PROGRAMA: O LAGO DOS CISNES

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DIREÇÃO ARTÍSTICA LUÍSA TAVEIRA

O LAGO DOS CISNES


O LAGO DOS CISNES Maio dias 17, 22, 23 e 24 às 21h dias 18 e 25 às 16h

Fernando Duarte coreografia segundo Marius Petipa e Lev Ivanov

ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA

Escolas 21 de maio às 15h

Piotr Ilitch Tchaikovski música

Cesário Costa direção musical

Vladimir Begitchev, Vasili libreto original Edgar Pêra filme José António Tenente figurinos Nuno Meira desenho de luz Adeline Charpentier Rui Alexandre Carlos Pinillos Fátima Brito ensaiadores

Estreia mundial CNB, Lisboa, Teatro Camões, 14 de fevereiro de 2013


A FUNDAÇÃO EDP É MECENAS PRINCIPAL DA COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO E MECENAS EXCLUSIVO DA DIGRESSÃO NACIONAL


O LAGO DOS CISNES ¯¯¯ Versão integral estreada no ¯¯¯ Teatro Marinski, São Petersburgo, ¯¯¯ 15 de janeiro de 1895

ATO I

NOS JARDINS DO PALÁCIO O Príncipe Siegfried festeja a sua chegada à maioridade. A Rainha, sua mãe, oferece-lhe uma besta de presente de aniversário e avisa-o que, no próximo baile, deve escolher uma noiva, facto que deixa Siegfried apreensivo e melancólico.

ATO III

NO SALÃO DE BAILE Os convidados chegam para o baile. A Rainha apresenta a Siegfried uma princesa russa, sua futura noiva, mas o Príncipe está de tal forma apaixonado por Odete que recusa dar-lhe atenção. Entretanto Von Rothbart desejando vingar-se da promessa de amor feita a Odete pelo príncipe, faz chegar ao baile a sua filha Odile, transformada em cisne negro. As parecenças de Odile com Odete são tais, que Siegfried acredita tratar-se mesmo da sua amada e não hesita em declarar publicamente o seu amor por ela. O Príncipe percebe o erro que cometeu, quando Odile se revela na despedida do baile.

ATO IV

À BEIRA DO LAGO

ATO II

À BEIRA DE UM LAGO Para alegrar o Príncipe, os seus amigos desafiam-no para uma caçada, durante a qual são surpreendidos por um bando de cisnes. Odete, a rainha dos cisnes, implora ao Príncipe Siegfried que não atire sobre as suas companheiras, explicando-lhe que são mulheres enfeitiçadas pelo Barão Von Rothbart, um mago perverso e poderoso. Siegfried apaixona-se por Odete e promete amá-la para sempre, único antídoto capaz de quebrar eternamente o feitiço de Rothbart.

INTERVALO

Desesperado, Siegfried vai à procura de Odete. A sua infidelidade faz com que o feitiço de Von Rothbart só possa agora ser quebrado através do sacrifício de ambos, restando-lhe afogar-se com Odete nas águas revoltas do lago. Von Rothbart, em fúria com esta prova de amor, assiste à sua própria derrota e à perda do seu bem mais desejado: o poder.


UM CINE-CENÁRIO EM SINTONIA COM UM UNIVERSO DE ESPANTO E MARAVILHAMENTO ¯¯¯ Edgar Pêra, ¯¯¯ Fevereiro, 2013

Edgar Pêra

Ernesto Preto

filme de

assistente imagem

Luís Branquinho

Orlando Rodrigues

diretor de fotografia

assistente realização

Bando À Parte

Fernando Mourinho

produção

tratador de cisnes

Rodrigo Areias

Cinemate

produtor

material

Edmundo Rivotti

Cinemate; Palácio Nacional

diretor de produção

da Ajuda; Isabel Silveira

José António Tenente guarda-roupa

Godinho; Teresa Pinhal; IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico

Sano de Perpessac

e Arqueológico; Convento de

maquilhadora

Cristo; Ana Carvalho Dias;

Christian Schwarm

Câmara Municipal de Tomar;

ator

Mata Nacional dos Sete Montes;

Tó-Zé

da Conservação da Natureza

Sónia Bastos; ICNF – Instituto

iluminação

e das Florestas; EMAC

Miguel Silva

– Empresa Municipal de

operador de grua

Ambiente de Cascais; Palácio

Carlos Melo maquinista

Nacional de Queluz/ Parques de Sintra-Monte da Lua, S.A. Susana Pina; Lorena Lamin

