Clínica Veterinária n. 99

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Reprodução

Animais selvagens

100

Falhas reprodutivas e seu tratamento em cães – relato de casos

Enfermidades e impactos antrópicos em cetáceos no Brasil

Reproductive failure and its treatment in dogs – report of cases Fallas reproductivas y su tratamiento en perros – relato de casos

Diseases and human impacts in cetaceans in Brazil Enfermedades e impactos antrópicos en cetáceos de Brasil

50

Oncologia

Inibidores de tirosina-quinase no tratamento de mastocitomas cutâneos em cães – revisão Tyrosine kinase inhibitors in the treatment of mast cell tumors in dogs – review Inhibidores de tirosina-quinasa en el tratamiento de mastocitomas cutáneos en perros – revisión

Diagnóstico por imagem 58 Ultrassonografia de pescoço – estudo retrospectivo em cães Neck ultrasonography – retrospective study in dogs La ecografía del cuello – estudio retrospectivo en perros

66

Oftalmologia

Achados histopatológicos do glaucoma em cães e gatos Histopathological findings of canine and feline glaucoma Histopatología del glaucoma en perros y gatos

78

Cardiologia

Valvoplastia percutânea por balão em cão com estenose valvar pulmonar – relato de caso

Errata

No artigo Quimioterapia intralesional com carboplatina no tratamento do carcinoma espinocelular em uma gata – relato de caso, publicado na edição n. 98 de 2012, na página 64, os keywords não foram publicados. São eles: cat diseases, skin neoplasms, antineoplastic protocols

@ Na internet FACEBOOK www.facebook.com/ClinicaVet TWITTER www.twitter.com/ClinicaVet Site ww.revistaclinicaveterinaria.com.br

Percutaneous balloon valvuloplasty in a dog with pulmonary valve stenosis – a case report Valvuloplastia percutánea con balón en un perro con estenosis de válvula pulmonar – relato de caso

Animais selvagens

92

Criação artificial de filhotes de lontra neotropical (Lontra longicaudis) em cativeiro – relato de dois casos

Hand rearing neotropical river otter (Lontra longicaudis) pups in captivity – a report of two cases Cría artificial de cachorros de nutria neotropical (Lontra longicaudis) en cautiverio – relato de dos casos

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Contato Editora Guará Ltda. Dr. José Elias 222 - Alto da Lapa 05083-030 São Paulo - SP, Brasil Central de assinaturas: 0800 891.6943 cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 / 3641-6845

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Ecologia

• Em setembro, recomeça o tráfico de filhotes de papagaios • Os países latinoamericanos no tráfico internacional de aves • Observação de aves na América do Sul

14

112

Comportamento

114 116

Salmonella zero nas farinhas de origem animal Aspectos físicos e emocionais decorrentes de maus-tratos

Saúde pública

20

Livros

Medicina veterinária do coletivo

22

Medicina veterinária legal

Cientistas usam droga adaptada para tratar leishmaniose visceral • Saúde animal como promoção de saúde humana em coletividades • Curso FOCA – Formação de Oficiais de Controle Animal

Notícias

24

• Associação Mata Ciliar: há 25 anos preservando a vida • Argentina tem boas opções para estudos e para passeios • Mais de 70 palestrantes na 11ª Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária • Criada a Associação Brasileira de Neurologia Veterinária • 2º CIABEV – Búzios - RJ

6

Pet Food

• Guia de Conduta para o médico veterinário • Anestesia Veterinária Novo Código Penal: temos SIM que comemorar!

Lançamentos

• Proteção para as articulações • Suplemento palatável • Cosméticos hair & skin care • Dietas especiais

Guia veterinário - www.guiavet.com.br

Produtos e serviços para o mercado pet e veterinário

Vet Agenda - www.vetagenda.com.br

Eventos nacionais e internacionais ligados à medicina veterinária de pequenos animais e ao mercao pet

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A

realização da Rio+20 colocou em evidência temas como o desenvolvimento sustentável e a conservação da natureza para a garantia do futuro das próximas gerações. De forma geral, nota-se como tendência nos consumidores a busca por alternativas naturais, tanto para a saúde quanto para a alimentação. Recentemente, alguns eventos com esse perfil foram realizados na capital paulista: Bio Brazil Fair e Natural Tech; Virada Sustentável e Expo Saúde Alternativa. Uma particularidade presente em todos eles é o potencial para promoção de produtos e serviços, tanto para humanos quanto para animais. A empresa JMA J’adore mes amis, por exemplo, participou da Natural Tech e da Virada Sustentável divulgando sua linha pet care Le Bidou Tea Tree, que possui ingredientes selecionados, como o óleo de melaleuca (tea tree). Além disso, na JMA J’adore mes amis toda a etapa de produção é ausente de qualquer sofrimento animal. Por isso, as embalagens contêm a identificação cruelty free/livre de crueldade. Recentemente, o tema crueldade ganhou destaque na mídia brasileira por meio do Crueldade Nunca Mais, movimento que, no dia 21/05/2012, levou até Brasília 160 mil assinaturas recolhidas em todo o país, em apoio à carta aberta denominada "Pelo Avanço da Proteção Penal ao Meio Ambiente e aos Animais" (http://goo.gl/2g2YZ). Todo os esforços do Crueldade Nunca Mais têm sido vitais para que os crimes contra animais não sejam banalizados. Nessa edição, vários artigos tratam desse tema: em Medicina Veterinária Legal, a dra. Rosana Mortari aborda a evolução e a tendência de como poderão ser penalizados os crimes contra animais; em Comportamento, Ceres Berger Faraco orienta como identificar durante o atendimento clínico os crimes contra animais; em Ecologia, o tráfico de filhotes de papagaio é destaque. No momento atual, é urgente a aprovação de leis que de fato protejam os animais de crueldades e que também possam permitir a segurança e conservação de toda a fauna silvestre. Porém, paralelamente, também é fundamental investir na promoção da educação humanitária, na medicina veterinária do coletivo e na saúde da família moderna, que é constituída por diferentes espécies e por tutores que valorizam os direitos de todos os seres sencientes. De imediato, todos já podem ajudar assinando a petição pelo avanço da proteção penal ao meio ambiente e aos animais: crueldadenuncamais.com.br/assine_a_peticao.php.

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto

EDITORES / PUBLISHERS

Arthur de Vasconcelos Paes Barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684 - www.crmvmg.org.br

Maria Angela Sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br

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EDITORAÇÃO ELETRÔNICA / DESKTOP PUBLISHING Editora Guará Ltda.

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Clínica Veterinária é uma revista técnico-científica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.

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CONSULTORES CIENTÍFICOS Adriano B. Carregaro

Clair Motos de Oliveira

Hannelore Fuchs

Leonardo Pinto Brandão

Masao Iwasaki

Alceu Gaspar Raiser

Clarissa Niciporciukas

Hector Daniel Herrera

Leucio Alves

Mauro J. Lahm Cardoso

Alessandra M. Vargas

Cleber Oliveira Soares

Hector Mario Gomez

Luciana Torres

Mauro Lantzman

Alexandre Krause

Cristina Massoco

Hélio Autran de Moraes

Lucy M. R. de Muniz

Michele A. F. A. Venturini

Hélio Langoni

Luiz Carlos Vulcano

Michiko Sakate

Heloisa J. M. de Souza

Luiz Henrique Machado

Miriam Siliane Batista Moacir S. de Lacerda

FZEA/USP

DCPA/CCR/UFSM Endocrinovet FMV/UFSM

FMVZ/USP

ANCLIVEPA-SP EMBRAPA

Salles Gomes C. Empresarial

Alexandre Lima Andrade Daisy Pontes Netto

Instituto PetSmile

Univ. de Buenos Aires EMV/FERN/UAB

Dep. Clin. Sci./Oregon S. U. FMVZ/UNESP-Botucatu

Merial Saúde Animal FMV/UFRPE FMVZ/USP

FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/USP

FALM/UENP

Psicologia PUC-SP ODONTOVET

FMVZ/Unesp-Botucatu

CMV/Unesp-Aracatuba

FMV/UEL

Alexander W. Biondo

Daniel C. de M. Müller

Aloysio M. F. Cerqueira

Daniel G. Ferro

Herbert Lima Corrêa

Marcello Otake Sato

Daniel Macieira

Iara Levino dos Santos

Marcelo A.B.V. Guimarães Monica Vicky Bahr Arias FMVZ/USP

FMV/UEL

Iaskara Saldanha

Marcelo Bahia Labruna

Nadia Almosny

FMVZ/USP

FMV/UFF

Marcelo de C. Pereira

Nayro X. Alencar

FMVZ/USP

FMV/UFF

Marcelo Faustino

Nei Moreira

FMVZ/USP

CMV/UFPR

Marcia Kahvegian

Nilson R. Benites

FMVZ/USP

FMVZ/USP

Márcia Marques Jericó

Nobuko Kasai

UAM e UNISA

FMVZ/USP

Janis R. M. Gonzalez

Marcia M. Kogika

Noeme Sousa Rocha

FMVZ/USP

FMV/Unesp-Botucatu

Jairo Barreras

Marcio B. Castro

Norma V. Labarthe

UNB

FMV/UFFe FioCruz

Jean Carlos R. Silva

Marcio Brunetto

Patrícia Mendes Pereira

FMVZ/USP-Pirassununga

DCV/CCA/UEL

João G. Padilha Filho

Marcio Dentello Lustoza

Paulo César Maiorka

Biogénesis-Bagó Saúde Animal

FMVZ/USP

João Pedro A. Neto

Márcio Garcia Ribeiro

Paulo Iamaguti

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/Unesp-Botucatu

Jonathan Ferreira

Marco Antonio Gioso

Paulo S. Salzo

FMVZ/USP

UNIMES, UNIBAN

José de Alvarenga

Marconi R. de Farias

Paulo Sérgio M. Barros

Jose Fernando Ibañez

Maria Cecilia R. Luvizotto Pedro Germano

José Luiz Laus

M. Cristina F. N. S. Hage Pedro Luiz Camargo FMV/UFV

DCV/CCA/UEL

José Ricardo Pachaly

Maria Cristina Nobre

Rafael Almeida Fighera

José Roberto Kfoury Jr.

M. de Lourdes E. Faria

Rafael Costa Jorge

Juan Carlos Troiano

Maria Isabel M. Martins

Regina H.R. Ramadinha

Juliana Brondani

M. Jaqueline Mamprim

Renata Navarro Cassu

Juliana Werner

Maria Lúcia Z. Dagli

Renée Laufer Amorim

Julio C. C. Veado

Marion B. de Koivisto

Ricardo Duarte

Julio Cesar de Freitas

Marta Brito

Ricardo G. de C. Vilani

Karin Werther

Mary Marcondes

Ricardo S. Vasconcellos

UFPR, UI/EUA UFF

Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia

Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL

André Luis Selmi

Anhembi/Morumbi e Unifran

Angela Bacic de A. e Silva FMU

Antonio M. Guimarães DMV/UFLA

Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal

A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP

Arlei Marcili ICB/USP

Aulus C. Carciofi

FCAV/Unesp-Jaboticabal

UFSM/URNERGS

ODONTOVET

ODONTOVET

Koala H. A. e Inst. Dog Bakery

FMV/UFF

Denise T. Fantoni FMVZ/USP

Dominguita L. Graça FMV/UFSM

Edgar L. Sommer PROVET

Edison L. P. Farias UFPR

Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE

Elba Lemos FioCruz-RJ

Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu

Fabiano Montiani-Ferreira

Aury Nunes de Moraes Ayne Murata Hayashi

DMV/UFRPE

Benedicto W. De Martin

FEJAL/CESMAC/FCBS

Berenice A. Rodrigues

DCV/CCA/UEL

Camila I. Vannucchi

FMVZ/USP

Carla Batista Lorigados

Provet

Carlos Alexandre Pessoa

Univ. Estácio de Sá

FMVZ/USP

FMVZ/USP; IVI

Médica veterinária autônoma FMVZ/USP FMU

Médico veterinário autônomo

Carlos E. S. Goulart FTB

Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal

Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP

Ceres Faraco FACCAT/RS

Fabiano Séllos Costa Fernando C. Maiorino Fernando de Biasi Fernando Ferreira Flávia R. R. Mazzo

FMV/UFF

James N. B. M. Andrade FMV/UTP

Jane Megid

FMVZ/Unesp-Botucatu

FioCruz

UFRPE, IBMC-Triade

FCAV-Unesp-Jaboticabal UAM

Odontovet

FMVZ/USP

FALM/UENP

UNIPAR

Francisco J. Teixeira N.

FMVZ/USP

FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/Unesp-Botucatu

F. Marlon C. Feijo UFERSA

Franz Naoki Yoshitoshi Provet

Cibele F. Carvalho

Gerson Barreto Mourão

ICB/UFMG

FMVZ/Unesp-Botucatu

FMVZ/UFMG

DMV/UFLA

ESALQ/USP

UBA

Lab. Werner e Werner

Geraldo M. da Costa

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Ismar Moraes

Flavio Massone

Christina Joselevitch UNICSUL

UFLA

FCAV/Unesp-Jaboticabal

César A. D. Pereira IP/USP

Idael C. A. Santa Rosa

Flavia Toledo

Geovanni D. Cassali

UAM, UNG, UNISA

Provet, Lab. Badiglian

FMV/UEL

FMV/UFPR

UESC

FMV/UFRRJ

UEL

FCAV/Unesp-Jaboticabal

FMVZ/Unesp-Botucatu FM/UFTO

PUC-PR

CMV/Unesp-Aracatuba

FMV/UFF

VCA/SEPAH

DCV/CCA/UEL

FMVZ/Unesp-Botucatu FMVZ/USP

CMV/Unesp-Araçatuba FMVZ/USP

CMV/Unesp-Araçatuba

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, julho/agosto, 2012

FMV/UEL UNIUBE

FMVZ/USP FSP/US

FMV/UFSM

Hovet Pompéia FMV/UFRRJ

Unoeste-Pres. Prudente FMVZ/Unesp-Botucatu Hovet Pompéia UFPR

CAV/UDESC


Rita de Cassia Garcia FMV/USP

Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ

Rita Leal Paixão FMV/UFF

Robson F. Giglio

Hosp. Cães e Gatos; Unicsul

Rodrigo Gonzalez

FMV/Anhembi-Morumbi

Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu

Ronaldo C. da Costa CVM/Ohio State University

Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio

Rosângela de O. Alves EV/UFG

Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG

Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA

Sady Alexis C. Valdes ICBIM/UFU

Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu

Silvia E. Crusco UNIP/SP

Silvia Neri Godoy UICMBio Sede

Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP

Silvia R. R. Lucass FMVZ/USP

Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP

Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM

Simone Gonçalves Hemovet/Unisa

Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu

Suely Nunes E. Beloni DCV/CCA/UEL

Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR

Valéria Ruoppolo

Int. Fund for Animal Welfare

Vamilton Santarém Unoeste

Vania M. de V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu

Viviani de Marco

UNISA, Hosp. Vet. Pompéia

Wagner S. Ushikoshi

FMV/UNISA e FMV/CREUPI

Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional

Instruções aos autores Artigos científicos inéditos, como trabalhos de pesquisa, revisões de literatura e relatos de caso, enviados à redação são avaliados pela equipe editorial. Em face do parecer inicial, o material é encaminhado aos consultores científicos. A equipe decidirá sobre a conveniência da publicação, de forma integral ou parcial, encaminhando ao autor sugestões e possíveis correções. Relatos de casos são utilizados para apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais, que são discutidas detalhadamente. Revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade. Uma revisão deve apresentar no máximo até 15% de seu conteúdo provenientes de livros e no máximo 20% de artigos com mais de dez anos de publicação. Trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bemestar animal deve sempre receber atenção especial. Para a primeira avaliação, os autores devem enviar pela internet (revistaclinicaveterinaria.com.br/concurso) um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg . As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpis na largura de 9cm. Se os autores não possuírem imagens digitalizadas, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de redação cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas tambem a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e email). Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus títulos no momento em que o trabalho foi escrito. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e ser grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Birem (http://decs.bvs.br/). Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 10, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3cm. Não deixar linhas em

branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso de todo o material ser remetido pelo correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-rom. Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. Evitar citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Procurar se restringir ao "Material e métodos" e às "Conclusões" dos trabalhos. Sempre buscar pelas referências originais consultadas por esses autores. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,3,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. De modo geral, não serão aceitos apuds, somente sendo utilizados para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www.xxxxxxxxxxxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado.

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ECOLOGIA

Em setembro, recomeça o tráfico de filhotes de papagaios

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www.sosfauna.org

o cerrado brasileiro, a partir dos últimos dias do mês de agosto, tem início a eclosão de ovos da espécie Amazona aestiva, popularmente conhecida como papagaio-verdadeiro, papagaio-curau ou papagaio-trombeteiro. Historicamente, sabe-se que grande número desses filhotes nascidos no cerrado são coletados, inescrupulosamente, diretamente em seus ninhos quando ainda são recém-nascidos, sendo transportados e traficados nos grandes centros urbanos, os maiores pólos receptores. Até fevereiro de 1998, antes da vigência da nova lei dos crimes ambientais – Lei Federal n. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 –, a lei que vigorava em relação os crimes contra nossa fauna silvestre era a Lei Federal n. 5.197 de 3 de janeiro de 1967. A lei n. 5.197 tratava das penas em relação aos crimes contra a fauna silvestre de maneira muito mais rígida, sendo que estas eram de reclusão (regime fechado) e os crimes inafiançáveis. Com a chegada da Lei n. 9.605, em fevereiro de 1.998, tais crimes, por meio do Art. 29 desta lei, tiveram as penalidades amainadas e ainda enquadraram-se na Lei 9.099 de 26 de setembro de 1.995, dos Juizados Especiais Criminais, passando a ser considerados como crimes de menor potencial ofensivo. Tal fato, no decorrer dos anos, foi se tornando de amplo conhecimento entre as pessoas que operavam no comércio ilegal de fauna silvestre em nosso país, e a informação de que não havia possibilidade de serem presos em regime fechado – reclusão – se espalhou entre os praticantes desta atividade criminosa, fomentando ainda mais o cruel e ilegal comércio de animais da nossa fauna silvestre. No ano de 2007, em trabalho realizado pela Sétima Delegacia Seccional de Polícia de São Paulo – Itaquera – e com apoio da Organização Não Governamental SOS Fauna, pela primeira vez após 1998 – e com a participação

www.sosfauna.org

N

Filhotes de Amazona aestiva vítimas do tráfico de aves

do Poder Judiciário Paulista na autorização da implantação de escutas telefônicas em praticantes desta atividade ilegal sob suspeita da prática conjunta e contínua entre mais de três pessoas, ou seja, pelo menos quatro –, foi possível levar à prisão, em regime fechado, mais de dez pessoas envolvidas no comércio ilegal de espécimes da fauna silvestre brasileira, em razão do crime previsto no Art. 288 do Código Penal Brasileiro – FORMAÇÃO DE BANDO OU QUADRILHA para o comércio ilegal de espécimes da fauna silvestre brasileira. Tal fato tirou de circulação da região metropolitana de São Paulo elementos que praticavam o comércio ilegal de nossa fauna silvestre em proporções consideráveis em relação ao número de animais traficados. Infelizmente, tais estratégias policiais

É crucial dar atencão imediata à questão dos animais apreendidos. A alimentação com sonda e a prevenção contra qualquer tipo de estresse são condutas que exigem pessoal capacitado e levam à mortalidade quando não praticadas

também começaram a ser percebidas por pessoas envolvidas no tráfico de animais silvestres, notando-se, então, que por parte destes já havia certa cautela quando da negociação com outras pessoas envolvidas no mesmo crime. Além disso ficou mais difícil detectar os diálogos telefônicos, devido à facilidade que os envolvidos têm de adquirir novos números de celulares e de trocálos constantemente. Para trazer mais problemas e contribuir ainda mais com a degradação de nossa biodiversidade, em julho de 2011 ocorreu uma alteração no Código de Processo Penal Brasileiro, pela qual os crimes com penas previstas inferiores a quatro anos dariam ao agente, sob fiança, o direito de responder aos delitos em liberdade. Tal alteração no Código de Processo Penal teve efeito retroativo, e

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uma das grandes quadrilhas que operavam o tráfico de animais silvestres nos Estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul teve seus elementos colocados em liberdade apenas quatro dias depois da alteração no Código de Processo Penal. O presidente da ONG Sos Fauna destaca que “a possibilidade de levar à prisão um grupo de pessoas que cometa crimes contra a nossa fauna silvestre se torna algo praticamente impossível de acontecer no Brasil, em consequência de sua legislação extremamente flácida, que fomenta de forma explícita, inaceitável e revoltante o tráfico de animais silvestres em qualquer ponto do território brasileiro”. Estima-se que, anualmente, pelo menos 12 mil filhotes são retirados somente do Estado de Mato Grosso do Sul para atender, principalmente, ao comércio ilegal nas regiões metropolitanas dos municípios de São Paulo e Rio de Janeiro. Nessa estimativa não está sendo contabilizada a retirada de filhotes que também ocorre nos Estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Minas Nome vulgar

Gerais e oeste do Estado da Bahia. Projeto De Volta pra Casa Em 2006, uma barreira policial interceptou na Rodovia Presidente Castelo Branco, município de Quadra – SP, um veículo contendo em seu portamalas CENTO E NOVENTA E DOIS filhotes da espécie papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Desse total, 72 filhotes foram encaminhados e ficaram sob a guarda da SOS Fauna, que há quase seis anos os vem mantendo em condições de bemestar e dedicando-se para alcançar o objetivo de reintroduzi-los, pois foi possível, por meio de intensa investigação, localizar a origem geográfica de coleta dos filhotes. Desde 2008 essas aves já poderiam ter sido reintroduzidas, mas isso foi impedido devido às dificuldades impostas pelo próprio sistema. Porém, a reintrodução está próxima e informações atuais podem ser acompanhadas pela página da SOS Fauna: www.sosfauna.org . É importante destacar todo esse empenho porque a maioria dos animais silvestres apreendidos – mais de 95%

Nome científico

Papagaio-verdadeiro Amazona aestiva Periquito-de-encontro-amarelo Brotogeris chiriri Periquito-estrela Aratinga aurea Periquitão-maracanã Aratinga leucophthalma Tucano-toco Ramphastos toco TOTAL DE AVES PREVISTAS PARA SOLTURA

Nº de espécimes previstos 80 24 6 2 2 114

Projeto De Volta pra Casa: espécies e números de espécimes previstos para reintegração em vida livre no bioma de cerrado

são aves – não regressa à natureza e, principalmente, não às suas regiões geográficas de origem. Muitos são encaminhados a criadores comerciais e conservacionistas, principalmente quando se trata de espécies de interesse destes, tanto para reprodução em cativeiro quanto para enriquecer plantéis, salvo raros e isolados casos. Tal fato gera no Poder Público uma espécie de acomodação, ou seja, já que há quem receba esses animais, porque se preocupar com o regresso à natureza? Soma-se o fato de que solturas realizadas com embasamento científico têm custos bastante elevados. Esta realidade não afeta somente os espécimes apreendidos, mas também causa danos aos ecossistemas aos quais pertenciam, pela ausência dos mesmos no cumprimento de suas respectivas funções ecológicas. Detalhamento do Projeto De Volta pra Casa 1. Avaliação de vôo e comportamento (Juquitiba – SP): Todos os indivíduos estão aptos à soltura e não apresentam sinais de humanização. Os indivíduos da espécie Amazona aestiva, durante o tempo de cativeiro, desenvolvem vôo todos os dias, em recinto com 14 metros de comprimento, tendo a musculatura em perfeitas condições para vôos absolutamente seguros de ponto a ponto, inclusive, pelo nível de força muscular de todos eles, praticamente pode-se assegurar que não terão problemas em realizar trânsitos aéreos de ponta a ponta superiores a centenas de metros. Em nenhum momento durante o cativeiro, salvo nos momentos de tratamento, estes papagaios

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ECOLOGIA

tiveram contato frequente com humanos, apresentando, hoje principalmente face à época do período reprodutivo, nível de agressividade bastante elevado. O restante dos indivíduos, psitacídeos das espécies Aratinga aurea, Aratinga leucophthalma e Brotogeris chiriri, apresentam bom vôo, observado nos últimos dois anos, e força muscular compatível com a espécie, além de bom nível de agressividade e nenhum sinal de humanização. Os dois indivíduos da espécie Ramphastos toco não apresentam nenhum sinal de humanização e têm elevado nível de agressividade. Conseguem realizar vôos ascendentes de subida ao poleiro com inclinação média de 45 a 65 graus, por distância de cerca de dois metros sem nenhuma dificuldade. 2. Avaliação das condições sanitárias antecedentes à soltura: As aves participantes do programa de soltura vêm sendo mantidas em condições sanitárias adequadas desde sua apreensão, contando com manejo diário de limpeza e acompanhamento veterinário, não apresentando problemas clínicos durante o tempo em que estão na SOS FAUNA. 3. Sistema de marcação: Todas as aves serão identificadas com sistema de marcação desenvolvido pela SOS FAUNA e também receberão anilhas de aço numeradas e com o telefone de contato da SOS FAUNA. 4. Recintos de ambientação e soltura: Indivíduos da espécie Amazona aestiva serão acomodados em recinto modular em tela de alambrado fio 14, de 8 metros de comprimento, 3 metros de largura e 3 metros de altura, tendo volume total de 72 metros cúbicos. O recinto foi montado a 285 metros das edificações da unidade, tendo em suas duas extremidades, de quem olha dos alojamentos para o mesmo, árvores dormitórios, de folhagem relativamente densa, e ao fundo mais um grupo de quatro árvores semelhantes, sendo que mais ao fundo, a cerca de aproximadamente 120 metros do recinto, tem início uma pequena mata composta de vegetação 14

nativa do cerrado, com inúmeras árvores que também podem servir de dormitório. A localização do recinto tem boa exposição ao sol e excelente ventilação. O recinto disponibilizará poleiros balançáveis, compatíveis com o diâmetro dos galhos que normalmente as aves encontrarão em vida livre e com a condição destes, além de uma pequena árvore de pequizeiro em uma das extremidades. Também há proteções para as aves e para a alimentação em cativeiro. Indivíduos da espécie Aratinga aurea, Aratinha leucophtalma e Brotogeris chiriri utilizarão um recinto modular com peças de 3 metros de altura, 1 de largura e 3 de comprimento. 5. Alimentação em cativeiro, durante ambientação: As aves receberão tratamento diário. De forma gradual e sob monitoramento e avaliação, serão oferecidos na dieta alimentar das aves itens que são encontrados em vida livre de acordo com a sazonalidade, até que componham pelo menos dois terços da alimentação antecedente à soltura. Os alimentos serão apresentados na sua forma natural, não se retirando cascas, talos, folhas e espinhos. Os outros itens referentes à alimentação permanecerão os mesmos utilizados enquanto estiveram em cativeiro, tendo como principais itens maçã, banana, laranja, mangas e sementes de girassol, em quantidade reduzida. 6. Soltura: A soltura será realizada na aurora, em dia de sol, no período pós-reprodutivo, observando-se que neste o nível de agressividade, tanto dos indivíduos de vida livre como dos objeto da soltura, cai, diminuindo a possibilidade de agressões entre estes. A soltura ocorrerá em período não inferior a trinta dias após a chegada das aves à fazenda/área de soltura. Comedouros serão dispostos no entorno do recinto de soltura, com distâncias variáveis entre 5 e 150 metros, sendo que os de menores distâncias devem permanecer no campo visual das aves, estimulando a saída destas em busca de alimento no dia da soltu-

ra. Outros estarão localizados próximos a grupos de árvores que podem servir de dormitórios iniciais e área de descanso, com distâncias que vão de 10 metros do recinto até cerca de 50 a 200 metros deste. 7. Pós-soltura e monitoramento: O monitoramento das aves ocorrerá duas vezes ao dia, iniciando-se no amanhecer por um período médio de três horas e continuando ao entardecer, cerca de três horas antes do término da luz solar. Terá início no ponto de recinto de soltura em direção aos arredores, obedecendo distâncias em acordo com a ocupação dos indivíduos a partir do início de vida livre. A forma de monitoramento, o curso das tarefas, sempre documentadas (fotografias, vídeos e anotações), serão moldados em função do comportamento das aves em vida livre, buscando a maior quantidade de informações possível e os processos que se tornarem necessários para que a reintegração à natureza possa ser realizada com sucesso. Nos primeiros trinta dias a alimentação suplementar será oferecida duas vezes ao dia, podendo ser alterada de acordo com a avaliação do comportamento alimentar dos espécimes, deslocamentos ou permanência próximo ao ponto de soltura. Posteriormente ao período inicial da soltura, ou seja, após os 30 dias, o oferecimento de alimentação suplementar se dará em função das atividades das aves em vida livre, podendo prolongar-se por mais alguns meses. Cabe lembrar que este grupo de Amazona aestiva teve pouco contato com a espécie humana, e nenhum indivíduo imita voz humana, pois estão sob os cuidados da SOS Fauna desde filhotes e o contato humano com os mesmos foi sempre em silêncio e durante o menor tempo possível. Tais pontos acabam por favorecer o processo de regresso à vida livre em comparação com grupos que tiveram suas apreensões originadas em residências, cujas aves têm contato constante com a espécie humana, imitam sua voz e são mansas. Espera-se que a maior dispersão das aves comece a ocorrer a partir dos primeiros 60 a 90 dias.

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ECOLOGIA

Os países latinoamericanos no tráfico internacional de aves

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maioria dos países latinoamericanos possui espécies de aves que estão na lista do tráfico internacional. No Peru, por exemplo, os psitacídeos são protegidos pelo Decreto Supremo n. 034-2004-AG (Aprueban categorización de especies amenazadas de fauna silvestre y prohíben su caza, captura, tenencia, transporte o exportación con fines comerciales). A lista completa das espécies ameaçadas no Peru está disponível no sítio web do governo: www.sernanp.gob.pe/sernanp/archivos/imagenes/vida/listado%20fauna %20amenazada.pdf . Por enquanto, o canário-da-terra peruano (Sicalis flaveola valida) não faz parte da lista de espécies ameaçadas no Peru e isso facilita o movimento do tráfico internacional dessa espécie para o Brasil. Em abril desse ano, operação da Polícia Federal (PF) desarticulou quadrilha internacional de tráfico de aves. Segundo Marlon Jefferson de Almeida, superintendente da PF em Pernambuco, o grupo poderia ter traficado até 60 mil animais por ano. A Bolívia, por sua vez, possui parques naturais que abrigam um total de 10 espécies de araras. No entanto,

quatro delas enfrentam sérias ameaças para sua conservação devido à perda de habitat e tráfico. Na Argentina, a espécie Rey del Bosque (Pheucticus aureoventris) está em franca diminuição, consequência tanto da captura indiscriminada que sofre como da modificação de seus ambientes. Na América Latina, apesar de muitas aves

estarem protegidas pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES), na prática isso ainda não acontece.

O DEPAVE e o Parque Ecológico do Tietê se recusaram a receber mais de 1.000 canários (Sicalis flaveola valida), fruto de apreensões no primeiro semestre de 2012. Acabaram ficando sob a guarda da SOS Fauna. Há anos a ONG não recebe nenhuma ajuda governamental e conta com doações e vendas dos bazares que realiza. Confira a enorme variedade de itens a preços abaixo do mercado: www.sosfauna.meubox.com.br

Documento emitido pelo Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo destaca a preocupação com a nossa fauna silvestre em função da dispersão nacional da espécie exótica Sicalis flaveola valida

Recinto criado pelo SOS Fauna para receber canários-da-terra peruanos (Sicalis flaveola valida)

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ECOLOGIA

Observação de aves na América do Sul

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o Brasil, há alguns anos vem sendo realizado na cidade de São Paulo evento focado na difusão da prática de observação de aves: o Avistar. Além de palestras com diversos especialistas, o evento promove uma feira e atividades de educação ambiental para crianças, entre outras atividades. Este ano o Avistar começou a avançar um pouco mais. Além de realizar tradicionalmente o evento em São Paulo, também foi para a cidade do Rio de Janeiro com o nome de Avistar Rio – a primeira edicão do Encontro Brasileiro de Observação de Aves no Rio de Janeiro. A observação de aves também é bem difundida em outros países da América Latina. Na Argentina, o site Aves Patagonia (www.avespatagonia.com) promove viagens para observação de aves e já está com data agendada para saídas a campo antes e

depois de evento anual focado na observação de aves: a South America Bird Fair / Feria de Aves Sudamérica de www.feriadeaves.com.ar, que ocorrerá em novembro, em San Martín de los Andes, Patagônia, Argentina. No Chile a observação de aves conta com uma wikiaves.com.br - Sítio de conteúdo interativo, excelente ferramenta, o direcionado à comunidade brasileira de observaAtlas das aves nidifican- dores de aves, com o objetivo de apoiar, divulgar e tes do Chile – Guia do promover a atividade de observação de aves, forobservador, desenvolvido necendo gratuitamente ferramentas avançadas para pela Red de Observadores controle de fotos, sons, textos, identificação de espéde Aves y Vida Silvestre de cies, comunicação entre observadores, entre outras Chile (ROC). O projeto teve início em agosto de 2011 e o seu desenvolvimento permitirá avançar no conhecimento da distribuição, população e ameaças que experimentam as mais de 300 espécies de aves que se reproduzem no Chile.

Atlas de las aves nidificantes de Chile – Guía del observador

www.avespatagonia.com 18

www.redobservadores.cl/CENSOS/ATLAS-GUIA-DELOBSERVADOR.pdf Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, julho/agosto, 2012



SAÚDE PÚBLICA

Cientistas usam droga adaptada para tratar leishmaniose visceral m fármaco empregado na clínica U veterinária para tratar determinadas parasitoses demonstrou alta eficá-

cia para o tratamento de leishmaniose visceral em modelos animais, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. O estudo mostrou que a buparvaquona teve eficácia semelhante à do medicamento padrão utilizado contra a leishmaniose, mas com dose 150 vezes menor. De acordo com o coordenador da pesquisa, André Gustavo Tempone, do Instituto Adolfo Lutz, já se sabia que a buparvaquona é um dos fármacos mais ativos contra a leishmania no modelo in vitro, mas sua ação nunca havia sido reportada em modelos in vivo. “Há grande expectativa de que esses resultados levem a futuros testes em humanos, pois o medicamento já se mostrava muito eficaz em testes in vitro. Só que em modelos animais sua ação era muito limitada, pois havia um gargalo: a droga não chegava ao fígado e ao baço do animal, que é onde ocorre a infecção pela leishmania”, disse Tempone à Agência FAPESP. Para driblar o gargalo, os pesquisadores utilizaram lipossomas – vesículas esféricas utilizadas para dirigir o fármaco de forma controlada com maior precisão à célula infectada. “Com o carreador lipossomal, conseguimos pela primeira vez demonstrar que é possível utilizar o medicamento para tratar a leishmaniose visceral”, destacou. A pesquisa foi realizada no âmbito do projeto “Combinações terapêuticas na leishmaniose visceral: o potencial anti-leishmania de bloqueadores de canais de cálcio e o uso de nanoformulações lipossomais”, que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular e foi encerrado em julho de 2011. O estudo faz parte também da pesquisa de doutorado de Sandra Reimão, realizada com bolsa da FAPESP sob a orientação de Tempone. Além de

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Reimão e Tempone, participaram do artigo os pesquisadores Fábio Colombo e Vera Pereira-Chioccola – todos do Departamento de Parasitologia do Instituto Adolfo Lutz. Atualmente, Tempone coordena o projeto “From trypanosomes to Leishmania: novel drug candidates for the treatment of neglected parasitic diseases”, apoiado no âmbito do acordo de cooperação científica FAPESPKing's College London. Fórmula mais simples Segundo Tempone, o novo trabalho é especialmente importante por se tratar de um estudo de adaptação de fármacos já existentes. “Esse tipo de estudo – conhecido como piggy-back chemotherapy –, embora não traga inovação no aspecto de descoberta de novas drogas, é importante do ponto de vista da saúde pública devido à possibilidade de colocar fármacos no mercado com mais rapidez. Como se trata de uma droga que já está no mercado, podemos dispensar, por exemplo, os testes de toxicidade. Começamos assim a desenvolver a nova aplicação a partir de uma fase mais avançada”, explicou. A buparvaquona, segundo ele, é uma droga de uso clínico veterinário empregada contra uma parasitose, principalmente na Europa. Sua atividade antileishmania foi revelada pela primeira vez em um estudo publicado em 1992. No entanto, os testes na ocasião foram feitos com a leishmaniose visceral provocada pela Leishmania donovani – o parasita predominante em países como a Índia. No Brasil, predomina a Leishmania chagasi. “Essa droga foi perseguida por muitos anos pelo pessoal da área de parasitologia, que a tentava fazer funcionar, pois ela mostrava alta eficiência in vitro. O ineditismo da nossa contribuição consistiu em fazer a droga funcionar em modelos animais com a ajuda dos lipossomas”, contou Tempone. Os pesquisadores utilizaram lipos-

Fonte: Agência Fapesp por Fábio Castro http://agencia.fapesp.br/15133

somas convencionais – e não nanolipossomas – para que a formulação fosse mais simples. “Pensamos nas necessidades da indústria, que poderá no futuro produzir a droga. Por isso, tivemos a preocupação de fazer a formulação mais simples possível, para facilitar o escalonamento”, disse. A formulação utilizada incluiu o uso de um fosfolipídio modificado que confere um direcionamento maior para a célula hospedeira, que na leishmaniose é o macrófago, presente no fígado e baço do animal. “Utilizamos modelos de hamsters infectados com a Leishmania chagasi. Essa formulação lipossomal levou a droga ao fígado e ao baço dos animais. Ela mostrou que pode reduzir em 89% a carga parasitária no baço e em 67% a carga de parasitas no fígado. O mais importante, no entanto, é que para conseguir a mesma eficácia do glucantime – que é a droga padrão contra a leishmaniose – utilizamos uma dose 150 vezes menor. Graças à tecnologia de PCR em tempo real, os pesquisadores conseguiram utilizar a biologia molecular como ferramenta no laboratório. “Utilizando a PCR em tempo real, conseguimos quantificar de forma precisa a ação de uma droga no modelo animal. Isso tem facilitado muito nossos estudos sobre novos fármacos”, disse Tempone. A partir de agora, os pesquisadores trabalharão em novos estudos com modelos animais para definir as melhores vias de administração, a posologia adequada e o tempo de administração ideal. “Vamos investigar também os detalhes sobre a dinâmica de biodistribuição lipossomal desse fármaco no modelo animal”, disse. O artigo Effectiveness of liposomal buparvaquone in an experimental hamster model of Leishmania (L.) infantum chagasi, de Juliana Reimão e outros, pode ser lido por assinantes da Experimental Parasitology em www.journals.elsevier.com/experimental-parasitology .

