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O QUEBRA-NOZES
O QUEBRA-NOZES
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COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO DIREÇÃO ARTÍSTICA SOFIA CAMPOS
O QUEBRA-NOZES MEHMET BALKAN PIOTR ILICH TCHAIKOVSKI
TEATRO CAMÕES 6 DEZ — 22 DEZ 2019 TEATRO JOAQUIM BENITE 28 DEZ — 29 DEZ 2019 TEMPORADA 19—20
LISBOA, TEATRO CAMÕES DEZEMBRO 2019 DIAS 6, 12, 13, 18, 19 E 20 ÀS 21H DIAS 7, 14 E 21 ÀS 18H30 DIAS 15 E 22 ÀS 16H ENSAIO GERAL SOLIDÁRIO 5 DE DEZEMBRO ÀS 21H ESCOLAS 11 E 17 DE DEZEMBRO ÀS 15H
Mehmet Balkan Piotr Ilich Tchaikovski MÚSICA
Mehmet Balkan Olaf Zombeck DRAMATURGIA SEGUNDO
E. T. A. Hoffman Olaf Zombeck CENOGRAFIA E FIGURINOS
Cristina Piedade DESENHO DE LUZ
Orquestra Sinfónica Portuguesa INTERPRETAÇÃO MUSICAL
Pedro Neves DIREÇÃO MUSICAL
Academia de Amadores de Música CORO
Vítor Paiva MAESTRO
Bailarinos da CNB e Alunos da Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional INTERPRETAÇÃO
ESTREIA ABSOLUTA
São Petersburgo, Teatro Mariinsky, 18 de dezembro 1892 ESTREIA CNB
Lisboa, Teatro Camões, 20 de dezembro de 2003 Companhia Nacional de Bailado PRODUÇÃO
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ALMADA, TEATRO MUNICIPAL JOAQUIM BENITE DEZEMBRO 2019 DIAS 28 E 29 ÀS 21H
COREOGRAFIA
ARGUMENTO
SINOPSE Baseado no conto O Quebra-Nozes e o Rei dos Ratos, de E. T. A. Hoffman, o bailado O Quebra-Nozes é a história de uma menina que, na noite de Natal, sonha com o Soldado Quebra-Nozes. Numa feroz batalha contra o Rei dos Ratos, Quebra-Nozes encontra-se em grave perigo, mas Clara, vencendo os seus próprios medos, entra nesta batalha e, com a ajuda dos soldadinhos, derrotam o Rei dos Ratos. Transformado agora num príncipe, o Quebra-Nozes conduz Clara pela floresta, onde assistem à dança dos flocos de neve, com destino ao Reino das Maravilhas.
PRÓLOGO É véspera de Natal. Visitantes tardios passam apressados e, carregados de prendas. Além, numa casa senhorial, abre-se a porta de entrada para deixar entrar os convidados. Começa a nevar. Por todo o lado se prepara a consoada. Uma velhinha pobre vende as últimas castanhas por baixo das árvores e é convidada por uma menina a passar a Noite de Natal no calor e carinho da sua família.
ATO I 1.ª CENA — A CONSOADA
Entra Drosselmeier, o mágico. É cómico e um pouco sinistro! Ouvem-se sussurros: “Parece que ele sabe enfeitiçar”… Vejam, como brilha a Árvore de Natal... Tantos presentes… E como está linda a mesa decorada e cheia de iguarias!… Fritz está feliz com um pequeno regimento de soldados – heróis corajosos sem dúvida – e a Clara? Clara também recebeu um herói: é um Quebra-Nozes lindo, o príncipe dos seus sonhos. Que noite tão divertida, transbordante de alegria e de exuberância, com os avós a dançar, saudosos dos tempos da sua juventude. Seguem-se as despedidas: Boa noite! Feliz Natal! Adeus!… Cansado e esgotado, Drosselmeier sobe a escada para finalmente poder descansar, que bem merece! Dorme bem Clara!…
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No interior da casa, uma sala decorada para o Natal, num brilho suave, recebe os seus últimos convidados. Os pais da menina dão as boas vindas à velhinha pobre e pedem a Clara – assim se chama a filha – para a acompanhar até a poltrona, para que se aqueça ao calor da lareira.
