neste relato, o diagnóstico citológico foi compatível com o resultado do exame histopatológico que revelou metástase de carcinoma de local indeterminado. Apesar de a avaliação citológica não ser o diagnóstico definitivo, ela caracteriza o grupo celular envolvido, o processo presente e a presença ou ausência de malignidade, auxiliando, dessa maneira, o clínico a decidir qual a conduta a ser tomada. A formação de líquidos cavitários pode estar relacionada com diversos tipos de tumores, como os de glândula mamária, pâncreas, brônquios, tireoide, ovários, glândulas sudoríparas, trato gastrintestinal, células escamosas e células do epitélio de transição 8. O processo carcinomatoso de qualquer órgão pode provocar metástase na pleura 10. Entretanto, não foi possível determinar a origem primária desse tumor, já que a necropsia não foi autorizada pelo proprietário do cão. Mas, existe a hipótese de que ele possa ter-se originado na glândula mamária, pois o cão apresentava um nódulo em uma das mamas, fato constatado no exame físico. No Sul do Brasil, dentre os neoplasmas que comumente levam os cães à morte, os que se originam nas glândulas mamárias constituem a maior parcela 5. As metástases pulmonares são comuns nesse tipo de tumor, podendo abranger de 25% a 50% dos casos. Alguns cães podem desenvolver efusão pleural e/ou peritoneal em decorrência de metástase de neoplasma mamário 6,11. Um aspecto a ser discutido neste caso é o aumento no nível sérico da FA, que pode estar relacionado a glicocorticoides e também a alguns neoplasmas como: osteossarcoma, hemangiossarcoma, adenocarcinoma e carcinoma de células escamosas. Por outro lado, em animais geriátricos com aumento inexplicável de FA sérica, deve-se considerar sempre a possibilidade de neoplasia. Contudo, doenças hepáticas subclínicas são comuns em animais idosos e podem ser a causa da maior atividade dessa enzima 12. Entretanto, neste caso o aumento foi atribuído à presença de neoplasma e também à liberação de glicocorticoide endógeno, uma vez que o leucograma desse cão foi caracterizado como de estresse.
Considerações finais A avaliação citológica de líquidos cavitários pode auxiliar no diagnóstico e no prognóstico, ajudando o médico veterinário a decidir qual a conduta a ser tomada com o paciente. Em casos de formação de líquido, indica-se a análise da efusão independente da suspeita de existência ou não de neoplasma, tornando a avaliação citológica imprescindível. Referências 01-DELL'ORCO, M. ; BERTAZZOLO, W. ; PACCIORETTI, F. What is your diagnosis? Peritoneal effusion from a dog. Veterinary Clinical Pathology, v. 38, n. 3, p. 367-369, 2009. 02-HIRSCHBERGER, J. ; DENICOLA, D. B. ; HERMANNS, W. ; KRAFT, W. Sensitivity and specificity of cytologic evaluation in the diagnosis of neoplasia in body fluids from dogs and cats. Veterinary Clinical Pathology, v. 28, n. 4, p. 142-146, 1999. 03-SHELLY, S. M. Fluidos de cavidades corporais. In: RASKIN, R. E. ; MEYER, D. J. Atlas de citologia de cães e gatos. São Paulo: Roca, 2003. p. 157-171. 04-RIZZI, T. E. ; COWELL, R. L. ; TYLER, R. D. ; MEINKOTH, J. H. Effusion: abdominal, thoracic, and pericardial. In: COWELL, R. L. ; TYLER, R. D. ; MEINKOTH, J. H. ; DENICOLA, D. B. Diagnostic cytology and hematology of the dog and cat. Canada: Elsevier, 2008. p. 235-255. 05-FIGHERA, R. A. ; SOUZA, T. M. ; SILVA, M. C. ; BRUM, J. S. ; GRAÇA, D. L. ; KOMMERS, G. D. ; IRIGOYEN, L. F. ; BARROS, C. S. L. Causas de morte e razões para eutanásia de cães da Mesorregião do Centro Ocidental RioGrandense (1965-2004). Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 28, n. 4, p. 223-230, 2008. 06-CASSALI, G. D. ; GÄRTNER, F. ; SILVA, M. J. V. ; SCHMITT, F. C. Cytological diagnosis of a metastatic canine mammary tumor in pleural effusion. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 51, n. 4, p. 307-310, 1999. 07-CONNALLY, H. E. Citology and fluid analysis of the acute abdomen. Clinical Techniques in Small Animal Pratice, v. 18, n. 1, p. 39-44, 2003. 08-ALLEMAN, A. R. Abdominal, thoracic and pericardial effusions. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, v. 33, n. 1, p. 89-118, 2003. 09-TEIXEIRA, L. R. ; VARGAS, F. S. ; MARCHI, E. Derrame pleural neoplásico. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 32, supl. 4, p. 182-189, 2006. 10-SAHN, S. A. Malignancy metastatic to the pleura. Clinics in Chest Medicine, v. 19, n. 2, p. 351-361, 1998. 11-HEDLUND, C. S. Cirurgia do sistema reprodutor e genital. In: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2002. p. 596-601. 12-LASSEN, E. D. Avaliação laboratorial do fígado. In: THRALL, M. A. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. São Paulo: Roca, 2007. p. 335-354.
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Detecção molecular do rearranjo Line-1/c-MYC em tumores venéreos transmissíveis caninos espontâneos Molecular detection of Line-1/c-MYC in spontaneous canine transmissible venereal tumors
Jeison Solano Spin Médico veterinário autônomo
jeison_solano@yahoo.com.br
Luciano Santos da Fonseca MV, mestrando - FMVZ/Unesp-Botucatu
scoobyluc@gmail.com
Lígia Souza Lima Silveira da Mota Zootectnista, profa. dra. Inst. Biociências - Depto. Genética/Unesp-Botucatu
lmota@ibb.unesp.br
Erick da Cruz Castelli Biomédico, pós-doutorando Depto. Clínica Médica - FM - Ribeirão Preto
castelli@usp.br
Sandra Bassani Silva MV, dra. - FMVZ/Unesp-Botucatu
sabassani@yahoo.com.br
Detección molecular de reestructuración de Line1/c-MYC en tumor venéreo transmisible espontáneo en perros
Isabelle Ferreira MV, mestre, doutoranda - FMVZ/Unesp-Botucatu
iferreira_16@hotmail.com
Noeme Sousa Rocha MV, profa. livre-docente Depto. Clin. Vet. - FMVZ/Unesp-Botucatu
Resumo: O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia que se desenvolve em condições naturais no cão. É de fácil transplantação, demonstrando a capacidade de transmissão de um animal para outro. Pelo fato de o rearranjo Line-1/c-MYC ainda não ter sido estudado nas células do TVT no Hospital Veterinário da FMVZ, Unesp, campus de Botucatu, SP, este estudo teve por objetivo detectar o rearranjo, uma alteração genética específica desse tumor, por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR). Para tanto, foram utilizados vinte cães com diagnóstico citológico de TVT. Amostras das células tumorais foram colhidas para se detectar a presença do marcador Line-1/c-MYC. O rearranjo caracterizado por amplicons de 340pb de tamanho não variou nas amostras, em concordância com descrições anteriores, contribuindo para a identificação mais precisa das células neoplásicas persistentes em casos nos quais o neoplasma não seja macroscópica ou microscopicamente detectável, o que poderia ocasionar a recorrência do tumor em questão. Unitermos: cão, punção aspirativa, DNA, extração, PCR, amplificação
rochanoeme@fmvz.unesp.br
Abstract: Transmissible venereal tumor (TVT) is a neoplasia that develops naturally in dogs. It can be easily transplanted, which demonstrates its ability to spread from animal to animal. Since the Linr-1/c-MYC rearrangement in TVT cells had not been studied at the Veterinary Hospital of the Veterinary School, Unesp in Botucatu, SP, this study aimed to detect this genetic alteration specific to this kind of tumor by means of the polymerase chain reaction (PCR). Twenty dogs with cytological diagnosis of TVT were used. Samples of neoplastic cells were collected to determine the presence of the Line-1/c-MYC marker. The rearrangement characterized by 340bp amplicons did not vary, in agreement with previous studies using the same methodology. This contributed to a more precise identification of persistent tumor cells in cases in which gross or microscopical detection was not possible. Keywords: dog, aspiration punction, DNA, extraction, PCR, amplification Resumen: El tumor venéreo transmisible (TVT) es una neoplasia que se desarrolla en perros en condiciones naturales. Debido a que la disposición del rearreglo Line-1/c-MYC no ha sido estudiada en las células de TVT en nuestra institución, Unesp en Botucatu, SP, este estudio tuvo como objetivo detectar su localización por medio de la reacción en cadena de la polimerasa (PCR), donde esta alteración es específica de este tumor. Fueron utilizados veinte animales con diagnóstico citológico de TVT. Posteriormente las células tumorales fueron colectadas para detectar la presencia del marcador Line-1/c-MYC. La disposición caracterizada por el tamaño de 340pb no tuvo variación en las muestras, coincidiendo con resultados de otros estudios, considerándose satisfactorio desde el punto de vista clínico y diagnóstico, contribuyendo en la identificación más precisa de las células neoplásicas persistentes, donde las mismas no serían visibles macro y microscópicamente, hecho que podría provocar la recurrencia del tumor en cuestión. Palabras clave: canes, punction de la aspiración, DNA, extracción, PCR, amplificación
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Introdução O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia que em condições naturais se desenvolve no cão, na região genital e extragenital de ambos os sexos, em animais que atingiram a puberdade 1-3. Apesar de intensa investigação, alguns pontos sobre a neoplasia permanecem 64
controversos. A etiologia, origem histológica e origem genética são alguns dos fatores que permanecem incertos. Até o momento, não houve nenhuma constatação do envolvimento de algum agente físico, químico ou biológico na origem dessa lesão, nem tampouco de a origem histológica da célula ser epitelial ou mesenquimal. Além disso, a
constituição cromossômica dessas células é semelhante à de uma célula somática canina normal em relação à presença de diversos rearranjos 4-6. Dentre as várias formas de coleta de amostras desse tumor, a mais adequada é o exame citológico, por punção, pois reduz sobremaneira a contaminação por sangue e seus constituintes, isolando grande quantidade de células de TVT ideais para o cultivo celular e/ou a obtenção de DNA/RNA para a pesquisa de marcadores moleculares e de expressão gênica 7. Os avanços da biologia molecular nos últimos anos tiveram grande impacto, não só pela disponibilidade de novas metodologias em busca de mutações por sequenciamento de DNA, mas também por uma mudança de conceito para o
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diagnóstico, prognóstico, monitoramento e entendimento das doenças 8-11. Utilizando essa metodologia, pode-se identificar e quantificar a expressão dos genes individuais com importância específica para um determinado tumor 12,13. Entre os vários rearranjos cromossômicos dessas células neoplásicas, o que se dá entre um elemento transponível (Line-1) e o gene MYC é um dos mais característicos. Esse rearranjo caracteriza um ótimo marcador molecular para células de TVT, uma vez que sua presença não é detectada em células somáticas normais tornando-o um marcador molecular de alta especificidade para o TVT. No ser humano, o gene c-MYC encontra-se na posição 8q24.1 e tem como função em células normais a regulação de transcrição de fatores com ação nuclear, compreendendo três éxons, cujos produtos consistem em fosfoproteínas nucleares altamente conservadas. As descobertas acerca desse gene reforçam sua atuação como modulador da transcrição gênica e sua participação em outros mecanismos potencialmente relevantes no processo carcinogênico. 14,15 Quanto aos elementos de transposição, eles representam aproximadamente 17% do genoma humano e são sequências de DNA que podem se mover no genoma, caracterizando a principal fonte de mutações espontâneas. Também podem causar efeitos deletérios, culminando com o desenvolvimento de várias doenças no ser humano 16-18. O grande número desses elementos no genoma propicia ampla oportunidade para recombinação homóloga desigual, ocasionando deleções ou duplicações gênicas, ou mesmo alterações mais complexas do material genético 19,20. No TVT, pesquisadores encontraram o oncogene c-MYC rearranjado pela inserção de um elemento longo de transposição Line-1 na região da extremidade 5' para o primeiro éxon. Por meio das técnicas de biologia molecular, essa junção foi detectada em todas as amostras testadas desse tumor, porém não foi observada em amostras de DNA de células normais de cães 21-23. A junção Line/c-MYC é um rearranjo entre dois genes expressos nas células neoplásicas do TVT. Já foi detectada em células de TVT em diferentes países, sempre associada apenas às células
neoplásicas e não às células somáticas normais. No entanto, a detecção desse rearranjo ainda não foi descrita em TVTs espontâneos no Brasil. Dessa forma, este estudo teve por objetivo detectar o rearranjo Line/c-MYC e adequar a metodologia já descrita para avaliar a ocorrência do rearranjo Line/MYC para diagnóstico específico da presença de células neoplásicas de TVT espontâneo em animais atendidos no Hospital Veterinário da Unesp, campus de Botucatu. Material e métodos Foram utilizados vinte cães sem restrição de sexo, raça ou idade provenientes da rotina do Hospital Veterinário, FMVZ/Unesp, campus de Botucatu. Todos os animais tiveram diagnóstico citológico positivo de TVT. As células tumorais foram coletadas por punção aspirativa, colocadas em um criotubo contendo solução tampão fosfato PBS e conservadas a -20 ºC para extração de DNA genômico. A digestão proteica foi realizada em 500µL de tampão de digestão (Tris-HCl 10Mm pH 8,5, EDTA 1Mm pH 8,0, Tween 20 a 0,5%, proteinase-K 400µg/µL). As amostras foram então incubadas a 65 ºC, durante 24h. A extração do DNA seguiu-se de adição de CTAB/NaCl, com posterior precipitação do DNA com etanol, formação de pellet por secagem e diluição em solução de Tris HCl 1M pH 7,5 e EDTA 250Mm ou água ultrapura estéril. A quantidade de DNA foi avaliada por leitura em espectrofotômetro digital a, e sua qualidade, avaliada por eletroforese em gel de agarose a 2%, corado com brometo de etídio. A presença do marcador Line-1/cMYC foi avaliada por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR), com a utilização dos primers MYC.S (5` ATG CACCAAGATTTTCTTCACTGC 3`) – específico para o gene MYC – e Line.A (5' ATCCTAGAGAAGAACACAGGC AACAC 3') – específico para o segmento Line-1 –, disponíveis no banco de dados do National Centre for Biotechnology Information (NCBI, 2010) 24. Dois primers específicos para o gene de hemoglobina humana foram utilizados como controles internos positivos de reação de amplificação a) Espectrofotômetro Digital Celm® modelo E - 225D. CELM Cia. Equipadora de Laboratórios Modernos, S.A., Barueri, SP
HBGA.S (5' CGGTATTTGGAGGTCA GCAC 3') e HGBA.A (5' CCCACCAC CAAGACCTACTT 3'). Cada reação foi feita em volume final de 25µL contendo 10pmol de cada iniciador, 2,5mM de cloreto de magnésio (MgCl2), 0,28mM de dNTPs e 1U de DNA polimerase b. O perfil de ciclagem utilizado foi 94 ºC por 5 min., seguido de 35 ciclos a 94 ºC por 1 min., 64 ºC por 1 min. e 72 ºC por 5 min. O tamanho de peso molecular esperado é de 340pb. Todas as reações de amplificação foram realizadas juntamente com um controle negativo para contaminação (ausência de DNA) e um controle negativo para o rearranjo utilizando DNA humano na reação. Os produtos de amplificação foram submetidos à corrida eletroforética em gel de agarose a 2% por 1h a 100V, contracorados com 0,3% de brometo de etídio em tris-borato-EDTA (TEB) a 10% e visualizados sob exposição a luz ultravioleta. A presença do rearranjo foi encontrada por amplificação específica de um fragmento de 340pb, distância entre os pontos de ligação dos iniciadores utilizados quando o rearranjo está presente (Figura 1). Bancos de dados GeneBank - http://www.ncbi.nlm.nih.gov/
Figura 1 - Mapa gênico dos pontos de ligação dos primers
Resultados A punção aspirativa permitiu a coleta de número adequado de células para a realização da técnica proposta. Houve necessidade de se realizarem testes para a indicação da temperatura mais adequada para anelamento dos primers MYC.S e Line.A, com o intuito de padronizar a reação da PCR. Assim, expusemos doze amostras de DNA de TVT a
b) Invitrogen® Life Technologies, EUA. www.invitrogen.com/
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número de reações constituintes da reação água ultrapura (MILLI-Q) tampão para PCR cloreto de magnésio dNTPS iniciador 1S iniciador 1A enzima volume total volume de amostra amostra amostra amostra amostra amostra amostra
Hemo.5 Hemo.3 Taq (Life)
50 oC 50,3 oC 51,4 oC 53,2 oC 55,5 oC 58,1 oC
1 2 3 4 5 6
13x volume final [ ] inicial 1x ( L) 17,2 10x 2,5 50mM 1,25 20mM 0,35 10 M 0,75 10 M 0,75 5U/ L 0,2 23 Ug/ L 2 Perfil de ciclagem amostra 7 amostra 8 amostra 9 amostra 10 amostra 11 amostra 12
13x ( L) 223,6 32,5 16,25 4,55 9,75 9,75 2,6 299 -
25 L [ ] final 1x 2,5mM 0,28mM 0,3 M 0,3 M 1U/ L *ng/ L 60,8 oC 63,5 oC 66 oC 68,1 oC 69,7 oC 70,5 oC
Figura 2 - Exposição de doze amostras de DNA de TVT a doze temperaturas diferentes
doze temperaturas diferentes, que variaram de 50 ºC a 70,5 ºC (Figura 2). Realizou-se a corrida eletroforética das amostras, verificando que a amostra seis apresentou padrão de sonda de melhor qualidade quando exposta a temperatura de mais de 58,1 ºC, definida como temperatura ótima para as ciclagens subsequentes. Também se variaram as quantidades da enzima Taq DNA polimerase nas reações, com o intuito de minimizar o gasto e maximizar os resultados. A sensibilidade do teste para a detecção do rearranjo Line-1/MYC foi avaliada por meio do uso de diversas diluições de amostras. O DNA extraído de
células de TVT foi diluído com DNA extraído de células de sangue de cães clinicamente sadios, na proporção de 1:25, 1:50 e 1:100. A reação para detecção do rearranjo se mostrou adequada para identificar células de TVT em todas as concentrações testadas, mesmo quando o DNA de células de TVT estava presente em uma proporção de 1:100 de células normais (Figura 3). Ainda, todas as vinte amostras testadas se mostraram positivas para a presença do rearranjo e nenhuma amostra de sangue de cão normal se mostrou positiva para o rearranjo, fato esse que comprova a especificidade da reação.
