G uarรก Ano XVI, n. 91, marรงo/abril, 2011 - R$ 20,00
E D i TO R A
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Índice Cardiologia - 32
Eletrocardiograma em cães – revisão Electrocardiogram in dogs – a review
Electrocardiograma en perros – revisión Fernando Cardoso Cavaletti
Diagnóstico por imagem - 48
Avaliação radiográfica da displasia coxofemoral em cães sob a visão do método convencional e do método de mensuração do índice de distração (PennHIP ®) – revisão Sistema hexaxial de derivações no plano frontal
Radiographic evaluation of hip dysplasia in dogs with the conventional method and the method of distraction index measurement (PennHIP ®) – review
Evaluación radiográfica de la displasia de cadera en el perro por medio del método convencional y el método de medición del índice de distracción (PennHIP ®) – revisión
Posicionamento radiográfico em distração
Clínica médica - 60
Doença inflamatória intestinal felina – revisão A. P. Ribeiro - SOV/FCAV/Unesp
Feline inflammatory bowel disease – review
Enfermedad inflamatoria intestinal felina – revisión
Oftalmologia - 70
Degeneração retiniana associada ao enrofloxacino em gato persa Enrofloxacin-associated retinal degeneration in a Persian cat
HV Dr Halim Atique - Rodrigo Volpato
Degeneración retiniana asociada a la enrofloxacina en gato Persa
Oncologia - 78
Carcinoma bronquioloalveolar em um cão – relato de caso Bronchioloalveolar carcinoma in a dog – report case
Retina de olho esquerdo de gato persa com degeneração retiniana
Carcinoma bronquioloalveolar en un perro – relato de un caso Felipe Gazza Romão
Clínica médica - 86
Fotomicrografia de corte histopatológico de neoplasia primária em pulmão, aumento de 10x
Hiperadrenocorticismo em cães – revisão Hyperadrenocorticism in dogs – review
Hiperadrenocorticismo en perros – revisión
Dermatologia - 94
Teste alérgico intradérmico e imunoterapia alérgeno-específica no controle da dermatite atópica canina – revisão Intradermal allergy testing and allergen-specific immunotherapy in the control of canine atopic dermatitis – review
Fêmea da raça poodle apresentando distensão abdominal e telangiectasia
Pruebas intradérmicas de alergia e inmunoterapia alergeno-específica en el control de la dermatitis atópica canina – revisión Gabriele Maria Callegaro Serafini
Ortopedia - 102
Imobilização externa com canaleta de alumínio em fratura múltipla de rádio e ulna em um cão – relato de caso Ana Paula N. Albano
External immobilization with aluminum channel in multiple fracture of radius and ulna in a dog – report case
Inmovilización externa con canaleta de aluminio en fractura múltiple de radio y ulna en un perro – relato de un caso
Animais selvagens - 108
Ocorrência de Malassezia pachydermatis em gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) – relato de caso Alopecia no dorso do gambáde-orelha-branca (Didelphis albiventris)
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Canaleta fixada com algodão hidrófobo e esparadrapo em pontos equidistantes, mantendo a extensão do membro
Ocurrence of Malassezia pachydermatis in white-eared opossum (Didelphis albiventris) – case report
Ocurrencia de Malassezia pachydermatis en zarigüeya de orejas blancas (Didelphis albiventris) – relato de un caso
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Editorial - 10
Seções
Saúde pública - 12
• Anclivepa e suas atividades com foco na leishmaniose visceral • Carta da Anclivepa-Brasil • Manejo da vida animal nos desastres ambientais e urbanos • A importância da aplicação de técnicas específicas, éticas e racionais no manejo de animais e a sua relação com a saúde coletiva
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Notícias - 20
• Projeto Tele-ECG do Provet • Ibama libera nova instrução normativa sobre criadores de passeriformes • Onça Anhanguera se adapta à floresta • VIII Prêmio Merial Pet de Incentivo à Pesquisa • Total Alimentos lança 6ª edição do Programa de Incentivo à Pesquisa Científica • Vírus da raiva tem variante sequenciada • 2011 - Ano Veterinário Mundial
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20
Gestão, marketing & estratégia - 113 Os centros veterinários serão profissionalizados à força?
Medicina veterinária legal - 116
Perícia médico veterinária e ética profissional no exercício da clínica de pequenos animais
Ecologia - 122
Belo Monte, uma tragédia animal
Lançamentos - 124 • Prevenção de úlceras • Alimentos para gatos
• Removedor de odores
Pet food - 118
Parceria inédita entre o CBNA e o setor de reciclagem animal movimenta o início de 2011
• Higiene
Equipamentos - 120 22
• Instrumentais cirúrgicos - linha TOP Ortovet
Serviços e especialidades - 127 Agenda - 135
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Negócios e oportunidades - 126
• Aerotrox filtro desaerolizante
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Arquitetura & Construção - 121 Pisos vinílicos que proporcionam higiene e segurança
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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
EDITORES / PUBLISHERS
Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684
Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159
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EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.
CAPA / COVER
Madock, bernese mountain dog do Canil Montanhês das Águas, do médico veterinário Hector Bertan (bertanvet@uol.com.br), fotografado por Alexandre Corazza (alexandre.corazza@terra.com. br), durante treino em esteira no Hospital Veterinário Sena Madureira (www.senamadureira.com)
IMPRESSÃO / PRINT
Grupo Vox - www.voxeditora.com.br
TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares
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CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Rua dr. José Elias 222 - Alto da Lapa - 05083-030 São Paulo - SP - BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555
é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.
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Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/Unesp-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Aloysio M. F. Cerqueira UFF amfcerqueira@uol.com.br Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia anabalda@terra.com.br Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Angela Bacic de A. e Silva FMU angelbac2002@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues FAVET/UFRGS berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br
Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP clarissa@usp.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@vm.uff.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fabiano Séllos Costa UFRPE e UFES fabianosellos@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flávia R. R. Mazzo Provet flamazzo@gmail.com Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/Unesp-Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franklin A. Stermann FMVZ/USP fsterman@usp.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br
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Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Iaskara Saldanha Provet iaskara.silva@gmail.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-Unesp-Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP e UNIBAN jsilva@uniban.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo A. B. V. Guimarães FMVZ/USP mabvg@usp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/Unesp-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Maria Rosalina R. Gomes Médica veterinária sanitarista rosa-gomes@ig.com.br Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br
Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@uenp.edu.br Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP maurolantzman@gmail.com Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka FMVZ/USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu renee@fmvz.unesp.br
Ricardo Duarte Hovet Pompéia netuno2000@hotmail.com Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Robson F. Giglio Provet e Hosp. Caes e Gatos robsongiglio@gmail.com Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco UNIP/SP silviacrusco@terra.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Int. Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Viviani de Marco UNG, Hovet Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br
Instruções aos autores
Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e de autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Utilizar letra arial tamanho 10, espaço simples. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas ou desenhos devem possuir indicação do fotógrafo/desenhista e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará. Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser informadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo SP cvredacao@editoraguara.com.br
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
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Editorial A
proxima-se a data do evento mais importante do calendário dos clínicos veterinários de pequenos animais, o Congresso Brasileiro da Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), a ser realizado em Goiânia, GO, de 27 a 30 de abril de 2011. A programação científica do congresso, que está muito bem elaborada, terá a participação de palestrantes de renome internacional como Theresa Fossum, Andrew Hillier, Dennis J. Chew, Fabian Minovich, entre outros e contempla diversas especialidades consolidadas e até algumas que estão em ascensão como a de perito veterinário. Uma especialidade não contemplada foi a medicina veterinária do coletivo. Isto não é uma falha, mas uma realidade face a insipiência da especialidade no Brasil. Entretanto, indiretamente, por meio das conversas externas às salas de palestras, a medicina veterinária do coletivo estará presente no congresso, pois a programação científica conta com palestrantes que são importantes promotores da especialidade como Hélio Autran de Moraes, Alexander Biondo e Sérvio Túlio J. Reis. Nos Estados Unidos, a especialidade já possui mais de uma década e conta com entidades como a Association of Shelter Veterinarians (ASV - www.sheltervet.org) e a American Society for the Prevention of Cruelty to Animals (ASPCA - www.aspca.org). Entre as atividades dessas entidades pode-se destacar o de treinamento, como o realizado recentemente pela ASV durante a North American Veterinary Conference, em Orlando, EUA, por meio do oferecimento de curso de castração em filhotes. A ASPCA possui foco no controle populacional e desenvolve campanha nacional para esta atividade. Além disso, a ASPCA também provê informações relacionadas às condutas a serem tomadas com os animais em casos de desastres, envenenamentos e, de forma geral, de crueldades praticadas em animais. Nesta edição, além de diversos artigos científicos que abordam temas de grande importância para a prática clínica como a eletrocardiografia e a displasia coxofemoral, também incluimos um pouco de medicina veterinária do coletivo Campanha nacional de castração ação promovida pela ASPCA (shelter medicine). No Brasil, esta especialidade Informações sobre condutas com animais vem se destacando no trabalho desenvolvido pelo Instituto em casos de desastres no site da ASPCA Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC - www.itecbr.org) e pelo Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que desenvolveu o primeiro programa brasileiro de residência em medicina veterinária do coletivo. Interessados em medicina veterinária do coletivo poderão obter informações sobre a especialidade durante a II Conferência de Medicina Veterinária do Coletivo e Simpósio Internacional de Agressividade – Resgatando saberes, construindo conhecimentos e fortalecendo ações, a ser realizada em São Paulo, SP, de 1 a 3 de julho de 2011. A importância do crescimento da medicina veterinária do coletivo está intimamente ligada ao desenvolvimento de uma sociedade com responsabilidade social e ambiental. “Quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de lutar por crianças ou idosos. Não há bons ou maus combates, apenas o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos que não podem se defender”, Brigite Bardot.
Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 10
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
Saúde pública
Anclivepa e suas atividades com foco na leishmaniose visceral
A
expansão da leishmaniose visceral canica (LVC), por tratar-se de uma importante zoonose, sempre foi preocupação da Anclivepa. Por isso, com a intenção de atualizar os clínicos de pequenos animais e de participar ativamente das políticas públicas para a prevenção e o controle da leishmaniose visceral, há mais de dez anos a entidade promove e participa de reuniões, fóruns, debates, simpósios e congressos. A primeira grande contribuição promovida pela Anclivepa foi em 1997, quando trouxe para Belo Horizonte, MG, a dra. Guadalupe Miró, da Universidade de Madri, na Espanha, pesquisadora e autora de vários trabalhos sobre o tema. Desde então, dezenas de eventos já
foram realizados e alguns, com a participação de especialistas europeus: • em 1998, a dra.Cristeta Filocre da Universidade de Veterinária de Barcelona, que expôs os ensinamentos da conduta em relação à LVC na Europa; • em 2003, o dr. Robert KillickKendrick, idealizador da coleira de deltametrina (Scalibor®), o prof. dr. Javier Nieto e o prof. dr. Lluis Ferrer participaram do Congresso Brasileiro da Anclivepa, em Belo Horizonte, MG; • em 2007, o dr. Javier Lucientes, gerente do centro de controle de zoonoses de Madri, e consultor da OMS no encontro realizado em 2005, no Brasil, pela OPAS, palestrou sobre o controle da leishmaniose visceral na Espanha e defendeu o tratamento de cães com LVC como opção dos proprietários, desde que
acompanhados por médicos veterinários. Desde então, a Anclivepa tem se empenhado em dialogar com o Ministério da Saúde com o objetivo de controlar a expansão da LVC e apresentar alternativas que sejam centradas no controle do flebótomo. Principalmente, porque há 55 anos as políticas públicas focam apenas a eliminação de cães como medida para controle da leishmaniose visceral e com resultados insatisfatórios. Os recentes trabalhos científicos apresentados abaixo corroboram as propostas da Anclivepa. A seguir, segue Carta da Anclivepa Brasil, documento produzido em 31 de janeiro de 2011, em Salvador, BA, durante reunião da diretoria e que detalha o posicionamento da entidade frente à questão da LVC no Brasil.
ecoepidemiologia das leishmanioses: Leishmaniose visceral - atualidades científicas Alevantamento de flebotomíneos em CuiaControle da leishmaniose visceral na América Latina – revisão sistemática Control of Visceral Leishmaniasis in Latin America - A Systematic Review Gustavo A. S. Romero e Marleen Boelaert PLOS Neglected Tropical Diseases January 2010 | Volume 4 | Issue 1 | e584
“A eliminação da leishmaniose visceral (LV) zoonótica nas Américas não parece ser uma meta realista neste momento, dada a falta de compromisso político, lacunas no conhecimento científico, e a fraqueza de gestão de processos e sistemas de vigilância. As prioridades de investigação e estratégias atuais devem ser revistas com o objetivo de conseguir um melhor controle da LV”* * Conclusão da revisão sistemática Confira o artigo na íntegra. Acesso livre em: http://www.plosntds.org/ Esta revisão tem o apoio financeiro parcial da BIREME/OPAS/OMS
Control of the leishmaniases, publicação de 2010 da OMS, cita a experiência brasileira e não recomenda o controle da LVC por meio do extermínio de cães. Disponível no endereço: http://whqlibdoc. who.int/trs/WHO_ TRS_949_ eng.pdf
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bá e investigação quanto a participação de roedores e marsupiais em Rondonópolis, MT*, é um
dos atuais trabalhos científicos que mostram a importância do controle do vetor, inclusive para prevenir a sua ocorrência em pessoas contactantes de enfermos com leishmaniose visceral americana (LVA): “A participação do homem no ciclo antroponótico de transmissão, em ambientes urbanizados endêmicos, tem sido questionada (COSTA et al., 2000; COSTA et al., 2002; ROTUREAU, 2006; OLIVEIRA et al., 2008). A infectividade de pessoas ativamente doentes por LVA para o vetor L. longipalpis já era conhecida (DEANE e DEANE, 1962), sendo recentemente confirmada (COSTA et al., 2000). Costa e colaboradores (2002) também detectaram infecção por L. (L.) infantum chagasi em sangue periférico de portadores assintomáticos contactantes de pessoas com LVA ativa, onde não havia cães no peridomicílio, em Teresina, PI (COSTA et al., 2002). Corroborando esta hipótese, em Campo Grande, MS, observou-se alto grau de antropofilia em estudo de preferência alimentar de fêmeas de L. longipalpis (66,4%), com menor proporção de zoofilia, com 64,8% de fêmeas alimentadas em aves e apenas 8,9% em cães, tanto nos insetos capturados em residências como em áreas florestais (OLIVEIRA et al., 2008)”, relata o estudo. * Tese apresentada por Tatiana P. T. de Freitas, em 2010, no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, na Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, UFMT. Disponível no endereço eletrônico: www.ufmt.br/ppgvet/ Dissertacoes/Dissert_Tatiana.pdf
A tese Estudo da seroprevalência de Anticorpos Anti-Leishmania spp numa população que coabita com canídeos com leishmaniose, apresentada em 2009 por Maria João Dinis da Fonseca na Faculdade de Medicina de Lisboa/Universidade de Lisboa, contribui para o esclarecimento sobre o risco da convivência com o cão com leishmaniose submetido a tratamento e caracteriza esta zoonose na população humana assintomática de Lisboa. “De acordo com os dado obtidos a coabitação com cão com leishmaniose submetido a tratamento não constitui um factor de risco para o indivíduo ser infectado por flebótomo. Este facto reforça a necessidade de realizar um diagnóstico precoce e uma terapêutica eficaz aos animais doentes”, explica a autora. A tese está disponível para download no endereço: http://repositorio. ul.pt/bitstream/10451/2383/1/ulsd058211_tm_Maria_Fonseca.pdf.
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
Carta da Anclivepa-Brasil Posicionamento referente à questão da leishmaniose visceral canina
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Anclivepa-Brasil divulga aos seus associados sua análise e seu posicionamento referente à questão da leishmaniose visceral canina (LVC) em nosso país. Em novembro de 2010, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) realizou encontro técnicocientífico sobre a questão da LVC no Brasil, no qual participaram médicos veterinários especializados nas áreas de saúde pública, epidemiologia e clínica médica, além de diretores do CFMV, da Anclivepa Brasil, do Mapa, do Ministério da Saúde, da OPAS e dos CRMVs. Desse encontro, o sistema CFMV/CRMVs divulgou a Carta de Brasília, que situou a problemática da LVC no Brasil. De forma semelhante, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Mato Grosso do Sul (CRMV-MS) promoveu o I Simpósio Sul-Matogrossense de Leishmaniose, com o objetivo de informar, atualizar, discutir e orientar médicos veterinários, médicos, advogados, juízes, promotores e delegados sobre os aspectos técnico-científicos e jurídicos da
leishmaniose. Após sua realização, por meio da Carta de Campo Grande, foram divulgadas conclusões para toda a classe médica veterinária e a sociedade em geral. Além disso, as Anclivepas regionais também promoveram por todo o país simpósios sobre o tema, procurando informar e discutir o problema. Está claro que a leishmaniose visceral é doença grave, que leva ao óbito animais e seres humanos, sendo considerada pela OMS endemia prioritária em ações de controle nos 88 países em que está presente. A população brasileira demonstra crescente interesse no conhecimento dessa doença e, sem dúvida, está a cada dia conhecendo melhor não somente a doença, mas também as ações de controle preconizadas pelos agentes de saúde pública do Brasil.
A Anclivepa Brasil pontua os seguintes aspectos: 1 - Reconhece o importante papel dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária no esclarecimento da
sociedade em relação à leishmaniose visceral; 2 - parabeniza o CFMV e os CRMVs que promoveram eventos relativos à discussão do assunto, bem como suas imparciais conclusões, que apontaram falhas cruciais nos procedimentos que objetivam o controle a doença no Brasil; 3 - conclama as demais entidades e Conselhos Regionais de Medicina Veterinária do país a realizar em 2011, espelhados nos exemplos do CFMV e do CRMV-MS, encontros voltados para o tema. Esses encontros permitem vislumbrar os equívocos existentes na orientação pública em relação ao controle da leishmaniose visceral no Brasil; 4 - divulga que a revisão sistemática da OPAS, efetuada em janeiro de 2010, concluiu que as ações de controle adotadas no Brasil não demonstram eficácia. Além disso, essa mesma revisão indica que o controle do vetor seria melhor estratégia do que a polêmica eliminação canina; 5 - informa que outros reservatórios
1º Seminário de Leishmaniose Visceral Americana do Noroeste Paulista 8 e 9 de abril de 2011 - Local: OAB- São José do Rio Preto/SP Av. Brigadeiro Faria Lima, nº 5853, Vila São José do Rio Preto Informações e inscrições*: e-mail: leishmanioserp@gmail.com Telefone:(17) 3632-2838 *1 kg de alimento não perecível ou 2kg de ração
Organizadores: ACLIVET- Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São José do Rio Preto e Região AJUDAA- Associação Jurídica de Defesa Ambiental e Animal Comissão do Meio Ambiente da OAB de Jales Comissão do Meio Ambiente da OAB de São José do Rio Preto
urbanos foram identificados, fragilizando ainda mais a eliminação canina praticada pelo serviço público; 6 - reitera que os métodos diagnósticos atuais para a leishmaniose visceral canina se mantêm frágeis e levam à morte milhares de cães com resultados falso positivos; 7 - enfatiza a necessidade de medidas de proteção dos cães contra os vetores, distribuindo colares inseticidas ou inseticidas tópicos para animais nas regiões afetadas e a realizando vacinação contra LVC em regiões endêmicas; 8 - defende o tratamento dos cães afetados, amparada nas evidências científicas de que a eliminação desses cães não diminuiu o risco de contaminação humana, além do fato de que os cães tratados se mantêm saudáveis, sem capacidade infectante e constantemente protegidos da aproximação do vetor. Essa conduta encontra respaldo não só em publicações científicas,
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mas também em documentos oficiais da OPAS e da OMS.
Baseada nesses pontos, a Anclivepa Brasil declara que: 1- Discorda da proibição do tratamento canino, imposta pela portaria interministerial no 1.426/2008, que vem sendo mantida em detrimento de todas as evidencias de sua ineficácia e inexequibilidade;
2 - defende a opção do tratamento de cães assintomáticos com a autorização e a responsabilidade legal do proprietário; 3 - defende campanhas públicas de educação e controle do vetor, desfocadas da eliminação de cães. Para isso, será necessário investimento em contratação de mão de obra permanente e treinamento para que as visitas de controle não se limitem à identificação de animais soro-reagentes com o objetivo de sua eliminação. Essas visitas devem dar orientações preventivas para o controle
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Diretoria da Anclivepa Brasil, Salvador, BA, 31/01/2011 1- Alexandro da Silva Freitas (secretário), 2- Manfredo Werkhauser (conselheiro), 3- Luiz Augusto de Carvalho (tesoureiro), 4- Thomas Faria Marzano (conselheiro), 5- Paulo Carvalho de Castilho (presidente), 6- César Olimpio de Oliveira Neto (conselheiro), 7- Wandersom Alves Ferreira (vice-presidente)
da transmissão vetorial; 4 - exige aplicação das verbas públicas em medidas éticas que busquem diagnósticos corretos e controle do vetor por meio de campanhas de aplicação de inseticidas centrados nos cães; 5 - não concorda com diagnósticos imprecisos que resultem na eliminação dos animais. Defende exames seguros e repetidos conforme acompanhamento médico dos animais; 6 - defende e busca o diálogo com os agentes públicos.
! A Anclivepa Brasil prioriza a saúde da família. !A Anclivepa Brasil promove debates com o intuito de esclarecer que o cuidado com a vida dos animais é ação de saúde pública. ! A Anclivepa Brasil frequentemente promove discussões com o objetivo de manter os médicos veterinários atualizados sobre o assunto. ! A Anclivepa Brasil reitera que o combate da LVC deve ser centrado no controle do vetor. Reunião de diretoria da Anclivepa Brasil Salvador, 31 de janeiro de 2011 Paulo Carvalho de Castilho Presidente da Anclivepa Brasil
I SIMPOSIO SOBRE LEISHMANIOSE DA ANCLIVEPA MT Local: Auditório Externo da UNIC - Universidade de Cuiabá - Cuiabá - MT Início: Sábado 26.03.2011 - 14h
Término: Domingo 27.03.2011 - 12h
Inscrições: Telefone (65) 3052-0745 / 3052-3230 / 3634-2534 e-mail: secretaria.anclivepa.mt@hotmail.com
Saúde pública
Andréa Lambert
Manejo da vida animal nos desastres ambientais e urbanos
Todas as espécies foram vítimas de desastre ambiental na região serrana do RJ. Acima, destaque de cão soterrado
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a segunda quinzena de janeiro o Brasil viveu momentos terríveis com o grande desastre ambiental ocorrido na região serrana do Estado do RJ. A situação de caos durou muitos dias e o sofrimento era evidente em todos os
locais. Segundo a médica veterinária Andréa Lambert, da Comissão Especial de Defesa e Proteção Animal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aproximadamente 1.200 animais foram resgatados em toda a região atingida. Outras situações de caos também ocorreram em outros países nesse começo de ano. Na Austrália, a cidade de Rockhamptom, no nordeste de Queensland, além do agravante da enchente, houve a invasão centenas de cobras, crocodilos e sapos venenosos. O Egito, por sua vez, vivenciou a situação de caos urbano gerada por prolongados momentos de tensão causados por crise política no país. Diversos animais explorados em lojas e zoológicos ficaram desamparados e muitos moradores que foram forçados a sair de suas residências abandonaram seus animais. Como consequência, muitos animais machucados vagavam pelas ruas. Com muita dificuldade para gerenciar esta situação, foi fundamental a ajuda internacional à Sociedade Egípcia de Misericórdia aos Animais (ESMA www.esmaegypt.org).
A Animal Resources Inc., ONG norteamericana, experiente em situações desse tipo, veio à região na serrana do RJ para colaborar no auxílio aos animais: www.animalresourcesinc.com/brazilphotos.php
O auxílio à região serrana do Estado do RJ Logo após o desastre ambiental o CRMV-RJ prontificou-se a cadastrar voluntários veterinários e zootecnistas para colaboração na reconstrução das cidades atingidas pela tragédia na Região Serrana. ONGs regionais de proteção animal trabalharam intensamente. Felizmente, outras ONGs e diversos profissionais também se deslocaram até as áreas atingidas para ajudar a minimizar o sofrimento generalizado. A seguir, alguns endereços eletrônicos que
mostram a tragédia e as atividades que envolveram o manejo dos animais nas áreas atingidas: São José do Vale do Rio Preto - Abrigo de Animais: http://www.youtube.com/watch?v= pNolaN3_bww Resgate dos cães em Teresópolis: http://www.youtube.com/watch?v= OZz3SzWs-Zw&NR=1 Animais da região serrana - resgate (por Andréa Lambert): http://www.facebook.com/album.php ?id=100000433083479&aid=45423 São Jose do Vale do Rio Preto - Animais resgatados das enchentes (por Andréa Lambert): http://www.facebook.com/album.php ?id=100000433083479&aid=46240
“Animais: como agir em situações de emergência?”, folheto desenvolvido pela WSPA para orientar as famílias. http://www.wspabrasil.org/latestnews/2011/AnimaisComo-agir-em-situacoes-de-emergencia.aspx
Medidas preventivas para animais em desastres (arquivo de áudio): http://soundcloud.com/wspabrasil/medidaspreventivas-animais-desastres
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Saúde pública
A importância da aplicação de técnicas específicas, éticas e racionais no manejo de animais e a sua relação com a saúde coletiva
A
importância da atuação do médico veterinário na saúde pública é reconhecida internacionalmente. Isto foi destacado por diversas autoridades de instituições como a OMS e a Unesco, durante a abertura do Ano Mundial Veterinário (www. vet2011.org), que ocorreu em Lyon, França, em 24 de janeiro de 2011. Apesar dessa valorização internacional que a profissão está recebendo, no Brasil, o espaço que deve ser ocupado pelos médicos veterinários na saúde coletiva ainda precisa ser reconhecido e valorizado pelas autoridades e por toda a comunidade. O controle populacional de animais, principalmente, cães e gatos, é um dos pontos que necessita de muita atenção. Vale destacar que no Brasil nunca houve um programa de controle populacional de cães e gatos. Quando essas atividades foram realizadas, estavam incluídas em programas de controle de doenças como a raiva e a leishmaniose e, portanto, o objetivo era a eliminação de agentes de risco e não a manutenção segura dos animais na comunidade.
A importância da figura do Oficial de Controle Animal é apresentada no DVD Humanização dos serviços de Controle de Zoonoses e de Controle Animal. Disponível em: www.probem.info
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Atualmente, instituição que mantém foco em promover ações relacionadas a este tema é o ITEC (Instituto Técnico de Educação e Controle Animal www.itecbr.org). Trata-se de organização não governamental sem fins lucrativos, com sede em São Paulo, SP, que nasceu da reunião e do empenho de médicos veterinários que acumulam conhecimento e experiência do serviço de controle de zoonoses e almejam o desenvolvimento de espaços para discussão mais completa e ética das questões afeitas ao bem-estar animal e humano, especialmente, relativas ao controle de populações de cães, gatos e equídeos. Formação profissional O ITEC fornece consultoria, serviços e cursos de formação e apoio profissional visando a humanização dos serviços em saúde relacionados com o controle populacional de cães, gatos e equídeos e controle de zoonoses quando estas espécies estão envolvidas, com o emprego dos princípios da ciência do bem-estar animal (BEA), incluindo ainda temas da promoção da saúde, da educação humanitária e da cultura de paz que integram os conteúdos. Com o objetivo geral de capacitar recursos humanos de serviços de controle de zoonoses e de controle animal para o manejo etológico de cães e gatos e para serem multiplicadores dos conceitos sobre guarda, posse e propriedade responsável dos animais de estimação na comunidade, foi concebido pelos coordenadores do ITEC o Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA). A aplicação dos conceitos transmitidos pelo curso estão intimamente ligados à renovação da imagem dos serviços de controle de zoonoses e de controle animal e é composta não apenas pela implantação de programas efetivos de controle animal com embasamento técnico e ético, mas também com a mudança de atitude, postura e comportamento dos que trabalham na área. O Curso FOCA teve sua origem a partir de discussões realizadas em eventos que tiveram colaboradores da Organização Pan-americana de Saúde
(OPAS) e da World Society for the Protection of Animals (WSPA): 1ª Reunión Latinoamericana de Expertos em Tenencia Responsable de Mascotas y Control de Poblaciones (Rio de Janeiro, RJ, 2003) e I Encuentro sobre la Tenencia Responsable de Mascotas, Formación y Sensibilización del Personal del Centro de Controle de Zoonosis de Cali en Salud Pública, Bienestar Animal y Atención al Cliente (Cali, Colômbia, 2004), onde integrantes da instituição estiveram presentes. Nesses eventos um dos principais pontos discutidos foi a necessidade de renovação da imagem pública dos serviços de controle de zoonoses e serviços afins. Portanto se fazia premente um modelo de capacitação, sensibilização e resgate de valores para formar líderes e colaboradores sensíveis, transformando-os em conhecedores de etologia e bem-estar animal no campo de saúde pública/controle animal. Concluiu-se que a melhoria da imagem pública dos serviços de controle animal seria uma consequência e reflexo, principalmente, da mudança de paradigma da atuação da “carrocinha” e dos “catadores/laçadores de animais”, para oficiais de controle animal. De abril de 2004 até dezembro de 2010 foram realizados 24 cursos FOCA em diferentes regiões do país, que contaram com a participação de mais de 1.500 profissionais de controle animal, médicos veterinários, biólogos, pessoal da área administrativa, protetores e também profissionais de outros países da América Latina tanto como professores quanto como participantes. Desde o início, o ITEC tem contado com a parceria da WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal) em todos os cursos. Em agosto de 2010 o ITEC realizou a Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo, no auditório da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), com a presença de vários palestrantes internacionais de renome, sendo o evento muito bem avaliado pelo grande público de profissionais e acadêmicos presentes.
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de cães e gatos; • Bioética clínica e bem-estar na clínica de pequenos animais.
Em 2011, o ITEC iniciou o ano com diversos cursos realizados no mês de fevereiro: • Dinâmica populacional de cães e gatos, que teve como objetivo instrumentalizar os participantes para o delineamento de estudos populacionais de cães e gatos, apresentando métodos para estimativas populacionais (censo e amostragem), demografia (tábuas de vida e de reprodução), modelos determinísticos de crescimento populacional, modelos estocásticos de crescimento populacional, efeitos do controle reprodutivo e do abandono animal na dinâmica populacional; • Medo, estresse e manejo na clínica de pequenos animais; • Programa de manejo comportamental
A partir de março estão programados vários cursos FOCA (nível básico). De 1 a 3 de julho o ITEC realizará a II Conferência de Medicina Veterinária do Coletivo e Simpósio Internacional de Agressividade – Resgatando saberes, construindo conhecimentos e fortalecendo ações. O evento ocorrerá na FMVZ/USP. O envio de trabalhos científicos e experiências bem sucedidas pode ser realizado até 15/04/2011. Antecedendo a este evento, mas com poucas vagas disponíveis, ocorrerá a oficina Entendendo a agressividade canina e felina, de 27 a 30 de junho. É grande a importância desse tema, pois ataques por cães são considerados um dos principais agravos à saúde em muitos centros urbanos, sendo que diversos estudos indicam que a maior frequência dessas injúrias acontece com
animais da própria família. A falta de entendimento sobre o comportamento animal, as deficiências da criação sob o ponto de vista da sua biologia e bemestar, e a falta de programas educativos específicos, principalmente, para as crianças sobre como interagirem com esses animais, são fatores determinantes na ocorrência de acidentes com os cães e os gatos. Em setembro, está programada a realização do curso FOCA nível II, que será voltado àqueles que já passaram pelo curso básico e que tratará de novos e relevantes assuntos como o controle de equídeos. O ITEC estará sempre elaborando e participando de atividades focadas no desenvolvimento de uma sociedade mais justa e que trata com respeito, humanização e ética todas as formas de vida, atuando de forma estratégica e em permanente evolução, com responsabilidade social, ambiental e alto grau de comprometimento com a saúde única.
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Projeto Tele-ECG do Provet cadastrados. Para se fazer a Tele-ECG é necessária a aquisição de um eletrocardiógrafo computadorizado, de 12 derivações simultâneas, com computador ligado à internet para enviar o traçado de ECG e os dados do paciente para a central de exames. Não é possível o envio de fita termo sensível escaneada. Eletrocardiografia à distância por meio da Tele-ECG
O
projeto Tele-ECG recentemente implantado no Provet, em São Paulo, SP, é um exemplo da inovação que se pode alcançar, aliando a tecnologia à prática médica. A Tele-ECG é uma modalidade de eletrocardiografia à distância, cujo traçado eletrocardiográfico é enviado pelo clínico veterinário de qualquer parte país, para ser avaliado pela equipe de eletrocardiografia do Provet. O projeto Tele-ECG do Provet é composto de uma central de laudos onde médicos veterinários eletrocardiografistas, por meio de terminais de computadores, recebem os traçados enviados pelos colegas clínicos, interpretam-nos e realizam o laudo. Este fica disponível para ser impresso pelo médico veterinário solicitante no site www.provet.com.br e também é enviado para os endereços de e-mail
Registro Recomenda-se o registro de 1 a 2 minutos para pacientes hígidos e, em pacientes cardiopatas ou de raças como boxers e dobermans, recomenda-se 4 a 5 minutos de monitorização. Todos os traçados de interesse do médico veterinário poderão ser encaminhados para
Flávia Regina Ruppert Mazzo é a médica veterinária responsável pelo serviço de eletrocardiografia e do projeto Tele-ECG do Provet. Mazzo possui mais de 13 anos de experiência em eletrocardiografia e cardiologia clínica (http://lattescnpq.br/ 2637674792456226)
avaliação. O laudo será realizado tendo como base a imagem recebida. Quaisquer alterações não constantes das imagens encaminhadas não serão de responsabilidade do laudador. Outros serviços Recentemente, com o objetivo de auxiliar o veterinário clínico no diagnóstico, tratamento e acompanhamento, o Provet também incluiu outra especialidade em seus serviços prestados: a neurologia. Faz parte dessa especialidade a avaliação do sistema nervoso central, que consiste em cérebro, tronco encefálico, cerebelo, medula espinhal e sistema nervoso periférico, formado por nervos e gânglios. Durante a última década, notou-se aumento na ocorrência de afecções neurológicas. A grande maioria pode ter um tratamento de controle eficaz. Mas se a intervenção não for rapidamente realizada e conduzida de forma apropriada, sequelas graves podem ocorrer. Outra novidade que em breve estará disponível no Provet será o oferecimento de exames de ressonância magnética para animais de grande e pequeno porte. Provet: (11) 3579-1427 www.provet.com.br
A Anclivepa Brasil e suas co-irmãs vem a público esclarecer: A Anclivepa-Brasil, em nome de seu presidente M.V. Paulo Castilho, juntamente com os demais presidentes e suas diretorias co-irmãs vem por meio desta comunicar: 1. A Anclivepa cuja atuação no território nacional há mais de 50 anos é respeitada pelo seu trabalho profissionalizante junto a médicos veterinários, estudantes e demais
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entidades de classe; 2. A Anclivepa tem o dever de informar que eventos paralelos estão surgindo no Brasil na área da medicina veterinária de pequenos animais com finalidades desconhecidas e que não contam com o apoio desta entidade; 3. Os eventos apoiados pela entidade são aqueles realizados regionalmente com a marca ANCLIVEPA e o nacional – CBA – Congresso Brasileiro da
ANCLIVEPA agora em sua 32ª edição que será realizada na cidade de Goiânia, GO, no período de 27 a 30 de abril de 2011; 4. É lamentável que iniciativas inócuas visem somente lucratividade enquanto o Congresso Brasileiro e demais eventos científicos da Anclivepa e seus resultados são aplicados em benefícios para própria classe; 5. Reiteramos que somente eventos técnicos que julgamos de utilidade profissionalizante para a medicina veterinária de pequenos animais e sem outros fins tem o aval da Anclivepa.
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Ricardo Maia - Ascom Ibama
Galo-de-campina anilhado
O
presidente do Ibama, Abelardo Bayma, assinou a Instrução Normativa nº 15, de 22 de dezembro de 2010, publicada em 23 de dezembro de 2010 no Diário Oficial da União, que regulamenta e atende o disposto na Resolução Conama n° 394, de 6 de novembro de 2007, que estabelece os critérios a ser considerados na definição das espécies da fauna silvestre de passeriformes, cujas criação e comercialização poderão ser permitidas. A medida atende também o que está definido no Art. 225, §1°, VII, da Constituição Federal de 1988, que preconiza que a fauna deve ser protegida, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco a sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais a crueldade. Essa nova instrução normativa foi construída com o apoio das lideranças do setor e do Congresso Nacional e legitimada depois de um longo e expressivo diálogo do Ibama com os segmentos desse importante setor da sociedade. Para o diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas do Ibama, Américo Ribeiro Tunes, a medida atende o anseio da sociedade e, de forma transparente, facilita ainda mais as atividades dos criadores de passeriformes da fauna silvestre brasileira. Para Américo, “a instrução normativa moderniza o setor, propiciando a criação de passeriformes em cativeiro. Com a IN, espera-se uma maior oferta de passeriformes a preços menores, concorrendo em vantagem com a captura na natureza”. A partir de agora, o manejo de passeriformes da fauna silvestre brasileira será coordenado pelo Ibama, para todas as etapas relativas às atividades de criação, reprodução, manutenção, treinamento, exposição, transporte, transferências, aquisição, guarda, depósito, 22
Ibama libera nova instrução normativa sobre criadores de passeriformes* utilização e realização de torneios. A medida também vai permitir que o Ibama requisite passeriformes dos criadouros para usar em programas de reintrodução dessas espécies na natureza. Na Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas (DBFlo), na Diretoria de Proteção Ambiental (Dipro) e em cada superintendência, gerência executiva, escritórios regionais e bases avançadas do Ibama, haverá um servidor-titular e, no mínimo, um suplente, designados pelo diretor, superintendente ou gerente-executivo respectivo, através de ordem de serviço, para responder pelo assunto objeto da instrução normativa. De acordo com os novos procedimentos, as atividades de controle do manejo de passeriformes vão poder ser delegadas aos órgãos estaduais de meio ambiente, mediante convênio específico, sem prejuízo da competência supletiva do Ibama para as atividades de fiscalização. Deverão ser cadastradas no Ibama as seguintes categorias, de conformidade com os objetivos da manutenção, se ornitofílica ou de comercialização: 1. Criador Amador de Passeriformes da Fauna Silvestre Brasileira (CAP): Pessoa física que mantém em cativeiro, sem finalidade comercial, indivíduos das espécies de aves nativas da ordem Passeriformes, descritos nos Anexos I e II da Instrução Normativa, objetivando a contemplação, o estudo e a conservação de espécies de pássaros ou para desenvolvimento de tecnologia reprodutiva das espécies, com possibilidade, a critério do Ibama, de participação em programas de conservação do patrimônio genético das espécies envolvidas. 2. Criador Comercial de Passeriformes da Fauna Silvestre Brasileira (CCP): Pessoa física ou jurídica que mantém e reproduz, com finalidade comercial, indivíduos das espécies de aves nativas da ordem Passeriformes, descritos no Anexo I da Instrução Normativa. Com a liberação da IN, dá-se uma grande mudança nos procedimentos: o
Ibama deixa de distribuir anilhas e passa a fornecer apenas o número da anilha a criadouro devidamente cadastrado. Em relação às anilhas, há outra novidade: sócios-criadouros terão direito a no máximo dez anilhas. Antes, eram 50. E, nessa categoria, não é permitido o comércio – apenas a permuta –, para que fique assegurada a variabilidade genética. Um outro fato positivo é que os criadouros com bom desempenho poderão optar por vender os filhotes, com emissão de nota fiscal. O povo brasileiro tem o hábito de criar pássaros canoros silvestres como animais de estimação. Durante muitos anos, isso tem sido feito de forma desordenada, sem controle e gerando denúncias e maus-tratos. Para minimizar essa situação, o Ibama publicou portarias regulamentando alguns procedimentos para disciplinar o setor, evitar a captura de aves na natureza, definir data-limite para a participação em torneios de aves e definir quais as espécies que podem ser criadas com fins amadorísticos. A nova IN estabelece critérios nítidos e objetivos para a realização da fiscalização (o que se permite e o que não se permite), com amplo direito a defesa. É bom lembrar que, a partir de 2001, a atividade de criação amadorista de passeriformes passou a ser controlada diretamente pelo Ibama, podendo optar o criador por se filiar ou não a uma federação. A partir deste ano, todo controle do setor ornitófilo começou a ser feito pelo Ibama. Foram publicadas outras instruções normativas, uma das quais para definir o recadastramento de criadores passeriformes, que hoje é feito totalmente pela internet. Com a publicação da nova instrução normativa, o Ibama avança nessa construção conjunta e atende a antigo anseio dessa comunidade. A fauna silvestre brasileira agradece pelo entendimento. Para maiores esclarecimentos e informações, a instrução normativa (www.ibama.gov.br/download/1496/) e outras normatizações estão disponíveis no site do Ibama.
* Fonte: Ascom Ibama (por Antonio Carlos Lago): http://www.ibama.gov.br/archives/14170
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Onça Anhanguera se adapta à floresta Associação Mata Ciliar - www.mataciliar.org.br
Onça Anhanguera no recinto na mata
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m recinto monitorado inédito no país, o animal vence mais uma etapa e comprova que nunca perdeu sua grande habilidade. Depois de pouco mais de um mês vivendo em um recinto em meio à mata fechada, o Anhanguera, jovem macho de onça-parda atropelado na rodovia de mesmo nome em setembro de 2009 supera mais um desafio ao alcançar seu pleno restabelecimento e comprovar que nunca perdeu seu extraordinário instinto de felino selvagem. Em um recinto construído em meio à floresta, o Anhanguera se adapta às condições de um ambiente natural, onde seu comportamento é monitorado 24 horas por dia por meio de três câmeras colocadas estrategicamente no local. Esse processo denominado soft release possibilita uma maior adaptação do animal ao ambiente natural antes da sua soltura. É inédito no Brasil envolvendo uma suçuarana e somente pôde ser realizado graças ao projeto
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Recinto na mata
Nas boas mãos da natureza A completa reabilitação do Anhanguera significa muito para os participantes do projeto – técnicos, tratadores, padrinhos, voluntários, estagiários, empresas guardiãs e parceiras da Mata Ciliar. "Se por um lado o Anhanguera provou que já é dono do próprio nariz, por outro lado, podemos contar agora com a maior aliada, ele estará nas boas mãos da natureza" afirma dra. Cristina Adania. A saga da onça Anhanguera ainda não acabou e para a equipe da Associação Mata Ciliar ela simboliza a luta pela conservação da biodiversidade. "A nossa expectativa é grande para que ela agora retome a sua vida livre, cumpra com o seu papel na cadeia ecológica e retorne à natureza de onde ela nunca deveria ser sido bruscamente retirada." completa o biólogo Jairo Pereira. Associação Mata Ciliar - www.mataciliar.org.br
Associação Mata Ciliar - www.mataciliar.org.br
Foto noturna do Anhanguera no recinto na mata
Processo de reabilitação durou aproximadamente um ano Anhanguera chegou ao Centro Brasileiro para Conservação dos Felinos Neotropicais, sediado na Associação Mata Ciliar em Jundiaí, SP, quando tinha cerca de 10-12 meses, período em que a espécie começa a se separar da mãe para procurar pelo seu próprio território. Devido ao impacto do acidente, o Anhanguera teve várias escoriações, estava muito magro e apresentava uma fratura de um dente canino, imprescindível para a sobrevivência de um exímio caçador. Durante o processo de reabilitação ele ficou sob observação constante, por meio de uma câmera colocada no recinto que o isolava completamente do contato humano. Nesse período, o Anhanguera recuperou-se completa-
mente da cirurgia no dente, ganhou peso, explorou todo o local e mostrou seus instintos, inclusive, aquele de se manter afastado da presença humana.
