Oficina de Redação 2014

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Oficina de Redação 2014

Apresentação É com grande satisfação que apresentamos a versão 2014 do caderno da Oficina de Redação que traz redações acima da média, produzidas por nossos alunos. Neste ano, além de quinze dissertações dos 3ºs anos, transcrevemos cinco narrações dos alunos dos 2ºs anos do Ensino Médio. Apesar de versarem sobre tipos diferentes de textos, ambas as propostas impuseram um desafio em comum: produzir redações a partir de coletâneas reduzidas. Tal fato exige do aluno um esforço redobrado no que tange à criatividade e à criticidade. Ademais, consiste em um termômetro eficiente para medir o seu repertório cultural. Em situação de prova, aos 3ºs anos foi dada a tarefa de desenvolver a proposta da Fuvest cujo tema norteador, “Consumismo”, deveria ser debatido na amplitude de um anúncio publicitário de cartão de crédito. Já na atividade para os 2ºs anos, o desafio imposto pela Puccamp foi narrar o que aconteceu aos personagens – membros de uma família –, após a chegada pelo correio de uma misteriosa caixa na qual contava a inscrição “frágil”. Entendemos que as redações que seguem são uma amostra satisfatória do árduo trabalho com a linguagem, que em nosso colégio, inicia-se de maneira enfática desde os primeiros anos da vida escolar e recebe no Ensino Médio, as últimas lapidações. É famosa a frase do filósofo austríaco, Ludwig Wittgenstein: “As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo”. Com ela finalizamos esta apresentação, com a certeza de que a partir do trabalho com a linguagem escrita, a cada ano ampliamos mais as fronteiras de nossos alunos. Boa leitura! Daniele Onodera Prof.ª de Redação do Ensino Médio


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(Fuvest)

Esta é a reprodução (aqui, sem as marcas normais dos anunciantes, que foram substituídas por X) de um anúncio publicitário real, colhido em uma revista, publicada no ano de 2012. Como toda mensagem, esse anúncio, formado pela relação entre imagem e texto, carrega pressupostos e implicações: se o observarmos bem, veremos que ele expressa uma determinada mentalidade, projeta uma dada visão de mundo, manifesta uma certa escolha de valores e assim por diante. Redija uma dissertação em prosa, na qual você interprete e discuta a mensagem contida nesse anúncio, considerando os aspectos mencionados no parágrafo anterior e, se quiser, também outros aspectos que julgue relevantes. Procure argumentar de modo a deixar claro seu ponto de vista sobre o assunto.


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Texto dissertativo - Redação 1

Felicidade parcelável Shoppings, cartões de crédito, a possibilidade de parcelamento em dezenas de vezes, propagandas voltadas ao público infantil. As maneiras de estímulo ao consumismo se inovam para conseguirem cada vez mais compradores, que alimentarão tal ciclo vicioso. No entanto, enquanto o consumo dá a ideia de conforto e suprimento de necessidades reais, ele, na realidade, sufoca as pessoas pela ilusão de dependência. Não é à toa que os novos críticos do capitalismo, que adaptam as ideias de Marx para a atualidade, pautam suas críticas no padrão de consumo. Trata-se da criação de necessidades inexistentes que justifiquem a compra de novos produtos, e de várias formas diferentes dos mesmos produtos. Isso contribui para que as pessoas, consciente ou inconscientemente, se sintam escravas de seu próprio poder aquisitivo. Essa situação já havia sido prevista por Eça de Queirós, no livro “A cidade e as serras”, publicado no começo do século passado, em que Jacinto (o protagonista), tem uma enorme biblioteca, que não leu inteira, e centenas de aparelhos inúteis. Apesar de não ter lido todos os livros ou necessitar de todos os aparelhos, ele os mantêm, já que sente que deles necessita pela ilusão de conhecimento e tecnologia que o proporcionam. Tal situação é análoga à atualidade, em que mesmo que não precisem, as pessoas compram coisas que as deem ilusões de beleza, modernidade e felicidade. Isso começa já na infância, e são inúmeras as propagandas de jogos, bonecas, e até mesmo eletrônicos voltados ao público infantil. Este começa a sentir a falsa necessidade de possuir esses produtos, seja porque os amigos possuem, por quererem segurança de si mesmos ou para se sentirem mais adultos. Toda essa “felicidade parcelável” faz com que sejamos dependentes do consumo por toda a ilusão proporcionada por ele. Para evitar que isso comece cedo, e transforme as crianças em adultos consumistas e psicologicamente dependentes, uma possibilidade é a proibição de propagandas voltadas ao público infantil, já que se criarem maturidade antes de receberem essas influências, será mais fácil resistir a elas.

(Laís Romero Rey Piccolo)


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Texto dissertativo - Redação 2

O melhor que a vida tem a oferecer: crédito ou débito? O antigo ditado popular já dizia: “Dinheiro não compra felicidade”. Porém, no século XXI, tempo da instantaneidade e efemeridade da informação, dinheiro pode significar inúmeras possibilidades para experimentar a vida e o melhor que ela tem a oferecer. Se para alguns, as melhores coisas são de graça, para outros são especialmente caras e se atrelam ao materialismo e a ideia de que as melhores experiências que se pode viver podem ser compradas no shopping center mais próximo. A facilidade e a necessidade de obter essa sensação desenvolveu o consumismo compulsivo quase que massificado, em que as mídias só contribuem no bombardeio da sociedade com propagandas publicitárias de valores materialistas, que influenciam esse consumo desenfreado na busca por algo concreto e material, que represente a felicidade e a realização na vida de uma pessoa. No lançamento do último gadget da Apple, o IPhone 5s, filas e mais filas se estenderam nas lojas do produto, com pessoas esperançosas de obter ali a sensação que julgam como a melhor coisa do mundo: comprar. A necessidade de tentar materializar tudo, até mesmo os sentimentos, é que causa essa busca desenfreada em prateleiras de lojas as sensações e experiências que fazem parte da vida. Esperar que a felicidade, experiência e os momentos de uma vida possam a qualquer momento ser adquiridos com dinheiro ilude o ser humano, e faz com que viva uma vida enganadora e cheia de frustrações. Buscar sentimentos reais e verdadeiras alegrias é o melhor que o mundo tem a oferecer. Entender que o “melhor do mundo” é uma questão de escolha. Não basta passar um cartão de crédito X para experimentar o que o mundo tem de melhor.

