Diário
de
um
p e r eg r i n o
Camiño de
santiago Camiño
po r t u g u es
Adolfo Mazzarini Filho
1
2
a
e
a d O e b s t Li on P
m Li
a
Lim de
te Pon iães Rub Rubiães ho Valença do Min ho Valença do Min Porriño
Porriño Rendodela arcade
Arcade Ponteve d
ra
Pa Sa dr nt óN ia go
Pon t Cald evedra as d e Re Ca ld is Pad as ró de R n eis
4
Caminho realizado de 16 a 25 de agosto de 2013
Oración del Peregrino Apóstol Santiago, elegido entre los primeros, tú fuiste el primero en beber el cáliz del Señor, y eres el gran protector de los peregrinos; haznos fuertes en la fe y alegres en la esperanza, en nuestro caminar de peregrinos siguiendo el camino de la vida cristiana y, aliéntanos para que, finalmente, alcancemos la gloria de Dios Padre. Amén!
5
a nte de Lim o P a o b Lis ) to de 2013 os a, 16 de ag (Sexta feir
Hoje começamos nosso Caminho. Eu, João e o miúdo Pedro (filho do nosso amigo Júlio) saímos de Lisboa, em ônibus, já como peregrinos... Deixamos Lisboa às 13h rumo ao norte, Ponte de Lima. Passamos por Fátima, Coimbra, Porto, Vila Nova de Famalicão, Braga e finalmente às 19h chegamos ao nosso ponto de partida, a belíssima cidade de Ponte de Lima. Fomos para o Albergue que é municipal e muito bem arrumado... Assim que atravessamos a Ponte Romana chegamos ao albergue... Passando por uma bela igreja, que fica ao lado do albergue. Por sorte e ajuda do Ovídio, conseguimos quase que os últimos lugares. Por 5 euros nos hospedamos com direito até a algumas mordomias... Wi Fi, uma casa de banho super descente... Um luxo. Ovídio, o administrador do albergue e amigo do João nos tratou com muito carinho... Camas arrumadas, tudo acertado, saímos para caminharmos pela cidade, tomar um copo na Tasca das Fodinhas... (também tem isso no Caminho). E em seguida fomos jantar no Restaurante Manuel Padeiro, o menu do peregrino... Com uma jarra de vinho verde, uma sopa de repolhos, e vitelinhas assadas com batatas... No restaurante reparamos em uma mesa próxima que havia alguns peregrinos... No entanto assim que os sinos da igreja badalaram 10h da noite corremos para o albergue, pois o mesmo fecha as
6
portas neste horário... Chegamos às 10h15 e o Ovídio generosamente nos abriu a porta. Em seguida chegaram os peregrinos que estavam no mesmo restaurante... E criamos uma boa roda de conversa... Só que teve que ser no jardim interno, pois no interior albergue já não se podia mais conversar... Peregrinos já dormiam... No jardim uma conversa deliciosa, conhecemos alguns peregrinos, uma jovem musicista de Aveiro, uma de Paris, outra da Polônia e dois espanhóis, a Lorena e o Alfonso, ela de Barcelona e ele de Elvas (Estremadura)... Que conversa gostosa, colocamos nossas vidas, nossas experiências, e planos do Caminho. Alfonso, hoje com quase 30 anos, quando tinha 15 sofreu um acidente, foi atacado por um boi, em uma festa, perdeu uma visão e quase a vida... Ficou bastante tempo entre a vida e a morte... Contei meu sucedido e enfim todos temos um porque do Caminho... Combinamos todos de acordamos às 6h30 e antes de iniciarmos a caminhada, iremos num pequeno santuário que há ao lado da igreja e faremos um rito de pedir proteção ao Anjo da Guarda, que nos leve até Santiago e nos guarde pela vida toda. Amém. Boa noite! Ultreya!!!
475 KM
7
s a - Rubiãe im L e d e t n Po de 2013) de agosto (Sábado, 17
Hoje foi verdadeiramente o primeiro dia de caminhar... Fizemos Ponte de Lima a Rubiães em aproximadamente 7 horas. Um caminho belo, com paisagens, construções e natureza exuberantes... É o verde Minho. No entanto vale lembrar um pouco da noite anterior... Foi-me muito difícil adormecer... ouvia o sino da igreja ao lado do albergue. Ouvi bater uma hora da manhã e depois de meia em meia hora até às 3h30... O sono não vinha, os pensamentos fervilhavam, além de uma discreta diarréia, que segundo o João, eu não fui o único, e ela é proposital para limpar-nos todos internamente, para iniciarmos o caminho… Uma sinfonia de roncos, um pouco de calor, a falta de travesseiros... e claro a ansiedade por começar o caminho deixou-me acordado na madrugada e despertou-me às 6 horas.... Mas voltando ao caminho, os primeiros 6 Km foram bastante tranqüilos... Caminhos na sombra, com riachos, árvores que se transformavam em catedrais... Parreiras nos fazendo um corredor, oliveiras, macieiras... Fácil... Passamos por Arcozelo, depois a Ponte Arco da Geia e fomos tomar o café da manha no Viveiro das Trutas...
