Clínica Veterinária n. 100

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46

Toxicologia

Intoxicação de cães por sapos do gênero Rhinella (Bufo) – revisão de literatura

Poisoning of dogs by toads from the Rhinella (Bufo) genus – literature review Intoxicación de perros con sapos del género Rhinella (Bufo) – revisión de la literatura

56

Oncologia

Carcinoma papilar ovariano em cadela – relato de caso Ovarian papillary carcinoma in female dogs – case report Carcinoma papilar de ovario en una perra – relato del caso

62

Oncologia

Fatores prognósticos no mastocitoma cutâneo canino – revisão de literatura

Prognostic markers for canine mast cell tumors – literature review Factores pronósticos en el mastocitoma cutáneo canino – revisión de literatura

Clínica médica

Resistência a antimicrobianos de bactérias isoladas em cães com otite externa crônica

72

Antimicrobial resistence of bacteria isolated from dogs with chronic otitis externa Resistencia antibiótica de bacterias en perros con otitis externa crónica

80

Cirurgia

Afecções neurológicas e abordagens cirúrgicas na coluna vertebral, medula espinhal e raízes nervosas da transição cervicotorácica em cães e gatos – revisão Neurological diseases and surgical approaches to spine, spinal cord and nerve roots of the cervicothoracic transition in dogs and cats – a review Trastornos neurológicos y abordajes quirúrgicos de la columna vertebral, médula espinal y raíces nerviosas de la transición cervico torácica en perros y gatos – revisión de la literatura

100

Ortopedia

Ruptura do ligamento cruzado cranial – revisão Cranial cruciate ligament rupture – review Ruptura del ligamento cruzado craneal – revisión

6

Animais silvestres

114

Comparação do crescimento de filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) alimentados com dietas caseira e comercial

Comparison of the growth of blue-fronted Amazon parrot (Amazona aestiva) nestlings fed with homemade and commercial diets Estudio comparativo de crías de loros (Amazona aestiva) alimentados con dieta casera y comercial

Errata No artigo Achados histopatológicos do glaucoma em cães e gatos, publicado na edição n. 99 de 2012, na página 66, a titulação do autor Eduardo Perlmann saiu errada. Eduardo Perlmann é doutorando da USP. No subtítulo Lesões histopatológicas do glaucoma em cães e gatos, no final do parágrafo está “formação de membrana fibrovascular na superfície anterior da lente”, o correto é “formação de membrana fibrovascular na superfície anterior da íris”.

@ Na internet

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Contato

Editora Guará Ltda. Dr. José Elias 222 - Alto da Lapa 05083-030 São Paulo - SP, Brasil Central de assinaturas: 0800 891.6943 cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 / 3641-6845

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012



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Ensino

• Treinamento profissional por meio da simulação de casos clínicos • A educação humanitária e o ensido da medicina veterinária • A greve e os serviços essenciais oferecidos pelas faculdades de medicina veterinária

Saúde pública

• Veterinário da família • Crianças que convivem com outras crianças podem desenvolver doenças graves • Manifestações públicas contra a política nacional de controle da leishmaniose visceral

Medicina veterinária do coletivo Uma saúde, uma medicina, um bem-estar

Notícias

18 28 30

• Pesquisa apresenta panorama nacional de doenças causadas por carrapatos e pulgas em cães e gatos no Brasil • Tomografia computadorizada com tecnologia multislice • UTI no Hospital Veterinário Pet Care

34 Filhotes de harpia são monitorados no mosaico de Carajás 38 Interação homem-animal Ecologia

Tanatologia

Homeopatia

O vitalismo e sua influência na homeopatia

8

124

Comportamento

Importância da consciência e cognição animal

Medicina veterinária legal

128 130 132

Perícia em bem-estar animal para diagnóstico de maus-tratos

Pet food

Ingrediente, nutriente,suplemento e alimento funcional para cães e gatos

Mercado pet

Eventos aquecem mercado pet e veterinário Ministro anuncia criação de cadeia produtiva pet

Gestão, marketing e estratégia

136 138

Livros

140 142

Lançamentos Guia veterinário

144 145

Quem são os “outros” ?

Equipamentos

Terapia por ondas de choque • Casos de rotina • Manual de nefrologia e urologia • Amizades improváveis www.guiavet.com.br

Vet Agenda

www.vetagenda.com.br

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

152



E

stamos publicando a centésima edição da revista

Clínica Veterinária,

e,

para nossa satisfação, o seu período de circulação abrange a data comemo-

rativa da profissão de médico veterinário, o 9 de setembro.

Nos últimos dezessete anos, nas 100 edições da

Clínica Veterinária, totalizam-se quase 600 artigos

científicos publicados. Além disso, também comparti-

lhamos atualidades sobre temas variados, como, por exemplo, o ensino da medicina veterinária, a conservação da natureza, o bem-estar dos animais e as políticas

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684 - www.crmvmg.org.br

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

PUBLICIDADE / ADVERTISING midia@editoraguara.com.br

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

CAPA / COVER: Comstock Colletction

públicas de saúde.

A indexação no CAB Abstracts foi uma das primeiras

obtidas pela revista. Nos últimos cinco anos de publi-

cação a revista também passou a acumular as indexações no ISI Web of Knowledge – Zoological Record e no Latindex.

A retrospectiva do trabalho editorial que registrou

momentos históricos da medicina veterinária traz satisfação e nostalgia. Fatos, eventos, solenidades, lança-

mentos, novidades científicas, premiações… Há muitos registros na Clínica

Veterinária! Por isso, gostaría-

mos que nesse momento também ficasse registrada a nossa gratidão a todos os que compartilharam a revis-

ta conosco todos esses anos: os leitores, os anuncian-

tes, os consultores e os fornecedores. Cada um colabora com boa parte dessa história que registramos ao longo de dezessete anos. Que possamos continuar jun-

tos por muitos anos mais, promovendo a evolução do ensino da medicina veterinária, dos serviços de saúde,

da formação das políticas públicas de saúde e da preservação do meio ambiente.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto Maria Angela Sanches Fessel 10

www.revistaclinicaveterinaria.com.br

Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012



CONSULTORES CIENTÍFICOS Adriano B. Carregaro

Clair Motos de Oliveira

Hannelore Fuchs

Leonardo Pinto Brandão

Masao Iwasaki

DCPA/CCR/UFSM

ANCLIVEPA-SP

Univ. de Buenos Aires

FMV/UFRPE

FALM/UENP

FZEA/USP

Alceu Gaspar Raiser

Alessandra M. Vargas Endocrinovet

Alexandre Krause FMV/UFSM

FMVZ/USP

Clarissa Niciporciukas

Cleber Oliveira Soares EMBRAPA

Cristina Massoco

Salles Gomes C. Empresarial

Alexandre Lima Andrade Daisy Pontes Netto CMV/Unesp-Aracatuba

FMV/UEL

UFPR, UI/EUA

UFSM/URNERGS

Alexander W. Biondo

Aloysio M. F. Cerqueira UFF

Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia

Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL

André Luis Selmi

Anhembi/Morumbi e Unifran

Angela Bacic de A. e Silva FMU

Antonio M. Guimarães DMV/UFLA

Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal

A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP

Arlei Marcili ICB/USP

Aulus C. Carciofi

FCAV/Unesp-Jaboticabal

Aury Nunes de Moraes UESC

Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP

Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI

Berenice A. Rodrigues

Médica veterinária autônoma

Camila I. Vannucchi FMVZ/USP

Carla Batista Lorigados FMU

Carlos Alexandre Pessoa Médico veterinário autônomo

Carlos E. S. Goulart FTB

Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal

Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP

Ceres Faraco FACCAT/RS

César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA

Christina Joselevitch IP/USP

Cibele F. Carvalho UNICSUL

12

Daniel C. de M. Müller Daniel G. Ferro ODONTOVET

Daniel Macieira FMV/UFF

Denise T. Fantoni FMVZ/USP

Dominguita L. Graça FMV/UFSM

Edgar L. Sommer PROVET

Edison L. P. Farias UFPR

Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE

Elba Lemos

Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu

Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR

Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE

Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS

Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL

Fernando Ferreira FMVZ/USP

Flávia R. R. Mazzo Provet

Flavia Toledo

Univ. Estácio de Sá

Flavio Massone

FMVZ/Unesp-Botucatu

Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu

F. Marlon C. Feijo UFERSA

Franz Naoki Yoshitoshi Provet

Geovanni D. Cassali ICB/UFMG

Geraldo M. da Costa

Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP

Hector Daniel Herrera Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB

Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U.

Hélio Langoni

FMVZ/UNESP-Botucatu

Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ

Herbert Lima Corrêa ODONTOVET

Iara Levino dos Santos

Koala H. A. e Inst. Dog Bakery

Iaskara Saldanha Provet, Lab. Badiglian

Idael C. A. Santa Rosa UFLA

Ismar Moraes FMV/UFF

Jairo Barreras FioCruz

James N. B. M. Andrade FMV/UTP

Jane Megid

FMVZ/Unesp-Botucatu

FioCruz-RJ

DMV/UFLA

Instituto PetSmile

Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL

Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade

João G. Padilha Filho FCAV-Unesp-Jaboticabal

João Pedro A. Neto UAM

Jonathan Ferreira Odontovet

José de Alvarenga FMVZ/USP

Jose Fernando Ibañez FALM/UENP

José Luiz Laus

FCAV/Unesp-Jaboticabal

José Ricardo Pachaly UNIPAR

José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP

Juan Carlos Troiano UBA

Juliana Brondani

FMVZ/Unesp-Botucatu

Juliana Werner

Lab. Werner e Werner

Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG

Julio Cesar de Freitas UEL

Karin Werther

FCAV/Unesp-Jaboticabal

Merial Saúde Animal

Leucio Alves

Luciana Torres FMVZ/USP

Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu

Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu

Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu

Marcello Otake Sato FM/UFTO

FMVZ/USP

Mauro J. Lahm Cardoso Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP

Michele A. F. A. Venturini ODONTOVET

Michiko Sakate

FMVZ/Unesp-Botucatu

Miriam Siliane Batista FMV/UEL

Moacir S. de Lacerda UNIUBE

Marcelo A.B.V. Guimarães Monica Vicky Bahr Arias FMVZ/USP

FMV/UEL

FMVZ/USP

FMV/UFF

Marcelo Bahia Labruna Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP

Marcelo Faustino FMVZ/USP

Marcia Kahvegian FMVZ/USP

Márcia Marques Jericó UAM e UNISA

Marcia M. Kogika FMVZ/USP

Marcio B. Castro UNB

Marcio Brunetto

FMVZ/USP-Pirassununga

Marcio Dentello Lustoza

Biogénesis-Bagó Saúde Animal

Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu

Marco Antonio Gioso FMVZ/USP

Marconi R. de Farias PUC-PR

Nadia Almosny

Nayro X. Alencar FMV/UFF

Nei Moreira CMV/UFPR

Nilson R. Benites FMVZ/USP

Nobuko Kasai FMVZ/USP

Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu

Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz

Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL

Paulo César Maiorka FMVZ/USP

Paulo Iamaguti

FMVZ/Unesp-Botucatu

Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN

Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP

Maria Cecilia R. Luvizotto Pedro Germano CMV/Unesp-Aracatuba

FSP/US

FMV/UFV

DCV/CCA/UEL

FMV/UFF

FMV/UFSM

M. Cristina F. N. S. Hage Pedro Luiz Camargo Maria Cristina Nobre

M. de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH

Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL

M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu

Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP

Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba

Marta Brito FMVZ/USP

Mary Marcondes

CMV/Unesp-Araçatuba

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

Rafael Almeida Fighera Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia

Regina H.R. Ramadinha FMV/UFRRJ

Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente

Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu

Ricardo Duarte Hovet Pompéia

Ricardo G. de C. Vilani UFPR

Ricardo S. Vasconcellos CAV/UDESC


Rita de Cassia Garcia FMV/USP

Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ

Rita Leal Paixão FMV/UFF

Robson F. Giglio

Hosp. Cães e Gatos; Unicsul

Rodrigo Gonzalez

FMV/Anhembi-Morumbi

Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu

Ronaldo C. da Costa CVM/Ohio State University

Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio

Rosângela de O. Alves EV/UFG

Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG

Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU

Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu

Silvia E. Crusco UNIP/SP

Silvia Neri Godoy UICMBio Sede

Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP

Silvia R. R. Lucass FMVZ/USP

Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP

Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM

Simone Gonçalves Hemovet/Unisa

Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu

Suely Nunes E. Beloni DCV/CCA/UEL

Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR

Valéria Ruoppolo

Int. Fund for Animal Welfare

Vamilton Santarém Unoeste

Vania M. de V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu

Viviani de Marco

UNISA, Hosp. Vet. Pompéia

Wagner S. Ushikoshi

FMV/UNISA e FMV/CREUPI

Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

Instruções aos autores

Artigos científicos inéditos, como trabalhos de pesquisa, revisões de literatura e relatos de caso, enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Relatos de casos são utilizados para apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais, que são discutidas detalhadamente. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade. Uma revisão deve apresentar no máximo até 15% de seu conteúdo provenientes de livros e no máximo 20% de artigos com mais de dez anos de publicação. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bemestar animal deve sempre receber atenção especial. Para a primeira avaliação, os autores devem enviar pela internet (revistaclinicaveterinaria.com.br/concurso) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpis na largura de 9cm. Se os autores não possuírem imagens digitalizadas, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de redação cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e e-mail). Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus títulos no momento em que o trabalho foi escrito. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e ser grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Birem (http://decs.bvs.br/). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 10, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências.

No caso de todo o material ser remetido pelo correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-rom. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser auto-explicativas. Evitar citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Procurar se restringir ao "Material e métodos" e às "Conclusões" dos trabalhos. Sempre buscar pelas referências originais consultadas por esses autores. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,3,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. De modo geral, não serão aceitos apuds, somente sendo utilizados para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www.xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado.

Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo - SP cvredacao@editoraguara.com.br

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

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ENSINO

Treinamento profissional por meio da simulação de casos clínicos

O

Vet Game é um jogo interativo desenvolvido para o treinamento do atendimento médico veterinário. Ele foi concebido para funcionar na internet e visa o aprendizado por meio da prática de ações ordenadas. Além de entreter, o Vet Game simula ações reais vivenciadas por profissionais e estudantes de medicina veterinária. Além do treinamento, outro objetivo do Vet Game é promover o bem-estar por meio da substituição da exposição dos animais a procedimentos inadequados e desnecessários pela prática regular e interativa do jogo. Por meio do hot site comemorativo da publicação da centésima edição da revis-

ta Clínica Veterinária, pode-se preencher o formulário de cadastro para o recebimento da senha de acesso ao Vet Game e aos casos clínicos. Depois dessa etapa de registro no sistema, será possível escolher que caso clínico se deseja solucionar. Cada caso tem início com a simulação do proprietário apresentando o problema do animal ao médico veterinário. Na tela do jogo há diversas opções, que estão selecionadas abaixo com asteriscos vermelhos na imagem da tela do jogo. As opções passam pelo armário de medicamentos, megatoscópio, microscópio, ultrassom, exame clínico e procedimento cirúrgico, entre outras. Ao passar o cursor do mouse por cima de

algum elemento presente na sala de atendimento, ele será destacado se houver interatividade programada, que pode ser positiva – ganham-se pontos se a opção for correta naquele momento – ou negativa – perdem-se pontos se a opção não for adequada ou não foi escolhida no momento certo. Inicialmente estão disponíveis três casos, e a partir de novembro, será acrescentado um caso novo por mês, até agosto de 2013. Esperamos colaborar tanto para o ensino da medicina veterinária quanto para a prospecção e a perpetuação das técnicas inovadoras que promovem a educação humanitária.

Vet Game tem o patrocínio da Merial e da Royal Canin

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Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012


ENSINO

A educação humanitária e o ensino da medicina veterinária no Brasil Por Arthur de V. Paes Barretto

E

CRMV-MG 10.684

ntre 2004 e 2006, a WSPA Brasil foi pioneira nos conceitos de educação humanitária, realizando o curso Introdução à Docência em Bem-Estar Animal, por meio de parcerias em âmbito nacional com os conselhos regionais de classe, na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e nas Universidades Federais do Paraná (UFPR/Labea), de Santa Maria (UFSM), de Brasília (UnB), da Bahia (UFBA), de Pernambuco (UFRPE), Fluminense (UFF) e de Minas Gerais (UFMG). Desde então, a educação humanitária vem progredindo e ganhando muitos adeptos. Em 2007, a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) realizou, de 9 a 11 de agosto, no Riocentro (RJ), o II Congresso Internacional de Conceitos em Bem-Estar Animal – Teoria, Docência, Aplicação, com a participação de Andrew Knight, PhD, MRCVS, Focae, Veterinarian, UK. Além disso, Knight expôs no evento grande variedade de opções substitutivas para serem utilizadas no ensino da medicina veterinária, atitude que foi muito enriquecida pela sua gentil disposição em permanecer no estande da WSPA explicando todas as opções e dando detalhes sobre elas. Muitas outras opções podem ser conferidas no site: www.humanelearning.info. Outros destaques da educação humanitária na medicina veterinária brasileira foram a aquisição pela Universidade Anhembi-Morumbi de diversos manequins para a prática de procedimentos veterinários e a realização dos encontros regulares do Laboratório de Bem-estar Animal (Labea) da UFPR e dos congressos da Associação Médico Veterinária Brasileira de Bem-estar Animal (Amvebbea). O IV Encontro do Labea e o II Congresso Internacional da Amvebbea estão programados para ocorrer em outubro próximo, em Curitiba, PR. Este ano o evento homenageia o cientista brasileiro César Ades

Na Universidade Cambridge, na Inglaterra, cientistas reunidos em julho de 2012 (Francis Crick Memorial Conference 2012) apresentam evidências científicas da existência da conscência nos animais: http://fcmconference.org

(http://goo.gl/Dhxld), considerado um dos maiores especialistas do Brasil em etologia, falecido aos 69 anos em março de 2012, e dá destaque ao tema da consciência e da cognição animal. Para enriquecer esse histórico, é importante registrar que em 7 de julho de 2012 renomados cientistas presentes à Francis Crick Memorial Conference, realizada na Universidade de Cambridge, Inglaterra, apresentaram evidências científicas da existência de consciência nos animais. Um dos cientistas, Philip Low, é o criador do iBrain, dispositivo que vai ajudar o físico Stephen Hawking a se comunicar usando a mente. Por toda a realidade que permeia o ensino da medicina veterinária – a necessidade de investimentos na educação humanitária; a ética que se faz necessária; o clamor dos animais, que ganha voz através de todos os que têm a coragem de defendê-los, e o nosso enorme desejo de poder proporcionar tanto a segurança na interação homem-animal quanto o bemestar aos animais –, temos a enorme satisfação de lançar, nesta edição comemorativa da revista Clínica Veterinária, o Vet Game, ferramenta que pode ser utilizada na formação e na atualização do médico veterinário. O Vet Game possui interface amigável, prática, interativa, atraente, e,

além disso, está em sintonia com o progresso da educação humanitária Por doze meses o Vet Game será gratuito para os estudantes de medicina veterinária e para os médicos veterinários, graças ao patrocínio da Merial e da Royal Canin do Brasil.

Durante os dias 22 e 23 de outubro de 2012, Curitiba, PR, sediará importante encontro relacionado ao comportamento e bem-estar animal

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ENSINO

A greve e os serviços essenciais oferecidos pelas faculdades de medicina veterinária

A

Grevistas fazem encenação da morte e ressurreição da educação pública

greve dos docentes das Instituições Federais de Ensino (IFE) foi deflagrada após um amplo esforço da categoria para negociar com o governo a partir da pauta: reestruturação da carreira docente e condições de trabalho. O governo se mantém inflexível desde o início das negociações, em 2010, e a greve, iniciada em 17 de maio de 2012, surgiu como resposta a essa postura. O governo alega não ter disponibilidade financeira para atender as reivindicações dos docentes federais e que fez um grande esforço para destinar apenas 4,2 bilhões parcelados em três anos. Porém, no mês de julho deste ano concedeu anistia fiscal de 17 bilhões às instituições privadas, demonstrando descaso pela educação pública. Como parte das ações de intensificação da greve e pressão pela reabertura de negociação, os professores federais em greve realizaram no dia 16 de agosto de 2012 um cortejo fúnebre na Esplanada, com a encenação da morte e ressurreição da educação pública em frente ao Congresso Nacional. Após o ato, os docentes caminharam até o Palácio do Planalto, onde protocolaram uma carta à presidente Dilma Rousseff. No documento, pedem “a retomada das negociações a fim de que tenhamos avanços em relação ao plano de carreira e às condições de trabalho”. O texto recorda ainda que, durante sua campanha eleitoral, a presidente ressaltou que não “se pode estabelecer com o professor uma relação de atrito quando esse pede melhores salários, recebê-lo com cassetete ou interromper o diálogo”. 16

O histórico de toda a greve pode ser conferido e acompanhado por meio do site do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – Andes-SN: www.andes.org.br .

Hospitais veterinários A greve nas faculdades federais é fato generalizado em boa parte do Brasil. Porém a paralisação nos hospitais veterinários tem sido distinta. O Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa, por exemplo, segue com funcionamento normal. Já o Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) paralisou todo tipo de atendimento, e em função disso, no dia 18 de julho de 2012, os estudantes de veterinária realizaram manifestação exigindo que o hospital volte a funcionar em regime de atendimento de casos de urgência, a exemplo do Hospital Veterinário de Patos, PB. Na UFRPE, o hospital veterinário não funciona desde o dia 11 de

Diário de Pernambuco registra manifestação de estudantes na UFRPE: goo.gl/18uij

junho de 2012, quando os técnicos federais entraram em greve.

Serviços essenciais A Lei n. 7.783/89, que regulamentou o instituto de greve, em seu artigo 10 classifica quais são os serviços ou atividades considerados essenciais, elencados em onze incisos, dentre os quais o segundo trata da assistência médica e hospitalar. Não se encontra especificado se esse atendimento seria exclusivamente à medicina humana, mas essa interpretação deveria estar implícita para todos ao se considerar: o crescente reconhecimento dos animais como membros das famílias; a recente inclusão dos médicos veterinários nos núcleos de assistência à saúde da família (Nasf); o aumento do número de municípios que adotam políticas públicas que promovem o relacionamento saudável da comunidade com os animais de estimação; o Código de Ética do Médico Veterinário. “A prestação dos serviços mínimos permite a satisfação das necessidades gerais da comunidade e ao mesmo tempo assegura o exercício do direito de greve pelos trabalhadores grevistas.” Essa e outras importantes considerações são feitas pela advogada Camila Rodrigues Neves de Almeida Lima no artigo “Greve nos serviços essenciais”, publicado na revista Jus Navigandi (ISSN 1518-4862 - goo.gl/jNE9m).

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SAÚDE PÚBLICA

Veterinário da família

Em outubro de 2011, o Ministro da Saúde assinou a portaria n. 2.488, publicada no Diário Oficial da União, aprovando a Política Nacional de Atenção Básica, que estabelece a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). A partir dessa data, os médicos veterinários passaram a poder compor as equipes multiprofissionais contempladas pelos Núcleos de Assistência à Saúde da Família (NASF). Essa conquista foi muito importante, mas na prática o trabalho de conscientização está apenas começando, pois a convocação dos médicos veterinários para integrarem às equipes dependerá de requisição pelos gestores de saúde. Atualmente, alguns gestores começam a perceber a necessidade de políticas públicas direcionadas aos animais, com o objetivo de promover a saúde da comunidade e o bem-estar dos animais. Como exemplo real disso, pode-se citar reunião realizada em Curitiba

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(PR), no início de agosto de 2012, no Anfiteatro do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde candidatos a vereador debateram, pela primeira vez, o tema “Bem-estar animal”. O evento, sugerido pelo grupo de discussão “Frente Parlamentar em Defesa dos Animais / Paraná” foi organizado pelo Departamento de Medicina Veterinária da UFPR. O tema “Controle populacional e bem-estar animal” também tem sido prioridade do plano de governo dos atuais candidatos à prefeitura de Curitiba. O candidato Gustavo Fruet, por exemplo, visitou o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná, onde recebeu as sugestões da classe para suas propostas de gestão. No Estado de São Paulo também houve promoção de grupos de discussão. No final de agosto, em Soracaba, SP, candidatos a prefeito e a vereadores participaram de encontro promovido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado (CRMV-SP), direcionado à construção de políticas pú-

blicas para manejo populacional de cães e gatos, proteção contra maus-tratos, bem-estar animal e estratégias de educação em saúde animal com reflexo na saúde humana. As atividades foram conduzidas pela Delegacia Regional de Sorocaba, com apoio do Instituto Técnico de Educação e Controle Animal (ITEC) e da Uniso (Universidade de Sorocaba). O fato de políticos estarem buscando o relacionamento com médicos veterinários e com ONGs de proteção animal mostra que a comunidade anseia por soluções para esses temas, ou seja, para as famílias os animais são importantes e merecem atenção. A intensificação de conclaves sobre o assunto ajudará a propagar a cultura de que a promoção da saúde das famílias estará completa quando houver a participação e a integração dos médicos veterinários nas políticas públicas de saúde.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto CRMV-MG 10.684

Médico veterinário: indispensável para garantir a saúde da família Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012



SAÚDE PÚBLICA

Crianças que convivem com outras crianças podem desenvolver doenças graves

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ecentemente, foi publicado um artigo* em revista de circulação nacional, no qual a pediatra Filomena Gomes afirma que "crianças que convivem com animais podem desenvolver doenças graves". Segundo a pediatra, ter animais em casa virou "mania nacional", com 70% das residências possuindo animais, os quais circulam por todos os cômodos e "até comem com os humanos", colocando em risco a saúde das pessoas com quem convivem. Faltou à pediatra comentar sobre a fonte mais importante de risco à saúde das crianças: as próprias crianças. Segundo o Ministério da Saúde, a queda da mortalidade infantil se deveu principalmente à "redução das doenças infecciosas, especialmente as imunopreveníveis que tiveram vacinas introduzidas recentemente, como a vacina contra Haemophilus, que apresenta impacto importante na redução das meningites e pneumonias provocadas por esse agente". O Haemophilus influenzae, assim como o vírus da gripe H1N1, não é transmitido por animais, mas principalmente de pessoa a pessoa, ou seja, de criança a criança. Também de acordo com o Ministério da Saúde, houve uma "importante redução das diarreias como causa de óbito, resultando numa maior queda da mortalidade no período pós-neonatal". Diarreias podem ser causadas por diferentes fontes, sendo as principais a falta de higiene e o contato com pessoas (ou crianças) infectadas. Desse modo, de maneira simplista como abordou a pediatra em seu artigo, poderíamos concluir que "crianças que convivem com outras crianças podem desenvolver doenças graves", e que portanto deveríamos evitar o contato de nossas crianças com outras. No entanto, mesmo durante a epidemia recente de gripe H1N1, sempre tivemos a certeza de que, uma vez controlada a doença, as crianças deveriam voltar às escolas, porque criança precisa

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de criança para brincar, aprender, ensinar e se socializar. Não precisamos ter medo de nossas crianças com outras crianças, precisamos ter assegurada a saúde de todas elas. Afinal, criança saudável não transmite doenças a outras crianças. Em outro estudo do Ministério da Saúde, o Crianças e animais saudáveis não transmitem doenças Programa de Saúde da Família (PSF), do qual o médico veteri- pessoas que convivem no mesmo lar". nário faz parte, teve impacto significatiSendo assim, do mesmo modo que vo na queda da mortalidade infantil no cabe ao pediatra zelar pela saúde das Brasil nesta última década. "Para cada crianças, cabe ao médico veterinário aumento de 10% da cobertura do PSF, a garantir a saúde dos seus "entes famimortalidade caiu 4,5%." Isso porque a liares não humanos" que lhes servem saúde das pessoas, dos animais e do de companhia. Fique tranquila, dra. meio ambiente estão interligadas e são Filomena, não precisamos ter medo de interdependentes. Se a saúde ambiental nossas crianças com outras crianças, melhora com saneamento básico, nem delas com seus bichinhos, basta melhora a saúde das pessoas e dos ani- assegurarmos a saúde de todos eles. mais, e assim por diante. Por isso a par- Afinal, crianças e animais saudáveis ticipação do médico veterinário é tão não transmitem doenças. importante para prover saúde às pessoas, aos animais e ao meio ambiente. * Crianças que convivem com animais podem Além disso, animais de companhia desenvolver doenças graves. Dra. Filomena Revista Caras, de 24 de maio de 2012, ed. têm um papel importantíssimo como Gomes, 968, Ano 18. Disponível em sentinelas da saúde humana quando http://www.caras.uol.com.br/noticia/crian cas-que"circulam por todos os cômodos" de convivem-com-animais-podem-desenvolver-doennossa casa. Cães e gatos, por exemplo, cas-graves ** Companion animals as sentinels for public têm sido reconhecidos como potenciais health. SCHMIDT, P. L. Veterinary Clinics Small sentinelas para várias doenças que aco- Animals, v. 39, p. 241-150, 2009. metem as pessoas, pois compartilham o mesmo ambiente de seus donos. SeAlexander Welker Biondo, DVM, MSc, gundo artigo recente ** "no contato ínPhD. Disciplina de Zoonoses - Departamento timo dos membros da sua família hude Medicina Veterinária - UFPR mana, animais de companhia frequenabiondo@illinois.edu temente tomam a mesma água e comem comida semelhante, compartiJuliano Leônidas Hoffmann, DVM, MSc. Secretário Geral do Conselho Regional lham a mesma cama e acompanham as de Medicina Veterinária do Paraná mesmas viagens, estando sujeitos aos juliano@institutocna.org.br mesmos riscos de doenças que seus donos". Portanto, conclui o estudo, "a Antônio Felipe Paulino de Figueiredo saúde dos animais de companhia são Wouk, DVM, MSc, PhD. Secretário Geral do Conselho Federal de Medicina Veterinária um espelho da saúde e cuidado de seus felipewouk.sg@cfmv.gov.br donos, e apontam os riscos à saúde das

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SAÚDE PÚBLICA

Manifestações públicas contra a política nacional de controle da leishmaniose visceral

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Combater o avanço da leishmaniose á pelo menos cinquenta anos, a e informa as condutas adequadas para a política nacional de controle da promoção da saúde de toda a família. visceral canina não é uma tarefa simleishmaniose visceral continua Além disso, nova vacina contra a leis- ples, e atualmente já é de conhecimensendo a mesma: foco na eliminação de hmaniose visceral canina, a Canileish to da comunidade científica e dos procães. Porém, nos últimos dez anos, pe(http://goo.gl/Bvxu5), foi lançada na fissionais especializados que a elimiríodo que coincide com o grande alasEuropa pela Virbac, empresa que tam- nação canina tem baixa eficiência no tramento da enfermidade pelo contibém comercializa na região um dos controle da leishmaniose visceral, denente latino-americano, outro fato tamfármacos utilizado e devidamente vido à alta taxa de substituição de cães bém foi marcante no cotidiano da poregistrado para a prescrição do tra- eliminados por filhotes suscetíveis, pulação brasileira: a expansão da intertamento canino: o Milteforan realidade registrada na revisão sistemática, parcialmente financiada por net. Esse fato vem permitindo que a so(http://goo.gl/g7ZqG). Bireme/Opas/OMS, realizada ciedade conviva de forma glopor especialistas do Brasil e balizada, facilitando a pesquida Bélgica: Gustavo A. S. Rosa, a troca de informações, o mero, do Núcleo de Medicina estudo e até a realização de Tropical da Faculdade de Meconferências, simpósios ou dicina – Universidade de Bracongressos transmitidos pela sília, Distrito Federal, e internet. Consequentemente, Marleen Boelaert, da Unidade as informações publicadas inde Controle de Epidemiologia ternacionalmente sobre a leishe Doenças – Instituto de Memaniose visceral são facilmendicina Tropical, Antuérpia, te acessadas pela população. Bélgica. Esses especialistas Até mesmo a publicação em também destacam a importânlíngua estrangeira deixa de ser cia da utilização de coleiras limitante, pois hoje já se enimpregnadas de inseticida, que contram traduzidos vários domostram ter efeito residual e cumentos importantes sobre o vantagens metodológicas sotema – ou então podem ser fabre os outros procedimentos, e cilmente traduzidos por ferraa consideração do papel dos mentas de tradução instantâanimais silvestres e peridominea disponíveis na internet. ciliares, tais como raposas, Em países desenvolvidos, a marsupiais e roedores, no ciclo prática do tratamento do cão da leishmaniose visceral. com leishmaniose visceral, deEm função de tudo isso, vidamente reconhecida oficialcrescem diversos movimentos mente e descrita por especiano Brasil que buscam a adolistas europeus em publicações ção de políticas públicas focacientíficas, fornece subsídios das na prevenção e no controsuficientes para que caiam em le do vetor, pois as ações focadescrédito as informações que das na eliminação canina e a circulam no Brasil de que o tentativa constante de proibir tratamento canino não existe. o tratamento carecem de suAcrescentam-se a esse fato as políticas públicas de países Revisão sistemática (http://goo.gl/Yvsu2), parcial- porte científico. Paralelamencomo Portugal, onde o trata- mente financiada por BIREME/OPAS/OMS*, realizada te, o tratamento canino é fato, mento canino é lei e a elimina- por especialistas do Brasil e da Bélgica, relata a baixa mas o que causa grande preoção também, mas somente eficiência da eliminação canina como método de con- cupação é que ele esteja sendo feito pelo próprio tutor do aniquando o guardião do animal se trole da leishmaniose visceral. * O Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em recusa a tratar o cão ou não po- Ciências da Saúde, também conhecido pelo seu nome origi- mal, sem a supervisão do méde faz-lo, e a Espanha, onde o nal Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), é um centro dico veterinário, por meio de serviço público esclarece que a especializado da Organização Pan-Americana da Saúde / informações obtidas na internet e medicamentos comprados enfermidade não é contagiosa Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS)

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SAÚDE PÚBLICA

no exterior. Há diversas evidências encontradas na literatura científica de que o cão que é submetido ao tratamento e às medidas preventivas de contato com o vetor não representa risco para a saúde da família. Essa é a base das políticas públicas promovidas nos países desenvolvidos. Porém, é fundamental que o tratamento, quando aplicado, tenha a supervisão do médico veterinário. A Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, a Anclivepa, ciente desses fatos e preocupada em garantir a saúde das famílias brasileiras, elaborou, em conjunto com o Ministério da Saúde, extenso documento para a regulamentação do tratamento canino no Brasil. Porém, tal documento, uma vez finalizado, não foi publicado pela instituição federal e recebeu o nome de portaria apócrifa. A não publicação do documento não foi fruto de consenso científico, mas de mudança de gestão. Em maio de 2013, o Brasil sediará a quinta edição do Congresso Mundial de Leishmaniose, o WorldLeish 5. Na ocasião, será muito apropriada a participação das diversas vertentes do conhecimento para que seja possível um amplo e esclarecedor debate sobre o tema e que haja a ampla participação da imprensa, pois é de suma importância que as evidências científicas também sejam compatilhadas com as famílias brasileiras. A presença de pesquisadores e cientistas de renome internacional torna o momento ímpar e propício para a realidade nacional. Participar do WorldLeish 5 será mais do que uma oportunidade de atualização científica. Será um ato de cidadania. Participe também do IX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral, a ser realizado pela Anclivepa-MG e pelo grupo brasileiro de especialistas em leishmaniose, o Brasileish, em Belo Horizonte, MG, nos dias 27 e 28 de outubro de 2012.

Artigo científico de autoria do grupo europeu de especialistas em leishmanioses, o LeishVet, orienta os procedimentos a serem tomados e detalha o tratamento do cão com leishmaniose visceral (http://goo.gl/f80W0)

Anclivepa-MG: (31) 3297 2282 anclivepa@anclivepa-mg.com.br

AUTOR Arthur de Vasconcelos Paes Barretto CRMV-MG 10.684

www.worldleish5.org 24

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MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Uma saúde, uma medicina, um bem-estar

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uando saímos de casa logo cedo para o trabalho e no caminho vemos um cão abandonado, um gato atropelado ou um cavalo sendo maltratado, isso acaba com o nosso dia, não concorda? O bem-estar desses cães, gatos, cavalos, aves e outros tantos animais parece interferir diretamente em nosso próprio bem-estar, ou seja, o bem-estar do animal e o bem-estar do ser humano parecem estar intrinsecamente ligados, de modo que o bem-estar de nossa espécie depende necessariamente do da outra. Não apenas parece, mas definitivamente está. Dentre as diversas e brilhantes apresentações do congresso deste ano da WSAVA (World Small Animal Veterinary Association), em Birmingham, Reino Unido, a do dr. Daniel S. Mills, especialista em medicina veterinária do comportamento e membro do Grupo Europeu de Comportamento, Cognição e Bem-Estar, destacou-se pela vanguarda na abordagem de tema tão importante e ainda tão controverso. Em sua explanação, o dr. Mills mostra que a iniciativa de Uma Saúde (ou Saúde Única) é um esforço colaborativo e multidisciplinar, "trabalhando local, nacional e globalmente para obter a melhor saúde para as pessoas, os animais e o ambiente". Aliado de perto do desenvolvimento de Uma Saúde (Saúde Única), o conceito de Uma Medicina (ou Medicina Única) tem proposto a unificação das profissões médica e veterinária para estabelecer uma abordagem colaborativa para "cuidado clínico, vigilância e controle de doenças ‘trans-espécies’, educação e pesquisa dentro da patogênese, do diagnóstico, da terapia e da vacinação contra doenças”. Historicamente, a iniciativa tem focado em animais de produção e saúde física, mas, por meio da WSAVA, sua relevância vem sendo crescentemente reconhecida em pequenos animais e saúde psicológica. Atualmente, tem sido proposto que o conceito de Uma Saúde deva ir adiante e projetar-se além da saúde física, abraçando a proposta de Um Bem-Estar (ou Bem-Estar Único). Esse conceito reco28

Para o bem-estar único é necessário reconhecer o elo entre o bem-estar dos animais e o nosso próprio

nhece que muitos aspectos do bem-estar psicológico do ser humano estão intrinsecamente ligadas aos dos animais. Um exemplo é o uso de animais em atividades de lazer e a extensa apreciação do seu valor dentro da sociedade (em vez de "para a sociedade"). Não apenas há claramente a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para maximizar

os benefícios dos animais dentro da sociedade em uma forma ética que provoque o menor impacto para os animais, mas também a necessidade potencial de desenvolver novos paradigmas para investigação científica. A sociedade atual é um fenômeno inevitável de múltiplas espécies, explica o dr. Mills. Os seres humanos estão

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diariamente envolvidos em uma série de relações com outras espécies animais, quer seja em fazendas, pesquisa, serviço e companhia, que afetam o bem-estar de cada uma dessas espécies envolvidas. Os animais de companhia possuem um papel particularmente importante nos lares da sociedade industrializada moderna. Os animais de companhia deveriam ser entendidos portanto não como um luxo econômico, mas como uma parte inerente de nossa sociedade que contribui positivamente para a economia, envolvendo dispêndio e gerando renda, ambos não reconhecidos ou pelo menos frequentemente subestimados. Vários são os benefícios financeiros e econômicos à sociedade atual gerados pela existência dos animais de companhia, incluindo pet shops e adestramentos gerais ou específicos. Nesse cenário, são muitos os ganhos diretos e indiretos associados à manutenção de animais de companhia para a saúde física, social e mental dos seres humanos. Esses benefícios incluem a redução do risco de doença cardiovascular e obesidade, a melhoria das taxas de convalescência e do convívio social. Os cães de companhia proporcionam um foco para capital social dentro das comunidades, auxiliando o contato de pessoas entre si e enriquecendo portanto o espírito comunitário, que possui um enorme mas subes-

timado valor econômico. Além disso, outros tipos de cães de serviço podem auxiliar a proteger a sociedade de modo mais abrangente, tais como cães de guarda, cães militares e farejadores, que podem economizar milhões para a economia. O balanço entre a criação do gasto e do ganho, associados com as espécies animais de companhia, reflete a importância de reconhecer o elo entre o bemestar dos animais e o nosso próprio, tanto individual como coletivamente. O Bem-Estar Único é o mecanismo para suprirmos esse reconhecimento, que deverá estimular um importante impulso para a pesquisa multidisciplinar nessa área. Enquanto alguns dos benefícios dos animais de companhia na sociedade podem ser mensurados utilizando-se metodologias de coleta de dados tradicionais, em outras instâncias as intervenções não podem ser facilmente monitoradas, e os efeitos são frequentemente tão heterogêneos que o estilo tradicional de estudo é incapaz de revelar os benefícios tangíveis dos animais de companhia. Há portanto a necessidade do desenvolvimento potencial do conceito de Bem-Estar Único, incluindo seu valor multidisciplinar e seus novos paradigmas de exploração. Em conclusão, o dr. Mills acredita que o conceito de Um Bem-Estar ou

Bem-Estar Único oferece desafios científicos, sociais e políticos para a profissão, envolvendo o repensar das perspectivas tradicionais sobre a sociedade e da posição dos animais e médicos veterinários dentro dela. Bibliografia sugerida

Mills, Daniel S. One Health - One Welfare: psychological and physical well-being. In proceedings from the World Small Animal Veterinary Association Meeting; April 11th-15th, Birmingham, UK, p. 237-238, 2012.

