, QGH[DGD QR :HE RI 6FL HQFH =RRO RJL FDO 5HFRU G QR /DW L QGH[ H QR &$% $EVW U DFW V
+P ; 69( ,
*XDU i
5H Y L V W D GH H GXF D o m R F RQW L QXD GD GR F O t QL F R Y H W H U L Qi U L R GH SH TXH QRV D QL PD L V
', $*1Ï67, &2 325 , 0$*(0 2 H[DPH U DGL RJU iI L FR QDV FDU GL RSDW L DV FRQJrQL W DV I L VL RSDW RJHQL D H FU L W pU L RV GL DJQyVW L FRV 3HU I XVmR SRU W RPRJU DI L D FRPSXW DGRU L ]DGD DSU HVHQW DomR GD W pFQL FD H SRVVt YHL V DSO L FDo}HV QD PHGL FL QD KXPDQD H YHW HU L QiU L D
&/Ë 1, &$ 7HU DSL D PHGL FDPHQW RVD H PDQHM R QXW U L FL RQDO GH Vt QGU RPH PHW DEyO L FD DVVRFL DGD DR KL SHU DGU HQRFRU W L FL VPR HP XP FmR ± U HO DW R GH FDVR $YDO L DomR GDV DO W HU Do}HV PHW DEyO L FDV H GD VXSU HVVmR GRV KRU P{QL RV W L U HRL GL DQRV DVVRFL DGDV DR XVR W ySL FR GH DFHSRQDW R GH KL GU RFRU W L VRQD HP FmHV FRP GHU PDW L W H DO pU JL FD O RFDO L ]DGD
U HYL VW DFO L QL FDYHW HU L QDU L D FRP EU
Carta do Presidente do Congresso
2
ClĂnica VeterinĂĄria, Ano XXII, suplemento, 2017
Carta do Presidente da anCLiVePa-rJ
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
3
@
na internet
eXPediente editores / PubLishers
Facebook http://facebook.com/ClinicaVet
arthur de Vasconcelos Paes barretto editor@editoraguara.com.br CRMV-MG 10.684 - www.crmvmg.org.br
Maria angela sanches Fessel cvredacao@editoraguara.com.br Twitter http://twitter.com/ClinicaVet
Site http://revistaclinicaveterinaria.com.br
Apple Store - http://goo.gl/Liouit
Google Play - http://goo.gl/neyv4Y
Pet Vet TV http://youtube.com/PetVettV
Contato Editora Guará Ltda. Dr. José Elias 222 - Alto da Lapa 05083-030 São Paulo - SP, Brasil Central de assinaturas: (11) 98250-0016 cvassinaturas@editoraguara.com.br Telefone/fax: (11) 3835-4555 / 3641-6845
CRMV-SP 10.159 - www.crmvsp.gov.br PubLiCidade / adVertising
midia@editoraguara.com.br editoração eLetrôniCa / desktoP PubLishing
editora guará Ltda. Clínica Veterinária é uma revista técnicocientífica bimestral, dirigida aos clínicos veterinários de pequenos animais, estudantes e professores de medicina veterinária, publicada pela Editora Guará Ltda. As opiniões em artigos assinados não são necessariamente compartilhadas pelos editores. Os conteúdos dos anúncios veiculados são de total responsabilidade dos anunciantes. Não é permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação sem a prévia autorização da editora. A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é de quem a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má aplicação do conteúdo da revista Clínica Veterinária.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
5
CONSULTORES CIENTÍFICOS Adriano B. Carregaro FZEA/USP-Pirassununga
Benedicto W. De Martin FMVZ/USP; IVI
Edison L. P. Farias UFPR
Geraldo M. da Costa DMV/UFLA
Álan Gomes Pöppl FV/UFRGS
Berenice A. Rodrigues Médica veterinária autônoma
Eduardo A. Tudury DMV/UFRPE
Gerson Barreto Mourão ESALQ/USP
Alberto Omar Fiordelisi FCV/UBA
Camila I. Vannucchi FMVZ/USP-São Paulo
Elba Lemos FioCruz-RJ
Hannelore Fuchs Instituto PetSmile
Alceu Gaspar Raiser DCPA/CCR/UFSM
Carla Batista Lorigados FMU
Eliana R. Matushima FMVZ/USP-São Paulo
Hector Daniel Herrera FCV/UBA
Alejandro Paludi FCV/UBA
Carla Holms Anclivepa-SP
Elisangela de Freitas FMVZ/Unesp-Botucatu
Hector Mario Gomez EMV/FERN/UAB
Alessandra M. Vargas Endocrinovet
Carlos Alexandre Pessoa www.animalexotico.com.br
Estela Molina FCV/UBA
Hélio Autran de Moraes Dep. Clin. Sci./Oregon S. U.
Alexandre Krause FMV/UFSM
Carlos E. Ambrosio FZEA/USP-Pirassununga
Fabian Minovich UJAM-Mendoza
Hélio Langoni FMVZ/UNESP-Botucatu
Alexandre G. T. Daniel Universidade Metodista
Carlos E. S. Goulart EMATER-DF
Fabiano Montiani-Ferreira FMV/UFPR
Heloisa J. M. de Souza FMV/UFRRJ
Alexandre L. Andrade CMV/Unesp-Aracatuba
Carlos Roberto Daleck FCAV/Unesp-Jaboticabal
Fabiano Séllos Costa DMV/UFRPE
Herbert Lima Corrêa ODONTOVET
Alexander W. Biondo UFPR, UI/EUA
Carlos Mucha IVAC-Argentina
Fabio Otero Ascol IB/UFF
Iara Levino dos Santos Koala H. A. e Inst. Dog Bakery
Aline Machado Zoppa FMU/Cruzeiro do Sul
Cassio R. A. Ferrigno FMVZ/USP-São Paulo
Fabricio Lorenzini FAMi
Iaskara Saldanha Lab. Badiglian
Aline Souza UFF
Ceres Faraco FACCAT/RS
Felipe A. Ruiz Sueiro VETPAT
Idael C. A. Santa Rosa UFLA
Aloysio M. F. Cerqueira UFF
César A. D. Pereira UAM, UNG, UNISA
Fernando C. Maiorino FEJAL/CESMAC/FCBS
Ismar Moraes FMV/UFF
Ana Claudia Balda FMU, Hovet Pompéia
Christina Joselevitch FMVZ/USP-São Paulo
Fernando de Biasi DCV/CCA/UEL
Jairo Barreras FioCruz
Fernando Ferreira FMVZ/USP-São Paulo
James N. B. M. Andrade FMV/UTP
Cibele F. Carvalho Ananda Müller Pereira Universidad Austral de Chile UNICSUL
6
Ana P. F. L. Bracarense DCV/CCA/UEL
Clair Motos de Oliveira FMVZ/USP-São Paulo
Filipe Dantas-Torres CPAM
Jane Megid FMVZ/Unesp-Botucatu
André Luis Selmi Anhembi/Morumbi e Unifran
Clarissa Niciporciukas ANCLIVEPA-SP
Flávia R. R. Mazzo Provet
Janis R. M. Gonzalez FMV/UEL
Angela Bacic de A. e Silva FMU
Cleber Oliveira Soares EMBRAPA
Flavia Toledo Univ. Estácio de Sá
Jean Carlos R. Silva UFRPE, IBMC-Triade
Antonio M. Guimarães DMV/UFLA
Cristina Massoco Salles Gomes C. Empresarial
Flavio Massone FMVZ/Unesp-Botucatu
João G. Padilha Filho FCAV/Unesp-Jaboticabal
Aparecido A. Camacho FCAV/Unesp-Jaboticabal
Daisy Pontes Netto FMV/UEL
Francisco E. S. Vilardo Criadouro Ilha dos Porcos
João Luiz H. Faccini UFRRJ
A. Nancy B. Mariana FMVZ/USP-São Paulo
Daniel C. de M. Müller UFSM/URNERGS
Francisco J. Teixeira N. FMVZ/Unesp-Botucatu
João Pedro A. Neto UAM
Arlei Marcili FMVZ/USP-São Paulo
Daniel G. Ferro odontovet
F. Marlon C. Feijo UFERSA
Jonathan Ferreira Odontovet
Aulus C. Carciofi FCAV/Unesp-Jaboticabal
Daniel Macieira FMV/UFF
Franz Naoki Yoshitoshi Provet
Jorge Guerrero Universidade da Pennsylvania
Aury Nunes de Moraes UESC
Denise T. Fantoni FMVZ/USP-São Paulo
Gabriela Pidal FCV/UBA
José de Alvarenga FMVZ/USP
Ayne Murata Hayashi FMVZ/USP-São Paulo
Dominguita L. Graça FMV/UFSM
Gabrielle Coelho Freitas UFFS-Realeza
Jose Fernando Ibañez FALM/UENP
Beatriz Martiarena FCV/UBA
Edgar L. Sommer PROVET
Geovanni D. Cassali ICB/UFMG
José Luiz Laus FCAV/Unesp-Jaboticabal
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
José Ricardo Pachaly UNIPAR
Márcio Garcia Ribeiro FMVZ/Unesp-Botucatu
Noeme Sousa Rocha FMV/Unesp-Botucatu
Rodrigo Teixeira Zoo de Sorocaba
José Roberto Kfoury Jr. FMVZ/USP
Marco Antonio Gioso FMVZ/USP-São Paulo
Norma V. Labarthe FMV/UFFe FioCruz
Ronaldo C. da Costa Ohio State University
Juan Carlos Troiano FCV/UBA
Marconi R. de Farias PUC-PR
Patricia C. B. B. Braga FMVZ/USP-Leste
Ronaldo G. Morato CENAP/ICMBio
Juliana Brondani FMVZ/Unesp-Botucatu
Maria Cecilia R. Luvizotto CMV/Unesp-Aracatuba
Patrícia Mendes Pereira DCV/CCA/UEL
Rosângela de O. Alves EV/UFG
Juliana Werner Lab. Werner e Werner
M. Cristina F. N. S. Hage FMV/UFV
Paulo Anselmo Zoo de Campinas
Rute C. A. de Souza UFRPE/UAG
Julio C. C. Veado FMVZ/UFMG
Maria Cristina Nobre FMV/UFF
Paulo César Maiorka FMVZ/USP-São Paulo
Julio Cesar de Freitas UEL
M. de Lourdes E. Faria VCA/SEPAH
Paulo Iamaguti FMVZ/Unesp-Botucatu
Ruthnéa A. L. Muzzi DMV/UFLA
Karin Werther FCAV/Unesp-Jaboticabal
Maria Isabel M. Martins DCV/CCA/UEL
Paulo S. Salzo UNIMES, UNIBAN
Leonardo D. da Costa Lab&Vet
M. Jaqueline Mamprim FMVZ/Unesp-Botucatu
Paulo Sérgio M. Barros FMVZ/USP-São Paulo
Leonardo Pinto Brandão Ceva Saúde Animal
Maria Lúcia Z. Dagli FMVZ/USP-São Paulo
Pedro Germano FSP/USP
Leucio Alves FMV/UFRPE
Marion B. de Koivisto CMV/Unesp-Araçatuba
Pedro Luiz Camargo DCV/CCA/UEL
Luciana Torres FMVZ/USP-São Paulo
Marta Brito FMVZ/USP-São Paulo
Rafael Almeida Fighera FMV/UFSM
Lucy M. R. de Muniz FMVZ/Unesp-Botucatu
Mary Marcondes CMV/Unesp-Araçatuba
Rafael Costa Jorge Hovet Pompéia
Luiz Carlos Vulcano FMVZ/Unesp-Botucatu
Masao Iwasaki FMVZ/USP-São Paulo
Regina H.R. Ramadinha FMV/UFRRJ
Luiz Henrique Machado FMVZ/Unesp-Botucatu
Mauro J. Lahm Cardoso FALM/UENP
Renata A. Sermarini ESALQ/USP
Marcello Otake Sato FM/UFTO
Mauro Lantzman Psicologia PUC-SP
Renata Afonso Sobral Onco Cane Veterinária
Marcelo A.B.V. Guimarães FMVZ/USP-São Paulo
Michele A.F.A. Venturini ODONTOVET
Renata Navarro Cassu Unoeste-Pres. Prudente
Marcelo Bahia Labruna FMVZ/USP-São Paulo
Michiko Sakate FMVZ/Unesp-Botucatu
Renée Laufer Amorim FMVZ/Unesp-Botucatu
Marcelo de C. Pereira FMVZ/USP-São Paulo
Miriam Siliane Batista FMV/UEL
Ricardo Duarte All Care Vet / FMU
Marcelo Faustino FMVZ/USP-São Paulo
Moacir S. de Lacerda UNIUBE
Ricardo G. D’O. C. Vilani UFPR
Marcelo S. Gomes Zoo SBC,SP
Monica Vicky Bahr Arias FMV/UEL
Ricardo S. Vasconcellos CAV/UDESC
Marcia Kahvegian FMVZ/USP-São Paulo
Nadia Almosny FMV/UFF
Rita de Cassia Garcia FMV/UFPR
Márcia Marques Jericó UAM e UNISA
Nayro X. Alencar FMV/UFF
Rita de Cassia Meneses IV/UFRRJ
Marcia M. Kogika FMVZ/USP-São Paulo
Nei Moreira CMV/UFPR
Rita Leal Paixão FMV/UFF
Vitor Marcio Ribeiro PUC-MG
Marcio B. Castro UNB
Nelida Gomez FCV/UBA
Robson F. Giglio Hosp. Cães e Gatos; Unicsul
Viviani de Marco Unisa e Naya Especialidades
Marcio Brunetto FMVZ/USP-Pirassununga
Nilson R. Benites FMVZ/USP-São Paulo
Rodrigo Gonzalez FMV/Anhembi-Morumbi
Wagner S. Ushikoshi Unisa e CREUPI
Marcio Dentello Lustoza Biogénesis-Bagó Saúde Animal
Nobuko Kasai FMVZ/USP-São Paulo
Rodrigo Mannarino FMVZ/Unesp-Botucatu
Zalmir S. Cubas Itaipu Binacional
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Sady Alexis C. Valdes Unipam-Patos de Minas Sheila Canavese Rahal FMVZ/Unesp-Botucatu Silvia E. Crusco Unip/SP Silvia Neri Godoy ICMBio/Cenap Silvia R. G. Cortopassi FMVZ/USP-São Paulo Silvia R. R. Lucas FMVZ/USP-São Paulo Silvio A. Vasconcellos FMVZ/USP-São Paulo Silvio Luis P. de Souza FMVZ/USP, UAM Simone Gonçalves Hemovet/Unisa Stelio Pacca L. Luna FMVZ/Unesp-Botucatu Tiago A. de Oliveira UEPB Tilde R. Froes Paiva FMV/UFPR Valéria Ruoppolo IFAW Vamilton Santarém Unoeste Vania M. de V. Machado FMVZ/Unesp-Botucatu Victor Castillo FCV/UBA
7
ENVIO DE ARTIGOS
instruções aos autores
A
Clínica Veterinária publica artigos científicos inéditos, de três tipos: trabalhos de pesquisa, relatos de caso e revisões de literatura. Embora todos tenham sua importância, nos trabalhos de pesquisa, o ineditismo encontra maior campo de expressão, e como ele é um fator decisivo no âmbito científico, estes trabalhos são geralmente mais valorizados. Todos os artigos enviados à redação são primeiro avaliados pela equipe editorial e, após essa avaliação inicial, encaminhados aos consultores científicos. Nessas duas instâncias, decide-se a conveniência ou não da publicação, de forma integral ou parcial, e encaminham-se ao autores sugestões e eventuais correções. trabalhos de pesquisa são utilizados para apresentar resultados, discussões e conclusões de pesquisadores que exploram fenômenos ainda não completamente conhecidos ou estudados. Nesses trabalhos, o bem-estar animal deve sempre receber atenção especial. relatos de casos são utilizados para a apresentação de casos de interesse, quer seja pela raridade, evolução inusitada ou técnicas especiais. Devem incluir uma pesquisa bibliográfica profunda sobre o assunto (no mínimo 30 referências) e conter uma discussão detalhada dos achados e conclusões do relato à luz dessa pesquisa. A pesquisa bibliográfica deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. revisões são utilizadas para o estudo aprofundado de informações atuais referentes a um determinado assunto, a partir da análise criteriosa dos trabalhos de pesquisadores de todo o meio científico, publicados em periódicos de qualidade reconhecida. As revisões deverão apresentar pesquisa de, no mínimo, 60 referências provadamente consultadas. Uma revisão deve apresentar no máximo 15% de seu conteúdo provenientes de livros, e no máximo 20% de artigos com mais de cinco anos de publicação. Critérios editoriais Para a primeira avaliação, os autores devem enviar através do site da revista um arquivo texto (.doc) com o trabalho, acompanhado de imagens digitalizadas em formato .jpg - http://revistaclinicaveterinaria.com.br/blog/envio-de-artigos-cientificos/. 8
As imagens digitalizadas devem ter, no mínimo, resolução de 300 dpi na largura de 9 cm. Se os autores não possuírem imagens digitalizadas, devem encaminhar pelo correio ao nosso departamento de redação cópias das imagens originais (fotos, slides ou ilustrações – acompanhadas de identificação de propriedade e autor). Devem ser enviadas também a identificação de todos os autores do trabalho (nome completo por extenso, RG, CPF, endereço residencial com cep, telefones e email). Além dos nomes completos, devem ser informadas as instituições às quais os autores estejam vinculados, bem como seus títulos no momento em que o trabalho foi escrito. Os autores devem ser relacionados na seguinte ordem: primeiro, o autor principal, seguido do orientador e, por fim, os colaboradores, em sequência decrescente de participação. Sugere-se como máximo seis autores. O primeiro autor deve necessariamente ter diploma de graduação em medicina veterinária. Todos os artigos, independentemente da sua categoria, devem ser redigidos em língua portuguesa e acompanhados de versões em língua inglesa e espanhola de: título, resumo (de 700 a 800 caracteres) e unitermos (3 a 6). Os títulos devem ser claros e grafados em letras minúsculas – somente a primeira letra da primeira palavra deve ser grafada em letra maiúscula. Os resumos devem ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões, de forma concisa, dos pontos relevantes do trabalho apresentado. Os unitermos não devem constar do título. Devem ser dispostos do mais abrangente para o mais específico (eg, “cães, cirurgias, abcessos, próstata). Verificar se os unitermos escolhidos constam dos “Descritores em Ciências de Saúde” da Bireme – http://decs.bvs.br . Revisões de literatura não devem apresentar o subtítulo “Conclusões”. Sugere-se “Considerações finais”. Não há especificação para a quantidade de páginas, dependendo esta do conteúdo explorado. Os assuntos devem ser abordados com objetividade e clareza, visando o público leitor – o clínico veterinário de pequenos animais. Utilizar fonte arial tamanho 10, espaço simples e uma única coluna. As margens superior, inferior e laterais devem apresentar até 3 cm. Não deixar linhas em branco ao longo do texto, entre títulos, após subtítulos e entre as referências. No caso de todo o material ser remetido pelo correio, devem necessariamente ser enviados, além de uma apresentação impressa, uma cópia em CD-rom.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Imagens como fotos, tabelas, gráficos e ilustrações não podem ser cópias da literatura, mesmo que seja indicada a fonte. Devem ser utilizadas imagens originais dos próprios autores. Imagens fotográficas devem possuir indicação do fotógrafo e proprietário; e quando cedidas por terceiros, deverão ser obrigatoriamente acompanhadas de autorização para publicação e cessão de direitos para a Editora Guará (fornecida pela Editora Guará). Quadros, tabelas, fotos, desenhos, gráficos deverão ser denominados figuras e numerados por ordem de aparecimento das respectivas chamadas no texto. Imagens de microscopia devem ser sempre acompanhadas de barra de tamanho e nas legendas devem constar as objetivas utilizadas. As legendas devem fazer parte do arquivo de texto e cada imagem deve ser nomeada com o número da respectiva figura. As legendas devem ser autoexplicativas. Não citar comentários que constem das introduções de trabalhos de pesquisa para não incorrer em apuds. Sempre buscar pelas referências originais. O texto do autor original deve ser respeitado, utilizando-se exclusivamente os resultados e, principalmente, as conclusões dos trabalhos. Quando uma informação tiver sido localizada em diversas fontes, deve-se citar apenas o autor mais antigo como referência para essa informação, evitando a desproporção entre o conteúdo e o número de referências por frases. As referências serão indicadas ao longo do texto apenas por números sobrescritos ao texto, que corresponderão à listagem ao final do artigo – autores e datas não devem ser citados no texto. Esses números sobrescritos devem ser dispostos em ordem crescente, seguindo a ordem de aparecimento no texto, e separados apenas por vírgulas (sem espaços). Quando houver mais de dois números em sequência, utilizar apenas hífen (-) entre o primeiro e o último dessa sequência, por exemplo cão 1,3,6-10,13. A apresentação das referências ao final do artigo deve seguir as normas atuais da ABNT 2002 (NBR 10520). Utilizar o formato v. para volume, n. para número e p. para página. Não utilizar “et al” – todos os autores devem ser relacionados. Não abreviar títulos de periódicos. Sempre utilizar as edições atuais de livros – edições anteriores não devem ser utilizadas. Todos os livros devem apresentar informações do capítulo consultado, que são: nome dos autores, nome do capítulo e páginas do capítulo. Quando mais de um capítulo for utilizado, cada
capítulo deverá ser considerado uma referência específica. Não serão aceitos apuds nem revisões de literatura (Citação direta ou indireta de um autor a cuja obra não se teve acesso direto. É a citação de “segunda mão”. Utiliza-se a expressão apud, que significa “citado por”. Deve ser empregada apenas quando o acesso à obra original for impossível, pois esse tipo de citação compromete a credibilidade do trabalho). A exceção será somente para literatura não localizada e obras antigas de difícil acesso, anteriores a 1960. As citações de obras da internet devem seguir o mesmo procedimento das citações em papel, apenas com o acréscimo das seguintes informações: “Disponível em: <http://www.xxxxxx>. Acesso em: dia de mês de ano.” Somente utilizar o local de publicação de periódicos para títulos com incidência em locais distintos, como, por exemplo: Revista de Saúde Pública, São Paulo e Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro. De modo geral, não são aceitas como fontes de referência periódicos ou sites não indexados. Ocasionalmente, o conselho científico editorial poderá solicitar cópias de trabalhos consultados que obrigatoriamente deverão ser enviadas. Será dado um peso específico à avaliação das citações, tanto pelo volume total de autores citados, quanto pela diversidade. A concentração excessiva das citações em apenas um ou poucos autores poderá determinar a rejeição do trabaho. Não utilizar SID, BID e outros. Escrever por extenso “a cada 12 horas”, “a cada 6 horas” etc. Com relação aos princípios éticos da experimentação animal, os autores deverão considerar as normas do SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciência de Animais de Laboratório). Informações referentes a produtos utilizados no trabalho devem ser apresentadas em rodapé, com chamada no texto com letra sobrescrita ao princípio ativo ou produto. No rodapé devem constar o nome comercial, fabricante, cidade e estado. Para produtos importados, informar também o país de origem, o nome do importador/distribuidor, cidade e estado.
Revista Clínica Veterinária / Redação Rua dr. José Elias 222 CEP 05083-030 São Paulo - SP cvredacao@editoraguara.com.br
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
9
Uso de anfotericina B por via intralesional associada ao itraconazol oral para tratamento de recidiva de esporotricose nasal em um gato – relato de caso
11
Mastocitoma cutâneo felino – relato de caso
12
Carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão – relato de caso
16
Farmacodermia cutânea secundária ao uso de beta-lactâmico em felino com doença renal crônica
20
Adenocarcinoma intestinal invasivo com metaplasia óssea em cadela – relato de caso
23
Aplicação da túnica albugínea ovina no reforço de parede abdominal em ratos
28
Colecistectomia para tratamento de colangite por Cyniclomyces guttulatus e em uma cadela – relato de caso 32 Diagnóstico da infecção por Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossack, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae) em gata (Felis catus L.) domiciliada no município do Rio de Janeiro, RJ – relato de caso 36 Diagnóstico de co-infecção por Tritrichomonas foetus e Giardia intestinalis em felino com diarreia crônica – relato de caso
40
Diagnóstico de Infecção por Dirofilaria immitis em cães domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil 44 Diagnóstico de parasitos gastrintestinais em dois sistemas de criação comercial de cães
48
Displasia renal bilateral: diagnóstico em uma cadela rotweiler – relato de caso
52
Uso de células-tronco mesenquimais em caso de hipoplasia da medula óssea – relato de caso
56
Infecção por hematozoários em gatos domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil
59
Diagnóstico de parasitas gastrointestinais em cães em uma localidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ
63
Aspectos clínicos e macroscópicos do emprego da túnica albugínea bovina conservada na cistoplastia em ratos
69
Miosite crônica dos músculos mastigatórios em cão de pequeno porte – relato de caso
73
Farmacodermia associada ao uso do imipenem em um felino doméstico – relato de caso
78
Metástase de carcinoma mamário em fossa acetabular e ílio de cadela – relato de caso
83
Terapia com células-tronco mesenquimais em caso de úlcera de córnea profunda em cão – relato de caso
87
10
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Uso de anfotericina B por via intralesional associada ao itraconazol oral para tratamento de recidiva de esporotricose nasal em um gato – relato de caso Intralesional use of amphotericin B associated with oral itraconazole for the treatment of recurrence of nasal sporotrichosis in a cat – case report Uso de anfotericina B por vía intralesional asociada al itraconazol oral para el tratamiento de la recidiva de esporotricosis nasal en un gato – relato de caso Carla Regina Gomes Rodrigues Santos1; Heloisa Justen Moreira de Souza2; Luiza Freire de Farias3; Mariana Palha de Brito Jardim4;Lara Patricia Santos Carrasco5; Clarissa Martins do Rio Moreira6 1-MV, aluna de mestrado do PPGMV da UFRRJ. 2-MV, dra., profa associada do DMCV/IV da UFRRJ. 3-MV, aluna de mestrado do PPGMV da UFRRJ. 4-MV, aluna de mestrado do PPGMV da UFRRJ. 5-MV, aluna de doutorado do PPGMV da UFRRJ. 6-MV, aluna de doutorado do PPGMV da UFRRJ
carlavetuff@yahoo.com.br
A
esporotricose nasal é uma afecção de difícil resolução clínica, muitas vezes refratária ao tratamento e possivelmente recidivante em gatos. Neste caso, a anfotericina B foi utilizada por via intralesional em associação ao itraconazol (100 mg/gato/via oral/a cada 24 horas) em felino com recidiva de esporotricose nasal. Durante o tratamento foram realizados exames laboratoriais para garantir a segurança do protocolo utilizado. O novo biomarcador para função renal SDMA IDEXX™ foi empregado antes e após o termino do protocolo para monitorar a função renal. O efeito adverso encontrado foi edema e desconforto no local de aplicação, o tempo total de tratamento foi de três meses e não foi observado efeito tóxico renal. Dessa maneira o protocolo utilizado mostrou se eficaz e seguro no tratamento da esporotricose nasal. Unitermos: complexo Sporothrix schenckii, zoonose, antifúngico, felino
N
asal sporotrichosis is a condition of difficult clinical resolution commonly refractory treatment and recurrent in cats. In this report, amphotericin B was used intralesionally in combination with oral itraconazole 100 mg / cat / day for relapse of nasal sporotrichosis in a feline. During the treatment, laboratory tests were performed to ensure the safety of the protocol used. The new biomarker for renal function SDMA IDEXX was used before and after the end of the protocol to monitor renal function. The adverse effect was edema and nonlocal discomfort of application, total treatment time of 3 months, and no renal toxic effect was observed. In this way the test protocol proved to be effective and safe not to treat nasal sporotrichosis. Keywords: Sporothrix schenckii complex, zoonosis, antifungal, feline
L
a esporotricosis nasal es una afección de difícil resolución clínica comúnmente refractaria tratamiento y recurrente en los gatos. En este caso, la anfotericina B fue utilizada por vía intralesional en asociación al itraconazol oral en dosis de 100mg/gato/día para recidiva de esporotricosis nasal en un felino. Durante el tratamiento, fueron realizados exámenes laboratoriales para garantizar la seguridad del protocolo utilizado. El nuevo biomarcador para función renal SDMA IDEXX fue empleado antes y después del término del protocolo para monitorear la función renal. El efecto adverso encontrado fue de edema e incomodidad en el local de aplicación. El tiempo total del tratamiento fue de tres meses y no fue observado cualquier efecto tóxico renal. De esa manera, el protocolo utilizado se mostró eficaz y seguro en el tratamiento de la esporotricosis nasal. Palabras clave: complejo Sporothrix schenkii, zoonosis, antifúngico, felino
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
11
Mastocitoma cutâneo felino – relato de caso Feline cutaneous mast cell tumor – case report Mastocitoma cutáneo felino – relato de caso Daniela Menezes Pinto 1; Amanda dos Santos Vitória 2; Mariana Menezes Mattos 3; Mariana Sampaio Anares da Silva 1-Aluna de gradução em medicina veterinária da UFBA. 2-MV. 3-MV, aluna de pós-graduação. 4-MV, mestre
daniela.mennezes@gmail.com
O
mastocitoma é uma neoplasia originada de mastócitos com prognóstico favorável para o tipo cutâneo solitário em felinos. A extirpação cirúrgica geralmente é curativa, apresentando baixas taxas de recorrência mesmo com pequenas margens cirúrgicas. O objetivo deste trabalho é descrever um relato de caso de mastocitoma cutâneo em um felino. Foi atendido um gato com nódulos na orelha direita e região cervical, bem circunscrito, com coloração normal da pele, sem ulceração e secreção. Os resultados da citologia e histopatologia foram compatíveis com mastocitoma cutâneo mastocístico bem diferenciado. O tratamento de escolha foi a ressecção cirúrgica e após um ano do procedimento cirúrgico, o animal se apresentou saudável e sem recidivas. Unitermos: diagnóstico, gato, neoplasia
M
astocytoma is a neoplasm originating from mast cells with a favourable solitary cutaneous prognosis in felines. Surgical excision is usually curative, presenting low recurrence rates even with small surgical margins. The objective of this work is to describe a case report of cutaneous mastocytoma in a feline. A cat with nodules in the right ear, and cervical region well circumscribed, with normal skin colour, without ulceration and secretion was attended. The results of cytology and histopathology were compatible with well-differentiated mastocytic cutaneous mastocytoma. The treatment of choice was surgical resection and after one year of the surgical procedure, the animal presented healthy and without relapses. Keywords: diagnosis, cat, neoplasia
E
l mastocitoma es una neoplasia originada de mastócitos con pronóstico del tipo cutáneo solitario en los felinos favorables. La extirpación quirúrgica generalmente es curativa, presentando bajas tasas de recurrencia incluso con pequeños márgenes quirúrgicos. El objetivo de este trabajo es describir un relato de caso de mastocitoma cutáneo en un felino. Se atendió un gato con un nódulos en la oreja derecha, y región cervical bien circunscrito, con coloración normal de la piel, sin ulceración y secreción. Los resultados de la citología e histopatología fueron compatibles con mastocitoma cutáneo mastocístico bien diferenciado. El tratamiento de elección fue la resección quirúrgica e después de un año del procedimiento quirúrgico, el animal se presentó sano y sin recidivas. Palabras clave: diagnóstico, gato, neoplasia
12
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução O mastocitoma é uma neoplasia de mastócitos, que pode ser classificada anatomicamente em forma cutânea ou visceral e histologicamente como mastocítico ou atípico. A etiologia ainda é desconhecida na espécie felina1. Em relação ao tipo histológico, os mastocitomas bem diferenciados são mais fáceis de diagnosticar através de preparações de rotina como a coloração de hematoxilina-eosina2, porém os mastocitomas pouco diferenciados podem ser confundidos com outros tumores de células redondas, como o histiocitoma e plasmocitoma3. Devido aos sinais clínicos inespecíficos4, esta afecção pode se assemelhar a qualquer outro tipo de neoplasia cutânea, como por exemplo, o linfoma cutâneo e o carcinoma de células escamosas, em casos de lesões ulcerativas5. O prognóstico para mastocitomas cutâneos solitários nos felinos é favorável, pois a extirpação cirúrgica geralmente é curativa, apresentando baixas taxas de recorrência mesmo com pequenas margens cirúrgicas6. Para gerir casos de câncer é preciso ter o diagnóstico correto, para que seja recomendado o melhor tratamento7, mas não há atualmente nenhuma graduação histológica ou marcador prognóstico confiável para a espécie felina8. A citologia é uma técnica diagnóstica não invasiva, que normalmente não necessita de anestesia ou analgesia, diminuindo a carga sobre o paciente, o custo para os clientes e permite aos profissionais direcionar ao tratamento adequado mais rapidamente9. Ela oferece a opção de um diagnóstico precoce e possui a finalidade de diferenciar crescimentos neoplásicos de processos inflamatórios, além de ajudar a diferenciar as neoplasias benignas ou malignas. Pode ser considerado um bom método de triagem, porém o diagnóstico definitivo, na maioria dos casos é obtido através do exame histopatológico10. Já a biópsia é mais invasiva do que a citologia e existem riscos como, por exemplo, hemorragia, danos às estruturas adjacentes, embora uma boa técnica minimize esses riscos7. Descrição do caso Um felino, macho, castrado, sem raça definida, 7 anos foi atendido em uma clínica veterinária particular, com o histórico de nódulo em orelha direita. Segundo informação da proprietária as alterações clínicas surgiram há cerca de 1 ano, com formação de estrutura semelhante a um nódulo. Ao exame físico o felino apresentava na região auricular direita um nódulo de aproximadamente 4,0 milímetros, bem circunscrito, com coloração normal da pele, sem ulceração e secreção. Através do resultado da biópsia obteve-se o diagnóstico de mastocitoma cutâneo mastocítico bem diferenciado. Um mês após o procedimento do exame histopatológico, o animal apresentou um novo nódulo de crescimento
rápido medindo aproximadamente 4 mm na região cervical dorsal com a mesma coloração da pele e sem ulceração. Foi realizada a citologia do nódulo e o resultado apresentou-se compatível com neoplasia de células redondas. Quatro meses depois surgiram mais dois nódulos na mesma orelha. Ao exame clínico, verificaram-se lesões menores que 0,5 cm, sem reação inflamatória e sensibilidade dolorosa. Ainda foi realizada ultrassonografia abdominal, para pesquisa de metástase e não foram encontradas alterações. Realizou-se a cirurgia de ablação da orelha direita e retirada do nódulo na região cervical (Figura 1). O material removido foi submetido à análise histopatológica (Figura 2) com o diagnóstico definitivo de mastocitoma cutâneo mastocítico bem diferenciado de todos os nódulos. Discussão No referido caso, houve densa infiltração de mastócitos entre as fibras colágenas da derme (superficial e profunda), formada por células neoplásicas discretamente pleomórficas com citoplasma moderado, granular e basofílico, com bordas delimitadas e núcleos, quando visíveis, redondos ou ovoides, o índice mitótico baixo, sendo compatível com a forma bem diferenciada do mastocitoma em gatos. Mastocitomas cutâneos solitários em felinos tendem a possuir comportamento benigno e o tempo de sobrevida é mais prolongado do que em gatos que apresentam mastocitomas cutâneos múltiplos (5 ou mais), possuindo correlação com a agressividade da neoplasia11. A remoção cirúrgica é a
Figura 1 – Mascitoma cotâneo. Região da orelha direita (A) e cervical dorsal (B), um mês após a cirurgia Fonte: Amanda dos Santos Vitória
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
13
relatadas taxas de recidiva tumoral após a cirurgia de 30%, independentemente da aparente excisão completa15. Alguns processos não neoplásicos podem apresentar-se como lesões proliferativas, como o complexo granuloma eosinofílico7. Sendo assim, deve-se utilizar a citologia e/ou histopatologia como ferramentas para diferenciar os processos neoplásicos de não neoplásicos e prosseguir com o tratamento mais adequado.
Figura 2 – Aspecto histológico do mastocitoma felino bem diferenciado. (A) Pele com densa infiltração de mastócitos na derme superficial e profunda (setas) com obliteração de estruturas anexas. Epiderme íntegra e delgada; HE, 40x; (B) Panículo adiposo de derme profunda com densa infiltração de mastócitos (seta) bem diferenciados; HE, 100x; (C) Mastócitos discretamente pleomórficos dispostos em fileiras entre as fibras colágenas da derme. HE,400x; (D) Infiltração difusa de mastócitos bem diferenciados na derme com a coloração especial com Azul de Toluidina evidenciando grande quantidade de grânulos basofílicos no citoplasma das células neoplásicas. 100x. Fonte: Histopahus Semeve (Laboratório de Patologia Veterinária)
melhor opção para mastocitomas cutâneos individuais12 e em gatos a ressecção cirúrgica com margens amplas pode ser difícil, mesmo o tumor sendo de tamanho relativamente pequeno quando comparado aos cães, pois a localização mais comum é a cabeça13. Nos cães, o comportamento biológico do mastocitoma está diretamente relacionado com seu grau histológico, ou seja, o mastocitoma bem diferenciado (Grau 1) possui baixa taxa de recorrência após a extirpação cirúrgica. Já nos felinos, a relação entre o comportamento biológico e o tipo histológico não é tão bem definida como nos caninos14. No caso descrito, foi feita a ablação da orelha direita e remoção do nódulo no pescoço, devido a sua característica benigna. O nódulo localizado em região cervical foi retirado com amplas margens de segurança, sem danos a estruturas adjacentes. A recorrência local é rara, sendo 14
Conclusão Nos gatos, o mastocitoma costuma ser uma neoplasia benigna e a citologia auxilia o médico veterinário na rotina, porém para diagnóstico definitivo e caracterização do tipo histológico é essencial o histopatológico. No caso relatado o diagnóstico final foi realizado através da biópsia, à qual foi confirmada a neoplasia cutânea. Pela característica benigna dos nodulos a cirurgia foi considerada curativa e apesar do animal ter apresentado nódulos pequenos (o maior medindo 4 mm) foi importante que a margem cirúrgica tenha sido realizada de forma ampla, afim de evitar recorrência. A suspeita de mastocitoma deve fazer parte do diagnóstico diferencial de outras neoplasias/afecções que acometem pele e tecido subcutâneo, por isso deve-se investigar qualquer tipo de alteração visualizada na pele. No caso relatado foram encontrados sinais clínicos compatíveis com os casos descritos na literatura, em que os protocolos diagnósticos e terapêuticos instituídos foram eficazes. O animal foi acompanhado por um ano, no qual apresentou-se clinicamente saudável e sem sinais de recidiva tumoral. Referências 01-GROOS, T. H. ; IHRKE, P. J. ; WALDER, E. J. ; AFFOLTER, V. K. Mast cell tumors. In: GROSS. Skin diseases of the dog and cat: clinical and histopathologic diagnosis. 2. ed. Ames: Blackwell Science, p. 853-861, 2005. 02-FRIEDRICHS, K. R. ; YOUNG, K. M. Diagnostic cytopathology in clinical oncology. In: WITHROW. Small animal clinical oncology. 5. ed. St Louis: Elsevier, p. 111-130, 2013. 03-RECH, R. R. ; GRAÇA, D. L. ; KOMMERS, G. D. ; SALLIS, E. S. V. ; RAFFI, M. B. ; GARMAIZ, S. L. Mastocitoma cutâneo canino. Estudo de 45 casos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinaria e Zootecnia, v. 56, n. 4, p. 441-448, 2004. 04-HAHN, K. A. Doença de mastócitos. In: ROSENTHAL. Segredos da oncologia veterinária. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 247-251. 05-LAMM, C. G. ; STERN, A. W. ; SMITH, A. J. ; COOPER, E. J. ; ULLOM, S. W. ; CAMPBELL, G. A. Disseminated cutaneous mast cell tumors with epitheliotropism and systemic mastocytosis in a domestic cat. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. 21, p. 710-715, 2009. 06-HENRY, C. ; HERRERA, C. Mast cell tumours in cats: clinical update and possible new treatment avenues. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 15, p. 41-47, 2013.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
07-BLACKWOOD, L. Cats with cancer: Where to start. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 15, p. 366-377, 2013. 08-DOBROMYLSKYJ, M. J. ; RASOTTO, R. ; SMITH, K. C. ; BERLATO. Evaluation of minichromosome maintenance protein 7 c-KIT as prognostic markers in feline cutaneous mast cell tumours. Journal of Comparative Pathology, v. 153, p. 244250, 2015. 09-MACNEILL, A.L. Cytology of canine and feline cutaneous and subcutaneous lesions and lymph nodes. Topics in companion animal medicine, v. 26, p. 62-76,2011. 10-BRAZ, P. H. ; BRUM, K. B. ; SOUZA, A. I. ; ABDO, M. A. G. S. Comparação entre citopatologia por biópsia com agulha fina e a histopatologia no diagnóstico das neoplasias cutâneas e subcutâneas de cães. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 36, p. 197203, 2016. 11-LITSTER, A. L. ; SORENMO, K. U. Caracterisation of the sig-
nalment, clinical and survival characteristics of 41 cats with mast cell neoplasia. Journal of feline medicine and surgery, v. 8, p 177-183, 2006. 12-BLACKWOOD, L. Feline mast cell tumours. Journal of the British Veterinary Association, v. 37, p. 391-400, 2015. 13-LAMM, C. G. ; STERN, A. W. ; SMITH, A. J. ; COOPER, E. J. ; ULLOM, S. W. ; CAMPBELL, G. A. Disseminated cutaneous mast cell tumors with epitheliotropism and systemic mastocytosis in a domestic cat. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v. 21, p. 710-715, 2009. 14-GOLDSCHMIDT, M. H. ; HENDRICK, M. J. Tumors of the skin and soft tissues. In: MEUTEN. Tumors in domestic animals. 4. ed. Ames: Blackwell Science, p. 45-117, 2002. 15-GOVIER, S. M. Principles of treatment for mast cell tumors. Clinical Techniques in Small Animal Pratice, v. 18, n. 2, p. 103-106, 2003.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
15
Carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão – relato de caso Simple tubular carcinoma of apocrine gland in dog – case report Carcinoma tubular simple de glándula apócrina en perro – relato de caso Nathália Marques de Oliveira Lemos1; Jonimar Pereira Paiva2; Bruno Ricardo Soares Alberigi da Silva3; Mario dos Santos Filho4; Fernando Fernandes Sayeg5; Yasmin Daoualibi Vianna Siqueira6; Julio Israel Fernandes7; Mariana Correia Oliveira8 1-MV, residente da UFRRJ. 2-MV, dr., prof. adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária da UFRRJ. 3-MV, aluno de doutorado do PPGMV da UFRRJ. 4-MV, aluno de mestrado do PPGMC da UFRRJ. 5-MV, residente da UFRRJ. 6-MV, residente da UFRRJ. 7-MV, dr., prof. adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária da UFRRJ. 8-MV, aluna de mestrado do PPGMV da UFRRJ
nathycardiovet@gmail.com
O
carcinoma tubular simples de glândula apócrina é uma neoplasia maligna rara em animais de companhia, apresentando prevalência de 2% dos tumores cutâneos. A literatura é escassa e controversa em relação ao seu comportamento clínico, tratamento, achados citopatológicos e prognóstico. Seu estadiamento, assim como em outros tumores, é realizado pelo método TNM e o diagnóstico é histopatológico. É uma neoplasia localmente infiltrativa, com baixa taxa de metástase e prognóstico reservado. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica. O trabalho em questão tem como objetivo relatar um caso de carcinoma tubular simples de glândula apócrina em cão com comportamento clínico e metastático incomuns, relevantes na sintomatologia clínica, indicando que sua baixa prevalência o torna um importante alvo de estudo. Unitermos: canino, neoplasia cutânea, metástase
S
imple tubular carcinoma of apocrine gland is a rare malignant tumor in small animal practice, with 2% of prevalence among cutaneous tumors. The literature is scarce and controversial regarding its clinical behavior, treatment, cytopathologic findings and prognosis. Its staging, as in other tumors, is performed by the TNM method and the diagnosis is histopathological. It is a locally infiltrative neoplasm, with low metastasis rate and reserved prognosis. The treatment of choice is surgical removal.The present study aims to report a case of simple tubular carcinoma of apocrine gland in a dog with unusual clinical and metastatic behavior, and with relevant clinical signs, indicating that its low prevalence makes it an important target of study. Keywords: canine, cutaneous neoplasm, metastasis
E
l carcinoma tubular simple de glándula apócrina es una neoplasia maligna rara en animales de compañía, presentando una prevalencia del 2% de los tumores cutáneos. La literatura es escasa y controvertida en relación a su comportamiento clínico, tratamiento, hallazgos citopatológicos y pronóstico. Su estadificación, así como en otros tumores, es realizada por el método TNM y el diagnóstico es histopatológico. Es una migración localmente infiltrativa, con baja tasa de metástasis y pronóstico reservado. El tratamiento de elección es la remoción quirúrgica. El trabajo en cuestión tiene como objetivo relatar un caso de carcinoma tubular simple de glándula apócrina en perro con comportamiento clínico y metastásico inusual, y relevantes en la sintomatología clínica, indicando que su baja prevalencia lo convierte en un importante objetivo de estudio. Palabras clave: canino, neoplasia cutánea, metástasis
16
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução pela união internacional contra o câncer. Publicado pela As glândulas sudoríparas são classificadas em écriprimeira vez em 1968, sendo revisado a cada seis a oito nas e apócrinas, sendo compostas por unidades secretóanos, atualmente está na sétima edição, publicada em rias e ductal. As glândulas écrinas, também denomina2009. Este sistema classifica os tumores prioritariamendas atriquiais e merócrinas, localizam-se na derme prote pela extensão anatômica, sendo baseado em três comfunda e no subcutâneo dos coxins. Já as glândulas apóponentes: T: extensão e característica do tumor primácrinas, também denominadas de glândulas epitriquiais, rio; N: ausência ou presença de metástases em linfonosão morfologicamente tubulares e espiraladas, abrindodos regionais; e M: ausência ou presença de metástase se no infundíbulo folicular, sendo as principais glânduà distância1. Há ainda poucos dados em literatura em 1 relação ao seu comportamento, apresentação clínica, las sudoríparas em cães e gatos . Dos tumores cutâneos em animais de companhia, as tratamento e prognóstico3. As principais manifestações clinicas são: perda de peso, anorexia ou hiporexia, neoplasias de glândulas sudoríparas écrinas represenêmese ou hematêmese, hematúria, melena ou hematotam 3,6% e o de glândulas apócrinas 2%. O carcinoma quesia e ascite. O diagnóstico é realizado através da tubular de glândula apócrina é uma neoplasia maligna anamnese, exame físico e laboratorial, além de métodos incomum, apresentando uma prevalência de 0,6 a 2,2% de diagnóstico por imagem, citologia e histopatologia1. dos tumores cutâneos em cães e de 2,5 a 3,6% em feliEm relação à citopatologia, a nos. Acometem preferencialliteratura é escassa e contromente indivíduos idosos, não versa. Geralmente revela céluhavendo predileção sexual. As las arredondadas agrupadas raças golden retriever, elkhond ou isoladas, núcleos excêntrinoroeguês, chow chow, shih cos e citoplasma pálido. A tzu e english sheepdog são as diferenciação entre neoplasias mais acometidas2. Os dados sobre o comportamento clínico apócrinas benignas e malignas deste tumor são variáveis entre não é simples, principalmente os estudos, manifestando-se nas de baixo grau de malignigeralmente como nódulos solidade. O carcinoma tubular tários, circunscritos, com diâsimples de glândula apócrina metro em felinos de até 3 cm e apresenta como sinais de Figura1 – Incidência lateral direita torácica eviem cães de até 10 cm. Em funmalignidade o pleomorfismo, denciando moderado a acentuado padrão ção da presença de tecido caríndice mitótico elevado, figuintersticial e bronquial difuso, e área de radiotilaginoso ou ósseo, podem ser ras de mitose atípicas, invasão pacidade fluido adjacente aos lobos craniais, indicando a presença de efusão pleural (seta) flutuantes ou firmes, podendo estromal e/ou linfática e/ou estar presentes áreas alocapsular. Nos tumores pécicas e ulcerações,sendo com localização ventral em cães mais prevalentes como diagnóstico difenos membros e em felinos rencial temos os carcinosna região da cabeça, prinsarcomas mamários, carcipalmente em lábio infecinomas anaplásicos, carrior e queixo, entretanto cinomas complexos e carpode acometer, também, cinomas em tumores mismembros e abdômen. tos. Os carcinomas de Apresentam característica glândula apócrina aprede infiltração local e em sentam diferenças signifimenor escala invasão de cativas nos valores de vasos linfáticos da derme, área e diâmetro nuclear, sendo a taxa de metástase logo a morfometria nubaixa, podendo ocorrer clear pode ser utilizada no nos linfonodos regionais e diagnóstico diferencial nos pulmões2. Seu estadiaentre a variante benigna e mento é feito pelo método Figura 2 – Ultrassonografia torácica evidenciando área de maligna4. Os principais TNM, é o método mais acúmulo se conteúdo anecóico compatível com efusão marcadores imuno-histoutilizado e padronizado pleural (seta) químicos no diagnóstico Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
17
das neoplasias apócrinas são: AE1/AE3, CAM 5.2 (CK7/8), MNF116, LP34, CK5/6, CK8, CK18, CK13, CK14, p63, a-SMA1. O tratamento de escolha é a remoção cirúrgica. O prognóstico difere quanto ao grau de diferenciação celular, sendo reservado no caso dos carcinomas de glândula apócrina, em função da possibilidade de recidiva após a cirurgia e ocorrência de metástase a distância em até 20% dos casos1.
