Clínica Veterinária n. 94

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G uarรก Ano XVI, n. 94, setembro/outubro, 2011 - R$ 20,00

EDiTORA

Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts




Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e CAB Abstracts Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

Arianne Pontes Oriá

Índice Oftalmologia - 36

Tilde Rodrigues Froes

Sequestro corneal felino – revisão

Feline corneal sequestration – a review Secuestro corneal felino – revisión

Diagnóstico por imagem - 44 Fratura fisária espontânea da cabeça femoral em gato – relato de caso Exame radiográfico com linha de fratura associada a osteofitos em região de trocânter femoral e esclerose de borda acetabular dorsal

Spontaneous femoral capital physeal fractures in a cat – case report Femoral fractura espontâneas en gato – reporte de un caso

Diagnóstico por imagem - 50

Fabiano Séllos Costa

Thassila Caccia Feragi Cintra e Júlio Carlos Canola

Ultrassonografia transcraniana em cães – revisão de literatura

Transcranial ultrasonography in dogs – literature review Ecografía transcraneal en perros – revisión de la literatura

Diagnóstico por imagem - 58

Utilização da tomografia computadorizada para avaliação pulmonar de quelônios – revisão de literatura

Imagem tomográfica transversal com janela de tecidos moles (W300 L50) de tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas

Imagem fotográfica de felino da raça persa exibindo sequestração corneal bilateral central

The use of computed tomography for pulmonary evaluation in chelonians – literature review Uso de la tomografía computarizada para la evaluación pulmonar de quelonios – revisión de literatura

Imagem ultrassonográfica em corte transversal do cerebelo de um cão, obtida através do forâmen magno e imagem demonstrando posicionamento do transdutor Renato Dornas de Oliveira Pereira

Cirurgia - 64

Aspectos clínicos e cirúrgicos das mucoceles salivares em cães

Surgical and clinical aspects of salivary mucoceles in dogs Aspectos clínicos y quirúrgicos de los mucoceles salivales en perros

Genética - 74

Marcadores de DNA na evolução da cinofilia brasileira – os testes de parentesco DNA markers in the evolution of Brazilian cinology – the parentage tests Marcadores de ADN en la evolución de la cinofilia brasilera – los tests de parentesco

Cão com mucocele cervical, com aumento de volume no pescoço Bruno Martins Araújo

Ana Carolina Medeiros de Almeida

Neurologia - 82

Meningoencefalocele congênita em cão – relato de caso

Congenital meningoencephalocele in a dog – case report Meningoencefalocele congénita en un perro – reporte de un caso

Neurologia - 90

Neuropatia isquiática por injeção intramuscular – revisão da literatura e relato de dois casos Cão utilizando bandagem para correção da dorsoflexão dos dígitos evitando assim traumatismos durante a deambulação

Ischiatic neuropathy due to intramuscular injection – literature review and report of two cases Neuropatía ciática por inyección intramuscular – revisión de la literatura y reporte de dos casos

Endocrinologia - 96

Imagens de cadela maltesa, fêmea, dois meses de idade, apresentando proeminência volumosa

Fernanda V. A. da Costa

Obesidade canina – abordagem diagnóstica, nutricional e reabilitação

Canine obesity – diagnostic, nutritional and rehabilitation approach Obesidad en perros – enfoque diagnostico, nutricional y rehabilitación

Oncologia - 108

Mesotelioma peritoneal em um gato – relato de caso Massa esbranquiçada de consistência firme e formato irregular, aderida à curvatura maior do estômago

Peritoneal mesothelioma in a cat – case report Mesotelioma peritoneal en un gato – relato de caso

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Editorial - 10

Seções

Saúde pública - 12

• Saúde da Família: ministério define inclusão de novas especialidades profissionais nos NASFs • VIII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral • Agressividade é destaque em eventos promovidos pelo Itec • Vacinação contra raiva de cães e gatos

Bem-estar animal - 20 • Direitos dos Animais

Notícias - 26

• CBA 2012 O maior congresso da Anclivepa • Atividade e terapita assistida com animais

12 14 16 18 20 26

28

• Vencofarma comemora 25 anos com inauguração de novo espaço de produção 28 • Projeto Obesidade oferece avaliação clínica e tratamento gratuito para cães acima do peso 30 • Congresso Brasileiro de Homeopatia Veterinária 32

6

• Tomografia computadorizada com o padrão de qualidade IVI • Primeiro centro de endocrinologia veterinária

34

Medicina veterinária legal - 116

34

Minicurso sobre medicina veterinária legal no Conbravet 2011

Pet food - 118

• IV Simpósio de Nutrição Clínica de Cães e Gatos: a inter-relação nutrição e doença • Abordagem nutricional na doença renal crônica

Gestão, estratégia & marketing - 124

• Utilizando a informática para aumentar o faturamento da clínica veterinária • Seja responsável pela experiência de seus clientes – parte 1C

Livros - 128 • A sabedoria dos cães

Mercado pet - 130 • Eyenimal - câmara de vídeo para cães e gatos

• Vez do Silêncio: Pet Society apoia projeto de inclusão de deficientes auditivos

Arquitetura & Construção - 132 Aquecimento solar de água a vácuo

Equipamentos - 134 • Medidor de pressão arterial não invasivo

118

Lançamentos - 134

120

• Suplementos para cães e gatos

124

• Hepatopharme® Supensão: suplemento nutracêutico

126

Negócios e oportunidades - 135 Serviços e especialidades - 136 Agenda - 143

• Cão de família

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Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Adriano B. Carregaro FZEA/USP carregaro@usp.br Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM raisermv@smail.ufsm.br

Revista de educação continuada do clínico veterinário de pequenos animais

EDITORES / PUBLISHERS

Alessandra Martins Vargas Endocrinovet alessandra@endocrinovet.com.br

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br

CRMV-MG 10.684

Alexandre Lima Andrade CMV/Unesp-Aracatuba landrade@fmva.unesp.br

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br

Alexander Welker Biondo UFPR, UI/EUA abiondo@uiuc.edu

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Aloysio M. F. Cerqueira UFF amfcerqueira@uol.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING

Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia anabalda@terra.com.br

Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER

Ana Paula F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL anapaula@uel.br

Gato - Arquivo Stock Photo (gengirl)

André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran andre_selmi@yahoo.com.br Angela Bacic de A. e Silva FMU angelbac2002@yahoo.com.br Antonio Marcos Guimarães DMV/UFLA amg@ufla.br Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal camacho@fcav.unesp.br

IMPRESSÃO / PRINT

Grupo Vox - www.voxeditora.com.br

A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP anbmaria@usp.br

TIRAGEM / CIRCULATION 15.000 exemplares

Arlei Marcili ICB/USP amarcili@usp.br

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Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal aulus@fcav.unesp.br Aury Nunes de Moraes UESC a2anm@cav.udesc.br

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CORRESPONDÊNCIA E ASSINATURAS LETTERS AND SUBSCRIPTION Editora Guará Ltda. Depto. de Assinaturas Rua dr. José Elias 222 - Alto da Lapa - 05083-030 São Paulo - SP - BRASIL cvassinaturas@editoraguara.com.br DDG: 0800 891 6943 Telefone/fax: (11) 3835-4555

Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP aynemurata@ig.com.br Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI ivi@ivi.vet.br Berenice Avila Rodrigues Médica veterinária autônoma berenice@portoweb.com.br Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo animalexotico@terra.com.br Carlos Eduardo S. Goulart FTB carlosedgoulart@hotmail.com Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal daleck@fcav.unesp.br

é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora.

Cassio R. Auada Ferrigno FMVZ/USP cassioaf@usp.br César Augusto D. Pereira UAM, UNG, UNISA dinolaca@hotmail.com Christina Joselevitch IP/USP christina.joselevitch@gmail.com Cibele F. Carvalho UNICSUL cibelefcarvalho@terra.com.br Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP clarissa@usp.br Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP cmoliv@usp.br

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Cleber Oliveira Soares EMBRAPA cleber@cnpgc.embrapa.br Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial cmassoco@gmail.com Daisy Pontes Netto FMV/UEL rnetto@uel.br Daniel Curvello de M. Müller UFSM/URNERGS cmdaniel@terra.com.br Daniel Macieira FMV/UFF macieiradb@vm.uff.br Denise T. Fantoni FMVZ/USP dfantoni@usp.br Dominguita L. Graça FMV/UFSM dlgraca@smail.ufsm.br Edgar L. Sommer PROVET edgarsommer@sti.com.br Edison L. P. Farias UFPR elpf@uol.com.br Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br Elba Lemos FioCruz-RJ elemos@ioc.fiocruz.br Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu elisangela@odontovet.com Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR fabiomontiani@hotmail.com Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE fabianosellos@hotmail.com Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS fcmaiorino@uol.com.br Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL biasif@yahoo.com Fernando Ferreira FMVZ/USP fernando@vps.fmvz.usp.br Flávia R. R. Mazzo Provet flamazzo@gmail.com Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá toledo-f@ig.com.br Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu btflama@uol.com.br Francisco J. Teixeira Neto FMVZ/Unesp-Botucatu fteixeira@fmvz.unesp.br Francisco Marlon C. Feijo UFERSA marlonfeijo@yahoo.com.br Franz Naoki Yoshitoshi Provet franz.naoki@terra.com.br Geovanni Dantas Cassali ICB/UFMG cassalig@icb.ufmg.br Geraldo Márcio da Costa DMV/UFLA gmcosta@ufla.br Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP gbmourao@esalq.usp.br Hannelore Fuchs Instituto PetSmile afuchs@amcham.com.br Hector Daniel Herrera Univ. de Buenos Aires hdh@fvet.uba.ar

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Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB hectgz@netscape.net Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. demorais@svm.vetmed.wisc.edu Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu hlangoni@fmvz.unesp.br Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ justen@centroin.com.br Herbert Lima Corrêa ODONTOVET odontovet@odontovet.com Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery iaralevino@yahoo.com.br Iaskara Saldanha Provet iaskara.silva@gmail.com Idael C. A. Santa Rosa UFLA starosa@ufla.br Ismar Moraes FMV/UFF fisiovet@vm.uff.br James N. B. M. Andrade FMV/UTP jamescardio@hotmail.com Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu jane@fmvz.unesp.br Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL janis@uel.br Jairo Barreras FioCruz jairo@ioc.fiocruz.br Jean Carlos Ramos Silva UFRPE, IBMC-Triade jean@triade.org.br João G. Padilha Filho FCAV-Unesp-Jaboticabal padilha@fcav.unesp.br João Pedro A. Neto UAM joaopedrovet@hotmail.com Jonathan Ferreira Odontovet jonathan@odontovet.com José Alberto P. da Silva FMVZ/USP ja.ps@uol.com.br José de Alvarenga FMVZ/USP alangarve@terra.com.br Jose Fernando Ibañez FALM/UENP ibanez@uenp.edu.br José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal jllaus@fcav.unesp.br José Ricardo Pachaly UNIPAR pachaly@uol.com.br José Roberto Kfoury Júnior FMVZ/USP robertok@fmvz.usp.br Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu jtbrondani@yahoo.com Juliana Werner Lab. Werner e Werner juliana@werner.vet.br Julio C. Cambraia Veado FMVZ/UFMG cambraia@vet.ufmg.br Julio Cesar de Freitas UEL freitasj@uel.br Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal werther@fcav.unesp.br


Indexada no ISI Web of Knowledge - Zoological Record, Latindex e no CAB Abstracts CONSULTORES CIENTÍFICOS/SCIENTIFIC COUNCIL Leonardo Pinto Brandão Merial Saúde Animal leobrandao@yahoo.com Leucio Alves FMV/UFRPE leucioalves@gmail.com Luciana Torres FMVZ/USP lu.torres@terra.com.br Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu lucy_marie@uol.com.br Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu henrique@fmvz.unesp.br Marcello Otake Sato FMV/UFTO otake@uft.edu.br Marcelo A. B. V. Guimarães FMVZ/USP mabvg@usp.br Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP labruna@usp.br Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP marcelcp@usp.br Marcia Kahvegian FMVZ/USP makahve@hotmail.com Márcia Marques Jericó UAM e UNISA marciajerico@hotmail.com Marcia M. Kogika FMVZ/USP mmkogika@usp.br Marcio B. Castro UNB mbcastro2005@yahoo.com.br Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal mdlustoza@uol.com.br Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu mgribeiro@fmvz.unesp.br Marco Antonio Gioso FMVZ/USP maggioso@usp.br Marconi R. de Farias PUC-PR marconi.farias@pucpr.br Maria Cecilia Rui Luvizotto CMV/Unesp-Aracatuba ruimcl@fmva.unesp.br Maria Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV crishage@ufv.br Maria Cristina Nobre FMV/UFF mcnobre@predialnet.com.br Maria de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH Maria Isabel Mello Martins DCV/CCA/UEL imartins@uel.br Maria Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu jaquelinem@fmvz.unesp.br Maria Lúcia Zaidan Dagli FMVZ/USP malu021@yahoo.com Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba koivisto@fmva.unesp.br Marta Brito FMVZ/USP mbrito@usp.br Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba marcondes.mary@gmail.com Masao Iwasaki FMVZ/USP miwasaki@usp.br

Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP maurolahm@uenp.edu.br Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP maurolantzman@gmail.com Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET michele@odontovet.com Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu michikos@fmvz.unesp.br Miriam Siliane Batista FMV/UEL msiliane@uel.br Moacir S. de Lacerda UNIUBE moacir.lacerda@uniube.br Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL vicky@uel.br Nadia Almosny FMV/UFF mcvalny@vm.uff.br Nayro X. Alencar FMV/UFF nayro@vm.uff.br Nei Moreira CMV/UFPR neimoreira@ufpr.br Nilson R. Benites FMVZ/USP benites@usp.br Nobuko Kasai FMVZ/USP nkasai@usp.br Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu rochanoeme@fmvz.unesp.br Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz labarthe@centroin.com.br Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL pmendes@uel.br Paulo César Maiorka FMVZ/USP pmaiorka@yahoo.com Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu pauloiamaguti@ig.com.br Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN pssalzo@ig.com.br Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP pauloeye@usp.br Pedro Germano FSP/USP pmlgerma@usp.br Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL p.camargo@uel.br Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM anemiaveterinaria@yahoo.com.br Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia rc-jorge@uol.com.br Regina H. R. Ramadinha FMV/UFRRJ regina@vetskin.com.br Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente renavarro@uol.com.br Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu renee@fmvz.unesp.br Ricardo Duarte Hovet Pompéia netuno2000@hotmail.com Ricardo G. D´O. de C. Vilani UFPR vilani@ufpr.br Rita de Cassia Garcia FMV/USP rita@vps.fmvz.usp.br

Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ cassia@ufrrj.br Rita Leal Paixão FMV/UFF rita_paixao@uol.com.br Robson F. Giglio Provet e Hosp. Caes e Gatos robsongiglio@gmail.com Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi rgonzalez@globo.com Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu r.mannarino@uol.com.br Ronaldo Casimiro da Costa CVM/Ohio State University dacosta.6@osu.edu Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio ronaldo.morato@icmbio.gov.br Rosângela de O. Alves EV/UFG rosecardio@yahoo.com.br Rute Chamie A. de Souza UFRPE/UAG rutecardio@yahoo.com.br Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA ralmuzzi@ufla.br Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU sadyzola@usp.br Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu sheilacr@fmvz.unesp.br Silvia E. Crusco UNIP/SP silviacrusco@terra.com.br Silvia Neri Godoy UICMBio Sede silng@uol.com.br Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP silcorto@usp.br Silvio Arruda Vasconcellos FMVZ/USP savasco@usp.br Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM slpsouza@usp.br Simone Gonçalves Hemovet/Unisa simonegoncalves_br@yahoo.com.br Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu stelio@fmvz.unesp.br Suely Nunes Esteves Beloni DCV/CCA/UEL beloni@uel.br Tilde Rodrigues Froes Paiva FMV/UFPR tilde9@hotmail.com Valéria Ruoppolo Int. Fund for Animal Welfare vruoppolo@uol.com.br Vamilton Santarém Unoeste vsantarem@itelefonica.com.br Vania Maria de V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu vaniamvm@fmvz.unesp.br Viviani de Marco UNISA, Hosp. Vet. Pompéia vivianidemarco@terra.com.br Wagner S. Ushikoshi FMV/UNISA e FMV/CREUPI wushikoshi@yahoo.com.br Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional cubas@foznet.com.br

Instruções aos autores

Artigos científicos inéditos, revisões de literatura e relatos de caso enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Para esta primeira avaliação, devem ser enviados pela internet (cvredacao@editoraguara.com.br) um arquivo texto (.doc) com o trabalho e imagens digitalizadas em formato .jpg . No caso dos autores não possuirem imagens digitalizadas, cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações acompanhadas de identificação de propriedade e de autor) devem ser encaminhadas pelo correio ao nosso departamento de redação. Os autores devem enviar tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail). Os artigos de todas as categorias devem ser acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme (http://decs.bvs.br/). Utilizar letra arial tamanho 10, espaço simples. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso do material ser totalmente enviado por correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-ROM. Imagens como tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser provenientes de literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Imagens fotográficas ou desenhos devem possuir indicação do fotógrafo/desenhista e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará. Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. As referências bibliográficas serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT e elas devem ser numeradas pela ordem de aparecimento no texto. Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser informadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado. Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo SP cvredacao@editoraguara.com.br

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Editorial

A

tualmente, muitos municípios necessitam de técnicas para o controle populacional de cães e gatos e para o controle de zoonoses como a raiva e a leishmaniose, entre outras necessidades regionais. Porém, como fazer para conseguir a adesão da comunidade às campanhas e programas? Uma forma de fazer isso é inserir na rede de ensino conceitos como guarda responsável, sustentabilidade e conservação da natureza. Em Caruaru, PE, Breno Tabosa, biólogo e estudante de medicina veterinária, criou uma forma muito atrativa de falar nas escolas sobre esses temas. Ele vem introduzindo o personagem dr. Love, que visita escolas acompanhado pelo seu fiel amigo Pedro, um golden retriever que adora atuar como goleiro. Entre as diversas informações que o dr. Love passa para as crianças está a de que os animais possuem direitos, sentem fome, sede, frio, dor e merecem ser tratados com respeito e amor. Outro conceito importante transmitido pelo dr. Love é que devemos zelar tanto pelo ambiente urbano quanto pelo ambiente das florestas. Durante a apresentação do dr. Love há muita euforia das crianças, em função da presença de Pedro, que sempre encanta a todos os presentes com seu comportamento amistoso. Após a apresentação do dr. Love, chega a vez de Pedro mostrar suas habilidades no gol, e as crianças fazem fila para chutar a bola. Enquanto isso, o dr. Love gerencia a interação com Pedro. Atualmente, o dr. Love recebe diversas solicitações de escolas para se apresentar acompanhado de seu fiel amigo Pedro. Essa iniciativa de Breno Tabosa demonstra seu idealismo e a vontade de ajudar a construir uma sociedade sustentável e responsável. Porém, se analisarmos o trabalho pelos olhos do marketing de relacionamento, podemos nos surpreender. No final de 2010, durante a ExpoManagement, em São Paulo, Philip Kotler, uma das maiores autoridades mundiais em marketing, enfatizou: "Se você cria um caso de amor com seus clientes, eles mesmos se encarregam de fazer a sua publicidade". Breno Tabosa não assistiu à palestra de Kotler, mas tem feito muito bem a sua lição de casa. Afinal, são várias as crianças que passam no pet shop para visitar Pedro e lhe dar um abraço. Com certeza, ele está construindo um forte vínculo com a comunidade. As mudanças e a conscientização da importância da guarda responsável não ocorrem de um dia para outro. Quando um forte vínculo é criado, os resultados começam a aparecer de forma gratificante e duradoura. Você também gostaria de fazer algo semelhante? “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível” (São Francisco de Assis). Arthur de Vasconcelos Paes Barretto 10

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Saúde pública

Saúde da Família:

ministério define inclusão de novas especialidades profissionais nos NASFs*

O

Os NASFs são constituídos por equipes multiprofissionais que trabalham apoiando as equipes da Estratégia Saúde da Família. Nos núcleos, os profissionais desenvolvem atividades como consultas e diagnósticos conjuntos e ações de educação em saúde com a população. Para a definição dos profissionais que compõem os NASFs, as secretarias municipais de saúde utilizam critérios como as especificidades e prioridades em saúde das comunidades, além da disponibilidade dos profissionais na região. “A inclusão de novas especialidades profissionais nos NASFs e outras propostas de avanços na Atenção Básica estão sendo definidas em conjunto com os estados e municípios”, explica o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães. “A inclusão dos médicos veterinários é uma das importantes novidades”, acrescenta.

s Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASFs) serão aprimorados na Nova Política Nacional de Atenção Básica. Dentre as mudanças, está definida a ampliação das especialidades profissionais que poderão passar a atuar nos NASFs. Atualmente, os núcleos podem ser compostos – por decisão das secretarias municipais de saúde – por psicólogo, assistente social, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, profissional de educação física, nutricionista, terapeuta ocupacional, ginecologista, homeopata, acupunturista, pediatra e psiquiatra. Agora, o Ministério da Saúde ampliará esse elenco de profissões, incluindo nos NASFs a possibilidade de os gestores locais do SUS contratarem profissionais como médico veterinário e sanitarista, entre outros. Com as mudanças, a estimativa é que a quantidade de municípios com NASFs na modalidade II – que atualmente são compostos por no mínimo três profissionais de nível superior, vinculados a uma quantidade mínima de três equipes de Saúde da Família – passará de 870 para 4.524. A partir da reestruturação, os núcleos do tipo II poderão ter de três a sete equipes, independentemente da densidade demográfica da região.

REESTRUTURAÇÃO – Os critérios para a implementação dos NASFs pelas secretarias municipais de saúde também serão simplificados. Atualmente, os núcleos são classificados nas modalidades I, II e III. O tipo I deve ser composto por no mínimo cinco profissionais de saúde de nível superior, vincu-

lados a uma quantidade que vai de oito a vinte equipes de Saúde da Família. Com as mudanças em análise, o NASF I terá de cumprir apenas o critério de ter mais de sete equipes de Saúde da Família vinculadas a ele. O NASF II atualmente é composto por no mínimo três profissionais de nível superior, vinculado a uma quantidade mínima de três equipes de Saúde da Família. Com a reestruturação, o NASF II poderá ter de três a sete equipes, independentemente da densidade demográfica da região. Com isso, a estimativa do Ministério da Saúde é que o número de municípios que poderão ter esse tipo de núcleo aumentará de 870 para 4.524. Já a modalidade III, que foi instituída no final do ano passado, será incorporada ao NASF II. Atualmente, o país conta com 1.371 NASFs, sendo 1.234 tipo I e 137 tipo II, presentes em 998 cidades. Os municípios que contam com o NASF I recebem do Ministério da Saúde R$ 20 mil para a instalação e mais R$ 20 mil mensais para o custeio dos núcleos. A modalidade tipo II conta com R$ 6 mil para a implantação e mais R$ 6 mil mensais para o custeio. Os recursos são repassados do Fundo Nacional de Saúde para os fundos municipais de saúde.

Moreira Mariz / Agência Senado

Proposta para integração de médicos veterinários ao NASF é antiga

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleise Hoffmann, em março de 2011, na época ainda como senadora, realizou pronunciamento extremamente favorável à inclusão de médicos veterinários no NASF (disponível em Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 92, maio/junho, 2011). Certamente, o apoio de Hoffmann foi extremamente importante, mas não se pode esquecer a incansável determinação de médicos veterinários que há anos se empenham para que isso se torne realidade. Entre eles, destaca-se o trabalho do médico veterinário Paulo César Augusto de Sousa, presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), que, entre outras justificativas, destaca que “A Resolução n. 287/98 do Conselho Nacional de Saúde reconhece que a medicina veterinária compõe o rol das profissões da área da saúde”. Uma importante fonte de informação sobre o NASF é a edição n. 48 da revista CFMV, que trata do tema com detalhes no artigo “O NASF e o médico veterinário”, que está disponível para download no endereço: www.cfmv.org.br/portal/revista/revistas/revista_48.zip

*Fonte: Agência Saúde - ASCOM/MS - Por Tinna Evangelista (www.saude.gov.br)

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Saúde pública

VIII Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral As políticas públicas de saúde podem ser éticas. Principalmente, quando a população assim deseja. Na Europa, não há proibição do tratamento da leishmaniose visceral canina e tratá-la chega até a ser lei. Participe do evento mais esperado do ano e tire as suas dúvidas sobre essa polêmica questão.

PALESTRANTES DR. JAVIER LUCIENTES Chefe do Centro de Controle de Zoonoses da cidade de Madri – Espanha e consultor europeu da Organização Mundial de Saúde durante o Encontro de Experts em Leishmaniose Visceral nas Américas, promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde e pelo Ministério da Saúde do Brasil, ocorrido em Brasília, Brasil, em 2005. DR. CARLOS HENRIQUE NERY COSTA Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Carlos Henrique Nery Costa concluiu o doutorado em Saúde Pública Tropical na Harvard University, em 1997. Atualmente é Presidente da Sociedade Brasileira de Medicinas Tropicais, professor da Universidade Federal do Piauí, médico do Governo do Estado do Piauí e Coordenador Executivo da Rede Nordeste de Biotecnologia. Publicou trinta artigos em periódicos especializados, 171 trabalhos em anais de eventos e publicou um livro, tendo escrito oito capítulos. DR. VÍTOR MÁRCIO RIBEIRO Graduado em Medicina Veterinária pela Escola de Veterinária da UFMG, em 1980. Mestre em medicina veterinária preventiva pela Escola de Veterinária da UFMG, em 1988. Doutor em parasitologia veterinária pelo Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Professor de doenças infecciosas do Instituto de Medicina da PUC de Betim, MG. 14

Dia 29 de outubro de 2011

Dia 30 de outubro de 2011

08h30 – Inscrições e entrega de material

08h30 - Representante do CCZ de Belo Horizonte/MG

09h30 - Abertura

09h30 - Aspectos da infecção por Leishmania infantum em cães – Dr. Fábio Nogueira

10h00 - Panorama da leishmaniose visceral canina na Europa – Dr. Javier Lucientes 12h00 – Almoço 13h30 - Panorama da leishmaniose visceral no mundo e o abate canino no Brasil – Dr. Carlos Henrique Nery Costa

10h30 – Intervalo 11h00 - Aspectos imunológicos da LVC – Dr. Paulo Tabanez 12h00- O que oferece o laboratório privado no Brasil para o diagnostico da LVC – Dr. Luiz Eduardo Ristow

15h00 – Intervalo

12h45 - Almoço

15h30 – O papel do médico veterinário como gerente de zoonoses na Europa – Dr. Javier Lucientes

14h00 - Tratamento da LVC – Modelo europeu e americano – Dr. Javier Lucientes / Dr. Vitor Ribeiro / Dr. Octávio Estevez

16h45 - O papel do médico veterinário como gerente de zoonoses no Brasil – Dr. Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho 17h45 - MESA REDONDA – O médico veterinário e os centros de controle de zoonoses (CCZs)

(31) 3297-2282

15h30 - Aspectos jurídicos da LVC – tratar ou matar? – Dr. André Luiz Soares da Fonseca / Dr.Sérgio Cruz 17h00 - Intervalo 17h30 - BRASILEISH Grupo de Estudos em Leishmaniose Animal – Dr. Vitor Márcio Ribeiro

INVESTIMENTO Sócios da Anclivepa Minas, Anclivepas de outros Estados e Açovet – R$ 50,00* Não sócios – R$ 130,00* * Até 28 de outubro. Inscrições no local terão acréscimo de R$ 20,00

DR. ANDRÉ LUIS S. FONSECA Professor de imunologia e genética médica na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. DR. LUIZ EDUARDO RISTOW Médico veterinário, mestre em medicina veterinária preventiva DR. FÁBIO NOGUEIRA Graduado em medicina veterinária pelo CREUP, em Espírito Santo do Pinhal, SP, mestre em medicina veterinária em 2002 pela FMVZ – Unesp Botucatu e defende o doutorado pela mesma faculdade (FMVZ – Unesp). Professor de clínica médica e semiologia de pequenos animais pela Faculdade de

Medicina Veterinária FEMA, em Andradina. DR. PAULO TABANEZ Médico veterinário, mestre em imunologia e infectologia. DR. JOSÉ OCTAVIO ESTÉVEZ Argentina DR. NORDMAN WALL BARBOSA DE CARVALHO FILHO Coordenador do Centro de Controle de Zoonoses da cidade de São Luís no Maranhão. Ex-presidente do CRMV-MA. DR. SÉRGIO CRUZ Advogado, assessor jurídico da ANCLIVEPA-MG

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Saúde pública

Agressividade é destaque em eventos promovidos pelo Itec Por Arthur de Vasconcelos Paes Barretto - CRMV-MG 10.684

O

s doutores Alan Beck (Center of the Human Animal Bond – Purdue University School of Veterinary Medicine, EUA), Ruben Mentzel (presidente e membro fundador da Associação Veterinária Latino-americana de Zoopsiquiatria, Argentina) e Rudy de Meester (pesquisador colaborador em diferentes departamentos relacionados com comportamento animal na Ghent University, Bélgica) foram os palestrantes internacionais que estiveram presente em eventos organizados pelo Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (Itec) de 27 de junho a 3

DogsBite (www.dogsbite.org) é um site de associação que busca diminuir os ataques de cães. Nos Estados Unidos, de 2006 a 2008, de 88 casos de agressão fatais, os pit bulls foram responsáveis por 59% e, os rottweilers, por 14%. O dr. Alan Beck frisou este alto índice de casos envolvendo os pit bulls e destacou que ele cresce em todas as regiões onde os cães dessa raça foram introduzidos

O dr. Alexer Biondo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), participou da conferência falando sobre os benefícios de integrar atividades de extensão das universidades com as necessidades da comunidade. A utilização da Unidade Móvel de Ensino e Educação em Saúde (UMEES) é um exemplo dessa realidade

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de julho de 2011: a oficina Entendendo a Agressividade Canina e Felina, o Simpósio Internacional de Agressividade e a II Conferência Internacional de Medicina Veterinária do Coletivo. A dra. Ceres Faraco, médica veterinária, mestre e doutora em psicologia, também palestrante do evento, destacou a importância de identificar se o animal é ou está agressivo. Esse tema tem vital importância quando o assunto é a adoção de cães, pois nenhuma instituição deve doar um cão que possa ser considerado perigoso. “O comportamento agressivo emerge de um contexto social que tem múltiplas causas e consequências”, declarou a especialista. O dr. Rudy de Meester destacou também que não há um elemento único de avaliação da agressividade. Portanto, a combinação de diferentes métodos é muitas vezes recomendada. Os resultados sempre devem ser interpretados dentro do contexto e da situação específicos do cão. Se há uma contradição entre os resultados dos testes e o que vemos ou sentimos sobre a natureza da agressão, o método de ensaio deve ser reconsiderado e adaptado ou substituído por outro método. O dr. Néstor Calderón, membro do Itec e também palestrante do evento, destacou a importância da socialização primária que é praticada nos primeiros meses de vida dos cães, pois ela é fundamental para garantir a saúde

“Observar um filhote de chiuaua rosnando, por mais insignificante que seja, não é nada engraçado. Adultos com distúrbios de comportamento podem causar sérios ferimentos a um bebê. Qualquer raça pode ser agressiva e a identificação da primeira mordida muitas vezes é um alerta para que providências sejam tomadas”, destacou o dr. Alan Beck

comportamental. “Não adianta vacinar filhotes e isolá-los de tudo. Eles podem não se contagiar com enfermidades infecciosas, mas poderão ter problemas comportamentais pelo resto da vida. A imunização e a socialização devem ser feitas em conjunto”, frisou Néstor Calderón. Outro ponto de extrema importância que também foi abordado foi o enriquecimento ambiental para cães e gatos com a finalidade de garantir o bem-estar dos animais e evitar problemas comportamentais. Vinicius Suehiro Tsutsui, do CCZ-SP, falou sobre experiências com enriquecimento ambiental proporcionado a pit bulls mantidos na instituição. “Cocos verdes, quando esvaziados e recheados com petiscos, são ótimos objetos de entretenimento”, citou Vinicius. O assunto é muito vasto e importante, sendo emergente a necessidade de políticas públicas que tratem da questão com seriedade e dedicação. Muitos colaboraram para esses importantes eventos do Itec, mas o patrocínio da Merial e da Total Alimentos foram fundamentais.

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Saúde pública

Vacinaçao ̃ contra raiva de cães e gatos

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vacinação contra a raiva de cães e gatos vem sendo a estratégia largamente utilizada nas campanhas internacionais de prevenção. A Aliança para o Controle da Raiva (Alliance for Rabies Control), junto com a Organização Pan-americana da Saúde / Saúde Pública Veterinária / PANAFTOSA, está promovendo um concurso para o Dia Mundial contra a Raiva na América Latina e no Caribe. Cada equipe vencedora receberá um certificado da OPAS. Por que este concurso? O propósito deste concurso é servir como uma experiência de aprendizagem positiva para as equipes que competem e assim motivar uma análise cuidadosa do impacto geral do trabalho realizado. O Dia Mundial contra a Raiva está focado em ampliar a conscientização sobre o impacto da raiva humana e animal, a facilidade com que a doença pode ser evitada e como eliminar as principais fontes de infecção no mundo. Há evidências do êxito dos esforços desenvolvidos nas Américas, que, por exemplo, têm demonstrado que se pode eliminar a raiva transmitida pelos cães. Em um contexto geral, conseguiu-se uma redução de 90% do número de casos em seres humanos e em caninos e há esperança de que a meta de eliminação da raiva transmitida pelos cães seja alcançada.

prestando atenção especial nos itens de contato e nos nomes que você deseja que venham a constar no seu certificado caso você seja um dos vencedores. O preenchimento incorreto das informações requeridas no formulário pode dificultar suas chances de ganhar a competição. Quando o processo de avaliação for iniciado no começo de 2012, você poderá ser solicitado a submeter fotos e outras evidências relacionadas ao sucesso de seu evento. Assim, recomendamos que, se possível, documente o seu evento e mantenha arquivadas as notícias da mídia impressa relacionadas a todas as suas atividades. Como vou saber se ganhei? A informação sobre os eventos ganhadores será anunciada no início de 2012 pela página da Web do Dia Mundial contra a Raiva, www.worldrabiesday.org Recursos on line em português Página da Web do Dia Mundial contra a Raiva em português em www.worldrabiesday.org/pt/home.html. Página da Web da OPAS sobre o Dia Mundial contra a Raiva: new.paho.org/hq/index.php?option=com_content&task=view&id=2455&Itemid= 259&lang=pt Em inglês: www.worldrabiesday.org

Quem pode participar? Todos os grupos (governos, serviços de saúde, universidades, comunidades e outros) ou pessoas físicas podem competir. Quando? O concurso considerará todos os eventos realizados na América Latina e no Caribe; os materiais para o concurso devem ser apresentados entre os dias 1 de agosto e 31 de dezembro de 2011. Escolha a categoria que melhor se adequar à sua iniciativa (www.worldrabiesday.org/pt/eventos/categories2011.html) e preencha todo o formulário, 18

O logotipo do Dia Mundial contra a Raiva está disponível em 28 línguas

Atraso na entrega de vacinas

Comunicado de 11 de agosto de 2011 do Centro de Controle de Zoonose de São Paulo informou que, segundo nota técnica da Coordenacão Estadual do Programa de Controle da Raiva – Instituto Pasteur, em função de eventos adversos ocorridos com a vacina contra raiva canina e felina em 2010, o Ministério da Saúde (MS) comunicou que haverá atraso na entrega das vacinas. Isso significa que no Estado de São Paulo, a campanha de vacinação contra raiva em cães e gatos não ocorrerá no mês de agosto, e ainda não há outra data prevista. Dada a importância da vacinacão de cães e gatos como medida de prevencão e controle da raiva humana, o MS estabeleceu as áreas de maior risco, representadas pelos estados que apresentaram casos de raiva canina ou humana (por variante canina) nos últimos três anos, quais sejam: MA, CE, PE, PA, PI, RN, PB, BA, AL, SE e MS. Esses estados, considerados prioritários, receberão vacinas do MS. Faz-se necessária a intensificacão das ações de vigilância epidemiológica, de estímulo à vacinacão e de atenção aos casos de reação adversa à vacina nos cães e gatos.

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Bem-estar animal

Direitos dos Animais O s direitos dos animais e o seu reconhecimento como seres sencientes são assuntos que vêm cada vez mais sendo discutidos. Desde julho de 2011, o Estado de São Paulo passa a contar com legislação que instituiu a Semana dos Direitos dos Animais. Em 28 de julho de 2011, a Subprocuradoria-Geral de Justiça Jurídica publicou o ato normativo n. 704/2011-PGJ-CPJ (http://biblioteca.mp.sp.gov.br/PHL_IMG/Atos/704.pdf), que institui o Grupo Especial de Combate aos Crimes Ambientais e de Parcelamento do Solo Urbano (Gecap). Uma das atribuições do grupo será a defesa dos animais domésticos, domesticados, silvestres, nativos ou exóticos. “Apesar de também incluir outros crimes ambientais, o Gecap amplia muito a defesa dos animais, pois é a primeira vez que um órgão centralizará, na capital paulista, todas as ações contra crimes envolvendo animais. Isso deverá facilitar a realização de estatísticas e de denúncias criminais”, disse o presidente da OAB-SP, dr. Luiz Flávio Borges D'Urso. No início de agosto, foi realizado em São Paulo, em âmbito nacional, o XI Congresso Brasileiro do Ministério Público do Meio Ambiente. O dr. Laerte Fernando Levai (MPSP), um dos palestrantes do congresso, deixou claro que o direito ambiental trata os animais como mero apêndice e não com a importância que deveriam ter enquanto seres sencientes. Abaixo, encontra-se texto publicado originalmente na

XI Congresso Brasileiro do Ministério Público do Meio Ambiente Na abertura do XI Congresso Brasileiro do Ministério Público do Meio Ambiente, tivemos a presença da exministra Marina Silva, que falou sobre o aquecimento global. Marina Silva ressaltou que durante o Fórum de Copenhague, ao assumir uma meta de redução de emissão de carbono, o Brasil saiu da posição reativa para uma posição pró-ativa. Lembrou que os motivos que fizeram com que o governo brasileiro tomasse essa posição foram a pressão da mídia, da opinião pública e de entidades voltadas à defesa do meio ambiente. Disse também que o Brasil tem o compromisso de liderar pelo exemplo e de cuidar de seus próprios interesses. Marina Silva é favorável à criação de uma Organização Mundial do Meio

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Na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, toda última quarta-feira de cada mês é realizada conferência sobre algum tema de relevância para o bem-estar dos animais

Texto e fotos: Erico Mabellini tribunaanimal.org

Ambiente. Acha que o Brasil deve unir-se à França nessa questão. Tivemos em seguida palestras sobre os impactos das propostas de alterações do Código Florestal para a biodiversidade, em que ficou claro que a nossa hidrografia deve ser mais bem analisada e as áreas de reserva legal devem ser cientificamente revistas e ampliadas, porque apenas dessa maneira será possível proteger a fauna e a flora locais. Segundo o palestrante Jean Paul Metzger (USP), seriam necessários no mínimo 200 metros de largura de área ripária para a conservação, e não os 60 metros propostos. Isso sem levar em conta a estabilização do solo e os recursos hídricos. Segundo o palestrante Ricardo Ribeiro Rodrigues (ESALQ-USP), o

Brasil necessita de uma política agrícola, pois, se as áreas agriculturáveis já existentes forem bem aproveitadas, não haverá necessidade de aumentá-las até o ano de 2100. Direitos dos Animais Na área de direitos dos animais, o congresso contou com representantes abolicionistas. O dr. Heron José Gordilho (MP-BA; IAA) discursou sobre a filosofia abolicionista, tecendo críticas ao bem-estarismo. O dr. Laerte Fernando Levai (MPSP) deixou claro que o direito ambiental trata os animais como mero apêndice e não com a importância que deveriam ter enquanto seres sencientes. O dr. Laerte também fez menção às qualidades de algumas entidades

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Tribuna Animal, escrito por Erico Mabellini, que descreve as atividades do congresso. No Estado do Rio de Janeiro os animais também estão no foco das atenções. Pela primeira vez na história Câmara Municipal do Rio de Janeiro, criou-se um fórum de discussão permanente em prol dos direitos dos animais. Toda última quarta-feira de cada mês realiza-se uma conferência com diversos temas de extrema importância. No dia 30 de março de 2011, por exemplo, o tema abordado foi “O ensino e a experimentação animal: alternativas éticas para uma nova ciência”. Mais recentamente, no dia 31 de agosto de 2011, o auditório da Câmara Municipal do Rio de Janeiro contou com a presença de Bianca Kölling Turano, pós-graduanda em direito ambiental pelo Instituto Superior do Ministério Público (ISMP), que apresentou o tema “Animalismo, ambientalismo e civilização – uma visão sistêmica a fim de garantir direitos aos animais”. Como se pode constatar, o espaço que os direitos dos animais vêm conquistando tem aumentado em diversas profissões e setores da sociedade. Principalmente porque cada vez mais a população vem sendo esclarecida a respeito das diversas crueldades que ainda são largamente praticadas aos animais. Nesse cenário também avança a medicina veterinária legal, especialidade de extrema importância, porque fornece subsídios técnicos para as mais diversas contestações jurídicas envolvendo animais e contribui para que se desenvolva uma sociedade justa e ética. abolicionistas do país. O sr. Feliciano Filho, deputado estadual por São Paulo, falou sobre os maus-tratos a que os animais domésticos são submetidos. Apresentou ainda um vídeo com seus trabalhos de resgate a animais vítimas de maus-tratos na região de Campinas e lembrou a todos que, dentre os vários projetos de lei de sua autoria em favor dos animais, também está sendo muito utilizada a Lei n. 12.916, de 16 de abril de 2008, que proíbe a morte de animais capturados pelos Centros de Controle de Zoonoses de todo o Estado de São Paulo. Varas ambientais O desembargador Gilberto Passos de Freitas (TJ-SP) declarou a necessidade da criação de Varas Ambientais como meio para otimizar a proteção ambiental. O desembargador lembrou também um fato ocorrido tempos atrás, quando teve a necessidade de abrigar um elefante apreendido por maus-tratos em um circo e contou com a grande ajuda da profa. dra. Sônia Fonseca, presidente do Fórum

Semana dos Direitos dos Animais A lei n. 14.482, que institui a Semana dos Direitos dos Animais, foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo, v. 121, n. 131, quinta-feira, 14 de julho de 2011. Assinada pelo governardor do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, a lei traz dois importantes artigos para o bem-estar dos animais: Artigo 1º - Fica instituída no Calendário Oficial do Estado a “Semana dos Direitos dos Animais”, a ser celebrada, anualmente, na última semana do mês de agosto; Artigo 2º - A semana de que trata esta lei será dedicada ao desenvolvimento de ações, debates, cursos, palestras e seminários que visem à conscientização e à divulgação dos direitos dos animais, domésticos ou não. * Fonte: www.al.sp.gov.br

