#3 | Pocket Magazine Softex

Page 1

Imagem por Victor Tongdee, via Adobe Stock


Olá! Abrimos a terceira edição da Revista Softex com uma entrevista exclusiva! Conversamos com Ricardo Amorim, economista eleito pela Revista Forbes uma das 100 pessoas mais influentes no país. No bate-papo, temas como disrupção digital, empreendedorismo e políticas públicas. E não para aí! São também assuntos da revista #03: o processo de internacionalização das empresas, o papel dos intraempreendedores, a DX governamental e o workspace no cenário atual. Boa leitura!

Softex - Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro

Presidente da Softex Ruben Delgado Vice-Presidente da Softex Diônes Lima Coordenação do Projeto Juliana Molezini Diagramação e Projeto Gráfico Simão Pedro Oliveira | Paula Oliveira Revisão de Conteúdo Karine Serezuella Assessoria de Imprensa Karen Kornilovicz Colaboradores desta edição Beta Monteiro, Guilherme Amorim, Jéssica Dias, Rafael Fernandes, Ricardo Amorim, @ 2020 – Revista Softex - Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro. Uma publicação Institucional. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, desde que seja citada a fonte.



Vivemos o melhor momento para inovar na história da humanidade

Vivemos o melhor momento para inovar na história da humanidade, afirma Ricardo Amorim

C

onsultor, palestrante e também empreendedor, o economista Ricardo Amorim foi eleito pela Revista Forbes uma das 100 pessoas mais influentes do país. Mentor em inovação por meio de sua consultoria e do portal de educação IAA, ele afirma que vivemos o melhor momento para inovar na história da humanidade. Nessa entrevista exclusiva para a Revista Softex, Ricardo Amorim destaca que a inovação ainda é vista com timidez pelas empresas brasileiras e que o caos gerado pela pandemia está recheado de boas oportunidades. Com tecnologias como inteligência artificial, blockchain, internet das coisas disponíveis, você acha que estamos no melhor momento para inovar na história da humanidade? Acho. Disse isso antes da pandemia e acredito que ela acabou por acelerar ainda mais esse cenário. Chegamos ao que chamo de ponto de maturação de uma série de tecnologias que, por sua vez, acabam por acelerar outras.

Além da inteligência artificial e do blockchain, nós temos o 5G, que possibilitará avanços importantes em IoT, indústria 4.0, veículos autônomos, telecirurgia e, futuramente, até computação quântica. A inovação depende de um pilar formado por três fatores principais. O primeiro é a geração de ideias novas. Porém, uma ideia é apenas uma ideia, não é uma inovação ou um novo negócio. Para que ela floresça fumo a algo novo é necessária sua combinação com outras diversas ideias. E nunca foi tão fácil fazer isso, já que nunca tivemos tanto acesso à informação. A internet viabilizou a conexão de uma ideia gerada em São Paulo com outra de Xangai e outra de Oslo. O segundo fator é a tecnologia, financeiramente muito mais acessível via nuvem, e que permite transformar essa nova ideia em uma realidade que, antes, nunca poderia deixar o papel. E o terceiro fator é dinheiro. O desenvolvimento de novas ideias custa e o acesso a capital para financiar a inovação, a disrupção, nunca foi tão grande, inclusive no Brasil da taxa Selic de 2%. Essa combinação me permite afirmar que, definitivamente, vivemos o melhor momento para inovar na história da humanidade. O cenário de inovação mudou com a pandemia? Ela acabou por acelerar brutalmente esse processo. É o caso da transformação digital. Uma empresa de varejo que não tinha e-commerce, hoje, quatro meses após o início do isolamento social, tem ou simplesmente não existe mais. Um restaurante que não disponha de delivery incorporou esse

