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Alterações Climáticas Geoparques Mundiais da UNESCO portugueses

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Geoparques Mundiais da UNESCO portugueses A nível global, há a ameaça crescente de no futuro virmos a enfrentar colapso ambiental, como resultado das alterações do clima dos dias de hoje. Os efeitos das alterações climáticas já não são apenas previsões de um futuro longínquo, mas sim problemas que temos de enfrentar no presente. Em todo o planeta, assistimos cada vez mais à ocorrência de eventos extremos como inundações, secas e crise hídrica, ventos fortes, incêndios florestais, deslizamentos de terra, subida do nível das águas do mar, entre outros. Também a ainda atual pandemia COVID-19 tem sido associada a uma consequência das alterações climáticas. A exploração desmedida do ambiente e da biodiversidade e a destruição de habitats, poderá levar à aproximação forçada entre as pessoas e espécies de animais selvagens, e desencadear zoonoses e doenças pandémicas como a COVID-19. Estes eventos não são apenas desastres naturais, são também o reflexo da ação do Homem, a qual resulta direta e indiretamente no aquecimento global e nas alterações climáticas. A comunidade científica estima que as atividades humanas, todos os anos, libertam para a atmosfera mais de 30 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), o que representa 60 vezes (ou mais) a quantidade de CO2 libertada por vulcões em cada ano. Num relatório publicado em outubro de 2022, liderado por investigadores da Universidade de Oregon, é referido que os níveis de CO2 atmosférico atingiram recentemente 418 partes por milhão, valor nunca antes registado. Além disso, 16 dos 35 “sinais vitais” do planeta utilizados para avaliar as mudanças climáticas obtiveram níveis recorde. Nesse sentido, cientistas de todo o mundo alertam que a humanidade enfrenta “inequivocamente” uma emergência climática. Segundo o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, “Portugal é, em toda a Europa, um dos países que mais sente, e mais vai sentir, os efeitos das alterações climáticas, dos fenómenos extremos e da subida do nível das águas”. Além disso, para o professor de meteorologia e climatologia da Universidade de Aveiro, Alfredo Rocha, as ondas de calor frequentes e longas, os incêndios florestais e a falta de água na agricultura serão os principais desafios que Portugal irá experienciar. Na verdade, as quatro maiores secas que afetaram todo o país ocorreram nos últimos 20 anos (incluindo o presente ano, 2022) e são o resultado de menores níveis de precipitação, temperaturas acima do normal e ondas de calor intensas. Ricardo Trigo, especialista em Variabilidade e Extremos Climáticos no Instituto Dom Luíz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, esclarece que estas secas severas se têm devido principalmente “à temperatura do ar ser muito mais elevada” e a uma grande quantidade “da água que cai entre o inverno e a primavera” ser evaporada antes da estação mais quente, o que resulta em “stress agrícola, vegetativo e hídrico” muito acentuados. Para limitar os impactes das alterações climáticas é preciso reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e adaptar o país a essas mudanças previsíveis.

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Cântaro Magro © Joel Santos

Neste sentido, uma das metas mais ambiciosas que Portugal se comprometeu a atingir é a neutralidade carbónica até 2045, limitando o aquecimento global a 1,5 ° C em relação ao período pré-industrial. No mais recente Índice de Desempenho das Alterações Climáticas (CCPI 2023), devido ao recente fecho das centrais de carvão e da aprovação do Parlamento da Lei de Bases do Clima, Portugal ocupa o 14º lugar (de 59 posições), o que representa uma melhoria de dois lugares desde o ano anterior (16º lugar). No entanto, há ainda um longo caminho a percorrer, e alcançar com sucesso todas as metas com que nos comprometemos é um desafio de toda a sociedade e de todos os setores económicos. É crucial sensibilizar a população nacional para esta temática, contrariar movimentos negacionistas das alterações climáticas e levar à adoção de hábitos mais sustentáveis e amigos do ambiente. Cientes do seu importante papel para aumentar a consciência e a compreensão na sociedade sobre estas problemáticas, os cinco Geoparques Mundiais da UNESCO (UGGp) portugueses e os geoparques aspirantes a esta classificação, implementaram o “Biénio para a Ação Climática nos Geoparques portugueses 2022-2023”. Este projeto, liderado pelo Estrela UGGp, pretende incorporar medidas e contribuir para implementar estratégias de desenvolvimento territorial sustentável, minimizando os problemas e os desafios de cada território. Identificar os potenciais impactes das alterações climáticas nos territórios UGGp (ou aspirantes a esta designação), definir ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e envolver a comunidade civil e escolar, tornando-os “Embaixadores para a Ação Climática”, são alguns dos principais objetivos a alcançar com este projeto. O “Biénio para a Ação Climática nos Geoparque portugueses 2022-2023” conta, assim, com diversas ações no domínio da sustentabilidade destes territórios e assenta em três temáticas prioritárias: a educação, a ciência e o turismo. Além das inúmeras ações que cada Geoparque irá desenvolver durante 2022 e 2023, foi desenvolvido um Plano de Atividades conjunto que inclui 4 ações na área da Educação, 7 na área da Ciência e 3 de Turismo. Entre estas ações destacam-se o desenvolvimento de um concurso escolar, “Ação Climática no Meu Geoparque”, o qual irá fomentar a criatividade e o espírito crítico dos alunos do 3.º ciclo do ensino básico, desafiando-os a produzir vídeos sobre o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 (Ação Climática), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Os vencedores de melhor vídeo de cada território UGGp (e aspirantes a UGGp) serão premiados com a participação no “Encontro Jovem sobre as Alterações Climáticas”, que decorrerá no concelho de Proença-a-Nova (no Naturtejo UGGp). Aqui os alunos terão a oportunidade de apresentar os seus vídeos, de participar em atividades no Centro de Ciência Viva da Floresta e de realizar uma saída de campo num dos geossítios deste Geoparque. O “Biénio para a Ação Climática” contará ainda com a realização de um evento “Estratégia”, no Terras de Cavaleiros UGGp, em janeiro de 2023, onde os diferentes territórios irão debater os principais problemas das alterações climáticas e a forma como impacta o desenvolvimento sustentável. Este evento resultará, assim, na produção de uma “Carta Estratégica dos Geoparques Portugueses para as Alterações Climáticas”, com as principais propostas e metas para esta emergência climática. Finalmente, no dia 11 de dezembro de 2023, encerraremos o projeto com uma conferência no Estrela UGGp, com ampla divulgação mediática, onde cada Geoparque abordará as ações desenvolvidas no seu território, nas várias áreas de atuação dos Geoparques Mundiais da UNESCO (Ciência, Educação, Turismo, Desenvolvimento Comunitário e Comunicação). Nesta conferência haverá também o lançamento do “Livro Branco para as Alterações Climáticas nos Geoparques portugueses”. Nunca é demais reforçar que o futuro do clima e da humanidade passa pela adoção urgente de medidas, e muitas estão ao alcance de todos. E todos os dias contam!

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