Clínica Veterinária n. 93

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G uarรก Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011 - R$ 20,00

EDiTORA

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HVSM

Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Índice Cardiologia - 40

Tratamento cirúrgico com sucesso em um cão com cor triatriatum dexter

Juliana Werner

A successful surgical treatment in a dog with cor triatriatum dexter

Tratamiento quirurgico exitoso de un perro con cor triatriatum dexter

Imagem ecocardiográfica de cor triatriatum dexter mostrando duas câmaras atriais direitas

Oncologia - 46

Condrossarcoma intraocular em um cão – relato de caso

Tatiane Carvalho

Intraocular chondrosarcoma in a dog – case report

Condrosarcoma intraocular en un perro – relato de un caso

Oncologia - 52

Fotomicrografia de condrossarcoma intraocular em cão. HE, aumento 400x

Ocorrência de pilomatricoma em um cão Occurrence of pilomatricoma in a dog

Pilomatricoma em uma cadela. Observar a presença de um tumor assimétrico, elevado, eritematoso e ulcerado

Pilomatricoma en un perro

Juliana Werner

Dermatologia - 58

Dermatomiosite canina – relato de três casos

Canine dermatomyositis – report of three cases

Cristiane Brandão Damico

Dermatomiositis canina – reporte de tres casos

Dermatologia - 64

Feoifomicose cutânea em gatos – relato de dois casos

Cutaneous phaeohyphomycosis in cats – report of two cases Feohifomicosis en gatos – relato de dos casos

Citologia da lesão cutânea, onde há presença de hifas septadas sugestivas de feoifomicose

Dermatologia - 72

Fotomicrografia de pele de cão com dermatopatia isquêmica (dermatomiosite) Marconi Rodrigues de Farias

Dermatopatias piogênicas em cães de abrigo e padrões de sensibilidade aos antimicrobianos in vitro de cepas de Staphylococcus pseudintermedius Pyogenic dermatopathies in shelter dogs and in vitro antimicrobial susceptibility patterns of Staphylococcus pseudintermedius strains Dermatopatía piogénica en perros de refúgios y la sensibilidad antimicrobiana in vitro de cepas de Staphylococcus pseudintermedius

Ética - 80

Denúncias e processos de desvios da conduta ética no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (2000-2007)

Pododermatite com demodiciose e infecção bacteriana secundária em uma cadela SRD adulta

Denunciations of ethic deviations and lawsuits registered at Rio de Janeiro's Regional Council of Veterinary Medicine (CRMV-RJ) between 2000 and 2007

Paulo Frazão

Denuncias y procesos de conducta antiética en el Consejo Regional de Medicina Veterinária de Rio de Janeiro (2000-2007)

Diagnóstico por imagem - 86

Contribuição do exame ultrassonográfico no diagnóstico de osteocondrose dissecante em cabeça umeral de cão – relato de caso Angela Bacic

Sonography of humeral head osteochondrosis dissecans in dogs – case report

Diagnóstico ultrasonográfico de osteocondrosis disecante de la cabeza humeral en caninos – relato de caso

Patologia clínica - 94 Avaliação laboratorial dos líquidos cavitários – revisão

Laboratory evaluation of cavitary fluids – review

Linfoblastos com aparência monocitoide em líquido pleural de cão com linfoma mediastinal. Ao centro, figura de mitose atípica

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Análisis de laboratorio de líquidos intracavitarios – revisión de literatura

Imagem ultrassonográfica da cabeça umeral esquerda. Espessamento da cartilagem articular hipoecogênica e uma segunda linha hiperecogênica (seta)

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Editorial - 10

Seções 14 18

Notícias - 22

• Brasileiro vence o prêmio de melhor professor de medicina veterinária na Universidade de Ohio • Royal Canin Vet Business Forum • CBA 2012: congresso de especialidades • Buenos Aires sediou o Clove 2011 • Ortopedistas italianos ministraram palestras no simpósio anual da OTV • Nefrologia e urologia veterinárias em destaque • Ambulatório de aves da FMVZ/USP completa 25 anos • Ressonância magnética para pequenos animais e equinos • Inaugurado hospital para animais silvestres em Araçatuba

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Mercado pet - 114

Sustentabilidade - 36

• Avistar: o show anual das aves no Brasil 36 • Refúgios ameaçados 38

• PetGames 114 • NürnbergMesse Brasil promove missão de negócios para Interzoo 2012 115 • Expovet Minas fecha sua segunda edição com milhares de visitantes ao longo de três dias 115

Arquitetura & Construção - 104

Pesquisa - 116

O bem-estar animal e a medicina veterinária de animais selvagens

Saúde pública - 14

• A importância dos números e as populações de cães e gatos • Criação da BRASILEISH Grupo de Estudos sobre Leishmaniose Animal

Bem-estar animal - 34

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Conforto térmico com calefação de piso

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Gestão, estratégia & marketing - 106

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• Faturando mais com os mesmos clientes: o atraso das vacinas • Seja responsável pela experiência de seus clientes - parte 1B

Medicina veterinária legal - 110

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Documentação fotográfica para fins judiciais

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Pet food - 112

33

Analgésico melhor do que a morfina

Lançamentos - 118 • Suplemento para gatos • Vacinas para cães e gatos

• Prevenção de úlceras 106 108

Negócios e oportunidades - 119 Serviços e especialidades - 120 Agenda - 127

Nutrologia: a nutrição dentro da clínica veterinária

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Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br

CRMV-MG 10.684

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br

CRMV-SP 10.159

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER Beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) fotografado por - Luis Louro (Hummingbird hover with reflection)

IMPRESSÃO / PRINT

Grupo Vox - www.voxeditora.com.br

TIRAGEM / CIRCULATION 13.000 exemplares

CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION

Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Rua dr. José Elias 222 - Alto da Lapa - 05083-030 São Paulo - SP - BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

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Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br Alexandre Lima Andrade CMV/Unesp-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu Aloysio M. F. Cerqueira UFF amfcerqueira@uol.com.br Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia anabalda@terra.com.br Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Angela Bacic de A. e Silva FMU angelbac2002@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues Médica veterinária autônoma berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP clarissa@usp.br

Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Curvello de M. Müller UFSM/URNERGS cmdaniel@terra.com.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@vm.uff.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE fabianosellos@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flávia R. R. Mazzo Provet flamazzo@gmail.com Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/Unesp-Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar

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Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Iaskara Saldanha Provet iaskara.silva@gmail.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-Unesp-Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com Jonathan Ferreira Odontovet jonathan@odontovet.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP ja.ps@uol.com.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu jtbrondani@yahoo.com Juliana Werner Lab. Werner e Werner juliana@werner.vet.br Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Julio Cesar de Freitas UEL freitasj@uel.br


Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal werther@fcav.unesp.br Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo A. B. V. Guimarães FMVZ/USP mabvg@usp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/Unesp-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes.mary@gmail.com

Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@uenp.edu.br Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP maurolantzman@gmail.com Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka FMVZ/USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet Pompéia netuno2000@hotmail.com Ricardo G. D´O. de C. Vilani UFPR vilani@ufpr.br

Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Robson F. Giglio Provet e Hosp. Caes e Gatos robsongiglio@gmail.com Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco UNIP/SP silviacrusco@terra.com.br Silvia Neri Godoy UICMBio Sede silng@uol.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Simone Gonçalves Hemovet/Unisa simonegoncalves_br@yahoo.com.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Int. Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Viviani de Marco UNISA, Hosp. Vet. Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br

Instruções aos autores

Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser en via dos pela internet (cvredacao@ editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e de autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Utilizar letra arial tamanho 10, espaço simples. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas ou desenhos devem possuir indicação do fotógrafo/desenhista e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará Ltda. Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser informadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo SP cvredacao@editoraguara.com.br

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veddas.org.br

João Marcelo da Costa

Editorial

A

defesa e a proteção tanto dos animais quanto do meio ambiente sempre foram parte do escopo da revista Clínica Veterinária. Principalmente porque os médicos-veterinários são potenciais formadores de opinião. Além disso, fornecer aos clientes informações enriquecidas de conceitos humanitários e conservacionistas é saúdavel tanto para o planeta quanto para o marketing pessoal dos profissionais e dos estabelecimentos. Muitos colegas já incorporaram esses ideais. O médico veterinário João Marcelo da Costa, por exemplo, com o intuito de contribuir com a conservação da natureza, adquiriu em 2005 54 hectares de área localizada entre as cidades de Ubatuba e São Luís do Paraitinga, no estado de São Paulo, batizada de Reserva Guainumbi. Ela faz parte de um grande corredor ecológico de milhares de quilômetros quadrados, o Parque da Serra do Mar, que se tornou um dos últimos refúgios de vida selvagem da Mata Atlântica do Brasil. Hoje, todas as áreas remanescentes são fundamentais, já que restam apenas 7% da Mata Atlântica original. Nessa área protegida, já foram identificadas 330 espécies de aves, além de mamíferos como o sagui-de-carabranca, a jaguatirica, o gato-do-mato, a paca e o bicho-preguiça. Por outro lado, enquanto há pessoas que se empenham na conservação e na proteção, outros se dedicam justamente ao contrário. Por isso, no dia 5 de junho de 2011, Dia Mundial do Meio Ambiente, mais de duas mil pessoas reuniram-se na cidade de São Paulo para protestar contra a aprovação do Novo Código Florestal e a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A manifestação foi convocada por iniciativa dos ativistas pelos direitos animais Lilian Garrafa e Paulo Fradinho, um dos diretores da ONG Veddas – Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade, principal expressão do movimento pelos direitos animais em São Paulo e uma das mais expressivas do Brasil. O protesto teve a presença de manifestantes de diversos movimentos sociais, entre eles os movimentos ambientalista, indígena, estudantil e pelos direitos animais, que durante todo o evento tiveram a Manifestação realizada em São Paulo no liberdade de tomar decisões em relação ao ato e expressar a sua indignadia 5 de junho contra a Hidrelétrica de ção da forma que escolheram. Segundo Paulo Fradinho, diretor do Veddas Belo Monte e o Novo Código Florestal. Participe da próxima manifestação: e um dos facilitadores da manifestação, “o protesto alcançou o objetivo 17 de julho de 2011: www.facebook.com/ de sensibilizar um grande número de pessoas para questões urgentes event.php?eid=222639064421382 como a controversa e desastrosa aprovação do Novo Código Florestal e a construção do nefasto complexo (usina) de Belo Monte”. Paulo chama a atenção para o fato de que “ambos os projetos, além de devastarem áreas extensas de matas e florestas, desmantelarão comunidades indígenas e ribeirinhas, provocarão uma perda incalculável de biodiversidade e sentenciarão à morte centenas de espécies animais nas regiões afetadas”. No momento, o que os defensores da vida podem comemorar é que o Projeto de Lei n. 4548/98, que dá nova redação ao caput do art. 32 da Lei n. 9.605, de fevereiro de 1998, excluindo das sanções penais a prática de atividade com animal doméstico ou domesticado, foi retirado da Ordem do Dia pelo mesmo político que havia solicitado a sua inclusão, o deputado Carlos Brandão (PSDBMA). Isso significa que o projeto volta para a fila de pendências e tão cedo não deve voltar a votação. No entanto, essa vitória momentânea não deve ser motiNo dia 19 de junho, no Rio de Janeiro, carnaval fora de época em vo de interrrupção da luta pela vida. Por isso mesmo, a deputada Janete Rocha favor das florestas reuniu milhares Pietá (PT-SP) encaminhou ao presidente da Câmara dos Deputados, o deputado na praia de Copacabana e mostrou Marco Maia (PT/SP), um ofício (www.veddas.org.br/images/stories/projetos/ que, se depender do povo, nossas oficiadepjanetepieta.jpg) e uma cópia do abaixo-assinado físico com mais de matas não vão dançar. Confira no 10 mil assinaturas. Enviou também uma relação dos mais de 200 grupos (de YouTube: www.youtube.com/ watch?v=6uINbv6c2DY defesa animal, ambientalistas e outros) que pedem que o projeto seja rejeitado. Mas isso não basta. As ações precisam continuar, e todos podem ajudar. Acesse http://olharanimal.net/placaranimal/1391-placar-animal-pl-454898, confira os deputados que apoiam a causa animal e aproveite para pegar o contato dos que ainda não se manifestaram e cobrar deles uma posição. “A biodiversidade – é preciso repetir sempre – é o caminho mais seguro para que o Brasil tenha um futuro sustentável. Cuidar da biodiversidade é assegurar a vida e os direitos das futuras gerações”, Washington Novaes. Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 10

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Saúde pública

A importância dos números e as populações de cães e gatos Por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto - CRMV-MG 10.684

Os números da proteção animal A página da ONG Clube dos ViraLatas, de São Paulo, no Facebook possui uma quantidade de fãs surpreendente: mais de 229 mil. Com trabalhos desenvolvidos desde 2001, a ONG contabiliza mais de 4.500 adoções de cães que antes sofriam nas ruas e agora vivem em lares amorosos. Atualmente, mantém em seu abrigo mais de 400 animais que são cuidados e alimentados diariamente. Boa parte desses animais chegaram ao Clube dos Vira-Latas após atropelamentos, acidentes, maus-tratos e abandono. Resgatá-los das ruas, tratálos e conseguir um lar responsável para que eles possam ter uma vida feliz é o objetivo principal da ONG. Tão importante quanto o número de animais beneficiados pelo seu empenho é o número de pessoas conectadas a ela. Principalmente porque, no cenário nacional, algumas conquistas obtidas pelas ações de proteção animal se devem à forte pressão popular desencadeada por atividades de organizações não governamentais. Isso já foi visto nas discussões que 14

envolvem a utilização de animais em circos e nas tentativas de descriminalizar a prática de maus-tratos contra animais. Entre os políticos, de forma geral, o interesse pela questão animal é muito pequeno. Poucos são os que conhecem realmente os problemas relacionados aos animais. Porém, dados os números e a intensidade de manifestações populares, espera-se que, no futuro, essa realidade mude. Os números da população de cães e gatos Para que as ações priorizadas pelas políticas públicas atinjam seus objetivos, seria muito útil poder planejar as campanhas sabendo da real dimensão do número de animais abandonados. No Brasil, os números referentes às populações de cães e gatos, na grande maioria das vezes, são resultado de estimativas. Apesar de pleiteado por diversos setores, até hoje continua fora do Censo o inquérito sobre a existência, nas famílias, de animais de estimação,

sua quantidade e de qual espécie. Mesmo sem o número preciso de cães, muito se discute sobre o controle da população. Entre as ações que realmente tentam dimensionar a população de animais de estimação encontram-se o censo canino e felino realizado através do projeto de extensão Controle de Zoonoses em Curitiba e Região Metropolitana (www.zoonoses.agrarias.ufpr.br/ zoonoses.html), desenvolvido na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Outra ação que vem sendo posta em prática é a identificação por microchips e o registro da população animal e de seus proprietários promovida pelo Projeto Integração para a Posse Responsável Cãochorro.e outros bichos (www.caochorro.com.br), que colabora para o controle de zoonoses e a rastreabilidade dos animais de cães e gatos, e conta, por exemplo, com o apoio da CCR AutoBAn nas regiões de Americana, Campinas, Osasco e Jundiaí. Outra atividade ligada à identificação

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Por meio da venda de medalhas para colocar nas coleiras e do registro de cada animal no site do Programa Max Identidade, a empresa Total Alimentos promove a guarda responsável e a identificação animal

animal que recém-chegou ao mercado pet é o programa Max Identidade (www.maxidentidade.com.br), elaborado pela empresa de nutrição animal Total Alimentos (www.totalalimentos. com.br). Max Identidade é um programa de guarda responsável ativa, que inclui identificar e auxiliar a localizar cães e gatos. A identificação é feita por meio da compra de uma medalha que deve ser colocada nas coleiras dos animais e registrada no site do programa, que conta com uma base de dados nacional e fará uma busca do animal que for cadastrado como perdido. Um atrativo para o sucesso do Max Identidade é que as ONGs de proteção animal são as principais parceiras do programa e serão beneficiadas com 1 kg de alimento para cão ou gato a cada medalha de identificação vendida por pet shops ou pelas próprias ONGs. Além da identificação e do auxílio à busca de animais perdidos, o programa também inclui ações de conscientização de crianças e adolescentes sobre a responsabilidade e a importância de cuidar dos bichos de estimação, promovendo além disso a integração entre pessoas engajadas com a causa animal e os amantes dos animais em geral. Controle populacional: prática e legislação A necessidade de uma política nacional de controle populacional de cães e gatos é antiga. Vários são os benefícios

O lançamento do programa Max Identidade foi feito pela Total Alimentos entre os dias 14 de maio e 10 de junho, nas cidades de Campinas, Marília, São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com a realização do I Fórum Guarda Responsável

que ela poderia gerar, entre os quais a diminuição de zoonoses e de casos de ataques de cães. Porém, para que uma política nacional realmente tenha impacto na população de cães e gatos, o número de animais castrados precisa ser bastante representativo. Na prática, o que mais se observa são ações de castração associadas às ações educativas de guarda responsável, mas faltam-lhes recursos para atingir uma quantidade significativa da população animal de modo a gerar impacto futuro no número de animais. Se houvesse uma política nacional comprometida com o assunto, talvez se chegasse ao número necessário. Porém, os cinco anos de discussão no Senado Federal sobre o tema não foram suficientes. De 2005 a 2010 tramitou pelo Senado Federal o Projeto de Lei n. 4, de 2005 (www.senado.gov. br/atividade/materia/detalhes.asp? p_cod_mate=71941), que dispõe sobre a política de controle da natalidade de cães e gatos e outras providências. Em 19 de agosto de 2010 foi anexado o Ofício SF n. 1721, de 12-8-10,

ao primeiro-secretário da Câmara dos Deputados, comunicando que o Senado Federal o aprovou, em revisão e com emenda (fls. 66 a 67). Porém, parece que o projeto carece de ser lembrado na Câmara do Deputados, pois, por enquanto, não há notícia dele. Além disso, o autor do projeto, o ex-deputado Affonso Camargo, faleceu este ano, em 24 de março, aos 81 anos. Enquanto isso, o deputado William Dib, do PSDB de São Paulo, propõe novo projeto à Câmara dos Deputados*: os animais que estiverem nas ruas deverão ser apreendidos, esterilizados e colocados para adoção. Para Felipe Wouk, membro do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), "da forma como ele está desvinculando as ações de esterilização cirúrgica desses animais, ele na realidade transforma os centros de controle de zoonoses, que têm como * Deputado propõe política para controle de animais domésticos (4'22'') www. camara.gov.br/internet/radiocamara/ default.asp?selecao=MAT&Materia=118006

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Saúde pública

não resolve nem o problema das populações animais nem o das zoonoses; pelo contrário, piora o quadro de desequilíbrio do ecossistema urbano. Por fim, a sociedade brasileira não aceita mais tais abusos, que constituem crime ambiental e são passíveis de pena criminal”. Biondo também destaca que “o Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR) realiza desde 2004 projetos de extensão universitária junto à comunidade local, executando trabalhos de educação a respeito de zoonoses e guarda responsável, com o intuito de atuar continuamente no controle das populações animais e de seus agravos (www. zoonoses.agrarias.ufpr.br). Além disso, desde 2008 a UFPR também conta com a Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde (UMEES), que tem por objetivo auxiliar no ensino de cirurgia de pequenos animais, zoonoses, saúde pública, bem-estar animal e áreas correlatas, além de se tornar importante instrumento nessas ações sociais de cidadania para a formação profissional do futuro médico-veterinário. A intenção é também promover a guarda responsável, dimensionar e cadastrar as populações de cães e gatos de Curitiba e região metropolitana e realizar cirurgias de castração, a fim de controlar o crescimento da população de animais domésticos. As atividades realizadas pela UMEES contam com a participação de estudantes de medicina veterinária em todas as etapas, sob a supervisão de professores, pós-graduandos e residentes, com a criação de um novo programa de residência: medicina veterinária do coletivo (shelter medicine). A UMEES e demais propostas de esterilização de cães e gatos devem funcionar

finalidade precípua o enfoque na saúde pública, em canil de destino de cães que tiveram uma guarda irresponsável. Os programas de vacinação em massa, já uma tradição em vários estados do Brasil, é que efetivamente ajudam a diminuir a incidência dessas doenças chamadas zoonóticas – as doenças comuns aos homens e aos animais. Com relação à esterilização em massa como forma de controle populacional, volto a dizer que ela, isoladamente, não tem o poder de conter essas doenças, porque, isoladamente, o cão é muito prolífico. Castrar esses animais sem promover a educação das pessoas que detêm a sua guarda torna ineficaz um programa como esse".

Outra proposta bastante constestada foi a da vereadora Sílvia Fernandes de Almeida, da cidade de São João del Rei (MG). No dia 20 de maio ela defendeu que os animais de qualquer espécie que forem encontrados nas ruas sejam sacrificados. Segundo a vereadora, o dono do animal teria 48 horas para buscá-lo no centro de controle de zoonose. Caso isso não acontecesse, o animal seria sacrificado. Porém, vários cidadãos e até mesmo o prefeito da cidade discordam das idéias da vereadora. A notícia está disponível no YouTube, assim como diversos comentários avessos ao projeto. Para Alexander W. Biondo, DVM, MSc., PhD. da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “matar os animais indiscriminadamente estimula na verdade a guarda irresponsável, e historicamente não tem resolvido o assunto. Em nossa experiência, a prevenção tem sido a saída mais efetiva para o problema. Eliminar completamente a fauna animal dos grandes centros, uma atitude simplista, 16

Alexander Welker Biondo

Confira no YouTube reportagem que aborda o projeto da vereadora Sílvia Fernandes de Almeida, de São João del Rei, MG, que propõe projeto de lei para matar animais de rua: www.youtube.com/watch? v =ARdi23vzeJ0

Unidade Móvel de Esterilização de cães e gatos e Educação em Saúde (UMEES) da UFPR

como parte de um Programa de Guarda Responsável e Educação em Saúde, e não o inverso, pois a solução para o descontrole populacional de cães e gatos está na educação para a guarda responsável.” Nesse contexto, destaca-se o Projeto Veterinário Mirim, realizado no município de Pinhais, PR, desde 2006, que constitui uma importante ferramenta de educação para a guarda responsável nas escolas do município e permite a atuação direta das crianças como multiplicadoras do conhecimento. O descontentamento em números Os sérios trabalhos que envolvem a comunidade na guarda responsável de seus animais são muito importantes. Da mesma forma, as ações exercidas contra essa iniciativa são desfavoráveis e podem levar muito tempo para serem revertidas. A prefeitura de Itapecirica da Serra, SP, por exemplo, em 27 de junho de 2011, por meio do CCZ, interditou o lar transitório Cães Sem Dono (www. caosemdono.com.br). Imediatamente, iniciou-se a petição on line Cão sem Dono – Pelo Direito de Poder Ajudar os Animais, que já passa de 26 mil assinaturas. Em vez de inviabilizar as atividades das ONGs, é mais proveitoso inseri-las no contexto municipal. O CCZ de SP, por exemplo, vem exercendo, por meio da colaboração de voluntários, atividades como: banho e tosa, “cãominhada”, bem-estar e adoção dos animais que se encontram recolhidos nos canis da instituição (www9.prefeitura.sp.gov. br/s e c re tarias/sms/probem/ccz/ voluntariado). Porém, essas atividades de promoção do bem-estar dos animais do CCZ-SP surgiram apenas após negociação decorrente de intensa manifestação de protetores que firmaram, em 2009, seus protestos na frase “CCZSP: muda ou fecha!”. Um vídeo sobre descaso de cão com bicheira na cabeça, registrado no período das manifestações, continua na internet e já atingiu mais de 96.750 exibições no YouTube. Esses números mostram o excelente potencial da internet para propagar informações de interesse da comunidade. Diversas instituições podem tirar proveito disso em prol de todos, mas antes precisam criar vínculos e manter relacionamentos duradouros.

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Saúde pública

Criação da BRASILEISH

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o dia 17 de junho de 2011, na sede do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Minas Gerais (CRMV-MG), foi criada uma associação científica, que pretende reunir médicos veterinários clínicos de pequenos animais, para o estudo da leishmaniose em animais. Essa associação adotou o nome de BRASILEISH – Grupo de Estudos sobre Leishmaniose Animal. Os membros fundadores da BRASILEISH são os médicos veterinários André Luis Soares da Fonseca, Fábio dos Santos Nogueira, Ingrid Menz, Manfredo Werkhauser, Paulo Tabanez, Sydnei Magno da Silva e Vitor Márcio Ribeiro, que se inspiraram nos colegas europeus quando criaram a LEISHVET. SOBRE A BRASILEISH Identidade: Associação de caráter científico formada por veterinários, sem fins lucrativos, dedicada à pesquisa e orientação ao manejo clínico de leishmaniose em animais na medicina veterinária do Brasil. Princípio: Defesa e respeito à vida humana e animal, pautados em valores éticos e científicos.

Fundadores da BRASILEISH durante reunião no CRMV-MG: Manfredo Werkhauser, Ingrid Menz, Vitor M. Ribeiro, Paulo Tabanez, Fábio dos S. Nogueira e André Luis S. da Fonseca

Objetivos: • Orientar os clínicos veterinários e discutir junto às autoridades sanitárias sobre os melhores métodos diagnósticos, tratamentos e medidas de prevenção da leishmaniose nos animais. • Orientar os órgãos de classe, entre eles o CFMV e CRMVs, sobre as evidências científicas da doença nos animais. • Estabelecer recomendações que sejam reconhecidas a nível nacional e internacional. • Orientar a população, através da mídia e eventos populares, sobre a prevenção, o tratamento e a realidade da doença no país. • Estudar, elaborar e executar trabalhos de pesquisa destinados ao manejo da doença nos animais. • Disponibilizar diálogo com todas as instituições de outras profissões e organizações não governamentais sobre os aspectos da leishmaniose nos animais.

Médicos veterinários de todo o país comprometidos com a defesa e respeito à vida humana e animal serão convidados a compor o quadro social da BRASILEISH. A próxima reunião da nova associação ocorrerá no dia 28 de outubro de 2011, em Belo Horizonte, véspera do VII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina. Haverá durante o Simpósio, a apresentação da BRASILEISH aos médicos veterinários. A BRASILEISH está ligada à ANCLIVEPA-MG na organização do VIII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral Canina, que será realizado nos dias 29 e 30 de outubro de 2011 e terá o tema: “Leishmaniose Visceral Canina x Centro de Controle de Zoonoses – Realidade na Europa e no Brasil. ” Nosso convidado especial será o dr. Javier Lucientes, chefe do Centro de Controle de Zoonoses da cidade de Madri – Espanha e que foi o consultor europeu da Organização Mundial de Saúde durante o Encontro de Especiliastas em Leishmaniose Visceral nas Américas promovido pela Organização Panamericana de Saúde e Ministério da Saúde do Brasil, ocorrido em Brasília, Brasil, em 2005. ANCLIVEPA-MG: (31) 3297-2282 anclivepa@anclivepa-mg.com.br

Nova vacina contra leishmaniose

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pós submissão de dossiê científico de vacina contra leishmaniose visceral à European Medicines Agency (EMA) no começo de 2010, o Committee for Medicinal Products for Veterinary Use of the EMA (CVMP) publicou, em 13 de janeiro de 2011, parecer favorável ao novo produto, denominado CaniLeish®, a primeira vacina na Europa para leishmaniose visceral canina (vacina adjuvada contra Leishmania infantum). Em 14 de março, a Comissão Européia confirmou seu parecer para a concessão do registro. Inicialmente, CaniLeish® estará disponível em Portugal. Em seguida, está previsto o seu lançamento na Espanha, França, Grécia e Itália. Em uma segunda 18

etapa, também se pretende disponibilizá-la nos países do norte europeu. Confira o documento da EMA (em português) com informações sobre a nova vacina: www.ema.europa.eu/ docs/pt_PT/document_library/ EPAR__Summary_for_the_public/ veterinary/002232/WC500104955.pdf Recente trabalho científico confirma que o agente da leishmaniose visceral no Brasil é L. infantum e que o parasita foi recentemente importado várias vezes do sudoeste da Europa: Comparative Microsatellite Typing of New World Leishmania infantum Reveals Low Heterogeneity among Populations and Its Recent Old World Origin (www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/ articles/PMC3110170)

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Brasileiro vence o prêmio de melhor professor de medicina veterinária na Universidade de Ohio

O dr. Ronaldo Casimiro da Costa recebe o prêmio do dr. Lonnie King, Diretor do Colégio de Medicina Veterinária, da Ohio State University

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o dia 11 de junho de 2011, o dr. Ronaldo Casimiro da Costa recebeu a maior honra concedida a um professor de medicina veterinária nos Estados Unidos da América. Ele recebeu o Prêmio de Excelência Educacional Carl-Norden Pfizer (Carl-Norden Distinguished Teaching Award) da Ohio State University (OSU). O dr. Ronaldo competiu com 160 professores do Colégio de Medicina Veterinária da OSU. Os estudantes de medicina veterinária nomeiam os professores a serem considerados, e a Comissão de Prêmios e Honras do Colégio de Medicina Veterinária avalia o currículo e as cartas de nomeação e seleciona o vencedor. O recebedor do prêmio é homenageado na formatura da veterinária, quando recebe uma placa do diretor da faculdade e um bônus. O professor vencedor tem a honra de anunciar o nome de todos os formandos, conduzilos à cerimônia de formatura no estádio da OSU e ser homenageado no tradicional Clube dos Professores da OSU, onde faz um pronunciamento sobre o prêmio. Ano passado, com menos de dois anos na OSU, o dr. Ronaldo foi um dos finalistas, e foi homenageado com o Prêmio de Excelência Didática. O dr. Ronaldo é o primeiro brasileiro 22

a receber tal honra de uma universidade americana. Agora ele vai concorrer com os demais professores das outras faculdades de medicina veterinária americana para o prêmio de melhor professor de medicina veterinária dos EUA, a ser selecionado pela Associação Americana de Faculdades de Medicina Veterinária (AAVMC). A Ohio State University é a maior universidade americana, com mais de 106 mil associados, entre alunos, professores e funcionários. Na recente cerimônia de formatura no estádio da OSU, quase dez mil alunos se formaram. A Faculdade de Medicina Veterinária da OSU é uma das mais tradicionais dos Estados Unidos. Foi fundada em 1885, e tem com mais de 126 anos de história. Está avaliada entre as cinco melhores faculdades de medicina veterinária dos Estados Unidos, e é atualmente a faculdade dessa especialidade com o maior número de ex-alunos atuando no mercado veterinário americano. O Hospital Veterinário da OSU atende uma média de 35 mil casos por ano, a segunda maior casuística dentre os hospitais veterinários americanos. A Faculdade de Medicina Veterinária da OSU homenageia o melhor professor do curso com o Prêmio Carl-Norden Pfizer de Excelência Educacional anualmente há quase 50 anos. O dr. Ronaldo Casimiro da Costa é natural de São Paulo, SP. Ele cresceu no interior de São Paulo e se formou em medicina veterinária em 2005, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba. Depois de trabalhar por um ano em clínica privada em Curitiba, defendeu o mestrado em cirurgia veterinária na Universidade Federal de Santa Maria, RS, e em 2007 foi contratado como professor de clínica de pequenos animais pela Universidade Federal do Paraná, no campus de Palotina. Continuou os estudos no exterior, fazendo residência e doutorando-se em neurologia veterinária no Ontario Veterinary College, University of Guelph, no Canadá, e em 2006

tornou-se o primeiro brasileiro e sulamericano a ser diplomado pelo Colégio Americano de Medicina Veterinária Interna (ACVIM) na especialidade de neurologia. Retornou à UFPR-Palotina em 2006 e lecionou clínica médica de pequenos animais e neurologia veterinária por dois anos. Durante o período em que permaneceu em Palotina, teve a honra de ser homenageado como Nome de Turma e Paraninfo das turmas às quais lecionou. Em 2008, foi contratado para ser professor e chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia Veterinária da Ohio State University. Também publicou mais de 25 trabalhos em revistas científicas internacionais, e escreveu capítulos em livros com Ettinger e Feldman (Tratado de medicina interna veterinária, 7 ed., Tilley e Smith (Consulta veterinária em 5 minutos), e o novo Slatter de cirurgia, dentre outros. Também editou exemplar do Veterinary Clinics of North America sobre doenças da coluna vertebral e da medula espinhal, publicado em 2010. Este é o 25º prêmio e homenagem que o dr. Ronaldo recebe em sua carreira, mas, segundo ele, sem dúvida o de maior valor. “É uma imensa honra ser reconhecido como o melhor professor do curso e representar a Ohio State University, uma faculdade com 126 anos de história, como melhor professor de medicina veterinária dos Estados Unidos. Pouquíssimos professores americanos têm a chance de receber esse prêmio. Fui realmente perceber a sua dimensão quando vários outros professores que já estão na OSU há mais de 30 anos vieram me cumprimentar. Quando recebemos congratulações de professores com mais de 350 trabalhos e nove livros publicados dizendo que fariam de tudo para ter essa homenagem em seu currículo é que percebemos a importância dessa honra. Sou muito grato a Deus, a minha familia e aos professores que me ajudaram ao longo de toda a minha vida para que isso tenha acontecido”, declarou ele.