ATO I 2.ª CENA — MEIA-NOITE Agora é noite escura. A Árvore de Natal brilha misteriosamente à luz da lua e das estrelas. Clara desce de mansinho as escadas, vem à procura do seu novo amigo, o Quebra-Nozes. É ele que vai proteger e guiar os seus sonhos. O relógio bate as doze badaladas. O ponteiro indica a meia-noite …Alguma coisa se mexeu ali? Será uma brincadeira? …Quem está a sussurrar? Uma ratazana?… Não pode ser! Outra, e mais outra… Socorro! Socorro!… Drosselmeier acordou assustado e com uma vela na mão tenta descer a escada com todo o cuidado… Clara e o Mágico assustados, chocam um com o outro. Ratazanas! Um exército de piratas! Socorro!… A velhinha vendedora de castanhas transforma-se na Fada das Castanhas e com gestos determinados ela afasta o pesadelo… E vejam… Ah, a sala tornou-se enorme e a Árvore de Natal cintilante cresceu também! Clara fica fascinada com toda esta mudança. Ouve-se o rufar dos tambores e o soar das trombetas. Os soldadinhos investem. Nós já os conhecemos, são do regimento do pequeno Fritz e, comandados pelo Quebra-Nozes de Clara, corajoso e determinado, atacam com um canhão de enorme. As espadas brilham no meio do fumo da pólvora...Por momentos parece que tropas das ratazanas ganham terreno: o terrível rei dos Ratos, exige o máximo de todos! Mas a protectora Fada das Castanhas juntamente com Clara e Drosselmeier conseguem pôr o malvado bando de ratazanas em debandada. O fumo dissipa-se. No mais fundo da sua imaginação Clara vê surgir o seu Quebra-Noze, agora transformado em Príncipe. Carinhosamente ele acompanha Clara ao Reino da Paz e dos bons sonhos.
ATO I 3.ª CENA — UM CONTO DE INVERNO Flocos de neve pairam em silêncio, giram e rodopiam ao ritmo de uma melodia envolvente. Subitamente, Clara é levada a voar através de uma floresta cintilante no Inverno profundo. Ao lado da Fada das Castanhas, voa para um Mundo em que todos os desejos são satisfeitos...
O mundo desabrochou e está cheio de esperanças. Clara enlevada observa os toureiros fogosos a cortejar as suas senhoritas adoradas. E, num piscar de olhos, Clara vê o pôr-do-sol no deserto egípcio; encontra mandarins com as suas vaidosas concubinas, e dois cossacos galhofeiros que parecem querer mudar o mundo, doidos de alegria e vontade de viver. Como é bom viver, não é? Só faltam os doces deliciosos, as guloseimas… Chupa-chupas divertidos… Parece mesmo um verdadeiro circo! Por todo o lado há algo que pula, salta, rodopia numa confusão multicolor. Reina a alegria. E a paz. Num relvado imenso de flores, a Fada das Castanhas dança uma valsa com o seu par e seus acompanhantes mesmo antes de Clara e o seu Príncipe dançarem juntos novamente. Este é um mundo maravilhoso envolto numa magia conturbada. O Tempo e o Espaço transformam-se numa grandiosa apoteose. EPÍLOGO …mesmo o sonho mais bonito tem que acabar. A boa Fada sabe que tudo tem uma razão de ser. Clara acorda: nos seus braços segura o Quebra-Nozes… Que noite de Natal tão maravilhosa! Será que foi tudo um sonho? Aí está a Árvore de Natal, as escadas… Foi assim? Será sempre assim?…
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ATO II NA PRIMAVERA
MEHMET BALKAN
Mehmet Balkan nasceu em Ancara. Iniciou os seus estudos em dança com 8 anos de idade, no Conservatório Nacional da Turquia, tendo obtido o diploma de curso com louvor. Posteriormente, obteve uma bolsa de estudos para o Teatro Bolshoi e outra na Escola do Royal Ballet de Londres. Foi bailarino solista no Ballet Nacional de Ankara e em 1978 participa no Concurso Internacional de Varna, tendo alcançado a Medalha de Bronze. Foi bailarino solista no Teatro Nacional de Munique, primeiro Solista na Ópera Estatal da Baixa Saxónia em Hannover e no Teatro Municipal de Bona e bailarino principal do Ballet de Pittsburgh. Em 1984 e novamente em 1988, Mehmet Balkan ingressa no Ballet Real da Flandres em Antuérpia, Companhia na qual cria o seu primeiro bailado, Concerto. A partir de 1987, Mehmet Balkan acumula funções de Mestre de Bailado e Coreógrafo e em 1990, regressa à Ópera da Baixa Saxónia (Hannover) como Mestre de Bailado. Como bailarino Solista convidado, Mehmet Balkan dançou nas seguintes companhias: Ópera Metropolitana de Nova Iorque, Ballet de Calgary (Canadá), Ópera de Berlim, Ópera de Dusseldorf, Real Ballet da Flandres, London Festival Ballet e Tokio Ballet Theater, entre outros. Em 