G uarรก Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011 - R$ 20,00
EDiTORA
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais
Índice Clínica médica - 46
Depto. Virologia, Desidério Finamor
Dirofilariose em cães e gatos – breve revisão Heartworm in dogs and cats – a brief review Dirofilariosis en perros y gatos – una breve revisión
Juliana Werner
Coração com Dirofilaria immitis
Clínica médica - 52
Herpes-vírus canino em filhotes da raça golden retriever – relato de caso Canine hepesvirus in golden retriever pups – case report Herpesvirus canino en cachorros Golden Retriever – relato de casos
Dermatologia - 58
Lúpus eritematoso vesicular canino – relato de caso e revisão de literatura
Geovanni Dantas Cassali
Fotomicrografia de pele de cão. Degeneração hidrópica da camada basal da epiderme (dermatite de interface – setas pretas) e o infiltrado inflamatório monomorfonuclear em faixa na derme superficial (liquenoide – elipse) que oblitera a junção dermoepidérmica
Canine vesicular cutaneous lupus erythematosus – case report and a review Lupus eritematoso cutáneo vesicular canino – relato de caso y revisión de la literatura
Células multinucleadas formando sincício, com núcleos em graus variáveis de degeneração e pontes intercelulares em cultivo celular de células MDCK compatíveis, com efeito citopático de herpes-vírus canino Luiz Henrique de A. Machado
Dermatologia - 64
Fasceíte necrotizante – relato de dois casos Necrotizing fasciitis – a two-case report Fascitis necrosante – reporte de caso
Oncologia - 72
Carboplatina e inibidor de Cox-2 no tratamento do carcinoma inflamatório de mama em cadela – relato de caso
Cadela poodle apresentando ferida única ulcerada, eritematosa, com acúmulo de secreção e pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular
Carboplatin and Cox-2 inhibitor in the treatment of inflammatory mammary carcinoma in a female dog – case report
Cão fêmea, labrador, portador de carcinoma inflamatório de mama, microscopia. Imuno-histoquímica para COX-2. Fortemente positivo em mais de 10% das células
Carboplatino y Cox-2 en el tratamiento del carcinoma inflamatorio de mama de perra – relato de caso
Cardiologia - 78
Holter em animais de companhia – indicações clínicas e avaliação da variabilidade da frequência cardíaca Holter in companion animals – clinical indications and evaluation of heart rate variability Holter en animales de compañía – indicaciones clínicas y evaluación de variabilidad de la frecuencia cardíaca
Carolina Dias Jimenez
Maira Souza de Oliveira
Cão da raça dachshund utilizando colar de contenção e colete para a realização do exame de Holter. A seta vermelha indica bolso no colete onde o monitor é alojado
Diagnóstico por imagem - 88
Características tomográficas de neoplasias encefálicas primárias em cães Tomographic characteristics of primary brain neoplasias in dogs Características tomográficas de las neoplasias encefálicas primarias en perro
Corte tomográfico transversal do crânio após aplicação de contraste mostrando área hipodensa de formato oval e amorfa (*) em região de hemisfério cerebral direito e presença de anel peritumoral (seta)
4
Animais selvagens - 98
Tratamento de fratura de rádio em peixe-boi-daamazônia (Trichechus inunguis) – relato de caso Radius fracture treatment in an Amazonian manatee (Trichechus inunguis) – case report Tratamiento de fractura de radio en un manatí del Amazonas (Trichechus inunguis) – caso clínico
Peixe-boi amazônico sendo amamentado após resgate. Notar alteração anatômica e lesão cutânea da nadadeira peitoral esquerda
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Editorial - 10
Seções
Sustentabilidade - 12
• Cientistas entregam a parlamentares e ministros contribuições para o debate em torno do projeto de lei que altera o Código Florestal 12 • Greenpeace simula acidente nuclear na sede do banco no Rio de Janeiro e cobra a suspensão do investimento em Angra III para garantir a segurança do país 13
Saúde pública - 14
• Gleisi Hoffmann defende a inclusão de veterinários na composição do NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família) 14 • Quanto é efetivo o abate de cães para o controle da leishmaniose? 16 • Proposta de inclusão do encoleiramento em massa no programa de controle da leishmaniose visceral 16 • Raiva humana, atualidades, profilaxia e tratamento 18
Notícias - 22
• UFPR abre residência em medicina veterinária do coletivo 22 • Congresso Mundial de Veterinária – cuidar de animais: comunidades saudáveis 24 • Simpósio Internacional de Nefrologia e Urologia Veterinárias – SINUV 26
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• Feira Pet Show superou as expectativas 28 • Atualização em medicina interna na Expovet Minas 28 • Brasileiros também serão palestrantes no Latin American Veterinary Conference 30 • Palestrantes brasileiros fazem sucesso no Congresso Brasileiro da Anclivepa 32 • Farmina Pet Foods estende ao Brasil campanha internacional de prevenção 36 • Piracicaba conta com qualidade e alta tecnologia em serviços de ultrassonografia 36 • Telemedicina 36 • Promoção da saúde e bem-esta animal é foco do Prêmio Veterinário Cidadão 36
Bem-estar animal - 38
Síndrome de Münchhausen por procuração em animais de estimação
Medicina veterinária do coletivo - 40
Entendendo a agressividade canina e felina
Ecologia - 104
• Safári do Busch Gardens conscientiza sobre o risco de extinção dos guepardos
Arquitetura & Construção - 106 Sinalização e comunicação visual
Gestão, estratégia & marketing - 108
• Faturamento, salário ou lucro? 108 • Seja responsável pela experiência de seus clientes - parte 1A: desde o telefonema até a sala de exame 110
Livros - 112
• Aves do Brasil – Pantanal & Cerrado • Larousse do cão e do cãozinho
Medicina veterinária legal - 113 Identificação genética de espécies animais
Pet food - 114
III Congresso Internacional do CBNA sobre nutrição de animais de estimação atendeu às expectativas
Internet - 116
• Capacitação via web
Lançamentos - 117
• Higiene e beleza para gatos • Alimento exclusivo para gatos castrados
Negócios e oportunidades - 118 Serviços e especialidades - 119 Agenda - 127
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Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br EDITORES / PUBLISHERS Alessandra Martins Vargas Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Endocrinovet editor@editoraguara.com.br alessandra@endocrinovet.com.br CRMV-MG 10.684 Alexandre Lima Andrade Maria Angela Sanches Fessel CMV/Unesp-Aracatuba cvredacao@editoraguara.com.br landrade@fmva.unesp.br CRMV-SP 10.159 Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA PUBLICIDADE / ADVERTISING abiondo@uiuc.edu midia@editoraguara.com.br Aloysio M. F. Cerqueira EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING UFF amfcerqueira@uol.com.br Editora Guará Ltda. Ana Claudia Balda CAPA / COVER FMU, Hovet Pompéia anabalda@terra.com.br Liquid Productions, LLC Ana Paula F. L. Bracarense Florida Manatee in Crystal River. DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Angela Bacic de A. e Silva FMU angelbac2002@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA IMPRESSÃO / PRINT amg@ufla.br Grupo Vox - www.voxeditora.com.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal TIRAGEM / CIRCULATION camacho@fcav.unesp.br 13.000 exemplares A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP www.facebook.com/clinicavet anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br www.twitter.com/clinicavet Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS Ayne Murata Hayashi LETTERS AND SUBSCRIPTION FMVZ/USP Editora Guará Ltda. aynemurata@ig.com.br Depto. de Assinaturas Benedicto W. De Martin Rua dr. José Elias 222 - Alto da Lapa - 05083-030 FMVZ/USP; IVI São Paulo - SP - BRASIL ivi@ivi.vet.br cvassinaturas@editoraguara.com.br Berenice Avila Rodrigues Central de assinaturas: 0800 - 891 6943 FAVET/UFRGS Telefone/fax: (11) 3835-4555 berenice@portoweb.com.br
é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.
Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br
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Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP clarissa@usp.br Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@vm.uff.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fabiano Séllos Costa UFRPE e UFES fabianosellos@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flávia R. R. Mazzo Provet flamazzo@gmail.com Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/Unesp-Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br
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Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Iaskara Saldanha Provet iaskara.silva@gmail.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-Unesp-Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP ja.ps@uol.com.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu jtbrondani@yahoo.com Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal werther@fcav.unesp.br
Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo A. B. V. Guimarães FMVZ/USP mabvg@usp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/Unesp-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes@fmva.unesp.br
Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@uenp.edu.br Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP maurolantzman@gmail.com Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka FMVZ/USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet Pompéia netuno2000@hotmail.com Ricardo G. D´O. de C. Vilani UFPR vilani@ufpr.br
Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Robson F. Giglio Provet e Hosp. Caes e Gatos robsongiglio@gmail.com Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco UNIP/SP silviacrusco@terra.com.br Silvia Neri Godoy UICMBio Sede silng@uol.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Int. Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Viviani de Marco UNISA, Hosp. Vet. Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br
Instruções aos autores
Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara. com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e de autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e email). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Utilizar letra arial tamanho 10, espaço simples. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas ou desenhos devem possuir indicação do fotógrafo/desenhista e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará. Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser informadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo SP cvredacao@editoraguara.com.br
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Editorial
C
om a chegada do Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, será inevitável a ocorrência de eventos envolvendo a conservação do planeta, tema amplamente comentado tanto nos grandes jornais quanto em revistas científicas. A revista Nature, por exemplo, na edição de março de 2011, publicou trabalho produzido por grupo de cientistas de instituições dos Estados Unidos que levanta a questão de uma eventual sexta extinção em massa. “Paleontólogos caracterizam como extinções em massa os episódios em que a Terra perde mais de três quartos de suas espécies em um intervalo geológico curto, como ocorreu apenas cinco vezes nos últimos 540 milhões de anos. Por conta das perdas de espécies conhecidas nos últimos séculos e milênios, cientistas prevêem a Biólogos agora sugerem que uma sexta extinpossibilidade de ocorrer a sexta extinção em massa ção em massa possa estar ocorrendo, por conta das perdas de espécies conhecidas nos últimos séculos e milênios. Se as espécies atualmente ameaçadas – aquelas classificadas oficialmente como em risco crítico, em risco ou vulneráveis – realmente se extinguirem, e se essa taxa de extinção continuar, a sexta extinção em massa poderá chegar tão cedo quanto de três a 22 séculos”, explicam os autores do artigo. Felizmente, os próprios autores do estudo, acreditam que não é tarde demais para salvar muitas das espécies em risco de modo a que o mundo não ultrapasse o ponto de retorno rumo à nova extinção em massa. Entretanto, em alguns lugares, a conservação envolve uma intensa mudança cultural. Na comunidade de Igarapé do Costa, no Pará, por exemplo, o boto cor-de-rosa é visto pelos pescadores como uma praga e a sua população vem sendo dizimada. Há dois anos, a equipe do Programa Botos do Pará (PBP), coordenado pelo biólogo português António Miguel Miguéis, Ph.D, registrou 250 botos numa reserva perto da cidade. Este ano, somente 50 foram encontrados. Vídeo disponível na internet denúncia a situação: http://g1.globo.com/natureza/noticia/2011/04/matanca-crescenteameaca-de-extincao-os-botos-da-amazonia.html (http://tinyurl.com/3o9hg6v). Mais informações sobre o Programa Botos do Pará podem ser obtidas no endereço: www.botos.org. No segmento pet uma prática muito observada e que precisa ser combatida para que seja possível conservar nossa biodiversidade é o tráfico de animais silvestres. Atenta à esta necessidade, há alguns meses a WSPA Brasil vem divulgando a campanha SILVESTRE NÃO É PET, que possui documentário com a participação de vários conhecedores da realidade brasileira, disponível no YouTube: www.youtube.com/watch?v=wt2zqkgyfwo. Uma forma dos médicos veterinários colaborarem para a conservação é recomendando aos seus clientes atividades que necessitem do meio ambiente preservado, como, por exemplo, a observação de aves, que vem ganhando muitos seguidores. Difundida internacionalmente como birdwatching, propõe que os interessados em interagir com aves façam isso em ambiente natural: grandes parques e áreas preservadas. Lançamentos de publicações nacionais e do evento anual Avistar Brasil (Encontro Brasileiro de Observação de Aves - www.avistarbrasil.com.br) estimulam o crescimento do segmento. “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”, Chico Xavier.
Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 10
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Sustentabilidade
Cientistas entregam a parlamentares e ministros contribuições para o debate em torno do projeto de lei que altera o Código Florestal*
Mobilização da comunidade científica A revisão do Código Florestal brasileiro tem provocado sérias preocupações na comunidade científica e suscitado diversas manifestações. Com uma possível aprovação do relatório que
propõe mudanças na legislação ambiental, o Brasil estaria “arriscado a sofrer seu mais grave retrocesso ambiental em meio século, com consequências críticas e irreversíveis que irão além das fronteiras do país”, segundo carta redigida por pesquisadores ligados ao Programa BIOTA-FAPESP e publicada em julho de 2010 na revista Science. As novas regras, segundo eles, reduzirão a restauração obrigatória de vegetação nativa ilegalmente desmatada desde 1965. Com isso, “as emissões de dióxido de carbono poderão aumentar substancialmente” e, a partir de simples análises da relação espécies-área, é possível prever “a extinção de mais de 100 mil espécies, uma perda massiva que invalidará qualquer comprometimento com a conservação da biodiversidade”. A comunidade científica, de acordo com o texto, foi “amplamente ignorada durante a elaboração” do relatório de revisão do Código Florestal. A mesma crítica foi apresentada em carta enviada pela SBPC e ABC, em junho de 2010, à Comissão Especial do Código Florestal Brasileiro na Câmara dos Deputados. Em agosto, o BIOTA-FAPESP realizou o evento "Impactos potenciais das alterações do Código Florestal Brasileiro na biodiversidade e nos serviços ecossistêmicos". Pesquisadores reunidos avaliaram possíveis impactos que as alterações do Código Florestal terão sobre grupos taxonômicos específicos (vertebrados e alguns grupos de invertebrados), bem como em termos de formações (Mata Atlântica e Cerrado) e de serviços ecossistêmicos (como ciclos biogeoquímicos e manutenção de populações de polinizadores). guentermanaus
Cientistas ligados à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e à Academia Brasileira de Ciências (ABC) apresentaram na segunda-feira (25/4), em Brasília, o documento O Código Florestal e a Ciência – Contribuições para o Diálogo. A publicação reúne argumentos da comunidade científica para o aprimoramento do debate em torno do projeto de lei que propõe a alteração do Código Florestal. O documento será entregue a ministros, deputados e senadores, que se preparam para votar em breve o projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados e que institui mudanças significativas na principal lei de proteção às florestas brasileiras. De acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, o projeto que altera o Código Florestal (PL 1876/99 e outros) será incluído na pauta do plenário nos dias 3 e 4 de maio. Segundo a SBPC e a ABC, o Brasil dispõe de milhares de doutores, detém o conhecimento na área de sensoriamento remoto e modelagem computacional, lidera o mundo no monitoramento das coberturas e usos do solo e tem excelência reconhecida nas pesquisas agropecuária e florestal. “Isso faz da ciência uma peça fundamental no quebra-cabeça que precisa reunir técnicos, produtores rurais, ambientalistas, parlamentares e a sociedade civil nas discussões que nortearão o diálogo sobre o Código Florestal”, disse Helena Nader, presidente da SBPC. O grupo de trabalho organizado pelas duas entidades científicas reuniu doze pesquisadores nas áreas de agronomia, engenharia florestal, ciências da terra, hidrologia, meteorologia, biologia, ciências sociais, genética, biotecnologia, economia ambiental e direito. Os especialistas avaliaram os mais importantes pontos propostos para a revisão do Código e fizeram análises específicas, mas sempre buscando conexões por meio da interdisciplinaridade. Nesse processo, apoiaram-se na literatura científica sobre o tema. O grupo de trabalho também consultou outros especialistas de diversas instituições de pesquisa e ouviu gestores públicos e parlamentares para a coleta de opiniões que balizaram a formulação do texto a ser apresentado para a sociedade brasileira. O documento estará disponível nos sites da SBPC (www.sbpcnet.org.br) e da ABC (e www.abc.org.br).
Mudança no Código Florestal podem levar a retrocesso ambiental
Fonte: Agencia Fapesp – http://agencia.fapesp.br/13775 12
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011
Sustentabilidade
Greenpeace simula acidente nuclear na sede do banco no Rio de Janeiro e cobra a suspensão do investimento em Angra III para garantir a segurança no Brasil Na véspera do aniversário de 25 anos do acidente nuclear em Chernobyl, na antiga União Soviética, uma ‘nuvem radioativa’ cobriu a sede do BNDES, no Rio de Janeiro. A fumaça laranja que subiu aos céus no Largo da Carioca, endereço do banco no centro da cidade, foi ao mesmo tempo um alerta sobre os perigos de um acidente nuclear e um apelo para que o BNDES suspenda o financiamento para a construção da usina nuclear de Angra III. Por volta das nove e meia da manhã, ativistas do Greenpeace vestidos como equipes de resgate faz alerta sobre possível acidente nuclear no Brasil em acidentes nucleares dispara- Greenpeace e contesta o investimento do dinheiro público nessa fonte de ram sinalizadores de fumaça na energia, sendo que o Brasil tem grande potencial para utilizar frente do prédio do BNDES, si- energia limpa: www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/BNDESmulando contaminação por radia- financia-um-calhambeque-atomico ção. Um cartaz pedia ao BNDES 1 bilhão de reais e a estimativa para não financiar uma geração de energia tão insegura, do seu custo total ultrapassa 10 como provam Chernobyl e Fukushima. bilhões de reais. É muito dinheiO governo brasileiro tem na manga cinco projetos de ro para se investir em uma usina novas usinas nucleares. Quatro ainda estão sem endereço que até seus criadores, os aledefinido. Jacques Vagner, governador da Bahia, torce para mães, consideram uma espécie levar a maior parte delas para seu estado. A quinta está para de calhambeque atômico. ser construída em Angra dos Reis, no litoral Sul fluminense, O Greenpeace convida a todos para assinar a petição no complexo que já abriga as usinas nucleares de Angra I e “PARE ANGRE III”: www.greenpeace.org.br . II. A nova unidade, Angra III, já custou aos cofres públicos
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Saúde pública
Gleisi Hoffmann defende a inclusão de veterinários na composição dos NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família)
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o dia 23 de março de 2011 a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) enviou ao Ministro da Saúde oficio de apoio à proposta do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) para a inclusão dos médicos veterinários nos NASF (Núcleos de Apoio à Saúde da Família). No dia seguinte, 24 de março, a senadora reforçou seu apoio à proposta por meio de marcante pronunciamento no Senado Federal. Dia a dia, torna-se mais evidente o reconhecimento e a necessidade de os médicos veterinários atuarem nos NASF, pois 75% das doenças infeccio-
sas emergentes e reemergentes são transmitidas na interface entre o homem, os animais e o ecossistema. Isso também pode ser conferido avaliando-se a evolução da legislação pertinente ao setor. Um exempo bem atual é a Portaria n. 1.007 do Ministério da Saúde, publicada em 4 de maio de 2010, que estabelece a integração dos Agentes de Controle de Endemias (zoonoses) nas equipes de Saúde da Família, ficando claro e evidente que os médicos veterinários não podem continuar sendo excluídos do elenco de profissionais que estão listados nos
NASF. Além disso, a Resolução no 287/98 do Conselho Nacional de Saúde reconhece que a medicina veterinária compõe o rol das profissões da área da saúde. Tudo isso também vem ao encontro do que vem sendo difundido nas comemorações no Ano Veterinário Mundial (www.vet2011.org) – momento em que se comemoram 250 anos da medicina veterinária a serviço da saúde dos animais e dos seres humanos. A seguir, confira a íntegra do pronunciamento da senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR) no Senado Federal.
Pronunciamento da senadora Gleise Hoffmann pela inclusão dos médicos veterinários no NASF
Sr. Presidente, Srs. Senadores e Sras. Senadoras, 2011 é um ano muito especial para a medicina veterinária. Afinal, há exatos 250 anos, foi fundada a primeira escola veterinária do mundo, na cidade francesa de Lyon. Além disso, em uma feliz coincidência, 2011 também é particularmente importante para a medicina veterinária no meu Estado – afinal, o curso de graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a universidade pública mais antiga do Brasil, comemora 80 anos de existência. Moreira Mariz
Senadora Gleise Hoffmann, durante pronunciamento, feito no dia 24 de março, no Senado Federal, onde defendeu a inclusão dos médicos veterinários no NASF. Seu pronunciamento está disponível na internet nos formatos de texto e de áudio (Rádio Senado)
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Reconhecendo a importância dessa data e, sobretudo, a relevância dos serviços prestados em benefício da sociedade pelos profissionais da medicina veterinária ao redor do mundo, várias organizações de grande importância no cenário internacional, tais como a Organização das Nações Unidas para Saúde e Alimentação (FAO), a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) e a Comissão Europeia, entre outras, declararam 2011 como Ano Mundial da Medicina Veterinária, com o tema “Veterinária para a Saúde, Veterinária para o Alimento, Veterinária para o Planeta”. Desde 1761, quando, considera-se, foi criada a profissão de médico veterinário, são 250 anos de exercício desse ofício, cujo papel principal tem sido a busca de melhorias na saúde humana e animal. Se, no passado, poderia haver alguma confusão em torno da amplitude das atribuições do profissional dessa área, por vezes vistos exclusivamente como médicos e defensores do bem-estar dos animais, atualmente os veterinários modernos são tidos como profissionais da saúde pública, tendo papel crucial em várias frentes, como a promoção da segurança alimentar, por supervisionar a higiene da produção
animal; o controle de zoonoses; o monitoramento de qualidade de alimentos e segurança; a investigação biomédica; e a proteção do meio ambiente, da biodiversidade e da nossa fauna, sem deixar de lado, contudo, a defesa do bem-estar animal. Fica evidente quão vastas são as possibilidades de atuação desses profissionais como agentes de saúde, interagindo de forma absoluta com as demais atividades desenvolvidas no setor, até porque a compreensão desse novo mundo globalizado, repleto de agentes e de atores, demanda a maior interatividade possível entre indivíduos e organizações e também entre diferentes profissionais em busca dos melhores resultados para a sociedade. Exemplo disso é uma estratégia inovadora chamada “Um Mundo, uma Saúde”, elaborada pelos quatro organismos internacionais responsáveis pelo tema: FAO, OIE, OMS e Unicef. A ideia corresponde à prevenção e ao controle das enfermidades infecciosas emergentes e reemergentes, na interface entre o homem, os animais e os ecossistemas e foca as doenças capazes de provocar epidemias e pandemias. Seu objetivo é preventivo quanto às doenças e visa resolver os problemas de saúde nas populações mais suscetíveis, reforçando a capacidade de resposta às emergências mundiais de saúde.
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Essa iniciativa de “uma saúde única” corresponde a um movimento que busca a união entre médicos, médicos veterinários, dentistas, enfermeiros e outros profissionais de saúde, com o conceito de que, para as doenças, não há separação entre o homem, os animais e o meio ambiente. No Brasil, ao longo desses pouco mais de cem anos de existência, a medicina veterinária vem contribuindo significativamente com a melhoria da saúde animal, disponibilizando alimentos de qualidade, e da saúde pública, cuidando das doenças transmitidas pelos animais e também, devemos reconhecer, tratando dos nossos animais domésticos, nossos companheiros de lar. Uma sociedade evoluída, Sr. Presidente, destaca-se pelo alto grau de consciência sobre os direitos das mulheres, das crianças, dos idosos e dos cidadãos menos favorecidos economicamente. E, do mesmo modo, as sociedades evoluídas também zelam pelo bem-estar e pelo direito dos seus animais. Nesse contexto, mais uma vez, os médicos e as médicas veterinários são profissionais de grande relevância. Parece-me claro que os profissionais da medicina veterinária são essenciais para o bom funcionamento da saúde pública e sua atuação na área pode ser bastante ampla. Podem inserir-se em diferentes atividades que contemplam a gestão, o planejamento em saúde, a pesquisa, o ensino e, mais tradicionalmente, a vigilância epidemiológica, sanitária, ambiental e a educação em saúde. O reconhecimento do médico veterinário como profissional de nível superior da área da saúde se deu por meio da Resolução n. 287 do Conselho Nacional de Saúde, publicada em 1998, que define as categorias profissionais de saúde de nível superior no Brasil. Todos sabem que a atenção primária à saúde é complexa e demanda uma intervenção interdisciplinar, para que possa haver efeito positivo sobre a qualidade de vida da população. Diante disso, o Ministério da Saúde publicou, em 2008, a Portaria nº 154, viabilizando a criação e o desenvolvimento dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família, conhecidos como NASF. Os NASF devem ser constituídos por equipes compostas por profissionais de
diferentes áreas de conhecimento, para atuarem em conjunto com os profissionais já existentes na Estratégia em Saúde da Família, na óptica do zoneamento, sendo referenciados a um determinado número de imóveis ou de residências e criando vínculo com a população. No entanto, ao que me parece, equivocadamente, a medicina veterinária não foi incluída como parte das categorias profissionais descritas na Portaria que criou os NASF. Recentemente, fui procurada pela Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária, oportunidade em que fui apresentada a essa realidade, pelo senador Itamar. E, desde já, anuncio meu total apoio aos profissionais da medicina veterinária em sua demanda, entendendo ser um verdadeiro benefício para o conjunto da sociedade sua inclusão entre as categorias abrangidas nos NASF. Registro que, atendendo à solicitação dessa categoria, encaminhei ofício ao Ministério da Saúde, solicitando a inclusão do médico veterinário na lista de profissões recomendadas aos municípios para compor os NASF, procurando, assim, aperfeiçoar a Portaria n. 154, de 2008. Essa demanda conta com o apoio de todos os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária e da Associação Brasileira de Saúde Pública Veterinária. Aliás, os representantes dos Conselhos e da Associação estarão com o ministro Padilha hoje à noite, para apresentar exatamente essa demanda. Não vou poder acompanhá-los, porque estarei em viagem para o Estado do Paraná. Quero fazer aqui uma saudação aos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária e aos membros da Associação Brasileira de Saúde Pública Veterinária, porque muitos, neste momento, estão ligados à TV Senado, assistindo a este pronunciamento. Eu queria fazer essa saudação, parabenizando esses profissionais pela valiosa contribuição que dão à saúde pública do País. Cumpre ressaltar que tal recomendação, a de haver um médico veterinário no núcleo dos NASF, não acarretará ônus a qualquer das esferas do Sistema Único de Saúde (SUS), já que a efetiva contratação do médico veterinário para atuar nos núcleos fica a
critério da necessidade desse profissional e também das prefeituras locais, do poder municipal, de acordo com a realidade epidemiológica de cada município. Trata-se, portanto, de possibilitar a contratação de um profissional dessa experti se, apenas se assim entender o gestor local. Acredito que, diante das diferentes realidades epidemiológicas do território brasileiro, possibilitar que equipes que compõem os NASF contem com a presença de um médico veterinário é simplesmente disponibilizar a experiência desse profissional, na promoção da saúde, na prevenção e no controle de doenças, àquelas localidades que possuam essa demanda. Dessa forma, entendo que a inclusão da medicina veterinária nos NASF representa a materialização da colaboração dessa profissão à atenção básica de saúde das famílias em nosso País, consolidando o SUS e seguindo o conceito mundial de que o custo e o impacto social das doenças nos seres humanos somente podem ser minimizados com a prevenção e a promoção da saúde. Hoje, existem no Brasil aproximadamente 75 mil profissionais de medicina veterinária, oriundos, em sua absoluta maioria, dos 170 cursos de graduação distribuídos pelo País. E, neste ano de 2011, quando celebram 250 anos de existência da sua profissão, parece-me que seria uma justa homenagem atendê-los nessa demanda, que, ao final, significa dotar de melhores possibilidades de atendimento a sociedade brasileira. Encerro, Sr. Presidente, Srs. Senadores e Sras. Senadoras, apresentando meus parabéns a todas as médicas e médicos veterinários do Brasil e do mundo. Muito obrigada, Sr. Presidente.
Fonte: Agência Senado http://www.senado.gov.br/noticias/ gleisi-hoffmann-defende-veterinariosem-nucleo-de-saude-da-familia.aspx
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Saúde pública
Quanto é efetivo o abate de cães para o controle da leishmaniose? O artigo “Quanto é efetivo o abate de cães para o controle do calazar zoonótico? Uma avaliação crítica da ciência, política e ética por trás desta política de saúde pública”, do dr. Carlos Henrique Nery Costa, médico do Departamento de Medicina Comunitária, Universidade Federal do Piauí e do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella, aceito para publicação na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, em 29/11/2010, contesta a atual política pública adotada para o controle da leishmaniose visceral, que é focada no abate regular de cães soropositivos. Em seu artigo, o pesquisador apresenta análise crítica das ações para o controle do reservatório canino e coloca que não foram encontradas evidências firmes do risco conferido por cães para os seres humanos.
Além disto, destaca a falta de apoio científico à política de eliminação de cães e chama atenção para uma tendência para distorção dos dados científicos para o suporte da política de eliminação dos animais. Ao final o autor conclui que uma vez que não existem evidências de que o abate de cães diminui a transmissão de leishmaniose visceral, este programa deve ser abandonado como estratégia de controle. São levantadas as implicações éticas acerca da distorção da ciência e sobre a eliminação de animais na ausência de mínima ou nenhuma evidência científica.
Na base de dados Scielo (www.scielo.br) é possível encontrar os arquivos da revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT
Proposta de inclusão do encoleiramento em massa no programa de controle da leishmaniose visceral Neste semestre, o Ministério da Saúde dará início a estudo, em vinte municípios, com duração de trinta meses, sobre a efetividade da utilização em massa da coleira impregnada com princípio ativo repelente e inseticida contra a Leishmaniose, o que indica a adoção da política sugerida pela UIPA, em representação oferecida ao Ministério Público Federal, em maio de 2010, que solicitou providências contra a matança de cães, como pretensa medida de controle da Leishmaniose, denunciando a ausência de uma política pública eficaz contra o avanço da doença. Apresentando inúmeros argumentos e estudos, em um arrazoado de 63 laudas, cuja pesquisa de dados e estudos apresentados teve a colaboração da jornalista Regina Macedo, a entidade contestou a tese defendida pelo Ministério da Saúde, que insistia em recomendar a
morte de dezenas de milhares de cães, há décadas, sem respaldo científico algum, contra todas as evidências de que a eliminação de cães soropositivos em nada repercute na incidência da doença, que mantém-se elevada e em expansão pelo país, a despeito de toda a matança promovida. Após o acolhimento da representação, a UIPA enviou ao Ministério Público Federal inúmeros estudos realizados em outros países sobre a eficácia do encoleiramento, utilização em massa da coleira Scalibor, impregnada com deltametrina a 4%, que é o princípio ativo repelente e inseticida, recomendado pela Organização Mundial da Saúde contra a leishmaniose. A presidente da UIPA, com o apoio e acompanhamento do Deputado Federal Ricardo Trípoli, foi a Brasília, solicitar ao Ministério da Saúde a inclusão do encoleiramento em massa
no programa de controle da leishmaniose visceral, até então baseada na eliminação da vida de milhares de cães. O encoleiramento em grande escala produz o denominado efeito rebanho, que é a extensão de efeito protetor também aos não encoleirados, reduzindose a força de infecção pela barreira imposta pela coleira Tendo em vista que o poder de infectar os insetos poderia persistir no animal tratado, o encoleiramento permitirá pleitear a liberação do tratamento terapêutico (a coleira evita a aproximação dos insetos; sem ser picado, o cão não transmite a infecção). O encoleiramento em massa ainda reduz a pulverização de inseticidas, prejudiciais ao meio ambiente, além de representar gastos bem menores do que os despendidos com a censurável eliminação da vida de animais. Vanice T. Orlandi Presidente - UIPA - União Internacional Protetora dos Animais www.uipa.org.br
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Saúde pública
Raiva humana, atualidades, profilaxia e tratamento
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raiva humana é uma enfermidade que muito preocupa os gestores de saúde. Desde 2007, a Aliança para o Controle da Raiva (ARC), com o apoio da OPAS/OMS, lançou a iniciativa do Dia Mundial da Raiva – 28 de setembro –, que tem como objetivo a prevenção e o controle dessa enfermidade em todas as nações. O movimento pode ser acompanhado no sítio www.worldrabiesday. org, no Facebook e no Twitter (twitter.com/worldrabiesday). Especialistas no assunto irão se encontrar em outubro, na XXII Conferência Internacional sobre a Raiva na América (22nd International Conference on Rabies in the Americas – Rita – www.ritaxxii.org), em San Juan, Porto Rico. No Brasil, o Ministério da Saúde lançou duas importantes publicações sobre o tema, que abordam a profilaxia e o atual protocolo de tratamento.
