Oficina de Redação 2016
Apresentação É com grande satisfação que apresentamos a nova edição do caderno da Oficina de Redação que traz os textos, acima da média, redigidos por nossos alunos nas Avaliações Parciais do 3º trimestre.
O turbulento ano de 2016 deixará marcas históricas contrastantes. Assim, em sintonia com a atualidade, os temas das propostas visaram captar um pouco desse cenário. Enquanto os 3ºs anos dissertaram a partir do recorte: Acessibilidade e inclusão social dos portadores de deficiência - debate relevante a um país que sediou os Jogos Paralímpicos -, aos 2ºs anos foi dada a tarefa de construir uma narrativa sobre a polêmica Tática Black Bloc - notícia nas frequentes manifestações populares que temos assistido.
Este ano, o caderno digital traz uma novidade: cinco redações dos 1ºs anos sobre o Perfil da Geração Z e suas consequências - um grande exercício de autorreflexão lançado pela Puc/SP. Afinal, os alunos foram desafiados a analisar a própria geração e vislumbrar o seu futuro.
Sabemos que redigir um texto é uma tarefa árdua. São vários os desafios que o estudante deverá superar para expressar-se com clareza, coerência, criticidade e criatividade. Contudo, se houver o devido preparo e empenho, esta é passível de ser cumprida com sucesso. Dessa forma, continuaremos trabalhando e incentivando nossos alunos para que os resultados sejam cada vez mais expressivos.
Boa leitura! Daniele Onodera Prof.ª de Redação do Ensino Médio
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PROPOSTA DE REDAÇÃO Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema: ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO SOCIAL DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione de forma coerente e coesa, argumentos e fatos em defesa do seu ponto de vista.
Texto I “Quando olhamos para o diferente e só conseguimos localizar a diferença, acabamos por anular todo um potencial. De convivência, inclusive”. (Rosely Sayão. Somos todos diferentes. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/)
Texto II
( http://diariodocongresso.com.br/)
Oficina de Redação 2016 Texto III Uma das grandes perguntas da cerimônia de abertura estava na identidade de quem acenderia a pira paralímpica. Clodoaldo Silva foi o escolhido. O nadador brasileiro, que faz sua última Paralimpíada no Rio de Janeiro, coleciona 13 medalhas em quatro edições dos jogos. Com a tocha em mãos, o atleta aproximou-se da escadaria que dava acesso à pira e olhou para o público, como se perguntasse de que maneira subiria com sua cadeira de rodas. Então, a escadaria se abriu e transformou-se em uma rampa e assim, ele pôde chegar à pira, igual a usada nos Jogos Olímpicos.
(Adaptado de http://agenciabrasil.ebc.com.br/)
Texto IV A nova legislação, chamada de Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, garante condições de acesso à educação e saúde e estabelece punições para atitudes discriminatórias contra essa parcela da população. Hoje no Brasil existem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Um dos avanços trazidos pela lei foi a proibição da cobrança de valores adicionais em matrículas e mensalidades de instituições de ensino privadas. O fim da chamada taxa extra, cobrada apenas de alunos com deficiência, era uma demanda de entidades que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência. Quem impedir ou dificultar o ingresso da pessoa com deficiência em planos privados de saúde está sujeito a pena de dois a cinco anos de detenção, além de multa. A mesma punição se aplica a quem negar emprego, recusar assistência médico-hospitalar ou outros direitos a alguém, em razão de sua deficiência. (Disponível em: http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/estatuto-da-pessoa-com-deficiencia-entra-hoje Acesso em 20 jul 2016.)
Oficina de Redação 2016 Texto V Com 25 anos, a Lei de Cotas para a Inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho conseguiu preencher menos da metade dos postos que foram criados. A lei que define que empresas com a partir de cem funcionários tenham um percentual de profissionais com deficiência que varia entre 2% e 5% (quanto mais contratados maior a cota). As 39.260 empresas que se enquadram nessa regra teriam que reservar 828 mil vagas para pessoas com deficiência. Mas só 327,215 (39,5%) dessas vagas estavam preenchidas em 2014, ano de que são os últimos dados disponíveis. (Adaptado de http://www1.folha.uol.com.br/)
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INSTRUÇÕES: • O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas. • A redação que apresentar cópia dos textos da coletânea terá o número de linhas copiadas desconsiderada para efeito de correção. Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que: • tiver até 7( sete) linhas escritas, sendo considerada “insuficiente”; • fugir ao tema e ao tipo de texto dissertativo-argumentativo; • apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos; • apresentar parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto.
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Dissertação 1 Em um mundo cada vez mais imediatista e individualista dificilmente se pensa sobre as necessidades do próximo. Isso se reflete no Brasil, que vive uma crise da inclusão social ao ponto de sediar as Paraolimpíadas de 2016 em uma cidade sede superficialmente adaptada aos deficientes físicos. A permanência deste espírito egoísta é consequência da incapacidade de se colocar no lugar alheio, não havendo incômodo nem tomada de atitude para a questão da acessibilidade no país. “Não se pode concordar em rastejar quando se sente o ímpeto de voar”, a frase de Helen Keller – primeira cega, surda e muda a se formar nos EUA – expressa o sentimento de inúmeros deficientes brasileiros, que pelas circunstâncias desfavoráveis da adaptação urbana são obrigados a “rastejar”. Além da falta de estrutura na cidade, as circunstâncias da falta de inclusão também são comportamentais e éticas, haja vista os frequentes casos de desrespeito a vagas, acentos e filas exclusivas para os portadores de necessidades especiais. Essas situações de desrespeito são mantidas à medida que os indivíduos perdem a sensibilidade pelo outro. Uma prova da necessidade de pôr-se na situação do próximo são os novos parâmetros de cursos para cuidadores de deficientes e idosos. Numa reportagem do portal R7, alunos dessa área da saúde utilizam instrumentos que permitem sua inserção em situações de deficiência física, com o uso de pesos extras nas pernas e braços, vendas e tampões de ouvido, por exemplo. Diversas estruturas jurídicas e de planejamento urbano estão sendo criadas a partir das diretrizes da mobilidade urbana para os deficientes. Uma delas é o novo Plano Diretor Paulista que prevê normas obrigatórias a partir de 2016, como a criação de rampas e/ou elevadores de acesso, corrimãos e passarelas especiais para diferentes tipos de deficiência. É reconhecida a necessidade de transformar espaços urbanos para atender melhor os portadores de dificuldades físicas e mentais. Todavia a conscientização e sensibilização da sociedade brasileira é uma transformação ainda mais profunda e efetiva. Dessa forma, é necessária a adoção de uma atividade escolar obrigatória na qual os alunos – a partir do 4° ano – passem por situações práticas, enfrentando os mesmos desafios que muitos deficientes passam em seu cotidiano, e aprendendo, assim, desde o início da vida a entender e respeitar as limitações do próximo.
Rafael Inigo de Lima
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Dissertação 2 De acordo com estudos realizados, o Brasil apresenta atualmente, 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, um número que, embora seja alto, não condiz com a realidade na qual nota-se uma constante discriminação vivida por essas pessoas. Assim sendo, torna-se necessário explorar as razões e impactos de uma acessibilidade falha dos portadores de deficiência, bem como da falta de inclusão destes na sociedade. Uma razão disso se estabelece no pensamento de Rosely Sayão, o qual reflete que, quando o diferente só é julgado a partir de sua diferença, há a anulação de todo o seu potencial. Ou seja, ao passo que um deficiente é visto como distinto dos demais, e, portanto inferior, suas chances de entrada no mercado de trabalho, em posições hierarquicamente elevadas, são muito baixas, devido ao julgamento de incapacidade, por parte dos empregadores. Vale ressaltar que a precária infraestrutura direcionada a essas pessoas prejudica a sociabilidade e convivência, pois os isolam da sociedade em geral. Com isso, surgem impactos, como a falta de diversidade social, que por sua vez, acarreta a perpetuação da discriminação contra os deficientes. Destaca-se também, a falta de visibilidade destes na mídia, sendo um exemplo desse fato, a transmissão das Paralimpíadas 2016 em apenas alguns canais – os quais não contam com uma grande audiência - e a baixa difusão desse evento na internet, se comparada a das Olimpíadas 2016, algo que apenas reforça o preconceito a esse grupo social. Dessa forma, cabe à esfera pública garantir que os direitos dos deficientes estejam sendo respeitados, por meio de fiscalizações de empresas, e punições aos locais que recusarem empregos ou atendimentos. Além disso, o governo, aliado à mídia, deve criar e incentivar entidades que lutem ao lado dos deficientes, com algum apoio financeiro, e divulgação através de campanhas e propagandas. Por fim, as escolas devem formar cidadãos que respeitem as diferenças, por meio de palestras e atividades em grupo.
Náthaly Nascimento de Abreu
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Dissertação 3 “Quando olhamos para o diferente e só conseguimos localizar a diferença, acabamos por anular todo um potencial. De convivência, inclusive.” Esta citação de Rosely Sayão mostra a importância não de considerar todas as pessoas como iguais, mas de reconhecer que há diferenças e aceitá-las. Isso é válido no tratamento das pessoas em relação a portadores de deficiência, cuja inclusão social avançou muito historicamente e deve progredir mais. Na Grécia Antiga, a arquitetura era composta propositalmente com escadarias, na intenção de excluir deficientes – considerados inferiores – da sociedade, além da rejeição de crianças com deficiência no nascimento. Na Segunda Guerra Mundial, no século passado, houve perseguição, dentre outros grupos, também aos de deficientes. Estes dois exemplos permitem observar como a intolerância existiu por um tempo considerável. Hoje, a visão sobre estas pessoas, em geral, não é mais hostil. Contudo, por não terem uma determinada capacidade física, elas são, muitas vezes, consideradas menos competentes do que alguém sem essas limitações, o que pode afetar a autoestima e a opinião de um indivíduo sobre ele mesmo. Por isso, a diferença não pode ser vista como um impedimento: a representação por meio de atletas paralímpicos, por exemplo, mostra o potencial independente da deficiência. O progresso conseguido ao longo do tempo pode ser observado pela existência de medidas de inclusão social em execução no Brasil. Pode-se citar a “Lei Brasileira da Pessoa com Deficiência”, que dá condições de acesso à educação e à saúde a estas pessoas e impõe punição a ações discriminatórias contra elas, como multas e detenção. Há também elementos cotidianos e ao mesmo tempo essenciais que facilitam a mobilidade, como rampas, elevadores, assentos e vagas preferenciais. Conclui-se que a acessibilidade dos portadores de qualquer tipo de deficiência evoluiu e ainda pode melhorar. Para isso, o governo deve se certificar de que deficientes de todas as classes sociais tenham acesso à educação e ao mercado de trabalho e educar profissionais adequados para acompanhá-los corretamente através de uma reforma geral neste setor. Além disso, a representação na mídia deve ganhar mais destaque, já que se observou que a repercussão das Paralimpíadas foi muito criticada por usar atores, em campanhas publicitárias, por exemplo, ao invés de pessoas realmente deficientes. Aline Akemi Taba
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Dissertação 4 Somente no Brasil há, atualmente, mais de 45 milhões de pessoas com alguma deficiência. Porém, apesar das iniciativas governamentais, o país sede das Paralimpíadas de 2016 ainda está longe de ser um modelo internacional de acessibilidade e inclusão social. Isso pode ser observado nas dificuldades diárias enfrentadas por essa parcela da população, seja para se movimentar pela cidade ou mesmo para assistir um filme. Recentemente, um vídeo, que mobilizou as redes sociais, abordou o assunto. Nele, uma adolescente com deficiência auditiva expunha o quão difícil era para ela ir ao cinema, pois a maioria das sessões não tinha legenda, e as animações muitas vezes nem sequer apresentavam essa opção. Outro exemplo a ser dado ocorreu na própria abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. O atleta brasileiro que iria acender a pira se viu diante de uma escadaria que sua cadeira de rodas não o permitiria subir. Essa é uma situação análoga a enfrentada por muitos diariamente, com a diferença de que, para eles, esse empecilho não se transformaria em uma rampa como ocorreu no evento. No entanto, não se podem negar os esforços do Estado. A “Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência” – que garante acesso à educação e à saúde sem discriminação – e a “Lei de Cotas” – que assegura vagas de emprego – foram conquistas e avanços grandiosos. Porém, por si só, não têm se mostrado eficazes, como se pode observar pelo fato de que mais da metade dos postos criados pela segunda lei mencionada não foram ocupados. Conclui-se que os principais problemas não estão sendo resolvidos, porque antes de se oferecer educação, saúde e trabalho, é preciso garantir que os portadores de deficiência tenham condições físico-espaciais de acessá-los e usufruí-los. Desse modo, vê-se que são necessários investimentos municipais em mobilidade urbana, acrescentado ao Plano Diretor da cidade a construção de rampas e ruas que não impeçam os cidadãos de nela circularem. Além disso, seria vantajosa a abertura de canais de comunicação entre os órgãos administrativos e representantes dessa parcela da população, estabelecendo um diálogo que determinaria onde realmente se é necessário investir. Tatiane Lie Nakai
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Dissertação 5 Durante a cerimônia de abertura das Paralimpíadas, neste ano, no Rio de Janeiro, o atleta cadeirante que acessaria a pira protagonizou o momento onde, ao vivo, a escada transformou-se em rampa. Reforçando a ideia de que as cidades brasileiras não estão estruturalmente preparadas para viabilizar a acessibilidade e inclusão de deficientes. Essa falta de visibilidade é detectada quando, no Brasil, existem cerca de 45 milhões de deficientes e os grandes meios de comunicação de massa pouco transmitiram o evento paralímpico comparado à Olimpíada tida como tradicional. A não transmissão do evento reflete não só a falta de interessa econômico, mas a ausência dos portadores de deficiência em grandes áreas de convívio social como escolas de qualidade, meios de transportes populares e empregos de ponta. A população não encontra interesse em assistir aos jogos de pessoas com defeitos físicos ou mentais, pois não tem contato direto com elas em seu cotidiano, o que gera preconceitos implícitos – ou demasiadamente explícitos. No que diz respeito à mobilidade, o contexto criado na abertura ressalta a carência de projetos sociais que visem a movimentação dessa minoria nas grandes cidades. São poucos os locais públicos que adaptam suas escadas a rampas, as ruas são esburacadas e pouco planificadas e os ônibus não têm fácil acesso para cadeirantes, por exemplo. Todos esses fatores impedem a autonomia do portador de deficiência que inevitavelmente necessita de ajuda de outra pessoa para ter contato com o meio urbano. Em suma, é preciso que os órgãos públicos criem programas socioculturais e estruturais, de mobilidade e acesso para que portadores de quaisquer necessidades possam ser incluídos no dia a dia urbano. Programas estes que estejam presentes nos meios de comunicação afim de informar a grande massa. Projetos de implementação de rampas e ruas melhor pavimentadas também auxiliariam nesta luta pela visibilidade social.