2000, Mehmet Balkan foi director artístico do Ballet da Ópera de Hannover. De 2002 a 2007 foi diretor artístico na CNB. Desde 2001 tem sido convidado como professor e coreógrafo no Reino Unido, Itália, Espanha, Suécia, Turquia, Alemanha, Japão e Portugal. A partir de 2009 é coreógrafo principal do Ballet Nacional da Turquia e desde 2014 diretor artístico do Concurso do Festival de Ballet de Instambul. Tem igualmente desenvolvido trabalho como encenador e coreógrafo em produções de ópera. Em 2003 e 2005 é nomeado pela revista Dance Europe como um dos melhores directores artísticos do ano pelo trabalho desenvolvido com o Ballet de Hannover e CNB respetivamente. Em 2006 é premiado pela Associação dos Amigos da CNB, pela sua coreografia de D. Quixote.
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BIOGRAFIA
NOTAS A PARTIR DOS ENSAIOS DE O QUEBRA-NOZES
PRIMEIRAS VEZES SUSANA MOREIRA MARQUES
DEZEMBRO 2019
São Francisco. San Francisco Ballet. Espetáculos todos os dias, dias de semana e fins-de-semana, incluindo véspera de Natal e dia de Natal. Os americanos não brincam em serviço e muito menos no Natal. Levam muito a sério tradições como esta: no Natal, as famílias vão ver O Quebra-Nozes; se não há O Quebra-Nozes é como não haver rabanadas. Barbora Hruskova lembra-se de estar prestes a entrar em palco. Fazia a cena da dança das neves, e também a dança chinesa e a valsa das flores. Lembra-se dos nervos, da adrenalina, da satisfação, do cansaço, do alívio, do prazer, do ritmo intenso de representações. Lembra-se que o Natal acontecia sobretudo em palco. Enquanto a tradição para todos os outros era irem ver O Quebra-Nozes, para os bailarinos a tradição era dançá-lo. Essa foi a primeira vez que dançou O Quebra-Nozes. Foi a sua estreia profissional. Depois, voltaria a dançar O Quebra-Nozes em Antuérpia, com o Royal Ballet da Flandres, outra versão diferente, o bailado metamorfoseando-se conforme os coreógrafos, indo buscar genealogias, interesses ou desinteresses, recuando até Marius Petipa, Lev Ivanov, Tchaikovski, São Petersburgo, 1892, um bailado russo de inspiração francesa, criado para incluir o mundo inteiro no sonho, deslumbrar para os séculos. Depois, Hruskova voltaria a dançar O Quebra-Nozes em Lisboa. Foi a sua estreia na CNB, em 2003. A memória é, para uma bailarina, para uma ensaiadora, ou para uma mestre de bailado, como ela é agora, – e para uma artista em geral – um precioso instrumento de trabalho. Enquanto está sentada no palco do Teatro Camões – ao lado do coreógrafo Mehmet Balkan, que veio a Lisboa acompanhar parte da remontagem do seu O Quebra-Nozes – e observa uma bailarina ensaiar passos da Fada do Açúcar, Barbora Hruskova lembra-se, como se tivesse sido há muito pouco tempo, de quando ela dançou aqueles passos. Aquele momento ao som da música que parecem gotas a cair numa fonte, tal e qual como o coreógrafo Petipa tinha pedido ao compositor Tchaikovski que soasse. Lembra-se das indicações que Mehmet Balkan lhe deu quando ela dançou aquele que é considerado um dos mais difíceis pas de deux do repertório clássico. Lembra-se como aquela experiência foi importante para a sua própria exigência enquanto bailarina, para perceber que podia ir sempre um pouco mais longe. Mesmo quando parecia impossível, seria possível. Mais tarde, já Mehmet Balkan tinha voltado a partir, e tinham começado os ensaios em palco com cenário, com corpo de baile, com as crianças vindas da Escola Artística de Dança do Conservatório Nacional, juntando-se tantos elementos diferentes,
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Lembre-se da primeira vez. A primeira vez que abriu uma prenda de Natal muito esperada. A primeira vez que viu o seu filho ou filha abrir uma prenda de Natal muito esperada. A primeira vez que esteve fora de casa no Natal. A primeira vez que sentiu falta de alguém no Natal. A primeira vez que viu neve. Um primeiro sorriso na neve. Essa imagem, por exemplo. Uma mão a agarrar neve, achando que se atingiu o cume da montanha. A primeira vez que ficou com os pés molhados, ou enlameados, quando a neve começa a derreter. A primeira carta, pelo seu punho, pedindo a um senhor de barbas qualquer coisa para inteira felicidade futura. A primeira vez que apanhou os pais em flagrante e a magia se perdeu. A primeira vez que passou o Natal com alguém que amou pela primeira vez.