bloqueio átrio ventricular de primeiro grau. A citologia do nódulo do prepúcio foi sugestiva de carcinoma ou adenocarcinoma. Foi recomendada fluidoterapia com tratamento de suporte, mas por questões particulares o tutor não autorizou, sendo então prescrito tratamento por via oral: amoxicilina com ácido clavulânico na dose de 25 mg/kg a cada doze horas, em função da broncopneumonia; omeprazol 1 mg/kg a cada vinte e quatro horas e ondasetrona 0,1 mg/kg a cada doze horas em função do vômito; ômega 3 e cloridrato de benazepril Relato de caso 0,25 mg/kg a cada vinte e quatro horas em função da Foi atendido no setor de pequenos animais do hospiDVDCM; nutralife intensive® como suporte nutricional e cloridrato de ciproheptadina 0,3 mg/kg a cada doze tal veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de horas, como estimulante do apetite, sendosolicitado reviJaneiro (HVPA-UFRRJ), um canino, sem raça definida, são em uma semana. Ao retornar o animal apresentava macho, com onze anos de idade, inteiro, pesando 6,450 piora do quadro clínico com diskg, com queixa principal de prepnéia restritiva; ruídos pulmonasença de nódulo cutâneo no preres e cardíacos abafados e pulso púcio. Segundo relatos do tutor, o fraco. Diante do quadro clínico paciente há cerca de 30 dias havia foi solicitado avaliação ultrassosido submetido a procedimento nográfica torácica, que revelou a cirúrgico para exérese de três presença de efusão pleural drenánódulos cutâneos no dorso e um vel (Figura 2), além de efusão do prepúcio, sem a realização de pericárdica com tamponamento exames histopatológicos. Além cardíaco. O paciente encontravada queixa da recidiva do nódulo se hipotenso e foi encaminhado em prepúcio, também foi relatado para o setor de emergência para emagrecimento progressivo, inatentativa de estabilização do quapetência, vômito e prostração. Ao dro clínico, entretanto os tutores exame físico constatou-se mucooptaram pela eutanásia. Após o sas hipocoradas, linfonodos subFigura 3 – Fotomicrografia de corte histomandibulares e poplíteos aumen- lógico do miocárdio evidenciando invasão consentimento dos tutores o corpo tados, caquexia, sopro holossistó- do miocárdio por neoplasma, inflamação dopaciente foi encaminhado para o lico grau III/VI em foco mitral, mononucleare fibrose compatível com setor de anatomia patológica do ruído expiratório aumentado, metástase cardíaca de carcinoma. HVPA-UFRRJ para necropsia e histopatologia, cujo resultado foi desidratação de 6% e presença de Coloração HE, 400X nódulo ulcerado em pele na região carcinoma tubular simples de do prepúcio. Realizou-se exames glândula apócrina, moderadamencomplementares, como: hemograte diferenciado com metástase em ma, eletrólitos, bioquímica sérica, adrenal, linfonodos, coração e urinálise, ultrassonografia abdomandíbula (Figuras 3 e 4). minal, radiografia torácica, eletrocardiograma, ecodopplercardioDiscussão grama e citologia do nódulo. A O presente relato apresenta a radiografia torácica evidenciou ocorrência de um carcinoma de discreta efusão pleural, além de glândula apócrina em cão idoso, padrão intersticial não estruturado que, segundo a literatura, tem e bronquial sugerindo broncopocorrência de 2% dentre as neoFigura 4 – Fotomicrografia de corte histolóneumonia (Figura 1). No ecodop- gico de lesão no prepúcio evidenciando plasias de pele, acometendo prinplercardiograma diagnosticou-se proliferação de células organizadas em cipalmente animais entre 8 e 12 a doença valvar degenerativa crô- túbulos inseridos no estroma de tecido anos de idade5,6. Este tipo de nica de mitral (DVDCM), com conjuntivo colagenoso compatível com tumor, geralmente se manifesta remodelamento de átrio esquerdo carcinoma de glândula apócrina. como nódulos subcutâneos sólie o eletrocardiograma evidenciou Coloração HE, 400X dos, pouco circunscritos, e em 18
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
alguns casos ulcerados, tendendo a ocorrer em cabeça, pescoço, zona dorsal do tronco e membros7. Entretanto o caso evidenciou nódulo ulcerado na região do prepúcio. A sintomatologia descrita no presente relato como, emagrecimento progressivo, inapetência, vômito e prostração, correspondem a algumas das principais sintomatologias descritas na literatura2. A caquexia é a forma mais comum de síndrome paraneoplásica em cães, o hipercatabolismo e os fatores de necrose tumoral, liberados por macrófagos ou células tumorais elevam o catabolismo no tecido muscular e adiposo. A caquexia resulta em hipoproteinemia e diminuição da pressão oncótica que podem predispor à ocorrência deefusão pleural1. A inapetência no presente relato pode estar associada à presença de metástase em mandíbula, cujos principais significados clínicos são: o inchaço e a dor6. As principais causas de efusão pericárdica em caninos são de origem neoplásica8. No relato a observação de hipotensão, pulso fraco e ausculta cardíaca abafada está relacionada ao tamponamento cardíaco, ou seja, comprometimento hemodinâmico consequente da efusão pericárdica6. O bloqueio átrio ventricular de primeiro grau (BAV 1º) evidenciado no eletrocardiograma do paciente em questão, pode estar relacionado a infiltração neoplásica cardíaca que ocasiona necrose das fibras miocárdicas e baixa condutibilidade 6. A liberação de citocinas pela neoplasia, também, pode gerar arritmias, por causarem alterações na estrutura de condução elétrica do miocárdio 9,10. Há na literatura controvérsia com relação ao seu comportamento. Alguns autores relatam que o carcinoma de glândula apócrina pode acarretar em metástase a distância3, conforme evidenciado no presente relato, todavia é extremamente raro, uma vez que a maioria dos estudos não evidenciaram este fenômeno8, confirmando a baixa taxa de metástase desta neoplasiaquando comparada a outros carcinomas2,11. Entretanto o presente relato evidenciou metástase em: adrenal, linfonodos, coração e mandíbula.As metástases cardíacas mais comuns citadas são oriundas de melanomas; carcinomas mamário ou bronquial e hemangiossarcomas12, 13, 14, 15. Contudo há relatos de metástase desse tipo de tumor próximo ao átrio esquerdo3. Conclusão O presente relato apresenta o carcinoma de glândulas apócrinas em comportamento clínico e metastático incomuns e relevantes na progressão da sintomatologia clínica, indicando que sua baixa prevalência o torna uma neoplasia ainda desconhecida. Referências 01-DALECK. C.R; DE NARDI. C.R; RODASKI.S. Oncologia em cães e gatos. São Paulo: Editora Roca. 2. ed. p.55-62; p.339-364,
2016. 02-HAUCK, M. L. Tumors of the skin and subcutaneous tissues. In: WITHROW, S. J. ; VAIL, D. M. ; PAGE, R. L. 4. ed. Withrow e MacEwen”s small animal clinical oncology, Saint Louis: Saunders, p.375-401, 2007. 03-SIMKO, E. ; WILCOCK, B. P. ; YAGER, J. A. A retrospective study of 44 canine apocrine sweat gland adenocarcinomas. The Canadian Veterinary Journal. v. 44, n. 1, p. 38-42, 2003. 04-SIMEONOV, R. S. ; SIMEONOVA, G. P. Use of quantitative analysis as a method for differentiation between canine cutaneous apocrine adenomas and apocrine carcinomas on cytological smears. Journal of Veterinary Medicine, v. 54, p. 542-544, 2007. 05-JARK, P. C. ; HUPPES, R. R. ; SIERRA, O. R. ; MARIA, B. P. ; RAPOSO, T. M. M. ; WERNER, J. ; REIS, C. C. V. ; BUENO, C. M. ; LAUFER-AMORIM, R. ; TINUCCI-COSTA, M. ; NARDI, A. B. Carcinoma de glândulas apocrinas com compromise de vasos linfáticos de ladermis: reporte de dos casos. Archivos de Medicina Veterinaria, v. 47, p. 251-254, 2015. 06-GHASEMI, S. ; SARDARI, K. ; MOVASSAGHI, A. R. Apocrines weat gland ductal carcinoma in a 5 year-old Arabian stallion. Comparative clinical pathology, v. 26, p. 1399-1402, 2017. 07-CLAUSEN, F. ; POULSEN, H. Metastatic carcinoma to the jaws. Acta Pathologica Et Microbiologica Scandinavica, v. 57, p. 361-374, 2009. 08-WITHROW; VAIL. Tumors of the skin and soft tissues. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals. Iowa State University Press, Ames, USA, p 72-73, 2013. 09-BAHARAK, A. ; REZA, K. ; SHAHRIAR, D. ; OMID, A. ; DARUOOSH, V. ; NASRIN, A. Metastatic apocrine sweat gland adenocarcinoma in a terrier dog. Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, p. 670-672, 2012. 10-JOHNSON, M. S. ; MARTIN, M. ; BINNS, S. ; DAY, M. J. A retrospective study of clinical findings, treatment and outcome in 143 dogs with pericardial effusion. Journal of Small Animal Practice, v. 45, n. 11, p. 546-552, 2004. 11-FURTADO, A. R. R. ; PARINELLO, L. ; MERLO, M. ; BELLA, A. Primary penile adenocarcinoma with concurrenthy per calcaemia of malignancy in a dog. Journal of Small Animal Practice, v. 56, p. 289-292, 2015. 12-FERREIRA, A. R. A. ; ORIA, A. P. ; MOREIRA, E. L. T. ; SILVEIRA, C. P. B. ; MARINHO, T. C. M. S. ; VIEIRA FILHO C. H. C. V. ; BURGUER, J. M. ; COSTA NETO, J. M. Hemangiossarcoma cardíaco em cão: relato de caso. Medicina Veterinária, v. 5, n. 4, p. 17-25, 2011. 13-HAZIROGLU, R. ; HALIGUR, M. ; KELES, H. Histopathological and immunohistochemical studies of apocrines weat gland adenocarcinomas in cats. Veterinary and Comparative Oncology, v. 12, p. 85-90, 2012. 14-AUPPERLE, H. ; MÄRZ, I. ; ELLENBERGER, C. ; BUSCHATZ, S. ; REISCHAUER, A. ; SCHOON, H. A. Primary and secondary heart tumours in dogs and cats. Journal Company Pathology, v. 136, p. 18-26, 2007. 15-MESQUITA, L. P. ; ABREU, C. C. ; NOGUEIRA, C. I. ; WOUTERS, A. T. B. ; WOUTERS, F. ; BEZERRA Jr., P. S. ; MUZZI, R. A. L. ; VARASCHIN, M. S. Prevalência e aspectos anatomopatológicos das neoplasias primárias do coração, de tecidos da base do coração e metastáticas, em cães do Sul de Minas Gerais (1994-2009). Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 32, n. 11, p. 1155-1163, 2012.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
19
Farmacodermia cutânea secundária ao uso de beta-lactâmico em felino com doença renal crônica Cutaneous pharmacodermia secondary to the use of beta-lactam in feline with chronic renal disease Farmacodermia cutánea secundaria al uso de beta-lactámico en felino con enfermedad renal crónica Rosemar de Almeida Freitas1; Jonimar Pereira Paiva2; Aline Fernandes Porto3; Daniel Carvalho Hainfellner4; Mario dos Santos Filho5 1-MV, mestre. 2-MV, dr., prof. adjunto do Departamento de Medicina e Cirurgia Veterinária da UFRRJ. 3-MV Unigranrio. 4-MV, aluno de mestrado do PPGMV da UFRRJ. 5-MV, alunoe de mestrado do PPGMV da UFRRJ.
vet.freitas@outlook.com
A
farmacodermia é uma doença mucocutânea que pode vir acompanhada de prurido e que algumas vezes pode causar sinais sistêmicos. Ainda que seja considerada uma condição rara em cães e gatos, esta não deve ser subestimada. A identificação do agente etiológico causador da farmacodermia muitas vezes é difícil, devido ao uso de outros fármacos concomitantes. O diagnóstico rápido é essencial para suspensão do fármaco e evitar o agravamento dos sinais clínicos. Doentes renais crônicos desenvolvem com frequência infecções urinárias, em virtude da doença crônica comprometer a imunocompetência, sendo muitas vezes necessário o uso de antibióticos para controle das infecções. A amoxicilina está dentre os antibióticos mais prescritos para tratamento das cistites bacterianas, devido a sua abrangência. Dentro deste contexto, relata-se o caso de um felino, fêmea, de 14 anos de idade, doente renal crônica,que desenvolveu lesões cutâneas faceais secundária ao uso de amoxicilina com clavulanato de potássio para tratamento de cistite bacteriana. Unitermos: reação a fármacos, amoxicilina, cistite
P
harmacodermia is a mucocutaneous disease that maybe accompanied by pruritus and sometimes can cause systemic signs. Although considered a rare condition in dogs and cats, it should not be underestimated. Identification of the etiologic agent causing pharmacodermia is often difficult due to the use of other concomitant drugs. Rapid diagnosis is essential for suspended of the drug and avoid worsening of clinical signs. Chronic kidney patients often develop urinary tract infections, because chronic disease compromises immunity, and antibiotics are often needed to control infections. Amoxicillin is among the most common antibiotics in cases of bacterial cystitis due to its extent. Within this context, the case of a feline, 14 years old and chronic renal patient with facial skin lesions secondary to the use of amoxicillin/clavulanato potassium for the treatment of bacterial cystitisis reported. Keywords: drug reaction, amoxicillin, cystitis
L
a farmacodermia es una enfermedad mucocutánea que puede venir acompañada de prurito y que algunas veces puede causar signos sistémicos. Aunque se considere una condición rara en perros y gatos, ésta no debe ser subestimada. La identificación del agente etiológico causante de la farmacodermia a menudo es difícil debido al uso de otros fármacos concomitantes. El diagnóstico rápido es esencial para la suspensión del fármaco y evitar el agravamiento de los signos clínicos. Los pacientes renales crónicos desarrollan com frecuencia infecciones urinarias, debido a que la enfermedad crónica compromete la inmunocompetencia, siendo a menudo necesario el uso de antibióticos para el control de las infecciones. La amoxicilina está entre los antibióticos más prescritos para el tratamiento de las cistitis bacterianas, debido a su alcance. En este contexto, se relata el caso de un felino hembra, de 14 años de edad, enfermo renal crónico, que desarrolló lesiones cutâneas cara a les secundarias al uso de amoxicilina com clavulanato de potasio para tratamiento de cistitis bacteriana. Palabras clave: reacción a fármacos, amoxicilina, cistitis
20
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução A farmacodermia é o termo utilizado para descrever uma reação adversa à determinado fármaco, que pode manifestar-se na pele, nas mucosas e anexos ou ainda, estar associado a alterações em outros órgãos e sistemas1. Os antibióticos estão dentre as causas mais frequentes desencadeadoras de reações de hipersensibilidade em animais e seres humanos2,3. Os antibióticos do grupo dos beta-lactâmicos são os mais frequentemente prescritos, em decorrência de sua eficácia e segurança, para tratamento das infecções urinárias e dentre eles, destaca-se á amoxicilina4. Dada a sua concentração urinária, a amoxicilina é o antibiótico de primeira escolha nas infecções urinárias de cães e gatos com doença renal crônica5. A doença renal crônica caracteriza-se pela presença de lesão renal perpetuante por período igual ou superior a três meses, com perda definitiva e irreversível de massa funcional e/ou estrutural de um ou de ambos os rins6,7. Como toda doença crônica, esta também cursa com comprometimento imunológico, favorecendo o desenvolvimento de infecções secundárias, tendo como principal destaque para as infecções urinárias de origem bacteriana. Sabe-se que tais infecções em felinos hígidos são raras, correspondendo menos de 2%8; no entanto, em se tratando de felinos idosos e com agravante da doença renal, este percentual pode chegar a mais de 50%5. Sendo assim, é de suma importância estar atento a quaisquer manifestações clínicas apresentada pelo paciente ao se introduzir um fármaco e quando possível, evitar o uso de drogas concomitantes para não dificultar o diagnóstico. Relato de caso Uma felina pelo curto brasileiro, esterilizada, de 14 anos de idade e pesando 3,5 kg veio encaminhada para atendimento especializado uronefrológico na Clínica Escola da Universidade Castelo Branco, com diagnóstico de doença renal crônica (Estágio 3) descompensada. Ao iniciar o exame clínico, a tutora relatara que há duas semanas a paciente apresentava-se prostrada,
inapetente, com perda de peso, êmese, com aumento da ingestão hídrica e da frequência de micções. No exame físico, pode ser constatado que a paciente apesentava-se levemente desidratada, com mucosas discretamente hipocoradas, ausência de desconforto abdominal e afebril. Sem mais alterações no exame físico. Foram então solicitados exames laboratoriais e de imagem, que revelaram: no exame ultrassonográfico, que os rins apresentavam-se pequenos, com acentuada perda de relação corticomedular, contornos irregulares e presença de áreas de fibrose em divertículos direito. A vesícula urinária apresentava-se com parede espessada, mucosa irregular e presença de debris celulares, sugerindo quadro de cistite de grau moderado. Sem mais alterações relevantes em demais estruturas abdominais. Na avaliação hematológica constatou-se discreta anemia normocítica normocrômica, com hematócrito de 21,9% (Ref.: 24-45%); hemoglobina de 7,7 g/dL (Ref.: 8-16 g/dL), sem mais alterações. Já na avaliação bioquímica, foi constatada evolução rápida da doença, pois o paciente no mês anterior apresentava-se com ureia de 150 mg/dL (Ref.: 10-74 mg/dL) e creatinina de 4,2 mg/dL (Ref.: 0,5-1,6 mg/dL) configurando estágio 3 da doença. No mês do desenvolvimento dos sinais clínicos, a ureia era de 258 mg/dL e a creatinina de 5,6 mg/dL. Já a cultura e antibiograma da urina coletada por cistocentese, revelou infecção urinária por Escherichia coli, sensível a amoxicilina, sendo então prescrito tal antibiótico supracitado, associado ao clavulanato de potássio, a cada 12 horas, durante 21 dias seguidos. No entanto, no segundo dia de antibiótico, a tutora observara que o paciente começou a apresentar prurido discreto na face, que foi progressivamente se intensificando e no quinto dia, iniciou com queda de pelo e com o surgimento lesões úmidas na região. No sétimo dia, a lesão já estava mais extensa (Figuras 1 e 2). Ainda que o paciente tivesse Figuras 1 e 2 – Imagens demonstrativas das apresentado melhora laboratolesões cutâneas faceais, secundário ao uso rial (urocultura negativa após 5 da amoxicilina com clavulanato de potássio dias de antibiótico) e clínica dos (Fonte: Rosemar de Almeida Freitas) sintomas uronefrológicos, o Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
21
antibiótico foi suspenso antes do término do tratamento e substituído por outro de igual sensibilidade bacteriana (fluoroquinolona de 2ª geração). Foi prescrito ainda, digluconato de clorexidina spray na lesão, a cada 12 horas até cicatrização. Ao término do tratamento, o paciente continuava apresentando urocultura negativa e valores de ureia (160 mg/dL) e creatinina (4,5 mg/dL) inferiores ao início do tratamento. O paciente permaneceu estável, recebendo acompanhamento regular para monitoramento da função renal. Discussão A anamnese foi fundamental para o diagnóstico, pois possibilitou descartar outras causas de afecções dermatológicas como fúngicas, bacterianas, parasitárias e uso de outras medicações ingeridas no mês anterior; visto que a identificação do fármaco desencadeador pode ser difícil, pois muitos pacientes nefropatas crônicos recebem diversos medicamentos simultaneamente. Entretanto, a paciente do presente relato fazia apenas uso de aplicação 150 mL de solução de Ringer lactato três vezes por semana para controle da doença crônica9-11. A reação cutânea secundária ao uso de drogas farmacológicas produz uma grande variedade de sinais tegumentares, tornando o diagnóstico mais complexo. Como ainda não há nenhum teste disponível que confirme a hipersensibilidade aos beta-lactâmicos, a descontinuidade na administração do fármaco associado ao desaparecimento dos sinais, é o único teste confiável e seguro12-14. Ocasionalmente as lesões cutâneas medicamentosas podem persistir por semanas ou meses após a suspensão da administração do fármaco, entretanto, o mesmo não ocorreu com o paciente em questão. As lesões cicatrizaram em duas semanas, após a suspensão da medicação15. Conclusão O diagnóstico da farmacodermia cutânea em gatos nem sempre é fácil e rápido, pois pode ser confundido com dermatofitoses e infestações parasitárias. A observação do início das lesões pela tutora associado ao histórico de ausência de uso de outros fármacos concomitante, foi essencial para evitar o agravamento do quadro clínico e ajustar o tratamento da infecção urinária à outro fármaco com consequente resolução dos sintomas e melhora na condição clínica do paciente. Referências 01-SILVA, C. D. C. F. ; BATISTA, E. C. ; MARTINS, D. M. ; ARAGÃO, S. K. S. S. Reações cutâneas após a administração de tetraciclina em um cão - relato de caso. Anais da 35.ª ANCLIVEPA, p. 286-288, 2014. 02-ROTELA-FISCH, V. ; VALIENTE-REBULL, C. ; DI MARTI-
22
NO-ORTÍZ, B. ; RODRÍGUEZ-MASI, M. ; DE LEZCANO, L. B. Pharmacodermy. CIMEL. Ciencia e Investigación Médica Estudiantil Latino americana, v. 21, n. 2, p. 42-48. 2016. 03-TEO, Y. ; WALSH, S. ; CREA, D. Cutaneous adverse drug reaction referrals to a liaison dermatology service. British Journal of Dermatology, v. 177, n. 4, p. 141-142, 2017. 04-SACHS, B. ; AL MASAOUDI, T. ; MERK, H. F. ; ERDMANN, S. Combined in vivo and in vitro approach for the characterization of penicillin-specific polyclonal lymphocyte reactivity: tolerance tests with safe penicillins instead of challenge with culprit drugs. British Journal of Dermatology, v. 151, p. 809-816, 2004. 05-LULICH, J. P. ; OSBORNE, C. A. ; O’BRIEN, T. D. ; POLZIN, D. J. Feline renal failure: questions, answers, questions. Compendium on Continuing Education for the Practising Veterinarian - North American Edition, v. 14, p. 127-153, 1992. 06-POLZIN, D. J. Chronickidneydisease. In: BARTGES, J. ; POLZIN, D. J. Nephrology and urology of small animals. 2. ed, p. 433–71, 2011. 07-SPARKES, A. H. ; CANEY, S. ; CHALHOUB, S. ; ELLIOTT, J. ; FINCH, N. ; GAJANAYAKE, I. ; LANGSTON, C. ; LEVEBVRE, H. P. ; WHITE, J. ; QUIMBY, J. ISFM consensus guidelines on the diagnosis and management of feline chronic kidney disease. Journal Feline Medicine Surgery, v. 18. p. 219-239, 2016. 08-BUFFINGTON, C. A. ; CHEW, D. J. ; KENDALL, M. S. Clinical evaluation of cats with non obstructive lower urinary tract diseases. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 210, p. 46-50, 1997. 09-DEMOLY, P. ; ROMANO, A. Recent advances in the diagnosis of drug allergy. Current Opinion in Allergy and Clinical Immunology, v. 7, n. 4, p. 299-303, 2007. 10-KHAN, D. A. Cutaneous drug reactions. Journal of Allergy and Clinical Immunology, v. 130, n. 5, p. 1225-1225, 2012. 11-ALEIXO, G. A. S. ; COELHO, M. C. O. C. ; SILVESTRE, L. S. A. ; MOTA, A. K. R. Farmacodermia em cães. Medicina Veterinária, v. 3, n. 3, p. 31-35, 2009. 12-MORRIS, D. O. Erupções cutâneas por drogas. In: TILLEY, L. P. ; SMITH JUNIOR, F. W. K. Consulta veterinária em cinco minutos: espécies canina e felina. 2. ed. São Paulo: Manole, p. 603-603, 2003. 13-DEMOLY, P. ; PICHLER, W. J. ; PIRMOHAMED, M. ; ROMANO, A. Important questions in allergy 1: drug allergy/hypersensitivity. Allergy, v. 63, n. 5, p. 616-619. 2008. 14-LIMA, D. A. S. D. ; QUESSADA, A. M. ; LIMA, W. C. ; SILVA, F. A. N. ; RODRIGUES, N. M. ; RODRIGUES, M. C. ; SOUSA, J. M. Reação farmacodérmica em cão: relato de caso. Medvep. Dermato – Revista de Educação Continuada em Dermatologia e Alergologia Veterinária, v. 2, n. 4, p. 224-227, 2012. 15-SCOTT, D. W. ; MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. Immunemediated disorders. In: ___. Muller & Kirk´s. Small animal dermatology. 6. ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, p. 667-779, 2001.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Adenocarcinoma intestinal invasivo com metaplasia óssea em cadela – relato de caso Invasive intestinal adenocarcinoma with bone metaplasia in bitch – case report Adenocarcinoma intestinal invasivo con metaplasia ósea en perra – relato de caso Roberta Wilkinson Graser1; Paulo Daniel Sant’Anna Leal2; Larissa Licurci de Oliveira Barbosa3; Maria Isabel Menezes Ramos4; Matheus Daudt Matos5; Debora Porretti Campos6; Elan Cardozo Paes de Almeid7; Carlos Wilson Gomes Lopes8 1-Aluna de graduação da FV da UFF. 2-MV, DSc. aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 3-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 4-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 5-MV. 6MV, Bio, CTI Veterinário. 7-MV, MSc, DSc, da FCB/ISNF da UFF-Nova Friburgo. 8-MV, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ – bolsista CNPq.
roberta_graser@id.uff.br
U
ma cadela, da raça sharpei, de nove anos de idade, não castrada, peso corporal de 9,8 kg, foi atendida no serviço de saúde veterinário, no Rio de Janeiro. Exame físico mostrou massa abdominal, exame radiográfico mostrou imagem radiopaca em topografia de duodeno, exame ultrassonográfico mostrou segmento de alça intestinal com dilatação por conteúdo intestinal e peristaltismo aumentado. Foi realizada laparotomia exploratória, com ressecção cirúrgica e enteroanastomose do intestino delgado com resultado histopatológico de adenocarcinoma intestinal invasivo com metaplasia óssea. Comprova-se a eficiência dos métodos diagnósticos nas patologias abdominais; a necessidade de monitoração diagnóstica em pacientes com histórico de tumor mamário; importância da realização de biópsia para classificação histopatológica do tumor, descrevendo uma manifestação tumoral incomum intestinal de adenocarcinoma invasivo com metaplasia óssea. Unitermos: cães, anorexia, abdomem, diagnóstico, neoplasia
A
nine-year-old, uncastrated Sharpei dog, 9.8 kg body weight, was seen at the veterinary health service in Rio de Janeiro. Physical examination showed abdominal mass, radiographic examination showed radiopaque image in duodenum topography, ultrasonographic examination showed segment of intestinal loop with dilation by intestinal contents and increased peristalsis. An exploratory laparotomy was performed, with surgical resection and small bowel enteroanastomosis with histopathological result of invasive intestinal adenocarcinoma with bone metaplasia. The efficiency of the diagnostic methods in the abdominal pathologies is proven; the need for diagnostic monitoring in patients with a history of breast cancer; importance of performing a biopsy for histopathological classification of the tumor, describing an unusual intestinal tumor manifestation of invasive adenocarcinoma with bone metaplasia. Keywords: dogs, anorexia, abdomem, diagnosis, neoplasia
U
na perra, de la raza Sharpei, de nueve años de edad, no castrada, peso corporal de 9,8 kg, fue atendida en el servicio de salud veterinario, en Río de Janeiro. El examen físico mostró masa abdominal, examen radiográfico mostró imagen radiopaca en topografía de duodeno, examen ultrasonográfico mostró segmento de alza intestinal con dilatación por contenido intestinal y peristaltismo aumentado. Se realizó laparotomía exploratoria, con resección quirúrgica y enteroanastomosis del intestino delgado con resultado histopatológico de adenocarcinoma intestinal invasivo con metaplasia ósea. Se comprueba la eficiencia de los métodos diagnósticos en las patologías abdominales; la necesidad de monitorización diagnóstica en pacientes con historial de tumor mamario; la importancia de la realización de biopsia para clasificación histopatológica del tumor, describiendo una manifestación tumoral inusual intestinal de adenocarcinoma invasivo con metaplasia ósea. Palabras clave: perros, anorexia, abdomen, diagnóstico, neoplasia
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
23
Introdução Neoplasias em caninos são frequentes, em cadelas adultas os tumores mamários (TM), são os mais observados, podendo apresentar mais de um tipo histológico, sendo os carcinomas em tumores mistos o tipo histológico predominante. As fêmeas idosas com mais de 9,5 anos tem mais neoplasias malignas que as adultas e o carcinoma simples é o mais prevalente, as metástases para linfonodos ocorrem com maior frequência do que para outros órgãos1,2,3. Os meios para a conclusão do diagnóstico e que podem ser utilizados para prognóstico são histopatologia e imunohistoquímica1-4. Além dos exames específicos, exames de imagem são fundamentais para auxilio no diagnóstico e prognóstico, radiografia, ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são fundamentais inclusive como método auxiliar na escolha do tratamento, onde se evidenciam as estruturas acometidas, e a escolha pela cirurgia associada ou não ao tratamento quimioterapico5,6,7. As neoplasias intestinais primárias são raras em cães; a neoplasia gastrointestinal no cão tem uma incidência relatada entre 0,12 a 1,2%8,9. O adenocarcinoma intestinal representa aproximadamente 0,3% de todos os neoplasmas caninos10,11. A localização mais comum da neoplasia intestinal primária no cão ocorre no intestino grosso, e o adenocarcinoma tem sido relatado tanto no intestino delgado como no intestino grosso12. É um tumor epitelial maligno que forma estruturas tubulares, podendo exibir mais de um padrão, sendo nomeado com base no tipo predominante, e formações ósseas podem ser encontradas na mucosa ou nas regiões serosas10. A ossificação heterotópica ocorre quando o tecido ósseo se forma fora do esqueleto13, porém, essas formações ósseas são achados incomuns14. Relata-se um caso de adenocarcinoma intestinal invasivo com metaplasia óssea em cadela com histórico de TM. Histórico Uma cadela, da raça Sharpei, de nove anos de idade, não castrada, peso corporal de 9,8 kg, foi atendida no Centro de Terapia Intensiva e Emergência Veterinária, no Rio de Janeiro, com histórico de vômitos, anorexia, diarreia e perda de peso progressiva, com peso corporal anterior relatado de 18 kg. Ao exame físico, o animal apresentava caquexia, mucosas hipocoradas, temperatura retal de 38,5 ºC, massa abdominal palpável em região hipogástrica. Havia relato de ocorrência de tumor mamário prévio, tratado cirurgicamente através da técnica de mastectomia parcial, porém sem diagnóstico histopatológico. O exame radiográfico mostrou presença de massa radiopaca em topografia de intestino delgado, cranial à bexiga; enquanto que, o exame 24
ultrassonográfico evidenciou em região meso/hipogástrica um segmento de alça intestinal com moderada dilatação por conteúdo intestinal e peristaltismo aumentado, em continuidade a este segmento, foi observada uma imagem hiperecogênica, bem definida, produtora de sombra acústica posterior, medindo aproximadamente 4,48 cm. Foram coletadas amostra de sangue da veia jugular direita, os resultados encontrados nos exames hematológicos foram: anemia normocítica normocrômica arregenerativa (VG = 24%), leucocitose de 60.600/mm3 (6 – 17.000/mm3) com neutrofilia de 58.782/mm3 (3 – 11.500/mm3), desvio nuclear de neutrófilos a esquerda discreto regenerativo, eosinopenia, linfopenia, eosinopenia e trombocitose, proteina plasmática de 3,6 g/dL (5,5 – 7,7 g/dL) e parâmetros bioquímicos (Roche Diagnostics GmbH, MannheimBaden-Württemberg RFA), com valores em mg/dL: alanina aminotransferase (ALT/TGP) 23,5 (C < 89); Lactato 4,1 (C < 2 mmL/L); Glicose 129 (C = 70 a 110); Creatinina 0,53 (C < 1,8). A paciente manteve-se dentro do quadro clínico reservado, prostrada, porém responsiva a manipulação e atenta aos chamados. Foi transfundido com sangue total fresco, com objetivo de reposição eritrocitária e albumina, após classificação sanguínea, através do reconhecimento dos antígenos eritrocitários e provas de compatibilidade15,16,17. Foi realizada laparotomia exploratória, na qual foi observada dilatação em alça do intestino delgado, distal ao duodeno, com conteúdo alimentar e caudalmente à dilatação havia uma massa que obliterava toda a luz intestinal. Foi feita ressecção cirúrgica de cerca de 30 cm do intestino delgado, e fragmentos intestinais foram encaminhados para avaliação histopatológica, sendo descrito áreas de epitélio normal e rico infiltrado linfoplasmocitário na lâmina própria, áreas de invasão com estruturas tubulares revestidas por epitélio poliédrico a colunar neoplásico na camada muscular, camada basal ora única, ora múltipla. Estas células possuíam citoplasma amplo, núcleo ovalado e basal, hipercromático, com nucléolo proeminente. Ao redor das estruturas tubulares neoplásicas havia edema e rico infiltrado de linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Foram observadas áreas com trabéculas ósseas mineralizadas e estroma desmoplásico, concluindo como adenocarcinoma intestinal invasivo com metaplasia óssea (Figura 1). A paciente evoluiu bem clinicamente durante pós-operatório, tendo alta hospitalar cinco dias após o procedimento cirúrgico, e se mantem saudável desde então, após mais de 12 meses do tratamento. Discussão Os tumores mamários são frequentes em cães, correspondendo a 25% das neoplasias nesta espécie18.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Em cadelas não castradas, como a relatada neste caso, os tumores mamários caninos são as neoplasias mais comuns19,20, e tem sido descrito que aproximadamente 40 a 50% são histologicamente malignos19. Apesar da principal via metastática dos carcinomas mamários ser através da via linfática, metástases via hematogênica para outros órgãos também podem ocorrer, conforme o presente estudo19. A maioria dos casos de adenocarcinoma intestinal ocorre em machos e animais idosos, com idade média de nove anos, no entanto o animal deste estudo era fêmea e acima dos nove anos8,10. Os sinais clínicos observados são compatíveis com o local da lesão, pois o vômito é geralmente associado com lesões intestinais proximais e a perda de peso com lesões jeju-
nais12,21. Os sinais clínicos estão relacionados diretamente com a presença da neoplasia em intestino delgado, a anemia e hipoproteinemia podem estar associadas, tanto com doença crônica e sangramento do trato gastrointestinal, sendo um achado comum em cães com adenocarcinoma intestinal12. De acordo com a literatura, a palpação de uma massa abdominal no exame físico detecta muitos tumores do trato gastrointestinal, tal como ocorrido neste relato, mas um número significativo de casos ocultos, 21% em um estudo, é descoberto apenas através de necropsia14. A radiografia e a ultrassonografia, conforme o atual estudo são métodos comuns de diagnóstico por imagem, utilizados para avaliar a neoplasia intestinal, demonstra massa ou uma
Figura 1. Adenocarcinoma em cadela. Áreas de invasão com estruturas tubulares revestidas por epitélio poliédrico a colunar neoplásico, circundado por estroma desmoplásico (a,b). Obj. 4X e 10X. Estruturas tubulares neoplásicas e áreas de metaplasia óssea (setas) (c) Obj. 10X. Estruturas tubulares revestidas por células com citoplasma amplo, núcleo ovalado e basal, hipercromático, com nucléolo proeminente (círculos); áreas com trabéculas ósseas mineralizadas (estrela) (d) Obj 40X. Hematoxilina e Eosina. Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
25
obstrução, mas laparotomia e biópsia são necessárias para estabelecer um diagnóstico conclusivo10,12. Atualmente, na rotina clínica, a ultrassonografia é considerada o meio mais eficaz de diagnosticar alterações abdominais em cães, sendo útil na avaliação topográfica, funcional e morfológica12,22,23. Os achados ultrassonográficos observados são os mais comuns, de tumores gastrointestinais, espessamento da parede gastrointestinal, perda da definição em camadas da parede12,22,24,25. Uma característica histopatológica incomum foi apresentada neste caso, a formação óssea heterotópica ou metaplasia óssea, ocorre quando o tecido ósseo se forma fora do esqueleto, incomum no trato gastrointestinal13,14. Em humanos, embora raramente, foi observado no trato gastrointestinal13 e tem sido associada a alterações inflamatórias, produção de mucina, isquemia e/ou necrose local, no entanto, embora esses eventos ocorram frequentemente em carcinomas gástricos, metaplasia óssea permanece um achado raro26. A ressecção e a anastomose intestinais mostraram ser efetivas para o tratamento da neoplasia intestinal, pois o diagnóstico permitiu a ressecção total da lesão com margens amplas, sendo estes os principais fatores para o sucesso do tratamento sem necessidade de utilização de quimioterapia27. Conclusão Comprova-se a eficiência dos métodos diagnósticos com a radiologia e a ultrassonografia nas patologias abdominais; a necessidade de monitoração diagnóstica em pacientes com histórico neoplásico; importância da realização de biópsia com avaliação histopatológica do tumor e eventual correlação com aparecimento posterior de novo tumor, em qualquer localização; relata-se uma manifestação tumoral incomum em intestino adenocarcinoma invasivo com metaplasia óssea. Referências 01-OLIVEIRA FILHO, J. C. ; KOMMERS, G. D. ; MASUDA, E. K. ; MARQUES, B. M. ; FIGHERA, R. A. ; IRIGOYEN, L. F. ; BARROS, C. S. Estudo retrospectivo de 1.647 tumores mamários em cães. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 30, n. 2, p. 177-185, 2010. 02-TORÍBIO, J. M. D. M. L. ; LIMA, A. E. ; MARTINS FILHO, E. F. ; RIBEIRO, L. G. R. ; D'ASSIS, M. J. M. H. ; TEIXEIRA, R. G. ; NETO, C. Caracterização clínica, diagnóstico histopatológico e distribuição geográfica das neoplasias mamárias em cadelas de Salvador, Bahia. Revista Ceres, v. 59, n. 4, p. 427-433, 2012.
cal and immunohistochemical study of mammary neoplasm in bitches. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 64, n. 5, p. 094-1100, 2012. 05-BLEVINS, W. E. Ultrasonography for cancer diagnosis and monitoring. In: MORRISON, W. B. Cancer in Dogs and Cats: Medical and Surgical Management. 2. ed. Baltimore: Teton New Media, 2002. p. 159-176. 06-DE NARDI, A. B. ; RODASKI, S. ; SOUSA, R. S. ; COSTA, T. A. ; MACEDO, T. R. ; RODIGHERI, S. M. ; PIEKARZ, C. H. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamentos em cães, atendidos no hospital veterinário da Universidade Federal do Paraná. Archives of Veterinary Science, v. 7, n. 2, 2004. 07-JUNIOR, D. C. G. ; DA COSTA, N. J. M. ; DA SILVA, A. E. ; MARTINS FILHO, E. F. ; CARNEIRO, R. L. ; DE JESUS, M. V. ; DA SILVA, W. M. Ameloblastoma mandibular rostral em um cão. Semina: Ciências Agrárias, v. 34, n. 1, p. 347-354, 2013. 08-PATNAIK, A. K. ; HURVITZ, A. I. ; JOHNSON, G. F. Canine Gastrointestinal Neoplasms. Veterinary Pathology, Nova Iorque, v. 4, n. 6, p. 547-555, 1977. 09-FROST, D. ; LASOTA, J. ; MIETTINEN, M. Gastrointestinal stromal tumors and leiomyomas in the dog: a histopathologic, immunohistochemical, and molecular genetic study of 50 cases. Veterinary Pathology, v. 40, n. 1, p. 42-54, 2003. 10-HEAD, K.W. ; ELSE, R. W. ; DUBIELZIG, R. R. Tumors of the alimentary tract. In: MEUTEN, D. J. Tumors in domestic animals. 4. ed. Iowa: Iowa State Press, 2002. p. 401-482. 11-DE NARDI, A. B. ; RODASKI, S. ; SOUSA, R. S. ; COSTA, T. A. ; MACEDO, T. R. ; RODIGHERI, S. M. ; RIOS, A. ; PIEKARZ, C. H. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamentos em cães, atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná. Archives of Veterinary Science, v. 7, n. 2, p. 15-26, 2002. 12-PAOLONI, M. C. ; PENNINCK, D. G. ; MOORE, A. S. Ultrasonographic and clinicopathologic findings in 21 dogs with intestinal adenocarcinoma. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 43, n. 6, p. 562-567, 2002. 13-HUANG, R. S. P. ; BROWN, R. E. ; BURYANEK, J. Heterotopic ossification in metastatic colorectal carcinoma: case report with morphoproteomic insights into the histogenesis. Annals of Clinical & Laboratory Science, v. 44, n. 1, p. 99103, 2014. 14-KILLIAM, E. ; CICCHINO, R. ; FOSTER, T. ; STEAD, J. Colon adenocarcinoma metastasis to soft tissue of the wrist with heterotopic bone formation: a case study. Grand Rounds, v. 14, p. 16-20, 2014. 15-HALE, A. S. Canine blood groups and their importance in veterinary transfusion medicine. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 25, n. 6, p. 1323-1332, 1995. 16-LANEVSCHI, A. ; WARDROP, K. J. Principles of transfusion medicine in small animals. Canadian Veterinary Journal, v. 42, n. 6, p. 447–454, 2001.
03-CASSALI, G. D.; et al. Consensus for the diagnosis, prognosis and treatment of canine mammary tumors - 2013. Brazilian Journal of Veterinary Pathology, [S.l.], v. 7, n. 2, p. 38-69, 2014.
17-BLAIS, M. C. ; BERMAN, L. ; OAKLEY, D. A. ; GIGER, U. Canine dal blood type: a red cell antigen lacking in some Dalmatians. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 21, n. 2, p. 281-286, 2007.
04-FELICIANO, M. A. R. ; SILVA, A. S. ; PEIXOTO, R. V. R. ; GALERA, P. D. ; VICENTE, W. R. R. Clinical, histopathologi-
18-MARTINS, A. M. C. R. P. F. ; TAMASO, E. ; GUERRA, J. L. Retrospective review and systematic study of mammary tumors
26
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
in dogs and characteristics of the extracellular matrix. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 39, n. 1, p. 38-42, 2002. 19-SLEECKX, N. ; DE ROOSTER, H. ; VELDHUIS KROEZE, E. J. B. ; VAN GINNEKEN, C. ; VAN BRANTEGEM, L. Canine mammary tumours, an overview. Reproduction in Domestic Animals, v. 46, n. 6, p. 1112-1131, 2011.
2003. 23-MYERS, N. C. ; PENNINCK, D. G. Ultrasonographic diagnosis of gastrointestinal smooth muscle tumors in the dog. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 35, n. 5, p. 391-397, 1994. 24-PENNINCK, D.G. Characterization of gastrointestinal tumors. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 28, n. 4, p. 777-797, 1998.