Miguel Pereira

(Lagoa Azul)

assistente produção

agradecimentos

Cláudio Vasques assistente montagem

Quando a Luísa Taveira me convidou para colaborar com a Companhia Nacional de Bailado neste Cine-Lago dos Cisnes, não fazia ideia de que me iria lançar em águas tão “germinativas”. Para já porque se tratou duma primeira vez, e em todas as primeiras vezes há o prazer e a paixão da descoberta. Apesar de ter filmado e/ou trabalhado com muitos dos excelentes coreógrafos que temos em Portugal, nunca tinha criado um filme para um repertório clássico. De início julgava que iria ilustrar a história desse bailado, mas acabei por fazer algo de mais puro e radical. Pude explorar, pesquisar e criar as imagens (em colaboração com o diretor de fotografia Luís Branquinho) sem o espartilho da narrativa. O filme que acompanha o bailado O Lago dos Cisnes é cinema visual que retoma a tradição do cinema das atrações e da música ao vivo. No entanto, ao contrário dos filmes mudos do cinema primitivo, a ação salta do ecrã para o palco e é a música que dita o destino das imagens. É sabido que cada nota tem uma cor correspondente, mas não se procurou mimar a obra de Tchaikovski. Estabeleceu-se uma relação dúplice entre a sua música e os movimentos no palco. Por um lado o filme é pintura em movimento. As imagens têm o papel de acompanhar a música, como se se tratasse dum instrumento complementar da orquestra: contrabaixos de luzes, notas suspensas dum teclado de cores e formas. É um contraponto visual para a música e um cenário cinético para os bailarinos: dois movimentos tangentes, que nunca se tocam. Por outro lado, nalguns momentos, o cinema é o solista, e faz uma tradução visual sinóptica, cromática, rítmica e dramática, da música de Tchaikovski. Este filme foi para mim uma oportunidade extraordinária e um encontro harmonioso: um cine-cenário em sintonia com um universo de espanto e maravilhamento. Cinema espectral. —


Filipa de Castro e Artistas CNB


FOTOGRAFIA ツゥ BRUNO SIMテグ


FERNANDO DUARTE COREOGRAFIA

EDGAR PÊRA FILME

Fernando Duarte, natural de Lisboa, realizou os seus estu-

Edgar Pêra nasce em Lisboa, em 1960. Após frequentar quatro

dos na Academia de Dança Contemporânea de Setúbal sob

anos do curso de psicologia, ingressa na Escola de Cinema,

orientação de Maria Bessa e António Rodrigues. Foi bailarino

em 1981, terminando o curso na área de montagem, em 1984.

estagiário na CeDeCe – Companhia de Dança Contemporâ-

Realiza videoclips, escreve banda-desenhada e ficções para

nea. Ingressou o elenco da CNB em 1996, sendo promovido

rádio, até que em 1990 vê a sua curta-metragem Reproduta

a Bailarino Principal em 2003. Interpretou vasto repertório

Interdita estrear no Fantasporto. A primeira fase da caudalosa

clássico, nomeadamente Giselle, O Lago dos Cisnes, A Bela

obra de Edgar Pêra – mais de uma centena de trabalhos para

Adormecida, Cinderela, O Quebra-Nozes, Romeu e Julieta,

cinema, tv, net, espetáculos, galerias, eventos, encontra o seu

A Dama das Camélias, La Sylphide, Coppélia, Raymonda,

expoente em A Janela (Maryalva Mix), com participações nos

Onegin, Les Sylphides, assim como as obras de Balanchine

festivais de Locarno, Montreal e Ljubljana. Desde A Cidade

Apollo, Serenade, Who Cares?, Os 4 Temperamentos, Sinfo-

de Cassiano, Grand Prix Films D’architecture 1991, que retrata

nia em Dó e Sinfonia em Três Movimentos. Dançou ainda

temas como o trabalho, o tempo, a liberdade, a realidade e

coreografias de Van Manen, Duato, Lightfoot/Léon, Whee-

a alienação, não abdicando de uma reflexão sobre a realida-

ldon, O’Day, Forsythe, Keersmaeker, Fielding, Lopes Graça,

de do seu país. Nos anos 2000, a montagem sono-plástica

Roriz e Wellenkamp, entre outros. De 2005 a 2007 fez parte

associa-se às emoções (Movimentos Perpétuos – Prémio

do elenco do Ballet Nacional da Noruega. Paralelamen-

Público Melhor Filme e Fotografia IndieLisboa 2006). A sua

te à carreira de bailarino apresentou-se como coreógrafo

última longa-metragem O Barão foi apresentada em inúmeros

nos Estúdios Coreográficos da CNB em 1999, 2001 e 2003.

festivais como Roterdão, Basel, Wraclaw, Busan e São Paulo.