Protocolo de tratamento da raiva humana no Brasil
Disponível para download em: http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/protocolo_de_tratamento _raiva_humana.pdf
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Este manual – Normas técnicas de profilaxia da raiva humana – substitui o anterior, de 2002, atualizando os conhecimentos de profilaxia relativa à raiva humana e indicando a substituição da vacina Fuenzalida & Palacios pela vacina de cultivo celular. O termo “tratamento profilático antirrábico humano” foi substituído por “profilaxia da raiva humana”, devido ao conceito original da palavra profilaxia: aplicação de meios tendentes a evitar as doenças ou a sua propagação. Constituindo um marco para o país, esse manual trata dos esquemas atualmente recomendados para vacinas de cultivo celular, que apresentam menos eventos neurológicos adversos, maior antigenicidade e maior facilidade operacional quando comparadas com a vacina Fuenzalida & Palacios, utilizada anteriormente. Fonte: Normas Técnicas de Profilaxia da Raiva Humana, Brasília, DF, 2011
Profilaxida da raiva humana
Disponível para download em: http://portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/normas_tec_profilaxia_ da_raiva_hum.pdf
Raiva é uma encefalite viral aguda, transmitida por mamíferos. Todos os mamíferos são considerados fontes de infecção para o vírus da raiva e, portanto, podem transmiti-lo ao homem, destacando-se: cães, gatos, morcegos, cachorros-do-mato, saguis, raposas, bovinos, equinos, suínos e caprinos, dentre outros. Em 2004, nos Estados Unidos, registrou-se o primeiro relato na literatura internacional de cura da raiva em paciente que não havia recebido vacina. Nesse caso, foi realizado um tratamento com base na utilização de antivirais e sedação profunda, denominado protocolo de Milwaukee (Willoughby et al., 2005). Em 2008, no Brasil, na unidade de terapia intensiva do Serviço de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, da Universidade de Pernambuco, em Recife-PE, um tratamento semelhante ao
utilizado na paciente norte-americana foi aplicado em um jovem de quinze anos de idade, mordido por um morcego hematófago, com eliminação viral (clearance viral) e recuperação clínica. A primeira cura de raiva humana no Brasil, bem como o sucesso terapêutico da paciente dos Estados Unidos, abriu novas perspectivas para o tratamento dessa doença, considerada até então letal. Diante disso, o Ministério da Saúde reuniu especialistas no assunto e elaborou o primeiro protocolo brasileiro de tratamento para raiva humana baseado no protocolo americano de Milwaukee. Esse protocolo tem como objetivo orientar a condução clínica de pacientes suspeitos de raiva, na tentativa de reduzir a mortalidade da doença. Em razão de o caso ter sido tratado na cidade de Recife-PE e se apresentar como a primeira experiência bem-sucedida no Brasil, o protocolo foi denominado protocolo de Recife. Fonte: Protocolo de tratamento da raiva humana no Brasil, Brasília, DF, 2011
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UFPR abre residência em medicina veterinária do coletivo
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Universidade Federal do Paraná (UFPR) cria a primeira residência em medicina veterinária do coletivo (shelter medicine). O projeto está sendo viabilizado por meio de contrato firmado entre a UFPR e prefeitura municipal de São José dos Pinhais, PR. Especificamente, caberá à UFPR: • Cessão da Unidade Móvel de Esterilização e Educação para atividades programáticas de guarda responsável e bem estar animal a serem desenvolvidas em bairros de São José dos Pinhais, com acompanhamento permanente da execução das atividades estabelecidas no projeto da Unidade Móvel de Esterilização e Educação dimensionando, incluindo a castração de cães e gatos do Município de São José dos Pinhais; • Desenvolvimento de atividades de capacitação em guarda responsável, zoonoses e bem estar animal de servidores das Secretarias Municipais de Educação,
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Meio Ambiente, Saúde e Assistência Social por meio dos professores do Departamento de Medicina Veterinária, alunos da graduação e pós-graduação do curso de medicina veterinária da UFPR, profissionais e alunos voluntários; • Desenvolvimento e acompanhamento da cadastração da população canina e felina do município por meio de realização de censo em todo o território de São José dos Pinhais, mediante cronograma a ser desenvolvido pelas Secretarias Municipais de Meio Ambiente e Saúde; • Acompanhamento de campanha de desverminação e vacinação dos animais cadastrados; • Permitir a inclusão dos livros didáticos “Zoonoses, bem-estar animal e guarda responsável” e “A cidade e seus bichos” de autoria dos professores dra. Carla F. Maiolino Molento e dr. Alexander W. Biondo, nas escolas municipais, bem como a distribuição gratuita dos livros à
população são-joseense durante atividades desenvolvidas no âmbito do Programa Municipal de Controle Ético da População Canina e Felina do Município de São José dos Pinhais; • Realização de cirurgias de castração de animais cadastrados no Programa Municipal de Controle Ético da População Canina e Felina do Município de São José dos Pinhais, nas dependências do Hospital Veterinário da UFPR; • Treinamento em Serviço de médico veterinário para a recém criada Residência de Medicina Veterinária do Coletivo da UFPR; • Realização de serviços de triagem clínica dos animais encaminhados para cirurgias de castração, realizando, no mínimo, uma ecografia e um hemograma; Acompanhamento e assessoramento na realização do concurso cultural denominado “Veterinário Mirim” com crianças da rede pública de ensino.
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Congresso Mundial de Veterinária 2011 – Congresso Mundial de Veterinária de 2011 está programado para ocorrer na África do Sul, na Cidade do Cabo (Cape Town), de 10 a 14 de outubro de 2011. O tema "Cuidar de animais: comunidades saudáveis" presta-se a preencher uma necessidade global e estabelece o cenário para uma variada e estimulante programação científica. Um dos destaques do congresso é o curso extra de contenção de animais selvagens, que será realizado antes e depois do congresso. O curso conta com aula de imobilização de elefantes, ministrada pelo dr. Cobus Raath no famoso Kruger National Park. Paralelamente
Nolte Lourens
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Cuidar de animais: comunidades saudáveis
Vista da Table Mountain na Cidade do Cabo (Cape Town), África do Sul
WVC 2011: www.worldvetcongress2011.com
ao extenso programa científico, encontra-se excelente programação social e turística, que irá proporcionar tanto a integração entre todos os participantes
quanto a apreciação de belezas naturais inesquecíveis e da rica e exuberante fauna característica do continente africano. jbor
Vista aérea da Cidade do Cabo e da baía de Silent Hill
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Simpósio Internacional de Nefrologia e Urologia Veterinárias (SINUV), programado para ser realizado nos dias 25, 26 e 27 de maio de 2011, é um evento em que todos os especialistas dessas áreas se reunirão para trocar experiências e informações, o que possibilitará também traçar um perfil da nefrologia e da urologia veterinárias no Brasil. A proposta do evento visa a educação continuada do médico veterinário e também compartilhar conhecimentos por meio da realização de palestras, workshops, mesas redondas e reuniões temáticas. Da mesma forma, permite que os acadêmicos dos cursos de medicina veterinária possam conhecer de maneira mais profunda um tema específico, possibilitandolhes a oportunidade de definir suas aptidões profissionais. Histórico Há cerca de oito anos foi realizado o último e mais importante evento da área: o Simpósio de Nefrologia Veterinária. Tendo em vista que a nefrologia e a urologia têm apresentado enormes avanços nos últimos anos, torna-se mais que justificada a realização de um evento especializado nessa área de conhecimento. O grande número de doenças que causam insuficiência renal aguda, o aumento do número de pacientes idosos e do grau de exigências dos proprietários dos animais, a facilidade de obtenção de informações, bem como a maior disponibilidade de gastos com seus animais de companhia, completam o rol de justificativas para a realização desse evento.
Local do simpósio Seguindo os princípios de realização de eventos em locais agradáveis e atraentes, foi escolhida a vila de Porto de Galinhas, no Estado de Pernambuco. A vila permite que os congressistas se mantenham próximos ao evento, o que valoriza a realização do simpósio. O evento será realizado no Hotel Dorisol (www.dorisol.com/pt/dorisol-portogalinhas/hotel.html). Destaque-se que 26
Elder Vieira Salles
Simpósio Internacional de Nefrologia e Urologia Veterinárias – SINUV
As piscinas naturais de Porto de Galinhas formam-se durante a maré baixa, entre os arrecifes de corais, sendo um refúgio para diversas espécies de peixes que podem ser vistos a olho nu. A visitação das piscinas pode ser associada a um pitoresco passeio de jangada
as atividades do evento iniciarão às 13h30 e terminarão às 19h30, deixando as manhãs livres para a visitação das belezas naturais locais.
Programação científica O evento será dividido em módulos temáticos. Cada dia abordará um tema específico. O primeiro dia será destinado aos rins. Serão discutidas as insuficiências renais agudas, as insuficiências renais crônicas, renoproteção, cirurgia e rins, nefropatias em felinos e cuidados intensivos, dentre outros. O segundo dia será o dia da urologia, com ênfase em exames e técnicas avançadas de nefro e urologia. Serão discutidos temas como urolitíases, infecções e inflamações do trato urinário, tomografias
e células-tronco. O terceiro e último dia terá como desfecho o tema relativo a técnicas dialíticas: hemodiálise, diálise peritoneal, técnicas dialíticas em medicina humana. A cada final de dia será organizada uma mesa redonda com características de um workshop e a participação ativa dos congressistas, que reunirá os palestrantes do dia para responder às perguntas dos congressistas. Todas as perguntas serão feitas durante essa mesa redonda. Sinuv: www.sinuv.com.br
Piscina natural em Porto de Galinhas
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Feira Pet Show superou as expectativas
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m março de 2011 foi realizada, em São Paulo, SP, no Centro de Exposições Imigrantes, a 1ª Pet Show (Feira Internacional de Animais e Produtos Pet). Os organizadores do evento tinham a expectativa inicial de que a visitação
Mercado pet aquecido durante a Pet Show
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Animais de Companhia e Produto Pet), onde foram apresentados mais de 70 palestras com renomados especialistas do setor. “Na próxima edição, pretendemos crescer ainda mais, ampliando o número de palestras”, comenta Bado Siberi, presidente da DIAMA (Divulgação de Informação Animal e Meio Ambiente). Também foi muito importante e de grande valor social para o evento a presença de diversas ONG’s ligadas à proteção animal. Em função da grande aceitação do evento a programação da edição de 2012 já esta sendo elaborada e muitas contribuições estão sendo estudadas para que o resultado do evento continue sendo favorável e promissor para todos os participantes. Pet Show: www.feirapetshow.com.br
Atualização em medicina interna na Expovet Minas
contecerá, entre os dias 3 e 5 de junho, em Belo Horizonte, MG, a edição de 2011 da Expovet Minas, feira do segmento pet e veterinário. No ano passado, o evento trouxe para a capital mineira visitantes de 170 cidades de 16 estados. A edição deste ano promete aumentar esses números. Marcas de grande porte estarão presentes e
www.expovet.com.br
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fosse chegar a 3.000 pessoas. O número atingido passou do dobro: 6.507. O evento atraiu público diversificado desde aficcionados até profissionais do ramo, como adestradores, médicos veterinários, comerciantes, esteticistas criadores e fabricantes de itens voltados para o mercado pet. “O evento mostrou que é possível reunir em um único espaço diversos tipos de atuações do setor e principalmente fomentar negócios”, destaca José Roberto Sevieri, presidente do Grupo CIPA. Além disso, paralelamente ao evento, aconteceu o 1º SIMPET (Simpósio sobre
várias inovações serão apresentadas; além disso, palestras e workshops fazem parte da programação. O evento deste ano será sede do Encontro Mineiro de Atualização em Medicina Interna de Pequenos Animais e conta com um diferencial em relação à edição do ano anterior: oferecerá mais espaço para atividades ligadas à área de medicina veterinária. Para Fabiana Braz, diretora da Primor Eventos, “essa é uma oportunidade para que a feira se torne também um espaço técnico-cien tí fi co, que contribuirá para a profissionalização de interessados do setor e para a complementação de conhecimento de estudantes da área”. A Expovet
Minas é realizada pela Primor Eventos, com as parcerias do Governo do Estado de Minas Gerais, do Instituto Mineiro de Agropecuária, do Conselho Regional de Medicina Veterinária de MG, da SuperAgro Minas, da Anclivepa – Associação Nacional de Clínicas Veterinárias de Pequenos Animais (Regional MG), entre outros. O mercado pet e veterinário nacional tem obtido amplo crescimento, de acordo com dados da Anfalpet – Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação. Ao todo, no Brasil, foram movimentados mais de 11 bilhões de reais em 2010, em gastos com alimentação, medicamentos, serviços e, sobretudo, acessórios para higiene e embelezamento dos animais de estimação. Os dados mostram ainda que, de 2006 a 2010, houve um aumento aproximado de 8 bilhões no faturamento desse segmento no mercado. Em Minas Gerais, o setor conta com mais de 6.500 petshops e 8.000 médicos veterinários. Expovet Minas: (31) 3444-9002
Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011
Christian Vinces
ntre os dias 24 e 26 de outubro de 2011 o Latin American Veterinary Conference (LAVC) voltará a ser realizado, como acontece desde 2005, na cidade de Lima, no Peru. Este ano o evento promete ser muito bom, porque estão unidas as equipes do North American Veterinary Conference (NAVC), que é o maior evento mundial do setor, e do Congresso de León, que, fora dos Estados Unidos, é o maior evento na categoria. Entre os palestrantes, destacam-se os brasileiros Helio Autran de Morais, DVM, MS, PhD e Maria L. E.
Pôr-do-sol em Lima, Peru
Faria, MV, MS, PhD, Diplomate ACVS, residentes há anos nos Estados Unidos, mas sempre prestigiando os congresssos latino-americanos e trazendo inovações científicas para a medicina veterinária. Além da excelente programação científica, os congressistas também podem desfrutar da bela cidade de Lima, que oferece tanto belezas naturais quanto arquitetônicas. Para quem tiver tempo, uma visita a Machu Picchu – em quíchua Machu Pikchu, significa "velha montanha", também chamada "cidade perdida dos Incas".
Neale Cousland
E
Latin American Veterinary Conference contará com palestrantes brasileiros
Igreja de São Francisco, em Lima
Palestrantes brasileiros fazem sucesso no Congresso Brasileiro da Anclivepa
O
32º Congresso Brasileiro de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, realizado em Goiânia, GO, de 27 a 30 de abril de 2011, teve resultados muito positivos. O congresso contou com a participação de diversos palestrantes internacionais de grande renome. Porém, durante o congresso, houve preferência do congressista pelos palestrantes nacionais. Apesar desse fato ter gerado trabalho extra aos organizadores, o reconhecimento da alta qualidade dos palestrantes brasileiros é motivo de satisfação e orgulho. A seguir, confira alguns momentos registrados.
No centro, Marcelo de Luca (distribuidor Royal Canin). À esquerda, Ronaldo M. de Azevedo (tesoureiro Anclivepa GO), e, à direita, Sérgio Luiz Pereira (presidente - Anclivepa GO), que se dedicaram integralmente à suprir todas as necessidades do evento
À esquerda, Dora Paiva Ribeiro, de Belém, PA, que foi homenageada pela Anclivepa com o Prêmio Frimer, acompanha de sua filha, Elielza Martins de Paiva
Na Supra, evidência à Frost, alimento suprer premium
Royal Canin marcou a sua presença dando enfoque à importância ao sistema digestivo
Várias inscrições para o congresso de 2012 foram sorteadas no estande da Anclivepa-PR. Felizes os ganhadores, pois o congresso promete ser excelente
Huggy, um dos destaques apresentado pela Lupus
As argentinas Julia Auzmendi e Marina Frumkin estiveram presentes no congresso divulgando o portal Veterinariosenweb, Em breve, excelentes palestras do congresso estarão no portal
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Na Farmina, lançamento da campanha “um ano de prevenção” e apresentação de futuro alimento: Natural & Delicious (livre de grãos)
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Alimento específico para raças grandes, lançamento de destaque na Premier Pet
O Marbopet (marbofloxacin), da Ceva, foi muito procurado em função da divulgação, em palestra no congresso, de trabalho científico que mostrou resultados interessantes da sua utilização em cães com leishmaniose visceral
Na Vencofarma, os kits de diagnóstico de parvovirose e de cinomose atraíram a atenção dos participantes
Organnact esteve presente com novidades: apresentou o lançamento de Condrix Dog (condroitina A e glicosamina)
Pfizer, presente no evento com medicamentos inovadores e ampla linha de vacinas A Bayer deu evidência ao Drontal Plus, que além de combater às verminoses, também tem ação contra as giardíases
Além do consagrado Frontline, a Merial também divulgou sua linha de vacinas e sua forte campanha contra a cinomose
A Vetnil realizou o pré-lançamento do Hepatovet e também aproveitou para fazer mais uma ação ambiental: distribuiu cerca de 1.500 mudas de ipe-amarelo
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Excelente prospecção de negócios no estande da Duprat, empresa que, atualmente, detém ampla e crescente linha de produtos para o mercado veterinário
Produtos inovadores e únicos no mercado, como o Vermigel, foram apresentados com sucesso pela Syntec
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No estande da Intervet ScheringPlough Animal Health uma parede inteira destacou a coleira à base de deltametrina na proteção à família
Além dos diversos serviços de diagnóstico o Tecsa apresentou excelente produto para o dia a dia do veterinário: kit para tipagem sanguínea de cães e gatos
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Farmina Pet Foods estende ao Brasil campanha internacional de prevenção
Farmina Pet Foods Brasil, empresa de origem italiana especializada em alimentos para cães e gatos, lançou, com o apoio da Anclivepa Brasil, a campanha “Um ano de prevenção Farmina”. A campanha, já em andamento na Europa com grande sucesso, tem como principal objetivo conscientizar os proprietários de cães e gatos sobre a importância da prevenção como principal meio de proteger seus animais contra frequentes afecções.
A campanha terá duração de um ano e focará a cada trimestre uma doença específica. “Nosso primeiro grande desafio será a insuficiência renal”, explica Yves Miceli, Diretor Técnico & Científico da empresa. “Além do forte trabalho de conscientização, com materiais científicos e informativos, o grande trunfo da campanha é que a Farmina irá pagar um exame específico para identificar a existência da afecção em questão, para as consultas
realizadas com os médicos veterinários aderentes à campanha” continua Yves. Além da insuficiência renal, também farão parte da campanha enfermidades como a diabetes, a obesidade, a alergia e a intolerância alimentar. O lançamento oficial ocorreu no 32º Congresso de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, no mês de abril, em Goiânia, GO. Farmina: www.farmina.com/ campanhaprevencao
Piracicaba conta com qualidade e alta tecnologia em serviços de ultrassonografia
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m fevereiro de 2011 o Imago – Diagnóstico Veterinário por Imagem passou a contar com novo equipamento no serviço de ultras so no gra fia veterinária. “Trata-se de um X6 da Medison. Este modelo tem a van-
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Telemedicina
om um eletrocardiógrafo computadorizado de 12 derivações, um gravador de Holter e um computador conectado à internet é possível usufruir de serviços da telemedicina oferecidos pela Kardiovet. Para a eletrocardiografia computadorizada os traçados de interesse do médico veterinário deverão ser encaminhados por email ao Kardiovet e, em até 48 horas, o laudo é emitido. Para o exame de Holter, que tem 24 horas de duração, além do gravador é necessário o sistema Cardionet para envio dos dados obtidos. Após o envio, o laudo é emitido em até 72 horas. A Kardiovet também oferece interação diagnóstica, por meio da discussão dos casos enviados via Blog, Skype, MSN, e-mail e telefone. Kardiovet: www.kardiovet.com.br 36
tagem de ser extremamente leve, ergonômico, com tela de LCD, alta resolução de imagem, com qualidade totalmente digital e com tecnologia de filtragem, eliminando ruidos e melhorando a qualidade da imagem. As imagens geradas durante os exames podem ser impressas em papel ou gravadas em DVD. Outro destaque do aparelho, é a presença da tecnologia 3D, que traz altíssimo grau de definição nos exames”, explica Carla Corrêa
de Oliveira Bezerra, médica veterinária responsável pelo serviço de ultrassonografia do Imago – Diagnóstico Veterinário por Imagem. No Imago, além da prestação de serviços de diagnóstico, também é possível estudar ultrassonografia por meio de curso individual que é ministrado à semelhança de um estágio supervisionado. Imago: www.imagovet.com.br (19) 3402.8058
Promoção da saúde e bem-esta animal é foco do Prêmio Veterinário Cidadão
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evido ao sucesso da primeira edição do Prêmio Veterinário Cidadão, a Unidade de Animais de Companhia da Intervet/Schering-Plough acaba de lançar a edição de 2011 (www.vete rinariocidadao.com.br) como parte de um programa social da companhia. O projeto visa estimular e reconhecer as melhores práticas de cidadania e educação para promoção da saúde e bem-estar animal. Dividido em três categorias – médicos veterinários, universitários e clínicas e pet shops – os interessados po dem se inscrever no portal www. veterinariocidadao.com.br. Entre as iniciativas e práticas sociais que serão avaliadas estão eventos educativos e de mobilização social, palestras educativas, exposição educativa na mídia,
cons cien ti za ção comunitária e iniciativas inovadoras que tenham impacto relevante na sociedade. O Prêmio Veterinário Cidadão pretende criar oportunidades de divulgação, sensibilização e aproximação da sociedade com relação a importantes temas e desafios para a promoção do bem-estar e saúde animal e possibilitar o intercâmbio de informações, aprendizados e a multiplicação de boas práticas sociais na área de saúde animal. As inscrições vão até o dia 30 de novembro de 2011. Os resultados serão divulgados no dia 20 de dezembro e a entrega dos prêmios será feita em janeiro de 2012.
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Bem-estar animal
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índrome de Münchhausen por procuração em animais de estimação
É comum dividirmos histórias sobre clientes exagerados, excessivamente preocupados e que requisitam múltiplos checkups de animais nitidamente saudáveis. Uma resposta para isso pode ser a Síndrome de Münchhausen Janis R. M. Gonzalez - janis@uel.br Docente da Universidade Estadual de Londrina - PR
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O papel que os animais de estimação representam na vida das pessoas tem assumido uma importância progressivamente maior. Independentemente de idade, sexo, estado civil, condição social e nível de instrução, cães e gatos ocupam um importante espaço no universo cotidiano e emocional de muitas pessoas. Esses estreitos laços entre os homens e seus animais de estimação podem gerar relações saudáveis, cujos efeitos benéficos na qualidade de vida das pessoas são bem conhecidos. De forma semelhante, a qualidade de vida dos animais de estimação também passa por grandes melhoras. O conceito e a filosofia do bemestar animal, o desenvolvimento de múltiplas especialidades e recursos tecnológicos na medicina de animais de companhia, a preocupação com aspectos nutricionais e com a prevenção de doenças em cães e gatos são uma nova realidade nas relações entre o homem e os animais. Infelizmente, a intensidade dessas relações pode tomar rumos pouco saudáveis, gerando distúrbios comportamentais e condições mórbidas que afetam o homem e, consequentemente, seus animais. O médico veterinário deve conhecer os sinais desses distúrbios e estar alerta para identificá-los, visando o bemestar e a proteção dos animais e a orientação de seus proprietários. A síndrome de Münchhausen é uma doença psiquiátrica de seres humanos em que o paciente, de forma compulsiva, deliberada e contínua, causa, provoca ou simula sintomas de doenças, sem que haja uma vantagem óbvia para tal atitude que não seja a de obter cuidados médicos e de enfermagem. A síndrome de Münchhausen por procuração ocorre quando um parente, quase sempre a mãe, de forma persistente ou intermitente, produz (fabrica, simula ou inventa), de forma intencional, sintomas em seu filho, fazendo com que este seja considerado doente, ou provocando ativamente a doença, colocando-o em risco e numa situação que requeira investigação e tratamento. Nessa situação, o parente ou cuidador da criança fabrica ou induz os sintomas, de forma a ganhar atenção, cuidado e simpatia por parte de médicos e enfermeiras. A síndrome de Münchhausen é
mundialmente reconhecida como desordem psiquiátrica com importante manifestação de abuso infantil. O nome tem origem na história do barão de Münchhausen (1720-1797), um oficial alemão que, ao retornar da frente de batalha, distraía seus conhecidos contando histórias fascinantes e inverossímeis sobre suas façanhas e exagerando seus feitos e conquistas. Ela também é conhecida pelo nome de síndrome de Meadow. Em 1977, um pediatra inglês chamado Roy Meadow descreveu o comportamento bizarro de duas mães: uma delas envenenava seu bebê com quantidades excessivas de sal, de modo a provocar sintomas urinários, e a outra misturava seu sangue na urina do bebê de forma a convencer o médico de que o bebê tinha hematúria. Artigos têm sido publicados relatando a ocorrência da síndrome de Münchhausen por procuração envolvendo animais de estimação. Os casos relatados se assemelham àqueles observados em crianças, em que os sintomas são causados ou forjados pelas próprias mães. Da mesma forma, os proprietários buscam, por meio da suposta – ou por eles induzida – doença de seus animais, a atenção, o cuidado e a simpatia do médico veterinário. Com receio de que essa atenção cesse com uma “suposta cura”, o cliente perpetua as queixas. Os aspectos observados em cães e gatos incluem visitas excessivamente frequentes aos veterinários, alegando sinais clínicos vagos ou não identificados por eles, solicitação insistente de medicamentos e exames complementares mesmo quando os animais se apresentam clinicamente sadios, mudanças constantes de veterinários diante da recusa em medicar sintomas ausentes e relatos de perda de peso e anorexia em cães e gatos nitidamente saudáveis. Nas formas mais graves, o proprietário pode gerar os sinais por meio de violência física contra os animais (cortes, queimaduras, fraturas, amputações, etc.), envenenamento intencional, intoxicação medicamentosa, ingestão forçosa de corpos estranhos, retirada precoce de pontos cirúrgicos, retirada de pinos intramedulares e outras formas de indução de injúrias. Em conversas informais sobre nossa rotina, é comum dividirmos
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histórias sobre clientes exagerados, excessivamente preocupados e que requisitam múltiplos checkups de animais nitidamente saudáveis – que nunca parecem estar bem aos olhos do dono –, exames inconsistentes com as queixas relatadas, intoxicações medicamentosas e acidentes incomuns e repetitivos em curto espaço de tempo. Essas histórias, ora tidas como engraçadas ou bizarras, podem esconder uma condição mais grave que afeta o homem e põe em risco seus animais de estimação. Não nos cabe e nem temos a formação médica para diagnosticar tal problema em nossos clientes, mas identificar seus sinais poderá nos ajudar a proteger os pacientes e orientar nossa conduta e comportamento em relação aos clientes. Sugestão de leitura: - MEADOW, R. Munchousen syndrome: the hinterlands of child abuse. The Lancet, n. 13, p. 343-345, 1977. - MUNRO, H. M. C. ; THRUSFIEL, M. V. Battered pets: Munchousen syndrome by proxy (factitious illness by proxy). Journal of Small Animal Practice, v. 42, n. 8, p. 385389, 2001. - MUNRO, H. M. C. ; THRUSFIEL, M. V. Battered pets: features that raise suspicion of non-accidental injury. Journal of Small Animal Practice, v. 42, n. 5, p. 218-226, 2001.
Medicina Veterinária do Coletivo
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ntendendo a agressividade canina e felina*
*Fonte: Instituto Técnico de Educação e Controle Animal - ITEC - www.itecbr.org 40
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Atividades que lidam direta ou indiretamente com cães devem ter orientações claras sobre a criação responsável e como diagnosticar um animal com potencial agressivo, diminuindo o risco para outros animais e seres humanos Ataques por cães são considerados um dos principais agravos à saúde em muitos centros urbanos, sendo que diversos estudos indicam que a maior frequência dessas injúrias acontece com animais da própria família. A falta de entendimento sobre o comportamento animal, as deficiências da criação sob o ponto de vista da sua biologia e bem estar, e a falta de programas educativos principalmente para as crianças sobre como interagirem com esses animais, são fatores determinantes na ocorrência de acidentes com cães e gatos. Por outro lado, diversas cidades, províncias ou estados de países da América Latina não têm status legal para a eliminação de cães e gatos sadios recolhidos pelos serviços de controle de zoonoses. Urge, então, o desenvolvimento da Medicina Veterinária do Coletivo (shelter medicine, medicina de los albergues), principalmente no tocante ao comportamento dos animais, que envolve desde a avaliação inicial do animal ao chegar à instituição, o acompanhamento da evolução de seu comportamento e diagnóstico da sua saúde mental, fatores facilitadores da sua adaptação, socialização ou ressocialização (enriquecimento ambiental, aulas de educação, adestramento), até que se tenha a definição do seu destino: • Pode ser adotado? Qual o tipo de família pode recebê-lo?; • Pode ser inserido em local com crianças?; • Pode permanecer com outras espécies animais?; • Há justificativa técnica para a sua eutanásia? A implantação de ações efetivas para o controle populacional de cães e gatos para diminuir o abandono de animais e diminuir o fluxo de animais irrestritos e não supervisionados em vias públicas, além de incentivar a criação de animais de forma que não representem risco para os indivíduos, famílias e sociedade também fazem parte do rol de atividades dos serviços de controle de zoonoses e controle animal. Para os locais com impedimento legal da eutanásia de animais sadios, quando
recolhidos, devem ser recuperados, reabilitados e reintroduzidos na sociedade (3 Rs) por meio da adoção responsável tanto por parte da instituição quanto por parte do adotante. Isso significa colocar para adoção somente animais que não representem risco para pessoas ou outros animais. Para tanto, os médicos veterinários sanitaristas que trabalham nessas ações necessitam ser capacitados com o novo enfoque do controle animal, isto é, os 3 Rs. Dentro da reabilitação dos animais, o tema “agressividade”, que pode envolver questões biológicas, psicológicas, fisiológicas, entre outras, deve ser compreendido e instrumentalizado de maneira a auxiliar nas ações que envolvam animais agressivos ou com potencial agressivo nos CCZ. Também os outros setores da sociedade – protetores de animais, clínicos veterinários, adestradores, funcionários de pet shops e outras atividades que lidam direta ou indiretamente com cães – devem ter orientações claras sobre a criação responsável e como diagnosticar um animal com potencial agressivo, diminuindo o risco para outros animais e seres humanos. Soluções Ciente de todo o contexto que envolve a agressividade relacionada aos animais de estimação os profissionais do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC - www.itecbr. org) elaboraram a II Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo, que contará com o Simpósio Entendendo a Agressividade Canina e Felina e a realização da oficina onde serão feitos trabalhos em grupos para aprofundamento do tema agressividade. A oficina ocorrerá em São Paulo, SP , entre os dias 27 e 30 de junho de 2011, no Solarium Hotel, no Butantã. Os participantes serão membros convidados, mas haverá dez vagas para demais interessados. Os objetivos da oficina são: • conhecer a epidemiologia da agressividade e fatores ligados a mesma; • entender os critérios para avaliação com portamental da agressividade
canina e felina e indicar critérios para julgamento desse comportamento; • entender o processo de reabilitação dos cães com potencial agressivo ou agressores e sugerir procedimentos operacionais básicos para os serviços de controle de zoonoses e clínicos veterinários com base na reabilitação desses animais; • oferecer ações básicas que os proprietários de animais devem aplicar no dia a dia na criação dos seus cães para prevenir a formação de futuros animais mordedores e que o poder público deverá disseminar como parte de programas educativos para a prevenção de mordeduras por cães; • formatar as informações básicas necessárias para os diferentes setores que lidam direta ou indiretamente com os cães, referentes ao entendimento da agressividade e sua prevenção. Do dia 1 a 3 de junho, também em São Paulo, ocorrerá a II Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo, que contará com o Simpósio Entendendo a Agressividade Canina e Felina, na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). Entre os temas presentes na programação do simpósio estão: • etologia clínica das agressões; • sociopatias em caninos e felinos; • mitos e realidades do tratamento médico-veterinário das agressões; • a agressividade nos CCZs; • apresentação dos documentos gerados na oficina Entendendo a Agressividade Canina e Felina. Alguns dos temas que estão na programação da II Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo são: • lidando com o estresse felino; • principais parasitoses em canis; • avaliação e tratamento da dor em cães e gatos esterilizados; • maus tratos e crueldade contra animais; • controle populacional de cães e gatos; • vinculo humano-animal e abandono de animais de estimação; • gerenciamento de desastres, entre outros.