20-SANTOS, A. A. ; LOPES, C. C. ; RIBEIRO, J. R. ; MARTINS, L. R. ; SANTOS, J. C. ; AMORIM, I. F. ; GÄRTNER, F. ; MATOS, A. J. Identification of prognostic factors in canine mammary malignant tumours: a multivariable survival study. BMC Veterinary Research, v. 9, n. 1, p. 1-11, 2013.
25-GARCIA, D. A. A. ; FROES, T. R. ; GUÉRIOS, S. D. Ultrassonografia abdominal pré-operatória em cães e gatos com suspeita de tumores abdominais. Ciência Rural, v. 42, n. 1, p.105-111, 2012.
21-PRATER, M. R. ; DUNCAN, R. B. ; GAYDOS, J. Characterization of metastatic intestinal adenocarcinoma with differentiation into multiple morphologic cell types in a Virginia opossum. Veterinary Pathology, v. 36, n. 5, p. 463-468, 1999.
26-AMORIM, I. ; LOPES, C. ; DA COSTA, R. G. ; FAUSTINO, A. ; GÄRTNER, F. ; PEREIRA, P. D. Gastric carcinoma with osseous metaplasia in a dog. Archives of Veterinary Science, v. 17, n. 3, p.10-14, 2012.
22-PENNINCK, D. G. ; MYERS, B. S. ; WEBSTER, C. R. L. ; RAND, W. ; MOORE, A. S. Diagnostic value of ultrasonography in differentiating enteritis from intestinal neoplasia in dogs. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 44, n. 5, p. 570-575,
27-JUSTOLIN, L. T. ; DI SANTIS, G. W. ; JUSTOLIN, J. P. Ressecção e anastomose intestinal no tratamento de tumor estromal gastrintestinal. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 41, supl. 1, p.103-104, 2004.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
27
Aplicação da túnica albugínea ovina no reforço de parede abdominal em ratos Application of the ovine tunica albuginea in the abdominal wall reinforcement in rats Aplicación de la túnica albugínea ovina en el refuerzo de la pared abdominal en ratones Fernanda Moreira da Silva1; Viviane Alexandre Nunes Degani2; Maria de Lourdes Gonçalves Ferreira3; Ana Clara de Castro Canellas4; Carla Ferreira Farias Lancetta5; Tatiana Assunção de Moraes6; Aline Ferreira Rodrigues7; Priscila Sardinha de Araújo8 1-Aluna de graduação da FV da UFF. 2-MV, profa. associada I da UFF. 3-MV, profa. associada III da UFF. 4-MV, aluna de mestrado da UFF. 5-MV, profa. associada I da UFF. 6-MV, aluna de mestrado da UFF. 7-MV, aluna de mestrado da UFF. 8-Aluna de graduação em biomedicina da UFF.
femoreira@id.uff.br
O
trabalho tem como objetivo avaliar a cicatrização e a biocompatibilidade do enxerto de túnica albugínea ovina na parede abdominal de ratos. Utilizamos 30 ratos da raça Wistar, distribuídos em dois grupos: um controle (C) e um teste (T), que receberam reforço de parede abdominal com túnica albugínea ovina. Os grupos foram divididos em três subgrupos com cinco animais cada, que foram submetidos à eutanásia nos dias 7, 21 e 42, respectivamente. O material coletado foi submetido à análise histopatológica a fim de afirmar a aplicabilidade da túnica albugínea e propor a sua utilização como material de enxertia para a reconstrução da parede abdominal. Nos animais do grupo T observou-se maior infiltrado inflamatório, neovascularização e fibrose do que nos animais do grupo controle, concluindo assim que a túnica funciona como substrato e promove uma precocidade da cicatrização de parede abdominal de ratos. Unitermos: abdome, laparotomia, xenoenxerto
T
he objective of this study was to evaluate the healing and biocompatibility of ovine tunica albuginea graft in the abdominal wall of rats. We used 30 Wistar rats, divided into two groups: one control (C) and one test (T), who received abdominal wall reinforcement with tunica albuginea ovine. The groups were divided into three subgroups with five animals each, which were submitted to euthanasia on days 7, 21 and 42. The collected material was submitted to the histopathological analyzes in order to affirm the applicability of the tunica albuginea and to propose its use as a grafting material for the reconstruction of the abdominal wall. In the animals in the T group, a greater inflammatory infiltrate, neovascularization and fibrosis were observed than in the control group, thus concluding that the tunic acts as a substrate and promotes precocity of the abdominal wall of rats. Keywords: abdomen, laparotomy, heterologous graft
E
l trabajo tiene como objetivo evaluar la cicatrización y la biocompatibilidad del injerto de túnica albugínea ovina en la pared abdominal de ratones. Utilizamos 30 de la raza Wistar, ditribuidos en dos grupos: un control (C) y un prueba (T), que recibieron refuerzo de pared abdominal con túnica ovina. Los grupos fueron divididos en tres subgrupos con cinco animales cada uno y fueron sometidos a la eutanasia los días 7, 21 y 42, respectivamente. El material recogido fue sometido a análisis histopatológico a fin de afirmar la aplicabilidad de la túnica albugínea y proponer su utilización como material de injerto para la reconstrucción de la pared abdominal. En los animales del grupo T se observó un mayor infiltrado inflamatorio, neovascularización y fibrosis que en los animales del grupo control, concluyendo así que la túnica funciona como sustrato y promueve precocidad de la cicatrización de pared abdominal de ratones. Palabras clave: abdome, laparotomía, injerto heterólogo
28
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução Hérnia incisional ou eventração consiste na protrusão das vísceras através de orifícios ou áreas da parede abdominal anormal enfraquecida por trauma ou incisões cirúrgicas1. Elas representam frequente complicação das cirurgias abdominais, com incidência que varia de 2% a 20% das laparotomias. Ocorrem como resultado do excesso de tensão e da cicatrização inadequada, frequentemente associada à infecções do sítio cirúrgico2. Diversos estudos têm sido realizados empregando biomateriais, sejam estes de natureza sintética ou biológica, com resultados e intercorrências variadas. Biomateriais vêm sendo utilizados para reparos ou a fim de reforçar tecidos traumatizados ou desvitalizados, como os enxertos, nos casos de laparorrafias e as telas cirúrgicas, nos casos de herniorrafias abdominais, sendo que a última apresenta desvantagens, como a falta de elasticidade, além de promover reação inflamatória exacerbada quando usada em locais contaminados, sendo contraindicada nesses casos3,4. Alguns autores têm relatado o emprego da túnica albugínea como material de enxertia, obtendo resultados favoráveis ao uso de materiais sintéticos. O seu uso como um biomaterial é indicado por ser de fácil obtenção, processamento e utilização5. Este estudo tem como objetivo avaliar a cicatrização da parede abdominal e a biocompatibilidade da túnica albugínea de ovinos como material de enxertia em reparos de parede abdominal de ratos. Material e métodos A túnica albugínea ovina utilizada foi obtida a partir da castração de ovinos da Fazenda Escola da Universidade Federal Fluminense e foi conservada em glicerina 98% por 30 dias, em temperatura ambiente, a fim de garantir atenuação imunogênica assim como o seu efeito antimicrobiano. Os 30 ratos Wistar machos selecionados foram provenientes do Núcleo de Animais de Laboratório (NAL/UFF) e foram mantidos em biotério com condições de temperatura e luminosidade controladas, em caixas individuais com maravalha e oferta de água e comida à vontade. Essa pesquisa foi realizada de acordo com as diretrizes da Comissão de Bioética CEUA – UFF, após aprovação sob o número 532/14. Esses animais foram distribuídos em dois grupos de 15 animais cada, sendo um controle (C), em que foi feito o procedimento cirúrgico sem colocação de enxerto, e o outro teste (T), no qual os ratos receberam o reforço da parede abdominal com a túnica albugínea ovina. Cada um desses dois grupos foi divido em três subgrupos com cinco animais cada, que foram submetidos à eutanásia nos dias 7, 21 e 42 do pós-operatório.
Os ratos foram submetidos à indução anestésica com cetamina e midazolam nas doses 75 mg/kg e 10 mg/kg, respectivamente, por via intraperitoneal. Após isso, foi feita a tricotomia e antissepsia no campo operatório para submetê-los à laparotomia longitudinal mediana pré retroumbilical seguida da laparorrafia com sutura em padrão contínuo com fio absorvível de ácido poliglicólico 4-0. No grupo T, foi realizada a aplicação de fragmento de três centímetros de túnica albugínea para reforço da parede utilizando sutura em padrão descontínua separada simples. Em seguida a dermorrafia foi realizada com fio de nylon 3-0 com sutura em padrão descontínua separada simples. No pós-operatório imediato foi realizada a aplicação de rifampicina tópica na ferida cirúrgica, antibioticoterapia à base de enrofloxacino na dose de 5 mg/kg por sete dias e terapia anti-inflamatória à base de cetoprofeno na dose de 5 mg/kg por três dias. A analgesia foi feita com dipirona sódica na dosagem 100 mg/kg por cinco dias. A cada 24 horas, as medicações foram administradas por via subcutânea. Os animais foram mantidos em caixas isoladas para que fossem obervados, nesse mesmo intervalo de tempo e por um mesmo avaliador, aspectos clínicos como apatia, hiporexia e isolamento e aspectos inerentes à ferida cirúrgica como deiscência de sutura, infecções e formação de seroma. Nesse contexto, macroscopicamente, as feridas foram avaliadas e graduadas durante todo o período pós-operatório (variando com os subgrupos) quanto ao aspecto (deiscência de sutura, infecção e formação de seroma) em: satisfatório (ferida sem secreções e infecção ou sinais de deiscência) ou insatisfatório (ferida com secreções e infecção ou sinais de deiscência). Os animais foram submetidos à eutanásia por inalação de sobredose de isoflurano nos dias inerentes aos seus subgrupos e, em seguida, coletou-se fragmento de três centímetros da área operada, que foram fixados em formalina tamponada a 10%. A avaliação microscópica das peças cirúrgicas foi realizada após seu processamento histológico e coloração pela Hemaoxilina-Eosina (HE) e Tricrômico de Gomori. Foram avaliados subjetivamente pelo mesmo observador os seguintes parâmetros: infiltrado inflamatório e sua constituição (neutrófilos, eosinófilos, tecido de granulação, células gigantes, macrófagos e linfócitos), presença de neovascularização, presença de colágeno e processo de absorção do enxerto, sendo graduados em ausente (-), raros / escassos (+), pequena quantidade (++), quantidade moderada (+++) e grande quantidade (++++). Resultados e discussão No pós-operatório imediato, os animais se reestabeleceram após duas horas, ficando ativos e com apetite,
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
29
demonstrando que o protocolo e manejo empregados foram adequados6. Não houve óbito durante o experimento, o que foi esperado por se tratar de uma cirurgia limpa sem manipulação visceral, assim como não foram observadas alterações como apatia, hiporexia, isolamento ou outro sinal de dor nos animais. Todos os animais do grupo controle apresentaram escore satisfatório no aspecto da ferida cirúrgica. Além disso, não foram observadas formação de seroma ou infecção em nenhum dos animais uma vez que os cuidados com antissepsia durante os procedimentos cirúrgicos foram respeitados7,8. Houve deiscência de sutura por arrancamento de pontos em um animal do grupo T (21 dias), sendo considerada ferida cirúrgica insatisfatória, mas que não influenciou negativamente o processo cicatricial9. Nesse contexto, sendo um fato isolado, pode ter ocorrido devido ao comportamento arredio do indivíduo, pois apareceu somente em um animal durante o estudo. Há relatos que evidenciam o fato de que o uso de biomateriais como reforço de sutura convencional é uma opção para minimizar intercorrências, visto que, no animal supracitado, observou-se que, apesar do rompimento de sutura, o enxerto permaneceu íntegro e evitou passagem de vísceras pelo orifício10,11. Na avaliação histopatológica da túnica albugínea implantada observaram-se características histológicas normais das estruturas com preservação do aspecto e distribuição do colágeno, fundamentando que a glicerina é um meio adequado de conservação para preservação de membranas biológicas, mantendo textura e elasticidade de acordo com o aspecto morfológico e de resistência, além de não sofrer contaminação3,12. Ademais, nos grupos teste, foi observado maior infiltrado inflamatório, neovascularização e fibrose do que nos grupos controle. (Quadro 1). Na avaliação histopatológica do grupo T (7 dias) observou-se intenso infiltrado inflamatório com presença de polimorfonucleares (++++) , neovascularização inicial (++) , escassa deposição de colágeno e fibrose (+), e absorção insidiosa da túnica albugínea (+) , não havendo parâmetros de comparação, uma vez que, não há relatos do uso de túnica albugínea ovina como bio-
material em reparos de parede abdominal13. Os animais do grupo controle, no mesmo período diferiram do grupo T por apresentar menos focos de polimorfonucleares, sem caracterizar inflamação aguda. Nos animais do grupo T, aos 21 dias pós-operatórios, observa-se a presença de infiltrado inflamatório moderado (+++), com proliferação fibrocelular densa, neovascularização moderada (+++), deposição de colágeno e fibrose moderada (+++), absorção intensa do enxerto (++++), estando este ainda viável e em pequena quantidade, não havendo relato comparativo até o presente. No grupo controle no mesmo período observou-se a presença de infiltrado inflamatório menor, relacionado apenas a absorção dos fios de sutura, tendo a sua cicatrização completada14,15. Nos animais do grupo T, aos 42 dias pós-operatórios, havia a reparação completada e organizada, não observando mais a presença do enxerto (++++), não havendo relatos na literatura para comparação. Na avaliação histopatológica dos fragmentos extraídos da parede abdominal, no grupo controle, foram observadas características de reparação já consolidada e processo de fibrose15,16. O uso de biomateriais heterólogos tem suas vantagens, pois podem ser empregados nos animais sem danos ao paciente, sem risco de rejeição e com baixo custo de obtenção e conservação. Os resultados sugerem que a túnica albugínea ovina pode ser aplicada como biomaterial com vantagens sobre outros materiais especialmente pelo menor custo e fácil obtenção. Os materiais biológicos oriundos de ovinos mantém a sua característica a fresco e conservado, trazendo resposta cicatricial satisfatória, viabilizando o seu emprego em maior escala3. Conclusão A túnica albugínea ovina é um biomaterial de fácil obtenção e utilização, com potencial para ser utilizada como excelente substrato no reparo de parede abdominal em ratos. Os resultados desse estudo sugerem que o enxerto de túnica albugínea como reforço da parede abdominal em ratos serve como arcabouço e promove a precocidade da cicatrização.
Quadro 1 – Avaliação de infiltrados inflamatórios, neovascularização, fibrose e processo de absorção do enxerto eutanásia 7 dias 21 dias 42 dias
grupo infiltrado inflamatório neovascularização Controle (C) ++++ ++ Teste (T) ++ + Controle (C) +++ +++ Teste (T) + ++ Controle (C) + + Teste (T) + +
Fibrose + + +++ +++ ++++ +++
absorção do enxerto + +++ ++++ -
Legenda: (-) ausentes; (+) escassos/ raros; (++) pequena quantidade; (+++) quantidade moderada; (++++) grande quantidade
30
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Referências 01-FOSSUM, T. W. Cirurgia da Cavidade Abdominal. In:___. Cirurgia de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 356-385. 02-BURGER, J. W. ; HALM, J.A. ; WIJSMULLER, A. R. ; RAA S. T. ; JEEKEL J. Evaluation of new prosthetic meshes for ventral hernia repair. Surgical Endoscopy, v. 20, n. 8, p. 1320-5, 2006. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s00464-005-0706-4>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 03-BARBOSA, R. R. ; LEAL, L. M. ; MARTINS, L. L. ; FILHO, S. P. G. ; BOSSO, A. C. S. ; MACHADO, M. R. F. Estrutura e ultra-estrutura de membranas biológicas de ovinos da raça Santa Inês (Ovis Áries, L.,1758) a fresco e conservada em glicerina. Biotemas, Santa Catarina, v. 25, n. 2, p. 97-107, 2012. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.5007/21757925.2012v25n2p97>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 04-PUNDEK, M. R. Z. ; CZECZKO, N. G. ; YAMAMOTO, C. T. ; PIZZATTO, R. F. ; CZECZKO, L. E. A. ; DIETZ, U. A. ; MALAFAIA,O. Estudo das telas cirúrgicas de polipropileno/poliglecaprone e de polipropileno/polidioxanona/celulose oxidada regenerada na cicatrização de defeito produzido na parede abdominal de ratos. ABCD, Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, v. 23, n. 2, p. 94-99, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S010267202010000200007>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 05-WEFER, J. ; SCHLOTE, N. ; SEKIDO, N. ; SIERVERT, K. D. ; WEFER, A. E. ; NUNES, L. ; BAKIRCIOGLU, M. E. ; DAHYRA, R. ; TANAGHO, E. A. Tunica albugínea acellular matrix graft for penile econstruction in the rabbit: a model for treating Peyronie’s disease. International Brazilian Journal of Urology, v. 90, n. 3, p. 326-331, 2002. Disponível em: <10.1046/j.1464-410X.2002.02808.x>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 06-KAPAN, S. ; KAPAN, M. ; GOKSOY, E. ; KARABICAK, I. ; OKTAR, H. Comparison of PTFE, pericardium bovine and fascia lata for repair of incisional hernia in rat model, experimental study. Hernia, v. 7, n. 1, p. 39-43, 2003. Disponível em: <10.1007/s10029-002-0096-7>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 07-ARAMAYO, A. L. G. ; FILHO, G. J. L. ; BARBOSA, C. A. ; AMARAL, V. F. ; COSTA L. A. Abdominal wall healing in incisional hernia using different biomaterials in rabbits. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 28, n. 4, p. 307-316, 2013. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S010286502013000400011>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 08-ANDRADE, F. A. G. ; CAVALCANTI, C. E. O. ; MOTA, P. K. V. ; PLECH, R. ; FERREIRA, L. M. Reconstruction of the abdo-
minal wall in rats with hemicellulose. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 104-15, 2011. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S198351752011000100020>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 09-BRUN, M. V. ; PIPPI, N. L. ; DREIMEIER, D. ; CONTESINI, E. A. ; BECK, C. A. C. ; CUNHA, O. ; FILHO, S. T. L. P. ; ROEHSIG, C. ; STEDILE, R. ; SILVA, T. F. Solução hipersaturada de sal ou de glicerina a 98% como conservante de centros frênicos caninos utilizados na reparação de defeitos musculares em ratos wistar. Ciência Rural, Santa Maria, v. 34, n. 1, p. 147153, 2004. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S010384782004000100022>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 10-BELLÓN-CARNEIRO J. M. El cierre de laparotomía en la línea alba. Cirugía Española, v. 77, n. 3, p. 114-123, 2005. Disponível em: <10.1016/S0009-739X(05)70821-6>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 11-BELLÓN J. M, ; SERRANO, N. ; RODRIGUES, M. ; GARCIAHONDUVILLA, N. ; PASCUAL, G. ; BUJAN J. Prótesis compuestas en las reparaciones de defectos de pared abdominal. Estudio comparativo del empleo de barreras físicas y/o químicas. Cirugía Española, v. 77, n. 6, p. 351-356, 2005. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/S0009-739X(05)70869-1>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 12-WELLS, P. B. ; YEH, A. T. ; HUMPHREY, J. D. Influence of glycerol on the mechanical reversibility and thermal damage susceptibility of collagenous tissues. IEEE Transactions on Biomedical Engineering, v. 53, n. 4, p. 747-753, 2006. Disponível em: <10.1109/TBME.2006.870232>. Acesso em: 28 de agosto de 2017. 13-BASTOS, E. L. S. ; FAGUNDES, D. J. ; TAHA, M. O. ; NOVO, N. F. ; SILVADO, R. A. B. Peritônio bovino conservado na correção de hérnia ventral em ratos: uma alternativa para tela cirúrgica biológica. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro, v. 32, n. 5, p. 256-260, 2005. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912005000500007>. Acesso em: 29 de outubro de 2017. 14-LEONG, M. ; PHILLIPS, L. G. Cicatrização de feridas. In: TOWNSEND, K. L. Tratado de cirurgia. A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19. ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 151-177. 15-COTRAN, R. S. ; KUMAR, V. ; COLLINS, T. ; ROBBINS, S. L. Reparo dos tecidos: crescimento celular, fibrose e cicatrização das feridas. In:___. Patologia estrutural e funcional. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 16-SILVA, M. F. A. Cicatrização. In: OLIVEIRA, A. L. A. Técnicas Cirúrgicas em Pequenos Animais. 1. ed. São Paulo: Elsevier, 2012. p. 47-56.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
31
Colecistectomia para tratamento de colangite por Cyniclomyces guttulatus e em uma cadela – relato de caso Cholecystectomy for treatment of cholangitis by Cyniclomyces guttulatus in a female dog – case report Colecistectomía para el tratamiento de colangitis por Cyniclomyces guttulatus en una perra – relato de caso Paulo Daniel Sant’Anna Leal1; Fabiane Azeredo Atallah2; Elan Cardozo Paes de Almeida3; Maurício Veloso Brun4; Debora Porretti Campos5; Carlos Wilson Gomes Lopes6 1-MV, MSc, DSc. do PPGCV da UFRRJ. 2-MV, MSc, DSc. 3-MV, MSc, DSc, da FCB/ISNF da UFF-Nova Friburgo. 5-MV, CTI Veterinário. 6-MV, MSc, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ.
pauloleal@ctiveterinario.com.br
A
s células vegetativas de um ascomiceto, morfologicamente semelhantes às descrições anteriores de Cyniclomyces guttulatus foram observadas sobre a superfície da mucosa da vesícula biliar, de uma cadela portadora de colangiohepatite e hipertrofia da vesícula biliar. O diagnóstico de colangite biliar foi confirmando pelo exame de imagem e de alterações nas enzimas hepáticas. O diagnóstico da colangite por Cyniclomyces guttulatus foi através da colecistectomia, assim como o tratamento, sem a utilização de antifúngicos sistêmicos. Unitermos: cão, colangiohepatite, vesícula biliar, ciniclomicose
T
he vegetative cells of an ascomycete, morphologically similar to the earlier descriptions of Cyniclomyces guttulatus, were collected on the surface of the gallbladder mucosa, a cholangiohepatitis-bearing bitch, and gallbladder hypertrophy. The diagnosis of biliary cholangitis was confirmed by imaging examination and alterations in liver enzymes. The diagnosis of cholangitis by Cyniclomyces guttulatus was through cholecystectomy, as well as treatment, without the use of systemic antifungal agents. Keywords: dog, cholangiohepatitis, gallbladder, ciniclomycosis
L
as células vegetativas de un aspartito, morfológicamente similares a las descripciones anteriores de las Cyniclomyces guttulatus, se obtuvieron sobre la superficie de la mucosa de la vesícula biliar, de una perra portadora de colangiohepatitis e hipertrofia de la vesícula biliar. El diagnóstico de colangitis biliar fue confirmado por el examen de imagen y de las alteraciones en las enzimas hepáticas. El diagnóstico de la colangitis por Cyniclomyces guttulatus fue a través de la colecistec-tomia, así como el tratamiento, sin la utilización de antifúngicos sistémicos. Palabras clave: perro, colangiohepatitis, vesícula biliar, ciniclomicosis
32
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução As doenças que acometem o sistema hepatobiliar em cães, em particular as obstruções do sistema biliar, ocorrem quando há alteração no fluxo normal da bile, devido a diversas causas. Em geral, são achados de exame de imagem1 e implicam em sinais clínicos inespecíficos, frequentemente discretos, temporários e recidivantes se manifestando através de icterícia. Quando o material é lodoso ou cálculos, causa a obstrução do ducto biliar2,3, com sinais clínicos relacionados a episódios de vômitos, depressão, perda de peso, febre, desidratação, fezes acólicas e dores abdominais associadas à colecistite, colangiohepatite ou obstrução do ducto biliar3,4,5. Entre os agentes etiológicos envolvidos, os fungos podem ser observados2,3, e dentre as infecções fúngicas, a presença de um ascomiceto do gênero Cyniclomyces sp. foi assinalada recentemente em fezes de cães6,7,8,9,10,11,12 e estômago4,9. As únicas publicações associadoas a colangite e colangiohepatite em cães, para estabelecer C. guttulatus como agente causador, foram relatadas em três cães, onde foi observada a presença de C. guttulatus associado a colangiohepatite2,10, sendo que o seu diagnóstico foi baseado na identificação microscópica, no isolamento através de cultivo e no sequenciamento do DNA desta espécie já encontrada no Brasil4,9. O objetivo deste trabalho é confirmar a ciniclomicose como agente causador de colangiohepatite e apresentar tratamento através da técnica cirúrgica como método eficiente do tratamento da colangite por ciniclomicose isento da utilização de antifúngico. Histórico Uma cadela, da raça Schnawzer, castrada, 13 anos de idade, com 7,5 kg, procurou o serviço médico veterinário do Centro de Terapia Intensiva e Emergência Veterinária, após apresentar quadro de síncope e/ou desmaio, no exame clínico o animal apresentava frequência cardíaca de 96 batimentos por minutos, 24 movimentos respiratórios por minuto, temperatura retal de 37,8 ºC, sensibilidade abdominal moderada na região hipogástrica, com histórico de apatia e anorexia, sem desidratação perceptível, palpação abdominal acusando dor moderada e sugerindo aumento esplênico e hepático, mucosas hipocoradas. Foram coletadas amostra de sangue da veia jugular direita, o resultado encontrado no exame hematológico foi anemia (VG = 11%), leucocitose com monocitose e neutrofilia, discreto desvio nuclear de neutrófilos a esquerda regenerativo, eosinopenia e trombocitose, proteina plasmática próximo ao limite máximo (10,3 g/dL) e parâmetros bioquímicos, utilizando bioquimica seca da Roche Diagnostics GmbH, Mannheim-Baden-
Württemberg RFA, com valores em mg/dL: alanina aminotransferase (ALT/TGP) 71,7 (C < 89); Lactato 4,3 (C < 2mmL/L); Glicose 195 (C = 70 a 110); Fosfatase Alcalina 1310 (C < 164); Uréia 88,6 (C < 54); Creatinina < 0,5 (C < 1,8); Gama GT < 0,5 (C < 20). A indicação de transfusão de sangue foi com base nos parâmetros clínicos e laboratoriais, sendo transfundido um total de 260 mL de sangue total fresco após a tipificação e a prova de reação cruzada13 do mesmo grupo do receptor, grupo DEA 1 e teste de compatibilidade sem observação de reação de incompatibilidade. Posteriormente após dois dias, foi observado abaulamento do abdômen na região hipogástrica, com base nas informações exame de ultrassonografia foi realizado, que mostrou vesícula biliar severamente repleta por conteúdo anecogênico, dificuldade de esvaziamento devido a processo inflamatório e obstrução de ducto. Na topografia do duodeno descendente, medial ao rim direito, observou-se uma formação de contornos definidos, hipo/anecogênica, medindo aproximadamente 3,5 x 2,4 cm, visualizada na parede da alça intestinal, imagens compatíveis com neoplasia/formação a esclarecer. Fez-se tomografia computadorizada de abdômen com aquisição helicoidal, antes e após a injeção do meio de contraste iodado não iônico (iohexol 331 mgi/kg) por via intra-venosa, sob anestesia geral, sem intercorrências, observando fígado com dimensões moderadamente aumentadas, bordas regulares, com formação expansiva cistica multi-septada em topografia de lobo medial esquerdo, medindo cerca de 4 x 3,9 x 3 cm. A vesícula biliar apresentou dimensões moderadamente aumentadas, medindo 9,6 x 5,6 x 3,9 cm, apresentando paredes levemente espessadas e irregulares, com até 0,7 cm, apresentando conteúdo denso de fundo (lama biliar). Não se observaram dilatações de vias biliares intrahepáticas ou de colédoco. A câmara gástrica estava vazia, com formação expansiva sólida, de captação homogênea e discretas mineralizações amorfas excêntricas, em região de fundo, adjacente ao cardia, medindo cerca de 4,8 x 4,7 x 3,7 cm. Alças de delgado apresentando espessamento difuso de paredes, sem sítios obstrutivos evidentes. Presença de ascite. Como conclusão teve-se a formação expansiva gástrica intramural à esclarecer; lesão cística complexa em lobo medial esquerdo do fígado (cistoadenoma biliar); espessamento e dilatação de vesícula biliar sem obstruções evidentes ao método sugerindo colecistite e peritonite. O animal foi encaminhado para tratamento cirúrgico, para colecistectomia, lobectomia hepática parcial (lobo medial esquerdo segmento cranial) com ligadura em guilhotina e biopsia das regiões do cárdia e fúndica do estômago. Após a remoção cirúrgica da vesícula biliar (Figura 1), células vegetativas alongadas de C. gutulattus
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
33
Figura 1 – Colecistectomia da vesicula biliar hipertrófica de uma cadela
a
foram observadas na bile em material a fresco (Figura 2a) e fragmentos da vesícula foram fixados em formol histológico, emblocados em parafina e corados em Hematoxilina e Eosina, onde se observou as pseudovilosidades na mucosa da vesícula biliar e, a presença de células vegetativas de C. guttulatus agrupadas em meio ao sedimento localizado sobre a superfície da mucosa e no muco biliar (Figura 2b). O paciente se recuperou, apresentando ausência dos sinais clínicos e normalização do perfil hepático em sete dias, com monitoração clínica até seis meses. Discussão Indo de encontro com que a maioria dos autores relatam sobre tratamento da ciniclomicose com antifúngicos, principalmente o uso do fluconazol4,7,14,15, que possui largo espectro de ação e efeitos tóxicos bastante reduzidos e com a melhor absorção dentre os antifúngicos de sua categoria, no atual estudo a colecistectomia foi o tratamento de escolha para a colangite por ciniclomicose. Não houve associação com o antifúngico fluoconazol, corroborando com os estudos anteriores, que descrevem que quando não há outros sítios colonizados pelo ascomiceto, aliado a não observação dessas estruturas no lavado gástrico e nas fezes, não há indicação de tratamento com antifúngicos4 No presente trabalho, o procedimento cirúrgico foi necessário para o tratamento da colangite e diagnóstico, visto que o paciente não havia eliminado o referido ascomiceto nas fezes conforme único relato de colangite por ciniclomicose4 precedido de sucesso na qualidade de vida do paciente com a normalização dos sinais clínicos e laboratoriais, por mais de 12 meses, ratificando a associação do C. Guttulatus como agente causador da colangiohepatite em cão4. 34
b Figura 2 – Células vegetativas alongadas de Cyniclomyces guttulatus ( ) de uma cadela submetida a colecistectomia: na bile (A). Material a fresco. Obj. 40x; células vegetativas no sedimentos em circulo (B). HE. Obj.100x
Conclusão Concluiu-se que o tratamento cirúrgico para a colangite por ciniclomicose sem associação ao fluoconazol, neste caso, foi efetivo, promovendo a cura do paciente. A ciniclomicose deve fazer parte do diagnóstico diferencial da colangite e colangiohepatite. Referências 01-CENTER, S. A. Diseases of the gallbladder and biliary tree. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice,
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
v. 39, n. 3, p. 543-598, 2009. 02-SLATTER, D. Fígado. Sistema Biliar. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed., Manole, São Paulo, p. 783-798, 1998. 03-KUMAR, K. S. ; SRIKALA, D. Diagnosis and management of cholecystitis in dogs. International Journal of Agriculture Science and Veterinary Medicine, v. 2, n. 3, p. 13-14, 2014. 04-FURTADO, T. T. ; FLAUSINO, G. ; LEAL, P. D. S. ; FERREIRA, J. P. ; MCINTOSH, D. ; FLAUSINO, W. ; TEIXEIRA FILHO, W. L. ; PAES-DE-ALMEIDA, E. C. ; LOPES, C. W. G. Diagnóstico de colangite associado à mucocele da vesícula biliar por Cyniclomyces guttulatus em cães – relato de casos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 35, n. 1, p. 1-6, 2013. 05-KOOK, P. H. ; DRÖGEMÜLLER, M. ; LEEB, T. ; HINDEN, S. ; RUETTEN, M. ; HOWARD, J. Hepatic fungal infection in a young beagle with unrecognised hereditary cobalamin deficiency (Imerslund-Grasbeck syndrome). Journal of Small Animal Practice, v. 56, n. 2, p. 138-141, 2015. 06-HOUWERS, D. J. ; BLANKENSTEIN, B. Cyniclomyces guttulatus (Brillendoosjes-gist) endiarree bij honden. Tijdschrift voor Diergeneeskunde, v. 126, n. 14-15, p. 502, 2001. 07-GJERDE, B. ; HOLTET, L. ; SANDEN, S. ; DAHLGREN S. S. Soppen Cyniclomyces guttulatus er en del av den normale ventrikkel- og tarmfloraen hos kanin. Vi beskriver et tilfelle der en morfologisk identisk, men genetisk forskjellig, sopp har gitt residiverende gastroenteritt hos hund. Norsk Veterinærtidsskrift, v. 121, n. 6, p. 507-510, 2009. 08-DIJKSTRA, M. ; KRAUS, J. S. ; BOSJE, J. T. ; Den Hertog, E. Proteinlosing enteropathy in Rottweilers. Tijdschrift voor Diergeneeskunde, v. 135, n. 10, p. 406-412, 2010.
09-FLAUSINO, G. ; LEAL, P. D. S. ; MCINTOSH, D. ; AMARAL, L. G. ; TEIXEIRA FILHO, W. L. ; FLAUSINO, W. ; LOPES, C. W. G. Isolation and characterization of Cyniclomyces guttulatus (Robin) Van Der Walt and Scott, 1971 in dogs in Brazil. Current Microbiology, v. 65, n. 5, p. 542-546, 2012. 10-LEAL, P. D. S. ; COELHO, C. D. ; FLAUSINO, G. Diagnóstico de infecções concomitantes por Cystoisospora canis (Nemeséri, 1959) e Cyniclomyces guttulatus (Robin, 1853): relato de caso. Coccidia, v. 1, n. 2, p. 44-48, 2013. 11-MANDIGERS, P. J. ; DUIJVESTIJN, M. B. ; ANKRINGA, N. ; MAES, S. ; VAN ESSEN, E. ; SCHOORMANS, A. H. ; HOUWERS, D. J. The clinical significance of Cyniclomyces guttulatus in dogs with chronic diarrhoea, a survey and a prospective treatment study. Veterinary Microbiology, v. 172, n. 1, p. 241247, 2014. 12-NEEL, J. A. ; TARIGO, J. ; GRINDEM, C. B. Gallbladder aspirate from a dog. Veterinary Plinical Pathology, v. 35, n. 4, p. 467-470, 2006. 13-KRISTENSEN, A. T. ; FELDMAN, B. F. Bancos de sangue e medicina transfusional. In: ETTINGER, S. J. ; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. São Paulo: Manole, 1997, p. 497-516. 14-PETERS, S. ; HOWERS, D.J. Een geval diarre geassocieerd met Cyniclomyces guttulatus (brillendoosjesgist) bij de kat. Tijdschrift voor Diergeneeskunde, v. 134, n. 5, p. 198-199, 2009. 15-SANDE, M. A. ; MANDELL, G. L. Drogas antimicrobianas –Drogas antimicóticas e antivirais. In: GOODMAN, L. ; GILMAN, A. G. As bases farmacológicas da terapêutica. Rio de Janeiro, Guanabara, 1987. p.799-807.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
35
Diagnóstico da infecção por Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossack, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae) em gata (Felis catus L.) domiciliada no município do Rio de Janeiro, RJ – relato de caso Diagnosis of Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossack, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae) infection in a domiciled cat (Felis catus L.) at the Municipality of Rio de Janeiro, RJ – case report Diagnóstico de la infección por Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossack, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae) en gato (Felis catus L.) domiciliado en el municipio de Río de Janeiro, RJ – relato de caso Roberta Wilkinson Graser1; Paulo Daniel Sant’Anna Leal2; Larissa Licurci de Oliveira Barbosa3; Maria Isabel Menezes Ramos4; Carlos Wilson Gomes Lopes5 1-Aluna de graduação da FV da UFF. 2-MV, DSc. aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 3-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 4-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 5-MV, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ – bolsista CNPq.
roberta_graser@id.uff.br
U
ma gata mestiça, castrada, de 17 anos com peso corporal de 3,7 kg, foi atendida em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, RJ, com histórico de anorexia. O exame ultrassonográfico não indicou alterações dignas de nota. Amostras de sangue e fezes foram coletadas onde os resultados foram para hemoglobina 11 g/dL; eritrócitos 4,9 x 105/mm3; volume globular de 33%, leucometria de 8,4 x 105/mm3 com eosinopenia, monocitopenia, linfopenia e trombocitopenia, proteina plasmática de 9 g/dL. Os parâmetros bioquímicos tiveram os seguintes valores em mg/dL: ALT/TGP 38,4; AST/TGO 31,5; creatinina 2,48 e ureia 195. Um grama de fezes de aspecto normal foi diluído em cinco gotas de solução fisiológica a 0,9% e corada com gota de lugol, enquanto que outra fração de igual peso foi submetida a técnica de centrifugo-flutuação em solução saturada de sacarose, onde foram evidenciados 80 ovos de Platynosomum illiciens por grama de fezes. Este relato alerta os médicos veterinários sobre a infecção recente de P. illiciens em gata com mais de 17 anos e sem sinais clínicos específicos, porém com elevada carga parasitária, indicando a importância do diagnóstico na clínica de animais de companhia. Unitermos: felinos, colangiohepatite, anorexia, platinosomíase
A
17-year-old castrated, mixed-breed female with a body weight of 3.7 kg was seen at an Animal Health Service, Rio de Janeiro, RJ, with a history of anorexia. Ultrasound examination did not indicate changes that were noteworthy. Samples of blood and feces were collected where the results were for hemoglobin 11 g/dL; erythrocytes 4,9 x 105/mm3; 33% globular volume, 8,4 x 108/mm3 leukometry with eosinopenia, monocytopenia, lymphopenia and thrombocytopenia, plasma protein 9 g/dL. The biochemical parameters had the following values in mg/dL: ALT /TGP 38.4; AST/TGO 31.5; creatinine 2.48 and BUN 195. One gram of normal-looking stool was diluted in five drops of 0.9% saline and stained with lugol drop, while another fraction of the same weight was centrifuged-floated in saturated solution of sucrose, where 80 Platynosomum illiciens eggs were detected per gram of feces. This report warns veterinarians about the recent infection of P. illiciens in cats over 17 years old without specific clinical signs, but with a high parasitic load, indicating the importance of the diagnosis in the pet clinic Keywords: felines, cholangiohepatitis, anorexia, cat liver fluke
U
na gata mestiza, castrada, de 17 años con peso corporal de 3,7 kg, fue atendida en clínica veterinari, RJ, con histórico de anorexia. El examen ultrasonográfico no indicó enmiendas dignas de mención. Muestras de sangre y heces fueron recolectadas donde los resultados fueron para hemoglobina 11 g/dL; eritrocitos 4,9 x mill./mm3; volumen globular del 33%, leucometría de 8,4 x 108/mm3 con eosinopenia, monociopenia, linfopenia y trombocitopenia, proteína plasmática de 9 g/dL. Los parámetros bioquímicos tuvieron los siguientes valores en mg/dL: ALT/TGP 38,4; AST/TGO 31,5; creatinina 2,48 y urea 195. Un gramo de heces de aspecto normal se diluyó en cinco gotas de solución fisiológica a 0,9% y se coloreó con gota de lugol, mientras que otra fracción de igual peso fue sometida a técnica de centrifugado-flotación en solución saturada de sacarosa, donde fueron evidenciados 80 huevos de Platynosomum illiciens por gramo de heces. Este relato alerta a los médicos veterinarios sobre la infección reciente de P. illiciens en gata con más de 17 años y sin signos clínicos específicos, pero con elevada carga parasitaria, indicando la importancia del diagnóstico en la clínica de animales de compañía. Palabras clave: felinos, colangiohepatitis, anorexia, platinosomiasis 36
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução A medicina veterinária aplicada aos animais de companhia tem evoluído proporcionando maior longevidade aos animais de estimação, o que satisfaz a demanda da população humana que, cada vez mais, interage com cães e gatos, principalmente nos centros urbanos, esse convívio interespecífico íntimo e progressivo vem exigindo que doenças transmissíveis sejam controladas, e dentre elas, as infecções parasitárias. As doenças hepáticas dos felinos são um dilema para o médico veterinário, e várias etiologias, que listam os diagnósticos diferenciais, tumores, obstruções, toxemias e parasitoses são reconhecidas. As infecções parasitárias podem causar doenças graves, levando o animal a apresentar aspecto esteticamente indesejável, além de serem, muitas vezes, transmissíveis aos seres humanos. Dentre as parasitoses, a infecção causada por Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossack, 1910, parasito de dutos biliares e vesícula biliar de felinos é responsável por causar inflamação e/ou obstrução de ductos e vesícula biliar e, previamente associada a tumores hepáticos, inicialmente sem manifestações clínicas1-4. Embora tenha ampla distribuição geográfica e ser frequente em regiões de clima tropical e subtropical, principalmente no Brasil1,3-6 é raramente diagnosticada, sendo o diagnóstico ante mortem caracterizado pela presença de ovos em exames coproparasitológicos seria a única forma de diagnóstico, enquanto que a eliminação de ovos junto com as fezes é intermitente e de número variável 5. Os gatos infectam-se ao ingerirem hospedeiros intermediários contendo metacercárias 2,7. Durante o processo de digestão do gato, as metacercárias são liberadas, migrando ativamente até à papila duodenal maior e daí para os ductos biliares ou vesícula biliar 2,8,9. Uma vez instaladas nos ductos biliares ou vesícula biliar, as metacercárias levam entre quatro e cinco semanas para chegar à fase adulta 7,8. O período pré-patente é de aproximadamente oito semanas quando então o ciclo se completa 9. O número de ovos inicialmente encontrado nas fezes é baixo e aumenta gradativamente até o quarto mês pós-infecção quando se observa uma diminuição gradual 9,10. A platinossomíase é potencialmente fatal, o que exige atenção do médico veterinário para o diagnóstico precoce e consequentemente possibilitar o tratamento adequado. Este é o grande desafio na platinossomíase, visto que certamente é subestimada clinicamente e, assim, inadequadamente diagnosticada e tratada. Este relato de caso está representado por um animal com intenso parasitismo por P. illiciens, sem sinais clínicos e indicação laboratorial de doença hepática. Histórico Uma gata, sem raça definida, castrada, de 17 anos de
idade, peso corporal de 3,7 kg, foi atendida em Serviço de Saúde Animal no Rio de Janeiro, RJ com histórico de anorexia. Ao exame físico, o animal apresentava temperatura retal de 38,1 ºC, dor abdominal em região hipogástrica. Foram coletadas amostra de sangue da veia jugular direita, e processados conforme procedimentos de rotina laboratórial11,12, após a separação dos elementos figurados e plasma, através de microhematócritoa. As amostras de sangue foram processadas, com a utilização de equipamento automáticob para leucometria, plaquetograma e eritrograma. Para mensuração da proteína plasmática total foi utilizado um refratômetro clínico manual c. Os estiraços de sangue foram corados, utilizando conjunto para coloração rápida em hematologiad e obedeceram aos procedimentos laboratoriais11,12 e observados com auxílio de um microscópio binocular e para avaliação da morfologia dos elementos figurados do sangue e presença de possíveis hematozoários. Os resultados encontrados nos exames hematológicos foram: hemoglobina 11 g/dL (Oito – 16); eritrócitos 4,9 x milh./mm3 (cinco – 9,5); volume globular de 33% (28 – 45%), leucometria de 8.400/mm3 (6.000 –17.000/mm3) com eosinopenia, monocitopenia e linfopenia e trombocitopenia, proteina plasmática de 9 g/dL (5,5 –7,7 g/dL) e parâmetros bioquímicosf, com valores em mg/dL: alanina aminotransferase (ALT/TGP) 38,4 (C < 89); aspartato aminotransferase (AST/TGO) 31,5 (< 78); creatinina 2,48 (C < 1,8) e uréia 195 (< 82). A paciente manteve-se dentro do quadro clínico, responsiva a manipulação e atenta aos chamados. Foram coletado amostras fecais, de consistência firme e secas, após defecação, uma fração de um grama de fezes foi diluída em cinco gotas de solução fisiológica a 0,9% coradas com uma gota de lugol e observadas com auxílio de um microscópio binoculare, outra fração, de um grama foi submetida a técnica de centrifugo-flutuação em solução saturada de sacarose 6,13. Os ovos observados foram contados, totalizando 80 ovos por grama de fezes (opg), e classificados de acordo com as características morfológicas com similar aos ovos de P. illiciens (Figura 1) Centrífuga Micro-Hematócrito E3500108 MICROSPIN CDR, Rua Japão, 150, Bairro Sorocabano, Jaboticabal, SP, Brasil; b Ms4-Vet-Melet Schloesing Laboratoires coulter, fabrication française. c Modelo Q667, Quimis Aparelhos Científicos, R. Gema, 278 Campanário, Diadema, SP, Brasil; d Panótico Rápido LB-Laborclin produtos para laboratórios Ltda, Rua Casemiro de Abreu, 521 Pinhais, PR, Brasil; e Eclipse E200, Nikon Instruments Inc. Japão f Roche Diagnostics GmbH, Mannheim-Baden-Württemberg RFA a
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
37
. O exame ultrassonográfico indicou um fígado com dimensões preservadas, contornos regulares, apresentando parênquima homogêneo, com moderada diminuição da ecogenicidade, arquitetura vascular com calibre e trajeto preservados, vesícula biliar repleta por conteúdo, com paredes de espessura preservada; baço em topografia habitual, com dimensões, contornos, ecotextura e ecogenicidade normais; estômago com conteúdo alimentar e gasoso e paredes normoespessas. Foram observados alguns segmentos de alças intestinais moderadamente dilatadas por conteúdo e paredes normoespessas sem evidências de alterações sonográficas; rins em topografia habitual, com contornos regulares, dimensões e formas preservadas, medindo aproximadamente 3,93 cm de comprimento, relação corticomedular preservada e ecotextura sem alterações. 3,5,6,14-16
Discussão Os resultados encontrados nos exames de hemograma e enzimologia foram inespecíficos e não indicativos de doença colangiohepática, que se manifestam quando da evolução da doença 1,17. A ausência de sinais específicos e alterações laboratoriais pode ser explicada pela infecção parasitária recente, pois os números de ovos eliminados foram elevados (n = 80 opg). Cargas parasitárias baixas, de um a cinco trematódeos, podem resultar na eliminação de apenas dois a 10 opg18, o pico de eliminação de ovos nas fezes ocorre, aproximadamente, na 12ª semana após a infecção, depois disso, a eliminação diária diminui, podendo desaparecer 10,19. Devido a esse comportamento, exames seriados devem ser utilizados para o diagnóstico, e o método de flutuação é indicado, como o utilizado no presente estudo 20. Porém,
para melhorar a sensibilidade do exame de fezes, se faz necessário o uso do método de sedimentação, uma vez que os ovos de P. illiciens apresentam peso específico elevado18, ou a associação com a administração de ácido ursodesoxicólico, aumentando as chances de diagnóstico5,6, pois quando a carga parasitária de um gato é baixa (um a cinco parasitos adultos), a sensibilidade dos exames de fezes diminui18. Os ovos observados neste relato foram especificados para P. illiciens, espécie encontrada no Brasil14, pois a não especificidade de P. illiciens a outros hospedeiros, principalmente aves no Brasil torna-se indicativo da presença de P. fastosum16. O exame ultrassonográfico mostrou um fígado com dimensões, contornos, parênquima, arquitetura vascular, calibre e trajeto preservados, com moderada diminuição da ecogenicidade, vesícula biliar repleta por conteúdo, com paredes de espessura preservada. Estas alterações concordam com estudos prévios, que relatam que a ultrassonografia abdominal nesta enfermidade não seria conclusiva, porém se torna necessária dependendo da extensão das lesões, tempo de parasitismo e o número de parasitos encotrados 21,22. Conclusão Comprova-se a eficiência dos métodos diagnósticos associados à epidemiologia no diagnóstico da platinosomíase, reconhecendo-se assim, ser uma doença frequente e necessária de compor a lista de diagnóstico diferencial nas enfermidades da espécie felina. A competência da associação de mais de uma técnica de exames de fezes para o diagnóstico de parasitos gastrintestinais se faz necessária. Paciente mais velhos merecem atenção e acompanhamento laboratorial de rotina.