Ana Carolina Amaral e Silva
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Dissertação 6 A “Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência”, a “Lei de Cotas”, a inserção de facilitadores na rede pública que garantem maior acessibilidade, e os eventos integrativos. Estas são maneiras encontradas para integrar os portadores de deficiência na sociedade brasileira, algumas existentes há anos. Apesar da disponibilidade destas soluções, ainda não há um uso expressivo, e a integração a ser atingida ainda não é a ideal. No Brasil, são mais de 40 milhões de deficientes. Este dado aparenta ser fictício, quando posto em reflexão, já que o convívio dos deficientes com outros cidadãos é expressivamente baixo, ou até mesmo nulo, demonstrando que a participação dos indivíduos com deficiência é de fato pequena. Se, teoricamente, existem tantas garantias de acessibilidade e integração, este convívio deveria ser mais comum. Isto demonstra que a falta de uma segurança mais concreta leva os deficientes ao isolamento, o que é determinado, portanto, pela insuficiência desta integração. Essa pôde ser constatada nas Paralimpíadas, sediadas no Brasil em 2016. As Olimpíadas, que antecederam o outro evento, que recebem mais destaque por tradição, tiveram seus atletas aclamados pelo público, que os viam como heróis que traziam esperanças e lições de superação. Já as Paralimpíadas que aconteceram em seguida, e seus atletas – que detiveram menos privilégios que os atletas do evento anterior – pouco foram lembrados. Pouco interesse tinha a mídia em cobrir essa segunda competição, por não ser um evento que aparentemente traria lucro. O desinteresse coletivo ilustra que os deficientes ainda são vistos apenas como tais, sem espaço, na sociedade, para demonstrarem suas habilidades e oferecerem mais de si. Para que a integração do deficiente na sociedade seja definitivamente efetiva, deve-se enxergar o deficiente como parte do todo, o que deve ser feito dando mais destaque a eles. Para que esta situação mude, a representatividade na mídia, nos esportes, entre outros, deve aumentar, com maior apoio do governo ao promover campanhas de conscientização e eventos específicos com ampla divulgação.
Gabriela Caputo da Fonseca
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Dissertação 7 Um tema que ganhou muita repercussão nos últimos anos, é a acessibilidade e inclusão social das pessoas portadoras de deficiência na sociedade brasileira. De um lado, muitos acreditam que estes já possuem muitos benefícios, enquanto outros, continuam lutando pelos direitos de igualdade que os deficientes não têm. O Brasil, um “país de todos”, apesar de ter aprovado muitas leis sobre o assunto, se encontra distante de incluir totalmente as pessoas com necessidades especiais na sociedade. As Paralimpíadas no Rio de Janeiro, esse ano, fizeram os brasileiros refletirem mais sobre como é o cotidiano dessas pessoas. Clodoaldo Silva, um cadeirante, foi convocado para acender a pira olímpica. Contudo, ao chegar perto dela, se deparou com uma escada, que simbolizava as dificuldades que os deficientes enfrentam no dia a dia. Foi também um modo de criticar o país, desprovido de recursos que facilitem a acessibilidade nas cidades. Além desses problemas rotineiros, há a negação de empregos, escolas e planos de saúde, apesar de existirem leis como a “Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência”, que busca punir àqueles que os negam por preconceito, e a “Lei das Cotas”, feita para os incluírem no mercado de trabalho. O deficiente busca uma sociedade que não o discrimine, que reconheça suas virtudes, assim como seus defeitos. O que acaba ocorrendo no Brasil é a imposição, pela mídia, do padrão físico perfeito, o que causa um julgamento precoce dos deficientes que não são valorizados pelo caráter moral, e sim excluídos pela falta de algum dos sentidos, membros do corpo ou deficiência motora. Para que esse problema possa ser resolvido, o governo poderia iniciar um projeto de base para arrumar as calçadas, inserir “brailes” em livros, ruas e elevadores por exemplo, construir rampas e elevadores em todos os estabelecimentos e incentivar a produção de filmes com legenda ou linguagem de sinais, além de inserir o assunto sobre inclusão do deficiente nas escolas. Com pequenos gestos, as pessoas portadoras de necessidades especiais poderiam ser incluídos, aos poucos , no cotidiano comum ao cidadão brasileiro.
Beatriz Pinesso Longo
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Dissertação 8 Cegos, surdos, cadeirantes, paraplégicos. Diversas pessoas são portadoras de alguma deficiência, sofrendo então, algum desrespeito. Enquanto a população não reconhecer que todos os indivíduos são dotados de algum potencial, continuarão enxergando apenas a diferença e fazendo impossível a convivência e a acessibilidade dos deficientes. Um exemplo dessa falta de acesso é visto nas entradas de lugares públicos e privados apenas com escadas, o que dificulta a passagem dos cadeirantes. Assim como esses, os cegos também apresentam dificuldades, devido a muitas ruas não possuírem a acessibilidade que precisam para caminhar. Já os surdos, não conseguem assistir a muitos programas de televisão, pela linguagem de sinais não ser expressa. Essas situações mostram que apesar de existirem muitos deficientes, há uma pequena inclusão social desses portadores, pois muitas vezes são obrigados a permanecerem em suas casas devido ao fato de alguns lugares não contribuírem estruturalmente para a inclusão dessa parcela da população, o que faz com que sejam excluídos de diversos grupos. Embora haja eventos para que essas pessoas tenham mais oportunidades, como os Jogos Paralímpicos, e leis que garantem o acesso a todo tipo de necessidade dos deficientes, esses ainda são vítimas de preconceitos e muitas vezes ignorados por pessoas que não enxergam o real potencial daqueles. Uma forma de estabelecer a inclusão social e uma estrutura adequada para os deficientes seria a obrigatoriedade, com multa caso não se cumprisse, da utilização de rampas em todos os lugares; da melhor acessibilidade nas ruas para os cegos, e em programas de televisão, a interpretação da língua de sinais; além de outras medidas para os demais deficientes. Deve-se também conscientizar a população de que como todos são iguais por lei, e, portanto, merecem respeito e direitos iguais.
Mariana Riveira Gasquez Rufino
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PROPOSTA DE REDAÇÃO Texto I
(http://veja.abril.com.br/)
Texto II Em 2013, o Brasil viu um tipo diferente de manifestante surgir nas ruas em protestos contra o aumento da tarifa do transporte público na cidade de São Paulo. Com roupas escuras e rostos cobertos, eles ficaram marcados por ações virulentas, algo violentas. Os adeptos da chamada tática black bloc quebraram vidraças de bancos, invadiram concessionárias de carros de luxo e literalmente partiram para cima da polícia quando esta reprimiu manifestações. São Paulo e o Brasil nunca tinha visto aquilo e, bem cedo, black bloc acabou virando sinônimo de vandalismo entre a população e na imprensa. Suas ações assustam paulistanos e desnorteiam movimentos sociais tradicionais. Defini-los é das tarefas mais difíceis e falar sobre eles é se mover em um terreno movediço. Mesmo porque, não há os black blocs. Não existe movimento black bloc, tampouco existe uma organização que hierarquize decisões. O que há é a tática, o modo de agir, o modo de vestir. É muito mais uma ideia de ação difusa que parte de
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pessoas que pertencem a grupos sociais e ideológicos diferentes e, vez ou outra, até mesmo conflitantes. O manifestante identificado como black bloc de hoje é diferente do de amanhã e extremamente diferente do de um, dois anos, atrás.
(Adaptado de OLIVEIRA, André. Black bloc: a tática fugidia que desnorteia e assusta SP. São Paulo: El País, 12 set. 2016)
Os textos da coletânea remetem à tática de protesto conhecida como black bloc. Segundo o jornalista Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, “o conceito black bloc começa a surgir no final dos anos 1990 contra a globalização, contra o neoliberalismo. Também nasce questionando a eficácia de movimentos pacifistas, como as passeatas lideradas por Martin Luther King”. Se existe algo próximo de uma cartilha black bloc, ela seria formulada, resumindo de forma apressada, por esses dois pontos: defesa e ataque simbólico às instituições. Mas não foi isso que apareceu para o grande público. Nos últimos anos, manifestantes identificados com a tática foram vistos depredando ônibus, arrombando pequenos comércios e deixando grande parte da população em pânico. A proposta de manifestar-se dessa maneira é considerada legítima por alguns, embora soe agressiva para uma população acostumada a outra natureza de protestos. Mas, esse tipo de quebra-quebra não é consenso nem mesmo entre os adeptos da tática.
Considerando essas informações, bem como as reflexões e situações suscitadas pela coletânea, redija um TEXTO NARRATIVO.
INSTRUÇÕES: • Sua história deverá ter um NARRADOR TESTEMUNHA; • Construa personagens esféricas; • Descreva subjetivamente a personalidade do protagonista; • Crie um desfecho inesperado para o seu texto.