Prof. dr. Antônio Felipe Wouk DVM, MSc, PhD. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. Secretário Geral do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Brasília, Brasil felipewouk.sg@cfmv.gov.br Prof. dr. Alexander Welker Biondo DVM, MSc, PhD. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. Professor Visitante da University of Illinois e Purdue University abiondo@illinois.edu

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NOTÍCIAS

Pesquisa apresenta panorama nacional de doenças causadas por carrapatos e pulgas em cães e gatos no Brasil

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om o intuito de traçar um panorama das doenças causadas por carrapatos em cães e gatos a partir do testemunho dos veterinários, a Merial, empresa de saúde animal do grupo Sanofi, foi a campo e ouviu 1115 médicos veterinários, em 11 regiões metropolitanas. Este estudo foi realizado durante o mês de janeiro deste ano pelo instituto de pesquisa Diferencial Pesquisa de Mercado, em parceria com a Merial. As cidades de São Paulo (SP), Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Brasília (DF), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Recife (PE) e Manaus (AM) serviram de base para a realização dessa pesquisa inédita, que busca oferecer um novo e rico conteúdo de informações sobre a real situação das infestações por pulgas e carrapatos nas populações de cães e gatos que frequentam clínicas veterinárias e petshops. Segundo Alexandre Antoniazzi, diretor de negócios de animais de companhia da Merial, a população de cães estabilizou-se em torno de 29 milhões, número complementado por 9,8 milhões de gatos, que vem crescendo. “A melhora do poder aquisitivo, com aumento da renda média das famílias, está impactando de forma positiva o mercado de produtos e serviços para animais de estimação. Nos últimos anos, o faturamento do setor apresentou taxa de crescimento de 14%, atingindo 18% em 2011”, destaca. A média de consultas apurada pela pesquisa, por estabelecimento, foi de 36 pacientes por semana, sendo 80% de cães e 20% de gatos. Desses, 38% estavam infectados por carrapatos e outros 38%, por pulgas. Na distribuição regional, por capital analisada, as cidades da região Sul foram aquelas onde as infestações por 30

pulgas se apresentaram de maneira mais aguda, com percentuais próximos à metade dos animais examinados. As regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (RJ), Campinas (SP) e Belo Horizonte (MG) também aparecem com percentuais acima de 40% de infestação dos animais por pulgas. A situação se inverte à medida que a pesquisa analisa os estados do Norte e Nordeste, onde as infestações por carrapatos se destacam. As cidades de Recife (PE) e Fortaleza (CE) são as campeãs de infestação por carrapatos, com níveis de presença do parasita de 65% na média dos animais examinados. As cidades de Brasília (DF), Manaus (AM) e Salvador (BA) também apresentaram níveis dessa infestação próximos ou acima de 50%. Os fatores principais de contaminação por pulgas e carrapatos estão relacionados ao ambiente. Os donos de animais que têm por hábito sair com

seus animais para passear na rua, frequentar parques e praças públicas, ou mesmo aqueles que viajam para chácaras, sítios, fazendas e levam seus animais de estimação, são os que mais precisam estar atentos, na opinião dos veterinários. Dos cães e gatos que saem com frequência do ambiente em que residem, 51% apresentaram contaminação por pulgas e 62%, por carrapatos. O produto mais indicado pelos veterinários para o tratamento das infestações por pulga e carrapatos em cães e gatos é Frotline®, da Merial, produto considerado ‘blockbuster’ presente em 75% dos receituários na média nacional, líder absoluto em sua categoria. Na pesquisa, 76% dos entrevistados indicaram o produto como ideal para controle de pulgas em cães e gatos e 74% nas infestações por carrapatos. A infestação por carrapatos foi apontada por 95% dos veterinários como aquela de maior gravidade e importância. Quanto à transmissão de doenças por carrapatos, em especial erliquisose e babesiose, 91% dos entrevistados confirmam que é bastante comum atenderem animais já infectados. Ambas têm o carrapato como agente transmissor. Uma nova era no tratamento de infestações e na prevenção de doenças causadas por carrapatos já começou com o lançamento de Certifect®, da Merial. Único a matar carrapatos a partir de duas horas após aplicação, Certifect® age antes do tempo necessário ao parasita para transmitir doenças ao animal. Indicado para uso exclusivo em cães, o novo produto está sendo comercializado desde março em clínicas veterinárias e petshops, em embalagens com pipeta exclusiva para diferentes pesos: P (até 10kg), M (de 10 a 20kg), G (de 20 a 40kg) e GG (acima de 40kg).

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NOTÍCIAS

Tomografia computadorizada com a tecnologia multislice

O Hospital Veterinário Santa Inês, localizado em São Paulo, capital, acaba de renovar o já conceituado serviço de tomografia computadorizada. O hospital adquiriu um aparelho Toshiba Asteion, que possui a tecnologia multislice. Esse recurso reduz o tempo de aquisição e define melhor as imagens, permitindo a realização de exames rápidos com anestesia de ultracurta duração; maior cobertura de extensão corporal em uma única varredura; menor uso de artefatos destinados à imobilização do paciente; cortes submilimétricos que possibilitam alta definição nas reconstruções 3D; precisão e rapidez nos procedimentos de intervenção (coleta de citologia e biópsia guiada) em tempo real; uso da técnica de angiotomografia abdominal, instrumento importante para o planejamento de cirurgias. O serviço já está disponível de segunda a sábad. Para mais informações ou agendamentos, acesse o endereço Novo aparelho dotado de tecnologia multislice é destaque no serviço de tomografia computadoriwww.santainesvet.com.br . zada do Hospital Veterinário Santa Inês

UTI no Hospital Veterinário Pet Care O Hospital Veterinário Pet Care, localizado no bairro do Morumbi, em São Paulo, SP, investiu em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e novas instalações para formar um conjunto hospitalar veterinário único, completo e disponível 24 horas por dia. O objetivo é oferecer o suporte necessário para atender e internar todos os pacientes em estado potencialmente grave. Esse novo serviço, associado à estrutura de atendimento, diagnóstico, cirurgia e exames auxiliares do hospital, diferencia-se do que se oferece hoje em medicina veterinária. Os animais que necessitam desse atendimento são acomodados em leitos individuais e recebem assistência 24 horas. Cada paciente internado conta com um veterinário intensivista, dedicado exclusivamente a ele, podendo dispor de toda a estrutura e da equipe de apoio, o que aumenta as possibilidades de controlar e reverter o quadro clínico desse animal em risco eminente de morte. A UTI do Pet Care conta com equipamentos de última geração, de uso exclusivo do hospital, como monitores cardíacos com pressão arterial invasiva, aparelho de ventilação mecânica com várias modalidades ventilatórias e aparelho de gasometria, entre outros. Pet Care: www.petcare.com.br

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Paciente internado na UTI do Hospital Veterinário Pet Care

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ECOLOGIA

Filhotes de harpia são monitorados no mosaico de Carajás

O gavião-real – Harpia harpyja (Linnaus, 1758) – é considerado o rapinante mais possante do mundo e também a maior ave de rapina da região neotropical (Sick, 1997). A espécie habita florestas preservadas e ocorre no sul do México, na América Central e na América do Sul (Ferguson-Lees & Christie, 2001; Oliveira & Silva e Silva, 2006)

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nconfundível pelo tamanho e em situação de ameaça, o gavião-real (Harpia harpya) é uma das espécies que são monitoradas nas unidades de conservação do Mosaico de Carajás. Desde dezembro de 2011, um filhote vem sendo acompanhado pela equipe do Programa de Conservação do Gavião-real (PCGR), em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em abril de 2012 o filhote recebeu

dispositivos de marcação e monitoramento. O ninho onde o filhote foi marcado está no entorno do Mosaico de Carajás e encontra-se em situação de vulnerabilidade. O animal pesa 4,750kg e recebeu anel de alumínio do PCGR letra O, anilha n. Z01016, e um microchip do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (Cemave/ICMBio) do ICMBio. Essas identificações servirão para determinar a distância de dispersão do filhote em futuros avistamentos tanto pela equipe que desenvolve o programa quanto por agricultores ou outros moradores da região que tiverem a sorte de avistá-lo. O monitoramento desse ninho terá continuidade semanal. O objetivo da equipe é coletar vestígios para identificar as espécies presas e consumidas pela harpia na região e também efetuar registros do comportamento do filhote em desenvolvimento nas habilidades de voo e dos adultos no cuidado parental. Em 2010, um filhote com cerca de um ano de idade foi alvejado e abatido nesse mesmo ninho. Normalmente, o tempo de geração dessa espécie é de um filhote a cada três anos, mas quando ocorre a perda da prole, o casal se prepara para uma nova postura, normalmente utilizando o mesmo ninho. Na região sudeste do Pará, o PCGR estuda atualmente cinco ninhos de harpia em atividade.

Floresta Nacional de Carajás Enquanto no entorno do Mosaico de Carajás a situação do ninho é instável, outro ninho monitorado no interior da Floresta Nacional de Carajás, unidade de conservação sob gestão do ICMBio, apresenta bons resultados. Monitorado desde 2008, o ninho está localizado na área do igarapé Bahia e acaba de receber um novo morador. O filhote nasceu entre 28 de fevereiro e 5 de março. A mãe não sai de perto do pequeno gavião, garantindo seu conforto com folhas verdes, enquanto o pai se encarrega de tra-

zer o alimento a cada dois dias. O monitoramento constante desse ninho pode confirmar o tempo de geração de três anos para a espécie. Em 25 de fevereiro de 2009 nasceu no mesmo local um filhote que foi acompanhado até a emancipação definitiva. Mesmo voando, o jovem gavião-real ainda depende dos pais para se alimentar até 2,5 anos. Só a partir daí tem início um novo ciclo que acarreta uma baixa taxa de recrutamento na natureza – motivo de preocupação para a conservação da espécie. Para o chefe da Floresta Nacional de Carajás, Frederico Drumond Martins, o acompanhamento é importante para a unidade de conservação e para a espécie, e indica se o território é ambientalmente sustentável. “Programas de conservação como este e o da arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), em desenvolvimento na Floresta Nacional de Carajás, permitem que a UC cumpra sua função social primordial, a conservação da biodiversidade. Além disso, a harpia ou gavião-real é uma espécie guarda-chuva, pois, para garantir a sua conservação, teremos necessariamente que conservar outras espécies”, explica Frederico. Mesmo sob pressão de caça, a área ainda abriga esse grande predador da Amazônia, que essencialmente precisa de grandes áreas florestadas para se reproduzir, ou seja, a floresta sustenta a biomassa de presas que garantem a permanência da espécie na região Por meio do monitoramento constante dos ninhos a sobrevivência e o desenvolvimento desses dois filhotes poderão ser avaliados. Estudos genéticos poderão demonstrar ou não o comportamento monogâmico da espécie, além de trazer dados importantes para a avaliação da variabilidade genética desses indivíduos, contribuindo para o conhecimento do status de conservação da harpia no Brasil.

Fonte: Thaís Lima - ICMBIO - http://www.icmbio.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=2740&Itemid=171

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INTERAÇÃO HOMEM-ANIMAL Tanatologia – A ciência da morte e do morrer e a medicina veterinária

Introdução A tanatologia é a ciência que estuda a morte e o morrer 1. O termo “tanatologia” vem do grego thánatos, que representa o deus da morte na mitologia grega; e logia, do grego logos, que significa estudo. Assim, tanatologia é o “estudo da morte”, ou a “ciência da morte” 2. A temática da morte tem estado em evidência dentro da área médica, nas faculdades e cursos de pós-graduação, e inúmeros são os livros publicados sobre o assunto. Contudo, ainda hoje a maioria das faculdades das áreas de saúde no Brasil não contempla a tanatologia em seus conteúdos de graduação e pós-graduação, seja lato sensu ou stricto sensu. Entender a morte e o morrer torna-se cada vez mais relevante para os profissionais da área de saúde e os médicos veterinários, uma vez que esses profissionais encontram-se mais suscetíveis ou expostos aos sentimentos trazidos pela morte, pois no cenário das instituições de saúde ela está constantemente presente. Na prática, observamos como o despreparo e a falta de capacitação no assunto resultarão em angústia, sofrimento e dor psíquica, existencial e mesmo espiritual na vida desses profissionais 3. Nos Estados Unidos, dados de 1975 a 2005 revelaram que todas as 122 escolas médicas instituíram aulas sobre a morte e o morrer. Entretanto, a média de horas/aula em relação à carga horária total dos cursos atualmente ainda é pequena, com cerca de doze horas. A forma mais frequente de educação para a morte é por meio da utilização de leitura, seminários, discussões 4, músicas e filmes 5. É difícil a abordagem reflexiva da morte no cotidiano, visto que temos enraizado em nosso ser que “enquanto há vida, há esperança”, e, nesse sentido, vivenciamos um dilema existencial em função do valor negativo dado à finitude, na qual a vida é valorizada e a morte significa a extinção total do ser 1,6,7. Este artigo é uma revisão teórica sobre a tanatologia e tem por objetivo informar o médico veterinário sobre essa ciência, levando-o a refletir sobre as questões relativas à morte e os sentimentos que ela propicia, na tentativa de prepará-lo melhor para lidar com esse elemento inevitavelmente presente na área da saúde. A morte A morte pode ser definida como a cessação das funções vitais ou o término da vida, e sua concepção ou imagem varia de acordo com a cultura, a religião e o momento histórico de um indivíduo ou povo 8. Assim sendo, morrer pode ser percebido não somente como um evento biológico, mas tem uma dimensão religiosa, social, filosófica, antropológica, espiritual e pedagógica 6,9. Apesar de suas diferentes interpretações culturais, a morte estabelece um vínculo de certeza com todos os homens – pois ninguém, nem mesmo outros seres vivos além do 38

homem, serão poupados dessa verdade, portanto, evitá-la ou negá-la é escamotear um aspecto integral da vida. Observam-se diferentes percepções sobre a morte nas diversas culturas ao longo da história da humanidade. De fato, desde os tempos mais remotos, anteriores à escrita, há registros de algum tipo de rito mortuário ou cerimônia de despedida 3. No estágio Neolítico, ou a Idade da Pedra, temos construções monumentais com base em grandes blocos de pedras com objetivos simbólicos, religiosos e principalmente funerários, chamadas de dólmenes. O dólmen era composto de pedras justapostas, de forma a parecer uma árvore ou arbusto caracterizado por possuir uma câmara de forma poligonal ou circular, e era utilizado como espaço sepulcral para reverenciar a natureza e os mortos. Nessas construções, além de restos de esqueletos, foram encontrados vários objetos de pedra, cerâmica, armas e utensílios, como machados de pedra polida e pontas de seta, indicando uma crença no pósmorte, em que os mortos poderíam fazer uso desses instrumentos. Uma das composições de pedra mais antigas que existe na Europa é Stonehenge. Outras podem ser encontradas na América e na Ásia. Nessa fase da humanidade, a morte era considerada como uma libertação, sem qualquer pena ou pesar, e os pássaros e peixes eram representados em potes e pedras esculpidas, possivelmente como carreadores da alma dos mortos. Os desenhos encontrados sugerem ainda que nessa época os homens acreditavam que a alma poderia encarnar em qualquer animal 10. No povo egípcio, os rituais da crença em relação à vida pós-morte eram bem característicos, como se vê pelas tumbas, sarcófagos, mumificações, pirâmides, objetos mortuários e escritos funerários. Nessa época verificamos o início do processo de julgamento da alma por meio dos mitos de

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Zooantropologia Primariamente, para compreendermos a dor da perda dos pacientes veterinários, precisamos entender o termo zooantropologia, que remete ao fato de que entre o ser humano e o não humano pode existir um relacionamento dialógico, ou seja, uma troca de conteúdos com reciprocidades e afiliações, e que o não humano possa recobrir um papel referencial para o homem. Nesse sentido, a relação entre o ser humano e o animal tem se tornado objeto de estudos em vários países, bem como a implicação emocional dessa relação em amplos aspectos, incluindo o da morte e do morrer 12. A relação entre o homem e o animal é documentada desde os tempos mais remotos, como se observa nas inscrições referentes a um cão de nome Abuwtiyuw, encontradas na tumba de um faraó do antigo Egito. Alguns museus pelo mundo mostram animais mumificados há aproximadamente 5 mil

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Osíris, Tot e Anúbis. O julgamento final ficou conhecido como a "Pesagem do Coração", onde os deuses comparavam as ações do falecido enquanto vivo (simbolizado pelo coração), para determinar se ele havia se comportado bem em vida; em caso afirmativo, ele poderia habitar um reino no céu ou nas estrelas. Nesse momento deu-se a passagem da morte como um evento natural, aceita sem medo ou apreensão, para um processo temido, associado a penalidades por ações durante a vida. Esse foi o primeiro tipo de medo associado com a morte na história da humanidade 6,11. Na mitologia grega houve a idealização de uma região além-túmulo, conhecida como Hades, o local onde os mortos habitavam. Além disso, grandes filósofos como Esopo, Sócrates e Platão discutiram a morte e o morrer. Sócrates considerou que o medo vinha do fato de que ninguém sabia o que aconteceria no momento da morte 6. Na Idade Média a influência da religião sobre a morte e o morrer foi mais intensa. A partir de Constantino e do Concilio de Nicéa pela ascensão da Igreja, o conceito de julgamento tornou-se presente, bem como a personificação da morte por meio da imagem do esqueleto segurando uma foice. Assim, a morte passou a ser o castigo de Deus para o homem pecador, com o intuito de aterrorizar os homens a fim de se comportarem bem em vida 6. Antes do século XVIII, era habitual o doente terminal chamar familiares e amigos para o processo de morrer ou para o ritual de despedida em sua casa, dando as últimas ordens e dispondo suas últimas vontades, vivendo essa etapa com qualidade humana e social, e não tecnicamente 3,6. A partir da Revolução Industrial, nos séculos XVIII e início do XIX, a ascensão da classe burguesa e os novos valores socioeconômicos fizeram com que a morte, antes um evento familiar e doméstico, passasse para o ambiente hospitalar, distante e impessoal para o doente, mas mais confortável emocionalmente para os familiares 6,9. Atualmente, na cultura ocidental, falar sobre a morte remete a sentimentos negativos como dor, sofrimento, finitude e separação 8. Já em outras culturas, como as orientais, a morte é percebida como acontecimento natural, e o medo de morrer não está presente de forma tão intensa 7.

Figura 1 - Sarcófagos de gatos do The British Museum, Londres, Inglaterra. Sarcófago à direita: Bubastis, Egypt Roman Period, after 30 BC. No antigo Egito duas principais espécies de gatos foram conhecidas, o gato do pântano (Felis chaus) e o gato selvagem africano (Felis silvestris libyca). Foram feitas múmias de ambas as espécies, embora a maioria dos exemplares identificados até agora tem sido do gato selvagem africano

anos atrás e sepultados juntos com seus donos (Figura 1). Hoje em dia as exposições de animais mumificados já estão entre as áreas mais procuradas nos museus. Podemos encontrar gatos enrolados em tiras de linho, musaranhos em caixas com pedras preciosas incrustadas, carneiros com revestimento de ouro, gazela embrulhada em esteiras de papiro e crocodilo mumificado com os próprios filhotes dentro da boca, entre outras raridades 13. Atualmente, na medicina veterinária, temos observado o aumento da expectativa de vida dos animais, o que certamente se dá graças aos avanços tecnológicos observados na área, ao maior acesso da população a tais recursos e à globalização. Sendo assim, a perspectiva é de que ocorra um aprofundamento da relação entre homem e animal. Por outro ângulo, devido ao fato de os animais possuírem expectativa de vida consideravelmente menor que a dos humanos, observamos o sofrimento dos proprietários de cães e gatos com a doença de seus animais e grande insegurança e temor naquilo que se refere a quando e como ocorrerá a inevitável separação 14. Outro ponto de significativo estresse e dor para os proprietário de animais de estimação é quanto à possibilidade da realização da eutanásia – se ou quando esta deve ser utilizada 15 –, porém esse não é o objetivo do presente trabalho, e vale uma nova e profunda reflexão.

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nho” para qualificá-lo 20. Nas sociedades ocidentais, nas quais as cerimônias fúnebres não são bem aceitas, vemos que a ausência do rito de passagem dos animais de estimação leva muitos proprietários a um processo de perda mais duradouro e intenso. Além disso, nessas culturas o apego aos animais é considerado por alguns como impróprio ou excessivo, uma vez que o animal é facilmente substituível; assim, o processo de luto dos proprietários que perderam seu animal de estimação é dificultado, chegando por vezes a provocar vergonha 18. Tão profundo pode ser o sentimento de luto pela perda de um animal de estimação que, dentre os sobreviventes do furacão Katrina, que assolou a costa leste dos Estados Unidos em 2005, percebeu-se que aquelas pessoas que perderam ou tiveram que abandonar seus animais de estimação, somando-se a isso aos efeitos do furacão, sofreram mais de trauma agudo e o tempo do estresse pós-traumático foi mais duradouro – o que sugere que a perda do animal, assim como a sua ausência contínua, contribuíram para a severidade dos sintomas de depressão 21. Em crianças, além dos sentimentos de estresse, ansiedade e depressão causados pela perda do animal de estimação, pode-se observar dificuldade de aprendizado na escola, principalmente naqueles casos em que os pais ou as pessoas que convivem com a criança não reconhecem o animal de companhia como um membro da família e não validam, portanto, os sentimentos envolvidos nessa relação de perda 22.

Tanatologia e a prática clínica da medicina veterinária É notório que nas universidades com cursos na área da saúde os alunos são ensinados desde o primeiro ano a se habituar ou se dessensibilizar em relação ao sofrimento e à morte dos pacientes. Nas aulas de anatomia, nos idos de 1990, os cadáveres de animais eram utilizados para ensinar sobre músculos, rins, membros, coração, pulmões, isolando a parte afetiva do ser que foi aquele animal, assim como ocorre até hoje. O fato de não vermos um animal, e sim apenas um corpo constituído de partes a serem estudadas, isola nossos sentimentos de dor ou compaixão, deixando apenas a busca pela cura, a curiosidade própria do aprendizado, a proteção ao sofrimento e, por que não, em alguns casos, a indiferença. Apenas a partir do terceiro ano temos contato com pacientes e seus familiares ou proprietários, quando então o sentimento já foi isolado, fazendo com que muitos profissionais da área de saúde, sejam médicos, enfermeiros ou veteriná-

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Significado biológico e social da morte A finitude da vida nos seres humanos possui sempre duas representatividades: uma física e outra social, ou seja, a morte de um corpo e a morte de uma pessoa. A morte de uma pessoa significa, normalmente, dor e solidão para os que ficam. Portanto, sob esse prisma, não se trata apenas da destruição de um estado físico e biológico, mas também do fim de um ser em correlação com outro ser vivo. Esse vazio por ela deixado não atinge somente as pessoas que conviviam com quem morreu, mas também toda uma rede social 7,16 . Podemos transpor essas duas representatividades em relação aos animais de estimação. Nas sociedades ocidentais, o apego aos animais tomou uma proporção nunca anteriormente vista, assim como o medo da morte e da separação, principalmente a partir do século XX 15,17. A sociedade moderna gerou distanciamento das relações interpessoais. É comum nos dias atuais vivermos isolados socialmente, o convívio familiar é dificultado pelas frequentes atribulações da vida moderna, e a afetividade e a carência cada vez mais são suprimidas pela presença de animais de estimação como cães e gatos 18. Além disso, nas sociedades mais desenvolvidas, a família diminuiu, e o animal de estimação foi colocado como companhia para os filhos únicos. Dessa forma, percebemos que a morte de um animal de estimação significa o mesmo que a morte de um membro da família, pois esse animal desenvolve um convívio social com ela. O exemplo desse apego e respeito pela morte dos animais de estimação pode ser visto no Japão, onde as cerimônias fúnebres desses animais são semelhantes às das pessoas, a morte possui uma conotação espiritual forte, e os cemitérios destinados a esses animais são comuns 17,19. No Brasil, em cidades dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, de cerca de dez anos para cá temos visto a implantação de cemitérios e crematórios para animais (Figuras 2 e 3). Uma revista de importante circulação nacional publicou uma matéria sobre o velório e a cremação de um cão de estimação, porém ainda utilizou o termo “estra-

Figura 2. Entrada de cemitério de animais localizado na Grande São Paulo

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Figura 3. Exemplos de urnas utilizadas para deposição de cinzas após cremação de animais

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rios, encarem os pacientes como a diarreia do quarto 43, a cinomose do labrador do canil 4, a fratura do final do corredor. Chocante para alguns, inevitável para outros. Além disso, todo profissional da saúde adquire uma obstinação terapêutica que procura, a todo custo, prolongar a vida, motivo pelo qual as instituições de saúde investem cada vez mais em recursos tecnológicos para a reestruturação e a recuperação do paciente crítico, ou seja, para a manutenção da vida. Nesses ambientes, a morte quase sempre é vista como fracasso ou derrota. Da mesma forma como acontece com médicos e enfermeiros na área humana, a formação acadêmica e a rotina profissional do médico veterinário estão fundamentadas na cura, e nela está a maior recompensa. Assim, quando ele, em seu cotidiano de trabalho, necessita lidar com a morte, em geral sente medo, impotência, depressão, culpa, sensação de fracasso e de falha. Aquela indiferença, agora durante a vida profissional, pode ser uma forma de negação ou banalização da morte para que os profissionais encontrem auxílio para continuar a exercer sua profissão 23. Afinal, se o próprio médico veterinário tem dificuldade para lidar com a morte e os sentimentos a que ela remete, qual será o tamanho da dificuldade de explicá-la ao proprie-

tário e confortá-lo? Certamente quem trabalha na rotina clínica já presenciou algum colega dizer – ou ele próprio disse – frases do tipo “no meu plantão não morre”, o que reflete nada menos que nosso despreparo e medo diante da morte. Numa tentativa de minimizar esse sentimento de negação perante a morte, verificamos o exemplo de preparo dos profissionais médicos veterinários e tecnólogos do Colorado State University Pet Hospice. Nessa instituição percebeu-se a necessidade de cuidados paliativos para pets e para tal foi instituído um programa de educação dos profissionais veterinários no tratamento desses pacientes e seus familiares. O programa foi implantado em 2003, treinando 101 voluntários, estudantes de medicina veterinária, que puderam dar suporte a 68 famílias que se encontravam perante a morte de seus animais de estimação. Hoje, tal programa continua em expansão, demonstrando impacto positivo no que se refere aos pacientes internados, ao suporte aos familiares e ao treinamento dos profissionais 24. O preparo do médico veterinário é importante para que ele compreenda o processo emocional pelo qual os proprietários passam logo após a morte de seu animal de estimação. Dentro do processo de perda, os seres humanos passam por fases previamente identificadas. São elas: a negação, seguida de raiva,

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culpa, depressão e por fim aceitação da morte. Muitas vezes, em cada uma dessas fases, o veterinário pode ser implicado, como por exemplo, na fase da raiva, em que ele pode ser culpado pelo proprietário pela morte ocorrida. Ter ciência desse processo e de cada uma de suas fases e aprender a lidar com as nuances de cada uma delas pode facilitar a comunicação e a relação entre médico e proprietário, facilitando a aceitação da perda do animal de estimação pela família 25. Assim, a despeito do que se instituiu em outros países dentro da área medica e veterinária, cada vez mais o mercado veterinário e o estilo de vida da sociedade moderna contribuirão para a implantação de cursos voltados a essa temática no Brasil. Não existe uma forma padronizada de ensino da tanatologia ou de como lidar com a morte e o morrer, porém, eliminar os tabus sobre o assunto e instituir um programa de educação não só aperfeiçoará o desempenho dos profissionais e dos estudantes de medicina veterinária, como também melhorará sua qualidade de vida, de seus pacientes e proprietários 7,26,27.

Considerações finais Sabemos que a morte e o conhecimento sobre ela são permeados por inúmeras dúvidas que a ciência moderna ainda não conseguiu desvendar, uma vez que não encontramos autores que discursassem sobre uma “morte científica”, ou seja, o que é a morte e todas as suas nuances. Contudo, nós, médicos veterinários, precisamos ter cada vez maior habilidade para lidar com os sentimentos de perda relacionados com a morte e o morrer de animais de estimação. Para isso, torna-se necessária a inclusão dessa temática tanto para graduandos quanto para graduados, enfatizando a humanização do atendimento médico aos pacientes veterinários, com respeito e consideração pelo sofrimento deles e de suas famílias. Bibliografia sugerida

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Flávia Regina Ruppert Mazzo

médica veterinária, mestre, eletrocardiografista Provet - Unidade Moema flamazzo@gmail.com

Fernanda Fontalva Cordeiro

médica veterinária, mestre, cardiologista Spécialité - Diagnóstico Veterinário e Provet Medicina Veterinária Diagnóstica - Unidade Moema fercord@uol.com.br

Franklin Santana Santos

médico geriatra, prof. dr. FM/USP franklin@saudeeducacao.com.br

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Toxicologia Intoxicação de cães por sapos do gênero Rhinella (Bufo) – revisão de literatura Poisoning of dogs by toads from the Rhinella (Bufo) genus – literature review Intoxicación de perros con sapos del género Rhinella (Bufo) – revisión de la literatura Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 46-54, 2012 Ivana Cristina Nunes Gadelha MV, mestranda PPGCA/UFERSA

ivanacris@bol.com.br

Benito Soto-Blanco

MV, mestre, dr., prof. Depto. de Ciências Animais – UFERSA benito.blanco@pq.cnpq.br

Resumo: Os sapos do gênero Rhinella, incluindo as espécies Rhinella icterica (Bufo ictericus), Rhinella jimi, Rhinella marina (Bufo marinus) e Rhinella (Bufo) schneideri, produzem veneno de elevada toxicidade. Esse veneno é composto por dois grandes grupos de substâncias ativas: as aminas biogênicas e os derivados esteroides. Os animais que entram em contato com esse veneno apresentam sinais de intoxicação que variam de leves e moderados a graves. Os sinais clínicos incluem hipersalivação, mucosas hiperêmicas, apatia, vômitos, ansiedade, cegueira, taquipneia e dor abdominal. Os animais podem apresentar ainda sintomatologia nervosa, como convulsões, ataxia, nistagmo, opistótomo, estupor e coma. O quadro pode evoluir para o óbito. O diagnóstico é realizado principalmente por meio da anamnese e dos sinais clínicos. Já o tratamento é complexo, dependendo do estágio da intoxicação. Unitermos: toxicidade, venenos, envenenamento, anfíbios, Bufonidae

Abstract: Toads from the Rhinella genus, which includes the species Rhinella icterica (Bufo ictericus), Rhinella jimi, Rhinella marina (Bufo marinus), and Rhinella (Bufo) schneideri, produce highly toxic venom. This venom is composed by two major groups of active substances, biogenic amines and steroid derivatives. Animals that have contact with this venom show mild to severe intoxication signs, which include hypersalivation, hyperemic mucosa, apathy, vomiting, anxiety, blindness, tachypnea, and abdominal pain. Animals can also present neurological signs such as seizures, ataxia, nystagmus, opistotomus, stupor, and coma. Clinical picture can progress to death. The diagnosis is made mainly by history and clinical signs. The treatment is complex, depending on the degree of intoxication. Keywords: toxicity, venoms, poisoning, amphibian, Bufonidae

Resumen: Los sapos del género Rhinella, como la Rhinella icterica (Bufo ictericus), Rhinella jimi, Rhinella marina (Bufo marinus) y Rhinella (Bufo) schneideri, producen un veneno de gran toxicidad. Este veneno está compuesto por dos grandes grupos de sustancias activas: las aminas biogénicas y los derivados esteroides. Los animales que entran en contacto con ese veneno presentan signos de intoxicación de leves y moderados a graves. Los signos clínicos son hipersalivación, mucosas hiperémicas, apatía, vómitos, ansiedad, ceguera, taquipnea y dolor abdominal. Estos animales también pueden presentar signos neurológicos como convulsiones, ataxia, nistagmos, opistótono, estupor y coma. Estos cuadros pueden llevar a la muerte del animal. El diagnóstico se realiza, principalmente, a través de la anamnesis y los signos clínicos. El tratamiento suele ser complejo, y dependerá del estadío de la intoxicación. Palabras clave: toxicidad, venenos, envenenamiento, anfibios, Bufonidae

Introdução A classe Amphibia é composta pelas ordens Anura (sapos, rãs e pererecas), Caudata (salamandras) e Gymnophiona (cobras-cegas). Todos os anfíbios produzem veneno de toxicidade variada, sendo as espécies mais letais as pererecas pertencentes ao gênero Phyllobates 1. A ordem Anura possui 46

mais de 5.679 espécies pertencentes a 59 famílias, distribuídas em todos os continentes, com exceção da Antártida e de algumas ilhas oceânicas 2. A família Bufonidae é composta por cerca de 46 gêneros e 528 espécies 2. A essa família pertence o gênero Rhinella, composto por mais de 250 espécies encontradas na maioria dos continentes 2,3, sendo que cerca

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de 77 dessas espécies são distribuídas em todo o continente americano 2. As espécies sul-americanas são agrupadas em oito grupos fenéticos 2,3, com destaque para os grupos das espécies Rhinella marina e Rhinella granulosa. O grupo da espécie Rhinella marina é composto por dez espécies: Rhinella achavali, Rhinella (Bufo) arenarum, Rhinella cerradensis, Rhinella ictérica (Bufo ictericus), Rhinella jimi (Figura 1), Rhinella marina (Bufo marinus), Rhinella (Bufo) poeppigii, Rhinella (Bufo) rubescens, Rhinella (Bufo) schneideri e Rhinella veredas (Bufo veredas, Chaunus veredas) 4-8. Todas as espécies desse grupo ocorrem no Brasil, exceto R. poeppigii, que ocorre nas encostas dos Andes do Equador, Peru e Bolívia 2. O grupo da espécie Rhinella granulosa é composto por doze espécies: Rhinella granulosa (Bufo granulosus), Rhinella pygmaea (Bufo pygmaeus), Rhinella (Bufo) bergi, Rhinella major (Bufo granulosus major), Rhinella mirandaribeiroi (Bufo granulosus mirandaribeiroi, B. granulosus lutzi), Rhinella azarai (Bufo granulosus azarai), Rhinella nattereri (Bufo granulosus nattereri), Rhinella (Bufo) fernandezae, Rhinella dorbignyi (Bufo d’Orbignyi), Rhinella merianae (Bufo granulosus merianae), Rhinella humboldti (Bufo granulosus humboldti, Chaunus beebei) e Rhinella centralis 9. Destas espécies, as que não ocorrem no Brasil são R. humboldti (presente na Colômbia, na Venezuela, no Suriname, nas Guianas e em Trinidad) e R. centralis (presente no Panamá) 9. Alguns anuros foram utilizados pelo homem com fins criminosos, e ainda há algum uso terapêutico e ritual. Por exemplo, a secreção venenosa de alguns sapos foi utilizada por algumas mulheres do Império Romano para envenenar seus maridos 10. Na medicina tradicional chinesa, o Ch’an Su, constituído por veneno seco de Bufo gargarizans e Bufo melanostictus, é usado principalmente como cardiotônico, anti-inflamatório, cicatrizante e antitumoral. Alguns rituais xamânicos praticados por índios amazônicos, incluindo os de caça, empregam a perereca-verde Phyllomedusa bicolor; a secreção seca dessa perereca é aplicada em pequenas queimaduras no peito ou no braço, processo conhecido como vacina do sapo 1. Os sapos são animais terrestres que vivem preferencialmente em florestas tropicais e em regiões temperadas úmidas. Ivana Cristina Nunes Gadelha

Figura 1 - Exemplar da espécie Rhinella jimi (Stevaux, 2002)

Alimentam-se de insetos, sendo as formigas o principal componente de sua dieta. Para a reprodução, os adultos se agregam em brejos ou em ambientes com água parada ou calma. Os ovos são pequenos e pigmentados, e a ovoposição é realizada em cordões na água. Estes animais são dioicos e a fecundação é externa. Os girinos são pequenos e negros. O disco oral que margeia a boca dos girinos é direcionado anteroventralmente e tem uma fila de papilas marginais lateralmente, estando ausentes papilas dorsais e ventrais 11. A pele dos anfíbios tem múltiplas funções importantes associadas à sobrevivência do animal 12, incluindo a presença de uma série de substâncias com uma grande variedade de propriedades biológicas e farmacológicas 13,14. Foi verificado que compostos sintetizados na pele de anfíbios apresentam atividade contra bactérias 15-17, fungos 16, protozoários 18 e neoplasias 19,20. Nesses animais podem ser encontrados dois tipos de glândulas: as mucosas e as granulosas (ou serosas). As primeiras produzem muco, que controla o pH, as trocas eletrolíticas, o grau de umidade da pele, atua na termorregulação, na respiração cutânea e na defesa. As substâncias secretadas para a defesa são tóxicas, mas em concentrações inferiores às demais 21-24, sendo comandadas pelo sistema nervoso simpático 24. Já as glândulas granulosas produzem secreções tóxicas a muitos vertebrados, e são portanto repelentes aos predadores. Além disso, protegem contra a proliferação de microrganismos na superfície do corpo, sendo um dos primeiros elementos de defesa dos anfíbios. Elas podem ser divididas em parotoides, lombares e peitorais 25,26. As glândulas parotoides, localizadas bilateralmente na região pós-orbital, são especializadas na produção e no armazenamento de veneno 21,27,28. Em espécies mais perigosas, essas glândulas são bem desenvolvidas, sendo capazes de estocar grandes quantidades de veneno 21,27,28. Embora os sapos não possam inocular veneno, são considerados venenosos, devido às toxinas encontradas em suas glândulas 29. Como mecanismo de defesa contra seus predadores, os sapos do gênero Rhinella têm as glândulas parotoides localizadas na região posterior à órbita ocular, que produzem e estocam um líquido mucoso e esbranquiçado 30,31 (Figura 2). Esse é o seu principal meio de defesa, já que os sapos são desprovidos de espinhos, garras ou dentes afiados, embora andar, saltar e bufar ainda sejam outras formas de se defenderem 22,26,31. Existem alguns predadores que são resistentes ao veneno de sapo, como, por exemplo, algumas espécies de serpentes 22. Os cães são as vítimas mais comuns desse tipo de envenenamento, pois são atraídos pelos movimentos lentos dos sapos 31, além de estes entrarem na fonte de água ou comerem a ração (Figura 3). Os cães podem atacar ou abocanhar os sapos, causando a compressão das glândulas com consequente eliminação do veneno, que entrará em contato com a mucosa oral dos cães e até com feridas que existam na pele dos mesmos. A absorção das toxinas pela mucosa oral e gástrica ocorre rapidamente 32,33. Os acidentes com veneno de sapo em cães acontecem, em sua grande maioria, na zona rural, sendo que nas cidades podem ocorrer principalmente onde houver lagos, represas, rios e riachos, que formam o habitat natural

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Toxicologia Benito Soto-Blanco

Ivana Cristina Nunes Gadelha

Figura 2 - Veneno (setas) secretado pela glândula parotoide de sapo Rhinella jimi

dos sapos. Esses acidentes têm maior incidência no período noturno, após as chuvas e nas estações mais quentes e úmidas do ano, quando os sapos são mais ativos 31,34. Geralmente, a literatura cita poucos casos de óbito de cães intoxicados por veneno de sapo se tratados adequadamente, com mortalidade variando de 4% 35 a 5,3% 36; essa baixa mortalidade foi confirmada por trabalhos experimentais 32,37. A frequência com que ocorre a intoxicação em cães e sua consequente taxa de mortalidade são desconhecidas no Brasil. Um estudo realizado em Curitiba mostrou que 14% das ocorrências de animais intoxicados se devem a zootoxinas, sendo que 23% delas se dão por meio do veneno dos sapos 38. Este trabalho tem por objetivo apresentar uma revisão de literatura da intoxicação de cães por sapos do gênero Rhinella, descrevendo o mecanismo de ação das toxinas do veneno, a sintomatologia, o diagnóstico e o tratamento adequado.

Veneno dos sapos O veneno produzido pelos sapos tem elevada toxicidade, e sua composição química é bastante variada entre as espécies 39. No entanto, há dois grandes grupos de substâncias ativas: as aminas biogênicas e os derivados esteroides 25,40. As aminas biogênicas de importância toxicológica são: adrenalina, noradrenalina, serotonina, bufoteninas, di-hidrobufoteninas e bufotioninas. Dos derivados esteroides, destacam-se os bufodienolídeos e as bufotoxinas, que têm características similares aos digitálicos, causando a inibição da bomba de sódio e potássio das células da musculatura cardíaca 10,41. Com relação ao mecanismo de ação das aminas biogênicas, a adrenalina é um agonista do sistema nervoso autônomo simpático, atuando em receptores α1-adrenérgicos, causando vasoconstricção em pele e vísceras, em receptores β1adrenérgicos, aumentando a frequência cardíaca e elevando a força de contração do miocárdio, e em receptores β2-adrenérgicos, provocando vasodilatação na musculatura e nos brônquios. A noradrenalina atua nos receptores α1 e β1, promovendo os mesmos efeitos que a adrenalina. A serotonina, uma indolalquilamina, é um potente vasoconstrictor que age como um neurotransmissor em centros específicos do cérebro 48

Figura 3 - Sapo comendo a ração de um cão

e em alguns nervos periféricos. Seus efeitos podem afetar a termorregulação, os ciclos do sono e o controle motor dos músculos periféricos 24. A bufotenina, a di-hidrobufotenina e a bufotionina têm efeitos alucinógenos por ação no sistema nervoso central 10,26. Quando absorvidas em quantidade suficiente, podem causar diversos sintomas, como convulsões, depressão, tremores, hiperestesia, hipertermia, vômitos e diarreia 29,35,36,42. Na medicina humana, as bufoteninas são utilizadas para simular doenças psicóticas em determinados testes psiquiátricos 24. Dentre os derivados esteroides estão o colesterol, o ergosterol e o γ-sistosterol, que não apresentam toxicidade. Os derivados esteroides bufodienólides e bufotoxinas apresentam toxicidade relevante, com ação similar à dos digitálicos 22,43. O mecanismo de ação tóxico é a inibição da Na+/K+ ATPase das células dos músculos cardíacos, por meio da ligação a essa enzima 24. Desse modo, elevam a concentração intracelular de sódio, inibindo assim a entrada desse íon em troca da saída de íon cálcio, que tem sua concentração intracelular aumentada. O aumento da concentração de cálcio intracelular causa incremento na força de contração cardíaca, mas reduz a frequência de batimentos cardíacos por ação vagal reflexa. Entretanto, este último efeito tende a ser compensado pelas ações da adrenalina e da noradrenalina. Além disso, os bufodienólides e as bufotoxinas reduzem a velocidade de condução dos impulsos elétricos cardíacos, do nódulo sinusal ao nódulo atrioventricular, com disparo de estímulos ectópicos ventriculares e consequentes contrações ventriculares prematuras, podendo causar fibrilação ventricular 10,36,44,45. A dose oral letal do veneno de R. marina para cães de médio porte, estimada pela administração experimental de diferentes quantidades, é de 100mg, que é a quantidade média contida nas duas glândulas parotoides do sapo 32. Sinais clínicos da intoxicação Nas intoxicações de cães com venenos de sapos, os pacientes apresentam sinais clínicos que podem ser classificados de acordo com a gravidade como leves, moderados e graves. Os sinais leves mais característicos são a irritação da mucosa oral seguida de hipersalivação. Sinais clínicos como

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êmese, depressão, fraqueza, ataxia, sinais neurológicos, anormalidades do ritmo cardíaco, diarreia e micção espontâneas são considerados moderados. Os casos graves podem apresentar dor abdominal, midríase não responsiva, convulsões, nistagmo, opistótono, estupor, edema pulmonar, colapso, cianose e culminar em óbito. A morte desses cães pode ocorrer devido ao efeito cardiotóxico do veneno, resultando em fibrilação ventricular 24,36,45-47. No entanto, há relatos de outros sinais menos comuns, incluindo excitação, paralisia muscular progressiva 48 e cegueira 49. A sintomatologia clínica depende de vários fatores, como a espécie de sapo, pois algumas têm veneno mais potente que outras; a mesma espécie de sapo varia de região para região, em decorrência de influências ambientais como dieta, clima e adaptações evolutivas; a ocorrência e o volume de vômito e de sialorreia, que servem como vias de eliminação de veneno; a quantidade de veneno absorvida; a espécie animal acometida; o porte e a suscetibilidade individuais do animal acidentado – entre outros. De modo geral, os animais menores permanecem hospitalizados por mais tempo e com quadro clínico mais grave do que os de maior porte 35,36, pois a dose de toxina nos menores é relativamente maior. Além disso, os sapos grandes têm glândulas maiores e, dessa forma, maior quantidade de veneno 30,42.