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Royal Canin Vet Business Forum Por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto - CRMV-MG 10.684

"Oferecer novas medidas preventivas e proporcionar novos serviços necessita de novas estratégias, um plano de ação e a participação de toda a equipe veterinária. Cientes disso, organizamos o Royal Canin Vet Business Forum, elaborado com sessões interativas e conduzido por palestrantes internacionais especialistas em gestão de clínicas veterinárias", destacou Luis R. Martinez Marañón, médico veterinário e diretor geral da Royal Canin Argentina

Acima, delegação brasileira participante do Royal Canin Vet Busines Forum

A cidade de Buenos Aires, Argentina, sediou, entre os dias 2 e 3 de junho de 2011, o Royal Canin Vet Business Forum. Estiveram presentes aproximadamente 200 médicos veterinários de diversos países da América Latina e palestrantes europeus especializados no segmento: o médico veterinário francês Philippe Baralon, que desde 1990 desenvolve, através da empresa Phylum, atividades de consultoria em estratégia, marketing e finanças; a médica

Antje Blättner destacou a importância de valorizar a forma de relacionamento com os clientes

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Pere Mercader procurou sensibilizar os veterinários sobre custos, investimentos e como monitorar os resultados

Entre o público participante havia veterinários empreendedores, especialiastas de diversas áreas, professores de faculdades de medicina veterinária, clínicos, entre outros

veterinária alemã Antje Blättner, que é fundadora da empresa Vetkom, direcionada para a formação de médicos veterinários e auxiliares em gestão clínica; e o médico veterinário espanhol Pere Mercader, que desde 2001 é consultor especializado em clínicas veterináPhilippe Baralon durante exercícios de finanças rias, acessorando clínicas na Espanha e em Portugal. Tanto Philippe Baralon quanto Pere Mercader promoveram excelente treinamento sobre como investir, monitorar os resultados e proporcionar o crescimento dos estabalecimentos. Antje Blättner, por sua vez, orientou bastante sobre a importância do relacionamenAo final do evento, mesa-redonda formada pelos palestrantes do forum e por veterinários empreendedores de destaque, proporcionou to para o sucesso e a fidelização dos clientes. esclarecimento e informações adicionais aos assuntos abordados Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011


Para que a informação não ficasse apenas na teoria, a Royal Canin montou uma instalação que simulou, com excelentes exemplos, vários ambientes de uma clínica veterinária. De uma forma geral, em todos os ambientes valorizou-se a importância das boas sensações que os clientes podem ter durante o momento de relacionamento, como, por exemplo, confiança, segurança, tranquilidade, conforto e satisfação. Uma vez dentro do consultório é importante que os Um dos recursos adotados para inserir a sensação clientes entendam com clare- de confiança no estabelecimento veterinário é a za o que ocorre com seus ani- padronização de uniformes por toda a equipe mais. No caso de uma otite, por Identificar, em local de fácil visibiliexemplo, um modelo anatômico do dade, a equipe vesistema auricular ajuda muito na terinária atuante compreensão e complexidade da no estabelecimenquestão. Isto valoriza a explicação, to veterinário, é estimula a sensação de confiança e outro recurso para também favorece o comprometimenestimular nos clientes a sensato ao tratamento prescrito. ção de confiança

Além da realização do forum a Royal Canin também publicou edição especial da revista Focus. Novas oportunidades de negócio para as clínicas veterinárias é o título dessa edição, que conta com a participação de Philippe Baralon, Antje Blättner, Geoff Little e Pere Mercader

A

B Acima, modelos anatômicos de sistema auricular (A) e da articulação do joelho (B), muito úteis nos momentos de prestar esclarecimentos aos clientes. Além dos modelos, livros e vídeos também podem proporcionar ótimos resultados

Procurar dispor, no ambiente veterinário, de elementos que proporcionem interação com clientes de qualquer idade pode ser muito proveitoso. Principalmente, se o elemento utilizado na interação trouxer informações importantes sobre produtos ou serviços encontrados no estabelecimento. Ao lado, jogo interativo valoriza qualidade e variedade de ingredientes da alimentação de cães e gatos Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

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Procure fazer com que os ambientes de espera sejam confortáveis

Procurar oferecer ambientes bonitos, confortáveis e que sejam seguros para todos os clientes e pacientes é muito importante para estimular a sensação de tranquilidade. Imagens de animais saudáveis em ambientes da clínica ajudam a estimular esta sensação. Outra sugestão é antecipar o que ele pode desejar, como, por exemplo, um café ou um chá

Se possível, procure investir em ambiente específico para crianças, pois elas são os clientes de futuro. Inserir nesse ambiente livros infanto-juvenis que valorizam a guarda responsável são excelentes para ir educando o futuro cliente. Papel e lápis para desenhos são outra opção para enriquecimento desses ambientes

Ao se preocupar em oferecer algo para servir, procure ter opções: água, café ou chá. Além disso, ofereça mais de uma opção para adoçar a bebida

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Não basta possuir prateleiras para expôr alimentos para cães e gatos. É importante dimensionar bem o ambiente e, conforme o caso, utilizar recursos que destaquem os produtos em espaços pequenos e que estimulem a intenção da compra. Confira abaixo algumas sugestões

A associação de venda de alimento com acessórios vem mostrando bons resultados. Acima, exemplo onde se vê pote personalizado para guardar o alimento e colchão para o pet

Cartazes direcionados estimulam o cliente a questionar sobre alimentos diferenciados

Tecnologia e designer podem e devem ser utilizados nos pontos de venda

No centro, expositor para pequenos espaços. À esquerda, cartaz divulgando as promoções do estabalecimento

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Divulgação

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ano de 2012 será especial para a ANCLIVEPA-PR. Será o ano de comemoração do seu 30º aniversário! Para comemorar esses 30 anos, Alexandre Schmaedecke, MV, MSc, DrMV, presidente da Anclivepa-PR e do CBA 2012, destaca que o pensamento de toda a diretoria da Anclivepa-PR é um só: “De 27 a 30 de abril de 2012, realizar o maior congresso de especialidades que a Anclivepa já fez! Serão nada menos do que 30 especialidades contempladas em uma grade ampla e completa, fomentada com os melhores profissionais e com o apoio das Alexandre Schmaedecke, associações e dos colégios MV, MSc, DrMV, presidente da Anclivepa-PR e do CBA 2012

das especialidades aqui representadas, o que engrandece ainda mais o evento!”. Para quem ainda não realizou a inscrição no congresso, vale destacar que há preço diferenciado para quem se inscrever até o dia 31 de julho de 2011. Após essa data ainda haverá condições interessantes. Porém, com o passar do tempo, os descontos diminuem gradativamente. Também há condição especial para quem fizer inscrição simultânea de duas pessoas (dupla inscrição). Durante o congresso também está programada a ação social Dia de Cão – Veterinário Solidário. Trata-se de uma ação voltada à comunidade para prevenir doenças comuns aos animais e aos

Divulgação

CBA 2012: congresso de especialidades

O 33º Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (CBA) será realizado no Expo Unimed Curitiba, localizado na Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300, Campo Comprido, Curitiba, PR

seres humanos. Uma iniciativa da Anclivepa-PR, o Dia de Cão – Veterinário Solidário conta com o apoio do CRMV-PR, da UFPR – Universidade Federal do Paraná e dos veículos de comunicação, e será realizado nas dependências da empresa Organnact. ! 7 salas simultâneas abrangendo 30 especialidades

! Três eventos paralelos:

• VI COBOV – Congresso Brasileiro de Odontologia Veterinária • Jornada de Conhecimento TECSA • Simpósio de Nutrição Cães e Gatos

Jardim Botânico de Curitiba. Sua arquitetura, em estrutura metálica e estilo art-nouveau, foi inspirada em um palácio de cristal que existiu em Londres, no século XIX. Seus jardins geométricos e a estufa de três abóbadas tornaram-se um dos principais cartões postais de Curitiba

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Buenos Aires sediou o Clove 2011

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O grande número de médicos veterinários inscritos no Clove 2011 lotou o auditório do Círculo de Oficiales de Mar de Buenos Aires

Acima, boa parte dos brasileiros que participaram do Clove 2011. Ao todo, os brasileiros foram responsáveis por 74 inscrições e 41 trabalhos científicos apresentados O espanhol Manuel Villagrasa Hijar apresentou a palestra intitulada “As manifestações oculares da leishmaniose visceral”. Esse tema é muito importante para a América Latina, pois as estatísticas revelam que essa enfermidade avança rapidamente por todo o continente. Durante sua apresentação, o palestrante destacou a importância do diagnóstico precoce para o sucesso do tratamento, e também a alta incidência de lesões oculares, principalmente uveítes. Jorge da Silva Pereira, brasileiro que participou do simpósio sobre úlceras corneais profundas, em declaração à revista Clínica Veterinária disse que, em sua rotina oftalmológica no Estado do Rio de Janeiro, com frequência vem encontrando casos de leishmaniose visceral

6º Congresso Latino-americano de Oftalmologia Veterinária ocorreu em Buenos Aires, Argentina, entre os dias 6 e 8 de junho de 2011. O evento foi organizado Colégio Latino-americano de Oftalmologistas Veterinários (CLOVE), instituição de certificação profisional da América Latina. Os cientistas que compuseram a mesa do congresso foram: John Sapienza (EUA); María del Carmen Tovar e Manuel Villagrasa (Espanha); Jorge da Silva Pereira (Brasil); Nathalie Weichsler, Mariano Bernades, Daniel Herrera, Jorge Remonda e Pablo Sande (Argentina). O congresso contou com o total de 68 trabalhos científicos apresentados: 41 do Brasil, 10 do Chile, 6 da Espanha, 5 da Argentina, 4 da Venezuela e 2 de Colômbia/Espanha. Nos dias 6 e 7 foram realizadas as atividades científicas principais, que incluiram dois simpósios, duas mesas redondas, duas conferências “State of the Art” e duas seções “Como trato…?”. No dia 8 realizaram-se as atividades pós-congresso, compostas por workshop interativo de discussão de casos (35 pessoas) e wetlab de facoemulsificacão (10 pessoas). Foram temas do congresso: úlcera corneana profunda, glaucoma canino, manifestações oculares de leishmaniose visceral canina, uveíte pigmentar em golden retrievers, prolapso da glândula da terceira pálpebra, ceratoconjuntivite herpética, sequestro corneano felino, entrópio e ceratoconjuntivite seca.

Brasil

Argentina

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No total, 261 médicos veterinários de 14 países participaram do Clove 2011

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Ortopedistas italianos ministraram palestras no simpósio anual da OTV

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ste ano, o evento anual da Associação Brasileira de Ortopedia Veterinária (OTV) contou com a participação de ortopedistas italianos: o dr. Bruno Peirone, da Universidade de Turim, e o dr. Aldo Vezzoni, da cidade de Cremona, ambos renomados mundialmente e credenciados pela ESVOT (Escola Européia de Ortopedia Veterinária). Essas ilustres participações foram muito importantes para propiciar intercâmbio entre a escola européia, com o que é praticado no Brasil. O evento ocorreu entre os dias 10 e 12 de junho de 2011, no Rio de Janeiro, no auditório

Dr. Aldo Vezzoni da Cidade de Cremona

do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC). Também foram convidados pela comissão científica da OTV a dra. Sheila C. Haral, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UnespBotucatu e o dr. Eduardo Tu du ry, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Uma novidade no simpósio desse ano foi a apresentação de trabalhos científicos no decorrer do evento por profissionais autônomos, professores de escolas de veterinária e acadêmicos.

Dr. Bruno Peirone da Universidade de Turim

Associado OTV A OTV promove simpósios anuais onde os sócios tem descontos significativos e preferência na ordem de inscrição para os eventos. Os sócios também recebem descontos nos eventos apoiados pela OTV. Futuramente, a OTV pretende certificar ortopedistas veterinários para que possam usar o reconhecimento da associação como forma de anuência à sua qualidade técnica. OTV: (21) 2435-5910 www.otv.vet.br otv@otv.vet.br

Nefrologia e urologia veterinárias em destaque

Da esquerda para a direita, Marçal Paiva Junior, Júlio César Cambraia Veado, Thierry Francey, Guilherme Savassi, Maria Cristina Nobre Castro e Márcio Brunetto

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e 25 a 27 de maio, em Porto de Galinhas, PE, ocorreu o Simpósio Internacional de Nefrologia e Urologia Veterináis (SINUV). O auditório manteve-se lotado todos os dias e contou com a participação de especialistas de várias regiões do Brasil. Atentas à importância do evento, empresas de destaque marcaram presença. Como patrocinador ouro estava a Royal Canin, que também compartilhou o conhecimento científico por meio da palestra sobre gestão nutricional das urolitíases, ministrada por Wandréa de Souza Mendes. Como patrocinadores prata figuraram as empresas B. Braun, 30

Farmina e Centralvet. Também marcaram presença as empresas Labyes e VEDT Medical. Esta última aproveitou o evento para realizar o seu lançamento no mercado apresentando as linhas de nefrologia e urologia, que contemplam produtos como ca tetéres para hemodiálise e diálise peritoneal, sondas uretrais em silicone dentre muitos outros. VEDT Medical: varieAlém dos dade em acessos. e s p e c i a l i s t a s Catálogo on line: vedt brasileiros, o medical.blogspot.com (31) 9737-3847 evento também

No centro, Thierry Francey, que também esteve disponível a questionamentos do grupo reduzido de especialistas brasileiros

contou com a participação do espe- Doença renal cialista francês crônica é o tema da edição especial Thierry Francey. do informativo Trazido ao Brasil científico editado pela Farmina, por Farmina Vet Thierry falou so- Research bre manejo do doente renal crônico. Além de toda a informação científica que foi compartilhada durante o evento, foi criado o Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinárias, fato que irá contribuir para o maior número de eventos sobre o tema e a formação de especialistas.

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Ambulatório de aves da FMVZ/USP completa 25 anos

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Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo

Marcos Santos / USP Imagens

Ambulatório de Aves prof. dr. José Américo Bottino, criado em 1986 pelo Setor de Ornitopatologia do

Médica veterinária Marta Brito Guimarães, do Ambulatório de Aves prof. dr. José Américo Bottino

Palestras programadas para o evento “25 anos – Ambulatório de Aves” (6 e 7 de agosto de 2011 - Anfiteatro da FMVZ/USP, São Paulo, SP) O papel da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SMA) na gestão da fauna silvestre

Cláudia Terdiman Schaalmann

Quarentenário

Odemilson Donizete Mossero (MiAPA)

Biossegurança nas criações comerciais

Prof. Antonio José Piantino Ferreira (FMVZ/USP)

IBAMA - SISPASS (Sistema de Gestão

Miguel Bernardino dos Santos (IBAMA-SP)

Imunologia de aves

Claudete S. Astolfi Ferreira (FMVZ/USP)

Uso de antiinflamatórios em aves

Profa. Isis Machado Hueza (UNIFESP-SP)

Nutrição de aves

Prof. Aulus Cavalieri Carciofi (Unesp - Jaboticabal)

Reprodução e banco genético de aves

Prof. Ricardo José Garcia Pereira (FMVZ/USP)

de Criadores de Passeriformes Silvestres)

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(Secretaria do Meio Ambiente - SP)

(FMVZ/USP), em decorrência da necessidade de proporcionar atendimento às aves trazidas pela comunidade, comemora este ano o seu jubileu de prata. Ele foi o primeiro ambulatório de aves criado no Brasil e o pioneiro nessa especialidade de atendimento, tendo já atendido mais de 20 mil aves afetadas pelas mais diversas patologias. Desde a sua criação, a equipe envolvida contribui com projetos de pósgraduação, orienta profissionais na prática profissionalizante e participa dos programas de estágio curricular. Apresenta em média 130 casos por mês, tendo como apoio os outros serviços oferecidos pelo Hospital Veterinário. Nesses 25 anos de atividade, passaram pelo ambulatório de aves três médicos veterinários e mais de 500 estagiários. A comemoração do jubileu de prata será feita nos dias 6 e 7 de agosto, no anfiteatro da FMVZ-USP, com a realização do curso 25 Anos – Ambulatório de Aves. Entre os temas a serem apresentados encontra-se o sistema que cadastra e controla os criadores amadoristas de passareriformes, o Sispass. Criador amadorista é toda pessoa física que mantém em cativeiro, sem finalidade comercial, indivíduos das espécies de aves nativas da ordem Passeriformes, descritos nos Anexos I e II da Instrução Normativa n. 15/2010, objetivando a contemplação, o estudo e a conservação de espécies de pássaros ou o desenvolvimento de tecnologia reprodutiva das espécies, com possibilidade, a critério do Ibama, de participação em programas de conservação do patrimônio genético das espécies envolvidas. O documento que comprova a legalidade do criador é a sua relação atualizada de passeriformes, impressa pelo Sispass. Portanto, as carteirinhas de clubes e federações continuam existindo, mas não têm validade para a fiscalização. Para se inscriver no evento 25 Anos – Ambulatório de Aves, basta acessar www.fumvet.com.br, preencher o formulário e seguir as instruções de pagamento. Informações por telefone: (11) 3091-1231, 3091-1472 ou 3091-7669.

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Ressonância magnética para pequenos animais e equinos

Divulgação

O médico veterinário Edgar Luiz Sommer formou-se na primeira metade da década de 1970. Inicialmente, saiu de Porto Alegre, RS, sua cidade natal, com o firme propósito de praticar com seriedade a medicina veterinária. No Sul, naquela época, falava-se que “quantu mais ensanguentado, mió seria o vitirinário”. Para muitos, o bom “vitirinário” era aquele que derrubava um boi à unha. Discordando de tudo isso, Edgar Sommer foi para São Paulo, SP, com o firme propósito de trabalhar com o cavalo atleta: operava-se um carpo, e o animal voltava às pistas, ganhando corridas. Eram cirurgias absolutamente limpas, em que os panos de

Desde maio, a ressonância magnética está disponível no Provet

campo praticamente não se sujavam. O começo da carreira de Edgar Luiz Sommer deu-se na radiologia do aparelho locomotor do cavalo de esporte. Na época realizavam-se apenas as radiografias ditas “de frente e de lado”. A essas, acrescentou as obliquadas, flexionadas, sky-line e contrastadas (artrografias), que deram novo fôlego à ortopedia equina da época. Após uma década, começou a interessar-se pela radiologia de pequenos animais, com o espírito voltado para a melhora de radiografias que eram feitas com aparelhos de raios X, muitas vezes odontológicos, que só conseguiam explorar as extremidades de animais muito pequenos. Movido pela paixão, procurava colaborar com a classe, na tentativa de fazer diagnósticos cada vez mais precisos. Logo após a fundação do Provet como centro de diagnósticos e especialidades, em 1987, também se deram os primeiros passos na ultrassonografia. “Na minha opinião, esse acontecimento foi de extrema importância na medicina veterinária de pequenos animais, porque ficaram definidas duas eras, a anterior e a posterior ao advento

da ultrassonografia, já que naquela época só tínhamos a radiologia, e antes dela quase todo diagnóstico era feito com base na anamnese e na palpação. Era a época da mão milagrosa. Isso sem contar a limitação dos exames laboratoriais, comprovando como era precária a clínica dos animais de estimação”, explica Sommer. Continuando na vanguarda, o Provet investiu no que há de mais moderno em diagnósticos veterinários por imagem: a ressonância magnética. O serviço foi inaugurado no dia 11 de maio de 2011, exatamente na data em que o Provet completava seus 24 anos. “A ressonância magnética é excelente ferramenta de diagnóstico nas convulsões; nas suspeitas de AVC; nos tumores e demais lesões cerebrais, cerebelares, medula espinhal, etc. Também é muito útil nas alterações comportamentais, tais como caminhar em círculo, nas inclinações de cabeça, nos olhares fixos, nas alterações de postura, tais como paresias e paralisias, nas alterações nasais, auditivas e oculares, nas claudicações etc.”, destaca Sommer. Provet - Canal Veterinário da Imagem: (11) 6075-9725

Divulgação

Inaugurado hospital para animais silvestres em Araçatuba

O Ceretas (Centro de Recuperação e Triagem de Animais Silvestres) funcionará junto ao Hospital Veterinário da Unesp em Araçatuba

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oi inaugurado, em 10 de junho de 2011, em Araçatuba, na região noroeste paulista, o Centro de Recuperação e Triagem de Animais Silvestres (Ceretas). O hospital recebe, realiza triagem, trata e identifica as espécies de animais silvestres resgatadas ou apreendidas pelos órgãos fiscalizadores, assim como

animais que tenham sido mantidos irregularmente em cativeiros na região. Patrocinada por um grupo de 19 usinas de cana-de-açúcar, a unidade é resultado de uma parceria entre a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA) com a União dos Produtores de Bioenergia (Udop), a Polícia Ambiental, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Araçatuba, e o escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O projeto de criação do centro foi idealizado pelo professor Sérgio Garcia Diniz, do Departamento de Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Veterinária da Unesp. “Nos últimos anos, o número de atendimentos a animais silvestres que sofreram maus-tratos ou foram atro-

pelados nas estradas da região de Araçatuba aumentou significativamente. Esses animais ficam expostos ao perigo quando migram entre as áreas verdes de reserva legal e as áreas de preservação permanente existentes na região. Desde então, eles eram atendidos e tratados em uma unidade auxiliar do hospital Luiz Quintiliano de Oliveira, da Unesp”, disse Diniz. De acordo com o diretor da Unesp de Araçatuba, Pedro Felício Estrada Bernabé, o Ceretas será uma referência para o tratamento de animais silvestres acidentados ou capturados. “Todos os animais serão registrados e a partir daí será feito um trabalho de investigação para detectar seu habitat natural para futuramente realojar as espécies. Um banco genético desses animais, inédito no país, também será elaborado no Centro”, afirmou.

* Fonte: Agência FAPESP - http://agencia.fapesp.br/14042 Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

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Bem-estar animal O bem-estar animal e a medicina veterinária de animais selvagens

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Para tal, a formação de profissionais que possam atuar tecnicamente nessa área se apresenta em constante ascensão. Concomitantemente, vêm sendo estabelecidas leis de proteção aos animais para determinar padrões e protocolos aceitáveis que maximizem o seu conforto durante os mais variados procedimentos. A popularmente denominada “lei das cinco liberdades”, criada em 1967 e posteriormente estabelecida pelo Farm Animal Welfare Council no Reino Unido, é uma das mais conhecidas relacionadas ao assunto e, embora, criada especificamente para os animais de produção após a Segunda Guerra

Rogério Capela - http://fotosdocapela.blogspot.com/

facilmente notável a crescente inserção do termo “bem-estar” no manejo das mais variadas espécies animais. Com a mesma facilidade, evidenciamos também a associação de inúmeras abordagens éticas ao tema. Porém, é crucial entender a diferença entre a ciência do bem-estar animal e as questões morais e éticas que a permeiam. Não basta abordar e conduzir o tema considerando tais parâmetros. Quando o bem-estar animal atua como ciência, sem julgar os fatos, estudos imparciais podem ser desenvolvidos. Os resultados destes, por sua vez, é que nos possibilitam então encetar discussões embasadas em moral e ética.

O enriquecimento sensorial realizado com Puma concolor (suçuarana)

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MV Paloma Lucin Bosso

Eto - Consultoria Comportamental & Bem-Estar de Animais Silvestres E-mail: palomabosso@yahoo.com.br ou contato@bemestaranimal.org Site: www.bemestaranimal.org

Mundial, ainda hoje se aplica a diferentes espécies. Segundo os padrões nela estabelecidos, para ter uma boa qualidade de vida, os animais devem estar livres de fome e sede; dor, lesões e doenças; desconforto; medo e estresse; e poderem expressar livremente seu comportamento natural. Na prática, porém, a questão do bem-estar na criação e manutenção de animais silvestres data de um período bem mais recente. No mais, é importante ressaltar que, em nosso país, esse tema só recentemente vem sendo discutido. Porém, o conceito atual de manejo de espécies visando a conservação in-situ ou ex-situ já requer estudos etológicos que complementem aqueles direcionados a parâmetros fisiológicos, ecológicos e nutricionais, entre outros. Uma das técnicas mais conhecidas e utilizadas na promoção do bem-estar a animais silvestres cativos é o enriquecimento ambiental. O termo, estabelecido na década de 1920, só foi de fato aplicado na década de 1970 e visa melhorar a qualidade de vida aos animais, proporcionando-lhes um ambiente mais interativo e complexo. Nessas condições lhes é oferecido um maior controle do ambiente. Ao oferecer um item de enriquecimento ao animal, ele passa a ter a possibilidade de “resgatar” a oportunidade de eleger e controlar melhor seus atos, como ocorre na vida livre. Para que se promova a apresentação de comportamentos naturais a cada espécie, pode ser feita a introdução, de modo controlado, de uma gama de variedades originais, geralmente de fácil confecção e obrigatoriamente seguras nos recintos. Para estimular os animais, as diferentes técnicas de enriquecimento utilizadas podem ser divididas em cinco categorias: física, social, alimentar, sensorial e cognitiva. Uma destas, tem se apresentado como uma ferramenta de fundamental importância na rotina do médico veterinário de animais silvestres. Considerado por inúmeros autores como um tipo

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preventiva e/ou terapêutica. Vale lembrar, porém, que o bemestar animal deve ser abordado e aplicado sempre de forma multidisciplinar. É importante que as distintas áreas envolvidas no trato com animais sejam complementares nessa atuação. Cada qual terá a sua contribuição sempre que atuar priorizando os princípios do bem-estar. Do mesmo modo, isoladamente, nenhuma delas conseguirá melhorar o bem-estar dos animais. É necessário agir em conjunto para que os profissionais de diversas áreas encontrem o melhor modo de atuar englobando os conceitos aqui apresentados. Rogério Capela - http://fotosdocapela.blogspot.com/

Rogério Capela - http://fotosdocapela.blogspot.com/

de enriquecimento cognitivo sempre que se prioriza a participação voluntária dos animais, o condicionamento operante, além de promover a eles bem-estar e estímulos mentais, facilitalhes ainda o acesso, permitindo assim a realização de procedimentos com uma segurança muito maior, pois reduz o estresse da contenção física e os riscos da contenção química. Com a utilização de reforços positivos, esse processo de aprendizagem permite que o animal passe a contribuir gradativamente com os técnicos, facilitando os manejos diários, bem como o cumprimento das atividades de medicina veterinária

Enriquecimentos cognitivo, físico e sensorial realizados com Ara ararauna (arara canindé)

Enriquecimentos sensorial, alimentar e cognitivo realizados com Panthera onca (onça-pintada) Paulo Anselmo Nunes Felippe

Enriquecimentos físico e sensorial com Lontra longicaudis (lontra)

Foi com isso em mente que a Associação Brasileira de Animais Selvagens (ABRAVAS) escolheu o tema “Bem-Estar em Animais Selvagens” para seu XIV Congresso e XX Encontro, no qual se comemorará os vinte anos da associação. O evento contará com palestrantes renomados, tanto brasileiros como estrangeiros, discursando sobre este tema e outros que podem ser encontrados em www.abravas.org. br/congresso2011. Acesse o site, faça sua inscrição e participe da comemoração dos vinte anos da Abravas.

Todos os enriquecimentos ambientais foram realizados no Zoológico Bosque dos Jequitibás, de Campinas, SP www.spzoo.org.br/campinas.htm

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Sustentabilidade

Avistar: o show anual das aves no Brasil Durante o final de semana que compreendeu os dias 13 e 15 de maio de 2011 ocorreu, no Parque Villa-Lobos, o Avistar 2011, evento que proporcionou aos cidadãos pacote completo de entretenimento recheado de ecologia, conservação, lazer, educação, arte, sustentabilidade e muito mais...

Durante os dias 14 e 15 de maio, no Parque Villa-Lobos, em São Paulo, SP, grandes ampliações das fotos premiadas no 5º Concurso Avistar de Fotografia de aves encantaram o público que visitou o Avistar 2011 e a riqueza fotográfica dos momentos registrados

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ste ano, o evento Avistar teve início às 20h30 do dia 13 de maio de 2011, sexta-feira, no Teatro do Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, em São Paulo, SP, com a noite de autógrafos do Guia Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado, lançado recentemente pela Editora Horizonte. O livro tem o objetivo de popularizar a observação de aves no Brasil e estimular a conservação do meio ambiente. Esse primeiro volume apresenta 740 espécies de aves do Pantanal e do Cerrado. A maioria das descrições é acompanhada de ilustrações precisas feitas por renomados artistas especializados em aves, como Guy Tudor, o maior ilustrador de aves sul-americanas. Para marcar a entrega dos prêmios aos ganhadores realizou-se o Avistar Talks, um encontro gratuito que reuniu fotógrafos, amantes da natureza e artis36

tas que falaram de seus trabalhos. Participaram a poeta Alice Ruiz, a fotógrafa Margi Moss, o ornitólogo Fernando Straube e o músico Jarbas Agnelli.

Jarbas Agnelli, diretor, cineasta e músico premiado internacionalmente, apresentou, durante as atividades de abertura do evento, o processo de criação do incrível vídeo Birds on The Wires: www.youtube.com/watch?v=LoM4ZZJ2UrM

O guia é uma iniciativa da Wildlife Conservation Society (WCS) e da Editora Horizonte, o primeiro de uma série de cinco volumes que abordará as aves de todos os biomas brasileiros. Para adquirir, acesse: www.probem.info

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O Wiki Aves (www.wikiaves.com.br) é um site de conteúdo interativo direcionado à comunidade brasileira de observadores de aves, cujo objetivo é apoiar, divulgar e promover a atividade de observação de aves, fornecendo gratuitamente ferramentas avançadas para o controle de fotos, sons e textos, a identificação de espécies e a comunicação entre observadores, entre outras

Confira as fotos premiadas no 5º Concurso Avistar de Fotografia de Aves: www.avistarbrasil.com. br/concurso/2011/melhor_foto.php

O Super RG tem quarenta cartas, cada uma representando uma espécie de ave. Algumas são mais fáceis de ver, como o canário-da-terra-verdadeiro, o beija-flortesoura ou o sanhaço-cinzento, e outras, mais difíceis, como a coruja-listrada e o famoso curió. As informações de cada carta contaram com a revisão de dois ornitólogos: www.reservaguainumbi.com/superrg.htm

Nos dias seguintes, sábado e domingo, deu-se sequência ao evento em espaço montado no Parque Villa-Lobos. O público que passou pelo local pôde conferir a exposição, formada por grandes ampliações das fotos premiadas, assistir a palestras sobre diversos temas relacionados à ornitologia e visitar a feira formada por empresas que ofereciam serviços e produtos relacionados à observação de aves. Além disso, houve atividades para as crianças, como a conduzida pelo artista plástico ambiental Alexandre Huber, que, por meio da magia das tintas, coordenou a oficina de pintura em telas Aves marinhas: albatrozes, em homenagem ao Projeto Albatroz, que neste ano comemora trinta anos de muita luta pela preservação dessa maravilhosa ave visitante de nossos mares. Outras atividades destinadas às crianças foram a oficina Super RG, o primeiro jogo de cartas de aves brasileiras e a oficina de origami. Outro destaques foram as oficinas ambientais promovidas pelo Gremar (Resgate e Reabilitação de Animais Marinhos) e pelo Cebio (Centro de Estudos para a Conservação da Biodiversidade – Ilhabela). O evento Avistar é um sucesso! Ele é decorrente da crescente satisfação de todos os envolvidos na sua realização, principalmente o público ao qual é direcionado. Participe e recomende a observação de pássaros aos seus clientes.

A Reserva Guainumbi marcou presença no Avistar 2011, com estande, palestra e oficina para crianças. Dentro da reserva já foram avistadas 280 espécies de aves. Contando os arredores, esse número chega a 336. A Guainumbi tem 7km de trilhas internas, seguras e bem-cuidadas, onde podem ser avistadas com frequência diversas espécies de aves da Mata Atlântica. Acima, estrelinha-ametista (Calliphlox amethystina), foto do médico veterinário João Marcelo da Costa, obtida em área da Reserva Guainumbi. Ao lado da Guainumbi, o Núcleo Santa Virgínia, do Parque Estadual da Serra do Mar, também oferece excelentes oportunidades de avistamentos

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Sustentabilidade

Refúgios ameaçados * Diminuição das APPs e da reserva legal, proposta pelo projeto de reforma do Código Florestal, pode colocar em risco espécies que dependem dos fragmentos florestais, alertam pesquisadores do programa BIOTA-FAPESP em carta publicada na revista Science

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diminuição das Áreas de Proteção Permanente (APPs) e de reserva legal no Brasil, proposta pelo projeto de reforma do Código Florestal aprovado em 25 de maio na Câmara dos Deputados, pode resultar na eliminação de pequenos fragmentos de mata ciliar e de propriedades rurais que são cruciais para a sobrevivência de animais como os anfíbios. Isso porque essas espécies utilizam as áreas remanescentes de floresta como áreas de refúgio durante a estação seca e como corredores para se deslocar e buscar alimentos. O alerta foi feito por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) ligados ao programa BIOTA-FAPESP, em carta publicada na edição de 27 de maio da revista Science. Na carta, os pesquisadores chamam a atenção para o fato de que a existência de pequenos fragmentos da Floresta Estacional Semidecidual – a porção da Mata Atlântica que ocupa, no interior do país, áreas nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná – é importante para a manutenção da diversidade de anfíbios, com base nos resultados de uma pesquisa de doutorado realizada pelo biólogo Fernando Rodrigues da Silva no âmbito do projeto temático “Fauna e flora de fragmentos florestais remanescentes no Noroeste paulista: base para estudos de conservação da biodiversidade”, apoiado pela FAPESP. Em sua pesquisa, intitulada “A influência de fragmentos florestais na dinâmica de populações de anuros no Noroeste do Estado de São Paulo”, realizada com Bolsa da FAPESP, Silva instalou poças artificiais em diferentes distâncias de seis fragmentos florestais da região Noroeste paulista, para analisar a influência da proximidade do fragmento florestal na diversidade de anfíbios presentes nas poças. Com isso, o pesquisador constatou que os fragmentos de floresta com 70 a 100 hectares mantêm alta diversidade

de anfíbios durante o período de reprodução das espécies, quando elas se agregam nos corpos d'água para reprodução. “A diminuição das APPs e áreas de reserva legal, como pretende o projeto de reforma do Código Florestal, pode eliminar os fragmentos florestais e afetar a diversidade de espécies que ocorrem próximas a eles”, disse Silva à Agência FAPESP. Segundo ele, não se imaginava que os fragmentos florestais fossem tão importantes para espécies consideradas de área aberta (que vivem fora da mata), como os anfíbios da região Noroeste do estado. Porém, a pesquisa demonstrou que, mesmo que essas espécies se reproduzam em área aberta, em momentos específicos de seus ciclos de vida esses animais recorrem aos fragmentos florestais para se alimentar, procurar abrigo na estação seca e se deslocar. Em função disso, a redução de áreas remanescentes de florestas pode promover o fenômeno da “separação do habitat”, que é reconhecido como ameaçador especialmente para anuros (sapos, rãs e pererecas). O processo ocorre quando os ambientes que os animais usam para se alimentar e se reproduzir são desconectados, resultando em um ambiente mais hostil durante a migração e a dispersão. “Se forem preservados os fragmentos florestais, também é possível preservar a diversidade de espécies de anfíbios no entorno deles”, afirmou Silva. Essas áreas remanescentes de floresta atuam em vários serviços ecossistêmicos. Entre eles estão aumentar a quantidade de polinizadores para as lavouras, controlar as pragas e manter os regimes hidrológicos e a qualidade da água, que são críticos para a existência não só de anfíbios, mas para muitas outras espécies em geral. Sem fragmentos Na carta, os pesquisadores destacam

que no interior do estado de São Paulo a expansão do cultivo de cana-deaçúcar para produzir etanol está levando à eliminação dos corpos d’água próximos aos fragmentos de floresta, colocando sob ameaça os anfíbios, que usam esses ambientes para se reproduzir. “Ainda não fizemos um estudo para observar o impacto do cultivo da canade-açúcar na diversidade de anfíbios. Mas o que constatamos é que quando se eliminam as áreas de pasto para cultivar cana também são extinguidos os corpos d’água, como os açudes, que os anfíbios utilizam para se reproduzir. E estamos percebendo que esses ambientes estão desaparecendo no noroeste paulista”, disse o biólogo. O que ainda continua existindo na região, segundo Silva, são grandes represas onde há muitos peixes. Mas muitos anfíbios não utilizam esses ambientes para se reproduzir, porque os peixes comem os ovos e os girinos. Os pesquisadores que assinam a carta enfatizam que, embora estejam tentando mostrar o valor dos pequenos fragmentos de floresta para a preservação de diversas espécies, isso não significa dizer que possa ser diminuído o tamanho das áreas maiores. “Quanto maior o tamanho do fragmento de floresta, maior a diversidade de espécies. Mas mesmo os pequenos fragmentos são fundamentais e não podem ser desmatados. E diminuindo o tamanho das APPs e das reservas legais, como propõe o projeto de reforma do Código Florestal, esses fragmentos florestais irão desaparecer”, ressaltou Denise de Cerqueira Rossa Feres, professora do Departamento de Zoologia e Botânica da Unesp, campus de São José do Rio Preto, que orientou Silva em seu doutorado e também assina a carta publicada na revista Science com Silva e Vitor Hugo Mendonça do Prado, do Departamento de Zoologia da Unesp de Rio Claro.