8
Aí o caminho começou a pesar... Quando passamos a Fonte das Três Bicas e entramos na serra da Labruja comecei a entender um pouco mais do Caminho e porque estou aqui... Porque estamos aqui...
Caminhamos num pequeno grupo, muito querido, o João, o Pedro, o Alfonso, a Lorena (ambos da Espanha), Isabel (França) e Anna (Polônia)... Como é difícil o caminho para o céu... A diferença de pausa e interrupção... E como é bom chegar no céu... Todas estas sensações estiveram comigo e só assim e com o olhar atento do João consegui superar todos os obstáculos, vencer todas as pedras e galgar a subida de 400 metros até a Portela Grande. Subida de mais ou menos 6 Km... Mas difícil... Muito difícil... Tudo começou a doer... As pernas, as virilhas, os pés... E eu consegui subir, vencer este grande desafio. Consegui porque fiz várias pausas no caminho, na subida... E como foram importantes estas pausas... E aí percebi a destinção que existe entre pausa e interrupção... não interrompi nada... Apenas fiz pausas... Para descansar, retomar o fôlego, respirar melhor... Tomar uma água e criar coragem... Mirar a subida e recomeçar... A Portela Grande foi para nós, como um paraíso... No cimo da serra, com uma paisagem deslumbrante e uma fonte de água pura e fresquíssima, que formava uma grande piscina... Descansamos... Comemos nossas barrinhas, bebemos água gelada e os mais corajosos mergulharam na água...
Após descansarmos, repuzemos nossas energias e nos preparamos para os 6 Km finais até Rubiães... Também não foram fáceis... O corpo já dói... Mas a esperança de chegar ao destino em breve me motivou a fazer com um pouco de entusiasmo o caminho restante... Esquecendo as dores e cansaço... Chegamos ao Albergue às 14h e picos... e... Albergue lotado... Arrumaram-nos colchões que colocaremos na sala que é a recepção e lá iremos dormir... Lavei minhas meias com tecnologia "colmax"... Banho e descanso em uma cadeira... Estamos um pouco preocupados, porque Lorena ainda não chegou ao albergue... Ah... O albergue de Ponte de Lima é significativamente superior a este de Rubiães... É o Caminho... Úfa... Acabamos de descobrir o paradeiro da Lorena e Isabel... Elas caminhavam e passaram em frente ao albergue (que diga-se de passagem está mal sinalizado para os peregrinos que chegam) e elas continuaram o caminho e quase chegaram a Valença, nossa cidade de amanha, mas elas já voltaram... Sai com Pedro para comermos algo e encontramos com elas e indicamos o albergue... Boa noite! Ultreya!!!
19 KM 9
a do Minho ç n le a V s Rubiãe de 2013) (Domingo,
to 18 de agos
Segundo dia de caminhada. Não fui eu que escolhi o Caminho e sim o Caminho quem me escolheu... Emoção / Solidariedade / diversos tipos de caminho / transformações e diferenças do caminho …Estes foram temas que caminharam comigo neste dia de hoje… Mas antes tenho que falar de ontem a noite: O João tem dois grandes amigos, que os conheceu em Caminho anteriores, que moram ao redor do Porto, e que ontem vieram de propósito, com suas esposas para jantar e estar com o João e consequentemente comigo e com o Pedro em Rubiães. São eles o Fernando Silva e o Pedro Regufe. Que delicia de encontro, de jantar e de conversa... O Fernando trouxe de sua casa e nos preparou na hora uma maravilha que se chama pimentos de Padron... Que manjar dos deuses... Com um bom Alvarinho tudo nos soube muito bem... Sem falar no bacalhau é claro. Bem, estes dois amigos são apaixonados pelo Caminho, fazem diversos roteiros ao menos duas vezes ao ano... Depois do jantar e muita conversa nos deixaram no albergue e lá estava nossa família peregrina a espera. Foi uma noite bem particular, como o albergue, que é pequeno, estava lotado quando chegamos, nós todos (9 pessoas) dormimos numa sala/recepção em colchões um ao lado do outro, no chão... Bem dormi o sono dos justos... Dormi tão bem e acordei tão bem disposto... Apenas reclamaram do meu ronco... Culpa do vinho verde!