4 | Revista Softex 2020


serviço. As plataformas de videoconferências explodiram. O home office impactou a forma como trabalhamos, nos relacionamos e nos movimentamos e tornou o nosso modelo de atuação totalmente global. Para você, que país seria um benchmark em inovação e por quê? Se eu tivesse que pensar em países eu pensaria, sem dúvida, em Estados Unidos, em Eslováquia, Singapura, Hong Kong, China ou Israel. Mas em se tratando de inovação eu prefiro pensar em uma região: a Ásia que, muitas vezes, acaba ficando fora do nosso radar. Nós conhecemos bastante bem a inovação vinda dos Estados Unidos, pouco a vinda da Europa e quase nada a proveniente da Ásia. Você disse que inovar é ver o que tudo mundo viu, mas perceber o que ninguém percebeu. Que oportunidades você percebe para a inovação no Brasil? Esse ponto é importante porque a inovação começa com um olhar inovador e por uma mudança de cultura. Na minha visão, o assunto inovação entrou no radar de todas as empresas brasileiras nos últimos anos, mas de uma forma muito tímida. Todas as grandes empresas nacionais têm departamentos dedicados e laboratórios de inovação. Mas isso normalmente significa que há um grupo de uma, duas ou três dezenas de pessoas focadas em inovação em uma organização com centenas ou milhares de funcionários focados no resultado do trimestre. O problema é que esse pessoal focado em inovação sofre para mover todo o resto da organização nessa direção se ela não perceber a inovação como uma verdadeira prioridade. Esse é um trabalho ao qual eu faço questão de me dedicar democratizando conhecimento - via IAA Inovação - e também priorizando o tópico junto às lideranças por meio da Mentoria Ricardo Amorim.

Você é co-fundador da startup Smartrip que reduz gastos com viagens corporativas. Usando agora o chapéu de empreendedor, como você analisa o papel das startups para a aceleração da inovação aberta no Brasil? É fundamental. E o que precisa acontecer é mais interação, mais conexão entre as startups e as grandes empresas estabelecidas para se disseminar uma cultura de inovação. A verdade é que as startups têm muito menos a perder do que as grandes empresas e por isso podem ser muito mais ousadas. A Smartrips nasceu para melhorar a experiência de quem viaja a trabalho e de quem precisa realizar essa gestão. Nós premiamos os funcionários que se dedicam a reduzir custos de viagens nas suas organizações e que cuidam bem do dinheiro poupado nesse processo. Na pandemia, ao contrário do que se poderia imaginar, crescemos dez vezes. Nas condições normais, os gestores de viagens estão sempre apagando incêndios das equipes, aí nossa entrada acaba sendo mais lenta. Com a redução das viagens, eles passaram a não ter que monitorar as viagens das equipes, mas a ter que justificar seu trabalho. Assim, se dedicaram em buscar melhores soluções para uma gestão mais eficiente dos custos dessas viagens, para inovar. Pode parecer paradoxal, mas um grande problema pode se mostrar uma oportunidade gigantesca.


Vivemos o melhor momento para inovar na história da humanidade

E qual seria o papel do governo nesse cenário? Ele passa por vários aspectos, sendo o mais relevante a geração do melhor ambiente possível para a inovação efetivamente acontecer. Isso inclui financiamento específico do governo em parceria com investidores privados; redução do risco jurídico de quem entra como investidor em uma empresa nascente em razão das Leis Trabalhistas atuais; redução de impostos sobre a infraestrutura de telecomunicações e investimento em educação. Se queremos ser inovadores, temos que educar e preparar pessoas para isso, como fez a Coréia. É inovar para sobreviver ou morrer mesmo? A inovação deve ser abraçada e vivida. Se achamos que o Uber impactou a realidade dos taxistas, vale lembrar que os veículos autônomos estão vindo aí. E, com eles, uma mudança ainda maior. Quem realmente entender o que está acontecendo e se posicionar de forma correta usando a inovação como uma alavanca, nadará de braçada. Quem ignorar esse cenário será simplesmente atropelado. No fundo, somos todos taxistas.

6 | Revista Softex 2020

Consultor, palestrante e também empreendedor, o economista Ricardo Amorim foi eleito pela Revista Forbes uma das 100 pessoas mais influentes do país.


Mecanismos de entrada e manutenção de operações internacionais

Foto por BrianAJackson, Envato Elements.

Mecanismos de entrada e manutenção de operações internacionais

D

urante a vida útil de uma empresa, a internacionalização é elemento estratégico para o processo de crescimento e de manutenção das operações corporativas. As operações em mercados internacionais permitem absorção de conhecimento, ativo que gera valor agregado a produtos e serviços.

os processos que precisam ser observados para diminuir o risco e aumentar as chances de sucesso para uma operação internacional.

A experiência internacional permite que uma empresa de tecnologia conheça seus competidores, o perfil de consumo internacional, novas estratégias de negócios e conteúdo relevante para tomada de decisões. É, portanto, enriquecedor e seu investimento é amplamente compensado, a despeito do fechamento de negócios e contratos em moeda internacional forte, que é, no fim da jornada, o objetivo final da corporação.