Achados patológicos Nos achados macroscópicos da necropsia podem-se observar mucosas ocular e oral congestas e presença de grande quantidade de saliva na cavidade oral. Processo inflamatório e hemorrágico no trato gastrintestinal, congestão e edema pulmonar, congestão no baço, nos rins e nos linfonodos, edema e hemorragia causada por insuficiência cardíaca são encontrados microscopicamente, embora esses achados não sejam específicos 34,40,42.

Diagnóstico O diagnóstico da intoxicação por veneno de sapo baseiase na anamnese, nos sinais clínicos e no histórico 46, podendo haver o relato de contato do animal com o anfíbio ou da presença deles no ambiente frequentado pelo cão. Porém, como os sapos apresentam maior atividade à noite, o envenenamento ocorre geralmente nesse período, dificultando assim a identificação do início do aparecimento dos sinais clínicos pelo proprietário 29,40,50. Na maioria dos casos dessa intoxicação, o eletrocardiograma revela arritmia sinusal respiratória e taquicardia ventricular 29. Para alguns autores, a monitoração do ECG é necessária apenas em animais severamente debilitados ou cuja auscultação revele distúrbios de ritmo cardíaco 35,36. Nos cães envenenados, a verificação do aumento da atividade sérica de creatina quinase fração MB (CK-MB) e da concentração de troponina Ic pode confirmar o efeito cardiotóxico. A hipocalemia e a hipocalcemia são as alterações eletrolíticas mais frequentes 47. A detecção de toxinas do veneno de sapos é raramente empregada na clínica veterinária, mas pode ser realizada para confirmação da intoxicação. Como há reação cruzada entre a bufotoxina e a digoxina sérica dosada por reação de imunofluorescência, é possível utilizar essa técnica no auxílio ao diagnóstico definitivo de intoxicação por bufotoxina em pequenos animais. Existem outras técnicas analíticas para a detecção do veneno de sapo, como o método StasOtto que utiliza a cromatografia em camada delgada (CCD), a cromatografia gasosa 42,46 e a cromatografia líquida 39. É importante diferenciar a intoxicação por veneno de sapo de intoxicações por metaldeído, cáusticos, inseticidas organofosforados ou outros produtos anticolinesterásicos e estricnina 31,42,45,51. Além desses, é importante questionar o proprietário sobre o uso recente de pesticidas como carbamatos e

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Toxicologia Fármaco

carvão ativado sulfato de atropina (0,04mg/kg) propranolol (0,5mg/kg IV, e se necessário com repetição a cada 20 minutos por até 4 vezes) cloridrato de verapamil (8mg/kg IV, 2 a 3 vezes a cada 20 minutos) diazepam (0,5 a 2mg/kg, por via IV) pentobarbital sódico (30mg/kg, por via IV) furosemida (1 a 2mg/kg, por via IV) manitol (0,25 a 1g/kg, por via IV lenta) dexametasona (0,5 a 1mg/kg IV) metilprednisolona (15 a 30mg/kg IV) enrofloxacina (5mg/kg, por via subcutânea a cada 12 horas)

Ação esperada

remoção do veneno redução das secreções salivar e pulmonar controle da taquicardia ventricular multiforme e das arritmias cardíacas

controle da taquicardia ventricular multiforme e das arritmias cardíacas controle das convulsões controle das convulsões

diminuição do edema cerebral diminuição do edema cerebral diminuição do edema cerebral diminuição do edema cerebral evitar riscos de complicações sépticas

Efeitos adversos arritmias cardíacas

depressão, hipotensão, bradicardia

Referência 35 24,30,31,51

depressão, hipotensão, bradicardia depressão depressão

hipocalemia

hipocalemia

Tratamento da intoxicação O envenenamento por sapo constitui uma emergência com risco de vida. A severidade do caso clínico, o tempo de exposição ao veneno, sua quantidade e sua toxicidade interferem no tratamento e no prognóstico 29. O tratamento deve ser iniciado imediatamente com fluidoterapia, manejo de sintomas, monitoração dos parâmetros cardiovasculares e respiratórios e, às vezes, analgesia ou anestesia 35,36. Os principais fármacos utilizados para o tratamento estão apresentados na figura 4. A remoção do veneno ingerido mas ainda não absorvido pelo animal pode ser realizada pela indução do vômito e pela lavagem da mucosa oral e gástrica. Posteriormente, pode-se administrar carvão ativado 35. Há divergências quanto ao uso da atropina. Alguns autores preconizam a administração de 0,04mg/kg de sulfato de 50

37 36

32,33

35,36

35,36

33,40 33,40 29

Figura 4 - Principais fármacos utilizados para o tratamento da intoxicação por veneno de sapos em cães

piretroides; a ingestão acidental de medicamentos simpatomiméticos como pseudoefedrina, anfetamina, teofilina, agentes ß-bloqueadores ou ß-agonistas ou antidepressivos. Também se deve investigar se houve exposição às plantas azaleia (Rhododendron spp), espirradeira (Nerium oleander) e dedaleira (Digitalis purpurea). Sinais clínicos leves como sialorreia e hiperemia da mucosa também podem ser causados por ingestão de agentes aromatizantes, produtos de limpeza cáusticos e também plantas dos gêneros Dieffenbachia e Philodendron, que contêm cristais de oxalato de cálcio 40.

37

atropina para redução das secreções salivar e pulmonar 24,30,31,51. Outros autores não recomendam a utilização da atropina devido ao risco de arritmias, exceto para o tratamento de bradicardia 36. Experimentalmente, comprovou-se que o controle da taquicardia ventricular multiforme e das arritmias cardíacas pode ser feito com propranolol (0,5mg/kg IV, se necessário com repetição a cada vinte minutos por até quatro vezes) ou com cloridrato de verapamil (8mg/kg IV, duas a três vezes a cada vinte minutos). O verapamil (bloqueador de canais de cálcio) parece ser mais eficaz que o propranolol (antagonista β-adrenérgico), além de requerer menor número de reaplicações e não induzir bradicardia tão grave quanto a induzida pelo propranolol 37. Entretanto, o propranolol e o verapamil não devem ser usados associados, devido à somatória dos efeitos inotrópicos, cronotrópicos e dromotrópicos negativos 52,53. Para auxiliar no tratamento, o acompanhamento da evolução clínica deve ser feito por meio de exames eletrocardiográficos 40. O diazepam (0,5 a 2mg/kg, por via IV) é recomendado para controlar convulsões; é sedativo, ansiolítico e tem propriedades de relaxante muscular 36. Como outra opção, pode-se administrar pentobarbital sódico (barbitúrico de longa duração), que, além de ter ação anticonvulsivante, possibilita a entubação orotraqueal e a lavagem da cavidade oral 32,33. Diuréticos como a furosemida (1 a 2mg/kg, por via IV) ou

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o manitol (0,25-1g/kg, por via IV lenta) têm sido indicados para cães gravemente intoxicados, com sinais de colapso ou coma 35,36. É importante que a hipocalemia seja monitorada nesses pacientes 35. O uso de anti-histamínicos e corticoides (dexametasona – 0,5 a 1mg/kg IV – e metilprednisolona – 15 a 30mg/kg IV) pode ser considerado bastante benéfico, pois diminui não apenas os efeitos nocivos da bufotoxina na mucosa oral e em outros órgãos, como o edema perivascular no cérebro de cães intoxicados 33,40. A antibioticoterapia com enrofloxacina (5mg/kg, por via subcutânea a cada doze horas) é empregada por alguns médicos veterinários, com a finalidade de evitar riscos de complicações sépticas em animais com sinais clínicos de intoxicação grave 29. O fragmento de anticorpo Fab contra digoxina tem sido utilizado com sucesso no tratamento da intoxicação por sapos em pacientes humanos 54 e experimentalmente em camundongos 55, mas não foram feitos testes em cães. O fragmento Fab é infundido por via intravenosa e se liga à bufotoxina livre, formando um composto farmacologicamente inerte, que é eliminado pelos rins 41,54,55. Além dos poucos relatos de uso, o Fab tem custo elevado. Utilizado na medicina tradicional chinesa, o bezoar bovino –

pedra da vesícula biliar de vacas, vem sendo empiricamente usado para tratar a insuficiência de consciência em distúrbios febris e cardíacos, e para inibir a toxicidade de substâncias empregadas popularmente na Ásia, por mais de três mil anos 56. Ele também é usado em conjunto com veneno de sapo em muitos medicamentos de venda livre na China e no Japão 57, incluindo sedativos, agentes cardioativos e medicamentos anti-inflamatórios. Em trabalho experimental em ratos, o bezoar demonstrou possuir efeitos anti-inflamatórios, antioxidantes, sedativos e cardioprotetores 58. Além disso, seus componentes ativos têm efeito protetor e antiarrítmico contra a intoxicação por veneno de sapo em ratos 59. Em diferentes trabalhos conduzidos com cobaias, as arritmias cardíacas e outros efeitos cardiotóxicos produzidos por bufadienolídeos isolados de Bufo bufo gargarizans foram reduzidas pela administração de bilirrubina 60 ou de taurina 61. O provável mecanismo de ação da bilirrubina é a redução do influxo excessivo de Na+. Por outro lado, o mecanismo protetor da taurina é desconhecido. Esses resultados indicam que o bezoar, a bilirrubina e a taurina poderiam ser utilizados no tratamento da intoxicação com o veneno de sapo, mas ainda não se conhece a sua eficácia contra o veneno de espécies de sapo presentes no Brasil, nem se teriam efeito em animais domésticos.

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Toxicologia Considerações finais A intoxicação pelo veneno dos sapos é relativamente comum em cães, resultando em quadro clínico variável e complexo, que pode ser fatal. É essencial para o clínico o rápido estabelecimento do diagnóstico, para que possa adotar as medidas terapêuticas adequadas. É importante frisar que o tratamento é complexo, dependendo do estágio da intoxicação. Referências

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Oncologia Carcinoma papilar ovariano em cadela – relato de caso Ovarian papillary carcinoma in female dogs – case report

Carcinoma papilar de ovario en una perra – relato del caso Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 56-60, 2012

Rodrigo Volpato

MV, doutorando FMVZ/Unesp-Botucatu

rodrigo.volpato@hotmail.com

Breno Souza Salgado MV, doutorando FMVZ/Unesp-Botucatu

brenosalgado@globo.com

Sérgio Riccardi Bicalho

médico veterinário autônomo Clínica Veterinária Arca de Noé sergioriccardi@terra.com.br

Ettore Giovanni Leardini

médico veterinário autônomo Clínica Veterinária Arca de Noé ettore_leardini@hotmail.com

Resumo: Os tumores ovarianos encontrados em cães correspondem de 0,5% a 1,2% de todos os neoplasmas da espécie. Os neoplasmas do trato genital feminino são pouco frequentes e geralmente associados a problemas secundários, como alopecias, infertilidade, ciclos estrais irregulares, hiperplasia endometrial, piometra, ascite, entre outros. Existem três categorias principais de tumores ovarianos, divididos em tumores epiteliais, tumores da células germinativas e tumores de estroma gonadal. Os sinais clínicos são condizentes com alterações no sistema reprodutivo e doenças endócrinas, e o diagnostico definitivo é realizado por meio do exame ultrassonagráfico. Como tratamento de escolha, é preconizada a ovariosalpingohisterectomia (OSH) e o prognóstico depende da presença ou não de metástases. O objetivo deste relato é descrever os principais aspectos do carcinoma papilar ovariano e relatar o neoplasma em uma cadela de sete anos de idade apresentada para realização de castração eletiva. Unitermos: reprodução, pequenos animais, neoplasmas Abstract: Ovarian tumors represent 0.5% to 1.2% of all cancers in dogs. Neoplasms of the female genital tract are uncommon and usually associated with secondary conditions, such as alopecia, infertility, irregular estrous cycles, endometrial hyperplasia, pyometra, and ascites. There are three main categories of ovarian tumors: epithelial tumors, germ cell tumors and tumors of the gonadal stroma. Clinical signs are consistent with changes in reproductive and endocrine systems and the final diagnosis is made by examining ultrasonography. Total abdominal hysterectomy with bilateral salpingo-oophorectomy is the treatment of choice and the prognosis depends on the presence or absence of metastases. The purpose of this report is to describe the main aspects of ovarian papillary carcinoma and the tumor diagnosis in a 7-year-old female dog presented to perform elective castration. Keywords: reproduction, small animals, neoplasia

Resumen: Los tumores de ovarios en perros representan un 0,5% al 1,2% de todos los tumores de la especie. Las neoplasias del tracto genital femenino son poco frecuentes y, generalmente, están asociados a problemas secundarios como alopecías, infertilidad, ciclos estrales irregulares, hiperplasia endometrial, piómetra y ascites, entre otros. Existen tres categorías de tumores de ovario: epiteliales, de células germinativas y los tumores del estroma gonadal. Los signos clínicos se corresponden con las alteraciones en el sistema reproductivo y las enfermedades endócrinas, y el diagnóstico definitivo se realiza mediante el examen ecográfico. El tratamiento de elección es la Ovariohisterectomía (OH) y el pronóstico dependerá de la presencia o no de metástasis. El objetivo del presente trabajo es describir los aspectos más importantes del carcinoma papilar de ovario y relatar este tumor en una perra de siete años que se presentó a consulta para una castración. Palabras clave: reproducción, pequeños animales, neoplasias

Introdução O ovário é um órgão par que produz e libera ovócitos e hormônios, o que lhe confere o caráter de glândula mista. Constitui-se de duas regiões distintas com limites mal definidos: o córtex e a medula. O córtex contém os folículos e os 56

corpos amarelos ou lúteos. É revestido por epitélio monoestratificado cúbico, que pode passar a pavimentoso. Abaixo do epitélio há uma estrutura formada por tecido conjuntivo denso, denominada túnica albugínea ou falsa albugínea. A medula é formada por tecido conjuntivo frouxo, contendo

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fibras elásticas e reticulares, no qual encontramos vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e algumas estruturas embrionárias remanescentes constituídas por células epiteliais dispostas em cordões sólidos e curtos 1. A crescente incidência de neoplasias tem várias razões, entre elas a maior longevidade observada nos animais. Fatores como nutrição, vacinações preventivas contra doenças infectocontagiosas, maior precisão nos métodos de diagnóstico e também os protocolos terapêuticos cada vez mais específicos e eficazes contribuem para essa maior longevidade 2-5. Estudo realizado em dez cadelas demonstrou que os tumores ovarianos corresponderam de 0,5% a 1,2% de todas as neoplasias da espécie. Os autores afirmaram que a incidência é influenciada pelo número de cadelas castradas em idade precoce, e as neoplasias têm prevalência em cadelas adultas ou velhas 4. A neoplasia no trato genital feminino é pouco frequente, correspondendo a apenas 5,6% dos neoplasmas em cães, sendo destes 15,38% nos ovários 5,6. Existem três categorias principais de tumores ovarianos, divididos em tumores epiteliais, como os adenomas, adenocarcinomas, cistoadenomas, carcinoma papilar; tumores da células germinativas, sendo eles os disgerminomas e teratomas e tumores do estroma gonadal, como os das células da granulosa, tecomas e teratomas 7,8. Os carcinomas papilares originam-se da superfície das estruturas epiteliais, são de aparência nodular lisa ou em aspecto “couve-flor”, podendo ter áreas de necrose ou hemorragia. As metástases são comuns e ocorrem pela circulação linfática, implantação ou invasão circular 6,9. Em um relatório sobre neoplasmas ovarianos, foram estudos 71 casos, destes, 46% eram de origem epitelial; dos tumores epiteliais, 64% foram classificados como malignos; dos malignos, 48% tinham metástases 10.

A taxa de metástases de tumores de ovário é variável, geralmente reconhecidas como disseminação peritoneal ou implantação, embora metástases à distância e envolvimento de outros órgãos também possam ocorrer 7,8,11. A hiperplasia endometrial cística é uma alteração endometrial de cadelas e está correlacionada a altas concentrações de estrógeno e exposição prolongada a progesterona, endógena ou exógena, sendo considerada um dos fatores predisponentes da hidrometra, mucometra e piometra 12. Os carcinomas papilares ovarianos são neoplasias incomuns nos cães e frequentemente se disseminam na cavidade peritoneal por meio da invasão da bolsa ovárica e subsequente implantação em outros locais da cavidade, levando ao quadro de carcinomatose peritoneal 7,8. De 58 cães com tumores de ovário que realizaram avaliação histopatológica do útero, hiperplasia cística endometrial foi observada em 67% 6.

Sinais clínicos Os sinais clínicos em cães e gatos com tumores de ovário são variáveis. Mais comumente, observam-se sinais secundários à massa e seu espaço de ocupação, ou distensão abdominal secundária e/ou derrame pleural devido à disseminação tumoral, podendo-se observar ascite, pela produção de líquidos por células tumorais, obstrução linfática e/ou irritação e inflamação das superfícies serosas. Os sinais ainda podem ser condizentes com alterações no sistema reprodutivo e doenças endócrinas, como por exemplo, cios constantes, prolongados ou erráticos, secreção vaginal purulenta, hemorragia endometrial, intumescência de vulva, piometra, hiperplasia endometrial cística, hiperplasia mamária, pseudociese, alteração de comportamento, prostração, anorexia, hipertermia, poliúria, polidipsia e massa abdominal na região do ovário 13-17.

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Oncologia núcleo/citoplasma, sob um eixo que apresentava estroma fibrovascular fino. Os achados são compatíveis com hiperplasia endometrial cística e carcinoma papilar ovariano (Figura 2).

Discussão e conclusão A incidência de neoplasmas ovarianos está correlacionada à quantidade de cadelas castradas. Em populações com esse hábito, a incidência tende a ser menor, já que os neoplasmas ovarianos ocorrem com maior frequência em cadelas adultas/velhas 4,19. O tratamento com remoção cirúrgica associado à OSH, melhora o quadro em todos os pacientes, salvo naqueles com metástases em outros locais 6.

Sérgio Riccardi Bicalho

Diagnóstico O diagnostico é fechado pelos sinais clínicos, palpação abdominal, exame ultrassonográfico, exame radiológico, biopsia excisional, exame citológico e exame histopatológico. Os tumores de ovários podem ser detectados acidentalmente durante OSH ou no exame pós-morte dos cães que não apresentaram quaisquer sinais clínicos 18. O exame complementar de eleição é o ultrassonográfico, que ira identificar uma massa abdominal com origem em ovário, podendo ser sólida ou cística. Anormalidades uterinas como hiperplasia endometrial cística e piometra acompanharam a neoplasia ovariana em cinco de dez cães com diagnóstico confirmado 4. No exame histopatológico, a presença de papilas é sugestiva de malignidade 9. As células das papilas mostram-se estratificadas, existindo uma variação no tamanho nuclear e na forma 7. Figuras mitóticas abundantes estão presentes e o tumor tende a invadir a parede do cisto 19.

Tratamento Como tratamento de escolha, preconiza-se a ovariosalpingohisterectomia (OSH). Há um número limitado de outras abordagens para tratamento de tumores ovarianos, principalmente aqueles com características metastáticas. A cisplastina intra-abdominal é uma opção em potencial para os casos onde houver metástase abdominal difusa 20,21. No caso clínico a ser discutido, o animal não apresentava metástases abdominais, porém estas podem estar presentes, como em uma cadela com cinco anos de idade com cistoadenocarcinoma papilar ovariano com nódulos metastáticos malignos disseminados pela cavidade abdominal 22.

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Sérgio Riccardi Bicalho

Caso clínico Em julho de 2011, foi atendida na Clínica Veterinária Arca de Noé, localizada na cidade de Itu, SP, uma cadela da raça shih tsu com sete anos de idade para realização de OSH eletiva. Durante a anamnese, nenhuma queixa foi relatada pelo proprietário e o exame físico não apresentou alterações, sendo agendado o procedimento cirúrgico. Durante o procedimento cirúrgico, após incisão da musculatura abdominal, notou-se uma quantidade anormal de líquido livre na cavidade, de aspecto piossanguinolento. Ao exteriorizar o útero, este se encontrava com espessamento e ambos os ovários apresentavam projeções digitiformes que invadiam a bolsa ovárica, sendo estas formações friáveis, em aspecto “couve-flor” de coloração vermelho/amarronzada (Figura 1). Não foi encontrada evidência de metástases espalhadas pela cavidade abdominal durante a laparotomia exploratória. A peça foi encaminhada para exame histopatológico. No exame histológico observaram-se, no útero, lesões císticas revestidas por epitélio cuboide simples e com presença de material amorfo discretamente eosinofílico intraluminal. Nos ovários, observou-se a presença de múltiplas projeções papiliformes direcionadas a partir da superfície subepitelial compostas por células poliédricas de citoplasma escasso, núcleos vesiculosos e 1 a 3 nucléolos proeminentes, com anisocariose e anisocitose moderada a acentuada e alta relação

Figura 1 - A) Exteriorização do útero com presença do neoplasma localizado no ovário direito e seta indicando líquido livre extravasando da cavidade abdominal. B) Peça anatômica do útero com hiperplasia endometrial e ovários com presença de neoplasia

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Oncologia Breno Souza Salgado

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Figura 2 - Projeções papiliformes compostas por células epiteliais subsuperficiais atípicas observadas em ovário

O carcinoma papilar ovariano tem grande importância clínicas pela indução de alterações no sistema reprodutivo e endócrino e alta malignidade com metástases agressivas e intensas por toda cavidade abdominal, apesar de neste relato não terem sido encontrados nódulos metastáticos. Sinais clínicos ligados à reprodução e alterações de características endócrinas são importantes alertas para os clínicos incluírem esta patologia como diagnóstico diferencial 6. Em nosso caso, o animal não apresentava alterações clínicas. O neoplasma foi diagnosticado durante o transoperatório, por meio da observação de uma massa friável em regiões de ovários e líquido solto em cavidade abdominal. Considerando-se a crescente prevalência de neoplasia, a maior longevidade dos cães e a importância dos procedimentos cirúrgicos no controle de determinadas afecções oncológicas, faz-se necessário que o médico veterinário se dedique cada vez mais ao estudo da oncologia veterinária. O domínio desta especialidade é cada vez mais requisitado na clínica de animais de companhia e tornou-se uma exigência a busca da qualidade de vida para os pacientes. A procura de um diagnóstico precoce e acurado deve ser constante. Referências

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Oncologia Fatores prognósticos no mastocitoma cutâneo canino – revisão de literatura Prognostic markers for canine mast cell tumors – literature review

Factores pronósticos en el mastocitoma cutáneo canino – revisión de literatura Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 62-70, 2012 Talita de Cássia Borges Castro médica veterinária autônoma talitaborges@gmail.com

Sabrina dos S. Costa Poggiani MV, MsC, PhD, profa. Depto. Medicina Veterinária, UPIS 03589@upis.br

Paula Diniz Galera

MV, MsC, PhD, profa. adj. IV FAV/UnB dra.paulagalera@gmail.com

Resumo: O mastocitoma é a neoplasia cutânea mais comum em cães, com marcada predileção racial, sendo os boxers os mais afetados. Possui grande importância na clínica de animais de companhia, dada sua alta incidência, comportamento clínico agressivo e dificuldade de previsão do comportamento biológico. A busca por indicadores prognósticos mais precisos para essa neoplasia vem se intensificando e se diversificando, de modo a melhorar a definição dos tratamentos a serem instituídos. O sistema de graduação histológica é um importante critério e também o mais utilizado na rotina oncológica. No entanto, novos indicadores estão sendo instituídos e podem ser usados como complementos da tradicional classificação histológica. O objetivo deste artigo é descrever os principais indicadores prognósticos no mastocitoma cutâneo canino, considerando os aspectos clínicos, citológicos, morfológicos, moleculares e imunológicos para uma melhor previsão do comportamento dessa neoplasia. Unitermos: cão, neoplasia, proliferação

Abstract: Mast cell tumor is the most common skin cancer in dogs and there is marked breed predilection, since Boxers are most affected. It has great relevance in small animal practice due to its high incidence, aggressive clinical behavior and difficulty in predicting its biological behavior. Research for more accurate prognostic factors for this kind of cancer has intensified and also diversified, to better define the treatment that should be instituted. The histological grading system is an important criterion and also the most routinely used in oncology. However, new indicators are being established and can be used in addition to the traditional histological classification. The goal of this article was to describe the main prognostic indicators in canine cutaneous mast cell tumor as regards the clinical, cytological, morphological, molecular and immunological findings, in order to better predict the behavior of this tumor. Keywords: dog, neoplasia, proliferation

Resumen: El mastocitoma es la neoplasia cutánea más común en perros, con una marcada predilección racial siendo los boxers los más afectados. Tiene una gran importancia en clínica de pequeños animales debido a su alta incidencia, comportamiento clínico agresivo, y es muy difícil predecir su comportamiento biológico. Con el objetivo de mejorar la elección del tratamiento a ser instituido, se han intensificado y diversificado la búsqueda de indicadores pronósticos más precisos. El sistema de graduación histológica representa un importante criterio pronóstico, y es el más utilizado en la rutina oncológica. No obstante, existen nuevos indicadores que están siendo utilizados y pueden servir como complemento a la clasificación histológica tradicional. El objetivo de este artículo es describir los principales indicadores pronósticos en el mastocitoma cutáneo canino, considerando los aspectos clínicos, citológicos, morfológicos, moleculares e inmunológicos que permitan una mejor previsión del comportamiento de esta neoplasia. Palabras clave: perro, neoplasia, proliferación

INTRODUÇÃO O mastocitoma é a neoplasia cutânea mais comum em cães, sendo rotineiramente classificado quanto ao prognóstico com base em características morfológicas e histológicas. Os mastocitomas podem ser histologicamente classificados 62

em bem diferenciados, também conhecidos como de grau I, moderadamente diferenciados, ou de grau II, e pouco diferenciados, ou de grau III 1. Devido à dificuldade de previsão do comportamento biológico e, consequentemente, de definição do tratamento a ser instituído, a busca por indicadores

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Parâmetros clínicos Os parâmetros clínicos úteis para prever o comportamento biológico dessa neoplasia em cães incluem localização,

Figura 1 - Mastocitoma de grau III e de alto grau, de acordo com ambos os critérios de classificação propostos (HE, Obj 40x) Sabrina dos Santos Costa Poggiani

FATORES PROGNÓSTICOS Graduação histológica A classificação histológica é o método utilizado para avaliar o prognóstico dos mastocitomas, correlacionando-o com a sobrevida desses animais 1,7. Esse critério, porém, não permite estimar o comportamento tumoral em todos os casos 2,8. Em estudo cego realizado para avaliar a consistência da classificação microscópica e o valor prognóstico dessa graduação histológica, 95 amostras de cães acometidos por mastocitoma cutâneo canino foram avaliadas por 28 patologistas veterinários oriundos de 16 instituições 9. A porcentagem de concordância entre os avaliadores foi de 75% no diagnóstico de mastocitoma de grau III e inferior a 64% em tumores de graus I e II. Para melhorar o nível de concordância entre os patologistas e fornecer melhor valor prognóstico, os autores sugerem um sistema de classificação em apenas duas categorias – alto e baixo grau de malignidade –, evidenciado por pelo menos uma das seguintes características: sete figuras de mitose em dez campos de maior aumento (40x); três células multinucleadas (três ou mais núcleos) em dez campos de maior aumento (40x); três núcleos bizarros em dez campos de maior aumento (40x) e cariomegalia. De acordo com esse novo sistema, os mastocitomas de alto grau foram associados ao menor tempo de surgimento de metástases, ao surgimento de novos tumores e a menor tempo de sobrevida. O tempo médio de sobrevida foi inferior a quatro meses para tumores de alto grau, mas superior a dois anos para tumores de baixo grau 9 (Figura 1).

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prognósticos mais precisos para essa neoplasia vem se intensificando e se diversificando. O objetivo desta revisão bibliográfica é abordar os principais indicadores prognósticos no mastocitoma cutâneo canino, para uma melhor previsão do comportamento dessa neoplasia. O mastocitoma é a neoplasia cutânea mais frequente no cão, representando 16% a 21% dos tumores cutâneos caninos 2-4. Os sinais clínicos são causados pela liberação de histamina, heparina e outras aminas vasoativas 5. Os cães podem ser avaliados em decorrência de uma tumefação difusa (edema e inflamação em torno de um tumor primário ou da sua lesão metastática), de um eritema ou de uma automutilação na área acometida 3. A manipulação mecânica do tumor durante o exame físico também pode induzir a desgranulação dos mastócitos, levando ao sinal de Darier, que consiste em eritema e formação de pústulas 3,4. Outras complicações, como úlceras gastroduodenais, distúrbios da coagulação e retardamento da cicatrização, são descritas por diversos autores 3,5,6. O tratamento do mastocitoma inclui excisão cirúrgica, radioterapia, quimioterapia e criocirurgia, entre outros. A escolha da modalidade de tratamento depende em grande parte dos fatores prognósticos, tendo como principal ponto de apoio a classificação histológica e o estadiamento clínico do tumor 6.

Figura 2 - Mastocitoma de grau II em bolsa escrotal, com sete dias de evolução em um teckel de nove anos

velocidade de crescimento, presença de múltiplas neoformações, presença de sinais paraneoplásicos, raça, idade, sexo e estágio clínico 10. Os tumores localizados na base da unha, na cavidade oral, no focinho e nas regiões inguinal, prepucial e perineal, além da junção mucocutânea, são muitas vezes associados a um prognóstico mais reservado do que os presentes em outras regiões anatômicas (Figuras 2, 3 e 4). Estes tendem a apresentar comportamento agressivo, independentemente da classificação histológica, sendo mais aptos a apresentar recidivas ou metástases 4,11. A velocidade de crescimento é determinada pela relação entre o volume do tumor e o número de semanas desde seu aparecimento. É um indicador prognóstico negativo, e quanto maior, mais precoce deve ser o tratamento 12. Cerca de 83% dos cães portadores de neoplasias por período superior

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Figura 4 - Mastocitoma de grau III em coxim metacárpico, de crescimento rápido, em um cão da raça poodle Sabrina dos Santos Costa Poggiani

a 28 semanas antes da intervenção cirúrgica sobreviveram no mínimo 30 semanas após o tratamento (Figura 5). Por outro lado, dentre os cães com tumores presentes por menos de 28 semanas, apenas 25% sobreviveram o mesmo período 7. As síndromes paraneoplásicas são conjuntos de sinais e sintomas presentes em pacientes com câncer, distantes do tumor ou de suas metástases, e podem envolver vários sistemas. Em pacientes portadores de mastocitoma, esses sinais ocorrem principalmente devido à desgranulação de mastócitos e à liberação de grânulos de histamina e heparina. A ulceração gastrintestinal é uma complicação importante e caracteriza-se por hematoemese, melena, anorexia e dor abdominal. A presença de sinais paraneoplásicos está associada a um pior prognóstico 4,6,10,12. A ocorrência de recidiva após a excisão cirúrgica do tumor reflete um prognóstico reservado, sendo que cães idosos e da raça boxer tendem a apresentar maior frequência de recidivas após excisão cirúrgica 6,11. Apesar de serem apontados como uma das raças mais acometidas pelo tumor, os cães da raça boxer tendem a desenvolver mastocitomas menos agressivos 4, em idade mais jovem comparativamente às outras raças; normalmente os tumores são bem diferenciados – portanto, têm um melhor prognóstico 10. Por outro lado, sharpeis jovens, com idade média de quatro anos, geralmente apresentam tumores pouco diferenciados 13. Além disso, cães das raças labrador, bernese e bull mastiff têm predisposição a desenvolver mastocitomas mais agressivos 12. Em um estudo recente, houve correlação entre o sexo dos animais e os graus histológicos, sendo que as fêmeas apresentaram tumores de menor grau de malignidade 14. O estadiamento clínico tem por objetivo identificar a extensão da doença e é amplamente utilizado em conjunto com a graduação histológica. É um procedimento importante, pois influencia o prognóstico e auxilia no direcionamento do tratamento a ser realizado 10. A graduação mais comumente empregada é a proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em cinco graus ou estádios. O estádio clínico 0 corresponde a tumor único, sem envolvimento de linfonodos

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Figura 3 - Mastocitoma de grau II em região inguinal, de crescimento rápido, em um cão SRD de oito anos

Figura 5 - Mastocitoma de grau II e de alto grau em face lateral de membro pélvico em uma cadela da raça boxer de dez anos de idade, com dois anos de evolução. Observar áreas de ulceração

regionais; o estádio I, a tumor único confinado à derme sem envolvimento dos linfonodos regionais; o estádio II, a tumor único confinado à derme com envolvimento dos linfonodos regionais; o III, a tumor dérmico múltiplo ou tumor amplamente infiltrado, com ou sem envolvimento dos linfonodos regionais. Além disso, estes estádios são subdivididos em “a” e “b”, de acordo com a ausência ou a presença de sinais clínicos, respectivamente. Finalmente, o estádio IV corresponde a qualquer tumor com metástases, incluindo leucemia e/ou envolvimento de medula óssea, ou recidiva com metástases 4. Em geral, os pacientes em estádio clínico 0 e I confinados na pele e sem envolvimento de linfonodos locais ou metástase distante têm melhor prognóstico do que os que se encontram em estádios superiores (III-IV) 12.

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Índice mitótico A contagem de figuras de mitose por campo ou índice mitótico (IM) é realizada para a avaliação proliferativa das neoplasias e tem sido utilizada tanto para fins diagnósticos quanto para indicação de prognóstico 15. Em uma pesquisa demonstrou-se correlação entre o índice mitótico (IM), os graus histopatológicos 1, a taxa de ocorrência de metástases e o tempo de sobrevida. A média de sobrevida de cães com IM ≤ 5 foi significativamente longa (70 meses), comparativamente àqueles com IM > 5 (dois meses), independentemente do grau histológico. Portanto, quanto maior o IM, menor será a sobrevida 16.

Regiões organizadoras de nucléolo (AgNOR) As regiões organizadoras de nucléolo (AgNORs) são subestruturas envolvidas na transcrição ribossomal de RNA e podem ser identificadas como discretos focos nucleolares negros em lâminas preparadas com corantes à base de prata, a exemplo do nitrato de prata. O número de AgNORs reflete a atividade proliferativa de uma população celular, e está relacionado com a velocidade com que as células percorrem o ciclo celular 8. Quanto maior o número de pontos argirofílicos intranucleares, pior é o prognóstico. Além disso, esse parâmetro foi considerado um indicador melhor e mais objetivo do que o grau histológico e o índice mitótico 17.

PCNA O antígeno nuclear de proliferação celular (PCNA) é uma proteína nuclear necessária à síntese e ao reparo de DNA. Sua maior atividade é comumente notada na fase de síntese de DNA no ciclo celular. Assim, a produção de PCNA está diretamente relacionada à taxa de proliferação celular 8. Um estudo revelou correlação entre a elevada expressão de PCNA e o aumento da mortalidade em cães com mastocitomas cutâneos 18. Ki-67 O ki-67 consiste em duas subunidades de proteínas que estão presentes na fase ativa do ciclo celular (G1, S, G2 e M), mas ausentes durante a fase de quiescência. A alta expressão de Ki-67 em mastocitomas está associada ao alto índice de mortalidade, recorrência e metástases. Portanto, os mastocitomas com alta porcentagem de células positivas para Ki-67 apresentam pior prognóstico (Figura 6). O Ki67 é um importante indicador prognóstico, independentemente da graduação histológica, sendo útil principalmente na subdivisão de mastocitomas de grau II quanto à agressividade 18.

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Entretanto, existem controvérsias em relação ao estadiamento clínico do mastocitoma cutâneo canino, principalmente quanto ao estádio III, pois tanto os tumores múltiplos quanto os tumores infiltrativos são classificados como estádio III. Alguns trabalhos já demostraram que a presença de tumores múltiplos não se traduz em pior prognóstico 13. Logo, é possível que alguns cães sejam tratados de forma mais agressiva do que o necessário.

Figura 6 - Reação imunoistoquímica em amostra de mastocitoma cutâneo canino, anticorpo Ki-67. As células que expressam Ki-67 são identificadas pela coloração acastanhada na região nuclear (DAB, 40x)

Morfometria Dois trabalhos investigaram as características morfométricas nucleares como possível indicador do grau histológico no mastocitoma canino, tanto em amostras citológicas quanto em cortes histológicos. Esse método facilitou a graduação dos tumores quanto à diferenciação, mas não estabeleceu limites ou valores fixos para tais parâmetros, o que poderia conferir maior precisão ao diagnóstico. Houve diferenças significativas entre as graduações I e III e as graduações II e III para a média da área nuclear, diâmetro e perímetro nuclear; porém, não houve diferença significativa entre as graduações I e II 19,20.

Proto-oncogene c-Kit A etiologia dos mastocitomas não está completamente elucidada, mas foram identificadas mutações no proto-oncogene c-KIT, que codifica a proteína KIT (CD117), um receptor transmembrânico de atividade tirosina-quinase. Há interação entre fatores de crescimento de mastócitos (stem cell factor – SCF) com receptores específicos da proteína KIT, o que estimula a maturação celular, a proliferação e a ativação de mastócitos 21. A principal mutação encontrada no gene cKIT foi a duplicação nos domínios justamembrânicos, o que causa ativação do receptor sem a necessidade da ligação com o SCF. Isso explica o crescimento descontrolado dos tumores e a relação positiva das duplicações com a malignidade do mastocitoma. Alguns autores sugerem relação entre a graduação histológica dos mastocitomas caninos e a presença de mutações no c-KIT. Não houve mutações em mastocitomas grau I, e houve menos de 10% de mutações em mastocitomas de grau II. No entanto, 66% dos mastocitomas de grau III demonstraram alterações genéticas 22. Foram identificados três padrões para localização da proteína KIT em mastócitos neoplásicos, sendo eles: KIT I – membranosa; KIT II – citoplasmática focal; KIT III – citoplasmática

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Figura 7 - Reação imuno-histoquímica em amostra de mastocitoma cutâneo canino de grau II. Padrão perimembranoso de marcação para c-KIT (DAB, 40x) Sabrina dos Santos Costa Poggiani

Figura 8 - Reação imuno-histoquímica em amostra de mastocitoma cutâneo canino de grau II. Padrão citoplasmático de marcação para c-KIT (DAB, 40x). Este animal apresentou recidiva e sobrevida de apenas dois meses

difusa. Esses padrões foram correlacionados com o prognóstico, sendo que os animais que apresentavam os padrões citoplasmáticos tiveram pior prognóstico que aqueles que apresentavam padrões membranosos. Neste mesmo trabalho, foi demonstrado que os padrões KIT II e KIT III estavam significativamente relacionados à recidiva local e à menor sobrevida dos animais (Figuras 7 e 8) 23.

Mdm2 A expressão de Mdm2 (mouse double minue-2) foi estudada pela primeira vez em mastocitomas caninos em 2006. Os autores relataram a superexpressão da oncoproteína Mdm2 em tumores de grau III quando comparados aos de menor grau. Os resultados sugerem que a superexpressão de Mdm2

desempenha um papel crucial na tumorigênese e se correlaciona com a graduação histológica. Portanto, a expressão de Mdm2 é superior nos mastocitomas de maior graduação 24.

P53 A função da proteína p53 é regular a transcrição da fase G1 e da fase S do ciclo celular, promovendo ou reprimindo a síntese de RNAm. Além disso, é responsável por garantir a fidelidade genômica, pois repara o DNA danificado ou induz a apoptose quando esses danos são irreparáveis. A expressão de p53 em casos de mastocitoma não se relacionou com o prognóstico dos cães. Além disso, não foram verificadas diferenças significativas entre o grau histológico do tumor e a imunorreatividade da p53 25.

BAX A BAX é uma proteína da família Bcl-2 cuja perda da expressão reduz a remoção de células por apoptose. Defeitos na apoptose são responsáveis por prolongar a vida de células com mutações no DNA. Autores brasileiros analisaram a expressão imuno-histoquímica de BAX em amostras de mastocitomas cutâneos caninos e sua relação com a graduação histológica. Foi observado que a detecção de BAX está relacionada aos graus de malignidade de mastocitomas, e ela pode ser usada como um indicador prognóstico 26.

Expressão da cicloxigenase-2 (COX-2) A enzima cicloxigenase-2 (COX-2) não é detectada na maioria dos tecidos e pode ser induzida por sinais pró-inflamatórios. A superexpressão de COX-2 nas neoplasias tem sido associada a mecanismos de promoção tumoral, por induzir a angiogênese, inibir a apoptose e aumentar a capacidade de invasão e de metástase, além de modular a inflamação e a resposta imune 27. A imunorreatividade da COX-2 em amostras de mastocitoma de diferentes graus histológicos mostrou-se crescente de acordo com o grau de malignidade. Dessa forma, os autores concluíram que quanto maior a expressão de COX-2, pior o grau histológico e menor a sobrevida do paciente 28.

Macrófagos Os macrófagos produzem citocinas e enzimas líticas com efeitos antitumorais, mas, na maioria dos tumores, as células tumorais e os macrófagos apresentam relação simbiótica em que aquelas atraem os macrófagos e sustentam sua sobrevivência; estes, por sua vez, produzem fatores que promovem o crescimento tumoral e a angiogênese. A imunomarcação de macrófagos e a sobrevida foram avaliadas em cães portadores de mastocitoma cutâneo. Ambos mostraram-se decrescentes em relação à graduação histológica, ou seja, os tumores menos agressivos apresentaram um número maior de macrófagos infiltrados (65,9%) em relação aos tumores mais agressivos (37,3%) e com pior prognóstico. Quanto maior a expressão, menor é o grau histológico e maior será a sobrevida do paciente 28.

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Oncologia

Triptase A triptase é uma protease neutra encontrada em mastócitos. Os mastocitomas foram classificados em três grupos, de acordo com seus diferentes padrões de coloração de triptase, sendo padrão I, os mastócitos neoplásicos de coloração citoplasmática difusa; padrão II, os mastócitos neoplásicos de moderada coloração pontilhada no citoplasma; e padrão III, de pouca ou nenhuma coloração citoplasmática 23. Um estudo feito com anticorpos monoclonais de marcação para triptase, quimase e serotonina em amostras de mastocitomas revelou positividade para o antígeno triptase e quimase. Como a quimase foi detectada pelos anticorpos em células neoplásicas e não neoplásicas e a serotonina não foi identificada, concluiu-se que ambas não auxiliam como método de diferenciação de tumores neoplásicos e não neoplásicos. A triptase, por outro lado, foi eficaz em distinguir o mastocitoma de outras neoplasias de células redondas 30. Os tumores bem diferenciados têm maior expressão citoplasmática de triptase comparativamente aos pouco diferenciados, e essa diferença de expressão pode ser usada para prever o comportamento biológico do tumor. Recentemente, alguns autores realizaram a imunomarcação de triptase em microarranjo de amostra tecidual de cães portadores de mastocitoma cutâneo e observaram que os de grau III apresentaram menor expressão desse anticorpo, sendo estatisticamente diferente dos graus I e II. Isso se justifica pela maior indiferenciação dessas células, o que se traduz em menor quantidade de grânulos citoplasmáticos contendo esta proteína 31.

