SPIRIT
GÖTEBORGSOPERANS DANSKOMPANI
SPIRIT Maio dias 30 e 31 às 21h Junho dia 1 às 16h
NOETIC
METAMORPHOSIS
Sidi Larbi Cherkaoui coreografia
Saburo Teshigawara coreografia, cenário, figurinos, desenho de luz
Szymon Brzóska música Antony Gormley cenário Les Hommes figurinos David Stokholm desenho de luz Adolphe Binder dramaturgia
Tim Wright música original, desenho de som Olivier Messiaen Maurice Ravel música Rihoko Sato assistente do coreógrafo Hiroki Shimizu assistente de luz
James O’Hara Hélder Seabra assistentes do coreógrafo
Estreia mundial GöteborgsOperans Danskompani, Ópera de Gotemburgo, 8 de março de 2014
A FUNDAÇÃO EDP É MECENAS PRINCIPAL DA COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO E MECENAS EXCLUSIVO DA DIGRESSÃO NACIONAL
NOETIC ¯¯¯ Sidi Larbi Cherkaoui
Descobri a palavra noetic [noético] nas minhas conversas com Adolphe Binder, dramaturga da obra e diretora artística da companhia. Fiquei apaixonado pelo seu conceito. Noetic [noético] provém do grego “noesis/noetikos” e significa sabedoria profunda, conhecimento direto ou compreensão subjetiva. Como coreógrafo, sempre me fascinaram as ligações naturais que perceciono à minha volta, como as pessoas interagem e se ligam, como e porque e quando se desligam umas das outras… parece uma língua abstrata que todos falamos genuinamente com os outros através de movimento, sem que alguma vez tenhamos aprendido as regras gramaticais. No estúdio tento focar-me em energias específicas, fazendo com que os bailarinos trabalhem a maior parte do tempo coletivamente, em vez de individualmente, com o intuito de manifestar esta partilhada inconsciência coletiva. O que se consegue é uma reação em cadeia de movimentos, um fluxo, como um bando de pássaros ou peixes na água: fluem através e em torno dos outros com à-vontade, elegância, mas também com paixão e convicção. Noutros momentos os bailarinos assemelham-se a peças de uma grande máquina, movendo as roldanas do tempo, cada um deles uma peça de um trabalho complicado de relógio; os blocos de construção do funcionamento interno de uma sociedade. O material de dança oscila entre estas formas diversas; como se alterasse, constantemente, a sua própria forma de etéreo ao líquido, ao sólido.
Szymón Brzóska é o compositor do projeto. A sua música contemporânea é tão matemática, quanto é melódica e emocional. Através de uma inteligente combinação da orquestra com a voz a solo [da notável cantora sueca Miriam Andersén], com o Kokyu [violino japonês], com a percussão e a flauta japonesas [todos tocados pelo talentoso Shogo Yoshii], Szymon desvenda um mundo repleto de questões e descoberta. O som é quase medieval – ou estaremos na Grécia Antiga, na Renascença ou no longínquo futuro?... a música de Szymón liga-nos a tão diversas eras. A harpa, as cordas, provocam um sentimento de mistério e exploração. Em Noetic, trabalho também com o artista plástico Antony Gormley. É a quarta vez que colaboramos desde o nosso primeiro encontro artístico em 2005. Desta vez a sua cenografia consiste em linhas longas que poderão ser ligadas umas às outras na criação de um longo curso. As linhas são feitas em policarbonato e dobram-se naturalmente pelo peso da gravidade. Ao mesmo tempo, através duma conexão inteligente, cada linha liga-se a si própria formando um círculo perfeito. Aí reside o segredo do trabalho, percebendo o início e o fim, ligando-os, uma linha subitamente encontra a sua conclusão enquanto círculo e