* Fonte: Agência FAPESP (por Elton Alisson) - http://agencia.fapesp.br/14009

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Tratamento cirúrgico com sucesso em um cão com cor triatriatum dexter A successful surgical treatment in a dog with cor triatriatum dexter Tratamiento quirurgico exitoso de un perro con cor triatriatum dexter Clínica Veterinária, n. 93, p. 40-43, 2011 James Newton Bizetto M. Andrade MV, prof. dr. Hospital Veterinário Santa Mônica jamescardio@terra.com.br

José Carlos Kloss Filho

médico veterinário Hospital Veterinário Santa Mônica jckloss@hvsm.com.br

Denise de Souza Gabardo

MV, mestranda - Unifran Hospital Veterinário Santa Mônica dsgabardo@hvsm.com.br

Roberto Luiz Lange

médico veterinário Hospital Veterinário Santa Mônica hvsm@hvsm.com.br

Mariana Augusta Galvão Silva Graduanda Curso Medicina Veterinária - UFPR mariaugas@gmail.com

Resumo: Cor triatriatum dexter é uma anomalia congênita extremamente rara, caracterizada pela subdivisão do átrio direito em duas câmaras por uma membrana fibromuscular, o que causa obstrução ao fluxo venoso, elevação da pressão da veia cava caudal e insuficiência cardíaca direita. O presente trabalho traz o relato de caso de um cão da raça beagle, macho, 16 kg, um ano de idade, com quadro clínico de ascite havia oito meses, sendo esse o único achado no exame físico. O exame ecocardiográfico demonstrou a presença de duas câmaras atriais direitas, confirmando o diagnóstico de cor triatriatum dexter. Foi preconizado tratamento cirúrgico mediante toracotomia, sutura em bolsa de fumo no átrio direito e introdução de uma pinça hemostática, com a qual se desfez a membrana. A técnica cirúrgica adotada foi satisfatória, uma vez que resultou na completa restauração da normalidade clínica. Unitermos: ascite, cardiopatia, canino Abstract: Cor triatriatum dexter is a very rare cardiac congenital disease, characterized by the subdivision of the right atrium in two chambers by a fibromuscular membrane. The condition causes an obstruction to the venous flow, raising the caudal vena cava pressure and leading to right congestive heart failure. We report herein the case of a 16kg one-year-old male beagle who had presented ascites as the only clinical sign for a period of eight months. Echocardiography showed two right atrial chambers, confirming the diagnosis of cor triatriatum dexter. The dog underwent a right thoracotomy, in which a purse string suture was performed at the right atrium wall and a haemostatic clamp was inserted, allowing the destruction of the membrane upon opening. The surgical procedure was successful and resulted in complete clinical recovery. Keywords: ascites, cardiopathy, canine Resumen: El cor triatriatum dexter es una patología congenita de muy baja incidencia, caracterizada por la subdivisión del atrio derecho en dos cámaras debido a la presencia de una membrana fibromuscular, que provoca una obstruccion del flujo venoso, aumento de presión en vena cava caudal e insuficiencia cardíaca derecha. Se relata un caso de un perro de raza beagle, macho, con 16 kg, de 1 año de edad, que se presento con un cuadro clínico de ascitis desde los ocho meses, siendo esta la única evidencia clínica encontrada durante el examen físico. La ecocardiografía permitió diagnosticar la presencia de dos cámaras atriales derechas, confirmando el diagnóstico de cor triatriatum dexter. Fue sugerido el tratamiento quirúrgico, mediante toracotomía, realización de una sutura en jareta en el atrio, introducción de una pinza hemostática en la aurícula derecha y posterior destrucción de la membrana. La técnica quirúrgica utilizada fue satisfatória ya que resulto en una completa remisión de la normalidad clínica. Palabras clave: ascitis, cardiopatia, canino

Introdução Cor triatriatum é uma anomalia cardíaca congênita rara, caracterizada pela subdivisão do átrio em duas câmaras (cranial e caudal) por uma membrana fibromuscular, que foi descrita em seres humanos em 1868 1. O cor triatriatum sinister é caracterizado pela subdivisão do átrio esquerdo em duas câmaras, sendo observado em felinos 2. Já o cor triatriatum dexter caracteriza-se pela subdivisão do átrio 40

direito, sendo descrito mais na espécie canina 2-8, com prevalência de aproximadamente 0,1% dos casos de cardiopatia congênita nessa espécie 3. As raças de porte médio a grande são mais frequentemente acometidas 9. No cor triatriatum dexter, a presença da membrana fibrosa ocorre devido a insuficiência da regressão da valva do seio venoso direito embrionário 1-4,9,10. A veia cava caudal e o seio coronário desembocam na câmara atrial direita caudal,

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enquanto o orifício tricúspide está localizado dentro da câmara cranial, permitindo passagem adequada do sangue oriundo da veia cava cranial. Existe uma pequena abertura na membrana que permite passagem de sangue entre as câmaras 2,3. Entretanto, o fluxo através da abertura é limitado, o que resulta em pressões elevadas dentro da veia cava caudal e estruturas drenadas por ela 2,3. Assim, o desenvolvimento de ascite persistente no animal jovem é o sinal clínico mais proeminente 3-8. Também há relatos de intolerância ao exercício, letargia, veias abdominais cutâneas distendidas e, algumas vezes, diarreia 2. Sopro cardíaco ou distensão venosa jugular não são característicos dessa anomalia 2,9,10. As obstruções congênitas da veia cava caudal podem apresentar-se com achados clínicos semelhantes 9. O eletrocardiograma é normal na maioria dos cães acometidos e as alterações radiográficas torácicas não são dignas de nota, com exceção do aumento da veia cava caudal 2,3,5,6,9. O diafragma pode estar deslocado cranialmente nos casos de ascite acentuada 2. Pode-se obter o diagnóstico por ecocardiografia ou por angiocardiografia. A ecocardiografia poderá revelar uma membrana anormal, com a câmara do átrio direito caudal e a veia cava proeminentes 4,6,7. Os estudos com Doppler permitem a estimativa do gradiente de pressão entre as duas câmaras atriais direitas e a visualização do fluxo alterado 2,8.

O tratamento do cor triatriatum dexter geralmente requer ressecção cirúrgica ou desvio da obstrução 9. O tratamento bem-sucedido requer o alargamento do orifício da membrana ou a excisão da membrana anormal para remover a obstrução ao fluxo. Uma técnica cirúrgica que utiliza oclusão das vias de entrada ao coração (inflow occlusion), com ou sem hipotermia, permite a excisão da membrana ou o seu rompimento manual utilizando um dilatador de valva. A colocação simultânea de vários cateteres de dilatação por balão tem sido bem sucedida em cães maiores 9. Existem várias técnicas cirúrgicas descritas na literatura 10, tais como: atriotomia direita e incisão da membrana sob circulação extracorpórea; oclusão das veias cavas com normo ou hipotermia seguida de atriotomia direita e septectomia da membrana; dilatação percutânea com cateter-balão; oclusão do átrio direito e da membrana com pinça apropriada sem oclusão circulatória; dilatação digital por uma sutura em bolsa de tabaco no átrio direito; ruptura da membrana por cateter-balão; incisão e reimplantação da veia cava caudal com pinças de oclusão; e abertura da veia sob oclusão circulatória para recortar a membrana anormal. Segundo alguns autores 10, os resultados em longo prazo são bons e a ascite se resolve um mês após a cirurgia. Dentre os relatos encontrados na literatura, descreve-se um caso de cor triatriatum dexter em um cão da raça buldogue

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inglês de 3,5 meses de idade com queixa principal de distensão abdominal, cianose, tosse e angústia respiratória. Na radiografia dorsoventral observou-se a veia cava um pouco proeminente. Na necropsia as veias hepáticas e a veia cava caudal estavam dilatadas e no coração o átrio direito revelou uma membrana fina e branca separando as câmaras cranial e caudal, composta por um orifício de 3mm no centro do septo 3. Em outro relato a respeito de dois cães, o cor triatriatum dexter foi diagnosticado com base nos sinais clínicos, na ecocardiografia bidimensional e no cateterismo cardíaco. Refere que um cão foi tratado com sucesso por ressecção cirúrgica do septo intra-atrial. Quanto ao segundo cão, o resultado não foi o mesmo devido à gravidade da anomalia 4. Foram obtidos bons resultados utilizando a correção cirúrgica sob circulação extracorpórea, com parada cardíaca de onze minutos e perfusão Figura 1 - Imagem ecocardiográfica realizada 24 horas antes da intertotal de 34 minutos, e o método foi considerado venção. Notar as duas câmaras atriais direitas (AD), caracterizando o cor confiável 5. Em outro relato ainda, realizou-se a triatriatum dexter. AE: átrio esquerdo ressecção da membrana no átrio direito em dois cães, com hipotermia e oclusão do fluxo; ambos Este trabalho tem como objetivo relatar um caso de cor obtiveram boa recuperação e sinais clínicos resolvidos 6. triatriatum dexter e seus resultados pós-cirúrgicos. Outros autores optaram pela angiografia por cateterismo através da veia femoral, seguida por um balão para dilatar o Relato de caso defeito na membrana atrial; os três casos apresentaram melhoFoi atendido no Hospital Veterinário Santa Mônica, Curira dos sinais clínicos em poucos dias 7. Outro estudo cita um ti ba, PR, um cão da raça beagle, macho, um ano de idade, pecão de três meses de idade com sinais clínicos de ascite, cujo san do 16kg com histórico de ascite havia oito meses, sendo exame ecográfico apresentou veias hepáticas e cava caudal esse o único achado no exame físico. No exame ultrassonográdistendidas; no Doppler, detectou-se fluxo retrógrado; e no fico constatou-se congestão hepática com perda da ecogeexame post-mortem observou-se defeito septal atrial, o que nicidade e presença de líquido livre em cavidade abdominal. levou ao diagnóstico de cor triatriatum dexter 8. A ecocardiografia demonstrou a presença de duas câmaras Pelo conhecimento dos autores e de acordo com pesquisa atriais direitas (Figura 1), confirmando o diagnóstico de cor bibliográfica realizada, não há relatos da doença ou de tratatriatriatum dexter. Foi preconizado tratamento cirúrgico, mento cirúrgico com sucesso no Brasil.

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Figura 2 - A) Demonstração da inserção de pinça hemostática de Halsted no interior de sutura em bolsa de fumo no átrio direito. B) Demonstração da manobra de abertura de pinça de Halsted para ruptura da membrana intra-atrial persistente


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Figura 3 - Imagem ecocardiográfica realizada 24 horas pós-operatório. Notar o átrio direito (AD); AE: átrio esquerdo; VE: ventrículo esquerdo; VD: ventrículo direito; Ao: aorta

qual se observou a ausência da membrana, sendo visualizada uma única câmara atrial direita (Figura 3). O paciente recebeu alta em 72 horas, sendo pres critas espironolactona e 1mg/kg, duas vezes ao dia, durante 30 dias e furosemida f 2mg/kg duas vezes ao dia durante cinco dias. O animal retornou ao atendimento semanalmente após o procedimento cirúrgico, não tendo sido observados novos acúmulos de líquido na cavidade abdominal. Após seis meses, o animal foi reavaliado, apresentandose clinicamente normal (Figura 4). A técnica cirúrgica adotada foi satisfatória, uma vez que resultou na completa restauração da normalidade clínica. Apesar de se tratar de uma anomalia rara, o cor triatriatum dexter deve ser incluído no diagnóstico diferencial de cães jovens com sinais de distensão abdominal e ascite. Ressalta-se a importância do exame ecocardiográfico nesses animais, mesmo sem apresentarem sopro audível.

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Figura 4 - Paciente com seis meses de pós-operatório

cuja técnica consistiu em toracotomia intercostal direita, seguida de pericardiotomia e aplicação de sutura em bolsa de fumo no átrio direito; realizou-se pequena incisão no interior da bolsa, através da qual foi introduzida uma pinça hemostática de Halsted (Figura 2-A), promovendo-se a ruptura da membrana intra-atrial persistente, mediante abertura da pinça (Figura 2-B). A medicação pré-anestésica foi realizada com levomepromazina a 0,5mg/kg e morfina b 0,5mg/kg; a indução, com propofol c 5mg/kg; e a manutenção, com propofol 0,8mg/kg/min e fentanil d 6µg/kg/min. Durante o procedimento cirúrgico houve uma parada cardiorrespiratória, rapidamente revertida com massagem cardíaca interna e instilação de adrenalina. No pósoperatório imediato realizou-se drenagem torácica devido a pneumotórax residual, assim como retirada do líquido ascítico remanescente. Foi realizada nova ecocardiografia, na a) Neozine ®. Sanofi - Aventis Farmacêutica Ltda. Suzano. SP b) Dimorf ®. Cristrália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. Ponte Preta Itapira. SP c) Propovan ®. Cristrália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. Ponte Preta Itapira. SP d) Fentanest ®. Cristrália - Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. Ponte Preta Itapira. SP

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Condrossarcoma intraocular em um cão – relato de caso Intraocular chondrosarcoma in a dog – case report Condrosarcoma intraocular en un perro – relato de un caso Clínica Veterinária, n. 93, p. 46-50, 2011 Resumo: Os neoplasmas intraoculares não são comuns nos animais domésticos. Dentre eles, os melanomas são mais frequentemente observados. O condrossarcoma é uma neoplasia de origem mesenquimal de baixa incidência, sendo observada mais comumente nos tecidos ósseos e em menor grau nos tecidos extraósseos. O presente relato descreve um caso de condrossarcoma intraocular em uma cadela de dez anos de idade, sem raça definida, que foi atendida com queixa de aumento de volume do bulbo ocular, opacificação corneana e perda da visão do olho esquerdo. No exame oftálmico verificou-se o bulbo ocular esquerdo buftálmico, com vasos episclerais congestos, edema e neovascularização da córnea que ainda apresentava estrias de Haab. O Teste Lacrimal de Schirmer apresentava-se com 16mm/minuto no olho afetado e com pressão intraocular de 50mmHg. Os achados do exame clínico unidos à avaliação histopatológica permitiram o diagnóstico de condrossarcoma. Unitermos: olhos, patologia ocular, neoplasma intraocular

Flávia Biondi

MV, mestranda CPGCV - UFPR flabiondi@hotmail.com

Rodrigo Friesen

médico veterinário autônomo edwinf@terra.com.br

Juliana Werner

MV, mestre Laboratório Werner & Werner juliana@werner.vet.br

Antônio Felipe P. Figueiredo Wouk MV, mestre, dr., prof. Depto. Clínica Veterinária - UFPR fwouk@ufpr.br

Peterson Triches Dornbusch MV, mestre, dr., prof. Depto. Clínica Veterinária - UFPR p.triches@pucpr.br

Fabiano Montiani Ferreira MV, mestre, dr., prof. Depto. Clínica Veterinária - UFPR montiani@ufpr.br

Abstract: Intraocular neoplasms are rare in domestic animals; the most commonly observed types are melanomas. Chondrosarcoma is a mesenchymal neoplasm of low incidence that is most frequently observed in bone tissues, and with even lower prevalence in extraskeletal tissues. This report describes the case of a unilateral intraocular chondrosarcoma in a mixed-breed ten-year-old bitch that had increased ocular volume, corneal opacification and visual loss in the left eye. Ophthalmic examination disclosed buphthalmia of the left eye, which also presented congested episcleral vessels, edema and neovascularization of the cornea with Haab´s streaks. The Schirmer Tear Test of the affected eye was negative (16mm/minute) and intraocular pressure was 50mmHg. Clinical examination and histopathologic findings allowed the diagnosis of chondrosarcoma. Keywords: eyes, ocular pathology, intraocular neoplasms Resumen: Los tumores intraoculares no son comunes en los animales domésticos, entre ellos los melanomas son los más frecuentes. El condrosarcoma es una neoplasia mesenquimal de poca incidencia; se observa con mayor frecuencia en los tejidos óseos y con menor incidencia en los tejidos extra óseos. Este informe describe un caso de condrosarcoma intraocular en una perra mestiza de diez años de edad. Fue presentada a consulta con un aumento del volumen ocular, opacidad de córnea y pérdida de visión del ojo izquierdo. En el examen oftalmológico, se pude evidenciar buftalmia unilateral izquierda, congestión de vasos epiesclerales, edema y neovascularización corneal y estrias de Haab. El test de Schirmer dio 16mm/minuto en el ojo izquierdo, con una presión intraocular de 50mmHg. El examen histopatólogico confirmó la presencia de condrosarcoma ocular. Palabras clave: ojo, patologia ocular, tumores intraoculares

Introdução Os tumores intraoculares nos cães são raros e, dentre eles, os melanomas são os mais comuns. Os adenomas e adenocarcinomas do corpo ciliar representam o segundo tipo de neoplasma intraocular mais comum no cão 1. Neoplasmas originados do epitélio medular do olho foram descritos em animais domésticos como possuidores de características pluripotentes 2. Em adição à observação direta ou indireta da neoformação intraocular per se, os sinais clínicos comumente observados em cães com tumores intraoculares podem ser caracterizados 46

principalmente por aumento da pressão intraocular, hifema e uveíte. A perda da visão é frequente e muitos cães já estão cegos por ocasião do primeiro exame 1. O condrossarcoma (CS) é um tumor raro, que acomete diversos tecidos, com maior incidência nos tecidos ósseos. Possui um curso clínico variável, com frequentes recidivas e ocasionalmente metástases ósseas e viscerais distantes, sendo raro o acometimento intraocular primário 3. O presente texto traz um relato de um caso de CS intraocular em um cão, descrevendo seus aspectos clínicos, histológicos, etiopatogênicos e terapêuticos.

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Figura 1 - Fotografia do olho esquerdo da paciente (cadela de dez anos de idade, sem raça definida) acometida de glaucoma secundário à presença de condrossarcoma intraocular. Note-se a congestão episcleral, sinéquia com seclusão pupilar, hifema e leve buftalmia

Juliana Werner

Discussão Os tumores intraoculares são de baixa incidência nos cães. Desses, os mais comuns são os melanocitomas da úvea, que se originam na íris e no corpo ciliar. Tais neoplasmas cursam

Flávia Biondi

Relato do caso Uma cadela de dez anos de idade, sem raça definida, foi atendida com queixa de aumento de volume do bulbo ocular, opacificação corneana e cegueira no olho esquerdo. A paciente vinha sendo medicada com múltiplos fármacos hipotensores oculares tópicos, entretanto sem melhora clínica. No exame oftálmico verificou-se o bulbo ocular esquerdo buftálmico, vasos episclerais congestos, edema e neovascularização da córnea, que ainda apresentava estrias de Haab. O teste de Schirmer do olho afetado demonstrou 16mm/minuto e a pressão intraocular mensurada por meio de Tonopen® foi de 50mmHg. Não foi possível o exame das estruturas intraoculares pela presença de intensa opacidade dos meios, particularmente devido à presença de catarata madura. Adicionalmente, observou-se congestão episcleral e sinéquia com seclusão pupilar, além de hifema (Figura 1). Nenhuma alteração foi observada na avaliação do olho contralateral. A paciente apresentava-se saudável sob os demais aspectos. No momento do diagnóstico, a paciente não apresentava outras alterações orgânicas detectáveis nos exame físico e ultrassonográfico ou nos parâmetros hematológicos e bioquímicos. Os resultados dos seguintes exames apresentaram-se dentro dos valores normais: hemograma, urinálise, coagulograma, concentração sérica de ureia, creatinina, transaminase pirúvica, albumina e fosfatase alcalina. No exame ultrassonográfico do olho em modo B com transdutor de 10MHz, foi revelada a presença de massa intraocular com aproximadamente 13mm de diâmetro, ocupando a câmara vítrea e abrangendo principalmente seu aspecto dorsal. A massa tinha contornos irregulares com padrões de ecogenicidade heterogêneos, em geral hiperecoicos e isolados. Adicionalmente, uma parte da massa comprimia a íris no seu aspecto posterior e comprometia dorsalmente o ângulo iridotrabeculocorneano. A imagem ultrassonográfica ainda era sugestiva de presença de hemorragia na cavidade vítrea e descolamento parcial de retina. Por medida de precaução, o paciente foi submetido à exenteração do olho comprometido e o material foi encaminhado para análise histopatológica. A massa tecidual revelou proliferação neoplásica de origem mesenquimal, cujas células eram morfologicamente compatíveis com condroblastos. O tecido neoplásico ainda exibia algumas áreas isoladas de mineralização e pequenas áreas de formação de trabéculas ósseas. As células neoplásicas eram pouco diferenciadas, pleomórficas e com baixo índice mitótico (Figura 2). Não foram observadas células morfologicamente compatíveis com tubos neuroepiteliais, células ganglionares ou rosetas neurais, como as observadas comumente no meduloepitelioma teratoide maligno. Os achados histológicos supracitados conduziram ao diagnóstico de condrossarcoma intraocular. A paciente foi acompanhada por dezoito meses após a cirurgia, quando veio a óbito por causas naturais.

Figura 2 - Fotomicrografia de condrossarcoma intraocular em cão. Notar a produção de matriz condroide pelas células neoplásicas (seta preta) e a presença de sinais de atipia celular (setas vermelhas), HE, aumento 400x

comumente com crescimento nodular e baixa incidência de metástases, que variam em torno de 4%. Os carcinomas do corpo ciliar ocupam o segundo tipo mais frequente de neoplasmas intraoculares em cães, sendo reconhecidos como massas passíveis de se observar através da pupila ou ocupando a íris. Possuem características malignas, mas o potencial de metástase geralmente é baixo 4. Afora os neoplasmas intraoculares supracitados, raros são os relatos que descrevem tumores de origem mesenquimal, entretanto, já foram documentados o hemangioma da íris e do corpo ciliar, o hemangiossarcoma e o leiomiossarcoma da íris, o CS e o osteossarcoma 5-7. Neoplasmas originados do epitélio medular do olho,

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embriologicamente precursor do epitélio ciliar, foram descritos em cães como meduloepitelioma teratoide maligno. O autor discutiu a possibilidade de outros neoplasmas possuírem características de tumores teratoides do corpo ciliar, como adenoma do epitélio ciliar e leiomioma do corpo ciliar, demonstrando a natureza diversificada dos neoplasmas teratoides do corpo ciliar em animais domésticos 2. Porém, em contraste com os neoplasmas que se desenvolvem do epitélio celular pluripotencial, os neoplasmas que se originam do epitélio celular maduro não exibem a mesma característica multipotencial, tendo a aparência de adenoma ou adenocarcinoma 2. Dessa forma, não se exclui que o CS do presente relato tenha se originado como tumor teratoide maligno (CS) do corpo ciliar. Porém, é importante ressaltar que o neoplasma do presente relato apresentava proliferação de apenas um tipo celular, correspondente a células alongadas compatíveis com condrócitos que produziam matriz cartilaginosa em diversas fases de maturação, o que chama a atenção e corrobora o diagnóstico de CS intraocular. Recentemente, foram relatados três casos de CS e quatro casos de osteossarcomas oculares primários nos Estados Unidos. Um CS proveniente do tecido conectivo do trato uveal foi relatado em um felino, também nos Estados Unidos 8. No Brasil há um caso relatado de condrossarcoma intraocular metastático 7. Existe, no caso presentemente relatado, a possibilidade de se tratar de um relato de CS primário. Todavia, não foi possível afirmar se o neoplasma em questão era primário ou secundário, pois apesar de os exames de imagem não revelarem outras massas no abdômen ou no tórax, o paciente veio a óbito dezoito meses após a cirurgia e os proprietários não permitiram a necropsia. Como durante todo o período pósoperatório foram feitas avaliações regulares do paciente e este apresentou-se saudável sob todos os aspectos clínicos, laboratoriais e imaginológicos, acredita-se que a causa do óbito não tenha relação com o neoplasma em questão. Além do acometimento primário ocular, tumores malignos como os linfomas, osteossarcomas e hemangiossarcomas também podem produzir metástases oculares. No linfoma intraocular, que é o mais comumente observado, o envolvimento ocular tende a ser bilateral e característico, com uveíte anterior e hifema. Outros tipos celulares neoplásicos também podem invadir o meio intraocular por meio da extensão local a partir dos anexos oculares, da córnea, da órbita, dos seios paranasais ou da cavidade nasal. A panoftalmite, o hifema e o glaucoma são sequelas comuns de qualquer neoplasma intraocular. O CS extraósseo é um neoplasma extremamente raro em seres humanos 9. Na população canina, eles perfazem entre 1% e 13% do total de condrossarcomas diagnosticados. Histologicamente, dois diferentes tipos de CS são reconhecidos: o mixoide, o tipo mais comumente encontrado em tumores ósseos, e o mesenquimal, raramente encontrado em tecidos extraósseos. O CS mesenquimal apresenta duas origens histológicas distintas. A primeira corresponde a um tecido condroide de moderadamente a bem diferenciado, enquanto a segunda origem corresponde a células malignas indiferenciadas arranjadas em camadas 10. Trinta e nove por 48

cento dos CS mesenquimais encontrados em seres humanos se desenvolvem em tecidos moles e foram documentados no crânio, no nervo vago, nas meninges, na órbita, na face, nos pulmões, no pescoço, na laringe, no peito, no músculo esquelético, nos rins e no retroperitônio. Nos cães, o CS mesenquimal extraósseo tem sido descrito nos pulmões, no omento, no pericárdio, no átrio direito e no retroperitônio 9. A maioria dos CS se desenvolve a partir da cartilagem óssea, ao passo que alguns podem ocorrer em tecidos cartilaginosos preexistentes. Por outro lado, os CS extraósseos ocorrem em tecidos moles e órgãos parenquimatosos, onde não existe tecido cartilaginoso preexistente. Tem sido descrita a formação óssea heterotópica que resulta em metaplasia óssea em olhos cronicamente inflamados no homem e no cão, e se converte em osteossarcoma 6. O osteossarcoma ocular secundário a um trauma ocular crônico foi descrito em um gato 5 e também se descreveu secundariamente a metástase em um cão 11. Alguns autores afirmam que a metaplasia óssea intraocular ocorre normalmente na coroide ou adjacente ao cristalino, em caso de ruptura capsular 4. O CS que se desenvolve em tecidos moles ocorre por diferenciação cartilaginosa de células mesenquimais primitivas 10, fato não identificado no paciente do presente relato, que permanece assim com etiopatogenia desconhecida. Recentemente foi descrito um caso de CS intraocular metastático em um cão, proveniente de um tumor mamário misto 7. De acordo com um estudo retrospectivo de 97 cães com CS cuja idade média era de 8,7 anos, as raças de médio e grande porte são mais comumente afetadas, principalmente os golden retrievers. Nos pacientes estudados, a cavidade nasal foi o local mais comumente afetado (28,8%), seguida das costelas (17,5%), do esqueleto apendicular (17,5%) e dos ossos faciais (9%) 12. O CS canino possui tendência a crescer vagarosamente, com baixo potencial de metástase 10. O tempo médio de sobrevida nos cães com CS extraósseo varia entre 201 e 1.080 dias, com tratamento, dependendo do local de origem e da graduação histológica do tumor primário 9. A cadela do presente relato não apresentou complicações durante os dezoito meses de acompanhamento clínico, o que sugere que o comportamento pouco agressivo do tumor levou a um bom prognóstico. O tratamento do CS extraósseo mesenquimal normalmente consiste em excisão cirúrgica total. Protocolos de quimioterapia ou radioterapia adjuvante estão em processo de teste em animais acometidos por CS esplênico 9. Alguns autores ressaltam que o CS não é um tumor responsivo à radiação, razão pela qual a radioterapia não deve ser a modalidade de tratamento de primeira escolha e nem utilizada em conjunto com o tratamento cirúrgico. A utilização de ciclofosfamida não demonstrou resultado na recorrência de um CS no fígado 10,13. Considerações finais Neoplasmas intraoculares, sendo de origem primária ou secundária, cursam com sinais clínicos semelhantes, que envolvem comumente glaucoma, buftalmia ou exoftalmia, hifema, uveíte e cegueira. O clínico deve considerar o

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condrossarcoma nos diagnósticos diferenciais de neoplasias intraoculares. Apesar de não ser comumente relatado, o CS intraocular foi diagnosticado nessa cadela com base na proliferação celular compatível com condroblastos, não tendo relação com ruptura da lente ou trauma, o que sugeria uma etiologia primária. Os autores sugerem maiores estudos sobre a possível origem de células condroblásticas em tecidos extraósseos, em particular nos olhos.

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Ocorrência de pilomatricoma em um cão Occurrence of pilomatricoma in a dog Pilomatricoma en un perro Clínica Veterinária, n. 93, p. 52-56, 2011 Humberto Eustáquio Coelho MV, mestre, dr., prof. - UNIUBE coelhoheust@yahoo.com.br

Tatiane Furtado de Carvalho

MV, residente - Hosp. Veterinário de Uberaba carvalhotativet@hotmail.com

Hélio Alberto

Técnico de laboratório - LAB/HVU ebanohalberto@yahoo.com.br

Cláudio Henrique Gonçalves Barbosa Acadêmico - CMV/UNIUBE claudiohgb_dm@hotmail.com

Juliana Marques Fernandes Acadêmica - CMV/UNIUBE juliana.marqwes@yahoo.com.br

Karina Barbosa de Souza

Acadêmica - CMV/UNIUBE karina_b_souza@yahoo.com.br

Resumo: O pilomatricoma é um neoplasma folicular incomum nos cães e raro em outras espécies domésticas. É um neoplasma benigno, existindo também na forma maligna. Acredita-se que possa se desenvolver devido à gênese folicular incompleta. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de pilomatricoma, diagnosticado no Hospital Veterinário de Uberaba, em uma cadela adulta, sem raça definida, localizado na região do dorso, com um ano e quatro meses de evolução. Era um tumor assimétrico, não aderido, elevado, eritematoso, com pequenas áreas de ulceração, inflamação e secreção, medindo aproximadamente 5cm de diâmetro e circundado por múltiplas massas tumorais menores. Foi realizada a exérese do tumor e posterior análise histopatológica, que evidenciou a presença de células epiteliais basófilas, pequenas células hipercromáticas e áreas de mineralização. Unitermos: oncologia, neoplasias cutâneas, folículo piloso Abstract: Pilomatricoma is a follicular neoplasm that is uncommon in dogs and rare in other domestic species. It is usually benign, although the malignant form has been documented. It is thought to be developed due to incomplete follicle genesis. The aim of this study was to report the case of an adult mixed-breed female dog treated at the Veterinary Hospital of Uberaba. The animal was diagnosed with a pilomatricoma at the dorsum and it had it for a year and four months. It was an asymmetrical non-adherent elevated erythematous tumor, with small areas of ulceration, inflammation and secretion. It was approximately five centimeters in diameter and was surrounded by multiple smaller tumor masses. The tumor excision was performed and subsequent histopathological analysis revealed the presence of basophilic epithelial cells, small hyperchromatic cells and areas of mineralization. Keywords: Oncology, skin cancer, hair follicle Resumen: El pilomatricoma es un neoplasma folicular inusual en perros, al igual que en otras espécies domésticas. Es un tumor beningo, siendo que también se presenta en la forma maligna. Se cree que puede desarrollarse debido a una génesis folicular incompleta. El objetivo del presente trabajo es exponer un caso de pilomatricoma, diagnosticado en el Hospital Veterinário de Uberaba en una perra mestiza adulta con un tumor localizado en la región del dorso. El neoplasma tenía un año y cuatro meses de evolución y caracteristicas asimétricas presentandose alto, eritematoso, con areas de inflamación y secreción, pequeñas úlceras, aproximadamente cinco centímetros de diámetro y estaba rodeado por múltiples pequeñas masas tumorales. Fue realizada la extirpación del tumor y posteriormente el análisis histopatológico, que reveló la presencia de células epiteliales basófilas, células pequeñas hipercromáticas y áreas de mineralización, características del pilomatricoma canino. Palabras clave: oncología, cáncer de piel, folículos pilosos

Introdução O pilomatricoma, também conhecido como tumor da matriz pilosa, epitelioma calcificante de Malherbe, pilomatrixoma 1-3 e tricomatricoma 4,5, é um neoplasma benigno, existindo também na forma maligna (pilomatricoma maligno), habitualmente cística, que, segundo se supõe, é derivada das células germinativas da matriz folicular ou do bulbo capilar. Esse tumor é considerado pouco comum no cão e raro em outras espécies domésticas 3-7, entretanto alguns autores acreditam que sua ocorrência seja relativamente frequente, posto 52

que mal diagnosticada na medicina veterinária 4,8. Sua etiologia permanece desconhecida 8. Esse neoplasma pode se desenvolver devido à gênese folicular incompleta e à indução anormal do desenvolvimento do folículo na fase de anágeno 9. Recentemente, foi identificada, em pacientes humanos portadores de pilomatricomas, uma mutação no gene CTNNB1, que codifica a proteína B catenina, a qual participa da morfogênese folicular. Segundo os autores, a alteração da função dessa proteína induz ao desenvolvimento de pilomatricomas em camundongos 10.

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As diferenças entre os pilomatricomas benignos e malignos estão basicamente na citologia e no comportamento de desenvolvimento, sendo o benigno de caráter nodular e com presença de infiltrado linfóide no estroma. O tumor maligno tem caráter invasivo e o infiltrado linfóide é encontrado na periferia do tumor 4,8. As raças mais predispostas incluem: kerry blue terrier, old english sheepdog 3, wheaton terrier, bichon frisé, lhasa apso, basset hound, west highland white terrier, airedale terrier, schnauzer miniatura, standard e gigante 4,5, bedlington terrier e poodle 5,11. Uma hipótese para o maior acometimento dessas raças está relacionada ao crescimento contínuo do pelo, o que requer um grande número de folículos mitoticamente ativos 5,11. Em duas análises retrospectivas realizadas em 10.300 e em 1.400 neoplasmas cutâneos de origem epitelial em cães e gatos, o pilomatricoma canino representou 3% e menos de 1% dos tumores, respectivamente 5,12. No estudo histopatológico retrospectivo de 134 neoplasmas do folículo piloso e de células basais em cães, os neoplasmas do folículo piloso representaram 8,2% de todos os neoplasmas cutâneos, sendo que 13,43% foram pilomatricomas benignos e 0,75% pilomatricomas malignos. O pilomatricoma benigno acometeu animais com idade de um a dez anos, em sua maioria fêmeas, enquanto o pilomatricoma

maligno acometeu apenas um macho 13. Histologicamente, o neoplasma é formado por muitas massas sólidas ou de espaços císticos revestidos por uma orla externa de células que se parecem com a matriz pilosa. O interior desses lóbulos é constituído por massas de células que se parecem com as existentes na periferia, mas que não são coradas pela coloração de rotina com hematoxilina. Apesar disso, as margens dessas células necrosadas podem ser observadas, o que levou à denominação de “células-fantasmas” ou “células-sombras” 1,7,14. Contrastando com um cisto de inclusão epidérmica – que é revestido por uma camada de epitélio escamoso estratificado queratinizado e bem diferenciado que circunda uma massa central de queratina –, a parede cística do neoplasma da matriz pilosa está revestida por células basaloides intensamente basofílicas, parecidas com as células da matriz do bulbo piloso, com uma junção abrupta com as células fantasmas 7; nessas áreas podem-se encontrar focos de calcificação distrófica e consequente formação de osso lamelar 4,5. Se, em decorrência de uma ruptura, seu conteúdo necrótico extravaza para a derme, isso irá incitar uma dermatite piogranulomatosa 7. Clinicamente, os diagnósticos diferenciais do pilomatricoma em cães devem incluir todos aqueles tumores que ocorrem na forma de massa ou cisto. Na histologia, deve ser

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feito o diferencial entre o pilomatricoma e os cistos foliculares, o acantoma queratinizante infundibular, o tricoepitelioma e o carcinoma escamoso. O prognóstico do pilomatricoma benigno em cães é favorável 5,11,15. O tratamento clínico do pilomatricoma inclui excisão cirúrgica, crioterapia 3 e administração de retinoides para o controle de lesões múltiplas e recidivantes 1,14,16,17. Foi obtido sucesso no controle do pilomatricoma múltiplo, benigno, com 1mg/kg de isotretinoína 8,17. O uso cirúrgico de laser de dióxido de carbono ao redor da lesão foi eficaz após o tamponamento da ferida cirúrgica com mucosa intestinal de suíno 8,18,19.

ulceração, inflamação e secreção, com aproximadamente 5cm de diâmetro (Figura 1) e circundado por múltiplas massas tumorais menores. Foi realizada a exérese excisional elíptica do tumor, com margem de segurança cirúrgica de 3cm. A sutura foi realizada com fio não absorvível de náilon 2.0 e prescreveu-se a administração de enrofloxacina a (2,5mg/kg) a cada doze horas por dez dias. O material coletado foi levado à análise histopatológica, o que permitiu diagnosticá-lo como pilomatricoma, uma vez que microscopicamente foram visualizadas duas formas de células epiteliais que caracterizam o pilomatricoma: uma representada por células basófilas que lembram as células do folículo piloso (Figura 2 e 3) e a outra representada por células pequenas hipercromáticas (Figura 4), além da presença de áreas de mineralização (Figura 5).