Densidade microvascular A densidade microvascular é um parâmetro de angiogênese frequentemente utilizado, que é regulado por fatores pró e antiangiogênicos 32. Sua evidenciação é feita aplicando-se anticorpos com afinidade por epítopos específicos da célula endotelial, como o fator Von Willebrand, também conhecido como fator VIII (Figura 9) 33. Alguns estudos de medicina veterinária demonstraram a importância da densidade microvascular em animais acometidos por tumores 34,35. Em cães com mastocitoma cutâneo, a densidade microvascular pode 68

Sabrina dos Santos Costa Poggiani

Prostaglandina E2 (PGE2) e fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) A prostaglandina E2 (PGE2) desempenha papel importante em processos fisiológicos normais, além de afetar a resposta imune, o que interfere de forma considerável na carcinogênese, na progressão tumoral e nas metástases. Também tem capacidade angiogênica, uma vez que induz a produção de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Uma pesquisa demonstrou diferença significativa no percentual de mastócitos neoplásicos marcados com PGE2 quando comparados os graus I e III, sendo maior no grau III, demonstrando o potencial maligno dessa neoplasia. Portanto, os mastocitomas mais agressivos expressam mais PGE2, quando comparados aos menos agressivos. Já a imunomarcação de VEGF não contribui para a avaliação do prognóstico, uma vez que os mastocitomas expressam VEGF independentemente da graduação histológica 29.

Figura 9 - Mastocitoma cutâneo canino de grau II, alto grau. Reação imuno-histoquímica, anticorpo antifator VIII (fator de Von Willebrand), evidenciando microvaso (DAB, 20x)

ser útil como um indicador prognóstico sensível quanto ao comportamento biológico do tumor no período pós-cirúrgico, uma vez que tumores moderada e altamente invasivos possuem distintos valores de densidade microvascular 36.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar das críticas ao sistema de graduação histopatológica baseado em três graus de diferenciação e da constante busca por novos indicadores prognósticos, esse sistema ainda é o mais utilizado por diversos autores e na prática clínica 37,38. Vista a quantidade de marcadores utilizados para presumir o comportamento biológico do mastocitoma e as controvérsias relativas a cada um, nenhum parâmetro pode ser usado individualmente para definir com precisão o prognóstico para cada paciente específico. Devido à alta incidência, agressividade e dificuldade de previsão do comportamento biológico, deve-se incentivar a ampliação de estudos a fim de obter uma definição dos melhores indicadores prognósticos que auxiliem no estabelecimento da abordagem terapêutica mais adequada para esse tumor. REFERÊNCIAS

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Clínica médica Resistência a antimicrobianos de bactérias isoladas em cães com otite externa crônica Antimicrobial resistence of bacteria isolated from dogs with chronic otitis externa

Resistencia antibiótica de bacterias en perros con otitis externa crónica Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 72-78, 2012 Julia Helena de Araújo Lins

graduanda Curso Medicina Veterinária da FMU julinha_rjh@hotmail.com

Ana Claudia Balda

MV, profa. dra. Curso de Medicina Veterinária da FMU Serviço de dermatologia - Hovet/Pompeia acbalda@fmu.br

Resumo: A otite externa é considerada a otopatia mais comum em cães, não sendo vista como uma doença isolada do meato acústico, mas sim como uma síndrome que frequentemente reflete uma doença dermatológica sistêmica. O objetivo do presente estudo foi isolar bactérias que causam otite externa em cães e determinar o perfil de resistência in vitro de cepas de Pseudomonas aeruginosa. As amostras foram obtidas de 39 cães atendidos no Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas em São Paulo. Das 44 amostras auriculares analisadas, todas (100%) tiveram crescimento bacteriano. O perfil de resistência in vitro foi realizado com doze antimicrobianos. Observou-se maior resistência a amoxicilina + ácido clavulânico (94,44%), ampicilina (94,44%) e cefalexina (83,33%). Os maiores percentuais de sensibilidade foram obtidos nos testes realizados com gentamicina (94,45%), enrofloxacina (88,89%), polimixina B (83,34%), ciprofloxacina (77,78%) e neomicina (77,78%). Unitermos: otopatia, Pseudomonas aeruginosa, antibiograma

Abstract: External otitis is considered the most common ear disease in dogs. It is not an isolated disease of the ear canal, but a syndrome that often reflects a systemic skin disease. The aim of this study was to isolate bacteria that cause otitis externa in dogs and determine the in vitro resistance profile of different Pseudomonas aeruginosa strains. Samples were obtained from 39 dogs treated at the Veterinary Hospital of Faculdades Metropolitanas Unidas in Sao Paulo. All of the 44 analyzed ear samples presented bacterial growth. The in vitro resistance profile was performed against 12 antimicrobial agents. The agents against which highest resistance was observed were amoxicillin + clavulanic acid (94.44%), ampicillin (94.44%) and cephalexin (83.33%). The highest percentages of sensitivity were observed to gentamicin (94.45%), enrofloxacin (88.89%), polymyxin B (83.34%), ciprofloxacin (77.78%) and neomycin (77.78%). Keywords: otitis, Pseudomonas aeruginosa, sensitivity test

Resumen: La otitis externa está considerada como la otopatía más común en perros, por lo cual no se la considera como una enfermedad aislada del meato acústico, sino como un síndrome que frecuentemente refleja una enfermedad dermatológica sistémica. El objetivo del presente estudio fue el aislamiento de bacterias que causan otitis externa en perros y determinar el perfil de resistencia in vitro de las cepas de Pseudomona aeruginosa. Las muestras se obtuvieron de 39 perros atendidos en el Hospital Veterinario de la FMU de San Pablo. De las 44 muestras auriculares analizadas, todas (100%) tuvieron crecimiento bacteriano. El perfil de resistencia in vitro se realizó con doce antimicrobianos. Pudo observarse una mayor resistencia a la amoxicilina con acido clavulánico (94,44%), ampicilina (94,44%) y a la cefalexina (83,33%), respectivamente. En los test realizados, los antibióticos que tuvieron mayor índice de sensibilidad fueron la gentamicina (94,45%), la enrofloxacina (88,89%), la polimixina B (83,34%), la ciprofloxacina (77,78%) y la neomicina (77,78%). Palabras clave: otopatía, Pseudomonas aeruginosa, antibiograma

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Introdução Dentre as principais afecções que acometem os cães, a otite externa representa 20% dos casos atendidos na clínica médica veterinária 1. A otite externa crônica (OEC) pode atingir até 76,7% dos casos de otopatias em cães, não sendo vista como uma enfermidade isolada do canal auditivo, mas como uma síndrome frequentemente relacionada a uma enfermidade dermatológica 2. As hipersensibilidades são as causas mais comuns das otopatias caninas (78,5%), seguidas de anormalidades conformativas (15,4%) e endocrinopatias (6,1%) 3. Sabe-se que a microbiota do meato acústico externo canino, constituída por bactérias e fungos encontrados em pequenas concentrações em orelhas hígidas, altera-se em pacientes que apresentam otopatias 4-6. Dentre os bacilos gram-negativos destaca-se o Pseudomonas aeruginosa 7-10 que está envolvido em diversas infecções caninas, sendo resistente a vários antibióticos. É um dos microrganismos mais frequentemente isolados em cães com otite externa crônica, principalmente na forma supurativa 9. Outras bactérias envolvidas em casos de otite canina externa são os cocos gram-positivos Streptococcus sp, e os bacilos gramnegativos Pseudomonas sp, Proteus sp e Escherichia coli 10.

Apesar dos avanços nas abordagens terapêuticas, a otite externa canina continua a ser, em muitos casos, refratária ao tratamento, devido à falta de identificação e de tratamento dos fatores primários e perpetuantes, além da resistência das bactérias aos antibióticos 11. Algumas cepas se tornam resistentes após o uso de antibióticos por um longo período. Também a utilização exagerada de uma medicação, prática frequentemente empregada por veterinários de pequenos animais, sem o uso de cultura microbiológica ou testes de sensibilidade aos antibióticos, pode contribuir para o surgimento de cepas resistentes de bactérias 12. Quanto à evolução, a OE pode ser classificada em aguda e crônica; pelo tipo de secreção, em ceruminosa e purulenta; e pelo agente etiológico, em bacteriana, fúngica ou parasitária. Nos casos dessa enfermidade, é necessário realizar uma avaliação sistêmica do paciente por meio da história clínica, da anamnese, do exame clínico geral, da otoscopia, da citologia, cultura e antibiograma, sendo estes últimos de fundamental importância quando se suspeita de cepas resistentes de bactérias 13. Diversos estudos vêm ressaltando a emergência de grande proporção de cepas bacterianas resistentes aos antimicrobianos comumente utilizados, evidenciando a necessidade de cultura bacteriana e antibiograma 14,15.

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Clínica médica

Material e Métodos Durante o período de junho de 2009 a junho de 2011, 39 cães (17 machos e 22 fêmeas) com otite externa foram avaliados. Os cães foram atendidos no Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, localizado na cidade de São Paulo. Eram todos adultos acima de doze meses de idade (Figura 1) de ambos os sexos, com manifestações clínicas compatíveis com otite externa, como otalgia, prurido, eritema e otorreia (Figura 2). Os pacientes foram submetidos a exame clínico geral e específico do meato acústico externo por meio de otoscópio veterinário, em que foi possível visualizar eritema (78 100%), secreção purulenta (68 - 87,2%), secreção ceruminosa (10 - 12,8%), edema (5 - 6,4%), e estenose (4 - 5,12%), além de grande quantidade de pelos (15 - 19,23%). Foi coletada secreção auricular bilateral com swabs estéreis, totalizando 39 amostras. O material colhido foi rolado sobre a lâmina de microscopia, fixada em chama e corada com panótico rápido a para exame citológico em imersão. Na citologia foi avaliada a presença de cocos e bacilos. Para leveduras, morfologicamente compatíveis com o gênero Malassezia, foi feita contagem de células em cinco campos microscópicos e realizada a média, sendo classificadas em número conforme a seguinte escala: menos que cinco células

Figura 1 - Frequências absoluta (n) e relativa (f%) da faixa etária dos cães com otite (Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2011) 74

Julia Helena de Araujo Lins

Este trabalho se justifica devido ao grande número de casos de otite canina que são tratados, na maioria das vezes, sem realização de diagnóstico microbiológico e principalmente com tratamento aleatório, favorecendo o surgimento de grande quantidade de animais com otite crônica e bactérias multirresistentes. O objetivo deste estudo foi determinar as principais bactérias causadoras de otite externa crônica e recidivantes em cães da cidade de São Paulo atendidos no Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas; e o perfil de susceptibilidade das cepas bacterianas isoladas perante os principais antimicrobianos utilizados na prática veterinária, além de avaliar as melhores indicações para a terapêutica antimicrobiana com base nos dados obtidos. Figura 2 - Cão, macho, SRD de 6 anos. Notar presença de otorréia em orelha direita

por campo (+), entre seis e dez células por campo (++), entre onze a quinze células por campo (+++) e acima de dezesseis células por campo (++++). Os animais incluídos no presente trabalho foram os que apresentaram histórico de otite crônica, em cujo exame citológico houve predominância de cocos e bacilos. As amostras de ambas as orelhas foram encaminhadas para um laboratório privado de referência na cidade de São Paulo, para o isolamento e a identificação de microrganismos e testes de suscetibilidade. Um total de 39 amostras foi coletado. Nos animais tratados com algum produto otológico, este foi suspenso no mínimo quinze dias antes da realização da cultura e do antibiograma. Para a realização dos testes de sensibilidade in vitro, utilizou-se o método de difusão em disco único de doze antimicrobianos: Beta-lactâmicos: ampicilina (10µg), amoxicilina com ácido clavulânico (20/10µg), cefalexina (30µg), ceftiofur (10µg); aminoglicosídeos: neomicina (30µg), gentamicina (10µg), tobramicina (10µg); quinolonas: enrofloxacina (10µg), ciprofloxacina (5µg); outras classes: tetraciclina (30µg), cloranfenicol, sulfa com trimetoprim (25µg). Resultados As raças caninas que apresentaram maior número de casos de otite, em ordem decrescente, estão dispostas na figura 3. De um total de 39 amostras auriculares que resultaram em cultivos bacterianos, foram obtidas 51 cepas; o cultivo bacteriano único (uma espécie somente) ocorreu em 29 amostras (74,36%); o isolamento de duas espécies bacterianas a partir de uma amostra ocorreu em oito amostras (20,51%), obtendo-se dezesseis cepas; duas amostras resultaram no isolamento de três espécies distintas (5,13%), obtendo-se seis cepas bacterianas. Na figura 4 esses dados estão expostos para melhor compreensão.

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Clínica médica Raça

sem raça definida cocker spaniel inglês poodle lhasa apso american pit bul terrier maltês retriever do labrador pastor alemão chow-chow golden retriever pastor belga pinscher teckel Total

N

6 6 6 5 3 3 3 2 1 1 1 1 1 39

f%

15,39 15,39 15,39 12,82 7,69 7,69 7,69 5,13 2,56 2,56 2,56 2,56 2,56 100

Figura 3 - Frequências absoluta (n) e relativa (f%) de raças caninas com otite (Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2011)

Número de isolamentos

uma bactéria duas bactérias distintas três bactérias distintas Total

Total de Total de amostras cepas n f% n f% 29 74,36 8 20,51 2 5,13 39 100

29 56,86 16 31,38 6 11,76 51 100

Figura 4 - Culturas bacterianas segundo o isolamento de uma ou mais cepas a partir de cada amostra de material ótico oriundo de cães com otite externa (Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2011)

Bactéria isolada

Dentre as 51 cepas isoladas, a espécie bacteriana mais prevalente foi Pseudomonas aeruginosa, isolada em 16 (29,41%) amostras. Nas demais 35 (72,55%) amostras foram obtidas as seguintes cepas bacterianas: Proteus mirabilis (10 - 19,61%), Staphylococcus spp (6 - 11,77%), Streptococcus sp (6 - 11,77%), Staphylococcus pseudointermedius (5 - 11,77%), Escherichia coli, (4 - 8%), Staphylococus epidermidis (2 - 4%), Corynebacterium (1 2%), Nocardia sp (1 a 2%), como mostra a figura 5. Em relação à resistência bacteriana in vitro aos doze antibióticos testados para a espécie Pseudomonas aeruginosa, revelou-se maior resistência aos seguintes antibióticos: amoxicilina + ácido clavulânico (94,44%), ampicilina (94,44%) e cefalexina (83,33%). Os maiores percentuais de sensibilidade foram obtidos em testes realizados com gentamicina (94,45%), enrofloxacina (88,89%), polimixina B (83,34%), ciprofloxacina (77,78%) e neomicina (77,78%). Na figura 6 estão dispostos os perfis de sensibilidade e resistência. Discussão As raças caninas que apresentaram maior número de casos de otite, em ordem decrescente, foram cocker spaniel inglês (6 - 15,39%), poodle (6 - 15,39%) e lhasa apso (5 12,82%), consideradas predispostas devido às características anatômicas das orelhas. A grande proporção de amostras de cães da raça cocker spaniel inglês no atual levantamento (15%) coincide com os achados na literatura, que classificam essa raça como predisposta 9,15, por possuir uma combinação de fatores conformativos como orelhas longas, pendulosas e grande quantidade de folículos pilosos e glândulas apócrinas, que contribuem para a maior frequência de otite externa 16,17. A profusa quantidade de pelos dentro do canal auditivo de cães da raça poodle tem sido reportada como um fator predisponente à otite 3, o que pode ser observado durante otoscopia realizada em diversos cães dessa raça.

Total de cultivos f% n

Cultivo único f% n

12 27,45 14 Pseudomonas aeruginosa 8 19,61 10 Proteus mirabilis 1 11,77 6 Staphylococus spp 3 11,77 6 Streptococus spp 3 9,80 5 Staphylococcus pseudointermedius 3 7,84 4 Escherichia coli 0 3,92 2 Staphylococus epidermidis 1 1,96 1 Estafilococo coagulase-negativo 0 1,96 1 Staphylococus aureus 0 1,96 1 Corynebacterium spp 1 1,96 1 Nocardia spp 29 100 51 Total Figura 5 - Bactérias isoladas em cultivos únicos e mistos, oriundas de material (Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2011) 76

37,5 25 3,13 9,38 9,38 9,38 0 3,13 0 0 3,13 100

Cultivo misto f% n 2 2 5 3 2 1 2 0 1 1 0 19

10,53 10,53 26,32 15,79 10,53 5,26 10,53 0 5,26 5,26 0 100

ótico de cães com otite externa

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Figura 6 - Perfil de resistência e sensibilidade aos antimicrobianos das cepas de Pseudomonas aeruginosa oriundas de material ótico de cães com otite externa (Hospital Veterinário das Faculdades Metropolitanas Unidas, 2011)

Nesta investigação, 39 amostras (88,64%) resultaram no isolamento de apenas um agente bacteriano. Nas cinco amostras restantes (12%), houve isolamento de mais de um agente microbiano, valor muito inferior ao verificado em outro levantamento, que revelou uma frequência de 49,5% de infecção polimicrobiana 18. Contrariamente aos trabalhos consultados 18-28, no presente estudo foi apontada a espécie Pseudomonas aeruginosa como a bactéria mais frequentemente isolada a partir de amostras de ouvidos de cães com otite externa, representando 35,29% dos microrganismos isolados, seguida por Proteus mirabilis (19,46%). Na Venezuela, alguns pesquisadores também identificaram a espécie Pseudomonas aeruginosa como a mais frequentemente isolada (22,2%) em cães com otite externa crônica,

seguida por Proteus mirabilis (13,9%) 27. Nesse levantamento, 100% das cepas de Pseudomonas aeruginosa isoladas foram resistentes a mais de um antimicrobiano. A existência de Pseudomonas aeruginosa multiresistente também foi constatada por alguns autores após investigação microbiológica 20. Ainda segundo esses autores, os valores de resistência apresentaram-se bastante expressivos em todas as classes de fármacos 13,28,29. A alta resistência das bactérias Pseudomonas aeruginosa isoladas a partir de ouvidos caninos deve-se provavelmente ao fato de o médico veterinário recorrer a cultura e antibiograma quando o paciente já apresenta um quadro crônico ou de difícil resolução, situação em que as bactérias altamente resistentes já foram selecionadas por terapias anteriores 12. Além disso, a resistência bacteriana pode estar sendo induzida pelo uso indiscriminado de antimicrobianos tópicos pelos proprietários dos cães, que frequentemente ignoram preceitos de limpeza, frequência regular de aplicações e duração mínima do tratamento 30,32-33. Os resultados obtidos aqui apontam que a gentamicina, um aminoglicosídeo, é mais eficiente na otite externa canina, seguida pela enrofloxacina, uma quinolona de segunda geração. Esses antibióticos podem ser usados na forma de tratamento sistêmico concomitantemente com o tratamento tópico na otite canina provocada por Pseudomonas aeruginosa, uma vez que essa bactéria invade tecidos profundos de forma muito rápida 31. A polimixina B, à qual 79% dos isolados se mostraram suscetíveis, é um fármaco tópico muito usado contra a bactéria Pseudomonas aeruginosa presente na otite externa de cães. Com os resultados obtidos pelos testes de sensibilidade e resistência perante as cepas de Pseudomonas aeruginosa em cães com otite externa, espera-se que se selecionem protocolos de tratamento mais eficientes que proporcionem maior possibilidade de cura para esses animais.

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Clínica médica Conclusões Contrariamente ao que a literatura retrata, os bacilos gram negativos prevaleceram no meato acústico dos cães estudados com otite externa, sendo a Pseudomonas aeruginosa o principal agente infeccioso, que se mostrou resistente a diversos antimicrobianos usados na rotina clínica veterinária. Baseando-se nos resultados obtidos, recomendam-se para o tratamento de otites bacterianas causadas por essa bactéria os produtos comerciais otológicos que contenham em sua formulação gentamicina, enrofloxacina ou polimixina B. Agradecimentos Agradecemos a Carlos Artur Lopes Leite, médico veterinário e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, pelo auxílio prestado na realização do presente trabalho. Produto utilizado

a) Panótico rápido ®. Laborclin Produtos para laboratórios Ltda. Pinhais, PR

Referências

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Cirurgia Afecções neurológicas e abordagens cirúrgicas na coluna vertebral, medula espinhal e raízes nervosas da transição cervicotorácica em cães e gatos – revisão

Neurological diseases and surgical approaches to spine, spinal cord and nerve roots of the cervicothoracic transition in dogs and cats – a review

Trastornos neurológicos y abordajes quirúrgicos de la columna vertebral, médula espinal y raíces nerviosas de la transición cervico torácica en perros y gatos – revisión de la literatura Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 80-96, 2012 Murilo Cézar Curti

Médico Veterinário autônomo muriloccurti@hotmail.com

Mônica Vicky Bahr Arias

MV, prof. assoc. Depto. de Clínicas Veterinárias - UEL vicky@uel.br

Resumo: As vértebras cervicais caudais e torácicas craniais, bem como a medula espinhal cervicotorácica e as raízes nervosas do plexo braquial de cães e gatos, estão sujeitas a diversas enfermidades. Em muitos casos é necessária a realização de procedimentos cirúrgicos com o objetivo de diagnosticar ou tratar essas alterações, como, por exemplo, biópsias, cirurgias descompressivas ou estabilização das vértebras acometidas. Entretanto, como esse segmento é afetado por doenças com menos frequência do que as regiões cervical, toracolombar e lombossacral, a literatura é restrita quanto à descrição das técnicas cirúrgicas de acesso a essa região. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da anatomia da transição cervicotorácica e das principais doenças que podem acometer essas estruturas em cães e gatos, e descrever as abordagens cirúrgicas que permitam acesso às vértebras, à medula e ao plexo braquial do cão. Unitermos: vértebras cervicais, vértebras torácicas, neurocirurgia Abstract: The cranial thoracic and caudal cervical vertebras, as well as the cervicothoracic spinal and nervous roots from the brachial plexus in cats and dogs, are subject to several diseases. In many cases, surgical procedures such as biopsy, descompressive surgery or stabilization of the affected vertebras are necessary in order to diagnose or treat such changes. Nevertheless, since this segment is less frequently affected by diseases than the cervical, thoracolumbar and lumbosacral areas, the literature is quite limited concerning the description of surgical techniques to access this particular area. The objective of this paper is to review the main diseases that might affect dogs and cats and the description of surgical approaches that allow access to the vertebrae, spinal cord and brachial plexus in the dog. Keywords: cervical vertebrae, thoracic vertebrae, neurosurgery

Resumen: Las vértebras cervicales caudales y torácicas craneales, así como la médula espinal cérvico torácica y las raíces nerviosas del plexo braquial de perros y gatos, se ven afectadas por diversas enfermedades. En muchos casos es necesaria la realización de procedimientos quirúrgicos a fin de diagnosticar o tratar esas alteraciones, como por ejemplo biopsias, cirugías de descompresión, o estabilización de las vértebras comprometidas. Este segmento de la columna se ve menos comprometido por las enfermedades en relación a otras regiones, como la cervical, toracolumbar y lumbosacra, lo que hace poco frecuente la descripción de técnicas quirúrgicas de abordaje a esa región. El objetivo del presente trabajo es realizar una revisión anatómica de la transición cérvico torácica, y de las principales enfermedades que pueden afectar esas estructuras en perros y gatos, así como describir los abordajes quirúrgicos que permitan el acceso a las vértebras, la médula y al plexo braquial del perro. Palabras clave: vértebras cervicales, vértebras torácicas, neurocirugía

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C6 e C7, que possuem um processo espinhoso um pouco maior (Figuras 1, 2 e 3), o que facilita a identificação durante o acesso cirúrgico dorsal a esse local 5,11,13. Outro aspecto importante é o desenvolvimento pronunciado do processo transverso da sexta vértebra cervical, que também é um parâmetro útil durante o acesso ventral (Figuras 1, 2 e 4) 1,11. As vértebras cervicais possuem o forame transverso, na base Mônica Vicky Bahr Arias

Figura 2 - Imagem fotográfica de vértebras de cão com destaque para a anatomia de interesse cirúrgico. Aspecto caudal das vértebras cervicais. Observar que a sétima vértebra cervical não possui forame transverso, como a sexta (seta) Mônica Vicky Bahr Arias

INTRODUÇÃO As vértebras cervicais caudais e torácicas craniais, bem como a medula espinhal cervicotorácica e as raízes nervosas do plexo braquial de cães e gatos estão sujeitas a diversas enfermidades. Em muitos casos é necessária a realização de procedimentos cirúrgicos com o objetivo de diagnosticar ou tratar essas alterações, como, por exemplo, a biópsia, a cirurgia descompressiva ou a estabilização das vértebras acometidas. As vértebras cervicais caudais e torácicas craniais do cão podem ser acometidas por algumas doenças, como síndrome de Wobbler 1-3, doença do disco intervertebral 2,4,5 e neoplasias 6-8. As raízes nervosas do plexo braquial podem sofrer avulsão ou ser acometidas por neoplasias 9. As vértebras torácicas craniais são inerentemente estáveis e menos sujeitas a fraturas e luxações devido a algumas particularidades anatômicas; por outro lado, as vértebras cervicais caudais são passíveis de sofrer luxações e fraturas na transição com as vértebras torácicas devido ao fato de nesse local ocorrer a transição entre segmentos móveis e fixos 10. Pela menor frequência das afecções nesse local em relação a outros segmento medulares, quando ocorrem doenças vertebrais e espinhais nessa região e o acesso cirúrgico é necessário, a literatura é bastante concisa na descrição da abordagem cirúrgica 1,9,11,12. Assim, o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da anatomia da transição cervicotorácica, das principais doenças que podem acometer essas estruturas em cães e gatos e de abordagens cirúrgicas que permitam acesso às vértebras cervicotorácicas, à medula espinhal, às raízes nervosas e ao plexo braquial no cão. ESTRUTURAS DA REGIÃO CERVICOTORÁCICA Vértebras cervicais caudais e torácicas craniais O processo espinhoso das vértebras cervicais craniais é pouco desenvolvido, contrastando com o das vértebras C5,

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Figura 1 - Imagem fotográfica de vértebras de cão com destaque para a anatomia de interesse cirúrgico. Aspecto lateral esquerdo da transição cervicotorácica. C6 = processo transverso da sexta vértebra cervical; * = processo espinhoso da sétima vértebra cervical; T1 = processo espinhoso da primeira vértebra torácica; # = fóvea vertebral para inserção da costela; + = primeira costela; Es = escápula

Figura 3 - Imagem fotográficas de vértebras de cão com destaque para a anatomia de interesse cirúrgico. Aspecto dorsal das vértebras cervicais. 6 = sexta vértebra cervical

Figura 4 - Imagem fotográfica de vértebras de cão com destaque para a anatomia de interesse cirúrgico. Aspecto ventral das vértebras cervicais. 6 = sexta vértebra cervical

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Cirurgia do processo transverso, localizado paralelamente ao canal vertebral, no interior do qual cursa a artéria vertebral, com exceção da última vértebra cervical, que não possui esse forame (Figuras 2 e 5) 14. Essa artéria deve ser identificada e preservada durante a abordagem à coluna cervical, principalmente na técnica de hemilaminectomia 11. As vértebras torácicas têm características comuns, como o corpo vertebral e processos transversos curtos, processos espinhosos longos e a superfície articular para a cabeça da costela localizada entre dois corpos vertebrais adjacentes (Figura 6). Possui ainda uma fóvea situada no processo transverso, que se articula com a tuberosidade da costela 13-15. As quatro primeiras vértebras torácicas não possuem processo acessório e o processo mamilar está presente a partir da segunda ou terceira vértebra torácica 13-15. Essas características facilitam a identificação e a diferenciação de cada vértebra nos acessos usados pelo cirurgião 1. Mônica Vicky Bahr Arias

Figura 5 - Imagem fotográfica de vértebras de cão com destaque para a anatomia de interesse cirúrgico. Aspecto lateral das vértebras cervicais C4, C5 e C6. > = forame transverso Mônica Vicky Bahr Arias

Figura 6 - Imagem fotográfica de vértebras de cão com destaque para a anatomia de interesse cirúrgico. Aspecto dorsolateral das primeiras vértebras torácicas. X = superfície articular caudal. Observar a inserção das costelas nas fóveas (setas) 82

Ligamentos da coluna Ligamentos longos O ligamento nucal origina-se da porção caudal do processo espinhoso do áxis, inserindo-se na extremidade dorsal do processo espinhoso da primeira vértebra torácica (Figura 7). Imediatamente caudal a esse ligamento inicia-se o ligamento supraespinhoso, que corre sobre cada processo espinhoso até a terceira vértebra coccígea 13,14. Os gatos não possuem ligamento nucal 13-15. Esses ligamentos são facilmente identificados após a incisão dos músculos superficiais da região cervical dorsal 5.

Ligamentos curtos O ligamento interespinhoso conecta os processos espinhosos adjacentes juntamente com o músculo interespinhoso. O ligamento amarelo ou interarqueado conecta os arcos vertebrais adjacentes e quando espessado, pode comprimir a medula espinhal e as raízes nervosas durante a passagem delas pelo forame intervertebral 14. O ligamento intercapital origina-se no sulco da cabeça da costela, atravessa transversalmente o assoalho do canal vertebral, dorsalmente ao anel fibroso do disco intervertebral e ventralmente ao ligamento longitudinal dorsal 12. Esse ligamento está ausente entre T1-T2 e T12-T13 12. Assim, nos espaços intervertebrais em que ele está presente parece haver maior resistência à extrusão do disco intervertebral, diminuindo a frequência da doença do disco intervertebral 13,14, que no entanto tem sido esporadicamente descrita em cães entre as vértebras T1-T2 e T2-T3 4,5,12.

Medula espinhal Entre as vértebras C5 e T2 encontra-se a intumescência cervical (C6-T2), onde estão os corpos celulares das raízes nervosas que inervam os músculos dos membros torácicos 1,9. Nessa região da medula passam as fibras destinadas às porções mais caudais do corpo, portanto as lesões medulares nesses segmentos causam sinais neurológicos nos quatros membros, de forma que os membros anteriores apresentam sinais de neurônio motor inferior (NMI) e os membros posteriores apresentam sinais de neurônio motor superior (NMS) 1,2,7. Também nesses segmentos origina-se a inervação simpática para o globo ocular, portanto, ocasionalmente, animais com afecções nesse local podem apresentar síndrome de Horner, caracterizada por miose, protrusão da terceira pálpebra, enoftalmia e ptose palpebral do lado afetado. Em pacientes com lesões nesses segmentos, o reflexo cutâneo do tronco pode estar diminuído, já que sua inervação possui um centro de integração entre os segmentos C8-T3 1,2,9.

Vascularização medular A artéria radicular origina-se da aorta na região torácica e lombar e da artéria vertebral na região cervical e então penetra no canal vertebral, através do forame intervertebral. Dentro do canal vertebral, a artéria radicular se anastomosa com a artéria contralateral na região ventral, formando assim uma única artéria ventral. Na região dorsal da medula espinhal, cada artéria radicular origina uma artéria dorsolateral,

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Figura 7 - A) Esquema representando corte transversal do pescoço de cão na altura da sexta vértebra cervical. E = esôfago; T = traqueia; U = úmero; 1 = músculo esternocefálico; 2 = músculos esterno-hióideo e esternotireóideo; 3 = músculo longo do pescoço; 4 = músculo intertransverso; 5 = músculo omotransverso; 6 = músculo supraespinhoso; 7 = músculo infraespinhoso; 8 = músculo multífido cervical; 9 = músculo longuíssimo da cabeça; 10 = músculo serrátil ventral; 11 = músculo complexo; 12 = músculo biventre; 13 = músculo esplênio; 14 = músculos trapézio e romboide; 15 = músculo cutâneo do pescoço; 16 = ligamento nucal; 17 = músculo espinhal cervical; 18 = artéria carótida, tronco vagossimpático e veia jugular interna. B) Esquema de corte transversal do tórax de cão na altura da terceira vértebra torácica. E = esôfago; A = aorta; T = traqueia; P = pulmão; Es = escápula; 1 = músculo trapézio; 2 = músculo romboide; 3 = músculo espinhal e semiespinhal; 4 = músculo longuíssimo do tórax; 5 = músculo multífido do tórax; 6 = músculo serrátil dorsal cranial; 7 = músculo iliocostal do tórax; 8 = músculo rotador; 9 = músculo longo do pescoço; 10 = músculo grande dorsal; 11 = músculo serrátil ventral; 12 = disco intervertebral; 13 = cabeça da costela; * processo espinhoso da vértebra torácica. Adaptado 17,19

que percorre a superfície da medula através dos sulcos dorsolaterais 9. A drenagem venosa da medula espinhal é realizada pelas veias espinhal dorsal e espinhal ventral, localizadas respectivamente nas fissuras dorsais e ventrais da medula espinhal. Essas veias, por sua vez, recebem inúmeros ramos vindos da região dorsal, lateral e ventral da medula espinhal e esse padrão se repete em todos os segmentos medulares. Das veias espinhais dorsal e ventral, o sangue se dirige para a veia radicular ou para os vasos sinusoides epidurais 9. O plexo venoso vertebral interno realiza a drenagem venosa das vértebras. Ele percorre o assoalho do canal vertebral, desde o crânio até as vértebras caudais 12, sendo facilmente traumatizado durante a realização da técnica de slot ou fenda ventral, se o tamanho dessa fenda ultrapassar o recomendado, podendo ocorrer hemorragia de difícil controle, que pode ser inclusive fatal na região cervical, onde o plexo é mais desenvolvido do que nas outras regiões 9,11,12.

Musculatura dorsolateral à coluna cervical caudal e torácica cranial O conhecimento desse grande conjunto de músculos é essencial para a realização dos acessos, principalmente quando o acesso é dorsal ou lateral 11,16. O músculo trapézio é o músculo mais superficial da transição cervicotorácica e recobre o músculo serrátil dorsal cranial, o músculo esplênio e o longuíssimo do pescoço, localizados dorsalmente aos ligamentos nucal e supraespinhal 14,15. Lateralmente aos processos espinhosos das vértebras torácicas craniais, situam-se os músculos espinhal e semiespinhal torácico e cervical, o músculo multífido do tórax e o músculo longuíssimo do tórax 14. O músculo longuíssimo do tórax é o músculo mais forte da região torácica, localizado lateralmente ao processo espinhoso, abaixo do músculo espinhal. O músculo longuíssimo do pescoço é um músculo triangular que se situa lateralmente ao músculo longuíssimo da cabeça 14,15,17. O músculo espinhal

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Cirurgia torácico localiza-se lateralmente ao processo espinhoso e dorsomedialmente ao músculo longuíssimo do tórax. O músculo espinhal cervical localiza-se ventralmente ao ligamento nucal e dorsalmente ao músculo multífido cervical (Figura 7) 14,15,17. O músculo multífido do tórax é um músculo curto que se estende dos processos mamilar, tranverso e articular caudal das vértebras até a porção cranial do processo transverso vertebral 14,15,17.

Musculatura ventral do pescoço O cirurgião que deseja realizar acesso ventral à região cervical caudal deve ter amplo conhecimento da anatomia dessa região, não somente dos músculos, mas também dos órgãos, nervos e vasos 11,15,17-19. O músculo esternocefálico é superficial e origina-se no manúbrio do esterno, percorrendo a região cervical, inserindo-se por meio de duas porções, uma no processo mastoide do osso temporal e outra na crista nucal do osso occipital 19. O músculo esterno-hióideo origina-se no osso basi-hioide e se insere no manúbrio do esterno. Ventralmente a ele observa-se o músculo esternotireóideo (Figura 7) 14,17. O músculo longo da cabeça percorre a coluna cervical ventrolateralmente, localizando-se lateralmente ao músculo longo do pescoço, que por sua vez localiza-se ventralmente à coluna cervical 14,17. Musculatura apendicular Essas estruturas estão descritas para que seja possível o entendimento do acesso lateral, utilizado para técnicas de acesso ao plexo braquial 16. O trapézio é um músculo amplo de formato triangular, originado da rafe fibrosa medial e do ligamento supraespinhoso do tórax, inserindo-se distalmente na espinha da escápula. O músculo omotransverso localiza-se cranialmente ao membro, na porção distal da espinha da escápula, dirigindose cranialmente ao pescoço. O músculo romboide é coberto pelo trapézio, surgindo na linha média cervical dorsal, inserindo-se na base da escápula. O músculo serrátil ventral é amplo, cobrindo desde a parte caudal do pescoço até a parte cranial do tórax (Figura 7) 14,17.

Órgãos, nervos e vasos da região cervical ventral A região cervical ventral possui várias estruturas importantes, como as duas bainhas carotídeas, uma da cada lado do pescoço, sendo cada uma formada por uma veia jugular interna, uma artéria carótida comum e por nervos do tronco vagossimpático 15,17,19. A bainha direita localiza-se dorsolateralmente à traqueia e a esquerda fica entre a traqueia e o esôfago 9. Dorsalmente à traqueia encontra-se o nervo laríngeo recorrente (Figura 7) 9,15,17,19. DOENÇAS DA COLUNA VERTEBRAL, DA MEDULA ESPINHAL CERVICOTORÁCICA E DAS RAÍZES NERVOSAS DO PLEXO BRAQUIAL Doença do disco intervertebral A doença do disco intervertebral é um processo degenerativo comum em cães e raro em gatos 2. Essa enfermidade

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ocorre mais frequentemente na região toracolombar e em seguida na região cervical cranial 2; entretanto, na região cervical caudal esporadicamente pode ocorrer a extrusão do disco, principalmente em consequência da espondilomielopatia cervical caudal 3,20. Em um estudo com 363 cães com doença do disco cervical, 48 animais apresentaram extrusão entre C5-C6, quinze entre C6-C7 e seis casos entre C7-T1 21. A região torácica cranial é pouco acometida por essa doença, devido a particularidades anatômicas já discutidas anteriormente; entretanto, há relatos de extrusão e protrusão do disco nessa região 4,5,12,22, o que já foi constatado pelos autores do presente trabalho (Arias, M. V. B., Comunicação pessoal). A doença do disco intervertebral foi descrita em três cães da raça pastor alemão entre as vértebras T2 e T3 23, entre T1-T2 em dois cães da raça dachshund 4,5 e entre T3-T4 em um pastor alemão 22. Nesses casos foi realizado o acesso dorsal à coluna vertebral; os três primeiros cães foram submetidos a hemilaminectomia 23, e nos três últimos casos foi realizada uma laminectomia dorsal modificada 5. Outro cão, da raça basset hound, com diagnóstico de extrusão de disco no espaço intervertebral C7-T1, foi submetido a acesso ventral para a realização de uma técnica modificada em que se executou a ressecção do manúbrio para melhor exposição dessa região, seguida pela técnica de descompressão por slot ou fenda ventral 18. Em algumas extrusões laterais e foraminais nas quais as raízes nervosas são comprometidas, sugere-se a realização de cirurgia descompressiva pela abordagem dorsolateral ou lateral 8. Em cães com doença do disco intervertebral na região cervical caudal (C4-C5, C5-C6, C6-C7) deve-se considerar o uso de uma técnica de estabilização vertebral em associação ao slot 9,24. Extrusões intraforaminais causando sinais de raiz podem ocorrer na região cervical, e nesses casos recomenda-se a realização de hemilaminectomia dorsolateral 12. Nos gatos, apesar de a doença do disco intervertebral ser mais rara do que nos cães 25, as regiões mais afetadas são a toracolombar e lombossacral 25. Entretanto, em estudos post mortem observou-se que a região cervicotorácica também apresentava protrusão e extrusão do disco intervertebral, principalmente nos espaços C6-C7, C7-T1, T1-T2 e T3-T4 25,26. Em uma gata de sete anos que apresentava paraparesia, diagnosticou-se a compressão extradural por extrusão do disco intervertebral no espaço T3-T4, sendo realizada uma abordagem lateral e corpectomia, com boa evolução do paciente 27. Síndrome de Wobbler A síndrome de Wobbler ou espondilomielopatia cervical caudal, entre outros sinônimos, é uma doença de caráter progressivo, causada por um conjunto de alterações nas vértebras cervicais caudais, levando a alterações estáticas e dinâmicas, geradoras de compressões à medula espinhal e às raízes nervosas 1-3,28. A etiologia da doença ainda não foi esclarecida, mas ocorrem degeneração do disco intervertebral, protrusão do disco e estenose do forame intervertebral, associadas à diminuição do diâmetro do canal vertebral 3. Em cães de meia-idade de grande porte, particularmente o doberman pinscher, a doença está relacionada à degeneração ou protrusão do disco intervertebral e nesses casos os espaços

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Cirurgia

Neoplasias vertebrais e medulares As neoplasias que afetam a coluna vertebral e a medula espinhal são tradicionalmente classificadas como extradurais, intradurais/extramedulares ou intramedulares 9. Os tumores extradurais como o osteossarcoma e o fibrossarcoma são os mais comuns, seguidos pelo condrossarcoma, o hemangiossarcoma e o mieloma múltiplo 9,25. Nos felinos, o linfoma é a neoplasia extradural mais frequente, seguido pelo osteossarcoma 25. As neoplasias extradurais e intramedulares também podem ter origem metastática 9. Os tumores intradurais/extramedulares localizam-se abaixo da dura-máter, mas fora da medula espinhal, e o meningioma 86

é o tumor espinhal mais descrito em cães, seguido pelos tumores da bainha de mielina e linfoma 9,25,32. Os meningiomas acometem principalmente as vértebras cervicais craniais, mas as vértebras cervicais caudais e torácicas craniais também são acometidas 33 (Figuras 8 e 9). Os tumores intramedulares são mais raros e os mais descritos são os astrocitomas e os oligodendrogliomas, mas as metástases também podem ser intramedulares 9. Essas neoplasias nem sempre causam hiperpatia e quando localizadas na região cervicotorácica, tendem a gerar sinais clínicos mais graves nos membros anteriores que nos posteriores 9. O tratamento de neoplasias nem sempre é possível, mas pode haver uma boa resposta nos casos em que o diagnóstico precoce seja combinado com uma técnica cirúrgica adequada, quimioterapia ou radioterapia 9. A abordagem cirúrgica desses tumores tem como objetivo a realização de biópsias para confirmar a suspeita, e em alguns casos a excisão e a descompressão da medula e da meninge, para melhorar a qualidade de vida e reduzir a dor do paciente 9,34. Em um cão com lipoma infiltrativo em T5 foram realizados acesso dorsal e hemilaminectomia para a excisão da massa 35, e em um cão com condroma condroide comprimindo a medula na região da vértebra C7, foi feita a remoção cirúrgica do tumor, porém os autores não relataram a técnica utilizada 36. Os autores do presente trabalho já executaram abordagem dorsolateral às vértebras torácicas T2 e T3 e T3-T4 para a realização de biópsia vertebral e a retirada de neoplasia intradural em cães, sendo o diagnóstico do primeiro caso um lipossarcoma (Figura 10), e do segundo, um meningioma (Figuras 8, 9, 11 e 12) (Arias, M. V. B., Comunicação pessoal). Nos casos de neoplasias vertebrais em que a ressecção do corpo da vértebra seja realizada, devem-se associar técnicas de estabilização vertebral, sendo mais utilizado o uso de implantes metálicos associados a cimento ósseo 9. Fraturas e luxações O trauma na região cervical caudal é menos frequente do que na coluna toracolombar, mas também leva a fratura,

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do disco mais afetados são C5-C6 e C6-C7 3. Em cães jovens das raças dogue alemão, bernesiano, mastiffs e outras, a doença está mais associada a alterações compressivas ósseas e articulares 3. Pode ocorrer doença do disco degenerativa crônica, espessamento do ligamento amarelo com má-formação do arco vertebral dorsal, má-formação óssea dorsal, instabilidade vertebral e compressão decorrente de doença articular degenerativa nos processos articulares 28, formando cistos sinoviais que comprimem dorsalmente a medula espinhal 29. Em 20 de 21 cães com estenose vertebral, foram observadas anormalidades nos processos articulares entre C3 e T1 levando a compressão medular, e além dessas alterações, em dez animais havia ainda compressão dorsal da medula espinhal, devido a alterações em tecidos moles 30. É comum a ocorrência de compressões em vários locais da medula e em cerca de 80% das vezes os principais locais de compressão são os espaços C4-C5, C5-C6 e C6-C7 3. Entretanto, em um estudo tomográfico com 58 cães de grande porte, constatou-se a ocorrência de lesões nos espaços T1-T2 em 14% dos cães e em C7-T1 em 22% dos casos 3,20. Diversas técnicas cirúrgicas são usadas no tratamento dessa enfermidade, tendo algumas como objetivo a descompressão do canal medular e outras a estabilização da coluna cervical 1-3,11,24. A escolha da técnica cirúrgica é feita de acordo com a origem e o local da compressão medular, sendo que, no caso das lesões associadas à estenose de origem óssea, realiza-se a laminectomia dorsal, ao passo que nos casos de compressão associada ao disco intervertebral, indica-se a realização de técnicas de distração vertebral, slot e estabilização com placas ou pino e cimento ósseo, ou parafuso e cimento ósseo, associadas ou não a enxerto ósseo 1,3,31. Dentre vinte cães com compressão dorsal ou dorsolateral submetidos à laminectomia dorsal, observou-se melhora do quadro em dezenove animais, sendo que a maioria dos pacientes apresentava alterações nas vértebras C5-C6-C7, e um animal apresentava compressão entre C7-T1 28. Em outro estudo, os cães também foram submetidos à laminectomia dorsal entre C3-C4 até C7-T1, devido à presença de hipertrofia do ligamento interarqueado ou amarelo, doença articular degenerativa dos processos articulares e cistos sinoviais nesses processos 30. Em dez cães com compressão entre C5-C6 ou C6-C7 e instabilidade vertebral, a técnica de distração, uso de aloenxerto cortical e placa foi utilizada, havendo bons resultados em nove animais 31.