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Dirofilariose em cães e gatos – breve revisão Heartworm in dogs and cats – a brief review Dirofilariosis en perros y gatos – una breve revisión Clínica Veterinária, n. 92, p. 46-50, 2011 Fabrieli Tatiane Lusa médica veterinária tatianelusa@hotmail.com
Resumo: A dirofilariose é uma zoonose causada pelo chamado “verme do coração dos cães”, Dirofilaria immitis. É comum em regiões tropicais, subtropicais, de climas temperados, prevalecendo em regiões litorâneas ou próximas de rios e lagos. A D. immitis tem como hospedeiros definitivos os canídeos, principalmente cães, embora os primatas não humanos e ocasionalmente os gatos e os seres humanos, além de outras espécies de mamíferos, também podem ser infectados. Nos cães os sinais clínicos incluem hipertensão pulmonar, tosse, dispneia, perda de peso e também ascite. Os gatos apresentam vômito, tosse, colapso ou síncope, letargia, anorexia, perda de peso e sopro cardíaco. O diagnóstico clínico tem como base os sinais de disfunção cardiovascular, contando com o apoio de detecção de microfilárias e de antígenos na circulação, além do eletrocardiograma e do hemograma. O tratamento pode ser adulticida, utilizando dicloridrato de melarsomina ou microfilaricida, com lactonas macrocíclicas. Como prevenção, deve-se usar produtos à base de lactonas macrocíclicas e evitar o acesso às áreas endêmicas. Unitermos: coração, verme, zoonose Abstract: The heartworm is a zoonosis caused by the so-called "heartworm of dogs", Dirofilaria immitis. It is common in tropical, subtropical and temperate climates, prevailing in coastal regions or near rivers and lakes. D. immitis has canids as definitive hosts, mainly dogs, although non-human primates and occasionally cats and humans, and other mammalian species, can also be infected. Clinical signs in dogs include pulmonary hypertension, cough, dispnoea, weight loss and also ascites. The cats present vomiting, cough, collapse or syncope, lethargy, anorexia, weight loss and heart murmur. The diagnosis is based on clinical signs of cardiovascular dysfunction, with the support of detection of microfilariae and antigens in the circulation, and the electrocardiogram and blood count. The treatment can be adulticide using dihydrochloride melarsomina or microfilaricide, with macrocyclic lactones. For prevention, one should use products based on macrocyclic lactones and prevent access to endemic areas. Keywords: heart, worm, zoonosis Resumen: La Dilorilariosis es una zoonosis causada por el llamado gusano del corazón en perros, Dirofilaria immitis. Es común en países tropicales, subtropicales, con climas templados, siendo frecuente en las regiones costeras y cerca de ríos y lagos. La D. immitis tiene a los cánidos como huéspedes definitivos, sobre todo los perros, aunque los primates no humanos y ocasionalmente los gatos y los seres humanos y otras especies de mamíferos, también suelen ser infectados. Los signos clínicos en perros son la hipertensión pulmonar, tos, disnea, pérdida de peso y ascitis. Los gatos pueden presentar vómitos, tos, colapso o síncope, letargo, anorexia, pérdida de peso y soplo en el corazón. El diagnóstico se basa en los signos clínicos de la disfunción cardiovascular, con el apoyo de la detección de microfilarias y antígenos en la circulación, y el electrocardiograma y el recuento de sangre. El tratamiento suele ser adulticida con melarsomina diclorhidrato o microfilaricida, con lactonas macrocíclicas. Como precaución, se debe utilizar productos a base de lactonas macrocíclicas y evitar el acceso a zonas endémicas. Palabras clave: corazón, gusano, zoonosis
Introdução A dirofilariose é uma zoonose causada pelo chamado “verme do coração dos cães”, Dirofilaria immitis, que parasita o sistema circulatório dos cães, podendo acometer gatos e até o ser humano 1. Tida como a causa mais frequente de 46
hipertensão pulmonar em cães, a dirofilariose é pouco diagnosticada em gatos, apesar das infecções nessa espécie serem mais frequentes naqueles indivíduos que habitam áreas endêmicas 2. É comum em regiões tropicais, subtropicais e de climas temperados, prevalecendo em regiões litorâneas ou
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Genilton Vieira
A Dirofilaria immitis parasita o sistema circulatório dos cães, podendo acometer gatos e até o ser humano * O mosquito ingere microfilárias (L1) de D. immitis durante o repasto. No interior do inseto as larvas se desenvolvem até a forma infectante (L3) em dez a catorze dias
Após picar o hospedeiro definido, as L3 são liberadas e penetram ativamente nos tecidos, migrando até os sítios intermediários (subcutâneo, serosa etc.) onde passarão a L4
O período pré-patente para aparecimento de microfilárias no sangue é de aproximadamente seis a oito meses. Acima, larva fixada e corada por Giemsa (400x)
Os adultos imaturos penetram nos vasos e alcançam a artéria pulmonar e ventrículo direito em 88 a 120 dias. Lá atingem a maturidade sexual e se reproduzem
Microfilárias no sangue (técnica de Knott - 200x)
Microfilárias no sangue (técnica de Knott - 400x)
Dilatação ventricular direita é um dos achados radiográficos
*Arquivo Clínica Veterinária (LABARTHE, N. V. Dirofilariose canina: diagnóstico, prevenção e tratamento adulticida. Clínica Veterinária, ano 2, n. 10, p. 10-16, 1997)
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próximas de rios e lagos 3,4. Na Europa há relatos na Espanha, França, Grécia, Itália e em Portugal 5. A Ásia tem registros em cidades do Japão e da Coreia do Sul 6,7. Na Oceania, a Austrália é citada na literatura 8. Na América do Norte, há relatos no Canadá 9 e nos Estados Unidos 10,11. Na América do Sul, Colômbia, Argentina e Peru são locais onde a zoonose está presente 12-15. O Chile, no entanto, não apresenta relatos de dirofilariose 14. Em 1988, a incidência da dirofilariose no Brasil era de 7,9%. Naquela época a distribuição entre as regiões brasileiras apresentava-se da seguinte forma: Região Centro-Oeste, 5,8%; Região Norte, 10,7%; Região Nordeste, variação de 1,4 a 10,3%; Região Sudeste, incidência compreendida entre 2,2 e 52,5%; Região Sul, de 1,1 a 2% 16-17. Dentre essas regiões, a distribuição é a seguinte: Rio Grande do Sul, 1,1%; Santa Catarina, 12%; Paraíba, 12,4%; Pará, 10,7%; Alagoas, 12,5%; Rio de Janeiro, 21,3%; Recife, no estado de Pernambuco, 2,3%; no estado de São Paulo, Bertioga, 45% e Guarujá, 14,2%, ambas cidades costeiras, apresentam alta prevalência. Ainda no estado de São Paulo, porém, cidades afastadas da costa, como Mairiporã e Botucatu, apresentaram índices de 17% e 0,9%, respectivamente 18. Outras cidades afastadas da costa também apresentam relatos de casos de dirofilariose, como acontece em Cuiabá (MT), com 9,62%, e Uberlândia (MG), que apresenta relato de quatro casos 18. Entretanto, mais recentemente, a prevalência nacional parece ter permanecido em patamares mais baixos (2 a 10%) 18,19. Em 2005, na região leste do estado do Rio de Janeiro, 50% dos cães de uma localidade foram encontrados albergando o parasito 20 mas, em 2011 foi registrado o recrudescimento das infecções, já chegando à frequência de 25% na região Oceânica de Niterói, onde em 2003 nenhum cão fora encontrado parasitado 21. Os parasitos adultos habitam preferencialmente as artérias pulmonares e o ventrículo direito, provocando lesões vasculares e levando a hipertensão pulmonar. Entretanto, quando ocorrem migrações erráticas os helmintos podem ser encontrados no cérebro, nos olhos ou em qualquer artéria 2,22. Os cães entre quatro e oito anos de idade são os mais frequentemente encontrados infectados; no entanto, a partir de seis meses de idade já podem albergar indivíduos adultos 2. A prevalência global nos gatos é de 5% a 20% menor que a dos cães que vivem na mesma área 23. Etiologia e ciclo de vida A espécie Dirofilaria immitis é parasita, nematódeo do gênero Dirofilaria. A D. immitis tem como hospedeiros definitivos os canídeos, principalmente cães domésticos, embora os primatas não humanos e ocasionalmente os gatos e os seres humanos, além de outras espécies de mamíferos também possam ser infectadas 1,22. Os hospedeiros intermediários são mosquitos dos gêneros Aedes, Anopheles e Culex 24. Vale ressaltar que os mosquitos Aedes spp têm hábitos vespertinos, enquanto os Culex spp têm hábitos noturnos 25. O ciclo de vida tem início com a ingestão da primeira fase larvária (microfilarias) pelo mosquito, que, nos tubos de Malpighi desenvolvem-se de larva 1 (L1 ou microfilárias) a larva 3 (L3), que corresponde à fase infectante. As L3 48
migram até as partes bucais de seus hospedeiros intermediários e, durante o repasto sanguíneo dos mosquitos, realizam infecção ativa, passando ao tecido subcutâneo do hospedeiro mamífero. Em aproximadamente 100 dias, alcançam o estágio de larvas 5 (L5), chegam às artérias pulmonares e câmaras cardíacas direitas, onde chegam ao estágio de parasitas adultos, podendo viver até cinco anos nos cães e dois anos nos gatos. A variação do período pré-patente é de seis a oito meses. Em uma picada, de dez a doze microfilárias podem ser transmitidas por um único mosquito 1,26. Sinais clínicos A hipertensão pulmonar é acompanhada por sinais clínicos como tosse, dispneia, perda de peso e também ascite 26,27. Outros sinais passíveis de serem percebidos na anamnese e no exame físico incluem letargia, intolerância ao exercício, sopro direito por conta da insuficiência da válvula tricúspide, ritmo de galope, crepitações pulmonares, cianose e arritmias cardíacas 28. Pode ocorrer reação inflamatória exacerbada, com a morte do parasita, promovendo a formação de granuloma, que pode obstruir as artérias pulmonares 1. Os gatos infectados geralmente albergam menos de cinco parasitas adultos e a infecção geralmente cursa sem microfilaremia – que, quando ocorre é por curto período de tempo. Nesses animais, os sinais são diferentes dos encontrados nos cães: vômito, tosse, colapso ou síncope 29, letargia, anorexia, perda de peso, sopro cardíaco (sobre a área da válvula tricúspide), além de crepitações nos campos pulmonares e também hemoptise. Entre os sinais neurológicos destacam-se convulsões, ataxia e cegueira 26. Diagnóstico O diagnóstico tem como base os sinais clínicos de disfunção cardiovascular, além da demonstração das microfilárias no sangue, pela técnica de Knott modificada por Newton & Wright ou da presença de antígenos dos parasitas adultos no sangue pela técnica de Elisa. Alguns achados radiográficos incluem dilatação ventricular direita, tronco pulmonar proeminente e tortuosidade das artérias pulmonares, além de sua dilatação central 2. O eletrocardiograma pode ser útil para avaliar arritmias em pacientes no estágio avançado da doença, no entanto, não é um teste sensível para identificação de hipertrofia leve a moderada do ventrículo direito 29. Por meio da ecocardiografia, é possível observar a dilatação que envolve o ventrículo e o átrio direitos e a artéria pulmonar principal 26. Tratamento adulticida Cães A única droga aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) americana é o dicloridrato de melarsomina – que não é encontrada no mercado brasileiro. Sua administração é feita pela via intramuscular profunda na região lombar (musculatura epaxial, na altura de L3 a L5). A dose utilizada é de 2,5mg/kg a cada aplicação. As aplicações devem ser realizadas em duas etapas. A primeira, composta por apenas uma aplicação IM da droga e a segunda, entre trinta e sessenta dias após a primeira injeção e será composta por duas aplicações (IM) com intervalo de 24 horas.
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Devem ser considerados como tratamento adjuvante a administração de prednisolona e de doxiciclina. É aconselhável a hospitalização dos pacientes para a administração da droga, uma vez que a morte dos parasitos pode causar tromboembolismo grave 1,26,30. É recomendado restringir as atividades físicas por um período de quatro a seis semanas, reduzindo, dessa forma, as sequelas provocadas pela morte de vermes adultos, uma das quais é o tromboembolismo pulmonar. É importante adequar a dieta de cães com dirofilariose e portadores de insuficiência cardíaca congestiva, restringindo o sódio 31. Gatos Gatos apresentam a possibilidade de cura espontânea, sendo recomendado tratamento de suporte 1. A decisão de realizar o tratamento curativo nesses animais é difícil, uma vez que a morte dos gatos é consequência frequente da morte de parasitos adultos, além da possibilidade de intoxicação 32. Tratamento microfilaricida Cães O tratamento microfilaricida não deve anteceder o tratamento adulticida 1 e só deve ser instituído depois da confirmação de que o tratamento adulticida foi eficaz
(ausência de microfilárias e de antígenos na circulação). Esse tratamento deve ser realizado administrando-se lactonas macrocíclicas seguindo-se posologia preventiva 30. Prevenção Há uma variedade de opções para a prevenção da dirofilariose em cães e gatos, tanto em tabletes ou gomas como em aplicações tópicas, entre as quais vale ressaltar a ivermectina (cães: 6 a 12mcg/kg/mês; gatos: 24mcg/kg/mês); a milbemicina (cães: 500 a 999mcg/kg/mês; gatos 2mg/kg/mês); selamectina (cãe se gatos: 6 a 12mg/kg/mês) e a dietilcarbamazina (2,5 a 3mg/kg/VO). Também é importante lembrar que o acesso às áreas endêmicas deve ser evitado, não expondo os animais aos vetores 1,29. Agradecimentos À profa. dra. Norma Labarthe, pela sugestões que enriqueceram este trabalho e à acadêmica de medicina veterinária, Aline Brusco Lusa, pelo auxílio com as referências. Referências
01-SILVA, R. C. ; LANGONI, H. Dirofilariose: zoonose emergente negligenciada. Ciência Rural, v. 39, n. 5. Santa Maria, ago, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010384782009000500051>. Acesso em: 28/6/2010.
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Herpes-vírus canino em filhotes da raça golden retriever – relato de caso Canine hepesvirus in golden retriever pups – case report Herpesvirus canino en cachorros Golden Retriever – relato de casos Clínica Veterinária, n. 92, p. 52-56, 2011 Vanessa Perlin Ferraro de Ávila MV, mestranda PPGCV-UFRGS vanessapfa@gmail.com
Anamaria Telles Esmeraldino MV, profa. dra. ULBRA atelles@portoweb.com.br
Luiz César Bello Fallavena MV, prof. dr. ULBRA lcfallav@gmail.com
Carina de Césaro
médica veterinária autônoma ecesaro@terra.com.br
Norma Centeno Rodrigues
MV, dra. Inst. de Pesquisas Vet. “Desiderio Finamor” normacentenorodrigues@gmail
Alexandre Carvalho Braga
MV, Msc Inst. de Pesquisas Vet. “Desiderio Finamor” alexandrebraga@ipvdf.rs.gov.br
Cristine Cerva
MV, Msc Inst. de Pesquisas Vet. “Desiderio Finamor” cristinecerva@ipvdf.rs.gov.br
Resumo: O herpes-vírus canino é o agente responsável por causar doença hemorrágica fatal em cães com menos de quatro semanas, levando à necrose focal parenquimatosa em diversos órgãos. O vírus está disseminado na população canina e os cães são considerados os hospedeiros naturais. Animais recém-nascidos podem infectar-se pelo herpes-vírus canino por meio de secreções oronasais de animais infectados; no útero, por via transplacentária; ou na passagem pelo canal do parto. Dois filhotes da raça golden retriever, de dez dias de vida, uma fêmea e um macho, foram encaminhados para o Setor de Patologia Animal do Hospital Veterinário da Universidade Luterana do Brasil (ULBra-RS). Após a necropsia, foram colhidos rins, fígado, pulmão, intestino, linfonodos mesentéricos e baço para exame histopatológico e de isolamento viral em células de linhagem MDCK. Após três dias de inoculação, observou-se efeito citopático compatível com herpes-vírus canino nas células MDCK. Os achados anatomopatológicos encontrados, associados ao isolamento viral, permitiram diagnosticar a infecção por herpes-vírus canino nos filhotes. Unitermos: cão, clínica, diagnóstico, histopatologia, cultivo celular Abstract: The canine herpesvirus is the agent responsible for a fatal hemorrhagic disease in pups up to four weeks of age, leading to focal parenchymatous necrosis in several organs. The virus is widely spread in the canine population and dogs are considered natural hosts. Newborns can become infected by oronasal secretions eliminated by infected dogs, in the womb, through transplacental transmission, or during the passage through the birth canal. A male and a female ten-day old Golden Retriever pups were sent to the Animal Pathology Sector of the Veterinary Hospital of the Lutheran University of Brazil (ULBra-RS) to establish the cause of death. After necropsy, samples of kidney, liver, lung, intestine, mesenteric lymph nodes and spleen were collected for histopathology and viral isolation in MDCK cells. A cytopathic effect compatible with canine herpesvirus was observed three days after inoculation. The pathological and virus isolation findings enabled the diagnosis of infection due to canine herpesvirus in the pups. Keywords: dog, clinic, diagnosis, histopathology, cell culture Resumen: El herpesvirus canino es el agente responsable por causar una enfermedad hemorrágica fatal en perros con menos de cuatro semanas, que lleva a una necrosis focal parenquimatosa en diversos órganos. El virus está diseminado en la populación canina y los caninos son considerados sus huéspedes naturales. Animales recién nacidos pueden infectarse por el herpes virus canino a través de secreciones oronasales de animales infectados, en el útero de la perra por vía transplacentaria, o bien durante el paso por el canal de parto. Dos cachorros de la raza Golden Retrievers, de 10 días de vida, una hembra y un macho, fueron encaminados para el sector de patología animal del Hospital Veterinario de la Universidad Luterana de Brasil (ULBra-RS). Tras la necropsia, se tomaron muestras de riñón, hígado, pulmón, intestino, ganglios linfáticos mesentéricos y bazo para examen histopatológico y de aislamiento viral en células de línea MDCK. Pasados tres días de la inoculación fue observado un efecto citopático compatible con herpesvirus canino en las células MDCK. Los hallados anatomopatológicos encontrados, asociados al aislamiento viral, permitieron diagnosticar la infección por herpesvirus canino en los cachorros. Palabras clave: perro, clínica, diagnóstico, histopatología, cultivo celular
Introdução O herpes-vírus canino tipo 1 (CHV-1) pertence à família Herpesviridae, subfamília Alpha-herpesviridae 1,2 e é conside52
rado o agente causal de doença hemorrágica fatal em cães com menos de quatro semanas de idade, que determina necrose focal parenquimatosa em diversos órgãos 1-3.
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O vírus encontra-se disseminado entre a população canina e o agente apresenta taxas elevadas de morbimortalidade 4,5. Os cães recém-nascidos podem adquirir a infecção pelo CHV-1 no próprio útero pela via transplacentária ou na passagem pelo canal do parto. O contágio pode ocorrer também por contato direto com outros cães infectados na ninhada ou por secreções oronasais da cadela ou de outros cães 6. As fêmeas infectadas na metade ou no final da gestação podem abortar, parir filhotes fracos ou sem sinais de doença. Quando infectados no final da gestação, os fetos podem parecer normais no momento do parto, mas geralmente acabam morrendo poucos dias após o nascimento 7. O período de incubação do vírus varia entre três e seis dias 8. Diferentes fatores estão relacionados ao estabelecimento da herpes-virose em cães, que incluem carga viral infectante, a imunidade do recém-nascido, idade, tempo de gestação, parasitismo e coinfecções com vírus imunossupressivos 6,9. A termorregulação também é considerada fator predisponente na infecção 6. A replicação ótima do vírus ocorre entre 34 e 35°C, diminuindo em temperaturas superiores a 36°C. Nos animais recém-nascidos, o sistema de regulação térmica não está completamente desenvolvido até duas a três semanas de vida, período em que a temperatura corporal se situa normalmente 1°C a 1,5°C abaixo da temperatura usual de cães adultos 6. Clinicamente, os filhotes infectados pelo CHV-1 apresentam anorexia, debilidade, fraqueza, diarreia pastosa de coloração amarelo-esverdeada e secreção nasal. Também são observados dor abdominal, hemorragias petequiais nas mucosas, pápulas cutâneas e, ocasionalmente, episódios convulsivos. Outra queixa comum dos proprietários é o choro incessante dos animais 4,6. As maiores taxas de mortalidade ocorrem em filhotes entre nove e catorze dias de vida. Em animais acima de quatro semanas de vida os sinais clínicos são incomuns 10,11. Os cães convalescentes podem desenvolver sinais neurológicos caracterizados por ataxia e cegueira 6,8.
Em cães adultos, o vírus causa infecção leve no trato respiratório superior, geralmente manifestada por sinais de traqueobronquite, doença ocular, lesões papulovesiculares no trato reprodutor 3,6,9 e, caracteristicamente, desordens reprodutivas como reabsorção embrionária, natimortos e abortamentos 3,6. Nos cães adultos, o vírus é considerado de baixa imunogenicidade, visto que os títulos de anticorpos neutralizantes declinam poucos meses após a infecção. O diagnóstico do herpes-vírus canino é baseado nos achados histopatológicos, no isolamento viral, na identificação do DNA do vírus por técnicas moleculares (PCR) e em testes sorológicos como a soroneutralização e o método de Elisa 12. A presença de anticorpos neutralizantes aumenta após a infecção e pode durar cerca de dois meses. No entanto, baixos títulos podem ser detectados por até dois anos. A soropositividade indica que houve exposição viral e não necessariamente infecção ativa 6,13. Os achados anatomopatológicos se caracterizam por lesões necróticas focais em órgãos como rins, pulmões, fígado, baço e linfonodos. Também se observam corpúsculos de inclusão intranucleares nas células infectadas pelo herpesvírus canino 12,14. A microscopia eletrônica pode ser usada como método adicional no diagnóstico viral 15. Na rotina, o diagnóstico definitivo geralmente é obtido aliando-se os achados clinicoepidemiológicos, histopatológicos e pelo isolamento e a caracterização viral em células renais, adrenais, pulmonares, esplênicas, hepáticas ou de linfonodos 14. Podem-se tomar medidas preventivas para evitar a disseminação da doença nos criatórios, canis e hospitais veterinários 16. As cadelas infectadas e suas ninhadas devem ser isoladas para prevenir a infecção de outros animais. As fêmeas em gestação devem permanecer em ambiente limpo e calmo 5,6. O uso de animais soropositivos na reprodução é tema controverso na literatura, pois as cadelas infectadas podem parir filhotes saudáveis. A inseminação artificial é indicada nos casos de uso na reprodução de machos saudáveis com
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fêmeas soropositivas. A cesariana é contraindicada, visto que o feto pode se infectar por via intrauterina 17. Devido ao desenvolvimento rápido da infecção generalizada, faz-se necessária a adoção de ações imediatas nos animais recém-nascidos. O uso de lâmpadas e bolsas térmicas que aumentem a temperatura corporal de filhotes para 39°C até três semanas de vida pode auxiliar a reduzir a severidade da infecção se implementado antes ou no momento da exposição do vírus 5,6. Terapia de suporte com o uso de antimicrobianos, fluidoterapia e alimentação por via de sonda oral podem ser necessárias 16. O uso de fármacos antivirais tem se mostrado ineficaz. Em contraste, a administração de vidarabina antes do desenvolvimento dos sinais clínicos pode ser benéfica, apesar de esse agente antiviral estar associado a lesões do sistema nervoso central 7. Ações de controle da carga viral no ambiente também são recomendadas, posto que o vírus é inativado quando exposto ao calor e à maioria dos desinfetantes e solventes lipídicos comuns. No entanto, ele apresenta moderada termorresistência, pois mantém-se viável por cerca de cinco a dez minutos a 56°C e 22 horas quando exposto à temperatura de 37°C 7.
apresentava-se repleto de leite coagulado, com discreta congestão na região cárdia. Nos rins observou-se necrose hemorrágica multifocal (Figura 1). Foram colhidos fragmentos de rins, fígado, pulmão, intestino, linfonodos mesentéricos e baço para exame histopatológico. Os espécimes foram imersos em solução de formalina a 10%, incluídos em parafina e corados pela técnica de coloração de hematoxilina e eosina. Também foram coletados fragmentos de coração, fígado, pulmão, rins e encéfalo para exame virológico. O exame histopatológico evidenciou áreas de necrose hemorrágica nos rins e no intestino delgado, enquanto no baço e nos linfonodos mesentéricos observou-se hiperplasia reativa. Nos pulmões havia inflamação fibrinonecrótica, com presença de extensas áreas de hemorragia e necrose. O exame virológico foi realizado no Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF) e consistiu na inoculação de amostras de órgãos, em cultivo celular, colhidas durante a necropsia. Os órgãos de ambos os filhotes foram macerados, acrescentando-se 20mL de meio mínimo essencial de Eagle (MEM) e antibiótico gentamicina (300µL/L). A inoculação foi realizada em tapete de células MDCK (Madin-Darby canine kidney) 18. No terceiro dia da segunda passagem em cultivo celular, observou-se efeito citopático compatível com o causado por herpes-vírus, apresentando, em três pontos do tapete, células multinucleadas formando sincício, com núcleos em graus variáveis de degeneração e pontes citoplasmáticas intercelulares (Figura 2). Discussão O diagnóstico de infecção por herpes-vírus canino no presente relato foi firmado com base nos sinais clínicos, nos dados epidemiológicos e nos achados anatomopatológicos associados ao isolamento viral. Apesar de haver disponibilidade de técnicas sorológicas e moleculares para o diagnóstico viral, na rotina clínica ele pode ser embasado nos achados de necropsia, nos exames histopatológicos e de cultura celular 12,14. De maneira similar, no presente estudo foram observados achados histopatológicos nos órgãos e efeitos citopáticos característicos no tapete celular compatíveis com os causados pelo herpes-vírus canino 14. Depto. Virologia, Desidério Finamor
Laboratório de anatomia patológica veterinária - ULBRA
Relato de caso Foram encaminhados ao Setor de Anatomia Patológica do Hospital Veterinário da Ulbra, situado em Canoas, RS, para necropsia, dois filhotes de dez dias de vida, um macho e uma fêmea, ambos da raça golden retriever. Os filhotes pertenciam a uma ninhada de dez animais com histórico de fraqueza e vocalização intensa que levou oito filhotes ao óbito, enquanto dois foram sacrificados por exibirem máformação. Na necropsia, as lesões observadas mostraram-se semelhantes em ambos os animais, incluindo esplenomegalia, hepatomegalia, edema pulmonar, congestão e presença de sufusões na mucosa e na serosa intestinal. O estômago
Figura 1 - Detalhe da necropsia de áreas multifocais de necrose hemorrágica em rins de filhotes de cães infectados por herpesvírus canino. Setor de Anatomia Patológica Veterinária - Ulbra, Canoas, RS
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Figura 2 - Células multinucleadas formando sincício, com núcleos em graus variáveis de degeneração e pontes intercelulares em cultivo celular de células MDCK compatíveis, com efeito citopático de herpes-vírus canino. Aumento de 40x. Departamento de Virologia - Desidério Finamor, Eldorado do Sul
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Apesar de apenas dois filhotes terem sido necropsiados, os achados patológicos, o isolamento viral, bem como o histórico clínico, sugerem que os demais filhotes também deveriam estar infectados pelo herpes-vírus canino. A idade dos filhotes (dez dias), os sinais de fraqueza e a vocalização intensa estão entre outros sinais clínicos comumente descritos em cães jovens com herpes-virose 4,6. Casos relatados por outros autores em ninhadas de cães com altas taxas de morbidade e mortalidade indicam a gravidade do quadro clínico e o potencial de transmissibilidade do microrganismo nas ninhadas, reforçando a necessidade de diagnóstico rápido e de se instituírem ações com o intuito de conter a disseminação viral em animais próximos 19. As lesões encontradas na necropsia dos animais foram similares às de outros casos descritos em cães com menos de um mês de idade infectados pelo herpes-vírus canino 15,19. Há descrição de lesões características nos rins 7, nos quais se observam áreas de hemorragia e necrose multifocais que dão a esses órgãos aspecto moteado característico, com áreas de necrose hemorrágicas circunscritas ao córtex pálido e acinzentado. Esse aspecto moteado ocorre devido à necrose fibrinoide das artérias interlobulares, causada pelo vírus 6. Na necropsia dos filhotes, observou-se que os rins apresentavam hemorragia e necrose multifocais. Os pulmões de ambos os animais apresentavam edema. Na herpes-virose canina frequentemente os pulmões encontram-se firmes e edematosos, com áreas de hiperemia 6. O envolvimento pulmonar geralmente resulta em hiperplasia do epitélio bronquiolar, com áreas de necrose e descamação epitelial 20. Microscopicamente, evidenciaou-se nos pulmões pneumonia do tipo fibrinonecrótica, além de áreas de necrose hemorrágica. O fígado dos fetos infectados pelo herpes-vírus canino frequentemente se encontra aumentado e as lesões focais podem ser suficientemente extensas para serem notadas macroscopicamente 19. O baço e os linfonodos apresentam aumento e hiperplasia reativa de fagócitos mononucleares 19. No sistema gastrintestinal é comum haver hemorragias petequiais nas superfícies serosas 6. Nos filhotes necropsiados no presente relato, observaram-se esplenomegalia, hepatomegalia e sufusões na mucosa intestinal, além de hiperemia da serosa. Microscopicamente, os linfonodos revelaram hiperplasia reativa. No presente caso, não se observaram inclusões nos tecidos examinados. Tal resultado pode ser justificado visto que a presença de inclusões intranucleares – acidofílicas ou basofílicas – dependem do estágio da infecção celular e do método de fixação do material colhido. Ademais, as inclusões celulares pelo herpes-vírus em cães são de difícil visualização e menos frequentes do que as observadas na infecção provocadas por esse vírus em outros animais domésticos 6,14. Conclusão O herpes-vírus canino é responsável por causar doença fatal em filhotes. Apesar dos poucos relatos feitos no Brasil, tem-se observado evidências da circulação do vírus no país e a presença desse microrganismo nos criatórios merece preocupação, visto que os cães são hospedeiros naturais, o vírus possui alta transmissibilidade e as ninhadas afetadas apresentam 56
altas taxas de morbimortalidade. Devem ser prontamente implementadas medidas de controle e profilaxia em criatórios com diagnóstico de herpes-virose, para evitar grande mortalidade de animais e a disseminação da infecção. O exame necroscópico dos animais que venham a óbito, aliado ao isolamento viral e os achados clínicos e epidemiológicos possibilitam o diagnóstico da herpes-virose em cães. Referências
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Lúpus eritematoso vesicular canino – relato de caso e revisão de literatura Canine vesicular cutaneous lupus erythematosus – case report and a review Lupus eritematoso cutáneo vesicular canino – relato de caso y revisión de la literatura Clínica Veterinária, n. 92, p. 58-61, 2011 Luiz André Sorbello
MV, residente Clín. Méd. Animais de Companhia - PUCPR luizsorbello@gmail.com
Flávia Biondi
MV, mestranda PPGCV/UFPR flabiondi@hotmail.com
Marconi Rodrigues de Farias
MV, mestre, doutorando, prof. adj. I Clín. Méd. Animais de Companhia - PUCPR marconi.farias@pucpr.br
Antonio Henrique Cereda da Silva MV, mestrando PPGCV/UFPR antonio_cereda@yahoo.com.br
Juliana Werner
MV, mestre Laboratório Werner&Werner juliana@werner.vet.br
Resumo: O lúpus eritematoso cutâneo vesicular canino (LECVC) é uma dermatopatia autoimune rara, que acomete cães adultos das raças collie e pastor de Shetland e os mestiços resultantes de seus cruzamentos. As manifestações clínicas do LECVC são predominantemente dermatológicas e se caracterizam por lesões eritematosas vesiculobolhosas e/ou ulceradas, distribuídas em áreas de rarefação pilosa como o abdômen ventral, as axilas, as virilhas e a face interna dos pavilhões auriculares. O diagnóstico é feito a partir das manifestações clínicas, da raça, dos achados histopatológicos e também por meio das técnicas de imunopatologia. O tratamento é baseado no emprego de fármacos imunossupressores e/ou imunomoduladores e o prognóstico é sempre reservado. O presente trabalho tem por objetivo relatar um caso de um cão fêmea mestiço de collie que apresentava lesões cutâneas ulcerosas e apruríticas, de recorrência sazonal, associadas à primavera e ao verão, características predominantes da doença. O LECVC deve ser considerado como diagnóstico diferencial nos casos de dermatopatias autoimunes. Unitermos: autoimune, dermatite de interface, collie, pastor de Shetland Abstract: Canine vesicular cutaneous lupus erythematosus (CVCLE) is a rare autoimmune skin disease typical of the breeds Rough Collie and Shetland Sheepdog, affecting also animals resulting from their crosses. Clinical signs are mostly dermatologic and include vesicles and/or bullae, and ulcerations in sparsely haired areas such as the ventral abdomen, axillae, groin and the concave aspect of the external ear. Diagnosis is based on breed specificity, history, clinical presentation, histopathological and immunopathological findings. Treatment is based on immunosuppressive and immunomodulatory therapy, and prognosis is always reserved. This paper reports the case of a female dog with ulcerative non pruritic skin lesions, with recurrence associated with spring and summer, which are predominant features of the disease. CVCLE should be considered in the differential diagnosis of autoimmune skin diseases. Keywords: autoimmune, interface dermatitis, Collie, Shetland Sheepdog Resumen: El lupus eritematoso cutáneo vesicular canino (LECVC) es una rara dermatopatía auto inmune que afecta a perros adultos de razas Collie y Pastor de Shetland, o mestizos de los mismos. Los signos clínicos de LECVC son predominantemente dérmicos y se caracterizam por lesiones eritematosas, vesiculobullosas y / o distribuidas en las zonas ulceradas de rarefacción pilosa como el abdomen ventral, las axilas, y cara interna del pabellón auricular. El diagnóstico se realiza a partir de la raza, los signos clínicos, los hallazgos histopatológicos y también mediante las técnicas de inmunopatología. Los cambios histopatológicos se caracterizan básicamente por una dermatitis de interfase rica en linfocitos. El tratamiento se basa en el uso de medicamentos inmunosupresores e inmunomoduladores y el pronóstico siempre es reservado. Este trabajo tiene como objetivo presentar el caso de una perra, que se presentó con lesiones ulcerosas y apruriticas con recidivas estacionales (primavera y verano), características predominantes de la enfermedad. El LECVC debe considerarse en el diagnóstico diferencial de las enfermedades auto inmunes de la piel. Palabras clave: dermatitis de interfase autoinmunes, Collie, Shetland Sheepdog
Introdução O lúpus eritematoso cutâneo vesicular canino (LECVC) é uma dermatopatia autoimune rara que acomete cães adultos 58
das raças collie e pastor de Shetland e os mestiços resultantes de seus cruzamentos, o que sugere a presença de envolvimento hereditário em sua patogênese 1-4.