Associação Mata Ciliar - www.mataciliar.org.br
Guardiões da Mata por meio da parceria com a CCR AutoBAn e de as suas contratadas Converd e Vilhena, além da Tetra Pak. Segundo a dra. Cristina Harumi Adania, médica veterinária e coordenadora de fauna da Associação Mata Ciliar e Jairo de Cássio Pereira, biólogo e tratador exclusivo do Anhanguera, durante todo o processo de reabilitação, não será possível soltar o animal nas proximidades do local onde foi capturado porque se concluiu, após profunda avaliação, que aquela área sofreu intensas modificações com a urbanização, principalmente com a construção de grandes condomínios, isto é, os animais perderam o espaço que antes era compartilhado com algumas pessoas. A onça também recebeu um colar que permitirá, por meio da técnica de telemetria, monitorar seus passos quando voltar definitivamente à natureza. Isso garantirá a compilação de informações importantes para preservação não só da onça, mas também de outras espécies de animais da região, onde será realizado o monitoramento.
Foto noturna do Anhanguera em cativeiro
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VIII Prêmio Merial Pet de Incentivo à Pesquisa
A
medicina veterinária de pequenos animais está acompanhando os grandes avanços da medicina humana dos últimos anos. Descobertas, novos diagnósticos, medicamentos e vacinas de alta tecnologia têm prolongado o bem estar dos animais de companhia, cada vez mais considerados membros da família. Para dar continuidade a estes avanços e proporcionar mais qualidade de vida a estes companheiros, a Merial Saúde Animal desenvolve e apóia pesquisas e iniciativas acadêmicas e científicas que comprovem a eficácia de seus produtos. Nesse cenário a empresa lança as inscrições para o VIII Prêmio Merial Pet de Incentivo à Pesquisa. A edição 2011 premiará o autor e o orientador do melhor trabalho científico sobre
“Imunização contra a cinomose canina”. A cinomose é uma doença contagiosa que atinge o sistema nervoso dos cães e quase sempre provoca a morte. O vírus pode ser transmitido entre os animais doentes por meio das secreções nasais, urina ou fezes dos cães acometidos. Poucos animais resistem e os que conseguem sobreviver costumam ficar com sequelas. Para o doutor em medicina veterinária e gerente de produto da Merial Saúde Animal, Leonardo Brandão, o Prêmio Merial Pet de Incentivo à Pesquisa pretende estimular o interesse ao desenvolvimento da medicina veterinária e da pesquisa científica. “O principal intuito com o Prêmio é descobrir talentos da Medicina Veterinária Brasileira e promover o estudo em novos temas relacionados à saúde dos animais de companhia”, ressalta. O ganhador do melhor trabalho participará do Congresso WSVA, que ocorrerá nos dias 12 a 15 de abril de 2012 na Inglaterra, com todas as despesas de
viagem e estada pagas pela Merial. De acordo com o dr. Leonardo Brandão, a cada edição do prêmio, a Merial renova seu compromisso com a pesquisa científica no Brasil, reconhecendo talentos e debatendo assuntos importantes da medicina veterinária. “Nos últimos anos houve uma grande revolução na área de diagnóstico e tratamento. Esta ação é importante para ampliar soluções ao mercado, difundir e valorizar os novos estudos realizados no país. Além disso, a iniciativa agrega tanto para os estudantes e profissionais, quanto para nós, que desenvolvemos as soluções para o mercado”, concluíu Brandão. Há sete anos o Prêmio Merial Pet de incentivo à Pesquisa fomenta estudantes de todo país na busca de tratamentos alternativos para a utilização de seus medicamentos. Inscrições até 31 de agosto de 2011: www.merial.com.br/veterinarios/caes _gatos/premio_merial/8_premio/8_ premio. asp.
Total Alimentos lança 6ª edição do Programa de Incentivo à Pesquisa Científica Primeiro colocado será premiado com viagem para conhecer uma das melhores universidades do mundo em nutrição animal
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Total Alimentos já está recebendo trabalhos para a 6ª Edição do Programa de Incentivo à Pesquisa Científica e o primeiro colocado será premiado com uma viagem de 5 (cinco) dias aos EUA. Os participantes podem ser estudantes (a partir do 3º ano), graduados, mestres ou doutores em Medicina Veterinária ou Zootecnia. O regulamento e ficha cadastral estão disponíveis no site da Total Alimentos: www.totalalimentos.com.br Na segunda quinzena de novembro de 2011, autor e orientador do melhor trabalho vão para a Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, onde poderão acompanhar um programa de visita a todo o complexo universitário, além de várias palestras com especialistas (mestres e doutores) na área de nutrição animal, durante 3 (três) dias. Nos dois dias restantes, farão um tour pela charmosa cidade de Chicago. Na 26
premiação já estão incluídas passagens aéreas, traslado, hospedagem, café da manhã, almoço e jantar. Segundo e terceiro colocados serão premiados com notebooks de marca e modelo escolhidos pela Total Alimentos – tanto o autor quanto o orientador do trabalho receberão o prêmio. Os trabalhos começaram a ser recebidos no dia 1 de fevereiro de 2011 e a data final para envio é dia 1 de setembro de 2011. Os ganhadores serão comunicados por email, telegrama ou telefonema, conforme os dados preenchidos na ficha cadastral disponível no site da empresa. Todos os trabalhos
deverão ser enviados à Total Alimentos – Avenida dr. Antonio Carlos Couto de Barros, 964, Sousas, Campinas, SP, CEP 13105-000, e endereçados para o Programa Total Alimentos de Incentivo à Pesquisa e/ou Casos Clínicos em Nutrição de Cães e Gatos – 2011. Dra. Viviani de Marco , orientadora do ganhador da 5ª edição do programa, em 2010, deu o seguinte depoimento sobre a viagem à Illinois: “Tive acesso a pesquisas sobre obesidade em cães e gatos, desenvolvimento de novas fontes de fibras e suas aplicações terapêuticas na saciedade e na saúde do trato gastrintestinal: um grande aprendizado, especialmente para mim, que trabalho com endocrinologia veterinária. Esta é uma oportunidade única e maravilhosa!” Confira o regulamento completo no site da empresa e participe! Esta pode ser a sua vez!
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
Vírus da raiva tem variante sequenciada*
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Brasil tem conseguido controlar há mais de uma década a raiva urbana, que é transmitida principalmente pelo contato com cães. Mas, apesar de controlada, variantes do vírus continuam circulando por meio de animais silvestres, particularmente aquela transmitida por morcegos hematófagos. Pesquisadores brasileiros deram um passo importante no estudo do problema ao concluir o sequenciamento completo do genoma dessa variante mantida pela espécie Desmodus rotundus. De acordo com Silvana Regina Favoretto, pesquisadora científica do Instituto Pasteur e Coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Raiva do Laboratório de Virologia Clínica e Molecular do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICBUSP), que orientou o estudo, o sequenciamento abre caminho para novos trabalhos científicos. “O sequenciamento possibilitará identificar uma série de informações novas em estudos evolutivos e marcadores geográficos e moleculares. Também poderá ajudar a compreender por que outros hospedeiros – como seres humanos, animais silvestres e até morcegos com hábitos diferentes dos hematófagos – são tão vulneráveis a essa variante”, disse à Agência FAPESP.
Silvana desenvolveu a pesquisa intitulada “Estudo genético do vírus da raiva mantida por populações de morcegos hematófagos Desmodus rotundus por meio do sequenciamento completo do genoma viral”, apoiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular. A pesquisa compreende também a tese homônima de Angélica Cristine de Almeida Campos, cujo trabalho, sob orientação de Silvana, é realizado no ICB-USP e vinculado ao Programa de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia, que reúne alunos da USP, do Instituto Butantan e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Segundo Silvana, que também é professora credenciada do programa, das quase 1.200 espécies de morcegos, somente três – Desmodus rotundus, Diphylla eucaudata e Diaemus yungii – são hematófagas. “Os morcegos Desmodus rotundus são os mais bem adaptados à invasão do homem ao seu habitat. A variante do vírus da raiva mantida por esse morcego é a mais importante do ponto de vista econômico e de saúde pública, ao atingir animais de criação (rebanhos) e também seres humanos”, explicou. Essa variante pertence ao gênero Lyssavirus e é encontrada em uma
região que compreende do meio-norte do México até o norte da Argentina – com exceção da Cordilheira dos Andes. Os estudos genéticos são uma excelente alternativa para compreender por que outros hospedeiros são tão vulneráveis a essa variante genética distinta do vírus e por que, até hoje, não foi observada uma variante diferente em Desmodus rotundus. “Há pouco mais de quinze anos só conseguíamos saber se alguém tinha raiva ou não. Todas as variantes do vírus já circulavam entre nós, mas, como não sabíamos o tipo, nós o atribuíamos normalmente à variante mantida por populações de cães”, disse Silvana. O sequenciamento poderá ajudar a identificar de que modo o vírus evolui e se mantém circulante com tanto sucesso. “Outras regiões genéticas são observadas, podem-se encontradar mutações e, talvez se possa explicar o que essa variante viral tem de diferente quando comparada a outras como as mantidas por canídeos, por primatas não humanos – como saguis –, ou ainda por outros morcegos não hematófagos”, disse ela. A sequência completa da variante do vírus da raiva será depositada em breve no banco do National Center for Biotechnology Information (NCBI).
* Fonte: Agência Fapesp (por Por Alex Sander Alcântara): www.agencia.fapesp.br/materia/12776/especiais/virus-da-raiva-tem-variante-sequenciada.htm
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Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
2011 - Ano Veterinário Mundial
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ste ano, todas as organizações veterinárias internacionais trabalham para promover, cada uma na sua área de competência e no seu âmbito, a organização de um evento para comemorar o nascimento de nossa profissão. A convenção constitutiva do Vet2011 Considerando que a primeira escola de medicina veterinária do mundo foi fundada em Lyon por Claude Bourgelat ,em 1761, seguida imediatamente pela de Alfort, em 1764; - considerando que o ano de 2011 será o 250º aniversário: • do ensino da medicina veterinária; • da profissão de médico veterinário (pois, ao criar as escolas de medicina veterinária, Bougelat também criou a profissão); • da biopatologia comparada (pois Bourgelat também foi o primeiro a investir no estudo da biologia e da patologia dos animais para compreender melhor a biologia e a patologia dos seres humanos); - considerando que toda a comunidade veterinária francesa deseja que esse importante episódio histórico seja ampla e dignamente comemorado; várias instituições decidiram juntar forças para que 2011 seja declarado Ano Veterinário Mundial e seja celebrado ao longo desse período por
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foi a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os seus representantes demonstraram interesse em todos os objetivos mundiais da profissão e declararam que os relacionariam ao programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável, da UNESCO (www.unesco.org/en/esd/).
www.vet2011.org
diversos atos nacionais e internacionais de caráter científico e acadêmico, assim como de caráter publicitário e de divulgação, tendo por tema: "250 anos de ciência veterinária a serviço da saúde dos animais e dos seres humanos". Cerimônia solene de abertura do Ano Veterinário Mundial – Vet2011 A cerimônia de abertura do Ano Veterinário Mundial, Vet2011, ocorreu em Lyon, na França, no Palácio de Congressos de Versalhes, bastante próximo do local onde o rei Louis XV autorizou que Claude Bourgelat criasse a primeira escola de medicina veterinária. Como representante da Organização Mundial da Saúde (OMS), esteve presente a diretora geral, Margaret Chan, que destacou a importância do médico veterinário e do lema do Vet2011: "Veterinário para a saúde, veterinário para o alimento e veterinário para o planeta". Outra entidade que se fez presente
Atos regionais Durante o transcorrer do ano, em diversos países já estão programados atos para a promoção da nossa profissão. Foi criado um site, no qual é possível conferir os 244 eventos que já estão agendados. No Brasil, em 24 e 25 de março, ocorrerá em Brasília, DF, o III Fórum das Comissões Nacional e Regionais de Saúde Pública Veterinária do Sistema CFMV/CRMVs. Também em Brasília ocorrerá, no início de junho, o III Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária. Vet2011 tem com principal objetivo lembrar à opinião pública e aos políticos da maioria dos países que: - a medicina veterinária tem 250 anos de serviços prestados à humanidade; - o veterinário, como médico dos animais e defensor de seu bem-estar, também tem papel fundamental na saúde pública, pelo papel que desempenha na luta contra a fome no mundo, no controle de zoonoses, no controle de qualidade e segurança alimentar, na investigação biomédica e na proteção do ambiente e da biodiversidade.
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Eletrocardiograma em cães – revisão Electrocardiogram in dogs – a review
Electrocardiograma en perros – revisión Clínica Veterinária, n. 91, p. 32-44, 2011 Luciene Maria Martinello Leitão MV, residente. Depto. Clín. Méd. Peq. An. UNIRP lucienemartinello@hotmail.com
Felipe Gazza Romão MV residente Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu fgazza_vet@hotmail.com
Carla Daniela Dan De Nardo MV, professora. Depto. Clin. Méd. Peq. An. UNIRP carladan@unirp.edu.br
Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br
Maria Lúcia Gomes Lourenço MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu mege@uol.com.br
Maria do Carmo Fernandez Vailati MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu mfvailati@yahoo.com.br
Resumo: O eletrocardiograma (ECG) é uma importante ferramenta utilizada no diagnóstico de arritmias cardíacas, já que fornece a representação gráfica dos processos de despolarização e repolarização do músculo cardíaco, um estudo que permite registrar a atividade elétrica das células miocárdicas e as diferenças de potenciais elétricos – a amplitude dessas diferenças de potencial elétrico é medida em milivoltes (mV), e sua duração, em segundos. O eletrocardiograma é indicado quando se detectam irregularidades do ritmo durante o exame físico, incluindo bradicardias, taquicardias ou arritmias que não sejam secundárias à respiração; em animais com história de síncope ou fraqueza; monitoração da eficácia de terapia antiarrítmica; suspeita de efusão pleural ou pericárdica; e doenças sistêmicas que levam a arritmia. Para uma avaliação fidedigna, o ECG deve ser avaliado em conjunto com o exame físico e os sinais clínicos de cada paciente. Unitermos: cardiologia, eletrocardiografia, arritmias Abstract: The electrocardiogram (ECG) is an important tool used in the diagnosis of cardiac arrhythmias, since it gives the graphic representation of depolarization and repolarization processes of the cardiac muscle. This study allows recording the electrical activity of myocardial cells and the underlying differences in electric potential: the magnitude of this difference is measured in millivolts (mV), and its duration is measured in seconds. The ECG is indicated when an irregular rhythm is detected during physical examination, such as bradycardias, tachycardias or arrhythmias that are not secondary to breathing, in animals with a history of syncope or weakness, for monitoring the effectiveness of antiarrhythmic therapy, in cases of putative pleural or pericardial effusion, and also in systemic diseases that lead to arrhythmia. For a reliable assessment, the ECG must be evaluated in conjunction with findings from the physical examination and clinical signs of each patient. Keywords: cardiology, electrocardiography, arrhythmias. Resumen: El electrocardiograma (ECG) es una importante herramienta utilizada en el diagnóstico de arritmias cardiacas, ya que proporciona la representación gráfica de los procesos de despolarización y repolarización del músculo cardiaco, permite el registro de la actividad eléctrica de las células del miocardio y registra las diferencias de los potenciales eléctricos, la magnitud de esta diferencia de potencial eléctrico se mide en milivoltios (mV) y su duración se mide en segundos. El electrocardiograma está indicado cuando un ritmo irregular se detecta durante un examen físico, incluyendo bradicardias, taquicardias o arritmias que no son secundarias a una arritmia respiratoria sinusal; en los animales con una historia de desmayo o debilidad; para el control de la eficiencia de la terapia antiarrítmica; ante la sospecha de derrame pleural o pericárdico, así como en las enfermedades sistémicas que conducen a una arritmia. Para obtener un resultado fiable, el ECG debe ser evaluado conjuntamente con el examen físico y los signos clínicos de cada paciente. Palabras clave: cardiología, electrocardiografía, arritmias
Introdução O eletrocardiograma (ECG) é uma gravação da média do potencial elétrico gerado pela musculatura cardíaca durante o ciclo cardíaco. Íons intracelulares e extracelulares movemse por membranas semipermeáveis, resultando em potenciais de ação entre as membranas 1. O ECG fornece uma representação gráfica dos processos de despolarização e repolarização do músculo cardíaco, como os obtidos na superfície corpórea. A amplitude dessas diferenças de potencial elétrico é medida em milivolts (mV), 32
e sua duração, em segundos 2. Esse exame é indicado quando se detectam arritmias durante o exame físico, como bradicardias, taquicardias ou irregularidades do ritmo que não sejam secundárias à arritmia sinusal respiratória. Também se pode lançar mão desse exame em pacientes com episódios de síncope ou fraqueza, para monitoração da eficácia da terapia antiarrítmica, em suspeitas de efusão pleural ou pericárdica e em doenças sistêmicas que levam a arritmia 2,3. Esta revisão tem como objetivo demonstrar a importância
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do ECG como exame complementar e elucidar possíveis dúvidas sobre a necessidade da utilização desse exame, muito importante para o diagnóstico de arritmias, que pode e deve ser utilizado pelo clínico na rotina, por ser um exame relativamente acessível e fácil de interpretar.
Eletrocardiograma O eletrocardiograma basicamente representa a soma de vários potenciais de ação por todo o coração. As várias fases do potencial de ação são designadas 0, 1, 2, 3 e 4. A fase 0 é a despolarização; as fases 1, 2 e 3 representam a repolarização, enquanto a fase 4 é o período entre potenciais de ação Eletrofisiologia durante a diástole elétrica 5. O coração é um órgão carregado eletricamente. Cada Os eletrodos são especificamente distribuídos na superfítipo de célula cardíaca possui um potencial de ação de cie corpórea, obtendo-se derivações eletrocardiográficas membrana característico, responsável pela passagem do padrões 3. Os sistemas de derivações permitem a visualizaimpulso elétrico de uma célula à seguinte. Esses potenciais ção da atividade elétrica cardíaca sob diferentes ângulos. de ação transmembrana que se movem produzem mudanCada derivação possui um polo positivo e um negativo coloças de movimento nas cargas externas da superfície das cécados na superfície da pele, que podem ser utilizados para lulas miocárdicas. As diferenças de potencial sequenciais medir a extensão da atividade elétrica do coração 6. assim produzidas no miocárdio criam um campo elétrico Quando a onda de ativação elétrica miocárdica passa pavariado que pode ser captado na superfície corpórea e ralelamente à derivação, uma deflexão relativamente grande fornecem informações sobre a localização do marcapasso e será registrada. Conforme o ângulo entre o eixo da derivação sobre a frequência e o curso da despolarização cardíaca. O e a orientação da onda de ativação aumenta até 90°, a defleregistro desses sinais elétricos é clinicamente útil como xão dessa derivação no ECG torna-se menor. Ela se torna método não invasivo para avaliação da função elétrica isoelétrica quando a onda de ativação é perpendicular ao cardíaca 1,4. eixo da derivação 2. Quando uma célula do miocárdio é estimulada, o potenAs derivações bipolares e as unipolares aumentadas recial de repouso é reduzido a um nível crítico, chamado de presentam as derivações básicas a serem utilizadas no cão, potencial de gatilho. A permeabilidade da membrana ao formando o sistema hexaxial do plano frontal. Outros sissódio (Na+) e ao potássio (K+) é subitamente alterada. Em temas de derivações são usados em condições específicas e garantem uma maior precisão na avaliação eletrocardiográrazão dessas mudanças, o Na+ penetra rapidamente na célufica, como as derivações pré-cordiais (torácicas). As derivala, enquanto o K+ sai. O resultado dessa mudança abrupta na ções usuais para diagnóstico de arritmias e determinação do permeabilidade celular é o potencial de ação, ou seja, um eixo elétrico médio são mostradas na figura 1 4,6. evento elétrico que inicia a contração muscular 5. O papel utilizado para registro do traDerivação Eletrodo negativo Eletrodo positivo çado eletrocardiográfico é milimetrado, com linhas verticais e horizontais a I membro anterior direito membro anterior esquerdo cada milímetro (1mm), e uma linha II membro anterior direito membro posterior esquerdo mais escura a cada 5mm. Na medicina III membro anterior esquerdo membro posterior esquerdo veterinária, o padrão convencionado paavR ponto médio entre membro ra a velocidade do papel é de 50mm por membro anterior direito anterior e membro posterior esquerdo segundo, com calibração da voltagem de 1cm para cada milivolt (1mV = 1cm), avL ponto médio entre o membro membro anterior esquerdo anterior esquerdo e direito geralmente representado pela letra "N" no aparelho eletrocardiográfico 1. avF ponto médio entre membro membro anterior esquerdo Com o avanço da informática, a eleanterior esquerdo e direito trocardiografia computadorizada tem Figura 1- Derivações usuais para determinação do eixo elétrico médio sido utilizada em medicina Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais - FMVZ/Botucatu e em medicina veterinária como método de diagnóstico auxiliar, apresentando alto grau de confiabilidade quando comparada com o método convencional (Figura 2A). A técnica computadorizada vem sendo utilizada com frequência por grande parte dos clínicos, principalmente em serviços de emergência, apresentando inúmeras vantagens em relação à técnica A B convencional (papel terFigura 2 - A) eletrocardiógrafo computadorizado, B) eletrocardiógrafo convencional mossensível) (Figura 2B), Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
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principalmente na diminuição do tempo de contenção dos animais, na execução dos exames realizados com registro eletrocardiográfico dinâmico (mini-holter) e pelo arquivamento de grandes volumes de eletrocardiogramas realizados 7. O eixo cardíaco elétrico médio (Ecem) descreve a média da direção do processo de despolarização ventricular no plano frontal. Representa a soma de vários vetores instantâneos que ocorrem do início ao fim da ativação muscular ventricular. A estimativa do Ecem auxilia o clínico a identificar os principais distúrbios de condução intraventricular e/ou padrões de aumento ventricular que alteram a direção da ativação ventricular. Por ser determinado no plano frontal, somente as seis derivações frontais são utilizadas. O Ecem pode ser estimado por diferentes métodos 8: - localizar a direção (I, II, III, aVR, aVL ou aVF) com maior onda R (sendo a onda R uma deflexão positiva). O eletrodo positivo dessa derivação é a orientação aproximada do Ecem; - localizar a derivação (I, II, III, aVR, aVL ou aVF) com o QRS mais isoelétrico (deflexão positiva e negativa são aproximadamente iguais). Depois, identificar a derivação perpendicular a essa derivação no diagrama hexaxial (Figura 2). Se o QRS dessa derivação perpendicular for predominantemente positivo, o Ecem direciona-se ao polo positivo dessa derivação. Se o QRS dessa derivação perpendicular for predominantemente negativo, o Ecem é orientado em direção ao polo negativo. Se todas as derivações parecem isoelétricas, o eixo frontal é indeterminado; - se não houver derivação isoelétrica, recomenda-se analisar inicialmente as derivações DI e aVF, obtendo-se em princípio o quadrante em que se encontra o vetor resultante; em seguida, avaliam-se as derivações cujas perpendiculares estão inseridas no quadrante de interesse (Figura 3). A interpretação do eletrocardiograma é realizada por meio da determinação do ritmo, da frequência cardíaca e da mensuração das ondas e intervalos, conforme descrito na figura 4. A onda P representa a despolarização atrial, sendo avaliada
quanto a sua duração em segundos e amplitude em milivoltes, registrando a despolarização sequencial do átrio direito e do átrio esquerdo, quando os átrios ficam completamente despolarizados – não há mais diferença de potencial elétrico – e assim o estilete retorna a sua posição elétrica original, conhecida como linha basal 9. Sempre que um impulso levar regularmente à formação de uma onda P e também de um complexo QRS no traçado eletrocardiográfico, teremos a caracterização de um ritmo cardíaco sinusal, que representa os mecanismos normais de iniciação das despolarizações e consequentes sístoles cardíacas atrial e ventricular 1. A onda Q representa a despolarização inicial do septo interventricular, ocorrendo antes da onda R, que representa a despolarização do miocárdio ventricular. A onda S representa a despolarização de base da parede ventricular posterior e do septo interventricular. A repolarização do ventrículo ocorre imediatamente após sua despolarização e origina a onda T 3. Análise das deflexões de P-QRS-T no cão Onda P A sobrecarga atrial pode estar representada por aumento de largura ou altura das ondas P obtidas na derivação II. A sobrecarga do átrio direito é representada por aumento da altura da onda P, denominado P pulmonale. A doença pulmonar crônica também pode resultar nessa alteração, na ausência de cardiopatia. A sobrecarga do átrio esquerdo causa aumento da duração da onda P, também chamado de P mitrale 3. Deve-se identificar a onda P em todos os ciclos cardíacos, observando a sua morfologia que deve ser de uma onda arredondada e simétrica 10. Intervalo P-R O intervalo P-R, importante para garantir que ocorra enchimento ventricular adequado antes da sístole, é uma medida do tempo necessário para o impulso cardíaco atravessar o nodo atrioventricular (NAV). Frequências cardíacas altas Características
Ritmos
ritmos sinusais arritmia sinusal; (ondas P e complexos taquicardia sinusal; QRS normais) bradicardia sinusal.
Figura 3 - Sistema hexaxial de derivações no plano frontal
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arritmias supraventriculares (ondas P anormais ou ausentes, complexos QRS normais)
complexos atriais prematuros; taquicardia atrial; taquicardia juncional; flutter atrial; fibrilação atrial.
arritmias ventriculares (complexos QRS grandes, bizarros)
complexos ventriculares prematuros; taquicardia ventricular; fibrilação ventricular; ritmos de escape ventricular.
distúrbios na condução do impulso
parada ou bloqueio sinusal; síndrome do nó doente; bloqueios atrioventriculares; síndrome de Wolff-Parkinson-White
Figura 4 - Quadro demonstrando interpretação rápida de diversos tipos de arritmia
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
podem alterar esse intervalo. Os bloqueios atrioventriculares são as arritmias que comumente causam aumento do intervalo P-R 4. Complexo QRS O complexo QRS é gerado pela despolarização ventricular (septo interventricular, ventrículo esquerdo e ventrículo direito). A sobrecarga ventricular pode ocasionar alteração no complexo QRS. A sobrecarga do ventrículo esquerdo pode ser sugerida nas seguintes situações: quando a amplitude da onda R for superior a 3mV em DII; quando a amplitude da onda R for superior a 1,5mV em DI; ou quando a soma das amplitudes da onda R nas derivações I e aVF for maior que 4mV. A sugestão de sobrecarga do ventrículo direito ocorre principalmente quando houver a presença de onda S “profunda” nas derivações I, II, III e aVF, ou se apresentar amplitude maior que 0,8mV em CV6LL ou CV6LU 3. Qualquer complexo QRS que tenha uma forma diferente do complexo sinusal normal pode representar uma anormalidade e sugerir que a despolarização não se originou no nó sinusal, mas de uma localização ectópica nos ventrículos. Além disso, esses complexos ventriculares ectópicos não estão associados a uma onda P precedente, exceto por coincidência 9. Segmento S-T Alterações na análise do segmento S-T podem ocorrer em casos de hipóxia miocárdica regional, principalmente em seres humanos e em distúrbios hidroeletrolíticos, representados por supra ou infradesnivelamento, abaulamento do segmento ou presença de sluring 4. Intervalo Q-T Esse intervalo é marcadamente afetado pela frequência cardíaca; as frequências mais rápidas possuem um intervalo QT mais curto. Vários fármacos (digoxina, por exemplo) e distúrbios eletrolíticos, como hipercalcemia, hipocalemia e
hipercalemia, podem alterar as medidas de Q-T 2. Onda T A altura da onda T não deve exceder a um quarto da altura da onda R, ou 0,5mV a 1mV em qualquer derivação. Ondas T acima do limite descrito estão associadas a hipóxia do miocárdio, distúrbios de condução interventricular, dilatação ventricular e, em alguns animais, a doença cardíaca e bradicardia. Também podem estar relacionadas a casos graves de hipercalemia 3,11. Ritmos sinusais Formação do impulso e ritmo sinusal normal O ritmo sinusal é o mecanismo normal que inicia a sístole cardíaca. O impulso cardíaco normal se origina no nodo sinoatrial (NSA), localizado na parede do átrio direito, e se estende para os átrios, o nodo atrioventricular e os ventrículos 12. Em cães, a frequência varia de 60 a 180bpm, dependendo do tamanho e do grau de estresse do animal 3. As ondas P são positivas nas derivações caudais (II e aVF), os intervalos P-R são constantes e os intervalos R-R ocorrem regularmente, com menos de 10% de variação no tempo de ocorrência. Normalmente, os complexos QRS são estreitos e positivos nessas mesmas derivações (Figura 5) 2,6. A frequência e o ritmo dependem do impulso do NSA, influenciados por alterações no tônus autônomo. O tônus simpático aumenta a frequência de descarga do nó sinusal; o tônus parassimpático (vagal) elevado reduz a frequência de descarga desse nodo 3. Arritmia sinusal Representa um ritmo sinusal irregular originado no NSA. É caracterizada por períodos de alternância entre frequências cardíacas mais lentas e mais rápidas, que podem estar relacionadas à respiração, aumentando com a inspiração e diminuindo com a expiração, de acordo com as flutuações do tônus vagal (Figura 6) 14.
Figura 5 - Eletrocardiograma de cão demonstrando ritmo sinusal normal – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Intervalos entre segmentos R-R de complexos adjacentes com uma diferença menor que 0,04s
Figura 6 - Eletrocardiograma de cão demonstrando arritmia sinusal – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Intervalos entre segmentos R-R de complexos adjacentes com uma diferença maior que 0,04s Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
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A arritmia sinusal respiratória é normal em cães. É caracterizada por tônus vagal elevado e tônus simpático baixo; essa situação é rara em cães com insuficiência cardíaca congestiva. A presença de arritmia sinusal em um cão com tosse grave é sugestiva de doença respiratória primária 3. Bradicardia sinusal É um ritmo sinusal com frequência cardíaca menor que 70 batimentos por minuto (bpm), ou menor que 60bpm em raças gigantes 5. O traçado é idêntico ao de um ritmo sinusal normal, exceto pela baixa frequência. Algumas condições estão associadas, como: aumento do tônus vagal, aumento da pressão intracraniana, hipotermia, hipotireoidismo, bom condicionamento ou doenças respiratórias. O uso de alguns fármacos (fenotiazínicos, propanolol, digitálicos, quinidina, morfina, bloqueadores dos canais de cálcio) ou doenças sistêmicas (insuficiência renal) podem também levar a bradicardia sinusal (Figura 7) 15. Taquicardia sinusal É um ritmo sinusal regular, com uma frequência cardíaca acima das frequências normais 16. A frequência geralmente está acima de 160bpm, 140bpm em raças gigantes, 180bpm em raças miniatura e 220bpm em filhotes. O intervalo P-R geralmente é constante. A taquicardia sinusal pode ser fisiológica (associada a exercícios, estresse, ansiedade ou dor), patológica (febre, hipertireoidismo, choque, anemia, infecção, insuficiência cardíaca congestiva e hipóxia) ou causada por fármacos (atropina, metilxantinas, epinefrina ou vasodilatadores) (Figura 8) 3,5,6.
O achado clínico é frequência cardíaca mais rápida que o normal para a idade e a raça, com um pulso a cada batimento cardíaco, embora frequências muito rápidas possam tornar o pulso mais fraco, por diminuição do débito cardíaco 9. Distúrbios da formação do impulso Supraventricular Complexo atrial prematuro (CAP) São causados por impulsos supraventriculares originados de um sítio atrial ectópico (outro que não seja o nó sinusal). O aumento da automaticidade das fibras miocárdicas atriais ou um único circuito de reentrada (ativação repetitiva causada por condução do impulso elétrico ao redor de um circuito anormal nos átrios) são os mecanismos dessa arritmia 6. Complexos atriais prematuros isolados ou infrequentes não causam instabilidade hemodinâmica 17. Geralmente, a frequência cardíaca está normal e o ritmo é irregular devido à presença de uma onda P prematura (chamada de onda P'). A configuração dessa onda é diferente das outras ondas P normais, podendo ser positiva, negativa, bifásica ou sobreposta à onda T anterior. O complexo QRS referente à onda P ectópica também é prematuro (Figura 9). Pode ocorrer uma pausa compensatória após o CAP, em razão da despolarização e da repolarização de todas as células miocárdicas gerada pelo foco ectópico 10. As causas podem incluir qualquer doença associada à dilatação atrial, como doença valvular degenerativa, doença cardíaca congênita ou cardiomiopatia. Outras causas incluem hipóxia, neoplasia atrial e doença pulmonar obstrutiva crônica 3.
Figura 7 - Eletrocardiograma de cão demonstrando bradicardia sinusal – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). FC= frequência cardíaca
Figura 8 - Eletrocardiograma de cão demonstrando taquicardia sinusal – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). FC = frequência cardíaca
Figura 9 - Eletrocardiograma de cão demonstrando complexo atrial prematuro – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Seta indicando onda P fusionada com onda T do complexo anterior
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Taquicardia atrial No cão, a frequência de ativação atrial por minuto é geralmente de 260 a 380. As ondas P' ficam em geral ocultas no complexo QRS-T. A taquicardia atrial pode ser paroxística ou sustentada (Figura 10). Três ou mais complexos atriais prematuros são considerados taquicardia atrial. O intervalo P-R geralmente é constante; em frequências muito altas, podem ocorrer vários graus de bloqueio atrioventricular 6. A taquicardia atrial é causada por uma rápida descarga de um foco atrial anormal ou por reentrada atrial 2. As causas associadas incluem aumento atrial, síndrome de Wolff-Parkinson-White (congênita em cães) ou toxicidade digitálica 5. Flutter atrial É uma taquiarritmia rara caracterizada por uma frequência atrial que geralmente excede 300bpm e por uma condução ventricular variável 17. Existem duas formas: típica e atípica. Na forma típica, as ondas P são substituídas por ondas em forma de serra denteada, chamadas ondas F; essas ondas não são visualizadas na forma atípica, tornando difícil a diferenciação entre flutter e fibrilação atrial (Figura 9) 5,15. O flutter atrial não é um ritmo estável; geralmente progride para fibrilação atrial ou pode se converter em ritmo sinusal 2. As causas do flutter são as mesmas da taquicardia atrial, incluindo: ruptura de corda tendínea, defeito de septo atrial, displasia de tricúspide e fibrose valvular mitral crônica 5.
Fibrilação atrial Essa arritmia tem como característica numerosos impulsos atriais desorganizados que frequentemente bombardeiam o nodo atrioventricular 6. A fibrilação atrial é comum no cão; embora possa ser paroxística, é vista geralmente como sustentada. A perda da contribuição atrial para o enchimento ventricular, combinada com o aumento da frequência ventricular, pode reduzir substancialmente o débito cardíaco e exacerbar a insuficiência cardíaca 15. É caracterizada por ausência de ondas P e irregularidade da despolarização ventricular. No caso da fibrilação atrial, existem vários sítios de despolarização atrial ectópicos e refração variada do nodo atrioventricular. A linha de base pode ser plana ou exibir pequenas ondas de fibrilação (Figura 12) 3. É causada pelas mesmas condições que levam a outras arritmias atriais, sendo que o aumento atrial é o que mais ocorre. Em raças gigantes, a cardiomiopatia dilatada é uma causa bastante comum 18. Juncional Complexos juncionais prematuros O complexo juncional prematuro caracteriza-se por um batimento precoce anormal originado na região atrioventricular 3. O impulso se propaga para trás (retrógrado), em direção ao átrio, gerando uma onda P negativa, bem como para a frente (anterógrado), em direção aos ventrículos, gerando complexos QRS normais. Como não podemos
Figura 10 - Eletrocardiograma de cão demonstrando taquicardia atrial paroxística – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu)
Figura 11 - Eletrocardiograma de cão demonstrando flutter atrial atípico – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Seta indicando ondas F (ondas P serrilhadas)
Figura 12 - Eletrocardiograma de cão demonstrando fibrilação atrial – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Setas indicando ausência de ondas P no traçado. Notar irregularidade de intervalos R-R Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
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distinguir entre um foco juncional e um foco ectópico atrial baixo, o termo supraventricular é frequentemente preferido 6. A frequência cardíaca geralmente é normal e o ritmo é irregular porque a onda P' altera o ritmo da onda P normal. É importante ressaltar que a onda P' geralmente é negativa na derivação II; porém, é preciso cautela ao descrever um complexo juncional, uma vez que no marcapasso migratório podemos visualizar ondas P de diferentes morfologias (Figura 13). As causas dessa alteração incluem intoxicação digitálica e outras que levam a complexos atriais prematuros, como previamente discutido 5,6. Taquicardia juncional É um ritmo paroxístico (três ou mais complexos em seguida, intercalados com complexos sinusais) ou sustentado (todos os complexos originados na junção), originado na região de junção atrioventricular 3. Ocorre quando um foco ectópico prematuro na região de junção atrioventricular assume o comando do coração como marcapasso primário, originando complexos juncionais prematuros. A frequência cardíaca deve ser mais rápida que a frequência atrioventricular juncional canina inerente, de 40 a 60bpm. A onda P geralmente é negativa. Pode ser denominada taquicardia supraventricular, por apresentar características semelhantes às da taquicardia atrial. As causas associadas são as mesmas das taquicardias atriais 5,6 (Figura 14).
Ventricular Complexos ventriculares prematuros (CVPs) São impulsos cardíacos iniciados nos ventrículos em vez de no nó sinusal. Os mecanismos incluem aumento da automaticidade e reentrada. Os CVPs têm efeitos diretos sobre o sistema cardiovascular e efeitos secundários em outros sistemas devido à perfusão inadequada. Estão associados a fraqueza, intolerância ao exercício, síncope e morte súbita 6. A configuração do complexo QRS é anormal comparada com os complexos sinusais do animal. São geralmente mais largos que os complexos normais, por causa da condução intramuscular mais lenta. Os CVPs podem ser classificados de acordo com o número de focos ectópicos em multifocais (padrão irregular na configuração dos complexos QRS ectópicos) ou unifocais, sendo que os primeiros geralmente necessitam de imediata intervenção terapêutica 19. Quando a onda do complexo ventricular prematuro é positiva em DII, o foco está situado no ventrículo direito; se a deflexão é negativa na mesma derivação, o foco está situado no ventrículo esquerdo 20. Pelo fato de os CVPs não serem conduzidos no sentido inverso para os átrios através do nodo atrioventricular, a frequência sinusal continua inalterada (Figura 15). O CVP é seguido de uma parada compensatória do ritmo sinusal 2,16. Cães que apresentem episódios do fenômeno R sobre T – uma anormalidade elétrica maligna caracterizada pela presença de complexos ectópicos ventriculares sobre a porção descendente da onda T do complexo anterior – devem ser
Figura 13 - Eletrocardiograma de cão demonstrando complexo juncional prematuro – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Seta indicando onda P negativa
Figura 14 - Eletrocardiograma de cão demonstrando taquicardia juncional atrioventricular – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Setas indicando ondas P negativas
Figura 15 - Eletrocardiograma de cão demonstrando complexos ventriculares prematuros – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Seta indicando complexo ventricular prematuro isolado
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Figura 16 - Eletrocardiograma de cão demonstrando taquicardia ventricular paroxística – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Setas indicando complexos ventriculares prematuros
Figura 17 - Eletrocardiograma de cão demonstrando taquicardia ventricular sustentada – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu)
Figura 18 - Eletrocardiograma de cão demonstrando fibrilação ventricular – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Ondas caóticas e bizarras
avaliados periodicamente, pois podem estar predispostos a desenvolver cardiomiopatia dilatada 21. Existem numerosas causas de CVPs. Ocasionalmente, eles podem ocorrer em corações normais sem significado clínico 21-23. As causas cardíacas incluem: insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, infecções (especialmente virais ou bacterianas), inflamação, neoplasias infiltrativas do miocárdio e pericardite, dentre outras. As causas secundárias são numerosas e podemos citar: hipóxia, anemia, uremia, sepse, coagulação intravascular disseminada, pancreatite e algumas endocrinopatias 16. Taquicardia ventricular A taquicardia ventricular é uma série contínua de complexos ventriculares prematuros, resultado da estimulação ventricular ectópica. Pode ser paroxística (três ou mais CVPs em seguida) (Figura 16) ou sustentada (todos os complexos originados nos ventrículos) (Figura 17), esta muito mais grave. A taquicardia ventricular é geralmente considerada a mais séria de todas as taquiarritmias e em alguns casos leva à morte 5. A presença de três ou mais extrassístoles ventriculares consecutivas com frequência cardíaca entre 70 e 160bpm foi denominada ritmo idioventricular acelerado 24. A frequência ventricular na taquicardia é maior que 150bpm com ritmo regular. Os complexos QRS são largos e 40
bizarros. Não há relação entre os complexos QRS e as ondas P. As ondas P podem preceder, estar escondidas ou seguir os complexos QRS 6. Complexos de captura e fusão ventricular geralmente estão presentes. O termo batimento de captura refere-se à condução, com êxito, de uma onda P sinusal para os ventrículos, sem haver a interrupção de outro CVP (o nó sinusal recapturou os ventrículos). Se a sequência normal de ativação ventricular for interrompida por um outro CVP, pode ocorrer um complexo de fusão. A configuração de um complexo de fusão representa uma mescla de complexos QRS normais e CVP, geralmente observados ao início ou ao final de um acesso de taquicardia ventricular; eles são precedidos por uma onda P e um intervalo P-R diminuído 2. As condições associadas são as mesmas do complexo ventricular prematuro, como cardiomiopatia dilatada em boxers ou dobermans 5. Fibrilação ventricular Ocorre quando as células do miocárdio ventricular se despolarizam de maneira caótica e desordenada. O pulso não pode ser sentido e o débito cardíaco se aproxima de 0, fazendo deste um ritmo emergencial e geralmente terminal 14,15. A frequência cardíaca é rápida, com ondas irregulares, caóticas e bizarras. As ondas P não podem ser reconhecidas, assim
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Figura 19 - Eletrocardiograma de cão demonstrando ritmo de escape – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Setas indicando complexos de escape juncional
Figura 20 - Eletrocardiograma de cão demonstrando parada sinusal – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu))
Figura 21 - Eletrocardiograma de cão demonstrando parada atrial – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu)
como os complexos QRS e as ondas T. A fibrilação ventricular pode ser caracterizada como grossa (oscilações maiores no ECG) ou fina 2. As condições associadas incluem choque, anóxia, lesão do miocárdio, hipocalemia, hipercalemia, estenose aórtica e hipotermia, dentre outras 5 (Figura 18). Ritmos de escape Ocorrem quando o marcapasso com a maior automaticidade (geralmente o nó sinusal) reduz sua frequência ou para. A atividade intrínseca do marcapasso das regiões mais baixas do coração, como a junção atrioventricular ou os ventrículos, resgata o ritmo cardíaco após uma pausa no ritmo dominante. Se o marcapasso subsidiário assume temporariamente o papel do marcapasso cardíaco, o ritmo é conhecido como ritmo de escape (Figura 19). Todas as causas de bradicardia sinusal e bloqueio atrioventricular estão associadas 6. Distúrbios na condução do impulso Parada ou bloqueio sinusal Na parada sinusal, o ritmo sinusal normal é interrompido por uma falha prolongada e ocasional do NSA em iniciar o impulso, ao passo que no bloqueio sinusal o impulso gerado pelo NSA não chega ao átrio (Figura 20). É muito difícil diferenciar um do outro. Com pausas prolongadas, podem ocorrer períodos de baixo débito cardíaco 5,6. O bloqueio sinusal ocorre comumente em raças braquicefálicas, porém
outras causas podem incluir estimulação vagal, tosse, doença cardíaca degenerativa ou neoplásica, desequilíbrio eletrolítico e toxicidade por drogas (por exemplo digitálicos, quinidina e propanolol) 6,14. Parada ou silêncio atrial É um distúrbio de ritmo caracterizado pela ausência de atividade elétrica atrial efetiva (ausência de ondas P e linha de base plana), em que o coração é controlado por ritmo de escape juncional ou ventricular (Figura 21). Essa bradiarritmia é rara nos cães (a raça springer spaniel parece ser a mais acometida) e extremamente rara nos gatos 24. Síndrome do nó doente É uma doença cardíaca progressiva caracterizada por uma variedade de arritmias, incluindo bradicardia sinusal, parada sinusal, taquicardia atrial paroxística, bloqueio intermitente do nodo atrioventricular e ausência de complexos de escape ventriculares (Figura 22). Entre as raças predispostas incluem-se schnauzer miniatura, cocker spaniel, teckel, pug e west highland white terriers. Sendo mais comum em cadelas idosas 3, a síndrome do nó doente é uma doença na qual ocorre substituição do nó sinusal por tecido fibroso ou lesão na artéria que irriga o NSA. Além dos achados eletrocardiográficos, o diagnóstico dessa enfermidade é confirmado pela ausência de resposta ao teste de estimulação com atropina 6.