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Narração 1 Quais histórias você conta quando vai pôr seu sobrinho para dormir? Talvez os clássicos como “Chapeuzinho Vermelho” ou “Os três porquinhos”. Você pode dar uma “abrasileirada” e contar um pouco sobre o folclore, Boto cor-de-rosa, por exemplo. Mas e se seu sobrinho só se interessa por suas “aventuras” como black bloc? Duvido que saiba como é. Dificilmente você já participou de um movimento desses e se já aconteceu, duvido que compartilhe abertamente com sua família. Hoje me arrependo de contar o que contei a uma criança de sete anos, acho que aquilo entrou muito cedo na cabeça dele, as histórias de como éramos os heróis lutando contra as corporações do mau que roubavam nosso dinheiro, tudo isso comandado pelo terrível Collor. Tudo isso me trouxe para hoje, 2013, tendo que ouvir esporros do meu irmão. Alexandre sempre foi o preferido da família e também um idiota, afinal, quem põe seu próprio nome no filho? Era justamente sobre o pirralho essa briga, como minhas histórias tinham feito a cabeça de Alexandre Jr. Junior, como era chamado por todos, menos pelo pai - aquele cara adorava ouvir o nome dele - era um menino esclarecido. Desde suas primeiras aulas de História, o menino começou a perceber como o mundo funciona. Como estudava em escola particular, Junior tinha acesso à Filosofia e Sociologia, suas matérias preferidas. Nos almoços de família, adorava polemizar nada como um “sou a favor do aborto” para incendiar uma reunião de família. Aos 16, Junior passou por uma fase ruim, teve que se despedir de um amor, Bianca, com quem já estava junto há 4 anos, teve que se mudar para a Bahia, uma longa história para um outro dia. Junior pensou em simplesmente desistir, as injustiças as quais tanto odiava afetaram-no no pior lugar, o coração: - Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas, tio? Não soube responder, minha única ação foi secar suas lágrimas. Com a ajuda de uma psicóloga, Junior conseguiu seguir em frente, ela sempre dizia: “É mais nobre lutar por uma causa do que desistir dela.” E foi isso que fez, lutou. Nessas manifestações decidiu ser um black bloc, estava cansado de ser pacífico. Ele me chamava para acompanhá-lo, resisti no começo, mas a vontade pela luta falou mais alto. A Avenida Paulista tem mais vidraças do que nunca, que delicia! Na hora do quebra-quebra, Junior agiu como nunca tinha visto antes, ele parecia livre, fazendo o que queria, até me assustei. A prefeitura mandou a cavalaria. Obviamente ela chegou metendo o cassetete em todo mundo. Pedi para o Junior para irmos embora, ele se recusou, foi para cima dos policiais. Num arremesso, que parecia da
Oficina de Redação 2016 liga de baseball americana Junior acertou um policial na cabeça, esse caiu do cavalo, imóvel. Um colega policial que viu a cena acerta Junior na cabeça que desacordado foi arrastado para uma viatura. Tive que deixá-lo para traz. Foi só essa manhã, após meses de culpa, antidepressivo e álcool que consegui visitá-lo na prisão, a polícia faz de tudo para punir quem mata um deles: - Você não sabe o que os guardas fazem comigo aqui, tio. Eles não pegam leve com quem mata policial, não aguento mais, vou desistir de lutar. Isso é um pouco do que me lembro da conversa Como dizem, notícia ruim corre rápido. Agora à tarde recebi a ligação do presídio. Junior se enforcou usando um lençol. Acredito que Junior, assim como eu, acha idiota carta de suicídio, já que ele não deixou uma, porém deixo esta. Meu sobrinho era minha luz nesse mundo escuro, agora vou de encontro com ele. Talvez a gente possa quebrar algumas vidraças no céu.
Gabriel Pimentel de Araujo Braga
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Narração 2 Pessoas corriam por todos os lados. Algumas assustadas, outras desesperadas, parte delas apenas tentando fugir das granadas de gás lacrimogêneo. Barulhos de buzinas, alarmes, vidros quebrando, gente gritando, crianças chorando. O completo caos tomara conta de tudo. A polícia avançava sem dó pela multidão que inicialmente protestava de forma pacífica antes de chegarmos. Os militares já não faziam distinção alguma entre dar pontapés em alguém que saía do trabalho ou bater em um de nós. Nós. Roupas pretas. Máscaras nos rostos. Pedras e tacos em mãos. Tintas nas mochilas. Nós éramos esses em meio à multidão. Eu era um desses. Meu melhor amigo era um desses. Os manifestantes agressivos, os vândalos, os “Black Blocks”. Assim que nos chamavam. Assim que me chamavam. Até eu desistir. Dez anos atrás, no furor da adolescência, o país em crise, o povo nas ruas para lutar por seus direitos. Meu amigo era um desses estudantes querendo mudar o mundo sem saber bem como. Não era agressivo no começo. Aluno de boas notas, bom filho. Trabalhava para ajudar em casa. Calmo na maior parte do tempo. Um pouco confuso, meio inquieto, às vezes “doido”, mas nada anormal. Éramos parceiros desde a infância e ele sempre teve seu lado mais ativista. Começamos a ir aos protestos em 2013, assim como muitos, tudo pacificamente no início. Apenas no início. Willian conheceu um grupo de pessoas que se manifestava de maneira diferente. Willian era o nome dele. Começou a se unir a eles e logo me chamou. Eu topei. Fomos. Garrafas voavam, monumentos eram pichados, coisas pegavam fogo. Não era mais manifestação para mim. Era terror. Eu podia ver nos olhos das pessoas que corriam o seu pavor. E nos olhos do meu amigo, eu via gosto. Via agressividade insana em seus olhos avermelhados. Era loucura. Ele estava louco por aquilo, gostava da destruição, gostava do caos. Seus ideais? Acho que nem mesmo Willian sabia do porquê estava ali. Apenas estava. Apenas espalhava por aí a completa “bagunça”. E eu estava com ele. No dia em que tudo acabou para ele, eu também estava lá, mas não tão perto como de costume. Observava-o a certa distância. Milhares de pessoas estavam na avenida aquele dia. O “quebra-quebra” começou. As máscaras e panos cobriam a identidade de quem destruía mais uma vez os patrimônios. Mas eu sabia quem era quem. Conhecia de longe cada um. Em meio ao tumulto de cartazes, pessoas, balões, gritaria, a polícia chegando de um lado e o Black Block do outro. Eu no meio, junto com a massa. Balas de borracha sendo disparadas e pontapés sendo dados em abundância. Ouvi um estrondo enorme.
Oficina de Redação 2016 Caí no chão e já não escutava nada além de um zunido fino. Ao erguer a cabeça, o cheiro de queimado era insuportável, a fumaça deixava a visão turva. Gritos de horror no ambiente, choro e escândalo. O sol encoberto. Tinha sido uma explosão. “Alguém ajuda!”, “Socorro! ”. Onde estava meu amigo? Onde estavam todos? No meio, um buraco de corpos caídos. Meu amigo não existia mais. Tampouco existiam seus restos. Incontáveis vítimas e muitos mortos dentre as manchetes dos jornais no dia seguinte. O suicida não foi identificado, como o chamaram. Mas eu o conhecia, até bem demais. Depois da última manifestação, sua mãe entrou em choque e eu parei de ir em protestos. E o terrorista, como o caracterizaram, continuou sem ser identificado nos jornais.
Isabela do Patrocinio Silva
Oficina de Redação 2016
Narração 3 Carlos era meu amigo, sempre fora rebelde em suas atitudes, principalmente quando discordava de algo que era aceito pelo resto do grupo. Cresceu junto comigo aqui no morro do Almeirão. Menino pobre e de família pequena, era só ele, a mãe e o avô, que sempre dizia ao neto para respeitar e obedecer aos mais velhos, ou qualquer um que fosse mais “poderoso” que ele. Aprendera isso durante a Ditadura Militar. Carlinhos nem sempre escutara o avô, era o típico “pilantra”, faltava na escola e, quando a professora chamava sua atenção, dizia: - Não sou obrigado a nada, muito menos a vir aqui! E a senhora? Veio aqui para dar aula ou atrapalhar minha conversa?- reclamava já se dirigindo à diretoria. Os anos se passaram e embora eu tenha estudado mais e me dedicado, a empresa de ferramentas preferiu o concorrente mais forte, que se portava melhor frente às máquinas e ferramentas, aquele que tinha cabelos negros e brilhantes, uma autoestima alta como pouco se via, Carlos Augusto de Souza, o Carlinhos. Quanto a mim, o que restou foi a marmoraria do Seu Zé, mas estava bem, recebia em dia e meu chefe era meu amigo. Diferente de Carlinhos que, sempre quando nos reuníamos, reclamava: - É um absurdo como me tratam naquela empresa! O salário sempre atrasa, o patrão sempre reclama e briga com todo mundo lá. Aquele cara só quer saber de dinheiro, toda vez diz “Time is Money”, quando a gente começa a conversar. É pior que escola aquilo lá, meu Deus! Ele só quer saber do dele, e que se dane os “peões” – reclamava ele, todo domingo, quando íamos tomar aquela “breja” gelada. Certa vez, enquanto eu ia dormir para trabalhar no outro dia, o telefone tocou: - Oh, Manuel! Vamos amanhã lá no centro? Vamos nos manifestar e reclamar desses riquinhos! – disse Carlos. - Como assim, cara? Amanhã tenho que “trampar” cedo na empresa. E outra você viu o que fizeram com quem foi reclamar dos 20 centavos? - Vi sim, mas é aquilo que o pessoal da empresa “tava” falando, vamos todos de faixa preta no rosto, pra ninguém “vê nóis”, aí a gente faz o que quiser, se a PM quiser brigar... - Não, Carlos! Não inventa! Cansei disso, vai você! Eu não posso, desculpa. - Você é um amarelão mesmo, tem medo de tudo. Bom... é isso – disse, desligando o telefone.
Oficina de Redação 2016 No dia seguinte, não consegui pensar em outra coisa, senão meu amigo. Cheguei em casa após o trabalho, e logo liguei a TV para ver o noticiário. Vi um grupo vestido de preto, o qual os repórteres chamavam de “black blocs”. Esse grupo estava destruindo tudo, desde ônibus até agências bancárias. “Que idiotas”, pensei ao ver esses caras, até me surpreender e me desesperar com o que vi: Carlinhos, ele mesmo, reconheci pela tatuagem de gavião que tinha nas costas. Comecei a me desesperar mais ainda, quando vi em sua mão um pedaço de ferro, o qual ele usara para bater em carros e impedir que pessoas inocentes fugissem - era desesperador. Aquele meu amigo de infância, finalmente mostrou ser o que era, um vândalo. Tudo isso explica suas atitudes grosseiras e rebeldias da infância, mas nada justifica Carlinhos agir assim. Seu avô sempre o alertara, eu também. Eu era um exemplo para ele de algo ruim, de “filhinho de papai” que só segue ordens. Nessa altura do campeonato, mais vale receber ordem do que decidir quem manda. O momento de maior tensão foi quando a TV mostrou ao vivo a polícia e a Tropa de Choque subindo a avenida e indo em direção aos “blacks blocs”. Cada passo que a polícia dava, eu me desesperava e rezava cada vez mais, até que chegou o momento de maior angústia: o confronto entre vândalos e as tropas. Para minha infelicidade, meu melhor amigo estava no primeiro grupo, levando bala de borracha nas costas e apanhando de cassetete. Doeu na alma. Desliguei a TV. Na manhã seguinte, vi no jornal o que já esperava durante a madrugada: meu irmão de rua, meu grande companheiro, Carlinhos, morrera. O cara que teve tantas chances para ser alguém decente, não soube aproveitá-las, reclamava por ser só um “peão” no tabuleiro, até receber o cheque-mate final.