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MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Saúde animal como promoção de saúde humana em coletividades

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Programa Cireneu tem como objetivos específicos: educação em saúde – reuniões com a comunidade sobre o tema com filmes, palestras e discussões. Apresentação dos resultados de exames e discussão das ações de controle; caracterização da população canina, atendimento clínico-cirúrgico aos animais – esterilização de machos e fêmeas – e colocação de microchip; diagnóstico de leishmaniose em cães – coleta de sangue para avaliação sorológica e swab de mucosa conjuntival para PCR; acompanhamento da dinâmica populacional dos cães nas comunidades – mortalidade, fugas e renovação (nascimentos e introdução de novos cães); programa de controle do vetor manejo ambiental – mutirão de retirada do lixo orgânico, poda de árvores, cuidados com lotes vagos e terrenos públicos, introdução de plantas repelentes ao vetor nas comunidades e aplicação de inseticidas centrados nos cães – colares impregnados com deltametrina; e vacinação dos cães contra leishmaniose visceral e outras doencas, tais como cinomose, parvovirose e leptospirose. O programa é coordenado pelo prof. dr. Vitor Márcio Ribeiro (PUC Minas) e conta com a participação de professores, acadêmicos de medicina veterinária da PUC Minas – Betim, moradores do município de Igarapé, gestores municipais e agentes do serviço de controle de zoonoses. Ele vem sendo

Programa Cireneu: www.programacireneu.blogspot.com

desenvolvido pelo Departamento de Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas Betim e pelo Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais como o projeto de extensão “Saúde animal como promoção de saúde humana em coletividades – ações de controle de doenças em cães com ênfase em leishmaniose visceral”. Na equipe de professores do projeto está: a dra. Marilene Suzan Marques Michalik (UFMG), a dra. Maria Norma de Melo (UFMG), o dr. Sydnei Magno da Silva (UFMG), a dra. Maria

Coeli Gomes Reis Lage (PUC Minas), o MS. Flávio Augusto Salim Nogueira (PUC Minas), o dr. Miguel Houri Neto (UFMG), o MS. Luis Fernando Lucas Ferreira (PUC Minas) e o MS. Alysson Lamounier (PUC Minas). O programa já conta com o apoio da Hertape, fornecendo vacinas Leishtec; da Pfizer, com vacinas as Leishmune e Doramune; da Comunidade dos Frateres de Igarapé apoiando o trabalho dos acadêmicos; da Virbac, que participa com os microchips para os cães inseridos no programa; do Tecsa, com fornecimento de seringas e agulhas; do IDEXX Laboratório; e do Brasileish.

Curso FOCA – Formação de Oficiais de Controle Animal

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erá realizado, na cidade de Jundiaí, SP, entre os dias 10 e 14 de setembro, o próximo Curso FOCA. Entre os tópicos do curso destacam-se: • Como fazer o manejo etológico de cães e gatos baseado nos aspectos comportamentais, de bem-estar animal e segurança do trabalhador e da comunidade?; • Quais estratégias são efetivas para o controle de animais abandonados e soltos nas ruas?; 22

• Como humanizar os serviços de controle de zoonoses e manejo populacional de cães e gatos? O curso, uma realização do Itec (Instituto Técnico de Educação e Controle Animal), é indicado para todos os profissionais que trabalham direta ou indiretamente com cães e gatos ou com manejo populacional. Informações adicionais sobre esse e e outros cursos e eventos promovidos pelo Itec: itecbr@gmail.com

Curso FOCA – resultados positivos em várias cidades brasileiras

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NOTÍCIAS

Associação Mata Ciliar: há 25 anos preservando a vida

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o dia 17 de maio de 2012, na sede da Associação Mata Ciliar (AMC), em Jundiaí, SP, ocorreu a inauguração da 1ª fase do Centro Jaguaretê – Tecnologia Aplicada para a Conservação da Biodiversidade. Um

centro veterinário que pudesse aprimorar e otimizar o atendimento aos animais silvestres que chegam debilitados e necessitando de cuidados especiais sempre foi um sonho para toda a equipe da AMC. Agora, o sonho começa a se realizar...

Na ocasião ocorreu o pré-lançamento do Laboratório de Reprodução Animal Dr. Renato Campanarut Barnabe e a integração ao Projeto Resgate Animal de uma ambulância adquirida por meio de convênio com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Em 2012 a Associação Mata Ciliar está comemorando 25 anos de atividade e há 17 anos desenvolve trabalhos de reabilitação de animais silvestres em Jundiaí, SP. Associação Mata Ciliar: mataciliar.org.br

Novas instalações e equipamentos para garantir o sucesso no atendimento do constante número de animais silvestres que chegam necessitando de reabilitação e cuidados especiais

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NOTÍCIAS

Argentina tem boas opções para estudos e para passeios

XXI Jornadas Veterinarias en Pequeños Animales, evento realizado em Buenos Aires, Argentina, reuniu grande quantidade de médicos veterinários da região e de outros países

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urante os dias 6 e 7 de maio de 2012 ocorreu na Argentina as Jornadas Veterinarias (www.jornadasveterinarias.com). O evento já é realizado há mais de 20 anos e reune veterinários de diversas regiões da Argentina

Stand da revista Clínica Veterinária nas XXI Jornadas Veterinarias en Pequeños Animales recebeu visita de brasileiros de Santa Catarina

e de outros países latinoamericanos. Além do evento contar com palestrantes de renome internacional, sempre propicia bons negócios em face ao grande número de expositores que todo ano estão presentes.

II Congreso Veterinario Patagónico www.cvp2012.blogspot.com.ar

Programe-se para participar do II Congreso Veterinario Patagónico: 24 e 25 de novembro de 2012, em Bariloche, Argentina

Para os que ainda tem a intenção de viajar para a Argentina este ano, o II Congreso Veterinario Patagónico é uma excelente opção que reúne aperfeiçoamento profissional com turismo em uma cidade tradicional pelos seus encantos: Bariloche. O congresso abordará tanto pequenos quanto grandes animais. Na programação para pequenos animais estão previstas palestras sobre cirurgia, oncologia, dermatologia, endocrinologia, etologia, hemoterapia, traumatologia, emergência e terapia intensiva. Quem quiser desfrutar um pouco mais da região da patagônia pode aproveitar para visitar San Martín de los Andes e conferir a Feria de Aves de Sudaméria (www.feriadeaves.com.ar), evento que terá início no dia 22 de novembro, 3 dias antes do II Congreso Veterinario Patagónico, sendo focado aos interessados em observação de aves. 26

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NOTÍCIAS

Mais de 70 palestrantes na 11ª Conferência Sul-americana de Medicina Veterinária Congresso acontecerá em paralelo à PET Rio VET, feira que marca a parceria inédita entre a NürnbergMesse Brasil e a LK Eventos

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m agosto, no Centro de Convenções SulAmérica, o Rio de Janeiro será palco da PET Rio VET. Como grande diferencial, em paralelo à feira, acontece a 11ª Conferência Sul-americana de

Medicina Veterinária, que mostrará as inovações e tendências nas áreas de clínica, cirurgia, anestesiologia, ortopedia, oncologia, diagnóstico por imagem, endocrinologia e medicina felina. Serão

Veterinário da família é tema de palestra de Arthur Paes Barretto na sala de medicina veterinária do coletivo (shelter medicine), que ocorre após palestra do prof. Alexander Biondo, da UFPR/PR, um dos responsáveis pela difusão da especialidade no Brasil

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realizados ainda os fóruns sobre dor e leishmaniose – em função dos seus aspectos de grande relevância para os cuidados com os animais e para a saúde pública, entre outros grandes temas. Em paralelo e visando as clínicias veterinárias e petshops, será realizado o Seminário Internacional de Sistematização e Marketing em Clínicas Veterinárias, com uma abordagem inovadora sobre novos modelos de gerenciamento de estabelecimentos comerciais, a cargo de Steve Kornfeld (DVM, CPCC, Veterinary Leadership Coach), um dos maiores especialistas da área na atualidade. Além disso, haverá o Seminário de Tosa e o Seminário de Valorização Profissional, promovido pelo CRMV/RJ. Para compor a grade da conferência, foi escalado um grupo renomado de 70 especialistas de diversas áreas e vertentes da medicina veterinária, como Denise Fantoni, Rodrigo Rabelo, Cassio Auada, Roberto Fecchio, Karine Kleine, Max Freire, Rubens Bittencourt, Wanderlei Severo Jr., Alexander Biondo, Andrigo De Nardi, Jorge Pereira, Kaleizu Rosa, Julio Cesar Cambraia Veado, Stelio Pacca Loureiro Luna, Fernando Ibanez, Archivaldo Reche, entre outros. Cerca de mil participantes dos Estados do RJ, MG, ES e DF, entre outras localidades, são esperados para o evento, que contará também com o Seminário de Lojistas, desenvolvido especialmente para os empreendedores do mercado pet.

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Criada a Associação Brasileira de Neurologia Veterinária

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m abril de 2012, durante o 33º Congresso da ANCLIVEPA, realizado na cidade de Curitiba, foi criada a Associação Brasileira de Neurologia Veterinária (ABNV). Uma reunião prévia havia sido realizada, também em Curitiba, em março deste ano, durante o 6º Neurovet, e todos os interessados foram convidados a ir à Curitiba durante o Congresso da Anclivepa para participarem da fundação da Associação e da eleição da diretoria. A ABNV visa congregar os profissionais que atuam na área de neurologia e promover eventos que estimulem o crescimento da especialidade no Brasil.

Durante a reunião em Curitiba foi eleita por unanimidade a primeira diretoria da ABNV, cuja gestão terá uma duração de três anos. A diretoria eleita é composta pelos seguintes membros: presidente: Ronaldo Casimiro da Costa; vice-presidente: Mônica Vicky Bahr Arias; 1º secretário: Rogério Martins Amorin; 2º Secretário: Vitor Márcio Ribeiro; 1º Tesoureiro: Alex Adeodato; 2º Tesoureiro: Ragnar Schamall; diretor científico: Bruno Benetti Junta Torres; diretor social e de marketing: Alexandre Mazzanti

Participantes da fundação da ABNV. Os membros eleitos da diretoria estão sentados. Da esquerda para direita são: Alex Adeodato, Bruno Benetti Junta Torres, Mônica Vicky Bahr Arias, Ronaldo Casimiro da Costa, Ragnar Franco Schamall, Rogério Amorim, Vitor Márcio Ribeiro e Alexandre Mazzanti

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2º CIABEV – Búzios - RJ

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e 15 a 17 de novembro de 2012 acontece em Búzios, RJ, o 2º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária (CIABEV). Alguns temas de destaque do congresso são: • fisiopatogenia das principais manifestações clínicas das doenças endócrinas; • biologia molecular no carcinoma de tireoide canino; • painel hormonal da adrenal; • tumores adrenais – tratamento cirúrgico; • disruptores endócrinos; • diabete canina x diabete felina; • o papel da nutrição na obesidade animal; • hipoglicemias e insulinomas; • dermatohistopatologia e sua importância nas doenças endócrinas. Entre os palestrantes internacionais confirmados estão: • Richard W. Nelson (DVM, DACVIM - USA. Departamento de Medicina e Epidemiologia da Universidade da Califórnia - faculty.vetmed.ucdavis.edu/faculty/rwnelson); • Mark E. Peterson (DVM, Dip ACVIM - USA - www.drmarkepeterson.com); • Jacqueline S. Rand (BVSc, DVSc Austrália - www.biomedexperts.com/Profile. b m e / 1160580/ Jacquie_S _ Rand); • Paula Pessina (Uruguai). A data limite para submissão de trabalhos científicos é 12/08/2012, sendo aceitos resumos em inglês e português. Informações detalhadas do congresso estão disponíveis na internet em www.ciabev.com.br .

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Reprodução Falhas reprodutivas e seu tratamento em cães – relato de casos Reproductive failure and its treatment in dogs – report of cases Fallas reproductivas y su tratamiento en perros – relato de casos Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 34-48, 2012 Guilherme Ribeiro Valle MV, dr. prof. DMV/PUC Minas

guilhermerv@pucminas.br

Cid Bastos Fóscolo

MV, mestre, dir. téc. Divisão Veterinária, Lab. Hermes Pardini veter1@labhpardini.com.b

Resumo: A busca de assistência veterinária para solucionar casos clínicos de falhas reprodutivas caninas é cada dia mais frequente. São apresentados cinco casos clínicos com desfecho bem sucedido. Relatam-se três casos de cadelas com alterações cíclicas que impediam o estabelecimento da gestação: uma pug com cio silencioso, uma buldogue inglesa com anestro persistente e uma poodle com anestro curto. Elas se tornaram gestantes após tratamentos específicos. Relata-se também o caso de um pastor alemão macho com hipotireoidismo, apresentando baixa qualidade seminal e infertilidade, que obteve melhora após tratamento com l-tiroxina. O quinto caso é de um casal de cocker americanos cujo acasalamento não era bem sucedido devido à baixa qualidade seminal do cão senil, sendo obtida a gestação após a utilização de manejo reprodutivo adequado. Unitermos: fertilidade, hipotireoidismo, ciclo estral, manejo reprodutivo Abstract: The search for veterinary assistance in cases of canine reproductive failure has become increasingly more frequent. Five successful clinical cases are presented. Three cases of bitches with cyclic disorders that impaired pregnancy are reported – a Pug with silent heat, an English Bulldog with persistent anestrus and a Poodle with short anestrus, all of which became pregnant after specific treatments. The fourth case is of a German Shepherd male with hypothyroidism accompanied by poor semen quality and infertility, which recovered after treatment with l-thyroxine. The fifth case consists of a couple of American Cockers whose mating was not successful due to low sperm quality of the senile dog. Pregnancy was achieved after adequate reproductive management. Keywords: fertility, hypothyroidism, estrous cycle, reproductive management Resumen: Cada día es mas frecuente la consulta veterinaria para solucionar casos clínicos de fallas reproductivas en perros. En este trabajo se presentan cinco casos donde el tratamiento fue exitoso. Se relatan tres casos de hembras con alteraciones cíclicas que impedían la preñez: una Pug con celo silencioso, una Buldog Inglesa con anestro persistente y una Caniche con anestro corto. Estas perras, luego de tratamientos específicos, quedaron preñadas. Se relata también el caso de un macho Ovejero Alemán con hipotiroidismo que presentaba baja calidad seminal e infertilidad, y que mejoró después del tratamiento con l-tiroxina. El quinto caso es de una pareja de Cocker Americano que no podían cruzarse debido a la baja calidad seminal del macho adulto, donde se obtuvo la preñez después de un manejo reproductivo adecuado. Palabras clave: fertilidad, hipotiroidismo, ciclo estral, manejo reproductivo

INTRODUÇÃO A clínica reprodutiva, especialmente nos casos de problemas de fertilidade, é umas das áreas da medicina veterinária de cães em que muitos clínicos ainda enfrentam dificuldades. Há cerca de dez anos constatava-se no Brasil o grande desconhecimento por parte dos proprietários de cães e clínicos veterinários a respeito das possibilidades terapêuticas para esses casos 1. Felizmente, o panorama tem mudado 2, 34

mas os diagnósticos e tratamentos em casos de falhas reprodutivas, tanto masculina quanto feminina, são ainda pouco frequentes. A subfertilidade no cão macho é definida como a ocorrência de taxas de nascimento menores que 75% quando cadelas com perfil reprodutivo normal são adequadamente acasaladas. A infertilidade é a impossibilidade completa de tornar cadelas normais gestantes, e a esterilidade é a impossibilidade

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de produzir ou ejacular espermatozoides normais 3. Da mesma forma se poderia estender o raciocínio às cadelas, considerando subférteis aquelas com baixas taxas de nascimento de filhotes quando acasaladas com cães com perfil reprodutivo normal; inférteis aquelas que nunca se tornaram gestantes, mesmo quando acasaladas com machos normais; e estéreis aquelas que não ovulam ou têm impedido o contato entre os ovócitos e espermatozoides 1,2. O diagnóstico dos problemas de fertilidade na espécie canina tem como obstáculos a dificuldade de exploração clínica de muitas partes do aparelho genital feminino; o intervalo entre os cios fisiologicamente longo; e a busca pelo proprietário de diagnóstico e tratamento quando a cadela muitas vezes já se encontra em idade avançada 4. Além disso, especialmente no Brasil, a especialização na clínica reprodutiva canina é ainda muito recente, tendo a primeira associação de médicos veterinários que lidam nessa área sido criada recentemente, em 2001 (Gerpa), entidade que está hoje ligada ao Colégio Brasileiro de Reprodução Animal (CBRA) 2. Conhecer a fisiologia do ciclo estral da cadela é fundamental. Ele é formado por proestro, estro, diestro/gestação e anestro. Cada fase é detalhada a seguir 5,6. O proestro tem duração de sete a nove dias, havendo crescimento folicular ovariano com consequente elevação das concentrações sanguíneas de estrógenos 6. Isso determina o início do corrimento serosanguinolento vulvar; o aumento de volume vulvovaginal; a atração sexual do macho, que entretando não é aceito pela fêmea; e o aumento gradativo da espessura do epitélio vaginal e consequente transição na citologia vaginal, também gradativa 5,6. A citologia inicial tem predomínio de células parabasais e grande presença de neutrófilos, passando por células intermediárias até atingir um predomínio de células superficiais com redução da presença de neutrófilos 5. O estro tem duração também aproximada de sete a nove dias 6. Caracteriza-se nos primeiros dias pela luteinização pré-ovulatória dos folículos ovarianos, que se inicia no final do proestro, havendo redução gradativa das concentrações circulantes de estrógenos e elevação das de progesterona 6. Essas modificações hormonais determinam a redução da intensidade da secreção serosanguinolenta vulvar; redução do volume vulvovaginal; atração sexual do macho com aceitação pela fêmea e cópula; e manutenção da espessura do epitélio vaginal 5,6. Na citologia, há predomínio de células superficiais sem neutrófilos 5. Cerca de 48 horas após a transição proestro/estro ocorre a ovulação, liberando ovócitos ainda imaturos para fecundação (ovócitos primários), que em 48 horas se tornam maduros e férteis (ovócitos secundários), permanecendo nessa condição por 72 horas 6. Aproximadamente 24 a 48 horas após o final do período fértil termina o estro, iniciando-se a fase de diestro – ou gestação, se houve fecundação –, com duração de sessenta dias 6. No diestro/gestação há aumento gradativo das concentrações circulantes de progesterona até cerca da metade do período, quando declina até níveis basais ao seu final, culminando com o parto, em caso de gestação 6. Durante o diestro/gestação os níveis circulantes de prolactina se elevam,

iniciando queda gradativa ao longo da próxima fase, o anestro, que tem duração variável de quatro a doze meses, dependendo da raça 6. Ao longo do anestro ocorre intensa redução da atividade ovariana, até que, nos seus estágios finais, o crescimento folicular se reinicia, culminando com novo proestro 6. Ao longo do diestro/gestação e do anestro não há corrimento serosanguinolento vulvar; não há atração sexual do macho pela cadela; e o epitélio vaginal permanece delgado, caracterizando predomínio de células parabasais, intermediárias e neutrófilos presentes na citologia 5,6. Este artigo tem como objetivo apresentar alguns casos clínicos de falhas reprodutivas em cães com resolução bem sucedida, indicando que a ampliação do conhecimento da fisiologia reprodutiva da espécie, o diagnóstico e a terapêutica adequados tornam a intervenção do médico veterinário mais eficaz. As dosagens hormonais dos casos clínicos foram realizadas em laboratório especializado. Para as dosagens de progesterona utilizou-se o método de radioimunoensaio; e para T4 livre, T4 total e TSH, o método de quimioluminescência. A figura 1 apresenta os valores de referência utilizados. FALHA REPRODUTIVA FEMININA Caso 1 - Ausência de manifestação de cio Uma cadela da raça pug, de três anos de idade e 11kg de peso corporal, foi atendida (dia 0) com histórico de não apresentar cio há pelo menos 1,5 ano, desde que estava com o atual proprietário. A cadela vivia sozinha no seu domicílio, sem contato com outros cães, e havia interesse em realizar um acasalamento com um cão de outro estado. Nenhuma outra queixa quanto à saúde do animal foi apresentada. Hormônio Valores de referência Progesterona anestro e proestro < 1ηg/mL estro pré-ovulatório 1 a 4ηg/mL (com predomínio de células superficiais na citologia vaginal) ovulação 4 a 8ηg/mL (com predomínio de células superficiais na citologia vaginal) estro pós-ovulatório > 10ηg/mL (com predomínio de células superficiais na citologia vaginal) diestro/gestação > 1ηg/mL (com predomínio de células parabasais na citologia vaginal) T4 livre 0,5 a 1,6ηg/dL T4 total 1,2 a 4µg/dL TSH canino 0,04 a 0,4ηg/mL Figura 1 - Valores de referência para concentrações circulantes de progesterona 6, T4 livre 7, T4 total 7 e TSH canino 7

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Reprodução No exame clínico, nenhuma alteração significativa foi detectada. A vulva estava pequena e sem secreção, a vagina, com mucosa pálida e sem secreção, o útero, não palpável, e as mamas, pequenas e sem alterações. Apresentava comportamento de rejeição ao exame de toque digital vulvovaginal. A citologia vaginal apresentava pouca celularidade, com predomínio de células nucleadas parabasais e intermediárias e neutrófilos, compatível com diestro/anestro 5, e a dosagem de progesterona sérica era de 0,35ηg/mL. Concluiu-se que a cadela estava em anestro, já que os níveis circulantes de progesterona eram <1ηg/mL 6,8. Foi estabelecido um diagnóstico presuntivo de cio silencioso ou anestro prolongado, sendo indicado o acompanhamento da cadela até a identificação de cio ou, se esse não ocorresse nos próximos quatro meses, tentativa de indução de cio. O proprietário deveria introduzir uma haste flexível de algodão (do tipo cotonete) na vulva da cadela semanalmente, a fim de verificar qualquer modificação de cor do algodão à sua retirada. Além disso, seriam realizadas citologias vaginais a cada dez dias e dosagens de progesterona sérica a cada trinta dias. Com esse procedimento pretendia-se fazer com que o proprietário pudesse observar qualquer modificação na genitália externa e no comportamento da cadela ao fazer a introdução da haste flexível, bem como verificar a presença de secreção serosanguinolenta, mesmo que discreta, caracterizando início do proestro. As citologias vaginais possibilitariam identificar modificações decorrentes de elevações dos níveis circulantes de estrógenos, e as dosagens de progesterona, identificar eventual ocorrência de cio não acompanhado de manifestações comportamentais e vulvovaginais macroscópicas ou citológicas. Tais procedimentos foram realizados, sem observação de alterações na genitália externa da cadela e nas citologias vaginais até o 67º dia, tendo estado o valor da progesterona sérica em 0,43ηg/mL no 34º dia, revelando que a fêmea permaneceu em anestro durante todo esse período 8. No 67º dia o proprietário percebeu ligeiro aumento de volume vulvar e coloração rósea da haste flexível. No dia seguinte a cadela foi submetida a citologia vaginal, detectando-se grande celularidade, com predomínio de células intermediárias, e presença de poucas parabasais e superficiais, além de neutrófilos. A vulva estava ligeiramente volumosa, mas sem secreção aparente. Concluiu-se que a cadela estava em proestro 8, sendo realizada nova citologia vaginal três dias após (70º dia), quando se verificou predomínio de células superficiais com presença de intermediárias. A dosagem de progesterona sérica foi de 0,33ηg/mL naquele momento. A vulva estava pouco volumosa e ainda sem secreção aparente. Concluiuse, por meio da associação dos achados citológicos e hormonais, que a cadela estava em transição entre proestro e estro 8. A cadela foi então enviada para São Paulo, SP, onde foi concluído o acompanhamento reprodutivo por outro profissional, sendo inseminada artificialmente por três vezes com intervalo de 48 horas durante o estro citológico, tornando-se gestante. Ao final da gestação foi submetida a operação cesariana, tendo três filhotes vivos. 36

Caso 2 - Ausência de manifestação de cio Uma cadela da raça buldogue inglesa, com dezoito meses de idade e 18kg de peso corporal, foi atendida com histórico de nunca ter apresentado cio. A cadela era criada com três outros cães adultos da mesma raça, duas fêmeas e um macho. Naquele momento, segundo suspeita do proprietário, a cadela estaria com sinais de cio, e desejava fazer o acasalamento com um cão de outro proprietário. No exame clínico verificou-se que a cadela apresentava moderada queda de pelos, vulva e vagina com discreto aumento de volume, mas sem secreções, útero não palpável e mamas sem alterações. A citologia vaginal apresentava predomínio de células nucleadas, principalmente parabasais, e presença de neutrófilos. Foi realizada nova avaliação três dias após, e a cadela permanecia com as mesmas características clínicas e citológicas, com níveis séricos de progesterona plasmática de 0,15ηg/mL. Concluiu-se, pelos achados clínicos, citológicos e hormonais, que a cadela estava em anestro 8. De forma semelhante ao proposto para a cadela do caso 1, foi solicitado ao proprietário verificar qualquer modificação vulvar e da coloração do algodão da haste flexível introduzida semanalmente pela vulva, além de qualquer modificação comportamental perante o macho. Foram realizadas citologias vaginais a cada dez dias, porém não foram realizadas dosagens de progesterona sérica nesse período. Aos 122 dias após o início desse acompanhamento, o proprietário relatou achar que havia aumento de volume vulvar e algum interesse por parte do macho, mas sem secreção vulvovaginal. Realizado o exame clínico, não havia alterações relevantes na genitália externa e o útero não estava palpável; a citologia vaginal permanecia com características de anestro, e a dosagem de progesterona sérica era de 0,12ηg/mL. Foram levantadas três possibilidades diagnósticas, sendo a primeira de puberdade retardada, haja vista que naquele momento a cadela tinha 22 meses de idade; a segunda, de anestro primário; e a terceira, de anestro fisiológico, após ocorrência de cio silencioso e diestro. A puberdade em cadelas pode ocorrer fisiologicamente até próximo dos 24 meses de idade, embora seja mais frequente ocorrer até os doze meses, aparentemente havendo correlação negativa entre o peso corporal médio da raça e a idade na puberdade 6. Considerando-se não haver descrição na literatura do período médio de puberdade específico para buldogues ingleses, e sendo ela de porte médio, decidiu-se tentar a indução do cio da cadela, que àquela idade já se esperava estivesse na puberdade. O fato de a cadela estar em anestro naquele momento 8 e assim ter permanecido pelo menos nos últimos 122 dias (progesterona em níveis menores que 1,0ηg/mL) permitiu que se decidisse tentar a indução de cio com possibilidade de gestação 9,10, mesmo que tivesse ocorrido cio silencioso anteriormente ao início do acompanhamento veterinário. Assim, 132 dias após o início do acompanhamento, foi iniciada a administração oral de 100µg (5µg/kg) de cabergolina a, fármaco dopaminérgico que atua reduzindo a secreção hipofisária de prolactina, a cada 24 horas, em uso contínuo, até que

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Reprodução

Caso 3 - Anestro curto Uma cadela da raça poodle de oito anos de idade e 9,7kg de peso corporal foi atendida com histórico de não aceitar a monta natural de diferentes machos e de nunca ter conseguido emprenhar, apesar de ter sido inseminada artificialmente por mais de uma vez. A proprietária manifestava desejo de ter pelo menos um filhote que permanecesse com ela após a morte da cadela. Segundo seu relato, a cadela apresentava cios duas vezes por ano, com sinais típicos (lambia muito a vulva, apresentava secreção sanguinolenta vulvar, mas não se percebia aumento de volume vulvar), o que a levava a acreditar que ela estivesse no cio naquele momento. A cadela não convivia com outros cães. No exame clínico percebeu-se que a cadela estava acima do peso ideal, tinha vulva pequena e sem secreção, vagina pálida e apresentava grande resistência ao exame (inclusive à introdução do swab de algodão para coleta de material para citologia vaginal), útero não palpável e mamas sem alterações. A citologia vaginal apresentava pouca celularidade, com cerca de 80% de células nucleadas parabasais e intermediárias, algumas superficiais e neutrófilos, característica de anestro/diestro 5. A dosagem de progesterona sérica foi de 1,29ηg/mL. Foi realizada nova dosagem de progesterona sérica quatro dias após, que resultou em 1,31ηg/mL, e trinta dias após a primeira, com resultando de 0,5ηg/mL. Con cluiu-se que a cadela estava em final de diestro no dia do 38

Guilherme Ribeiro Valle

houvesse manifestação de cio 11. A prolactina inibe a liberação hipofisária de gonadotrofinas por manter uma produção ovariana de progesterona inibitória à liberação de gonadorelina hipotalâmica, resultando em inibição do crescimento folicular ovariano que levaria ao início do proestro, o que poderia ser causa de manutenção da cadela em estado de anestro 11. Durante o período de tratamento, manteve-se o mesmo sistema de acompanhamento do caso, até que, 54 dias após início do tratamento – e estando a cadela com 24 meses de idade –, percebeu-se aumento de volume vulvar com secreção serosanguinolenta e interesse por parte do macho. A citologia vaginal apresentava grande quantidade de células intermediárias, com algumas parabasais e superficiais, e presença de neutrófilos. Três dias após, a citologia vaginal apresentava predomínio de células superficiais com presença de células intermediárias e ausência de neutrófilos, e a dosagem de progesterona sérica foi de 0,33ηg/mL. Concluiu-se que a cadela estava citologicamente na transição entre proestro e estro 8, e a dosagem de progesterona sérica quatro dias após foi de 3,2ηg/mL, índice compatível com a fase pré-ovulatória do estro 6. Diante desse valor de progesterona sérica, considerando-se que há elevação de seus níveis em aproximadamente 1-2ηg/mL a cada dia no estro pré-ovulatório 6, a ovulação deveria ocorrer entre um e dois dias, e o período fértil ocorreria entre o terceiro e o quinto dias após. Assim, aos 65 e 66 dias após início do tratamento a cadela foi inseminada artificialmente, tornando-se gestante e sendo submetida a operação cesariana, com o nascimento de seis filhotes vivos (Figura 2).

Figura 2 - Cadela e ninhada do caso 2

primeiro exame, e naquele momento estava em anestro 8. Foi recomendado à proprietária que observasse atentamente sinais de cio (de forma semelhante ao recomendado nos casos 1 e 2), inspecionando semanalmente a vulva e introduzindo nela uma haste flexível de algodão a fim de verificar qualquer sinal de alteração de sua coloração. Assim foi feito e cinquenta dias após a primeira avaliação foram percebidos sinais de cio pela proprietária, confirmados no exame clínico, quando se observou discreto aumento de volume vulvar sem secreção, mas coloração rósea do algodão do swab vaginal. A vagina apresentava ligeiro edema, mas também sem secreção, o útero era palpável e a citologia vaginal apresentava grande celularidade, predominando células parabasais, com presença de intermediárias e superficiais, e neutrófilos. Concluiu-se clínica e citologicamente que a cadela estava em proestro 8, não sendo necessária dosagem de progesterona para confirmação desse diagnóstico e nem adequado que se esperasse o resultado laboratorial para iniciar o tratamento, que deveria começar imediatamente ao ser detectado o início do proestro 12. Diante da percepção de que entre o final do diestro e o cio se passaram 45 a 60 dias, revelou-se um intervalo entre cios de apenas 105 a 120 dias, menor que os 130 a 150 dias considerados normais 13. Assim, foi recomendada a administração oral imediata de 20mg (2mg/kg) de acetato de megestrol b a cada 24 horas, durante oito dias consecutivos 12. A finalidade era de paralisar o crescimento folicular em andamento (proestro) e a consequente ovulação, impedindo a progressão do cio e novo diestro subsequente 12. O acetato de megestrol é uma progesterona sintética de curta ação (devido à sua rápida metabolização) utilizada por via oral no proestro para supressão do cio 1. Foi relatado o desaparecimento dos sinais de cio após o terceiro dia de administração do medicamento. A fim de verificar a eficácia do tratamento em inibir o cio e a ovulação, a progesterona sérica foi dosada trinta dias após, resultando em 0,9ηg/mL, o que caracterizou ter ocorrido interrupção do cio e prolongamento do anestro. Um mês após a terapia com progesterona – correspondendo a 165 a 180 dias após o cio anterior ao tratamento –,

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a cadela apresentou novamente sinais de cio, percebidos pela proprietária da mesma forma que anteriormente e confirmados no exame clínico. A fêmea apresentava discreto aumento de volume vulvar, sem secreção, porém coloração rósea do algodão à introdução do swab vaginal, vagina com ligeiro edema, mas também sem secreção, e útero palpável. A citologia vaginal apresentava grande celularidade, mas dessa vez com predomínio de células superficiais e ausência de neutrófilos, caracterizando que ela estava no estro 8. Feita a dosagem de progesterona sérica, o resultado foi de 29,73ηg/mL, revelando já ter ocorrido a ovulação, que ocorre com níveis de progesterona entre 4 e 8ηg/mL 8. Como o macho ainda não estava disponível para o acasalamento, não foi possível realizá-lo imediatamente, mas ele deveria ter sido realizado tão rápido quanto possível, e ocorreu uma única vez dois dias após, por meio de inseminação artificial. Apesar de ter sido dado um prognóstico desfavorável quanto à possibilidade de gestação, dadas as condições de anormalidade cíclica da cadela e da inseminação artificial aparentemente tardia, a cadela teve gestação confirmada aos 25 dias por ultrassonografia, apresentando dois fetos, um vivo e um morto. Foi realizada a dosagem de progesterona sérica nesse momento, revelando 11,6ηg/mL, e a gestação foi acompanhada clinicamente até o final, sendo realizada a operação cesariana com o nascimento de um feto vivo. O feto morto fora absorvido. Discussão dos casos 1, 2 e 3 Os proprietários de cães normalmente não são capazes de diferenciar cadelas em anestro prolongado ou persistente daquelas que apresentam cio silencioso, por eles muitas vezes chamado de “cio seco”. Eles também podem não perceber a importância de tentar fazer o diagnóstico diferencial, que pode levar meses até ser concluído, exigindo-lhes extrema paciência até que se possa acasalar a cadela com chances de gestação. Deve-se procurar esclarecê-los quanto à necessidade desse diagnóstico, sob pena de que, mesmo que se obtenha um cio, natural ou induzido, ele pode não ser fértil se não for respeitado um período mínimo de níveis de progesterona circulantes menores que 1 a 2ηg/mL 4. Níveis de progesterona maiores que esses normalmente ocorrem ao longo do diestro/gestação 6, causando estimulação uterina durante todo esse período. Parecem ser necessários pelo menos três a quatro meses de anestro, quando os níveis de progesterona circulantes estão baixos, para que o endométrio se restabeleça e esteja em condições de manter a gestação 6,12,14. As manifestações clínicas do intervalo longo entre cios – geralmente resultado de anestro prolongado – e do cio silencioso são semelhantes. No cio silencioso há atividade cíclica ovariana na cadela, apesar de suas manifestações externas serem discretas ou ausentes. No anestro prolongado não há atividade ovariana. Portanto, quando se diagnostica cio silencioso, não há indicação de indução de cio, que pode ser indicada no anestro prolongado, dependendo de sua causa 4. Se forem identificadas causas primárias como

o hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, cistos luteinizados e deficiências nutricionais, devem-se corrigir tais situações a fim de que a cadela tenha atividade cíclica 4. O diagnóstico diferencial pode ser demorado, exigindo citologias vaginais a cada sete a dez dias e dosagens mensais de progesterona sérica. A identificação de atividade cíclica por citologia vaginal seguida de elevação da progesterona sérica caracteriza cio silencioso. No anestro prolongado não se percebem modificações na citologia vaginal e nos níveis de progesterona por pelo menos doze meses 4. Deve-se levar em conta que raças como basenji e dingo têm um ciclo fisiológico de doze meses 4. Em caso de cio silencioso, a melhor atitude a ser tomada é a tentativa de identificação do cio, o que se faz concomitantemente ao diagnóstico dessa condição 4, como realizado na cadela do caso 1. Uma vez identificado, a fertilidade desse cio parece ser normal, geralmente exigindo inseminação artificial, caso a cadela não aceite a monta. O cio silencioso é mais comum em cadelas pós-púberes do que em cadelas maduras 6. Num relato de 108 cadelas que apresentavam disfunções reprodutivas, dezoito delas (17%) apresentavam cio silencioso 4. Na cadela do caso 1, o cio silencioso foi identificado pelo próprio proprietário, sendo apenas confirmado pelos exames subsequentes. Situações como essa são comuns e desejáveis. A orientação de que façam a introdução semanal de uma haste flexível com algodão na vulva da cadela faz com que, além de verificar a presença de qualquer secreção, discreta que seja, o proprietário fique mais atento às modificações vulvares que podem ocorrer no cio silencioso, que ele não percebia anteriormente. O cio pode não ser tão “silencioso”, mas apenas discreto o suficiente para não ser percebido por um proprietário desatento ou inexperiente, principalmente sem a ajuda de outros cães. No caso 2, independentemente de ser anestro primário, puberdade retardada ou cio silencioso, o fundamental é que seja respeitado o período mínimo de três meses de progesterona em níveis séricos menores que 1ηg/mL antes da indução do cio. A razão para isso é que o útero se restabeleça de fase anterior, diestro ou gestação, quando níveis elevados de progesterona estimularam o endométrio da cadela 6,12,14. Por essa razão, intervalos entre cios menores que 150 dias têm um mau prognóstico para fertilidade 9,10. Na possibilidade de anestro primário ou puberdade retardada, obviamente a cadela não terá sofrido os efeitos anteriores da progesterona sobre o útero. A indução de cio em cadelas tem sido realizada utilizando-se diversos fármacos, como o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e seus análogos, gonadotrofinas e drogas antiprolactínicas. Dentre estas últimas há drogas serotoninolíticas, como a metergolina, e dopaminérgicas, como a bromocriptina e a cabergolina 1,4,15. Das drogas antiprolactínicas, a cabergolina é a que tem tido melhores resultados, havendo diversos relatos de sua eficácia tanto na indução do cio quanto na fertilidade dos cios obtidos, sem apresentar efeitos colaterais expressivos 4,15. A metergolina demonstrou ser menos eficiente na indução de cio do que as drogas