e Barbora Hruskova pensava muitas vezes nos pais. O Quebra-Nozes tem esse efeito nela. Os pais tinham uma escola de dança e talvez tivesse sido aí a sua primeira incursão pelo trabalho de ensaiadora, de estar nos bastidores a dançar através dos outros, já não estar preocupada apenas com o seu papel mas com a performance de todos os bailarinos. Os pais decidiram montar O Quebra-Nozes com os alunos e ela ajudou a fazer acontecer. É novembro, e novembro é sempre um mês demasiado curto para terminar de montar um O Quebra-Nozes. Falta sempre tempo. Em palco, estão muitos bailarinos, alguns que esperam uma chamada para começar a dançar. Já lá está a grande árvore de Natal que vai cintilar à noite. Há um piano, porque ainda não começaram os ensaios com orquestra. As crianças, sob instrução do professor, vão e vêm entre a plateia – onde se sentam a cochichar e a ver os telemóveis – e o palco, onde subitamente se tornam atentas, disciplinadas, e os seus pequenos corpos ocupam um espaço inesperado. Algumas fizeram O Quebra-Nozes com a CNB em 2018 e sentem-se já experientes, mas para outras esta é a sua primeira vez e, provavelmente, um dia, quando chegarem a dançar papéis principais, lembrar-se-ão destes ensaios. Se não pode dar a volta ao mundo, lembre-se que há outras formas de o fazer. Que outras pessoas estão neste momento a chegar a um teatro, a pegar numas folhas de papel que explicam qualquer coisa sobre o que vão ver, que tiram os casacos, que descem o assento da cadeira, que se acomodam, que sentem uma emoção, qualquer coisa de inexplicável pois não é sobre elas que os projetores recaem quando a luz da sala começa a diminuir. Lembre-se que o escuro pode ser qualquer lugar – tal como o palco. Lembre-se que outras pessoas amam histórias de Natal e outras odeiam e outras, ainda, amam e odeiam ao mesmo tempo todo o conceito do Natal, aquela coisa de ser bondoso, aquela coisa de acreditar, porque afinal trata-se não de acreditar no Menino Jesus, no Pai Natal, nos Reis Magos, nas Fadas, mas acreditar nos outros, isto é, em nós mesmos. A primeira vez que Mehmet Balkan viu O Quebra-Nozes foi em Inglaterra. Era muito miúdo e estava a estudar dança. É fácil um miúdo deixar-se fascinar pelos flocos que caem em palco, pelas “neves” que rodopiam. Um miúdo viaja facilmente com os “divertissements” do bailado, vai com a Clara ao Egito, à Rússia, a Espanha... Um miúdo olha para o Grand Pas de Deux e sonha um dia ser ele a fazer aquilo, a provocar uma reação em quem vê como a que está a ser provocada nele. Anos mais tarde, antes de entrar num palco, na Alemanha, lembra-se disso. Pensa que está a acontecer, que algo que sonhou se transformou mesmo em realidade. Que vai entrar em palco e vai dançar o Grand Pas de Deux de O Quebra-Nozes. E, outra vez, muito mais tarde, ao decidir coreografar O Quebra-Nozes, na CNB, lembra-se disso. Essa memória, de infância e juventude, desse deslumbre, foi fundamental para a sua coreografia. Todos os coreógrafos de ballet clássico desejaram montar um O Quebra-Nozes, imensos o fizeram, muitos fizeram-no soberbamente. Que houvesse ainda qualquer coisa para dizer – ou que se sinta que se pode dizer a mensagem de
Depois de lembrar tantas coisas, esqueça que os bailarinos são outras pessoas quando desaparecem nas laterais do palco. Esqueça que as bailarinas perdem muito tempo a tratar das suas sapatilhas, a colocar as fitas. Esqueça que, ao tentar ser uma fada, dançar como uma fada, dançar impossivelmente, como se nada falhasse nunca no corpo, uma bailarina nunca pode estar contente. Esqueça se a bailarina sabe que as meninas que a vêem querem ser como ela, querem transformar-se numa fada. Querem ser sonho tornado matéria. Dez minutos antes do ensaio começar, Filipa de Castro já está em palco. Está sentada ao fundo. De onde ela está, vê-se a parte de trás da árvore de Natal, despida, sem verde, sem enfeites. Dali, vê-se também o interior do teatro, o esqueleto, mas não é um lugar vazio. Está cheio de objetos, das tantas coisas que fazem um espetáculo funcionar