Figura 1 – Fezes de uma gata. Ovo de Platynosomum illiciens (a) Obj. 10X e (b) aumento maior de a. Obj. 40X. Solução Saturada de Sacarose 38
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Referências 01-MICHAELSEN, R. ; SILVEIRA, E. D. ; MARQUES, S. M. T. ; PIMENTEL, M. C. ; DA COSTA, F. V. A. Platynosomum concinnum (Trematoda: Dicrocoeliidae) em gato doméstico da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Veterinária em Foco, v. 10, n. 1, p. 53-60, 2014. 02-BASU, A. K. ; CHARLES, R. A. A review of the cat liver fluke Platynosomum fastosum Kossack, 1910 (Trematoda: Dicrocoeliidae). Veterinary Parasitology, v. 200, n. 1, p. 1-7, 2014. 03-JESUS, M. F. ; BRITO, J. A. ; SILVA, V. C. ; PEDROSO, P. M. ; PIMENTEL, L. A. ; MACEDO, J. T. ; SILVA, S. M. Natural infection by Platynosomum illiciens in a stray cat in Cruz das Almas, Recôncavo da Bahia, Brazil. Brazilian Journal of Veterinary Pathology, v. 8, n. 1, p. 25-28, 2015. 04-BRAGA, R. R. ; TEIXEIRA, A. C. ; OLIVEIRA, J. A. A. ; CAVALCANTI, L. P. G. Prevalence of Platynosomum fastosum infection in free roaming cats in northeastern Brazil: Fluke burden and grading of lesions. Veterinary Parasitology, v. 227, n. 1, p. 20-25, 2016. 05-LEAL, P. D. S. ; CAMPOS, D. P. ; RODRIGUES, M. L. A. ; BOTELHO, G. G. ; LABARTHE, N. V. Avaliação da administração oral de ácido ursodesoxicólico (AUDC) no diagnóstico da infecção natural por Platynosomum illiciens em gatos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 33, n. 4, p. 229-233, 2011. 06-LEAL, P. D. S. A. ; CAMPOS, D. P. ; RODRIGUES, M. L. A. ; BOTELHO, G. G. ; LABARTHE, N. V. ; LOPES, C. W. G. Parasitos gastrintestinais em uma colônia de gatos na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 37, n. 1, p. 95-99, 2015. 07-MALDONADO, J. F. The life history and biology of Platinosomum fastosum Kossack, 1910 (Trematodos: Dicrocoeliidae). Puerto Rico Journal of Public Health and Tropical Medicine, v. 21, n. 1, p. 17-39, 1945. 08-FOLEY, R. H. Platynosomum concinnum infection in cats. Compendium on Continuing Education for the Practising Veterinarian, v. 16, n. 10, p. 1271-1277, 1994. 09-BALLWEBER, L. R. Parasites of other organs – Platynosomum fastosum. Veterinary Parasitology – The Practical Veterinarian, v. 319, p. 275-27, 2001. 10-TAYLOR, D. ; PERRI, S. F. Experimental infection of cats with the liver fluke Platynosomum fastosum. American Journal of Veterinary Research, v. 38, n. 1, p. 51-54, 1977. 11-LEAL, P. D. S. ; MORAES, M. I. M. R. ; DE OLIVEIRA BARBOSA, L. L. ; LOPES, C. W. G. Infecção por hematozoários nos cães domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 37, supl.1, p. 55-62, 2015. 12-BASTOS, E. M. D. A. ; LEAL, P. D. S. ; LOPES, C. W. G.
Importância da avaliação morfológica de neutrófilos como marcadores de infecção sistêmica em cães. Relato de dois casos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 38, n. 2, p 195202, 2016. 13-ROCHA, N. O. ; PORTELA, R. W. ; CAMARGO, S. S. ; SOUZA, W. R. ; CARVALHO, G. C. ; BAHIENSE, T. C. Comparison of two coproparasitological techniques for the detection of Platynosomum sp. infection in cats. Veterinary Parasitology, v. 204, n. 3, p. 392-395, 2014. 14-TRAVASSOS, L. ; FREITAS, J. F. T. ; KOHN, A. Trematódeos do Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 67, n. 1, p. 140-141, 1969. 15-BOWMAN, D. D. ; LYNN, R. C. ; EBERHARD, M. L. ; GEORGI, J. R. Georgis' parasitology for veterinarians. Saunders: Philadelphia, 2003. p. 91-98. 16-PINTO, H. A. ; MATI, V. L. T. ; MELO, A. L. Can the same species of Platynosomum (Trematoda: Dicrocoeliidae) infect both mammalian and avian hosts?. Journal of Helminthology, v. 90, n. 3, p. 372-376, 2016. 17-SOUSA FILHO, R. P. ; DE OLIVEIRA SAMPAIO, K. ; HOLANDA, M. S. B. ; VASCONCELOS, M. C. ; DE MORAIS, G. B. ; DE ARAÚJO VIANA, D. ; DA COSTA, F. V. A. Primeiro relato de infecção natural pelo Platynosomum spp. em gato doméstico no município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, v. 18, n. 1, p. 59-63, 2015. 18-PALUMBO, N. E. ; TAYLOR, D. ; AND PERRI, S. F. Evaluation of technics for the diagnosis of cat liver fluke infection. Laboratory Animal Science, v. 26, n. 3, p. 490-493, 1976. 19-EVANS, J. W. ; GREEN, P. E. Preliminary evaluation of four anthelmintics against the liver fluke. Australian Veterinary Journal, v. 54, n. 9, p. 454-455, 1978. 20-RAMOS, R. A. N. ; LIMA, V. F. S. ; MONTEIRO, M. F. M. ; DE ANDRADE SANTANA, M. ; LEPOLD, R. ; DA GLORIA FAUSTINO, M. A. ; ALVES, L. C. New insights into diagnosis of Platynosomum fastosum (Trematoda: Dicrocoeliidae) in cats. Parasitology Research, v. 115, n. 2, p. 479-482, 2016. 21-SALOMÃO, M. ; SOUZA-DANTAS, L. M. ; MENDES-DEALMEIDA, F. ; BRANCO, A. S. ; BASTOS, O. P. ; STERMAN, F. ; LABARTHE, N. Ultrasonography in hepatobiliary evaluation of domestic cats (Felis catus, L., 1758) infected by Platynosomum Looss, 1907. International Journal of Applied Research in Veterinary Medicine, v. 3, n. 3, p. 271-279, 2005. 22-AZEVEDO, F. D. ; DA VEIGA, C. C. P. ; SCOTT, F. B. ; CORREIA, T. R. ; FERNANDES, J. I. ; VEROCAI, G. G. Avaliação radiográfica e ultrassonográfica do fígado e da vesícula biliar em gatos domésticos (Felis catus domesticus) parasitados por Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossak, 1910. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 35, n. 3, p. 283288, 2013.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
39
Diagnóstico de co-infecção por Tritrichomonas foetus e Giardia intestinalis em felino com diarreia crônica – relato de caso Diagnosis of co-infection by Tritrichomonas foetus and Giardia intestinalis in feline with chronic diarrhea – case report Diagnóstico de coinfección por Tritrichomonas foetus y Giardia intestinalis en felino con diarrea crónica – relato de caso Paulo Daniel Sant’Anna Leal1; Caroline Spitz dos Santos2; Larissa Licurci de Oliveira Barbosa3; Maria Isabel Menezes Ramos4 1-MV, DSc. aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 2-MV, DSc. 3-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 4-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq.
pauloleal@ctiveterinario.com.br
U
ma gata, da raça devon rex, 2 anos de idade, 1,4 kg, foi atendida no Rio de Janeiro, com histórico de diarreia crônica e emagrecimento progressivo, com caquexia e dor abdominal. Os resultados encontrados nos exames hematológicos foram compatíveis com inflamação/infecção crônica intestinal. A ultrassonografia mostrou severa gastrinterite. No exame a fresco de fezes, foram observados protozoários semelhantes a Tritrichomonas foetus, confirmado no diagnóstico molecular. A técnica de centrifugo-flutuação foi positiva para cistos de Gardia intestinalis, concordando com a presença de antígeno de Giardia spp. O diagnóstico de diarreia em gatos deve incluir o parasitismo por Tritrichomonas foetus entre os possíveis agentes etiológicos a serem descartados. Unitermos: felinos, emagrecimento, diarreia, tricomonose, giardíase
A
2-year-old Devon rex cat, 1.4 kg, was treated at the Vet Clinic in Rio de Janeiro, with chronic diarrhea and progressive weight loss, with cachexia and abdominal pain. Collected blood sample, the results found in hematological examinations were consistent with inflammation/chronic intestinal infection. Ultrasonography showed severe gastrinteritis. In the fresh fecal examination, protozoa similar to Tritrichomonas fetus were observed, confirmed in the molecular diagnosis. The centrifugal-flotation technique was positive for Gardia intestinalis cysts, agreeing to the presence of Giardia spp antigen. The diagnosis of diarrhea in cats should include parasitism by Tritrichomonas fetus among the possible etiological agents to be discarded. Keywords: feline, weight loss, diarrhea, trichomoniasis, giardiasis
U
na gata, de la raza Devon rex, 2 años de edad, 1,4 kg, fue atendida en el Río de Janeiro, con historial de diarrea crónica y adelgazamiento progresivo, con caquexia y dolor abdominal. La muestra de sangre, los resultados encontrados en los exámenes hematológicos fueron compatibles con la inflamación/infección crónica intestinal. La ultrasonografía mostró severa gastrinteritis. En el examen a fresco de heces, se observaron protozoos similares a Tritrichomonas foetus, confirmado en el diagnóstico molecular. La técnica de centrifugadoflotación fue positiva para los quistes de Gardia intestinalis, concordando con la presencia de antígeno de Giardia spp. El diagnóstico de diarrea en gatos debe incluir el parasitismo por Tritrichomonas foetus entre los posibles agentes etiológicos a ser descartados. Palabras clave: felinos, adelgazamiento, diarrea, tricomoniosis, giardiasis
40
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução Diarreia em gatos podem ser resultado de uma variedade de agentes etiológicos, infecciosos ou não1. Dentre as causas infecciosas, estão os parasitos intestinais, como a Giardia intestinalis, uma importante espécie de protozoário relacionado a quadros de diarreia em felinos1,2,3. Outra espécie descoberta há pouco mais de 10 anos, Tritrichomonas foetus foi reconhecido como agente da diarreia em gatos, e desde então, é cada vez maior o número de casos descritos na literatura e sua associação com diarreia2,3,4,5,6,7. Tritrichomonas foetus é um pequeno protozoário móvel, que apresenta três flagelos anteriores e um posterior, além de uma membrana ondulante e uma estrutura chamada de axóstilo que dá sustentação ao corpo do parasito, podendo ser visualizado como trofozoíto móvel ou pseudocisto, forma arredondada com flagelos internalizados e de resistência temporária as condições ambientais5,8. A espécie é conhecida por causar doença reprodutiva em bovinos e por ser um simbionte em suínos5,8. Em gatos, parasita preferencialmente o intestino grosso, mas em infecções maciças, pode ser encontrado também no intestino delgado, podendo ou não causar diarreia1,5. Possui ampla distribuição geográfica com relatos por toda Europa, Ásia, Austrália, América do Norte, e mais recentemente, América do Sul5. O primeiro relato no Brasil foi feito no ano de 20155,10. Os sinais clínicos da doença em gatos incluem diarreia com muco, letargia, anorexia e perda de peso. Sinais adicionais podem incluir diarreia com sangue, tenesmo, flatulência e fezes mal-cheirosas1,2,5,7,11,12. A transmissão é do tipo direta, através do contato do gato com fezes de animais parasitados, água ou alimento contaminado5,13. Neste relato descreve-se o diagnóstico de co-infecção por T. foetus e Giardia intestinalis. em gata doméstica com diarreia crônica, por meio do exame de fezes frescas, solução saturada de sacarose e confirmação por diagnóstico molecular. Histórico Uma gata, da raça devon rex, apta para a reprodução, de dois anos de idade, peso corporal de 1,4 kg, foi atendida no Rio de Janeiro, com histórico de diarreia e emagrecimento. Ao exame físico, o animal apresentava temperatura retal de 43,1 ºC, caquexia e dor abdominal, porém com apetite. Foi coletada amostra de sangue da veia jugular direita, e processada conforme relato prévio14. A separação dos elementos figurados e plasma foram feitos com auxílio de uma microcentrífugaa. As amostras de sangue foram processadas, com a utilização de equipamento automáticob para leucometria, plaquetometria e eritrograma. Para mensuração da proteína plasmática total foi utilizado um refratômetro
clínico manualc. Os esfregaços, previamente preparados, foram corados utilizando conjunto para coloração rápida em hematologiad e obedeceram à técnica de fixação proposta14, observados em microscópio binoculare para avaliação da morfologia dos elementos figurados do sangue e presença de hematozoários. Os resultados encontrados nos exames hematológicos foram: hemoglobina 7,4 g/dL (8,0 – 16); eritrócitos 5,7 x milh./mm3 (5 – 9,5); volume globular de 42,4% (28 – 45%), leucometria de 37.600/mm3 (6.000 – 17.000/mm3) com monocitopenia, neutrofilia e desvio a esquerda regenerativo, com trombocitopenia, parâmetros bioquímicosf, com valores em mg/dL: alanina aminotransferase (ALT/TGP) 54,6 (C < 89); creatinina 0,59 (C < 1,8); ureia 78,9 (< 82); glicemia 75 (70 – 110); proteínas plasmáticas 6,6 (5,5 – 7,7) e frações em g/dL, albumina 1,5 (2,8 – 5,5) e globulina 4,4 (2,5 – 4); eletrólitos em mEq/L; potássio 6,27 (3 – 4,8); sódio 154,5 (145 – 160). O exame ultrassonográfico mostrou severa gastrenterite, com edema da mucosa gástrica e intestinal. Foram coletadas amostras fecais, de consistência aquosa, com odor fétido e de coloração castanha escura, após defecação. Uma fração de fezes foi diluída em cinco gotas de solução fisiológica a 0,9%, corada com uma gota de lugol e observada em microscópioe, outra fração, foi submetida a técnica de centrifugo-flutuação em solução saturada de sacarose15 e ao teste rápido para detecção de antígenos de Giardiag. O restante da amostra foi congelada e encaminhada ao Laboratório de Biologia Molecular do Instituto de Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Lab BIOMOL, IV, UFRRJ) para diagnóstico molecular. O DNA foi extraído diretamente da amostra fecal usando um kit comercial de extração para DNA de amostra fecalh, de acordo com protocolo do fabricante. Iniciadores (primers) espécie-específicos. Foram utilizados para detecção de DNA de T. foetus e P. hominis em condições previamente estabelecidas5,6. No exame a fresco com lugol, foi observado protozoário semelhante a Tritrichomonas sp. Os trofozoítos observados apresentavam movimentos rápidos, progressivos, e do tipo pendular característico. Esfregaços das fezes corados pelo Panótico rápidod confirmaram a identidade de T. foetus (Figura 1a), a microscopia mostrou trofozoítos de formato piriforme, com três flagelos anteriores e um posterior, concordando com o diagnóstico molecular, positivo para DNA de Tritrichomonas foetus, confirmando o diagnóstico morfológico. Não houve a detecção de Pentatrichomonas hominis. A técnica de centrifugo-flutuação foi positiva para cistos de Gardia intestinalis (Figura 1b) concordando com o teste rápido para a presença de antígenog.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
41
a
b
Figura 1 – Fezes de gato atendidos em serviço de saúde animal: (A) Trofozoíto de Tritrichomonas foetus com três flagelos: anterior (FA), flagelo posterior (FP) e axóstilo (Ax), corado pelo Panótico, Obj. 100x; (B) Cisto de Giardia spp. Obj. 40x; Solução de saturada de sacarose
Discussão e conclusões Casos de diarreia crônica em gatos têm diversas etiologias, decorrentes de inflamação/infecção no trato gastrointestinal, tendo como consequência os resultados laboratoriais observados e concordantes com a literatura, principalmente a hipoalbuminemia16. Uma das principais causas, o parasitismo gastrintestinal, é frequente e muitas vezes não diagnosticados na rotina clínica, quando as técnicas corretas não são empregadas, sendo uma das causas mais frequentemente associadas a diarreia crônica2,5,7. Tritrichomonas foetus é um protozoário possível de diagnosticar nas fezes frescas do animal2,5, conforme o presente estudo, porque possuem motilidade vigorosa, conforme observado no exame direto5,8, porém nos exames tradicionais para detecção de parasitos gastrintestinais, os trofozoítos de T. foetus ou P. hominis morrem, em contato com as soluções de fixaCentrífuga Micro-Hematócrito E3500108 MICROSPIN CDR, Rua Japão, 150, Bairro Sorocabano, Jaboticabal/SP, Brasil; b Ms4-Vet-Melet Schloesing Laboratoires coulter, fabrication française; c Modelo Q667, Quimis Aparelhos Científicos, R. Gema, 278 Campanário, Diadema, SP; Brasil; d Panótico Rápido LB-Laborclin produtos para laboratórios Ltda, Rua Casemiro de Abreu, 521 Pinhais, PR, Brasil; e Eclipse E200, Nikon Instruments Inc. Japão; f Roche Diagnostics GmbH, Mannheim-Baden-Württemberg RFA; g SNAP Giardia Test® (IDEXX); h ZR Fecal DNA MiniPrep™ Zymo Research a
42
ção ou hipersaturadas, ao contrário de Giardia intestinalis, além disso, os tricomonadídeos não formam cisto verdadeiro, ao invés disso formam pseudocistos transparentes que podem não ser observados, em conformidade com os resultados observados no presente estudo5,8. O diagnóstico da trichomonose felina tem por base o histórico de episódios de diarreia crônica recidivante, mesmo após tratamento com antibióticos, aliado principalmente ao exame a fresco de amostra fecal diluída em solução salina, análise molecular, conforme utilizada no presente estudo e cultura das fezes em meio específico para a detecção de parasitos móveis2,5,6,7. Apesar do diagnóstico molecular ser uma alternativa mais eficiente aos métodos tradicionais de diagnóstico 2,5,6,7, o método ainda apresenta custos elevados, e nem sempre é possível diagnosticar o parasito com apenas uma amostra fecal, por ser o produto final da digestão, as fezes contém diversos tipo de substâncias que interferem ou inibem a extração de DNA e ou a amplificação e a detecção de quantidade suficiente deste para positividade, sendo assim, recomenda-se primeiro proceder aos exames tradicionais e caso necessário o diagnóstico molecular, como medida para a terapêutica adequada17, no entanto, técnicas de diagnóstico molecular específicas podem determinar a virulência parasitária e influenciar na escolha do melhor tratamento18. Conclusão O diagnóstico de diarreia em gatos deve incluir o parasitismo gastrintestinal como diagnóstico diferencial e é importante a utilização das técnicas adequadas para
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
o exame fecal.Infecções concomitantes em gatos com diarreia devem ser consideradas e Tritrichomonas foetus e Giardia intestinalis estão entre os possíveis agentes etiológicos a serem descartados. Referências 01-GREENE, C. Infectious diseases of the dog and cat, 4. ed., 2011. 02-ZANZANI, S. A. ; GAZZONIS, A. L. ; SCARPA, P. ; OLIVIERI, E. ; BALZER, H. ; MANFREDI, M. T. Coinfection with Tritrichomonas foetus and Giardia duodenalis in two cats with chronic diarrhea. Case Reports in Veterinary Medicine, v. 2016, p. 1-5, 2016. 03-GENNARI, S. M. ; FERREIRA, J. I. ; PENA, H. F. ; LABRUNA, M. B. ; AZEVEDO, S. D. Frequency of gastrointestinal parasites in cats seen at the University of São Paulo Veterinary Hospital, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinaria, v. 25, n. 4, p. 423-428, 2016. 04-LEVY, M. G. ; GOOKIN, J. L. ; POORE, M. ; BIRKENHEUER, A. J. ; DYKSTRA, M. J. ; LITAKER, R. W. Tritrichomonas foetus and not Pentatrichomonas hominis is the etiologic agent of feline trichomonal diarrhea. Journal of Parasitology, v. 89, p. 99-104, 2003. 05-YAO, C. ; KÖSTER, L. S. Tritrichomonas foetus infection, a cause of chronic diarrhea in the domestic cat. Veterinary research, v. 46, n. 1, p. 35, 2015. 06-DOS SANTOS C. S. ; DE JESUS, V. L. T. ; MCINTOSH, D. ; BERTO B. P. ; LOPES, C. W. G. 2015. Co-infection by Tritrichomonas foetus and Pentatrichomonas hominis in asymptomatic cats. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 35, n. 12. p. 980-988. 07-ARRANZ-SOLÍS, D. ; PEDRAZA-DÍAZ, S. ; MIRÓ, G. ; ROJO-MONTEJO, S. ; HERNÁNDEZ, L. ; ORTEGA-MORA, L. M. ; COLLANTES-FERNÁNDEZ, E. Tritrichomonas foetus infection in cats with diarrhea from densely housed origins. Veterinary parasitology, v. 221, p. 118-122, 2016. 08-PEREIRA-NEVES, A. ; CAMPERO, C. M. ; MARTINEZ, A. ; BENCHIMOL, M. Identification of Tritrichomonas foetus pseudocysts in fresh preputial secretion samples from bulls. Veterinary Parasitology, v. 175, p. 1-8, 2011. 09-ŠLAPETA, J. ; MÜLLER, N. ; STACK, C. M. ; WALKER, G. ; LEW-TABOR, A. ; TACHEZY, J. ; FREY, C. Comparative analysis of Tritrichomonas foetus (Riedmüller, 1928) cat genotype, T. foetus (Riedmüller, 1928) cattle genotype and Tritrichomonas
suis (Davaine, 1875) at 10 DNA loci. International Journal for Parasitology, v. 42, p. 1143-1149, 2012. 10-CARRASCO, L. P. S. ; SANTOS, C. S. ; SOUZA, H. J. M. ; GIZZI, A. B. R. Tritrichomonas foetus como agente etiológico de diarréia em gatos. Clínica Veterinária, v. 19, n. 113, p. 34-41, 2014. 11-GOOKIN, J. L. ; BREITSCHWERDT, E. B. ; LEVY, M. G. ; GAGER, R. B. ; BENRUD, J. G.; Diarrhea associated with trichomonosis in cats. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 215, p. 1450-1454, 1999. 12-HORA, A. S. ; MIYASHIRO, S. I. ; CASSIANO, F. C. ; BRANDÃO, P. E. ; RECHE-JR, A. ; PENA, H. F. J. Report of the first clinical case of intestinal trichomoniasis caused by Tritrichomonas foetus in a cat with chronic diarrhoea in Brazil. BMC Veterinary Research, v. 13, p. 109-112, 2017. 13-HALE, S. ; NORRIS, J. M. ; ŠLAPETA, J. Prolonged resilience of Tritrichomonas foetus in cat faeces at ambient temperature. Veterinary Parasitology, v. 166, p. 60-65. 2009. 14-BASTOS, E. M. D. A. ; LEAL, P. D. S. ; LOPES, C. W. G. Importância da avaliação morfológica de neutrófilos como marcadores de infecção sistêmica em cães. Relato de dois casos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 38, n. 2, p 195202, 2016. 15-LEAL, P. D. S. A. ; CAMPOS, D. P. ; RODRIGUES, M. L. A. ; BOTELHO, G. G. ; LABARTHE, N. V. ; LOPES, C. W. G. Parasitos gastrintestinais em uma colônia de gatos na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 37, n. 1, p. 95-99, 2015. 16-GIANELLA, P. ; PIETRA, M. ; CRISI, P. E. ; BERGAMINI, P. F. ; FRACASSI, F. ; MORINI, M. ; BOARI, A. Evaluation of clinicopathological features in cats with chronic gastrointestinal signs. Polish Journal of Veterinary Sciences, v. 20, n. 2, p. 403410, 2017. 17-GRELLET, A. ; POLACK, B. ; FEUGIERA, A. ; BOUCRAUTBARALON, C. ; GRANDJEAN, D. ; VANDEWYNCKELD, L. ; CIAND, A. ; MELONI, D.; VISCOGLIOSIDA ROYAL, E. Prevalence, risk factors of infection and molecular characterization of trichomonads in puppies from French breeding kennels. Veterinary Parasitology, v. 197, p. 418-426, 2013. 18-STROUD, L. J. ; ŠLAPETA, J. ; PADULA, M. P. ; DRUERY, D. ; TSIOTSIORAS, G. ; COORSSEN, J. R. ; STACK, C. M Comparative proteomic analysis of two pathogenic Tritrichomonas foetus genotypes: there is more to the proteome than meets the eye. International Journal for Parasitology, v. 47, n. 4, p. 203-213, 2017.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
43
Diagnóstico de Infecção por Dirofilaria immitis em cães domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil Diagnosis of Dirofilaria immitis infection in domestic dogs treated at animal health service, Rio de Janeiro, Brazil Diagnóstico de Infección por Dirofilaria immitis en perros domésticos atendidos en servicio de salud animal, Río de Janeiro, Brasil Liana Monteiro Santos1; Paulo Daniel Sant’Anna Leal2; Larissa Licurci de Oliveira Barbosa3; Maria Isabel Menezes Ramos4; Carlos Wilson Gomes Lopes5 1-MV, aluna de pós-graduação Lato Sensu da Qualittas-Faculdade Corporativa CESPI. 2-MV, DSc. aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 3-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 4-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 5-MV, MSc, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ – bolsista CNPq.
lihmonteiro@gmail.com
D
iante da importância dessa enfermidade na clínica de cães, verificou-se a frequência com que a dirofilariose por Dirofilaria immitis é observada em cães urbanos na cidade do Rio de Janeiro, com acompanhamento médico veterinário de rotina. O estudo foi conduzido em 73 cães atendidos por serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, RJ. As amostras de sangue foram coletadas e acondicionadas em tubo sem anticoagulante, centrifugadas. Foi utilizado para diagnóstico o teste rápido (SNAP® 4Dx®) de acordo com as instruções do fabricante. De 73 cães, todos testados para a pesquisa de antígeno de D. immitis, oito deles foram reativos, sendo considerados positivos (10,95%), indicando a elevada frequência e a importância desta parasitose, mesmo em cães urbanos com acompanhamento veterinário de rotina. Unitermos: zoonose, infecções parasitárias, mosquito, dirofilariose
I
n view of the importance of this disease in the dog clinic, the frequency with which Dirofilaria immitis heartworm disease was observed in urban dogs in the City of Rio de Janeiro, with routine veterinary clinical assistance. The study was conducted in 73 dogs attended at Animal Health Service, Rio de Janeiro, RJ. The blood samples were collected and conditioned in an anticoagulant tube, centrifuged. The rapid test (SNAP® 4Dx®) was used for diagnosis according to the manufacturer's instructions. Of 73 dogs, all tested for D. immitis antigen, eight were reactive, being considered positive (10.95%), indicating the high frequency and the importance of this parasite, even in urban dogs with routine veterinary monitoring. Keywords: parasitic infections, mosquito, heartworm
A
nte la importancia de esta enfermedad en la clínica de perros, se verificó la frecuencia con que la dirofilariosis por Dirofilaria immitis es observada en perros urbanos en la ciudad de Río de Janeiro, con acompañamiento médico veterinario de rutina. El estudio fue conducido en 73 perros atendidos por servicio de salud animal, Río de Janeiro, RJ. Las muestras de sangre fueron recogidas y acondicionadas en tubo sin anticoagulantes, centrifugadas. Se utilizó para diagnóstico la prueba rápida (SNAP® 4Dx®) de acuerdo con las instrucciones del fabricante. De 73 perros, todos probados para la investigación de antígeno de D. immitis, ocho de ellos fueron reactivos, siendo considerados positivos (10,95%), indicando la elevada frecuencia y la importancia de esta parasitosis, incluso en perros urbanos con acompañamiento veterinario de rutina. Palabras clave: infecciones parasitarias, mosquito, dirofilariosis
44
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução Os nematóides cardiopulmonares de cães e gatos são responsáveis por doenças parasitárias de importância na clínica de animais de companhia e como zoonoses1. Apresentam uma elevação da frequência em várias regiões geográficas no mundo, inclusive com a presença em áreas antes livres de ocorrência 2,3, principalmente os representantes dos metaestrongilóides, Aelurostrongylus abstrusus, Angiostrongylus vasorum e Crenosoma vulpis, o filarioide Dirofilaria immitis e o tricurídeo Eucoleus aerophilus (Sin. Capillaria aerophila)4. O reconhecimento dos fatores de risco e a prevalência são importantes para estratégia de controle em saúde pública e no auxílio ao diagnóstico dos clínicos veterinários5,6. Caninos e felinos domésticos e silvestres são os reservatórios de Dirofilaria immitis e Dirofilaria repens, e os principais vetores são os mosquitos culicídeos, Aedes taeniorhynchus, Aedes scapularis, Culex quinquefasciatus7. Três formas de dirofilariose são observadas no ser humano: a dirofilariose pulmonar (DP), geralmente causando um nódulo pulmonar solitário atribuído a D. immitis, como nódulos subcutâneos localizados em diferentes partes do corpo e no globo ocular, onde os vermes causam nódulos ou permanecem não encapsulados, sendo as duas últimas variantes causadas principalmente por D. repens8,9 confirmada através de cadeia de polimerase e pela morfologia do verme adulto10,11. As larvas infectantes de terceiro estádio migram para os tecidos subcutâneos ou subseroso, sofrendo duas mudas durante os meses seguintes, e, após a quinta muda, a forma adulta jovem chega até o coração com um período pré-patente de no mínimo, seis meses5,12,13. É observada em todas as faixas etárias a partir de um ano de idade, e principalmente os cães, de raça de médio e grande porte, com pelos curtos são mais afetados13. No Brasil, os registros de filaróides em cães estão limitados a D. immitis, Acanthocheilonema reconditum e Cercopithifilaria bainae14. Os sinais clínicos podem estar ausentes e quando observados, dependem da gravidade da doença e da sensibilidade do hospedeiro. Para o diagnóstico, os métodos diretos são eficientes, como o teste de woo ou teste de Knott modificado para a detecção de microfilárias. Nos indiretos, detectam-se antígenos do helminto adulto ou anticorpos por meio de testes sorológicos. O aquecimento da amostra pode aumentar a precisão do diagnóstico pois permite a detecção de antígenos com maior sensibilidade, revelando infecções ocultas de D. immitis15,16. Outro método indireto que pode ser utilizado é reação de cadeia de polimerase/PCR3. Exames de imagens são úteis, radiografias de tórax sugerem lesões compatíveis e a visualização ultrassonográfica de vermes também podem validar os resultados do teste diretos e de falso
negativo17,5. A profilaxia deve se iniciar na oitava semana de vida, e ser feita durante toda a vida do animal. Antes de iniciar o protocolo de profilaxia escolhida, devem-se testar os cães com mais de sete meses de idade13. Deve-se ter atenção ao uso das ivermectinas, pois a longo prazo, como é a indicação na profilaxia da dirofilariose, podem promover lesões orgânicas18. Diante da importância dessa enfermidade na clínica de cães, por se tratar de uma zoonose e a sobreposição significativa nas alterações clínicas, hematológicas e patológicas resultantes dessa infecção19, este trabalho tem como objetivo verificar a frequência com que a dirofilariose é observada em cães urbanos na cidade do Rio de Janeiro, com acompanhamento médico veterinário de rotina e a utilização do teste sorológico como diagnóstico, produzindo informações adequadas sobre prevenção e tratamento da infecção da dirofilariose em animais de estimação20,5,13,21,9. Materiais e métodos O estudo foi conduzido em 73 cães atendidos pelo serviço médico veterinário do Centro de Terapia Intensiva e Emergência Veterinária, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, conforme rotina clínica. As amostras de sangue foram coletadas em seringa descartável, com agulha 25 x 7mm, 3 a 4 mL, conforme volume total das coletas. Os materiais foram acondicionadas em tubo de ensaio pediátrico sem anticoagulante, centrifugadas em centrífuga (Mod. 208N, Excelsa Baby, marca Fanem Ltda.) a 350 G por 10 minutos, para separação do soro pertinente ao diagnóstico in vitro para a detecção do antígeno de D. immitis, através do teste rápido (SNAP® 4Dx®, IDEXX Laboratories Inc., Westbrook, ME, EUA), de acordo com as instruções do fabricante20,22. Resultados e discussão De 73 cães, todos testados para a pesquisa do antígeno de D. immitis, através do teste ELISA SNAP 4DX® (IDEXX Laboratories), observamos um total de oito cães positivos (10,95%), para antígeno de D. immitis, maior do que estudo desenvolvido na cidade do Rio de Janeiro17, onde todos os animais incluídos estavam fora da medicação profilática para D. immitis. A taxa de infecção na média foi de 5,65%, porém se observarmos por região, especialmente a Barra da Tijuca com 15,19%, vamos verificar um resultado maior do que o observado no presente estudo, explicado pelo fato dos cães estudados não receberem orientação veterinária17. Em estudo mais recente, onde cães com ausência de profilaxia pela lactona macrocíclica, durante pelo menos um ano foram estudados, em regiões do estado do Rio de Janeiro, com resultados expressivos, 16,3%
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
45
para Mangaratiba, 58,6% para Niterói e 62,2% para Búzios, todas cidades litorâneas do estado do Rio de Janeiro, porém não foram estudados cães da região da Barra da Tijuca, esses resultados observados confirmam que a região é endêmica e que a orientação veterinária com a ausência da profilaxia é fator de risco para a dirofilariose, concluindo que cães que habitam moradia estão menos propensos a se infectarem, concordando com nossas observações23. Quando se avalia especificamente a região geográfica do estado do Rio de Janeiro, comparando o litoral com o interior, observa-se uma nítida variação no número de cães infectados. O litoral apresenta um elevado número de cães positivos, com 68,9%, com o número decrescendo conforme se afasta do litoral. Esses resultados bem acima dos observados no presente estudo são explicados pelo grupo de cães estudados e a região, onde historicamente se observa elevados números de cães infectados, além da proteção da moradia em apartamento ser um fator de proteção, conforme observado em nosso estudo23,24. Em estudo desenvolvido com cães militares, na região metropolitana do Rio de janeiro, onde se observou uma média de 5,82% de cães positivos, foram observados níveis variáveis de positividade nos canis militares localizados em diferentes bairros, Vila Militar (0%), São Cristóvão (4,8%), Ilha do Governador (7,69%) e São Gonçalo (7,14%)25. Quando se considera a proximidade do litoral (Ilha do Governador e São Gonçalo), explicados pela presença do vetor e proximidade do litoral serem fatores de risco, os resultados são semelhantes24,25, explicando o resultado, pela região geográfica onde habitava os cães de estudo25, apesar de habitarem área urbana e receberem atenção dos tutores quanto aos cuidados veterinários e estarem em moradia, o que confere proteção ao vetor. No presente estudo, a dirofilariose foi observada em todas as faixas etárias, a partir de um ano de idade, confirmando estudos anteriores, onde o risco aumenta com a idade em áreas onde há vetores e reservatórios23,13,25. Conclusão A frequência de dirofilariose por D. immitis em infecções naturais em cães que recebem acompanhamento de rotina por médico veterinário em uma clínica na cidade do Rio de Janeiro foi determinada pelo teste sorológico, constatando-se a importância da pesquisa de antígeno de D. immitis, onde oito de 73 deles foram reativos, sendo considerados positivos (10,95%), indicando a elevada frequência e a importância desta parasitose, mesmo em cães urbanos com acompanhamento veterinário de rotina. 46
Referências 01-MIRAHMADI, H. ; MALEKI, A. ; HASANZADEH, R. ; AHOO, M. B. ; MOBEDI, I. ; ROSTAMI, A. Ocular dirofilariasis by Dirofilaria immitis in a child in Iran: A case report and review of the literature. Parasitology International, v. 66, n. 1, p. 978-981, 2017. 02-GENCHI, C. ; BOWMAN, D. ; DRAKE, J. Canine heartworm disease (Dirofilaria immitis) in Western Europe: survey of veterinary awareness and perceptions. Parasites & Vectors, v. 7, n. 1, p. 206, 2014. 03-MONOBE, M. M. ; DA SILVA, R. C. ; MELANCHAUSKI, M. S. ; LOPES, R. S. Canine heartworm disease in a brazilian nonendemic area. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, v. 19, n. 2, p. 95-100, 2016. 04-TRAVERSA, D. ; DI CESARE, A. ; CONBOY, G. Canine and feline cardiopulmonary parasitic nematodes in Europe: emerging and underestimated. Parasites & Vectors, v. 3, n. 1, p. 62, 2010. 05-HOCH, H. ; STRICKLAND, K. Canine and feline dirofilariasis: life cycle, pathophysiology, and diagnosis. Compendium, v. 30, n. 3, p. 133-141, 2008. 06-ÇETINKAYA, H. ; MATUR, E. ; AKYAZI, İ. ; EKIZ, E. E. ; AYDIN, L. ; TOPARLAK, M. Serological and molecular investigation of Ehrlichia spp. and Anaplasma spp. in ticks and blood of dogs, in the Thrace Region of Turkey. Ticks and Tick-Borne Diseases, v. 7, n. 5, p. 706-714, 2016. 07-LABARTHE, N. ; GUERRERO, J. Epidemiology of heartworm: what is happening in South America and Mexico? Veterinary Parasitology, v. 133, n. 2, p. 149-156, 2005. 08-DANTAS-TORRES, F. ; BRIANTI, E. ; OTRANTO, D. Dirofilariosis. In: MARCONDES, C. B. Arthropod borne diseases. Springer International Publishing, 2017. p. 445-455 09-SIMÓN, F. ; KARTASHEV, V. ; GONZÁLEZ-MIGUEL, J. ; RIVERA, A. ; DIOSDADO, A. ; GÓMEZ, P. J. : ILYASOV, B. Fifth European Dirofilaria and Angiostrongylus Days (FiEDAD). Parasites & Vectors, v. 10, n. 1, p. 1, 2017. 10-FALIDAS, E. ; GOURGIOTIS, S. ; IVOPOULOU, O. ; KOUTSOGIANNIS, I. ; OIKONOMOU, C. ; VLACHOS, K. ; VILLIAS, C. Human subcutaneous dirofilariasis caused by Dirofilaria immitis in a Greek adult. Journal of Infection and Public Health, v. 9, n. 1, p. 102-104, 2016. 11-TUMOLSKAYA, N. I. ; POZIO, E. ; RAKOVA, V. M. ; SUPRIAGA, V. G. ; SERGIEV, V. P. ; MOROZOV, E. N. ; LITVINOV, S. K. Dirofilaria immitis in a child from the Russian Federation. Parasite, v. 23, n. 37, 2016. 12-LEÓN, M. Actualizaciones en el manejo de la filariosis canina producida por Dirofilaria immitis. Consulta de Difusión Veterinaria, v. 18, n. 167, p. 35-38, 2010. 13-AMERICAN HEARTWORM SOCIETY. Current canine guidelines for the prevention, diagnosis, and management of heartworm (Dirofilaria immitis) infection in dogs. Wilmington: American Heartworm Society, 2014. 14-RAMOS, R. A. N. ; DO RÊGO, A. G. D. O. ; DE FARIAS FIRMINO, E. D. ; DO NASCIMENTO RAMOS, C. A. ; DE CARVALHO, G. A. ; DANTAS-TORRES, F. ; ALVES, L. C. Filarioids infecting dogs in northeastern Brazil. Veterinary Parasitology, v. 226, n. 1, p. 26-29, 2016. 15-CIUCĂ, L. ; GENCHI, M. ; KRAMER, L. ; MANGIA, C. ; MIRON, L. D. ; DEL PRETE, L. ; RINALDI, L. Heat treatment
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
of serum samples from stray dogs naturally exposed to Dirofilaria immitis and Dirofilaria repens in Romania. Veterinary Parasitology, v. 225, n. 1, p. 81-85, 2016. 16-GRUNTMEIR, J. M. ; ADOLPH, C. B. ; THOMAS, J. E. ; REICHARD, M. V. ; BLAGBURN, B. L. ; LITTLE, S. E. Increased detection of Dirofilaria immitis antigen in cats after heat pretreatment of samples. Journal of Feline Medicine and Surgery, 1098612X16670562, 2016. 17-LABARTHE, N. ; ALMOSNY, N. ; GUERRERO, J. ; DUQUEARAÚJO, A. M. Description of the occurrence of canine dirofilariasis in the State of Rio de Janeiro, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 92, n. 1, p. 47-51, 1997. 18-PIMPÃO, C. T. ; ROCHA, R. M. V. M. ; SCHAEFER, R. ; DE FIGUEIREDO WOUK, A. F. P. ; CIRIO, S. M. ; BENATO, E. M. ; FRONCZAK, M. A. Avaliação dos efeitos toxicológicos da ivermectina em cães. Revista Acadêmica: Ciência Animal, v. 3, n. 4, p. 19-24, 2005.
2007. 21-LEAL, P. D. S. A. ; MORAES, M. I. M. R. ; DE OLIVEIRA BARBOSA, L. L. ; LOPES, C. W. G. Infecção por hematozoários nos cães domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 37, supl.1, p. 55-62, 2015. 22-HONSBERGER, N. A. ; SIX, R. H. ; HEINZ, T. J. ; WEBER, A. ; MAHABIR, S. P. ; BERG, T. C. Efficacy of sarolaner in the prevention of Borrelia burgdorferi and Anaplasma phagocytophilum transmission from infected Ixodes scapularis to dogs. Veterinary Parasitology, v. 222, p. 67-72, 2016. 23-LABARTHE, N. V. ; PAIVA, J. P. ; REIFUR, L. ; MENDES-DEALMEIDA, F. ; MERLO, A. ; PINTO, C. J. C. : ALVES, L. C. Updated canine infection rates for Dirofilaria immitis in areas of Brazil previously identified as having a high incidence of heartworm-infected dogs. Parasites & Vectors, v. 7, n.1, p. 493, 2014.
19-NAIR, A. D. ; CHENG, C. ; GANTA, C.K. ; SANDERSON, M. W. ; ALLEMAN, A. R. ; MUNDERLOH, U. G. ; GANTA, R. R. Comparative experimental infection study in dogs with Ehrlichia canis, E. chaffeensis, Anaplasma platys and A. phagocytophilum. PloS one, v. 11, n. 2, 2016.
24-WILLI, L. M. V. ; MENDES-DE-ALMEIDA, F. ; DE SOUZA, C. D. S. F. ; LAETA, T. ; PAIVA, J. P.; DE MIRANDA, M. G. N. ; LABARTHE, N. Serological evidence of canine exposure to arthropod-borne pathogens in different landscapes in Rio de Janeiro, Brazil. Veterinary Parasitology: Regional Studies and Reports, v. 7, n. 1, p. 40-44. 2017.
