Oficina de Redação 2015

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Oficina de Redação 2015

Apresentação É com grande satisfação que apresentamos a versão 2015 do caderno da Oficina de Redação que traz algumas das redações acima da média, produzidas por nossos alunos. Em um mundo no qual se faz cada vez mais necessária a exposição e defesa de ideias, o trabalho com os gêneros argumentativos torna-se imprescindível. Assim, além das dissertações dos 3ºs anos, neste ano, transcrevemos artigos de opinião dos 2ºs anos do Ensino Médio. Aos alunos 3ºs anos, foi dada a tarefa de desenvolver uma proposta da Fuvest sobre a condição do idoso na contemporaneidade. A polêmica declaração do ministro de finanças do Japão – “os velhos deveriam ‘apressar-se a morrer’, para aliviar a pressão que suas despesas médicas exercem sobre o Estado” – exigia uma reflexão de cunho ético, cultural, social e econômico. Já aos 2ºs anos, foi imposto o desafio de posicionar-se sobre a necessidade de ser famoso. Tratava-se de uma proposta da Unesp em que, na coletânea, encontravam-se autores como Carlos Drummond de Andrade, Luís Vaz de Camões e Fernando Pessoa – “um ‘homem de gênio desconhecido’ é o mais belo de todos os destinos”, escreveria este último. Entendemos que as redações que seguem – por terem vencido esses dois desafios – são uma amostra significativa do contínuo trabalho com a linguagem que, em nosso colégio, inicia-se de maneira enfática nos primeiros anos da vida escolar e recebe lapidações no Ensino Médio. Para finalizar, citamos o escritor britânico Martin Amis: “Escrever é rua de mão dupla. O que acontece na outra pista é a leitura”. Esta publicação, com a escrita dos nossos alunos, é um convite para que você se aventure na outra mão. Boa leitura!

Daniele Onodera Prof.ª de Redação do Ensino Médio


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(Fuvest/2014) Leia o seguinte extrato de uma reportagem do jornal inglês The Guardian, de 22 de janeiro de 2013, para em seguida atender ao que se pede: O ministro de finanças do Japão, Taro Aso, disse na segunda-feira (dia 21) que os velhos deveriam “apressar-se a morrer”, para aliviar a pressão que suas despesas médicas exercem sobre o Estado. “Deus nos livre de uma situação em que você é forçado a viver quando você quer morrer. Eu acordaria me sentindo cada vez pior se soubesse que o tratamento é todo pago pelo governo”, disse ele durante uma reunião do conselho nacional a respeito das reformas na seguridade social. “O problema não será resolvido, a menos que você permita que eles se apressem a morrer”. Os comentários de Aso são suscetíveis de causar ofensa no Japão, onde quase um quarto da população de 128 milhões tem mais de 60 anos. A proporção deve atingir 40% nos próximos 50 anos. Aso, de 72 anos de idade, que tem funções de vice-primeiro-ministro, disse que iria recusar os cuidados de fim de vida. “Eu não preciso desse tipo de atendimento”, declarou ele em comentários citados pela imprensa local, acrescentando que havia redigido uma nota instruindo sua família a negar-lhe tratamento médico para prolongar a vida. Para maior agravo, ele chamou de “pessoas-tubo” os pacientes idosos que já não conseguem se alimentar sozinhos. O ministério da saúde e do bem-estar, acrescentou, está “bem consciente de que custa várias dezenas de milhões de ienes” por mês, o tratamento de um único doente em fase final de vida. Mais tarde, Aso tentou explicar seus comentários. Ele reconheceu que sua linguagem fora “inapropriada” em um fórum público e insistiu que expressara apenas sua preferência pessoal. “Eu disse o que eu, pessoalmente, penso, não o que o sistema de assistência médica a idosos deve ser”, declarou ele a jornalistas. Não foi a primeira vez que Aso, um dos mais ricos políticos do Japão, questionou o dever do Estado para com sua grande população idosa. Anteriormente, em um encontro de economistas, ele já dissera: “Por que eu deveria pagar por pessoas que apenas comem e bebem e não fazem nenhum esforço? Eu faço caminhadas todos os dias, além de muitas outras coisas, e estou pagando mais impostos”. (theguardian.com, Tuesday, 22 January 2013. Traduzido e adaptado.)


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PROPOSTA DE REDAÇÃO Considere as opiniões atribuídas ao referido político japonês, tendo em conta que elas possuem implicações éticas, culturais, sociais e econômicas capazes de suscitar questões de várias ordens: essas opiniões são tão raras ou isoladas quanto podem parecer? O que as motiva? O que elas dizem sobre as sociedades contemporâneas? Opiniões desse teor seriam possíveis no contexto brasileiro? Como as jovens gerações encaram os idosos? Escolhendo, entre os diversos aspectos do tema, os que você considerar mais relevantes, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, na qual você avalie as posições do citado ministro.