(Giulia dos Santos Ribeiro Romanini)


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Texto dissertativo - Redação 3

O saldo que cartões de crédito jamais terão Comumente, podemos observar anúncios publicitários que circulam na mídia a respeito de cartões de crédito e seus benefícios. Geralmente acompanhados de indivíduos satisfeitos e alegres ou famílias unidas, essas propagandas tendem a convencer o público de que seu produto tornará o consumidor tão feliz quanto os dos anúncios. Mas o que o mundo tem de melhor a oferecer é realmente comprado por cartões de crédito? Relações sociais e familiares, como já provado pela Filosofia e pela Sociologia, são essenciais para que indivíduos de uma sociedade possam viver em grupo e desenvolver a habilidade de auxiliar o próximo para que certo estado de felicidade seja alcançado. Desde modo, a questão monetária é parte dos problemas que regem os cidadãos, os quais passam a ficar mais aliviados com a aquisição de um cartão de crédito. Este, apesar de abrir possibilidades para um universo de produtos materiais que muitos acham tentador, pode atrapalhar relações sociais. Kurt Cobain e Ian Curtis foram dois vocalistas de bandas que fizeram sucesso: Nirvana e Joy Division. Com a fama, obtiveram também muito mais que o suficiente em dinheiro. Isso, contudo, levou-os a um trágico fim por suicídio por causa dos problemas sociais e familiares causados por impasses muito semelhantes aos observados com aqueles que consideram cartões de crédito “o melhor que o mundo tem a oferecer”. Ainda que em dimensões menores, esses tipos de conflitos são extremamente comuns. É deste modo que se observa que cartões compram felicidade temporária, mas jamais a trazida por uma relação interpessoal. Cartões de crédito como o X podem realmente trazer muitos bens a quem o possui, fazendo-o temporariamente satisfeito. Entretanto, para que não haja fins semelhantes aos de Kurt Cobain ou Ian Curtis, deve-se haver cautela e bom-senso para conseguir o equilíbrio entre o mundo material e o social/espiritual, que são tão importantes quanto o primeiro para que o saldo da vida seja a felicidade, a união e o bem-estar, que é o que o mundo tem de melhor para oferecer.

(Érika Mitsue Todorok)


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Texto dissertativo - Redação 4

Consumismo exacerbado Numa propaganda de cartão de crédito, a mensagem deixada pela publicidade associou diretamente o poder do consumo com o aproveitamento do melhor que o mundo pode oferecer. Esse anúncio indica que é possível, com o poder aquisitivo, obter e usufruir tudo aquilo que é desejado. Entretanto, ao contrário do que se afirma na mensagem, pode-se dizer que o consumismo é, na verdade, uma ação vazia. Com relação ao poder aquisitivo, muitas vezes este pode ser atrelado à classe social, ou melhor, ao status. Este último consiste numa hierarquia social baseada no poder econômico em que se aparenta ter. Daí surge o que é denominado “ostentação”, uma ideologia que enaltece o acúmulo de bens materiais de maneira exibicionista com intuito de se obter o desejado status. De certa forma, a posição social conquistada beneficiará, mas não é um elemento transformador de caráter. Além do fator social, há também o fator compulsivo. O consumismo é considerado por muitos especialistas, uma compulsão, que traz uma satisfação momentânea, e não uma felicidade a longo prazo como sugerem os anúncios publicitários. Pode assim ser considerado uma ação demasiadamente perigosa quando se torna um vício. Vive-se num mundo marcado pela superficialidade, onde o ter é mais relevante do que o ser. As propagandas comprovam essa postura associando o consumo à felicidade, quando esta última não consiste num sentimento momentâneo, mas sim num estado de espírito independentemente de meros bens materiais. A melhor maneira de se resolver a problemática é atribuindo valor a questões relevantes e cruciais para o desenvolvimento humano: o caráter.

(Lívia Mari Sato)


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Texto dissertativo - Redação 5

Abra a cabeça, pare de consumir. “Abra a cabeça, tô nem aí” foi a frase que fez parte de um slogan da Coca Cola, cujo objetivo era vincular o ato de consumir o refrigerante à sensação de felicidade. Na realidade, a empresa resumiu o anseio que move o capitalismo: instalar e enraizar a cultura do consumo materialista. É inevitável se submeter às propagandas, já que todas as mídias vivem destas. Durante os intervalos na tevê, nas revistas, jornais, rádio e também na internet, a tentativa de seduzir o consumidor está cada vez mais sofisticada. As redes sociais, por exemplo, anunciam produtos que se relacionam com as buscas do internauta no Google e com o seu perfil nas diversas páginas. Resistir a liquidações e aos benefícios oferecidos pelo consumo constante, como a redução dos juros e os prêmios disponibilizados pelos cartões de crédito é difícil, visto que a sociedade considera que ir ao shopping fazer compras, ou simplesmente observar as lojas é uma forma de lazer mais prazerosa do que ir ao teatro, shows, exposições, os quais, muitas vezes, proporcionam um custo benefício bem maior. A cada dia novas agências de publicidade surgem e monopólios comerciais se renovam. Os investimentos internacionais baseiam-se no potencial de um mercado consumidor de determinada região, ou seja, a multiculturalidade foi reduzida para aqueles que podem comprar e aqueles que não podem. Se os recursos fossem distribuídos de forma igualitária, não haveria a necessidade de se competir para constatar quem possui os mais caros e melhores bens, tentar limitar a ganância da elite, também contribuiria para atenuar o consumo irracional.