20-CARLOS R. S. ; MUNIZ N. E. S. ; SPAGNOL F. H. ; OLIVEIRA L. L. ; BRITO R. L. L. ; ALBUQUERQUE G. R. ; ANDREOTTI R. Frequência de anticorpos anti-Erhlichia canis, Borrelia burgdorferi e antígenos de Dirofilaria immitis em cães na microrregião Ilhéus-Itabuna, Bahia, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 16, n. 3, p. 117-120,
25-ALMEIDA, G. L. G. ; ALMEIDA, M. B. ; SANTOS, A. C. M. ; MATTOS, A. V. ; OLIVEIRA, A. C. ; BARROS, R. S. ; LAUTENSCHLAGER, M. Serological investigation of heartworm (Dirofilaria immitis) infection in military dogs from Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Veterinary Advances, v. 6, n. 10, p. 1332-1337, 2016.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
47
Diagnóstico de parasitos gastrintestinais em dois sistemas de criação comercial de cães Diagnosis of gastrointestinal parasites in two commercial dog breeding systems Diagnóstico de parásitos gastrointestinales en dos sistemas de cría comercial de perros Paulo Daniel Sant’Anna Leal1; Carlos Wilson Gomes Lopes2 1-MV, DSc. aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 2-MV, MSc, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ – bolsista CNPq.
pauloleal@ctiveterinario.com.br
D
ois canis foram avaliados através de exames de fezes, para parasitos gastrintestinais pelo exame direto e a técnica de flutuação em solução saturada de açucar. O canil da raça golden retrivier (GR), com 51 animais, onde foi possível observar 40 (93,0%) de cães parasitados por algum tipo de parasito gastrintestinal, Ancylostoma caninum em 31 cães (72,0%), Toxocara canis 16 (37,2%), Cystoisospora canis 5 (11,6%), Cyniclomyces guttulatus em 12 cães (27,9%), com associações parasitárias em 14 cães (32,5%). No segundo canil da raça shih tzu (ST), foi observado nas 58 amostras examinadas, A. caninum em um cão (1,7%) e C. ohioensis em três (5,1%). Concluindo-se que o diagnóstico e o conhecimento do ciclo biológico dos parasitos gastrintestinais das espécies diagnosticadas, considerando o comportamento racial do cão, são fundamentais para implementação do manejo correto, com controle das infecções parasitárias gastrintestinais. Unitermos: comportamento racial, shih tzu, golden retrivier, manejo, infecção parasitária
T
wo kennels were evaluated through fecal tests, for gastrointestinal parasites by direct examination and the technique of flotation in saturated sugar solution. The Golden Retrivier kennel (GR), with 51 animals, where it was possible to observe 40 (93.0%) of dogs parasitized by some type of gastrointestinal parasite, Ancylostoma caninum in 31 dogs (72.0%), Toxocara canis 16 (37.2%), Cystoisospora canis 5 (11.6%), Cyniclomyces guttulatus in 12 dogs (27.9%), with parasitic associations in 14 dogs (32.5%). In the second Shih Tzu (TS) kennel, A. caninum in one dog (1.7%) and C. ohioensis in three (5.1%) were observed in the 58 samples examined. It is concluded that the diagnosis and knowledge of the biological cycle of the gastrointestinal parasites of the species diagnosed, considering the dog's racial behavior, are fundamental for the implementation of the correct management, with control of the gastrointestinal parasitic infections. Keywords: racial behavior, Shih Tzu, Golden Retriever, management, parasitic infection
D
os canis fueron evaluados a través de exámenes de heces, para parásitos gastrointestinales por el examen directo y la técnica de flotación en solución saturada de azúcar. La canil de la raza Golden Retrivier (GR), con 51 animales, donde fue posible observar 40 (93,0%) de perros parasitados por algún tipo de parásito gastrointestinal, Ancylostoma caninum en 31 perros (72,0%), Toxocara canis 16 (37,2%), Cystoisaspora canis 5 (11,6%), Cyniclomyces guttulatus en 12 perros (27,9%), con asociaciones parasitarias en 14 perros (32,5%). En la segunda canil de la raza Shih Tzu (ST), se observó en las 58 muestras examinadas, A. caninum en un perro (1,7%) y C. ohioensis en tres (5,1%). Concluyendo que el diagnóstico y el conocimiento del ciclo biológico de los parásitos gastrointestinales de las especies diagnosticadas, considerando el comportamiento racial del perro, son fundamentales para la implementación del manejo correcto, con control de las infecciones parasitarias gastrointestinales. Palabras clave: comportamiento racial, Shih Tzu, Golden Retrivier, manejo, infección parasitaria
52
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução estratégias de manejo sejam eficazes, protegendo a O cão possui contato cada vez mais íntimo com o ser saúde animal e a propagação do meio ambiente e risco humano, tornando obrigatório o diagnóstico e estudo aos seres humanos. epidemiológico das populações parasitárias gastrintestinais, com atenção aos riscos que cada raça apresenta, Material e métodos conforme seu comportamento e chances de maior conForam estudados dois canis comerciais de criação, taminação1, o que permiti traçar estratégias eficazes no canil da raça shih tzuo (ST) com 58 animais e canil da controle dessas infecções, com programas de prevenção raça golden retrivier (GR), com circulação de reprodue manejo, evitando a contaminação ambiental e os ristores da Europa, América do Norte, com 43 animais, cos de zoonoses2. A profilaxia é a principal forma de ambos localizados na Zona Oeste da cidade do Rio de evitar as doenças nos cães, visando um plano de bem Janeiro, RJ. Para avaliação de parasitos gastrintestinais, estar completo, individualizado para cada raça e etapa foram coletadas amostras fecais de todos os animais, da vida dos cães1,3. Várias espécies são observadas paraarmazenadas em temperatura de refrigeração para anásitando cães, Ancylostoma caninum, Cystoisospora lise posterior, no laboratório de Coccidios e canis, C. ohioensis, Giardia intestinalis, Toxocara canis, Trichuris vulpis, Dipylidium caninum, Taenia spp., Sarcocystis spp., Capillaria spp., Cyniclomyces guttulatus, Neospora caninum4,5,6,7, algub a mas delas são responsáveis por produzir doenças no homem4,7,8, Figura 1 – Parasitos gastrintestinais em criação comercial de cães. A) Oocisto esporulasendo essa responsabilidade do do de Cystoisopora ohioensis. Obj. 40x. B) Ovo de Ancylostoma caninum. Obj. 10x. médico veterinário9. É impor- Solução saturada de açúcar tante a associação de diferentes técnicas para o diagnóstico de múltiplas infecções4,5,6,7,9. A maior parte dos cães domiciliados defeca em locais públicos, contribuindo para a contaminação do ambiente, aliado a isso, há o comportamento característico racial, que determina diferentes chances de contaminação e dispersão das formas parasitáa b rias1, visto que boa parte dos tutores não promove o descarte das fezes, necessitando cada vez mais de um manejo, higienização e combate aos ovos, larvas e oocistos no ambiente, através da utilização de desinfetantes10. A educação e orientação dos proprietários pelo médico veterinário, quanto à higiene e potenciais riscos são necessárias11. O presente trabalho diagnosC d ticou parasitos gastrintestinais em cães de dois canis, com Figura 2 – Parasitos gastrintestinais em criação comercial de cães. A) Ovos de atenção ao comportamento Ancylostoma caninum, Obj. 10x. B) Toxocara canis, Obj. 40x. C) Oocisto esporacial, ciclo biológico, técnica rulado de Cystoisopora canis. Obj. 40x. D) Pseudo-hifas de Cyniclomyces guttude diagnóstico, para que as latus. Obj. 100x. Solução saturada de açúcar Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
53
Tabela 1. Diagnóstico de parasitos gastrintestinais em criação comercial de cães no Rio de Janeiro, RJ. Parasitos sistema ga sistema sb relativo absoluto relativo absoluto Ancylostoma caninum 17 39,53 1 1,72 A. caninum + Cyniclomyces guttulatus 1 2,35 0 0 Toxocara canis 5 11,62 0 0 A. caninum + T. canis 3 6,97 0 0 A. caninum + T. canis + C. guttulatus 4 9,30 0 0 A. caninum + Cystoisospora canis + C. guttulatus 2 4,65 0 0 C. guttulatus 3 6,97 0 0 A. caninum + T. canis + C. canis 2 4,65 0 0 A. caninum + T. canis + C. canis + C. guttulatus 2 4,65 0 0 C. canis 1 2,35 3 5,17 Positivos 40 93,02 4 6,89 negativos 3 6,97 54 93,10 a golden retrivier; b shih tzuo
Coccidioses (DPA/Anexo 1/IV/UFRRJ). O material foi dividido em duas alíquotas, uma parte foi examinada com a utilização da técnica de centrifugo-flutuação com solução saturada de sacaroseCFSSS12 e o exame direto com a diluição em solução salina a 0,9% de NaCl e coradas com lugol7. As amostras positivas para coccídios, tiveram a alíquota correspondente diluída em solução de K2Cr2O7 a 2,5% e, após esporulação dos oocistos, estes foram medidos com ocular micrométricaa e fotografadas em microscópiob,8. A identificação das espécies Cystoisospora canis e C. ohioensis foi de acordo com a literatura8,13,14. Resultados e discussão Na criação comercial ST, fezes de 58 animais foram examinados, foi observado parasitismo em quatro animais (6,89%), ovos de A. caninum (Figura 1a) em um animal (1,72%) e oocistos de C. ohioensis (Figura 1b) em três animais (5,17%), conforme a identificação das espécies como base na morfologia e morfometria compatíveis com a literatura,8,13,14. Não foi observada nenhuma associação parasitária, resultados inferiores aos observados em estudo com cães domiciliados7, indicando que o manejo sanitário, o comportamento racial1, aliado ao uso dos antiparasitários e o conhecimento dos ciclos biológicos dos parasitos gastrintestinais, está sendo bem conduzido, minimizando ao máximo os meios de contaminação e dispersão ambiental destes parasitos15, deve-se considerar o comportamento não predatório, oposto aos representantes do canil GR, que certamente contribui para a ingestão de formas parasia b
Ernst Leitz Wetzler K-15X (PZO) Eclipse E200, Nikon Instruments Inc. Japão
54
tárias1. No sistema de criação GR, dos 43 animais examinados, foi observado parasitismos em 40 animais (93,2%), número muito superior aos observados em outros estudos no Rio de Janeiro, com 92 (41%), porém apresentando a semelhança, onde a infecção por A. caninum (Figura 2a) foi a mais prevalente com 72,9%4,5,7, esse grande número de animais parasitados é explicado pelo fato dos animais utilizarem os mesmo habitat, a principal forma de infecção ser feco-oral, transmissão de A. caninum ser feita por via transmamária, ingestão de formas larvares presentes no ambiente e por via transplacentária, além da penetração cutânea, contribuindo para a infecção de todos os animais do sistema fechado de criação16. Foi possível determinar que dos animais parasitados, a espécie mais frequente foi A. caninum, com 31 animais positivos, por ter uma distribuição global17, T. canis (Figura 2a) com 16, C. canis (Figura 2b), com 7, e C. guttulatus (Figura 2c) com 11 animais positivos, concordando que C. guttulatus está presente nas fezes de cães e em associação parasitária pode agravar os sinais clínicos, sendo ainda responsáveis por gastrite, colangiohepatite e enterite18 ou habitar de forma apatogênica o sistema digestivo19. Observou-se ainda, em relação ao total de animais examinados a incidência de multiparasitismo, em 14 animais (Tabela 1), mostrando a importância do diagnóstico, tratamento e controle, evitando infecção das ninhadas através das diversas formas de transmissão, amamentação e placentária, com isso, deve-se considerar que todos os cães estão infectados ao nascimento20. Oocistos de C. canis foram observados em 7/43 (16,2%) dos cães examinados, onde a monoinfecção ocorreu em 1/43 (2,3%) dos cães examinados, enquan-
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
to que os oocistos de C. ohioensis não foram observados, estes resultados podem ser explicados pela presença de cães importados da Europa e América do Norte, onde C. canis prevalece como a mais frequente21. Estes resultados foram superiores aos estudos desenvolvidos no Rio de janeiro, em cães domiciliados, onde 4,4% e 4,5% dos exames de fezes foram positivos para C. canis7,8, enquanto que, na região metropolitana de São Paulo a frequência dessa parasitose variou entre 4,5% e 4% das amostras examinadas22,23. Conclusão O diagnóstico e o conhecimento do ciclo biológico dos parasitos gastrintestinais são fundamentais para implementação do manejo correto, considerando o comportamento racial, com menor ou maior chance de infecção. Referências 01-SERPELL, J. A. ; DUFFY, D. L. Dog breeds and their behavior. In: Domestic dog cognition and behavior. Berlim: Springer Berlin Heidelberg, p. 31-57, 2014. 02-OTERO, D. ; FERREIRA, A. ; CRUZ, R. ; ALHO, A. M. ; MADEIRA DE CARVALHO, L. Toxocara spp.: a lombriga de estimação dos carnívoros domésticos e silvestres em Portugal. Clínica Animal, v. 35, n. 3, p. 30, 2015. 03-BARTGES, J. ; BOYNTON, B. ; VOGT, A. H. ; KRAUTER, E. ; LAMBRECHT, K. ; SVEC, R. ; THOMPSON, S. AAHA canine life stage guidelines. Journal of the American Animal Hospital Association, v. 48, n. 1, p. 1-11, 2012. 04-LEAL, P. D. S. ; PONTES, P. R. ; FLAUSINO, W. ; LOPES, C. W. G. Diagnostic of concomitant infections due to Cystoisospora ohioensis and canine distemper virus – report of two cases. Revista Brasileira de Medicina Veterinaria, v. 33, n. 3, p. 184188, 2011. 05-FLAUSINO, G. ; LEAL, P. D. S. ; McINTOSH, D. ; AMARAL, L. G. ; TEIXEIRA FILHO, W. L. ; FLAUSINO, W. ; LOPES, C. W. G. Isolation and characterization of Cyniclomyces guttulatus (Robin) Van Der Walt and Scott, 1971 in dogs in Brazil. Current Microbiology, v. 65, n. 5, p. 542–546, 2012. 06-LEAL, P. D. S.; COELHO, C. D.; FLAUSINO, G. Diagnóstico de infecções concomitantes por Cystoisospora canis (Nemeséri, 1959) e Cyniclomyces guttulatus (Robin, 1853): relato de caso. Coccidia, v. 1, n. 1, p. 44-48, 2013. 07-LEAL, P. D. S. ; MORAES, M. I. M. R. ; BARBOSA, L. L. O. ; FIGUEREDO, L. P. ; SILVA, S. L. E. ; LOPES, C. W. G. Parasitos gastrintestinais em cães domiciliados atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 37, supl. 1, p. 37-44, 2015. 08-BALASSIANO, B. C. C. ; CAMPOS, M. R. ; PEREIRA M. J. S. Factors associated with gastrointestinal parasite infection in dogs in Rio de Janeiro, Brazil. Preventive Veterinary Medicine, v. 91, n. 2, p. 234-240, 2009. 09-PRATS, A. Neonatologia e pediatria – canina e felina. 1. ed. São Caetano do Sul: InterBook. 469 p. 2005. 10-MAESTRI, M. C. H. ; TONELO, L. M. ; D'AGOSTINI, F. M. ; MÜLLER, G. A. ; DALLANORA, F. J. ; WAGNER, G. Prevalência de enteroparasitos em cães no município de
Capinzal, Santa Catarina, Brasil. Unoesc & Ciência-ACBS, v. 3, n. 2, p. 183-190, 2012. 11-SUZUKI, T. ; DA SILVA COELHO, F. A. ; MARSON, F. G. ; COELHO, M. D. G. ; DOS SANTOS ARAÚJO, A. J. U. Eficácia de desinfetantes comerciais na inibição da evolução de ovos de Ancylostoma spp. obtidos de cães naturalmente infectados. Revista Biociências, v. 19, n. 1, p. 86-92, 2013. 12-BIRGEL, E. H. ; NETTO, L. P. ; AMARAL, V. ; GIORGI, W. ; PANETTA, J. C. Meios e métodos de diagnóstico em medicina veterinária. 4. ed. São Paulo: Sociedade Paulista de Medicina Veterinária, 218 p. 1977. 13-RODRIGUES, N. A. ; MENEZES, R. C. A. A. Infecção natural de cães por espécies do gênero Cystoisospora (Apicomplexa: Cystoisosporinae) em dois sistemas de criação. Clínica Veterinária, n. 42, p. 24-30, 2003. 14-TEIXEIRA FILHO, W. L. ; CARDOZO, S. V. ; LOPES, C. W. G. Viabilidade e morfobiologia dos oocistos de Cystoisospora ohioensis (DUBEY, 1975) Frenkel, 1977 (Apicomplexa: Cystoisosporinae) eliminados por cães infectados experimentalmente. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 32, n. 3, p. 161-165, 2010. 15-ALHO, A. M.; SEIXAS, R.; RAFAEL, T.; MADEIRA DE CARVALHO, L. Formas larvares dos helmintas: o elo mais forte na desparasitação do cão e do gato. Veterinary Medicine, v. 12, n. 71, p. 33-46, 2010. 16-ZAJAC, A. M. ; CONBOY, G. A. ; GREINER, E. C. ; SMITH, S. A. ; SNOWDEN, K. F. Veterinary clinical parasitology. Oxford: John Wiley & Sons, 2012. 17-DHALIWAL, B. B. S. ; JUYAL, P. D. Parasitic zoonoses. New Delhi: Springer India, 2013. 18-FURTADO, T. T. ; FLAUSINO, G. ; LEAL, P. D. S. ; FERREIRA, J. P. ; McINTOSH, D. ; FLAUSINO, W.; LOPES, C. W. G. Diagnóstico de colangite associado à mucocele da vesícula biliar por Cyniclomyces guttulatus em cães – relato de casos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 35, n. 1, p. 1-6, 2013. 19-MANDIGERS, P. J. ; DUIJVESTIJN, M. B. ; ANKRINGA, N. ; MAES, S. ; VAN ESSEN, E. ; SCHOORMANS, A. H. ; HOUWERS, D. J. The clinical significance of Cyniclomyces guttulatus in dogs with chronic diarrhoea, a survey and a prospective treatment study. Veterinary Microbiology, v. 172, n. 1-2, p. 241247, 2014. 20-BOWMAN, D. D. Georgis' Parasitology for Veterinarians E-Book. Saint Luis: Elsevier Health Sciences, 2014. 21-NEVES, D. ; LOBO, L. ; SIMÕES, P. B. ; CARDOSO, L. Frequency of intestinal parasites in pet dogs from an urban area (Greater Oporto, northern Portugal). Veterinary Parasitology, v. 200, n. 3, p. 295-298, 2014. 22-SANTANA, C. D. L. ; CARVALHO, V. L. D. ; MENEZES, R. G. D. ; SILVA, L. F. C. D. ; KATAGIRI, S. Prevalência de parasitas intestinais em cães domiciliados na zona oeste da região metropolitana de São Paulo. Revista Saúde-UnG, v. 4, esp.1, p. 55, 2010. 23-FUNADA, M. R. ; PENA, H. F. J. ; SOARES, R. M. ; AMAKU, M. ; GENNARI, S. M. Frequency of gastrointestinal parasites in dogs and cats referred to a veterinary school hospital in the city of São Paulo. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.5, p. 1338-1340, 2007.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
55
Displasia renal bilateral: diagnóstico em uma cadela rotweiler – relato de caso Bilateral renal dysplasia: diagnosis in a Rotweiler bitch – case report Displasia renal bilateral: diagnóstico en perra Rotweiler – relato de caso Larissa Licurci de Oliveira Barbosa; Paulo Daniel Sant’Anna Leal; Maria Isabel Menezes Ramos; Matheus Daudt Matos; Debora Porretti Campos; Elan Cardozo Paes de Almeida; Carlos Wilson Gomes Lopes 1-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 2-MV, DSc. aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 3-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 4-MV. 5-MV, Bióloga, CTI Veterinário. 6-MV, MSc, DSc. da FCB/ISNF da UFF-Nova Friburgo.7-MV, MSc, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ – bolsista CNPq.
larissalicurci@gmail.com
U
ma cadela da raça rotweiller, não castrada, 13 meses de idade, foi atendida no serviço de saúde veterinário da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, apresentando prostração e, no exame físico, dor abdominal. Os resultados encontrados nos exames hematológicos foram: anemia e insuficiência renal. A ultrassonografia abdominal mostrou rins com moderada diminuição da definição cortico/medular, espessamento e aumento da ecogenicidade das corticais com ecotextura grosseira, sugerindo nefropatia, compatível com displasia, resultado confirmado na análise necroscópica e histopatológica. Ratificando a necessidade de associação de metódos diagnósticos e importância da ultrassonografia na rotina clínica como recurso diagnóstico e necessário em cães jovens. Unitermos: cães, ultrassonografia, insuficiência renal, nefropatia juvenil, displasia renal
A
13-month-old unneutered Rotweiller female dog was seen at the veterinary health service of Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, presenting with prostration and, on physical examination, abdominal pain. The results found in hematological examinations were: anemia and renal failure. Abdominal ultrasonography showed kidneys with moderate decrease in cortical/medullary definition, thickening and increased cortical echogenicity with coarse ecotexture, suggesting nephropathy, compatible with dysplasia, a confirmed result in necroscopic and histopathological analysis. Ratifying the need for association of diagnostic methods and importance of ultrasonography in the clinical routine as a diagnostic and necessary resource in young dogs. Keywords: dogs, ultrasonography, renal insufficiency, juvenile nephropathy, renal dysplasia
U
na perra de la raza Rotweiller, no castrada, 13 meses de edad, fue atendida en el servicio de salud veterinario de Barra da Tijuca, Río de Janeiro, RJ, presentando postración y, en el examen físico, dolor abdominal. Los resultados encontrados en los exámenes hematológicos fueron: anemia e insuficiencia renal. La ultrasonografía abdominal mostró riñones con moderada disminución de la definición cortico/medular, espesamiento y aumento de la ecogenicidad de los corticales con ecotextura gruesa, sugiriendo nefropatía, compatible con displasia, resultado confirmado en el análisis necroscópico e histopatológico. Ratificando la necesidad de asociación de metódulos diagnósticos e importancia de la ultrasonografía en la rutina clínica como recurso diagnóstico y necesario en perros jóvenes. Palabras clave: perros, ultrasonografía, insuficiencia renal, nefropatía juvenil, displasia renal
56
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução A doença renal crônica afeta vários sistemas do corpo e se apresenta com grande variedade de manifestações clínicas e de etiologias múltiplas: distúrbios imunológicos, genéticos, amiloidose, neoplasia, inflamação, infecção e obstrução do fluxo urinário são reconhecidas como possíveis causas para a instalação da doença renal em cães1,2,3,4. Dentre as alterações anatômicas renais, que podem ser transmitidas através de genes específicos5,6, a displasia renal é a mais frequente, classificada como uma enfermidade congênita, caracterizada por alterações no desenvolvimento do parênquima renal durante o período embrionário7. É uma enfermidade frequentemente relatada em cães independente da raça2,3,8 se manifestando entre 3 meses a dois anos4 de idade. Exames complementares, como bioquímica sérica e urinálise, auxiliam no diagnóstico da enfermidade2,3,9, porém a ultrassonografia é um exame que permite excelente visualização dos rins e avalia a morfologia renal podendo indicar a displasia3,10,11,12, mesmo quando ainda não há alterações bioqumicas8. Na avaliação histológica, visualizam-se no parênquima renal, glomérulos rudimentares e atróficos, dilatação do espaço de Bowman, associado à dilatação e atrofia tubular cística, túbulos imaturos, inflamação intersticial linfocitária e fibrose2,3,4,8. O diagnóstico prematuro da displasia renal permite o manejo adequado do paciente, proporcionando melhoria na qualidade de vida. O objetivo deste trabalho é relatar a displasia renal bilateral, como enfermidade grave, tendo como método de diagnótico a ultrassonografia, mostrando ser um método diagnóstico eficiente e a confirmação pela histopatologia do tecido renal. Ratificando a importância da ultrassonografia na rotina clínica como método diagnóstico e como exame necessário em cães jovens. Histórico Uma cadela da raça rottweiler, não castrada, 13 meses
de idade, foi atendida no Centro de Terapia Intensiva e Emergência Veterinária, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, apresentando prostração, anorexia, perda de peso, escore corporal magro, com 30 kg de peso vivo, temperatura corporal de 39,2 ºC. Ao exame físico apresentava dor abdominal. Na ultrassonografia abdominal, foi observado perda de definição renal bilateral, margens irregulares e córtex hiperecogênico (Figura 1). Amostras de sangue foram coletadas, utilizando-se o material da própria seringa para preparação de estiraços sanguíneos, bem como de estirões de concentrado de plaquetas e leucócitos, após a separação dos elementos figurados e plasma, através da confecção de microhematócrito13, disposto, a seguir em microcentrífugaa. Foram processadas, com a utilização de equipamento automáticob para leucometria, plaquetograma e eritrograma. Para mensuração da proteína plasmática total foi utilizado um refratômetro clínico manualc. Os estiraços e estirões foram corados utilizando conjunto para coloração rápida em hematologiad, obedecendo metodologia13 e observados em microscópio binoculare, para avaliação da morfologia dos elementos figurados do sangue e presença de hematozoários. As amostras sem anticoagulante foram centrifugadas em centrífugaf a 350 xg por 10 minutos, para separação do soro, e utilizando pipeta automática de 32 μL, foram dosados uréia (UR), creatinina (CR) e eletrólitos potássio (K) em aparelho de fotometria de reflectância in vitrog. Para a determinação das frações de proteína (albumina e globulina) (g/dL) e fósforo (mg/dL) foi utilizado o método colorimétrico através de reagentes específicosg e leitura em analisador semi-automáticoh. A amostra de urina foi obtida pelo método de cistocentese guiada, com auxílio da ultrassonografia e seringa de 10 mL com agulha 25 x 7 e acondicionada em tubo falcon estéril e imediatamente submetidas as avaliações de exame químico, físico e microscópico. A análise física foi de acordo
a
b
Figura 1 – Displasia renal em cadela.Imagem ultrassonográfica rim direito (A) e esquerdo (B), indicando a desorganização estrutural renal e ausência de relação entre cortical e medular Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
57
com as características da urina quanto a concentração hidrogeniônica do meio (pH) e densidadec. A análise química foi realizada com tira reagentei observando o valor de pH. A amostra foi centrifugadaf para obtenção do sedimento urinário, para observação em microscopia ópticae. Resultados e discussão Os sinais clínicos observados durante o exame físico indicaram comprometimento sistêmico com alterações gastrointestinais, anorexia, associada ao emagrecimento progressivo e dor abdominal, comuns em animais com doença renal crônica1, tais sinais clínicos ocorrem principalmente devido a ação de toxinas urêmicas que geram lesões inflamatórias como gastrite e ulcerações na mucosa do tubo digestivo levando a dor abdominal, inapetência e estimulando o centro do vômito1, contribuindo para promover a náusea na paciente, cooperando para uma nutrição inadequada9. Os resultados encontrados nos exames hematológicos foram: anemia (VG = 24%), hemoglobina 8,1 g/dL (12 – 18), eritrócitos 3,4 milhões/mm3 (5,5 – 8,5), caracterizando anemia, normocítica normocrômica arregenerativa, hiperproteinemia, 8 g/dL (5,5 – 7,7), com albumina 2,9 g/dL (2,5 – 4,2), globulinas 3,7 g/dL (2 – 4,5), fósforo 13,5 mg/dL (2,5 – 8,1), creatinina 5,93 mg/dL (< 1,8), uréia 444 mg/dL (< 54), potássio 3,04 mg/dL (3,5 – 5,1), fosfatase alcalina 683 (< 164). A presença de anemia normocítica normocrômica, azotemia, hiperfosfatemia e hipocalemia são características da doença renal crônica que associados a idade de 13 meses do paciente, indicam a possibilidade de alteração congênita levando a disfunção renal precoce2,3,4,9,10,11. A hiperfosfatemia, em conjunto com o aumento sérico de fosfatase alcalina indicam indiretamente a presença de hiperparatireoidismo secundário renal, embora o hormônio paratireoidiano (PTH) não tenha sido dosado, tais alterações mostram disfunção da homeostase de cálcio e fósforo com provável reabsorção óssea2,9,10. As análises urinárias mostraram pH 6,0 (5,0-5,5), densidade de 1.010 (média Centrífuga Micro-Hematócrito E3500108 MICROSPIN CDR, Rua Japão, 150, Bairro Sorocabano, Jaboticabal, SP, Brasil; b Ms4-Vet-Melet Schloesing Laboratoires coulter, fabrication française. c Modelo Q667, Quimis Aparelhos Científicos, R. Gema, 278 Campanário, Diadema, SP, Brasil; d Panótico Rápido LB-Laborclin produtos para laboratórios Ltda, Rua Casemiro de Abreu, 521 Pinhais, PR, Brasil; e Eclipse E200, Nikon Instruments Inc. Japão f Reflotron® Plus-Roche Diagnostics GmbH, MannheimBaden-Württemberg, Alemanha; g Conjunto Katal Biotecnológica Ind. & Com Ltda h AparelhoBioplus mod. BIO 200 F Campus do Vale – UFRGS, Av. Bento Gonçalves, 9500, Bloco IV, Prédio 43.421 - Sl. 107. Porto Alegre, RS, Brasil; i Roche Combur10, Roche Diagnóstica Brasil Ltda a
58
de 1.025), ausência de cilindro e proteinúria discreta, o que corrobora com os achados laboratoriais na DRC10. A ultrassonografia abdominal mostrou rins com contornos irregulares, com moderada diminuição da definição cortico/medular com espessamento e aumento da ecogenicidade das corticais com ecotextura discretamente grosseira, sugerindo nefropatia, compatível com displasia renal (Figura 1), estas alterações concordam com as relatadas em estudos prévios, que incluem, irregularidade do contorno, aumento da ecogenicidade do parênquima renal, diminuição ou perda da definição cortico/medular, hipotrofia renal, conforme observado em outros estudos2,11. Essas alterações ultrassonográficas são inespecíficas14,15, mas quando estão associadas ao histórico, exame clínico e laboratorial apresentam um diagnóstico presuntivo de displasia renal2,11,15. Na avaliação histopatológica, após o óbito do paciente, foi observado cortical com poucos glomérulos, que mostravam material acidófilo no espaço de Bowman e alguns com a ausência do tufo capilar, tornando-se císticos e espessamento de cápsula de Bowman, poucos glomérulos mostravam o tufo capilar diminuto (atrofia glomerular) localizado em um dos pólos, hipoplasia mesangial e espessamento de membrana basal glomerular, outros com glomeruloesclerose e segmentação do tufo (Figura 2a,b). Os túbulos renais estavam com luzes dilatadas e algumas císticas, contendo material acidófilo homogêneo (Figura 2d), degeneração e acentuada fibrose intersticial difusa e acentuada (Figura 2c,d). Havia ainda alguns glomérulos fetais e túbulos fetais, moderada fibrose intersticial, foco de infiltrado de linfócitos ao redor de alguns glomérulos. Os achados confirmam displasia renal bilateral com fibrose intersticial difusa2,4,7,11 de origem genética e não adquirida, devido a uma má formação estrutural quando da formação renal16. Conclusão Relata-se um caso de displasia renal juvenil; eficiência das associações dos métodos diagnósticos nas patologias do sistema urinário, principalmente o exame ultrassonográfico; a necessidade da associação do histórico, análises e sinais clínicos; importância da ultrassonografia como exame de rotina em paciente canino jovem como meio de diagnóstico presuntivo precoce da displasia renal genética.
Referências 01-POLZIN, D. J. Chronic kidney disease in small animals. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 41, n. 1, p. 15, 2011. 02-VOLKWEIS, F. S. ; ALMEIDA, A. M. ; WONG, L. ; MULINARI, F. ; SANTOS JÚNIOR, H. L. Displasia renal em cão da raça Rotweiller. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 64, n. 6, p. 1511-1514, 2012. 03-CHO, J. H. ; KIM, S. G. ; KANG, M. H. ; LEE, C. M. ; KIM, W. J. ; SONG, D.W.; PARK, H.M. Clinical and histopathological findings of renal dysplasia in a miniature Poodle dog. Pakistan Veterinary Journal, v. 35, n. 3, p. 394-396, 2015. 04-LIMA, S. R. ; DA SILVA, L. A. ; DIAS, G. B. G. ; LOPES, L. L. ; DA CRUZ, R. A. S. ; SONNE, L. ; COLODE, E. M. Displasia renal em cães:
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Figura 2 – Displasia renal em cadela: glomérulo renal dilatado e cístico, com atrofia do tufo glomerular. Hematoxilina e Eosina (HE) (a) e, em Metanamina Prata de Jones (b); área de fibrose intersticial (*) HE (c); Túbulos renais dilatados e císticos, contendo material acidófilo (círculo), área de fibrose intersticial (*)(d). PAS. Obj. 10x
estudo retrospectivo (2008-2013). Acta ScientiaeVeterinariae, v. 45, n.1, p. 1-5, 2017. 05-DONNER, J. ; KAUKONEN, M. ; ANDERSON, H. ; MÖLLER, F. ; KYÖSTILÄ, K. ; SANKARI, S. ; LOHI, H. Genetic panel screening of nearly 100 mutations reveals new insights into the breed distribution of risk variants for canine hereditary disorders. PLoS One, v. 11, n. 8, e0161005, 2016. 06-WHITELEY, M. H. Allelic variation in the canine Cox-2 promoter causes hypermethylation of the canine Cox-2 promoter in clinical cases of renal dysplasia. Clinical Epigenetics, v. 6, n. 1, p. 7, 2014. 07-AZIZI, S. ; KHEIRANDISH, R. ; YAZDANPOUR, H. Histopathologic features of a unilateral renal dysplasia in a cat (Felis domestica). Comparative Clinic Pathology, v. 19, n. 5, p. 445-447, 2010. 08-GUIMARÃES, L. L. ; REIS, M. D. O. ; HESSE, K. L. ; BOABAID, F. M. ; PAVARINI, S. P. ; SONNE, L. ; DRIEMEIER, D. Pathological findings in dogs with renal dysplasia in Southern Brazil. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 34, n. 12, p. 1227-1230, 2014. 09-DE CAMARGO, K. M. ; TEIXEIRA, M. A. ; ALVES, L. C. Análise comparativa entre a imagem ultrassonográfica renal e os valores de ureia e creatinina em 93 cães. Veterinária em Foco, v. 11, n. 1, p. 75-81, 2013. 10-NOTOMI, M. K. ; KOGIKA, M. M. ; IKESAKI, J. Y. H. ; MONTEIRO, P. R. G. ; MARQUESI, M. L. Estudo retrospectivo de casos de insuficiência renal crônica em cães no período de 1999 a 2002. Brazilian Journal of
Veterinary Research and Animal Science, v. 43, supl.1, p. 12-22, 2006. 11-STIEVEN HÜNNING, P. ; AGUIAR, J. ; DE ALMEIDA LACERDA, L. ; SONNE, L. ; CONCEIÇÃO DE OLIVEIRA, E. ; HAAS, G. F. Displasia renal em um cão. Acta Scientiae Veterinariae, v. 37, n. 1, p. 73-77, 2009. 12-BELOTTA, A. F. ; SOUZA, P. M. ; MACHADO, V. M. V. ; VULCANO, L. C. ; BENTO, D. D. ; LOURENÇO, M. L. G. ; DA SILVA, M. L. C. ; ROCHA, N. S. Imagens ultrassonográficas e radiográficas de displasia renal congênita em cadela da raça Lhasa Apso. Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem. v. 5, supl. 1, p. 167-169, 2011. 13-LEAL, P. D. S. ; MORAES, M. I. M. R. ; DE OLIVEIRA BARBOSA, L. L. ; LOPES, C. W. G. Infecção por hematozoários nos cães domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileirade Medicina Veterinária, v. 37, supl. 1, p. 55-62, 2015. 14-DEHMIWAL, D. ; BEHL, S. M. ; SINGH, P. ; TAYAL, R. ; PAL, M. ; CHANDOLIA, R. K. Diagnosis of pathological conditions of kidney by two-dimensional and three-dimensional ultrasonographic imaging in dogs. Veterinary World, v. 9, n. 7, p. 693, 2016. 15-BRAGATO, N. ; BORGES, N. C. ; FIORAVANTI, M. C. S. B-mode and Doppler ultrasound of chronic kidney disease in dogs and cats. Veterinary Research Communications, p. 1-9, 2017. 16-DRESSLER, G. R. Epigenetics, development, and the kidney. Journal of the American Society of Nephrology, v. 19, n. 11, p. 2060-2070, 2008.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
59
Uso de células-tronco mesenquimais em caso de hipoplasia da medula óssea – relato de caso Use of mesenchymal stem cells in case of bone-marrow hypoplasia – case report Uso de células madre mesenquimales en caso de hipoplasia del medula – informe de caso Danielle Figueiredo1; Patrícia Furtado Malard1; Maurício Antônio da Silva Peixe1; Luiz Gustavo Araújo Oliveira2; Lucas Santana Rodrigues2; Hilana dos Santos Sena Brunel2 1-Universidade Católica de Brasília. 2-Bio Cell Terapia Celular.
daniellevetucb@hotmail.com
U
m cão sem raça definida de 7 anos de idade foi atendido no Hospital Veterinário Arca de Noé, em Brasília – DF por apresentar inapetência e apatia. Durante a avaliação clínica, o animal mostrou-se com dificuldade respiratória e mucosas hipocoradas, diagnosticado com hipoplasia medular grave da série eritrocítica. Foi realizada a transfusão sanguínea e o tratamento com corticoterapia. Após três semanas com a queda do hematócrito, optou-se por realizar a terapia celular com células-tronco mesenquimais. O paciente recebeu 3 aplicações de 5x106 CTMs por via endovenosa. A terapia celular provocou o aumento do hematócrito e o manteve estável por todo o período em que o animal foi acompanhado, 3 meses após a terapia celular, devido aos fatores de crescimento liberados pelas células-tronco, que causam a quimioatração de células-tronco endógenas e aumentam a taxa de mitose de células progenitoras sanguíneas, o que repovoa a medula óssea. Unitermos: recuperação, sangue, eritrócitos
A
7 year old dog was attended in the Veterinary Hospital Arca de Noé, in Brasília - DF presenting inappetence and apathy. During a clinical evaluation, the animal showed respiratory difficulty and hypoxic mucosa, being diagnosed with severe hypoplasia of bone marrow in erythrocytic series. Blood transfusion and corticosteroid treatment were performed. After three weeks, the hematocrit decreased, so it was chosen to perform a cell therapy with mesenchymal stem cells. The patient received 3 applications of 5x106 MSC via intravenous route. A cell therapy caused an increase in hematocrit, which remained stable throughout the period the animal was evaluated, 3 months after a cell therapy due to the growth factors released by stem cells, which caused a chemoattraction of endogenous stem cells and increased the rate of mitosis of blood progenitor cells, replacing the bone marrow. Keywords: recovery, blood, erythrocytes
U
n perro sin raza definida de 7 años de edad fue atendido en el Hospital Veterinario Arca de Noé, en Brasilia, por presentar inapetencia y apatía. Durante la evaluación clínica, el animal se mostró con dificultad respiratoria y mucosas hipocoradas, diagnosticado con hipoplasia medular grave de la serie eritrocítica. Se realizó la transfusión sanguínea y el tratamiento con corticoterapia. Después de tres semanas se optó por realizar la terapia celular con células madre mesenquimales. El paciente recibió 3 aplicaciones de 5x106 CTM por vía intravenosa. La terapia celular provocó el aumento del hematocrito y lo mantuvo estable durante todo el período en que el animal fue acompañado, 3 meses después de la terapia celular, debido a los factores de crecimiento liberados por las células madre, que causan la quimioatracion de células madre endógenas y aumentan la tasa de mitosis de las células progenitoras sanguíneas, que repoblan la médula ósea. Palabras clave: ecuperación, sangre, eritrocitos
60
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução A terapia celular com células-tronco mesenquimais tem apresentado grandes avanços na medicina veterinária. Diversas técnicas de aplicação das células para que promovam a regeneração tecidual e realizem imunomodulação e regulação das respostas inflamatórias vem sendo utilizadas em animais1. As células-tronco mesenquimais (CTMs) são um tipo especial de célula que possuem capacidade de proliferação indefinida, auto-renovação, produção de diferentes linhagens celulares, citocinas e fatores de crescimento atuantes no sistema inflamatório e imunológico, bem como no processo de regeneração de tecidos ósseo e cartilaginoso2. A hipoplasia medular caracteriza-se pela diminuição na produção de todas as linhagens celulares da medula óssea ou dos precursores eritróides, podendo ser causada por uma infinidade de agentes ou desordens, entre eles doenças imuno-mediadas, algumas drogas, além da causa idiopática 3, 4. A patogenia da doença envolve a destruição de células-tronco hematopoiéticas, células progenitoras e interrupção da função normal das células-tronco pela ativação citotóxica de células-T expressando citocinas inibitórias e fatores de apoptose5. Essa destruição, causada por infecções, drogas, toxinas ou radiação, origina uma síndrome clínica caracterizada por substituição da medula óssea por ácidos graxos e diminuição de precursores hematopoiéticos no local6. Essa doença pode acometer animais de qualquer raça, idade ou sexo, não havendo qualquer tipo de predileção7, tornando o tratamento da enfermidade em si limitado e com prognóstico reservado a desfavorável8. Ao realizar a aplicação endovenosa das células-tronco mesenquimais, as mesmas liberam no organismo citocinas e fatores de crescimento, os quais são importantes no processo de recuperação das séries sanguíneas, por promover a quimioatração de células-tronco endógenas e aumentar a taxa de mitose de células progenitoras sanguíneas9, além de terem potencial imunomodulador, o que culmina no repovoamento da medula óssea10. O objetivo desse trabalho foi caracterizar a resposta de um cão acometido por hipoplasia medular persistente de séria eritrocitária submetido à terapia celular com células-tronco mesenquimais. Descrição do caso Um cão SRD de 7 anos de idade foi atendido no Hospital Veterinário Arca de Noé, em Brasília, DF por apresentar inapetência e apatia. O animal já havia sido diagnosticado, há cerca de 6 meses, com leishmaniose e o tratamento para a doença estava sendo realizado. Na avaliação clínica, foi observado que o animal apresentava dificuldade respiratória e mucosas hipocoradas. Após a realização do hemograma e do mielograma, o animal foi diagnosticado com hipoplasia medular grave da série
eritrocítica. Foi, então, realizada a transfusão sanguínea e iniciou-se o tratamento com corticoterapia (2 mg/kg de 12 em 12 horas) e eritropoetina. Durante duas semanas após o procedimento, o hematócrito manteve-se estável, em valores de 20%, sendo que na semana seguinte reiniciou-se a queda desse valor, chegando a 15,3% quatro semanas após a transfusão. Nesse momento optou-se por realizar a terapia celular com células-tronco mesenquimais (CTMs). As CTMs utilizadas no tratamento foram obtidas a partir do tecido adiposo subcutâneo. O material foi encaminhado para o laboratório BIO CELL onde foi realizado o processamento laboratorial. O tecido adiposo foi colocado em contato com a solução de colagnase e hialuronidase para que fosse realizada a digestão enzimática. Esta mistura foi centrifugadaa e o pellet celular foi ressuspendido. Após a obtenção das células mononucleares, as mesmas foram colocadas em duas garrafas de cultivo. As garrafas de cultivo foram acondicionadas em estufas de cultivo celular à temperatura de 37,5 °C e 5% de CO2. Parte das células permaneceu no laboratório e foi dividida em 3 garrafas de cultivo celular. As células de uma garrafa foram induzidas à diferenciação celular para tecido ósseo. Uma garrafa de cultivo celular foi tripsinizada e as células foram enviadas para os Estados Unidos a fim de realizar a caracterização molecular por citometria de fluxo. As células-tronco da terceira garrafa de cultivo foram congeladas e mantidas em nitrogênio líquido para a realização da terapia celular. O paciente recebeu a primeira aplicação de CTMs através de soroterapia endovenosa de 5 x 106 célulastronco mesenquimais e, após 15 dias, o hematócrito atingiu o valor de 20,8%, mantendo-se estável por mais duas semanas, quando foi feito novo transplante de células. Nesse momento da segunda aplicação de células-tronco, o animal não fazia mais uso de nenhuma medicação. Três semanas após a segunda aplicação o valor de hematócrito já estava em 26,6%, momento esse em que foi realizada uma terceira aplicação de células-tronco mesenquimais. Durante o período de 3 meses em que o animal foi acompanhado, tal parâmetro sanguíneo manteve-se estável em valores aproximados de 28%. Com a avaliação periódica, de 15 em 15 dias após cada aplicação de células-tronco mesenquimais, foi observada uma melhora gradativa e estabilização no parâmetro hematócrito conforme demonstrado na Tabela 1. Na primeira avaliação clínica após o inicio do tratamento, foi relatado, pela tutora, que o animal já estava mais ativo e com melhora no apetite. Clinicamente, após a segunda aplicação de CTMs, o animal já não apresentava mais dificuldade respiratória e as mucosas estavam normocoradas. Três meses após a terceira aplicação das células-tronco mesenquimais o animal apresentava o hea
Centrífuga Fanem Excelsa® II, Modelo 206 BL
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
61
Tabela 1 – Evolução dos parâmetros hematológicos após a aplicação de células-tronco mesenquimais hemograma Pré Pós Pré 1ª Pós 1ª e pré Pós 2ª e pré Pós 3ª 3 meses após transfusão transfusão aplicação 2ª aplicação 3ª aplicação aplicação 3a aplicação sanguínea Hemácias (milhões/mm³) 2,3 Hemoglobinas (g/dL) 5,3 Hematócrito (%) 16,2
sanguínea 3,13 7,0 20,9
de CtMs 2,3 5,4 15,3
de CtMs 3,29 7,9 22
de CtMs 4,05 9,4 26,6
de CtMs 4,66 9,9 28,8
de CtMs 4,56 9,8 28,9
Legenda: CTMs: células-tronco mesenquimais
matócrito fisiológico, quadro compatível com a melhora clínica observada. Desde o início do tratamento com CTMs, o animal não recebeu mais transfusão de sangue. Discussão A hipoplasia medular do paciente em questão pode ter ocorrido em decorrência da destruição imuno-mediada de células progenitoras e interrupção da função normal das células-tronco endógenas. Essa alteração na função celular é explicada pela ativação citotóxica de células-T expressando citocinas inibitórias e fatores de apoptose 4,11. As células-tronco mesenquimais aplicadas por via endovenosa possivelmente foram capazes de responder ao estímulo do local acometido, liberar citocinas e fatores de crescimento, aumentar a taxa de mitose das células progenitoras da linhagem eritrocítica, atrair novas células-tronco endógenas conforme descrito por alguns autores e causar um efeito de imunomodulação 9,12,13,14. Os fatores liberados pelas células-tronco mesenquimais também podem ter agido diretamente na supressão do sistema imune e na expansão das células T e B, além de ter promovido uma maior sobrevivência das célulastronco hematopoiéticas15. Conclusão O resultado observado no animal relatado corrobora com os trabalhos publicados na literatura indicando que o uso de células-tronco mesenquimais é capaz de estimular as células da linhagem hematopoiética e promover a imunomodulação levando assim a melhora clínica de animais com hipoplasia medular.
