Oficina de Redação 2013
Apresentação Escrever bem é resultado de um longo processo que se inicia já nos primeiros anos da vida escolar. São vários os desafios que um aluno deverá superar para expressar-se com clareza, coerência, criticidade e criatividade. Assim ter paciência e dedicação é fundamental para quem deseja apropriar-se da escrita. Acompanhando os exames vestibulares, percebemos que ano após ano, a prova de redação tem aumentado o seu nível de exigência. Temas complexos e polêmicos da atualidade desafiam o candidato a ler, interpretar, refletir, posicionarse e escrever de forma competente, em um curto período. Nesta breve publicação, apresentamos uma das etapas finais do processo de aprendizagem da escrita em nosso colégio. Trata-se de oito das melhores redações que alunos do 3º ano do Ensino Médio produziram por ocasião da Avaliação Parcial do 2º trimestre de 2013. Realizadas a partir da difícil proposta da Uerj/ 2013 – que visava a discussão filosófica sobre duas concepções de Tempo – , cada uma dessas produções revelou um avanço na expressão escrita. Além de fundamentar suas teses articulando conhecimentos oriundos das aulas de Ciências Humanas, apresentaram uma escrita criativa – produto da assimilação das técnicas ensinadas – numa linguagem clara, coesa e coerente. Sabemos que redigir um texto no vestibular é uma tarefa árdua. Contudo, se houver o devido preparo, esta é passível de ser cumprida com sucesso. Dessa forma, continuaremos trabalhando e incentivando nossos alunos para que os resultados sejam cada vez mais expressivos. Daniele Onodera Prof.ª de Redação do Ensino Médio
Oficina de Redação 2013 (Uerj/ 2013)
TEXTO I
Tempo: cada vez mais acelerado Pressa. Ansiedade. E a sensação de que nunca é possível fazer tudo - além da certeza de que sua vida está passando rápido demais. Essas são as principais consequências de vivermos num mundo em que para tudo vale a regra do “quanto mais rápido, melhor”. “Para nós, ocidentais, o tempo é linear e nunca volta. Por isso queremos ter a sensação de que estamos tirando o máximo dele. E a única solução que encontramos é acelerá-lo”, afirma Carl Honoré. “É um equívoco. A resposta a esse dilema é qualidade, não quantidade.” Para James Gleick, Carl está lutando uma batalha invencível. “A aceleração é uma escolha que fizemos. Somos como crianças descendo uma ladeira de skate. Gostamos da brincadeira, queremos mais velocidade”, diz. O problema é que nem tudo ao nosso redor consegue atender à demanda. Os carros podem estar mais rápidos, mas as viagens demoram cada vez mais por culpa dos congestionamentos. Semáforos vermelhos continuam testando nossa paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão. Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o sinal verde - uma ótima opção para despejar a ansiedade, mas com efeito muitas vezes nulo. Em Nova York, esses sistemas estão desligados desde a década de 1980. Mesmo assim, milhares de pessoas o utilizam diariamente. É um exemplo do que especialistas chamam de “botões de aceleração”. Na teoria, deixam as coisas mais rápidas. Na prática, servem para ser apertados e só. Confesse: que raios fazemos com os dois segundos, no máximo, que economizamos ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador? E quem disse que apertá-las, duas, quatro, dez vezes, vai melhorar a eficiência? Elevadores, aliás, são ícones da pressa em tempos velozes. Os primeiros modelos se moviam a vinte centímetros por segundo. Hoje, o mais veloz sobe doze metros por segundo. E, mesmo acelerando, estão entre os maiores focos de impaciência. Engenheiros são obrigados a desenvolver sistemas para conter nossa irritação, como luzes ou alarmes cuja única função é aplacar a ansiedade da espera. Até onde isso vai? SÉRGIO GWERCMAN Adaptado de super.abril.com.br.
