dezembro 2020 Jorge Romão, artista plástico oriundo do Painho
«Todos os sucessos da minha vida tiveram início aqui no Painho» Jorge Romão é um criador de arte que tem o Painho como «eterno local de pertença». Profissionalmente dedicado à reinserção social, é autodidata no seu trabalho artístico, profusamente elogiado. É ao Painho que agradece o ímpeto das artes, a que recentemente deitou mãos.
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Fomos ao encontro de Jorge Romão, no final de setembro, por ocasião da vigência da sua mais recente exposição de pintura, «Fragmentos e Contrastes» (ver pág. 12), montada com esmero numa antiga mercearia que hoje dá lugar ao Espaço Sr. Serafim, no Painho. Isto, após  «O Painho está sempre presente na minha pintura, mesmo de forma subentendida» ter passado pela Galeria Arte Graça, em Lisboa, onde já é um expositor habitual. «Inicialmente era para -me a espalhar e a misturar as cores, e vão aparecendo forser apenas uma exposição de pintura», conta o autor, exal- mas. Eu não sei como é que aquelas formas vêm, por isso tando o património que encontrou na antiga loja painhense, é que digo que isto é uma obra a dois», declara, aludindo à onde se inclui o importante espólio fotográfico do já falecido mística possibilidade de haver «uma mão de outrem» para Sr. Serafim. «Decidi, então, complementar a exposição com além de si próprio na execução dos quadros, sentindo que só uma homenagem merecida ao Sr. Serafim, recriando o am- entra na fase final das suas criações. biente da mercearia, na época, com objetos expostos que fa- «Na primeira exposição, houve alguém que me disse que eu ziam parte da loja, outros que fazem parte da minha coleção me inspirava num pintor muito famoso, o pintor mais caro particular, outros ainda que eu pedi emprestados a alguns deste momento, que é Gerhard Richard, uma pessoa que eu antiquários em Lisboa, e criámos este ambiente intimista», nem sequer conhecia», exclama, salvaguardando que não relata, enaltecendo o trabalho artesanal também ali expos- quer ser catalogado com correntes artísticas. «Tanto posso to, da autoria de Jaime Rodrigues, filho do homenageado. «O pintar um quadro a imitar azulejo como posso pintar o mais Painho ganhou este espaço, que é um equipamento cultural abstrato possível, ainda que, tendencialmente, o meu traço invulgar», realça. vá para árvores e paisagens do Painho. O Painho está sempre Jorge Romão ali reuniu duas exposições temáticas, uma das presente na minha pintura, mesmo que de forma subentenquais “Fragmentos”, pinturas em quadrículas inspiradas nos dida», salienta. azulejos de Lisboa, embora evocando a ruralidade do Painho. As coleções“Fragmentos”e“Contrastes”não se distanciam das A coleção esteve exposta, pela primeira vez, de dezembro de suas antecessoras – as exposições “Ímpetos”/”Retrospetiva” e 2019 a janeiro de 2020, no Campus de Justiça. «Depois, em “Ímpetos 2”, que passaram pelo Concelho entre 2018 e 2019. julho, convidaram-me para expor na Galeria Arte Graça, e eu, «Há sempre uma continuidade na minha pintura, desde que como não queria repetir a exposição “Fragmentos”, levei par- comecei a pintar, em 2018», diz. O que poderá variar prendete dela e fiz uma nova, a que chamei “Contrastes”», explica. -se com o desenvolvimento de novas técnicas. «Nunca fui Contando com os já vendidos, as duas coleções totalizam para nenhuma escola de pintura nem desenho; tenho deperto de 70 quadros. senvolvido as minhas técnicas, utilizando materiais que não Nesta segunda vez que Jorge expõe trabalho no Painho, passa pela cabeça de ninguém, desde escovas, pentes, guarvoltou a ter boa recetividade, como aliás já acontecera em danapos, tudo o que possam imaginar», nota. agosto, em Lisboa. «Já a primeira exposição que fiz, em 2018, Integra atualmente coleções privadas em vários países – Dutinha tido uma aceitação muito boa. Houve comentários que bai, Luxemburgo, França são alguns deles. «São pessoas do me deixaram incomodado e desassossegado… Houve um Painho ou de Lisboa que têm familiares no estrangeiro e goscrítico de arte que me disse que eu era, provavelmente, o Al- tam de enviar os quadros», aponta. mada Negreiros do séc. XXI. Aquilo deixou-me incomodado «A pintura começou por brincadeira; uma colega minha porque o Almada Negreiros é, para mim, o expoente máximo desafiou-me a fazer um quadro para o seu gabinete, eu fiz, da cultura portuguesa. Longe de mim estar a comparar-me gostaram e começaram a dizer-me que tinha de pintar mais. com ele», observa o pintor painhense. Ao fim de seis meses tinha 60 quadros e percebi que tinha «Eu começo a pintar e nunca sei para onde é que vou! Limito- material para expor. E o ritmo continua. Eu sou capaz de estar -me a lançar a tinta para as telas, depois utilizo espátulas de cinco, seis meses sem pintar, mas se em janeiro me disserem construção civil e de pintura, raramente uso pincéis. Limito- que precisam de quadros para expor em abril, eu até lá pinto