Oficina de Redação 2015 Texto dissertativo - Redação 1

O envelhecimento do planeta No dia 21 de janeiro de 2013, o ministro de finanças do Japão, Taro Aso, disse, em uma reunião do conselho nacional a respeito das reformas na seguridade social, que os velhos deveriam “apressar-se a morrer”, explicando que os gastos do Estado com a população idosa eram muito elevados. Esse discurso revela a frieza e o egoísmo que trouxe o advento da cultura capitalista globalizada, em que um indivíduo somente é valorizado se trabalha e contribui para a produção de bens de consumo e lucros empresariais. Estudos e pesquisas já comprovaram a existência das chamadas transições demográficas pelas quais um país passa por conta de seu desenvolvimento tecnológico e econômico. A quarta e última fase da transição demográfica é a vivenciada por grande parte, se não todos, os países desenvolvidos, dentre os quais se encontra o Japão. Isso quer dizer que a parcela idosa da população é alta, situação decorrida justamente da expansão da ética de produção capitalista que, com suas indústrias e tecnologias, além do tempo que requer, elevou a expectativa de vida e diminuiu as taxas de fecundidade. Assim, é contraditório querer lutar contra algo que está sendo gerado constantemente pelo sistema, como Taro Aso queria. Além disso, a corrida desenvolvimentista gerada pela concorrência econômica entre os países faz com que as previsões sejam de aumento cada vez maior na taxa de idosos, o que implica no envelhecimento da população mundial. No Japão, por exemplo, a previsão é de que, em 50 anos, 40% da população será composta por pessoas acima de 60 anos de idade, o que aumentará os gastos do Estado com programas de previdência e assistência social. Contudo, como para algumas instituições e corporações, sendo o Estado uma delas, apenas números e estatísticas de elevação dos lucros importam, nota-se de forma implícita o desejo de diminuir gastos públicos e manter grande parte da população ativa para gerar a tão esperada mais-valia no fim de cada dia de trabalho. “O trabalho dignifica o homem”, já diziam os calvinistas com sua ética protestante, que foi muito bem incorporada pelas elites sociais da época e por aquelas que viriam em seguida. Logo, se um idoso não trabalha, dentro dessa lógica egoísta, ele é considerado um fardo para a sociedade. Esquecem-se os grandes patrões, e também o ministro de finanças do Japão, que os idosos prestaram durante muito tempo de suas vidas suas forças de trabalho, além do fato de que essa população possui uma gama de conhecimento cultural, ético, social e econômico, que a coloca numa posição de contribuição ainda melhor: a de solucionar os problemas das sociedades atuais. É fato, portanto, que a ética protestante prevalece até os dias atuais. A exemplo disso, tem-se o discurso frio de Taro Aso, mostrando que a valorização do homem se dá somente através de seu trabalho contínuo. Caso contrário, deve “apressar-se a morrer”. (Matheus Henrique Carvalho dos Santos)


Oficina de Redação 2015 Texto dissertativo - Redação 2

Eterno carpe diem No conto “Peter Pan”, é mostrado um local almejado por todos os homens, no qual o tempo não passa e, portanto, não se envelhece: a Terra do Nunca. A valorização exacerbada da juventude em nossa sociedade, assim como no conto, atrela ao idoso à imagem de fardo social e ignora todos os seus direitos de cidadão pelo fato dele não contribuir ativamente na economia. Taro Aso, ministro de finanças do Japão, afirmou que as despesas médicas de idosos exercem grande pressão sobre os gastos do Estado. Este tipo de raciocínio converge com o de grande parte da população, não só japonesa como do mundo. A partir do momento em que um cidadão aposenta-se e deixa de fazer parte da População Economicamente Ativa, a filosofia liberalista de não intervenção estatal passa a ser imposta em questões sociais ao invés de econômicas pelos jovens. Marx dizia que todo o capital provinha da exploração do valor de mercado do trabalhador. A partir dessa lógica, seria incoerente qualquer crítica ao auxílio estatal para idosos, já que eles contribuíram para a formação de riquezas e desenvolvimento econômico do país durante décadas; gastos médicos não são nada comparados a tudo que os cidadãos de terceira idade proporcionaram. A linha de pensamento “liberal” dos críticos ao auxílio aos idosos é, portanto, completamente falha. A proporção de idosos no Japão atingirá 40% nos próximos 50 anos, e isto é uma tendência mundial que inclusive já se iniciou no Brasil. Para que não haja um caos social com o envelhecimento da população, é mais que obrigatória a valorização da imagem do idoso como um cidadão que já contribuiu o máximo que pôde com a sociedade e tem direito a repouso e serenidade durante o restante da vida. Em uma sociedade como a nossa, em que até mesmo um idoso desvaloriza o grupo ao qual pertence, não é surpresa que os jovens vejam essa parcela carente da população como um fardo social e queiram diminuir seus direitos civis. O que Taro Aso ignora e a massa parece não perceber, é o fato de que não existe Terra do Nunca.