Relato de caso Um animal da espécie canina, sem raça definida, fêmea, pesando 8kg, com aproximadamente quatro anos, foi encaminhado ao Hospital Veterinário de Uberaba, para avaliação de um aumento de volume na região dorsal, presente havia dezesseis meses e apresentando rápida evolução nos últimos quatro meses. No exame clínico, foi identificado um tumor assimétrico, não aderido, elevado, eritematoso, com pequenas áreas de

a) Flotril 2,5%. Intervet do Brasil Veterinário Ltda. Cruzeiro. SP

Humberto Eustáquio Coelho

Tatiane Carvalho

Figura 2 - Pilomatricoma em uma cadela. Observar células epiteliais basófilas (seta). Coloração HE. Aumento de 100x

Figura 1 - Pilomatricoma em uma cadela. Observar a presença de um tumor assimétrico, elevado, eritematoso e ulcerado

Humberto Eustáquio Coelho

Humberto Eustáquio Coelho

A

B

Figura 3 - Pilomatricoma em uma cadela. Observar células basófilas, com presença de células-fantasmas (seta). Coloração HE. A) aumento de 40x. B) aumento de 100x

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Humberto Eustáquio Coelho

Figura 4 - Pilomatricoma em uma cadela. Observar pequenas células epiteliais hipercromáticas. Coloração HE. Aumento de 40x

Discussão Foi relatada a predisposição do pilomatricoma em raças de pequeno e médio porte, com faixa etária média de quatro anos, o que está condizente com este relato 1,17. Já em estudo retrospectivo de 761 neoplasmas cutâneos, 0,7% se referiam à maior incidência de pilomatricoma em cães idosos 5. O animal apresentava tumores múltiplos, como relatado na literatura pesquisada, em que foi observada a ocorrência de formas císticas, hiperpigmentadas, múltiplas e de consistência pétrea, que embora incomuns também pode ocorrer 13. Porém, há divergência entre os autores, que relatam o pilomatricoma como massas dérmicas e subcutâneas, solitárias, firmes, bem circunscritas e, às vezes, ulceradas e alopécicas 4,5. Os tumores eram localizados no dorso, sendo que o maior apresentava 5cm, como relatado na literatura, de acordo com a qual os locais mais afetados são o membro posterior, o dorso, o pescoço, o tórax, a cauda, o membro anterior e o

abdômen 5,12. Alguns autores relatam que as massas variam de 1 a 10cm de diâmetro 3,5,11. As úlceras superficiais são consequência de escoriações constantes, por contato com o solo quando em decúbito ou por interferência do animal e são consideradas achados comuns 1. O exame histopatológico foi conclusivo para o diagnóstico do pilomatricoma 2,3,16,20, permitindo a identificação da principal característica histológica, que é a proliferação celular epitelial formando lóbulos, ninhos e ilhas 2,3. Segundo alguns autores, esses lóbulos, contendo células epiteliais neoplásicas, são formados pelo crescimento desorganizado do folículo piloso 2,3,14. A característica que define o diagnóstico de pilomatricoma é a formação de estruturas dérmicas lobulares constituídas predominantemente de células basaloides 2,14. As células basaloides identificadas no exame histopatológico possuem agregações anormais de filamentos de ceratina no seu citoplasma, sem grânulos de cerato-hialina. À medida que os filamentos de ceratina dessas células se tornam mais espessos, durante o crescimento do pilomatricoma, tomam todo o citoplasma e contribuem para a perda do núcleo, originando as células-sombras 2,3. O tratamento realizado no animal em questão foi a excisão cirúrgica do neoplasma 1-3,13,14,17, não havendo recidiva após um ano. Pode haver dificuldades em transfixar o tumor, em razão de em alguns casos haver concentração óssea no interior da massa 4,21,22. Contudo, as excisões incompletas podem levar a recidivas 22,23. Conclusão O pilomatricoma é uma neoplasia benigna do folículo piloso, pouco comum em cães. A histopatologia é fundamental para o diagnóstico diferencial e confirmativo. O diagnóstico histopatológico do pilomatricoma é baseado no achado de estruturas dérmicas lobulares associadas a células epiteliais basófilas. A excisão cirúrgica, desde que mantida uma adequada margem de segurança, mostra-se eficaz no tratamento do pilomatricoma. Humberto Eustáquio Coelho

Humberto Eustáquio Coelho

Figura 5 - Pilomatricoma em uma cadela. Observar mineralização (setas). Coloração HE. Aumento de 10x Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

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Dermatomiosite canina – relato de três casos Canine dermatomyositis – report of three cases Dermatomiositis canina – reporte de tres casos Clínica Veterinária, n. 93, p. 58-62, 2011 Mariana Cristina Hoeppner Rondelli MV, mestranda FCAV/Unesp-Jaboticabal

marianarondelli@hotmail.com

Fabricio Andrade Marinho MV, mestrando FCAV/Unesp-Jaboticabal

fabricio_marinho@hotmail.com

Marcelo Augusto Moraes Koury Alves MV, mestrando FCAV/Unesp-Jaboticabal

marcelo_koury_vet@hotmail.com

Juliana Werner

MV, mestre Laboratório Werner&Werner juliana@werner.vet.br

Vera Márcia Mucsi Cipólli médica veterinária autônoma vmarcia@hotmail.com

Mirela Tinucci-Costa

MV, profa. dra. FCAV/Unesp-Jaboticabal mirelatc@fcav.unesp.br

Resumo: A dermatomiosite canina familial é uma dermatopatia inflamatória, isquêmica e hereditária de ocorrência rara, que acomete cães jovens da raça collie ou descendentes desta, sendo denominada de dermatomiosite canina familial, e em cães de outras raças e sem definição racial, é conhecida como dermatomiosite semelhante à dermatomiosite canina familial. A cura efetiva não é possível e o controle da dermatomiosite é difícil, pois depende de um correto diagnóstico a partir do surgimento das lesões, já que o diagnóstico precoce, antes do desenvolvimento dos sinais clínicos, não pode ser estabelecido. Descreve-se aqui a ocorrência de dermatomiosite em cadela da raça labrador, uma raça não predisposta, e em cadelas sem definição racial, a fim de que seja considerada no diagnóstico de lesões alopécicas com alteração de pigmentação e erosão ou ulceração na face, sobre proeminências ósseas carpianas ou tarsianas, nas pinas e na cauda. Unitermos: dermatologia, dermatopatias vasculares, isquemia Abstract: Canine familial dermatomyositis is an inflammatory, ischemic and hereditary dermatopathy of rare occurrence that affects young Collie dogs or their descendents, being called in this case canine familial dermatomyositis. In other breeds and mongrel dogs, it is known as canine familial dermatomyositis-like disease. The effective cure is not possible and its control is difficult, since it depends on the correct diagnosis from the moment the lesions are present, and early diagnosis before the onset of clinical signs cannot be established. The occurrence of dermatomyositis in a Labrador, a non-predisposed breed, and in mongrel bitches is reported here in order to aid in the differential diagnosis for alopecia with alterations in pigmentation and erosion or ulceration in the face, on carpic or tarsic bony prominences, pinnal tips and tail. Keywords: dermatology, vascular skin diseases, ischemia Resumen: La dermatomiositis familiar canina es una dermatopatía inflamatoria, isquémica y hereditaria de presentación poco frecuente. Afecta perros de raza Collie o su descendencia, pero puede también acometer animales mestizos o de otras razas. En estos últimos, suele denominarse a esta patologia como dermatomiositis “like” o dermatomiositis parecida con la dermatomiositis familiar canina. No es posible conseguir la cura de esta enfermedad, y el control de la misma se hace difícil, ya que depende de un correcto diagnóstico antes de la aparición de las lesiones. Es difícil también establecer un diagnóstico precoz, vale decir, antes del desarrollo de los signos clínicos. En el presente trabajo se describen tres casos: en un Labrador, raza esta de baja predisposición, y en dos perros mestizos. Los animales presentaron lesiones alopécicas con alteración pigmentaria y erosiones o ulceraciones faciales sobre las prominencias óseas carpianas o tarsicas, así como en la cola. Palabras clave: dermatología, enfermedades cutáneas vasculares, isquemia

Introdução A dermatomiosite canina é uma doença de ocorrência rara, incluída nas dermatopatias congênitas e hereditárias 1. Trata-se de uma doença inflamatória e idiopática da pele, dos músculos e dos vasos sanguíneos 2. A etiopatogenia é desconhecida, tanto nos humanos quanto nos cães. Os danos imunológicos aos vasos sanguíneos possivelmente resultam 58

em lesão isquêmica à pele e outros órgãos suscetíveis, e a hipóxia cutânea conduz à atrofia folicular e a outras alterações na pele. Quando a doença está associada à vacinação antirrábica, assume-se que haja uma reação imunológica idiossincrásica 1. O linkage no cromossomo 35 para a manifestação da dermatomiosite em cães da raça collie foi identificado em 2005 3.

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A dermatomiosite é uma dermatopatia isquêmica que em geral acomete cães das raças collie e descendentes, tais como o border collie e o pastor de shetland. Quando restrita a essas raças, é denominada dermatomiosite canina familial (DmCF), é hereditária, manifesta-se na juventude e acomete a pele e a musculatura 4. Outras quatro síndromes cutâneas isquêmicas semelhantes quanto aos aspectos clínicos e histopatológicos à dermatomiosite canina familial são propostas 1. Consideram-se a isquemia pós-vacinação antirrábica, localizada e limitada ao local da aplicação; a isquemia pós-vacinal generalizada, possivelmente também pós-vacinação antirrábica; a dermatomiosite semelhante à DmCF, quando acomete cães sem predileção comprovada; e a dermatomiosite canina generalizada idiopática, que acomete cães adultos, sem que haja correlação com vacinações. Cães das raças collie, pastor de shetland e relacionados apresentam propensão comprovada para o desenvolvimento da dermatomiosite canina familial. Cães chow chow, pastores alemães, pastores de beauceron, welsh corgi, lakeland terrier, kuvasz, schnauzer miniatura, dachshunds, fox terriers e cães mestiços foram citados 1,5 por manifestarem a doença. Não se notou predisposição sexual e a idade de surgimento das lesões é de seis meses 3. Os primeiros relatos mundiais da doença em cães da raça collie datam de 1984 6, enquanto em pastores de shetland, de 1985 7. No Brasil, foram relatados em cães collie 8,9 e em malteses 10. Cães que apresentam a DmCF e a dermatomiosite canina semelhante à DmCF compartilham os mesmos aspectos clínicos, que incluem alopecia, crostas, hiperpigmentação ou hipopigmentação, erosões ou ulcerações e prurido, quando há infecção secundária 4. As lesões em geral surgem quando o cão é jovem e são observadas em áreas de traumatismo constante, sobre proeminências ósseas, nas pinas e na cauda, assim como em regiões perioculares, no plano nasal e nos lábios 11. A miosite pode se desenvolver após a lesão cutânea e está associada à severidade do quadro. Pode haver miosite dos músculos mastigatórios, observando-se atrofia bilateral da musculatura mastigatória. Alguns cães podem apresentar ainda marcha rígida e hipermetria. Os cães severamente acometidos podem apresentar disfagia e sialorreia quando a musculatura esofágica também está comprometida 12, assim como megaesôfago e pneumonia por aspiração 13. Há relato de amiloidose renal secundária à dermatomiosite em um cão collie de cinco anos que apresentava a doença desde os dois meses de idade 14. O diagnóstico é firmado unindo-se os achados de exame físico com a avaliação histopatológica das lesões 1,9. Os locais preferidos para a realização da biopsia são as regiões de eritema e alopecia 1. Assim como a semelhança dos aspectos clínicos, a DmCF e a dermatomiosite canina semelhante à DmCF também compartilham os achados histopatológicos. Em geral, a degeneração de células basais foliculares é mais observada. As células basais afetadas podem formar vacúolos ou encolher. Ocasionalmente, uma vesiculação dermoepidérmica secundária pode estar presente em animais severamente comprometidos. Outrossim, a separação dermoepidérmica pode ensejar a formação de artefatos (em razão do dano causado à célula basal) nas margens

das amostras. A derme é acometida por palidez típica e difusa, caracterizada por coloração pálida ou rarefação de colágeno que perdeu o caráter fibrilar 5. A miosite requer biopsias musculares, assim como a realização de eletromiografia 1,9. Os principais diagnósticos diferenciais a serem considerados são o de lúpus eritematoso sistêmico, demodiciose, dermatofitose, celulite juvenil, foliculite, pênfigo foliáceo e lúpus eritematoso discoide 1,2,9. A leishmaniose também pode induzir a formação de lesões cutâneas isquêmicas que se caracterizam como dermatomiosite 15. É certo que a dermatomiosite canina não possui cura clínica efetiva, mas um bom controle da progressão da doença deve ser o grande objetivo terapêutico. Antibióticos tais como a cefalexina, a amoxicilina com ácido clavulânico ou a enrofloxacina são empregados na terapia quando se constata piodermite secundária 16. Ainda, podem ser administrados fármacos imunossupressores como a prednisona, a azatioprina ou a ciclosporina 17, a fim de modular as ações do sistema imunológico, uma vez que se acredita no caráter autoimune da doença 1. A pentoxifilina, um derivado da metilxantina, inibe a adesão de plaquetas e leucócitos ao endotélio, além de melhorar a perfusão sanguínea e a oxigenação tecidual 10. A administração de vitamina E é indicada por sua ação imunomodulatória 9. O uso de xampus hipoalergênicos, antisseborreicos e antimicrobianos é também indicado 2,9. A exposição solar deve ser controlada 2 e a castração de fêmeas também é recomendada 9. O objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência de dermatomiosite em cães não pertencentes às raças predispostas, sendo um dos casos em uma cadela labrador retriever e os outros dois em cadelas sem definição racial. Relato dos casos Foram atendidos três cães em 2009 pelo Serviço de Dermatologia do Hospital Veterinário da Unesp/Jaboticabal, apresentando lesões cutâneas de padrão muito semelhante, que surgiram enquanto os animais ainda eram bastante jovens (aproximadamente seis meses). Dos três cães, dois não tinham definição racial e um era labrador retriever. Todos os pacientes eram fêmeas, castradas, com idade média de dois anos e seis meses (um ano e nove meses, dois anos e dois anos e três meses) e peso médio de 15kg (12kg, 3kg e 30kg). As principais queixas dos proprietários eram o aspecto das lesões, a dificuldade de cicatrização que apresentavam e o prurido de moderado a severo, de forma que as cadelas lambiam excessivamente as áreas interdigitais e a cauda. A cadela labrador, inclusive, havia sofrido amputação da porção distal da cauda em virtude da perda de vitalidade. O exame físico geral não demonstrou alterações. Entretanto, no exame físico específico foram verificadas lesões alopécicas, hiperêmicas, algumas com erosão leve, com bordos bem definidos em regiões interdigitais, área carpiana distal (Figura 1A e B), extremidade da cauda e das pinas e em plano nasal (Figura 2A e B). Todas as cadelas haviam recebido tratamento com antibacterianos e antifúngicos orais e tópicos, sem que houvesse melhora clínica. Nos três casos, realizou-se biopsia incisional pelo método de punch e consequente avaliação histopatológica. Esta

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revelou degeneração hidrópica da camada basal com presença de fenda artefatual, demonstrando a fragilidade da junção dermoepidérmica pela dermatite de interface, palidez e homogenização do colágeno, além de atrofia e inatividade severa dos folículos pilosos (Figura 3A e B). De acordo com o observado, foi estabelecido o diagnóstico histopatológico de dermatopatia isquêmica. Unindo o padrão histopatológico ao padrão clínico apresentado pelos pacientes, concluiu-se o diagnóstico dermatológico de dermatomiosite e a terapia foi prontamente instituída. As cadelas passaram a receber cefalexina a enquanto as lesões estavam infectadas (30mg/kg a cada doze horas por via oral), e medicações imunossupressoras. A prednisona b (2,2mg/kg a cada doze horas por via oral) foi escolhida para as cadelas sem definição racial, devido à restrição financeira dos proprietários, e a ciclosporina c (7mg/kg a cada 24 horas por via oral) foi receitada para a cadela labrador. Houve também prescrição de vitamina E d (400 UI/dia por via oral para as cadelas sem raça definida e 800 UI/dia para a cadela labrador), ômegas 3 e 6 e (1 cápsula de 1g/5kg de peso corporal a cada 24 horas por via oral), hidratação das áreas lesionadas com produtos contendo glicerina e

propilenoglicol f e do uso de filtro solar g (FPS 30). Apenas a cadela labrador continuou recebendo tratamento, uma vez que os proprietários dos outros animais decidiram não tratar os pacientes continuamente, seja pelos efeitos adversos apresentados pela corticoterapia (polidipsia, poliúria, polifagia e ganho de peso) ou pelo custo terapêutico. Após três semanas recebendo ciclosporina e apresentando melhora relativa do quadro dermatológico, optou-se por prescrever pentoxifilina h (200mg a cada 24 horas por via oral), no caso da fêmea labrador. A partir desse momento, as lesões mostraram sensíveis melhoras. Nas avaliações mensais, as lesões diminuíram marcadamente e as avaliações físicas e laboratoriais encontram-se nos padrões de normalidade para a espécie até o momento. a) Celesporin 600mg. Ouro Fino. Cravinhos. SP b) Meticorten 20mg. Mantecorp. São Paulo. SP c) Sandimmun Neoral 100mg. Novartis. São Paulo. SP d) Vita E 400. Aché Laboratórios Farmacêuticos. Guarulhos. SP e) Preparações de farmácia de manipulação em cápsulas de 1 grama f) Humilac. Virbac. Jurubatuba. SP g) Protetor Solar Pet Society. Pet Society. São Paulo. SP h) Proex 200mg. CEPAV Laboratórios. São Paulo. SP

Vera Márcia Mucsi Cippóli

Vera Márcia Mucsi Cippóli

Figura 1 - Lesões isquêmicas marcadas por palidez, pigmentação e erosões em área carpiana de cadela labrador retriever acometida por dermatomiosite canina semelhante à dermatomiosite canina familial

Vera Márcia Mucsi Cippóli

Vera Márcia Mucsi Cippóli

A

B

Figura 2 - Padrões de lesões em cadela labrador retriever acometida por dermatomiosite canina semelhante à dermatomiosite canina familial. Lesão alopécica, pálida e pigmentada em plano nasal (A). Lesão alopécica, despigmentada, crostosa e com erosão em pina (B)

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Juliana Werner

Juliana Werner

A

B

Figura 3 - Fotomicrografia de pele de cão com dermatopatia isquêmica (dermatomiosite). A) Evidencia-se inatividade e atrofia folicular e homogeneização do colágeno da derme (HE. Aumento de 50x). B) Além das alterações evidenciadas em A, observa-se também degeneração hidrópica da camada basal com presença de fenda artefatual (seta), demonstrando a fragilidade da junção dermoepidérmica pela dermatite de interface (HE. Aumento de 200x)

Discussão A dermatomiosite canina é uma dermatopatia isquêmica que acomete mais frequentemente algumas raças de cães quando ainda jovens. Parece ter caráter hereditário, imunomediado e envolve a pele e a musculatura 4. Não se descreve

predisposição sexual para a dermatomiosite canina 1; todavia, relatamos aqui casos em três fêmeas castradas que iniciaram o quadro clínico-dermatológico por volta dos seis meses de idade, o que está de acordo com a literatura 1. Cães collie, pastores de shetland, chow chow, pastores

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alemães, pastores de beauceron, welsh corgi, lakeland terriers, kuvasz, schnauzers miniatura, dachshunds, fox terriers, sem definição racial 5 e malteses 10 estão entre os cães acometidos. Contudo, a dermatomiosite canina semelhante à dermatomiosite canina familial em cães da raça labrador ainda não havia sido descrita na literatura. O diagnóstico diferencial, principalmente para a leishmaniose visceral canina 15, foi considerado previamente ao estabelecimento do diagnóstico definitivo. Foram realizados testes sorológicos (imunofluorescência indireta e Elisa) para pesquisa de anticorpos anti-Leishmania spp, PCR do sangue total e PCR de amostras de pele lesionada e sem lesão, além de cultura de medula óssea, sendo todos os resultados negativos. O exame histopatológico foi fundamental para o diagnóstico, uma vez que a descrição histopatológica das amostras obtidas das três cadelas foi semelhante, sendo a degeneração hidrópica da camada basal com presença de fenda artefatual e a fragilidade da junção dermoepidérmica observações importantes e compatíveis com a descrição citada anteriormente 1. O tratamento instituído nas cadelas sem definição racial, baseado exclusivamente na administração de prednisona e vitamina E, não surtiu o efeito desejado, pois as lesões não se alteraram, e ainda levou ao aparecimento de efeitos adversos (polidipsia, poliúria, ganho de peso e polifagia). Devido a esses inconvenientes e à restrição de gastos, os respectivos proprietários abandonaram o tratamento. Já a cadela labrador, tratada com pentoxifilina e com ciclosporina, mostrou significativa melhora das lesões com mínimos efeitos adversos. Em três meses de tratamento, as lesões nas pinas, nas áreas digitais e na cauda evoluíram favoravelmente. O emprego da pentoxifilina na terapia da dermatomiosite é controverso. Alguns autores 9,18,19 relatam bom controle das lesões quando administram o fármaco aos cães portadores da doença, enquanto outros não 10. No presente relato, a associação da ciclosporina com uma dose diária de pentoxifilina em concentração inferior à recomendada na literatura para esses casos mostrou-se bastante benéfica no controle das lesões. A pentoxifilina foi empregada na dose de 10mg/kg a cada 24 horas, embora seja recomendada na dose de 25mg/kg a cada doze horas 19. Até o presente momento, a cadela labrador segue com melhora progressiva das lesões, não evidenciando outras alterações clínico-laboratoriais e não houve necessidade de alterar a posologia adotada para a pentoxifilina. O controle da dermatomiosite canina semelhante à dermatomiosite canina familial é difícil, pois depende de um correto diagnóstico a partir do aparecimento das lesões, já que o diagnóstico precoce, antes do desenvolvimento dos sinais clínicos, não pode ser estabelecido 3. Considerações finais Dermatopatias que apresentam alopecia, crostas, hiperpigmentação ou hipopigmentação, erosões ou ulcerações e prurido nas pinas, na face e nos membros, principalmente, devem ser investigadas sob a suspeita de dermatomiosite canina, mesmo que o cão não pertença às raças listadas entre as mais predispostas, como o labrador retriever e os sem definição racial. Após a exclusão dos diagnósticos diferenciais, 62

o exame histopatológico deve ser realizado para se estabelecer o correto diagnóstico e a melhor abordagem terapêutica. Referências

01-IHRKE, P. J. Doenças da interface da junção dermoepidérmica. In: GROSS, T. L. ; IHRKE, P. J ; WALDER, J. E. ; AFFOLTER, K. V. Doenças da pele do cão e do gato – diagnóstico clínico e histopatológico. 2. ed. São Paulo: Roca, 2009. p. 47-68. 02-HARGIS, A. M. ; HAUPT, K. H. Review of familial canine dermatomyositis. Veterinary Annual, v. 30, p. 277-282, 1990. 03-CLARK, L. A. ; CREDILLE, K. M. ; MURPHY, K. E. ; REES, C. A. Linkage of dermatomyositis in the Shetland Sheepdog to chromosome 35. Veterinary Dermatology, v. 16, n. 6, p. 392-394, 2005. 04-IHRKE, P. J. Ischemic skin disease in the dog. In: WORLD SMALL ANIMAL ASSOCIATION CONGRESS, 31., European Congress FECAVA, 12., & Czech Small Animal Veterinary Association Congress, 14., 2006, Prague, Czech Republic, Proceedings…, Prague, World Small Animal Association p. 227-231, 2006. 05-GROSS, T. L. Dermatopatia isquêmica/dermatomiosite canina. In: GROSS, T. L. ; IHRKE, P. J. ; WALDER, J. E. ; AFFOLTER, K. V. Doenças da pele do cão e do gato - diagnóstico clínico e histopatológico. 2. ed. São Paulo: Roca, 2009. p. 47-50. 06-HARGIS, A. M. ; HAUPT, K. H. ; HEGREBERG, G. A. ; PRIEUR, D. J. ; MOORE, M. P. Familial canine dermatomyositis. Initial characterization of the cutaneous and muscular lesions. The American Journal of Pathology, v. 116, n. 2, p. 234-244, 1984. 07-HARGIS, A. M. ; HAUPT, K. H. ; PRIEUR, D. J. ; MOORE, M. P. A skin disorder in three Shetland sheepdogs: comparison with familial canine dermatomyositis of collies. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 7, n. 4, p. 306-315, 1985. 08-LARSSON, C. E. ; NAHAS, C. R. ; LUCAS, R. ; MICHALANY, N. S. Dermatomiosite familiar canina - relato de casos. In: XV CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA, 1993, Rio de Janeiro, Anais..., Rio de Janeiro. 1993. 09-MACHADO, L. H. de A. ; CARDOSO, M. J. L. ; FABRIS, V. E. ; ANTUNES, M. I. P. P. Dermatomiosite canina familiar – relato de caso. Clínica Veterinária, ano XIV, n. 81, p. 106-110, 2009. 10-FONTERRADA, C. de O. ; CONCEIÇÃO, L. G. Dermatopatia isquêmica em um cão: relato de caso. Revista de Educação Continuada CRMV-SP, v. 8, n. 1, p. 7-12, 2005. 11-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. G. Defeitos congênitos e hereditários. In: ___. Dermatologia de Pequenos Animais, 5. ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. p. 687-752. 12-KUNKLE, G. A. ; CHRISSMAN, C. L. ; GROSS, T. L. ; FADOK, V. WERNER, L. L. Dermatomyositis in collie dogs. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 7, n. 3, p. 185192, 1985. 13-HARGIS, A. M. ; MUNDELL, A. C. Familial canine dermatomyositis. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 14, n. 7, p. 855-864, 1992. 14-HARGIS, A. M. ; MOOR E, M. P. ; RIGGS, C. T. ; PRIEUR, D. J. Severe secondary amyloidosis in a dog with dermatomyositis. Journal of Comparative Pathology, v. 100, n. 4, p. 427-433, 1989. 15-MACRÌ, B. ; GUARDA, F. A case of dermatomyositis due to leishmaniasis in a dog. Schweizer Archiv für Tierheilkunde, v. 129, n. 5, p. 265-270, 1987. 16-MAY, E. R. Bacterial skin diseases: current thoughts on pathogenesis and management. Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice. v. 36, n. 1, p. 185-202, 2006. 17-HNILICA, K. A. Cyclosporine therapy I: immune mediated dermatoses. In: NORTH AMERICAN VETERINARY CONFERENCE, 19., 2005, Orlando, EUA, Proceedings... p. 270-272, 2005 Disponível em http://www.ivis.org/proceedings/navc/2005/SAE/102.pdf?LA=1. Acesso em 27 de maio de 2011. 18-VITALE, C. B. ; GROSST, L. ; MAGRO, C. M. Vaccine-induced ischemic dermatopathy in the dog. Veterinary Dermatology, v. 10, n. 2, p. 131-142, 1999. 19-REES, C. A. ; BOOTHE, D. M. Therapeutic response to pentoxifylline and its active metabolites in dogs with familial canine dermatomyositis. Veterinary Therapeutics: Research in Applied Veterinary Medicine, v. 4, n. 3, p. 234-241, 2003.

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Feoifomicose cutânea em gatos – relato de dois casos Cutaneous phaeohyphomycosis in cats – report of two cases Feohifomicosis en gatos – relato de dos casos Clínica Veterinária, n. 93, p. 64-70, 2011 Cristiane Brandão Damico médica veterinária crisbdamico@gmail.com

Simone Carvalho dos Santos Cunha MV, mestre, doutoranda - UFF simonecsc@gmail.com

Adriana Neves Pereira

médica veterinária Clínica Gatos e Gatos Veterinária drikavet@gmail.com

Kátia Barão Corgozinho MV, mestre, dra. katiabarao@uol.com.br

Heloisa Justen Moreira de Souza MV, profa adj. Depto. Clin. e Cirurg. Fel - UFRRJ justen@centroin.com.br

José Luis de Carvalho MV, mestre, prof. Univ. Estácio de Sá carvalhojd@uol.com.br

Walter Lilenbaum

MV, mestre, dr. prof. assoc. UFF mipwalt@vm.uff.br

Resumo: O termo feoifomicose é empregado para designar todas as infecções de natureza cutânea, subcutânea ou sistêmica causadas por fungos que se desenvolvem no tecido do hospedeiro sob forma de elementos miceliais septados, leveduras e pseudo-hifas de coloração escura (demáceos). São relatados dois felinos atendidos com lesões cutâneas no pavilhão auricular causadas por feoifomicose, tendo sido isolados os agentes etiológicos Cladosporium sp no primeiro caso e Exophiala dermatitidis no segundo caso, diagnosticados por meio de citologia e cultura. Ambos os gatos apresentavam-se imunossuprimidos, o primeiro pela terapia prolongada com corticoides e o segundo pelo vírus da imunodeficiência felina. O primeiro caso veio a óbito dois dias após a consulta e o segundo foi tratado com sucesso com antifúngicos. A feoifomicose é uma micose emergente e deve ser incluída no diagnóstico diferencial em gatos com lesões cutâneas ou subcutâneas. Unitermos: felinos, micoses, imunossupressão, cultura fúngica, feohifomicose Abstract: The term phaeohyphomycosis is used to describe any type of cutaneous, subcutaneous or systemic fungal infection that develops in the host tissue as septate mycelial elements, yeasts and dark colored (dematiaceous) pseudo-hyphae. This paper reports the cases of two cats that presented cutaneous pinnal lesions caused by phaeohyphomycosis. Cytology and culture revealed Cladosporium sp as the etiological agent in the first case and Exophiala dermatitidis in the second case. Both animals were immunosuppressed: the first cat due to prolonged corticosteroid and the second one due to an infection with the Feline Immunodeficiency Virus. The first cat died two days after the diagnosis, whereas the second cat was successfully treated with antifungal therapy. Phaeohyphomycosis is an emerging mycosis that should be considered as a differential diagnosis in cats with cutaneous and subcutaneous lesions. Keywords: feline, mycosis, immunosuppression, fungal culture Resumen: El término feohifomicosis describe cualquier infección de piel, subcutánea y sistémica que se desarrolla en los tejidos del huésped y que están causadas o provocadas por hongos en forma de micelios septados, levaduras e hifas de color pseudo-oscuro (dematiáceos). Este articulo describe el caso de dos felinos con lesiones en las orejas causadas por feohifomicosis, siendo que fueron aislados como agentes etiológicos el Cladosporium sp en el primer caso y Exophiala dermatitidis en el segundo. El diagnóstico se realizó por citología y cultivo. Los dos animales se presentaron inmunosuprimidos, el primero debido a una terapia prolongada con corticoides, y el segundo como consecuencia de una infección por virus de inmunodeficiencia felina. El primer paciente murió dos días después de la consulta y el segundo fue tratado exitosamente con antifúngicos. La feohifomicosis es una enfermedad emergente y debería ser incluída en el diagnóstico diferencial de felinos con lesiones cutáneas o subcutáneas. Palabras clave: felinos, micosis, inmunosupresión, cultivo de hongos

Introdução O termo feoifomicose (ou feohifomicose, como era grafado antes do novo acordo ortográfico) é empregado para designar todas as infecções de natureza cutânea, subcutânea ou sistêmica causadas por fungos que se desenvolvem no tecido do hospedeiro. Tais fungos podem se apresentar sob forma de elementos miceliais septados e pseudo-hifas de coloração escura (demáceos) 1-3. 64

Os fungos demáceos são definidos como sendo aqueles que possuem pigmentos de melanina nas células da parede da hifa e dos esporos. Normalmente, esses fungos são saprófitas do solo, patógenos de plantas ou contaminantes do laboratório ou ambiente 1,3,4-6. As infecções causadas por fungos pigmentados são frequentemente chamadas de cromomicoses 4. O número de relatos de infecção causada por tais espécies

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fúngicas em seres humanos e em animais vem crescendo, tendo sido considerado o maior grupo de fungos patogênicos no diagnóstico laboratorial 4, com mais de cem espécies documentadas, pertencentes a sessenta gêneros (Figura 1) 4,7. Os animais e os seres humanos são expostos à infecção por meio da implantação traumática do fungo pelo ambiente contaminado 2,3,8 ou por pedaços de madeiras e espinhos 9, que leva a uma inflamação granulomatosa crônica 2. A ingestão ou inalação dos esporos pode causar infecção sistêmica grave 9. A rota da feoifomicose cerebral não é bem definida, Agente etiológico

sinônimos

Alternaria

mas algumas espécies de Cladophialophora (Figura 1) demonstram neurotropismo 4,9,10,11. Uma vez que os fungos conseguem se estabelecer no tecido subcutâneo desses animais, a manifestação clínica se caracteriza pela formação de nódulos fistulados ou ulcerados e/ou placas cutâneas. Em gatos, as lesões apresentam-se como abscessos que se desenvolvem em semanas ou meses 12,13. Na maioria dos casos, a feoifomicose subcutânea é relatada em gatos que apresentam lesões na face ou nas extremidades. A forma cerebral causa uma disfunção neurológica que varia

espécies afetadas

locais das lesões

cão e gato

subcutâneo (região nasal) e cutâneo

Bipolaris

Cladosporium, Drechslera

cão e gato

subcutâneo, seio paranasal e raramente disseminado

Cladophilophora

Cladosporium bantianum, Xylohypha bantiana, Torula bantiana, Cladosporium trichoides

gato e cão

sistema nervoso central, cutâneo e disseminado

Curvularia

cão e gato

subcutâneo e cutâneo

Exophiala

gato

subcutâneo, cutâneo (face e membros), seios nasais e disseminado (incluindo sistema nervoso central)

Fonsecaea

gato

subcutâneo (nasal)

Macrophomina

gato

subcutâneo

Microsphaerosis arundinis

gato

cutâneo (extremidades)

Ochroconis

gato

disseminado

Phialophora

cão

cutâneo e tecido ósseo

Phoma

gato

sistema nervoso central (cérebro)

Pseudomicrodochium

cão

cutâneo

Scolecobasidium

gato

subcutâneo

Stemphyllium

gato

subcutâneo

Figura 1- Fungos do grupo da feoifomicose de importância clínica na medicina veterinária (adaptado) 4

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Cristiane Brandão Damico Cristiane Brandão Damico

Relatos dos casos Caso clínico 1: gato macho, sem raça definida, de doze anos e castrado, com acesso à rua, proveniente da cidade do Rio de Janeiro, que apresentava doença dermatológica grave havia dois meses. Em outra clínica foram-lhe aplicados corticoide em altas doses e antibioticoterapia, sem melhora, e no momento da consulta o animal apresentava-se apático, com emagrecimento progressivo e anorexia. No exame físico, o animal apresentava lesão ulcerada na região dorsal do pescoço e lesão necrosada de coloração escura no pavilhão auricular esquerdo (Figura 2). O diagnóstico diferencial da lesão auricular incluiu carcinoma de células escamosas, melanoma, necrose e granuloma fúngico. Foram então realizados exames hematológicos, bioquímicos e citologia das lesões, e com base nos resultados desses exames foram solicitados exames adicionais. Nos exames hematológicos observou-se discreta leucopenia e hipoalbuminemia. A citologia revelou a presença de inflamação piogranulomatosa com presença de hifas septadas, sugestiva de infecção fúngica do grupo da feoifomicose (Figura 3). A terapia antifúngica com itraconazol (10mg/kg, a cada 24h, por via oral) foi iniciada, mas o animal veio a óbito dois dias após a consulta. A necropsia foi então realizada para coleta de material para exame histopatológico e cultura, visando à determinação do agente etiológico. No exame histopatológico observou-se uma inflamação granulomatosa e presença de elementos leveduriformes de coloração escura, com hifas curtas, alongadas e septadas, sugestivas de feoifomicose. A cultura mostrou crescimento fúngico lento, em meio ágar Sabouraud-dextrose e em temperatura de 25-37°C. As colônias apresentaram topografia elevada e textura velutina, de coloração marrom esverdeada a negra e com o reverso da colônia escuro (Figura 4). Na microscopia, foram evidenciadas hifas septadas, ramificadas e escuras, com conidióforos que se ramificam próximo à extremidade, dando aspecto de "galho de árvore" (Figura 5). Com base nas morfologias macroscópica e microscópica do fungo isolado, ele foi identificado como Cladosporium sp.

Figura 2 - Feoifomicose em felino. Notar lesão auricular crostosa e de coloração escura

Figura 3 - Citologia da lesão cutânea, onde há presença de hifas septadas sugestivas de feoifomicose

Cristiane Brandão Damico

dependendo do local dos abscessos cerebrais. Já a forma disseminada, que normalmente tem curso agudo ou subagudo, leva a sintomas variáveis, de acordo com o órgão envolvido e eventualmente pode ser de caráter fulminante 4,10,14. O diagnóstico pode ser realizado por meio do exame direto do exsudato ou do tecido macerado e com a utilização de hidróxido de potássio (KOH) observam-se hifas pigmentadas 4. Na citologia, é possível observar uma inflamação piogranulomatosa com hifas septadas, notando-se constrições que provocam dilatações globosas. O exame histopatológico e a cultura fúngica levam ao diagnóstico definitivo 15. Quando as lesões são ressecáveis, a cirurgia pode ser curativa, mas a recorrência no mesmo lugar ou em novos lugares é frequente 4,10,13. Por isso, o uso de quimioterapia antifúngica também é indicado. Os derivados azólicos (como itraconazol, fluconazol e cetoconazol) são os antifúngicos mais empregados, sendo possível a associação com flucitosina 12,14. Os animais com a forma disseminada ou cerebral têm um prognóstico desfavorável 2.