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Relato de caso Um cão fêmea mestiço de collie, de seis anos de idade, foi atendido na Unidade Hospitalar de Animais de Companhia da PUC-PR com o histórico de lesões cutâneas de aspecto ulceroso, apruríticas e de recorrência sazonal, associadas à primavera e ao verão. O quadro tinha evolução de dois anos e apresentava remissão parcial mediante terapia imunossupressora com glicocorticoides, porém, recente refratariedade a esta foi relatada pelo proprietário. No exame clínico, observou-se presença de alopecia associada a lesões ulcerosas, de configuração geográfica, dolorosas, margeadas por intenso eritema, distribuídas topograficamente de forma simétrica em axilas, virilhas e abdômen (Figuras 1 e 2). Também foram observadas lesões erodoulcerativas em junções mucocutâneas encimadas por crostas melicéricas, tecido cicatricial e hiperpigmentação residual após involução sintomatolesional (Figuras 3 e 4). Os exames hemocitométricos, leucométricos, uroanálise e avaliação bioquímica sérica dos níveis de alanina aminotransferase, fosfatase alcalina, gama-glutamiltransferase, albumina, ureia e creatinina se mostraram normais, não havendo evidência de comorbidades.
Flávia Biondi
Figura 1 - Cão mestiço de collie, fêmea, seis anos de idade. Visão aproximada de lesões vesicobolhosas e ulceradas em virilha do animal com LECVC
Flávia Biondi
Até meados dos anos 1970, essa doença ulcerativa cutânea era relatada como hidradenite supurativa e mais tarde, nos anos 1980, os cães eram diagnosticados como portadores de penfigoide bolhoso com base nos achados histopatológicos de separação dermoepidérmica 1. Em 1995 o LECVC foi descrito como doença ulcerativa idiopática dos collies e pastores de Shetland, que poderia ser uma variante da dermatomiosite familiar canina, de característica comprovadamente hereditária nessas raças 3. Em 2001, comparando históricos, manifestações clínicas e achados histopatológicos de estudos anteriores, foram encontradas muitas diferenças entre essas duas doenças e propôs-se que essa enfermidade seria uma variante vesicular do lúpus eritematoso cutâneo (LEC), semelhante ao lúpus eritematoso cutâneo subagudo humano 5. As manifestações clínicas do LECVC são predominantemente dermatológicas e se caracterizam por lesões eritematosas vesiculobolhosas e/ou ulceradas, distribuídas em áreas glabras como o abdômen, as axilas, as virilhas e a face interna dos pavilhões auriculares. A maioria dos casos de LECVC tem início ou reincide principalmente nos meses de verão, reforçando que essa pode ser uma doença fotoagravada ou fotoprecipitada 3, como ocorre com o lúpus eritematoso subagudo humano 1,6. A ocorrência do LECVC é típica de animais adultos 1,6. Em estudo retrospectivo de dezessete casos, os cães acometidos tinham faixa etária variando entre três e onze anos, com uma média de idade de seis anos para o surgimento da doença e maior ocorrência em fêmeas, na proporção de 2,4 para cada macho 1. O diagnóstico de LECVC é realizado com base no histórico clínico, na predisposição racial e nos achados histopatológicos e imunopatológicos 1,3,6. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de lúpus eritematoso cutâneo vesicular canino atendido na Unidade Hos pi talar para Animais de Companhia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Figura 2 - Lesões ulceradas crostosas em axila do mesmo animal da figura 1 Flávia Biondi
Figura 3 - Mesmo animal da figura 1. Observe-se leve ulceração mucocutânea em região labial
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Juliana Werner
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Figura 4 - Mesmo animal da figura 1. Observem-se as lesões ulceradas serpiginosas de configuração geográfica no abdômen e na virilha
Os diagnósticos diferenciais propostos incluíam: dermatomiosite familiar canina, penfigoide bolhoso, pênfigo vulgar, lúpus eritematoso vesicular canino, epidermólise bolhosa e eritema multiforme. Foi realizada uma análise dermato-histopatológica de diversos fragmentos cutâneos, revelando degeneração hidrópica da camada basal, raros queratinócitos necróticos e áreas de intensa exocitose basal de linfócitos, que obliteravam a junção dermoepidérmica. Não se evidenciaram sinais de acantólise. Na derme superficial verificaram-se incontinência pigmentar, edema e infiltrado inflamatório misto em padrão perivascular e em faixa com plasmócitos, linfócitos, mastócitos, eosinófilos e neutrófilos (Figura 5). Na derme profunda verificaram-se vasos sanguíneos exibindo espessamento e irregularidade da parede com infiltração de leucócitos (vasculite). Foi realizada coloração especial para fungos (PAS c/d), que resultou negativa. O exame clínico, em conjunto com a análise dermato-histopatológica, subsidiou o diagnóstico de dermatite de interface com discretos sinais de vasculite, compatível com a suspeita de lúpus eritematoso cutâneo vesicular canino (LECVC). O tratamento proposto constituiu-se de terapia imunossupressora com azatioprina a 2mg/kg duas vezes ao dia, associada a deflazacort b 7,5mg uma vez ao dia durante dez dias, iniciando protocolo de espaçamento da dose até sua total retirada em trinta dias. Observou-se melhora no quadro dermatológico, com redução da quantidade e da severidade das lesões. Recomendou-se terapia de manutenção diária com azatioprina na dose de 1mg/kg duas vezes ao dia, permanecendo o animal livre das lesões por quatro meses. Ele apresentou um episódio de recorrência das lesões sendo, então, retomada a terapia com corticosteróide até remissão dos sinais clínicos. Atualmente, após doze meses de tratamento, o animal está sendo mantido com terapia com azatioprina em dias alternados. Discussão O LECVC acomete cães adultos das raças collie e pastor de Shetland e seus mestiços 1-4 e sua ocorrência é mais comum em fêmeas adultas com média de idade de seis anos 3. O paciente acompanhado neste estudo era uma fêmea mestiça de a) Imuran, GlaxoSmithKline, Rio de Janeiro, RJ b) Deflanil, Libbs, São Paulo, SP
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Figura 5 - Fotomicrografia de pele do mesmo cão da figura 1. Observa-se a degeneração hidrópica da camada basal da epiderme (dermatite de interface – setas pretas) e o infiltrado inflamatório monomorfonuclear em faixa na derme superficial (liquenoide – elipse) que oblitera a junção dermoepidérmica. (H.E. Aumento de 400x)
collie de seis anos de idade, o que reforçou a possibilidade diagnóstica de LECVC. O diagnóstico do LECVC deve ser feito a partir dos sinais clínicos, da especificidade racial e dos achados histopatológicos e imuno-histoquímicos obtidos por meio de imunopatologia 3. As manifestações clínicas do LECVC são predominantemente dermatológicas, embora haja relatos de alguns casos de miosite concomitante 2. Inicialmente, observam-se lesões eritematosas e vesicobolhosas que coalescem e se rompem com facilidade, formando úlceras circulares e/ou serpiginosas, distribuídas em áreas glabras como o abdômen, as axilas, as virilhas e a face interna do pavilhão auricular 1,3. Menos comumente, pode ocorrer envolvimento de junções mucocutâneas 1,2,4. Em alguns casos, percebe-se simetria parcial na distribuição das lesões 2. A pelagem densa dos cães acometidos pode mascarar ou retardar a percepção das lesões dermatológicas iniciais pelo proprietário, motivo pelo qual muitos cães apresentam a doença em fase avançada no momento da consulta 3. As lesões ulceradas podem ocasionar dor e são alvos de infecção bacteriana secundária que, dependendo da intensidade e severidade, pode levar ao quadro de bacteriemia e sépsis 2,3,5. Para o diagnóstico histopatólogico, as vesículas e bolhas são ideais, apesar de raramente presentes, devido a seu caráter transitório 3. Nesses casos, os focos eritematosos presentes nas margens de lesões crostosas ou ulceradas são preferidos para a caracterização histopatológica 2. A principal alteração histopatológica da pele é a dermatite de interface rica em linfócitos na derme superficial que comumente oblitera a junção dermoepidermal, sendo que as células da camada basal e do estrato espinhoso inferior sofrem degeneração hidrópica e apoptose. É comum que ocorram incontinência pigmentar e espessamento da membrana basal 7. A apoptose e a vacuolização afetam as células externas dos folículos pilosos superficiais no istmo 2. Frequentemente se encontram algumas áreas focais de vesiculação na junção dermoepidermal, em resultado da coalescência de queratinócitos basais vacuolizados 1,3. Tais características histológicas são
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similares às encontradas no lúpus eritematoso cutâneo subagudo humano, que geralmente apresenta atrofia epidermal, apoptose de queratinócitos e dermatite de interface linfocítica 8. Usando técnicas de imuno-histoquímica, verificaram-se a apoptose de queratinócitos basais e a infiltração dérmica de linfócitos T e de células dendríticas apresentadoras de antígeno 1. Nesse mesmo estudo, observou-se por meio do método de imunofluorescência indireta a deposição de imunoglobulina em todos os casos de LECVC analisados. As imunoglobulinas estavam presentes no citoplasma dos queratinócitos basais e suprabasais (43%), no endotélio dos vasos sanguíneos (93%) e na junção dermoepidermal (50%). No caso estudado, o diagnóstico definitivo foi obtido por meio da análise histopatológica de fragmentos cutâneos, que constatou a presença de dermatite de interface com discretos sinais de vasculite que, aliada à característica racial da paciente e à apresentação clínica da doença, era compatível com a suspeita clínica de LECVC. Por ser uma doença rara, ainda é difícil padronizar os protocolos terapêuticos e há pouca informação a respeito da eficácia e da resposta ao tratamento do LECVC 3,9. Como na maioria das dermatopatias autoimunes, o tratamento do LECVC é baseado no emprego de fármacos imunossupressores e/ou imunomoduladores associados a antibióticos quando na presença de infecção bacteriana secundária. O prognóstico do LECVC é sempre reservado 3,5,6. Observou-se que a administração de prednisona na dose de 1 a 2mg/kg, duas vezes ao dia, nas fases agudas da doença, ou em associação com pentoxifilina na dosagem de 400mg/kg, diariamente, com ou sem suplementação de vitamina E, pode ser eficaz 3,6,9. Em um estudo retrospectivo publicado em 2004, avaliou-se a evolução clínica de onze casos de LECVC e observou-se que a melhor resposta terapêutica foi obtida com o emprego de prednisona ou prednisolona oral em doses imunossupressoras, usadas isoladamente ou em associação com a azatioprina. Entretanto, nenhum caso apresentou remissão completa 1. Nesse mesmo estudo, um cão que apresentava lesões isoladas no abdômen mostrou remissão completa das manifestações clínicas apenas com a utilização tópica de fluocinolona (concentração e frequência não relatadas). Em contrapartida, cães tratados apenas com pentoxifilina, que receberam doses diárias variando de 9 a 30mg/kg, mostraram resposta insatisfatória a esse protocolo 3,4. Em 2006, foi relatada a remissão completa das manifestações clínicas de um cão collie portador de LECVC com o emprego de ciclosporina A 9. O cão desse estudo havia apresentado intolerância à terapia imunossupressora com prednisona oral e não mostrou resultado satisfatório com a associação de prednisona e azatioprina. A dose inicial de ciclosporina A administrada foi de 4mg/kg, uma vez ao dia, em combinação com cetoconazol (4mg/kg, uma vez ao dia) e prednisona (0,2mg/kg, duas vezes ao dia). Após dois meses e meio de terapia, houve involução sintomatolesional e a dose da ciclosporina A foi reduzida para 2mg/kg, uma vez ao dia, suspendendo-se a administração do cetoconazol e da prednisona. Os agentes antimicrobianos sistêmicos como a cefalexina, a amoxicilina potencializada com clavulanato de potássio e a enrofloxacina são indicados quando as lesões cutâneas
apresentam sinais de infecção bacteriana secundária. Nesse caso também são indicadas as substâncias antissépticas de uso tópico, empregadas na forma de cremes, pomadas e xampus, como o peróxido de benzoíla, a clorexidina e a sulfadiazina de prata. Dependendo da evolução da doença, muitos cães necessitam da administração intermitente de antibióticos ou da utilização dos agentes tópicos 5. Apesar de o envolvimento da exposição à luz solar com o aparecimento ou a recrudescência das lesões do LECVC ainda não estar bem elucidado e comprovado, recomenda-se evitar tal exposição e utilizar protetores solares 3. O animal em questão, por viver solto em ambiente rural, está exposto diretamente à luz solar e a utilização de substâncias bloqueadoras de raios ultravioleta é recomendada, bem como a limitação da exposição ao sol. De acordo com o proprietário, as lesões da paciente surgiam e pioravam nos meses de temperatura mais alta, o que reforça a possibilidade de o LECVC ser uma doença fotoagravada ou fotoprecipitada. Conforme descrito na literatura, a melhor resposta terapêutica para LECVC foi obtida com o emprego de corticosteroide (prednisona ou prednisolona) oral em doses imunossupressivas, com ou sem associação com a azatioprina 1. O emprego do deflazacort não foi citado na literatura consultada mas, neste caso, mostrou-se eficaz na remissão dos sinais clínicos, em conjunto com a azatioprina. Optou-se pelo uso do deflazacort por causa da descrição de refratariedade à terapia pregressa com prednisona. Considerações finais No cão citado, o diagnóstico de LECVC foi feito com base na associação do histórico clínico e dos achados de dermatohistopatologia. O LECVC, apesar de raro, deve ser incluído na lista de diagnósticos diferenciais das dermatopatias autoimunes. Referências
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Fasceíte necrotizante – relato de dois casos Necrotizing fasciitis – a two-case report Fascitis necrosante – reporte de caso Clínica Veterinária, n. 92, p. 64-70, 2011 Mariana Isa Poci Palumbo MV, mestranda Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu palumboma11@yahoo.com.br
Felipe Gazza Romão MV, residente Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu fgazza_vet@hotmail.com
Luiz Henrique de Araújo Machado MV prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br
Abstract: Necrotizing fasciitis is a rare dermatopathy that promotes subcutaneous tissue damage, associated to substantial morbidity and mortality if treatment is not initiated at the beginning of the condition. The objective of the present study is to report the occurrence of two cases of necrotizing fasciitis, one in a miniature female Pinscher and the other one in a female Poodle, both attended at the Veterinary Hospital of FMVZ/Unesp-Botucatu. The animals presented ulcerated, erythematous lesions with secretion and points of necrosis along fascial planes. Bacterial culture was positive for Streptococcus spp. The animals were treated with enrofloxacin, associated to topical cleaning of the lesions with saline solution and triclosan-based soap and rifampicin spray. Both animals presented total remission of lesions after approximately 15 days of treatment. The present report aims to alert veterinary clinicians to the severity of Streptococcus spp infections. Keywords: dogs, skin diseases, Streptococcus sp
Rafael Torres Neto
MV, pós-graduando Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu rphtorres@yahoo.com.br
Viciany Erique Fabris MV, prof. ass. dr. Depto. Patologia FM-Unesp-Botucatu vfabris@fmb.unesp.br
Maria Lúcia Gomes Lourenço MV, profa. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu mege@uol.com.br
Maria do Carmo Fernandez Vailati MV, prof. ass. dra. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu mfvailati@yahoo.com.br
Resumo: A fasceíte necrotizante é uma dermatopatia rara associada a mortalidade e morbidade substanciais se for tardiamente tratada. O objetivo do presente trabalho é relatar a ocorrência de fasceíte necrotizante em dois casos, sendo uma cadela da raça pinscher miniatura e uma poodle, ambas atendidas na FMVZ-Unesp, campus de Botucatu. Os animais apresentavam feridas ulceradas, eritematosas, com acúmulo de secreção e pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular. Foi coletado material das feridas para cultura bacteriana, cujos resultados foram positivos para Streptococcus spp. Os animais foram tratados com enrofloxacina, limpeza das feridas com solução fisiológica, sabonete à base de triclosan e rifampicina spray. Em ambos houve remissão total das lesões em cerca de quinze dias de tratamento. Este relato de caso tem por objetivo alertar os médicos veterinários para a severidade das infecções por Streptococcus spp. Unitermos: cães, dermatopatias, Streptococcus sp
Resumen: La fascitis necrosante es una dermatopatía rara que provoca la destrucción del tejido subcutáneo, que suele estar asociada a una expresiva tasa de mortalidad y morbilidad en caso de ser tratada tardíamente. El objetivo del presente trabajo es reportar dos casos de fascitis necrosante; el primero en una perra de raza Pinscher miniatura y el segundo en una Poddle, ambas atendidas en el hospital veterinario de la FMVZ-Unesp, campus Botucatu. Los animales presentaron heridas ulcerativas, eritematosas con acumulación de secreción y puntos de necrosis a lo largo de los planos de la fascia muscular. Fue colectado material de las heridas para cultivo bacteriano y antibiograma, cuyos resultados fueron positivos a Streptococcus spp. Los animales fueron tratados con enrofloxacina, limpieza de las heridas con solución fisiológica, jabón a base de triclosan y rifampicina en aerosol. En ambos casos hubo regresión total de las lesiones en cerca de 15 días de tratamiento. Este reporte tiene por objetivo alertar a los médicos veterinarios con relación a la severidad de las infecciones por Streptococcus spp. Palabras clave: canes, dermatopatías, Streptococcus sp
Introdução Fasceíte necrotizante (FN) é um termo utilizado na medicina humana para descrever uma infecção rara e agressiva de tecidos moles, mediada por toxinas e que pode ser acompanhada de envolvimento sistêmico precoce 1-5. Frequentemente a FN em humanos adultos é secundária a pequenas injúrias traumáticas, podendo também se desenvolver a partir de complicações de feridas cirúrgicas 6,7. Diversos microrganismos têm sido isolados nos casos de 64
FN, como Clostridium e Streptococcus 8. Infecções bacterianas mistas, patógenos entéricos gram-negativos e, raramente, infecções fúngicas primárias também têm sido descritos como agentes causadores de FN 3,9-11. Apesar de os Streptococcus grupo A de Lancefield (Streptococcus pyogenes) estarem frequentemente associados à FN, mais recentemente, o grupo G e particularmente o grupo B (Streptococcus agalactiae) têm sido documentados como agentes potencialmente emergentes 8,12-15.
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Há poucos relatos de casos de celulite e miofasceíte associados a Streptococcus do grupo C 16. Os fatores de virulência do grupo A estão bem estabelecidos e provavelmente são compartilhados com os dos grupos G e C, enquanto a patogenia do aumento da capacidade invasiva do grupo B não é completamente compreendida 13,15. Streptococci do grupo G foram recentemente isolados de casos humanos de FN e seu caráter potencialmente necrótico foi atribuído à β-hemolisina e à streptolisina-S 13. Como fatores de risco associados, há descrição de distúrbios imunes, idade avançada, diabetes melito não controlado e disfunções orgânicas concomitantes 5,17,18. Os achados mais frequentes são necrose severa e difusa da pele sobrejacente, associada a síndrome do choque tóxico, os quais, se não observados e tratados rapidamente, elevam o índice de mortalidade a níveis superiores a 60% 19. O tratamento de escolha inclui debridamento cirúrgico profundo e antibióticos intravenosos, para evitar a septicemia 3,18. A escolha do antibiótico é um fator crucial no tratamento da FN 3,18. Sabe-se que Streptococci normalmente são muito sensíveis à penicilina 6, podendo-se escolher empiricamente esse antibiótico enquanto se aguarda o cultivo e o antibiograma. Há apenas alguns relatos de FN em pequenos animais 20-22 e pelo nosso conhecimento, não há relato de tal dermatopatia em cães no Brasil. O objetivo do presente trabalho é relatar a ocorrência de fasceíte necrotizante em dois cães atendidos no Hospital Veterinário da FMVZ-Unesp, campus de Botucatu, e alertar os médicos veterinários para a severidade das infecções por Streptococcus sp.
Figura 1 - Cadela pinscher miniatura, de dois anos, apresentando múltiplas feridas ulceradas, eritematosas, com acúmulo de secreção e pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular
β haemolyticus e Staphylococcus haemolyticus. As bactérias da cultura foram sensíveis a todos os antibióticos testados no antibiograma (amicacina, amoxicilina, ampicilina, cefalexina, ceftriaxona, ciprofloxacina, cloranfenicol, enrofloxacina, norfloxacina e penicilina). Receitou-se antibioticoterapia com enrofloxacina a (5mg/kg, duas vezes ao dia, por catorze dias), limpeza das feridas com solução fisiológica (debridamento mecânico) a cada doze horas, sabonete à base de triclosan b a cada cinco dias, rifampicina spray c e uso de colar elisabetano para evitar que o animal lambesse ou coçasse as feridas. O animal retornou ao Hospital Veterinário em sete dias e havia tido remissão quase total das lesões (Figura 2). O tratamento foi mantido por mais sete semanas, momento esse em que o animal apresentava remissão total das lesões e recebeu alta.
Caso 1 O primeiro animal era uma cadela de dois anos de idade, da raça pinscher miniatura, que apresentava lesões dermatológicas com evolução de uma semana. O animal apresentava múltiplas feridas ulceronecróticas, com bordas elevadas e eritematosas com acúmulo de exsudato purulento e crostas melicéricas, além de pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular. O animal tinha prurido moderado, que teve início após o aparecimento das lesões. As feridas eram localizadas principalmente nas axilas, no abdômen ventral e nos membros (Figura 1). O estado geral do animal era bom e não foi notada nenhuma alteração sistêmica durante o exame físico, apenas uma discreta apatia. A cadela não apresentava outros animais contaminadores e as pessoas que viviam com o animal não apresentavam lesões de pele. Os exames parasitológicos por raspado cutâneo, fluorescência pela lâmpada de Wood e citologia micológica resultaram negativos para pesquisa de ácaros e fungos, respectivamente. Por questões de custo, o proprietário optou pela não realização da biópsia e da histopatologia. Foi coletado material das feridas para cultura bacteriana e antibiograma, cujo resultado foi positivo para Streptococcus
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Relato de casos Foram atendidos no Hospital Veterinário da FMVZUnesp, campus de Botucatu, dois cães com suspeita de fasceíte necrotizante.
Figura 2 - Mesmo animal da figura 1 com as feridas em processo de cicatrização após sete dias de tratamento
a) Flotril®. Intervet / Schering-Plough Animal Health. São Paulo, SP b) Soapex®. Galderma Brasil Ltda. Rio de Janeiro, RJ c) Rifocina spray®. Sanofi-Aventis Farmacêutica Ltda. Suzano, SP
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Figura 5 - Dermatite ulcerativa. Note-se a transição entre a úlcera e a epiderme. Hematoxilina e eosina. 20x Rafael Torres Neto/Viciany Erique Fabris
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Caso 2 O segundo paciente era uma cadela poodle de oito anos de idade, que apresentava lesão única no flanco direito (Figura 3) medindo aproximadamente 7cm de diâmetro (Figura 4), caracterizada como ulceronecrótica, com bordas elevadas e eritematosas, além de acúmulo de exsudato purulento, crostas melicéricas e necrose ao longo dos planos da fáscia muscular, com evolução de quatro dias. O animal não apresentava prurido.
Rafael Torres Neto/Viciany Erique Fabris
Nesse caso, os achados clínicos, associados ao cultivo microbiológico, em que não cresceu Staphylococcus intermedius, agente causal mais comumente visto em piodermites, além da resposta terapêutica, nos permitiram firmar o diagnóstico de fasceíte necrotizante. Outro fator diferencial entre a piodermite e a fasceíte necrotizante é o envolvimento de fáscia muscular nesta última.
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Figura 3 - Cadela poodle, de oito anos, apresentando ferida única ulcerada, eritematosa, com acúmulo de secreção e pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular
Rafael Torres Neto/Viciany Erique Fabris
Figura 6 - Paniculite septal piogranulomatosa. Inflamação histiolinfocitária com muitos neutrófilos na hipoderme. Hematoxilina e eosina. 20x
Figura 4 - Detalhe da lesão em flanco do caso 2
Também neste caso os exames parasitológicos por raspado cutâneo, fluorescência pela lâmpada de Wood e citologia micológica resultaram negativos para pesquisa de ácaros e fungos, respectivamente. Foi realizada biópsia e histopatologia da lesão (Figuras 5, 6 e 7), que apresentava na parte preservada da epiderme necrose superficial de ceratinócitos e espongiose. Na derme superficial havia congestão e edema com pouco processo 66
Figura 7 - Subcutâneo e tecido conjuntivo fascial com extenso processo inflamatório necrotizante, representado por restos de tecido adiposo e de tecido conjuntivo anucleados, permeados por debris celulares cariorréticos e fibrina, poucos macrófagos e neutrófilos identificáveis. Hematoxilina e eosina. 20x
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Discussão A fasceíte necrotizante é uma infecção progressiva e destrutiva do tecido subcutâneo, associada a mortalidade e morbilidade substanciais se for tardiamente tratada 12,23-28.
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inflamatório, que se contrapunha a lesão grave necrosante na profundidade, atingindo a hipoderme e provável músculo cutâneo (limite da biópsia). Circundando a parte necrótica havia inflamação aguda linfo-histiocitária com neutrófilos, em meio à qual havia fragmentos de pelos. Os resultados não indicaram malignidade, ácaros ou fungos e não se observou vasculite. Foi coletado material das feridas para cultura bacteriana e antibiograma, cujo resultado foi positivo para Streptococcus spp, sendo sensível a amoxicilina + ácido clavulânico e ampicilina, parcialmente sensível a enrofloxacina e rifampicina e resistente a cefalexina, ceftriaxona, ciprofloxacina e cloranfenicol. O tratamento instituído foi o mesmo do caso anterior. O animal retornou ao Hospital Veterinário após quinze dias, apresentando evidente melhora do quadro clínico, com a ferida em processo cicatricial e ausência de sinais da infecção inicial (Figura 8). O tratamento com antibiótico oral foi mantido por mais quinze dias e a terapia tópica por mais um mês, momento em que o animal apresentava cura total.
Figura 8 - Mesmo animal do caso 2 com a lesão em processo de cicatrização após quinze dias de tratamento
A FN ocorre em 1 a 5% da população humana e há apenas alguns relatos dessa dermatopatia em pequenos animais 20-22. Este trabalho relata a ocorrência de fasceíte necrotizante em duas cadelas atendidas no Hospital Veterinário da FMVZUnesp, campus de Botucatu.