Para a CeDeCe criou: Fantasia em (len)sol maior (2002),

Foi galardoado em 2006, em Paris, com o Prémio Pasolini pela

O Corvo e a Raposa (2009) e Pão de Brites (2010). Para a

carreira, conjuntamente com Alejandro Jodorowsky, e Fernan-

V Gala Internacional de Bailado de Lisboa da CNB criou, em

do Arrabal. É co-autor de 3x3D longa-metragem antológica em

2010, Cimbalo Obbligato sobre música do compositor Carlos

3D, em conjunto com Jean-Luc Godard e Peter Greenaway,

Seixas. Em coautoria com Solange Melo apresentou Cindere-

estreada na sessão de encerramento da Semaine de La Criti-

la em bicos de pés – A Gata Borralheira contada e dançada

que do Festival de Cannes. O filme esteve presente em mais de

para as crianças (2008), um espetáculo único em Portugal na

40 festivais internacionais e será distribuído comercialmente

apresentação de bailado clássico ao público mais jovem assim

em pelo menos 5 países. Tem uma nova longa-metragem 3D

como Dó, Ré, Mi, Perlimpimpim – Uma viagem musical para

no prelo, Lisbon Revisited, com textos de Pessoa. Encontra-

bebés dos 3 meses aos 3 anos (2011) sobre música inédita de

-se neste momento a rodar mais um filme 3D: O Espectador

Mário Franco. Desde Setembro de 2011 que acumula funções

Espantado. —

de professor e ensaiador na CNB, passando oficialmente a Mestre de Bailado em Setembro de 2013. Foi o principal responsável na remontagem dos bailados Savalliana de Lopes Graça, A Bela Adormecida e Cinderela, versões de Ted Brandsen e Michael Corder respetivamente. A convite da Direção Artística da CNB estreou a sua própria versão de O Lago dos Cisnes a 14 de fevereiro de 2013. —


JOSÉ ANTÓNIO TENENTE FIGURINOS

NUNO MEIRA DESENHO DE LUZ

Após ter iniciado a sua formação superior em Arquitetura,

Bacharel em Engenharia de Electrónica e Telecomunicações e

José António Tenente envereda pela moda, revelando em

frequentou a Escola Superior de Música e Artes do Espectácu-

1986 a sua primeira coleção. Atualmente o universo da marca

lo no curso de Produção Luz e Som. Tem trabalhado com diver-

estende-se a vários projetos: ‘TENENTE escrita’, ‘TENENTE

sos criadores das áreas do teatro e da dança, com particular

eyewear’, ‘Amor Perfeito’ perfume e perfumaria de casa. Em

destaque para Ana Luísa Guimarães, António Lago, Beatriz Ba-

2009 viu editado um livro sobre o seu trabalho JAT – Traços

tarda, Cristina Carvalhal, Diogo Infante, Fernanda Lapa, João

de União. Em 2010 comissariou a exposição Assinado por

Cardoso, João Pedro Vaz, Manuel Sardinha, Marco Martins,

Tenente no MUDE, Museu do Design e da Moda, em Lisboa.

Nuno Carinhas, Nuno M. Cardoso, Paulo Ribeiro e Ricardo

Ao longo da sua carreira recebeu vários prémios de Criador de

Pais. Foi sócio-fundador do Teatro Só, e é também colaborador

Moda e outras distinções como a Medalha de Mérito Cultur-

regular da ASSéDIO (desde 1998). Foi distinguido, em 2004,

al da Câmara Municipal de Cascais e a Comenda da Ordem

com o Prémio Revelação Ribeiro da Fonte. —

do Infante D.Henrique. A conceção de figurinos tem ocupado um lugar importante no seu percurso tendo trabalhado com diversos encenadores e coreógrafos: Beatriz Batarda, Carlos Avillez, Carlos Pimenta, Lúcia Sigalho, Maria Emília Correia, Benvindo Fonseca, Clara Andermatt, Paulo Ribeiro, Rui Horta, entre outros. Para a Companhia Nacional de Bailado assinou, também, os figurinos de Intacto de Rui Lopes Graça e Du Don de Soi de Paulo Ribeiro. —