cumpre um novo objetivo, tem uma nova existência, uma nova forma. Geometria sagrada, vida citadina retratada como funções mecânicas, microcosmo espelhado no macrocosmo, interconexão através de todas estas estruturas filamentosas... Noetic tenta abordar, de uma forma poética, todos estes temas. Os bailarinos manipulam cuidadosamente o espaço, adaptam-no, interagem com ele. Tento, com esta obra, falar do nosso conhecimento interior, ligando o instinto e a causa e efeito. No meu próprio trabalho é como um cruzamento: colaboradores de há muito cruzam caminhos com a primeira colaboração com Adolphe Binder e os espantosos bailarinos da Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo. A minha pesquisa pessoal por uma forma coreográfica que utilize a linguagem do universo, começou em 2012 com
Puz/zle for Eastman, com o qual tentei que os bailarinos ouvissem e dançassem com pedras. Continuei-a, no ano passado, com Génesis, um trabalho desenvolvido com a extraordinária bailarina chinesa Yabin Wang. Aí os bailarinos movem-se inspirados pela luz, por árvores e pelas suas óbvias formas geométricas, estando rodeados por caixas de vidro e bolas de cristal. Noetic é o passo seguinte, investigando o conceito de que qualquer linha direita é, na verdade, uma curva e que tudo pode ser associado através da forma de um círculo. No fundo, o conhecimento, as ações, a consciência estão já aqui, estão já presentes. —
METAMORPHOSIS ¯¯¯ Saburo Teshigawara
Metamorfose Uma força da vida constantemente transformadora. Transformação não é uma forma, mas uma “transição qualitativa através do movimento”. É uma transformação da existência. Os seres humanos estão em constante transformação. Mas ainda há algo de desconhecido, escondido dentro de nós. Não atingimos, ainda, o ponto de destino. E nunca o faremos. Um contínuo organismo transformador. —
FOTOGRAFIA © BENGT WANSELIUS
Pascal Marty e Maxime Lachaume Metamorphosis
SPIRIT ¯¯¯ ¯¯¯ ¯¯¯ ¯¯¯
Adolphe Binder, Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo, Direção Artística
Boa noite e bem-vindos à nova produção da GöteborgsOperans Danskompani. Para o nosso programa Spirit, convidei dois dos mais fascinantes coreógrafos dos nossos tempos. Os trabalhos de Sidi Larbi Cherkaoui e de Saburo Teshigawara têm sido uma fonte de entusiasmo e inspiração desde que me apaixonei pela arte da dança. Ambos são verdadeiros mestres, ambos representam uma ideia de arte de palco, que não é fechada, mas sim híbrida, sensível, complexa. A aceitação de ambos em partilhar uma noite e criar trabalhos originais para nós, seguindo a linha temática de Mind & Spirit [Mente e Espírito], abriu novos caminhos, processos estimulantes, colaborações e reflexões sobre um tema vasto. Mencionar a contribuição do escultor Antony Gormley num encontro com o universo visual de Teshigawara é mencionar apenas um deles, pois este projeto une a colaboração de um sem-número de notáveis artistas, aos mais diversos níveis. O conhecimento é o privilégio de ser [um ser humano]. Podemos colocar o nosso conhecimento em qualquer coisa. Onde quer que o coloquemos mapeará o nosso destino. Os trabalhos originais desta temporada permitem uma profunda reflexão artística em como podemos pensar a vida, a consciência, a nossa visão de espírito e a essência da nossa interconexão. O que é a inteligência que permite os batimentos do nosso coração neste momento? Seremos uma matriz viva? Onde se inicia a matéria e termina o movimento?