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Figura 22 - Eletrocardiograma de cão demonstrando síndrome do nó doente - derivação II - velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Taquicardia atrial paroxística seguida por bradicardia sinusal (síndrome taquicardia-bradicardia)
Figura 23 - Eletrocardiograma de cão demonstrando pré-excitação ventricular – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Setas indicando ondas delta
Figura 24 - Eletrocardiograma de cão demonstrando bloqueio atrioventricular de 1º grau – derivação II – velocidade 25mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Intervalo P-R maior que 0,13s
Pré-excitação ventricular e síndrome de Wolff-ParkinsonWhite (WPW) Os casos de pré-excitação ventricular ocorrem quando um impulso originado dos nós sinusal ou atrial ativa uma porção do ventrículo prematuramente por uma via acessória. Os impulsos sinoatriais são capazes de alcançar os ventrículos inicialmente sem passar pelo nodo atrioventricular. A síndrome de Wolff-Parkinson-White consiste na pré-excitação ventricular associada a episódios de taquicardia supraventricular paroxística 5. A frequência cardíaca e o ritmo estão normais, com ondas P normais e intervalo P-R curto. Os complexos QRS geralmente são largos e frequentemente apresentam uma onda delta (borrada ou entalhada na subida da onda R). Quando ocorre pré-excitação ventricular associada com WPW, a frequência é geralmente elevada (acima de 300bpm); adicionalmente, os complexos QRS podem estar normais, largos com ondas delta, ou muito largos e bizarros, dependendo do circuito (Figura 23) 6,15. As condições associadas incluem defeito congênito limitado ao sistema de condução, defeito do septo atrial e displasia da válvula tricúspide 6. Bloqueios atrioventriculares (BAV) Primeiro grau É um retardo na condução de um impulso supraventricular 42
através da junção atrioventricular e do feixe de His 6. A onda P geralmente é normal, ocorrendo prolongamento do intervalo P-R (Figura 24) 15 e as causas mais comuns são: fibrose do NAV, aumento do estímulo vagal, uso de drogas (como digoxina) e desequilíbrio eletrolítico. O BAV de 1° grau isolado não tem importância clínica, porém pode ser um indicador precoce de disfunção do NAV 3. Segundo grau Caracteriza-se pela condução atrioventricular intermitente; algumas ondas P não são seguidas de complexos QRS. Existem dois subtipos de BAV de 2° grau: Mobitz tipo I e Mobitz tipo II 2. No Mobitz tipo I (Figura 25), as ondas P estão presentes (com configuração normal). O intervalo P-R é frequentemente variável. Pode haver prolongamento progressivo do intervalo com sucessivos batimentos até que uma onda P seja bloqueada. A frequência ventricular é mais lenta do que a atrial, devido às ondas P bloqueadas 15. O Mobitz tipo II (Figura 26) é mais grave que o tipo I, pois a frequência e a gravidade do bloqueio não são previsíveis. Podem ser observadas ondas P que não conduzem o complexo QRS. As ondas P são normais e de aparência consistente. Os intervalos P-R são constantes (isto é, não variam antes do batimento bloqueado). Ocorre um avançado BAV de 2° grau Mobitz tipo II quando duas ou mais ondas P consecutivas são bloqueadas 6. O BAV de 2° grau pode ser um
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Figura 25 - Eletrocardiograma de cão demonstrando bloqueio atrioventrcular 2º grau Mobitz I – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Intervalos P-R de duração crescente até o aparecimento de onda P isolada, indicada por uma seta
Figura 26 - Eletrocardiograma de cão demonstrando bloqueio atrioventricular 2º grau Mobitz II – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Intervalos P-R de duração constante até o aparecimento de onda P isolada, indicada por uma seta
Figura 27 - Eletrocardiograma de cão demonstrando bloqueio atrioventricular 3º grau – derivação II – velocidade 50mm/s (Serviço de Clínica Médica de Pequenos Animais/FMVZ/Unesp-Botucatu). Setas indicando ondas P não acompanhadas por complexo QRS. Notar complexo idioventricular (seta vermelha)
achado normal em cães jovens. Está associado também a arritmias sinusais e a aumento do tônus vagal, intoxicação por digitálicos e baixas dose de atropina 5.
ferramenta útil no diagnóstico de algumas cardiopatias, de doenças sistêmicas que possam causar alterações importantes no traçado eletrocardiográfico e como exame pré-cirúrgico.
Terceiro grau O BAV de 3° grau (ou completo) apresenta-se quando não são conduzidos os impulsos sinusais ou supraventriculares para os ventrículos. Geralmente, é evidente o ritmo sinusal regular ou uma arritmia sinusal, porém as ondas P não se associam aos complexos QRS, que resultam geralmente em um ritmo de escape ventricular regular. A onda P geralmente está normal (Figura 27) 18. Defeitos congênitos, toxicidade digitálica severa, miocardiopatia infiltrativa (amiloidose, neoplasia), fibrose idiopática e causas adicionais (miocardiopatia hipertrófica, endocardite, miocardite, infarto do miocárdio, hipercalemia e doença de Lyme) são condições geralmente associadas 6.
Referências
Considerações finais O ECG não pode ser utilizado como uma ferramenta única, devendo ser sempre avaliado em conjunto com os sinais clínicos e outros exames complementares. É de se notar que para realizá-lo necessita-se de um ambiente calmo, um bom aparelho e atenção para que o ECG possa servir como uma
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Avaliação radiográfica da displasia coxofemoral em cães sob a visão do método convencional e do método de mensuração do índice de distração (PennHIP ®) – revisão Radiographic evaluation of hip dysplasia in dogs with the conventional method and the method of distraction index measurement (PennHIP ®) – review
Evaluación radiográfica de la displasia de cadera en el perro por medio del método convencional y el método de medición del índice de distracción (PennHIP ®) – revisión Clínica Veterinária, n. 91, p. 48-56, 2011 Fernando Cardoso Cavaletti Médico veterinário Instituto Veterinário de Imagem fercavaletti@yahoo.com.br
Fernanda Laudísio dos Santos Médica veterinária Hospital Veterinário Pompéia fernandalaudisio@hotmail.com
Salvador Luis Rocha Urtado MV, mestre Instituto Veterinário de Imagem salvador@ivi.vet.br
Benedicto Wladmir De Martin MV, prof. dr. Instituto Veterinário de Imagem ivi@ivi.com.br
Resumo: A displasia coxofemoral é uma doença multifatorial e poligênica, com alto índice de hereditariedade, que acomete várias espécies de animais, sendo mais frequente em cães de porte grande e gigante. É caracterizada por diferentes graus de lassitude articular, que permitem a subluxação das articulações coxofemorais numa fase precoce da vida do animal. O diagnóstico definitivo é obtido pelo exame radiográfico, que classifica os diferentes graus da doença. O método convencional foi adotado pelos principais colégios que estudam a displasia coxofemoral e avalia essa doença por meio do posicionamento padrão dos membros pélvicos (membros estendidos e rotados medialmente), tendo boa sensibilidade a partir de 24 meses de idade. O método de mensuração do índice de distração (PennHIP®) indica a suscetibilidade do animal à doença, por meio da medição da lassitude articular e do cálculo do índice de distração, a partir de 16 semanas de idade. Notamos que ambos os métodos apresentam boa sensibilidade no diagnóstico da displasia, entretanto o PennHIP® é a técnica de diagnóstico que avalia a lassitude articular com maior precocidade. Unitermos: avaliação radiográfica, displasia coxofemoral, método convencional, índice de distração Abstract: Hip dysplasia is a multifactor and polygenic disease with high heritability that affects several animal species, being most common in dogs of large and giant breeds. It is characterized by different degrees of joint laxity that allow subluxation of the hip joints at an early stage of the animal's life. The final diagnosis is obtained by radiographic examination, which allows for classification of different degrees of illness. The conventional method has been adopted by the main schools that evaluate hip dysplasia and evaluates this disease by means of standard positioning of the hind limbs (limbs are extended and rotated medially). This method has good sensitivity after 24 months of age. The method of distraction index measurement (PennHIP ®) indicates the susceptibility of the animal to develop the disease by measuring the laxity and calculating the joint distraction index. It can be used as soon as 16 weeks of age. Although both methods are sensitive enough for an accurate diagnosis of dysplasia, the PennHIP ® technique evaluates joint laxity more precociously. Keywords: radiographic evaluation, hip dysplasia, conventional method, distraction index Resumen: La displasia de cadera es una enfermedad multifactorial y poligénica, con alta heredabilidad que afecta a varias especies de animales, siendo más común en los perros grandes y gigantes. Se caracteriza por diferentes grados de laxitud que permiten la subluxación de las articulaciones de la cadera en una fase temprana de la vida del animal. El diagnóstico definitivo se obtiene mediante un examen radiológico que clasifica los diferentes grados de la enfermedad. El método convencional ha sido adoptado por los principales institutos que estudian la displasia de cadera y evalúa esta enfermedad a través del patrón de posicionamiento de las extremidades posteriores, con buena sensibilidad desde los 24 meses de edad. El método de medición del índice de distracción (PennHIP ®) indica la susceptibilidad de los animales a la enfermedad, mediante la medición de la laxitud y el cálculo del índice de distracción en participación, desde las 16 semanas de edad. Observamos que ambos métodos tienen una buena sensibilidad en el diagnóstico de displasia, aunque el PennHIP ® es una técnica diagnóstica que evalúa la laxitud de la junta más precozmente. Palabras clave: evaluación radiográfica, displasia de la cadera, método convencional, índice de distracción
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Introdução A displasia coxofemoral (DCF) é uma enfermidade osteoarticular que acomete várias espécies de animais. Nos cães ela afeta principalmente animais de porte grande e gigante, como pastor alemão, rottweiler, labrador, golden retriever, bernese mountain dog, dogue-de-bordeaux e são-bernardo. O diagnóstico da displasia é obtido por meio da anamnese, dos sinais clínicos e do exame físico, porém o diagnóstico definitivo é dado pelo exame radiográfico 1. O método convencional (MC) foi adotado pelos principais colégios que estudam a DCF e avalia essa doença por meio do posicionamento padrão dos membros pélvicos, tendo boa sensibilidade a partir de 24 meses de idade 2,3. O método de mensuração do índice de distração (PennHIP®) é uma técnica recente e pouco difundida no Brasil, que indica a suscetibilidade do animal a essa doença, por meio da medição da lassitude articular e do cálculo do índice de distração (ID), a partir de dezesseis semanas de idade 4.
Diagnóstico da displasia coxofemoral por meio do método convencional O exame radiográfico diagnostica e gradua a DCF, entretanto, a visibilização das alterações radiográficas pode variar pela discordância entre os examinadores, pela subjetividade das lesões e pelo posicionamento radiográfico, que comprometem o diagnóstico e mostram ser os principais fatores limitantes para o diagnóstico e a graduação da doença, por meio do MC 14,15. Um estudo relatou que a confiabilidade do diagnóstico radiográfico da DCF por meio do MC em raças como vizsla e pastor alemão é de 25% aos seis meses; 70% aos doze meses; 78% aos 18 meses; 95% aos 24 meses; e 96% aos 36 meses 16. O posicionamento padrão com membros em extensão é
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Displasia coxofemoral canina A palavra “displasia” origina-se do grego (“dis” significa anormal e “plasia”, forma). Descrita pela primeira vez em 1935, era considerada uma afecção rara, denominada subluxação congênita e bilateral 5. Em 1947 sugeriu-se que a DCF tivesse origem hereditária, com atenção especial para algumas raças de cães de grande porte 6. A DCF é descrita como diferentes graus de lassitude articular mostrados pela subluxação das articulações coxofemorais (ACF) numa fase precoce da vida do animal e seria responsável pelo aparecimento da doença articular degenerativa (DAD) 7. Várias teorias foram postuladas sobre a etiologia da DCF. Alguns pesquisadores tentaram correlacioná-la a uma única causa, porém a maioria aceita a idéia de a etiologia ser multifatorial, envolvendo fatores como biomecânica da ACF, taxa de crescimento, interação da musculatura pélvica com o tecido ósseo, lassitude articular e influências metabólicas e hormonais 8. A DFC é uma doença poligênica, altamente influenciada pelo meio ambiente, que apresenta índice de hereditariedade variando de 0,25 a 0,5 (escala de 0 a 1) 9,10,11. No Brasil, vários estudos relatam a frequência e a porcentagem da DCF em cães. Na região mineira, um estudo com 100 cães da raça fila brasileiro mostrou que 58% dos animais apresentaram a doença 12. Outro estudo feito com pastores alemães mostrou que 72% dos cães eram displásicos 13.
recomendado pela American Veterinary Medical Association (AVMA) e adotado pelo MC na avaliação da DCF 2. Para obter o posicionamento correto do animal, faz-se necessária a sedação ou a anestesia geral do paciente, para que a musculatura não interfira na lassitude articular, além de facilitar o posicionamento dos membros e favorecer a avaliação das articulações 17. Para o exame radiográfico, o animal deve ser colocado em decúbito dorsal, com os membros torácicos tracionados cranialmente e os membros pélvicos caudalmente, cuidando para que uma leve rotação medial sobreponha as patelas sobre os sulcos trocleares. Os membros pélvicos deverão estar paralelos entre si e à coluna vertebral e mantidos a uma distancia de 10 a 12cm da mesa, especialmente no caso de animais de grande porte. A radiografia das ACF bem posicionadas devem apresentar os forâmens obturados, as asas ilíacas simétricas e o paralelismo entre os fêmures com sobreposição das patelas nos sulcos trocleares, além de incluir as articulações femorotibiopatelares e sacroilíacas no filme radiográfico. O mau posicionamento da pelve e a rotação incompleta dos fêmures altera a congruência articular, a conformação da cabeça, do colo e da diáfise femoral, dificultando a avaliação e influenciando a graduação das ACF (Figura 1) 18.
Figura 1 - Radiografia digitalizada de um labrador fêmea de doze meses de idade em projeção ventrodorsal, com extensão e rotação medial dos membros posteriores, em posicionamento padrão para avaliação da displasia coxofemoral
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- Grau C - displasia coxofemoral leve: a cabeça femoral e o acetábulo são incongruentes. O ângulo acetabular, segundo Norberg, é de aproximadamente 100º. Poderá haver pequenos sinais de osteoartrose nas margens acetabulares, na cabeça e no colo femoral (Figura 5) 22. - Grau D - displasia coxofemoral moderada: evidente incongruência entre a cabeça femoral e o acetábulo, com sinais de subluxação. O ângulo acetabular, segundo Norberg, é maior que 90º. Há achatamento do bordo craniodorsal e sinais de osteoartrose na maioria dos casos (Figura 6) 22. - Grau E - displasia coxofemoral grave: evidente incongruência das articulações coxofemorais, com sinais de subluxação ou luxação. O ângulo acetabular, segundo Norberg, é menor que 90º. Com frequência se encontram achatamento da margem acetabular craniodorsal, deformação da cabeça e do colo femoral e outros sinais de osteoartrose (Figura 7) 22. A severidade da DAD é determinada por fatores como grau da DCF, idade, peso e fatores ambientais 19. Esse sistema de classificação foi adotado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária (CBRV), fundado em setembro de 1994 23. Assim como a FCI e o CBRV, a Orthopedic Foundation for Animais (OFA) e a Britsh Veterinary Association (BVA) também avaliam a DCF por meio do MC e levam em consideração as mesmas alterações descritas anteriormente; entretanto, a classificação do grau da doença varia de acordo com os critérios de conformidade dos diferentes colégios 24,25.
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A avaliação radiográfica das ACF por meio do MC envolve: - formato da cabeça femoral com contorno liso e uma pequena depressão denominada fóvea; - a fossa acetabular deve ser profunda, envolvendo acima de 50% da cabeça femoral; - as ACF devem ser congruentes; - o colo femoral deve ser liso e livre de proliferações; - o ângulo formado entre o colo e a diáfise femoral deve ser de aproximadamente 130 graus 19,20. O ângulo de Norberg é um dos métodos mais difundidos para quantificar a lassitude articular. Para sua medição, traçamos uma circunferência sobre as cabeças femorais e uma linha unindo o centro das duas circunferências. Após isso, traçamos outra linha unindo o centro das circunferências com os bordos acetabulares craniais. O ângulo interno formado pela união das duas linhas é conhecido como ângulo de Norberg (Figura 2). Em animais normais, esse ângulo deve ser maior que 105º. Ângulos menores indicam maiores graus de subluxação 21. A Federação Cinológica Internacional (FCI) iniciou seus trabalhos em 1974 e avalia a DCF por meio do MC, classificando as articulações coxofemorais em cinco graus diferentes: - Grau A - articulações coxofemorais normais: a cabeça femoral e o acetábulo são congruentes. A borda craniolateral apresenta-se ligeiramente arredondada. O espaço articular é estreito e regular. O ângulo acetabular, segundo Norberg, é maior que 105º (Figura 3) 22. - Grau B - articulações coxofemorais próximas do normal: a cabeça femoral e o acetábulo são ligeiramente incongruentes. O ângulo acetabular, segundo Norberg, é de aproximadamente 105º. O centro da cabeça femoral se apresenta medialmente à borda dorsal do acetábulo (Figura 4) 22.
Figura 2 - Radiografia digitalizada e aproximada das articulações coxofemorais de um rottweiler fêmea de 24 meses de idade, mostrando a forma de mensuração do ângulo de Norberg (área vermelha). Notem as circunferências sobrepostas às cabeças femorais, a linha que une o centro das duas circunferências e as duas linhas que unem o centro das cabeças femorais com os bordos acetabulares craniais
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Figura 3 - Radiografia digitalizada em projeção ventrodorsal de um pastor alemão fêmea de 24 meses de idade, apresentando articulações coxofemorais normais (Grau A/H.D.-)
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Figura 4 - Radiografia digitalizada em projeção ventrodorsal de um labrador fêmea de 26 meses de idade, apresentando articulações coxofemorais próximas do normal (Grau B/H.D.+/-)
Figura 5 - Radiografia digitalizada em projeção ventrodorsal de um golden retriever fêmea de 24 meses de idade, apresentando displasia coxofemoral leve (Grau C/H.D.+)
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Figura 6 - Radiografia digitalizada em projeção ventrodorsal de um rottweiler macho de 24 meses de idade, apresentando displasia coxofemoral moderada. Note a área mineralizada em partes moles, adjacente ao trocânter maior do fêmur direito, na topografia do tendão do músculo glúteo (Grau D/H.D.++)
Figura 7 - Radiografia digitalizada em projeção ventrodorsal de um pastor alemão fêmea de 24 meses de idade, apresentando displasia coxofemoral grave (Grau E/H.D.+++)
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Raça pastor alemão labrador golden retriever rottweiler
média do ID racial 0,43 0,49 0,55 0,55
com as raças citadas na figura 8. Isso ocorre devido à diferença na média dos valores normais para cada raça. Um estudo comparou a frequência da DAD em cães das raças pastor alemão, rottweiler, labrador e golden retriever com idades superiores a doze meses e ID semelhantes, e observou que os pastores alemães com ID próximos de 0,3 apresentaram maior frequência de DAD em relação às outras raças estudadas, concluindo que alguns dos fatores dessa variação seriam decorrentes da menor massa muscular dos membros pélvicos e do posicionamento da pelve nos pastores 32. Exame radiográfico do PennHIP® Para a realização desse exame o animal deve estar anestesiado ou sob sedação profunda, para impedir que a musculatura pélvica exerça força contrária à promovida durante o posicionamento da radiografia em distração. Para esse estudo são realizadas três radiografias diferentes: a) Extensão: radiografia com extensão e rotação dos membros pélvicos, de acordo com as normas da AVMA. Essa radiografia é realizada para obter informações complementares quanto à presença de DAD 4; b) Compressão: apesar do nome, a radiografia em compressão deve ser realizada com os membros pélvicos em posição neutra, alinhando o trocânter maior do fêmur à tuberosidade tibial, em projeção ventrodorsal. Essa radiografia é realizada para obter informações da congruência articular e do arrasamento acetabular (Figura 9 e 10) 4. c) Distração: é por meio dessa radiografia que medimos o ID. Para realizar essa projeção utiliza-se o aparelho chamado de distrator pélvico que procura deslocar a cabeça femoral para fora da fossa acetabular (Figura 11). Assim como na posição em compressão, o animal deve estar em decúbito Fernando Cardoso Cavaletti
Método de mensuração do índice de distração (PennHIP ®) Desde 1983 o dr. Gail Smith, da Universidade da Pensilvânia, vem pesquisando sobre a determinação do ID e a graduação da lassitude articular. Essas pesquisas resultaram em um novo programa de controle da DCF chamado PennHIP® (Pennsylvania Hip Improvement Program), que consiste em uma cooperativa científica que treina veterinários para realizar uma nova técnica de diagnóstico da DCF, além de servir como banco de dados para o desenvolvimento de novas pesquisas. Essa técnica indica a suscetibilidade do animal à DCF a partir dos quatro meses de idade 4. A lassitude articular é um dos fatores mais importantes na fisiopatologia da DCF 26. Alguns autores observaram que a lassitude articular coxofemoral desencadeia alterações degenerativas 7,27, enquanto outros relataram que nem todos os animais que apresentam lassitude articular desenvolvem tais alterações 28. Em filhotes de labradores de doze semanas de idade suscetíveis à DCF foram encontradas alterações como sinovite não supurativa e aumento do volume do líquido sinovial, que são responsáveis pelo aumento da lassitude articular coxofemoral 27,29. O método do PennHIP® parte da medição da lassitude articular e do cálculo do ID, que mostra quanto a cabeça femoral se desloca para fora da fossa acetabular quando se aplica uma técnica radiográfica de estresse articular. Cães com ID igual ou próximo de 1 apresentam grande lassitude articular e propensão a desenvolver a DCF, ao passo que índices próximos de 0 indicam baixa lassitude e menor suscetibilidade de desenvolver a doença 30. O ID de um cão sem DCF normalmente é próximo de 0,3; entretando, esse valor normal apresenta uma variação racial. O ID para cada raça foi estabelecido por meio da média dos índices de todos os cães que passaram pelo programa (Figura 8). Os pastores alemães com ID acima de 0,3 apresentam maior probabilidade de desenvolver a DCF, quando comparados
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Figura 8 - Média do ID para as raças pastor alemão, labrador, golden retriever e rottweiler 31
Figura 9 - Posicionamento radiográfico em compressão. Note a posição neutra dos membros pélvicos e o alinhamento entre o trocânter maior do fêmur com a tuberosidade tibial
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Figura 10 - Radiografia digitalizada de um golden retriever fêmea de seis meses de idade em compressão
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dorsal com os membros pélvicos em posição neutra. O distrator deve ser posicionado na face interna dos membros pélvicos, sobrepondo os rolos do aparelho às ACF. Após o posicionamento correto do aparelho, devemos aplicar uma força que desloque medialmente os membros pélvicos e promova
o afastamento esperado (Figuras 12, 13 e 14) 4.
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Cavitações As cavitações podem aparecer durante o processo de distração dos membros pélvicos, que distende a cápsula articular e aumenta a pressão intracapsular, promovendo um artefato visto como pequenas áreas circunscritas e radiotransparentes (densidade gás) chamadas de bolhas ou bubbles (Figura 15). Estas aparecem em aproximadamente 4% dos animais avaliados e não causam efeitos adversos nas articulações; no entanto, esse fenômeno pode produzir um efeito artificial de aumento da lassitude articular. Caso as cavitações sejam encontradas em uma ou ambas articulações, sugere-se que o exame seja repetido 4.
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Figura 12 - Posicionamento radiográfico em distração. Note a posição neutra dos membros pélvicos e os rolos do distrator apoiados sobre o púbis do animal (linha preta tracejada) Figura 11 - Aparelho distrator pélvico PennHIP ® Fernando Cardoso Cavaletti
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Figura 13 - Posicionamento radiográfico em distração. Note a localização correta do distrator pélvico posicionado na face interna dos membros com os rolos do aparelho sobrepostos às articulações coxofemorais. As setas representam a força que devemos aplicar sobre os membros pélvicos
Figura 14 - Radiografia digitalizada em distração de um golden retriever fêmea de seis meses de idade. Note a sombra dos rolos do distrator sobreposta às articulações coxofemorais (linha vermelha tracejada)
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Figura 15 - Radiografia digitalizada e aproximada da articulação coxofemoral esquerda de um golden retriever macho de seis meses de idade, mostrando áreas de cavitações na articulação (seta vermelha)
Medição do índice de distração Para medição do ID, fazemos uma circunferência sobre o acetábulo e outra sobre a cabeça femoral. O ID é calculado separadamente para cada articulação por meio da fórmula 30 : d/r d = distância entre o centro da circunferência do acetábulo e o centro da circunferência da cabeça femoral; r = raio da circunferência da cabeça femoral (Figura 16). Avaliação e interpretação dos resultados Como citamos anteriormente, o ID de cães sem sinais de DCF fica próximo de 0,3, devendo levar em consideração a raça do animal e a presença de doença articular degenerativa 30. As radiografias devem ser realizadas por um médico veterinário membro do PennHIP® e posteriormente encaminhadas para a Universidade da Pensilvânia, onde serão analisadas para emissão do certificado com as condições listadas na figura 17. Os animais inclusos na linha C da figura 17 apresentam probabilidades variadas de desenvolver a DCF. Quanto mais próximo o ID do animal estiver da média do ID para a raça (ou se ele ultrapassá-la), maior será a probabilidade de desenvolver a doença 30. Discussão Inúmeras são as discussões quando o assunto é comparar a eficácia da técnica do PennHIP® com o MC. Uma diferença importante entre os métodos é que o MC avalia e gradua a DCF, enquanto o PennHIP® indica a suscetibilidade do animal à doença. O principal ponto a favor do método da Pensilvânia é a precocidade do diagnóstico, que pode ser feito a partir de dezesseis semanas de idade, enquanto o MC apresenta uma boa sensibilidade a partir dos doze meses. Outra 54
Figura 16 - Radiografia digitalizada e aproximada da articulação coxofemoral direita de um golden retriever fêmea de seis meses de idade, mostrando a forma de mensuração do índice de distração, em que d representa a distância entre o centro das duas circunferências e r representa o raio da circunferência da cabeça femoral Condição a) ID < 0,3, sem DAD b) ID < 0,3, com DAD c) ID > 0,3, sem DAD d) ID > 0,3, com DAD e) DAD severa f) cavitação g) trauma ou cirurgia
resultado sem sinais de displasia confirmado para displasia risco de desenvolver displasia confirmado para displasia confirmado para displasia aumento da lassitude ID não computado
Figura 17 - Condições e resultados possíveis por meio da mensuração do índice de distração
grande vantagem do método do PennHIP® é a possibilidade de selecionar para reprodução apenas os animais com menores ID, garantindo assim a diminuição na frequência da DCF nas gerações futuras. A subjetividade dos achados e a discordância entre os examinadores são os principais fatores limitadores para a graduação da DCF no MC. Um estudo avaliou as ACF de sessenta cães por meio do MC e do método em distração em idade jovem e repetidos na idade adulta, e notou que apenas quatro animais considerados normais pelo MC tiveram ID superior a 0,35, o que mostra a existência de animais falso-negativos pelo MC 33. A associação entre o MC e o método do PennHIP®, na avaliação da DCF em idade precoce, aumenta a eficiência do diagnóstico 34. O custo do
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exame do PennHIP® é elevado quando comparado com o do MC, devido à realização de três radiografias diferentes; entretanto, por se tratar de um método de diagnóstico mais precoce, essa técnica acaba tendo uma vantagem econômica principalmente para os criadores. Os cães testados pelo índice de distração demonstram resultados seguros a partir de dezesseis semanas de idade, o que permite que sejam selecionados para cruzamentos quando isentos ou submetidos a tratamentos precoces. Um estudo recente comparou os resultados da OFA com os índices de distração dos animais e notou que 80% dos animais considerados excelentes pela OFA apresentavam ID acima de 0,3 35. Considerações finais Ambos os métodos apresentam grande sensibilidade ao diagnóstico da DCF mas, por se tratar de uma doença com alto índice de hereditariedade, o diagnóstico precoce tem grande importância na seleção de reprodutores, no controle de filhotes e no tratamento preventivo, tornando o método do PennHIP® vantajoso. A associação entre o MC e o método do PennHIP® aumenta a eficiência do diagnóstico da displasia coxofemoral. Referências 01-ALLAN, G. Radiographic signs of joint disease. In: THRALL, D. E. Textbook of veterinary diagnostic radiology. 4. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 2002. p. 187-207. 02-AVMA - American veterinary medical association. Council on veterinary service. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 139, n. 7, p. 791-806, 1961. 03-KAPATKIN, A. S. ; FORDYCE, H. H. ; MAYHEW, P. D. ; SMITH G. K. Canine hip dysplasia: the disease and its diagnosis. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 24, n. 7, p. 526538, 2002. 04-SMITH, G. K. ; GREGOR, T. P. ; MCKELVIE, P. J. ; O'NEILL, S. M. ; POWERS, M. ; PASTER, E. R. PennHIP: University of Pennsylvania Hip Improvement Program. Training and reference manual, 2004. 102 p. 05-SCHNELLE, G. B. The veterinary radiologist: regional radiography - the pelvic region - part I. The North American Veterinarian, v. 18, n. 11, p. 53-57, 1937. 06-KONDE, W. N. Congenital subluxation of the coxofemoral joint in the German Shepherd dog. The North American Veterinarian, v. 28, n. 9, p. 595-599, 1947. 07-HENRICSON, B. ; NORBERG, I. ; OLSSON, S. E. On the etiology and pathogenesis of hip dysplasia: a comparative review. Journal of Small Animal Practice, v. 7, n. 11, p. 673-688, 1966. 08-ALEXANDER, J. W. The pathogenesis of canine hip dysplasia. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 22, n. 3, p. 503-511, 1992. 09-KRIEGER, H. Índice de hereditariedade. In: CROW, J. F. Fundamentos de genética: livros técnicos e científicos. Rio de Janeiro, 7. ed., p. 193-202, 1978. 10-LEIGHTON, E. A. ; LINN, J. M. ; WILLHAM, R. L. ; CASTLEBERRY, M. W. A genetic study of canine hip dysplasia. American Journal of Veterinary Research, v. 38, n. 2, p.241-244, 1977. 11-PHARR, J. W. Canine hip dysplasia: yet another radical view. Veterinary Clinics of North America, v. 8, n. 2, p. 309-315, 1978. 12-ARAÚJO, R. B. ; REZENDE, C. M. F. ; FERREIRA NETO J. M. ; MUZZI, L. A. L. Frequência de displasia coxofemoral em cães da raça Fila Brasileiro. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 49, n. 3, p. 379-383, 1997. 13-TÔRRES, R. C. S. ; FERREIRA, P. M. ; SILVA, D. C. Frequência e assimetria da displasia coxofemoral em cães Pastor-Alemão. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 51, n. 2, p. 153-156, 1999. 14-MCLAUGHLIN Jr. ; TOMLINSON, J. Radiographic diagnosis of canine hip dysplasia. Veterinary Medicine, v. 91, n. 2, p. 36-47, 1996. 15-ALLAN, G. Radiographic signs of joint disease. In: THRALL, D. E. Textbook of veterinary diagnostic radiology, 4. ed. Philadelphia: W. B.