Referências 01-KRISTON-PÁL, E. ; CZIBULA, A. ; GYURIS, Z. ; BALKA, G. ; SEREGI, A. ; SÜKÖSD, F. ; SÜTH, M. ; KISS-TÓTH, E. ; HARACSKA, L. ; UHER, F. ; MONOSTORI E. Characterization and therapeutic application of canine adipose mesenchymal stem cells to treat elbow osteoarthritis. The Canadian Journal of Veterinary Research, v. 81, p. 73-78, 2017. 02-LONG, C. ; LANKFORD, L. ; KUMAR, P. ; GRAHN, R. ; BORJESSON, D. L. ; FARMER, D. ; WANG A. Isolation and characterization of canine placenta-derived mesenchymal stromal cells for the treatment of neurological disorders in dogs. Cytometry Part A, 2017 DOI: 10.1002/cyto.a.2317. 03-NELSON R.W. ; COUTO C. G. Small Animal Internal Medicine. 3. ed. Editora Mosby, 2003. 04-SCHEINBERG, P. ; CHEN J. Aplastic anemia: what have we learned from animal models and from the clinic. Seminars in
62
Hematology, v. 50, n. 2, p. 156-164, 2013. 05-SHIN, S. H. ; LEE, S. E. ; LEE, J. W. Recent advances in treatment of aplastic anemia. Korean Journal of Internal Medicine, v. 29, p. 713-726, 2014. 06-GRAVANO, D. M. ; AL-KUHLANI, M. ; DAVINI, D. ; DOMINICK SANDERS, P. ; MANILAY, J. O. ; HOYER, K. K. CD8þ T cells drive autoimmune hematopoietic stem cell dysfunction and bone marrow failure. Journal of Autoimmunity, p.1-10, 2016. http://dx.doi.org/10.1016/j.jaut.2016.07.007. 07-FELDMAN, B. F. ; ZINKL, J. G. ; JAIN, N. C. Schalm's veterinary hematology. Philadelphia: Lippincott Willians & Wilkins. 2005. 08-MORAES, L. F. ; TAKAHIRA, R. K. Aplastic bone marrow in dogs. Revista de Ciências Agroveterinárias, v. 9, p. 99-108. 2010. 09-XIAO, J. ; ZHANG, C. ; ZHANG, Y. ; ZHANG, X. ; ZHAO, J. ; LIANG, J. ; ZHONG, X. ; CHEN, Y. Transplantation of adiposederived mesenchymal stem cells into a murine model of passive chronic immune thrombocytopenia. Transfusion, 2012. doi: 10.1111/j.1537-2995.2012.03642.x. 10-BUENO, C. ; ROLDAN, M. ; ANGUITA, E. ; ROMERO-MOYA, D. ; MARTÍN-ANTONIO, B. ; ROSU-MYLES, M. ; DEL CAÑIZO, C. ; CAMPOS, F. ; GARCÍA, R. ; GÓMEZ-CASARES, M. ; FUSTER, F. L. ; JURADO, M. ; DELGADO, M. ; MENENDEZ, P. Bone marrow mesenchymal stem cells from patients with aplastic anemia maintain functional and immune properties and do not contribute to the pathogenesis of the disease. Haematologica, v. 99, n. 7, 2014. doi:10.3324/haematol.2014.103580 11-SHROFF, G. ; GUPTA, R. ; ZADENG, L. Human embryonic stem cell therapy for aplastic anemia. Clinical Case Reports, v. 5, n. 6, p. 919-922, 2017. 12-WILEY, J. ; LTD, S. Human aplastic anaemia-derived mesenchymal stromal cells form functional haematopoietic stem cell niche in vivo. British Journal of Haematology. doi: 10.1111/bjh.14234. 2016. 13-YANG, J. ; ZHANG, L. ; WANG, H. ; GUO, Z. ; LIU, Y. ; ZHANG, Y. ; WANG, C. ; LI, Q. Protective effects of chronic intermittent hypobaric hypoxia pretreatment against aplastic anemia through improving the adhesiveness and stress of mesenchymal stem cells in rats. Stem Cells International, 2017.Article ID 5706193, https://doi.org/10.1155/2017/5706193. 14-PANG, Y. ; XIAO, H. W. ; ZHANG, H.; LIU, Z. H. ; LI, L. ; GAO, Y. ; LI, H. B. ; JIANG, Z. J. ; TAN, H. ; LIN, J. R. ; DU, X. ; WENG, J. Y. ; NIE, D. N. ; LIN, D. J. ; ZHANG, X. Z. ; LIU. Q. F. ; XU, D. R. ; CHEN, H. J. ; GE, X. H. ; WANG, X. Y. ; XIAO, Y. Allogeneic bone marrow-derived mesenchymal stromal cells expanded in vitro for treatment of aplastic anemia: a multicenter phase II trial. Stem Cells Translational Medicine, 2017. http://dx.doi.org/ 10.1002/sctm.16-0227. 15-LI, H. ; WANG, L. ; PANG, Y. ; JIANG, Z. ; LIU, Z. ; XIAO, H. ; CHEN, H. ; GE, X. ; LAN, H. ; XIAO, Y. In patients with chronic aplastic anemia, bone marrow–derived MSCs regulate the Treg/Th17 balance by in uencing the Notch/ RBP-J/FOXP3/RORγt pathway. Scientific Reports, 2017. doi: 10.1038/srep42488. 2017.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Infecção por hematozoários em gatos domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil Hematozoa infection in domestic cats attended in animal health service, Rio de Janeiro, Brazil Infección por hematozoarios en los gatos domésticos atendidos en servicio de salud animal, Río de Janeiro, Brasil Maria Isabel Menezes Ramos1; Paulo Daniel Sant’Anna Leal2; Larissa Licurci de Oliveira Barbosa3; Carlos Wilson Gomes Lopes4 1-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 2-MV, DSc., aluno de pós-doutorado do PPGCV da UFRRJ. 3-MV, aluna de pós-graduação do PPGCV da UFRRJ – bolsista CNPq. 4-MV, MSc, PhD, LD do DPA/IV da UFRRJ – bolsista CNPq.
mariaisabelmrm@gmail.com
E
ste trabalho teve como objetivo diagnosticar e determinar a frequência de infecção transmissíveis por vetores em 122 amostras de sangue procedentes de gatos tratados no serviço veterinário. O diagnóstico foi feito através da citoscopia dos esfregaços de sangue e estirões de concentrados de plaquetas e leucócitos, corados pelo Panóptico. Dos 122 gatos avaliados, 31 foram positivos (25,4%), sendo 25 animais com monoinfecção, cinco por Anaplasma platys e 20 por Mycoplasma felis. Seis animais apresentaram dupla infecção por M. felis e A. platys, apresentando a importância do diagnóstico utilizando o hemograma e a citoscopia em gatos domiciliados. Unitermos: parasitos, gato, serviço, erliquiose, micoplasmose, Rio de Janeiro
T
he objective of this study was to diagnose and determine the frequency of vector - transmitted infection in 122 blood samples from cats treated at the veterinary service. The diagnosis was made through cystoscopy of the blood smears and spreads of platelet and leukocyte concentrates stained by Panoptic. Of the 122 cats evaluated, 31 were positive (25.4%), 25 animals with monoinfection, 5 by Anaplasma platys and 20 by Mycoplasma felis. Six animals presented double infection by M. felis and A. platys, presenting the importance of the diagnosis by using the hemogram and cytoscopy in domiciled cats. Keywords: parasites, cat, service, ehrlichiosis, mycoplasmosis, Rio de Janeiro
E
ste trabajo tuvo como objetivo diagnosticar y determinar la frecuencia de infección transmisible por vectores en 122 muestras de sangre procedentes de gatos tratados en el servicio veterinario. El diagnóstico se realizó a través de la citoscopia de los frotis de sangre y los estiramientos de concentrados de plaquetas y leucocitos, coloreados por el Panóptico. De los 122 gatos evaluados, 31 fueron positivos (25,4%), siendo 25 animales con monoinfección, cinco por Anaplasma platys y 20 por Mycoplasma felis. Seis animales presentaron una doble infección por M. felis y A. platys, presentando la importancia del diagnóstico utilizando el hemograma y la citoscopia en gatos domiciliados. Palabras clave: parasitos, gato, servicio, erliquiosis, micoplasmose, Río de Janeiro
64
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução As hemoparasitoses são infecção cosmopolita, causada por parasitos intracelulares obrigatórios de células sanguíneas, transmitidas pela picada de artrópodes hematófagos, tendo como principal vetor o carrapato Rhipicephalus sanguineus, além das espécies dos gêneros, Amblyomma e Anocentor. Além disso, podem ser transmitidos por piolhos e pulgas ou mesmo por infecção transplacentária que já foi assinalada1. Mosquitos também são competentes na transmissão de riquétsias, confirmado previamente pela transmissão de Mycoplasma ovis (syn. Eperythrozoon ovis) entre ovinos por Culex annulirostris2. Essas hemoparasitoses, que acometem gatos e outras espécies, são responsáveis por manifestações clínicas variáveis, que podem ocasionar óbito3 ou tornar os animais portadores assintomáticos, servindo esses como reservatórios ou sentinelas4,5, o que permite aumento da prevalência global, ressaltando a sua importância em medicina veterinária6,7. Devido ao caráter zoonótico, enfatiza-se a necessidade de alertar a comunidade veterinária, tutores e autoridades em saúde pública, para o risco de infecção, inclusive profissional8. A transmissão natural de hemoparasitos em gatos ainda não foi completamente bem estudada. No entanto, diversos artrópodes constituem risco para a propagação de infecções de importância zoonótica e veterinária9,10. No Brasil carrapatos como R. sanguineus tem ampla distribuição geográfica nas áreas urbanas brasileiras e foi relatado em gatos, indicando a competência para a transmissão de hemoparasitos11. O gênero Mycoplasma forma um grupo de parasitos obrigatórios que em sua maioria estão associados à anemia, artrite, infertilidade e distúrbios respiratórios12, sendo incluído como diagnóstico diferencial em gatos enfermos9. Além das espécies desse gênero, pode-se encontrar gatos com corpos de inclusão semelhante aos de Ehrlichia-simile em seus neutrófilos e tiveram como diagnóstico conclusivo a infecção por Anaplasma phagocytophilum com os sinais clínicos característicos de erliquiose, além de resposta ao tratamento com doxiciclina13. No Brasil a erliquiose clinica ocorre pela presença tanto de Ehrlichia canis, quanto de A. platys14,15. Diante da importância deste diagnóstico na clínica de gatos, este trabalho tem como objetivo verificar a frequência com que hemoparasitos são observados em gatos domiciliados, através do diagnóstico por citoscopia na avaliação hematológica na rotina da clínica veterinária. Materiais e método Foram utilizadas amostras de sangue de 122 gatos atendidos pelo serviço médico veterinário de uma
Clínica/Hospital Veterinário situado na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. Conforme a necessidade de exames laboratórios para o diagnóstico ou apenas como exames de avaliação (check-up). As amostras de sangue foram coletadas em seringa descartável, com agulha 25 x 7 mm, 2 a 3 mL, conforme volume total das coletas foram acondicionadas em tubo de ensaio pediátrico com o anticoagulante ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), utilizando-se o material da própria seringa para confecção de esfregaços sanguíneos. Lâminas também foram confeccionadas a partir de concentrado de plaquetas e leucócitos16, após a separação dos elementos figurados do plasma por meio do microhematócritoa. As amostras de sangue para hemograma foram processadas com a utilização de equipamento automáticob, sendo realizados leucometria, plaquetograma e eritrograma. Para mensuração da proteína plasmática total foi utilizado um refratômetro clínico manualc. Os esfregaços foram corados utilizando conjunto para coloração rápida em hematologiad e observados em microscópio óptico binoculare para avaliação da morfologia dos elementos figurados do sangue e presença de hematozoários. Os parasitos foram classificados conforme as células ou elementos figurados do sangue que estivessem parasitando, pela coloração e morfologia16. Foram classificados como Mycoplasma felis (= Mycoplasma haemofelis) hemoparasitsobservados em eritrócitos sob a forma de coccos17,18. E classificados como Anaplasma platys quando observados em plaquetas obedecendo a morfologia e a coloração13,18,19,20. Resultados e discussão De 122 gatos, 31 foram positivos para um ou mais hematozoários, totalizando 25,4%. Dos 31 animais com hemoparasitoses 25 gatos apresentaram monoinfecção, sendo cinco por A. platys, concordando com a literatura que relata que o referido parasito já foi diagnosticado em gatos no Brasil por meio da observação de corpúsculos de inclusão em plaquetas e pela análise de DNA do gene de ARNr 16S, confirmando que essa espécie é suscetível ao A. platys14. Os outros 20 animais apresentaram monoinfecção de M. felis, resultado bastante superior ao observado em estudo anterior no Rio de Janeiro, no qual se encontrou 12% de positividade entre os animais atendidos em um serviço de rotina veterinária utilizando-se PCR20. Esses resultados são explicados pela técnica utilizada, na qual as amostras não tiveram contato com anticoagulante (EDTA) e não foram armazenadas, propiciando maior chance de visualização dos parasitos21. Além da ocorrência da disseminação através do vetor e a manutenção dos hematozoários nas colônias de animais principalmente errantes, nesses últimos 10 anos do
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
65
estudo22 e se comparado com estudos onde a citoscopia foi utilizada, os resultados foram semelhantes inclusive com um número de diagnóstico maior, para Mycoplasma (= Haemobartonella) felis em (38%), explicados por serem gatos errantes, com a presença de pulgas observadas em 28% dos animais habitantes do zoológico onde há presença de felinos selvagens, sabidamente reservatórios desses microrganismos5. Mais recentemente, foram observado 19,9% de positividade de micoplasmose, através do PCR23, verificou-se que a frequência é próxima aos resultados observados pelo presente estudo e que a PCR é o método mais utilizado para a confirmação diagnóstica. Em outros estudos, onde observaram uma frequência com 13,8% de 432 gatos24, apesar da verificação de uma variação filogenética de diferentes estirpes, o que limita principalmente pela falta de genomas sequenciados de espécies animais de micoplasma25. Com a evolução da técnica, valores superiores aos do atual estudo foram observados ao se incluir gatos errantes o que contribuiu para o aumento da frequência, com uma ocorrência de 36,4% em Campo Grande, Mato Grosso do Sul10, pois errantes ou expostos as pulgas tem maior chance de serem infectados22,26. Em gatos examinados no Sul do Brasil 79 deles (21,40%) foram positivos para a micoplasmose felina27, assim como em coinfecções associadas a A. platys em um gato diagnosticado com mieloma múltiplo28. Três (8%) gatos foram positivos para Anaplasma spp. número superior aos observados no presente estudo, assim como os observados para a presença da infecção por Mycoplasma spp. Com 12 (32%) gatos, devido ao fato de serem de vida livre, não ter acompanhamento veterinário de rotina e serem expostos aos vetores29. O diagnóstico torna-se fundamental quando esses animais necessitam de tratamento
com imunossupressores ou terapias antineoplásicas, ou ainda, quando exercem a função de doadores de sangue, pois a transmissão de hemoplasmas para gatos ocorre após a administração de sangue felino infectado, mesmo após a refrigeração30. Conclusão O referido estudo apresenta uma positividade de 25,4% (31/122) em gatos domiciliados com infecção com pelo menos um hemoparasito aqui estudado, onde apresenta a importância do diagnóstico em gatos domiciliados seja associada ao hemograma e a citoscopia na rotina da clínica veterinária. Referências 01-WARDROP, K. J. ; REINE, N. ; BIRKENHEUER, A. ; HALE, A. ; HOHENHAUS, A. ; CRAWFORD, C. ; LAPPIN, M. R. Canine and feline blood donor screening for infectious disease. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 19, n. 1, p. 135-142, 2005. 02-DADDOW, K. N. Culex annulirostris as a vector of Eperythrozoon ovis infection in sheep. Veterinary Parasitology, v. 7, n. 4, p. 313-317, 1980. 03-ZOBBA, R. ; ANFOSSI, A. G. ; VISCO, S. ; SOTGIU, F. ; DEDOLA, C. ; PARPAGLIA, M. P. ; ALBERTI, A. Cell tropism and molecular epidemiology of Anaplasma platys-like strains in cats. Ticks and Tick-Borne Diseases, v. 6, n. 3, p. 272-280, 2015. 04-STARKEY, L. A. ; BARRETT, A. W. : BEALL, M. J. : CHANDRASHEKAR, R. : THATCHER, B. : TYRRELL, P. ; LITTLE, S. E. Persistent Ehrlichia ewingii infection in dogs after natural tick infestation. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 29, n. 2, p. 552-555, 2015. 05-SHOCK, B. C. ; MURPHY, S. M. ; PATTON, L. L. ; SHOCK, P. M. ; OLFENBUTTEL, C. ; BERINGER, J. ; YABSLEY, M. J. Distribution and prevalence of Cytauxzoon felis in bobcats (Lynx rufus), the natural reservoir, and other wild felids in thirteen states. Veterinary Parasitology, v. 175, n. 3, p. 325-330, 2011.
Figura 1. Esfregaçosaços de sangue de gatos: mórula de Anaplasma platys em plaqueta (a); formas cocoides Mycoplasma felis alinhadas na superfície de eritrócito (b). Panótico. Obj. 100X 66
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
06-ALMOSNY, N. R. P. ; MASSARD, C. L. Erliquiose felina: revisão. Clínica Veterinária, v. 4, n. 23, p. 30-32, 1999. 07-LEAL, P. D. S. ; FLAUSINO, W. ; LOPES, C. W. G. Diagnóstico de infecções concomitantes por Neospora caninum, Babesia canis e Erhlichia spp. em canino adulto da raça Golden Retrivier – relato de caso. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 34, n. 2, p. 47-51, 2012. 08-MAGGI, R. G. ; MASCARELLI, P. E. ; HAVENGA, L. N. ; NAIDOO, V. ; BREITSCHWERDT, E. B. Co-infection with Anaplasma platys, Bartonella henselae and Candidatus Mycoplasma haematoparvum in a veterinarian. Parasites & Vectors, v. 6, n. 1, p. 103, 2013. 09-SANTIS, A. C. G. A. D. ; HERRERA, H. M. ; SOUSA, K. C. M. D. ; GONÇALVES, L. R. ; DENARDI, N. C. B. ; DOMINGOS, I. H. ; ANDRÉ, M. R. Molecular detection of hemotrophic mycoplasmas among domiciled and free-roaming cats in Campo Grande, state of Mato Grosso do Sul, Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 23, n. 2, p. 231-236, 2014. 10-FERREIRA, D. R. A. ; ALVES, L. C. ; DA GLORIA FAUSTINO, M. A. Ectoparasitos de Felis catus domesticus (Linnaeus, 1758) na cidade de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Biotemas, v. 23, n. 4, p. 43-50, 2010. 11-BRAGA, Í. A. ; SANTOS, L. G. F. D. ; RAMOS, D. G. D. S. ; MELO, A .L. T. ; MESTRE, G. L. D. C. ; AGUIAR, D. M. D. Detection of Ehrlichia canis in domestic cats in the central-western region of Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 45, n. 2, p. 641-645, 2014. 12-CHALKER, V. J. Canine mycoplasmas. Research in Veterinary Science, v. 79, n. 1, p. 1-8, 2005. 13-TARELLO, W. Microscopic and clinical evidence for Anaplasma (Ehrlichia) phagocytophilum infection in Italian cats. Veterinary Record, v. 156, n. 24, p. 772-774, 2005. 14-LIMA, M. L. F. ; SOARES, P. T. ; RAMOS, C. A. N. ; ARAÚJO, F. R. ; RAMOS, R. A. N. ; SOUZA, I. I. F. ; ALVES, L. C. A. Molecular detection of Anaplasma platys in a naturally-infected cat in Brazil. Brazilian Journal of Microbiology, v. 41, n. 2, p. 381-385, 2010. 15-FONTALVO, M. C. ; BRAGA, I. A. ; AGUIAR, D. M. ; HORTA, M. C. Evidências sorológicas da exposição de gatos a Ehrlichia canis. Ciência Animal Brasileira, v. 17, n. 3, p. 418424, 2016. 16-LEAL, P. D. S. ; MORAES, M. I. M. R. ; BARBOSA, L. L. ; LOPES, C. W. G. Infecção por hematozoários nos cães domésticos atendidos em serviço de saúde animal, Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 37, supl. 1, p. 55-62, 2015. 17-KEMMING, G. I. ; MESSICK, J. B. ; ENDERS, G. , BOROS, M. ; LORENZ, B. ; MUENZING, S. ; KISCH-WEDEL, H. ; MUELLER, W. ; HAHMANN-MUELLER, A. ; MESSMER, K. ; THEIN, E. Mycoplasma haemocanis infection – a kennel disease? Comparative Medicine, v. 54, n. 4, p. 404-409, 2004. 18-HARVEY, J. W. Trombocytotropic anaplasmosis (A. platys (E. platys) infection). In: GREENE, C. E. Infectious diseases of the dog and cat. 3. ed. Philadelphia: GREENE; 2006. p. 203-216. 19-SAINZ, Á. ; ROURA, X. ; MIRÓ, G. ; ESTRADA-PEÑA, A. ; KOHN, B. ; HARRUS, S. ; SOLANO-GALLEGO, L. Guideline for veterinary practitioners on canine ehrlichiosis and anaplasmosis in Europe. Parasites and Vectors, v. 8, n.1, p. 75, 2015. 20-MACIEIRA, D. B. ; DE MENEZES, R. DE C. A. ; DAMICO,
C. B. ; ALMOSNY, N. R. ; MCLANE, H. L. ; DAGGY, J. K. ; MESSICK, J. B. Prevalence and risk factors for hemoplasmas in domestic cats naturally infected with feline immunodeficiency virus and/or feline leukemia virus in Rio de Janeiro, Brazil*. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 10, n. 2, p. 120-129, 2008. 21-THRALL, M. A. Hematologia e bioquímica clínica veterinária, 1. ed. São Paulo: Roca, 2007. p. 37. 22-ALMEIDA, F. M. ; LABARTHE, N. ; GUERRERO, J. ; FARIA, M. C. F. ; BRANCO, A. S. ; PEREIRA, C. D. ; PEREIRA, M. J. S. Follow-up of the health conditions of an urban colony of freeroaming cats (Felis catus Linnaeus, 1758) in the City of Rio de Janeiro, Brazil. Veterinary Parasitology, v. 147, n. 1, p. 9-15, 2007. 23-SOUSA, S. K. A. ; SAMPAIO-JUNIOR, F. D. ; SOUSA, L. O. ; SANTOS, R. C. ; GONÇALVES, E. C. ; SCOFIELD, A. ; GÓES-CAVALCANTE, G. Molecular diagnosis of haemoplasmas infection in naturally infected domestic cats from Belém, Pará. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33, n. 9, p. 1116-1120, 2013. 24-AQUINO, L. C. ; HICKS, C. A. ; SCALON, M. C. ; LIMA, M. G. D. M. ; LEMOS, M. D. S. ; PALUDO, G. R. ; TASKER, S. Prevalence and phylogenetic analysis of haemoplasmas from cats infected with multiple species. Journal of Microbiological Methods, v. 107, p. 189-196, 2014. 25-MCAULIFFE, L. ; ELLIS, R. J. ; AYLING, R. D. ; NICHOLAS, R. A. Differentiation of Mycoplasma species by 16S ribosomal DNA PCR and denaturing gradient gel electrophoresis fingerprinting. Journal of Clinical Microbiology, v. 41, n. 10, p. 4844-4847, 2003. 26-HACKETT, T. B. ; JENSEN, W. A. ; LEHMAN, T. L. ; HOHENHAUS, A. E. ; CRAWFORD, P. C. ; GIGER, U. ; LAPPIN, M. R. Prevalence of DNA of Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum, Anaplasma phagocytophilum, and species of Bartonella, Neorickettsia, and Ehrlichia in cats used as blood donors in the United States. Journal of the American Veterinary Medical Association, v. 229, n. 5, p. 700-705, 2006. 27-SANTOS, A. P. D. ; CONRADO, F. D. O. ; MESSICK, J. B. ; BIONDO, A.W. ; OLIVEIRA, S. T. D. ; GUIMARAES, A. M. S. ; GONZÁLEZ, F. H. D. Hemoplasma prevalence and hematological abnormalities associated with infection in three different cat populations from Southern Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 23, n. 4, p. 428-434, 2014. 28-QUROLLO, B. A. ; BALAKRISHNAN, N. ; CANNON, C. Z. ; MAGGI, R. G. ; BREITSCHWERDT, E. B. Co-infection with Anaplasma platys, Bartonella henselae, Bartonella koehlerae and ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’in a cat diagnosed with splenic plasmacytosis and multiple myeloma. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 16, n. 8, p. 713-720, 2014. 29-ANDRE, M. R. ; DENARDI, B. ; CRISTINA, N. ; DE SOUSA, M. ; CARSTENS, K. ; GONCALVES, L. R. ; MACHADO, R. Z. Arthropod-borne pathogens circulating in free-roaming domestic cats in a zoo environment in Brazil. Ticks and Tickborne Diseases, v. 5, n. 5, p. 545, 2014. 30-GARY, A. T. ; RICHMOND, H. L. ; TASKER, S. ; HACKETT, T. B. ; LAPPIN, M. R. Survival of Mycoplasma haemofelis and ‘Candidatus Mycoplasma haemominutum’ in blood of cats used for transfusions. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 8, n. 5, p. 321-326, 2006.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
67
Diagnóstico de parasitas gastrointestinais em cães em uma localidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, RJ Diagnosis of gastrointestinal parasites in dogs at a locality in the Rio de Janeiro Metropolitan Region, RJ Diagnóstico de parásitos gastrointestinales en perros en una localidad de la Región Metropolitana de Río de Janeiro, RJ Caroline Cunha Carreiro1; Vera Teixeira de Jesus2; Daniele dos Santos Juliano3; Cezar Augusto da Silva4; Tassia Torres Furtado5 1-MV, aluna de doutorado do PPGMV da UFRRJ, Bolsista Capes. 2-Professora associada do DRAA, IZ da UFRRJ. 3-Aluna de graduação em medicina veterinária da UFRRJ. 4-Aluno de graduação de engenharia de alimentos da UFRRJ. 5-Aluna de dourado do PPGCV da UFRRJ.
carolinecarreiro@yahoo.com.br
A
s parasitoses gastrintestinais estão entre as enfermidades mais comuns em animais de companhia, podendo ser especialmente graves em animais jovens ou em imunocomprometidos. Alguns destes parasitos são considerados zoonóticos, representando importante risco à saúde humana. O objetivo deste estudo foi determinar a presença de formas utilizadas como diagnóstico de parasitos gastrintestinais encontradas em fezes de cães domiciliados em São João de Meriti, Baixada Fluminense, RJ, a sua prevalência, e identificar os fatores que interferem na epidemiologia e transmissão zoonótica destas infecções. Para tal, quarenta e cinco amostras de fezes de cães foram coletadas e a cada proprietário foi solicitado a responder um formulário contendo informações relevantes a respeito do risco de infecção e transmissão de zoonoses parasitárias. As amostras foram submetidas ao exame direto e a técnica de centrifugo flutuação em açúcar, obtendo-se uma positividade de 64,44% das amostras. Dentre as amostras parasitadas, vinte (68,96%) foram positivas para ovos de Ancylostomatídeos; sete delas postivas para oocistos de coocídios (24,14%); quatro positivas para ovos de Toxocara spp. (13,79%); três para trofozoítas de Parabasalídeos; e apenas uma para a presença de cistos de Giardia intestinalis e cápsulas ovígeras de Dipylidium caninum (2,22%). Os animais que conviviam com outros animais, bem como os cães com acesso à rua, tiveram maior chance de desenvolver pelo menos uma das parasitoses mencionadas. Além disso, a maioria dos filhotes apresentaram fezes de consistência pastosa (mole), enquanto que em cães adultos não se observaram alterações dignas de nota, fato este, reforça a importância da realização de exames parasitológicos de rotina, pois animais com parasitose subclínica podem ser importantes fonte de infecção tanto para humanos e outros animais. Além de contaminar o meio ambiente. A alta prevalência de parasitos gastrintestinais na amostra estudada está associada as precárias condições de saneamento básico da região e ressalta a importância de um maior controle parasitológico nesses animais, como tentativa de melhorar não só as condições de vida dos animais, como também, evitar que sirvam de fonte de propagação de organismos zoonóticos. Unitermos: parasitos gastrintestinais, helmintos, protozoário, parabasalídeos, baixada fluminense
G
astrointestinal parasites are among the most common diseases in companion animals, and severe in young or immunocompromised animals. Some of these parasites are considered as zoonotics, representing an important risk to human health. The objective of this study was to determine the prevalence of forms used to diagnose gastrintestinal parasites found in dogs feces domiciled at the Municipality of São João de Meriti, Rio de Janeiro Metropolitan area, RJ, as well as to identify the factors that interfere in the epidemiology and zoonotic transmission of these infections. To that end, forty-five samples of dog feces were collected and each owner was asked to respond to a form containing relevant information regarding the risk of infection and transmission of parasitic zoonoses. The samples were submitted to direct examination and the centrifugal sugar fluctuation technique, obtaining a positivity of 64.44% of the samples positive for parasistes. Among the parasitized samples, twenty (68.96%) were positive for hookworm ggs; seven of them were positive for coccidia oocysts (24.14%); four positive for ascarids (13.79%); three for Parabasalid trophozoites; and only one for the presence of Giardia intestinalis cysts, and ovigerous capsules of Dipylidium caninum (2.22%). Animals that lived with other animals, as well as dogs with access to the street, had a greater chance of developing at least one of the aforementioned parasites. In addition, the majority of the pups presented feces of pasty consistency, whereas in adult dogs no noteworthy changes were observed. 68
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
This fact reinforces the importance of performing a routine parasitological examinations, since animals with subclinical parasitosis can be important source of infection for both humans and other animals, besides contaminating the environment. The high prevalence of gastrintestinal parasites in the sample studied was associated with the poor conditions of basic sanitation in the region and emphasizes the importance of a greater parasitological control in these animals, as an attempt to improve not only the living conditions of the animals, but also to prevent them from serving source of propagation of zoonotic organisms. Keywords: endoparasites, helminths, protozoan, parabasalídeos, Fluminense lowland
L
as parasitosis gastrointestinales están entre las enfermedades más comunes en animales de compañía, pudiendo ser especialmente graves en animales jóvenes o en inmunocomprometidos. Algunos de estos parásitos se consideran zoonóticos, lo que representa un riesgo importante para la salud humana. El objetivo de este estudio fue determinar la presencia de formas utilizadas como diagnóstico de parásitos gastrointestinales encontrados en heces de perros domiciliados en São João de Meriti, Baixada Fluminense, RJ, su prevalencia, e identificar los factores que interfieren en la epidemiología y transmisión zoonótica de estas infecciones . Para ello, se recogieron cuarenta y cinco muestras de heces de perros y se pidió a cada propietario que respondiera a un formulario que contenía información pertinente sobre el riesgo de infección y transmisión de las zoonosis parasitarias. Las muestras fueron sometidas al examen directo y la técnica de centrifugación fluctuación en azúcar, obteniéndose una positividad del 64,44% de las muestras. Entre las muestras parasitadas, veinte (68,96%) fueron positivas para huevos de Ancylostomatídeos; siete de ellas postivas para oocistos de coyios (24,14%); cuatro positivas para los huevos de Toxocara spp. (13,79%); tres para trofozoítas de Parabasalídeos; y sólo una para la presencia de quistes de Giardia intestinalis y cápsulas ovígeras de Dipylidium caninum (2,22%). Los animales que convivían con otros animales, así como los perros con acceso a la calle, tuvieron mayor probabilidad de desarrollar al menos uno de los parásitos mencionados. Además, la mayoría de los cachorros presentaron heces de consistencia pastosa (blando), mientras que en perros adultos no se observaron cambios dignos de nota, hecho este, refuerza la importancia de la realización de exámenes parasitológicos de rutina, pues animales con parasitosis subclínica pueden ser importantes fuentes de infección tanto para humanos y otros animales. Además de contaminar el medio ambiente. La alta prevalencia de parásitos gastrointestinales en la muestra estudiada está asociada a las precarias condiciones de saneamiento básico de la región y resalta la importancia de un mayor control parasitológico en esos animales, como intento de mejorar no sólo las condiciones de vida de los animales, como también, evitar que sirvan de origen de propagación de organismos zoonóticos. Palabras clave: endoparasitas, helmintos, protozoario, parabasalídeos, bajada fluminense
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
69
Introdução Os animais de companhia, particularmente cães, têm um importante papel na sociedade em todo o mundo, sendo companheiros importantes em muitas residências. A ligação emocional estabelecida pode trazer benefícios físicos e psicológicos, além de melhorar a integração social de portadores de doenças imunossupressoras, idosos, crianças e pessoas com necessidades especiais como isolamento, solidão, entre outras1-3. Consequentemente pessoas que convivem com animais de companhia apresentam redução de problemas relacionados à pressão arterial, níveis de colesterol e uso de medicamentos, em comparação com pessoas que não possuem animais de companhia4. Entretanto, o contato entre cães e humanos impõe a necessidade de maiores cuidados com a saúde desses animais, pois são suscetíveis a inúmeras patologias, sendo hospedeiros definitivos de vários parasitos gastrintestinais. Alguns desses, como Ancylostoma spp., Toxocara spp., Giardia intestinalis e Cryptosporidium spp., são considerados zoonóticos, tendo humanos como hospedeiros finais ou intermediários e representam importante risco à saúde pública, despertando atenção recente quanto ao seus fatores de virulência junto a crianças, idosos e pessoas imunodeficientes3,5-8. Além de algumas espécies de parabasalídeos que estão sendo relacionadas a casos de diarreia não só em cães e gatos9-11, como também em humanos12,13, e com isso o questionamento sobre o potencial zoonótico desses flagelados vem ganhando destaque14-17. As parasitoses gastrintestinais causadas por helmintos e protozoários estão entre as enfermidades mais comuns em animais de companhia, podendo ser especialmente graves em animais jovens ou imunocomprometidos3,6. Os cães acometidos podem apresentar diarreia, anemia, atraso no desenvolvimento ou serem portadores assintomáticos. No entanto, esses parasitos são eliminados nas fezes, propiciando a contaminação ambiental e a transmissão de um hospedeiro para outro3,18,19. A contaminação de cães e de humanos por esses agentes etiológicos geralmente ocorre em seu local de lazer, como praças públicas, praias, e até mesmo na própria residência, devido à relação cada vez mais próxima entre estas duas espécies. A forma de transmissão mais comum é feco-oral, porém não se pode a penetração cutânea, como é o caso das larvas de ancilostomatídeos, responsável por larva migrans cutânea (bicho geografico). Os ovos larvados de ascarídeos, não petentram na pele integra, mas após a injestão desses ovos com larvas infectantes, são responsáveis pela larva migrans visceral e ocular, podendo acarretar sinais neurológicos e atópicos19. O objetivo deste estudo foi diagnosticar as espécies de parasitos encontradas em fezes de cães domiciliados 70
em área do município de São João de Meriti, Baixada Fluminense, RJ e determinar a sua prevalência, além de identificar os fatores que interferem na propagação dessas infecções. Material e métodos Foram avaliadas 45 amostras de fezes de cães de ambos os sexos, diferentes raças e faixas etárias, sendo classificados como filhotes, animais até 12 meses de vida; adultos, de 12 meses a 84 meses (7 anos); e Idosos, acima de 84 meses. Os animais eram domiciliados, provenientes do bairro de São Matheus, no município de São João de Meriti, RJ. As amostras foram coletadas, entre julho e agosto de 2017, após recente evacuação e foram acondicionadas em frascos plásticos, identificadas e levadas ao laboratório de Patologia da Reprodução localizado no Anexo I do Instituto de Veterinária da UFRRJ, onde foram analisadas em no máximo 24 horas após coletada. O primeiro exame realizado foi macroscópicos, para verificar consistência, presença de estrias de sangue ou muco e também de possíveis formas parasitárias, sejam proglotes de cestóides ou nematóides adultos. Em seguida, cada amostra foi dividida em duas partes. Uma parte dissolvida em PBS (pH 7) e examinadas a fresco, sob microscopia óptica com objetiva de 10x, para a observação de protozoários flagelados20. A outra parte foi submetida ao método de centrífugo-flutuação em solução saturada de açúcar e observadas ao microscópico óptico, inicialmente em objetiva de 10x e com posterior confirmação em objetiva de 40x, para observação de formas de parasitos seja helmintos ou coccídios21. As amostras foram consideradas positivas quando foi visualizado pelo menos uma forma de parasitos, e/ou mesmo, um protozoário móvel com movimentos característicos de parabasalídeos. Para obter informações sobre as características dos animais como sexo, idade e raça, bem como acesso à rua, coabitação com outros animais, visita ao médico-veterinário e uso de antiparasitários, foi usado um formulário, no qual o proprietário autorizava a utilização do material fecal para pesquisa cientifica. Os referidos resultados parasitológicos foram tabelados juntamente com os dados do formulário e então foi realizado a análise estatística, realizada atraves do programa Epiinfo22. O Quiquadrado ou exato de Fisher, quando recomendados foram usados para comparar proporções e uma probabilidade p < 0,05, foi considerado como estatisticamente significativo. Os intervalos de confiança do binômio exato de 95% (IC), foram estabelecidos para proporções. Resultados e discussão Das quarenta e cinco amostras analisadas, 64,44% (29/45) foram positivas para formas parasitárias de
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
helmintos e protozoários e 35,55% (16/45) negativas. A taxa de coinfecção observada foi de 17,24% (5/29), e apenas um animal estava parasitado por três diferentes parasitos, as demais infecções mistas ocorreram com dois parasitos. Entre os animais parasitados, 20 (68,96%) continham ovos de ancilostomatídeos; sete com oocistos de coocidios (24,14%); quatro ovos de ascarídeos (13,79%); três trofozoítas de Parabasalídeos; e apenas um apresentava cisto de Giardia intestinalis e cápsulas ovígeras de Dipylidium caninum. (2,22%). Não houve diferença significativa entre o parasitismo e a raça, sexo e idade dos animais (Tabela 1). A falta de saneamento básico na região onde este estudo foi realizado, ligada às condições de saúde em que os cães são expostos e a ausência de um centro de controle de zoonoses na cidade, acarretando a presença de muitos cães errantes, estes fato pode influenciar significativamente nos resultados parasitários na região. Nesse estudo, a prevalência de helmintos foi maior que a de protozoários, em todas as faixas etárias estudadas. Estudos similares em diferentes regiões do Brasil, indicaram alta prevalência de helmintos23-28, sobretudo ancilostomíase, com taxas variando entre 22% e 79%, no entanto, um estudo recente realizado em 1000 cães em São Paulo27 relatou uma maior prevalência de protozoários. Uma justificativa é que neste estudo, foram empregadas diferentes técnicas parasitológicas, além de imunofluorescência direta para a detecção de antígenos de Giardia, com isso a taxa de infecção por protozoário foi significativamente maior que os demais autores que utilizaram somente técnicas de sedimentação23-26. Além das diferentes metodologias empregadas, alguns protozoários apresentam períodos negativos nas fezes, sendo necessário o exame de três amostras coletadas alternadamente no período de uma semana, antes de considerar a amostra como negativa24. Este fator pode ter influenciado na baixa frequência de G.
intestinalis observada. De uma forma geral, a prevalência de parasitos gastrintestinais é variável e depende, não só do método de diagnóstico empregado, como também, de um grande número de fatores, incluindo aqui a idade, condições de vida, região estudada (saneamento básico) e estado de saúde do animal27. A análise dos questionários permitiu elucidar alguns pontos importantes a respeito do risco de infecção e risco transmissão de zoonoses parasitárias. Como por exemplo, a maioria dos cães pesquisados (81,25%) tinha acesso ao interior da casa dos proprietários, portanto maior contato entre ambos, com maior chance de que ocorra infecção cruzada. Além disso, cães criados com outros animais possuem maior risco relativo (RR = 1,5536; IC = 0,6294 – 3,8350) de apresentar parasitos gastrintestinais do que aqueles criados sozinhos. Estes dados estão em acordo com os publicados por Lallo27, onde o risco foi duas vezes maior. Também foi observado em ambos os trabalhos que os animais que não tinham acesso á rua tiveram menor risco de serem contaminados por parasitos (RR: 0,8250 IC: 0,3779 – 1,8012). Não há diferença entre o parasitismo e a consistência das fezes, isto porque a maioria dos cães adultos não tinha alteração na consistência fecal, estando eles parasitados ou não. Este fato possivelmente está ligado a maior imunidade dos cães desta categoria em não desenvolver sinais clínicos. Portanto, apresentar fezes com consistência normal (dura) não deve ser um indicativo de ausência de infecção parasitária, principalmente se tratando de cães adultos. Fato que faz desta categoria importante disseminador de infecção3,28, que deve ser levado em consideração quando estes animais conviverem juntos com crianças e idosos, pois são mais susceptíveis a infecção, bem como os seus filhotes. Por outro lado, filhotes de cães que tinham fezes de consistência pastosa/mole tiveram três vezes mais chances de estarem parasitados, dos que aqueles que apresentaram
Tabela 1 – Resultado parasitológico de cães domiciliados do bairro de São Matheus na cidade de São João de Meriti, Rio de Janeiro
PositiVo
resuLtado Ancilostomatídeos Coccídios Ascarídios Parabasalídeos Dipilidium caninum Giardia intestinalis Infecção mista total de positivos negatiVo
seXo Macho Fêmea 9 11 4 1 2 2 1 2 1 2 1 3 2 14 15 10 6
Filhote 8 3 1 1 1 1 2 11 4
FaiXa etÁria adulto idoso 8 4 1 1 2 1 2 2 2 1 9 9 3 9
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
raça Com sem 14 6 3 2 3 1 1 1 2 1 1 4 1 19 10 10 6
totaL 20 5 4 3 1 1 5 29 16
71
fezes com consistência normal (RR: 3,0 IC; 0,4 – 21,298). Mas, da mesma forma, filhotes com consistência normal não devem ser excluídos dos risco de estarem parasitados, pois 50% dos filhotes com fezes consistentes, também estavam parasitados. Em 33 dos 45 cães foi constatada ausência ou administração irregular de antiparasitários, onde se observou maior taxa de infecção, 69,7% (23/33) comparados à taxa de infecção de 50% (6/12) dos animais vermifugados de forma regular (12/45), estes dados indica que animais com vermifugação regular podem apresentar menor risco relativo de infecções por parasitos gastrintestinais (RR = 0,7880 CI = 0,5164 – 1,2025). No entanto, mesmo com a vermifugação regular 50% encontravam-se parasitados. O que se deve não só a falha na desinfecção ambiental, que permite a reinfecção, como também a utilização inadequada de antiparasitários, pois a grande maioria dos animais foram submetido a vermifugação sem exame prévio (clinico ou laboratorial), e portanto sem prescrição médico-veterinária. O que corrobora com o fato de apenas dois animais, 4,44% (2/45) terem sido submetido a exame parasitológico anterior. Os demais nunca os haviam feito. Esta situação tem sido muito comum na rotina médico-veterinária e, é uma das responsáveis por resistência parasitária, pois além da utilização inadequada de bases antiparasitárias, as subdoses podem ainda favorecer a seleção de parasitos mais resistente. Este resultado indica a necessidade de se realizar exames parasitológicos de rotina ao longo de toda a vida do animal, visto que parte dos cães adultos apresentam parasitose subclínica, sendo um dos possíveis disseminadores das infecções. Além disso, a maioria dos vermífugos disponíveis, apesar de serem de amplo espectro, eles só atuam sobre os helmintos, os protozoários em sua grande maioria necessitam de antibióticos para seu controle 25-27. Fato este, deve ser levado em consideração na escolha do antiparasitário ideal, sendo essencial a realização de exames parasitológicos de rotinha permitindo um correto diagnóstico, que ajudará a reduzir o uso indiscriminado de antiparasitários e de antibióticos, fato crucial para redução dos casos de resistência parasitária. Conclusões A alta frequência de parasitos gastrintestinais, com base no levantamento realizado na região estudada ressalta a necessidade de medidas sanitárias que visem o controle dessas parasitoses, como tentativa de melhorar não só as condições de vida dos animais como também de evitar que eles sejam as vias de propagação de organismo zoonóticos. 72
Referências 01-PARSLOW, R. A. ; JORM, A. F. Pet ownership and risk factors for cardiovascular disease: another look. Medical Journal of Australia, v. 179, p. 466-468, 2003; 02-MCNICHOLAS, J. ; GILBEY, A. ; RENNIE, A. ; AHMEDZAI, S. ; DONO, J. A. ; ORMEROD, E. Pet ownership and human health: a brief review of evidence and issues. British Medical Journal, v. 331, p. 1252-1254, 2005. 03-RIBEIRO, C. M. ; LIMA, D. E. ; KATAGIRI, S. Infecções por parasitos gastrintestinais em cães domiciliados e suas implicações na transmissão zoonótica. Veterinária e Zootecnia, v. 22, n. 2, p. 238-244, 2015. 04-HEADEY, B. ; KRAUSE P. Health benefits and potencial budget savings duo to pets. Australian and German survey results. Australian Social Monitor, v. 2, p. 37-41,1999. 05-ROBERTSON, I. D. ;THOMPSON, R. C. Enteric parasitic zoonoses of domesticated dogs and cats. Microbes and Infection, v. 4, p. 867-873, 2002. 06-FUNADA, M. R. ; PENA H. F. J. ; SOARES, R. M. ; AMAKU M. ; GENNARI, S. M. Frequência de parasitos gastrintestinais em cães e gatos atendidos em hospital-escola veterinário da cidade de São Paulo. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária de Zootecnologia, v. 59, p. 1338-1340, 2007. 07-DE ALMEIDA, C. G. ; MARQUES, S. M. T. ; MIQUELLUTI, D. J. ; DE QUADROS, R. M. Giardíase em crianças e cães do mesmo domicílio e de bairros periféricos de Lages, Santa Catarina. Revista Ciência & Saúde, v. 3, p. 9-13, 2010. 08-WEESE J. S. ; PEREGRINE A. S. ; ARMSTRONG J. Occupational health and safety in small animal veterinary practice: Part II-Parasitic zoonotic diseases. Canadian Veterinary Journal, v. 43, p. 799-802, 2002. 09-LEVY, M. G. ; GOOKIN, J. L. ; POORE, M. ; BIRKENHEUER, A. J. ; DYKSTRA, M. J. ; LITAKER, W. Tritrichomonas foetus and not Pentatrichomonas hominis is the etiologic agent of feline trichomonal diarrhea. Journal of Parasitology, v. 89, p. 99104, 2003. 10-GOOKIN, J. L. ; BIRKENHEUER, A. J. ; ST JOHN, V. ; SPECTOR, M. ; LEVY, M. G. Molecular characterization of trichomonads from feces of dogs with diarrhea. Journal of Parasitology, v. 91, p. 939-943, 2005. 11-YAEGER, M. J. ; GOOKIN, J. L. Histologic features associated with Tritrichomonas foetus-induced colitis in domestic cats. Veterinary Pathology, v. 42, p. 797-804, 2005. 12-MANCILLA-RAMIREZ, J. ; GONZALEZ-YUNES, R. Diarrhea associated with Trichomonas hominis in a newborn infant. Boletin Medico del Hospital Infantil de Mexico, v. 46, p. 623-625, 1989. 13-YANG, C. R. ; MENG, Z. D. ; WANG, X. ; LI, Y. L. ; ZHANG, Y. X. ; ZHAO, Q. P. Diarrhoea surveillance in children aged under 5 years in a rural area of Hebei Province, China. Journal of Diarrhoeal Diseases Research, v. 8, p. 155-159, 1990. 14-ZALONIS, C. A. ; PILLAY, A. ; SECOR, W. ; HUMBURG, B. ; ABER, R. Rare case of trichomonal peritonitis. Emerging Infectious Diseases, v. 17, p. 1312-1313, 2011. 15-WANG, H. K. ; JERNG, J. S. ; SU, K. E. ; CHANG, S. C. ; YANG, P. C. Trichomonas empyema with respiratory failure. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 75, p. 1234-1236, 2006. 16-MARITZ, J. M. ; LAND, K. M. ; CARLTON, J. M. ; HIRT, R. P. What is the importance of zoonotic trichomonads for human
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
health? Trends in Parasitology, v. 30, p. 333-341, 2014. 17-MELONI, D. ; MANTINI, C. ; GOUSTILLE, J. ; DESOUBEAUX, G. ; MAAKAROUN-VERMESSE, Z. ; CHANDENIER, J. ; GANTOIS, N. ; DUBOCHER, C. ; FIORI, P. L. ; DEICAS, E. ; DUONG, T. H. ; VISCOGLIOSI, E. Molecular idefication of Pentatrichomonas hominis in two patiens with gastrointestinal symptoms. Journal of Clinical Pathology, v. 64, p. 933-935, 2011. 18-SCAINI, C. J. ; TOLEDO, R. N. D. ; LOVATEL, R. M. ; DIONELLO, M. A. ; GATTI, F. A. D. A. ; SUSIN, L. R. O. ; SIGNORINI, V. R. M. Contaminação ambiental por ovos e larvas de helmintos em fezes de cães na área central do Balneário Cassino, Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v. 36, n. 5, p. 617-619, 2003. 19-OVERGAAUW, P. A. M. ; VAN KNAPEN, F. Veterinary and public health aspects of Toxocara spp. Veterinary Parasitology, v. 193, p. 398-403, 2013. 20-CARREIRO, C. C. ; COELHO, C. D. ; JORGE, J. L. B. P. ; COSTA, N. O. G. ; DO VALLE PAIVA, R. ; TEIXEIRA, W. L. ; DE JESUS, V. L. T. Parasitos intestinais em suínos confinados em uma criação no município de Pinheiral, RJ, Revista Brasileira de Medicina Veterinaria, v. 38, p. 117-122, 2016. 21-TÁPARO, C. V. ; PERRI, S. H. ; SERRANO, A. C. M. ; ISHIZAKI, M. N. ; DA COSTA, T. P. Comparação entre técnicas coproparasitológicas no diagnóstico de ovos de helmintos e oocistos de protozoários em cães. Revista Brasileira de
Parasitologia Veterinária, v. 15, p. 1-5, 2006. 22-Epi info™, 7.2.2.2. Center for Disease Control and Prevention, Atlanta, GA, 2017. Disponível em: <https://www.cdc.gov/epiinfo/support/por/pt_downloads.html>. 23-PRATES, L. ; PACHECO, L. S. ; KUHL, J. B. ; DIAS, M. L. G. G. ; ARAUJO, S. M. ; PUPULIN, A. R. T. Frequência de parasitos intestinais em cães domiciliados da cidade de Maringá, PR. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 61, p. 1468-1470, 2009. 24-DE FÁTIMA ALVES, O. ; GOMES, A. G. ; DA SILVA, A. C. Ocorrência de enteroparasitos em cães do município de Goiânia, Goiás: comparação de técnicas de diagnóstico. Ciência Animal Brasileira, v. 6, p. 127-133, 2005. 25-BARNABÉ, A. S. ; FERRAZ, R. R. N. ; DE CARVALHO, V. L. ; DE MENEZES, R. G. ; DA SILVA, L. F. C. ; KATAGIRI, S. Prevalência de parasitas intestinais em cães domiciliados na zona oeste da região metropolitana de São Paulo. UNILUS Ensino e Pesquisa, v. 12, p. 28-31, 2015. 26-FARIAS, A. D. N. S. ; DA SILVA, M. ; OLIVEIRA, J. B. S. ; ROCHA, L. B. ; DOS SANTOS, K. R. Diagnóstico de parasitos gastrointestinais em cães do município de Bom Jesus, Piauí. Revista Acadêmica: Ciência Animal, v. 11, p. 431-435, 2013. 27-LALLO, M. A. ; SPADACCI-MORENA, D. D. ; DALL, S. ; COUTINHO, A. Comportamento humano na criação de cães e a prevalência de parasitos intestinais com potencial zoonótico. Revista Acadêmica: Ciência Animal, v. 14, p. 119-128, 2016.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
73
Aspectos clínicos e macroscópicos do emprego da túnica albugínea bovina conservada na cistoplastia em ratos Clinical and macroscopic aspects of bovine tunica albuginea preserved as a graft for cystoplasty in rats Aspectos clínicos y macroscópicos del empleo de la túnica albugínea bovina conservada en la cistoplastia en ratones Fernanda Moreira da Silva1; Viviane Alexandre Nunes Degani2; Maria de Lourdes Gonçalves Ferreira3; Aline Ferreira Rodrigues4; Carla Ferreira Farias Lancetta5; Cecília Ribeiro Castañon6; Natasha Nogueira Ferreira7; Priscila Sardinha de Araújo8 1-Aluna de graduação em medicina veterinária da UFF. 2-Professora associada I da UFF. 3-Professora associada III da UFF. 4Aluna de mestrado do CPGCRA da UFF. 5-Professora associada I da UFF. 6-Aluna de mestrado do CPGCRA da UFF. 7-Aluna de mestrado do CPGCRA da UFF. 8-Aluna de graduação em biomedicina da UFF.