e que uma equipa enorme de pessoas sabe esconder bem. Filipa de Castro tem à volta as suas coisas: um saco, roupa, um tutu, sapatilhas de ballet, fitas para as sapatilhas. Ela coloca as fitas nas sapatilhas. Quando o ensaio começar, tem que estar completamente pronta a entrar em palco caso a chamem. Ela é Clara, e Clara atravessa todo o espetáculo. Aparece em praticamente todas as cenas. Tem estado a trabalhar nisso com os ensaiadores: a pensar em como ela deve estar sempre visível embora sem distrair a performance dos outros, porque Clara é o fio condutor e o espetador deve sempre identificar-se com ela. No fundo, tudo o que vemos, todo o encanto, é imaginado ou sonhado por Clara. Nós vemos pelos olhos dela. Clara é uma protagonista narradora. Neste caso, é até uma narradora que se transforma na sua personagem, pois Clara transforma-se na Fada do Açúcar que imagina.
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O Quebra-Nozes de novo, de outra forma – é um testamento à intemporalidade do bailado clássico, mas também à maleabilidade da arte da dança, como algo que pode ser sempre repetido, mas tornado novo. Os corpos que dançam são diferentes, ainda que tudo o resto possa ser igual. Saber como fazer com que esses corpos se expressem plenamente – sejam férteis, ou “felizes”, no sentido antigo de feliz, do latim félix, que vem de produzir – é o desafio do coreógrafo. Para Mehmet Balkan, o trabalho é tão técnico, partindo da experiência, da correção, da repetição, da crítica – mas também do elogio – do rigor, da escolha de determinados sublinhados nos movimentos, como é um trabalho motivacional, quase psicológico. O coreógrafo deve fazer os seus bailarinos, primeiro, acreditarem, na coreografia, e, depois, acreditarem neles mesmos. É, então, que são felizes. É, então, que podem tornar outros felizes. O Quebra-Nozes é um exercício em encantamento. Sonhar é importante – assim como fazer sonhar – para que o mundo avance. Para Balkan, sem sonhar ficaremos iguais. Essa era a mensagem que esteve sempre lá no O Quebra-Nozes – e Balkan revisitou várias montagens do bailado, a sua história, e o conto original de E. T. A. Hoffman, para o recriar –, uma simples mensagem de Natal, tão simples que corremos o risco de deixar de a ver: basta ajudarmo-nos, prestarmos atenção uns aos outros.
Quando dançou O Quebra-Nozes de Mehmet Balkan na estreia em 2003 – o seu primeiro espetáculo com a CNB, acabada de chegar de Antuérpia – já era Clara, mas Clara observava a Fada, fascinava-se com ela, mas não chegava a “ser” ela. Depois, Mehmet Balkan decidiu alterar a narrativa. E Clara – no seu sonho de menina, na sua história – transforma-se na Fada. Filipa de Castro não tem dúvida de que a maior parte das meninas preferirá esta versão: aquela em que elas se transformam numa princesa e dançam com o seu príncipe. O Quebra-Nozes foi o bailado onde dançou pela primeira vez com Carlos Pinillos. Aconteceu, de certa maneira, como num sonho, num conto: duas pessoas que se encontram em palco e tornam-se parceiras para a vida. Ela transformada em princesa, ele o príncipe por quem tinha esperado. Quando dançam são novamente uma dupla, mais do que um casal. Nos ensaios – e depois em palco – a preocupação deles é tornar aquele momento, um pas de deux histórico, em algo que ainda espante, que inspire, que deixe o público suspenso, maravilhado. O Grande Pas de Deux dançaram-no faz um ano. No Natal, claro. Dançam-no de novo este Natal. Mas nunca é igual. De cada vez, eles acreditam que vai ser melhor, continuam em busca dos pequenos pormenores que sabem fazer a diferença. Um ano depois, viveram outras coisas, são pessoas diferentes, e isso está no corpo e nas suas personagens. Essa busca, esse trabalho, diário, o nunca estar satisfeito, é como uma prenda que dão ao público. O Natal é feito sempre por alguém, para alguém. Imagine que se deixa acreditar no que vê em palco. E imagine que os bailarinos também acreditam que coisas extraordinárias acontecem no escuro do auditório enquanto eles dançam sob as luzes.