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TEXTO II
Oficina de Redação 2013
TEXTO III
Mestre, são plácidas1 Todas as horas Que nós perdemos, Se no perdê-las, Qual numa jarra, Nós pomos flores. Não há tristezas Nem alegrias Na nossa vida. Assim saibamos, Sábios incautos2, Não a viver, Mas decorrê-la, Tranquilos, plácidos,
Mestre Tendo as crianças Por nossas mestras, E os olhos cheios De Natureza... À beira-rio, À beira-estrada, Conforme calha3, Sempre no mesmo Leve descanso De estar vivendo. O tempo passa, Não nos diz nada. Envelhecemos. Saibamos, quase Maliciosos, Sentir-nos ir. Não vale a pena Fazer um gesto.
Não se resiste Ao deus atroz Que os próprios filhos Devora sempre. Colhamos flores. Molhemos leves As nossas mãos Nos rios calmos, Para aprendermos Calma também. Girassóis sempre Fitando o sol, Da vida iremos Tranquilos, tendo Nem o remorso De ter vivido.
1 plácidas - calmas 2 incautos - desprevenidos 3 conforme calha - conforme seja
RICARDO REIS Pessoa, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999.
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TEXTO IV Lembra-te de que tempo é dinheiro. Aquele que pode ganhar dez xelins* por dia com seu trabalho e vai passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não despenda mais do que seis pence durante seu divertimento ou vadiação, não deve computar apenas essa despesa; gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais. (...) Aquele que perde cinco xelins, não perde somente esta soma, mas todo o proveito que, investindo-a, dela poderia ser tirado, e que durante o tempo em que um jovem se torna velho, integraria uma considerável soma de dinheiro. BENJAMIN FRANKLIN WEBER, Max. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1985. * xelim − unidade de moeda equivalente a 12 pence
TEXTO V Dizemos, com frequência, que fomos atropelados pelos acontecimentos − mas quais acontecimentos têm poder de atropelar o sujeito? Aqueles em direção aos quais ele se precipita, com medo de ser deixado para trás. Deixamo-nos atropelar, em nossa sociedade competitiva, porque medimos o valor do tempo pelo dinheiro que ele pode nos render. Nesse ponto remeto o leitor, mais uma vez, à palavra exata do professor Antonio Candido: “O capitalismo é o senhor do tempo. Mas tempo não é dinheiro. Isso é uma brutalidade. O tempo é o tecido de nossas vidas”. A velocidade normal da vida contemporânea não nos permite parar para ver o que atropelamos; torna as coisas passageiras, irrelevantes, supérfluas. MARIA RITA KEHL mariaritakehl.psc.br
PROPOSTA DE REDAÇÃO Os textos IV e V apresentam posições opostas sobre a relação com o tempo: para o primeiro, tempo é dinheiro, porque deve ser empregado em produzir riqueza; para o segundo, tempo não pode ser resumido ao dinheiro, porque isso é uma brutalidade. Com base na leitura de todos os textos e de suas elaborações pessoais sobre o tema, ESCOLHA UMA DAS DUAS POSIÇÕES E A DEFENDA, redigindo um texto dissertativo argumentativo em prosa.