“O que” se refere a qual conteúdo deve ser trabalhado para a ida ao mercado internacional, para o “Go to Market”. De acordo com o Gartner, em sua última publicação sobre tendências de tecnologia, temos alguns temas que devem ser trabalhados e previstos com mais cuidado pela empresa de tecnologia, a fim de atrair a atenção do CiO e outros stakeholders internacionais. As tendências são:

Porém, existem método e procedimento para que isso ocorra a contento. Neste artigo, abordarei de forma simplificada as etapas e

Em primeiro lugar, temos três questões que precisam ser respondidas: O que, Para quem, Como?

a) Segurança com AI; b) Tecnologias Conversacionais; c) Realidade Aumentada; d) Hiper Automação;

e) Coisas Autônomas; f) Blockchain; g) Democratização de Implementações; h) Transparência e “traceabilidade”.


Mecanismos de entrada e manutenção de operações internacionais

Estima-se que existam hoje mais de 4.000 CDO’s (Chief Digital Officer) nos EUA, de acordo com o Gartner, e estes profissionais são responsáveis por, basicamente, rentabilizar a operação da empresa por meio de inovação tecnológica. - Guilherme Amorim Estas macro tendências são referência e servem como objeto de análise do corpo de tecnologia dos provedores, sobre como devem ser incorporadas e como podem ser agregadas em entregas já existentes, não sendo portanto, recomendações de pivotagem de modelo de negócio. Dessa forma, sabendo quais são os temas mais interessantes para as corporações internacionais em termos de compras de tecnologia, cabe a empresa que planeja a internacionalização saber o “Para quem”. No passado, o Chief Information Officer (CiO) era o foco absoluto de atenção dos provedores interessados em ganhar contratos

8 | Revista Softex 2020

internacionais. Entretanto, novos players tão estratégicos quanto estão surgindo nas empresas. Estima-se que existam hoje mais de 4.000 CDO’s (Chief Digital Officer) nos EUA, de acordo com o Gartner, e estes profissionais são responsáveis por, basicamente, rentabilizar a operação da empresa por meio de inovação tecnológica. Ou seja, o provedor tem a possibilidade de se tornar cada vez mais parceiro estratégico no negócio de seu cliente, e não um mero fornecedor. Outras figuras também são essenciais de serem abordadas para uma operações overseas, tais como: aceleradoras localizadas em mercadosalvo, investidores locais, analistas de institutos de inteligência, evangelizadores, entre outros. Finalmente, de posse do “o que” e do “para quem”, resta saber “como” executar o plano de internacionalização e, para isso, é interessante compreender quais as formas mais comuns e eficientes para a internacionalização. Ao participar de feiras e eventos internacionais, as empresas de tecnologia absorvem três coisas muito importantes: Conteúdo, Benchmark e Networking. Este último ponto é construído de forma lenta e perene, com menor custo, porém com tempo de retorno medido em anos, não meses. Este modelo, orgânico, recebe apoio para sua execução por meio de programas de fomento, como o Brasil IT+, da Apex-Brasil e Softex.


Para as empresas com caixa e apetite internacional mais agressivo, existe um modelo antítese do anterior, rápido e caro, que é a aquisição de operações concorrentes no mercado de foco. Reservado a poucas empresas, o modelo inorgânico tem no pilar de M&A a ferramenta de internacionalização. Uma das formas mais eficientes e adotadas pelas empresas é a prospecção e gestão de canais de distribuição. Este formato prevê a busca de parceiro local que distribua os produtos e serviços de tecnologia, respeitando a cultura local de negócios. Por canal, entende-se desde uma equipe de vendas, uma empresa de tecnologia distribuidora ou, até mesmo, concorrentes e clientes em potencial, que possam capilarizar a operação no ambiente que já estão adaptados e são conhecidos. Para que este formato seja eficiente, é importante

que o provedor brasileiro compreenda o modelo de negócios local, política de recompensa, percentuais aplicados, entre outros fatores. Numa operação em outro país, não se deve exportar o mindset de vendas que deu certo no mercado doméstico.. Outra opção bastante interessante é o chamado follow the client. Neste formato, um provedor de tecnologia que forneça para uma corporação no Brasil pode ter a oportunidade de ampliar seu atendimento quando seu cliente abre ou amplia sua operação no exterior. Dessa forma, o provedor de tecnologia segue seu cliente no mercado que este decidir ir. Torna-se uma ação bastante reativa, sem poder de escolha do mercado-alvo, entretanto com chances de realizar uma aterrissagem internacional menos custosa, se valendo dos ganhos internacionais para sustentar o investimento de expansão e de inteligência de mercado.