Nacional de Proteção e Defesa Animal. Supremo Tribunal Federal O ministro Gilmar Mendes (STF) também esteve presente, palestrando sobre “O STF e o meio ambiente”. Disse que os doutrinadores podem se permitir devaneios e novos conceitos, no entanto, os juízes são obrigados à aplicação da lei. Muito se discutiu e muito ainda deve ser feito Muitas questões foram levantadas sobre os métodos de proteção ao meio ambiente, principalmente no que se refere ao novo Código Florestal, que se encontra em fase de apreciação pelo Senado. No entanto, o MP não pode levantar a bandeira da defesa do meio ambiente solitariamente; necessita da colaboração de cientistas das mais diversas áreas, da sociedade civil organizada e principalmente das entidades não governamentais de proteção ao meio ambiente e aos animais. Só assim teremos um país autossustentável e com o respeito necessário à

nossa biodiversidade, para que o meio ambiente seja usufruído por nós e preservado para as futuras gerações. Durante o congresso, a dra. Carina Oliveira (FGV) informou que a Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, em parceria com diversas instituições, criou um fórum que pretende fomentar o debate público de temas ligados às discussões da Conferência Rio + 20 em 2012. Mais informações: riomais20.direitorio.fgv.br/sobre. Despedida, homenagens e esperança Por fim, o ministro Antonio Her man de Vasconcellos e Benjamin (STJ) se despediu da presidência da Abrampa e foi homenageado por todos os presentes. O ministro nos deixou muito esperançosos quanto à redação final do novo Código Florestal. Em seu entender, muitas alterações ainda deverão ser realizadas até que se possa chegar à redação final. Dessa forma, poderemos ter um Código Florestal que venha a preservar verdadeiramente o nosso meio ambiente

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CBA 2012 O maior congresso da Anclivepa

O

Congresso Brasileiro da Anclivepa, com trinta e duas edições realizadas, é um evento tradicional, constituindo o mais importante acontecimento nacional da medicina veterinária de pequenos animais. É consolidado como instrumento de intercâmbio de conhecimentos e uma inesgotável fonte de atualização para os clínicos veterinários de pequenos animais e acadêmicos. O 33º Congresso Brasileiro da Anclivepa, a ser realizado de 27 a 30 de abril de 2012, em Curitiba, PR, contará com sete salas simultâneas abrangendo trinta especialidades. Até 30 de setembro de 2011, ainda será possível realizar inscrição no congresso por meio da modalidade de dupla inscrição, opção econômica para a inscrição simultânea de dois congressistas da mesma categoria. Até 30/9/11, o preço da inscrição individual de profissional sócio é R$ 220,00, e o da dupla inscrição, R$ 374,00. Após essa data, não haverá mais a opção da dupla inscrição, e os descontos diminuem progressivamente até a data do congresso. Visite na internet o endereço www.anclivepa2012.com.br e confira todos os descontos e os valores de todas as categorias. Confira ao lado os nomes dos palestrantes que irão participar do congresso. Aproximadamente 20% dos palestrantes são estrangeiros. Entre os brasileiros, encontram-se celebridades nas mais diversas especialidades. 26

Alceu Gaspar Raiser Alex Adeodato Alexander Biondo Alexandre Daniel Alexandre Merlo Alexandre Schmaedecke Aline Bomfim Vieira Aline Zoppa Ana C.Balda Ana Letícia G. Souza André Lacerda de Abreu Oliveira André Selmi Andrigo Barboza de Nardi Antonio Felipe P. de Figueiredo Wouk Barbara Kitchell Bryden Stanley Carla Molento Carlos Eduardo Ambrósio Carlos Henrique Cássio Ricardo Auada Ferrigno Christiane Prosser Cláudio Ronaldo Pedro Daniela Izquierdo Denis Crowe Denise Tavacchi Fantoni Eliezer Silva Enzo Bosco Neurologia Eros Souza Fabiano Montiani Ferreira Fernanda Vieira Amorim da Costa Frank J.M. Verstraete Harald Brito Hélio Silva Autran de Morais James Newton Bizetto M. de Andrade Joana Coelho João Carlos Toledo Júnior João Telhado Pereira José Fernando Ibanez José Ricardo Pachaly Júlio César Cambraia Veado Kaleizu Rosa Liege C.G.Silva Luiz Tello Márcio Antonio Brunetto Marco Antonio Gioso Marconi de Farias Marcos Della Nina Mônica Dahia Pablo Otero Paulo Roberto Klaumann Pedro Luiz de Camargo Ricardo Duarte Ricardo Maia Ricardo Vilani Rodrigo Cardoso Rabelo Rodrigo Lorenzoni Rogério Lange Ronaldo Casemiro Ronaldo Jun Yamato Ronaldo Lucas Silvia Renata Gaido Cortopassi Simon Petersen Jones Simone Domit Guérios Steban Mehle Sueli Beloni Tatiana Giordano Thiago Sillas Tilde Rodrigues Froes Zalmir Cubas

Cirurgia Neurologia Medicina veterinária do coletivo Felinos Gastrenterologia Ortopedia Endocrinologia Tecidos moles Dermatologia Oftalmologia Cirurgia Ortopedia Oncologia Oftamologia / cirurgia Oncologia Cirurgia de tecidos moles Bem-estar animal Terapia celular Oncologia / cirurgia Ortopedia Nefrologia Fisioterapia Ortopedia Intensivismo Anestesiologia Intensivismo Videocirurgia Oftalmologia Felinos Odontologia Terapia celular Medicina interna Cardiologia Imagem Patologia clínica Comportamento Ortopedia Selvagens Nefro / urologia Intensivismo / cardiologia Reprodução / neonatologia Intensivismo Nutrição / intensivismo Odontologia / marketing Dermatologia Ortopedia Felinos Dor Anestesiologia Gastroenterologia Endocrinologia Oftalmologia / medicina forense Anestesiologia Intensivismo Marketing Selvagens Neurologia Cardiologia Dermatologia Anestesiologia Oftalmologia Tecidos moles / oncologia Ortopedia Nefro/urologia Anestesiologia Cirurgia de tecidos moles / oncologia Imagem Selvagens

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Atividade e terapia assistida com animais

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esquisas apontam que a presença de animais na vida das pessoas traz diversos benefícios, garantindo mais saúde e qualidade de vida. Já imaginou os resultados que pode trazer a companhia de um animal de estimação para portadores de necessidades especiais? No pri- A ABRAHIPE (www.abrahipe.org.br) é qualificada meiro semestre, 75% dos pa- como Oscip pelo Ministério Justiça, e tem como objeticientes que participam da te- vo a interação homem/animal por meio da utilização de cavalos e cães em conjunto com a atuação de profisrapia assistida com cães – sionais de diversas áreas para o tratamento de pesmétodo terapêutico desen- soas com deficiência e/ou necessidades especiais volvido a partir do contato processo terapêutico deve ser planejado, com animais que utiliza cães como insmedido e tabulado, e os resultados avatrumento mediador entre o terapeuta e liados com a finalidade de alcançar a fio paciente – alcançaram os objetivos nalidade proposta”, explica. propostos por meio das atividades realiA responsável pela terapia assistida zadas. com cães da Abrahipe, Paula B. SuePatrocinada pela MSD Saúde Animal lotto, ressalta que no contato de criane realizada pela Abrahipe – Associação ças, jovens e adultos portadores de neBrasileira de Hippoterapia e Pet Terapia cessidades especiais – seja por com–, a terapia assistida com cães atende prometimento motor, mental ou em crianças e adolescentes com deficiência ambos os aspectos –, a utilização dos física e mental na sede do Pequeno Cocães facilita muito o trabalho do profistolengo Dom Orione, em Cotia-SP. sional, pois o indivíduo atendido não Segundo a coordenadora das ações soconsidera que está em processo teracioambientais da MSD Saúde Animal, pêutico, mas brincando com os cães. Sandra Alves, a simples presença de um “Isso é importante porque as atividades animal em um ambiente promove fogem da rotina terapêutica à qual bem-estar, influenciando a saúde física estão acostumados, gerando motivação e mental dos pacientes. “A terapia para realizá-las, o que contribui muito assistida com animais tem como objetipara o desenvolvimento neuropsicovo proporcionar benefícios físicos, motor de nossos pacientes”, finaliza. emocionais, cognitivos e sociais. Esse

Outro exemplo de atividade e terapia assistida com animais (A/TAA ) é o projeto Anjos de Patas. Ele surgiu em junho de 2006, em Maringá-PR, promovendo o bem-estar biopsicossocial dos necessitados, seja em hospitais, instituições beneficentes, entidades assistenciais, escolas, casas de repouso, abrigos e centros de recuperação ou em qualquer outro local que possibilite e permita sua aplicação. Para alcançar tais objetivos, o projeto Anjos de Patas pauta suas ações por princípios éticos, atendendo às necessidades dos assistidos com ajuda profissional, estimando o ser humano e o animal em suas necessidades, respeitando-os nas diversas situações e incentivando a posse responsável e o aprimoramento dos conhecimentos de seus colaboradores na área de A /TAA. A Vetnil, em parceria com o projeto Anjos de Patas, vem divulgando essa iniciativa admirável que incentiva a ação do voluntariado por acreditar que a solidariedade faz a diferença na vida das pessoas que necessitam da mão amiga e do gesto amigo. Durante a 10ª edição da Pet South America (de 18 a 20 de outubro de 2011, no Expo Center Norte – SP), a empresa receberá a visita dos Anjos de Patas em seu estande. Para saber mais sobre o projeto, visite: www.anjosdepa tas aprendizagem.com.br.

Vencofarma comemora 25 anos com inauguração de novo espaço de produção O novo espaço de produção da Vencofarma ocupa uma área de aproximadamente 1.000m² e abriga equipamentos com tecnologia de ponta. Ao todo, o capital investido foi de cerca de R$ 6.500.000,00, provenientes de investimentos próprios e de recursos do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Com a nova planta, a empresa espera dobrar sua capacidade produtiva. De acordo com André Paleari, diretor presidente da Vencofarma, o investimento nos laboratórios é fundamental. No entanto, o grande diferencial da empresa está na pesquisa e no desen28

“A qualificação profissional também é foco da empresa”, destacou André Paleari, diretor presidente da Vencofarma

volvimento, que visam o aperfeiçoamento do capital humano: “O investimento em infraestrutura é de fato muito importante e vai proporcionar um crescimento de 30% para a empresa nos próximos anos, mas o cerne do desenvolvimento está na qualificação da mão de obra”, afirma Paleari.

Sala de reatores na nova planta da Vencofarma. A expectativa é que a empresa dobre a capacidade produtiva

Vencofarma: 0800 400 7997 www.vencofarma.com.br

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Projeto Obesidade oferece avaliação clínica e tratamento gratuito para cães acima do peso

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ães acima do peso serão avaliados por estudantes do quarto e quinto anos do curso de Medicina Veterinária da Universidade Santo Amaro, SP, e receberão tratamento gratuito com Equilíbrio Light, alimento Super Premium da Total Alimentos. A ação faz parte do Projeto Obesidade, resultado de uma parceria entre a universidade e a empresa. Os interessados devem enviar um e-mail para projetoobesidade@hotmail.com, manifestando o interesse em participar. Será cobrada uma taxa de R$ 30,00 pela avaliação clínica do cão, mas os exames laboratoriais e o alimento serão gratuitos durante um período de três meses. O Projeto Obesidade pretende constatar a frequência de complicações médicas associadas à obesidade, que acomete de 22% a 44% da população canina. Viviani De Marco, professora da universidade e responsável pelo estudo, explica que o objetivo é “provar que é possível tratar a obesidade e a síndrome metabólica com uma dieta hipocalórica de boa qualidade e, principalmente, orientar os proprietários de animais obesos sobre a importância de emagrecê-los para melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida”. Viviani é especialista em endocrinologia de cães e gatos e professora doutora da disciplina de clínica médica de pequenos animais na universidade. Os dois alunos de graduação que estão desenvolvendo o projeto de pesquisa sobre obesidade canina estão sob sua orientação, um com bolsa da Unisa (www.unisa.br) e outro com bolsa

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promovida pela Total Alimentos (www.totalalimentos.com.br). Confira abaixo entrevista com a profa. Viviani sobre o projeto: Como devem proceder os interessados em levar seus cães até a UNISA? Os interessados devem enviar um email para projetoobesidade@hotmail.com, dizendo apenas que têm interesse em participar do projeto (destinado apenas a cães obesos). Será agendada uma avaliação clínica no Hospital Veterinário da Unisa com os alunos responsáveis pelo projeto – Vitor, Natália (alunos de graduação) e Shirlene (aluna da pós-graduação) –, sob minha coordenação. Durante a avaliação clínica, faremos uma série de perguntas ao proprietário e examinaremos o animal. Há algumas restrições para a participação no projeto – por exemplo, o animal não pode estar recebendo corticoides nem ter endocrinopatias associadas, como diabetes mellitus, hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo. Mas tudo isso é elucidado ao proprietário pessoalmente. Como será a avaliação à qual o cão vai ser submetido? O dono vai poder acompanhá-la? Quanto tempo vai durar? O animal será acompanhado durante três meses. Durante a primeira consulta, o proprietário responderá a um questionário e o animal será avaliado clinicamente. Se ele for incluído no projeto, será coletada uma amostra de

Equilíbrio Light, alimento Super Premium da Total Alimentos

sangue para realização dos exames laboratoriais e após observação dos resultados, iniciaremos a dieta hipocalórica com a Ração Equilíbrio Light Total Alimentos. Os retornos são mensais durante três meses. A avaliação clínica inicial é cobrada e custa R$ 30,00. Caso o animal não seja incluído no projeto, o valor não será cobrado. Os exames laboratoriais serão isentos, assim como a ração, por um período de três meses. O que é a síndrome metabólica? Como ela se manifesta e o que acarreta para a saúde do cão? A síndrome metabólica é caracterizada pela associação de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes. Esses fatores de risco incluem: obesidade, especialmente a obesidade abdominal ou visceral, a resistência à ação da insulina, hiperglicemia de jejum, dislipidemia (aumento de colesterol e/ou triglicérides) e hipertensão arterial.

Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 94, setembro/outubro, 2011



Congresso Brasileiro de Homeopatia Veterinária dos cursos de medicina veterinária e zootecnia da Universidade de Marília e supervisor do Ambulatório de Homeopatia do Hospital Veterinário da mesma instituição.

Prof. Nivaldo da Silva, presidente do CRMVMG; Barbara Goloubeff, presidente do congresso e Mario Renck Real, presidente AMVHB

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

A capital mineira, Belo Horizonte, sediou durante cinco dias as atividades do 5º Congresso Brasileiro de Homeopatia Veterinária. As características do local do evento, o Retiro São José, com jardins, bosque, horta orgânica e muitos passarinhos, favoreceram a harmonia do evento e facilitaram o acesso de animais de grande porte que foram trazidos para as aulas práticas. Barbara Goloubeff, presidente do congresso, declarou que “a ciência da homeopatia é depositária de um conhecimento que se torna cada vez mais essencial. Vivemos um momento que se assemelha a um espaço vago, à espera de uma reorientação da humanidade como um todo. Esse intervalo se refere aos desequilíbrios em praticamente todos os aspectos da vida – de como nós convivemos com a natureza, como cooperamos com os outros e como manifestamos os nossos sonhos”. Homeopatia, pós-graduação e produção científica “A homeopatia como especialidade médico-veterinária vem desenvolvendo constantemente a sua aplicabilidade ambulatorial, consequência de uma melhor estruturação do ensino e da pesquisa. Desse modo, os experimentos científicos, devidamente embasados, apresentam resultados importantes que refletem a eficácia dos medicamentos no controle das doenças dos animais, surgindo assim as publicações. Atualmente o Brasil já conta com periódicos específicos na área, porém os pesquisadores ainda encontram certa dificuldade quando escolhem determinados veículos, cujo preconceito, 32

Claudio Kanayama, da Universidade de Uberaba, autor de trabalho premiado no congresso

gerado pela falta de informação, se transforma numa barreira difícil de transpor. Destaca-se também que em muitos programas de pós-graduação, lato e stricto sensu, encontramos trabalhos, dissertações e teses que contemplam a especialidade, elevando assim o status científico da homeopatia. Sendo assim, buscaremos apresentar dados quanto à realização de experimentos científicos em homeopatia veterinária, vinculados a programas de pós-graduação, bem como os ensaios clínicos desenvolvidos nos consultórios e clínicas veterinárias, e até mesmo pesquisas de campo, ressaltando os aspectos das publicações em periódicos nacionais e internacionais e sua repercussão na comunidade científica brasileira” – Fábio Fernando R. Manhoso, coordenador

No retiro São José, logo após o nascer do sol, começava a aula de Tai Chi Chuan. Ela foi incluída no programa como prática integrativa. Como facilitadores estiveram presentes José Marcello S. Giffoni e Kólia Patrice Lacerda Gomes. Giffoni coordena há 8 anos o projeto Tai Chi Chuan no Parque no Parque Municipal Américo R. Giannetti, que oferece aulas gratuitas e oficinas das técnicas e da filosofia do Tai Chi Chuan

Evolução da metodologia científica nas publicações homeopáticas “Publicar sobre um tema emergente nunca foi tarefa simples. Quem ousa fazer isso precisa ter coragem para definir metodologias, conceitos, referências, teorias, enfim, tudo aquilo que é exigido da prática científica. Desbravar uma área emergente não significa desprezar o conhecimento corrente, mas sim fazer uma releitura desse conhecimento, apontando limitações de forma consistente. A pesquisa em homeopatia ainda está numa fase de busca por uma identidade própria. Classificar a qualidade de um resultado ou estudo sem ter o respaldo de uma base teórica bem compreendida nunca é uma tarefa simples, e isso pode nos levar a falsas avaliações. No entanto, a ciência tem suas regras e consensos, que, mesmo que frágeis, servem de guia para o desenvolvimento de pesquisas em homeopatia e áreas correlatas. Com base nesses padrões, podemos notar que as pesquisas na área estão evoluindo e já atingimos um ponto importante, com resultados visíveis, indicando que a homeopatia requer a devida atenção” – Carlos Renato Zacharias, editor-chefe do International Journal of High Dilution Research. Repertório e repertorização “A homeopatia fundamenta-se em um trabalho literário de natureza científica oriundo da pesquisa de inúmeros experimentadores, que registraram os sintomas e sinais produzidos pela intoxicação em indivíduos sadios. Esses dados se encontram descritos na Matéria Médica. Atualmente há mais de 1.600 medicamentos descritos, sendo que cada um deles pode variar de centenas a milhares de sinais e sintomas. Devido à impossibilidade de memorização de todos esses dados, foram criados os repertórios, com o objetivo de facilitar a busca do medicamento mais apropriado” – prof. dr. Nilson Roberti Benites, da FMVZ-USP

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Tomografia computadorizada com o padrão de qualidade IVI

A

partir de agosto, o Instituto Veterinário de Imagem (IVI) passou a agendar regularmente os exames tomográficos realizados com o tomógrafo helicoidal da GE (Single Slice). Após meses de adequações nas instalações físicas e elétricas, chegou-se às condições ideais para poder oferecer aos colegas um serviço especializado e

de alta qualidade. Com isso, iniciou-se no IVI uma nova fase no diagnóstico por imagem, oferecendo acesso a um exame não invasivo e altamente confiável, com imagens detalhadas de segmentos corporais por meio de reconstruções multiplanares e em 3D, sem a sobreposição de estruturas anatômicas adjacentes.

No IVI, as imagens obtidas pelo tomógrafo são gerenciadas por meio do sistema Osirix Imaging Software, largamente utilizado em todo o mundo e com mais de 50 mil usuários (www.osirix-viewer.com)

Primeiro centro de endocrinologia veterinária

André Luis S. Santos e Alessandra M. Vargas, responsáveis pelo Endocrinovet, após a cerimônia na FMVZ/USP

N

o dia 12 de agosto de 2011, no auditório da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZUSP), o Endocrinovet realizou cerimônia de inauguração do primeiro centro exclusivo de atendimento em endocrinologia e metabologia da América Latina, que fica localizado na Rua MMDC, 124, no Butantã, em São Paulo, SP.

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Durante esse período, procurou-se elaborar todos os protocolos de trabalho para poder oferecer o melhor plano de exame, que contará com a colaboração da equipe do instituto para discutir qualquer informação e sanar as questões que envolvem os diferentes procedimentos. Os exames tomográficos utilizam injeção de contrastes, dependendo da região a ser estudada e são realizados com o animal anestesiado. Todas as imagens obtidas são fornecidas em mídia digital e as de maior relevância são impressas. Para usufruir devidamente dessa tecnologia, recomenda-se a leitura do artigo “Uso da tomografia computadorizada em medicina veterinária: fundamentos e indicações clínicas”, publicado na revista Clínica Veterinária, ano XV, n. 87, julho/agosto, p. 60-64. A equipe da Imaginologia do IVI responsável pelo Serviço de Tomografia Computadorizada está a disposição para esclarecer qualquer dúvida com relação à indicação e à realização do exame. IVI: (11) 3034-5447 - www.ivi.vet.br



Sequestro corneal felino – revisão Feline corneal sequestration – a review Secuestro corneal felino – revisión Clínica Veterinária, n. 94, p. 36-42, 2011 Cássia Regina de Abreu

médica veterinária Clínica Veterinária São Francisco clinica_saofrancisco@hotmail.com

Cristiane dos Santos Honsho MV, dra., profa. UNIFRAN

crishonsho@unifran.br

Aline Adriana Bolzan MV, dra., profa. FMVZ/USP

alinebolzan@usp.br

Arianne Pontes Oriá MV, dra., profa. UFBA

arianneoria@ufba.br

Resumo: Das oftalmopatias que acometem os felinos, o sequestro corneal merece destaque. Descrito pela primeira vez em 1964, é considerado condição única dos felinos, conquanto tenha sido relatado em outras espécies. O sequestro corneal caracteriza-se pela presença de placa enegrecida na região central ou paracentral da córnea, podendo acometer todas as raças de gatos, a despeito da maior casuística em persas, siameses, himalaios e domésticos de pelo curto. Vários fatores contribuem com o seu desenvolvimento, como predisposição racial, úlceras corneais recorrentes, infecções virais e bacterianas, traumas oculares, doenças dos anexos e ceratoconjuntivite seca. Usualmente, a resolução do problema ocorre com a remoção da lesão. Com este trabalho, objetiva-se explanar o sequestro corneal em felinos e as condutas terapêuticas preconizadas. Unitermos: necrose, ceratite, herpes-vírus felino Abstract: The corneal sequestrum is an important feline ocular disease. It was first described in 1964 and although it is considered unique to felines, it has been described in other species as well. The sequestrum is characterized by the presence of a dark plaque on the central or paracentral region of the cornea. It affects all breeds of cats, but is most common to Persians, Siameses, Himalayans and short-haired domestic cats. Many factors contribute to the development of the disease, such as breed predisposition, recrudescent corneal ulcers, viral and bacterial infections, ocular traumas, adnexal diseases and keratoconjunctivitis sicca. Resolution of the disease usually occurs following surgical removal of the lesion. The aim of this review is to describe the disease in felines and the possibilities of treatment. Keywords: necrosis, keratitis, feline herpesvirus Resumen: Entre las oftalmopatías que afectan los felinos, el secuestro corneal es una patología que merece ser destacada. Fue descrito por primera vez en 1964 y, a pesar de haber sido relatado en otras especies, es considerado como una condición exclusiva de los felinos. El secuestro corneal se caracteriza por la presencia de una placa ennegrecida en la región central de la córnea. A pesar de que hay mayor incidencia en Persas, Siameses, Himalayos y Domésticos de Pelo Corto, puede afectar a todas las razas de gatos. Varios factores contribuyen para el desarrollo de este disturbio, como la predisposición racial, úlceras corneales recurrentes, infecciones virales y bacterianas, traumas oculares, enfermedades de los anexos, así como queratoconjuntivitis seca. Generalmente, la resolución del cuadro se consigue a través de la remoción de la lesión. El objetivo de este trabajo es hacer una revisión sobre el secuestro corneal en felinos y las conductas terapéuticas existentes en la actualidad. Palabras clave: necrosis, queratitis, herpesvirus felino

Introdução Descrito na literatura desde 1964 como doença apenas encontrada em gatos 1, o sequestro corneal recebe várias denominações, incluindo mumificação corneal, necrose corneal, córnea negra, ceratite necrosante 1-7 e ceratite ulcerativa crônica 1. Sua ocorrência também já foi relatada em equinos 8,9 e caninos 10. O sequestro acomete machos e fêmeas de todas as idades 1,3,5-7, excluindo-se os neonatos, nos quais, até o momento, não há relatos 3,6. Embora todos os felinos possam ser afetados 1,3,5, acredita-se que os persas 1,3,4-7,11, himalaios 1,3,4,6,7,11, siameses 1,3-5, 36

birmaneses 1,3,5,6, domésticos de pelo curto 1,3,4,6, exóticos 1,5-7 e todos os braquicefálicos sejam mais predispostos 6,12. Nos braquicefálicos, a hereditariedade e as características anatômicas são consideradas fatores predisponentes 13. Normalmente, a lesão é descrita em apenas um olho, todavia ambos podem ser acometidos 1,3-6, simultaneamente ou em períodos diversos 3,4. Aventa-se que manifestações bilaterais sejam comuns em felinos de raças predispostas 1, como os braquicefálicos 6, corroborando a ideia de que a conformação anatômica, que contribui para a ocorrência de irritação ocular constante, exerça influência no desenvolvimento da afecção 6,13.

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Aspectos clínicos De formato oval ou circular, com extensão e profundidade variáveis, a placa subepitelial de coloração marrom a preta, secundária ao processo necrótico da córnea, pode acometer

tanto a região central como a paracentral 1-7,11-13 (Figuras 1 a 5). Sua composição ainda não foi estabelecida, assim como se a pigmentação decorre de ressecamento ou da presença de partículas de hemossiderina 3 ou melanina 3,7,14-18. Variações no Arianne Pontes Oriá

Arianne Pontes Oriá

Figura 1 - Imagem fotográfica de felino da raça persa exibindo sequestração corneal bilateral central. Observar intensa cromodacriorreia bilateral como resultado de epífora

Figura 3 - Imagem fotográfica do olho direito de felino da raça persa exibindo sequestração corneal central. Observar intensa neovascularização profunda da córnea com edema perilesional Cristiane dos Santos Honsho

Cristiane dos Santos Honsho

Cristiane dos Santos Honsho

Cristiane dos Santos Honsho

Figura 2 - Imagem fotográfica do olho esquerdo de felino da raça exótica. Em A, notar blefarite, entrópio medial e área semicircular acastanhada em região paracentral da córnea com centro mais denso e discreto edema corneal perilesional. Em B, notar retenção do corante fluoresceína na córnea correspondente à área de ulceração

Figura 4 - Imagem fotográfica de olho esquerdo de felino da raça exótica. Notar área circular enegrecida no centro da córnea, neovascularização e tecido de granulação

Figura 5 - Imagem fotográfica do olho direito de felino da raça exótica. Notar lacrimejamento excessivo, área circular acastanhada em região central da córnea e neovascularização

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aspecto da placa também são relatadas, descrevendo-se lesões mais extensas, de superfície regular e plana, e lesões menores, que tendem à irregularidade e ao desnivelamento 7. Na histologia, o sequestro caracteriza-se pela presença de colágeno e fibroblastos degenerados, rodeados por células inflamatórias, como linfócitos, plasmócitos e, menos comumente, macrófagos e células gigantes, caracterizando alterações compatíveis com necrose de coagulação estromática 13-15,19,20. Há relatos de mineralização da lesão 19. Na microscopia eletrônica de transmissão, foram constatados necrose e apoptose de ceratócitos, desarranjo das fibras colágenas e infiltrado inflamatório perilesional 14. O sequestro pode permanecer inativo por longos períodos, resolver-se espontaneamente ou ainda progredir rapidamente. Com a progressão, ocorre degeneração do colágeno estromático, promovendo o descolamento das bordas da lesão, que evolui para uma úlcera de difícil cicatrização 6,13,16,21 (Figuras 3 e 4). A maioria das lesões afeta o estroma superficial, contudo, o acometimento pode estender-se à membrana de Descemet 2,3,6,13,15,21 e, raramente, acarretar perfuração ocular 6. Os sinais clínicos incluem epífora (Figuras 1 e 5), secreção ocular (Figura 1), blefarospasmo, fotofobia, hiperemia conjuntival, quemose 1-3,6,13, ulceração 3,6,13 (Figura 2B), vascularização 1-3,6,7,14 (Figuras 3 a 5) e edema corneais 1-3,15 (Figura 3), entrópio 6,13 (Figura 2A), enoftalmia e protrusão da terceira pálpebra 1-3,13. Adicionalmente à pigmentação, a presença de vasos e edema corneais indica cronicidade 13. Pode-se observar diminuição do apetite ou da atividade física, provavelmente em decorrência da dor severa que acompanha o quadro 1-3,13, atribuída à exposição das terminações nervosas estromáticas, na periferia da lesão 3. Etiopatogenia A patogênese do sequestro ainda é desconhecida. Especula-se que seja decorrente de insultos crônicos à córnea, como em infecções por herpes-vírus felino (FHV-1), entrópio, triquíase, lagoftalmia, úlceras, uso tópico de corticosteroides e alterações do filme lacrimal. Hereditariedade, defeitos metabólicos locais ou sistêmicos, degeneração estromática e distrofia primária corneais também são apontados como causas da afecção 1-7,11,14,15,20-22. A cauterização química 6 e a ceratotomia em grade 6,7,18,22, utilizadas na terapia de úlceras indolentes, são referidas como fatores de risco iatrogênicos. Nas raças braquicefálicas, além da hereditariedade, características anatômicas como cabeça redonda, focinho curto, órbita rasa e olhos proeminentes são fatores predisponentes à afecção 13. Nesses animais, o desenvolvimento do sequestro está relacionado à conformação da órbita e dos olhos, que favorece a lagoftalmia e o entrópio de canto medial, ficando a córnea sujeita à rápida evaporação do filme lacrimal, à irritação e às injúrias secundárias, sobretudo na região central 3,12. Atribui-se a essas raças, ainda, menor sensibilidade na área central da córnea – comparativamente a gatos domésticos de pelo curto –, que os torna mais susceptíveis às lesões oculares 12. Anormalidades do filme lacrimal contribuem com a etiopatogenia do sequestro corneal felino 1,4-6,13,23. Deficiências 38

qualitativas e quantitativas ocasionam instabilidade do filme lacrimal e ressecamento da superfície ocular, promovendo inflamação conjuntival, metaplasia escamosa, dor ocular, ulcerações corneais recorrentes, opacificação e comprometimento da visão 24. Todavia, não foram observadas diferenças significativas na quantificação de células caliciformes e no tempo de ruptura da lágrima de felinos normais e com sequestro 23. Constatou-se diminuição da quantidade de lipídios na lágrima de gatos com sequestro comparativamente à de animais sadios, o que poderia resultar em incremento da evaporação e consequente tendência à injúria corneal. Entretanto, não se verificou diferença significativa na quantificação entre o olho afetado e o contralateral, podendo constituir um indício de predisposição à doença 14. A correlação entre o FHV-1 e a ocorrência de sequestro, apesar de pesquisada, ainda não foi elucidada 3,6,17. A ceratite estromática, provavelmente resultante de reação de hipersensibilidade aos antígenos virais, poderia contribuir para o desencadeamento da necrose corneal 25. A infecção herpética é implicada ainda na indução de ceratoconjuntivite seca, predispondo à ceratoconjuntivite crônica e à ulceração corneal recorrente 26. A influência de outros microrganismos, como Chlamydophila felis, Mycoplasma spp e Toxoplasma gondii na patogênese do sequestro tem sido estudada, mas permanece sem comprovação 14,17. Diagnóstico O aspecto clínico descrito permite que a doença seja facilmente diagnosticada 1-3,6,7,12,13,16. No exame oftálmico usualmente não se detecta coloração com fluoresceína (exceto nas margens da lesão 3), podendo ocorrer impregnação por rosa de bengala pelo epitélio degenerado 2,3,7. Deve-se investigar ceratoconjuntivite seca com o teste da lágrima de Schirmer 5. A despeito de o papel do FHV-1 ainda não ser bem estabelecido na etiopatogenia do sequestro, sua detecção ou exclusão são relevantes. O FHV-1 é frequentemente diagnosticado nas infecções agudas, com base nos sinais respiratórios e oculares 20,21,27,28. Citologia conjuntival, isolamento viral, sorologia (ELISA), detecção de anticorpos neutralizantes, imunofluorescência indireta e reação em cadeia da polimerase (PCR) são alguns exames disponíveis para diagnóstico de infecções herpéticas 12,21,25,27,28, que podem ser de difícil diagnóstico 12, sobretudo em casos recorrentes 27. O teste PCR amplifica e identifica quantidades ínfimas de DNA viral, conferindo-lhe alta sensibilidade e especificidade, comparativamente aos demais métodos 12,17,26,27,29,30. Sua sensibilidade pode ser aumentada, utilizando-se um processo denominado nested, que permite identificar sequências mais curtas do DNA viral. Por conseguinte, com o incremento da sensibilidade, elevam-se os casos falso-positivos 30,31. Em um estudo com gatos em fase de infecção latente em que se empregou a PCR, foi observada a presença de DNA viral no gânglio trigêmeo de dez animais e em apenas cinco córneas dos mesmos indivíduos. Assim, mesmo com o resultado negativo das amostras analisadas, o envolvimento do FHV-1 não foi descartado 30, pois o teste, além de não ter especificidade de 100%, pode ser menos sensível nos casos de

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infecções herpéticas crônicas 17,32. Alterações corneais decorrentes da necrose também podem inviabilizar a detecção do DNA viral pela PCR 17. Modalidades avançadas de diagnóstico por imagem, como a ultrassonografia de alta resolução e a biomicroscopia ultrassônica, podem ser úteis na avaliação da profundidade da necrose 33,34, de difícil verificação pré-operatória e importante no planejamento da terapia cirúrgica 22,33. Terapia clínica A presença de dor, bem como a profundidade e a extensão da lesão, são aspectos que devem ser considerados na escolha do tratamento 1. Assim, lesões pequenas, superficiais (até 0,3mm de profundidade) 5 e pouco dolorosas podem ser tratadas clinicamente, apesar dos relatos de insucesso 3,5. A terapia clínica consiste na utilização tópica de antibióticos de amplo espectro 1,3,6,7, antivirais 2,7, anti-inflamatórios 5,7, lágrimas artificiais 1,3,6,24, acetilcisteína 1, condroitina 7 e ciclosporina 5,6, por uma a duas semanas 2. Antimicrobianos como ácido fusídico, gentamicina 6, tetraciclina 6,21,27,32, cloranfenicol 6,7,27,32, tobramicina e ciprofloxacina 7 são preconizados sob forma de colírio 7 ou pomada 1, a intervalos de seis horas 1,32, para prevenir a infecção bacteriana secundária por Chlamidophyla felis e Mycoplasma spp 28,32. Nos casos em que há suspeita de infecção pelo FHV-1, pode-se indicar a utilização de L-lisina (500mg/gato a cada 24 horas, ou 250mg/gato a cada 12 ou 24 horas, por via oral) 7,22,25-28,32,35-37, antivirais tópicos como aciclovir 7,22,25-27,38 (menos efetivo 22,25,27), trifluridina, idoxuridina, vidarabina 21,25-27,32 e cidofovir 25,28, quatro a seis vezes ao dia, e interferon sistêmico (administrações oral e subcutânea) e tópico 5,6,22,25,28. A eficácia do interferon ainda é controversa 22,25; a aplicação tópica dessa citocina, diluída em solução salina (1.000.000UI em 500mL NaCl 28 ou 1.000Ul/mL 6,7), quatro vezes ao dia 6,7, tem sido reportada como benéfica 6. Preparações mais concentradas (3.000UI/mL) são preconizadas na

tentativa de reduzir a pigmentação corneal 6,7. A instilação de atropina (com subsequente monitoração da produção lacrimal) 22 e de anti-inflamatórios não esteroidais tópicos 16 é reportada na vigência de uveíte anterior. O uso de corticosteroides em associação a antibióticos ou antivirais foi referido visando-se ao controle da inflamação corneal 6,7,26,28, a despeito do risco de desenvolvimento de ceratite estromal e sequestro em gatos portadores de FHV-1 26,39. O corticoide poderia modular a resposta imune envolvida na ceratite estromática herpética e minimizar a reação inflamatória e a formação cicatricial, contribuindo para a recuperação da acuidade visual 26. A ciclosporina poderia estabilizar a evolução do sequestro, por ação similar à dos esteroides, mas seu uso é controverso em pacientes com FHV-1 5,26. Acetilcisteína 1,22, EDTA, heparina, derivados da tetraciclina, plasma e soro sanguíneo podem ser empregados como inibidores de colagenases e proteinases em casos acompanhados por ceratomalácia 22. As lágrimas artificiais podem ser usadas repetidas vezes ao dia 1,3,6,16,24. Suspeitando-se de deficiência de mucina no filme lacrimal, é benéfico o emprego de pomada oftálmica que contenha ácido retinoico em sua formulação 4 e lubrificantes oculares à base de hialuronato de sódio ou carbomer 940 6,7,24, utilizados de quatro a seis vezes ao dia. A terapia tópica com o extrato de Triticum vulgare, em adição à realização de procedimentos cirúrgicos, foi descrita como benéfica relativamente à evolução da cicatrização corneal 40. Terapia cirúrgica A excisão cirúrgica do sequestro é preconizada como opção terapêutica de eleição, por minimizar o desconforto ocular, reduzir o período de convalescença 3,5,13,21, coibir o envolvimento de camadas mais profundas da córnea e, possivelmente, diminuir as recorrências 3,4,6. Pode ocorrer desprendimento espontâneo da placa necrótica com subsequente

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cicatrização da córnea, porém relata-se, nesses casos, alto índice de recidiva 4,7 e tempo de recuperação prolongado 7. A despeito da evolução do sequestro, recomendam-se terapias clínica e cirúrgica 3,7,11,22; a escolha deverá ser fundamentada no curso da doença, na profundidade da lesão e, sobretudo, no grau de dor ocular 3,5,6,11. Diversas técnicas cirúrgicas podem ser adotadas em conformidade com a experiência e a habilidade do cirurgião 6. A ceratectomia lamelar é indicada para a retirada da placa necrótica, bem como de todo o tecido pigmentado 4,13,21. Quando realizada precocemente, promove rápido alívio do desconforto ocular e remissão dos sinais clínicos 2,5,6. Placas pequenas e salientes podem ser removidas com pinça, sob anestesia tópica 3. Foram reportadas recorrências com a remoção incompleta da área acometida 4,6,13,22,35. O recobrimento da lesão corneal decorrente de desprendimento espontâneo ou da excisão cirúrgica do sequestro é indicado 4,7 principalmente em feridas profundas, a fim de conferir conforto ao paciente e proteção à superfície ocular, facilitando a cicatrização 4,5,11. Para tal finalidade, recomendam-se lentes de contato 4,6,13,22,35,41, aplicação de cianoacrilato 13,42,43 (somente em defeitos pequenos 43) e procedimentos cirúrgicos 7. Em lesões superficiais, o recobrimento pode ser facultativo 11. Há referências de tarsorrafia temporária 13 e de recobrimento com terceira pálpebra 4,13 para a proteção corneal. O recobrimento pela terceira pálpebra proporciona por vezes resultados satisfatórios, sobretudo na indisponibilidade de instrumental exigido na execução de técnicas mais elaboradas 2. Embora não forneça aporte sanguíneo para a reposição celular, auxilia na proteção da superfície ocular, podendo contribuir para a cicatrização 44. As lesões extensas ou profundas requerem o uso de enxertos conjuntivais pediculados ou livres 4,6,7,11,13,42, transposição corneoconjuntival 3,4,7,11,13,32 ou tarsoconjuntival 43,45, enxertos com córneas caninas e felinas frescas 43,46 e criopreservadas 7,43,47, submucosa de intestino delgado de suíno 6,7,13,48 e membrana amniótica bovina 49 e equina 50. O recobrimento conjuntival pediculado 3,4,6,47 e a transposição corneoconjuntival 3,6,7 são considerados efetivos por promoverem aporte nutricional e tectônico à lesão 3,6,47, além de serem autógenos 47. O pedículo pode ser recomendado como procedimento permanente em casos complicados, como lesões profundas, recorrentes e associadas à ceratoconjuntivite seca 4, nos quais seria mantido intacto, visando-se à prevenção de recidivas 4,6. Todavia, a despeito das vantagens supracitadas, o pedículo é correlacionado à formação de leucoma cicatricial de densidade variável 7,43,47. Com a transposição corneoconjuntival, obtêm-se resultados cosmético e visual mais favoráveis, com manutenção da transparência 3,7, que é de extrema relevância, já que a maioria das lesões é central 3,47. A transposição corneoconjuntival e as ceratoplastias lamelares e penetrantes com enxerto de tecido corneano conferem suporte tectônico mais eficaz relativamente a outros métodos e tecidos 35, além de preservarem a transparência no eixo visual 7,43,46,47. Relatos de recorrência em pacientes submetidos a ceratoplastias não são frequentes 43,46,47. As ceratoplastias penetrantes são indicadas em descemetoceles 13 ou perfurações 13,43, apresentando como desvantagens as dificuldades 40

envolvidas na aquisição e na preservação do tecido doador 43, além do risco de rejeição 43,45,47. As ceratoplastias lamelares com aplicação de submucosa intestinal suína 48 e membrana amniótica bovina 49 e equina 50 foram consideradas efetivas na reconstrução corneal e na obtenção de eixo visual claro com mínima cicatriz, em casos de sequestro. Ressalta-se haver o risco de transmissão de agentes infecciosos com qualquer técnica de transplante, devendo-se adotar medidas preventivas para evitá-lo 46,47. Considerações finais O conhecimento da etiopatogenia da afecção é essencial para que se possa descobrir a causa subjacente ao sequestro, o que, todavia, nem sempre é possível. Avaliar a conformação e a função das pálpebras, o crescimento anômalo de pelos e a produção e a qualidade do filme lacrimal torna-se imprescindível em gatos acometidos pela doença. O envolvimento do herpes-vírus felino não deve ser subestimado, principalmente nos casos em que hája histórico de estresse associado a episódios recorrentes de sequestro, visto que as taxas de detecção do vírus podem variar conforme o estágio da doença, a população testada ou o tipo de amostragem. Dor e blefaroconjuntivite podem resultar em entrópio por espasticidade, sendo importante avaliar a real necessidade de blefaroplastia. A supressão do desconforto ocular nos animais com sequestro constitui um dos objetivos do tratamento e a utilização de lubrificantes oculares, mesmo após a blefaroplastia, especialmente em felinos braquicefálicos, auxilia a minimizar o ressecamento ocular e o atrito palpebral. A evolução favorável do quadro depende da instituição de terapia adequada. Para tanto, em decorrência das diversas possibilidades clinicocirúrgicas disponíveis, demanda-se discernimento e critério na adoção de protocolos apropriados a cada caso. Referências