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Cães de diversas idades e raças podem ser afetados 29. As cadelas do presente relato estavam em duas faixas etárias distintas e eram de duas raças diferentes, em concordância com a literatura. Como inicialmente a infecção atinge os planos da fáscia, com mínimo de envolvimento da pele, a extensão da lesão pode não ser reconhecida no início da doença 12. Muitos organismos gram-negativos (Pseudomonas sp, Clostridium) e outros anaeróbios (Bacteroides spp) podem causar a fasceíte necrotizante, mas o Streptococcus do Grupo A é o agente causador de quase 50% de todos os casos de FN 30,31. FN causada por Streptococcus β hemolyticus foi descrita primeiramente em 1924 32. Foi coletado material das feridas para cultura bacteriana e antibiograma, cujo resultado foi positivo para Streptococcus β haemolyticus e Staphylococcus haemolyticus em um caso e Streptococcus spp no outro, demonstrando a importância da identificação dessa bactéria. Os fatores predisponentes documentados em seres humanos incluem: idade avançada, doença crônica, ser do sexo masculino ou qualquer outra possibilidade que leve a deficiência do estado imunológico 33. Muitos casos ocorrem em pessoas com doença crônica e resultam de injúria local que permite a invasão da bactéria a tecidos moles mais profundos 34 – apesar de a FN poder ocorrer espontaneamente em indivíduos saudáveis por bacteremia originada em local não identificado 31. As cadelas do presente relato estavam clinicamente assintomáticas e sem alterações no exame clínico, não apresentavam nenhum dos fatores predisponentes descritos em seres humanos e não tinham histórico sequer de trauma anterior. Esses animais apresentavam um acúmulo de exsudato e pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular 21,35. A área afetada estava edemaciada, eritematosa, quente, dolorosa e macia 36,37. Pacientes com FN podem apresentar mionecrose concomitante 38,39. O quadro dermatológico dos animais aqui descritos diferia quanto ao número e ao tamanho das lesões; um apresentava múltiplas feridas, porém pequenas, enquanto o outro apresentava lesão única e grande. Em ambos as lesões eram ulceradas, eritematosas, com acúmulo de secreção e pontos de necrose ao longo dos planos da fáscia muscular. As lesões costumam ocorrer nas extremidades, na face, na parede abdominal, no períneo e nas áreas de feridas cirúrgicas 36,37, nos membros, no pescoço e no tórax ventral dos animais 29. Como pudemos observar tanto pela literatura quanto pelos casos aqui apresentados, a topografia lesional não é de grande valia para o diagnóstico. A maioria dos pacientes humanos com FN apresenta um foco de lesão único 40; entretanto, não foi possível confirmar que o mesmo se dê com os cães, pelo pequeno número de animais de que trata o presente relato. Cães com FN podem estar extremamente deprimidos ao serem examinados, chegando a entrar em choque 12,34,35. Pacientes com FN frequentemente evoluem para síndrome da resposta inflamatória sistêmica ou falência múltipla de órgãos, requerendo cuidados intensivos 41. Geralmente, há antecedentes de trauma de partes moles, trauma cirúrgico, 68
úlceras de decúbito, abscessos perirretais ou perfuração intestinal 36. Nos casos aqui relatados esses acontecimentos prévios e consequências não foram observados – neste último talvez pelo pronto atendimento e pelas medidas terapêuticas imediatas. Cultura e antibiograma são indispensáveis para o diag nóstico da fasceíte necrotizante 36. Histopatologicamente, as lesões são caracterizadas por destruição tecidual extensa, trombose de vasos sanguíneos, abundância de bactérias nas camadas lesionadas da pele e resposta inflamatória celular aguda e moderada 9. Em ambos os casos foi feita a pesquisa bacteriana pelo cultivo e um antibiograma, ao passo que somente um dos animais foi submetido a biópsia e histopatologia, por questões de custo, mas o resultado microbiológico e a resposta terapêutica demonstram ser o cultivo realmente o exame mais importante para o diagnóstico. A terapia deve ser direcionada para a rápida eliminação da infecção com o uso de antimicrobianos sistêmicos, além do debridamento cirúrgico da ferida 1,21,35,42,43, devendo ser realizada terapia de suporte quando houver síndrome da resposta inflamatória sistêmica 1. Com o cultivo e o antibiograma, foi possível determinar quais as melhores opções de antibióticos. Enquanto se aguardava o resultado microbiológico, optou-se pelo tratamento empírico com enrofloxacina, uma fluorquinolona utilizada em medicina veterinária 44, que foi mantida após os resultados laboratoriais e clínicos, pela observação da melhora clínica. Considerações finais O controle da progressão da infecção por Streptococci requer intervenção rápida, com administração de antimicrobianos e debridamento cirúrgico da fáscia muscular envolvida. Este relato de caso tem por objetivo alertar os médicos veterinários para a severidade das infecções por Streptococci e diferenciá-las das piodermites. Um reconhecimento precoce da ocorrência de FN é fundamental para evitar grandes complicações como a septicemia. As cadelas do presente relato foram tratadas com antibioticoterapia e apresentaram re mis são total das feridas cutâneas. Referências
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Carboplatina e inibidor de Cox-2 no tratamento do carcinoma inflamatório de mama em cadela – relato de caso Carboplatin and Cox-2 inhibitor in the treatment of inflammatory mammary carcinoma in a female dog – case report Carboplatino y Cox-2 en el tratamiento del carcinoma inflamatorio de mama de perra – relato de caso Clínica Veterinária, n. 92, p. 72-76, 2011 Liliane Cunha Campos
farmacêutica, mestranda Lab. Patol. Comp. - DPG/UFMG liliucunha@hotmail.com
Gleidice Eunice Lavalle
MV, mestre, doutora Hospital Veterinário - UFMG gleidicelavalle@yahoo.com.br
Rubens Antônio Carneiro MV, mestre, prof. adj. DCCVP/UFMG carneiro@vet.ufmg.br
Álvaro Pimenta Dutra
médico oncologista pediátrico Hospital das Clínicas - UFMG aloapd@hotmail.com
Awilson Araújo Siqueira Viana MV, mestrando UFMG awilsonaraujo@uol.com.br
Geovanni Dantas Cassali
MV, mestre, doutor, prof. associado Lab. Patol. Comp. - DPG/UFMG cassalig@icb.ufmg.br
Resumo: O carcinoma inflamatório de mama (CIM) em cadelas é raro, agressivo, altamente metastático e pouco responsivo ao tratamento. Esse neoplasma é classificado baseando-se em exames clínicos e achados histológicos. Alguns testes sorológicos podem auxiliar na avaliação do desenvolvimento da neoplasia e na resposta aos tratamentos. Neste trabalho, relata-se o caso de uma cadela da raça labrador, com seis anos de idade, que apresentava CIM e foi submetida a cirurgia seguida de sessões de quimioterapia com carboplatina e administração de antiinflamatório não esteroidal. Realizaram-se testes laboratoriais bioquímicos e dosagem do marcador tumoral CEA (antígeno carcinoembrionário), nos períodos précirurgia e seis meses após. O diagnóstico baseou-se em exames histopatológico e imuno-histoquímico. A cadela apresentou um resultado satisfatório aos tratamentos, com sobrevida de catorze meses a partir do procedimento cirúrgico, até o momento. Unitermos: canina, CEA, oncologia, marcador tumoral, ciclooxigenase Abstract: Inflammatory mammary carcinoma (IMC) in female dogs is rare, aggressive, highly metastatic and poorly responsive to treatment. This neoplasm is classified based on clinical and histological findings. Some serological tests can help assessing neoplastic development and the response to treatment. This report describes a case of IMC in a six-year old female Labrador treated surgically with subsequent carboplatin chemotherapy and the administration of a non-steroidal anti-inflammatory agent. Biochemical and carcinoembrionary antigen (CEA) tests were conducted prior to surgery and six months post-surgery. The diagnosis was based on histopathology and immunohistochemistry. A satisfactory outcome was achieved following treatment: the animal has so far survived the surgical procedure for 14 months. Keywords: canine, CEA, oncology, tumor markers, cyclooxygenase Resumen: El carcinoma de mama inflamatorio (CMI) en los perros es raro, agresivo, altamente metastático y con una respuesta deficiente al tratamiento. Este neoplasma se clasifica en base a los hallazgos clínicos e histológicos. Algunas pruebas serológicas pueden ayudar a evaluar el desarrollo del cáncer y la respuesta al tratamiento. Aquí se presenta un caso de una perra Labrador, de seis años, con diagnóstico de CMI, en el que se realizó cirugía seguida de ciclos de quimioterapia con carboplatino y la administración de antiinflamatorios no esteroides. Se realizaron pruebas de laboratorio y la determinación de los marcadores bioquímicos del tumor CEA (antígeno carcinoembrionario) antes de la cirugia y después de seis meses. El diagnóstico fue realizado a traves de examen histopatológico e inmunohistoquímico. El perro tuvo una evolución satisfactoria al tratamiento, con una sobrevida hasta el momento, de 14 meses después de la cirugía. Palabras clave: canina, CEA, oncología, marcadores tumorales, ciclooxigenasas
Introdução O carcinoma inflamatório de mama (CIM) possui essa denominação devido ao aspecto clínico inicial da lesão, que se assemelha a um processo infamatório da pele ou da mama e retrata um tumor pouco frequente, de curso hiperagudo e prognóstico desfavorável 1,2. O CIM pode afetar 72
seres humanos e cães 1,3, sendo os últimos a única espécie animal em que o carcinoma ocorre espontaneamente 4. Aproximadamente 50% das neoplasias mamárias são malignas 5,6, das quais cerca de 7,6% são classificadas como CIM com base no exame clínico e em achados histopatológicos 7. A etiologia do CIM ainda é desconhecida; a maioria dos
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trabalhos não relata predisposição racial 8, todavia, alguns pesquisadores sugerem o envolvimento de mecanismos genéticos e principalmente endócrinos em seu desenvolvimento 2,7. O diagnóstico presuntivo do CIM é predominantemente clínico, fundamentado no aspecto característico da lesão e no histórico obtido durante o exame clínico detalhado 9. A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é bastante útil na diferenciação do diagnóstico, apesar de esse não ser um método considerado seguro para estabelecer o prognóstico, pois é frequente a ocorrência de resultados falso-negativos para neoplasias malignas 10,11. O diagnóstico definitivo é estabelecido a partir da biópsia incisional 8,11,12. Microscopicamente, esse tumor se caracteriza pela presença de qualquer subtipo de carcinoma associado a intensa reação inflamatória, infiltrado inclusive na derme com invasão linfática 5,10. Macroscopicamente, as lesões se caracterizam por crescimento em placa contínua, firme, hiperêmica e sem demarcação específica 10. Ainda podem ser observados prurido, calor, sensibilidade dolorosa variando de intensa a moderada, edema e eritema na pele que recobre a mama 2,4,9. Esses sinais por vezes podem ser confundidos com mastite, abscesso mamário ou dermatite 2. Os CIM possuem alto índice metastático, sendo aconselhável a realização de exames complementares, como radiografia de tórax e ultrassonografia abdominal para monitorar possíveis focos de metástase. Nenhuma anormalidade laboratorial específica tem sido associada ao CIM 3, no entanto, existem relatos de alguns casos com presença de leucocitose e síndrome de coagulação intravascular disseminada (CIVD) 1,4,10,11. Os tratamentos existentes para os CIM em geral são apenas paliativos 5 e incluem anti-inflamatórios esteroidais (Aies) e não esteroidais (Aines), que inibem a atividade das cicloxigenases (Cox-1 e Cox-2) 12. A Cox-2, na maioria dos tecidos, é induzida em processos inflamatórios e no câncer 13. O papel mais relevante da Cox-2 é produzir prostaglandina E, que é conhecida como importante modulador inflamatório.
Durante a progressão do câncer, as prostaglandinas podem mediar vários mecanismos, incluindo proliferação celular, apoptose, modulação do sistema imune e angiogênese 14. Entre os tumores mamários caninos, o CIM possui a maior expressão de Cox-2 5,15, fato esse que direciona a utilização de drogas Aines como alternativa para tratamentos desses tumores 16. O presente trabalho descreve o caso de uma cadela portadora de carcinoma inflamatório, submetida a tratamento com inibidor de Cox-2 e a quimioterapia com carboplatina, e avalia sua resposta mediante radiografias torácicas, análises bioquímicas, hemograma e dosagens do marcador tumoral CEA (antígeno carcinoembrionário). Relato de caso Uma cadela da raça labrador, de seis anos de idade, foi encaminhada ao Hospital Veterinário da UFMG apresentando as mamas abdominal caudal e inguinal esquerdas com aumento de volume, consistência firme, secreção escura, dor à palpação, eritema e calor. Observou-se também linfadenomegalia inguinal esquerda. Após a avaliação clínica, suspeitou-se de carcinoma inflamatório de mama. A paciente foi encaminhada para realização de punção aspirativa por agulha fina (Paaf) do linfonodo inguinal e da massa tumoral. Observou-se, nos esfregaços correspondentes à massa, fundo hemorrágico contendo inúmeras células inflamatórias associadas a expressivo número de células de núcleo arredondado ou ovoide com intenso pleomorfismo nuclear e citoplasma abundante e espumoso. Os esfregaços do linfonodo não apresentaram células neoplásicas. Foram realizadas também radiografias torácicas em incidência laterolateral e ventrodorsal e coleta de amostra sanguínea para dosagens séricas de albumina, proteína, fosfatase alcalina, desidrogenase láctica (LDH), CEA e hemograma. Os campos pulmonares não evidenciavam focos de metástase e o hemograma apresentou moderada leucocitose (Figura 1).
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Os testes bioquímicos revelaram-se dentro dos valores de referência estabelecidos para a espécie, com exceção da LDH, que se apresentou moderadamente elevada (Figura 2).
Devido aos achados clínicos, citológicos e histopatológicos compatíveis com carcinoma inflamatório, prescreveramse firocoxib a como anti-inflamatório e cefalexina b como antibiótico. A paciente apresentou boa resposta ao Hemograma maio 2009 dezembro 2009 valor de referência tra tamento, sendo submetida a mastectohemácias 6.300.000 7.120.000 5.500.000 - 8.500.000 mia em bloco. Colheram-se amostras da hematócrito (%) 44 42 37 - 55 massa neoplásica e dos linfonodos após a hemoglobina (g/dL) 15,7 16 12 - 18 extirpação cirúrgica. Na avaliação macrosVCM (fL) 71 69 60 - 77 cópica do fragmento da mama, observaCHCM (g/dL) 36 34 32 - 36 ram-se nódulos sem aderência à pele, de HCM (pg) 25,9 24 19,5 - 24,5 leucócitos 26.000 12.100 6.000 - 17.000 consistência firme, apresentando ao corte plaquetas 581.000 238.000 175.000 - 500.000 coloração brancacenta e amarronzada. Associadas ao nódulo, observaram-se esFigura 1 - Hemograma realizado no início e ao final do tratamento truturas cavitárias, capsuladas, preenchidas por líquido viscoso amarronzado ou por conteúdo brancaMês albumina proteína LDH fosf. alcalina CEA cento friável. Os fragmentos foram fixados em for(g/dL) (g/dL) (U/L) U/L (ng/mL) mol 10% tamponado, processados por técnica histomaio/9 3,1 6,09 376 43 0,17 lógica, incluídos em parafina, seccionados e corados dezembro/9 2,9 6,23 196 56 0,09 pelo método da hematoxilina e eosina (HE). HistoV. R. 2,3 - 3,8 5,3 - 7,7 45-233 10 - 96 <1,65 logicamente, visualizou-se proliferação epitelial Figura 2 - Perfil bioquímico e marcador tumoral no início e ao com projeções papilares revestidas por diversas cafinal do tratamento madas de células epiteliais, observando-se invasão estromal e vascular e intenso infiltrado inflamatório na derme (Figura 3), que recebeu o diagnóstico de carcinoma tubulopapilar. Secções adicionais de 4µ foram obtidas dos blocos de parafina, coletadas sobre lâminas gelatinizadas e submetidas a análise imuno-histoquímica para identificação de expressão de Cox-2 na massa neoplásica e de citoqueratina AE1/A3 (Dako) no linfonodo. O anticorpo antiCox-2 (SP21, Neomarkers), na diluição de 1:10, apresentou positividade indicada pela presença de marcação citoplasmática (Figura 4). O número de células positivas para Cox-2 foi avaliado semiquantitativamente com o escore de distribuição definido pela estimativa de porcentagem de células positivas em cinco campos de 400x, variando de 1 a 4. Para a intensidade de marcação foram atribuídos valores de 0 a 3. Os escores de distribuição e intensidade foram multiplicados para a obtenFigura 3 - Cão, fêmea, labrador, portador de carcinoma inflação do escore total, que variou de 0 a 12 17. O linfonodo não matório de mama, biópsia incisional de mama, microscopia. apre sentou expressão de citoqueratina AE1/A3 (diluição Carcinoma tubulopapilar. Eixo conjuntivo sustentando várias 1:50), indicando ausência de metástase. camadas de células epiteliais. Corado por hematoxilina-eosina, A paciente foi submetida a tratamento quimioterápico aumento de 40x com carboplatina c na dosagem de 300mg/m2, por via intravenosa, infusão de quinze minutos, três ciclos de 21 em 21 dias, e em seguida ao uso de firocoxib (inibidor seletivo para Cox-2) na dosagem de 5mg/kg, por via oral, de 24 em 24 horas, durante seis meses consecutivos após a quimioterapia. O protocolo quimioterápico foi iniciado após a cicatrização por primeira intenção e a retirada dos pontos (dez dias após a cirurgia). O animal foi submetido a novos exames laboratoriais oito meses após a cirurgia, para acompanhamento da evolução da doença. Exames clínicos para verificar a presença de recidivas têm sido realizados periodicamente no Hospital Veterinário da UFMG. Figura 4 - Cão, fêmea, labrador, portador de carcinoma inflamatório de mama, biópsia incisional de mama, microscopia. Imuno-histoquímica para COX-2. Fortemente positivo em mais de 10% das células. 60x
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a) Previcox 227mg. Merial. Campinas, SP b) Primacef 500mg. Bergamo. Taboão da Serra, SP c) B-platin 10mg/mL. Blaufiegel. Cotia, SP
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Discussão e conclusão As manifestações clínicas apresentadas pelo animal, como calor e dor nas mamas, rápido crescimento, envolvimento difuso, eritema e edema nos membros posteriores, sugeriram inicialmente carcinoma inflamatório e estão de acordo com a literatura 1,4. A leucocitose inicial apresentada pelo animal pode ser justificada pela infecção e pelo processo inflamatório presentes nas mamas, caracterizados por inchaço, secreção e vermelhidão, que regrediram com o uso de anti-inflamatório e antibiótico, fato demonstrado pelos resultados pós-tratamento. A dosagem de CEA sofreu ligeira alteração do início ao final do tratamento. Em medicina humana, os níveis séricos elevados desse marcador tumoral são descritos em 73% dos pacientes com câncer de mama metastático, porém pouco se sabe a respeito desses marcadores em medicina veterinária. A opção pela mastectomia em bloco, com a exérese das mamas abdominal caudal e inguinal esquerdas e do linfonodo inguinal esquerdo, está de acordo com a literatura 18, que preconiza que os tumores que envolvem as glândulas 4 e 5 devem ser removidos em bloco, incluindo os linfonodos inguinais, que devem ser removidos quando aumentados, citologicamente positivos para células malignas ou sempre que a glândula 5 for removida. A análise histopatológica foi compatível com carcinoma tubulopapilar, com ausência de metástase no linfonodo inguinal. Com base nesses achados, o animal foi avaliado quanto ao sistema TNM, sendo classificado como T3N0M0. Devido ao fato de o carcinoma tubulopapilar ser um tumor maligno, optou-se pela quimioterapia com carboplatina, escolhida por apresentar menor tempo de infusão que outros fármacos e por não ser nefrotóxica, como a cisplatina, nem tampouco cardiotóxica, como a doxorrubicina. A paciente respondeu bem ao tratamento quimioterápico, não apresentando efeitos colaterais entre as sessões ou após o seu término. O tumor apresentou positividade para Cox-2 em mais de 10% das células (marcação forte), confirmando que a expressão de Cox-2 tem sido relacionada ao desenvolvimento da angiogênese nos processos neoplásicos e à progressão da doença 15. Esse fato justificou a escolha do tratamento com o anti-inflamatório. Durante o período de administração do firocoxib, a cadela apresentou-se bem e sem sinais de alterações gástricas ou renais, confirmando que ele atua por inibição seletiva de Cox-2, sendo o melhor anti-inflamatório para uso prolongado em cães 15. A paciente não apresentou recorrência ou metástase pulmonar durante o período de observação, contrariando alguns trabalhos 1,4 que relatam altas taxas de metástase nos pacientes com carcinoma inflamatório. Teve boa evolução clínica, não mostrando alteração nos últimos exames laboratoriais, e até o momento apresenta sobrevida de catorze meses, contando a partir do procedimento cirúrgico, o que contrapõe alguns autores 7,14, que obtiveram sobrevida média de 25 dias e 185 dias respectivamente com tratamento instituído em cães com carcinoma inflamatório. Em conclusão, observamos que as concentrações séricas de todos os testes selecionados mostraram-se heterogêneas nos períodos pré e pós-tratamento, não sendo possível estabelecer 76
um perfil para o acompanhamento da evolução da doença. O protocolo quimioterápico proposto, de fácil administração, foi bem tolerado pela paciente e possibilitou o aumento considerável da sobrevida, priorizando a qualidade de vida do animal e o controle da doença neoplásica. Referências
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Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011
Holter em animais de companhia – indicações clínicas e avaliação da variabilidade da frequência cardíaca Holter in companion animals – clinical indications and evaluation of heart rate variability Holter en animales de compañía – indicaciones clínicas y evaluación de variabilidad de la frecuencia cardíaca Clínica Veterinária, n. 92, p. 78-86, 2011 Maira Souza de Oliveira
MV, MSc, doutoranda Depto. Clín. e Cir. Veterinárias - EV/UFMG maira_oliveira@yahoo.com
Ruthnéa Aparecida Lázaro Muzzi MV, MSc, DSc, profa. DMV/UFLA ralmuzzi@dmv.ufla.br
Roberto Baracat de Araújo
MV, MSc, DSc, prof. Depto. Clín. e Cir. Veterinárias - EV/UFMG baracat@vet.ufmg.br
Rodrigo Bernardes Nogueira MV, MSc, DSc, prof. DMV/UFLA nogueirarb@uol.com.br
Leonardo Augusto Lopes Muzzi MV, MSc, DSc, prof. DMV/UFLA lalmuzzi@dmv.ufla.br
Amália Turner Giannico médica veterinária autônoma amaliagiannico@uol.com.br
Resumo: A atividade elétrica do coração é comumente avaliada por meio do eletrocardiograma convencional (ECG). Como algumas arritmias transitórias não são detectadas no momento da realização do ECG, deve-se complementar esse exame com a eletrocardiografia contínua (Holter), que se caracteriza pela monitoração cardíaca em 24 horas. Por meio do Holter é possível obter informações detalhadas, o que resulta em um diagnóstico de maior confiabilidade, avaliando o ritmo cardíaco e fornecendo informações qualitativas e quantitativas dos complexos cardíacos anormais e da variabilidade da frequência cardíaca. Esta revisão bibliográfica tem como objetivos descrever a técnica de realização e as indicações clínicas do exame de Holter e analisar a variabilidade da frequência cardíaca para avaliar o controle autonômico do coração. Unitermos: cardiologia, insuficiência cardíaca, eletrocardiografia ambulatorial Abstract: The electrical activity of the heart is commonly measured using the electrocardiogram (ECG). Since some transient arrhythmias are not detected in the ECG, this procedure should be complemented with ambulatory ECG recording (Holter), which continuously monitors the cardiac activity for at least 24 hours. Holter monitoring yields detailed data about the heart rhythm, assessing and delivering qualitative and quantitative information about abnormal cardiac complexes and heart rate variability and thereby resulting in greater diagnosis reliability. This review aims to describe the application technique and clinical indications of Holter analysis of heart rate variability to evaluate the autonomic control of the heart. Keywords: cardiology, heart failure, ambulatory electrocardiography Resumen: La actividad eléctrica del corazón es comúnmente evaluada a través del electrocardiograma (ECG). Como algunas arritmias transitorias no se detectan en el momento en que se realiza el ECG, se debe completar esta prueba con ECG continuo (Holter), que es un monitoreo cardiaco en 24 horas. A través de esta técnica es posible obtener información más detallada, lo que se traduce en una mayor fiabilidad diagnóstica, evaluación del ritmo cardiaco y la entrega de información cualitativa y cuantitativa de los complejos anormales, así como de la variabilidad del ritmo cardíaco. Esta revisión tiene como objetivo describir la técnica, las indicaciones clínicas del examen Holter y el análisis de la variabilidad del ritmo cardíaco para evaluar el control autonómico del corazón. Palabras clave: cardiología, insuficiencia cardíaca, electrocardiografía ambulatoria
Introdução A atividade elétrica do coração pode ser avaliada por dois métodos complementares de exame eletrocardiográfico: o convencional (ECG) e o contínuo (Holter). O que principalmente diferencia um método do outro é o tempo de duração de cada um deles: o ECG convencional tem a duração de poucos minutos, enquanto o Holter compreende um período de 24 horas. Assim, os resultados obtidos com o Holter permitem uma avaliação quantitativa e qualitativamente superior, permitindo o diagnóstico de arritmias graves não 78
demonstradas pelo ECG convencional 1,2. Outra análise feita com o Holter, porém ainda pouco explorada na medicina veterinária, é a da variabilidade da frequência cardíaca (VFC), na qual se avaliam variações da frequência cardíaca ao longo do tempo, indicando a modulação autonômica do coração. Há dois métodos para se proceder a essa avaliação: a análise do domínio do tempo e a análise do domínio da frequência. No primeiro caso, são feitos cálculos estatísticos dos intervalos entre os batimentos cardíacos normais, ou seja, entre os intervalos RR de complexos QRS
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normais. No segundo caso, o sinal da frequência cardíaca é convertido em componentes de frequência que são quantificados como potência 3,4. O objetivo desta revisão bibliográfica é discutir as indicações para o exame de Holter, incluindo a análise da variabilidade da frequência cardíaca em pequenos animais. Indicações do exame Holter As principais indicações do Holter são no diagnóstico de arritmias, no estudo da variabilidade da frequência cardíaca e na avaliação da eficácia de tratamentos antiarrítmicos 5-7. Na medicina veterinária, o exame de Holter pode ser solicitado nas seguintes ocasiões: (1) diagnóstico de arritmias intermitentes 8,9; (2) correlação dos sintomas (síncopes, desmaios e convulsões) ou do período do dia (manhã, tarde, noite) com a ocorrência de arritmias 10,11; (3) verificação da ne cessidade de se instituir terapia antiarrítmica 12-14; (4) ava lia ção da eficácia do tratamento antiarrítmico 15,16; Indicações para o exame de Holter
(5) diag nós tico precoce da cardiomiopatia dilatada e da cardiomiopatia arritmogênica 9,13,17,18; (6) estratificação de risco nas cardiopatias 19,20; (7) acompanhamento periódico do paciente cardiopata, tanto nas doenças congênitas quanto nas adquiridas 21-23; (8) avaliação mais detalhada do risco cirúrgico 24,25; (9) diagnóstico precoce de arritmias em pacientes medicados com doxorrubicina 26; e (10) estudo da variabilidade da frequência cardíaca 19,27. As principais indicações para o exame de Holter e os tipos de pacientes a serem avaliados estão resumidos na figura 1. Além do uso na clínica médica, o Holter apresenta indicação experimental em animais 28, principalmente para se avaliar o potencial arritmogênico de medicamentos pela detecção precoce de alterações eletrocardiográficas, antes que eles sejam liberados para uso ou comercialização 29,30. Metodologia do exame O registro eletrocardiográfico com o Holter é feito nas pacientes a serem avaliados
diagnóstico de arritmias intermitentes
diagnóstico precoce das cardiomiopatias
animais que apresentaram arritmias em exames de rotina
animais predispostos, como cães de raças grandes e gigantes, cães da raça boxer, felinos com hipertireoidismo ou das raças maine coon e persa
correlação de sintomas com a ocorrência de arritmiasanimais que apresentam síncope e desmaios eficácia e ajuste do tratamento antiarrítmico estratificação de risco nas cardiopatias
cardiopatas em início de tratamento e cardiopatas crônicos
animais cardiopatas, principalmente com doenças graves e avançadas
acompanhamento do paciente cardiopata
animais com doenças adquiridas e congênitas
estudo da variabilidade da frequência cardíaca
diagnóstico precoce da insuficiência cardíaca; animais cardiopatas para monitoração da gravidade da doença
avaliação do risco cirúrgico e anestésico
animais idosos e/ou portadores de cardiopatia
Figura 1 - Principais indicações para o exame de Holter e os animais a serem avaliados
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Leandro Lima
Leandro Lima
Figura 2 - Posicionamento dos cinco eletrodos na configuração precordial padrão para realização do exame de Holter em cão. Eletrodos branco e verde no hemitórax direito, com o marrom entre eles e o preto e o vermelho no hemitórax esquerdo
Figura 4 - Posicionamento da derivação precordial padrão do exame de ECG convencional adaptada para o Holter em cão. Eletrodos vermelho, laranja e preto no hemitórax esquerdo e branco no hemitórax direito
Figura 3 - Posicionamento dos cinco eletrodos na configuração cruzada no tórax para realização do exame de Holter em cão. Posição dorsolateral à esquerda (branco) e ventral à direita (vermelho), dorsolateral à direita (marrom) e ventral à esquerda (preto), sendo o verde fixado à direita, entre os outros dois eletrodos (vermelho e marrom)
derivações precordiais (derivações unipolares torácicas que fornecem uma vista do coração no plano transverso), sendo os eletrodos posicionados lateralmente na parede torácica, após tricotomia da região, podendo ser de diferentes formas, dependendo do aparelho. Para aparelhos com cinco eletrodos, pode-se proceder tanto com a colocação precordial padrão quanto com a cruzada no tórax. No primeiro caso colocam-se os eletrodos branco e verde no hemitórax direito, com o marrom entre eles e o preto e o vermelho no hemitórax esquerdo (Figura 2). No segundo caso, cruzam-se os eletrodos da seguinte forma: posição dorsolateral à esquerda (branco) e ventral à direita (vermelho), dorsolateral à direita (marrom) e ventral à esquerda (preto), sendo o verde fixado à direita, entre os outros dois eletrodos (vermelho e marrom) 31 (Figura 3). No caso de aparelhos com quatro eletrodos, os locais da derivação precordial padrão do exame de ECG convencional foram adaptados para o Holter da seguinte maneira: eletrodo vermelho do Holter na posição V2, preto em V4 com o laranja entre eles, no hemitórax esquerdo, e o branco em rV2, no hemitórax direito (Figuras 4 e 5) 12. O monitor é acomodado no dorso, quando fixado com faixas, ou no interior de um bolso, quando utilizado o colete (Figura 6). A maioria dos cães tolera bem a utilização do aparelho de Holter, especialmente aqueles habituados ao uso de roupas, podendo a técnica ser adaptada para gatos 32. Quando se trata de gatos e cães muito pequenos, o monitor é um acessório muito pesado para ser acomodado no dorso, o que impossibilita a movimentação normal do animal. Nesses casos, o paciente deve permanecer todo o período do 80
Maira Souza de Oliveira
Leandro Lima
Figura 5 - Posicionamento dos eletrodos vermelho, laranja e preto no hemitórax esquerdo e do branco no hemitórax direito, em cão sem raça definida, para realização do exame de Holter
Maira Souza de Oliveira
Figura 6 - Cão da raça dachshund utilizando colar de contenção e colete para a realização do exame de Holter. A seta vermelha indica bolso no colete onde o monitor é alojado
exame em um canil e o aparelho é colocado próximo a ele. Apesar de essa situação não simular uma condição normal, o exame ainda fornece mais informações do que o ECG convencional 31. Pode-se também usar nos animais, durante todo o período de monitoração, um colar de contenção, que, além de não causar alterações no exame, ainda é recomendado para garantir maior proteção ao aparelho e aos fios 33.