(Luiz Athayde Barberino Parreira)


Oficina de Redação 2015 Texto dissertativo - Redação 3

Falta de reconhecimento social Uma reportagem feita pelo jornal inglês “The Guardian”, em 2013, deixou clara a posição do ministro de finanças do Japão, Taro Aso, a respeito da população idosa, que foi considerada por ele um grupo sem finalidade social e que só gera despesas ao Estado, que tem que pagar por seus tratamentos médicos. Esse tipo de opinião, que revela um grande preconceito, tende a ser mascarada, mas, não raramente, existe, e revela que a sociedade contemporânea tem desvalorizado cada vez mais esse grupo, evidenciando seu egoísmo e interesse pessoal. O século XXl tem sido caracterizado por um envelhecimento da população no mundo, inclusive no Brasil, que possui como uma de suas causas os avanços da medicina. Esse fato deveria ser enxergado como positivo, já que indica uma melhora na qualidade de vida das pessoas, o que possibilitou o aumento da expectativa de vida. Porém, a população em idade ativa tem considerado esse fato ruim, argumentando que trabalha para manter um grupo social que não exerce nenhuma função econômica. Essas pessoas não levam em consideração, contudo, que os idosos tiveram que prestar trinta anos de serviço ou atingir a idade dos 65 anos para conquistar essa vida, apenas teoricamente, fácil e livre de trabalho, além de que o valor da aposentadoria no Brasil não é muito alto, o que torna esse argumento ingênuo. Por fim, a população lutou, e ainda luta, por melhorias na saúde, e, quando os avanços da medicina estão em progresso, essas mesmas pessoas reclamam da crescente população idosa. Mas qual a finalidade da medicina se não melhorar a qualidade de vida e prolongá-la? A sociedade contemporânea acredita também que a população idosa não possui mais nada a oferecer de útil, já que considera apenas o aspecto econômico. Culturalmente, porém, os idosos são fontes ricas, pois viveram em períodos que a população mais jovem só conhece através de livros. Assim, os idosos podem oferecer informações valiosas que nos façam entender melhor o presente e o passado, como é o caso dos imigrantes europeus que vieram ao Brasil durante as duas Grandes Guerras Mundiais, e podem contar tanto fatos de seu país de origem, como fatos da própria guerra e as condições de vida na época. Monteiro Lobato, ao retratar Dona Benta como a avó que conta histórias aos netos no Sítio do Pica-Pau Amarelo, evidencia o quão sábios os idosos podem ser e o quanto eles podem ensinar. Por fim, a sociedade mostra-se muito interesseira e egoísta ao utilizar os idosos quando lhe convém, como na declaração do imposto de renda, em que colocam essas pessoas como dependentes financeiros, mentindo para pagar menos impostos, ou então quando passam a defender os assentos e filas preferenciais apenas quando estão prestes a atingir os 60 anos. Além disso, as famílias comumente abandonam os idosos em asilos, nem sempre sob bons cuidados, esperando o momento em que ele deixe de ser um estorvo.


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A sociedade contemporânea tem apresentado uma crescente decadência moral, visando seu próprio bem-estar e esquecendo a gratidão que deveria ter com a população idosa que permitiu que ela chegasse onde chegou, através de suas lutas históricas que possibilitaram a mudança progressiva do mundo. Portanto, tratar essa população dessa forma preconceituosa é não apenas egoísta, mas também desumano.

(Natalia Ferreira de Sá)


Oficina de Redação 2015 Texto dissertativo - Redação 4

O descarte do velho O filme “Antes de partir” narra a história de dois idosos que elaboram uma lista com tópicos de coisas que devem ser feitas antes deles morrerem, pois a fase da vida em que se encontram é única para realizar esses feitos e poderem partir com sensação de plenitude e felicidade. Assim, a terceira idade é o momento em que o homem tem a oportunidade de finalmente ser recompensado através da aposentadoria por todos os seus anos de trabalho. No entanto, como perfil mundial está se tornando exclusivamente idoso, dissemina-se cada vez mais a desvalorização da vida em prol da economia, estabelecendo de maneira fria, um preço à vida humana. Com o mundo cada vez mais imediatista, as tecnologias como celulares e computadores estão enraizados na sociedade contemporânea, com o caráter de mudança a todo instante, possibilitando descartes rápidos no momento em que eles não são mais vistos como úteis. Essa tendência está sendo transferida à vida humana, assim, na terceira idade em que o indivíduo não é mais economicamente ativo, há a frieza de pensar em descartá-lo, pois seu valor não é compatível com seus gastos. Esse raciocínio se estabelece mundialmente, no Brasil, por exemplo, o tempo mínimo necessário de trabalho para se aposentar está aumentando gradativamente por conta do déficit negativo causado pela população não ativa, por isso o idoso é visto como um peso na sociedade e deve ser descartado o quanto antes. O termo “descarte” parece ser incomum quando nos referimos ao ser vivo, contudo, o ministro japonês Taro Aso proferiu discursos que o justificam – “que os velhos deveriam ‘apressar-se ao morrer’, para aliviar as despesas médicas que exercem sobre o Estado” ou ainda “ porque eu deveria pagar por pessoas que só comem e bebem?”. O ministro como figura pública apresenta esses ideais que são refletidos em sociedades que desvalorizam a própria vida, desconsiderando todo o esforço que os indivíduos fizeram, estabelecendo o verdadeiro preço da vida a partir de tratamentos médicos que o governo deverá financiar. Conforme o ser humano exige cada vez mais viver num mundo acelerado, com a necessidade de relações instantâneas, envelhecer torna-se algo apavorante. Assim, evitando essa fase da vida, evita-se também sofrer as consequências dos desprezos. A frieza humana atingiu um patamar em que as vidas valem menos que um plano de saúde e as pessoas são vistas como números pelo próprio Estado, que promove discursos de ódio, optando por deletar o indivíduo do sistema quando for mais conveniente.