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Fratura fisária espontânea da cabeça femoral em gato – relato de caso Spontaneous femoral capital physeal fractures in a cat – case report Femoral fractura espontâneas en gato – reporte de un caso Clínica Veterinária, n. 94, p. 44-48, 2011 Resumo: As fraturas fisárias da cabeça femoral usualmente são relacionadas a lesões traumáticas em gatos. Entretanto, alguns pesquisadores indicam que essas fraturas possam ocorrer de forma espontânea e talvez correlacionada a displasia fisária, que consiste na retenção do tecido cartilaginoso após o tempo do fechamento dos núcleos de crescimento. O termo “deslizamento da epífise femoral” também pode ser considerado, associado à displasia fisária. Descreve-se o caso confirmado de fratura fisária espontânea da cabeça femoral em um gato macho, castrado, de dez meses de idade. As características clinicas, radiográficas e histopatológicas descritas suportam esse diagnóstico. O aspecto radiográfico visibilizado de reabsorção do colo femoral resultando em uma aparência de “coração de maçã” é o que mais chama atenção no relato, em conjunto com as discussões da literatura sobre a etiopatogenia envolvida nesse processo. Unitermos: felino, displasia, fêmur

Tilde Rodrigues Froes MV, profa. adj. DMV/UFPR

froestilde@gmail.com

Alexandre Schmaedecke MV, prof. assist. DMV/UFPR alexsvet@usp.br

Andre Jayr Casagrande

MV, aluno de especialização HV/UFPR andrejayr@hotmail.com

Daniela Aparecida Ayres Garcia MV, mestranda PPGCV/UFPR

daniapag@yahoo.com.br

Renato Silva de Souza MV, prof. adj. DMV/UFPR

renatosouza@ufpr.br

Abstract: Femoral capital physeal fractures in cats usually result from trauma. However, some researchers suggest that these fractures may occur spontaneously, and that they may be related to physeal dysplasia. The femoral physeal lesion consists of retention of a cartilaginous physis beyond the expected age of growth plate closure. The term “slipped femoral epiphysis”, associated with physeal dysplasia, can also be considered. This report describes a confirmed case of spontaneous capital femoral physeal fracture in a neutered, ten-month old male cat. Clinical, radiographic and histopathological data support this diagnosis. In this report, the radiographic aspect of the femoral neck reabsorption stands out as it results in an “apple core” manifestation. The paper also brings literature-based discussions on the pathogenesis involved in this process. Keywords: feline, dysplasia, femur Resumen: Las fracturas fisarias de la cabeza del fémur en gatos, por lo general estan relacionadas con lesiones traumáticas. Sin embargo, algunos investigadores indican que estas fracturas pueden ocurrir espontáneamente, y que tal vez puedan estar correlacionadas a la displasia fisaria, que consiste en la retención del tejido cartilaginoso después del cierre de los núcleos de crecimiento. Se suele asociar el término “deslizamiento de la epífisis” a la displasia fisaria. En el presente trabajo se relata un caso confirmado de fractura fisaria espontánea de la cabeza femoral en un gato macho, castrado, de diez meses de edad. Las características clínicas, radiográficas e histopatológicas descritas confirmaron el diagnóstico. En el examen radiográfico se evidenció la reabsorción del cuello femoral, al tiempo que aparecía con un aspecto típico de “corazón de manzana”. Al mismo tiempo llamó la atención la coincidencia con la literatura, en lo referente a la etiopatogenia del caso Palabras clave: felino, displasia, fémur

Introdução Acredita-se que as fraturas da linha fisária proximal femoral em gatos são usualmente resultado de lesões traumáticas. Essas fraturas ocorrem frequentemente em gatos entre quatro e onze meses de idade, com uma alta prevalência em animais de seis a nove meses de idade 1. Embora a linha fisária dessa região esteja fechada entre trinta a quarenta semanas, as fraturas fisárias podem ocorrer em animais um pouco mais velhos 1. Os conceitos sobre a etiopatogenia dessas fraturas, especificamente na região femoral proximal, 44

ainda estão sendo discutidos na literatura internacional, já que, para alguns autores, elas ocorrem em decorrência de uma anormalidade histológica na placa de crescimento que provoca um retardo na maturação dos condrócitos 1-4. A partir desse conceito, verificam-se descrições que suportam a probabilidade de essas fraturas serem na verdade atraumáticas e realmente correlacionadas a anormalidades do crescimento, assim como descrito em seres humanos. O termo então sugerido seria “displasia fisária associada a deslizamento da epífise femoral proximal”, correlacionada a

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uma deficiência da maturação dos condrócitos que ocasiona a permanência da linha fisária aberta e propicia uma fratura e o seu deslocamento 2,5. Essa hipótese foi aventada quando se analisaram algumas características clínicas desses gatos, notando-se uma predisposição em animais mais maduros (se considerarmos o tempo de fechamento da linha fisária e a fratura), castrados, machos e sem histórico de trauma prévio 2,4. Como alguns gatos não apresentam histórico prévio de trauma, acredita-se que essa fratura fisária deva ocorrer por um retardo do seu fechamento, principalmente se esses pacientes estiverem acima do peso 2,3,5. A fratura causaria então a reabsorção óssea secundária do colo femoral, determinando eventualmente a identificação de um aspecto radiográfico característico 1. O aparente consenso dos pesquisadores é que existem quatro fatores de risco para o desenvolvimento da fratura espontânea da linha fisária proximal femoral, sendo esses: gatos com idade inferior a um ano, machos, castrados e obesos. Todavia, há dúvidas sobre a determinação da causa do retardo no fechamento da linha fisária, sendo que a gonadectomia precoce também é uma teoria sugerida 1-3,6,7. As anormalidades radiográficas consistem na evidência da linha de fratura, com diferentes graus de deslocamento dos segmentos, osteólise (reabsorção), principalmente do colo femoral, e esclerose, sendo esses últimos sinais

radiográficos geralmente visibilizados nos quadros mais crônicos 1,6,8. A osteólise ao redor do colo femoral foi determinada por alguns autores como “aspecto do coração de maçã” 6. O objetivo do relato é informar as características clínicas, radiográficas e histológicas dessa enfermidade, assim como discutir sobre as hipóteses de etiopatogenia e suas correlações entre doenças. Relato do caso Foi atendido um gato macho, castrado, sem raça definida, de dez meses de idade e com 9kg, com histórico de relutância ao caminhar, dor e agressividade havia quinze dias. Não havia histórico de trauma anterior. No exame físico, o animal apoiava-se somente nos membros torácicos, apesar de apresentar movimentos voluntários dos membros posteriores e sem déficits de propriocepção. Severo desconforto – bilateral – na manipulação das articulações coxofemorais foi percebido, em conjunto com crepitação. Observou-se ainda atrofia leve da musculatura dos membros pélvicos. Com base na história e no exame físico, os diferenciais diagnósticos propostos foram: displasia coxofemoral, luxação coxofemoral, necrose asséptica da cabeça do fêmur e fratura. O exame radiográfico da região pélvica e femoral demonstrou: área de reabsorção óssea da região metafisária

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Tilde Rodrigues Froes

em formalina 10% para exame histopatológico. Pelo exame histopatológico, o diagnóstico de displasia fisária foi aventado devido às características correlacionadas, de alterações de remodelamento metafisário associado à evidência de necrose da epífise femoral, bem como da demonstração da retenção da cartilagem, devido à visibilização dos agrupados de condrócitos irregulares (Figura 3). Após os achados histopatológicos, a displasia fisária foi associada ao quadro de fratura.

Tilde Rodrigues Froes

proximal femoral, resultando em um aspecto de “coração de maçã” (apple core) em ambos os colos femorais; detectaram-se também osteófitos adjacentes à região dos trocânteres femorais e borda proximal do acetábulo (Figuras 1 e 2). A epífise e a diáfise femoral estavam intactas. Após a detecção desses achados radiográficos, definiu-se o diagnóstico como de fratura fisária espontânea – Salter Harris I – das cabeças femorais, bilateralmente, podendo essa ser correlacionada à displasia fisária. Foi então realizada a cefalectomia bilateral, com intervalo de seis semanas entre os procedimentos. Os exames préoperatorios de análise bioquímica (dosagens séricas de: creatinina, ureia, fosfatase alcalina, aspartato transaminase e alanina transaminase) e o hemograma estavam dentro dos valores de normalidade para a espécie. Um dia antes do primeiro procedimento cirúrgico, o animal recebeu 0,2mg de meloxicam a, administrado em dose única. Após o procedimento, o animal foi tratado com anti-inflamatório não esteroidal meloxicam na dose de 0,1mg/kg por via oral 2-3 vezes por semana. Também se utilizou antibioticoterapia (cefalexina b 25mg/kg a cada 12horas) empírica após a cirúrgia. O paciente se recuperou bem dos procedimentos cirúrgicos e foi liberado do hospital após dois dias de internação. A epífise femoral e a região metafisária adjacente foram acondicionadas

Renato Souza da Silva

Figura 2 - Fotografia aproximada e magnificada do exame radiográfico da figura 1, com marcadores das lesões. Observa-se linha de fratura em região fisária – Salter Harris tipo I (seta larga) –, com reabsorção óssea de colo femoral demonstrando aspecto “coração de maçã” (seta simples), associado a osteofitos em região de trocânter femoral (círculo amarelo) e esclerose de borda acetabular dorsal

Figura 1 - Imagem radiográfica das articulações coxofemorais de gato macho, castrado, de dez meses de idade, apresentando fratura fisária espontânea da cabeça femoral. Observa-se linha de fratura em região fisária – Salter Harris tipo I –, com reabsorção óssea de colo femoral demonstrando aspecto “coração de maçã”, associada a osteofitos em região de trocânter femoral e esclerose de borda acetabular dorsal

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Figura 3 - Fotomicrografia de segmento da separação fiseal em fêmur de gato. Condrócitos organizados em agregados irregulares separados por abundante matriz extracelular. Hematoxilina e eosina, Obj. 40x a) Maxicam 0,2%. Ouro Fino. Cravinhos, SP b) Rilexine 75 mg. Virbac. São Paulo, SP

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Discussão A correlação entre a displasia fisária femoral proximal e o seu envolvimento com as fraturas espontâneas ainda está sendo discutida por diferentes pesquisadores 1-4. A displasia fisária associada ao deslizamento da epífise em gatos assemelha-se à doença em seres humanos 5, em que se observa a retenção dos condrócitos na linha fisária e o subsequente deslizamento da cabeça femoral. Para alguns pesquisadores, a permanência da linha fisária aberta proporciona o surgimento de uma fratura e seu deslocamento 2-4. Vale ressaltar que, independentemente das hipóteses aventadas sobre a etiologia e a fisiopatologia da doença, entre a displasia e a fratura espontânea, o que se sabe é que há uma predisposição da ocorrência da lesão em gatos jovens, machos e com sobrepeso, similarmente às características do caso reportado 2-4. Em consonância com os casos descritos na literatura, os sinais clínicos da enfermidade usualmente são: claudicação, fraqueza em membros pélvicos, dor e a crepitação da manipulação dos membros pélvicos acometidos 1,3,6,7. O ortopedista e o radiologista devem ficar atentos a esses sinais clínicos e incluir a displasia fisária associada a fratura de deslizamento em seu diagnóstico diferencial, principalmente em casos nos quais se observam condições demográficas semelhantes. O aspecto radiográfico visibilizado neste relato é clássico e análogo a outras descrições nas quais se verifica incongruência em diferentes graus entre a linha fisária e a epífise proximal do fêmur, com reabsorção do colo femoral 1,3,6. Em casos mais crônicos há uma exacerbação da osteólise, bem como a identificação de osteófitos periarticulares, demonstrando a instabilidade da articulação adjacente em conjunto 1,6. Para alguns autores, as anormalidades radiográficas va riam, dependendo do grau de deslocamento do fragmento, e as áreas de osteólise e esclerose são identificadas em qua dros mais severos e crônicos 1. Im portante lembrar que a doen ça usualmente se apresenta na forma bilateral, no va men te semelhante ao caso apresentado 1,3,6. As lesões histopatológicas nesse gato sugerem displasia fisária, resultado da abertura persistente e do crescimento desordenado da placa fisária, que não conseguem resistir às forças de estresse ligamentar associadas a atividade locomotora normal 1,3,4, sendo quem sabe essa a melhor explicação da ocorrência dessas fraturas, até então determinadas por alguns pesquisadores como espontâneas 1,4, só que provavelmente correlacionadas à instabilidade dessa placa de crescimento e devendo ser consideradas como displasias fisárias 2,4. Talvez a obesidade venha a contribuir também para a ocorrência do deslizamento da epífise proximal, desencadeando a instabilidade e, por conseguinte, a fratura, que pode ser decorrente do próprio sobrepeso ou de desordens metabólicas associadas, assim como citado em seres humanos 2,5. Embora a gonadectomia sabidamente retarde o fechamento fisário, não é possível afirmar esse fator como causa, já que alguns animais intactos e mais velhos também já foram acometidos pela enfermidade 2,4,9. 48

O paciente apresentado na descrição era castrado e mais informações sobre esse assunto ainda não passam de especulações. Um dos pontos que nos fazem conjeturar mais sobre a influência da obesidade no deslizamento epifisário é que a doença apresenta maior ocorrência em adolescentes jovens e obesos na medicina humana e como aparentemente são atendidos mais gatos obesos na veterinária atual, talvez isso tenha feito aumentar a ocorrência e o diagnóstico dessa doença na espécie 10. De qualquer maneira, essas teorias ainda não estão completamente comprovadas e precisam de maior número de pesquisa para melhores considerações. Nota-se que o exame radiográfico é considerado um método auxiliar extremamente importante para esses pacientes. A imagem de reabsorção do colo femoral em forma de “coração de maçã” (apple core) aparentemente contribui para a definição do diagnóstico 1,3,6. O exame radiográfico também permite a análise da cronicidade e da agressividade do processo 1. Considerações finais A correlação entre a fratura fisária espontânea da epífise femoral proximal e a displasia fisária deve ser aventada, principalmente em gatos com características clínicas similares às do quadro descrito. O exame radiográfico demonstra ser de suma importância para melhor acurácia diagnóstica desses pacientes. Referências

01-McNICHOLAS, W. T. ; WILKENS, B. E. ; BLEVINS, W. E. ; SNYDER, P. W. ; McCABE, G. P. ; APPLEWHITE, A. A. ; LAVERTY, P. H. ; BREUR, G. J. Spontaneous femoral capital physeal fractures in adults cats: 26 cases (1996-2001). Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 221, n. 12, p. 17311736, 2002. 02-CRAIG, L. E. Physeal dysplasia with slipped capital femoral epiphysis in 13 cats. Veterinary Pathology, v. 38, n. 1, p. 92-97, 2001. 03-FORREST, L. J. ; O’BRIEN, R. T. ; MANLEY, P. A. Feline capital physeal dysplasia syndrome. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 40, p. 672, 1999. 04-NEWTON, A. L. ; CRAIG, L. E. Multicentric physeal dysplasia in two cats. Veterinary Pathology, v. 43, n. 3, p. 388-390, 2006. 05-BOLES, C. A. ; EL-KHOURY, G. Y. Slipped capital femoral epiphysis. Radiographics, v. 17, n. 4, p. 809-823, 1997. 06-RIGDE, P. A. What is your diagnosis? Journal of Small Animal Practice, v. 47, n. 5, p. 291-293, 2006. 07-PEREZ-APARARICIO, F. J. ; FJELD, T. O. Femoral neck fractures and capital epiphyseal separations in cats. Journal of Small Animal Practice, v. 34, n. 9, p. 445-449, 1993. 08-ABLIN, L. W. ; GAMBARDELLA, P. C. Orthopedics of the feline hip. The Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, v. 13, n. 9, p. 1379-1387, 1991. 09-ROOT, M. V. ; JOHNSTON, S. D. ; OLSON, P. N. The effect of prepuberal an postpuberal gonadectomy on radial physeal closure in male and female domestic cats. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 38, n. 1, p. 42-47, 1997. 10-HARASEN, G. Atraumatic proximal femoral physeal fractures in cats. The Canadian Veterinary Journal, v. 45, n. 4, p. 359-360, 2004.

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Ultrassonografia transcraniana em cães – revisão de literatura Transcranial ultrasonography in dogs – literature review Ecografía transcraneal en perros – revisión de la literatura Clínica Veterinária, n. 94, p. 50-56, 2011

Thassila Caccia Feragi Cintra

MV, mestranda Depto. Clínica e Cirurgia Veterinária FCAV/Unesp-Jaboticabal tha_cintra@yahoo.com.br

Júlio Carlos Canola

MV, prof. adj. Depto. Clínica e Cirurgia Veterinária FCAV/Unesp-Jaboticabal canola@fcav.unesp.br

Cibele Figueira Carvalho

MV, dra., profa. ass. I CMV - Universidade Cruzeiro do Sul cibelefcarvalho@gmail.com

Anelise Carvalho Nepomuceno

MV, mestranda Depto. Clínica e Cirurgia Veterinária FCAV/Unesp-Jaboticabal anelisecane@yahoo.com.br

Resumo: O interesse pelo estudo do sistema nervoso central vem crescendo na medicina veterinária. A ultrassonografia foi o primeiro meio de diagnóstico por imagem empregado na investigação do encéfalo, especialmente para filhotes, com as vantagens de não ser invasiva, ser de rápida execução e de baixo custo comparada à tomografia computadorizada. Na medicina veterinária, cães com menos de um mês de idade podem ser avaliados através da fontanela bregmática. Os equipamentos modernos, com o avanço do processamento do sinal, têm refinado a resolução da imagem, tornando possível o estudo ultrassonográfico transcraniano. No entanto, existe uma lacuna na literatura no que se refere à padronização da técnica ultrassonográfica transcraniana para cães como método diagnóstico na rotina médico-hospitalar. Unitermos: canino, ultrassom, encéfalo Abstract: Interest in the study of the central nervous system has increased in Veterinary Medicine. Ultrasonography was the first diagnostic imaging method used in brain research, especially in puppies. Transcranial ultrasonography has advantages over CT. It is noninvasive, fast to execute and low-cost. In puppies younger than one month of age, the brain can be accessed through the bregmatic fontanelle. With the development in signal processing, modern equipment has improved image resolution, making the study of transcranial ultrasonography possible. However, there is a gap in the literature regarding the standardization of the transcranial ultrasonographic technique for dogs as a diagnostic method in the medical hospital routine. Keywords: canine, ultrasound, brain Resumen: El interés por el estudio del sistema nervioso central se ha desarrollado de manera creciente en los últimos años en la Medicina Veterinaria. La ecografía fue el primer medio de diagnostico por imagen utilizado en la investigación del encéfalo, especialmente para las crías, con el ventaja de no ser invasiva, ser de rápida ejecución y tener bajo costo si se la compara con la tomografía computarizada. En Medicina Veterinaria, perros con menos de 1 mes de edad pueden ser evaluados a través de la fontanela bregmática. En los equipos modernos, debido a avances en el procesamiento de la señal, se ha refinado la resolución de la imagen, mejorando el estudio ecográfico transcraneal. Sin embargo, existe una laguna en la literatura en lo que se refiere a la estandarización de la técnica ecográfica transcraneal en perros como método de diagnóstico en la práctica hospitalaria. Palabras clave: canino, ecografía, encéfalo

Introdução O interesse pelo estudo do sistema nervoso central vem crescendo na medicina veterinária à medida que novas modalidades diagnósticas por imagem têm se tornado realidade 1. A ultrassonografia foi o primeiro meio de diagnóstico por imagem utilizado na investigação do encéfalo, sendo inicialmente empregada em seres humanos em 1956, em modo A (modulação de amplitude), em que os ecos detectados eram processados e mostrados em forma de gráficos das amplitudes em função da profundidade em que eram gerados 2. 50

Embora esse método não possibilitasse obter imagens do encéfalo, foi utilizado durante algum tempo para avaliar modificações intracranianas, como alterações na diferenciação de sinais entre o tecido normal e o tecido tumoral a partir dos ecos gerados 3. O emprego da ultrassonografia em modo B no crânio humano foi, inicialmente, relatado em 1963, por meio da utilização de técnicas de exame por contato 4. A técnica do exame transcraniano era difícil em razão de a superfície curva do crânio causar acentuada descontinuidade de contato dos

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transdutores, gerando artefatos em campo proximal, com consequente degradação da imagem. Após 1973, ao mesmo tempo em que foi progredindo o desenvolvimento dos equipamentos, os autores empenharam-se em melhorar o emprego e o papel da ultrassonografia na avaliação neurológica. Em 1974 e 1975 foram relatados estudos de anatomia encefálica normal em crianças, assim como a verificação de dilatação dos ventrículos, pelo método de contato 5. Somente em 1980, com a disponibilidade da imagem em tempo real e a popularização da fontanela anterior como janela acústica, a neurossonografia começou a ser utilizada extensivamente em neonatos, sendo acrescentada aos métodos de exame intracraniano 6-10. A partir desse período, muitos outros autores descreveram suas experiências com a ultrassonografia em modo B através da fontanela anterior e de outras fontanelas, além das suturas dos ossos cranianos, tornando a ultrassonografia transcraniana reconhecida como método diagnóstico de desordens cerebrovasculares em seres humanos 11. A neurossonografia também teve aplicação precoce na medicina veterinária. Em 1972, a ultrassonografia em modo A foi utilizada para investigar lesões provocadas em encéfalos de cães 12. A partir de 1990, a ultrassonografia em modo B foi empregada para avaliar o encéfalo de filhotes de cães com menos de um mês de idade 13. A utilização desse método para exame do encéfalo de outras espécies também foi relatada 14. Atualmente, na medicina humana, com o desenvolvimento das técnicas de imagem, a ultrassonografia para o encéfalo foi praticamente abandonada, com desvio de interesse para métodos de diagnóstico mais complexos, como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM). Entretanto, a introdução dessas técnicas implica em altos custos de produção, desenvolvimento, manutenção e operação e, em consequência, o difícil acesso e a viabilidade desses exames, especialmente na medicina veterinária 1,5. Vantagens e limitações da ultrassonografia transcraniana A ultrassonografia transcraniana tem a vantagem de ser um método não invasivo e de grande valor no diagnóstico de algumas afecções encefálicas, tais como hidrocefalia, neoplasias, processos hemorrágicos e más-formações congênitas, sobretudo pela rapidez e o baixo custo com que pode ser realizada, sem a necessidade de anestesiar o paciente e pela ampla popularização da utilização de equipamentos de ultrassom 15,16. Apesar de a ultrassonografia transcraniana permitir o diagnóstico e a visibilização fisiopatológica, há várias limitações que precisam ser consideradas. A principal limitação é a dependência da qualidade da janela acústica temporal. Existe uma limitação do exame realizado através da tábua óssea íntegra em relação ao peso do animal. Cães de maior porte (pesando mais de 10kg) apresentam o osso temporal mais espesso, dificultando a passagem do feixe sonoro, com consequente diminuição da definição da imagem e da qualidade do exame 17,18. Uma segunda limitação é a dependência da qualidade do aparelho de ultrassom utilizado. Sistemas com baixo padrão de imagem em modo B e

aparelhos ultrassonográficos antigos não são recomendados. A terceira limitação é a dependência da qualificação do examinador 11. Com relação à acurácia, o exame ultrassonográfico transcraniano pode complementar os resultados de outros métodos de neuroimagem, como TC e RM, devido ao diferente princípio de formação da imagem (reflexão de ondas ultrassonográficas nas interfaces com diferente impedância acústica), sendo, em alguns casos, considerado até superior à TC 11,19,20. A viabilidade da ultrassonografia transcraniana em comparação com a TC e a RM para avaliação de crianças com dores de cabeça foi estudada e a taxa de detecção de lesões intracranianas foi mais alta por meio da TC e da RM (3,8%) do que por meio da ultrassonografia transcraniana (2,2%), porém concluíram que a conveniência e o baixo custo da ultrassonografia tornam o método superior à TC e à RM na prática clínica 10. Quanto à acurácia da ultrassonografia transcraniana em comparação com a da TC na avaliação do encéfalo de neonatos humanos, concluiu-se que a ultrassonografia produziu imagens excelentes e detalhadas de dilatação dos ventrículos laterais e do terceiro ventrículo, sem a necessidade de utilizar radiação ionizante e a um custo mais baixo que a TC. Além disso, a TC pode complementar o exame ultrassonográfico na detecção de hemorragia intracraniana e lesões em massa 21. Técnica de exame Existem, na literatura veterinária, muitos estudos sobre avaliação ultrassonográfica transcraniana utilizando as fontanelas e defeitos cranianos criados experimentalmente como janelas acústicas 13-15,17,19,20,22,23. Na medicina veterinária, cães com menos de um mês de idade podem ser avaliados através da fontanela bregmática 13. O transdutor posicionado sobre a fontanela permite a obtenção de imagens oblíquas transversas, por meio de movimentos de varredura com o transdutor indo de rostral para caudal e depois voltando de caudal para rostral, num movimento que lembra o de um limpador de para-brisa. Com o transdutor rotacionado em 90°, por meio de movimentos de varredura de lado a lado, obtêm-se imagens em planos parassagitais 14. Mas a necessidade da presença de uma fontanela ou de um defeito na calota craniana é um fator limitante à realização do exame, permitindo a sua utilização apenas em cães neonatos (com idade inferior a um mês) e cães que sofreram fratura na calota craniana em decorrência de processo traumático. Em contrapartida, existe uma grande divergência na literatura veterinária, no que diz respeito à utilização da ja nela temporal como janela acústica para a realização de avaliação ultrassonográfica transcraniana em animais adultos 1,18. Apesar de alguns autores 11,15,19,24 destacarem a impossibilidade de formação de imagem ultrassonográfica através da tábua óssea íntegra, devido a artefatos de reflexão gerados em razão da grande diferença de impedância acústica na interface de tecidos moles com a superfície óssea do crânio, outros autores 1,25,26 realizaram trabalhos sobre a utilização da ultrassonografia através da tábua óssea íntegra em seres humanos adultos.

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A grande diferença de impedância acústica em uma interface de tecidos moles com a superfície óssea gera artefatos de reflexão, em razão da diferença de velocidade do feixe ultrassônico nos meios. A absorção do feixe acústico depende também da espessura óssea, sendo a energia transmitida nunca superior a 35% da emitida. Por outro lado, uma camada de osso esponjoso, denominada díploe, é encontrada em alguns ossos do crânio, como no frontal e na porção dorsal do parietal. Composta por espículas ósseas dispostas em varias direções, essa camada esponjosa é responsável pela atenuação do feixe sônico. Já os ossos compactos possuem efeito de refração mais importante do que de atenuação. Assim sendo, em virtude da fina estrutura e por ser um osso compacto, o osso temporal tem sido utilizado como janela acústica viável na realização da ultrassonografia transcraniana em seres humanos 1,16,25,27,28. Em estudo sobre avaliação ultrassonográfica transcraniana em crianças, foram utilizadas como janelas acústicas a área temporal, a convexidade parietal, a área supraorbital e o forâmen magno, demonstrando que todas as janelas acústicas são viáveis para a avaliação ultrassonográfica transcraniana, com especificidade de 99,8% e sensibilidade de 75% na detecção de lesões intracranianas 10. Na medicina veterinária, em estudo que utilizou a ultrassonografia para a identificação de cistos aracnoides intracranianos, um dos cães não tinha fontanela persistente, porém o diagnóstico foi realizado por meio de imagens sonográficas obtidas por via da janela temporal, demonstrando que a ausência da fontanela persistente não impede o uso da ultrassonografia transcraniana em pequenos animais 29. Foi relatada a utilização do osso temporal como janela acústica, concluindo que a abordagem transcraniana pode ser realizada com sucesso em cães com fontanela fechada 14. Alguns animais possuem a calota craniana suficientemente fina, de modo a permitir o acesso ultrassonográfico transcraniano através do osso temporal. Em outro estudo, o osso temporal e a porção lateral do osso parietal foram utilizados como janelas acústicas em cães adultos, para obtenção de cortes ultrassonográficos por meio da realização de varredura encefálica no sentido rostrocaudal (cortes transversais) e dorsoventral (cortes dorsais ou coronais), que foram anatomicamente correlacionados com imagens obtidas em TC, demonstrando que a ultrassonografia trancraniana é passível de ser realizada através dessas janelas acústicas 1. A utilização de transdutores setoriais ou convexos é mais indicada, uma vez que a janela acústica é pequena. A cabeça dos transdutores deve ser curta e pequena, para melhor contato 5. A frequência ideal do transdutor varia de acordo com a janela acústica utilizada na realização do exame. A ultrassonografia transcraniana em seres humanos depende de transdutores de baixa frequência (2 ou 3MHz) para penetrar na porção escamosa do osso temporal após o fechamento da fontanela 30. Em cães com a fontanela rostral aberta servindo como janela acústica, recomenda-se o uso de transdutor de alta frequência (7 a 12MHz). Para a avaliação encefálica através do osso temporal, é indicado o uso de transdutores de baixa frequência (5MHz), a fim de possibilitar a penetração do feixe sonoro 1,14. Aspectos ultrassonográficos das estruturas encefálicas 52

e aplicabilidade da técnica Em seres humanos, foi avaliada a aplicabilidade da técnica ultrassonográfica na avaliação do encéfalo de bebês 6. O exame realizado através da fontanela bregmática permitiu diferenciar estruturas anatômicas como ventrículos, pedúnculos cerebrais, ponte, sulcos e giros, plexo coroide, cerebelo e o tentório do cerebelo. Foi observado que a varredura encefálica pela janela temporal permite a obtenção de imagem da cisterna basal, da fissura longitudinal do cérebro, dos lobos frontais temporais e occipitais, dos ventrículos laterais e dos sulcos caloso e esplenial, assim como dos pedúnculos cerebrais 5. Ultrassonograficamente, as estruturas encefálicas visibilizadas em cães apresentam aspectos semelhantes aos descritos para os seres humanos. Nos planos transversais e sagitais, realizados na fontanela bregmática, e no plano dorsal ou coronal, realizado na janela temporal, os contornos da caixa craniana podem ser identificados como sendo uma linha hiperecogênica, a fissura longitudinal como uma linha hiperecogênica no centro da imagem, os sulcos calosos e espleniais como linhas hiperecogênicas, que auxiliam a orientação do examinador, e a matéria cerebral cinza e branca aparece hipoecoica, tendendo a ecogenicidade moderada (Figura 1). Em plano transversal mediano, é possível visibilizar os ventrículos laterais normais como áreas anecogênicas, bilateralmente simétricas na região mediana central do encéfalo 1,17,19,23. Em animais recém-nascidos, o tentório do cerebelo não é ainda ossificado, portanto, a imagem do cerebelo é possível através da fontanela bregmática 14. Em cães adultos, o forâmen magno é utilizado como janela acústica para avaliação do cerebelo e possibilita a visibilização do vérmis do cerebelo como linhas paralelas hiperecogênicas 1 (Figura 2). O exame ultrassonográfico transcraniano é indicado para animais que apresentam sinais clínicos de distúrbio neurológico central, como diminuição do reflexo e do tônus muscular, déficit de reação postural em membros, movimentação ou postura anormal, paralisia de membros, nistagmo, déficit de reação de nervos cranianos, agressividade ou alterações comportamentais, alteração do estado mental e crises convulsivas 31. Thassila Caccia Feragi Cintra e Júlio Carlos Canola

A

B

Figura 1 – A) Imagem ultrassonográfica, em plano de corte dorsal, do encéfalo de um cão, obtida através da janela temporal. VLE: ventrículo lateral esquerdo; VLD: ventrículo lateral direito; C: calota craniana; S: sulco; FL: fissura longitudinal; LE: lateral esquerda; LD: lateral direita; CR: Cranial; CD: Caudal. B) Desenho esquemático demonstrando posicionamento do transdutor para obtenção da imagem ultrassonográfica do encéfalo em plano de corte demonstrado na figura A

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A ultrassonografia do encéfalo é mais comumente aplicada para determinar o tamanho dos ventrículos laterais em cães de raças pequenas com suspeita de hidrocefalia, em que comumente a fontanela se encontra aberta 14. Existem poucos trabalhos sobre medidas das dimensões dos ventrículos laterais. Em um desses estudos, realizou-se ultrassonografia transcraniana em 23 cães, pela fontanela bregmática persistente ou por meio de craniotomia cirúrgica. Em oito cães que apresentavam exame neurológico normal, utilizando planos transversos ao nível da adesão intertalâmica, observou-se que a medida da altura dos ventrículos laterais foi de cerca de 0,04cm a 0,35cm com uma média de 0,15cm 23. A hidrocefalia, definida como acúmulo patológico de líquido cefalorraquidiano no sistema ventricular ou no espaço subaracnoideo, pode ser diagnosticada utilizando-se a fontanela como janela acústica. Ecograficamente, observa-se aumento das dimensões dos ventrículos, que passam a apresentar-se repletos de líquido anecogênico e homogêneo (Figura 3). Quando a medida dorsoventral do ventrículo lateral for igual

ou maior que 0,35cm, pode-se considerar o diagnóstico de hidrocefalia 17,23. Com frequência os ventrículos aumentados têm comunicação livre entre si, em particular na porção rostral. O terceiro ventrículo pode apresentar uma dilatação pequena. Com o aumento severo, os sulcos cerebrais ficam achatados e difíceis de identificar 17,19,23. Vale ressaltar que ventrículos laterais dilatados podem representar um achado incidental comum em cães pequenos das raças toy e braquicefálicas sem a presença de sinais clínicos associados. No entanto, em alguns casos, a falha na drenagem do líquido cefalorraquidiano causa dilatação ventricular progressiva, produzindo um aumento na pressão intracraniana, que causa diminuição na perfusão cereberal e destruição tecidual, podendo levar a déficit neurológico severo. Não há, portanto, grande correlação entre a severidade dos sinais clínicos e o grau de hidrocefalia. Desse modo, fazse necessária a utilização de um teste não invasivo, capaz de determinar o significado clínico da hidrocefalia e permitir o monitoramento do paciente 32. Thassila Caccia Feragi Cintra e Júlio Carlos Canola

Thassila Caccia Feragi Cintra e Júlio Carlos Canola

A

B

Figura 2 – A) Imagem ultrassonográfica em corte transversal do cerebelo de um cão, obtida através do forâmen magno. V: vérmis do cerebelo; FM: forâmen magno. B) Imagem demonstrando posicionamento do transdutor para obtenção da imagem ultrassonográfica do encéfalo em plano de corte demonstrado em A

A

B

Figura 3 - A) Plano transversal do encéfalo de um cão com ventriculomegalia, obtido com o transdutor posicionado na fontanela bregmática. vld: ventrículo lateral direito; vle: ventrículo lateral esquerdo; S: septo inter-hemisférico. B) Imagem demonstrando posicionamento do transdutor para obtenção da imagem ultrassonográfica do encéfalo em plano de corte demonstrado na figura A

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Com esse intuito, esses autores desenvolveram estudo correlacionando o grau de dilatação dos ventrículos laterais de cães mensurados por meio de exame ultrassonográfico transcraniano com o índice de resistividade (RI) da artéria basilar do encéfalo obtido por meio do modo Doppler e a sintomatologia clínica, concluindo que a mensuração do RI da artéria basilar é um teste não invasivo e relativamente de baixo custo, que pode ajudar a determinar o significado clínico da ventriculomegalia em cães quando utilizado em combinação com medidas de ventriculomegalia. A medida seriada de RI pode ser utilizada para monitorar a progressão dos cães com ventriculomegalia, porém uma medida singular não é preditiva do desenvolvimento dos sintomas de hidrocefalia. Em contraste, cães com severa ventriculomegalia podem estar sob maior risco de desenvolvimento de sinais neurológicos como resultado da hidrocefalia. As medidas dos valores de RI podem também ser utilizadas tanto no monitoramento da resposta do paciente ao tratamento num número de diferentes desordens quanto na investigação da fisiopatologia dessas doenças 32. A segunda aplicação mais frequente é a investigação do encéfalo de animais com suspeita de neoplasia 14. As massas encefálicas são usualmente diagnosticadas utilizando-se tomografia computadorizada ou ressonância magnética, devido ao fato de o revestimento ósseo do encéfalo dificultar o diagnóstico sonográfico. Possivelmente, um diagnóstico inicial pode ser realizado por meio da ultrassonografia se uma fontanela persistente ou lesão lítica da calota craniana permitir a formação da imagem ou se a lesão encefálica puder ser visibilizada através do osso temporal ou do forâmen magno. Muitas neoplasias, em seres humanos e em animais, aparecem como lesões hiperecogênicas. Porém, o aspecto ultrassonográfico de massas encefálicas depende da composição tecidual, assim como do nível de desmielinização das células nervosas, da quantidade de tecido necrótico e de tecido fibroso no local da lesão. Muitas neoplasias aparecem como lesões hiperecogênicas, porém, quanto maior a quantidade de necrose tecidual, menor a ecogenicidade da lesão. Além disso, é possível observar a extensão e o contorno da lesão 14,17. Poucos relatos são encontrados na literatura veterinária sobre a utilização da ultrassonografia no diagnóstico de afecções encefálicas como cistos 29, abscessos 33, processos hemorrágicos ou isquêmicos 14,34,35, edema 36, má-formações congênitas e ventriculites 17. O aspecto ultrassonográfico de cistos aracnoides na cisterna quadrigerminal foi descrito como áreas anecogênicas, de formato triangular e contornos bem definidos, localizadas na porção caudal entre os lobos occipitais, dorsal ao mesencéfalo e rostral ao cerebelo na cisterna quadrigerminal (corte realizado através da fontanela), e entre os dois ventrículos laterais (corte realizado em janela temporal) 29. Abscessos encefálicos podem ser definidos como lesões pobremente definidas e hiperecogênicas em função do conteúdo fluido de alta celularidade. Para estabelecer um diagnóstico definitivo entre hematoma e abscesso, é necessária uma biópsia por aspiração realizada com agulha fina 17. A hemorragia intracraniana pode produzir áreas hipo ou hiperecogênicas, dependendo do tempo de evolução, sendo que o aspecto inicial hipoecogênico rapidamente se torna 54

hiperecogênico com a agregação de eritrócitos 14,37. O edema cerebral, associado à presença de massa encefálica, pode apresentar aparência hiperecogênica variável; as áreas hiperecogênicas do cérebro próximas à massas cerebrais não significam necessariamente hemorragia; e o edema ecogênico pode interferir na acurácia do mapeamento de lesões cerebrais extensas de moderada ecogenicidade 36. A lisencefalia, que ocorre a partir de defeitos na migração neural durante o desenvolvimento fetal, é uma anormalidade do desenvolvimento que exibe ausência ou número limitado de circunvoluções cerebrais, caracterizando-se, ultrassonograficamente, pela ausência das imagens dos sulcos cerebrais, normalmente observadas como linhas hiperecogênicas em campo proximal da imagem 38. A agenesia do corpo caloso é incomum em cães. Em seres humanos, achados ultrassonográficos incluem separação lateral dos cornos rostral e dos corpos dos ventrículos laterais, elevação e dilatação variável do terceiro ventrículo e dilatação do corno occipital. Em cães, a dilatação e o deslocamento dorsal do terceiro ventrículo também podem ser observados 39. A ventriculite pode ocorrer como complicação de um quadro de hidrocefalia. Nesses casos, os ventrículos (anecogênicos) apresentam-se dilatados, com presença de imagens puntiformes ecogênicas em suspensão e aumento da espessura dos contornos ventriculares 17. Consideraçõs finais Em suma, a obtenção de imagem de boa resolução tem sido um desafio desde o primeiro uso da ultrassonografia transcraniana. Porém a melhora da tecnologia dos transdutores e os avanços no processamento do sinal têm refinado a resolução da imagem. Dessa forma, tem-se tornado mais acessível o estudo ultrassonográfico realizado através da tábua óssea íntegra com a utilização de equipamentos modernos e de alta resolução. Esses equipamentos permitem o detalhamento anatômico de estruturas normais e a localização de lesões, sendo posteriormente complementados pelos resultados da TC e da RM, a custos inferiores 1,11. No entanto há uma lacuna na literatura no que se refere à padronização da técnica ultrassonográfica transcraniana em cães, bem como dos aspectos ultrassonogáficos de algumas afecções encefálicas. Portanto, vale ressaltar a importância da necessidade de se realizarem novos trabalhos de pesquisa a fim de aprimorar os conhecimentos dos profissionais da área, viabilizando a aplicação da técnica ultrassonográfica transcraniana como método diagnóstico na rotina médico-hospitalar. Referências

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Utilização da tomografia computadorizada para avaliação pulmonar de quelônios – revisão de literatura The use of computed tomography for pulmonary evaluation in chelonians – literature review Uso de la tomografía computarizada para la evaluación pulmonar de quelonios – revisión de literatura Clínica Veterinária, n. 94, p. 58-62, 2011

Lorena Adão Vescovi Séllos Costa MV, mestre Harmonia Diagnóstico Veterinário lovescovi@gmail.com

Daniel Capucho de Oliveira MV, residente HV/SCA/UFPR

danielcapucho@gmail.com

Jannine Garcia Forattini MV, mestranda UVV

janiforattini@hotmail.com

Abstract: Diagnostic imaging techniques can contribute significantly to the clinical and surgical management of chelonians. Computed tomography (CT) is a novel technique that offers great advantages for the detection of alterations in several organs. Helical CT devices allow examinations in a short time frame and are capable of producing high definition images. CT examinations are a great contribution to the evaluation of the respiratory system in chelonians due to the low respiratory rate of these animals and the high contrast in this region caused by the presence of air in the lungs and airways. The aim of this paper is to perform a literature review covering aspects related to indications, examination technique, tomographic anatomy and importance of CT for the diagnosis of pulmonary diseases in chelonians. Keywords: diagnostic imaging, CT, wild animals, reptiles, lung

Flaviana Lima Guião Leite MV, profa. CMV/UVV

flaviana.lima@uvv.br

João Luiz Rossi Júnior MV, prof. CMV/UVV

joao.rossi@uvv.br

Fabiano Séllos Costa

MV, prof. adj. Depto. Medicina Veterinária - UFRPE fabianosellos@hotmail.com

Resumo: As técnicas de diagnóstico por imagem podem contribuir significativamente para o manejo clínico e cirúrgico de quelônios. A tomografia computadorizada (TC) é uma técnica recente e que oferece grandes vantagens para a detecção de alterações em diversos órgãos. Os aparelhos helicoidais de TC permitem a realização de exames em curto espaço de tempo e com alta definição das imagens geradas. Os exames de TC apresentam grande contribuição para a avaliação do sistema respiratório em quelônios, por causa da baixa frequência respiratória desses animais, associada ao alto contraste dessa região, em decorrência da presença de ar nos pulmões e nas vias aéreas. O presente trabalho tem o objetivo de realizar uma revisão de literatura envolvendo aspectos referentes às indicações, à técnica de exame, à anatomia tomográfica e à importância da TC para o diagnóstico de enfermidades pulmonares em quelônios. Unitermos: diagnóstico por imagem, TC, animais silvestres, répteis, pulmão

Resumen: Las técnicas de diagnóstico por imagen pueden contribuir significativamente a la gestión clínica y quirúrgica de los quelonios. La tomografía computarizada (TC) es una técnica reciente que ofrece grandes ventajas para la detección de alteraciones en varios órganos. Aparatos helicoidales de TC permiten la realización de los exámenes en un tiempo corto y con imágenes de alta definición. Los exámenes de tomografía computarizada representan una gran contribución a la evaluación del sistema respiratorio de los quelonios por la baja tasa respiratoria de estos animales y por el alto contraste en esta región, debido a la presencia de aire en los pulmones y las vías respiratorias. Este trabajo tiene el objetivo de realizar una revisión de literatura sobre aspectos relacionados con las indicaciones, técnica de exploración, la anatomía tomográfica y la importancia de la TC para el diagnóstico de enfermedades pulmonares en los quelonios. Palabras clave: diagnóstico por imagen, TC, animales silvestres, reptiles, pulmón

Introdução Um maior conhecimento dos aspectos anatômicos, fisiológicos e das principais enfermidades que acometem os quelônios de vida livre e de cativeiro é importante para a sua conservação no ambiente. Técnicas diversas de diagnóstico por imagem, apesar de serem geralmente subutilizadas em 58

répteis de uma maneira geral, podem contribuir significativamente para o manejo clínico e cirúrgico desses animais 1,2. Particularmente em animais silvestres, os exames complementares de diagnóstico por imagem são extremamente relevantes, devido à dificuldade de obtenção de dados do histórico do animal e à dificuldade de realização de um exame

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clínico acurado em grande parte dos pacientes avaliados 1-3. A tomografia computadorizada (TC) é um exame complementar de diagnóstico por imagem de uso relativamente recente em medicina veterinária no Brasil. Trata-se de uma técnica não invasiva, que oferece grandes vantagens para a detecção de enfermidades em quelônios, sendo um exame altamente indicado para o diagnóstico de alterações ósseas e nos tecidos moles 1,3,4. Apesar disso, muitos aspectos referentes à anatomia tomográfica e à aplicação na prática clínica da TC em quelônios ainda necessitam ser melhor elucidados. Quando comparada com os exames radiográficos convencionais, a TC promove melhor distinção das radiodensidades específicas dos tecidos e permite a detecção de alterações discretas na dimensão, na forma, nos limites e no posicionamento de inúmeros órgãos 5,6. A TC pode captar diferenças na radiodensidade de tecidos de 0,05%, diferentemente da radiografia convencional, que capta diferenças de 0,5%. Dessa forma, o exame tomográfico apresenta maior sensibilidade e precisão, podendo detectar alterações teciduais que não seriam visibilizadas radiograficamente 7. Diagnóstico por imagem em quelônios Os exames radiográficos em quelônios para avaliação pulmonar nas projeções craniocaudal e laterolateral ainda são rotineiramente utilizados, entretanto o exame de TC

apresenta várias vantagens 2,8. Alterações como fraturas da carapaça, resposta inflamatória local e/ou sobreposição pulmonar por fragmentos ósseos geralmente impossibilitam uma precisa avaliação dos campos pulmonares no exame radiográfico convencional, dificultando o estabelecimento de um diagnóstico preciso 9. Os exames de TC helicoidal apresentam grande contribuição clínica para a avaliação do sistema respiratório nas diversas espécies de quelônios, devido às informações detalhadas que permitem visibilizar, já que os pulmões e as vias aéreas desses animais silvestres são favorecidos pela sua baixa frequência respiratória, fato que minimiza a possibilidade de artefatos decorrentes de movimentação, associado ao alto contraste existente em decorrência do ar presente nos pulmões e nas vias aéreas 9. Particularmente para os animais selvagens, os aparelhos helicoidais apresentam grandes benefícios aos pacientes, porque permitem que as imagens sejam captadas com maior rapidez e maior detalhamento, possibilitando após o processamento a realização de imagens de reconstrução multiplanar e tridimensional de ótima definição. O pouco tempo necessário para a realização dos exames de TC permite minimizar os efeitos deletérios de uma sedação prolongada ou do estresse decorrentes da contenção dos quelônios 1,9,10. Quando é necessária a sedação de quelônios, encontram-se na literatura

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protocolos com a utilização de propofol em doses entre 3 e 5mg/kg de peso 11 e a associação de quetamina e diazepam por via intravenosa nas doses de 15mg/kg e 0,5mg/kg respectivamente 9. Entretanto, segundo alguns autores 9, é possível em alguns animais a realização de exames de TC sem a contenção química do paciente quando forem utilizados aparelhos de TC helicoidais, pois a captação das imagens ocorre em alta velocidade. Conforme demonstrado na figura 1, a traqueia é visibilizada facilmente em cortes transversais e em imagens de reconstrução, estando localizada ventralmente e à esquerda do esôfago como uma estrutura tubular que contém ar no interior. A morfologia dos pulmões, brônquios e vasos pulmonares pode ser identificada. Em cortes transversais é possível identificar um brônquio central no interior dos pulmões com uma artéria pulmonar dorsalmente e uma veia pulmonar ventralmente (Figura 2). Cada brônquio central se estende dorsal e longitudinalmente dentro dos pulmões e se ramifica em numerosas vias aéreas de menor calibre sem suporte cartilaginoso. As tartarugas marinhas não possuem brônquios secundários; seus pulmões não possuem segmentação em lobos e o parênquima pulmonar apresenta-se fortemente reticulado (Figura 3) 9,12.