Todos somos um sistema de informação. O qual não está inteiramente localizado nos nossos corpos. O nosso corpo e a nossa mente parecem estar constantemente ligados com informação dentro e fora de si. Existirá algo como padrões informativos que mantêm ‘nós’ e ‘ele’ juntos? Corpo. Espaço. O corpo demarcado. A área do corpo é um campo energético com padrões de informação. O corpo enquanto arena da interação. O corpo coletivo. Tarefas coletivas. Campos morfogénicos. Momentos em que algo encontra o seu próprio centro de equilíbrio. Matéria como energia comprimida. Cristalização. O espaço interior e o espaço intermédio. Para todos nós, os que temos um profundo interesse na intersecção entre essência, ciência inovadora, espiritualidade e ação transformadora, encontraremos alimento deslumbrante para o pensamento [e outros sentidos] nas peças Noetic e Metamorphosis. E momentos de tensão: O potencial da evolução em abstrato. Uma sensação de ambiguidade. O que significa isso para ser humano? Para ser intuitivo? Para transformar? Assumamos em conjunto, pelo menos ao longo destas duas horas que partilharemos, que nada no mundo é desligado e estático. Olhemos para o(s) nosso(s) mun-do(s) com um novo par de olhos. Comecemos de novo. Divirtam-se! —
NOETIC, ÓPERA DE GOTEMBURGO ¯¯¯ Antony Gormley
O conceito por detrás do meu envolvimento com Larbi, no projeto Noetic, foi encontrar um elemento ou ferramenta relacionados com o corpo que tendo uma geometria pura, quando ligado, pudesse criar linhas, arcos, anéis e esferas ou outras formas, através de uma montagem entrelaçada. Estes elementos de policarbonato e resina transformaram o desenho numa forma física que proporciona diferentes reações corporais. Evoluindo da composição para a ferramenta e daí para o objeto independente, numa variedade de interações, a ideia foi permitir aos bailarinos estender e ampliar os movimentos naturais através do peso e extensão destas ‘varas flexíveis’; ser capaz de construir uma variedade de arquiteturas a partir de laçadas, arcos e linhas contínuas que ligariam corpos e os cercariam. A noção de como as formas esféricas interagem, liga-se com a cristalografia molecular: as valências dos átomos formam as moléculas de elementos puros e ligas. A geometria dos círculos tornou-se sagrada na Cabala, a tradição tântrica, arquitetura islâmica e muitas outras, nas quais as regras de numerologia dos sistemas binários – triangulação, o quadrado, o pentagrama, etc. e a exploração de todas as relações poliédricas – estão integradas. Os modos pelos quais estas geometrias fundamentais existem na geometria pura, arquitetura prática e nas tradições sagradas, sugerem que essas formas são instrumentos para a alma e para o corpo.
Aqui são ferramentas para formas emergentes mais do que estruturas dogmáticas: permitem em vez de limitarem. Como sempre, nas minhas colaborações com Larbi, preocupo-me bastante que os bailarinos descubram por si próprios as possibilidades que os elementos proporcionam. Existe uma resistência e compressão à tração no material e nos três elementos quando estão unidos para formar um anel. Seis anéis podem ser combinados como uma bola. Faltará verificar como estas três formas – a linha ou bastão, o anel ou roda e a bola de tecido – serão articulados na própria dança e que movimentos precisos e formas evolutivas resultarão. Uma das alegrias de trabalhar com Larbi é a sua capacidade para usar instrumentos como estes, não como simples adereços, nem como cenário, mas para ação: integrá-los no desenvolvimento do movimento. Cada uma das minhas colaborações com Larbi teve um resultado diferente que deu uma certa sintaxe à dança. Com Zero Degrees começámos com o corpo; em Sutra fizemos uma caixa que estava em relação direta com a dimensão média dum monge Shaolin, que poderia ser um caixão, uma mesa, um barco ou uma banheira. Com BABEL, construímos um espaço-moldura arquitetónico que era extremamente mutável e podia ser usada das formas mais diversas para criar contextos e objetos. No projeto Noetic tentei liberar a própria linha para que seja simultaneamente rígida e dinâmica. Tanto quanto consiga, as evoluções potenciais da dança mostrar-se-ão pela interação entre tempo, espaço e corpo por intermédio destes instrumentos. —
NOETIC: SABURO: SOBRE A MÚSICA UM EQUILÍBRIO DINÂMICO ¯¯¯ Szymon Brzóska
¯¯¯ Dr. Shin-Ichi Fukuoka, ¯¯¯ Biólogo Molecular da Universidade ¯¯¯ Rockefeller, Nova Iorque