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Doença inflamatória intestinal felina – revisão Feline inflammatory bowel disease – review
Enfermedad inflamatoria intestinal felina – revisión Clínica Veterinária, n. 91, p. 60-68, 2011 Resumo: A doença inflamatória intestinal é uma síndrome decorrente da resposta exacerbada e irregular do trato gastrintestinal a uma estimulação antigênica, mesmo normal. A presença de um determinado estímulo antigênico inicia uma resposta inflamatória exacerbada que se perpetua e amplifica a lesão inicial. Os gatos acometidos apresentam êmese e/ou diarreia crônica, que muitas vezes pode ser intermitente, além de hiporexia ou polifagia, perda de peso e letargia. O tratamento da doença inflamatória intestinal crônica inclui manipulação dietética, suplementação com fibras e administração de fármacos anti-inflamatórios e imunossupressores. É importante que o manejo clínico do paciente seja esquematizado individualmente, com base na correlação entre os sinais clínicos apresentados, os achados laboratoriais e histológicos e a resposta à terapia escolhida. Unitermos: gatos, êmese, diarreia, imunossupressão
Juliana Blanco Bovino MV, residente Depto. Clínica Médica UNIRP-Rio Preto Juliana_blanco@hotmail.com
Felipe Gazza Romão MV, residente Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu fgazza_vet@hotmail.com
Luciene Maria Martinello Leitão MV, residente Depto. Clínica Médica UNIRP-Rio Preto lucienemartinello@hotmail.com
Karina Ferreira de Castro MV, especialista, profa. Depto. Clínica Médica UNIRP-Rio Preto karfc@unirp.edu.br
Ana Silvia Dagnone MV, profa. adj. Depto. Clínica Médica UNIRP-Rio Preto asdagnone@terra.com.br
Carla Daniela Dan De Nardo MV, especialista, profa. Depto. Clínica Médica UNIRP-Rio Preto carladanvt@yahoo.com.br
Abstract: Inflammatory bowel disease is a syndrome resulting from an uncontrolled and exacerbated response of the gastrointestinal tract to normal antigenic stimulation. The presence of a specific antigenic stimulus initiates an uncontrolled inflammatory response that perpetuates and amplifies the initial injury. Affected cats have typically emesis and/or chronic diarrhea, which can often be intermittent, in addition to appetite loss or polyphagia, weight loss and lethargy. The treatment of chronic inflammatory bowel disease includes dietary control, supplementation with fibers and administration of anti-inflammatory and immunosuppressive drugs. It is critical that the clinical management of patients is outlined individually, based on the correlation between clinical signs, laboratory and histological findings, and response to the chosen therapy. Keywords: cats, emesis, diarrhea, immunosuppression Resumen: La enfermedad inflamatoria intestinal es un síndrome resultante de respuesta descontrolada y exacerbada del tracto gastrointestinal a la estimulación antigénica normal, o sea, la presencia de un estímulo antigénico específico inicia una respuesta inflamatoria sin control que perpetúa y amplifica la lesión inicial. Los gatos afectados, usualmente, presentan vómito y/o diarrea crónica, que muchas veces puede ser intermitente, además de pérdida de apetito o polifagia, pérdida de peso y letargo. El tratamiento de la enfermedad inflamatoria intestinal crónica incluye manipulación de la dieta, la suplementación con fibra y la administración de fármacos antiinflamatorios e inmunosupresores. Es fundamental que el manejo clínico de los pacientes sea esbozado de forma individual, basado en la correlación entre los signos clínicos presentados, los hallazgos de laboratorio e histológicos y la respuesta a la terapia elegida. Palabras clave: gatos, emesis, diarrea, inmunosupresión
Introdução A inflamação idiopática do trato digestório dos felinos é reconhecida desde 1970, quando foram relatados casos de gatos com colite ulcerativa e colite histiocítica. Entretanto, há mais de vinte anos os termos linfocítico-plasmocítica e doença inflamatória intestinal começaram a ser utilizados, devido ao aumento do diagnóstico da doença 1. A doença inflamatória intestinal (DII) é uma importante causa de problemas digestórios crônicos no gato. O conhecimento sobre essa doença progrediu muito durante os últimos quinze anos devido o desenvolvimento da ultrassonografia, da endoscopia e da colonoscopia 2. 60
A DII é um grupo de doenças de origem idiopática, caracterizado por sinais clínicos persistentes ou recorrentes do trato gastrintestinal dos felinos, como êmese e/ou diarreia, com evidência histológica de inflamação na mucosa intestinal 3. A avaliação histopatológica do intestino é necessária para se obter o diagnóstico definitivo, porém, antes de realizar a biópsia, deve-se excluir doença intestinal de origem anatômica como obstrução, doença extraintestinal como hipertireoidismo, insuficiência renal e diabetes melito, e outras causas conhecidas de inflamação intestinal como, por exemplo, a giardíase 4. O infiltrado de células inflamatórias
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pode ser difuso ou envolver principalmente o estômago, o intestino delgado ou o cólon 5. A DII é classificada histologicamente como linfocíticoplasmocítica, eosinofílica, neutrofílica ou granulomatosa, dependendo da resposta inflamatória predominante, sendo a forma linfocítico-plasmocítica a mais observada em felinos 5. As lesões da enterite linfocítico-plasmocítica são graduadas em leve, moderada e severa. O grau leve consiste em infiltrado difuso de leve a moderado de linfócitos e plasmócitos com epitélio normal, e sem a presença de fibrose ou edema na mucosa. O grau moderado ocorre quando há um infiltrado celular moderado com leve edema e fibrose da mucosa, além da presença de vilos delgados com criptas irregulares. O grau severo consiste em infiltrado intenso de linfócitos e plasmócitos com variável erosão epitelial, edema de moderado a severo e fibrose dos vilos 6. As camadas musculares e a serosa na maioria das vezes não apresentam envolvimento significativo 7. Há evidências de que a enterite linfocítico-plasmocítica pode recidivar como linfoma intestinal difuso após anos de uma boa resposta à terapia medicamentosa; por isso, a doença inflamatória intestinal pode ser considerada uma lesão pré-cancerígena 8. A enterite eosinofílica é caracterizada por infiltrado de eosinófilos difuso ou focal em uma ou mais camadas do trato alimentar; o estômago, intestino delgado e o cólon podem estar envolvidos 9. A enterite granulomatosa é uma forma rara de DII caracterizada por inflamação granulomatosa transmural, principalmente no íleo e no cólon, resultando em espessamento regional da parede intestinal. Ao exame histopatológico, observa-se fibrose, ulceração e agregados de células epitelioides, células gigantes e eosinófilos. Os linfonodos regional e mesentérico adjacentes podem estar envolvidos 5. A síndrome hipereosinofílica é um severo tipo de DII que envolve a infiltração maciça de eosinófilos no trato alimentar, assim como em outros órgãos, como fígado, baço, linfonodos, rins e coração. É uma condição rara e com mau prognóstico, e em alguns gatos a condição assemelha-se a uma doença mieloproliferativa ou leucêmica 5,9. Incidência A DII é uma causa comum de êmese e diarreia crônica em gatos, mas a verdadeira incidência ainda é desconhecida. Tem sido observada em felinos de meia idade e pacientes geriátricos, sem aparente predisposição racial 7,10. Não há predisposição sexual e gatos de raça pura podem ter um risco maior quando comparados com animais sem definição racial 5. Apesar de essa doença poder, potencialmente, acometer qualquer raça, alguns relatos sugerem que os gatos da raça siamesa têm mais predisposição para adquiri-la 10. Sinais clínicos Êmese e diarreia são os sinais clínicos mais comuns, entretanto, os sinais apresentados estão correlacionados com a região afetada do trato gastrintestinal. Os sinais gástricos serão mais comuns se a inflamação estiver presente na mucosa gástrica ou na porção inicial do intestino delgado, ao
passo que a diarreia pode ser resultado de inflamação do cólon ou da evolução da doença no intestino delgado. A presença de hematêmese, hematoquezia ou melena está associada à severidade da doença, especialmente com infiltrado inflamatório eosinofílico 10. Os episódios eméticos podem ocorrer de forma aguda, intermitente ou crônica 8. O vômito intermitente é o sinal clínico mais comum, podendo durar semanas, meses ou anos e geralmente está associado a náuseas 6. O vômito frequente com tricobezoares pode ser um sinal da DII, pois a inflamação do intestino delgado reduz a motilidade gástrica e intestinal, dificultando a movimentação normal de pelos através do trato gastrintestinal 11. A diarreia associada à doença tem uma patogênese complexa. O processo inflamatório do intestino delgado resulta no aumento de fluidos e eletrólitos no lúmen intestinal. As células inflamatórias acumuladas resultam no aumento da permeabilidade e na liberação de mediadores inflamatórios como as citocinas, que podem causar danos e atrofia dos vilos e provocar ainda a má absorção de nutrientes 6. A hipomotilidade intestinal, má absorção e obstrução parcial devido a inflamação levam ao supercrescimento bacteriano, que pode contribuir com a diarreia. A causa da hipomotilidade não está clara, mas pode ser decorrente do efeito direto de mediadores como as prostaglandinas ou leucotrienos no músculo liso, ou do efeito indireto desses mediadores no sistema nervoso entérico 6. Em alguns casos, a diarreia irá ocorrer somente após um episódio de estresse 9. O primeiro passo para classificar a doença é caracterizar se a diarreia tem origem no intestino delgado, no intestino grosso ou em ambos. A diarreia do intestino delgado é caracterizada por grande quantidade de fezes pastosas ou aquosas. A esteatorreia pode ser evidente e os casos crônicos são acompanhados de perda de peso e fraqueza. Em contraste, a diarreia do intestino grosso em gatos é caracterizada por fezes consistentes, com muco e estrias de sangue, além de tenesmo e defecação em lugares isolados ou não habituais 9. Na maioria dos casos, o principal sinal clínico é a diarreia do intestino grosso com presença de hematoquezia, muco nas fezes e tenesmo 12. Alguns pesquisadores relataram que em catorze gatos com envolvimento do intestino delgado foram observados êmese e perda de peso em dez animais, e diarreia com menos frequência, tendo sido observada em apenas sete gatos. Em catorze gatos com envolvimento do intestino grosso observou-se hematoquezia, enquando que a diarreia foi menos frequente, presente em onze animais 1. O apetite dos pacientes acometidos é bem variável; pode não haver nenhum tipo de alteração, porém podem-se observar extremos como anorexia ou polifagia. Frequentemente, períodos de inapetência, hiporexia, êmese e apatia intercalam-se com momentos de normalidade 7. Gatos com a doença em grau de moderado a severo podem apresentar letargia e anorexia 9. Nos casos severos, é possível observar perda de peso com consequente hipoproteinemia e ascite 10. Quando se constata hipoproteinemia, deve-se também suspeitar de doença hepática, devido à produção reduzida de albumina, à perda crônica de sangue ou a um linfossarcoma intestinal responsável
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por má-absorção proteica 11. Há casos em que o processo inflamatório se estende além do trato gastrintestinal e acomete outros órgãos, como o fígado e o pâncreas, sendo conhecido como tríade. Esses gatos podem apresentar sinais clínicos atribuídos a esses órgãos, que podem incluir ou não vômito e diarreia 8. Outros sinais observados em comprometimento do cólon são flatulência, borborigmos, halitose, poliúria, polidipsia e mudanças comportamentais, como excitação e agressividade 7. A sintomatologia se caracteriza por ser cíclica, marcada por exacerbações e remissões espontâneas dos quadros clínicos – alternância essa não associada aos tratamentos realizados. As diferentes manifestações clínicas podem ser explicadas pela importante variação da gravidade e pela extensão das respostas aos estímulos antigênicos que ocorrem mediante o influxo de células inflamatórias na mucosa 7. Observaram-se doenças dermatológicas concomitantes, como dermatite miliar, prurido e alopecia, em quatro gatos de dezesseis animais com alterações gastrintestinais causada por alergia alimentar. Em contraste, observaram-se sinais dermatológicos associados a gatos sem alergia alimentar, porém com sinais clínicos gastrintestinais, em 15% de 39 animais avaliados 13. Patogenia A função da barreira da mucosa intestinal é proteger o animal contra os patógenos luminais ou antígenos. Inúmeros mecanismos estão envolvidos, mas a barreira é sustentada pelo tecido linfoide associado à mucosa (TLAM). O TLAM constitui 25% da massa da mucosa; estima-se que contém mais imunócitos do que qualquer sistema orgânico, e secreta a principal imunoglobulina (Ig), IgA, que desempenha um papel decisivo na defesa contra patógenos e mantém a tolerância contra antígenos bacterianos e alimentares inofensivos 4. Existe um delicado equilíbrio entre a mucosa intestinal e a barreira da mucosa, separando as células do TLAM da microbiota intestinal, que representa um importante desafio antigênico 10. É provável que na DII ocorra uma alteração na homeostasia do TLAM, pois anormalidades na barreira intestinal, na microbiota intestinal e/ou no próprio TLAM podem levar ao desenvolvimento da inflamação crônica da mucosa 3. A sequência de fatores pode assim ser descrita: primeiro, a ruptura da barreira da mucosa permite um aumento na passagem de antígenos através da mucosa e pode induzir a uma inflamação. Segundo, a resposta imune desregulada, especialmente envolvendo células T CD4+, poderia induzir ao desenvolvimento de uma inflamação descontrolada. Finalmente, em certas circunstâncias, a presença de alguns antígenos no lúmen intestinal também podem influenciar o desenvolvimento e a severidade da inflamação da mucosa 10. Enquanto esses mecanismos são citados na DII de animais de companhia, as pesquisas realizadas ainda são limitadas 10. A explicação mais aceitavél do distúrbio imune na doença inflamatória intestinal é uma falha na regulação do sistema imune que confere tolerância aos antígenos comuns. As proteínas originadas da dieta e da microbiota intestinal representam os antígenos mais incriminados nesse processo. 62
A resposta terapêutica dos gatos com DII à dieta de eliminação e a antibióticos, com ou sem agentes imunossupressores, apontam para a participação de antígenos dietários e bacterianos no processo 12. Ainda não foi identificado um agente etiológico, mas alguns autores sugerem que a DII em seres humanos resulta de interações complexas entre a suscetibilidade do hospedeiro, a imunidade da mucosa e a microbiota entérica. Em animais susceptíveis, pode ser decorrente de uma alteração na resposta imune da mucosa às bactérias entéricas 14. Diagnóstico Nos gatos suspeitos é importante fazer o diagnóstico diferencial com o vírus da leucemia e da imunodeficiência felina por meio de testes sorológicos, endoparasitas, hipertireoidismo, diabetes melito e insuficiência renal. Deve-se realizar, portanto, hemograma, bioquímica sérica, urinálise, concentração sérica de T4 livre, exame direto das fezes e flutuação fecal 1. Os três maiores diagnósticos diferenciais que devem ser considerados em pacientes com suspeita de doença do intestino delgado são linfoma alimentar, intolerância ou alergia alimentar. Os dois últimos são os principais diferenciais em gatos com doença de intestino grosso, embora a colite por infecção por Clostridium sp também possa ser comum 1. O exame físico pode auxiliar no diagnóstico diferencial, mas raramente ajuda no diagnóstico definitivo da DII, pois contribui ao constatar o espessamento das alças intestinais; porém, é uma avaliação subjetiva que, mesmo presente, pode ser decorrente de outras doenças, como o linfoma 1. Muitas vezes as alterações encontradas nos exames laboratoriais de rotina são inconsistentes, mas há relatos de alguns casos de leucocitose geralmente associada à neutrofilia e de aumento moderado de enzimas hepáticas 12. A causa do aumento da enzima alanina-aminotransferase (ALT) é desconhecida, mas isso pode ocorrer devido a alterações nos hepatócitos secundários à absorção de toxinas bacterianas e de metabólitos na doença intestinal, devido à alteração da permeabilidade da mucosa 1. Podem-se observar outras alterações como anemia não regenerativa discreta, hiperglicemia, leve hipoproteinemia, hipoglobulinemia ou hiperglobulinemia e hipocalemia 8. A hiperglobulinemia tem sido atribuída ao estímulo crônico do sistema imune 5. O exame coproparasitológico é importante para descartar outras causas de inflamação da mucosa, como infestação por nematoides (Trichuris, Uncinaria, Ancylostoma, Strongyloides), protozoários (Giardia sp) ou infecção bacteriana (Salmonella sp, Campylobacter sp ou Clostridium sp). O Tritrichomonas foetus foi descrito como uma importante causa de diarreia em gatos 10. A radiografia abdominal deve ser realizada para excluir doença intestinal obstrutiva 11. A radiografia contrastada, quando realizada corretamente, pode detectar algumas lesões focais, como irregularidade difusa na mucosa ou espessamento de segmentos intestinais 1,9, além de alterações do diâmetro das alças, nodulações que sugerem linfoadenopatia mesentérica e retardo no trânsito do bário, porém essas alterações não são específicas da DII 7. A ultrassonografia permite assegurar que o fígado, as vias
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biliares e às vezes o pâncreas não apresentem lesões 2. O exame ultrassonográfico geralmente é útil, pois pode revelar nódulos, linfadenopatia e espessamento intestinal localizado, que pode não ser detectado durante a palpação ou a radiografia abdominal 1. Podem-se observar intestinos espessados ou linfoadenopatia mesentérica no linfoma alimentar difuso ou na DII severa 15. O espessamento transmural hipoecoico com perda da aparência das camadas normais pode ser particularmente sugestivo de linfoma 1. A ultrassonografia também ajuda o clínico a decidir entre a endoscopia ou a laparotomia exploratória para a realização da biópsia 15. Os achados encontrados mais consistentes são alterações na ecogenicidade, espessamento e definição pobre das camadas da parede intestinal e aumento dos linfonodos mesentéricos 7; porém, esses achados podem ser interpretados como sugestivos de linfoma alimentar 1. A endoscopia é um exame complementar pouco invasivo, porém é mais limitado pelo fato de que as amostras obtidas para o exame histopatológico são superficiais, e o endoscópio, na maioria dos casos, alcança somente o intestino delgado proximal 10. Já a colonoscopia é uma ferramenta muito útil no diagnóstico de diarreia do intestino grosso 16. A mucosa do felino com DII pode variar de normal a levemente eritematosa, com diversos graus de irregularidade e erosão. A mucosa irregular pode estar semelhante a fissuras ou relembrar a textura de um paralelepípedo em casos mais
avançados. A mucosa também pode estar friável e sangrar ao contato direto com o endoscópio 9. Na mucosa do cólon podem ser observadas petéquias ou superfície granular recoberta por estrias de muco, menor visualização dos vasos da submucosa e, ocasionalmente, erosões e/ou ulcerações 5. As informações a respeito das anormalidades encontradas na mucosa de gatos com DII são limitadas. Uma pesquisa indicou que o aumento da granulação, da friabilidade e a presença de erosão foram as lesões predominantes, mas estão presentes em menos da metade dos gatos acometidos 17. Em 15 de 26 gatos as lesões da mucosa são observadas somente microscopicamente, portanto, a aparência de um exame endoscópico normal não exclui a doença 5. No exame histopatológico, as alterações são inespecíficas e não há um critério, apesar de o grau de severidade ser amplamente utilizado 12. A presença de células inflamatórias no exame histopatológico intestinal não confirma necessariamente o diagnóstico presuntivo de DII. O critério de avaliação deve incluir o aumento da população de plasmócitos e linfócitos; entretanto, deve haver alterações na estrutura da mucosa, como atrofia ou fusão dos vilos, separação das criptas com edema, infiltrado celular e fibrose 8. As células inflamatórias podem estar presentes em número aumentado como uma resposta normal a vários fatores estimulantes, como o hipertireoidismo, antígenos alimentares, neoplasia do trato gastrintestinal e diversos agentes
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infecciosos, incluindo bactérias, vírus e parasitas 9. Pode haver mais de uma linhagem celular, o que permite uma classificação mista 7. Há algumas limitações no diagnóstico histopatológico se este for realizado com base em biópsias coletadas por meio de endoscopia. As amostras podem ser pequenas e dificultam a avaliação, o que pode comprometer a avaliação da arquitetura da mucosa, dificultando a diferenciação entre DII severa e linfoma 12. A laparotomia exploratória é, talvez, mais apropriada em gatos devido à tendência do envolvimento de diversos órgãos 10. Tratamento Um teste dietético deve ser conduzido em gatos com suspeita de DII antes da administração de drogas imunossupressoras, imunomoduladoras e antibióticos. Se ocorrer remissão dos sinais clínicos somente com uma nova proteína na dieta, o diagnóstico de sensibilidade alimentar é mais apropriado do que o de DII. Uma vez que a doença tenha remissão por no mínimo seis semanas, realiza-se o teste de eliminação que envolve a adição de um novo ingrediente na dieta a cada uma ou duas semanas e se algum efeito adverso é observado, o novo ingrediente é eliminado da dieta 18. A manipulação dietética é o primeiro passo crítico no manejo da DII em gatos. Dietas com novas proteínas são indicadas para evitar a exposição do sistema imune da mucosa intestinal a substâncias pelas quais tenha sido previamente sensibilizado 15. Dietas caseiras de eliminação podem ser constituídas de carne de carneiro, cabrito, coelho ou frango, queijo cottage, arroz, batata e/ou macarrão com adição de óleo vegetal, vitaminas do complexo B, vitamina K, fosfato dicálcico e taurina 7. O objetivo terapêutico na DII é remover a fonte antigênica de inflamação e suprimir a resposta inflamatória mediada por células. Dietas com alta digestibilidade podem ser benéficas porque os nutrientes são absorvidos no intestino delgado proximal, permitindo o repouso do intestino e minimizando o risco de diarreia osmótica secundária à má absorção 18. A dieta apropriada para felinos com DII ainda não foi determinada em estudos controlados e as recomendações atuais são baseadas no senso comum e em evidências empíricas. Uma dieta com alta digestibilidade, com micronutrientes balanceados e com restrição de gordura, é usualmente recomendada. Os gatos podem se beneficiar mais do que os cães da restrição de carboidratos, pois a capacidade de digestão nessa espécie é menor 3. Mais da metade dos gatos com sinais do trato gastrintestinal responderão à dieta de eliminação com dieta caseira ou ração comercial específica de eliminação durante três a sete dias 13. As dietas com proteínas hidrolizadas são uma alternativa e se baseiam em tratamento químico que gera proteínas de baixo peso molecular 3. Os sinais clínicos de alergia alimentar em gatos podem ser resolvidos rapidamente com a dieta de eliminação. O vômito é interrompido imediatamente com a instituição da nova dieta e a diarreia é resolvida na maioria dos gatos em três a quatro dias 13. Seis gatos com colite linfocítica-plasmocítica responderam 64
à dieta de eliminação. Após dois dias, cinco gatos alimentados com cordeiro e arroz não apresentaram mais sinais clínicos, sendo que quatro desses permaneceram em remissão com a ração Prescrition Diet c/d. O sexto gato não respondeu à dieta caseira com carne de cordeiro e arroz e à ração comercial, mas foi tratado com sucesso com uma dieta à base de carne de cavalo 5. Uma vez que a doença tenha remissão por no mínimo seis semanas, realiza-se o teste de eliminação que envolve a adição de um novo ingrediente na dieta a cada uma ou duas semanas e se algum efeito adverso é observado, o novo ingrediente é eliminado da dieta 18. O aumento de fibras na dieta pode ser benéfico em gatos com DII colônica devido ao aumento na motilidade, à diluição de toxinas no lúmen e ao aumento da absorção de fluído e eletrólitos. As fibras solúveis são fermentadas em ácidos graxos de cadeia curta que nutrem os colonócitos e inibem o crescimento de bactérias patogênicas 18. Em casos de colite em que o paciente rejeite a dieta com alto teor de fibras, pode-se administrar uma dieta hipoalergênica com suplementação de Psyllium na dose de duas colheres de chá por refeição ou farelo de aveia na dose de uma colher de sobremesa por refeição 7. O exame coproparasitológico para o diagnóstico de giardíase tem grande possibilidade de ser falso-negativo, portanto, os animais devem ser tratados para a exclusão dessa causa 7. Inicialmente, o fenbendazol na dosagem de 50mg/kg a cada 24 horas, durante três dias, deve ser administrado para eliminar a possibilidade de infestação oculta de endoparasitas, como a Giardia intestinalis 10. Como alternativa terapêutica, recomenda-se furazolidona na dosagem de 4mg/kg por via oral a cada doze horas, por sete dias, ou albendazole na dosagem de 25mg/kg, a cada doze horas, durante três dias 7. O metronidazol tem propriedades antiprotozoária, antibacteriana e modula a imunidade celular. A dose utilizada na DII é menor do que a administrada no tratamento da giardíase. Como a Giardia spp é uma das causas de doença intestinal e pode se tornar resistente ao metronidazol em baixas doses, a giardíase deve ser descartada antes de se iniciar o tratamento 18. A eficácia do metronidazol pode não estar somente relacionada com a atividade antibacteriana, mas sim com seus efeitos imunomodulatórios 10. A dosagem do metronidazol é de 10 a 20mg/kg, duas vezes ao dia, durante vários meses, e quando a terapia combinada é necessária, esse antibiótico é a primeira escolha para ser associado à prednisona. Se o animal for hepatopata, a dose do antibiótico deve ser reduzida para 7,5mg/kg, a cada doze horas 8,9. Pacientes com colite normalmente respondem bem à terapia com metronidazol associado à alteração dietética 7. A tilosina é um antibiótico macrolídeo que tem sido utilizado com sucesso em cães com DII e auxilia no manejo de felinos com a mesma afecção 18. A dose da tilosina é de 10 a 20mg/kg, misturada ao alimento, a cada doze horas 5. A sulfasalazina é utilizada em DII colônica porque alcança o cólon intacto, e as bactérias presentes liberam 5-aminosalicilato do fármaco, responsável pela inibição da atividade da lipo-oxigenase, o que leva à redução da síntese de leucotrienos. Os gatos são mais propensos aos efeitos
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colaterais desse fármaco, mas a toxicidade pode ser minimizada com doses menores e tratamento de curta duração 18. A sulfasalazina é indicada em quadros de colite refratários e é administrada na dosagem de 10 a 20mg/kg, a cada 12 ou 24 horas, por no máximo dez dias, devido à toxicidade do salicilato para essa espécie 7,18. Os efeitos colaterais comuns da sulfasalazina são alterações hematológicas, erupção cutânea, lesões hepáticas e ceratoconjuntivite seca 2. Em gatos não responsivos à mudança dietética, a terapia imunossupressora é o tratamento de eleição. A prednisona ou a prednisolona são indicadas em pacientes com sinais clínicos moderados a severos e com evidência histopatológica de enterite linfo-plasmocítica ou eosinofílica. A terapia com glicocorticoides deve ser acompanhada pela dieta de alta digestibilidade com uma fonte proteica nova ou hidrolisada 15. Aproximadamente 85% dos pacientes respondem favoravelmente aos esteroides, dos quais 20% terão completa resolução dos sinais 11. A maioria dos gatos responde à prednisona dentro de uma a duas semanas de tratamento 7. Em sinais clínicos leves a moderados normalmente respondem à prednisona na dose inicial de 1 a 2mg/kg dividida em duas vezes ao dia por duas a quatro semanas, seguidas por uma redução gradual de 50% a intervalos de duas semanas. Em inflamação leve usualmente respondem bem à prednisona em baixas doses e em dias alternados ou a cada três dias por dois a três meses; ocasionalmente, o tratamento pode ser descontinuado entre três a seis meses 9. A prednisolona oral pode ser administrada em pacientes com insuficiência hepática em vez da prednisona 18. A dose da prednisolona é de 2,2 a 4,4mg/kg, uma vez ao dia 1. O acetato de metilprednisolona pode ser administrado em gatos que não toleram ou não permitem a terapia oral. Pode ser utilizado na dose de 20mg/gato, realizando-se três aplicações a cada duas semanas 11. A dexametasona na dose de 0,5mg/kg, por via oral a cada 24 horas, pode ser útil em animais que não apresentam boa resposta ao aumento da dose de prednisona 9. Os pacientes, embora isso não seja um fato comum, podem apresentar efeitos colaterais à terapia de longa duração por glicocorticoides, como o diabetes melito, o hiperadrenocorticismo iatrogênico e a infecção do trato urinário 1. Gatos com a síndrome hipereosinofílica devem ser tratados com prednisona na dose de 3,3 a 4,4mg/kg, a cada doze horas, por duas a quatro semanas, com redução da dosagem em seguida, já que essa síndrome responde muito mal ao tratamento com glicocorticoides 5,9. Se a remissão dos sinais clínicos não for obtida com a associação de corticoide e metronidazol, deve-se adicionar azatioprina ao tratamento; na dose de 0,3mg/kg em dias alternados, ou 0,4 a 0,5mg/kg caso não ocorra melhora dentro de três a cinco semanas de tratamento. O tratamento deve ser realizado por um período longo de três a seis meses, e alguns gatos podem ter leucopenia grave reversível, ou quadros de hepatite e pancreatite 7,9. Uma das vantagens do uso da azatioprina associada à prednisona é a possibilidade da diminuição da dose do glicocorticoide, além de ser um tratamento imunossupressivo mais efetivo para a remissão da doença. Devido à mielotoxicidade, os animais tratados com essa droga devem ser monitorados 66
periodicamente com hemograma 5. Uma alternativa à azatioprina é o clorambucil na dose de 2 a 6mg/m2, por via oral, a cada 24 horas. Os efeitos colaterais do clorambucil podem ser deletérios e os parâmetros hematológicos devem ser monitorados regularmente para evitar o desenvolvimento de supressão da medula óssea. Uma vez obtida a remissão dos sintomas, tanto as doses de corticoides como as de imunossupressores devem ser gradualmente reduzidas 3. A vantagem do protocolo de prednisona associada ao clorambucil é que essa combinação é comumente utilizada no linfoma alimentar; portanto, nos casos em que não é possível a distinção histopatológica entre doença inflamatória intestinal e o linfoma alimentar, esse tratamento deve ser escolhido 3. A budesonida é outra opção de droga imunossupressora, que possui metabolização hepática, na qual 90% da substância é convertida em metabólito com baixa atividade corticosteroide e, consequentemente, apresenta poucos efeitos colaterais sistêmicos. A dosagem é de 3mg/m2 diariamente 12,18. A ciclosporina deve ser a terceira opção como imunossupressor para os felinos com DII. Esse fármaco pode induzir raramente o desenvolvimento de toxoplasmose clínica devido à reativação dos bradizoítas; portanto, é aconselhável realizar o exame de sorologia para toxoplasmose antes de iniciar o tratamento 10. A ciclosporina é utilizada na dose de 1 a 4mg/kg, a cada doze horas, sendo também efetiva em gatos refratários. Porém, a relativa eficácia da ciclosporina comparada ao clorambucil como terapia de segunda opção ainda não foi avaliada 12,15. A concentração sérica de folato e cobalamina é afetada pela absorção intestinal, e um quadro de enterite pode resultar em concentração subnormal dessas substâncias. Evidências sugerem que tais deficiências podem ser responsáveis pela resposta inefetiva à terapia imunossupressora 10. Em torno de 70% dos gatos com DII apresentam concentração reduzida de cobalamina sérica, devido à má absorção secundária à doença gastrintestinal. Os sinais de deficiência dessa vitamina em gatos não estão bem definidos, mas sabese que ocorrem alterações na permeabilidade da mucosa gastrintestinal e na função de absorção das células. Os animais com doença gastrintestinal respondem menos à terapia se não forem suplementados com cobalamina 17. A cobalamina promove ganho de peso, aumento de apetite e reduz o vômito e a diarreia em gatos afetados 15. Pode ser administrada na dose de 250µg por via subcutânea, a cada sete dias, por seis semanas; depois desse período, pode-se utilizá-la a cada duas semanas por seis semanas e a seguir mensalmente 11. Os probióticos são definidos como microrganismos não patogênicos, como as espécies de Lactobacillus, Enterococcus faecium, Bifidobacterium e Saccharomyces, que se aderem à mucosa intestinal, enquanto os prebióticos são ingredientes alimentares não digeríveis, como as fibras solúveis e o Psyllium, que promovem o crescimento de certas bactérias no intestino por meio da sua fermentação em ácidos graxos de cadeia curta, responsáveis pela nutrição das células do cólon 15. O uso de prebióticos e probióticos para modificar a população bacteriana intestinal pode reduzir a inflamação intestinal; entretanto, uma avaliação rigorosa deste tipo de terapia em
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humanos e animais com DII ainda não foi realizada 19. As bactérias do cólon têm a função de prevenir a colonização de microrganismos patogênicos e de fermentar as fibras dietéticas, resultando na produção de ácidos graxos de cadeia curta, que são uma fonte de energia para as células colônicas. Por este motivo, as dietas ricas em fibras e os ácidos graxos reduzem a severidade e cronicidade da colite. Os ácidos graxos poliinsaturados e ômega 3 são outras opções de terapia adjuvante, pois seus componentes reduzem a geração de leucotrienos e previnem os defeitos na permeabilidade intestinal 15,20. A suplementação destas substâncias ainda não foi avaliada em gatos, mas observou-se que humanos com DII que receberam óleo de peixe apresentaram menor recidiva dos sintomas 18. Prognóstico O prognóstico da DII é bom quanto ao controle adequado dos sinais clínicos, mas é pobre em relação à cura. Em torno de 80% dos gatos tratados com dieta e prednisona têm uma resposta positiva ao tratamento; porém, o prognóstico é reservado quando as lesões histopatológicas são severas, como ocorre na enterite eosinofílica ou na síndrome hipereosinofílica 18. Os pacientes que apresentam quadros gastrentéricos crônicos podem vir a óbito 7. Considerações finais É necessário que o clínico compreenda que a identificação de células inflamatórias no exame histopatológico não garante o diagnóstico definitivo da doença intestinal inflamatória. Portanto, ao abordar gatos com estes sinais clínicos, deve-se descartar as doenças que mimetizam essa patologia, em vez de realizar um diagnóstico presuntivo precoce dessa doença. A manipulação dietética e os glicocorticoides são o tratamento de eleição na maioria dos casos, mas outras opções têm sido reportadas para auxiliar o clínico no tratamento e no controle da DII, como azatioprina, clorambucil, ciclosporina, probióticos, fibras solúveis e ácidos graxos, que podem ser utilizados como terapia adjuvante. Referências 01-WILLARD, M. D. Feline inflammatory bowel disease: a review. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.1, p.155-164, 1999. 02-ZENTEK, J. ; FREICHE, V. Principales maladies intestinales et approche nutritionnelle spécifique. Disponível em: http://www.ivis.org/advances/ rcfeline_fr/A5203.0309.FR.pdf#nameddest=9. Acesso em: 10 Mar 2010. 03-GERMAN, A. J. Update on the medical management of feline inflammatory bowel disease. In: NORTH AMERICAN VETERINARY CONFERENCE,
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Degeneração retiniana associada ao enrofloxacino em gato persa Enrofloxacin-associated retinal degeneration in a Persian cat
Degeneración retiniana asociada a la enrofloxacina en gato Persa Clínica Veterinária, n. 91, p. 70-76, 2011 José Luis Laus MV, PhD, prof. tit. Depto. Clínica e Cirurgia Veterinária FCAV/Unesp-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br
Alexandre Pinto Ribeiro MV, mestre, dr., pós-doutorando FCAV/Unesp-Jaboticabal alexandre.aleribs@gmail.com
Miguel Ladino Silva MV, mestre, doutorando FCAV/Unesp-Jaboticabal mladinos@hotmail.com
Dunia Yisela Piso MV, mestre duniatrujillo@gmail.com
André Luiz Baptista Galvão MV, mestre, doutorando FCAV/Unesp-Jaboticabal galvao.andre@hotmail.com
Ivan Ricardo Martinez Padua MV, mestre, doutorando FCAV/Unesp-Jaboticabal ivanrimarpa@gmail.com
Carolina Camargo Zani Médica veterinária, residente FCAV/UNESP-Jaboticabal carolina_zani_87@hotmail.com
Resumo: Reconhece-se o enrofloxacino como fármaco capaz de induzir degeneração retiniana em felinos, quando utilizado em doses acima de 5mg/kg a cada 24 horas. Admite-se que a incidência de toxicidade retiniana seja de 1 entre 122.414 casos. Embora descrita na literatura internacional, ainda não se reportou no Brasil nenhuma documentação científica dessa afecção. No presente relato, descrevem-se os sinais clínicos e eletrorretinográficos de degeneração retiniana aguda em um gato persa de nove anos que vinha sendo tratado com enrofloxacino (5mg/kg a cada doze horas) por doze dias, devido a quadro prévio de cistite intersticial. O diagnóstico diferencial foi estabelecido com base no histórico, nos sinais clínicos gerais, oftálmicos e eletrorretinográficos. Há, portanto, que se ter cautela ao prescrever enrofloxacino para gatos. Unitermos: hiperreflexia tapel, cegueira, fluoroquinolona, eletrorretinografia Abstract: Enrofloxacin doses higher than 5 mg/kg per 24h may induce retinal degeneration in cats. Retinal toxicity occurs in 1 per 122,414 treated cats. Although this affection is well documented internationally, there are as yet no reports of its occurrence in Brazil. We hereby describe the clinical and electroretinographic aspects of an acute onset retinal degeneration in a 6-year-old male Persian, which underwent a 12-day enrofloxacin treatment (5 mg/kg each 12 h) for interstitial cystitis. Differential diagnosis was established based upon history, as well as general clinical, ophthalmic and electroretinographic signs. Clinicians should be therefore cautious when prescribing enrofloxacin to cats. Keywords: tapetal hyperreflectivity, fluoroquinolone, blindness, electroretinography Resumen: La enrofloxacina es un reconocido fármaco capaz de generar degeneraciones en la retina de felinos, cuando las dosis utilizadas son superiores a los 5 mg/kg q24h. La incidencia de la toxicidad retiniana se encuentra reportada en 1 entre 122.414 casos. Aunque ha sido reportada en la literatura internacional, documentación científica sobre esta afección, nunca había sido obtenida en el Brasil. En el presente relato de caso, fueron descritos los hallazgos clínicos y electrorretinográficos de una degeneración de retina aguda en un gato Persa de 9 años de edad, que estaba siendo tratado con enrofloxacina (5 mg/kg q12h), durante 12 días, por un cuadro previo de cistitis intersticial. El diagnóstico diferencial fue establecido con base en la historia previa, los síntomas clínicos generales y oftálmicos, y por la electrorretinografía. Por ende, es necesario tener precaución al prescribir enrofloxacina a gatos. Palabras clave: hiperreflexia tapetal, ceguera, fluoroquinolona, electrorretinografía
Introdução Reações adversas a fármacos, com repercussão na retina, são condições infrequentes na oftalmologia veterinária de pequenos animais 1. Em cães, mesmo em doses terapêuticas recomendadas, a ivermectina pode ensejar casos de cegueira temporária ou permanente, por causar edema e dobras na retina 2,3. Fármacos como a difeniltiocarbazona, a hidroxipridinetiona (quelante de zinco), o antimalárico natural quinina, o antiparasitário closantel e os antimicrobianos azalida e o etambutol produzem alterações reversíveis na coloração do fundo tapetal, edema de disco óptico, constrição das arteríolas retinianas, vacuolização de células do Tapetum lucidum, 70
morte de células ganglionares da retina e cegueira irreversível em cães 4-8. Em gatos, o uso experimental do difosfato de cloroquina (antimalárico sintético) na dose de 1,5 a 6mg/kg/dia causa retinopatia caracterizada pelo aumento na pigmentação do fundo ocular “retina salpicada”, decorridas quatro a sete semanas do início da terapia 9. O enrofloxacino é um antibiótico pertencente à classe das fluoroquinolonas, amplamente utilizado em medicina veterinária. Seu uso em gatos foi aprovado em 1990, na dosagem de 2,5mg/kg. Após estudos comprovarem tratar-se de fármaco seguro, sua margem terapêutica se tornou mais flexível,
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com doses variando de 5 a 20mg/kg, a cada 24 horas, ou em doses fracionadas de acordo com as exigência da doença em questão 1. Embora a associação entre degeneração de retina e o uso de enrofloxacino em gatos já houvesse sido apontada em 1999 10, apenas em 2001 o enrofloxacino foi reconhecido como fármaco capaz de ensejar degeneração aguda de retina, após ser utilizado em dezessete gatos, em doses variando entre 4,6 a 27mg/kg, administradas a cada 12 a 24 horas por dois a três dias 1. Em outras espécies, o enrofloxacino não induzia efeitos danosos à retina 11; não obstante, admitiuse a causa de degeneração de retina em um guanaco devido ao uso de enrofloxacino (2,4mg/kg IM a cada 24 horas, por catorze dias) 12. Os sinais de degeneração de retina incluem a midríase, com diminuição ou ausência de reflexos pupilares (direto e consensual) e de ofuscamento 1,11,13-15. As alterações que se processam no segmento posterior provocadas pelo enrofloxacino são típicas de uma degeneração retiniana, com progressão e aparecimento de lesões de forma súbita, diferentemente do que se observa com outras formas mais comuns de doença degenerativa da retina 1,11,13-15. As anormalidades à oftalmoscopia são, geralmente, limitadas ao fundo de olho e incluem hiperreflexia tapetal, com atenuação ou ausência de vasos retinianos, sem qualquer evidência de dor ou de inflamação 1,11,13-15. Na identificação de alterações retinianas agudas induzidas por fármacos ou por outros agentes, a eletrorretinografia é método de exame confiável, que permite identificar alterações nos potenciais elétricos da retina 16. As alterações se expressam, primeiramente, por deflexão negativa (onda A), gerada nos fotorreceptores (cones e bastonetes), seguida de deflexão positiva (onda B), gerada nas células de Müller 16. Na degeneração retiniana por enrofloxacino, as alterações eletrorretinográficas precedem as alterações oftalmoscópicas 15. Embora a literatura atual recomende doses diferentes de enrofloxacino para cães (5 a 20mg/kg, a cada 12 a 24 horas) e para gatos (5mg/kg, a cada 12 a 24 horas), os efeitos colaterais advindos do seu uso, relativamente à degeneração
retiniana na espécie felina, não são abordados 17. Dentre as diversas formulações comerciais à base de enrofloxacina para uso em cães e em gatos registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento 18,19, apenas uma empresa descreve que há risco de alterações visuais em gatos quando se utilizam doses acima de 20mg/kg por mais de quatro semanas 19. Admite-se que a incidência de toxicidade retiniana proveniente do uso clínico da enrofloxacino em gatos seja de 1 entre 122.414 casos 20. Em outros países, dezenove casos de degeneração retiniana já foram descritos 1,12,13. Desconhecese, porém, qualquer publicação no Brasil. Relato de caso Atendeu-se no Serviço de Oftalmologia do Hospital Veterinário Governador Laudo Natel, da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista – Campus de Jaboticabal, um gato castrado da raça persa, de seis anos de idade, com perda da percepção visual de caráter agudo. Segundo o proprietário, o paciente vinha apresentando, havia dois dias, dificuldade em localizar a vasilha de comida e água, batia em obstáculos ao deambular em ambiente conhecido e mantinha as pupilas dilatadas, independentemente do nível de luminosidade local. O proprietário descreveu histórico prévio de obstrução uretral, cistite intersticial e que o animal vinha sendo tratado, havia doze dias, com enrofloxacino, na dose de 5mg/kg, PO, a cada doze horas. O profissional veterinário responsável pelo caso reportou que, ao ser atendido, o animal apresentava histórico de apatia, anorexia, polaciúria, hematúria, vocalização e obstrução uretral em evolução de 72 horas. No exame físico, observouse prostração, mucosas congestas, hipotermia (36 ºC) e desidratação severa. Pela palpação abdominal, percebeu-se bexiga repleta e firme. No exame cardiovascular, aferiu-se frequência cardíaca de 190 batimentos por minuto, com pulso rítmico e regular e pressão arterial média de 130/90mmHg. Outrossim, que o animal havia sido sedado com levomepromazina (0,5mg/kg e 2mg/kg, SC) e anestesiado
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a) Teste de Schirmer®, Ophthalmos, São Paulo, SP b) SL-14®, Kowa, Japan. http://www.kowa.co.jp/eng/index.htm c) Anestalcon®, Alcon do Brasil, São Paulo, SP d) Tonopen®, Medtronics, USA. http://www.medtronicsolan.com e) Dolosal®, cloridrato de meperidina, Cristália, Campinas,SP f) Acepran 0,2%®, cloridrato de acepromazina, Vetnil, Louveira, SP g) Oftalmoscópio binocular indireto - OHC®, São Carlos, SP h) Handheld Multi-species ElectroRetinoGraph®, RetVetCorp, USA. http://www.ocuscience.us/ id77.html
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Discussão Admite-se o uso do enrofloxacino como causa de retinotoxicidade em felinos 1,11,13,15. No paciente do presente relato, a dose utilizada (5mg/kg a cada doze horas) encontrava-se duas vezes acima da dose recomendada para gatos (5mg/kg a cada 24 horas, ou dividida em 2,5mg/kg a cada doze horas). Todavia, a bula do fabricante de uma formulação comercial à base de enrofloxacino cita que apenas doses acima de 20mg/kg, por mais de quatro semanas, podem ensejar alterações visuais em gatos 19. Em um estudo, todos os dezessete pacientes felinos que apresentaram déficit visual estavam sob terapia com enrofloxacino, com doses variando de 4,6mg/kg, a cada doze horas a 27mg/kg, a cada 24 horas 1. Estudos experimentais de toxicidade retiniana em felinos demonstraram que doses cinco (30mg/kg, a cada 24 horas) a dez (50mg/kg, a cada 24 horas) vezes maiores que a dose recomendada para essa espécie promoveram alterações retinianas visibilizáveis à oftalmoscopia, no interregno de três a sete dias 15,22. Clinicamente, reporta-se cegueira após o uso do enrofloxacino em gatos, em períodos que variam de três a quinze dias após o início da terapia 1,11,13. No presente relato, o proprietário notou midríase e déficit visual, decorridos dez dias do início da terapia com enrofloxacino. No único caso de degeneração de retina reportado em um guanaco, os sinais clínicos compatíveis com deterioração visual foram percebidos ao 26º dia do início da terapia com enrofloxacino (2,4 mg/kg, PO, a cada 24 horas, durante quatorze dias) 12. Em um estudo experimental de toxicidade com enrofloxacino em gatos, a diminuição dos potenciais retinianos à eletrorretinografia antecedeu as alterações oftalmoscópicas características de degeneração de retina 15,17. No eletrorretinograma realizado no felino do presente relato, tanto na fase escura quanto na clara não se observaram ondas A e B, caracterizando alterações em cones, bastonetes, na camada nuclear e na camada plexiforme externa da retina, o que corrobora os sinais oftalmoscópicos visibilizados de hiperreflexia tapetal difusa e severa atenuação vascular 15,17. No diagnóstico diferencial de cegueira em felinos, doenças vasculares (retinopatia hipertensiva, síndrome da Alexandre Pinto Ribeiro - Serviço de Oftalmologia Veterinária FCAV/Unesp
com tiletamina/zolazepam (2mg/kg, IV) para desobstrução uretral. Naquela ocasião, o exame hematológico revelava neutrofilia, linfopenia e eosinopenia. Na bioquímica sérica, constatou-se creatinina de 11,66mg/dL, ureia de 233,80mg/dL, potássio de 5,0mEq/L e sódio de 130mEq/L. A urinálise mostrava pH 8, proteína (+++), sangue oculto (++++), leucócitos (++), e no sedimento urinário havia presença de hemácias (incontáveis). O exame ultrassonográfico evidenciou vesícula urinária com parede discretamente espessa, conteúdo intraluminal ecogênico, formador de sombra acústica, característico de sedimento, coágulos ou urólitos. Após desobstrução uretral, o paciente permaneceu sondado por 24 horas e recebeu, além de enrofloxacino, fluidoterapia intravenosa com solução fisiológica (60mL/kg, IV, a cada 24 horas), ranitidina (2mg/kg, SC, a cada doze horas) e metroclopramida (0,5mg/kg, SC, a cada doze horas). Vinte e quatro horas depois do início da terapia, a creatinina sérica retornou aos níveis de normalidade (1,18mg/dL). No exame oftálmico, que ocorreu doze dias após o quadro de obstrução uretral, os reflexos palpebrais e o corneal estavam preservados, o teste da lágrima de Schirmer a foi de 14mm/minuto no olho esquerdo e 16mm/minuto no olho direito. Os reflexos pupilares (direto e consensual) e o teste de ofuscamento estavam ausentes, tanto em ambiente claro como no escuro. Os reflexos corneal e palpebral estavam preservados. A biomicroscopia com lâmpada em fenda b não revelou, em ambos os olhos, anormalidades em anexos oftálmicos, assim como na córnea, no humor aquoso, na lente e no humor vítreo. Após a instilação de proximetacaína c, a pressão intraocular foi aferida; obtiveram-se valores de 15mmHg e de 18mmHg no olho esquerdo e no direito, respectivamente. Pela oftalmoscopia binocular indireta d, foi possível visibilizar atenuação vascular avançada e hiperreflexia tapetal difusa em ambos os olhos (Figura 1). Na ocasião da consulta oftálmica, a hematologia e a bioquímica sérica (ureia, creatinina e potássio) encontravam-se dentro dos parâmetros de normalidade estabelecidos para a espécie felina. O paciente foi sedado com 2mg/kg de meperidina e, associada com 0,5mg/kg de acepromazina f pela via subcutânea, e mantido em sala escura por vinte minutos, para eletrorretinograma g em flash de fase escura (Figura 2). Ato contínuo, a retina do mesmo olho foi adaptada por dez minutos ao claro com iluminescência contínua de 30 candelas/ms2 para a realização de eletrorretinograma em flash de fase clara. Em ambas as fases, não se detectaram ondas A e B. Ao final do exame, a retina de ambos os olhos foi fotografada h. O protocolo utilizado para realização do eletrorretinograma encontra-se sumarizado na figura 3. Devido aos achados do exame clínico geral e oftálmico, eletrorretinográfico, laboratorial e da anamnese, firmou-se diagnóstico de degeneração de retina pelo enrofloxacino.