Fabiano Séllos Costa

Fabiano Séllos Costa

A pneumonia é um problema comum em répteis, particularmente nos que vivem em cativeiro. A utilização de exames complementares de diagnóstico por imagem é considerada fundamental quando existe a suspeita de pneumonia em quelônios. Quando a caracterização do processo de pneumonia é estabelecida unicamente com base nos dados obtidos pelo exame clínico, frequentemente se observam erros de diagnóstico e conduta terapêutica inadequada. As pneumonias em quelônios de cativeiro e de vida livre podem ter diferentes causas, tais como infecções fúngicas, bacterianas, virais, parasitárias ou a inalação de corpos estranhos. Em todos os casos, os exames de TC geram imagens superiores às obtidas em exames radiográficos, permitindo estabelecer precisamente a extensão e a localização das lesões. As pneumonias são evidenciadas como áreas de opacificação pulmonar que acometem um ou ambos os pulmões e para o diagnóstico definitivo da sua etiologia é necessária a associação com os dados obtidos no exame clínico e na anamnese do paciente 13. As lesões de origem traumática na carapaça de quelônios frequentemente estão associadas a danos adicionais aos animais, tais como choque, contusões pulmonares e quadros de hemorragia interna. As lesões pulmonares decorrentes de traumas podem evoluir para pneumonia e necrose pulmonar. As causas comuns de fraturas da carapaça geralmente são: queda acidental, pisada, acidente automobilístico ou traumas provenientes de cortadores de grama e mordidas de cães 8.

Figura 1 - Imagem tomográfica transversal com janela de tecidos moles (W300 L50) de tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas. D) dorsal; V) ventral; R) direita; L) esquerda; 1) traqueia; 2) esôfago; 3a) pulmão direito; 3b) pulmão esquerdo; 4) segunda vértebra dorsal; 5) osso coracoide; 6) processo acromial Fabiano Séllos Costa

Figura 2 - Imagem tomográfica transversal com janela de pulmão (W2300 L-250) de tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas. D) dorsal; V) ventral; R) direita; L) esquerda; 1) pulmão; 2) quarta vértebra dorsal; 3) artéria pulmonar; 4) brônquio; 5) veia pulmonar; 6) osso coracoide

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Figura 3 - Imagem tomográfica de reconstrução multiplanar (plano dorsal) com janela de pulmão (W1700 L-550) de tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas. Cr) cranial; Cd) caudal; R) direita; L) esquerda; 1) brônquio direito; 2) brônquio esquerdo

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Em tartarugas marinhas, as lesões da carapaça também podem ocorrer por diversas causas, tais como: impacto em casco de navios, mordidas de tubarão ou pela ação de pescadores, que podem deliberadamente promover traumas nas tartarugas por acharem que sua presença irá atrapalhar a pescaria ou danificar os equipamentos de pesca 9,14,15. Nessas condições de origem traumática, a TC também apresenta grande aplicabilidade clínica na diferenciação das lesões pulmonares e das lesões ósseas, pois, com o uso de janelas específicas de avaliação para tecidos ósseos e para o parênquima pulmonar, é possível avaliar isoladamente e com precisão as possíveis alterações existentes no animal (Figura 4). A tomografia computadorizada quantitativa (TCQ) serve de complemento à avaliação tomográfica subjetiva, permitindo a obtenção de valores numéricos referentes à radiodensidade, ao volume, à área e ao tamanho dos órgãos. A TC utiliza radiação-X e proporciona uma imagem baseada no coeficiente linear de absorção de raios-X dos tecidos por onde passa. Todos os equipamentos de TC são igualmente calibrados para a atenuação de raios-X da água, resultando em valores numéricos, medidos em unidades Hounsfield (HU), considerando-se a água como zero HU. As áreas compostas por materiais com elevado número atômico, como os ossos, absorvem mais raios-X, têm um valor alto em HU e aparecem brancas na imagem 7. Os valores de densidade mineral óssea obtidos por meio da avaliação tomográfica quantitativa correspondem à atenuação média dos pixels contidos na região de interesse (ROI) selecionada 16-18. Em seres humanos, a TCQ tem ampla utilização clínica para o direcionamento de certas enfermidades e para o monitoramento de pacientes portadores de doenças crônicas 16. Na medicina veterinária, é amplamente empregada em pesquisas 17,19-21, sendo citado na literatura que a estimativa da radiodensidade do parênquima pulmonar por TCQ contribui significativamente para o diagnóstico e o acompanhamento de cães com pneumopatias 21. Também se desenvolveram estu-

Figura 4 - Imagens tomográficas transversais de tartaruga mari nha da espécie Chelonia mydas com janela de pulmão (A – W1710 L-700) e janela óssea (B – W1800 L800). D) dorsal; V) ventral; R) direita; L) esquerda; 1) brônquio; 2) pulmão; 3) esôfago; 4) terceira vértebra dorsal; 5) osso coracoide

dos em seres humanos comprovando a eficácia desse método de análise na avaliação de doenças pulmonares obstrutivas crônicas 22. Dessa forma, devemos considerar que a TCQ

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Fabiano Séllos Costa

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Figura 5 - Imagem tomográfica transversal com janela de pulmão (W1900 L-400) de tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas, na altura da quarta vértebra dorsal, demonstrando a seleção de uma região de interesse (ROI) para obtenção da radiodensidade média do parênquima pulmonar. D) dorsal; R) direita; 1) ROI; Mean) média; SD) desvio padrão; HU) unidades Hounsfield

também pode contribuir para o diagnóstico de afecções pulmonares em quelônios. A figura 5 demonstra uma imagem em corte transversal utilizada na seleção de uma região de interesse (ROI) para a avaliação quantitativa da radiodensidade pulmonar em uma tartaruga marinha da espécie Chelonia mydas, observando-se a radiodensidade normal do parênquima pulmonar representada em unidades Hounsfield. Considerações finais Com o aumento do número de hospitais veterinários, universidades e centros de diagnóstico por imagem no Brasil que oferecem o serviço de TC, torna-se possível uma maior aplicação clínica desses exames em animais silvestres. É necessário que haja mais pesquisas envolvendo o uso de exames de TC em animais silvestres, incluindo os quelônios, para que se possa detalhar melhor as particularidades anatômicas de cada espécie e dos aspectos imaginológicos das principais enfermidades. Ressalta-se que, particularmente em quelônios, os exames de diagnóstico por imagem são imprescindíveis para a caracterização de afecções pulmonares, tanto em alterações de origem infecciosa como de origem traumática. A TC apresenta grandes vantagens quando comparada ao exame radiográfico convencional, por detalhar melhor as imagens geradas e por permitir a formação de imagens em reconstrução multiplanar e tridimensional.

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Aspectos clínicos e cirúrgicos das mucoceles salivares em cães Surgical and clinical aspects of salivary mucoceles in dogs Aspectos clínicos y quirúrgicos de los mucoceles salivales en perros Clínica Veterinária, n. 94, p. 64-72, 2011

Renato Dornas de Oliveira Pereira MV, esp. Hospital Veterinário FEAD-Minas renato_dornas@hotmail.com

Christina Malm

MV, dra., profa. adj. EV/UFMG malm@vet.ufmg.br

Resumo: As mucoceles salivares estão entre as principais doenças das glândulas salivares dos cães. A doença pode surgir a partir de uma lesão de qualquer glândula ou ducto salivar. Dependendo do sítio da lesão, os cães podem desenvolver mucoceles cervicais, sublinguais, faríngeas, parotídeas ou zigomáticas. O diagnóstico geralmente é estabelecido com base no histórico, no exame clínico e na análise do fluido obtido por paracentese. O tratamento definitivo exige ressecção das glândulas acometidas e drenagem da mucocele. Também é possível realizar a marsupialização das mucoceles sublinguais e faríngeas. As complicações pós-operatórias podem incluir formação de seroma, infecção e recorrência da mucocele. O objetivo deste trabalho é analisar e discutir os principais aspectos clínicos e cirúrgicos das mucoceles salivares nos cães. Unitermos: glândulas salivares, diagnóstico, cirurgia Abstract: Salivary mucoceles are among the main salivary gland diseases in dogs. The disease can develop from an injury on any salivary gland or duct. Depending on the lesion site, dogs can develop cervical, sublingual, pharyngeal or zygomatic mucoceles. The diagnosis is generally established based upon history, clinical examination and analysis of the fluid obtained by paracentesis. The definitive treatment demands removal of the offending salivary glands and drainage of the mucocele. Marsupialization is also an option in sublingual and pharyngeal mucoceles. Complications after surgical resection of the salivary glands can include formation of seroma, infection and recurrence of the mucocele. The aim of this article is to analyze and discuss the main clinical and surgical aspects of salivary mucoceles in dogs. Keywords: salivary glands, diagnosis, surgery Resumen: Los mucoceles salivales están dentro de las principales afecciones de las glándulas salivales de los perros. Esta patología puede surgir a partir de una lesión de cualquier glándula o conducto salival. Dependiendo del sitio de la lesión, los perros pueden desarrollar mucoceles cervicales, sublinguales, faríngeos, parótidos o zigomáticos. El diagnóstico generalmente es establecido con base en la historia clínica, examen clínico y análisis del fluido obtenido por paracentesis. El tratamiento definitivo consiste en la resección de las glándulas afectadas, drenaje o marsupialización del mucocele. Las complicaciones después de la resección de las glándulas salivales pueden incluir la formación de seromas, infecciones y/o recidiva del mucocele. El objetivo de este articulo es analizar y discutir los principales aspectos clínicos y quirúrgicos de los mucoceles salivales en caninos. Palabras clave: glándulas salivales, diagnóstico, cirugía

Introdução Mucocele salivar, também conhecida como sialocele, é uma cavidade formada no tecido subcutâneo ou submucosa, devido ao acúmulo de saliva extravasada de uma glândula ou ducto salivar lesados 1-3. As mucoceles estão entre as doenças mais frequentemente diagnosticadas nas glândulas salivares do cão 2,4. Há relatos da ocorrência de mucoceles em diversas raças, com predominância de poodles miniaturas, daschshunds, australian 64

silky terriers e pastores alemães 3,5. Animais de diferentes faixas etárias podem ser acometidos por mucoceles, sendo que a afecção é mais frequente em animais de até quatro anos de idade 1,6. Não há predisposição sexual para essa doença 3,6. Todas as glândulas salivares podem produzir mucoceles, mas a maioria dos casos se desenvolve pela injúria da glândula sublingual ou de seu ducto 2. As lesões nas glândulas mandibular e sublingual podem gerar mucoceles cervicais,

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sublinguais e/ou faríngeas, ao passo que as lesões das glândulas zigomática e parótida podem produzir mucoceles zigomáticas e parotídeas, respectivamente. A afecção das glândulas mandibulares é pouco frequente e as glândulas zigomáticas e parótidas raramente são associadas à formação de mucoceles 3. De forma geral, as mucoceles são lesões benignas, representando poucos transtornos à vida do animal. Entretanto, dependendo da sua apresentação, elas podem interferir significativamente nas funções mastigatórias, respiratórias e oculares 2. O objetivo deste trabalho é analisar e discutir os principais aspectos clínicos e cirúrgicos das mucoceles salivares no cão.

comum 2,7,9. A porção difusa compreende uma cadeia de lóbulos que se abrem em ductos independentes no recesso sublingual lateral 7,9. A glândula parótida é triangular e moldada ao redor da porção proximal da cartilagem da orelha, ocupando uma depressão entre o masseter e a asa do atlas. Relaciona-se medialmente com o músculo digástrico, o nervo facial e a veia maxilar. Fica em contato com a glândula mandibular ventralmente e com o linfonodo parotídeo e a articulação temporomandibular cranialmente. Seu ducto se abre no vestíbulo bucal, oposto ao quarto dente pré-molar superior 7,8. A glândula zigomática situa-se medial e ventralmente à extremidade rostral do arco zigomático. Relaciona-se medialmente com a artéria e o nervo maxilares e com o pterigoideo medial, e dorsalmente com a periórbita 7,8. Seu ducto se abre lateral ao último dente molar superior e caudal à papila do ducto parotídeo 9,10.

Anatomia O conhecimento da anatomia das glândulas salivares e de seus ductos é importante no tratamento das mucoceles, sob a perspectiva cirúrgica 2. Os cães possuem quatro pares principais de glândulas salivares: mandibulares, sublinguais, parótidas e zigomáticas (Figura 1). Além dessas, existem pequenas glândulas de menor importância espalhadas pelos lábios, bochechas, língua, palato mole, faringe e esôfago 7. A glândula mandibular é grande, oval e aloja-se em uma cápsula fibrosa. Está situada na união das veias maxilar interna e linguofacial, quando estas formam a veia jugular externa (Figura 1) 8,9. A glândula sublingual é constituída de duas porções – uma compacta ou monostomática e outra difusa ou polistomática. A parte compacta origina-se rostralmente a partir da glândula mandibular. Acompanha o ducto mandibular entre os músculos masseter, lateralmente, e digástrico, medialmente, até atingir uma posição lateral na raiz da língua, próximo aos dentes molares inferiores. Os ductos mandibular e sublingual se abrem em orifícios separados em uma papila na borda rostral do frênulo da língua (carúncula sublingual), mas também podem se abrir em um orifício

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Figura 1 - Principais glândulas salivares do cão, seus respectivos ductos e vasos sanguíneos de referência anatômica. 1) Glândula mandibular. 2) Parte compacta da glândula sublingual. 3) Parte difusa da glândula sublingual. 4) Glândula parótida. 5) Glândula zigomática. 6) Veia linguofacial. 7) Veia maxilar interna. 8) Veia jugular externa

Etiopatogenia As mucoceles salivares são formadas pelo extravasamento de saliva proveniente de uma glândula ou ducto salivar lesado 1. A saliva liberada irrita os tecidos adjacentes e um revestimento de tecido de granulação é formado secundariamente. Raramente esse revestimento se torna mineralizado 11. Pode-se esperar a ocorrência de mucoceles em qualquer sítio onde haja glândulas ou ductos, mas na maioria dos casos, o extravasamento de saliva ocorre a partir de uma injúria na porção cranial da glândula sublingual 1. A saliva extravasada segue o caminho de menor resistência. Sua liberação na porção cranial leva à formação de uma mucocele sublingual ou rânula, enquanto a saliva que escapa mais caudalmente tende a se acumular ventralmente no subcutâneo e a formar uma mucocele cervical 12,13. Pensava-se inicialmente que a rânula era uma dilatação do ducto salivar sublingual ou mandibular, quando, de fato, as mucoceles sublinguais têm a mesma morfologia das outras mucoceles, não possuindo um revestimento epitelial 2. O mecanismo exato da formação das mucoceles ainda não está bem esclarecido 3. O evento incitante da lesão glandular ou ductal geralmente é desconhecido, mas a suspeita principal reside sobre as injúrias traumáticas 5. Especula-se que as mucoceles também podem ser causadas por obstruções dos ductos salivares. Entretanto, as tentativas de reproduzir experimentalmente tal situação no cão, pela ligadura dos ductos salivares, falharam e resultaram em atrofia glandular 14. Em condições naturais, se a obstrução for a lesão primária, a ruptura do ducto deve ocorrer antes que as lesões atróficas se estabeleçam na glândula 15. Traumas pelo uso de coleiras enforcadoras, corpos estranhos, feridas por mordedura, coices na face, fraturas dos ossos do crânio e lacerações na língua, entre outros traumatismos, já foram sugeridos como possíveis causadores de mucoceles salivares 3,10. Os sialólitos são de ocorrência rara no cão, mas podem gerar obstrução e ruptura glandular ou ductal e consequente extravasamento de saliva 4,11,16. Suspeita-se que as estenoses inflamatórias também possam causar obstruções e contribuir para a gênese da doença 12. Injúrias iatrogênicas por drenagem de abscessos, procedimentos odontológicos e cirurgias na cabeça e pescoço

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também foram associadas à formação de mucoceles 3. A localização anatômica da glândula parótida, por exemplo, torna-a suscetível a lesões iatrogênicas durante procedimentos cirúrgicos na orelha externa 2. Neoplasias malignas também podem estar relacionadas com mucoceles. Melanomas, carcinomas e sarcomas já foram diagnosticados nas glândulas salivares de cães portadores de mucoceles 3. Há relato de uma possível associação entre uma migração errática de larvas de Dirofilaria immitis para a glândula salivar e o surgimento de mucocele em um cão, com a identificação de microfilárias no conteúdo do cisto salivar 17. Existem hipóteses sobre uma possível predisposição genética nos animais afetados 3, conforme citado em um trabalho de 1966, corroboradas pelo fato de que foi observado o desenvolvimento da doença em animais da mesma ninhada e de frequentemente mais de uma mucocele ser diagnosticada em um mesmo cão 12.

mas algumas podem se apresentar na linha média 15. O posicionamento desses animais em decúbito dorsal pode facilitar a determinação do lado acometido, pois a mucocele tende a se mover para o lado afetado 11,18. As mucoceles sublinguais ou rânulas são caracterizadas por um aumento de volume ovoide, flutuante, localizado na submucosa do assoalho da cavidade oral (Figura 3) 12. Um sinal clínico precoce de uma mucocele sublingual pode ser saliva tingida de sangue, secundária a trauma durante a mastigação 2. Os animais afetados podem apresentar algum grau de disfagia e sialorreia. A língua pode se apresentar deslocada para o lado contrário ao afetado 11. Em aproximadamente 50% dos casos os animais apresentam mucoceles sublinguais concomitantemente com mucoceles cervicais 1. As mucoceles faríngeas são as que potencialmente representam maiores riscos à vida do animal, devido à possibilidade de causarem obstrução das vias aéreas superiores 18. Os cães afetados podem apresentar dispneia inspiratória, cianose, disfagia, tosse, roncos, engasgos e alterações no latido 1,3,5. Pode-se visualizar um aumento de volume macio e flutuante ou uma massa pedunculada na faringe caudal. O lado afetado geralmente é bem definido 5. Para uma visualização adequada da mucocele faríngea, pode ser necessária uma sedação profunda ou mesmo a aplicação de anestesia geral 2. A doença na glândula zigomática se manifesta como um aumento de volume periorbital, com a sintomatologia dependente da posição da mucocele em relação à órbita 19. Pode ocorrer exoftalmia se a mucocele se localizar no aspecto caudal da órbita; deslocamento da terceira pálpebra e da pálpebra inferior se a mucocele se apresentar em posição cranial e ventral; enoftalmia em mucoceles muito grandes e na posição lateral, devido ao fato de a massa forçar o globo caudalmente. Neuropatia óptica secundária à pressão exercida pela mucocele pode estar presente. Dor periocular e estrabismo também são sinais clínicos descritos nessa afecção 2,10,19-21. As mucoceles parotídeas possuem apresentação semelhante à das mucoceles cervicais, porém o aumento de volume se localiza cranial ao ângulo da mandíbula, próximo à região auricular 16. Pode haver a formação de uma fístula cutânea, com drenagem da saliva por um orifício na lateral da face. Nesses casos, observa-se um aumento na drenagem do fluido durante a alimentação 13. Renato Dornas de Oliveira Pereira

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Sinais clínicos As regiões cervical cranial e submandibular são os sítios mais comuns para a formação de mucoceles, mas estas também podem se localizar nas regiões faríngea, sublingual, parotídea ou zigomática, dependendo da glândula envolvida e da área onde ocorreu a ruptura 3. Os cães com mucoceles cervicais apresentam um aumento de volume indolor, macio, flutuante, de crescimento lento, localizado no subcutâneo da região submandibular ou na porção cranial do pescoço, caudalmente ao ângulo da mandíbula (Figura 2) 1,11,15,18. Dor e irritabilidade podem estar presentes na fase aguda da doença, quando a área envolvida ainda se apresenta túrgida 2,13,15. Frequentemente, essa estrutura cística não adere à pele sobrejacente, característica útil para diferenciar mucoceles de abscessos crônicos 1. A maioria das mucoceles se localiza bem definida em um dos lados,

Figura 2 - Cão com mucocele cervical, apresentando aumento de volume na região cranioventral do pescoço (seta)

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Figura 3 - Cão com mucocele sublingual (rânula), apresentando aumento de volume flutuante no recesso sublingual lateral (setas)

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de material amorfo eosinofílico 19. Um corante específico para muco, como o PAS (periodic acid-Schiff), irá confirmar o diagnóstico da mucocele 2,11,13. Radiografias simples raramente auxiliam no diagnóstico, exceto em casos com sialólitos, corpos estranhos ou neoplasias 11,22. A sialografia, que consiste no exame radiográfico contrastado das glândulas salivares, permite um estudo mais específico da região afetada e pode auxiliar no planejamento do tratamento cirúrgico. É especialmente útil nos casos em que o sítio de origem da mucocele não pode ser definido pelo exame clínico, mas a sua execução não é necessária em todos os casos 1. A diferenciação entre mucoceles sublinguais Renato Dornas de Oliveira Pereira

Diagnóstico O diagnóstico das mucoceles salivares geralmente não é complicado e pode ser estabelecido com base no histórico, no exame clínico e na análise do fluido obtido por paracentese (aparência macroscópica, viscosidade, citologia e demonstração de mucina com corante específico). Radiografia, sialografia, ultrassonografia, bacteriologia e histopatologia são recursos complementares, mas utilizados com menor frequência 3,19,23. O histórico normalmente compreende o relato de uma massa de crescimento lento, indolor, que é bem tolerada pelo animal, com exceção dos casos em que há compressão faríngea, que pode causar dispneia e disfagia. O relato de trauma nem sempre está presente, provavelmente porque os proprietários não o associaram com a formação da mucocele, ou porque não presenciaram o evento traumático 3. É relevante questionar onde foi notado o aumento de volume inicialmente, pois pode ajudar a determinar o lado afetado 22. Na paracentese das mucoceles obtém-se um fluido característico, viscoso e denso 1,2. Na afecção das glândulas parótida e zigomática, a secreção pode se apresentar mais serosa. A cor do fluido pode variar de clara a âmbar ou avermelhada (Figura 4) 5. A citologia do material aspirado é sugestiva de secreção salivar, devido à baixa contagem celular, à presença de células epiteliais, de macrófagos espumosos e

Figura 4 - Fluido denso e claro obtido por paracentese de uma mucocele cervical

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Tratamento O tratamento conservativo por drenagens múltiplas ou pela injeção de agentes cauterizantes ou anti-inflamatórios não elimina a mucocele e pode complicar a cirurgia subsequente, por levar a supuração ou a fibrose 2,22. Em raras ocasiões, pode ocorrer resolução da mucocele apenas pela drenagem do seu conteúdo, mas, em geral, essa conduta leva a recidiva 11,21. O tratamento definitivo exige ressecção das glândulas acometidas e drenagem da mucocele 20,22. É recomendado enviar as glândulas, os ductos e a parede da mucocele para análise histopatológica, para descartar neoplasias e cistos congênitos 22. As mucoceles faríngeas frequentemente requerem intubação para aliviar a angústia respiratória causada pela obstrução das vias aéreas superiores 20. Marsupialização A marsupialização das mucoceles consiste na criação de uma comunicação permanente entre a mucocele e a cavidade oral 3. Pode ser realizada como medida única no tratamento de 68

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das porções compacta ou difusa só pode ser realizada por sialografia 12. Nos casos de mucoceles zigomáticas, a sialografia também é indicada, porque permite delinear a glândula afetada e a cavidade formada, e com isso promove uma abordagem cirúrgica mais adequada 19. Contudo, a localização do defeito glandular ou ductal por sialografia só é possível em 55% dos casos e, portanto, são comuns os resultados falso-negativos 1. A técnica de sialografia requer um cateter calibre 24 ou uma cânula lacrimal introduzida no ducto salivar e injeção de 0,25-0,5 mL/5 kg de peso corporal de contraste iodado solúvel em água. A radiografia é realizada imediatamente após a injeção do contraste 2,24. A ultrassonografia é capaz de identificar uma cavidade preenchida por líquido anecoico, o que auxilia na diferenciação de um abscesso ou hematoma 23. A avaliação histopatológica das mucoceles e das respectivas glândulas afetadas é importante nos casos em que há dúvidas quanto ao diagnóstico definitivo da afecção ou quando há a suspeita de envolvimento neoplásico no processo. A aparência histológica das mucoceles varia bastante, dependendo do seu estágio de desenvolvimento. Entre os principais achados está a visualização de uma estrutura cística, contendo material mucoide, amorfo, PAS positivo no lúmen. Sua parede é ricamente vascularizada e consiste de fibroblastos circundados por colágeno abundante, sem a presença de um revestimento epitelial. Em processos crônicos, a parede da mucocele é formada por tecido conjuntivo maduro. Células inflamatórias, com predominância de mononucleares, estão presentes com distribuição multifocal a difusa pelos tecidos. Em alguns casos é possível a identificação de uma comunicação entre o ducto glandular ou o ácino rompido e a mucocele 12,25. O diagnóstico diferencial para mucoceles inclui principalmente linfadenopatias, sialoadenites, abscessos e neoplasias, em especial o linfoma. Cistos tireoglossos e cistos branquiais são lesões congênitas que se assemelham às mucoceles, mas sua ocorrência é extremamente rara. Outras causas de obstrução das vias aéreas superiores devem ser consideradas na avaliação da forma faríngea da mucocele salivar 2,11,17,18.

Figura 5 - Na marsupialização, a parede da mucocele é parcialmente excisada e suturada diretamente na mucosa oral

mucoceles sublinguais e faríngeas, embora a excisão das glândulas afetadas seja fortemente recomendada para evitar recidiva e o surgimento de mucoceles cervicais 1. Realiza-se uma excisão elíptica sobre a parede da mucocele. O tecido de granulação que reveste a mucocele é suturado à mucosa sublingual para estimular a drenagem por vários dias (Figura 5). As mucoceles sublinguais marsupializadas se contraem e cicatrizam rapidamente por segunda intenção 22. As mucoceles faríngeas podem ser drenadas por marsupialização ou aspiração e o tecido faríngeo redundante deve ser excisado para evitar obstrução das vias aéreas 5. Excisão das glândulas mandibular e sublingual A excisão das glândulas mandibular e sublingual constitui o tratamento definitivo para mucoceles cervicais, sublinguais e faríngeas. Apesar de a maioria das lesões ocorrerem na glândula sublingual, ambas devem ser removidas devido a sua intima associação anatômica 20. Uma abordagem lateral é preferida, embora a abordagem na linha média ventral possa ser usada nos casos em que haja dúvida quanto ao lado afetado 2. A abordagem ventral também é descrita para a remoção de toda a extensão do ducto sublingual, para prevenir recidivas, embora a técnica desse acesso cirúrgico seja mais complicada 26. Na abordagem lateral, o animal é posicionado em decúbito dorsolateral e as regiões lateral e ventral da cabeça e pescoço são preparadas para a técnica cirúrgica asséptica. Faz-se incisão da pele, do tecido subcutâneo e do músculo plastima desde a porção caudal do ângulo da mandíbula até a origem da veia jugular externa. A glândula mandibular deve ser identificada caudal ao ramo da mandíbula e entre as veias linguofacial e maxilar interna, quando elas se unem à veia jugular externa (Figura 6A). Deve-se diferenciar a glândula mandibular dos linfonodos mandibulares que se situam rostral e ventralmente a ela. A cápsula fibrosa da glândula mandibular sofre incisão e o tecido glandular é pinçado e afastado para

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facilitar a remoção. A glândula é liberada por dissecção e os vasos sanguíneos localizados na sua face dorsomedial são ligados. A dissecção prossegue no sentido rostral, alcançando a glândula sublingual, que também será resseccionada (Figura 6B). A exposição completa dos ductos mandibular e sublingual pode depender de afastamento cranial ou da secção do músculo digástrico. No local em que o nervo lingual atravessa o tecido salivar, a glândula e o tecido ductal são ligados e transeccionados (Figura 6C). Se durante a tração o complexo ducto-glândula sofrer ruptura rostralmente ao local proposto para ligadura, não haverá necessidade de continuar a dissecção ou realizar a ligadura. O campo cirúrgico deve ser irrigado com solução salina 0,9% antes de ser fechado. Os músculos e o espaço morto são aproximados; o tecido subcutâneo e a pele são suturados rotineiramente 2,20,22,27. Depois da ressecção das glândulas e dos ductos mandibular e sublingual, a mucocele cervical é drenada por uma incisão perfurante na face mais ventral da tumefação 20. A drenagem da mucocele pode anteceder a exérese das glândulas, se essa estiver dificultando a sua identificação 11. Não é necessária a remoção cirúrgica da parede da mucocele 2. Um dreno de Penrose pode ser introduzido na cavidade e fixado na face mais dorsal da cavidade (Figura 6D). O dreno deve ficar protegido com uma bandagem frouxa e é removido assim que a drenagem cessar, habitualmente dentro de dois ou três dias após sua aplicação 20,22.

Excisão da glândula parótida Para excisão da glândula parótida, o paciente é posicionado em decúbito lateral. Faz-se incisão da pele sobre o canal auricular vertical até um ponto entre o ramo da mandíbula e a bifurcação da veia jugular externa. O músculo plastima é incisado para expor o músculo parotidoauricular, o canal auditivo vertical e a glândula salivar parótida. O músculo parotidoauricular é seccionado e retraído a partir de sua inserção no canal auditivo vertical. A veia auricular caudal é ligada e seccionada. A glândula parótida é dissecada do canal auditivo vertical e da glândula mandibular. Deve-se evitar traumatizar o nervo facial na base do canal auditivo horizontal. A veia temporal superficial corre pela glândula e deve ser ligada. Os pequenos vasos podem ser ligados ou cauterizados. O ducto parotídeo é ligado e transeccionado à medida que sai da glândula. A área deve ser irrigada e os músculos, subcutâneo e pele são reaproximados por suturas. É importante não abrir a parótida durante a dissecação, tanto para não perder a referência anatômica da glândula quanto para evitar a permanência de ácinos no local 20,22. A ressecção da glândula parótida é um procedimento complicado devido a sua íntima aderência aos tecidos adjacentes. Frequentemente a ressecção completa da glândula parótida lesa de modo permanente ramos dos vasos carotídeos externos e o nervo facial, resultando em hemorragia e paralisia facial 20.

Figura 6 - Excisão das glândulas mandibular e sublingual. A) Incisão de pele, subcutâneo e musculatura, e identificação das veias linguofacial (seta preta) e maxilar interna (seta branca); B) dissecção das glândulas mandibular (asterisco) e sublingual (seta); C) ligadura dos ductos mandibular e sublingual próximo ao nervo lingual (seta); D) sutura de pele e fixação de um dreno de Penrose

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Excisão da glândula zigomática O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral ou ventral. É realizada uma incisão curva na pele e no subcutâneo, sobre a borda dorsal do arco zigomático. São incisados a fáscia palpebral, o músculo retrator do ângulo ocular e o ligamento orbitário, sendo elevados dorsalmente com o globo ocular. Deve-se expor adicionalmente a glândula por meio de osteotomia parcial do arco zigomático. A glândula é removida por meio de dissecção, evitando o ramo anastomótico localizado ventralmente entre as veias facial profunda e oftálmica externa. A mucocele deve ser drenada. O arco zigomático é reposicionado por meio de uma fixação do osso com fio de sutura colocado através de orifícios pré-perfurados. A área é irrigada e a fáscia palpebral é aproximada do arco zigomático com suturas. Pele e subcutâneo são suturados rotineiramente. Um dreno subcutâneo pode ser utilizado e removido após dois a cinco dias 2,22,27. Nos animais que apresentarem aumento de volume oral associado a mucoceles zigomáticas, pode-se realizar também a marsupialização dessa região 19. Complicações As complicações após a ressecção de glândulas salivares são pouco frequentes, mas podem incluir formação de seroma, infecção e recorrência da mucocele. O seroma pode se formar no espaço morto criado pela remoção das glândulas e pode ser prevenido pelo uso de drenos subcutâneos no pós-

operatório. Caso os princípios da técnica cirúrgica asséptica sejam seguidos, será rara a ocorrência de infecção 22. Para evitar a ocorrência de lesão neurológica, especialmente na ressecção das glândulas parótidas e zigomáticas, o cirurgião deve ter experiência na realização desses procedimentos 20. A recidiva de qualquer mucocele é evento incomum (menor que 5%) após a excisão da glândula salivar afetada, a menos que a glândula acometida não tenha sido completamente resseccionada. Outras falhas associadas à recorrência da doença consistem na dissecção cranial deficiente dos ductos mandibular e sublingual, na falha ao identificar o lado acometido, na remoção de linfonodos em vez das glândulas salivares e na utilização da marsupialização como único procedimento cirúrgico 2,3,20. O tratamento da doença recidivante envolve a remoção do tecido glandular residual ou das glândulas contralaterais. A remoção bilateral das glândulas salivares não causa xerostomia nos pacientes 1,20,27. Considerações finais As mucoceles estão entre as principais doenças que acometem as glândulas salivares do cão e, portanto, seu reconhecimento e indicação terapêutica correta são importantes. Na maioria dos casos, o diagnóstico pode ser obtido no próprio consultório. O sucesso do tratamento cirúrgico depende da execução correta da técnica cirúrgica, do conhecimento da anatomia da região e da experiência do

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cirurgião com o procedimento em questão. Uma das principais complicações está na recidiva da mucocele, o que exige a extirpação do tecido glandular remanescente. Se realizada a ressecção das glândulas afetadas, o prognóstico é favorável. Referências

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Marcadores de DNA na evolução da cinofilia brasileira – os testes de parentesco DNA markers in the evolution of Brazilian cinology – the parentage tests Marcadores de ADN en la evolución de la cinofilia brasilera – los tests de parentesco Clínica Veterinária, n. 94, p. 74-80, 2011 Aníbal Souza Felipe-Silva

MV, mestre, doutorando Depto. Clín. Cirurg. Vet. – EV/UFMG anibalfelipe.vet@gmail.com

Denise Aparecida Andrade de Oliveira bióloga (BSc), profa. adj. dra. Depto. Zootecnia – EV/UFMG genetica@vet.ufmg.br

Vicente Ribeiro do Vale Filho

MV, prof. tit. phd. Depto. Clín. Cirurg. Vet. – EV/UFMG clinica@vet.ufmg.br

Resumo: Os marcadores de DNA permitem identificar com elevada acurácia o parentesco em cães de raças puras. Isso vem revolucionando a cinofilia em todo o mundo, favorecendo a credibilidade e o desenvolvimento do setor. Informações fidedignas são fundamentais em medicina veterinária, com destaque para a utilização das biotécnicas da reprodução, principalmente a criopreservação e a criação de bancos de sêmen canino, assim como a identificação e a prevenção de doenças genéticas, tornando-se indispensáveis na criação moderna de cães. Uma vez que das análises genéticas baseadas em pedigrees podem resultar erros, gerando transtornos técnicos e prejuízos, objetivou-se demonstrar neste artigo a necessidade do refinamento da seleção pelo pedigree, por meio da obrigatoriedade dos testes de DNA para a cinofilia brasileira. Unitermos: cão, testes genéticos, raça pura, linhagem Abstract: DNA markers allow parentage identification in purebred dogs with high accuracy. This represents a major revolution in cinology all over the world, enhancing the credibility and development of the sector. Accurate information has become essential in veterinary medicine and indispensable in modern dog breeding, especially for the use of reproduction biotechnologies such as semen cryopreservation and the establishment of canine semen banks, as well as for identifying and preventing genetic diseases. Since genetic analysis based in pedigrees can generate erroneous results, causing technical problems and significant financial loss, this article aims to demonstrate the need of refinement in pedigreebased selection through mandatory DNA parentage tests in Brazilian cinology. Keywords: dog, genetic testing, purebred, pedigree Resumen: Los marcadores de ADN permiten identificar con elevada precisión el parentesco en animales de razas caninas puras. Esto ha revolucionando la cinofilia en todo mundo, favoreciendo la credibilidad y el desarrollo del sector. Es de fundamental importancia, que se cuente con Informaciones fidedignas en medicina veterinaria, destacándose en este sentido el uso de las biotecnologías de la reproducción, principalmente la criopreservación en la creación de bancos de semen canino, así como también la identificación y prevención de enfermedades genéticas. Hoy en día, estas técnicas son indispensables para la reproducción moderna de perros. Teniendo en cuenta que los resultados de análisis genéticos basados en registros genealógicos pueden resultar en errores, ocasionando problemas técnicos y perdidas de tiempo y monetárias, el objetivo de esta revisión fue demostrar la necesidad del refinamiento en la selección por el pedigree, a través de la obligatoriedad de las pruebas de ADN en la cinofilia Brasileña. Palabras clave: perro, pruebas genéticas, raza pura, linaje

Introdução Os critérios de seleção e multiplicação de indivíduos ou linhagens adotados pela grande maioria dos criadores na atual cinofilia, arraigados na seleção amadora de outrora, em que unicamente se observam os históricos de pedigrees e desempenho em exposições de morfologia, têm mostrado ineficiência na produção de indivíduos melhoradores, transmissores de características desejáveis à sua progênie 1. O controle de genealogia baseado em pedigrees emitidos por entidades cinófilas, associado ou não ao uso de implantes 74

eletrônicos individuais (microchips), frequentemente contém erros 2 e permite a adoção de fraudes por criadores inescrupulosos ou insensíveis à proposta de transparência na cinofilia, fator crucial para a agregação de valor à atividade. Além disso, o embasamento limitado gerado somente com o auxílio dos pedigrees, em que se objetive o melhoramento genético de cães ou ainda a conservação de raças, tem desfavorecido os resultados pretendidos, devido à reduzida acurácia gerada pelos erros de pedigree 3-6. A autenticidade das informações genéticas e sua utilização

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para o acurado estabelecimento do parentesco em cães de raças puras vêm revolucionando a cinofilia no mundo e favorecendo a qualificação e o desenvolvimento do setor 7-9. Os benefícios alcançados com a utilização das informações propiciadas pelos marcadores de DNA, por exemplo, na composição de arquivos permanentes e no estabelecimento de programas de criação – quer estes utilizem ou não as biotécnicas de reprodução animal – fazem com que a moderna cinofilia não possa mais distanciar-se desses dados valiosos e de suas aplicações 10-14. A relevância do mercado pet torna-se evidente ao se traçar um paralelo entre o consumo anual de 1,6 milhões de toneladas de ração canina no Brasil e o equivalente em proteína animal de 680 mil bois gordos. Ainda segundo esse levantamento, somente no Brasil os proprietários de cães e gatos gastam o montante de nove bilhões de reais por ano com seus animais, incluídos os gastos com médicos veterinários, lazer e a aquisição de produtos pet 15. Quando consideradas as compras e vendas de cães de raça pura no Brasil, o valor preciso envolvido é desconhecido, mas sabidamente expressivo. A análise conjunta desses dados aponta para a mudança de um paradigma brasileiro de acordo com o qual esse mercado é considerado como desprovido de interesse econômico e zootécnico 16,17. Uma importante cota desse segmento crescente deverá estar associada, em um futuro próximo, a tecnologias como os marcadores de DNA, capazes de gerar credibilidade e dar estabilidade à atividade cinófila, principalmente quando associadas ao uso das biotécnicas da reprodução, em especial perante o aumento da utilização e do comércio de sêmen congelado, opções que já encontraram restrições até em clubes cinófilos de países desenvolvidos – como o Japanese Kennel Club 7 – mas que a cada ano vêm sendo mais demandadas ao clínico veterinário por criadores de países desenvolvidos e também do Brasil.