Fiquei radiante quando Sidi Larbi Cherkaoui me convidou para o acompanhar na sua nova criação, para a extraordinária GöteborgsOperans Danskompani. Fiquei muito feliz por mergulhar, uma vez mais, no bonito e emocionante mundo coreográfico de Larbi. Como esperado, Noetic, esta nova colaboração com Larbi, proporcionou-me uma viagem inspiradora e criativa. A música, escrita para orquestra e tocada pela Orquestra da Ópera de Gotemburgo, foi pensada como uma paleta de cores e contrastes, circundando os bailarinos por vezes como uma paisagem sonora, noutras seguindo-os com rigor. Fiquei especialmente feliz por trabalhar, nesta obra, com a cantora sueca Miriam Andersén, cuja maravilhosa voz nos transporta para lugares frequentemente mágicos e serenos, bem como com o músico japonês Shogo Yoshi, cujo tambor taiko, as flautas de bambu e o instrumento de cordas kokyu, adicionaram um sabor oriental e incomparável à minha composição. Os textos latinos utilizados na obra são de Platão, pai da filosofia noética, e de canções de Horácio. A música segue-os num mundo dicotómico de contrastes: mente e alma, bem e mal, prazer e dor; eventualmente guiando-nos para uma simples verdade horaciana: carpe diem. —
Existem origens muito antigas para uma visão cíclica da natureza, mas que é também suportada por descobertas científicas modernas. De acordo com o Gyushi, um volumoso compêndio do século XVII sobre medicina tibetana, o microcosmo do corpo une perpetuamente mãos e dança com o macrocosmo do ambiente. A doença ocorre quando os seus passos estão fora do ritmo, ou não se encontram em harmonia com a fonte de energia que os move. A perspetiva de que a nossa vida é uma pequena mas integrante parte do grande fluxo do cosmos é também partilhada pelos japoneses. Poderá, contudo, parecer incompatível com a visão de vida, como o mecanismo dum relógio, que tem prevalecido no Ocidente, desde Descartes. É, pois, interessante que um cientista germano-americano, Rudolf Schoenheimer, tenha sido o primeiro a descrever com sucesso o dueto executado por organismos com o ambiente, ao mais alto nível da resolução tornada possível por moléculas. Esta descoberta, com setenta e cinco anos, deverá ser encarada como uma revolução coperniciana na biologia. Schoenheimer foi um cientista judeu que fugiu ao crescente movimento nazi e viajou para os Estados Unidos, nos anos trinta do século XX. Concebeu a ideia, que marcou uma época, de utilizar isótopos estáveis para localizar moléculas de alimentos ao entrarem no organismo e descobriu o que lhes acontece durante o
metabolismo. Assumiu que a maioria das moléculas que compõem a comida queimar-se-iam no interior do corpo e seriam segregadas, mas as suas experiências revelaram uma imagem totalmente diferente. Ele descobriu que o conceito de vida ser um ‘fluxo’ é mais do que uma metáfora. As moléculas da comida rapidamente se tornam moléculas componentes do corpo enquanto outras moléculas do corpo rapidamente são expelidas. Há indivíduos que acreditam na perceção de si próprios enquanto corpos sólidos separados do ambiente, mas ao nível microscópico o corpo é apenas um agregado pouco firme e mutante de moléculas, um lugar com relativa alta densidade onde o fluxo de vida refreou temporariamente. As moléculas que compõem um corpo vivo são, de modo relativamente rápido, substituídas por moléculas absorvidas como alimento. Por isso todas as componentes mecânicas são continuamente renovadas. As moléculas que constituem os nossos corpos transformam-se em algo totalmente diferente do que eram há alguns meses. No meio deste fluxo de vida, os nossos corpos mal conseguem manter um determinado estado ao submeterem-se a uma perpétua alteração. As células do cérebro não são exceção. Consequentemente a nossa identidade e memórias poderão não existir tão definitivas como nós as pensamos. Apesar da revolucionária natureza da sua descoberta, Schoenheimer tem sido quase esquecido. É raramente mencionado em livros de biologia ou história da ciência e, inesperadamente, poucas referências existem que facultem pistas para o seu carácter e personalidade. Suicidou-se em 1941, no auge da sua carreira como investigador, mas a sua visão de vida como condição de um equilíbrio ativo, ainda tem grande importância ao ajudar-nos a compreender a questão contemporânea de como os seres humanos poderão relacionar-se melhor com o meio ambiente. Baseado nos resultados de Schoenheimer, gostaria de descrever a vida como um ‘equilíbrio dinâmico’.
