Literaturas africanas: narrativas, identidades, diásporas

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LITERATURAS AFRICANAS Narrativas, identidades, diá sporas

Organização: Franciane Conceiçã o da Silva

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Franciane Conceição da Silva (Org.)

Literaturas Africanas Narrativas, identidades, diásporas


Copyright © dos autores, 2016. Projeto Gráfico: Clock-t

Gracia Regina Gonçalves, UFV

Imagem da Capa: Pixabay.com

Joelma Santana Siqueira, UFV

Revisão: Juan Filipe Stacul

John Tofik Karam, UIUC

Conselho Editorial

José L. Foureaux de Souza Jr, UFOP

José Benedito Donadon Leal, UFOP Andreia Donadon Leal, ALACIB

Juan Filipe Stacul, PUC MG

Antonio Carlo Sotomayor, UIUC

Karla Baptista, FCB

Cláudia Pereira, ALACIB

Maria N. Soares Fonseca, PUC MG

Eduardo Ledesma, UIUC

Michelle Gabrielli, UFPB

Elisângela A. Lopes, IF Sul MG

Murilo Araújo, UFRJ

Fábio Figueiredo Camargo, UFU

Raquel Castro Goebel, UIUC

Gabriel Bicalho, ALACIB

Rubem B. Teixeira Ramos, UFG

Gerson Luiz Roani, UFV

Terezinha Cogo Venturim, FCB

Glen Goodman, UIUC

Thiago Ianez Carbonel, UNICEP Victor Rocha Monsalve, UDP

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Silva, Franciane Conceição da. Literaturas africanas: narrativas, identidades, diásporas. / Franciane Conceição da Silva, organizadora. – Colatina: Clock-Book, 2016. 250p. – (Acadêmica) Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-92525-04-0 1. Literaturas africanas de Língua Portuguesa. I. Título. II. Série. CDD: 896 CDU 821.134.3(6)

1ª Edição – 2016. Todos os direitos reservados. Clock-Book é uma marca da Clock-t Edições e Artes. Av. Fioravante Rossi, 3300 – Colatina – ES – CEP 29.704-424 Tel: (27) 9-9995-5853 contato@clock-t.com | www.clock-t.com


Interfiro, desescrevo, para que eu conquiste a partir do instrumento da escrita um texto escrito meu, da minha identidade [...] Temos de ser nós. ‘Nós mesmos’. Assim reforço a identidade com a literatura. (Manuel Rui, 1985)


Sumário Apresentação .............................................................................. 6

1. Dossiê - Literaturas Africanas

Literatura Angolana Alice Botelho Peixoto Uma leitura pós-colonial dos romances As Naus e O desejo de Kianda .................................................................................................................... 11 Mariana Paiva Fronteiras imaginárias: a língua e os trânsitos possíveis entre Brasil e Angola em Milagrário pessoal, de José Eduardo Agualusa ................... 31 Fabíola Guimarães Pedras Mourthé João Vêncio: os seus amores, caleidoscópio de pensamentos e emoções……………………………...…………………….…….39

Literatura Moçambicana Lílian Paula Serra e Deus Msaho e a proposta de renovação da linguagem literária .................. 53 Wellington Marçal de Carvalho As visitas do Dr. Valdez, de João Paulo Borges Coelho à luz do pensamento de Frantz Fanon ................................................................ 88 Bárbara Baldarena Morais A identidade luso-africana: uma busca pelo Moçambique póscolonial .................................................................................................... 105


James Rios de Oliveira Santos Altamir Botoso Dominação masculina em Niketche: uma história de poligamia ............ 119 Juan Filipe Stacul Terra sonâmbula, de Mia Couto: do onírico ao surreal ....................... 136

2. Outros artigos

Literatura Afro-brasileira e práticas pedagógicas J. B. Donadon-Leal A arte integral de Camilo Leal ............................................................. 166 Antonio Marcos dos Santos Cajé Contos afro-brasileiros de Mestre Didi: ensinando história e cultura .................................................................................................................. 180 Eduardo Dias da Silva A formação continuada de professores da educação básica na implementação dos artigos 26-a e 79-b da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional .......................................................................... 199

3. Entrevista Franciane Conceição da Silva Entrevista com a escritora angolana Isabel Ferreira “Escrever para mim é mostrar o espelho aos humanos” ................ 213

4. Ficção Maria Beatriz Del Peloso Ramos O povo do Calunga ............................................................................... 233 Os autores .............................................................................. 238


Apresentação Nossa voz ergueu-se consciente e bárbara sobre o branco egoísmo dos homens. (Noémia de Sousa) A representação da África na história e na literatura tem sido sempre carregada de estereótipos. Como forma de ressaltar uma suposta superioridade dos ocidentais, os africanos vêm sido mostrados como primitivos, selvagens, exóticos, famintos e até, muitas vezes, aidéticos. Essa visão da África, que a escola ensina, a mídia reforça e os livros reproduzem, perpetuou - se ao longo dos anos, nos mais diferentes espaços, constituindo-se como uma verdade difícil de ser desmantelada. Por outro lado, com a proliferação dos estudos culturais, conforme aponta Edward Said, “um grupo agora muito mais variado, de origem verdadeiramente multicultural, está exigindo e obtendo atenção para toda uma crosta de povos e culturas antes negligenciados e desconhecidos” (SAID, 2007, p.661). Sendo assim, um ambiente profícuo se abre para a produção de mulheres, africanos, asiáticos, latinos, homossexuais, entre outros grupos historicamente excluídos do sistema literário. Desse modo, depois de terem convivido ao longo dos séculos com uma história concebida pelos europeus, os africanos buscaram escrever outra narrativa do Velho Continente, criando um novo enredo e contestando as verdades disseminadas até então pelos ocidentais. Ao falar sobre essa tendência, o filósofo e escritor anglo-ganês Kwame Anthony Appiah, em seu livro, Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura (1997), no capítulo intitulado “A invenção da África”, assim se manifesta: -6-