Seleção pelo pedigree A seleção pelo pedigree consiste na escolha de animais de acordo com o desempenho dos ascendentes. É um processo útil, notadamente para as características de baixa ou média herdabilidade, em que os fenótipos expressados pelos indivíduos não permitem a estimativa real dos seus genótipos. A seleção pelo pedigree permite realizar uma avaliação mais precoce dos animais, uma vez que a referência será o desempenho dos seus ascendentes e não a dos próprios indivíduos 22. Apesar de importantes limitações relacionadas à amostragem e à segregação aleatória de genes no processo hereditário responsável pela transmissão de heranças diferentes a Aníbal Souza Felipe-Silva

Marcadores de DNA As informações genéticas dos organismos vivos estão armazenadas nas sequências do DNA que compõem seu genoma. Há, no entanto, variações significativas (polimorfismos) quando se comparam as sequências de nucleotídeos do DNA de indivíduos, mesmo dentro da espécie ou raça 7,8. A análise dessas variações (marcadores de eleição) por métodos laboratoriais que determinam a sequência do DNA desses indivíduos possibilita, além da determinação do parentesco, sua classificação dentro das respectivas raças, a identificação genética para aplicações legais e forenses e a identificação de áreas do genoma responsáveis por doenças genéticas. Os microssatélites são segmentos curtos de DNA de dois até seis pares de base (pb), que se repetem em sequências simples, de forma aleatória, por todo o genoma de todos os organismos eucariotos 18 (Figura 1). São relativamente abundantes e altamente polimórficos, com herança mendeliana. As repetições específicas dos locos de microssatélites são facilmente detectadas pelo uso da técnica de amplificação (PCR) 18,19. Sua hipervariabilidade, codominância e dispersão pelo genoma são as principais razões para sua utilização como marcadores em estudos genéticos, apesar de eles frequentemente serem encontrados em regiões não codificantes

dos genes 18,19. Nos indivíduos eucariotos pode-se encontrar aproximadamente uma sequência de microssatélites a cada 10.000 pb 18. Estima-se que sua taxa de mutação seja alta e que com frequência há um grande número de alelos de tamanho variáveis em um simples locus 18,19. No caso da cinofilia, cujo principal alvo são os cães de raças puras e cujas taxas de endogamia são geralmente elevadas 20,21, essa hipervariabilidade acessada pelos microssatélites favorece a identificação do parentesco mesmo em populações endogâmicas 20. Outros marcadores de DNA cada dia mais utilizados são os SNPs (single nucleotide polymorphism ou nucleotídeo de polimorfismo simples), que são mutações pontuais que ocorrem no genoma e, por serem mais prevalentes, geram mais marcadores em potencial – em comparação a outros tipos de marcadores polimórficos – perto de ou sobre qualquer locus de interesse. Outra vantagem dos SNPs consiste em estarem distribuídos uniformemente pelo genoma e, com maior frequência, estarem localizados em regiões codificantes ou muito próximo aos genes 18. Como desvantagens, os SNPs apresentam pouca quantidade de informação por locus (geralmente são sistemas bialélicos) 18. O conteúdo de informação por cada um desses marcadores é menor que o proporcionado pelos marcadores microssatélites multialélicos 18. Requerem-se cerca de cinco marcadores SNPs para se obter informação similar à de um marcador microssatélite e, portanto, grande número de SNPs testados para investigar todo o DNA 19. Consequentemente, como o custo do processo é maior, eles não são utilizados na prática para a elaboração dos testes de parentesco.

Figura 1 - Ilustração da disposição de um microssatélite ao longo do genoma

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dispositivos em evitar a emissão de falsos pedigrees no Brasil é, no entanto, questionável. O fato de a eficácia dos microchips ser questionável dá-se porque os verificadores de ninhadas não portam os leitores magnéticos capazes de identificar corretamente a mãe e, quando os possuem, não necessariamente o padreador está disponível no local do nascimento e da verificação da ninhada, para que sua identidade possa ser demonstrada pelo dispositivo eletrônico. Além disso, filhotes de ninhadas diferentes podem ser inseridos entre uma ninhada de idade similar, sendo erroneamente identificados e registrados, mesmo por um avaliador experiente. Ademais, a maioria dos clubes não exige verificadores credenciados para o registro e homologação das ninhadas; e, para os clubes que os exigem, o custeio das despesas do verificador, em especial em um país de dimensões continentais como o Brasil, na maioria das vezes inviabiliza a atividade, gerando prejuízos. Frequentemente, no Brasil, a verificação das ninhadas produzidas é realizada por pessoal autorizado pelos clubes, porém não competente no sentido legal e sem formação técnica e especializada – ou seja, verificadores não graduados em medicina veterinária ou profissionais não competentes

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irmãos diferentes (inclusive dentro da mesma ninhada), a seleção por pedigree é tão mais eficiente quanto mais próximo for o parentesco dos ascendentes, sendo pouco informativa a inclusão de mais de três gerações nesse tipo de registro. As possíveis influências de manejo sobre o desempenho dos animais contribuem, ainda, para as limitações do processo de seleção por pedigree, da mesma forma que a falta de informações de natureza zootécnica 22. Análises genéticas em raças caninas baseadas em pedigree podem gerar resultados errôneos 5. Em primeiro lugar, como os pedigrees caninos são conhecidos tipicamente para um pequeno número de gerações, os indivíduos apontados como dotados, por exemplo, de coeficientes de endogamia nulos podem, entretanto, apresentar coeficientes diferentes de zero. Segundo, devido às falsas comunicações de paternidade em ninhadas, os pedigrees de cães frequentemente apresentam erros 2. Com o objetivo de minimizar as falsas comunicações de paternidade, prejudiciais ao melhoramento genético 2,4-6, temse observado na criação de cães o aumento da utilização de dispositivos subcutâneos emissores de frequências de rádio, mais conhecidos como microchips. A real eficácia de tais

Figura 2 - Modelo de registro genealógico proposto para a cinofilia brasileira, com inclusão do teste de DNA. Exemplo de um cão macho de raça pura

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para o exercício legal da zootecnia, ainda que com experiência em cinofilia. Também não são realizadas coletas de material genético para a confecção de testes de parentesco baseados na avaliação do DNA dos padreadores e de todos os filhotes a serem registrados, mesmo sabendo-se que essa ferramenta apresenta elevada acurácia 3,7-9 e comprovação científica. Os microchips, por si, não são capazes de determinar o correto parentesco e de garantir a não ocorrência de fraudes no processo de registro animal, uma vez que, para tanto, todas e quaisquer coberturas sofridas pela futura mãe da ninhada devem ser acompanhadas in loco por um agente fiscalizador munido de leitor magnético que garanta a identidade dos pais, o que é virtualmente impossível. Além do mais, foram descritos casos de metástase pela utilização do implante subcutâneo de microchip 23-25 em ratos e em um cão. Não obstante, caso o cão possua análise de DNA em arquivo permanente, não há o risco de extirpação cirúrgica do implante em caso de tentativa de fraude. Considerando as peculiaridades da cinofilia, que a tornam uma singular criação de animais de expressivo interesse econômico dentro do setor pet, conclui-se que a seleção pelo pedigree continuará sendo a tônica em todo o mundo no que se refere à criação de cães para fins comerciais. A seleção genética de cães, reprodutores e matrizes baseada no modelo animal e também a execução de testes de progênie são inviáveis economicamente para essa atividade. Portanto, resta o refinamento da seleção pelo pedigree, estabelecendo-se a exigência dos exames de DNA na cinofilia brasileira. Esses testes devem ser realizados por laboratórios de genética animal, credenciados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), assim como pela International Society for Animal Genetics (ISAG). Os painéis de DNA ao serem incorporados aos registros genealógicos dos cães (Figura 2) permitem comparação plena, explorando a máxima eficácia desse tipo de seleção e, assim, agregam maior valor à atividade cinófila profissional.

Testes de parentesco Os microssatélites são os marcadores-referência recomendados pela ISAG 26 para os testes de parentesco, devido à sua alta especificidade e acuidade em determinar importantes variáveis polimórficas presentes no genoma dos indivíduos avaliados, ou seja, por permitirem identificar geneticamente um indivíduo com inigualável acurácia e com uma excelente relação custo-benefício. As precisas identificações de parentesco e, consequentemente, a ausência de erros nos pedigrees proporcionados pelos marcadores de DNA, além de outros fatores, são peças-chaves para que os processos de análise, seleção e melhoramento genéticos possam ser conduzidos com relativo êxito, especialmente quando se considera a redução da frequência de genes recessivos indesejáveis, desde que existam marcadores genéticos ou fenotípicos associados 22,27. O DNA dos padreadores e da ninhada, presente nas amostras coletadas pelo veterinário (swabs bucais, pelos com bulbo ou sangue em heparina), deverá ser extraído por protocolos de rotina nos laboratórios credenciados pelo MAPA. Os marcadores microssatélites do painel recomendado pela ISAG (2008) 26, cujas regiões-alvo são amplificadas por PCR e os produtos marcados com f0luorescência, são analisados por eletroforese capilar e a leitura é realizada por sequenciador automático, sendo os dados analisados por softwares específicos. Além da constatação inequívoca do parentesco baseada na coleta do clínico, o importante papel do médico veterinário de apontar possíveis genes, linhagens e cruzamentos, em função dos quais as chances de ocorrência de doenças genéticas estejam aumentadas, consistirá aspecto ético fundamental na clínica veterinária do futuro, por preveni-las, melhorando a saúde e o bem-estar dos cães de raças puras 28 e dos seus donos. Por isso também, a importância da garantia de pedigrees confiáveis na clínica veterinária.

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Aníbal Souza Felipe-Silva

Figura 3 - Nome, localização, extensão e sequências direta e reversa dos 22 primers recomendados pela ISAG-2008 para teste de parentesco em cães. Adaptado de: http://www.ncbi.nlm.nih.gov

O painel de marcadores atualmente recomendados pela ISAG para os testes de parentesco em cães encontra-se na figura 3. O poder de exclusão de falsos padreadores promovido pelos testes de parentesco baseados em marcadores microssatélites de DNA tem atingido valores muito expressivos em diferentes raças caninas em todo o mundo, sendo frequente a confiabilidade acima de 99,5% 3,7-9 quando, além da provável progênie a ser testada, ambos os genitores são genotipados. Dessa forma, é importante que se utilize um painel internacionalmente padronizado e validado de marcadores genéticos para que haja meios de comparar os diferentes resultados obtidos ao redor do mundo. Em estudo realizado na Polônia testando 19 microssatélites incluídos no painel da ISAG para controle de paternidade em 28 cães da raça borzoi, determinou-se com 99,9998% de assertividade os pedigrees incorretos 9. No Brasil, em trabalho inédito com 26 cães puros da raça fila brasileiro, originados das principais linhagens puras ainda existentes no país e com o auxílio de 21 microssatélites recomendados pela ISAG, a acurácia na determinação do parentesco na raça foi de 99,99% 3, aumentando, além da procura dos testes de DNA para essa raça, também a demanda por criadores de outras raças. Em experimento conduzido no Japão com 44 cães da raça beagle e 22 labradores retriever, com o objetivo de analisar o poder de exclusão de 20 marcadores microssatélites de DNA em testes de parentesco, obteve-se, respectivamente, 99,9994% e 99,992% de acurácia em modelo baseado nos efeitos combinados das frequências alélicas desses marcadores 7. Em estudo similar 8, porém utilizando dois painéis combinados (10 e 7 marcadores microssatélites), foram estudadas 108 diferentes raças pertencentes ao American Kennel 78

Club e em 100% delas o poder de exclusão dos marcadores ultrapassou 99%. Cruzamentos múltiplos ou promíscuos Por se tratar de uma espécie plurípara (muitos filhotes por parto), uma excelente aplicação dos testes de parentesco por marcadores de DNA na clínica veterinária é a confirmação de paternidade após a realização de cruzamentos múltiplos ou promíscuos pelo criador. Tal estratégia otimiza o uso das cadelas de raças puras, no sentido de testar a qualidade de seus produtos com mais de um macho por ciclo estral. Tal estratégia seria especialmente interessante nas raças mais prolíficas, como as de grande porte, uma vez que produzem ninhadas maiores e as chances de fecundação por espermatozoides de machos distintos são potencialmente aumentadas 13. Outro aspecto relevante para a adoção dos cruzamentos promíscuos, com identificação genética da prole por exames de DNA, seria a melhora de baixas taxas de concepção em cadelas inseminadas com sêmen congelado, eventualmente com baixo poder fecundante 28, que estariam aptas a novos cruzamentos ainda em período fértil, por monta natural ou inseminação com sêmen fresco ou resfriado, evitando-se a perda potencial de um cio e a amenização do prejuízo causado por falhas na fecundação (Figura 4). Considerações finais A verificação de paternidade por meio do DNA já é realidade na criação profissional de cavalos da raça mangalarga marchador, no Brasil, cuja associação de criadores (ABCCMM) somente efetua registro de animais mediante a apresentação dos testes de parentesco realizados em laboratórios autorizados. Da mesma forma, desde 1978, a

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Aníbal Souza Felipe-Silva

Figura 4 - Heredograma de cruzamentos promíscuos na espécie canina

Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) também exige, para efeito de registro genealógico, que os animais produzidos por monta natural ou com o auxílio das biotécnicas da reprodução mais avançadas sejam testados para parentesco. Rapidamente os testes de tipagem sanguínea vêm sendo substituídos pelos exames baseados em marcadores microssatélites de DNA.

Como o governo brasileiro insiste em ignorar a atividade cinófila como dotada de valor econômico e zootécnico 17, no Brasil, qualquer associação de criadores de cães (clube) pode realizar registros genealógicos, o que agrava os problemas gerados pela falta de critério e fiscalização na emissão de pedigrees ou registros individuais (iniciais ou não) e registros de ninhadas. É importante, portanto, que os compradores passem a exigir que os testes de parentesco, obtidos por testes de DNA realizados em laboratórios credenciados, provenientes de material coletado por verificadores de ninhada médicos veterinários e com experiência em cinofilia, sejam incorporados aos registros genealógicos dos animais a serem adquiridos, como forma de garantia de procedência e transparência, inclusive aumentando o valor agregado dos animais. A fragilidade dos sistemas de registros genealógicos da cinofilia brasileira promove a falta de credibilidade, a depreciação da atividade perante a sociedade em geral e prejuízos incalculáveis ao comércio nacional e internacional de cães e de materiais biológicos como sêmen e, em um futuro próximo, também ao de embriões caninos, afetando também o retorno financeiro de clínicos veterinários. Os prejuízos derivados da falta de obrigatoriedade dos testes de parentesco baseados nos marcadores de DNA para a cinofilia brasileira são ininteligíveis e inaceitáveis, uma

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vez que esses testes agregadores de valor e acurácia, imprescindíveis para a efetiva modernização do setor, já estão disponíveis a custos que decrescem sensivelmente. Referências

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Meningoencefalocele congênita em cão – relato de caso Congenital meningoencephalocele in a dog – case report Meningoencefalocele congénita en un perro – reporte de un caso Clínica Veterinária, n. 94, p. 82-88, 2011 Eduardo Alberto Tudury

médico veterinário, dr., prof. assoc. III DMV/UFRPE eat@dmv.ufrpe.br

Bruno Martins Araújo

médico veterinário, mestrando DMV/UFRPE bmaraujo85@hotmail.com

Michelle Suassuna de Azevedo Rêgo médica veterinária, mestranda DMV/UFRPE

Abstract: This paper reports the case of a two-year old Maltese dog which from birth presented with a massive prominence in the frontal region of the skull and walked in large circles. General clinical examination and neurologic examination suggested meningeal and/ or encephalic herniation. Transillumination and ultrasound examination of the region supported the diagnosis of a congenital meningoencephalocele and the option for surgical treatment. Ten days after surgery, in which the herniated encephalic tissues were excisioned, no postoperative complications were observed. On its last visit to the clinic, three months after surgery, the animal showed improved mental status and walked in circles less often. This situation remained the same during the subsequent nine months, as informed by the owner over the phone. Keywords: congenital abnormalities, encephalocele, surgery

michellesuassuna@hotmail.com

Aline Talina Berlim

médica veterinária setor de ultrassonografia da Medivet alineberlim@gmail.com

Cássia Regina Oliveira Santos graduanda DMV/UFRPE

cassiareginavet@yahoo.com.br

Valdemiro Amaro da Silva Junior médico veterinário, dr., prof. assoc. II DMFA/UFRPE vajunior@dmfa.ufrpe.br

Amanda Camilo Silva

médica veterinária, doutoranda DMV/UFRPE

amandacamilovet@yahoo.com.br

Marcella Luiz de Figueiredo médica veterinária, doutoranda DMV/UFRPE

Resumo: O presente trabalho relata o caso de uma cadela maltesa de dois meses de idade que desde o nascimento exibia proeminência volumosa na região frontal do crânio e andava em círculos amplos. Diante dos achados do exame físico e neurológico, suspeitou-se de uma herniação meníngea e/ou encefálica, sendo realizado exame de transiluminação e ultrassonográfico da região, pelos quais foi possível diagnosticar uma meningoencefalocele congênita e optar pelo tratamento cirúrgico. Dez dias após o procedimento cirúrgico, através do qual foram excisados os tecidos encefálicos herniados, não foram observadas complicações pósoperatórias. Três meses após a cirurgia, foi realizada a última consulta clínica. O animal apresentava melhora do estado mental e diminuição do andar em círculos, situação mantida por nove meses, conforme informação telefônica do proprietário. Unitermos: anormalidades congênitas, encefalocele, cirurgia

Resumen: En el presente trabajo se reporta el caso de una perra Maltesa de dos meses de edad, que desde su nacimiento presentaba una masa de gran volumen en la región frontal y andar en círculos grandes. Teniendo en cuenta los hallazgos del examen físico y del examen neurológico, se sospechó de una hernia de meninges. Atraves de los exámenes de transiluminación y ecografía de la región frontal, se pudo diagnosticar un meningoencefalocele congénito y se optó por un tratamiento quirúrgico. En la cirugía se extirparon los tejidos que componían la hernia. No se evidenciaron complicaciones post operatorias y tres meses después de la cirugía, pudo observarse una mejoría de los síntomas neurológicos, con disminución del deambular en círculos, situación esta que se mantenía nueve meses después, según informes telefónicos del dueño. Palabras clave: anomalias congénitas, encefalocele, cirugía

marcellalf@hotmail.com

Introdução Meningoencefalocele é a protrusão de tecido encefálico e meninges através de um defeito ósseo do crânio (crânio bífido ou craniosquise) 1-7. O material protraído, com forma de tumor ou hérnia, é recoberto de pele e pode conter meninges (meningocele), encéfalo (encefalocele) ou ambos (meningoencefalocele) 8-13. Essa alteração já foi descrita em seres humanos, felinos, coelhos e suínos 3, ocorrendo espontaneamente em animais 2,4, associada à administração de medicamentos teratogênicos, 82

como a gliseofluvina, em mulheres e gatas 2,4,6,14,13, podendo ainda surgir por lambedura da mãe 3. É incomum em animais 1, ocorrendo ocasionalmente em gatos e raramente em cães 13. Nos animais afetados, o tubo neural é fechado corretamente e os hemisférios cerebrais têm desenvolvimento normal, mas não conseguem separar-se da pele, razão pela qual o processo de ossificação intramembranosa do crânio é severamente inibido, resultando na criação de um grande defeito ósseo craniano através do qual o encéfalo e as meninges se projetam 2,4,6,14,15. Na maioria dos casos, há envolvimento do

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No exame neurológico, observou-se discreta depressão da consciência, perda de intelecto, caminhar compulsivos em círculos amplos para a direita, ausência de resposta a estímulos auditivos, ausência de reação de ameaça bilateralmente, com reações posturais e reflexos espinhais sem alterações, sugerindo uma lesão no córtex cerebral. Diante desses achados, suspeitou-se de uma herniação meníngea e/ou encefálica, sendo realizados exames de transiluminação e ultrassonográfico do tumor e da região. No exame de transiluminação, observou-se uma estrutura pediculada envolta por líquido, projetando-se através do crânio (Figura 2). No exame ultrassonográfico, observou-se aumento de volume de 2,1cm, composto por imagem hipo e hiperecogênicas compatível com giros cerebrais, envolto por conteúdo anecogênico, com presença de

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telencéfalo, do osso frontal e do frontoparietal, e com menos frequência das regiões nasal ou occipital. Muitas vezes os ventrículos laterais estão dilatados, aumentando o volume do tecido herniado 2,6,14. Nos casos descritos na literatura, os animais foram apresentados com proeminências volumosas na região frontal do crânio e na cavidade nasal, exibindo alterações de consciência, deficiências auditiva e visual, andar em círculos, convulsões e hemorragia nasal 1,3,16,17. Métodos de diagnóstico por imagem são essenciais para o diagnóstico da meningoencefalocele em cães 1, sendo preferível a utilização conjunta da tomografia computadorizada (TC) e da ressonância magnética (RM) 1,9. A TC é preferível para a identificação e a localização precisa do defeito ósseo, e a RM, para estabelecer a conexão do conteúdo herniado com o compartimento intracraniano 1. Não há diretrizes para o tratamento ideal em cães, sendo que o tratamento dessa afecção é adaptado da literatura humana 1. Em seres humanos, a excisão cirúrgica do tecido herniado e o fechamento da dura-máter são o tratamento de escolha 1,9,10,18,19, uma vez que a pele que recobre o saco herniário poderá sofrer transtornos como a formação de úlceras, que predispõe a infecções secundárias da meningoencefalocele, podendo levar o paciente a óbito 20. O prognóstico costuma ser reservado quando há presença de grande quantidade de tecido encefálico herniado ou quando o sistema ventricular penetrou no saco 10. Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de relatar um caso de meningoencefalocele congênita em cão, abordando sua etiologia, os sinais clínicos, o diagnóstico e o tratamento cirúrgico, em virtude da raridade dessa afecção na medicina veterinária.

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Relato de caso Foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco uma cadela maltesa de dois meses de idade que desde o nascimento apresentava uma proeminência volumosa localizada na região frontal do crânio (Figura 1) e andava em círculos amplos. Segundo o proprietário, o animal nasceu de uma ninhada de outros três filhotes normais, onde a mãe tinha dois anos de idade e teve três gestações anteriores, nos quais as duas primeiras se desenvolveram normalmente e na terceira, houve aborto dos filhotes. Foi informado ainda que nunca fora administrado nenhum medicamento à mãe nos períodos próximos as gestações. No exame físico foi observado um aumento de volume de consistência macia e flutuante, de aproximadamente 3,2 x 2,5cm, projetando-se através de defeito ósseo circular situado na região frontal do crânio (Figura 1), sem mais alterações dignas de nota.

Figura 1 - Imagens de cadela maltesa, fêmea, dois meses de idade, apresentando proeminência volumosa de aproximadamente 3,2 x 2,5cm na região frontal do crânio

Figura 2 - Estrutura pediculada envolta por líquido projetandose através de defeito ósseo no crânio, visualizada por meio de transiluminação

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vascularização visibilizada por meio de doppler colorido, protruido pela crâniosquise (Figura 3). Diante dos resultados dos exames físico, neurológico, transiluminação e de imagem, foi possível diagnosticar uma meningoencefalocele, pelo qual se optou pelo tratamento cirúrgico, que foi realizado sete dias após esse diagnóstico inicial. Durante esse período, foi realizado hemograma préoperatório, que se encontrava dentro dos padrões da espécie e da idade, sendo ainda recomendado proteção da meningoencefalocele, no intuito de evitar traumatismos e lesões cutâneas que pudessem predispor à infecção do tecido hérniado. No procedimento cirúrgico (Figura 4), após o animal ser posto em decúbito esternal, com a cabeça elevada e fixa por meio de fitas adesivas, com o cuidado de manter alta a taxa de oxigenação e baixos níveis de CO2 e de evitar a compressão das veias jugulares 21, foi realizada a antissepsia local com álcool, iodo e clorexidine e colocados os panos de campo. A princípio, foi realizada pequena incisão cutânea com lâmina de bisturi n. 23, através da qual foi feita a divulsão da mesma com tesoura de Metzembaum, para expor e descolar da pele a dura-máter. Em seguida, realizou-se punção subdural com agulha 25 x 7, acoplada à seringa descartável estéril, através do qual foi drenado cerca de dois mililitros de líquido cefalorraquidiano (LCR) de aspecto hemorrágico. Logo após, foram aplicados pontos de reparo na dura-máter,

A Figura 3 - A ) Proeminência volumosa de 2,1cm projetando-se através do crânio, composta por imagens hipo e hiperecogênicas compatíveis com giros cerebrais, envolta por conteúdo anecogênico

prévio à realização da durotomia, realizada inicialmente com a ponta angulada de uma agulha hipodérmica 25 x 7 e concluída com tesoura oftálmica de Castroviejo, tornando

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B

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Figura 4 - Imagens do procedimento cirúrgico de correção de meningoencefalocele congênita em um cão. A) Animal em decúbito esternal, com a cabeça elevada e fixa por meio de fitas adesivas e com o cuidado de evitar a compressão das veias jugulares. B) Incisão cutânea, feita com bisturi. C) Divulsão da pele e de tecido subcutâneo com tesoura de Metzembaum, para expor e descolar destes a dura-máter. D) Punção subdural com agulha 25 x 7 acoplada a seringa descartável, em que foram drenados cerca de 2mL de LCR de aspecto hemorrágico. E) Pontos de reparo na dura-máter para realização da durotomia. F) Tecido cerebral exposto após durotomia.

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B B) Notar a presença de vascularização visibilizada por meio de Doppler colorido projetando-se através de defeito ósseo circular no crânio

possível expor o tecido cerebral hérniado. Para remoção deste, foi realizada uma ligadura em massa na base do tecido herniado, ao nível do defeito ósseo, com fio poliglecaprone a

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a) Monocryl® 3-0. Ethicon. Somerville. New Jersey / Johnson & Johnson. São José dos Campos, SP b) Nylon 3-0. Somerville Ltda. Jaboatão dos Guararapes, PE c) Cefalexina suspensão - 250mg/5mL. LAFEPE. Recife, PE d) Predsim® 15mg/ 5mL. Mantecorp. São Paulo, SP e) Dorless V®. Agener União. Pouso Alegre, MG

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G H

e excisão do tecido encefálico excedente com a tesoura de Castroviejo, sendo em seguida, realizada a hemostasia de alguns sangramentos advindos de vasos cerebrais, com eletro bisturi bipolar. Nos procedimentos de síntese, suturou-se a dura-máter com pontos de Sultán , onde foi possível melhor visualização do defeito ósseo do crânio (Figura 5). Após cobrir-se a duramáter mediante sutura mediana da musculatura temporal, com pontos de Wolff, realizou-se remoção do excesso de pele, aproximação do tecido subcutâneo com sutura ziguezague e sutura da pele com fio de nylon b em padrão isolado simples. Imediatamente após a cirurgia, o tecido cerebral hérniado foi fixado em formol a 10% (Figura 6) e enviado para exame histopatológico. No pós operatório, foram prescritos cefalexina c (30mg/kg, via oral, a cada oito horas por dez dias), prednisona d (1mg/kg, via oral, a cada 12 horas, por sete dias) e cloridrato de tramadol e (1mg/kg, via oral, a cada oito horas, por três dias).

Bruno Martins Araújo

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G) Ligadura em massa do tecido herniado na base do defeito ósseo e excisão do tecido encefálico excedente com tesoura de Castroviejo. H) Hemostasia com eletrobisturi bipolar. I) Sutura da dura-máter com pontos de Súltan. J) Sutura mediana da musculatura temporal com pontos de Wolff. K) Plastia cutânea para remoção do excesso de pele. L) Término do procedimento cirúrgico, após a dermorrafia com fio de nylon

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Figura 6 - Tecido cerebral herniado, medindo 2,9 x 2,3cm, após remoção cirúrgica e fixação em formol a 10%

Cássia Regina Oliveira Santos

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Cássia Regina Oliveira Santos

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Figura 5 - Defeito ósseo circular na região frontal do crânio, mais bem observado após excisão do tecido herniado e sutura da dura-máter

Figura 7 – A) Tecido do córtex cerebral com presença de células piramidais (setas). Aumento de 100x. B) Vasos da leptomeninge (setas). Aumento de 100x. C) Tecido cortical cerebral, presença de necrose neuronal (setas). Aumento de 400x. D) Leptomeninge (seta). Aumento de 400x. Todos corados com HE

No exame histopatológico, observou-se a presença de leptomeninge, tecido do córtex cerebral, células piramidais, alguns focos de necrose neuronal e neurônios vacuolizados presentes no parênquima encefálico (Figura 7). Dez dias após o procedimento cirúrgico, foi realizada a 86

remoção dos pontos, não sendo observadas complicações pósoperatórias, permanecendo o animal com o quadro neurológico inalterado em relação ao primeiro atendimento (Figura 8). Três meses após o procedimento cirúrgico, foi realizada a última consulta clínica ao animal, que apresentava melhora

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Figura 8 - Imagem do cão após remoção dos pontos (sem complicações pós-operatórias), dez dias após o procedimento cirúrgico, em que o animal permanecia com o quadro neurológico inalterado

do estado mental, funções cognitivas e diminuição do andar em círculos compulsivos, situação mantida por nove meses, conforme informação telefônica do proprietário. Discussão O diagnóstico de meningoencefalocele congênita foi obtido por meio dos dados da resenha, da anamnese e dos achados dos exames físico e neurológico, sendo confirmado por

meio de exames complementares de imagem (transiluminação e ultrassonografia). A RM e a TC são os melhores meios de diagnóstico da meningoencefalocele 1,9,22, mas neste caso, por falta desses recursos, foram realizados apenas a transiluminação e a ultrassonografia, que se mostraram métodos simples, eficazes e de baixo custo no diagnóstico dessa afecção, o que está de acordo com alguns autores que mencionam que a ultrassonografia é uma boa ferramenta diagnóstica na detecção de alterações morfológicas e estruturais do cérebro do cão 9,23, e que a transiluminação é um método simples e inócuo, que geralmente permite a identificação do tecido nervoso dentro do saco herniário, podendo ser realizado pelo clínico no decorrer de um exame de rotina 24. Os sinais clínicos eram compatíveis com uma lesão cortical 7 e semelhantes aos descritos na literatura, com exceção das convulsões e das hemorragias nasais, que são mais frequentes em cães com meningoencefalocele intranasal 1,3,16,17. Após a remoção do tecido cerebral herniado, o animal apresentou melhora dos sinais clínicos, uma vez que os cães não têm importantes funções vitais relacionadas ao córtex cerebral. Embora o córtex motor seja importante para a atividade motora voluntária, não é necessário para uma marcha e postura relativamente normais; os animais com lesões corticais podem andar e correr com déficits neurológicos mínimos, mas com perda do controle dos movimentos finos 7. Não foram encontradas na literatura veterinária revisada técnicas de correção cirúrgica de meningoencefalocele congênita em cães, sendo o procedimento cirúrgico adaptado das técnicas descritas nos textos de medicina humana 1,9,10,18,19. A cirurgia realizada se mostrou eficaz para aplicação em cães, uma vez que o procedimento cirúrgico ocorreu sem dificuldades e não foram observadas complicações trans e pósoperatórias. Isso dá credibilidade aos autores 1 que mencionam que o tratamento cirúrgico realizado em seres humanos pode ser perfeitamente utilizado em cães. Os procedimentos de hemostasia utilizados (ligadura em

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massa e utilização do eletrobisturi bipolar) foram apropriados para coibir a hemorragia dos vasos presente no tecido herniado – previamente sinalizados pelo Doppler –, não ocasionando danos às funções neurológicas já existentes, nem transtornos transoperatórios 25. A escolha do poliglecaprone – absorvível e pouco reativo 25 – e a sutura tipo Sultán foram eficientes no fechamento das paquimeninges, complementando-se por segurança a síntese com aproximação até a linha mediana de ambos os músculos temporais, para proteger as meninges, o encéfalo e o local da craniósquise, técnica já recomendada para procedimentos cirúrgicos encefálicos 26,27. Provavelmente a meningoencefalocele congênita ocorreu espontaneamente nesse animal. De acordo com alguns autores 2,4,14, ela pode se desenvolver espontaneamente, por administração de medicamentos teratogênicos ou por lambedura da mãe, mas neste caso nunca havia sido administrado nenhum medicamento à mãe e o aumento de volume estava presente desde o nascimento. De acordo com alguns autores, o exame microscópico do tecido herniado é necessário para verificar os componentes nervosos envolvidos nessa afecção 4, tendo revelado a presença de leptomeninge bastante vascularizada e vasos congestos. Abaixo da leptomeninge, o tecido nervoso do córtex cerebral ficou bem caracterizado. Observaram-se também células piramidais, neurônios com ausência de núcleo e acidofilia caracterizando morte celular por necrose, bem como neurônios vacuolizados e células da glia ativadas. Na consulta realizada três meses após o procedimento cirúrgico, o animal apresentou melhora do quadro neurológico, não sendo observadas complicações inerentes à ressecção cirúrgica do relativamente pequeno tecido herniado, o que vai ao encontro da opinião de alguns autores 10, que mencionam que o prognóstico costuma ser reservado quando há presença de grande quantidade de tecido cerebral ou quando o sistema ventricular penetra no saco. Como não foi excluído o caráter hereditário da meningoencefalocele congênita 3, recomendou-se ao proprietário que impedisse a reprodução de seus animais (mãe e filha). Considerações finais Meningoencefalocele é uma afecção raramente descrita em cães. Dessa forma, torna-se necessário aprofundar o estudo dessa afecção no intuito de desenvolver e padronizar técnicas de diagnóstico e tratamento. O relato do procedimento cirúrgico aqui efetuado poderá servir de roteiro para se operar com eficiência e para obter resultados positivos em casos que futuramente venham a ser diagnosticados. Referências

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Neuropatia isquiática por injeção intramuscular – revisão da literatura e relato de dois casos Ischiatic neuropathy due to intramuscular injection – literature review and report of two cases Neuropatía ciática por inyección intramuscular – revisión de la literatura y reporte de dos casos Clínica Veterinária, n. 94, p. 90-94, 2011 Maíra Santos Severo

médica veterinária, profa. assist. I Núcleo de Medicina Veterinária - UFSE mairasevero@gmail.com

Felipe Purcell de Araújo

médico veterinário, prof. subst. Núcleo de Medicina Veterinária - UFSE felipepurcell@yahoo.com.br

Ana Carolina Medeiros de Almeida médica veterinária autônoma, mestre anacarolinavet@hotmail.com

Eduardo Alberto Tudury

médico veterinário, prof. assoc. II Depto. de Medicina Veterinária - UFRPE respeit@hotmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho é relatar dois casos de neurotoxicidade isquiática após a administração de diaceturato de diminazene em cães, por via intramuscular na região caudal da coxa. Foram atendidos no Hospital Veterinário da UFRPE dois caninos com neuropatia isquiática grave, após aplicação intramuscular de diaceturato de diminazene. Os animais apresentavam claudicação do membro pélvico esquerdo com ausência de propriocepção consciente, reflexos segmentares ausentes (exceto o reflexo femoral), além de ausência de sensibilidade dolorosa profunda em toda a região dorsolateral do tarso esquerdo. Ambos os pacientes foram tratados com protocolo fisioterápico associado a acupuntura, sendo o segundo paciente também submetido a cirurgia de neurólise do nervo isquiático. Os dois obtiveram retorno funcional do membro afetado. Acredita-se que a ação tóxica do diaceturato de diminazene no tecido nervoso também ocorre perifericamente, visto que a aplicação intramuscular deste em ambos os cães acarretou sinais graves de neuropatia isquiática. Unitermos: lesão, neurotoxicidade, ciático Abstract: The goal of this study is to report two cases of sciatic neurotoxicity after administration of diminazene diaceturate in dogs through intramuscular injection into the caudal region of the thigh. Two patients with severe ischiatic neuropathy were assisted at the Veterinary Hospital of UFRPE after intramuscular injection of diminazene diaceturate. Clinical signs included claudication of the left pelvic limb with no conscious proprioception, absence of segmental reflexes (excepting the femoral reflex) and absence of deep pain sensitivity throughout the left dorsolateral tarsus. Both patients were treated with physiotherapy associated with acupuncture, whereas patient number two underwent additional surgical neurolysis of the ischiatic nerve. In both cases, functional restoration of the affected limb was achieved. We concluded that diminazene diaceturate is also toxic to peripheral nervous tissue, since in both patients an intramuscular injection of this compound resulted in severe signs of ischiatic neuropathy. Keywords: injury, neurotoxicity, sciatic Resumen: El objetivo de este estudio es reportar dos casos de neurotoxicidad ciática después de la administración del diaceturato de diminazeno por vía intramuscular en el muslo caudal en dos perros. Fueron atendidos en el Hospital Veterinario de la UFRPE, dos perros con neuropatía severa en el ciático, después de la inyección intramuscular de diaceturato de diminazeno. Los animales presentaron claudicación del miembro pélvico izquierdo sin propiocepción consciente, reflejos segmentarios ausentes (salvo el reflejo femoral), y la ausencia de sensibilidad al dolor profundo en toda la face lateral izquierda del tarso. Ambos pacientes fueron tratados con el protocolo de terapia física asociada con acupuntura, siendo que el segundo paciente fue sometido a cirugía de neurolisis del nervio ciático. Ambos pacientes han tenido recuperación funcional de la extremidad afectada. Se cree que la toxicidad de diaceturato de diminazeno también produce lesiones en el tejido nervioso periféric, ya que la aplicación intramuscular del mismo en ambos los perros provocó graves signos de la neuropatía ciática. Palabras clave: lesiones, neuroxicidad, ciático

Introdução O nervo isquiático é considerado o maior nervo periférico observado na espécie canina 1. Ele deriva do tronco nervoso 90

lombossacral, originado primariamente do sexto e do sétimo nervos lombares, com contribuições do primeiro e do segundo nervos sacrais. O nervo isquiático forma a continuação

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extrapélvica do tronco lombossacral e passa dorsalmente sobre a articulação coxofemoral, continuando distalmente o seu percurso, enviando ramos musculares para os músculos bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso proximalmente 1,2. É um nervo relativamente bem protegido de lesões externas, devido à sua profunda localização próximo ao osso e por estar coberto por uma massa muscular (bíceps femoral, semimembranoso e semitendinoso) 3. As lesões de nervo isquiático constituem uma síndrome bem reconhecida e de etiologia múltipla 4. Podem decorrer de traumas (fraturas de pelve ou fêmur), fraturas/luxação sacroilíaca e sacrocaudal, ferimentos profundos por mordedura ou arma de fogo; e ainda de lesões iatrogênicas como injeções intramusculares, manobras cirúrgicas inadvertidas e pinos intramedulares femorais deslocados 5,6. A neuropatia isquiática também pode desenvolver-se secundária à compressão progressiva e/ou ao englobamento do nervo por tecido fibroso ou calo ósseo, decorrente de complicações de displasia coxofemoral, após a realização de osteotomia tripla da pelve, excisão artroplástica da cabeça e do colo femorais, correções de fraturas acetabulares, isquiáticas e ilíacas e após deslocamentos de pinos intramedulares femorais 4,7,8. Fraturas femorais e pélvicas podem acarretar inflamação e edema acentuado nos tecidos traumatizados, acompanhados de aumento da pressão e isquemia local, o que pode comprometer

também o nervo isquiático 9. Também pode ocorrer neuropatia isquiática após herniorrafias se as suturas aplicadas ao redor do ligamento sacrotuberoso penetrarem ou envolverem o nervo 3. Assim, a lesão nervosa pode resultar de compressão, esmagamento, estiramento, laceração ou transecção completa do nervo. Os sinais clínicos associados à lesão incluem dor, déficit proprioceptivo, disfunção motora característica do tipo neurônio motor inferior (paresia, paraplegia, hipotonia muscular, hiporreflexia, arreflexia, atrofia muscular neurogênica) e hipoestesia ou anestesia 6,10. Pacientes com paralisia do nervo isquiático apresentam hiperflexão tarsal com apoio plantar, ou apoio com a região dorsal dos dígitos; entretanto, o membro pode suportar peso por causa da ação do nervo femoral no músculo quadríceps funcional. As superfícies lateral, dorsal e plantar do membro pélvico apresentam analgesia sensorial. Os reflexos tibial cranial e do gastrocnêmio mostram-se diminuídos ou ausentes, bem como o reflexo de retirada 4,6,10. As lesões do nervo isquiático são mais observadas em cães do que em gatos devido às diferenças anatômicas (maior tamanho e maior tecido gorduroso nos cães) e à variedade de procedimentos cirúrgicos pélvicos realizados nessa espécie 5,7. Injeções intramusculares na região caudal da coxa podem

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ser consideradas um risco potencial de dano ao nervo isquiático 11. Quando administradas dentro desse nervo ou próximo a ele, podem resultar numa variedade de sinais clínicos e o prognóstico de recuperação depende da natureza do material injetado e do grau do dano axonal. Tanto o fármaco quanto o veículo podem causar dano tecidual. Contudo, fármacos como os corticosteroides, parecem ser menos lesivos 12. Em um estudo experimental com ratos, observou-se que a aplicação intramuscular de meperidina e cefalotina na região caudal da coxa apresentou poucos danos ao nervo isquiático, diferentemente da aplicação de penicilina, diazepam e clorpromazina, que promoveram grau máximo de lesão nervosa nos animais 13. O diaceturato de diminazene é uma diamina aromática de atividade comprovada contra protozoários, sendo muito utilizada no tratamento da babesiose em animais domésticos 14. Seu mecanismo de ação e comportamento in vivo ainda não foram elucidados, sendo seu efeito atribuído à interferência na glicogenólise aeróbica e na síntese do DNA do parasito 15,16. Mesmo apresentando bons resultados quanto à sua atividade antiprotozoária, o diaceturato de diminazene apresenta alguns efeitos colaterais e tóxicos. Quando administrado intravenosamente, provoca hipotensão temporária decorrente de vasodilatação periférica. Pela via intraperitoneal, acarreta quadros de vômito e diarreia 17. A maioria dos sinais clínicos agudos de toxicidade ao diminazene são oriundos do sistema nervoso central 18. As principais alterações observadas após a aplicação do fármaco em doses comumente empregadas (35mg/kg) pela via intramuscular foram nistagmo, tremores, ataxia, espasmos musculares e eventualmente óbito. Também pela via intramuscular, observou-se edema no local da injeção de um a três dias após a aplicação 17. O objetivo deste trabalho é relatar dois casos de neurotoxicidade isquiática surgidos após a administração, pela via intramuscular, de diaceturato de diminazene em cães. Acupuntura Baihui, BPG, Be54/E36 (eletro 50-100Hz, VB34) por 20 minutos. Duas sessões semanais.