Figura 4 - Morfologia macroscópica da cultura, evidenciando colônias de topografia elevada e textura velutina, de coloração marrom-esverdeada a negra, características do fungo Cladosporium sp

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Caso clínico 2: felino macho de pelagem de cor preta, sem raça definida, de cerca de doze anos de idade e castrado, com acesso à rua, proveniente da cidade do Rio de Janeiro, com histórico de vômitos, disorexia e lesões de pele havia cerca de três meses. As lesões eram alopécicas e crostosas, localizadas na região da face (principalmente pavilhões auriculares) e extremamente pruriginosas. Além disso, havia um pequeno nódulo no pavilhão auricular direito, de cerca de 1cm de diâmetro, de coloração idêntica à da pele, ou seja, negra (Figura 6). O felino se apresentava magro, debilitado e levemente desidratado. Foram realizados exames hematológicos, bioquímicos e ultrassonografia abdominal. Os exames hematológicos não apresentaram alterações; no exame ultrassonográfico observou-se apenas espessamento da parede intestinal (0,8 a 1cm) na região do intestino delgado. Uma laparotomia foi solicitada ao proprietário para a realização de uma biópsia intestinal, porém foi declinada. As suspeitas clínicas principais foram de doença inflamatória intestinal crônica ou neoplasia intestinal (linfoma, carcinoma ou mastocitoma). A dermatite foi associada a uma possível alergia alimentar. Assim, como triagem terapêutica, um tratamento com prednisolona (2mg/kg a cada 24h, por via oral) e dieta hipoalergênica foi iniciado, além do trata-

mento de suporte com metoclopramida (0,3mg/kg a cada 12h, por via subcutânea) e cloridrato de ranitidina (2mg/kg a cada 12h, por via subcutânea). O animal retornou dentro de sete dias com melhora da dermatite pruriginosa, porém ainda magro e com a presença do nódulo auricular. Assim, uma citologia do nódulo foi realizada e a corticoterapia retirada gradualmente. No exame citológico observou-se uma inflamação piogranulomatosa com a presença de estruturas fúngicas sugestivas de feoifomicose (Figura 7). A exérese do nódulo para realização de exame histopatológico e cultura de tecido foi solicitada ao proprietário, porém também foi declinada. Então a cultura foi realizada com o material obtido por meio de swab da secreção presente dentro do nódulo. Em seguida, foi instituído itraconazol (10mg/kg, por via oral, a cada 24 horas). Cristiane Brandão Damico

Cristiane Brandão Damico

Figura 7 - Citologia da lesão cutânea, onde há presença de hifas septadas sugestivas de feoifomicose

Figura 5 - Morfologia microscópica do Cladosporium sp: hifas septadas, ramificadas e escuras, com conidióforos que se ramificam próximo à extremidade dando aspecto de "galho de árvore" Cristiane Brandão Damico

O animal retornou em quinze dias com grande melhora clínica. Seu peso tinha aumentado, ele estava mais ativo e não apresentava mais vômito. O nódulo no pavilhão auricular direito havia regredido para uma pápula com cerca de 0,5cm. A terapia de suporte com metoclopramida e ranitidina foi suspensa. Na cultura do nódulo, houve crescimento de Exophiala dermatitidis em meio ágar Sabouraud-dextrose e em temperatura 25-35°C. Havia colônias gigantes, de coloração cinzaolivácea, sendo a parte mediana mais clara e a central mais escura, com sulcos centrais e radiais (Figura 8). Na microscopia, Cristiane Brandão Damico

Figura 6 - Feoifomicose em felino. Notar nódulo no pavilhão auricular direito

Figura 8 - Aspecto macroscópico da cultura do fungo Exophiala dermatitidis. Colônia gigante, de coloração cinza-olivácea, sendo a parte mediana mais clara e a central mais escura e com sulcos centrais e radiais

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Cristiane Brandão Damico

Figura 9 - Aspecto microscópico do fungo Exophiala dermatitidis, evidenciando leveduras com poucas hifas septadas, de coloração marrom e com conídios elipsoides

foram visualizadas leveduras, algumas com septo transversal, e poucas hifas septadas, de coloração marrom e com conídios elipsoides (Figura 9). Uma vez diagnosticada a feoifomicose, a pesquisa por um fator predisponente foi iniciada e a sorologia para o vírus da imunodeficiência felina (FIV) e o vírus da leucemia felina (FeLV) foi realizada pelo método Elisa. O resultado do teste foi positivo para o FIV e o tratamento com o antirretroviral lamivudina (25mg/kg, por via oral, a cada 12 horas) foi iniciado para uso contínuo pelo resto da vida do animal. O acompanhamento do animal foi realizado mensalmente nos primeiros três meses e a cada três meses no período seguinte até a presente data (dez meses após o diagnóstico). Não houve retorno do nódulo auricular nem da doença dermatológica. As ultrassonografias foram realizadas a cada três meses e foi detectada a normalização do quadro intestinal anteriormente espessado. O itraconazol foi suspenso após seis meses de tratamento e a lamivudina foi mantida. Discussão A feoifomicose é uma infecção oportunista incomum causada por inúmeros fungos saprófitas cosmopolitas 5,6,11. Há descrições de Cladosporium sp como fator etiológico de dermatites, em gatos 16-20, cães 21 e em seres humanos 22, enquanto a espécie Exophiala dermatitidis foi relatada apenas em seres humanos 23-27 e em um cão 28. Ambas podem levar a infecções cutâneas, cerebrais ou disseminadas. Os dois animais relatados tinham acesso à área externa da casa e ambos tinham histórico de prurido na área da cabeça e no pescoço, o que sugere que o trauma tenha sido a forma de penetração do agente infeccioso. Em ambos os casos, o exame citológico foi importante e permitiu a diferenciação de outras lesões que frequentemente afetam os pavilhões auriculares de gatos, como o carcinoma de células escamosas, o mastocitoma cutâneo e o melanoma. O exame histopatológico deve ser feito para confirmação da citologia e para a realização da cultura, que é o único meio diagnóstico confiável para distinguir as inúmeras espécies de 68

fungos envolvidos na feoifomicose 9. No caso 2, o material obtido por meio de punção por agulha fina do nódulo foi satisfatório para a cultura, não havendo necessidade de biópsia para coleta do material. Infelizmente, nem todos os casos descritos na literatura tiveram o fungo isolado. No caso 1, o fungo isolado foi o Cladosporium sp, uma das espécies patogênicas pertencentes a feoifomicose e que apresenta neurotropismo 10. No entanto, esse animal não demonstrou sintomas neurológicos. Já no caso 2, o fungo isolado foi o Exophiala dermatitidis, uma espécie relatada apenas em um cão até hoje 28. Outras espécies de Exophiala sp já foram descritas em felinos, como o E. jeanselmei 29 e o E. spinifera 30. Este é o primeiro relato de um felino infectado por esta espécie, o Exophiala dermatitidis. São relacionados como fatores de risco as doenças concomitantes que causam imunossupressão, como FIV (vírus da imunodeficiência felina), FeLV (vírus da leucemia felina) e tratamento prolongado com corticoides 19,29. No caso 1, o animal apresentou sorologia negativa para FeLV e FIV, porém a imunossupressão pode ser atribuída às altas doses de corticoides em tratamentos anteriores. No caso 2, a presença de anticorpos contra o vírus da imunodeficiência felina (FIV), detectados por meio de sorologia, sugere que este seja o fator predisponente para a feoifomicose. Essa infecção tem um curso clínico intenso e é refratária a maioria dos tratamentos antifúngicos. Na literatura, há afirmações de que o sucesso da terapia envolve a retirada cirúrgica da área afetada associada a quimioterapia antifúngica, ou a quimioterapia antifúngica isoladamente em áreas não ressecáveis, porém com altos índices de recorrência local ou distante 6,7,10. Infelizmente, no caso 1, não foi possível avaliar a resposta da lesão ao tratamento antifúngico, pois o animal estava muito debilitado e veio a óbito dois dias após o diagnóstico. Já no caso 2, o tratamento com itraconazol levou à rápida remissão do nódulo auricular e à grande melhora clínica do animal. Não houve recorrência da lesão por no mínimo dez meses após o início do tratamento, o que sugere que o tratamento clínico isolado pode ser eficaz. Considerações finais A feoifomicose é uma micose emergente e que vem sendo relatada mais frequentemente na medicina veterinária. A forma cutânea é a mais comum, embora as formas cerebral e disseminada também tenham sido relatadas. Do mesmo modo que tem sido relatado na medicina humana, os indivíduos com doenças preexistentes são mais suscetíveis a desenvolver doenças causadas por fungos saprófitos. A imunossupressão causada pelo uso prolongado de esteroides, bem como doenças de origem viral como as aqui descritas, podem ser consideradas fatores predisponentes para o surgimento de doença infecciosa fúngica. Referências

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Dermatopatias piogênicas em cães de abrigo e padrões de sensibilidade aos antimicrobianos in vitro de cepas de Staphylococcus pseudintermedius Pyogenic dermatopathies in shelter dogs and in vitro antimicrobial susceptibility patterns of Staphylococcus pseudintermedius strains Dermatopatía piogénica en perros de refúgios y la sensibilidad antimicrobiana in vitro de cepas de Staphylococcus pseudintermedius Clínica Veterinária, n. 93, p. 72-78, 2011 Denize Cotrim Barbosa MV, MSc denizecotrim@yahoo.com.br

Lucianne Leigue dos Santos MV, especialista, mestranda UFPR lucianne.leigue@ufpr.br

José Francisco Warth MV, MSc, dr. labmicro@ufpr.br

Cybelle de Souza MV, MSc, dra. cybelle@ufpr.br

Marconi Rodrigues de Farias MV, MSc, prof. PUCPR marconi.puc@gmail.com.br

Fabiano Montiani-Ferreira MV, MSC, PhD, prof. UFPR montiani@ufpr.br

Resumo: As dermatopatias piogênicas são uma das principais doenças de pele em cães e incluem piodermites profundas, superficiais ou de superfície, erosões e úlceras. O objetivo deste estudo foi isolar bactérias que causam infecções cutâneas em cães e investigar o perfil de suscetibilidade in vitro de cepas de Staphylococcus pseudintermedius. As amostras foram obtidas de 100 cães de abrigo da cidade de Curitiba, PR. Das 100 amostras, 93 tiveram crescimento bacteriano, e destas, 61 apresentaram cultura pura de S. pseudintermedius. O perfil de sensibilidade in vitro frente a 22 antimicrobianos foi realizado em 51 cepas de S. pseudintermedius escolhidas ao acaso. Oito antibióticos apresentaram eficácia superior a 90% (tobramicina, amicacina, ceftriaxona, imipenem, amoxicilina + ácido clavulânico, cefalexina, levofloxacina, nitrofurantoína), e 25% das cepas foram resistentes a penicilina, ampicilina, amoxicilina e eritromicina. Unitermos: cães, piodermite, agentes bacterianos Abstract: Pyogenic dermatopathies are among the most common dog skin diseases. Lesions include deep, surface or superficial pyoderma, erosions and ulcers. The goal of this study was to determine the bacterial etiology of canine skin infections and to study the in vitro antimicrobial susceptibility of Staphylococcus pseudintermedius strains. Samples were obtained from 100 shelter dogs from Curitiba, PR. Ninety-three samples presented bacterial growth, 61 of which were pure S. pseudintermedius cultures. The in vitro sensitivity of 51 randomly chosen strains of S. pseudintermedius to 22 different antimicrobials was tested. Eight antibiotics had an efficacy greater than 90%: tobramycin, amikacin, ceftriaxone, imipenem, amoxicillin+clavulanic, cephalexin, levofloxacin, nitrofurantoin. Twenty-five percent of the strains were resistant to penicillin, ampicillin, amoxicillin and erythromycin. Keywords: dogs, pyoderma, anti-bacterial agents Resumen: Las dermatopatias piogénicas son una de las principales enfermedades de la piel de los perros, pudiendo presentarse como piodermitis profundas, superficiales o de superficie, erosivas o ulcerativas. El objetivo de este estudio fue aislar bacterias que causan infecciones cutáneas en perros, investigando el perfil de susceptibilidad in vitro de las cepas de Staphylococcus pseudintermedius. Las muestras se obtuvieron de 100 perros del refugio municipal de la ciudad de Curitiba, estado de Paraná. De esas 100 muestras, 93 presentaron crecimiento bacteriano, siendo que de estas, 61 evidenciaron un crecimiento puro de S. pseudintermedius. El perfil de sensibilidad frente a 22 tipos de antibióticos, se realizó en 51 cultivos elegidos al azar. De estos antimicrobianos testeados, ocho presentaron una eficacia superior al 90% (tobramicina, amicacina, ceftriaxona, imipenem, amoxicilina + ácido clavulanico, cefalexina, levofloxacina, nitrofurantoína), siendo que el 25 de las cepas se evidenciaron resistentes a la penicilina, ampicilina, amoxicilina y eritromicina. Palabras clave: perros, piodermitis, agentes bacterianos

Introdução Dentre as principais afecções que acometem os cães, as dermatopatias representam de 20% a 75% dos casos atendidos na clínica médica veterinária 1-3. Além disso, as doenças 72

bacterianas de pele em cães estão entre as mais frequentes na prática dermatológica 4. Nas piodermites caninas, o agente bacteriano mais comumente isolado é o Staphylococcus pseudintermedius, que anteriormente era denominado S.

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intermedius 5. A frequência de isolamento desse agente em cães com dermatite pode variar de 75% até 91% 1,2,6-8. Em cães de abrigo, as dermatopatias bacterianas são de ocorrência frequente 9. Devido ao caráter contagioso, elas devem ser monitoradas e tratadas. Além disso, essas dermatopatias bacterianas influenciam no momento da adoção, pois a péssima aparência visual e o odor fétido exalado pelas lesões cutâneas fazem com que esses animais raramente sejam escolhidos 9. O tratamento das dermatopatias bacterianas piogênicas consiste basicamente no uso de antibióticos de amplo espectro 4 e, na maioria das vezes, se faz de forma empírica, sem o resultado da cultura bacteriana e o apoio de testes de suscetibilidade a antimicrobianos, contribuindo para o aparecimento de cepas cada vez mais resistentes. Tal prática, denominada antibioticoterapia racional empírica (ARE), não é considerada errada. Todavia, o conhecimento dos agentes envolvidos na doença e o seu perfil de suscetibilidade perante os antimicrobianos devem ser bem conhecidos antes de a ARE ser iniciada 2-4. O objetivo deste estudo foi determinar as principais bactérias causadoras de dermatopatias piogênicas em cães de abrigo da cidade de Curitiba e o perfil de susceptibilidade de cepas de Staphylococcus pseudintermedius perante os principais antimicrobianos utilizados na prática veterinária.

Figura 2 - Pododermatite com envolvimento de demodiciose como causa primária e infecção bacteriana secundária em uma cadela SRD adulta (idade precisa desconhecida), vivendo em abrigo. A lesão é um exemplo de piodermite profunda secundária a um parasito Marconi Rodrigues de Farias/ Denize Cotrim Barbosa

Material e métodos Entre julho de 2007 e outubro de 2008, 100 cães de ambos os sexos foram selecionados de um abrigo para pequenos animais de uma organização não governamental de utilidade pública sem fins lucrativos da cidade de Curitiba, PR, apresentando lesões (localizadas ou generalizadas) dermatológicas piogênicas (Figuras 1, 2, 3 e 4). Piodermites de superfície (dermatite piotraumática), piodermites superficiais, piodermites profundas ou úlceras/erosões traumáticas contaminadas tiveram amostras colhidas com auxílio de zaragatoas (esfregaços nos casos das lesões úmidas ou exsudativas), lâminas de bisturi estéreis (nos casos de lesões secas, seborreia

Figura 3 - Cão SRD de abrigo, macho, de idade estimada em seis anos. Nota-se furunculose mentoniana Denize Cotrim Barbosa

Marconi Rodrigues de Farias

Figura 1 - Dermatite piotraumática ou dermatite úmida aguda (hot spot) em cão SRD, macho adulto (idade precisa desconhecida), vivendo em abrigo. Um exemplo de piodermite de superfície cutânea

Figura 4 - Cão SRD, macho, adulto (idade precisa desconhecida), vivendo em abrigo, com lesão traumática (atropelamento) com infecção bacteriana secundária e inflamação supurativa na região dorsal lombar

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ou crostas [Figura 5]) ou punção por agulha fina (em casos de pústulas íntegras). As amostras foram colocadas em meio de transporte de Stuart ou em frascos plásticos estéreis e enviadas ao laboratório para processamento em até 24 horas.

ferença estatística significativa quando os valores de P encontrados eram menores que 0,05 (P ≤ 0,05) 12.

Marconi Rodrigues de Farias

Figura 5 - Crostas e colarinho epidérmico na região de pele glabra ventral de uma fêmea SRD adulta jovem vivendo em abrigo. As lesões sugeriam envolvimento bacteriano que foi confirmado com o crescimento de Staphylococcus pseudintermedius após colheita de amostras das pústulas com swab e exame bacteriológico

As amostras foram semeadas na superfície de ágar sangue de carneiro a 5%, ágar sal manitol e ágar MacConkey pela técnica de esgotamento e incubadas em aerobiose por 24-72 horas, a 37°C. No meio de ágar sangue as colônias foram avaliadas quanto a tipo de hemólise (total ou parcial), dimensões coloniais e presença de pigmentação. Os isolados foram submetidos à coloração de Gram e analisados microscopicamente quanto às características tintoriais e morfológicas. No ágar sal manitol, as colônias presentes foram avaliadas quanto à capacidade de fermentação do manitol e à capacidade de crescimento em meio salgado. As colônias crescidas no ágar MacConkey foram avaliadas quanto à capacidade de fermentação ou não fermentação da lactose. Provas bioquímicas foram utilizadas para auxiliar a identificação 10. O teste de sensibilidade in vitro aos antimicrobianos foi realizado em 51 (83,60%) das cepas de cultivo puro de S. pseudintermedius, escolhidas ao acaso. Foram testados 22 antimicrobianos: penicilina (10 UI), ampicilina (10µg), amoxicilina (10µg), amoxicilina + ácido clavulânico (10µg/20µg), cefalexina (30µg), ceftriaxona (10µg), imipenem (10µg); estreptomicina (15µg), neomicina (30µg), tobramicina (10µg), amicacina (30µg), gentamicina (10µg); eritromicina (15µg), azitromicina (10µg); norfloxacina (10µg), ciprofloxacina (5µg), levofloxacina (10µg), enrofloxacina (10µg), tetraciclinas (10µg), cloranfenicol (10µg), nitrofurantoína (10µg) e sulfazotrim (10µg), pelo método de disco difusão em ágar Mueller-Hinton 11. Os resultados obtidos da sensibilidade in vitro perante os antimicrobianos e as frequências entre as cepas foram comparados pelo teste exato de Fisher. Considerou-se como di74

Resultados Das 100 amostras analisadas, 93 (93%) tiveram crescimento bacteriano. Em 61 (65,59%) obteve-se cultivo puro para S. pseudintermedius, e em apenas uma (1,08%) amostra foi obtido crescimento puro de P. aeruginosa. Dessas 93 amostras de pele que apresentaram crescimento no cultivo bacteriano, foram obtidas 122 cepas bacterianas, sendo elas: 89 (72,95%) cepas de S. pseudintermedius, 12 (9,83%) de Proteus sp; seis (4,92%) de P. aeruginosa; cinco (4,1%) de Staphylococcus coagulase negativa; cinco (4,1%) de Streptococcus sp; duas (1,64%) de Staphylococcus aureus; duas (1,64%) de bacilo Gram-negativo não identificado e uma (0,82%) de E. coli. Dentre os isolados identificados como sendo do gênero Staphylococcus (n = 96), obtiveram-se: 92,71% cepas de S. pseudintermedius; 5,21% de Staphylococcus coagulase negativa e 2,08% de Staphylococcus aureus. Sendo assim, o S. pseudintermedius foi estatisticamente superior (P ≤ 0,0000001). A sensibilidade in vitro para as cepas de S. pseudintermedius perante os 22 antimicrobianos apresentou: eficácia igual ou superior a 70% para dezoito antimicrobianos testados (tobramicina, amicacina, ceftriaxona, imipenem, amoxicilina + ácido clavulânico, cefalexina, levofloxacina, nitrofurantoína, norfloxacina, gentamicina, estreptomicina, enrofloxacina, cloranfenicol, ciprofloxacina, neomicina, sulfazotrim e azitromicina). Penicilina, ampicilina, amoxicilina e eritromicina obtiveram eficácia com padrões inferiores a 70%, conforme a figura 6. O teste exato de Fisher demonstrou que a eficácia da penicilina foi significativamente inferior (P = 0,029), seguido da eritromicina (P = 0,022) em relação aos demais antimicrobianos testados. Droga n° de cepas sensíveis tobramicina 49 amicacina 49 ceftriaxona 48 imipenem 48 amoxicilina + ácido clavulânico 46 cefalexina 46 levofloxacina 46 nitrofurantoína 46 norfloxacina 45 gentamicina 44 estreptomicina 43 enrofloxacina 42 cloranfenicol 42 ciprofloxacina 41 neomicina 40 sulfazotrim 40 tetraciclina 37 azitromicina 36 amoxicilina 30 ampicilina 30 eritromicina 26 penicilina 25

% 96,08 96,08 94,12 94,12 90,02 90,02 90,02 90,02 88,24 86,27 84,31 82,35 82,35 80,39 78,43 78,43 72,55 70,59 58,82 58,82 50,98 49,02

Figura 6 - Classificação dos antibióticos em ordem decrescente de eficácia apresentada no teste de sensibilidade in vitro perante 51 cepas de Staphylococcus pseudintermedius

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Discussão A pele apresenta-se como um ambiente propositadamente hostil à maioria das bactérias. Por apresentarem parede bacteriana mais resistente, as bactérias do tipo Gram-positivo parecem predominar na pele 13. A presente investigação corrobora essa afirmação, pois entre as 122 cepas bacterianas isoladas, 82,8% (101) foram Gram-positivas. O agente bacteriano mais isolado em cães com lesões de pele característica de piodermite foi S. pseudintermedius (73%). Esse resultado está de acordo com estudos prévios que admitem a participação do S. pseudintermedius como o principal agente envolvido nos casos de piodermite em cães 4,6,14-18. O isolamento concomitante de S. pseudintermedius com outras bactérias como Proteus sp, P. aeruginosa, Streptococcus β-hemolítico, S. aureus e E. coli ocorreu em 28% das amostras. Esse dado reforça a ideia de que essas bactérias podem ser consideradas patógenos secundários à infecção estafilocócica e prova assim a importância principal do agente S. pseudintermedius em casos de piodermite canina 1,4,14,19-21. Outro dado que fortalece essa suspeita foi o isolamento puro de P. aeruginosa em apenas uma amostra. A presença concomitante do S. pseudintermedius com P. aeruginosa provavelmente agrava o quadro clínico, possivelmente devido ao sinergismo de fatores de virulência.

Um exemplo correlacionando à piodermite associada a patógenos como a P. aeruginosa está na alta frequência de otites externas caninas mais graves quando ocorre a participação de mais de um patógeno 22. Em relação ao estudo da suscetibilidade às drogas antimicrobianas das 51 cepas de S. pseudintermedius, a tobramicina e a amicacina foram consideradas de excelente eficácia (sensibilidade em 96% das cepas). No Rio Grande do Sul, pesquisadores encontraram uma eficácia de 84% para a amicacina nas 30 cepas de estafilococo canino isoladas de casos de piodermite atendidos em hospital veterinário 23. Esses aminoglicosídeos são pouco utilizados em piodermite e seu uso é limitado em virtude da ausência de absorção oral e do limitado número de repetições parenterais suportáveis, bem como do potencial de nefrotoxicidade e ototoxicidade associados a doses repetidas 24. Imipenem e ceftriaxona mostraram também uma ótima eficácia (94% das cepas sensíveis). Os antibióticos beta-lactâmicos carbapemênicos como o imipenem são, atualmente, os antimicrobianos de maior espectro de ação utilizados na prática médica, sendo indicados apenas quando todos os outros antimicrobianos falharam 25,26. Todavia, eles ainda são caros para ser utilizados na prática e também não são absorvidos por via oral, apenas por via intravenosa ou muscular 25, o que

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muitas vezes dificulta a administração. As ceftriaxonas são cefalosporinas de terceira geração e apesar de serem mais eficientes perante os bacilos Gram-negativos, principalmente as bactérias da família Enterobacteriaceae 25,27, ainda assim mostraram ser bem efetivas contra o Staphylococcus pseudintermedius. Logo em seguida, com 90% de sensibilidade, apareceram as seguintes drogas: cefalexina, amoxicilina + ácido clavulânico, levofloxacina e nitrofurantoína. Vários autores consideram tanto as cefalosporinas quanto a associação amoxicilina + ácido clavulânico como os antimicrobianos de primeira escolha para o tratamento de piodermites causadas por S. pseudintermedius 21,28-30. A cefalexina mostrou eficácia acima de 90%, valores igualmente relatados pela literatura. Estudos semelhantes foram descritos por diversos autores 29-32, que relatam suscetibilidade às cefalosporinas em mais de 90% das cepas de S. pseudintermedius isoladas de cães. Com relação à sensibilidade das cepas à amoxicilina + ácido clavulânico, obtiveram-se neste estudo 46 (90,2%) cepas sensíveis. Esse resultado foi similar ao encontrado por um estudo realizado em Montreal, Canadá, no período de 2002 a 2003, no qual 1.009 amostras clínicas de cães e gatos apresentaram sensibilidade em 96% das cepas de S. pseudintermedius 31. A levofloxacina, uma das drogas que apresentaram ótima eficácia, é uma quinolona de terceira geração 25 não recomendada para animais 33. Já na medicina de pequenos animais, a enrofloxacina, que também é uma quinolona, porém de segunda geração 25,26, é mais amplamente utilizada e de extremo valor na prática clínica, sendo também recomendada para uso terapêutico em infecções cutâneas 25,33 e apresentando ainda atividade contra bactérias que desenvolveram resistência a outras drogas 26. Neste estudo, a enrofloxacina teve 82% de eficácia perante as cepas de estafilococos estudadas. Vem sendo relatado ultimamente um gradual aumento da resistência de S. pseudintermedius às quinolonas 22,24,33. Esse aumento pode estar relacionado ao uso intenso dessa droga, em doses e/ou uso prolongado desnecessários; por isso, a enrofloxacina não deve ser usada indiscriminadamente quando outros antibióticos mais baratos e igualmente eficazes estão disponíveis 26. Essa medida cautelar seria uma forma de preservar a eficácia desses medicamentos importantes na medicina, assim como na medicina veterinária, quando a sua utilização se faz necessária em casos de infecções provocadas por cepas multirresistentes. A nitrofurantoína também se mostrou bastante eficaz in vitro, todavia é mais utilizada como antisséptico urinário local e não atua sistemicamente 25,26, razão pela qual não é aconselhada para o tratamento de piodermites. Em relação aos perfis de resistência, verificou-se que 100% das cepas apresentaram resistência a pelo menos um dos 22 antimicrobianos testados. Observaram-se elevadas percentagens de resistência à eritromicina e à azitromicina, em níveis de 37,25% e 29,41% respectivamente. Dados semelhantes foram obtidos em programas nacionais de vigilância sobre a resistência antimicrobiana em animais de companhia da Suíça 34. O suposto aumento da resistência das cepas à azitromicina pode estar relacionado ao constante uso desse antibacteriano 76

para tratamento de infecções respiratórias e cutâneas 25,26, muito comuns em animais de abrigo 9. Percentuais de sensibilidade à eritromicina situados entre 75 e 90% também foram verificados por outros pesquisadores 24,34-36. Entretanto, em um estudo semelhante realizado com 29 cepas de S. pseudintermedius na região de Curitiba 37, os investigadores verificaram resistência de 20,83% para esse antimicrobiano, número ainda inferior ao observado neste estudo. Os macrolídeos são amplamente utilizados na medicina veterinária no tratamento de infecções causadas por cepas de S. pseudintermedius resistentes à penicilina. Esses altos índices de resistência poderiam ser justificados pelo uso empírico desses antimicrobianos na clínica veterinária. Onze (21,57%) cepas de S. pseudintermedius apresentaram resistência à tetraciclina. Percentuais ainda mais elevados (53%) foram obtidos na Noruega em 2002, tendo um aumento de 36% em relação ao ano de 2000 38. As tetraciclinas são antibióticos de amplo espectro de ação, porém com potencial limitado contra Staphylococcus spp 25, além de serem potencialmente nefro e hepatotóxicas 26. Ainda assim, elas são amplamente utilizadas na pratica médica veterinária, e o crescente aumento de resistência das cepas de Staphylococcus a elas pode ser reflexo do seu uso excessivo e descontrolado, especialmente no tratamento das infecções dermatológicas, respiratórias, gastrentéricas e oftálmicas 25,26,33,35,39,40. Outros trabalhos também mostraram resistência bacteriana em cães e gatos em relação às penicilinas, tetraciclinas e eritromicinas 39-41. As penicilinas naturais são inativadas por enzimas chamadas beta-lactamases e praticamente 100% das cepas de S. aureus e aproximadamente 80% de outras linhagens de estafilococos são produtoras dessa enzima que confere resistência a essa droga 25. Seu uso terapêutico em casos de piodermite canina é então altamente desaconselhável. Com os resultados obtidos pelos testes de sensibilidade, espera-se que protocolos de tratamento mais eficientes sejam escolhidos para o tratamento de dermatopatias bacterianas de animais de abrigo. Do mesmo modo, espera-se que os médicos veterinários que porventura trabalhem em abrigos de cães abandonados passem a ter uma referência para poder iniciar a ARE de forma mais precisa e que os cães abandonados portadores de dermatopatias bacterianas passem a ter maiores chances de serem adotados. Conclusões As bactérias Gram-positivas prevalecem na pele de cães de abrigo que apresentam dermatopatias piogênicas. Nestas, o principal agente infeccioso é o Staphylococcus pseudintermedius. Diferentemente do que a literatura tipicamente recomenda para o tratamento das piodermites em cães – basicamente cefalexina e enrofloxacina –, de acordo com os resultados in vitro e o que se sabe sobre a farmacologia dos agentes antimicrobianos, uma alternativa interessante para o tratamento de piodermites em cães de abrigo seria a amoxicilina com ácido clavulânico. Outras opções mais onerosas seriam as ceftriaxonas e imipenem. Todavia, estes últimos dificilmente seriam uma opção para o tratamento desses animais, devido ao custo mais elevado.