FOTOGRAFIA ツゥ BRUNO SIMテグ

Filipa de Castro e Carlos Pinillos


CESÁRIO COSTA DIREÇÃO MUSICAL

ORQUESTRA METROPOLITANA DE LISBOA

Cesário Costa, nascido em 1970, tem vindo a distinguir-se em

A Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) estreou-se a 10 de

Portugal como um dos mais ativos maestros da sua geração.

junho de 1992. Desde então, assegura extensa atividade que

Depois do Curso Superior de Piano, em Paris, completou o

compreende os repertórios barroco, clássico e sinfónico – in-

Mestrado em Direção de Orquestra em Würzburg, Alemanha,

tegrando neste último caso os jovens intérpretes da Orquestra

vencendo o III Concurso Internacional Fundação Oriente para

Académica Metropolitana. Distingue-se igualmente pela ver-

Jovens Chefes de Orquestra. A sua atividade como maestro

satilidade que lhe permite abordar géneros como a Música de

desenvolve-se tanto em Portugal como no plano internacio-

Câmara, o Jazz, o Fado, a Ópera ou a Música Contemporânea,

nal. Apresentou-se na Europa, Ásia, Cabo Verde e América

proporcionando a criação de novos públicos e a afirmação do

com reportório que vai do barroco ao contemporâneo, tendo

caráter único da Metropolitana. A entidade, que tutela a or-

sempre a preocupação de divulgar obras de compositores por-

questra, tem como característica inovadora o relacionamento

tugueses. Colaborou com solistas e encenadores de renome.

das práticas artística e pedagógica, pela convivência quotidiana

Fez a estreia absoluta de mais de cem obras, trabalhando com

de músicos profissionais com alunos das suas escolas – a Aca-

a maioria dos compositores nacionais contemporâneos. Para-

demia Superior de Orquestra, o Conservatório e a Escola Profis-

lelamente à atividade de maestro e de programador musical,

sional Metropolitana. Esta dinâmica faz parte da identidade da

tem sido professor em diversas escolas e na Universidade

OML, a que se junta a ativa participação cívica e a apresentação

Católica Portuguesa. Foi Diretor Artístico e Maestro Titular

em eventos públicos relevantes. Cabe-lhe, ainda, a responsabi-

da Orquestra do Algarve e posteriormente presidente da

lidade de assegurar programação junto de autarquias da região

Metropolitana e Diretor Artístico da Orquestra Metropolitana

centro e sul, além de promover a descentralização cultural pelo

de Lisboa. É atualmente Maestro titular da OrchestrUtópica e

país. Tendo como fundadores a Câmara Municipal de Lisboa,

foi recentemente convidado para Diretor Artístico e Maestro

a Secretaria de Estado da Cultura, o Ministério da Educação e

Titular da Orquestra Clássica do Sul. —

Ciência, o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, a Secretaria de Estado do Turismo e a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude, a Metropolitana é constituída também por um conjunto de Mecenas, Patrocinadores, Promotores Regionais e Parceiros que se unem neste projeto. Desde o início, a OML é referência incontornável do panorama orquestral nacional. Fez digressões pela Europa, Índia, Coreia do Sul, Macau, Tailândia, Cabo-Verde e China. Tocou com os mais reputados maestros nacionais e internacionais, colaborando com conhecidos solistas. Gravou onze CD, um dos quais disco de platina, para diferentes editoras. —


O LAGO DOS CISNES ¯¯¯ Rui Esteves, janeiro 2013 ¯¯¯ Texto gentilmente cedido

«Ach, mein lieber Schwan, könte ich wenigstens im Tiefwasser deiner See versenken!» «Ah, meu querido cisne, pudesse ao menos afundar-me nas águas profundas do teu lago!» Carta de Luís II da Baviera a Ricardo Wagner, 1866