(Camila Araújo Mazzini)


Oficina de Redação 2015 Texto dissertativo - Redação 5

Idosos, a caixinha de memória cultural O ministro de finanças do Japão, Taro Aso, deu uma declaração questionando: “Por que eu deveria pagar por pessoas que apenas comem e bebem e não fazem nenhum esforço?”. Essa fala demonstra a desvalorização com a parte da população nessa faixa etária na sociedade atual, fato que não deveria acontecer, porque os idosos representam muito mais do que apenas gerar mais gastos ao governo. Com o advento das inovações tecnológicas e a internet, as informações ficam disponíveis para todos, assim dando a sensação aos jovens de que eles sabem sobre tudo, e os idosos, que antes eram valorizados por transmitir experiências, são tidos como apêndice da sociedade. Além disso, a ideia do “Tempo é dinheiro”, disseminado pelo fordismo, faz com que apenas se valorize aquilo que gera lucro para o Estado, sendo esse, outro motivo dessa desvalorização. Apesar disso, não se considera que as informações como experiências de vida, acontecimentos marcantes e conselhos, muitas vezes não estão disponíveis online, mas poderiam ser úteis para a vivência. E essas ideias são transmitidas pelos idosos naquelas histórias dos avós nos domingos à tarde. O fato dos gregos antes de tomarem qualquer decisão ou agir de qualquer maneira, irem antes consultar os anciãos, demonstra quanto essa sabedoria dos mais velhos é importante. Ademais, são eles os responsáveis por transmitir a cultura de cada povo para as gerações seguintes através do ensinamento das tradições, assim mantendo a identidade cultural de cada grupo étnico. Essa situação está muito presente na cultura japonesa, a qual é repleta de tradições, como, por exemplo, o ato de cuidar dos espíritos dos antepassados. Se a pessoa mais velha não ensinar às outras gerações essa tradição repleta de carga afetiva e de união familiar, tudo isso acaba sendo esquecido, e como a identidade das pessoas é formada também pela cultura, consequentemente, essas perdem parte do que são e representam no mundo. A sociedade avançou de uma maneira, que o lucro é mais valorizado do que o conhecimento, a cultura e a experiência. Assim, consequentemente, ocorre a desvalorização do idoso, que tem muitas informações e histórias a oferecer, que possuem grande importância para manter a identidade cultural e transmitir conhecimentos que não se encontram em qualquer “site online”. Portanto, deveria ocorrer uma maior valorização desses e não apenas desejar que sua morte seja rápida, assim como disse o ministro japonês.

(Marina Massae Toma)


Oficina de Redação 2015 Texto dissertativo - Redação 6

Desvalorização do idoso Durante a Alemanha nazista, todos os prisioneiros eram levados aos campos de concentração, onde eram subdivididos. Algumas crianças e homens eram levados aos campos de trabalho e exerciam funções na agricultura. Mulheres geralmente trabalhavam em manufaturas. Por fim, grande parte dos idosos eram levados diretamente às câmaras de gás, por não representarem para os nazistas nenhuma função. Isso nos mostra que em muitos períodos, o idoso foi claramente desvalorizado por não ter mais ao longo do tempo, certas habilidades que antes possuía. Ainda hoje é notória essa desvalorização, tanto no pensamento moderno, quanto nas práticas sociais e governamentais. Um caso ocorrido em 2013, em que o ministro de finanças do Japão alega que a morte de idosos deveria ser apressada para menor gasto governamental com despesas médicas, mostra como é comum esse pensamento de minimização ao idoso. Este perde seu valor social e todos os seus feitos são diminuídos, por não apresentarem mais participação ativa na economia ou em funções cotidianas. No Brasil, esse pensamento também existe, baseando-se no fato de contarmos com uma baixa aposentadoria e, de acordo com o IBGE, termos uma população que está com expectativa de vida cada vez maior, que irá chegar a 85 anos nas próximas décadas. Uma melhora deveria ser feita, visto que a população tende a envelhecer. Esse pensamento atual nos mostra como alguns valores se inverteram. O jovem e adulto contemporâneo acredita ser superior ao idoso, por ter mais tempo e disposição a contribuir. Outro fator não menos importante, é o de se autodenominarem melhores por estarem muitas vezes à frente na informação e tecnologia atual. Podemos perceber que desde muito tempo, o homem desvaloriza o idoso por diversos motivos. Mas não devem ser esquecidas as contribuições já feitas por estes, que são a base dos jovens e adultos que hoje somos e não apenas resumi-los a um meio para o capital.

(Adriana Akemy Hatano)


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(UNESP - ADAPTADA) Texto I Crônica da vida que passa Às vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles toda a tristeza da celebridade. A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma delicada. É um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de parentesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se torna célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações — ridiculamente humanas às vezes — que ele quereria invisíveis, côa-as a lente da celebridade para espetaculosas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade. Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradição. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as desvaloriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou se desdiz. E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos. Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que “homem de gênio desconhecido” é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos. (FERNANDO PESSOA. Páginas íntimas e de autointerpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.], p. 66-67.)