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Denúncias e processos de desvios da conduta ética no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (2000-2007) Denunciations of ethic deviations and lawsuits registered at Rio de Janeiro's Regional Council of Veterinary Medicine (CRMV-RJ) between 2000 and 2007 Denuncias y procesos de conducta antiética en el Consejo Regional de Medicina Veterinária de Rio de Janeiro (2000-2007) Clínica Veterinária, n. 93, p. 80-84, 2011 Ismar Araujo de Moraes

MV, prof. dr. Depto. Fisiol. Farmacol. - UFF Subsecret.de Controle de Zoonoses, Vigil. e Fiscal. Sanit. da Prefeitura do Rio de Janeiro fisiovet@vm.uff.br

Renata Neves Ignácio

médica veterinária Clínica Veterinária Piratininga riwap2008@gmail.com

Roberta Robaina Paiva da Silva auxiliar adminitrativa do CRMV-RJ secretaria-2@crmvrj.org.br

Cristina Silva Grootenboer

médica veterinária Secret. de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro crisgrootenboer@click21.com.br

Resumo: Foi feito um levantamento no arquivo geral de protocolos de denúncias e de processos ético-profissionais do CRMV-RJ no período de 2000 a 2007 buscando identificar o perfil do público denunciante e os desdobramentos das denúncias que foram registradas nesse período. Foi observado um total de 281 denúncias, sendo a maioria originada do público leigo (198, 70,5%), seguida de denúncias ex officio (47, 16,7%), por médicos veterinários (29, 10,3%) e entidades públicas (7, 2,5%). Foram instaurados 87 processos envolvendo 89 médicos veterinários, sendo a maioria (80, 92%) deles profissionais que atuam em clínicas de pequenos animais. Como punições, observou-se a aplicação de 25 (49%) censuras confidenciais, 21 (41,2%) advertências confidenciais, três (5,9%) censuras públicas, uma (1,95%) suspensão por trinta dias e uma (1,95%) suspensão por sessenta dias. Unitermos: legislação, profissão, código ético Abstract: Protocols of denunciations and ethical lawsuits between 2000 and 2007 were examined in the archives of CRMV-RJ, in an attempt to portray the profile of the public informants and the main outcomes of these cases. Most of the 281 denunciations registered in this period were performed by the lay public (198; 70.5%), followed by the ex officio denunciations (47; 16.7%), by veterinarians (29; 10.3%) and by Public Entities (7; 2.5%). Eighty seven lawsuits involving 89 veterinarians were opened, most of which (80, 92%) involving small animal clinicians. The punishments to those veterinarians included 25 (49.0%) confidential censures, 21 (41.2%) confidential warnings, three (5.9%) public censures, one (1.95%) thirty-day suspension and one (1.95%) sixty-day suspension. Keywords: legislation, profession, ethical code Resumen: Se realizó una investigación sobre las denuncias realizadas en el Archivo General de Protocolo de Quejas y Etica Profesional del CRMV-RJ en el período 2000-2007 tratando de identificar el perfil del público denunciante y evolución de las denuncias que se registraron durante este período. Se observó que un total de 281 quejas se originaron en su mayoría de ciudadanos comunes (198; 70,5%), seguido por queja de Ex officio (47; 16,7%), por veterinarios (29; 10,3%) y por entidades públicas (7; 2,5%). Fueron instituidos 87 procesos internos que envolvieron a 89 veterinarios, siendo la mayoría (80, 92%) profesionales que trabajan en las clínicas de pequeños animales. Como sanciones se observaron la aplicación de 25 censuras confidenciales (49,0%), 21 advertencias confidenciales (41,2%), tres censuras públicas (5,9%), una suspensión por treinta días (1,95%) y una suspensión de sesenta días (1,95%). Palabras clave: legislación, profesión, código de ética

Introdução A maioria das classes profissionais dispõe de códigos de ética aplicáveis a todos os profissionais regularmente credenciados como forma de garantir o aprimoramento profissional e a obediência aos princípios da sã moral. Na medicina veterinária, o atual código de ética profissional está contido na 80

Resolução n. 722 de 16 de agosto de 2002 1, que substituiu a Resolução n. 322 de 15 de janeiro de 1981 2. A partir da publicação da Resolução n. 722 no DOU de 16-11-2002, o atual código passou a vigir em todo o território nacional, seguindo o que foi estabelecido no art. 16, letra "j" da Lei n. 5.517, de 23 de outubro de 1968 3, que regulamenta o

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exercício do profissional médico veterinário. No texto da lei federal 5.517/1968 ficam estabelecidas as normas capazes de manter a uniformidade de comportamento objetivando uma atuação profissional exemplar que firme a medicina veterinária como profissão conceituada e imprescindível ao progresso econômico, à proteção da saúde e do meio ambiente e ao bem-estar dos brasileiros. O rito processual que deverá ser seguido nos conselhos regionais está contido na Resolução n. 875 de 12-12-2007 4. De acordo com esse regulamento, em caso de denúncias protocoladas na sede de um Conselho Regional de Medicina Veterinária, desde que fundamentadas por desvios de condutas que atentem contra o disposto no código de ética, deverão ser abertos processos disciplinares que tramitarão necessariamente nas fases de instrução, relatoria e julgamento. Na fase de instrução, um conselheiro nomeado pelo presidente do CRMV ouve as partes denunciantes e denunciadas e suas testemunhas e faz a apuração dos fatos buscando evidenciar possíveis agravos praticados pelos médicos veterinários envolvidos na denúncia. Após a conclusão da instrução, as partes envolvidas são informadas, para que dentro de até cinco dias apresentem suas alegações finais. Findo o prazo, um conselheiro efetivo é nomeado pelo presidente para conduzir a fase de relatoria, que consiste no preparo de um relatório completo e detalhado sobre todas as ocorrências, fatos e declarações evidenciados durante a fase de instrução, além de seu voto. Após a conclusão do relatório, o presidente do CRMV convoca as partes envolvidas e os membros do conselho para uma sessão plenária de julgamento. Segundo as normas, na sessão de julgamento, que ocorre em sigilo, é feita a leitura do relatório, é dada voz às partes envolvidas para suas declarações finais e aos conselheiros para suas arguições, se necessárias. Em seguida, é lido o voto do relator do processo com as suas considerações, indicação de arquivamento, em caso de improcedência, ou punição, em caso de procedência da reclamação apresentada, sempre com base nos artigos do código de ética do médico veterinário. O voto do relator é então submetido ao julgamento pelos conselheiros e em caso de julgamento de denúncia como procedente, de acordo com o artigo 33 da Lei n. 5517 3, as penas disciplinares aplicáveis poderão ser: advertência confidencial em aviso reservado; censura confidencial em aviso reservado, censura pública em publicação oficial, suspensão do exercício profissional até três meses e cassação do exercício profissional ad referendum do Conselho Federal de Medicina Veterinária. Na imputação da pena, e de acordo com o artigo 31 do Código de Ética 1, além das atenuantes e agravantes, deverá sempre ser considerada a natureza das infrações, que podem ser classificadas como levíssimas, leves, sérias, graves e gravíssimas. Considerando a escassa – ou mesmo inexistente – bibliografia relativa à condução dos protocolos de denúncia e dos processos de ética nos conselhos regionais de medicina veterinária, buscou-se neste estudo levantar as características quantitativas das denúncias protocoladas entre os anos de 2000 e 2007 contra médicos veterinários registrados no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro, buscando evidenciar os principais motivos alegados pelos denunciantes, os direcionamentos e conclusões processuais e as penalida-

des mais comumente aplicadas, entre outros. Espera-se que os resultados aqui apresentados sirvam como instrumento de alerta e educação para os profissionais médicos veterinários, que permita dar visibilidade sobre a condução das denúncias dentro do conselho regional e fazer o conselho federal e demais conselhos da federação refletir sobre a necessidade de outros levantamentos dessa natureza. Finalmente, espera-se fornecer subsídios para aqueles que atuam nas disciplinas de deontologia e ética médico-veterinária enriquecerem seu material didático pedagógico. Material e métodos Foi feito um levantamento no arquivo geral de protocolos de denúncias e de processos ético-profissionais do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) no período de 2000 a 2007. Os documentos foram analisados um a um e mediante o uso de planilhas, foram registrados e totalizados os dados relativos ao número de denúncias arquivadas ou geradoras de processos que tramitaram no CRMV-RJ no período do estudo, além da tipificação dos reclamantes (leigo, médico veterinário, ex officio ou associação e órgãos). Na análise dos protocolos de denúncia foi identificado o número de registros, o número de protocolos arquivados após a análise pela comissão de ética ou presidente e de protocolos que resultaram em abertura de processos ético-profissionais. No que se refere à análise dos processos ético-disciplinares, foram registrados os dados relativos ao número de arquivamentos feitos, ao número de processos julgados procedentes e improcedentes em primeira instância, à natureza das infrações que foram cometidas pelos profissionais julgados, às penalidades impostas pela plenária de julgamento, aos recursos apresentados e à tipificação dos reclamantes. Também foi identificada a principal motivação do reclamante declarada na inicial do processo e a decisão tomada em instância superior nas situações em que houve recurso para novo julgamento na instância do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Considerando a possibilidade de existência de protocolos de denúncia e de processos ainda em tramitação no CRMVRJ, foi estabelecido o dia 2 de dezembro de 2010 como datalimite para registro dos dados e estabelecimento da situação a ser analisada. Resultados e discussão Foi observado um total de 281 protocolos de denúncias distribuídas ao longo dos oito anos considerados no estudo. Conforme demonstrado na figura 1, o número total de protocolos de denúncia foi de 23, 26, 19, 39, 37, 37, 49 e 51, respectivamente nos anos de 2000 a 2007. Considerando a tipificação do reclamante autor dos protocolos de denúncias, observou-se que a maioria foi originada do público leigo (198, 70,5%), seguida da denúncia feita ex officio (47, 16,7%), por médicos veterinários (29, 10,3%) e por entidades públicas ou privadas (7, 2,5%). Como “denúncias ex officio” deve-se entender aquelas apresentadas pelo próprio presidente do CRMV regional nas situações em que, por qualquer meio, cheguem ao seu conhecimento possíveis desvios de conduta ética praticados pelos profissionais

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A análise dos protocolos de denúncia registrados pelo N. total de CRMV-RJ demonstrou que a médicos 6.144 6.665 6.871 7.289 7.764 8.278 8.822 9.360 maioria deles (191, 68,3%) veterinários não tinha a devida fundamenregistrados tação legal e/ou condições de N. de novos comprovação que permitisse registros de 312 521 206 418 475 514 544 538 médicos o prosseguimento para a aberveterinários tura de processo ético disciplinar, razão pela qual foram N. de protocolos 23 26 19 39 37 37 49 51 de denúncia arquivados. Do total de protocolos registrados (281, Percentual de profissionais 0,4 0,4 0,3 0,5 0,5 0,4 0,6 0,5 100%), observou-se que dois denunciados (0,7%) ainda estão sob a anáFigura 1 - Número total de médicos veterinários existentes no cadastro do CRMV-RJ no período lise da presidência do consede 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2007, número de inscritos em cada ano, número de lho regional, conforme deterprotocolos de denúncia registrados contra esses profissionais e os percentuais correspondentes mina a Resolução n. 875/2007 4, e que 87 (31%) deram origem a processos éticos segundo a Lei Federal n. 5.517 3, que estabelece que a fiscalização do cumprimento das normas éticas estabelecidas no código de ética é da competência dos conselhos federal e regionais de medicina veterinária. No que se refere aos principais motivos dos denunciantes nos processos instaurados, observou-se que 31 (35,6 %) das denúncias acatadas envolviam alegações de imperícia, imprudência ou negligência antes, durante e depois de operações, sendo essa a principal ocorrência. Além disso, foram registradas 16 (18,4%) alegações dessas situações nos atendimentos clínicos e/ou internações para tratamento clínico, 4 (4,6%) nos procedimentos de estética, tais como corte de unhas ou tosas, e 2 (2,3%) alegações de negligência na emissão de laudo clínico. Isso significa mais da metade (60,9%) das queixas apresentadas envolvendo denúncias de imperícia, imprudência e negliFigura 2 - Número de protocolos de denúncias registrados no gência. De modo interessante, os dados coletados no CRMVCRMV-RJ e número de médicos veterinários credenciados no RJ e ainda não publicados demonstram que, em consonância período de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2007 com o reclamado, a maioria das infrações cometidas pelos médicos veterinários já julgados inclui justamente a infração do credenciados ou situações em que a conduta profissional inciso I do artigo 14 do código de ética 1, que se refere justagere publicidade negativa para o bom nome e o prestígio da mente a essas práticas citadas, indicando uma boa percepção classe médico-veterinária. A tipificação do reclamante que por parte do reclamante quanto aos agravos. Além das situafoi evidenciada em nosso estudo é importante para demonsções de alegada imperícia, imprudência ou negligência, foram trar definitivamente que os leigos são os principais denunobservadas denúncias de associação ao charlatanismo (5, ciantes e não os próprios profissionais, como vêm pensando 5,8%) e desvio de clientes ou bens de outro médico veterinário muitos médicos veterinários. (4, 4,6%), entre outras (Figura 3). Analisando a progressão do número de denúncias protocoDos 87 processos instaurados, 81 (93,1%) já foram julgaladas ao longo dos anos, foi observada uma nítida tendência ao dos, dois (2,3%) estão em andamento e quatro (4,6%) foram aumento, mas, considerando o constante aumento do número arquivados sem julgamento. Deve-se ressaltar que, segundo de profissionais registrados a cada ano, observa-se que o pero código de ética do profissional médico veterinário, somencentual de médicos-veterinários envolvidos em denúncias vem te situações especiais permitem o arquivamento de um prose mantendo ao longo dos anos (Figura 1). Em nosso estudo, cesso após a sua instauração. Neste estudo, as situações enevidenciou-se que entre 2000 e 2007 foram registrados 3.216 contradas corresponderam à morte do denunciado em dois novos médicos veterinários; no entanto, o percentual de profisprocessos e ao surgimento de doença degenerativa e debilisionais denunciados a cada ano tendeu à estabilidade (Figura tante em dois outros. No que se refere aos processos instau2). Isso parece indicar que, não obstante a maior consciência rados e julgados, observa-se o envolvimento de 89 profissioda população em relação aos direitos previstos no Código de nais médicos veterinários. Mediante o julgamento, as denúnDefesa do Consumidor e a maior divulgação na mídia do papel cias apresentadas contra 38 (46,9%) deles foram julgadas dos conselhos de classe no controle das ações de seus profissioimprocedentes, e contra 51 (62,9%) deles foram julgadas nais registrados, isso não se refletiu em um número maior de procedentes (Figura 4). denúncias por parte do público. Ano analisado

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Analisando a ocorNatureza das denúncias n. % rência das penalida31 35,6 des previstas no códi- imperícia, imprudência ou negligência antes, durante e depois da operação 16 18,4 go de ética, observa- imperícia, imprudência ou negligência no atendimento clínico ou na internação 5 5,8 ram-se 25 (49%) associação ao charlatanismo 4 4,6 aplicações de “censu- imperícia, imprudência ou negligência em procedimentos de estética ra confidencial em desvio de clientes ou apropriação de bens de outro médico veterinário 4 4,6 aviso reservado”, 21 carteiras de vacina irregulares 3 3,4 (41,2%) advertências calunia ou difamação de outro médico veterinário 3 3,4 confidenciais em avi- uso de drogas ilícitas, vencidas ou inadequadas para a espécie 3 3,4 so reservado, três venda de animal doente em petshop 3 3,4 (5,9% ) censuras púpublicação de dados sem autorização dos coautores 3 3,4 blicas, em publicação 2 2,3 oficial, uma (1,95%) negligência na emissão de laudos de análise 2,3 suspensão do exercí- falsidade ideológica na emissão de laudos e no encaminhamento de materiais para análise 2 2 2,3 cio profissional por propaganda irregular 2 2,3 trinta dias e uma recusa de atendimento ao animal (1,95%) suspensão do recusa de fornecimento de laudo 1 1,2 exercício profissional cobrança de honorários abaixo do praticado no mercado 1 1,2 por sessenta dias impedimento da ação de fiscal do CRMV 1 1,2 (Figura 5). Advertên- desrespeito à interdição de alimento feita por órgão público 1 1,2 cia confidencial e Total geral 87 100 censura confidencial são as penalidades Figura 3 - Principais denúncias que resultaram em processos instaurados contra médicos veterinários registrados no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro no período de 1 de janeiro mais brandas previs- de 2000 a 31 de dezembro de 2007 tas no código de éti2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Total ca, e essa maior ocorrência de aplicação Total de protocolos de denúncia 23 26 19 39 37 37 49 51 281 de penalidades brandas é um reflexo do protocolos de denúncia 18 22 14 26 29 20 35 28 192 arquivados em primeira instância fato de que a maioria dos profissionais são protocolos de denúncia sob 0 0 0 0 0 0 0 2 2 primários na infração análise da presidência do CRMV-RJ cometida – sendo processos instaurados 5 4 5 13 8 17 14 21 87 esse fato, em grande processos julgados em 5 4 5 11 8 15 12 21 81 parte das vezes, uti- primeira instância lizado como atenuante no momento do processos em andamento 0 0 0 0 0 1 1 0 2 em primeira instância voto do relator do processo e no julga- processos arquivados 0 0 0 2 0 1 1 0 4 mento. Um dado in- em primeira instância teressante observado Figura 4 - Número do total de protocolos de denúncias, número de protocolos de denúncia arquivados refere-se à existência e sob análise da presidência do CRMV-RJ, número de processos instaurados, julgados, arquivados ou de apenas dois pro- em andamento em primeira instância – situação observada em 2 de dezembro de 2010 fissionais com mais de Natureza das penalidades Nº % um processo instaurado contra si. Um deles letra (a) - advertência confidencial, em aviso reservado 21 41,2 foi vítima de cinco protocolos de denúncia 25 49 registrados, sendo instaurados quatro pro- letra (b) - censura confidencial, em aviso reservado 3 5,9 cessos, que foram julgados procedentes em letra (c) - censura pública, em publicação oficial 2 3,9 primeira instância, aplicando-se sequen- letra (d) - suspensão do exercício profissional até três meses 51 100 cialmente as penas de censura confiden- Total geral cial, censura pública e suspensão por trinta Figura 5 - Número e natureza das penalidades aplicadas pelo CRMV-RJ conforme e sessenta dias. Outro médico veterinário previsto nas letras a, b, c e d do artigo 33 da Lei n. 5.517, de 23 de outubro de teve seis denúncias protocoladas contra si, 1968, no período de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2007 sendo apenas duas geradoras de processo Sendo a estrutura dos conselhos de classe verticalizada, o ético-profissional. Dos processos instaurados, um encontraconselho federal representa o órgão superior ao qual um se em andamento e outro já foi julgado procedente na priconselho regional está subordinado. Dessa forma, as sentenmeira instância e improcedente na instância do conselho ças proferidas nos processos julgados no Conselho Regional federal. Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

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de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro poderão ser contestadas por quaisquer das partes envolvidas e um novo julgamento deverá ocorrer no Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) localizado em Brasília, para que este dê a decisão final. No período estudado, foi observado que em doze processos julgados em primeira instância foram apresentados recursos. Até o momento do fechamento dos dados deste estudo, cinco deles já tinham sentenças dadas em instância superior e sete ainda estavam em andamento naquele órgão. Dos cinco processos julgados em instância superior, as sentenças de três deles, consideradas procedentes, foram mantidas, e as dos dois outros processos foram modificadas de procedente para improcedente e vice-versa, com os consequentes cancelamento e imposição de pena, conforme o caso. Buscando evidenciar quais as áreas mais predispostas à ocorrência de denúncias geradoras de processos éticos, observou-se que a grande maioria dos processos (80, 92,0%) que foram instaurados envolvia profissionais com atuação na área de clínica de pequenos animais. Foram observados três (3,4%) processos na área de educação, três (3,4%) na área de clínica de grandes animais e apenas um na área de alimentos (1,2%). Embora seja do conhecimento geral que os resultados de julgamentos levados a efeito pelos conselhos regionais são utilizados como atenuantes e agravantes em processos entres as partes que tramitam na justiça comum, essas informações não são registradas no conselho e portanto não foram apresentadas e/ou discutidas neste artigo. Também não encontramos levantamentos de dados semelhantes aos nossos na literatura nacional ou internacional que nos permitissem ampliar uma discussão. Por esse motivo nos ativemos à simples demonstração do que foi possível observar no levantamento feito por nós no Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro. Conclusão O levantamento apresentado traz informações incomuns

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na literatura acerca da quantidade de denúncias e de processos éticos contra os profissionais de medicina veterinária do Estado do Rio de Janeiro, suas principais destinações, a tipificação dos reclamantes, os resultados de julgamento e os recursos apresentados, além dos principais motivos das reclamações quanto a procedimentos éticos. Protegida a identidade das partes envolvidas, foi dada maior visibilidade ao que foi reclamado e ao modo como foram ou estão sendo conduzidas as ações decorrentes das denúncias apresentadas ao Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro. Espera-se que os resultados aqui apresentados possam despertar as reflexões nos conselhos regionais e federal no sentido de divulgar e assim orientar seus membros, para que possam evitar os constrangimentos e punições decorrentes de processos ético-profissionais que depõem contra o bom nome da classe. Espera-se ainda que sirvam como fonte de informações para os profissionais envolvidos com as disciplinas de deontologia e ética médico-veterinária e finalmente como estímulo para gerar novos levantamentos nos diferentes conselhos estaduais do Brasil, no sentido de evidenciar possíveis mudanças diante das diferentes percepções e características regionais. Referências

1-CFMV - Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução N. 722, de 16 de agosto de 2002. Aprova o Código de Ética do Médico Veterinário. DOU 16-12-02. Disponível em www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/resolucao_722.pdf Acesso em 31 de maio de 2011. 2-CFMV - Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução N. 322, de 15 de janeiro de 1981 Cria o código de Deontologia e de Ética Profissional do Médico-Veterinário. 3-BRASIL - Presidência da República. Lei N. 5.517, de 23 de outubro de 1968. Dispõe sobre o exercício da profissão de Médico Veterinário e cria os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária. DOU 25/10/68. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5517.htm Acesso em 31 de maio de 2011. 4-CFMV - Conselho Federal de Medicina Veterinária. Resolução N. 875, de 12 de dezembro de 2007. Aprova o Código de Processo Ético-Profissional no âmbito do Sistema CFMV/CRMVs. DOU 31-12-2007. Disponível em http://www.cfmv.org.br/portal/legislacao/resolucoes/resolucao_875.pdf Acesso em 31 de maio de 2011.

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Contribuição do exame ultrassonográfico no diagnóstico de osteocondrose dissecante em cabeça umeral de cão – relato de caso Sonography of humeral head osteochondrosis dissecans in dogs – case report Diagnóstico ultrasonográfico de osteocondrosis disecante de la cabeza humeral en caninos – relato de caso Clínica Veterinária, n. 93, p. 86-92, 2011 Paulo José Riccio Frazão

MV, mestre Spécialité Diagnóstico Veterinário cazevet@yahoo.com.br

Gabriela Silva Rodrigues

MV, mestre Spécialité Diagnóstico Veterinário gabisr@yahoo.com

Fabiana Caviglia

médica veterinária Clínica Veterinária Gato Mia fabicavigliavet@gmail.com

Marcos Steinle Rodrigues Lopes médico veterinário Clínica Veterinária Estação Animal estacaoanimal@uol.com.br

Stefano Carlo Filippo Hagen MV, prof. dr. Depto. Cirurgia - FMVZ/USP hagen@usp.br

Resumo: A osteocondrose é uma ossificação endocondral inadequada da cartilagem articular que precede a osteocondrose dissecante, caracterizada pela formação de um fragmento dessa cartilagem. Radiografias simples e contrastadas permitem seu diagnóstico. O uso da ultrassonografia para essas afecções em cães é pouco relatado. Em um rottweiller macho de oito meses com diagnóstico radiográfico de osteocondrose na cabeça umeral esquerda identificaram-se no exame ultrassonográfico imagens compatíveis com osteocondrose dissecante. O diagnóstico foi confirmado durante a artrotomia. Nesse caso, a ultrassonografia mostrou-se uma ferramenta de grande utilidade. Esse exame pode ser realizado sem anestesia ou sedação e não é invasivo, ao contrário da artrografia. Para a sua realização são necessárias experiência e capacitação profissional. O potencial da ultrassonografia articular em pequenos animais ainda está sendo explorado. Unitermos: ultrassonografia, sistema musculoesquelético, articulação escapuloumeral Abstract: Osteochondrosis is an improper endochondral ossification of the articular cartilage, which precedes osteochondrosis dissecans, a condition characterized by the formation of a fragment of this cartilage. It can be diagnosed by conventional radiographic exams and arthrography. Few studies have reported the use of ultrasound as a diagnostic tool for these conditions in dogs. An 8-month-old male Rottweiller showing radiographic signs of osteochondrosis at the left humeral head was submitted to an ultrasound exam, which revealed images compatible with osteochondrosis dissecans. Diagnosis was confirmed during arthrotomy. In this case, ultrasound imaging showed to be a helpful diagnostic aid. When compared to positive contrast arthrography, ultrasound can be performed without anesthesia or sedation, and is not invasive. However, an experienced ultrasonographer is required. The full potential of articular ultrasonography in small animals is still being explored. Keywords: ultrasonography, musculoskeletal system, shoulder joint Resumen: La osteocondrosis es una osificación endocondral inadecuada del cartílago articular y precede a la osteocondritis disecante, la cual se caracteriza por la formación de un fragmento de este cartílago. El uso de radiografías simples y de contraste permite su diagnostico El uso de la ecografia para este tipo de afeccion en caninos es poco frecuente. En un rottweiller macho, de ocho meses, con diagnostico radiográfico de osteocondrosis en la cabeza humeral, pudieron envidenciarse a través de la ecografía, imágenes compatibles con osteocondritis disecante. El diagnostico fue confirmado durante la artrotomía. La ultrasonografía mostró ser una herramienta de gran utilidad. Comparado con la artrografía, este examen puede ser realizado sin sedación y no es invasivo. Para su realización es necesario tener experiencia y capacitación profesional. El potencial de la ultrasonografía articular en pequeños animales aún está siendo explorado. Palabras clave: ecografia, sistema musculoesquelético, articulación del hombro

Introdução A osteocondrose é uma doença ortopédica de desenvolvimento. Sua origem é uma desordem focal na ossificação subcondral que causa uma desestruturação da cartilagem, 86

podendo ter origem em uma vascularização deficiente que tenha evoluído para consequente necrose tecidual. Ocorre tanto na cartilagem epifisária articular, que consiste na cartilagem articular imatura que recobre as extremidades de

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importantes sobre lesões de tecidos moles adjacentes às articulações que podem causar claudicações. Normalmente, é um exame mais barato e menos invasivo do que a artroscopia e não necessita de anestesia. Sua maior desvantagem é depender de um operador experiente, que possua amplo conhecimento anatômico 11. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso sobre a contribuição do exame ultrassonográfico no diagnóstico de osteocondrose dissecante em cabeça umeral de cão, comparando-o com dados da literatura. Relato de caso Relata-se no presente trabalho o caso de um cão macho da raça rottweiller, de oito meses de idade, encaminhado para atendimento em clínica veterinária com queixa de claudicação do membro torácico esquerdo. No exame físico, o animal apresentava frequência cardíaca e respiratória dentro dos limites da normalidade, linfonodos superficiais de tamanho e consistência normais, mucosas normocoradas e tempo de perfusão capilar em torno de dois segundos. A auscultação cardíaca revelou batimentos cardíacos ritmados, sem a presença de sopros ou de qualquer disfunção cardíaca. O animal não apresentava dor à palpação abdominal e não possuía qualquer aumento de volume superficial evidente. Observouse claudicação de grau leve do membro torácico esquerdo, porém o cão não apresentava dor nem crepitação à palpação nem à movimentação das articulações. Também não foram observados aumentos de volume nem qualquer solução de continuidade em pele. Segundo a anamnese, o animal era alimentado com ração comercial tipo super premium sem suplementação e mantido solto em ampla área externa com outros cães, onde costumava correr e brincar à vontade. Um exame radiográfico da articulação escapuloumeral esquerda foi solicitado. Em projeção mediolateral, com o animal posicionado em decúbito lateral esquerdo, com o membro torácico esquerdo em extensão cranial e o contralateral tracionado caudalmente, observou-se discreta irregularidade óssea com diminuição da radiopacidade em osso subcondral, face caudal da cabeça umeral (Figura 1). A articulação Paulo Frazão

crescimento de ossos longos, quanto no disco de crescimento de seres humanos e de diversas espécies 1-4. Tanto a alimentação do animal quanto a intensidade de exercícios na fase de desenvolvimento são citados como fatores de risco para o seu surgimento. Dietas com altas taxas de cálcio e atividades com outros cães aumentam o risco de desenvolvimento da osteocondrose. Por outro lado, alimentar os animais com rações secas específicas diminui tais riscos 5. Alguns autores comentam haver discordâncias sobre o uso do termo osteocondrose, que significa degeneração óssea e cartilaginosa, já que a lesão ocorre primariamente na cartilagem e acaba afetando o osso secundariamente 1,6. As lesões de osteocondrose têm alta ocorrência em porcos, equinos e cães de raças de grande porte, porém nem sempre resultam em sinais clínicos. O termo osteocondrite como sinonímia dessa afecção tem sido descartado por muitos cientistas, uma vez que o processo inflamatório não é uma característica essencial das lesões primárias, sendo os diferentes estágios da osteocondrose diferenciados pelo acréscimo dos termos latente, manifestante e dissecante. A osteocondrose latente é caracterizada pela presença de área focal de necrose cartilaginosa. Quando a falha focal de ossificação endocondral é visível macroscópica e radiograficamente, ela é chamada de osteocondrose manifestante. Já o estágio de osteocondrose dissecante caracteriza-se pela fragmentação da cartilagem articular, que gera um retalho 1,4,6,7. Em cães, o local de predileção para o surgimento da osteocondrose é a porção caudal da cabeça umeral. O diagnóstico dessas alterações normalmente se baseia no histórico e nos achados dos exames físico e radiográfico 2,7-11. O diagnóstico radiográfico da osteocondrose na articulação escapuloumeral é confirmado pela presença de uma área irregular radiotransparente (falha) em osso subcondral do aspecto caudal da cabeça umeral, cujo tamanho pode variar 7,9. A artrografia com contraste positivo auxilia na identificação de retalhos não mineralizados que caracterizam a osteocondrose dissecante 7. A tomografia computadorizada permite identificar várias lesões articulares, como por exemplo a fragmentação do processo coronoide da ulna. As osteocondroses podem aparecer como áreas hipoatenuantes (osteólise) e hiperatenuantes (esclerose) e também como lesões opostas a fragmentos livres 12. A ressonância magnética é uma modalidade diagnóstica excelente, que permite avaliar as estruturas intra e extra-articulares, sendo útil na determinação da extensão da lesão óssea e da gravidade das alterações inflamatórias do osso subcondral, porém nem sempre é capaz de demonstrar a presença de fragmentos de cartilagem soltos 11,13. Suas limitações estão associadas à baixa disponibilidade de centros de referência e à necessidade de anestesia geral 10,11. Já no exame artroscópico, o achado mais comum é um retalho de cartilagem 9. Esse exame permite a avaliação completa da superfície da cabeça umeral 11. A ultrassonografia tem se mostrado útil na identificação de lesões de osteocondrose da articulação escapuloumeral em cães e uma ferramenta importante para avaliar a cartilagem e o osso subcondral da porção caudal da cabeça umeral, e identificar fragmentos de cartilagem soltos, a efusão articular e a neoformação óssea 7,11. Além disso, fornece informações

Figura 1 - Imagem radiográfica da articulação escapuloumeral esquerda em projeção mediolateral, que evidencia irregularidade óssea com diminuição da radiopacidade em osso subcondral, face caudal da cabeça umeral (seta)

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Figura 2 - Imagem ultrassonográfica da cabeça umeral esquerda, face lateral, em que a superfície hiperecogênica do osso subcondral e a imagem anecogênica da cartilagem articular se encontram normais

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escapuloumeral apresentava-se congruente, sem diminuição ou aumento da interlinha radiográfica. Os achados radiográficos eram compatíveis com osteocondrose da cabeça umeral. O membro contralateral foi radiografado também em projeção mediolateral e não apresentava evidências radiográficas de alterações na articulação escapuloumeral. O exame ultrassonográfico da articulação escapuloumeral esquerda foi então realizado com um aparelho da marca GE, modelo Logic3, utilizando-se transdutor linear com frequência de 10MHz. O animal foi posicionado em decúbito lateral direito e a pele da região próxima à articulação foi tricotomizada. Durante o procedimento, realizaram-se cortes ultrassonográficos transversais e longitudinais. O exame iniciou-se com a avaliação dos músculos infraespinhoso e supraespinhoso, de seus respectivos tendões até a região de inserção em úmero e da superfície óssea da escápula. O tendão bicipital também foi avaliado. Em seguida abordaram-se as porções lateral e caudal da articulação, nas quais as seguintes estruturas foram identificadas: superfície óssea subcondral, cartilagem articular e cápsula articular. Durante o exame, realizaram-se movimentos de extensão, flexão, adução e abdução, a fim de avaliar a mobilidade articular e o máximo de superfície articular possível. Não foram encontradas evidências ultrassonográficas de alterações no músculo infraespinhoso, no músculo supraespinhoso e na superfície óssea da escápula. O tendão bicipital se apresentava homogêneo, com a ecotextura preservada e o paralelismo das fibras mantido. Não havia distensão articular e a cápsula articular se apresentava normoespessa. Na face lateral da cabeça umeral, a cartilagem articular mediu 1,2mm de espessura (Figura 2). Com o membro em adução, observou-se irregularidade da superfície óssea subcondral na face caudal da cabeça umeral, recoberta por cartilagem articular com cerca de 1,7mm de espessura e por uma segunda linha hiperecogênica (Figura 3). Não foi possível determinar a extensão da lesão. Com base nos achados ultrassonográficos, diagnosticou-se osteocondrose dissecante da face caudal da cabeça umeral.

Figura 3 - Imagem ultrassonográfica da cabeça umeral esquerda, face caudal, com o membro em adução, evidenciando-se um espessamento da cartilagem articular hipoecogênica sobre uma irregularidade da superfície hiperecogênica do osso subcondral, que se encontra coberta por uma segunda linha hiperecogênica (seta)

O animal foi então submetido à artrotomia para a retirada do retalho de cartilagem (Figuras 4 e 5). Utilizou-se a abordagem cirúrgica denominada craniolateral com tenotomia do tendão infraespinhoso descrita na literatura 14,15. No pós-cirúrgico, durante sete dias administrou-se antiinflamatório não esteroidal a e por dois meses a movimentação do animal restringiu-se a curtas e leves caminhadas diárias. Um mês após o procedimento cirúrgico, o animal apresentava claudicação moderada e cerca de dois meses depois a claudicação já era quase imperceptível. Em consulta de rotina, seis meses após o procedimento, não havia sinal de claudicação e após um ano, o proprietário relatou que o animal não mais apresentou qualquer problema. Discussão Assim como descrito na literatura, neste caso uma suspeita diagnóstica de osteocondrose dissecante foi estabelecida durante a identificação do animal 15-17. Os cães de raças de grande porte, assim como os rottweillers, possuem grande predisposição a desenvolver osteocondrose. Os machos também são mais acometidos por tal enfermidade do que as fêmeas 15,18. O fato de o animal interagir à vontade com outros cães também pode ser considerado um fator de predisposição para o desenvolvimento da afecção, apesar de ele ser alimentado com ração seca específica 5. Essa desordem costuma aparecer nos primeiros meses de vida do animal, pois a cartilagem articular se torna avascular antes mesmo da fase adulta 1,4. Além disso, o local de maior incidência da osteocondrose é o aspecto caudal da cabeça umeral na articulação escapuloumeral, que se descobriu, conforme se suspeitava, ser a origem da leve claudicação do animal 2,8,19,20. No exame radiográfico em projeção mediolateral visibilizou-se irregularidade da superfície óssea subcondral, descrita pela literatura como um dos achados radiográficos da osteocondrose 7-9,16,17. Não se realizaram outras projeções, que a) Carproflan, Agener União, Embu Guaçu, SP

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Figura 4 - Imagens da artrotomia da articulação escapuloumeral esquerda pelo acesso craniolateral com tenotomia do tendão infraespinhoso, evidenciando-se margem lateral de retalho cartilagíneo em cabeça umeral – osteocondrose dissecante –, sendo em A sem manipulação e em B elevada pelo bisturi (setas)

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Figura 5 - Imagens da artrotomia da articulação escapuloumeral esquerda pelo acesso craniolateral com tenotomia do tendão infraespinhoso, evidenciando-se retalho cartilagíneo resseccionado e defeito subcondral

só seriam necessárias caso a mediolateral não fosse informativa 19. O membro contralateral também foi avaliado radiograficamente, uma vez que a osteocondrose pode ser bilateral 2, mas nenhuma lesão foi encontrada. Nenhum retalho mineralizado dentro do defeito subcondral ou solto na articulação foi encontrado, o que caracterizaria a osteocondrose dissecante já pelo exame radiográfico simples 15,17,19,20. A literatura sugere a realização da artrografia por contraste positivo quando se quer determinar a presença de retalhos cartilagíneos não mineralizados. Porém, para a realização desse exame o animal precisa ser anestesiado 8,13. A literatura preconiza que o animal esteja sedado durante o exame ultrassonográfico, principalmente em casos em que há grande sensibilidade articular, já que o membro por vezes deve ser levado à máxima pronação 7,21,22. Porém, o paciente não apresentava dor à palpação nem à movimentação articular, não comprometendo o valor diagnóstico do exame realizado sem sedação. Assim, decidiu-se realizar a ultrassonografia, devido à facilidade e à rapidez de acesso a esse exame. Em nossa experiência, temos visto que o exame ultrassonográfico pode ser facilmente realizado sem a utilização de sedativos ou anestésicos. Além disso, o custo da ultrassonografia é mais baixo do que o da artrografia, além de não ser invasivo e gerar informações imediatas para o clínico e para o cirurgião 11. Essas características sugerem sua utilização antes da de qualquer outro método de diagnóstico de caráter invasivo. 90

O exame das estruturas intra-articulares foi feito enquanto se realizavam movimentos lentos de adução e rotação, assim como preconizado 23. Esses movimentos facilitaram a identificação do local da lesão subcondral, sobretudo a adução. Porém, nem toda a extensão da lesão pôde ser avaliada. Essa limitação pode ter ocorrido devido ao fato de o animal não estar sedado, o que impediu que a máxima pronação do membro fosse atingida. Entretanto, mesmo sob sedação, por vezes não é possível acessar toda a extensão da lesão 7. O defeito subcondral aparecia hipoecogênico sem pontos ou linhas hiperecogênicas em um primeiro momento, mas com o movimento do transdutor e da articulação, pôde-se identificar a presença de uma linha hiperecogênica paralela à da superfície subcondral, indicando a presença de um retalho de cartilagem sobre a irregularidade subcondral. Além disso, essas observações corroboram as afirmações de que podem ocorrer resultados falso-negativos caso não seja realizado um exame detalhado e minucioso 7. Os achados ultrassonográficos neste caso foram confirmados durante o procedimento cirúrgico. O tratamento conservativo não foi tentado por opção do próprio proprietário 9,15. Já a técnica cirúrgica por artrotomia foi escolhida devido à disponibilidade de equipamentos, ao treinamento e à perícia do cirurgião e ao custo mais baixo desse procedimento, quando comparado com o da artroscopia. Este caso clínico corrobora as conclusões de que o estudo radiográfico é o método mais indicado para o diagnóstico de afecções articulares, porém a ultrassonografia pode ser uma ferramenta auxiliar de grande importância, como, por exemplo, na avaliação de osteocondroses manifestantes e dissecantes da cabeça umeral de cães, uma vez que o exame seja realizado por um profissional experiente e capacitado 7,24. Conclusão Neste caso, o uso da ultrassonografia para a avaliação da articulação escapuloumeral mostrou-se uma ferramenta diagnóstica de grande utilidade, servindo como um exame complementar ao radiográfico. Trata-se de um exame facilmente acessível, de baixo custo e que não necessita de muitos preparos, uma vez que não é invasivo e em grande parte dos pacientes pode ser realizado sem anestesia ou sedação, quando não há sensibilidade à movimentação e à palpação articular. Além disso, com o uso de transdutores adequados, com frequências de 10 a 12MHz, o ultrassom articular gera imagens de alta qualidade permitindo a avaliação de tecidos moles adjacentes à articulação. A osteocondrose manifestante da cabeça umeral pode ser diagnosticada e diferenciada da dissecante por meio do exame ultrassonográfico, quando este é minuciosamente realizado, utilizando-se o exame dinâmico com movimentos constantes e leves da articulação, dentre eles o de pronação e o de adução. Caso o exame não seja realizado de forma precisa e por um profissional experiente e capacitado, o resultado pode ser falso-negativo. O potencial desse método diagnóstico ainda está sendo explorado. Porém, este caso mostra que ele poderia ser mais empregado na rotina clínica em casos de suspeita de osteocondrose dissecante.