Mecanismos de entrada e manutenção de operações internacionais

processo internacional, notadamente destinado para manutenção de operações de marketing e vendas no mercado-alvo escolhido.

Ao expandir internacionalmente, a mentalidade da empresa brasileira precisa mudar. - Guilherme Amorim Ao expandir internacionalmente, a mentalidade da empresa brasileira precisa mudar. O discurso de ser uma empresa brasileira abrindo escritório para tentar a sorte no exterior deve ser substituído por: “uma empresa local, cujo maior mercado está atualmente no Brasil”. Para isso, o softlanding é uma ferramenta de internacionalização importante, que destina os esforços na abertura de escritório local, conta em banco, contratação de advogados e contadores, além de equipe de vendas e atendimento locais. Tudo isso de forma menos custosa possível, com apoio de escritórios locais especializados, que entregam estes serviços acima de forma customizada. Com esse tipo de abordagem, cria-se um elo de confiança entre o provedor e o comprador local, que sente a presença mais ativa para pós-atendimento.

Para quaisquer que sejam as escolhas, a empresa precisa ter em mente que o processo internacional é upfront, requer investimento de tempo e dinheiro para que, lá na frente, o retorno apareça. Como parte deste investimento, alocação em equipe especializada no processo e investigação de mercado são elementos-chave para o sucesso da operação. Como vemos, é possível mensurar o sucesso de uma operação internacional em diversos níveis da jornada. Pode-se estabelecer quantidade de leads gerados, negócios fechados, escritórios abertos, retorno, ou ainda volume da operação local. Mas, para saber de fato qual o final deste trajeto, é necessário atingir o nível local de percepção sobre sua empresa, de forma que a vejam como um provedor local, sem saber ou se importar de onde vem suas origens. Este é o ápice do processo internacional, leva tempo, recursos, mas é amplamente compensador para a história corporativa.

Existem ainda outros mecanismos para internacionalização, como a participação da empresa em programas de Open Innovation de corporações internacionais ou de aceleração em Aceleradoras e pequenos fundos locais. Sobre este último ponto, algumas empresas têm feito captações em fundos de investimentos (nacionais ou internacionais), que tenham a tese de internacionalização em seu portfólio, e com isso, captado Investimento para o

Guilherme Amorim, especialista em pesquisa e análises de inteligência de mercado, captação de investimentos, fusões e aquisições, e relações institucionais e governamentais.

10 | Revista Softex 2020


O Protagonismo dos Intraempreendedores

O Protagonismo dos Intraempreendedores no sucesso de uma estratégia de trasformação digital

A

necessidade de se promover uma verdadeira e profunda transformação digital nos negócios já faz parte do senso comum em todos os setores da economia.

hoje a situação mudou: empresas de todos os tamanhos e segmentos já compreenderam que a transformação digital não é mais uma opção, é questão de sobrevivência.

Se antes da pandemia, a implantação de uma estratégia dessa natureza estava engavetada e o status quo vencia a disputa ao final do dia,

Além de consistir em uma estratégia que envolva o uso de tecnologias e inteligência nos cinco domínios principais (Clientes, Competição, Dados, Inovação e Valor) em uma nova abordagem de negócios, a transformação digital requer agilidade e uma reinvenção do negócio.

Não há outra forma de implantar essa agilidade e promover essa reinvenção, sem envolver os principais talentos da organização no centro das ações. - Rafael Fernandes -

Não há outra forma de implantar essa agilidade e promover essa reinvenção, sem envolver os principais talentos da organização no centro das ações. É nesse contexto que os intraempreendedores são fundamentais. Destaco os principais atributos desses profissionais e a importância deles em um contexto de transformação digital:


O Protagonismo dos Intraempreendedores

Como parte da própria estratégia de transformação digital, a empresa precisa adquirir uma agilidade em seus processos de gestão e de operação, que exigem essa capacidade de rápida adaptação por parte dos colaboradores, além da chamada mentalidade ágil: conjunto de atributos que garantam a capacidade de rápida execução, aprendizagem e melhoria contínua do negócio, visando sempre uma melhor entrega de valor ao mercado.