Figura 8 - Mielografia em posição lateral da coluna torácica de um cão com paraplegia. Observa-se interrupção da coluna de contraste sobre a vértebra T3 (seta)

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Figura 11 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Visualização de uma neoplasia intradural de coloração escura (V) dentro do canal medular, entre as vértebras torácicas T2 e T3 do paciente mostrado nas figuras 8 e 9. O diagnóstico histológico foi de meningioma Mônica Vicky Bahr Arias

Figura 9 - Mielografia em posição ventrodorsal de cão com paraplegia. Observa-se interrupção assimétrica da coluna de contraste entre as vértebras T2-T3 melhor visibilizada de um lado (seta preta) do que no lado oposto (seta branca), indicando lesão assimétrica Mônica Vicky Bahr Arias

Figura 10 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Paciente posicionado para abordagem cirúrgica à coluna vertebral torácica. Observar posição dos membros torácicos para permitir o afastamento das escápulas, conforme mostrado na figura 13

luxações e subluxações 37. Entre as vértebras cervicais C3 e C7, as vértebras C5 e C6 parecem ter maior predisposição à ocorrência de fraturas e luxações 37. Já a ocorrência de fraturas ou luxações nas vértebras torácicas craniais é menos

Figura 12 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica do paciente das figuras 8 e 9. Visualização da medula espinhal após a retirada da massa

frequente, pois nessa região a estrutura fornecida pelas costelas que se articulam com as vértebras e a musculatura associada favorece uma estabilidade maior em relação ao restante da coluna vertebral 9. Em um estudo com 59 cães com fraturas ou luxações, 9% dos casos ocorreram na região cervicotorácica e quando analisados somente os animais de pequeno porte, essa porcentagem subiu para 13% 38. Em outro estudo, observou-se que C5-C6 foi o espaço intervertebral cervical onde ocorreu o maior número de luxações/subluxações 39. O tratamento cirúrgico é indicado em caso de tetraparesia, dor persistente e piora do quadro neurológico, apesar da realização do tratamento conservativo 9. A técnica mais utilizada na região cervical é a abordagem ventral para aplicação de pinos e cimento ósseo 9.

Hipervitaminose A Essa enfermidade é uma osteopatia metabólica que pode

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Cirurgia ocorrer em gatos alimentados exclusivamente com fígado por longos períodos, devido ao excesso de vitamina A 40. Essa doença é caracterizada pela formação de osteófitos e exostoses ao redor das articulações, das inserções de tendões e dos ligamentos capsulares 40. Essa proliferação óssea acomete principalmente a região cervicotorácica, podendo acarretar monoparesia/monoplegia ou tetraparesia, tetraplegia progressiva, síndrome de Horner e rigidez cervical 40. O tratamento conservativo com correção da dieta evita a progressão da doença, mas muitas vezes não produz remissão dos sintomas; caso haja identificação de um ponto específico de compressão, é indicado o tratamento cirúrgico para descompressão medular, porém o prognóstico é reservado 40.

Avulsão das raízes do plexo braquial A avulsão das raízes do plexo braquial é mais conhecida como avulsão do plexo braquial, mas, devido ao maior envolvimento das raízes nervosas, a primeira denominação é a mais correta. É uma afecção de origem traumática, que ocorre em geral pela ação da escápula em um movimento de alavanca, levando ao arrancamento das radículas e raízes que dão origem aos nervos para os membros torácicos na divisão entre o sistema nervoso central e periférico, podendo ser parcial ou total 41,42. As raízes nervosas que formam o plexo braquial, seus ramos ventrais e o próprio plexo braquial podem ser lesionados 43,44. É a afecção neurológica mais comum do membro torácico 43. Caracteriza-se por uma síndrome do neurônio motor inferior, gerando monoplegia flácida aguda, com reflexos diminuídos a ausentes e desenvolvimento de atrofia muscular neurogênica após uma semana 42. Como essa enfermidade também afeta seres humanos, diversas técnicas cirúrgicas foram pesquisadas em ratos, gatos, cães e primatas na tentativa de reinervar o membro acometido, como a reimplantação das raízes avulsionadas 16,44,45, a transposição do nervo intercostal 46 e a transferência da raiz nervosa C8 contralateral 43. Para que essas técnicas possam ser postas em prática, é necessário o acesso dorsal ou lateral aos segmentos medulares C7-C8-T1 para a realização de hemilaminectomia ou laminectomia 16,44,45.

Neoplasia do plexo braquial A maioria dos tumores dos nervos periféricos em cães se originam das células de Schwann ou dos fibroblastos associados ao epineuro e ao endoneuro 47,48. A grande variação histológica e as diversas particularidades desses tumores entre as espécies levou a uma terminologia confusa na medicina veterinária e os nomes encontrados em literatura são schwannoma, schwannoma maligno, neurofibroma, neurofibrossarcoma, fibroblastoma perineural e neurolemomas, entre outros; atualmente esses tumores são chamados de tumores da bainha neural periféricos malignos 47,49. Neoplasias de outras origens também podem afetar o plexo braquial de cães, como o sarcoma e o linfoma 49. Em felinos, descreve-se a ocorrência esporádica de linfoma em raízes nervosas do plexo braquial 50. Pode afetar as raízes nervosas próximas à medula espinhal e também os nervos do plexo braquial 48. Em geral os sinais clínicos são crônicos progressivos e 88

iniciam com claudicação do membro afetado, dor, atrofia muscular pronunciada, podendo haver em alguns casos uma massa axilar palpável 47. São tumores pouco metastáticos, mas altamente invasivos, podendo causar compressão da medula espinhal, que se manifesta inicialmente por hemiparesia, que pode progredir para tetraparesia, sendo nesses casos o prognóstico reservado 48. A confirmação da suspeita pode ser feita por mielografia em alguns casos, observando-se desvio da coluna de contraste quando a massa invade o canal medular 47. Atualmente, a tomografia ou a ressonância fornecem melhor imagem da extensão da lesão 9,49. Após o diagnóstico da presença da massa por essas técnicas de imagem, podem-se realizar ultrassonografia e biópsia por agulha fina, que fornecem informações sobre o tipo de neoplasia, permitindo a escolha da melhor terapia e a diferenciação de outras causas de comprometimento do plexo braquial, como as doenças inflamatórias 49 . Dependendo das raízes acometidas e do tipo de neoplasia, indica-se a realização de cirurgia em uma ou duas etapas 9. Entretanto, os tumores da bainha neural são um desafio cirúrgico e o resultado da ressecção cirúrgica pode ser desapontador, devido ao diagnóstico tardio e às dificuldades de estabelecer as margens para ressecção, pois algumas vezes o tumor tende a invadir o sistema nervoso simpático em direção ao interior do tórax ou ao pescoço 48,51. Para a exploração do plexo e a realização de biópsia incisional, recomenda-se a abordagem lateral modificada à coluna vertebral cervical, que preserva o membro torácico 9,47. Quando há comprometimento das raízes craniais como C5, C6 e às vezes de C7, é possível usar essa técnica para a excisão das raízes 9. Quando as raízes caudais estão afetadas, ocorre o comprometimento dos nervos radial, ulnar e mediano e nesse caso a amputação deve ser realizada, devido à monoplegia irreversível 9. Dependendo das raízes afetadas, a cirurgia pode ser longa, pois pode envolver a amputação do membro, a ressecção do plexo envolvido e a foraminotomia, laminectomia ou hemilaminectomia, para remover a raiz nervosa o mais próximo possível de sua origem na medula espinhal 9,47,51.

Alterações congênitas Alterações congênitas podem acometer tanto as vértebras quando a medula espinhal. As anomalias descritas na região cervicotorácica são: cisto aracnoide, sínus dermoide, mielodisplasia, espinha bífida, siringomielia, hidromielia, hemivértebra, vértebra em bloco e vértebras transicionais e, raramente, más-formações vasculares 52. A maioria dessas anormalidades não tem indicação de tratamento cirúrgico, porém em algumas delas, como hemivértebra, sínus dermoide e cistos aracnoides, isso é possível 9,29. Em alguns casos de estenose vertebral congênita das vértebras torácicas craniais em cães, a laminectomia dorsal foi feita com sucesso 52. Em um filhote de gato manx com hemivértebra em T3 e mau alinhamento entre T2-T4, utilizou-se o acesso dorsal para efetuar a laminectomia dorsal dessas vértebras e descompressão medular, sem o uso de estabilização, obtendo-se bom resultado 53. Entretanto, em seres humanos, a realização de descompressão sem estabilização é

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Figura 13 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal com os membros torácicos posicionados para afastar as escápulas (E) da coluna cervicotorácica, a fim de facilitar a abordagem a essa região Mônica Vicky Bahr Arias

TÉCNICAS DE ACESSO A escolha da abordagem e da técnica cirúrgica mais apropriada para as afecções descritas acima depende da neurolocalização da lesão e do tipo de cirurgia necessária, ou seja, descompressão, estabilização, retirada de neoplasias ou exploração cirúrgica para confirmação do diagnóstico 57.

Acesso dorsal Este acesso permite a abordagem da porção dorsal da coluna vertebral cervicotorácica e da medula espinhal para a realização de técnicas de laminectomia dorsal, hemilaminectomia e estabilização da coluna vertebral 9,11,57,58. O animal é posicionado em decúbito esternal, sugerindose fixar os membros anteriores cruzados sob o peito para afastar as escápulas, permitindo melhor acesso à transição cervicotorácica (Figuras 10 e 13) 5,11,57,58. Para obter melhor estabilidade no posicionamento, é necessário que se coloquem almofadas na região lateral do tórax. Realiza-se uma incisão na pele ao longo da linha média dorsal, estendendose do terço médio do pescoço à metade da região torácica 57,58. A fáscia subcutânea é incisada e retraída, identificando-se a aponeurose dos músculos romboide e trapézio (Figura 14) 9. Podem-se observar os ramos dos nervos cervicais emergindo na linha média e divergindo lateralmente, lembrando que Mônica Vicky Bahr Arias

contraindicada 52. Em nove cães com estenose do canal medular torácico, instabilidade vertebral e cifose causadas por alteração congênita, utilizou-se a técnica de estabilização vertebral com pinos rosqueados e cimento ósseo, associada ou não à descompressão medular 54. Desses nove animais, três apresentavam alterações em vértebras torácicas craniais, sendo utilizado o acesso dorsal para a execução da cirurgia 54. Cistos aracnoides ou divertículos são descritos em cães e gatos e consistem em acúmulo de líquido cerebroespinhal dentro de uma área focalizada do espaço aracnoide, causando uma mielopatia compressiva progressiva 9,29. Embora a maioria dos cistos aracnoides seja de origem congênita, alguns podem ser associados a trauma medular e a doença do disco intervertebral 55. A afecção tem sido mais descrita em cães da raça rottweiler e é facilmente diagnosticada por mielografia 55. Aparentemente, os cães de raças grandes tendem a desenvolver os cistos na região cervical, ao passo que os de raças pequenas os desenvolvem com mais frequência na região toracolombar 9,29. Os cistos podem ser solitários ou acometer mais de um local em um mesmo animal, sendo mais frequentes na região cervical cranial, embora também acometam as vértebras cervicais caudais 55. Em todos esses casos, as técnicas cirúrgicas descritas para tratamento dos cistos foram a laminectomia dorsal, a hemilaminectomia e, mais raramente, o slot cervical, com bom resultado na maioria dos pacientes 55. O cisto pode ser drenado ou marsupializado, retirando-se um segmento da dura-máter e suturandose suas bordas aos tecidos moles periarticulares 9. A doença do disco intervertebral associada aos cistos também deve ser tratada por meio de cirurgia 55. O sínus dermoide, também chamado de sínus pilonidal ou cisto dermoide, é um defeito embriológico da linha média dorsal resultante da separação incompleta entre a pele e o tubo neural 56. Era considerada uma doença exclusiva de cães da raça rhodesian ridgeback, mas também foi descrito em várias raças de cães, como, por exemplo, shi tzu 9, boxer, husky siberiano, cocker spaniel americano e yorkshire, entre outras 52. Também é descrito em gatos 56. Ocorre tipicamente na linha média da região cervical, torácica cranial e sacrococcígea, e pode afetar vários locais em um mesmo animal, havendo uma pequena abertura externa na pele, que pode ou não se comunicar com o ligamento supraespinhoso e, em alguns casos, até com a dura-máter 56, podendo nesse caso causar meningite e mielite 9. É frequentemente descrito entre as vértebras T1 e T4 56. O diagnóstico é confirmado por mielografia, ressonância ou fistulografia e a infecção é tratada com antibióticos com base no resultado da cultura e do antibiograma 56. Indica-se ainda a excisão cirúrgica associada à laminectomia dorsal, dependendo o prognóstico dos sinais clínicos e de haver ou não presença de infecção 9,56.

Figura 14 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal. Pele e tecido subcutâneo incisados e retraídos. Na extremidade da seta observa-se a aponeurose dos músculos trapézio e romboide

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cada um deles cursa associado a uma artéria e a uma veia que devem ser ligadas ou cauterizadas, se necessário 9,58. A incisão desses músculos na linha média e o afastamento lateral permitem expor o ligamento nucal, os processos espinhosos das vértebras torácicas e os músculos longos e espinhais (Figura 15) 9,57,58. A fáscia sobre o ligamento nucal é dividida e o ligamento é observado inserindo-se no processo espinhoso de T1, podendo ser incisado e dividido na linha média, expondo o músculo espinhal pareado logo abaixo (Figura 16) 9. O ligamento nucal também pode ser retraído lateralmente ou seccionado 9. Deve-se identificar corretamente as vértebras a serem acessadas, e a musculatura é elevada unilateral ou bilateralmente dos processos espinhosos e da lâmina vertebral (Figuras 17 e 18) para posterior realização de hemilaminectomia ou laminectomia dorsal, de acordo com a afecção (Figura 19) 5,11,57,58.

Figura 17 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal. Ligamento nucal (LN) inserido no processo espinhoso de T1. Os músculos espinhais foram afastados e os processos espinhosos das vértebras cervicais podem ser observados. C7 = sétima vértebra cervical

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Acesso lateral Esta técnica é indicada para a exploração da porção cranial do plexo braquial, pois permite o acesso às vértebras cervicais caudais e à primeira vértebra torácica 16.

Figura 15 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal. Aponeurose incisada e afastada. Abaixo observa-se o músculo espinhal do lado esquerdo (x)

Figura 18 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal. Nesta figura, os músculos espinhais, semiespinhal e multífido foram afastados e os processos espinhosos da primeira vértebra torácica (T1) e segunda (T2) são visualizados Mônica Vicky Bahr Arias

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Figura 16 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal. O ligamento nucal (LN) foi separado dos músculos espinhais

Figura 19 - Imagem fotográfica da abordagem dorsal à coluna cervicotorácica. Imagem fotográfica de cadáver de cão posicionado em decúbito esternal. Hemilaminectomia entre C7 e T1 e medula espinhal (me). Ligamento nucal (LN) e primeira vértebra torácica (*)

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Figura 21 - Imagem fotográfica de acesso lateral ao plexo braquial e coluna cervicotorácica em um cadáver. A escápula (E) e o músculo trapézio (T) foram afastados caudalmente, sendo possível observar os músculos serrátil (Se) e escaleno (Sc) Mônica Vicky Bahr Arias

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Figura 20 - Imagem fotográfica de acesso lateral ao plexo braquial e coluna cervicotorácica em um cadáver. Incisão cranial à borda da escápula (x), estendendo-se distalmente até o tubérculo maior do úmero. A pele, o músculo platisma e a fáscia cervical foram afastados, observando-se os músculos trapézio (T) e omotransverso (O)

Uma técnica modificada para a abordagem lateral às vértebras cervicais caudais foi descrita no tratamento da síndrome de Wobbler, da doença do disco intervertebral e da excisão de neoplasias quando era necessária uma observação mais acurada do aspecto lateral, ventrolateral ou dorsolateral do canal vertebral, do plexo venoso e das raízes nervosas 8. Nessa técnica, os músculos braquicefálico e omotransverso foram afastados craniolateralmente, e o trapézio, caudodorsalmente, sem a necessidade de seccionar suas inserções na escápula, realizando-se a seguir a técnica de acesso à coluna vertebral como descrita anteriormente 8. Mônica Vicky Bahr Arias

Realiza-se uma incisão curva de 12cm, 3 a 4cm cranialmente ao ponto médio da borda cranial da escápula, até um ponto levemente distal ao tubérculo maior do úmero 16. O músculo platisma e a fáscia cervical são incisados, expondo os músculos trapézio, omotransverso e cleidocervical (Figura 20). A artéria e a veia cervical superficial, que emergem entre o músculo trapézio e o cleidocervical, são ligadas. O linfonodo cervical superficial, que se situa medialmente à artéria e à veia cervical superficial, é retraído caudalmente 16. O músculo omotransverso é incisado próximo à sua inserção na espinha da escápula e retraído cranialmente 16. O músculo cleidocervical, o trapézio e a escápula são afastados caudalmente, expondo ventralmente a porção externa do plexo braquial (Figuras 21 e 22). A separação da gordura subescapular e a elevação da escápula permitem a palpação e a visualização do plexo cranialmente à primeira costela 9. Realiza-se a secção dos músculos escaleno superficial e profundo, expondo-se os ramos ventrais das raízes de C5 a C8 e T1 (Figuras 23 e 24) 16. Os músculos serrátil ventral, longo cervical e longuíssimo da cabeça são elevados das vértebras com um elevador de periósteo e retraídos dorsalmente após sua secção 16. Os músculos multífido cervical e semiespinhal são elevados dos processos articulares e a exposição vertebral obtida permite que haja acesso para a remoção das facetas articulares com goiva, para a seguir se proceder à hemilaminectomia (Figura 25) 16. Uma exposição melhor pode ser obtida seccionando-se a costela logo acima da junção costocondral e movendo-a caudalmente 9. Dependendo da gravidade dos sinais clínicos gerados pela neoplasia e de o comprometimento das raízes ser cranial ou caudal, a cirurgia é iniciada pela amputação alta do membro. A seguir as raízes são exploradas e dissecadas, e então realiza-se a hemilaminectomia, para completar a retirada da massa que invade o canal medular 9.

Figura 22 - Imagem fotográfica de acesso lateral ao plexo braquial e coluna cervicotorácica em um cadáver. Visão mais próxima abaixo da escápula (E), sendo possível visualizar uma parte do plexo braquial (V)

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Figura 24 - Imagem fotográfica de acesso lateral ao plexo braquial e coluna cervicotorácica em um cadáver. Após o afastamento cranial do músculo omotransverso e o afastamento dorsal do músculo escaleno, podem-se observar os nervos espinhais ventrais C7-C8 e T1

Acesso ventral com ressecção do manúbrio Em geral, para o acesso ventral às vértebras cervicais utiliza-se a técnica de abordagem ventral, que, no entanto, é limitada na exposição dos espaços interverbrais C6-C7-T1 9,57. Recentemente, um acesso ventral modificado, com secção do manúbrio, foi proposto para o cão, permitindo uma melhor visualização dessas vértebras e dos discos intervertebrais 18. Esse acesso pode ser indicado para a execução de slot ou fenda ventral no tratamento de doença do disco intervertebral, síndome de Wobbler e estabilização de fraturas e luxações

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Figura 23 - Imagem fotográfica de acesso lateral ao plexo braquial e coluna cervicotorácica em um cadáver. Após o afastamento dos músculos escaleno, serrátil e multífido (m), observa-se a raiz ventral (r) de C8, a borda da primeira costela (ponta do raio) e o processo espinhoso de T1 (seta)

Figura 25 - Imagem fotográfica de acesso lateral ao plexo braquial e coluna cervicotorácica em um cadáver. Após a liberação das inserções musculares dos músculos longuíssimo, multífido e intertransversal das lâminas das vértebras e dos processos transversos, é possível também realizar uma hemilaminectomia, observando-se a medula espinhal (me) e o gânglio (g) da raiz dorsal

cervicais caudais, tendo sido usado pelos autores da presente revisão com bons resultados (Arias, M. V. B., Comunicação pessoal). Técnicas semelhantes são aplicadas em seres humanos com afecções das vértebras torácicas T1 a T4, com secção e divisão do esterno, abertura no manúbrio e manubriotomia parcial, entre outras; as complicações relatadas incluem pneumomediastino, mediastinite e lesão à clavícula 59,60. O animal é colocado em decúbito dorsal, com os membros torácicos estendidos caudalmente e o pescoço estendido cranialmente, apoiado em uma almofada (Figura 26). Realiza-se uma incisão na linha média cervical ventral de C4 até 5cm caudal ao manúbrio (Figura 27) 18. Os músculos esternocefálicos são elevados de sua origem no aspecto cranial do manúbrio, levemente cranial à articulação das primeiras costelas, usando-se um elevador de periósteo e um coagulador bipolar 18. Isso irá expor o músculo esterno-hióideo, que deve ser incisado na linha média e afastado lateralmente, expondo a traqueia (Figuras 28 e 29) 18. O músculo esternohióideo é elevado na sua origem no manúbrio (Figura 30) 18. Com o auxílio de uma goiva, realiza-se a excisão da porção cranial do manúbrio (Figura 31) e a traqueia, o esôfago e a bainha carotídea são afastados lateralmente para a esquerda do paciente e são mantidos afastados com o auxílio de afastadores autoestáticos (Figura 32) 18. Usando como ponto de referência o processo transverso de C6, identifica-se o local a ser acessado. Os músculos longos do pescoço que se localizam ventralmente às vertebras cervicais e torácicas são afastados lateralmente com afastadores de periósteo, até que os corpos vertebrais e os espaços dos discos sejam visíveis (Figuras 33 e 34).

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Figura 26 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Animal posicionado em decúbito dorsal, com os membros torácicos estendidos caudalmente. A linha tracejada indica a incisão na linha média, estendida 5cm caudalmente ao manúbrio (m)

Figura 29 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Os músculos esternocefálicos (sc) são elevados do manúbrio (m) com o auxílio de um afastador de periósteo. Abaixo dos músculos esternocefálicos identificam-se os músculos esterno-hióideos (sh), que também são elevados de sua origem no manúbrio. Traqueia (t)

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Figura 28 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Após a incisão na rafe entre os músculos esternocefálicos, identificam-se a traqueia (t) e a bainha da carótida com o tronco vagossimpático (*) de cada lado da traqueia 94

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Figura 27 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Após a incisão cutânea e o afastamento da pele e do subcutâneo, identificamse os músculos esternocefálico (sc) direito e esquerdo e o manúbrio (m)

Figura 30 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Detalhe do manúbrio (m). Outras estruturas visualizadas nesta abordagem: traqueia (t), músculos esterno-hioideo (sh) e esternocefálico (sc)

CONSIDERAÇÕES FINAIS O tratamento das doenças da transição cervicotorácica da coluna vertebral e das raízes nervosas associadas apresenta detalhes adicionais aos demais segmentos da coluna vertebral. Embora seja menos acometida por algumas doenças neurológicas quando comparada a outras regiões, nessa região ocorrem enfermidades importantes, que requerem tratamento cirúrgico. Como a literatura é restrita quanto à descrição das técnicas cirúrgicas de acesso a essa região, espera-se que a presente revisão auxilie os cirurgiões na escolha da melhor abordagem cirúrgica. Cada caso deve ser avaliado individualmente, para que a técnica escolhida permita um bom acesso para a realização de biópsia, descompressão medular e/ou estabilização vertebral, de acordo com a etiologia da doença.

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Figura 31 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Com o auxílio de uma goiva, realiza-se a excisão da porção cranial do manúbrio (m). Traqueia (t), músculo esterno-hioideo (sh) e músculo esternocefálico (sc)

Figura 33 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Após a identificação do espaço intervertebral a ser acessado, os músculos longos do pescoço são afastados lateralmente com afastadores de periósteo, até que os corpos vertebrais e os espaços dos discos sejam visíveis

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Figura 32 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. A traqueia (t), o esôfago e a bainha carotídea esquerda são afastados lateralmente para esquerda do paciente e são mantidos afastados com o auxílio de afastadores autoestáticos, expondo o músculo longo do pescoço (lp)

Figura 34 - Imagem fotográfica do acesso ventral à transição cervicotorácica em um cadáver. Identificação dos corpos vertebrais de C7 e T1. Os discos intervertebrais C6-C7 e C7-T1 foram incisados para fins ilustrativos. Observar a saída de núcleo pulposo (setas) description and clinical application in 16 dogs with lateralized compressive myelopathy or radiculopathy. Veterinary Surgery, v. 34, n. 5, p. 436-444, 2005. 09-SHARP, N. J. H. ; WHEELER, S. J. Small animal spinal disorders – diagnosis and surgery. 2. ed. Edinburgh: Elsevier Mosby, 2005. 380 p. 10-JEFFERY, N. D. Vertebral fratcture and luxation in small animals. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 40, n. 5, p. 809-828, 2010. 11-SEIM III, H. B. Surgery of the cervical spine. In: FOSSUM, T. W. Small animal surgery. 3. ed. St. Louis: Mosby Elsevier, 2008, p.1402-1459. 12-TOOMBS, J. P. ; WATERS, D. J. Intervertebral disc disease. In: SLATTER, D. H. ; Textbook of small animal surgery. 3. ed. Philadelphia: Saunders, 2003. p. 1193-1209. 13-KONIG, H. E. ; LIEBICH, H. G. Músculos da cabeça e pescoço. In: ___. Anatomia dos animais domésticos. 1. ed. Porto Alegre: Editora Artmed, 2002. p. 29-98. 14-EVANS, H. E. ; MILLER, M. E. Miller`s anatomy of the dog. 3. ed. Philadelphia: WB Saunders, p. 122-380, 1993. 15-DYCE, K. M. ; SACK, W. O. ; WENSING, C. J. G. Pescoço, dorso e coluna vertebral dos carnívoros. In: ___. Tratado de anatomia veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 385-393. 16-MOISSONNIER, P. ; DUCHOSSOY, Y. ; LAVIEILLE,S. ; HORVAT, J. C. Lateral approach of the dog brachial plexus for ventral root reimplantation. Spinal Cord. v. 36, n. 6, p. 391-398, 1998.

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Ortopedia Ruptura do ligamento cruzado cranial – revisão Cranial cruciate ligament rupture – review

Ruptura del ligamento cruzado craneal – revisión Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 100-112, 2012 Bruno Benetti Junta Torres

MV, MSc., prof. Depto. Medicina Veterinária – UFLA brunotorres@dmv.ufla.br

Leonardo Augusto Lopes Muzzi MV, PhD, prof. Depto. Medicina Veterinária – UFLA lalmuzzi@dmv.ufla.br

Luciane Reis Mesquita MV, doutoranda FMVZ/Unesp-Botucatu

lrmesquita@yahoo.com.br

Resumo: A ruptura do ligamento cruzado cranial é uma das causas mais comuns de claudicação dos membros pélvicos e de desenvolvimento de doença articular degenerativa em cães. Por esse motivo, o tratamento da ruptura vem sendo estudado há muitos anos. As técnicas cirúrgicas tradicionais visam eliminar o movimento de gaveta cranial por meio da substituição do ligamento rompido. Outras técnicas buscam estabilizar essa articulação alterando o ângulo de inclinação do platô tibial e as forças de cisalhamento da articulação femorotibiopatelar. Independentemente da técnica, o objetivo comum é diminuir a instabilidade articular e a progressão da doença articular degenerativa. Em casos crônicos, com doença articular degenerativa grave, novas técnicas promovem alívio da dor e preservação da biomecânica do membro, evitando artrodese e amputação. O objetivo desta revisão é discorrer sobre a anatomia da articulação do joelho, sobre a etiologia, a fisiopatogenia, os métodos diagnósticos e o tratamento da ruptura do ligamento cruzado cranial. Unitermos: ortopedia, joelho, osteoartrite Abstract: The cranial cruciate ligament rupture is a common cause of hindlimb lameness and degenerative joint disease development in dogs. For this reason, the treatment of the rupture has been studied for many years. Traditional surgical techniques aim to eliminate the cranial drawer movement through replacement of the ruptured ligament. Other techniques seek to stabilize the joint by changing the inclination angle of the tibial plateau and shear forces of the stifle joint. Regardless of the technique, the common goal is to decrease the progression of joint instability and degenerative joint disease. In chronic cases with severe degenerative joint disease, new techniques promote pain relief and preservation of the limb biomechanics, avoiding arthrodesis and amputation. The objective of this review is to discuss the anatomy of the stifle joint and the etiology, pathogenesis, diagnosis and treatment of cranial cruciate ligament rupture. Keywords: orthopaedy, stifle joint, osteoarthritis Resumen: La ruptura del ligamento cruzado craneal es una de las causas más frecuentes de claudicación del miembro posterior, como también del desarrollo de la enfermedad articular degenerativa de la rodilla en perros. Por esta razón, el tratamiento de la ruptura ha sido motivo de estudio durante muchos años. Las técnicas quirúrgicas tradicionales tienen como objetivo la eliminación del movimiento craneal, a través de la sustitución del ligamento roto. Otras técnicas buscan estabilizar la articulación, modificando el ángulo de inclinación del plato tibial y las fuerzas de cizallamiento de la articulación femorotibiorrotuliana. Independientemente de la técnica, el objetivo común es la disminución de la inestabilidad articular y de la progresión de la enfermedad articular degenerativa. En casos crónicos, como en la enfermedad articular degenerativa grave, han surgido nuevas técnicas que llevan a un alivio del dolor y a la conservación de la biomecánica del miembro, evitando así la artrodesis y la amputación. El objetivo de la presente revisión, es analizar la anatomía de la articulación de la rodilla, la fisiopatología, los métodos diagnósticos y el tratamiento de la ruptura del ligamento cruzado craneal. Palabras clave: ortopedia, rodilla, eosteoartritis

INTRODUÇÃO O ligamento cruzado cranial (LCCr) é o principal elemento de estabilização da articulação femorotibiopatelar, sendo responsável por evitar o deslocamento cranial da tíbia e limitar a hiperextensão do joelho e a rotação interna da tíbia 1.

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A ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCCr) é uma das causas mais comuns de claudicação dos membros pélvicos e do desenvolvimento de doença articular degenerativa (DAD) em cães 2,3. A RLCCr pode resultar de causas traumáticas (agudas) ou degenerativas (crônicas), que podem estar

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ASPECTOS ANATOMOFISIOLÓGICOS DO JOELHO O joelho é uma articulação diartrodial composta, pois, além de ser constituída pela articulação entre os côndilos femorais e os correspondentes da tíbia (articulação femorotibial), inclui também aquela entre a tróclea femoral e a patela (articulação femoropatelar) 12. A figura 1 apresenta uma breve revisão anatômica do joelho do cão. O LCCr localiza-se intra-articularmente e se estende desde a superfície intercondilar, originando-se na face medial do côndilo femoral lateral, até se inserir na área intercondilar central cranial da tíbia (Figura 2). Esse ligamento apresenta uma forma espiral de 90°, devido às diferentes orientações de suas fibras ligamentares ao se inserirem no fêmur e na tíbia. Está composto por duas porções: as faixas craniomedial e caudolateral. A primeira apresenta-se tensa tanto na flexão quanto na extensão, e a segunda unicamente na extensão, tornando-se relaxada durante a flexão. Por essa razão, a faixa craniomedial promove o controle primário contra o movimento de gaveta cranial, impedindo a hiperextensão do joelho 2,13.

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interrelacionadas, pois o enfraquecimento do ligamento pela degeneração permite que ele se rompa mais facilmente quando submetido a um desafio físico intenso. Os cães de grande porte estão mais predispostos e, além disso, maior angulação do platô tibial vem sendo atribuída à RLCCr em cães das raças chow-chow, labrador, rottweiller e boxer 4,5. Após a RLCCr, ocorre perda da estabilidade articular do joelho e podem se desenvolver sinovite, lesões de menisco, DAD e, consequentemente, perda funcional do membro acometido. O diagnóstico clínico pode ser feito por meio dos testes de gaveta cranial e de compressão tibial, que permitem comprovar o deslocamento da tíbia em direção cranial. Radiografia simples, ultrassonografia, artroscopia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são ferramentas diagnósticas complementares úteis, porém não devem substituir um bom e meticuloso exame clínico 2,6. A proposição de um tratamento ideal para a RLCCr tem sido motivo de controvérsia durante mais de quarenta anos, devido à disparidade dos resultados obtidos com o uso de diferentes métodos terapêuticos. O único consenso é que o tratamento cirúrgico oferece melhores resultados do que o conservativo 3. Desenvolveram-se muitas técnicas cirúrgicas para tentar reparar a função articular e prevenir as alterações degenerativas que conduzem à claudicação crônica. Todas as técnicas visam restaurar a estabilidade da articulação do joelho, seja mediante procedimentos intracapsulares, extracapsulares, nivelamento do platô tibial ou avanço da tuberosidade tibial 3,7-9. Destaca-se que nos casos em que há comprometimento funcional irreversível, a utilização da prótese de joelho surge como uma opção promissora na tentativa de preservação do membro acometido 10,11. Assim, o presente trabalho objetiva revisar os aspectos anatomofisiológicos da articulação do joelho de cães e discorrer sobre a etiopatogenia, os métodos diagnósticos, as técnicas tradicionais e as novidades no tratamento da RLCCr.

Figura 1 - Representação esquemática das estruturas anatômicas do joelho de cão, vista cranial

A restrição secundária para movimentação craniocaudal é promovida pela cápsula articular fibrosa (retináculo), pelos meniscos medial e lateral, pelos ligamentos colaterais medial e lateral, pela força dinâmica da musculatura e pelo formato das superfícies articulares do fêmur e da tíbia. A restrição secundária por si só não é capaz de prevenir o movimento craniocaudal anormal na ausência dos ligamentos cruzados 2,14. O ligamento cruzado caudal (LCCd) também se localiza intra-articularmente, e evita o deslocamento caudal da tíbia 14. Como os nomes indicam, os dois ligamentos se cruzam durante a flexão, limitando o grau de rotação interna da tíbia em relação ao fêmur. Essa interação também limita a movimentação varovalgo do joelho flexionado 13. Mecanorreceptores e terminações nervosas identificadas nas interfibras ligamentares atuam como mecanismo proprioceptivo, prevenindo extensão ou flexão excessivas, por meio da estimulação ou do relaxamento dos músculos que dão suporte a essa articulação 13,15. O suprimento sanguíneo para os ligamentos cruzados origina-se de microvasos dos tecidos sinoviais que embainham os ligamentos, vasos esses oriundos da artéria geniculada. O núcleo central da porção média de cada ligamento é menos vascularizado 2,16. Em seu trajeto, o ligamento colateral lateral não gera fibras até o menisco lateral, pois entre ambas as estruturas encontra-se o tendão de origem do músculo poplíteo. Esse ligamento é responsável por manter a estabilidade vara e serve como retenção secundária da instabilidade rotacional. Quando o joelho se flexiona, esse ligamento se relaxa, permitindo a rotação interna da tíbia em relação ao fêmur.

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Figura 3 - Exposição cirúrgica da articulação do joelho de cão com ruptura crônica do ligamento cruzado cranial. Observar intensa osteofitose periarticular (setas azuis), lesão da cartilagem (setas pretas), espessamento da cápsula articular e sinovite (setas amarelas)

Já o ligamento colateral medial adere intimamente ao menisco medial e à parede da cápsula sinovial da articulação, e é responsável por manter a estabilidade valga 2,14,17. A aposição dos côndilos femorais nos correspondentes da tíbia é claramente incongruente. Esse desajuste se corrige em grande parte com a interposição de um par de meniscos, discos semilunares fibrocartilaginosos, que participam da estabilidade requerida e amortecem pressões 16,18-20. Os meniscos transmitem 65% do peso que passa através do joelho, e são importantes na manutenção da estabilidade craniocaudal e rotacional e na lubrificação das estruturas intraarticulares 16,21,22.

FISIOPATOGENIA DA RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL As lesões no LCCr podem resultar de causas traumáticas (agudas) ou degenerativas (crônicas), que se sobrepõem, já que um ligamento que sofre degeneração pode se romper com mais facilidade que um normal quando submetido a uma carga excessiva 2,14. Muitos fatores contribuem para o enfraquecimento ligamentar, que está associado a mudanças em sua estrutura microscópica. Dentre esses fatores, idade (maior incidência a partir dos cinco anos), excesso de peso (maior incidência em animais obesos e pouco ativos), anormalidades conformativas adquiridas (fraturas antigas) ou congênitas (joelho valgo/varo, luxação de patela) e artropatias imunomediadas são fatores que favorecem a ruptura ligamentar 12,14,15. As fêmeas apresentam maior incidência de RLCCr que os machos 12. Existe ainda certa predisposição em cães de grande porte 13, e uma angulação maior do platô tibial vem sendo 102

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Figura 2 - Visão cranial da articulação do joelho normal de cão após deslocamento medial da patela e remoção do tecido adiposo infrapatelar. CL = côndilo lateral do fêmur; CM = côndilo medial do fêmur; LCC = ligamento cruzado cranial; T = tíbia

Figura 4 - Exposição cirúrgica da articulação do joelho de cão com ruptura recente do ligamento cruzado cranial. Observar protrusão do menisco medial (seta)

associada à RLCCr, o que ocorre em raças como chowchow, rottweiller, labrador e boxer 4,5. Frequentemente os cães que recebem tratamento para RLCCr, principalmente os de grande porte, apresentam a mesma patologia no membro contralateral depois de transcorridos alguns meses. O proprietário do animal sempre deve ser advertido dessa possibilidade 12. Comumente, o ligamento se lesiona quando o joelho é rapidamente rotacionado, formando um ângulo de flexão entre 20° a 50°, ou quando a articulação se hiperextende forçadamente 12. O primeiro ocorre quando o animal gira repentinamente sobre a extremidade, tocando firmemente o solo com os dedos, causando uma rotação interna extrema da tíbia e provocando tensão sobre o LCCr. A hiperextensão se produz muitas vezes quando o animal coloca a pata em um buraco ou depressão durante uma marcha rápida 16,23. A ruptura pode ser total, ocasionando muita instabilidade articular, ou parcial, com menor instabilidade. Nos dois casos, os animais não tratados demonstram alterações articulares degenerativas em poucas semanas, e a sua intensidade parece ser diretamente proporcional ao tamanho corporal, sendo que os cães com mais de 15kg manifestam alterações mais graves 15,23. A instabilidade articular pode resultar em sinovite, degeneração da cartilagem articular, formação de osteófitos periarticulares, alterações na lâmina do osso subcondral (Figura 3) e lesão de menisco (Figura 4) 14,20. O menisco medial pode se romper gravemente no momento da lesão, porém lesiona-se muitas vezes como resultado de uma instabilidade crônica da articulação 19. O menisco medial, em comparação com o lateral, possui uma união mais rígida da

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Figura 6 - Cão com ruptura do ligamento cruzado cranial do membro pélvico direito, apresentando dificuldade de sentar e mantendo o membro acometido em extensão parcial

sua porção caudal com a tíbia, a qual o torna mais suscetível a sofrer lesões 22-25.

DIAGNÓSTICO DA RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL História clínica A queixa típica do proprietário de um paciente que chega à consulta com RLCCr é de claudicação de aparição súbita, que continua melhorando com o tempo, embora sem chegar à cura. Isso ocorre porque em princípio cessam a inflamação aguda e o edema, e se restabelece a estabilidade pelo espessamento da cápsula articular, ainda que não chegue a fazê-lo por completo. Em geral, a história do paciente que sofre RLCCr depende da causa, do tempo que transcorre entre a lesão e a chegada do animal à clínica, e do fato de a lesão ser total ou parcial 19.