Em setembro de 1875, Tchaikovski escreveu ao seu amigo Rimski-Korsakov: “A pedido da Direção do Bolschoi, já escrevi dois atos de um bailado. Aceitei o trabalho porque preciso do dinheiro mas, também, porque há muito queria tentar escrever este tipo de música”. Sabemos por Modest, seu irmão mais novo e biógrafo, que Tchaikovski abordou prudentemente o projeto antes mesmo de escrever o primeiro compasso de O Lago dos Cisnes (Op.20). Consultou obras já escritas para este género musical que, à época, era domínio de compositores de terceira linha, tais como Pugni, Minkus e, sobretudo, Drigo, a quem voltaremos mais tarde. De todas as obras, a que mais o fascinou foi Giselle, (Adam, 1844), sobretudo pela forma como o compositor parisiense lidou com o emprego dos leitmotivs, técnica componística que Tchaikovski adotaria para o Lago e, posteriormente, também com grande efeito musico-dramático, para A Bela Adormecida. Para a composição do seu primeiro bailado, reutilizou material anteriormente escrito, como por exemplo, da

sua ópera Voyevoda, que resultou no famoso Grand Adage do segundo ato. Julius Reisinger, um checo que na altura assumia funções de diretor do Ballet Bolschoi, assinou a coreografia. A noite de estreia, a 4 de Março de 1877, foi um desastre, ou, como escreveu Verdi após a estreia da sua La Traviata em Veneza, (1853), un fiasco, un solemme fiasco. Os bailarinos consideraram a música indansable e o público achou-a demasiado barulhenta, wagneriana até! O clamoroso insucesso de O Lago dos Cisnes ensombrou ainda mais a existência do compositor. De modo a silenciar ‘certos’ rumores, casou-se, impromptu, com Antonina Miliukova, aluna do Conservatório de Moscovo. Previsivelmente, o casamento durou só seis semanas, e o compositor voltou a afundar-se na nostalgia depressiva que o acompanharia até à morte. Não obstante, nem tudo foram nuvens negras. Nesse mesmo ano, conheceu a condessa von Meck, viúva endinheirada e fervorosa admiradora da sua música, e logo encetaram uma duradoura mas estranha amizade epistolar. O conforto financeiro, discretamente providenciado por von Meck, permitiu ao compositor dedicar-se exclusivamente à sua música até ao fim dos seus dias. Em 1895 – dois anos após a morte de Tchaikovski – o sucesso estrondoso de A Bela Adormecida (1890) e de O Quebra Nozes (1982) justificou a reposição de O Lago dos Cisnes pelo Teatro Marinski, em São Petersburgo. Para apagar a versão de triste memória de Reisinger, Petipa e Ivanov criaram uma nova coreografia, e Drigo, compositor de bailado e de ópera (curiosamente a sua primeira, estreada em Pádua em 1868, foi Dom Pedro, Re di Portogallo), supervisionado por Modest Tchaikovski, reviu a partitura, subtraiu-lhe quase um terço da música original, reformulou tempos, alterou tonalidades e, sobretudo, introduziu novas composições para outras tantas novas variações. Ao longo das décadas, verificar--se-iam


ainda mais alterações que tornaram a partitura original do Lago irreconhecível, um verdadeiro puzzle de reconstrução musicológica para os mais pacientes. Na noite de estreia, a 15 de janeiro de 1895, Pavel Gerdt dançou Siegfried e os papéis de Odete/Odile couberam a Pierina Legnani, cuja técnica justificou que repetisse a proeza dos 32 fouettés (circenses e prescindíveis para muitos amantes da dança) que Ivanov já coreografara para ela em Cinderela com música de Boris Scheel. A partir dessa noite, a história de um cisne encantado por um maléfico barão feiticeiro – nunca saberemos o porquê de tal encantamento – e o amor impossível de um príncipe sonhador, fixa para sempre O Lago dos Cisnes como o bailado clássico quiçá mais popular, cuja história gravita em torno de um triângulo ficcional e fantasioso que, numa primeira leitura, se nos afigura quase pueril. Mas, sê-lo-á? O enredo foi escrito por Begitchev, Geltser, e pelo próprio compositor; porém, nunca saberemos qual a verdadeira fonte inspiradora. Basearam-se certamente em lendas russas que sempre cantaram a pureza do cisne, uma delas, O Pato Branco, conto tradicional russo recolhido por Afanasyev, ou O Véu Roubado, de Musaus. Não consta que as Mil e Uma Noites ou mesmo O Companheiro de Viagem, de Andersen, tivessem contribuído para a história do cisne, do feiticeiro e do príncipe. Todavia, amigos próximos de Tchaikovski sabiam do fascínio que o jovem rei Luís II da Baviera exercia sobre o compositor. Foi precisamente sobre esse fascínio que assentaram todos os pressupostos psicanalíticos que conduziram a uma reinterpretação contemporânea do bailado. Em torno de Tchaikovski/ Luís/Siegfried entrelaçam-se as inevitáveis comparações, os flagrantes paralelismos, fazendo com que o último destes personagens reflita as consequências trágicas da dualidade e da exacerbação do sonho e da vertigem em que os dois primeiros mergulharam durante as suas vidas na busca impossível da sua própria redenção.