1

Protagonismo e atitude Em momentos de incertezas e adaptações, é fundamental que haja um movimento interno que abrace essas mudanças, que crie um senso coletivo de propósito e envolvimento com o que está sendo desenvolvido. Os intraempreendedores chamam para si a responsabilidade de conduzir esse movimento com protagonismo, engajando a equipe para as ações que precisam ser realizadas.

2

Capacidade de adaptação e mentalidade ágil Implantar uma estratégia de transformação digital pode muitas vezes se traduzir na prática em um processo incômodo e desagradável por conta das mudanças realizadas na estrutura de poder que ditava as ações da empresa por muitos anos. Os profissionais com perfil intraempreendedor conseguem lidar melhor com essas situações de incerteza, adaptando-se da forma necessária para a realização dessa transição da melhor maneira possível.

12 | Revista Softex 2020

Nesse contexto, também é extremamente necessária a presença de talentos intraempreendedores, assumindo protagonismo na implantação dessas mudanças e executando a estratégia de forma ágil e adaptável.

3

Criatividade e foco em resolução de problemas Qualquer negócio que possua uma estratégia voltada para o digital (o que espera-se de empresas que estão promovendo essa transformação) necessita desenvolver e testar ideias inovadoras de forma constante. Além disso, faz parte da mudança cultural


a adoção de uma mentalidade focada na resolução de problemas em todos os aspectos.

Por possuírem essas e outras características, os intraempreendedores são peças fundamentais no sucesso de uma estratégia de transformação digital. Por isso, os gestores devem dedicar esforços em identificar, capacitar e empoderar seus talentos internos para encarar esses desafios. Em empresas menores, muitas vezes o próprio dono assume esse papel de protagonismo ou seus gerentes e diretores imediatos. Colocar as pessoas no centro da estratégia é um passo primordial para obter êxito em um processo de mudança tão desafiador e audacioso. A propósito, os empreendedores corporativos, peça fundamental nas empresas do século 21, são movidos justamente pela audácia e pelos grandes desafios.

O profissional intraempreendedor desenvolve uma capacidade de combinar ideias e elementos em prol da resolução de problemas e na construção de novos produtos, serviços ou para melhorar os já existentes. Além disso, ele está “programado” para enxergar os problemas do cotidiano com lentes de resolução, contribuindo diretamente para construir uma empresa que inova constantemente e resolve seus problemas de forma eficiente.

Transformação digital e empreendedorismo são o caminho da perenidade.

Rafael Fernandes atua no time de Inovação da Softex Nacional, principalmente no Programa Conecta Startup Brasil.Graduado em Gestão da Tecnologia da Informação e cursando MBA em Transformação Digital e Futuro dos Negócios pela PUC-RS.


Workspace | Lidando com a Pandemia

Workspace

Lidando com a Pandemia

E

u assumi o RH da Softex no dia 9 de março de 2020 e não imaginava uma transformação digital induzida de uma forma tão potente como nos últimos meses. Quando a “epidemia” da Covid-19 começou, parecia tão distante - como as gripes famosas dos anos 2000 que impactaram o Oriente e, de forma mais branda, o Ocidente - e não tínhamos noção da dimensão que tomaria.

Neste contexto, a Softex agiu de forma preventiva em todo o nosso plano de enfrentamento à pandemia. Em 20 de março, 100% do nosso time estava trabalhando de casa. E, nesse contexto, nos guiamos pelo bom senso e reforçamos a premissa de preservar a saúde física dos colaboradores e de suas famílias, além de permanecermos gerando valor para os nossos clientes e para a sociedade. Não temos como negar que a implantação de ferramentas de comunicação e a gestão facilitaram a nossa pré-adaptação. Abril e maio foram meses de alerta para toda a incerteza que permeava o mundo. Teremos curva? Teremos uma segunda onda? Há reinfecção? Qual o comportamento do vírus em cada território e cidades?

Até o carnaval, parecia que nada estava acontecendo e na sequência, parecia que algo diferente acontecia. A pandemia e o mundo VUCA(volátil, incerto, complexo e ambíguo) deram um soco na nossa cara. Como empregador e empregado, a incerteza nunca foi tão palpável e impactante como o novo coronavírus. Nossa primeira providência foi criar um comitê de crise que ficou responsável por coletar informações de fontes confiáveis e orientar os colaboradores, apoiando o processo de tomada de decisão da direção.