10
Saímos às 7h em ponto para nosso caminho. A manha estava fria e com um belo nevoeiro, já a saída de Rubiães tomamos nosso café da manha no Bom Retiro Café... Alimentados do corpo partimos para nos alimentarmos do espírito... E como me alimentei... Hoje caminhei mais tempo só... Era necessário... Precisava... Embora no Caminho a gente nunca fica só... Hoje foi mais suave, mas com uma diversidade de tipos de caminho impressionantes... Terra, pedras, calçamentos, relvas, trilhas, pontes... É muito interessante a analogia que podemos fazer do Caminho com a vida... Tem momentos onde tudo é tranquilo, fáceis e outros que as coisas se complicam, que temos que ter mais atenção... E estas mudanças são repentinas... De um momento para o outro, quando menos se espera tudo modifica... Depois de 6km andados chegamos em São Bento da Porta Aberta, uma igreja muito linda, no cimo de uma montanha, que estava próximo de ter uma missa... Um lugar com uma energia muito boa... Fizemos uma pausa para bons pensamentos e continuamos... E depois, quando completamos 9km, chegamos em Fontoura, onde outra pausa para café, água, mais conversas e claro fotos... Em seguida passamos em Pedreira onde tem uma Ponte Romana bem interessante. E quase chegando em Valença paramos para um almoço de verdade... Depois caminhamos 3km e chegamos... Mas como nem tudo é tão tranquilo... Para nossa surpresa e espanto o Albergue São Teotonio, que pertence a Câmara Municipal de Valença do Minho estava totalmente lotado, porque havia um grupo de 40
18 KM
escoteiros, com carros de escolta, etc. e tal, que contrariando todas as regras do Caminho, impossibilitou que muitos e muitos peregrinos pudessem se hospedar... Os voluntários do Albergue diziam que não podiam fazer nada, porque receberam uma ordem do Senhor Presidente da Câmara, sr. Jorge Mendes para que atendessem ao grupo de escoteiros, e segundo estes voluntários, quem manda no Albergue é o senho presidente, e ele pode fazer o que quiser, inclusive se quiser fecha o Albergue... Tudo muito estranho, difícil de compreender e aceitar... Foge do que se conhece das regras do Caminho. No entanto quando percebi que a discussão não nos levaria a lugar nenhum e como eu também não agüentaria caminhar mais, até Tui na Espanha, como nos diziam os voluntários, eu sai e fui pesquisar alguns hotéis ao redor... E para minha surpresa, consegui no Hotel Val Flores, três quartos em uma dependência em anexo, com duas casas de banho, roupa de cama e banho, televisores, varandas, enfim um luxo que jamais esperávamos como peregrinos, por 75 euros para 8 pessoas, ainda mais com pequeno almoço incluído!!!! Estamos muitíssimos bem instalados... Por um preço super honesto, com um conforto muito maior do que o Albergue e por um valor quase igual... É que o Senhor Santiago é bem mais poderoso que qualquer presidente de câmara ou chefe de escoteiros... Caros peregrinos, guardem bem: Hotel Val Flores, um pouco antes de chegar ao Albergue São Teotonio... Na mesma rua... E boa noite... Já falei muito e esta história toda não vai nos chatear mais... Ah... O corpo??? Sim o corpo dói muito, mas bem menos do que certas atitudes...
11
o o - O Porriñ h in M o d a Valenç 2013) agosto de (Segunda-f
eira, 19 de
Palavra que acompanhou hoje no Caminho: Diferenças... Hoje saímos mais tarde do que o habitual... Começamos a caminhar às 8h e com isso perdemos duas horas, pois na Espanha adianta-se o relógio em uma hora. Deixamos Valença pela ponte que atravessa o Rio Minho e já estávamos em Tui... Uma bela cidade espanhola fronteiriça a Portugal... Foi aí que me veio mais forte a sensação de diferença... Sim porque por incrível que pareça, atravessamos o rio e tudo é diferente... As pessoas, a arquitetura, o pensamento... E até trechos do Caminho... Também porque o grupo que formamos é composto por pessoas muito diferentes... E como é importante entender as diferenças... Aceitar... Compreender... Em nossa vida é preciso conviver com as diferenças...