Porque são os organismos orgânicos, flexíveis, resilientes, plásticos e sustentáveis? Porque estão num equilíbrio dinâmico. Como é que a vida se torna viva? O equilíbrio dinâmico torna a vida viva desfazendo-se da entropia de dentro para fora, num fluxo constante. Saburo Teshigawara e eu conhecemo-nos há muito e partilhamos interesses similares ainda que, aparentemente, observemos campos e coisas muito diversas. Vi-o, e às suas obras, muitas vezes em Tóquio, Yokohama, Civitanova e noutros lugares. Creio ver na sua dança o pas de deux cósmico, organismos, flexibilidade, resiliência, plasticidade e sustentabilidade. Acredito que ele perceciona muito bem o que é a vida, ainda que de forma muito diferente dos cientistas. A sua dança parece estar sempre num equilíbrio dinâmico. —
CALIGRAFIA DO CORPO ¯¯¯ Astrid Pernille Hartmann
A arte de Saburo Teshigawara é profundamente pessoal, ainda que procure também incorporar e formar algo universal – ele é um artista versátil, descrito como tendo “um sistema solar no interior de si mesmo”. Para Saburo Teshigawara dançar é algo simultaneamente físico e espiritual – ele e a sua arte são como uma única entidade, ainda que simultaneamente se coloque a uma distância significativa da sua criação. “Existe um espaço natural entre o corpo e o espírito, e tenho uma atitude objetiva para com o corpo, enquanto crio”, refere. “Quando era novo, antes de começar a dançar, estava ligado à pintura e à escultura e, nessa altura, essa distância era enorme. Um desenho ou uma escultura podem ser surrealistas, nos limites da realidade, enquanto a dança significa usar
o corpo como uma forma de arte - o corpo é sempre real e a dança é a melhor forma de entrar em contacto com a realidade”, diz. A versatilidade artística de Teshigawara é expressa não só pela sua criação de dança, desenho de cenários e de luzes, criação de obras de arte visual, etc. – ele próprio dança em muitos dos seus trabalhos. Durante os ensaios de Metamorphosis, na Ópera de Gotemburgo, explica o que pretende alcançar, não apenas num fluxo livre de palavras, mas por vezes com movimentos extremamente articulados com linhas em constantes e subtis mudanças. Como um prisma através do qual discursa; respiração e uma espécie de… sorriso cósmico são refratados. “O que torna a dança interessante é que o ar está sempre integrado nela. É o anfitrião da consciência”, escreveu no programa de Air, que criou para o Ballet da Ópera de Paris, em 2003, um espetáculo quase totalmente em branco e luminoso, com alguns sopros ricamente coloridos no cenário, com a forma de grandes pinceladas num pano branco. A escolha de música coral religiosa para Metamorphosis está ligada a esta respiração universal; um canto a cappella é como as cores das pinceladas na tela em branco daquela respiração. Quando lhe perguntam se é religioso, Teshigawara responde não acreditar em qualquer poder central omnipotente, força ou deus, mas mais em algo que apelida de anjos, cuja presença – talvez como pessoas, animais ou até coisas – é constituído por uma espécie de pura inocência, algo de que não conseguimos prescindir, uma proteção vital. É tudo acerca de um existencial profundo, fenómeno pré-social, uma pureza e inocência de proteção, explica Teshigawara. Equilíbrio e controle são alguns dos outros temas recorrentes de Saburo Teshigawara. “A minha aproximação à dança foi através do ballet clássico, pelo qual mantenho um grande respeito. Enquanto forma de expressão, contudo e pessoalmente, não me foi relevante. A técnica, tanto na dança clássica quanto noutras formas de arte, é acerca do controle, sendo limitada por alguma coisa”,