14 | Revista Softex 2020

Em julho, a onda da retomada econômica e adaptação ao “novo normal” fizeram com que construíssemos um plano de retomada das atividades presenciais. Buscamos apoio técnico


de uma empresa de medicina e segurança no trabalho. Tudo preparado... segurança, higiene e distanciamento, mas com uma equipe rendendo bem no trabalho remoto e com o número de casos crescendo, demos um passo para trás.

Assumimos o trabalho em casa como um novo normal. As idas ao escritório são coordenadas e são feitas quando necessário. Estamos fazendo ações de engajamento e desenvolvimento contínuo dos nossos colaboradores e isso tem gerado o desenvolvimento da Softex, em especial, a atuação colaborativa. Com a distribuição nacional da nossa equipe, aqueles que estão fora da sede em Brasília estão se sentindo mais incluídos. Nossa jornada tem sido de muito aprendizado e resultados positivos das nossas iniciativas e projetos, inclusive gerando empregos. Não podemos prever o futuro e estamos vivendo um dia de cada vez e tendo as pessoas como ponto principal ativo organizacional.

Por mais que nossa equipe seja de pessoas que possuem toda a informação necessária para não contrair o vírus, há fatores externos que precisavam ser considerados e não existiam garantias que não teríamos colaboradores infectados (uma ida ao supermercado, padaria ou o deslocamento). Além disso, a ocupação dos leitos de UTI estava acima de 70%. Seguimos uma orientação, retornar somente quando esse número for inferior à 70%.

Beta Monteiro é Especialista em Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional e Analista de RH na Softex.


Recomendações para formulação de políticas públicas

Recomendações para formulação de políticas públicas para transformação digital do setor público no contexto da pandemia de Covid-19

O

setor público brasileiro está sensibilizado e tem compromisso com a transformação digital de suas operações, assim como a disponibilização extensiva de serviços online para cidadãos e empresas. No entanto, há ainda um caminho considerável a percorrer nesta temática. Conforme ranking estabelecido pela ONU, hoje o Brasil ocupa a 44º posição no ranking de governos digitais. Nesse sentido, é importante entender os principais pontos a serem observados para a promoção da transformação digital governamental de forma assertiva por meio de políticas públicas responsivas à nova realidade imposta pela pandemia de Covid-19. O artigo a seguir é parte integrante do estudo “Transformação digital do governo e impactos da COVID-19: tendências e recomendações para respaldar políticas públicas assertivas”, disponível na página do Observatório Softex: https://softex. br/inteligencia/.

16 | Revista Softex 2020

A despeito dos impactos negativos trazidos pela pandemia de Covid-19, neste momento há uma janela de oportunidade para robustecer e concretizar o movimento de transformação digital já iniciado pelo setor público. Conforme o governo avança em sua digitalização, políticas públicas modernas e com foco em resultado são necessárias para garantir que o uso de tecnologia e de dados não sirva apenas para aumentar eficiência, mas também para desenvolver serviços públicos inovadores e inclusivos. Para tanto, é importante o posicionamento do Estado como indutor da inovação à medida em que investe e preza pela aplicação do recurso público de forma racional e desburocratizada. De modo especial, no momento pósCovid-19, a formulação de políticas públicas de fomento à DX governamental deve levar em consideração três principais eixos que formam a base para viabilizar a inovação e digitalização de processos públicos: identidade digital,


equidade digital e inovação aberta. Estes eixos são fundamentais não só para a melhoria dos fluxos de comunicação entre governo, cidadãos e empresas, mas também para gerar ambiência para a incorporação de tecnologias disruptivas e respaldar a retomada da economia. A crise causada pela Covid-19 deixou claro que a falta de um registro digital unificado do cidadão limita a capacidade do governo de fazer a transição de canais de serviços físicos para canais digitais. Inconsistências no cadastro dos cidadãos em variados órgãos oficiais ou

A crise causada pela Covid-19 deixou claro que a falta de um registro digital unificado do cidadão limita a capacidade do governo de fazer a transição de canais de serviços físicos para canais digitais.