12
19 KM
Enfim no caminho hoje passamos por um local onde em 1251 morreu Santelmo que fazia o caminho e estava doente... Quando passamos por Orbenlle encontramos um restaurante em um lugar fantástico e claro paramos para descansar, tomar e comer algo... Comemos judias salteadas com jamon e tomatos cherry e uns pimentos de padron magnificos... Até ficamos mais tempo do que devíamos... No entanto a seguir passamos por um lugar que certamente é um dos mais desagradáveis do caminho... O bendito Polígono Industrial... Um trecho de mais de 3 km totalmente árido, cercado por industrias, sem uma sombra, sem uma brisa, com caminhões passando o tempo todo e um calor infernal... Enfim passamos, e isso me levou a pensar que em nossa vida devemos ser mais dóceis, a secura não nos leva a nada, aliás leva sim a amargura... Temos que ser menos áridos em nossa vidas... E muitas vezes não é fácil...
Chegamos finalmente em O Porriño, por volta das 17h e claro neste horário já não havia mais lugares nem no albergue daqui e nem no de Mós, onde pretendíamos ir... Ficamos em Porriño e nos dividimos... Os homens do grupo viemos para uma pensão... E as mulheres foram para outra... Nos encontramos a noite para comermos alguma coisa juntos... E vamos dormir porque amanha vamos sair bem cedo!!!! Ah... As dores? Sim continuam e hoje chegou-me no pé direito umas irmãs bolhas... Que adiantou as meias com tecnologia "colmax"? Mas vamos tratar bem das bolhinhas para não virar bolhão... Boa noite!
13
la - Arcade e d o d n e R O Porriño 13) osto de 20 , 20 de ag (Terça-feira
24 KM
Lua cheia... Palavras que me vieram hoje: superação e cautela... Nosso grupo/família ( João, Pedro (Lisboa), Catarina (Aveiro), Anna (Polônia), Isabelle (Paris), Lorena (Barcelona) e Paula e Javier (Madrid) e eu claro, saímos hoje em bom horário. Às 7h30 já pegávamos o caminho... E fomos tomar o café da manha em Mos... Junto ao albergue... Manhãzinha fresca, caminho tranquilo. Após o café da manha rumamos a Redondela... Aí então a coisa começou a ficar difícil... Foi uma subida de 1km morro acima que quase me fez desistir... Meu pé direito que estava com bolhas causou inveja no meu pé esquerdo que também ficou com bolhas... Aí vem uma dor muito chata e que dificulta a caminhada... Estive um bom tempo do caminho só... O que tem sido bom... Subia o morro e me perguntava será que conseguirei? Terei forcas? Fôlego? Não parava porque senão não continuaria... Quando então saiu um senhor a minha frente junto com um cachorro... Um cão sem raça definida, mas que ia atrás do homem... Notei que o cão iria fazer xixi... E percebi que havia algo estranho nele... Ele teve que se encostar em um arbusto para ter apoio para levantar a pata traseira... Quando vi que uma de suas patas dianteira estava toda estrupiada...O cão andava somente com 3 patas, a quarta estava aleijada e toda em carne viva... Mas mesmo assim ele conseguiu fazer xixi e correu com as suas 3 patas atrás do homem que certamente era seu dono, morro acima... Ah... Que vergonha senti... Eu não tinha nada grave e estava sendo tentado a desistir... Veio-me então uma força que não sei de onde e continuei até chegar ao
14
final da subida... Neste instante me veio muito a mente SUPERAÇÃO... Depois disso então começamos a descer... Por um caminho bonito... Passamos por um lugar mágico, debaixo de uns pinheiros enormes e fizemos uma pequena pausa para fortalecer nossa energia... E continuamos até ao Centro de Redondela... Vimos o albergue local cheio de peregrinos esperando abrir e continuamos... Meus pés estavam doendo muito o que me impossibilitava andar normal... E tínhamos pela frente mais 7 km, pois nosso destino de hoje era Arcade... Então em Redondela entramos na Igreja de Santiago... Conversamos com duas freiras peruanas... Rezamos um pouco e eu decidi que iria pedir ajuda para chegar a Arcade... O grupo seguiu caminhando e eu fui até o Paço Municipal... Fui pedir informações e me atendeu uma pessoa muito educada, contei minha historia, que meus pés estavam muito doloridos por causa de bolhas e que precisava ir até Arcade... Onde teria Albergue e que meus companheiros lá chegariam... Disse-me para esperar um pouco e em seguida um carro municipal levou-me ao albergue em Arcade... Fenomenal... Cheguei com tranquilidade e fui cuidar dos meus pés e ficar a espera dos meus companheiros... E neste outro momento me veio em mente a palavra CAUTELA... Logo meus companheiros chegaram, arrebentados, mas bem... E tiveram ânimo de irem a praia ainda... Eu tentei ir junto, mas quando percebi a distância eu voltei para o Albergue O Lar de Pepa...