Guilherme Garcia Kamida Kiel
Oficina de Redação 2016
Narração 4 Gritos. Era só o que se ouvia naquela estação. Berros desesperados e estridentes misturados ao barulho de vidro estilhaçando, de tiros sendo disparados, do baque surdo de pessoas caindo no chão e da correria por causa do caos instalado desde o momento em que as sirenes começaram a tocar. Gus disse que isso não aconteceria. Garantiu-me, falando que apenas mudaríamos algumas coisas de lugar, colaríamos algumas mensagens nas paredes e iríamos embora. O meu erro foi acreditar em suas palavras. Há algumas semanas, os membros superiores do grupo Black Bloc se reuniram para que fosse montada uma estratégia para assustar o governo, uma pequena comoção. Todos colocaram seus pontos de vista. Naquele dia, Gus não estava como normalmente – ocioso, esquivo e amedrontador – ficou pesaroso, como se algo terrivelmente errado estivesse para acontecer. “Não é nada” – disse-me com uma voz sombria, obrigando-me a ficar quieta. Obedeci, e caso não o fizesse, sabia o que viria a seguir. Não muito agradável, ele me colocaria trancada no armário do quarto até quando bem entendesse. Era assim, ficava submissa, porém, intocável; mas se caso falasse algo, ele explodiria e só Deus sabe o que seria de mim. Mais tarde, entendi seu estado de espírito: frustração. E pouquíssima gente sabe que quando Gus fica frustrado não é uma versão muito sã de si mesmo. O plano formado foi passado para os outros membros, que providenciariam os materiais para executá-lo, fazendo com que muitos caminhões entregassem a semana toda no estabelecimento em que nos encontrávamos. Estranhei um caminhão em específico, que, ao invés de entregar o conteúdo para o responsável, o próprio Gus foi receber, e quando sem pensar muito no que fazia e lhe perguntei o que era, apenas fiquei mais um dia inteiro no armário. O dia do plano finalmente chegou. Gus estava inquieto e agitado demais, e foi aí que tudo começou a dar errado. Mil e uma complicações aconteceram, tantas que foi preciso adiá-lo. Naquela noite, acordei assustada, e vendo que Gus não estava no quarto, entendi que ele fora realizar o plano com alguns membros odiosos do grupo, sozinhos. Enquanto amanhecia, saí correndo para o local combinado. Quando cheguei, olhei para ambos os lados da rua cheia tentando identificar onde eles estavam. Foi quando começou.
Oficina de Redação 2016 Estava acontecendo rápido demais. Grupos de radicais começaram a sair de todos os lados, indo para o meio da multidão. Misturaram-se tanto aos civis, que mal dava para distingui-los. Não demorou para que as armas fossem tiradas do cós das calças e os tiros começarem a atingir inocentes. Ao longe, vi Gus no meio daquela confusão de gente. Com um sorriso torto no canto da boca, ele empunhava sua arma para as pessoas aterrorizadas que, se já corriam antes, passavam a correr mais, ao notar que não só corriam perigo de serem atingidas, mas tinha uma grande chance de serem mortas a sangue frio. Precisava acabar com aquilo e não hesitei em agir. Entrei correndo no metrô, batendo constantemente nas pessoas que corriam para o lado oposto. Em meio aquele tumulto, só conseguia pensar nos anos que passei tolerando aquele monstro ao meu lado, sem interferir em nenhuma maldade que ele fazia. Isso não podia se repetir. Agarrei uma arma jogada em um canto perto de um armário de vassouras da estação, e disparei para perto do lugar em que vi Gus momentos antes. Achei-o torturando um inocente, rindo enquanto apontava a arma para sua cabeça, apenas por diversão. Antes que ele puxasse o gatilho, pulei em suas costas. No momento em que ele se desequilibrou, arranquei a arma pendurada em seus dedos e a joguei longe, enquanto batia a que estava em minha mão em sua cabeça. Já no chão, desconfiei que não estava muito lúcido por causa da pancada na nuca, puxei-o pelos cabelos até o armário de vassouras, arrastando-o para o outro lado do corredor. Não me escapou a ironia. Enquanto mirava em sua cabeça, lembrei de todos os modos de opressão que sofri em suas mãos, a raiva pulsando em minhas veias. “Bela pacifista você” – começou ele – “parece que depois de tantos anos aprendeu alguma cois…”. Quando apertei o gatilho já não ouvia muita coisa. Largando seu corpo dentro do armário, recarreguei a arma, contei as balas e sai do lugar para acabar com toda aquela baboseira, com a certeza de que se, por acaso, elas acabassem, poderia achar mais armas jogadas no chão.
Natalia Molina Ferreira
Oficina de Redação 2016
Narração 5 Ríamos alto dentro do vagão do metrô, fazia tempo que não passava momentos com Arthur. Depois de começar a cursar Direito ele vivia sempre ocupado, correndo atrás do seu sonho de ser oficial de justiça. Saímos do vagão e subimos a escada rolante, estávamos em frente ao MASP, aquele não era exatamente o “rolê” que eu gostaria, mas ao menos eu estava com meu irmão. Nos encontramos com outras pessoas e começamos a fechar a avenida, era uma manifestação. Mais centenas de pessoas foram chegando, vinham de todos os lados. Era visível a empolgação do meu irmão, um líder nato, estava a frente de todos, gritava palavras de ordem e todos o acompanhavam. Quando me dei conta já éramos um mar de pessoas, mal se via o horizonte. Porém uma movimentação estranha começou a surgir, uma máscara dos anônimos apareceu ao longe, mas ao meu lado havia um rosto coberto por um pano preto. Arthur me puxou para perto, protetor como sempre. Eles estavam em uma quantidade razoável, apareciam e desapareciam num sopro, não sei de onde vinham. Finalmente entendi, eram black blocs. Carregavam pedaços de madeira, tijolos e fogos de artifício. Voltei-me para meu irmão, não havia mais medo em seus olhos, ele era pura adrenalina. Logo fui contagiado por isso também, a sensação era forte. Tiramos as camisas e amarramos no rosto, éramos como eles agora. O que era pacífico se tornou o caos, começamos a depredar um ponto de ônibus e unidos a outros homens viramos um carro, o destruímos. Ao darmos as costas ele explodiu, eu cai no chão. Não sentia nada, não ouvia nada além de um zumbido, mas eu podia ver, e vi Arthur. Só então percebi o que estávamos fazendo. Meu irmão já não estava mais em si, não devíamos ter nos deixado levar. Ele sempre foi doce e educado, era meu melhor amigo. Mas ele estava se comportando como um animal, eu o assistia enquanto atirava pedras em direção aos policiais. Não sabia o que havia acontecido com ele, muito menos comigo. Deitado no chão, eu lamentei ter ido até ali, só queria ir embora, só queria que acabasse. Arthur não me notou e continuou a destruição. Talvez fosse assim mesmo, o ser humano tem algo selvagem dentro de si, que está à espreita o tempo inteiro, esperando a menor oportunidade de aparecer. Por isso as pessoas se tornam violentas, pois não controlam esse “instinto”. Eu também falhei, não soube controlá-lo. Se nem meu irmão manteve a sanidade, mesmo sendo naturalmente calmo e racional, como eu poderia? Comecei a chorar, ali mesmo, no meio da rua. Eu não queria ser selvagem, não queria mais assistir alguém que, em minutos, passou de meu melhor amigo para um desconhecido. Imaginei como era ser um soldado em uma guerra. Sua função é matar, destruir, vencer, acordar todos os dias e tentar sobreviver. E a guerra é a pior maneira
Oficina de Redação 2016 que o ser humano encontrou para “resolver” problemas e conflitos. Ela fere a todos os participantes, mas ninguém desiste facilmente. E ainda há países que respiram a indústria bélica, deve ter cheiro de morte, de sofrimento. Por fim, tive de assistir, imóvel, Arthur ser imobilizado por policiais. Ele lutava e se debatia. O ser humano se considera tão superior aos outros animais pelo seu intelecto, mas nos tornamos incapazes de usá-lo quando mais precisamos. Como em momentos como esse, quando nos tornamos tão civilizados quanto qualquer animal selvagem. Algo mais me chamou a atenção, vi pelo canto do olho. Um policial brigava corpo a corpo com um menino mascarado, tentando tirar-lhe das mãos uma arma, mas durante o conflito ela disparou. Eu sabia em que direção a arma estava apontada, mas fechei os olhos. Eu não queria ver, não queria saber se estava certo, apenas torcia para estar extremamente equivocado. Com medo de ver o que aconteceu, permaneci de olhos fechados até ser resgatado dali. Passei vários dias no hospital. A explosão havia afetado meu canal auditivo e consequentemente meu equilíbrio corporal. Sentia muita tontura e usaria um aparelho auditivo até segunda ordem - além de algumas queimaduras no corpo, é claro. Em todo o tempo que estive hospitalizado, ninguém me disse o que havia acontecido com Arthur, meus pais enchiam os olhos de lágrimas quando eu perguntava, os médicos e auxiliares apenas se calavam. Até que em um dos últimos dias da minha internação, resolvi dar mais um passeio pelo hospital, não gostava de ficar confinado em um quarto, eu ia devagar me apoiando na parede. Encontrei então minha mãe na frente de uma porta aberta de um quarto, ela tinha as mãos cruzadas na frente do rosto e lágrimas desciam lentamente. Olhei para dentro do quarto, meu irmão estava sendo colocado com muita dificuldade em uma cadeira de rodas, e então eu soube que nela ele ficaria para o resto da vida.
Heloísa Carmecide Reis
Oficina de Redação 2016
Narração 6 Recebi uma ligação do meu chefe. Eu fiz a cobertura de uma manifestação que aconteceu no centro da cidade. Era uma noite estranhamente quente, descartei meu casaco, mesmo estando em Julho, ou seja, era inverno. Peguei meus equipamentos e corri para o metrô. Por volta das sete horas, me encontrava sentado num trem da linha vermelha. Eis que um casal sentou-se nos assentos ao meu lado. Falavam alto. Aparentavam euforia e exalavam ansiedade. “Não vejo a hora de chegar lá”, gritou uma delas, reação desaprovada pela sua parceira que a trouxe para os braços e trocou carinhos. Ao descer do trem, notei que as garotas estavam com as malas cheias, interpretei que viajariam para algum lugar. De repente, começaram a correr, reparei que um dos chaveiros – daqueles que quando juntam formam alguma coisa, no caso um coração – caiu no chão, gritei para que voltassem, mas já era tarde e eu precisava completar meu trabalho. Chegando ao ponto de encontro do protesto, me deparei com uma enorme quantidade de pessoas. Puxei minha câmera e apontei a lente para os meus arredores. Pessoas de todos os tipos, de todas as crenças, marchavam juntas com apenas um objetivo: demonstrar insatisfação à respeito do aumento da tarifa do transporte público. Tudo corria aparentemente bem até o momento em que percebi um movimento estranho na linha de frente. Jatos de spray de pimenta foram lançados pelos policiais militares. Não compreendi o motivo. Segundos depois, ouvi um barulho de vidro sendo quebrado. Avancei em meio ao desespero de alguns manifestantes afim de conseguir um melhor ângulo. O som provinha da quebra da vitrine do Banco do Brasil, efetuada por alguns mascarados. “Black blocs”, disse uma moça ao meu lado. A PM não gostou nem um pouco do ato desse grupo e respondeu com bombas de dano moral, assustando e instaurando caos entre os manifestantes distintos. Em meio aos flashes de minha câmera e gritos de socorro, um policial se aproximou e confiscou o meu material de trabalho. Com isso, os protestantes berravam “Censura” e “Sem violência”. Os black blocs voltaram a aparecer e, novamente, ouvi um som de vidro quebrando, mais agudo desta vez. Coquetel Molotov. Os sujeitos mascarados jogavam um punhado desses em uma viatura da PM próxima. O disparo de uma arma causou um silêncio mortal em todo protesto. Era uma bala de borracha, porém foi o bastante para deslocar o corpo de uma jovem do grupo em sentido ao chão. Olhei para a mala e localizei um chaveiro. A outra metade daquele que achara mais cedo na estação. A garota jogada no chão era uma das meninas do metrô.
Oficina de Redação 2016 Ao socorrê-la, tiraram-lhe a mascara e tive certeza de sua identidade. O rosto de sua parceira encharcado de lágrimas refletia a palidez e o hematoma da jovem. Uma ambulância chegou, os paramédicos examinaram rapidamente a vítima e colocaram-na dentro do furgão. Apesar de trabalhar dentro da própria mídia, nunca houve alguma notícia significativa contando sobre o caso desse casal além de: “Vândalos invadem manifestação no vale do Anhangabaú e atacam policias”, a qual fora bastante veiculada.