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Reprodução dopaminérgicas, e a bromocriptina apresenta boa eficácia em induzir cio, mas com efeitos colaterais intensos, como excitação nervosa e vômitos 1. As drogas dopaminérgicas produzem redução da liberação hipofisária de prolactina, hormônio que, por sua vez, parece manter a produção ovariana de progesterona durante o anestro de forma persistente em níveis muito baixos, mas suficientes para bloquear a liberação hipotalâmica de GnRH e o consequente crescimento folicular, impedindo um novo proestro. No entanto, essa ação antiprolactínica parece não ser o único efeito das drogas dopaminérgicas na indução de cio 15,16, sendo ela eficiente tanto no anestro primário quanto no secundário 16. A fêmea do caso 2 não se enquadra na situação típica de uma cadela em anestro primário, aquela que não apresenta cio até os 24 meses de idade 17, e nem na de anestro secundário, aquela que tem intervalo entre cios maior que dez meses 4, pois apresentava apenas dezoito meses de idade quando atendida. No entanto, no início do tratamento para indução de cio a cadela estava completando 22 meses de idade e, portanto, não se pôde obter o diagnóstico definitivo, mas o tratamento dopaminérgico foi eficiente para induzir um cio fértil. Ao reduzir a liberação de prolactina pela hipófise, as drogas dopaminérgicas têm o efeito de desbloquear o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal e levar ao restabelecimento da ciclicidade da cadela 11,15,16,18. Caso tivesse ocorrido cio silencioso, não percebido pelo proprietário ou pelos outros cães da propriedade, estava garantido o período mínimo de 120 dias em anestro. Na cadela do caso 3 a falha reprodutiva resultava da incapacidade de o útero se recuperar dos efeitos da progesterona do diestro antes que ocorresse novo cio, já que o anestro teve duração de no máximo sessenta dias, menor que o mínimo de noventa dias considerado necessário 9,10. Há uma tendência de que raças de menor porte tenham intervalos mais curtos entre os cios 6, apesar de, em algumas raças, terem sido identificados intervalos menores, independentemente do porte físico da cadela, como nas raças rottweiler e pastor alemão 6,10. No entanto, uma mesma cadela pode ter diferentes intervalos entre cios ao longo da vida, e nem sempre é possível estabelecer um padrão individual para cada fêmea 6. Sendo assim, apesar de ter sido diagnosticado um intervalo curto entre cios na cadela do caso 3, não é prudente especular que ela não tenha se tornado gestante anteriormente apenas por essa razão, mas o fato de que se tenha obtido êxito após o prolongamento do anestro ao tratamento com progestágeno é um grande indício disso. A administração exógena de progesterona em cadelas é um importante fator desencadeador do complexo hiperplasia endometrial cístico/piometra 19-21, dependendo do tipo de droga e do momento de sua utilização 20. Portanto, para detectar essa possível ocorrência, deve-se acompanhar com cuidado a cadela após o tratamento 12, assim como alertar o proprietário a respeito dessa possibilidade de efeito colateral. A progesterona, natural ou sintética, apresenta efeito inibitório sobre a liberação hipotalâmica de GNRH e, consequentemente, de gonadotrofinas, impedindo a manifestação de cios por falta de estimulação ovariana e crescimento 40

folicular 20. As progesteronas de curta ação, como o acetato de megestrol, rapidamente metabolizadas no organismo, são eficazes em impedir a manifestação de cio se utilizadas durante o anestro, ou em interrompê-lo se utilizadas no proestro 1,20. Administrado por via oral durante oito dias a partir do início do proestro (até o seu terceiro dia), o acetato de megestrol interrompe o cio 20, mas não permanece estimulando o endométrio uterino, como faria a progesterona natural durante o diestro/gestação ou as progesteronas sintéticas de longa duração 1,20. Portanto, o uso de progesterona sintética de curta ação durante o proestro evita a continuidade do cio em 97% dos casos 20 e, consequentemente, não há diestro, permitindo que a cadela tenha um período de baixos níveis de progesterona suficiente para que o próximo cio, que ocorrerá em um a nove meses 20, seja fértil 12. A fim de bloquear a evolução do proestro em cadelas que apresentavam intervalo médio de 3,2 meses entre cios e falhas de concepção, o acetato de megestrol (2mg/kg) e o acetato de clormadinona (0,5mg/kg), ambas progesteronas sintéticas, foram utilizados por via oral em oito e em duas cadelas, respectivamente, durante oito dias a partir de, no máximo, três dias do início do proestro 12. Após o tratamento, obteve-se retorno ao cio em média com 2,7 meses. As cadelas foram cobertas com base em controle de ovulação por citologia vaginal e dosagem de progesterona sérica, tornandose gestantes com uma média de 6,3 filhotes por ninhada. 12 Comparando os resultados acima 12 com o da cadela do caso 3, o intervalo entre cios anterior ao tratamento foi de 3,5 a quatro meses (caso 3), pouco maior que o da média das cadelas do artigo, que apresentaram intervalo mínimo de dois e máximo de quatro meses 12. O retorno ao cio após o tratamento ocorreu em um mês (caso 3), mais rápido do que o da média das cadelas do artigo, que foi de 2,7 meses, com mínimo de 1,5 e máximo de 3,5 meses 12. A cadela do caso 3 tornou-se gestante, assim como as do artigo citado 12, mas com ninhada menor que a de 6,3 animais relatada 12. A aparente menor eficiência obtida no caso 3 pode-se dever à idade mais avançada da cadela (oito anos) em comparação com a das cadelas do artigo citado (mínima de dois e máxima de seis anos 12); à diferença entre raças, poodle no caso 3 e pastor alemão e rottweiler no artigo 12; e à inseminação artificial não realizada em ótimas condições na cadela do caso 3. Entretanto, não foram encontrados relatos na literatura da utilização de protocolo terapêutico semelhante em cadelas da raça poodle ou em outras de pequeno porte. FALHA REPRODUTIVA MASCULINA Caso 4 - Hipotireiodismo Um cão da raça pastor alemão, de quatro anos de idade e 35kg de peso corporal, foi atendido com histórico de não ter produzido ninhadas nos últimos quatro meses, apesar de as ter produzido anteriormente, além de perda moderada de libido. Nenhuma outra queixa quanto à saúde do animal foi relatada pelo proprietário, apenas uma dermatose bilateral na face externa das coxas, caracterizada por discretas hipotricose e descamação da epiderme. No exame andrológico 22 (Figura 3) verificou-se integridade

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Reprodução de escroto, cordões esperParâmetros avaliados Exame andrológico máticos, prepúcio e pênis. Dia 0 Dia 135 Os testículos apresentavam Biometria testicular consistência flácida, testículo direito 49 x 24mm flácido 52 x 27mm flácido/tenso dimensões de 49 x 24mm testículo esquerdo 44 x 26mm flácido 51 x 28mm tenso (direito) e 44 x 26mm largura testicular total 55mm 57mm Espermograma (esquerdo) e largura testivolume (mL) 10,5 14,5 cular total de 55mm; as motilidade total (%) 20 70 caudas dos epidídimos vigor (1-5) 2 3 eram flácidas; a próstata, espermatozoides/ejaculado 24 x 10 6 1,5 x 10 9 lisa, simétrica e de diâmeespermatozoides móveis/ejaculado 4,8 x 10 6 1 x 10 9 tro aproximado de 30mm à morfologia espermática (%) palpação retal. cabeça 18,7 1,1 Para a coleta do sêmen e acrossoma 13,8 1,1 a realização do espermopeça intermediária 37,2 29,3 grama 22 utilizou-se a técnicauda 15,6 10,9 ca de masturbação na pregota citoplasmática proximal 3,3 sença de cadela em cio 23, gota citoplasmática distal 1,1 verificando-se boa libido e cabeça isolada 13,8 1,1 ereção inicial, com perda espermatozoides normais 0,9 52,2 em aproximadamente dois minutos após o início da Figura 3 - Biometria testicular e espermograma realizados antes do tratamento (dia 0) e ejaculação. 135 dias após seu início (dia 135) no cão do caso 4 O ejaculado obtido apresentava volume total de 10,5mL (primeira e segunda (cápsulas manipuladas) a cada doze horas, em uso contínuo 26. frações e parte da terceira), sendo a coleta interrompida proAos 135 dias após o início do tratamento, verificou-se que positalmente nesse momento, ao ser obtido esse volume. O o testículo direito apresentava consistência flácida a tensa e sêmen assim obtido foi mantido em banho-maria a 37ºC. dimensões de 52 x 27mm; o esquerdo, consistência tensa e Utilizando-se uma gota de sêmen entre lâmina e lamínula, dimensões de 51 x 28mm; largura testicular total de 57mm; foram avaliadas a motilidade e o vigor espermáticos sob e caudas dos epidídimos tensas (Figura 3). O animal contimicroscopia óptica em aumento de 100 e 400x. A motilidanuava com o quadro de dermatose discreta na face externa de espermática total era de 20% e o vigor espermático, de 2 das coxas. Segundo informações do proprietário, houve me(numa escala de 1 a 5). A contagem de espermatozoides em lhora no estado cognitivo e na libido do animal, também percâmara de Neubauer revelou 24 milhões de espermatozoides cebidas no exame clínico. por ejaculado, sendo 4,8 milhões de espermatozoides Na colheita do sêmen (Figura 5) verificaram-se boa libimóveis. A morfologia espermática, realizada por meio de do e ereção. O ejaculado obtido apresentava volume total de preparação úmida avaliada em microscopia de contraste de 14,5mL, composto por toda a primeira e a segunda frações e fases, revelou 0,9% de espermatozoides normais no ejaculaparte da terceira fração, sendo a colheita interrompida prodo (Figura 3). positalmente ao se obter esse volume. No espermograma Nesse mesmo dia coletou-se sangue para avaliar as concenverificou-se motilidade espermática total de 70% e o vigor trações séricas de hormônios tireoideanos e TSH (Figura 4). espermático de 3 (numa escala de 1 a 5); 1,5 x 10 9 espermaCom os resultados obtidos, concluiu-se que o cão apretozoides por ejaculado, sendo 1 x 10 9 espermatozoides sentava grave comprometimento da qualidade seminal devimóveis. A morfologia espermática revelou 52,2% de esperdo a degeneração testicular 24 causada, possivelmente, por himatozoides normais no ejaculado (Figura 3). Nessa mesma potireoidismo primário 4. data, as concentrações séricas de hormônios tireoideanos e Diante dos sinais clínicos, da qualidade seminal e dos TSH foram reavaliadas (Figura 4). achados hormonais observados, optou-se pela instituição de um protocolo terapêutico com reposição hormonal de l-tiroxina e observação da evolução clínica do animal, a fim de Hormônio dia 0 dia 135 valor referência 7 realizar um diagnóstico terapêutico. T4 livre (ηg/dL) 0,39 1,71 0,5 a 1,6 O proprietário foi devidamente esclarecido quanto à possibilidade de que o hipotireoidismo seja geneticamente T4 total (µg/dL) 0,2 1,6 1,2 a 4 transmitido em cães 25 e das possíveis consequências da utiliTSH canino (ηg/mL) 0,22 0,01 0,04 a 0,4 zação desse cão como reprodutor, o que aumentaria as chances de haver nascimento de animais com hipotireoidismo em Figura 4 - Valores de referência e resultados das consua descendência. O proprietário decidiu-se pelo tratamento, centrações circulantes de T4 livre, T4 total e TSH canino ao longo do acompanhamento do cão do caso 4 sendo prescrito o uso oral de 700µg (20µg/kg) de l-tiroxina 42

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Guilherme Ribeiro Valle

Figura 5 - Colheita de sêmen do cão do caso 4 aos 135 dias

Diante da evolução favorável do quadro andrológico do cão, recomendou-se a continuidade da reposição hormonal com l-tiroxina na mesma posologia. Um ano após, o proprietário relatou o nascimento de ninhadas do cão com diferentes cadelas.

Discussão do caso 4 O hipotireoidismo acomete normalmente cães de médio a grande porte de meia-idade e de ambos os sexos, com uma prevalência de 0,2% a 0,8% da população canina 27. Pode ser primário, quando é resultado de disfunção da tireoide em produzir seus hormônios; secundário, quando resultado de disfunção hipofisária em produzir tireotropina (TSH); ou terciário, quando a disfunção hipotalâmica resulta em baixa produção de hormônio liberador de tireotropina (TRH) 28. O hipotireoidismo primário é o mais comum em cães 27. A participação do hipotireoidismo como causa de comprometimento reprodutivo em machos e fêmeas é ainda controversa na espécie canina 3,4,29. Há relatos de machos com baixa libido e degeneração testicular com redução da qualidade seminal, especialmente oligospermia 3,30,31, bem como redução da libido em cadelas, anestro persistente, aumento de intervalo entre cios, proestro longo, ginecomastia e galactorreia, aborto e mumificação fetal, natimortalidade e nascimento de filhotes com baixo peso 4,31,32. Os sinais clássicos da doença nos cães são: letargia, obesidade, alopecia bilateral do tronco, seborreia, hiperpigmentação de pelos e pele, bradicardia, anemia, intolerância ao frio e paralisia facial 33. Em cadelas é relatada a incidência de 37,5% entre aquelas com

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Reprodução problemas de fertilidade 30, apesar de não ter sido encontrada diferença, tanto entre machos como entre fêmeas de diversas raças, nas concentrações séricas de tiroxina quando comparados cães férteis com subférteis 29. Como os níveis séricos de hormônios da tireoide são influenciados por diversos fatores, intrínsecos e extrínsecos 4, o diagnóstico definitivo de hipotireoidismo em cães se dá quando ocorre remissão dos sinais clínicos em seguida à terapia com tiroxina, e estes retornam com a suspensão da reposição hormonal 31. Nesse caso, como não havia sinais clássicos de hipotireoidismo, considerou-se como remissão de sinais clínicos a recuperação da qualidade seminal e da fertilidade após o tratamento. As lesões dermatológicas observadas permaneceram mesmo após quase cinco meses de tratamento. Entretanto, os sinais clínicos dermatológicos decorrentes do hipotireoidismo regridem entre um a cinco meses após iniciada a reposição hormonal com l-tiroxina em cães 34, indicando que eles poderiam ainda estar em fase de recuperação. Os sinais clínicos reprodutivos apresentados por esse animal são compatíveis com aqueles relatados pela literatura, apesar de o animal não apresentar outros sinais característicos de hipotireoidismo além da dermatose nos membros pélvicos. No entanto, a identificação de níveis de T4 livre e T4 total abaixo dos valores fisiológicos, melhora no estado cognitivo e na libido do animal e modificações detectadas na qualidade seminal após a terapia com l-tiroxina parecem ser suficientes para o diagnóstico de hipotireoidismo primário, já que os níveis de TSH estavam normais. Parâmetros avaliados Peso corporal (kg)

Biometria testicular testículo direito testículo esquerdo largura testicular total

Espermograma volume (mL) motilidade total (%) vigor (1-5) espermatozoides/ejaculado espermatozoides móveis/ejaculado espermatozoides/kg de peso vivo morfologia espermática (%) cabeça acrossoma peça intermediária cauda gota citoplasmática proximal gota citoplasmática distal cabeça isolada espermatozoides normais

Diante disso, o hipotireoidismo deve ser considerado no diagnóstico diferencial de anormalidades reprodutivas de cães, tanto em machos quanto em fêmeas, mesmo que não haja sinais clínicos característicos da doença. Na população humana é relatada a incidência de hipotireoidismo assintomático em 0,7 a 5,7% dos homens e em 3 a 13,6% das mulheres 35, causando mortalidade fetal e nascimento de crianças com deficiências neurológicas 36. No entanto, no hipotireoidismo assintomático dos seres humanos, os níveis de TSH estão discretamente aumentados, e os níveis circulantes de hormônios tireoidianos, normais 37. Em cães, o hipotireoidismo assintomático é relatado como um estágio inicial da doença, quando as concentrações circulantes de T4 livre e total são normais, e as de TSH, normais ou aumentadas 38. O cão do caso 4, apesar de não apresentar um quadro clássico de hipotireoidismo, não pode ser considerado caso de doença assintomática semelhante à do ser humano 35 nem estágio inicial da doença no cão 38, pois apresentava baixos níveis circulantes de hormônios tireoidianos associados a níveis normais de TSH. Dados recentes indicam que até 40% dos cães com hipotireoidismo primário podem apresentar níveis normais de TSH circulantes, o que pode ser devido à exaustão da hipófise ou à dificuldade de adequada determinação de TSH circulante pelos testes disponíveis 39. Por essa razão, concentrações circulantes normais de TSH podem induzir a diagnóstico falso-negativo para hipotireoidismo primário em cães, sendo sua avaliação apenas considerada complementar à detecção de baixas concentrações circulantes de T4 total e

março 1º ano

Exame andrológico julho 2º ano

junho 3º ano

12,1

12,3

12

30 x 20mm tenso 25 x 18mm tenso 41mm

28 x 19mm tenso 25 x 18mm tenso 40mm

26 x 16mm tenso 22 x 16mm tenso 33mm

7,9 75 3,5 180 x 10 6 135 x 10 6 15 x 10 6

2 60 3 137,5 x 10 6 82,5 x 10 6 11,4 x 10 6

2 65 3,5 70 x 10 6 45,5 x 10 6 5,8 x 10 6

1,2 0,5 7,7 8,7 22,9 4,5 8,5 57,5

0,5 1,1 21,2 6 10,3 3,8 2,2 55

1,8 1,2 6,1 32,3 4,3 2,4 11 40,8

Figura 6 - Peso corporal, biometria testicular e espermograma avaliados no primeiro, segundo e terceiro anos de acompanhamento reprodutivo do cão do caso 5 44

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T4 livre 39. Entretanto, apesar dos níveis circulantes de TSH normais no cão do caso 4, concluiu-se pelo diagnóstico de hipotireoidismo primário sem sinais clínicos evidentes, e a remissão dos sinais cognitivos e reprodutivos, após a terapia hormonal instituída, confirmou o diagnóstico inicialmente postulado. A utilização de cães com hipotireoidismo como reprodutores deve ser ponderada com o proprietário, em função da possibilidade de essa disfunção ter caráter hereditário nessa espécie 25. Por isso a ética profissional deve ser colocada em pauta ao tratar animais com fim reprodutivo. Caso 5 - Senilidade Um cão da raça cocker americano, com dez anos de idade e 12kg de peso corporal, deveria ser utilizado no acasalamento com uma cadela da mesma raça. No entanto, apesar de apresentar histórico de fertilidade em acasalamentos anteriores, o cão apresentou falha em fecundar a mesma cadela no cio anterior, bem como outras cadelas nos últimos seis meses. O animal era acompanhado andrologicamente há dois anos (Figura 6), e apresentava um quadro clínico de degeneração testicular bilateral senil naquele momento, com redução da qualidade seminal, apresentando apenas 45,5 milhões de espermatozoides móveis no ejaculado, e redução do tamanho dos testículos ao longo dos últimos três anos. Para fecundar uma cadela por meio de inseminação artificial são necessários cerca de 150 a 250 milhões de espermatozoides normais 3. A cadela de quatro anos de idade, também da raça cocker americano, já havia emprenhado anteriormente, apresentando cios regularmente a cada seis meses, de acordo com informações prestadas pela proprietária. No cio anterior havia sido acasalada com o cão acima, sem resultado, e naquele momento estava em cio. No exame clínico, a cadela apresentava vulva volumosa, com profuso corrimento serosanguinolento, presente também na superfície vaginal, que estava edemaciada. O útero era palpável, e as mamas, túrgidas. A citologia vaginal apresentou predomínio de células nucleadas parabasais e intermediárias, com algumas superficiais e neutrófilos, caracterizando proestro 5. Foi recomendado que o cão permanecesse separado da cadela até que fossem definidos os momentos de cobertura, mesmo que os animais manifestassem interesse um pelo outro. Quatro dias após foi realizada nova citologia vaginal, havendo predomínio de células superficiais. Realizada a dosagem de progesterona sérica, o resultado foi de 0,99ηg/mL. Novas dosagens foram realizadas dois e quatro dias após, respectivamente com 1,55ηg/mL e 5,03ηg/mL. Esse último dia foi considerado como o da ovulação 8, sendo dada a orientação de que o cão cobrisse a cadela pela manhã e à tarde durante três dias consecutivos, iniciando-se a cobertura dois dias após o da presumida ovulação 2, a fim de que houvesse o máximo de espermatozoides no aparelho genital da cadela no seu momento fértil. O diagnóstico de gestação positiva foi dado 45 dias após, por ultrassonografia, e a cadela teve parto normal.

Discussão do caso 5 A partir da puberdade, a qualidade seminal dos cães melhora progressivamente e permanece estável até os seis anos de idade, quando a maioria deles atinge o pico da fertilidade, decaindo progressivamente a partir desse ponto até a senilidade 23. Nos cães, a degeneração testicular senil ocorre em torno dos dez anos de idade, causando geralmente redução do tamanho e da consistência testiculares 40. A redução da atividade e da quantidade de epitélio seminífero naturalmente leva à redução progressiva da quantidade de espermatozoides produzidos, causando oligospermia e até azoospermia 41. No cão deste caso, ficou claro o estado senil, não apenas pela sua idade, mas pela evolução de seu quadro andrológico entre o sétimo e o décimo ano de vida. Houve redução do tamanho dos testículos, apesar de não haver modificação de consistência detectável, oligospermia e aumento percentual de espermatozoides defeituosos no sêmen (Figura 6). Não há padrões estabelecidos para o tamanho dos testículos de acordo com a raça dos cães, mas os animais do porte físico desse paciente (12kg) apresentam largura testicular total média de 36 ± 2mm 42. Esse cão estava, no momento da última avaliação (junho do 3º ano), com largura testicular total menor que a normal para seu porte físico (33mm), tendo sofrido redução ao longo dos anos em que foi avaliada (Figura 6). Como a quantidade de espermatozoides produzida está diretamente correlacionada ao volume dos testículos, que por sua vez

Figura 7 - Estratégias reprodutivas para o acasalamento de cães, de acordo com a qualidade seminal e a disponibilidade para montas naturais (mn) ou inseminações artificiais (ia). A altura da seta indica o número de espermatozoides viáveis depositado em cada momento de mn ou ia, e as caudas, a viabilidade seminal. A estratégia 1 dispensa a necessidade de identificação precisa do momento de ovulação; e as estratégias 2, 3 e 4 necessitam de identificação do momento de ovulação (modificada 2).

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Reprodução está diretamente correlacionado ao peso corporal do cão, considera-se oligospérmico aquele cão cujo ejaculado possua menos que 20 milhões de espermatozoides para cada quilograma de peso corporal 3. Por esse critério, o cão foi considerado oligospérmico desde o primeiro exame andrológico (Figura 6), apesar de fértil nos primeiros dois anos de acompanhamento. A redução da qualidade seminal, independentemente da causa, pode chegar ao limite mínimo de espermatozoides normais (aqueles com potencial para fertilização) no ejaculado, que é de 150 a 250 milhões para inseminação artificial no cão, apesar de haver inúmeros relatos de cães férteis com pior qualidade seminal que essa 3. A evolução do seu quadro seminal mostra que, mesmo no primeiro e no segundo anos, quando ainda era fértil, havia menos de 150 milhões de espermatozoides normais em seus ejaculados (Figura 6). Diferentes estratégias podem ser utilizadas para realizar os acasalamentos em cães e a escolha de qual será a melhor depende da fertilidade do cão e da cadela, da disponibilidade de realizar mais de uma cobertura/inseminação artificial e do tipo de sêmen a ser utilizado (monta natural, sêmen fresco, refrigerado ou congelado) 2,8. Havia disponibilidade total do macho para realizar quantas coberturas fossem necessárias e a qualquer momento, mesmo que fosse necessária inseminação artificial. No entanto, independentemente da condição do cão, a cadela era “potencialmente” fértil. Assim, optou-se por detectar a ovulação da cadela a fim de determinar seus três dias de máxima fertilidade e, nesse período, realizar seis coberturas com intervalo de doze horas, com o objetivo de ter o máximo de espermatozoides em condições de fertilização naquele momento. É importante salientar a opção por monta natural. A inseminação artificial seria utilizada apenas se a monta não fosse possível. O período fértil da cadela inicia-se 48 horas após a ovulação e estende-se por 72 horas 6. Quando várias coberturas são realizadas nesse período, os espermatozoides de cada novo ejaculado se somam aos dos ejaculados anteriores. A viabilidade dos espermatozoides no aparelho genital da cadela é de cerca de 48 horas, excepcionalmente podendo chegar a até sete dias 8,43. Dessa forma, se num primeiro ejaculado tiverem sido depositados 45,5 x 10 6 espermatozoides móveis na cadela (Figura 6), mesmo considerando a redução do número de espermatozoides a cada novo ejaculado 42, ao final de seis ejaculações certamente o número mínimo de espermatozoides necessários para a fecundação dos ovócitos terá sido suficiente, resultando em gestação. Em regime de ejaculações diárias, a cada nova ejaculação há redução do número de espermatozoides no ejaculado, por redução das reservas espermáticas. Dessa forma, são necessárias várias ejaculações até que se atinja a quantidade de espermatozoides no ejaculado semelhante à quantidade produzida diariamente pelos testículos 42. Em cães férteis não se atinge a oligospermia, mas ela pode ser atingida em cães subférteis 44. Portanto, ao evitar coberturas antes que a cadela estivesse no seu período fértil, procurou-se evitar que esses já poucos espermatozoides disponíveis, se colocados 46

precocemente no aparelho genital da cadela, se perdessem com o passar do tempo, e que, naquele momento em que realmente seria necessário o máximo de espermatozoides para a fecundação, o ejaculado do cão tivesse ainda menos espermatozoides que o registrado na figura 6. Na figura 7, está representada a estratégia utilizada (estratégia 3), bem como outras adequadas a diferentes situações 2. Comentários finais Uma das dificuldades encontradas ao longo do trabalho com os casos 1, 2 e 3 foi contar com a compreensão e a paciência dos proprietários, normalmente ansiosos por soluções rápidas. Nos casos 1 e 2 foi preciso conter a vontade dos proprietários de fazer imediata indução de cio nas cadelas, antes que se tivesse garantia de anestro mínimo de noventa dias. No caso 3 foi necessária a compreensão da proprietária de que, apesar de estarmos buscando o acasalamento fértil da cadela – e para isso era preciso que ela tivesse um cio –, era necessária a supressão desse “tão desejado” cio, que deveria ser adiado para que houvesse chances de gestação. Não bastava obtê-lo: ele teria que ser fértil. Tais dificuldades devem ser consideradas ao propor tratamentos desse tipo, e os proprietários devem ser adequadamente esclarecidos sobre o que será feito e as razões para isso, sob pena de que abandonem o tratamento e busquem soluções mais simples e rápidas, que acabarão por se mostrar ineficazes. No caso 5, de forma semelhante, uma dificuldade enfrentada na realização daquele tipo de estratégia reprodutiva foi conter a ansiedade da proprietária dos cães, que queria que houvesse cópula desde o momento em que a cadela iniciou a aceitação do macho. Isso possivelmente inviabilizaria novamente a gestação, já que essa foi a estratégia utilizada nos acasalamentos anteriores, sem sucesso. Os casos clínicos apresentados são apenas exemplos de como os problemas de manejo influenciam a fertilidade canina e como podem ser trabalhados, sendo fundamentais o conhecimento da fisiologia reprodutiva do macho e da fêmea. Deve-se tentar obter diagnósticos completos e definitivos para estabelecer a melhor conduta de tratamento. Entretanto, nos casos 1, 2 e 3, era fundamental que se respeitasse o período mínimo de anestro necessário para que se obtivessem boas condições uterinas para gestação, independentemente do diagnóstico final. Cabe ainda ressaltar como a subfertilidade/infertilidade primariamente masculina pode ser resolvida trabalhando-se eficientemente com a fêmea, mostrando a importância do controle do cio e da identificação da ovulação nesses casos. Muitas falhas reprodutivas ocorrem por serem as coberturas realizadas em momento inadequado, seja precoce ou tardiamente, o que é potencializado quando o sêmen é de má qualidade. Quando o sêmen é de boa qualidade, no entanto, esses problemas são atenuados, como ocorre nos acasalamentos realizados com base apenas na contagem do número de dias de cio da cadela, baseados nas características do corrimento vaginal, ou na receptividade ao macho. Apesar disso, essas últimas técnicas podem não ser eficientes quando

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Reprodução há subfertilidade masculina, feminina ou ambas. Finalmente, mais importante que os casos clínicos em si apresentados é a demonstração, utilizando-os como exemplos, de como o aprofundamento e a aplicação de conhecimentos de fisiologia reprodutiva pode auxiliar o clínico de pequenos animais na solução de problemas de fertilidade canina. Produto utilizado a) Dostinex. Pfizer. São Paulo, SP b) PrevGest. Biovet. Vargem Grande Paulista, SP Referências

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Oncologia Inibidores de tirosina-quinase no tratamento de mastocitomas cutâneos em cães – revisão Tyrosine kinase inhibitors in the treatment of mast cell tumors in dogs – review Inhibidores de tirosina-quinasa en el tratamiento de mastocitomas cutáneos en perros – revisión Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 50-56, 2012 Paulo César Jark

MV, mestrando FCAV/Unesp-Jaboticabal paulocjark@hotmail.com

Luiz Henrique de Araujo Machado MV, prof. ass. dr. FMVZ/Unesp-Botucatu

henrique@fmvz.unesp.br

Michiko Sakate

MV, profa. adj. dra. FMVZ/Unesp-Botucatu

michikos@fmvz.unesp.br

Sabryna Gouveia Calazans médica veterinária Instituto Bioethicus

gcalazans@gmail.com

Maria Luisa Buffo de Cápua médica veterinária Instituto Bioethicus

marialuisa_capua@yahoo.com.br

Mirela Tinucci Costa

MV, prof. ass. dra. FCAV/Unesp-Jaboticabal mirelatc@fcav.unesp.br

Andrigo Barboza de Nardi MV, prof. ass. dr. FCAV/Unesp-Jaboticabal

andrigobarboza@yahoo.com.br

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Resumo: O mastocitoma é o segundo tumor mais comum no cão, sendo caracterizado pela proliferação desordenada de mastócitos na pele. O tratamento envolve a ressecção cirúrgica, quimioterapia e radioterapia. Recentemente, novos protocolos de tratamento têm sido desenvolvidos, como a utilização de inibidores de receptores de tirosina-quinase. Com o conhecimento do genoma e a evolução de metodologias em genética molecular, os fármacos com alvo molecular específico constituem uma modalidade terapêutica promissora contra o câncer, no futuro. Além de estarem envolvidos no ciclo celular normal, alguns estudos sugerem que os receptores de tirosina-quinase têm participação fundamental nos processos neoplásicos. Dessa forma, algumas estratégias, como o desenvolvimento de anticorpos antirreceptores de tirosina-quinase e as pequenas moléculas inibidoras de receptor de tirosina-quinase, têm sido desenvolvidas na tentativa de inibir o desenvolvimento tumoral. O objetivo da presente revisão é descrever o uso dos inibidores de tirosina-quinase no tratamento de mastocitoma em cães. Unitermos: oncologia, neoplasias cutâneas, terapia alvo molecular Abstract: The mast cell tumor (MCT) is the second most common type of tumor in dogs. It is characterized by uncontrolled proliferation of mast cells in the skin. Treatment involves surgical resection, chemotherapy and radiotherapy. Recently, new treatment protocols have been developed, such as the use of tyrosine kinase inhibitors. With the increasing knowledge about the genome and the evolution of methods in molecular genetics, drugs with specific molecular targets are surely going to become promising therapeutic modalities in the near future. Besides being involved in the normal cell cycle, some studies suggest that tyrosine kinases have a fundamental role in neoplastic processes. Therefore, some strategies such as the development of antibodies anti-receptors for tyrosine kinases and small-molecule tyrosine kinase receptor inhibitors have been developed in an attempt to inhibit tumor development. The purpose of this review is to describe the use of tyrosine kinase inhibitors in the treatment of mast cell tumors in dogs. Keywords: oncology, skin neoplasms, molecular target therapy Resumen: El mastocitoma es el segundo tumor mas frecuente en perros, caracterizándose por la proliferación desordenada de mastocitos en la piel. El tratamiento abarca la resección quirúrgica, la quimio y la radioterapia. Recientemente, se han desarrollado nuevos protocolos de tratamiento, como los inhibidores de receptores de tirosina-quinasa. Una vez conocido el genoma y teniendo en cuenta la evolución de diferentes metodologías en genética molecular, en el futuro, los fármacos con acción molecular específica se convertirán, seguramente, en una alternativa terapéutica promisora en el tratamiento contra el cáncer. Según algunas investigaciones, los receptores de tirosina-quinasa, además de estar relacionados al ciclo celular normal, tienen una participación fundamental en los procesos neoplásicos. Así es que algunas estrategias terapéuticas, como el desarrollo de anticuerpos anti receptores de tirosina-quinasa y pequeñas moléculas inhibidoras del receptor de tirosina-quinasa, se han desarrollado en un intento de inhibir el desarrollo tumoral. El objetivo de la presente revisión bibliográfica es describir el uso de los inhibidores de tirosina-quinasa en el tratamiento del mastocitoma en perros. Palabras clave: oncología, neoplasias cutáneas, terapia albo molecular Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, julho/agosto, 2012


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Introdução Com o conhecimento do genoma e a evolução de metodologias em genética molecular, surgem protocolos antineoplásicos cada vez mais específicos, que se ligam em estruturas moleculares alteradas e dessa forma são menos tóxicos em relação à quimioterapia com agentes citotóxicos. A tendência dos tratamentos antineoplásicos é que se tornem personalizados de acordo com as alterações genéticas de cada indivíduo. Os fármacos com alvo molecular específico, como os inibidores de tirosina-quinase, a imunoterapia e a terapia gênica constituem as modalidades terapêuticas do câncer no futuro 1. Embora em seres humanos essas modalidades terapêuticas estejam bem difundidas, em medicina veterinária ainda existem poucos estudos a respeito dessas drogas alvo específicas. Nos últimos anos, alguns trabalhos foram desenvolvidos no sentido de avaliar a eficácia dos inibidores de receptores de tirosina-quinase no tratamento de neoplasias caninas, principalmente no mastocitoma, que é considerado um dos principais tumores cutâneos em cães 2-6. O objetivo da presente revisão é descrever o mecanismo de ação, as principais aplicações e os resultados obtidos nas pesquisas com o uso dos inibidores dos receptores de tirosina-quinase no tratamento de mastocitomas em cães.

papel na formação de novos vasos, processo conhecido como angiogênese 8. Receptores de tirosina-quinase e a correlação com a carcinogênese Além de estarem envolvidos no ciclo celular normal, alguns estudos sugerem que os receptores de tirosina-quinase têm participação fundamental nos processos neoplásicos 9,10. A mutação nos proto-oncogenes que codificam esses receptores ou a superexpressão desses tem como consequência um descontrole no envio de sinais para a proliferação celular que é fundamental para o desenvolvimento neoplásico 4,9 (Figura 2). Além disso, esses receptores estão envolvidos no processo de angiogênese que é importante para a nutrição das células neoplásicas e serve também como uma via para a disseminação de metástases 8. Um dos principais estudos, em seres humanos, da participação dos receptores de tirosina-quinase na carcinogênese é a relação do gene BCR-ABL no desenvolvimento de leucemia mieloide crônica (LMC). A translocação entre os cromossomos 9 e 22 resulta na ativação do gene BCR-ABL e, consequentemente, na ativação do receptor de tirosina-quinase ABL, que desempenha papel fundamental durante a carcinogênese da LMC. Essa alteração está descrita em 90% dos casos de LMC em seres humanos 11,12. Receptores de tirosina-quinase como o MET e o receptor de crescimento endotelial estão sendo estudados quanto à participação nos processos neoplásicos em cães. Alguns estudos demonstraram que, de modo semelhante ao que ocorre nos osteossarcomas humanos, a expressão do receptor Met em osteossarcoma canino está relacionada a um número maior de invasões e migrações de células e, consequente, à formação de focos metastáticos 13-15. A participação do receptor de tirosina-quinase KIT representa um dos maiores exemplos da participação desses receptores no desenvolvimento de neoplasias em cães 4. O receptor KIT é normalmente expresso em células progenitoras hematopoiéticas, melanócitos, células do sistema nervoso central e mastócitos 16. A participação desse receptor foi identificada em diversas neoplasias humanas, como na leucemia mieloide aguda, em tumores estromais gastrintestinais e em neoplasias

Receptores de tirosina-quinase A quinase é uma enzima que transfere grupos fosfato do ATP para moléculas alvo específicas em um processo denominado fosforilação. Enzimas quinase que fosforilam especificamente os aminoácidos tirosina são denominadas tirosina-quinase 4. Os receptores de tirosina-quinase são estruturas localizadas na superfície, no citoplasma e no núcleo celular, responsáveis pelo envio de sinais que regulam a proliferação e a diferenciação celular. Esses processos geralmente se iniciam em resposta a estímulos externos como fatores de crescimento, hormônios e citocinas 7 (Figura 1). Os receptores de tirosina-quinase, como o KIT, MET, AXL, e o receptor de fator de crescimento epitelial são conhecidos por regular a proliferação e a diferenciação celular 4. Outros receptores, como o receptor de fator de crescimento endotelial, o receptor de crescimento derivado de plaquetas e o receptor de crescimento de fibroblastos, desempenham

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Figura 1 - Receptor de tirosina-quinase recebendo um fator de proliferação externo durante o processo fisiológico de proliferação celular

Figura 2 - Receptor de tirosina-quinase KIT mutado enviando sinais de proliferação celular constante mesmo na ausência de fator de proliferação externo (stem cell fator), levando a multiplicação descontrolada, favorável ao desenvolvimento tumoral

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Oncologia

Inibidores de receptor de tirosina-quinase no tratamento de mastocitomas em cães Após a descoberta da participação dos receptores de tirosina-quinase no processo de carcinogênese, um esforço contínuo tem sido direcionado ao desenvolvimento de estratégias para inibir esses receptores, tanto nas células cancerígenas, para evitar a proliferação celular, como no endotélio vascular, com o objetivo de inibir a angiogênese 10. As duas estratégias de maior sucesso na tentativa de inibir a via tirosina-quinase são o desenvolvimento de anticorpos antirreceptores e de pequenas moléculas inibidoras de receptores de tirosina-quinase 10, sendo esta última a área de maior concentração de pesquisas em medicina veterinária e o foco do presente trabalho (Figura 3). Pequenas moléculas inibidoras de receptor de tirosina-quinase A maior estratégia desenvolvida em medicina veterinária com o intuito de inibir a ação dos receptores de tirosina52

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caninas como o mastocitoma cutâneo 4,16. A mutação do proto-oncogene c-KIT, principalmente no exon 11, induz a ativação do receptor KIT mesmo na ausência de fatores estimuladores (stem cell fator), o que confere um estímulo persistente para a multiplicação celular, ideal para o desenvolvimento neoplásico 9,16. Aproximadamente 30% dos cães com mastocitoma cutâneo apresentam uma mutação no oncogene c-KIT avaliados por PCR e essa mutação está intimamente ligada ao grau de diferenciação tumoral 17. As mutações no c-KIT estão presentes em tumores pobremente diferenciados que apresentam comportamento biológico mais agressivo e raramente são encontradas em mastocitomas bem diferenciados 16,17. Outra característica importante em relação ao receptor KIT é sua localização no mastócito, pois estudos demonstraram que quando esses receptores estão localizados no citoplasma o prognóstico é pior, em comparação àqueles com localização perimembranosa 16. Alguns pesquisadores observaram uma correlação entre a alteração no oncogene c-KIT e a localização do receptor KIT no mastócito, pois a maioria dos animais que apresentavam c-KIT mutado tinham o receptor KIT em localização citoplasmática, que também está relacionada a um pior prognóstico 16. Considerando as classificações atualmente disponíveis para mastocitomas cutâneos caninos (sistema Patnaik 18 e nova classificação dos mastocitomas em alto e baixo grau proposta por Kiupel 19), existe uma correlação entre os graus mais agressivos e a localização intracitoplasmática difusa do receptor KIT 20. Em um trabalho desenvolvido correlacionando a localização do KIT com a graduação histopatológica, observou-se que o padrão KIT citoplasmático difuso era mais comum em mastocitomas grau II e III segundo a classificação de Patnaik e em mastocitomas de alto grau segundo a classificação de alto e baixo grau 20. De acordo com esse estudo, 71% dos mastocitomas classificados como alto grau de malignidade apresentavam marcação imunoistoquímica de KIT em localização citoplasmática difusa 20.