diz. “Do mesmo modo, as nossas vidas são limitadas pela lei da gravidade, tempo, espaço e pelas nossas condições específicas e gerais de viver. Contudo, e apesar de estarmos dominados e obrigados por eles, somos sempre livres de escolher”, enfatiza Teshigawara. Quando inquirido sobre a forma como a sua herança cultural japonesa tenha influenciado esta atenção ao controle, responde referindo o facto de que o mundo é composto por opostos, tudo poderá ser mesclado com o seu oposto. “Porém, não estão divididos em blocos, linhas retas ou algo desse tipo – pelo contrário, em conjunto os opostos constroem um todo, algo que é circular. É similar ao corpo”, afirma, “não existe uma única linha reta em todo o corpo, tudo é delimitado numa curva infinita. Estamos constantemente a perder e encontrar o nosso equilíbrio, articulando novas curvas.” Como arabescos em arte, “ou como na escrita árabe ou na caligrafia japonesa”. As curvas que unem opostos são todas sobre metamorfoses, as quais começam sempre por um desequilíbrio, até que um novo equilíbrio, movimento e direção se revelem. A vida é constituída por mudanças e metamorfoses, tal como as células são constantemente substituídas, no nosso corpo, e tal como acontece com as alterações climáticas. —
NOETIC
NOETIC
SIDI LARBI CHERKAOUI COREOGRAFIA
SZYMON BRZÓSKA MÚSICA ORIGINAL
—
—
Sidi Larbi Cherkaoui, coreógrafo belga de ascendência marro-
Residente em Antuérpia, o compositor polaco Szymon Brzóska
quina, é conhecido pela elevada personalidade, dramatismo
tem trabalhado com Sidi Larbi Cherkaoui em produções como
e ecletismo dos seus trabalhos desenhados a partir de uma
Sutra, com Anthony Gormley e os monges do templo Shaolin
vasta variedade de influências e explorando uma identidade
na China, em 2008, Orbo Novo e Dunas, em 2009, Labyrinth,
cultural, religiosa e étnica. Tem trabalhado com distintos tea-
em 2011, e m¡longa, em 2013. O peculiar interesse de Szymon
tros, óperas e companhias de dança, de que são exemplo Les
Brzóska na sinergia entre música, dança contemporânea, teatro
Ballets de Monte-Carlo, o Sadler’sWells em Londres, o Grand
e cinema levou-o a participar em numerosos projetos que
Théâtre de Genève ou Les Ballets C.de la B., onde iniciou a
abrangem diversas formas de arte e espetáculos de dança,
sua carreira. Colabora, com regularidade, com outros coreó-
com os quais a sua música tem sido apresentada nos locais de
grafos entre os quais se destacam Akram Khan e Shantala
maior prestigio. Entre muitos outros tem colaborado com David
Shivalingappa. Em 2008, Cherkaoui estreou Sutra no Sadler’s
Dawson, María Pages e Vladimir Malakhov. —
Wells. Esta galardoada colaboração com Antony Gormley e os monges Shaolin tem percorrido o mundo com grande aclamação da crítica. Após a primeira criação na América do Norte, Orbo Novo e uma série de duetos tais como Faun e Dunas,
ANTONY GORMLEY CENOGRAFIA
com a bailarina de flamenco María Pagés, em 2009 funda a
—
sua nova companhia Eastman, a que foi atribuído o título de
Antony Gormley é amplamente aclamado pelas suas esculturas,
Embaixadora Cultural da Europa, em 2013. —
instalações e obras de arte públicas que questionam a relação do corpo humano com o espaço. O seu trabalho tem desenvol-
ADOLPHE BINDER DRAMATURGIA —
vido o potencial criado pela escultura nos anos setenta através do compromisso crítico entre o seu próprio corpo e o dos outros num confronto com questões fundamentais sobre a colocação do ser humano na relação com a natureza e o cosmos. Antes
Adolphe Binder é Diretora Artística da GöteborgsOperans
de Noetic, Antony Gormley e Sidi Larbi Cherkaoui tinham cola-
Danskompani [Companhia de Dança da Ópera de Gotemburgo]
borado nos projetos Sutra, Babel e Zero Degrees. O seu cenário