Erick da Cruz Castelli
Figura 3 - Na primeira coluna, o marcador de 100bp. O número 1 representa o controle de contaminação no DNA, o número 2 o controle negativo (sangue de cão), os números 3, 4 e 5 representam as amostras de TVTc diluídas em sangue de cão na proporção 1:25, 1:50 e 1:100, respectivamente, e o número 6 representa a amostra de TVTc sem diluição
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Discussão O método de punção para a coleta das amostras foi considerado adequado para a aplicação da PCR empregada neste trabalho. De fato, como já preconizado por outros autores, reduziu a contaminação por sangue e seus constituintes, conferindo alta celularidade, o que contribuiu com um melhor resultado da técnica molecular aplicada – no caso, a PCR 25. A conservação das amostras e a posterior extração do DNA apresentaram resultados satisfatórios quando comparados com os dos trabalhos que utilizaram procedimentos semelhantes 26-28, tais como o armazenamento por longo período à temperatura de -20 ºC, possibilitando a aplicação em futuras pesquisas.
Porém, esses autores não especificam em seus relatos qual seria o período máximo para armazenamento das amostras sem comprometimento da qualidade do DNA, dado de fundamental importância no artigo científico. O protocolo de extração utilizado por nós com a mesma temperatura – de -20 ºC, por nove meses – não alterou a sensibilidade e a especificidade da PCR; consequentemente, obteve-se a detecção do Line-1/c-MYC em todas as vinte amostras 29. Diante disso, consideramos que nove meses é o tempo de armazenamento ideal para futuras pesquisas, dado até o momento não relatado na literatura especializada no assunto – o que mostra o ineditismo de nosso trabalho. A reação em cadeia da polimerase (PCR) demonstrou-se neste estudo um método de fácil execução, simples, rápido e de extrema sensibilidade para a detecção do rearranjo 11,30, em que se pôde obter grande quantidade de DNA de um gene específico a partir de uma quantidade mínima de DNA, como preconiza a literatura 10. Com relação à padronização desse método molecular, obtivemos ótimos resultados quanto ao método de ciclagem das amostras quando várias temperaturas e números de ciclos foram testados, como realizado em outros estudos moleculares que utilizaram protocolos semelhantes 29. Quanto às diluições utilizadas de 1:25, 1:50 e 1:100, não foram encontradas na
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literatura tais diluições do DNA genômico para diminuição dos custos desse teste – cujo propósito foi averiguar a possibilidade de utilizá-lo em cães em final de tratamento, quando os métodos tradicionais não são capazes de detectar as células tumorais na região. O protocolo final alcançou o objetivo esperado, com boa definição em gel de agarose, o que reduz os custos do teste. A detecção do rearranjo genético encontrado em nosso trabalho e o tamanho da amplificação, que foi de 340pb, diferiu de outros autores 25,31 que verificaram tamanho da amplificação de 550pb para o segmento 5' do referido rearranjo, no qual a sequência do Line-1 possuía 1.3378pb flanqueados por 10pb em repetição direta upstream para o gene cMYC. Entretanto, os produtos da PCR dos oligonucleotídeos variaram em comprimento, onde esse rearranjo encontrava-se em 416pb por uma sequência homóloga inversa. Essa variação pode ser explicada devido ao fato de a utilização de outros primers amplificar em uma região diferente. Para isso, é necessário aprofundar as investigações relativas a esse assunto. Nossos resultados estão de acordo com a literatura especializada, em que se encontram relatos de outros pesquisadores que testaram por meio da PCR a amplificação desse segmento de DNA em outros tumores, constatando a ausência do rearranjo Line-1/c-MYC. No entanto, a literatura cita a necessidade de mais estudos para saber qual o verdadeiro papel desse evento na carcinogênese, bem como do mecanismo do elemento de transposição Line e seu verdadeiro papel no desenvolvimento da neoplasia 32.
Agradecimentos Agradecemos à FAPESP e ao PIBIC/CNPq pelo suporte financeiro. Referências 01-NIELSEN, S. W. ; KENNEDY, P. C. Tumors of the genital systems. In: MOULTON, J. E. Tumor in domestic animals. 3. ed. Berkeley: University of California Press, 1990. p. 479-517. 02-HARMELIN, A. ; PINTHUS, H. ; KATZIR, N. ; KAPON, A. ; VOLCANI, Y. ; AMARIGLIO, E. N. ; RECHAVI, G. Use of a murine xenograft model for canine transmissible venereal tumor. American Journal of Veterinary Research, Chicago, v. 62, n. 6, p. 907-911, 2001. 03-ROGERS, K. S. Transmissible venereal tumour. The Compedium of Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 19, n. 9, p. 10361045, 1997. 04-HASLER, A. H. ; WEBER, W. T. Theriogenology question of the month. Transmissible venereal tumor (TVT). Journal American Veterinary Medicine Association, Schaumburg, v. 216, n. 10, p. 1557-1559, 2000. Errata em: Theriogenology question of the month. Journal American Veterinary Medicine Association, Schaumburg, v. 217, n. 1, p. 42, 2000. 05-MacEWEN, E. G. Transmissible venereal tumor. In: WITHROW, S. J. ; MacEWEN, E. G. Small animal clinical oncology. 3. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 2001. p. 651-656. 06-MURGIA, C. ; PRITCHARD, J. K. ; KIM, S. Y. ;
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Considerações finais Concluiu-se que a técnica da PCR para detecção do rearranjo Line-1/cMYC nas células de TVT canino espontâneo em cães, em amostras armazenadas em temperatura de -20 ºC por nove meses, apresenta alto grau de especificidade para pesquisa do rearranjo genético em questão. São necessários mais estudos a respeito, pois a sensibilidade dessa alteração genética é indiscutível para a carcinogênese do TVT, como apresentado neste trabalho e unânime na literatura especializada, porém ainda não foi demonstrado que essa alteração seja a causa primária e única dessa neoplasia. Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
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Hipotireoidismo em cães – revisão
MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
Hypothyroidism in dogs – a review
MV, residente Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
Felipe Gazza Romão fgazza_vet@hotmail.com
Mariana Isa Poci Palumbo palumboma11@yahoo.com.br
Hipotiroidismo en los perros – revisión Resumo: O hipotireoidismo é uma das endocrinopatias mais frequentes na espécie canina, que acomete preferencialmente animais de meia-idade de raça pura. Os sintomas clínicos são bastante variados e muitas vezes inespecíficos, incluindo alterações metabólicas, dermatológicas ou cardiovasculares. Os principais achados laboratoriais são anemia arregenerativa e hipercolesterolemia. Hiponatremia, aumento da atividade da fosfatase alcalina e da alanina aminotransferase também podem ser observados com menor frequência. Existem testes específicos, utilizados no auxílio ao diagnóstico do hipotireoidismo, que devem ser interpretados em conjunto com os sinais clínicos apresentados pelo animal. As concentrações de tireotopina (TSH), tiroxina (T4) livre e total são os testes hormonais mais utilizados. É importante diferenciar hipotireoidismo da síndrome do eutireoideo doente, condição que pode ser causada por doenças graves e, principalmente, o hiperadrenocorticismo, levando à diminuição dos níveis de TSH e T4. O tratamento de escolha é a levotiroxina sódica. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão sobre o hipotireoidismo em cães, por se tratar de uma doença de difícil diagnóstico e de ocorrência comum na rotina da clínica de pequenos animais. Unitermos: tireoide, tireoidite, tiroxina, levotiroxina sódica
Luciene Maria Martinello MV, residente UNIRP
lucienemartinello@hotmail.com
Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br
Maria Lúcia Gomes Lourenço MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária - FMVZ/Unesp-Botucatu
Abstract: Hypothyroidism is one of the most frequent endocrinopathies in dogs, affecting preferentially middle-aged, pure breed animals. Associated clinical signs are variable and often non-specific, including metabolic, dermatological or cardiovascular alterations. The main laboratorial findings are non-regenerative anemia and hypercholesterolemia. Hyponatremia and an increase in alanine transferase and alkaline phosphatase activities can also be observed with lower frequency. There are specific diagnostic tests that can be used to help diagnose hypothyroidism, and those should be interpreted in the light of the animal´s clinical symptoms. The levels of thyroxine stimulating hormone (TSH) and both free and total thyroxine (T4) are the most used hormonal tests. It is important to differentiate between hypothyroidism and the euthyroid sick syndrome, a condition that may be caused by severe diseases such as hyperadrenocorticism and lead to decreased TSH and T4 levels as well. Levothyroxine sodium is the standard treatment. The main objective of this paper is to review hypothyroidism in dogs, since this is a very common disease in small animal clinics, but with difficult diagnosis. Keywords: thyroid, thyroiditis, thyroxine, levothyroxine sodium
mege@uol.com.br
Resumen: El hipotiroidismo es la enfermedad endocrina más común en los perros, que afecta principalmente a animales de raza y de mediana edad. Los signos clínicos son muy variados e inespecíficos, incluyendo sintomas metabólicos, dermatológicos y cardiovasculares. Los hallazgos de laboratorio más comunes son la anemia arregenerativa y la hipercolesterolemia. La hiponatremia, aumento de la actividad de la fosfatasa alcalina y alanina aminotransferasa, también se observaron con menor frecuencia. Hay pruebas específicas utilizadas en el diagnóstico del hipotiroidismo, que deben ser interpretados conjuntamente con los signos clínicos del animal. Las concentraciones de tireotropina (TSH), tiroxina (T4) libre y total son las pruebas hormonales más utilizadas. Es importante diferenciar el hipotiroidismo del síndrome del eutiroideo enfermo, una condición que puede ser causada por enfermedades graves y, sobre todo el hiperadrenocorticismo, dando lugar a la disminución de los niveles de TSH y T4. El tratamiento de elección es la levotiroxina sódica. El objetivo de este trabajo es realizar una revisión bibliográfica sobre el hipotiroidismo en los perros, debido a que es una enfermedad difícil de diagnosticar y de ocurrencia común en la rutina de la clínica de animales pequeños. Palabras clave: tiroide, tiroiditis, tiroxina, levotiroxina sódica
folicular secundária na tireoide 8. Os sintomas clássicos do hipotireoidismo em cães incluem: ganho de peso, letargia, termofilia, alopecia, “cauda de rato” (perda de pelo apenas na cauda) e anormalidades reprodutivas. As neuropatias centrais ou periféricas são menos frequentes, assim como as alterações cardiovasculares e os distúrbios gastrintestinais, dentre outros. Alguns cães apresentam também termofilia 5,9,10.