Exame físico A maioria dos animais começa a apoiar de forma parcial o membro depois de duas ou três semanas, ocorrendo melhora aparente durante vários meses. Posteriormente, observase diminuição repentina da utilização do membro, muitas vezes como resultado de lesão secundária de menisco. Então, manifestam-se alterações degenerativas de osteoartrose e o declive funcional é contínuo 2,13,23. Em posição ortostática, o animal desloca a extremidade do membro em ligeira abdução, para trás, apoiando-se sobre

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Figura 5 - Cão com ruptura do ligamento cruzado cranial do membro pélvico es querdo, apresentando apoio no solo apenas com as extremidades dos dígitos

Figura 7 - Cão com ruptura crônica do ligamento cruzado cranial do membro pélvico direito, apresentando dificuldade de apoio e intensa hipotrofia muscular no membro acometido

a ponta dos dígitos (Figura 5). Quando sentado, o cão mantém a extremidade estendida e o calcâneo não entra em contato com a tuberosidade isquiática (Figura 6). Nos casos em que a lesão tenha sido produzida há mais tempo, o animal claudicará devido à degeneração secundária 13,26. Ao examinar o joelho, observa-se inflamação articular com aumento apreciável do líquido sinovial, principalmente na zona medial ao tendão patelar. Os movimentos articulares são dolorosos, sobretudo à hiperextensão do joelho. Em casos crônicos, pode haver anormalidades anatômicas, como hipotrofia da musculatura da região femoral (Figura 7), assim como crepitação à flexão ou extensão do joelho e redução da amplitude de movimentos 12,13.

Testes de gaveta cranial e de compressão tibial Para confirmação do diagnóstico, deve-se verificar manualmente a possibilidade de deslocar a tíbia em direção cranial, sendo o teste positivo quando esse deslocamento ultrapassar de zero a dois milímetros, valores encontrados em uma articulação normal de cães jovens. Para tal avaliação, o animal é posicionado em decúbito lateral, com o membro acometido para cima 13. No teste da gaveta cranial, quando há RLCCR, observase o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur. Para a realização dessa prova, coloca-se o dedo indicador de uma mão sobre a patela e o polegar pressionando o côndilo lateral do fêmur; com a outra mão, fixa-se a tíbia, colocando o

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dedo indicador na tuberosidade tibial e o polegar na cabeça da fíbula. Dessa maneira, com os dedos em forma de pinça e o membro em semiextensão e semiflexão, tenta-se realizar um deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur (Figuras 8 e 9). É importante não realizar o teste com o membro em extensão total, já que nessa postura os ligamentos colaterais se tensionam, estabilizando a articulação. Deve-se realizar essa prova com o animal sedado ou anestesiado, pois o exame de animais com ansiedade, dor e inflamação pode gerar falsos negativos, devido à contração dos músculos da coxa, que impedem o deslocamento cranial da tíbia. Também podem ocorrer falsos negativos em problemas crônicos e fibrose periarticular. Por outro lado, cabe destacar os falsos positivos em animais jovens, devido à frouxidão articular, e em animais magros com pouco tônus muscular 2,13,26. O teste de compressão tibial avalia a pressão cranial da tíbia, que é o somatório das forças produzidas pela força de apoio do membro e pela força muscular gerada pelo bíceps femoral e pelos músculos flexores da coxa, transmitidas mediante o mecanismo do gastrocnêmio. Essas forças, quando exacerbadas, são responsáveis pela RLCCr 1. No teste da compressão tibial, fixa-se o joelho com uma das mãos, colocando o dedo indicador sobre a patela até tocar com a ponta do dedo a tuberosidade tibial. Com a outra mão, mantendo a 104

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Figura 8 - Desenho esquemático demonstrando o adequado posicionamento dos dedos sobre a articulação do joelho para a correta realização do teste de gaveta cranial

Figura 9 - Cão com ruptura do ligamento cruzado cranial do membro pélvico direito sendo submetido ao teste de gaveta cranial com o membro acometido posicionado em semiflexão

extremidade em semiextensão, realizam-se flexões do tarso. Ao realizar essas flexões, a tensão que se produz no músculo gastrocnêmio empurra a tíbia em sentido cranial, de forma que, em casos de RLCCr se observa o deslocamento do dedo situado sobre a crista tibial (Figuras 10 e 11). Pode haver falsos negativos em animais com fibrose periarticular. Esse teste é importante quando a prova de gaveta cranial é inconclusiva, seja pela técnica inapropriada ou pelo tamanho do animal 26.

Diagnósticos por imagem Radiografia simples A avaliação radiográfica da articulação do joelho pode ser um método auxiliar na confirmação do diagnóstico. A projeção mediolateral em flexão de 90° é a mais indicada para a visibilização do deslocamento cranial da tíbia. O tarso deve estar flexionado, produzindo-se o mesmo efeito obtido no teste da compressão tibial (Figura 12) 27-29. Ao observar a radiografia de um animal com RLCCr, podemos visibilizar as seguintes alterações radiológicas: 1) deslocamento cranial da parte proximal da tíbia em relação ao fêmur; 2) aumento da radiopacidade do espaço articular. Na projeção mediolateral normal, observa-se um triângulo de gordura radioluscente desde a patela distal até a tíbia e o

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fêmur. A radiopacidade observada caudalmente em relação a esse triângulo é produzida pelos ligamentos cruzados e pelos meniscos. Devido ao derrame sinovial ou à fibrose da região do coxim adiposo, a área cranial em relação ao fêmur fica mais radiopaca; 3) osteófitos, que são consequências do desenvolvimento da DAD e cuja formação está relacionada à cronicidade da lesão, ao peso do animal e ao repouso realizado desde a ruptura (Figura 12). Esses sinais são mais evidentes na extremidade distal da patela e nas bordas trocleares do fêmur; e 4) avulsões, observadas principalmente em animais jovens. Nesses casos, pode-se detectar o fragmento ósseo que sofreu avulsão, no qual o ligamento se insere 27,30.

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Figura 10 - Desenho esquemático demonstrando o adequado posicionamento da mão na região da articulação do joelho e do tarso para a correta realização do teste de compressão tibial

Figura 11 - Cão com ruptura do ligamento cruzado cranial do membro pélvico direito sendo submetido ao teste de compressão tibial Leonardo Augusto Lopes Muzzi

Figura 12 - Imagens radiográficas em projeção mediolateral de articulações femorotibiopatelares de cães com ruptura do ligamento cruzado cranial. A) Ruptura recente do ligamento, apresentando efusão articular e discreta osteofitose no polo distal da patela. B) Ruptura crônica do ligamento, demonstrando intenso processo articular degenerativo. C) Imagem radiográfica obtida sob compressão tibial, mostrando evidente deslocamento cranial da tíbia

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Figura 13 - Imagens ultrassonográficas da articulação femorotibiopatelar de cão com ruptura do ligamento cruzado cranial. A) Efusão articular com distensão do recesso suprapatelar (delimitado pelas setas). Q = tendão do quadríceps; PA = patela; RS = recesso suprapatelar. B) Borda troclear irregular devido à presença de osteofitose (setas). CLF = côndilo lateral do fêmur Leonardo Augusto Lopes Muzzi Leonardo Augusto Lopes Muzzi

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Ultrassonografia A ultrassonografia pode ser utilizada como uma ferramenta de diagnóstico complementar à radiografia simples para RLCCr. Permite a identificação de alterações em estruturas intra-articulares do joelho, sobretudo de cães de grande porte 31. Em estudos ultrassonográficos, o LCCr aparece como uma estrutura hipoecoica, devido ao coxim adiposo infrapatelar, relativamente hiperecoico (plano sagital em abordagem cranial com o joelho em completa flexão). A identificação da estrutura ligamentar hipoecoica torna-se mais difícil na presença de efusão articular, isso pela diminuição do contraste entre o ligamento e o fluido ao seu redor (Figura 13). Assim, sugere-se que a avaliação ultrassonográfica seja feita com injeção dinâmica de salina intra-articular, que cria uma janela anecoica ao redor do LCCr, facilitando sua identificação. O exame pode ser tecnicamente dificultado em virtude da dor e do edema, geralmente presentes 27,32. Um estudo demonstrou que a ultrassonografia permite a identificação precoce dos osteófitos

Figura 14 - Imagens da artroscopia da articulação do joelho em cão. A) Joelho do cão preparado cirurgicamente com inserção parapatelar do artroscópio. A seta indica o local de entrada da pinça. B) Imagem dos ligamentos cruzado cranial (LCC) e cruzado caudal (LCA) íntegros. C) Imagem do joelho de cão com ruptura crônica do ligamento cruzado cranial, apresentando lesão erosiva (LE) na cartilagem do côndilo medial do fêmur (CMF) e na membrana sinovial (MS) hiperêmica. D) Mesmo cão da imagem anterior apresentando osteofitose (setas) na borda do côndilo lateral do fêmur (CLF) e membrana sinovial (MS) hiperêmica Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012


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periarticulares em relação ao exame radiográfico nos casos de RLCCr 33.

Artrocentese Quando a palpação e a radiografia são inconclusivas, a análise do líquido sinovial pode ajudar, sobretudo pela diferenciação de inflamação aguda e crônica, bem como na exclusão de processos infecciosos e imunomediados, que predispõem à RLCCr 19.

Artroscopia O exame artroscópico apresenta um alto índice de sucesso tanto para detectar rupturas completas quanto parciais do LCCr, além de determinar alterações degenerativas que ocorrem nas estruturas intra-articulares (Figura 14). Pode fornecer informações precisas sobre lesões meniscais (não definidas radiograficamente), DAD, alterações da cartilagem e da membrana sinovial. Dentre as vantagens, destacase o fato de ser uma técnica minimamente invasiva, de rápida realização e de baixa morbidade quando comparada à artrotomia exploratória. Além dessas vantagens, possibilita a realização de procedimentos cirúrgicos corretivos com acompanhamento da artroscopia 33. Dentre as desvantagens estão o alto custo de aquisição e de manutenção do equipamento, e a necessidade de pessoal capacitado 6,34.

Tomografia computadorizada Na tomografia computadorizada, um tubo de raios-x gira 360° em torno da região a ser estudada, o que permite a formação de varias imagens em seções, proporcionando melhor visibilização das estruturas intra-articulares sem sobreposição 35. A tomografia computadorizada representa uma boa alternativa não só para o diagnóstico das lesões dos ligamentos cruzados, mas também para a identificação das patologias associadas como lesões de menisco, lesões de superfície articular e osteofitose. Suas principais desvantagens são a exposição do paciente à radiação ionizante e a necessidade da utilização de contraste para obter imagens precisas. Além disso, é um método oneroso, mas, apesar disso, vem se tornando cada vez mais disponível na rotina veterinária 30,35.

Ressonância magnética A ressonância magnética (RM) é o método de imagem mais utilizado para avaliar ligamentos cruzados em seres humanos e para identificar alterações inflamatórias, degenerativas e traumáticas de joelho. Embora poucos centros veterinários tenham o equipamento necessário, devido ao seu alto custo, a RM é um método de imagem emergente em todo o mundo. É altamente sensível e específica na detecção de mínimas lesões à cartilagem articular, a lesões meniscais, estruturas livres no espaço articular, osteofitose e espessamento sinovial, além de não expor o paciente à radiação ionizante 28,36-38. TRATAMENTO CONSERVATIVO DA RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL O tratamento conservativo é realizado apenas em gatos e

cães de pequeno porte, com massa corpórea inferior a 15kg, porém, apresenta resultados insatisfatórios em muitos casos. Consiste na restrição da atividade física dos animais a breves caminhadas controladas por coleira e guia e na redução de peso, no caso de animais obesos. A utilização de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais é uma prática já consagrada e indispensável, que visa respectivamente o controle da dor e a redução dos mediadores inflamatórios responsáveis pelo início do processo degenerativo 3. Outra terapia bastante difundida é o uso dos medicamentos modificadores da DAD, também conhecidos como condroprotetores, cujo objetivo é retardar a progressão da osteoartrite. Essas substâncias são os glicosaminoglicanos, e estão fisiologicamente presentes na complexa rede da matriz extracelular da cartilagem. O seu mecanismo de ação ainda não está bem esclarecido, mas sabe-se que os glicosaminoglicanos são substratos para regenerar a matriz extracelular, e parecem estimular a multiplicação dos condrócitos e aumentar sua atividade secretora 39,40. Adicionalmente, a fisioterapia também está indicada para o fortalecimento da musculatura e a reabilitação do animal 3,33.

Técnicas cirúrgicas A seleção da técnica para a correção da RLCCr deve se basear no porte, na idade e na função do cão, na cronicidade da lesão, na experiência do cirurgião e nas particularidades de cada caso clínico. Independentemente da técnica utilizada, os resultados pós-cirúrgicos são favoráveis em 90% dos casos, embora não sejam completamente eficientes em estabilizar a articulação do joelho a ponto de interromper a progressão da osteoartrite e a lesão secundária aos meniscos 9,41. Por isso, encontrar um tratamento que restaure ou modifique a biomecânica da articulação e previna a progressão da DAD é o objetivo de muitos estudos 41.

Técnicas tradicionais As técnicas extracapsulares estabilizam a articulação por meio da intensificação da fibrose periarticular. Sua finalidade é eliminar o sinal de gaveta cranial, embora alguns movimentos do joelho também possam ser comprometidos 1. A maioria dessas técnicas consiste na imbricação dos tecidos moles laterais da articulação, mediante uma ou mais suturas, corrigindo a tendência da rotação interna da tíbia. Dentre estas técnicas encontram-se: imbricação capsular; sutura lateral fabelotibial; imbricação retinacular lateral De Angelis; modificação da técnica de imbricação retinacular lateral de Flo; e transposição da cabeça da fíbula 3,5,23. Mais recentemente foram sugeridas algumas modificações na técnica da sutura lateral, definindo pontos isométricos para a passagem dos fios de sutura 42 ou com a utilização da nova técnica TightRope 43. Por outro lado, as técnicas intracapsulares promovem a substituição do ligamento rompido por meio da utilização de material autógeno (fáscia lata e/ou ligamento patelar) ou sintético (fibra de carbono, náilon, teflon, dacron). A técnica baseia-se na criação de uma estrutura intra-articular, com a mesma orientação espacial que o LCCr normal, que previna

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Ortopedia o movimento de gaveta cranial, a hiperextensão do joelho e a rotação interna da tíbia. Dentre os procedimentos intracapsulares mais utilizados estão as técnicas: Paatsama, over-thetop, under-and-over e Schönwälder 3,5,23.

Técnicas de nivelamento do platô tibial Essas técnicas têm por objetivo neutralizar o impulso tibial cranial por meio da modificação do ângulo de inclinação do platô tibial. Dessa forma, a estabilização articular é obtida pela força ativa dos músculos flexores da coxa, não sendo mais necessário o LCCr. Assim, o sinal de gaveta não é eliminado, como propõem as técnicas tradicionais, mas não ocorre o impulso cranial da tíbia durante a deambulação 1,8,9. O platô tibial possui normalmente uma inclinação caudodistal, e a compressão entre tíbia e fêmur durante a locomoção impulsiona a tíbia cranialmente. Esse movimento deve ser limitado pelo LCCr; entretanto, caso haja ruptura do ligamento, a tíbia é empurrada cranialmente, e isso é denominado impulso tibial cranial 1,2,9,19,44. O impulso tibial cranial é uma força ativa criada quando o animal apoia o peso corporal sobre o solo, tendendo a mover a tíbia em sentido cranial pela ação dos componentes ativos do joelho, normalmente pela extensão da musculatura do grupo quadríceps femoral e pela flexão do músculo gastrocnêmio. Normalmente, o impulso tibial cranial não deve ocorrer, e por isso ele é antagonizado pelos componentes passivos da articulação, principalmente o LCCr 1,2,9,19,44,45. A inclinação natural do platô tibial varia de 18° a 24° 9,46. O ângulo do platô tibial em cães com alteração no LCCr varia de 23,5° a 28,3°, sendo que, quando este ultrapassa 34°, é considerado um ângulo excessivo 47. Ao nivelar o ângulo do platô tibial, não é necessário reduzi-lo a 0°, pois isso converteria o impulso tibial cranial em caudal e poderia comprometer a integridade do LCCd. Na prática, recomenda-se reduzir o ângulo para cerca de 5°, pois isso não força o LCCd, e o animal fica isento de claudicação 9,23,45,48. As técnicas para nivelamento do platô tibial podem ser realizadas por meio de ostectomia tibial em cunha, osteotomia radialproximal da tíbia (Figura 15) e ostectomia intraarticular do platô tibial 1,49. As complicações dessa técnica variam de 18% a 28% e podem ser separadas em categorias. As complicações mais graves geralmente envolvem falhas no implante, osteomielite e fraturas da tuberosidade da tíbia. As complicações menos graves são quebra do parafuso e lesões de menisco 9,47,50. Essas técnicas previnem a aparição de artrose, a atrofia muscular e a instabilidade articular, principalmente em rupturas agudas em que a DAD ainda não teve início 1,26. Porém, alguns estudos mostram que essas alterações também podem estar presentes após as técnicas de nivelamento do platô tibial, e que não há diferença significativa a longo prazo entre essas técnicas e as tradicionais 46,51. Avanço da tuberosidade tibial O avanço da tuberosidade tibial (ATT) é uma técnica que tem sido proposta para estabilizar a articulação do joelho durante o apoio do peso corporal, por neutralizar o impulso

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tibial cranial sem realizar o nivelamento do platô tibial 7,9,52,53. A estabilidade proposta pelo ATT é alcançada pela realização de uma osteotomia no plano frontal da tuberosidade tibial e pelo avanço do tendão patelar até este ficar perpendicular ao platô tibial (Figura 16) 52. A técnica de ATT propõe avançar a tuberosidade da tíbia cranialmente, o suficiente para manter um ângulo igual ou menor que 90° entre o tendão patelar e o platô tibial durante o apoio do peso corporal, para obter uma força de cisalhamento tibiofemoral neutra ou de direção caudal durante a deambulação, estabilizando dessa maneira a articulação 7,52. As taxas de complicações do ATT variam de 31,6% a 59% 50 . As complicações mais graves são: lesões de menisco, fraturas tibiais, granulomas por lambedura, falha dos implantes, artrite séptica e luxação medial de patela 9,50,52. Já as complicações menos graves envolvem fraturas da tuberosidade tibial e da tíbia sem deslocamento dos fragmentos, edema do membro, infecção na incisão e deiscência da sutura 50,52. Outra complicação inclui a ruptura do LCCd 9. O ATT apresenta como principais vantagens em relação ao nivelamento do platô o fato de preservar a articulação tibiofemoral natural, já que a técnica não reposiciona o platô tibial e, além disso, aumenta a alavanca extensora do sistema quadríceps e reduz as forças que atuam ao longo do tendão patelar 9,53. Outras vantagens do ATT incluem: ser menos invasivo e tecnicamente menos complexo que outras osteotomias, apresentar a possibilidade de tratamento concomitante de luxação patelar, ter curto período trans-operatório e geralmente ser de recuperação mais rápida 9.

Artroplastia total de joelho A artroplastia total de joelho é um procedimento amplamente realizado na medicina humana e, além de sua preservação, proporciona alívio da dor e retorno funcional do membro. É indicada para pacientes com DAD avançada e outras deformidades graves do joelho, a fim de evitar artrodeses e amputações 10. Essa cirurgia vem sendo realizada com sucesso em cães 10,54 . No entanto, as próteses e instrumentais para sua implantação são muito caros e ainda não estão disponíveis comercialmente no mercado brasileiro. A prótese de joelho para cão pode ser importada dos Estados Unidos e da Europa. As próteses de polímero poroso à base de polipropileno, revestidas com titânio, têm mostrado resultados encorajadores. Segundo estudos realizados em seres humanos, o tempo médio de durabilidade dessas próteses tem atingido dez anos, com preservação de 96% da integridade de suas características 55,56.

Terapias complementares Sabe-se que a principal complicação dos casos de RLCCr é o desenvolvimento da DAD, e que mesmo as técnicas cirúrgicas mais modernas são ineficazes em conter sua progressão quando não realizadas precocemente 41. Assim, surge a necessidade da associação das terapias auxiliares ao tratamento clínico-cirúrgico.

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Figura 15 - Imagens radiográficas da técnica de osteotomia para nivelamento do platô tibial em um cão da raça labrador com ruptura recente do ligamento cruzado cranial. A e B) Imagens da articulação femorotibiopatelar no pré-operatório. C e D) Imagens da articulação no pós-operatório imediato. Observar a osteotomia radial na tíbia proximal e a placa própria para o nivelamento do platô tibial Leonardo Augusto Lopes Muzzi

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Figura 16 - Imagens radiográficas da técnica de avanço da tuberosidade tibial em um cão da raça golden retriever com ruptura do ligamento cruzado cranial. A) Imagem da articulação femorotibiopatelar no pré-operatório. B e C) Imagens da articulação no pós-operatório imediato. Observar a osteotomia na tuberosidade da tíbia, a placa própria e o espaçador, promovendo o avanço cranial da tuberosidade tibial. D) Imagem da articulação no pós-operatório de seis semanas. Observar o preenchimento ósseo da lacuna entre a tuberosidade tibial e a tíbia proximal Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

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Ortopedia Recentemente, o plasma rico em plaquetas (PRP) vem sendo estudado como terapia adjuvante ao tratamento cirúrgico da RLCCr. A principal função do PRP é fornecer fatores de crescimento que são benéficos para a regeneração articular 57. Além disso, alguns autores acreditam que a presença de células-tronco mesenquimais no PRP possa favorecer ainda mais a regeneração articular. Os resultados preliminares de aplicação intra-articular em equinos portadores de artropatias mostraram efeitos benéficos encorajadores 58. Acredita-se que o tratamento mais promissor para RLCCr esteja na utilização das células-tronco mesenquimais (CTM) autógenas, associada a uma das técnicas cirúrgicas de estabilização articular. Sabe-se que as CTM são capazes de diferenciar-se em condrócitos, o que pode favorecer o processo de regeneração da cartilagem articular 59. Além disso, as CTM são capazes de modular a resposta inflamatória, que é a maior responsável pela instalação do processo de degeneração articular 60,61. CONSIDERAÇÕES FINAIS As técnicas mais recentes de diagnóstico por imagem são de grande importância na elucidação de casos clínicos inconclusivos e na pesquisa de lesões intra-articulares secundárias à ruptura do ligamento cruzado cranial. No entanto, não devem ser utilizadas com o intuito de substituir o diagnóstico clínico. Embora o emprego das medidas terapêuticas correntes tenha demonstrado resultados satisfatórios ao retardar a DAD e recuperar a função do membro, até o presente momento nenhuma terapia foi completamente eficaz em bloqueá-la. Dentro desse contexto, a busca por técnicas inovadoras – como a utilização de terapias celular e gênica – que sejam capazes de impedir a progressão da DAD e de restaurar as características morfológicas e funcionais da articulação deve ser incentivada. REFERÊNCIAS

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Animais silvestres Comparação do crescimento de filhotes de papagaioverdadeiro (Amazona aestiva) alimentados com dietas caseira e comercial

Comparison of the growth of blue-fronted Amazon parrot (Amazona aestiva) nestlings fed with homemade and commercial diets

Estudio comparativo de crías de loros (Amazona aestiva) alimentados con dieta casera y comercial

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, p. 114-122, 2012 Líria Queiroz Luz Hirano MV, mestranda da FMV/UFU liriaqueiroz@yahoo.com.br

André Luiz Quagliatto Santos MV, prof. da FMV/UFU

quagliatto@famev.ufu.br

Juliana Macedo Magnino Silva MV, mestranda da FMV/UFU ju.magnino@hotmail.com

Simone Borges S. De Simone MV, mestranda da FMV/UFU

simonebssimone@hotmail.com

Resumo: Este trabalho teve por objetivo comparar os efeitos de duas dietas, caseira e comercial, sobre o desenvolvimento de filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Os animais, de aproximadamente trinta dias de vida, foram divididos em dois grupos de nove animais cada. A alimentação dos filhotes foi feita duas vezes ao dia, tendo sido oferecida quantidade de papa equivalente a 10% do peso de cada ave por refeição. Semanalmente, os filhotes passaram por pesagem, biometria e avaliação geral. Houve diferenças estatísticas entre o tamanho de cauda e envergadura, na primeira semana, e o cúlmen, na quarta, sendo as médias mais elevadas obtidas com a dieta caseira no caso das duas primeiras medidas e com a comercial, na última. Diante da homogeneidade e da positividade dos resultados dos dois grupos, utilizando-se somente como critérios de avaliação as curvas de ganho de peso, a biometria e o exame físico, conclui-se que ambas as dietas são opções satisfatórias para a alimentação de filhotes de Amazona aestiva, diferindo apenas quanto ao custo e à praticidade. Unitermos: aves, nutrição, psitaciformes

Abstract: This article aimed to compare the development of nestlings of blue-fronted Amazon parrots (Amazona aestiva) fed by commercial and homemade diet. The animals, which were about 30 days old, were divided into two groups of nine. Manual feeding occurred twice daily, and the amount offered was equivalent to 10% of each animal´s weight. Individual weighing, biometrics and evaluation were carried out weekly. Differences in tail size and wingspan during the first week and in culmen during the fourth week were statistically significant; highest values were obtained with the homemade diet in the first two cases and with the commercial diet in the latter. The homogeneous and positive results of this study allow us to conclude that both diets are satisfactory options for feeding nestlings of Amazona aestiva, the only differences being cost and practicality. Keywords: avian, nutrition, psittaciformes

Resumen: El objetivo del presente trabajo fue comparar los efectos de dos dietas, casera y comercial, sobre el desarrollo de crías de loros (Amazona aestiva). Los animales, de aproximadamente treinta días de vida, fueron divididos en dos grupos de nueve cada uno. La alimentación de las crías se realizó dos veces al día, ofreciéndoles una cantidad de papilla por comida equivalente al 10% del peso de cada ave. Una vez por semana se hacía una evaluación general de las crías, eran pesadas y se realizaba la biometría de las mismas. Se encontraron diferencias estadísticamente significativas entre el tamaño de la cola y la envergadura durante la primera semana, y del tamaño del pico en la cuarta semana, con un promedio superior de crecimiento en aquellos animales alimentados con dieta casera para las dos primeras mediciones, y aumento mayor del tamaño del pico, en los alimentados con dieta comercial. Frente a la homogeneidad y efectos positivos en ambos grupos, utilizando como criterio de evaluación solamente las curvas de ganancia de peso, biometría y examen físico, se llegó a la conclusión que ambas dietas representan una opción satisfactoria para la alimentación de las crías de Amazona aestiva, diferenciándose apenas en lo referente al costo y la practicidad. Palabras clave: aves, nutrición, psitaciformes

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Introdução O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) caracteriza-se por bico curvo e negro, língua grossa e rica em papilas gustativas, papo grande, pés zigodáctilos, ausência de dimorfismo sexual externo e peso médio de 400g quando adulto. Na natureza, a alimentação dos filhotes é realizada pelos pais durante os dois primeiros meses de vida, e consiste na deposição de conteúdo semilíquido, regurgitado na mandíbula, cuja base tem formato de concha para facilitar o processo 1. Com o crescimento da criação de aves, seja como animais de estimação ou em criatórios científicos, conservacionistas e comerciais, houve a necessidade de intensificar os estudos acerca da nutrição ideal para esses animais em cativeiro 2. Apesar do desenvolvimento das rações comerciais específicas para psitacídeos, pelo fato de esses produtos serem novos no mercado, há necessidade de informações acerca do desempenho proporcionado com a sua utilização 3; além disso, nem sempre os proprietários e as entidades conseguem ter acesso a esses produtos, devido à dificuldade de encontrá-los em determinadas regiões ou mesmo por questões financeiras, razão pela qual ainda é comum a utilização de dietas caseiras. A literatura sobre nutrição de psitacídeos em cativeiro é escassa, e as dietas comerciais são formuladas com critérios mais empíricos que científicos 4. Em trabalho realizado acerca da nutrição de Amazona aestiva, observou-se que a adição de prebiótico durante dez dias não tem influência no ganho de peso dos filhotes 5. Uma das formas de avaliar a eficiência da dieta em aves é pelo acompanhamento de parâmetros físicos, como pesagem e biometria, pois esses animais necessitam de grande quantidade de alimento para cada unidade adquirida de peso 6. Além disso, a avaliação física tem relevante importância na medicina aviária, uma vez que pode refletir alterações patológicas antes mesmo que outros sinais clínicos sejam evidentes 7. Com o intuito de enriquecer as informações científicas sobre o desenvolvimento corporal e as opções alimentares para filhotes de psitacídeos em cativeiro, propusemos comparar os efeitos de duas dietas, caseira e comercial, sobre o ganho de medidas corporais e de peso de filhotes de Amazona aestiva alimentados manualmente. Material e métodos O experimento foi conduzido no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Animais Silvestres (Lapas) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no período de 6 de outubro a 3 de novembro de 2008. Foram utilizados 18 filhotes de psitacídeos da espécie Amazona aestiva, apreendidos do tráfico de animais silvestres e com aproximadamente trinta dias de vida, idade estimada com base no grau de empenamento e no tamanho dos espécimes. Os filhotes foram avaliados e considerados clinicamente saudáveis de acordo com suas características comportamentais de interesse pelo alimento e vocalização, além de observação clínica do escore corporal, considerado o escore 3 como ideal, o aspecto geral das penas em relação às cores, a ausência de marcas de estresse e a consistência e a coloração das fezes.

Utilizou-se um delineamento experimental inteiramente casualizado, com dois tratamentos e nove repetições. Um grupo foi alimentado com dieta caseira e o outro com dieta comercial, apresentando pesos médios iniciais de 212 ± 26,4g e 199 ± 20,2g, respectivamente. Durante toda a pesquisa, permaneceram alojados separadamente, em caixas de madeira com dimensões de 40cm x 40cm x 70cm (altura x largura x comprimento), envoltas por telas de náilon. Além disso, com o intuito de aquecer os animais, foi colocada uma lâmpada de 40W sobre cada caixa 8. Duas vezes ao dia 5, em horários fixos e diurnos, os filhotes foram alimentados manualmente, por meio de seringas descartáveis (Figura 1), sendo a quantidade fornecida por refeição equivalente a 10% do peso vivo de cada ave 7. Um grupo recebeu dieta caseira 8, composta de três colheres (sopa) de farinhada (seis partes de flocos de milho précozidos a; três partes de uma mistura comercial contendo farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, farinha de trigo integral, açúcar, cevada, sais minerais, aveia, sal e vitaminas b; uma de leite em pó c), uma gema de ovo cozido, 150mL de suco de polpa de goiaba d, duas gotas de um suplemento de cálcio e à base de glicerofosfato de cálcio, glicerofosfato de sódio, gluconato de cálcio e vitamina D3. Três vezes por semana, em dias alternados, adicionava-se à mistura uma gota de complexo polivitamínico, polimineral e de aminoácidos f composto por palmitato de retinol, colicalciferol, menadiocina bissulfito de sódio, cloridrato de tiamina, riboflavina, cloridrato de piridoxina, cianocobalamina, biotina, nicotinamida, pantotenato de cálcio, inositol, alanina, arginina, ácido aspártico, fenilalanina, cistina, ácido glutâmico, glicina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, prolina, serina, treonina, triptofano, tirosina, valina, dextrose, estabilizante, antioxidante e fungicida. O outro grupo foi alimentado com uma ração comercial própria para filhotes de psitacídeos g composta por milho pré-gelatinizado, proteína concentrada de soja, farinha de soja pré-cozida, ovo em pó, gérmen de trigo, dextrose, levedura seca de cervejaria, óleo de girassol, carbonato de cálcio, fosfato bicálcico, premix vitamínico mineral, DL metionina, cloreto de sódio (sal comum), prebiótico (mananoligossacarídeo), enzimas digestivas (lipase, amilase, Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 1 - Alimentação manual de filhote de Amazona aestiva

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Animais silvestres Análises umidade (105º) (%) matéria seca (%) proteína bruta (%) extrato etéreo (%) fibra bruta (%) matéria mineral (%) cálcio(%) fósforo (%) extrato não nitrogenado (%) energia (kcal/kg)

caseira 66,59 33,41 10,92 15,59 0,92 3,62 2,21 1,58 68,87 2.382,73

comercial 65,26 34,74 22,12 5,89 6,33 4,84 2,28 1,12 60,82 3.700

Figura 2 - Análises químicas e bioquímicas (base seca) das formulações caseira e comercial utilizadas na alimentação de filhotes de papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Laboratório de Nutrição Animal da Universidade Federal de Uberlândia

protease), aditivo fungiostático (propionato de amônia), probiótico (Bacillus subtilis e Bacillus licheniformis), antioxidante (BHT), aroma de frutas, vitamina. A ração foi preparada segundo indicação do fabricante, misturando-se o composto em pó com água aquecida a 38-39ºC, à razão de 1:1,5 respectivamente. As duas formulações foram analisadas pelo Laboratório de Nutrição Animal da UFU (Figura 2). Em dias alternados, era realizada a pesagem dos filhotes em jejum (Figura 3), em uma balança modelo AS2000C h (carga mínima de 0,5g e carga máxima de 2.000g) para avaliação e reajuste da quantidade de alimento oferecida. Semanalmente foi feito o acompanhamento da biometria individual 1 dos seguintes parâmetros: asas esquerda e direita; cabeça (Figuras 4, 5 e 6) e bico (Figuras 7, 8 e 9 – comprimento, largura e altura); cauda (Figura 10); tarsometatarso Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

(Figuras 11 e 12) direito e esquerdo (comprimento e diâmetro); cúlmen (medida da aresta dorsal da narina ao ápice do bico 1 ); envergadura (Figura 13 – medida da extremidade de uma asa à da outra) e comprimento do corpo (Figura 14), com o auxílio de um paquímetro i (precisão de 0,05mm). Foi elaborado um esquema (Figura 15) para facilitar a padronização da obtenção das medidas. Além disso, alguns aspectos gerais foram observados para a comparação das formulações, como presença ou não de enfermidades, interesse das aves pelo alimento, facilidade de preparo e custo. As aves permaneceram sob responsabilidade da equipe durante dois meses após o fim deste estudo, e posteriormente foram encaminhadas para entidades conservacionistas. Para verificar as diferenças estatísticas entre as medidas dos grupos isolados na primeira e na quinta semanas, aplicou-se o teste de Wilcoxon 9, com nível de significância de 0,05, em teste bilateral. Adicionalmente, os valores de peso e as medidas corporais foram comparados entre os dois tratamentos pelo teste U de Mann-Whitney 9, também com nível de significância de 0,05, em um teste bilateral. Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 4 - Avaliação biométrica do comprimento da cabeça de filhote de Amazona aestiva Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 3 - Pesagem de filhote de Amazona aestiva 116

Figura 5 - Avaliação biométrica da largura da cabeça de filhote de Amazona aestiva

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Figura 6 - Avaliação biométrica da altura da cabeça de filhote de Amazona aestiva Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 8 - Avaliação biométrica da largura do bico de filhote de Amazona aestiva Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 7 - Avaliação biométrica do comprimento do bico em filhote de Amazona aestiva

Resultados e discussão O perfil nutricional recomendado em dietas na matéria natural, para manutenção de psitacídeos adultos em cativeiro, é de no mínimo 12% de proteína bruta (PB) e 3.200 a 4.200kcal/kg de energia (mínimo e máximo) 10. Em relação aos filhotes, a concentração de PB ideal para proporcionar um ganho de peso satisfatório seria de 24,4% de proteína digerível 11. Nesta pesquisa, a papa comercial atendeu aos valores estipulados, sendo composta por 22,12% de PB e 3.770kcal/kg; já a dieta caseira apresentou resultados abaixo dos recomendados, com 10,92% de proteína bruta e nível energético de 2.382,73kcal/kg, porém os resultados de desenvolvimento dos filhotes foram aparentemente satisfatórios em termos biométricos, uma vez que eles apresentaram peso médio ideal para a espécie aos sessenta dias, sem alterações clínicas evidentes, durante o período de avaliação dos animais.

Figura 9 - Avaliação biométrica da altura do bico em filhote de Amazona aestiva

Calopsitas alimentadas com 10 ou 15% de PB apresentaram diminuição na velocidade de crescimento, além de aumento da taxa de mortalidade. Os melhores resultados foram observados em aves que ingeriram 20% de PB; já as dietas acima de 25% de PB provocaram alteração de comportamento nas aves, que apresentaram irritabilidade 12. Apesar da diferença de concentração proteica entre as duas dietas utilizadas neste estudo, não houve mortalidade ou mudança de comportamento das aves, que apresentaram taxas de ganho de peso similares. Sendo a fonte proteica um dos compostos mais caros no preparo de rações, as pesquisas são feitas com índices menores desse nutriente, procurando manter bons resultados nutricionais 13. Uma diminuição de 3% de PB na dieta

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Figura 10 - Avaliação biométrica da cauda de filhote de Amazona aestiva Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 12 - Avaliação biométrica do diâmetro do tarso de filhote de Amazona aestiva Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 11 - Avaliação biométrica do comprimento do tarso de filhote de Amazona aestiva

proporciona menor ganho médio de peso 14; entretanto, vários estudos 15 demonstraram que há possibilidade de reduzir a concentração proteica da dieta desde que haja suplementação de aminoácidos essenciais, o que, no caso da formulação caseira, pode ter sido atendido com a adição do complexo polivitamínico, polimineral e de aminoácidos c. Outra questão importante na constituição de uma dieta é a digestibilidade das fontes de proteína. Em relação à espécie Amazona aestiva, as pesquisas 4 relatam porcentagem acima de 75% de digestibilidade, aparente e verdadeira, em aveia, gema do ovo, milho gelatinizado e moído, mamão e banana. Tanto a formulação caseira como a comercial, utilizadas neste trabalho, possuíam esses compostos como fontes proteicas, o que reafirma a possibilidade de essas dietas serem utilizadas para a alimentação de filhotes de psitacídeos; entretanto, há necessidade de mais estudos acerca da 118

Figura 13 - Avaliação biométrica da envergadura de filhote de Amazona aestiva Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres

Figura 14 - Avaliação biométrica do comprimento do corpo de filhote de Amazona aestiva

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Figura 15 - Parâmetros biométricos avaliados em dois grupos de filhotes de papagaios-verdadeiros alimentados com dietas caseira e comercial

digestibilidade de ingredientes específicos para essas aves em crescimento. As rações importadas para filhotes de psitacídeos têm demonstrado resultados de ganho de peso melhores que as de fabricação interna 3; o principal fator de discrepância entre elas é o nível indicado, de 15 a 18% de extrato etéreo (EE),

nem sempre atendido pelas formulações brasileiras. A papa comercial apresentou valores menores de EE (5,89%) que o estipulado anteriormente 3, enquanto a dieta caseira cumpriu esse requisito, o que pode explicar o ganho de peso associado ao aumento das medidas biométricas avaliadas nos filhotes (Figura 16), mesmo com níveis proteicos inferiores.