desde agosto de 2011. Anteriormente fora Diretora Artística
em Noetic permite aos bailarinos as extensões corporais e os
e Diretora Geral do Ballet da Komische Oper em Berlim, e
elementos construtivos para criar uma arquitetura latente para
Consultora Chefe em Dramaturgia da companhia de dança da
a ação individual e coletiva. —
Deutsh Oper, na mesma cidade alemã. Tem ainda sido Curadora e Diretora de Programação de alguns festivais internacionais de dança e da Expo 2000, realizada em Hanôver. Entre 2005 e 2010 Adolphe Binder respondeu pela produção e consultoria de Binder + Partner Berlin, uma destacada companhia no panorama da dança contemporânea internacional. Foi nomeada para comissões em organizações da nova dança alemã, bem como para júri em muitos festivais internacionais de dança. —
NOETIC
NOETIC
DAVID STOKHOLM DESENHO DE LUZ
MIRIAM ANDERSÉN CANTORA SOLISTA
—
—
David Stokholm desenhou luzes para alguns espetáculos de
Miriam Andersén é uma cantora e harpista sueca. Estudou
dança, entre os quais Tending to Fall, de Fernado Melo na Ópera
canto, harpa, notação medieval e interpretação musical na
de Gotemburgo e Bate, do mesmo autor, para a Introdance, em
Schola Cantorum Basiliensis, na Suíça. Especialmente voca-
Amesterdão. Stokholm tem sido, ainda, responsável pela ilumi-
cionado para a música tradicional sueca, o seu reportório
nação de muitas das digressões internacionais da Companhia
contempla géneros desde cantos gregorianos até à música
de Dança da Ópera de Gotemburgo. —
contemporânea. Para além dos seus próprios grupos Belladonna e The Early Folk Band, atua com os grupos Sarband e Theatre of
LES HOMMES FIGURINOS
Voices, com o qual realizou o primeiro espetáculo de The Little
—
Em 2007 foi distinguida com a divisa de prata de Anders Zorn,
Tom Notte e Bart Vandebosch são dois estilistas belgas que,
intitulada riksspelman, pela sua interpretação de cowhorn - um
em 2004, se conheceram e criaram a marca Les Hommes, após
instrumento musical primitivo sueco construído com chifre natu-
a graduação na Academia Real de Belas Artes, em Antuérpia,
ral de gado - que partilha com alguns dos melhores intérpretes
e da experiência de Tom Notte com Olivier Theyskens, reforça-
suecos de música tradicional.—
Match Girl Passion, de David Lang, em 2007, no Carnegie Hall, e que posteriormente foi distinguido com um Grammy, em 2010.
das por uma experiência económica e de moda. A combinação dos seus talentos produziu uma coleção de moda, mas acima de tudo criou um conceito de beleza construído na fusão de contrastes fortes e na investigação continuada do casamento
SHOGO YOSHII PERCUSSÃO E FLAUTA
perfeito entre inovação e classicismo. A marca tem a sua loja
—
principal em Antuérpia e mais de cem estabelecimentos em
Shogo Yoshii, percussionista, é um músico que explora as
dezasseis países.—
possibilidades ilimitadas de instrumentos como o taiko, tambor tradicional japonês, as flautas de bambu ou o kokyu, violino japonês. Desde 2007 é membro do centro musical japonês Kodo, responsável pelo ensino e desenvolvimento da música tradicional japonesa. Em 2010 ingressou no grupo musical da produção Babel (words), coreografado e dirigido por Sidi Larbi Cherkaoui e Damien Jalet. Ainda no mesmo ano participou como diretor musical e intérprete no espetáculo Dojoji, pela companhia de flamenco Arte y Solera. —
METAMORPHOSIS
METAMORPHOSIS
SABURO TESHIGAWARA COREOGRAFIA
TIM WRIGHT MÚSICA ORIGINAL
—
—
Saburo Teshigawara iniciou a sua singular carreira de criador,
Tim Wright é um músico, compositor e videasta residente em
em 1981, em Tóquio, sua cidade natal, e após ter estudado
York, Reino Unido. É reconhecido como produtor de música