No Brasil, a identidade digital do cidadão será o Documento Nacional de Identificação (DNI) que reunirá em um único documento o RG, CPF, certidão de nascimento e título eleitoral. O DNI ainda está em fase inicial de implementação sob coordenação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que detém a base de dados biométricos de 73 milhões de eleitores. A plena implementação da DNI está condicionada à adequação de todas as UFs ao que dispõe o Decreto Federal nº 9.278/2018 que padroniza a emissão de carteiras de identidade no território nacional, bem como o cadastramento biométrico extensivo da população. Neste processo, é crucial que haja aceitação e adoção da identidade digital por parte do cidadão, o que muitas vezes é difícil prever, conforme salientado pelo Gartner em seu artigo

- Jéssica Dias gargalos para o acesso ao auxílio emergencial disponibilizado pelo governo a partir de abril de 2020. Neste sentido, políticas públicas voltadas para DX devem invariavelmente abranger iniciativas para fortalecer e difundir a identidade digital no Brasil. A identidade digital é indissociável à transformação digital do governo. Esta ferramenta determina o acesso de cidadãos aos serviços públicos disponíveis digitalmente e é um importante fator de inclusão social e econômica, útil também para racionalizar recursos e mitigar fraudes contra políticas públicas e instituições financeiras. Ainda, a identidade digital tem o potencial de transformar o nível de confiança da população no governo à medida em que seus impactos positivos vão além da autenticação tradicional de serviços online e assinaturas eletrônicas.

“Now Is the Time to Make Digital Identity Work for Citizens and Governments” (2020). Neste contexto, iniciativas correlatas à implementação de identidade digital devem observar criteriosamente a experiência do usuário a fim de promover acesso eficiente e descomplicado ao documento digital, contribuindo para adesão massiva por parte da população. A equidade digital, outro eixo importante para a formulação de políticas públicas para transformação digital, é uma tendência que vem ganhando protagonismo nas publicações de Think Tanks e consultorias especializadas em paralelo à discussão sobre emergência e aplicação de tecnologias disruptivas. Considerando que a tecnologia pode potencialmente aprofundar


Recomendações para formulação de políticas públicas

A inovação aberta é também uma estratégia importante para respaldar digitalização do setor público e a retomada da economia no momento pós-crise. - Jéssica Dias gaps de oportunidades entre pessoas de diferentes localidades, classes sociais e gerações, é válido o debate sobre equidade digital como fator estratégico e condição sine qua non para o sucesso da DX do governo. Conforme o Gartner (2020), o conceito de equidade digital diz respeito à universalidade do uso de tecnologia, prezando pelo acesso extensivo dos cidadãos de um país aos meios digitais necessários para prosperidade e participação plena como membros da sociedade. Promover a equidade digital demanda esforços consistentes do governo em liderar políticas que prevejam o uso de tecnologia

18 | Revista Softex 2020

objetivando o bem coletivo à medida que antecipam possíveis impactos negativos de sua aplicação. Nesse sentido, ações práticas a serem tomadas incluem: investimento em estrutura para acesso à internet com velocidade suficiente para navegação estável, principalmente em áreas rurais e remotas do país; disponibilização de serviços públicos via websites responsivos, uma vez que smartphones são o principal meio de acesso do brasileiro à internet; e iniciativas que promovam a alfabetização digital da população. A inovação aberta, terceiro eixo proposto por este artigo como essencial para a DX do governo, é também uma estratégia importante para respaldar digitalização do setor público e a retomada da economia no momento pós-crise. A inovação aberta acontece a partir da interação com empresas nascentes de base tecnológica (startups/scale-ups) capazes de incrementar o processo de P&D e gerar valor ao oferecer soluções de tecnologia customizadas para a realidade de uma empresa ou órgão público. No cenário da pandemia de Covid-19, por exemplo, essa interação mostrou-se benéfica, tendo em vista a capacidade das startups e scale-ups em disponibilizar soluções de


fortalecer as iniciativas de estímulo à inovação aberta no país por meio de programas de fomento ao empreendedorismo inovador. Para tanto, é importante que políticas públicas voltadas para esta temática estejam sempre focadas em resultados e busquem fortalecer o papel de stakeholders cuja função intrínseca seja promover inovação no país: organizações de sociedade civil, academia e setor privado. Desta forma, o Estado otimiza e racionaliza recursos ao mesmo tempo em que ganha eficiência e capilaridade, fator importante para o sucesso da DX governamental em um país de proporção continental.