No entanto o dono do albergue conseguiu-me uma massagista que veio atĂŠ ao albergue e fez-me uma massagem fantĂĄstica que me colocou pronto para continuar a caminhada. Noite de lua cheia, e fomos todos jantar juntos, pois provavelmente amanhĂŁ nos separaremos...
15
ntevedra Arcade - Po agosto de 2013) (Quarta-fe
ira, 21 de
13 KM
Palavra: amizade Caminho tranquilo Saímos bem cedo, às 6h acordamos, estava ainda escuro, e a lua continuava linda... Antes das 7h iniciamos a caminhada, com os pés pensados (curativos) foi possível andar. Já na saída passamos pela ponte Sampaio, uma belíssima ponte romana, que nos serviu de incentivo para a grande subida que tínhamos pela frente... Durante aproximadamente 4 km subimos por trilhas e caminhos até chegarmos ao topo da serra... Mas para quem já tinha passado La Bruja, esta subida até que não foi difícil... Depois um caminho muito agradável em direção a PonteVedra... Quando acabávamos de descer encontramos um lugar bem gostoso e todos tomamos um belo café da manha... Estamos todos tristes... É que em Pontevedra nosso grupo se separou... Ficamos aqui eu, João, Pedro e Ana Catarina (que é de Aveiro).
16
Anna, Isabelle, Paula, Lorena e Xavier seguiram caminho, pois irão até a próxima cidade... Para nós aqui está de bom tamanho... Chegamos cedo em Pontevedra, antes do meio dia... E a fila de mochilas em frente ao albergue já era grande... Colocamos nossas mochilas e esperamos até às 13h, que é o horário de abertura... Instalados... Lavar meias, descansar, comer algo e descansar... A amizade que fizemos com este grupo, desde Ponte de Lima, foi uma coisa tão linda e forte que é inexplicável... Várias nacionalidades, várias línguas, e algo mais forte... amizade... Poucos dias, mas tão intensos que dificilmente serão esquecidos... Bem amanha retomamos o caminho... Serão 23 km Boa noite e buen camiño amigos!
17
is aldas de Re C a r d e v Ponte 2013) agosto de (Quinta-feir
a, 22 de
Acordamos às 6h... Quer dizer acordar é maneira de falar, pois dormir esta noite não foi muito fácil... Dormimos junto a porta, num quarto com 30 pessoas, e por incrível que pareça durante toda a noite e logo a partir das 4h com mais intensidade, toda vez que alguém saia ou entrava deixavam a porta bater... Durante a noite algumas chamados em telefone celular e logo de madrugada ainda alguns despertadores... Bem saímos do Albergue Virgem Pelegrina às 7h e ainda estava escuro e com uma brisa bem agradável... Fizemos um caminho bastante bem hoje... Cortamos Pontevedra, atravessando a cidade, passando pelo centro... O sol deu-nos trégua hoje, depois de nos acompanhar todos estes dias... E assim com o dia nublado o caminho ficou mais suave... Fizemos o trajeto com pouquíssimas paradas... Com muita alegria e disposição... Haviam momentos que nem sentia mais as dores nos pés... Parecia que um anjo segurava minhas costas e deixava tudo mais fácil... O caminho era belo e com paisagens muito bonitas... Em um dado momento passamos por uma igreja, no alto de uma colina e entramos para uma oração...
E foi assim até chegarmos próximos a Caldas de Reis... Quando faltava aproximadamente 3 ou 4km o cansaço e as dores pegaram... A mochila que até então era leve ficou pesada... E a reta final cansou-me sobre maneira... Chegamos em Caldas de Reis por volta das 14h... E então eu decidi que não iria procurar albergue para hospedagem... E logo encontrei o Hotel e Balneário da Vila e resolvi ali ficar... Meu corpo merecia um pouco de conforto e descanso.., meus companheiros foram procurar albergues... Mas claro, mais uma vez tudo lotado... E eles ficaram em um hotel próximo ao albergue... Eu descansei e fui caminhar pelo centro da cidade que é muito bonita e antiga... Fui a igreja e aproveitei o hotel para fazer um banho nas termas e uma massagem.., A noite nos encontramos todos, mais uns outros companheiros do Porto e que hoje nos aproximamos mais e tudo foi muito agradável... Agora só faltam mais dois dias de caminhada... Estamos há 45 km de Santiago... Para mim já é como se estivesse completado o caminho... Amanha vamos até Padrón... 23 km... Boa noite! Bom sono! Bom Caminho!
