CURITIBA, JUNHO DE 2012 - ANO 16 - NÚMERO 208 - 3º PERÍODO DE JORNALISMO NOTURNO DA PUCPR
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opinião
Curitiba, junho de 2012
TER UMA PROFISSÃO E EXERCÊ-LA NÃO É SONHO, MAS META PARA MUITAS MULHERES
Noites Curitibanas
“Sexo frágil” é coisa do passado hoje elas conquistam o mercado de trabalho derrubando sofismas e até mesmo os preconceitos A noite pode ser curitibana, mas, a maioria, não é dela. Miscelânea paranaense, a cidade traz na ponta do nariz – além de coriza e alguns espirros, o privilégio de ter em sua população gente do interior. Cerca de 55% dos que moram aqui, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Ethos, bom, não são daqui. Mas pouco importa: a contaminação virulenta de “curitibices” é imediata. Catataumente, uma confusão cultural se apropria e a resistência curitibana à interação e a calores intimistas, fazem companhia a quem resolve aparecer pela cidade. À noite, de preferência. E sejam muito bem-vindos. O que pode assustar os notívagos, em Curitiba, é que na madrugada a temperatura se aproxima dos 13°C. E pode cair. Assim
como a inibição, a dificuldade de socialização e alguns prejuízos na espontaneidade, que só demonstram as formas ligeiramente arcaicas de interação do povo daqui. Mas é que esta é uma marca que se carrega já de registro e que com alguns poucos goles de bebida quente – não que o curitibano se doa ao tomar gelado - milagrosamente é curada. E isso fica evidente na matéria desta edição do Comunicare, “As diferentes faces da Curitiba noturna”: a frieza da cidade se destina aos termômetros. Mas que é, também, facilmente superada pela animação noturna e jovialidade da capital paranaense. Aqui, o tom é de boemia, de alegria discreta expressa por um sorriso no canto da boca. E música. Curitibano adora trilha sono-
ra para se divertir – ou sofrer por amores melancólicos. O porém é que, infelizmente, se esquece de que pagar também faz parte da fantasia, como mostra a reportagem “Acordes sustenidos”. Os músicos de Curitiba, com toda a sua resiliência, tentam sobreviver aos baixos cachês oferecidos, em uma cidade que poderia acolher com mais vontade os protagonistas da cena noturna. Não há reconhecimento e valorização da classe, responsável anônima por conduzir os embalos da cidade. Mas nem tudo é erro. Aos que desejam, um dia, conhecer vampiros, Curitiba se mostra propícia para escritores ainda iniciantes, que não conseguiram achar um bom cenário para dar início a própria viagem pelas letras, como
informa a matéria “Nada suave é a noite”, desta edição. A taciturna Curitiba, ainda mais à noite, é um universo borbulhante, que se esconde na discrição do povo, mas que carrega grandes – polêmicas e desconhecidas – histórias. Esta edição do Comunicare é, além de um jornal laboratório, um convite aos leitores para conhecerem um pouco mais desta cidade injustamente taxada de provinciana e recatada. A noite curitibana, caótica pela diversidade de acontecimentos e atrações, revela os traços de um novo perfil social, que evidencia o esboço do próprio povo que aqui vive. A quem couber, um pouco de quentão para aquecer a jornada.
FALA, PROFESSORA
“É um excelente jornal, que tem melhorado a qualidade das matérias e o uso de imagens, mas ainda pode melhorar a produção fotográfica”. Leomar Jesus Ferreira de Brito, professor de fotografia da PUCPR
Raffaela Porcote
FALA, ALUNO
RUMO DOS VEÍCULOS IMPRESSOS DEVE SER REPENSADO
Jornalismo não pode ser impessoal e burocrático São muitas as hipóteses sobre o futuro do jornalismo impresso. Os mais pessimistas já encomendaram caixão, velas e coroa de flores. Meus pêsames para eles. Não acredito que os dias do papel estejam contados. Apenas creio que os rumos desses veículos precisam ser repensados. A começar pela forma como dialogam com seus leitores. A edição do Comunicare que a mim coube analisar, na posição de ombudsman, fez com que eu parasse justamente para refletir sobre o que estudantes de Jornalismo em 2012 podem fazer para antecipar esse futuro tão nebuloso e incerto. Sem recorrer a um exercício de adivinhação inconsequente, eu posso dizer, sem muito receio de errar, que veículos impressos terão, sim, de investir em profundidade e em reflexão. Mas sem cair na armadilha da impessoalidade e do hermetismo. A reportagem “Aborto de anencéfalos não é crime”, por exemplo, comete o erro de tratar
um tema delicado, com implicações científicas, legais e políticas, de modo excessivamente frio e distante. Uma pena, pois a matéria, embora bem feita, acaba desperdiçando seu maior trunfo: personagens da vida real que estão enfrentando o drama de criar uma criança que nasceu sem crânio. O melhor teria sido partir da tocante história do casal Joana e Marcelo Croxato, e não esperar até o sexto parágrafo para apresentá-la ao leitor. EXPEDIENTE
Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
O mesmo raciocínio parece valer para quase toda a edição, muito bem cuidada, porém um tanto morna e “oficialesca”, levando-se em conta que seu tema é, em tese, borbulhante: “Crimes”. Na matéria “Oficinarte é ‘escola da vida’”, uma ótima pauta de interesse humano também é desperdiçada. Em vez de dar voz aos detentos, cujas vidas poderão ser transformadas graças ao contato com a arte, o repórter prefere recorrer a fontes oficiais, como a artista plástica e professora que
idealizou o projeto e a assistente social do Complexo Médico Penal do Paraná (CMP). Nenhum presidiário foi ouvido. Portanto, temos acesso apenas à metade, e a menos interessante, da história toda. Paulo Camargo é jornalista, formado pela UFPR, mestre em Estudos sobre Cinema pela Universidade de Miami (EUA), e doutorando em Comunicação e Linguagens-UTP. Entre 200211, foi editor de Cultura do jornal Gazeta do Povo, onde hoje atua como repórter especial.
“ O Comunicare permite que alunos de vários cursos conversem entre si. É bacana vermos as produções laboratoriais de outros cursos da universidade”.