Figura 3 - Inibidores de tirosina-quinase bloqueando o receptor KIT mutado, impedindo o envio de sinal para proliferação celular

quinase foi a utilização dos chamados “small molecule tyrosyne kinase inhibitors”. Estes agem bloqueando a ligação da molécula de ATP ao receptor, por mecanismo de inibição competitiva (reversível ou não), impedindo a fosforilação e o envio de sinais para proliferação celular 4. Alguns trabalhos foram realizados utilizando esse tipo de terapia no tratamento de neoplasias caninas, principalmente nos mastocitomas cutâneos. As pequenas moléculas inibidoras de receptor de tirosina-quinase disponíveis ou em fase de estudos para o uso em medicina veterinária são o toceranib, o imatinib e o masitinib. Toceranib O fosfato de toceranib é um inibidor de tirosina-quinase que apresenta propriedades antiproliferativas, por meio da inibição do receptor KIT, e antiangiogênicas, pela inibição do receptor do fator de crescimento endotelial vascular (VEGFR) e do receptor do fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGFR) 21. Um dos primeiros estudos realizados com o uso desse fármaco não foi direcionado apenas ao tratamento do mastocitoma cutâneo canino, mas à avaliação da eficácia e da segurança do toceranib em diversos tipos de neoplasias 2. Esse estudo envolveu 57 cães com uma variedade de neoplasias, incluindo carcinomas, sarcomas, mastocitomas, mieloma múltiplo, melanomas e linfomas. Dos 57 animais incluídos nesse estudo, dezesseis cães apresentaram resposta (parcial ou completa) clínica favorável, com redução do tamanho do tumor, e em outros quinze cães houve estabilização da doença por mais de dez semanas. Como esperado, a maior taxa de resposta foi observada em pacientes com mastocitoma. Dos onze animais com mastocitoma e mutação do receptor KIT, dez apresentaram resposta (parcial ou completa em nove animais e doença estável em um animal). Dos outros onze animais que não apresentavam a mutação no receptor KIT, a resposta foi observada em aproximadamente 30% dos casos, sugerindo que mesmo os pacientes com mastocitoma que não apresentam mutação no receptor KIT podem se beneficiar do uso do toceranib, devido ao efeito inibitório da angiogênese 2. Um estudo duplo-cego, randomizado, com grupo controle placebo, avaliou a eficácia do inibidor de receptor de tirosina-quinase toceranib no tratamento de 86 cães com

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recorrência (local ou distante) de mastocitoma após excisão cirúrgica 22. Os cães receberam o medicamento oral na dose de 3,25mg/kg ou placebo a cada 48 horas durante seis semanas. A taxa de resposta dos cães tratados com toceranib foi de 37,2% (sete respostas completas, 25 respostas parciais), ao passo que no grupo controle (placebo) apenas 7,9% dos animais apresentaram resposta (cinco respostas parciais). Na segunda fase desse experimento, em que 58 animais receberam toceranib, a taxa de resposta ao tratamento foi de 41,4%. Entre os animais que responderam ao protocolo com toceranib, a duração média de resposta e o tempo para ocorrer progressão do tumor foi de doze e dezoito semanas respectivamente 22. Masitinib Um estudo avaliou a eficácia do uso de masitinib em comparação com o uso de placebo no tratamento de mastocitomas de graus II e III, que não eram passíveis de remoção cirúrgica. Foram inclusos 132 animais, divididos em dois grupos. Cento e seis animais receberam masitinib na dose de 12,5mg/kg/dia, e os outros 26 pacientes receberam placebo. Os resultados evidenciaram uma significativa melhora na taxa de sobrevida no grupo que recebeu masitinib em com-

paração com a do grupo placebo. No grupo de masitinib, 62,1% dos animais permaneceram vivos por um período de 12 meses, e 39,8% por um período de 24 meses. Já no grupo de placebo, 36% dos animais sobreviveram 12 meses, e 15% sobreviveram 24 meses 6. Os autores salientam que a resposta ao tratamento com masitinib foi tardia, após o uso prolongado do medicamento e que, portanto, a avaliação da eficácia dessa terapia em um curto período de tempo deve ser realizada de forma cuidadosa 6. Outro trabalho, que envolveu 202 animais, avaliou a eficácia e a segurança do uso do masitinib em cães com mastocitomas de grau II e III não metastáticos e não passiveis de ressecção cirúrgica 23. Os animais foram divididos em dois grupos, sendo que um deles recebeu o masitinib na dose de 12,5mg/kg/dia, e o outro grupo recebeu placebo. O grupo que recebeu o inibidor de tirosina-quinase apresentou maior sobrevida global e maior tempo de progressão da doença. Os autores observaram que os efeitos sobre o tempo de progressão da doença foi maior no grupo de masitinib, principalmente em pacientes que receberam esse fármaco como primeira escolha de tratamento, independentemente da presença ou não da mutação no gene c-KIT. O grupo de masitinib apresentou maior sobrevida global quando comparado ao

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Oncologia grupo de placebo, porém essa diferença só foi significativa quando se consideraram os animais com mutação no c-KIT 23. Além do efeito antiproliferativo direto do masitinib em cães com mastocitoma, estudos in vitro demonstraram que esse fármaco pode ser um quimiossensibilizador para alguns quimioterápicos como doxorrubicina, gencitabina e vimblastina em determinadas culturas de células neoplásicas, como, por exemplo, os sarcomas histiocíticos, os osteossarcomas e os carcinomas mamários, o que demonstra a possibilidade da ocorrência de um efeito sinérgico desses medicamentos alvo específicos com os quimioterápicos já utilizados 24. Imatinib Um trabalho avaliou a eficácia do imatinib em pacientes com mastocitoma. Foram utilizados 21 cães com mastocitomas que apresentavam tamanho médio de 7,2cm (variando de 1 a 25,3cm) antes do tratamento 3. Os tumores foram avaliados também quanto à presença de mutação do c-KIT. Os animais receberam imatinib por via oral na dose de 10mg/kg, diariamente, por um período de até nove semanas 3. Dez cães do total de 21 pacientes tratados demonstraram benefício como a redução do tamanho tumoral (remissão parcial ou total) com o uso do imatinib já com catorze dias de tratamento. Todos os cinco cães que apresentaram mutação no cKIT responderam ao tratamento (uma remissão completa e quatro remissões parciais) 3. Os pesquisadores avaliaram a eficácia do imatinib em um cão com mastocitoma em região de coxins plantares com presença de mastócitos neoplásicos na corrente sanguínea e metástase em linfonodo 25. Após a confirmação da mutação do gene c-KIT por meio de técnicas moleculares, o animal foi submetido ao tratamento com imatinib na dose de 10mg/kg, diariamente, durante dez semanas. Após as duas primeiras semanas de tratamento, houve redução significativa da massa em região de coxins plantares e não foram mais evidenciados mastócitos no sangue periférico. Após a quinta semana de tratamento, o linfonodo acometido pela metástase apresentava tamanho normal. Na oitava semana do tratamento, houve recidiva local da neoplasia, aparecimento de novos nódulos cutâneos e retorno da mastocitemia, que culminou com o óbito do animal na décima semana de tratamento 25. Não foram observadas, por meio das técnicas moleculares, novas mutações do gene c-KIT no momento da recidiva tumoral. Assim sendo, os autores sugerem outros mecanismos envolvidos no desenvolvimento da resistência a essa terapia neste caso, como, por exemplo, a ativação de outras vias de sinalização para proliferação celular, diminuição da atividade do fármaco após uso prolongado, expressão de proteínas relacionadas à resistência a fármacos como a glicoproteína P 25. Um dos mecanismos citados na literatura médica para a falha no tratamento com inibidores de tirosina-quinase após uma resposta inicial favorável é a aquisição de mutações em outros locais dos receptores de tirosina-quinase, com consequente reativação de sua função mesmo após a terapia alvo específica. Esse mecanismo pode ser observado em seres humanos com tumores gastrintestinais que apresentam 54

mutação no gene c-KIT e demonstram uma resposta inicial favorável ao uso dos inibidores dos receptores de tirosinaquinase, porém após certo período adquirem resistência ao tratamento 26. Principais efeitos colaterais dos inibidores de tirosina-quinase De modo semelhante ao que ocorre com os agentes quimioterápicos, os inibidores de tirosina-quinase também podem provocar a ocorrência de efeitos colaterais sobre os tecidos normais do organismo 4. Esses efeitos decorrem da inibição crônica dos receptores de tirosina-quinase também em células normais, que dependem deles para a proliferação e a sobrevivência em condições normais 4. Os principais efeitos colaterais relacionados com o uso do toceranib e do masitinib foram perda de apetite, vômito, diarreia, alterações renais e neutropenia, e alguns casos de fraqueza muscular no caso do uso do toceranib 2,23. A maioria dos animais apresentou resolução dos efeitos colaterais dias após a interrupção do tratamento 2. Uma das hipóteses para justificar a ocorrência de sinais gastrintestinais em cães que fazem uso de inibidores de tirosina-quinase para o tratamento de mastocitomas é que esses fármacos promovem a apoptose de mastócito com consequente liberação de mediadores inflamatórios, que poderia desencadear sinais gastrintestinais 27,28. O imatinib ainda não foi amplamente utilizado em cães e gatos, o que dificulta a avaliação sobre a sua toxicidade. Existem relatos de que esse fármaco provocou hepatotoxicidade em um pequeno número de animais 29,30. Considerações finais A correlação entre os receptores de tirosina-quinase e o desenvolvimento de neoplasias está bem documentada em seres humanos, mas em medicina veterinária ainda existem poucos trabalhos nessa área. A identificação de receptores de tirosina-quinase envolvidos no processo de carcinogênese em cães e o consequente desenvolvimento de fármacos alvo específicos apontam resultados promissores. A opção pela utilização desse tipo de terapia deve ser avaliada seguindo as indicações clínicas desses fármacos, como a presença de mutação do oncogene c-KIT, avaliada por técnicas moleculares de PCR, juntamente com achados clínicos e histopatológicos como a presença de mastocitomas cutâneos de comportamento agressivo, não passíveis de ressecção cirúrgica ou resistentes a quimioterapia convencional. Possivelmente, a realização de novas pesquisas envolvendo a combinação de terapias já disponíveis – como a quimioterapia antineoplásica e a radioterapia – com essas novas modalidades de fármacos alvo específicas deve proporcionar um amplo campo de pesquisa dentro da oncologia veterinária e contribuir para o prognóstico de pacientes com câncer. Agradecimento Gustavo Dittrich, médico veterinário, residente da PUCPR, pela ajuda na confecção dos desenhos gráficos.

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Diagnóstico por imagem Ultrassonografia de pescoço – estudo retrospectivo em cães Neck ultrasonography – retrospective study in dogs La ecografía del cuello – estudio retrospectivo en perros Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 58-64, 2012

Camila Novelli Ruivo

aluna de graduação Curso de Medicina Veterinária da UCS camila.nruivo@gmail.com

Carolina Marinho Simão

aluna de graduação Curso de Medicina Veterinária da UCS karol_ms2000@hotmail.com

Cibele Figueira Carvalho

MV, profa. assist. II Curso de Medicina Veterinária da UCS cibelefcarvalho@gmail.com

Daniela Aparecida Ayres Garcia

MV, mestranda Curso de Medicina Veterinária da UFPR daniapag@yahoo.com.br

Tilde Rodrigues Froes

MV, profa. adj. II Curso de Medicina Veterinária da UFPR froestilde@gmail.com

Resumo: Foi realizado um estudo retrospectivo dos resultados de exames ultrassonográficos realizados em cães com sinais clínicos de alterações na região do pescoço, com a finalidade de descrever a distribuição de ocorrência dos principais achados. Os dados foram comparados com o diagnóstico definitivo, obtidos por meio de exames laboratoriais, biópsias e/ou intervenção cirúrgica, em um total de 59 pacientes. Em doze cães não foram observadas alterações na região todavia a exclusão de doenças também é importante para o clínico. Na presente pesquisa, confirmando o descrito na literatura, o exame ultrassonográfico auxiliou na caracterização e determinação da origem de massas, assim como na localização e extensão da lesão. As principais indicações clínicas da ultrassonografia do pescoço foram: diagnóstico diferencial dos aumentos de volumes na região, diferenciação de afecções em tireoide e auxílio nas punções ecodirigidas. Unitermos: ultrassom diagnóstico, cabeça, glândulas salivares, tireoide Abstract: A retrospective study of ultrasonographic results in dogs with clinical signs of diseases in the neck region was performed in order to describe the distribution of main findings with this method. The data were compared with the definitive diagnosis obtained by laboratory panel, biopsy and/or surgery in a sample of 59 patients. No changes were observed in the region in 12 dogs, a finding that nonetheless aids the clinician in excluding diseases. The present study confirms the description in literature that ultrasound assists in characterizing and determining the origin of masses, as well as the location and extent of the lesions. The main clinical indications for ultrasonography of the ventral cervical region were the differential diagnosis of swellings, the differentiation of thyroid disorders and as a tool to guide interventional procedures. Keywords: diagnostic ultrasound, head, salivary glands, thyroid Resumen: Se realizó un estudio retrospectivo de los resultados de exámenes ultrasonográficos de perros con signos clínicos de alteraciones en la región del cuello, con el objetivo de poder obtener la incidencia de las afecciones mas frecuentes. Los datos ecográficos de un total de 59 pacientes fueron confrontados con el diagnostico definitivo, al que se llegó mediante exámenes de laboratorio, biopsias y/o intervenciones quirúrgicas. En doce perros no se observaron alteraciones, aunque fue posible descartar otras patologías, una referencia importante desde el punto de vista clínico. Tal como se ha descrito anteriormente en la literatura, este trabajo permitió comprobar que la ultrasonografía resultó un examen de gran ayuda en la caracterización y determinación del origen de masas, así como en la localización y extensión de la lesión. Las principales indicaciones clínicas de la ecografía del cuello, fueron: diagnóstico diferencial de aumentos de volumen, diferenciación de patologías tiroideas y auxilio en las punciones eco-guiadas. Palabras clave: ultrasonido diagnóstico, cabeza, glándulas salivales, tiroides

Introdução A ultrassonografia da região cervical ventral é a modalidade de diagnóstico por imagem de eleição para o estudo inicial 58

de pacientes com suspeita de doenças de tireoide, de anormalidade nos linfonodos e nas glândulas salivares, por ser um método seguro, rápido e de fácil execução 1,2. O aspecto

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ultrassonográfico das estruturas normais da região cervical em cães e gatos tem sido estudado por diferentes autores 3-6. A complexidade anatômica e as dimensões relativamente pequenas das estruturas podem tornar um desafio o exame sonográfico em alguns animais de menor porte. Atualmente, com a utilização de aparelhos de alta resolução sonográfica, este método de imagem permite determinar a origem e a extensão de massas tumorais na região, assim como o comprometimento de estruturas vasculares e linfáticas adjacentes 1-3. A ultrassonografia ainda é o método mais utilizado no diagnóstico de sialoceles e para guiar procedimentos intervencionistas (diagnósticos e terapêuticos) nas glândulas salivares e na tireoide. Por fim, diversos estudos têm sido publicados na tentativa de determinar valores de normalidade e padrões de imagem das afecções (benignas e malignas) de várias estruturas cervicais 3-6. No entanto, a literatura veterinária no Brasil não apresenta estudos demonstrando a distribuição de ocorrência dos achados ultrassonográficos da nossa rotina neste tipo de exame. O objetivo deste estudo foi demonstrar de forma descritiva e retrospectiva a distribuição de ocorrência dos achados ultrassonográficos no pescoço em cães que apresentavam sinais clínicos de alterações na região. Material e métodos Foi desenvolvido um estudo retrospectivo dos laudos ultrassonográficos de exames da região cervical ventral de cães realizados entre janeiro de 2009 e maio de 2010. Os dados obtidos foram tabulados comparando-se com o diagnóstico definitivo. Incluíram-se nesse estudo todos os 67 exames da região do pescoço realizados durante o referido período. Foram excluídos da pesquisa os exames de resulta-

dos não conclusivos (três animais cujas tireoides não foram caracterizadas adequadamente ao exame sonográfico mas havia suspeita de hipotireoidismo e um paciente cujos exames laboratoriais sugeriam hipotireoidismo mas as imagens foram consideradas normais; três animais com imagens sugestivas de processo inflamatório de glândulas salivares, porém sem diagnóstico citológico e/ou histopatológico; e um paciente com suspeita ultrassonográfica de hipotireoidismo sem exames laboratoriais que determinassem o diagnóstico final. No final foram utilizados 59 exames. Os exames foram realizados por um único observador, utilizando um aparelho de alta resolução a (transdutor microlinear de 8 a 15 MHz). Para a execução do exame ultrassonográfico, os animais foram colocados em decúbito dorsal em calha de espuma, realizou-se a tricotomia prévia da região cervical ventral, e a varredura da região ocorreu conforme descrito na literatura 1. Iniciou-se a varredura a partir da região mentoniana, realizando-se planos transversais oblíquos da base da língua; seguindo com o transdutor em direção ao ângulo da mandíbula para obter planos longitudinal e transversal das glândulas salivares mandibulares e parótidas em ambos os lados. A seguir colocou-se o transdutor na laringe, obtendo-se planos transversal e longitudinal da mesma para observar a movimentação das cartilagens. Obtendose o plano transversal nesta região, observou-se ainda a imagem da traqueia, do esôfago e dos grandes vasos adjacentes, assim como dos lobos direito e esquerdo da tireoide. Ao visibilizar cada um destes órgãos, foram realizadas a mensuração e a varredura, inicialmente nos planos transversal, e na sequência no longitudinal, de todas estas estruturas. O presente estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e

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Diagnóstico por imagem Pesquisa da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte do projeto de iniciação científica. Resultados Durante o período da pesquisa foram incluídos no estudo um total de 59 pacientes, sendo 22 machos e 37 fêmeas, com idade entre um e dezesseis anos (com média de idade 8,55 anos). Destes, somente doze animais (18%) apresentaram imagens dentro da normalidade. O número de casos, os principais achados ultrassonográficos, a metodologia aplicada para o diagnóstico definitivo e o diagnóstico final dos 59 pacientes que participaram do estudo estão resumidos na figura 1. Os animais com hipotireoidismo consistiram na suspeita clínica mais frequente, e em todos os pacientes incluídos na figura 1 (segundo o critério de inclusão) o diagnóstico foi confirmado por exames laboratoriais. Em um animal realizou-se concomitante punção aspirativa por agulha fina devido à presença de intensa vascularização detectada pelo mapeamento Doppler colorido do lobo esquerdo da tireoide. Os achados ultrassonográficos mais consistentes nos casos de N. de Principais achados ultrassonográficos casos

hipotireoidismo foram o aumento generalizado do tamanho da glândula (Figura 2), com maior evidência do aumento do diâmetro craniocaudal. Em cinco pacientes também foram observadas lesões císticas associadas. Foram observados dez pacientes com diagnóstico de neoplasia de tireoide. Nestes, a imagem ultrassonográfica das glândulas consistiu em: perda do aspecto elipsoide ou fusiforme habitual da glândula; parênquima hipoecogênico ou misto de aspecto heterogêneo (Figura 3); eventualmente foi possível identificar nódulos hiperecoicos cujo estudo Doppler colorido revelou presença de vaso central. Aumento dos linfonodos adjacentes foi detectado em três animais e destes, todos apresentaram perda do aspecto ultrassonográfico normal, consistindo-se na redução de sua ecogenicidade e na perda do padrão linear da região hilar. Ainda dos dez casos de massas neoplásicas da glândula tireoide, cinco eram adenocarcinoma, uma foi concluída como carcinoma e quatro foram caracterizadas como neoplasias sem classificação histológica. O aspecto sonográfico misto e heterogêneo foi detectado em todos os animais com neoplasia, independente da classificação histopatológica. Diagnóstico definitivo por meio de:

Diagnóstico final

18

aumento das glândulas tireoides

exames laboratoriais

hipotireoidismo

12

sem alterações ultrassonográficas

exames laboratoriais

sem alterações

7

perda da forma das tireoides com ecogenicidade heterogênea

citologia aspirativa

neoplasia de tireoide

3

perda da forma das tireoides com ecogenicidade heterogênea

biópsia cirúrgica

neoplasia de tireoide

7

aumento das glândulas salivares com contorno irregular

citologia aspirativa

processo inflamatório das glândulas salivares

1

aumento das glândulas. salivares com contorno irregular

biópsia cirúrgica

processo inflamatório das glândulas salivares

6

aumento dos linfonodos com contorno irregular

citologia aspirativa

processo inflamatório dos linfonodos

3

aumento do diâmetro craniocaudal da tireoide com aumento no número de vasos

citologia aspirativa

tireoidite

2

aumento dos linfonodos e das glândulas salivares com contornos pouco definidos e irregulares

citologia aspirativa

processo inflamatório das glândulas salivares e dos linfonodos

2

aumento de linfonodos

citologia aspirativa

linfoma

1

lesão cavitária junto à tireoide, esta hipoecogênica

citologia aspirativa

abscesso de tireoide

1

presença de formação de contornos definidos, hipoecogência de aspecto fibrilar, entre tecido subcutâneo e muscular

citologia aspirativa

lipoma

1

aumento das glândulas tireoides

citologia aspirativa

tireoide normal

Figura 1 - Número de casos, principais achados ultrassonográficos, metodologia aplicada para o diagnóstico definitivo e diagnóstico final dos 59 pacientes em que foram realizados exames ultrassonográficos cervicais 60

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Cibele Figueira Carvalho

Cibele Figueira Carvalho

Figura 2 - Imagem ultrassonográfica em plano longitudinal de lobo direito da tireoide (TIR D) de dimensões aumentadas em cão com hipotireoidismo e tireoidite confirmada em citologia aspirativa

Figura 4 - Imagem ultrassonográfica de tireoide em plano longitudinal, com mapeamento Doppler colorido evidenciando a presença de maior número de vasos pequenos e tortuosos dispersos no parênquima da glândula

Cibele Figueira Carvalho

Nos casos de tireoidite, observados em três animais, as tireoides apresentavam-se hipoecogênicas e discretamente heterogêneas, geralmente com aumento do diâmetro craniocaudal, e ao mapeamento Doppler colorido observou-se um aumento no número de vasos evidentes (Figura 4) em toda a glândula (periférico e central), todavia, a forma, os contornos e a cápsula não apresentavam alterações. Foi observado um caso de abscesso em região cervical. Este paciente apresentava uma lesão cavitária (Figura 5) adjacente à tireoide, e foi possível identificar também um aumento das dimensões da glândula de forma assimétrica e com aspecto predominante hipoecogênico. Os achados ultrassonográficos relacionados ao processo inflamatório dos linfonodos, verificado em seis animais,

Cibele Figueira Carvalho

Cibele Figueira Carvalho

Figura 3 - Imagem ultrassonográfica da glândula tireoide (lobo esquerdo) com formato alterado, parênquima de aspecto hipoecogênico e heterogêneo compatível com neoplasia de tireoide

Figura 5 - Imagem ultrassonográfica de lesão cavitária (em destaque) localizada próximo à veia jugular (VJ); perda de definição dos contornos da tireoide e edema de tecidos moles superficiais (seta) – abscesso

Figura 6 - Imagem ultrassonográfica do linfonodo retrofaríngeo aumentado de tamanho, com ecogenicidade diminuída. A citologia aspirativa confirmou processo inflamatório

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Diagnóstico por imagem foram: aumento das dimensões (Figura 6), ecogenicidade diminuída e alguns com áreas heterogêneas entremeadas. Nos casos de presença de processo inflamatório das glândulas salivares (sialoadenites), as glândulas apresentaram aumento de suas dimensões, contornos pouco definidos e de aspecto heterogêneo. Quando associado à sialocele (Figura 7) apresentavam alteração focal com conteúdo anecogênico (cavitária), com ou sem celularidade interior. Foram estudados dois casos de linfoma. Um paciente apresentou o linfonodo submandibular direito com as dimensões aumentadas, formato globoso, hipo/anecogênico heterogêneo, e ao mapeamento duplex Doppler colorido do vaso hilar obteve-se traçado arterial com alto índice de resistividade. Além disso, também foi identificado aumento das dimensões dos linfonodos retrofaríngeos. No outro caso, foi observado linfonodomegalia de todos os linfonodos regionais, sem alterações no índice de resistividade ao mapeamento Doppler. Em um caso foi detectada a presença de formação de contornos definidos, hipoecogência de aspecto fibrilar, localizada entre os tecidos subcutâneo e muscular em região caudoventral ao ramo horizontal direito da mandíbula cujo resultado da análise citológica foi lipoma. Discussão Confirmando o descrito na literatura, na presente pesquisa o exame ultrassonográfico auxiliou na caracterização e determinação da origem de massas, assim como na localização e extensão da lesão 7. Os resultados dessa pesquisa confirmam os achados na literatura 6 quanto à alteração do formato e à ecogenicidade da tireoide nos diagnósticos diferenciais das afecções que acometem esta glândula. Além disso, em três pacientes verificou-se também a presença de linfonodomegalia regional, com eventual perda de padrão ultrassonográfico habitual desses linfonodos. A presença destas alterações, Cibele Figueira Carvalho

Figura 7 - Imagem ultrassonográfica de glândula parótida com contornos pouco definidos, apresentando lesão de aspecto cavitário e conteúdo anecogênico denso em seu interior – sialocele 62

como relatado na literatura 8, foi indicativa do potencial invasivo ou de malignidade da lesão primária da tireoide. Na presença de tais achados, a punção aspirativa ecodirigida foi fundamental para o diagnóstico final. Os resultados deste estudo confirmam que os adenocarcinomas foram os principais tipos histopatológicos detectados, embora no presente trabalho não tenham sido classificados como folicular, papilar ou compacto 9. Os dados ultrassonográficos relativos às medidas obtidas em alguns cães com hipotireoidismo nesta pesquisa foram diferentes daqueles encontrados na literatura. Os resultados dos valores de tamanho da glândula nestes pacientes indicaram o aumento das dimensões da mesma, enquanto a literatura afirma que a redução do seu tamanho é a imagem predominante nesses casos 6. Porém, sabe-se que em fases iniciais de tireoidite pode ocorrer aumento do tamanho da glândula, mesmo com alterações séricas detectáveis e compatíveis com hipotireoidismo, enquanto que a fase crônica da doença é sabidamente caracterizada pela diminuição do tamanho da glândula 10,11. No entanto, nem todos estes pacientes foram submetidos à citologia, e assim, questiona-se a possibilidade de haver pacientes hipotireoideos em fases diferentes da doença clínica (eutireoideos doentes e pacientes com tireoidite). Destaca-se ainda a dificuldade em se obter imagens precisas dos limites das glândulas, já que em pacientes com hipotireoidismo suas margens não são bem definidas, interferindo na mensuração 6,12. Todos esses fatores sugerem que a ultrassonografia seja uma técnica complementar ao diagnóstico de hipotireoidismo, e não deve ser usada como único método diagnóstico de triagem de pacientes. Em nosso estudo verificou-se baixa ocorrência de casos confirmados de tireoidites linfocíticas, conforme citado em literatura 9. As desordens que afetam a glândula salivar incluem cistos, mucocele, sialite, sialocele, ducto cístico salivar e neoplasia. A literatura afirma que a maioria destas condições é pouco frequente 7. Nesta pesquisa, onze casos (16,41%) foram encaminhados para a realização da ultrassonografia com suspeita clínica de aumento de volume e/ou massa palpável na região do pescoço. Em oito destes pacientes observaram-se alterações ultrassonográficas somente nas glândulas salivares (incluindo diagnóstico de sialocele), em dois pacientes as imagens demonstraram aumento das dimensões de linfonodos regionais e por fim, um caso em que o animal apresentava bócio associado às imagens de diminuição de tamanho da tireoide cujo diagnóstico de hipotireoidismo foi confirmado após a realização de exames laboratoriais. Conforme afirmado na literatura 7, a ultrassonografia foi fundamental em todos estes casos, pois confirmou a presença, a localização e a extensão da lesão, permitindo ao clínico direcionar a conduta terapêutica destes pacientes. A região do pescoço apresenta diferentes estruturas que podem dificultar o exame físico do clínico veterinário 1. Assim, a ultrassonografia foi importante na detecção e localização da lesão e na avaliação do grau de envolvimento em tais pacientes.

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Diagnóstico por imagem Em um caso foi observada a presença de formação de contornos definidos, hipoecogência de aspecto fibrilar, entre tecido subcutâneo e muscular, cujo diagnóstico citológico revelou a presença de lipoma. Essa imagem é bem característica, indicando um diagnóstico de prognóstico favorável. Em doze pacientes não foi observada nenhuma alteração ultrassonográfica da região cervical; todavia a exclusão de alterações também é considerada um dado importante para o clínico. O exame ultrassonográfico foi realizado para guiar as punções aspirativas e a obtenção do diagnóstico definitivo em trinta animais. Conclusões Concluindo, podemos dizer que a ultrassonografia da região cervical ventral na nossa rotina foi determinante no diagnóstico diferencial dos aumentos de volumes na região, na diferenciação de afecções e como ferramenta intervencionista auxiliar nas punções ecodirigidas. Referências

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Oftalmologia Achados histopatológicos do glaucoma em cães e gatos Histopathological findings of canine and feline glaucoma Histopatología del glaucoma en perros y gatos Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 66-76, 2012 Letícia Olbertz

MV, mestranda da UFPR leticia.olbertz@gmail.com

Eduardo Perlmann

MV, MsC, doutorando da UFPR perlmann@ig.com.br

Fabiano Montiani-Ferreira MV, MsC, PhD, prof. da UFPR montiani@ufpr.br

Resumo: O glaucoma é a maior causa de remoção cirúrgica dos olhos dos cães. Histopatologicamente o glaucoma é definido como a perda das células ganglionares da retina ou a perda de seus axônios no nervo óptico, sendo diagnosticado por lesões histopatológicas específicas. Embora o diagnóstico clínico do glaucoma seja facilmente evidenciado pela mensuração da pressão intraocular (PIO), a sua causabase muitas vezes não é clinicamente elucidada. O diagnóstico histopatológico do glaucoma pode definir a origem da doença e, por conseguinte, informar sobre o prognóstico do olho contralateral ou, em alguns casos, sobre a presença de doenças sistêmicas que não haviam sido diagnosticadas até então. Este trabalho objetiva familiarizar os médicos veterinários com as principais lesões histopatológicas decorrentes de olhos glaucomatosos. Unitermos: histopatologia ocular, pressão intraocular, olho Abstract: Glaucoma is the main cause of surgical removal of eyes in dogs. Glaucoma is histopathologically defined as loss of retinal ganglion cells or loss of their axons in the optic nerve. It is diagnosed through some specific histopathological findings. Although the clinical diagnosis of glaucoma is easily evidenced by the measurement of intraocular pressure (IOP), the cause of this disease is often clinically impossible to elucidate. The histopathological diagnosis of glaucoma can define the source of the disease and may inform about the prognosis of the contralateral eye. In some cases, histopathological findings may lead to the discovery of undiagnosed systemic diseases. The aim of this study is to familiarize clinicians and surgeons with the main histopathological lesions resulting from glaucomatous eyes. Keywords: ocular pathology, intraocular pressure, eye Resumen: El glaucoma es la principal causa de enucleación en perros y gatos. Desde el punto de vista histopatológico, el glaucoma es diagnosticado a través de lesiones específicas, y se define como la pérdida de las células ganglionares de la retina o la pérdida de sus axones en el nervio óptico. A pesar de que el diagnóstico clínico se puede evidenciar fácilmente mediante la medición de la presión intraocular (PIO), la causa de base, muchas veces, no es detectada. El diagnostico histopatológico del glaucoma puede definir el origen de la enfermedad y así, consecuentemente, dar una idea del pronóstico del ojo contra lateral. En algunos casos también puede detectar la presencia de enfermedades sistémicas que no habían sido diagnosticadas. Este trabajo tiene como objetivo familiarizar a los médicos veterinarios, con las principales sesiones histopatológicas presentes en ojos glaucomatosos. Palabras clave: histopatología ocular, presión intra ocular, ojo

Introdução O glaucoma é a maior causa de remoção cirúrgica dos olhos dos cães (enucleação, evisceração ou exenteração), além de importante causa de dor ocular 1. Caracteriza-se por ser um estado patofisiológico neurodegenerativo no qual a pressão intraocular (PIO) encontra-se, na maioria absoluta das vezes, aumentada além dos níveis compatíveis com a saúde da retina e do nervo óptico 2,3. Histopatologicamente, o glaucoma é definido como perda funcional das células ganglionares da retina e de seus axônios no nervo óptico, podendo ser diagnosticado mediante padrões histopatológicos es pe cíficos 4. 66

A doença é comum nos cães e menos frequente nos gatos 5. Pode ser classificada como primária ou secundária. O glaucoma primário é aquele no qual não há doença ocular adquirida previamente, e sim, uma má-formação congênita na estrutura e, consequentemente, na função do sistema de drenagem do humor aquoso. O glaucoma secundário, por sua vez, decorre da disfunção do ângulo de drenagem, que se apresenta obstruído por doença ocular adquirida previamente. Alguns exemplos de doenças que podem levar ao glaucoma são: neoplasia, luxação da lente, formação de membrana fibrovascular, presença de restos celulares, hemácias ou pigmento

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melânico no ângulo iridotrabeculocorneano 3,6-10. A realidade sobre o glaucoma é que comumente a doença é diagnosticada em estágio avançado, quando nenhuma droga é capaz de interromper seu desenvolvimento e/ou reverter seus danos teciduais perfeitamente, e sendo assim, a doença muitas vezes leva cães e gatos à cegueira 3,5,11. O diagnóstico histopatológico é uma ferramenta importante frequentemente empregada no diagnóstico e na prevenção do glaucoma. O presente texto objetiva promover maior familiarização entre clínicos e cirurgiões veterinários sobre as principais lesões anatomo-histopatológicas decorrentes do glaucoma observadas nos bulbos oculares de cães e gatos. Diagnóstico histopatológico Embora o diagnóstico clínico do glaucoma possa ser evidenciado pelo exame oftálmico completo que inclui a mensuração da PIO, a causa-base da doença raramente é elucidada na rotina clínica, salvo os casos de glaucoma primário que podem ser analisados pelo exame gonioscópico. O diagnóstico histopatológico de olhos glaucomatosos pode definir se a doença é primária ou secundária. Nos casos de glaucoma primário deve-se ter atenção especial para o olho contralateral. Nos casos de glaucoma secundário podem-se determinar até mesmo doenças sistêmicas não diagnosticadas até então, como a erlichiose ou a toxoplasmose, ou até mesmo neoplasia metastática para o olho, como o linfoma 11. Os casos de glaucoma primário apresentam-se bilateralmente, não necessariamente ao mesmo tempo. Após acometer o primeiro olho, a doença pode se desenvolver no olho contralateral meses ou anos mais tarde 12,13. Nessas situações, a avaliação histopatológica do olho enucleado é útil por confirmar o diagnóstico de má-formação do ângulo iridotrabeculocorneano e, desta maneira, sugerir que o olho remanescente no cão seja monitorado com a frequência apropriada,

para que o glaucoma seja controlado aos primeiros sinais de sua manifestação e, assim, permitir que o cão enxergue por mais tempo 14. Nos casos de glaucoma secundário, várias são as informações que podem ser obtidas por meio do exame histopatológico. Nos casos de neoplasia obstruindo o ângulo de drenagem, deve-se determinar se o sítio de ocorrência do tumor é primário ou não. As neoplasias primárias com maiores índices metastáticos são o melanoma difuso da íris e o sarcoma pós-traumático primário nos gatos e o melanoma uveal nos cães 4,15,16. Nos casos de neoplasias que não são primariamente características do interior do olho, o diagnóstico histopatológico permite a busca e o diagnóstico de uma neoplasia localizada em outro órgão, até então não suspeitado. O linfoma é a neoplasia intraocular metastática (ou multissistêmica), mais frequentemente observada nos cães e nos gatos 16,17. Outros tipos de tumores que podem fazer metástase nos olhos são o hemangiossarcoma, o adenocarcinoma mamário e o melanoma oral nos cães, e o adenocarcinoma pulmonar e o adenocarcinoma mamário nos gatos 16. Guia de encaminhamento de olhos para exame histopatológico Imediatamente após o procedimento cirúrgico/necropsia para colheita de olho para exame histopatológico, a peça anatômica deve sofrer limpeza caracterizada por remoção de todos os tecidos perioculares existentes, a menos que o tecido periocular esteja diretamente envolvido no processo patológico. Isto se faz necessário para a melhor penetração da solução de formol nas túnicas oculares 3. Após a limpeza, o olho deve ser fixado. Existem diversas soluções fixadoras, sendo mais rotineiramente usada a solução de formol (formalina) a 10%, por ser de fácil acesso, barata e de boa competência fixadora 18,19.