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Patologia clínica Avaliação laboratorial dos líquidos cavitários – revisão Laboratory evaluation of cavitary fluids – review Análisis de laboratorio de líquidos intracavitarios – revisión de literatura Clínica Veterinária, n. 93, p. 94-100, 2011 Angela Bacic

MV, profa. Faculdade de Med. Veterinária - FMU Lab. Clínico do HOVET-FMU angelbac2002@yahoo.com.br

Resumo: Em condições normais, há uma pequena quantidade, não recuperável em cães e gatos, de fluido estéril no abdômen, no pericárdio e no espaço pleural, com a função de permitir o deslizamento das vísceras entre si. O acúmulo de líquido em um ou mais desses locais é uma ocorrência comum na clínica de pequenos animais. Várias podem ser as causas de sua formação, como ruptura de um vaso sanguíneo, de um vaso linfático ou da vesícula urinária, hipoalbuminemia, aumento da pressão hidrostática em decorrência de um tumor ou cardiopatia, e aumento da permeabilidade vascular. Para o estabelecimento do diagnóstico é importante, além de uma anamnese e um exame físico cuidadosos, a realização de uma análise laboratorial detalhada, aqui abordada, na qual se incluem a observação dos aspectos físicos, determinação da constituição química, observação microscópica e, eventualmente, cultura bacteriana. Unitermos: cão, gato, efusão Abstract: In healthy conditions, there is a small volume of sterile fluid inside the abdomen, pericardial and pleural spaces that is not retrievable in dogs and cats and which allows the sliding of viscera. Fluid accumulation in one or more of these sites is a common occurrence in small animal practice. There are many causes for its accumulation, such as rupture of a blood vessel, of a lymphatic vessel or of the bladder, hypoalbuminemia, increased hydrostatic pressure due to a tumor or cardiopathy and increased vascular permeability. In order to establish the diagnosis, it is important to perform a detailed laboratory analysis in addition to a careful anamnesis and physical examination. This laboratory analysis is discussed herein and includes the observation of the physical aspects, chemical analysis, microscopic evaluation and, occasionally, a bacterial culture of the fluid. Keywords: dog, cat, effusion Resumen: En condiciones normales existe una pequeña cantidad de líquido no recuperable y estéril en el abdomen, pericardio y espacio pleural que suelen tener como función la de permitir el deslizamiento de vísceras. En la clínica diaria es frecuente la presentación de pacientes con acumulo de estos líquidos. Existen varias posibles causas como orígen para su formación, tales como la ruptura de vasos sanguíneos o linfáticos, ruptura de vejiga, la hipoalbuminemia, el aumento de la presión hidrostática debido a un tumor o cardiopatía, y a un aumento de la permeabilidad vascular. Además de los datos de anamnesis y examen físico del paciente, es fundamental para el diagnostico etiológico del acumulo de estos líquidos, realizar examenes de laboratorio detallados, en los que se deben observar las caracteristicas físicos del líquido, análisis químicas, microscopia y, en algunos casos, el cultivo bacteriano. Palabras clave: perro, gato, efusión

Introdução Normalmente, existe uma pequena quantidade de fluido estéril e límpido nas cavidades corpóreas, resultante de um ultrafiltrado do plasma, que tem a função de lubrificar e permitir a movimentação das vísceras entre si, sem que ocorra aderência entre elas. O acúmulo de líquidos cavitários, também denominados efusões cavitárias ou, menos frequentemente, derrames cavitários, é comum em vários processos patológicos, e somente uma análise laboratorial minuciosa, associada a uma anamnese e a um exame físico cuidadosos, 94

podem esclarecer a sua origem. As cavidades corpóreas mais afetadas são o abdômen e o tórax, mas o pericárdio pode também ser eventualmente acometido 1,2. Etiopatogenia Os líquidos cavitários podem se formar em decorrência de vários processos patológicos, sendo os principais: Ruptura de uma estrutura • Ruptura de vaso sanguíneo – se a ruptura ocorrer no

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abdômen, teremos um hemoperitôneo ou hemoabdômen; se ocorrer no tórax, um hemotórax 3; • ruptura de vaso linfático – leva à formação de uma efusão quilosa que pode ser ainda denominada ascite quilosa ou quiloperitôneo, se ocorrer no abdômen, ou quilotórax, se ocorrer dentro da cavidade torácica 4; • ruptura de vesícula urinária – denominada uroperitôneo ou uroabdômen 5; • ruptura de vesícula biliar – denominada efusão biliar 6; • ruptura de alça intestinal – leva a uma peritonite séptica 7. Aumento da pressão hidrostática • Em vasos sanguíneos – comum na insuficiência cardíaca congestiva direita, em que há aumento da pressão hidrostática nos vasos que desembocam no átrio direito, levando à formação de ascite 8; • em vasos linfáticos – decorre da obstrução do fluxo e do consequente aumento da pressão hidrostática dentro do vaso linfático, como no caso de, por exemplo, neoplasias compressivas e insuficiência cardíaca 9. Diminuição da pressão oncótica (hipoalbuminemia) • Hipoalbuminemia por perda intestinal (diarreia crônica) 10; • hipoalbuminemia por perda renal (proteinúria) 11; • hipoalbuminemia por diminuição da síntese hepática 12. Aumento da permeabilidade vascular • Decorrente de infecções sistêmicas como, por exemplo, na peritonite infecciosa felina (PIF) 13; • Decorrente de processos inflamatórios locais como, por exemplo, na peritonite provocada por pancreatite aguda 14.

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Avaliação dos aspectos físicos Nesta parte, incluem-se aspectos que podem ser avaliados pelo próprio clínico, antes de encaminhar a amostra a um laboratório, a saber: cor, turvação, capacidade de coagular e, se houver um refratômetro disponível, a densidade.

Turvação O líquido cavitário normal é límpido e transparente. A turvação pode ocorrer devido ao acúmulo de um grande número de células (inflamatórias, mesoteliais ou neoplásicas), de bactérias ou de detritos alimentares, no caso de ruptura de alça intestinal, sendo fundamental um exame microscópico para a diferenciação. Após repouso prolongado ou centrifugação, as amostras de líquido cavitário turvas ou ligeiramente turvas podem apresentar a formação de duas fases: uma Angela Bacic

Colheita e envio da amostra • A amostra de líquido cavitário deve ser colhida de forma mais asséptica possível, utilizando-se para isso tricotomia, antissepsia e tubos estéreis. Se o líquido tiver se formado em decorrência de um processo inflamatório, ele pode eventualmente coagular e, por isso, parte do líquido colhido deve ser colocada em um tubo com anticoagulante (EDTA). Além disso, se houver suspeita de associação com processo séptico, parte da amostra deve ser reservada em um tubo estéril para posterior cultura bacteriana. As amostras devem ser mantidas sob refrigeração até o momento do processamento. Se este se delongar por muito tempo, devem ser preparadas lâminas, utilizando-se as técnicas de esmagamento (squash) ou de concentração linear, feitas a partir do material que tiver sobrado na seringa utilizada na colheita ou do tubo sem anticoagulante, pois este pode provocar alterações morfológicas nas células que ficaram muito tempo em contato com ele. A última técnica é a melhor nos casos de líquidos com baixa densidade. Seja qual for a técnica escolhida, as lâminas devem ser imediatamente secas ao ar logo após o preparo 1,15-17.

Cor A cor é muito importante para a formulação das primeiras hipóteses diagnósticas: • incolor – observada nas efusões decorrentes de diminuição da pressão oncótica por hipoalbuminemia 12; • vermelha – observada em líquidos decorrentes de ruptura de vasos sanguíneos calibrosos (Figura 1) 3; • avermelhada – observada em efusões decorrentes de aumento da pressão hidrostática dentro de vasos sanguíneos, de ruptura de vasos sanguíneos de pequeno calibre ou de punção iatrogênica de algum vaso sanguíneo durante o procedimento de colheita 8; • leitosa – observada nas efusões decorrentes de ruptura ou obstrução de vasos linfáticos (efusão quilosa) ou de persistência crônica de efusões (efusão pseudoquilosa) (Figura 2) 18-28; • castanha – pode ser observada em líquidos decorrentes de ruptura de vesícula biliar (efusão biliar). Nesse tipo de efusão, pode-se também observar uma coloração que varia de verde-amarelada a enegrecida 6,29; • amarelada – pode ser decorrente do acúmulo de células inflamatórias e de proliferação bacteriana. Ao contrário do que geralmente se supõe, nem sempre se observa uma coloração puramente amarela nos casos de uroperitôneo, pois, em geral, concomitantemente à ruptura da vesícula urinária, também se rompem os vasos sanguíneos existentes em sua parede, fazendo com que a coloração fique avermelhada 5.

Figura 1 - Amostras de sangue periférico (à esquerda) e de líquido abdominal (à direita) de cão com ruptura de parênquima esplênico. O hematócrito do sangue periférico era de 19% e o do líquido, de 25%

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Figura 2 - Líquido abdominal leitoso característico de efusão quilosa

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Patologia clínica superior, denominada sobrenadante, e outra inferior, o sedimento, do qual podem ser preparadas lâminas para análise cito-morfológica (Figuras 3 e 4) 16,17. Densidade A densidade pode ser mensurada por refratometria e é diretamente relacionada ao aspecto, ou seja: líquidos turvos, por exemplo, geralmente têm alta densidade em comparação com líquidos límpidos como os decorrentes de hipoalbuminemia 29.

Avaliação qualitativa (contagem diferencial) Para esta avaliação, é necessária a confecção de lâminas de boa qualidade. As lâminas podem ser preparadas pela técnica de esmagamento (squash) ou, se a amostra for muito Avaliação citológica límpida, pela técnica do esfregaço interrompido, ou concenA avaliação citológica é, preferencialmente, feita na tração linear 17. As lâminas devem ser imediatamente secas amostra colocada dentro do tubo sem anticoagulante, evitanao ar e devidamente identificadas do lado em que o material do-se assim alterações morfológicas decorrentes do contato foi depositado. Elas não precisam ser colocadas em refrigeprolongado com o EDTA. Conforme afirmado anteriormenração, sendo suficiente o seu transporte para o laboratório te, devem ser confeccionadas lâminas, preferencialmente dentro de um porta-lâminas. logo após a colheita, a partir do material que restar na serinSe o líquido for muito transparente, provavelmente não ga utilizada para succionar o material da cavidade. haverá material em quantidade suficiente para ser microscopicamente analisado na lâmina preparada a partir do material Figura 3 - Líquido abdominal iniin natura (isto é, sem centrifugação). Nesses casos, o tubo de cialmente com turvação homocolheita é submetido a uma centrifugação suave e rápida gênea, no qual se observou, (165 a 360g por cinco minutos em uma centrífuga clínica), o após a centrifugação, a formação de duas fases: sobresobrenadante é parcialmente desprezado e novas lâminas são nadante (superior) e sedimento preparadas a partir do sedimento 17. (inferior), composto de neutrófiPode-se empregar um método de coloração rápida, como los degenerados e bactérias os popularmente constituídos por três reagentes, nos quais a lâmina é submersa rápida e sequencialmente. Em menor aumento, observa-se toda a extensão da lâmina, procurando-se por uma região na qual as células estejam íntegras e sejam mais numerosas, mas não estejam demasiadamente juntas a ponto de se justaporem, impossibilitando a identificação. São identificadas cem células, que podem ser células inflamatórias (neutrófilos íntegros ou degenerados, macrófagos e linfócitos) ou células teciduais (mesoteliais normais ou reativas, células neoplásicas). Observase também se há presença de outros elementos, como bactérias intra ou extracelulares, produtos de degradação da hemoglobina (como cristais de hematoidina), plaquetas, figuras de leuco e/ou eritrofagocitose, pigmentos biliares, detritos alimentares, etc. No líquido de efusão quilosa, pode-se observar Figura 4 - Líquido abdominal de um cão com insuficiência cardíaca congestiva a presença predominante de linfócitos pequenos. direita. Observa-se líquido homogenea- No entanto, se o líquido estiver presente há muito mente avermelhado e ligeiramente turvo tempo e se tiverem sido feitas centeses repetidas, antes da centrifugação (à esquerda) e, após a centrifugação, a formação de pode haver quimiotaxia de neutrófilos e macrófasobrenadante límpido (centro) e sedi- gos em virtude da irritação da membrana peritomento composto predominantemente de neal ou pleural, ultrapassando o número de linhemácias (à direita) fócitos 16. Angela Bacic

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Coagulação A observação da capacidade de um líquido coagular só é possível se parte da amostra for enviada em um tubo sem anticoagulante. A coagulação de um líquido pode sugerir um processo inflamatório subjacente ou contaminação iatrogênica com sangue periférico 30.

Avaliação quantitativa (contagem total de células nucleadas) A contagem de células nucleadas pode ser obtida da mesma maneira como se procede para a contagem de leucócitos no sangue total, utilizando-se métodos manuais. Porém, diferentemente do que acontece no sangue, não se pode afirmar que a maioria das células contadas seja de leucócitos, pois pode haver casos em que predominam células neoplásicas, cuja presença será confirmada somente na análise da lâmina corada, quando da realização da contagem diferencial. É importante salientar que as amostras destinadas à contagem total e diferencial de células nucleadas não devem ser colocadas em tubos contendo gel separador de coágulo, ao qual podem aderir as células presentes 1,17.

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A avaliação citológica é também muito importante para se diferenciar se o aspecto avermelhado de um líquido é decorrente de uma hemorragia iatrogênica, isto é, de perfuração inadvertida de um vaso durante a colheita ou de uma hemorragia já existente dentro da cavidade, anterior à colheita. No primeiro caso, podem-se evidenciar vários agregados plaquetários. No último caso, além de um sobrenadante alaranjado (ou xantocrômico), podem-se observar cristais de hematoidina (Figura 5), figuras de eritrofagocitose (Figura 6) e ausência de plaquetas 17. Células neoplásicas (Figura 7) são frequentemente observadas em líquidos cavitários torácicos, abdominais e, inclusive, pericárdicos 31. A exfoliação de células neoplásicas para a cavidade abdominal ou torácica ocorre mais frequentemente com tumores de origem epitelial. Na efusão pericárdica, as três causas neoplásicas mais comuns em cães são: hemangiossarcoma, quimiodectoma e mesotelioma. O linfoma, apesar de ser uma neoplasia extremamente comum em cães, raramente causa efusão pericárdica 32,33. Os mesoteliomas são neoplasias raras, originárias das células que compõem as membranas das cavidades abdominal, torácica e pericárdica. Os animais com mesotelioma podem apresentar uma massa evidente e a contagem celular do líquido cavitário apresenta-se alta (5.000 a 10.000 células/mm3). Seu diagnóstico puramente citológico é complicado devido á dificuldade de diferenciação entre células mesoteliais neoplásicas, células de adenocarcinoma metastático e células mesoteliais intensamente reativas, que são frequentes no líquido pericárdico, devido ao contato íntimo com

superfícies serosas e à movimentação constante 16,34. As células mesoteliais reativas têm projeções citoplasmáticas semelhantes a pseudópodos, alta relação núcleo/citoplasma, nucléolos proeminentes, citoplasma fortemente basofílico, grandes vacúolos citoplasmáticos, podem ainda apresentar figuras de mitose frequentes e serem multinucleadas 35. Se as lâminas forem submetidas a um processo lento de secagem, pode-se visualizar um halo eosinofílico irregular margeando a membrana citoplasmática (Figura 8). Avaliação bioquímica A avaliação bioquímica é feita por meio da mensuração de determinadas substâncias no líquido não coagulado. As substâncias que têm sua concentração mais frequentemente mensuradas são: Proteína total A dosagem precisa é feita por meio de um método de bioquímica úmida, podendo-se utilizar o método do biureto. Uma estimativa prévia pode ser obtida de maneira rápida por Angela Bacic

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Figura 7 - Linfoblastos com aparência monocitoide em líquido pleural de cão com linfoma mediastinal. Ao centro, figura de mitose atípica Angela Bacic

Figura 5 - Cristal de hematoidina em citoplasma de macrófago

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Figura 6 - Macrófagos exibindo eritrofagocitose (setas)

Figura 8 - Células mesoteliais reativas apresentando halo eosinofílico característico (A: duas células mesoteliais binucleadas; B: célula mesotelial isolada)

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Patologia clínica refratometria 36,37. O conhecimento do valor exato da concentração de proteína é importante para a distinção entre transudato e exsudato, cuja definição será fornecida a seguir. A utilização de tiras reagentes urinárias para a mensuração da proteína no líquido é complicada, pois, além de a leitura ser subjetiva, podendo haver diferenças entre duas pessoas que estejam avaliando a mesma amostra, a mensuração é semiquantitativa, e não é possível diferenciar amostras com mais de 1g/dL de proteína, o que corresponde ao limite máximo de detecção da maioria das tiras reagentes 36,37. • Creatinina A dosagem de creatinina no líquido é realizada nos casos em que se tem especificamente a suspeita de ruptura de vesícula urinária e/ou uretra (uroperitôneo). A mesma dosagem tem que ser feita em uma amostra concomitante de sangue do mesmo animal (determinação pareada), confirmando-se o uroperitôneo, quando os valores da concentração de creatinina no líquido cavitário ultrapassarem os valores séricos 38. Com o mesmo intuito, mas menos frequentemente, pode-se fazer a dosagem de ureia. • Triglicérides A dosagem de triglicérides no líquido é realizada nos casos em que se tem especificamente a suspeita de ruptura de vasos linfáticos ou de sua obstrução, com aumento da pressão hidrostática (efusão quilosa, de aspecto branco-leitoso). A mesma dosagem deve ser feita em uma amostra concomitante de sangue do mesmo animal (determinação pareada), confirmando-se a efusão quilosa, quando o valor da concentração de triglicérides no líquido cavitário ultrapassar o valor sérico. Com o mesmo intuito, mas menos frequentemente, pode-se fazer a dosagem de colesterol, porém, exclusivamente com essa determinação, a confirmação da suspeita se dá quando há menos colesterol no líquido do que no sangue. Geralmente, a concentração de triglicérides na efusão encontra-se acima de 100mg/dL, é 2 a 3 vezes maior que no soro e a relação colesterol/triglicérides é menor que 1 16,18. Ao contrário do que antes se acreditava, a ruptura do ducto torácico em consequência de trauma não é a principal causa de efusão quilosa. Em cães com quilotórax, pode haver associação com neoplasia 19, cardiopatia 20 ou trauma, mas a maioria dos casos não é esclarecida, sendo considerada idiopática. Similarmente, em gatos com quilotórax, observa-se em alguns casos associação com cardiomiopatia 9, neoplasia pulmonar e linfoma mediastinal 21, ao passo que alguns casos são considerados iatrogênicos 22. A efusão quilosa abdominal pode ocorrer em decorrência de obstrução de vasos linfáticos e trauma 23-25. A efusão quilosa também pode ocorrer na cavidade pericárdica, sendo então denominada quilopericárdio, que pode ser idiopático 26 ou ter como causas: neoplasias 27, complicação de cirurgia torácica, trauma torácico e obstrução do ducto torácico. • Colesterol A dosagem de colesterol no líquido é realizada nos casos em que se suspeita de ocorrência de efusão pseudoquilosa, decorrente de persistência crônica de efusões com acúmulo de colesterol em virtude de lise celular. A mesma dosagem deve ser feita em uma amostra concomitante de sangue do mesmo animal (determinação pareada), confirmando-se a efusão 98

pseudoquilosa quando o valor da concentração de colesterol no líquido cavitário ultrapassar o valor sérico. Pode-se, inclusive, observar cristais de colesterol no fluido. Por ter a mesma característica macroscópica de uma efusão quilosa, antigamente o termo “efusão pseudoquilosa” era utilizado erroneamente para designar efusões quilosas não decorrentes de ruptura do ducto torácico, o que, de fato, é bastante incomum 28. • Bilirrubina A dosagem de bilirrubina no líquido é realizada nos casos em que se tem especificamente a suspeita de ruptura de vesícula biliar (efusão biliar), geralmente denunciada por uma coloração que varia de verde-amarelada a enegrecida. A mesma dosagem deve ser feita em uma amostra concomitante de sangue do mesmo animal (determinação pareada), confirmando-se a efusão biliar quando os valores da concentração de bilirrubina no líquido cavitário ultrapassarem os valores séricos 1. • Amilase ou lipase A dosagem da atividade da amilase ou lipase no líquido é realizada nos casos em que se tem especificamente a suspeita de pancreatite aguda, que pode levar à formação de uma efusão abdominal de aspecto geralmente turvo e à formação de um sobrenadante gorduroso após centrifugação e refrigeração. A mesma dosagem deve ser feita em uma amostra concomitante de sangue do mesmo animal (determinação pareada), confirmando-se uma efusão secundária à pancreatite quando os valores das atividades enzimáticas no líquido cavitário ultrapassarem os valores séricos 29. Testes específicos Em alguns casos específicos, podem ser feitos os seguintes testes, respectivamente: Micro-hematócrito Realizado quando se tem a suspeita de efusão hemorrágica, em que o valor mensurável do hematócrito (maior que 5%) se mostra eventualmente maior do que o valor do hematócrito do sangue periférico do mesmo animal 30,39. Teste de clareamento com éter Realizado quando se tem a suspeita de efusão quilosa, de aspecto branco-leitoso. O líquido cavitário deve ser alcalinizado, se necessário, com hidróxido de sódio, e misturado com éter, em partes iguais (1:2). Após a homogeneização, observa-se se a mistura ficou límpida, o que confirma esse tipo de efusão. Se houver a formação de duas fases, colocamse algumas gotas da fase superior sobre a lâmina e deixa-se evaporar. Na efusão quilosa, forma-se um precipitado gorduroso. No entanto, devido à necessidade de manuseio do éter e à baixa sensibilidade deste teste, seu uso é infrequente, tendo, preponderantemente, apenas importância histórica 16. Relação albumina/globulina Realizado nos casos em que se suspeita de peritonite infecciosa felina (PIF). Geralmente se tem essa suspeita quando a efusão obtida é densa, viscosa, passível de coagulação e foi obtida de um felino jovem. A obtenção de um valor menor que 0,8 para essa relação é um forte indício de PIF, principalmente

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Em cães, a bactéria mais frequentemente isolada de casos de piotórax é a E. coli 43. Nos casos em que não há crescimento bacteriano pelas técnicas convencionais de cultura, sugere-se a utilização de meios específicos para micobactérias 44.

Avaliação microbiológica Nos exsudatos sépticos, podem-se visualizar bactérias, figuras de eritrofagocitose e/ou leucofagocitose e neutrófilos degenerados (Figura 9). Ocasionalmente se visualizam apenas neutrófilos degenerados, o que reforça a suspeita, mas não a confirma. Portanto, devem-se realizar culturas bacterianas para confirmar a sua presença e identificar a espécie e a suscetibilidade antibiótica. Em gatos com piotórax, frequentemente há infecção com mais de um tipo de bactéria, tanto aeróbias quanto anaeróbias 42. As bactérias mais frequentemente envolvidas são a Pasteurella spp e o Clostridium spp, o que justifica o emprego de uma antibioticoterapia de amplo espectro nesses casos.

Interpretação dos resultados Inicialmente, uma efusão pode ser classificada como transudato (simples ou modificado) ou exsudato (séptico ou asséptico), de acordo com suas características físico-químicas e citológicas, conforme se observa na figura 10. Essa classificação ajuda a estreitar as hipóteses diagnósticas, visto que os exsudatos decorrem de processos inflamatórios, ao passo que os transudatos pode ser resultantes de diminuição da pressão oncótica plasmática ou de aumento da pressão hidrostática 1,16. Determinadas amostras de líquidos cavitários, entretanto, apresentam características físico-químicas que impedem a classificação em exsudato ou transudato, por apresentarem características tanto de um quanto do outro tipo. Nesses casos, os parâmetros que devem ser usados para diferenciar transudatos simples de modificados e estes, por sua vez, de exsudatos são, respectivamente, a concentração de proteína e a celularidade 17.

Angela Bacic

se estiver associado com uma concentração proteica entre 3 e 12g/dL, com uma população celular inflamatória e se se observar um pico de gamaglobulina maior que 32% da proteína total do líquido no exame de eletroforese 40,41.

Agradecimentos Agradeço a Marina Civita, médica veterinária residente nível II do Hovet FMU, por traduzir, gentilmente, o resumo para o espanhol. Referências 01-SHELLI, S. M. Body cavity fluids. In: RASKIN, R. E. ; MEYER, D. J. Atlas of canine and feline cytology. Philadelphia: W. B. Saunders, 2001. p. 187-205. 02-BERG, R. J. ; WINGFIELD, W. Pericardial effusion in the dog: a review of 42 cases. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 20, p. 721-729, 1984.

Figura 9 - Grande quantidade de neutrófilos e macrófagos em exsudato séptico de cão. No macrófago da esquerda, observase fagocitose de bactérias (seta cheia) e de duas hemácias (seta vazada). No macrófago à direita, observa-se fagocitose de neutrófilo

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Transudato

Aspecto

puro (simples)

modificado

límpido

ligeiramente turvo

Coagulação Densidade Proteína Contagem celular Células predominantes Bactérias Principal causa

asséptico

Exsudato turvo

ausente

presente

< 1,017

1,017 - 1,025

> 1,025

< 2,5 g/dL

≥ 2,5 g/dL

≥ 2,5 g/dL

< 1.000/mm3 mesoteliais

≤ 5.000/mm3 mononucleares

ausentes hipoalbuminemia

séptico

aumento da pressão hidrostática

> 5.000/mm3 (neutrófilos, linfócitos e hemácias) neutrófilos íntegros

neutrófilos degenerados

ausentes

presentes

processo inflamatório estéril

processo inflamatório séptico

Figura 10 - Classificação dos líquidos cavitários de acordo com suas características físico-químicas e citológicas. Adaptado 1 Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

99


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Arquitetura & Construção Conforto térmico com calefação de piso

N

os meses de inverno, nas regiões onde há considerável queda de temperatura, é muito bom poder trabalhar desfrutando da sensação de conforto térmico. A climatização do ambiente também pode ser direcionada ao ambiente dos animais, gerando conforto e bemestar e excelente diferencial para o estabelecimento veterinário, merecendo ser bastante divulgada por todos os canais de relacionamento com os clientes. Uma das soluções disponíveis para proporcionar conforto térmico no interior dos ambientes é o uso de cabos calefatores nos pisos (calefação de piso). O cabo calefator é composto de polímero que existe para esse uso, o XLPE (polietileno reticulado), que possui excelente isolamento elétrico, sendo, inclusive, utilizado em cabos de alta tensão. Além disso, possui alta eficiência na transmissão do calor. Os cabos calefatoPor ser blindado, res integram-se à rede o cabo calefator Eurocable pode elétrica por meio de ser usado com uma caixa de derivasegurança em ção. Ao ligar o sisteáreas úmidas ma, inicia-se o aquecimento do ambiente,

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Para combater o frio, uma excelente opção é a calefação de piso. Ela pode ser aproveitada tanto para o bem-estar dos animais quanto para o conforto térmico de quem trabalha em consultórios ou centros cirúrgicos

Disposição no ambiente do cabo calefator

que pode ser controlado pela regulagem do termostato. Ao contrário do que se pensa, a calefação de piso ou piso radiante, como também é conhecido, aquece todo o

No segmento pet, a aplicação da calefação de piso pode ser muito aproveitada para a promoção do estabelecimento e do bem-estar dos animais

Estratificação de piso com cabo calefator

ambiente e não apenas o piso. Por isso, proporciona uma inigualável sensação de conforto térmico em dias frios e úmidos, sem queimar oxigênio ou desperdiçar energia.

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Faturando mais com os mesmos clientes: o atraso das vacinas Nos dois primeiros artigos escrevi sobre assuntos com os quais o veterinário se sente pouco à vontade: a pressão crescente sobre os centros veterinários causada pela informatização do processo de arrecadação e fiscalização tributária e a confusão dos empresários ao misturar faturamento, salário e lucro. Hoje vamos apresentar uma situação comum e sugerir medidas práticas para aumentar o faturamento da clínica. Todo veterinário mantém em seus arquivos dados sobre a vacinação dos pacientes, geralmente a data e o tipo de vacina aplicada. Até que sejam acessados e devidamente processados, por exemplo, por meio da criação de

uma listagem, esses dados ficam perdidos no sistema. Geralmente existe um funcionário da clínica responsável por identificar os pacientes que deverão receber a vacina em determinado mês e comunicá-lo a seus proprietários por mala direta, e-mail ou até verbalmente, caso sejam clientes constantes do pet shop ou da clínica. Sabemos que raramente os clientes solicitam a aplicação da vacina antes da data programada, deixando para fazê-lo dias ou até meses depois. Alguns deles vacinam em outro local por que é mais barato, conveniente ou simplesmente porque foram a um concorrente

Renato Brescia Miracca renato.miracca@q-soft.net

M. veterinário, bacharel em direito, MBA Q-soft Brasil Tecnologias da Informação www.qvet.com.br

buscando algum serviço (hotel, banho ou mesmo consultas) e aproveitaram a oportunidade. Desse modo, perde-se uma parte daqueles animais que foram vacinados no ano anterior (deserção de vacinas). Apesar disso, também chegam novos pacientes e, consequentemente, aplicamos vacinas em animais que não havíamos vacinado no ano anterior.

Figura 1 - Data de vacinação: o cliente atrasa dois meses a cada ano

Figura 2 - Cálculo do impacto do atraso vacinal no faturamento

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Imagina-se, erroneamente, que o importante é que o cliente faça a vacina, mesmo que com algum atraso. Tal procedimento, além de acarretar um risco à saúde do animal, é ruim para os negócios: quando um proprietário atrasa a revacinação de seu animal dois meses em média todos os anos, ao final de seis anos ele terá aplicado somente cinco das seis vacinas previstas (Figura 1). Isso significa que se todos os clientes agirem da mesma forma, o faturamento de vacinas será 16,6% menor do que poderia ser se a média de atraso for de somente sessenta dias (ela com certeza é maior em muitas clínicas). Como exemplo, uma clínica que possua 800 clientes ativos (que frequentam o estabelecimento ao menos uma vez por ano) e cobra R$ 70,00 em média pela vacinação anual deixará de faturar R$ 9.333,00 ao ano caso seus clientes atrasem em média dois meses para fazer o reforço vacinal. Para calcular o quanto a sua clínica deixa de faturar com a aplicação regular de vacinas, confira as equações propostas na figura 2 e aplique-as no seu estabelecimento. O mesmo raciocínio pode ser usado para calcular quanto o centro veterinário deixa de faturar com a venda de antipulgas, check-ups, tratamentos periodontais e qualquer outro tipo de serviço que deva ser executado com certa periodicidade. Tal fato comprova que

muitas vezes se faz um grande esforço para trazer novos clientes ao estabelecimento, na tentativa de aumentar o faturamento, quando se pode fazer isso simplesmente prestando um melhor serviço aos clientes já existentes por meio do gerenciamento adequado das informações. Isso é especialmente importante quando se tem em conta que o custo para atrair novos clientes é sempre maior do que para manter os clientes atuais. Dicas para aumentar a frequência de vacinação 1 - Treinar os veterinários para atualizar e controlar corretamente as informações sobre vacinas (e outras informações também...). O preenchimento incorreto do prontuário pode fazer com que o animal sequer apareça na listagem de retorno vacinal e, já que é comum os clientes transferirem ao veterinário o controle das vacinas, esse animal ficará sem o procedimento. Atenção: muitos colegas se esquecem, durante a consulta, de verificar se as vacinas do animal estão em dia e, se for o caso, de aplicá-las. É muito comum também a falta de cobrança das vacinas realizadas. Isso é importante causa de quebra de faturamento, que pode ser evitada por meio da automatização do processo. 2 - Manter um controle especial para os

animais que frequentam o banho e a tosa da clínica, lembrando o cliente quinze dias antes do vencimento e propondo o agendamento do serviço na mesma data. Essa é uma ótima oportunidade para fidelizar o cliente. 3 - Entrar em contato com o cliente por e-mail, telefone ou qualquer outro meio, avisando-o da necessidade de reforço vacinal. Convém anotar o resultado do contato, junto com a data e o nome da pessoa com quem falou, ou solicitar aviso de recebimento do email, para controle. Esse contato pode ser realizado duas semanas antes da data prevista, pois, se houver muita antecedência, o cliente se esquecerá da data. 4 - Educar o cliente sobre as vantagens de manter a vacina de seu pet em dia, enfatizando os benefícios para a saúde do animal e a economia ao realizar medicina preventiva. Isso pode ser feito durante o atendimento, por meio de material impresso, redes sociais, entre outros. 5- Aproveitar o momento da vacinação para oferecer outros serviços ao paciente, caso sejam necessários: tratamento e limpeza periodontal, controle da pressão arterial, exame de fezes periódico, atendimento comportamental, etc.

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Seja responsável pela experiência de seus clientes – parte 1B

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star consciente da necessidade de assumir o controle sobre a experiência de relacionamento de seus clientes com a clínica motiva você a treinar a sua equipe para lidar bem com eles? A pergunta que cabe aqui é: “Você tem alguma ideia de quanto está perdendo caso isso não esteja ocorrendo?” Alguns estudos feitos em empresas e indústrias têm demonstrado que uma esmagadora parte dos colaboradores vêem os clientes como pragas. Por mais louco que pareça, isso é real. É muito provável que você já tenha tido alguém em sua equipe que só quisesse passar o dia despendendo o mínimo esforço necessário. "Quero terminar esta ligação, assim posso voltar ao que estava fazendo antes...” – essa é uma reação comum, automática e que pode ser inconsciente, mas demonstra a falta de capacitação e de comprometimento na interação da sua equipe com os clientes. Sua clínica com certeza poderia estar melhor se a sua equipe tivesse mais consciência disso antes de interagir com os clientes ao telefone. A fidelização dos clientes começa pelo atendimento na recepção Alguns clientes não chegam a efetivar a consulta porque o primeiro contato/interação realizado na recepção ou por telefone não transmitiu confiança na qualidade dos serviços médico-veterinários. É um erro esperar que eles cheguem à sala de exame para poder impressioná-los com a capacitação médico-veterinária, porque isso é feito a partir das conversas iniciais feitas nos primeiros contatos. As pessoas que se dedicam ao atendimento na recepção precisam ter em mente o resultado desejado e deixar-se guiar por ele quando falam com os clientes. Isso terá um efeito direto no atendimento por telefone, e o resultado desejado será alcançado com muito mais frequência. Provavelmente, grande parte das vezes em que o telefone tocar a pessoa 108

AUTORES

• Marco Antonio Gioso

Docente do Depto. de Cirurgia da FMVZ-USP www.fmvz.usp.br - www.gioso.com.br;

• Steve Kornfeld, DVM, CPCC

Certified Professional Coactive Coach www.veterinarycoaching.com;

• Maria Das Gracas Jardim Rodrigues, “Coach” (treinadora) em negócio veterinário

responsável pelo atendimento estará fazendo outra coisa. Uma parte de sua mente pode ainda estar focada na atividade anterior e talvez até mesmo algum grau de ressentimento esteja presente em função da interrupção. Tudo isso pode ter um efeito negativo sobre a interação. Só com um atendimento perfeito se pode obter o resultado desejado. Fique atento às prioridades Um outro aspecto da consciência é conhecer suas prioridades – o que fazer se algo inesperado acontece, como uma ligação telefônica. Sem definir essas prioridades, pode-se cometer um erro relativamente comum, como, por exemplo, quando um cliente entra na clínica e a recepcionista está ao telefone falando com outro cliente e, vendo que não é uma situação de emergência, ignora totalmente aquele que chegou depois de passada a saudação inicial. Para ser capaz de controlar a situação com eficiência é necessário que, além de estar consciente da situação, também ocorram treinos repetitivos. Quando alguém da sua equipe atende uma ligação, o lugar onde ele encontra-se no momento é o melhor para que possa dar atenção ao cliente? Se a resposta for não, o colaborador precisa chegar ao local de atendimento ou, com eficiência e agilidade, passar a ligação para alguém que esteja no lugar certo para atendê-la. O cliente marcou uma consulta O cliente geralmente marca uma consulta por alguma razão - razão essa que ele vê com os próprios olhos.