18
22 KM
19
n eis - Padró R e d s a ld a C 2013) agosto de (Sexta-feira
, 23 de
Ultreya na Senda da Suseya!!! Hoje fizemos o penúltimo dia de caminhada... E para mim já é como se tivesse feito tudo... Dormi sozinho no Hotel da Vila e por incrível que pareça tive muitos sonhos e pesadelos... Devo ter dormido com agitação... Acordei às 6h e me senti cansado... Às 7h, nos encontramos na ponte romana... Eu, João, Pedro e Ana Catarina... E saímos para Padrón... Um friozinho pela manhã pediu um agasalho... Iniciamos o caminho com disposição, ainda bastante escuro... Fomos tomar o café da manhã em Santa Maria de Cerracedo...
A mochila que pesa, muitas vezes parece que uns anjos a carregam, pois ficam suaves... Na nossa caminhada, a gente canta, da muitas risadas, contamos e ouvimos historias, piadas e principalmente enxergamos muita coisa interessante, as vezes gritamos, choramos, berramos, outras ficamos em silêncio total... Que é quebrado apenas por um "buen camiño" que a todo momento recebemos de algum passante... Em um trecho fartei-me de colher e comer amoras... Que estavam deliciosas... Passamos pela Proteção Civil, em Valga, onde um policial anota nossos nomes, de onde viemos e de onde somos...
Na seqüência um caminho belíssimo, com muitos riachos, flores, cruzeiros, árvores e sombras... Hoje o sol voltou a nos acompanhar, mas sem ser agressivo.
Na continuação e por último fomos até o Conselho de Pontecesures, e finalmente até Padrón, onde de início passamos por Iria Flavia, que segundo consta teria chegado os restos mortais do Apóstolo Santiago... No ano de 42 ou 44 da nossa era...
Caminhar com bolhas nos pés é uma sensação esquisita... De início parece que estamos pisando em brasas, mas com o tempo nos acostumamos com a dor e a deixamos de sentir...
Chegamos a Padrón por volta das 13h30 e fomos para o Albergue onde conseguimos nos alojar... Ana Catarina resolveu que iria caminhar mais uns quilômetros pela frente onde pernoitaria...
20
Mas antes dela se ir, fomos todos juntos almoçar e claro comemos os maravilhosos pimentos de Padrón, em Padrón... Pela tardinha fui a Igreja de Santiago... E acabei vendo uma missa de corpo presente de uma senhora da comunidade com tudo que se tem direito e que no Brasil já não se faz mais... Caminhei pelo centro histórico e claro admirei muito o Rio Sar, que corta a cidade com suas águas límpidas e cheias de peixes... Também aconselhado pelo meu amigo Julio e pai do Pedro, não deixei de olhar o céu... Amanhã faremos o último trajeto, de Padrón a Santiago de Compostela... E dizem que não é muito fácil... Mas lá chegaremos... Pois o meu amigo e primo Tiaguito tem nos ajudado muito!!! Boas noites...
22 KM
21
ntiago de Padrón - Sa Compostelaosto de 2013) de ag (Sábado, 24
24 KM
A dor é algo temporal... A gloria é para sempre! Depois de uma noite ótimamente dormida, acordei às 6h e já às 6h30 estava pronto para o último dia de caminhada. Deixamos Padron com o dia ainda escuro e com muita força de vontade para conseguir vencer esta etapa final... Devo confessar que na quinta feira tinha decidido que não faria este trecho inteiro caminhando... Talvez fizesse apenas a ultima parte. Mas ontem me veio uma força interna e resolvi aceitar mais este desafio. Fomos tomar o café da manha, depois de caminhar mais de 4 km, ainda no Conselho de Padrón no Restaurante A Milagrosa... Fortalecidos pelo alimento recomeçamos nosso caminho. Encontramos vários peregrinos já conhecidos nossos... E fomos assim com muita vontade, não pensando nas dificuldades e sim no destino final... E com algum descanso conseguimos seguir razoavelmente até a Capela de Santa Maria Madalena, já no Conselho de Santiago... Lá fizemos nossas orações e pedimos ajuda para vencer os últimos 4km que faltavam... E como foram necessárias estas orações... Logo conseguimos avistar Santiago e de longe sua Catedral, mas como foi penoso este último trajeto... 4km que pareciam 40... A dores aumentaram o cansaço chegou com tudo... Na última subida, já na entrada da cidade, junto a um complexo hospitalar, eu
22
pensei que lá ficaria... Mas fomos em frente juntando as ultimas energias... Quando não agüentava mais... Chegamos próximos a Praça do Obradoiro... Não agüentei ir com João e Pedro e descer um pouco mais e subir para entrar pela porta de Portugal... E exatamente às 14h entrei só pela outra porta, onde não havia escadas... Mas nos encontramos em seguida... E que emoção e sensação boa... Quando adentrei a praça, um grande grupo de peregrinos amigos e conhecidos que já haviam chegado, quando me viram começaram a gritar e dizer Brasil! Brasil!!! Olhei para a imensidão da igreja e fui ao abraço com meu amigo e irmão peregrino João Medeiros... E claro neste momento desabamos num choro muito forte... Choro que me acompanhou em várias partes do caminho, que hoje ameaçava chegar a qualquer momento... Mas que desabou na praça em frente a igreja... Vieram abraços com muitos peregrinos, alguns até que nem tínhamos tanta relação... Aí deitei naquele chão com a mochila a cabeça e passei um tempo olhando para a igreja, para o sol que havia despertado com toda sua beleza para nos aquecer a alma e o corpo!!! Neste momento passou na minha mente várias etapas e situações que vivi nestes 8 dias de Caminhada. Foram por volta de 160 km entre Portugal e Espanha... Agradeci, agradeci, agradeci a vida, aos amigos, a Lilia que caminhou diariamente comigo, a Deus por me proporcionar mais esta forte emoção em minha vida...