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Oftalmologia Fixador Formalina/formol Glutaraldeído Davidson Bouin

Composição Formaldeído Glutaraldeído Formaldeído, etanol e ácido acético Ácido de picric, formaldeído e ácido acético

Indicações Bom fixador para uso geral Ideal quando se quer realizar microscopia eletrônica Bom fixador para a retina Ideal quando se quer realizar análise imuno-histoquímica

Figura 1 - Indicações dos principais fixadores utilizados na avaliação histopatológica de bulbos oculares. Adap tado 4,19

A figura 1 descreve as indicações das diferentes soluções fixadoras utilizadas na rotina de laboratório de patologia ocular. Recomenda-se a injeção de 0,2 a 0,3mL de fixador dentro de olhos de cães e gatos, utilizando uma agulha de 24G e seringa de insulina 19. O ponto de inserção da agulha é no canto lateral do olho, em cima da artéria ciliar longa. Logo em seguida, a peça anatômica deve ser mergulhada inteira em abundante solução fixadora e refrigerada por 48 horas para retardar o processo de autólise enquanto a peça é fixada 19,20. A relação ideal entre o volume do fixador e o volume do bulbo é de 20:1 19. Finalmente, o bulbo pode ser enviado a um laboratório de patologia especializado juntamente com a requisição de exame ocular histopatológico devidamente preenchida. Vale lembrar que o sucesso do diagnóstico depende da justa correlação entre os achados histopatológicos, os dados clínicos e o histórico do animal. A amostra deve ser encaminhada em recipiente hermeticamente fechado. A fixação da amostra durante 48 horas antes de seu envio para o laboratório faz com que um eventual vazamento do fixador durante o transporte não seja danoso ao tecido.

nos gatos é feito pela observação de alterações específicas, abaixo relacionadas, juntamente com o histórico clínico do paciente. As apresentações clínicas mais comuns nos casos de glaucoma (secundário nesses casos) são: uveíte, luxação da lente, formação de membrana fibrovascular na superfície anterior da lente e massas intraoculares 21.

Lesões histopatológicas do glaucoma em cães e gatos O diagnóstico histopatológico do glaucoma nos cães e

Buftalmia A buftalmia, ou megaloglobo, é o aumento do volume do bulbo ocular, causando estiramento das túnicas fibrosa e vascular. Trata-se de um sinal clínico bastante observado no glaucoma crônico em cães, menos observado nos gatos, de frequência maior nos animais jovens do que nos adultos e idosos. Histologicamente observa-se adelgaçamento da córnea, esclera e coroide, além de aumento do eixo ânteroposterior da câmara anterior (Figura 2). Em razão de olhos buftálmicos não serem devidamente acomodados no interior da órbita, ocorre o mau fechamento das pálpebras com ceratite de exposição secundária. Na microscopia óptica esta alteração pode ser evidenciada pela presença de metaplasia escamosa no epitélio corneano. Nos casos mais avançados, pode ser vista úlcera de córnea como lesão secundária 2.

Fabiano Montiani-Ferreira/Eduardo Perlmann

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Figura 2 - Fotomicrografias de bulbos oculares glaucomatosos. A) Buftalmia no olho de cão, decorrente de glaucoma secundário à formação de membrana fibrovascular pré-iridiana, que obstruiu o ângulo de drenagem do humor aquoso. A formação fibrovascular se deu por panuveíte e vitreíte piogranulomatosa micótica. Observe que o aumento do bulbo é principalmente no eixo axial (H.E., sem aumento); B) Atrofia de coroide no olho de cão, decorrente de glaucoma após uveíte por perfuração ocular. Observe como o tecido apresenta-se menor que o usual (H.E., x2,5) 68

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Oftalmologia Estrias corneanas Como consequência à buftalmia resultante do glaucoma podem ocorrer fendas na membrana de Descemet. Clinicamente estas fendas apresentam-se como traços serpentiginosos na profundidade do estroma corneano e são chamadas de estrias de Haab. Na análise histopatológica observa-se perda da continuidade na membrana de Descemet 4 (Figura 3). Edema de córnea Nos casos em que a PIO excede 40mmHg, ultrapassa-se a habilidade da bomba de Na+/P+ do endotélio corneano em manter o nível de desidratação necessário à transparência da

córnea. Inicia-se lesão às células endoteliais e, se algo em torno de 50% destas células for perdido, não há regeneração suficiente e as células remanescentes não conseguem exercer sua função adequadamente. As células do endotélio corneano do cão e do gato não são capazes de realizar mitoses. Ao invés disto, elas aumentam de tamanho para tentar manter o endotélio funcional, o que nem sempre é possível 22. Ocorre então um influxo do humor aquoso ao estroma corneano, causando edema, caracterizado microscopicamente como palidez das fibras do estroma corneano com perda do aspecto fibrilar 2,3 (Figura 4). Na clínica o edema é visto como inchaço da córnea e perda de sua transparência 23.

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Figura 3 - Fotomicrografias de bulbo ocular glaucomatoso. A) Fendas na membrana de Descemet no olho de cão com glaucoma secundário a descolamento de retina por vasculopatia hipertensiva. Observar a descontinuidade (setas) na membrana de Descemet (H.E., x20); B) Fenda na membrana de Descemet no olho do mesmo cão da figura 3A (H.E., x20) Fabiano Montiani-Ferreira/Eduardo Perlmann

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Figura 4 - Fotomicrografias de bulbo ocular glaucomatoso. A) Edema no estroma corneano anterior do olho de cão com glaucoma após luxação anterior da lente. Observe que o estroma corneano perdeu seu padrão trabeculado característico e que as fibras colágenas encontram-se homogeneizadas (H.E., x20); B) Edema no estroma corneano posterior do olho do mesmo cão da figura 4A (H.E., x20) 70

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Por algum motivo ainda não conhecido, o edema de córnea secundário ao glaucoma é muito mais comum nos cães do que nos gatos 2.

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Atrofia de íris e corpo ciliar Na fase crônica do glaucoma, o aumento da PIO faz compressão, causando uma isquemia tecidual sobre a túnica vascular, o que leva à atrofia da íris, do corpo ciliar e da coroide, as quais são vistas na microscopia óptica como involução da íris e do corpo ciliar e adelgaçamento da coroide. A atrofia da íris inicia a dilatação pupilar típica em olhos glaucomatosos. Como o humor aquoso é produzido nos processos ciliares, a atrofia do corpo ciliar (Figura 5) tende a levar à normatização da PIO, observada nos estágios finais da doença 4. Fabiano Montiani-Ferreira/Eduardo Perlmann

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Figura 5 - Fotomicrografia de bulbo ocular glaucomatoso. Corpo ciliar do olho de cão com glaucoma secundário à hemorragia intraocular. Observar a atrofia dos processos ciliares (setas) (H.E., x20)

Catarata A diminuição ou ausência do fluxo do humor aquoso gera nutrição inadequada da lente, bem como a deficiente retirada de seus metabólitos, levando à opacidade desta estrutura 5 (Figura 6). A catarata frequentemente se apresenta concomitante ao glaucoma em cães e gatos. Outras vezes, ela é a causa do glaucoma, nos casos chamados de glaucomas secundários à uveíte faco-induzida, quando a lente costuma se apresentar encolhida e/ou com rupturas em sua cápsula 6,24. Microscopicamente pode-se observar enrugamento da cápsula da lente, duplicação da cápsula da lente, avanço do epitélio anterior da lente para a face posterior desta, mineralização das fibras da lente, formação de células de bladder (fibras da lente que assumem aspecto arredondado com núcleo) ou, em estágios mais avançados, a formação de glóbulos de Morgani (fibras da lente que assumem aspecto arredondado e perdem seu núcleo) 2,4. Morte das células ganglionares na retina A morte das células ganglionares na retina é a primeira

B Figura 6 - Fotomicrografias de bulbos oculares glaucomatosos. A) Catarata cortical e subcapsular no olho de cão, secundária a glaucoma. Note o avanço do epitélio da cápsula anterior para a face posterior da lente (setas brancas), a formação de membrana de células fusiformes (seta) que liga a lente ao corpo ciliar e a formação de glóbulos de Morganian (asterisco) na região cortical da lente (H.E., x20); B) Catarata cortical no olho de cão com glaucoma decorrente de panoftalmite granulomatosa e hemorragia intraocular após trauma. Note a hemorragia na face anterior da lente (asteriscos) e a presença de células de bladder (setas pretas) e glóbulos de Morgani (setas amarelas) no córtex da lente (H.E., x10)

alteração degenerativa secundária ao glaucoma que ocorre no olho. Inicia-se antes mesmo que o proprietário do animal observe os sinais de dor e vermelhidão ocular, ou seja, na maioria das vezes, antes que o animal seja levado ao oftalmologista. A morte das células ganglionares é irreversível e, mesmo que o glaucoma seja controlado na sua fase inicial, estas células não se regeneram 4. O aumento da PIO induz à distorção conformacional entre

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Oftalmologia a esclera e a lâmina cribosa, o que resulta em compressão, desalinhamento e colapso dos poros e canais laminares, reduzindo e eventualmente bloqueando o fluxo axoplasmático no nervo óptico. A redução do fluxo axoplasmático e comprometimento da vascularização do nervo óptico leva à morte das células ganglionares da retina. Os cães que apresentam goniodisgenesia possuem fluxo axoplasmático mais suscetível a alterações da PIO do que cães normais 25. Fabiano Montiani-Ferreira/Eduardo Perlmann

Outras causas implicadas como responsáveis pela morte das células glangionares são: a isquemia da retina, da coroide e do nervo óptico, causada pela compressão destas estruturas pelo humor vítreo, e o dano direto às células ganglionares pela produção de aminoácidos tóxicos, especialmente o glutamato, produzido pela retina e pelo nervo óptico após sofrerem compressão pelo aumento da pressão intraocular 2,26. Na avaliação histopatológica, as células ganglionares mortas aparecem eosinofílicas e aumentadas de tamanho. Por ser a primeira alteração degenerativa observada em olhos glaucomatosos, o histopatologista pode diagnosticar o glaucoma agudo mesmo que outras alterações histopatológicas não estejam presentes (Figura 7). Atrofia glaucomatosa da camada interna da retina Depois da morte das células ganglionares e atrofia das fibras nervosas, ocorre perda de neurônios da camada nuclear interna da retina. Os astrócitos da camada nuclear interna Fabiano Montiani-Ferreira/Eduardo Perlmann

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Figura 8 - Fotomicrografia de bulbo ocular glaucomatoso. Atrofia glaucomatosa da camada interna da retina em um cão com goniodisgenesia. Observe a atrofia da camada nuclear interna (setas) e a ausência de células ganglionares (H.E., x40)

B Figura 7 - Fotomicrografias de bulbos oculares glaucomatosos. A) Retina descolada no olho de cão com glaucoma, mostrando duas células ganglionares em processo de apoptose (setas). Note a eosinofilia e o aumento no tamanho celular (H.E., x20); B) Morte das células ganglionares da retina de uma cadela com histórico de trauma encefálico seguido de hemorragia intraocular e morte horas mais tarde. Note a eosinofilia e o aumento no volume das células ganglionares (setas). Esta era a única alteração na retina deste animal, caracterizando início de glaucoma (H.E., x100) 72

(células de Mueller) permanecem, curiosamente, intactos neste tipo de atrofia 5 (Figura 8). A atrofia da camada interna, com preservação da camada nuclear externa e dos fotorreceptores, é típica da atrofia induzida pelo glaucoma e, portanto, chamada de atrofia glaucomatosa da camada interna da retina 5,14. A atrofia de retina adquirida, nutricional ou tóxica, acomete a camada dos fotorreceptores, diferenciando-se da atrofia glaucomatosa. Ainda assim, em glaucomas muito severos e de duração prolongada, pode-se observar atrofia das camadas externas decorrente da elevação crônica da PIO 24. Escavação ou cupping do nervo óptico A escavação do nervo óptico é lesão patognomônica do glaucoma, embora sua ausência não exclua o diagnóstico.

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Figura 9 - Fotomicrografias de bulbos oculares glaucomatosos: A) Escavação ou cupping do nervo óptico, sinal patognomônico do glaucoma no olho de uma cadela com goniodisgenesia (H.E., sem aumento); B) Escavação ou cupping do nervo óptico, sinal patognomônico do glaucoma no olho de uma cadela que desenvolveu glaucoma após subluxação anterior da lente (H.E., x2,5); C) Aproximação da figura 9B. Observe a presença de necrose e malácia no tecido nervoso, decorrentes do aumento da pressão intraocular sobre o nervo óptico (H.E., x20)

C Provém da atrofia do nervo ou da pressão exercida pelo humor vítreo sobre a lâmina cribosa 2,25,26. Caracteriza-se por ser uma “escavação” no tecido nervoso que constitui a parte posterior do segmento posterior do bulbo, levando à perda da continuidade entre esclera, coroide e nervo óptico (Figura 9). A primeira alteração que predispõe ao cupping do nervo óptico é a necrose, seguida da malácia e da gliose 24. Nesta sequência de alterações, a ação de macrófagos sobre o tecido necrosado gera a formação de áreas vazias no nervo óptico 4. Goniodisgenesia (glaucoma primário) A goniodisgenesia é a má-formação do ângulo de drenagem do humor aquoso e caracteriza o glaucoma primário. Esta alteração pode ou não afetar o ângulo de drenagem em toda a sua circunferência. São duas as suas causas-base: a displasia do ligamento pectinado e a hipoplasia trabecular ou disgenesia mesodermal 14. A presença de ligamentos pectinados displásicos (não perfurados) é diagnosticada histologicamente pela observação de espessamento do ligamento e a presença de um feixe de estroma da íris que se estende da base da íris até a membrana de Descemet, obstruindo a drenagem do humor aquoso 2,4,5,29 74

(Figura 10). A hipoplasia trabecular, também denominada de não remodelação da malha trabecular, é causada pela não formação das fendas necessárias para a drenagem do humor aquoso 2,4,5 (Figura 11). Nos casos de glaucoma primário, ou goniodisgenesia, é comum a presença de macrófagos e pigmento melânico na junção iridotrabeculocorneana 4,27 (Figura 12). Considerações finais Muitas vezes, o diagnóstico definitivo de certas doenças oculares depende da correlação das lesões histológicas com os dados clínicos do animal. Dados como espécie, raça e idade do paciente são importantes na determinação do diagnóstico do glaucoma e de sua origem. Por fim, a precisão do diagnóstico histopatológico ocular depende de patologistas treinados e familiarizados com as peculiaridades que esse tecido apresenta. A significância dos problemas oculares na prática veterinária em geral, bem como a necessidade de informações que esclareçam determinados processos patológicos, faz com que a avaliação histopatológica seja uma ferramenta no diagnóstico de doenças oculares veterinárias.

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Figura 10 - Fotomicrografia de bulbo ocular glaucomatoso. Ligamento pectinado displásico no olho de cão com glaucoma primário (goniodisgenesia). Note que parte do estroma da íris forma faixa (no destaque) que faz continuidade com a membrana de Descemet, obstruindo a drenagem do humor aquoso (H.E., x20) Fabiano Montiani-Ferreira/Eduardo Perlmann

Figura 12 - Fotomicrografia de bulbo ocular glaucomatoso. Ligamento pectinado displásico (no destaque) no olho de cão com glaucoma primário (goniodisgenesia). Observe a presença de pigmento melânico e macrófagos no ângulo iridotrabeculocorneano, quadro típico de glaucoma primário. Neutrófilos e restos celulares também são observados (H.E., x40)

Referências

Figura 11 - Fotomicrografia de bulbo ocular glaucomatoso. Hipoplasia trabecular no olho de um cão com glaucoma primário (goniodisgenesia). Observe a falta da fenestração necessária para a passagem do humor aquoso no ângulo iridotrabeculocorneano (no destaque) (H.E., x2,5)

É importante que os patologistas e os clínicos veterinários atuem como equipe médica no diagnóstico de doenças oculares. Espera-se que este trabalho contribua para que os clínicos veterinários oftalmologistas se familiarizem com as lesões histopatológicas decorrentes do glaucoma e que os laudos desses exames possam ser melhor interpretados e o manejo clínico dos pacientes, incrementado.

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Cardiologia Valvoplastia percutânea por balão em cão com estenose valvar pulmonar – relato de caso Percutaneous balloon valvuloplasty in a dog with pulmonary valve stenosis – a case report Valvuloplastia percutánea con balón en un perro con estenosis de válvula pulmonar – relato de caso Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 78-90, 2012

Paulo Sérgio Juliani

MV, PhD. colaborador do InCor-USP Centro Clínico Veterinário São Francisco prof. de cirurgia torácica e cardiovascular da ANCLIVEPA-SP psjuliani@usp.br

Rodrigo Nieckel da Costa

médico cardiologista HC do Sanatório Sírio Libanês rncosta@gmail.com

Alessandro R. de Carvalho Martins MV, doutorando pela FM/USP doutorevet@hotmail.com

Maria Cristina Donadio Abduch MV, PhD

Renato Samy Assad

médico cardiologista prof. livre-docente - IC/HC/FM/USP rsassad@cardiol.br

Resumo: A estenose pulmonar valvar encontra-se entre as três primeiras cardiopatias congênitas mais comuns em cães. A valvoplastia percutânea por cateter-balão é uma alternativa terapêutica interessante, podendo apresentar menor taxa de morbimortalidade do que outras técnicas. Este artigo relata o caso de um cão da raça american pit bull terrier, com sinais de insuficiência cardíaca direita desde jovem e recentes episódios de síncope. O ecocardiograma revelou estenose pulmonar valvar de grau importante (gradiente: 90mmHg), com fusão das válvulas e anel pulmonar de bom tamanho (19,1mm). O tratamento clínico foi iniciado com AAS, carvedilol, digoxina e pentoxifilina. Apesar da aparente melhora clínica, houve agravamento da arritmia, com fibrilação atrial. Foi então considerada a valvoplastia pulmonar por cateter-balão, realizada pioneiramente com sucesso no meio latino-americano e descrita em detalhes neste relato. Unitermos: defeitos cardiovasculares congênitos, valvoplastia por balão Abstract: Pulmonary valve stenosis is among the top three most common congenital heart defects in dogs. The percutaneous balloon valvuloplasty is an interesting therapeutic alternative and may have lower rates of morbidity and mortality than other techniques. This article reports the case of a 35-month-old male American Pit Bull Terrier with signs of early right heart failure and recent episodes of syncope. The echocardiogram showed a significant degree of pulmonary stenosis (gradient: 90mmHg) with fusing of the valves and pulmonary ring with a good size (19.1mm). Medical therapy was initiated with aspirin, carvedilol, digoxin, and pentoxifylline. Despite the apparent clinical improvement, arrhythmia worsened and there was atrial fibrillation. Pulmonary balloon valvuloplasty was then considered and performed successfully. This pioneering procedure in Latin America is described in detail in this report. Keywords: congenital cardiovascular defects, balloon valvuloplasty Resumen: La estenosis de válvula pulmonar se encuentra entre las primeras tres cardiopatías congénitas mas comunes de los perros. La valvuloplastia percutánea mediante catéter-balón es una alternativa terapéutica interesante, pudiendo presentar menor tasa de morbi mortalidad que otras técnicas. Este trabajo relata el caso de un perro American Pit Bull Terrier macho, con signos de insuficiencia cardíaca derecha desde su juventud, con episodios recientes de síncope. El ecocardiograma evidenció una estenosis de válvula pulmonar de grado importante (gradiente: 90mmHg), con fusión de las válvulas y anillo pulmonar de buen tamaño (19,1mm). El tratamiento clínico se inició con AAS, carvedilol, digoxina y pentoxifilina. A pesar de una aparente mejoría clínica, la arritmia se agravó, presentando fibrilación atrial. Se consideró entonces la valvulopastia pulmonar mediante cateter-balón, que fue realizada con éxito por primera vez en latinoamérica, y que se relata detalladamente en el presente trabajo. Palabras clave: defectos cardiovasculares congénitos, valvuloplastia con balón

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Introdução A prevalência global de doença cardíaca congênita em cães corresponde a 0,46 a 0,85% de todas as admissões hospitalares e ainda representa de 1/6 a 1/4 de todas as cardiopatias caninas 1-4. No entanto, é provável que essa casuística esteja subestimada, visto que alguns desses defeitos cardíacos resultam em morte perinatal por hipóxia grave ou são assintomáticos, não sendo portanto identificados 5. Dentre essas cardiopatias destaca-se a estenose pulmonar valvar (EPV), com prevalência de 18 a 23% entre as doenças cardíacas congênitas na população canina 2-4,6. É bastante rara em gatos, representando 3% das cardiopatias congênitas nessa espécie 7. Caracteriza-se pela obstrução ao fluxo de saída ventricular direito em direção ao tronco pulmonar (TP) causada por más-formações estreitamente relacionadas com o aparelho valvular 1,2,5,7. A afecção tem bases genéticas ainda não esclarecidas (exceto em beagles, nos quais as teorias apontam para um padrão de herança poligênico ou mesmo de gene único com penetração variável que ocasiona a má-formação). Existe predisposição para as raças buldogue inglês, airedale terrier, basset hound, beagle, boxer, boykin spaniel, chihuahua, chow chow, cocker spaniel, labrador retriever, mastim,

samoiedo, scottish terrier, terra nova, west highland white terrier, schnauzer (principalmente os de grande porte) e keeshond 1,2,5,7-11. Os estudos apontam para um predomínio em machos, com variação de 64% a 78% 10-15. É classificada segundo sua localização: supravalvar, valvar, subvalvar ou uma associação entre as duas últimas 1,10,14,16,17. A estenose valvar é a mais frequente, correspondendo a cerca de 90% da casuística 15. A estenose pulmonar pode aparecer como um defeito isolado ou estar associada a outras anomalias, em especial com a estenose aórtica, defeitos do septo interventricular e interatrial, persistência do forame oval, patência do canal arterial, persistência da veia cava cranial esquerda e displasia da valva tricúspide 1,2,6,11,18-20. Grande parte dos animais acometidos apresenta manifestação clínica leve, porém sua expectativa de vida é menor 2,8,10. Geralmente, o quadro clínico abrange insuficiência cardíaca congestiva direita (ICCD) com distensão abdominal, dispneia, intolerância a exercícios, cianose, síncopes de esforço e até morte súbita 1,5,8,19. Pode-se esperar boa qualidade de vida para animais com EPV leve com gradientes pressóricos entre o ventrículo direito (VD) e o TP (VD-TP) abaixo de 50mmHg (primários ou obtidos após correção cirúrgica) e sem complicações

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Cardiologia associadas, como defeitos septais, forame oval patente, coronárias anômalas, arritmias graves, alterações geométricas ventriculares acentuadas e insuficiência de tricúspide avançada 1,7. Nos casos com gradientes VD-TP > 90mm de Hg nos quais existam outras condições associadas, o prognóstico varia de reservado a ruim 7. No exame físico pode-se detectar ascite, distensão jugular, taquipneia, sopros de base esquerda, frêmitos precordiais, taquicardia por insuficiência cardíaca e outras arritmias 1,10,15,22. Os sintomas costumam se manifestar já em tenra idade e o diagnóstico é firmado por predisposição racial, idade, sintomatologia, exame clínico e exames complementares, tais como radiografia de tórax, angiocardiografia e ecocardiograma 1,2,9,10,14,15,19,24-27. O eletrocardiograma pode revelar manifestações secundárias (aumento de câmaras, arritmias) 2,10,19,23. A fisiopatologia baseia-se na dificuldade de o ventrículo direito bombear o sangue para o tronco da artéria pulmonar. A sobrecarga sistólica consequente a essa alteração pode resultar em hipertrofia importante do ventrículo direito, isquemia miocárdica e arritmias, culminando em insuficiência cardíaca congestiva direita 2,10,21. O baixo débito do ventrículo direito e consequente menor enchimento diastólico do ventrículo esquerdo também está presente, podendo gerar hipoperfusão tecidual periférica e síncopes 2,7,8,10,21. O fluxo arterial em turbilhão de alta velocidade através da válvula estenótica gera uma dilatação pós-estenótica do tronco pulmonar 8,29. Neste sentido, as estratégias terapêuticas clínicas e principalmente as cirúrgicas têm papel importante tanto nos casos simples como nos mais complexos. Dentre elas destacam-se a valvotomia transventricular de Brock, as técnicas de enxerto transvalvares abertas ou fechadas, os conduítes conectando o ventrículo direito e a artéria pulmonar e as valvoplastias diretas, entre outras 17,29-31. O tratamento clínico tem, na maioria dos casos, o objetivo de melhorar a condição hemodinâmica e estabilizar o paciente, servindo como “ponte” para as cirurgias corretivas. Fundamenta-se em repouso, tratamento de eventual congestão, controle das arritmias e medidas de suporte. Portanto, uma dieta hipossódica e drogas como vasodilatadores, betabloqueadores e outras podem ser úteis na estabilização de alguns casos 1-3,5,7,8,19,28. Existem várias técnicas para correção cirúrgica, desde as mais simples, que objetivam aliviar a estenose por meio de instrumentos cirúrgicos inseridos na via de saída do VD ou no TP, sem, no entanto, utilizar parada cardíaca (técnicas de valvotomia), até procedimentos de média ou alta complexidade. Estes últimos incluem técnicas de valvoplastia por balão, enxertos e tubos valvulados ou não, ligando o VD ao TP, além de procedimentos abertos com auxílio de circulação extracorpórea (CEC) 29-31. Por ser considerado um procedimento menos invasivo e de resultados satisfatórios, a valvoplastia percutânea com cateter-balão tem se tornado uma técnica consagrada na maioria dos casos de estenose pulmonar valvar. Entretanto, esse procedimento é contraindicado nos casos associados à origem anômala das artérias coronárias (tipo R2A), nos quais a coronária anômala esquerda envolve o anel valvar pulmonar 80

e pode se romper durante o processo de dilatação 14,17-19. Portanto, o diagnóstico ecocardiográfico e/ou angiográfico seletivo minucioso de possíveis anomalias associadas é extremamente importante, especialmente em bulldogues e boxers 1. O objetivo deste estudo é relatar a experiência pioneira na América Latina de valvoplastia pulmonar por cateter-balão em cão, realizada em conjunto com especialistas em intervenções cardíacas, incentivados pela experiência acumulada e pelos bons resultados atingidos em humanos. Relato de caso Em fevereiro de 2009, foi encaminhado ao nosso serviço um cão da raça american pit bull terrier, macho, com 35 meses de idade. Na ocasião, o proprietário relatou que o paciente apresentava cansaço aos pequenos esforços desde jovem e que, nos últimos seis meses, havia sofrido vários episódios sincopáticos, especialmente durante exercícios e excitações. Durante as síncopes, as mucosas variavam de pálidas a cianóticas. Nos últimos três meses havia ocorrido progressão dos sintomas, com várias síncopes semanais, acrescidas de emagrecimento acentuado, apesar da normorexia. O exame físico revelou sopro mesossistólico no terceiro espaço intercostal esquerdo, no terço ventral da parede torácica, padrão “crescente-decrescente”, compatível com estenose pulmonar valvar, além de sopro sistólico em focos tricúspide e mitral. O ECG revelou flutter atrial, distúrbios de condução elétrica e sinais de sobrecarga elétrica biventricular (Figura 1). O ecocardiograma confirmou a suspeita clínica de estenose pulmonar valvar de grau importante, com gradiente transvalvar de pico sistólico igual a 90mmHg e hipertrofia do VD. Havia fusão das válvulas e dilatação pós-estenótica do tronco pulmonar. A relação entre o diâmetro do anel aórtico (20,5mm) e o pulmonar (19,1mm) era de 1,07. Foi observada ainda insuficiência mitral de grau discreto e tricúspide de grau moderado, além da hipocinesia de septo e parede posterior do ventrículo esquerdo (VE), dilatação do VE, dilatação do átrio direito (AD) e hipertrofia/dilatação do VD.

Figura 1 - Eletrocardiograma basal demonstrando flutter atrial e sobrecarga elétrica biventricular

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Cardiologia

Protocolo cirúrgico Imediatamente após o acesso venoso e medicações anestésicas, com o animal em decúbito dorsal, realizou-se tricotomia e antissepsia da região inguinal direita (Figura 4). A veia femoral direita foi dissecada para introdução sob visão direta da bainha 11F o, de 23cm (Figura 5). O fluoroscópio p foi posicionado em eixo ventrodorsal torácico (Figura 6). Para realizar as medidas de pressões intracavitárias e injeções de contraste, foi utilizado cateter angiográfico 7F q, de múltiplos orifícios na ponta (Figura 7). Para atingir o tronco pulmonar através da valva estenótica, foram utilizados diversos cateteres. O cateterismo do tronco pulmonar foi obtido com cateter MP de orifício terminal r, através do qual foi introduzido um fio-guia “extra-stiff” s, posicionando na artéria pulmonar direita (APD). O cateter foi então retirado, 82

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Procedimento cirúrgico Protocolo anestésico Como medicação pré-anestésica, administrou-se morfina f (0,5mg/kg), associada ao midazolam g (0,3mg/kg) por via intramuscular. O acesso venoso foi obtido por meio do cateterismo de veia periférica com cateter flexível 18G h, mantido com infusão de solução salina a 0,9% i. A anestesia foi induzida com etomidato j (2mg/kg) associado ao fentanil k (5µg/kg), por via intravenosa. O paciente foi mantido em ventilação controlada a volume (8mL/kg), com fração inspirada de isoflurano l de 1,5%, diluído em 40% de oxigênio. A analgesia foi mantida por meio da administração endovenosa contínua de fentanil k (0,2µg/kg/minuto). Como profilaxia para possíveis arritmias decorrentes do procedimento cirúrgico, utilizou-se lidocaína m (50µg/kg/minuto IV). O relaxamento muscular foi obtido com bolus endovenoso de atracúrio n (0,2mg/kg). Posteriormente, a artéria podal dorsal foi cateterizada para monitorização contínua da pressão arterial sistêmica e coleta de amostras de sangue para análise gasométrica.

mantendo-se o fio-guia na APD. O cateter-balão MAXI LD t (22mm x 40mm) foi posicionado na valva pulmonar, “navegando” no sistema venoso através do fio-guia (Figura 8). O balão foi então insuflado com solução de contraste a 50% u, através de seringa de 20mL com manômetro, até atingir uma pressão de 5 a 6 atmosferas, durante dois a três segundos. Após a dilatação da valva pulmonar, o balão foi imediatamente desinsuflado para o restabelecimento do fluxo sanguíneo pulmonar. O cateter-balão foi retirado, e manteve-se o fio-guia posicionado na APD. O cateter MP foi reintroduzido no tronco pulmonar para medir o gradiente transvalvar pulmonar após a valvoplastia (Figura 9). Finalmente, foi realizada nova angiografia do VD e das artérias pulmonares com cateter angiográfico. Constatado o alívio da obstrução valvar pulmonar e consequente melhora no gradiente pressórico VD-TP, os cateteres e o fio-guia foram removidos, Nicolas Moreira Juliani, Paulo Sérgio Juliani

Como terapêutica, foram prescritos ácido acetilsalicílico tamponado a (10mg/kg a cada 24 horas), carvedilol b (0,1mg/kg a cada 12 horas), digoxina c (0,005mg/kg a cada 12 horas) e pentoxifilina d (5mg/kg a cada 12 horas). A afecção evoluiu com piora da arritmia, passando de flutter para fibrilação atrial, tratada com amiodarona e (10mg/kg a cada 24 horas). Houve boa resposta clínica, restaurando-se o ritmo para flutter atrial. As avaliações clínicas subsequentes demonstraram melhora na capacidade de exercício, ganho de peso e diminuição sensível das crises cianóticas e sincopáticas. Diante do elevado gradiente transvalvar pulmonar, com importante repercussão hemodinâmica e alterações morfofuncionais em todas as câmaras cardíacas, foi considerada a possibilidade de valvoplastia por cateter-balão, por se tratar de procedimento menos invasivo para o paciente. Enquanto aguardava a abordagem intervencionista, o ecocardiograma de seguimento revelou deterioração ainda maior da função sistólica do ventrículo esquerdo (FEVE = 38% - Simpson) e aumento de volume do átrio esquerdo, apesar de o gradiente transvalvar pulmonar manter-se inalterado (Figuras 2 e 3).

B Figura 2 - Ecocardiograma pré-operatório. Notar artérias coronárias com origem e trajeto inicial normais. A) Artérias circunflexa (CX) e interventricular anterior (IVA), ramos da coronária esquerda que sai da aorta (AO). B) Observa-se a coronária direita (CD)

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Figura 3 - Ecocardiograma pré-operatório demonstrando a morfometria cardíaca (A, B, C, D, F), além da elevação no gradiente através da valva pulmonar (E) e redução na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (C). Na linha pontilhada em azul da imagem D visualiza-se a valva pulmonar estenosada, com cúspides espessadas e fundidas. AD = átrio direito, AE = átrio esquerdo, VE = ventrículo esquerdo, VD = ventrículo direito, VSVD = via de saída do ventrículo direito, TP = tronco pulmonar, Grad VD-TP = gradiente de pressão entre o ventrículo direito e o tronco da artéria pulmonar Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, julho/agosto, 2012

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B Figura 4 - A) Acesso venoso e administração de drogas anestésicas. B) Tricotomia e antissepsia da região inguinal

sendo o orifício de entrada da veia femoral suturado com fio de polipropileno 7-0 v, com posterior aplicação de selante de fibrina w (Figura 10). Durante o procedimento, foram observadas raras extrassístoles ventriculares, sem repercussão hemodinâmica. O paciente foi cuidadosamente acompanhado no pós-operatório imediato, recuperando-se sem eventos adversos significativos, com gradiente pressórico VD-TP estimado pelo ecocardiograma em torno de 50mm de Hg. Recebeu alta hospitalar cinco horas após o procedimento, em boas condições clínicas, fazendo uso de digoxina, carvedilol e ácido acetilsalicílico nas doses anteriormente descritas. A profilaxia antibiótica com cefalotina x (30mg/kg) e amoxicilina (20mg/kg), associada ao clavulanato de potássio y (5mg/kg), foi iniciada imediatamente antes do procedimento e mantida durante doze dias após a operação. O ecocardiograma de controle realizado sessenta dias após a operação (60º PO) revelou uma redução do gradiente pressórico VD-TP (42mm de Hg), 84

C Figura 5 - A) Dissecção da veia femoral direita. B) Introdução de bainha 11F de 23cm de extensão C) Baínha no detalhe

porém com manutenção das demais alterações morfofuncionais encontradas nos exames anteriores (Figura 11). O flutter atrial também permaneceu inalterado. Entretanto, o paciente apresentou melhora clínica acentuada quanto à resistência aos esforços físicos e à disposição para atividades em geral.