(Juliana Mazza Pereira)


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Texto dissertativo - Redação 6

A felicidade comprada Todos os dias as televisões são bombardeadas por centenas de anúncios publicitários que mostram diversas maneiras de se chegar à felicidade, todas a uma loja de distância do telespectador. O modelo de vida americano é cada vez mais objetivo de vida das pessoas, e a ideia de felicidade é cada vez mais perdida e deturpada. Eça de Queiroz, há mais de um século, escreveu o livro “A cidade e as serras“ que apresenta como protagonista a personagem Jacinto. Ele é um homem “civilizado”, rico, que mora em uma Paris desenvolvida, e pode comprar tudo o que de melhor o mundo pode lhe oferecer. No entanto, o autor mostra ao leitor que tudo não passava de coisas inúteis e supérfluas e que, na verdade, o protagonista era um homem vazio e sem verdadeiros valores. Mesmo tanto tempo após a feitura da obra, podemos verificar que os valores e pensamentos da sociedade continuam muito parecidos aos retratados por Eça de Queiroz. Um exemplo disso é o “funk ostentação”, estilo musical que faz sucesso por todo o Brasil. Em suas letras, os “ mc’s “ exaltam seus bens materiais, mostrando-os como sinônimo de felicidade e satisfação na vida. A desvalorização do ser pelo ter fica evidente nas letras das canções. Alberto Caeiro – heterônimo de Fernando Pessoa –, em um de seus poemas, diz que o seu mundo é do tamanho que ele vê, e é isso que torna problemática uma sociedade que não vê nada além das vitrines e do reflexo do cartão de crédito. É preciso que olhemos para o mundo, principalmente para nós mesmos, e comecemos a perguntar o que de melhor podemos oferecer ao mundo e não querer saber o que o mundo possui de melhor para nos oferecer.

(Iara Christine Marcelino Santos)


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Texto dissertativo - Redação 7

Não se compra tudo “O que faz você feliz”. O slogan da propaganda do supermercado Pão de Açúcar associa a felicidade de seus clientes aos produtos vendidos pela empresa, como se tudo que os fizesse feliz estivesse lá para ser comprado. Esta ideia vendida hoje, faz com que as pessoas acreditem na mentira de que o dinheiro compra tudo, até mesmo a felicidade. Um exemplo que mostra como essa ideia está sendo vendida é o anuncio publicitário de um cartão de credito publicado em 2012, que diz que para aproveitar o que o mundo tem a oferecer de melhor é necessário disponibilizar do cartão, dando a entender que aquilo que o mundo tem de melhor pode ser comprado. Além disso, de fundo, se vê a imagem de um shopping, como se o mundo de que se fala fosse este e que tudo que o mundo tem para oferecer está dentro dele. Essa ideia equivocada nos leva a entender que quem não possui dinheiro não tem como ser feliz, ou seja, aqueles que são pobres financeiramente também serão pobres de alma. No filme “A vida é bela”, esse conceito é desmentido. O casal pobre com seu filho são enviados ao campo de concentração em época de guerra. A sua pobreza financeira, mais do que clara no filme, não interfere para que o pai da família faça de tudo para deixar seu filho feliz e sem saber o que estava acontecendo. Se o dinheiro fosse tão essencial, ele não conseguiria. É um equívoco a ideia de que o dinheiro compra até mesmo a felicidade. Assim, o cartão de credito não oferece o que o mundo tem de melhor e nem o mercado tem para vender tudo o que nos faz feliz. É necessário que a ideia de que o dinheiro deve vir em primeiro lugar acabe, pois a felicidade não se compra.

(Laura Bozza Santolia)


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Texto dissertativo - Redação 8

Prosperidade contemporânea Por mais que o sistema capitalista tenha promovido uma lógica irracional do consumo, este também é considerado um sistema do qual depende o modo de vida contemporâneo. Assim, a sociedade do século XXI só age como reprodutora desse sistema porque, de alguma forma, enxerga em seus ideais, algo benéfico. O que se torna incoerente é deixá-la habituar-se aos modelos apresentados pela indústria cultural, de forma a tornar o consumismo a base da prosperidade. Realmente, as grandes empresas, mostram interesses em fazer com que seus consumidores extraiam a essência da felicidade? O que ocorre é que cada vez mais a indústria tenta incentivar o consumo, por meio de valores que abordam pressupostos alienantes. Assim, funcionando como uma estratégia de mercado, visando apenas o lucro. De certa forma, a sociedade se beneficia também, uma vez que se encontra a dependência mútua entre esses agentes. Porém, existe uma série de padronizações que são impostas e adotadas inconscientemente pelo indivíduo, responsáveis por estas falsas abordagens de satisfação. Uma crítica a esse sistema capitalista contemporâneo é abordada no documentário “Criança, a alma do negócio”, em que traz pesquisas de que o principal consumidor de uma residência é a criança. Isso justifica a atitude da indústria cultural em controlar canais televisivos infantis, fornecendo à vítima, inúmeras distrações que se deve comprar para obter satisfação. A problemática principal, não está associada à existência do capitalismo, mas sim, ao fato de que o mercado impõe certos valores de padronização, à medida que este se inova baseando-se no acúmulo de capital. Espera-se então que ocorra uma mudança nos hábitos da sociedade, para que a prosperidade não seja associada ao consumo. Dessa forma, seria excepcional uma abordagem crítica dos valores impostos pela indústria, extraindo de forma coerente, o melhor que o mundo tem a oferecer.