Fisioterapia Compressa quente por dez minutos duas vezes ao dia durante sete dias. Caminhadas de cinco minutos duas vezes ao dia por duas semanas com pequena bola na região plantar do membro contralateral (sadio), forçando o apoio com o membro afetado. Movimentação passiva das articulações do membro afetado em flexão/extensão e rotação por dez minutos duas vezes ao dia durante duas semanas. Caminhada de cinco minutos com peso de 0,5kg em membro afetado por duas semanas. Caminhada de vinte minutos duas vezes ao dia durante três semanas. Exercício de sentar e levantar, quinze repetições duas vezes ao dia durante três semanas. Escovação do membro afetado três vezes ao dia. Natação: dez minutos duas vezes por semana.

Figura 1 - Exercícios fisioterápicos realizados e pontos de acupuntura estimulados em ambos os cães para tratamento da neuropatia do isquiático

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Relato dos casos Caso 1 Foi atendido no Setor de Clínica de Pequenos Animais da Universidade Federal Rural de Pernambuco um canino poodle de seis anos de idade, pesando 10,5kg, com histórico de claudicação aguda do membro pélvico esquerdo havia três dias, que começou após a aplicação intramuscular de 0,5mL de diaceturato de diminazene. Ao examinar o paciente, evidenciou-se claudicação grau 4 19,20 do membro pélvico esquerdo, com ausência de propriocepção consciente, de reflexos segmentares (exceto o reflexo femoral) e de sensibilidade dolorosa profunda em toda a região dorsolateral do tarso esquerdo. Os demais parâmetros fisiológicos (temperatura, frequência cardíaca e respiratória) apresentavam-se sem alterações. A partir da história e dos achados clínicos, diagnosticou-se neuropatia inflamatória do nervo isquiático por aplicação de substância neurotóxica (diaceturato de diminazene), iniciando-se assim tratamento fisioterápico associado a acupuntura 21,22,23,24 (Figura 1), que durou aproximadamente três semanas. Com o intuito de manter a dorsoflexão dos dígitos, evitando assim traumatismos durante a deambulação, imobilizou-se o membro acometido 25 (Figura 2). Após seis semanas o paciente apresentou retorno da função do membro sem déficits proprioceptivos e da sensibilidade superficial do dígito lateral. Caso 2 Um cão poodle macho de oito meses de idade, pesando sete quilos, foi trazido ao setor de pequenos animais da Universidade Federal Rural de Pernambuco por apresentar impotência funcional do membro pélvico direito havia uma semana. O proprietário relatava início dos sinais clínicos após aplicação intramuscular de 0,5mL de diaceturato de diminazene. Após avaliação clínica, constataram-se parâmetros fisiológicos (temperatura, frequência cardíaca e respiratória) normais, monoparesia grave do membro pélvico esquerdo com ausência das reações posturais e dos reflexos segmentares (flexor, isquiático superior, tibial cranial e gastrocnêmio), dor durante a palpação e a movimentação da musculatura flexora, além de ausência de sensibilidade dolorosa em toda a porção lateral desse membro. Diante da evidência clínica de neuropatia do nervo isquiático e considerando o tempo de ocorrência da lesão, optou-se pelo debridamento cirúrgico (neurólise) seguido de fisioterapia e acupuntura 21,22,23,24. Durante a abordagem cirúrgica realizada entre os músculos bíceps femoral e vasto lateral, observouse hipertrofia do terço médio do nervo isquiático, acompanhada de inflamação dos tecidos adjacentes. Toda a área foi abundantemente lavada com solução salina de NaCl 0,9%; posteriormente, aplicou-se topicamente sobre o nervo isquiático 1mL de dexametasona a, procedendo-se em seguida à aproximação da musculatura, do tecido subcutâneo e da pele. O pós-operatório consistiu em antibioticoterapia (cefalexina b 25mg/kg a cada oito horas durante sete dias), anti-inflamatório (meloxican c 0,1mg/kg a cada 24 horas durante sete dias), realização de compressas frias na região operada (imediatamente após a cirurgia e a cada oito horas nos três a) ACET Dexametasona, Laboratori. Assis, SP b) Celesporin, Ourofino. Cravinhos, SP c) Maxicam, Ourofino. Cravinhos, SP

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Ana Carolina Medeiros de Almeida

primeiros dias após o procedimento cirúrgico), acupuntura e fisioterapia. O protocolo fisioterápico e os pontos de acupuntura estimulados constam na figura 1. Da mesma forma que no caso 1, foi realizada bandagem nos dígitos do membro acometido. Aproximadamente sete dias após a cirurgia o animal passou a apresentar apoio parcial do membro afetado, subindo e descendo escadas sem manifestar sinais acentuados de dor. Quinze dias após o procedimento cirúrgico o paciente já apoiava corretamente o membro no chão, entretanto a dor superficial permanecia ausente.

Figura 2 - Cão utilizando bandagem para correção da dorsoflexão dos dígitos evitando assim traumatismos durante a deambulação

Discussão O nervo isquiático está localizado entre os músculos caudais da coxa 2, característica topográfica essa que o protege de acidentes iatrogênicos causados pela aplicação intramuscular de fármacos 3. Porém, nesses dois casos, observou-se que o nervo pode ser lesionado após a aplicação intramuscular do diaceturato de diminazene na musculatura caudal da coxa de cães, gerando como consequência um distúrbio total de suas funções, devido à neurotoxicidade do fármaco citado. Estes achados corroboram o descrito na literatura, que afirma que essa localização constitui um risco iminente de danos ao nervo isquiático, acarretando uma variedade de sinais 17. Nos dois pacientes deste estudo, observaram-se sinais

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neurológicos graves e específicos de mononeuropatia isquiática, tais como: impotência funcional da musculatura inervada pelo nervo isquiático (miótomos), ausência da resposta proprioceptiva consciente, arreflexia isquiática (reflexo flexor, tibial cranial e isquiático superior), além de ausência de dor profunda no dígito lateral do membro pélvico afetado. Esses sinais também foram observados em outros pacientes descritos na literatura 12. A aplicação intramuscular de diaceturato de diminazene provocou sinais de neurotoxicidade encefálica em seis cães 26, entretanto, a literatura pesquisada não relata a ocorrência de neuropatia isquiática após a aplicação do diaceturato de diminazene na musculatura caudal da coxa em cães. Acredita-se que os sinais neurológicos de neuropatia isquiática observados nos animais deste relato decorreram da ação neurotóxica local do diaceturato de diminazene, visto que no transoperatório do paciente do caso 2 notou-se exuberante reação inflamatória do nervo isquiático e dos tecidos adjacentes. Com base no potencial neurotóxico dessa droga já mencionado por outros autores 26,27, associado à indicação atual de se utilizarem agulhas de injeção descartáveis, a possibilidade de essas lesões terem sido provocadas pela ação traumática da agulha é remota. Apesar da gravidade da lesão neurológica, os dois pacientes deste estudo obtiveram retorno funcional do membro afetado, sem sinais de parestesia ou alodinia. Porém, o paciente do caso 2 não recuperou a sensibilidade superficial do digito lateral nem mesmo passadas três semanas após a operação. Atribui-se a boa recuperação dos pacientes ao protocolo de tratamento constituído pela associação de acupuntura a fisioterapia, o que corrobora as recomendações da literatura 21,22,23. A complementação da terapia com acupuntura baseou-se na experiência de alguns autores que recomendam o uso dessa modalidade de tratamento médico veterinário para lesões de nervos periféricos 21,24. Alguns autores indicam a musculatura do quadríceps ou lombodorsal (músculo ileocostal) para aplicação de fármacos injetáveis pela via intramuscular em cães. Os mesmos autores também afirmam que os músculos semitendinoso e semimembranoso devem ser evitados devido ao risco de lesão do nervo isquiático 11,28. Considerações finais O diaceturato de diminazene possui reconhecida neurotoxicidade no sistema nervoso central de cães. Acredita-se que tal ação tóxica ao tecido nervoso também ocorre perifericamente, visto que a aplicação intramuscular desse fármaco na região caudal da coxa em ambos os cães acarretou sinais graves de neuropatia isquiática, relato esse não encontrado na literatura revisada. Referências

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Obesidade canina – abordagem diagnóstica, nutricional e reabilitação Canine obesity – diagnostic, nutritional and rehabilitation approach Obesidad en perros – enfoque diagnostico, nutricional y rehabilitación Clínica Veterinária, n. 94, p. 96-106, 2011 Lucas Magalhães Lara

MV, pós-graduado em fisioterapia veterinária lucaslara_vet@hotmail.com

Mariana Cassins Galdino MV, mestre

marigaldino_vet@yahoo.com.br

Resumo: A obesidade é considerada uma doença metabólica com consequências graves. É definida como um acúmulo excessivo de gordura corpórea, derivada de um desequilíbrio crônico entre a energia ingerida e a energia gasta. Os problemas decorrentes são os distúrbios do aparelho locomotor, a hipertensão arterial, prejuízos à resposta imunológica e aumento da incidência de diabetes melito tipo II. Entre outros métodos diagnósticos, destaca-se a palpação do tórax e do abdômen inferior do animal, avaliando-se a espessura do tecido celular subcutâneo. O objetivo básico do tratamento da obesidade é criar uma situação de balanço energético negativo. A fisioterapia veterinária apresenta exercícios físicos como a forma mais eficiente de aumentar o gasto energético. A prevenção é a melhor forma de combate à obesidade. Unitermos: cães, emagrecimento, fisioterapia, atividade física, prevenção Abstract: Obesity is considered a metabolic disease with serious consequences. It is defined as an extreme accumulation of body fat due to a chronic imbalance between ingested and consumed energy. It can lead to disturbances of the locomotor system, arterial hypertension, a decreased immune response and increased incidence of type II diabetes. The most common diagnostic methods include palpation of the thorax and inferior abdomen of the animal, such as to evaluate the thickness of the subcutaneous cellular tissue. The basic objective of obesity treatment is to create a situation of negative energy balance. In terms of veterinary physiotherapy, physical exercises are the most efficient way to increase the energy expense of the animal. Prevention is however still the best way to fight obesity. Keywords: dogs, weight loss, physiotherapy, physical activity, prevention Resumen: La obesidad es considerada una enfermedad metabólica con consecuencias serias para la salud del paciente. Se la define como un aumento extremo del depósito de grasa corporal, derivado de un desequilibrio crónico entre la ingesta energética y la consumida. Los problemas ocasionados se relacionan con alteraciones del aparato locomotor, hipertensión arterial, alteraciones de la respuesta inmune y aumento de la incidencia de diabetes mellitus tipo II. Entre los métodos diagnósticos se destacan la palpación de tórax y abdomen inferior del paciente, evaluando el espesor del tejido adiposo subcutáneo. El objetivo básico del tratamiento de la obesidad es establecer un balance energético negativo. La fisioterapia veterinaria ofrece ejercicios físicos como la forma mas eficiente de aumentar el gasto energético. La prevención es la mejor forma de combatir la obesidad. Palabras clave: perros, pérdida de peso, fisioterapia, ejercicios físicos, prevención

Introdução A obesidade é definida como um acúmulo excessivo de gordura corpórea, derivada de um desequilíbrio crônico entre a energia ingerida e a energia gasta. É considerada como doença do metabolismo de gênese multifatorial, em que estão associados determinantes poligênicos e neuroendócrinos aliados a fatores ambientais e sociais ¹. Desenvolve-se quando a ingestão excede constantemente o gasto de energia diário. Indubitavelmente, há numerosos fatores ambientais e sociais que contribuem para a obesidade. Estes incluem pouco exercício diário em consequência do confinamento e a oferta exagerada de alimento ao animal 96

de estimação. Em cães, alimentação ad libitum de dietas altamente palatáveis pode predispor ao sobrepeso. Os petiscos e os agrados contribuem para o aumento da ingestão de calorias diárias. É pouco provável a obesidade ser resultado de uma doença ou do uso de medicamentos ². Já foi comprovado que existem fatores genéticos que determinam a obesidade em animais de laboratório e em alguns seres humanos. Algumas raças de cães apresentam uma incidência muito alta de obesidade, indicando que os fatores genéticos podem ter também um papel importante nesta espécie. A obesidade é mais comum em fêmeas do que em machos. Em decorrência da menor concentração de

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hormônios androgênicos, as fêmeas têm menor taxa metabólica basal, o que as predispõe ao aumento de peso ³. Evidencia-se o fato de que os proprietários com sobrepeso são mais propensos a terem animais de estimação com sobrepeso. Isso mostra que o alimento é um fator de socialização entre os proprietários e seus animais de estimação. Além disso, o competitivo mercado atual dispõe de um amplo leque de alimentos, biscoitos e complementos nutricionais para cães e gatos cuja composição em termos de nutrientes, disponibilidade, digestibilidade e palatabilidade apresenta grande diversidade ¹. Para o tratamento da obesidade canina, devem-se considerar as mudanças de hábitos alimentares e uma dieta com poucas calorias, mas enriquecida com nutrientes 4. Entre outros problemas, o excesso de peso pode predispor o animal ao desenvolvimento de doenças osteomusculares ou agravar problemas já existentes 5. Um programa de perda de peso combinado com fisioterapia deve ser considerado para diminuir os sintomas do sobrepeso e melhorar sinais clínicos do paciente 6. Tipos de obesidade Consideram-se dois tipos de obesidade: hipertrófica e hiperplásica. A obesidade hipertrófica, também conhecida como simples ou comum, refere-se ao tecido com adipócitos de tamanho aumentado. Já a obesidade hiperplásica é causada por um número maior de adipócitos, que podem ser controlados geneticamente, mas estão envolvidos com a ingestão energética excessiva e precoce. A obesidade hipertrófica é mais comum que a hiperplásica e mais fácil de ser controlada clinicamente ³. A hiperplasia normal dos adipócitos ocorre durante as etapas iniciais de crescimento e, ocasionalmente, durante a puberdade. O organismo tem a capacidade de acrescentar adipócitos, mas não é capaz de reduzir os existentes abaixo de um nível mínimo. A possibilidade de hiperplasia de adipócitos em filhotes demonstra a importância do controle de peso durante todo o crescimento, evitando a formação de adultos obesos. Condições extremas e prolongadas de superalimentação podem provocar hiperplasia dos adipócitos mesmo em animais adultos ³. Problemas decorrentes da obesidade São bem conhecidos os efeitos deletérios do excesso de peso sobre a saúde dos animais. Os mais importantes são os distúrbios do aparelho locomotor, como discopatias, ruptura de ligamento cruzado e osteoartrites, hipertensão arterial, prejuízos à resposta imunológica e aumento da incidência de resistência insulínica e dislipidemias. Além disso, os cães obesos apresentam maiores riscos inerentes à anestesia, assim como maior propensão a reações medicamentosas. Outros problemas relacionados à obesidade são a maior dificuldade ao acesso cirúrgico nos pacientes, devido ao acúmulo de gordura intra-abdominal, subcutânea e mediastínica, além da maior propensão a sofrer necrose secundária ao traumatismo cirúrgico e, posteriormente, infecção, uma vez que o tecido adiposo é considerado pouco vascularizado. Os cães obesos também apresentam maior incidência de dermatopatias (piodermites e seborreia), neoplasias, intolerância

ao calor, distocia e menor eficiência reprodutiva 7. O excesso de peso pode predispor o animal ao desenvolvimento de doenças osteomusculares ou agravar problemas já existentes, causados pelo esforço imenso colocado sobre as articulações, tendões e ligamentos. Por isso, uma redução do peso pode conduzir a uma melhora da dor. Está claro que os pacientes com excesso de peso e com desordens ortopédicas exigem um tratamento especial. A combinação de perda de peso e de fisioterapia fornece os melhores resultados. Os programas especiais de exercício também conduzem o paciente à perda de peso 5. Qualquer carga excessiva colocada nas articulações pode acelerar o desenvolvimento da artrite e da dor. Ao avaliar um animal antes da reabilitação funcional, o médico veterinário tem que avaliar sempre seu peso ideal. Caso necessário, a limitação calórica é prescrita simultaneamente com exercícios para manter a musculatura saudável. Na medicina veterinária, como na medicina humana, um programa da perda de peso combinado com fisioterapia deve ser considerado para diminuir os sintomas do sobrepeso e para melhorar os sinais clínicos do paciente 6. Diagnóstico O método mais exato de diagnosticar a obesidade é o cálculo da porcentagem de gordura corporal. O uso de ultrassom para medir a quantidade de gordura subcutânea é um método rápido e não agressivo, mas que não tem ainda uma aplicação real em muitas situações clínicas. Por outro lado, a medição da densidade corporal é um método muito exato, porém, difícil de realizar de forma usual em animais 8. O método mais prático para estimar o excesso de gordura corporal e a presença de obesidade nos cães é a palpação do tórax e do abdômen inferior do animal, avaliando-se a espessura do tecido celular subcutâneo. Um cão que esteja muito magro terá as costelas à mostra. Em um animal com peso normal, as costelas poderão ser palpadas facilmente. Por outro lado, em um animal com algum excesso de peso, a caixa torácica não será visível à exploração e, quando palpada, apresentará excesso de gordura subcutânea. A inspeção visual é de grande valia para efetuar o diagnóstico da obesidade (Figura 1). Assim, num peso normal, a forma do dorso observada de cima, deverá lembrar a de uma ampulheta. Os cães tendem a desenvolver depósitos de gordura na base da cauda 8. Medidas morfométricas A porcentagem de gordura corporal pode ser calculada por meio de algumas medidas, como circunferências e longitudes anatômicas. A circunferência pélvica é proporcional à quantidade de gordura em cães e gatos. As medições requerem uma fita graduada em centímetros e um paciente cooperativo. Para estimar a gordura corporal, deve-se seguir as equações abaixo: %GC em cães machos = [- 1,4 (CL[cm]) + 0,77 (CP[cm]) + 4] / PC[kg] %GC em cães fêmeas = [- 1,7 (CL[cm]) + 0,93 (CP[cm]) + 5] / PC[kg] %GC em cães independentemente do sexo = [- 0,0034 (CL[cm])2 + 0,0027 (CP[cm])2 - 1,9] / PC[kg] Sendo: %GC = porcentagem de gordura corpórea, CL = dis tância do calcâneo até o ligamento cruzado, CP = circunferên cia pélvica e PC = peso corporal 10.

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Cães com peso ideal possuem %GC entre 16 e 25, cães caquéticos <5, magros entre 5 e 15, com sobrepeso entre 26 e 35 e obesos %GC >35 10. Índice de massa corporal O índice de massa corporal (IMC) é um indicador muito usado por médicos e pesquisadores para avaliar a “normalidade” do peso corporal de uma pessoa e é obtido a partir da divisão da massa corporal (peso) pelo quadrado da estatura. A importância desse índice está em sua relação com a mortalidade, ou seja, à medida que o IMC aumenta, também aumenta o risco de complicações cardiovasculares, cânceres, diabetes, cálculos vesicais e osteoartrite. Além de detectar o excesso de peso, o IMC alerta para os riscos de doenças ocasionadas pela desnutrição 11. A medida da coluna vertebral adicionada ao comprimento do membro pélvico (obtida com o posicionamento da fita métrica sobre a coluna até o limite plantar do membro pélvico) é um parâmetro viável em cães para substituir a altura, utilizada em seres humanos. Sabe-se que o índice de massa corporal canino (IMCC) ideal para cães de médio porte (entre 10 e 25kg) compreende valores entre 11,8 e 15kg/m². Um animal que possua o peso 20% acima ou abaixo do peso ideal pode ser considerado fora do peso. Sugere-se que o IMCC possa ser utilizado como um dado médio de cálculo para tratamentos e para orientar o treinamento físico de caninos 11. Diagnóstico diferencial O diagnóstico da obesidade nos animais domésticos

sempre deve incluir uma exploração física para avaliar a presença de edema, ascite, possibilidade de hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo ou diabetes melito 8. Uma vez descartadas essas doenças, o peso atual do animal deverá ser comparado com os pesos prévios ou com o peso registrado imediatamente depois de o animal ter alcançado a idade adulta, para se avaliar assim a existência de aumento incomum de peso 8. Questionário sobre o animal Uma anamnese detalhada deve ser realizada com os proprietários dos animais obesos. Essa entrevista pode seguir como exemplo o questionário da figura 2, que identifica e caracteriza o comportamento dos animais, relaciona os alimentos consumidos, as atividades físicas realizadas e os hábitos de manejo ¹. Tratamento O objetivo básico do tratamento da obesidade é criar uma situação de balanço energético negativo, que pode ser conseguido por meio da diminuição da ingestão calórica e/ou do aumento do gasto energético. Com isto, ocorre mobilização do tecido adiposo do animal e, consequentemente, perda de peso. O exercício físico é a única maneira prática de aumentar o dispêndio energético em indivíduos submetidos a regime para perda de peso. Além disso, a atividade física também pode promover a elevação da taxa metabólica basal, por meio do aumento da massa muscular, promovendo efeitos benéficos de longo prazo na manutenção do peso perdido 7.

ESCORE DE CONDIÇÃO CORPORAL

costelas, vértebras lombares e ossos da pelve visíveis. Ausência de gordura palpável. Curvatura abdominal e cintura bem marcadas

magro 10-20% abaixo do peso ideal

costelas facilmente palpáveis e cobertas com um mínimo de gordura. Visto de cima, vê-se claramente a cintura. Curvatura abdominal evidente

peso ideal

costelas palpáveis e sem excesso de gordura subcutânea. Visto de cima, vê-se a cintura atrás das costelas. Curvatura abdominal visível pela inspeção lateral

costelas não palpáveis debaixo de grande quantidade de gordura subcutânea. Depósitos de gordura visíveis na região lombar e na base do rabo. Cintura muito pouco aparente ou não visível. Curvatura abdominal ausente

Figura 1 - Escore de condição corporal, modificado 9

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Royal Canin

obeso acima de 20% do peso ideal

Royal Canin

excesso de peso costelas palpáveis com pequeno 10-20% acima excesso de gordura subcutânea. Visto do peso ideal de cima, vê-se a cintura, ainda que esta não seja marcada. Curvatura abdominal muito pouco marcada

vista lateral

Royal Canin

caquexia mais de 20% abaixo do peso ideal

vista dorsal

Royal Canin

aparência do animal

Royal Canin

classificação


Questionário Nome do animal:______________________________ sexo:____ idade:____ raça:________________________ peso:______ CL*:________ CP**:_________ %GC***:________ 1. Classifique o comportamento do seu animal de 0 a 10: a) brincadeiras_____ b) dormir_____ c) exercícios _____ d) comer_____ 2. Como você caracteriza a disposição do seu animal? ( ) muito ativo ( ) ativo ( ) moderadamente preguiçoso ( ) apático 3. Que tipo de atividade física seu animal pratica? ( ) não pratica ( ) agility ( ) natação ( ) caminhada ( ) corrida ( ) outros______________________ 4. Frequência da atividade física praticada pelo animal ( ) 1 x ao dia ( ) 2-3 x ao dia ( ) mais de 3 x ao dia ( ) 1 x por semana ( ) 2-3 x por semana ( ) mais de 3 x por semana 5. Qual a duração do percurso? ( ) menos de 10 min ( ) 10-20 min ( ) 20-40 min ( ) 1 hora

( ) mais de 1 hora

6. Qual a distância aproximada do percurso? ( ) menos de 300m ( ) de 300 a 500m ( ) de 500 a 1000m ( ) mais de 1000m 7. Classifique o comportamento alimentar do seu animal de estimação ( ) seletivo ou caprichoso ( ) voraz ou guloso ( ) com pouco apetite ( ) apetite normal 8. Quantas vezes por dia o seu animal é alimentado (incluindo ração, petiscos e comida caseira)? ( ) 1x ao dia ( ) 2x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia 9. Que tipo de alimentação é fornecida ao seu animal de estimação? ( ) ração ( ) ração + pestiscos ( ) ração + petiscos + comida caseira ( ) comida caseira ( ) comida caseira + pestiscos ( ) comida caseira + ração ( ) outros:_________________ 10. Tente descrever o comportamento do seu animal em relação aos seguintes alimentos: a) ração – marca: __________ quantidade (kg):___________ frequência: ( ) 1x ao dia ( ) 2x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia b) petiscos – tipo: ___________ quantidade (unidades): ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ou mais frequência: ( ) 1x ao dia ( ) 2x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia c) comida caseira: tipo: ( ) carnes ( ) arroz ( ) legumes ( ) frutas (quais)__________ ( ) quantidade(kg)_________ frequência: ( ) 1x ao dia ( ) 2x ao dia ( ) 3x ao dia ( ) mais de 3x ao dia 11. Você costuma alimentar seu animal com o mesmo tipo de alimentação que você consome? ( ) sim, frequentemente ( ) sim, às vezes ( ) não 12. Com quais desses alimentos você e seu animal de estimação costumam se alimentar? alimento proprietário cão alimento proprietário carne assada ( ) ( ) verdura crua ( ) carne grelhada ( ) ( ) verdura cozida ( ) carne cozida ( ) ( ) legumes crus ( ) ovo de galinha ( ) ( ) legumes cozidos ( ) leite integral ( ) ( ) pizza ( ) chocolate ( ) ( ) quibe ( ) cerveja ( ) ( ) pastel ( ) refrigerante ( ) ( ) arroz ( ) bolacha ( ) ( ) iogurte ( ) frutas ( ) ( ) pão ( ) bolo ( ) ( ) queijo ( ) outros_______________ ( ) ( ) _____________________ ( )

cão ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )

* CL: distância do calcâneo até o ligamento cruzado ** CP: circunferência pélvica *** %GC: porcentagem de gordura corpórea¹ Figura 2 - Modelo de questionário a ser empregado na consulta Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 94, setembro/outubro, 2011

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O plano de dieta para obter uma perda de peso ao redor de 1% do peso original por semana recomenda uma redução a 40% das exigências de manutenção. A ingestão ótima dependerá do peso-meta ideal. Por razões práticas a alimentação com dietas comerciais disponíveis para perda de peso já provaram levar a bons resultados. Essas dietas suportam a perda de peso e oferecem a quantidade ideal de nutrientes até que o animal alcance o peso desejado. O proprietário tem um importante papel no controle de peso do animal e deve distribuir uma quantidade limitada de petiscos, que podem ser considerados como recompensas, assim como uma ferramenta útil no cuidado dental. Entretanto, a cada petisco adicional dado, deve-se reduzir a quantidade total calculada originalmente, para não ultrapassar o consumo de energia. Recomenda-se elaborar uma programação para a perda de peso e entregar uma cópia escrita ao proprietário, para que ele possa acompanhar os resultados 5,12. Qualquer programa de redução de peso deve incluir três aspectos diferentes: mudança do comportamento alimentar, modificações dietéticas e exercícios. Estes dois últimos aspectos produzirão um déficit energético que conduzirá à redução desejada de peso. A mudança de peso diz respeito tanto ao animal quanto a seu dono, que será responsável por ela, e evitará assim novo aumento 8. Modificação do comportamento alimentar Existem diversas técnicas para mudar os maus hábitos da pessoa que cuida do animal, em geral responsáveis pelo aumento inicial do peso do cão. Dentre esses hábitos desaconselháveis podem ser indicados: dar ao animal uma dieta rica em calorias à base de restos de comida; utilizar dietas energéticas e muito saborosas; estimular ou permitir que o animal peça comida; e alimentá-lo frequentemente com biscoitos para cães ou com seus alimentos preferidos 8. Algumas mudanças possíveis são: manter o animal longe da cozinha enquanto se prepara a refeição; diminuir o número de alimentos preferidos ao dia; dividir o alimento preferido, dando ao animal somente um pequeno pedaço de cada vez; dar-lhe atenção e carinho em vez de comida; mantê-lo fora da sala de jantar nas horas de refeição; eliminar da dieta todos os alimentos que não sejam para animais e manter um regime alimentar estrito. Manter uma pauta alimentar estrita, ou seja, alimentar os animais sempre nos mesmos horários também pode contribuir para que eles não peçam comida 8. Manejo dietético O uso de uma dieta apropriada para a perda de peso é importante e há muitos critérios a considerar. Embora se saiba que a redução de calorias induz à perda de peso, é importante evitar uma restrição excessiva dos nutrientes essenciais. Consequentemente, deve-se considerar uma dieta com poucas calorias, mas enriquecida com nutrientes. Um importante aspecto para a perda de peso é promover a perda de gordura enquanto se minimiza a perda de musculatura, o que pode ser influenciado pela composição da dieta 4. Protocolo básico para um programa de peso em cães 1. Não existe sucesso no regime para perda de peso sem a 100

compreensão, o consentimento, a motivação e a cooperação do proprietário. 2. Além da avaliação clínica, antes de se iniciar o tratamento devem-se realizar exames complementares no paciente com a finalidade de descartar outros distúrbios concomitantes, como ortopédicos, endócrinos ou cardiovasculares, que poderão influenciar o manejo da obesidade e a velocidade da perda de peso. 3. Pesar o animal e estimar o peso-meta utilizando como referência o escore corporal. Inicialmente, pode-se estabelecer como peso-meta (PM), ao menos para a primeira etapa do programa, uma perda de peso de 15% em relação ao peso atual do animal. Nem sempre o primeiro peso-meta é o ideal, pois o cão tem que ir emagrecendo aos poucos. O peso-meta se refere a quanto ele pode perder naquele momento, e depois que ele atinge esse primeiro patamar, outra meta pode ser calculada, para assim, paulatinamente, chegar ao peso ideal. 4. Estimar a perda média semanal de peso e o tempo necessário para alcançar o PM. A perda semanal pode ser de 1 a 2%, dependendo da predisposição do proprietário e das condições do animal. Para que seja atendido o peso-meta da primeira etapa do tratamento (15% de redução), são necessárias de oito a catorze semanas. Este passo deverá ser explicado ao proprietário, para estimulá-lo a seguir corretamente o regime. 5. Definir a ingestão calórica para a perda de peso do animal. Iniciar o programa administrando alimento suficiente para atender a 60% das necessidades energéticas de manutenção estimadas para o peso-meta do animal, tendo como base a seguinte fórmula 7: Cães - {132 x [peso atual - 15%] 0,75}x 0,60 = 80 x (peso atual - 15%) 0,75 6. Definir o tipo de alimento a ser fornecido: alimento seco para animais em manutenção; alimento específico para perda de peso; alimento caseiro balanceado para perda de peso. 7. Estimar a energia metabolizável (EM) do alimento por meio da fórmula: cão [kcal/100g alimento] = {[3,5 x %proteína bruta] + [8,5 x %extrato etéreo] + [3,5 x %extratos não nitrogenados]} sendo:

extratos não nitrogenados = 100 – [%proteína bruta + %extrato etério + %matéria mineral + %umidade + %fibra bruta] 8. Calcular a quantidade de alimento a ser fornecida quantidade em gramas = necessidade energética para regime [kcal] x 100 / EM do alimento [kcal/100g] Obs: Sempre deixar o proprietário avisado de que a superestimativa das necessidades energéticas do paciente pelas fórmulas acima aplicadas pode ocasionar falhas no processo de perda de peso. Nos primeiros retornos pode-se verificar a necessidade de reajustar a quantidade oferecida. 9. Fornecer a quantidade de alimento calculada para o paciente dividida em pelo menos três refeições diárias. 10. Estimular a prática da mudança de comportamento alimentar. 11. Motivar o hábito de caminhadas diárias, quando o animal não apresentar nenhum distúrbio que limite essa atividade. 12. Reavaliar o animal quinzenalmente, com alguns objetivos básicos:

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P-inicial

P-meta (semanas) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

onde P = peso

Figura 3 - Modelo de gráfico de modificação do peso ao longo do tempo

- ajustar as quantidades de alimento quando o processo de perda estiver lento; - manter o proprietário estimulado a prosseguir com o tratamento; - identificar possíveis falhas de manejo e dificuldades encontradas pelo proprietário durante o regime; - identificar melhoras clínicas do paciente, bem como as observadas pelo proprietário; - estabelecer uma relação de confiança com o proprietário. 13. Apresentar gráficos ao proprietário com a perda de peso de seu cão ou gato, como na figura 3: Durante o programa, devem-se discutir com o proprietário possíveis falhas que possam estar ocorrendo no manejo ou alterações individuais necessárias quando a meta de perda de peso não estiver sendo atingida. 14. Após atingir o peso estimado ideal, um alimento de manutenção deverá ser instituído e as pesagens do paciente deverão ser realizadas 30, 60, 90 e 120 dias após, visando assegurar a manutenção do peso obtido. Lembrar que manter o peso é tão difícil quanto perdê-lo 7. Atividade física A atividade física é a forma mais eficiente de aumentar o gasto energético e de minimizar as consequências da perda de peso sobre a atividade metabólica do individuo e pode ser implementada em cães sob a forma de caminhadas, corridas ou outras modalidades esportivas ¹. A atividade física programada deve considerar as condições cardiovasculares, metabólicas e osteomusculares do paciente para que seja prescrita em quantidade e intensidade seguras e efetivas. Os exercícios físicos aeróbios são os preferidos, pois levam a um gasto energético maior. É importante lembrar que o indivíduo obeso frequentemente não consegue obter uma intensidade elevada, o que pode ser compensado, após treinamento, por um aumento do tempo de exercício. Os exercícios anaeróbios também podem ser úteis, pois conferem força e resistência, além de aumentar a massa muscular, contribåuindo para o aumento do metabolismo basal. A atividade física deve ser o mais agradável possível para o paciente, pois deve ser mantida por longo período 13. O programa de exercícios, uma modalidade da fisioterapia veterinária, deve ser iniciado ao mesmo tempo em que o 102

programa de perda de peso. As terapias escolhidas dependerão da condição atual do animal. Um grande número de pacientes mostra uma falta distinta de motivação ao movimento, em parte devido aos problemas ortopédicos e em parte a seu excesso de peso. O terapeuta tem que enfrentar a tarefa de quebrar o ciclo da dor e a relutância para mover-se, e assim promover a perda de peso. O sucesso da terapia dependerá extremamente de um programa do exercício projetado individualmente para o paciente. Ao fazer um programa, uma análise detalhada da rotina atual de exercício do animal deve ser empreendida obviamente levando em consideração a história médica do paciente, por exemplo, doenças cardiovasculares 12. O início de uma atividade física regular e moderada como tratamento da obesidade influi de diferentes maneiras sobre o peso corporal do animal. O aumento da quantidade de exercício tem um efeito benéfico direto, ao aumentar o gasto energético diário. Isso contribui ao déficit energético necessário para a perda de peso desejada. O exercício contínuo aumenta a proporção de tecido magro em relação ao adiposo; essa massa magra comprovadamente aumenta a termogenêse e, portanto, o gasto energético. Nos animais que estão acostumados a um estilo de vida totalmente sedentário, a atividade física deve ser iniciada sempre de um nível baixo, como, por exemplo, um exercício de 20 minutos de três a cinco vezes por semana. O ideal é realizar exercícios físicos diariamente, aumentando tanto a sua duração como a sua intensidade à medida que o animal for perdendo peso e tolerando melhor o exercício 8,13. Por um período de uma semana, pede-se ao proprietário para que anote detalhadamente o número e a distância das caminhadas feitas. O estilo de vida do proprietário também deve ser levado em consideração. Recomenda-se fazer diversas caminhadas breves em vez de somente uma longa caminhada por dia. Na prática, isso significa que o “total resultante das caminhadas” deve ser dividido em quatro ou cinco segmentos. Durante essas caminhadas o cão deve ser controlado por meio de uma guia. Desse modo, pode-se avaliar quanto tempo o animal pode ser exercitado sem a sensação de dor. Além da fisioterapia para a diminuição da dor (e, caso necessário, medicamentação), o período diário de exercício pode ser aumentado 10% por semana. Se o animal começar a ter dor ao se exercitar, a taxa de exercício deve ser reduzida pelo menos 30%, e depois disso, aumentada lentamente. O proprietário deve desempenhar um papel ativo no programa da terapia. Além da terapia na clínica, haverá alguns trabalhos em casa recomendados ao proprietário. A massagem, por exemplo, deve ser feita antes de cada caminhada e algumas vezes pode haver necessidade de um tratamento com gelo após cada sessão de treinamento 12. Exercícios terapêuticos A terapia pelo movimento deve estar no centro da fisioterapia. Uma diferenciação pode ser feita entre a terapia passiva do movimento (em que partes do sistema osteomuscular do paciente são movidas), a terapia ativa (o paciente faz os movimentos ele mesmo) e a terapia ativa guiada (o paciente é estimulado a realizar determinados movimentos, também sem auxílio). Na fisioterapia animal, geralmente a última

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forma é usada. Um grande número de exercícios de alongamento foi descrito para os animais 14. As contraindicações para a terapia do movimento podem ser desordens do sistema cardiovascular ou respiratório e enfraquecimento de estruturas ósseas, como no caso de osteoporose 14. O exercício ativo melhora a força muscular, a resistência, a função cardiovascular e a coordenação, enquanto diminui a rigidez articular e a hipotrofia muscular. O exercício fornece o carregamento periódico da cartilagem, que pode aumentar o metabolismo da cartilagem e a síntese dos proteoglicanos. Os exercícios de baixo impacto são preferidos, como a caminhada guiada, a esteira, a natação, subir/descer escadas ou rampas. Inicialmente, diversas sessões mais curtas (três períodos de minutos) são preferidas a uma única sessão longa 15. As caminhadas lentas são talvez um dos exercícios mais importantes. Devem ser feitas em uma velocidade que incentive o sustento do peso e a modificação de comportamento é importante. As caminhadas em subidas e descidas ajudam a reforçar os músculos e têm relativamente baixo impacto 16. A atividade em esteira é muito útil na reabilitação e a maior parte dos cães tem habilidade para realizá-la. O equipamento pode auxiliar na melhora da postura do animal e o terapeuta tem a possibilidade de usá-la angulada para cima e para baixo, de forma a aumentar o esforço de membros pélvicos ou torácicos 16. Outros exercícios, como dança (consiste em segurar os membros torácicos levantados, assim o cão sustenta todo o peso nos membros pélvicos, condicionando e fortalecendo a musculatura e aumentando o gasto energético de maneira lúdica), sentar e levantar, puxar ou carregar pesos e jogar bola controladamente, servem para melhorar a musculatura e devem ser utilizados de acordo com a evolução e o estágio de cada paciente 16. Cães obesos com osteoartrite, quando perdem peso e melhoram a capacidade cardiorrespiratória, por meio de exercícios de condicionamento físico, têm melhora significativa

do quadro, devido à redução do estresse mecânico nas articulações 17. Hidroterapia As propriedades físicas da água podem ser utilizadas para a fisioterapia. A terapia aquática, como exercícios de esteira aquática e natação, pode ser usada para a reabilitação após a cirurgia ortopédica, para a reabilitação depois de lesão neurológica, para reforço muscular, para melhora da função articular e do condicionamento físico. O corpo carrega menos peso na água e permite um movimento sem dor e mais confortável das articulações, além de a resistência da água ser útil para o reforço dos músculos e o treinamento cardiovascular. Entre as características da água úteis para a reabilitação estão os efeitos térmicos, a flutuabilidade, o aumento da pressão hidrostática, a coesão e a turbulência 5,18,19. São muitos os benefícios do exercício aquático. Os pacientes com pouco equilíbrio podem ficar em estação, pois a flutuabilidade ajudará a evitar a queda. Os pacientes incapazes de carregar o peso total nas articulações podem andar, e os pacientes com músculos fracos podem mover partes do corpo. A hidroterapia promove o trabalho articular, o desenvolvimento dos músculos e a capacidade cardiorrespiratória, já que a frequência cardíaca e o consumo do oxigênio são maiores ao fazer exercícios na água 19,20. O peso de um cão em um nível de água até o tarso, o joelho e o trocânter maior é 91%, 85% e 38% do peso corpóreo no solo, respectivamente. Essa é uma vantagem particular para cães com paralisia de membros pélvicos, que têm dificuldades para suportar o seu peso, e também para animais com artrite, auxiliando na redução da força aplicada nas articulações afetadas 21. As contraindicações incluem deficiências cardíacas ou respiratórias, sensação térmica diminuída, doença vascular periférica severa, perigo de hemorragia, infecções, incontinência, diarreia, algumas doenças de pele, feridas abertas ou incisões cirúrgicas. Como a água produz pressão no tórax e

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exige esforço físico, os pacientes precisam ser avaliados sobre sua capacidade cardiovascular e pulmonar 18,19. A atividade deve ser supervisionada em todas as sessões, já que alguns cães e a maioria dos gatos podem se agitar e se ferir. Quando possível, deve-se usar água morna (29-32°C). Os cães devem ser colocados na água aos poucos. Nas primeiras fases de reabilitação, o terapeuta deve fornecer um suporte para sustentar o paciente ou um salva-vidas canino. Se o animal começa a demonstrar dor ao se exercitar, a taxa de exercício tem que ser reduzida pelo menos em 30%. A utilização de uma esteira aquática é talvez o mais importante exercício para evitar a dor 5,19. Tratamento farmacológico da obesidade Recentemente, os fármacos dirlotapide e mitratapide foram aprovados para ajudar no manejo da obesidade em cães. O mecanismo de ação dessas drogas difere do das drogas liberadas para consumo humano. Ambas são inibidoras de proteína de transferência de triglicérides microssomal e têm efeito local no nível da célula epitelial do intestino, bloqueando o conjunto lipídeo+proteína e a liberação da lipoproteína na circulação sanguínea. A entrada de calorias pela dieta é diminuída de duas maneiras: a absorção de lipídeos é diminuída e/ou o apetite é diminuído, muito provavelmente devido à liberação de sinais de saciedade pelo enterócito 22. As drogas apresentam formulações líquidas e são facilmente administradas pelo proprietário, podendo ser colocadas no alimento ou diretamente na boca do animal, uma vez por dia. São bem toleradas pela maioria dos cães, mas podem ocorrer efeitos adversos, sendo mais típicos os gastrintestinais, especialmente o vômito, observado em até 20% dos pacientes. Entretanto, esses efeitos muitas vezes são ocasionais e ocorrem durante as primeiras duas semanas de administração. Se os proprietários são avisados de que isso pode ocorrer, usualmente as drogas são bem aceitas 22. Manutenção do peso perdido O ideal é que, depois de alcançada a meta de peso, este seja mantido, uma vez que o ciclo de peso, expressão caracterizada pela alternância de engordar e emagrecer, é nocivo para a saúde. Por isso, mesmo depois de ser finalizado o período de restrição calórica para reduzir peso, os hábitos dietéticos praticados durante o tratamento da obesidade, bem como a prática de exercícios, devem ser mantidos. Além disso, os proprietários devem evitar o reinício de velhos hábitos prejudiciais 7. Uma vez alcançado o peso corporal ideal, alguns animais podem seguir uma dieta de manutenção normal. No entanto, outros ganharão peso novamente ao utilizar essas dietas. Nesse caso, deve-se seguir uma dieta pobre em gorduras e rica em hidratos de carbonos complexos, que contenham menos calorias mas possuam os nutrientes necessários 8. As quantidades de comida no período que sucede o programa de emagrecimento deverão ser aumentadas progressivamente até alcançar os níveis energéticos de manutenção. Se outro alimento for escolhido para a fase de manutenção, as quantidades devem ser calculadas, de modo a fornecer o mesmo número de calorias que o da dieta para emagrecer, e ajustadas progressivamente para manter a condição física. 104

Informação ao cliente sobre obesidade canina e felina A obesidade é a doença nutricional mais comum em cães e gatos. Ela se caracteriza por um aumento da gordura corporal e está associada com muitos problemas de saúde. Ocorre em 20-30% de cães e gatos, sendo mais comum em animais velhos e fêmeas.