Rodrigo Plaisant Letras PUCPR
NOSSA CAPA Em busca de Curitiba perdida “Sabe onde ele mora”, perguntei ao meu irmão. Ele disse que não. Ah, subi a Amintas. Onde já se viu? Tomei um caminho contrário para mostra-lo o antro do vampiro. “Para onde você vai? Ainda preciso encontrar meu céu”, ele me disse. O céu esperava há tempos. Que esperasse um pouco mais.
Diretora do Curso de Jornalismo Mônica Fort
A história verdadeira é que errei o caminho. Cai ali por pegar a saída errada na via rápida. Contaria ao meu irmão se o polegar fosse menos apressado; menos carrancudo com um pois, pois qualquer. Calei-me. Disse a ele que o vampiro fizera aniversário e o desprazer da visita não consumada seria nosso presente. Da esquina oposta indiquei o casarão: é ali. Eu vibrei quando soube; ele não se surpreendeu. Idiossincrasias à parte, a fique desapontado. Acelerei o auto, virando à direita. “Aqui não, o prédio atrapalha”, lamentava meu irmão. Tremenda patifaria. “Arre, horizonte esfumaçado”; procurava um céu das arábias. Atrasaríamos para o jantar. Não me dei ao trabalho de ligar para mamãe por pura preguiça. Tampouco meu irmão. Havia ainda uma entrega pendente; a empreitada de meu irmão na busca do céu perfeito se seguia. “Nenhum é perfeito, ainda mais à noite”, pensei. Mas não o disse. Ele ficaria chateado.
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capa
Foi uma volta das grandes. Se soubesse do desprezo que sofreria, deixava pra lá. Queria saber do céu. Capacho sob o qual brilham as luzes da cidade. Céu é uma ova. Desejei o fim do céu; seu lugar seria ocupado por uma lona preta. Nada aconteceu. Aliás, nada de lona preta. Acontecer aconteceu. Mas o contrário. Ele encontrou o bendito céu. Estava lá, aberto. Não tão estrelado, mas imaginei que aquele fosse como o das arábias. Talvez parecido. Passei lotado com o auto; um pouco por birra. Meu irmão disse que voltaria ali. Registraria o céu. Surpreendeu-me ele não pedir que parasse o carro na hora. “Esse sim era é um céu para a capa”, exaltou. Não faltava mais nada. Seria a capa do vampiro.
Edição nº 208 | Junho/2012 PUCPR Rua Imaculada Conceição 1.155, Prado Velho - Curitiba/PR www.pucpr.br Reitor Clemente Ivo Juliatto Decana da Escola de Comunicação e Artes Eliane C. Francisco Maffezzolli
Jornalista Responsável Cícero Lira - DRT 1681 Coord. de Projeto Gráfico Alessandro Foggiatto Editor-chefe Guilherme Zuchetti Editor de arte Felipe Raicoski Capa Felipe Raicoski
Fizemos a entrega e ainda jantamos em casa. Mamãe esperou. Quanto ao céu, a espera fica por conta do sucesso. Prometi a meu irmão que escreveria um soneto duplo sobre aquele dia; o fiz à minha maneira. Ao menos ele me agradeceu por errar de rua. Renan Machado
Editorias Comportamento: Rodrigo de Lorenzi Cultura: Renan Machado Economia: Shaiene Ramão Educação: Raíssa Melo Entrevista: Diego Laska Esporte: Rodrigo de Lorenzi Geral: Daniela Hendler Opinião: Raffaela Porcote Saúde: Luize Souza Trânsito: Fabio Wosniak Tecnologia: Rafaela Gabardo Meio Ambiente: Ademar Santos
“E como se, por mágica, o céu se tornasse claro como na noite das arábias” Felipe Raicoski
entrevista
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Curitiba, junho de 2012
HOMENS SOFREM MAIS COM O RONCO E AS MULHERES COM INSÔNIA
O sono melhora a qualidade de vida
Graduada em Medicina pela UFPR e formada em Medicina do Sono no Instituto do Sono – Unifesp, Danielle Salvati de Campos Malaquias é membro da Associação Mundial da Medicina do Sono (WASH) - World Association of Sleep Medicine. Além de trabalhar no Instituto do Sono de Curitiba, que é uma clínica especializada no tratamento de distúrbios do sono. Para a especialista, a privação do sono é o principal distúrbio, prejudicando a qualidade de vida. Danielle afirma que quem sofre mais com os distúrbios do sono são os idosos, pois o sono é mais fragmentado com redução significativa de horas. Comunicare: Quais são os distúrbios do sono? Danielle: São vários, entre eles: insônia, narcolepsia, ronco noturno, apneia do sono, síndrome das pernas inquietas e sonambulismo. Comunicare: Qual é o principal tipo de distúrbio do sono? Como curá-lo? Danielle: Hoje em dia podemos dizer que a privação do sono é o principal distúrbio do sono. O mau hábito de dormir pouco leva ainda a outros problemas do sono, como insônia ou sonolência excessiva diurna, por exemplo. Para curá-lo, o primeiro passo é tomarmos consciência que uma boa noite de sono é nossa aliada, permite-nos desempenhar nossas funções do cotidiano, além de contribuir para a sociedade. Dormir a quantidade de horas necessárias, de forma rotineira , nos trará saúde a curto, médio e longo prazo. Comunicare: O que é insônia? Quais fatores pode ocasioná-la? Danielle: Insônia é a incapacidade para começar a dormir ou para manter o sono. O que pode ocasiona-lá é o uso de certas medicações, alimentos e bebidas estimulantes, algumas doenças enre elas o hipertireoidismo, o stress e ansiedade prolongados.
