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Alterações Climáticas e Património Natural e Cultural

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E PATRIMÓNIO NATURAL E CULTURAL

Pedro Matos Soares * Na última década, o apelo urgente à ação climática acentuou-se dramaticamente, em resposta à imensa ameaça para a humanidade que decorre das alterações climáticas. Existe hoje um consenso científico quase absoluto de que a mudança climática tem origem nas emissões de gases de estufa de origem humana; e a preocupação com esta mudança é hoje extensível a muitos cidadãos e sectores da nossa sociedade. As alterações climáticas manifestam-se por profundas mudanças do clima médio, mas a sua face mais tangível e assustadora está associada ao aumento da frequência de extremos climáticos. As alterações do clima médio têm que ver com aumentos de temperatura, mudanças nos padrões de precipitação, o degelo de zonas geladas e a subida do nível do mar, entre outros. Os extremos climáticos incluem ondas de calor, secas, incêndios, tempestades e inundações, etc, e por último, o efeito combinado destes extremos.

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Os impactos das alterações climáticas dizem respeito a todos os domínios da civilização, desde a habitabilidade e capacidade de subsistência em vastas regiões, à saúde e segurança humanas, a todos os setores económicos, das regiões rurais às costeiras, e a ecossistemas terrestres e marinhos. O património natural e cultural, em todas as suas dimensões, é especialmente impactado pelas alterações climáticas. Desde há anos que conhecemos inúmeros exemplos de património mundial, classificado pela UNESCO, muito vulnerável ao aquecimento global: Veneza e o aumento de frequência da aqua alta resultante da sobre-elevação marítima e da subida do nível do mar, Chan-Chan (Peru) e Timbuktu (Mali), acometidos recorrentemente por inundações e secas; os glaciares alpinos de Jungfrau-Aletsch e o grande recife de coral da Austrália que desaparecem a um ritmo galopante em resultado da subida da temperatura da atmosfera a do oceano, etc.

De facto, a vulnerabilidade do património é extensível a todas as suas faces, desde o desaparecimento de comunidades e da sua cultura local, a sítios arqueológicos e monumentos ameaçados pelas elevadas temperaturas, pela seca, por inundações costeiras e fluviais, e a consequente erosão acelerada de estruturas, e, claro, à perda de condições bioclimáticas de ecossistemas. Os Modelos Globais e Regionais de Clima constituem a ferramenta física basilar que permite compreender e projetar o clima futuro, da escala global à local, de acordo com diferentes cenários de emissão de gases de estufa. Estes modelos permitem gerar informação de grande qualidade e resolução, que é vital para guiar o esforço de mitigação e adaptação que a sociedade tem a obrigação de empreender na salvaguarda do património natural e cultural.

*Investigador e Professor do Instituto Dom Luiz/Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

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