artes plásticas e belas artes. Em 1985 formou, com Kei Miyata,
eletrónica para dança, assinando com o seu nome ou o pseudó-
a companhia de dança Karas, a qual foi convidada a atuar nas
nimo Tube Jerk. A sua música tem sido publicada por algumas
mais importantes cidades mundiais. Teshigawara tem criado
das mais marcantes etiquetas como Tresor, Novamute, Sativae
para companhias como o Ballet da Ópera de Paris, o Ballet
ou GPR e considerada como pioneira. A sua colaboração com
Frankfurt, o Nederlands Dans Theater ou Ballet du Grand Théâ-
Teshigawara começou em 2000, na criação de Raj Packet,
tre de Genève. Teshigawara tem recebido, ainda, um crescente
Everything but Ravi, no Novo Teatro Nacional, em Tóquio. Ao
reconhecimento internacional na área das artes visuais, através
longo dos últimos cinco anos, Tim Wright tem sido responsável
de exposições, filmes, vídeos, bem como pela conceção de
pela operação de som nas digressões internacionais de Karas,
cenografias, desenhos de luz e de figurinos para todas as suas
a companhia dirigida por Teshigawara. Em 2013 criou alguns
criações. A sua sensibilidade escultural e sentido de composi-
elementos musicais da criação Darkness is Hiding Black Horses,
ção, a organização de espaço e os seus decididos movimentos
de Teshigawara para a Ópera de Paris. —
de dança criam, em conjunto, um universo único. O seu profundo interesse em diversos aspetos da música e do espaço tem-no incitado à criação de obras site-specific, colaborando com uma extensa variedade de músicos. —
NOETIC ELENCO
METAMORPHOSIS ELENCO
COMPANHIA DE DANÇA DA ÓPERA DE GOTEMBURGO
Anna Altès Delphine Boutet Brittanie Brown Mai Lisa Guinoo Chiaki Horita Micol Mantini Anila Mazhari Heather Telford Harumi Terayama Arika Yamada
Astrid Boons Jenna Fakhoury Janine Koertge Chiara Mezzadri Satoko Takahashi Danielle de Vries Ingeborg Zackariassen
Adolphe Binder direção artística
Maxime Lachaume Pascal Marty Ján Spoták Lee-Yuan Tu David Wilde
Pascale Mosselmans Tilman O’Donnell direção de ensaios
Jubal Battisti Jim De Block Matthew Foley Aviad Herman Erik Johansson Toby Kassell Fan Luo Lotem Regev Isaac Spencer
Mirian Andersén cantora solista Shogo Yoshi percussão e flauta
DIGRESSÃO A LISBOA EQUIPA DE PRODUÇÃO Eva Lindberg gestão do projeto
Fredrik Engler direção técnica Hanna Östergren assistente da direção técnica David Stokholm direção de luz Niklas Ankarhem supervisão de luz Joachim Bohäll engenharia de som Helena Avander Jane Dotevall guarda-roupa Berndt Stenholm Peter Strand motoristas
BILHETEIRAS E RESERVAS Teatro Camões Quarta a domingo das 13h às 18h (01 nov – 30 abr) das 14h às 19h (01 mai – 31 out) Dias de espetáculo até meia-hora após o início do espetáculo. Telef. 218 923 477 Teatro Nacional de São Carlos Segunda a sexta das 13h às 19h Telef. 213 253 045/6 Ticketline www.ticketline.pt Telef. 707 234 234
PRÓXIMOS ESPETÁCULOS — TEATRO CAMÕES 27 JUN—6 JUL
GISELLE GEORGES GARCIA
Lojas Abreu, Fnac, Worten, El Corte Inglés, C.C. Dolce Vita
CONTACTOS Teatro Camões Passeio do Neptuno, Parque das Nações, 1990 - 193 Lisboa Telef. 218 923 470
INFORMAÇÕES AO PÚBLICO
CAPA © BENGT WANSELIUS
Não é permitida a entrada na sala enquanto o espetáculo está a decorrer (dec. lei nº315/95 de 28 de Novembro); É expressamente proibido filmar, fotografar ou gravar durante os espetáculos; É proibido fumar e comer/ beber dentro da sala de espetáculos; Não se esqueça de, antes de entrar no auditório, desligar o seu telemóvel; Os menores de 3 anos não poderão assistir ao espetáculo nos termos do dec. lei nº116/83 de 24 de Fevereiro; O programa pode ser alterado por motivos imprevistos. Espetáculo M/6
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TEATRO CAMÕES 27 JUN—19H30