Figura 1 - Retina de olho esquerdo de gato persa com degeneração retiniana. Observe a hiperreflexia tapetal difusa (setas) e severa atenuação vascular (seta vasada)
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Figura 2 - Eletrorretinograma em flash de gato persa com degeneração de retina associada ao uso do enrofloxacino. Observar ausência do traçado da onda B, na fase escura de baixa intensidade, para avaliação de bastonetes (A). As ondas formadas na fase escura de alta intensidade para avaliação mista de cones e de bastonetes (B), assim como na fase clara para avaliação de cones (C e D), também estão ausentes
hiperviscosidade sanguínea), infecções parasiFase Características Tipo de luz Função tárias (toxoplasmose), infecções virais (corona do flash (cor e frequência) vírus, vírus da imunodeficiência felina e da leuEscura baixa amplitude branca avaliação de cemia felina), bacterianas (micobacteriose), 4 disparos: (5,1Hz) bastonetes micoses sistêmicas (criptococose, histoplasmo-2,5 log (10 cd.m/s2) se, blastomicose e coccidioidomicose), defialta amplitude branca avaliação mista de ciência de taurina, glaucoma agudo primário e 1 disparo: (5,1Hz) cones e de bastonetes a combinação de metilnitrosurea e cetamina 0 log (3 cd.m/s2) devem ser consideradas 23-26. Na oftalmoscopia, todavia, as infecções virais e parasitárias comuClara 32 disparos: branca avaliação de cones 0 log (3 cd.m/s2) (5,1Hz) mente são acompanhadas de quadros de uveíte anterior e ensejam alterações retinianas focais luz estroboscópica branca avaliação de cones (coriorretinites) e não degenerações difusas 23. 0 log (3 cd.m/s2) (30Hz) Além de coriorretinites e de descolamentos de Figura 3 - Protocolo utilizado para a eletrorretinografia em flash 21 retina exudativos em animais acometidos por micoses sistêmicas e micobacteriose, sinais clínicos de caso de glaucoma primário, a doença tem início de forma doença respiratória, cutânea e neurológica são comumente unilateral e as alterações retinanas não são percebidas no encontrados 23,24. Embora o diagnóstico específico de tais quadro agudo. A pressão sanguínea aferida durante o quadro afecções não tivesse sido considerado no paciente deste caso, de obstrução uretral (130/90mmHg) descarta a possibilidade oftalmoscopicamente, as lesões agudas observadas (hiperrede lesões oriundas de retinopatia hipertensiva, pois esta flexia tapetal e atenuação vascular difusa) foram caracterísencontrava-se dentro dos valores fisiológicos para a espécie ticas de degeneração difusa de retina em felinos 1,10,11,13-15,27,28. felina (até 150/95mmHg) 29. Na retinopatia hipertensiva dos Na deficiência de taurina, observa-se atrofia de retina em felinos, as lesões oftalmoscópicas se assemelham às lesões faixa na região tapetal, acima do disco óptico, e a cegueira de coriorretinite aguda observadas em casos de infecção, por se instala lentamente 23. No glaucoma primário agudo, cursarem com exsudação perivascular, sinais de hiporrefleafecção considera rara em gatos, observam-se injeção episxia, focos hemorrágicos intrarretinianos e descolamento de cleral, pressão intraocular elevada e dor 25. Além disso, no retina não regmatogênico 23,30. Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
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Embora o felino do presente caso houvesse sido anestesiado (levomepromazina/meperidina e tiletamina/zolazepam) para desobstrução uretral, com exceção de um único relato de caso de degeneração de retina após o uso de metilnitrosurea e cetamina 26, na cegueira oriunda de procedimentos anestésicos não se observam alterações oftalmoscópicas, e as lesões são associadas à necrose corticocerebelar, devido a quadros de encefalopatia isquêmica 31. Ademais, nos quadros de origem cortical, os reflexos pupilares direto e consensual, assim como o reflexo de ofuscamento e os potenciais elétricos da retina à eletrorretinografia, são preservados 31,32. Embora descrita em gatos siameses, abissínios e persas, a degeneração de retina de ordem genética é considerada condição de rara manifestação nessa espécie 10,27,28. Em abissínios, os bastonetes se deterioram anteriormente aos cones e as alterações oftalmoscópicas são visíveis aos dois anos de idade 27. Em persas, a degeneração retiniana completa ocorre por volta da 16ª semana de idade, sendo que a atrofia de cones antecede a atrofia dos bastonetes 28. A síndrome da degeneração de retina adquirida de forma súbita (SARDS), entidade comumente observada em cães, em que a cegueira se instala de forma aguda sem provocar alterações oftalmoscópicas apreciáveis, nunca foi documentada em gatos 10. Os mecanismos exatos de como as fluoroquinolonas exercem alterações oculares não estão bem esclarecidos 22. Relatos antigos referem-se ao fato de a ligação de cloroquinina à melanina exercer papel importante na toxicidade ocular 9. Acredita-se que esse seja um dos mecanismos pelos quais o enrofloxacino atrofie a retina, visto que há evidências que comprovam a elevada afinidade das fluoroquinolonas (ofloxacino, norfloxacino, ciprofloxacino, lomefloxacino, levofloxacino) à melanina e a outros tecidos pigmentados 33-35. Outro estudo em coelhos demonstrou que a retinopatia induzida pelo ofloxacino (10-20mg/kg/animal, por 21 dias) é atribuída à peroxidação lipídica exacerbada, com elevação dos níveis séricos de glutationa peroxidase e diminuição dos
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níveis séricos de enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase, a glutationa-S-transferase e a catalase 36. Desconhece-se, em gatos, o potencial retinotóxico de outras fluoroquinolonas (norfloxacino, ciprofloxacino, orbifloxacino). Admite-se, todavia, que o pradofloxacino, uma quinolona de terceira geração que vem sendo testada em cães e em gatos e que apresenta estrutura e eficácia similar à do moxifloxacino 37, não enseje distúrbios visuais em felinos 22. Gatos sob terapia com esse fármaco, com doses seis a dez vezes acima do recomendado, não apresentaram alterações visuais na oftalmoscopia, na eletrorretinografia, na tomografia de coerência óptica e na histologia 22. Diferenças moleculares entre a estrutura do enrofloxacino e a do pradofloxacino (reposição da etil-piperazina pela pirrolidina piperidina localizada no C7 do enrofloxacino e de um grupo ciano, no C8 do enrofloxacino) podem ser responsáveis pela diminuição da afinidade desse fármaco pela melanina (enrofloxacino >> pradofloxacino). Tal mecanismo pode levar a um menor acúmulo de pradofloxacino dentro de lisossomos celulares, notadamente no epitélio pigmentar da retina, comparativamente ao enrofloxacino 22. Outrossim, a meia-vida do enrofloxacino em gatos (14,01 ± 4,06 horas) é aproximadamente 7,5 vezes a vida do pradofloxacino (2,77 ± 0,79 horas), justificando um maior acúmulo do primeiro fármaco na retina 22. Devido à morte das células fotorreceptoras, as doenças degenerativas que acometem a porção externa da retina são incuráveis 38. Isso justifica por que nos dezenove casos de degeneração de retina em felinos causadas pelo uso do enrofloxacino descritos na literatura internacional, assim como no caso aqui relatado, nenhum dos animais recuperou a visão ao se interromper a terapia. Atualmente, pesquisas conduzidas em cães com atrofia de retina demonstraram que a injeção subretiniana do gene RPE65 ensejou melhora visual significativa, aproximadamente três meses após o tratamento 38. Estudos realizados nos mesmos cães, três anos após a terapia demonstraram que ainda se podia notar alguma percepção
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visual 38. Há descrição na literatura de que a técnica de transplante de retina é factível em gatos 39. Não obstante, um estudo conduzido em abissínios com degeneração retiniana hereditária demonstrou que, embora ocorra adesão do tecido transplantado ao leito retiniano receptor em 50% dos pacientes (n = 4), nenhum recuperou a visão após o procedimento 40. Diante do histórico dos achados clínicos e eletrorretinográficos aqui descritos, admite-se que o enrofloxacino, mesmo em dosagens abaixo da dose tóxica, é responsável pelo quadro de degeneração retiniana no felino do presente relato. Há, portanto, que se ter cautela ao se prescrever enrofloxacino para gatos. Referências 01-GELATT, K. N. ; van der WOERDT, A. ; KETRING, K. L. ; ANDREW, S. E. ; BROOKS, D. E. ; BIROS, D . J. ; DENIS, H. M. ; CUTLER, T. J. Enrofloxacin-associated retinal degeneration in cats. Veterinary Ophthalmolology, v. 4, n. 2, p. 99-106, 2001. 02-WOLFER, J. ; GRAHN, B. ; LANE, S. Diagnostic ophthalmology. Canadian Veterinary Journal, v. 38, n. 11, p. 729-730, 1997. 03-KENNY, P. J. ; VERNAU, K. M. ; PUSCHNER, B. ; MAGGS, D. J. Retinopathy associated with ivermectin toxicosis in two dogs. Journal of American Veterinary and Medical Association, v. 233, n. 2, p. 279-284, 2008. 04-VOGEL, A. W. ; KAISER, J. A. Ethambutol induced transient change and reconstitution (in vivo) of the tapetal lucidum in the dog. Experimental Pathology, v. 26, Suplement 2, p. 136-149, 1963. 05-BUDINGER, J. M. Diphenylthiocarbazone blindness in dogs. Archives of Pathology, v. 71, p. 304-310, 1961. 06-DELAHUNT, C. S. ; STEBBINS, R. B. ; ANDERSON, J. ; BAILEY, J. The cause of blindness of dogs given hydroxypyridinethione. Toxicology and Applied Pharmacology, v. 4, p. 286-291, 1971. 07-FORTNER, J. H. ; MILISEN, W. B. ; LUNDEEN, G. R. ; JAKOWSKI, A. B. ; MARSH, P. M. Tapetal effect of an azalide antibiotic following oral administration in Beagle dogs. Fundamental and Applied Toxicology, v. 21, n. 2, p. 164-173, 1993. 08-ENTEE, K. M. ; GRAUWELS, M. ; CLERCX, C. ; HENROTEAUX, M. Closantel intoxication in a dog. Veterinary and Human Toxicology, v. 37, n. 3, p. 234-236, 1995. 09-MEIER-RUGE, W. Experimental investigation of the morphogenesis of chloroquine retinopathy. Archives of Ophthalmology, v. 73, n. 4, p. 540544, 1965. 10-GIULIANO E. A. ; van der WOERDT A. Feline retinal degeneration: clinical experience and new findings (1994-1997). Journal of American Animal Hospital Association, v. 35, n. 6, p. 511-514, 1999. 11-SANDMEYER, L. S. ; BREAUX, C. B. ; GRAHN, B. H. Diagnostic ophthalmology. Canadian Veterinary Journal, v. 49, n. 11, p. 1141-1142, 2008. 12-HARRISON, T. M. ; DUBIELZIG, R. R. ; HARRISON, T. R. ; McCLEAN, M. Enrofloxacin induced retinopathy in a guanaco (Lama guanicoe). Journal of Zoo Wildlife Medicine, v. 37, n. 4, p. 545-548, 2006. 13-ABRAMS-OGG, A. ; HOLMBERG, D. L. ; QUINN, R. F. ; KELLER, C. ; WILCOCK, B. P. ; CLAFFEY, F. P. Blindness now attributed to enrofloxacin therapy in a previously reported case of a cat with acromegaly treated by cryohypophysectomy. Canadian Veterinary Journal, v. 43, n. 1, p. 53-54, 2002. 14-ORIÁ, A. P. ; LAUS, J. L. ; Tópicos em oftalmologia dos felinos. In: LAUS JL. Oftalmologia clínica e cirúrgica em cães e em gatos. São Paulo: Roca, 2009, p. 191-224. 15-FORD, M. M. ; DUBIELZIG, R. R. ; GIULIANO, E. A. ; MOORE, C. P. ; NARFSTRÖM, C. L. Ocular and systemic manifestations after oral administration of a high dose of enrofloxacin in cats. American Journal of Veterinary Research, v. 68, n. 2, p. 190-202, 2007. 16-BOECKH, A. Agentes antimicrobianos. In: Manual Merck de veterinária. 9. ed. São Paulo: Roca, 2008, p. 1777-1814. 17-TALIERI, I. C. ; BRUNELLI, A. T. J. ; ORIÁ, A. P. ; LAUS, J. L. Técnicas avançadas no exame oftálmico de cães e gatos. Clínica Veterinária, ano 11, n. 62, p. 40-44, 2006.
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Carcinoma bronquioloalveolar em um cão – relato de caso Bronchioloalveolar carcinoma in a dog – report case Carcinoma bronquioloalveolar en un perro – relato de un caso Clínica Veterinária, n. 91, p. 78-84, 2011 Rodrigo Volpato MV, mestrando Depto. Reprod. Animal FMVZ/Unesp-Botucatu rodrigo.volpato@hotmail.com
Ana Carolina Berto Galdiano Médica veterinária autônoma carolgaldiano@yahoo.com.br
Filipe Matheus de Araújo Médico veterinário autônomo filipematheus@hotmail.com
Rodrigo Storti Pereira MV, prof. Laboratório Clínico e Patológico UNIRP rodrigostort@yahoo.com.br
Carla Daniela Dan De Nardo MV, especialista, profa. Clínica Médica Pequenos Animais UNIRP carladan@unirp.edu.br
Resumo: As alterações pulmonares representam 4% da casuística em clínica de pequenos animais. Os neoplasmas primários de pulmão em cães e gatos são pouco frequentes, sendo o carcinoma bronquioloalveolar o neoplasma maligno mais comum. Os animais acometidos geralmente têm idade avançada, são de grande porte e a casuística não apresenta diferenças entre os sexos. Sinais clínicos respiratórios como tosse e dispneia são os mais frequentes, podendo aparecer isolados ou relacionados à sintomatologia sistêmica. O método de diagnóstico mais utilizado no Brasil é o radiográfico. O prognóstico é sempre reservado. O objetivo deste relato é descrever os principais aspectos do carcinoma bronquioloalveolar em um cão de sete anos de idade apresentado ao Hospital Veterinário com histórico de tosse seca e episódios de êmese. Unitermos: neoplasia, pulmão, pequenos animais Abstract: Pulmonary changes represent 4% of cases in small animal clinics. Primary lung neoplasias are not frequent in dogs or cats; the most common malignancy is the bronchioloalveolar carcinoma. Affected animals are usually of age, generally of larger breeds, and there are no differences between genders. Clinical signs such as coughing and dyspnea are the most common ones, and can be either isolated or related to systemic symptoms. The most widely used diagnosis method in Brazil is radiological imaging. Prognosis is always reserved. The aim of this work is to describe the main aspects of bronchioloalveolar carcinoma in a 7-year-old dog submitted to the Veterinary Hospital presenting dry cough and episodes of emesis. Keywords: neoplasia, lung, small animals Resumen: Las alteraciones pulmonares representan el 4% de los casos clínicos de pequeños animales. Los neoplasmas primarios de pulmón en perros y gatos son poco frecuentes, siendo el cáncer broncogénico el neoplasma maligno más común. Los animales acometidos tienen edad avanzada, generalmente son de gran tamaño, y no hay diferencias por sexo. Los signos clínicos respiratorios como tos y disnea son los más comunes y pueden aparecer aislados o relacionados a la sintomatología sistémica. El método para el diagnóstico más utilizado en Brasil es la radiología. El pronóstico es siempre reservado. El objetivo de este estudio es describir los principales aspectos del carcinoma bronquioloalveolar en un perro, ya con siete años de edad, llevado al hospital veterinario con histórico de tos seca y episodios de vómito. Palabras clave: neoplasia, pulmón, pequeños animales
Introdução A prevalência de neoplasmas em cães está aumentando consideravelmente. A crescente incidência tem várias razões, entre elas a maior longevidade observada. Os fatores como nutrição, vacinações preventivas contra doenças infectocontagiosas, os precisos métodos de diagnóstico e também os protocolos terapêuticos cada vez mais específicos e eficazes contribuem para essa maior longevidade 1. Os neoplasmas pulmonares em cães podem ser de origem primária ou metastáticas, sendo os de origem metastáticas mais frequentes 2. Os principais neoplasmas que ocasionam metástase pulmonar em cães são mamários, ósseos e prostáticos 3. A maioria dos neoplasmas primários em pulmão é maligna. A faixa etária dos animais acometidos esta entre nove e doze anos, sendo que a prevalência é semelhante em ambos os sexos. As raças de grande porte, entre 20 e 30kg, são as mais 78
atingidas e a poluição e a inalação de tabaco constituem fatores predisponentes 4. Alguns estudos indicam prevalência maior de carcinomas pulmonares em cães da raça boxer 5,6. Dentre os neoplasmas primários de pulmão, os carcinomas broncoalveolares são os mais frequentes. Esse neoplasma é originado de células claras ou pneumócitos do tipo II, de crescimento insidioso, que surgem nas paredes das vias aéreas distais e se disseminam utilizando o septo alveolar como estroma, preservando a arquitetura pulmonar. Além disso, características como o crescimento ao longo das paredes alveolares sem destruição da histoarquitetura pulmonar, a tendência de formar estrutura glandular, áreas de arranjo irregular de tecido epitelial estratificado e a formação de projeções papilares irregulares facilitam o seu reconhecimento 7,8. A disseminação de neoplasias no pulmão pode ocorrer por vias linfática e hematogênica 9. As metástases mais
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frequentemente observadas ocorrem em linfonodos traqueobronqueais e em tecidos pleurais torácicos 10. Metástases extratorácicas são raras, sendo descritas em baço, coração, pericárdio, rins, ossos e músculo esquelético 11, além de glândulas adrenais, cérebro, olho e linfonodos mediastinais ou abdominais 12. O câncer de pulmão em seres humanos é uma doença que se caracteriza por baixa sobrevida – menos de 15% dos pacientes sobrevivem mais de cinco anos depois do diagnóstico. O principal agente etiológico associado ao carcinoma broncogênico é o tabagismo, relatado em 90% dos pacientes 13. Os neoplasmas primários de pulmão em cães e gatos são pouco frequentes, sobretudo se comparadas à medicina humana 10,14. Nos cães, entre 70 e 85% dos neoplasmas primários em pulmão são carcinomas 14. As alterações pulmonares representam cerca de 4% da casuística em clínica médica de pequenos animais. Os principais exames complementares utilizados incluem a radiografia torácica, a tomografia computadorizada, a ecografia torácica, o lavado traqueal e broncoalveolar, a broncoscopia, a punção aspirativa transtorácica por agulha fina e a biopsia transtorácica ou com toracotomia. No Brasil, no entanto, a maioria dos casos fica restrita à avaliação clínica e ao exame radiográfico 3. Outras técnicas de imagem, como ressonância magnética e a tomografia computadorizada, podem resultar em diagnósticos mais precisos, além de detectar metástases
ocultas ou aumento de linfonodos 2. Sinais clínicos Os sinais e sintomas clínicos de um neoplasma pulmonar dependem do grau de malignidade, da porção do pulmão afetada, da presença ou não de metástase e de síndromes paraneoplásicas. Os mais frequentes são tosse, geralmente crônica e não produtiva, dispneia, intolerância a exercícios, dor a palpação torácica, hemotórax e pneumotórax. Aproximadamente 25% dos animais são assintomáticos, sendo o neoplasma pulmonar um achado radiográfico 4,6,15,16. Os sintomas respiratórios podem aparecer isolados ou associados à sintomatologia sistêmica inespecífica, tais como inapetência, letargia, depressão, emagrecimento e febre 4,14,16. As síndromes paraneoplásicas são mais frequentes em medicina humana. A osteopatia hipertrófica, que geralmente se revela por claudicação com deformação dos membros envolvidos, é a síndrome mais frequente no caso de neoplasma primário em pulmão na espécie canina, estando presente em 3% a 15% dos animais 4,16. Diagnóstico No exame físico geral do paciente, a auscultação torácica pode revelar o murmúrio vesicular aumentado ou diminuído e sons cardíacos abafados ou normais. O diagnóstico
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radiográfico é a melhor ferramenta para se obter as evidências iniciais de um neoplasma em pulmão, podendo-se ainda fazer uso da tomografia computadorizada e da ecografia torácica, quando disponíveis 4,14. O exame radiográfico do tórax é realizado com projeções laterolateral direita e esquerda e ventrodorsal ou dorsoventral. As formas de apresentação do carcinoma bronquioloalveolar podem ser divididas em nódulos solitários, áreas de consolidação ou de “vidro fosco” e formas difusas ou multicêntricas, nas quais pode haver consolidações esparsas, múltiplos nódulos ou associação de padrões 7,15,17. Em cães, o carcinoma bronquioloalveolar geralmente acomete a periferia do pulmão, diferentemente dos humanos, nos quais a zona mais afetada é o hilo pulmonar. Nódulos com menos de 0,5cm de diâmetro não são localizados radiograficamente 16. O estudo por tomografia computadorizada tem se mostrado mais sensível e específico do que o estudo radiográfico simples do tórax na avaliação das doenças difusas do parênquima pulmonar. Em relação às doenças neoplásicas, pode fornecer dados importantes no seu diagnóstico diferencial e na localização da massa 9. A ecografia torácica pode contribuir para diagnosticar, localizar e definir a natureza da massa por meio da sua ecogenicidade, do seu contorno, da existência de locas e da sua relação com estruturas vizinhas. Pode ser um elemento útil na constatação de líquido pleural, bem como na citologia transtorácica ecoguiada. O carcinoma bronquioloalveolar geralmente tem ecogenicidade variada, bordos irregulares e ausência de estruturas vasculares 4,16. Os achados radiográficos, tomográficos e da ecografia podem sugerir o diagnóstico, mas nenhum deles é patognomônico. O diagnóstico definitivo pode ser conseguido apenas por meio de métodos invasivos, da análise de amostras citológicas e/ou histopatológicas. Os métodos utilizados para coleta incluem lavado traqueal, broncoscopia, biópsia ou citologia transtorácica ou por toracotomia. Algumas possíveis complicações incluem hemorragia e pneumotórax 14,18. A citologia é a ferramenta mais utilizada para o diagnóstico definitivo, sendo o material coletado por lavado traqueal ou aspiração por agulha fina. Cada método tem suas limitações e a biópsia do pulmão deve ser considerada nos casos em que os resultados de outros exames complementares não são satisfatórios 19,20. Como resultado do exame citológico podem ser encontrados cromatina frouxa, múltiplos macronucléolos, pleomorfismo de células justapostas com citoplasma amplo, certo amoldamento nuclear e algumas células binucleadas 21. Tratamento A aposta na resolução dos tumores primários do pulmão é a extirpação cirúrgica atempada da massa. O diagnóstico precoce é determinante e deve estar devidamente completado com a localização precisa do neoplasma 4. Na maioria dos casos, opta-se por um acesso intercostal. O acesso aos lobos pulmonares cranial esquerdo e direito pode ser conseguido pelo quarto e quinto espaços intercostais, respectivamente, esquerdo e direito. O lobo caudal esquerdo tem acesso pelo quinto ou sexto espaços intercostais 80
esquerdos. O lobo intermediário direito tem acesso pelo quinto espaço intercostal direito. Os lobos caudal e acessório direitos têm acesso pelo quinto e sexto espaços intercostais direitos, apresentando um epículo comum 22,23. A ablação de massas pulmonares pode ser conseguida por lobectomias parciais ou totais. A lobectomia total representa maior segurança quando a massa extraída é um neoplasma maligno. Em princípio pode-se retirar até 50% do parênquima pulmonar. Todo o pulmão esquerdo pode ser removido. Já o pulmão direito representa mais de 50%, e a sua remoção pode não ser tolerada. Sempre que se preveja extirpação de mais de um lobo pulmonar, o acesso previsto deve ser o esternal. As principais complicações são pneumotórax, hemorragias, infecções, arritmias, febre e processos inflamatórios 4,16. Um método bastante utilizado em anestesias humanas para procedimentos cirúrgicos envolvendo manipulação pulmonar é a intubação seletiva de apenas um dos lobos pulmonares, associada ao uso de um tubo endobrônquico para manipulação do lobo contralateral. Essa técnica tem sido utilizada experimentalmente em cães, porcos, gatos e cavalos, com bons resultados em remoção de nódulos pulmonares 24. A terapêutica médica associada à manutenção de pacientes não operados ou em pós-operatórios pode envolver coberturas antibióticas, anti-inflamatórios e a utilização de antitussígenos. A drenagem de líquido pleural é fundamental quando este está presente. Os quimioterápicos utilizados geralmente são doxorrubicina, ciclofosfamida e S fluoroucil, porém o tratamento com quimioterápicos tem como dificuldade a inabilidade de atingir concentrações adequadas sem efeitos adversos sistêmicos e lesão tecidual local 9,22,25. Caso clínico Um cão, da raça boxer, macho, sete anos de idade, pesando 34kg, foi atendido no Hospital Veterinário com histórico de tosse seca havia aproximadamente dois meses, com agravamento do quadro nos últimos quatro ou cinco dias e episódios de êmese após longas crises de tosse. O proprietário negou quadros de cianose e síncope, negou presença de secreções nasais ou oculares e relatou desconhecer informações sobre as fezes e urina, já que o animal vivia solto dentro de uma propriedade rural. A cobertura de vacinas e vermífugos estava desatualizada e o animal se alimentava de comida caseira, mas apresentava hiporexia havia aproximadamente vinte dias. O proprietário negou qualquer outra alteração em outros sistemas. Durante o exame físico verificou-se moderada desidratação, reflexo de tosse acentuado e áreas craniais do pulmão onde não se conseguia fazer a auscultação pulmonar, localizadas em ambos os lados e nas porções mais craniais. Foram realizados exames complementares como hemograma completo, indicando apenas desidratação, dosagem de creatinina dentro dos parâmetros normais, raio-x torácico e exame histopatológico, sendo sugerido diagnóstico de neoplasma primário em pulmão. Foi realizado um exame radiográfico que revelou arcabouço ósseo e cúpula diafragmática íntegros, silhueta cardíaca e grandes vasos torácicos preservados, consolidação pulmonar em correspondência ao lobo cranial esquerdo, deslocamento ventrolateral direito da traqueia, calcificação das cartilagens costocondrais e proliferações ósseas ventrais (espongiloses)
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até o dia do retorno. Houve piora do quadro quatro dias após a consulta e o animal veio a óbito. O proprietário levou-o para o Hospital Veterinário para a realização de necropsia e exame histopatológico da massa. Ao exame macroscópico constataram-se pulmões aumentados de volume, com presença de nódulo com aproximadamente 14 x 9 x 11cm, branco-amarelado, firme, irregular, e ao corte verificaram-se áreas branco-amareladas circundadas por áreas hemorrágicas. Microscopicamente, revelou-se pulmão com presença de neoplasma maligno epitelial pouco diferenciado invadindo parênquima pulmonar, caracterizado por células com alto pleomorfismo nuclear, núcleos amplos e numerosas mitoses formando cordões e túbulos, caracterizando a massa como carcinoma pouco diferenciado. Os achados macroscópicos e microscópicos (Figura 3 A e B) são compatíveis morfologicamente com carcinoma bronquioloalveolar que, embora não seja frequente, é o tumor primário de pulmão mais observado nos cães da raça boxer. H.V. Dr Halim Atique - Rodrigo Volpato
H.V. Dr Halim Atique - Rodrigo Volpato
em correspondência ao segmento vertebral toracolombar (Figuras 1 e 2). As imagens radiográficas sugeriram neoplasma primário em pulmão, sendo indicada a realização do exame citológico da massa encontrada. O proprietário optou por levar o animal e retornar na mesma semana para a realização do exame citológico, sendo prescrito meloxican e amoxacilina com ácido clavulânico
Figura 2 - Radiografia de tórax em projeção lateral de cão com carcinoma broquioloalveolar, demonstrando imagem radiopaca (seta) compatível com neoplasia pulmonar promovendo desvio dorsal da traqueia H.V. Dr Halim Atique - Rodrigo Volpato
H.V. Dr Halim Atique - Rodrigo Volpato
Figura 1 - Radiografia de tórax em projeção ventrodorsal de cão com carcinoma bronquioloalveolar, observando-se área (seta) radiopaca cranialmente à silhueta cardíaca sugerindo processo neoplásico pulmonar
A
B
Figura 3 - Fotomicrografia de corte histopatológico de neoplasia primária em pulmão, sendo A no aumento de 10 vezes e B no aumento de 40 vezes. Tecido apresentando neoplasma maligno epitelial pouco diferenciada invadindo parênquima pulmonar, caracterizado por células com alto pleomorfismo nuclear, núcleos amplos, numerosas mitoses formando cordões e túbulos, caracterizando a massa como carcinoma pouco diferenciado. Coloração utilizada: HE
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Discussão e conclusão Os neoplasmas de pulmão surgem na prática clínica com cada vez mais frequência e, sendo a sua sintomatologia inespecífica, o seu diagnóstico pode inadvertidamente não ser realizado ou ser prejudicialmente atrasado. Ocorrem raramente, principalmente em comparação com seres humanos. A prevalência cada vez maior dessa afecção pode estar relacionada com fatores predisponentes como poluição e tabaco e com a maior sensibilização e capacidade de diagnóstico 4,14,16. Tanto na espécie canina quanto no homem a incidência de neoplasmas pulmonares vem aumentando. A raça do animal deste relato é a boxer, condizendo com a prevalência descrita 5,6. Os sinais clínicos de tosse corroboram a literatura 4,6,15,16. O exame radiográfico de tórax foi sugestivo de neoplasma pulmonar, no entanto, exame citológico foi recomendado para confirmação do diagnóstico. Não foi possível a realização da citologia, pois houve piora clínica do paciente, que evoluiu ao óbito, sendo então o diagnóstico confirmado por meio de exame histopatológico. O prognóstico do carcinoma bronquioloalveolar é sempre reservado. O melhor prognóstico é descrito em situações de massas com diâmetro inferior a 5cm, sem envolvimento dos gânglios regionais, sem líquido pleural associado e com localização mais periférica do neoplasma no respectivo lobo pulmonar 4,16. Considerando-se a crescente prevalência dos neoplasmas, a maior longevidade dos cães e a importância dos procedimentos cirúrgicos e quimioterápicos no controle de determinadas afecções oncológicas, faz-se necessário que o médico veterinário se dedique cada vez mais ao estudo da oncologia veterinária, pois o domínio dessa especialidade é cada vez mais requisitado na clínica de animais de companhia e tornou-se uma exigência. Considerando-se a qualidade de vida dos pacientes, o diagnóstico precoce e acurado deve ser constante. Referências 01-DE NARDI, A. B. ; RODASKI, S. ; SOUSA, R. S. ; COSTA, T. A. ; MACEDO, T. R. ; RODIGHERI, S. M. ; RIOS, A. ; PIEKARZ, C. H. Prevalence of neoplasias and kind of treatments in dog seen in Veterinary Hospital at University Federal of Paraná. Archives of Veterinary Science, v. 7, n. 2, p. 15-26, 2002. 02-WITHROW, S. J. Tumors of the respiratory system. In: WITHROW, S. J. ; MAC EWEN, E. G. Small animal clinical oncology. 3. ed. Editora: W. B. Sounders Company, 2001. p. 354-377. 03-FERIAN, P. E. ; SILVA, E. F. ; GUEDES, R. C. ; TORRES, R. C. S. ; CARNEIRO, R. A. Diagnóstico citológico de neoplasia pulmonar por meio de lavado broncoalveolar em uma cadela: relato de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 58, n. 5, p. 776-780, 2006. 04-LUIS, J. P. S. ; PONTES, J. V. ; CARVALHO, A. P. Neoplasias primárias do pulmão em canídeos a propósito de três casos submetidos a cirurgia. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 100, n. 553, p. 95-102, 2005. 05-MOULTON, J. E. ; VON TSCHARNER, C. ; SCHNEIDER, R. Classification of lung carcinomas in the dog and cat. Journal Veterinary Medical, v. 18, n. 4, p. 513-528,1981. 06-AYDIN, Y. ; TOPLU, N. ; ALKAN, Z. Squamous cell carcinoma of the lung in a dog. Australian Veterinary Journal, v. 75, n. 7, p. 488-491, 1997. 07-WILSON, D. W. ; DUNGWORTH, D. L. Tumors of the respiratory tract. In:
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Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
Hiperadrenocorticismo em cães – revisão Hyperadrenocorticism in dogs – review
Hiperadrenocorticismo en perros – revisión Clínica Veterinária, n. 91, p. 86-92, 2011 Felipe Gazza Romão MV, mestrando Depto. Clínica Veterinária FMVZ/unesp-Botucatu fgazza_vet@hotmail.com
Luciene Maria Martinello Leitão MV, residente Depto. Clínica Veterinária UNIRP lucienemartinello@hotmail.com
Luiz Henrique de Araújo Machado MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br
Abstract: Hyperadrenocorticism is a relatively common endocrinopathy in dogs, which is associated to an excessive production or administration of cortisol. The most affected breeds are Poodles, Teckels, Boxers, Boston Terriers and Beagles. The clinical signs most commonly observed are polyuria, polydipsia, polyfagia, panting, distended abdomen, endocrine alopecia, muscular weakness and lethargy. Laboratorial abnormalities include stress leukogram, increase in alkaline phosphatase and alanine aminotransferase activities, hypercholesterolemia, lipemia, hyperglycemia and hyposthenuria. The preferred essay to evaluate adrenal gland function is the lowdose dexamethasone suppression test, whereas the most used treatments include mitotane and trilostane. The objective of this paper is to review hyperadrenocorticism in dogs, because this disease is relatively common in small animal clinics and has many long-term complications. Keywords: adrenal, dexamethasone suppression test, mitotane
Maria Lúcia Gomes Lourenço MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu mege@uol.com.br
Maria Jaqueline Mamprim MV, profa. adj. Depto. Rep. An. Rad. Vet. FMVZ/Unesp-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br
Marta Cristina Thomas Heckler MV, mestranda Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu martacth@gmail.com
Danuta Pulz Doiche MV, mestranda Depto. Rep. An. Rad. Vet. FMVZ/Unesp-Botucatu danpulz@yahoo.com.br
Resumo: O hiperadrenocorticismo é uma endocrinopatia comum em cães, associada à produção ou à administração excessiva de cortisol. As raças mais comumente acometidas são poodle, teckel, boxer, boston terrier e beagle. Os sinais clínicos mais comumente observados são: poliúria, polidipsia, polifagia, respiração ofegante, abdômen distendido, alopecia endócrina, fraqueza muscular e letargia. Os achados laboratoriais caracterizam-se por leucograma de estresse, aumento da atividade da fosfatase alcalina e da alanina aminotransferase, hipercolesterolemia, lipemia, hiperglicemia e hipostenúria. O teste de escolha para avaliação da função da glândula adrenal é a supressão pela dexametasona em dose baixa, e os tratamentos mais utilizados são as terapias com o mitotano e o trilostano. O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão sobre hiperadrenocorticismo em cães, por se tratar de enfermidade relativamente comum na clínica de pequenos animais e com diversas complicações a longo prazo. Unitermos: adrenal, supressão por dexametasona, mitotano
Resumen: El hiperadrenocorticismo es una endocrinopatía común en perros asociada con la producción o administración excesiva de cortisol. Las razas más comúnmente afectadas son Poodles, Teckels, Boxers, Boston Terriers y Beagles. Los signos clínicos observados son: poliuria, polidipsia, polifagia, respiración jadeante, distensión abdominal, alopecia endocrina, debilidad muscular y letargia. Los hallazgos de laboratorio se caracterizan por leucograma de estrés, aumento de la actividad de la fosfatasa alcalina y alanina aminotransferasa, hipercolesterolemia, hiperlipemia, hiperglucemia y hipostenuria. El examen de elección para evaluación de la función de la glándula adrenal es la supresión de la dexametasona en dosis bajas, y los tratamientos más comunes son las terapias con mitotano y trilostano. El objetivo de este trabajo es examinar el hiperadrenocorticismo en perros, porque es una enfermedad relativamente común en la clínica de pequeños animales que tiene muchas complicaciones a largo plazo. Palabras clave: adrenal, teste de supresión de la dexametasona, mitotano
Introdução O hiperadrenocorticismo, ou síndrome de Cushing, é um termo genérico que se refere à constelação de anormalidades clínicas e químicas que resultam da exposição crônica a concentrações excessivas de glicocorticoides. O hiperadrenocorticismo (HAC) é uma endocrinopatia comum 1-4, que tem como sintomas característicos: distensão abdominal, polidipsia, poliúria, alopecia, calcinose cutânea, tolerância diminuída ao exercício, fraqueza muscular e ganho de peso 4,5. 86
As glândulas adrenais são órgãos endócrinos bilateralmente simétricos localizados próximos aos rins 6, que se situam na porção dorsal do abdômen, próximo à junção toracolombar. São retroperitoniais e, em geral, de localização craniomedial ao rim correspondente 7. A adrenal (suprarrenal) direita tem forma triangular e está situada na borda medial do rim, cranialmente em relação ao hilo. O ápice da glândula está voltado em direção caudal e ela ainda está relacionada dorsolateralmente com a veia cava posterior 8.
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Normalmente, as glândulas adrenais não fazem contato plasmáticas do sangue. A globulina ligadora de corticostecom os rins. Elas têm coloração creme e são ricas em lipíroide, ou transcortina, uma globulina específica com alta dios. Em cães adultos, medem de 2 a 3cm de comprimento, afinidade ao cortisol, foi identificada em cães, sendo que 1cm de largura e 0,5cm de espessura 8. Não existe diferença 75% do transporte do cortisol plasmático é feito ligado à ela, significativa entre cães de diferentes tamanhos, mas elas são 15% ligado à albumina e 10% no estado livre 6. maiores em indivíduos jovens em relação aos indivíduos O controle da secreção de glicocorticoides pelas zonas adultos, e em fêmeas prenhes e lactantes em comparação fasciculada e reticulada ocorre por ação de hormônios tróficom as reprodutivamente inativas 7,9. cos (corticotrofina – ACTH) produzidos na hipófise, por meio de um sistema de retroalimentação negativa pelo qual o exCada glândula é dividida em duas áreas separadas, a mecesso de glicocorticoides na circulação sanguínea inibe a lidula e o córtex, com produção de diferentes tipos de hormôberação de hormônio hipotalâmico liberador de corticotrofinios. O córtex desenvolve-se a partir do epitélio celômico na (CRH), resultando na diminuição da secreção de corticomesodérmico e produz os hormônios esteroides cortisol, cortrofina pela hipófise e, consequentemente, na queda dos níveis ticosterona, aldosterona e esteroides sexuais 6. O córtex adrenal de cortisol sérico (Figura 1) 6. A regulação da secreção dos é composto por três zonas: a glomerular, a fasciculada e a reticular. A zona glomerular, a mais externa, é responsável pela mineralocorticoides, por sua vez, pode ser feita por fatores síntese e pela secreção de mineralocorticoides, como a aldoscontroladores produzidos no próprio órgão-alvo, isto é, os terona, sendo incapaz de sintetizar cortisol e hormônios serins. Três processos podem ser considerados para o aumenxuais, devido à deficiência de enzima 17-alfa-hidroxilase. to da produção de mineralocorticoides da zona glomerular: Tanto a zona fasciculada quanto a zona reticular são respono sistema renina-angiotensina, a secreção de aldosterona e o sáveis pela produção de cortisol e de hormônios sexuais 5. próprio hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) 6,11. A síntese dos hormônios Ana Augusta Pagnano Derussi adrenais envolve as vias clássicas para a biossíntese dos esteroides, sendo o colesterol o principal material precursor. O colesterol está prontamente disponível para as células sintetizadoras de esteroides, porque ele é depositado em grandes quantidades na forma de éster dentro das gotículas lipídicas nessas células. Embora o córtex adrenal possa sintetizá-lo a partir do acetato, a grande maioria do colesterol (60 a 80%) deriva de fontes exógenas. A sua conversão em pregnenolona em uma etapa controlada pela ação do ACTH é seguida de uma Figura 1 - Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, com a demonstração de fatores que podem, hipoteticamente, série de etapas enzimáticas 6,10. alterar a produção hormonal. Linha cheia no feedback demonstra ação direta; linha pontilhada, ação indiOs hormônios esteroides de- reta. Em destaque, as regiões da adrenal e seus respectivos produtos. ACTH (hormônio adrenocorticotrópendem de ligação com proteínas fico), K (potássio), R-A (renina-angiotensina)
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Fisiopatologia Existem três causas principais do hiperadrenocorticismo em cães: o excesso de secreção de hormônio corticotrofina (hormônio adrenocorticotrópico, ou ACTH) pela hipófise, neoplasia adrenocortical secretora de cortisol ou administração iatrogênica de glicocorticoides 12. Em indivíduos normais, a secreção de ACTH parece ser episódica e ao acaso. Entretanto, essa aparência é enganosa, devido às refinadas funções do ACTH: manter as concentrações plasmáticas de cortisol nos níveis necessários para a homeostase. A anormalidade mais comum no hiperadrenocorticismo hipófise dependente (HHD) é que a frequência e a amplitude de “picos” de ACTH secretor são cronicamente excessivas. A secreção excessiva de ACTH por adenoma hipofisário, macroadenoma, hiperplasia corticotrófica ou, raramente, adenocarcinoma hipofisário resulta em hiperplasia bilateral adrenocortical 12. Grande parte dos cães com HHD possui um tumor hipofisário, com adenomas de células corticotróficas, sendo este o tipo mais comum 1,12. O mecanismo de retroalimentação normal de inibição da secreção de ACTH pelos níveis fisiológicos de glicocorticoides não está presente. Assim, a secreção excessiva de ACTH persiste, apesar do aumento da secreção adrenocortical de cortisol. A secreção episódica de ACTH e cortisol resulta em concentrações plasmáticas flutuantes que podem, às vezes, estar dentro dos limites normais de referência 13. Os tumores de hipófise em cães podem se expandir para sua região dorsal com um aumento do tumor, devido ao diafragma anatomicamente incompleto da sela túrcica. Nos casos de HHD, além dos sinais característicos do HAC, os macroadenomas maiores que 10mm de diâmetro frequentemente causam sinais neurológicos pela infiltração e compressão no hipotálamo e no tecido nervoso adjacente 4. Os tumores de adrenais podem ser funcionais ou não e ocorrem em qualquer uma das zonas – cortical ou medular – secretando quantidades excessivas de cortisol, aldosterona, hormônios sexuais e catecolaminas. Os tumores adrenocorticais produtores de glicocorticoides são os mais encontrados em cães 14.