Felipe Costa Rodriguez
Oficina de Redação 2016
Narração 7 Estávamos vestidos com roupas da revolta, os panos que cobriam nossos rostos não nos escondiam, mas nos uniam. Ramón sempre pareceu uma pessoa calma que lutava por justiça e igualdade, mas havia se revoltado com o tão criticado sistema. Ele se tornou bruto e teimoso, não acreditava que manifestações pacíficas mudariam algo além da programação dos noticiários. Naquele momento, a imensidão da noite, a violência dos opressores e nosso grupo de manifestantes invadiram a rua. Ramón tinha olhos que transpassavam todos que se colocavam como obstáculo. Nós lutaríamos até o fim. Ele carregava um olhar corajoso, mas com fúria, dizia que não deveríamos desistir de lutar por nossos direitos, mas a cada passo que dávamos o cheiro de pólvora nos contaminava. Pessoas expressavam suas opiniões, pensamentos e revoltas. Éramos diferentes, mas nosso objetivo nos tornava iguais. Ramón dizia que devíamos corromper contenções de moralismos de interesses, nos unir para expor a sociedade que é adestrada pelos interesses burgueses da globalização. Chamavam-nos de “black blocs” - aqueles que quebravam o silêncio e expunham o silêncio imposto pelas regras e maquiado pela mídia. Alguns minutos depois, nosso amigo de manifestação, Gracio, era espancado brutalmente por um grupo de policiais. Gracio caiu no chão e não reagiu a mais nada. Ramón mudou de estado emocional num piscar de olhos. Ele parecia afetado por ver o amigo ser machucado. Uma lágrima solitária se perdia em meio a lenços negros que cobriam seu rosto. O caos começava a se alastrar como num incêndio. O barulho da tropa de choque era ensurdecedor. Agora, a figura de Ramón estava no chão, um olhar perdido se encontrava no seu rosto. Era possível sentir sua dor. A medida de contenção havia domado-o de vez. Muitos dos nossos companheiros vieram ver se ele estava muito ferido. Tivemos de abandonar nossa missão naquela noite. Os olhos do forte Ramón eram preenchidos por lágrimas que escorriam e lavavam a sujeira de seu rosto. Ainda nos encontrávamos na rua, os gritos ainda eram escutados. Não sabíamos dizer se estávamos a salvo. Nosso bravo amigo estava mais fraco e o som da sirene da polícia cada vez mais forte. O temido silêncio tomou conta de Ramón, seus olhos ficaram opacos, sem vida. Mas a polícia veio e nos separou dele. Éramos bruscamente arrancados de lá e ameaçados. A imagem do mais forte guerreiro era deixada para trás, assim como nossa liberdade que também ficou opaca. Letícia Alves de Aguiar
Oficina de Redação 2016
Narração 8 Ricardo sempre fora alguém sociável. Era fácil lidar com ele. Estava sempre sorrindo. Fazia todos rirem. Era uma pessoa que não levantava suspeitas. Era normal. Pacífico. Era assim que resolvia tudo, não queria brigar. Estudava com Ricardo desde nossos 6 anos de idade. Éramos amigos inseparáveis. Dizem que os objetos se desgastam ao longo do tempo. Nossa relação ia no sentido contrário. Conforme o tempo passava, nossa amizade se fortalecia. Estávamos animados por chegarmos ao Ensino Médio. Ricardo claramente mais do que eu. Ele era inteligente. Um gênio. Decidira que faria o curso opcional de Filosofia e Sociologia. Eu não tinha tempo. Foi a primeira vez que deixei meu amigo sozinho. Logo nos primeiros meses de estudo, nossa relação começou a mudar. Ricardo não conversava comigo como antes. Pensei que fosse algo normal. Era muita pressão sobre nós. Infelizmente, o caso dele não era normal. Fiquei surpreso ao ver uma foto numa dessas redes sociais. Era praticamente impossível reconhecer Ricardo, mas anos de convivência fizeram disso uma tarefa fácil. Seu olhar por baixo da máscara era outro. Passava a impressão de ódio. Ao lado estavam seus novos colegas (não me sinto à vontade para chamá-los de amigos). Ele os conhecera na aula de Sociologia. Ricardo nunca mais fora o mesmo. Esqueceu-se completamente de mim. Era outra pessoa. O garoto sempre bem vestido e arrumado tornou-se alguém com ar negativo. Passou a andar de roupas largadas, como se não se importasse com nada. Disseram-me que se tornara um black bloc. Não sabia muito bem o que isso significava, então resolvi pesquisar. Não existia nenhum grupo assumido. O black bloc era uma tática. Quase uma religião. Se fosse, seus seguidores poderiam ser definidos como adeptos do radicalismo. O pacifismo não existia em seus corações (se tivessem um). Era difícil de acreditar, mas era a realidade. Ricardo saía com seus colegas todas as semanas para depredar a cidade. Eram pichações e mais pichações, além dos vários vídeos estilhaçados. Tudo por causa de ideal embrionário. Embrionário porque não tinha fundamentos. Escrevo isso porque acabei de desligar minha televisão. Desliguei porque não suportava mais olhar para aquelas imagens com faixas pretas: numa manifestação, a polícia atirou num “bando de moleques” que estavam destruindo comércios. Bruno Cubateli Santos Bernardino
Oficina de Redação 2016
Narração 9 Era uma noite de sexta-feira, lá estávamos nós: Raimundo e eu, velhos amigos de infância, mas agora unidos não pelas doces brincadeiras de crianças, passeios no domingo à tarde ou pelada com a rapaziada, estávamos unidos pela vontade de protestar pelos nossos direitos, Raimundo era incrível. ─ Vamos, Aluísio, o nosso dever nos chama. Descemos a Paulista sentido Casa das Rosas, com nossas inseparáveis mochilas nas costas. A concentração estava marcada para começar lá. Chegando, Raimundo foi ter com conhecidos, que sabíamos que também protestariam naquela noite. Quando o relógio apontou o horário determinado, o som do Hino Nacional começou a soar de um carro, de uma organização ou sindicato, não conseguimos ler a escritura. Neste momento, uma parte dos homens que estavam conosco, decidiram vestir as máscaras que carregavam no pescoço. Raimundo era um homem letrado, tinha agora seus 54 anos, mas fora durante sua juventude, após sair da Faculdade, professor de Educação Moral e Cívica em algumas escolas públicas do bairro. Nunca fora a favor do vandalismo, mas inúmeras vezes me dissera que mataria e morreria por sua nação: o Brasil. Enquanto em minha cabeça corriam lembranças de um passado distante, percebi que Raimundo abria ferozmente sua pequena mochila esgarçada, não via ali mais a figura de meu amigo: suas retinas se escureceram, de forma a refletir o caos do momento, seu suor escorria pela testa, anunciando que não mediria forças para alcançar seus objetivos e sua camisa preta ajudava a florescer em meu peito um mau presságio, um sentimento estranho. ─ Aluísio, vamos. Chegou a hora. ─ Mas meu amigo, vamos acabar nos ferindo, não estou me sentindo bem. Antes que ele pudesse insistir em me convencer, um som ensurdecedor surgiu ao fundo, na esquina mais próxima. Raimundo, com o mundo dentro de si, sumiu perante meus olhos. Quando voltei a vê-lo estava lá, chutando e esmurrando uma parede de vidro, talvez pertencente a um banco ou uma loja de departamento. Concomitante a sua atitude, o som ensurdecedor tomou proporções alarmantes. Agora eu conseguia ver, tratava-se da Força Tática que seguia em nossa direção. ─ Raimundo, meu amigo, dê meia volta, devemos fugir.
Oficina de Redação 2016 ─ Nunca! O meu país verá que um filho teu não foge à luta. Com sangue nos olhos e raiva nas mãos, ele seguiu em frente. Meu amigo começou a correr em direção à tropa. Naquela atitude grosseira e preocupante, não enxergava mais o Raimundo de antes. O que todos víamos a alguns metros de distância era uma verdadeira cena de guerra: munições sendo disparadas, pedras e pedaços de madeira no sentido oposto, barricadas e fogo. Tudo ocorrido sob um céu escuro e esfumaçado. Gritei por duas vezes ao meu amigo, mas ele não me ouviu. Correu linearmente, até ser atingido por uma munição que o derrubou como um pino de boliche. Talvez não fosse fatal se não tivesse atingido a região esquerda do tórax. Senti a dor dele como se fosse em meu peito e a lágrima, que do meu olho, escorreu anunciou o pior. Talvez um fanático nacionalista, black block ou simples manifestante. O que sei é que perdi meu amigo, meu companheiro, meu irmão, ao som do Hino Nacional e banhado por sangue.
Igor Silva Silito
Oficina de Redação 2016
Narração 10 Thiago e eu éramos amigos desde o começo do Ensino Médio. Nossa aproximação não se dava por uma mera coincidência, fazíamos parte de um grupo um pouco isolado do resto do colégio por conta de nossas ideologias. A separação não era muito explícita, porém, para um ambiente de indivíduos de classe média alta, era preferível não se aproximar dos “radicais comunistas” - denominação geralmente usada por um ou outro que se revoltava com nossos discursos nas aulas de História. As manifestações que marcaram os primeiros meses de 2013 fizeram com que nosso grupo se animasse em participar ativamente dos protestos. Após eu e Thiago incentivarmos o resto da turma, fomos todos à Avenida Paulista em um domingo de setembro. Entre retalhos de pano com vinagre e máscaras, outro objeto que se encontrava em nossas mochilas eram as máquinas fotográficas - outro costume que dividíamos: relatar em imagens, acontecimentos que posteriormente eram compartilhados em um grupo colaborativo no Facebook. Os gritos por justiça pareciam fermentar nosso espírito revolucionário. Andávamos todos com cartazes na mão e orquestrávamos o sentimento de mudança. De repente, gritos e barulhos de bombas interromperam nossa marcha. Um grupo disperso de black blocs quebrava vitrines de lojas e a polícia intervirá com tiros e barreiras. No meio da confusão, nosso grupo se dispersou, não conseguia mais ver Thiago, apenas encontrei apoio de três amigos que já se escondiam atrás de uma banca de jornal. Após uma hora e meia fazendo ligações e marcando pontos de encontro, conseguimos nos encontrar - menos Thiago, que não respondera a nenhuma ligação que eu havia feito. Minha preocupação apenas era amenizada quando pensava na possibilidade de ele estar fotografando. Afinal, ele era o tipo de pessoa que não achava que devia dar satisfação de onde estava. Antes que eu fizesse a vigésima ligação, ele apareceu com respiração ofegante e com uma blusa preta nas mãos. Parecia indiferente frente ao seu sumiço e dera a desculpa de ter ido na direção oposta no meio daquela confusão. Não quis julgá-lo, apenas estava magoado com a frieza na qual ele usava para responder à nossa preocupação. Saímos todos em direção ao metrô e antes que pudéssemos cruzar a catraca,um policial arrancou a mala de Thiago e segurou seus braços. Indignado com aquela atitude comecei a questioná-lo dos motivos de tal brutalidade. Não demoraria muito para obter minha resposta: o policial abriu sua mala e começou a jogar ao chão pedaços de madeira, garrafas de vidro e outros tantos objetos que só me faziam lembrar daqueles black blocs. Minha frustração não se dava apenas por eu descobrir que ele estava depredando ao invés de fotografar, mas sim por eu
Oficina de Redação 2016 perceber que um estereótipo podia acabar com toda a admiração que eu cultivava por ele. Afinal de contas eu era mais um integrante da classe média e acreditava que quebrar as vidraças de um banco era pior do que trair uma classe trabalhadora inteira. Talvez fosse muito novo para entender o sistema, talvez apenas te sentia, Thiago.