Foto: Diego Fernando Laska
Especialista em sono, Danielle Malaquias dá dicas para uma boa noite de sono e para uma melhor qualidade de vida
Danielle Malaquias, médica especialista em distúrbios do sono
A insônia também pode ser um comportamento aprendido, ou seja, não seguir as orientações de “higiene do sono” também podem levar a insônia. Comunicare: Quando a insônia deve ser tratada como doença? Danielle: Quando ocorre de forma eventual não traz maiores consequências, mas quando passa a ser frequente altera de forma significativa a vida da pessoa que sofre deste problema. Geralmente o primeiro sintoma é a irritabilidade, seguida por cansaço crônico, falta de motivação, de energia, que são sintomas comuns e indicam necessidade de diagnóstico e tratamento. Comunicare: Quais são as dicas para ter um bom sono? Danielle: As principais dicas se chamam “higiene do sono”. Algumas delas são: não fumar; não consumir bebidas alcóolicas; cortar o uso de estimulante, por exemplo, a cafeína; exercitar-se regularmente, mas não próximo a hora de dormir; manter o mesmo horário de dormir e levantar, inclusive no final de semana e dor-
mir num ambiente tranquilo com um colchão confortável e firme. Comunicare: A incidência de distúrbios do sono é maior em homens ou mulheres? Danielle: Depende da patologia do sono. O ronco noturno, por exemplo, é mais prevalente em homens. Já a insônia, em mulheres. Comunicare: Qual grupo
“Os idosos sofrem mais com os distúrbios do sono” etário tem maior número diagnosticados de distúrbios do sono? Por quê? Danielle: Os idosos sofrem mais com distúrbios do sono, em parte por uma questão fisiológica. O sono na terceira idade muda, é mais fragmentado e há
uma redução na quantidade de horas necessárias a ser dormidas por noite de sono. Adaptar-se a essa nova condição fisiológica não é fácil, o que leva essa população a ter constantes queixas realcionadas ao sono. Soma-se a isso os vários medicamentos que os idosos constumam ingerir, muitos deles interferindo direta ou indiretamente no sono. Comunicare: Quantos curitibanos apresentam algum tipo de disturbio do sono? Danielle: Em Curitiba ainda não temos trabalhos científicos que nos informem da prevalência desses distúrbios, porém na capital paulista, foi realizado um estudo chamado EPISONO, que trás infomações muito interessantes, entre elas, uma alta prevalência para apneia de sono, bem diferente dos índices registrados em literatura que são de 4%. Comunicare: O que pode prejudicar o sono? Danielle: O excesso de ruído; a claridade; assistir televisão muito próximo da hora de deitar ou trabalhar no computador; o cigarro, pois o fumante leva mais
tempo para dormir e acorda com maior frequência durante a noite; o consumo de álcool, consumindo antes de ir para a cama interrompe e fragmenta o sono; como também o consumo de estimulantes que pode acentuar a dificuldade de pegar no sono. Comunicare: Quanto tempo devemos dormir para termos um bom funcionamento do organismo e consequentemente uma melhor qualidade de vida? Danielle: A maioria dos adultos precisa de sete a nove horas de sono por noite, em média. A quantidade de horas de sono varia de acordo com a pessoa. Você, por exemplo, deve saber de quanto tempo de sono precisa para se sentir bem e este “sentirse bem” é o parâmetro que indica o seu número de horas ideal para o sono. Esta regra só não vale quando o sono não está apresentando uma qualidade adequada, então se há dúvidas, uma visita ao especialista pode ser de muita ajuda. Outro fator relevante é a idade, pois a quantidade de sono necessária diminui com a idade. Um bebê recém-nascido chega a dormir 20 horas por dia. Aos quatro anos, a média é de 12 horas por dia. Aos 10, a média cai para 10 horas por dia. As pessoas mais velhas dormem cerca de seis ou sete horas por dia. Comunicare: A automedição é uma boa alternativa para quem tem distúrbios do sono? Danielle: Não é uma boa alternativa, pois o tratamento pode ser feito de forma inadequada, indevida ou insuficiente. O que não acabará com o distúrbio do sono e sim trará novos distúrbios. Alguns medicamentos são controlados, assim dificilmente o paciente conseguirá fazer uso sem prescrição médica por muito tempo. Porém alerta-se que os medicamentos controlados chamados benzodiazepínicos, estão cada vez menos sendo usados no tratamento da insônia.
Diego Fernando Laska
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economia
Curitiba, junho de 2012
CURITIBA POSSUI MAIS DE 600 BARRACAS DE CACHORRO QUENTE
Empreendedores lucram com alimentação Rapidez e preço baixo são atrativos para os consumidores
Foto: Felipe Raicoski
fora R$21,11, já o curitibano esta abaixo R$17,23, tanto a nível nacional quanto a região sul, que é de R$ 18,20. Dados do POF (Pesquisa de Orçamento Familiares), do IBGE, 2008/2009 31,1% dos gastos familiares com alimentação e a estimativa é que o numero tenha aumentando cerca de 10% a 15%. Justamente pela alta procura na região e a falta de seguimentos como esse na região, que os sócios investiram um bom dinheiro (quantia não relevada) buscando elevar os lucros. Sebrae
Cachorros quente são fonte de renda para pequenos empreendedores
do gênero na região. “Os preços dos produtos que temos no estabelecimento seguem o ritmo do bairro, por isso os preços são acessíveis”, ressalta. O sucesso dos empreendedores rendeu um bom retorno financeiro, melhor do que o esperado, e os planos futuros são ampliar a casa, tando no quesito espaço quanto produtor e a construção de uma nova casa, no mesmo seguimento, que já esta em andamento na região. Mesmo com a pouca experiência no ramo, Fabiano diz a persistência, uma boa ideia e ter tudo conforme a lei, contratos e licenças são fundamentais para o sucesso.
Para quem esta interessado, o Sebrae/PR - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Paraná – é um instituição sem fins lucrativos que foi criada para dar apoio aos empresários de pequenos negócios. O órgão oferece palestras, capacit ações empresar iais, treinamentos, projetos, programas e soluções empresariais, com foco no empreendedor ismo, setores estratégicos, políticas públicas, tecnologia e inovação, orientação ao crédito, acesso ao mercado, internacionalização, redes de cooperação e programas de lideranças. No Brasil, são 27 unidades e 750 postos de atendimentos espalhados de norte a sul do País. No Paraná, cinco regionais e o11 escritórios. A entidade, no estado, chega aos 399 municípios por meio de pontos de atendimento e parceiros como associações, sindicatos, cooperativas, órgãos públicos e privados ou pelo site (sebrae@pr.sebrae.com.br).