(Crystina Miwa Acamine)


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Texto dissertativo - Redação 9

Uma sociedade que cobra pela felicidade “Existem coisas que o dinheiro não compra. Para todas as outras, existe Mastercard”. Na frase de efeito de uma grande empresa de cartões de crédito, a felicidade é posta como independente do dinheiro, mas é conectada à empresa, pela sua posição de atrativo na propaganda. Mesmo disfarçadamente, as ideias de dinheiro e felicidade estão sempre ligadas. Como dois elementos inseparáveis, repercute-se que, não só se pode comprar tudo de bom, mas que não há como consegui-lo de graça. Há um impulso constante para que essa repercussão funcione. O American Way of Life, acompanhado da industrialização, instalou na sociedade uma série de moldes que caracterizavam uma vida perfeita. Assim, apresentou o consumo exagerado como o ápice da felicidade, e convenceu a todos de que comprar é o único jeito de se ter sucesso na vida. Graças a convencimentos como esse, a alusão ao consumo atingiu proporções biológicas. Como consequência dessa imposição, o organismo humano passou a ativar um neurotransmissor chamado endorfina a cada compra feita. A substância causa a sensação de prazer no indivíduo e, se suspendida sua produção, o coloca à beira da depressão. O mercado transformou a compra em uma dependência química. Como todo vício, esse processo é escravizador. Na ganância pelo lucro, utiliza-se taxas e impostos para potencializar a dependência já instaurada. Somando-se todos os valores e ainda mais esses impulsionadores sobre o povo, torna-se impossível sobreviverdentro desse sistema sem aderir ao consumo exagerado. Devido a esses fatores, não há como reagir e a todo o momento haverá outra Mastercard para persuadir a todos. Os poucos resistentes o suficiente para não se render ao consumo devem buscar sociedades alheias à economia mundial, e seguir o curso de suas vidas nelas. Quando o ciclo é forte o suficiente para ser inquebrável, é perda de tempo tentar mudá-lo, e deve-se sair dele para lidar com sua discordância em frente ao sistema imutável em que se vive. (Munir Chain Rosa)


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Texto dissertativo - Redação 10

Os delírios de consumo do século XXI Em pleno século XXI, há pessoas que são contra a palavra “comprar” e se opõem totalmente ao consumismo. Existem aquelas também, que compram apenas o necessário, nada de supérfluos. Porém, todos devem perceber que o consumismo é o que move o mundo atualmente, tanto na área econômica, quanto na área social. Esse ato de comprar é usado para que as pessoas se sintam bem, para que se sintam acolhidas pela sociedade; nesse momento é que surgem as chamadas “modinhas”. Um produto é criado, colocado no mercado, aprovado pelo público alvo e logo vira necessidade. O “comprar” se tornou uma obrigação. Aproveitando-se dessa nova necessidade humana, muitos administradores criaram lojas on-line, que facilitam a negociação, afinal, nem é preciso sair de casa, as compras são feitas num só clique. A área de e-shopping cresceu consideravelmente nos últimos anos, dando, além de felicidade – e dívidas – para os consumistas desenfreados, diversas oportunidades de emprego. Aqueles que gostam de sair de casa para comprar – uma ação quase já mecânica –, podem encontrar um ponto comercial em praticamente todas as centros urbanos do mundo. A cidade de São Paulo possui mais de 40 shoppings centers, sem contar as galerias. A vida urbana se tornou um sinônimo para vida consumista. Não há como mudar esse cenário, o consumismo move as relações sociais e econômicas atualmente. O próximo passo é a aceitação, e tentar melhorar o 2º e 3º setores da economia nacional, diminuir as tarifas alfandegárias e baixar os preços, facilitando a vida dos consumidores e fazendo a roda da economia não parar de girar.

(Natália Maria Marques)


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Texto dissertativo - Redação 11

Individualismo que custa caro A era da tecnologia em que se vive é caracterizada como um período em que as fronteiras, tanto ideológicas quanto físicas, de nada valem. Porém, a maior tendência das sociedades é comportar-se de forma individualista. Tal reclusão cria indivíduos que buscam conforto em objetos materiais, entretanto, até que ponto é saudável apoiar emoções em bens de consumo? A melhor ilustração para tal situação é a obra “A cidade e as serras”, na qual o personagem Jacinto cultua seus objetos como verdadeiros amigos e parentes, visto que tais relações eram ausentes em sua vida. O cenário demonstra que o homem, por ter a necessidade de se envolver emocionalmente, usa a aquisição como um meio de conseguir algo com o qual ele possa se relacionar. Bens materiais passam, portanto, a desenvolver um importante papel psicológico na vida das pessoas. Porém, a quebra de laços é um fenômeno contrário à ideia de globalização circulante, uma vez que essa deveria aproximar a população. A explicação para tal paradoxo é que, em um cenário capitalista, é mais interessante ter uma sociedade dependente do que uma que baseia sua felicidade em relações interpessoais, já que essas não são lucrativas. O crescimento do consumismo desenfreado é, então, causado por ações do próprio sistema vigente no mundo. Porém, apoiar sentimentos em algo tão efêmero pode atribuir ao indivíduo consequências devastadoras. Entre elas o aumento da reclusão é o mais grave, uma vez que essa gera pessoas alienadas, que acreditam e conhecem apenas seu próprio mundo e, dessa maneira, dão continuidade ao ciclo. A prática compulsiva do consumo é um problema de escala mundial que só tende a aumentar. Sendo assim, é necessário que se crie programas que incentivem a convivência social e o estabelecimento de laços, uma vez que esses serão os maiores responsáveis por uma compra consciente.