Felipe Ribeiro Escames
Oficina de Redação 2016
Narração 11 Daniel sempre tivera aquele típico jeito puritano, bem desprezível, inclusive. Mas costumava ser agradável, controlado e bem regrado, no limite do possível para alguém com aquela personalidade. Percebi que os ideais dele contra o Estado eram firmes e sua irritante ideia de perfeita moral parecia ser inabalável. Estudava na mesma sala que ele há três anos, e embora o rapaz sempre tivesse sido de atitudes calmas, algo naquele indivíduo me incomodou, deixou-me com um pé atrás, uma pulga atrás da orelha. Certo dia, precisando de companhia e sem outras opções, vi-me obrigado a convidá-lo para uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus, na Avenida Paulista. Apareceu vestido de preto, com uma máscara amedrontadora e uma mochila nas costas, que despertou meu estranhamento. Não arrisquei perguntar o que ele carregava, lembrando que nossa relação não passava de colegas de sala. Já com os pés na avenida, Daniel começou a tomar atitudes que estavam longe de minha compreensão. Aos poucos, acabou por se esquecer de minha presença e se reuniu com outros trajados exatamente da mesma forma que ele, e, surpreendentemente, iniciou junto deles ações depredatórias contra tudo que pudesse ver pela frente, desde bancos de madeira na rua até vidros de concessionárias de automóveis. Tentei fugir, mas a imensa curiosidade não me deixou. Precisava, por algum motivo, entendê-lo e queria ver o que aconteceria a partir dali. A tropa de choque chegou rapidamente, combatendo todos aqueles criminosos. Tive a sorte de me abrigar em uma espécie de esconderijo, sem perder meu colega de vista. Foi então que fiquei boquiaberto. Vi Daniel aproveitar-se de todo o momento e encher sua mochila de pertences valiosos que encontrava nos resíduos do caos que causaram invadindo lojas e bancos. Onde estava toda aquela moral de Daniel? Seu puritanismo? Era tudo falso! A máscara, o traje, o suposto anonimato em meio à multidão pareceram lhe conferir uma personalidade totalmente diferente, a ideia de que nunca seria punido lhe transformou em outro completamente diferente. Foi então que ele abriu a mochila, retirou uma bomba de fabricação caseira e acionou-a para atirá-la nos policiais. Estava irreconhecível. Mas, por uma coincidência que não compreendi, ele me olhou e parou. Pareceu retornar ao antigo Daniel por uns instantes, ainda com a bomba nas mãos. Subitamente, gritei: - Daniel?! Realmente, parecia ter retornado ao seu caráter anterior, mas foi tarde demais. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma bala atirada pelos policiais atingiu a bomba incendiária que ele segurava, assim seu corpo começou a ser tomado por chamas. Não me lembro de ter tido qualquer reação, entrei em breve estado de choque e
Oficina de Redação 2016 logo fui forçado a correr dali, em meio aos tiros, bombas e violência de confronto entre os policiais e os depredadores. A postura de Daniel, suas atitudes naquele dia, nunca fui capaz de entender. Teria sido ele sempre assim? Ou o calor do momento, suas vestes, aqueles que o rodeavam, teriam conferido-lhe aqueles atos? São perguntas para as quais nunca terei resposta.
Isaías Gonçalves de Moura
Oficina de Redação 2016
Narração 12 A minha neutralidade se manteve após a esbaforida briga do meu pai com meu irmão. As veias pareciam querer se libertar de ambas gargantas, e o motivo: uma manifestação black bloc, a qual Jorginho jurava que iria: - Pai, isso tá em mim! Não vem com essa de querer impor seus valores institucionalizados por cima dos meus! - ele gritava. Minhas ideologias são diferentes das suas, nada que você fizer vai me impedir de defender o que eu acredito - sua convicção era extrema. - Eu te criei tão bem, menino, mesmo com as dificuldades, sempre te dei do bom e do melhor pra isso!? Um vandalozinho!? - Seus gestos serviam também para depreciar o jovem à sua frente, o qual pareceu insultado. - Vai lá então! - esbravejou. - Robozinho da mídia! - se distanciou para seu quarto e o barulho da tranca soou, junto com uma outra série de xingamentos do meu pai. Meu irmão, na verdade, nunca havia demonstrado de maneira tão descarada “esse lado” em casa, talvez seja isso o que levou ainda mais a ser, de fato, uma surpresa tanto para o meu pai quanto para mim. Desconfio que grande parte da influência tenha vindo por meio das redes sociais, da organização, a qual antes não era tão presente nesses movimentos quanto é hoje em dia. Por fim, meu pai foi aos poucos percebendo que discussões não adiantariam em muita coisa, nada, inclusive. Nenhuma força impedia Jorginho de sair de seu quarto equipado de mochila, papelão, máscara e moletom, e todos os gritos soados pelo corredor eram ignorados com sucesso. Mais dias e mais manifestações, meu pai se deu por vencido, “Deve ser só mais uma fase, né?”, ele dizia, fazendo Jorginho revirar os olhos e rebater com: “Ainda te farei entrar em uma das manifestações comigo”. Em plena noite de domingo, meu telefone soou com uma mensagem que dizia: “Seu irmão “tá” em casa?”, hesitei a responder, julgando como um despropósito qualquer. Até que recebi outra com um link do Facebook: “Não é seu irmão?”. Era meu irmão, também eram dois policiais militares o segurando, enquanto outro deles o espancava. Dava também para ouvir alguns gritos horrorizados e agudos, o que fazia da cena, gravada amadoramente, especialmente cruel. Meu irmão morreu. Ele era negro, era ativista. Lutava por causas morais e sociais, suas ideologias eram radicais. Ele não infringiu lei alguma. E não foi respeitado. Rafaela Dare de Oliveira Costa
Oficina de Redação 2016
Narração 13 Conheço Fabiano praticamente desde que ele nasceu. Era meu melhor amigo. Sempre foi aquele que começava as discussões nas aulas de História e Filosofia, aquele que não se calava diante de algo que não concordava. Ele cresceu e sua ânsia pela justiça foi acolhida pela tática black bloc. Participava de diversas manifestações arduamente, havia sido absorvido pelo grupo e por sua ideia radicais. A euforia era tanta que ele não se continha, precisava compartilhar com todos seus ideais, suas experiências, principalmente comigo. Certo dia, Fabiano apareceu completamente transtornado em minha casa, voltava de uma manifestação que reivindicava uma melhoria na Educação. Ele me perguntou se poderia dormir em minha casa. Quando questionei o motivo, ele disse que não aguentaria ficar sozinho com seus pensamentos. Não fiz mais perguntas e o instalei no quarto de hóspedes. Dias depois do acontecido, ele me pediu, com poucas palavras, que o levasse em um lugar e me entregou um papel com um logo de um hospital, onde havia um endereço escrito à mão, com letra tremida. O caminho foi cercado por um silêncio insuportável. Ele parecia distante, por isso não ousei tentar começar uma conversa. Quando chegamos ao destino, ele demorou a sair do carro, como se procurasse forças para se levantar, não parecia em nada com o ‘‘garoto de ferro’’ que eu conhecia. Mas ele levantou e partiu em disparada para uma casinha no meio do morro onde estávamos e tocou a campainha. Uma mulher atendeu e, ao olhar em seus olhos, ele desabou. Chorava descontroladamente. Minutos depois, a primeira palavra saiu: “Desculpe”. Quando conseguiu juntar os últimos pedaços do seu ser, começou a contar à senhora, em meio a inúmeros pedidos de desculpa, que estava próximo e que participara da manifestação que matara seu filho: ‘‘Miguel... Tinha 12 anos... Ele me pediu ajuda no metrô horas antes... Ele tinha se perdido de você... Eu jamais teria levado-o se soubesse o que iria acontecer’’, dizia ele pausadamente e desviando dos olhos da senhora. Depois de milhares de “Me perdoe’’ e “Nos perdoe”, fomos embora. No caminho de volta, me contou que o garotinho, um representante daqueles que ele jurava estar lutando para que pudesse ter um futuro melhor, perguntou-lhe porque usava máscara. Ele então lhe contou sobre suas ideologias e que escondia seu rosto do opressor para que sua presença representasse a de muitos. Disse-me que depois de observar Miguel sendo arrastado e morto pela manifestação percebeu que havia mentido para o menino. Ele disse que a máscara estava ali, na verdade, para esconder a culpa, a vergonha, literalmente mascarar toda a destruição que essa tática causava.
Victória Bircke Gonçalves de Souza
Oficina de Redação 2016
Narração 14 Era um domingo, às quatro da tarde, na Avenida Paulista, quando a vi pela primeira vez: Maria, Fernanda, Júlia, um desses nomes é o dela, mas não faz mais diferença, nunca fez. Ela estava ao meu lado com um cartaz muito bem feito que dizia: “Mais Educação, menos opressão”. Levantava-o com orgulho nos olhos, esperança em seu semblante. Sentimentos que exalavam dela e contagiavam o lugar. Tudo ia bem até que o ambiente ao nosso redor começou a ficar agitado, o que estava calmo, se tornou uma grande confusão. Imediatamente olhei para a garota, foi a antepenúltima vez que a vi. Notei pessoas de preto empurrando todos nós e quando voltei o meu olhar para a menina, ela já não estava mais lá. Demorou dois segundos para eu ir ao chão. Doeu, doeu muito, mas o que mais doeu foi o que eu encontrei lá. Foi a penúltima vez que a vi. Ela contorcia-se de dor, segurava o seu cartaz não tão belo quanto antes, e gritava a cada chute, cada pisada enquanto eu fechava os meus olhos diante da visão de seu sofrimento. Era uma quarta-feira, às seis da tarde, próximo à Avenida Paulista, em um quarto de hospital, quando ouvi, por cerca de trinta segundos, a voz de uma jornalista: - Após três dias internada, jovem não sobrevive a ferimentos causados na tarde de domingo pela confusão entre polícia e manifestantes. A foto dela apareceu seguida de uma legenda com seu nome e idade. Demorou cinco segundos para soar, novamente, a voz da jornalista dizendo: - Agora exibiremos uma reportagem sobre os “black blocs”, grupo que surgiu no final dos anos 1990, questionando a eficácia dos movimentos pacifistas. Esses vândalos já causaram danos irreparáveis na vida de várias pessoas e aterrorizam a população que clama pela ajuda e proteção da polícia militar.
Beatriz Pinheiro Maia
Oficina de Redação 2016
Narração 15 O som de explosivos armados em caixilhos de janelas destruindo estruturas era atordoante. O céu nublado e cinza de fumaça denunciava que aquele não era o lugar mais agradável para estar em um domingo à tarde. Os gritos da revolução ecoavam pelos ouvidos de Karma como o zumbido de uma mosca inconveniente. Em breve, com um disparo, essa confusão se disseminaria. Tudo em nome do progresso. Convenci a mim mesmo que o que eu estava fazendo era certo. Eu estava liderando uma revolução – me encarreguei de conduzir um movimento black bloc para manifestar as angústias do povo. Karma, com seus nove anos de idade, parecia empolgada com a ideia de que seu pai estaria comandando um futuro melhor. É claro que a ideia de ser rodeada pelo grosseiro tilintar da violência não a agradava, mas Karma queria estar presente para fazer a diferença. Sua mãe, minha esposa, havia morrido servindo como militar pelo nosso país sete anos atrás. Agora, éramos apenas Karma e eu. Sempre fomos apenas nós dois, uma dupla imbatível. Nada poderia nos separar. Enquanto estávamos em meio a multidão mascarada, percebi como meu erro havia sido estúpido. Nada estava indo de acordo com o que eu havia planejado. Os manifestantes estavam depredando o cenário como se este fosse o intuito de nossa organização. Levar minha própria filha a um ambiente conflitante em que seu propósito estava sendo substituído por vandalismo foi meu pior e último equívoco. Entretanto, Karma não parecia estar abalada. Ela estava confusa. O áudio estridente de vidro sendo estilhaçado e bombas de contenção explodindo agoniavam sua alma como em uma paixão sem amor. Era visível que, mesmo com sua mentalidade infantil de que essa manifestação serviria apenas para o bem, Karma não estava gostando da hostilidade que nos circundava. Com a bagunça que nos cercava, acabei me separando dela. Em questão de minutos, fui cercado por policiais, sentenciado pelas táticas que organizei em nome da evolução da nossa pátria. Foi quando, de relance, avistei Karma a poucos metros de distância. Ela estava pálida, caindo no chão feito madeira. Tentei reagir, mas não consegui alcançá-la a tempo. Ao me aproximar dela, notei o fluxo de sangue que escorria por sua barriga. Uma bala perdida levou minha doce Karma para longe de mim, da mesma forma que fizera com sua mãe.