Depois disso fomos para o hotel, e agora sim, um 4 estrelas bem digno, Compostela Hotel... Pois merecíamos este mimo para nossos corpos cansados e machucados... Depois de um bom banho, fomos almoçar... Na seqüência, além de encontrarmos com alguns amigos queridos do caminho, fomos retirar nossas compostelas, como justo merecimento de nossa peregrinação. Mais tarde eu e João fomos a Catedral e nesta ocasião para abraçar o Santiago... E claro mais emoção... No momento que o abracei e coloquei minha cabeça junto a ele, Lilia estava comigo e pedi a Ele que tanto me ajudou na caminhada deste dias, continue ajudando a minha Lilia sempre e cada vez mais caminhar em sua vida... A andar em nossas vidas... Claro as lágrimas chegam sem pedir licença... Deixando o altar após o abraço fomos visitar e rezar na sepultura de Santiago!!! Bom, amanha às 12h teremos a Missa dos Peregrinos, que certamente terá o "botafumeiro" e onde mais uma vez agradecerei a Deus e a Santiago por toda esta maravilhosa experiência de vida, pelas pessoas que caminharam comigo aqui e acolá... Tanta gente junta, com seus carinhos, entusiasmo e positividade, só poderia resultar nisso, numa peregrinação de fé, alegria, esperança, amizade, fraternidade, ajuda mútua, enfim como é e deve ser a vida!!! Boa noite e até sempre!!!!
23
24
25
e Santiago d (Domingo,
la
Composte
) to de 2013 26 de agos
Primeiro estranhas, depois entranhas... Fernando Pessoa Pois é meus amigos, não é que fiz mesmo o Caminho Português, do Caminho de Santiago. De Ponte de Lima a Santiago de Compostela. Foram 8 dias de caminhada, por volta de 160 km andando... Por trilhas, caminhos, estradas, pistas, vias... Diversas paisagens, uma natureza e arquitetura belíssimas... Momentos de desanimo, de cansaço, de entusiasmo, de muita reflexão... Escrevi muitos nesses dias, mas por mais que escrevesse não conseguiria passar realmente o que foi este caminho... O que vimos a cada momento, o que sentimos, o que encontramos... E depois de tudo, a emoção maior que foi a chegada a Praça do Obradoiro em Santiago, o encontro com os amigos/peregrinos e no dia seguinte a missa dos peregrinos, encerrada com o "botafumeiro"... Que coloca mais fogo em nossas vidas... Claro que tenho que ser eternamente grato ao meu velho amigo João Medeiros que me introduziu e me guiou neste Caminho. Ao jovem companheiro Pedro
26
Reizinho Santos que iniciamos e terminamos junto com o João... Aos amigos peregrinos que cruzaram nosso caminho e que ficaram marcados para sempre: Ana Catarina Costa, de Aveiro/Portugal, Lorena Maldonado Moreno, de Barcelona/Espanha, Paula Paulae e seu tio Javier, de Madri, Anna Polak, da Polônia, Alfonso Muñoz Hurtado, de Cáceres/ Espanha, Isabelle Briens, de Paris, Alberto Gómez Marchante, de Villa Franca de los Caballeros/ Espanha, Francisco Beira e Miguel Carneiro, do Porto e tantos outros... Aos amigos e familiares, que acompanharam virtualmente este caminhar... Também me incentivando com palavras e torcidas... Obrigado... Vamos ter muito que falar... E claro, minha metade, a amada Lilia que caminhou ao meu lado o tempo todo... Sua luz, sua presença, seu amor, sua bondade e honestidade estavam a todo momento junto a mim... Agora já estou em Lisboa... Onde fico até sexta... E aí volto pra casa... Bem haja! Obrigado meu Deus, obrigado Jesus Cristo, obrigado Apóstolo Tiago!!! Amém!!!