(Paula Ribeiro Dos Santos)


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Texto dissertativo - Redação 12

Felicidade enganosa Roupas, sapatos, joias, carros e viagens, tantas ofertas de felicidade imediata que os anúncios prometem e que se conseguem apenas com o passar de um cartão de crédito. Mas o que não avisam é que essa suposta felicidade que se conquista é sómomentânea e falsa, e o que se comprou se torna um brinde, como uma lembrancinha que se ganha quando a festa acaba. Quem compra nunca se satisfaz com apenas uma peça ou um par de sapatos, sempre quer mais e o mais caro, afinal, o melhor e mais bonito trará mais felicidade. Mas o melhor nem sempre está no extravagante, às vezes está no simples, e depois, tudo o que se gastou para se satisfazer por algum momento, volta em forma de dívidas e destrói o conto de fadas. “A cidade e as serras”, obra de Eça de Queiroz, retrata esse quadro de que o melhor do mundo pode estar nas coisas simples – quando Jacinto, que se considerava muito feliz na cidade com todas as suas parafernálias caras e de última geração, se vê entediado. Ao viajar para o campo, onde tudo é mais simples, diz ter encontrado a verdadeira felicidade. Havia se afastado das falsas promessas da cidade grande. As melhores coisas da vida se encontram no equilíbrio, a resolução não é extinguir anúncios e parar de comprar. Tem-se o direito de se realizar alguns caprichos. Porém, as propagandas deveriam ser proibidas de colocar valores pessoais como verdades absolutas para alimentas o consumo, pois de certa forma, seriam propagandas enganosas. Cada um tem a sua melhor coisa da vida.

(Rafaela Bustamante de Miranda)


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Texto dissertativo - Redação 13

Felicidade de mercado O ser humano sempre teve objetivos a ser conquistados. Reconhecimento por uma bela retórica na Grécia Antiga, glórias com as lutas dos imperadores no Império Romano. Entre os séculos XX e XXI, o que mais se procura é conquistar a felicidade. Seu ideal é perseguido na escolha profissional, amorosa e nas compras. Incrivelmente, o capitalismo e a propaganda conseguiram transformar o substantivo abstrato “felicidade” em caixas concretas de acessórios e eletrônicos. A sociedade comprou mais do que falsas representações da felicidade: comprou a ideia de que ela pode ser comprada. Se antes a felicidade podia ser encontrada passando tempo com a família e amigos, hoje as pessoas se reúnem nos centros de consumo: shoppings. Juntas, passam a cultuar os produtos das vitrines, expostos como obras de arte. Mesmo na companhia umas das outras, desfrutam mais do visual comercial, pensando como suas vidas seriam melhores após comprarem determinado produto. A felicidade, para muitos, só pode ser encontrada no prestígio e reconhecimento social. Já que o tempo das lutas para tal fim (quase) acabou, é por meio do consumo que se atinge esse status. Com o carro do ano e o celular de última geração, esses indivíduos compram a felicidade não na intenção de usufruí-lo, mas para mostrar ao mundo o que têm. Numa das doenças modernas mais frequentes, a felicidade pelo consumo tem outra função: amenizar o vazio. Para os depressivos, as compras podem ser uma maneira de fugir da realidade. E para esse fim, os templos do consumo, sempre belos, e completamente diferentes do aspecto social mundial, funcionam bem. Com a ajuda dos diversos mecanismos favoráveis às compras, podem gastar um dinheiro que não têm para alcançar essa felicidade temporária. Nos três casos, o ideal de felicidade não pode ser alcançado. As vitrines sempre terão produtos mágicos e milagrosos, as montadoras sempre produzirão modelos mais modernos e o vazio pessoal não será preenchido por roupas no armário. Contudo, a percepção individual de que a felicidade é interna, construída por atributos humanos, sentimentais e não econômicos, pode frear essa corrida compulsiva a lugar nenhum. Não se pode esperar de quem lucra com isso “campanhas de conscientização”, mas deve-se esperar que, através de redes sociais, por exemplo, escolas e instituições formadoras de opinião se promovam debates sobre a banalização da felicidade pelo consumismo. Dessa forma, mais pessoas entenderão o que foi feito com o ideal do sentimento e conseguirão desvinculá-lo do consumo. (Rebeca Queiroz de Almeida)


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Texto dissertativo - Redação 14

A falsa felicidade Na obra de Eça de Queiroz, “A cidade e as serras”, a personagem principal, Jacinto,era um homem muito rico e nobre que vivia na grande Paris do final do século XIX, e acreditava fielmente que a felicidade era encontrada através do luxo e de supérfluos. No entanto, passou a contestar esse modo de vida afirmando que todos a sua volta eram falsos e hipócritas e a sua vida era entediante. Assim como Jacinto, a população do mundo contemporâneo regrada constantemente pelos princípios do capitalismo, influenciados pelo consumo frenético e acelerado, possuem a falsa ideia de que a busca por bens materiais leva à felicidade instantânea e sendo o melhor que o mundo tem a oferecer. Em uma entrevista com o atual presidente do Uruguai, famoso por sua simplicidade, ao viver em uma pequena fazenda em uma humilde casa, perguntou-se porque ele continua pobre, imediatamente ele rebateu afirmando que pobre não é aquele que tem pouco e sim aquele que quer muito. Segundo a Escola de Frankfurt, o capitalismo utiliza-se de um fator chamado indústria cultural, ou seja, através dos meios de comunicação mais vigentes passa-se a inserir ideias da necessidade do consumo e da obtenção de bens materiais, por anúncios e propagandas de diversos tipos, que são feitos para chamar a atenção do comprador em potencial. Em “A cidade e as serras”, Jacinto vai para o campo e lá descobre a sua verdadeira felicidade, com uma vida simples sem exaltações de luxo, apenas a belíssima e única natureza. No mundo capitalista, a maioria da população pensa que apenas a obtenção de supérfluos através do consumismo é o melhor a ser oferecido. No entanto, uma vida regrada de simplicidade entre o campo e a cidade leva à verdadeira felicidade, afinal, nós fomos levados a achar que só há um modo de ter o melhor do mundo.

