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“É urgente a mudança de comportamento, de cada um enquanto indivíduo e de cada um enquanto parte integrante de uma comunidade”

José Filipe Moraes Cabral*

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É por isso que este desafio de tão grandes e profundas dimensões a todos convoca: responsáveis políticos, gestores, administrações públicas, organizações não governamentais, empresas, comunidades, cidadãos. Se o efeito destruidor desses fenómenos sobre vidas, habitações e outros bens de natureza económica é para todos evidente e imediato, já o seu impacto negativo específico sobre bens de natureza cultural e natural passa, na maioria dos casos, ©CNU largamente despercebida. E, no entanto, a subida das temperaturas levará, a prazo, à destruição de paisagens classificadas devido à falta de água, tal como as cheias violentas que tenderão a multiplicar-se porão em risco monumentos, centros históricos e outros bens culturais que beneficiavam de um entorno de segurança que considerávamos adequado.

A subida paulatina do nível das águas do mar constitui uma outra ameaça particularmente grave provocando danos irreversíveis na singularidade do património de determinada geografia.

Portugal, pela extensão da sua costa, encontra-se particularmente exposto a estes fenómenos climáticos extremos. No fim de um ano de seca extrema que assolou o país, as recentes chuvas intensas que causaram fortes inundações por toda a zona costeira são os exemplos mais recentes da violência destes fenómenos. No curto prazo, o impacto coloca-se em termos sócio económicos e de eventuais vidas humanas a lamentar. No médio e longo prazo a recorrência dos fenómenos põe em causa a geodiversidade e a biodiversidade, a qualidade da água e a disponibilidade de bens alimentares para as populações. Acresce que o efeito nocivo dos fenómenos climáticos se adiciona e muitas vezes amplifica outras ameaças já anteriormente existentes, tão perniciosas quanto as alterações climáticas para a conservação do património. É o caso do abandono dos centros históricos pelos seus habitantes, da progressão urbana incontrolada, da progressiva erosão de zonas de proteção, da construção selvagem, da exaustão dos solos, da descaracterização do património cultural e natural – ou seja a destruição do seu valor universal excecional – através do seu híperaproveitamento em termos exclusivamente ditados pelo ganho económico. Mas, no que respeita aos efeitos destruidores das alterações climáticas, são precisas - e são urgentes - estratégias específicas destinadas a fazer face aos seus efeitos destruidores sobre o Património Cultural e Natural da Humanidade.

©Pixabay

Sensibilizar autoridades e comunidades locais para tais efeitos, conceder-lhes uma muito maior visibilidade, mobilizar novos meios humanos e financeiros para lhes fazer face, deve constituir uma prioridade no contexto da ação climática levada a cabo pelas Nações Unidas e as suas Agências e programas, que é um dos objetivos da Agenda 2030, bem como dos Governos e das administrações nacionais. É uma tarefa para a qual os gestores dos sítios património da Humanidade, o ICOMOS e o IUCN, o Centro do Património Mundial, as designações UNESCO, Reservas da Biosfera e Geoparques, e a UNESCO em geral estão especialmente habilitados. A Comissão Nacional da UNESCO em colaboração com as Redes UNESCO, continuará a desenvolver ações destinadas a difundir uma maior consciência do valor único do património cultural e natural nacional e mundial, e das exigências que se colocam à sua proteção e preservação. É urgente a mudança de comportamento, de cada um enquanto indivíduo e de cada um enquanto parte integrante de uma comunidade. As designações UNESCO são de particular importância na mitigação destes eventos. As alterações climáticas constituem uma ameaça global, com consequências ainda em parte desconhecidas. Mas o que já sabemos dos seus efeitos e das suas consequências, é em si já suficientemente aterrador.

*Embaixador, Presidente da Comissão Nacional da UNESCO

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