Clínica Veterinária, n. 89 p. 70-76, 2010
Introdução O hipotireoidismo é uma endocrinopatia comum em cães causada por uma deficiência na síntese de hormônios pela tireoide, com uma prevalência relatada de 0,2% a 0,8% da população canina acometida 1-4. Afeta cães de médio a grande porte (doberman, golden e labrador retriever, chow-chow, boxer, setter irlandês, airedale terrier, beagle, teckel, schnauzer miniatura, cocker spaniel, rottweiler são raças predispostas) de meia-idade (quatro a dez anos), não havendo predisposição sexual 5. No aspecto clínico, é uma enfermidade com diversos sintomas, em razão do efeito da deficiência desses hormônios em uma série de sistemas orgânicos 6,7. 70
Um esquema de classificação conveniente para o hipotireoidismo foi criado e baseia-se na localização do problema dentro do complexo glandular hipotálamo-hipófise-tireoide. O hipotireoidismo primário é a forma mais comum desse distúrbio em cães, sendo resultante de problemas na própria glândula tireoide. O tipo secundário resulta da deficiência da secreção de TSH (hormônio tireoestimulante), levando a uma deficiência secundária da síntese e da secreção do hormônio tiroideano. O hipotireoidismo terciário é causado por uma deficiência da produção do TRH (hormônio liberador de tireotropina); a ausência de secreção desse hormônio pode ocasionar deficiência da secreção de TSH e atrofia
Fisiopatologia Mais de 90% dos cães hipotireoideos são do tipo primário adquirido 11,12. O hipotireoidismo primário é causado pela destruição tireoideana, resultando em disfunção da glândula. As causas incluem: tireoidite linfocítica, atrofia folicular idiopática, deficiência de iodo na dieta, neoplasia, infecção ou destruição iatrogênica (por exemplo, fármacos tireotóxicos, tireoidectomia, terapia com iodo radioativo). A tireoidite linfocítica corresponde aproximadamente à metade dos casos de hipotireoidismo primário. A sua etiologia é desconhecida, contudo, sabe-se que tem caráter hereditário. Histologicamente, a tireoidite linfocítica é caracterizada
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por uma infiltração multifocal ou difusa de linfócitos, macrófagos e plasmócitos na glândula. As células do epitélio folicular, que são normalmente cuboides na aparência, tornam-se colunares sob o efeito estimulatório do aumento de TSH. Há um espessamento da membrana basal e uma substituição do tecido normal glandular por tecido conjuntivo fibroso maduro 12. A patogênese molecular e imunológica da tireoidite linfocítica em cães não foi muito bem caracterizada ainda. Embora esse processo tenha sido estudado em galinhas e ratos e induzido em cães, é difícil avaliar até que ponto esses modelos mimetizam as condições naturais de ocorrência da doença. Em seres humanos, o infiltrado é predominantemente linfocítico, com linfócitos B e T (estes em maior quantidade). Confirmou-se a resposta proliferativa de células mononucleares do sangue periférico à tireoglobulina canina em animais hipotireoideos com aumento dos níveis de anticorpos antitireoglobulina, o que sugere que a perda da autotolerância das
células CD4+ é importante nos achados patológicos da tireoidite canina. Alguns autores sugerem também um forte componente hereditário dessa condição 13. Os sinais e sintomas clínicos do hipotireoidismo manifestam-se somente quando aproximadamente 75% da glândula foi destruída. A perda do controle de retroalimentação negativa sobre a hipófise teoricamente resulta em um aumento na concentração de TSH circulante 7,12. A atrofia idiopática tireoidiana, não relacionada à tireoidite, acomete cerca de 50% dos pacientes com hipotireoidismo primário. Caracteriza-se pela degeneração folicular das células, com a redução do tamanho folicular e a substituição do parênquima normal por tecido adiposo conjuntivo 12. As demais causas são incomuns em cães. O hipotireoidismo secundário em cães é incomum. Resulta da falha de desenvolvimento ou da disfunção dos tireotrofos hipofisários, causando secreção deficiente de TSH e uma deficiência secundária na síntese e secreção
do hormônio da tireoide. A atrofia folicular secundária ocorre gradativamente, determinando a ausência de TSH. Outras causas do hipotireoidismo secundário são: neoplasia hipofisária ou supressão da função tireotrópica por hormônios ou fármacos (por exemplo, glicocorticoides) 8,11. O hipotireoidismo terciário é uma deficiência na secreção de TRH por neurônios peptidérgicos nos núcleos supraópticos e paraventriculares do hipotálamo, o que leva a uma deficiência na secreção de TSH e à atrofia folicular secundária da tireoide 8. Apenas um caso foi descrito na literatura mundial, relatando a ocorrência do hipotireoidismo terciário em um cão de nove anos, da raça labrador, que não respondeu adequadamente ao teste de estimulação com TRH 14. Anormalidades na concentração dos homônios tireoideos sem a evidência da coexistência de enfermidade na hipófise ou na tireoide são comumente encontradas em uma série de doenças não tireoideanas, incluindo infecções, trauma,
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condições inflamatórias, neoplasias, megaesôfago e hiperadrenocorticismo, dentre outras 15,16. Uma diminuição na concentração sérica do hormônio da tireoide pode resultar de um declínio na secreção de TSH secundário à supressão do hipotálamo ou da hipófise, de uma síntese diminuída de tiroxina (T4), de uma concentração diminuída de proteínas circulantes (por exemplo, globulina que se liga à tireoide), de inibição da deiodinação de T4 para T3, ou de qualquer combinação desses fatores. Acredita-se que a diminuição subsequente de T4 total sérico e, em muitos casos, das concentrações de T4 livre (fT4) represente uma adaptação fisiológica do organismo, com o propósito de diminuir o metabolismo celular durante períodos de enfermidade 8. Esse processo ocorre na chamada síndrome do eutireoideo doente, que é um achado comum em cães e é resultado da ação de algumas drogas (como anti-inflamatórios não esteroidais e esteroidais, fenobarbital, sulfonamidas) ou de algumas doenças sobre as concentrações dos hormônios tireoidianos 17. Diagnóstico Os sinais e sintomas clínicos característicos mais comuns são: sinais metabólicos (84% dos casos), em especial letargia (76%), ganho de peso (44%) e intolerância ao exercício (24%); e anormalidades dermatológicas (80% dos casos), incluindo alopecia (56%), pelame de má qualidade (30%) e hiperpigmentação (20%) 3. A obesidade, o ganho de peso, a letargia e a intolerância ao exercício são provocados por um decréscimo da taxa metabólica; o gasto energético é aproximadamente 15% menor em cães hipotireoideos quando comparados a cães normais 6. Além disso, o mixedema tem sido apontado como maior culpado pelo ganho de peso, justamente pelo acúmulo de mucopolissacarídeos no tecido subcutâneo 18. A alopecia é um sinal clínico comum em animais com hipotireoidismo, pois os hormônios tireoideanos são necessários para iniciar a fase anágena do crescimento do pelo, que fica na fase telógena por longos períodos, tornando-se seco e sem brilho 6,19. Outros achados dermatológicos comuns encontrados são seborreia (oleosa 72
ou seca) e piodermite superficial. Hiperqueratose, hiperpigmentação, comedos, hipertricose e otite também foram descritos. As alterações cutâneas estão relacionadas com a diminuição da síntese proteica e da atividade mitótica, além da diminuição do consumo de oxigênio pela pele, o que resulta em atrofia da epiderme, atrofia das glândulas sebáceas e queratinização anormal 19. O mixedema é facilmente reconhecido ao exame físico e geralmente encontrado no exame histopatológico de biópsias cutâneas, o que torna a pele mais espessada especialmente na região da cabeça, conferindo à face do animal uma expressão de fascies tragica. Isso ocorre pelo acúmulo na derme de mucina – composta primariamente de ácido hialurônico 6. O mixedema comatoso é outra possível complicação do hipotireoidismo, levando a alteração do estado mental e da termorregulação. O hormônio tireoidiano tem um efeito permissivo sobre a enzima ATPase: quando ocorre uma diminuição da atividade dessa proteína, há um decréscimo do uso do ATP, levando à hipóxia celular e à diminuição da geração de calor. Em adição, o edema cerebral pode resultar em disfunção do hipotálamo, estrutura importantíssima no mecanismo termorregulatório 20. Em seres humanos, o hipotireoidismo leva a alterações eletrocardiográficas como bradicardia sinusal, complexos QRS pequenos, prolongamento do intervalo Q-T e diminuição ou inversão da onda T 21. Um estudo demonstrou que onze entre dezenove cães hipotireoideos apresentavam ondas R de baixa amplitude; além disso, o ecocardiograma de dois animais exibia evidência de fraca contratilidade miocárdica e cardiomiopatia dilatada 9. Os sinais neurológicos são incomuns no hipotireoidismo primário (cerca de 7,5% dos animais hipotireoideos apresentam disfunção neurológica) e podem ser causados por mudanças mixedematosas ou ateroscleróticas secundárias à hiperlipidemia. Os sinais podem incluir convulsões, andar em círculos, desorientação e coma 4,22. Outras manifestações neurológicas incluem polineuropatia e neuropatia focal. A patogenia desses processos não está totalmente elucidada, mas acredita-se que resulte de uma anormalidade metabólica no transporte
axonal e de disfunção das células de Schwann 6. As anormalidades reprodutivas incluem anestro persistente, galactorreia, infertilidade, prolongado intervalo interestro nas cadelas, diminuição da fertilidade e da libido nos machos, tudo isso atribuído ao hipotireoidismo. A inapropriada galactorreia, por exemplo, é reconhecida como consequência do aumento das concentrações circulantes de prolactina causado pelo aumento generalizado da estimulação da glândula hipofisária pelo TRH 12. O diagnóstico do hipotireoidismo em cães é feito com base nos achados clínicos, nos exames laboratoriais de rotina e nos testes de função tireoideana, além de na resposta à terapia hormonal 1,15. Infelizmente, o diagnóstico torna-se complexo, pois muitos fatores influenciam os resultados, levando a uma diminuição dos níveis de tiroxina séricos 7. Os resultados do hemograma, do painel bioquímico e da urinálise podem ajudar no diagnóstico do hipotireoidismo e descartar outros distúrbios. A anemia arregenerativa normocítica normocrômica moderada está presente em 30 a 40% dos casos 6, consequência das reduções da atividade metabólica periférica e da demanda de oxigênio nos tecidos. A hipercolesterolemia ocorre em 75% dos cães hipotireoideos, enquanto a hipertrigliceridemia acomete 88% dos animais doentes, associadas tanto a uma redução da taxa de degradação de lipídios quanto da síntese 12. Aumento dos níveis de frutosamina, mesmo quando a glicemia apresenta-se normal, também é observado, em razão de um aumento do turnover proteico 3,12,19,23. A ultrassonografia cervical é um método diagnóstico pouco empregado na medicina veterinária, porém, de grande valia como auxiliar no diagnóstico diferencial entre o hipotireoidismo e a síndrome do eutireoideo doente, principalmente nos casos em que ocorre atrofia idiopática da glândula, com diminuição significativa do tamanho quando comparado ao da glândula de animais sadios. A média do volume total da glândula tireoide (VTG) de animais com hipotireoidismo foi de 0,28cm3, enquanto animais hígidos apresentaram 0,54cm3. Além disso, a glândula doente é hipoecoica em relação à musculatura cervical, ao contrário do que ocorre no tecido
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normal, que é hiperecoico em relação à mesma musculatura 24. Medicamentos, incluindo sulfonamidas, glicocorticoides e fenobarbital, assim como doenças graves e hiperadrenocorticismo, podem diminuir a concentração de T4 total e livre 10,25. Um estudo demonstrou que o uso de sulfonamidas potencializadas, como o sulfametoxazoletrimetroprim, causou a queda dos níveis de tiroxina total, o que proporcionou diagnóstico falso positivo de hipotireoidismo 26. A concentração de TSH, juntamente com a de T4 total e de T4 livre, são utilizadas no diagnóstico da doença 25. O hipotireoidismo causa um decréscimo das concentrações basais do hormônio tireoideano e aumento do TSH, em razão da falta de retroalimentação negativa que o T4 exerce na produção de TSH pela adeno-hipófise 15. O T4 total basal sérico tem sido, tradicionalmente, o principal elemento para o diagnóstico do hipotireoidismo canino e continua sendo uma excelente linha de teste diagnóstico para a doença. É um marcador barato e sensível para o hipotireoidismo, porém os baixos valores não confirmam a enfermidade, já que muitas condições (uso de fármacos) reduzem os níveis séricos. A sensibilidade diagnóstica desse teste é de cerca de 95% e a especificidade, de aproximadamente 70%, tornando-o pouco confiável quando utilizado sem outros testes, ou sem achados clínicos 10,12. A concentração sérica de TSH geralmente aumenta em casos de hipotireoidismo primário. Contudo, até 35% dos animais hipotireoideos apresentam níveis normais de TSH; não se sabe a causa exata desse fenômeno, mas acreditase que ocorra exaustão da adeno-hipófise, ou que haja uma flutuação randômica durante o dia, ou ainda que existam isoformas de TSH canino que não possam ser mensuradas. A presença de uma doença concomitante e de hipotireoidismo secundário são causas prováveis para a detecção de níveis normais de TSH em animais com hipotireoidismo primário, portanto, não se recomenda a utilização somente desse teste para investigar essa enfermidade 7,27. A concentração de T4 livre é considerada o teste diagnóstico mais fidedigno para o diagnóstico de hipotireoidismo dentre as opções disponíveis no mercado, 74
pois a fração livre da tiroxina é metabolicamente ativa e está disponível para os tecidos. No entanto, é importante salientar que a mensuração do T4 livre deve ser feita, preferencialmente, pela técnica diálise de equilíbrio ou T4 livre bifásico, pois possibilitam a separação da fração livre da porção total 1,12,28. A concentração basal de T3 tem pouco valor na diferenciação entre hipotireoideos e eutireoideos, já que a glândula tireoide normal secreta muito mais tiroxina do que tri-iodotironina 1; além disso, os níveis séricos de T3 estão normais em 50% dos cães hipotireoideos, tornando esse exame muito pouco sensível 10. O teste de estimulação com o TSH foi tradicionalmente considerado o “padrão-ouro” para o diagnóstico de hipotireoidismo canino. A administração intravenosa de uma dose suprafisiológica de TSH de origem bovina resulta na máxima estimulação da glândula tireoide após seis horas da aplicação. O protocolo geralmente utilizado é da administração intramuscular da tireotropina a, na dose de 0,44UI/kg de peso corpóreo, coletando-se a amostra sanguínea após doze horas. A determinação do T4 total circulante antes e depois dessa administração fornece uma avaliação da capacidade funcional da tireoide 12. Esse teste está em desuso pela dificuldade de se encontrar o TSH bovino e pela possibilidade de anafilaxia quando administrado 27,29. O TSH recombinante humano b tem sido utilizado com relativo sucesso para o teste de estimulação por tireotropina na Europa, já que causa menos efeitos colaterais que o análogo bovino; porém, seu alto custo torna pouco acessível sua utilização na medicina veterinária no Brasil. Um estudo com 33 cães divididos em dois grupos (15 cães com sinais clínicos compatíveis com hipotireoidismo e 18 cães sadios) utilizou duas doses, de 75 e 150µg por animal e demonstrou que a maior é mais confiável, já que resultados anormais do teste foram registrados com a dose de 75µg. Como em outros testes para o diagnóstico de hipotireoidismo, devem-se excluir outras doenças de base ou o uso de a) Dermathycin®, Schering-Plough, EUA; http://www.trademarkia.com/dermathycin-73620605.html b) Thyrogen®, Genzyme Genzyme Corporation, Reino Unido, Distribuidora Brasil, Ariquemes, RD
medicamentos que possam interferir nos resultados 30. Tratamento e prognóstico A levotiroxina sintética c é o tratamento de escolha para hipotireoidismo. Sua administração oral deve resultar em concentrações séricas normais de T4, T3 e cTSH, baseando-se no fato de que esses produtos podem ser convertidos em T3, que é a forma metabolicamente ativa 8. Muitos autores recomendam o uso da levotiroxina duas vezes ao dia ou, mesmo ocasionalmente, três vezes ao dia. No entanto, a resposta clínica quando administrada uma vez ao dia normalmente é excelente, desde que o pico da concentração adequada seja atingido. Embora a utilização de doses divididas certamente resulte em menor flutuação das concentrações de T4 circulante em comparação à administração da mesma dose total como uma única diária em bolus, a ação biológica dos hormônios da tireoide pode ultrapassar a da meiavida plasmática, o que explica o sucesso clínico da terapia diária 12. A dose inicial da levotiroxina é de 0,02mg/kg/dia, sendo a dose aumentada ou diminuída de acordo com a resposta clínica e a evolução dos resultados dos testes laboratoriais 31. Com a terapia apropriada, todos os sinais clínicos e anormalidades clinicopatológicas associados ao hipotireoidismo apresentam remissão 8. Em geral, sintomas metabólicos como retardo mental e letargia estão entre os primeiros a melhorar, sendo muitas vezes observada uma melhora dentro de sete dias após o início do tratamento. A perda de peso é uma característica constante do sucesso do tratamento e uma redução de 10% do peso pode ocorrer dentro de três meses após seu início 12. Em seres humanos, foi comprovado que a perda de peso deve-se principalmente à dissipação do fluido mucopolissacarídeo (mixedema) acumulado no tecido subcutâneo 18. Segundo alguns autores, a monitoração da terapia deve ser feita entre sete e dez dias após do início do tratamento, ou quando houver mudança da dose 31. Outros autores afirmam que esse controle deva ser feito com seis a oito c) Puran®, Sanofi Aventis, São Paulo, SP
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
semanas de tratamento, ou se houver algum sinal de tireotoxicose (perda de peso, agressividade, poliúria, polidipsia) 11. Os cães são relativamente resistentes ao desenvolvimento de sintomas clínicos de hipertireoidismo quando uma dose de levotiroxina acima do necessário é administrada 10. As amostras de soro devem ser colhidas seis horas após a administração da levotiroxina, se esta for realizada duas vezes por dia, ou logo antes e seis horas depois da administração da levotiroxina quando administrada uma vez ao dia, para dosagem das concentrações de T4 total. Se os níveis de T4 ainda estiverem baixos, um aumento da dose do medicamento deve ser considerado 11. O prognóstico para cães com hipotireoidismo depende da causa subjacente. A expectativa de vida de um animal adulto com hipotireoidismo primário adquirido submetido ao tratamento adequado deve ser normal. A maioria das manifestações clínicas, se não todas elas, respondem à suplementação com hormônio da tireoide 8,11,23.