Por que a obesidade é perigosa?

Animais acima do peso sofrem mais de diversas doenças e sua longevidade é menor que a dos animais com peso ideal. A obesidade frequentemente reduz a vitalidade, o desempenho e piora a relação entre o proprietário e o animal. A obesidade pode causar ou piorar: câncer; artrites; displasia coxofemoral; problemas de coluna e de disco vertebral; ruptura de ligamentos; doenças pulmonares; doenças cardíacas; doenças do fígado; diabetes; constipação, gás excessivo e pancreatites; risco em anestesias e cirurgias; intolerância ao calor; problemas de pele; irritabilidade relacionada com desconforto; suscetibilidade às doenças infecciosas; e intolerânia ao exercício.

O que causa a obesidade?

A obesidade é causada pelo consumo de mais calorias do que o necessário: muita comida, pouco exercício ou ambas. Animais alimentados com restos de comida, guloseimas e/ou biscoitos são mais suscetíveis a serem obesos que os alimentados com rações comerciais balanceadas. Superalimentar os filhotes os predispõe à obesidade.

Meu animal está acima do peso?

Se o seu animal pesa 15% mais do que quando era jovem ou adulto saudável, ele está acima do peso. Antes de iniciar um programa de redução de peso, recomenda-se levar o animal ao médico veterinário para fazer um exame clínico. Isso descartará a presença de condições semelhantes à obesidade.

Como é o manejo da obesidade?

O aspecto mais importante do sucesso do programa é convencer a si mesmo e aqueles que convivem com o paciente de que o programa é essencial. Qualquer coisa fora do seu total compromisso resultará em frustração e perda de tempo, esforço e dinheiro. O objetivo é que seu animal use mais calorias do que consome. As drogas ou hormônios não são benéficos para obter perda de peso, a menos que seja confirmada uma doença adicional à obesidade. De início se determina uma meta específica para a redução de peso e a estimativa de tempo requerido para alcançar essa meta. O peso de seu animal deve diminuir 2% por semana. São necessárias de oito a doze semanas para que os animais mais obesos atinjam o peso ideal. O médico veterinário deverá acompanhar e pesar o animal a intervalos regulares durante e depois do programa de peso, para uma avaliação correta. O manejo do animal acima do peso deve incluir: 1. Reduzir o consumo de calorias, utilizando uma dieta de baixo teor calórico especialmente formulada para redução de peso. 2. Manter o animal fora da sala ou da cozinha quando seu alimento estiver sendo preparado ou durante as refeições. 3. Não alimentar animais obesos junto com os outros. 4. Não oferecer nada além da quantidade de alimento prescrita. Alimentar o animal com guloseimas não significa demonstrar cuidado, carinho ou atenção. Na verdade, você está levando seu animal ao sofrimento resultante dos efeitos colaterais da obesidade. 5. Exercitá-lo regularmente. Sugestão: duas a três caminhadas de 25 a 30 minutos por semana no início no tratamento até caminhadas diárias. 6. No mínimo uma vez por semana, pesar seu animal e anotar o resultado.

Fornecimento da dieta

Alimente seu cão/gato com uma dieta especialmente formulada para redução de peso. Apenas diminuir a quantidade já fornecida pode causar algumas deficiências nutricionais, como por exemplo, a falta de proteína, ferro, zinco e vários outros nutrientes. A dieta deve ser fornecida, de preferência, quatro vezes ao dia, pois isso ajuda na perda de peso. Quanto mais você se conscientiza da saúde do seu animal, mais você se empenhará em ajudá-lo a atingir e manter o peso ideal.

Figura 4 - Modelo de material educanional aos clientes

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Em todos os casos, a frequência de alimentação deve-se pautar pelo hábito de duas refeições ao dia 3,8.

Fórmula de manutenção 7:

Ingestão calórica = 80 x (peso atual) 0,75 Prevenção da obesidade A chave do manejo da obesidade é a prevenção. Os proprietários devem ser alertados sobre os fatores de risco da obesidade (idade, sexo, raça, estilo de vida, práticas de alimentação impróprias) e suas consequências. Devem ainda ser instruídos sobre como alimentar e como determinar a condição corpórea de seu animal, para que possam manter o parâmetro ideal. A importância do controle de peso ótimo deve ser reforçada em cada retorno que o cliente fizer à clínica ². Alguns animais são capazes de se controlar, porém muitos cães comerão excessivamente por motivos como monotonia cotidiana, competição com outros animais ou disponibilidade de alimentos saborosos. Na maioria dos casos, deveria ser seguida uma administração controlada de alimento. Do mesmo modo, quando o animal é jovem, o exercício deve ser praticado diariamente e continuado por toda a vida. Dessa forma, evita-se que o animal adulto seja obeso 8. Com o aumento da idade do animal, diminuem suas necessidades energéticas e o grau de aceitação do exercício, o que contribuirá para favorecer o aumento do peso. A manutenção de um nível moderado de exercício e a mudança da dieta para uma baixa densidade calórica podem prevenir o desenvolvimento de obesidade nas últimas etapas de sua vida 8. Recomendações ao proprietário Informar ao proprietário do animal sobre os riscos e manejos é de extrema importância, pois é ele que vai seguir ou não os passos recomendados pelo médico veterinário. Por isso, recomenda-se entregar ao proprietário uma carta com informações sobre os animais de estimação, na primeira consulta, como uma forma de reforçar o que foi dito 23 (Figura 4). Considerações finais O tratamento da obesidade canina deve ser realizado pelo médico veterinário, que deve recomendar dieta balanceada e na quantidade certa. Exercícios físicos controlados, feitos em solo ou em água, são indicados para que o animal tenha um maior gasto energético, melhora da massa muscular e bem-estar, que ajudam a perder peso com saúde. A prevenção é a melhor forma de combater a obesidade. Referências

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Agradecimentos À Royal Canin do Brasil por gentilmente ceder as ilustrações da figua 1 - escore de condição corporal

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Mesotelioma peritoneal em um gato – relato de caso Peritoneal mesothelioma in a cat – case report Mesotelioma peritoneal en un gato – relato de caso Clínica Veterinária, n. 94, p. 108-114, 2011 Fernanda Vieira Amorim da Costa médica veterinária PPGCV/FV/UFRGS

nandamorim@hotmail.com

Otávia Dorigon

médica veterinária PECV/FV/UFPR

otaviadorigon@gmail.com

Christiane Aguero da Silva

médica veterinária autônoma Clínica Veterinária Gatos & Gatos Vet christianeaguero@hotmail.com

Heloisa Justen Moreira de Souza MV, profa. adj. III UFRRJ

justen@centroin.com.br

Elan Cardozo Paes de Almeida MV, profa. adj. I UFF

elancardozo@gmail.com

Cristiane Brandão Damico

médica veterinária autônoma Clínica Veterinária Gatos & Gatos Vet crisbdamico@gmail.com

Resumo: O mesotelioma é um neoplasma que se origina de membranas de revestimento, como a pleura, o pericárdio e a cavidade peritoneal. O presente trabalho descreve um caso de mesotelioma peritoneal em um gato sem raça definida, macho, de dez anos de idade. O animal apresentava histórico de emagrecimento progressivo e distensão abdominal havia uma semana. O exame ultrassonográfico demonstrou presença de líquido livre na cavidade abdominal e uma massa irregular na região mesogástrica aderida a vários segmentos das alças intestinais e ao pâncreas. A análise citopatológica do líquido abdominal sugeriu tratar-se de mesotelioma carcinomatoso abdominal. O animal veio a óbito naturalmente duas semanas depois. A avaliação histopatológica dos órgãos afetados confirmou o diagnóstico de mesotelioma peritoneal. O mesotelioma em gatos é raro, mas deve ser sempre investigado em animais que possuem efusões cavitárias. Unitermos: felino, tumor, abdominal, citologia Abstract: Mesothelioma is a tumor that originates from mesodermal cells lining the abdominal or thoracic cavities. This paper describes a case of peritoneal mesothelioma in a ten-year-old male domestic shorthair cat. The animal had a weeklong history of progressive weight loss and abdominal distension. Ultrasound examination disclosed the presence of free fluid in the abdominal cavity and a large irregular mass that was adhered to various segments of the bowel and the pancreas. Cytopathological analysis of the abdominal fluid was suggestive of carcinomatous abdominal mesothelioma. The animal died naturally two weeks later. Histopathology of the affected organs confirmed the diagnosis of peritoneal mesothelioma. Mesothelioma is rare in cats, but should always be investigated in animals that have cavitary effusions. Keywords: feline, tumor, abdominal, cytology Resumen: El mesotelioma es un tipo de tumor que se origina en tejidos superficiales, tales como la pleura, el pericardio y el peritoneo. En este trabajo se describe un caso de mesotelioma peritoneal en un gato mestizo, macho, de diez años de edad. El animal se presentó con una historia de pérdida progresiva de peso y distensión abdominal de una semana de evolución. La ecografía mostró la presencia de líquido libre en cavidad abdominal y una masa irregular en la región de mesogastrio adherida a diversos segmentos del intestino y del páncreas. El análisis citológico del líquido abdominal sugirió la presencia de un mesotelioma carcinomatoso abdominal. El animal murió naturalmente dos semanas después. La histopatología de los órganos afectados confirmaron el diagnóstico de mesotelioma peritoneal. El mesotelioma es raro en los gatos, pero siempre debe ser investigado en animales que poseen derrames cavitarios. Palabras clave: felino, tumor, abdominal, citologia

Introdução O mesotelioma é uma neoplasia de origem mesodérmica, que se origina nas células mesoteliais de membranas de revestimento, como a pleura, o pericárdio e a cavidade peritoneal, podendo se estender à túnica vaginal 1,2. Raramente ocorre nos animais domésticos e tem sido descrito em bovinos, cães 3 e, com menor frequência, em equinos, suínos e gatos 2. No cão, esse tumor ocorre com maior frequência na pleura e no pericárdio, e raramente no peritônio 4. Geralmente, essa neoplasia se desenvolve na cavidade celomática, 108

invadindo tecidos e órgãos adjacentes, mas raramente ocorrem metástases distantes 2, entretanto, alguns autores descreveram casos de invasão linfática e metástase pulmonar 5,6,7. Há relatos de casos em gatos de onze meses a dezessete anos de idade 5,8, e não parece haver predileção sexual 9. Sua etiologia ainda permanece desconhecida, porém acredita-se haver relação entre a exposição ao amianto de forma crônica e o desenvolvimento desse tipo de tumor em seres humanos e em cães 10. Na medicina humana, a ocorrência de mesotelioma peritoneal parece estar relacionada a

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irritações crônicas e laparotomias frequentes 11. Há ainda suspeita de que, nos casos em que os animais jovens são acometidos, a causa possa ser congênita 12. Os sinais clínicos dependem da localização do tumor e, principalmente, dos órgãos mais afetados 13. A proliferação das células mesoteliais neoplásicas leva ao acúmulo de líquido cavitário, possivelmente devido à redução da drenagem linfática e à reação inflamatória induzida pela presença física da neoplasia 13,14. A presença dos fluidos cavitários, por sua vez, promove a esfoliação e a implantação das células neoplásicas nos órgãos adjacentes 14. A sintomatologia mais frequentemente encontrada costuma ser inespecífica e inclui emagrecimento 15,16,17, letargia, anorexia 5, vômito intermitente 5,6,13, distensão abdominal 5,6,14,16,17, desidratação 6 e febre 1,6. A presença do fluido abdominal pode ser aguda 6 ou recorrente e crônica 17. A dispneia pode ocorrer tanto nos casos de mesotelioma pleural 8,15,18 quanto naqueles em que há envolvimento peritoneal 5,6,16. Isso ocorre devido à presença da massa e ao acúmulo de líquido nas cavidades torácica e peritoneal 3. Alguns animais podem desenvolver tromboembolismo e coagulação intravascular disseminada 5,17. O diagnóstico citológico das efusões cavitárias pode ser complicado, devido à dificuldade de diferenciação entre a presença de células mesoteliais reativas e neoplásicas, necessitando, em alguns casos, de confirmação através de

biópsia 13,14. A análise de fluidos abdominais ou pleurais normalmente demonstra a presença de exsudatos 17. O estudo radiográfico pode sugerir informações limitadas, como a presença de fluidos cavitários 13,16, o deslocamento de vísceras abdominais 16 e o aumento da silhueta cardíaca, nos casos de mesotelioma originado no pericárdio 19. A avaliação ultrassonográfica tem grande importância na determinação da disseminação tumoral em lugares como o mesentério, o omento, a parede do estômago, o baço, o fígado e o diafragma, mas, normalmente, apenas o peritônio é acometido 13. A biópsia guiada por ultrassonografia pode ser dificultada em casos de tumores muito pequenos, que necessitam de laparotomia exploratória para que se possa obter um diagnóstico definitivo 13,14; entretanto, a conduta cirúrgica tem pouca ou nenhuma implicação terapêutica 13, pois geralmente a neoplasia se apresenta bastante disseminada 14. Macroscopicamente, o mesotelioma se caracteriza por múltiplos nódulos de superfície lisa, firmes, esbranquiçados, de 0,1 a 3cm de diâmetro, distribuídos difusamente pelas serosas parietal e/ou visceral 20,21. Histologicamente, o diagnóstico de mesotelioma pode confundir o patologista veterinário, já que é raro em animais domésticos e, microscopicamente, pode variar de puramente epitelial a puramente mesenquimal, com várias combinações e padrões arquitetônicos 9. É classificado como epitelial, sarcomatoso ou misto 9,

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dependendo do tipo celular predominante 4. Podem-se observar células neoplásicas dispostas em padrão tubular e envoltas por tecido conjuntivo fibroso, preenchidas por debris celulares e material eosinofílico, além de áreas de necrose e infiltrado de células inflamatórias mononucleares 20,21. O principal diagnóstico diferencial de mesotelioma epitelial é o de adenocarcinoma. Já o mesotelioma sarcomatoso deve ser diferenciado de fibrosarcoma e carcinoma de células fusiformes, bem como fibrose reativa celular. Muitas vezes, é necessário um estudo imuno-histoquímico adicional 9. O tratamento do mesotelioma é paliativo e visa minimizar os sinais clínicos pela toracocentese e pela laparocentese 16. Observou-se melhora clínica e redução no acúmulo de líquido em dois cães tratados com mitoxantrona e carboplatina intracavitários 22, em um gato tratado com a combinação de cisplatina intracavitária e piroxicam sistêmico 23 e em outro gato tratado apenas com carboplatina intracavitária 24. O prognóstico dos gatos afetados é extremamente grave, devido à inexistência de um tratamento efetivo 1,13,14. O objetivo deste trabalho é relatar e discutir os achados citológicos e anatomopatológicos de um gato com mesotelioma peritoneal com metástase em linfonodos mesentéricos e no pulmão.

teste imunoenzimático para imunodeficiência e leucemia felinas. O hemograma revelou hematimetria dentro dos valores normais de referência e a leucometria revelou leucocitose neutrofílica, linfopenia, eosinopenia e monocitose absolutas. Os achados bioquímicos indicaram valores de uréia de 63,4mg/dL (ref: 30-60mg/dL) e creatinina 1mg/dL (ref: 0,51,9mg/dL). Os valores das atividades das enzimas hepáticas séricas encontravam-se dentro da normalidade. A proteína total, assim como as frações de albumina e globulina, encontravam-se dentro dos valores normais. O teste imunoenzimático para imunodeficiência e leucemia felinas foi negativo. O exame ultrassonográfico demonstrou parênquima hepático homogêneo, com ecogenicidade ligeiramente aumentada e presença de líquido livre na cavidade abdominal, com celularidade. A gordura mesentérica se apresentava espessada, hiperecoica, heterogênea, formando uma grande massa irregular na região mesogástrica. A massa media cerca de 10cm e se apresentava aderida a vários segmentos das alças intestinais, sem evidência de obstrução. A avaliação sugeriu neoplasia. Os linfonodos mesentéricos se apresentaram hipoecoicos. Foi realizada, então, uma abdominocentese para colheita do líquido abdominal, que foi encaminhado para análise citopatológica. Implementou-se uma terapia de suporte que constava de fluidoterapia e tratamento sintomático com estimulante de apetite ciproeptadina a, na dosagem de 2mg/kg, por via oral, a cada doze horas, e ondansetrona b, na dosagem de 1mg/kg, por via oral, a cada doze horas. Recomendou-se forçar alimento com alto nível proteico por via oral. Na análise citopatológica observaram-se grande quantidade de neutrófilos e várias células redondas com pouco citoplasma, características de linfócitos (Figura 1). Havia também várias células mesoteliais apresentando-se com núcleo excêntrico, com tamanho de núcleo variado e pouca a moderada quantidade de citoplasma, que se mostrava granular. Algumas dessas células estavam binucleadas, outras estavam

Relato de caso Um gato sem raça definida, macho, de aproximadamente dez anos de idade, pesando 5,340kg, foi atendido na Clínica Gatos e Gatos Vet. O animal apresentava histórico de emagrecimento progressivo e distensão abdominal havia uma semana. No exame clínico constatou-se que o animal apresentava desidratação grave. Na palpação abdominal, foi percebida a presença de uma massa de consistência rígida próxima à região do estômago. O felino foi submetido a exames complementares que consistiram em hemograma completo, bioquímica sérica e

B

Figura 1 - A) Células mesoteliais com quantidade variável de citoplasma, apresentando núcleos excêntricos com cromatina granular, anisocariose, anisocitose, nucléolos evidentes, citoplasma com bordos irregulares, sendo observada uma célula binucleada. B) Célula apresentando citoplasma com bordos irregulares, núcleo grande e excêntricos, cromatina granular, anisocariose, e nucléolos evidentes.

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Cristiane Brandão Damico

Cristiane Brandão Damico

A


a) Periatin®, Prodome Química e Farmacêutica Ltda. Campinas, SP b) Ontrax®, Blausiegel. Cotia, SP c) Feldene®, Pfizer. Guarulhos, SP

Fernanda V. A. da Costa

agrupadas apresentando pleomorfismo, havendo também presença de mitoses atípicas. A análise concluiu que os achados sugeriam mesotelioma carcinomatoso abdominal. Devido ao fato de o prognóstico ser extremamente reservado e de a exérese tumoral ser dificultada pela presença de aderências significativas, o proprietário optou por realizar somente tratamento sintomático e de suporte. Após uma semana, o animal apresentou significativa piora em seu quadro clínico geral, pois não estava se alimentando sozinho e havia emagrecido 1,180kg. Além disso, o gato demonstrou sinais de dor por meio de vocalização. Prescreveu-se piroxicam c, na dosagem de 0,3mg/kg, por via oral, a cada 24 horas, durante cinco dias, e posteriormente a cada 48 horas. Foi mantida a terapia de suporte com estimulante de apetite, antiemético e alimento proteico forçado por via oral. O animal veio a óbito naturalmente sete dias depois. Na necropsia foi constatada a presença de líquido abdominal, massa de consistência firme e de formato irregular, medindo 12cm de diâmetro máximo, aderida à curvatura maior do estômago, do pâncreas e do baço (Figuras 2 e 3). O intestino Figura 2 - Massa esbranquiçada de consistência firme e formato irregular, aderida à curvatura maior de estômago, pâncreas e baço

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Fernanda V. A. da Costa

Fernanda V. A. da Costa

Figura 3 - Massa esbranquiçada de consistência firme e formato irregular, aderida à curvatura maior do estômago

Figura 4 - Macroscopia de metástases pulmonares do mesotelioma peritoneal Elan Cardozo Paes de Almeida

Elan Cardozo Paes de Almeida

Figura 5 - Omento apresentando mesotelioma e componente carcinomatoso organizados em formações tubulares de células mesoteliais neoplásicas, e proliferação de tecido conjuntivo adjacente. (H&E40x)

Figura 6 - Metástase pulmonar de mesotelioma peritoneal. Componente carcinomatoso organizado em formações tubulares de células mesoteliais neoplásicas. Hemorragia pulmonar adjacente e enfisema compensatório (H&E40x)

delgado apresentava aderências entre as alças e tinha formato de espiral. Os linfonodos mesentéricos estavam aumentados de tamanho e havia também nódulos tumorais nos pulmões (Figura 4). O exame histopatológico confirmou o diagnóstico de mesotelioma abdominal com metástase pulmonar e em linfonodos mesentéricos (Figuras 5 e 6).

felino incluía emagrecimento, desidratação e distensão abdominal, estando de acordo com os autores pesquisados. Os achados hematológicos de leucocitose neutrofílica, linfopenia, eosinopenia e monocitose absolutas são condizentes com a reação inflamatória induzida pelo tumor. Apenas um animal descrito na literatura apresentava neutrofilia, os outros demonstravam anemia regenerativa 16 e mastocitose decorrente de leucemia mastocítica 5. A avaliação ultrassonográfica foi fundamental para a determinação da disseminação neoplásica, demonstrando uma grande massa na região

Discussão A literatura tem poucos relatos de mesotelioma abdominal em gatos 5,6,16,17. No presente trabalho, a sintomatologia do 112

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mesogástrica e aderências a órgãos abdominais, o que foi confirmado posteriormente na necropsia. A análise citológica do líquido ascítico sugeria mesotelioma peritoneal e revelou a presença de neutrófilos, linfócitos, células mesoteliais com núcleo excêntrico, algumas delas binucleadas e outras apresentando pleomorfismo, além de mitoses atípicas, concordando com outro relato em que foi observada a mesma característica celular em um gato com suspeita de mesotelioma pleural 24. Entretanto, devido ao fato de essa neoplasia ser rara em gatos e à dificuldade de diferenciação entre células mesoteliais reativas e neoplásicas, havia apenas uma suspeita clínica de mesotelioma, e não um diagnóstico definitivo. Posteriormente, a análise histopatológica confirmou o diagnóstico. Nos casos consultados, o diagnóstico definitivo ocorreu por meio de necropsia posterior à eutanásia dos animais 5,6,16,17,25. No presente caso, o gato apresentava metástase pulmonar e em linfonodos mesentéricos, o que corrobora os resultados de outro estudo no qual 60% dos gatos apresentavam metástases 9. O animal foi mantido apenas com tratamento de suporte, devido à recusa da responsável em realizar um procedimento cirúrgico ou quimioterápico. Sabe-se que o prognóstico dos animais é grave mesmo quando se realiza qualquer tentativa de tratamento cirúrgico definitivo 1,13,14. Uma opção terapêutica a ser tentada seria a quimioterapia, mas ainda não há informações científicas suficientes sobre os efeitos benéficos do tratamento e sobre o tempo de vida que isso daria ao animal. Conclusão O mesotelioma em gatos é raro e possui sinais inespecíficos, mas deve ser sempre investigado em animais que possuem efusões cavitárias. A avaliação citológica do fluido cavitário pode ser considerada um método de diagnóstico auxiliar não invasivo. Por ser uma neoplasia com alto potencial de disseminação local, os tratamentos atualmente disponíveis não produzem resultados satisfatórios. Dessa maneira, o prognóstico dos animais afetados é grave. É necessário pesquisar mais para estabelecer a etiologia do mesotelioma em gatos e aprimorar o tratamento desses animais, visando um melhor prognóstico, tempo e qualidade de vida para esses pacientes. Referências

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Sérvio Túlio Jacinto Reis

Perito Criminal Federal, Presidente da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal – ABMVL www.abmvl.org.br www.abmvl.com/blog servio.reis@abmvl.com

Minicurso sobre medicina veterinária legal no Conbravet 2011 N

os últimos anos temos sido testemunhas do grande avanço na difusão dos conceitos da medicina veterinária legal em nosso meio. Vemos a expansão da disciplina nos cursos de medicina veterinária do país, tanto na graduação como na pós-graduação. Tornou-se comum a inserção de temas relacionados às ciências forenses nos eventos da classe, desde as semanas acadêmicas até os grandes congressos, passando por inúmeros cursos e palestras que se distribuem ao longo do ano. Tal expansão constitui algo extremamente positivo, por demonstrar o maior interesse por esse tema novo e instigante, relacionado à aplicação dos conhecimentos técnico-científicos próprios da medicina veterinária aos fins do direito e da justiça. Isso se deve em grande parte ao maior contato da sociedade, de uma maneira geral, com a atividade pericial, e a uma maior conscientização a respeito dos direitos e deveres dos cidadãos. Mas também é reflexo do volume crescente de processos judiciais envolvendo questões como o erro médico-veterinário e o crime de maus-tratos a animais, entre outros. Atenta a essas tendências, a Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal – ABMVL – tem buscado contribuir com os avanços nessa área, trabalhando no auxílio aos profissionais interessados em atuar como peritos, assistentes técnicos, consultores ou auditores, e buscando unir setores diversos como a academia e as entidades de classe, visando o aperfeiçoamento das técnicas, dos protocolos e dos conceitos pertinentes. Por essa razão, a entidade vem apoiando e incentivando os eventos relacionados à medicina veterinária legal em todo o país, como no caso da recente iniciativa dos organizadores do 38º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Conbravet), que será realizado entre os dias 1 e 4 de novembro, no Costão do Santinho, em Florianópolis, SC. O congresso contará com um minicurso de perícia forense na área civil para médicos veterinários, algo inédito nos grandes eventos de medicina veterinária no Brasil. Coordenado pelo dr. Valdecir Vargas Castilho, profissional

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com larga experiência em perícias judiciais, o curso abordará, entre outros tópicos, as perícias civil, criminal, administrativa, trabalhista e previdenciária, as funções do perito, as ações e os campos de atuação, a elaboração de petições, os laudos e pareceres técnicos e até o marketing pessoal. Para fazer a inscrição é necessário estar inscrito no congresso, com a taxa quitada. A inscrição pode ser feita pelo endereço www.conbravet2011.com.br. No mesmo endereço é possível conferir a programação preliminar e informarse melhor sobre o evento.

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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação

IV Simpósio de Nutrição Clínica de Cães e Gatos: a inter-relação nutrição e doença

O

IV Simpósio de Nutrição Clínica de Cães e Gatos ocorrerá no Centro de Convenções da FCAV/Unesp, campus de Jaboticabal, nos dias 4 e 5 de novembro de 2011. Este simpósio é promovido pelo Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, sob a coordenação do prof. dr. Aulus C. Carciofi e organizado pelos alunos de pós-graduação. O evento é bienal e nestes oito anos tem tido procura crescente, tendo chegado a mais de 180 inscritos em 2009, refletindo o interesse dos médicos veterinários pela nutrição no dia a dia da prática clínica. Tem como objetivos: a) capacitar o médico veterinário a reconhecer as alterações endócrinometabólicas decorrentes dos processos de doença; b) fundamentar conceitos de nutrição clínica e de como as doenças podem modificar as necessidades nutricionais e dietéticas de cães e gatos; c) conceituar e apresentar os avanços científicos em nutrição clínica e suporte nutricional para animais com doenças especificas. Segundo um dos organizadores, o doutorando da Unesp/Jaboticabal, Fabiano César Sá, o simpósio vem sempre abordando a ‘inter-relação nutrição e doença’, mas focando algumas afecções específicas a cada edição, para aprofundar-se mais em cada uma delas.

Simpósio de Nutrição Clínica de Cães e Gatos realizado em 2009. O interesse pelo assunto aumenta a cada evento

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A complexidade do Diabetes mellitus, por exemplo, será cercada nas palestras: “Abordagem epidemiológica e diagnóstica do Diabetes mellitus em cães e gatos”, pelo prof. dr. Ricardo Duarte do Hospital Veterinário Pompeia - SP; “Manejo alimentar do cão com Diabetes mellitus” pela dra. Eliana Teshima, da Farmina Pet Foods SP; “Manejo alimentar do gato com Diabetes mellitus”, pela doutoranda Juliana T. Jeremias, da FCAV/Unesp de Jaboticabal – SP; e “Terapia nutricional do paciente com cetoacidose diabética, pelo prof. dr. Márcio A. Brunetto, da FMVZ/USP - SP. O câncer será trazido ao foco nas palestras: “Alterações metabólicas nos pacientes com neoplasia”, pela profa. dra. Debora A. P. de Campos Zuccari, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, São José do Rio Preto SP, e “Suporte alimentar no cão e gato com neoplasia”, pelo prof. dr. Aulus C. Carciofi, da FCAV/Unesp – Jaboticabal - SP. O simpósio sempre traz um palestrante internacional, e neste ano conta com a prof. dra. Andrea Fascetti, profissional de aprofundada formação na área, diplomada pelo ACVN (American College of Veterinary Nutrition) e membro de sua Diretoria Executiva, além de afiliada à AAVN (American Academy of Veterinary Nutrition) e à AVMA (American Veterinary Medical Association). A professora conta ainda com mais de 10 anos de experiência em atendimento clínico nutricional. Na Universidade da Califórnia, em Davis, é cientista responsável pelo laboratório de aminoácidos e professora de nutrição, e desde 2000 é chefe do Serviço de Suporte Nutricional do Hospital Veterinário da Universidade. O serviço atende em média a mais de 2.700 casos por ano. Os atendimentos vão desde a prescrição de dieta caseira específica

Cristiana S. Prada

omelhorparaoseucliente@nutricao.vet.br

Médica veterinária nutrição.Vet - www.nutricao.vet.br

para as necessidades de um paciente até simples orientações gerais dadas verbalmente. A especialista é ainda membro do Subcomitê de Recomendações Nutricionais para Gatos do Comitê de Especialistas na área de Cães e Gatos da AAFCO (Association of American Feed Control Officials). As recomendações da AAFCO servem de guia para a formulação de alimentos completos e balanceados para cães e gatos nos Estados Unidos e servem também de referência em vários países do mundo, inclusive o Brasil. A dra. Fascetti falará sobre doença cardíaca e nutrição no bloco aberto pelo prof. dr. A. Antônio Camacho, da FCAV/Unesp de Jaboticabal – SP, na palestra intitulada “Classificação e estadiamento das cardiopatias”. Serão enfocados pela especialista os temas: “O sódio na alimentação do cardiopata: o que mudou com o uso de inibidores da ECA”; “Cardiomiopatias: que nutrientes estão realmente implicados?”; “Caquexia cardíaca: Etiopatogenia e abordagem nutricional”; e “Uso de antioxidantes e ômega 3 na doença cardíaca”. Haverá ainda dois temas gerais, um trazido pelo prof. dr. Ricardo de Souza Vasconcellos, da Udesc de Lages - PR, intitulado “Uso de nutracêuticos com propriedades antioxidantes em nutrição clínica”, e outro tratado pelo já mencionado prof. dr. A. Carciofi, “Síndrome metabólica”. O evento sempre termina com uma mesa redonda para tratar dos temas que a plateia chame a debate. Tradicionalmente, têm ocorrido discussões interessantes nesse espaço. As vagas são limitadas e as inscrições estão abertas. Informações: (16) 3209-1300 www.funep.org.br/agenda_completa.php. www.nutricao.vet.br/simp_nut_clin.php.

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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação

Abordagem nutricional na doença renal crônica

Doença renal crônica e as principais características das dietas renais A doença renal crônica consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins (glomerular, tubular e endócrina). Em sua fase mais avançada (chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica – IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade do meio interno do paciente. 120

ymvet.consulting@yahoo.com.br

YMVet Consulting - Consultoria em Medicina Veterinária e Nutrição Animal

• mestre em nutrição animal (FMVZ/USP) • membro da comissão científica do CBNA (www.cbna.org.br) • membro do comitê técnico e do conselho técnico da ANFAL Pet (www.anfalpet.org.br) • professor da UNICASTELO - Disciplina de nutrição de cães e gatos - Campus Descalvado, SP • Departamento Técnico e Científico Farmina Pet Foos - América Latina

Na verdade, o conceito de DRC se confunde com o da insuficiência renal crônica (IRC), que pode ser definida como uma síndrome metabólica decorrente da perda progressiva, irreversível e geralmente lenta das funções renais (glomerular, tubular e endócrina). A IRC, portanto, constitui um estado, uma condição – e não uma doença propriamente dita. As dietas para nefropatas têm por objetivo tornar mínima a formação de catabólitos proteicos; prevenir e reduzir sinais e consequências das uremias; deter ou retardar a progressão da doença; prevenir o acúmulo de fósforo e sódio; e fornecer as calorias requeridas por meio de fontes de gordura e carboidratos. Assim, as dietas específicas para animais com comprometimento das funções renais são constituídas de, pelo menos, proteínas de alto valor biológico e baixos teores de sódio e fósforo. Algumas delas ainda são acrescidas de compostos que contribuem sobremaneira para a manutenção do nefropata, como por exemplo, ácidos graxos insa- Procedimento terapêutico de hemodiálise em cão turados (Ω3 e Ω6), vitaminas verificou-se que, embora uma alta inlipossolúveis, fibras que nutrem bacté- gestão de proteínas continue a ser uma rias que consomem nitrogênio e alcali- preocupação para a saúde dos seres hunizantes, dentre outros. manos com DRC preexistente, a liteJúlio Cesar Cambraia Veado

A abordagem nutricional da doença renal crônica (DRC) objetiva alterar a concentração de nutrientes que são passíveis de modular a velocidade de progressão da lesão renal, comprometendo o funcionamento dos néfrons. Além disso, a nutrição balanceada para o portador de DRC permite uma vida mais estável, evitando os desconfortos provocados pelos excessos de catabólitos e minerais no organismo. Na medicina humana, as técnicas dialíticas mantêm a qualidade de vida do homem portador de nefropatia crônica. Na medicina veterinária, a urologia e a nefrologia veterinárias estão ficando cada vez mais especializadas, mas ainda limitadas aos grandes centros urbanos. Este fato, associado ao custo da hemodiálise, faz com que ainda sejam poucos os animais beneficiados por essa conduta terapêutica. Dessa forma, as alterações dietéticas têm seu lugar de destaque dentro do tratamento clínico e da manutenção do paciente portador de DRC, podendo inclusive aumentar o tempo de sobrevida de animais acometidos de forma significativa. Nesta seção, serão apresentados os efeitos de cada elemento da dieta, o que permitirá ao clínico uma melhor compreensão de como é possível maximizar a qualidade da manutenção do paciente renal crônico, bem como aplicar os novos conceitos de renoproteção, que visam retardar a progressão da doença renal.

Yves Miceli de Carvalho

A proteína Objeto de muitos debates na literatura científica, a proteína e sua possível relação com o desenvolvimento da doença renal em animais e seres humanos saudáveis vem sendo cada vez mais estudada, de forma a buscar respostas mais precisas sobre o assunto. Na revisão realizada por Martin et al.,

ratura falha em apontar pesquisas demonstrando uma relação significativa entre a ingestão de proteína e o surgimento da doença renal em indivíduos saudáveis. Além disso, as evidências sugerem que as alterações da função renal induzidas pela ingestão proteica são, provavelmente, um mecanismo adaptativo normal, dentro dos limites funcionais de rins saudáveis. Da mesma

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forma, em cães e gatos, as pesquisas existentes até o presente momento não são suficientes para justificar indicações de restrição da ingestão de proteínas na dieta de animais saudáveis adultos ou idosos, com a finalidade de preservar a função renal, consistindo em indicação com pobre respaldo científico, embora estudos de longo prazo sejam ainda importantes para se obter maior esclarecimento do assunto. Quando se fala de animais que apresentam DRC, os estudos têm indicado que a restrição de proteína também não é de valia terapêutica em animais não azotêmicos, com DRC inicial. A restrição proteica deve ser considerada em dietas para animais com DRC que apresentem azotemia e/ou proteinúria, ou seja, animais nos estágios mais avançados da doença. Uma vez que a DRC atinja a fase urêmica (fim do estágio 3/ início do estágio 4, na classificação Iris), recomenda-se reduzir a ingestão de proteína de modo a garantir que o bem-estar do animal não seja afetado de modo adverso pela uremia. A eficácia da redução da ingestão de proteína como um tratamento para a proteinúria, contudo, é muito controversa em se tratando de gatos. Em estudos experimentais com ratos, essa estratégia demonstrou ajudar a retardar a progressão das lesões renais, de modo que a restrição proteica também foi recomendada para as outras espécies. Entretanto, os estudos com gatos falharam em demonstrar essa relação – demonstrando inclusive que nos casos em que a ingestão de proteína foi mais limitada, os gatos apresentaram sinais de má nutrição proteica e uma diminuição da albuminemia ao final do estudo. Um estudo subsequente falhou ao tentar evidenciar qualquer efeito benéfico na restrição de proteína quando a azotemia foi limitada (estágios 1 e 2 da DRC, de acordo com a classificação Iris). Embora muito ainda se discuta acerca de quais os teores mais indicados de proteína na dieta dos nefropatas, é prudente respeitar o trabalho de Brenner, que, em última análise, recomenda menor ingestão de proteína aos pacientes que apresentem sinais de alterações

renais. A importância da proteína na dieta está associada principalmente ao fato de ela ser fonte de nitrogênio e de aminoácidos essenciais; sendo assim, pode ser fornecida em quantidade mínima necessária, por meio de uma fonte nobre, a chamada “proteína de alto valor biológico”. Quanto mais estreita a relação entre o perfil de aminoácidos do alimento e a necessidade do animal, bem como sua alta digestibilidade e consequente aproveitamento, maior o seu valor biológico, o que é hoje considerado o conceito de proteína ideal. O fósforo Quando a TFG diminui e o consumo de fósforo se mantém igual, ocorre uma discrepância entre a quantidade de fosfato excretada diariamente na urina e a quantidade consumida, havendo acúmulo de fosfato no organismo, o que promove o hiperparatireoidismo e a progressão das lesões renais. Inclusive foi demonstrado em seres humanos com ingestão alimentar semelhante que quanto maior o nível de PTH e o tempo em diálise, menor é a gordura corporal nos pacientes com hiperparatireoidismo secundário grave, o que mostra que as altas concentrações de paratormônio contribuem para alterar o estado nutricional desses pacientes. Trabalhos desenvolvidos por Finco e colaboradores demonstraram que o excesso de fósforo leva a um menor tempo de sobrevida de animais portadores de IRC. Inicialmente, o objetivo é de reduzir o consumo, o que pode ser obtido pela ingestão de alimentos pobres em fósforo, de modo a controlar a secreção de PTH. Vários estudos têm indicado que o uso de dietas veterinárias renais tem sido efetivo no controle dos fosfatos plasmáticos em boa parte dos casos, principalmente em gatos. Nessa espécie, inclusive, constatou-se que o uso exclusivo de dietas com restrição de fósforo reduziu a concentração plasmática de PTH, podendo até normalizar os valores desse hormônio. Nos estágios mais avançados da doença renal (estágios III e IV do estadiamento Iris), contudo, pode ser necessário introduzir agentes quelantes do

fósforo, de modo a reduzir a biodisponibilidade do fósforo alimentar, com resultados bastante satisfatórios em relação ao tempo de sobrevida dos animais acometidos. O fato de esses trabalhos comprovarem que o fósforo deve ser fornecido em menor quantidade aos pacientes nefropatas induziu a indústria de alimentos para cães e gatos a confeccionar produtos para animais nefropatas com um teor mínimo de fósforo. O sódio A hipertensão arterial é um achado comum em cães e gatos com DRC. Além disso, a hipertensão contribui para a progressão da insuficiência renal. Cães e gatos com ocorrência da doença renal crônica e pressão arterial sistólica maior que 180 mmHg são mais propensos a desenvolver uma crise urêmica, a apresentar lesões de órgãos alvo e a morrer, quando comparados a animais que têm pressão arterial sistólica normal. A maioria das dietas destinadas a cães e gatos com DRC contêm menos sódio do que os alimentos de manutenção para animais adultos. Da mesma forma, os alimentos próprios para animais idosos tendem a conter menores concentrações desse nutriente. Essa indicação é baseada na hipótese de que, com um parênquima renal com função reduzida, é mais difícil manter a homeostasia do sódio, e a consequente retenção desse nutriente pode aumentar a pressão arterial sistêmica e a pressão intraglomerular, o que poderia induzir ou exacerbar as lesões renais crônicas e aumentar o risco de progressão da DRC, como verificado em seres humanos. Entretanto, os estudos feitos em cães e gatos, embora limitados em número e consistência, até agora não conseguiram evidenciar claramente a relação entre o aumento da ingestão de sódio e o aumento da pressão arterial sistêmica, seja em animais saudáveis adultos ou idosos, seja em animais com DRC naturalmente adquirida. Dessa forma, algumas observações têm levantado dúvidas quanto ao valor de uma restrição sistemática do sódio dietético nos animais de estimação que

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alimento balanceado: fundamental para garantir a saúde desta relação

apresentam DRC espontânea. Em modelos experimentais de hipertensão, uma redução no consumo de sódio conduz a um aumento da excreção urinária de potássio e a uma ligeira hipocalemia, com ativação mais pronunciada do sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA); a ativação do SRAA pode provocar efeitos nocivos na função renal e exacerbar a fibrose renal em alguns modelos de doença renal felina. Portanto, até o presente momento, as necessidades de sódio de cães e gatos com DRC ainda não estão claramente definidas, de forma que atualmente se recomendam dietas com teores normais ou ligeiramente restritos em sódio. Devem-se realizar mais estudos para determinar se a redução do sódio ingerido ajuda a minimizar o aumento crônico da pressão sanguínea arterial sistêmica, detectada na maioria dos animais com DRC, e se a restrição de sódio dietético tem um efeito benéfico nos animais que recebem medicação anti-hipertensiva quanto ao grau de controle da pressão arterial conseguido.