Oficina de Redação 2016 Antes de partir, Karma fitou seus olhos soturnos em meus olhos e, com um sorriso meigo, sussurrou em meu ouvido: - Tudo bem, papai. Estarei vendo nosso belo futuro de lá de cima.
Emilly Arão
Oficina de Redação 2016
Narração 16 Era junho quando a população brasileira se revoltou unida contra o governo. Não havia segregação de partidos, ideologias, muito menos de “coxinhas” e “petralhas”. Eram todos contra um. Um governo que ria das nossas caras, zombava, roubava e até queria aumentar 0,20 centavos do “busão”. E lá estávamos nós, o Senhor Fora Temer e eu, acompanhando a manifestação pacífica na Avenida Paulista. O Sr. Fora Temer já tinha um pouco de idade, já havia acompanhado outras manifestações na vida, mas nenhuma como aquela. Seus olhos transbordavam alegria por ter a oportunidade, pelo menos uma vez na vida, de conseguir ver o povo da pátria amada unido em uma só voz. Dê um lado da Avenida Paulista, quase chegando na Consolação, dava para ver de onde estávamos, a Tropa de Choque se organizando com muito barulho por sinal. De outro, uma galera meio “hip” tentando entregar flores brancas, que achávamos que sinalizava um “grito” de paz - até porque tudo ocorria bem. Já estava para ser encerrada a manifestação - que até aquele momento era pacífica - quando o Senhor Fora Temer - o mais velho, porém o menos sábio da galera - gritou para eu conseguir ouvir: que.
- Eles estão vindo com tudo para cima de nós - apontava para a Tropa de Cho-
Naquele instante, não apenas eu, mas todos que estávamos acompanhando, descobriram o real significado do nome “TROPA DE CHOQUE”. Tentávamos correr, porém já havia muitas pessoas caídas no chão devido ao gás de pimenta. O pobre Senhor Fora Temer e eu olhávamos para trás e só víamos um cenário de guerra no qual a Tropa de Choque avançava e ganhava a “luta” desleal. Nesse momento, os black blocs ficaram realmente visíveis no horizonte de toda confusão. Todos mascarados, de preto, como se estivessem vindo de um enterro. Só então, percebemos em que estávamos metidos. Era uma correria, bombas e balas de borracha por todo lado. As lojas de carros já estavam totalmente com as portas destruídas, os bancos sendo roubados e o pior: “bombas caseiras” sendo arremessadas em quem fosse. O Senhor Fora Temer estava em choque, sua face demonstrava medo, insatisfação e um intuição de que a população não seria ouvida mais uma vez pelos corruptos que estavam no poder. Contudo, foi no momento em que vimos um jornalista da Band
Oficina de Redação 2016 sendo atingido pelas bombas dos black blocs, que tivemos a certeza de que estávamos não mais em uma manifestação, e sim em uma guerra daquelas dos filmes de ação. Desnorteado, após ver aquela cena, o Sr.Fora Temer gritava já rouco, pedindo socorro. Sem ao menos me esperar, saiu correndo como eu nunca havia visto na vida. Como se sua juventude tivesse voltado. A guerra já estava ali, carros nas ruas pegando fogo, bandeiras sendo pisadas e o Senhor Fora Temer já longe do meu campo de visão. Ele desapareceu no meio daquele problema. Virando as costas para mim e para todas aquelas pessoas que precisavam de ajuda. Detalhe: o Senhor Fora Temer era médico. Só quando cheguei em casa, pude ver a dimensão do que os black blocs realizaram, tamanha destruição, ódio e um cenário o qual eu jamais havia visto. E o Senhor Fora Temer, bom…. Apenas FORA TEMER mesmo.
Leonardo Lopes Mastini
Oficina de Redação 2016
Narração 17 Tudo começou em 2013, naquelas malditas manifestações que começaram para combater o aumento no preço da passagem de ônibus. Eu estava lá com meu melhor amigo da época, o Guilherme. Gui sempre foi um garoto muito agitado. Desde quando nos conhecemos no primeiro ano do Ensino Médio, ele discutia sobre política e os políticos corruptos, argumentando cada ponto de vista que tinha. Quando soube que aumentariam centavos no preço da passagem do ônibus que pegava todos os dias para ir à faculdade, ficou maluco. Rapidamente soube das manifestações que estavam planejando e se enfiou em todas elas. Arrastando seu melhor amigo junto, claro. Eu estava lá tanto para acompanhar meu amigo, quanto para lutar pelos meus direitos de cidadão. De início, foi uma das coisas mais bonitas que presenciei: tantas pessoas unidas por uma única causa. Fizemos várias amizades no meio da multidão. Mas conforme os dias passavam, a situação ficava cada vez mais complicada. Em algumas ocasiões que não compareci, acompanhei tudo pelos noticiários: ônibus incendiados, lojas sendo assaltadas, pessoas inconscientes e com hematomas por todo o corpo. A partir daí, o “Movimento Black Bloc”, como haviam nos denominado, virou sinônimo de violência e vandalismo. Guilherme sabia da minha irritação, mas me prometeu ser a última vez que iríamos para a rua. Então eu fui. Devia ter ficado em casa estudando para a prova que teria na manhã seguinte. Encontrei-o com seus amigos manifestantes no metrô e fomos a pé até a rua principal da manifestação. No caminho, percebi alguns membros do grupo se dispersar e voltarem correndo minutos depois, suados e com sorrisos maldosos no rosto. Inclusive Guilherme, que sumiu duas vezes. Chegando lá, muitas pessoas corriam em direção oposta a que estávamos seguindo. Pedi para voltarmos. - Relaxa, já vamos embora. Só quero fazer uma coisa antes. - Meu amigo sorriu, apontando para a muralha de policiais vindo em nossa direção. E então ele correu. Partiu para cima deles como uma fera. Acertou alguns homens com o cano de ferro que tinha na mão, mas não tardou até que ele fosse domado pelos policiais.
Oficina de Redação 2016 Eu senti medo, mas não podia deixar meu melhor amigo na mão. Um homem puxou a pistola para assustá-lo, mas, na hora, entendi que iria atirar. Peguei o cano de ferro que estava jogado no chão e acertei na nuca do policial armado. Guilherme ficou bem, saiu apenas com uns hematomas no rosto e barriga. Já eu estou completando seis meses na prisão.
Laura Aquino
Oficina de Redação 2016
Narração 18 Ser mãe é uma tarefa muito mais difícil do que parece. Não pelas fraldas sujas, ou pelas péssimas noites de sono. Ser mãe é difícil porque temos de lidar diariamente com uma personalidade totalmente inconstante. Leonardo, meu filho de 9 anos, sempre foi muito excêntrico. Qualquer coisa que parecesse diferente do usual chamava sua atenção como nenhuma outra. Desde uma bolinha de gude um pouco mais colorida a uma banda tailandesa de jazz, tudo de exótico atraía o meu garotinho. Isso nunca foi um problema, e eu até me sentia especial como mãe, por ter um filho cuja matéria favorita era Química, e não Educação Física. Até que chegou o ano de 2013, e com ele, uma personalidade do meu filho que eu nunca havia tido a oportunidade de conhecer. Era um dia fatídico, nós estávamos sentados no sofá da sala, assistindo ao jornal. Em meio a uma onda de descontentamentos e manifestações populares, todas as notícias eram voltadas à política e às reivindicações. Eu até gostava de me manter antenada, mas telejornais não são tão atrativos para crianças. Nesse quesito, Léo era como todas elas. Tudo estava ocorrendo como de costume, até que algo chamou sua atenção. Antes jogado no sofá, Leonardo ajustou-se firmemente no assento, boquiaberto. Seus olhos não desgrudavam da televisão, e logo eu soube o motivo do espanto. Não era nenhuma banda tailandesa. Eram os chamados “black blocs”, homens que trajavam roupas escuras e cobriam seus rostos. Esse grupo era novidade para todo mundo, era a primeira vez que o Brasil vivenciava algo tão contrastante dos protestos em verde e amarelo. – O que são eles, mãe? – indagou o menor, curioso como nunca. Expliquei cautelosamente, com toda a habilidade comunicativa a mim (e a todas as mães do mundo) concebida. Disse que eram pessoas buscando por melhorias do país, e para que fixasse melhor em sua cabeça ainda em desenvolvimento, mas já muito esperta, ainda complementei com um exemplo: Falei que queriam “ônibus melhores”... E eu não poderia ter dado exemplo pior. A próxima cena mostrou um homem quebrando, com um taco de beisebol, a janela de um ônibus. Neste momento, respirei fundo e preparei-me para o pior. Imaginava que a próxima pergunta seria algo como “é assim que eles querem ônibus melhores?”, mas foi pior. Leonardo ficou em silêncio.
Oficina de Redação 2016 Algumas pessoas podem achar que isso não significa nada, mas para as mães, o silêncio expõe mais do que omite, e aquele silêncio foi sufocante enquanto durou. Pouco tempo depois, o jornal acabou, e nós decidimos ir dormir. No dia seguinte, acordei com um estrondo vindo do quarto de Léo. Não pensei duas vezes, levantei-me e corri para ver o que estava acontecendo. Quanto mais eu estava perto de chegar em seu quarto, mais frequentes os barulhos eram. E aquele barulho de “coisa se despedaçando” não parava nunca. Corri até o fim do corredor e ao chegar em frente à sua porta, parei a mão sobre a maçaneta sobre ínfimos segundos até decidir abri-la. Eis que eu encontro meu filho com uma toalha preta sobre a cabeça, como se fosse um manto. E então, redirecionei o olhar ao motivo do barulho: sua caixa de brinquedos estava todinha destruída. Havia cabeças de bonecos para um lado, carrinhos destroçados para outro: era uma verdadeira zona de guerra. Antes mesmo que eu pudesse sequer esboçar uma reação, ele bradou: – Eu quero brinquedos novos! Porém, nesse momento, eu realmente não precisei esboçar nem uma reação para que ele entendesse o recado. Leonardo ficou sem brinquedos e de castigo por um mês, mas aprendeu duas belas lições: além do clichê de que a violência nunca é solução, também aprendeu a não sair reproduzindo tudo de diferente que vê por aí. Eu, por outro lado, também aprendi que nossos filhos são uma caixinha, ou melhor, uma bomba-relógio de surpresas, e que nem sempre o “diferente” é algo bom.
Carolina Estevam Rodgerio
Oficina de Redação 2016 (Puc-SP/ 2º sem. 2015)
Dossiê Geração X, Y, Z Transformações operadas pelos avanços da tecnologia Prof. Eduardo Fonseca
Durante muito tempo, considerava-se que o período entre duas gerações seria de, aproximadamente, 25 anos. No entanto, as transformações operadas pelos avanços da tecnologia, em todas as áreas, mudaram a vida social. Verificou-se uma “aceleração do tempo”. Surgiram novas “marcas de tempo”, ou seja, eventos e/ou “inventos” que tornaram os intervalos entre as gerações mais curtos. Alguns chegam a calculá-lo em aproximadamente 10 anos. (...) Cada nova geração, com novas “marcas de tempo”, tem demandas específicas que se chocam com instituições como família, escola, empresas, igrejas, estados. Assim, é importante que se tenha em mente que não estamos falando simplesmente de um choque entre indivíduos de gerações diferentes, mas de indivíduos de gerações diferentes e os valores e instituições que representam ou tentam mudar.
