A vida é como uma peça de teatro Sem ensaios ou provas. As cenas nem sempre saem bem, Mas quando estamos acompanhados pelos atores certos, Pouco importa. POR CLÁUDIA CASTRO
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
Afonso Nunes; Ana Margarida Silva; Célia Silva; Cláudia Castro; Dora Oliveira; Filipa Almeida; Filipa Martins; Gabriel Baquit; Geraldo Eanes; Hugo Castro; Inês Rebanda; Júlio Castro; Koji Azevedo; Lettícia Cordeiro; Luís Atilano; Luís Macedo; Marina Sousa; Rebecca Moradalizadeh; Ricardo Neto; Ricardo Silva; Vitor Moreira; Wiebke Hoffman.
STAFF
Ana Ennes - anaennes04@hotmail.com Eduarda Almeida - duda_almeida21@hotmail.com Karen Mia - karen_vgm@hotmail.com Liliana de Barros - liliana.barros@gmail.com Ricardo Pereira - rxsricardo@gmail.com Rita Caferra - ritacaferra@hotmail.com Tiago Carvalho - ti21tascar@gmail.com
COLAGENS BOÉMIAS
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PERIOCIDADE trimestral
Noc Noc _10 Ser Português _16 Bué(mios) Colados _22 Presunto com Meloa _26 Sopa de Pedra _34 Cola-te Nisto! _42 Ensopado de Lampreia _62 Coelho à Caçador _72 Ovos Escalfados _78 Digestivo _84 Roteiro Boémio _100 Doce da Avó _110 Só para os Fortes _114 Rabanadas _118
COLAGENS BOÉMIAS
No passado mês de Outubro, no âmbito de Guimarães Capital Europeia da Cultura, as Colagens Boémias tiveram a sua estreia no Noc Noc. Num cenário improvável, mas bem no nosso estilo, foi reinterpretado um espaço velho e poeirento, que materializou os nossos ideais. Nos dois pisos por nós ocupados encontraram-se fotografias, pinturas, roupas, texturas e sabores. Todo um trabalho que uniu o amor e dedicação criados por nós, para mostrar um novo ambiente boémio que cruza os elementos do passado com um lado mais contemporâneo da cultura portuguesa. Deste modo, estiveram expostos os valores nacionais que nos representam, sendo interpretados por muitos como “um projeto megalómano”, o caos chegou para ficar e ninguém ficou indiferente ao modo peculiarmente português de mostrar a essência da nossa arte (no sentido mais ambíguo da palavra). Somos únicos e esquisitos e, talvez por estarmos situados no centro do globo, estamos dotados de uma versatilidade e adaptabilidade, que nos fortalece e nos liga com as diferentes formas de pensar. Á boa moda do grupo não poderíamos sair desta experiência sem novas ideias, lições e discussões. Poderíamos dizer que demos tudo que tínhamos para dar, que explorarmos todos os meios e recursos a explorar, mas a verdade é que ainda agora estamos a começar. Um grande obrigado a todos aqueles que acreditam!
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SER PORTUGUÊS
Cada vez mais se vivem tempos de mudança. Tempos em que temos que nos adaptar às condições que nos proporcionam. Tempos em que devemos “apertar o cinto” e ser “mais poupadinhos”. O país anda às voltas e parece que ninguém se entende. Vivem-se tempos em que o ser Português é ser o Zé Povinho. Cada vez mais se sente um certo adormecer num clima de conformidade insuportável. A um nível geral, o sentimento é de nostalgia e saudade e, talvez, de uma certa revolta interior que só está à espera de um momento certo para se revelar. Este é um sentimento que nós, Colagens Boémias, partilhamos, defendendo que esse momento chegou! Está no momento de fazer acontecer, porque caso contrário será como Bordalo Pinheiro descrevia – e desculpem-me os mais refinados: “O Zé Povinho olha para um lado e para o outro... e fica como sempre... a bater uma.” Cada vez mais, vivemos numa era do ser, em vez de ter. Ser o quê? Português, claro. Porque já chega de só termos orgulho no que é nosso quando os outros lhe reconhecem o valor. Já chega de fazer da notícia da semana o facto do cão do Obama ser português. É imperativo continuar o projeto Portugal. É certo que muitas vezes associamos o nosso insucesso ao facto de sermos portugueses. Ou porque não acreditam em nós, ou porque não nos apoiam... Mas o mais certo é que ninguém queria sequer ser outra coisa. Porque pelos vistos nós não fomos feitos à imagem de Deus, somos diferentes e esquisitos, e sabemos disso. Ou melhor, gostamos disso.
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SER PORTUGUÊS
Nos dias que correm já nem sequer é certo quem é realmente a maior potência mundial, mas todos conseguem suspirar com o pensamento de que podia, de facto, ter sido Portugal. Somos um país cheio de histórias e símbolos que relembram grandeza, não falando de tamanho, mas sim de espírito. Por vezes torna-se difícil ser Português. De um lado apresentam-se boas provas e fundamentos históricos, porém, do outro, vemos indícios de estagnação e falta de identidade cultural. Ora estes últimos só acontecem com quem apenas olha para os outros, quer para o seu bem-estar, quer para o seu sucesso, sem nada fazer pelo seu próprio percurso. Bem, isto não é ser português, isto é estar perdido em Portugal. Este país não pode ser feito de pessoas assim. Ainda somos os descendentes da nossa nobre história de versatilidade, descoberta e conquista. Um povo antigo que nunca se conformou ou deixou impedir pelo seu tamanho ou falta de recursos. Pois quando o objectivo é vasto e corajoso, as ideias para o alcançar também o são. E é esta garra e orgulho que tanto ansiamos por trazer de volta a um país que atravessa um período particularmente obscuro na sua existência. Somos seres bem dispostos e naturalmente sociáveis, imaginamos, fantasiamos, e expressamos com uma mente global e um coração bem nacional. Estas características são inatas a esta gente, e, como já o fizemos anteriormente, ao unirmonos conseguimos chegar a qualquer parte do mundo e dar a provar a todos este sabor quente, sábio e temperado que é ser Português.
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BUÉ(mios) COLADOS
ANA ENNES A procura de identidade sempre existirá, encontra-se em todas as conquistas alcançadas, e o seu fim apenas surgirá com o último sopro da mente.
Ambição! Ambiciono viver com cada vez menos! Ambiciono remar contra a maré, o nosso “querido” sistema capitalista, e ajudar aqueles que mais precisem.
EDUARDA ALMEIDA O mistério da minha existência manifesta-se na simplicidade de cores e formas como meio de desconstrução para o entendimento próprio.
KAREN MIA Sê feliz, partilha e mulitplica felicidade e vive mil histórias em mil vidas!
LILIANA DE BARROS 22
BUÉ(mios) COLADOS
Os seres humanos são os seres mais interessantes da terra e merecem toda a nossa atenção. Merecemos ser contemplados por toda a nossa natureza e complexidade.
RICARDO PEREIRA Eu gosto de banana com queijo ou de queijo com marmelada, gosto muito dos meus amigos e de momentos de risada.
RITA CAFERRA Tudo o que crio serve como meio à minha procura contínua pela virtude conceptual e escala épica reflectida pelos velhos mestres da pintura.
TIAGO CARVALHO Acreditamos na magia da experiência vivida com o acto de criar!
BUÉ(mios)COLADOS 23
PRESUNTO COM MELOA
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PRESUNTO COM MELOA
TEXTO TIAGO CARVALHO
Ricardo Silva, ilustrador, pensador independente, criou recentemente a sua própria empresa de ilustração. Esta surge não só como forma de evolução pessoal, mas também pelo amor incondicional de desenhar, e a possibilidade de se expressar e comunicar.
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PRESUNTO COM MELOA
Nos seus tempos de criança, deparou-se pela primeira vez com o mundo artístico, que imediatamente o começou a moldar profundamente. Recorda com carinho o tempo passado em companhia de seu avô, que de forma natural e espontânea o introduziu na área da música e do desenho. Passava tardes inteiras a desenhar, sempre acompanhado do seu avô e do seu “banjulim”, um instrumento característico do fado português. Nesses tempos, não existiam objetivos ou caminhos a seguir, mas sim um rapazinho, que desfrutava da companhia e instrução de um familiar próximo. Contudo, ao mudar de casa e de ambiente, foi exposto a todo um novo contexto de influências e experiências. Na sua escola
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não existia a área de artes, acabando assim a seguir a vertente do desporto. Com esta escolha, deixou durante o ensino secundário, esta veia mais artística e imaginativa um pouco adormecida. Ao deparar-se novamente com várias possibilidades, optou por se formar em Gestão de Património, fazendo posteriormente uma graduação em Design Têxtil. Não sendo o Design Têxtil o mesmo que ilustrar, possibilitou-lhe contudo a entrada no universo e nas ferramentas do design. “…o design têxtil oferecia-me uma grande componente de desenho…”, explica-nos Ricardo.
PRESUNTO COM MELOA
Foi através desta formação, que nasceu também o seu gosto por criar e/ ou tratar imagens em programas de edição gráfica, como o Photoshop e Illustrator. Anos mais tarde, estes mesmos programas tornavam-se os seus maiores companheiros e aliados. Já quase na conclusão da sua formação académica, perdia algumas expectativas de vir a trabalhar na indústria têxtil. É com esta nova decisão e introspeção pessoal, que decide aliar o seu talento e aprendizagens, e partir rumo a uma autodescoberta vocacional. “…Eu tenho o meu próprio caminho, explorei vários outros, pois achei que seriam necessários à minha formação…”, refere o ilustrador. Ricardo não se considera um artista, mas alguém que encontra verdadeiro prazer no ato de desenhar. Ao olhar para o papel planifica logo a primeira estruturação do desenho que vai surgir, começa por definir sobre o que vai falar, comunicar, ou simplesmente o que lhe vai na mente, “…ao começar vou definir: a ideia base é esta, ou eu quero falar sobre isto.” Valoriza cada vez mais a importância da transparência do conceito nas suas obras. Opta por uma relação de comunicação instantânea entre as suas obras, o público ou a sua aplicação. Não abdica dos detalhes que vão guiar o espectador por um aglomerado mar de ideias e significados expressos no seu trabalho. “…não me considero um artista, mas talvez já comece a pensar como um…”, confessa-nos. Ricardo revela inúmeras influências artísticas, das quais se pode destacar Tim Burton, McBess, e Joe Fanton. Porém, com quem se identifica mais de momento, é o artista Michael Kutsche (criador das mais recentes personagens do mundo “Alice no país das maravilhas), por toda a paixão que mostra em mundos alternativos, referências estéticas da banda desenhada e conceitos de antiguidade.
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PRESUNTO COM MELOA
O ponto em comum entre todos os artistas que o têm vindo a inspirar é a sua técnica de especificidade em termos de criação de todo um mundo novo e próprio, que os identifica tanto no seu trabalho como nas suas personalidades. Acredita que a marca de cada artista ou ilustrador reside nas suas personagens, que através das características que as definem como a trama, sombras e olhos que usa, servem de pontos que unem luz, cor, e até leis da física especificas a um novo universo criado no papel. Como o próprio diz, “O objetivo, a meta, acaba por caracterizar e classificar o trabalho do artista...” Assim, Ricardo descobriu o que sempre esteve lá, a paixão pelo desenho. É com vista neste fator, que neste momento desenvolve uma série nova de ilustrações denominada “The Strange World of Dr. Frank Monsters”. Caracterizada por ambientes sinistros, de espírito leve e bem-disposto, não opta pelo humor negro, mas sim pela demonstração de estados de espírito, “... sarcástico Q.B….”. As ilustrações oferecem ao espectador uma visão, um vislumbre sobre o mundo escondido que reside na imaginação fértil de Ricardo Silva, que tão delicadamente esculpe no papel ou no computador, de modo a termos a oportunidade de o experienciar. Esta vertente oferece-lhe autonomia, potencial de crescimento e a possibilidade de trabalhar no que lhe dá prazer de fazer. “Obriga-me a puxar por mim mesmo...”, explica Ricardo. Atualmente, desenvolve os seus projetos enquanto oferece também, uma vertente capaz e eficaz na área do design gráfico. Depois de breves momentos de conversa e auto-reflexão, o ilustrador mostrase um ser versátil e cheio de aptidões, mas cujo gosto que sente pela arte de ilustrar, deixa no público não só admiração pelas suas obras atuais, como também uma curiosidade sobre os seus projetos futuros. 30
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SOPA DE PEDRA
TEXTO EDUARDA ALMEIDA
A fotografia como vertente de metamorfose corporal e mental de uma jovem que retrata os seus devaneios ocultos.
Descendente luso-iraniana e nascida em Londres, a artista plástica Rebecca Moradalizadeh descobriu a paixão pelo mundo da fotografia quando ainda frequentava o cada vez mais longínquo, ensino secundário. Começando inicialmente por vasculhar e desmontar o trabalho da fotógrafa Shirin Nashat, depressa desenvolve os seus próprios estudos de imagens. A grande conceção histórica deste universo é um dos grandes fatores de interesse, mas não o mais importante. A possibilidade de retratar o real, de transpor aquilo que se encontra diante dos nossos olhos, quase como se fosse uma verdade palpável, é para Rebecca um acontecimento que a hipnotiza e delicia. Não é por acaso que a fotografia assume um papel tão preponderante na sua vida. Auxiliando-a não só nos seus trabalhos como artista plástica, em que procura registar todo o desenvolvimento do seu processo criativo, mas mais que isso serve como motor de reflexão e expressão do seu lado mais enigmático e psicológico.
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Descrevendo-se como uma fotógrafa amadora, procura auxiliar os seus trabalhos com uma sistemática pesquisa e observação de alguns dos génios desta cultura. Helena almeida, Christian Boltanski e Francesca Woodman são algumas das mentes criativas que lhe servem de referência na fotografia para artes plásticas. Por outro lado, admira personalidades como Annie Leibovitz, Inez Van Lamsweerde, Tim Walker, entre outros no universo mais virado para o editorial de moda e de certa maneira performativo. Quando questionada sobre onde vai “beber” e encontrar inspiração, a sua resposta é quase automática: “Começo sempre com um lado mais conceptual, de pesquisa (…) pode ser através de uma frase, música ou de ideias que vão surgindo”. Partindo por diversas vezes das embriagantes palavras de Fernando Pessoa ou das enigmáticas músicas de P.J Harvey, a mente que aqui vos apresentamos procura colocar estas ideias e conceitos em sucessivas e envolventes imagens.
SOPA DE PEDRA
Outro dos locais onde se refugia para encontrar informação e talvez o que faça a sua mente/ memória percorrer caminhos mais instantâneos, é as viagens de comboio. Preferindo viajar sozinha, habituouse desde os tempos da faculdade a fazer “intermináveis” viagens de comboio para a cidade do Porto. “Posso ver sempre a
mesma paisagem, mas diferentes enquadramentos e ideias vão surgindo (…) quem me dera fotografar com os olhos”, confessa-
nos Rebecca. Este flash momentâneo de cenários, faz com que dê por si a divagar sobre as inúmeras possibilidades de brincar com aquilo que os seus olhos estão a ver.
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ENSOPADO DE LAMPREIA
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SOPA DE PEDRA
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SOPA DE PEDRA
Aglomerando todas estas referências com um vasto leque de inspirações, acaba por transportar todo o seu interior, o seu lado mais misterioso e desconhecido, aquela faceta que só ela conhece. “Sou tão misteriosa que nem me entendo”, conclui à mesma medida que se ouve um silencioso “Click”. Utilizando o seu próprio corpo como modelo fotográfico, explora a vertente de performance que tanto a seduz. Prefere encontrar-se sozinha com uma máquina nas mãos, em que está apenas ela e a objetiva naquele universo transcendente, adquirindo uma liberdade e descontração que não consegue ter com mais ninguém. Através desta transformação e da metamorfose do seu corpo, da sua mente e da sua alma, Rebecca Moradalizadeh desconstrói constantemente a sua identidade mais escondida e oculta, exprimindo-se fotografia atrás de fotografia.
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COLA-TE NISTO!
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COLA-TE NISTO!
“Pop, Rock e Electrónica juntos, através de uma só voz” TEXTO EDUARDA ALMEIDA
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COLA-TE NISTO!
Vítor Moreira, Geraldo Eanes, Ricardo Neto e Rebecca Moradalizadeh são os quatro músicos que dão alma e “voz” à banda portuense, Hot Pink Abuse. Este grupo nasceu da paixão que sentem pela música, pelas diferentes sonoridades que os rodeiam, e pelo poder de verem as suas próprias interpretações tornarem-se realidade. Assim, dia após dia trabalham numa intensa construção da sua identidade, da sua definição enquanto artistas e especialmente enquanto grupo. O pop, o rock e a electrónica são os três géneros que se encontram incorporados nas faixas dos seus álbuns, onde cada um destes é esmiuçado, de modo a transmitir um estilo muito próprio e pessoal. Já contabilizando dois álbuns (Nowadays (2009) e Sinuosity (2012)) no seu curto, mas promissor percurso, a estrutura para a base dos Hot Pink Abuse foi construída pelos seus integrantes ao longo dos vários anos. Vítor e Geraldo já se conhecem desde os tempos de criança e sempre partilharam o gosto pela música, chegando mesmo a trabalhar juntos em outros projetos. Foi em um destes projetos que se cruzaram com Ricardo, acabando mais tarde por colaborarem uns com os outros, formando assim os Hot Pink Abuse. Rebecca, a única rapariga do grupo electropop, integra o grupo no ano de 2010 quando é contactada pelo trio de colegas, que após ouvirem a sua voz singular se renderam de imediato. Através de um brainstorming aliaram a necessidade de não serem rotulados a um género musical específico, com a necessidade de uma maior liberdade criativa para as suas composições, e chegaram
por fim ao nome que carateriza e define a identidade, essência e espírito da banda. Artistas como P.J Harvey, Ladytron, Depeche Mode e os gigantes da música electrónica como Daft Punk, são apenas alguns dos que contribuem para a realização lírica e sonora das músicas que compõe e idealizam. A procura por uma abordagem de diferentes estilos, de elementos musicais e vocais únicos no panorama português, leva-os a ganhar um certo distanciamento e singularidade dos outros grupos. “Em Portugal não há muitas pessoas a fazer este género musical (…) distinguimo-nos dos restantes pelo vocal e instrumental, através da escolha de determinados sons e ritmos” explica Vítor, o mais perfecionista dos quatro. Com a entrada do elemento feminino em 2010, a maioria da idealização e escrita interpretativa das letras ficou ao seu cargo, “Nunca tinha escrito nada para um trabalho musical, há aspetos muito importantes que se tem de ter em atenção, como por exemplo a métrica (…) Há medida que fui adquirindo uma certa linguagem musical, comecei a criar pequenas histórias pessoais ou imaginadas por mim”, confessa-nos a criativa Rebecca. As histórias presentes em cada uma das palavras das letras são articuladas com a parte mais instrumental, onde se desenvolve todo o processo de composição e de gravação das músicas. Estas são logo gravadas em estúdio, onde cada um dos artistas transporta o máximo de si, expressando-se livremente e transformando o trabalho dos Hot Pink Abuse em momentos verdadeiros e de entrega pessoal.
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COLA-TE NISTO!
Sobre a recente experiência de atuarem no grande palco do Hard Club, fazem excelentes elogios ao espaço e às condições de acústica que este oferece, e ainda a todos os espectadores que por lá passaram e que com eles vibraram. Através de uma boa divulgação da sua imagem, e ao oferecerem uma musicalidade e estilo tão internacional, esperam não só voltarem ao Hard Club, como ampliarem o número de concertos a nível nacional e europeu.
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Aliando a criatividade da Rebecca, com o perfeccionismo do Vítor, com o lado mais aventureiro do Geraldo e a vertente metódica do Ricardo, conseguiram criar uma só pessoa, uma só voz, um estilo único e livre de censuras!
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Gerindo os ensaios, concertos e entrevistas dos Hot Pink Abuse com a sua vida pessoal e com outras vertentes profissionais, este quarteto vai alcançando a pouco e pouco uma maior notoriedade no panorama musical português, e uma realização pessoal pelas pequenas conquistas já alcançadas.
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TEXTO KAREN MIA
Produtos originais e criativos surgem numa estĂŠtica diferenciadora em que o Design se alia ao Artesanato, com o simples objetivo de surprender e alegrar o teu dia-a-dia. Assim, em 2012 nasce uma nova marca, a Buhh.
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COLA-TE NISTO!
Filipa Martins tem 28 anos e é Designer Gráfica e Web Designer, tendo frequentado o curso de Design Visual do IADE. Afirma que o “Design é sem dúvida uma grande paixão” e em 2012 apresenta linhas de acessórios em que se destacam golas, colares e malas coloridos. As peças são feitas com toda a dedicação, resultando numa harmonia feliz entre o assimétrico, a riqueza de texturas e o uso de cores vivas e vistosas. O poder do manual confere o toque final de magia na produção destes artigos diferenciados. “As peças feitas à mão, voltaram a ser valorizadas, talvez pelo facto de nos termos cansado de viver numa sociedade de massas, em que tudo é exatamente igual, passámos a desejar uma atenção especial, uma peça única”, declara Filipa. O seu objetivo é responder à necessidade que todo o designer tem de criar. Criar ou recriar numa interpretação muito própria daquilo que o rodeia. E é para responder a esta necessidade que sempre existiu que Filipa dá à luz a Buhh, acreditando no valor que consegue acrescentar a um objeto, mesmo que momentaneamente, mesmo que só para si. No entanto, a aceitação do público aos produtos aumenta de dia para dia nas redes sociais, provando que também acreditam no afeto e estima com que foram realizadas. Desta forma, é criada uma comunicação de maior proximidade, e que facilita a divulgação da marca.
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Sobre as perspectivas futuras, Filipa conclui com um pensamento que alia a vertente pessoal à professional: “Gostaría de ver este micro projeto a crescer a cada dia e continuar a superar-me em termos criativos”.
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COLA-TE NISTO!
POR LUÍS ATILANO
Tenho em mim o anseio duma dúvida incerta no porquê das coisas e guardo comigo a certeza de que as palavras não são nada. (Para que servirão os números se nada eles também?) Existiremos por algo, ou será que não estamos para além da estupidez do sonho? Sendo pela mais absurda das razões que o universo tenha, vejo pouco significado físico no estar só pelo ensejo ilusório duma substância mística que na verdade o homem não entende só por necessitar de cordas a quem se agarrar no escalar das paredes do poço, (e na verdade as paredes não lá, havendo sequer poço) serão as lágrimas a expressão mais vil daquilo a que chamo, por ignorância, sangramento da alma? - Não sei, talvez. Incerto até no poder ter uma, esperando o direito a tê-la só porque ensaio a vida mais que os outros talvez o façam (que parvoíce, porque eu não os outros logo tudo incomparável de mim para eu mesmo) Sempre que escrevo soa-me, entre o estalido das falanges gastas, o sopro do declive que une caos e noite porque tudo sempre ausente em volta do nada. (serei eu o nada?) - Não sei, talvez.
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COLA-TE NISTO!
A mesma resposta que indagas sempre entre o sono e a doçura dos teus lábios, que também não sei se existem. E há algo de tão poético na existência do homem que se me torna evidente quão inglório e errático é o divagar do auto-conhecimento conosco, comigo sempre a fervilhar temor por nós e por mim mesmo. Às vezes invejo a liberdade aos pássaros só porque os sinto mais perto da chuva, só porque ela lhes toca primeiro, até nas tardes de Primavera onde o banco ao largo do casario começa a arrumar os sachos perto do feno que esfria no estábulo enquanto um pequenote grita (não chora, grita) pelo papagaio de papel que se prendeu no catavento, me é clara a inconstância no porquê do carcere da vida. Por ventura haverá réstia de humanidade em mim? - Não sei, talvez. Também não me sobra muito além de burilar a dor da permanência ou refutar a exterioridade frívola de um “não sei, talvez” que tanto me atordoa os dias. Por mais que me escreva é tão óbvio que as palavras não são verdadeiramente nada (dos números nem falo, filhos menores do castelo que perfaz a ignorância dos homens) e no demais, resta-me somente a certeza de que preciso do sorriso dos teus olhos.
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TEXTO RICARDO PEREIRA
Fogo e Prata é uma curta-metragem ainda em desenvolvimento, por um grupo de alunos de Mestrado da Universidade Católica Portuguesa. Constituída por Afonso Nunes, como realizador; Inês Rebanda como promotora; Koji Azevedo, editor de fotografia e finalmente Daniel Henrique na edição. Estes jovens juntaram-se para partilhar um ideal em comum, “é possível fazer cinema Português”. Apesar de não ser fácil fazer cinema de fantasia em Portugal, este grupo aceitou o desafio, provando exatamente o contrário. Afonso tem um papel muito importante na equipa, o de realizador. Quando questionado sobre se, se sentia o maestro do projeto, a resposta mostrou-se mais humilde do que a esperada. Sabendo que a ideia do “conto” é a base de todo o projeto, uma tarefa que lhe cabe a ele, esclarece que sendo um plano final do mestrado é um trabalho de todos. Apesar de liderar a visão e o rumo que a curta vai seguir, é importante não esquecer que todos os membros têm uma palavra a dizer. O objetivo é manter a equipa motivada, criar um bom ambiente entre todos os elementos, para obter um produto final com qualidade.
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COLA-TE NISTO!
A Inês enquanto produtora é um elemento crucial, para tornar a visão de Afonso possível. É ela que assume as responsabilidades de tratar dos patrocínios, autorizações, e de todo o tipo de contactos, como maquilhadora, figurinistas e muito mais. Quando descobriram o local ideal para as filmagens, começou de imediato a tratar de uma maneira para o tornar real, desde a deslocação da equipa até ao local, como a estadia ao longo de uma semana. Segundo ela, a sua principal função é esticar o dinheiro ao máximo e dizer maioritariamente a palavra “não”. A escolha do local para realização da curta, baseia-se essencialmente nas características fantásticas que o próprio espaço transparece, e na facilidade em ocultar elementos que se associassem ao comum. Destacam assim o ambiente rústico e mágico, um cenário perfeito para um filme de fantasia. O argumento que sustenta todo o restante trabalho, aborda a questão da solidão, e a falta de integração numa determinada sociedade. Surge assim a história de Ingnis,
uma jovem afável e bem-disposta, que se sente isolada perante a comunidade carrancuda e cabisbaixa da aldeia, que contrasta com a sua jovialidade. Para fugir a toda esta realidade, a heroína refugia-se no seu lugar especial, uma colina onde vê as estrelas e fala para os céus. Certo dia, enquanto caminha para o local, uma torre em ruínas onde os locais não se atrevem a chegar, conhece um rapaz jovial, que afirma conhecêla bem. Diz chamar-se Argentum, embora os habitantes do mundo de Ignis se refiram a ele sobre o nome de lua. A estética criada em torno desta história, é inspirada pelo gosto da animação japonesa e com uma elegância poética baseada no vídeo jogo “ Folklore”. Procurando conferir uma abordagem mais dinâmica, têm como grande objetivo dar prioridade ao jogo de emoções, criando assim uma ligação mais íntima com o espectador. O mundo que procuram representar está repleto de mistério e de uma aura mágica, que envolve todas as cenas do filme. Esta envolvência é criada por Koji e Henrique, encarregues da edição, recorrendo à utilização de efeitos especiais.
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COLA-TE NISTO!
Nenhum dos elementos do grupo quer ficar por um simples trabalho académico, todos anseiam por levar a curta para além das barreiras da Universidade. A ambição de divulgarem o seu trabalho por todo o mundo é enorme, o poderem chegar a Festivais de Cinema portugueses e internacionais é mais um desejo que partilham. Ao serem confrontados sobre o panorama da ficção portuguesa, da recusa evolutiva destes produtos, e da própria sociedade, a explicação está na produção de baixos custos, que gera lucro para os canais televisivos. Inês explica-nos que o problema
de séries que fujam dos típicos cânones de entretenimento, é que estas produções são bastante dispendiosas e não registam quase lucro nenhum. Afonso, fala-nos também na triste recriação de alguns programas portugueses, que tentam aproveitar-se do dinamismo de alguns filmes internacionais. A ideia não parte da própria equipa de produção, mas da facilidade em dar seguimento ao que já foi conseguido por outros. Ambos defendem, que é necessário o artista sair da sua área de conforto, explorarem o desconhecido, irem mais além e apostarem em uma ideia original.
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COLA-TE NISTO!
Já com a conversa bastante desenvolvida, onde os panoramas da qualidade e originalidade das produções portuguesas estão em cima da mesa, surge um realizador de referência, César Monteiro. A atitude de exibir numa tela preta, uma versão da Branca de Neve, independentemente do impacto que iria causar nos espectadores. Para Inês Rebanda esta é “Uma atitude de louvar, não foi uma questão lucrativa, mas sim uma mensagem e uma visão que decidiu partilhar com o mundo”.
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Lutando contra todas as adversidades com que se deparam, sabem que tudo depende deles, das barreiras que conseguem ultrapassar, e do uso que fazem dos seus conhecimentos. Não esperam que nada caía do céu, sabem que vai ter de existir sempre uma nova procura em diversas áreas, mas não pretendem desistir. Este é um conceito que vai sem dúvida sair dos muros da Universidade e invadir o cinema português.
ENSOPADO DE LAMPREIA
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POR RITA CAFERRA Os tons neutros como o branco, o cinzento, o beje, o preto e tons pastéis são tons que nunca saem de moda e este ano são uma das grandes tendências. São cores fáceis de combinar por isso, atreve-te a usar peças com texturas elaboradas, cortes exuberantes e diverte-te à procura dos mais loucos e originais estampados! Aqui ficam algumas sugestões...
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5 6 3 1. Pop Corn Sweater Mr.Gugu 42€ 2. Boys Sweater, Mr.Gugu 42€; 3. Camisola Manga 3/4, Ricardo Andrez Preço sob consulta; 4. Saia Elephant MrGugu&MissGo 24€ 5. Camisola Oversized com Franjas, Romwe 33€; 6. Blusa 2 em 1 em Chiffon, Romwe 56,20€.
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DIGESTIVO
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ENSOPADO DE LAMPREIA
1. Camisa com folhos, Mari Mari Marina Sousa Preço sob consulta; 2. Calções em pele cintura subida, NastyGal 154€; 3. Camisola em Malha Ponto Tubolar, TopShop, 124€; 4. Meias em Cashemira, Calzedonia 14,90€; 5. Oculos de sol Minx Shades, NastyGal 30€; 6. Mala em PVC tiracolo, NastyGal 58€; 7. Chapéu em Lã, NastyGal 23€; 8. Botins em pele e camurça, Carla Lima 85€; 9. Jacket acabamento pele de damasco, Falbala Hem 105,60€ ; 10. Top Lindie, Motel 29€; 11. Saia Hipnotize, NastyGal 30€; 12. Brincos Eza em metal, NastyGal 12,40€ 13. Relógio Pretty Bohemian, Swatch 55€; 14. Botim Sakura, Xperimental Shoes 150€; 15. Candy Clutch por Maison Martin Margiela para H&M 42,30€.
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ENSOPADO DE LAMPREIA
1. Top estampado, Illustrated People 46€; 2. Leggings estampados, NastyGal 18€; 3. Casaco tipo Hoodie, Mari Mari Marina Sousa; 4. Luvas em PVC meia mão, Romwe 15€; 5. Brincos em Madeira, Ophelia Amelia (PSC); 6. Sapatos Marques’ Almeida F/W 13 (PSC); 7. Clutch em PVC e metal, NastyGal 38€; 8. T´shirt em vários timos de malha; Cat´s Brothers (PSC) 9. Calças Off the gread, NastyGal 60€; 10. Jacket de zipper com mangas em ráfia, Boutique 78€; 11. Brincos Folha em metal, NastyGal 11,25€; 12. Bontins em pele, Carla Lima 85€; 13. Mochila Santa Fé, NastyGal 30,45€; 14. Anel Isqueiro, Wolves&Roses 7€; 15. Relógio em Acetato Aspecto Madre Pérola, Nixon Time Teller 116,80€; 16. Blusão Vintage Lee costumizado, Cat’s Brothers (PSC) 17. Vestido estampado com fechos nos ombros, Romwe 33€; 18. Brincos Cristal Leaf, NastyGal 11,30€; 19. Oculos de sol Plum, NastyGal 37€; 20. Mochila Shine On, NastyGal 14,40€; 21 Botas de Cunha em Madeira Olga Lace, NastyGal 135€. 15
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ENSOPADO DE LAMPREIA
1. Ricardo Andrez Collections; 2. “Highlander” Collection por Elisabeth Teixeira; 3. Camisa Estampada, Hugo Costa F/W 13 (PSC); 4. Jeans 100% CO, Salsa 39,99€; 5. Calças “Ciclista”, Zara Preço sob consulta; 6. Sweat, Mr.ugu&MissGo 42€; 7. Sapatos em pele e Borracha, Senhor Prudêncio Turbine Collection (PSC) 8. Botas em Camurça, Adidas Match Play (PSC); 9. Camisola em Malha e Colar, JoyRich (PSC); 10. Relógio Unissex Vanish Time, Swatch 76€; 11 Sapatos em pele e borracha, Senhor Prudêncio Turbine Collection (PSC); 12 Gola em Malha, Sónia Pessoa Acessórios para Daniel Dinis Collections; 13. Ricardo Andrez Collections; 14. SayMyName Collections; 15.Calças em ganga, Levis 75€; 16. Ganja Sweater, Mr.Gugu and MissGo 42€; 17. Camisa Desert Sessions, Mnwka 59,40€
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ENSOPADO DE LAMPREIA
1. Jeans Lima em Amarelo, Salsa jeans 79,90€; 2. T-Shirt “Tripes à moda do Porto” , Ring Ding Dong 19€; 3. Camisa Sweet Leaf 60€; 4. Hooden em Cardigan, H&M 39,95€; 5. Bolsa para Ipad em Denim, Salsa 49,90€; 6. Óculos de Sol Moustache, Party Glasses 9.90€; 7. Sapatos em pele e sola em borracha, Eureka Shoes by Filipe Sousa 119,90€; 8. Mala XL em pele, Senhor Prudêncio Turbine Collection (PSC); 9.Relógio Black Effiency, Swatch 89€. 10. Jacket Verde Metálico, Adidas Silver Collection (PSC); 11. T-shirt Ashley, Primitive Appareal Preço sob consulta 12. Jeans Colecção Denim, Salsa 69,90€; 13. Boné com tachas de metal e apliques em acrilico, Adeen Chomp 94€ 14. Luvas com estampado de relevo, HUF 42,30€; 15.Capa Iphone, Ohh Deer, Preço sob consulta; 16. Bota em pele e camurça, Nike Air Force ID 200€
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ENSOPADO DE LAMPREIA
1. Mochila Music Face, JoyRich 52€; 2. Pulseira em prata, Esquimó 15€; 3. Suspensórios, H&M 7,95€; 4. Casaco em malha com zipper tipo Hoodie, Cats Brothers Preço sob consulta; 5. Gola em Malha H&M 14,95€; 6. Relógio XL Santiago, Adidas 75€; 7. Meias Super Mario, Nintendo 7,50€; 8. Ténis Adidas Originals By Jeremy Scott 159,90€
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COELHO À CAÇADOR
TEXTO EDUARDA ALMEIDA
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A procura desmedida de um jovem pela exploração da mente e por um novo sentido de vida, levou-o a novas ideias, a novas opções de criatividade e ao poder de reconstrução do vestuário.
COELHO À CAÇADOR
Terminava o ano de 2010 quando um jovem estudante proveniente do Ceará, Brasil, aterrava finalmente em terras portuguesas. Partindo para a aventura de um mundo novo e desconhecido, Gabriel Baquit pretendia aprofundar e aplicar os seus conhecimentos no magnânimo universo da Moda. Aluno do Mestrado em Design de Comunicação de Moda na Universidade do Minho, Gabriel deparou-se com alguns paradigmas, após dois anos da sua chegada. Primeiramente é confrontado com uma forte desmotivação face ao crescente tempo livre que o cerca, e a posteriori surge a necessidade de se exprimir através dos estudos e ideais consolidados até aqui. Assim no decorrer dos intensos dias de calor, este jovem decide colocar em prática um novo pensamento, uma nova experimentação e uma outra maneira de criar.
adquiridos pelos designers tanto em lojas de segunda mão (maioritariamente), como no seu próprio guarda-roupa. Posteriormente estas são trabalhadas e remodeladas consoante a visão de cada criador, que por sua vez vai apresentar este “novo” produto aos consumidores. Renova-se, assim, o ciclo de vida destas peças, onde cada um dá asas à sua imaginação e aos seus pensamentos mais profundos, permitindo que a partir daí cada produto reescreva uma nova história. Um dos aspetos de maior evidência deste movimento é permitir ao consumidor estabelecer o preço que quer pagar pelo trabalho destes artistas. Segundo Gabriel: “o preço mínimo para cada peça varia consoante o que cada criador despendeu para a adquirir”, ficando ao critério dos indivíduos quantificar os objetos em exposição.
É partindo desta necessidade de trabalhar para algo, de transformar ideias voláteis em objetos reais que surge o “Ooh Project”. A escolha deste nome nasce da expressão “Out of Hand”, em que a produção manual e a reinterpretação são as primeiras diretrizes a dar a cara. Um grupo de novos designers aliou-se a Gabriel na construção e reinvenção de peças de vestuário já existentes. Utilizando os mais diversificados materiais, alterando as formas e estruturas destas, o limite para a imaginação e criatividade não existe, cada um idealiza e representa consoante os seus devaneios artísticos. Nos primeiros esboços do “Ooh Project” a palavra sustentabilidade não estava intrinsecamente ligada à ideia original, contudo Gabriel referiu que “ao serem planeadas as primeiras peças, percebeu-se que havia um constante ciclo de reutilização da vida do produto”. T-shirts, camisolas, calções, são alguns dos artigos de vestuário
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COELHO À CAÇADOR
Daí que surjam inúmeras questões e dúvidas quanto ao preço da criatividade. Será que alguém tem o direito de quantificar o trabalho de um artista? De ditar quanto custa a imaginação e as horas que são dedicadas a um projeto? Perguntas estas que nem o próprio entrevistado nos consegue elucidar, talvez por ser difícil atribuir um valor monetário a uma obra que parte da introspeção do artista, algo que vai muito para além do olhar dos observadores, uma realidade paralela onde só o criador consegue entrar.
foi bastante positiva e dignificadora para o grupo. Ambicionando um dia atingir metas mais elevadas com este projecto, Gabriel confidencia-nos que um dos objectivos iniciais seria reverter o dinheiro das peças vendidas, para as indústrias têxteis em situações mais precárias e auxiliar assim os seus funcionários. É com grande prazer que revelamos que o “Ooh Project” foi selecionado para participar de um concurso de indústrias criativas, um dos maiores projectos da área realizados no Brasil (movimento hotspot).
A reação que se observou da população vimaranense a este movimento foi bastante positiva. Sendo que, inicialmente as pessoas não entendiam e até desconfiavam quando eram informadas que o valor do produto dependia única e exclusivamente delas, após a explicação do conceito do “Ooh Project” a adesão
“Um verdadeiro boémio, não se considera boémio”, e é com esta expressão e muitas gargalhadas à mistura, que o nosso colega e amigo Gabriel Baquit procura domar e conciliar a sua criatividade com o seu espírito mais alternativo e … verdadeiramente boémio!
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OVOS ESCALFADOS
TEXTO EDUARDA ALMEIDA Novos conceitos e novas possibilidades têm vindo a nascer na mentalidade dos “novos jovens” da sociedade portuguesa. A necessidade de lutarem contra a crise económica e cultural, que tem prendido o nosso país, e o mundo, é cada vez mais urgente e desafiante. É neste panorama caótico que surge a Xperimental Shoes. Idealizado e criado por duas irmãs, Célia e Ana Margarida Silva, esta nova marca evidencia os elementos do design de calçado.
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Célia é licenciada em design de moda, e desde a sua entrada no mercado profissional, que trabalha no ramo do calçado. Ana Margarida, também é formada em design, mas de produto, e sempre demonstrou um grande interesse pela área da comunicação. Aliando os conhecimentos, a paixão e uma forte vontade de arriscar, decidem lançar o seu próprio projeto.
OVOS ESCALFADOS
Muito mais que uma simples marca de calçado, a Xperimental é uma filosofia de vida, uma forma de estar. Lançado no mês de Setembro, do passado ano, na tal altura negativa e depressiva em que a sociedade tenta sobreviver, a dupla de irmãs afirma que “Com a Xperimental queremos provar aos jovens, de que somos nós que temos de fazer algo para ultrapassar esta crise. Temos de fazer, mover, mexer com o mundo e com as ideias”. Movidas pelo patriotismo, pela vontade de mostrar ao mundo a qualidade e potencial de um pequeno país, que tem uma enorme criatividade e cultura, estas jovens apostam em produtos totalmente confecionados em Portugal. O nome e a imagem do projeto surgiu da ideia que as designers queriam transmitir ao mercado. “Uma marca que pretende experimentar, explorar, ir para além das tendências básicas, que pretendem tomar alguns riscos e fugir do convencional”, explica Célia. Apostando em artigos cleans, em que a sua base de sustento são as resistentes solas de madeira, peles simples e “limpas”, que não vão interferir na conjugação de cores idealizadas. A escolha da madeira para as solas é um dos materiais que caracteriza não só esta coleção, como também irá acompanhar as que se irão suceder. Não se abrangendo a uma única faixa etária, um único estilo, as peças revelam-se mais na forma de estar na vida do consumidor. “Pessoas de espírito aberto, vanguardistas, que gostam e dão valor aos pequenos detalhes do design. Que conjugam de forma inteligente e divertida as cores da tendência, e acima de tudo, pessoas urbanas, que optam por produtos confortáveis e ao mesmo tempo trendy”, explicam-nos.
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Possibilitando através da sua página na internet, que as consumidoras possam personalizar o calçado escolhendo a combinação de cores, revelam-nos que a gestão da produção/ custo de um único exemplar é “A alma do negócio”. Comercializam os produtos não só online, mas também a partir de algumas lojas espalhadas pelo país, como Muuda (Porto), Boneca (Braga), Mau Feitio (Coimbra), Shoes Me (Vila Real) e ainda Amélie au Theatre (Lisboa). Como perspetivas futuras, tem o aumento dos locais de venda em Portugal e a exportação para mercados europeus, nomeadamente Inglaterra, Espanha, França e Itália. Facebook, Twitter, enfim todas as redes sociais que fazem cada vez mais parte do quotidiano do ser humano, são também um forte meio de comunicação utilizado. Contudo, este não é o único meio que utilizam para divulgação. “Algumas revistas conceituadas como Time Out (Porto e Lisboa), Marketeer e ainda a revista da associação de calçado (APICAAPS), Portuguese Soul”.
Da participação em Outubro, na 39ª edição do Moda Lisboa, confidenciamnos que o trabalho para alcançarem os objetivos foi muito árduo. Contudo, ao fazerem uma retrospetiva percebem que ganharam alguma visibilidade, mas acima de tudo encontraram no Say My Name e em Catarina Sequeira uma grande e valiosa parceria. “Para além de nos identificarmos e apreciarmos o trabalho desenvolvido por ela, respeitamos e admiramos a forma batalhadora como trabalha e se dedica ao projeto”, referem as designers da Xperimental Shoes. Continuam ambas a trabalhar em projetos paralelos, mas dedicando sempre uma atenção especial à Xperimental, agora com novas responsabilidades pelas expectativas depositadas pelos compradores. Prestes a lançarem a colecção Primavera/Verão 2013 (Fevereiro, online e Março nas lojas), lutam contra esta época tão “negra” e de mudanças drásticas. Célia e Ana Margarida idealizaram um projeto, foram atrás desse sonho e trabalharam para o conseguirem tornar real, sem dúvida um verdadeiro exemplo para todos.
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DIGESTIVO
TEXTO EDUARDA ALMEIDA
“Cultura Portuguesa na Modernidade” foi o tema geral lançado para a criação de uma coleção para a estação Outono/Inverno 2012/2013. Partindo da enorme abrangência deste tema, foi necessário estabelecer um foco do trabalho desenvolvido ao longo das épocas no nosso país. Entre pensamentos, viagens e sonhos chega-se por fim ao tão ambicionado destino, a mais nortenha de todas as cidades, a acolhedora cidade do Porto. Perante a gigantesca bagagem cultural que a Invicta nos apresenta, optou-se por utilizar a inebriante arquitetura barroca presente nos edifícios religiosos e civis como elemento de inspiração. Focando-se num dos monumentos deste património cultural, o Palácio do Freixo, tem-se em consideração toda a sua história e valor desde o seu movimento artístico, à sua origem, significado e finalmente o seu espírito que sobrevoa todo o Porto e arredores. O conceito da coleção “Transformação da Alma” surgiu do extraordinário poder que a nossa cultura acarreta. Um conjunto de símbolos, significados e valores tradicionais que conferem ao nosso país uma nova e dinâmica alma. No entanto, nos dias que correm e numa perspetiva mais contemporânea, é necessário e quase obrigatório evocar uma nova maneira de movimentação/posicionamento para o estético, funcional e essencial. Encontramo-nos, portanto, perante uma mutação hereditária. Estes coordenados apresentam as formas arquitetónicas do Palácio do Freixo que se refletem na estrutura e nas linhas geométricas das diferentes peças de vestuário. Por outro lado, observa-se também um jogo de inspiração entre o exterior e o interior do edifício. A sua fachada e os elementos decorativos internos aparecem na coleção através de linhas mais acentuadas, de silhuetas retas e do uso de rendas. Os tetos de estuque, as figuras douradas e os ornamentos, ajudam a delinear as cores e os materiais que criam uma relação mais harmoniosa e fidedigna entre todo o conceito da coleção.
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Coleção: Aquialma Designer: Cláudia Castro Modelos: Dora Oliveira | Wiebke Hoffmann | Lettícia Cordeiro Fotografia: Ana Ennes
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Através de uma visão atenta ao que nos rodeia, procurando a valorização de espaços alternativos que nos contam histórias, repletas de experiências que preenchem memórias, surgiu o Roteiro Boémio. Uma colagem em que as palavras se unem ao poder da fotografia percorrendo as mais diversas cidades da nossa estimada nação.
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TEXTO EDUARDA ALMEIDA FOTOGRAFIA ANA ENNES
A antiga profissão de alfarrabista consiste no indivíduo que negoceia, e comercializa a arte dos livros antigos e usados. Foi a partir desta base mágica e inebriante, que Júlio Castro decidiu inaugurar a “Loja do Júlio”, livraria/alfarrabista. Datava de 24 de Junho de 1996 no calendário, quando o Senhor Júlio, movido pelo gosto de livros e colecções antigas (especialmente banda desenhada), adquire o seu primeiro estabelecimento. Situado na Rua da Rainha, nº77/79, exactamente no coração do Centro Histórico de Guimarães, Júlio Castro cria um mercado livreiro diferente do que se podia visitar na cidade. Adquirindo contacto, não só com novos coleccionadores e bibliófilos de todos o país, como também internacionais, através do Brasil, Espanha, França e Inglaterra. Com este crescente aumento do património literário, e a elevada procura de livros raros e inexistentes no mercado, “A Loja do Júlio” tornou-se demasiado pequena. Procedendo à mudança de sítio, instala-se até aos dias de hoje na mesma rua, mas desta vez no nº145. Ocupando o rés-dochão e o 1º andar, contabiliza um total de quatro salas repletas de relíquias literárias,
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abrangendo os mais diversos temas. Livros de história, religião, romance, poesia, política e arte, são apenas alguns dos magníficos exemplares que podemos encontrar. Reconstruindo um ambiente de convívio e de leitura, apresenta um espaço acolhedor e convidativo, onde se pode vislumbrar gravuras do século XVIII nos tetos, e ainda peças de mobiliário antigas com muitas histórias escondidas. Aqui qualquer indivíduo pode consultar ou comprar os inúmeros artigos exibidos. Sendo um local, que privilegia a divulgação da cultura através dos livros, realiza-se por vezes lançamentos de livros, exposições temáticas e de pintura, e ainda pequenas tertúlias. O preço dos livros vai oscilando consoante o seu tempo de vida, sendo que os mais antigos datam de 1613 e 1690. Camões através de “Comento” e os “Sermões” do Padre António Vieira, são respectivamente os mais clássicos. Nos dias que correm é Hugo Castro, o filho deste idealista, que assume as rédeas do negócio. Um ponto de encontro entre intelectuais e pensadores, que apreciam a arte de ler, de conhecer e de descobrir novos mundos através das palavras.
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Morada:
ainha
Rua da R
arães
31 Guim
4800-4 , nº145.
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TEXTO EDUARDA ALMEIDA FOTOGRAFIA ANA ENNES
Vasculham-se as ruas da cidade de Guimarães, a passo e passo percorremos todo o seu centro histórico, até que nos deparamos com o convidativo e iluminado Largo da Oliveira. Carregando uma forte componente da história de Portugal, a Oliveira brinda-nos não só com os seus monumentos arquitectónicos, mas também com um vasto leque de cafés e bares. E é num cruzamento de ruas que descobrimos o Salado Bar. Luís Macedo, proprietário do bar há já quatro anos, escolheu o nome do seu estabelecimento tendo como base o Padrão do Salado. Este monumento foi mandado erguer por D. Afonso IV, no século XIV, como forma de comemorar a vitória na Batalha do Salado. O facto de se encontrar localizado mesmo em frente a esta obra de arte, com a necessidade de arranjar um nome, levou Luís a homenagear o Padrão através da incorporação de alguns dos seus elementos. Para além de partilhar a mesma designação, este jovem procurou fazer referências à
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célebre batalha, recorrendo ao uso de ilustrações e frases alusivas ao tema. Apesar de ser a sua primeira experiência, sempre demonstrou um forte interesse por esta área, o que resulta num bom atendimento aos seus clientes. Funcionando mais como café durante o dia, oferecendo alguns “petiscos” aos seus visitantes, quando a noite cai, torna-se num bar, onde as bebidas passam a ser a escolha de eleição. Anos 80 e 90, noite da Caipirinha e festas Erasmus, são algumas das muitas possibilidades, que podemos encontrar nestas entusiasmantes noites. Não se focando num público específico, podemse ver as mais diversas pessoas, onde a mistura de culturas e de idades predomina. O Salado Bar carrega consigo a essência de outros tempos, tornando-se um ponto de encontro entre amigos, onde a boa disposição e fluidez das conversas se fazem entoar.
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Morada: Largo da Oliveira, nº28; 4800-438 Guimarães
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Apesar das diferenças “é interessante perceber que as dificuldades são basicamente as mesmas”, como nos explica Marina, que acrescenta:
TEXTO KAREN MIA FOTOGRAFIA RICARDO PEREIRA Em plena baixa do Porto, encontra-se, desde Junho de 2012, um novo conceito para a experiência boémia, o Atelier de Costura Portuense. Como se costuma dizer, “o saber não ocupa lugar” e, neste caso, é partilhado por duas jovens que desvendam os mistérios do corte e costura. Filipa Almeida e Marina Sousa conheceram-se na Escola Artística Profissional Árvore, onde tiraram o curso técnico de Design de Moda. Ao longo do seu percurso foram percebendo que havia uma certa procura por este velho hábito e decidiram arriscar e avançar com o projeto. A procura tem sido bastante satisfatória, ocupando-lhes toda a semana entre a preparação das aulas e as próprias formações. As turmas são compostas por cinco alunos, e tanto existem pessoas mais novas, como mais velhas, ou até mesmo homens – o que quebra com o mito da costura enquanto atividade puramente feminina.
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“É engraçado que as histórias que nós ouvimos aqui são todas muito parecidas. Toda a gente diz que cresceu com uma máquina de costura em casa, que viu a mãe ou a avó a costurar, no entanto na altura não foram motivadas para tal. E esse bichinho de certa forma ficou lá, e acho que com a situação atual que vivemos, as pessoas foram buscar essa informação que ficou ali retida, despertando o desejo de voltar a costurar”. No curso de iniciação são realizadas duas peças (uma alfineteira e uma bolsinha) e na primeira aula ninguém acredita que as consegue concretizar. No nível 1 (que pode dar origem ao nível 2, se os alunos pretenderem continuar), a situação é ainda mais surpreendente, porque são concretizadas peças de vestuário. Existem, ainda, alguns workshops, que de momento não têm datas programadas, mas por exemplo, no passado mês de Dezembro foram relacionados com a época natalícia. No futuro, as duas jovens pretendem dedicar-se à realização de mais cursos, pois nota-se um maior interesse num processo de aprendizagem mais intensivo, onde é possível retirar mais informação.
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Um dos princípios do atelier é tratar toda a gente por tu. Independentemente da idade, é importante que haja um certo à vontade para que as pessoas se sintam descontraídas a costurar, para que possam de facto tirar prazer daquela situação. E pelo meio, existem diversas conversas que não têm necessariamente a ver com costura, bebe-se chá, ouve-se música... Enfim, oferece-se a experiência de pertencer àquele lugar. E, já no próximo Inverno, a dupla pretende lançar as novas coleções das marcas próprias: Mari Mari, de Marina Sousa; e RING DING DONG, de Filipa Almeida. O seu objetivo é continuar a oferecer cursos que motivem o gosto pela costura, e aproveitar o outro lado do atelier para dar apoio ao desenvolvimento destes projetos, organizando o espaço de modo a possibilitar a existência de um showroom.
Rua da Picaria, nº 41, 4050-478 Porto 107
DOCE DA AVÓ
www.gasporto.pt
TEXTO ANA ENNES Tudo começou no ano de 2002 através de 10 amigos com uma vontade comum de ajudar/servir o outro. Hoje, o Grupo de Ação Social do Porto, (G.A.S. Porto), é uma organização não-governamental para o desenvolvimento (ONGD) com dez anos e mais de 250 voluntários. A missão desta organização é criar uma escola da vida vocacionada para a ajuda e o desenvolvimento humano. Através de intervenções, tanto em Portugal como em países em vias de desenvolvimento, o objectivo geral é contribuir para a construção de um mundo melhor. 110
DOCE DA AVÓ
Como não podia deixar de ser, numa organização que trabalha para o Outro e com o Outro, os valores desta tornam-se essenciais. Assim, reconhecidos pelas diversas escolas do pensamento e fundamentais para a felicidade do ser humano o G.A.S. Porto tem como valores, a paz, a liberdade, o respeito, a abertura, a sensibilidade, a alegria e a solidariedade que se fazem acompanhar do necessário rigor, justiça e disciplina. O voluntariado feito nesta organização é um “voluntariado de afetos”, onde o ser e o estar para o Outro é o método, assim, pretende-se responder à necessidade de humanização nos serviços sociais prestados com a ajuda de diversas parcerias na área do Grande Porto. Outro fator que diferencia o G.A.S. Porto de outras ONGs é a componente de formação intensa através de seminários,
fins-de-semana de trabalho especifico, tempos específicos para reflexão, entre outras actividades de team work. Nesta formação contínua pretende-se dar ao voluntário as ferramentas para servir melhor o público-alvo, que pode ir desde idosos, a crianças, jovens ou portadores de deficiências mentais. Este processo de formação é um processo longo e constante, isto porque, os voluntários no G.A.S. Porto, estão constantemente a ser expostos a novos desafios e, para isso, podem sempre contar com o apoio do grupo pois o lema é, ESTAMOS JUNTOS! Esta forma de estar, leva a uma coesão do grupo, a uma elevada motivação, a um crescimento pessoal que se reflete a longo prazo em diversos momentos da vida de cada um e, por fim, a uma consciência voltada para a responsabilidade social.
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SÓ PARA OS FORTES
TEXTO KAREN MIA Tudo isto que aqui vou relatar aconteceu numa daquelas semanas mais acarinhadas pelos estudantes. Aquelas semanas raras, mas sagradas, que ocasionalmente aparecem para alegrar os universitários mais empenhados em criar (ou não) memórias académicas. Falo, então, na mítica Semana da Euforia. Depois de uma tarde de ressaca esperada, entre risos e gargalhadas que tentam entender o que raio aconteceu ao certo na noite anterior, surge uma imperativa questão: “será que a Carolina está bem?”. Preocupados, lá vão eles tocar a campainha da amiga. Quando finalmente a porta se abre, eles conseguem vislumbrar uma pequena personagem vestida de ninja reformada que, sem mais demoras, pergunta o que aconteceu na noite anterior, pois não se lembra sequer de ter ido ao Bar da Praia. E é aqui que Erica tenta explicar aquilo de que se lembra... Realço que esta história sofre de vários lapsos, pois se uma estava mal, a outra estava ainda pior, porém é um conto que merece ser partilhado com um grande aviso de “NÃO TENTE FAZER ISSO EM CASA!”. Tudo começou, como manda a tradição, com uma bela de uma jantarada. Um brinde à comida que está sempre óptima, um brinde à bebida que ainda está melhor, um brinde aos amigos que são todos
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maravilhosos... e quando já nem se sabe ao que se brinda é sinal que a alegria está instalada. Começam a aparecer os primeiros desistentes que ainda têm discernimento para saber que já chega, mas, como manda a tradição, para a Carolina e a Erica o copo só está meio vazio quando já não há mais nada para encher. E lá foram eles todos contentes, todos eufóricos... Já no Bar da Praia, que por sinal estava demais, o António (proprietário) aproxima-se de Erica e pede que o acompanhe. Ela segue-o com um sorriso estampado na cara, pensado para si mesma que iria voltar com mais bebidas para si e os seus amigos quando se depara com Carolina estatelada no chão, com uma espécie de ataque de convulsões soluçando “TI-RA-ME DA-QUI!”. E é a partir daqui que começam a surgir as maiores dúvidas pois elas abandonaram o local e fizeram-se à estrada. Próxima memória? Lavar a cara na fonte em frente à polícia. Entretanto eis que se abate sobre elas um desejo de continuar a jornada para outra discoteca – a “Palpite”. E eis que aparece uma nova questão: Como?? De Smart branco. Sim, pediram boleia a um total desconhecido para as deixar lá. Entretanto, já no local, Carolina cai no chão e, aos olhos de Erica, começa a vomitar sangue. Sangue?? Não, era sangria! A preocupação manteve-se e ela tenta ligar aos amigos para que a venham ajudar.
SÓ PARA OS FORTES
Ninguém sabe ao certo quanto tempo ali estiveram, e eis que Carolina volta a si e dá um grito: “ISTO É UMA HISTÓRIA PARA CONTARMOS AOS NOSSOS NETOS!”. O entusiasmo volta a apoderar-se das duas jovens que tentam então entrar na discoteca, porém, em vez e irem pelo caminho normal decidiram aventurar-se pela agreste encosta saltando ribanceiras com dois metros de altura. Como as deixaram entrar? Ninguém sabe. O certo é que entraram e em grande, caindo logo no meio das escadas à frente de toda a gente. Entretanto chega Matilde pronta a ajudar e quando chega ao pé das suas companheiras elogia Erica dizendo que está muito bonita, com os olhos muito abertos. Era de raiva! Pois alguém tinha acabado de lhe atirar um whisky cola à cara! Porquê? Ninguém sabe... O certo é que os atos de violência começaram a propagar-se. Uma desconhecida apanhou um estalo da Carolina quando tentava ajuda-la. A mobília da recepção foi partida num ato de
desespero... Enfim! Quando por fim saíram da “Palpite” e tentaram voltar ao Bar da Praia, já era de manhã e a festa já tinha acabado. Voltaram a reencontrar-se com os seus amigos em casa, onde a brutalidade continuou, e as agressões se prolongaram até que Carolina decidiu abandonar as suas vítimas e ir embora sozinha. Erica descrevia a noite com uma certa tristeza inconsolável, mas que ninguém conseguia levar muito a sério tendo em conta a série de acontecimentos disparatados que aconteceram - “A Palpite é horrível! Tudo a branco e preto, as pessoas são muito sérias e todas usam camisa, sem falar naqueles degraus pequeninos e manhosos que se estendem ao longo da pista onde nós caímos”. Já para Carolina “tudo tinha muitos brilhos vermelhos e roxos”. Tempos depois, o grupo de amigos decidiu visitar o local do crime e a declaração final foi geral: “Aquelas duas não estavam mesmo nada bem!”.
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