Texto II Fragmento de entrevista do ator Pedro Cardoso (1962-) à revista IstoéGENTE: IstoéGENTE – Encontrou sucesso no teatro e ficou famoso na tevê. É bom ser famoso? Pedro Cardoso – Gosto do sucesso, não gosto da fama. Quando minha imagem está vinculada ao meu trabalho, não há problema. Do contrário, é incômodo para a individualidade. Tenho horror a área vip. Você já me viu em algum lugar? Não, né? Eu não vou. Compro ingresso, entro na fila, vou onde todos vão. É ridículo ir a lugares vip. Num país como o Brasil, é falta de educação. (www.terra.com.br/istoegente/290/entrevista/index.htm. Acesso: 11.09.2007.)


Oficina de Redação 2015 Texto III Fragmento de entrevista do ator Pedro Cardoso (1962-) à revista IstoéGENTE:

Fama Ninguém se espante com o diálogo que mantive com um bebê de 15 dias de existência. Hoje, a comunicação não conhece fronteiras espaciais ou etárias. O bebê não fala o português de Portugal nem o português brasileiro, ensinado pelo saudoso professor Stanislaw Ponte Preta. Mas fala a seu modo, desde que se saiba interrogá-lo, e eu, não é por me gabar, tenho meus macetes. Perguntei-lhe de saída: — Então, satisfeita de vir ao mundo? Respondeu-me com rabugem, em termos que traduzirei assim: — Como posso estar satisfeita, se ainda bem não cheguei a este lugar, já me televisionaram e estão me entrevistando? — É a era tecnológico-aldeiglobal-consumística, minha querida. Desde o primeiro minuto de vida extra-uterina você participa da sociedade eletrônico-difusoro-cósmica ilimitada. — É, estou vendo, mas não acho graça nenhuma. — Não é para achar graça nem desgraça, é para se integrar, entende? Você tem de aderir ao processo. O processo é irreversível. Melhor você não dar uma de contestadora, e entrar na jogada. — Mas eu nem tive tempo de contestar, me botaram diante das câmaras, fechei os olhos para não me ofuscar com aquelas luzes, chorei em sinal de protesto, riram de mim, e agora, pelo que vejo, estou em todas. — De fato. Seu índice de publicidade é um dos mais altos. Em duas semanas você varou o Brasil, fez concorrência a Elizabeth Taylor, aos terroristas palestinos e aos não palestinos, governos que caem, governos que sobem, técnicas de exorcismo... — E daí? Pensa que o meu Ibope me dá prazer? — Ibope não dá prazer. Dá dividendos. Você tem o futuro garantido, se for sempre dócil às exigências do sistema. Não deve bobear. Esteja sempre perto de uma objetiva, um gravador, uma passarela. — Preferia viver a vida, com a sensação de ter uma vida realmente minha. — Quem tem isso hoje em dia, meus-encantos? Só os loucos, isso mesmo apenas certos loucos, não marcados pela psicose de governar o mundo. Loucos mansos, vamos dizer assim. São raros, a maioria é agitada, e não só recebe a influência da comunicação delirante como, por sua vez, influi sobre esta, aumentando-lhe o delírio. De sorte que é bom você renunciar ao ideal individualista e anacrônico. Vida particular da gente já era. Agora vivemos a vida dos outros, em bloco, ou melhor, a de ninguém. (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. De notícias & não notícias faz-se a crônica – histórias, diálogos, divagações. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1975, p. 133-134.)


Oficina de Redação 2015 Texto IV Fragmento de fala do velho do Restelo, do canto IV de Os Lusíadas de Luís de Camões (1525-1580): “Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C’uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles exp’rimentas!” (LUÍS DE CAMÕES. Os Lusíadas, canto IV, 95.)

PROPOSTA DE REDAÇÃO Celebridade, renome, nomeada, notoriedade, conceito, reputação, prestígio, glória, fama. São numerosas as palavras para rotular um mesmo status social: ser conhecido, ser reconhecido, ter nome, ter renome, ter nomeada, ter prestígio, ter glória, ser célebre, ser famoso, ser glorioso, ser conhecido por todas as pessoas no mundo todo. Os artistas antigos representavam alegoricamente a Fama como uma deusa dotada de cem bocas e cem orelhas, com olhos que surgiam por baixo de suas asas. Consta que o obscuro Efésio Róstrato, no afã de imortalizar seu nome, incendiou em 356 a.C. o grande templo de Ártemis, considerado uma das maravilhas do mundo antigo. Mas é preciso buscar a fama a qualquer custo? É vital para um homem ser conhecido/reconhecido por todos? Artistas, atletas, escritores, pensadores, intelectuais de modo geral não têm a mesma resposta para essas indagações. Considerando os textos da coletânea, bem como estas questões, redija um ARTIGO DE OPINIÃO acerca do seguinte questionamento: É PRECISO SER FAMOSO?