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de 65 dias e peso médio de 374 ± 50g e 375 ± 69,3g (Figura 17), nos grupos alimentados com dietas caseira e comercial, respectivamente. A papa comercial apresenta maior praticidade no preparo, pois a mistura com água pode ser feita manualmente. Entretanto, caso a quantidade preparada exceda o necessário para a refeição, deve-se eliminar o que não foi consumido (indicado pelo fabricante). Por precisar de muitos ingredientes para a formulação e de um processador de alimentos, o preparo da papa caseira pode ser dificultado em criatório de aves, porém esta dieta pode ser armazenada a uma temperatura de 2 a 4ºC por AsaD – asa direita; AsaE – asa esquerda; BiA – altura do bico; BiC – comprimento do bico; BiL – largura 8 do bico; CaA altura da cabeça; CaC comprimento da cabeça; CaL – largura da cabeça; Cau cauda; CoC até 18 horas . O tratamento com – comprimento do corpo; Cul – cúlmen; Env – envergadura; GMTCa – ganho médio total com a papa casei- a dieta comercial apresentou ra; GMTCo – ganho médio total com a papa comercial; TCD – comprimento do tarso direito; TCE – com- valor total de R$ 234,00, custo primento do tarso esquerdo; TDD – diâmetro do tarso direito; TDE – diâmetro do tarso esquerdo; VMCa – 125% superior ao da dieta valor máximo com a papa caseira; VMCo – valor máximo com a papa comercial caseira, que foi de R$ 104,00. Figura 16 - Ganhos médios totais (GMT) e valores máximos (VM) de parâmetros As aves tem deficiência da biométricos avaliados em filhotes de papagaio-verdadeiro alimentados com papas enzima lactase 6, o que as impecaseira (Ca) e comercial (Co) de de digerir a lactose do leite. Entretanto, estudos 6 demonstraram que o leite em pó utiliA relação ideal de cálcio e fósforo total para o crescimenzado na formulação de algumas dietas para psitacídeos posto e a manutenção dos ossos em aves é de 1,3:1 16. A papa sui alta digestibilidade, e quando adicionado em quantidade comercial apresentou taxa de 2,04:1, superior à mencionada pequena (cujo limite não foi estipulado), não causa alterapelos autores, enquanto a caseira obteve níveis próximos ao ções clínicas. Apesar da adição do leite em pó na formulaindicado, de 1,4:1. ção caseira deste estudo, não se observaram alterações nas Na avaliação dos resultados do teste de Wilcoxon 9, foram fezes ou enfermidades clínicas nos filhotes de papagaioobservadas diferenças estatísticas (p < 0,05) entre a primeira verdadeiro. e a quinta semanas, em todos os parâmetros avaliados para as Não foi realizada a pesquisa coproparasitológica neste duas dietas isoladamente. Esses dados são importantes para estudo, entretanto, no manejo inicial das aves e previamente expressar que o ganho de peso está relacionado ao cresà divisão em dois grupos, os animais permaneceram em um cimento dos animais e não apenas à deposição de gordura. Laboratório de Ensino e Pesquisa de Animais Silvestres Já na estatística de comparação semanal entre os dois tratamentos, houve diferença significativa (p < 0,05) para as medidas de cauda e de envergadura na primeira semana, sendo que o grupo da dieta caseira apresentou médias de valores maiores (1,47 ± 0,13cm e 25,72 ± 2, 01cm, respectivamente) em relação ao que recebeu a papa comercial (1,12 ± 0,33cm e 23,56 ± 0,98cm, respectivamente). Além disso, na quarta semana, a medida de cúlmen também foi diferente estatisticamente, sendo que a formulação comercial obteve médias mais elevadas (2,77 ± 0,08cm) do que a caseira (2,74 ± 0,09cm). Os papagaios verdadeiros alcançam o peso assintótico, considerado como aquele atingido pelo animal na maturidade, de 370g próximo aos 64 dias de vida 17, dados que corroFigura 17 - Pesos (g) semanais de dois grupos de filhoboram os encontrados nesta pesquisa, uma vez que na quintes de papagaio-verdadeiro, alimentados com dieta caseira e comercial ta semana do experimento, as aves tinham idade aproximada Parâmetros AsaD AsaE BiC BiL BiA CaC CaL CaA Cau TCD TCE TDD TDE Cul Env CoC

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GMTCa(cm) GMTCo(cm) 5,95 ± 0,94 5,71 ± 0,75 5,86 ± 0,83 6,12 ± 0,69 0,63 ± 0,15 0,66 ± 0,09 0,27 ± 0,14 0,39 ± 0,13 0,63 ± 0,13 0,61 ± 0,21 1,38 ± 0,19 1,43 ± 0,28 0,7 ± 0,07 0,60 ± 0,15 0,68 ± 0,29 0,66 ± 0,17 4,01 ± 1,48 4,74 ± 1,21 0,51 ± 0,21 0,46 ± 0,13 0,57 ± 0,2 0,49 ± 0,24 0,22 ± 0,06 0,24 ± 0,11 0,2 ± 0,07 0,22 ± 0,08 0,68 ± 0,16 0,7 ± 0,15 14,26 ± 2,57 16,9 ± 1,59 9,11 ± 2,28 10,54 ± 1,94

VMCa(cm) 15,97 16,11 2,54 2,06 2,71 5,59 3,19 3,6 5,61 2,21 2,28 0,77 0,76 2,75 40,29 28,74

VMCo(cm) 15,91 16,08 2,54 2,04 2,75 5,55 3,23 3,7 5,65 2,27 2,24 0,75 0,74 2,75 39,88 28,2

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Animais silvestres mesmo recinto, o que provavelmente teria generalizado uma possível contaminação. Além disso, o tempo de desenvolvimento de tamanho, empenamento e peso ocorreu dentro do considerado ideal para a espécie em questão 1, o que faz presumir que mesmo com a presença de uma possível infecção, o crescimento dos animais não tenha sido prejudicado. Por inviabilidade financeira da instituição, não foi possível realizar a sexagem das aves. Além disso, o recebimento dos filhotes apreendidos não era esperado, o que impossibilitou um planejamento prévio e uma possível parceria com um laboratório para a realização de tal análise. Todavia, os estudos demonstraram que o sexo não influencia significativamente o ganho de peso dos papagaios-verdadeiros em fase de crescimento 11. Nenhum dos filhotes de ambos os grupos apresentou alterações comportamentais no decorrer da pesquisa, e todos aceitaram satisfatoriamente as dietas, com demonstração de interesse por meio da vocalização e procura pela seringa. Os animais permaneceram sob responsabilidade da equipe durante dois meses após o término do estudo, de modo que já se alimentavam sozinhos, e foram encaminhados a criatórios conservacionistas. Doenças nutricionais são as causas mais comuns do atendimento de psitacídeos em clínicas veterinárias 18. Dentre os sinais clínicos envolvidos em tais distúrbios encontram-se: perda de peso, descamação do bico, alteração da coloração das penas – com opacidade, enegrecimento ou presença de linhas de estresse –, e osteodistrofias – caracterizadas principalmente por diminuição da densidade óssea 18. Tais alterações são causadas principalmente por deficiência proteica, de minerais e de vitaminas, como no caso da hipovitaminose A 18. Durante o período em que foram acompanhadas pelo grupo de pesquisa, não houve óbitos ou doenças com sinais clínicos evidentes entre as aves. Todavia, faz-se necessário o desenvolvimento de novos trabalhos acerca da influência da alimentação em valores hematológicos, bioquímicos, densitometria óssea e outros exames complementares em filhotes de papagaio-verdadeiro.

h) Balança Marte (modelo AS2000C)®. Marte Balanças e Aparelhos de Precisão Ltda. Santa Rita do Sapucaí, MG i) Paquímetro Starrett®. Starrett Indústria e Comércio Ltda. Itu, SP

Referências

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07-ALLGAYER, M. C. Neonatologia de aves. In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens: medicina veterinária. 1. ed. São Paulo: Roca, 2007. p. 1128-1141.

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09-NORMANDO, D. ; TJÄDERHANE, L. ; QUINTÃO, C. C. A. A escolha do teste estatístico – um tutorial em forma de apresentação em PowerPoint. Dental Press Journal of Orthodontics, v. 15, n. 1, p. 101-106, 2010. 10-ASSOCIATION OF AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS INCORPORATED. Nutrition expert panel review: new rules for feeding pet birds. In: Official Publication – Feed Management. Atlanta: AAFCO Inc., v. 49, n. 2, 1998. 162 p. 11-CARCIOFI, A. C. ; SANFILIPPO, L. F. ; OLIVEIRA, L. D. ; AMARAL, P. P. ; PRADA, F. Protein requirements for Blue-fronted Amazon (Amazona aestiva) growth. Journal of Animal Physiology and Animal Nutrition, v. 92, n. 3, p. 363-368, 2008. 12-ROUDYBUSH, T. E. ; GRAU, C. R. Cockatiel (Nymphicus hollandicus) nutrition. The Journal of Nutrition, v. 121, n. 115, p. 206, 1991.

Conclusão A partir do presente estudo, baseado somente em parâmetros de curva de ganho de peso e exame físico, pôde-se concluir que ambas as dietas, caseira e comercial, proporcionaram ganho de peso e biométrico satisfatórios aos filhotes durante o período de avaliação. O diferencial das rações está relacionado ao fato de a formulação comercial ser mais prática, e a caseira, menos onerosa.

14-VIEITES, F. M. Electrolyte balance and crude protein levels on the performance of broiler chicks from 1 to 21 days of age. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 6, p. 1734-1746, 2004.

a) Milharina®. Quaker Brasil Ltda. Rio de Janeiro, RJ b) Neston três cereais®. Nestle Brasil Ltda. São Paulo, SP c) Leite em pó integral Itambé®. Itambé Ltda. Belo Horizonte, MG d) Polpa integral de goiaba Brasfrut®. Feira de Santana, BA e) Avitrin cálcio®. Coveli Indústria e Comércio Ldta. Duque de Caxias, RJ f) Labcon club revitalizante®. Indústria e Comércio de Alimentos Desidratados Alcon Ltda. Camboriú, SC g) Megazoo I20®. Rações Megazoo. Betim, MG

17-SEIXAS, G. H. F. ; MOURÃO, G. M. Nesting success and hatching survival of the Blue-fronted Amazon (Amazona aestiva) in the Pantanal of Mato Grosso do Sul, Brazil. Journal of Field Ornithology, v. 73, n. 4, p. 399-409, 2002.

Produtos utilizados

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13-SAKOMURA, N. K. ; SILVA, R. Conceitos inovadores aplicáveis à nutrição de não ruminantes. Caderno Técnico da Escola de Veterinária da UFMG, n. 22, p. 125-146, 1998.

15-KOUTSOS, E. A. ; SMITH, J. ; WOODS, L. ; KLASING, K. C. Adult cockatiels (Nymphicus hollandicus) undergo metabolic adaptation to high protein diets. The Journal of Nutrition, v. 131, p. 2014-2020, 2001. 16-ROSTAGNO, H. S. ; ALBINO, L. F. T. ; DONZELE, J. L. ; GOMES, P. C. ; FERREIRA, A. S. ; OLIVEIRA, R. F. ; LOPES, D. C. ; BARRETO, S. L. T. Tabelas brasileiras para aves e suínos: composição de alimentos e exigências nutricionais. 2. ed. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2005. 186 p.

18-CARCIOFI, A. C. ; OLIVEIRA, L. D. Doenças nutricionais. In: CUBAS, Z. S. ; SILVA, J. C. R. ; CATÃO-DIAS, J. L. Tratado de animais selvagens: Medicina veterinária. 1. ed. São Paulo: Roca, 2007. p. 838-864.

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HOMEOPATIA

O vitalismo e sua influência na homeopatia

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esde o início da medicina, formaram-se duas linhas distintas de pensamento a relativas à origem das doenças. Uma dessas linhas de pensamento evoluiu a partir da premissa de que um estímulo químico, físico ou biológico que atua em um órgão pode desequilibrá-lo, ocasionando consequentemente o desequilíbrio do sistema do qual o órgão faz parte. O desequilíbrio do sistema ocasiona então o desequilíbrio do organismo, e o conjunto de sinais e sintomas clínicos está relacionado com esse grau de desequilíbrio do organismo. Diante do exposto, se fosse possível eliminar o estímulo químico, físico e biológico inicial e dar condições para que o órgão se recuperasse, ocorreria o reequilíbrio do sistema e, consequentemente, do organismo. A descrição dessa linha de pensamento apoia-se num raciocínio mecanicista, que difere totalmente do raciocínio vitalista adotado pelos homeopatas. O raciocínio lógico baseado nos sinais clínicos e em exames complementares, característico do sistema educacional que vem apoiando esses princípios desde a década de 1940, ajudou muito a propagar as ideias dessa linha de pensamento, de tal forma que a população tanto dos indivíduos relacionados à saúde quanto dos usuários do sistema de saúde acaba por se tornar refratária a outros tipos de raciocínios diferentes do descrito anteriormente. Este raciocínio mecanicista, no entanto, tem dificuldades em responder a alguns questionamentos, como por exemplo, as situações em que dois indivíduos com lesões muito semelhantes nos mesmos órgãos acabam exibindo sintomas clínicos muito diferentes.

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Um exemplo: ao estudar animais com pneumonia que apresentam lesões pulmonares em áreas e extensões semelhantes, verifica-se que alguns animais querem companhia desesperadamente, não bebem água e procuram locais abertos, enquanto outros se isolam, bebem muita água e ficam deitados escondidos em um canto, evitando fazer movimento a qualquer custo. Nesses casos, pode-se verificar que, apesar dos animais apresentarem lesões pulmonares semelhantes, elas estão associadas de modo diferente a sinais clínicos gerais como sede, melhora em locais abertos, evitar movimentos, bem como a sintomas comportamentais como o desejo ou não da presença de pessoas ao seu lado. Como explicar tal fenômeno? Os vitalistas entendem que todo organismo vivo é animado por um princípio vital, e quando este se desequilibra, acaba por somatizar em um órgão sensível. Ou seja, a doença presente em algo imaterial se torna perceptível e, quando corretamente diagnosticada, pode-se buscar a cura real, que não tem como foco o quadro pneumônico, mas sim o desequilíbrio do princípio vital que anima o corpo físico. Fica muito evidente no exemplo citado que enquanto na linha mecanicista há dois casos de animais doentes que expressam sua doença por meio de um quadro pneumônico, para um vitalista, a doença a ser curada é completamente diferente, pois os princípios vitais que animam os corpos físicos estão desequilibrados de maneiras completamente diversas. Para um mecanicista, os animais deixarão de estar doentes quando a pneumonia desaparecer, porém para um vitalista a doença só se extinguirá quando o princípio vital que anima o corpo físico voltar a se equilibrar, quer a pneumonia

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desapareça ou não, pois a persistência do desequilíbrio do princípio vital pode somatizar com a recidiva do processo ou a manifestação de um novo processo pode somatizar em outro órgão sensível. Os sinais como sede, melhora em locais abertos, evitar movimentos, bem como sintomas comportamentais, como desejo ou não da presença de pessoas ao seu lado, para um mecanicista não apresentam valor algum, enquanto para um vitalista demonstram que houve estímulos e respostas diferentes nos princípios vitais que animam os corpos físicos doentes. Quando o animal apresentar desejo de companhia sem desespero ou aversão, sede sem ausência ou exagero, e deixar de apresentar alterações comportamentais que incluam agitação, não haverá mais necessidade de que o organismo somatize por meio de um quadro clínico pneumônico, pois o princípio vital voltará a ficar equilibrado e, portanto, o indivíduo estará curado. Para os profissionais que sempre endossaram a visão mecanicista, é muito difícil aceitar que o reequilíbrio do princípio vital seja capaz de eliminar uma pneumonia, porém na prática pode-se verificar que o fenômeno de cura completa, ou seja, sem recidiva ou alteração de órgão sensível, ocorre quando o princípio vital é estimulado de maneira correta e evolui para o reequilíbrio. Quando um animal apresenta diarreia, um mecanicista entende que um vírus ou uma bactéria desequilibrou a microbiota intestinal, ocasionando a doença. Para um vitalista, porém, o processo é diferente: ele entende que o princípio vital desequilibrado cria um determinado campo magnético no organismo por ele animado que permite a fixação, multiplicação e invasão de um microrganismo, e que portanto, a presença do microrganismo no corpo do indivíduo doente está relacionada com o campo magnético criado pelo princípio vital desequilibrado, que, ao se reequilibrar novamente não mais permitirá a fixação, multiplicação e invasão do microrganismo,

eliminando consequentemente o processo diarreico. Quando se aprende a raciocinar de maneira vitalista, altera-se a visão que se tem das causas das doenças: passamos a ver que o organismo não adoece devido a estímulos químicos, físicos ou biológicos, mas sim devido às alterações dos campos magnéticos relacionados com o princípio vital que anima o corpo físico. Traçando uma analogia, verifica-se que em um lar, por exemplo, quando ocorre desequilíbrio entre os membros da casa, inicialmente as plantas ficam doentes, seguidas pelos animais, depois pelas crianças e finalmente pelos seres humanos adultos presentes nesse campo magnético. Quando o campo magnético de uma área fica desequilibrado, ocorre forte influência sobre o princípio vital que equilibra os seres vivos que habitam essa área. Os princípios vitais mais primitivos (plantas e animais) são os primeiros a sentir essa influência, e os princípios vitais dos seres humanos são os últimos a ser afetados. Por outro lado, os princípios vitais provenientes de seres humanos influenciam mais o campo magnético da área por eles habitada, portanto, os seres humanos frequentemente são capazes de desequilibrar os princípios vitais de plantas e animais, e até das crianças. Qualquer médico veterinário já observou grandes diferenças de comportamento do animal quando este é levado a uma clínica veterinária. É lógico que o comportamento do animal se altera devido às características do ambiente, porém há necessidade de um estímulo, e o campo magnético de uma clínica veterinária pode ser estímulo suficiente para desequilibrar um princípio vital, principalmente se o animal estiver sendo levado para fins profiláticos, pois os estímulos de campos magnéticos afetam mais um princípio vital pouco desequilibrado ou normal do que um princípio vital desequilibrado, no qual a doença está instalada e é refratária a outros estímulos. As informações transmitidas anteriormente são muito difíceis de entender quando se discute em tese. Assim, poder-se-ia analisar um exemplo para ver como se raciocina

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HOMEOPATIA

em casos práticos. Ao se verificar um quadro de cães jovens com sinais clínicos de gastrenterite hemorrágica, pode-se dizer que eles estão doentes, pois estão infectados pelo parvovírus, apresentando uma doença denominada parvovirose. Na visão vitalista, entende-se que os animais jovens que se encontraram em um determinado campo magnético alteraram o seu princípio vital de tal forma que passaram a permitir que os parvovírus presentes alí conseguissem se aderir, multiplicar-se e invadir o organismo, somatizando sinais clínicos que caracterizam uma gastrenterite hemorrágica. Se um campo magnético consegue alterar um princípio vital de um indivíduo e, se este tiver contato com um vírus da parvovirose, pode fazê-lo somatizar com um quadro de gastrenterite hemorrágica. Da mesma forma, o medicamento homeopático tem capacidade de interferir no princípio vital, ocasionando reação semelhante. Os medicamentos homeopáticos que apresentam capacidade de alterar o princípio vital de maneira a somatizar com um quadro de gastrenterite hemorrágica são: Cantharis, Carbo vegetabilis, Lachesis, Phosphorus e Rhus toxicodendrum. Os estímulos do medicamento Cantharis no princípio vital produzem processos inflamatórios muito intensos no tubo gastrintestinal, principalmente na porção final do intestino. Frequentemente são associados a processos inflamatórios agudos em todo o trato urinário. Verificam-se emagrecimento com extrema fraqueza, desmaios e convulsões, e o animal uiva. Esse indivíduo é muito ansioso e inquieto, e esta condição é muitas vezes acompanhada de delírio furioso. Quando se utiliza Carbo vegetabilis para desequilibrar o princípio vital, verifica-se uma ação muito intensa nos animais mais idosos, com quadro de fraqueza que pode até chegar à caquexia. Além de se verificarem tendências a hemorragias e flatulência, também se observa que o animal deseja ficar próximo ao proprietário, não faz muito movimento e frequentemente pede colo. O veneno da cobra Crotalus horridus dinamizado desequilibra o princípio vital, produzindo sangramento por todos os orifícios do corpo e inchaço em todo o corpo, principalmente na cabeça. O animal fica fatigado ao menor esforço, apresenta taquicardia com pulso rápido e fraco, tremores no corpo e hemorragias que evoluem para icterícia. Lachesis atua no princípio vital produzindo sintomas e sinais clínicos como tremores, contrações involuntárias e desmaios e o animal tenta fugir. Podem-se observar tendências a supuração e a processos inflamatórios gangrenosos. Frequentemente ocorrem processos na garganta, há tendência a inflamações com lateralidade esquerda e a taquicardia com ansiedade. Os processos inflamatórios gerados por desequilíbrio do princípio vital após a administração do medicamento Phosphorus dinamizado são destrutivos, com hemorragia e emagrecimento generalizado, que com frequência se agrava quando o animal deita, principalmente do lado esquerdo. O quadro também é agravado por estímulos emocionais, toque, odores, luzes, frio, ar aberto, mudanças de tempo e vento frio, e o animal apresenta melhora do quadro clínico quando se alimenta, dorme e bebe. As hemorragias podem ocorrer 126

por todos os orifícios do corpo, o sangue é fluido e de difícil coagulação. Os processos associados ao sistema nervoso acometem o encéfalo e a medula e o animal apresenta tremores e paralisação. Nos processos inflamatórios dos ossos, verifica-se necrose da mandíbula e calcificações nas vértebras. Nos sistema respiratório verificam-se inflamações crônicas da laringe e dos pulmões, portanto, processos pouco doloridos, com expectoração purulenta, com muco muito tenaz e sanguinolento. No sistema cardiovascular pode-se verificar sopro cardíaco, taquicardia e anemia. Como observamos, vários medicamentos homeopáticos podem desequilibrar o princípio vital, ocasionando um quadro de gastrenterite hemorrágica, porém os desequilíbrios que esses medicamentos causam no princípio vital não são totalmente semelhantes. Observam-se sintomas comportamentais e sinais clínicos gerais que aparentemente não estão ligados ao processo, mas que caracterizam o desequilíbrio do princípio vital, e, utilizando a lei dos semelhantes, pode-se selecionar o medicamento mais indicado para a situação em questão. Com frequência, os homeopatas são questionados sobre qual seria o melhor medicamento para determinados quadros clínicos, como, por exemplo, a parvovirose; mas dificilmente um homeopata indica um medicamento, pois deve considerar quais os sintomas comportamentais e sinais gerais envolvidos no processo. Por outro lado, se numa determinada área, seja uma residência, um quarteirão, um condomínio, um bairro etc., esses sinais se repetirem, pode-se utilizar o medicamento selecionado profilaticamente com bons resultados.

Considerações finais As doenças estão associadas ao desequilíbrio do princípio vital que anima o corpo. A terapêutica homeopática atua diretamente na causa da doença, que é o desequilíbrio do princípio vital, e não nos sinais clínicos. O medicamento homeopático pode ser utilizado profilaticamente com base na seleção do medicamento a partir da sua ação geral.

Nilson Roberti Benites Professor associado do Depto. de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ/USP benites@usp.br

Priscilla Anne Melville Médica veterinária, dra., responsável pelo Laboratório de Bacteriologia e Micologia do Depto. de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da FMVZ/USP

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COMPORTAMENTO

Importância da consciência e cognição animal

O

termo cognição pode ser definido como o mecanismo por meio do qual os animais adquirem, processam, armazenam e agem em relação às informações ambientais, envolvendo aprendizado e memória 1. Já a consciência é um estado subjetivo de sentimentos e de percepção 2 , envolvendo sentir ou pensar sobre objetos ou eventos, em estado mentalmente ciente de algo. A senciência pode ser definida como a capacidade de um indivíduo de experimentar estados de prazer, como a felicidade, e estados aversivos, como dor e medo, de forma consciente. Para Broom 3, a senciência vai além da capacidade de ter sentimentos: um ser senciente avalia as ações de outros em relação a si mesmo e a terceiros, é capaz de lembrar de suas próprias ações, prever riscos e agir de forma consciente. Dessa forma, senciência e consciência podem ser sinônimos, quando se faz alusão a níveis básicos de consciência. São tais níveis de consciência que caracterizam a necessidade de nos preocuparmos com o bem-estar. Surge então uma importante questão: os animais são conscientes? “Não é mais possível dizer que não sabíamos” Em entrevista ao site da revista Veja, de 16 de julho de 2012,4 o neurocientista Philip Low ponderou que foi fácil e conveniente afirmar que os animais não têm consciência. Tal crença na ausência de consciência animal é herança da filosofia cartesiana, sendo obsoleta em mais de trezentos anos de conhecimento. A relutância da comunidade científica em reconhecer as habilidades mentais dos animais retardou o desenvolvimento da ciência do bem-estar animal.

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Como não podemos mais dizer que não sabemos que os animais são conscientes, mais relevante para o conhecimento atual é a pergunta: Quais animais são conscientes? O cão é? E a pulga? Griffin e Speck 2 sugerem considerar as características da consciência animal em termos de probabilidade de consciência (pC), em uma escala de zero a 1. Se há completa certeza de que um ser é consciente, então sua pC é igual a 1; este é o caso do ser humano. Admitindo a incerteza sobre a mente de outras espécies, o sensato parece ser a conclusão de que, nestes casos, a pC seja considerada inicialmente 0,5. Porém, na prática, houve uma tendência não fundamentada a assumir consciência zero diante do desconhecimento. Tal deliberação não tem base científica, pois ninguém provou que os animais não são conscientes. Entretanto, essa constatação raramente é exigida 5. Griffin e Speck 2 afirmam que há várias evidências de que a pC em animais vertebrados seja bem acima de 0,5. Evidências comportamentais da cognição animal são amplamente descritas na literatura científica atual. Alguns exemplos são comportamentos complexos ou versáteis, ou também chamados cognitivos; aprendizado e memória; e a comunicação. Se um animal Comportamentos complexos são é similar ao ser aqueles que não podem ser explihumano em termos cados por associações simples ou de consciência reflexos. São respostas apropriabásica, podem das a novos desafios aos quais o surgir maiores animal não é geneticamente premotivações para parado e não foi anteriormente realizar pesquisa exposto. Diversos trabalhos moscom ele e, ao tram animais realizando tarefas mesmo tempo, complexas, como construção de menor justificação ferramentas por corvos, uso de insmoral para tal trumentos para resolver problemas por papagaios e trabalho em equipe por peixes. Em tarefas específicas, alguns animais têm habilidades surpreendentes. Por exemplo, em um teste para memorizar locais de armazenamento de alimento, alguns

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pássaros memorizaram centenas ou até milhares de locais, enquanto seres humanos lembraram em torno de doze. A comunicação entre animais também pode nos oferecer indicativos de estados de consciência. Um exemplo é o aviso da presença de predador, dado por um animal ao resto do grupo. Chimpanzés vocalizam de maneira específica quando um leopardo se aproxima; esse grito leva seus companheiros a fugir da predação. Não sabemos se estão conscientemente alertando seus companheiros a fugir, mas uma hipótese plausível é a de uma consciência de que um predador se aproxima. Uma vez que se reconhece a cognição e a consciência em diferentes espécies, torna-se importante refletir sobre as implicações de nossos atos. Se um animal é similar ao ser humano em termos de consciência básica, podem surgir maiores motivações para realizar pesquisa com ele e, ao mesmo tempo, menor justificação moral para tal. Em relação ao uso de animais para produção e companhia, Rollin 6 afirma que, ao domesticar animais e torná-los dependentes de nós, ficamos sujeitos à obrigação moral de garantir seu bemestar. As necessidades de bem-estar de um animal senciente e com alta capacidade cognitiva são diferenciadas. Se um macaco tem capacidade de desenvolver comportamentos complexos, comunicar-se e interagir de forma versátil em seu ambiente, não é suficiente lhe fornecer água e alimento em ambiente de cativeiro. As considerações éticas abordadas são duplamente importantes para profissionais que trabalham com animais. Além da obrigação moral intrínseca, a sociedade espera que o médico veterinário desempenhe o papel de cuidar dos animais. Assim, é imprescindível considerar as necessidades e a complexidade dos animais que estão sob nossa responsabilidade. Para atender à demanda da sociedade, o médico veterinário necessita atuar sempre considerando as bases técnicas, éticas e normativas do bem-estar animal.

Bibliografia sugerida

1-SHETTLEWORTH, S. J. Cognition, evolution and behaviour. Oxford University Press, Oxford, 1998. 2-GRIFFIN, D. R. SPECK, G. B. New evidence of animal consciousness. Animal Cognition, v. 7, p. 5-18, 2004. 3-BROOM, D. M. The evolution of morality. Applied Animal Behaviour Science, v. 100, p. 20-28, 2006. 4-LOW, P. Entrevista: 16 de julho de 2012, por Marco Túlio Pires. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/nao-e-mais-possivel-dizer-quenao-sabiamos-diz-philip-low. Acessado em julho de 2012. 5-MOLENTO, C.F.M. 2005. Senciência. Conselho Regional de Medicina Veterinária. 1p. Disponível em: http://www.crmv-pr.com.br. Acessado em julho de 2012. 6-ROLLIN, B. E. A ética do dontrole da dor em animais de dompanhia. In: HELLEBREKERS, L. J. Dor em animais. Manole. p.17-35, 2002.

AUTORES Carla Forte Maiolino Molento – Médica

Veterinária. Pós-doutora. Professora Adjunto, Coordenadora do LABEA – Laboratório de Bemestar Animal, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR carlamolento@ufpr.br

Janaína

Hammerschmidt – Médica Veterinária. Mestre. Pesquisadora associada LABEA. – Laboratório de Bem-estar Animal, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR jahna@hotmail.com

Larissa Helena Ersching Rüncos – Médica Veterinária. Mestranda do LABEA. – Laboratório de Bem-estar Animal, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR lr.comportamento@gmail.com

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MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

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Perícia em bem-estar animal para diagnóstico de maus-tratos

spera-se que a relação entre seres humanos e animais seja positiva. No entanto, interações negativas de maus-tratos contra animais também são relatadas. No Brasil, a Lei de Crimes Ambientais n. 9.605, de 1998, é o principal instrumento jurídico em defesa dos animais 1. Para que seja feita a verificação de situações nas quais há suspeita de maus-tratos, é necessário mensurar o grau de bemestar dos animais envolvidos, a fim de estimar o sofrimento animal e o enquadramento ou não como maus-tratos. Tendo em vista a crescente demanda social para atendimento dos casos de suspeita de maus-tratos contra animais no Brasil e a carência dessa abordagem estruturada na literatura científica, o Laboratório de Bem-estar Animal (Labea), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), desenvolveu, no âmbito das atividades de um projeto de mestrado 2, uma metodologia de perícia em bem-estar animal, aplicável em diferentes situações de manutenção de animais, com vistas ao diagnóstico técnico de situações de suspeita de maus-tratos e à transposição de tal diagnóstico para os termos referidos nas leis de proteção animal. Partiu-se do princípio de que o trabalho de diagnóstico do grau de bem-estar pode ser substancialmente aprimorado por uma atuação técnica, estruturada e fundamentada nas bases teóricas da ciência do bem-estar animal. A metodologia de perícia foi baseada no conceito das Cinco Liberdades 3, que foram descritas por Molento 4 como: (1) liberdade nutricional: livre de fome, sede e subnutrição; (2) liberdade ambiental: livre de desconforto; (3) liberdade sanitária: livre de dor, doenças e ferimentos; (4) liberdade comportamental: livre para executar o seu comportamento natural; e (5) liberdade psicológica: livre de medo e de sofrimento. As liberdades sugerem o estado ideal de um indivíduo respeitando-se os padrões aceitáveis dos elementos listados, e formam uma estrutura lógica, 130

prática e ampla para a análise do bemestar dentro de qualquer sistema de manutenção de animais. A ficha elaborada compreendeu uma variedade de itens para representá-las e compor as esferas física, comportamental e psicológica do bem-estar animal. Foram utilizados indicadores diretos de observação do animal, como os quesitos fisio-

lógicos e comportamentais, e indicadores indiretos, como a observação do meio ambiente e de seus recursos (Figura 1). O preenchimento da ficha foi baseado no conhecimento científico acerca da avaliação do bem-estar animal. O enquadramento do grau de bem-estar foi realizado pelo julgamento conjunto Figura 1 - Avaliação do grau de bem-estar utilizando indicadores diretos de observação do animal, como quesitos fisiológicos e comportamentais, e indicadores indiretos, como observações do meio ambiente e seus recursos

Liberdade

Nutricional Ambiental Sanitária Comportamental

Psicológica

Itens propostos na metodologia

Escore corporal Itens da alimentação Qualidade do alimento Disponibilidade de água fresca

Superfícies de contato com o animal Presença de abrigo Presença de superfície confortável para descanso Movimentação que não cause desconforto

Atendimento veterinário, vacinação e desverminação Exame clínico Histórico de doença Presença de dor: avaliação do comportamento

Recursos ambientais disponíveis Espaço disponível para movimentação Possibilidade de contato social Possibilidade de execução de comportamentos de alta motivação

Avaliação comportamental da presença de medo Comprometimento das demais liberdades Sofrimento decorrente do comprometimento das demais liberdades

Figura 2 - Exemplos de indicadores utilizados para a avaliação das Cinco Liberdades na proposta de metodologia de perícia em bem-estar animal desenvolvida no âmbito das atividades do Laboratório de Bem-estar Animal – LABEA /UFPR 2

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das cinco liberdades. Ao término da avaliação de cada liberdade, foi proferido um grau de restrição a ela, com base nos quesitos estabelecidos, de acordo com três níveis: liberdade respeitada, moderadamente restrita ou severamente restrita. O grau de bem-estar geral, integrando os níveis das Cinco Liberdades, foi dividido em uma escala de cinco graus: muito alto, alto, regular, baixo e muito baixo. Graus de bemestar baixo e muito baixo foram considerados inaceitáveis. Graus de bemestar regular em situações com alguma restrição foram considerados aceitáveis, desde que com a previsão de correção e o consequente incremento do grau de bem-estar. Graus de bem-estar alto e muito alto foram considerados desejáveis para os animais avaliados. Após a determinação do grau de bemestar, foi deliberada a probabilidade de sofrimento do animal, de muito baixa a muito alta. Tal deliberação resultou na emissão de parecer vinculado à ocorrência de maus-tratos no momento da avaliação e na identificação das condições responsáveis pela provável ocorrência de sofrimento. Embora haja subjetividade intrínseca em tal deliberação, a proposta é que a transição do diagnóstico de bem-estar para a terminologia legal possa ser enriquecida pela perspectiva do conhecimento técnico. O

médico veterinário deve ocupar seu espaço como perito em crimes contra os animais de forma técnica e fundamentada, sendo que entre essas atribuições está o conhecimento da ciência do bem-estar animal, principalmente no que tange à avaliação dos sentimentos dos animais e ao reconhecimento de maus-tratos também em casos nos quais não existe lesão física evidente. Para verificar sua viabilidade, a metodologia foi aplicada em diferentes cenários de manutenção de animais, como em situações de denúncias de maus-tratos contra cães e gatos domiciliados, semidomiciliados e comunitários, estabelecimentos de comércio de animais e cavalos de carroceiros. A metodologia mostrou-se útil e viável nos diferentes cenários utilizados, pois permitiu a diferenciação dos graus de bem-estar em escala compatível com a informação necessária para a tomada Carla Forte Maiolino Molento Médica veterinária. Mestre. Doutora. Professora adjunto de Comportamento e Bem-estar Animal da Universidade Federal do Paraná e coordenadora do Laboratório de BemEstar Animal - LABEA/UFPR

de decisão quanto à existência de maus-tratos. Bibliografia sugerida

1-Brasil. Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Publicada no Diário Oficial da União em 13 de fevereiro de 1998.

2-HAMMERSCHMIDT, J. Desenvolvimento e aplicação de perícia em bem-estar animal. 138f. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.

3-FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL FAWC. Second report on priorities for research and development in farm animal welfare. London: Ministry of Agriculture, Fisheries and Food, 1993.

4-Molento, C. F. M. Repensando as cinco liberdades. In:____I Congresso Internacional Conceitos em Bem-estar Animal, Rio de Janeiro, Anais (Resumo). 2006. Disponível em: <http://www.labea.ufpr.br/publicacoes/pdf/WSPA %202006%20Cinco%20Liberdades%20portugu%EAs%20-20REPENSANDO%20AS%20CINCO%20LIBERDADES.pdf> Acesso em 10 de setembro de 2010.

Janaina Hammerschmidt Médica veterinária. Mestre. Pesquisadora Associada ao Laboratório de BemEstar Animal LABEA/UFPR


PET FOOD

Ingrediente, nutriente, suplemento e alimento funcional para cães e gatos Uma nutrição cada vez mais específica. A era da nutrição funcional

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á quase 50 anos, os alimentos industrializados revolucionaram as condições de vida dos animais de estimação. Estima-se que nos últimos 25 anos, os cães ganharam em média 4 e os gatos 6 anos de vida suplementares. Até o início da década de 1980, os animais eram alimentados apenas para eliminar a fome. A partir de 1980 a nutrição de cães passa a levar em consideração dois parâmetros como base: a idade e o nível de atividade física do animal. Na década de 1990 ocorreram mudanças significativas, resultantes de trabalhos científicos inovadores, e a partir daí surgiram novos conceitos, trazendo para o setor da indústria de alimentos para cães e gatos e para os profissionais da área uma nova visão que consistia não apenas em alimentar, mas em nutrir, e cujo foco mais importante passou a ser a manutenção e a preservação da saúde. Nos últimos anos os parâmetros se tornaram mais abrangentes e as dimensões atuais, além de avaliarem a idade e o nível de atividade física, passaram a observar também o estado fisiológico dos indivíduos (filhotes, fêmeas gestantes, fêmeas lactantes, animais velhos) e as condições de saúde (animais sadios, animais doentes, convalescentes, etc.). Assim como para os seres humanos, a prevenção contra as principais doenças estudadas ganhou espaço e a nutrição passou a ser uma forte aliada. O conceito de pet ou do animal de estimação como parte da família tornou-se realidade por inúmeros fatores. Com a expansão dos grandes centros urbanos, os animais de estimação passam a assumir um papel importante, suprindo a carência de companhia das pessoas que vivem 132

em pequenos espaços. Além de desempenharem um papel importante na qualidade de vida de seus proprietários, eles também podem atuar como apoio em situações estresse, como no caso de separações e perda de pessoas próximas. A importância dessa companhia torna-se mais evidente no relacionamento com as crianças e idosos. Em particular com as crianças, essas características estão relacionadas com as obrigações para com o animal, que ajudam a desenvolver características fundamentais da personalidade infantil, como o afeto, a confiança e a responsabilidade. O aumento do envelhecimento da população humana acima da faixa etária de 60 anos também é outro fator que deve ser levado em consideração. Os idosos culturalmente mais elevados e com poder aquisitivo maior buscam nos animais de companhia uma maneira de se ocupar e se tornar úteis. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), existem atualmente no país cerca de 37,5 milhões de cães e 19,8 milhões de gatos domiciliados – a segunda maior população do planeta. Ainda de acordo com a Abinpet, o Brasil é o primeiro mercado produtor de alimentos industrializados para animais de estimação na América Latina, e o segundo do mundo em produção e faturamento, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. No ano de 2011 a produção brasileira foi de 1,9 milhão de toneladas e apresentou um faturamento de quase R$9 bilhões. No Brasil, mais de 40% dos animais domiciliados são alimentados com alimentos industrializados, que estão divididos em categorias (básico,

padrão, premium e superpremium), de acordo com os aspectos qualitativos de sua composição. Dois fatores contribuíram para a expansão do segmento: o poder aquisitivo das populações dos grandes centros aumentou e os padrões de consumo se sofisticaram. Por outro lado, a evolução dos hábitos em favor dos alimentos industrializados está associada a um conjunto de fatores cada vez mais difundidos: alimentação sadia, equilibrada e com grande variedade de produtos disponíveis no mercado – e principalmente a praticidade. Paralelamente à velocidade em que o mundo atual caminha e ao estresse provocado pelo estilo de vida que se leva nos grandes centros urbanos, o século XXI traz como característica marcante o conceito de saúde física e bemestar a todo custo. Por meio dessas bases, os nutricionistas passaram a ter um papel importante na prevenção, no tratamento e no acompanhamento da saúde das pessoas. E o que podemos observar é que esses conceitos se estenderam também aos animais de estimação. Com essas similaridades, era de se esperar que os avanços na nutrição de cães e gatos caminhassem paralelamente aos obtidos na nutrição dos seres humanos, com foco principal nos alimentos funcionais. A NUTRIÇÃO Básica A nutrição de base tem como principal objetivo fornecer ingredientes e nutrientes em quantidades mínimas para construir e preservar o organismo. As fontes de energia provenientes dos lipídeos, dos glicídeos e das proteínas fornecem ao animal a energia necessária para a sua manutenção.

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Preventiva Alguns ingredientes funcionais são utilizados na prevenção de algumas doenças, como por exemplo: doença renal crônica (ß fósforo), doenças gastrintestinais (FOS e MOS) e envelhecimento (antioxidantes).

De apoio ao tratamento de doenças Apresentam como principal objetivo restabelecer a saúde do animal que foi acometido por uma determinada doença. Alguns ingredientes ou nutrientes adicionados ao alimento ou contidos nele podem favorecer o tratamento, como na cardiopatia taurina, e nas doenças osteoarticulares, os condroprotetores (condroitina e glucosamina) entre outros. INGREDIENTES Os ingredientes são as fontes que fornecem os nutrientes. Exemplos de ingredientes:

Naturais Derivados ou extraídos diretamente de plantas ou de animais e minerais.

Sintéticos As substâncias sintéticas são componentes produzidos artificialmente por meio de reações químicas. São substâncias naturais quimicamente modificadas para produzir outras que resistam, por exemplo, ao processo de fabricação. Purificados Passam por processos de extração em que o principal objetivo é a obtenção de extratos purificados e com propriedades ativas mais específicas e em

maior concentração e disponibilidade.

Orgânicos São produzidos de acordo com padrões regulamentados por leis. Para as culturas de plantas isso significa crescer sem a utilização de pesticidas convencionais e fertilizantes artificiais, e que tenham sido processados sem radiação ionizante ou aditivos

Funcionais São as partes de um alimento que proporcionam benefícios médicos e de saúde, incluindo a prevenção e/ou tratamento da doença. Tais produtos podem abranger os nutrientes isolados, os suplementos dietéticos e o alimentos processados. Exemplos de ingredientes funcionais: • fruto-oligossacarídeos (F.O.S.); • mannan-oligossacarídeos (M.O.S.); antioxidantes; • L-carnitina; • taurina; • condroitina e glucosamina.

NUTRIENTES Nutrientes são os componentes dos ingredientes que, por sua vez, compõem o alimento. Os nutrientes que o organismo não consegue sintetizar e que devem ser fornecidos pela dieta são denominados nutrientes essenciais. Os nutrientes com ações específicas são denominados nutrientes funcionais. SUPLEMENTOS Os suplementos alimentares são preparações destinadas a complementar a dieta e fornecer nutrientes como vita-

minas, minerais, fibras, ácidos graxos ou aminoácidos que podem estar faltando ou não podem ser consumidos em quantidades suficientes na dieta de um indivíduo. Os suplementos alimentares que apresentam em sua composição nutrientes funcionais e uma indicação específica são denominados suplementos funcionais. ALIMENTOS FUNCIONAIS Alimento funcional é a denominação dada a todo alimento que, além das funções nutricionais básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produz efeitos metabólicos e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão profissional. Os alimentos funcionais apresentam em sua composição ingredientes que trazem os nutrientes com ações específicas e que podem auxiliar na prevenção e no tratamento de algumas doenças – antes também chamados de nutracêuticos. Dentre essas nomenclaturas, a mais utilizada e aceita atualmente, na nutrição humana é alimentos funcionais. O termo “alimento funcional” passou a ser mais adequado por se referir ao alimento que é “específico para a saúde”, sem ter a conotação de medicamento. Os nutricionistas também fazem questão de deixar claro que o termo “nutracêutico”, comumente usado como sinônimo de alimento funcional, é inadequado. A palavra, adotada inicialmente nos Estados Unidos, não foi aprovada por pesquisadores e consumidores, por sua

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PET FOOD

semelhança com a palavra “farmacêutico” e a sua automática associação com medicamentos. De maneira geral, os alimentos funcionais são vistos como promotores de saúde e podem estar associados à diminuição dos riscos de algumas doenças crônicas. Os alimentos podem ser formulados ou modificados pela adição de nutrientes tais como: - vitaminas com ações antioxidantes (vitaminas E e C); - ácidos graxos poli-insaturados (EPA e DHA); - pré e probióticos (FOS, MOS, Lactobacillus) e tornarem-se assim “alimentos funcionais”. Assim, a nutrição de cães e gatos tem progredido tanto quanto a nutrição humana com a incorporação de substâncias funcionais aos alimentos para animais. Por isso, é muito importante conhecer todas as novidades que vêm sendo lançadas no mercado veterinário e estar apto a praticar a nutrição funcional. Em uma clínica, sua aplicação visaria atender às necessidades específicas de cada pacientes, mas também pode fazer parte da estratégia de marketing de uma creche ou de um hotel para cães e gatos. Assim como também pode fazer parte de um programa de manejo em um abrigo, canil ou gatil. Com esse amplo leque de aplicação e de diferentes prescrições disponíveis, entramos na era da nutrição funcional. NUTRIÇÃO FUNCIONAL É a ampliação do conceito básico de alimentação e nutrição, não apenas "nutrindo", mas atendendo às

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necessidades específicas. A nutrição funcional respeita o metabolismo e a funcionalidade bioquímica de cada espécie, visando corrigir os desequilíbrios nutricionais que sobrecarregam os cães e gatos e melhoram assim a qualidade de vida. É fundamentada no equilíbrio e na biodisponibilidade dos nutrientes, oferecendo-os em quantidades adequadas, otimizando a absorção e o aproveitamento pelo organismo. É a ampliação do conceito básico de alimentação e nutrição: além de nutrir, atende também às necessidades específicas. Bibliografia sugerida

ABINPET 2012 (Associação Brasileira da Industria de Produtos para Animais de Estimação – Informativo Mercado Pet Brasil. ALLEN T. A. The effect of Carnitine supplementation on bode composition in obesiteprone dogs. (L-carnitine? What different does it make?) Symposium Leuven, Belfium 15 December 1998, 41. AMERICAN FEED CONTROL OFFICIALS (AAFCO). Nutrient Profiles for Dogs and Cats. Atlanta: AAFCO Official Publication, 1994. BEYNEN, A. C. Nutraceuticals: Claims vs. evidence In: Production Symposium Trade Show – Pet Food Forum, Chicago – Illinois, p. 169-175. 2003. FAHEY, G.C., MERCHEN, N.R., CORBIN, J.E., HAMILTON, A.K., SERBE, K.A., LEWIS, S.M. AND HIRAKAWA, D.A. Dietary Fiber for dogs: I. Effects of graded levels of dietary Beet Pulp on nutrient intake, digestibility, Metabolizable Energy and digesta mean retention time. Journal of Animal Science, v. 68, p.42214228, 1990. FINKE.M.D. Controversies in Pet Nutrition. In: Production Symposium Trade Show – Pet Food Forum, Chicago – Illinois, p. 64-79, 2003 FREEMAN LM. New roles for L-carnitine and taurine in veterinary medicine. Proc. 17 ACVIM, 6, Chicago, IL 1999. HUSSEIN. S. H. Functional fiber: role in companion

animal health. In: Production Symposium Trade Show – Pet Food Forum, Chicago – Illinois, p. 125-131. 2003 KUHLMAN. G., BIOURGE, V. 1997. Nutrition of the large and giant breed dog with emphasis on skeletal development. Vet. Clin. Nutr. 4:89-95. LOWE, J. A., J. WISEMAN AND D. J. A. COLE. 1994. Absorption and retention of zinc when administered as an amino-acid chelate in the dog. J. Nutr. 124:2572s-2574s LOWE, J. A., J. WISEMAN AND D. J. A. COLE. 1994. Zinc source influences zinc retention in hair and hair growth in the dog. J. Nutr. 124:2575s-2576s LOWE, J. Protected minerals, an expensive luxury or a cost-effective necessity? In: Biotechnology in The Feed Industry. Annual Symposium, 9, Hicholasville. Proceedings. Hicholasville: Alltech Technical Publications, 1993. P. 61-69. NUTRIENT requirements of Cats, National Research Council, National Academy of Sciences, Washington DC, 1986. NUTRIENT requirements of dogs. National Research Council, National Academy of Sciences, Washington DC, 1985. REINHART, G.A. Review of Omega-3 Fatty Acids and Dietary Influences on Tissue Concentrations. In: Recent advances in canine and feline nutritional research – Ians International Nutrition Symposium, 235-242p. 1996. REINHART, G.A.; SCOTT,D.W.; MILLER,W.H.J. A Controlled Dietary Omega-6 :Omega-3 Ratio, Reduces Pruritus In Non-Food Allergic And Atopic Dogs. In: Recent advances in canine and feline nutritional research – Ians International Nutrition Symposium, p.277-283. 1996.