A energia O combate à má nutrição em pacientes com DRC é de extrema relevância, principalmente nos estágios mais avançados da DRC, em que o elevado acúmulo de resíduos nitrogenados acaba por irritar as mucosas, levando os animais a ter náuseas e vômito e a perder o apetite. A energia é fundamental para a manutenção do organismo, sendo que o consumo em quantidades insuficientes pode acarretar catabolismo, com consequente perda de peso, anemia e hipoalbuminemia, o que tende a agravar os sinais de uremia, reduzindo a expectativa de vida do animal. A ingestão energética deve ser adaptada às necessidades do animal, e por isso o seu peso e condição corporal devem ser avaliados com regularidade. Os cães e os gatos necessitam de cerca de 140kcal/kg peso corporal 0,75/dia para sua manutenção. Os lipídeos fornecem cerca de duas vezes mais energia que os carboidratos por cada grama consumido. Aumentam a densidade energética do alimento, tornando possível a diminuição do volume a ser administrado e reduzindo assim os riscos de náuseas e vômito. Além disso, junto com os carboidratos, devem fornecer toda a energia necessária ao paciente, evitando assim que ele dependa das proteínas para

tal, o que reduz a formação de ureia – efeito altamente desejado para o paciente nefropata. Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs) ômega 3 (n-3) Os ácidos graxos de cadeia longa ômega 3 (EPA-DHA) estão contidos em maiores concentrações nos óleos de peixes marinhos de água fria. Esses ácidos graxos competem com o ácido araquidônico e alteram a produção de eicosanoides, tromboxanos e leucotrienos. A eficácia dos ácidos graxos ômega 3 de cadeia curta, como os encontrados no óleo de linhaça, ainda não é conhecida. Os lipídeos dietéticos impactam numa variedade de parâmetros importantes, incluindo a concentração de colesterol plasmático e a estrutura da membrana celular. No ser humano e em cães, a hipercolesterolemia e a hipertrigliceridemia são importantes fatores de risco para doença renal. Esse não parece ser o caso de gatos, pelo menos parcialmente, porque eles possuem apenas uma pequena quantidade de lipoproteínas de baixa densidade (LDL), que, em sua forma oxidada, redundam na progressão da doença renal humana. No entanto, a estrutura da membrana celular dos cães – e, possivelmente, dos gatos – pode ser modificada através da manipulação de lipídeos na dieta, especificamente alterando-se os tipos de ácidos graxos poli-insaturados (Pufas) presentes na alimentação diária. A manipulação dietética que tem sido mais bem estudada em cães é a alteração da relação de Pufas n-6 (óleos vegetais) para n-3 Pufas (óleos de peixe). Os Pufas n-6 e n-3 são incorporados em fosfolipídios da membrana celular e servem


como precursores de eicosanoides de grande importância na vasculatura renal, tais como a prostaglandina E2 e o tromboxano A2. A modificação da relação n-6/n-3 alimentar foi conjecturada como um método nutricional para alterar a hemodinâmica renal em um esforço para fornecer renoproteção, limitando a hiperfiltração decorrente da má adaptação. Estudos realizados em cães com nefrectomias parciais que avaliaram a suplementação de ácidos graxos n-3 (óleo de peixe) relataram redução da inflamação e da pressão arterial sistêmica, alteração das concentrações de lipídios plasmáticos e a preservação da função renal. Em contrapartida, uma dieta rica em Pufas n-6 aumentou a pressão capilar glomerular, a proteinúria e causou um ritmo acelerado de declínio da TFG, em modelos semelhantes de redução cirúrgica do tecido renal. O fornecimento de Pufas n-3 de cadeia longa (ácido eicosapentaenoico [EPA] e ácido docosa-hexaenoico [DHA]) é, provavelmente, ainda mais importante em gatos que em cães, pois a enzima delta-6-desaturase é deficiente na espécie felina. Entretanto, mais estudos são necessários para determinar se a suplementação de Pufas n-3 de cadeia longa é eficaz no manejo da proteinúria em gatos e para determinar seu efeito na progressão da DRC nessa espécie. O potássio A associação existente entre a DRC e a hipocalemia é relativamente limitada aos gatos, ao passo que em cães ou no homem, a perda de néfrons funcionais acarreta um risco maior para a hipercalemia. Em 20% a 30% dos gatos com DRC, a adaptação funcional dos néfrons residuais conduz a perdas excessivas de potássio na urina, resultando em hipocalemia. Corrigir essas anomalias eletrolíticas é clinicamente benéfico. A hipocalemia severa e a miopatia associada podem ser evitadas se a alimentação dos animais não contiver acidificantes e garantindo que a dieta esteja repleta de potássio e magnésio. Para a grande maioria dos cães e gatos com DRC, administrando-se uma dieta

formulada para a doença renal, a utilização de suplementos de potássio não será necessária assim que o problema inicial da hipocalemia tenha sido resolvido e o animal apresente novamente apetite. O equilíbrio acidobásico Diversos estudos demonstraram que os sinais clínicos de acidose metabólica geralmente são visíveis nos gatos nos estágios mais avançados da DRC, quando os mecanismos compensatórios já não são mais eficientes em controlar a acidemia. Nos estágios iniciais, a acidúria pode ser verificada, e tende a ser mais severa quanto mais avançado for o estágio da DRC. A abordagem da acidose metabólica centra-se na administração de um agente alcalinizante por via oral. A resposta do animal ao tratamento pode ser monitorada por meio de determinações sucessivas da concentração plasmática de bicarbonato, que deve idealmente permanecer entre os intervalos de referência fisiológicos. A escolha de um agente alcalinizante depende de diversos parâmetros: a sua palatabilidade, a possível presença de hipertensão (na qual os suplementos de sódio são contraindicados), hipocalemia (para a qual são recomendados os sais de potássio) e hiperfosfatemia; neste último caso, os sais de cálcio podem ser prescritos devido à sua capacidade de captar o fósforo no alimento e nas secreções intestinais. A acidose metabólica aumenta o risco de hipocalemia, sendo, portanto, indicado um tratamento que utilize o gluconato de potássio ou o citrato de potássio. As fibras As fibras fermentáveis surgiram recentemente no tratamento dietético da DRC. Representam uma fonte de carboidrato para as bactérias gastrintestinais, que utilizam a ureia como fonte de nitrogênio para crescer. Dado que a excreção de nitrogênio nas fezes aumenta de acordo com a massa bacteriana, sugeriu-se que um aumento da massa bacteriana possa ajudar a reduzir a uremia. No entanto, as toxinas urêmicas clássicas, ao contrário da

ureia-nitrogênio, são moléculas de tamanho médio – demasiado grandes, portanto, para transpor com facilidade a barreira membranosa. Por isso, é pouco provável que essas toxinas sejam utilizadas pelas bactérias para satisfazer as suas necessidades de nitrogênio. Entretanto, as fibras fermentáveis minimizam as alteraçãos de motilidade duodenojejunal e o decréscimo do tempo de trânsito gastrintestinal do cólon em cães com DRC, o que tende a melhorar a saúde do trato digestório e a sua motilidade. Outros Antioxidantes – O uso de vitamina E, vitamina C, taurina, luteína, licopeno, betacaroteno e flavonoides, entre outros, tem a função de minimizar o estresse oxidativo, que contribui para a progressão das lesões da DRC. Arginina – Por estimular a produção de óxido nítrico, que por sua vez está relacionado com a produção do fator de relaxamento endotelial, o qual promove vasodilatação, tendendo a auxiliar a reperfusão sanguínea capilar e a reduzir a pressão glomerular. Considerações finais Pode ser necessário tentar vários diferentes alimentos antes de selecionar aquele que o animal prefere. Por vezes é útil aquecer o alimento (no caso de ele ser úmido) e administrá-lo ao animal em pequenas quantidades a intervalos muito regulares. O apetite dos animais pode também ser estimulado pela adição de substâncias aromatizantes à dieta base. Dados obtidos em estudo brasileiro indicaram que 83% dos cães com DRC apresentavam disorexia/anorexia, e 70% apresentavam emese, ressaltando que com os animais nos quais nenhuma forma voluntária ou forçada de alimentação oral for suficiente para administrar a quantidade de alimento preconizada, o médico veterinário deverá lançar mão do uso de sondas e tubos para a alimentação enteral, ou ainda a nutrição parenteral, visando atender a demanda energética do paciente e, consequentemente, aumentando a qualidade e tempo de vida dos animais acometidos.

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Utilizando a informática para aumentar o faturamento da clínica veterinária

N

a edição de julho/agosto vimos como avaliar e aumentar o faturamento de uma clínica por meio da gestão adequada das informações de periódicos como: vacinas, antipulgas, exames de check-ups, etc. Antigamente, a única forma de fazer isso era utilizando arquivos em fichas de papel, o que exigia muito trabalho e pessoal. Porém, durante os últimos trinta anos, houve uma transformação mundial causada pela revolução digital e pela utilização em larga escala de invenções como o microprocessador, a internet, a fibra óptica e o computador pessoal. Tais inovações mudaram completamente o modo como vivemos, trabalhamos, nos comunicamos, investimos, compramos – enfim, todos os aspectos de nossa vida. Também permitiram a automatização dos processos dentro de uma empresa, de tal modo que, nos dias de hoje, não imaginamos um negócio que não utilize a informática. Existem várias opções à disposição, desde os ERPs (Enterprise Resource Planning), que são sistemas integrados utilizados para fazer o planejamento de recursos da empresa, até softwares de gestão específicos para o mercado veterinário, que procuram realizar as

Figura 1 - Pesquisa do Uso de TI FGV, 22. ed., 2011  (Coordenação:  prof. Fernando S. Meirelles)

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mesmas funções, mas sem o grau de complexidade e, principalmente, o alto custo dos ERPs. Essas ferramentas tornam o uso de arquivos em papel e até mesmo as planilhas eletrônicas um gasto desnecessário e de baixa eficiência. A função desses aplicativos é digitalizar os processos de um centro veterinário para promover economia de tempo e mão de obra, permitindo, simultaneamente, que o administrador tenha acesso mais rápido às informações sobre compras, vendas, atendimentos clínicos e demais processos, podendo analisar e obter indicadores de desempenho rapidamente e com pouco esforço. Em resumo: ao utilizar adequadamente um bom software de gestão, vamos diminuir os custos e tomar melhores decisões (business intelligence). Isso significa que vai sobrar mais dinheiro no final do mês! Nunca é demais recordar que informação é diferente de conhecimento. Existem empresas que se dizem “informatizadas”, mas possuem somente cadastros digitais: em vez de escrever as informações no papel, elas são arquivadas no computador. Outras geram relatórios, realizam análises, comunicam-se com os clientes, criam indicadores e buscam mudar seu comportamento de acordo com os resultados obtidos. Quais delas terão maior chance de sucesso no mercado? Todavia, embora estejamos vivendo na era da informação (termo utilizado pela primeira vez por Peter Drucker, renomado consultor de empresas), ainda é comum ver colegas e gestores que consideram o computador um equipamento “desnecessário” num centro veterinário. Outros veem os gastos em TI como custos e se preocupam somente com o preço, buscando o produto mais “barato” (como o cliente que liga para diversas clínicas para cotar o valor de uma cirurgia). Na Figura 1 podemos avaliar

Renato Brescia Miracca renato.miracca@q-soft.net

M. veterinário, bacharel em direito, MBA Q-soft Brasil Tecnologias da Informação www.qvet.com.br

a importância estratégica da TI nas médias e grandes empresas no Brasil por meio do crescimento do percentual de investimento em informática. Será que o mercado veterinário acompanha essa tendência? E a sua empresa? O desafio enfrentado por um bom gestor não é reconhecer a necessidade, que é evidente, mas escolher o produto. Por exemplo: se compramos um equipamento de Raios X e após algum tempo não estivermos satisfeitos com o produto ou com o suporte técnico, ou se surgir um equipamento mais moderno, basta trocá-lo. Com um software de gestão é diferente: todos os processos

Produto

• não atende aos processos da empresa; • falta de atualização; • apresenta falhas e bugs durante o uso; • não suporta o crescimento do centro veterinário; • desenvolvido para um único cliente, não se adapta a processos diferentes.

Suporte

• demora para responder; • dificuldade em criar novas listagens, configurações de etiquetas, etc.; • difícil de obter contato; • não atende à solicitação do cliente.

Empresa

• cobra tão barato que não consegue se manter no mercado; • não investe no produto; • amigo ou parente faz o programa e "some"; • muito pequena, causa insegurança quanto à continuidade; • não tem equipe de desenvolvimento (único programador). Figura 2 - Queixas frequentes de consumidores

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da empresa estão no sistema, o que dificulta a troca, dando muita dor de cabeça e gastos que poderiam ter sido prevenidos no momento da escolha. Ao pensar que o software será o “sistema nervoso” da empresa, devemos considerá-lo um investimento de longo prazo e fazer uma análise detalhada de seus benefícios e características e da empresa que o produz, para tentar evitar problemas futuros (Figura 2). Além do custo de aquisição, é importante ter em mente que o investimento em informática deverá ser contínuo, já que novas tecnologias surgem a todo instante, tornando o produto ou a versão rapidamente obsoletos, o que vale tanto para o hardware quanto para o software. Muitos que marcaram

época hoje só existem na memória: PC 386, celular sem acesso a internet, Windows 95, Netscape, ICQ, etc. Isso ainda soa estranho, já que é muito mais prazeroso investir em coisas para si mesmo e deixar as necessidades da empresa para depois, o que explica o fato de algumas pessoas comprarem tablets e smartphones para lazer e não adquirirem um leitor de código de barras, que custa por volta de R$100,00, para a empresa. Mesmo que alguma nova tecnologia ainda seja incomum no segmento veterinário, inovar sempre é uma forma de se diferenciar no mercado. Em Londres, por exemplo, a clínica veterinária Norwood Road já possui para iPad para que seus clientes possam conhecer todos

os seus serviços e, entre outras funcionalidades, até mesmo agendar consultas (Figura 3). No Brasil ainda não há clínicas veterinárias com aplicativos semelhantes, mas está disponível uma versão para smarthphones de aplicativo utilizado para gestão de estabalecimentos veterinários (Figura 4). Por último, é prudente lembrar que não basta investir em um bom software para que tudo ao seu redor se resolva como num passe de mágica. Devemos antes melhorar a gestão da empresa, definindo processos, estabelecendo uma estratégia empresarial clara e treinando as pessoas, pois quanto melhor for a informação que entra, mais valioso o será o conhecimento que sai.

“Não basta introduzir o computador numa empresa para que ela se modernize. Ao contrário: a empresa modernizase, então precisa do computador.” Trecho do livro O Crime de Prometeu, de Marcos Dantas, 1989

Figura 4 - Smartphone integrado à gestão comercial de estabelecimentos veterinários: agilidade e praticidade Figura 3 - Em Londres, proprietários de animais já podem marcar consulta na Norwood Road Veterinary Surgery através do iPad

“As companhias prestam muita atenção ao custo de fazer alguma coisa. Deviam preocupar-se mais com os custos de não fazer nada.” Philip Kotler Clínica Veterinária, Ano XVI, n. 94, setembro/outubro, 2011

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Seja responsável pela experiência de seus clientes – parte 1C Em uma sequência de eventos, a transferência de informações e de responsabilidades de um setor para outro é de extrema importância. Durante essas etapas, pode haver confusão, desorganização e muitas informações podem se perder. Dessa forma, vários serviços necessários deixarão de ser oferecidos aos clientes. Você imagina que possa haver casos de confusão, desorganização e falta comunicação entre os membros da sua equipe? Você se dá conta dos efeitos disso? É por isso que é preciso uma equipe inteira para criar uma experiência de 100%. A estrada para o sucesso na clínica não é isenta de surpresas – depende de consistência e de previsibilidade. Consistência + = Um sistema Previsibilidade A atitude geral deve ser de que "nós nos importamos". Essa mensagem não deve ser explícita, mas implícita. Em outras palavras, os clientes não acreditam em você quando você lhes diz que se importa, mas acreditam em você quando as suas ações mostram isso. Quanto ao comparecimento do cliente à consulta, você pode exercer algum controle sobre isso. Alguma vez já lhe aconteceu de o cliente não comparecer à consulta marcada? Isso acontece por dois motivos: o cliente mudou de ideia ou simplesmente esqueceu. Você não pode controlar o fato de o cliente mudar de ideia, mas pode e deve assumir o controle de lembrar em termos inequívocos que o cliente deve manter a consulta marcada. Se a consulta é marcada com antecedência de cinco dias ou mais, deve-se enviar uma carta para lembrar o cliente da consulta. Enviar uma carta é melhor do que mandar um cartão-postal, e pode-se fazer isso com facilidade 126

AUTORES

• Marco Antonio Gioso

Docente do Depto. de Cirurgia da FMVZ-USP www.fmvz.usp.br - www.gioso.com.br;

• Steve Kornfeld, DVM, CPCC

Certified Professional Coactive Coach -

www.veterinarycoaching.com; • Maria Das Graças Jardim Rodrigues, “Coach” (treinadora) em negócio veterinário

tendo alguns modelos no computador. Dessa forma, podem-se colocar na carta informações do cliente e do animal de estimação, incluindo o motivo declarado da visita. Também se deve explicar por que é importante que o cliente traga o animal de estimação à consulta. Sempre que você interage com os clientes, tem que vender os seus serviços novamente – concentre-se na importância de cada vez e você terá uma resposta melhor. Pense nisto: se o envio de uma carta e de lembretes aos clientes, além de fazer uma chamada telefônica e dizer as coisas certas, aumenta a taxa de comparecimento à consulta em apenas 10%, quantos negócios mais isso vai gerar durante um ano inteiro? Mesmo quando deixar uma mensagem na secretária eletrônica, lembre ao cliente a importância de trazer seu animal de estimação. No momento em que o cliente marcar uma consulta, pergunte-lhe qual seria o melhor número de telefone e o melhor momento para ligar e lembrá-lo da próxima visita. Dessa forma, a probabilidade de sua equipe falar com uma pessoa em vez de deixar um recado numa secretária eletrônica será maior. Lembre-se, estamos falando de assumir o comando/controle da experiência dos clientes. Deixar uma mensagem na secretária eletrônica e esquecer o assunto não o ajuda a resolver essa questão. Qual é o melhor procedimento para assumir o controle da experiência do cliente quando ele entra na clínica? No plano ideal, alguém deve estar disponível para cumprimentá-lo com um sorriso e com um aperto de mão e poder reconhecê-lo quando ele entra na clínica; assim, esse cliente não apenas se sente bem-vindo, mas também tem a sensação de que as pessoas realmente sabem o que estão fazendo ali. Além disso, o

fato de antecipar ao cliente o que acontecerá nessa consulta fará com que ele aprove com mais facilidade tudo o que você recomendar, deixando claro que o que interessa é o bem-estar do animal de estimação. A equipe deve estar ciente da importância do momento em que um cliente vai à clínica pela primeira vez. Toda a experiência pode ser construída ou destruída nesses primeiros momentos de interação com os clientes. De que forma você demonstra à sua equipe que reconhece o valor e a importância do trabalho deles? Por outro lado, a equipe deve se questionar: “Como eu gostaria de ser tratado para me sentir à vontade?” A resposta a essa pergunta deve guiar o colaborador quando for interagir com o cliente, e nada deve distraí-lo desse objetivo. O que se deveria dizer em cada interação é uma questão de treino. O treino não consiste em memorizar um roteiro palavra por palavra, mas sim em visualizar que experiência nós queremos que nossos clientes tenham conosco e qual é o melhor meio de alcançá-la. Crie seu próprio roteiro com esse objetivo em mente e use-o nos momentos de interação com os clientes. Pessoas diferentes podem ter diferentes maneiras de dizer a mesma coisa. Antes de começar a pôr em prática as indicações do seu roteiro, verifique o seu estado de espírito e se você está realmente empenhado em usar o roteiro de modo eficaz. E se você estiver aborrecido com alguma coisa? Você ainda acha que pode se envolver na interação? Ou você deve estar ciente do de como o seu estado de espírito negativo pode afetar a qualidade da interação e, portanto, ter alguém para substituir o seu lugar? Sempre que você interage com os clientes, você está num palco, e, portanto, precisa se ver como um ator/atriz atuando diante de uma plateia.

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A SABEDORIA DOS CÃES

A sabedoria dos cães, de Gotham e Deepak Chopra, demonstra como os cães nos ajudam a construir relações mais saudáveis. Dizem que os cães se parecem com seus donos, mas será que não são os donos que se parecem com seus cães? A editora Lua de Papel lança no Brasil A sabedoria dos cães, de Gotham e Deepak Chopra, livro que analisa qual o papel canino nas relações humanas e como suas qualidades e valores são aprendizados para o homem, seu melhor amigo. A sabedoria dos cães surgiu do convívio da família Chopra com Nicholas, um filhote de saimoeda que conviveu com eles na década de 1980. Nicholas ensinou – ao pai e ao filho – lições sobre curiosidade e sabedoria, abertura mental e paixão, e também os fortes laços de lealdade e respeito, qualidades e valores que Deepak estudou e debateu durante anos em seus livros e palestras. Em A sabedoria dos cães, Gotham e Deepak demonstram como esses amigos têm muito a ensinar aos seres humanos. Com extrema sinceridade, o livro oferece iluminação, conforto e, entre uma lambida e um afago, um mundo de descobertas sobre o valor dessa relação com o melhor amigo do homem. Sobre os autores Gotham Chopra é um premiado jornalista e documentarista. Recentemente envolveu-se com a formação da Al Gore’s CurrentTV. Ele vive em Santa Monica com sua esposa, seu filho e seus cães. Deepak Chopra, fundador do Chopra Center, é professor proeminente da filosofia oriental. Autor de inúmeros best sellers, seus livros vêm aparecendo há décadas na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, alcançando milhões de cópias.

A sabedoria dos cães: 248 páginas

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CÃO DE FAMÍLIA

No livro Cão de família, o leitor tem acesso às mais importantes informações sobre comportamento, saúde, educação e bem-estar dos cães. Escrito por Alida Gerger e Alexandre Rossi, é considerado leitura fundamental para quem tem ou quer ter um cão, seja ele filhote ou adulto. Gerger e Rossi também inovam ao incluir questões menos conhecidas do grande público, mas de enorme importância atualmente, como a socialização do animal e o enriquecimento ambiental. O enriquecimento ambiental deixa o dia a dia do cão mais interessante e prazeroso. Numa época em que as famílias têm pouco tempo e, frequentemente, pouco espaço, esse aspecto da criação é uma das melhores ferramentas para espantar o tédio do animal e evitar A problemas mais graves. O livro Cão de família traz várias sugestões de enriquecimento ambiental no estilo “faça B você mesmo”. Em A, fileira de tampinhas, e em B, garrafa pet suspensa. Em ambas as sugestões, o atrativo que mantém o entretenimento dos cães são os petiscos escondidos

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Eyenimal

Câmara de vídeo para cães e gatos

E

yenimal é uma câmara que foi projetada para ser fixada à coleira de cães ou gatos. Basta apertar o botão de gravar para ela começar a registrar todas as imagens vistas pelo animal portador da câmara.

Além de ter imagens divertidas e inusitadas que refletem o mundo do ângulo do qual os animais veem, a Eyenimal pode ajudar a esclarecer problemas relacionados ao comportamento e à sociabilidade dos animais de estimação.

Algumas aplicações práticas da Eyenimal • O que deixa o cão tão excitado e latindo quando se está ausente? • Por onde o cão ou gato passeiam? • Como o cão foge de casa? • Quem mexe no lixo? • Quem destruiu o jardim? • Como o cão ou gato veem o nosso mundo e o que os assusta ou os faz ficar agressivos? • O que o adestrador ensinou para o cão? • Quais os caminhos por onde o passeador está transitando? • O que o cão ou o gato estão lambendo ou comendo que os está deixando doentes? • O que há nos lugares onde o cão ou o gato passam que os está machucando? • O que o gato fez? • Onde o gato subiu? • Onde o gato afiou as unhas? As aplicações da Eyenimal são inúmeras e a cada dia cresce o número de vídeos registrados por câmeras colocadas em animais. Alguns já acumulam milhares de visualizações. Insira a pa-

lavra Eyenimal no campo de busca do YouTube e surpreenda-se com a peculiaridade de cada vídeo encontrado. A câmara Eyenimal está disponível na BitCão: www.bitcao.com.br.

CARACTERÍSTICAS • foco automático com ajuste de luz; • captura vídeo e áudio; • resolução de 640 x 480; • capacidade de 8 GB de memória flash; • bateria NiMH recarregável Li-Ion 500mA (carga USB); • conectividade USB 2.0; • compatível com Microsoft Windows 2000, XP, Vista, 7, Mac OS e Linux; • formato de vídeo AVI; • resistente à chuva e ao tempo (mas não é à prova dʼágua e não deve ser imersa totalmente); • peso: 35 gramas; • manual de instruções em vários idiomas, inclusive português; • dimensões: 6cm x 4,5cm x 1,5cm (comprimento x altura x largura);

• tempo de gravação de até 2 horas e meia; • pode ser usada em coleiras de 1cm a 3cm de largura.

Vez do Silêncio: Pet Society apoia projeto de inclusão de deficientes auditivos

A

iniciativa do projeto social Vez do Silêncio tem como responsável e criador o groomer Sergio Murilo Villasanti. O programa tem o objetivo de promover a inclusão de deficientes auditivos no mercado de trabalho, integrando-os por meio de atividades práticas para a execução das tarefas, formando-os para atuarem em pet shops e clínicas veterinárias, na área de banho e tosa. O projeto busca oferecer qualidade de vida e igualdade social para os deficientes auditivos. Interessada nesse projeto de inclusão e aperfeiçoamento dos novos pro130

fissionais da área, a Pet Society, junto com o groomer, vai promover palestras e cursos sobre técnicas de banho e tosa, e divulgar informações e novidades do mercado, contribuindo para a formação dos deficientes auditivos. “Espero que seja um exemplo e mostre que, apesar das diferenças, temos muito a aprender com as pessoas especiais”, diz a vice-presidente da Pet Society, Marly Fagliari. Com muita dedicação, respeito e sensibilidade, a equipe da Escola República dos Cães, escola estética canina de Campinas, está formando a primeira

Projeto Vez do Silêncio ensina técnicas de banho e tosa a deficientes auditivos

turma de alunos especiais nos próximos meses. A Vez do Silêncio conta com um curso básico, treinamento com os receptores, acompanhamento por três meses dos deficientes dentro do trabalho e curso de especialização.

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Arquitetura & Construção Aquecimento solar de água a vácuo É um sistema inovador para aquecimento de água. Aquece a água a temperaturas de até 100º C. A eficiência do equipamento é superior a 94% da energia solar incidente, mais de três vezes a eficiência de um aquecedor solar convencional. Nesse sistema as perdas são reduzidas devido ao vácuo entre os tubos de vidro (mesmo princípio da garrafa térmica), que proporciona um excelente isolamento térmico. É indicado para projetos com exigência de altas temperaturas. Não há possibilidade de congelamento da água interna, devido ao fato de o isolamento ser feito por meio do vácuo entre os tubos de vidro. A troca de calor ocorre por convecção natural dentro dos tubos de vidro. Sendo assim, não há necessidade de motores para a circulação da água, evitando o consumo de energia elétrica e gastos

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Sistema de aquecimento solar de água a vácuo

com a manutenção de motor elétrico. A captação de energia térmica é realizada por meio de um conjunto de tubos de vidro de borossilicato de alta resistência com parede dupla, dentro do qual existe vácuo. A parede interna é coberta de nitrato de alumínio, um material com excelente capacidade de absorção de calor, tornando o processo de aquecimento de água muito mais rápido e eficiente. Devido ao vácuo existente no espaço confinado entre os dois

O sistema de aquecimento solar de água a vácuo tem excelente aplicação nos serviços de banho e tosa, mas também pode ser dimensionado para o aquecimento de piscinas

tubos, o sistema não sofre interferência do meio externo (vento, chuva e dias nublados), e as perdas de calor são extremamente reduzidas, tornando-o o melhor coletor disponível no mercado.

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Medidor de pressão arterial não invasivo

O

medidor de pressão arterial não invasivo, modelo MD200A-V, foi desenvolvido no Brasil pela SDAMed para aplicação em animais de pequeno e médio porte. O equipamento funciona com pilha ou ligado a tomada e permite a mensuração das

pressões sistólica (S), diastólica (D), média (M) e da frequência cardíaca. O MD200A-V, assim como outros equipamentos de vital importância para os pacientes, pode ser encontrado na Ortovet: (11) 3559-8815 ou 3887-8770.

Lançamentos SUPLEMENTOS PARA CÃES E GATOS

Eritrós Cat: suplemento desenvolvido exclusivamente para gatos

A

Organnact Nutracêuticos lançou o Eritrós Cat, um suplemento desenvolvido exclusivamente para os gatos. Segundo a coordenadora técnica do Grupo Organnact, Adriana Meyer, o Eritrós Cat contém elementos importantes para o processo de formação, desenvolvimento e maturação das células do sangue e, principalmente, das células vermelhas.

“As hemácias são responsáveis pelo transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos, e determinadas condições podem comprometer essa função, exigindo maior demanda dos precursores da hematopoiese. Animais debilitados, seja com doenças sistêmicas, como infecções bacterianas ou virais, animais com parasitoses, intoxicados ou até mesmo gestantes – que podem desenvolver um quadro anêmico –, muitas vezes exigem reposição de células sanguíneas”, explica Adriana. Eritrós Cat está disponível em frascos de 30mL, e sua administração se dá por via oral, em doses de 1mL ao dia. A embalagem contém uma seringa dosadora de 5mL que facilita a dosagem. Outra novidade da Organnact Nutracêuticos são os Condrix Dog Tabs, um suplemento alimentar indicado para cães de qualquer idade que combina minerais quelados, aminoácidos, glicosamina e sulfato de condroitina. Esse suplemento contém alta concentração de

Condrix dog: suplemento para cães de qualquer idade

condroitina A e glicosamina, e é o único com extrato de cavalinha, poderoso agente fitoterápico. Sua apresentação em tabletes mastigáveis é outro grande diferencial, pois facilita a administração ao animal e evita o desperdício do produto. Organnact: www.organnact.com.br falecom@organnact.com.br

HEPATOPHARME® SUPENSÃO: SUPLEMENTO NUTRACÊUTICO

H

epatopharme® Suspensão é um suplemento nutracêutico, indicado como suporte nutricional para animais

Além da apresentação em suspensão, Hepatopharme® também é encontrado em comprimidos palatáveis de 1.000 mg

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acometidos de transtornos hepáticos. Sua formula é composta por DL-metionina, extrato de alcachofra, vitaminas, glicose, zinco e silimarina combinados, que auxiliam o metabolismo hepático. Outros produtos que compõem o portfólio da linha pet da Nutripharme

são: VitaEnergy® (solução e comprimidos), FerroFood® (suspensão e comprimidos), Imunoderme®, Calcific® (suspensão e comprimidos) e a linha de suplementos Vitadeli®. Nutripharme: (65) 3025-1763 www.nutripharme.com.br

Produtos da linha pet da Nutripharme

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$ NEGÓCIOS E OPORTUNIDADES $









SETEMBRO 16 de setembro Belo Horizonte - MG Endocrinologia: diabetes felina Hipoglicemiante oral ou insulinoterapia (31) 3297-2282 16 de setembro Belo Horizonte - MG Curso de hormonologia (31) 3281-0500 16 a 18 de setembro São Paulo - SP Tópicos em clínica das doenças gastroentéricas e hepatobiliares dos felinos (11) 3579-1431 16 a 23 de setembro São Paulo - SP Imersão nas redes ecológicas www.abecol.org.br/redesecologia 16/09/11 a 21/02/2012 Rio de Janeiro - RJ Curso atualização em anestesiologia e terapia intensiva perioperatória - cães e gatos (21) 2437-7557

17 e 18 de setembro São Paulo - SP Curso de reabilitação em pacientes ortopédicos (11) 98212-752 17 e 18 de setembro Florianópolis - SC Palestra de oncologia (Martin Soberano - Argentina) www.anclivepa.com.br 17 e 18 de setembro Belo Horizonte - MG III Encontro da Academia Brasileira de Clínicos de Felinos (31) 8747 3621 17 e 18 de setembro São Paulo - SP US Doppler - Básico (13) 3252-8500 17 a 19 de setembro Viçosa - MG Curso de interpretação radiográfica em pequenos animais (31) 3899-8300

17 a 25 de setembro São Bernardo do Campo - SP XIV SAMVET 2011 - Metodista (11) 7897-0177 18 a 22 de setembro São Lourenço - MG X Congresso de ecologia e gestão ambiental. I Simpósio de sustentabilidade "homem ambiente - sustentabilidade" www.seb-ecologia.org.br 22 a 24 de setembro São Paulo - SP Cirurgias da coluna vertebral (11) 3819-0594 22 e 23 de setembro São Paulo - SP - USP V Seminário sobre ética e direito animal - Estabelecendo conexões (11) 3091-3584 22 a 25 de setembro Araçatuba - SP - FMVA / Unesp 17ª Semana de estudos em medicina veterinária www.fmva.unesp.br/semev

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24 e 25 de setembro Botucatu - SP - FMVZ - UNESP VIII Simpósio internacional de patologia clínica veterinária (14) 3811-6115 26 a 30 de setembro Goiânia - GO XV Encontro nacional de patologia veterinária (ENAPAVE) www.enapave.com.br 27 a 30 de setembro Belo Horizonte - MG Tecnologias ambientais e sociais: uma condição essencial para um futuro sustentável ecolatina@ecolatina.com.br 28 a 30 de setembro Anápolis - GO I Encontro Goiano de manejo e conservação de animais silvestres (62) 3902-6200 30 de setembro a 2 de outubro Porto Alegre - RS III Simpósio Estadual de Oncologia Veterinária www.oncovetufrgs.blogspot.com

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OUTUBRO 1 e 2 de outubro Londrina - PR II Curso de endocrinologia (43) 3371-4821

3 a 7 de outubro Campinas - SP Bem-estar em animais selvagens - XX Encontro e XIV Congresso www.abravas.org.br

1 e 2 de outubro São Paulo - SP Curso teórico prático de oftalmologia em pequenos animais (11) 3085-8619

4 de outubro São Luís - MA III Encontro de ética, bioética e bem-estar animal - Nordeste www.cfmv.org.br

1 e 2 de outubro São Paulo - SP Doenças infectoparasitárias (11) 3579-1431

7 a 9 de outubro Londrina - UEL Curso de eletrocardiografia Prof. Camacho (43) 9161-6304

1 e 2 de outubro Ribeirão Preto - SP I Simpósio de oncologia em cães e gatos (14) 3882-4243 1 e 2 de outubro Pelotas - RS Curso de perícia forense na área civil para médicos veterinários (51) 3332-4383 1º de outubro a 5 de novembro Rio de Janeiro - RJ Curso de virologia molecular http://migre.me/54CBO

8 de outubro Brasil HACHI ONG de Blumenau convida: WEEAC - Dia mundial de combate à crueldade animal http://migre.me/5vBIm 8 e 9 de outubro Campinas - SP Curso de especialização em acupuntura veterinária (19) 3208-0993

13 a 15 de outubro UFSM - Santa Maria - RS II SINADI - II Simpósio Nacional de diagnóstico por imagem em medicina veterinária www.ufsm.br/sinadi 14 e 15 de outubro São Paulo - SP Cirurgias de cabeça e pescoço (11) 3819-0594 14 e 16 de outubro Botucatu - SP (UNESP) II Curso de fisioterapia e reabilitação em animais de companhia (14) 8803-7825 14 e 16 de outubro Sorocaba - SP Curso teóricoprático de manejo e medicina de carnívoros cursos@animalia.vet.br 18 a 20 de outubro São Paulo - SP Pet South America - Feira internacional de produtos e serviços para a linha pet e veterinária & Conpavet e Conpavepa Congresso das especialidades www.petsa.com.br

2 de outubro a 6 de novembro Mandaqui - SP Ortopedia e traumatologia em cães e gatos (11) 2995-9155

8 de outubro a 6 de novembro Niterói - RJ XXXIV SEMAMBRA - A Semana Acadêmica Americo Braga (21) 9476-0788

3 e 4 de outubro Belo Horizonte - MG Desvendando os segredos do hemograma (31) 3297-2282

13 a 15 de outubro Londrina - UEL Curso de eletrocardiografia Prof. Camacho (43) 9161-6304

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21 a 23 de outubro Campinas - SP Curso de ultrassonografia Doppler/Biopsia (19) 3365-1221

22 a 23 de outubro Florianópolis - SC Palestra sobre cardiologia www.anclivepa.com.br 22 a 23 de outubro São Paulo - SP US Abdominal Avançado (13) 3251-8500 23 de outubro São Paulo - SP. Auditório CRMV Desvendando o ecocardiograma www.sbcv.org.br 23 a 28 de outubro Pantanal - MS I curso de capacitação - Pantanal (teórico-prático) www.animalia.vet.br 25 de outubro Belo Horizonte - MG Fertilidade e reprodução (31) 3281-0500 25 a 27 de outubro Santos - SP SEMAVET - Semana acadêmica veterinária da UNIMONTE (13) 3326-8217 25 a 27 de outubro Vila Velha - ES Semana Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da UVV (27) 3421-2188 25 a 27 de outubro Vassouras - RJ II EAVET - Encontro acadêmico de medicina veterinária www.uss.br


26 a 28 de outubro Londrina - PR ARAVET - Ciclo de palestras de pequenos animais e animais de produçao (43) 9976-6778

7 de novembro CFMV Brasília - DF I Fórum nacional de saúde ambiental www.cfmv.org.br

28 a 30 de outubro São Paulo - SP ABC - Trauma LAVECCS www.cetacvet.com.br

7 a 11 de novembro Campos dos Goytacazes - RJ Semana acadêmica de medicina veterinária da UENF - SACAMEV (22) 2739-7280

29 e 30 de outubro Belo Horizonte - MG Simpósio internacional de LVC e Infectologia www.anclivepa-mg.com.br

17 de novembro Belo Horizonte - MG Alergologia veterinária (31) 3281-0500

NOVEMBRO Inicío: novembro 2011 Belo Horizonte - MG Emergências clínicas (31) 3297-2282 1 a 4 de novembro Florianópolis - SC 38º CONBRAVET

(48) 3035-4388 4 e 5 de novembro UNESP / Jaboticabal - SP IV Simpósio sobre nutrição clínica de cães e gatos (16) 3209-1300 4 a 6 de novembro São Paulo - SP I Simpósio Internacional de cardiomiopatias da SBCV www.sbcv.org.br 4 a 6 de novembro São Paulo - SP Curso teórico e prático de emergências e terapia intensiva em cães e gatos (11) 3579-1431 5 e 6 de novembro São Paulo - SP II Simpósio em anestesiologia veterinária APAV - SP (11) 7897-1090

19 a 20 de novembro Rio de Janeiro - RJ I Curso de manejo hospitalar e emergência de felinos (21) 9909-0002 19 e 20 de novembro São Paulo - SP US músculo esquelético (13) 3251-8500 25 a 27 de novembro Londrina - PR Simpósio de medicina torácica em animais de companhia (43) 9151-8889 30 de novembro a 2 de outubro Recife - PE SINDIV Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem Veterinário www.dmv.ufrpe.br/sindiv/ Novembro - Data a confirmar Região Sul XXVII Curso FOCA (Formação de Oficiais de Controle Animal) www.itecbr.org DEZEMBRO 2 a 5 de dezembro Curitiba - PR Curso de habilitação em cuidados intensivos - LAVECCS (41) 9649-2664

7 de dezembro Região Nordeste ou Norte XXVIII Curso FOCA - (formação de oficiais de controle animal) www.itecbr.org 5 a 9 de dezembro Campinas - SP Curso de ecodopplercardiografia veterinária www.echoa.com.br 8 a 10 de dezembro São Paulo - SP CIPO - Curso de ortopedia - avançado www.cipo.vet.br 10 e 11 de dezembro São Paulo - SP US Doppler - Avançado (13) 3251-8500

2012

JANEIRO 5 e 6 de janeiro Módulo 1 - São Paulo III Vet Practices in South Africa (11) 3149-8199 MARÇO 16 a 18 de março São Paulo - SP 6º Neurovet Simpósio de neurologia veterinária www.peteventos.com.br 17 a 20 de março Recife - PE Fenapet 2012 Feira Nacional de produtos para a linha pet e veterinária www.fenapet.com.br 22 a 24 de março São Paulo - SP Pet Show II Feira internacional de animais e produtos pet www.feirapetshow.com.br

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31 de março a 5 de abril São Paulo - SP XXII Sacavet IX Simpropira www.sacavet.com.br ABRIL 27 a 30 de abril Curitiba - PR 33º Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA www.anclivepa2012.com.br 6 a 8 de abril Areia - PB I simpósio do grupo de estudos em animais silvestres da UFPB (83) 9631-7662

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Internacional SETEMBRO 30 de setembro a 2 de outubro Sofia - Bulgária PET BIZ 2011 - The Balkan Special Event For Pet Food, Pet Accessories, Aquariums, and NEW Business Ideas www.petbiz.gr OUTUBRO 10 a 14 de outubro Cidade do Cabo - África do Sul 30th World Veterinary Congress 2011 - Caring for animals: healthy communities www.worldvetcongress2011.com

24 a 26 de outubro Lima - Peru LAVC del NAVC 2011 - Latin American Veterinary Conference www.tlavc-peru.org NOVEMBRO 4 a 7 de novembro Albuquerque, NM - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2011 Annual Conference www.vetcancersociety.org 24 e 25 de novembro Londres - UK The London Vet Show (LVS) www.londonvetshow.co.uk

2012

JANEIRO 8 a 20 de janeiro Eastern Cape South Africa III Vet Practices in South Africa (11) 3149-8199 14 a 18 de janeiro Orlando - Flórida NAVC - North American Veterinary Conference 2012

www.tnavc.org ABRIL 12 a 15 de abril Birmingham Inglaterra WSAVA 2012 FECAVA BSAVA www.wsava.org

14 a 17 de outubro Jeju - Coreia WSAVA 2011 - 36th World Small Animal Veterinary Association World Congress www.wsava2011.org

24 a 26 de novembro Punta del Este - Uruguai FIAVAC 2011: • Simposio Iberoamericano de Zoonosis Emergentes y Re-emergentes / • VIII Congresso Iberoamericano FIAVAC* • VIII Congresso Nacional de SUVEPA * • XXI Jornadas Veterinarias de Maldonado * * Tradução para o português http://fiavac2011.org/

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MAIO 8 a 15 de maio Valencia - ES Congreso Internacional Veterinaria 2012 veterinaria2012@viajeseci.es

17 a 20 de maio Nuremberg - Alemanha Interzoo 2012 http://www.interzoo.com/ JULHO 24 a 28 de julho Vancouver Canadá 7th World Congress of Veterinary Dermatology 201 www.vetdermvancouver.com SETEMBRO 6 a 15 de setembro Jeju, Republic of Korea IUCN World Conservation Congress 2012 www.iucn.org/2012_congress/ NOVEMRO 18 a 21 de novembro Las Vegas, Nevada - EUA VCS Veterinary Cancer Society 2012 Annual Conference www.vetcancersociety.org




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