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 1

Seremos sempre anônimos Há aqueles que têm medo de serem esquecidos, que genuinamente acreditam que só vivemos nossas vidas plenamente se deixarmos um legado para que todos nos reconheçam. Mas, estas pessoas deveriam rever o que “ser esquecido” significa, afinal, seria bem melhor receber a sincera gratidão de alguns, aos quais fomos realmente importantes, ou o reconhecimento de muitos, que nem sequer nos conhecem? A tão cobiçada fama vem se tornando cada vez mais disputada. Muitos acham que o status de celebridade é o ponto máximo que se pode alcançar, e a mídia reforça isso transmitindo a errônea ideia de que todas as pessoas públicas têm uma vida perfeita. Entretanto, apesar dos benefícios atrelados ao reconhecimento, isto está longe da verdade. Não apenas luxos, vantagens e dinheiro são consequências da fama, mas também a invasão de privacidade e o assédio constante, além da perda do direito de ir e vir sem ser incomodado e o fato de ter que enfrentar as interpretações erradas ou falsas notícias que são divulgadas nos meio de comunicação. Nosso próprio sistema capitalista faz com que acreditemos na ideia de que a vida nos meios midiáticos é perfeita. Somos, desde pequenos, levados a crer que é preciso se esforçar ao máximo para acumular riquezas e ascender socialmente. Neste aspecto, alcançar a fama seria a maneira mais fácil de conseguir isso. A eterna busca por ser o melhor e o mais prestigiado já se tornou natural do ser humano. Hoje, justamente porque fama e notoriedade não são mais sinônimos, adentrar ao universo das celebridades parece cada vez mais fácil. Para ser reconhecido pela grande massa, não é mais preciso ser alguém renomado em seu meio, mas, mesmo assim, ser famoso não perdeu o seu valor. Uma mulher pode ser nacionalmente famosa por sua beleza, por exemplo, mas isso não significa que ela exerça algum trabalho digno de admiração. Se enxergarmos a fama pelos olhos dos próprios famosos, entenderemos que por melhores que sejam os grandes momentos de uma vida gloriosa, estes não substituem os prazeres de uma vida simples. É importante lembrarmos que mesmo que nossa morte seja anunciada na televisão e todos compareçam ao nosso enterro, seremos só mais um corpo em um cemitério cheio de anônimos. (Lorena Alves Nogueira Costa)


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 2

Brilhe por fora, morra por dentro Há alguns meses, o mundo inteiro acompanhou o fim da gestação de Kate Middleton, as pessoas saíam às ruas dando palpites sobre o sexo do bebê. Quando finalmente souberam, viam-se pelas ruas da Inglaterra flores e faixas de boas vindas à princesinha. Quando esta chegou ao mundo, a preocupação era quanto ao nome da nova integrante da família real britânica. A fama faz com que a vida de fetos já seja vigiada, escrutinada e transparente ao mundo. Já é possível imaginar como será a vida da pobre Diana, pelos paparazzis que seu irmãozinho enfrenta desde cedo no playground. Eles não têm escolha. E aqueles que têm? Muitos buscam a fama. Na verdade, a grande maioria, que não alcançará esse sonho. Ainda bem. A sede por “querer dar nas vistas e nos ouvidos”, como diria Fernando Pessoa, inicia-se cedo, na escola. Quem nunca sentiu uma pontinha de desgosto por não ser conhecido, falado, por ser invisível? Existem livros para pré-adolescentes que dão dicas para ser popular. É o que todos buscam. Contudo, já teve a oportunidade de conversar com as pessoas que têm essa popularidade toda sobre como se sentem? Muitos já sentiram a dor que traz. Não se tem privacidade, a vida dessas pessoas é exposta. Se cometerem algum erro ou houver algum desentendimento todos ficarão sabendo, e o pior, sabendo verdades distorcidas. Com as portas e janelas de suas vidas abertas, a autodescoberta e o desenvolvimento pessoal são afetados. A formação da pessoa é abalada. Tudo isso acontece na escola. Imagine quando se tem alcance nacional ou global. Fazer sucesso e ter fama são coisas diferentes. O primeiro relaciona-se com reconhecimento, o segundo, com ter a vida pessoal exposta. O sistema está interessado na fama, é com ela que se ganha mais Ibope e se aumenta o cachê. Depois que a fama acaba, “tudo que resta é silêncio”. Com ela, vive-se a vida de todos e a de ninguém. É “vã cobiça”, pura vaidade.

(Camila Vieira de Medeiros)