Podemos reconhecer que a verdade não é prioridade de nenhuma cultura; devemos apoderar-nos das verdades de que precisamos onde quer que as encontremos. Mas, para que as verdades se transformem na base da política nacional, em termos mais amplos, da verdade nacional, há de se acreditar nelas; e saber se as verdades que retiramos do Ocidente serão ou não dignas de créditos depende, em grande medida, de como consigamos administrar as relações entre nossa herança conceitual e as ideias que correm a nosso encontro, vindas de outros mundos (APPIAH, 1997, p. 21)2. Nesse contexto, podemos destacar que, ainda no período colonial e, especialmente, depois da independência, os países africanos de língua inglesa, francesa e portuguesa, se posicionaram na defesa das tradições e da cultura africana, e passaram a lutar contra uma “verdade específica a eles imposta, a fim de instituírem sua própria ordem independente” (SAID, 2005, p.953). E ao tomarem posse da palavra, lançaram-se a contar outra versão de sua história, criando um novo enredo, em que aparecessem como protagonistas, e não mais como meros objetos de cena, contestando assim as verdades disseminadas, até então, pelos ocidentais. Na década de 70 do século XX, período em que os países africanos de língua portuguesa conquistaram a independência do domínio lusitano, as literaturas produzidas nesses territórios passaram a ganhar certa visibilidade, vindo a alcançar, nos dias atuais, um espaço considerável. Todavia, a representação do continente africano tem se perpetuado como um processo árduo, um consumido tempo e investimento de fé, para que, a longo prazo, este começasse -7-


a ser visto em todo seu vulto, em termos étnicos, culturais, econômicos, religiosos, científicos e literários, tendo assim alçado da representação negativa de território selvagem e primitivo, à de um espaço capaz de produzir conhecimento. Essa questão se evidencia com mais clareza no texto de Laura Cavalcante Padilha, uma das maiores estudiosas das literaturas africanas de língua portuguesa da atualidade: Como uma pesquisadora estrangeira que escolheu as literaturas africanas [...] sempre pus em xeque, ou tentei fazê-lo, qualquer forma de exercício da ‘colonialidade do poder e do saber’ [...]. Quero lembrar que tal exercício foi o responsável pelo fato de a África ter sido expulsa, por muito tempo, do espaço acadêmico brasileiro. O neocolonialismo teórico a cobria, em passado nada remoto, como um manto de silêncio e apagamento, ou seja, não se permitia que se reconhecesse em sua história, filosofia, literatura, etc., manifestações de formas sedimentadas de conhecimento e cognição (PADILHA, 2008, p. 584). Assim, antes excluídas dos espaços acadêmicos e, quando não, sempre de maneira derrogatória, de modo geral, as literaturas africanas: francófona, anglófona e, sobretudo, a lusófona, estão se consolidando cada vez mais. Todavia, para a maioria do público brasileiro, inclusive estudantes da área de Letras, esse sistema literário ainda é pouco conhecido. Este livro tenta, assim, sensibilizar outros olhares para o reconhecimento de uma arte que já tem em si o valor de ser produzida contracorrente, em resposta a pressões que caracterizam ao longo da história um processo de invisibilização. Para tal tarefa, a obra que aqui se apresenta divide-se em quatro seções: na primeira, apresentamos textos de -8-


diversos pesquisadores que versam sobre a produção dos países africanos de língua portuguesa, aqui representados pela Literatura Angolana e pela Literatura Moçambicana. Este primeiro momento é que dá título e corpo à proposta deste livro. Na segunda seção, apresentamos textos sobre a literatura afro-brasileira e sobre a implementação das culturas africanas e afro-brasileiras no contexto da educação básica em nosso país. O objetivo desta segunda seção é ampliar o debate sobre as Literaturas Africanas para uma reflexão sobre seus diálogos com a cultura, a literatura e a sociedade brasileiras. Na terceira seção, apresentamos uma entrevista com a escritora Angolana Isabel Ferreira, que pretende enriquecer o debate aqui suscitado, além de apresentar novos olhares sobre o processo criativo e a produção da autora. Por fim, na quarta seção, apresentamos um relato ficcional que nos coloca diante de um jogo de contrastes que caracteriza com pertinência o diálogo e o embate intercultural que permeiam boa parte das discussões aqui levantadas. De tal modo, lançamos aqui um olhar atento a narrativas imbuídas de forte tendência política e social, com um olhar crítico no presente, no passado e esperançoso no devir.

Franciane Conceição da Silva Julho de 2016.

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 Esta foi uma prévia de Literaturas Africanas: narrativas, identidades, diásporas Compre este e outros livros da Clock-Book em www.clock-t.com


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