femoreira@id.uff.br
O
objetivo deste trabalho foi avaliar os aspectos clínicos relacionados ao emprego da túnica albugínea bovina conservada em mel na cistoplastia em ratos. Foram selecionados 40 ratos Wistar machos divididos em: um grupo teste (T) em que os animais receberam o enxerto de túnica albugínea bovina após a cistectomia parcial e um grupo simulação (S), em que os animais sofreram somente a cistectomia parcial. Os ratos foram submetidos à eutanásia em 7, 15, 30 e 45 dias de pós-operatório. Um animal de cada grupo, teste e simulação, apresentaram quadro de hematúria, com resolução espontânea. As alterações macroscópicas observadas na necropsia foram: urolitíase e aderência ao peritônio. Concluiu-se que o enxerto de túnica albugínea bovina obteve sucesso na regeneração da bexiga de ratos, mantendo a funcionalidade do órgão, sem rejeição, constituindo-se como uma boa opção de biomaterial nas cirurgias reconstrutivas de bexiga. Unitermos: cistectomia parcial, biomateriais, xenoenxerto
T
he aim of this study was to evaluate the clinical aspects related to the use of bovine tunica albuginea preserved in honey as a graft for cystoplasty in rats. 40 male Wistar rats have been selected and separated into two different groups: a test group (T) in which the animals received a tunica albuginea graft after partial cystectomy and a simulation group (S) in which partial cystectomy was performed, followed by bladder suture. In each group the animals were euthanized at seven, 15, 30 and 45 days after surgery. Two animals presented hematuria, with spontaneous resolution. The macroscopic alterations observed at necropsy were: urolithiasis and adhesion to the peritoneum. It was concluded that bovine tunica albuginea graft was successful in the regeneration of the bladder of rats, maintaining organ function without rejection, constituting a good biomaterial option in reconstructive bladder surgeries. Keywords: partial cystectomy, biomaterials, heterologous graft
E
l objetivo de este trabajo fue evaluar los aspectos clínicos relacionados con el empleo de la túnica albugínea bovina conservada en miel en la cistoplastia en ratones. Se seleccionaron 40 ratones Wistar machos divididos en: un grupo de prueba (T) en el que los animales recibieron el injerto de túnica albugínea bovina después de la cistectomía parcial y un grupo simulación (S), en el que los animales sufrieron solamente la cistectomía parcial. Los ratones fueron sometidos a la eutanasia en 7, 15, 30 y 45 días después del operatorio. Dos animales presentaron cuadro de hematuria, con resolución espontánea. Los cambios macroscópicos observados en la necropsia fueron: urolitiasis y adherencia al peritoneo. Se concluyó que la túnica albugínea bovina tuvo éxito en la regeneración de la vejiga de ratones, manteniendo la funcionalidad del órgano, sin rechazo, constituyéndose como una buena opción de biomaterial. Palabras clave: cistectomía parcial, biomateriales, injerto heterólogo
74
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução Traumatismos, lesões inflamatórias e neoplasias correspondem à parte das possíveis afecções que provocam importantes danos ao sistema urinário e que requerem intervenções cirúrgicas para sua reconstrução1. Alternativas para a reconstrução do aparelho urinário, principalmente relacionadas à reconstrução da bexiga vêm sendo pesquisadas. Para a reconstrução da vesícula urinária é necessário um material que aumente sua complacência e volume, sem causar alterações imunológicas no receptor do enxerto. Pesquisas demonstram que a bexiga apresenta capacidade natural de autorreparação e modelação2. Dentre os biomateriais que vêm sendo utilizados, a túnica albugínea é um tecido com resistência à tração por causa de sua composição tecidual3. Além disso, por possuir algumas características como baixo custo, fácil obtenção, conservação e processamento, vem sendo utilizada como biomaterial em diversos estudos, sendo sua aplicação na urologia descrita com sucesso4-6. O objetivo do presente trabalho é avaliar os aspectos clínicos relacionados ao emprego da túnica albugínea bovina conservada em mel na cistoplastia em ratos, por meio da avaliação clínica pós-operatória e pós-mortem, investigando-se a presença de complicações como: rejeição do xenoenxerto, inflamação, infecção, formação de urólitos e de aderências. Material e métodos A túnica albugínea foi obtida por meio de orquiectomia de um bovino mestiço sadio, de seis meses de idade. A enxertia foi conservada em solução de mel puro, à base de flor de laranjeira, não processado, da região de Minas Gerais durante 60 dias. Foram utilizados 40 ratos Wistar, machos, de quatro meses de idade, após aprovação da Comissão de Ética em uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal Fluminense, com o protocolo de número 852/16. Os animais foram acondicionados em gaiolas, sob temperatura e luminosidade controladas, recebendo água e ração ad libitum, sendo divididos em dois grupos: um teste (T), onde foi feita cistectomia parcial com aplicação da túnica albugínea bovina e um simulação (S), no qual foi feita somente a cistectomia parcial. Cada grupo foi dividido em 4 subgrupos com 5 animais cada, que sofreram eutanásia mediante inalação de sobredose de isoflurano em 7, 15, 30 e 45 dias. A indução anestésica foi realizada com a associação de cetamina (75 mg/kg) e midazolam (10 mg/kg) por via intraperitoneal, seguida por tricotomia ampla da região abdominal e antissepsia do campo operatório. Os ratos foram colocados em decúbito dorsal e submetidos à laparotomia longitudinal mediana retro-umbilical.
Após exposição da bexiga, o órgão foi esvaziado por cistocentese (Figura 1) e colocaram-se dois pontos de reparo seromusculares para direcionar a retirada do fragmento vesical (1/3 da sua superfície). No grupo T, foi empregada a túnica albugínea conservada em mel após cistectomia parcial. No grupo S, a diferença foi a não aplicação do enxerto. Nos dois grupos foi respeitado o mesmo tempo cirúrgico médio de 8 minutos. O xenoenxerto foi fixado à bexiga através de sutura contínua simples (Figura 2), em plano único, transpassando todas as camadas do órgão, com fio de Poliglactina 910 5-0 e foi realizado o teste de repleção vesical com solução fisiológica estéril a 0,9% para verificar possíveis pontos de extravasamento. Em seguida realizou-se a omentalização no local do enxerto e a laparorrafia foi realizada com fio inabsorvível monofilamentar 3-0, em padrão interrompido, bem como da pele.
Figura 1 – Esvaziamento da bexiga por meio da cistocentese
Figura 2 – Fixação do enxerto à bexiga por sutura contínua simples
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
75
No pós-operatório, os ratos foram acondicionados em caixas isoladas e avaliaram-se aspectos clínicos como: estado geral, apetite, grau de atividade, aspecto da ferida cirúrgica e características da urina. A terapia pós-operatória incluiu aplicação de clorexidina spray na ferida cirúrgica, enrofloxacino (5 mg/kg), cetoprofeno (10 mg/kg) e dipirona sódica (100 mg/kg), a cada 24 horas, por via subcutânea, durante sete dias. Resultados e discussão Nenhum animal apresentou alterações na ferida cirúrgica, apresentando comportamento normal, sem sensibilidade local, hipertermia, deiscência de sutura ou quaisquer sinais de infecção ou rejeição ao enxerto, em concordância com um experimento, no qual coelhos foram submetidos ao alotransplante parcial de vesícula urinária e não apresentaram complicações pós-cirúrgicas7. Estes achados, possivelmente, estão relacionados à realização de técnica cirúrgica adequada e a capacidade regeneradora do enxerto de túnica albugínea, que se consolidou junto ao órgão enxertado, sem promover alterações clínicas significativas. Nos grupos teste e controle, um a animal de cada grupo apresentou quadro de hematúria dentro dos três primeiros dias de pós-operatório, com resolução espontânea nos dias subsequentes8. As análises microbiológicas da túnica albugínea conservadas em mel, não apresentaram crescimento bacteriano e fúngico, estando as amostras livres de contaminação. A ausência de contaminação das amostras devese às características físico-químicas do mel e às suas propriedades fitoterápicas9,10. Na necropsia foram avaliados sinais de inflamação intra-abdominal e reações como deiscência de sutura, presença de líquido livre e aderências. A bexiga foi analisada quanto à repleção e presença de lesões e, por meio da cistocentese, coloração e aspecto da urina. Além disso, internamente, investigou-se presença de lesões na mucosa, muco, coágulos ou cálculos. As alterações macroscópicas observadas na necropsia foram: urolitíase e aderência ao peritônio (Figura 3). A urolitíase foi observada em 40% dos animais pertencentes ao grupo S e em 12 dos 20 animais (60%) do grupo T. Nesse contexto, existem estudos que atribuem formação de urólitos à utilização de fios de sutura. Apesar do tempo de contato do fio de sutura com a urina ser o principal fator implicado na formação de cálculos vesicais, a reação tecidual na mucosa e o tipo de fio de sutura utilizado também estão envolvidos na formação das litíases. Os autores observaram diferentes graus de reação inflamatória, reação do tipo corpo estranho e formação de urólitos, quando compararam o uso de poliglactina 910, o catgut cromado e a polidioxanona na 76
Figura 3 – Aspecto macroscópico da bexiga de um rato Wistar, macho, do grupo teste 30 dias. Presença de cálculo e aderência ao peritônio
cistoplastia em ratos. O único grupo onde não foi observada formação de litíases foi o grupo polidioxanona. Este achado é compatível com o presente estudo, uma vez que o fio de sutura utilizado foi a poliglactina 910. Além disso, sugere que a presença do enxerto de túnica albugínea bovina, na bexiga, aparentemente não é o maior fator determinante na ocorrência das urolitíases11. No presente trabalho foram observadas aderências7,12. Apesar de ter sido realizada omentalização da bexiga durante o procedimento cirúrgico, esta técnica não evitou o surgimento das aderências aos demais tecidos. Ela foi observada em todos os animais pertencentes ao grupo sete dias. As alterações clínicas observadas nos animais aparentemente não prejudicou a incorporação do enxerto à bexiga. Desta forma, este trabalho encoraja a realização de outros estudos para que a túnica albugínea bovina seja incluída na rotina das cirurgias para aumento vesical. Conclusão Conclui-se que o enxerto de túnica albugínea bovina obteve sucesso na reparação da bexiga de ratos, mantendo a funcionalidade do órgão, sem rejeição, constituindo-se como uma boa opção de biomaterial nas cirurgias reconstrutivas de bexiga.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Referências 01-GRECA, F. H. ; BIONDO-SIMÕES, M. L. P. ; SANTOS, E. A. A. ; ZANELATTO-GONÇALVES, P. C. ; CHIN, E. W. K. ; IOSHII, S. O. Retalho de submucosa de intestino delgado autólogo para aumento da capacidade vesical da bexiga: estudo experimental em cães. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Rio de Janeiro, v. 29, n. 5, p. 294-299, 2002. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912002000500009>. Acesso em: 5 de setembro de 2017. 02-GRECA, F. H. ; SOUZA-FILHO, Z. A. ; SILVA, A. P. G. ; LEONEL, I. S. ; SCCOL, A. T. ; FERES, A. N. ; LONGHI, P. Utilização da submucosa de intestino delgado porcino como retalho para aumento da capacidade vesical em cães. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 19, n. 6, p. 670-676, 2004. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-86502004000600015>. Acesso em: 5 de setembro de 2017. 03-QUEIROZ, F. F. ; CORDEIRO, G. C. ; RODRIGUES, A. B. F. ; SILVEIRA, L. S. Ensaio biomecânico da túnica albugínea bovina conservada em glicerina 98% para utilização como membrana biológica. Ciência Rural, Santa Maria, v. 42, n. 3, p. 501-506, 2012. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S010384782012000300019> Acesso em: 5 de setembro de 2017. 04-GADJA, M. ; TYLOCH, J. ; TYLOCH, F. ; HASSE, P. ; SUJKOWSKA, R. ; DOMANIEWSKI, J. Morphologic changes in the canine urinary tract after ureteral reconstruction with the tunica albugínea. International Urology and Nephrology, v. 38, p. 215-224, 2006. Disponível em: <https://doi.org/10.1007/s11255006-6677-0>. Acesso em: 5 de setembro de 2017. 05-MATHUR, R. K. ; SHARMA, A. Tunica albuginea urethroplasty for panurethral strictures. Urology Journal, v. 7, n. 2, p. 120124, 2010. Disponível em: <http://www.urologyjournal.org/index.php/uj/article/view/679/4 71>. Acesso em: 5 de setembro de 2017. 06-OLIVEIRA, L. L. ; BARATA, J. S. ; SILVA, A. V. P. ; CARVALHO, E. C. Q. ; NUNES, L. C. ; ABÍLIO, E. J. Avaliação histológica da túnica albugínea bovina como biomaterial conservada em glicerina a 98% e em glutaraldeído a 0,625%. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, Rio de Janeiro, v. 37, n. 4, p. 309-315, 2015. Disponível em: <http://www.rbmv.com.br/index.php?link=verart&tipo=ID&ca mpo1=972> . Acesso em: 5 de setembro de 2017. 07-PINTO FILHO, S. T. L. ; OLIVEIRA, M. T. ; ARAMBURÚ
JUNIOR, J. S. ; GLANZNER, W. G. ; SILVA, T. O. ; FERANTI, J. P. S. ; GONÇALVES, P. B. D. ; CRUZ, I. B. M. ; BRUN, M. V. ; PIPPI, N. L. Avaliações clínica, ecográfica e anatomofisiológica do alotransplante parcial de vesícula urinária com célulastronco mesenquimais alogênicas derivadas do tecido adiposo em coelhos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 67, n. 5, p. 1304-1312, 2015. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1678-4162-8148>. Acesso em: 9 de setembro de 2017. 08-ROSSETTO, V. J. V. ; MOTA, L. S. L. S. ; ROCHA, N. S. ; MIOT, H. A. ; GRANDI, F. ; BRANDÃO, C. V. S. Grafts of Porcine small intestinal submucosa seeded with cultured homologous smooth muscle cells for bladder repair in dogs. Acta Veterinaria Scandinavica, v. 55, n. 1, p. 1-6, 2013. Disponível em: <http://doi.org/10.1186/1751-0147-55-39>. Acesso em: 9 de setembro de 2017. 09-SUBRAHMANYAM, M. Storage of skin grafts in honey. The Lancet, v. 341, n. 8836, p. 63-64, 1993. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/0140-6736(93)92547-7>. Acesso em: 9 de setembro de 2017. 10-SRISAYAM, M. ; CHANTAWANNAKUL, P. Antimicrobial and antioxidant properties of honeys produced by Apis mellifera in Thailand. Journal of ApiProduct and ApiMedical Science, v. 2, n. 2, p. 77-83, 2010. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/250278974_Antimicrobial_and_antioxidant_p roperties_of_honeys_produced_by_Apis_mellifera_in_Thailand >. Acesso em: 9 de setembro de 2017. 11-KOSAN, M. ; GONULALAN, U. ; OZTURK, B. ; KULACOGLU, S. ; ERGUDER, I. ; AKDEMIR, O. ; CETINKAYA, M. Tissue reactions of suture materials (polyglactine 910, chromed catgut and polydioxanone) on rat bladder wall and their role in bladder stone formation. Urological Research, v. 36, n. 1, p. 4349, 2008. Disponível em: <10.1007/s00240-007-0124-2>. Acesso em: 9 de setembro de 2017. 12 OLIVEIRA, T. C. ; SCAVONE, A. R. F. ; MACHADO, M. R. F. ; MAZUCATTO, B. C. Cistoplastia experimental em coelhos (Oryctolagus cuniculus) com peritônio bovino conservado em glicerol 98%. Ciência Rural, Santa Maria, v. 38, n. 8, p. 22182224, 2008. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S010384782008000800020>. Acesso em: 9 de setembro de 2017.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
77
Miosite crônica dos músculos mastigatórios em cão de pequeno porte – relato de caso Chronic myositis of masticatory muscles in small dogs – case report Miosite cronica de los musculos mastigatorios – relato de caso Margareth Balbi1; Ana Carla Paradas2; Luis Gustavo Picorelli de Oliveira3; Nathaly Paiva Ituassu4 1-Profa da Universidade Estácio de Sá. 2-Aluna de graduação em medicina veterinária da Universidade Estácio de Sá. 3-Prof. da Universidade Estácio de Sá. 4-MV.
mgbalbi@yahoo.com.br
A
miosite dos músculos mastigatórios (MMM) é uma doença inflamatória que acomete os músculos responsáveis pela mastigação. Cães de grande porte e jovens parecem ser os mais acometidos. A MMM apresenta-se de duas formas: aguda e crônica. Esta tem como sinais clínicos principais, atrofia dos músculos da face e trismo mandibular. Seu diagnóstico é confirmado pela histopatologia. O tratamento é a base de drogas imunossupressoras. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso clinico de uma cadela, SRD de pequeno porte (6 kg) apresentando a forma crônica da MMM com boa resposta terapêutica. O diagnóstico foi dado através da histopatologia onde indicava a substituição do músculo por tecido conjuntivo fibroso e por fibras de colágeno, também foram encontrados infiltrados de linfócitos e plasmócitos. O tratamento foi a base de prednisona, durante 4 meses. O resultado obtido foi rápido e satisfatório. Unitermos: cão, atrofia, trismo mandibular, MMM
M
asticatory muscle myositis (MMM) is an inflammatory disease that affects the muscles responsible for chewing. Large and young dogs seem to be the most affected. MMM is presented in two forms: acute and chronic. This has as main clinical signs, facial muscle atrophy and mandibular trismus. His diagnosis is confirmed by histopathology. Treatment is the basis of immunosuppressive drugs. The objective of this study was to report a clinical case of a small mongrel bitch (6 kg) presenting the chronic form of MMM with good therapeutic response. The diagnosis was given through the histopathology where it indicated the replacement of the muscle by fibrous connective tissue and collagen fibers. Also, infiltrates of lymphocytes and plasma cells were found. Treatment was based on prednisone for 4 months. The result was fast and satisfactory. Keywords: dog, atrophy, mandibular trismus, MMM
L
a miositis muscular masticatoria (MMM) es una enfermedad inflamatoria que afecta los músculos responsables de la masticación. Los perros grandes y jóvenes parecen ser los más afectados. MMM se presenta en dos formas: agudo y crónico. Esto tiene como principales signos clínicos, atrofia muscular facial y trismo mandibular. Su diagnóstico es confirmado por la histopatología. El tratamiento es la base de los medicamentos inmunosupresores. El objetivo de este estudio fue informar un caso clínico de una pequeña perra mestiza (6 kg) que presenta la forma crónica de MMM con buena respuesta terapéutica. El diagnóstico se realizó a través de la histopatología donde indicaba la sustitución del músculo por tejido conectivo fibroso y fibras de colágeno. Además, se encontraron infiltrados de linfocitos y células plasmáticas. El tratamiento se basó en prednisona durante 4 meses. El resultado fue rápido y satisfactorio. Palabras clave: perro, atrofia, trismo mandibular, MMM
78
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução A miosite dos músculos mastigatórios (MMM) é uma doença inflamatória que acomete os músculos responsáveis pela mastigação como masseter, temporal e pterigoide1,2. É um distúrbio neuromuscular imunomediado adquirido que se caracteriza pela produção de anticorpo humoral (linfócito B mediado) contra miofibras do tipo 2M3,4. Essas miofibras diferem histoquimicamente e bioquimicamente das outras fibras musculares do corpo5,6, estando presente somente nos músculos da mastigação, sendo este, o motivo que possivelmente limita a doença a estes músculos7,8. A MMM é uma doença comum em cães e não há relato em felinos9. Apesar de comum, ainda é pouco relatada no Brasil4,7. Pode acometer qualquer raça, entretanto, cães de raças de grande porte como rottweileres, samoiedas, dobermans, retrievers e pastores alemães, parecem ser mais acometidos10. Não há predileção por sexo e idade3,11,12, porém, cães jovens são acometidos mais frequentemente2,7,12. É uma doença de etiologia desconhecida10. Porém, alguns fatores de risco parecem estar relacionados, como antecedentes genéticos13, possíveis infecções bacterianas5,13,14 ou viróticas previas5,13. A MMM apresenta-se de duas formas: forma aguda também conhecida como miosite eosinofilica e a forma crônica também conhecida como miosite atrófica14. A forma aguda ou miosite eosinofilica caracteriza-se por apresentar edema dos músculos mastigatórios, dor à manipulação na face, disfagia, sialorreia e linfadenopatia submandibular e pré-escapular1, podendo ocasionalmente ocorrer exoftalmia10,12. Já a forma crônica ou miosite atrófica caracteriza-se por atrofia progressiva bilateral e simétrica dos músculos masseter, temporal e pterigoides2,3. O achado clinico mais importante da MMM, independente da forma, é a impossibilidade de abertura da mandíbula, mesmo o animal estando em plano anestésico profundo1,2. O diagnóstico de MMM baseia-se na anamnese e sinais clínicos, sendo confirmado pela histopatologia dos músculos mastigatórios7,9. Exames laboratoriais podem ser pedidos, auxiliando no diagnostico, como a mensuração de creatinoquinase (CK) por exemplo15. Durante a anamnese o proprietário pode relatar que o animal está impossibilitado de abrir a boca e sente dor à manipulação da face, apresentando dificuldade em apreender alimentos e se alimentar de forma geral, dificuldade em beber água, em latir e morder, podendo ou não apresentar sialorreia1. O relato que o animal está ficando com a aparência da cabeça esqueletiforme pode estar presente10. De acordo com alguns relatos1,7 os exames laboratoriais geralmente revelam anemia moderada, neutrofilia
e ocasionalmente eosinofilia. A concentração no sangue de CK, AST e de globulinas podem estar aumentadas9. Proteinúria também pode ser considerado como um achado na MMM aguda9. A ocorrência de hiperglicemia nos pacientes com MMM pode ser considerada2. A creatinoquinase (CK) é uma enzima bastante utilizada para determinação de doenças neuromusculares em animais domésticos e, é considerada como indicador sensível e especifico de lesão muscular, sendo então usado como um exame auxiliar no diagnóstico da MMM16. Nos casos agudos, a histopatologia vai revelar necrose muscular, infiltrado perivascular de células inflamatórias7, principalmente linfócitos e plasmócitos e regeneração muscular17. A fase crônica caracteriza-se por severa atrofia, desaparecimento de fibras musculares, infiltrado multifocal de células inflamatórias e deposição de colágeno na musculatura7. Há também formação de fibrose, que é um indicador prognóstico importante, por ser uma alteração irreversível17. A eletromiografia e as análises histoquímica e imunocitoquímica, sempre que possível, devem ser pedidas15. Radiografias da face podem ser solicitadas para exclusão de lesões ósseas na articulação temporomandibular13. A terapia instituída é a base de doses imunossupressoras de glicocorticoides1,12. Sendo a prednisona a medicação indicada, na dose de 1 a 2 mg/kg, via oral, a cada 12 ou 24 horas10. Quando alcançada a melhora clínica, faz-se a remissão da dose até que a menor dose da droga fique sendo administrada em dias alternados, por um período de pelo menos seis meses10. A literatura indica que a terapia seja feita por três semanas na dose de 2 mg/kg a cada 12horas, com redução da dose pra 1 mg/kg a cada 24horas e então vir sendo reduzida gradativamente em quatro a seis meses até 0,5 mg/kg, em dias alternados9. Quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhor o prognóstico, tendo em vista que casos na fase aguda tem uma melhor resposta a corticoterapia6,7. Um único curso de corticosteroides pode ser curativo, porém, alguns casos exigem que a terapia seja prolongada17. A dosagem errada ou o tempo insuficiente de tratamento estão associados com uma alta taxa de recorrência2. Cães que não tem uma resposta adequada a corticoterapia ou os que apresentam recidivas, podem se beneficiar do uso de outras drogas imunossupressoras como a azatioprina, na dose de 2 mg/kg, a cada 24 ou 48hrs, VO2,10. Segundo a bibliografia o prognostico da MMM é favorável15. Podendo tornar-se desfavorável ou reservado quando na fase aguda a doença não é detectada, evoluindo para a fase crônica, sendo diagnosticada muito tardiamente2,12,18.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
79
Relato de caso e discussão: Uma cadela inteira, SRD, de pelagem preta e caramelo, com um ano de idade de porte pequeno, pesando aproximadamente 6 kg, chegou à clínica veterinária. A proprietária relatou que o animal não estava conseguindo abrir a boca, se alimentar com alimentos mais sólidos ou latir normalmente há aproximadamente três semanas e que estava ficando com a "face esquelética”. Alguns relatos1,3,10 descrevem essa sintomatologia como característica de MMM, coincidindo então com os sinais clínicos aqui citados. O quadro clínico evoluiu gradativamente, onde inicialmente a atrofia muscular na face não foi muito pronunciada, e o que veio a chamar atenção foi a impossibilidade da cadela abrir a boca, o que é um indicativo bem importante e característico da MMM1,2. Apesar da dificuldade em apreender o alimento, proprietária não relatou ter ocorrido perda de peso aparente. As raças de grande porte são assinaladas como as mais acometidas1,7,10,15, porém o relato difere, pois o paciente é uma SRD, de porte pequeno, pesando aproximadamente 6kg. Ao exame físico, a cadela apresentava elevada atrofia dos músculos masseter e temporal (Figura 1), trismo mandibular (Figura 2) e ausência de dor. Tais achados no exame físico são compatíveis com a forma crônica da doença descrita na literatura9. Em função do trismo mandibular presente, não foi possível a abertura da boca para inspeção da cavidade oral, o que acontece comumente em quadros de MMM3,10. Porém, apresentava-se hidratada, temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória, coloração de mucosas e linfonodos sem alterações dignas de nota. Diante das alterações detectadas no exame físico e da suspeita de MMM, solicitou-se a realização de biopsia dos músculos masseter e temporal para exame histopatológico, por ser este, o exame padrão ouro para o
diagnóstico de MMM1,2,9. Para realização da biopsia a cadela foi submetida a anestesia geral, onde foi usada a atropinac como medicação pré-anestésica, cetaminad e midazolane na indução, sendo mantida durante o procedimento na máscara inalando gás com isofluranof, pois não foi possível entubar pelo trismo, o que corrobora com relatos anteriores1,2, que diz que, mesmo em plano anestésico profundo, na MMM torna-se impossível a abertura da boca. A coleta do material foi feita através de biopsia incisional do lado esquerdo, sendo coletados dois fragmentos, um músculo masseter e outro temporal. Tais fragmentos foram imersos em solução de formalina histológica a 10% e encaminhados para exame histopatológico. Na histopatologia foi identificada substituição do músculo temporal por tecido conjuntivo fibroso, levando a uma intensa fibrose (Figura 3). No músculo masseter ocorreu substituição do músculo estriado esquelético por fibras de colágeno (Figura 4). Também foram encontrados nas fibras musculares infiltrados periféricos de linfócitos e plasmócitos (Figura 5), caracterizando-se como miosite linfoplasmocitária. O resultado da histopatologia deste caso corrobora com os descritos anteriormente7,17, onde é relatado atrofia, desaparecimento de fibras musculares, infiltrado de células inflamatórias, deposição de colágeno e formação de fibrose. Além da sintomatologia, a histopatologia também comprova que o animal do presente caso se enquadra na forma crônica da doença. Como avaliação laboratorial foi realizada: hemograma e bioquímica para alanina aminotransferase - AST, ureia, creatinina, proteína total, albumina, globulina, glicose e fosfatase alcalina. Os exames revelaram eritrograma, leucograma, plaquetometria e proteínas plasmáticas normais. Na bioquímica, a ureia, a glicose e a globulina estavam abaixo dos valores de referência e a albumina levemente aumentada. O resultado aqui obtido vai em contra a alguns relatos1,7,9, onde o animal apresenta anemia, neutrofilia e eosinofilia, assim como, AST, globulinas e glicose possivelmente aumentadas. A terapia estabelecida foi prednisona em dose imunossupressora de 2 mg/kg/a cada 24 horas, via oral, por 30 dias. Após esse tempo, foi feita remissão da dose para 1 mg/kg/a cada 24horas, por mais 30 dias. Posteriormente, a dose foi diminuída para 0,5 mg/kg/a cada 24horas, por 30 dias. Após esses 30 dias, 0,5 mg/kg/a cada 48 horas, totalizando 4 meses de tratamento. Algumas literaturas relatam até seis meses de tratamento para se ter um bom resultaFiguras 1 e 2 – cadela, SRD, peso 6 kg apresentando atrofia dos 10 músculos masseter e temporal (1). Fotografia evidenciando o trismo do e o uso de prednisona a cada 12 horas8,12. No presente relato, a prednisona mandibular presente mesmo em plano anestésico cirúrgico (2) 80
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Figuras 3, 4 e 5 – Micrografia histológica, corada em HE, no aumento 4x do musculo temporal (3). Onde na região central (de cor mais escura) encontra-se o musculo e, ao redor (de cor mais clara) uma intensa fibrose.; Micrografia histológica, corada em HE, no aumento de 10x do musculo masseter (4). Onde o que se vê é o músculo (em rosa mais escuro) sendo substituído por fibras de colágeno (em rosa mais claro). Micrografia histológica (5), corada em HE. Obj 40x. Onde se observa fibras musculares com infiltrados periféricos constituído por linfócitos e plasmócitos
foi feita a cada 24 horas e o tempo total de corticoterapia foi de 4 meses, obtendo mesmo assim, resultado positivo. O uso de omeprazol associado a prednisona como referem alguns autores1,7,12,18 não foi necessário. Durante todo o tratamento, a cadela se manteve normoativa, apresentando um leve aumento de peso. Já na primeira semana de tratamento, houve benefícios no quadro clinico, onde a cadela já conseguia abrir a boca parcialmente. Ao final do tratamento, houve total recuperação na abertura da boca e apreensão de alimentos sólidos, não houve melhora na atrofia da musculatura da face. Vários relatos3,10 afirmam que quando detectada tardiamente, o animal com MMM pode não recuperar a habilidade adequada da mandíbula. Alguns escritos12,18 citam que, em alguns casos, quando os animais são atendidos apresentando a forma crônica, o prognostico é desfavorável ou reservado. Achados de literatura4,6,7 descrevem que casos na fase aguda respondem melhor a corticoterapia. E considerando a evolução do quadro da cadela do presente relato, nota-se que mesmo a miosite sendo detectada em sua forma crônica, houve uma resposta positiva a corticoterapia com uma rápida recuperação da função da mandíbula, permanecendo apenas a aparência esqueletiforme da face, que se justifica pela severa atrofia já estabelecida nos músculos. Após um ano do termino do tratamento a cadela não apresentou recidiva dos sinais da MMM, persistindo somente a atrofia dos músculos da face, masseter e temporal. Conclusões A MMM pode acometer cães, independente de raça ou porte. Deve estar na lista de diagnóstico diferencial sempre que houver perda da função mandibular incapacitando a abertura da boca associada a atrofia de
músculos da face como masseter, temporal e pterigoide. Quanto mais cedo a MMM for detectada, melhor o prognóstico no que diz respeito a atrofia dos músculos da face, entretanto, com relação ao tratamento, mesmo que na forma crônica, é possível obter sucesso com a corticoterapia. Referências 01-ARAUJO, E. K. D. ; HONORIO, T. G. A. F. ; LIMA, L. T. R. ; SILVA, M. G. ; SANTANA, M. V. ; RODRIGUES, K. F. ; COSTA, S. D. P. Miosite dos músculos mastigatórios em canino doméstico sem raça definida: relato de caso. PUBVET, v. 11 n. 2 p. 138-142. 2017. 02-MELMED, C. ; SHELTON, G. D. ; BERGMAN, R. ; BARTON, C. Masticatory muscle myositis: pathogenesis, diagnosis, and treatment. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian. TEXAS, EUA. v. 26. p. 590-604. 2004. 03-LEMOS, M. G. ; CARTANA, C. B. ; GUIM, T. N. ; BERGMANN, L. K. ; MUELLER, E.N. ; WILHELM, G. ; PEREIRA, I. C. ; GUIM, T. N. ; NOBRE, M. O. Miosite mastigatória - relato de um caso. In: Anais. XVI Congresso de Iniciação Científica CIC. 2007. Pelotas, RS. Disponível em: <https://goo.gl/ZHTVxA >. Acesso em 4 de agosto de 2017. 04-COSTA, P. R. S. ; CONCEIÇÃO, L. G. ; PARZANINI, G. R. Miosite mastigatória em cão: relato de caso. Clínica Veterinária, n. 56. p. 42-46. 2005. 05-PUMAROLA, M. ; MOORE, P. F. ; SHELTON, G. D. Canine inflammatory myopathy: analysis of cellular infiltrates. Muscle & Nerve, v. 29, p. 782-789, 2004. 06-SHELTON, G. D. Disturbios musculares e de junção neuromuscular. In: BIRCHARD, S. J; SHERDING, R. G. Manual Saunders clínica de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Editora Roca. 2008. p.1430-1436. 07-PERES, T. P. S. ; NEVES, R. C. S. M. ; NASCIMENTO, W. C. ; GONÇALVEZ, G. S. ; COLODEL, E. M. ; SOUZA, V. R. F. Miosite dos músculos mastigatórios em cão da raça shar-pei: relato de caso. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, v. 19
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
81
n. 2, p. 71-73, 2012. 08-MACÊDO, L. B. ; PIMENTEL, L. L. M. ; OLIVEIRA, I. V. P. M. ; FILGUEIRA, K. D. Miosite mastigatória crônica na espécie canina. Anais. 35º Congresso Brasileiro da Anclivepa – CBA. 2014. Disponível em: https://goo.gl/e17jGn Acessado em 8 de agosto de 2017. 09-TAYLOR, S. M. Distúrbios musculares. In: NELSON, R. W. ; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora. 2015. p. 1027-1033. 10-RONDON, E. S. ; DUTRA, T. R. ; FERREIRA, S. M. ; PINTO, L. G. Miosite dos músculos mastigatórios em rottweiler – relato de caso. PUBVET, v. 5 n. 22, p. 1136 -1142, 2011.
13-TILLEY, L. P. ; SMITH JR, F. W. Q. Consulta Veterinária em 5 minutos – espécies canina e felina. 5. ed. São Paulo: Editora Manole. 2015. 1560p. 14-KORNEGAY, J. N. Distúrbios dos músculos esqueléticos. In: ETTINGER, S. J; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 2004. v.1. p.1026-1037. 15-SILVEIRA, L. L. ; FREITAS, M. V. ; SILVEIRA, F. ; CARVALHO, C. B. Miosite dos músculos da mastigação em cão: relato de Caso. Jornal Brasileiro de Ciência Animal,v. 2, n. 3, p. 1-2, 2009. 16-LOPES, S. T. A. ; FRANCISCATO, C. ; TEIXEIRA, L. V.; OLIVEIRA, T. G. M. ; GARMATZ, B. C. ; VEIGA, A. P. N. ; MAZZANTI, A. Determinação da creatina quinase em cães. Revista da FZVA, v. 12 n. 1, p. 116-122 2005.
11-MAKINO, H. ; DIOGO, J. E. ; ALVES, A. C. ; PERES, T. P. S. ; ALMEIDA, A. B. P. F. ; SOUSA, V. R. F. Miosite dos músculos mastigatórios em cão – relato de caso. Anais. 35º Congresso Brasileiro da Anclivepa – CBA. 2014. Disponível em: https://goo.gl/YH4Hht Acesso em 9 de agosto de 2017.
17-ZACHARY, J. F. ; MCGAVIN, M. D. Bases da patologia em veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier editora, 2013.1344p.
12-MENEZES, L. C. ; RODRIGUES, I. R. ; ALBUQUERQUE, A. H. ; SANTOS, E. M. S. ; FILHO, A. C. M. Tratamento imunossupressor para Miosite dos músculos mastigatórios em fase aguda em canino: relato de caso. PUBVET, v.11 n. 9 p. 923-927. 2017.
18-GOMES, S. C. ; SIQUEIRA, E. G. M. ; PALUMBO, M. I. P. ; QUITZAN, J. G. ; MACHADO, L. H. A. Miosite muscular mastigatória atrófica em um cão sem raça definida. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 11 n. 2, p. 76, 2013.