Não há características clínicas ou bioquímicas consistentes que ajudem a distinguir os adenomas funcionais da adrenal de carcinomas da adrenal em cães. A única característica relativamente consistente é que os carcinomas tendem a aparecer maiores nas imagens ultrassonográficas 15. Os tumores adrenais bilaterais são muito raros nos cães. Um tumor adrenal não funcional ou um tumor adrenal que causa hiperadrenocorticismo em uma glândula e um feocromocitoma na glândula contralateral são as causas mais comuns de massas adrenais bilaterais nos cães. A hiperplasia macronodular das adrenais foi também identificada nos cães, sendo que nesta espécie há um aumento macroscópico desses órgãos, com nódulos múltiplos de variados tamanhos na região cortical. A patogênese exata dessa síndrome não é clara, embora a maioria dos casos represente presumivelmente uma variante anatômica do HHD 15.
Felipe Gazza Romão
Felipe Gazza Romão
Manifestações clínicas e diagnóstico O hiperadrenocorticismo acomete geralmente cães adultos (de sete a doze anos), sendo que cerca de 85% dos casos correspondem ao tipo hipófise-dependente, enquanto 15% aproximadamente sofrem de tumores adrenais. Cães das raças poodle, teckel, yorkshire, jack russel, staffordshire bull terrier e pastores alemães são predispostos ao HAC 1,15. Os sinais clínicos do HAC incluem polidipsia, poliúria, polifagia, distensão abdominal, hepatomegalia, alterações cutâneas (piodermite recorrente, calcinose cutânea, comedos, hiperpigmentação e adelgaçamento da pele), telangiectasia, fraqueza muscular, intolerância ao exercício, letargia, ganho de peso, imunossupressão e resistência à insulina (Figuras 2 e 3) 5,12. Cães com HAC podem desenvolver uma série de complicações secundárias à doença como hipertensão, diabetes melito, pancreatite, pielonefrite e tromboembolismo pulmonar. Foi relatado que os fatores de coagulação II, V, VII, IX, X e XII, além do fibrinogênio, estão em concentrações aumentadas em cães acometidos pela enfermidade, enquanto as concentrações de antitrombina III e do complexo trombina-antitrombina estão diminuídas. Além disso, estudos in vitro demonstraram que os corticosteroides
Figura 2 - Fêmea da raça poodle, nove anos de idade, apresentando letargia, distensão abdominal e telangiectasia. O teste de supressão por baixa dose de dexametasona confirmou o diagnóstico de hiperadrenocorticismo
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Figura 3 - Mesmo animal da figura 2, com destaque para a telangiectasia e distensão abdominal
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Ao exame ultrassonográfico, nota-se o fígado aumentado e difusamente hiperecoico. A aparência ultrassonográfica das glândulas adrenais depende da causa do hiperadrenocorticismo. O HHD geralmente provoca um aumento bilateral das glândulas, enquanto cães com adenomas e adenocarcinomas adrenais apresentam aumento unilateral e presença de nódulos em uma glândula (Figura 4). A glândula contralateral não está sempre diminuída, embora isso seja esperado pelo efeito da retroalimentação negativa 19. Em relação aos testes hormonais, a dosagem do cortisol basal sérico tem pouco valor diagnóstico na avaliação do eixo hipófise-adrenal. Um dos testes mais comumente utilizados para o diagnóstico de HAC é o de estimulação por ACTH, que se baseia na capacidade de as glândulas com aumento de tecido adrenocortical (seja no caso de hiperadrenocorticismo Maria Jaqueline Mamprim
podem reduzir a atividade fibrinolítica suprimindo a secreção da proteína ativadora do plasminogênio pelo endotélio e pelo fígado, ou induzindo a liberação do inibidor de ativação do plasminogênio tipo I 4. Existem raros relatos na literatura sobre casos de neuropatias periféricas relacionadas ao hiperadrenocorticismo cujas patogenias não foram bem esclarecidas. 16. Há relatos também de miopatia relacionada a essa endocrinopatia em alguns animais, em especial fêmeas da raça poodle. Os cães afetados, além de apresentar os sinais clássicos de hiperadrenocorticismo, demonstram alteração de marcha, espasticidade dos membros, atrofia muscular generalizada e fraqueza, especialmente dos membros posteriores. O exame neurológico revela reações posturais diminuídas 17,18. Um diagnóstico presuntivo do hiperadrenocoticismo pode ser feito pelos sinais clínicos e por meio de exames físico, laboratoriais e de imagem de rotina, mas o diagnóstico deve ser confirmado por testes hormonais 5,12. Em cães, o aumento da atividade da fosfatase alcalina, que ocorre em cerca de 85% dos casos, representa a anormalidade bioquímica mais comumente associada ao hiperadrenocorticismo, além de elevação da atividade da alanina-aminotransferase, hipercolesterolemia, hiperglicemia e diminuição da presença de ureia no sangue. O hemograma revela uma eritrocitose moderada, assim como um leucograma de estresse, ou seja, leucocitose por neutrofilia, eosinopenia, linfopenia e monocitose. Na urinálise, a densidade urinária apresenta-se menor que 1.015, e o animal pode ser acometido por infecção do trato urinário (sem piúria), bacteriúria e proteinúria resultante de glomerulopatia 12. Em relação ao exame radiográfico, os pacientes com HAC apresentam abdômen abaulado com um bom contraste devido ao acúmulo de gordura intra-abdominal. A calcinose cutânea é um achado constante e a mineralização pulmonar é reconhecida por um aumento da opacidade dos pulmões. Os brônquios mostram sinais de mineralização, assim como os rins (nefrocalcinose) 19.
Figura 4 - Imagem ultrassonográfica da adrenal esquerda de uma fêmea, da raça poodle, sete anos de idade e 10kg. Em corte longitudinal se observa aumento localizado no polo caudal, de aspecto arredondado e margens discretamente irregulares com parênquima heterogêneo, predominantemente hipoecogênico
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liberam ACTH; portanto, animais com HHD apresentam concentrações aumentadas de ACTH aproximadamente trinta minutos depois. Esse teste é importante para melhor adequação terapêutica e predição do prognóstico. Devido ao pequeno número de pacientes com tumores adrenais (aproximadamente 15% dos casos de hiperadrenocorticismo), é muito cedo para recomendar a utilização rotineira desse teste, embora os resultados sejam muito bons 22. Tratamento e prognóstico Os tratamentos clínico, cirúrgico e a radioterapia são as opções utilizadas para o tratamento do HAC 13. No caso de HAD, o tratamento mais efetivo ainda é a remoção cirúrgica. Isso resulta na remoção da principal fonte de cortisol do organismo, já que a glândula contralateral está atrofiada e pouco funcional. Nesses casos, é necessária a administração de corticoides já no pós-operatório, por infusão contínua de succinato sódico de hidrocortisona. Nem todos os pacientes com tumores adrenais são candidatos ao procedimento cirúrgico. Em cães com metástase ou com extensa invasão tumoral, utiliza-se terapia paliativa com mitotano 23,24. A radioterapia é outra boa opção no tratamento do HAC, já que aproximadamente 85% dos casos são de HHD; porém, tem alto custo (de mil a dois mil dólares por sessão nos EUA) e prolongado tempo de tratamento – cerca de três semanas. Os resultados da radioterapia mostram-se efetivos e associados a baixa morbidade, mas a remissão dos sinais clínicos leva meses 15. A selegilina (ou L-deprenil) é um fármaco de ação central que inibe irreversivelmente a ação da enzima monoamino-oxidase B, o que teoricamente diminui o metabolismo da dopamina no sistema nervoso central 23. Esse fármaco é usado no tratamento do HHD porque acredita-se que o aumento dos níveis de dopamina no hipotálamo e na hipófise resulte na diminuição da secreção de ACTH por retroalimentação negativa. Esse tratamento foi tido como efetivo em menos de 20% dos casos de HAC, já que apenas tumores na pars intermedia da hipófise sofrem regulação pela dopamina 15,24. A dose Ana Augusta Pagnano Derussi
hipófise-dependente ou de tumor adrenal) secretarem excessivas quantidades de cortisol 5,12. Cães com hiperadrenocorticismo apresentam uma resposta exagerada ao ACTH. A concentração absoluta de cortisol pós-ACTH é frequentemente usada para monitorar a resposta ao teste. Em cães normais, a administração de uma quantidade suprafisiológica de ACTH produz aumento no cortisol sérico para valores geralmente maiores que 10µg/dL (4 a 16µg/dL). Os cães com HAC tendem a apresentar uma resposta exagerada, com uma concentração sérica de cortisol maior que 20µg/dL uma hora após a administração 20. A relação cortisol:creatinina urinária é altamente sensível para diagnosticar cães com HAC, mas esse teste não é altamente específico para essa enfermidade, pois os cães com doença não relacionada à adrenal de moderada a grave podem apresentar concentrações elevadas de cortisol na urina 15. O teste de supressão com dexametasona em dose alta é o mais sensível e consiste na mensuração dos níveis de cortisol sérico basal oito horas após a administração de dexametasona na dose de 0,1mg/kg, IV. A supressão da concentração de cortisol em níveis abaixo de 1,5µg/dL é geralmente considerada diagnóstica de hiperadrenocorticismo hipófisedependente e exclui a presença de um tumor adrenal, já que nesses casos não há diminuição da concentração de cortisol; porém, cerca de 15% dos casos de HHD não respondem ao teste, diminuindo sua especificidade. Por esses fatores, esse teste é recomendado para diferenciar a causa do hiperadrenocorticismo e não a ocorrência da doença 12. No teste de supressão com dexametasona em dose baixa, a administração do corticoide normalmente reduz a secreção de ACTH por meio de retroalimentação negativa na glândula hipofisária. Consequentemente, ocorre diminuição da concentração do cortisol 16, o que leva de duas a três horas para ocorrer, mas dura por aproximadamente oito horas. No HAC, o valor do cortisol após oito horas não é suficientemente suprimido e permanece acima de 1µg/dL (Figura 5) 21. O teste de supressão com dexametasona em dose baixa é altamente sensível, já que em 95% dos cães com HHD e 100% dos cães com tumores adrenais não apresenta resposta significativa nas concentrações do cortisol. Infelizmente, resultados falso-positivos podem ocorrer em cães sem doença adrenal, o que diminui a especificidade do teste. Para realizá-lo, colhe-se uma amostra de sangue para mensuração da concentração basal sérica de cortisol e depois administra-se dexametasona na dose de 0,01mg/kg, por via endovenosa ou intramuscular; novamente, o sangue é colhido quatro e oito horas depois da aplicação, para mensuração da concentração de cortisol 21. Outro ponto positivo do teste de supressão com dexametasona é a possibilidade de se distinguir, em mais de 60% dos casos, HHD de HAD (hiperadrenocorticismo adrenal dependente) quando se mede o nível de cortisol quatro e oito horas depois. O critério que indica o diagnóstico de HHD é um decréscimo da concentração de cortisol circulante abaixo de 1,4µg/dL após quatro horas, níveis inferiores a 50% do valor basal após quatro horas, ou menor que 50% da concentração basal após oito horas; todavia, não se pode descartar o HHD se não houver supressão na resposta 21. Sugere-se que os adenomas pituitários corticotróficos expressam receptores de vasopressina, que quando estimulados
Figura 5 - Diferenças entre hiperadrenocorticismo hipófise-dependente e adreno-dependente. ACTH (hormônio adrenocorticotrófico), CRH (hormônio liberador de corticotrofina)
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inicial utilizada é de 1mg/kg, uma vez ao dia, com possibilidade de aumento para 2mg/kg/, uma vez ao dia, se não houver resposta clínica após dois meses de tratamento 25. O cetoconazol é um inibidor de esteroides e tem um efeito reversível no tratamento do HAC. Esse fármaco é pouco usado porque pode causar severa anorexia. Em cães, é utilizado inicialmente antecedendo a radioterapia ou a adrenalectomia 15. A resolução satisfatória dos sinais clínicos requer inibição suficiente da esteroidogênese para garantir que os níveis de cortisol plasmáticos voltem aos valores normais, mesmo com valores suprafisiológicos de ACTH. O aumento gradual da dose de cetoconazol é bem tolerado; contudo, a maioria dos casos não responde a esse tratamento e os que respondem necessitam de dosagem alta 23. A dose inicial recomendada é de 5mg/kg, duas vezes ao dia, durante sete dias; se o animal não apresentar sinais como anorexia ou icterícia nesse período, pode-se aumentar a dose para 10mg/kg, duas vezes ao dia, por catorze dias. Geralmente os animais começam a responder a uma dosagem de 15mg/kg, duas vezes ao dia, do cetoconazol, mas o clínico só deve lançar mão dessa dose se o teste de estimulação com ACTH confirmar níveis de cortisol compatíveis com hipercortisolismo 25. O trilostano é outra opção como tratamento do HAC. Esse fármaco bloqueia a produção de uma série de esteroides adrenais, incluindo cortisol e aldosterona, interrompendo a conversão da pregnenolona em progesterona 24-26. O tratamento com o trilostano, além do decréscimo do nível de cortisol e em menor escala de aldosterona, aumentou as concentrações de ACTH, de 17_-OH-pregnenolona e de deidroepiandrostenediona, o que evidencia o efeito inibitório do trilostano sobre o sistema enzimático da desidrogenase 3`-hidroxiesteroide do cão 27. A dose inicial recomendada varia de 5 a 12mg/kg/dia, que pode ser dividida em duas doses diárias, dependendo da resposta clínica do paciente. O animal deve ser reavaliado catorze, trinta e noventa dias após o início do tratamento a partir do teste de estimulação com ACTH. Deve-se recorrer à redução da dose se os níveis de cortisol estiverem abaixo do limite inferior dos valores de referência; por outro lado, a dose deve ser aumentada se a concentração de cortisol sérico após a estimulação com ACTH estiver 1,5 vez maior que o limite superior dos valores de referência 23. O tempo requerido para a resposta ao tratamento é o mesmo do mitotano, com melhora dos sinais clínicos como poliúria, polidipsia, polifagia, alopecia e fraqueza muscular (aproximadamente dois meses) 23. Os efeitos adversos são incomuns e incluem letargia, êmese e alterações laboratoriais compatíveis com hipoadrenocorticismo. O trilostano provou ser uma efetiva opção ao tratamento, por não causar muitos efeitos colaterais; porém, seu uso é restrito, já que não pode ser encontrado na América Latina 15,23,28. No Brasil, a importação do produto (Vetoryl®) necessita de autorização do Ministério da Agricultura. Apesar de todos esses pontos positivos, foi provado que a administração a longo prazo de trilostano induziu a um aumento da função das células corticotróficas da hipófise, por diminuição do feedback negativo ocasionado pela supressão dos níveis de cortisol; esse fenômeno leva à necessidade do aumento das doses do trilostano após meses de tratamento e ao surgimento de sinais neurológicos, em razão da expansão dos tumores hipofisários 29.
A quimioterapia utilizando o mitotano é a forma mais comumente utilizada no tratamento do HHD 23. Esse fármaco leva a necrose seletiva e progressiva do córtex adrenal, que pode ser parcial ou completamente destruído, dependendo do protocolo usado na terapia. O tecido remanescente produz concentrações normais de cortisol no plasma, mesmo com concentração elevada de ACTH. Em outras palavras, o animal perde a capacidade de manter o cortisol em níveis acima de 1,8µg/dL, levando assim à melhora dos sinais clínicos. O mitotano mostrou-se eficaz em 80% dos casos de HHD, levando a bons resultados ou excelentes. As desvantagens dessa terapia incluem um potencial desenvolvimento de insuficiência adrenocortical, intolerância ao fármaco e recidivas durante o tratamento 23,28. No protocolo tradicional, existem duas fases da terapia com o mitotano: uma de indução para controlar a enfermidade e uma fase de manutenção pelo restante da vida, para evitar recidivas dos sinais clínicos 25. Durante a fase de indução, que geralmente dura sete dias, o consumo de água e de alimentos, além do estado geral do animal, deve ser monitorado com bastante atenção. Se algum desses parâmetros mudar por um período maior que doze horas, a terapia com o mitotano deve ser interrompida. O animal deve ser avaliado novamente dois dias após o final da fase de indução. A destruição adrenal é tida como satisfatória quando as concentrações de cortisol pré e pós administração de ACTH são similares e estão abaixo dos valores normais laboratoriais. A dose nessa fase varia de 25 a 50mg/kg/dia, dividida em duas administrações 24. Quando a destruição adrenal satisfatória foi alcançada, começa-se a fase de manutenção, que consiste na administração da droga de uma a duas vezes por semana. Os pacientes devem ser reavaliados a cada dois a três meses, com o teste de estimulação pelo ACTH. Nessa fase, administra-se 50mg/kg/semana de mitotano, dividida em duas ou três doses semanais. A administração da droga deve ser feita concomitantemente à alimentação do animal, pois isso melhora a sua absorção 24. Cerca de 50% dos cães tratados com mitotano sofrem recidiva do quadro de hipercortisolismo dentro de um ano de tratamento. Nesses casos, devem ser descartadas outras causas de poliúria e polidipsia (diabetes melito, hipercalcemia, insuficiência renal, pielonefrite). Caso se confirme a volta dos sinais de hiperadrenocorticismo, uma nova fase de indução deve ser realizada; porém, deve-se aumentar a dose da fase de manutenção em 50%. O clínico necessita realizar teste de estimulação com ACTH trinta dias após o início da fase de manutenção para monitorar o sucesso do tratamento 30. A administração excessiva de mitotano inicialmente resulta em sinais clínicos de hipocortisolismo, incluindo fraqueza muscular, letargia, anorexia, vômito e diarreia. Se esses sinais ocorrerem, deve ser usada a prednisona. A terapia com o mitotano é descontinuada até a melhora do estado do animal sem a necessidade da prednisona e quando a concentração de cortisol pós-ACTH for maior que 1,8µg/dL 25. A cabergolina é um agonista dopaminérgico de receptores D2 com eficácia de 40% em um determinado estudo. Essa droga atua diretamente sobre o hipotálamo e a hipófise, diminuindo a síntese de ACTH em determinados tipos de tumores (de células corticotróficas, por exemplo). A poliúria e a polidipsia foram resolvidas dentro de dois meses
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aproximadamente, enquanto a perda de peso ocorreu após um ano de tratamento. O tempo de sobrevida também foi maior quando comparado ao tratamento com cetoconazol. A êmese foi o único efeito colateral dos animais tratados. Esse tratamento é indicado especialmente em casos de tumores intrasselares, ou quando a pars intermedia da hipófise está afetada. A dose utilizada neste estudo foi de 0,07mg/kg/semana, dividida em três doses a cada 48 horas 31. Todavia, novos testes devem ser realizados para confirmar a eficácia da cabergolina em relação às terapias mais utilizadas, como mitotano e trilostano. Em relação ao prognóstico, a taxa de sobrevida dos animais com HAC sem tratamento é desconhecida. A média de sobrevida dos animais com HAC tratados com mitotano é de dois a dois anos e meio, e muitos animais morrem de outras doenças não associadas 16. Considerações finais O HAC é uma endocrinopatia comum no cotidiano do clínico de pequenos animais, que a longo prazo pode levar a diversas complicações de múltiplos sistemas do organismo. Essa doença tem sido muito mais diagnosticada atualmente, principalmente pela facilidade de acesso aos testes diagnósticos e pelo conhecimento dos sinais clínicos por parte do médico veterinário. O tratamento dessa enfermidade depende da cooperação do proprietário do animal, que deve colaborar desde a anamnese do paciente até o momento da realização de exames complementares, que visam esclarecer as dúvidas do médico veterinário. Cada caso deve ser estudado minuciosamente, para que se elabore um protocolo terapêutico adequado às condições de cada animal. Hoje, o profissional já possui condições de adequar um plano de tratamento às necessidades de seu paciente, graças ao surgimento de novas opções no mercado, como o trilostano, que possui menos efeitos adversos e pode ser usado em animais com outras patologias associadas. Referências 01-FELDMAN, E. C. Hiperadrenocorticismo. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 1539-1568. 02-SCHERMERHORN, T. Adrenal functions tests and their clinical use in dogs. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY ASSOCIATION, 30., 2005, Mexico City. Proceedings… Mexico City, 2005. 03-PELÁEZ, M. J. ; BOUVY, B. M. ; DUPRÉ, G. P. Laparoscopic adrenalectomy for treatment of unilateral adrenocortical carcinomas: technique, complications, and results in seven dogs. Veterinary Surgery, v. 37, n. 5, p. 444-453, 2008. 04-TESHIMA, T. ; HARA, Y. ; HARADA, Y. ; KOYAMA, H. ; NEZU, Y. ; NISHIDA, K. ; OSAMURA, R. Y. ; TAGAWA, M. ; TAKAHASHI, K. ; TAODA, T. ; TERAMOTO, A. ; YOGO, T. Cushing's disease complicated with thrombosis in a dog. Journal of Veterinary Medical Science, v. 70, n. 5, p. 487-491, 2008. 05-SCOTT-MONCRIEFF, J. C. Role of sex hormones in diagnosis of adrenal dysfunction. In: NORTH AMERICAN VETERINARY CONFERENCE, 3., 2007, Ithaca. Proceedings… Ithaca, 2007. 06-GRECO, D. ; STABENFELDT, G. H. Tratado de fisiologia veterinária. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. 579 p. 07-DYCE, K. M. ; SACK, W. O. ; WENSING, C. J. G. Tratado de anatomia veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. 567 p. 08-VENZKE, W. G. Endocrinologia. In: GETTY, R. Anatomia dos animais domésticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. p. 1481-1484. 09-BERTOLINI, G. ; CALDIN, M. ; DE LORENZI, D. ; FURLANELLO, T. Computed tomographic quantification of canine adrenal gland volume and attenuation. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 47, n. 5, p. 444-448, 2006.
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Teste alérgico intradérmico e imunoterapia alérgenoespecífica no controle da dermatite atópica canina – revisão Intradermal allergy testing and allergen-specific immunotherapy in the control of canine atopic dermatitis – review
Pruebas intradérmicas de alergia e inmunoterapia alergeno-específica en el control de la dermatitis atópica canina – revisión Clínica Veterinária, n. 91, p. 94-100, 2011 Juliana Odaguiri MV, pós-graduanda UAM juliana_odaguiri@hotmail.com
Ronaldo Lucas MV, prof. dr. UAM ro_lucas@terra.com.br
Resumo: A dermatite atópica é uma doença de pele comum em cães, acometendo aproximadamente 10% da população canina. Cerca de 80% dos cães atópicos requerem terapia a longo prazo, sendo comumente empregados os glicocorticoides que podem provocar efeitos colaterais indesejáveis. A imunoterapia torna-se, portanto, o tratamento de escolha, sendo considerada o único tratamento específico para a atopia. A resposta clínica da imunoterapia em cães parece ser alérgenoespecífica e os alérgenos devem ser selecionados com base na história clínica do paciente e nos resultados do teste intradérmico ou da sorologia IgE alérgenoespecífica. Objetivou-se com este artigo realizar uma revisão bibliográfica sobre os mecanismos de ação conhecidos, a eficácia e as considerações práticas da imunoterapia alérgeno-específica, além de discutir o papel do teste alérgico intradérmico no controle da dermatite atópica canina. Unitermos: cães, alergia, hipossensibilização Abstract: Atopic dermatitis is a common skin disease in dogs, affecting approximately 10% of the canine population. About 80% of atopic dogs require long-term therapy, which employs glucocorticoids that can cause undesirable side effects. Immunotherapy becomes therefore the treatment of choice, being considered the only specific treatment for atopy. The clinical response to immunotherapy in dogs appears to be allergen-specific. Allergens must be selected based on clinical history and results of skin test or allergen-specific IgE serology. The aim of this paper is to review the known mechanisms of action, efficacy, and practical considerations of allergen-specific immunotherapy, as well as to discuss the role of intradermal allergy testing in the control of canine atopic dermatitis. Keywords: dogs, allergy, hiposensitization Resumen: La dermatitis atópica es una enfermedad común de la piel de perros, que afecta aproximadamente 10% de la población canina. Alrededor del 80% de los perros atópicos requieren tratamiento a largo plazo y comúnmente se utilizan los glucocorticoides que pueden causar efectos secundarios indeseables. Por lo tanto, la inmunoterapia se convierte en el tratamiento de elección siendo considerado el único tratamiento específico para la atopia. La respuesta clínica de la inmunoterapia en perros parece ser alergeno-específica y los alergenos deben ser seleccionados de acuerdo con la historia clínica y los resultados de pruebas cutáneas o serológicas a IgE alergeno-específica. El objetivo de este artículo es realizar una revisión bibliográfica sobre los mecanismos conocidos de acción, eficacia, y las consideraciones prácticas de la inmunoterapia alergeno-específica, y discutir el papel de las pruebas de alergia intradérmica en el control de la dermatitis atópica canina. Palabras clave: perros, alergia, hiposensibilización
INTRODUÇÃO Dermatite atópica é uma doença de pele comum em cães. Acredita-se que 10% da população canina seja acometida pela doença 1. Embora de etiologia multifatorial, sua fisiopatologia está relacionada a mutações genéticas que conduzem a distúrbios de função da barreira tegumentar, a defeitos na resposta imune 94
antimicrobiana e a hiper-reatividade cutânea a aeroalérgenos, antígenos microbianos, irritantes e trofoalérgenos 2. Aproximadamente, 80% dos cães com dermatite atópica desenvolvem sinais clínicos não sazonais que requerem terapia a longo prazo 3, comumente tratados com glicocorticoides, anti-histamínicos e suplementação de ácidos graxos essenciais 4.
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Os cães e gatos com dermatite atópica são extremamente responsivos a esteroides (mais de 95% dos casos são responsivos), mas o uso prolongado de esteroides tem sido associado a efeitos colaterais indesejados, como hepatopatia esteroide, aumento na incidência de infecções cutâneas por fungos e bactérias, desenvolvimento de demodiciose e hiperadrenocorticismo iatrogênico 5. Além disso, evitar os alérgenos específicos usualmente não é possível e os anti-histamínicos frequentemente não apresentam sucesso como terapia isolada; desse modo, a hipossensibilização é o tratamento de escolha 6. De acordo com alguns autores 7, o único tratamento específico para essa doença é a imunoterapia alérgeno-específica (Itae). Na medicina veterinária, a Itae é uma terapia bem estabelecida para a manutenção da dermatite atópica canina (DAC) quando se identificam alérgenos relevantes por meio tanto do teste alérgico intradérmico (Idat) quanto do teste alérgico in vitro (Ivat). Embora haja poucos estudos controle randomizados, múltiplos estudos abertos sugerem que a Itae seja útil na manutenção da dermatite atópica canina, felina e equina 2. PATOGENIA DA DOENÇA ALÉRGICA Muitos testes para identificar os alérgenos agressores têm sido usados em cães e gatos. Para entender como essas técnicas e a Itae funcionam, é necessário compreender a patogenia da dermatite atópica 5.
As doenças alérgicas resultam de uma resposta exagerada e deletéria do sistema imune a antígenos específicos. As anormalidades na função de barreira da pele provavelmente resultam em uma penetração epidérmica maior de antígenos e no subsequente aumento de IgE na superfície das células apresentadoras de antígenos, como as células de Langerhans, tanto em cães quanto em seres humanos 3. As células dendríticas ativadas contribuem para a geração de células THelper CD4+ alérgeno-específicas (Th). Uma vez geradas, as células Th2 produzem interleucinas IL-4, IL-5, IL-9 e IL-13, citocinas com várias funções reguladoras e efetoras – como produção de IgE alérgeno-específica pelas células B – e permitem o desenvolvimento e o recrutamento de eosinófilos. A degranulação de basófilos e mastócitos mediada pela IgE ligada aos seus receptores é o evento-chave na hipersensibilidade do tipo I. Em cães com dermatite atópica, há relatos de uma resposta Th2 com superprodução de IL-4 por linfócitos na pele lesada e de uma baixa expressão de interferon gama (IFN-a) por monócitos da circulação periférica 3. Um subtipo adicional de células T definidas como células T reguladoras ou supressoras (Treg) tem sido recentemente descrito em seres humanos e em ratos. Essas células T têm uma função supressora e um perfil diferente de citocina das células Th1 e Th2. As células dendríticas têm um importante papel na geração de células Treg 3. Dadas as similaridades imunológicas com a dermatite atópica humana, é provável
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que as células Treg e suas citocinas produzidas desempenhem um importante papel na doença dos cães 8. TESTE ALÉRGICO INTRADÉRMICO O diagnóstico da dermatite atópica é subsidiado pelo exame clínico e só deve ser estabelecido após a exclusão de outras dermatopatias pruriginosas 2. Devem-se realizar raspados de pele para excluir a acaríase sarcóptica em cães com dermatopatia intensamente pruriginosa e histórico e sintomas tegumentares compatíveis com escabiose. Caso estes apresentem resultados negativos para a presença de formas adultas, ovos ou fragmentos do ácaro e seja forte a suspeita de escabiose, deve-se instituir imediatamente uma terapia específica 2. Devem-se realizar o reconhecimento de sintomas clínicos e a avaliação citológica por decalque de pústulas intactas ou por esfoliação (pelo método da fita adesiva ou por raspado de pele) para estabelecer o diagnóstico de piodermite ou de malasseziose, respectivamente. Mediante esse diagnóstico, deve-se instituir terapia antisséptica tópica associada a antibiótico ou a antifúngico sistêmicos para seu controle 2. Uma minuciosa inspeção direta da pele deve ser realizada para identificar ectoparasitas como pulgas, piolhos ou carrapatos, bem como uma avaliação parasitológica do cerúmen para excluir otoacaríase em animais com otite externa pruriginosa. Histórico ou sinais clínicos sugestivos de dermatite alérgica à saliva da pulga são fortes indicações para que se institua o tratamento adulticida e larvicida, tanto no animal como em todos os que mantenham contato com ele 2. Se após a exclusão das dermatopatias acima citadas houver persistência de prurido moderado a intenso e não sazonal, o animal deve ser submetido a exclusão dietética para que se verifique a possibilidade de hipersensibilidade alimentar. Dietas comerciais hipoalergênicas, preferencialmente baseadas em proteínas hidrolisadas, podem ser usadas durante a fase de exclusão dietética, já que são raros os casos em que as reações alérgicas aos alimentos apenas melhoram com a dieta caseira. A restrição dietética deve ser inicialmente prescrita por quatro semanas, porém pode se estender por oito ou doze semanas 2. Se após o período de teste a melhora do prurido e dos sintomas tegumentares for inferior a 50%, pode-se afirmar que o paciente apresenta dermatite atópica 2. O teste alérgico intradérmico (Idat), assim como o sorológico, não deve ser usado como critério diagnóstico na dermatite atópica. Eles apenas demonstram a presença de hipersensibilidade mediada por IgE a alérgenos específicos, que podem estar associados a doença (dermatite atópica verdadeira) ou não (hipersensibilidade subclínica), como visto em cães normais que, submetidos a eles, apresentam resultado positivo 2. São testes extremamente sensíveis e há relatos de reações positivas insignificantes em 10 a 15% de cães normais submetidos a eles 5. Dessa forma, os testes alérgicos podem ser usados somente após o diagnóstico ter sido estabelecido, apenas com o intuito de pesquisar os alérgenos responsáveis pela exacerbação e/ou manutenção da resposta inflamatória, visando subsidiar os protocolos de exclusão ou manipulação de vacinas para realização de dessensibilização alérgeno-específica 2. O Idat 96
deve ser testado baseado em alérgenos que são específicos para determinada área geográfica 5. A venda dos alérgenos é liberada para alergologistas humanos e médicos veterinários. O controle negativo é a água estéril, e o positivo é a histamina. No controle positivo, uma pápula deve ser detectada. Se o procedimento estiver correto, uma pápula em torno de 10 a 15mm de diâmetro, firme e usualmente eritematosa, deve ser detectada. Caso contrário, o teste provavelmente não é válido 5. Algumas desvantagens são que podem ocorrer resultados falso-positivos e falso-negativos. Algumas causas comuns de reações falso-positivas do Idat incluem: o alérgeno testado é conhecidamente irritante (lã, poeira doméstica, penas, bolor e produtos contendo glicerina); uma quantidade muito grande de alérgeno é injetada; trauma pela agulha; e injeção acidental de ar junto com o alérgeno. Algumas das causas mais comuns de reações falso-negativas são: uso de alérgeno que tenha perdido a potência ou esteja muito diluído; injeção de quantidade muito pequena de alérgeno; estresse; interferência medicamentosa (esteroides, anti-histamínicos, fármacos hipotensores); e injeções subcutâneas em vez de intradérmicas 5. Uma outra desvantagem do Idat é que os cães têm que ser tricotomizados e sedados. Sempre que o animal é sedado, há um risco potencial para saúde. Para alguns clientes, a tricotomia na lateral do corpo do animal é esteticamente desagradável e inaceitável 5. A alopecia pós-tosa é uma condição rara. Se o paciente em questão estiver enquadrado em uma das raças predispostas (husky siberiano ou chow-chow), os proprietários deverão ser informados do risco e decidir se devem ou não submeter o animal a tal procedimento. A retirada prévia dos fármacos também é importante para a realização do Idat tanto em cães quanto em gatos. Para cães, recomenda-se a retirada prévia de alguns fármacos, da seguinte forma 5: - 3 semanas para corticoides orais ou tópicos; - 8 a 12 semanas para corticoides injetáveis; - 7 a 10 dias para anti-histamínicos e ácidos graxos essenciais (cápsula, líquido, alimentar). Já para os gatos, o período recomendado para a retirada prévia de fármacos esteroides orais e tópicos é de duas semanas, e quatro semanas para injeções de acetato de metilpredinisolona 5. Além disso, os fármacos que causam vasodilatação e que comprometem a pressão sanguínea, como a acepromazina, também afetam o Idat. O período de retirada apropriado desses fármacos antes da realização do teste não é conhecido 5. Os alérgenos utilizados no teste alérgico requerem uma manipulação especial, pois perdem a potência ao longo do tempo. Metade da atividade antigênica dos alérgenos é perdida quando são armazenados a 35°C por sete dias. Essa perda de potência pode ser evitada mantendo-se os alérgenos refrigerados a uma temperatura entre 2° a 8 °C pelo período de um mês 5. IMUNOTERAPIA ALÉRGENO-ESPECÍFICA Devido à complexidade da cascata inflamatória que conduz à dermatite atópica, o sucesso do controle terapêutico exige a manutenção da hidratação cutânea, o reconhecimento e a minimização da exposição e/ou a eliminação dos fatores exacerbadores da inflamação e do prurido atópico, tais
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como: agentes infecciosos, ectoparasitos, irritantes, alérgenos e fatores emocionais, além da modulação da resposta inflamatória 2. A Itae é definida como a prática de administrar quantidades gradualmente maiores de extrato alérgeno a um indivíduo alérgico, para melhorar os sintomas por meio de subsequente exposição ao alérgeno causador 1,3. É considerada o único tratamento que leva a uma tolerância a longo prazo contra alérgenos causadores da dermatite atópica, devido à restauração da imunidade normal contra alérgenos 9. A Itae vem sendo aplicada em cães com dermatite atópica há aproximadamente cinquenta anos. Apesar de várias evidências clínicas de seu efeito sobre cães atópicos, os mecanismos imunológicos ainda não são completamente compreendidos 10. A Itae é indicada para cães com: - diagnóstico de dermatite atópica em que o teste alérgico intradérmico ou a sorologia alérgeno-específica foi capaz de identificar os alérgenos; - quando a terapia tópica realizada com xampus hidratantes, emolientes ou umectantes, antissépticos e corticoides é ineficaz; - quando não se pode evitar o contato com o alérgeno (como, por exemplo, nos casos de aeroalérgenos, como os ácaros de poeira doméstica Dermatophagoides farinae e Dermatophagoides pteronyssinus); - quando a terapia sintomática com anti-inflamatórios não é efetiva ou está associada a efeitos colaterais indesejáveis 3. Em comparação com a medicina humana, há escassez de estudos relacionados ao mecanismo de ação da Itae 3. MECANISMO DE AÇÃO DA ITAE NA MEDICINA VETERINÁRIA Assim como na medicina humana, o mecanismo imunológico pelo qual a Itae promove a melhora clínica ainda não foi completamente compreendido na medicina veterinária 3,10. Há muitas hipóteses relativas ao mecanismo de ação da Itae. A principal teoria dos últimos quarenta anos tem sido de que injeções de pequenas quantidades de alérgeno específico causam no sistema imune do paciente o desenvolvimento de anticorpos IgG bloqueador. Esses anticorpos se ligam a alérgenos específicos da circulação antes que eles sejam capazes de se combinar com IgE na superfície de mastócitos. Esses anticorpos bloqueadores previnem a degranulação de mastócitos e a liberação de histamina e de outros mediadores do prurido. Outras teorias relativas ao mecanismo de hipossensibilização incluem a indução de células T supressoras, a alteração do equilíbrio de células Th1/Th2, a redução na circulação do nível de IgE ou alguma combinação de todos 6. IMUNOTERAPIA E RESPOSTA DE CÉLULAS T As células Treg são uma linhagem distinta de linfócitos T com várias propriedades imunossupressoras, incluindo a downregulation da inflamação alérgica associada à produção de IgE. As Treg antígeno-induzidas regulam o equilíbrio imune por meio da produção de citocinas como a interleucina-10 8. Em cães submetidos à Itae, observou-se um significante aumento tanto no número de células Treg quanto na 98
concentração de IL-10 após esse procedimento 8. Embora a patogenia da dermatite atópica canina ainda não seja completamente compreendida, há relatos da participação de citocinas moduladas pelo Th2: superprodução de IL4 e baixa expressão do nível de IFN-a. Esses resultados indicam um estado Th2 dominante que é relatado na patogenia da dermatite atópica canina 10. Após a Itae, observa-se um aumento de IFN-a sem alteração em IL-4. Consequentemente, a relação IFN-a/IL-4 é significativamente maior do que antes da Itae. Esses resultados indicam que a Itae provoca um deslocamento para o padrão Th1, por meio do reforço da expressão do IFN-a 10. IMUNOTERAPIA E RESPOSTA DE ANTICORPOS Um aumento de IgG com pelo menos seis meses de imunoterapia tem sido relatado em cães. Nenhuma correlação foi evidente entre o aumento da concentração sérica de IgG1 e o grau de melhora clínica demonstrado pelos cães. Outros pesquisadores não encontraram nenhum aumento significativo no total de IgG ou na subclasse IgG em cães que demonstraram boa resposta à Itae, sugerindo que o sucesso da Itae em cães não está necessariamente associado à produção de anticorpos bloqueadores 3. Na medicina humana, a relação entre a eficácia da Itae e a indução de anticorpos IgG alérgeno-específicos permanece controversa, como se viu em estudos que avaliaram uma correlação da concentração sérica de IgG e o sucesso da Itae e que mostraram resultados conflitantes. No entanto, o IgG induzido pela Itae tem mostrado reduzir a degranulação de mastócitos e basófilos mediada por IgE, resultando na redução da reação inflamatória alérgica 3. A EFICÁCIA CLÍNICA DA ITAE NA MEDICINA VETERINÁRIA Sugere-se que a Itae é eficaz no tratamento da dermatite atópica canina 3. Estudo relata que a remissão dos sinais clínicos pode ser alcançada em cerca de 60 a 70% dos casos 10. Em outro estudo 1, a eficácia clínica da Itae ficou em torno de 50 a 100%. Têm sido usados diferentes critérios de avaliação, testes diagnósticos, tipos de alérgenos (aquoso versus alumínio precipitado), concentrações e protocolo de administração, tornando a comparação dos resultados extremamente difícil 1,3. De acordo com a observação de alguns autores, não há diferença na eficácia da hipossensibilização quando baseada pelo Idat ou em teste in vitro (Elisa) 4,6. FATORES QUE AFETAM A EFICÁCIA CLÍNICA DA ITAE Seleção do paciente De acordo com alguns estudos realizados, a idade do animal no momento da apresentação da doença, a idade dele quando o tratamento é iniciado e a duração dos sinais clínicos não influenciam na resposta à hipossensibilização 4,6. Embora não seja estatisticamente significativa, foi observada uma tendência de os golden retriever e os cães machos responderem melhor do que outras raças e fêmeas caninas, respectivamente. Os cães que tiveram mais de 21 reações positivas nos testes alérgicos e foram tratados com mais de
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21 alérgenos tiveram menor resposta e um tempo maior de curso antes de alcançarem uma resposta benéfica 6. Contudo, outros estudos contrariam esses resultados 3. Seleção dos alérgenos A resposta clínica da imunoterapia em cães parece ser alérgeno-específica e os alérgenos devem ser selecionados com base na história clínica do paciente e nos resultados do teste intradérmico ou da sorologia IgE alérgeno-específica 3,4. Os cães tratados com alérgenos não específicos exibiram uma melhora clínica em torno de 18%, enquanto os cães tratados com alérgenos especificamente selecionados com base no teste intradérmico mostraram uma melhora média de 70% 3. Muitos relatos sobre a eficácia da imunoterapia baseada nos resultados da sorologia IgE alérgeno-específica têm sugerido que o resultado é similar àqueles baseados no teste intradérmico 3,4,6. A eficácia da imunoterapia pode ser potencialmente melhor se os resultados de ambos os testes alérgicos forem combinados 3. No passado, os testes sorológicos IgE frequentemente resultavam em amplo número de reações positivas, que tinham que ser interpretadas tanto como sensibilidade aumentada como com reações falso-positivas. O fato de o teste sorológico de cães com doença de pele não atópica apresentar reações positivas a inúmeros alérgenos apoia essa possibilidade. Os avanços tecnológicos e a utilização de anticorpos monoclonais têm melhorado a correlação entre os resultados dos testes sorológico IgE e intradérmico 4. Atualmente, há oito diferentes empresas nos Estados Unidos que oferecem o teste sorológico alérgico. Cada uma dessas empresas emprega diferentes tecnologias para detectar IgE alérgeno-reativo no soro dos pacientes. Além disso, o sistema de detecção varia se é utilizado anticorpo monoclonal, policlonal ou uma mistura de monoclonal com diferentes especificidades de imunoglobulinas 5. Os testes sorológicos, diferentemente do teste alérgico intradérmico, estão
disponíveis somente nos EUA, sendo necessário enviar o material para o exterior para a realização de tal exame. Uma exceção a isso é o sistema utilizado pela Corporação Heska, que utiliza receptores de alta afinidade por IgE (Fc¡R1_) como um recurso para detectar IgE alérgeno-específico no soro de pacientes. Outros anticorpos como IgM, IgA ou IgG, se alérgeno reativo ou não, não se ligam a esse receptor 5. As proteases de fungos degradam rapidamente os alérgenos de pólen quando estocados no mesmo frasco e é nisso que se baseia a recomendação da medicina humana para estocar alérgenos de fungos separadamente de alérgenos de pólen 3,4. A taxa de sucesso da Itae com extratos contendo antígenos de fungo era muito menor do que aquela com extratos contendo somente pólen ou ácaro de poeira doméstica, o que sugere que a imunogenicidade dos extratos contendo esporos de fungo pode ser reduzida. Assim sendo, os antígenos de fungo para Itae têm sido estocados em frascos separados 4. Dose dos alérgenos Na medicina humana, a dose de alérgenos para resposta clínica ótima tem sido definida por muitos alérgenos padronizados, porém nenhum alérgeno padronizado tem sido avaliado na medicina veterinária. Além disso, têm sido relatada a concentração dos alérgenos em diferentes unidades, mas frequentemente a concentração absoluta de cada alérgeno no final da mistura não é especificada, tornando difícil a comparação entre os relatos 3,7. É convencional usar um frasco de manutenção com concentração total entre 10.000 a 20.000 PNU mL-1 (unidades de proteína nitrogenada por mL) 3. De acordo com alguns estudos em que se comparou o protocolo de baixa dose de Itae com o protocolo padrão, não foi observada nenhuma diferença estatisticamente significativa entre os grupos, não havendo, portanto, recomendação do seu uso 5. Contudo, em estudos anteriores a eficácia do protocolo com baixa dose de Itae foi demonstrada 3.