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 3

Fama: calcanhar de Aquiles Não faltam na era moderna objetos de admiração. Com o advento da era digital, ascendemos novas estrelas e vemos outras perderem seu brilho. Viralizamos conteúdo e presenteamos com reconhecimento os que todos já conhecem. Vemos a fama como prêmio de conquista. Valorizamos quem a tem porque, na nossa concepção, não é para qualquer um. Muitos a consideram a mais digna condecoração ao mérito. No entanto, a fama não tem valor intrínseco, não deve ser um objetivo, não é nem ao menos necessária. Assim, não se deve manipular sua ocorrência. Dar a vida à opinião pública não é exclusivo dessa geração. Aquiles optou por uma vida curta a uma longa e feliz quando confrontado por Tétis, sua mãe. Isso para que suas histórias ecoassem nos séculos seguintes. O objetivo de um guerreiro é a excelência em combate, que só pode ser provada, portanto valorizada, depois de um consenso. Assim também ocorre com médicos, engenheiros, jornalistas, e em muitas outras profissões. Aquiles já era tido como um grande guerreiro, mas queria ficar conhecido como o maior. Aristóteles acreditava que a verdadeira felicidade só poderia ser alcançada se a virtude de um indivíduo florescesse e contribuísse para uma suposta ordem cósmica. Mas como saber se a missão foi concluída? Para alguns a própria satisfação não basta, o sucesso pressupõe reconhecimento. Aristóteles certamente não condenaria a fama, e sim a consideraria uma consequência do aperfeiçoamento individual. Se o pensador vivesse, veria que no mundo de hoje, para ser famoso não é preciso ser virtuoso, mas agradar. Basta mostrar ao público uma característica marcante e que esteja em “alta”. Dispensa a complexidade da trajetória. A fama hoje é de fato uma aspiração. Ascender a partir do valor que a sociedade dá às coisas, para um dia finalmente redefini-lo. Como explica Fernando Pessoa: (...) medir o sucesso com sua melhor medida, ele próprio (...). O que é melhor, viver uma vida que seja só sua ou moldá-la para conseguir satisfação alheia? Montaigne já havia feito essa distinção: “a fama e a tranquilidade não podem jamais ser companheiras”. Isso porque as tendências mudam, a moda se transforma. Adequar-se a novos padrões demanda uma dinamicidade de personalidade que exclui a tranquilidade. A felicidade passa a ser quantificada por índices de aprovação pública, como curtidas, visualizações, compartilhamentos. Ser famoso demanda tempo. Quem o é por sorte, não passa dos 15 minutos de fama.


Oficina de Redação 2015 Não é nem deve ser condenável agradar as pessoas em volta. Porém, se faz isso melhor se aperfeiçoando e apreciando quem faz o mesmo. A fama como objetivo clama por um pragmatismo compulsivo. Não é preciso ser famoso. O nome de Aquiles ainda é pronunciado, pena que ele não viveu o bastante para ouvir.

(Jefferson Junior Flintz Galvão Ramirez)


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 4

Fama: a ilusão da felicidade O nascimento do neto da rainha da Inglaterra foi um acontecimento de grande repercussão no mundo todo. Sem grande expressão mundial, mas enorme no Brasil, a morte do cantor Cristiano Araújo foi noticiada nos quatro cantos do país durante dias. Esses fatos me levam a questionar o quanto os míseros humanos se dedicam a viver a vida dos outros. Não quero dizer que esses fatos sejam irrelevantes, mas pense no que há por trás deles. Será que os pais das crianças gostam de ver suas faces dominarem a imprensa? Será que os pais de Cristiano Araújo gostam de ver repetidamente a cena da morte do filho? Será que a fama agrada-lhes nesse momento? Absolutamente, não. A fama é uma ilusão de felicidade para quem não a tem. A partir do momento que uma pessoa se torna famosa toda sua vida íntima vai por água abaixo e qualquer atitude sua se torna grande aos olhos das lentes. E isso não tem solução, uma vez celebridade sempre celebridade. Para Fernando Pessoa, “a celebridade é uma fraqueza”, concordo. Ao admitir a ideia de que ser reconhecido, ter glória, ter prestígio é o que importa, a pessoa acaba se perdendo e passa a compartilhar apenas aquilo exigido pelo sistema, chegando a um ponto de se perguntar o porquê de ser considerada célebre. Há quem diga que para se integrar no mundo contemporâneo, é preciso ser famoso. Isso é aderir às exigências impostas pela sociedade e não contestá-las, isso é renunciar ao direito de agir sem ser monitorado e julgado. Afinal, é preciso ser famoso ou não? Novamente cito Fernando Pessoa: “Todo homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo.”

(Rafaella Oliveira da Silva)


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 5

Ser famoso por outro ponto de vista Anos atrás, a princesa inglesa Diana morria em um acidente de carro, durante uma perseguição feita por paparazzis. Alega-se que Michael Jackson, o rei do pop, dentre outros motivos, teve a fama como uma das causas que o teriam levado a uma depressão. No mundo em que vivemos, com cada vez mais pessoas se tornando conhecidas através da mídia, não é preciso de muito para alcançar a fama. Contudo, esta pode não valer a pena. A fama leva a inúmeras vantagens, mas nem sempre estas são suficientes quando comparadas às consequências que uma vida pública pode trazer. Além disso, não é preciso ser famoso para alcançar o sucesso. Se a fama fosse feita de acertos, os sites e revistas de fofoca não seriam tão procurados. É evidente que um simples erro de uma personalidade famosa pode levar a uma grande polêmica. Não precisamos ir longe para compreender: na vida, nem sempre somos reconhecidos por nossas boas ações, mas somos para sempre marcados a partir de um erro – o que é potencializado se o indivíduo está na mídia. Seja venerado, criticado, não importa. Instantaneamente se lembrarão de suas gafes. Privacidade e fama são palavras que não se encaixam numa mesma frase. Nasce um bebê-celebridade e lá estão as câmeras apontadas para sua carinha chorona de quem não pediu por aquilo. Assuntos políticos e econômicos saem da página principal, dando vez ao rosto de um bebê como todos os outros. O pior é que gostamos, precisamos saber de todos os detalhes, e “participar” da vida alheia como se dependêssemos disso para poder viver a nossa própria vida. Para muitos é preciso ser famoso. É preciso que clamem seu nome sempre que o ouvirem. Entretanto, é certo que nada disso é preciso. De que adianta a fama, toda essa vaidade, se a insatisfação interior persistir? A fama não é a que leva à realização pessoal, mas sim, o sucesso, que não tem a ver com visibilidade. Levar em conta os prejuízos da fama é um passo para perceber a fragilidade dessa condição. Olhar para essas figuras ditas “famosas” é, às vezes, necessário. Mas jamais se deve esquecer de que nada vale esse título, um falso reconhecimento, se o sucesso interior não tiver espaço, não tiver vazão.