“Se você prepara um bom produto, quem vem a primeira vez gosta e indica”
Foto: Lucas Dziedicz
A famosa frase publicitária do “cachorro quente com duas vinas”, se tornou comum nas noites da cidade entre a população. A comida tradicional possui mais de 600 pontos de vendas, entre carrinhos e lanchonetes, espalhado por vários bairros da capital paranaense e conta com um vasto cardápio de ingredientes que são acrescentados à base do pão, da salsicha, da maionese e da batata palha. O alimento de preparo rápido tem a aceitação em massa da população, em função da facilidade em encontrar o lanche e o tempo em de preparo, não passando de 5 minutos. Além do preço atrativo que vai de três a dez reais. Buscando atrair a maior parte da clientela, donos dos estabelecimentos incluem ao cardápio novos ingredientes como bacon, frango, calabresa, salada e outros chegam a fazer loucuras criando, por exemplo, um cachorro quente doce. O brasileiro que sonha em ter o seu próprio negócio, e não possui um grande capital de investimento, procura no lanche a oportunidade de começar com uma barraquinha. O baixo dinheiro investido e o lucro de forma rápida são os principais atrativos. É importante estar devidamente registrado na prefeitura, com o “croqui”, registo do espaço e as devidas licenças, além do preparo para enfrentar as condições climaticas não favoraveis da cidade como o frio e as chuvas constantes. O agora empreendedor Fabiano Wagner Atelzner, há cinco anos, decidiu abandonar de seu emprego em uma loja de som automotivo para abrir uma barraquinha de cachorro quente, que após alguns anos de dedicação e sucesso se transformou em restaurante e bar “Happy Hour”. Ele diz que ficou durante duas semanas em um ponto da cidade, onde não existia nenhuma barraca por perto, olhando o fluxo de pessoas até decidir abrir o seu prórpio negócio. “Depois de uma semana eu estava com
Wagner se surpreendeu com a aceitação da casa
a minha barraca”, relata Atelzner. Ele ainda revela que em seu primeiro dia comprou 60 pães e vendeu todos em uma hora de trabalho, no segundo, comprou 100 e em menos de duas horas voltou para casa. Assim foi aumentando a produção, criando novos lanches e aperfeiçoando outros até chegar ao ponto de vender mais de 400 lanches diários, com um lucro aproximado de R$2.500,00 e mais de 1.400 clientes cadastrados. Entre todos, um cliente e amigo de Fabiano lhe chamou a atenção para abrir, em sociedade um restaurante “Dona Madallena” na
frente de seu ponto. O bar Como Atelzner já trabalhava a noite e sabia como as coisas funcionam no período, resolveu ampliar o horário de atendimento, abrindo o então restaurante para um “Happy Hour”, que surgiu através da demanda dos clientes, que não tinham um bar em seu bairro ou próximo. Mesmo não localizado em um bairro nobre da cidade, o Pinheirinho, o dono alega que a aceitação do publico foi uma surpresa em função de não possuir um estabelecimento
Restaurante Uma pesquisa feita pela ASSERT – Associação das Empresas de Refeição e Alimentos revela que a alta nos alimentos e o crescimento dos restaurantes brasileiros impactaram na procura acentuada. O brasileiro gasta em média para almoçar
Lucas Dziedicz
economia
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Curitiba, junho de 2012
LUCRO ATRAI EMPRESÁRIOS CURITIBANOS
Comércio 24 horas cresce em Curitiba Nos últimos anos, impulsionados pelo desenvolvimento e pelo crescimento populacional, o número de estabelecimentos abertos 24 horas em Curitiba aumentou. Segundo a Prefeitura Municipal, ainda não há nenhum levantamento detalhado sobre o assunto, mas sabe-se que o comércio da madrugada cresceu, e junto com ele, cresceu também o número de trabalhadores noturnos. Segundo dados no Ministério de Trabalho, atualmente 15 milhões de brasileiros trabalham no período noturno e as profissões que mais possuem trabalhadores estão nas áreas de transporte, saúde, segurança, energia e comunicação. Curitiba é uma das cidades que mais possuem estabelecimentos 24 horas e que mais ofertam esse tipo de vagas. Ângulo Empresarial Marion Hofstaetter, gerente geral da panificadora 24 horas Aquarius Gastronomia, que fica em uma das principais avenidas do Bairro Bacacheri conta que a ideia de abrir o estabelecimento o dia todo, sem intervalos e fechamentos, surgiu quando não havia ainda na capital nenhum local que tivesse esse horário de funcionamento. “Na época que os donos decidiram transformar a panificadora em 24 horas. Foi uma grande mudança, porque havia uma grande demanda. Foi uma novidade no mercado, porque ainda não haviam estabelecimentos que fizessem isso”, diz. Hofstaetter comenta que a Aquarius passou a lucrar em torno de 20% a mais do que quando era aberta apenas em horário comercial. Um estabelecimento desse gênero pode lucrar de 15% a 50% a mais do que um comércio normal, dependendo do ramo em que atue. Assim, uma empresa que fatura mensalmente R$500 mil reais pode ter um acréscimo no fim do mês de R$75 mil, quase um quinto do valor total. A gerente comercial
Foto: Divulgação
Estabelecimentos que ficam abertos dia e noite podem garantir ganhos de até 50% no final do mês
A Aquarius Gastronomia é referência em alimentação 24 horas
afirma que pode parecer um pequeno aumento, mas que ele faz toda a diferença na manutenção da panificadora e no pagamento dos funcionários. “Hoje compensa ficar aberto o dia todo, porque esses 15% são um lucro a mais. É como se nós ganhássemos um extra no fim do mês. Vale tanto a pena que acho que não conseguiríamos mais ficar abertos apenas durante o dia”, ressalta. Para quem está pensando em estender seu horário de funcionamento, a gerente complementa: “É preciso ver se compensa. Dependendo do ramo não vale a pena. Não se pode pensar apenas no lucro, tem que pensar também no estoque, nos funcionários e principalmente, nos clientes”, opina.