GERAÇÃO X De um modo geral, entendemos a Geração X como aquela que reúne indivíduos nascidos entre as décadas de 1960 e 1970. Nos Estados Unidos, o termo Geração X referiu-se, inicialmente, ao período do “baby bust”, ou seja, a geração pós-baby boom, quando as famílias começaram a ter menos filhos. Desenvolvendo um outro olhar para o mundo e seus problemas, preocuparam-se muito mais com questões ambientais e ecológicas. Por não acreditarem na instituição “casamento” como indissolúvel, os índices de divórcio aumentaram drasticamente.
Oficina de Redação 2016 GERAÇÃO Y A geração “Y” ou “millennials”, por ser a geração do milênio, é constituída pelos nascidos nos anos 1980 e início da década de 1990. Duas “marcas de tempo” são importantes para melhor entendimento desta geração: o desenvolvimento tecnológico e a prosperidade econômica. Por terem acompanhado a revolução tecnológica desde cedo, com o uso de computador pessoal, de internet e de celular, tiveram algumas de suas dúvidas solucionadas de forma rápida e individual.
GERAÇÃO Z
Esta geração agrupa os indivíduos nascidos nas décadas de 1990 e 2000 e são os “nativos digitais”, estando muito mais familiarizados com internet, compartilhamento de arquivos, telefones celulares e música. São extremamente conectados.
(Fonseca, Eduardo. Dossiê geração X,Y,Z. Disponível em: http://www.neteducacao.com.br/experiencias-educativas/dossie. Acesso em: 15 maio 2015. Adaptado para fins de vestibular.)
Oficina de Redação 2016
Após a leitura das informações que estão expostas nestas páginas, construa um texto dissertativo-argumentativo. Analise os aspectos que compõem o perfil da Geração Z e aponte as consequências que eles poderão trazer à vida desses jovens, nos próximos anos. Desenvolva de forma clara e coesa os argumentos que fundamentam o seu ponto de vista sobre esse assunto. Dê um título ao seu texto.
Oficina de Redação 2016
Dissertação 1 A mudança de gerações é um fenômeno que tem sido acelerado pelo avanço da tecnologia, passando de intervalos de 25 anos a períodos de 10 anos. A geração Z, mais recente, envolve indivíduos nascidos entre 1990 e 2000 e é caracterizada por sua conexão familiar com a internet. A agilidade na obtenção de informações, assim como a possibilidade de acesso a dados e notícias de lugares distantes são valores que esse fator trouxe à sociedade. Contudo, outras consequências se tornam ainda mais alarmantes, uma vez que essa familiarização tende a deixar os jovens mais dispersos, flexíveis e desumanizar o contato, afetando esse grupo social e psicologicamente. Primeiramente, é necessário desmistificar o fato de que as pessoas da geração Z não socializam. A verdade é que elas o fazem, mas virtualmente, por meio de máquinas. Esse aspecto se torna um problema quando se observa, com o tempo, a perda de relações estabelecidas pessoalmente, já que a ausência de meios eletrônicos revela a dificuldade de interagir fisicamente. Isso desumaniza as interações, feitas agora através de aparelhos, o que pode gerar, por exemplo, comentários raivosos nas redes sociais, uma vez que os usuários estão diante de telas e não de pessoas. Além disso, a conexão com a internet pode causar um aumento no nível de dispersão, fazendo com que essa geração apresente uma dificuldade na concentração, como defende o professor Eduardo Fonseca. Essa consequência é uma questão muito séria, tendo em vista que afeta a leitura e compreensão de textos longos, a realização de questões complexas e o aprendizado em geral. Por último, é necessário destacar a flexibilidade apresentada pela geração em questão, que permite a ela ter uma capacidade maior de adaptação a situações diversas. Em contrapartida, observa-se a exposição frequente a comentários e padrões que podem desencadear transtornos psicossomáticos ou, em outros casos, vaidade não saudável que pode levar ao egocentrismo excessivo. Em suma, as diferenças entre a geração Z e as anteriores serão claras, uma vez que se detenha a aspectos sociais, já que haverá uma deficiência nas relações interpessoais, e a aspectos particulares, como a perda de atenção, ou outros possíveis desvios.
Beatriz Danielle dos Santos
Oficina de Redação 2016
Dissertação 2 A geração Z é constituída pelos indivíduos nascidos entre as décadas 1990 e 2000. Os jovens agrupados nessa geração convivem desde muito cedo com os meios eletrônicos, uma vez que a geração anterior a essa já preferia a vida em meio a tecnologia, garantindo consequências mais negativas do que positivas no decorrer do tempo para esses indivíduos. Por estarem familiarizados com a tecnologia, como apresenta Eduardo Fonseca em “Dossiê geração X, Y, Z”, acabam não desfrutando do que a natureza pode oferecer para um prazer visual e mais importante, emocional. Esses jovens estão à mercê dos meios eletrônicos e cegos para o que existe de vivo ao seu redor. Além disso, trazem consigo e individualismo da geração anterior, logo lidar com a coletividade pode se tornar um problema. Em contrapartida, é através dos meios eletrônicos que eles se socializam como sociedade. O problema mais sério dentre os citados até então é a preocupação demasiada com a vaidade e estética, representando a força da imagem sobre a ideia, como temia Sócrates. Consequência disso é a transformação e formação de seres superficiais em conteúdo, ou seja, não levam em conta caráter, personalidade, nem nenhum outro valor característico, mas sim a fisionomia. Ao contrário da geração X, a qual apresenta uma preocupação maior com questões ambientais, sociais e ecológicas, a fim de resolver os problemas gerados pela ação antrópica na natureza e no próprio valor do ser humano, a geração Z não questiona os acontecimentos da vida, os problemas do local onde vive ou das pessoas a sua volta, caracterizando pessoas superficiais e alienadas. Apesar de aprenderem com mais facilidade, a concentração no que fazem, veem ou escutam já não é executada com tanto sucesso quanto como das gerações anteriores, o desejo pelo o que é urgente e imediato relevou esse problema, o qual pode se agravar com o tempo. Dessa forma, a geração Z se conectou demais à tecnologia e está perdendo seus valores como ser humano.
Vitoria de Matos Silva
Oficina de Redação 2016
Dissertação 3 A geração Z é composta por indivíduos cada vez mais conectados aos meios digitais. Ao traçar o perfil dessa geração, é possível identificar um aumento na dispersão, um maior acesso a informações de variados tipos e uma preocupação estética cada vez mais. Estes são fatores que podem levar a dificuldades cognitivas, ao aumento do repertorio cultual e a doenças de caráter psicológico. De fato, os meios digitais e, principalmente, a internet fazem com que haja maior dificuldade de concentração, tanto pela efemeridade dos conteúdos quanto pela maior possibilidade de conciliação de tarefas. Isso pode trazer problemas cognitivos, como a falta de facilidade de interpretação de textos extensos. Além disso, a vasta quantidade de conteúdos sendo apresentada ao mesmo tempo contribui para a falta de aprofundamento e a, consequente, dificuldade de concentração. Por outro lado, a valorização excessiva de imagens faz com que essa geração se preocupe muito com a questão da beleza, relacionada com o compartilhamento de fotos em redes sociais. Isso está relacionado à noção de narcisismo, admiração da sua própria imagem junto aos padrões de beleza impostos e ao cyberbullying, o que pode fazer com que os jovens adquiram doenças psicológicas, que têm reflexos durante toda a vida, por não serem aceitos. Quando se trata de acesso a informações, os meios digitais representam uma forma de aumento de repertório cultural. Isso pode levar a uma sociedade mais crítica em todos os âmbitos. Desse modo, pode-se falar de um aumento de protestos políticos e, consequentemente, uma melhora governamental. Dessa forma, a geração Z enfrentará problemas relacionados com a questão cognitiva e psicológica já que há uma maior facilidade quanto ao acesso de informações, que nem sempre se transforme em um aumento das capacidades intelectuais, e uma maior preocupação com a vaidade. Porém, se transformará em uma sociedade mais crítica ao contrariar hierarquias e ter acesso a um maior repertório cultural.
Giovanna Pozzi Vedovate
Oficina de Redação 2016
Dissertação 4 É fato que cada geração tem certas características gerais, tanto qualidades como defeitos, muitas vezes influenciados pelo meio. Com o desenvolvimento dos meios tecnológicos e digitais, as pessoas da geração Y, por exemplo, nascidas entre 1979 e 1994, cresceram com marcas de individualismo, imediatismo e adaptação à tecnologia. Então surge a questão de como será a nova geração, a Z, com pessoas nascidas a partir de 1990 e 2000, e as consequências desses aspectos. Essa geração nos próximos anos, terá como consequência de suas características o egocentrismo, a superficialidade intelectual e dificuldade em ser contrariado. Mesmo que seja a geração com mais acesso à informação rápida, ilimitada e barata. Isto ocorre porque muitos jovens da geração Z, exatamente pelo acesso à informação na internet, não aprofundam seu conhecimento, além de não se interessarem muito com a leitura de livros. Além disso, eles também tem acesso a muitas informações falsas ou sem embasamento, fazendo-os criar um falso e superficial intelectualidade. Outro fato é o fenômeno das redes sociais como Facebook, Instagram e várias outras que criam uma noção distorcida do mundo, mostrando uma visão superficial da vida das pessoas, pois valoriza de forma excessiva a beleza e faz com que muitos se tornem vaidosos, a ponto de recorrer a cirurgias plásticas e dietas impossíveis para obter um corpo belo. Outro fenômeno é a selfie, termo em inglês que se refere a uma foto de si mesmo, o que tem sido algo cada vez mais comum e mostra um narcisismo que só era visto nos retratos de reis europeus do século XVII. Uma das mais graves características da geração Z é a negação ou dificuldade em ser contrariado. Isso ocorre pois a ignorância e o egocentrismo deixam as pessoas tão confortáveis e convictas, que quando contrariadas, não aceitam uma opinião diferente da sua. Portanto, as consequências de uma geração nascida com a Internet e as redes sociais serão a superficialidade, o egocentrismo e o excesso de convicção que não deixam as pessoa serem contrariadas. O que pode nos fazer voltar para a Idade Média, quando se alguém dissesse que a Terra não era o centro do universo, era jogado na fogueira, neste caso, a Terra são os jovens da geração Z.
Daniel Roberto Morais Batalha
Oficina de Redação 2016
Dissertação 5 A geração Z, composta por pessoas nascidas a partir de 1990, apresenta características próprias, que são comuns aos membros do grupo. Porém, essas características e costumes podem gerar consequências negativas que afetarão a vida desses jovens a longo prazo. O aspecto mais evidente é o frequente uso da tecnologia, que apresenta a vantagem de possibilitar o acesso rápido a informações específicas de qualquer lugar, seja para uma pesquisa escolar ou para a consulta de um processo judicial. Contudo, esse costume em excesso pode acarretar em diversos danos à saúde, como problemas de visão por conta da exposição demasiada à luz emitida pelos aparelhos eletrônicos. Além disso, pode resultar na falta de concentração em atividades do dia a dia, na escola e/ou no trabalho. Outra característica desse grupo é a preocupação exagerada com a aparência, vinda da necessidade de ser considerado bonito pela sociedade, cada vez mais reforçada pelas redes sociais e pela mídia. Essa ideia é expressa pelo fenômeno atual das selfies, que exaltam o egocentrismo, e os padrões impostos pela rede midiática que resultam em uma vontade extrema de se encaixar neles. Consequências graves dessa busca pela beleza são procedimentos invasivos e perigosos ao corpo, além de problemas psicossomáticos, como depressão, anorexia, bulimia, etc. Diante da informação de que a cada dia surgirão novas tecnologias e que retirálas dos jovens é impossível e ineficaz, conclui-se que desde pequenas, as crianças devem aprender a usá-las sem excesso, equilibrando-as com as relações sociais. Deve-se também diminuir a imposição de padrões de beleza, que em muitas vezes são inatingíveis. Dessa forma, o futuro da geração Z terá menos consequências negativas.
Beatriz Gonsalves Motta
Oficina de Redação 2016