(Vitor Lima de Mello)


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Texto dissertativo - Redação 15

A “Consumilicidade” A sociedade contemporânea, principalmente a que constitui as populações nos meios urbanos, vem se mostrando ao longo dos anos cada vez mais consumista do que as anteriores. O consumismo excessivo é uma prática cotidiana que atualmente é confundida até mesmo com o conceito de felicidade, mas até onde isso é verdade? A ideia de felicidade através de diversas formas de consumo é uma consequência do amadurecimento de um sistema capitalista, forjado para que o indivíduo aceite essa realidade como verdade absoluta, evitando questionamentos. O filósofo existencialista, Sartre, possuía uma ideia diferente sobre o que era a felicidade e sua tese se constituía de dois principais fatores: a ética e a moral. Contudo, a sociedade do século XXI se mostra contrária a esse pensamento, pois para adquirir seus bens de consumo e alcançar aquilo que a torna “feliz”, é capaz de sacrificar a própria ética e a moral a qual são submetidos. Os meios de comunicação em massa se mostraram muito eficientes na realidade atual, como transmissores de informações, no entanto, essa mesma mídia informativa se transformou também no maior meio ilusionista de todos, pois ela é a “fonte” alienadora que transforma um produto, em tese prazeroso, em algo necessário para a sobrevivência. Esse problema, mesmo que tenha uma imagem de descontrole, poderia ser reduzido com a alteração de alguns hábitos no âmbito socioeconômico e apoio da mídia para a não-alienação ao menos do público infantil, pois serão estes, nas próximas décadas, os participantes da sociedade e de uma possível realidade estatal diferenciada e menos dominada pelos bens de consumo excessivos.

(Yeska Dias Coelho)


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Puccamp

Leia com atenção este início de uma narração, considerando que o narrador tem cerca de 18 anos.

Quando atendi a porta, o motorista do caminhão que parara em frente da casa conferiu o endereço numa nota e disse que tinha uma encomenda a entregar: uma enorme caixa, com a inscrição FRÁGIL bem visível. Chamei meu pai, ele conferiu os dados da nota: era para nós, mesmo. O que seria? Recolhemos a pesada caixa e chamamos minha avó, minha mãe e meus irmãos menores para assistir à revelação daquele mistério. Pois quando abrimos...

PROPOSTA DE REDAÇÃO Continue essa NARRAÇÃO, de modo a detalhar as reações dos familiares diante da revelação do conteúdo da caixa e encaminhar a resolução da história, buscando dar-lhe um final inesperado.


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Texto Narrativo - Redação 1

De fita grossa e frágeis laços Pois quando abrimos encontramos dentro da caixa outro embrulho. Era consideravelmente menor do que a caixa, envolvido num papel grosso e negro, lacrado com uma fita vermelha do Senhor do Bonfim, que parecia demasiado grossa.Aproximamo-nos mais do misterioso recipiente. O que antes nos parecia um simples fita do Bonfim revelou, à clara vista, uma tira de cetim encarnado com inscrições feitas com o que parecia ser uma caneta de tecido. Lia-se em letras claras, garrafais e histriônicas: “O que esta caixa abriga é a única coisa capaz de destroçar esta família”. Por alguns segundos ficamos todos petrificados pelo medo. Pairava no cômodo um silêncio de horror, por mais que tentássemos transformá-lo numa mudez cética, não conseguíamos. Dentro de nós sabíamos que éramos fracos, que nossa união era quebradiça, os laços que nos uniam eram de cristal, não por serem límpidos, muito pelo contrário, mas por se despedaçarem com facilidade. Não havia naquela sala ninguém que não escondesse algo. Mamãe foi a primeira a quebrar o silêncio. “Será que a sua concubina te mandou algum presente?”, disse ela, frígida, cáustica, para meu pai. “Minha o quê?”, respondeu ele com uma falsa indignação. “Não se faça de bobo, querido. Sua concubina, sua amante. Aquela coisa que ‘você chama de trabalhar até tarde’, sabe?”, disse ela, mantendo em seu olhar a frieza, caindo um pouco a cabeça. “Para de ser louca!”, ele gritou, violentamente amedrontado, completando, em desespero, com um “É mais provável que seja um dos seus fetos abortados, talvez a clínica comece a guardar depois do terceiro presentinho do seu namoradinho que você jogou fora.” Ela se atirou no chão em lágrimas amargas de ódio e arrependimento, xingava-o como nunca. Sempre foram péssimos em esconder o ódio que tinham um pelo outro, mas nunca fora tão duro admitir para nós mesmos a existência do sentimento. Anos depois, vovó confessou que também se lembrara dos abortos quando leu a fita, que ajudara a pagá-los, porém, naquela fatídica tarde, limitou-se ao silêncio, sentada no sofá de couro enquanto fumava seu tubinho Marlboro de câncer. Aos 18 anos, era ainda inocente, só pensei no baseado que o colega da faculdade me dera. Meus irmãos mais novos decerto pensaram nas garrafas de bebida e maços de cigarro que escondiam no vão sob a cama. Meu irmão caçula fez que ia abrir a caixa, mas meu pai o reprimiu. Por fim, papai acabou abrindo-a por si próprio. Desfez o laço de cetim com uma precisão cirúrgica, rasgou o papel preto e, por fim, desdobrou as abas de papelão. O conteúdo nos surpreendeu tanto quanto nos decepcionou. Era mágico. Lançou como que um feitiço em cada um de nós, individualmente enfeitiçou-nos os olhos. Cada membro que olhava para o pequenoenorme objeto via algo diferente, viam gente diferente. Pessoas que já conhecíamos, sem saber mais quem eram.