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Figura 6 - Animal preparado para instrumentação com fluoroscópio posicionado

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Discussão Apesar de ser um procedimento que requer treinamento especializado e sofisticados equipamentos, as evidências sugerem que a valvoplastia pulmonar percutânea por cateterbalão seja uma excelente alternativa terapêutica para casos de estenose pulmonar valvar 14,19. Por ser pouco invasiva, diminui o risco do ato cirúrgico e propicia melhor recuperação desses pacientes hemodinamicamente comprometidos. No caso relatado, alguns pontos merecem ser destacados e analisados. O exame ecocardiográfico minucioso, excluindo anomalias coronarianas e outros defeitos congênitos associados, foi fundamental para a escolha desse procedimento terapêutico, contribuindo para o bom resultado final, o que corrobora a experiência de outros centros 33. No caso relatado, a opção pelo uso da digoxina se deu especialmente pela hipocinesia e função sistólica diminuída do VE, e pela arritmia atrial com resposta ventricular consequente. A função sistólica do VD, que era normal no atendimento inicial, logo se tornou diminuída após quarenta dias, continuando a justificar nossa opção pelo uso de um inotrópico positivo, num quadro com claros sinais clínicos de insuficiência cardíaca descompensada. Isso vai ao encontro das recomendações hoje existentes na medicina humana para a terapia com inotrópicos positivos, de alguns casos de insuficiência cardíaca descompensada, inclusive decorrentes de disfunção diastólica por estenoses valvares 34,35.

C Figura 7 - A) Injeção de contraste com cateter angiográfico 7F para mensuração de pressões. B) Detalhe do cateter. C) Notar gradiente VD-TP pré-dilatação pelo balão, de aproximadamente 105mmHg

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Figura 8 - Cateter-balão MAXI LD 22 x 40 (22mm de diâmetro e 40mm de comprimento)

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É fundamental um planejamento anestésico especial nesses casos em que há predisposição para o surgimento de arritmias perioperatórias. Assim, a opção pelo etomidato na indução e pela lidocaína em infusão contínua contribuiu para a obtenção desses resultados 36. Quanto à avaliação do método, vale justificar a escolha de um balão com 22mm de diâmetro. Esse tamanho de balão vai ao encontro do padrão descrito na literatura pertinente, que recomenda um limite máximo de 20% acima do diâmetro do anel valvar pulmonar (19,1mm no pré-operatório) 33. O uso de seringa com manômetro é pouco descrito na literatura veterinária, mas é de uso comum nos procedimentos humanos e parece conferir maior segurança ao se estabelecer limite máximo pressórico no enchimento do balão (5-6 atmosferas). Também o cuidado com o limite de tempo para a manutenção do balão cheio (2 a 3 segundos), de acordo com a experiência humana, foi bastante adequado e não gerou alterações hemodinâmicas significativas. Verificamos que a redução alcançada do gradiente pressórico VD-TP no trans e no pós-operatório tardio é corroborada pela literatura, que relata a diminuição progressiva do gradiente, de acordo com o remodelamento da hipertrofia do VD ao longo do tempo 14,18,19. É importante salientar que os casos com maior probabilidade de sucesso são aqueles cujo anel valvar pulmonar não é hipoplásico, pois nesses a dilatação por balão é mais efetiva 14,17. No caso relatado, a relação entre os diâmetros do anel valvar aórtico e pulmonar foi menor do que 1,2, ou seja, sem hipoplasia e de acordo com os padrões elencados pela literatura para a realização desse procedimento 1,14,33. Do ponto de vista técnico do procedimento, é pertinente observar algumas peculiaridades. Como o AD encontrava-se muito dilatado, o cateter foi posicionado de forma a fazer uma “alça” no AD, passando pela valva tricúspide já direcionado para a via de saída do VD. Uma referência anatômica importante é que a valva pulmonar geralmente se localiza pouco abaixo do brônquio fonte esquerdo.

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Figura 9 - A) Insuflação do balão usando seringa com manômetro. B) Notar na sequência do preenchimento por contraste a formação de uma “cintura” na silhueta do balão (seta), correspondente à região valvar estenosada. Logo em seguida essa região é dilatada pela pressão exercida pelo balão (4). C) Reparar na queda do gradiente pressórico VD-AP logo após a dilatação (círculo vermelho)

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B Figura 10 - A) Orifício de entrada da veia femoral suturado com fio de polipropileno 7-0. B) Posterior aplicação de selante de fibrina

Conclusão Este caso sugere que a valvoplastia pulmonar é um procedimento pouco invasivo, seguro e factível em nosso meio. Mesmo com a queda progressiva do gradiente pressórico VD-TP e a melhora clínica acentuada nos primeiros dois meses após a operação, as alterações morfofuncionais cardíacas secundárias (flutter atrial, dilatação e hipocinesia de câmaras cardíacas, etc.) não se modificaram, o que reflete a importância de diagnóstico e intervenção precoces em casos de estenose pulmonar. Produtos utilizados

a) Bufferin ®. Novartis. São Paulo, SP b) Divelol ®. Laboratórios Baldacci S.A. São Paulo, SP c) Digoxina. GlaxoSmithKline. Rio de Janeiro, RJ d) Trental Vert ®. Sanofi Aventis Farmacêutica Ltda. Suzano, SP e) Cloridrato de Amiodarona. Biosintética Farmacêutica Ltda. São Paulo, SP f) Dimorf ®. Cristália. Itapira, SP g) Dormonid ®. Roche. São Paulo, SP h) BD Insyte Autoguard 18G. BD Brasil. São Paulo, SP

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B Figura 11 - Ecocardiograma de sessenta dias após a operação. A) Notar a redução do gradiente pressórico transvalvar (círculo laranja) em comparação ao aferido no trans-operatório (53mmHg) logo após a dilatação por balão. B) Notar fluxo menos turbulento na artéria pulmonar i) Solução Fisiológica 0,9%. Indústria Farmacêutica Texon Ltda. Viamão, RS j) Hypnomidate ®. Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. São José dos Campos, SP k) Fentanil. Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. São José dos Campos, SP l) Isoforine ®. Cristália. Itapira, SP m) Lidocaína. Geyer. Porto Alegre, RS n) Tracrium ®. GlaxoSmithKline. Rio de Janeiro, RJ o) Bainha 11F. Medi-Tech. Boston Scientific. EUA p) Philips BV Pulsera. Philips Company. Holanda q) Cateter angiográfico 7F. Medi-Tech. Boston Scientific. EUA r) Cateter MP de orifício terminal. Medi-Tech. Boston Scientific. EUA s) ST1 ®. Medi-Tech. Boston Scientific. EUA t) MaxiLD 22/40. Johnson & Johnson-Cordis Corp. EUA u) Hypaque 50%. Sanofi Winthrop Farmacêutica Ltda. Rio de Janeiro, RJ v) Prolene 7-0. Ethicon-Johnson&Johnson. São José dos Campos, SP w) Surgicel ®. Johnson&Jonnson. São José dos Campos, SP x) Cefalotina. Instituto Biochimico Ind. Farm. Limitada. Itatiaia, RJ y) Clavulin ®. GlaxoSmithKline. Rio de Janeiro, RJ

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Cardiologia Referências

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Animais selvagens Criação artificial de filhotes de lontra neotropical (Lontra longicaudis) em cativeiro – relato de dois casos Hand rearing neotropical river otter (Lontra longicaudis) pups in captivity – a report of two cases Cría artificial de cachorros de nutria neotropical (Lontra longicaudis) en cautiverio – relato de dos casos Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 92-99, 2012 Laura Reisfeld

médica veterinária Aquário de São Paulo

lauravet@aquariodesaopaulo.com.br

Fabiana Lúcia André bióloga Aquário de São Paulo

fabianala2010@hotmail.com

Thaís Susana de Macedo Pereira bióloga Aquário de São Paulo

thais.susana@gmail.com

Rafael Caprioli Gutierrez biólogo Aquário de São Paulo

rafael@aquariodesaopaulo.com.br

Laura I. T. G. Machado de Moura bióloga Aquário de São Paulo

laura@aquariodesaopaulo.com.br

Bruna Silvatti Freitas Silva médica veterinária Aquário de São Paulo

brunasilvatti@yahoo.com.br

Claudia Carvalho do Nascimento médica veterinária UNIMONTE

claudia.nascimento@aiuka.com.br

Resumo: A lontra neotropical é um mamífero pertencente à Ordem Carnivora e à família Mustelidae. Entre as principais ameaças a essa espécie estão às ações antrópicas, como desmatamento, contaminação de habitat, caça e atropelamentos. Consequentemente, o aparecimento de filhotes em centros de triagem e zoológicos é cada vez mais frequente. Em muitos desses casos, a criação artificial é a única alternativa para a sua sobrevivência. Os filhotes de lontras podem desenvolver problemas de saúde subitamente, portanto, qualquer alteração comportamental deve ser notada. Frequentemente se observam distúrbios digestivos em filhotes criados artificialmente, que podem estar associados a fatores como fórmulas lácteas inapropriadas, frequência das refeições, excesso de alimento e mudanças bruscas na dieta. O objetivo deste trabalho é relatar o protocolo de criação artificial de dois filhotes de lontra. Unitermos: mustelídeos, manejo, nutrição Abstract: The neotropical river otter is a mammal that belongs to the order Carnivora, family Mustelidae. Anthropic actions such as habitat loss and degradation, environmental contaminants, hunting and road kills are among the main threats to this species. As a consequence, zoos and rehabilitation centers are receiving pups increasingly often. In most cases, hand rearing is the only chance of survival that these animals have. Because otter pups can develop sudden health problems, any behavioral changes should be noticed. Digestive disturbances are frequently observed in hand-reared pups, which can be associated with inappropriate formulas, feeding frequency, excessive feeding and sudden changes in the diet. The goal of this work is to report a hand-rearing protocol used successfully in two river otter pups. Keywords: mustelids, husbandry, nutrition Resumen: La nutria neotropical es un mamífero que pertenece al Orden Carnívora y a la familia Mustelidae. Entre las principales amenazas a esta especie se cuentan las acciones antrópicas, como la deforestación, la contaminación del hábitat, la caza y los atropellamientos. En consecuencia a estas circunstancias, es cada vez mas frecuente la llegada de cachorros en los centros de rehabilitación y zoológicos. En muchos de estos casos, la cría artificial es la única alternativa para su sobrevivencia. Los cachorros de nutrias pueden desarrollar problemas súbitos de salud y, por lo tanto, se debe estar atento a cualquier alteración de comportamiento. Frecuentemente se observan alteraciones digestivas en cachorros criados artificialmente, que pueden asociarse a factores como el uso de fórmulas lácteas inadecuadas, frecuencia de las comidas, exceso de alimento y cambios súbitos en la dieta. El objetivo de este trabajo es relatar el protocolo de cría artificial de dos cachorros de nutria. Palabras clave: mustélidos, manejo, nutrición

Introdução A lontra neotropical (Lontra longicaudis) é um mamífero pertencente à Ordem Carnivora e à família Mustelidae. As lontras possuem hábito semiaquático, podendo ocupar diversos tipos de ambientes, tanto de água doce quanto salgada 1. 92

Sua distribuição geográfica é ampla, ocorrendo na América desde o norte do México até o norte da Argentina 2. Podem ser encontradas em quase todo o território brasileiro, exceto nos ambientes mais áridos da Região Nordeste 3. Como adaptação ao meio aquático, as lontras possuem

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com a mãe por pelo menos um ano 20. Quando a criação artificial é necessária, é de extrema importância um planejamento objetivo e claro das ações, assim como uma enorme dedicação da equipe envolvida. As necessidades nutricionais, sociais, fisiológicas e clínicas da espécie devem ser levadas em consideração e incluídas nos protocolos de criação artificial 20. Os recém-nascidos e os filhotes subnutridos devem ser alimentados a cada duas a três horas, incluindo o período noturno. Quando os animais começam a crescer, as refeições podem ser reduzidas a intervalos de três a quatro horas, até que eles atinjam 82 a 120 dias de vida 13. Dados como peso, consumo de alimento, quantidade e consistência das fezes, frequência de micção, qualidade da pelagem, desenvolvimento físico, desenvolvimento social, comportamento ao brincar e desenvolvimento de comportamentos da espécie devem ser registrados diariamente 10. Os filhotes de lontras podem desenvolver problemas de saúde subitamente, portanto, qualquer alteração comportamental deve ser notada. Entre os principais problemas a que os filhotes de lontra estão suscetíveis podemos citar: desidratação/emaciação, diarreia, constipação, pneumonias, infecções fúngicas, gases e parasitas. Caso um animal recuse duas ou mais refeições consecutivas, deve ser monitorado, para que se controlem possíveis problemas de saúde 10,21. Os filhotes criados artificialmente devem se identificar com sua própria espécie e ser capazes de interagir normalmente com outros membros do grupo. O modo como um filhote é manejado durante a criação poderá influenciar o seu comportamento para o resto da vida 22. Devido à escassez de relatos e à inexistência de um protocolo único e perfeito para a criação artificial de filhotes de lontras, o objetivo deste trabalho é registrar o protocolo de criação artificial de dois filhotes de lontra e dividir com os colegas de outras instituições os sucessos e dificuldades obtidos nesses dois casos. Primeiro caso Foi recebida no Aquário de São Paulo uma fêmea de lontra neotropical de aproximadamente quatro meses, pesando 1,38kg (Figura 1). Laura Moura

membranas interdigitais e cauda achatada na extremidade. Na base da cauda encontram-se glândulas anais que secretam um líquido fétido, com propósito de defesa e marcação de território. Seu pelo é curto e denso, de coloração marromescura, com uma mancha mais clara na região do pescoço 4,5. O dimorfismo sexual se dá pelo tamanho, sendo os machos 20 a 25% maiores do que as fêmeas 2. As lontras se alimentam principalmente de peixe, porém pequenos mamíferos, aves, répteis, crustáceos, anfíbios e insetos também fazem parte de sua dieta 2,6-10. Têm alta taxa metabólica, digestão rápida e podem passar 41 a 60% de seu tempo em atividades de alimentação ou forrageamento 6,11. Ainda não foram realizados, em nenhuma espécie de lontra, estudos metabólicos que examinem sua necessidade exata de nutrientes. Por essa razão, os valores nutricionais da alimentação das lontras são baseados em estudos relacionados a outras espécies, como, por exemplo, os gatos 6. Dentre as principais doenças em cativeiro, a urolitíase é de alta prevalência; sendo assim, os alimentos ricos em oxalato de cálcio devem ser evitados 12. Outro problema nutricional comum em animais que se alimentam principalmente de peixe é a deficiência de tiamina. Isso pode ocorrer devido à ação das tiaminases, decorrente do armazenamento de algumas espécies de pescado. Essas enzimas quebram a tiamina em peixes congelados 6,13. A deficiência de tiamina pode ser prevenida com a suplementação de 25 a 35mg de tiamina por quilo de peixe ingerido por dia e com uma dieta composta por uma variedade de peixes 6,13,14. Outros tipos de deficiências já foram reportados em mustelídeos. A composição nutricional dos peixes pode variar de acordo com a espécie, a época do ano e o tempo de armazenamento. Por esse motivo, a suplementação com um polivitamínico poderá prover certa estabilidade na concentração dos nutrientes da dieta. Entretanto, essa suplementação deve ser feita com cautela, para evitar o excesso de vitaminas e a indução de toxicidades, principalmente de vitaminas lipossolúveis 13. A longevidade desses animais em vida livre é de dez a treze anos, ao passo que em cativeiro existem relatos de animais com 25 anos 10. Entre as principais ameaças a essa espécie encontram-se ações antrópicas como conflitos entre pescadores e proprietários de criadouros de peixes. Atropelamentos em estradas, destruição e contaminação de habitat (construções de hidrelétricas, agricultura, desmatamento) também contribuem para a diminuição das populações da espécie 15-17. Como consequência dessas interações, é cada vez mais comum o recebimento de filhotes órfãos em centros de triagem de animais silvestres e zoológicos 18,19. A criação artificial de filhotes não é recomendada como um procedimento eletivo por diversos motivos; o desejável é que os filhotes sempre tenham o cuidado parental, que possibilita o rápido desenvolvimento dos recém-nascidos. Em lontras asiáticas (Amblonyx cinereus), rápidas saídas das tocas ocorrem em torno da 10ª e da 12ª semana. Aproximadamente na 14ª semana, os filhotes começam a ser levados para a água pela mãe. O desmame ocorre com aproximadamente três a quatro meses, porém os filhotes permanecem

Figura 1 - Filhote de lontra fêmea de aproximadamente quatro meses

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Animais selvagens

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ausência de reflexo aos estímulos sonoros e visuais. Foi administrado 1mg/kg de cloridrato de tiamina h, por via intramuscular. Após a aplicação, o animal foi para sua toca dormir, e após quarenta minutos voltou a apresentar comportamento normal. Em razão de tal episódio, o animal passou a receber diariamente um suplemento de 35mg de tiamina i. O suplemento era administrado por via oral, uma hora antes da primeira alimentação, para que sua absorção fosse mais eficaz. Após dez dias, o mesmo quadro se repetiu, mas com menor intensidade, e o tempo de recuperação após a administração da tiamina injetável foi mais rápido. No dia seguinte o quadro se repetiu. Como a deficiência de tiamina está relacionada ao oferecimento de peixes congelados, a dieta sofreu uma reformulação: a quantidade de frango foi aumentada, e o animal passou a receber também peixe vivo. Juntamente com essa reformulação da dieta, a suplementação vitamínica também foi alterada. O polivitamínico foi substituído por um premix de vitaminas, minerais e aminoácidos para cães e gatos j. Quatro meses após a chegada, as refeições passaram a ser oferecidas três vezes ao dia, sendo a primeira às 9h e a última às 19h. O peso do animal era monitorado diariamente, sempre no mesmo horário e a quantidade de sua alimentação era ajustada de acordo com o resultado. A consistência, a frequência e as possíveis alterações das fezes e da urina também eram observadas. Desde a chegada o animal apresentou comportamento bastante ativo, interagindo bastante com a equipe envolvida no seu manejo. Segundo caso Cinco meses após o recebimento do primeiro filhote, um macho de lontra neotropical de aproximadamente três meses, com 1,8kg, foi recebido no Aquário de São Paulo (Figura 2). A alimentação oferecida na instituição anterior era composta de sardinha, manjuba e leite em pó infantil k. No primeiro dia, o animal estava ativo e vocalizando bastante. Desde o início, apresentava preferência pela manjuba. A alimentação era suplementada com 35mg de tiamina e premix de vitaminas, minerais e aminoácidos Figura 2 - Filhote de lontra macho para cães e gatos. de aproximadamente três meses

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Fabiana Lúcia André

A alimentação oferecida na instituição anterior era composta por leite integral em pó a, leite de soja e filé de tilápia. A quantidade de alimento foi calculada com base na ingestão diária da espécie, correspondente a 20% de seu peso vivo. A quantidade oferecida em cada alimentação era 20mL da mistura dos leites e 50g de peixe. No primeiro dia, o animal recusou a alimentação. Para evitar desidratação e um quadro hipoglicêmico, realizou-se hidratação parenteral. Na manhã seguinte, o animal bebeu água e a alimentação foi oferecida novamente, porém o animal recusou. Um recipiente com água foi disponibilizado para que o animal pudesse nadar, onde ele entrou imediatamente e defecou. Algumas horas depois o alimento foi oferecido novamente e teve boa aceitação. Exames coproparasitológicos foram realizados logo à sua chegada. As fezes foram coletadas e enviadas para análise pelos métodos de flutuação e sedimentação. Os dois primeiros exames apresentaram como resultados ovos larvados de Strongyloides. O tratamento antiparasitário foi realizado com febendazol b, na dose de 50mg/kg, por via oral, por três dias. Após 21 dias, o tratamento foi repetido. Três coletas de fezes consecutivas foram realizadas após o tratamento e o resultado foi negativo. Na rotina de exames preventivos desse animal, o exame coproparasitológico é realizado trimestralmente. Por ser alto o índice de pneumonia em filhotes dessa espécie, logo após a sua chegada administrou-se amoxicilina com clavulanato de potássio c, 20mg/kg, duas vezes ao dia, por via oral, por catorze dias 10. Devido à alta taxa metabólica desses animais e por se tratar de um filhote, porém não recém-nascido, optou-se por oferecer a alimentação a cada quatro horas. Durante a noite o animal não aceitava a alimentação, sendo a primeira oferecida às 8h da manhã e a última às 20h. Uma mudança gradual do leite integral em pó e do leite de soja para um leite específico para cães e gatos d e suplemento alimentar em pó e foi realizada a partir do sexto dia do recebimento do animal. A mudança da alimentação foi realizada gradativamente, no período de uma semana. A alteração dos leites foi acompanhada de observação do comportamento do animal, da aceitação da dieta e das características das fezes. Em nenhum momento o animal apresentou diarreia. Sua dieta era suplementada com um polivitamínico f, uma vez ao dia, administrado na primeira alimentação. Um mês após sua chegada, o animal começou a recusar o leite e uma ração para desmame g foi introduzida na dieta, sendo oferecida na primeira e na última alimentação. Nas alimentações intermediárias, somente era oferecido o filé de tilápia. Dez dias após a introdução da ração, o leite foi retirado, e no 15º dia o animal passou a recusar a ração. A partir desse momento, uma nova dieta passou a ser oferecida, incluindo frango, camarão, alevinos e filé de tilápia. Dois meses após a chegada o animal apresentou um quadro clínico compatível com hipovitaminose de tiamina (B1). Os principais sinais clínicos observados foram: animal assustado, tremores, olhar vago, desequilíbrio ao andar e


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Assim como para o outro animal, a cápsula de tiamina era administrada uma hora antes da primeira alimentação, e a quantidade da dieta também foi calculada com base nos 20% do peso vivo do filhote. Ele apresentava sede excessiva após a ingestão do pescado e um recipiente com água doce fresca estava sempre disponível no recinto. Seguindo a frequência de alimentação da instituição anterior, o animal era alimentado quatro vezes ao dia, com intervalos de quatro horas entre as refeições. No quarto dia, o animal estava apático, com mucosas pálidas, leves tremores e respondendo pouco a estímulos. Suspeitou-se de um quadro de desidratação e hipoglicemia, provavelmente ocasionado pelo longo intervalo entre as refeições. A hipoglicemia foi confirmada medindo-se a glicemia do animal por meio de exame de sangue. Foi possível observar também, por meio de alteração comportamental, que o animal apresentava cólica e que estava bebendo urina. Para reverter esse quadro, realizouse uma fluidoterapia por via subcutânea com solução de ringer lactato e glicose a 5%, e a alimentação passou a ser oferecida a cada duas horas, incluindo o período da madrugada. O animal respondeu rapidamente à nova frequência das refeições com aumento do ganho de peso diário e não voltou a apresentar quadros de desidratação, hipoglicemia e comportamento de beber urina. Os quadros de cólica ainda estavam presentes, possivelmente associados ao leite. O medicamento dimeticona l passou a ser administrado três vezes ao dia. No sexto dia foram introduzidos alevinos na dieta; a sardinha foi retirada, com o intuito de diminuir a proporção de peixes de água salgada; e o leite em pó infantil passou a ser gradualmente substituído por leite em pó para cães e gatos m e por suplemento alimentar e em pó. Essa nova dieta foi bem aceita pelo animal. Conforme a quantidade de peixe de água salgada foi sendo substituída por uma quantidade maior de peixes de água doce, ele deixou de beber água com tanta frequência.

Após alguns dias o animal começou a recusar o leite e a se interessar cada vez mais pelo pescado. Nessa fase, a ração úmida n foi introduzida na dieta, sendo oferecida em quatro das sete refeições diárias. O animal apresentava cada vez mais apetite. As fezes eram monitoradas diariamente, com acompanhamento da frequência das defecações e de sua consistência. Em torno do décimo quinto dia, o filhote não demonstrava mais o mesmo apetite na alimentação das 3h, e passou a recusar o leite. A partir desse dia, a alimentação passou a ser das 8h às 22h30 e o leite deixou de ser oferecido. O animal não apresentou nenhuma alteração comportamental ou clínica após essa mudança. No vigésimo quarto dia, o filhote estava extremamente irritado, mordendo todos os objetos que encontrava no recinto. Observou-se que o crescimento dos dentes o incomodava. Duas vezes ao dia era aplicada pomada indicada o para uso pediátrico contendo anestésicos locais e anti-inflamatório. O animal demonstrava alívio após esse procedimento. O incomodo com o crescimento dos dentes durou aproximadamente cinco dias. Um mês após a chegada, a rotina de alimentação foi novamente alterada de acordo com seu apetite e idade. A primeira alimentação passou a ser oferecida às 8h e a última às 20h; a quantidade de manjuba foi reduzida novamente; e novos itens, como tilápia e frango, foram introduzidos na dieta. Nessa fase iniciou-se o processo de aprendizado de natação do animal e de transferência para o recinto de exposição, onde ele passou a ter contato visual e olfativo com a fêmea que já se encontrava no recinto. Cinquenta dias após a chegada, a manjuba foi totalmente retirada da dieta. No terceiro mês, a frequência de sua alimentação passou a ser igual à da fêmea. Essa rotina é mantida até o período atual (Figura 3).

Figura 3 - Rotina de alimentação atual dos dois animais (adultos) Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, julho/agosto, 2012

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Animais selvagens Quando o filhote começou a dar sinais de apatia e diminuição de apetite, foram realizadas radiografias ventrodorsal e lateral com o intuito de observar se havia alguma alteração no trato respiratório ou qualquer outro tipo de alteração. Também foram realizados swabs nasais para cultura bacteriana. O resultado das culturas foi negativo e nenhuma alteração foi observada nas radiografias. Antes de o animal ser colocado junto com a fêmea, diversos exames foram realizados no seu período de quarentena (30 dias), para assegurar que ele estivesse saudável. Nos dois primeiros exames coproparasitológicos foram observados ovos da superfamília Strongyloidea. Como protocolo de quarentena e de medicina preventiva, foi realizada vermifugação com febendazol b, na dose de 50mg/kg, por via oral, duas vezes ao dia, por três dias e metronidazol p, na dosagem de 25mg/kg, por via oral, duas vezes ao dia, por dez dias. A coleta de sangue para hemograma e perfil bioquímico foi realizada por meio da contenção química com isofluorano. O sangue foi coletado da veia jugular. Durante esse processo, os parâmetros fisiológicos foram monitorados e o animal permaneceu estável durante o procedimento, apresentando boa recuperação após a anestesia. Os resultados do exame mostraram-se dentro da normalidade para um animal dessa espécie e dessa idade. Durante todo o período em que o filhote estava em quarentena, os fômites, uniformes e tratadores eram usados exclusivamente por ele.

(Figura 5 e 6), boa qualidade da pelagem, ausência de diarreia ou constipação, sinais esses comumente observados em filhotes, indicando que essa opção de combinação dos dois tipos de leite pode ser eficaz para a criação de filhotes dessa espécie. O macho apresentou um ganho de peso maior do que a fêmea na mesma faixa etária, o que era o esperado, uma vez que os machos são 20 a 25% maiores que as fêmeas 2. Antes do desmame, que ocorre com aproximadamente três a quatro meses, os intervalos entre as refeições devem ser aumentados e os novos itens adicionados gradativamente à sua alimentação. À medida que o animal apresenta maior preferência pelos alimentos sólidos, o leite pode ser removido gradativamente 2,25. Com o intuito de que o desmame do filhote ocorresse de acordo com o descrito para a espécie, a ração passou a ser incluída nas refeições e gradualmente o leite foi sendo retirado. Assim, seu regime alimentar passou a ser composto somente por alimentos sólidos. De acordo com a dieta de lontras em vida livre, uma variedade de itens alimentares, incluindo peixes, aves e outros tipos de carne, deve ser oferecida em cativeiro 6,7. Os sinais clínicos observados na fêmea durante as crises de deficiência de tiamina foram compatíveis com alguns dos descritos previamente em outras instituições e após a correção da dieta e da suplementação, as crises foram controladas 10.

Discussão Distúrbios digestivos são frequentemente observados em filhotes criados artificialmente e podem estar associados a vários fatores, como fórmulas lácteas inapropriadas, frequência das refeições, excesso de alimento e mudanças bruscas na dieta 10. Com o intuito de adequar a alimentação de ambos os filhotes, os leites que foram administrados inicialmente foram substituídos por leite em pó para cães e gatos e suplemento alimentar em pó, pois, como observado em outras espécies de mamíferos aquáticos, o leite da lontra possui pouca lactose e maior teor proteico que o leite de vaca (Figura 4) 23,24. Os dois filhotes apresentaram ganho de peso

Figura 5 - Curva de crescimento da fêmea

Figura 4 - Composição láctea de diversas espécies 10,23,24

Figura 6 - Curva de crescimento do macho

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IV Encontro LABEA:

Consciência e Cognição Animal – Uma homenagem a César Ades

II Congresso Internacional da AMVEBBEA


Animais selvagens Considerações finais Com a crescente intervenção do homem na fauna silvestre, os profissionais de zoológicos, os centros de triagem de animais silvestres e outras instituições mantenedoras de fauna deparam cada vez com mais frequência com o recebimento de filhotes órfãos. Em muitos casos, a criação artificial acaba sendo a única opção, suscitando diversos questionamentos sobre a realização de manejos e procedimentos adequados. O manejo de lontras apresenta diversos desafios para os profissionais envolvidos, pois esses animais normalmente não são fáceis de conter para a realização de exames e a administração de tratamentos. Além disso, apresentam sinais sutis quando doentes e ficam moribundos rapidamente, requerendo observação constante e conhecimento do comportamento normal da espécie. O intercâmbio de informações entre as instituições deve ser reforçado, pois somente dessa forma será possível comparar os diferentes métodos, dividindo os erros, acertos e dificuldades encontrados.

Referências

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Agradecimentos À equipe de manejo do Aquário de São Paulo; ao médico veterinário Fabrício Braga Rassy; ao médico veterinário Antonio Messias Costa, do Museu Paraense Emílio Goeldi; à médica veterinária Cristiane Pizzuto e à médica veterinária Manuela Sgai.

07-RHEINGANTZ, M. L. ; WALDEMARIN, H. F. ; RODRIGUES, L. ; MOULTON, T. P. Seasonal and spatial differences in feeding habits of the Neotropical otter Lontra longicaudis (Carnivora: Mustelidae) in a coastal catchment of southeastern Brazil. Zoologia, v. 28, n. 1, p. 37-44, 2011.

Produtos utilizados

09-DA SILVA, V. C. F. ; RHEINGANTZ, M. L. ; FERNANDEZ, F. A. S. Dieta da lontra neotropical (Lontra longicaudis): um comparação entre dois métodos para estimativa da importância de diferentes presas em sua alimentação. In: CONGRESSO DE ETOLOGIA DO BRASIL, 8., 2007. Caxambu, Minas Gerais. Caxambu: Sociedade de Ecologia do Brasil, 2007. p. 750-797.

a) Leite Ninho®. Nestlé®, Caçapava, SP b) Panacur®. MSD Saúde Animal®. Cotia, SP c) Clavulin BD®. Glaxo Smith Kline®. Rio de Janeiro, RJ d) Pet Milk®. Vetnil®. Louveira, SP e) Ensure®. Abbott Nutrition. Rio de Janeiro, RJ f) Kalyamon Kids®. Janssen Cilag Farmacêutica Ltda. São Paulo, SP g) Papinha desmame A2®. Royal Canin®. Descalvado, SP h) Citoneurin 1000®. Merck®. Rio de Janeiro, RJ i) Tiamina 35mg. DROGAVET®. São Paulo, SP j) Aminomix Pet®. Vetnil®. Louveira, SP k) Nan 1®. Nestlé®. Caçapava, SP l) Luftal 75mg⁄mL®. Bristol-Myers Squibb Farmacêutica S.A. Santo Amaro, SP m) Pet Milk®. Vetnil®. Louveira, SP n) Recovery®. Royal Canin®. Descalvado, SP o) Nenê-dent®. Nycomed®. São Paulo, SP p) Flagyl®. Sanofi-Aventis®. Suzano, SP

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08-QUINTELA, F. M. ; PORCIUNCULA, R. A. ; COLARES, E. P. Dieta de Lontra longicaudis (Olfers) (Carnivora, Mustelidae) em um arroio costeiro da região sul do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Neotropical Biology and Conservation, v. 3, n. 3, p. 119-125, 2008.

10-REED-SMITH, J. North american river otter husbandry notebook. 3. ed. IUCN Otter Specialist Group Task Force. Michigan: John Ball Zoo, 2008. 290. p. Disponível em: <http://www.otterspecialistgroup.org/Library/ TaskForces/OCT/North_American_River_Otter_Husbandry_Manual_3rd_ edition.pdf> Acesso em: 5 de janeiro de 2011. 11-DAVIS, H. G. ; AULERICH, R. J. ; BURSIAN, S. J. ; SIKARSKIE, J. G. ; STUHT, J. N. Feed consumption and food transit time in Northern River Otters (Lutra canadensis). Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 23, n. 2, p. 241-244, 1992. 12-CAPBER, F. Veterinary care of Eurasian otters (Lutra lutra) at the otter breeding centre of Hunawihr (France). IUCN Otter Specialist Group Bulletin, v. 24, n. 1, p. 47-62, 2007. Disponível em: <http://www.otterspecialistgroup.org/Bulletin/Volume24/Capber_2007.html> Acesso em: 12 de setembro de 2010.

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MOLINA, W. F. Genética da conservação na biodiversidade brasileira. In: FRANKHAM, R. ; BALLOU, J. D. ; BRISCOE, D. A. Fundamentos de genética da conservação. 1. ed. Ribeirão Preto: Editora SBG, 2008. p. 244274. 20-WEBB, T. Hand rearing 1.1 asian small clawed otter (Amblonyx cinereus). Xth International Otter Coloquium, Korea. 2007. Disponível em: <http://www.otterspecialistgroup.org/Library/TaskForces/OCT/HAND_ REARING_ASCOTTER.pdf> Acesso em: 12 de setembro de 2010. 21-MADSEN, A. B. ; DIETZ, H. H. ; HENRIKSEN, P. ; CLAUSEN, B. Survey of Danish free living otters Lutra lutra - a consecutive collection and necroscopy of dead bodies. IUCN Otter Specialist Group Bulletin. 1999. Disponível em: < http://iucnosg.org/Bulletin/Volume16/Madsen_ et_al_1999.html>. Acesso em: 12 de setembro de 2010. 22-MEIER, J. E. Neonatology and hand rearing of carnivores. In: FOWLER, M. E. Zoo and wild animal medicine. 2. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 1986. p. 842-852. 23-JENNESS, R. ; SLOAN, R. E. The composition of milks of various species: a review. Dairy Science Abstracts, v. 32, n. 10, p. 599-612, 1970. 24-An overview of milk. Biology of lactation. Disponível em: <http://animsci.agrenv.mcgill.ca/courses/460/topics/2/text.pdf>. Acesso em: 12 de setembro de 2010. 25- River otter: Lutra canadensis. Vermont wildlife fact sheet. Disponível em: <http://www.vtfishandwildlife.com/VTCRITTERS/factsheets/mammals/ river%20otter/River%20Otter.pdf>. Acesso em: 12 de setembro de 2010.