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Parâmetros avaliados – variabilidade da frequência como resultado, a avaliação no domínio do tempo é indicada cardíaca como um histograma em formato de sino. No caso de cães e gatos, que apresentam maior variação fisiológica da frequênA análise da variabilidade da frequência cardíaca é realicia cardíaca se comparados ao homem, o histograma se aprezada mediante o estudo dos parâmetros nos domínios do senta como um sino deslocado para a direita (Figura 7A). tempo e da frequência, fornecidos diretamente pelo prograIsso ocorre devido à arritmia sinusal mais pronunciada que os ma de análise computacional. Apesar de haver determinados animais apresentam, resultando em maior variabilidade. parâmetros no domínio do tempo passíveis de serem analiNa fase inicial da insuficiência cardíaca, antes mesmo do sados pelo ECG 34,35, o melhor método para essa análise é o aparecimento de quaisquer sintomas, o controle autonômico Holter, no qual a avaliação é feita considerando-se maior núdo coração já se altera. Isso se reflete em aumento da fremero de dados e obtendo-se resultados mais consistentes 3. quência cardíaca, com consequente diminuição na sua variaNo domínio do tempo são avaliadas as seguintes variábilidade, devido ao aumento do tônus simpático e à diminuiveis: NN médio (média de todos os intervalos RR normais ção do parassimpático, bem como à diminuição da resposta do exame), SDNN (desvio padrão de todos os intervalos RR dos barorreceptores após um período inicial de estímulo. normais do exame), SDANN (desvio padrão da média dos Nessas situações, o histograma da variabilidade da frequênintervalos RR normais medidos a cada cinco minutos), cia cardíaca no domínio do tempo deixa de se apresentar em SDNN index (média dos desvios padrão calculados para inseu formato característico, havendo maior aproximação dos tervalos RR normais medidos a cada cinco minutos), parâmetros (Figura 7B). Dessa forma, a correta avaliação de rMSSD (raiz quadrada da média da soma da diferença de alterações na variabilidade da frequência cardíaca é um imquadrados de intervalos RR normais adjacentes do exame portante fator a ser considerado para diagnosticar a insufitodo) e pNN50 (porcentagem de diferenças maiores que ciência cardíaca precocemente 36. 50ms entre intervalos RR normais adjacentes do exame todo). A avaliação da variabilidade da frequência cardíaca tamNo domínio da frequência, são avaliadas as seguintes vabém pode ser analisada em diferentes momentos do exame. riáveis: HF (frequência alta), que compreende de 0,15 a Caso sejam considerados momentos específicos de vigília 0,4Hz ou 2,5 a 6,6s/ciclo; LF (frequência baixa), que comou de sono, o histograma do paciente sadio se altera, não preende de 0,04 a 0,15Hz ou 6,6 a 25s/ciclo; VLF (frequênmais apresentando o formato típico (Figura 8A). Espera-se cia muito baixa), que compreende de 0,0033 a 0,04Hz ou que em períodos de vigília, nos quais o animal esteja em ati25s a 5min/ciclo; ULF (frequência ultrabaixa), que comprevidade, haja aumento da frequência cardíaca, com redução ende valores menores que 0,0033Hz ou maiores que da sua variabilidade (Figura 8B). E em períodos de sono, au5min/ciclo; e a razão entre os componentes LF e HF mento da variabilidade por diminuição da frequência cardía(LF/HF). ca (Figura 8C). Dessa forma, deve-se ter cuidado na interTodos os parâmetros devem ser obtidos para cada paciente pretação dos histogramas, buscando-se sempre padronizar o e avaliados para determinar se houve alteração indicativa de ocorrência de insuficiência cardíaca. Em situações fisiológicas normais, há uma variação esperada da frequência cardíaca ao longo do dia. No caso do homem, essa va- Figura 7 - Histograma da variável NN, do domínio do tempo, considerando-se as 24 horas de avaliação riação fisiológica Holter em (A) cão sadio e (B) cão com degeneração mixomatosa da valva mitral em grau leve (paciente também ocorre e, classe A de insuficiência cardíaca congestiva)
Figura 8 - Histograma da variável NN, do domínio do tempo, de um mesmo cão sadio, considerando-se (A) as 24 horas de avaliação de Holter, (B) quatro horas em vigília e (C) quatro horas em sono Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011
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Figura 9 - Cão da raça schnauzer apresentando pausa entre batimentos cardíacos com duração de 5,1s detectada com o Holter (canal 2, velocidade 50mm/s)
período escolhido para as avaliações, a fim de evitar diagnósticos equivocados como, por exemplo, declarar um animal sadio como cardiopata apenas pela avaliação do exame em vigília, pensando tratar-se do total de 24 horas. Para proceder a essa correta avaliação de acordo com diferentes momentos do dia e também para correlacionar a ocorrência de alguma alteração no exame com algum evento (realização de uma caminhada, episódios de síncope, desmaio, tosse, etc.), é de fundamental importância que o animal esteja sob constante acompanhamento e que o proprietário anote as atividades do animal durante todo o período de Figura 10 - Tela de programa computacional para análise de Holter referente ao exame. Isso geralmente é feito em um for- traçado eletrocardiográfico no modo comprimido de um exame realizado em cão mulário apropriado, denominado “diário do paciente”, no qual são anotadas as informações da rotina de atividades do paciente com os respectivos horários em que ocorreram, de forma semelhante ao que é feito na medicina humana. Outros parâmetros avaliados Além da análise da variabilidade da frequência cardíaca, o exame de Holter fornece o número total de complexos QRS (ou seja, o total de batimentos cardíacos), os valores de média, mínima e máxima frequência cardíaca, períodos nos quais o animal permaneceu com taquicardia ou bradicardia, momentos em que ocorreram pausas entre os batimentos cardíacos (maiores que 2s), assim como a duração de cada uma delas (Figura 9). Quanto às arritmias supraventriculares e ventriculares, é fornecida a quantidade dos complexos prematuros e sua apresentação, Figura 11 - Tela de programa computacional para análise de Holter referente à que pode ser classificada em complexos iso- avaliação de variabilidade da frequência cardíaca no domínio do tempo de um lados, em pares, em salvas e monomórficos exame realizado em cão ou polimórficos em taquicardias ou em ciclos (de bigeminismo, trigeminismo, dentre outras). O traçaAnálise do exame e elaboração do laudo do deve ser investigado também quanto à presença de comA análise do exame deve ser feita somente por médico veplexos de escape, de bloqueios atrioventriculares (de primeiterinário capacitado, apto a interpretar os parâmetros analiro, segundo e terceiro graus) e das mais diversas alterações do sados, identificar as arritmias e saber a relevância clínica das ritmo cardíaco 18. informações encontradas. No exame constam informações 82
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gerais do paciente; as deflexões do traçado eletrocardiográfico subdivididas segundo a morfologia; a classificação das arritmias; gráficos de 24 horas para frequência cardíaca e arritmias; as opções de visualização de todo o traçado na forma comprimida (Figura 10) ou em zoom; os principais parâmetros avaliados tabulados a cada hora de exame; quadro para análise da VFC (Figuras 11 e 12); e espaço para seleção de exemplos do traçado, que serão utilizados para ilustrar o laudo (Figura 13). No laudo, além de haver todas as informações do exame e exemplos do traçado, tem-se um resumo estatístico dos principais parâmetros (Figuras 14, 15 e 16). Limitações do exame Como já mencionado, pacientes veteFigura 12 - Tela de programa computacional para análise de Holter referente à avarinários muito pequenos, que não toleliação de variabilidade da frequência cardíaca no domínio da frequência de exame realizado em cão rem o peso do aparelho acomodado junto ao corpo, podem ser monitorados sem que o aparelho fique preso junto a eles. Porém esses animais devem permanecer durante todo o período do exame em um canil (ou em qualquer outro local com limitação de espaço para reduzir a movimentação do animal), para não arrastarem o aparelho consigo ao se movimentar. Essa situação pode estressar o animal, que poderá apresentar aumento dos valores da frequência cardíaca e consequente redução da sua variabilidade, o que deverá ser considerado no momento da interpretação desses parâmetros. Com relação ao estudo da variabilidade da frequência cardíaca, uma importante limitação é a ausência de valores de referência que norteiem o médico veterinário em uma avaliação mais precisa dos parâmetros analisados. Assim, percebe-se a importância de se pesquisar melhor a variabilidade da frequência cardíaca em peque- Figura 13 - Tela de programa computacional para análise de Holter referente à seleção de exemplos do traçado para elaboração do laudo de um exame realizado nos animais nas diferentes cardiopatias. em cão Ao contrário do ECG convencional, no qual o traçado é visualizado no momento do exame, para o Holter é necessário que se aguarde o final de todo o período de diagnósticos precoces de doenças cardíacas, bem como na monitoração para então se conseguir visualizar o exame e avaliação da eficácia de tratamentos antiarrítmicos. Contuelaborar o laudo. do, é necessário que se realizem mais pesquisas a fim de obter valores de referência para alguns parâmetros como os Considerações finais domínios do tempo e da frequência, o que irá proporcionar O Holter é o exame de escolha quando se objetiva a anáao médico veterinário uma interpretação mais precisa do lise da variabilidade da frequência cardíaca para o estudo do exame. controle autonômico do coração e o diagnóstico da insuficiência cardíaca, sendo de grande utilidade no monitoramenAgradecimento to da gravidade da doença. O eletrocardiograma contínuo À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas também é muito utilizado no diagnóstico de arritmias e nos Gerais (Fapemig) pelo apoio financeiro. Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011
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Nº do exame A07-0007 início 11/04 13:19 12/04 9:00 12/04 1:00 13:19 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00
Relatório de VFC - Domínio do tempo paciente: 2 Bazoo código data do exame: 11/4/2007 13:19:13 1ZT-00005 fim NN NN média SDNN SDANN SDNNIDX (ms) (ms) (ms) (ms) 12/04 13:23 114.003 743 348 217 281 12/04 13:00 22.956 618 191 88 169 12/04 5:00 15.962 900 380 109 358 14:00 3.529 623 163 64 149 15:00 5.150 693 231 102 203 16:00 4.810 746 267 88 260 17:00 4.755 749 288 138 252 18:00 4.057 859 409 111 383 19:00 6.264 569 126 67 111 20:00 6.312 570 119 59 106 21:00 5.725 475 154 104 80
NNN 113.431 22.878 15.950 3.525 5.145 4,804 4.740 4.008 6.252 6.309 5.429
rMSSD (ms) 155 178 178 176 256 297 311 400 103 113 115
pNN>50 (%) 60,36 51,37 51,37 51,23 63,07 65,46 64,93 70,68 33,94 32,90 26,65
Figura 14 - Relatório do exame de Holter de cão mostrando de forma parcial uma análise da variabilidade da frequência cardíaca no domínio do tempo
Relatório de VFC - Domínio da frequência (FFT) Nº do exame Paciente: 2 Bazoo código A07-0007 Data do exame: 11/4/2007 13:19:13 1ZT-00005 horário duração RR FC potência potência potência potência (min) médio (ms) (bpm) total (ms 2) VLF (ms 2) LF (ms 2) HF (nu) E68 13:19 14:00 E68 15:00 E68 16:00 E68 17:00 5 388 155 2.472 1.019 514 35,4 18:00 4 463 130 4.676 2.360 1.342 57,9 19:00 5 524 115 3.419 667 1.813 65,9 20:00 5 359 167 1.503 446 644 60,9 21:00 E68
potência HF (ms 2)
potência LF (nu)
LF/HF
939 974 940 413
64,6 42,1 34,1 39,1
0,55 1,38 1,93 1,56
Figura 15 - Relatório do exame de Holter de cão mostrando de forma parcial uma análise da variabilidade da frequência cardíaca no domínio da frequência
Resumo estatístico Totais duração (h): nº total de QRSʼs ectópicos ventriculares: ectópicos supraventriculares: artefatos (%):
24:03 109.523 11.278 (10%) 5.784 (5%) 14
Arritmias ventriculares 10.441 isoladas, das quais 2.600 em 384 episódios de bigeminismo 197 em episódios em pares 82 taquicardias a maior: a mais rápida: a mais lenta:
35 bat., 40 bpm às 17:05:08 3 bat., 240 bpm às 11:20:56 31 bat., 22 bpm às 04:59:43
Arritmias supraventriculares 5.635 isoladas 68 pareadas 4 taquicardias a maior: a mais rápida: a mais lenta:
4 bat., 179 bpm às 16:58:54 4 bat., 179 bpm às 16:58:54 3 bat., 146 bpm às 12:37:46
Frequência cardíaca min: 41 bpm às 08:16:21 média: 81 bpm máx: 250 bpm às 15:03:42 F.C. > = 160 bpm durante 00:00:25 h F.C. < = 60 bpm durante 01:36:43 h Pausas 39 pausas ( > = 2 s) mais longa às 05:00:35 com 5,7 s Depressão do ST C1: 0 episódio C2: 0 episódio C3: 0 episódio Elevação do ST C1: 34 episódios máx 4,1mm às 09:09:01 C2: 30 episódios máx 4mm às 11:33:06 C3: 18 episódios máx 3,5mm às 09:15:20
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Figura 16 - Resumo estatístico dos principais parâmetros avaliados no exame de Holter de cão
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Referências
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Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011
Características tomográficas de neoplasias encefálicas primárias em cães Tomographic characteristics of primary brain neoplasias in dogs Características tomográficas de las neoplasias encefálicas primarias en perro Clínica Veterinária, n. 92, p. 88-96, 2011 Carolina Dias Jimenez MV, pós-graduanda Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu caroljimenez@uol.com.br
Mariana Isa Poci Palumbo MV, pós-graduanda Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu palumboma11@yahoo.com.br
Andreia Regina Lordelo Wludarski médica veterinária autônoma arlordelo@yahoo.com.br
Rogério Martins Amorim MV, prof. ass. dr. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu rmamorim@fmvz.unesp.br
Luiz Carlos Vulcano
MV, prof. adj. Depto. Reprodução Animal e Radiologia Vet. FMVZ/Unesp-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br
Alexandre Secorun Borges MV, prof. adj. Depto. Clínica Veterinária FMVZ/Unesp-Botucatu asborges@fmvz.unesp.br
Resumo: A tomografia computadorizada pode ser considerada um exame importante para identificar a presença dos tumores encefálicos, levando a um diagnóstico presuntivo quando esses resultados são avaliados juntamente com os sinais clínicos. A tomografia computadorizada permite a identificação da lesão, do seu tamanho, da sua forma e localização, bem como da compressão e da invasão do tecido adjacente. Deve-se analisar a densidade, o efeito massa, o edema peritumoral, a calcificação e o realce de imagem após injeção intravenosa de meio de contraste. As neoplasias encefálicas primárias mais facilmente identificadas pela tomografia computadorizada em cães são os gliomas, meningiomas, tumores de plexo coroide e os pituitários. O presente trabalho tem o objetivo de revisar os principais tumores encefálicos primários em cães e descrever suas alterações tomográficas, auxiliando a realização de um diagnóstico presuntivo do tipo tumoral. Unitermos: neoplasia, tomografia computadorizada, sistema nervoso central, neurologia Abstract: Computed tomography (CT) can be considered an important test to identify the presence of primary brain neoplasias in dogs. CT results can help define the type of brain tumor when associated with clinical findings. It allows the identification of lesions and their features, such as size, location, compression and invasion of adjacent tissue. One must analyze the density, mass effect, peritumoral edema, calcification, and image enhancement after intravenous injection of contrast medium. Gliomas, meningiomas and tumors of the choroid plexus and pituitary are the most common primary brain neoplasms diagnosed by CT in dogs. The aim of this paper is to review the literature related to primary brain tumors and report their most important tomographic features, in order to help clinicians achieve a presumptive diagnosis of tumor type. Keywords: neoplasm, computed tomography, central nervous system, neurology Resumen: La tomografía computarizada es considerado un examen importante para identificar la presencia de tumores, llevando a un diagnóstico presuntivo de los mismos cuando los resultados de las imágenes se analizan junto a los síntomas clínicos del paciente. La tomografía computarizada permite la identificación de la lesión, tamaño, forma, localización, magnitud de la compresión y la invasión del tejido adyacente. Durante el examen se debe analizar la densidad, efecto de masa, el edema peritumoral, la calcificación, así como las alteraciones o modificaciones de las imágenes después de la inyección endovenosa del medio de contraste. Los tumores encefálicos primarios más fácilmente identificados son los gliomas o meningiomas, tumores de plexo coroideo y tumores pituitarios. El objeto del presente trabajo es revisar la literatura sobre los principales tumores encefálicos primarios en perros y describir sus alteraciones tomográficas, ayudando a realizar un diagnóstico presuntivo del tipo tumoral. Palabras clave: neoplasia, tomografia computarizada, sistema nervoso central, neurología
Introdução A utilização da tomografia computadorizada (TC) revolucionou a medicina veterinária e, atualmente, pode ser considerada uma das ferramentas mais úteis para a avaliação por imagem de alterações neurológicas, ortopédicas e oncológicas em cães e gatos 1. A disponibilidade do uso da TC em 88
centros veterinários e, consequentemente, o maior número de exames realizados tornaram possível a determinação mais precisa da localização e da extensão dos tumores encefálicos em cães 2-4. A TC é uma técnica de imagem digital não invasiva que permite uma avaliação da anatomia encefálica canina 5 por
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meio de imagens em diferentes dimensões, até reconstruções tridimensionais de planos anatômicos distintos do corpo em estudo, visibilizando estruturas tissulares que facilitam a identificação da lesão, do seu tamanho, da sua forma e localização, além da magnitude de compressão e invasão do tecido adjacente 3,5-7. A imagem tomográfica fornece informações fundamentais para indicar o acesso cirúrgico para uma possível ressecção ou biópsia tumoral, incluindo a localização, a delimitação e a determinação da acessibilidade 8, além de poder ser usada para o acompanhamento do tratamento de diferentes afecções 9. A avaliação cuidadosa dos sinais neurológicos é essencial para guiar corretamente o clínico na condução do diagnóstico 10. O estudo tomográfico do encéfalo permite visibilizar lesões intracranianas e avaliar estruturas adjacentes como: destruição ou compressão do parênquima (tumores encefálicos primários ou metastáticos), hemorragias, infarto, alterações de desenvolvimento, processos degenerativos, inflamatórios e infecciosos 1. Além disso, pode ser realizada a avaliação da calota craniana e de suas adjacências, como os seios paranasais, a cavidade nasal, o conduto auditivo e a órbita ocular 1,6,11. Diante desse contexto, o objetivo do presente trabalho é revisar os principais tumores encefálicos primários e suas alterações tomográficas em cães. Neoplasias As neoplasias intracranianas podem ser divididas em primárias (originárias do próprio tecido encefálico e meninges) e secundárias (originárias de tecidos adjacentes ou metástases de tecidos distantes) 4,12,13. A classificação dos tumores encefálicos é baseada em estudos histopatológicos e citológicos 4 . Frequentemente, os animais apresentam apenas uma neoplasia 6,14,15, porém há relato da associação de tumores encefálicos primário e secundário em um mesmo cão 16. Compõem as neoplasias primárias os meningiomas, os
gliomas (astrocitoma e oligodendroglioma), os tumores neuroepiteliais (tumor de plexo coroide, ependimoma) e os tumores pituitários 3. Os tumores encefálicos secundários podem ser classificados de acordo com seu tecido de origem e também se são resultado de uma extensão direta da massa ou de propagação por via hematógena 4,16. Alguns autores afirmam que os tumores secundários são menos comuns que os tumores primários 8,13, porém um estudo mostrou o contrário 17. Os tumores intracranianos secundários metastáticos incluem carcinoma (mamário, prostático ou pulmonar), hemangiossarcoma, melanoma maligno e linfomas 1. Os tumores encefálicos em cães representam aproximadamente 14,5% dos casos oncológicos 18. Os meningiomas e os gliomas são os tumores encefálicos primários mais comumente encontrados em cães e gatos, enquanto os tumores de plexo coroide e os ependimomas são ocasionalmente observados 6,12,19,20 . Os principais tipos de gliomas que acometem os cães são os astrocitomas e os oligodendrogliomas 19. Existe uma predisposição racial em cães para o desenvolvimento de determinados tipos de tumores 19, porém tal fato não é observado em gatos 13. As raças braquicefálicas em particular são mais acometidas pelos gliomas 4,13,19,21, ao passo que os meningiomas apresentam uma ocorrência semelhante em qualquer raça de cães 4. Os animais com mais de cinco anos de idade são mais acometidos 19, apesar da existência de relatos em cães jovens 13,22. Não há uma predileção sexual determinada 13,19. Os sinais clínicos de cães apresentando tumores encefálicos e sua severidade dependem diretamente do tipo tumoral, da localização anatômica, da taxa de crescimento tumoral e do comprometimento de regiões adjacentes com efeitos secundários, tais como edema peritumoral e aumento da pressão intracraniana 4,8. Os achados do exame neurológico refletem a localização da lesão no sistema nervoso, porém não são patognomônicos para os tumores intracranianos 23. Os tumores encefálicos primários apresentam crescimento
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lento e a compressão gradual das estruturas ao redor permite o desenvolvimento de mecanismos compensatórios que levam a uma adaptação ao aumento da pressão intracraniana 4,8. Quando os sinais clínicos começam a surgir de forma mais abrupta, normalmente estão relacionados ao aumento de volume tumoral, à exaustão dos mecanismos compensatórios encefálicos ou a fatores secundários como hemorragia aguda, hidrocefalia obstrutiva, hemorragia ou herniação encefálica 4,19. Também se pode dizer que uma evolução mais rápida se dá em tumores secundários ou primários com alto grau de malignidade 12. A convulsão é a principal manifestação clínica em animais com tumor encefálico 8,10,18,20,24-26, pois a maioria dos tumores localiza-se na região talâmica e cortical 23. Outros sinais clínicos incluem: alterações comportamentais, andar em círculos, cegueira, desvio lateral de cabeça, alterações no padrão de locomoção e no nível de consciência 8. Assim, os cães que apresentam convulsões simultaneamente com déficits neurológicos são candidatos à realização de TC 3. Os tumores que afetam a região da hipófise ou do hipotálamo podem causar poliúria, polidipsia, polifagia, alteração na regulação da temperatura corpórea, cegueira (secundária à compressão do quiasma óptico) e sinais clínicos compatíveis com doenças endócrinas como hiperadrenocorticismo 23. Os tumores localizados no tronco do encéfalo ou que o afetam de forma secundária causam principalmente alterações no estado mental, déficits nas reações posturais ipsilaterais e sinais de disfunção dos nervos cranianos. Sinais vestibulares como ataxia, inclinação da cabeça, nistagmo e estrabismo ocorrem se o tumor afetar os núcleos vestibulares, as vias vestibulares centrais ou o lobo floculonodular do cerebelo 23. Se o tumor envolver o cerebelo, a coordenação e a regulação dos movimentos podem ficar comprometidas 23.
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Exame tomográfico A TC é uma técnica de imagem digital que usa o princípio dos raios-X e um processamento computadorizado para formar imagens de cortes seccionais (transversos) das estruturas a serem avaliadas 27. A TC pode captar diferenças de densidade da ordem de 0,05% entre os tecidos, sendo que as radiografias captam diferenças de 0,5%, fornecendo uma resolução melhor da imagem obtida 7. Para a realização da TC é necessário anestesiar o animal a fim de imobilizá-lo completamente durante o exame 3,28, já que a movimentação do paciente causa alterações na imagem tomográfica, devido à assimetria anatômica 27,29. Para a captação de uma imagem encefálica, o cão deve estar em decúbito ventral (esternal), com os membros torácicos posicionados paralelamente ao tórax, fora do campo de captação da imagem 28. Em alguns casos pode-se aplicar a injeção intravenosa de meio de contraste 3, principalmente em processos inflamatórios e neoplásicos 7. Os meios de contraste são agentes hidrossolúveis que contêm moléculas de iodo, tornando-se radiodensos à exposição dos raios-X, causando de forma transitória uma radiopacidade sanguínea, realçando a imagem nas estruturas mais vascularizadas e quando há rompimento da barreira hematoencefálica, possibilitando uma melhor análise quanto à forma, ao limite e ao contorno
das margens de estruturas vizinhas 7. Os cortes transversais são realizados antes e depois da injeção intravenosa do meio de contraste. Já os cortes dorsais e sagitais são efetuados caso sejam encontradas lesões pelo corte principal. Todas as imagens devem ser analisadas sob as janelas de tecidos moles e ósseos 28. Dependendo do aparelho, os cortes podem ser realizados com diferentes espessuras, variando de 1 a 5mm de acordo com o porte do animal. Os cortes com menor espessura permitem melhor detalhamento das lesões e maior definição das imagens obtidas por métodos de reconstrução multiplanar ou tridimensional 30. A avaliação tomográfica deve abranger fatores como localização da lesão, radiodensidade antes da aplicação de meio de contraste, presença de efeito massa, edema peritumoral, hidrocefalia, calcificação, tamanho, forma e realces após a injeção intravenosa de meio de contraste (grau de atenuação do contraste, homogeneidade, intensidade e presença de anel peritumoral) 3. As lesões captadas pela TC são descritas como iso, hiper ou hipodensas, dependendo da densidade relativa de cada tecido 3,5,8. A presença de diferentes intensidades de realce após a injeção intravenosa de meio de contraste facilita a identificação de condições normais e patológicas 5. Muitos tumores, chamados de isodensos, podem ter densidade normal – a mesma densidade do tecido encefálico circundante em várias séries tomográficas 3,28. A hipodensidade é caracterizada por uma densidade menor em relação ao tecido circundante e é observada em necrose, edema e cistos (Figura 1); já a hiperdensidade é uma densidade maior que a do tecido circundante, ocorrendo em hemorragia e mineralização 3,28 (Figura 2). A tomografia sem aplicação de meio de contraste pode ser útil na visibilização de efeitos secundários provocados pela massa 6,7,10. Os achados tomográficos que podem ser observados sem a aplicação de meio de contraste incluem: efeito
Figura 1 - Corte tomográfico transversal do crânio após aplicação de contraste mostrando área hipodensa de formato oval e amorfa (*) em região de hemisfério cerebral direito e presença de anel peritumoral (seta). Imagem em janela de tecidos moles
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Carolina Dias Jimenez
Carolina Dias Jimenez
Figura 2 - Corte tomográfico transversal do crânio antes da aplicação de contraste evidenciando área hiperdensa (seta) em região cerebelar. Imagem em janela de tecidos moles Carolina Dias Jimenez
Figura 4 - Corte tomográfico transversal do crânio antes da aplicação de contraste, demonstrando dilatação de ventrículo lateral esquerdo (*) e apagamento de ventrículo lateral direito (seta), caracterizando o efeito de massa. Imagem em janela de tecidos moles Luiz Carlos Vulcano
Figura 3 - Corte tomográfico transversal do crânio em janela óssea apresentando lise óssea em região de bula timpânica (seta maior) e osso petroso temporal esquerdos (seta menor). Note-se a presença de material isodenso em região de cavidade timpânica (*). Imagem em janela de tecido ósseo
massa, edema peritumoral, hidrocefalia, hemorragia, formação cística e lise óssea (Figura 3). O efeito massa é observado como um deslocamento da foice cerebral e/ou do sistema ventricular 3,6,8 (Figuras 4, 5 e 6) e o edema peritumoral aparece como uma área hipodensa periférica ao tumor 6. As neoplasias estão associadas à hidrocefalia obstrutiva, que pode ser classificada em comunicativa (obstrução no espaço subaracnoideo) ou em não comunicativa (obstrução próxima ao forâmen interventricular) 1 (Figura 7). A TC tem alta sensibilidade para a identificação de hemorragias 1,29. A hemorragia intracraniana aguda aparece como uma área hiperdensa homogênea e não calcificada 3. De forma geral, pode-se dizer que à medida que a hemorragia é absorvida, a densidade tomográfica diminui gradativamente até progredir para hipodensa, tornando-se similar a um edema 1. A formação cística pode aparecer de forma focal ou multi-
Figura 5 - Corte tomográfico transversal do crânio antes da aplicação de contraste, demonstrando dilatação de ventrículo lateral direito (*) e apagamento de ventrículo lateral esquerdo (seta), caracterizando o efeito massa. Imagem em janela de tecidos moles
focal, não realça após injeção intravenosa do meio de contraste e é caracterizada como uma região hipodensa 28. A formação cística está mais associada aos meningiomas, porém, ocasionalmente, pode ser encontrada em outros tipos tumorais 28.
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A injeção intravenosa de meio de contraste pode ser uma parte importante do exame tomográfico, porém ela não é necessária em todos os casos 3. A magnitude e a cinética do reforço pós-contraste é primariamente controlada por alterações
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Figura 8 - Corte tomográfico transversal do crânio evidenciando massa hiperdensa de formato lobulado sofrendo forte realce ao meio de contraste em região de lobo occipital direito, cerebelo e tronco encefálico (seta menor). Observa-se também apagamento de ventrículo lateral direito (seta maior) e dilatação de ventrículo lateral esquerdo (*). Imagem em janela de tecidos moles Carolina Dias Jimenez
Carolina Dias Jimenez
Figura 7 - Corte tomográfico transversal do crânio evidenciando a presença de massa ovoide e hiperdensa, com realce evidente e homogêneo após injeção intravenosa do meio de contraste (seta). Observa-se também dilatação simétrica e bilateral dos ventrículos laterais (*). Note-se a presença de artefatos. Imagem em janela de tecidos moles
Carolina Dias Jimenez
Rogério Martins Amorim
Figura 6 - Corte tomográfico transversal do crânio evidenciando massa ovoide e hiperdensa em hemisfério cerebral direito, com realce evidente e homogêneo após injeção intravenosa do meio de contraste (seta menor). Note-se a presença de efeito massa, evidenciado pelo desvio da foice cerebral para a esquerda (seta maior) e pelo apagamento de ventrículo lateral direito. O exame histopatológico evidenciou meningioma. Imagem em janela de tecidos moles
na permeabilidade da barreira hematoencefálica 3,29,31 (Figuras 6, 7 e 8). Nos processos inflamatórios e neoplásicos que possuem uma vascularização maior do que os tecidos normais, a aplicação do meio de contraste é de suma importância 7. Um estudo mostrou que o reforço pós-contraste ocorreu intensamente em 60% dos casos e moderadamente em 24% dos casos de lesões intracranianas 10.
Figura 9 - Corte tomográfico transversal do crânio após aplicação de contraste evidenciando área hipodensa de formato oval e amorfa (*) com desvio de foice cerebral (seta). Imagem em janela de tecidos moles
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Em seres humanos, estudos histopatológicos de lesões que contrastaram no exame tomográfico sugerem que o contraste é criado por uma zona de vasos sanguíneos, astrócitos e fibroblastos reativos que circundam um núcleo central com Luiz Carlos Vulcano
células tumorais necrolíticas, edema, hemorragia ou necrose de liquefação oriunda de diversas causas 31. Algumas estruturas anatômicas normais ficam mais visíveis após a injeção intravenosa do meio de contraste, incluindo a foice cerebral e o plexo coroide 3. A injeção do meio de contraste auxilia a detecção de tumores intracranianos, que podem apresentar realce de forma uniforme ou não, com ou sem a presença de anel peritumoral, ou podem não sofrer nenhum tipo de mudança 3,31. Os tumores extra-axiais tendem a sofrer um evidente realce uniforme após a injeção intravenosa do meio de contraste, já que derivam de tecidos que não possuem uma barreira hematoencefálica restritiva 28. A formação de anel peritumoral ocorre principalmente em casos associados a alterações vasculares ou nos tipos tumorais com alta malignidade como os astrocitomas, oligodendrogliomas e gliossarcomas 3,28 (Figuras 1 e 9). Artefatos São considerados artefatos quaisquer distúrbios na nitidez da imagem, podendo ser provocados pelos mais diversos fatores, como interface por objeto metálico e alto nível de atenuação de raios durante a passagem destes por meio de uma grossa e densa camada de estruturas ósseas (fato observado na avaliação da fossa caudal) 3,27 (Figura 7). Algumas sondas endotraqueais possuem estrutura metálica que levam à formação de artefatos (Figura 10).
Rogério Martins Amorim
Figura 10 - Corte tomográfico transversal do crânio após aplicação de contraste. Observa-se área bem definida de hiperdensidade extra-axial no lobo frontal esquerdo (seta menor). Note-se a presença de artefatos (seta maior) gerados pela sonda endotraqueal (*). O exame histopatológico evidenciou meningioma. Imagem em janela de tecidos moles
Características tomográficas de identificação dos tumores encefálicos Pode-se realizar uma provável identificação do tipo tumoral encefálico de acordo com as características tomográficas que ele promove 7. Com a TC pode-se chegar muito próximo ao diagnóstico definitivo da neoplasia encefálica sem a realização do exame histopatológico, relacionando os achados tomográficos com incidência, localização e sinais clínicos observados 3,6,12,19. As características dos principais tipos de tumores encefálicos em cães estão ilustradas na figura 11.