Yves Miceli de Carvalho

ymvet.consulting@yahoo.com.br

• Mestre em Nutrição Animal (FMVZ – USP) • Membro da Comissão Científica do CBNA • Membro do Comitê Técnico da ABINPET • Prof. da UNICASTELO – Campus Descalvado – Disciplina de Nutrição de Cães e Gatos • Professor Mestrado Profissional - Produção Animal • Conselheiro Suplente CRMV-SP • Departamento Técnico & Científico – NanoVet – Nanotecnologia em Medicina Veterinária • Nutricionista Anhambi Cães e Gatos

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MERCADO PET

Eventos aquecem mercado pet e veterinário O Rio de Janeiro é o segundo maior mercado brasileiro, e nos setores pet e veterinário isso não é diferente. A recente realização da feira Pet Rio Vet, paralelamente à Conferência Sul-Americana de Medicina Veterinária, de 8 a 10 de agosto de 2012, reuniu cerca de três mil profissionais que foram conferir as novidades em beleza e saúde para os animais de estimação. Já está agendada 2ª edição, que será de 20 a 22 de agosto de 2013, no mesmo local, o Centro de Convenções SulAmérica. Enquanto isso, aproxima-se a data do evento mais esperado do ano, a Pet South America, feira internacional de produtos e serviços para os setores pet e veterinário, a ser realizada no Expo Center Norte, em São Paulo, SP, de 16 a 18 de outubro de 2012. O credenciamento on line está disponível em: www.petsa.com.br . Outro evento importante que vem ganhando destaque na agenda nacional é a Feira Agroindustrial e de Produtos

Pet (Faipet), a ser realizada no início de setembro, em Descalvado, SP. Essa cidade do interior paulista responde por 10% do mercado nacional de produtos pet, principalmente no que concerne a alimentos para pequenos animais. Descalvado também vem ganhando destaque no setor pet por meio de exemplos de cidadania e desenvolvimento sustentável, como o Projeto Estimação,

Modelos da YMPet Vest produzidos por meio do Projeto Estimação, em Descalvado, SP

que está inserido no segmento pet por meio da confecção de roupas para animais de estimação. Esse projeto teve início em janeiro deste ano e tem como objetivo melhorar a condição de vida e a autoestima das pessoas em situação de vulnerabilidade social inscritas em programas como o Renda Cidadã e Bolsa Família, proporcionando uma renda alternativa por meio da costura. O programa é elaborado pela Prefeitura e pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social. A YMPet Vest será a empresa responsável pela comercialização das roupas para animais produzidas pelo Projeto Estimação. Outra novidade proveniente de Descalvado são os produtos da Nano Vet, a primeira marca do mercado pet e veterinário a trabalhar com nanotecnologia. Essa nova tecnologia envolve diminutas dimensões, permitindo dispositivos de alta velocidade, alta sensibilidade, altamente funcionais e efeitos especiais em superfície, como maior resistência.

Ministro anuncia criação de Cadeia Produtiva Pet

Setor terá grupo específico para discutir assuntos e projetos dentro do Ministério da Agricultura O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, anunciou a criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva dos Animais de Estimação. A decisão foi tomada no dia 11 de julho de 2012, após uma reunião com representantes da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), de entidades de criadores e parlamentares. No encontro foi destacada a importância econômica do segmento – que movimentou cerca de R$ 18,2 bilhões no ano passado e gera uma média de três milhões de empregos – e a necessidade da instalação de um grupo específico para fomentar a discussão e a implementação de políticas públicas para o setor. “É um negócio que merece a atenção de todos os estados do Brasil, pois comercializa rações, medicamentos e gera empregos o ano inteiro. Sei da sua im-

portância e do impacto que isso tem no agronegócio nacional”, destacou o ministro Mendes Ribeiro. Hoje, os assuntos relacionados à cadeia pet são tratados em um Grupo de Trabalho (GTPet) vinculado à Câmara Temática de Insumos Agropecuários. Formado por representantes do setor privado e do governo, o GTPet foi criado no ano passado e debate propostas e ações para o desenvolvimento do segmento. Como resultado desse trabalho foi elaborada a Agenda Estratégica Pet Brasil 2012-2017, em que estão apresentadas as cinco prioridades do grupo: governança da cadeia, fomento, marco regulatório, marketing e promoção e capacitação. Atualmente existem 34 câmaras setoriais e temáticas no Ministério da Agricultura. Além da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva dos Animais de Esti-

mação, encontra-se em processo final de composição a Câmara Temática de Cooperativismo Agropecuário. A coordenação é vinculada à Secretaria Executiva.

Animais de estimação São animais criados para o convívio com os seres humanos por razões afetivas, gerando uma relação benéfica. Têm como destinações principais: terapia, companhia, lazer, auxílio a portadores de necessidades especiais, esportes, ornamentação, participação em torneios e exposições, conservação, preservação, criação, melhoramento genético e trabalhos especiais. Os principais grupos animais são: aves canoras e ornamentais, domésticas, silvestres e exóticas; cães; gatos; peixes ornamentais e outros (répteis, pequenos roedores, pequenos mamíferos), domésticos, silvestres e exóticos.

Fonte: Ministério da Agricultura - www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2012/07/ministro-anuncia-criacao-de-cadeia-produtiva-pet

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GESTÃO, MARKETING & ESTRATÉGIA

Quem são os “outros”?

F

alar sobre aumento de preços, como fiz no último artigo, sempre gera discussões sobre a baixa valorização do médico veterinário no Brasil. Este tema é recorrente e causa grande angústia em todos os colegas, pois mesmo aqueles que estão no topo da profissão, em termos de salário, percebem que poderiam estar numa situação melhor se desfrutássemos do status que um médico veterinário possui nos Estados Unidos, por exemplo. Além de existir um número muito maior de animais para cada estabelecimento veterinário, é evidente que a cultura da população e a quantidade de informação sobre o mercado naquele país é muito diferente da nossa; afinal, estamos falando do berço do capitalismo e da livre iniciativa. Existem várias teorias associando o tipo de colonização de cada país com essa diferença de comportamento, mas, em resumo, nos Estados Unidos, You get what you pay for, ou seja, você recebe aquilo pelo que você paga, não sendo comum o favor, quebra-galhos e outros improvisos. Isso não significa que por lá tudo é caro; basta ver a grande quantidade de brasileiros que viajam anualmente para a Flórida para comprar roupas, tênis e eletroeletrônicos. Nesses casos, a quantidade vendida é tão grande que é possível abaixar o preço e, mesmo assim, aumentar o lucro. É importante lembrar que esse tipo de ação funciona muito melhor em produtos, principalmente se forem commodities (produtos com baixo grau de diferenciação); já para serviços a situação é diferente, e diminuir os preços sem um planejamento adequado causa quase sempre uma redução no faturamento; afinal, ao reduzir o preço de uma consulta, quantas mais deveriam ser realizadas para aumentar o lucro da clínica? E até que ponto isso poderia ser feito, já que um veterinário consegue fazer um número limitado de consultas por dia? Muitos compartilham a crença de que a melhor estratégia para atrair o consumidor é cobrar mais barato, o que não é verdade absoluta. Qual de nós, ao necessitar 138

de uma cirurgia cardíaca, procuraria o cirurgião mais barato? O iPhone é mais caro, mas vende mais do que a concorrência. Em ambos os casos, o preço superior é usado como forma de posicionamento da empresa perante Na prestação de serviços, a política de diminuição de seus consumidores, preços utilizada para competir com os “outros” pode comunicando-lhes levar a resultados que não representam lucro algum uma suposta qualidade maior: “Meu produto é mais caro disposto a tentar satisfazer suas exigênporque é melhor”. E o cliente muitas cias. Nesse processo, todos saem pervezes repete esse posicionamento, pois, dendo: o cliente e seu animal, por receao comprar um produto mais caro, de- berem um serviço de pior qualidade, e o monstra maior poder aquisitivo e status veterinário, por trabalhar frustrado e in(por isso as marcas são colocadas do satisfeito. Apesar de tudo, há ótimas notícias: o lado de fora da roupa). Sendo assim, é compreensível que mercado veterinário foi muito prestigiaprodutos e serviços tenham uma varia- do pela mídia; os animais de companhia ção de preço. A dúvida é: existe um consolidaram sua posição na sociedade; valor mínimo a ser cobrado pelos servi- e as pessoas estão muito interessadas no ços veterinários? Sim, aquele que permi- bem-estar desses novos membros da te o pagamento dos custos diretos, das família. A estabilização da economia nos últidespesas fixas e ainda garante a margem de lucro pretendida pelo profissional. mos anos criou uma oportunidade única Esse deve ser o ponto principal de qual- para a mudança dessa situação, mas dequer discussão sobre preços praticados vemos lembrar que a solução desse problema é ao mesmo tempo individual e no negócio pet. Vários são os veterinários que afir- coletiva: individual na medida em que mam não conseguir cobrar acima desse cada veterinário e empresa invistam no mínimo, pois os outros colegas de sua aprimoramento de seus conhecimentos região forçam os preços para baixo. técnicos e no aperfeiçoamento e na proDesse modo, sentem-se obrigados a tra- fissionalização de seu negócio; coletiva balhar parcialmente na informalidade por meio do fortalecimento das associapara garantir um lucro que na verdade ções, do compartilhamento de informações e da capacitação dos graduandos não existe. Mas, afinal, quem são esses “outros através de criação de disciplinas voltacolegas” que estragam o mercado? Será das à gestão nas faculdades de medicina que nós não somos os “outros” de nos- veterinária. Você esta preparado para fazer a sua sos colegas? Por não possuírem informação geren- parte? cial sobre seu negócio, as clínicas têm usado basicamente o consumidor e seus Renato Brescia Miracca caprichos para orientar suas ações. renato.miracca@q-soft.net Desse modo, ele adquire um poder de Médico veterinário, bacharel em direito, MBA negociação muito grande e passa a exiQ-soft Brasil Tecnologias da gir o máximo da qualidade pelo menor Informação - www.qvet.com.br preço, sempre achando um profissional

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EQUIPAMENTOS

Terapia por ondas de choque A terapia por ondas de choque (TOC) ou shock wave therapy é utilizada na medicina desde 1977, principalmente na

litotripsia – fragmentação de urólitos. Nos últimos quinze anos a tecnologia vem sendo muito desenvolvida na área

AÇÃO RADIAL

Ondas de pressão - geradas por Dolorclast meio da colisão de corpos sólidos (EMS) com velocidade de impacto de metros por segundo, abaixo da velocidade do som. São principalmente recomendadas para indicações ortopédicas superficiais.

AÇÃO FOCALIZADA

Ondas piezoletrécias As ondas de choque piezoelétricas possuem alta precisão e são fáceis de controlar. Utiliza a expansão de cristais excitados organizados em uma superfície esférica com subsequente criação de um pulso, quando são submetidos a alta voltagem elétrica, promovendo efeitos terapêuticos em uma região focalizada. Piezoson 100 (Richard Wolf) Ondas eletromagnéticas Duolith SD1 (Storz) Elas são geradas pela indução eletromagnética por meio eletromagnético de bobinas e membraradial nas aperfeiçoadas para gerar pulsos acústicos ondas eletromagnéticas e rafortes e curtos. diais em um mesmo aparelho

Onda eletrohidráulica A onda eletrohidráulica gera um fluxo de energia maior que as outras duas. Incorpora um eletrodo submerso em água e um capacitor MTS Medical carregado com 20kV é conectado a um eletrodo. Cada descarga elétrica emite uma onda acústica caracterizada por um alto pulso de alta pressão, com um tempo de resposta de poucos nanossegundos. Essa intensa troca de pressão produz ondas fortes, que podem viajar por um meio elástico como o ar, água e certas substâncias sólidas. 140

ortopédica, estimulando processos de regeneração. No Brasil a terapia passou a ser introduzida recentemente nos tratamentos aplicados a grandes e pequenos animais, bem como aos animais silvestres, com grande sucesso.

CONCEITO.

Consiste em ondas sonoras que têm a propriedade de transpassar a superfície de um corpo sem danificá-lo, atuando de forma terapêutica nos tecidos musculoesqueléticos. Aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) para uso em seres humanos e em animais, a TOC tem obtido sucesso no tratamento de desordens ortopédicas como fraturas, tendinites e osteonecrose da cabeça do fêmur, e, mais recentemente, em casos de osteoartrose, além de se mostrar promissora em outras áreas.

TIPOS DE EQUIPAMENTOS.

Existem no mercado diferentes equipamentos emissores de ondas de choque. As técnicas de geração de ondas de choque consistem na conversão de energia elétrica em energia mecânica e são emitidas com base em diferentes princípios, entre eles, os de ação focalizada (eletro-hidráulico, piezoelétrico e eletromagnético) e o de ação radial (radial shockwave). Cada tecnologia é baseada em seu próprio princípio físico para a geração de onda de choque. Em todos os métodos o objetivo é estimular efeitos biológicos e obter regeneração. Basicamente o que os difere entre si é a forma que a a onda é gerada e a potência atingida, o que reflete diretamente no grau de estimulação, número de aplicações e, consequentemente, duração e qualidade do tratamento. Lídia Dornelas de Faria Médica veterinária

shockwave@linkvet.com.br

Diplomada pela Universidade do Tennessee EUA no CCRP (Canine Certification Rehabilitation Program)

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LIVROS

Casos de rotina em medicina veterinária de pequenos animais

Casos de rotina em medicina veterinária de pequenos animais, de Leandro Zuccolotto Crivellenti e Sofia Borin-Crivellenti, lançamento recente da MedVet, é uma obra que teve origem em diversas informações obtidas em congressos, livros, artigos nacionais e internacionais e protocolos de hospitais veterinários de referência nacional. Em decorrência da popularidade e do intenso compartilhamento dessas informações, tomou-se consciência do valor das informações reunidas de forma prática e objetiva e, com o incentivo dos colegas, os autores decidiram pela padronização e aperfeiçoamento do conteúdo e convidaram colegas das diferentes especialidades para a realização da edição de Casos de rotina. Os aspectos mais relevantes e marcantes da descrição e do diagnóstico das principais doenças presentes na rotina clínica de pequenos animais, bem como os diversos tratamentos e suas aplicabilidades no Brasil, estão descritos em 14 capítulos: cardiologia, dermatologia, doenças infecciosas, endocrinologia, enfermidades respiratórias, gastroenterologia, hepatologia, hematologia e imunologia, intoxicações e envenenamentos, nefrologia e urologia, neurologia e distúrbios musculoesqueléticos, nutrição clínica, oftalmologia, oncologia e teriogenologia. Editora MedVet: (11) 2918-9154 - www.medvetlivros.com.br

Manual de nefrologia e urologia

A obra Manual de nefrologia e urologia clínica canina e felina, de autoria de Óscar Cortadellas e colaboradores, lançamento da MedVet, é dividido em três seções. Na primeira, encontra-se um abordagem prática dos problemas nefrológicos e urológicos mais frequentes, tais como a presença de hematúria, poliúria/polidipsia ou proteinúria. Na segunda parte, são descritas as distintas técnicas complementares de exploração e avaliação do trato urinário, desde as mais simples (determinação das concentrações de ureia e creatina ou urinálise) até as mais complexas (biópsia renal ou endoscopia do trato urinário). Por último, na terceira parte do livro, apresenta-se uma informação atualizada a respeito do tratamento das doenças mais frequentes. Editora MedVet: (11) 2918-9154 - www.medvetlivros.com.br

Amizades improváveis

Amizades improváveis, de Jennifer S. Holland, jornalista que se dedica às ciências e à natureza e redatora sênior da revista National Geographic, contém a descrição de histórias comoventes de companheirismo e amizade entre os animais. Um leopardo se deita ao lado de uma vaca. Um elefante se aconchega com um carneiro. Um gato se enrola todo ao lado de um iguana. Tal como na profecia bíblica, que nos conta sobre o tempo em que o leopardo se deitará ao lado do cabrito, essas são apenas algumas das 47 extraordinárias histórias sobre a amizade entre diferentes espécies, documentada por incríveis fotografias que desafiam tudo o que imaginamos saber a respeito dos animais e da vida que eles levam. Às vezes existem explicações científicas plausíveis, às vezes a amizade envolve a necessidade, como no caso da labradora cega e da sua “gata-guia”, mas, em outras ocasiões, trata-se apenas de um mistério. Cada história revela o verdadeiro poder da amizade e, até certo ponto, as inúmeras formas de “amor” que parecem existir no reino animal. Um livro que inspira uma cultura de paz. ProBem: 0800 891.6943 www.probem.info

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LANÇAMENTOS SUPLEMENTO

VITTA 3.6, lançamento da Agener União, é um suplemento mineral vitamínico para cães e gatos composto de ômegas 3 e 6, selênio, vitamina A e E, zinco e biotina. Vitta 3.6 auxilia nos processos de queda de pelos, mudança de pelagem e preparação para exposições e na deficiência de ácidos graxos essenciais. Agener União: www.agener.com.br

Vitta 3.6 é encontrado em frascos com 60 cápsulas

LINHA DERMATOLÓGICA LABYES

A Labyes lançou no Brasil a sua linha dermatológica. Entre os produtos que compõem a linha, o Clorexidin e o Clorexicorten se destacam no tratamento das dermatites localizadas. Clorexidin é uma solução tópica à base de clorexidina 0,5%, ideal na antissepsia da cavidade oral e para as feridas de pele em geral, com foco nas cirúrgicas. Já o Clorexicorten traz como difeClorexidin: frasco com rencial a asso50 mL. Uso tópico ciação da clorexidina 0,5% com a triancinolona, gli cocorticoide tópico de eleição pela baixa absorClorexicorten: frasco com 50 mL. Uso tópico ção sistêmica e excelente efeito anti-inflamatório. Labyes: www.labyes.com.br

INOVAÇÃO PARA CONTROLE DE PESO DOS CÃES

A obesidade canina é cada vez mais comum no Brasil. Ciente disso, a Royal Canin lança o Satiety Support Canine. O alimento contém alta quan-

Satiety Support Canine, para uma dieta sem sinais de fome 144

tidade de fibras e proteínas, que garantem um maior nível de saciedade do cão, reduzindo as calorias sem diminuir a quantidade ingerida. A partir de agosto, o produto estará disponível em mais de 15 mil pontos de vendas (clínicas veterinárias e pet shops). “Muitos cães obesos têm o comportamento de frequentemente pedir por comida, ou seja, são glutões. Quando entram em um programa de emagrecimento, a quantidade de alimento é diminuída. Embora esteja adequadamente nutrido, o cão glutão continua pedindo por comida; naturalmente, seu dono fica preocupado, pois acredita que ele demonstra sinais de fome. O Satiety Support Canine representa uma importante inovação para o mercado de alimento para pets, já que sua fórmula busca a saciedade do animal. O produto é o único que se destina a uma dieta sem sinais de fome, pois possui menor densidade, o que proporciona maior volume para a mesma quantidade de energia

consumida quando comparado ao produto Obesity Canine”, explica Cíntia Fuscaldi, Gerente de Produto das Linhas Veterinárias da Royal Canin do Brasil. Desenvolvendo produtos que promovem a saúde, a qualidade de vida, o bem-estar e a longevidade de cães e gatos, a base do trabalho da Royal Canin é o respeito pelos animais. A Royal Canin dispõe de uma linha completa de produtos para a realização de um programa de emagrecimento personalizado de cães obesos. Além do Satiety Support Canine, a marca também possui os produtos Obesity Canine, alimento de alta proteína para perda de peso, e Weight Control Canine, alimento adequado para a manutenção do peso na sequência de um programa de emagrecimento. Todos os produtos da Royal Canin para controle da obesidade devem ser prescritos por um médico veterinário antes do consumo. Royal Canin: 0800 703 5588 www.royalcanin.com.br

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Manual de fluidoterapia em pequenos animais • • • • •

anorexia vômito crônico obstrução intestinal diabetes melito e outras

Escolha os eletrólitos

mais adequados e Pedidos: administre doses precisas (11) 3835-4555 www.editoraguara.com.br

A - perdas ocorridas

B - manutenção diária

saiba sobre os diferentes fluidos para as diferentes alterações orgânicas

C - perdas continuadas

Quantidade de fluido a ser administrada


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ANESTESIOLOGIA

Arthur Paes Barretto

ACUPUNTURA

16 a 18 de novembro Campinas - SP I Curso de hidroterapia em pequenos animais - teórico/prático www.reabivet.com.br 20 de outubro Botucatu - SP II Curso de controle da dor e medicina paliativa em animais (14) 3813-3898

25 de novembro a 16 de dezembro Osasco - SP Juna EventosCurso teórico-prático de anestesia veterinária (11) 2995-9155 6 e 7 de abril de 2013 Inscrição: 1/10/12 a 31/03/13 Lauro de Freitas - BA PAV - Pós-graduação (Lato sensu) Anestesiologia veterinária (14) 3814-6898 13 a 14 de abril de 2013 Inscrição: 1/10/12 a 30/11/12 São Paulo - SP PAV - Pós-graduação (Lato sensu) Anestesiologia veterinária (14) 3814-6898

ANIMAIS SELVAGENS

15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Lato Sensu - Manejo, clínica médica - cirúrgica e conservação de animais silvestres (11) 3567-4401

19 de setembro Online - EAD Equalis - Atualização em animais silvestres NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330

Foz do Iguaçu, PR - Brasil.

Foz do Iguaçu, com toda a sua diversidade de atrativos, representa um dos mais belos destinos turísticos do mundo. Possui riquezas naturais incomparáveis, como o Parque Nacional do Iguaçu, tombado como Patrimônio Natural da Humanidade e onde estão localizadas as Cataratas do Iguaçu.

www.pmfi.pr.gov.br/turismo/

prático) - Módulo 2 (11) 3579-1431

30 de setembro a 5 de outubro Florianópolis - SC XV Congresso - XXI Encontro ABRAVAS - Associação Brasileira de Veterinária de Animais Selvagens www.abravas2012.com.br

7 a 11 de outubro Sorocaba - SP Animalia - Curso teórico-prático de medicina de animais de zoológico www.animalia.vet.br

20 e 21 de outubro Cananéia - SP Mini-Curso IPeC - biologia e conservação de tartarugas marinhas (13) 3851-3055 ipecpesquisas@gmail.com

1 e 2 de dezembro São Bernardo do Campo - SP Curso teórico-prático de manejo e medicina de primatas animalia.vet.br 5 e 6 de dezembro Foz do Iguaçu - PR 1º Simpósio internacional conservação de aves www.parquedasaves.com.br

AUXÍLIAR VETERINÁRIO

17 de setembro a 26 de outubro São Paulo - SP Auxiliar veterinário - Cetac (11) 2305-8666

outubro a novembro de 2012 São Paulo - SP Módulos de auxiliar de enfermagem veterinária - teórico/prático Hovet Pómpeia (11) 3673-9455

25 de setembro a 13 de novembro São Paulo - SP Curso intensivo de clínica e cirurgia de répteis (teórico e

30 de outubro a 29 de novembro Nazaré Paulista - SP XIII Curso latino americano de biologia da conservação (11) 4597-1327

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1 de outubro a 30 de novembro Taboao da Serra - SP Curso auxiliar veterinário cladosbichos.com.br/cursos.html

CARDIOLOGIA

15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Lato-Sensu - Ecocardiografia em pequenos animais (11) 3567-4401

18 de setembro Online Atualização em eletrocardiografia veterinária NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330 22 e 23 de setembro Botucatu - SP Curso teórico prático de eletrocardiografia - Instituto Bioethicus (14) 3814-6898

24 a 28 de setembro São José do Rio Preto - SP Cardiologia Clínica em pequenos animais - ECG, PA e Holter (17) 3011-0927 outubro de 2012 São Paulo - SP Desvendando o ecocardiograma www.sbcv.org.br


CARDIOLOGIA

5 a 7 de outubro São Paulo - SP Eletrocardiografia - teórico-prático (11) 3579-1431 6 a 8 de outubro Porto Alegre - RS Atualização em ecodopplercardiografia - Qualittas 0800-725-6300 2 a 4 de novembro São Paulo - SP Congresso de Brasileiro de Cardiologia Veterinária www.sbcv.org.br 26 a 30 de novembro Jaboticabal - SP Eletrocardiografia em cães e gatos - FUNEP (16) 3209-1300

CIRURGIA

20 a 22 de setembro São Paulo - SP Cirurgias da coluna vertebral www.cipo.vet.br

21 de setembro São Paulo - SP Qualittas - Ortopedia em pequenos animais 0800 725 63 00

21 e 22 de setembro São Paulo - SP Cirurgias de tecidos moles Módulo II Urinário - Hovet Pómpeia hospitalveterinariopompeia.com.br (11) 3673-9455 28 de setembro Porto Alegre - RS Qualittas - Ortopedia em pequenos animais 0800 725 63 00

7 de outubro de 2012 São Paulo - SP Cirurgias de tecidos moles Módulo III Penectomia / uretrostomia perineal em felinos - Hovet Pómpeia (11) 3673-9455

18 a 20 de outubro São Paulo - SP CIPO - Curso intensivo prático de ortopedia - módulo avançado www.cipo.vet.br

20 de outubro a 4 de agosto/2013 São Paulo - SP Curso de técnica cirúrgica (11) 2305-8666 21 de outubro a 2 de dezembro Mandaqui - SP Ortopedia e traumatologia (11) 2995-9155

7 e 8 de dezembro São Paulo - SP Cirurgias da cabeça e do pescoço www.cipo.vet.br

CLÍNICA

15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Clínica médica de pequenos animais - Lato Sensu (11) 3567-4401

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

21 de setembro Rio de Janeiro - RJ Equalis - Pós graduação em clínica médica e cirúrgica NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330

29 e 30 de setembro Florianópolis - SC Palestra sobre otorrinolaringologia anclivepasc.com.br 8 de outubro a 11 dezembro São Paulo - SP Atualização em terapêutica na clínica de cães e gatos www.anclivepa-sp.com.br 20 de outubro Botucatu - SP II Curso de controle da dor (14) 3813-3898

20 de janeiro de 2013 a 3 de março de 2013 Mandaqui - SP Curso de gastroenterologia clínica (11) 2995-9155

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COMPORTAMENTO

2ª quinzena de setembro Online - EAD Comportamento felino básico psicologiaanimal.com.br

22 e 23 de outubro Curitiba - PR IV Encontro LABEA: Consciência e Cognição Animal II Congresso Internacional da AMVEBBEA www.labea.ufpr.br

DERMATOLOGIA

16 a 18 de novembro Campinas - SP I Curso teórico-prático de hidroterapia em pequenos animais Reabivet (19) 3294-5345

24 e 25 de novembro 1 e 2 de dezembro São Paulo - SP V Curso intensivo em fisioterapia veterinária fisiocarepet@gmail.com

GESTÃO

19 e 20 de novembro Belo Horizonte - MG Anclivepa MG - Dermatologia (31) 3297 2282

19 a 23 de setembro Rio de Janeiro - RJ Clínica veterinária e Pet shop um negócio de pessoas e bichos! (21) 2484-0508

15 a 17 de novembro Búzios - RJ Congresso Intern. da Associação Bras. de Endocrinologia Vet. www.ciabev.com.br

Julho de 2013 Maceió - AL Gerivet 2013 www.gerivet.com.br

27 a 29 de setembro São Paulo - SP Curso avançado e internacional de fisioterapia veterinária fisiocarepet@gmail.com

25 de outubro a 25 de dezembro Campinas - SP Cursos extensivos: diagnóstico veterinário (19) 3365-1221

ENDOCRINOLOGIA

FISIOTERAPIA

29 e 30 de setembro Botucatu - SP V Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária (14) 3814-6898

GERIATRIA

IMAGINOLOGIA

5 a 9 de novembro São Paulo - SP Cursos Provet - Radiologia (teórico + estágio complementar) (11) 3579-1431

21 a 23 de novembro Curitiba - PR II Simpósio internacional de diagnóstico por imagem veterinário UFPR (41) 3350-5767 21 a 29 de novembro São Paulo - SP Cursos Provet - Ultrassonografia abdominal em cães e gatos (teórico e prático + estágio complementar) www.provet.com.br

INTENSIVISMO

15 e 16 de setembro Brasília - DF Aprenda tudo sobre Sepse e as perólas no tratamento do doente com gastroenterite hemorrágica www.intensivet-cursos.com

6 de outubro a 21 de abril de 2013 São Paulo - SP Curso de medicina intensiva (11) 2305-8666 16 de outubro Online - EAD Atualização em medicina de urgência e intensiva de pequenos animais NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330 20 e 21 de outubro São Paulo - SP Práticas hospitalares - Hovet Pómpeia (11) 3673-9455

11 de novembro a 9 de dezembro São Paulo - SP Curso de emergências e terapias intensiva (11) 2995-9155 24 e 25 de novembro Goiânia - GO Emergência de pequenos animais www.anclivepago.com.br

Búzios, RJ - Brasil

30 de novembro a 2 de dezembro São Paulo - SP Terapia Intensiva (teórico e prático + estágio complementar) www.provet.com.br

www.inbuzios.com.br

1º semestre de 2013 Fortaleza - CE São Paulo - SP Equalis - Pós graduação em clínica médica de felinos NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330

Antiga colônia de pescadores onde a rusticidade e a sofisticação fazem parte da arquitetura local, a cidade possui 23 diferentes praias ecologicamente preservadas e limpas. A cidade abriga mais de 40 diferentes nacionalidades que de alguma forma influenciam nossa cultura e fazem de Búzios uma cidade única. A cidade integra bem suas praias e aventuras, das diversas opções de esportes radicais à agitação das baladas noturnas.

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MEDICINA DE FELINOS

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

MEDICINA LEGAL

15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Medicina veterinária legal Perito veterinário Lato Sensu (11) 3567-4401

NEFROLOGIA

setembro de 2012 São Paulo - SP Nefrologia clínica de cães e gatos - Hovet Pómpeia cursos@hovetpompeia.com.br (11) 3673-9455 9 a 11 de outubro Viçosa - MG Curso de nefrologia e urologia em pequenos animais (31) 3899-8300

17 e 18 de novembro Florianópolis - SC Anclivepa - SC - Palestra sobre urologia e nefrologia anclivepasc.com.br (11) 3673-9455 1 e 2 de outubro Belo Horizonte - MG Neurologia - Trauma de coluna (31) 3297 2282

10 de outubro a 10 de dezembro São Paulo - SP II Curso intensivo de neurologia em cães e gatos www.anclivepa-sp.com.br

NUTRIÇÃO

22 de setembro a 25 de novembro São Paulo - SP IX Curso de medicina nutracêutica veterinária biomolecular SPMV (11) 3209-9747

NUTRIÇÃO

30 de novembro a 6 de dezembro Jaboticabal - SP VI Curso teórico-prático de nutrição de cães e gatos www.nutricao.vet.br

OFTALMOLOGIA

15 e 16 de setembro São Paulo - SP Oftalmologia em cães e gatos (11) 3266-2299 29 e 30 de setembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia em pequenos animais (11) 3085-8619



29 e 30 de setembro Goiânia - GO Curso de oftalmologia de pequenos animais www.anclivepago.com.br 16 a 18 de novembro Florianópolis - SC 2º Simpósio Internacional Catarinense de oftalmologia veterinária (48) 3224-3044 23 de novembro São Paulo - SP Qualittas - Especialização em oftalmologia veterinária e microcirurgia ocular 0800 725 63 00

ONCOLOGIA

6 a 8 de outubro Viçosa - MG Curso de oncologia em pequenos animais - CPT (31) 3899-8300

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REPRODUÇÃO

8 a 9 de dezembro São Paulo - SP Curso teórico e prático de inseminação artificial em cães (11) 3266-2299

SAÚDE PÚBLICA

23 a 27 de setembro Rio de Janeiro - RJ XVIII International Congress for Tropical Medicine and Malaria XLVIII and the Congress of the Brazilian Society for Tropical Medicine (21) 2512-7640

21 de outubro Belo Horizonte - MG Programa Cireneu - Dia de ação programacireneu.blogspot.com.b 23 de outubro Rio de Janeiro - SP Curso Childs, que ministrará o curso pré-conferência “Concepts

and Examples of Emerging Diseases” www.saudesilvestre.com.br

24 a 26 de outubro Rio de Janeiro - SP 1ª Conferência brasileira em saúde silvestre e humana www.saudesilvestre.com.br

27 e 28 de outubro Belo Horizonte - MG IX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral (31) 3297-2282

11 novembro Belo Horizonte - MG Programa Cireneu - Dia de ação programacireneu.blogspot.com.br

www.worldleish5.org

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

23 a 25 de novembro Curitiba - PR III Conferência internacional medicina veterinária do coletivo Simpósio - proteção animal e políticas públicas www.itecbr.org 1 de fevereiro de 2013 a 1 de março de 2013 São Paulo - SP Curso dinâmica populacional www.itecbr.org 13 a 17 de maio de 2013 Porto de Galinhas - PE WorldLeish5 World Leishmaniasis (WL) Congress www.worldleish5.org



SEMANAS ACADÊMICAS

15 a 23 de setembro São Bernardo do Campo - SP XIV SAMVET 2012 www.davetmetodista.com.br

19 a 21 de setembro Guarapari - ES XXXIX Semana Capixaba do Médico Veterinário e II Seminário Estadual de Ensino em Medicina Veterinária someves2012@hotmail.com 20 a 23 de setembro Araçatuba - SP XVIII SEMEV Semana de estudos em medicina veterinária UNESP www.fmva.unesp.br/semev 21 a 23 de setembro Jaboticabal - SP VIII Semana da medicina veterinária - Unesp www.fcav.unesp.br

25 a 28 de setembro Umuarama - PR IX SEMEV Seminário em Medicina Veterinária - V Jornada acadêmica de iniciação científica em medicina veterinária (44) 3621-9402

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1 a 5 de outubro Vassouras - RJ II EAVET - Encontro Acadêmico de Medicina Veterinária (24) 9295-9181 1 a 16 de outubro Palotina - PR X SAMVET - Semana Acadêmica de Medicina Veterinária UFPR samvetufpr.wix.com/samvet

8 a 10 de outubro São José dos Campos - SP UNIP - São José dos Campos Semana Acadêmica Veterinária 2012 semavet2012unip@hotmail.com

8 a 10 de outubro Brasília - DF Seminário Nacional de Ensino da Medicina Veterinária - SENEMEV www.cfmv.gov.br 23 a 25 de outubro Santos - SP SEMAVET 2012 - UNIMONTE (13) 3228-2100

23 a 26 de outubro Ilhéus - BA X Encontro de Medicina Veterinária do Sul da Bahia e II Seminário de vigilância e saúde pública da UESC www.xencontrovetuesc.com.br

FEIRAS e CONGRESSOS

21 a 23 de setembro São José do Rio Preto - SP Feira Pet feirapetriopreto@gmail.com

30 de setembro a 5 de outubro Florianópolis - SC XV Congresso - XXI Encontro da ABRAVAS www.abravas2012.com.br

16 a 18 de outubro São Paulo - SP Pet South America e Congresso Paulista das Especialidades www.petsa.com.br 1 a 4 de novembro Florianópolis - SC X Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária (48) 3047-7600

4 a 6 de dezembro Santos - SP 39º CONBRAVET Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (11) 3209-9747 www.conbravet2012.com.br 7 a 10 de março de 2013 São Paulo - SP Pet Show - 2013 - III Feira

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012

Internacional de Animais e Produtos Pet www.feirapetshow.com.br

8 a 11 de maio de 2013 Natal - RN 34º Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA www.anclivepa2013.com.br

20 a 22 de agosto de 2013 Rio de Janeiro - RJ Pet Rio Vet 2013 petriovet@nm-brasil.com.br

Novembro de 2013 Rio de Janeiro - RJ Fórum Mundial da Ciência 2013 “Science for Global Sustainable Development" http://goo.gl/hP3zE



CONSERVAÇÃO

Internacional

ANIMAIS SELVAGENS

julho de 2013 Província do Cabo Leste - África do Sul Vet Pratices in South Africa www.animalia.vet.br

COMPORTAMENTO

30 de setembro Toronto - Canadá Small Animal Behavior: Understanding and Preventing Canine Aggression www.continu-ed.com 14 de outubro Toronto - Canadá Problems in Small Animal Behavior: Understanding and Preventing Canine Aggression www.continu-ed.com

ONCOLOGIA

15 a 18 de novembro Reddick - Flórida Certified Veterinary Tui-na (An-mo) - terapia manual chinesa http://migre.me/8Ntvc

SAÚDE PÚBLICA

FEIRAS e CONGRESSOS

30 de novembro a 5 de outubro Columbus - Ohio - EUA EcoSummit 2012 - Ecological Sustainability www.ecosummit2012.org

18 a 21 de novembro Las Vegas - Nevada - EUA Veterinary Cancer Society (VCS) - 2012 Annual Conference www.vetcancersociety.org

20 de setembro a 15 de novembro Buenos Aires - AR Cursos semi intensivos Dermatología www.cemvargentina.com.ar

17 a 19 de setembro Ames - Lowa - EUA Vaccines and Diagnostics for Transboundary Animal Diseases Meeting http://goo.gl/kxIKz

DERMATOLOGIA

NUTRIÇÃO

23 a 26 de outubro Puerto Vallarta - México V Congreso CLANA Colegio Latinoamericano de Nutrición Animal http://migre.me/8NuDK

ODONTOLOGIA

23 a 26 de outubro Seattle - Washington - EUA Veterinary Dental Forum www.veterinarydentalforum.com

20 e 21 de setembro Online Third Annual World Rabies Day International Webinar www.worldrabiesday.org

TCVM

20 a 26 de outubro Su-zhou - China The 14th Annual TCVM Conference and China Tour 2012 http://migre.me/8NucN

Patagônia - Argentina/Chile

20 a 22 de setembro Medellín - Colômbia 9º Congresso Nacional e Internacional VEPA Colombia Asociación Colombiana de Medicos Veterinarios www.congresovepa.com 11 a 14 de outubro Shanghai - China The 15th Pet Fair Asia www.petfairasia.com/en

12 e 13 de outubro Sevilla - Espanha VIII Congreso Andaluz de Veterinarios “Especialistas en Animales de Compañía” www.congresoveterinario.es

A Patagônia é uma região natural que se localiza no sul da América do Sul, abrangendo quase um terço dos territórios da Argentina e do Chile. São quase 800.000 quilômetros quadrados de território virgem, pouco explorado e de escassos habitantes. Uma região riquíssima em recursos naturais de imcomparável beleza, fazendo deste lugar um dos mais belos do planeta. www.patagonia.com.br

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Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012



FEIRAS e CONGRESSOS

18 a 20 de outubro Barcelona - Espanha SEVC 2012 http://sevc.info

24 a 27 de outubro Cartagena de Índias - Colombia PANVET 2012 www.panvet2012.co 13 e 14 de novembro Asunción - Paraguay IX Congresso FIAVAC www.fiavac.org

14 a 16 de novembro Cuenca - Equador 3º Congreso ECVECCS www.facebook.com/ECVECCS 15 e 16 de novembro Londres - UK The London Vet Show www.londonvetshow.co.uk

24 e 25 de novembro Bariloche - Argentina II Congreso Veterinario Patagónico www.cvp2012.blogspot.com.ar 27 a 28 de novembro Kansas City - EUA The World Animal Health Congress http://goo.gl/9AqFf 22 a 25 de novembro Patagonia, Argentina Feria de Aves de Sudamérica www.feriadeaves.com.ar

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Cartagena de Índias,

Colômbia

Emoldurada por uma formosa baía, Cartagena de Índias é uma das cidades mais belas e conservadas da América. Perto da cidade amuralhada se encontra um moderno setor turístico, Bocagrande, com amplas praias, hotéis, restaurantes e discotecas. As melhores praias na área de Cartagena se encontram nas ilhas do Rosário, Barú e San Bernardo.

www.colombia.travel

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 100, setembro/outubro, 2012




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