de Mehmet Balkan, dezembro de 2003. Fotografia de Alceu Bett.
Fotografia da primeira apresentação da versão de O Quebra-Nozes
Didier Chazeau e Filipa de Castro.
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CONSELHO DE
Anyah Siddall
MESTRE DE BAILADO
ADMINISTRAÇÃO
Carla Pereira
Barbora Hruskova
OPART
Catarina Grilo
Vogal
Elsa Madeira
PROFESSOR
Alexandre Miguel Santos
Filipa Pinhão
Filipe Macedo
Vogal
Inês Ferrer
Anne Victorino d’Almeida
Inês Moura
ENSAIADORES
Isabel Frederico
Freek Damen
DIREÇÃO ARTÍSTICA
Isadora Valero
Rui Alexandre
Sofia Campos
Leonor de Jesus
Tom Colin
Mar Escoda ADJUNTA DA
Margarida Pimenta
COORDENADORA
DIREÇÃO ARTÍSTICA
Maria Barroso
MUSICAL
Joana Ferreira
Maria Santos
Ana Paula Ferreira
A NOSSA COMPANHIA
Marina Figueiredo BAILARINOS
Miyu Matsui
COORDENADORA
PRINCIPAIS
Shiori Midorikawa
ARTÍSTICA EXECUTIVA
Ana Lacerda
Sílvia Santos
Filipa Rola
Filipa de Castro
Susana Matos
Filomena Pinto
Aeden Pittendreigh
PROFESSORES
Inês Amaral
Alejandro Sánchez
CONVIDADOS
Peggy Konik
Christian Schwarm
Thomas Gallus*
Alexandre Fernandes
Dylan Waddell
Mehmet Balkan*
Carlos Pinillos
Francisco Sebastião
Jenny Sandler*
Mário Franco
Frederico Gameiro
Irena Milovan*
Gonçalo Andrade BAILARINOS
João Carlos Petrucci
PIANISTAS
SOLISTAS
João Pedro Costa
CONVIDADOS
Isabel Galriça
José Carlos Oliveira
Diogo Vida*
Mariana Paz
Joshua Earl
Hugo Oliveira*
Paulina Santos
Miguel Esteves
Humberto Ruaz*
Brent Williamson
Nuno Fernandes
Luís d’Albergaria
Ricardo Limão
DIREÇÃO DE
Tiago Coelho
PRODUÇÃO CNB Diretora
BAILARINOS CORIFEUS
BAILARINOS
Andreia Pinho
ESTAGIÁRIOS
Annabel Barnes
Beatriz Williamson
Carla Almeida
Catarina Lourenço
Michelle Luterbach
Bruno Silva
Henriett Ventura
Nanae Yagisawa
Inês Amaral
Irina de Oliveira
Patrícia Main
Maria João Pinto
Raquel Fidalgo
ATELIER DE
Marta Sobreira
Francisco Couto
COSTURA CNB
Tatiana Grenkova
Francisco Morais
Paula Marinho
Lourenço Ferreira
Frederico Loureiro
(chefe de sector/mestra
Miguel Ramalho
Nuno Tauber
de costura)
Margarida Mendes
Ana Fernandes
Xavier Carmo VISITANTES
Conceição Santos
CORPO DE BAILE
DANCE PLANNER
Helena Marques
África Sobrino
19/20
Leopoldina Garcia
Almudena Maldonado
Seo Jung Yun
Andreia Mota
Yu Katagiri
DIREÇÃO
GABINETE DE APOIO
Vânia Guerreiro
TÉCNICA CNB
AO CONSELHO DE
Zulmira Mendes
Diretora
ADMINISTRAÇÃO
Cristina Piedade
Ana Fonseca
DIREÇÃO DE
Sector de Maquinaria
Anabela Tavares
MANUTENÇÃO OPART
Alves Forte
Maria Gil
Diretor
(chefe de sector)
Regina Sutre
Vítor José
João Martins
Nuno Pólvora
Nuno Cassiano Armando Cardoso
Marco Jardim Miguel Osório
ESTÚDIOS VICTOR
Artur Raposo
Sector de Som
CÓRDON
Carlos Pires
e Audiovisuais
Coordenação
Carlos Santos Silva