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Administração da Itae Em cães, as injeções subcutâneas são a via padrão de administração. O intervalo ótimo tanto de indução quanto de manutenção não está estabelecido e pode depender do paciente 3. Na dermatologia veterinária, há relato de protocolos curtos e intensos de imunoterapia (rush immunotherapy - RIT) associados a uma taxa maior de sucesso do que na imunoterapia convencional e a melhora é vista em menos de seis meses de tratamento 11. A desvantagem é que ela pode provocar reações adversas, como prurido e urticária, em 23% dos casos, levando à descontinuação precoce do tratamento. Portanto, recomenda-se a hospitalização do paciente durante o dia da RIT 3.
cães quando administrada diariamente por curto período na dose de 5mg/kg. Contudo, efeitos a longo prazo sobre a Itae são desconhecidos 3.
Tempo para eficácia O tempo para o benefício clínico máximo e a duração total da Itae antes de se determinar a eficácia do tratamento é desconhecido na medicina veterinária 3. Os clientes devem ser informados de que se recomenda insistentemente um ano de tratamento para determinar se a hipossensibilização é bem sucedida e se há necessidade de tratamento de longo prazo 6. Foi sugerido que a avaliação da resposta da Itae com alérgeno em alumínio precipitado pode ser restrita a nove meses e os cães que não responderem nesse espaço de tempo provavelmente não responderão ao tratamento. Além disso, 11% dos cães que receberam Itae com alérgeno aquoso só responderam após receberem terapia por mais de oito meses 3.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Na medicina veterinária, a Itae é usada em cães no manejo da dermatite atópica, mas há uma clara escassez de estudos científicos controle randomizados para determinar a sua verdadeira eficácia, a dose ótima de alérgenos e a frequência das injeções. Estudos adicionais são necessários para avaliar essa terapia 3.
Reações adversas Em cães, a reação adversa mais comum é o aumento do prurido após a administração de concentrações cada vez maiores de imunoterapia. A incidência de efeitos adversos varia de 5% a 50%. Contudo, não eram permitidos tratamentos com fármacos antipruriginosos ou anti-inflamatórios durante a imunoterapia 3. A piora clínica com injeções de extrato alérgeno pode indicar que a tolerância máxima do animal ao alérgeno está sendo excedida. Subsequente ajuste individual da dose resulta em um aumento da taxa de sucesso 3. Há relatos de reações sistêmicas em 1% dos cães, que incluem fraqueza, depressão, ansiedade, sonolência, hiperatividade, diarreia, vômito, urticária/angioedema e anafilaxia 3. Reações localizadas no sítio de aplicação da injeção são raras e não requerem modificação no protocolo de tratamento 3. Efeitos de medicações Alguns autores sugerem que a Itae pode ser efetiva se se administrar prednisolona em baixas doses ou em dias alternados, enquanto outros recomendam a interrupção de glicocorticoides na fase de indução da Itae 3. Além da possibilidade de suprimirem os mecanismos desejáveis da imunoterapia, os glicorticoides podem mascarar a melhora dos sinais clínicos, bem como as reações adversas que requerem uma modificação no protocolo de tratamento 3. Assim como na medicina humana, a ciclosporina não parece inibir significativamente a reatividade intradérmica em 100
Reavaliação dos pacientes durante a imunoterapia Mais de 49% dos proprietários descontinuam a terapia sem consultar o clínico. A principal razão para interromper a Itae é a falta de melhora. A recorrência dos sinais clínicos durante a Itae é frequentemente associada a fatores como piodermite bacteriana e malasseziose, ou ao desenvolvimento de novas alergias. Muitas vezes há necessidade de modificar o protocolo de tratamento (frequência, quantidade de alérgeno injetado, etc.) e de reconhecimento e manejo desses fatores para otimizar a taxa de sucesso 3.
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Imobilização externa com canaleta de alumínio em fratura múltipla de rádio e ulna em um cão – relato de caso External immobilization with aluminum channel in multiple fracture of radius and ulna in a dog – report case
Inmovilización externa con canaleta de aluminio en fractura múltiple de radio y ulna en un perro – relato de un caso Clínica Veterinária, n. 91, p. 102-106, 2011 Gabriele Maria Callegaro Serafini MV, mestranda PPGMV/UFSM gabrieleserafini@yahoo.com.br
Daniel Curvello de M. Müller MV, prof. dr. CMV/UNIJUÍ cmdaniel@terra.com.br
João Eduardo Schossler MV prof. dr. CMV/UFSM schossler_joao@yahoo.com.br
Resumo: O rádio e a ulna são considerados o terceiro local de fratura mais comum em cães. Seu tratamento pode ser cirúrgico ou conservador. Entre os conservadores está a imobilização externa, cuja indicação se dá quando a fratura apresenta apenas dois fragmentos ósseos (fratura simples) e a linha entre eles é transversa, o que a torna estável. O objetivo deste trabalho é relatar o sucesso do tratamento de fratura múltipla de rádio e ulna em um cão adulto de grande porte, utilizando apenas a canaleta moldável de alumínio, algodão hidrófobo e esparadrapo. A imobilização permaneceu por 32 dias, quando foi removida após evidências clínicas da consolidação óssea. Atribui-se o sucesso do tratamento conservador dessa fratura múltipla à propriedade de o implante ser moldado individualmente, garantindo sua estabilidade durante o tratamento, bem como à imobilização de articulações do membro afetado. Destacam-se aqui os principais cuidados ao longo do tratamento. Unitermos: ortopedia, ossos longos, tratamento conservador Abstract: The radius and the ulna are considered the third most frequent place to suffer fractures in dogs. The treatment of such fractures can be surgical or conservative. External immobilization is one of the latter, being indicated when the fracture presents just two bone fragments (simple fracture) and the line between them is transverse, which makes it stable. The aim of this article is to relate the successful treatment of a multiple radius and ulna fracture in an adult large breed dog by means of a flexible aluminum profile, hydrophobic cotton wool and bandage tape. Immobilization lasted for 32 days, after which bone consolidation was evident. The success of this conservative treatment is attributed to the flexible character of the aluminum channel, which could be shaped individually to ensure its stability during treatment, and the immobilization of the joints of the affected limb. Health care during treatment is described in detail. Keywords: orthopedics, long bones, clinical treatment Resumen: El radio y la ulna son considerados el tercer local de fractura más común en perros. Su tratamiento puede ser quirúrgico o conservador. Entre los conservadores está la inmovilización externa, cuya indicación se da cuando la fractura presenta apenas dos fragmentos óseos y la línea entre ellos es transversa, lo que la vuelve estable. El objetivo de este trabajo es relatar el suceso del tratamiento de una fractura múltiple de radio y ulna en un perro adulto de gran porte, utilizando apenas la canaleta moldable de aluminio. La inmovilización permaneció por 32 días, cuando fue removida tras evidencias clínicas de la consolidación ósea. Se atribuyó el éxito del tratamiento conservador de la fractura múltiple a la propiedad del implante que se construyó de forma individual, asegurando su estabilidad durante el tratamiento y la inmovilización de las articulaciones de la extremidad afectada. Se destacan los principales cuidados a lo largo del tratamiento. Palabras clave: ortopedia, huesos largos, tratamiento conservador
Introdução As fraturas ocorrem por traumatismos e dentre eles consideram-se os acidentes automobilísticos, saltos, quedas, coices, mordeduras e projéteis de arma de fogo, representando cerca de 17% de todas as fraturas observadas em cães 1,2. Podem-se observar fraturas de vários tipos no rádio e na ulna, afetando-os de forma individual ou conjunta; entretanto, 102
as fraturas diafisárias em ambos os ossos resultantes de traumatismos são observadas com maior frequência 3. Certas características inerentes a essas estruturas, como pouco recobrimento de tecido muscular, canal medular de diâmetro reduzido ou pouca vascularização, são as causas principais de complicações, seja após intervenções cirúrgicas ou em tratamentos conservadores 4. O fator racial também
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tem influência nas complicações, pois em cães de raça de grande porte ou gigantes os vetores de forças causados pelo peso do animal na fratura e no material de fixação são grandes. Já em cães de raças de pequeno porte há relatos de até 60% de falta de união óssea, causada geralmente pela pobre vascularização regional 5. O diagnóstico clínico das fraturas de rádio e ulna baseiase no histórico de traumatismo no membro torácico, no exame físico, na dificuldade de movimentação do membro demonstrada pela posição em flexão do cotovelo e do carpo, na impotência funcional e na conformação anormal do membro, na manifestação de dor, na presença de crepitação durante o exame físico da região afetada e no edema 6. Já no diagnóstico radiográfico, como são raros os deslocamentos graves de fragmentos, as projeções em duas incidências são suficientes para a confirmação e a classificação da fratura, sendo elas a craniocaudal e a mediolateral, incluindo as articulações proximal e distal 2. Os métodos de fixação das fraturas de rádio e ulna incluem coaptação externa, placas e parafusos ósseos e fixação esquelética externa 7. A seleção da técnica de fixação depende da idade e do porte do paciente, da estabilidade axial da fratura, da presença de lesões musculoesqueléticas concomitantes e das condições dos tecidos moles associados 8. A utilização de placas é o método recomendado, sobretudo para cães maduros com fraturas transversas sobrepostas, oblíquas
ou cominutivas, e o uso de fixador externo para fraturas expostas e cominutivas 7. As fraturas diafisárias radiais ou ulnares fragmentadas podem não ser tratáveis por meio de imobilização externa. Nessas fraturas, a restauração da continuidade cortical pode se tornar difícil, se não impossível, conforme o número de fragmentos produzidos, sendo mais bem tratadas com um fixador externo 9. O tratamento conservativo, com imobilização externa como agente de suporte, é recomendado quando o animal não for de raça miniatura, houver pelo menos 50% de contato entre as superfícies ósseas e não houver desvios angulares significativos 5. Pode-se dizer que o tratamento conservativo é prioritário, pois ajuda a evitar agressão cirúrgica ao organismo, promovendo consolidação óssea mais estável e, por não necessitar de segunda intervenção cirúrgica para remoção de implantes utilizados, torna-se menos oneroso 10. Entre os métodos de imobilização externa está a canaleta de alumínio, cuja aquisição é fácil e de baixo custo. Além disso, devido às suas características, é bem tolerada pelos animais, permitindo o controle da região fraturada e oferecendo condições favoráveis para a formação de calo ósseo 11. Este trabalho tem o objetivo de relatar a eficiência da canaleta de alumínio na imobilização de fratura múltipla de rádio e ulna em cão, mesmo não sendo esse o método de eleição preconizado pelos ortopedistas veterinários para o tratamento dessa lesão.
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Gabriele Maria Callegaro Serafini
Daniel Curvello de Mendonça Müller
Relato de caso Foi atendido, no Hospital Veterinário Universitário, um cão sem raça definida, macho, de seis anos de idade, pesando dezesseis quilos, com histórico clínico de atropelamento havia 24 horas. Após o exame clínico, não foi observada qualquer alteração sistêmica, como evidências de hemorragias ou dispnéia. Na avaliação radiográfica, diagnosticou-se fratura fechada, completa, múltipla, diafisária distal de rádio e ulna (Figura 1). Realizou-se inicialmente a imobilização do referido membro pelo método de Robert Jones, a fim de promover a redução do edema local. Prescreveu-se anti-inflamatório não esteroidal (cetoprofeno a 1,1mg/kg, uma vez ao dia) e cloridrato de tramadol b (4mg/kg, três vezes ao dia) e agendou-se o retorno em 48 horas. Ao retornar e evidenciar-se redução do edema, o animal foi anestesiado para realização da redução fechada da fratura e confecção da Figura 1 - Imagem radiográfica na posição craniocaudal (A) e mediolateral imobilização externa com canaleta de alumínio. (B), mostrando fratura completa, fechada, múltipla, diafisária distal de rádio e A medicação pré-anestésica consistiu na associa- ulna em um cão. Imagem radiográfica na posição mediolateral (C) e cranioção de maleato de acepromazina c (0,05mg/kg) e caudal (D) de rádio e ulna no mesmo cão, após seis meses da remoção da canaleta de alumínio. Observa-se ausência das linhas da fratura anteriorsulfato de morfina d (0,5mg/kg), seguidos de in- mente identificadas e eixo articular do membro perfeitamente alinhado e dução com propofol (4mg/kg). Após redução obtida por palpação e manuseio dos fragmentos fraturados, manteve-se o membro do animal estendido até a sua imobilização. Para isso, utilizou-se uma chapa de alumínio de 0,8mm de espessura, que foi colocada na porção medial do membro (Figura 2A) e dobrada desde a porção distal do úmero até o final dos dígitos. A tala foi recoberta com esparadrapo (Figura 2B), acolchoada com algodão hidrófobo e adaptada ao membro (Figura 2C), sendo fixada em toda a sua extensão com esparadrapo, iniciando pela porção mais proximal, responsável por evitar o deslizamento da canaleta (Figura 2D). Antes de fechar a porção dos dígitos com esparadrapo, inseriram-se tiras de algodão hidrófobo entre os dedos, para minimizar a umidade interdigital. Observa-se na figura 2D que toda a canaleta é recoberta por esparadrapo, diminuindo o risco de seu deslizamento durante o tratamento. O animal foi liberado sob prescrição de Cetoprofeno f (1,1mg/kg) a cada 24 horas, por quatro Figura 2 - (A) chapa de alumínio de 0,8mm de espessura colocada na porção dias, e Cloridrato de Tramadol g (3 mg/kg) a cada medial do membro para medição. (B) Canaleta recoberta por esparadrapos seis horas, por 48 horas. Recomendou-se evitar a para evitar lesões causadas pelas arestas do alumínio. (C) Canaleta fixada permanência do animal em locais com pisos es- com algodão hidrófobo e esparadrapo em pontos equidistantes, mantendo a corregadios, escadas ou obstáculos e o cuidado de extensão do membro. (D) Canaleta completamente recoberta por esparase evitar qualquer tipo de umidade próxima à ca- drapo, todos em contato com o pelo na porção externa, para diminuir o risco naleta. Recomendou-se também a utilização do de seu deslizamento durante o tratamento redução, para verificação da estabilidade da imobilização; colar elisabetano. Foi solicitado o retorno quinze dias após a contudo, nesse retorno o proprietário informou que o colar a) Biofen 10%, Biofarm Química e Fermacêutica Ltda, Jaboticabal, SP não havia sido utilizado, em função do aumento exacerbado b) Cloridrato de Tramadol 100mg/2ml, Teuto Brasileiro S/A, Anápolis, GO do estresse do animal. Aos 32 dias de tratamento, realizou-se c) Acepran 1%, Univet S.A. São Paulo, SP d) Dimorf , Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP a radiografia do membro afetado, quando se evidenciou a fore) Diprivan , Abbott Laboratorios do Brasil ltda., São Paulo, SP mação de tecido cicatricial ao redor das linhas de fratura, f) Ketofen 20mg, Merial Saúde Animal, Campinas, SP g) Tramal , Pfiser, São Paulo, SP razão pela qual a canaleta foi removida. ®
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Discussão As fraturas de rádio e ulna são consideradas o terceiro tipo de fratura mais comum em cães. Podem ser completas ou incompletas, acometer somente um dos ossos ou ambos, resultando na presença ou na ausência de falha óssea. É comum que esse tipo de fratura ocorra após traumatismos causados por acidentes automobilísticos, geralmente atingindo a região distal da diáfise 1. O paciente ao qual se refere este relato enquadra-se exatamente nas estatísticas acima descritas, pois foi atropelado quando perambulava pela rua, acometendo a porção distal do rádio e da ulna. Sabe-se que a indicação para o uso da imobilização externa ocorre nas fraturas transversas, o que se comprova em estudo realizado, no qual foram feitas quinze imobilizações com canaleta de alumínio em fraturas transversas de rádio e ulna em cães adultos sem raça definida 11. Todos os animais apresentaram consolidação óssea dentro do período esperado, sem deslocamento dos fragmentos fraturados. No caso relatado, a fratura era múltipla, o que seria indicativo de tratamento cirúrgico com fixador esquelético externo ou placas e parafusos ósseos, por exemplo. Entretanto, optou-se pela confecção da canaleta de alumínio, visando à redução dos custos com o tratamento. Além do baixo valor, esse material tem a vantagem de ser facilmente moldável, permitindo a adaptação da canaleta de alumínio em animais de diversas espécies, sem acarretar acréscimo excessivo de peso.
Os autores deste relato afirmam que, por tratar-se de imobilização externa, sua aplicação torna-se restrita àqueles locais onde é possível estabilizar uma articulação acima e uma abaixo do foco da fratura. Garantem ainda que a instabilidade articular nas articulações adjacentes à fratura é fator capaz de determinar a falha na cicatrização óssea sob qualquer imobilização externa. Em um estudo, pesquisadores removeram a imobilização externa de rádio e ulna aos 22 dias de tratamento, baseados na indicação radiográfica da estabilização da fratura, ou seja, na diminuição da radioluscência do foco fraturado 11. Certamente, nesse período não deveria existir presença de calo ósseo; entretanto, os pesquisadores puderam evidenciar indícios de crescimento de tecido fibroso ao redor do foco de fratura. O tempo de cicatrização das fraturas varia conforme a idade e as condições dos pacientes, contudo, fisiologicamente, devem cicatrizar entre 30, 45 e 60 dias, respectivamente em cães jovens, adultos e idosos submetidos a tratamento 10. O animal deste relato era um cão adulto, porém com boa condição nutricional. A razão pela qual a fratura apresentava consolidação aos 32 dias, antes mesmo do período esperado, pode estar no fato de não se ter interferido no local da fratura, já que os fragmentos não foram expostos como em uma redução cirúrgica tradicional. Além disso, manteve-se o correto alinhamento articular, o contato entre os fragmentos fraturados e preservou-se a vascularização local 12. Obteve-se a
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estabilização adequada, uma vez que se imobilizou pelo menos uma articulação acima e uma abaixo do foco da fratura, sendo tudo isso um somatório de fatores que levaram ao sucesso do tratamento 13. Existe o alto risco de desenvolvimento de união retardada ou não união em fraturas não tratadas, além de deformidades do crescimento, rigidez articular e hiperextensão do carpo, o que reflete a complexidade do tratamento dessas fraturas 6. Segundo os autores deste trabalho, também se considera complicação o fato de os animais molharem a canaleta, uma vez que isso encharcaria o algodão e favoreceria a formação de úlceras ou até de gangrena do membro, quando não inspecionado. Dentre as complicações citadas, ocorreram apenas alguns ferimentos cutâneos na região do cotovelo e nas saliências ósseas do carpo. Apesar do uso do algodão hidrófobo para o acolchoamento do membro, o tempo elevado de permanência da canaleta foi suficiente para neutralizar a ação protetora do algodão já que, no decorrer do período, a pressão sobre o algodão acarreta perda da maciez ou até separação das fibras. Removeu-se a canaleta no 15o dia de tratamento para a troca do algodão e para realizar inspeção detalhada das feridas causadas pelo contato da pele com o alumínio. Essas feridas foram limpas e tratadas e a canaleta foi recolocada, permanecendo até o retorno do animal, ao 32o dia. Os autores alertam para a importância do correto acolchoamento do membro com algodão hidrófobo sempre que inspecionado, evitando a umidade e assim o aparecimento de escaras durante o tratamento. O acolchoamento deve ser feito com duas ou três camadas de algodão, ficando relativamente fino. Além disso, não se envolve todo o membro com o algodão, permanecendo a face lateral exposta e isso permite que o esparadrapo que fixa a tala esteja em contato direto com a pele (pelos) do animal, evitando a instabilidade da canaleta. Após a remoção da canaleta, o paciente somente voltou a utilizar o membro, sem restrição, oito dias depois. Os autores atribuem esse fato ao tempo durante o qual as articulações envolvidas permaneceram imobilizadas, retornando gradativamente à função normal ao longo dos dias. Passados seis meses, foi realizada nova avaliação radiográfica (Figura 1C e 1D) na qual se evidenciou a presença de tecido cicatricial ao redor dos ossos fraturados, ausência das linhas de fratura anteriormente identificadas e eixo articular do membro alinhado. Apesar de existir uma pequena angulação na diáfise do osso, não houve alteração angular entre as articulações umerorradioulnares ou carpometacárpicas, ou seja, manteve-se o alinhamento articular do membro. Também não ocorreram desvios varo ou valgo, permitindo a locomoção sem qualquer alteração. Na avaliação clínica, não foi possível observar qualquer evidência externa que sugerisse o traumatismo acontecido,
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apresentando-se a marcha sem qualquer grau de claudicação. Considerações finais Embora um dos métodos de osteossíntese mais indicados para fraturas múltiplas de rádio e ulna seja o fixador esquelético externo, concluiu-se que a canaleta de alumínio obteve ótimo desempenho no tratamento dessa lesão. O alumínio é material apropriado para a confecção de imobilizações externas pois é leve, moldável e facilmente higienizável. Dessa forma, a canaleta de alumínio é alternativa eficaz para o tratamento fechado de fraturas de rádio e ulna, representando custo reduzido quando da incapacidade da realização da osteossíntese com placas e parafusos, ou com fixadores externos. Referências 01-BRASIL, F. B. J. ; GIORDIANO, P. P. ; RIBEIRO, M. C. L. Fraturas distais de rádio e ulna em cães miniaturas. Revisão de Literatura (Parte I). Boletim de Medicina Veterinária, v. 2, n. 2, p. 34-38, 2006. 02-DALMOLIN, F. ; FILHO, S. T. L. P. ; CUNHA, O. ; SCHOSSLER, J. E. W. Osteossíntese bilateral de rádio e ulna em cão por redução aberta e fechada - relato de caso. Revista da FZVA, v. 13, n. 2, p. 158-165, 2006. 03-GIGLIO, R. F. ; STERMAN, F. A. ; PINTO, A. C. B. C. F. ; UNRUH, S. M. ; SCHMAEDECKE, A. ; FERRIGNO, C. R. A. Estudo retrospectivo de radiografias com fraturas rádio e ulna em cães. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 44, suplemento, p. 122-124, 2007. 04-DELLA NINA, M. I. ; SCHMAEDECKE, A. ; ROMANO, L. ; FERRIGNO, C. R. A. Comparação de osteossíntese com placa e osteossíntese com placa associada a enxerto de proteína morfogenética óssea em fratura bilateral distal de rádio e ulna em cão - relato de caso. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 44, n. 4, p. 297-303, 2007. 05-FERRIGNO C. R. A. ; SCHMAEDECKE, A. ; PATANÉ, C. ; BACCARIN, D. C. B. ; SILVEIRA, L. M. G. Estudo crítico do tratamento de 196 casos de fratura diafisária de rádio e ulna em cães. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 28, n. 8, p. 371-374, 2008. 06-COSTA, R. C. ; SCHOSSLER, J. E. W. Tratamento de fraturas do rádio e ulna em cães e gatos: revisão. Archives of Veterinary Science, v. 7, n. 1, p. 89-98, 2002. 07-DENNY, H. R. ; BUTTERWORTH, S. J. Rádio e ulna. In: ___. Cirurgia ortopédica em cães e gatos. 4. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 300-315. 08-EGGER, E. L. Fraturas do rádio e ulna. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1998. v. 2, p. 2057 - 2079. 09-STRAW, R. C. Membro torácico. In: BOJRAB, M. J. Técnicas atuais em cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2005. p. 692-757. 10-BRASIL, F. B. J. ; GIORDIANO, P. P. ; RIBEIRO, M. C. L. Tratamento de fraturas distais de rádio e ulna em cães miniaturas. Revisão de literatura (Parte II). Boletim de Medicina Veterinária, v. 3, n. 3, p. 43-51, 2007. 11-CARDOSO, G. ; CONEO, H. M. ; WERNER, P. R. ; ACOSTA, F. O. O emprego da canaleta de alumínio na imobilização das fraturas do rádio e ulna em cães. Revista Centro Ciências Rurais, v. 7, n. 2, p. 149-153, 1977. 12-JOHNSON A. L. Fundamentos de cirurgia ortopédica e manejo de fraturas. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 930-1014. 13-DENNY, H. R. ; BUTTERWORTH, S. J. Opções no tratamento das fraturas. In: ___. Cirurgia ortopédica em cães e gatos. 4. ed. São Paulo: Roca, 2006. p. 67-102.
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Ocorrência de Malassezia pachydermatis em gambá-deorelha-branca (Didelphis albiventris) – relato de caso
Ocurrence of Malassezia pachydermatis in white-eared opossum (Didelphis albiventris) – case report Ocurrencia de Malassezia pachydermatis en zarigüeya de orejas blancas (Didelphis albiventris) – relato de un caso Clínica Veterinária, n. 91, p. 108-111, 2011 Ana Paula Neuschrank Albano MV, mestre NURFS/CETAS - IB/UFPel neuschrank@hotmail.com
Josiara Furtado Mendes Graduanda em biologia IB/UFPel josiara.mds@gmail.com
Marco Antônio Afonso Coimbra Biológo, mestre NURFS/CETAS - IB/UFPel tobacobiol@hotmail.com
Alice Teixeira Meirelles Leite MV, mestre CRAM/ Museu Oceanográfico - FURG al_meirelles@hotmail.com
Mauro P. Soares Médico veterinário FV/UFPel msoares@ufpel.edu.br
Luiz Fernando Minello Biológo Coordenador do NURFS/CETAS - IB/UFPel minellolf@hotmail.com
Patrícia da Silva Nascente MV, dra., profa. adj. Depto. Microbiologia e Parasitologia IB/UFPel patsn@bol.com.br
Mário Carlos Araújo Meireles MV, dr., prof. ass. Depto. Veterinária Preventiva - FV/UFPel meireles@ufpel.tche.br
Resumo: Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca) é um mamífero marsupial comumente encontrado no Brasil inteiro. Vive em diversos ecossistemas, além de se adaptar bem a áreas urbanas. Essa espécie apresenta uma variada dieta que inclui restos de alimentação humana, contribuindo com sua aproximação a áreas antrópicas. Malassezia pachydermatis é uma levedura comensal e patógeno oportunista de animais domésticos e silvestres. Este é um caso de malasseziose em D. albiventris mantido em cativeiro, cujos sinais clínicos eram obesidade, letargia, lesões de pele pruriginosas no abdômen e aumento da secreção do meato acústico. M. pachydermatis foi isolada nas lesões. No exame histopatológico post-mortem foi diagnosticada esteatose hepática. Neste caso é relatada a presença de M. pachydermatis causando dermatopatia em D. albiventris associada a um desequilíbrio nutricional grave com repercussão sistêmica, provavelmente decorrente de dieta imprópria à espécie. Unitermos: animais selvagens, leveduras, meato acústico externo, esteatose hepática Abstract: Didelphis albiventris (white-eared-opossum) is a marsupial mammal commonly found throughout Brazil. It lives in many ecosystems and adapts well to urban areas. This species has a varied diet that includes remains of human diet, contributing to its proximity to anthropic areas. The yeast Malassezia pachydermatis is a commensal and opportunistic pathogen of domestic and wild animals. This is the report of a case of malasseziosis in a D. albiventris held captive, whose clinical signs were obesity, lethargy, itchy skin lesions on its abdomen and increased secretion in the ear canal. M. pachydermati was isolated from the lesions. Post-mortem histopathology disclosed liver steatosis. Here we report the presence of M. pachydermatis causing skin disease in D. albiventris, associated with a severe nutritional imbalance with systemic repercussions, probably due to an inappropriate diet for the species. Keywords: wild animals, yeast, external acoustic meatus, liver steatosis Resumen: Didelphis albiventris (zarigüeya) es un mamífero marsupial común en todo el Brasil. Vive en muchos ecosistemas y se adapta bien a las zonas urbanas. Esta especie tiene una dieta variada que incluye restos de alimentos, contribuyendo a su acercamiento a las áreas con alteraciones antrópicas. Malassezia pachydermatis es una levadura comensal y patógeno oportunista de animales domésticos y salvajes. Este es un caso de malasseziosis en D. albiventris en cautiverio, cuyos signos clínicos son la obesidad, el letargo, las lesiones de picazón en la piel del abdomen y aumento de la secreción del conducto auditivo externo. Fue aislado en las lesiones M. pachydermatis. En el estudio histopatológico post mortem se diagnosticó esteatosis hepática. En este caso se reporta la presencia de M. pachydermatis causando enfermedad de la piel en D. albiventris asociada con un desequilibrio nutricional grave con repercusiones sistémicas, probablemente debido a una dieta inadecuada para la especie. Palabras clave: animales salvajes, levadura, conducto auditivo externo, esteatosis hepática
Introdução A levedura Malassezia pachydermatis é considerada tanto um habitante normal como um patógeno oportunista em cães e gatos 1, que nos últimos anos tem sido isolado também em animais silvestres, tendo sido descrito em leão-marinho (Otaria byronia), felídeos 2 e golfinhos 3. Além disso, foi 108
também considerado parte da microbiota do meato acústico de ouriços-cacheiros (Coendou prehensilis) e de primatas 4. Leveduras do gênero Malassezia têm sido isoladas tanto em animais sadios, principalmente cães, como em indivíduos com otite externa ou dermatite. Fatores que alteram o microclima local, fornecendo umidade, temperatura
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e substrato, estimulam o aumento do número de células dessa levedura, fazendo-a passar da forma comensal ao parasitismo 5. O Didelphis albiventris (gambá-de-orelha-branca) é um mamífero pertencente à ordem Marsupialia, com ampla distribuição na América do Sul. Habita capoeiras, matas, capões e áreas urbanas, apresenta hábitos noturnos e é onívoro, com uma dieta variada que inclui invertebrados, alguns vertebrados, frutos, sementes e restos de alimentos produzidos pelo homem, o que contribui para sua aproximação a áreas antrópicas, sendo relativamente comum a captura e encaminhamento de gambás aos centros de reabilitação de animais silvestres 6,7. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de malasseziose associada a doença hepática em gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) mantido em cativeiro.
salina e também de pelame no local das lesões no abdômen próximo ao marsúpio, pela técnica do carpete 8. As amostras foram processadas no Laboratório de Micologia da Faculdade de Veterinária da UFPEL em meio ágar Sabouraud dextrose com cloranfenicol e azeite de oliva e incubadas a 36 °C por 48 horas. O animal veio a óbito treze dias após a entrega ao NURFS-Cetas, sendo encaminhado para necropsia no Laboratório de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária da UFPEL. Resultados e discussão Das amostras colhidas do meato acústico externo foi feito esfregaço corado com Gram, tendo sido encontradas leveduras. De ambas as amostras, tanto de cerume como de pelos, foi isolada Malassezia pachydermatis, 48 horas após o cultivo (Figura 2). Para avaliação micromorfológica, foi realizado exame direto das colônias em esfregaço corado com Gram em aumento de 1000x com óleo de imersão. Existem poucos estudos sobre micoses cutâneas em animais silvestres, sobretudo em Didelphis albiventris, e poucos estudos têm sido realizados a respeito de fungos isolados em animais silvestres, restringindo-se normalmente a relatos de casos. A microbiota superficial dos mamíferos é composta por ampla variedade de fungos (bolores e leveduras), que podem, eventualmente, tornar-se patogênicos para seus hospedeiros. Sabe-se que a M. pachydermatis ocorre em animais silvestres de forma semelhante à que ocorre em cães e gatos, podendo tanto estar presente em animais sadios como ser agente oportunista 1. Existem relatos prévios de isolamento de M. pachydermatis a partir de cerume proveniente de meato acústico externo em ouriços-cacheiros (Coendou prehensilis) e tamanduás-bandeiras (Tamanduá tetradactyla) 2 hígidos, demonstrando a levedura como parte da microbiota de animais silvestres. As dermatites por Malassezia são sobretudo infecções
Relato de caso Um gambá-de-orelha-branca mantido em cativeiro desde filhote foi entregue por agentes da Polícia Ambiental ao Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre, Centro de Triagem de Animais Silvestres da Universidade Federal de Pelotas (NURFS-Cetas/UFPEL), Rio Grande do Sul, com o seguinte histórico: dificuldade motora nos membros posteriores (incoordenação), inapetência e obesidade. Tinha sido retirado de seu habitat havia três anos e há algum tempo parecia debilitado em função do sobrepeso. A dieta consistia em ovos, carnes, frutas, outros itens de consumo humano e ração para cães, em três refeições diárias. Nos últimos oito meses foi observado aumento de peso e apatia. No exame clínico foram constatados obesidade, letargia, lesões alopécicas e hiperpigmentadas (Figura 1), prurido e forte odor na região abdominal. No meato acústico havia excesso de cerume escuro, compatível com malasseziose. Foi colhido material proveniente do cerume do meato acústico externo por meio de swab embebido em solução
Ana Paula Neuschrank Albano
Ana Paula Neuschrank Albano
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B Figura 1 - Lesões no abdômen próximo ao marsúpio (A e B) e alopecia no dorso (C) do gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) mantido em cativeiro
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Patrícia da Silva Nascente
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Figura 2 - Colônias de Malassezia pachydermatis em Agar Sabouraud dextrose com 48 horas de crescimento (A) e sua visualização em microscopia pela técnica de coloração de Gram (1000x) de células de levedura (B)
oportunistas e não apresentam qualquer risco de contágio. A literatura relata apenas um caso em que três cães da raça beagle de um mesmo canil manifestaram simultaneamente dermatite generalizada por Malassezia 9, que foi atribuída a fatores ambientais predisponentes. Diferentes fatores predisponentes contribuem diretamente com o desencadeamento da malasseziose. Células da levedura M. pachydermatis podem ser encontradas na pele inflamada, associada a diversas condições como, por exemplo, atopia ou desqueratinizações 10. Um aumento na prevalência também está associado à terapia prévia com glicocorticoide 11. O uso indiscriminado de antibacterianos, além de causar resistência de agentes patogênicos, também elimina bactérias comensais que competem com a M. pachydermatis, facilitando o seu desenvolvimento 12. Dentre outros fatores de virulência e sobrevivência utilizados pela M. pachydermatis inclui-se a firme aderência dessa levedura aos corneócitos, podendo modificar a coesão entre essas células e ainda danificar a queratina e interferir na produção de enzimas que alterariam a composição do manto lipídico cutâneo, promovendo inflamação local e, por fim, a ativação do complemento, desencadeando processos inflamatórios que favoreceriam a penetração desse fungo nos tecidos 10. Quanto a outros fatores predisponentes, foi relatarada a ocorrência de infecções por Malassezia sp associadas à deficiência de ácidos graxos e de zinco 13. A deficiência de zinco é conhecida por representar um importante papel em dermatoses caninas, podendo ser causada por fatores genéticos, com absorção deficiente pelo intestino, ou dietéticos, decorrentes principalmente de excesso de cálcio ou de cereais, esses últimos ocasionando altos níveis de fitatos, ambos interferindo na absorção desse mineral 14,15. A diminuição das defesas imunológicas também pode favorecer a proliferação das leveduras, pois a dermatite por Malassezia, nos seres humanos, é frequentemente observada em indivíduos imunodeprimidos 16,17, assim como em gatos soropositivos para Leucemia Viral Felina (FIV) ou gravemente imunodeprimidos 18. Diferentes estudos apontaram não haver diferença de suscetibilidade em relação ao sexo 110
para as dermatites por Malassezia 19-21. Algumas raças de cães são predisponentes e as raças basset hound, boxer, shar pei, shi tzu, lhasa apso, west highland white terrier, yorkshire, labrador, poodle, pastor alemão, cocker e dachshund são frequentemente citadas 19,20,21. Em algumas, a simples presença de dobras cutâneas cria um ambiente favorável ao desenvolvimento das leveduras lipofílicas 22,23. Em relação às faixas etárias, existe divergência nas informações, com registro de que a maioria dos casos acomete os cães com mais de dois anos 24 enquanto outros relatos apontam maior prevalência em cães com idade de até dois anos 19,25. Também foi identificada a ocorrência em animais entre um e três anos 26, enquanto que outras investigações não observaram diferenças significativas entre as faixas etárias 21,23. Na necropsia, foram observados o fígado amarelado, aumentado de tamanho, com as bordas arredondadas, de consistência amolecida e friável e a mama apresentando nodulações de 1cm de diâmetro. Histologicamente, os hepatócitos das áreas centrolobulares e medizonais apresentavam-se vacuolizados, com o núcleo rebatido para a periferia, assemelhando-se a células adiposas (Figura 3). Nas áreas periportais restavam apenas alguns hepatócitos aparentemente normais, caracterizando um quadro de esteatose. Na mama, foram observados cistos e infiltrado inflamatório de polimorfonucleares no tecido secretor e conjuntivo adjacente, compatíveis com mamite. A esteatose é oriunda da alimentação com dieta não apropriada à espécie 27. É provável que esse desequilíbrio sistêmico tenha sido a causa de base, contribuindo para a proliferação da levedura e para o desencadeamento da melasseziose no animal. Considerações finais A M. pachydermatis é uma levedura natural da microbiota de animais domésticos e selvagens e as alterações sistêmicas do microambiente local podem levar à transição da sua forma comensal para o parasitismo. Este artigo comprovou a presença de M. pachydermatis no cerume e no pelo de gambá-de-orelha-branca com sinais de malasseziose, tendo
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Marco Antônio Afonso Coimbra
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Figura 3 - Lesão macroscópica (A) e microscópica (B) do fígado de um gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) demonstrando esteatose hepática e hepatócitos vacuolizados, com o núcleo rebatido para a periferia, assemelhando-se a células adiposas
sido também constatada esteatose hepática, que pode ter sido a doença de base, predisponente à malasseziose. A presença dessa levedura reforça a importância de se estudar a microbiota fúngica de animais silvestres, ainda não totalmente conhecida, conduzindo a diagnósticos mais rápidos e precisos e a tratamentos e medidas preventivas mais eficazes. Referências 01-NASCENTE P. S. ; NOBRE, M. O. ; MEINERZ, A. R. M. ; GOMES, F. R. ; SOUZA, L. L. ; MEIRELES, M. C. A. Ocorrência de Malassezia pachydermatis em cães e gatos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 26, n. 2, p. 79-82, 2004. 02-COUTINHO, S. D. ; FEDULLO, J. D. ; CORREA, S. H. Isolation of Malassezia spp from cerumen of wild felids. Medical Mycology (Oxford), v. 44, n. 4, p. 383-387, 2006. 03-POLLOCK, C. G. ; ROHRBACH, B. W. ; RAMSAY, E. C. Fungal dermatitis in captive Pinnipeds. Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 31, n. 3, p. 374-378, 2000. 04-ÁVILA, M. O. ; BOUER, A. ; SILVA, J. A. Estudo da microbiota fúngica da pele, pêlos e conduto auditivo de ouriço-cacheiro (Coendou prehensilis), clinicamente saudáveis. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 35., 2008, Gramado. Anais... Gramado: Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária, 2008. v. 1, p. 89-89. 05-NOBRE, M. O. ; MEIRELES, M. C. A. ; GASPAR, L. F. ; PEREIRA, D. I. B. ; SCHRAMM, R. ; SCHUCH, L. F. D. ; SOUZA, L. L. ; SOUZA, L. S. Malassezia pachydermatis e outros agentes infecciosos nas otites externas e dermatites em cães. Ciência Rural, v. 28, n. 3, p. 447-452, 1998. 06-CORDERO, G. A. ; NICOLAS, R. A. Feeding habits of the opossum (Didelphis marsupialis) in northern Venezuela. Fieldiana Zoology, v. 39, p. 125-131, 1987. 07-SANTORI, R. T. ; ASTÚA DE MORAES D. ; CERQUEIRA, R. Diet composition of Metachirus nudicaudatus and Didelphis aurita (Marsupialia, Didelphoidea) in southeastern Brazil. Mammalia, v. 59, n. 4, p. 511-516, 1995. 08-MARIAT, F. ; ADAN-CAMPOS, C. La techinique du carré de tapis methode simples de prevelement dans les mycoses superficialles. Institut Pasteur, v. 113, p. 666-668, 1967. 09- MILLANTA, F. ; PEDONESE, F. ; MANCIANTI, F. Relationship between in vitro activity of terbinafine against Microsporum canis infection in cats. Journal de Micologie Médicale, v. 10, n. 1, p. 30-33, 2000. 10-GABAL, M. A. Preliminary studies on the mecanism of infection and characterization of Malassezia pachyderamatis in association with canine otitis externa. Mycopathologia, v. 104, p. 93-98, 1988. 11-WILKINSON, G. T. ; HARVEY, R. G. Atlas colorido de dermatologia dos pequenos animais - guia para o diagnóstico 2. ed, São Paulo: Manole,
1996. 304p. 12-LOBELL, R. ; WEINGARTEN, A. ; SIMMONS, R. Um novo agente para o tratamento da otite externa canina. A Hora Veterinária, v. 88, p. 29-33, 1995. 13-McGAVIN, D. ; ZACHARY, J. F. Bases da patologia em veterinária. Ed. Elsievier, Rio de Janeiro, RJ. p. 39-42. 2009. 14-CHURCH, D. C. ; POND, W. G. Bases científicas para la nutrición y alimentación de los animales domésticos. Zaragoza: Acribia, 462 p. ,1977. 15-BIRCHARD, S. J. ; SHERDING, R. G. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. São Paulo: Roca, 1591 p. , 1998. 16-GUÉHO, E. ; MIDGLEY, G. ; GUILLOT, J. The genus Malassezia with description of four new species. Antonie van Leeuwenhoek, v. 69, p. 337355, 1996. 17-KWON-CHUNG, K. J. ; BENNETT, J. E. Medical mycology. Philadelphia, Lea & Febiger, 1992, 866p. 18-RANDJANDICHE, M. Le genre Pityrosporum Sabouraud 1904. Liège, 1979, 214p. Thèse (Dotorat) - Faculté de Medicine Vetérinaire, Université de Liège. 19-LARSSON, C. E. ; LARSSON, M. H. M. A. ; AMARAL, R. C. ; GANDRA, C. R. P. ; HAGIWARA, M. K. ; FERNANDES, W. R. Dermatitis in dogs caused by Mallassezia (Pityrosporum) pachydermatis. ARS Veterinaria, v. 4, p. 63-68, 1988. 20-SCOTT, D. W. MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Muller & Kirk: dermatologia de pequenos animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, p. 1130, 1996. 21-BOND, R. ; ANTHONY, R. M. ; DODD, M. ; LLOYD, D. H. Isolation of Malassezia sympodialis from feline skin. Journal of Medical and Veterinary Mycology, v. 34, n. 2, p. 145-147, 1996. 22-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Malasseziasis fungal diseases. In : Muller & Kirk's Small Animal Dermatology. 5. ed. Philadelphia: Saunders, p. 351-357, 1995. 23-PLANT, J. D. ; ROSENKRANTZ, W. S. ; GRIFFIN, C. E. Factors associated with and prevalence of high Malassezia pachydermatis numbers on dog skin. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 201, n. 6, p. 879-882, 1992. 24-DUFAIT, R. Pitysporum canis as the cause canine chronic dermatitis. Veterinary Medicine/ Small Animal Clinician, v. 78, p. 1055-1057, 1983. 25-MACHADO, M. L. S. Dermatófilos e leveduras isolados da pele de cães com dermatopatias diversas. Porto Alegre, 2001, 82p. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Veterinária. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 26-CHOI, W. P. ; LEE, S. I. ; LEE, K. W. Aetiological and epidemiological features of canine dermatitis. Korean Journal of Veterinary Research, v. 40, n. 1, p. 94-100, 2001. 27-SCOTT, D. W. ; MULLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Doenças parasitárias da pele. In: ___. Dermatologia de pequenos animais, 5. ed., Filadélfia: W. B. Saunders, 1996. p. 360-399.