Figura 12 - Corte tomográfico transversal do crânio evidenciando discreto realce após aplicação de contraste. Observa-se apagamento de ventrículo lateral direito com heterogeneidade do parênquima cerebral (seta). O exame histopatológico evidenciou glioma misto. Imagem em janela de tecidos moles
Meningioma Os meningiomas podem se originar de qualquer uma das três meninges, mas aparentemente é mais comum originarem-se da aracnoide 23. Existem nove subtipos de meningioma, a maioria deles de comportamento histológico benigno, mas há alguns com comportamento maligno, principalmente em cães 23. O meningioma é um tumor extra-axial (surge da região periférica encefálica e cresce para o interior) 19, mais comumente situado nas fossas rostral (bulbo olfatório e lobo frontal) e caudal (bulbo, ponte e cerebelo) 3. O meningioma pode ser diferenciado dos outros tipos tumorais por ter usualmente um padrão homogêneo, formato de placa ou lenticular e, algumas vezes, apresentar a formação de uma cauda dural 28. Os meningiomas apresentam-se hiperdensos comparados ao parênquima cerebral, podendo mostrar áreas de hemorragia e calcificação 21. Normalmente, apresentam limites bem definidos 19 (Figuras 6 e 10). Tendem a se deslocar e a promover compressão, não in va dindo o tecido encefálico, e podem mostrar nas
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Características
meningiomas
gliomas
do plexo coroide
pituitários
densidade pré-contraste
iso a hiperdenso
iso a hiperdenso (astrocitoma)/ hipodenso (oligodendroglioma)
iso a hiperdenso
iso a hiperdenso
localização
fossas rostral e caudal/ventricular
fossas rostral e caudal
ventricular
fossa hipofisária
ocorrência
singular ou múltiplos
singular
singular ou múltiplos
singular
orientação
periférico
parenquimal
central
ventral
efeito massa
possível
severo
possível
possível
possível (mínimo)
severo (astrocitoma)/ moderado (oligodendroglioma)
mínimo
mínimo
hidrocefalia
possível
rara (astrocitoma)/ possível (oligodendroglioma)
frequente
possível
forma
placa ou lenticular
ovoide, amorfa ou difusa (astrocitoma)/ ovoide (oligodendroglioma)
esférico a ovoide
esférico a ovoide
margem
definida ou não
pouco definida
definida
definida
tamanho
médio
usualmente pequeno
usualmente pequeno
usualmente pequeno
evidente
evidente (astrocitoma)/ discreto (oligodendroglioma)
evidente
moderado a evidente
homogêneo
heterogêneo
homogêneo
homogêneo a heterogêneo
anel peritumoral
possível
possível
raro
raro
margem após contraste
definida
muito a pouco definida (astrocitoma)/ pouco definida (oligoastrocitoma)
definida
definida
formação cística
possível
possível
ausente
ausente
edema peritumoral
realce de contraste padrão após contraste
Figura 11 - Características das imagens tomográficas em tumores encefálicos primários em cães. Adaptado de 1,6,13
imagens tomográficas um efeito massa com desvio da foice cerebral e ser associados a áreas císticas ou de calcificação 28 (Figuras 6 e 10). Os meningiomas de cães são mais infiltrativos que os de gatos, o que faz com que seja difícil distinguir o limite entre o tumor e o tecido encefálico normal 23. Gliomas Os gliomas são tumores intra-axiais 3 (surgem dentro do parênquima encefálico e crescem para o exterior) comumente localizados na área piriforme do lobo temporal e em outras regiões do hemisfério cerebral, no tálamo, hipotálamo ou mesencéfalo 8. Os astrocitomas não se distinguem facilmente dos oligodendrogliomas pela TC 6,8, pois ambos têm achados tomográficos parecidos, como localização intraaxial, presença de anel peritumoral, discreto realce após injeção intravenosa do meio de contraste e de forma não uniforme e margens pouco definidas tendendo a infiltração no parênquima cerebral 3,6,19 (Figura 12). Os astrocitomas localizam-se principalmente no telencéfalo (cérebro) e no diencéfalo (tálamo) e os oligodendrogliomas tendem a se localizar no telencéfalo, próximos aos ventrículos 23. Os gliomas, apesar de normalmente serem pequenos, têm a capacidade de causar um grande edema peritumoral devido à sua natureza expansiva e ao comportamento invasivo 1 – além de induzirem um processo inflamatório que, em
muitos casos, provoca o desenvolvimento de hidrocefalia obstrutiva e desvio de foice cerebral (efeito massa) 7. Tumores originários do plexo coroide Os tumores originários do plexo coroide são os mais facilmente identificados tomograficamente devido à sua localização topográfica específica, relacionada com o sistema ventricular 1,3. Normalmente, as massas são fortemente atenuadas, com margens bem definidas e marcadas de forma homogênea após a injeção intravenosa do meio de contraste 1,6. Outra característica é a associação frequente da presença de hidrocefalia obstrutiva 3,6,28. Em raras ocasiões, os tumores de plexo coroide são invasivos e promovem metástase ao longo do sistema ventricular 8. Tumores pituitários Os tumores pituitários, como os macroadenomas, são facilmente identificados devido à localização da massa normalmente esférica ou ovoide na fossa hipofisária, estendendo-se até a sela túrcica ou em posição suprasselar 1. Os microadenomas tendem a ter a mesma forma, porém limitamse mais à glândula pituitária 1. Com relação às alterações tomográficas dos tumores pituitários, notam-se um edema peritumoral mínimo e um realce moderado e uniforme após a injeção intravenosa do meio de contraste com margens bem definidas, associados a
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hidrocefalia bilateral 6. Os adenomas tendem a mostrar um realce uniforme de forma moderada a intensa pós-contraste, ao passo que os carcinomas apresentam realce evidente e não uniforme 28. Considerações finais Algumas alterações tomográficas – como a localização tumoral, a presença de efeito massa, a característica do realce após injeção intravenosa do contraste e a presença de edema peritumoral – são associadas a certos tipos de neoplasias encefálicas. Tendo em vista que o diagnóstico definitivo do tipo tumoral é feito por meio de histopatologia e que a realização de biópsias encefálicas é um procedimento invasivo e pouco realizado, a associação dos achados tomográficos com os sinais clínicos dos animais permite estabelecer um diagnóstico presuntivo. Quando se suspeita de neoplasias metastáticas intracranianas, devem-se realizar exames complementares, tais como radiografia ou tomografia torácicas e ultrassonografia abdominal para pesquisa da neoplasia primária. A presença de neoplasia em outros órgãos altera de modo significativo o prognóstico do paciente. Referências
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Tratamento de fratura de rádio em peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) – relato de caso Radius fracture treatment in an Amazonian manatee (Trichechus inunguis) – case report Tratamiento de fractura de radio en un manatí del Amazonas (Trichechus inunguis) – caso clínico Clínica Veterinária, n. 92, p. 98-102, 2011 Maurício Carlos Martins de Andrade MV, analista ambiental CGESP/DIBIO/ICMBio/MMA mauricio.andrade@icmbio.gov.br
Antonio Carlos Cunha Lacreta Jr. MV, prof. adj. MSc. dr. DMV/UFLA lacreta@dmv.ufla.br
Kristian Legatzki
MV, analista ambiental CEPNOR/IBAMA/MMA kristian.legatzki@ibama.gov.br
Adriana Fromm Trinta
MV, analista ambiental CMA/DIBIO/ICMBio/MMA adriana.trinta@icmbio.gov.br
Ediléia Mesquita da Costa médica veterinária ISPA/UFRA edileiacosta@yahoo.com.br
Resumo: O peixe-boi-da-amazônia é um mamífero aquático ameaçado de extinção, sendo a caça indiscriminada o principal fator de declínio da população. O presente estudo relatou o acompanhamento da consolidação óssea de uma fratura completa de rádio na nadadeira peitoral esquerda em um filhote de peixe-boi-da-amazônia resgatado na ilha de Marajó, estado do Pará. O animal apresentava restrição de movimento e posicionamento anormal da nadadeira, com crepitação à palpação. No exame radiográfico, visibilizou-se fratura completa oblíqua em correspondência ao terço medioproximal da diáfise do osso rádio esquerdo, com perda de eixo ósseo. Foi realizado um tratamento conservador, com acompanhamento radiográfico do membro afetado. A melhora do quadro clínico e a total consolidação da fratura foram observadas após doze e vinte semanas do início do tratamento, respectivamente. Unitermos: mamífero, espécie ameaçada, radiografia Abstract: The Amazonian manatee is an aquatic mammal threatened with extinction by indiscriminate hunting, which is the main factor of its population decline. This study reports the clinical monitoring of bone consolidation in an Amazonian manatee calf rescued with a complete fracture of the left radius on Marajó Island, Pará. The animal had movement restriction and abnormal positioning of the left pectoral fin, which presented crepitation upon palpation. Radiographic examination disclosed a complete oblique fracture in the proximal-middle third of the left radial diaphysis, with bone axis loss. Conservative treatment was followed by radiographic monitoring of the affected limb. Improvement of the clinical state and full consolidation of the fracture were observed twelve and twenty weeks after starting treatment, respectively. Keywords: mammal, endangered species, radiography Resumen: El manatí del Amazonas es un mamífero acuático en peligro de extinción, siendo la caza indiscriminada el principal orígen de tal situación. En el presente trabajo se relata la evolución de la consolidación ósea de un manatí rescatado en la isla de Marajó, que apareció con una fractura completa de radio. El animal presentaba una restricción de movimiento y una posición anormal de su aleta nadadera izquierda, con signos de crepitación a la palpación. Durante el estudio radiográfico se pudo diagnosticar una fractura completa, oblicua en el tercio medio proximal de la diáfisis del radio izquierdo, con rotación del eje óseo. El tratamiento fué conservador, realizandose controles radiográficos del miembro. El cuadro clínico y la consolidación de la fractura se observaron al cabo de 12 y 20 semanas desde el inicio del tratamiento, respectivamente Palabras clave: mamífero, especies en peligro de extinción, radiografía
Introdução Os peixes-boi pertencem à ordem Sirênia e estão classificados na família Trichechidae 1,2. O Brasil possui dois representantes dessa família, o peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) e o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) 1-3. O peixe-boi-da-amazônia é um mamífero aquático exclusivamente herbívoro, cuja ocorrência está restrita aos rios e lagos da bacia Amazônica, principalmente às áreas de 98
várzea 2,4. Atingem a maturidade sexual após os seis anos de idade e, em condições normais, geram um filhote a cada gestação, amamentando-o por no mínimo dois anos 2. O intervalo entre os nascimentos é de pelo menos três anos, o que revela baixa taxa reprodutiva, dificultando ainda mais a recuperação das populações 2. Atualmente ele está listado como “ameaçado de extinção” pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e classificado na
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categoria “vulnerável” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) 2-6. Apesar de protegido por lei, o peixe-boi-da-amazônia ainda é caçado para fins de subsistência, existindo também o comércio ilegal da carne e de filhotes, além da captura acidental em redes de pesca 2,3. Relato de caso Uma fêmea de peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) de aproximadamente oito semanas de vida, de 98 centímetros de envergadura dorsal e pesando 15,7kg, foi encontrada encalhada numa praia do rio Salazal, no município de Salvaterra, estado do Pará. Esse espécime foi resgatado e encaminhado para a Base Avançada do Centro Mamíferos Aquáticos (CMA), em Belém, para reabilitação e posterior reintrodução ao seu habitat natural. No exame clínico, o animal apresentava restrição de movimento e posicionamento anormal da nadadeira peitoral esquerda, sensibilidade e crepitação à palpação do membro, além de ferida superficial (escoriações) (Figura 1). Ato contínuo, o animal foi encaminhado ao hospital veterinário da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) para exame radiográfico. A técnica radiográfica preconizada
utilizou 50Kvp, 100mA e 0,002s para radiografia em projeção dorsoventral da nadadeira peitoral afetada (Figura 2). No exame radiográfico, visibilizou-se fratura completa oblíqua em correspondência ao terço medioproximal da diáfise do osso rádio esquerdo, com perda de eixo ósseo e sobreposição dos fragmentos da fratura, discreto ponto radiotransparente em correspondência ao aspecto cranial da metáfise distal do osso úmero esquerdo e irregularidade óssea em correspondência ao aspecto cranial da metáfise proximal da ulna esquerda. Os aspectos radiográficos na ocasião sugeriam fratura recente (Figura 3).
Figura 1 - Imagem fotográfica do peixe-boi amazônico sendo amamentado após resgate. Notar alteração anatômica e lesão cutânea da nadadeira peitoral esquerda Figura 3 - Imagem radiográfica realizada após o resgate. Notar fratura completa em correspondência ao terço médio-proximal da diáfise do osso rádio esquerdo (seta)
Figura 2 - Imagem fotográfica do posicionamento radiográfico
Figura 4 - Imagem fotográfica do animal mantido em piscina de lona
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Optou-se por realizar um tratamento conservador (não cirúrgico), por se tratar de um mamífero que vive em meio aquático. Durante o tratamento, o animal foi mantido em uma piscina de lona com capacidade de 1.000 litros de água (Figura 4). Meio grama de fosfato de cálcio e 8.000UI de vitamina D3 a foram administrados uma vez ao dia, por via oral, durante os três primeiros meses de tratamento, acrescidos à primeira das quatro mamadeiras oferecidas diariamente 7. A dieta fornecida era composta de água, leite em pó, óleo de canola e complexo vitamínico-mineral 4. O acompanhamento da consolidação da fratura foi feito exclusivamente por meio radiográfico. No exame radiográfico realizado 21 dias após o início do tratamento, visibilizaram-se reação periosteal do tipo regular em correspondência às extremidades dos fragmentos da fratura do osso rádio esquerdo, aspecto craniomedial da metáfise distal do úmero esquerdo e aspecto cranial da metáfise proximal da ulna esquerda. No exame radiográfico realizado 43 dias após o início do tratamento, visibilizaram-se intensificação da reação
Figura 5 - Imagem radiográfica realizada após 43 dias do início do tratamento. Notar intensificação da reação periosteal do tipo regular (seta) a) Calciovet. COVELI Industria e Comércio Ltda. Duque de Caxias, RJ
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periosteal do tipo regular, com presença de alguns pontos de lise óssea nas regiões supracitadas (remodelação) e discreto preenchimento da linha de fratura por conteúdo radiopaco (Figura 5). Nos exames radiográficos realizados 78 e 106 dias após o início do tratamento, visibilizou-se progressão na consolidação da fratura, com intensificação dos aspectos radiográficos pertinentes (Figura 6). No exame radiográfico realizado 162 dias após o início do tratamento, visibilizaram-se calo ósseo ossificado, ausência da linha de fratura e reação periosteal lisa e regular em correspondência ao aspecto craniomedial da metáfise distal do osso úmero esquerdo e aspecto cranial da metáfise proximal da ulna esquerda, sugerindo remodelação óssea. Realizou-se um exame radiográfico de controle 319 dias após o inicio do tratamento, no qual se pôde constatar completa consolidação da fratura e remodelação óssea (Figura 7). Clinicamente, o animal apresentou adequada movimentação e extensão normal do membro 90 dias após o início do tratamento. Nesse período, recebeu alta do tratamento e foi acompanhado apenas pelos exames radiográficos citados. Até o presente momento, as condições físicas e comportamentais do animal vêm sendo acompanhadas, não demonstrando qualquer alteração (Figura 8).
Figura 6 - Imagem radiográfica realizada após 106 dias do início do tratamento. Notar progressão na consolidação da fratura com formação de calo ósseo (seta)
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Figura 8 - Imagem fotográfica do peixe-boi amazônico ao final do tratamento. Notar posicionamento normal da nadadeira peitoral esquerda
Figura 7 - Imagem radiográfica realizada após 319 dias do início do tratamento. Notar completa consolidação da fratura e remodelação óssea (seta)
Discussão As fraturas de rádio e ulna podem ser observadas envolvendo tanto um como ambos os ossos. Distais ao terço proximal do rádio, esses ossos geralmente se fraturam como uma unidade, porém proximais a essa região, as fraturas independentes de ambos os ossos são comuns, assim como visualizado neste relato, de acordo com o qual a fratura ocorreu somente no osso rádio, em correspondência ao terço medioproximal da diáfise 8. Devido à escassez de bibliografias sobre tratamento de fraturas nessa espécie, foi proposto um tratamento conservador, em vez do tratamento cirúrgico. Isso também foi determinado porque o habitat desse animal, a água, é constante fonte de contaminação, o que poderia comprometer a recuperação pós-cirúrgica do animal. Dessa maneira também se evitou a contenção física diária do animal, o que poderia levar a um quadro de estresse. O tratamento conservador instituído, ou seja, a restrição
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do espaço com concomitante redução da movimentação do animal, mostrou-se eficaz sem que houvesse necessidade de realizar a imobilização do membro. O sucesso do tratamento foi possível devido à conformação anatômica da nadadeira peitoral dessa espécie, cujos ossos rádio e ulna estão em contato íntimo e cujas epífises se unem com o avançar da idade 9. Essa particularidade pode ter permitido que a ulna intacta tenha servido de suporte para a estabilização da fratura do rádio. Além do manejo como forma de tratamento, 0,5g de fosfato de cálcio e 8.000UI de vitamina D3 foram acrescidos à dieta láctea recomendada 4,7. Como não há descrição bibliográfica desse procedimento e também não houve um estudo experimental com grupo controle para esse tipo de tratamento, não podemos afirmar até que ponto esse enriquecimento da dieta foi significativo para o processo de consolidação. O exame radiográfico, já consagrado como um dos melhores métodos para avaliação de consolidação de fraturas, também foi eficaz para esse caso. O que permitiu um acompanhamento seriado do animal foi a pouca idade, já que em animais adultos a dificuldade é grande devido às grandes dimensões e ao peso. O processo de consolidação óssea, acompanhado por meio do exame radiográfico, foi longo, em torno de vinte semanas, ao contrário do ocorre com pequenos animais de estimação, em que a consolidação se dá em torno de dez semanas 8. Isso pode ser explicado por dois aspectos: a pouca estabilidade oferecida apenas pela ulna ou o baixo metabolismo que a espécie apresenta 10. Conclusão O tratamento conservador (não cirúrgico) com duração de doze semanas mostrou-se eficaz e seguro para a total consolidação de fratura completa no terço proximal do rádio esquerdo de um filhote de Trichechus inunguis resgatado com aproximadamente oito semanas de vida.
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A ausência de trabalhos científicos voltados a esse tema faz com que o presente relato seja de grande importância para a espécie em questão, atualmente classificada pela IUCN e pelo MMA como ameaçada de extinção 5,6. Nesse contexto, fazem-se necessários estudos clínicos, do manejo e do comportamento desses animais para oferecer maiores informações a respeito das formas de tratamento e acompanhamento dos animais resgatados e colocados em cativeiro para posterior reintrodução. Referências
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Ecologia
S
afari do Busch Gardens conscientiza sobre o risco de extinção dos guepardos
A partir de agora, os visitantes que experimentarem o safari especial do Busch Gardens chamado Endangered Species Safari terão a oportunidade de observar também os guepardos. O tour, que já é bastante popular no parque, apresenta os animais que estão ameaçados de extinção, além de mostrar como o parque dá suporte aos programas de proteção dessas espécies. No caso dos guepardos, cinco felinos chegaram recentemente ao parque por meio do programa Species Survival Plan (Plano de Conservação de Espécies – Guepardo). Em breve, Steelman, um macho de doze anos, Ngoma, uma fêmea de dez anos, e os irmãos Jagati, Irajá e Juno – todos nascidos em outubro de 2009 – farão parte do Cheetah Run, nova área de contato com os animais que será inaugurada em maio, ao lado da montanha-russa Cheetah Hunt. Durante o Endangered Species Safari, os visitantes recebem informações importantes sobre as espécies que estão ameaçadas e como podemos ajudar para que elas não sejam extintas. No caso dos guepardos, seu repovoamento natural é dificultado pela baixa taxa de natalidade e por muitas ameaças naturais e humanas. Os educadores do Busch Gardens também apresentam durante o passeio os esforços do SeaWorld and Busch Gardens Conservation Fund, que já doou quase US$ 100 mil para a proteção de guepardos na África desde 2005 e também ajuda programas de conservação de rinocerontes brancos, animais marinhos e muitas outras espécies de todo o mundo. Os 45 minutos de passeio no Endangered Species Safari também incluem encontros próximos com girafas, zebras e rinocerontes no Serengeti Plain. Outra novidade do Busch Gardens Tampa Bay é a chegada de um filhote de guepardo. Assim que se tornar adulto, ele se unirá aos outros guepardos que viverão no Cheetah Run, habitat que será inaugurado em maio. Na atração, os visitantes poderão ver os ágeis felinos em ação. O filhote nasceu no Zoológico de Jacksonville e, pela falta de cuidados da mãe, foi levado às dependências do parque, em Tampa, para receber tratamento especial. Com pouco menos de um quilo, o filhote se alimenta bem e já explora seu novo lar. Hoje em dia existem apenas 12,4 mil guepardos no mundo, sendo assim de extrema importância o cuidado com essa espécie ameaçada. 104
Casal de guepardos do Busch Gardens, que ajudarão nos programas de preservação da espécie
O SeaWorld Parks & Entertainment opera dez parques nos Estados Unidos. São três unidades do SeaWorld (Orlando – Flórida, San Diego – Califórnia e San Antonio – Texas) e dois parques Busch Gardens, sendo um em Tampa – Flórida e outro em Williamsburg – Virgínia. Além dos parques Discovery Cove e Aquatica, em Orlando – Flórida, e do Sesame Place, próximo à Filadélfia – Pensilvânia, e dos parques aquáticos Adventure Island, em Tampa – Flórida, e Water Country USA, em Williamsburg – Virgínia. Os dez parques recebem 25 milhões de visitantes por ano e empregam 26 mil pessoas em todo o país. Mais informações: www.seaworldparksandentertainment.com. O SeaWorld Parks & Entertainment criou o SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund, organização sem fins lucrativos empenhada em apoiar a conservação da fauna e da flora, além de investir em estudos, projetos educacionais e programas de resgate de animais em todo o mundo. Saiba mais em www.swbg-conservationfund.org.
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Filhote de guepardo com quatro semanas de idade, que chegou em março de 2011 ao Busch Gardens Tampa Bay (Flórida, EUA). O filhote faz parte de um grupo de animais que é acompanhando pelo Species Survival Plan (SSP)
Arquitetura & Construção Sinalização e comunicação visual A sinalização poderá apresentar um caráter não apenas visual, mas também tátil e/ou sonoro. Ela também pode ser dividida nos tipos: temporária, direcional, emergencial e permanente Aliada à comunicação visual, a sinalização é responsável por criar um sentido de ordem, organização e valorização do conforto daqueles que se relacionam com uma empresa. A sinalização também cria ambiente favorável à produtividade e à agilidade dos processos e fluxo de pessoas. Essas técnicas permitirão pensar nas melhores aplicações dos elementos de sinalização, se beneficiando da funcionalidade e das inúmeras possibilidades do design, o qual ajudará a valorizar
ainda mais a imagem corporativa. Para que seja tirado bom proveito do investimento na sinalização é importante que ela tenha harmonia com a marca e todo o trabalho de personalização da arquitetura corporativa, aliandose para isso, às técnicas da comunicação visual. Durante a etapa de desenvolvimento de projeto é recomendável inserir soluções ergonômicas, pois elas garantirão uma interação mais prática e segura de todos os tipos de usuários.
Caminhão desenvolvido para campanhas de castração
Fotos de trabalho desenvolvido pelo designer Brandon Van Liere para a Animal Human Society, excelente exemplo que ilustra os benefícios de uma sinalização planejada
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Este e outros trabalhos de Brandon Van Liere podem ser conferido no endereço: cargocollective.com/brandonvanliere #576992/
Sinalização externa
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Faturamento,
salário,
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renato.miracca@q-soft.net
MV, bacharel em direito, MBA Q-soft Brasil Tecnologias da Informação -
ou lucro
R
esponda honestamente: quanto você ganha por mês para trabalhar? Ao fazer esta pergunta a um funcionário, a resposta é rápida: a soma do salário e eventuais benefícios. Isto é correto se considerarmos no cálculo o salário líquido, pois a retenção do imposto de renda na fonte pode chegar a 27,5% do valor bruto, o que causa uma diferença significativa no valor. Para um veterinário autônomo ou proprietário de clínica, as respostas se tornam mais confusas. Muitos colegas evitam falar sobre o assunto (talvez por afetar sua autoestima), alguns chutam os valores, outros se confundem nos cálculos e ainda existem os que, aparentemente, não se importam, preferindo não conhecer a realidade. Esse tabu não é exclusivo do mercado veterinário, mas é típico na área da saúde, onde existe um grande número de profissionais autônomos (pessoas que exercem a atividade profissional por conta própria sem possuir vínculos empregatícios). Durante uma conversa informal, temos o hábito de fazer confusão sobre alguns conceitos ao falar sobre salário, sendo comum ouvirmos o clínico dizer: “Este mês foi ótimo, faturei X reais!”, referindo-se ao valor total dos serviços realizados (faturamento bruto) como se se tratasse do seu salário. Faturamento é o resultado da soma de todos os produtos/serviços vendidos por uma empresa em determinado período, sendo que neste caso falamos em faturamento bruto. Como sabemos, existem muitas despesas e custos que deverão ser subtraídos do faturamento até chegarmos ao salário e ao lucro. No caso do profissional autônomo, podemos admitir que o lucro mensal seja equivalente ao salário, sendo que, nesse caso, ele varia conforme o número de atendimentos realizados. Ao analisar uma empresa, uma pessoa jurídica de qualquer tipo, isso não
Renato Brescia Miracca
ocorre: o salário é considerado uma despesa fixa (ele existe ocorrendo ou não faturamento; afinal, quem não quer receber o salário todos os meses?). Apesar de isso ser legalmente questionável, algumas clínicas pagam ao veterinário uma comissão, além de um salário fixo. Nesse caso, parte do salário passa a ser uma despesa variável (quanto mais atendimentos forem realizados, maior será o valor da comissão). Mas e o lucro? Qual a diferença entre lucro e salário? Salário não é lucro! Mesmo quando somos sócios de uma empresa, não devemos confundir as duas coisas. Lucro é o que sobra do faturamento bruto após descontarmos todas as despesas, custos, impostos, encargos, incluindo o salário. Imagine se por algum motivo você não puder trabalhar na sua clínica por dois meses. Você deverá contratar um colega e lhe pagar um salário. No dia a dia ocorre o
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mesmo, mas o contratado é você. Sendo assim, nada mais correto do que instituir um valor que lhe servirá de salário, geralmente chamado de prólabore (o valor que o dono da empresa recebe por trabalhar nela). O lucro não é a remuneração do trabalho, mas a remuneração do capital investido na empresa; sendo assim, pertence aos donos da empresa, ainda que não trabalhem nela, na proporção de suas cotas, podendo ser retirado ao final do período ou reinvestido para a ampliação do negócio. Toda a empresa deve ser lucrativa e todo trabalhador, mesmo que seja o dono da empresa, deve receber um salário, e quando isso não ocorre, estamos diante de um problema muito grave. Ninguém admite ter uma aplicação financeira no banco e depois de certo tempo descobrir que não ganhou nada e ainda perdeu parte do valor investido. Todavia, conhecemos vários colegas que investem um valor considerável em seu negócio e recebem de lucro menos do que ganhariam em qualquer aplicação financeira, mesmo sem considerar seu salário no cálculo, ou seja, ainda trabalham de graça! Uma das causas principais dessa situação é a confusão entre as finanças pessoais e as da empresa. Ao colocar tudo no mesmo saco, não temos o controle adequado nem de uma coisa nem da outra. Além disso, fica muito mais difícil avaliar a lucratividade real da empresa. É comum ver o veterinário/empresário fazer retiradas do caixa para cobrir suas despesas pessoais, geralmente sem critério e contabilização. Esse descontrole impede que o veterinário se dê conta da real situação da empresa, pois no final do mês ele sequer tem noção do valor total que foi retirado; sabe somente se tem ou não dinheiro em caixa. Dicas para começar a controlar as
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finanças de sua empresa: • Compreenda que você e sua empresa são entidades distintas; por isso se cria uma personalidade jurídica (PJ). As finanças de ambos devem ser totalmente separadas. • Mantenha contas bancárias separadas para você e para sua empresa. • Descubra qual é o lucro real por meio de um controle minucioso de todas as receitas e despesas da empresa (isso pode ser feito no papel, em planilhas ou com um software de gestão). • Determine um valor fixo para a retirada pessoal. Jamais ultrapasse esse valor. Caso isso não seja possível, considere o excedente como “empréstimo temporário” que deverá ser devolvido assim que possível, para não descapitalizar a empresa. • Adéque o valor do pró-labore à lucratividade da sua empresa. Se isso não for suficiente, será necessário aumentar o lucro da empresa. Enquanto isso não ocorrer, contente-se com menos.
• Anote todas as retiradas do período para despesas pessoais (o ideal seria não retirar nada até o final do mês e depois retirar somente o valor total do pró-labore). • Lembre-se de que, ao transferir dinheiro pessoal para a empresa, estará “emprestando” à empresa ou aumentando o capital social dela. • Crie uma reserva de capital para a empresa (capital de giro, 13º salário e outras despesas trabalhistas, manutenções periódicas, novos investimentos e despesas extraordinárias). Esse valor é da empresa e não deve ser usado para despesas pessoais. Quando falamos com os colegas sobre esse assunto, o que ouvimos é: “dá muito trabalho”; “esse controle só é possível em grandes empresas”; “não tenho tempo para fazer isso” e uma série interminável de desculpas causadas pelo medo e pela inexperiência na área. Entretanto, todos os que se esforçam durante dois ou três meses tentando
seguir as dicas acima melhoram o controle financeiro do seu negócio (e da sua vida). Então, mãos à obra!
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Seja responsável pela experiência de seus clientes – parte 1A: desde o telefonema até a sala de exame
E
ste tópico é na verdade um círculo fechado. Todos os elementos do tópico afetam o resto do círculo. Qualquer elemento específico é tão importante como todos os outros elementos. Em um círculo perfeito os tópicos fluem naturalmente, formando um perfeito fluxo de eventos. Para ajudá-lo a criar mais facilmente esse círculo perfeito, vamos dividi-lo em duas metades. Mais tarde, quando você tiver essas duas metades juntas, você poderá “costurá-los” para obter um único círculo perfeito. Assumir o comando da experiência do cliente significa controlar qualquer contato do cliente com a sua clínica, o que pode ocorrer em qualquer ponto. Desde a primeira vez em que você faz contato com o cliente até a hora em que o cliente deixa o hospital ou a transação seja concluída. Todos esses pontos de contato devem ser aperfeiçoados para criar uma melhor experiência para o cliente. Para serem aperfeiçoados, esses pontos de contato devem ser sistematizados. O propósito de ter um sistema é estar em controle do momento, da oportunidade, e não ser uma vítima do momento. O primeiro passo para controlar as interações com o cliente é estar consciente do momento. A cada momento há uma interação com o cliente. Essa consciência é verbal e não verbal; tudo na clínica e ao redor dela. A pergunta é: por que tudo isso tem de estar no seu devido lugar até a perfeição? Por que toda a equipe deve dizer as coisas certas para os clientes, por exemplo, ao telefone? Por que = consciência O telefone toca na clínica. Alguém 110
AUTORES
• Marco Antonio Gioso
Docente do Depto. de Cirurgia da FMVZ-USP www.fmvz.usp.br - www.gioso.com.br;
• Steve Kornfeld, DVM, CPCC
Certified Professional Coactive Coach www.veterinarycoaching.com;
• Maria Das Gracas Jardim Rodrigues, “Coach” (treinadora) em negócio veterinário
está encarregado de atender ao telefone. O que deve (ou deveria) passar pela mente dessa pessoa antes que ela atenda a chamada? Você não sabe por que o cliente está chamando, mas você sabe de uma coisa: você quer resultado dessa ligação. Então a pessoa que atende ao telefone deve lembrar-se do que ela quer obter desta chamada. Esse é o primeiro passo para assumir o controle da experiência do cliente-consciência: estar atento às necessidades dos clientes. Nesse caso, a consciência deve ser traduzida em uma pergunta: "o que eu desejo que o cliente faça como resultado desta ligação?" Não é preciso mais do que uma fração de segundo para ficar atento a essa consciência mental quando a mente está treinada. Mas se a mente não estiver treinada, isso nunca acontece. Sem essa consciência, quando um cliente liga para a sua clínica, a pessoa do outro lado do telefone (a sua equipe) reage ao que o cliente fala/pergunta em vez de tomar a liderança, o controle da chamada – em outras palavras: ser pró-ativo. As reações quase nunca dão grandes resultados, porque há pouco controle sobre a ação. Consciente = ser pró-ativo Ao ser pró-ativo, você garante que suas ações sejam previsíveis, repetitivas e planejadas. Você pode treinar seu representante do serviço ao cliente (RSC) quanto quiser, mas, a menos que a sua equipe realmente ouça o que os clientes dizem, não vai acontecer muita coisa. Consciente = ouvir Quais são as etapas/estações desde que o cliente faz a chamada por telefone
até quando ele é colocado na sala de exame? Qual é a cascata de eventos que têm como resultado conduzir o cliente à sala de exame? Idealmente, o que deve acontecer em cada etapa/estação? A palavra-chave principal que domina todas as estações é a educação: educar o cliente ao longo do processo. Clientes = Clientes educados motivados Quando um cliente marca uma consulta para o animal de estimação – por doença de pele, por exemplo –, tem que haver uma ação planejada de eventos, uma engrenagem para garantir que o animal obtenha 100% dos serviços prestados e não apenas 20-30%, e que a experiência do cliente chegue perto da perfeição. Se cada elemento dessa cadeia é deixado ao acaso, os resultados serão imprevisíveis. Resultados = Resultados imprevisíveis inferiores Exemplos de uma engrenagem perfeita: A cadeia começa com um cliente ligando para a sua clínica. O que acontece em seguida? A pessoa que atende ao telefone deve ter uma lista de checagem que deve ser verificada e eventualmente memorizada antes que a ligação seja atendida. Se essa pessoa primeiro atende à ligação e em seguida verifica a lista de checagem, já é demasiado tarde; o mais provável é que ocorra um erro, um descuido, uma atitude equivocada, etc. Se você já viu um piloto comercial atuar antes da decolagem, ele leva
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algum tempo conferindo uma lista de de checagem. Você pode imaginá-lo fazendo isso após a decolagem? Duvido. O mesmo ocorre com o seu RSC. O que é então essa lista de checagem? • Bom humor • Sorriso • Otimismo • Saber como você quer atender ao telefone • Saber como a clínica/hospital quer que você atenda ao telefone • Ter um resultado em mente Se a natureza da chamada mesmo que remotamente envolva a consulta do animal de estimação – ou seja, o animal de estimação necessita vir à sua clínica –, somente um único resultado dessa chamada é aceitável: o animal precisa vir à sua clínica. Sem esse
resultado em mente, sem treinamento e controle, a sua clínica perde uma quantidade excessiva de negócios todos os dias.
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AVES DO BRASIL:
PANTANAL & CERRADO
ENCICLOPÉDIA LAROUSSE
O
guia “Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado” foi publicado com a intenção de atender àqueles que se interessam pela observação de aves (birdwatching), reunindo, por meio de ampla ilustração, todas as espécies de habitam o Pantanal e o Cerrado brasileiros. Com cerca de 336 páginas, 1.020 ilustrações e 740 espécies de pássaros, o guia é um produto inédito, fruto do envolvimento dos maiores especialistas com a fauna da região e de alguns dos melhores ilustradores de pássaros do mundo, auxiliados por cartógrafos de renomada experiência. A equipe responsável pelo livro teve o respaldo de instituições de pesquisa e conservação da natureza (Wildlife Conservation Society), de bancos de dados científicos e dos mais modernos recursos de cartografia. As primeiras 50 páginas apresentam dados de conservação dos biomas Pantanal e Cerrado e a importância da proteção a essas aves. O restante do guia tem seções para identificar as aves de cada espécie, dando destaque às espécies ameaçadas. Praticamente todas as espécies de aves residentes no Pantanal e Cerrado, além das migratórias regulares, estão ilustradas a cores e com textos individuais ao lado, para facilitar a consulta. Ilustrado com mapas, com descrições de ambientes característicos da região, relação das áreas de alta importância para o meio ambiente e propostas de ação efetiva, o guia Aves do Brasil não tem apenas um valor descritivo, mas também propostas concretas para a conservação de áreas relevantes da biodiversidade da região.
O guia Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado pode ser encontrado em www.probem.info
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Larousse do cão e do cãozinho pode ser adquirida em www.probem.info
Larousse do cão e do cãozinho é uma obra de referência ricamente ilustrada, com 384 páginas, que apresenta 259 raças na forma de fichas ilustradas, com tamanho, peso, aspecto geral, variedades, origem e comportamento. Além disso, também fornece informações práticas de higiene e saúde, tanto para o filhote recém chegado quanto para o adulto e o cão mais velho. As questões relativas ao comportamento do cão também são abordadas, iniciando-se pelas características hierárquicas das matilhas e passando pelas grandes etapas do desenvolvimento e pelos comportamentos constrangedores e os distúrbios de comportamento, por vezes graves, como, por exemplo, a agressividade, que pode resultar em mordidas, enfatizada na obra como essencialmente decorrente de erros humanos. O seu conteúdo também conta com recomendações para educar e cuidar da saúde do cão em todas as fases da vida. Possui ainda um dicionário das doenças e um capítulo direcionado a orientar os proprietários sobre as diferentes especialidades presentes na medicina veterinária. A obra também incentiva a adoção de animais em capítulo que fala sobre a problemática dos animais abandonados e a importância da prática da adoção no Brasil: “Ter um mascote é uma alegria indescritível. Adotar é uma alegria em dobro, porque soma-se a ela o ato de amor”.
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Carlos Benigno Vieira de Carvalho
Bacharel em Ciências Biológicas, mestre em ecologia e doutor em biologia animal pela Universidade de Brasília Atualmente é Perito Criminal Federal, trabalha no Laboratório de DNA do Departamento de Polícia Federal, em Brasília, DF carlosbenigno@ig.com.br
Identificação genética de espécies animais Em diversos países, incluindo o Brasil, o uso de técnicas de genética forense no combate aos crimes contra a fauna está se tornando cada vez mais comum. A aplicação dessas técnicas tem possibilitado a obtenção de provas da origem ilícita de materiais apreendidos, incluindo ovos de aves objeto do tráfico internacional, carne e vísceras de mamíferos e répteis silvestres apreendidos com caçadores e diversos outros produtos de origem animal utilizados para os mais diversos fins, incluindo objetos de decoração e preparados medicinais. Na medida em que o combate aos crimes contra a fauna se torna mais eficiente, espera-se que as populações de animais silvestres brasileiros sejam menos impactadas e que sua diversidade seja preservada.