Luís II nasceu no palácio de Hochschwangau (traduzido literalmente ‘O Domínio do Grande Cisne’) nas escarpas de uma montanha em cujo sopé se espraia um lago de águas turvas. Desde criança, e após a audição de Lohengrin, o Rei Cisne, de Wagner, o pequeno Luís adota o cisne como seu animal de eleição, como símbolo do seu universo onírico, como seu fiel aliado na sua fuga à realidade, na incessante busca do ideal amoroso que nunca encontrará. Qual Siegfried, ao atingir a maioridade, Luís é instado a casar. Perante ele desfilam as princesas casadoiras de quase todas as cortes europeias, e todas recusa. Prefere as longas caminhadas pelas florestas, as travessias dos lagos, as cavalgadas sobre a neve imaculada, a companhia e a estúrdia com os seus cortesãos. Deposto, acusado de insanidade mental e de esbanjamento dos cofres do reino com a construção de palácios (que são hoje, ironicamente, a principal fonte de receita do Estado da Baviera, graças ao turismo) onde o cisne é a marca matricial e inspiradora, Siegfried e Luís II partilham do mesmo fim trágico: exaustos pela procura e deceção, ambos morrem afogados. Siegfried engolido pelas ondas redentoras, Luís num lago bávaro, em 1886. E, para perpetuar mais o mito romântico, em circunstâncias ainda por desvendar. E quanto a Odete/Odile? Estará ela, ao contrário de Siegfried, a salvo de comparações ou de interpretações psicanalíticas? Como escreveu Balanchine nas suas memórias, “no bailado clássico, apenas Odete/Odile não são princesas ou meras camponesas. Ambas são um cisne, uma criatura da imaginação, a imagem esvoaçante do sonho a concretizar”. A teoria de Bachelard vai muito para além do conceito do apolíneo versus dionisíaco quando defende que o cisne é hermafrodita; é feminino na sua contemplação das águas luminosas (Odete, o cisne branco) e masculino na ação, na busca pelo instinto primário, na conquista dos seus intentos (Odile, o cisne negro). No filme O Cisne Negro, (Aronofsky, 2010),


constatamos que Nina, a bailarina, é capaz de conviver e lidar com a perfeição, com a doçura e contemplação de Odete, (o feminino, o dionisíaco), mas incapaz de incarnar o poder de sedução que Odile exige. Para o conseguir interpretar/dançar, terá de transcender barreiras, limites físicos e técnicos. Só o corte com a castração maternal e o despertar da libído a tornará capaz de dançar Odile (o masculino, o apolíneo). A versão de 1895 de O Lago dos Cisnes permaneceu praticamente inalterada até meados do século passado. Se excluirmos a de Vladimir Burmeister (1953), só Nureyev, em 1964, com a sua versão para a Ópera de Viena, ousou instilar um novo sopro ao bailado, fazendo uma releitura quase freudiana da história, tornando as suas possíveis ramificações menos insípidas e simplistas. Siegfried é agora a figura central, tudo se passa na sua imaginação, e o cisne tão somente uma visão fugitiva e inacessível que traduz a repressão da sua sexualidade (o vídeo desta versão pioneira, registado pela Deutsche Gramaphone com uma sublime Fonteyn no papel de Odete/Odile, ainda se encontra disponível). Nureyev rasga assim novos caminhos, trilhados quase de seguida por outros coreógrafos: John Cranko (1963), John Neumeier (1976, com um Siegfried assumidamente na pele de Luís da Baviera), Mats Ek (1987), Mathew Bourne (1995, onde os cisnes são masculinos e cuja comovente cena final do filme Billy Elliot deu a conhecer esta versão ao grande público) e Graeme Murphy, (2002, inspirada no divórcio de Carlos de Inglaterra e de Diana Spencer). Depois da estreia, em 1986, da versão de Armando Jorge com cenários de Cruzeiro Seixas e figurinos de Da Silva Nunes (pseudónimo de Armando Jorge, figurinista) e, em 2006, da versão de Mehmet Balkan/António Lagarto, a CNB apresenta-nos agora um terceiro e novo olhar de O Lago dos Cisnes. Proposta por Luísa Taveira, a conceção coreográfica de Fernando Duarte e o filme de Edgar Pêra – que, ineditamente, substitui a habitual cenografia – fazem