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Redação 1
Cronos derrotado, tempo perdido Na mitologia grega, Cronos é o deus do tempo. Detentor do controle da velocidade dos acontecimentos, essa figura mitológica é vista muitas vezes como um vilão, pois sua ânsia de ir sempre além o torna um ser descontrolado. Assim como nessas obras, atualmente também há um deus do tempo, porém, este é denominado capitalismo. Ao impor seu ritmo frenético sobre a população, acelera suas vidas de modo que nem elas mesmas percebam a mudança, quase que de forma sobrenatural. Após a Revolução Industrial, filósofos e sociólogos como Karl Marx produziram análises do sistema econômico que ali começou. Esse pensador, em destaque, evidenciou a exploração do trabalhador industrial, submetido a longas jornadas de trabalho, e a mais-valia, parte do lucro produzido que ia para o burguês. Mostrou então, as causas que levaram o trabalhador a ganhar seu dinheiro em função do tempo de trabalho, tornando esta uma característica fundamental dos tempos atuais. Desde essa época até hoje, o tempo vem sendo visto cada vez mais como uma ferramenta a ser utilizada pelo ser humano. Pensa-se com mais frequência no dia de amanhã, no que será feito depois, e se esquece do presente. A vida passa a ser uma ampulheta, contando-se o tempo de segundo a segundo para se poder realizar o máximo de atividades possíveis antes do último grão de areia passar para o outro lado. Passa-se, então, a haver uma seleção daquilo que é relevante e daquilo que não é. Nesse filtro, as relações humanas ficam em segundo plano, cedendo espaço ao acúmulo de capital a qualquer custo. As atividades se aceleram e os avanços tecnológicos as acompanham, procurando fornecer cada vez mais facilidades a essa indústria do tempo. Ritmo acelerado demais, no entanto, gera desgaste. O ser humano possui um limite que uma hora irá aparecer. Diante da imposição anormal da velocidade das atividades pela sociedade, uma hora este irá entrar em colapso, e assim como Cronos, que acabou derrotado por seus filhos, esse sistema da busca por tempo irá ser destruído pela exaustão de sua base, os seres humanos. (Arthur Mattar de C. Teixeira)
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Redação 2
Mais máquina e menos gente No século XIX, na Inglaterra, surgia a Primeira Revolução Industrial, na qual a produção, que antes era artesanal, passou a ser feita em grandes galpões, depois intitulados de indústrias, por homens e máquinas. Lá, o trabalho começou a ser controlado pelo tempo, uma nova medida criada pelo homem, sob uma rígida disciplina, que visava obter mais lucro para os patrões. Foi então que surgiu a ideia de que o tempo se resumia em dinheiro. No entanto, tal ideologia é absurda. O tempo, que marca datas importantes e horas especiais não é apenas uma forma de marcar o quanto se está perdendo, em capital, ao esperar um ônibus, por exemplo. Desde a pré-história a noção de tempo existe, antes mesmo de surgir o dinheiro e o capitalismo. Nesse período, o sol era o relógio, e o tempo era uma medida usada apenas para o indivíduo determinar se já era noite, quando os homens poderiam ser mais facilmente atacados por feras. Percebe-se então, que a hora não tinha função de determinar quanto as pessoas perdiam em dinheiro quando não estavam trabalhando. Na Revolução Industrial, quando se tornou necessário medir o tempo e quando as máquinas passaram a comandar o ritmo dos trabalhadores, foi então criado o relógio, para auxiliar o homem, e não para atrapalhá-lo. No entanto, o uso que está sendo feito do tempo, hoje é inadequado. Ele está mecanizando o homem e tornando-o mais máquina e menos gente. Isso é ilustrado em “Tempos Modernos”, em que Charles Chaplin, no papel de um operário, acaba adquirindo manias relacionadas a seu trabalho, por ter de seguir o tempo da máquina. Ele se torna uma parte de sua ferramenta de trabalho devido à falsa ideia de que tempo é dinheiro, que faz seu patrão querer uma produção mais acelerada e que acaba forçando os operários a se apressarem, tornando sua ação mecânica. Dizer então que o tempo é dinheiro, hoje, é reflexo da