que acertam um percentual maior sobre a remuneração recebida. Na panificadora, por exemplo, os funcionários recebem o valor mínimo estipulado pela CLT para trabalhar de madrugada. Esse valor corresponde a 20% a mais no salário. No caso da hora extra, o trabalhador recebe acréscimo de 50% sobre o valor da hora de trabalho. O adicional noturno é de 20% sobre o salário base do funcionário. Antônio Luiz Ruskin dos Santos, 40, trabalha há 19 anos numa indústria moveleira na Cidade Industrial. Deste tempo de serviço, 15 anos foram trabalhando no período noturno, na mesma função. Santos explica que quando completou quatro anos de trabalho na empresa, foi convidado para chefiar a seção onde trabalhava, ganhando 20% a mais do que já recebia, mas para isso, teria que trabalhar de madrugada. “Eu gostei da proposta. Na época minha esposa não gostou muito, porque eu ia ter que deixar ela sozinha em casa, mas eu decidi experimentar por um mês e quando eu recebi o
“Não quero voltar a trabalhar no horário normal”
Mão-de-obra A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) estipula que todo funcionário do período da noite tem que receber o adicional noturno, por exercer atividade a partir das 22 horas. Há alguns acordos ou convenções coletivas
pagamento, ela mudou de ideia.”, conta. O operador de QD (máquina responsável por corte da madeira) diz que antes de trabalhar a noite ganhava aproximadamente R$1.600 reais mensais e que depois que passou a trabalhar na madrugada, passou a receber em torno de R$2.000 reais, fora os valores recebidos por hora extra e fins de semana. “Eu e minha esposa conseguimos reformar a nossa casa e dar entrada no nosso carro, graças ao adicional noturno. Hoje eu prefiro trabalhar de madrugada e não quero voltar a trabalhar no horário normal”, diz. O operário destaca que prejudicou sua saúde por inverter seu relógio biológico. “O começo é sempre o mais difícil. Fiquei uns dois meses sem conseguir dormir direito, porque eu estava acostumado a dormir como todo mundo, a noite. Por causa disso, emagreci uns oito quilos e comecei a pegar gripe com mais facili-
dade.“, completa Mercado cheio Com as vantagens financeiras e operacionais de se ter um estabelecimento que nunca fecha, os investidores tem apostado cada vez mais nesse tipo de negócio. Mariza Griz, proprietária da churrascaria Costelão do Gaúcho, também aberta 24 horas, ressalta que no começo, esse tipo de estabelecimento era novidade e agradava muito os curitibanos, mas, com o tempo, foram surgindo outras opções e o lucro foi sendo prejudicado. “Hoje já não é mais aquela novidade, não é mais a mesma coisa. O custo benefício está nos fazendo pensar se vale realmente a pena continuar funcionando 24 horas”, analisa. Kauanna Batista Ferreira Shaiene Ramão
Dicas, Vantagens e Desvantagens Com todas as vantagens financeiras de se ter um estabelecimento 24 horas, o responsável do local deve ficar atento a questões básicas que podem fazer o negócio crescer ou afundar. O estoque, a higiene do local, inclusive dos banheiros e a qualidade no atendimento precisam ser sempre avaliados para se conquistar o público. Para quem está pensando em abrir um comércio 24 horas ou estender o horário de funcionamento, seguem algumas dicas: - Procure verificar a concorrência que o seu estabelecimento terá, pois alguns setores, como o de medicamentos, já estão cheios; - Estude bem sua clientela, para não ter prejuízos ao invés de lucros; - Escolha uma localização propícia para o setor que deseja seguir; - Invista em novidades no atendimento e em produtos novos; - Capacite seus funcionários para trabalhar no horário oposto ao do relógio biológico. Procure também fazer uma análise mensal de todos os lucros e todos os prejuízos que o estabelecimento teve. Levante informações, ouça os funcionários e esteja sempre atendo às sugestões dos clientes, pois eles precisam ser os maiores beneficiados. Fonte: Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios
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educação
Curitiba, junho de 2012
UNIVERSIDADES PARTICULARES LUCRAM COM A FALTA DE VAGAS NOTURNAS NA REDE PÚBLICA
Escassez de cursos noturnos
Seis em cada dez alunos do ensino superior no Brasil estudam à noite. As matrículas nos cursos noturnos cresceram de 56,1% para 63,5% nos últimos 12 anos e a maioria delas se concentra nas particulares. É o que apontam os últimos dados do Censo da Educação Superior, divulgado em novembro de 2011 pelo Ministério da Educação (MEC). No ano passado, os cursos noturnos da rede federal respondiam por 28% do total de vagas. O crescimento nas taxas de matrículas do ensino superior mostra que as instituições públicas ainda não se adaptaram para receber estudantes que são obrigados a conciliar estudos e trabalho. Nas instituições federais, que concentram 14,7% dos novos universitários, predomina o atendimento diurno, oferecido a mais de 70% dos estudantes. No caso das universidades privadas, os números indicam um aumento na oferta de vagas noturnas
que, em 2011, corresponderam a 72,8% dos estudantes matriculados. No Paraná, os dados do Censo revelam situação semelhante ao restante do país. Quase 80% das mais de 335 mil vagas em instituições privadas são destinadas ao período noturno. Já na rede estadual, o índice é 51% e na federal de 36%. Realidade do estudante De acordo com Elise Haquim, que é doutora em Educação, o menor índice de oferta de vagas em cursos noturnos gera a exclusão social. “Quem estuda à noite e trabalha durante o dia faz isso porque precisa. Quando não se abre vaga para o período noturno, excluem-se totalmente os trabalhadores do sistema público”, diz ela. Este é o caso do ex-estudante de administração Fernando Alcântara Couto de 19 anos, que ganhou uma bolsa pelo (Sisu)
Sistema de Seleção Unificado na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), mas não pode estudar no período da noite, pois a Instituição não ofertava esse curso no período noturno. Para não perder a vaga, mudou seu horário de trabalho e começou a estudar pela manhã, porém a Universidade exige que os alunos participassem de palestras e atividades complementares no contra turno. Essa exigência tornou o curso inviável e fez com o estudante desistisse do curso, pois precisa trabalhar. “As Universidades Públicas não estão preparadas para receber alunos que trabalham”, diz. Zaki Akel Sobrinho, Reitor da Universidade Federal do Paraná - UFPR, nega a ideia de que as instituições públicas não estão preparadas para abrigar estudantes-trabalhadores. De acordo com ele, está ocorrendo um aumento gradativo de cursos noturnos na rede pública. “Muitos cursos exigem período integral.
Foto: Felipe Raicoski
Vagas noturnas não chegam a 30% do total e estudantes que trabalham migram para o sistema privado
Universidades particulares lucram com estudantes do contra-turno
A lógica dos cursos de instituição pública, principalmente nas federais, se concentra em grupos de pesquisas e projetos de extensão, não permitindo que a graduação seja ofertada apenas em um período”, afirma. Solução De acordo com Elise Haquim, A solução para aumentar o núme-
ro das vagas é ampliar a duração do curso. “Se o motivo de não existirem vagas é a dificuldade de fazer pesquisas no período noturno, poderia se ampliar o tempo dos cursos. Já existe estrutura nas instituições, o único gasto a mais seria com novos profissionais”, avalia a doutora. Aline Valkiu João Paulo N. Vieira Raíssa Melo
DAS DEZ DA NOITE ÀS SETE DA MANHÃ PROFESSORES INOVAM EM SUAS DISCIPLINAS.