da figura poderosa mas consequentemente frágil do barão Rothbart, o eixo central da narrativa. José António Tenente assina os figurinos. Precisaremos assim tanto deste abandono dos velhos mitos e lendas, destas insistentes releituras contemporâneas, desta nova e ousada lógica teatral? Claro que sim, uma vez que dela depende absolutamente a sobrevivência do repertório clássico, cuja linguagem técnica deixa escassa margem a reinterpretações mais criativas, menos tradicionais. A dança clássica, alicerçada em regras rígidas e premeditadas, faz com que os seus intérpretes disponham apenas da pantomima e da técnica para encarnarem personagens psicologicamente quase unidimensionais. Ela só continuará a ser popular se trouxer até nós cisnes que nos sobrevoem, abençoando-nos como o fizeram quando Apolo nasceu, príncipes que nos alertem dos medos e nos convoquem o sonho, barões maléficos que nos desencantem dos nossos sortilégios. Mas, acima de tudo, que todos eles falem de nós e que connosco também dancem. —


DIREÇÃO ARTÍSTICA Luísa Taveira BAILARINOS PRINCIPAIS Adeline Charpentier; Ana Lacerda; Barbora Hruskova; Filipa de Castro; Filomena Pinto; Inês Amaral; Peggy Konik; Solange Melo; Alexandre Fernandes; Carlos Pinillos; Mário Franco; BAILARINOS SOLISTAS Fátima Brito; Isabel Galriça; Mariana Paz; Paulina Santos; Yurina Miura; Andrea Bena; Brent Williamson; Luis d’Albergaria; Maxim Clefos; BAILARINOS CORIFEUS Andreia Pinho; Annabel Barnes; Catarina Lourenço; Irina de Oliveira; Maria João Pinto; Marta Sobreira; Seong-Wan Moon; Armando Maciel; Freek Damen; Miguel Ramalho; Ruben De Monte; Tom Colin; Xavier Carmo CORPO DE BAILE África Sobrino; Alexandra Rolfe; Almudena Maldonado; Anabel Segura; Andreia Mota; Carla Pereira; Catarina Grilo; Charmaine Du Mont; Elsa Madeira; Filipa Pinhão; Florencia Siciliano; Henriette Ventura; Inês Moura; Isabel Frederico; Júlia Roca; Margarida Pimenta; Maria Santos; Marina Figueiredo; Melissa Parsons; Patricia Keleher; Shanti Mouget; Sílvia Santos; Susana Matos; Zoe Roberts; Christian Schwarm; Dominic Whitbrook; Dukin Seo; Filipe Macedo; Francesco Colombo; Frederico Gameiro; João Carlos Petrucci; José Carlos Oliveira; Kilian Souc; Lourenço Ferreira; Mark Biocca; Nuno Fernandes; Ricardo Limão; BAILARINOS ESTAGIÁRIOS Inês Ferrer; Leonor de Jesus; Tatiana Grenkova; Calum Collins; Joshua Earl; Michael Abzalov; Tiago Coelho

MESTRES DE BAILADO Fernando Duarte (coordenador); Maria Palmeirim ENSAIADOR Rui Alexandre ADJUNTO DA DIREÇÃO ARTÍSTICA João Costa COORDENADORA MUSICAL Ana Paula Ferreira COORDENADORA ARTÍSTICA EXECUTIVA Filipa Rola COORDENADOR DE PROJETOS ESPECIAIS Rui Lopes Graça INSTRUTOR DE DANÇA NA PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO DE LESÕES Didier Chazeu PIANISTAS CONVIDADOS Humberto Ruaz**; João Paulo Soares**; Jorge Silva**