Os animais com hipotireoidismo secundário causado por má-formação ou destruição da glândula hipofisária apresentam o prognóstico reservado. A expectativa de vida é menor nos cães com má-formação congênita da hipófise (nanismo hipofisário), pois o hormônio tireoideano é fundamental no desenvolvimento fetal e nos primeiros meses de vida 27. O hipotireoidismo secundário adquirido geralmente é causado pela destruição glandular por um tumor que substitui o parênquima funcional, que tem o potencial de se expandir para o tronco encefálico 8. Considerações finais O hipotireoidismo é uma endocrinopatia comum no cotidiano do clínico de pequenos animais, porém pouco diagnosticado pela dificuldade de interpretação dos exames laboratoriais específicos e pela influência de diversos fatores no resultado dos testes endócrinos. Além disso, é uma enfermidade que pode levar a sinais clínicos inespecíficos em múltiplos sistemas orgânicos.
O tratamento dessa enfermidade é relativamente simples e acessível, tornando totalmente favorável o prognóstico dessa doença. É extremamente necessário um controle rigoroso das condições do animal, como seu peso corporal e sintomas clínicos, para que se possa fazer um ajuste correto na terapêutica. Como em outras endocrinopatias, devese avaliar cada caso individualmente, utilizando um protocolo específico. Referências 01-PETERSON, M. E. ; MELIÁN, C. ; NICHOLS, R. Measurement of serum total thyroxine, triiodothyronine, free thyroxine, and thyrotropin concentrations for diagnosis of hypothyroidism in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 211, n. 11, p. 13961402, 1997. 02-DIXON, R. M. ; MOONEY, C. T. Canine serum thyroglobulin autoantibodies in health, hypothyroidism and non-thyroidal illness. Research in Veterinary Science, v. 66, n. 3, p. 243-246, 1998. 03-DIXON, R. M. ; REID, S. W. J. ; MOONEY, C. T. Epidemiological, clinical, haematological and biochemical characteristics of canine hypothyroidism. Veterinary Record, v. 145, n. 17, p. 481-487, 1999.
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Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
Tratamento da doença inflamatória intestinal canina com budesonida: relato de caso Treatment of canine inflammatory bowel disease with budesonide: a case report
Bruna Siqueira Campos Ciotti Médica veterinária autônoma residente - HV/UnG
brunaciotti@terra.com.br
Viviani De Marco MV, profa. dra. - FMV/UnG endocrinologista - HV/Pompéia
vivianidemarco@terra.com.br
Flávio Augusto Marques dos Santos MV, mestre, prof. - FMV/UAM e UnG Hemovet
flavioaugusto@anhembimorumbi.edu.br
Thelma Parraz
El tratamiento de la enfermedad inflamatoria intestinal canina con budesonida: reporte de un caso Resumo: A doença inflamatória intestinal inclui um grupo de alterações gastrintestinais crônicas e idiopáticas caracterizadas pela resposta inflamatória do trato digestório perante um estímulo antigênico anormal. Uma cadela da raça yorkshire terrier de oito anos de idade foi atendida no Hovet da Universidade Guarulhos, apresentando sinais de êmese, prostração e dor abdominal. A ultrassonografia abdominal apresentou sugestão de duodenite, sendo então realizada biópsia intestinal por endoscopia, que revelou presença de linfócitos e plasmócitos abundantes nas vilosidades duodenais. O tratamento inicial foi com prednisona, porém, devido aos efeitos colaterais, optou-se por substituí-la por budesonida na dose de 3mg/cão a cada 24 horas, por via oral, por sessenta dias. Após a remissão completa dos sinais clínicos, realizou-se a retirada gradual da medicação. Após doze meses de acompanhamento, não houve recidiva do quadro. Unitermos: cães, inflamação, gastrenterite, corticosteroide Abstract: Inflammatory bowel disease includes a group of chronic idiopathic gastrointestinal disorders characterized by an inflammatory response of the digestive tract to an abnormal antigenic stimulation. An eightyear-old Yorkshire Terrier dog was attended at the Veterinary Hospital of the University of Guarulhos, showing signs of vomiting, abdominal pain and prostration. The abdominal ultrasound was suggestive of duodenitis; intestinal biopsy was then performed by endoscopy, which revealed the presence of abundant lymphocytes and plasma cells in the duodenal villi. Initial treatment was with prednisone, but due to side effects, we opted for budesonide (3mg/dog orally once a day for 60 days). After complete remission of clinical symptoms, gradual withdrawal of medication was performed. There was no recurrence within twelve months of follow up. Keywords: dogs, inflammation, gastroenteritis, corticosteroid Resumen: La enfermedad inflamatoria intestinal incluye un grupo de alteraciones gastrointestinales crónicas e idiopáticas caracterizadas por la respuesta inflamatoria del tracto digestivo, frente a un estimulo antigénico anormal. Una perra de raza Yorkshire Terrier, de 8 años de edad se presentó a consulta en Hospital Veterinario de la Universidad de Guarulhos, con signos de vómitos, dolor abdominal y postración. La ecografía abdominal fue sugestiva de duodenitis, siendo entonces realizada biopsia intestinal por endoscopia, que reveló la presencia de abundantes linfocitos y células plasmáticas en las vellosidades del duodeno. El tratamiento inicial fue con prednisona, pero debido a los efectos secundarios, se optó por la sustitución con la budesonida, a dosis de 3mg/perro una vez al día, por vía oral durante 60 días. Después de la remisión completa de los síntomas clínicos, se realizó la retirada gradual de la medicación. Después de doze meses de seguimiento, no hubo recaída del cuadro. Palabras clave: perros, inflamación, gastroenteritis, esteroides
Clínica Veterinária, n. 89 p. 78-82, 2010
Introdução O termo doença inflamatória intestinal (DII) refere-se a um grupo de afecções gastrintestinais crônicas e idiopáticas, caracterizadas por infiltração difusa de células inflamatórias (linfócitos, plasmócitos, eosinófilos, neutrófilos e macrófagos) na mucosa do trato gastrentérico, em diferentes combinações 1,2. As variações histológicas da inflamação sugerem que a DII idiopática não seja uma entidade nosológica única, pois a nomenclatura descreve o tipo celular predominante. Em cães, os tipos 78
mais comuns de DII são a enterite linfocítica-plasmocítica e a colite linfocíticaplasmocítica, seguidas da enterite eosinofílica e, mais raramente, da enterite granulomatosa 2,3. A DII é considerada uma síndrome clínica, caracterizada por uma resposta inflamatória exacerbada e descontrolada do trato digestório perante uma estimulação antigênica normal. A mucosa intestinal desempenha a função de barreira e controla a exposição dos antígenos ao tecido linfoide gastrentérico (GALT). No entanto, na DII essa
Médica veterinária autônoma residente - HV/UnG
thelmaparraz@ig.com.br
função imunoprotetora da mucosa gastrentérica sofre desequilíbrio, favorecendo a lesão inicial. A extensão desses processos é variável, podendo envolver não só o intestino delgado, mas também o estômago e o cólon 4,5. A DII idiopática é uma das causas mais comuns de vômito e diarreia crônica em cães e gatos. Não existe predisposição sexual aparente e a doença é observada com mais frequência em cães de meia-idade. Dentre as raças mais acometidas, destacam-se: beagle, pastor alemão, schnauzer gigante, setter irlandês, rottweiler, shar pei, yorkshire terrier, além de raças toy 3. Algumas dessas raças apresentam predisposição para tipos específicos de DII, como, por exemplo, a colite ulcerativa histiocítica do boxer 5, a enterite linfocítica-plasmocítica do basenji e do shar pei, e a enterite eosinofílica do pastor alemão 3. Vômito e/ou diarreia são os sintomas mais comumente observados na DII canina, que pode se manifestar apenas com vômitos crônicos e intermitentes. Porém, o quadro clínico pode incluir vômito bilioso, hematêmese, diarreia proveniente do intestino delgado (grande volume, aquosa, melena) ou do intestino grosso (hematoquesia, fezes mucoides, frequência aumentada e tenesmo), alças intestinais espessadas, desconforto ou dor abdominal, excessivos borborigmos e flatulência, disorexia (polifagia, hiporexia, anorexia e/ou fitofagia), perda de peso e
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hipoproteinemia (por extravasamento de proteína para a luz intestinal, diante de inflamação grave). O apetite pode estar normal se a inflamação for discreta, porém a dor pós-prandial pode ser intensa, mesmo na ausência de outros sinais, sendo a pancreatite crônica um importante diagnóstico diferencial neste caso 3. O diagnóstico da DII é baseado em critérios histológicos de tecido da mucosa intestinal, porém uma investigação clínica e laboratorial inicial faz-se necessária para a exclusão de outras doenças causadoras de vômito e/ou diarreia de forma crônica, tais como: pancreatite, parasitismo intestinal (especialmente a giardíase), hipersensibilidade alimentar, hipoadrenocorticismo, doença renal, insuficiência pancreática exócrina e linfoma alimentar 1,4. Quanto aos exames laboratoriais, os achados são inespecíficos, como leucocitose por neutrofilia, ocasionalmente, com desvio à esquerda na enterite linfocítica-plasmocítica, anemia secundária à inflamação ou à perda crônica de sangue. Na bioquímica sérica, não existem alterações características da DII, mas a realização de exames laboratoriais (proteína sérica, função renal, função hepática, lipase, teste de estimulação com ACTH, TLI canino - trypsin-like immunoreactivity, etc.) auxilia na identificação de outras doenças com sinais clínicos semelhantes 6. O exame radiográfico simples ou com contraste raramente oferece informações adicionais na DII, sendo possível observar alguma alteração somente nos casos em que há um comprometimento grave da mucosa 3. O exame ultrassonográfico, embora inespecífico, é considerado importante na abordagem da DII, pois é capaz de mensurar a espessura da parede das alças intestinais, além de identificar aumento de linfonodos mesentéricos 7. O diagnóstico definitivo da DII baseia-se na análise histológica do TGI (trato gastrintestinal), que possibilita correlacionar a natureza e a gravidade dos sinais clínicos à região anatômica acometida e ao tipo celular inflamatório prevalente 1. De acordo com os achados histológicos e as porcentagens das células inflamatórias, a DII é classificada como discreta, moderada, moderada a grave e grave. Outras anormalidades que são levadas em consideração são:
atrofia da mucosa e das vilosidades, fusão de vilos, erosão epitelial e fibrose 2. A biópsia intestinal pode ser realizada por meio de endoscopia ou laparotomia exploratória. A endoscopia é um método fácil e não invasivo, mas apresenta limitações, particularmente a inacessibilidade ao jejuno e ao íleo e a incapacidade de incluir no fragmento biopsiado toda a espessura da parede intestinal. A colonoscopia também pode ser empregada nos casos de inflamação do intestino grosso, como a colite. Por esse motivo, é preferível a laparotomia exploratória. Vários fragmentos devem ser coletados, pois podem existir diferentes graus de inflamação em diferentes regiões do intestino, podendo haver áreas normais intercaladas com áreas que apresentem alterações 6. O tratamento da DII inclui manejo alimentar, antibióticos, administração de anti-inflamatórios e fármacos imunossupressores 1,8. As dietas de exclusão são efetivas quando se trata de hipersensibilidade alimentar e antibióticos são indicados quando há hemorragia do trato gastrintestinal ou supercrescimento bacteriano (por perda da capacidade em controlar a flora intestinal) 3. Doença inflamatória intestinal moderada a grave requer, além de modificações na dieta, a administração de glicocorticoides e de metronidazol e, em casos mais graves ou não responsivos a esta combinação, de azatioprina 9. Agentes imunossupressores potentes como a ciclofosfamida e a ciclosporina são raramente usados na doença inflamatória intestinal canina 3. A dose dos glicocorticoides varia de 0,5 a 2,2mg/kg, a cada 24 horas ou a cada doze horas, na dependência da gravidade do quadro clínico. Se a prednisona promover efeitos colaterais importantes ou se o animal apresentar limitações com relação ao uso dos glicocorticoides, como diabetes melito, hiperadrenocorticismo, nefropatias ou hepatopatias crônicas, deve-se utilizar em seu lugar a budesonida. A budesonida é um anti-inflamatório esteroidal com revestimento entérico de ação local administrado por via oral, desenvolvido para causar poucos efeitos colaterais, devido ao seu extensivo metabolismo de primeira passagem pelo fígado, com mínima biodisponibilidade sistêmica 1. As características de pH do revestimento das cápsulas de budesoni-
da permitem que seu princípio ativo seja liberado ao longo do TGI para tratamento de enteropatias, não sendo dissolvidas pelo suco gástrico 10. A budesonida é utilizada com frequência na DII em humanos, como na doença de Crohn, porém seu uso em cães com DII ainda é pouco relatado 1,9. O prognóstico da DII nos cães depende da gravidade do infiltrado inflamatório, da presença de hipoalbuminemia, das condições do animal e da necessidade de terapia por longo prazo com fármacos imunossupressores 9. O objetivo do presente trabalho é relatar o uso e a eficácia da budesonida em um cão com diagnóstico de doença inflamatória intestinal. Relato de caso Foi atendida uma cadela da raça yorkshire terrier, de oito anos de idade, no Hovet-UnG, apresentando episódios eméticos de forma intermitente nos últimos dois meses, além de prostração, hiporexia e dor abdominal havia dois dias. No exame físico, o animal apresentava apatia e abdômen tenso à palpação, com sensibilidade na região epigástrica. O hemograma e os exames bioquímicos (ALT, FA, ureia e creatinina) não demonstraram anormalidades. Com base nesses achados iniciais, foi instituído um tratamento sintomático que compreendeu: fluidoterapia endovenosa com NaCl 0,9%, metoclopramida a 0,5mg/kg a cada oito horas; ranitidina b 2mg/kg a cada oito horas; butilbrometo de escopolamina + dipirona sódica c 25mg/kg a cada 8 horas; cloridrato de tramadol d 2mg/kg a cada oito horas; jejum alimentar de doze horas e, posteriormente, alimentação caseira à base de arroz, batata e peito de frango cozidos. A ultrassonografia abdominal, realizada no dia seguinte, revelou duodeno em topografia habitual, contorno definido, parede espessada (medindo 0,46cm de espessura, já que a medida da parede duodenal ideal para o porte do animal é de até 0,4cm 11), irregular, com conteúdo anecogênico homogêneo e gasoso, sugestivo de duodenite (Figura 1); o pâncreas e demais órgãos não apresentavam alterações. a) Plasil® - SANOFI AVENTIS, São Paulo, SP b) Antak® - GlaxoSmithKline, Rio de Janeiro, RJ c) Buscopan Composto® - Boehringer Ingelheim, São Paulo, SP d) Tramal® - Pfizer, Guarulhos, SP
Clínica Veterinária, Ano XV, n. 89, novembro/dezembro, 2010
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polifagia e taquipneia tornaram-se evidentes já nos primeiros dez dias de tratamento; por esse motivo, optamos pela substituição da prednisona pela budesonida i (3mg/cápsulas) na dose de 3mg/cão a cada 24 horas. Após duas semanas de tratamento com a budesonida, a proprietária referiu melhora satisfatória com redução da dor pós-prandial e dos episódios eméticos em 90%, além da normalização da sede, da produção urinária e da frequência respiratória. Foram realizados exames laboratoriais para avaliação dos efeitos colaterais sistêmicos da budesonida após três semanas de administração diária e nenhuma alteração laboratorial foi evidenciada. Além disso, o ultrassom abdominal de controle já se encontrava dentro dos padrões da normalidade (Figura 2). E assim foi realizada a medicação diária até completar sessenta dias, com remissão completa dos sinais clínicos. Após o período de sessenta dias, foi iniciada a redução gradual da dose da budesonida para cada 48h, depois a cada 72h, até a retirada completa da medicação. Após doze meses do término do tratamento, não houve recidiva do quadro; a paciente tem se alimentado, atualmente, de dietas terapêuticas comerciais com baixo teor de gordura e ricas em fibras, devido à obesidade e à recusa da ração hipoalergênica após dois meses de uso.