(Gabriela Caputo da Fonseca)


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 6

Fama: causa ou consequência? O autor Pedro Cardoso revelou em entrevista que “gosta do sucesso e não da fama”. A maioria deve estar se perguntando o que ele quis dizer com isso. Esse questionamento decorre do fato de as pessoas considerarem sucesso e fama como sinônimos. Não são, de fato, sinônimos, mas estão sempre associados. A fama antecede o sucesso ou será que o sucesso antecede a fama? Existem pessoas que sonham com a fama a qualquer custo. Logo, a consequência se torna a causa em suas vidas. O que esses indivíduos desafortunados não compreendem é que a fama é uma consequência. Uma consequência de ser excepcionalmente, absurdamente bom naquilo que se faz. E claro que existem exceções, casos em que as pessoas dão muita atenção a algo que não é digno, mas isso se deve à ignorância. A regra vale para o geral. Leonardo DiCaprio não escolheu ser ator porque queria ser famoso. Ele se tornou famoso porque sua atuação em “What’s eating Gilbert Grape?” foi absolutamente genial. Elvis Presley não cantava para ser famoso. Ele atingiu a fama porque cantava excepcionalmente bem. Platão foi um pensador que viveu a milhares de anos e continua “famoso” até os dias de hoje. Não porque ele pensava em ser famoso, mas porque seus pensamentos foram tão geniais que continuam nos sendo úteis na contemporaneidade. John Lennon não lutava pela paz para ser famoso. Ele ficou famoso por lutar pela paz (e por ser um dos Beatles, é claro). Os exemplos são inúmeros, mas a conclusão é uma só: a fama em si é totalmente vazia e traz inúmeros problemas de privacidade e respeito. Aqueles que sonham com a fama a qualquer custo, por nada, se a conseguirem, jamais saberão como lidar com ela. Se a pessoa deseja reconhecimento, deve antes desejar criar algo pelo qual seja reconhecida. Existem pessoas famosas em todas as áreas do conhecimento que podem provar isso. Por outro lado, se não há algo relevante que torna o indivíduo famoso, a fama perde totalmente sua necessidade. As pessoas devem aprender a reconhecer a maravilha de se ter uma vida simples e feliz. Como, ironicamente, diz a famosa frase: “O homem de gênio desconhecido possui o mais belo de todos os destinos”.

(Gabriel Neves Ferreira Martins)


Oficina de Redação 2015 Artigo de opinião - Redação 7

Evidência ou obscuridade? Alguns anos atrás, a revista “Isto é Gente” publicou uma entrevista com o ator Pedro Cardoso, o questionando sobre como é ser famoso. Esse, por sua vez, respondeu que não gosta da fama, mas do sucesso que a carreira lhe proporciona. Porém, não são todas as celebridades que pensam dessa maneira. Será mesmo que a fama garantirá felicidade e força por toda vida? É certo que por trás de toda fama, esconde-se a mídia, a qual é numero um em lucrar com fofocas e notícias célebres. A questão está no papel que a fama oferece a alguém; a falta de liberdade e a dificuldade de esconder algo para si mesmo, são as primeiras coisas que uma pessoa deve pensar antes de “mergulhar” numa carreira irreversível. Chocou o mundo, por exemplo, o fato de Lindsay Lohan ter mudado totalmente sua vida, envolvendo-se com drogas, indo para prisão entre outros acontecimentos polêmicos. Diversas imagens da atriz foram divulgadas, impressionando toda a população. Se Lindsay não fosse um “ícone” na sociedade, passaria despercebida. Ser celebridade é tentar ser um modelo para as pessoas e ter sua vida íntima exposta a todo o momento. Ser filho de alguém famoso é já ter um futuro programado, é nascer com o rosto estampado em revistas, canais de televisão e jornais sem ao menos saber falar uma palavra, é não ter vida privada, e sim viver para os outros, para agradar os outros e manter uma imagem exemplar – o que muitas vezes não ocorre. Antes de cobiçar a vida “gloriosa” de uma celebridade, devemos pensar se realmente precisamos disso. Não é necessário ter a vida divulgada e um futuro que nos obrigue a pensar antes de sairmos de casa e fazermos qualquer coisa, se iremos agradar ou não ao público. Fazer de tudo para ser famoso pode ser algo perigoso e irreversível. Afinal, viver em obscuridade é menos arriscado do que viver em evidência.

(Mariana Riveira Gasquez Rufino)



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