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Alterações Climáticas: Precisamos de mais Informação?

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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: PRECISAMOS DE MAIS INFORMAÇÃO?

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Ana Horta* Fala-se cada vez mais em alterações climáticas. Um relatório recente do Media and Climate Change Observatory mostra que, por todo o mundo, 2021 e 2022 estão entre os anos em que os jornais mais falaram sobre alterações climáticas. Entre os tópicos mais abordados estão as conferências das Nações Unidas, como a COP27, que decorreu em novembro passado. Mas é cada vez mais frequente encontrarem-se conexões a fenómenos meteorológicos ou ecológicos, como furacões, inundações, secas, incêndios florestais ou ondas de calor. E nos últimos anos tornaram-se frequentes as notícias sobre protestos, manifestações e greves de estudantes pelo clima. Na comunicação sobre estes tópicos encontramse muitas vezes mensagens contraditórias. Se, por um lado, os eventos climáticos extremos são caraterizados como sendo cada vez mais frequentes e acarretando devastação, perda de vidas humanas e animais e prejuízos económicos, e os protestos nas ruas exigem ação imediata, por outro lado, as negociações internacionais sobre medidas a tomar tendem a ser muito difíceis, roçando o imobilismo. Os líderes políticos que, nos seus discursos apelam à mudança, são também apanhados em contradição nas suas práticas (como quando viajam de avião apenas para assistir a um jogo de futebol do campeonato mundial, por exemplo). Estas contradições, num contexto de constantes apelos ao consumismo e entraves a escolhas com impactos ambientais mínimos, contribuem para a chamadaeco-ansiedade, ou ansiedade climática, que afeta cada vez mais pessoas, sobretudo jovens. Embora esta ansiedade possa servir de motivação para agir, pode também conduzir à inércia, associada ao sentimento de que já é tarde demais ou que as mudanças necessárias são impossíveis dada a natureza humana e o peso dos interesses instalados. As discrepâncias entre discurso e ação contribuem também para a erosão da confiança nos outros.

Se as atuais formas dominantes de comunicação sobre alterações climáticas têm como efeitos involuntários ansiedade ou erosão da confiança, em vez de incentivar a mudança, é preciso que os comunicadores reflitam criticamente sobre os seus próprios discursos. É possível comunicar de formas diferentes, mais criativas e inspiradoras. E dar voz a visões alternativas é dar-lhes poder.

* Investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

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