Foto: Felipe Raicoski
Vestibulandos passam a madrugada em pré-vestibulares
Felipe aprendeu e se divertiu na aula do madrugadão
Na véspera de vestibulares cursinhos adotaram uma forma inusitada de preparar os alunos para as provas. O Madrugadão foi uma ideia do Curso e Colégio Dynâmico que como o nome já diz, utiliza a madrugada para abordar assuntos estudados em todo ensino médio. O evento tem como objetivo usar a madrugada para fugir da rotina. As aulas começam às dez da noite e encerram às sete da manhã, sendo que depois de quatro aulas, bandas tocam para fazer parte da descontração. Nas aulas, os professores utilizam fantasias para apresentar o conteúdo, sendo que muitas vezes a fantasia está relacionada com a matéria. O coordenador do curso, Sérgio Garcia Junior, conta que o Madrugadão já reuniu mais de
dez mil estudantes desde seu início, em 2000. Em 2011, reuniu cerca de 800 alunos. Para ele, a aula na madrugada apresenta resultados e também é motivo para a procura dos alunos pelo o curso já no início do ano. O coordenador ainda ressalta que o evento, além de reforçar o conhecimento do aluno, também descontrai de forma construtiva “Ao invés dos estudantes estarem em uma balada ou em uma festa eles estão estudando”, diz Sérgio. Felipe Ferreira Mattos, que participou do Madrugadão, fala que para ele foi importante ter aulas em horários flexíveis e também destaca a combinação entre brincadeira e ensino. “As brincadeiras ajudam a tirar a tensão do vestibular, fica divertido estudar”, diz. Ele ainda conta que o lema do evento é não ficar com
sono e aprender, pois se o candidato cochila, os professores ligam uma música alta, e se o aluno continuar dormindo o professor o chama para fazer perguntas sobre a matéria que leciona. Em relação aos estudos, Felipe concorda que o evento é muito importante, pois todas as dúvidas são tiradas e os professores incentivam os alunos a não desistir, o que passa confiança para eles. Este ano o Madrugadão ainda não tem data e local confirmado, mas está previsto para meados de setembro. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (41) 3324-3888.
Aline Valkiu João Paulo N. Vieira Raíssa Melo
comportamento
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Curitiba, junho de 2012
BARES, FEIRAS, BALADAS E RESTAURANTES: O PÚBLICO DE CURITIBA TEM OPORTUNIDADE DE ESCOLHA
As diferentes faces da Curitiba noturna Movimento à noite mostra que frieza do curitibano é mito
Foto: Divulgação
Bar, mesmo com o nome envolvido em um escândalo ocorrido recentemente, ainda é a referência. “Foi aqui que Curitiba começou a ganhar um espaço alternativo em que você podia entrar sem se preocupar com julgamentos alheios ou se comportar como a sociedade diz que você precisa”, declara a estudante Marcela Riquel. Além do James, a Cats Club também já tem seu público fiel. Para Leandro Souza, quem frequenta este tipo de lugar tem o pensamento menos conservador. “O que eu percebo é que as pessoas se sentem livres e sem julgamento”. Largo da Ordem é um dos pontos turísticos da cidade que mais oferece opção a todos os públicos
“Pra mim, é o melhor lugar pra reunir os amigos. O ambiente é descontraído e você ouve risadas em qualquer canto”, declara o advogado Thierry Zamboni. Apesar dos estabelecimentos ficarem, praticamente, um ao lado do outro, nenhum permanece vazio. “Parece que todos são unidos e, quando não há mesas, nós vamos
Foto: Renan Machado
Em 1967, o jornalista e poeta pernambucano, Fernando Pessoa Ferreira, escreveu uma crônica sobre Curitiba que causou revolta na população nativa. “(...) a cidade é a das mais taciturnas e sorriso, quando há, provoca o olhar das pessoas chatas que assolam o Paraná”. Mais pra frente, Ferreira ainda declara que a noite curitibana é recheada de bares com gostos duvidosos, onde eram frequentados apenas por homens. As mulheres não saíam de casa. Em 2012 – mais precisamente 45 anos depois – vemos uma Curitiba que não lembra nada o tempo em que o poeta passou por aqui. A capital paranaense já não é extremamente fria como alguns anos atrás. Com isso, os bares a céu aberto ganharam espaço. O Largo da Ordem – localizado no Centro Histórico de Curitiba – oferece uma gama de opções que lotam as ruas durante várias noites e é conhecido por seu clima de boemia. O Bar do Alemão, um dos mais tradicionais do local, recebe todo tipo de público, mas principalmente os jovens.