27
* Ultreia É uma saudação entre peregrinos do Caminho de Santiago. Também serve para nos animarmos uns aos outros nas nossas jornadas a pé. Significa "Vamos para a frente", "Vamos para diante, para Santiago". Esta saudação jacobeia está presente no "Codex Calixtinus". Nele aparece a frase "Ultre ia Et Sus eia! Deus adjuva nos!" Diz-se que antigamente os peregrinos se saudavam dizendo "Ultreia, suseia, Santiago" ("Ânimo, que mais à frente, mais acima, está Santiago").
28
O
Caminho de Santiago de Compostela é uma rota secular de peregrinação religiosa, que se estende por toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago de Compostela, localizada no extremo Oeste da Espanha, onde se encontra o túmulo do apóstolo Tiago. Tiago foi um pescador que vivia às margens do lago Tiberíades; filho de Zebedeo e Salomé, e irmão de João O Evangelista. Segundo a tradição, após a dispersão dos apóstolos pelo mundo, Tiago foi pregar o evangelho na província romana da Galícia, extremo oeste espanhol. De volta a Jerusalém, o apóstolo foi perseguido, preso e decapitado a mando de Herodes no ano 44. Seus restos foram lançados para fora das muralhas da cidade. Os discípulos Teodoro e Atanásio recolheram seu corpo e levaram-no de volta para o Ocidente, aportando na costa espanhola, na cidade de Iria Flavia. O corpo do apóstolo foi sepultado secretamente num bosque chamado Libredón. Assim, o local permaneceu oculto durante oito séculos. Uma certa noite, o ermitão Pelayo observou um fenômeno que ocorria neste bosque: uma chuva de estrelas se derramava sobre um mesmo ponto do Libredón, proporcionando uma luminosidade intensa. Tomando conhecimento das ocorrências, o bispo de Iria Flavia, Teodomiro, ordenou que fossem feitas escavações no local. Assim, no dia 25 de Julho de (provavelmente) 813, foi encontrada uma arca de mármore com os restos do apóstolo Tiago Maior.
A notícia se espalhou rapidamente, e o local passou a ser visitado por andarilhos de toda a Europa a fim de conhecer o sepulcro do Santo. A quantidade de peregrinos aumentava intensamente a cada ano. Nobres e camponeses dirigiam-se em caravanas, caminhando ou cavalgando em busca de bênçãos, cura para as enfermidades, cumprir promessas ou apenas aventuravamse em terras distantes. O rei Afonso II ordenou que no local da descoberta fosse erigida uma capela em honra a São Tiago, proclamando-o guardião e padroeiro de todo o seu reino. Em pouco tempo, uma cidade foi erguida em torno daquele bosque, e denominada Compostela. A origem etimológica do nome remete ao latim: Campus Stellae, ou Campo das Estrelas, e assim a junção final: Compostela. No ano de 899, Afonso III construiu uma basílica sobre o rústico templo erguido por seu antecessor. Porém, oitos anos mais tarde, a basílica foi saqueada pelo árabe Almanzor, que respeitosamente, preservou as relíquias do apóstolo. Em 1075, iniciou-se a construção da atual catedral, cinco vezes maior que a anterior. O peregrino que chega a Santiago, ao completar sua caminhada, recebe seu certificado na Oficina de Peregrinos da Catedral. Este "diploma", conhecido como Compostella, é escrito tradicionalmente em latim.
29
30
Abra莽o ao Ap贸stolo
31
A emoção de se chegar a Praça do Obradoiro, em frente a Catedral de Santiago, é indiscritível, depois de vencermos os últimos quilômetros desta caminhada que fizemos nestes 8 dias. A dor do corpo é suplantada com emoção que cura e nos fortalece... A alegria de encontrar os peregrinos que conosco caminharam ao longo desses dias se misturou com as lágrimas de que tudo foi possível, de que conseguimos vencer mais este desafio. É muita emoção e alegria! Obrigado a todos que caminharam comigo aqui e acolá... Que me incentivaram, empurraram, cuidaram dos meus pés e das minhas dores! Somos todos peregrinos nesta vida! Com gratidão e amor...
32