má interpretação feita pelos capitalistas e passada ao resto da população. O tempo é algo para ser aproveitado, assim como manda o Carpe Diem, bastante presente em textos arcadistas. Caso a ideia de tempo continue a ser interpretada de forma errônea, no futuro, ainda mais do que hoje, haverá pessoas com patologias. Então, se é desejado evitar que a população se torne um monte de pessoas mecanizadas correndo contra uma medida que, na verdade, não existe, já que foi criada pelo homem, é necessário tirar essa falsa interpretação que se tem do tempo, ou então, teremos uma sociedade que, assim como o coelho, em “Alice no País das Maravilhas”, vive apressada e em função de um relógio. (Fernanda Yumi Nakai )
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Redação 3
O Terceiro Porquinho Três porquinhos precisavam construir suas respectivas casas, pois um lobo estava chegando e eles necessitavam de proteção. Obviamente, terceiro porquinho levou mais tempo para construir sua casa. Enquanto os outros dois se divertiam, aquele se dedicava à construção. Eis que no final, os dois primeiros tiveram suas casas destruídas e recorreram ao terceiro para salvarem suas vidas. Pode-se relacionar á proteção dos porquinhos ao dinheiro, muito importante na atual era do capitalismo. O porquinho que levou mais tempo para construir sua casa obteve uma maior proteção. Ou seja, tempo de fato é dinheiro. “Aquele que pode ganhar dez xelins por dia com seu trabalho e vai passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não dependa mais do que seis pence durante seu divertimento ou vadiação, não deve computar apenas essa despesa: gastou na realidade, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais.” Esta situação exposta por Benjamin Franklin está diretamente relacionada à história dos três porquinhos. O indivíduo retratado é representado pelos dois primeiros porquinhos que preferem trabalhar em suas casas por pouco tempo para poder se divertir, deixando de ganhar proteção, que certamente os ajudaria no futuro, assim como os cinco xelins a mais. Tempo e dinheiro são grandezas diretamente proporcionais. É certo que, quanto mais tempo se dedica ao trabalho e ao acúmulo de dinheiro, maior é a quantia acumulada. Mas esta relação só se dá por completa quando o uso de inteligência é envolvido. Casos como o de Eike Batista e Silvio Santos são provas disto. Os dois passaram de funcionários a proprietários e ganham mais trabalhando menos que seus empregados. Se o primeiro porquinho decide passar mais tempo que o terceiro, mas construindo sua casa com palha, a casa do terceiro continuará sendo a mais protegida. Pode-se concluir que o tempo e dinheiro só serão bem relacionados se a inteligência coexistir com ambos. O dinheiro poderia não ser o deus do mundo, mas é. Nem todos aceitam o capitalismo, mas até que se encontre um sistema melhor, o dinheiro permanecerá como condição para a vida dos seres humanos. Como diria João Calvino: o trabalho dignifica o homem. Quanto mais tempo se trabalha, maior será a recompensa. Basta querer ser o terceiro porquinho. (Rafael Hideaki Teruya)
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Redação 4
O bem mais precioso João Romão, personagem de “O Cortiço”, trabalhou incessantemente em sua venda para acumular dinheiro. Negou todos os gozos da vida e que o próprio dinheiro poderia lhe oferecer em troca da acumulação. Tal como o personagem de Aluísio de Azevedo, o ser humano pós-revolução industrial se comporta. Dedica todo o seu tempo em prol da atividade remunerada e esquece-se do seu bem mais precioso. “Tempo é dinheiro”. A frase de Benjamin Franklin, e o pensamento Calvinista: “o trabalho dignifica o homem”, tornaram-se as bases da ideologia ocidental a partir do século XIX. Esta ideologia, que coloca o capital acima de todas as outras virtudes, vem transformando o homem em máquina, tomando o seu tempo exclusivamente para o trabalho e impedindo as atividades reflexivas que somente seriam possíveis com o tempo livre. A Revolução Industrial trouxe para o mundo uma nova realidade. Antes, para se fazer um sapato levava-se horas ou até dias. Com o advento