Bruno Gonçalves
Rui Lopes Graça
João Alegria
(chefe de sector)
Gestão de Projeto
Manuel Carvalho
Paulo Fernandes
Maria Luísa Carles
Nuno Estevão
Sector de Iluminação
Assistentes de
Rui Ivo Cruz
Pedro Mendes
Produção
(chefe de sector)
Tânia Alves
GABINETE DE
Frederico Albuquerque
Mário Oliveira
INFORMÁTICA OPART
DIREÇÃO FINANCEIRA DIREÇÃO
E ADMINISTRATIVA
DE CENA CNB
OPART
Diretor
Diretor
Henrique Andrade
Marco Prezado
Pedro Penedo
30—31
José Diogo
Sector Financeiro Conservação do
Fátima Ramos
Guarda-roupa
(chefe de sector)
Carla Cruz
Rute Gato
(chefe de sector/zeladora
Sector de Aquisições
de guarda-roupa)
Edna Narciso
Cristina Fernandes
(chefe de sector) André Viola
GABINETE DE
Lucília Varel
COMUNICAÇÃO E
Expediente
MARKETING CNB
Anabel Segura
Coordenação
Sandra Correia
Pedro Mascarenhas
Bilheteira
Canais Internet
Diana Fernandes
José Luís Costa
Luísa Lourenço
Vídeo e Arquivo
Rita Martins
Digital
Limpeza e Economato
Marco Arantes
Maria Conceição Pereira
Design
Maria de Lurdes Moura
João Campos*
Maria do Céu Cardoso Maria Isabel Sousa
OSTEOPATA
Maria Teresa Gonçalves
Soraia Xavier Marques
DIREÇÃO DE RECURSOS HUMANOS OPART
SERVIÇOS DE
Diretora
FISIOTERAPIA CNB
Alexandra Monteiro
Fisiogaspar*
Sofia Teopisto
* Prestadores de serviços.
FOTOGRAFIAS DE ENSAIO
INFORMAÇÕES AO PÚBLICO
FICHA TÉCNICA EDITORIAL
página 2 e 3 Miyu Matsui, Francisco Sebastião e Ana Lacerda
Não é permitida a entrada na sala enquanto o espetáculo está a decorrer (DL n.º 23/2014, de 14 de fevereiro); É expressamente proibido filmar, fotografar ou gravar durante os espetáculos; É proibido fumar e comer/ beber dentro da sala de espetáculos; Não se esqueça de, antes de entrar no auditório, desligar o seu telemóvel; Os menores de 3 anos não podem assistir ao espetáculo nos termos do DL n.º 23/2014, de 14 de fevereiro; O programa pode ser alterado por motivos imprevistos.
Coordenação
página 4 Inês Ferrer e Bailarinos da CNB página 5 Filipa de Castro e Carlos Pinillos página 6 e 7 João Costa e Andreia Mota página 8 e 9 Bailarinos da CNB página 10 e 11 Miyu Matsui e Francisco Sebastião página 12 e 13 Freek Damen e Bailarinos da CNB
Pedro Mascarenhas Edição
José Luís Costa Maria Santos Pedro Mascarenhas Fotografia da capa
Carla Pires Fotografias de ensaio
Hugo David Design gráfico
Estúdio João Campos Impressão
Greca Artes Gráficas Tiragem
Espetáculo M/6 Duração: 2h c/intervalo
5300 exemplares
CONTACTOS TEATRO CAMÕES
página 14 Tatiana Grenkova e Lourenço Ferreira
Passeio do Neptuno, Parque das Nações, 1990 - 193 Lisboa Telef. 218 923 470
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Mecenas Principal CNB:
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