Flávio Augusto Marques dos Santos
Após três dias de terapia intensiva, o quadro permaneceu inalterado, com piora das dores abdominais pós-prandiais. Novos exames foram realizados, como exame parasitológico de fezes, TLI (Trypsin-like immunoreactivity) canino, albumina sérica, proteína total, colesterol e triglicérides, porém todos apresentaram resultados dentro dos padrões da normalidade. Foi prescrito metronidazol e 20mg/kg a cada doze horas; dimeticona f, 1gota/kg a cada oito horas; manutenção do cloridrato de tramadol d, 2mg/kg a cada doze horas e a dieta caseira. Após sete dias, a proprietária referia melhora discreta, mas com dores abdominais persistentes e vômitos intermitentes. Foi então indicada biópsia intestinal por meio de endoscopia ou laparotomia exploratória, sendo a endoscopia o método de escolha pela proprietária. Na endoscopia do TGI, observou-se hiperemia das mucosas gástrica e duodenal, sendo coletados diversos fragmentos para análise histopatológica, com o seguinte laudo: discreto infiltrado inflamatório nodular em mucosa gástrica e presença de linfócitos e plasmócitos abundantes nas vilosidades duodenais, além de dilatação de vasos linfáticos, criptas irregulares e hiperplasia de placas de peyer. Os achados histológicos, aliados aos dados de anamnese, ao exame físico, aos exames laboratoriais e a tentativas terapêuticas malsucedidas, possibilitou o diagnóstico de enterite linfocítica-plasmocítica. Foi prescrita uma ração hipoalergênica g e prednisona h na dose de 0,5mg/kg a cada doze horas durante sete dias e, posteriormente, 0,5mg/kg a cada 24 horas. Houve melhora do quadro, porém os efeitos colaterais inerentes ao hipercortisolismo, como poliúria, polidipsia,
Figura 2 - Ultrassom abdominal do animal da figura 1, seis meses após o término do tratamento, demonstrando paredes duodenais dentro dos padrões da normalidade
Discussão e conclusão A doença inflamatória intestinal é uma denominação coletiva que descreve distúrbios intestinais caracterizados pela evidência histológica de inflamação intestinal, sendo a forma mais comumente relatada a enterite linfocítica-plasmocítica 3, assim como no presente caso. Flávio Augusto Marques dos Santos
Flávio Augusto Marques dos Santos
Na paciente relatada, os fatores etários, raciais e sexuais mostraram-se condizentes com os dados de literatura, acometendo principalmente animais de meia-idade, sendo a yorkshire uma das raças predispostas para a doença 3. A apresentação clínica do animal, como êmese, prostração, dor abdominal e hiporexia, embora inespecífica, poderia sugerir um quadro de pancreatite, especialmente pela dor abdominal. Tal suspeita, no entanto, não foi confirmada pelos exames laboratoriais (leucograma, TLI, colesterol, triglicérides) e de imagem, embora o ultrassom abdominal para diagnóstico de pancreatite tenha sensibilidade de apenas 68% 12. Mesmo sabendo-se que a sensibilidade do TLI para o diagnóstico da pancreatite canina seja apenas de 30% a 60% 12, e que sua maior indicação é voltada para o diagnóstico da IPE (insuficiência pancreática exócrina), optou-se por mensurá-lo, pois a determinação sérica da PLI canina (pancreatic lipase immunoreactivity), cuja sensibilidade é bastante superior (80%) 12, não se encontrava disponível na ocasião. A hiperemia observada nas mucosas gástrica e duodenal durante a realização da endoscopia sugere um quadro inespecífico de gastrite e duodenite, porém, aliada aos achados histológicos do intestino delgado (presença de linfócitos e plasmócitos abundantes nas vilosidades duodenais) e à resposta à corticoideterapia apresentada pelo animal, aponta a DII como principal fator etiológico. Os sinais clínicos apresentados
A
B Figura 1 - Ultrassom abdominal de animal da espécie canina, raça yorkshire, oito anos de idade, demonstrando paredes duodenais espessadas (A) e irregulares (B), sugestivo de duodenite 80
e) Flagyl® - SANOFI AVENTIS, São Paulo, SP f) Luftal® - B-MS, São Paulo, SP g) Royal Canin Hipoalergenic® - Royal Canin do Brasil, Descalvado, SP h) Meticorten® - Mantecorp, São Paulo, SP i) Entocort® - AstraZeneca, Cotia, SP
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pela nossa paciente (dor abdominal, hiporexia, êmese e prostração) em associação à duodenite não são, usualmente, os mais relatados, visto que a diarreia crônica é considerada o achado mais frequente em cães com DII 3. O diagnóstico diferencial de outras doenças potencialmente capazes de causar quadro clínico semelhante ao da nossa paciente é de extrema importância e, para tanto, realizamos diversos exames laboratoriais, que se mostraram dentro da normalidade. O exame ultrassonográfico deve ser sempre solicitado, à procura de espessamento das alças intestinais e de aumento dos linfonodos mesentéricos 7. A constatação de paredes duodenais espessadas e irregulares no ultrassom foi sugestiva de duodenite, que, associada aos sinais clínicos e à exclusão de outras doenças gastrentéricas, apontou a necessidade de biópsia intestinal. O diagnóstico definitivo da DII no presente caso foi baseado na análise histológica de fragmento gástrico e intestinal coletado na biopsia por meio de endoscopia. A presença de discreto infiltrado inflamatório nodular em mucosa gástrica, infiltrado linfocítico e plasmocítico mais intenso nas vilosidades duodenais, criptas irregulares e hiperplasia de placas de peyer possibilitaram a confirmação da doença inflamatória intestinal. Deve-se dar atenção especial aos casos graves de enterite linfocítica-plasmocítica ou enterite linfocítica, principalmente em felinos, pois a diferenciação histológica do linfoma pode ser bastante difícil 6. A budesonida é um potente glicocorticoide (quinze vezes mais potente que a prednisolona) com grande atividade tópica e fraca atividade mineralocorticoide. Sua biodisponibilidade em cães é de apenas 10-20% e sua meia-vida, de duas a três horas 10. Embora tenha sido utilizada a dose de 3mg/cão neste relato, a mesma eficácia terapêutica pode ser obtida com doses inferiores, de acordo com o protocolo: 1mg/cão a cada 24 horas para animais de pequeno porte, 2mg/cão a cada 24 horas para animais de médio porte 10 e 3mg/cão a cada 24 horas ou a cada doze horas para animais de grande porte 2. A paciente revelou efeitos colaterais secundários à administração da prednisona logo na primeira semana de tratamento, o que dificultaria a manutenção 82
do tratamento. Durante o tratamento com budesonida, os efeitos colaterais foram amenizados na primeira semana e, posteriormente, abolidos. O uso da budesonida tem sido avaliado em cães com DII, proporcionando menos efeitos colaterais quanto à indução da poliúria e ao aumento da fosfatase alcalina sérica, se comparado com a prednisona, como pudemos constatar 13. No entanto, devese levar em consideração que, embora a budesonida seja considerada um glicocorticoide de ação local, foi demonstrado que é capaz de suprimir o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal de cães submetidos a terapia prolongada em doenças crônicas. Dessa forma, a droga deve ser descontinuada de forma gradativa e com doses cada vez menores 14, como foi realizado em nossa paciente. De forma geral, a budesonida apresenta eficácia terapêutica comprovada na doença intestinal crônica e na doença asmática tanto em humanos como em felinos, sendo empregada neste último caso sob a forma de sprays nasais e inalação, conferindo mínimos efeitos colaterais sistêmicos típicos da corticoideterapia 15. Em pacientes humanos com doença inflamatória intestinal (chamada de doença de Crohn), o tratamento com budesonida é muito frequente, tanto na terapia de indução quanto na de manutenção da doença. Estudos demonstraram que o tratamento de indução com a prednisolona foi clinicamente mais eficaz do que com a budesonida, mas a diferença entre os agentes não alcançou significância estatística 16,17. Nesse caso, há também a opção de se realizar a indução terapêutica com a prednisona e, posteriormente, dar continuidade à terapia com a budesonida, como realizado em nossa paciente canina. Conclui-se, assim, que a terapia da doença inflamatória intestinal canina com budesonida oral mostrou-se eficaz neste caso, com mínimos efeitos colaterais, devendo, portanto, ser mais bem explorada na medicina veterinária. Referências 01-JERGENS, A. E. Inflammatory bowel disease: current perspectives. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice, Philadelphia, v. 29, n. 2, p. 501-521, 1999. 02-TAMS, T. R. Doenças crônicas do intestino delgado. In: TAMS, T. R. Gastroenterologia de pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Roca,
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Reconstrução mandibular em cães: revisão de literatura
Cristiano Gomes MV, MSc, doutorando LACE/UFSM
crisgomes98@hotmail.com
Lisiane Pinho Foerstnow Graduanda - Favet/UFRGS
lisiane@dob.com.br
Mandibular reconstruction in dogs: a literature review
Emerson Antonio Contesini MV, dr., prof. adj. Depto. Medicina Animal - Favet/UFRGS
emerson.contesini@ufrgs.br
Reconstrucción mandibular en perros: revisión de la literatura Resumo: A cavidade oral é o quarto local mais acometido por neoplasias em cães, representando cerca de 6% de todos os tumores nessa espécie. A cirurgia é a principal modalidade terapêutica dos tumores orais, sendo necessária a remoção de todo o tumor com boa margem de segurança. Portanto, nesses casos indicam-se tratamentos cirúrgicos radicais como mandibulectomia e maxilectomia. Apesar de esses procedimentos serem bem tolerados pelos proprietários e pelos animais, algumas complicações podem ocorrer pelo fato de não se manterem a anatomia e a funcionalidade originais. Na medicina humana, as técnicas de reconstruções são priorizadas, por oferecerem não somente melhor aparência estética, mas também um retorno mais rápido das funções fisiológicas e mecânicas da boca. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão sobre reconstruções mandibulares em cães, fazendo simultaneamente uma analogia com o que é realizado em medicina humana. Unitermos: tumores orais, neoplasia oral, mandibulectomia Abstract: The oral cavity is the fourth most affected place by neoplasias in dogs, representing more than 6% of all tumors in this species. Surgical excision is the main therapeutic modality for oral neoplasias, implying the need of total removal with a large safety margin. In such cases, aggressive treatments as mandibulectomy and maxillectomy are indicated. Even though these procedures are well tolerated by the owners and dogs, a lot of complications may occur, since these surgeries do not maintain the original anatomy and function of the mouth. Reconstructive procedures are always prioritized in human medicine, not only for the cosmetic appearance but also for a faster mouth function return. The aim of this paper is to present a literature review about mandibular reconstructions in dogs and to perform analogies with similar procedures in human medicine. Keywords: oral tumors, oral neoplasm, mandibulectomy Resumen: La cavidad oral es el cuarto local anatómico mas afectado por neoplasias en caninos, representando cerca del 6% de todos los tumores en ésta especie. La cirugía es la principal modalidad terapéutica de los tumores orales, que requieren la eliminación de todo el tumor con buen margen de seguridad quirúrgico. El tratamiento quirúrgico radical como mandibulectomía y maxilectomía son las cirugías mas comunmente indicadas. A pesar de que éstos procedimientos son bien tolerados por los propietarios y pacientes, muchas complicaciones pueden ocurrir por no mantener la anatomía y funcionalidades originales. En medicina humana las técnicas de reconstrucción son siempre priorizadas, no solamente por ofrecer una mejor apariencia estética, sino también para un regreso mas rápido de las funciones fisiológicas y mecánicas de la boca. Este trabajo tiene como objetivo presentar una revisión sobre reconstrucciones mandibulares en caninos, haciendo simultáneamente una analogía con lo que es realizado en medicina humana Palabras clave: tumores orales, neoplasia oral, mandibultectomía
Clínica Veterinária, n. 89 p. 84-90, 2010
Introdução A primeira descrição da utilização de enxertos ósseos na reconstrução de falhas ósseas data de 1668, quando um cirurgião russo implantou osso de um cão para reparar um defeito craniano de um soldado 1. Ollier desenvolveu trabalhos experimentais com enxerto autógeno em coelhos e cães em 1867 2. A primeira reconstrução mandibular foi relatada em 1892 por Bardenheuer, que realizou um transplante do próprio osso mandibular para preencher uma falha óssea nesse local. Com o advento da anestesia e a introdução das técnicas de antissepsia, o uso dos enxertos ósseos tornou-se cada vez mais frequente, apresentando 84
resultados clínicos satisfatórios 1. Em cães, os tratamentos de escolha para os tumores orais são a mandibulectomia e a maxilectomia, que são fechadas com tecidos moles e raramente é realizada reconstrução mandibular 3, o que é priorizado em humanos 4. As reconstruções mandibulares ainda hoje constituem um desafio para os cirurgiões, pois o procedimento pode acarretar defeitos estéticos que dificultam a integração do indivíduo à sociedade, interferindo na qualidade de vida e na autoestima, além de comprometer as funções orais como fonação, mastigação e demais funções da mandíbula. Assim, este trabalho busca apresentar
Ney Luis Pippi MV, PhD, prof. tit. - UFSM
nlpippi@smail.ufsm.br
uma revisão sobre reconstrução mandibular em cães, apresentando as técnicas utilizadas em seres humanos e em animais, visando uma melhora da qualidade de vida e da aparência cosmética dos pacientes submetidos a mandibulectomias. Tumores orais A cavidade oral é o quarto local mais comum de ocorrência de neoplasias em cães e gatos, representando 6% de todos os tumores em cães e 3% em gatos 5,6. Aproximadamente 60% desses tumores são malignos, destacando-se o melanoma, o fibrossarcoma, o carcinoma de células escamosas e o osteossarcoma. Entre os principais tumores benignos estão o épulis acantomatoso, o épulis fibromatoso e o ameloblastoma. O ameloblastoma e o épulis acantomatoso apresentam características infiltrativas com recorrências locais 3,7,8. A maior prevalência é em cães machos e idosos, havendo também uma predisposição para as raças cocker spaniel, golden retriever, boxer, pastor alemão e poodle 5,9,10. Diagnóstico O diagnóstico é baseado na apresentação clínica pelo aumento de volume oral, além de halitose, perda de peso, aumento da salivação, sangramento oral, disfagia, deformidade facial, obstrução nasal, perda de dentes e mobilidade dental 6,10,11. A figura 1 mostra um cão macho, de oito anos de idade, sem raça definida (SRD), apresentando um aumento de volume oral, com perda de dente. Para permitir uma melhor avaliação
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Cristiano Gomes
Tratamento O tratamento pode ser feito por meio da cirurgia, da quimioterapia, da radioterapia ou de uma combinação desses métodos 12. A cirurgia é a principal modalidade terapêutica dos tumores orais, sendo necessária a remoção de todo o tumor, com uma margem de segurança de aproximadamente 1 a 2cm tanto do limite tumoral macroscópico quanto da destruição óssea causada por ele 6. As principais técnicas para a remoção desses tumores são a mandibulectomia e a maxilectomia 7,8,14. Esses procedimentos têm sido bem descritos pela literatura e permitem um bom controle local do tumor, sendo bem tolerados pelos cães 12. Em animais, o defeito criado após a mandibulectomia e/ou maxilectomia é fechado com tecidos moles e geralmente nenhuma reconstrução é realizada 3. A literatura apresenta raros relatos de reconstruções mandibulares em cães 15-17. Foi constatado que 85% dos proprietários ficaram satisfeitos com esse procedimento, sendo que os índices de satisfação foram diretamente proporcionais ao tempo de sobrevida dos pacientes. Apesar de 44% apresentarem uma certa dificuldade em se alimentar, 78% apresentaram uma qualidade de vida normal e em 18% a qualidade de vida melhorou. Todos relataram que a aparência cosmética ficou aceitável após o crescimento dos pelos 18.
Figura 1 - Cão macho, de oito anos de idade, SRD, apresentando um aumento de volume oral no corpo mandibular direito, entre o canino e o primeiro molar, havia aproximadamente dois meses, com perda de dente e áreas de necrose, causado por um melanoma oral
do quadro, o animal deve ser anestesiado, possibilitando também a realização de exames complementares, como radiografias e biópsia da região afetada 6,11. O hemograma e as análises bioquímicas, além de radiografias torácicas e ecografia abdominal, vão auxiliar a verificação do estado geral do animal e se há presença de metástases 12, enquanto as radiografias da mandíbula ou da maxila vão servir para averiguar a existência e a extensão da destruição óssea causada pelo tumor 6,11. A figura 2 mostra a destruição óssea causada por um melanoma oral (mesmo animal da figura 1). A citologia permite a identificação de metástases nos linfonodos regionais, porém apresenta um valor limitado na identificação da neoplasia oral, devido à necrose e à inflamação que acompanham os tumores da cavidade oral. Assim, recomenda-se a biópsia (incisional ou Cristiano Gomes
Figura 2 - Imagem radiográfica do cão da figura 1, monstrando destruição óssea da mandíbula, causada pelo melanoma oral, constituída pela perda do alvéolo dentário e, consequentemente, pela perda de dentes
excisional) para coleta do material, que deve ser enviado para exame histopatológico a fim de obter o diagnóstico definitivo. Porém, em alguns casos, faz-se necessária a imuno-histoquímica para a confirmação do diagnóstico 6,11-13.
Prognóstico Em geral, os resultados obtidos são excelentes para tumores benignos, bons para carcinomas de células escamosas, regulares para fibrossarcomas Tipo tumoral épulis acantomatoso carcinoma de células escamosas osteossarcoma fibrossarcoma melanoma
e osteossarcomas e desfavoráveis para o melanoma 3,7,8. A figura 3 demonstra o prognóstico dos principais tumores orais em cães após a realização de mandibulectomia ou maxilectomia. O melanoma é o tumor oral que possui o pior prognóstico. Por essa razão, outras modalidades terapêuticas estão sendo estudadas para aumentar a sobrevida nos casos de melanoma, como a radioterapia, a quimioterapia, a biópsia por congelamento – que permitiria a detecção de margens livres do tumor durante o procedimento cirúrgico, diminuindo as chances de recidivas e aumentando a sobrevida dos pacientes – e, mais recentemente, a imunoterapia – pelo uso de vacinas de DNA – e a eletroquimioterapia 19-21. Complicações da mandibulectomia São esperados edema da pele e da mucosa após a cirurgia, que devem diminuir gradativamente dentro de dois a três dias. Uma vez que a cavidade oral é bastante contaminada, a principal complicação é a infecção. Se a área do reparo sofrer uma forte tensão, não estiver recebendo o suprimento sanguíneo adequado ou o tecido na área cirúrgica ficar gravemente traumatizado, é esperada a deiscência parcial de sutura dentro de três a cinco dias 22. Quando a técnica cirúrgica for de mandibulectomia unilateral rostral ou hemimandibulectomia total, é esperada a protrusão lateral da língua, especialmente quando há a falta do dente canino 3, além de sialorreia 11. A figura 4 mostra um canino macho, cocker spaniel, de treze anos de idade, após a mandibulectomia unilateral. A cirurgia pode resultar em má oclusão significativa e apesar de não demonstrarem sinais clínicos, os animais podem apresentar uma degeneração da articulação temporomandibular. Essa má oclusão pode ser grave, a ponto de impedir os cães de fecharem completamente a
Recorrência Média de Taxa de sobrevida local sobrevida após 1 ano 0-3% > 28-64 meses 98-100% 0-23% 9-26 meses 80-91% 15-44% 6-18 meses 35-71% 31-60% 11-12 meses 23-50% 0-40% 7-17 meses 21%
Figura 3 - Prognóstico dos tumores orais após mandibulectomia ou maxilectomia 11
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boca, em razão de os dentes caninos não estarem corretamente alinhados, causando deslocamento medial da mandíbula com dente canino inferior ocluindo no palato e também úlceras no palato duro, obrigando muitas vezes à extração dos dentes ou à redução da coroa, com posterior tratamento do canal 3. Pode ocorrer dificuldade de preensão dos alimentos, especialmente após mandibulectomia rostral bilateral, distal ao segundo dente pré-molar 11. Por isso, recomenda-se aos proprietários que forneçam somente alimento pastoso aos cães, e que estes sejam impedidos de mastigar objetos duros durante um mês 23. Quando a mandibulectomia ou a maxilectomia envolverem pré-molares e/ou molares, é esperado que haja um déficit na limpeza oral que ocorre durante a mastigação normal, havendo então um acúmulo excessivo de cálculo e placa bacteriana nos dentes antagonistas. São indicados a escovação dos dentes e o tratamento periodontal regular nesses casos 3. Reconstrução imediata x reconstrução tardia Os principais objetivos da reconstrução mandibular em seres humanos são a manutenção estável da ventilação; a restauração da mastigação, da deglutição e da função vocal; a possibilidade de aplicação de implantes dentários, o retorno do contorno mandibular normal e a manutenção da estética facial 24. Nos animais, esse procedimento pode fornecer boa estabilização das estruturas ósseas e 86
Sistemas de fixação Para obter sucesso no procedimento, é fundamental que o enxerto apresente uma estabilidade que possibilite a revascularização do tecido. Ultimamente, tem-se utilizado osteossíntese rígida com placas de reconstrução de titânio 25. As placas de titânio são materiais biologicamente inertes e completamente biocompatíveis; por isso, essas placas normalmente só são removidas se houver rejeição 26. Além disso, elas podem ser facilmente modeladas antes da ressecção mandibular para manutenção do plano oclusal 4. Antigamente utilizavase osteossíntese semirrígida com fios de aço. O tamanho dessas placas pode variar do sistema 2 a 2,4mm, sendo que quando esta última é utilizada, deve ser moldada ao contorno mandibular e em cada extremidade devem ser colocados pelo menos três parafusos bicorticais 25. A figura 5 mostra um cão macho da raça labrador retrievier submetido a mandibulectomia unilateral rostral com posterior reconstrução feita com a placa apropriada e enxerto ósseo. Na medicina veterinária, existem poucos relatos de reconstrução mandibular
Cristiano Gomes
Cristiano Gomes
Figura 4 - Cão macho, cocker spaniel, de treze anos de idade, após a mandibulectomia unilateral para a remoção de um osteossarcoma mandibular. Nota-se a protrusão acentuada da língua, mesmo após a realização da bucoplastia
um rápido retorno anatômico e funcional, mantendo uma aparência cosmética melhor e a funcionalidade, melhorando assim a qualidade de vida dos animais 17. Na medicina humana, existe uma grande controvérsia entre realizar a reconstrução mandibular imediatamente após a mandibulectomia ou tardiamente. As vantagens da reconstrução imediata é que diminui o número de intervenções e a morbidade que a perda da função acarreta, além de proteger e preservar as estruturas anatômicas. Já os defensores da reconstrução tardia alegam que a reconstrução imediata pode camuflar a recidiva do tumor, além de aumentar o tempo cirúrgico. Entretanto, a reconstrução tardia pode promover a retração cicatricial, a fibrose e a atrofia dos tecidos, dificultando assim a realização da reconstrução. Outra opção seria a estabilização da mandíbula com uma placa de reconstrução e, após seis a oito semanas, promover a reconstrução 4. Existe ainda a possibilidade de utilizar somente a reconstrução para estabilizar os ramos mandibulares, sem a colocação de nenhum material para o preenchimento da falha 4.
Figura 5 - Reconstrução mandibular feita com a placa própria para tal fim (seta preta) e autoenxerto de crista ilíaca (seta azul)
com essas placas. Foram descritos dois casos de reconstrução com placas e autoenxerto ósseo, após o processo de falta de união óssea em decorrência de fraturas mandibulares. Houve completa regeneração um ano após os procedimentos cirúrgicos 15. Em outro caso, foi realizada a reconstrução mandibular com uso de placa e autoenxerto ósseo de um cão que apresentava má oclusão após hemimandibulectomia parcial. Após três meses já era observado o processo de regeneração do osso, porém a completa remodelação só foi constatada após quatro anos 16. Em um trabalho, a reconstrução com placa e autoenxerto ósseo foi feita imediatamente após a ressecção cirúrgica de um nódulo tumoral. Uma semana após a cirurgia, observou-se uma boa recuperação pós-operatória; o animal alimentava-se sem dificuldade, sem dor aparente, nem deformidade facial visível. Um mês após a cirurgia, a radiografia revelou o início da incorporação do enxerto e após nove meses, nenhum sinal de falha do implante nem de recidiva tumoral foi notada 17. Em um outro caso, uma reconstrução mandibular utilizando placa associada a proteína óssea morfogenética recombinante humana 2 (rhBMP-2) foi realizada em um cocker após a mandibulectomia para a remoção de um odontoma complexo. A reação óssea foi observada aos três meses após o procedimento cirúrgico e a completa remodelação foi observada após 26 meses 27. O uso dessas placas também foi descrito em cães como modelos experimentais para se avaliarem diferentes materiais sintéticos, obtendo-se regeneração nos diferentes grupos 22. Outro método de fixação em cães foi realizado, também
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em nível experimental, para avaliar a cicatrização óssea mediante uso de enxerto vascularizado da tíbia com fixador esquelético externo associado a cerclagem 28. Há também um caso de reconstrução mandibular utilizando vértebra coccígea vascularizada com o auxílio de pino intramedular de Steinmann 29. Tipos de enxerto Os enxertos, quanto à sua imunocompatibilidade, são de três diferentes tipos 2. O enxerto autógeno é o transplante do enxerto de um ponto a outro do mesmo indivíduo; o enxerto alógeno é o transplante do enxerto de um indivíduo a outro da mesma espécie; e o enxerto xenógeno é o transplante entre animais de diferentes espécies 30. O enxerto corticoesponjoso autógeno, quando implantado no tecido hospedeiro, pode apresentar simultaneamente uma ação osteogênica – pelo fornecimento de células viáveis –, uma ação osteocondutiva – através de sua matriz óssea – e uma ação osteoindutiva – devido à presença de proteínas nessa matriz. Embora
somente uma pequena fração de células transplantadas em um segmento autógeno não vascularizado venham a sobreviver, elas podem contribuir para melhorar a resposta cicatricial 31. Por essas características, os autoenxertos corticoesponjosos são considerados o “padrão ouro” dentre os tipos de materiais disponíveis para as reconstruções ósseas 32,33. A vantagem do enxerto alógeno em relação ao autógeno é que ele não necessita de sítio doador do hospedeiro e possibilita fornecimento de osso do mesmo tipo e forma daquele que irá ser substituído. Entretanto, ele não fornece células viáveis como o autógeno e pode provocar reações imunológicas. Já os enxertos xenógenos também não requerem outro local cirúrgico do hospedeiro e podem fornecer grande quantidade de osso, necessitando, todavia, ser tratados rigorosamente para a redução da antigenicidade 34. Outra desvantagem desses dois métodos é a necessidade da obtenção de doadores e a formação de um banco de ossos 25. O uso de enxertos ósseos é principal-
mente indicado na intensificação da consolidação, na reposição do osso perdido por traumatismos com fragmentos cominutivos ou por ressecção cirúrgica devido a tumores e cistos, em casos de osteomielites e nos processos de falta de união óssea 30. Locais de obtenção de enxertos As principais regiões anatômicas que funcionam como sítios doadores são a crista ilíaca, a costela, o rádio, a fíbula, a escápula e o calvário 28. Pela proximidade da área receptora, o crânio apresenta como vantagem uma menor morbidade do local, porém existe pouca quantidade de osso para ser enxertado 25. As maiores vantagens do enxerto de costela são a facilidade com que é modelado e sua anatomia curva similar à da região de sínfise mandibular, que é uma das áreas com maior dificuldade de reconstrução. Mas seu uso implica o risco de lesão pleural no transoperatório e algumas possíveis complicações no tratamento pós-operatório dessa lesão. Os autores referidos afirmam que o enxerto
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mais usado atualmente é o da crista ilíaca, que, além de fornecer uma boa quantidade de osso de fácil obtenção, oferece os três tipos de enxerto: o cortical, o medular e o corticoesponjoso 25. Nos trabalhos com cães, os locais de obtenção de autoenxerto foram a costela, a ulna e a crista ilíaca, que em todos os casos forneceram uma quantidade adequada de osso para formar a ponte entre os segmentos mandibulares 15-17. Outra técnica de reconstrução mandibular é o método de microcirurgia com enxerto vascularizado. Vários locais, como crista ilíaca, rádio, fíbula, costela e escápula, permitem o uso dessa técnica. Entretanto, a técnica mais consagrada é a utilização da fíbula 28. Essa técnica promove a cicatrização óssea primária e aumenta a resistência à infecção e à necrose causada pela radioterapia. Além disso, ela pode fornecer também enxertos cutâneos vascularizados junto com o tecido ósseo que pode ser empregado quando existe uma perda muito grande de pele e de outros tecidos moles 4. Complicações da reconstrução As complicações mais observadas na técnica de reconstrução mandibular se devem a falhas no sistema de fixação, a técnicas cirúrgicas inadequadas e a falhas no sistema de cobertura dos tecidos, acarretando um quadro de infecção e até de perda do enxerto 25. As falhas do sistema de fixação geralmente decorrem de reabsorção óssea do local, deixando o enxerto instável, de perda dos parafusos ou de erro na escolha do tipo de fixação. A deiscência de sutura leva à cobertura inadequada dos tecidos, podendo ocorrer necrose e exposição tecidual. Ela é causada por tensão excessiva da pele, por redução inadequada do espaço morto ou até mesmo pela presença de tecido desvitalizado. Nesses casos, o mais indicado é realizar uma nova intervenção cirúrgica que possibilite uma boa cicatrização. A infecção do enxerto é a causa mais comum de insucesso da técnica. Ela se dá pela contaminação durante o procedimento cirúrgico e no período pós-operatório. A reabordagem cirúrgica para a descontaminação do enxerto é de extrema importância nesses casos, a fim de estabelecer condições favoráveis para a integração do enxerto, além da administração de antibioticoterapia sistêmica 4. 88