das máquinas, o processo se tornou veloz, tendo um único fim: a economia de tempo para um ganho acelerado de dinheiro. O pensamento do acúmulo incessante surgiu neste contexto, contaminando todos os indivíduos que se viam obrigados a fazer parte daquela realidade para sobreviver. O tempo é o bem mais precioso que o ser humano possui. Todos o possuem igualmente, mas este bem, também para todos, é finito. O essencial para a vida está à disposição de qualquer um. Como João Romão, dedicar o bem mais precioso em função apenas do acúmulo sem objetivos, é desperdiçar a oportunidade de vivenciar experiências, aprendizados e deixar de ser um instrumento útil para o bem social. O homem possui o tempo, e se viver em função apenas de seu futuro deixará passar as maravilhas do presente. O pensamento de acúmulo que domina o ocidente pós-revolução industrial deve ser revisto, de modo que o homem possa saber conciliar o trabalho, o lazer e as atividades reflexivas em favor de um mundo melhor. (Murilo Freire Pastorelli)
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Redação 5
The time is money “Time is money”, este era o lema da sociedade americana dos anos 20, que experimentava um rápido e grandioso crescimento econômico, motivo de orgulho e exacerbação nacionalista. No intuito de elevar os EUA à condição de potência mundial – tomando a frente dos países do velho mundo – os americanos trabalharam como nunca, destacando-se na indústria, contudo, a superprodução levou o país e o mundo à profunda crise de 1929. Essa situação demonstra a efemeridade a que uma condição de “conforto” pode estar submetida e o risco que o indivíduo corre ao condicionar o tempo em torno de bens que podem ser rapidamente perdidos. Chaplin em seu filme “Tempos Modernos” demonstra a preocupação do burguês, dono da fábrica, em obter lucro enquanto o trabalhador assiste de forma impotente seus direitos serem violados, sob o risco do desemprego. Isso demonstra que o empregador além de comprar a força de trabalho do operário, adquire com ela o direito de controlar o tempo, “tecido de nossas vidas” nas palavras de Antônio Cândido. A ganância humana moveu grandes empreendimentos desde a ascensão à descoberta de impérios, até a conquista dos mares à luz dos primeiros navegadores ibéricos que desbravaram os mares em busca de riquezas em terras desconhecidas. No entanto, outros depois destes também se lançaram nas mesmas empreitadas, o que culminou numa crise de crescimento. Todas as nações almejam ser mais ricas e fortes, porém, não há espaço para que em conjunto atinjam essa meta. Nesse sentido, o pioneirismo passa a ser o elemento surpresa para atingir essa meta, por isso, temos valoração capital do tempo, como fator de suma importância na disputa que permanece atual para o crescimento econômico. Mas será o bastante para o ser humano, obter ganho financeiro em detrimento de seu tempo de vida? Ou apenas mais uma brutalidade fruto do desenvolvimento da consciência humana? (Ronaldo Gonçalves Dias)
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Redação 6
O Tempo é o relógio, o tempo é dinheiro “Todos os dias quando acordo / não tenho mais o tempo que passou / mas tenho muito tempo/ temos todo o tempo do mundo”. Os versos de Renato Russo tratam do dilema que é o aproveitamento do tempo no mundo atual. Se “temos todo o tempo do mundo” pela frente, os dias, meses e anos são amplos demais para que sejam resumidos a um único objetivo: ganhar dinheiro. A ideia de que o tempo deve ser aproveitado visando o acúmulo de capital é amplamente difundida desde a Revolução Industrial. Neste período, a partir da massificação da produção percebeu-se que, de fato, o aumento da jornada de trabalho e a aceleração deste gerava mais lucro para o patrão. O bem-estar do operário tornou-se secundário. Hoje, é tendência acelerar as atividades diárias priorizando o trabalho que gera dinheiro e buscando driblar o ritmo do relógio que, apesar de constante, parece mais rápido a cada dia. Em meio ao cotidiano caótico, as formas mais prazerosas de desfrutar do tempo livre correm o risco de não ser enxergadas e até as tarefas simples têm