OPART E.P.E. CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Presidente José António Falcão; Vogal Adriano Jordão; Vogal João Pedro Consolado DIREÇÃO DE ESPETÁCULOS Diretora Margarida Mendes; Carla Almeida (coordenadora); Bruno Silva (digressão e eventos); Natacha Fernandes (assistente); ATELIER DE COSTURA Paula Marinho (coordenadora); Adelaide Pedro Paulo; Cristina Fernandes; Conceição Santos; Helena Marques DIREÇÃO TÉCNICA Diretora Cristina Piedade; Sector de Maquinaria Alves Forte (chefe de sector); Miguel Osório; Carlos Reis* Sector de Som e Audiovisuais Bruno Gonçalves (chefe de sector); Paulo Fernandes Sector de Luz Vítor José (chefe de sector); Pedro Mendes Sector de Palco Ricardo Alegria; Frederico Godinho; Marco Jardim DIREÇÃO DE CENA Diretor Henrique Andrade; Vanda França (assistente / contrarregra) Conservação do Guarda Roupa Carla Cruz (coordenadora) DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO Cristina de Jesus (coordenadora); Pedro Mascarenhas Canais Internet José Luís Costa Vídeo e Arquivo Digital Marco Arantes Design João Campos** Bilheteira Ana Rita Ferreira; Luísa Lourenço; Rita Martins ENSAIOS GERAIS SOLIDÁRIOS Luis Moreira*** (coordenador) PROJETOS ESPECIAIS Fátima Ramos*** DIREÇÃO FINANCEIRA E ADMINISTRATIVA OPART Diretora Sónia Teixeira; António Pinheiro; Edna Narciso; Fátima Ramos; Marco Prezado (TOC); Susana Santos Limpeza e Economato Lurdes Mesquita; Maria Conceição Pereira; Maria de Lurdes Moura; Maria do Céu Cardoso; Maria Isabel Sousa; Maria Teresa Gonçalves DIREÇÃO DE RECURSOS HUMANOS OPART Sofia Teopisto; Vânia Guerreiro; Zulmira Mendes GABINETE DE GESTÃO DO PATRIMÓNIO Nuno Cassiano (coordenador); António Silva; Armando Cardoso; Artur Ramos; Carlos Pires; Daniel Lima; João Alegria; Manuel Carvalho; Mário Marques; Miguel Vilhena; Rui Rodrigues e Sandra Correia GABINETE JURÍDICO OPART Fernanda Rodrigues (coordenadora); Anabela Tavares; Inês Amaral; Juliana Mimoso** Secretária do Conselho de Administração Regina Sutre OSTEOPATA Vasco Lopes da Silva** SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA Fisiogaspar** SERVIÇOS DE INFORMÁTICA Infocut

* Licença sem vencimento

** Prestadores de serviço

*** Regime de voluntariado


BILHETEIRAS E RESERVAS Teatro Camões Quarta a domingo das 13h às 18h (01 nov – 30 abr) das 14h às 19h (01 mai – 31 out) Dias de espetáculo até meia-hora após o início do espetáculo. Telef. 218 923 477

COMPANHIA DE DANÇA DA ÓPERA DE GOTEMBURGO — TEATRO CAMÕES 30 MAI—01 JUN

SPIRIT NOETIC SIDI LARBI CHERKAOUI

METAMORPHOSIS SABURO TESHIGAWARA

Teatro Nacional de São Carlos Segunda a sexta das 13h às 19h Telef. 213 253 045/6 Ticketline www.ticketline.pt Telef. 707 234 234 Lojas Abreu, Fnac, Worten, El Corte Inglés, C.C. Dolce Vita

CONTACTOS Teatro Camões Passeio do Neptuno, Parque das Nações, 1990 - 193 Lisboa Telef. 218 923 470

INFORMAÇÕES AO PÚBLICO

CAPA © CLÁUDIA VAREJÃO

Não é permitida a entrada na sala enquanto o espetáculo está a decorrer (dec. lei nº315/95 de 28 de Novembro); É expressamente proibido filmar, fotografar ou gravar durante os espetáculos; É proibido fumar e comer/ beber dentro da sala de espetáculos; Não se esqueça de, antes de entrar no auditório, desligar o seu telemóvel; Os menores de 3 anos não poderão assistir ao espetáculo nos termos do dec. lei nº116/83 de 24 de Fevereiro; O programa pode ser alterado por motivos imprevistos. Espetáculo M/6

APOIOS À DIVULGAÇÃO:

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COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO

ÓPERA DE GOTEMBURGO 4 JUN—7 JUN

O LAGO DOS CISNES FERNANDO DUARTE EDGAR PÊRA ORQUESTRA DA ÓPERA DE GOTEMBURGO CESÁRIO COSTA


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