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Animais selvagens Enfermidades e impactos antrópicos em cetáceos no Brasil Diseases and human impacts in cetaceans in Brazil Enfermedades e impactos antrópicos en cetáceos de Brasil Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, p. 100-110, 2012 Isabela Guarnier Domiciano bióloga, mestranda PPGCA/UEL

isabela.guarnier@hotmail.com

Ana Paula F. R. L. Bracarense

médica veterinária, profa. associada Depto. de Med. Vet. Preventiva - UEL anauel02@yahoo.com.br

Camila Domit

bióloga, pesquisadora Lab. Ecol. e Conservação - CEM/UFPR cadomit@gmail.com

Milton Cesar C. Marcondes médico veterinário Instituto Baleia Jubarte

milton.marcondes@baleiajubarte.org.br

Resumo: Pouco se conhece sobre as enfermidades e a influência dos impactos antrópicos na saúde dos cetáceos que habitam a costa brasileira. Com o objetivo de avaliar o conhecimento atual sobre as enfermidades em cetáceos no Brasil, esta revisão reúne e acrescenta informações sobre doenças infecciosas e parasitárias, entre outras. Há registro de lesões semelhantes às causadas por poxvírus e papilomavírus, e foram detectados anticorpos para Morbillivirus sp. Bactérias como Aeromonas sobria, Pseudomonas aeruginosa e Pasteurella pneumotropica, o fungo Lacazia loboi, os protozoários Giardia sp e Toxoplasma gondii e diversos metazoários foram associados a lesões. Impactos antrópicos também influenciam nas taxas de mortalidade desses animais. O estado de conservação das carcaças e a ausência de patologistas capacitados nas equipes de pesquisa dificultam a avaliação do estado de saúde dos cetáceos. Unitermos: mamíferos aquáticos, agentes patológicos, atividades humanas Abstract: Little is known about the diseases and how human impact influences the health of cetaceans that inhabit the Brazilian coast. This review gathers and adds information about infectious and parasitic diseases, among others, in order to evaluate the current knowledge about the major diseases that affect cetaceans in Brazil. There are reports of lesions similar to the ones caused by pox- and papillomavirus, and antibodies against Morbillivirus sp have been detected. Bacteria such as Aeromonas sobria, Pseudomonas aeruginosa and Pasteurella pneumotropica, the fungus Lacazia loboi, the protozoa Giardia sp and Toxoplasma gondii, as well as several metazoans have been associated with lesions. The anthropic impact also influences cetacean mortality rate. The state of decomposition and lack of trained pathologists in research teams make it difficult to assess the health status of these animals. Keywords: aquatic mammals, pathologic agents, human activities Resumen: Es poco lo que se conoce sobre las enfermedades y la influencia de los impactos antrópicos en la salud de los cetáceos que habitan la costa brasilera. Con el objetivo de analizar el conocimiento actual sobre las enfermedades de los cetáceos en Brasil, la presente revisión reúne y adiciona informaciones de varias enfermedades, entre ellas aquellas de origen infeccioso y las parasitarias. Existen registros de lesiones parecidas a las ocasionadas por poxvirus y papilomavirus, y también fueron detectados anticuerpos contra Morbillivirus sp. Ciertas bacterias como Aeromonas sobria, Pseudomona aeruginosa y Pasteurella pneumotropica, el hongo Lacazia loboi, protozoarios como Giardia sp y Toxoplasma gondii, y diversos metoazoarios, han sido asociados a lesiones en cetáceos. Los impactos antrópicos también influyen en las tasas de mortalidad de estos animales. El mal estado de conservación de los cadáveres y la ausencia de patólogos capacitados en los equipos de investigación, dificultan la evaluación del estado de salud de los cetáceos. Palabras clave: mamíferos acuáticos, agentes patológicos, actividades humanas

Introdução Os cetáceos são considerados sentinelas ambientais devido à longevidade, à posição de topo da cadeia trófica e à bioacumulação de contaminantes, servindo como indicadores das mudanças de curto a longo prazo no ecossistema aquático 1,2. Pequenos odontocetos, cetáceos dentados como os golfinhos e os botos, podem indicar o estado de contaminação 100

e doenças locais, assim como mudanças no padrão de reprodução e migração de misticetos, baleias com cerdas na boca, podem indicar mudanças globais 3. No Brasil, existem 45 espécies de cetáceos 4 e as informações sobre o estado de saúde desses animais são obtidas por meio de observações e registros fotográficos quando em vida livre, exames clínicos ou necropsias de animais encalhados e,

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em menor quantidade, dos animais mantidos em cativeiro 5-10. Algumas doenças emergentes e recorrentes destacam-se pela distribuição e o impacto que provocam nas populações de cetáceos ao redor do mundo ou por seu caráter de zoonose, como a morbilivirose, a papilomatose, a brucelose e a toxoplasmose 11. As fontes de infecção e as vias de transmissão para os cetáceos ainda são pouco compreendidas, porém os efluentes domésticos, agrícolas e industriais oriundos do continente, a água de lastro de navios que carregam espécies exóticas 12, a dieta 13 e até mesmo as vias venéreas, placentárias e mamárias 14,15 exercem papel importante na dinâmica dos agentes patogênicos 11,16. Outros impactos de origem antrópica, como a captura incidental em artefatos de pesca, a colisão com embarcações, a ingestão de resíduos sólidos e a poluição química e sonora na água atuam direta ou indiretamente na patogenia, alterando o nível de estresse e o sistema endócrino e imune, o que pode potencializar o efeito negativo sobre a saúde desses animais 17,18. No Brasil, os diagnósticos sobre a causa de morte são escassos e isolados, portanto, este trabalho tem por objetivo avaliar o conhecimento atual quanto às enfermidades e aos impactos antrópicos nos cetáceos no litoral do país, reunindo relatos sobre doenças infecciosas, parasitárias e outros tipos de lesões causadas por atividades humanas. Além disso, foram incluídas informações sobre a patogenia, sinais clínicos, formas de diagnóstico e um panorama das doenças em outras regiões do mundo. Doenças infecciosas Vírus O conhecimento mundial sobre doenças virais em cetáceos teve início no final dos anos 1970 e cresceu nas décadas de 1980 e 1990, influenciado por novas metodologias para detecção dos agentes etiológicos e pelos casos de encalhes e mortes em massa devido a morbilivirose 19. Atualmente, diversos tipos de técnicas moleculares, histológicas e a microscopia eletrônica auxiliam no diagnóstico de doenças virais em cetáceos. Morbilivírus Os morbilivírus (família Paramyxoviridae) afeta cetáceos de diferentes habitats. Esta doença evidenciada na década de 1980 foi responsável por diversos casos de epizootia que levou à morte golfinhos-nariz-de-garrafa, Tursiops truncatus, na costa dos Estados Unidos, golfinhos-listrados, Stenella coeruleoalba, no mar Mediterrâneo, golfinhoscomuns, Delphinus sp, no oceano Pacífico e no mar Negro, botos-do-porto, Phocoena phocoena, no mar do Norte, e baleias-piloto-de-peitorais-longas, Globicephala melas, no estreito de Gibraltar e no litoral da Espanha 20-27. As infecções podem envolver mais de uma estirpe de Morbillivirus sp, denominada de acordo com o animal em que foi inicialmente isolada, tais como “porpoise morbillivirus” (PMV) de Phocena phocena, “dolphin morbillivirus” (DMV) do golfinho-listrado, “phocine distemper virus” (PDV), descritos para a foca-comum, Phoca vitulina, e a “canine distemper

virus” (CDV), a cinomose dos cães. As estirpes podem ser identificadas em análises sorológicas, ferramenta usada também para averiguar a possibilidade de endemia nas populações 28,29. Os sinais clínicos incluem desorientação e caquexia 22, porém também podem ocorrer infecções subclínicas. Nos Estados Unidos, golfinhos-nariz-de-garrafa sem indícios da doença, nascidos após uma epizootia em 1988, apresentavam anticorpos para morbilivírus, sugerindo que a transmissão e a infecção subclínica ocorrem na ausência de grandes mortalidades, exercendo papel de reservatórios e fontes de transmissão da doença 28. A patogenia do vírus da cinomose ainda é pouco compreendida em cetáceos, porém a transmissão deve ocorrer pelo vírus inalado em aerossóis, como observado em outras morbiliviroses 30,31. Em caninos, a proliferação ocorre nos linfonodos cervicais, nos granulócitos e nos monócitos do sangue, passando aos linfonodos mediastínicos e mesentéricos, à medula, ao baço e ao timo 31. A infecção viral induz resposta humoral em duas semanas, sendo que nesses casos a doença pode não se manifestar clinicamente. Em comparação com esse modelo, supõe-se que os cetáceos respondam de forma similar aos caninos, com a produção de uma resposta imunológica humoral e infecção subclínica 28. Entretanto, ainda são necessários mais estudos para esclarecer esses aspectos. As principais alterações histopatológicas em cetáceos envolvem o trato respiratório, o sistema nervoso central e os tecidos linfóides 32. As lesões macroscópicas incluem pneumonia bilateral com consolidação, congestão e edema dos pulmões, edema e hipertrofia de linfonodos, encefalite e necrose multifocal severa, ulcerações na língua, gengiva, esôfago e no estômago 22,27,32,33. Os achados microscópicos são semelhantes aos descritos em outras espécies, como depleção linfocitária, pneumonia bronquíolo-intersticial, desmielinização e encefalite não supurativa com degeneração e necrose de neurônios e presença de corpúsculos de inclusão viral intranucleares e intracitoplasmáticos em células sinciciais, epiteliais e mononucleares, principalmente no pulmão, nos linfonodos, no baço e em neurônios e células da glia no cérebro. Podem ocorrer infecções secundárias por bactérias, fungos e parasitas 20-23,27,33. A observação das lesões citadas, aliada aos sinais clínicos de desorientação dos espécimes, é indicativa de morbilivirose, porém essa doença é pouco estudada no Brasil. Em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro (RJ), anticorpos para morbilivírus foram detectados em um golfinho-de-fraser, Lagenodelphis hosei; entretanto, os pesquisadores analisaram outras espécies de cetáceos costeiros, como boto-cinza, Sotalia guianensis, toninha, Pontoporia blainvillei, e golfinho-pintado-do-atlântico, Stenella frontalis, e não detectaram anticorpos para esse agente, indicando que até aquela data o vírus não circulava nos indivíduos dessas espécies 34. No sul do Brasil, a infecção por Morbillivirus sp foi mencionada como uma das hipóteses da causa de encalhes de dez golfinhos-de-fraser 35, porém não foi confirmada por exames necroscópicos.

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Animais selvagens Poxvírus Os poxvírus (família Poxviridae) provocam hiperpigmentação da epiderme nos cetáceos, causando lesões de formato irregular ou circulares, semelhantes a uma tatuagem 36,37. Essas lesões ocorrem em qualquer parte do corpo, de 0,5 a 3cm de circunferência quando sozinhas, mas podem coalescer. A cor das lesões iniciais normalmente é clara, com bordas mais escuras, e nas de estágio mais avançado o padrão se inverte, com áreas mais escuras no centro 38. As lesões podem persistir por meses e até por anos e recidivar 39. A doença foi observada em cetáceos de diferentes habitats 39. Os dados clínicos e epidemiológicos indicam que o vírus não causa mortalidades em populações cuja infecção é endêmica, porém pode afetar os indivíduos sem proteção imunológica, principalmente os juvenis 39,40. Já nos adultos, as lesões podem indicar imunodeficiência e estresse 39. A infecção pelos diferentes poxvírus ocorre por meio de lesões na pele, pelo trato respiratório e por via oral 41. No caso dos cetáceos, escoriações na pele seriam uma importante via de acesso do patógeno. Na histopatologia, observa-se degeneração vacuolar citoplasmática no stratum intermedium, acima do espinhoso na epiderme, onde são observados corpúsculos de inclusão eosinofílicos. As camadas de células superiores ao stratum intermedium são achatadas, não havendo elevação em relação ao tecido normal adjacente, diferentemente das lesões vesiculares que ocorrem em mamíferos terrestres 38,42. A reação inflamatória é mínima, o que pode influenciar a dispersão e a persistência do vírus no hospedeiro 42. No Brasil, não foram realizados diagnósticos moleculares nos animais com lesões suspeitas, porém a sua morfologia foi altamente sugestiva de poxvírus. Dessa forma, as lesões são denominadas “semelhantes às causadas por poxvírus”, reportadas em botos-cinza Sotalia guianensis na baía de Sepetiba, região sul do estado do RJ 39, e no Pará 43. No Ceará, lesões macroscópicas sugestivas de infecção por poxvírus em um golfinho-rotador, Stenella longirostris, em um golfinho-cabeça-de-melão, Peponocephalae electra, e em um golfinho-de-fraser Lagenodelphis hosei, mortos, e em um boto-cinza vivo, foram submetidas a análises histopatológicas, apresentando alterações microscópicas características 44. Papilomavírus Os Papillomavirus sp (família Papillomaviridae) têm sido identificados em lesões verrucosas ou papilomas na mucosa da língua, órgãos genitais, estômago e pele dos cetáceos. As lesões nas mucosas apresentam cores variáveis e superfície irregular, e as que ocorrem na pele seguem o mesmo padrão de cor do tecido, são elevadas e macias 14. Algumas estirpes são transmitidas de forma venérea 45 e quando na mucosa genital, os papilomas podem dificultar a cópula e impedir a reprodução, alterando a dinâmica populacional 40. Casos de tumores malignos também têm sido relacionados ao papilomavírus, inclusive a transformação de papilomas benignos em carcinomas de células escamosas em um golfinho-nariz-de-garrafa 46. Na histopatologia, observa-se hiperplasia do epitélio, degeneração hidrópica ou coilocitose, e em alguns casos a 102

presença de infiltrado linfocitário. Além disso, inclusões eosinofílicas intranucleares podem estar ausentes 14. No Brasil, foi identificado um possível caso de papiloma em fenda genital de uma fêmea de boto-cinza encontrada morta em Ilhéus, Bahia (Marcondes M., comunicação pessoal). Bactérias As bactérias estão envolvidas em uma ampla variedade de lesões que afetam os cetáceos, e sozinhas ou em conjunto com infecções parasitárias estão entre os principais problemas nesses mamíferos marinhos 47. O diagnóstico pode ser feito por esfregaço, seguido de coloração pelo método de Gram ou outras mais específicas, como a de Ziehl-Neelsen para micobactérias, isolamento em diferentes meios de cultura, análise histológica e outras técnicas moleculares, como imunofluorescência, imunoensaios enzimáticos, hibridização por sondas e reação em cadeia da polimerase 48. A ingestão de pescado contaminado e lesões traumáticas na pele servem como entrada para esses agentes patogênicos 49. Na pele, a doença se manifesta pelo aspecto crônico de úlcera com bordas intactas ou com descamação periférica intensa devido a exsudação e à proliferação da epiderme adjacente 47. No Brasil, foram observadas lesões irregulares aveludadas em boto-cinza no Paraná (Figura 1), lesões semelhantes às da golf ball disease causadas pelo Streptococcus iniae, e abscessos na pele de botos-cor-de-rosa, Inia geoffrensis 50. Também foi isolada Aeromonas sobria de lesões superficiais na baleia-bicuda-de-true, Mesoplodon mirus 16. Cepas de Plesiomonas shigelloides, Aeromonas sp e Vibrio sp também foram isoladas das cavidades corpóreas e do globo ocular em dez espécies de cetáceos 16,51. Esses microrganismos são encontrados em ambientes aquáticos e podem provocar lesões sistêmicas ou focais na pele e nas nadadeiras de mamíferos marinhos, e alterações gastrintestinais, especialmente quando o animal é submetido a condições de estresse 16. Inflamações ósseas como a osteomielite são causadas principalmente por agentes bacterianos que chegam por via hematógena ou pela lesão originada pelo trauma. Em animais Laboratório de Ecologia e Conservação/UFPR

Figura 1 - Lesões claras, irregulares e de textura aveludada no flanco superior esquerdo de boto-cinza, possivelmente de origem bacteriana. Laboratório de Ecologia e Conservação/UFPR

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terrestres, provocam dor e debilidade 52. A tuberculose, por exemplo, foi a principal suspeita de causar processo infeccioso crônico com deformações, fusões e ossificação nas vértebras em dois espécimes de boto-cinza 53. Essa infecção também foi verificada na hemimandíbula esquerda de um tucuxi, que resultou na sua separação em duas partes, perda de dentes e deformação local dos alvéolos 54. Outros casos da doença foram verificados em côndilo occipital, escápulas e vértebras lombares e caudais de botos-cinza 55 e nas vértebras caudais de baleias-jubarte, Megaptera novaeangliae, no sul da Bahia, que também apresentavam osteoartrite, sindesmófitos e anquilose 56. Existem poucos relatos no Brasil que relacionam a causa mortis de cetáceos a infecção bacteriana. Foram isolados Staphylococcus sp de abscesso pulmonar em um golfinhode-dentes-rugosos, Steno bredanensis, e também se identificaram Gemella haemolisans e Staphylococcus xylosus no sangue, sendo o último relacionado à causa mortis. No sangue de uma toninha, foram isolados Pasteurella pneumotropica e Pseudomonas aeruginosa do exsudato da cavidade torácica, P. aeruginosa, além de Staphylococcus sciuri e P. aeruginosa no orifício respiratório, Pseudomonas sp no pulmão e P. aeruginosa no fígado. A causa mortis desse animal foi relacionada a septicemia 57. No litoral do estado de São Paulo (SP), dois golfinhospintados-do-atlântico, capturados acidentalmente em redes de pesca, apresentaram edema e congestão pulmonar, hepatomegalia, congestão e fibrose hepáticas e linfadenite purulenta, além de pneumonia abscedante multifocal em um deles. Na histopatologia, os achados macroscópicos foram confirmados, além de depleção folicular severa, linfocitólise centro-folicular e presença de bactérias gram negativas no linfonodo em um dos espécimes. O outro animal apresentava piogranuloma parasitário no pulmão, trombose e infarto em linfonodo e depleção linfoide moderada 58. Em infecções pulmonares bacterianas podem ser observados sinais inespecíficos de indisposição, anorexia e falta de reação do animal. A taxa respiratória e a temperatura corporal aumentam, percebe-se um odor fétido durante a respiração, normalmente associado à produção de exsudato 59. Além dos casos de infecções pulmonares no golfinho-de-dentes-rugosos, na toninha e nos golfinhos-pintados-do-atlântico citados, foram isolados Micrococcus sp de exsudato da cavidade torácica e Staphylococcus sp do pulmão de uma toninha 57. Além das bactérias dos gêneros Streptococcus, Staphylococcus, Vibrio, Pseudomonas, Plesiomonas e Aeromonas observados nos cetáceos do Brasil, outros gêneros, como Burkholderia, Leptospira, Edwardsiella, Erysipelothrix, Brucella, Mycoplasma, Mycobacterium, Salmonella, Clostridium, Nocardia, Klebsiella, Proteus e Corynebacterium foram isolados de cetáceos em outros países, sendo todos eles importantes agentes zoonóticos 60. Algumas informações devem ser consideradas no diagnóstico por infecção bacteriana, pois o resgate desses animais pode ocorrer horas após a morte, portanto, é necessário observar se a bactéria tem origem gastrointestinal, da microflora superficial 48 ou do meio ambiente (putrefação), não

sendo nesses casos indicativa da causa de morte direta desses animais. Fungos Diversas espécies fúngicas foram isoladas de cetáceos: Aspergillus sp, Blastomyces sp, Coccidioides sp, Cryptococcus sp, Candida sp, Trichophyton sp, Fusarium sp, Lacazia loboi (anteriormente denominada Loboa loboi), Sporothrix sp e Saksenaea vasiformis 24,61. A lobomicose ou lacaziose é uma doença crônica causada pelo fungo Lacazia loboi, diagnosticada em humanos e em duas espécies de golfinhos: Tursiops truncatus e Sotalia guianensis, com possível ocorrência também em Tursiops aduncus 62,63, porém, são raros os casos de zoonose 63. A lesão se apresenta macroscopicamente como nódulos elevados, coalescentes, de forma ulcerada a papilar na pele e, na microscopia, observam-se granulomas no tecido subcutâneo e na derme 64. As lesões na pele dão acesso ao patógeno 65, porém as condições de crescimento e desenvolvimento deste ainda são pouco compreendidas devido à dificuldade da cultura in vitro 62. Em camundongos inoculados experimentalmente, foi observada persistência do fungo junto à reação inflamatória nos dezoito meses de acompanhamento da doença, entretanto, não foram encontradas lesões macroscópicas 66. Nos seres humanos, as lesões podem ser observadas por mais de sete anos 65. No Brasil, o primeiro caso de lacaziose em cetáceos foi registrado em um golfinho-nariz-de-garrafa no estuário de Laguna, estado de Santa Catarina 67. Depois deste, outros seis animais da mesma espécie, nos estuários de Tramandaí e Mampituba, RS, foram observados com micoses na pele. Em um espécime desse grupo confirmou-se que a lacaziose acometia esse animal havia cerca de três anos 68. A doença não foi observada em animais na lagoa dos Patos, a 310 km ao sul de Tramandaí 68, como também em cetáceos de hábitos dulcícolas 69. No Complexo Estuarino de Paranaguá, estado do Paraná (PR), foram observados botos-cinza com nódulos e outras lesões semelhantes às da lacaziose em adultos e infantes fotoidentificados. O nódulo pode ser uma lesão inicial na patogenia da doença, mas ambas devem ser confirmadas em análises histopatológicas 6. Vêm aumentando o número de registros de outros tipos de dermatites em cetáceos no Brasil; entretanto, nem sempre a etiologia é definida, e elas são classificadas de acordo com as características descritivas 5. Lesões de textura aveludada e que durante a cicatrização se tornaram esbranquiçadas ou cinza-escuras foram observadas em espécimes de boto-cinza da baía de Sepetiba, RJ 5. Lesões vesiculares foram observadas em um espécime de boto-cinza no Amapá e ulceradas em um golfinho-nariz-de-garrafa no RJ 5,55. Doenças parasitárias Os parasitas são os principais agentes identificados que causam problemas de saúde e encalhes em mamíferos marinhos 70, porém a sua presença nem sempre está associada à

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Animais selvagens

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severas 13,57,81 (Figura 5). O número de parasitas pode chegar a mais de 75 num mesmo animal 82, podendo causar obstrução das vias aéreas, complicações cardiovasculares e reações de hipersensibilidade 83. Outro parasita do sistema respiratório é o Nasitrema sp, encontrado nos seios nasais e ocasionalmente no ouvido interno, mas que pode migrar e desenvolver encefalite, encefalomalácia e extensa necrose cerebral 79. No Brasil, o encalhe do golfinho-cabeça-de-melão foi associado ao parasita juntamente com Stenurus globicephalae 84, que provoca a stenurose, doença dos órgãos da percepção acústica dos odontocetos, e contribui para a desorientação do animal 85. Intensa infestação de S. globicephalae também foi verificada na bula timpânica em baleia-piloto-de-peitorais-curtas, Isabela Guarnier Domiciano/UEL

Figura 2 - Braunina cordiformis encapsuladas e aderidas ao estômago principal de boto-cinza (seta). UEL Isabela Guarnier Domiciano/UEL

causa da morte ou mesmo a lesões 71,72. Dessa forma, apenas os casos em que os parasitas estavam envolvidos em processos patológicos ou em que a patogenicidade ainda é incerta foram incluídos na revisão. Os protozoários Giardia sp e Toxoplasma gondii foram identificados em botos-cinza do estado do Ceará e do Rio de Janeiro, respectivamente. No primeiro caso, o animal se apresentava caquético e desidratado, e o exame interno mostrou conteúdo líquido preto viscoso no trato gastrintestinal e espessamento da parede intestinal. Na microscopia, observou-se enterite moderada, degeneração hidrópica do fígado, congestão, petéquias e edema pulmonar, hiperplasia da polpa branca no baço e hemorragia difusa discreta nos rins 73. No segundo caso, o animal apresentava extensas áreas de necrose no fígado, linfonodos, pulmão, adrenais, pâncreas e fungo oportunista nos brônquios pulmonares 74. A diversidade de endo e ectoparasitas metazoários chega a aproximadamente 27 espécies morfologicamente reconhecidas e registradas em mais de 23 espécies de cetáceos no Brasil 75. A maioria dos parasitas apresenta ciclo indireto, e a dieta é a principal fonte de infecção 13. No Nordeste, foram verificadas 11 espécies de metazoários em 15 espécies de cetáceos, sendo os nematoides Anisakis sp e Halocercus sp e os merocercoides Phyllobothrium delphini e Monorygma grimaldii os de maior prevalência 76. O nematoide Anisakis sp é transmitido após a ingestão de peixes parasitados e provoca a anisaquíase, decorrente da invasão e da ulceração da mucosa dos compartimentos estomacais de diversos cetáceos 13,77. No Ceará, exemplares desse parasita foram observados em golfinho-climene, Stenella clymene, golfinho-cabeça-de-melão, cachalote-pigmeu, Kogia breviceps, e golfinho-rotador, que apresentavam úlceras agudas, com edema e hemorragia, e crônicas, com inflamação linfoplasmocitária e granulomatosa e fibrose 77. Em SP, foi observada infecção granulomatosa na submucosa do estômago de cachalote-anão, Kogia sima 13. O trematódeo Braunina cordiformis foi observado nos compartimentos estomacais de botos-cinza no PR 78, golfinho-pintado-do-atlântico e golfinho-de-dentes-rugosos de SP 13. Esses parasitas são revestidos por uma cápsula fibrosa e aparentemente não afetam o hospedeiro 79 (Figuras 2 e 3). Em toninhas, foi observado no intestino o trematódeo Synthesium pontoporiae (denominado anteriormente Hadwenius pontoporiae), acompanhado de enterite crônica difusa discreta, porém sem lesões significativas que afetem o estado de saúde do hospedeiro 13. O Halocercus sp habita a luz dos brônquios e bronquíolos dos cetáceos, com a parte anterior aderida ao parênquima pulmonar 79 (Figura 4). A transmissão ocorre pela via transplacentária ou, indiretamente, pela dieta 15. Sugere-se a eliminação das larvas pelo orifício respiratório e pelas fezes 15,80. Na análise macroscópica dos pulmões de botos-cinza do PR e SP, golfinho-listrado e golfinho-nariz-de-garrafa de SP e do RS, observou-se congestão pulmonar de moderada a severa, fluido espumoso nas vias aéreas, abscesso lobar multifocal e pleuropneumonia fibrinosa, e na microscopia, pneumonias intersticiais e broncopneumonia crônicas, de moderadas a

Figura 3 - Aspecto microscópico do parasita Braunina cordiformis. Notar órgãos e presença de ovos internos (seta). Objetiva: 4x. UEL

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Laboratório de Ecologia e Conservação/UFPR

Figura 4 - Parasitas nematoides do gênero Halocercus em bronquíolos de boto-cinza. Laboratório de Ecologia e Conservação/UFPR Isabela Guarnier Domiciano/UEL

Figura 5 - Corte transversal do parasita Halocercus sp na luz de bronquíolo de boto-cinza (seta). Notar área com infiltrado misto no parênquima pulmonar (cabeça de seta). UEL

Globicephala macrorhynchus 75, e na orelha média e interna de um golfinho-cabeça-de-melão que apresentava frequência respiratória e cardíaca irregular e sinais de desequilíbrio corpóreo 86. As larvas de Phyllobothrium delphini enquistam na gordura da região perigenital, estendendo-se até a nadadeira dorsal e o pedúnculo caudal quando em grande quantidade; já Monorygma grimaldii enquistam na cavidade abdominal, ao redor da região genital, no mesentério do ovário, nos testículos e na porção colorretal. Esses cestoides ainda são encontrados livres na luz gástrica, intestinal e no ducto biliar 87,88. Os cetáceos são hospedeiros intermediários, e a localização dos parasitas no abdômen facilita a ingestão pelos tubarões, os hospedeiros definitivos 88. No Nordeste brasileiro, dez espécies de cetáceos apresentaram pelo menos um dos parasitas 76. Um espécime de golfinho-climene apresentou na histopatologia paniculite crônica granulomatosa severa na gordura da região enquistada do pedúnculo caudal 89. Durante necropsia em um golfinho-listrado encalhado na

ilha Comprida, SP, observou-se infecção por cistos de Monorygma grimaldii, Halocercus brasiliensis e anisaquídeos. A elevada carga parasitária provavelmente levou ao baixo peso corpóreo, com consequente encalhe e morte do animal 90. Cestoides P. delphini e Diphyllobothrium sp foram amostrados em um espécime de baleia-piloto-de-peitorais-curtas na Bahia, porém a morte estava relacionada aos mais de 700 nematoides S. globicephalae encontrados no meato auditivo 85. As larvas de Crassicauda sp podem causar inflamação, esclerose das artérias, abscessos e falência renal na fase adulta 91, além de parasitar glândulas mamárias e os seios craniais, causando perfurações no osso pterigoide 37. No Brasil, foram observados no diafragma, na musculatura supraescapular e no pênis sem lesão associada, porém foi observado abscesso na pleura de cachalote-pigmeu contendo o parasita 75 e lesões no osso pterigoide em boto-cinza no RJ 55. Para o aprimoramento dessas análises e possibilitar relações com as doenças, é necessária a utilização de métodos padronizados para colheita do material 76 e integração com análise histopatológica dos tecidos envolvidos. Neoplasias Relatos de tumores em golfinhos são escassos no Brasil. Foram registrados carcinoma de células escamosas do tipo acantolítico na epiderme do rostro e rabdomiossarcoma na musculatura lateral de um golfinho-de-dentes-rugosos no Ceará 89. Foi verificado um osteoma na costela de uma orca, Orcinus orca, no RJ 92. Interações interespecíficas diretas e indiretas A caça predatória aos cetáceos constituiu uma das ameaças mais óbvias e imediatas ao longo do século XX, porém outros tipos de impactos foram evidenciados nas últimas décadas, como a morte em redes de pesca, a exposição a contaminantes químicos, a sobrepesca, a colisão com embarcações e a ingestão de resíduos sólidos 17,93,94. A morte de cetáceos em rede de pesca é reportada no mundo todo. No Brasil, o boto-cinza e a toninha são bastante afetados por essa interação antrópica, devido à ocorrência desses animais em áreas costeiras e estuarinas 95,96. Quando os animais não morrem diretamente asfixiados e conseguem se soltar das redes, podem permanecer com partes delas atadas ao corpo, o que muitas vezes agrava a lesão inicial 55,97 e facilita o acesso de patógenos. Pedaços de rede associadas a lesões no corpo e prováveis amputações em decorrência dessa interação foram fotoidentificados em dez espécimes de botos-cinza no RJ, e em cinco espécimes de toninhas no RS 97-99. Em outro caso, um espécime de boto-cinza morto em captura acidental com lesões crônicas na extremidade posterior do rostro apresentava pedaços de rede diferente da que foi responsável pela morte do animal. A análise das camadas dos dentes lesionados mostrou que a primeira captura, não letal, havia ocorrido aos três anos de idade, porém o animal ficou com sequelas que podem ter dificultado a natação e a alimentação 100. No Ceará, um golfinho-dedentes-rugosos apresentou fratura nas falanges da nadadeira

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Animais selvagens peitoral, e um boto-cinza, na escápula 89. Marcas de rede no corpo, edema, enfisema, hemorragia e congestão pulmonares também são indicativos de captura incidental 57,101. Animais já doentes podem ser mais suscetíveis a essa interação antrópica. No PR, por exemplo, quatro espécimes de botos-cinza mortos por captura acidental em redes de pesca apresentavam edema, pneumonia intersticial e broncopneumonias crônicas severas por infecção parasitária 81,102. A morte por colisão direta com embarcações também é descrita no mundo todo. Ocorre durante a respiração ou durante as acrobacias aéreas dos animais, quando eles ficam presos na proa de grandes navios, ou por cortes causados pelas hélices. Nesses casos, cortes paralelos e com distâncias simétricas, fraturas ósseas craniais e pós-craniais, hematomas, hemorragia e a presença de êmbolos gordurosos nos vasos pulmonares são indicativos de colisão 103. No Brasil, há relatos de lesão ou morte decorrente da colisão com embarcações em baleias-francas-austrais, Eubalena australis, no RS, baleias-de-bryde, Balaenoptera edeni, no RJ, baleias-jubarte e botos-cinza no RJ e em SP, e em golfinho-rotador em Fernando de Noronha 98,103,104. No PR, duas fêmeas de botos-cinza prenhes apresentaram hematoma cranial e na região lateral do corpo, sugestivos dessa interação (Domit, C., comunicação pessoal). Em SC, filhotes de golfinhos-nariz-de-garrafa tiveram maior número de costelas fraturadas em relação aos juvenis, devido a colisão com embarcação ou ao comportamento de infanticídio 105. É importante uma avaliação cuidadosa dos hematomas e das fraturas, pois o gás produzido durante a putrefação faz com que os animais flutuem de ventre para cima, e a colisão pode ocorrer quando eles já estão mortos 103. Interações interespecíficas não humanas também causam lesões e mesmo a morte dos animais. Em SC, foi observada a interação entre três golfinhos-nariz-de-garrafa e um filhote de boto-cinza, na qual os primeiros separaram o botocinza do grupo e o agrediram com a cabeça, a cauda e as nadadeiras peitorais 106. Mordidas de tubarões da família Lamnidae e Carcharhinidae foram descritas em quatro espécies de baleias e oito espécies de golfinhos 107, e da família Dalaitiidae, gênero Isistius, em nove espécies de golfinhos, três espécies de baleias e uma de cachalote, Physeter macrocephalus 108, todos ocorridos no litoral da BA. Mordidas de Isistius sp foram consideradas a causa mortis de infantes de golfinho-cabeça-demelão, golfinho-pintado-pantropical, Stenella attenuata, e falsa-orca 108. Há também relato de um exemplar de boto-cinza encontrado morto junto a uma raia-de-coroa, Dasyatis americana, cujo esporão havia perfurado o ventre e atingido a porção final do intestino delgado do boto-cinza 109,110. Outro impacto nos cetáceos é a ingestão de resíduos sólidos, principalmente plásticos, que podem obstruir passagens ou mesmo romper a parede gástrica 111,112, como reportado em um golfinho-de-dentes-rugosos no Ceará, que se apresentava caquético, sem capacidade de nadar 113. Na necropsia, duas sacolas plásticas e esponjas do mar obstruíam a luz do estômago, e havia também úlceras, provocadas 106

provavelmente pelo excesso de suco gástrico 113. Na BA e no RS, diferentes itens de materiais inorgânicos foram observados no conteúdo estomacal de cetáceos e foram relacionados à morte dos animais: lacres de latas de cerveja e refrigerante no boto-cinza, pedaços de redes de pesca e sacolas plásticas na baleia-bicuda-de-cuvier, na toninha e no golfinho-derisso e tampinhas de refrigerante em baleias-jubarte 93,114. Considerações finais Os relatos de doenças e outros processos patológicos em cetáceos no Brasil demonstram a quantidade de fatores impactantes ou estressantes aos quais estão expostos e as lacunas de conhecimento quanto ao estado de saúde desses animais. O tempo de acompanhamento dos indivíduos debilitados ou doentes, o estágio de decomposição dos animais quando resgatados mortos e a capacidade logística da equipe de pesquisadores, incluindo a presença de um patologista, costumam ser determinantes para as análises clínicas e necroscópicas. Assim, é importante que os profissionais atuantes nessa área incorporem à sua rotina de trabalho protocolos que contemplem, além de informações geográficas e biométricas, descrições macroscópicas de alterações patológicas e, quando possível, a colheita e a manutenção correta de amostras para exames parasitológicos, histopatológicos e microbiológicos. A capacitação de equipes e o desenvolvimento de procedimentos devem contribuir para determinar o estado de saúde dos cetáceos e aprofundar o conhecimento da qualidade dos ambientes marinhos, subsidiando ações para a conservação das espécies que ocorrem na costa brasileira e de seus habitats. Agradecimentos Ao CNPq pela concessão de bolsa de mestrado a Isabela Guarnier Domiciano, bolsa de produtividade em pesquisa a Ana Paula F. R. L. Bracarense e bolsa do Projeto CTHidro concedida ao estudo de doutorado de Camila Domit. À Consiliu Meio Ambiente e Projetos, à ONG IPeC e ao Instituto Baleia Jubarte pelo apoio logístico durante as coletas de material biológico nos estados do Paraná e da Bahia, respectivamente. Referências

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PET FOOD

Salmonella zero nas farinhas de origem animal

O

O IV Congresso Internacional e XI Simpósio sobre Nutrição de Animais de Estimação promovido pelo CBNA, realizado nos dias 8 e 9 de maio, assim como as demais edições, foi bastante produtivo. Este ano, o encerramento do congresso contou com mesa redonda organizada em conjunto com o Sindicato Nacional dos Coletores e Beneficiadores de Subprodutos de Origem Animal (SINCOBESP). O tema abordado foi “Qualidade das farinhas de origem animal”. Trata-se da principal fonte de proteína para a indústria pet food, além de conferir palatabilidade ao produto e representar o aproveitamento de um coproduto da cadeia de produção de carne para a nutrição humana, com ganho ambiental muito importante. No entanto, sua utilização precisa de constantes ajustes, a serem feitos entre produtores (fornecedores de farinhas de origem animal) e consumidores (indústria pet food)”. A parede física que manteve separados o congresso do CBNA e o simpósio do SINCOBESP foi simbolicamente abolida durante a mesa redonda e promoveu intenso diálogo. As pessoas efetivamente falaram suas necessidades e ouviram demandas de outrem. Na prática, ela aproximou os participantes dos diferentes setores. Inclusive, se tivesse sido programada para ser realizada na abertura dos eventos, ao invés de encerrá-los, o rendimento do aproveitamento técnico e comercial poderia ter sido bem maior. Qualidade em debate Lucas Cypriano (representante da ABRA – Associação Brasileira de Reciclagem Animal) deu início às apresentações na mesa redonda passando dados numéricos e comentando a discordância do setor com relação a pretensões do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) em tornar mais rígidos alguns padrões exigidos para farinhas e gorduras de origem animal. Argumentou que o setor abastece não só mercados com padrões mais estreitos quanto a níveis de peróxidos e de ácidos graxos livres. As graxarias fornecem 112

também a alguns mercados que aceitam produtos com níveis mais frouxos, e impor índices muito elevados inviabilizaria inclusive a sobrevivência de várias empresas. Além disso, questionou a metodologia a ser adotada, que não é a escolhida na maioria dos países do exterior e que intrinsecamente tem grande desvio padrão, não tendo base científica que a sustente. Sugeriu que o trabalho dos fiscais é mais importante. Posteriormente, da plateia, a médica veterinária Marina Galvão, da MGALVAO Assessoria, que atua na área pet food há 16 anos, contrapôs: “O MAPA não tem fiscais em número suficiente e, embora as exigências do Ministério ainda fiquem muito aquém do que o mercado pet food necessita, o fato das regras tornarem-se mais exigentes ajudaria sim à melhoria no padrão dos ingredientes demandados pela indústria pet food”. Entre os participantes presentes na audiência era possível ouvir os comentários paralelos acontecendo. Alderley Zani Carvalho, do Grupo Guabi, fez então uma apresentação objetiva e didática: “Vocês perguntaram o que nós do setor pet food queremos dos produtos de vocês, então eu vou dizer”, foi como começou. Na sequência de slides apresentou as necessidades de boas práticas de fabricação, rastreabilidade dos itens, higiene, composição bromatológica constante, ausência de salmonella, entre outras. Um participante da plateia, dirigindo-se aos representantes do setor pet food, comentou que tem vivido a situação de investir na melhoria do processo, em maquinário inclusive e, no entanto, ter os seus produtos preteridos pela indústria de alimentos para animais de estimação, por ter o preço um pouco maior. Propôs então que a indústria pet food valorize a diferenciação das empresas que investem em produtos com maior qualidade, pagando o preço justo. Alexandre Ferreira, da BC Empr. e Part., entre os palestrantes da mesa redonda, falando pelo setor de reciclagem animal, afirmou que o setor de pet food presta um grande serviço ao não comprar de empresas recicladoras

que não têm qualidade. Concluiu dizendo que isto é muito importante para o aprimoramento do setor, que a empresa que tenha qualidade venha a ser a favorecida pelos consumidores. Marcelino Bortolo, gerente industrial técnico da Brazilian Pet Foods, comentou outra necessidade da indústria pet food: a homogeneidade dos níveis nutricionais das farinhas. Quando estes produtos têm níveis de proteína, gordura e matéria mineral muito diferentes em cada lote ou mesmo diferentes do padrão que a indústria espera daquela recicladora, a formulação do alimento final sofre variações que prejudicam o equilíbrio nutricional daquele produto. Aventou-se a hipótese de transferir para a indústria pet food a tarefa de fazer as farinhas chegarem aos níveis exatos que exige, cabendo ao setor de reciclagem entregar a matéria “bruta”. Até a semântica foi incluída no debate. O setor de reciclagem explicou que fabrica “produtos”, e não “coprodutos” ou “subprodutos”, e é importante que eles sejam chamados assim. Da mesma forma, o setor de pet food elucidou que produz “alimentos”, e não “rações”, e isso já fala muito sobre o nível de qualidade dos ingredientes que escolhe. O prof. dr. Aulus C. Carciofi, docente da FCAV/Unesp – Jaboticabal-SP, coordenador da mesa redonda, encerrou enfatizando a necessidade de que as farinhas a serem utilizadas pela indústria de pet food tenham salmonella zero e níveis de peróxidos e de ácidos graxos livres o mais próximos do zero. Uma nova oportunidade para aprofundar conhecimentos nesse segmento será o VI Curso Teórico-Prático de Nutrição de Cães e Gatos, de 30/11/2012 a 06/12/2012, em Jaboticabal, SP. Informações: http://nutricao.vet.br/ curso_teorico_pratico.php.