resultados insatisfatórios quando feitas com pressa. Ignora-se o posicionamento de Carl Honoré, segundo o qual a qualidade é mais importante que a quantidade quando se trata de tempo. Desta forma, a aceleração do tempo continua sendo louvada e a pressa aparece como lei. A figura do relógio quase se confunde com a noção de tempo. No livro “Cloud Atlas”, de David Mitchell, o autor critica o ritmo da sociedade atual criando uma imagem distorcida desta no futuro, onde a chefe de um povoado se diz dona do tempo por possuir o único relógio do mundo. Tendo o homem submetido grande parte da natureza à sua vontade, este tem também o poder de conciliar o tempo e enxergar além da lógica capitalista; as possibilidades oferecidas vão muito além do acúmulo de dinheiro. (Fernanda Aparecida Cimetta Lopes)
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Redação 7
O tempo passa e um dia a gente aprende (ou não) “O tempo passa/ não nos diz nada”, “Da vida iremos/ Tranquilos, tendo/ Nem o remorso/ De ter vivido”. Fernando Pessoa explicita a passagem do tempo, na qual, muitas vezes torna o indivíduo cego, que não aproveita as peculiaridades da vida, para mecanicamente trabalhar e enriquecer. A visão de que o “tempo é dinheiro“ foi imposta desde a época da Reforma Religiosa, com a ética calvinista. Ao invés de ficar no passado, essa visão é repercutida trazendo uma falsa noção de “viver para enriquecer”, na qual os indivíduos acabam não enriquecendo e deixando de lado os prazeres da vida. Ou seja, passam a vida sobrevivendo e não vivendo. A brutalidade de reduzir as relações sociais, os sentimentos e as situações que as pessoas passam pela vida em dinheiro, é a mesma coisa que comparar os seres a números generalizantes, como em uma estatística de mercado. Como afirma Carl Honoré “O tempo é linear e nunca mais volta”, e se passarem desprezando pequenos detalhes, perde-se o sentido de viver. A questão não é gostar do dinheiro, até porque independente da opinião, para viver, ele é necessário. E nem culpar os que conseguem enriquecer, pois assim como o Japão optou pela única forma de não ser colonizado (tornou-se imperialista), essa pessoa está se defendendo de uma política capitalista. Mas sim, não reduzir aspectos humanos, que vivenciamos no dia-a-dia, até porque o tempo é comum a todos, o que se diferencia é o modo como passamos por ele. (Camila Mayumi Aono)
Oficina de Redação 2013
Redação 8
Correntes do tempo Em “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, Hermione e Harry voltam no tempo com a ajuda de um instrumento mágico chamado “vira-tempo”, para salvar um hipogrifo e o padrinho do bruxo protagonista. Durante o acontecimento, Harry percebe coisas que deixara passar quando viveu o momento pela primeira vez, notando-as apenas ao retroceder no tempo para revivê-las. Inúmeras vezes passamos por situações semelhantes à do bruxo britânico, vivemos momentos sem percebê-los. A diferença cruel entre as situações, é que nós não temos em mãos nenhum artefato mágico que nos ajude a retroceder o tempo. Somos engolidos pela urgência e pela pressa, atropelamos os momentos e ainda assim reclamamos da falta de tempo. A avidez de fazer cada vez mais em menos tempo é consequência de uma sociedade competitiva e capitalista, em que tudo deve ser feito o mais rápido possível e tudo se resume ao dinheiro. É comum ouvirmos que “tempo é dinheiro”, mas na verdade, nós somos o tempo. Tudo é tempo, nós só existimos por causa do tempo. “O capitalismo é senhor do tempo. Mas tempo não é dinheiro. Isso é uma brutalidade. O tempo é tecido de nossas vidas” - são as palavras do professor Antônio Candido. Mas se o tempo é o tecido de nossas vidas, não seria mais correto afirmar que o tempo é o senhor do capitalismo então? Rendemo-nos aos caprichos da sociedade, corremos cada vez mais na tentativa de economizar tempo, desfrutá-lo ao máximo. E mesmo assim o tempo parece passar por nós como lufadas de ar em um corredor estreito, tentando nos derrubar. Talvez se tentássemos agir com menos urgência, não estaríamos presos às correntes do tempo, lutando contra elas a todo momento. (Isabella Banzatto Paulista)