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Os centros veterinários serão profissionalizados à força?
Renato Brescia Miracca renato.miracca@q-soft.net
M. veterinário, bacharel em direito, MBA Q-soft Brasil Tecnologias da Informação www.qvet.com.br
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ste artigo é o primeiro de uma série que irá abordar aspectos da administração de centros veterinários sob o ponto de vista da legislação e das finanças. Nos últimos anos os veterinários estão percebendo que não basta somente o aprimoramento técnico para sobreviver e ter sucesso. O mercado é cada vez mais exigente e a viabilidade de qualquer empresa depende do desenvolvimento de novas competências e conhecimentos por parte de seus proprietários ou gestores. Isso não ocorre somente em nosso mercado, mas nos atinge de modo especial porque nos vemos e somos vistos pela sociedade como sucessores de São Francisco de Assis. Nossa principal virtude, o amor aos animais, é muitas vezes o maior inimigo na gestão de nossos empreendimentos. Estamos tão dedicados ao aspecto técnico e às necessidades do paciente que deixamos todo o resto em segundo plano. Desse modo, não percebemos que, ao montar um consultório, estamos na verdade criando uma pequena empresa. Ela necessita tanta atenção quanto nosso paciente, pois, se não cuidarmos de sua “saúde”, ela não será capaz de crescer, garantir nosso sustento pessoal, e evoluir para atender as necessidades cada vez mais especializadas dos animais. Passamos por uma evolução tecnológica enorme nas duas últimas décadas: trocamos o pager (bip) pelo smartphone, usamos a anestesia inalatória no lugar do Ketapum, a ultrassonografia virou rotina e já dispomos de tomografia e ressonância magnética em algumas localidades. Estamos informatizados, discutindo casos na internet por meio do Facebook, usando os benefícios da telemedicina, recebendo laudos e imagens pela internet e muito mais. Ninguém se arrisca a dizer como as coisas estarão daqui a dois anos, mas aparentemente a vida do médico veterinário pouco mudou. Não existem muitas informações confiáveis a respeito. Por isso, ainda temos usar o “eu
acho que...” e a conversa informal usando um supercomputador para como referência para avaliar a situação reunir informações que serão analisadas por um software chamado Harpia, da classe profissional. A forma de gerir o negócio veteriná- desenvolvido por um grupo formado rio não parece evoluir na velocidade da por pesquisadores do ITA (Instituto internet e do mundo globalizado: ainda Tecnológico de Aeronáutica), da Unitemos muitos tabus sobre dinheiro, camp, da Funcamp e da Receita Fedemedo de cobrar do cliente, não valori- ral. Tal software visa à automação da zamos nosso trabalho, acreditamos fir- fiscalização aduaneira, mas já surgem memente na competição por preço, boatos de que a experiência adquirida aceitamos o desconto como melhor fer- será utilizada em outras atividades fisramenta de atração de clientes e basea- calizatórias. mos nossos negócios em informalidade tributária e trabalhista, ou seja: em vez de lucrar vendendo seus serviços, muitas empresas obtêm seu “lucro” deixando de pagar os impostos e as obrigações trabalhistas. A explicação quase sempre se resume a: “se trabalhar formalmente terei que fechar!” Nesse contexto de canibalização e ilegalidade, não percebeHarpia: http://www.harpiaonline.com.br/harpia/ mos ou não entende- Projeto Vislumbra-se, no futuro, a integração e a unificação dos camos as mudanças que dastros do Sistema Harpia com o Sistema Público de Escrituestão ocorrendo ao ração Fiscal (Sped), esse último, que consiste na moderninosso redor. zação da sistemática atual do cumprimento das obrigações Enquanto estamos fiscais e acessórias, transmitidas pelos contribuintes às preocupados em com- administrações tributárias e aos órgãos fiscalizadores prar vacina mais barato ou saber quanto a concorrência co- 2- Nos últimos anos foi criada uma bra pelo saco de ração, ocorre há série de informes que serão utilizados alguns anos uma profissionalização do para traçar um perfil do contribuinte, processo de arrecadação e fiscalização. permitindo avaliar suas receitas, despeAs receitas federal, estadual e munici- sas e evolução patrimonial, por exemplo: pal perceberam que é muito mais efi- Declaração de informações sobre mociente trabalhar em conjunto e compar- vimentação financeira (Dimof) (www. tilhar informações do que disputar es- receita.fazenda.gov.br/Legislacao/Ins paço pela cobrança de tributos. A infor- /2008/in8112008.htm), instituída por matização do processo de tributação e meio da Instrução Normativa RFB nº fiscalização permitiu um avanço espe- 811, de 28 de janeiro de 2008, mecatacular na agilidade e no controle das nismo pelo qual os bancos são obrigamovimentações financeiras de pessoas dos a comunicar à Receita Federal as movimentações financeiras que ultrafísicas e empresas. passem R$5.000,00 (pessoas físicas) e R$10.000,00 (pessoas jurídicas). Saiba que: 1- Desde 2006 a Receita Federal está Atenção: esse valor é por semestre!
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3- O mercado veterinário convive há dois anos com a substituição tributária do ICMS, processo pelo qual o comprador (no caso o pet shop ou clínica veterinária) recolhe antecipadamente o valor do ICMS correspondente à venda do produto ao consumidor final. Para explicar melhor: desde outubro de 2009 ao comprar ração ou medicamentos veterinários estamos pagando, além do produto, o ICMS (imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços) sobre a venda que ainda não realizamos ao consumidor final. 4- Nos últimos anos surgiu a NFe-Nota fiscal eletrônica. Com ela pretende-se que todo o sistema de emissão de notas fiscais de produtos e de serviços seja informatizado. O projeto NFe é composto por três grandes subprojetos: Escrituração Contábil Digital, Escrituração Fiscal Digital e a NF-e – Ambiente Nacional e representa uma iniciativa integrada das administrações tributárias nas três esferas governamentais: federal, estadual e municipal. Como podemos concluir a eficiência e a capacidade de controle da fiscalização estão aumentandorapidamente e está apertando o cerco sobre a sonegação. Nesse aspecto devemos lembrar que “A ação para a cobrança do crédito
se adequar, além de maior custo financeiro para a mudança: será necessário um aumento do capital de giro e adequação do fluxo de caixa para fazer frente aos investimentos em processos, TI e pessoas, além da criação de um fundo de reserva para eventuais demandas tributárias. A tendência deverá ser o fechamento de algumas empresas e aumento do preço de nossos produtos/serviços ao consumidor final. Isso ocorrerá porque os empresários do setor costumam repassar o resultado do não pagamento dos impostos ao consumidor final, através da prática de baixos preços, ou seja, não será Nota fiscal eletrônica: www.nfe.fazenda.gov.br/ possível se regularizar e tentar portal/perguntasfrequentes.aspx manter o nível de preços atuais, pois ocorrerá prejuízo na venda. Além de aumentar substancialmente tributário prescreve em 5 (cinco) anos, contados da data da sua constituição seu faturamento e lucratividade por definitiva.” – Art.174 do Código Tribu- meio do aumento combinado de preços tário Nacional, o que significa que as e transações comerciais, as empresas irregularidades cometidas há cinco deverão realizar um controle eficiente anos ainda podem ser cobradas, acres- de custos e estoque. Não se sabe qual a melhor estratégia cidas de multa de mora de 10 a 20% sobre o valor do imposto não recolhido para conseguir mais clientes e fazer com (dependendo do tipo de tributo) e mora que paguem mais por nossos produtos; de 1% ao mês a partir da data na qual tampouco existem trabalhos no Brasil deveria ter havido o recolhi- sobre a elasticidade da demanda no mento. Quantas empresas no mercado veterinário (quanto varia a demercado veterinário pos- manda conforme a variação de preço suem saúde financeira para do produto). Esse novo cenário será uma oportuarcar com tais penalidades? Para muitas será o mesmo nidade para a profissionalização definitiva dos serviços veterinários. Será que a falência! As empresas que inicia- necessário investir na gestão das emram seu processo de regulari- presas sob todos os aspectos: marketing, zação há mais tempo terão financeiro, pessoal, TI etc. O empresáum aumento de competitivi- rio deverá então fazer uma análise crídade, pois seu sistema já está tica e realista de seus índices de luajustado e operante. As de- cratividade e desempenho para poder mais terão dificuldade para decidir se continua ou não no negócio. Integração das administrações tributárias
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Valdecir Vargas Castilho Médico veterinário especializado em perícia forense na área civil pelo Instituto de Medicina Social e Criminologia, da Secretaria de Justiça e Cidadania de São Paulo. Presidente da comissão de título de especialista da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal – ABMVL vvargascastilho@yahoo.com.br
Perícia médico veterinária e ética profissional no exercício da clínica de pequenos animais
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través do Decreto-lei número 23.133 de 9 de setembro de 1933, foram aprovadas as primeiras normas relativas às atividades da profissão de médico veterinário. Entre as atividades consideradas privativas, estavam a peritagem sobre os animais e os exames técnicos em questões judiciais, assim como as perícias, os exames e as pesquisas reveladoras de fraudes ou operações dolosas nos animais inscritos nas competições desportivas ou nas exposições pecuárias. Posteriormente, quando da criação dos Conselhos Regionais e Federal de Medicina Veterinária, essas perícias e peritagens foram ratificadas pela Lei número 5.517, de 23 de outubro de 1968. O Código de Ética do Médico Veterinário, aprovado pela Resolução CFMV número 722 de 16 de agosto de 2002, no seu Capítulo XII, trata “Das relações com a Justiça” e traz um único artigo, com três incisos, o que leva a crer, numa rápida análise, ser apenas esse artigo a única implicação do médico veterinário com a perícia, e, por conseguinte, com a justiça. Não entendemos assim. Embora o Código de Ética trate do tema em um único artigo, nossa vivência, como perito do juízo ou como assistente técnico das partes, mostra-nos que estamos comprometidos com o códex comportamental na sua totalidade, envolvendo a responsabilidade profissional, a relação com os colegas, o sigilo, a relação com o animal, com o meio ambiente, o Código de Defesa do Consumidor e até os honorários. A facilidade de acesso à Justiça, decorrente de avanços sociais trazidos pela atual Constituição Federal, provocou o aumento de ações judiciais envolvendo profissionais médicos veterinários em contendas que, além do que é justo ou injusto, atingem as relações de comportamento profissional. Traremos para reflexão um fato sub judice que parece ser pertinente ao tema abordado, tomando-se o cuidado para não citar os envolvidos, mesmo sendo público o processo, na forma do Artigo 37 da Constituição: Numa comarca do Estado de São Paulo, um médico veterinário foi acusado de imperícia por ter aplicado um colírio em um cão, causando-lhe em consequência, supostamente, cegueira. Os queixosos eram médicos, e, como tal, fundamentaram a queixa tecnicamente, nos moldes da medicina humana, acostando aos autos comprovantes de um assistente técnico médico veterinário, que supostamente comprovava a imperícia alegada. No outro polo da contenda estávamos nós, assistindo o requerido, convictos de que não houvera a imperícia questionada, após ter feito as diligências necessárias e estudado os autos. A Justiça, por sua vez, determinou um terceiro profissional,
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no caso uma médica veterinária, para atuar como perita do juízo, a fim de carrear para os autos os fundamentos científicos que a convencessem. Observe-se, no fato, que em uma única ação judicial temos três médicos veterinários envolvidos, e todos a defender interesses conflitantes: um defende os interesses do requerente, outro defende os interesses do requerido, enquanto o terceiro precisa levar a verdade real, fundamentada tecnicamente, para convencer o juiz a distribuir a justiça. Mas como envolver-se em conflitos sem se comprometer com os postulados éticos? Só há uma forma: Ater-se exclusivamente aos fatos da lide. Até mesmo os assistentes técnicos, pois, embora estes não tenham impedimentos quanto à suspeição, sua missão é mostrar os acertos dos seus clientes, estribados na ética, na independência intelectual e na fundamentação científica. No caso em questão, reclamava-se de imperícia quanto ao uso de um colírio. Assim, o que se deveria apresentar à justiça eram as ações benéficas ou maléficas do remédio frente ao quadro clínico observado e discuti-lo cientificamente, nunca atacando a dignidade do profissional acusado. É bem verdade que uma das partes pode questionar, na forma de quesito, para que o perito responda, com objetividade, se houve ou não a imperícia. Nessa embaraçosa situação, deve-se deixar o corporativismo de lado e servir à justiça, que está acima da resolução que trata do comportamento profissional. O processo em comento é recente e ainda está tramitando, em grau de recurso, em segunda instância, mas a decisão primária acatou o bem-fundamentado laudo da perita do juízo, sentenciando que a queixosa não provou a imperícia que alegou e inocentando o acusado. Envolvimentos dessa natureza começam a ser frequentes, sobretudo nos grandes centros, onde o número de profissionais e a competição são maiores e não raro, durante uma contenda, ocorrem acusações entre os profissionais médicos veterinários que acabam por comprometer a classe e a si próprios, podendo resultar em processos éticos na esfera dos conselhos regionais. No meio forense, a presença do médico veterinário tende a crescer, tanto na qualidade de perito quanto na condição de assistente técnico, aumentando a possibilidade de conflitos, com maior incidência no exercício da clínica de pequenos animais. Considerando que a formação acadêmica de médico veterinário ainda carece de mais profundidade na abordagem de questões de relacionamento humano, é prudente manter-se informado sobre os postulados éticos, cujo código é o regramento orientador da conduta profissional desejada.
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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação
Parceria inédita entre o CBNA e o setor de reciclagem animal movimenta o início de 2011
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ias 30 e 31 de março ocorrerá no Centro de Eventos São Luís – Salão Santo Inácio, na região da Av. Paulista em São Paulo, o III Congresso Internacional e X Simpósio sobre Nutrição de Animais de Estimação promovido pelo Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA). Em 2011 o evento trará seis palestrantes do exterior, experts em suas áreas, e contará também com palestras de profissionais brasileiros altamente qualificados, mantendo espaço em seu cronograma para a apresentação de trabalhos científicos. A programação inclui temas como: “Registro de ingredientes e alimentos para cães e gatos”, que será ministrado por um profissional do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa); “Embalagens plásticas para pet food: relação entre qualidade, proteção e sustentabilidade”, por profissional do Cetea/Ital, Campinas; “Necessidades de energia para cães e gatos: elas mudam em países tropicais?”, por Anton Beynen – Vobra Special Petfoods BV, Holanda; “Redução de partículas no processo de moagem”, por Andrew Hollister – Produtos Jacobson, USA; “Alimentos funcionais: pode a dieta aumentar a longevidade e o bem-estar dos animais?”, por Monica Cutrignelli - Università degli Studi di Napoli Federico II, Itália; “Segurança dos alimentos: como assegurá-la durante o processamento de pet food”, por Galen Rokey – Wenger, USA. A grande novidade deste ano, entretanto, está na sinergia do congresso com três eventos congêneres concomitantes que ocorrerão no mesmo espaço. São eles a I Expo Pet Food (Feira do Setor da indústria de Pet Food)”, o X Workshop Técnico do Sincobesp (evento técnico do Sindicato Nacional dos Coletores e Beneficiadores de Subproduto de Origem Animal) e a VI Fenagra (Feira do 118
Setor de Reciclagem de Subprodutos de Origem Animal). Tanto o X Workshop como a VI Fenagra, sob coordenação do Sincobesp e da Editora Stilo, dizem respeito ao setor de reciclagem animal, conhecido também como setor de graxarias. Ele congrega as entidades envolvidas em recolher, processar e destinar produtos secundários como sangue, penas, gorduras, vísceras e ossos. Produzindo farinhas ou trabalhando as gorduras, aumentam muito a eficiência total do setor, tornando aproveitáveis nutrientes importantes que, de outra forma, seriam simplesmente descartados. Além da óbvia economia financeira que essa atividade promove, o benefício ambiental também é grande, já que o processamento e o aproveitamento dos subprodutos de origem animal evita que o meio ambiente seja sobrecarregado com essa tarefa. Cabe lembrar que itens como vísceras e ossos, embora não façam parte do cardápio humano comum, eram ingeridos nas presas inteiras caçadas pelos antepassados dos cães e dos gatos, como parte de seu comportamento alimentar natural. A reunião dos segmentos da indústria de pet food e de reciclagem de subprodutos de origem animal, portanto, ocorreu quase que espontaneamente, uma vez que grande parte dos produtos gerados pelo setor de graxaria podem ser consumidos pela produção de pet food. De maneira análoga, parte das empresas associadas ao CBNA, notadamente as produtoras de conservantes e de equipamentos, têm como clientes potenciais tanto as indústrias de graxarias com as indústrias de pet food. À exceção da Expo Pet Food, que ocorrerá pela primeira vez, os demais eventos são já tradicionais e têm qualidade reconhecida pelo seu público. No total, serão dois auditórios para as reuniões técnicas e 80 estandes, dos quais 40 dedicados aos expositores de pet food, ocupando uma área de 2.000m2.
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São empresas nacionais e multinacionais, fabricantes de máquinas e equipamentos, prestadoras de serviços e fornecedoras de matérias-primas e de embalagens para seus respectivos mercados. A inscrição para visitação às feiras é gratuita, enquanto a participação nos eventos técnicos é feita mediante pagamento de inscrição. A inscrição em um evento técnico não dá direito à entrada em outro. Há expectativa de que os profissionais dos diferentes segmentos se encontrem e troquem informações e contatos nas duas feiras durante as visitas aos estandes e durante os intervalos dos dois eventos técnicos. Os trabalhos científicos selecionados pela comissão examinadora do CBNA para serem expostos em posters também ficarão disponíveis para apreciação pelo público do Workshop Sincobesp e do III Congresso Internacional do CBNA. As condições para networking estarão, portanto, todas lá. Os eventos contam com a parceria do Sistema FIESP/CIESP/SESI/SENAI, da Cia. Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), do Sindicato Nacional das Indústrias de Alimentação Animal (SINDIRAÇÕES), da Associação Brasileira da Indústria de Refrigeração (ABRAFRIO), do Sindicato das Indústrias do Frio no Estado de São Paulo (SINDIFRIO), da Associação Brasileira da Indústria de Saboaria e Afins (ABISA) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com a energia desse evento protagonizado por tantos atores de peso e gerador de tantas oportunidades logo no início do ano, 2011 promete já começar com grande impulso para o setor. Informações: www.cbna.com.br www.editorastilo.com.br www.nutricao.vet.br/cbna.php
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ara a diluição de drogas citostáticas e antibióticas contidas em frasco-ampola de única ou multi-dose é recomendado que, para preservar a saúde do manipulador e evitar eventuais baixas de plaquetas, este procedimento seja feito em câmara de fluxo laminar. Outra opção segura é realizar o procedimento por meio da utilização de um filtro desaerolizante. MSA Filtros Hospitalares: aerotrox@gmail.com (22) 9947-0607
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Arquitetura & Construção Pisos vinílicos que proporcionam higiene e segurança
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lguns pisos vinílicos são antiderrapantes. Isso proporciona segurança tanto para animais que possuem dificuldade de locomoção e que devem evitar pisos escorregadios quanto para a prevenção de escorregões ou quedas de pessoas que trabalham no estabelecimento veterinário ou o visitam. Outra característica importante de alguns pisos vinílicos, principalmente para áreas de internação e de centros cirúrgicos, é a higiene. O piso Tarasafe, da Gerflor, por exemplo, recebe tratamento bacteriostático e fungistático. Ele é encontrado em duas versões: Tarasafe Uni (capa de uso de PVC puro ≥0,9mm) e Tarasafe Ultra (capa de uso de PVC puro ≥1,18mm). Antes de escolher um piso vinílico, é importante avaliar as reais necessidades, para que a escolha seja a mais adequada possível. Além disso, é conveniente estar atento às informações de manutenção
do piso fornecidas pelo fabricante, como, por exemplo: a) nunca utilizar produtos à base de petróleo, como thinner, solventes, querosene etc., pois eles poderão manchar o piso. Caso ocorra derramamento de algum desses produtos, lavar o local imediatamente; b) não, utilizar palha de aço, esponja Scott Brite, ou sapólios para remover sujeiras difíceis c) na lavagem/manutenção, utilizar o mínimo de água possível, pois o excesso de água poderá causar infiltração, comprometendo o resultado final da instalação com o aparecimento de bolhas e/ou descolamento do piso; d) evitar o uso de rodas de borracha preta (pneu) sobre a superfície do piso, pois poderão surgir manchas indesejáveis. Os rodízios mais indicados são os de silicone;
lga
ção
u Div e) nunca permitir que qualquer tipo de material feito de ferro ou com- Tarasafe posto similar fique oferece grande em contato direto resistência ao com o piso viníli- desgaste co, pois caso entre em processo de oxidação (ferrugem), poderá ocasionar manchas irreparáveis e de difícil remoção. Os interessados em mais informações sobre pisos vinílicos podem aproveitar a realização da Expo Revestir 2011, de 22 a 25 de março, no Transamérica Expo Center (TEC), Av. dr. Mário Vilas Boas Rodrigues, 387, Santo Amaro, São Paulo, SP. A ACE Revestimentos, distribuidora exclusiva da Gerflor no Brasil, estará presente no evento, com a exposição de suas linhas mais diferenciadas, ecológicas e sempre sustentáveis na construção dos mais diversos ambientes.
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Ecologia Belo Monte, uma tragédia animal
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Ed Stiurges
lgumas das principais entrevistas do programa Amazônia Brasileira, produzido e apresentado por Beth Begonha na Rádio Nacional da Amazônia estão disponíveis na internet (Podcast), sendo possível ouvir on line as entrevistas ou baixar os arquivos de áudio (MP3). Entre as entrevistas disponívéis encontra-se a da médica veterinária Fernanda Vinci, que fala sobre o resgate de animais quando do enchimento de reservatórios para a construção de hidrelétricas. Ela conta sua própria experiência em um desses empreendimentos e afirma que não há uma política de proteção da fauna para essas ocasiões, não há um planejamento para o salvamento e o encaminhamento dos espécimes recolhidos, cuja maioria é encaminhada para a pesquisa ou enviada para as mãos dos taxidermistas. Neste momento em que se fala sobre a construção de Belo Monte, com a formação de um lago de 600 km2 sobre área de mata virgem e de riquíssima biodiversidade, a pergunta retorna: qual será o destino dos animais (centenas de espécies, milhares de espécimes) que habitam a área a ser alagada?
http://bethbegonha2.podomatic.com/ Confira o depoimento da médica veterinária Fernanda Vinci: http://bethbegonha2.podomatic.com/player/web/2010-05-19T14_25_49-07_00
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"Quando o último rio secar, a ultima árvore for cortada e o último peixe pescado, o homem vai perceber que dinheiro não se come" (Bob Marley)
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Lançamentos PREVENÇÃO DE ÚLCERAS Agener União amplia seu portfólio e traz para o mercado mais um lançamento em 2011, o Gaspiren V. Gaspiren V é um medicamento à base de omeprazol, indicado para o tratamento e a prevenção de úlceras e erosões do estômago e do duodeno em cães e gatos. Agener União: www.agener.com.br
Divulgação
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HIGIENE
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oedores Health Care é um granulado higiênico proveniente de madeira de reflorestamento e desenvolvido para proporcionar uma ação rápida e eficaz na absorção de líquidos e na inibição de odores. Roedores Health Care não tem adição de cascas ou folhas, pois é feito com o puro miolo da madeira, 100% natural, e absorve cerca de 400 vezes mais que qualquer outro produto. Cães & Gatos: caesegatos@caesegatos.com.br Divulgação
em todas as variedades, um produto diferenciado e também extremamente saboroso. As embalagens também mudaram e estão com cores mais vibrantes, em um visual ainda mais atrativo. Para comunicar o relançamento, a marca contará com um forte plano de mídia, além de materiais de ponto de venda diferenciados e 450 mil amostras grátis. A linha Whiskas® Lata também foi relançada e ganhou receitas mais irresistíveis. As embalagens também apresentam novidades: cores vibrantes, mais modernas, mais atrativas e com foto do produto para diferenciar as versões Patê e Pedaços ao Molho (Whiskas® Carne ao Molho e Whiskas Seco Whiskas ® e Whiskas Lata Atum ao recebem novas Molho). embalagens e
hiskas® inova mais uma vez e traz aos gatos do Brasil sua nova linha Whiskas® Seco. A grande novidade do novo Whiskas® Seco são os Delicrocs® (os “pasteizinhos” que compõem o produto), que agora contam com um recheio mais cremoso. São cinco as variedades das novas receitas: Filhotes; Carne; Peixe; Frango e Leite; Peixes e Frutos do Mar. Outra novidade são os pedaços em formato de carinha de gato (logomarca de Whiskas®)
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Roedores Helth Care – granulado higiênico sanitário para roedores
novas receitas
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removedor de odores Magic Tablets® foi desenvolvido a partir de ingredientes atóxicos e seguros (bicarbonato de sódio, ácido cítrico, oxidantes) para os animais de estimação, seus donos e o planeta. Além disso, é totalmente biodegradável. “Buscamos um produto de fácil utilização. Os Magic Tablets® foram projetados para serem usados com água de torneira normal, que ativa a poderosa ação do dióxido de carbono (CO2), eliminando odores instantaneamente e removendo algumas manchas de diversas superfícies”, explica Cleiser Kurashima, supervisora do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Pet Society®. A tecnologia eco-friendly está presente também nos Magic Tablets®, pois não são utilizados ingredientes como amônia, cloro, soda cáustica ou hidróxi124
do de potássio – nocivos ao meio ambiente, bem como à saúde do consumidor e à de seus pets –, comumente encontrados nos produtos de limpeza. O procedimento para a remoção de odores com os Magic Tablets® começa por retirar a matéria sólida ou líquida do local que se desejar tratar, deixando o local seco. Os Magic Tablets® devem ser aplicados por toda a superfície de onde se deseja retirar o odor, até deixála molhada. Depois de dez segundos, para finalizar, a área deve ser suavemente seca com uma toalha, pano ou papel-toalha limpos. Por não utilizar enzimas ou bactérias em sua formulação, o efeito dos Magic Tablets® é imediato e definitivo. Isso porque esse removedor utiliza uma mistura de agentes concentrados para criar um efeito detergente inigualável, além de eliminar quimicamente as bactérias
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REMOVEDOR DE ODORES
Magic Tablets®, apresentado em um blister com dois tabletes
responsáveis pelo odor. “A poderosa ação do CO2 faz com que o ácido úrico normalmente insolúvel na urina se torne solúvel, removendo-o completamente da superfície e evitando o retorno das bactérias”, explica Cleiser”. Pet Society: 0800 77 22 702 www.petsociety.com.br
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 91, março/abril, 2011
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$ NEGÓCIOS E OPORTUNIDADES $ Manual de fluidoterapia em pequenos animais saiba sobre os diferentes fluidos para as diferentes alterações orgânicas • • • • •
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A partir de março On line Certificado em Bem-estar Animal ! http://www.institutothoth.org 17 a 20 de março Olinda - PE Fenapet - Feira Nacional de produtos e serviços para a linha pet e veterinária ! www.fenapet.com.br 17 de março São Paulo - SP Mitos e verdades em cardiologia ! www.sbcv.org.br 18 a 20 de março Florianópolis - SC 5º NEUROVET ! www.peteventos.blogspot.com 18 de março (início) (SP, PR, SC, RS) Cuso de clínica médica de animais de companhia ! www.didatus.com.br 18 de março (início) Brasil (DF, RJ, BA, RS) Curso de diagnóstico radiográfico ! 0800 701 6330 18 a 20 de março São Paulo - SP Pet Show - Feira internacional de animais e produtos pet ! (11) 5585-4355 18 de março a 18 de setembro Jaboticabal - SP Aperfeiçoamento em cardiologia veterinária ecocardiografia e eletrocardiografia - teórico-prático ! eventos@funep.org.br
18 a 20 de março São Paulo - SP Cursos Provet 2011 - Laboratório Clínico - Hematologia - Módulo I ! (11) 3579-1431 20 de março São Paulo - SP Medicina energética para animais ! (11) 5061-7755 20 a 22 de março Viçosa - MG Cirurgias em pequenos animais ! (31) 3899-8300 21 a 25 de março Campinas - SP Ultrassonografia abdominal e pélvica (módulo básico) ! (19) 3365-1221 23 a 25 de março Viçosa - MG Anestesia em pequenos animais ! (31) 3899-8300 Inscrições até 24 de março Franca - SP Mestrado em medicina veterinária de pequenos animais - Stricto Sensu ! (16) 3711-8801 24 a 25 de março Brasília - DF III Forum das Comissões Nacional e Regionais de saúde pública veterinária do sistema CFMV/CRMVs ! www.cfmv.org.br 25 a 27 de março Viçosa - MG Odontologia em pequenos animais ! (31) 3899-8300
25 de março a 10 de abril São Paulo - SP Curso intensivo de fisiodiagnóstico ! www.ibravet.com.br 26 e 27 de março São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal avançado (teórico-prático) ! (13) 3251-3737 26 e 27 de março Cuiabá - MT Simpósio de leishmaniose visceral da Anclivepa-MT ! (65) 3052-3230 26 e 27 de março Londrina - PR Pet Eventos - Nefrologia Veterinária ! www.peteventos.com.br 26 de março a 18 de dezembro São Paulo - SP CETAC - Curso extensivo de técnica cirúrgica ! (11) 2868-1340 27 de março a 1º de maio São Paulo - SP Curso ortopedia e traumatologia ! (11) 2995- 9155 28 de março a 01 de abril São José do Rio Preto - SP ECG, holter e pressão arterial ! (17) 3011-0927 30 e 31 de março São Paulo - SP III Congresso Internacional, X Simpósio CBNA Pet e I EXPO PET FOOD ! (19) 3232-7518
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30 de março a 2 de abril Gramado - RS Congresso da Sociedade de Zoológicos do Brasil - SZB ! www.congressoszb2011.com.br ABRIL abril de 2011 a março de 2013 Brasil (SP, RJ, PR, BA) PAV - Pós-graduação em anestesiologia veterinária ! (11) 3205-5000 1º de abril São Paulo - SP Curso de atualização em oncologia ! www.equalis.com.br 1º a 3 de abril Botucatu - SP I Simpósio de Neonatologia Vet. ! (14) 3811-6019 1º a 4 de abril Curitiba - PR Cusos Intensivet - Reciclagem rápida: tubos, sondas e catéteres ! (41) 9649-2664 2 a 3 de abril Rio de Janeiro Workshop de ecocardiografia ! www.cannegatto.com.br 2 de abril a 18 de dezembro São Paulo - SP CETAC - Curso de anatomia clínica e cirúrgica ! www.cetacvet.com.br 4 de abril Via Web Atualização em clínica de felinos ! www.equalis.com.br
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8 e 9 de abril São José do Rio Preto - SP 1º Seminário de Leishmaniose Visceral Americana do Noroeste Paulista ! leishmanioserp@gmail.com
27 a 30 de abril Goiânia - GO 32º Congresso Brasileiro da Anclivepa ! (11) 3205-5000 ! www.anclivepa2011.com.br
8 a 10 de abril São Paulo - SP I Encontro Internacional de Bemestar Animal da AMVEBBEA ! www.amvebbea.com.br
29 de abril a 1º de maio Botucatu - SP IV Curso de cinofilia e adestramento ! (14) 3354-5460
15 de maio a 19 de junho São Paulo - SP Curso teórico-prático de cirurgia de partes moles ! (11) 2995- 9155
25 a 27 de maio Recife - PE XIX Congresso Brasileiro de Reprodução Animal ! www.cbra.org.br
16 e 17 de maio São Paulo APPCC ou HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle/Hazard Analysis and Critical Control Points) ! (11) 3305-3301
27 e 28 de maio São Paulo - SP Curso de ortopedia: módulo cirurgias da coluna vertebral ! (11) 3034-4482
8 a 10 de abril Riberão Preto - SP 1º Simpósio de medicina veterinária do Interior Paulista (SIMVIPA) ! (16) 3623-0050
MAIO 1º de maio São Paulo - SP Casos complicardiológicos ! www.sbcv.org.br
17 de maio Local a confirmar II Encontro de Ética, Bioética e Bem-estar Animal ! www.cfmv.org.br
10 e 11 de abril Viçosa - MG CPT - Curso de exame andrológico, resfriamento e congelamento de sêmen em cães e gatos ! (31) 3899-8300
2 a 3 de maio São Paulo - SP BPF ou GMP (Boas Práticas de Fabricação/Good Manufacturing Practices) ! (11) 3305-3302
12 a 14 de abril Viçosa - MG CPT - Curso de inseminação artificial em cães e gatos ! (31) 3899-8300
4 a 5 de maio São Paulo - SP Formação de Auditor Interno de BPF ou GMP (Boas Práticas de Fabricação/Good Manufacturing Practices) ! treinamento.brasil@dnv.com
17 e 18 de maio São Paulo Formação de Auditor Interno APPCC ou HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle/Hazard Analysis and Critical Control Points) ! (11) 3305-3301
14 a 18 de abril Jundiaí - SP - Serra do Japi Pensamento crítico avançado ! www.institutothoth.org 15 de abril São Paulo - SP IBRA - Curso intensivo de marketing veterinário ! (11) 3791-4272 15 a 17 abril Campinas - SP Curso de ultrassonografia oftalmológica veterinária ! (19) 3365-1221 15 a 17 abril Viçosa - MG Curso de dermatologia ! (31) 3899-8300 16 a 21 de abril São Paulo - SP XXI SACAVET e VIII SIMPROPIRA ! www.sacavet.com.br
6 maio (3 módulos - 3 meses) São Paulo - SP Iniciação em ortopedia veterinária ! (11) 7693-9151 6 e 7 de maio Aracaju - SE I SINNOVET - I Simpósio Nordestino de Neurologia e Ortopedia Veterinária ! www.sinnovet.blogspot.com 6 a 8 de maio Curitiba - PR Cusos Intensivet - Reciclagem rápida: cardiologia para o plantonista ! www.intensivet.com 11 a 13 de maio Local a confirmar Seminário de Saúde Pública Veterinária ! www.cfmv.org.br
18 a 22 de maio Curitiba – PR VI Jornada Grupo Fowler ! www.grupofowler.org 20 a 22 de maio Botucatu - SP GEPA - II Curso Internacional de ortopedia e traumatologia em animais de companhia ! (14) 3811-6019 20 a 22 de maio Londrina - PR 5ª Noites infecciosas felinas ! (43) 9161-0771
28 e 29 de maio São Paulo - SP IBRA - Curso Intensivo de ortopedia em pequenos animais ! (11) 3791-4272 JUNHO 1 a 3 de junho Brasília - DF III Seminário Brasileiro de Residência em Medicina Veterinária ! www.cfmv.org.br 3 a 5 de junho Curitiba - PR Cusos Intensivet Reciclagem Rápida - Choque, fluidoterapia e controle de danos ! (41) 9649-2664 8 de junho a 25 de agosto São Paulo - SP II Curso intensivo de medicina felina ! (11) 3813-6568
20 a 22 de maio São Paulo - SP 1º Curso Nacional de Reciclagem em Cardiologia Veterinária ! www.sbcv.org.br
13 a 17 junho Campinas - SP Curso de ultrassonografia abdominal e pélvica (módulo avançado) ! (19) 3365-1221
21 e 22 de maio Porto Alegre - RS Simpósio de Cardiologia Veterinária ! (43) 9151-8889 ! www.peteventos.com.br
16 e 17 de junho Local a confirmar Seminário de Saúde Pública Veterinária ! www.cfmv.org.br
22 a 24 de abril Jundiaí - SP - Serra do Japi CA01 - Introdução ao comportamento animal - Instituto Thoth ! www.institutothoth.org
14 de maio São Paulo - SP Atualização em fisioterapia veterinária: modalidades fisioterápicas e discussão de casos ! (11) 9821-2752
21 e 22 de maio São Paulo - SP Atualização em fisioterapia veterinária - Módulo 2: afecções neurológicas e ortopédicas e aplicação prática da fisioterapia ! fisiocarepet.com.br
24 a 28 de abril São José do Rio Preto - SP Ecodopplercardiograma ! www.kardiovet.com.br
14 de maio São Paulo - SP Laserterapia e cromoterapia ! (11) 3791-4272
23 a 27 de maio Campinas - SP Ecodopplercardiografia veterinária ! (19) 3365-1221
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27 a 29 de maio Botucatu - SP III Curso Teórico-Prático de Craniotomia em Pequenos Animais ! secretaria@bioethicus.com.br
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25 e 26 de junho Brasília - DF Curso teórico/prático de videoendoscopia diagnóstica em animais silvestres ! (61) 3326-0524 27 a 30 de junho São Paulo - SP Oficina: Entendendo a agressividade canina e felina ! www.itecbr.org
JULHO 1 a 3 de julho São Paulo - SP II Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo ! www.itecbr.org 8 a 10 de julho Curitiba - PR Cusos Intensivet Reciclagem rápida - Aprenda tudo sobre Sepse e as perólas no tratamento do doente com gastroenterite hemorrágica ! www.intensivet.com AGOSTO 3 a 7 de agosto Belo Horizonte - MG 5º Congresso Brasileiro de Homeopatia Veterinária ! www.amvhb.org.br 12 a 14 de agosto Botucatu - SP Simpósio de clínica médica de pequenos animais - nefrologia ! marifunvet@fmvz.unesp.br 27 de agosto a 22 de setembro Porto Alegre – RS Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária ! (14) 3813-3898 SETEMBRO 1º a 26 de setembro São Paulo ICurso FOCA Nível II (Formação de Oficiais de Controle Animal) ! www.itecbr.org
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11 a 19 de setembro São Bernardo do Campo - SP XIII Samvet - Semana Acadêmica de Medicina Veterinária da Universidade Metodista de São Paulo ! www.samvetmetodista.com.br 26 a 30 de setembro Goiânia - GO XV Encontro Nacional de Patologia Veterinária (ENAPAVE) I Congresso Brasileiro de Patologia Veterinária V Simpósio Brasileiro da CL Davis Foundation
! www.enapave.com.br OUTUBRO 3 a 7 de outubro Campinas - SP Bem-estar em animais selvagens - XX Encontro e XIV Congresso ! www.abravas.org.br 18 a 20 de outubro São Paulo - SP 10º Congresso Paulista de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Conpavepa) 9º Congresso Paulista de Medicina veterinária (Conpavet) Pet South America
! www.anclivepa-sp.org.br NOVEMBRO 1 a 4 de novembro Florianópolis - SC 38º CONBRAVET ! www.conbravet2011.com.br
13 a 19 de março Banna - Itália Reunião de peritos sobre a gestão da população canina ! dog-population-management @fao.org
SETEMBRO 30 de setembro a 2 de outubro Sofia – Bulgaria PET BIZ 2011 The Balkan Special Event For Pet Food, Pet Accessories,Aquariums, and NEW Business Ideas ! www.petbiz.gr
ABRIL 20 a 22 de abril Kiev – Ucrânia International Forum ZooVetExpo - 2011 ! www.zoovetexpo.com
OUTUBRO 10 a 14 de outubro Cape Town – África do Sul 30th World Veterinary Congress 2011 - Caring for animals: healthy communities
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MAIO 7 a 9 de maio Buenos Aires - Argentina Jornadas Veterinarias ! jornadasveterinarias.com 12 a 15 de maio Bolonha – Itália Zoomark International 2011 ! http://zoomark.it/ 13 a 15 de maio Lyon – France World conference on veterinary education - Vet 2011 ! www.vet2011.org JUNHO 6 e 7 de junho Buenos Aires – Argentina 6º Congreso Latinoamericano de Oftalmología Veterinaria ! www.clove2011.com.ar
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! www.worldvetcongress2011. com 14 a 17 de outubro Jeju – Korea WSAVA 2011 - 36th World Small Animal Veterinary Association World Congress
! www.wsava2011.org NOVEMBRO 4 a 7 de novembro Albuquerque, NM – USA VCS Veterinary Cancer Society 2011 Annual Conference ! www.vetcancersociety.org