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Cristiana S. Prada omelhorparaoseucliente@nutricao.vet.br

Médica veterinária, Ms nutrição.Vet - www.nutricao.vet.br



COMPORTAMENTO

Aspectos físicos e emocionais decorrentes de maus-tratos

A

preocupação crescente com o bem-estar animal trouxe a necessidade de identificar os sinais de crueldade contra os animais e os componentes envolvidos nos traumas não acidentais 1. Um protocolo elaborado pela patologista Helen Munro propõe a aplicação da mesma sistemática

Muitos dos problemas de comportamento encontrados nas consultas podem ter origem em maus-tratos emocionais não intencionais Fatores de risco

Indicadores

Fatores que envolvem a família

1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Fatores evidenciados no exame clínico do animal vitimado Fatores referentes aos animais

Fatores referentes ao agressor humano

adotada para o diagnóstico da Síndrome da Criança Espancada como um norteador para verificação de crueldade com animais 2. Munro denominou o trauma não acidental em veterinária como Síndrome do Animal Espancado e, de forma análoga ao da criança, a caracterizou como um dos tipos de violência doméstica. Afirma ainda que alguns critérios aplicados para orientar o diagnóstico da Síndrome da Criança Espancada são úteis nos casos suspeitos de crueldade em relação aos animais. Para isto, a pesquisadora classifica fatores de risco e indicadores de crueldade física contra animais, apresentados na figura 1. Dentre estes fatores, destacamos que as alterações comportamentais (agressividade, ansiedade por medo, sociopatia, vocalização, eliminação inadequada e automutilação) presentes no exame clínico do animal vitimado têm merecido menor atenção. E isto, apesar de revelarem o estado emocional daquele animal. Sabe-se que o desconforto, a ansiedade e o sofrimento derivam de deficiência nos cuidados, de falha no reconhecimento das necessidades específicas da espécie e das marcas emocionais dos traumas físicos – condições estas que afetam os componentes psicológicos de bem-estar animal. Portanto, as necessidades psicológicas, sociais, emocionais e físicas são elementos fundamentais para o animal manter sua homeostase psíquica e física, ou seja, suas funções

Relatos discrepantes sobre o trauma; Envolvidos não querem ou não conseguem explicar o que ocorreu no episódio do trauma; Explicações sobre o trauma são vagas; Narrativa não é compatível com a gravidade da apresentação clínica; Não há demonstração de preocupação com o animal – naturalização do trauma; Recorrência de acidentes com animais no ambiente familiar; Nos acidentes recorrentes são acionados distintos serviços de saúde e profissionais para dificultar a detecção das causas reais; 8. Episódios ou mortes violentas entre os membros humanos da família. 1. Traumas múltiplos; 2. Lesões com estágios evolutivos distintos; 3. Sinais comportamentais não usuais no animal. 1. Raça: pit bulls e rottweilers; 2. Sexo: machos caninos; 3. Idade: cães e gatos menores de dois anos de idade e idosos. 1. Sexo masculino; 2. Usuários de drogas; 3. Pertencentes a segmentos sociais menos favorecidos; 4. Portadores de Síndrome de Münchausen.

Figura 1 - fatores de risco e indicadores de crueldade física contra animais 114

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normais As necessidades não satisfeitas em situações nas quais os animais são incapazes ou fracassam na tentativa de resolvê-las causam prejuízos persistentes ao bem-estar. É razoável acreditar que experimentando sentimentos desagradáveis os animais busquem sair desta condição, mas o confinamento os impede. A perda do controle sobre a própria vida para promover mudanças significativas diante de situações desagradáveis/sofrimento é uma das necessidades emocionais mais afetadas nestes casos. Provavelmente, muitos dos problemas de comportamento referidos em consultório veterinário tenham origem em maus-tratos emocionais não intencionais. Estes são responsáveis por estresse/distresse com sequência de alterações de comportamento que incluem medo, fobias, ansiedade, isolamento, frustração, depressão e agressividade. Além disto, muitas alterações físicas estão associadas a perturbações emocionais. Surge um ciclo com nível de gravidade variada em que animais com comportamentos indesejados sofrem maus-tratos (rejeição, ruptura de vínculo, punições físicas, confinamento, privação social) e a negligência/abuso desencadeia ou perpetua os problemas comportamentais. Um exemplo cada vez mais frequente é a falta de intera-

ções sociais entre seres da mesma espécie, o isolamento que sofrem os caninos, promovendo estados de ansiedade, comportamentos compulsivos, automutilações e com efeitos devastadores nas suas vidas. Alguns autores afirmam que os cães, além do amor incondicional, expressam necessidades incondicionais e desatendidas. Somente a compreensão das necessidades emocionais dos animais e as motivações para manifestar comportamentos inadequados podem evitar as condições de maus-tratos. Referências

1-FARACO, C.B.; SEMINOTTI, N. A crueldade com animais : como identificar seus sinais? O Médico Veterinário e a prevenção da violência doméstica. Brasília: Revista CFMV, v. 37, p. 66-71, 2006 2-MUNRO, H.M.C. Battered pets. Irish Veterinary Journal, 49, 712-713, 1996.

Profa. dra. Ceres Berger Faraco

Instituto de Saúde e Psicologia Animal (INSPA) www.psicologiaanimal.com.br Médica veterinária, clínica de comportamento animal, doutora em psicologia e presidente da AMVEBBEA (Associação Médico-Veterinária Brasileira de Bem-Estar Animal) www.amvebbea.com.br

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LIVROS

Guia de Conduta para o médico veterinário

Dr. Rodrigo Rabelo durante demonstração de ressuscitação cardiorrespiratória no estande da Royal Canin, no 33º Congresso Brasileiro da Anclivepa, evento em que Rabelo também marcou presença autografando exemplares do Guia de conduta para o médico veterinário – Intensivet, que acaba de publicar pela MedVet

Qualidade, confiança e economia são alguns dos pontos positivos do uso de condutas que padronizem os procedimentos de atendimento aos pacientes, defendido por Rodrigo Cardoso Rabelo no Guia de conduta para o médico veterinário: Intensivet, lançado pela Editora MedVet em abril, durante o 33º Congresso Brasileiro da Anclivepa. Presidente da Sociedade Latino Americana de Medicina Veterinária de Emergência e Cuidados Intensivos (laveccs.org), Rabelo sempre esteve envolvido com a capacitação de interessados nessa especialidade. A obra tem início com orientações gerais sobre a conduta profissional, a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e a apresentação do Núcleo de Veterinária Avançada (Intensivet). Os demais capítulos abordam: • rotina do plantão; • orientações para estagiários e alunos de curso; • política de direitos do paciente veterinário e seu proprietário; • rotina de atenção emergencial na recepção; • rotina dos consultórios • rotina do bloco cirúrgico; • normatização da avaliação pré-operatória; • rotina do internamento; • fichas de uso interno Editora MedVet: (11) 2918-9154 medvetlivros@uol.com.br www.medvetlivros.com.br

Anestesia Veterinária O livro Anestesia veterinária para acadêmicos e iniciantes, de autoria de José Fernando Ibañez, recém-publicado pela Medvet, é leitura essencial para todos os que se interessam pela anestesia. Ibañez apresenta a anestesiologia veterinária de forma clara e objetiva, em linguagem acessível, descrevendo os efeitos dos fármacos anestésicos e adjuvantes nos diferentes sistemas, bem como suas características individuais, indicações e protocolos. O passo a passo de cada procedimento é comentado detalhadamente de forma clara e objetiva, fazendo o leitor acompanhar cada momento da anestesia.

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MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

T

Novo Código Penal: temos SIM que comemorar!

enho acompanhado a insegurança e aflição vivida por pessoas ligadas à "causa animal", no que se refere aos resultados da aprovação por parte da comissão especial de juristas do Senado, encarregada de elaborar proposta para um Novo Código Penal Brasileiro. Um dos objetivos da referida comissão é reunir no anteprojeto normas penais previstas em leis esparsas, como é o caso da Lei Federal 9.605/98, que trata dos crimes ambientais. Tal procedimento é compreensível, tendo em vista que muitas leis extravagantes foram criadas em nosso ordenamento jurídico por falta de previsão no Código Penal Brasileiro, sendo esta a oportunidade para atualizá-lo. Portanto, a intenção dos juristas em incluir os crimes ambientais no texto do Código Penal (dentre eles o crime de maus-tratos e tráfico de animais), a meu ver, demonstra respeito e tratamento mais protetivo aos crimes desta natureza.

Dentre os resultados da aprovação está o aumento de penas já existentes em vários artigos da Lei extravagante 9.605/98, em quantia suficiente para mudar completamente neste país o quadro dos crimes de maus-tratos contra animais e outros crimes previstos na referida Lei Federal Ambiental. O suficiente também para retirar dos autores de crimes desta natureza todos os privilégios que a Lei 9.099/95, que dispõe sobre crimes de baixo potencial ofensivo, tem lhes garantido, como assinar um termo de compromisso para comparecer ao juizado especial criminal quando intimado, e voltar para casa logo após matar um gato a pauladas, atear fogo em um cavalo ou arrastar um cão amarrado em um veículo. Com o aumento dessas penas máximas, que em alguns casos chegam a mais de seis anos de prisão (levando em consideração as qualificadoras), referidos crimes deixam de ser considerados de menor potencial ofensivo, e o autor

Fiança para crime de maus tratos poderá chegar a 100 salários mínimos 118

poderá ser preso em flagrante delito sem a proteção de uma série de benefícios oferecidos pela Lei 9099/95. Portanto, o indivíduo que for pego maltratando um animal, de acordo com essas mudanças, poderá será preso em flagrante delito, e se a pena máxima do artigo 32 da Lei 9.605/98 realmente aumentar para quatro anos de prisão, o malfeitor poderá pagar uma fiança que será estipulada de acordo com o entendimento do delegado de polícia, no valor de até 100 (cem) salários mínimos. Se o autor exibir a quantia, poderá responder ao processo em liberdade. Caso contrário, será encaminhado para a cadeia. Se o animal vier a óbito devido aos maus-tratos, a pena máxima será de seis anos de prisão e o autor não terá direito à fiança caso seja preso em flagrante delito. Se realmente as penas forem aumentadas de acordo com a proposta, não serão registrados mais termos circunstanciados de ocorrências para casos desta natureza, mas somente instaurados inquéritos policiais, e, provavelmente, isto implicará na demanda da criação de delegacias de polícias especializadas e mais estruturadas, e não somente setores especializados. É possível enxergar, por este ângulo, o quão importante serão estas mudanças? No que se refere à criação dentro do Código Penal de um artigo que prevê como crime o abandono de animais, isto vem a complementar, acrescentar e auxiliar a punir indivíduos que praticam tal covardia, pois atualmente existem entendimentos de que o abandono na via pública de um cão saudável e jovem e que não traga riscos à vida ou integridade física de pessoas, não caracteriza fato criminoso, muito menos os maus-tratos previstos no artigo 32 da Lei 9605/98. Acrescentou-se, ainda, parágrafos relevantes no crime de maus-tratos (art. 32, que passou a ter pena de

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prisão de um a quatro anos) que preveem qualificadoras nos casos de lesão grave ou permanente do animal, com aumento de um sexto a um terço da prisão, sendo que se o animal vier a óbito o aumento será pela metade (até 6 anos de cadeia). O crime de tráfico de animais também obteve atenção especial dos juristas, que propuseram aumento de pena de dois a seis anos de prisão. Não esqueçamos que há poucos dias as entidades protetoras e pessoas ligadas à causa animal tinham a grande preocupação em evitar que o crime de maus-tratos fosse extinguido durante a Reforma do Código Penal, ou que os juristas transformassem em penas de multa. Para que isso fosse evitado, as pessoas se uniram através de um canal de comunicação direto (on-line) com o Senado, e mais de 60 (sessenta) mil

assinaturas em documento impresso, propondo maior rigor na legislação, foram entregues à comissão, o que sem dúvida ajudou a conquistar a aprovação dessas importantes mudanças. Temos sim o que comemorar... Conseguimos o primeiro grande passo e precisamos continuar unidos e confiantes a fim de que essas propostas sejam aprovadas pela outra Casa Legislativa e, finalmente, sancionadas pela presidente da República. Devemos evitar comentários que possam desestabilizar essa onda de energia positiva criada por todos e que, sem dúvida alguma, alcançou o coração dos legisladores brasileiros. Entendo que, se essas mudanças forem finalmente aprovadas, muito poderemos fazer para combater efetivamente os maus-tratos aos animais, sob o ponto de vista jurídico, o que, com certeza,

refletirá de forma positiva a inibir a prática dos crimes desta natureza, já que o autor que for autuado em flagrante maltratando um animal será recolhido em uma cadeia, ou, na melhor das hipóteses, terá que desembolsar uma fiança que poderá chegar ao valor equivalente a 100 (cem) salários mínimos... É só calcular e refletir se realmente não há motivos para comemorarmos!

Fonte: crueldadenuncamais.com.br

Rosana Vescovi Mortari Delegada de Polícia - Setor de Proteção ao Animais e Meio Ambiente de Campinas. Protetora e ativista

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LANÇAMENTOS

PROTEÇÃO PARA AS ARTICULAÇÕES

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Agener União, empresa que se destaca no mercado veterinário com uma ampla linha de produtos lança mais um produto voltado para a saúde e o bem-estar animal: o Procart, suplemento alimentar para cães e gatos, desenvolvido especialmente para fortalecer o tecido cartilaginoso, protegendo as articuProcart é lações dos animais. encontrado em Procart é à base de condroitina, frasco com 60 glicosamina, Yucca e minerais, comprimidos palatáveis e proporcionando um efeito protetor sulcados sinérgico. Agener União: www.agener.com.br

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COSMÉTICOS HAIR & SKIN CARE

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s conceitos vegetais para cosméticos e tratamentos hair & skin care têm crescido cada vez mais devido ao menor impacto que causam ao meio ambiente e à saúde das pessoas. Pensando na saúde e bem-estar também dos cães, a JMA J’adore mes amis trouxe este conceito para o segmento pet care com a linha Le Bidou Tea Tree. Os ingredientes que fazem o diferencial da linha são: óleo de melaleuca (tea tree), extrato de cupuaçu e chá verde. Os produtos são livres de parabenos, silicones e petrolato ou geléia de petrolato. JMA J'adore mes amis: jmabr.com.br 120

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ACUPUNTURA

Agosto de 2012 Campinas - SP Técnicas avançadas em medicinas energéticas e medicina tradicional chinesa (19) 3208-0993 Agosto de 2012 a julho de 2014 Botucatu - SP Bioethicus - Pós-graduação Latu Sensu - acupuntura veterinária (14) 3814-6898 4 e 5 de agosto Campinas - SP I Curso de técnicas especiais em acupuntura japonesa em pequenos animais www.reabivet.com.br 18 e 19 de agosto Belo Horizonte - MG Curso de acupuntura veterináriaInst.Jacqueline Peker (19) 3208-0993 16 a 18 de novembro Campinas - SP I Curso de hidroterapia em pequenos animais - teórico/prático www.reabivet.com.br

ANESTESIOLOGIA

23 a 25 de julho Viçosa - MG CPT - Curso de anestesias em pequenos animais (31) 3899-8300

13 a 14 de abril de 2013 Inscrição: 1/10/12 a 30/11/12 São Paulo - SP PAV - Pós-graduação (Lato sensu) Anestesiologia veterinária (14) 3814-6898

ANIMAIS SELVAGENS

1 a 15 de agosto São Bernardo do Campo - SP Clínica médica e cirúrgica de animais silvestres e exóticos www.animalia.vet.br 25 e 26 de agosto São Bernardo do Campo - SP Animalia - Curso teórico-prático de manejo e clínica de répteis www.animalia.vet.br 4 de setembro a 13 de novembro São Paulo - SP Silvestres (mamíferos) - Provet (11) 3579-1431 15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Lato Sensu - Manejo, clínica médica - cirúrgica e conservação de animais silvestres (11) 3567-4401 25 de setembro a 13 de novembro São Paulo - SP Curso intensivo de clínica e cirurgia de répteis (teórico e prático) Mód. 2 (11) 3579-1431

1 e 2 de setembro São Paulo - SP III Simpósio em anestesiologia veterinária - APAV (11) 7897-1090 www.apavet.com.br

30 de setembro a 5 de outubro Florianópolis - SC XV Congresso - XXI Encontro ABRAVAS - Associação Brasileira de Veterinária de Animais Selvagens www.abravas2012.com.br

6 e 7 de abril de 2013 Inscrição: 1/10/12 a 31/03/13 Lauro de Freitas - BA PAV - Pós-graduação (Lato sensu) Anestesiologia veterinária (14) 3814-6898

7 a 11 de outubro Sorocaba - SP Animalia - Curso teórico-prático de medicina de animais de zoológico www.animalia.vet.br

130

20 e 21 de outubro Cananéia - SP Mini-Curso IPeC biologia e conservação de tartarugas marinhas (13) 3851-3055

outubro de 2012 São Paulo - SP Desvendando o ecocardiograma / SBCV www.sbcv.org.br

1 e 2 de dezembro São Bernardo do Campo - SP Curso teórico-prático de manejo e medicina de primatas animalia.vet.br

5 a 7 de outubro São Paulo - SP Eletrocardiografia - curso teóricoprático (11) 3579-1431

AUXÍLIAR VETERINÁRIO

Julho/2012 Via web - EAD CETAC - Curso on-line de auxiliar veterinário (11) 2305-8666

outubro a novembro de 2012 São Paulo - SP Módulos de auxiliar de enfermagem veterinária - teórico/prático Hovet Pómpeia (11) 3673-9455

CARDIOLOGIA

30 de julho a 3 de agosto São José do Rio Preto - SP Curso ecodopplercardiograma em pequenos animais (teóricoprático) (17) 3011-0927 6 e 7 de agosto Belo Horizonte - MG Anclivepa MG - Cardiologia (31) 3297 2282 15 de agosto São Paulo - SP SBCV - Encontro científico social www.sbcv.org.br 15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Lato-Sensu - Ecocardiografia em pequenos animais (11) 3567-4401 24 a 28 de setembro São José do Rio Preto - SP Curso "Cardiologia Clínica em pequenos animais - ECG, PA e Holter (Teórico-Prático)" (17) 3011-0927

Clínica Veterinária, Ano XVII, n. 99, julho/agosto, 2012

6 a 8 de outubro Porto Alegre - RS Atualização em ecodopplercardiografia - Qualittas 0800-725-6300 2 a 4 de novembro São Paulo - SP Primeiro Congresso de Cardiologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária www.sbcv.org.br 26 a 30 de novembro Jaboticabal - SP Curso teórico-prático de eletrocardiografia em cães e gatos - FUNEP (16) 3209-1300

CIRURGIA

24 a 27 de julho São Paulo - SP Curso AOVET avançado de pequenos animais www.cursosaobrasil.com.br 27 e 28 de julho São Paulo - SP CIPO - Curso de ortopedia – hastes e placas bloqueadas www.cipo.vet.br 28 a 30 de julho Viçosa - MG Curso de cirurgias em pequenos animais (31) 3899-8300 30 de julho a 1º de agosto Viçosa - MG Curso de cirurgias ortopédicas em pequenos animais (31) 3899-8300


3 de agosto Cascavel - PR Ortopedia e traumatologia em pequenos animais - Qualittas 0800-725-6300

Cirurgias de tecidos moles Módulo III - Penectomia / uretrostomia perineal em felinos - Hovet Pómpeia (11) 3673-9455

23 a 25 de agosto São Paulo - SP CIPO - Curso intensivo prático de ortopedia - básico (11) 3819-0594

20 de outubro a 4 de agosto de 2013 São Paulo - SP Curso de técnica cirúrgica (11) 2305-8666

20 a 22 de setembro São Paulo - SP CIPO - Curso de cirurgias da coluna vertebral www.cipo.vet.br 21 e 22 de setembro São Paulo - SP Cirurgias de tecidos moles módulo II - urinário cursos@hovetpompeia.com.br (11) 3673-9455 7 de outubro de 2012 São Paulo - SP

CLÍNICA

Início: 17 de agosto Belo Horizonte - MG Equalis - Pós graduação em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330 17 a 19 de agosto Viçosa - MG Curso de realização e interpretação dos principais exames labo-

ratoriais em pequenos animais (31) 3899-8300 17 a 19 de agosto Botucatu - SP Simpósio de Clínica Médica de Pequenos Animais - Módulo Gastroenterologia cmpabotucatu@yahoo.com.br 15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Clínica médica de pequenos animais - Lato Sensu (11) 3567-4401

8 de outubro a 11 dezembro São Paulo - SP I curso intensivo de atualização em terapêutica na clínica de cães e gatos www.anclivepa-sp.com.br 20 de outubro Botucatu - SP II Curso de controle da dor e medicina paliativa em animais (14) 3813-3898

COMPORTAMENTO

15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Análises clínicas veterinária Lato Sensu (11) 3567-4401

12 a 27 de agosto Via web - EAD Problemas de comportamento relacionados com eliminações inapropriadas em cães www.psicologiaanimal.com.br

29 e 30 de setembro Florianópolis - SC Anclivepa - SC - Palestra sobre otorrinolaringologia anclivepasc.com.br

1 de setembro a 2 de dezembro Curitiba - PR Curso de aperfeiçoamento em comportamento animal (41) 3205-5590

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3 e 4 de setembro Belo Horizonte - MG Comportamento - Anclivepa MG (31) 3297 2282

DERMATOLOGIA

19 e 20 de novembro Belo Horizonte - MG Anclivepa MG - Dermatologia (31) 3297 2282

ECOLOGIA

10 a 12 de setembro Salvador - BA 2º Congresso Brasileiro de Ecologia de Paisagens www.eventus.com.br/iale2012

ENDOCRINOLOGIA

6 de agosto a 25 de setembro São Paulo - SP III Curso intensivo de endocrinologia em cães e gatos www.anclivepa-sp.com.br 15 a 17 de novembro Búzios - RJ 2º CIABEV - Congresso Internacional da Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária www.ciabev.com.br

FISIOTERAPIA

4 e 5 de agosto São Paulo - SP Reabilitação pós-operatória (fraturas e cirurgias articulares e de coluna) fisiocarepet@gmail.com 27 a 29 de setembro São Paulo - SP Curso avançado e internacional de fisioterapia veterinária fisiocarepet@gmail.com 29 e 30 de setembro Botucatu - SP V Curso de especialização em fisioterapia e reabilitação veterinária - Bioethicus (14) 3814-6898 16 a 18 de novembro Campinas - SP I Curso teórico-prático de hidroterapia em pequenos animais Reabivet (19) 3294-5345 24 e 25 de novembro 1 e 2 de dezembro São Paulo - SP V Curso intensivo em fisioterapia veterinária fisiocarepet@gmail.com

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GESTÃO

julho de 2012 Curitiba - PR Análises de desempenho financeiro e formação de preços (41) 3205-5590 agosto de 2012 Curitiba - PR Gestão de compras e estoque / Gestão de produtos farmacológicos e imunobiológicos (41) 3205-5590

GERIATRIA

24 e 25 de agosto Joinville - SC Anclivepa - SC - Geriatria (11) 3579-1431 www.anclivepasc.com.br

IMAGINOLOGIA

25 de julho a 2 de agosto São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal em cães e gatos (teórico-prático + estágio complementar) (11) 3579-1431 www.provet.com.br Início: 27 de julho Incrições até: 25 de julho Curitiba - PR Atualização em ultrassonografia abdominal em animais de companhia - Equalis NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330 2 a 4 de agosto Viçosa - MG Curso de interpretação ultrassonográfica em pequenos animais (31) 3899-8300 4 a 6 de agosto Viçosa - MG Curso de interpretação radiográfica em pequenos animais (31) 3899-8300 6 a 10 de agosto São Paulo - SP Curso teórico de radiologia Crânio - Provet (11) 3266-2299

grafia em pequenos animais (19) 3365-1221 20 a 28 de agosto Rio de Janeiro - RJ Qualittas - Ultrassonografia abdominal e pélvica - cão/gato 0800-725-6300 25 de outubro a 25 de dezembro Campinas - SP Cursos extensivos (diagnóstico veterinário) (19) 3365-1221 5 a 9 de novembro São Paulo - SP Cursos Provet - Radiologia (teórico + estágio complementar) (11) 3579-1431 21 a 29 de novembro São Paulo - SP Ultrassonografia abdominal em cães e gatos (teórico e prático + estágio complementar) www.provet.com.br

INTENSIVISMO

21 e 22 de julho Brasília - DF Choque , fluidoterapia e controle de danos www.intensivet-cursos.com

20 e 21 de outubro São Paulo - SP Práticas hospitalares - Hospital Veterinário Pompéia/SP cursos@hovetpompeia.com.br (11) 3673-9455 24 e 25 de novembro Goiânia - GO Emergência de pequenos animais www.anclivepago.com.br 30 de novembro a 2 de dezembro São Paulo - SP Terapia Intensiva (teórico e prático + estágio complementar) www.provet.com.br

MEDICINA DE FELINOS

4 e 5 de agosto Goiânia - GO Curso de oncologia e quimioterapia de felinos www.anclivepago.com.br Início: 14 de agosto Via web - EAD Atualização em clínica de felinos - Equalis NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330

Início: 6 de agosto Via web - EAD CETAC - Medicina intensiva (11) 2305-8666

1º semestre de 2013 Fortaleza - CE Equalis - Pós graduação em clínica médica de felinos NE: 0800-7021088 SUL: 0800-7016330

18 e 19 de agosto Curitiba - PR Sepse - Fique por dentro dos novos conceitos - As pérolas da gastroenterite hemorrágica www.intensivet-cursos.com

15 de setembro (18 meses) São Paulo - SP Medicina veterinária legal - perito veterinário Lato Sensu (11) 3567-4401

8 e 9 de setembro Curitiba - PR Procedimentos invasivos (tubos, sondas e catétere) - Manejo e cuidados, evitando flebites e infecções www.intensivet-cursos.com

6 a 10 de agosto Porto Alegre - RS Curso extensivo: ultrassonografia em pequenos animais - Qualittas 0800-725-6300

15 e 16 de setembro Brasília - DF Aprenda tudo sobre Sepse e as perólas no tratamento do doente com gastroenterite hemorrágica www.intensivet-cursos.com

18 de agosto de 2012 a 17 de agosto de 2013 Campinas - SP Curso extensivo de ultrassono-

6 de outubro a 21 de abril de 2013 São Paulo - SP Curso de medicina intensiva (11) 2305-8666

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MEDICINA LEGAL

NEFROLOGIA

setembro de 2012 São Paulo - SP Nefrologia clínica de cães e gatos cursos@hovetpompeia.com.br (11) 3673-9455 17 e 18 de novembro Florianópolis - SC Anclivepa - SC - Palestra sobre urologia e nefrologia anclivepasc.com.br (11) 3673-9455

NEUROLOGIA

1 e 2 de outubro Belo Horizonte - MG Neurologia - Trauma de coluna (31) 3297 2282


10 de outubro a 10 de dezembro São Paulo - SP II Curso intensivo de neurologia em cães e gatos www.anclivepa-sp.com.br

NUTRIÇÃO

30 de novembro a 6 de dezembro Jaboticabal - SP VI Curso teórico-prático de nutrição de cães e gatos www.nutricao.vet.br

ODONTOLOGIA

8 de agosto a 27 de setembro São Paulo - SP I Curso intensivo de odontologia www.anclivepa-sp.com.br

OFTALMOLOGIA

6 de agosto Porto Alegre - RS Ultrassonografia oftálmica em cães e gatos - Qualittas 0800-725-6300

23 de agosto São Paulo - SP As novidades sobre catarata: do diagnóstico à cirurgia com sucesso (11) 3579-1431

agosto de 2012 São Paulo - SP Oncologia clínica de cães e gatos - Hovet Pómpeia (11) 3673-9455

15 e 16 de setembro São Paulo - SP Oftalmologia em cães e gatos (11) 3266-2299

18 e 19 de agosto São Paulo - SP Curso teórico de oncologia em cães e gatos (11) 3579-1431

29 e 30 de setembro São Paulo - SP Curso teórico-prático de oftalmologia em pequenos animais (11) 3085-8619 29 e 30 de setembro Goiânia - GO Oftalmologia de pequenos animais www.anclivepago.com.br

ONCOLOGIA

31 de julho a 3 de agosto Jaboticabal -SP Curso de oncologia em cães e gatos - FUNEP (16) 3209-1300

REPRODUÇÃO

4 e 5 de agosto São Paulo - SP Inseminação artificial (11) 3579-1431

SAÚDE PÚBLICA

21 e 22 de julho Palhoça - SC Palestra: leishmaniose visceral anclivepasc.com.br 23 a 25 de julho (turma 1) 25 a 27 de julho (turma 2) Fortaleza - CE Curso dinâmica populacional itecbr@gmail.com 6 a 10 de agosto Fortaleza - CE Curso FOCA Ceará itecbr@gmail.com

18 e 19 de agosto Curitiba - PR Reprodução em cães (41) 3205-5590

3 e 4 de agosto Porto Alegre - RS II Seminário Gaúcho de Leishmanioses inscricoes.leishmaniose@gmail.com

8 a 9 de dezembro São Paulo - SP Curso teórico e prático de inseminação artificial em cães (11) 3266-2299

25 e 26 de agosto Brasília - DF Seminário sobre leishmaniose visceral canina proanima@proanima.org.br

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SAÚDE PÚBLICA

10 a 14 de setembro Jundiaí - SP Curso de Formação de Oficiais de Controle Animal (FOCA) itecbr@gmail.com 23 a 27 de setembro Rio de Janeiro - RJ XVIII International Congress for Tropical Medicine and Malaria XLVIII and the Congress of the Brazilian Society for Tropical Medicine ictmm2012.ioc.fiocruz.br 24 a 26 de outubro Rio de Janeiro - SP 1ª Conferência brasileira em saúde silvestre e humana www.saudesilvestre.com.br 27 e 28 de outubro Belo Horizonte - MG IX Simpósio Internacional de Leishmaniose Visceral (31) 3297-2282 www.anclivepa-mg.com.br 23 a 25 de novembro Curitiba - PR III Conferência internacional medicina veterinária do coletivo e Simpósio: proteção animal e políticas públicas itecbr@gmail.com 13 a 17 de maio de 2013 Porto de Galinhas, PE Worldleish5 www.worldleish5.org

TAA

6 a 9 setembro São Paulo - SP I Simpósio Internacional de Atividades/Terapia/Educação Assistida por Animais - SINTAA www.sintaa.com.br

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Natal, RN - Brasil. Natal vai ser a cidade sede do 34º Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA de 2013. Com uma população próxima a um milhão de habitantes, tem clima agradável o ano todo, e o ar mais puro das américas. As praias são limpas, bonitas, de água morna e apropriadas para banho. Natal, assim como as outras capitais nordestinas, é sempre uma cidade surpreendente! www.anclivepa2013.com.br/turismo.php

SEMANAS ACADÊMICAS 27 de agosto a 1º de setembro Brasília - DF XIV SEVETUNB - Semana Acadêmica da Veterinária - UnB xiiisevetunb.webnode.com.br 28 a 30 de agosto São Paulo - SP Semana acadêmica de medicina veterinária - UNIP-SP semevep@hotmail.com 1º a 30 de setembro Niterói - RJ XXXV SEMAMBRA - Semana Acadêmica Américo Braga www.uff.br/semambra 11 a 15 de setembro Bauru - SP UNIP - Semana Acadêmica Veterinária 2012 semavet2012unip@hotmail.com 15 a 23 de setembro São Bernardo do Campo - SP XIV SAMVET 2012 www.davetmetodista.com.br

8 a 10 de outubro São José dos Campos - SP UNIP - São José dos Campos Semana Acadêmica Veterinária 2012 semavet2012unip@hotmail.com

FEIRAS CONGRESSOS 8 a 10 de agosto Rio de Janeiro - RJ Pet Rio Vet Conferência Sulamericana de Medicina Veterinária www.petriovet.com.br 9 a 11 de setembro Goiânia - GO Encontro dos médicos veterinários do Estado de Goiás www.crmvgo.org.br 13 a 15 de setembro Fortaleza - CE All About PetShow 2012 www.allaboutpetshow.com.br 21 a 23 de setembro São José do Rio Preto - SP Feira Pet feirapetriopreto@gmail.com

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30 de setembro a 5 de outubro Florianópolis - SC XV Congresso - XXI Encontro da ABRAVAS www.abravas2012.com.br 16 a 18 de outubro São Paulo - SP Pet South America e Congresso Paulista das Especialidades www.petsa.com.br 1 a 4 de novembro Florianópolis - SC X Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária (48) 3047-7600 4 a 6 de dezembro Santos - SP 39º CONBRAVET Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (11) 3209-9747 www.conbravet2012.com.br 8 a 11 de maio de 2013 Natal - RN 34º Congresso Brasileiro da ANCLIVEPA www.anclivepa2013.com.br



NUTRIÇÃO

Internacional ANIMAIS SELVAGENS

22 a 25 de novembro San Martín de los Andes Argentina Feria de Aves de Sudamérica South America Bird Fair www.feriadeaves.com.ar

23 a 26 de outubro Puerto Vallarta - México V Congreso CLANA - Colegio Latinoamericano de Nutrición Animal http://migre.me/8NuDK

ONCOLOGIA

18 a 21 de novembro Las Vegas, Nevada - EUA Veterinary Cancer Society (VCS) - 2012 Annual Conference www.vetcancersociety.org

SAÚDE PÚBLICA

20 a 24 de agosto Maastricht - Holanda 13th ISVEE - Internacional symposium on veterinary epidemiology & economics www.isvee13.org

ACUPUNTURA / TCVM

25 e 26 de agosto Baltimore, MD - EUA Veterinary Acupuncture and Herbal Medicine Introduction http://migre.me/8Nu4O

29 de agosto a 1º de setembro Galway - Irlanda 38th Annual International Congress on Veterinary Acupuncture http://migre.me/7S7E4 20 a 26 de outubro Su-zhou - China The 14th Annual Traditional Chinese veterinary medicine (TCVM) Conference and China Tour 2012 http://migre.me/8NucN

julho de 2013 Província do Cabo Leste - África do Sul Vet Pratices in South Africa www.animalia.vet.br

CONSERVAÇÃO

6 a 15 de setembro Jeju - Coréia do Sul IUCN World Conservation Congress www.iucn.org/2012_congress

INTENSIVISMO

3 e 4 de agosto Las Vegas - EUA Clinical Techniques for Emergency Medicine http://migre.me/9F8KM

NEUROLOGIA

13 a 15 de setembro Gent - Bélgica Ghent 2012 - 25th Annual Symposium of ESVN and ECVN - "epilepsy" www.ecvn.org/symposium/2012

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Irlanda

Empoleirado na ponta noroeste da Europa, este é o único lugar do mundo onde ainda se perder tempo valerá a pena... Com antigos mitos e lendas para descobrir, paisagens incríveis para explorar e locais que serão mais do que feliz em revelar os nossos tesouros escondidos, basta ir onde a ilha da Irlanda leva você. www.discoverireland.com/br

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15 a 18 de novembro Reddick - Flórida Certified Veterinary Tui-na http://migre.me/8Ntvc

FEIRAS CONGRESSOS

12 e 13 de outubro Sevilla - Espanha VIII Congreso Andaluz de Veterinarios “Especialistas en Animales de Compañía” www.congresoveterinario.es

4 a 7 de agosto San Diego - EUA AVMA Annual Convention - 2012 www.avmaconvention.org

18 a 20 de outubro Barcelona - Espanha SEVC 2012 http://sevc.info

5 a 8 de setembro León - México Congreso Veterinario de León www.cvdl.com.mx

13 e 14 de novembro Asunción - Paraguay Congreso FIAVAC 2012 http://sevc.info

11 a 14 de setembro Shanghai - China The 15th Pet Fair Asia www.petfairasia.com/en

24 e 25 de novembro Bariloche - Argentina II Congreso Veterinario Patagónico www.cvp2012.blogspot.com.ar

12 a 15 de setembro Moscow - RU ParkZoo 2012 - Moscow www.parkzoo.ru/en

6 a 9 de março de 2013 Auckland - Nova Zelândia WSAVA - FASAVA 2013 www.wsava2013.org

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Bruxelas, BE: Capital da Bélgica, é uma cidade agradável, bonita, repleta de arte, história e com diversas atrações turísticas. Na imagem acima temos o Atomium, Tem 102 metros de altura e fica no Parc D´Ossegem, norte da cidade. Da esfera mais alta, que fica numa altura equivalente a um prédio de 30 andares, tem-se uma vista fantástica de toda a cidade. www.visitbrussels.be

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