Com relação à técnica cirúrgica, deve-se ter um cuidado especial com relação à raiz dentária, para que ela não seja lesada durante a perfuração da mandíbula para a colocação dos parafusos na fixação da placa de reconstrução 16,17. Nos estudos realizados com animais, as complicações observadas após as reconstruções foram abrasão do quarto pré-molar e do primeiro e segundo molares superiores na gengiva, levando à necessidade de extração do primeiro e segundo molares superiores, para evitar a continuidade da lesão e a migração de dois parafusos um ano após a cirurgia, que foram removidos junto com a placa 16. Em um animal foi observada deiscência de sutura, que foi tratada com antibióticos e limpezas locais. A sutura foi fechada com flap de avanço de mucosa 24. Em outro animal houve exposição da placa e ela foi removida posteriormente, após a remodelação óssea 27. Entretanto, devido à pouca utilização dessa técnica em cães, novos estudos devem ser feitos para verificar quais são as principais complicações. Considerações finais A reconstrução mandibular em cães, apesar de pouco difundida, é uma técnica de utilização viável, que parece permitir, especialmente quando se utilizam as placas de reconstrução, uma boa estabilidade da mandíbula, mantendo uma melhor aparência cosmética e funcionalidade, proporcionando um retorno melhor da anatomia e da função normal da boca e melhorando assim a qualidade de vida desses pacientes. Esse procedimento pode ser uma alternativa não somente para corrigir uma má oclusão decorrente de uma mandibulectomia, mas também em outros casos de neoplasias orais, especialmente quando o proprietário não concordar com a realização da mandibulectomia ou quando a ampla ressecção do tumor permitir uma boa sobrevida desse paciente. Ele acelera o retorno da função da boca, levando os proprietários a aceitar mais facilmente o procedimento cirúrgico agressivo. Entretanto, novos trabalhos devem ser realizados em busca do melhor método de fixação da mandíbula, para verificar a adaptabilidade das placas de reconstrução mandibular utilizadas em seres humanos, minimizar as complicações
relacionadas à reconstrução e avaliar os melhores tipos e locais de obtenção de enxertos para aperfeiçoar cada vez mais a função oral desses animais, proporcionando-lhes assim mais qualidade de vida. Referências 01-HJORTING-HANSEN, E. Bone grafting to the jaws with special reference to reconstructive preprosthetic surgery: a historical review. Mund Kieer Gesichtschir, v. 6, n. 1, p. 6-14, 2002. 02-WEIGEL, J. P. Enxerto ósseo. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. São Paulo: Manole, 1996. p. 791-798. 03-VERSTRAETE, F. J. M. Mandibulectomy and maxillectomy. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 35, n. 4, p. 1009-1039, 2005. 04-FREITAS, R. ; RAPOSO, A. F. ; AGOSTINHO, C. N. L. F. ; COSTA, A. C. Reconstrução da região craniomaxilofacial. In: FREITAS, R. Tratado de cirurgia bucomaxilofacial. São Paulo: Santos, 2006. p. 607-653. 05-FELIZZOLA, C. R. ; STOPIGLIA, A. J. ; ARAÚJO, N. S. Oral tumors in dogs. Clinical aspects, exfoliative cytology and histopathology. Ciência Rural, v. 29, n. 3, p. 499-506, 1999. 06-WHITE, R. A. S. Tumours of the oropharynx. In: DOBSON, J. M. ; LASCELLES, B. D. X. BSAVA Manual of canine and feline oncology. Gloucester: BSAVA, 2003. p. 206-213. 07-KOSOVSKY, J. ; MATTHIESEN, D. T. ; MARRETTA, S. M. ; PATNAIK, A. K. Results of partial mandibulectomy for the treatment of oral tumors in 142 dogs. Veterinary Surgery, v. 20, n. 6, p. 397-401, 1991. 08-WALLACE, J. ; MATTHIESEN, D. T. ; PATNAIK, A. K. Hemimaxillectomy for the treatment of oral tumors in 69 dogs. Veterinary Surgery, v. 21, n. 5, p. 337-341, 1992. 09-WERNER, P. R. ; CHIQUITO, M. ; PACHALY, J. R. Estudo retrospectivo das neoplasias da cavidade oral diagnosticadas entre 1974 e 1995 pelo Serviço de Patologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 4, n. 2, p. 55-61, 1997 10-RODRÍGUEZ-QUEIRÓS, J. ; MUNIZ, J. I. T. ; COLLADO, J. ; ROMAN, F. S. Neoplasias orais em pequenos animais, cirurgia maxilofacial I. In: ROMAN, F. S. Atlas de odontologia de pequenos animais. São Paulo: Manole, 1999, p. 143-164. 11-LIPTAK, J. M. ; WITHROW, S. J. Cancer of the gastrointestinal tract. In: WITRHOW, S. J. ; VAIL, D. M. Small animal clinical oncology. 4. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 2007. p. 455-510. 12-MORRIS, J. ; DOBSON, J. Head and neck In:___. Small animal oncology. Oxford: Blackwell Science, 2001, p. 94-124. 13-MARRETA, S. M. Maxillofacial surgery. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 28, n. 5, p. 1285-1296, 1998. 14-BERG, J. Principles of oncology orofacial surgery. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 13, n. 1, p. 38-41, 2003. 15-BOUDRIEAU, R. J. ; TIDWELL, A. T. ; ULLMAN, S. L. ; GORES, B. R. Correction of mandibular nonunion and maloclusion by plate fixation and autogenous cortical bone grafts in two dogs. Journal of America Veterinary Medical Association, v. 204, n. 5, p. 744-750, 1994.
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16-BOUDRIEAU, R. J. ; MITCHELL, S. L. ; SEEHERMAN, H. Mandibular reconstruction of a partial hemimandibulectomy in a dog with severe malocclusion. Veterinary Surgery, v. 33, n. 2, p. 119-130, 2004. 17-GOMES, C. ; ELIZEIRE, M. B. ; CONTESINI, E. A. ; FERREIRA, K. C. ; BOHRER, P. ; SCHWANTES, V. C. Reconstrução mandibular com placa de titânio e enxerto de crista ilíaca após mandibulectomia em um cão: relato de caso. Revista da Universidade Rural, Série Ciências da e Vida, v. 27, supl, p. 515-517, 2007 18-FOX, L. E. ; GEOGHEGAN, S. L. ; DAVIS, L. H. ; HARTZEL, J. S. ; KUBILIS, P. ; GRUBER, L. A. Owner satisfaction with parcial mandibulectomy or maxilectomy for treatment of oral tumors in 27 dogs. Journal of American Animal Hospital Association, v. 33, n. 1, p. 25-31, 1997. 19-BERGMAN, P. J. Canine oral melanoma. Clinical Techniques in Small Animal Practice, v. 22, n. 2, p. 55-60, 2007. 20-OLIVEIRA, L. O. ; OLIVEIRA, R. T. ; GOMES, C. ; TELLÓ, M. Eletroterapia no tratamento do câncer. In: DALECK, C. R. ; DE NARDI, A. B. ; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2009. p. 599-606. 21-FREITAS JÚNIOR, R. ; PAULA, E. C. ; CARDOSO, V. M. ; AIRES, N. M. ; SILVEIRA JÚNIOR, L. P. ; QUEIROZ, G. S. Estudo prospectivo utilizando material coletado por bioptycut para realização de exame de congelação em pacientes com tumores de mama. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 25, n. 4,
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p. 247-250, 1998. 22-HEDLUND, C. S. Cirurgia do sistema digestório. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2002, p. 222-405. 23-SALISBURY, E. K. Maxilectomia e Mandibulectomia. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: W. B. Saunders, 1998. p. 636-645. 24-STRONG, E. B. ; RUBINSTEIN, B. ; PAHLAVAN, N. ; MARTIN, B. ; KUNTSIVAATTOVAARA, H. ; VERSTRAETE, F. J. Mandibular reconstruction with an alloplastic bone tray in dogs. Otolaryngology Head and Neck Surgery, v. 129, n. 4, p. 417-426, 2003. 25-GANDELMAN, I. H. A. ; CAVALCANTE, M. A. A. ; FAVILLA, E. E. Enxertos e reconstruções ósseas em cirurgia dos tumores odontogenicos e não-odontogenicos. In: CARDOSO, R. J. A. ; MACHADO, M. E. L. Odontologia, arte e conhecimento: cirurgia, endodontia, periodontia e estomatologia. São Paulo: Artes Medicas, 2003. p. 95-104. 26-WOLFF, D. ; HASSFELD, S. ; HOFELE, C. The outcome of various cements in combination with titanium reconstruction plates after segmental resection of the mandible. British Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v. 43, n. 4, p. 303-308, 2005. 27-SPECTOR, D. I. ; KEATING J. H. ; BOUDRIEAU, R. J. Immediate mandibular reconstruction of a 5cm defect using rhBMP-2 after partial mandibulectomy in a dog. Veterinary Surgery, v. 36, n. 8, p. 752-759, 2007. 28-BEBCHUK, T. N. ; DEGNER, D. A. ;
WALSHAW, R. ; BROURMAN, J. D. ; ARNOCZKY, S. P. ; STICKLE, R. L. ; PROBST, C. W. Evaluation of a free vascularized medial tibial bone graft in dogs. Veterinary Surgery, v. 29, p. 128-144, 2000. 29-YEH, L. S. ; HOU, S. M. Repair of a mandibular defect with a free vascularized coccygeal vertebra transfer in a dog. Veterinary Surgery, v. 23, n. 4, p. 281-285, 1994. 30-STEVENSON, S. Enxertos ósseos. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Manole, 1998. p. 2006-2017. 31-BAUER, T. W. ; MUSCHLER, G. F. Bone graft materials. Clinical Orthopaedics and Related Research, v. 371, p. 10-27, 2000. 32-HE, Y. ; ZHANG, Z. Y. ; ZHU, H. G. ; QIU, W. ; JIANG, X. ; GUO, W. Experimental study on reconstruction of segmental mandible defects using tissue engineered bone combined bone marrow stromal cells with three-dimensional tricalcium phosphate. The Journal of Craniofacial Surgery, v. 18, n. 4, p. 800-805, 2007. 33-WOJTOWICZ, A. ; CHABEREK, S. ; URBANOWSKA, E. ; OSTROWSKI, K. Comparison of efficiency of platelet rich plasma, hematopoietic stem cells and bone marrow in augmentation of mandibular bone defects. New York State Dental Journal, v. 73, n. 2, p. 41-45, 2007. 34-ELLIS, E. Reconstrução cirúrgica dos defeitos maxilares. In: PETERSON, L. J. Cirurgia oral e maxilofacial contemporâneo. 4. ed. São Paulo: Elsevier, 2005. p. 681-694.
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A
Internet Crescem as ofertas de ensino à distância (EAD)
modalidade de ensino à distância encontra-se cada vez mais popular. Entre as vantagens dessa metodologia destaca-se a liberdade total na escolha dos horários e ambientes de estudo. O aluno determina onde, quando e como estudar. O contato não se restringe às horas em sala de aula, é durante todo o curso. Na Universidade Federal do Paraná
Nos cursos a distância oferecidos pela UFPR os alunos podem acessar, remotamente, aulas ao vivo, aulas gravadas, desafios, fóruns, biblioteca virtual e uma gama de ferramentas que possibilitam interatividade contínua durante todo o curso: www.pecca.ufpr.br
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(UFPR) esta metodologia já vem sendo aprimorada há mais de dez anos e permite o acesso direto e permanente aos professores. Essa interação constante permite que os alunos extrapolem os limites dos horários de aula. A qualquer momento durante o curso é possível aprofundar conceitos e trocar experiências diretamente com os maiores especialistas da área. Na UFPR há dois cursos à distância disponíveis: diagnóstico por imagem do abdômen de animais de companhia – radiografia e ultrassonografia e oftalmologia veterinária. Outra instituição que está investindo no ensino à distância é o Instituto Brasileiro de Veterinária (IBVET). Seus cursos de pós-graduação, desde setembro, passaram a contar com ferramentas on line onde os alunos podem usufruir de diversos recursos como: fóruns, provas, atividades, vídeos, fotos, chats, glossários e muitas
outras opções. Em breve, também estarão disponíveis no site do IBVET (www.ibvet. com.br) cursos de extensão nas diversas áreas da veterinária. Essa ferramenta surge para suprir a necessidade de capacitação para aqueles profissionais que se encontram distantes dos pólos de estudo, pois o EAD adapta-se ao seu ritmo, pode ser acessado a qualquer hora e de qualquer lugar que tenha acesso à internet. No Portal EAD Qualittas (www. portaleadqualittas.com.br) também é possível encontrar ofertas de cursos nas diversas áreas da medicina veterinária, tanto na modalidade à distância quanto semipresencial. Aproveite. Escolha o curso que mais atende às suas necessidades e passe agora mesmo a estudar, pois o aperfeiçoamento e a especialização oferecem grande diferencial no mercado de trabalho.
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NEUROLOGIA EM CÃES E GATOS
O
livro Neurologia em cães e gatos, de Valentina Lorenzo Fernández e Marco Bernardini, é uma obra destinada aos médicos veterinários que, no exercício da prática clínica, lidam com pacientes portadores de alterações neurológicas e a todos aqueles que tenham particular interesse pela neurologia. Ricamente ilustrado com diversas fotografias, o livro possui enfoque prático e segue os passos que habitualmente são tomados no casos de problemas neurológicos atendidos em clínicas veterinárias. O conteúdo está agrupado em 23
CACHORROS FALAM
capítulos. Inicialmente, são apresentados a forma de abordagem ao paciente e a aplicação de diagnósticos diferenciais. Também são descritas as enfermidades neurológicas, agrupadas em função de suas naturezas, bem como algumas síndromes e doenças que, por suas características ou incidência clínica, merecem ser estudadas separadamente. Na loja virtual da Med Vet Livros é possível conferir o índice do livro. Med Vet Livros: www.medvetlivros. com.br/NeurologiaemCaeseGatos.aspx
A ODISSÉIA DE HOMERO
Uma história de superação, de autoconhecimento, de transformação e de crescimento pessoal
A
observação dos olhos, orelhas, cabeça, boca, dentes, pernas e cauda dos cães pode transmitir muita informação sobre as intenções dos cães. O estudo de toda essa linguagem corporal dos cães facilita o entendimento, o manejo e o convívio com os cães. Uma forma bem prática e atraente de aprender sobre este tema é a leitura do livro Cachorros falam – entenda a linguagem corporal dos cães, de Sophie Collins. Lançado, recentemente, pela Ediouro Publicações, contém diversas fotos das posições que os cães adotam ao se comunicarem, exercendo a função de um guia que recorre a imagens e exemplos com o objetivo de 'traduzir' essa interação e propiciar uma compreensão do comportamento dos cães. Para comprar, acesse: www.probem.info . 94
A Odisséia de Homero - Editora Sextante
A
bandonado, cego e rejeitado, Homero tinha tudo para ser amuado e medroso. Ninguém imaginaria que um gato sem os olhos – que precisaram ser retirados cirurgicamente para garantir sua sobrevivência – seria capaz de levar
uma vida normal, com a alegria e a esperteza características dos felinos. Contrariando todas as expectativas, Homero vivia como se seus olhos não lhe fizessem falta. Era bagunceiro, implicante, temperamental, divertido e dengoso como qualquer outro gato. Gwen Cooper fazia questão de afirmar que ele não era diferente. Mas ele era. Diferente não por causa da falta de visão, mas por sua capacidade de fazer aflorar nas pessoas o que elas tinham de melhor. Parecia haver em seu espírito uma sabedoria oculta e uma energia latente que inspiravam todos à sua volta. Homero se tornou o centro do mundo de sua dona. Foi se esforçando para garantir a segurança do seu gato que ela aprendeu a estabelecer a sua própria. Foi preocupando-se com a felicidade dele que Gwen percebeu quanto estava sozinha. E foi lhe oferecendo um amor incondicional que ela permitiu que esse sentimento entrasse em sua vida. Mais do que um livro sobre as aventuras de um gatinho, 'A odisseia de Homero' é uma história de superação, de autoconhecimento, de transformação e de crescimento pessoal. Esta obra foi recém lançada pela Editora Sextante e encontra-se disponível no endereço: www.probem.info.