Oficina de Redação 2014 Papai me disse, em seu solitário leito de morte, que vira um homem igual ao seu pai, mas sem alegria, sem vida, sozinho e melancólico. Mamãe viu uma artista frustrada e mal amada, sem caminho nem esperança. Seca, destruída, morta e putrefata por dentro. Isso me contou num lampejo de lucidez quando, muitos anos mais tarde, se afundava no Alzheimer num asilo. Na manhã seguinte, num café silencioso, vovó confessou ter visto uma mulher esquecida pela morte e renegada pela vida, lhe respondi que eu vira um ser disforme, nem adulto nem criança, sem futuro, triste, lacônico e egoísta. Ao ver o conteúdo da caixa, meu pai tirou-o do recipiente, observou-o com tristeza e tacou-o no chão. Despedaçou-se em mil melancolias ao quicar no linóleo. A inscrição não mentia, era frágil. Mas mais frágeis éramos nós. Éramos covardes, éramos vis. Papai voltou para o trabalho sem dizer uma palavra, meus irmãos e eu fomos para o quarto ver TV e tomar nosso analgésico mental alienante de cada dia. Vovó ajudou mamãe a varrer do chão os cacos do espelho. (Lucas Manuel Mazuquieri Reis)


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Texto Narrativo - Redação 2

Não apenas uma rosa Pois quando abrimos havia uma rosa, não uma qualquer, uma rosa branca assim como a de Manuel Bandeira, uma pura e modesta rosa branca. Suas pétalas eram alvas como um raio de luz que reflete sobre a neve, apenas com pequenos pontos rosáceos tão belos quanto sombrios, rastros na brancura. Meu pai, jovem senhor de 60 anos, empalideceu, adquirindo uma nuance ainda mais clara que a da rosa. Soltou um suspiro, fechou a caixa e levou-a consigo para o andar de cima sem nada dizer. Desde então, tratava a rosa como a uma divindade, com zelo e cautela, porém com resquícios de medo. Esta, por sua vez, não sofria alterações, permanecendo intacta e perfeita, parada no tempo. Ele afirmava que aquele item era mais valioso que tudo, era sua conexão. Temia que nos aproximássemos quando realizava seu ritual de cuidados. Uma vez lhe perguntei o significado de tudo aquilo, ao que recebi como resposta um meio sorriso. Até que, ao final de nove dias, os pontinhos vermelhos da rosa começaram a se alastrar de modo a formar borrões. À medida que era tomada pelo vermelho, meu pai parecia enfraquecer como se estivesse a roubar-lhe sua energia vital. Eu não entendia. Queria aquilo fora de casa, longe de meu pai. Queria destruí-la, arrancar pétala por pétala e reverter o processo vigente. Mas o pior ainda estava por vir. No décimo dia, ele começou a arrumar suas coisas, como se preparando para uma partida. Quis saber o motivo. Aquele homem, cuja coloração assumira o translúcido, disse apenas que me amava e me pediu para cuidar da rosa, completamente vermelha. Em seguida, sumiu. Perguntei à minha mãe se o vira e ela falou “Filha, seu pai morreu há exatos dez dias, não se lembra? No dia em que recebemos a flor da qual você tanto cuidou”. Mas ela estava errada, eu finalmente entendera a história de meu pai, a rosa, a conexão. Sua alma permanecera conosco por um período antes da partida definitiva. Lembrei-me de que ele sempre dizia que queria a estrela da manhã, e agora ele havia se tornado uma, uma estrela de um vermelho profundo, para a qual olhava todos os dias e me sentia completa, pois estava junto a mim. (Giuliane Sayuri Araújo Toome)


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Texto Narrativo - Redação 3

Frágil passado Pois quando abrimos havia uma maleta preta de couro, meu pai a retirou de dentro da caixa e a deixou no chão da sala. Estávamos todos ansiosos para saber o conteúdo da desconhecida maleta, meu pai a abriu sem delongas. Meus irmãos olhavam aquilo com certo deboche, meus pais estavam com a testa franzida de confusão, e minha avó... Essa, com certeza, sabia o que estava acontecendo. Dentro da maleta estavam visíveis apenas um quepe e um fundo preto. Eu conhecia aquele tipo de quepe, era de soldados que lutaram na guerra. Sem que alguém pudesse dizer algo, minha avó se ajoelhou ao lado da grande maleta, pegou aquele fundo preto com as duas mãos e o puxou para fora, descobri que, na verdade, era uma farda, o tecido desbotado não negava que era velho. Minha avó olhava para aquela peça de roupa com tanta intensidade que se o dono da farda estivesse ali, ela o agarraria e nunca mais soltaria. Uma fotografia velha. Dois envelopes, um com aparência antiga e outro não. Uma caixinha de veludo vermelha pequena. Era o que havia sobrado ali dentro. Tanto espaço... e só tinha aquilo. Meu pai tinha uma expressão zangada em seu rosto, não parecia satisfeito com aquela cena e minha avó se debulhava em lágrimas, nunca a tínhamos visto chorar, e agora, chegava a soluçar como uma criança. Murmurava palavras desconexas, “desculpe”, “não o esperei”, “o amava tanto”. Seus olhos tinham um brilho triste, e ela segurava a foto contra seu peito. Minha mãe, meus irmãos e eu continuávamos sem entender muito bem o que estava acontecendo. Meu pai estava com aquela carranca, e quando ele pegou a caixinha vermelha e a abriu, seu rosto conseguiu ficar mais fechado. Nunca ficamos sabendo da história e o que significava aquela maleta. Eu só sabia o que ouvia escondido das conversas entre minha mãe e meu pai. O filho de um antigo “amigo” da vovó explicou em uma das cartas que havia mandado a caixa para ela como desejo de seu pai que havia falecido. Não sou bobo, tinha uma noção do que dona Marta havia feito em seu passado, e não me parecia nada bom. Papai nunca a perdoou, ele falava sobre orgulho e honrar o nome de nosso falecido avô, e minha mãe não concordava com isso, estava estampado em seu rosto, mas ela nunca foi contra a palavra dele. E minha avó... Ah, essa, morreu de saudades. (Alexia Yukari Oshiro)


