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As Reservas da Biosfera, Alterações Climáticas e Biodiversidade

AS RESERVAS DA BIOSFERA, ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E BIODIVERSIDADE

António Abreu, Phd*

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As alterações climáticas e a crise da biodiversidade são desafios determinantes na equação do desenvolvimento, seja a nível global seja local. Os impactos relativos à alteração da temperatura e dos regimes de precipitação, associados a uma maior frequência e imprevisibilidade dos fenómenos meteorológicos extremos, induzem problemas complexos relativamente a atividades socioeconómicas fundamentais como a agricultura e a pesca com reflexos muito negativos na qualidade de vida e bem estar de muitas sociedades humanas em todo o planeta. Outras consequências evidentes são o aumento de situações de risco e vulnerabilidade associadas a desastres como inundações, incêndios, desabamentos e deslizamento de terras, com perdas de vidas humanas, casas, infraestruturas públicas, implicando também perdas económicas astronómicas. Do lado da biodiversidade, a par da pressão humana direta devido à ocupação, destruição e fragmentação de habitats naturais a extinção de espécies é igualmente potenciada pelas alterações climáticas. A degradação da biodiversidade e perda de importantes serviços dos ecossistemas diminui a resiliência ambiental e social face às alterações climáticas. A disponibilidade de água e combate à desertificação promovida por ecossistemas florestais saudáveis perde-se com a destruição e uso insustentável dos recursos florestais.

As alterações químicas das águas costeiras são responsáveis pela morte dos recifes de coral, destruindo o habitat de muitas espécies importantes ao nível da segurança alimentar das populações humanas nas zonas costeiras. Estas evidências da estreita ligação entre as alterações climáticas e a perda de biodiversidade requerem uma abordagem integrada que não se deve limitar a mudanças tecnológicas com vista à redução das emissões de gases indutores do efeito de estufa. A conservação da natureza, incluindo a restauração de ecossistemas é um dos pilares do desenvolvimento e, consequentemente, decisiva no combate às alterações climáticas. Mesmo que o Acordo de Paris fosse cumprido na íntegra, não seria possível garantir as condições ambientais fundamentais para olhar o futuro com algum otimismo. A regulação da temperatura, só por si, não chega para garantir a disponibilidade de recursos e condições ambientais necessárias para uma população mundial que continua a crescer a rimo acelerado. A conservação da natureza ainda não mereceu reconhecimento suficiente quanto ao que significa para o desenvolvimento socioeconómico. Tradicionalmente a proteção da natureza é vista como um processo motivado por valores morais e menos pela importância funcional que desempenha.

Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo /Tajo Internacional © António Abreu

Reserva da Biosfera de Castro Verde ©António Abreu

As áreas protegidas são vistas ainda como redutos de relíquias simbólicas e não como espaços promotores de recursos e funções fundamentais para o desenvolvimento. As áreas protegidas devem ser entendidas não apenas como espaços interessantes com curiosidades naturais, espécies emblemáticas ou paisagens deslumbrantes. É fundamental entender o seu contributo seja para assegurar funções e recursos fundamentais, como a água; de suporte a actividades socioeconómicas relevantes, como o turismo, seja no combate às alterações climáticas. A biodiversidade é antes de mais um elemento promotor de resiliência ambiental e social, assegurando recursos e condições ambientais de suporte ao desenvolvimento humano. É este o princípio proposto pelo Programa MaB (O Homem e a Biosfera) da UNESCO, através das Reservas da Biosfera (RB). As RB são territórios distinguidos pela UNESCO pela singularidade e qualidade do seu património natural e cultural e pela harmonia que privilegiam entre a salvaguarda do património e o bemestar das comunidades residentes. A rede mundial de RB dá expressão à Agenda 2030 e aos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, assumindo um compromisso com as melhores práticas para um progresso justo e sustentável, alicerçado nos pilares da missão da UNESCO: ciência, educação, cultura e informação. O modelo conceptual das RB assume uma importância de relevo no quadro global das iniciativas de conservação, gestão e utilização sustentável do património natural e cultural, catalisando as melhores práticas de conservação dos valores naturais, a prosperidade económica e o bem-estar das comunidades. Tal como os Geoparques Globais e Sítios Património Mundial, as Reservas da Biosfera são instrumentos de desenvolvimento socioeconómico e ambiental promovendo soluções de base natural na mitigação e adaptação às alterações climáticas, mobilizando os atores relevantes à escala local e promovendo diálogo e parcerias multidisciplinares e a partilha de experiências através das diferentes redes temáticas e geográficas em que se integram.

*Biólogo Vice-Presidente do Bureau do Conselho Internacional de Coordenação do Programa MaB

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