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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação
Segurança alimentar e qualidade de alimentos para cães e gatos
Yves Miceli de Carvalho ymvet.consulting@yahoo.com.br
YMVet Consulting - Consultoria em Medicina Veterinária e Nutrição Animal Diretor da Nano Vet - www.nanovet.com.br • Mestre em nutrição animal (FMVZ/USP) • Membro da comissão científica do CBNA (www.cbna.org.br) e da Anclivepa-SP (www.anclivepa-sp.org.br) • Membro do comitê técnico e do conselho técnico da ANFAL Pet (www.anfalpet.org.br)
Q
uando falamos em alimentos para cães e gatos, primeiramente pensamos que foram elaborados para proporcionar benefícios nutricionais, estéticos e de desempenho para uma melhor qualidade de vida e bem-estar ao animal. Porém, de nada adianta o alimento ser balanceado, equilibrado, palatável, digestível, ser bem aceito pelos animais, ter uma embalagem atrativa e outros quesitos, se ele estiver contaminado. Prováveis contaminantes e suas origens Essa contaminação pode ser proveniente de compostos de origem biológica, orgânica, sintética e química. Podem estar presentes ou serem formados antes do processo, através da matéria-prima e dos ingredientes utilizados na manufatura, durante o processo, através dos equipamentos, por resíduos de vários elementos ou após uma limpeza que não foi realizada corretamente, e/ou após a fabricação do alimento, na armazenagem, no transporte, na manipulação e por meio de métodos de conservação inadequados. Nos casos em que os contaminantes são fungos e bactérias, sua proliferação ocorre rapidamente, principalmente se estes encontrarem condições favoráveis ao seu desenvolvimento durante o armazenamento. Esses contaminantes podem afetar as diversas funções orgânicas – renais,
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neurológicas, hepáticas, circulatórias – e até mesmo ocasionar diversos tipos de cânceres e infecções e, dependendo do grau, serem letais ao cão ou ao gato. Nos casos de intoxicação aguda (alta dose/ tempo curto), os sintomas de intoxicação podem surgir rapidamente; nos casos crônicos (ingestão de pequenas quantidades/longo tempo), podem surgir lentamente, levando ao desenvolvimento de tumores e diversas doenças crônicas ( ex: hepáticas – micotoxicoses, aflatoxina), incluindo o desequilibrio do sistema imunológico e a redução da resistência do animal, favorecendo a instalação de infecções. As contaminações de origem biológica estão relacionadas com a proliferação de bactérias (ex: salmonelas) e fungos patogênicos/ toxicogênicos. As contaminações orgânicas e sintéticas estão relacionadas com resíduos de antibióticos e hormônios, formação de nitrossaminas e as famosas micotoxinas. As contaminações químicas estão relacionadas com metais pesados, resíduos de agrotóxicos e até mesmo situações em que o uso de corantes apresenta níveis elevados. A segurança em primeiro lugar Na produção de alimentos para cães e gatos, as empresas devem ser cuidadosas durante todo o processo de fabricação dos produtos, desde a escolha do fornecedor – e, consequentemente, a escolha
e a recepção das matérias-primas – até a comercialização do produto acabado, sempre obedecendo às boas práticas de fabricação (BPF) e às análises de perigos e pontos críticos (APPC). Muitos fabricantes realizam suas próprias análises, dispondo de laboratório próprio e capacitado para controlar a qualidade das matérias-primas que adquirem e do alimento que produzem. A maioria dos ingredientes não passam por um processamento anterior, sendo adicionados in natura na produção do alimento, ou são minimamente processados, como acontece com os grãos e alguns componentes de origem vegetal. Os cuidados também se estendem do transporte ao armazenamento nas centrais de distribuição, nos pontos de venda (pet shops, agropecuárias, clinicas veterinárias, supermercados) e na casa do dono do animal. Cuidados a serem tomados Ao adquirir o alimento devem-se tomar alguns cuidados para evitar a contaminação, tais como: • selecionar produtos que tenham a embalagem intacta e que não estejam expostos à luz solar ou se encontrem em ambientes quentes, com alta umidade e sem ventilação; • jamais adquirir produtos comercializados fora da embalagem original ou vendidos a granel (tratando-se de alimentos secos).
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Por Marco Antonio Gioso
A nova classe média
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os últimos sete anos, 23 milhões de pessoas saíram da classe D e E para a C. Isto é, começaram a faturar o dobro do que antes; saíram de aproximadamente um salário mínimo e meio, para dois ou três salários mínimos. Estamos falando de alguém que hoje ganha perto de R$1.200,00 a R$ 1.500,00. Não alguém, desculpe, mas 23 milhões de pessoas que dobraram o que "ganhavam"! Adivinhe o que eles farão com esse montante? Comprar! Gastar! O que você está fazendo para atraí-los para o seu negócio? No setor pet, é nítido que as famílias dessa nova classe média vão querer ter mais um membro: um cão, um gato, um peixe, um pássaro. Isso gera uma demanda de acessórios, de alimentos, de produtos farmacêuticos, de serviços! Onde você se encaixa nisso tudo? O que de concreto você fez? Está esperando que ele entre no seu estabelecimento ou planejou o marketing de seu negócio, promoções, divulgação, comunicação? Novas contratações? Novos serviços? Novos negócios? Novos produtos? O que essa nova classe quer? Como
Docente do Depto. de Cirurgia da FMVZ-USP (www.fmvz.usp.br)
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ela quer gastar? De certo que se ele já tem um pet, hoje ele pode comprar uma coleira mais fashion, passa a dar um alimento melhor, leva o cão para banhos e tosas mais frequentes, faz agility; compra animais com pedigree, de raça, entre muitas outras possibilidades. Você, assim, deve instigar esses desejos, superar expectativas, aproveitar o momento para suprir essa demanda, de acordo com os benefícios que o cliente deseja. Classe média não deseja luxo, mas produtos e serviços honestos, com preços adequados ao seu bolso. A renda familiar da classe média com pai e mãe ativos financeiramente gira em torno de 2.000 reais. Seus preços devem levar isso em conta. Que percentagem de classe C tem o local de seu negócio? Se for mais de 70%, vale a pena investir em entender mais sobre a classe C. Meia hora no Google pode ajudar muito! Cursos, palestras na Associação Comercial ou de assuntos afins farão o profissional adquirir ideias que poderão surtir grande efeito prático. Profissionais do setor pet que apenas se desenvolveram na parte técnica
(diagnosticar e tratar) – apesar de a base, o fundamento, ser essencial – estão ultrapassados! Nunca abandone a técnica; pelo contrário, aperfeiçoe-se ininterruptamente até o final de sua vida profissional. Além disso, adquira conhecimento na área de marketing, pois temos que nos adaptar ao mundo atual, cujas novidades são constantes. Percebo, todavia, que muitos profissionais do setor pet ainda não acordaram para essa nova realidade. Suas clínicas e petshops mantêm o padrão habitual, as mesmices. Não há ousadia, desafios; não se instiga o cliente, a população, com raras exceções. Pouco se inovou nos serviços veterinários ou de petshops. Se não concorda, envie-me um e-mail mostrando uma inovação nesse setor! Adoraria saber, ter um caso para contar! Pense, estude, adapte-se, inove! Ouse! Desafie-se. Fuja do convencional! A nova classe média, quem diria, hoje representa perto de 50% da população, e quer inovações de nosso setor! Não espere soluções mágicas! Crie-as!
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Guilherme Durante Cruz Médico veterinário, mestre em patologia animal, professor de patologia animal, pela Universidade de Santo Amaro - UNISA. Centro de Diagnóstico Veterinário Canis Felis. Membro da Comissão de Ensino da ABMVL canis.felisdv@gmail.com guidurante@yahoo.com www.abmvl.com/blog
Óbito em clínica de pequenos animais. A necropsia como ferramenta fundamental
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ão há uma só clínica, consultório, pet shop ou hospital veterinário que já não tenha passado pela experiência de revolta ou tristeza de proprietários que não se conformaram com a morte de seu animal de estimação, seja ele cachorro, gato ou outro pet. Quando coloco o local como sujeito passivo, quero dizer que nesses casos, todos aqueles que trabalham na empresa, e não somente o médico veterinário, acabam sentindo o pesado ambiente que paira naquele momento e que perdura por tempos, dependendo de como foi conduzido o caso. Situações diferentes podem acontecer aqui. Comentarei algumas. Primeira situação: o próprio médico veterinário não se conforma com o óbito porque ele entende que, dentro de seu alcance, fez de tudo para salvar o animal. Essa situação ocorre normalmente quando o animal já chega debilitado ao profissional e, após uma determinada intervenção (terapêutica), não responde favoravelmente ou então há piora do quadro, progredindo para a indesejada morte. O proprietário aqui se conforma e, embora infeliz, entende e crê no empenho do médico veterinário em tentar salvar seu animal, que afinal de contas já não estava bem mesmo. Mesmo assim, nesses casos, o médico veterinário sempre se questiona e várias perguntas acabam sendo (re)feitas para si mesmo. O que foi que eu não percebi no exame clínico? Que exames eu deveria ter pedido e não pedi? Será que o proprietário contou tudo o que sabia? A culpa foi minha mesmo ou o animal já estava entregue a uma doença em curso terminal? Quando esse inconformismo incomoda, quando o médico veterinário se sente desconfortável perante a dúvida da causa mortis ou então simplesmente quando tem apenas curiosidade de saber de que o animal morreu, então ele solicita uma necropsia. Nesse caso, quando a necropsia é 98
sugerida ao proprietário (ou guardião, como queiram), este pode aceitar ou não que ela seja realizada. Em caso afirmativo, seria de bom-tom a própria clínica arcar com as despesas (necropsia, exames histopatológico, toxicológico, etc.) ou a clínica repassaria os custos ao proprietário? Como enxergar a situação mais adequada nesse momento delicado? Segunda situação: quando todos aqueles sentimentos de inconformismo, dúvida e desconforto agora estão presentes no dono do animal. Nesse caso, o evento da morte não era esperado e quem solicita a necropsia é o proprietário. Este sustenta, mentalmente que seja, a hipótese (ou a certeza) de um erro do médico veterinário e para tanto exige uma necropsia. Quem seria o responsável pela contratação de um necropsista? E pergunto mais: o proprietário confiaria o destino do exame necroscópico à própria clínica em que o animal morreu ou ele levaria o corpo do seu animal para outro profissional por conta própria? E o corpo? Pertenceria à clínica, visto que esta tem responsabilidades no armazenamento e no descarte de “resíduos de origem biológica”? Tente explicar essa questão para esse proprietário: não é fácil. Podemos encontrar a resposta para essas questões no capítulo II da Resolução do CFMV nº 923, de 13 de novembro de 2009, que dispõe sobre procedimentos e responsabilidades do médico veterinário e do zootecnista em relação à biossegurança no manuseio de microrganismos e de animais domésticos, silvestres, exóticos e de laboratório, inclusive os geneticamente modificados, bem como suas partes, fluidos, secreções e excreções. “Art. 13. Para o acondicionamento e o descarte dos resíduos biológicos, deve-se atender ao item 32.5 da Portaria nº 485, de 11 de novembro de 2005, do Ministério do Trabalho e Emprego, às
normas da vigilância sanitária e de segurança ambiental, bem como aos demais dispositivos que as complementem ou substituam.” Em outras palavras, o corpo é, dentro do seu estabelecimento comercial, de total responsabilidade do médico veterinário, devido à possibilidade de riscos para a saúde pública em um eventual descarte ou inumação irresponsável. Sobre o óbito em si, o médico veterinário pode fazer o atestado de óbito segundo a Resolução nº 844, de 20 de setembro de 2006, que traz inclusive um modelo, onde se devem incluir, de acordo com o artigo 2º, os seguintes requisitos: I. nome, espécie, raça, porte, sexo; II. pelagem, quando for o caso; III. idade real ou presumida; IV. local do óbito; V. hora, dia, mês e ano do falecimento; VI. causa do óbito; VII. identificação do proprietário: nome, CPF e endereço completo; VIII. outras informações que possibilitem a identificação posterior do animal; IX. identificação do médico veterinário: carimbo (legível) com o nome completo, número de inscrição no CRMV e assinatura; X. identificação do estabelecimento (razão social, CNPJ, registro no CRMV), quando for o caso. O parágrafo único afirma que os atestados de óbito devem ser confeccionados em 02 (duas) vias, numerados e sem rasuras ou emendas. Em relação ao estabelecimento (clínica, hospital, laboratório, etc.), temse a Resolução nº 670, de 10 de agosto de 2000, que conceitua e estipula condições para o funcionamento de estabelecimentos médicos veterinários, além do Decreto nº 40.400, de 24 de outubro de 1995, ambos dando como condição fundamental a existência de equipamentos para a manutenção de produtos de origem biológica (freezer, geladeira) e abrigos para resíduos sólidos
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enquanto aguardam coleta, onde o armazenamento de resíduos infectantes deverá ser feito separadamente dos resíduos comuns. Quando a necropsia é realizada, independentemente da situação, o médico veterinário acaba tendo em mãos uma excelente fonte de conhecimento e aprendizado, principalmente se este a assistir. Também é uma “autoajuda profissional” fantástica, pois ele poderá agora responder minimamente aos seus questionamentos com mais tranquilidade. Mas… e quando há morte com envolvimento judicial consequente? Atualmente, no universo das clínicas de pequenos animais, o médico veterinário que realiza necropsias tem sido chamado constantemente para ajudar em questões judiciais médico-legais envolvendo principalmente acusações contra o clínico – de imperícia, imprudência ou negligencia. Costumeiramente, são ações indenizatórias por
danos materiais e até morais, em que o patologista pode se envolver ou como assistente técnico de um cliente (proprietário processando clínica) ou como perito da justiça. Cabe agora a pergunta: como pode então o clínico, confiante na sua inocência e consciente de seus deveres, comprovar a veracidade dos fatos? Realizando-se uma completa necropsia, com a elaboração de laudo ou parecer técnico competente, adequada fotodocumentação e arquivamento. Nesse tocante, o patologista tem a teoria, a experiência e a malícia necessária para reconhecer, identificar e entender, por exemplo, o fenômeno das alterações cadavéricas, modificações corporais estas que podem influenciar muito na conclusão de um determinado caso, confundindo-se com alterações provocadas em vida. Além disso, esse profissional tem a qualidade de saber coletar, armazenar e enviar corretamente as amostras biológicas para atender às
mais variadas dúvidas em relação ao esclarecimento do caso. Vincit omnia veritas, ou seja: a verdade vence todas as coisas. Em tempo: a Resolução nº 722, de 16 de agosto de 2002, que aprova o Código de Ética do Médico Veterinário, diz ser vedado ao médico veterinário: “XI - [...] deixar de fornecer ao cliente, quando solicitado, laudo médicoveterinário, relatório, prontuário, atestado, certificado, bem como deixar de dar explicações necessárias à sua compreensão. Quem ganha com tudo isso? Toda a sociedade, pois a classe veterinária torna-se fortalecida, por apresentar respostas à altura para os proprietários com a realização de exames elaborados, os quais jamais poderiam supor que existissem, esteja a verdade com quem estiver. E ganham os animais, que sempre merecem todo o nosso respeito e gratidão.
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