O frio atrai os curitibanos para ambientes fechados
subindo a rua e logo encontramos algum outro bar. Eu adoro esse lugar”, diz a enfermeira Daiana Basseti. O local começou a ganhar destaque com os jovens a partir dos anos 90, quando o público começou a questionar as opções de lazer da cidade. O estudante Guilherme Artigas se recorda da falta de opções da épo-
ca. “Nós tínhamos o Shopping Mueller, o Passeio Público e o Parque Barigui. Os adolescentes começaram a perceber que existiam bares por ali e assim foi se contruindo o que é hoje”, diz. O Largo é conhecido, também, por ser uma região violenta, porém, a P.refeitura vem tentando mudar essa imagem negativa, instalando câmeras de segurança e postos policiais. “A nova geração tem outra cabeça, tirou a visão marginal daqui, virou um ponto turístico. Isso é bom, pois muita gente tinha até medo de frequentar”, declara a empresária Vilma Ferreira Leite. Já no Batel, um dos bairros mais nobres da cidade, o que não falta é oportunidade de escolha. Nessa região, o que o público procura é sofisticação. A casa noturna Liqüe é a opção mais cara e luxuosa. Para a designer Maíra Miwa Furukawa, o ambiente transmite exatamente o que o público busca. “As músicas são de qualidade e o ambiente é mais ainda. O público curitibano se identifica com lugares assim”, declara. A noite Curitiba também reserva um espaço para os alternativos e GLS. A parcela desse público já movimenta o cenário da capital, assim como os bares e baladas mais tradicionais. O James
Teatro Curitiba é palco do maior Festival de Teatro do Brasil, que ano passado esteve na sua 21ª edição, com um público que chegou a 180 mil pessoas. Entretanto, a população curitibana é famosa nacionalmente por ser “fria” e “fechada”. E isso parece se estender também quando se fala em acolhimento aos espetáculos. Provocando certo “medo” nos artistas, declarações e discussões sobre a audiência curitibana sempre causam certa polêmica. Para Janaína Matter, atriz e sócia da Súbita Companhia de Teatro, falta muita referência para o público curitibano, que consequentemente, acaba prestigiando mais as peças que vêm de fora, já que são produções que contam quase sempre com atores mais famosos. Segundo a atriz, quem vai ao teatro em Curitiba são as próprias pessoas que estão envolvidas nesse meio, artistas ou ainda algumas pessoas que gostam muito de teatro. Já com relação à fama do público, Janaína explica: “Não sei até que ponto isso é verdadeiro, em termos de teatro é um público sem referência, não sei até onde essa crítica é verídica. Pode ser que seja um mito”, opina. Mariana D’Alberto El-Fazary Rodrigo de Lorenzi Oliveira
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cult
Curitiba, junho de 2012
CURITIBA É REFERÊNCIA EM MÚSICA AO VIVO
Acordes sustenidos
Hard Hills Em toda escalada, é árduo o caminho. A dupla é exemplo dos que muito trabalharam
para consolidarem-se no cenário musical. Enfrentaram e enfrentam adversidades de todo tipo, como a falta de valorização e profissionalismo. Para Karol Salih, o que ocorre é uma falta de união dos músicos, o que gera a discrepância no valor dos cachês. “Sempre existe aquele que cobra menos, principalmente quando está no começo da carreira. Ao passo que o músico vende seu peixe dessa forma, também prejudica toda a classe”. Segundo ela, apesar da improbabilidade, a solução seria uma padronização do quanto a ser pago. “Começaríamos com uma greve dos músicos”, brinca. “As negociações são cruéis”, sustenta Lambach. Para ele, não há reconhecimento dos profissionais, muitos dos quais, inclusive, estudaram e são formados em música. “Às vezes, mesmo precisando do dinheiro, acontece ser necessário recusar ofertas que não correspondem ao que realmente vale o seu trabalho”, afirma. Até mesmo fatores externos à realidade dos músicos os afetam. De acordo com Lambach, a recessão que aconteceu nos Estados Unidos anos atrás foi um pesadelo para o mercado musical. Para Karol, tempos de vacas magras vieram com a Influenza A H1N1, a famosa gripe suína. “As pessoas ficavam em casa e os trabalhos escassos”, diz.
Karol é estudante do curso de marketing, no qual forma-se ano que vem, e presta serviço na área para uma rede de bares de Curitiba. Apesar de tocar gêneros variados, a veia de Kadu Lambach é o instrumental puro. Desde criança foi influenciado por música clássica, uma vez que sua mãe dava aulas particulares de piano em casa. “Eu sentia que a música entrava por meu poros”, afirma. Aprendeu violão, guitarra, e, posteriormente, quando deixou a Legião Urbana, dedicou-se àinda mais à arte dos acordes. Estudou música na Universidade de Brasília e peregrinou pelo Brasil com fé em seu som”. Deixei a Legião, sem ressentimentos. Minha amizade com o Renato Russo continuou. Ele me dizia: ‘Paraná, faça que seu instrumental toque o coração das pessoas”. Lambach, até o momento, gravou dosi discos “Last Blues”, lançado em 1997 e “Microfonia”, de 1999, ainda não lançado. Ademais, tem como projetos em vista o lançamento de mais dois discos: um intitulado “Expressivo” e o outro “Kadu Lambach – O legionário do som”, no qual, após aval da família Manfredini, pretende gravar sucessos da Legião Urbana com pegada instrumental.
Atores se preparam para a peça no camarim do Lala
TEATRO LALA SCHNEIDER PROMOVE ESPETÁC
Damas do Balac
Renan Machado
Duplicidade Tanto Kadu quanto Karol tiram seu sustento da música, por apresentarem-se não só em vários lugares durante a semana como em eventos fechados. Contudo, nem um, nem outro, deixam de exercer outras atividades. Lambach é professor particular de violão e guitarra. Foto: Renan Machado
É uma questão de cultura: a noite do curitibano é no barzinho. Em cada esquina, lá estão eles, modestos ou verdadeiros latifúndios, nos palcos dos quais a música ao vivo rola solta. Não que isso aconteça apenas aqui. “Mas lá no Rio de Janeiro isso não existe, são raras as exceções. Curitiba tem disso aos montes”, afirma Kadu Lambach, curitibano, guitarrista fundador da Legião Urbana, hoje músico independente que toca em bares da capital paranaense. Cá está a Avenida do Batel que não o deixa mentir. Sexta-feira. O vento encanado invade o bar, enquanto Lambach é acompanhado na guitarra por violão e voz de Karol Salih, música curitibana com quinze anos de estrada. MPB de alto nível. A parceria dos dois já perdura por quatro anos e meio. Quase meia década e nada do dito mar de rosas. “É um mercado difícil. Não por conta de falta de trabalho e sim pelo baixo valor dos cachês”, diz Karol.