82
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Farmacodermia associada ao uso do imipenem em um felino doméstico – relato de caso Pharmacodermia associated with the use of imipenem in a domestic cat – case report Farmacodermia asociada con el uso de imipenem en un gato doméstico – relato de caso Ana Carolina Azevedo Meirelles1; Mariana Palha de Brito Jardim2; Daniela Velzi de Souza3; Heloisa Justen Moreira de Souza4 1-Aluna de graduação em medicina veterinária da UFF. 2-MV, aluna de mestrado da UFRRJ. 3-MV. 4-MV, dra., profa associada do DMCV/IV da UFRRJ.
anacarolinameirelles@id.uff.br
A
s reações tóxicas ocasionadas por drogas são classificadas como dependentes da dose ou idiossincrasias. Objetiva-se com este trabalho relatar um caso de farmacodermia associada ao uso do imipenem em um felino doméstico, destacando as manifestações clínicas bem como o tratamento empregado, visando assim ampliar informações acerca das reações idiossincráticas no âmbito da medicina felina. Foi levado para atendimento um gato com histórico de hiporexia e adipsia, o paciente foi internado e verificou-se grave infecção, desta forma foi instituída terapia fazendo-se uso do imipenem, o qual foi associado à ocorrência de lesões necróticas desencadeadas no animal. A farmacodermia associada ao uso do imipenem ocorre em felinos, atrelando-se a manifestações graves e potencialmente fatais. Unitermos: gatos, toxicidade, idiossincrasias, carbapenêmicos
T
oxic reactions caused by drugs are classified as dose dependent or idiosyncratic. The objective of this work was to report a case of pharmacodermia associated to the use of imipenem in a domestic feline, highlighting the clinical manifestations as well as the treatment used, in order to expand information about the idiosyncratic reactions in the field of feline medicine. A cat with a history of hyporexia and adipsia was taken to the hospital, the patient was hospitalized and a serious infection was verified. In this way a therapy was instituted using imipenem, which was associated with the occurrence of necrotic lesions triggered in the animal. The pharmacodermia associated with the use of imipenem occurs in felines, attaching to serious and potentially fatal manifestations. Keywords: cats, toxicity, idiosyncrasies, carbapenems
L
as reacciones tóxicas causadas por fármacos se clasifican como dosis dependientes o idiosincrásicas. El objetivo de este trabajo fue relatar un caso de farmacodermia asociado al uso de imipenem en un felino doméstico, destacando las manifestaciones clínicas así como el tratamiento utilizado, con el fin de ampliar la información sobre las reacciones idiosincrásicas en el campo de la medicina felina. Un gato con una historia de hiporexia y adipsia fue llevado al hospital, el paciente fue hospitalizado y una infección grave se verificó. De esta manera se instituyó una terapia con imipenem, que se asoció con la aparición de lesiones necróticas desencadenadas en el animal. La farmacodermia asociada con el uso de imipenem ocurre en felinos, asociándose a manifestaciones graves y potencialmente fatales. Palabras clave: gatos, toxicidad, idiosincrasias, carbapenems
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
83
Introdução As toxicidades ocasionadas por drogas podem ser categorizadas geralmente como dependentes de dose ou idiossincráticas. As idiossincrasias ocorrem apenas em uma pequena proporção de pacientes através do emprego de dosagens terapêuticas, sendo assim mais difícil prever o acontecimento destas ¹. O imipenem é um antibiótico beta-lactâmico da classe dos carbapenêmicos com um amplo espectro de atividade, que inclui a maioria das bactérias patogênicas. Este antimicrobiano é altamente ativo contra bactérias gram-positivas e gram-negativas aeróbias e anaeróbicas ². Em cães e gatos o imipenem é frequentemente empregado em infecções causadas por bactérias resistentes e também em casos de infecções graves 3-6. Muito embora a maioria das reações adversas a drogas se resolvam após a descontinuação do medicamento causador da injúria tóxica, em alguns casos estas idiossincrasias podem ser bastante graves e até mesmo culminar com o óbito¹. Pouco se conhece sobre a patogênese de reações de hipersensibilidade a drogas em medicina veterinária, limitando as opções de diagnóstico e tratamento, fazendo-se necessária a publicação de estudos e informações a cerca destas idiossincrasias 7. Objetiva-se com este trabalho relatar um caso de farmacodermia associada ao uso do imipenem em um felino doméstico, destacando as manifestações clínicas bem como o tratamento empregado, visando assim ampliar informações acerca das reações idiossincráticas no âmbito da medicina felina. Relato de caso Foi levado para atendimento em uma clínica veterinária exclusiva para atendimento de felinos domésticos, localizada na cidade do Rio de Janeiro, um gato, macho, sem raça definida, de um ano de idade. A queixa principal da tutora tangia a hiporexia e adpsia apresentadas pelo paciente há três dias, sendo ainda evidenciada a presença de lesões existentes no ânus do gato. No exame físico não foram notadas alterações relevantes, porém mediante as manifestações clínicas apresentadas pelo felino foi requerida a internação do animal. No primeiro exame hematológico realizado mediante a admissão do paciente em regime de internação foi obsevada policitemia relativa, desvio nuclear neutrofílico à esquerda (DNNE) degenerativo leve e linfocitopenia absoluta, quanto às bioquímicas séricas verificou-se discreta lesão hepática, hipoalbuminemia e hiperbilirrubinemia. O animal foi considerado negativo para o vírus da imunodeficiência felina e leucemia felina. Na avaliação ultrassonográfica foram visualizadas alterações sugestivas de pancreatite e colite severa. 84
Com base nos exames requeridos, preconizou-se o tratamento do felino com enrofloxacina a, cloridrato de tramadol b, sulfadiazina de prata creme c no ânus e colagenase pomada d também em região anal. No entanto mediante resultado do hemograma subsequente onde foi verificado DNNE moderado, presença de monócitos ativados e hipoproteinemia instituiu-se a terapia com outro antimicrobiano, fazendo-se então uso do imipenem e na dose de cinco mg/kg por via intravenosa, a cada 24 horas, onde fora relatado melhora do quadro infeccioso em avaliação hematológica um dia após administração do fármaco. Após dois dias de utilização do imipenem notou-se edemaciação, dor, calor e rubor no membro posterior direito e cauda do animal, desta forma realizou-se a tricotomia para melhor visualização e avaliação dos locais de afecção, assim foram verificadas extensas áreas de necrose em ambos os membros posteriores, cauda, bolsa escrotal e em região perianal do gato como pode ser visualizado na figura 1, associando-se tais alterações a utilização do imipenem. Mediante a suspeita de farmacodermia associada ao uso do imipenem suspendeu-se a utilização de tal antibiótico e manteve-se a administração de enrofloxacinaa e aplicação de sulfadiazina de prata creme c e colagenase pomada d nas lesões. Após quatro dias da constatação do quadro de farmacodermia o animal foi liberado da clínica com melhora do quadro infeccioso, mediante exames sanguíneos e discreta melhora das lesões dérmicas. Foi prescrita a aplicação de sulfadiazina de prata creme c e colagenase pomada d sobre as lesões, após limpeza prévia com soro fisiológico f, a cada 12 horas, até novas recomendações e instruiu-se o retorno frequente a clínica para consultas de reavaliação. O felino retornou oito vezes à clínica ao longo de três meses para avaliação da necrose dérmica, tais lesões se mantiveram apenas na cauda do animal, deste modo durante as consultas de revisão foi prescrito o uso de Fibrinase pomada® f sobre a lesão, a cada 12 horas e posteriormente de Dersani® h a ser aplicado no local de necrose, a cada 12 horas. Na oitava reavaliação do paciente realizou-se debridamento da ferida, onde foi visualizado que de acordo com as bordas da lesão não seria possível completa cicatrização. Devido à permanência do quadro de lesão dérmica em cauda optou-se pela caudectomia do gato e após tal procedimento cirúrgico não houve mais manifestações associadas à dermatite farmacológica. Discussão A utilização de beta lactâmicos como o imipenem não é associada à ocorrência de reações idiossincráticas
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
em gatos, existindo apenas um relato de caso de farmacodermia após o uso de cefalexina e penicilina g procaína em um cão 2,8,9. Os carbapenêmicos possuem estrutura química semelhante à penicilina e são comumente empregados em pacientes humanos com potencial de infecção grave, assim como o felino em questão, muito embora na medicina humana o uso de imipenem não seja recomendado a pacientes alérgicos à penicilina devido ao risco de reação de hipersensibilidade potencialmente prejudicial 10. Na medicina veterinária testes cutâneos de hipersensibilidade não são frequentemente realizados, o que culmina com a dificuldade de identificar pacientes sensíveis aos antimicrobianos beta-lactâmicos. A erupção cutânea é o efeito adverso mais comum em pacientes humanos que utilizaram o imipenem 11, o que corrobora com a manifestação apresentada pelo gato relatado. A síndrome de Stevens-Johnson (SJS) é também conhecida como necrólise epidérmica tóxica (TEN), estas são variantes de um espectro de doenças imunomediadas, a manifestação da injúria em humanos e animais é similar, caracterizada por distúrbios fatais de necrose epidérmica e desprendimento cutâneo e tipicamente desencadeada por drogas. Já o eritema multiforme (EM) é associado à ocorrência do herpes vírus em humanos, diferentemente do que ocorre em animais, onde também é atrelado ao uso de drogas 12. Ambos EM e SJS/TEN são mediados por respostas de linfócitos citotóxicos contra queratinócitos alterados induzindo a apoptose, no entanto, na SJS/TEN, em pessoas e animais, a morte celular de queratinócitos é
a-
Baytril - Bayer, Vila Socorro, São Paulo, SP, Brasil;
Cloridrato de Tramadol - Grünenthal GmbH, Stolberg – Alemanha, Importador/Distribuidor - Laboratórios Pfizer Ltda, Guarulhos, SP, Brasil; b
Dermazine - Laboratório Silvestre, Rio de Janeiro, RJ; c
dKollagenase - Cristália produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP, Brasil;
Tienam - Merck Sharp & Dohme Farmacêutica Ltda, Campinas, SP, Brasil; e-
Solução Fisiológica - Laboratório Arboreto, Juiz de Fora, MG, Brasil; F-
Fibrinase - Cristália produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP, Brasil g
h
Dersani - Saniplan, Parnaíba, SP, Brasil
geralmente mais extensa do que no EM 13. Apesar da relevância do exame histopatológico através do mesmo não é possível diferenciar a SJS, TEN e o EM, desta forma, o diagnóstico baseia-se na avaliação clínica, assim como referido no presente trabalho, onde se estima que pela extensão das lesões idiossincráticas o uso do imipenem desencadeou a SJS/TEM no gato 12,14 . A SJS/TEN e o EM são alterações raramente descritas em gatos e têm sido associadas ao uso de drogas tais como antiparasitários para controle de pulgas contendo d-limoneno, ao antissoro do vírus da leucemia felina, a cefaloridina, hetacilina, ampicilina, griseofulvina, penicilina, aurotioglucose e cefalexina 15. O Algoritmo de Causalidade de Drogas na Necrólise Epidérmica (ALDEN) tem sido frequentemente empregado para avaliar a causa e o efeito dos fármacos em humanos, extrapolando-se atualmente tal utilização para gatos 14. No presente caso classificou-se o animal segundo o ALDEN em + 2, ou seja, provável SJS/TEN atribuída ao imipenem, visto que as lesões iniciaram-se dois dias após o uso da medicação, assim o animal recebeu a pontuação de +1, como a droga foi administrada até o dia da observação das reações somou-se o valor de +0, não foi relatado pela tutora histórico de exposição prévia ao imipenem, atribuiu-se assim a nota 0 neste quesito e por fim, visto que há relatos de hipersensibilidade mediante o uso do imipenem em humanos a pontuação de + 1 foi acrescida. Quanto à terapia utilizada no tratamento das injúrias decorrentes da administração de fármacos, deve-se realizar a suspensão da droga causadora afecção, assim como preconizar o tratamento sintomático para ulcerações cutâneas e de mucosas, além do monitoramento constante do paciente 12. Tais procedimentos foram adotados para o felino do presente estudo imediatamente após detecção da idiossincrasia. Este é o primeiro relato de farmacodermia associada ao uso do imipenem em um gato doméstico, sendo de substancial relevância o conhecimento destas reações tóxicas em animais devido a potencial gravidade e ausência de terapias direcionadas. Conclusão A farmacodermia associada ao uso do imipenem ocorre em gatos e a manifestação clínica associada à idiossincrasia é substancialmente grave visto à inexistência de tratamentos específicos, desta forma casos ocorrentes devem ser relatados e estudos devem ser conduzidos para que a casuística e a patogenia da afecção sejam melhores elucidadas, bem como para que opções terapêuticas mais direcionadas possam ser adotadas.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
85
Figura 1: Farmacodermia associada ao uso do imipenem em um gato doméstico. a- Edemaciação no membro posterior direito do gato verificada 2 dias após administração do imipenem; b- Reação cutânea observada posteriormente a tricotomia do paciente, 2 dias após o uso da droga envolvendo ambos os membros posteriores, cauda, bolsa escrotal e região perianal; C - Aspecto das lesões dérmicas com áreas de necrose 4 dias após administração do antibiótico; d - Lesões após 12 dias da administração do carbapenêmico; e - Permanência da afecção na cauda do animal após 2 meses de uso do imipenem; F - Reação dérmica na cauda do felino 3 meses após utilização do fármaco. Fonte: Deborah Vilhena Miguel (fotógrafa) / Any Nordi Madeira (proprietária do animal) 86
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Referências 01-TREPANIER, L. A. Idiosyncratic drug toxicity affecting the liver, skin, and bone marrow in dogs and cats. Veterinary clinics of North America: Small Animal Practice, v. 43, n. 5, p. 10551066, 2013. 02-ALBARELLOS, G. A. ; DENAMIEL, G. A. ; MONTOYA, L. ; QUAINE, P. C. ; LUPI, M. P. ; LANDONI, M. F. Pharmacokinetics of imipenem after intravenous, intramuscular and subcutaneous administration to cats. Journal of Feline Medicine and Surgery, v.15, n. 6, p. 483-487, 2012. 03-HARADA, K. ; SHIMIZU, T. ; TSUKA, T. ; IMAGAWA, T. ; TAKEUCHI, T. First case of Propionibacterium acnes urinary tract infection in a dog. BMC Veterinary Research, v. 11, n. 304, p. 1-4, 2015. 04-NARSANA, N. ; FARHAT, F. Septic shock due to Pasteurella multocida bacteremia: a case report. Journal of Medical Case Reports, v. 9, n. 159, p. 1-4, 2015. 05-MURPHY, C. ; REID-SMITH, R. J. ; PRESCOTT, J. F. ; BONNETT, B. N. ; POPPE, C. ; BOERLIN, P. ; WEESE, J. S. ; JANECKO, N. ; McEWEN, S. A. Occurrence of antimicrobial resistant bacteria in healthy dogs and cats presented to private veterinary hospitals in southern Ontario: a preliminary study. Canadian Veterinary Journal, v. 50, n. 10, p. 1047-1053, 2009. 06-ROPSKI, M. K. ; GUILLAUMIN, J. ; MONNIG, A. A. ; TOWNSEND, K. ; McLOUGHLIN, M. A. Use of cryopoor plasma for albuminreplacement and continuous antimicrobialinfusion for treatment of septic peritonitis in a dog. Journal of Veterinary Emergency and Critical Care, v. 27, n. 3, p. 348356, 2017. 07-VOIE, K. L. ; CAMPBELL, K. L. ; LAVERGNE, S. N. Drug hypersensitivity reactions targeting the skin in dogs and cats. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 26, n. 4, p. 863874, 2012. 08-ALBARELLOS, G. A. ; MONTOYA, L. ; PASSINI, S. M. ; LUPI, M. P. ; LORENZINI, P. M. ; LANDONI, M. F.
Pharmacokinetics of meropenem after intravenous, intramuscular and subcutaneous administration to cats. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 18, n. 12, p. 976-980, 2015. 09-ALEIXO, G. A. S. ; MONTEIRO, M. C. O. C. ; ANDRADE, L. S. S. ; MAIA, F. C. L. ; MOTA, A. K. R. ; GUERRA, N. S. ; OLIVEIRA, L. K. R. B.; SILVA, C. E. S. ; LACERDA, M. A. S. Farmacodermia em um cão após administração de antibióticos do grupo betalactâmico: relato de caso. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinària e Zootecnia, v. 62, n. 6, p.1526-1529, 2010. 10-MC CONNELL, S. A. ; PENZAK, S. R. ; WARMACK, T. S. ; ANAISSIE, T. J. ; GUBBINS, P. O. Incidence of imipenem hypersensitivity reactions in febrile neutropenic bone marrow transplant patients with a history of penicillin allergy. Clinical Infectious Disease, v. 31, n. 6, p. 1512-1514, 2000. 11-PARK, K. ; SOUKAVONG, M. ; KIM, J. ; KWON, K. ; JIN, X. ; LEE, J. ; YANG, B. R. ; PARK, B. Signal detection of imipenem compared to other drugs from Korea adverse event reporting system database. Yonsei Medical Journal, v. 58, n. 3, p. 564569, 2017. 12-YAGER, J. A. Erythema multiforme, Stevens–Johnson syndrome and toxic epidermal necrolysis: a comparative review. Veterinary Dermatology, v. 25, n. 5, p. 406-464, 2014. 13-BANOVIC, F. ; OLIVRY, T. ; BAZZLE, L. ; TOBIAS, J. R. ; ATLEE, B. ; ZABEL, S. ; HENSEL, N. ; LINDER, K. E. Clinical and microscopic characteristics of canine toxic epidermal necrolysis. Veterinary Pathology, v. 52, n. 2, p. 321-330, 2015. 14-SARTORI, R. ; COLOMBO S. Stevens–Johnson syndrome/toxic epidermal necrolysis caused by cefadroxil in a cat. Journal of Feline Medicine and Surgery Open Reports, v. 2, n. 1, 2016. 15-MILLER, W. H. ; GRIFFIN, C. E. ; CAMPBELL, K.L. Autoimmuneand immune-mediated dermatoses. In: MILLER, W. H.; GRIFFIN, C. E. ; CAMPBELL, K.L (eds). Muller and Kirk’s small animal dermatology. 7. ed. St Louis: Elsevier Mosby, 2013, p 432-500.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
87
Metástase de carcinoma mamário em fossa acetabular e ílio de cadela – relato de caso Metastasis of mammary carcinoma in dog's ilium – case report Metástasis del carcinoma mamaria en el ilion de perro – informe de caso Ana Carina Heil Figueira da Silva; Fabio Ronaldo Bueno Leite; João Marcos da Silva Barbosa anacarina.vet@gmail.com
O
aumento da longevidade propiciou o surgimento de neoplasias em animais senis, tais como tumores mamários em cadelas. A metástase é definida como a disseminação de células neoplásicas para sítios secundários descontínuos, onde proliferam para formar uma massa macroscópica. O tumor de mama é o diagnóstico neoplásico mais comum em cadelas, no entanto, a presença de metástases em tecido ósseo é pouco frequente. O diagnóstico histopatológico é muito importante para o estadiamento do tumor e a não avaliação da mama pode negligenciar a malignidade da neoplasia e influenciar no bem-estar do animal. Este trabalho apresenta um relato de caso de metástase em fossa acetabular e ílio originado de um carcinoma mamário pouco diferenciado. Unitermos: adenocarcinoma, neoplasia, osteólise
I
ncreased longevity has led to the emergence of neoplasms in senile animals, such as breast tumors in bitches. Metastasis is defined as the spread of neoplastic cells to discontinuous secondary sites, where they proliferate to form a macroscopic mass. The breast tumor is the most common neoplastic diagnosis in bitches, however, the presence of bone metastases is infrequent. The histopathological diagnosis is very important for tumor staging and failure of breast evaluation can neglect the malignancy of the neoplasia and influence the animal's well-being. This paper presents a case report of metastasis in acetabular fossa and ileum originating from a poorly differentiated mammary carcinoma. Keywords: adenocarcinoma, neoplasm, osteolysis
E
l aumento de la longevidad trae consigo el surgimiento de neoplasias en animales seniles, tales como tumores mamarios en perras. La metástasis se define como la diseminación de células neoplásicas a sitios secundarios discontinuas, donde proliferan para formar una masa macroscópica. El tumor de mama es el diagnóstico neoplásico más común en las perras, sin embargo, la presencia de metástasis en hueso es poco frecuente. El diagnóstico histopatológico es muy importante para la estadificación del tumor y la no evaluación de la mama puede descuidar la malignidad de la neoplasia e influir en el bienestar del animal. Este trabajo presenta un relato de caso de metástasis em fosa acetabular y ilion originado de un carcinoma mamario poco diferenciado. Palabras clave: adenocarcinoma, neoplasia, osteolisis
88
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução O tumor de mama é o diagnóstico neoplásico mais comum em cadelas de 6 a 12 anos. Os resultados destes registros mostram que os tumores mamários representam 50% a 70% de todos os tumores neste subconjunto da população1,2,3. Carcinomas frequentemente fazem metástases por via linfática e hematógena e usualmente acometem os linfonodos e pulmões2,4,5. O carcinoma mamário pode produzir metástases nos pulmões, fígado, rins e tecido ósseo, assim como em bexiga urinária e órgãos reprodutivos6. Os tumores mamários são geralmente fáceis de detectar através do exame físico de rotina. A palpação cuidadosa pode ser necessária para detectar tumores pequenos. Um estudo recente documentou que 70% das fêmeas não castradas tinham mais de um tumor no diagnóstico3. Dentre as classificações, o tumor misto benigno e sua variante maligna, o carcinoma de tumor misto, são as mais frequentes7. Cerca de 60% dos tumores de mama são malignos e 25% destes apresentam metástases em linfonodo1,2. Devido ao risco de metástase, a solicitação de exames complementares antes do início da terapêutica é fortemente recomendada, tais como: hemograma completo, bioquímica sérica, ultrassonografia abdominal, radiografias torácicas buscando por metástases e aspiração por agulha fina de linfonodos sentinelas, mesmo que pareçam normais à palpação3,8. O exame histopatológico é o método de eleição para o diagnóstico e permite classificar e graduar o tumor2. Permite, além da observação da morfologia celular, a avaliação da arquitetura tecidual, presença de necrose, invasão linfática e sanguínea, e infiltração neoplásica em margem cirúrgica1, 2. O objetivo deste trabalho foi trazer um raro relato de caso de metástase de um tumor de mama em fossa acetabular e ílio. Descrição do caso Uma cadela, da raça dobermann, de 17 anos, 25 kg, não castrada, foi atendida em um hospital veterinário apresentando tumorações de tamanhos variáveis em cadeias mamárias abdominais e inguinais, de ambos os lados, além de uma massa próxima à vagina (Figura 1). Durante a anamnese, o proprietário relatou que a paciente não havia feito uso de anticoncepcionais e que já havia apresentado duas gestações, com filhotes saudáveis. O animal mantinha o apetite alimentar, normodipsia, normoquesia e micção sem alterações. No exame físico, a temperatura corporal se mostrou dentro dos valores normais (37,8 ºC) assim como auscultação cardíaca e pulmonar, e não demonstrava sinais
de dor durante a palpação das mamas e linfonodos. Foram solicitados hemograma e perfil bioquímico, e no hemograma foi constatada discreta anemia, leucocitose com desvio à esquerda e hiperproteinemia. O exame bioquímico hepático evidenciou aumento na fosfatase alcalina (FA) e o bioquímico renal estava dentro dos valores normais. Após a avaliação clínica e hematológica do animal, foi realizada mastectomia parcial bilateral e ovário-histerectomia. O paciente recebeu como medicação préanestésica acepromazina 0,1 mg/kg e meperidina 10 mg/kg e foi induzido com propofol 6 mg/kg, cetamina 10 mg/kg e diazepam 0,5 mg/kg. Foi realizada também uma peridual com lidocaína 4 mg/kg, morfina 2 mg/kg e fentanila 2 mg/kg. A manutenção anestésica foi mantida pelo isofluorano e o pós-operatório na clínica foi mantido com tramadol 4 mg/kg, escopolamina (Buscofin®) 1,5 mg/kg e meloxicam 0,2 mg/kg. Como tratamento pós-operatório, foram administrados ao paciente para analgesia meloxicam (Meloxivet®) na dosagem de 0,2 mg/kg, uma vez ao dia, por 4 dias, tramadol (Cronidor®) 4 mg/kg, a cada 8 horas, durante 7 dias, dipirona 25 mg/kg, a cada 8 horas, durante 4 dias e como profilaxia de infecções bacterianas amoxicilina com clavulanato de potássio (Agemoxi CL®) na dosagem de 20 mg/kg, duas vezes ao dia, durante 7 dias e, como protetor gástrico, omeprazol (Gaviz Z®) na dosagem
Figura 1 – Cadela dobermann, de 17 anos, com vários focos de neoplasia evidentes em mamas inguinais. Fonte: Leite, F. R. B., 2017
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
89
1,5 mg/kg, uma vez ao dia, durante 7 dias. O animal se recuperou bem, voltando após 10 dias para retirada dos pontos. Três meses depois, o proprietário retornou com o animal relatando claudicação, onde foi solicitada uma radiografia da região pélvica nas projeções ventro-dorsal e lateral. O laudo da radiografia demonstrou acentuado processo misto (lítico e proliferativo), predominantemente lítico em fossa do acetábulo e corpo do ílio à direita, podendo ser um processo neoplásico ou osteomielite. Também foi observada uma discreta incongruência das articulações coxofemorais, discreto espessamento de colo femoral bilateralmente, sugerindo sinais de osteoartrose. Em 28 dias o animal veio a óbito em sua própria casa e levado à clínica para cremação, onde foi realizado biópsia de lesão em acetábulo e ílio. O resultado histopatológico revelou a infiltração de células epiteliais neoplásicas, arranjadas em trabéculas e ilhas em derme e estendendo-se até tecido ósseo. As células apresentaram acentuado pleomorfismo, citoplasma escasso, núcleos ovalados, cromatina vesicular e nucléolos proeminentes. Figuras de mitose atípicas foram frequentes. Houve, ainda, invasão das células neoplásicas em tecido ósseo e lise óssea, acentuado e difuso infiltrado inflamatório misto composto por linfócitos, plasmócitos, neutrófilos, macrófagos e fibroblastos reativos, extensas áreas de necrose, áreas de diferenciação escamosa e focos de mineralização (Figura 2). Concluiu
Figura 2 – Fotomicrografia de neoplasia em fossa do acetábulo e corpo do íleo de cadela. Células neoplásicas epiteliais (seta) invadindo trabéculas ósseas ( * ) e foco de hemorragia (cabeça de seta). Hematoxilina e Eosina. Obj. 100x. Fonte: Barbosa, J. M.S., 2017 90
tratar se de metástase de carcinoma mamário pouco diferenciado. Discussão O paciente era uma cadela dobermann, idosa (17 anos) e não castrada. A idade do animal também tem papel importante na carcinogênese. Animais idosos apresentam mais neoplasias que os jovens por conta da perda progressiva de mecanismos naturais de reparação de danos do DNA nuclear. A paciente relatada se enquadra nas taxas predispostas à neoplasia mamária, como raça e exposição prolongada à influência hormonal por não ser castrada3. O exame radiográfico da região torácica, o exame citopatológico de linfonodos e a ultrassonografia abdominal seriam de grande importância para a investigação de metástases, direcionando o tratamento e favorecendo o prognóstico do paciente3,8,9,10, porém, os mesmos não foram realizados. Após a excisão cirúrgica, a cadeia mamária deveria ser encaminhada para exame histopatológico para a confirmação do diagnóstico e classificação da neoplasia, para um direcionamento do tratamento quimioterápico¹², entretanto, foi encaminhado para exame histopatológico apenas biopsia das lesões post mortem. Alterações ósseas podem aumentar a atividade sérica de fosfatase alcalina devido a proliferação de osteoblastos verificada nessas enfermidades, sendo que o prognóstico para os pacientes com aumento de sua atividade sérica parece ser pior do que aquele de pacientes com a atividade normal. A hiperproteinemia apresentada pela paciente na verdade pode ser decorrência de estimulação antigênica ou inflamação crônica por causa da neoplasia. À medida que a resposta inflamatória se torna crônica (> 1 semana), a produção de imunoglobulinas e de proteínas do sistema complemento pode aumentar. Apesar disso, a hiperglobulinemia notada na inflamação crônica é variável, mas em alguns casos pode ser marcante12. Em pacientes humanos com carcinomas mamários, a presença de metástases em ossos são comuns13. Todavia, em medicina veterinária, este local de metástase é pouco relatado em cadelas14. A paciente apresentava tumoração em mamas inguinais, e após exérese retornou ao consultório apresentando claudicação revelando acentuado processo lítico em fossa do acetábulo e corpo do ílio à direita, podendo ser um processo neoplásico ou osteomielite. O diagnóstico histopatológico descreve infiltração de células epiteliais neoplásicas infiltrando tecido ósseo, tratando-se de metástase de carcinoma mamário pouco diferenciado. O resultado histopatológico é essencial para determinação e classificação deste tipo de lesão14,15.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Conclusão Concluiu-se que animais com tumores mamários não estadiados estão mais susceptíveis a metástase já que não se procede o tratamento quimioterápico necessário de acordo com a histomorfologia do tumor. Referências 01-DE NARDI, A. B. Neoplasias mamárias. In: DALECK, C. R.; DE NARDI, A. B.; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. 1. ed. São Paulo: Roca, 2008. p. 371-383. 02-SHAFIEE, R. Diagnosis, classification and grading of canine mammary tumors as a model to study human breast cancer: an clinico-cytohistopathological study with environmental factors influencing public health and medicine. Cancer cell international. v. 13, n. 79, p. 1-11. 2013. 03-SORENMO, U. ; WORLEY, R. ; GOLDSCHMIDT, M. H. Tumors of the mammary gland. In: WITHROW, S. J.; VAIL, D. M. ; PAGE, R. L. Withrow & MacEwen's Small animal clinical oncology. Elsevier, 2013. p. 538-556. 04-FOSTER, R. A. Sistema reprodutor da fêmea e glândula mamária. In.: ZACHARY, J. F.; MCGAVIN, M. D. Bases da patologia em veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 1088129. 05-KUSEWITT, D. F. Neoplasia e biologia tumoral. In: ZACHARY, J. F. ; MCGAVIN, M. D. Bases da patologia em veterinária. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p. 289-321. 06-CLEMENTE, M. ; PÉREZ-ALENZA, M. D. ; PEÑA, L. Metastasis of canine inflammatory vesus non-inflammatory mammary tumours. Journal of Comparative Pathology, v. 143. p. 157-163, 2010. 07-CASSALI, G. D. ; GOBBI, H. ; MALM, C. ; SCHMITT, F. C. Evaluation of accuracy of fine needle aspiration cytology for diagnosis of canine mammary tumours: comparative features with human tumors. Cytopathology, v. 18, p. 191-196, 2007. 08-DAVIS, K. M. ; STONE, E. A. Neoplasia de glândula mamária.
In: BICHARD, S. ; SHERDING, R. Manual Saunders: clínica de pequenos animais. 3. ed. Roca: São Paulo, 2013. p. 316-320. 09-SÁ, F. N. Citologia e histopatologia: a sua importância no diagnóstico de tumores mamários em canídeos e felídeos. Dissertação (Medicina Veterinária) - Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 2008. 10-ZANONI, D. S. ; CASSALI, G. D. Citologia aplicada à mastologia. In: GRANDI, F. ; BESERRA, H. E. O. ; COSTA, L. D. Citopatologia veterinária diagnóstica. 1. ed. São Paulo: MedVet, 2014. p. 91-98. 11-PEÑA, L. ; GAMA, A. ; GOLDSCHMIDT, M. H. ; ABADIE, J. ; BENAZZI, C. ; CASTAGNARO, M. ; DÍEZ, L. ; GÄRTNER, F. ; HELLMÉN, E. ; KIUPEL, M. ; MILLÁN, Y .; MILLER, M. A. ; NGUYEN, F. ; POLI, A. ; SARLI, G. ; ZAPPULLI, V. ; DE LAS MULAS, J.M. Canine mammary tumors: a review and consensus of standard guidelines on epithelial and myoepithelial phenotype markers, her2, and hormone receptor assessment using immunohistochemistry. Veterinary Pathology, v. 51, p. 127-145, 2014. 12-FRANZONI, M. S. ; ROSA, V. A. ; DA SILVA, C. M. L. ; SALVADOR, R. DA C. L. ; LAURFER-AMORIM, R. ; RAPOSOFERREIRA, T. M. M. Carcinoma mamário micropapilar metastático em cadela associado com sobrevida de 306 dias, Investigação, v. 16, p. 67-70, 2017. 13-JAMES, J. J. ; EVANS, A. J. ; PINDER, S. E. ; GUTTERIDGE, E. ; CHEUNG, K. L. ; CHAN, S. ; ROBERTSON, J. F. R. Bone metastases from breast carcinoma: histopathological – radiological correlations and prognostic features. British Journal of Cancer, v. 89, p. 660-665, 2003. 14-SANTIN, A. P. I. ; MOURA, V. M. B. D. ; BORGES, N. C. ; CARNEIRO, S. C. M. C. ; TOLEDO, D. C. ; PORTO, R. N. G. Carcinoma sólido de glândula mamária com metástase em medula espinhal. Ciência Animal Brasileira, v. 10, p. 1344-1348, 2009, 15-World Health Organization, WHO Classification of Tumours of the Breast, 4. ed., Lyon: IARC Press, 2012.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
91
Terapia com células-tronco mesenquimais em caso de úlcera de córnea profunda em cão – relato de caso Therapy with mesenchymal stem cells in case of deep corneal ulcer in dog – case report Terapia con células madre mesenquimales en caso de úlcera de córnea profunda en perro – Informe de caso Danielle Figueiredo; Mário Falcão1; Patrícia Furtado Malard2; Maurício Antônio da Silva Peixer2 Luiz Gustavo Araújo Oliveira3; Lucas Santana Rodrigues3; Hilana dos Santos Sena Brunel3 1-Centro Veterinário da Visão. 2-Universidade Católica de Brasília. 3-Bio Cell Terapia Celular.
daniellevetucb@hotmail.com
U
m cão da raça shih-tzu foi atendido no Centro Veterinário da Visão (CVV) em Brasília, DF, com aparente cegueira causada por trauma ocular bilateral. O diagnóstico foi de úlcera de córnea profunda bilateral. Optou-se pelo tratamento convencional com colírios antibióticos e repositores de lágrimas, porém não houve regressão das úlceras. Após a complicação do caso para melting corneano, foi realizada a aplicação 3x106 de células-tronco mesenquimais provenientes de tecido adiposo por via subconjuntival seguida por instilações oculares. Previamente à aplicação, as células-tronco mesenquimais foram submetidas a teste de imunofenotipagem, viabilidade celular por citometria de fluxo e diferenciação em tecido ósseo, bem como testes microbiológicos para comprovação do seu grau de pureza e qualidade. Na terceira semana após a terapia celular, foi observada a completa cicatrização da úlcera de córnea. Unitermos: terapia celular, tecido adiposo, cicatrização
A
shih-tzu dog was examined at the Veterinary Sight Center (CVV) in Brasília-DF, with apparent blindness caused by bilateral eye trauma. The diagnosis was bilateral deep corneal ulcer. Conventional treatment with antibiotic eye drops and tears reuptake was chosen, but there was no regression of the ulcers. After a complication of the case to corneal melting, the application of 3x106 mesenchymal stem cells of adipose tissue by subconjunctival route and ocular instillations was performed. Prior to the application, mesenchymal stem cells were submitted to immunophenotyping test, cell viability by flow cytometry and differentiation in bone tissue, as well as microbiological tests to prove their degree of purity and quality. In the third week after the cell therapy, complete healing of the corneal ulcer was observed. Keywords: cell therapy, adipose tissue, healing
U
n perro de la raza shih-tzu fue atendido en el Centro Veterinario de la Visión (CVV) en Brasilia-DF, con aparente ceguera causada por trauma ocular bilateral. El diagnóstico fue de úlcera de córnea profunda bilateral. Se optó por el tratamiento convencional con colirios antibióticos y repositores de lágrimas, pero no habían regresión de las úlceras. Después de una complicación del caso para derretir corneano, se realizó una aplicación 3x106 de células madre mesenquimales de tejido adiposo por vía subconjuntival por instilaciones oculares. Previamente a la aplicación, como las células madre mesenquimales fueron sometidas a prueba de inmunofenotipado, viabilidad celular por citometría de flujo y diferenciación en tejido óseo, así como pruebas microbiológicos para comprobar su grado de pureza y calidad. En la tercera semana después de una terapia celular, se observó una completa cicatrización de la úlcera de córnea. Palabras clave: terapia celular, tejido adiposo, cicatrización
92
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
Introdução A córnea é um componente refrativo desprovido de vasos e células sanguíneas, pigmentos e queratina em seu epitélio, sendo que a proteção do local é fornecida pelo limbo ocular, localizado na junção entre córnea e esclera1. A superfície ótica lisa é conferida pelo filme lacrimal, pela constante renovação do epitélio (suportada pelas células-tronco do limbo), pela organização das suas camadas celulares (epitelial, estroma e endotélio) e pela membrana de Descemet2. O epitélio da córnea, por ser a camada mais externa do globo ocular, está sujeito a injúrias traumáticas, químicas e biológicas, o que pode vir a ocasionar a úlcera de córnea, afecção mais comumente encontrada na oftalmologia veterinária de cães e gatos3. Essa afecção é considerada uma emergência oftálmica, podendo progredir para descemetocele ou perfuração ocular, com lesões que podem se tornar irreversíveis, ocasionando a perda da visão4. As úlceras superficiais comumente são auto-limitantes, sendo que a prescrição de colírio para terapia antimicrobiana é o pilar nesse caso, a fim de evitar qualquer tipo de complicação infecciosa, que poderia levar à perda de transparência da córnea, com consequente diminuição da acuidade visual, mesmo após uma completa cicatrização5. Já para úlceras de córnea profundas, o protocolo de tratamento é mais amplo, podendo incluir a abordagem cirúrgica e, por essa razão, terapias alternativas estão sendo estudadas, como a utilização de células e seus fatores de crescimento, visando a reparação tecidual em menor tempo e com menos sequelas à visão6. As células-tronco mesenquimais (CTMs) são um tipo de células progenitoras multipotentes, encontradas em diversos tecidos no indivíduo adulto, entre eles a medula óssea, líquido sinovial, tecido adiposo7. As CTMs vem sendo estudadas como opções terapêuticas, pois possuem um mecanismo complexo de interação com células e tecidos endógenos, tropismo por locais com inflamação e seu mecanismo de ação é estimulado por este ambiente biomolecular em que se fazem presentes8. Essas células têm propriedades anti-inflamatórias e imunomodulatórias, as quais ocorrem por meio de liberação de citocinas e fatores de crescimento e capacidade de regeneração tecidual local, por meio de atração de células-tronco endógenas, diferenciação e aumento da taxa de mitose das células epiteliais9. A ação das células-tronco na úlcera de córnea dá origem a um processo de neovascularização contribuindo com o processo de re-epitelização do tecido corneano e, após a cicatrização da ulceração, os vasos são reabsorvidos, devolvendo a transparência da córnea e restabelecendo suas funções normais3. A fonte de obtenção de CTMs é variada, porém, dentro da medicina veterinária, o tecido mais comumente
utilizado para o isolamento das células é o adiposo, já é uma forma menos invasiva, realizado por meio da retirada de gordura10. Estudos demonstraram que as CTMs derivadas de tecido adiposo possuem as mesmas capacidades de diferenciação em linhagem osteogênica, condrogênica e adipogênica das células-tronco de medula óssea11,12. Ainda, essas células podem seguramente ser aplicadas de forma halógena, sem perigo de rejeição pelo sistema imune do receptor, pois as CTMs possuem baixo grau de expressão de complexo principal de histocompatibilidade classe I (MHC I) e ausência de expressão de MHCII na superfície celular13. Dessa forma, torna-se possível fazer o uso de CTMs derivadas de tecido adiposo de forma segura, sem perigo de rejeição pelo organismo receptor. O tratamento convencional da úlcera de córnea profunda em cães e gatos costuma ser dispendioso e demorado, exigindo grande comprometimento do proprietário, visto que, para que haja sucesso, é importante que a aplicação dos colírios ocorra em curtos intervalos de tempo, sem interrupções e por vários dias. Ainda, é importante que o animal faça uso do colar elisabetano durante todo o período de tratamento, o que lhe confere baixo grau de bem-estar durante o período de tratamento. Nesse contexto, o presente trabalho visou comparar, por meio de exames clínicos e oftalmológicos, o tempo de cicatrização da córnea de cão acometido por úlcera profunda, seguida por complicações, que foi tratado com aplicação de células-tronco mesenquimais. Descrição do caso Um cão da raça shih-tzu foi atendido no Centro Veterinário da Visão (CVV), no Hospital Veterinário Clemenceau, em Brasília-DF, com aparente cegueira causada por trauma ocular bilateral. Ao exame oftalmológico, foi observada neurite óptica por lesão do nervo óptico, sendo receitada a instilação de colírio à base de acetato de prednisolonaa a cada 8 horas, durante 15 dias. No retorno após esse período, o animal foi examinado e suspendeu-se o uso do colírio. Na semana seguinte, o animal retornou ao CVV e, por meio do teste de fluoresceína, foi diagnosticada úlcera de córnea profunda bilateral com melting corneano. Foram, então, receitados os colírios à base de cloridrato de moxifloxacinob a cada 2 horas, de hialuronato de sódioc a cada 24 horas e sulfato de atropina 1%d a cada 12 horas. Após 48 horas de tratamento, não houve nenhuma regressão da úlcera, Pred Fort®, laboratório Allergan; Vigamox, laboratório Alcon; c Hyabak, União Química Farmacêutica Nacional S/A Divisão GENOM; d Atropina 1%, laboratório Allergan a b
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
93
porém, devido às condições de saúde do animal, não foi indicada a intervenção cirúrgica. Optou-se, então, pela terapia com células-tronco mesenquimais (CTMs) de animal doador saudável associada aos colírios antibióticob e repositor de lágrimasc. Previamente à aplicação, as células-tronco mesenquimais foram submetidas a teste de imunofenotipagem, viabilidade celular por citometria de fluxo e diferenciação em tecido ósseo, bem como testes microbiológicos para comprovação do seu grau de pureza e qualidade. O animal recebeu aplicações por via subconjuntival e instilações oculares, pelo período de 24 horas. Para cada olho afetado foram utilizadas, no total, 3x106 CTMs. Na primeira semana após a aplicação das célulastronco mesenquimais, houve redução do quadro de melting corneano, mas a lesão permaneceu grave, mas já apresentava sinais de melhora. A completa cicatrização da úlcera de córnea ocorreu com 3 semanas após o tratamento.
Discussão O epitélio da córnea é um tecido não-queratinizado derivado do ectoderma, o qual mantém a integridade e funcionamento de células especializadas, as célulastronco límbicas14. As células-tronco mesenquimais aplicadas para o tratamento da úlcera de córnea promovem a diminuição da inflamação, mobilização dessas células-tronco endógenas, aumento da concentração de fatores de crescimento9 e possível diferenciação celular3. Um estudo recente já demonstrou a capacidade in vitro de células-tronco mesenquimais formarem tecido epitelial estratificado com características e expressão de marcadores de células epiteliais15. Ainda, em estudo com aplicação de meio condicionado proveniente de células-tronco mesenquimais, ou seja, meio contendo citocinas e fatores de crescimento liberados por essas células, em úlcera de córnea em ratos, foi demonstrada a regeneração epitelial, bem como o efeito bactericida 16. Já em estudo com ratos diabéticos com úlcera de córnea
Figura 1: Foto do olho direito e olho esquerdo do paciente antes da aplicação das células-tronco mesenquimais e 20 dias após a aplicação. Fonte: Dr. Mário Falcão (CVV) 94
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
foi testada a aplicação local das células-tronco mesenquimais, o que causou a diminuição da inflamação e cicatrização da úlcera pelo aumento da proliferação de células epiteliais. Esses estudos corroboram o que foi observado no presente caso clínico 8. É importante também ressaltar que as CTMs halógenas foram bem toleradas pelo indivíduo, não havendo qualquer tipo de reação de rejeição, conforme já havia sido sugerido por estudos prévios, que identificaram que as células-tronco mesenquimais são seguras, por terem baixa expressão de MHCI e ausência de MHCII13. Por fim, a administração local propicia a direta liberação das células-tronco mesenquimais na área lesionada, não havendo a necessidade de um estímulo local para que as CTMs migrem para a região e evitando qualquer perda de células para locais possivelmente inflamados dentro do organismo12. Ainda, a aplicação por via subconjuntival faz com que a liberação seja contínua ao longo das horas seguintes, devendo ser realizada por veterinário oftalmologista, já que é uma via que necessita de um vasto conhecimento anatômico e uma perícia cirúrgica por ser invasiva e potencialmente traumática17. Considerações finais O presente caso clínico demonstrou que, com a inclusão da terapia células-tronco mesenquimais na terapêutica convencional de utilização de colírios antibiótico e repositor de lágrimas, o caso foi revertido sem a necessidade de intervenção cirúrgica. A utilização de células-tronco mesenquimais foi uma forma segura, eficaz e de rápido resultado para o tratamento da úlcera de córnea profunda acompanhada por melting corneano. Referências 01-ZHANG, H. ; LIN, S. ; ZHANG, M. ; LI, Q. ; LI, W. ; WANG, W. ; ZHAO, M. ; XIE, Y. ; LI, Z. ; HUANG, M. ; WANG, Z. ; ZHANG, X. ; HUANG B. Comparison of two rabbit models with deficiency of corneal epithelium and limbal stem cells established by different methods. Tissue Engineering: part c, 2017. [doi: 10.1089/ten.tec.2017.0146] 02-YU, F. S. X. ; YIN, J. ; XU, K. ; HUANG, J. Growth factors and corneal epithelial wound healing. Brain Research Bull, v. 15, n. 81(2-3), p. 229-235, 2010. 03-YAO L. ; BAI, H. Review: Mesenchymal stem cells and corneal reconstruction. Molecular Vision, v. 19, p. 2237-2243, 2013. 04-ZHAO, H. ; QU, M. ; WANG, Y. ; WANG, Z. ; SHI, W. Xenogeneic acellular conjunctival matrix as a scaffold of tissueengineered corneal epithelium. PLoS One 9, e111846, 2014. 05-FERREIRA, G. T. N. M. ; SOUZA, T. F. B. ; SAKAMOTO, S. S. ; SILVA, T. C. C. ; ANDRADE, A. L. Aspectos clínicos do enxerto conjuntival 360º e do implante da membrana amniótica criopreservada no tratamento de úlceras de córnea em cães.
Seminário Ciências Agrárias, v. 34, n. 3, p. 1239-1252, 2013. 06-MERLINI, N. B. ; FONZAR, J. F.; PERCHES, C. S. , SERENO, M. G. ; SOUZA, V. L. ; ESTANISLAU, C. A. ; RODAS, N. R.; RANZANI, J. J. T. ; MAIA, L. ; PADOVANI, C. R. ; BRANDÃO, C. V. S. Uso de plasma rico em plaquetas em úlceras de córnea em cães. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 66, n. 6, p. 1742-1750, 2014. 07-JACKSON, W. M. ; NESTI, L. J. ; TUAN, R. S. Concise review: clinical translation of wound healing therapies nased on mesenchymal stem bells. Stem Cells Translational Medicine, v. 1, p. 44-50, 2012. 08-DI, G. ; DU, X. ; QI, X. ; ZHAO, X. ; DUAN, H. ; LI, S. ; XIE, L. ; ZHOU, Q. Mesenchymal stem cells promote dia- betic corneal epithelial wound healing through TSG-6–dependent stem cell activation and macrophage switch. Investigative Ophthalmology and Visual Science, v. 58, p. 4064-4074, 2017. 09-LAN, Y. ; KODATI, S. ; LEE, H. S. ; OMOTO, M. ; JIN, Y. ; CHAUHAN, S.K. Kinetics and function of mesenchymal stem cells in corneal injury. Investigative Ophthalmology and Visual Science, v. 53, n. 7, 2012. 10-BAHAMONDES, F. ; FLORES, E. ; CATTANEO, G. ; BRUNA, F. ; CONGET P. Omental adipose tissue is a more suitable source of canine mesenchymal stem cells. BMC Veterinary Research, v. 13, p. 166, 2017. 11-CONTADOR, D. ; EZQUER, F. ; ESPINOSA, M. ; ARANGORODRIGUEZ, M. ; PUEBLA, C. ; SOBREVIA, L. ; CONGET, P. Dexamethasone and rosiglitazone are sufficient and necessary for producing functional adipocytes from mesenchymal stem cells. Experimental Biology and Medicine, v. 240, p. 12351246, 2015. 12-KRISTON-PÁL, E. ; CZIBULA, A. ; GYURIS, Z. ; BALKA, G. ; SEREGI, A. ; SÜKÖSD, F. ; SÜTH, M. ; KISS-TÓTH, E. ; HARACSKA, L. ; UHER, F. ; MONOSTORI, E. Characterization and therapeutic application of canine adipose mesenchymal stem cells to treat elbow osteoarthritis. Canadian Journal of Veterinary Research, v. 81, p.73-78, 2017. 13-BARANIAK, P. R. ; MCDEVITT, T.C. Stem cell paracrine actions and tissue regeneration. Regenerative Medicine, v. 5, n. 1, p. 121-143, 2010. 14-ZIAEI, M. ; ZHANG, J. ; PATEL, D. ; MCGHEE, C. N. Umbilical cord atem cells in the treatment of corneal disease. Survey of Ophthalmology, 2017. [doi: 10.1016/ j.survophthal.2017.02.002] 15-GARZON, I. ; MARTIN-PIEDRA, M. A. ; ALFONSO-RODRIGUEZ, C. Generation of a biomimetic human artificial cornea model using Wharton's jelly mesenchymal stem cells. Investigative Ophthalmology and Visual Science, v. 55, p.4073 - 4083, 2014. 16-BERMUDEZ, M. A. ; SENDON-LAGO, J. ; EIRO, N. ; TREVIÑO, M. ; GONZALEZ, F. ; YEBRA-PIMENTEL, E. ; GIRALDEZ, M. J. ; MACIA, M. ; LAMELAS, M. L. ; SAA, J. ; VIZOSO, F. ; PEREZ-FERNANDEZ, R. Corneal epithelial wound healing and bactericidal effect of conditioned medium from human uterine cervical stem cells. Investigative Ophthalmology and Visual Science, v. 56, p. 983- 992, 2015. 17-TSUJI, A. ; TAMAI, I. ; SASAKI, K. Intraocular penetration kinetics of predinisolone after subconjunctival injection in rabbits. Ophtalmic Research, v. 20, p. 31-43, 1988.
Clínica Veterinária, Ano XXII, suplemento, 2017
95