"É deste modo que eu devo agir quando atender ao telefone.” "Isto é o que eu quero dizer a este cliente." "Eu não sei a natureza da chamada ainda, mas sei o que preciso dizer para fazer o cliente sentir-se exclusivo." "Isto é o que deve acontecer para que o cliente queira interagir comigo e sentir que eu me preocupo com ele." "Isto é o que eu preciso dizer para dar ao cliente a certeza de que sabemos o que estamos fazendo aqui."

A questão, porém, é: o que a sua equipe faz em seguida? Qual é a melhor maneira de lidar com essa situação? O que é melhor para o cliente e para a clínica? O que deve acontecer uma vez que a ligação termina? Deve haver uma lista de verificação detalhada de bem-estar, impressa ou digital, que guiará o funcionário para identificar tudo que o animal de estimação vai precisar e não apenas, por exemplo, o problema de pele que fez o cliente marcar a consulta. Uma vez que a lista de verificação é concluída e a consulta foi marcada, é boa prática chamar o cliente de volta e explicar que o paciente está atrasado com a vacinação e o teste de dirofilariose; que ele tem doze anos e, portanto, é considerado um animal idoso, necessitando de cuidados e exames específicos para os animais de idade avançada, como exame de sangue completo, por exemplo. Dessa forma evitamse surpresas para o cliente quando ele chegar à clínica. Atente-se para o fato de que a lista de verificação deve ser registrada e seguida ao pé da letra quando o cliente liga e quando ele chega à clínica.

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Alexandre Aparecido Mattos da Silva Rego petlegal@terra.com.br - CRMV-SP 7810

Mestrado em Patologia Experimental e Comparada pela Universidade de São Paulo Especializado em Medicina Veterinária Forense pelo IMESC (Instituto de Medicina e Criminologia de São Paulo)

Documentação fotográfica para fins judiciais “A fotografia é a testemunha muda que não mente.” Esta frase, de autoria desconhecida, resume a importância da documentação fotográfica no meio forense. Mais do que simplesmente ilustrar um laudo pericial, a fotografia, dentro do universo forense, é tida propriamente como um documento comprobatório, às vezes como a forma de materialidade de um fato delituoso. Um dos objetivos da fotografia forense deve ser trazer o leitor para dentro do fato, para que ele também seja uma testemunha visual. Apesar de pretensioso, este é um dos papéis da fotografia, em todos os seus contextos. Desde uma foto jornalística, um evento esportivo, uma comemoração, um show ou mesmo aquela foto de fim de semana, todas têm a finalidade de mostrar um fato a alguém que não o presenciou, ou de reavivar as lembranças de quem esteve lá. Da mesma forma, a fotografia forense objetiva demonstrar um fato ou um detalhe importante a alguém que não pôde estar lá, mas que necessita do maior número possível de informações, e informações de qualidade, sobre determinado acontecimento, sob a óptica do perito, na prática do “vejo, repito e interpreto” (visum, repertum et interpretandum), tríade básica do trabalho pericial. Para que a documentação fotográfica seja efetiva, alguns aspectos devem ser sempre observados, tanto do ponto de vista técnico como no dos equipamentos, da objetividade, da apresentação e da credibilidade. No que diz respeito à técnica fotográfica, vale lembrar inicialmente que a fotografia necessita primariamente de luz, sua essência básica e elementar, sem a qual não pode existir. A escolha da luminosidade (natural ou artificial) é um dos pilares de uma boa fotografia. Um assunto iluminado de forma direta, sem excessos, reflexos ou sombras, é o ideal a ser alcançado. Para isso, vale procurar a melhor posição em relação à fonte de luz, verificando a projeção da própria sombra, por exemplo, sobre o assunto. Para quem fotografa sempre no mesmo local (uma sala de atendimento, por exemplo), vale a pena transformar o ambiente com a utilização de luminárias e refletores. Obviamente, o uso dos flashes é muito importante, mas deve-se tomar cuidado ao fotografar superfícies brilhantes ou reflexivas; nesse caso, um flash rebatível é uma boa saída. Além da iluminação, aspectos como profundidade de campo e velocidade de obturação devem ser observados. Os equipamentos fotográficos atualmente no mercado suprem as expectativas e necessidades de quaisquer fotógrafos, profissionais ou amadores. Para a utilização forense, não são necessários equipamentos de última geração, mas produtos de qualidade, que não deixem o usuário em maus lençóis quando ele mais precisa. Uma máquina fotográfica (digital ou convencional) de qualidade; um bom flash, de preferência rebatível; um tripé e um disparador são sempre importantes. Da mesma forma, filmes ou cartões de memória sobressalentes e pilhas ou baterias extras são fundamentais

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para o sucesso da fotografia, assim como a manutenção cuidadosa e regular de todo o equipamento. Diferentemente do que se imagina, não é imprescindível uma máquina fotográfica (no caso das digitais) com grande poder de resolução, uma vez que normalmente trabalhamos com fotos no formato 10cm x 15cm, em que uma resolução de 2Mb já produz fotos de boa qualidade. Altas resoluções são necessárias quando se pretendem ampliações muito grandes, a fim de mostrar pequenos detalhes. A praticidade das máquinas digitais, mediante as quais o fotógrafo já tem o resultado de seu trabalho instantaneamente, lhe permite realizar várias exposições, a fim de escolher a melhor e corrigir eventuais problemas. Já as máquinas convencionais, chamadas por muitos de “analógicas”, necessitam de um grau maior de habilidade e intimidade com o equipamento. A objetividade da fotografia pericial deve ser determinada antes mesmo da foto. Um roteiro das fotos, mesmo que mental, deve ser estabelecido pelo perito durante a realização do exame, como que já pré-montando o laudo a ser escrito. Normalmente utilizam-se: • tomadas panorâmicas (quando é importante retratar a cena na qual se insere o assunto periciado); • tomadas gerais (isolando o assunto e seu meio mais próximo, onde é possível já identificar alguns vestígios ou características importantes do fato); • tomadas meio gerais (em que o foco deve ser dado ao assunto principal, à sua condição de momento, agora sem preocupação com o entorno); • tomadas de detalhes ou vestígios (que reforçam aspectos do assunto e dos fatos envolvidos, sejam pequenas marcas, restos de algum material ou qualquer minúcia importante para o contexto). Eventualmente, são necessárias fotomicrografias, que já exigem equipamentos e técnicas menos acessíveis. Na apresentação da foto no laudo pericial, devemos observar alguns aspectos relativos à impressão, lembrando que as máquinas digitais reconhecem cores no espaço RGB (red, green, blue), assim como os monitores de vídeo, ao passo que a maioria das impressoras reconhece cores no espaço CMYK (cyan, magenta, yellow, black), ou seja, esses espaços de cores diversas podem incorrer em diferenças de tonalidade e nuances, sendo necessário calibrar os equipamentos para que a impressão seja compatível com o que é visualizado no monitor. Da mesma forma, é importante inserir a fotografia no contexto do laudo. A imagem deve ser citada no texto, preferencialmente vindo após essa citação, para facilitar a leitura, além de estar em um tamanho apropriado para a visualização de detalhes, razão pela qual normalmente se utiliza o formato 10cm x 15cm. Finalmente, a credibilidade da documentação fotográfica está muito mais centrada na confiabilidade do perito e em seu preceito de “fé pública”. Para aumentar a credibilidade, principalmente da fotografia digital, muito mais propensa a

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Literatura recomendada:

HIRSCH, R. Light and lens: photography in the digital age. Focal Press, 2007. STAGGS, S. Crime scene and evidence photographer’s guide. 2.ed. 2005.

Fábio José Viana Costa

manipulações do que a fotografia em filme, utilizam-se ferramentas de criptografia, que conferem uma “assinatura digital” ao arquivo de imagem. Uma das mais utilizadas é a criptografia por algoritmos tipo Hash, que cria um registro imediato do arquivo, sendo sensível a qualquer mudança no arquivo original. Da mesma forma, a utilização de formatos tipo RAW no armazenamento dos arquivos garante a sua autenticidade, uma vez que eles não podem mais ser gravados quando manipulados. Vale lembrar que os filmes convencionais, presentes nos equipamentos ditos “analógicos”, também são passíveis de manipulação. Como vimos, não é necessária grande experiência fotográfica, que se adquire naturalmente com a determinação e o trabalho. Escolher bem os equipamentos básicos, estabelecer objetivos claros a retratar, garantir a segurança e a credibilidade dos dados e apresentá-los de forma adequada são os prérequisitos para a confecção de uma boa fotografia pericial.

Vista dorsal, com asas abertas, de gralha-do-cerrado, Cyanocorax cristatellus (família Corvidae, ordem Passeriformes). Foto utilizada no poster “Perícia federal em investigação de envenenamento”, apresentado no Encontro Nacional de Patologia Veterinária de 2009 (Enapave – www.enapave.com.br) O objetivo dessa imagem é exemplificar os critérios utilizados para o registro fotográfico. Notar que houve preocupação em utilizar fundo branco e réguas na parte inferior esquerda da imagem, para informar o tamanho da ave

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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação

Nutrologia: a nutrição dentro da clínica veterinária

A Universidade de Davis na California, EUA, tem um programa de residência em nutrição clínica desde 2001, bem como um Serviço de Atendimento em Nutrição Clínica, ambos coordenados pela profa. dra. Andrea Fascetti. Também naquele ano teve início, no Hospital Veterinário da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Unesp de Jaboticabal, o Programa de Residência em Nutrição e Nutrição Clínica. O médico veterinário residente fica dois anos acompanhando os casos atendidos no Hospital Veterinário da faculdade, prescreve dietas e orienta os proprietários dos animais, conforme a necessidade. Trabalho semelhante, também contando com um médico veterinário residente, começou na Universidade da Flórida, EUA, coordenado pelo prof. dr. Richard Hill, há um ano, em julho de 2010. E em junho deste ano de 2011, a Universidade da Carolina do Norte, EUA, lançou seu Serviço de Nutrição Clínica, que atenderá a todos os animais, grandes e pequenos, recebidos em seu hospital, e orientará os proprietários a procurar diretamente o serviço. Esses são alguns exemplos levantados em rápida pesquisa, dentre outros que existem, principalmente no exterior. Note-se que os médicos veterinários, nesses casos, não estão praticando a orientação nutricional como uma dentre as várias outras atividades que exercem como parte do atendimento clínico global. Esses profissionais estão recebendo aprimoramento e tra112

WSAVA GLOBAL NUTRITIONAL GUIDELINES: - versão em inglês: www.nutricao. vet.br/pdfs/WSAVA_GlobalNutritional AssessmentGuidelines_2011.pdf - versão em espanhol: www.nutricao. vet.br/pdfs/V5_Guidelines_Spanish Translation.pdf

balhando especificamente com nutrição e nutrição clínica. E já não era sem tempo! Para ter uma rápida compreensão da importância do nutrólogo – o médico ou médico veterinário 'especializado' em nutrição clínica –, vale a pena ler a publicação do médico e professor titular da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto dr. Helio Vannucchi e colaboradores, intitulada “Nutrição clínica na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP”, disponível em www.nutricao.vet.br/pdfs/introducao_ nutricao_clinica_usp_rp_1998.pdf. O trabalho foi publicado na revista Medicina (v. 31, n. 1, p. 7-12) como parte da introdução aos demais trabalhos do Simpósio de Nutrição Clínica, publicados naquela edição. Chamo ainda a atenção do leitor, entretanto, para o fato de a publicação ser de 1998 e aquele simpósio ter-se realizado em

Cristiana S. Prada

omelhorparaoseucliente@nutricao.vet.br

Médica veterinária nutrição.Vet - www.nutricao.vet.br

comemoração aos 40 anos da Divisão de Nutrologia do Departamento de Clínica Medica da FMRP-USP, alcançados naquele ano! A partir dessa perspectiva, é para ser bastante valorizada e divulgada pelos médicos veterinários a recente publicação Wsava Global Nutritional Guidelines, da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA). A instituição desenvolveu uma iniciativa global para definir cinco aspectos vitais como parte de um exame físico padrão para pequenos animais. São eles: 1. temperatura; 2. pulsação; 3. respiração; 4. avaliação de dor; 5. avaliação nutricional. Um quinto do exame físico se constitui, portanto, de avaliação nutricional. A força-tarefa coordenada pela profa. dra. Lisa Freeman, da Universidade de Tufts – encarregada desse quinto aspecto, baseou-se nas “Orientações para avaliação nutricional” da American Animal Hospital Association (AAHA) para criar a publicação. A intenção é que ele seja uma ferramenta de fácil utilização pelos médicos veterinários em todo o mundo para otimizar a saúde e o bem-estar dos animais domésticos, fazendo parte de uma assistência ideal a esses pacientes. O documento de 25 páginas tem, segundo os autores, os objetivos específicos de: • fornecer subsídios para a tomada de consciência da importância da avaliação nutricional de cães e gatos; • estabelecer diretrizes para a avaliação nutricional de cães e gatos a fim de desenvolver ótimo nível de saúde e resposta a doenças; • apresentar evidências e ferramentas que apoiem essas diretrizes. A publicação da WSAVA está disponível em espanhol, inglês, francês e japonês.

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PetGames

Desenvolva habilidades como concentração, coordenação motora, memória e raciocínio

Novidade no mercado pet, os PetGames chegam para oferecer uma nova opção de diversão e enriquecimento ambiental aos pets. Gato interagindo no modelo Os jogos interativos trabalham o trilha. As setas ao lado instinto básico de procurar aliindicam opção para inserção mentos, fazendo com que, ao de pinos e mesmo tempo em que brinBusque por petgames no YouTube e confira aumentar o cam, os animais desenvolsua interatividade com os pets grau de dificuldade. vam habilidades como O copinho central de mobilidade ou algum tipo de deficoncentração, coordenatambém dificulta e ciência, como cegueira e surdez”. ção motora, memória e no início da interação sugere-se a sua Como se trata de uma atividade baraciocínio. remoção. Abaixo, ouseada no conceito de desafio e recomOs sete diferentros modelos interativos pensa, a recomendação é que seja prates modelos esticada na presença do dono, que deve timulam os animais por Dalton Ishikawa, os dar as diretrizes ao animal e reforçar o meio de desaPetGames são fruto cumprimento dos objetivos. O momenfios como mode grande pesquisa to da brincadeira se mostra também ver e retirar peno segmento de uma boa oportunidade para ensinar coças do tabuleiro até comportamento ani- mandos simples como “não”, “fica”, encontrar os grãos de ração ou petiscos mal aplicado. Ishikawa, “busca”, já que a concentração e o raescondidos. que se graduou pela Faculdade de Me- ciocínio do pet são ativados durante a De fabricação 100% nacional, os dicina Veterinária e Zootecnia da Uni- brincadeira. “Como acontece com os PetGames são desenhados e montados versidade de São Paulo – FMVZ-USP, seres humanos, é importante que os de modo a não oferecer riscos à saúde diz: “Os PetGames são indicados para animais sejam estimulados mentaldos pets. Fabricados em MDF imper- várias espécies, como cães e gatos de mente. Somados a outros recursos, os meabilizado, pesam aproximadamente todos os portes e idades, papagaios, PetGames auxiliam na prevenção de 1,2kg e contam com pés de borracha ferrets e saguis, entre outros”. E ainda distúrbios comportamentais, como, por para firmar o brinquedo no chão duran- complementa: “Os brinquedos também exemplo, fobias, hiperatividade, agreste o uso. As peças móveis são feitas em são uma ótima alternativa para melho- sividade e ansiedade”, recomenda polipropileno atóxico. rar a qualidade de vida de animais Ishikawa. Idealizados pelo médico veterinário idosos, convalescentes, com restrição PetGames: www.petgames.com.br

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NürnbergMesse Brasil promove missão de negócios para Interzoo 2012

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rofissionais brasileiros do mercado pet poderão aproveitar pacote especial para visitar a Interzoo 2012, que ocorre de 17 a 20 de maio de 2012 em Nuremberg, Alemanha. A NürnbergMesse Brasil, organizadora das principais feiras de negócios do país e subsidiária do Grupo NürnbergMesse, realizará uma missão de negócios para a 32ª Feira Internacional de Acessórios e Suprimentos para o Mercado Pet, a Interzoo 2012, um dos maiores acontecimentos da indústria de pet internacional. Em 2010, a Interzoo bateu um novo recorde, com 1.500 expositores, sendo 79% deles internacionais, e mais de 38 mil visitantes vindos de 115 países. Missões de negócios Criadas pelo Departamento Internacional da NürnbergMesse Brasil em

2010, as missões de negócios proporcionam aos profissionais e empresários brasileiros uma oportunidade para alavancar resultados, prospectar novos clientes, desenvolver produtos, acompanhar tendências e otimizar tempo e recursos na geração de diferenciais competitivos. Em parceria com a agência de viagens LT Travel, a missão de negócios oferecerá um pacote especial para os profissionais do setor que desejam visitar a feira. Dentre os itens estão passagem aérea, hospedagem, translado entre o aeroporto e o hotel, ingresso para o evento e um kit com informações sobre a cidade de Nuremberg.

Expovet Minas fecha sua segunda edição com milhares de visitantes ao longo de três dias exposição, que contou com 85 marcas exibidas, muitas das quais participaram do evento pela segunda vez. Empresas que estrearam na feira também fizeram um balanço positivo, reconhecendo a oportunidade de melhor inserção no mercado mineiO governador do Estado de Minas Gerais, Antonio Anastasia, ro. Dentre os visitando a Expovet Minas 2011 produtos apreAo longo de três dias, profissionais, sentados destacaram-se equipamentos estudantes e visitantes do setor estive- de alta tecnologia para clínicas veteriram presentes na Expovet Minas 2011, nárias, instrumentais cirúrgicos, medique aconteceu entre os dias 3 e 5 de ju- camentos, alimentação animal, cremes nho no Expominas. O grande volume redutores de volume para pelos, protede negócios fechados demonstra o tores solares, sais relaxantes e energicrescimento da área no estado. Clíni- zantes. Para Fabiana Braz, da Primor Evencas, pet shops, universitários e médicos veterinários marcaram presença na tos, empresa organizadora da Expovet,

os resultados de 2011 superaram os da edição anterior. “Conseguimos atingir três objetivos com a Expovet Minas: atraímos mais expositores, apresentando assim uma variedade maior de opções para os visitantes; colaboramos com o aprimoramento profissional e científico; e tivemos os expositores como grandes parceiros, uma vez que o feedback dado por eles contribui para o crescimento do evento a cada ano”, destacou. A Expovet 2011 teve um aumento de 80% no número de estandes, que chegaram a 73. Mais de 6.800 pessoas prestigiaram o evento. Para os estudantes e diversos profissionais do segmento, a feira ofereceu palestras; workshop com Sérgio Lobato; demonstrações de tosa com Waldecir Silva e Sérgio Villasanti; penteados variados com a esteticista canina Simone Garotti; e o primeiro Encontro Mineiro de Atualização de Medicina Interna em Pequenos Animais.

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!Pesquisa Analgésico melhor do que a morfina*

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Novo analgésico – com base em canais de cálcio – poderá ser efetivo como a morfina, mas sem efeitos colaterais

esenvolver um analgésico que seja efetivo como a morfina, mas que não provoque sedação nem efeitos colaterais, podendo ser aplicável até mesmo para dores crônicas por longos períodos de tempo. Esse é o objetivo central das pesquisas de Terrance Snutch, professor do Centro de Pesquisas do Cérebro da Universidade de British Columbia (Canadá). Os alvos terapêuticos escolhidos por Snutch para essa tarefa são os canais de cálcio – “túneis” formados por proteínas nas membranas das células, que permitem o trânsito de íons de cálcio. Há alguns anos, os cientistas descobriram que esses canais estão ligados às vias de sinalização da dor. A estraté-

gia consiste em bloqueá-los, impedindo que o sinal da dor chegue ao cérebro. A nova droga bloqueadora de canais de cálcio deverá ser efetiva até em dores neuropáticas crônicas – as “dores fantasma” que podem ser sentidas mesmo em membros amputados. Especialista em neurobiologia molecular, Snutch estuda o tema há anos e foi o primeiro a descrever a base molecular para os canais de cálcio nos sistemas nervoso, endócrino e cardiovascular. Possui diversas patentes relacionadas a intervenções nos canais de cálcio. Até agora, nenhuma droga tem os canais de cálcio como alvos diretos. Mas o laboratório de Snutch pretende

mudar isso em breve. Depois de clonar pela primeira vez os genes que codificam os canais de cálcio de tipo N, em 1992, o cientista montou uma empresa spin off, em 1998, e conseguiu levantar recursos para os primeiros testes clínicos, a partir de 2004, com uma droga bloqueadora de canais de cálcio. O pesquisador participou, em junho, em São Paulo, da 2nd São Paulo School of Translational Science – Molecular Medicine (2ª Escola São Paulo de Ciência Translacional – Medicina molecular), realizada pelo Hospital A.C. Camargo. O curso integra a modalidade Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) da FAPESP.

*Fonte: Agência Fapesp - por Fábio Castro: agencia.fapesp.br/14087

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Lançamentos SUPLEMENTO PARA GATOS

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Eritrós Cat: suplemento desenvolvido exclusivamente para gato

Organnact Nutracêuticos lançou o Eritrós Cat, um suplemento desenvolvido exclusivamente para os gatos. Segundo a coordenadora técnica do Grupo Organnact, Adriana Meyer, o Eritrós Cat contém elementos importantes para o processo de formação, desenvolvimento e maturação das células do sangue e, principalmente, das células vermelhas. “As hemácias são responsáveis pelo transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos, e determinadas condições podem comprometer essa função, exigindo maior demanda dos precursores da

hematopoiese. Animais debilitados, seja com doenças sistêmicas, como infecções bacterianas ou virais, animais com parasitoses, intoxicados ou até mesmo gestantes – que podem desenvolver um quadro anêmico – muitas vezes exigem reposição de células sanguíneas”, explica Adriana. Eritrós Cat está disponível em frascos de 30 mL e sua administração se dá por via oral, com 1 ml ao dia. A embalagem contém uma seringa dosadora de 5 mL que facilita a dosagem. Organnact: www.organnact.com.br falecom@organnact.com.br

VACINAS PARA CÃES E GATOS

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Intervet/Schering-Plough Animal Health anunciou a unificação do portfólio de vacinas para Nobivac®, que a partir de agora será uma marca mundial. No Brasil, a vacina Quantum® mudou de nome, passando a ser chamada de Nobivac® – porém com a mesma fórmula. O objetivo da mudança está na confiança que a marca já apresenta em alguns mercados do mundo, e nas campanhas que enfatizam a habilidade da Nobivac em promover laços afetivos entre os donos e seus animais, bem como entre os médicos veterinários, a empresa e os clientes. Para informar o consumidor sobre a unificação das marcas, a Intervet/ Schering-Plough lançou uma campanha com fotografias emotivas, focando a importância dos laços existentes entre as pessoas e seus animais de estimação. Os laços que os unem são capturados em uma série de imagens com pessoas “da vida real” – em vez de modelos. A gerente de produtos da Intervet/ Schering-Plough, Andrea Bonates, explica que a campanha enfatiza a

importância dos laços entre o animal e o homem e lembra que as vacinas preservam essa ligação por muito tempo, pois asseguram uma boa saúde ao animal, livrando-o de doenças. “A mensagem-chave da campanha, ilustrada com fotografias, não visa apenas celebrar a conexão entre o homem

e o animal, mas também promover o valor de um forte relacionamento entre os médicos veterinários e os donos dos animais”, esclarece. Intervet/Schering-Plough: 0800-7070512 www.intervet.com.br

Nobivac: marca mundial do portfólio de vacinas da Intervet Schering-Plough agora no Brasil

PREVENÇÃO DE ÚLCERAS

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Agener União amplia seu portfólio e traz para o mercado mais um lançamento em 2011, o Gaviz V. Gaviz V é um medicamento à base de omeprazol, indicado para o tratamento e a prevenção de úlceras e erosões do estômago e do duodeno em cães e gatos. Agener União: www.agener.com.br 118

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$ NEGÓCIOS E OPORTUNIDADES $









15 a 17 de julho Curitiba - PR ABC - Trauma LAVECCS (41) 9649-2664 16 a 19 de julho Viçosa - MG Curso de dermatologia em pequenos animais www.cursospresenciais.com.br 18 a 22 de julho São José do Rio Preto - SP Curso teóricoprático em eletrocardiograma, holter e pressão arterial www.kardiovet.com.br 18 a 22 de julho Botucatu - SP XVII Curso prático de anestesia em pequenos animais (14) 3811-6019 18 a 23 de julho São Paulo - SP I Curso de inverno em oncologia molecular da FMUSP www.oncocurso.com.br

19 a 21 de julho Viçosa - MG Curso de exame andrológico, resfriamento e congelamento de sêmen em pequenos animais www.cursospresenciais.com.br 21 a 24 de julho Sorocaba - SP Odontologia em animais selvagens - curso teórico-prático www.animalia.vet.br 22 a 24 de julho Campinas - SP Curso de ultrassonografia oftálmica www.echoa.com.br 25 de julho São Paulo - SP Provet - Palestra oncologia www.provet.com.br 25 a 29 de julho São José do Rio Preto - SP Curso de ecodopplercardiograma em pequenos animais (teórico-prático) www.kardiovet.com.br

29 de julho São Paulo - SP Ecommerce para o mundo pet www.ecommerceschool.com.br AGOSTO Agosto (data a confirmar) Belo Horizonte - MG Oncologia veterinária www.anclivepa-mg.com.br 1º de agosto de 2011 a 10 de dezembro de 2012 Diadema - SP Programa de pós graduação em ecologia e evolução www.unifesp.br 2 a 8 de agosto São Paulo - SP Curso de especialização em radiodiagnóstico veterinário www.ivi.vet.br 3 a 7 de agosto Belo Horizonte MG 5º Congresso brasileiro de homeopatia veterinária www.amvhb.org.br

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5 a 7 de agosto São Paulo - SP IVI – Curso intensivo de eletrocardiografia teórico-prático (11) 3034-5447 6 e 7 de agosto Campinas - SP Curso avançado em medicina tradicional chinesa www.institutojp.com.br 12 a 14 de agosto Botucatu - SP Simpósio de clínica médica de pequenos animais – nefrologia marifunvet@fmvz.unesp.br 15 a 19 de agosto Brasília - DF Curso de formação de professores em medicina veterinária e zootecnia para ética, bioética e bem-estar animal www.cfmv.gov.br 15 de agosto a 25 de novembro Campinas - SP Curso de ultrassonografia abdominal e pélvica www.echoa.com.br

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17 de agosto São Paulo - SP - CRMV-SP Encontro Científico Social Ressonância e tomografia cardíaca www.sbcv.org.br 20 e 21 de agosto Londrina - PR Simpósio veterinário de doenças infecciosas (43) 9151-8889 20 e 21 de agosto Rio de Janeiro - RJ I Curso de manejo hospitalar e emergência de felinos www.ceypiranga.com.br 20 de agosto de 2011 a 24 de junho de 2012 São Paulo - SP Curso extensivo de técnica cirúrgica www.cetacvet.com.br 21 de agosto São Paulo - SP Laserterapia e laser-acupuntura www.fisiocarepet.com.br 22 a 24 de agosto Campos do Jordão - SP 10º Encontro de anestesiologia veterinária www.eav2011.com.br 23 e 24 de agosto Maringá - PR 1º Congresso sobre tecnologia da produção de alimentos para animais www.cbna.com.br

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24 a 26 de agosto Santo André - SP 6ª Simpósio de medicina veterinária (VI SIMVET) pauloferreira@uniabc.br 25 a 27 de agosto São Paulo - SP CIPO – Curso de ortopedia (módulo básico) www.cipo.vet.br 26 a 28 de agosto Campinas - SP II Curso Internacional avançado de fisioterapia e reabilitação em pequenos animais www.reabivet.com.br 27 de agosto de 2011 a 22 de setembro de 2013 Porto Alegre – RS Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária www.bioethicus.com.br 27 e 28 de agosto Florianópolis - SC Palestra de endocrinologia www.anclivepa.com.br 29 de agosto a 2 de setembro São José do Rio Preto - SP V Semana acadêmica de medicina veterinária SAMVERP 2011 (17) 3201-3360 SETEMBRO setembro (data a confirmar) Belo Horizonte - MG Endocrinologia veterinária www.anclivepa-mg.com.br

1 a 26 de setembro São Paulo Curso FOCA Nível II – (Formação de Oficiais de Controle Animal) www.itecbr.org 5 a 9 de setembro Imperatriz - MA - UEMA Curso de anestesiologia veterinária com prof. dr. Flávio Massone cavet.imp@gmail.com 5 a 9 de setembro Imperatriz - MA - UEMA I ENNEA - II SEMEVI - I Mostra Científica http://cavetimp.webnode.com.br/ 10 e 11 de setembro Campinas - SP XIX Curso de especialização em acupuntura www.institutojp.com.br 11 a 19 de setembro São Bernardo do Campo - SP XIV Samvet www.samvetmetodista. com.br 12 a 17 de setembro Alfenas - MG XXV SEMEV – Semana de Medicina Veterinária da UNIFENAS veterinaria.alfenas@unifenas.br 12 a 17 de setembro Viçosa - MG VI Jornada acadêmica de medicina veterinária - Facisa - Univiçosa (31) 3899-8035

Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

14 e 15 de setembro Brasília - DF XIX Seminário de ensino de medicina veterinária www.cfmv.org.br 14 de setembro a 10 de novembro São Paulo - SP II Curso intensivo de patologia clínica (11) 3815-5520 16 a 23 de setembro São Paulo - SP Imersão nas redes ecológicas www.abecol.org.br/redesecologia 17 e 18 de setembro São Paulo - SP Curso de reabilitação em pacientes ortopédicos (11) 98212-752 17 e 18 de setembro Florianópolis - SC Palestra de oncologia (Martin Soberano - Argentina) www.anclivepa.com.br 18 a 22 de setembro São Lourenço - MG X Congresso de Ecologia "Ecologia e Gest. Amb." - I Simp. de Sustentabilidade "Homem - Ambiente Sustentabilidade" www.seb-ecologia.org.br 22 a 24 de setembro São Paulo - SP Cirurgias da coluna vertebral www.cipo.vet.br


22 a 25 de setembro Araçatuba - SP 17ª Semana de Estudos em Medicina Veterinária www.fmva.unesp.br/semev 24 e 25 de setembro Itapecerica da Serra - SP III Curso extensivo de quiropraxia www.ibravet.com.br 24 e 25 de setembro Botucatu - SP VIII Simpósio internacional de patologia clínica veterinária (14) 3811-6115 26 a 30 de setembro Goiânia - GO XV Encontro nacional de patologia veterinária www.enapave.com.br 27 a 30 de setembro Belo Horizonte - MG Tecnologias ambientais e sociais: uma condição essencial para um futuro sustentável ecolatina@ecolatina.com.br OUTUBRO 1 e 2 de outubro São Paulo - SP Curso teórico prático de oftalmologia em pequenos animais www.vetmasters.com.br 1 e 2 de outubro Londrina - PR II Curso de endocrinologia (43) 3371-4821 1 de outubro a 5 de novembro Rio de Janeiro - RJ Curso de virologia molecular http://migre.me/54CBO 2 de outubro a 6 de novembro São Paulo - SP Curso de ortopedia e traumatologia em cães e gatos www.junaeventos.com

3 a 7 de outubro Campinas - SP Bem-estar em animais selvagens - XX Encontro e XIV Congresso www.abravas.org.br

4 de outubro São Luís - MA III Encontro de ética, bioética e bem-estar animal - Nordeste www.cfmv.org.br 7 a 9 de outubro Londrina - UEL Curso de eletrocardiografia Prof. Camacho (43) 9161-6304 13 a 15 de outubro Londrina - UEL Curso de eletrocardiografia (43) 9161-6304 13 a 15 de outubro UFSM - Santa Maria - RS II SINADI - II Simpósio Nacional de diagnóstico por imagem em medicina veterinária www.ufsm.br/sinadi 14 e 15 de outubro São Paulo - SP Cirurgias de cabeça e pescoço (11) 3819-0594 18 a 20 de outubro São Paulo - SP Conpavepa, Conpavet e Pet South

21 a 23 de outubro São Paulo - SP Desvendando o ecocardiograma www.sbcv.org.br 28 a 30 de outubro São Paulo - SP ABC - Trauma LAVECCS www.cetacvet.com.br 29 e 30 de outubro Belo Horizonte - MG VIII Simpósio internacional de leishmaniose visceral canina. “Leishmaniose Visceral Canina x Centro de Controle de Zoonoses – Realidade na Europa e no Brasil. ” www.anclivepa-mg.com.br NOVEMBRO Data a confirmar Belo Horizonte - MG Emergências clínicas (31) 3297-2282 1 a 4 de novembro Florianópolis - SC 38º CONBRAVET (48) 3035-4388 1 a 4 de novembro São Paulo - SP I Simpósio Internacional de cardiomiopatias da SBCV www.sbcv.org.br

www.anclivepa-sp.org.br

4 e 5 de novembro Jaboticabal - SP IV Simpósio sobre nutrição clínica de cães e gatos (16) 3209-1300

21 a 23 de outubro Campinas - SP Curso de ultrassonografia Doppler/Biopsia (19) 3365-1221

7 de novembro CFMV Brasília - DF I Fórum nacional de saúde ambiental www.cfmv.org.br

Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

DEZEMBRO 2 a 5 de dezembro Curitiba - PR Curso de habilitação em cuidados intensivos - LAVECCS (41) 9649-2664 5 a 9 de dezembro Campinas - SP Curso de ecodopplercardiografia veterinária www.echoa.com.br 7 de dezembro Local a definir (região nordeste ou norte) XXVIII Curso FOCA - (formação de oficiais de controle animal) www.itecbr.org 8 a 10 de dezembro São Paulo - SP CIPO - Curso de ortopedia - avançado www.cipo.vet.br

2012

5 e 6 de janeiro São Paulo - SP III Vet Practices in South Africa - Módulo 1 (11) 3149-8199

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Internacional JULHO 28 a 30 de julho Santiago - Chile 4º Congresso Latinoamericano

30 de setembro a 2 de outubro Sofia - Bulgária PET BIZ 2011 - The Balkan Special Event For Pet Food, Pet Accessories, Aquariums, and NEW Business Ideas www.petbiz.gr

NOVEMBRO 4 a 7 de novembro Albuquerque, NM - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2011 Annual Conference www.vetcancersociety.org

OUTUBRO 10 a 14 de outubro Cidade do Cabo - África do Sul 30th World Veterinary Congress 2011 - Caring for animals: healthy communities www.worldvetcongress2011.com

24 a 26 de novembro Punta del Este - Uruguai FIAVAC 2011: • Simposio Iberoamericano de Zoonosis Emergentes y Reemergentes / • VIII Congresso Iberoamericano FIAVAC* • VIII Congresso Nacional de SUVEPA * • XXI Jornadas Veterinarias de Maldonado * * Tradução para o português http://fiavac2011.org/

LAVECCS www.congreso.laveccs.org SETEMBRO 7 a 10 de setembro Istambul - Turquia 17th FECAVA Congress - "Modern Veterinary Practices" www.kenes.com/fecava/ 8 a 10 de setembro Bressels - Bélgica 25th European Veterinary Dermatology Congress - ECVD Annual Congress 2011 www.esvd-ecvd2011.com

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14 a 17 de outubro Jeju - Coreia WSAVA 2011 - 36th World Small Animal Veterinary Association World Congress www.wsava2011.org 24 a 26 de outubro Lima - Peru LAVC del NAVC 2011 - Latin American Veterinary Conference www.tlavc-peru.org

2012

JANEIRO 8 a 20 de janeiro Eastern Cape South Africa III Vet Practices in South Africa (11) 3149-8199

Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 93, julho/agosto, 2011

14 a 18 de janeiro Orlando - Flórida NAVC - North American Veterinary Conference 2012 www.tnavc.org ABRIL 12 a 15 de abril Birmingham - Inglaterra WSAVA 2012 www.wsava.org JULHO 24 a 28 de julho Vancouver - Canadá 7th World Congress of Veterinary Dermatology www.vetdermvancouver.com SETEMBRO 6 a 15 de setembro Jeju, Republic of Korea IUCN World Conservation Congress 2012 www.iucn.org/2012_congress/ NOVEMRO 18 a 21 de novembro Las Vegas, Nevada - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2012 Annual Conference www.vetcancersociety.org




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