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Texto Narrativo - Redação 4

Caixinha de surpresas Pois quando abrimos, surpreendemo-nos. Tanta expectativa gerada antes da abertura da caixa por algo tão simples, tão pequeno, tão sem graça e inútil. Mas, ao que consegui perceber, meu pai não teve essa mesma impressão, essa surpresa desanimadora e decepcionante. Não. Ele parecia preocupado de certa forma, até tremia um pouco as mãos, mas só eu havia percebido aquele ser inquieto ao meu lado. Todos voltaram aos seus afazeres, inclusive eu, porém sem tirar os olhos de meu pai e do interior da caixa. Voltei a ver televisão e percebi que ele olhava de um lado para o outro como se fugisse do FBI ou algo assim. Rápida e discretamente pegou o objeto de dentro da caixa e subiu trancando a porta de seu quarto. Comecei a ouvir sons diversos de móveis sendo mexidos, sapatos caindo no chão, assim como canetas, cadernos, coisas assim, até que ele desceu já suado, pegou o celular e se trancou novamente. Não tinha como não ficar curioso com tal movimentação e inquietação do meu sempre calmo, tranquilo e relaxado pai. Subi. Cada degrau que subia me permitia ouvir cada vez mais claramente as palavras dele ao celular até que cheguei à porta do quarto e escutei sua última frase: “Tenho certeza de que ninguém vai sentir minha falta mesmo”. Muitas coisas poderiam vir à minha cabeça naquele momento, mas uma, apenas uma, martelava-me e pesava mais do que as outras. A possibilidade de meu pai se matar era algo triste, que me desesperava muito. Eufórico, corri, corri até chegar ao meu quarto. Tempo para pensar. Não pode ser verdade. Ele não faria uma loucura dessas. Ele não faria, mas a caixa de ferramentas completa, que havia chegado através da outra caixa, de papelão, poderia muito bem fazer isso por ele. Mais tarde, minha mãe saiu com meus irmãos, e minha avó foi à igreja. Meu pai ficou. Apenas nós dois em casa, sozinhos. Eu ainda estava aflito com o que ouvira e, acredito que por conta do seu bom instinto paterno, meu pai me perguntou, sem entrar no quarto, se eu estava bem. Respondi que sim e ouvi o silêncio dos passos dele se distanciando, o que me preocupou mais ainda. No meio de tantos pensamentos, ouvi o barulho da caixa de ferramentas sendo arrastada até a cozinha e, após certo tempo, aberta. Silêncio total. Levantei-me. Nem precisava calçar os chinelos, apesar do chão encerado. As chaves do meu quarto não queriam me obedecer, não viravam nem com a violência das minhas mãos trêmulas, já suadas e frias. Abri a porta. Atravessava o corredor para chegar à escada. Parecia longe. Minhas pernas pesavam muito, minha angústia crescia muito, meu estômago doía muito. Escadas, finalmente. Desci aos tropeços e quase em quedas e me arrastei até a cozinha.


Oficina de Redação 2014 Nada. Absolutamente nada tinha acontecido. Meu pai me olhou como alguém que cometia um crime e foi pego em flagrante, mas ao notar meu estado, preocupou-se e perguntou se eu estava realmente bem. Expliquei tudo o que sabia ou achava que sabia, foi quando ele me disse que tinha sido demitido, mas que já tinha conseguido um emprego de pedreiro em uma casa bem longe da nossa. Escondeu isso de nós por causa da vergonha que sentia e porque ficaria dias fora para a reforma. Entendi tudo e me tranquilizei. Disse que tinha orgulho dele acima de tudo, assim como o resto da família falou também depois que soube. No dia seguinte, ele foi, E não voltou. Desde então, a música “Construção” de Chico Buarque não sai da minha cabeça.

(Matheus Henrique Carvalho dos Santos)


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Texto Narrativo - Redação 5

A lista da morte Pois quando abrimos, o que encontramos foi impossível decifrar, pois estava envolto em um monte de isopor o qual tinha um bilhete escrito com letras garranchadas: “Para Sandra”. Todos olhamos para minha mãe esperando por uma resposta, mas ela parecia atordoada e balançou a cabeça negativamente como que dissesse não saber do que se tratava. Ficamos inertes por alguns segundos e então minha mãe decidiu ver do que se tratava o tal objeto. Ao tirá-lo da caixa, o que vimos foram cinco figuras nos encarando. Todos ficamos com olhos miúdos e sem compreensão alguma do que estava acontecendo. Então minha mãe deu uma longa e rouca gargalhada: - Isso é só um espelho! – exclamou como se esperasse por aquilo. – Não sei quem nos mandou, mas vou deixá-lo em meu quarto. E assim ela o fez. Minha mãe era o tipo de pessoa que tratava de todo tipo de assunto com a maior impessoalidade possível. Fizemos como ela e seguimos como se o episódio do espelho nunca tivesse acontecido. Na semana seguinte, ao voltar para casa depois de um agitado dia na faculdade, deparei-me com minha avó no chão e meus dois irmãos parados ao seu lado, incrédulos e paralisados diante da situação. Ela estava baleada. Tudo o que consegui dizer foi: “Quem...?” Minha avó deu-me um sorriso leve e tristonho, sabia que não tinha mais tempo, então disse: - O espelho... Sua mãe, Sandra... E então seus olhos fitaram o infinito que eu era incapaz de compreender. Procurei minha mãe pela casa, mas não a encontrei. Passei pelo espelho em seu quarto e então o vi: atrás do espelho havia um envelope que dizia “Lista dos mortos”. Abri o envelope e lá estava meu nome seguido pelo o de minha avó que estava riscado. Um baque ensurdecedor veio da porta do quarto. Lá estava minha mãe. Ela pegou a lista de minhas mãos, deu-me um beijo na testa e então eu não vi mais nada. (Natalia Gomes Ribeiro)


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