Novas tecnologias
Um artigo recente da revista Zoologia, publicada pela Sociedade Brasileira de Zoologia, traz um exemplo de como o uso de ferramentas da genética pode ser útil no combate à exploração ilegal de animais silvestres brasileiros. Por meio da análise em computador de sequências do gene mitocondrial citocromo b e de diferentes enzimas de restrição, os autores buscaram identificar mutações nucleotídicas capazes de diferenciar espécies de peixe-boi de outras espécies comumente utilizadas como fontes de alimentos. O estudo encontrou dois sítios polimórficos adequados para essa finalidade, podendo servir de base para o desenvolvimento de uma metodologia simples e de baixo custo para identificar, a partir de pequenos fragmentos de tecido, se determinada carne é ou não proveniente de alguma das espécies de peixe-boi. Liquid Productions, LLC
A
caça ilegal para consumo de carne ou derivados e o tráfico de animais silvestres representam uma séria ameaça à fauna nativa brasileira. A crença na impunidade, bem como as altas taxas de lucro obtidas com o comércio ilegal de espécies animais, são alguns dos fatores que contribuem para que essas atividades ilícitas sejam bastante difundidas no Brasil. Embora a fauna brasileira se encontre protegida pela legislação, muitas vezes os espécimes apreendidos não são passíveis de identificação, o que pode prejudicar a caracterização do crime e dificultar a punição dos responsáveis. Ao contrário do que ocorre com a maior parte dos animais adultos íntegros, a identificação morfológica de imaturos, pedaços de carne, vísceras e diversos outros produtos de origem animal nem sempre é possível. Nesses casos, o uso de técnicas de genética forense representa uma alternativa segura e eficiente para a determinação da espécie de origem do material. Em princípio, qualquer tecido biológico pode ser fonte de DNA, incluindo sangue, músculos, ossos, dentes, pelos, penas e outros. Desses tecidos podem ser extraídos basicamente dois tipos de DNA, de acordo com a sua origem, um deles encontrado no núcleo das células, o DNA nuclear, e o outro localizado no interior das mitocôndrias, o DNA mitocondrial. Quando comparado ao DNA linear presente no núcleo das células, o uso do DNA mitocondrial, que é uma pequena molécula circular, apresenta algumas vantagens na identificação de espécies. Entre elas pode-se citar o fato de se encontrar mais bem protegido da degradação, por estar localizado no interior das mitocôndrias, estar presente em um grande número de cópias em cada célula, não sofrer recombinação genética, por ser de herança exclusivamente materna, e apresentar grandes taxas de mutação, o que faz com que mesmo espécies muito próximas apresentem diferenças que possibilitam a sua distinção. A técnica mais utilizada na identificação de espécies animais é a análise e a comparação de sequências de um gene do DNA mitocondrial chamado citocromo b. A aplicação da técnica envolve diferentes etapas, iniciando-se com a extração do DNA de amostras do material questionado, passando pela amplificação de regiões do gene, com o uso de iniciadores específicos (primers), o sequenciamento do produto de amplificação e, finalmente, a comparação da sequência obtida com outras armazenadas em bancos de dados genéticos internacionais. Tais bancos de dados podem ser livremente acessados pela internet e têm milhões de sequências de animais de identidade conhecida armazenadas, depositadas por instituições, universidades e outros centros de pesquisa do mundo todo. Após essa comparação, com a provável identidade da espécie determinada, são feitas ainda análises filogenéticas e estatísticas para a confirmação do resultado.
O artigo “Single nucleotide polymorphisms from cytochrome b gene as a useful protocol in forensic genetics against the illegal hunting of manatees: Trichechus manatus, Trichechus inunguis, Trichechus senegalensis, and Dugong dugon (Eutheria: Sirenia) (doi:10.1590/S1984-46702011000100019)”, está disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP) em www.scielo.br/pdf/zool/v28n1/v28n1a19.pdf
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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação
III Congresso Internacional do CBNA sobre nutrição de animais de estimação atendeu às expectativas
O
III Congresso Internacional e X Simpósio sobre Nutrição de Animais de Estimação realizado pelo Colégio Brasileiro de Nutrição Animal – CBNA – ocorreu em São Paulo no Centro de Eventos São Luís, região da Av. Paulista, nos dias 30 e 31 de março. O evento, que tem tradição em reunir especialistas para tratar de temas emergentes na área de produção de alimentos para cães e gatos, manteve seu perfil e atraiu 240 participantes, sendo que metade dos inscritos eram de SP e os demais eram provenientes de SC, DF, RJ, ES, GO, PR, MG e RS. Os temas tratados foram bastante detalhados e tecnicamente delineados, mas sem perder a aplicabilidade. Seja esmiuçando equações para predizer valores energéticos, seja tratando do tamanho das partículas dos ingredientes a serem extrusados, comentando pontos de possível contaminação ou falando de doenças dos cães e gatos que podem ter evolução diferente dependendo do alimento diferenciado de que façam uso, todos os assuntos tiveram abordagem prática, útil para os produtores de pet food. A primeira palestra foi ministrada pelo dr. Bruno Adrien Paule, da Coor-
denação de Produtos para Alimentação Animal – CPAA/Departamento de Fiscalização de Insumos Pecuários – DFIP/Secretaria de Defesa Agropecuária – SDA / Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA. Ele começou justamente trazendo explicações sobre a estrutura interna do MAPA, situando os ouvintes a respeito das atribuições das coordenações, dos departamentos e das secretarias. Trouxe também a legislação vigente relacionada aos produtos destinados aos animais de estimação e especialmente as instruções normativas mais recentes. Destacou como pontos importantes: a isenção de registro, mas não de fiscalização dos produtos e dos estabelecimentos; a valorização da responsabilidade técnica (RT) e a consequente maior incumbência especificamente do profissional RT; as exigências de rotulagem/embalagem/propaganda em vigor desde 7/8/2009, sendo que o prazo para adequação venceu em 7/2/2011. A segunda palestra foi proferida pelo prof. dr. Ricardo S. Vasconcellos, docente da Udesc-SC, que falou sobre a digestibilidade de alimentos industrializados e os critérios para sua comparação e classificação. Ele comentou que a baixa biodisponibilidade de alguns nutrientes em determinados ingredientes que
Focado na produção de alimentos seguros, Galen Rokey, chefe de pesquisa da Wenger, demonstrou a importância da correta configuração e da higienização dos equipamentos industriais, bem como dos procedimentos operacionais, com vistas à diminuição do risco de contaminação microbiológica.
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Cristiana S. Prada
omelhorparaoseucliente@nutricao.vet.br
Médica veterinária nutrição.Vet - www.nutricao.vet.br
são comumente usados em alimentos chamados de “econômicos” leva inclusive a duvidar se estes podem realmente atender às exigências nutricionais mínimas dos animais para serem considerados alimentos completos, como exige a instrução normativa n. 30. Foi uma exposição crítica e madura, que suscitou reflexões quanto aos critérios que se deve seguir em busca da constante melhora dos produtos. Aproximadamente 29% do público do congresso eram estudantes. Rosana Silva, aluna de doutorado do programa de pós-graduação em zootecnia da Universidade Federal de Lavras – Ufla-MG, contou que todo ano o seu grupo comparece. Ela gostou dos temas dessa edição e destacou a palestra que sucedeu a do dr. Vasconcellos, proferida pelo prof. dr. Aulus C. Carciofi sobre balanceamento de aminoácidos. Seguiram-se a palestra sobre embalagens plásticas para pet food, ministrada pela pesquisadora Léa M. de Oliveira e a palestra sobre palatabilizantes, de autoria de Cesar F. Garrasino, este último com didática especialmente notada. Essas foram as exposições que mais interessaram a Valeska Marques da Silva, médica veterinária que trabalha no setor técnico de uma empresa mineira de pet food, que destacou também o momento dedicado a perguntas ao final das exposições, avaliando que
A troca de informações durante os intervalos entre as palestras foi constante e bastante proveitosa
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“o acesso aos palestrantes está sendo fácil e as perguntas estão sendo bem respondidas. Esta parte está sendo bem importante!”. Em sua apresentação, a profa. dra. Vildes M. Scussel abordou os principais contaminantes microbiológicos em pet food. Ao final houve uma pergunta da plateia sobre qual a real situação de contaminação da pet food no Brasil, já que não há notícias de recalls por esse motivo em nosso território. Não haveria contaminação ou não haveria constatação do fato? A professora devolveu a questão à plateia perguntando se alguém tinha conhecimento de pesquisas realizadas nesse sentido. O dr. Bruno Paule, do Mapa, presente na conferência, informou então que o MAPA fez uma pesquisa no ano passado recolhendo aproximadamente sessenta amostras de alimentos extrusados destinados a cães e gatos e que os resultados tinham sido de contaminação zero em todas elas. Mesmo sem a presença de salmonela em produto acabado, o levantamento do MAPA encontrou em porcentagem importante de amostras de farinha de carne e ossos e vísceras de frango a presença de salmonela, o que nos deixa em estado de alerta e reforça a importância do processamento adequado desses ingredientes. Nesse sentido, a palestra proferida pelo dr. Galen Rokey, chefe de pesquisa da Wenger, foi muito interessante: focando a produção de alimentos seguros, ele demonstrou a importância da correta configuração e da higienização dos equipamentos, bem como dos procedimentos operacionais, com vistas à diminuição do risco de contaminação microbiológica. Dois professores de universidades
do exterior trouxeram temas que abordavam saúde e nutrição. O prof. dr. Anton Beynen, da Holanda, falou sobre as necessidades de energia dos animais, o impacto da quantidade de alimento ingerido e a composição desse alimento na saúde de cães e gatos. A dra. Monica Cutrignelli, da Itália, falou sobre prebióticos, probióticos e simbióticos, versando sobre a relação entre alimentos funcionais, saúde e bem-estar. Essencialmente, os dois palestrantes enfocaram a prevenção de doenças, destacando entre outros pontos a importância do correto manejo alimentar, da composição do alimento e dos ingredientes especiais. Trabalhos científicos Já há três anos o evento abriu espaço em sua programação para a divulgação de trabalhos científicos. A iniciativa tem o objetivo de aproximar as empresas, que têm demanda por informações, das universidades, que são produtoras de informações. Este ano, 34 resumos foram selecionados. Os autores dos três trabalhos com melhores notas são convidados a se apresentar oralmente no evento, enquanto os demais trabalhos são apresentados na forma de pôsteres que ficam expostos no saguão, ao lado da sala de conferências. A médica veterinária Valeska Marques da Silva comentou que entrou em contato com os trabalhos científicos não por meio dos pôsteres, mas lendo o material dos anais. Segundo ela, uma parte interessante desse processo é “a gente poder conversar com os autores dos trabalhos durante o próprio evento, discutir o trabalho com eles”. Já a estudante Rosana Silva valoriza o espaço cedido pelo evento para a apresentação de trabalhos científicos, pois, “para a área pet, o Congresso do CBNA se tornou um dos maiores eventos e a publicação dos trabalhos faz com que tenhamos acesso ao que está sendo feito nas outras universidades”. Este ano, o trabalho mais bem avaliado pela comissão foi “Utilização da
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Spirulina maxima como fonte de antioxidantes em dietas extrusadas para cães”, de autoria de Ricardo S. Vasconcellos, Raquel V. Labres, Mayara C. Peixoto, Euclides B. Malheiros, Leandro Zaine e Aulus C. Carciofi. O trabalho foi parte do projeto de pós-doutorado do primeiro autor, resultado de dois anos de pesquisa, e teve patrocínio de Fapesp, CNPq e Mogiana Alimentos. Todos os trabalhos apresentados constam dos anais do evento, que podem ser adquiridos junto à secretaria do CBNA. Veja a lista completa em www.nutricao.vet.br/trabalhos_cbna_2 009.php. Para quem olha o congresso de fora, é visível e louvável que ele venha conseguindo manter-se no fio da navalha. Ter alto nível técnico é difícil, mas mais difícil ainda é não frear, e assim, aprofundar-se demasiado nos oceanos da teoria acadêmica. Por outro lado, em um meio que hoje movimenta grande volume de valores e que está cada vez mais competitivo, seria fácil que um congresso do gênero deslizasse para o outro lado, ganhando velocidade na via fácil do comercialismo. O congresso tem ocupado o meio do caminho entre esses dois extremos. O maior mérito do congresso tem sido, portanto, ajudar o crescimento técnico do setor como um todo, colaborando assim para que o Brasil venha ganhando espaço no cenário mundial, não só em volume de alimento industrializado produzido para cães e gatos, mas em geração de informação e tecnologia. O evento também incrementa o crescimento de massa crítica que exige e é capaz de gerar cada vez mais qualidade nos produtos que circulam no país. Neste sentido, são merecedoras de destaque as empresas que apoiaram o evento e custeiam assim o aprimoramento de todo o setor. Foram patrocinadoras: AFB, Alltech, Ferraz Máquinas, SPF, Kemin Nord, M. Cassab, Royal Canin, Nestlé Purina Pet Care, Wenger e Farmina. Co-patrocinadoras: Biorigin e DSM. Colaboradora: Guabi. Que venha o congresso de 2012, trilhando esse caminho estreito e trazendo atrás de si profissionais cada vez mais críticos e mais preparados. Para o bem de todos, pessoas e animais de estimação. 115
!
Internet
Capacitação via web Marcos Lerche, diretor comercial de Veterinariosenweb explica como, desde 2004, vem promovendo e facilitando a capacitação médico veterinária por meio da internet O que é Veterinariosenweb? É um site de capacitação, líder em toda América Latina, dirigido para médicos veterinários de pequenos animais. Tem como objetivo superar as barreiras geográficas e econômicas para que os profissionais possam ter acesso a conteúdos atualizados e de qualidade, ajudando-os a solucionar as dúvidas e curiosidades que aparecem com o dia a dia do profissional. Veterinariosenweb nasceu no ano de 2004 e por sete anos vem formando uma comunidade muito importante que se desenvolve no fórum, onde todos os dias, pelo menos 10 casos clínicos são apresentados e discutidos por grupo que costuma contar com a participação entre 50 e 100 médicos veterinários. Qual a importância do fórum no site? A participação ativa dos profissionais no fórum incentiva a aprendizagem colaborativa devido à troca de conhecimentos, experiências, opiniões e preocupações que surgem constantemente. Trata-se de um fórum absolutamente científico e acadêmico, que permite, de forma gratuita, compartilhar conhecimentos entre médicos veterinários. Atualmente, Veterinariosenweb conta com a participação aproximada de 33.000 médicos veterinários. Quais são as vantagens do site? É um portal de educação continuada e é composto de profissionais que formam uma equipe multidisciplinar também contando com a colaboração continua de professores nas universidades mais prestigiadas da América Latina. O portal publica o melhor de diferentes congressos de todas as partes, como por exemplo, o congresso de Anclivepa (Brasil), o Congresso Veterinário de León (México), o Latin American Veterinary Conference (Peru), entre muitos outros. É importante destacar que o profissional pode ter acesso de maneira livre e gratuita aos conteúdos e alguns estão disponíveis em três idiomas: inglês, espanhol e português. Como escolher o conteúdo? Prestamos muita atenção nas necessidades dos veterinários, pois é o nosso ponto de partida para desenvolver os conteúdos e os cursos. Em 2008, motivados pelas necessidades e preocupações dos usuários, Veterinariosenweb organizou o NOV, o primeiro Congresso Virtual Latino-americano de Veterinariosenweb, que é realizado a cada ano no mês de novembro e responsável pela origem do nome que vem de novidade. Em 2010, demos início ao ciclo de conferências ao vivo chamado em espanhol HOTVET (Hablemos de Ortopedia y 116
Marcos Lerche, diretor comercial de Veterinariosenweb
Traumotologia Veterinária) onde profissionais de diversas especialidades apresentam casos complicados, sendo que dúvidas e trocas de informações são feitas ao vivo. Em 2011, continuamos com essa iniciativa, expandindo a proposta de Veterinariosenweb ao vivo para diferentes áreas da medicina veterinária. Como é viabilizado? A publicação de todos os conteúdos gratuitos e ações realizadas por Veterinariosenweb são possíveis graças ao patrocínio de empresa de destaque no mercado de alimentos para animais de estimação, que fornece seu apoio para aperfeiçoar médicos veterinários. Quem faz parte do site? A equipe de gestão de Veterinariosenweb está composta por quatro membros, Ernesto Hutter, professor veterinário e diretor científico do portal; Mónica Medan, diretora de edições; Marina Frumkin, líder de projetos e eu (Marcos Lerche) gerente comercial de Veterinariosenweb. Há também a presença de uma equipe multidisciplinar composta de editores de áudio e vídeo, designers gráficos, pedagogas e programadores, que acompanham o desenvolvimento dos conteúdos que são publicados regularmente, assim como membros da área técnica e operacional. Veterinariosenweb é um portal onde professores de diferentes universidades e países da América Latina são colaboradores permanentes, participam constantemente fornecendo seus conhecimentos e assistência por vocação àqueles profissionais apaixonados pela sua área. Como Veterinariosenweb chegou ao Brasil? Desde o início, Veterinariosenweb foi um site destinado a toda América Latina. Em 2009, começamos a traduzir os conteúdos para o português para que médicos veterinários de todo o Brasil tivessem acesso a materiais de qualidade. Considerando o crescimento do país e a quantidade de profissionais, em 2009 foi decidido criar um site unicamente em português, com conteúdos traduzidos e muitos outros da mesmo origem.
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Cat Society é uma nova e exclusiva linha de produtos da Pet Society desenvolvida especialmente para gatos de todas as raças. Os produtos possuem fórmula suave, específica para as necessidades dos gatos, proporcionando limpeza, hidratação, brilho e maciez à pele e à pelagem. A fórmula dos produtos tem ativos especiais que permitem uma secagem rápida da pelagem e fácil enxágue, diminuindo o estresse do animal durante o banho. A linha Cat Society tem três opções de xampu e um condicionador:
• Shampoo Neutro – contém ingredientes suaves que limpam a pele e a pelagem, deixando-as macias e brilhantes; • Shampoo Pelagem Oleosa – contém proteína de soja, que auxilia na redistribuição da oleosidade da pelagem; • Shampoo Pelagem Clara – contém ativos que limpam e realçam a coloração da pelagem; • Condicionador Brilho e Desembaraço – contém óleo de semente de uva, que proporciona hidratação, maciez, brilho e desembaraço à pelagem.
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ALIMENTO EXCLUSIVO PARA GATOS CASTRADOS Royal Canin lançou o alimento Sterilised 37, um produto que tem como foco os felinos castrados a partir dos doze meses. Com esse lançamento, a empresa inicia também uma campanha de conscientização sobre a importância de oferecer um alimento que respeite as mudanças de metabolismo do animal esterilizado, prevenindo a incidência de doenças urogenitais como a formação do cálculo urinário e a obesidade. A empresa também está selando parcerias com entidades que cuidam de animais abandonados para oferecer-lhes o novo produto. “Apenas 48 horas após a esterilização do animal, a ingestão calórica aumenta em torno de 20% a 30%, enquanto a queima de calorias diminui entre 25% e 30%. É importante prestar atenção ao sobrepeso, porque a obesidade é muito nociva aos animais. É exatamente por esse motivo que aconselhamos uma reavaliação do processo
alimentício”, explica a médica veterinária e gerente da Linha Gato Pós e Pro da Royal Canin, Fernanda Marques. Segundo a veterinária, outro problema recorrente em animais castrados é a formação de cálculos urinários devido ao ganho de peso, à redução da ingestão de água e da frequência da micção. A Sterilised 37 é uma dieta que oferece energia e baixo teor de gordura para prevenir o ganho excessivo de peso, além de promover outros benefícios, como o controle do pH da urina, a fim de inibir a ocorrência de doenças do trato urinário, como os indesejáveis cálculos urinários. Tem como diferencial, além da L-carnitina, um aminoácido que auxilia a mobilização de gordura, proteínas de alto valor biológico e baixo teor de gordura que auxiliam a manutenção da musculatura, possibilitando que o animal mantenha a silhueta esguia, uma vez que as porções indicadas de alimento nutrem e satisfazem o apetite.
A Royal Canin do Brasil postula que a castração é benéfica quando aliada a uma alimentação adequada às novas necessidades metabólicas dos animais. Além disso, não apenas possibilita evitar uma gestação indesejaSterilised 37: dispoda e o controle nível em embalapo pu la cio nal, gens de 400g, 1,5kg, 3kg e 7,5kg mas aumenta a segurança dos animais que, ao se tornarem mais caseiros, ficam menos expostos a atropelamentos e a brigas territoriais e violentas com seus pares. Royal Canin: 0800 703 5588
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23 a 27 de maio Campinas - SP Ecodopplercardiografia veterinária (19) 3365-1221 25 a 27 de maio Recife - PE XIX Congresso do CBRA www.cbra.org.br 25 a 27 de maio Vila de Porto de Galinhas - PE Simpósio internacional de nefrologia e urologia veterinárias (81) 3034 3370 26 a 28 de maio São Paulo - SP Curso de ortopedia: módulo cirurgias da coluna vertebral (11) 3819-0594 27 e 28 de maio Porto Alegre - RS Simp. Analgesia e controle da dor (51) 8559-3029
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27 a 29 de maio Botucatu - SP III Curso teórico-prático de craniotomia em pequenos animais (14) 3882-4243 27 a 29 de maio Viçosa - AL II Simpósio de animais selvagens da UFAL (82) 9901-9012 28 e 29 de maio São Paulo - SP IBRA - Curso intensivo de ortopedia em pequenos animais (11) 3791-4272 28 de maio a 2 de outubro São Paulo - SP Cursos CETAC - Curso de medicina intensiva (11) 2305-8666 29 de maio São Paulo - SP Curso de gestão estratégica e gestão de pessoas (11) 3209-9747
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30 de maio a 3 de junho São José do Rio Preto - SP Curso teórico-prático (ECG, Holter e pressão arterial) www.kardiovet.com.br 30 de maio a 3 de junho São João da Boa Vista - SP Semana da Veterinária - Unifeob maalbiero@gmail.com 31 de maio a 3 de junho (inscrições) Descalvado - SP Mestrado em nutrição de cães e gatos (19) 3593-8510 JUNHO junho (data a confirmar) Belo Horizonte - MG Anclivepa Minas Gerais Workshop - Cirurgia ortopédica (31) 3297-2282 1 a 3 de junho São Paulo - SP Ortopedia total: afecções articulares e coluna vertebral (11) 5182-8881 1 a 3 de junho Brasília - DF III Seminário brasileiro de residência em medicina veterinária www.cfmv.org.br 1 de junho a 30 de julho Piracicaba - SP IMAGO - Ultrassonografia abdominal para iniciantes (19) 3402-8058 3 a 5 de junho Belo Horizonte - MG
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Expovet Minas 2011 - Encontro Mineiro de atualização em medicina interna de pequenos animais www.expovet.com.br 3 a 5 de junho Curitiba - PR Cusos Intensivet – Reciclagem Rápida – Choque, fluidoterapia e controle de danos (41) 9649-2664 4 e 5 de junho Botucatu - SP I Curso de atualização em patologia clínica de aves (14) 3811-6019 6 de junho a 13 de julho São Paulo - SP IVI - Curso teórico-prático de ultrassonografia www.ivi.vet.br 8 a 11 de junho Londrina - PR CicloVet 2011 - XXVIII Semana Acadêmica e VI Mostra de trabalhos científicos de medicina veterinária da UEL vet_jr@yahoo.com.br
10 de junho de 2011 a 12 de julho de 2013 Bauru - SP Instituto Jacqueline Peker – Especialização em acupuntura veterinária www.institutojp.com.br 13 a 17 junho Campinas - SP Curso de ultrassonografia abdominal e pélvica (módulo avançado) (19) 3365-1221 16 e 17 de junho Guarapari - ES Seminário de saúde pública veterinária www.cfmv.org.br 17 a 19 de junho Rio de Janeiro - RJ III Curso de atualização em emergência e terapia intensiva (21) 2293-0953 18 a 19 de junho São Paulo - SP Pet Fashion Week SP www.petfashionweeksp.com
8 de junho a 25 de agosto São Paulo - SP II Curso intensivo de medicina felina (11) 3813-6568
25 e 26 de junho Brasília - DF Curso teórico/prático de videoendoscopia diagnóstica em animais silvestres (61) 3326-0524
10 a 12 de junho Rio de Janeiro - RJ V Simpósio Internacional de ortopedia e traumatologia veterinária – Encontro Brasil e Itália (21) 9789-7398
25 e 26 de junho Foz do Iguaçu - PR Curso de aperfeiçoamento em dermatologia veterinária – Disqueratoses, terapêutica e otites www.peteventos.com.br
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25 e 26 de junho São Paulo - SP Curso de reabilitação em pacientes neurológicos (11) 9821-2752 JULHO 1 e 2 de julho Parque Ecológico do Tietê - SP Curso de introdução a medicina e manejo de primatas neotropicais (14) 3811-6045 1 a 3 de julho São Paulo - SP II Conferência internacional de medicina veterinária do coletivo www.itecbr.org 1 a 3 de julho Botucatu - SP I Simpósio internacional de ultrassonografia de pequenos animais (14) 3811-6045 1 a 3 de julho Campinas - SP I Curso teórico-prático de bandagens funcionais em pequenos animais www.reabivet.com.br 4 de julho a 5 agosto On line Curso de férias em zooterapia – atividade, educação e terapia assistidas por animais www.cursoszooterapia.com.br 6 a 9 de julho Campos dos Goytacazes - RJ 2º Curso de biologia e manejo de serpentes (22) 9766-7755
8 e 9 de julho São Paulo - SP CIPO – Miscelâneas cirúrgicas tóraco-abdominais www.cipo.vet.br
12 a 14 de agosto Botucatu - SP Simpósio de clínica médica de pequenos animais – nefrologia marifunvet@fmvz.unesp.br
8 a 10 de julho Curitiba - PR Cursos Intensivet – Reciclagem rápida: sepse e tratamento do doente com gastroenterite hemorrágica www.intensivet.com
15 a 19 de agosto Brasília - DF Curso de formação de professores em medicina veterinária e zootecnia para ética, bioética e bem-estar animal www.cfmv.gov.br
8 a 10 de julho Florianópolis - SC I Simpósio Sul Brasileiro em dermatologia veterinária www.anclivepa.com.br 15 a 17 de julho Curitiba - PR Curso de habilitação em trauma e cuidados intensivos – LAVECCS (41) 9649-2664 18 a 23 de julho São Paulo - SP I Curso de inverno em oncologia molecular da FMUSP www.oncocurso.com.br
SETEMBRO setembro (data a confirmar) Belo Horizonte - MG Endocrinologia veterinária www.anclivepa-mg.com.br 1 a 26 de setembro São Paulo Curso FOCA Nível II – (Formação de Oficiais de Controle Animal) www.itecbr.org
20 e 21 de agosto Londrina - PR Simpósio veterinário de doenças infecciosas (43) 9151-8889
11 a 19 de setembro São Bernardo do Campo - SP XIII Samvet www.samvetmetodista. com.br
20 de agosto de 2011 a 24 de junho de 2012 São Paulo - SP Curso extensivo de técnica cirúrgica www.cetacvet.com.br
14 e 15 de setembro Brasília - DF XIX Seminário de ensino de medicina veterinária www.cfmv.org.br
21 de agosto São Paulo - SP Laserterapia e laser-acupuntura (11) 9821-2752
14 de setembro a 10 de novembro São Paulo - SP II Curso intensivo de patologia clínica (11) 3815-5520
25 a 29 de julho São José do Rio Preto - SP Curso de ecodopplercardiograma em pequenos animais (teórico-prático) www.kardiovet.com.br
22 a 24 de agosto Campos do Jordão - SP 10º Encontro de anestesiologia veterinária www.eav2011.com.br
AGOSTO Agosto (data a confirmar) Belo Horizonte - MG Oncologia veterinária www.anclivepa-mg.com.br
24 a 26 de agosto Santo André - SP 6ª Simpósio de medicina veterinária (VI SIMVET) pauloferreira@uniabc.br
17 e 18 de setembro São Paulo - SP Curso de reabilitação em pacientes ortopédicos (11) 98212-752
2 a 8 de agosto São Paulo - SP IVI – Curso de especialização em radiodiagnóstico veterinário (11) 3034-5447
25 a 27 de agosto São Paulo - SP CIPO – Curso de ortopedia – módulo básico (11) 3819-0594
17 e 18 de setembro Florianópolis - SC Palestra de oncologia (Martin Soberano - Argentina) www.anclivepa.com.br
3 a 7 de agosto Belo Horizonte - MG 5º Congresso brasileiro de homeopatia veterinária www.amvhb.org.br
26 a 28 de agosto Campinas - SP II Curso Internacional avançado de fisioterapia e reabilitação em pequenos animais www.reabivet.com.br
22 a 24 de setembro São Paulo - SP Cirurgias da coluna vertebral (11) 3819-0594
5 a 7 de agosto São Paulo - SP IVI – Curso intensivo de eletrocardiografia teórico-prático em cães e gatos (final de semana) (11) 3034-5447 6 e 7 de agosto Campinas - SP Curso avançado em medicina tradicional chinesa (19) 3208-1922
27 de agosto de 2011 a 22 de setembro de 2013 Porto Alegre – RS Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária (14) 3882-4243 27 e 28 de agosto Florianópolis - SC Palestra de endocrinologia www.anclivepa.com.br
16 a 23 de setembro São Paulo - SP Imersão nas redes ecológicas www.abecol.org.br/redesecologia
24 e 25 de setembro Villa dos Cavallos - SP III Curso extensivo quiropraxia veterinária www.ibravet.com.br 26 a 30 de setembro Goiânia - GO XV Encontro nacional de patologia veterinária (ENAPAVE) www.enapave.com.br
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OUTUBRO outubro (data a confirmar) Belo Horizonte - MG Simpósio intern. de leishmaniose www.anclivepa-mg.com.br 3 a 7 de outubro Campinas - SP Bem-estar em animais selvagens - XX Encontro e XIV Congresso www.abravas.org.br 4 de outubro São Luís - MA III Encontro de Ética, Bioética e Bem-estar Animal - Nordeste www.cfmv.org.br 14 e 15 de outubro São Paulo - SP Cirurgias da coluna vertebral (11) 3819-0594 18 a 20 de outubro São Paulo - SP Conpavepa, Conpavet e Pet South www.anclivepa-sp.org.br NOVEMBRO 1 a 4 de novembro Florianópolis - SC 38º CONBRAVET www.conbravet2011.com.br
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Internacional
JUNHO 6 e 7 de junho Buenos Aires - Argentina 6º Congreso Latinoamericano de Oftalmología Veterinaria www.clove2011.com.ar 15 a 18 de junho Denver - EUA ACVIM - American College Veterinary Internal Medicine Forum www.acvim.org JULHO 28 a 30 de julho Santiago - Chile 4º Congresso Latinoamericano LAVECCS www.congreso.laveccs.org SETEMBRO 7 a 10 de setembro Istambul - Turquia 17th FECAVA Congress "Modern Veterinary Practices" www.kenes.com/fecava/
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8 a 10 de setembro Bressels - Bélgica 25th European Veterinary Dermatology Congress - ECVD Annual Congress 2011 www.esvd-ecvd2011.com 30 de setembro a 2 de outubro Sofia - Bulgária PET BIZ 2011 - The Balkan Special Event For Pet Food, Pet Accessories, Aquariums, and NEW Business Ideas www.petbiz.gr OUTUBRO 10 a 14 de outubro Cidade do Cabo - África do Sul 30th World Veterinary Congress 2011 - Caring for animals: healthy communities www.worldvetcongress2011.com
14 a 17 de outubro Jeju - Coreia WSAVA 2011 - 36th World Small Animal Veterinary Association
World Congress www.wsava2011.org 24 a 26 de outubro Lima - Peru LAVC del NAVC 2011 - Latin American Veterinary Conference www.tlavc-peru.org NOVEMBRO 4 a 7 de novembro Albuquerque, NM - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2011 Annual Conference www.vetcancersociety.org 24 a 26 de novembro Punta del Este - Uruguai FIAVAC 2011: • Simposio Iberoamericano de Zoonosis Emergentes y Re-emergentes / • VIII Congresso Iberoamericano FIAVAC* • VIII Congresso Nacional de SUVEPA * • XXI Jornadas Veterinarias de Maldonado * * Tradução para o português http://fiavac2011.org/
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2012
JANEIRO 14 a 18 de janeiro Orlando - Flórida NAVC - North American Veterinary Conference 2012 www.tnavc.org ABRIL 12 a 15 de abril Birmingham - Inglaterra WSAVA 2012 FECAVA - BSAVA www.wsava.org JULHO 24 a 28 de julho Vancouver - Canadá 7th World Congress of Veterinary Dermatology 201
www.vetdermvancouver.com NOVEMRO 18 a 21 de novembro Las Vegas, Nevada - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2012 Annual Conference www.vetcancersociety.org