4 minute read

rita spider inspiração para jovens artistas

Dançar é-lhe tão natural como andar. Em criança idealizava ao pormenor espetáculos, coreografias e cenários. A criatividade, desassossego e trabalho levaram-na a palcos como o Cirque du Soleil. Pelo meio de uma vida em constante movimento, que passa por West End ou Hollywood, Rita Spider volta a Sesimbra para partilhar a sua experiência com jovens que têm a mesma paixão pela dança.

desde miúda que dança, em casa, na escola, na rua, em qualquer lado onde existe espaço. No recreio era reconhecida por andar sempre de auscultadores, a ouvir música e com a cabeça nas nuvens, a idealizar espetáculos. «Sempre a praticar tudo aquilo que aprendia nas aulas de dança, tinha uma vontade constante de me mexer, de explorar, de criar», recorda Rita Spider, coreógrafa, bailarina e professora de dança que tem no currículo espetáculos em West End, Hollywood e no Cirque du Soleil. Desde janeiro, passou vários fins de semana a trabalhar com 20 jovens de Sesimbra que tiveram o privilégio de participar numa formação intensiva no âmbito do projeto Loop Gate Fest, que culminou com o espetáculo Vortexxx no Cineteatro Municipal João Mota.

Advertisement

Primeiros passos

Quem conhece de perto Rita Spider sabe que sempre foi determinada, trabalhadora e de sorriso aberto, para quem dançar sempre foi natural, a sua forma preferida de brincar.

Em criança saía da escola a correr para o trabalho da mãe, um centro de estética e ginásio, que era o maior espaço dedicado à atividade física da zona de Sintra «e um pouco revolucionário para a altura». Aqui passava os dias a dançar, fazer ginástica e até artes marciais. O movimento sempre foi a sua principal forma de expressão.

«Fiz ginástica acrobática de competição e muitas outras atividades desportivas, para além da dança». Com uma mãe apaixonada pelas artes e um pai músico, ir a espetáculos fazia parte da rotina fami- liar. «Comecei desde muito cedo e muito intuitivamente a fazer as coisas nesta direção.o», const

Voar no Cirque du Soleil: a artista

Um caminho que a levou a palcos em Nova Iorque, a sua segunda casa, Los Angeles ou Londres e a trabalhar com companhias internacionais.

«Fui crescendo, até chegar ao Cirque du Soleil, um sonho de criança. A primeira vez que vi fascinou-me, pensei “isto para mim é o espetáculo com que me identifico”, porque aborda várias áreas, começa por ser circo, mas também é música, dança, acting», explica.

Entre 2011 e 2015, o sonho concretizou-se, quando foi a única artista portuguesa a participar na digressão da companhia canadiana com o espetáculo Immortal, de homenagem à carreira de Michael Jackson. «Estava no Cirque du Soleil e logo com a equipa que trabalhou durante anos com Michael Jackson. Foi ouro sobre azul», confessa.

A internacionalização começou cedo. «Entrei muito nova para um grupo ligado ao hip-hop, os 3F - Funky for Fun, com 11 anos, era a mais nova, e foi aí que comecei a pisar palcos maiores como o Coliseu», recorda. Aos 17 anos foi para Londres estudar Dança e trabalhar. «Entrei numa outra viagem, diferente, com outra dimensão, porque existe dinheiro para as produções, e em Portugal ainda continuamos nesta luta, apesar de já existir um investimento que não existia nos anos 80 e 90».

Criar fora de palco: a coreógrafa

Nunca mais parou de dançar profissionalmente e, para si, o mais importante, nunca deixou de criar. «A parte criativa sempre foi a que mais me fascinou. Acabei por me tornar diretora criativa de vários espetáculos».

Reconhecida pelo seu talento, técnica e capacidade de trabalho, tem sido convidada por encenadores, que contam consigo para coreografar peças como Chicago ou Noite de Reis, no Teatro da Trindade, para além dos espetáculos que cria em nome próprio, como Smile, onde Charlie Chaplin é uma clara inspiração. Um sucesso alcançado com um grande investimento pessoal e financeiro em formação.

«Estudei várias áreas artísticas. A que explorei com mais dedicação foi a dança, embora tenha passado pela música, pelo circo, pelo teatro». Fez formação nos Estados Unidos, em França ou Inglaterra. «Trabalho para estudar», resume.

«As pessoas só veem o produto final, mas há todo um pro- cesso até lá. O que mais me fascina é mesmo o processo criativo, até ao momento final. Quando estreia preciso de outro processo criativo.»

Inspirar jovens artistas: a formadora

Rita Spider trabalha com co reógrafos e companhias de nível internacional, um sonho de mui tos bailarinos ou diretores artísti cos, mas volta sempre a Portugal. A sua realização passa por aprender, idealizar espetáculos, pensá-los ao pormenor. Passa de igual forma por mostrar que é possível viver da arte, por ins pirar jovens e fazê-los acreditar que podem chegar mais longe na dança. É uma tarefa «às ve zes mais exigente do que estar em palco».

Também aqui começou cedo. Aos 14 anos já era convidada pa ra partilhar o que sabia. «Não me considerava professora ou instrutora, e ainda não me considero, transmito ape nas aquilo que me foi passado e depois coloco mais um tempero por cima», diz, numa analogia com a cozinha para explicar de forma simples o processo cria tivo.

Foi através de um destes convites para dar formação que chegou à Quinta do Conde, ao grupo de hip-hop 14 anos. «As aulas eram numa coletividade e correu muito bem». Tão bem que voltou ao longo de vários anos, e foi ins piração para alguns alunos que seguiram profissionalmente esta área.

Em 2023, aceitou o convi te para voltar a Sesimbra, para o Loop Gate Fest dois grupos de jovens, um com experiência profissional de dança, e outro de alunas que não sabem se querem seguir profissionalmente esta área, mas sabem que a dança faz parte das suas vidas. Ao longo de vários fins de semana encontravam-se onde encontra uma cultura que «abraça» todos sem distinção, como sentiu no Bronx, onde conheceu alguns dos pioneiros deste género.

Entre viagens, volta sempre a Portugal, onde tem a família, o sol, o mar e o calor do público

This article is from: