Colagens Boémias

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Receitas no Interior

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Mais PortuguĂŞs que o Azeite Galo! Receita 100% caseira


COLABORADORES DESTA EDIÇÃO

Andreia Figueiras, Andreia de Sousa, Carla Lima, Cataryna Raísa, Cezar Sagasaki, Diogo Coelho, Duarte Nuno, Marta Fernandes, Marco Pereira, Rúben Rosário, Pedro Resende.

STAFF

Ana Ennes - anaennes04@hotmail.com Eduarda Almeida - duda_almeida21@hotmail.com João Costa - joaofilipecosta91@gmail.com Karen Mia - karen_vgm@hotmail.com Liliana de Barros - liliana.barros@gmail.com Ricardo Pereira - rxsricardo@gmail.com Rita Caferra - ritacaferra@hotmail.com Tiago Carvalho - ti21tascar@gmail.com

COLAGENS BOÉMIAS

colagensboemias@gmail.com colagensboemias.tumblr.com www.facebook.com/colagens.boemias12 https://twitter.com/ColagensBoemias

PERIOCIDADE trimestral

Há coisas inacreditáveis, coisas que marcam. Caso para dizer: “Há coisas fantásticas, não há?”. Há uns anos atrás não pensava dizer isto, mas quando o destino (ou seja lá o que for) me decidiu enviar para Guimarães, nunca pensei que se fosse tornar nisto. No coração da cidade que viu nascer Portugal, nasceu também um mundo paralelo e alternativo, cheio de sonhos e ideias que se partilham entre risadas e brindes. Pessoas desconhecidas, estranhos totalmente entram na nossa vida e transformam-na em tudo aquilo que mais queríamos. A fórmula? Até hoje não percebo. Mas penso que está inteiramente relacionada com a falta de subtileza com que se passa a viver. Aceitam-se os momentos crus e nus e num risonho acontecer surgem projetos que transcendem. Se é assim, é assim e não há nada a fazer. Basta aceitar que dentro de nós se encontra um ego produtivo que precisa mostrar ao mundo que só somos as ovelhas negras da sociedade porque pensamos de forma diferente. Quem está certo? Acho que aquele que é feliz. E a felicidade nem sempre é entendida porque há preocupações maiores. Acredito que é através do periférico que se conseguem entender as pequenas coisas que estão fora do foco principal. E são estes pormenores que se tornam grandes, que ganham força e ganham alma, e ganham mais vida que todas as vidas. Assim nasceram as Colagens, por entre conversas e devaneios daquilo que desejamos ser e dos desafios que desejamos vencer. Todos sentados à mesa, num jeito tipicamente português, enquanto se degustam sabores e dissabores com uma atitude honesta e talvez um pouco utópica, assim se apresenta este primeiro número. Pois tal como dizia o nosso querido Fernando Pessoa: “tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. KAREN MIA




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IAS M É O B ) GENS A ADOS ATUM L lmeida L O O C arda A C u d ) E s r E 8 xto po TÉ D É(mio A ima. Te U P L B la r M a C CO 14 do de . Calça STAS o t r O o f T n o arros) ão e c 20 a de B inovaç n , ia n il L ig s r (de xto po TE E ário. Te s U o R Q n RO Rúbe 26 C rações de moda de (ilust STO! I o) N E T Carvalh o A g L ia O E or T 34 C LDO VERD rdo Pereira. Texto p A ica 48 C rafias e ideais de R AY (fotog RYD E PIPO or Karen Mia) V E O E D L É I Z M to p 58 S CALHAU À Tiago Carvalho. Tex A de 64 B trações e devaneios LOR I ( ilus A T AS Ô N J O I I e) E H M S A esend A R F o M r d Pe CO 74 JÕES n-ARTE! Texto por O R 78 lucio ) : Revo U É (moda ren Mia a C K r o O p TAS D ços Grátis. Texto A N bra 90 NHO I ugs - A R H I e E e r F H ( OM C r Ana Ennes) C É F A po 96 C iro boémio. Texto RTES O F (rote S RA O A P Ó 106 S O DE LÓ Ã 108 P




COLAGENS BOÉMIAS

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COLAGENS BOÉMIAS

QUEM SOMOS? O QUE FAZEMOS? Os dias caminhavam a largos passos e as noites mantinham-se serenas e profundas, aproveitavam assim estes pequenos momentos para terem conversas e discussões encruzilhadas. Em torno de uma simples mesa de madeira, os oito “cabecilhas” partilhavam os devaneios de um universo paralelo, um lugar onde não existem impossíveis, onde não há um infinito número de regras que ditam tudo “o que se pode ou não fazer”, a expansão da imaginação e a descoberta de novas ideais imperavam. Pensamentos nasciam e desvaneciam quase instantaneamente, a necessidade de se exprimirem criativamente e a libertação para um estilo de vida desprovido de preocupações e rotinas mantinham-se. Foi então que estes jovens enfeitiçados pela vida boémia abandonaram o “E se fizéssemos isto (…) E se (…) E se (…)” e evoluíram para “Vamos fazer aquilo (…) E aquilo (…) E aquilo (…)”. Os palpites outrora atirados para o ar, ganham agora novas formas, cores e um enorme sentimento de patriotismo. Nasce assim as Colagens Boémias, um porto seguro que não censura a liberdade de expressão, onde nada está certo ou errado, em que ninguém é criticado ou comprado e onde podem dar asas à originalidade. Construindo um colectivo de arte e design composto por pessoas das mais diversas áreas e com gostos bastante diversificados, não procuram expor apenas os seus trabalhos mas dar o passo seguinte e aprofundar o seu interior, o que lhes vai na alma e as filosofias de vida que os movem.

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COLAGENS BOÉMIAS

Numa altura em que o país atravessa uma grande crise, o grupo vê as coisas por um outro prisma. Vê um Portugal cheio de artistas e pensadores esquecidos, tradições desvalorizadas e perdidas no fundo de uma “gaveta”. Tentam transmitir que fizeram uma escolha de vida, em que se pretende apenas aproveitar a liberdade, os diferentes tipos de arte e costumes, aqueles momentos singulares em que damos oportunidade da nossa mente vaguear pelas profundezas do nosso espírito. As Colagens travam um empolgante desafio ao lutarem para mostrarem quem são, sem máscaras e sem vergonha de transparecerem o amor desmedido que tem pela arte de criar. Rodeados de colegas e amigos que decidiram dar a sua contribuição para este projecto alternativo, prometem recusar as coisas óbvias e desfrutar de todos os momentos desta longa jornada, sem nunca desistirem de divulgar a qualidade e visão das “ovelhas negras” do país. As Colagens Boémias têm o prazer de vos apresentar um modo de vida alternativo, recusando-se a entrar na decadência e resignação da sociedade actual. A todos os interessados deixam o convite para que se juntem a eles e que abram a mente para diferentes crenças, visões e estilos de vida.

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BUÉ(mios) COLADOS

Adora explorar e imaginar o jardim da sua mente, fotografando-o insistentemente. Divagando pelos seus pensamentos secretos, mostra sentimentos discretos que só com confiança atingem uma certa segurança. Nas madrugadas de neblina, quando surgem caminhadas repentinas, agarrase às ervas mais finas, para fugir aos dias de rotina.

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Fruto do amor entre Rosa e Sebastião, é o nome que os anjos no céu cantarão. Veio iluminar St. Tirso e sua terra alta, sem nunca deixar ficar mal a sua malta. De alma pura e graciosa, mostra postura sábia e cautelosa. Em noites de lua cheia, revela a face mafiosa que deixa a sua gente receosa.


BUÉ(mios) COLADOS

Foi assim que ele nasceu, e com a fome de um Leão cresceu! Para João a vida é sempre uma animação, com alegria e aventura nunca lhe falta emoção! As preocupações com a Humanidade são uma constante, e a Engenharia Mecânica um passado distante. A faísca da mudança ele procurou, e na arte dos Boémios a sua imaginação colou. Na secreta passagem encontrou o Mundo Abstrato com que sempre sonhou!

Vai divagando na sua mente, enquanto risca intensamente para chegar a uma criação transcendente. Da Venezuela aterrou e desde que aqui chegou, a criatividade desafiou. Nas manhãs de Inverno, transportando sempre o seu caderno, alcança a visão de um imaginário eterno.

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BUÉ(mios) COLADOS

Seu coração enaltece um espirito carente. Na procura intensa do amor, descobriu o seu verdadeiro calor. Eterna romântica, ainda tenta entender a sua física quântica. Nas suas veias corre sangue de entusiasmo fervente, e o seu sorriso faz-te acreditar que tudo vai para a frente. Pretende correr o mundo espalhando o seu saber, sem esquecer, por um segundo, tudo o que a fez crescer.

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Ainda ninguém entendeu o que lhe vai na mente. Eram duas da manhã quando se ouviu um grito. Depois silêncio absoluto…Todos sabiam que vinha aí um novo circuito. Sempre à espera, sempre à caça, foi crescendo um ser pelo meio da fumaça. O que não falta são registos, pois a sua mente e a sua alma captam sempre uma certa calma. Quando o sol se põe no horizonte, lá ao longe, há quem consiga avistar, um homem com ar de monge.


BUÉ(mios) COLADOS

Encontra-se sempre presente, não deixando ninguém indiferente ao seu “move” omnipresente. Trabalhos manuais toda a vida aprendeu, mas foi com o corte e costura que finalmente se rendeu. Nas noites de neblina, ninguém sequer imagina, que há-de aí surgir uma misteriosa sadina.

Descendente de Alfredo Carvalho, oriundo das terras rochosas de Mafamude, disciplo da vida e do quotidiano, virtuoso e destemido, percorre o espaço e o tempo, a caminho do desconhecido. Navegador do inconsciente, amante do conhecimento, pensador prudente, espera pelo seu momento.

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TOSTAS COM PATÉ DE ATUM

A introspeção de uma jovem designer, que alia a criatividade com as necessidades da sociedade atual. TEXTO EDUARDA ALMEIDA

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TOSTAS COM PATÉ DE ATUM

Refugiados dos incandescentes raios solares, concluíam-se os últimos pormenores para o tão aguardado reencontro. Avistandose ao longe uma silhueta que caminhava a curtos passos na nossa direção, ganha-se uma enorme expectativa à medida que os traços começam a ganhar formas e volumes. Ouve-se por fim uma voz: “Olá afilhadinhaaa” e é assim que se inicia mais uma tarde de conversas de café. Carla Lima, Mestre em Design de Comunicação de Moda, atravessa há quase um ano os paradigmas e nostalgia da passagem do mundo académico e da vida boémia, para o mundo do enigmático e das responsabilidades profissionais. Ao ser questionada sobre as conquistas alcançadas desde que abandonou a Universidade do Minho, a artista não deixa de demonstrar o seu entusiasmo e orgulho pelo desconhecido mundo que tem vindo a percorrer. Transportando consigo não só os conhecimentos adquiridos enquanto estudante, acredita que a sua evolução profissional e pessoal foi adquirida com as vivências de todas as pessoas com quem

teve o prazer de se cruzar ao longo de cinco intensos e maravilhosos anos. “A melancolia e saudades destes tempos são gigantescos, foram os melhores anos da minha vida”, é assim que a Carla se relembra dos seus gloriosos anos universitários, de todos os jantares em casa das suas colegas de curso, das noitadas “esquecidas” no bar académico e das memórias perdidas do dia seguinte. Procurando as recordações mais íntimas e boémias, fizemos com que a nossa colega e amiga vasculhasse mentalmente o seu baú. Presenteia-nos com as lembranças dos bons momentos passados com os amigos, infinitas conversas durante os jantares, muito sentido de humor, as nubladas festas no jardim da universidade, os caminhos turbulentos para o bar académico e claro o tardio regresso a casa. “Guimarães é uma cidade de aventuras desmedidas e histórias escondidas”, é esta a citação utilizada para descrever todos os acontecimentos explorados no berço da nação, aqueles acontecimentos que só certas paredes conhecem e que só os mais corajosos sobrevivem para as relembrar!

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TOSTAS COM PATÉ DE ATUM

Como descreves a marca homónima “Carla Lima”? A marca “Carla Lima” tem como conceito a “moda, conforto e versatilidade”, destinada a uma consumidora jovem e urbana. Presta uma especial atenção às tendências de moda, à saúde do público-alvo e a uma possível troca dos elementos do produto, como por exemplo cordões e tiras de velcro das mais variadas cores. O que te fascina tanto nos sapatos, para os tornares no ponto focal da tua tese de mestrado? A minha paixão pelos sapatos já é muito antiga, especialmente pelos saltos altos. Acho que este acessório permite à mulher uma grande transformação, conferindo uma silhueta e postura muito mais elegante e claro torna-nos mais altas. Quais são os principais factores que fazem um sapato ser confortável? Tem de se ter em atenção alguns factores quando se está a criar este tipo de peças, de modo a elas não serem prejudiciais à saúde do utilizador. Não se devem por isso utilizar formas muito agudas, tanto a nível das biqueiras como dos saltos, sendo que estes últimos não devem ser muito altos (5cm medida ideal). Quanto mais alto o salto for, maior é o peso da carga corporal assente no pé, devendo-se utilizar uma compensação na parte da frente. O calçado não deve ser muito apertado, pois reduz a sua estabilidade. Para além disso o tamanho comprado deve ser exactamente o do cliente, nunca um número a baixo pois ficam sujeitos a futuras calosidades e bolhas. Por fim a frente do sapato deve ser coberta e pouco decotada, para o pé não estar constantemente a deslizar.

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TOSTAS COM PATÉ DE ATUM

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TOSTAS COM PATÉ DE ATUM

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CROQUETE

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CROQUETE

Rúben Rosário é a prova que a criatividade nacional não se esgota . Dividido entre ilustrações e Design de Moda, viu o seu talento ser reconhecido na 3º Edição do Prémio Gillete Vénus e depois de ter trabalhado ao lado da prestigiada estilista Ana Salazar, é como Designer de Calçado que assina com o seu génio criativo.

TEXTO LILIANA DE BARROS

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Em qual destas áreas te sentes mais à vontade para expressar a tua criatividade: Ilustração, Design de Moda ou Design de Calçado? Porquê? É difícil escolher uma das três, acho que para me expressar na totalidade preciso de um misto das três áreas, uma vez que quando trabalho gosto de pensar na globalidade, criar um estilo e para isso recorrer à ilustração de moda como meio, ao design de moda e de calçado como parte integrante do trabalho. Desde cedo que comecei a trabalhar desta forma, criando looks completos que incluem vestuário e acessórios. Dentro do universo da Ilustração como descreves o teu trabalho? A ilustração é uma paixão antiga. Desenho desde pequeno, principalmente a figura humana e vestuário. Ao longo do meu percurso procurei aprender e desenvolver outras capacidades e técnicas, mantendo esse espirito evolutivo ainda presente. Não me considero um ilustrador exímio, porém sei que tenho um estilo próprio, um traço e um modo de representar os meus modelos que me caracteriza. Procuro incutir o meu espirito não só nas criações como também no próprio desenho, considero cada desenho como um trabalho único e irrepetível. Onde vais buscar inspiração? Falar de inspiração é sempre complicado. Penso que sou inspirado por tudo o que me rodeia, situações, imagens, pessoas, sons, etc. elementos que de alguma forma incentivam a criação. Gosto de recorrer a temas fortes e a personagens intensas e misteriosas, que permitam fazer uma criação dentro dessa ambiência. Existem por exemplo momentos onde a inspiração não flui tanto como gostaríamos, mas em contrapartida existem outras ocasiões onde surgem centenas de ideias em simultâneo. Trata-se de um processo subjetivo, não existe uma fórmula correta a seguir, acho que está relacionado com a nossa sensibilidade e com o momento em que nos encontramos. Com que materiais gostas mais de trabalhar? Preferencialmente trabalho com lápis de cor e grafite, gosto da forma como se misturam as cores e a capacidade de detalhe que consigo. O próprio processo de pintura requer mais tempo e permite estabelecer uma ligação de maior proximidade com o desenho. Para além destes materiais gosto de trabalhar com aguarelas, aguadas, canetas e pastel de óleo, porém já num registo mais artístico, um pouco outsider da ilustração.

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É usual recorreres a programas de pós-edição como por exemplo o Photoshop? Quais são as vantagens? Sim, nos últimos anos tenho procurado desenvolver os meus conhecimentos nos programas de pós edição, principalmente no Photoshop, acho que são uma mais-valia, pois agilizam bastante o processo criativo e facilmente conseguimos conferir um aspeto mais profissional a um trabalho. Este tipo de ferramentas é ótimo quando temos de apresentar as ideias a outra pessoa, uma vez que permitem uma visão mais realista do produto final. Para além disso ajuda na simulação de cores e materiais, antecipando o aspeto final e permitindo a correção de eventuais falhas no design. Podes contar-nos quem são as personagens das tuas ilustrações? que histórias contam? que mistérios escondem? São tantas e tão diferentes. Eu próprio não tenho a certeza de como surgem estas personagens, acho que elas vão ganhando identidade ao mesmo ritmo que o lápis vai riscando. Cada personagem é única e tem os seus traços próprios, tento sempre adaptar a personagem ao conceito da criação. De modo geral são mulheres de personalidade forte, com atitude, sentido estético apurado e uma sensualidade e mistério inerente. Por menos é assim que eu gosto de as ver, como umas sedutoras! Para ti qual é o papel da ilustração na área da Moda? Não creio que um designer ou profissional de moda tenha forçosamente de ser um bom ilustrador, penso que o mais importante é conseguir transmitir as ideias de uma forma eficaz. Porém confesso que uma boa ilustração causa outro impacto no momento de promover o produto, pois não só permite dar uma ideia como ficará a peça, como também ajuda retrata toda a ambiência do conceito. Qual a sensação com que ficas depois de terminar um trabalho? Primeiro sinto um contentamento pelo trabalho e sentido de dever cumprido. Gosto de comtemplar o trabalho acabado e perguntar a opinião às pessoas que me estão mais próximas. Acho importante ter o feedback de alguém, também porque nos permite ter um distanciamento em relação ao trabalho. Posteriormente gosto de divulgar o resultado, pois quando trabalho gosto de o fazer para os outros, o meu maior orgulho é que alguém use ou goste de uma das minhas criações.

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Enquanto designer de moda e trabalhando ao lado da Ana Salazar que contas desta experiência? Foi uma das experiências mais enriquecedoras que já tive, aprendi bastante sobre o mundo da moda e sobre o trabalho em regime de atelier. Foi a minha primeira experiência efetiva na área, procurei ir de mente aberta e predisposto para aprender tudo o que pudesse. Estive rodeado de bons profissionais que me ajudaram e incentivaram à criação. Desenvolvi conceitos aprendidos e adquirir outros, nomeadamente mais técnicos. A participação no backstages dos principais acontecimentos de moda em Portugal (Moda Lisboa e Portugal Fashion) permitiu-me compreender o ambiente em torno do lançamento de uma coleção, bem como entender o panorama da moda portuguesa. Considero que foi um grande crescimento a nível profissional e pessoal. Agora, como designer de Calçado quais são os maiores desafios? O mundo do calçado está repleto de desafios, a nível de produção e de riqueza de componentes é um pouco mais complexo que o vestuário. Neste momento um dos maiores desafios é o de dominar todo o processo e

descobrir as múltiplas potencialidades que a área oferece. A par disso encontra-se o facto de ser a minha primeira experiência na indústria, trata-se de um processo e ambiência totalmente diferente do regime de atelier. As equipas são maiores, existe uma cadeia de produção muito maior e a finalidade do produto requer a satisfação de um público-alvo muito mais vasto e heterógeno. Porém estes desafios valem a pena, o design de calçado é uma área muito rica e que permite explorar múltiplas hipóteses, tendo a satisfação final de ver o produto final a ser usado por múltiplas pessoas. E por último (pergunta da praxe) o que ambicionas para o futuro? Pretendo continuar a aprender o máximo possível, tanto na área do Design de Moda e Design de Calçado. A ilustração será sempre uma ferramenta que me acompanhará durante todo o percurso. A longo prazo tenho a ambição de abrir a minha própria marca de vestuário e acessórios, tendo por base a minha estética pessoal e conceitos próprios. Não pretendo uma marca mundialmente famosa, mas sim algo que me permita fazer o que gosto e da forma que me dá mais prazer. Acima de tudo quero ver as outras pessoas a usar as minhas criações! 31


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COLA-TE NISTO!

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COLA-TE NISTO!

MÚSICA PARA OS TEUS OUVIDOS TEXTO JOÃO COSTA | EDUARDA ALMEIDA Decorria o ano de 2009, quando em uma das muitas terças-feiras académicas fui para mais uma noite no b.a (bar académico) de Guimarães. Sem expectativas para a noite que se precedia, deparei-me com uma musicalidade electrizante e explosiva. Começavam assim as épicas festas “Electro Domestic Night Sessions”. Procurando uma alternativa para as noites académicas e em gesto de brincadeira, três amigos decidiram juntar-se e fazerem misturas dos sets que cada um compunha. Uma coisa que começou com uma paixão pela música, tornou-se semana após semana um lugar dinâmico e criativo onde podiam fazer as suas próprias interpretações. Acabei por me tornar não só admirador da energia do grupo, como também criei laços de amizade e ainda tive a oportunidade de presenciar toda a sua evolução e crescimento. Viu-se uma enorme aderência às noites alucinógeneas de terçafeira, um fruto do árduo trabalho, da interacção efusiva com o público e de uma comunicativa publicidade. Começam a surgir novas propostas para actuações, até que chega o primeiro e derradeiro convite para tocarem no Ultimatum (discoteca em Guimarães). Após esta noite a vida deles deu uma volta de 180º e decidiram envergar pela experimentação de um projecto interpessoal já antes idealizado. Sucederam-se presenças nos reconhecidos estabelecimentos alternativos, tal como o Hard Club no Porto, o Pacha com Crookers, o Optimus Alive’11 e rumaram a terras Espanholas e Italianas. “ A inauguração no Hard Club… Éramos absolutamente ninguém a nível nacional. No Porto ninguém nos conhecia. (…) E aí a aceitação foi brutal”, relembra o Lega desta noite. A responsabilidade de não desiludirem o público fez com que sentissem a necessidade de dar o máximo e de “incendiarem” o local com sets potentes.

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Com cerca de 900 pessoas (o triplo das “Electro Domestic Night Sessions”) a tarefa era surpreenderem o público que ouve Cyberpunkers e Huoratron. “Foi aí o primeiro passo para a nossa performance original de hoje”, concluí o Xano enquanto movimenta freneticamente as mãos, o que gera a gargalhada geral durante a entrevista. Influenciados por artistas de renome, ouvem Boys Noize, Soulwax, Daft Punk o que segundo o ponderado Saul “É difícil nomear os principais. Acabam por ser muitos”. A pesquisa pela perfeição e por novas sonoridades tanto colectivamente como individualmente, não se dá só através dos “monstros” da música electrónica, mas também de pessoal que assim como eles fizeram, dão agora os primeiros passos neste meio. Segundo o Xano isso ajuda-os a ver a diversidade dos outros artistas, “Começamos a conhecer este espectro de cenas novas e boas (…) Acaba por ser um mundo de artistas e influências totalmente diferentes”. Os três são unânimes quando dizem que o Rock é uma das bases da sua música. “Temos um kick e um snare muito roqueiro”, comenta o Saul. A veia mais expansiva e transcendente do Rock vem daqueles momentos em que ouviam Nirvana, Metálica e Red Hot Chili Peppers no auge da adolescência. Antes de se conhecerem, cada um deles ia adquirindo a sua personalidade musical e descobrindo diferentes melodias, construindo a pouco e pouco distintas identidades. O expressivo Xano tem formação em piano e guitarra e desde cedo ouvia House Music, por sua vez o objectivo Saul foi coordenador da rádio durante o secundário e estava na onda do Dance Music e House Music. Por fim o último elemento do trio, o profundo Lega navegava no Rock, até que

um dia por influência do Xano descobre o interesse por electronic music. O método peculiar de trabalho destes três criativos artistas, baseia-se na divisão de tarefas antes e durante as performances. O Xano e o Saul seleccionam as músicas e brincam com os samples, trocando por vezes de lugar, enquanto que o Lega está encarregue dos efeitos que provocam poderosos e enormes efeitos nas composições. Não é só das sinfonias que os espectáculos do grupo vivem, mas especialmente da energia, entrega, paixão e o contágio que causam no público. O equilíbrio entre eles, a sincronia nas actuações e a ligação de amizade que os une, leva a geniais improvisos sem qualquer preparação prévia do mix. Adoram a interacção com o público e adoram ver que estes estão a curtir tanto quanto eles, a viver um sentimento de liberdade e de absorção em outro Universo. O facto de verem uma multidão inteira a gritar “ELECTRO DOMESTIC” deixa-os orgulhosos e gratos por todas estas conquistas. Começando por passar música no b.a de Guimarães, atingiram metas que já mais podiam imaginar. O contacto com o público, a constante sensação de adrenalina e o aliciante trabalho em produzir boa música são alguns dos factores que os fazem adorar esta vida. Persistentes, originais e singulares conseguiram através da sua humildade e trabalho vingar no mundo do ritmo electrónico. Uma verdadeira e genuína inspiração, o nosso muito obrigada!!!

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COLA-TE NISTO!

FEITO À MÃO TEXTO EDUARDA ALMEIDA A definição de criatividade consiste na “capacidade de produção do artista, do descobridor e do inventor que se manifesta pela originalidade inventiva. A aptidão de encontrar soluções diferentes e originais face às novas situações.” Partindo deste principio procura-se expor algumas possibilidades em que se alia a originalidade/imaginação com a reutilização dos objectos. Através de uma intensa e ponderada busca encontram-se vários materiais com um enorme potencial criativo. A sapatilha por exemplo, em anos passados era associada a um objecto que tinha como funcionalidade

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proteger o pé, contudo nos dias que correm é cada vez mais considerada um ícone de moda e de expressão artística. A reutilização e interpretação deste tipo de calçado encontra-se acessível a qualquer indivíduo, através de movimentos como o “do the right thing” em que aprendemos a restaurar os objectos quando já estão a terminar o ciclo da vida. Utilizando materiais com uma forte aderência à pele, exploram-se os mais variados elementos gráficos, fazendo com que este ganhe uma nova identidade e reescreva a sua história.


COLA-TE NISTO!

CHOCOLATE QUENTE TEXTO ANA ENNES Uma comédia hilariante que contou com Seth Roger e James Franco, nos papéis de Dale e Saul, respetivamente, e ainda Danny McBride no papel de Red, surge dirigida por David Gordon Green, no ano de 2008 com o título “Pineapple Express”. Foi considerada por muitos a melhor comédia de 2008, e foi! Dentro do estilo das “Weed comedy” mas com os parâmetros dos “Buddy movie”, este filme conta a história do derradeiro desafio que foi ultrapassar o caos que se impôs na vida de duas pessoas que pouco sabiam uma da outra. Tudo começa com a referência a uma experiência realizada em 1937 que teve como resultado – “Item 9: ILLEGALLLLL!” e foi este item, mais precisamente, a singular erva Pineapple Express, que levou ao cruzamento da vida de Dale e Saul. Sim, é um filme que retrata uma “Alta Pedrada”- traduzindo ao estilo português o título – onde há armas e drogas, polícias e mafiosos, mas é também um ícone da pura amizade. Vendo um pouco mais além, é um filme sábio e com uma mensagem de louvor aos valores morais. Não se trata apenas de uma história sobre duas pessoas que se conheciam à dois meses e foram colocadas numa situação de perigo de vida onde enfrentaram diversos obstáculos para sobreviver. Trata-se da demonstração, ao longo daquele caos que os agarrara, da presença de sinais de carinho, companheirismo, respeito, compaixão, proteção pela vida do seu próximo…simples sinais de respeito entre seres humanos que supostamente são legais.

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COLA-TE NISTO!

ARROTO MENTAL Quantas noites mais contigo oscilando por detrás desse copo de whisky sem lugar onde cair?

e suspirou delicadamente o fumo para a noite morna, como um sinal de pontuação físico da sua frase.Do outro lado ele estava mais perto de cair do que ela pensava. Não precisa de sítio algum para aterrar. Imaginava-se numa infinita queda livre sem fundo. Reclinou-se na cadeira e demorou-se no rosto dela. Não se lembrava da última palavra que dissera e por isso foi maior a surpresa quando deu por si a falar

Desculpa,

Não compreendi nada. És demasiado bonita enquanto fumas. Não me consigo concentrar. Enquanto tIras essas passas demoradas e te alongas na cadeira com infinito ar de superioridade, pareces-me sempre a metáfora perfeita da vida. Há em ti algo de muito errado e profundamente irresístivel. ela sorriu o mais sarcástico sorriso do mundo e apressou-se a apagar o cigarro. Os seus extensos olhos verdes reduziram-se a um único denso ponto de ansiedade. Ele mantinha uma idiotica expressão incontrolável. Acendeu um cigarro e comecou a devora-lo como se estivesse gravemente desidradatado. Não há silêncio possível. Pelo interlúdio das palavras acelarava uma tensão irreprímivel. Ela continuava a tentar compreender o motivo de se sentir tão agastadamente ofendida. Não conseguia sequer esconde-lo. Estava irrequieta. Revirava os olhos. E a noite tépida adensava-se entre eles. Dentro deles. Enfim,ela disse Não consigo mais ouvir-te dizer esses disparates. Porque te continuas a enganar? Alimentas essa ilusão de que me amas. Sem motivo aparente. Não sejas indulgente comigo. Não há nada para amar. Só há a impossiblidade de nos amarmos e é nisso que acreditas sem admiti-lo sequer a ti mesmo. Não queres que eu fique. Queres ver-me partir e ansear o regresso. Se eu ficar, tudo acaba. Irrita-me que continues a erguer muralhas quando sei decor o teu desespero. Irrita-me o teu desespero. O que tens feito ultimamente, ah? O que tens feito ultimamente para além de desdenhar os dias e resignares-te como o mais vulgar dos homens? disse-o com tal friaza que conseguiu magoa-lo. Era uma determinada colocação da voz que ela tinha e o derrotava sempre.

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COLA-TE NISTO!

É difícil. Não há nada em que acreditar.

replicou ele entre dentes. E ela, entusiamada, demasiado compremetida para se furtar. Continuou

Não há nada em que acreditar! Excelente, senhor génio! Parabéns!

olho-o com imensa sobranceria jocosa, para logo se descompor numa exagerada gargalhada. Ele continuou a esfumaçar em silêncio. Ela, ao recompor-se, trazia uma nova e oceânica verde irritação no olhar, uma revolução inadiável. Somos uma porcaria de uma geração inteira sem nada em que acreditar! Compreendes? E que tal acreditar nisso? Estou esgotada de nos ver sentados com as ideias a desvanecer dentro da cabeça. Sabes, tenho a sensação de que o mundo está a arder e nós com ele. Mas não há algo de insondavelmente belo nisso? É por isso que bebemos e fumamos não é? Quem da nossa geração não está bebâdo ou drogado a esta hora? Há beleza na nossa tragédia. Vamos louvá-la com a nossa arte. de súbito, o impeto findou. A energia esgotou-se. Ela inclinou o copo ligeiramente na direcção dos lábios finos e bebeu um curto gole. Ele observava-a atónito. Balbuicou

Bem, isso foi...

sorriu

Podemos passar horas a discutir esse assunto.

Não ecuou da voz dela com serena convicção. Agora há algo de muito importante que precisamos de fazer. O quê? perguntou ele, quase sem perguntar. E ela sorriu sinceramente pela primeira vez desde que se haviam encontrado naquele fim do mundo. E disse, irrepreensivelmente. Foder.

Cezar Sagazaki

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CALDO VERDE

Como a disciplina da ciência nos mostra os mundos e processos escondidos nos ambientes do dia-a-dia, este fotógrafo especializa-se também em mostrar mundos e momentos ocultos, estes não descritos em átomos ou ondas mas através da sua capacidade de enclausurar os momentos, luzes e emoções mais fugazes na vida.

Com um olhar, uma câmara e um processo intuitivo mostra-nos um lado da sua personalidade que vive para descobrir, analisar e experimentar. TEXTO TIAGO CARVALHO

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CALDO VERDE

Este fotógrafo desde cedo percebeu que poderia utilizar este meio artístico como forma de conectar. Prefere por isso, ambientes naturais, no qual os modelos se possam sentir realmente à vontade. Os sujeitos são encorajados a mostrar as suas histórias e emoções, sendo inteiramente incluídos no processo artístico. Esta relação e simbiose resulta numa imagem que não se preocupa tanto em criar como em capturar. Ricardo Pereira sempre se interessou por retratos, magníficos momentos de luz e sombra que mostram, num instante, a alma de cada um, o real, o imperfeito e o improvável. Realça, marca e evidencia todas as linhas e cores deixando-nos totalmente vulneráveis, em contacto directo com estes momentos. As suas obras estão carregadas de acção, uma batalha constante entre linhas, texturas, sombras e fumos. Opta continuamente pelo close-up, quase dizendo-nos que existe mais para ver aqui do que pensávamos de início. Gosta de experimentar com fumo, capturando a sua imprevisibilidade. No retrato de sua avó, conta-nos uma história, uma vida repleta de momentos, experiência, alegria e tristeza. Para tal, utiliza as linhas naturais da sua face, e captura-as sob uma luz quase mística que as apresenta como paisagens naturais onde ao invés de rugas, dobras ou marcas, podemos ver autênticos rios e vales, emoções, memórias e escolhas. Faz-nos, assim, interagir e reagir com aquela foto, aquela pessoa, num momento criado de beleza, honestidade e virtude.

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SMILE EVERYDAY

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SMILE EVERYDAY

Representa uma visão um quanto ingénua sobre o que nos rodeia neste mundo. Um ideal onde se destacam todos aqueles pequenos momentos que ficam relembrados para cada um de nós como momentos de inspiração. Procuramos o belo, o genuíno e sublime, o que nos traz paz de espírito, com uma visão natural e alargada sobre a experiência de viver.

TEXTO RICARDO PEREIRA | TIAGO CARVALHO

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SMILE EVERYDAY

É a natureza que nos fascina, e se fazemos parte dela temos que a valorizar e ao mesmo tempo aprender a respeitar e contemplar na sua essência. Podemos encontrar nela respostas simples e eficazes a pequenas questões que nos deparamos constantemente no nosso dia a dia. Para quê complicar um sistema tão simples e que funciona perfeitamente por si mesmo? Um pôr do sol, uma brisa marítima, o cheiro da chuva, o brilho das folhas, são palavras de sabedoria que de certa forma nos tocam num tom profundo e harmonioso, e que já quase não damos importância. A verdade é que vivemos numa sociedade em que somos facilmente distraídos com excesso de informação desnecessária, que se multiplica a cada clique, defendendo assim o materialismo e a ilusão de liberdade. Desta forma, não confiamos num estímulo baseado em tecnologias, política ou movimentos revolucionários, mas sim na beleza e no valor que vemos e sentimos na nossa cidade, no nosso país, no nosso planeta ou universo. São momentos recheados de curiosidade, emoções e aventuras, que estimulam o nosso espírito forte e jovem que tanto procuramos manter durante toda esta jornada, de forma a lutar contra a ignorância e a favor do conhecimento. Ora, se ser humano é partilhar, o nosso objectivo é dar a conhecer este ideal e os ambientes que nos proporcionam esta atitude sobre os que nos rodeia. Assim, tudo é reunido num símbolo facilmente reconhecivel que se encontra espalhado nestes tais locais mágicos que nos marcam. Fica aqui o convite para um própria interpretação desta filosofia de vida, e a dica de não esquecer de sorrir diariamente. Tens motivos para isso!

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SMILE EVERYDAY

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BACALHAU À ZÉ DO PIPO

vive em e u q ta m artis onsciente. u e d s ubc neio s deva re o real e o s O t brio en í l i u q e des eais de

de id intensa função a r u c pro dem a a n s e m c u s n n e cia na tra influen a só alho viv Ideais que v e r c a r e C x m e . Tiago r que onde u a de dentes depen patama ação Visual m in r m fo s u o d em ic am conteú alcanç Comun ções quase ém um e b m l e m a n , as ta situa m e tradicio Falo, então r, o s d o nceit s. ilustra pessoa epresenta co não só um r m pessoa s que revela m a gia co po sto a e if m n a e m so d m cor or. proces ão de u muito iç m s pensad u o p r a ia ço d de inic s variações num tra sta em , z a a n a p a a m arti hu nta É c aprese umina a alma de interior do riadora. e u q lida de c ue il ência envolv iasmo com q essão da rea ua capacida s r s p a x tu d e o en mais se da e ção é reflexo . Tratantificou po lu e o v id e e ia s próprio r m ua próp sempre etratada no te ue q que a s r tempo, a s u id to e v s n ela ome p a do r m o ã fo s o ix o pa iração i n Nascid tude e rém, fo nsolo e insp que ir o v P a . d a r o a a pintu ncontrou o c za e audácia se procur s com a os mestres d e le e e b u a q lado de su ra lh dos ve o aqui e ago e rua, com a elembram um d r marcam níficos murais pressão e lhe . x a g e a in e c m d s de nos o fa liberda nte que revelam ntigo e difere a mundo MIA AREN K O T X TE

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BACALHAU À ZÉ DO PIPO

Numa análise mais profunda às suas obras descobrem-se as influências que o marcam e o afogam neste universo do profano e do irracional. As suas origens variam entre grandes monstros da banda desenhada, dos super-heróis da Marvel – Adam Kubert e Joe Madureira. No meio do Graffiti e da Arte Urbana, destaca-se o writer Cantwo que oferece um impacto dinâmico através da cor e do brilho, e Shepperd Fairy com o seu sentido de espírito crítico. Já o ilustrador McBess descreve o quotidiano da sua mente nas suas obras, destacando-se composições complexas em estilo cartoon, onde o uso de preto e branco envolve as personagens no ambiente com um toque de surrealismo e fluidez derretida. Por falar em surrealismo, não esquecer Dali, que para além de técnicas de desenho refinadas apresentava imagens provocativas e alucinadas. No entanto, o impacto é causado pela mistura de técnicas clássicas com interpretações atuais, e aqui fala-se em Rafael. Foi com este grande mestre da pintura clássica, que Tiago entendeu alguns dos ideais do Renascimento. Os enquadramentos geométricos como qualidade coreográfica proporcionam uma certa animação rítmica e natural que facilita a leitura do momento. O cuidado do tratamento de luz e sombra quer através de diferenças suaves e elegantes de tons, quer através da trama clássica que confere mais expressão ao desenho. Assim, ele acredita que o verdadeiro valor de cada realidade se encontra nas cores e nas sombras, nas formas e nos sons, que quanto mais não seja, para ele são reais.

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Enquanto amante do conhecimento, a sua necessidade pelo intelectual transforma o subconsciente – ausência de razão – em razão. Seguindo esta linha de pensamento, e assumindo aqui o papel de camarada e amiga que seguiu a sua evolução ao longo dos últimos anos, é difícil entender quando uma obra é realmente apenas uma manifestação de ordem estética, ou quando o risco é espelho do pensar. E mesmo estando diante dos meus olhos, a sentir a textura do papel nos meus dedos, com a solução mesmo na ponta

da língua, basta mais um olhar e tudo volta a ser um enigma. Penso que a resposta está inteiramente ligada ao contágio de dois mundos diferentes. O cérebro está dividido em duas partes, certo? Dois hemisférios. Um encarrega-se do emocional e do artístico, outro do racional e justificável. Mas e se... – e eu sei que isto é tudo muito utópico, mas é só um “e se”. E se houve uma porta que se abriu? Uma porta que convidou e acolheu um mundo diferente daquele a que está habituado, recriando-o na verdadeira essência da arte?

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FASHION TAILOR

Em relação a novos talentos é difícil prever qualquer uma de duas coisas. Ponto número um, o impacto que terão na sociedade. Ponto número dois: quanto tempo resistirão à sua pressão. E foi sobre isto que o Fashion Tailor se propôs pensar na primeira edição da Colagens Boémias. TEXTO PEDRO RESENDE

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FASHION TAILOR

Afinal, se é facto que todos começamos do zero, do embrião humano para um embrião criativo algum tempo mais tarde na vida, facto é também que nem todos os caminhos traçados levam a um mesmo sucesso, e nem todos acabamos na fotografia como um Helmut Newton, na criação de moda como um Christian Dior ou na música como um Elvis Presley. A justificação? Essa permanece secreta mas o caminho parece estar pavimentado não apenas de muito trabalho e talento mas de um fator que não se pode descartar ao analisar todas estas questões: a sorte, ou as oportunidades. Não sendo sinónimos, batem ambos na mesma tecla. A das possibilidades infinitas que o mundo congemina e para as quais ninguém conhece previamente o destino. O que é certo é que falar de novos talentos é falar de uma infinita complexidade de hipóteses que numa sociedade de biliões se revelam tão abstratas quanto a dimensão do Universo. Um Universo em que o talento se demonstra nas mais variadas áreas mas que sempre, e nos últimos tempos mais que nunca, juntou duas áreas de forma inequívoca. Música e moda. Lady Gaga fez capa da Vogue americana de Setembro (essa edição mágica ansiada o ano todo), Lana Del Rey faz agora capa da Vogue Australia, e tantos outros nomes foram soando ao longo dos anos em percursos distintos e únicos. David Bowie, Madonna, a recente Florence Welch e tantos outros como trendsetters e outros como Vitoria Beckham, Gwen Stefani passaram de cantores a criadores deste nosso “Império do Efémero”. E se falamos de talento e de sorte, como ignorar a genética de Stella McCartney que herdou talento e o levou para um mundo diferente, afirmandose na moda em nome próprio? Enfim… pensa-se numa ligação que faz a música estar presente em desfiles, em produções de moda e publicidades, mas que faz também a moda estar presente em concertos, clips musicais ou aparições publicas de estrelas POP. É uma entrega recíproca que resulta num todo que, nas palavras Bauhaus, é mais do que a soma das partes. Em que ponto se separa, na verdade, a moda da música???

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ROJÕES COM AMEIJÔAS

“Os revolucionários existiram sempre, porque a esperança do homem é infinita ou o seu sonho infinito. Mas toda a realização, porque é realização, é obviamente finita”. Foi Virgílio Ferreira quem o escreveu inicialmente e foi numa interpretação do espírito boémio que um trabalho académico deu corpo a uma coleção de vestuário urbana, descontraída mas acima de tudo contemporânea. Porque um conceito de boémia do século XIX em nada serviria a sociedade atual, e porque os boémios atuais em nada se assemelham com os da época, o espírito é o que se mantém na criação do vestuário proposto. A inspiração? A Cultura Portuguesa na Modernidade. A aplicação? A década que mais mudanças causou em Portugal no século XX, a nível político, social e cultural: os 70. Uma década de movimentos e oscilações que se reflectiram em áreas da cultura como a Música, o Cinema, a Pintura, a Fotografia ou a Literatura. Cinco áreas exploradas em cinco linhas diferentes da colecção, cada uma com elementos únicos mas num uníssono visual que as torna coerentes. Linhas depuradas, com tecidos estruturados em oposição à fluidez de detalhes e vestuário exterior. Capas que se opõem a calças rígidas, sobretudos estruturados que se democratizam com vestidos fluídos e um espírito de cor que vai desde o bloco negro ao contraste de cores quentes e frias. Patchwork, aplicações diversas, sobreposições, camadas e folhos são alguns dos enfoques de uma colecção que se quis tão diversa que atingiu os dois géneros em linhas distintas. O masculino e o feminino, um quase militar da Revolução dos Cravos a um quase louco da revolução das mentalidades. A colecção fica assim completa, entre um espírito boémio que se assemelha a tempos passados e uma sensação cada vez mais boémia que o Portugal de hoje quer apregoar. Porque, afinal, a criatividade é a arma para Revolucion(Arte)! TEXTO PEDRO RESENDE

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COLEÇÃO: REVOLUCION(ARTE)! DESIGNERS: EDUARDA ALMEIDA, KAREN MIA, LILIANA DE BARROS, PEDRO RESENDE, RITA CAFERRA MODELOS: ANDREIA FIQUEIRAS, ANDREIA DE SOUSA, CATARYNA RAÍSA, MARCO PEREIRA, TIAGO CARVALHO FOTOGRAFIA: RITA CAFERRA, LEGA CABELOS / MAQUIAGEM: RITA CAFERRA

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Ultimamente toda a gente se queixa: ora da crise, ora do tempo, ora do futebol... Podia continuar por aqui fora numa lista sem fim, mas não é disso que estamos aqui a falar. Por vezes, pequenos gestos conseguem mudar-nos o dia, deixar-nos bem dispostos e fazer renascer a esperança na humanidade. Então e se um desconhecido te abraçasse na rua? Faria a diferença? As Colagens foram até Famalicão para conhecer o Diogo e o Duarte e, numa conversa bastante descontraída, tentamos entender este movimento que eles tentam propagar em Portugal. Tudo começou pela iniciativa de Juan Mann e rapidamente se foi espalhando pelo mundo. Um abraço pode ter muitos significados, mas a verdade é que tem um poder quase terapêutico. Não são só braços que te envolvem, são almas que, por mais desconhecidas que sejam, se tocam e reconhecem sentimentos de amor e de paz.

TEXTO KAREN MIA

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NATAS DO CÉU

Decidimos começar aos poucos, primeiro aqui em Famalicão e isto foi aumentando. Atingimos uma dimensão que nós nunca estávamos a espera que fosse acontecer. E pronto, passou de projeto de escola para aquilo que nós chamamos

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NATAS DO CÉU

Como é que é este processo de abraçar um total estranho? Antes de irmos para a rua para dar abraços, falamos um com o outro e decidimos a que cidades devemos ir. Nós tentamos ir a todos os distritos de Portugal, abrangendo não só o litoral que é o mais povoado, mas também o interior. Primeiro decidimos, depois publicamos no Facebook, e quando chegamos à rua estamos identificados com os nossos cartazes e t-shirts. Se for por exemplo o Dia Internacional da Paz – 21 de Setembro – explicamos o que estamos a fazer e o porquê. Queremos passar a paz às pessoas, abrir o espírito... Mas se for um dia qualquer, como é hoje por exemplo, vamos para a rua e simplesmente tentamos mostrar o valor do abraço às pessoas. Abrir mentalidades para que também possam fazer campanhas como a nossa. Não tem que ser dar abraços na rua, mas outras campanhas: recolhas de roupa, de brinquedos... isto é uma ideia! Antigamente, as pessoas falam e relembram o hábito de cumprimentar: “Bom dia, vizinho! Como tem passado?”. E agora há sempre uma desconfiança... Por exemplo, nós reparamos que no metro as pessoas estão ali tão juntas, mas nem sequer há aquela conversa de cinco minutos de uma paragem à outra, e podia

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haver... Criava-se um ambiente muito melhor entre as pessoas... E é esse o nosso objetivo. - Quais são as reações? Nem toda a gente é aberta aquilo que nós fazemos. Nunca pensamos que a terceira idade nos recebesse tão bem! Claro que é outra geração, mas aceitam-nos mesmo muito bem. Já muitas pessoas assim da nossa idade, até parecem meias estúpidas, fazem um sorriso irónico tipo “o quê que esta gente está aqui a fazer?”. Mas na maior parte das vezes, as pessoas reagem bem e dão o abraço. Claro que também há muitas que é “toma lá, pronto!”. Nem sentem o que estão a dar, nem aquilo que nós queremos mostrar. Mas de uma maneira geral, aceitam o abraço. E isto também traz alegria e boa disposição pelas ruas por onde passamos. As pessoas passam a palavra uma às outras e comentam. Já chegamos a ver num blog, acho que foi quando fomos ao Porto, alguém dizer que tinha abraçado uns rapazes que estavam na rua, e isso é bom porque comentam e acabam por levar não só um abraço, mas também um sorriso para casa.


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Já houve alguém que te agradeceu mesmo pelo abraço? Alguém que te agradeceu por lhe teres mudado o dia? Já. A primeira vez que aconteceu foi em Braga. Foi das melhores campanhas que já fizemos. Só que houve uma senhora que me pediu para me sentar ao lado dela, que queria falar. E eu fui. Também não estava assim muito à vontade, mas sentei-me. E ela pediu se podia desabafar porque não tinha ninguém com quem falar desde que o marido tinha falecido à cerca de dois anos. A família não lhe ligava. Tinha netos da minha idade que à sexta ou ao sábado iam ter a casa dela, mas era jantar e iam embora. Não havia qualquer intimidade entre eles. E ela chorou quando a abracei e disse que não se sentia assim tão íntima e tão ligada a alguém desde que o marido tinha falecido. Foi mesmo bom ela sentir aquele abraço. E para ti o que foi sentires que eras o conforto de alguém que realmente precisava? Foi mesmo bom! A primeira vez que fizemos na nossa escola, sentimos que realmente fizemos a diferença. Tinha lá crianças da primária, e foi diferente porque sentes que elas dão o verdadeiro abraço! Depois fizemos em Famalicão, na feira, foi uma coisa mais divertida. Mas em Braga, esse tal abraço foi o que me fez pensar que realmente basta que a nossa mensagem seja entendida por uma só pessoa que já vale a pena seguir com este projeto. E estes acontecimentos que têm vindo a desenvolver como o Maior Abraço do Mundo, para vocês é uma realização pessoal? É mesmo! A maior realização pessoal, pelo menos falo por mim! Estar em cima do palco e ver dezassete mil pessoas que são como eu, que pensam como eu, que acreditam nos mesmos ideais que eu. Estão ali ligados a uma coisa que eu e o Diogo fizemos, e deu trabalho! Muito cansaço, muitas horas de sol, de calor, mas correu bem! Sabemos que passamos a mensagem... Foi muito gratificante! Há momentos certos para dar um abraço? Óbvio! Um abraço eu acho que pode ser dado em qualquer altura, mas claro que... Por exemplo, se o Diogo me diz que tirou a carta, eu dou-lhe os parabéns e um abraço – “Grande cena!”. Agora se uma pessoa estiver mal e estiver a falar comigo, eu sinto que às vezes não é preciso ela falar, que se calhar é melhor dar-lhe um abraço porque é mais confortável do que vê-la ali a sofrer. Quando estivemos em Lisboa, aquilo é uma cidade muito agitada, estávamos na Rua Augusta, na baixa, e via as pessoas a sair do restaurante a correr para o trabalho. E naquele bocadinho, naqueles dois segundos do abraço – “ai que sabe mesmo bem!”. Mas na altura certa, um abraço sabe sempre bem! 93


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As Colagens Boémias e os Free Hugs estão dispostos a unir forças para promover novos talentos. Só tens que fazer uma ilustração sobre o tema dos abraços e enviar para colagensboemias@gmail.com. Podes ser o escolhido e o teu trabalho passa a estar colado às t-shirts deles! Em breve será anunciado o regulamento nas respetivas páginas, fica atento!

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ÃO Ç N E

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www.facebook.com/freehugs.abracosgratis www.facebook.com/colagens.boemias12


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CAFÉ COM CHEIRINHO

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CAFÉ COM CHEIRINHO

Através de uma visão atenta ao que nos rodeia, procurando a valorização de espaços alternativos que nos contam histórias, repletas de experiências que preenchem memórias, surgiu o Roteiro Boémio. Uma colagem em que as palavras se unem ao poder da fotografia percorrendo as mais diversas cidades da nossa estimada nação. TEXTO ANA ENNES

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BAR MALI Em finais de Janeiro de 2008, Tiago Cunha ia buscar o seu filho à escola quando avistou um espaço pelo qual já ansiava há muito para ser “o tal”. Já com a sua esposa Soraia Costa e o seu filho, foi buscar a chave para adquirir deste edifício, na altura abandonado e degradado, mas que afirmou ter sido este mesmo que o escolheu a ele e não ao contrário. Foi nesse próprio dia, que surgiu o nome do bar, associado a uma peripécia com o primeiro filho do casal ainda precoce na destreza de vocabulário, próprio de uma criança pequena, que ao observar uma menina de cabelos compridos e repleto de tranças que passava na rua, associou a sua imagem ao já seu conhecido e amigo das “boas noites”, Bob Marley referindo-se a este como BarMali. Numa mescla de diferentes influências desde o africano, mexicano ao indiano surgiu um espaço com a estrutura de uma casa, em que cada compartimento cria um conjunto harmonioso e acolhedor repleto de cores e estímulos. Durante o período de construção do espaço foram sendo recolhidos materiais que recuperados deram origem a mobiliário, ou ainda, aproveitados para cumprirem funções diferentes, tais como, os caixilhos das janelas que já não estavam em boas condições foram restaurados e estão a servir de mostrador de

fotografias nas paredes. A importância de reutilizar os materiais/peças é uma prática ligada ao casal que é cultivada também em casa, aliás, em conversa com Soraia esta confessou ter trazido alguns objetos de sua casa para o bar, e ainda, que este era bastante semelhante à casa da família. BarMali é uma “casa aberta” em que as suas paredes servem de suporte para exposições de pintura ou fotografia, assim como, as suas vitrinas de expositores para o trabalho de outros. Foi o gosto pelas artes e o descontentamento associado à noção da dificuldade que existe numa cidade pequena, em artistas ou designers amadores, encontrarem um local para expor que resultou numa filosofia de partilha do espaço em que se alia a decoração à arte. Também aqui é cultivada a cultura musical, sempre tendo atenção em criar um ambiente sonoramente agradável, os estilos musicais predominantes são o easy listening, o jazz, o groove, o reggae e um pouco de funk, num momento mais tardio na noite ocasionalmente também se pode desfrutar do som de um DJ, tal como o conhecido Tiago Miranda. Morada: Largo Coronel Baptista Coelho, nº 17; 4780-370 Santo Tirso, Portugal.

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DEL ROCK Tudo começou em 1885/87, quando se ergueu o primeiro edifício na atual cidade de Santo Tirso que nesta altura funcionava como habitação. Mais tarde, teve lugar no piso térreo da casa, a primeira mercearia tirsense, local onde se situa desde quatro de Setembro de 2009 o café Del Rock que, por sua vez, manteve a fachada desta intacta como símbolo de respeito ao nobre passado desta cidade. Tal como um ser humano vai tecendo as suas histórias ao longo da vida, também os espaços o fazem de uma forma diferente mas não menos emocionante ou preenchida. Comparando este edifício a um velho ancião, considerando-o um ser repleto de histórias e experiências a partilhar, o Del Rock é um espaço de vivências numerosas. Foi declarado, em conversa com Rogério Almeida, proprietário do café, que esta foi uma das razões para rechear o espaço com antiguidades relacionadas com diferentes temáticas com as quais as pessoas se pudessem identificar, ou até relembrar o tempo em que tais fizeram parte do seu quotidiano. Por entre as paredes daquela casa se resguardaram histórias que nos contam que noutros tempos ali brincavam crianças num miradouro, que hoje, com uma idade sábia sentiram curiosidade em entrar no Del Rock e lembrar esses instantes

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longínquos. Memórias de uma época em que dali se avistava o monte e santuário da Nossa Senhora da Assunção. Entre feiras de antiguidades e leiloarias, noves meses demorou a estreia do Del Rock, um café com paredes e tetos preenchidos fazendo lembrar os bares holandeses ou irlandeses, possui um decoração inspirada nos antigos bares da ribeira dos anos 90. O seu nome surgiu pelo conhecimento da existência do Café Del Mar em Ibiza onde, tal como neste, a música é focada para apenas um estilo musical. Sendo a música um estímulo que dinamiza e torna um lugar único e exclusivo, no Del Rock o cliente é convidado a participar numa viagem emocionante do rock dos anos 60 até aos dias de hoje. Também concertos e covers são acontecimentos regulares neste local essencialmente nas estações mais frias ou ainda nos aniversários desde o proprietário aos seus funcionários. Uma vez por ano, no mês de Outubro, os clientes podem ter o prazer de saborear uma cerveja alemã de altíssima qualidade, a Spaten, que é produzida na Alemanha durante aproximadamente os cinco meses precedentes à “Octoberfest” e adquirida apenas para este evento. Morada: Largo Coronel Baptista Coelho, nº 29; 4780-370 Santo Tirso, Portugal.


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CARPE DIEM Foi no filme “Dead Poets Sociaty” (1989) de Peter Weir, relatava Zé Costa, proprietário do estabelecimento, numa cena em que o actor Robin McLaurim Williams, interpretando o papel de Prof. Keating, está na presença de uma galeria de fotografias de exalunos que se formaram na tradicional escola Welton, e pede aos alunos que se aproximem da galeria para escutarem o espirito de seus antecessores dizendo “carpe diem”, que eu tive conhecimento deste termo e seu significado. Dando o avale positivo a esta filosofia de aproveitar o dia adotou-a como nome para o seu bar – Carpe Diem. Foi assim que nos finais dos anos 80, tendo conhecimento da ausência de espaços na cidade onde se ouvisse música alternativa, existindo apenas dois bares, um considerado o “bar da moda” e o outro, um local onde as pessoas tinham liberdade para levar as suas próprias cassetes de música, que surgiu o Carpe Diem. Um espaço onde a música é variada e o gosto por esta é cultivado podese desfrutar de música clássica, fado, hip hop, ruts music, reggae, rock ou jazz. As suas paredes servem de tela onde podemos contar com a presença de pinturas representando ícones da música, desde o fado com a Amália, ao rock com Jim Morrison, sem esquecer as raízes portuguesas com Carlos Paredes, e ainda Bob Dylan. Numa coletânea musical tão variada e diversificada, Carpe Diem já teve 102

mais de cem concertos desde a sua abertura, tais como, os Dead Combo, Sam the Kid, Tiger Man, Toranja, Mesa, entre outros. Primeiramente, num espaço relativamente pequeno onde o chão era um puzzle de imagens impressas que suscitavam o interesse dos curiosos, transitou para um espaço mais amplo na mudança para o século XXI, mantendo uma linguagem idêntica à que já tinha anteriormente mas adaptando-se ao novo espaço. Este é um bar que conta com elementos estéticos distintos que conjugados proporcionam um ambiente dissemelhante, desde a utilização de bobines, primeiramente propriedade das fábricas têxteis, como mesas, ao aproveitamento de uma cadeira de barbearia muito antiga, ao ambiente de luz harmoniosa e suave. Localizado num lugar mais resguardado, possui a característica de transportar o cliente para um ambiente descomprometido com os “olhares” da cidade e através da sua dinâmica de cores e formas, um estímulo para o olhar, cria-se a vivacidade imprescindível para aproveitar o momento e poder assim viver o Carpe Diem. Morada: Rua de São Bento, Comercial Cidnay, 4780-546

Centro


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SÓ PARA OS FORTES

Decorria o mês de Maio, mais precisamente a mítica e legendária semana do Enterro da Gata, onde as histórias mais malucas e improváveis têm lugar. Já a semana se encontrava a meio e o número de copos e de beatas no chão iam aumentando a olhos vistos, transmitindo o entusiasmo dos estudantes durante os dias mais desejados e aguardados do ano. Estava quase a terminar mais uma noite académica, até que uma jovem estudante no êxtase da sua alcoolemia começa a sentirse perdida do mundo, sem saber onde estava. Acaba por encontrar minutos mais tarde uns colegas de curso que a levam a casa, não sem antes caírem na “galhofa” após perceberem que ela não se lembrava onde morava. Após a turbulenta viagem para 106

Guimarães, dirige-se cambaleando para o conforto do seu lar onde abre a porta com a típica dificuldade de quem já bebeu uns copitos de Whisky a mais. Já se encontrando finalmente no seu interior, veste um pijama de girafas e deita-se pronta para hibernar até à tarde do dia seguinte. Ouvindo o telemóvel a tocar insistentemente, Maria Joana* faz o esforço da sua vida ao levantar-se para abrir a porta aos seus colegas esfomeados. Indo buscar o resto de energia que lhe sobrava, decide fazer umas sandes de manteiga para o pessoal. Felizmente esta tentativa falhou proporcionando óptimos momentos para os presentes, pão e manteiga cobriam todo o chão inclusivamente encontravam-se de baixo dos tapetes.


SÓ PARA OS FORTES

TEXTO EDUARDA ALMEIDA Não se sabendo bem porque, o grupo de estudantes decidiu deslocar-se até às residências universitárias. Lá foram eles todos felizes da vida, a contarem as novidades da noite que terminava naquele belo passeio matinal pelo campus. Enquanto caminhavam, o elemento feminino do grupo decide que quer voltar para casa e lá vai ela embora toda apressada ainda com o seu pijama vestido. Acordando de rompante no dia seguinte Maria tem a sensação de ter tido um sonho algo estranho e caricato, mas inicialmente não dá grande importância até porque já se encontrava atrasada para ir para o cortejo académico. Saindo de casa a correr nem sequer presta atenção na nova composição de pão e manteiga no chão da habitação, entrando rapidamente no carro de um colega a caminho de Braga. Durante a viagem partilha o seu sonho em que supostamente andava de pijama pelo campus

da Universidade. Após chegar junto do carro de curso e dos seus colegas, um deles diz “Então Maria Joana o que é isso de andar de pijama hoje de manhã na Universidade?” A jovem fica na dúvida se alguém lhe terá contado a história, mas quando o seu amigo faz referência ao “pijama com girafas” ela descobriu que afinal o sonho não era sonho, mas sim mais uma divertida realidade para um dia mais tarde partilhar! Todos nós já ouvimos falar de histórias semelhantes vividas por outras pessoas, mas só acreditamos que elas são mesmo reais e que não passam disso mesmo, quando temos a oportunidade de as vivenciarmos e contemplarmos os prazeres da vida boémia! *Maria Joana é o nome fictício da personagem da história, de modo a salvaguardar a sua identidade.

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