forma ágil para respaldar a continuidade das operações do setor privado frente às novas exigências sanitárias. Neste contexto, o governo tem duas possibilidades de ação não excludentes entre si: abrir portas para internalizar soluções de startups e scale-ups para incrementar o processo de DX governamental, assim como

É importante, ainda, ter em mente que os resultados das políticas públicas propostas pelo governo estão condicionados ao ambiente regulatório do país que deve trazer maior fluidez ao processo de transformação digital e inovação em detrimento de constrangêlo. Assim, iniciativas para desburocratizar investimentos e a execução de políticas públicas são fundamentais e impactam diretamente no ritmo da digitalização do setor público que, dado o surto de Covid-19, tornou-se urgente. Este artigo é parte integrante do estudo “Transformação digital do governo e impactos da COVID-19: tendências e recomendações para respaldar políticas públicas assertivas”, disponível na página do Observatório Softex: https://softex.br/inteligencia/.

Jéssica Dias é especialista em comércio exterior e negócios internacionais. Atua na área internacional e de inteligência da Softex.


Telemedicina e a Transformação Digital

Telemedicina

e a Revolução Digital em curso na saúde do Brasil

O

atendimento a qualquer hora e em qualquer lugar, a maior acessibilidade às comunidades que não têm acesso físico aos hospitais e a redução no tempo de atendimento estão entre as facilidades da Telemedicina. Essas possibilidades que a Telemedicina traz auxiliam na gestão do tempo em situações em que cada segundo importa para salvar uma vida. A Telemedicina conecta pacientes com médicos e especialistas, facilitando esse fluxo de informações no processo de diagnóstico e tratamento, qualificando a assistência e diminuindo os custos. Tomografias, Eletrocardiogramas e Eletroencefalogramas, dentre outros exames e procedimentos, são exemplos de sucesso de diagnósticos e exames por imagem que podem ser enviados ao especialista, que consegue opinar em tempo real e devolver a solução ao paciente ou ao colega clínico. Atualmente, seguindo protocolos de distanciamento devido à pandemia e dificuldades de deslocamento, a Telemedicina passou a ser uma tecnologia fundamental para atendimentos em hospitais ou remotamente para atendimento direto aos pacientes. Pacientes em pós-operatório podem receber alta precoce e ter sua recuperação em casa, assistida por familiares, em um ambiente aconchegante, o que racionaliza leitos e diminui custos. Esse modelo também é uma tendência para tratamento de idosos e pacientes crônicos, como diabéticos e hipertensos. O avanço das tecnologias baseadas em IoTs (Internet das Coisas) e a chegada das redes 5G são recursos importantes para auxiliar no desenvolvimento de programas e equipamentos para difundir ainda mais a aplicação da Telemedicina. 20 | Revista Softex 2020

Essas tecnologias emergentes acabam provocando mudanças disruptivas na saúde, trazendo mais inteligência no diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças. Inteligência Artificial, Blockchain, Impressão 3D, Sensores e Robótica são algumas das tecnologias que avançam de maneira rápida e impactam positivamente o setor da saúde. A própria educação médica passa por uma transformação, utilizando a realidade virtual para ensinar anatomia, fisiologia e procedimentos médicos. Uma revolução digital está em curso na saúde com pacientes conectados e mais próximos dos seus médicos, tendo a Telemedicina como uma aliada para agregar mais qualidade de vida e bem-estar. ITK 2020 Digital Na edição 2020 do Innovation Tech Knowledge, evento de Tecnologia promovido e realizado pelo Agente Softex, Softsul (Associação SulRiograndense de Apoio ao Desenvolvimento de Software), serão discutidos temas relacionados à Telemedicina, Robótica, Wearables, Chatbots, Inteligência Artificial, Realidade Virtual, Impressão 3D, Startups, Inovação e Empreendedorismo na saúde. Além da programação voltada para a Saúde, o ITK 2020 Digital contará com transmissão do conhecimento das Tecnologias Disruptivas e Exponenciais (essência e aplicação) e o futuro do Agronegócio e da Educação, Trabalhos Acadêmicos, Cases Patrocinados, Sala de Networking com Rodada de Negócios e Exposição Virtual. Todo o evento será em formato on-line, apresentado via Live Streaming, entre os dias 5 e 9 de outubro de 2020. Mais informações: https://www.itk.org.br



www. s o fte x .br


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.