Foto: Felipe Raicoski
Músicos esbarram em cachês baixos para exercer a profissão
Há mais de uma década, o Teatro Lala Schneider apresenta espetáculos a meia-noite, com o intuito de proporcionar uma opção de diversão a quem não dispõe de outros horários para ir ao teatro. João Luiz Fiani, fundador da casa é o responsável pela ideia e faz neste horário algo que permite ao ator sair do seu lado sério e formal, podendo brincar com o texto e com seu público. Segundo Rogério Bozza, ator e professor do curso de teatro do Lala, o carro chefe desse horário é a “Casa do Terror”, peça que está na sua quinta versão e está sendo preparada para reestrear no segundo semestre. Para ele, o ator deve estar em constante aprimoramento, sendo importante esse tipo de exercício permanente da função para o aprendizado e a evolução da carreira. Rogério está em cartaz com a peça “Ah... Damas do Balacobaco”, em que divide o palco com o ator Marcyo Luz. Enquanto este tem mais experiências com comédias como “Damas”, inclusive tendo feito peças do gênero no eixo Rio-São Paulo, aquele completa 35 anos de carreira tendo pautado sua trajetória no estilo do drama. Os dois ainda dividem o palco em outro espetáculo, intitulado “No
fim da chuva”, que combina mais o estilo dramático de Rogério. Rogério diz ainda que quem pensou em colocar “Damas” a meia noite foi Fiani, já que o projeto tem caráter experimental e atende a dinâmica proposta ao teatro a meia-noite. “A ideia (do espetáculo) surgiu de galhofas de camarin durante a “Casa do Terror”, nós apresentamos ao Fiani que abraçou totalmente” diz Marcyo. Ele conta que Fiani participa também da peça como Diretor do espetáculo e co-autor do texto pois, segundo Marcyo, “ele escreve muito bem e deu o fio condutor que faltava ao enredo”. Ah... Damas do Balacobaco O espetáculo idealizado pela dupla Rogério e Marcyo gira em torno de duas atrizes em final de carreira, que já passaram pelo seu auge e não se conformam com a perda do glamour que rodeava seus camarins. Marcyo explica que “o espetáculo é pautado na vaidade do ator, quando ele se acha um Deus, um intocável” e ainda acrescenta que a proposta é tornar divertido e ao mesmo tempo criticar o comportamento das estrelas que se julgam superiores, “sempre com o viés do humor”,
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ESCRITOR ANALISA OS COMPORTAMENTOS NOTURNOS
Nada suave é a noite
CULOS A MEIA-NOITE
cobaco
complementa Rogério. “É o que acaba acontecendo com o artista, a medida que ele não consegue administrar o lado artístico e profissional, faz sucesso em cima do palco e acha que aquele verniz nunca vai sair, e agente sabe que não é assim que a banda toca.” A partir daí, a trama se desenvolve com base no conflito de egos das duas “divas” e engloba ainda mais quatro personagens, sempre tendo a diversão como guia. Paixão pelo palco Rogério diz que “você só segue a carreira de ator se tiver essa paixão lá dentro, é um fogo constante que vai reascendendo. É paixão, não existe outra palavra, para se ter uma carreira longa, profícua, é preciso paixão, antes de vocação e talento”. O entrosamento de anos de palco segue no discurso de Marcyo, “o texto nos alimenta, a luz nos move, a paixão pelo ofício, o seu doar pela coisa, é uma vida difícil, mas com o sofrimento é que vem este patamar humano”, finaliza.
Felipe Raicoski
Foto: Renan Machado
Marcio Renato dos Santos explica como a expectativa e o “vampirismo” tornam-se literatura os grandes acontecimentos que as pessoas planejam para a noite e ficam apenas na cabeça”. Consequentemente, diz ele, ao passo que o indivíduo deixa de atingir suas “metas”, o final da aventura noturna tende a ser o sentimento de frustração. Para Dos Santos, as expectativas tornam-se literatura por meio de personagens medíocres e ao mesmo tempo pretensiosos. “Tais personagens planejam como se fossem figuras notáveis, mas na verdade são medrosos, o que os leva a serem desprezados”. “Vampirismo”
Para escritor curitibano, a noite é uma aventura
Próximo ao Cemitério Municipal existe um tradicional bar da cidade. Marcio Renato Dos Santos escolhe uma mesa de canto aos fundos para sentar-se. O lugar é um dos favoritos do escritor, que escreve ficção há mais de vinte anos. Ergue a mão, pede uma bebida. Apruma-se: “será uma entrevista? Pois sim, deixe-me começar”. Dos Santos nasceu em Curitiba, em 1974. Publicou três livros até o momento. Em 2010, após muita experimentação, estreou na literatura, pela Editora Record, com “Minda-au”, livro de contos. Em 2011, de forma independente, lançou o livro-conto “Você tem a disposição todas as cores mas pode escolher o azul”. Neste ano, foi publicado pela Tulipas Negras Editora com o livro-conto “934”. Além de escritor, o curitibano é jornalista. Formou-se em 1995 pela PUCPR. Exerceu o ofício em veículos e órgãos da cidade, como a Revista Ideias, onde atuou por cinco anos, Imprensa Oficial e Gazeta do Povo, jornal para o qual escreveu por três anos. Atualmente trabalha no mercado editorial. Marcio afirma que deixou de frequentar assiduamente ambientes noturnos. Além da maturidade etária, a vida de casado e pai
de um filho passou a impeli-lo a uma vida mais caseira. “No máximo um jantar com minha esposa, de vez em quando. Todavia, ainda prefiro um almoço”. Domingo então, sem chance. “Começo bem a semana, ligado no mestre Silvio Santos. Sinto-me chateado se perco o programa”. Contudo, uma vida agitada de solteiro precede a, em termos, pacata levada hoje pelo escritor. Na época em que escreveu seus primeiros contos, saiu às primeiras festas. Andava por seus 16 anos. As experiências propiciadas serviam de matéria-prima para a literatura. “A observação desses “habitats”, é algo característico do Dalton Trevisan. Ele retratou a noite curitibana e muitas de suas faces”, diz. O “Barney” Segundo Marcio, a noite pode ser vista como uma aventura, com começo e fim. E tudo se inicia com as expectativas. “Na maioria das vezes, quando tem planos para a noite, as pessoas passam o dia criando expectativas”. O escritor chama esse comportamento de “Barney”. “Barney é um personagem infantil da TV, meu filho assiste. Ele é um dinossauro imaginário, não existe, assim como
Alameda do Fim do Mundo A noite não acontece somente nas ruas ou ambientes cujo funcionamento é destinado a esse horário. Dos Santos afirma que a aura mágica criada em torno da noite é algo universal. “Todas as pessoas comportam-se de forma diferente à noite. Fazem coisas que só são feitas nesse horário, veem o mundo diferente, respiram diferente”. Portanto, a matéria-prima literária não exige peregrinação noturna, mas quem sabe apenas uma olhadela janela afora. “Doutor Pasavento”, de 2006, é um romance do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, uma das grandes vozes da literatura contemporânea e autor bastante admirado por Marcio Renato. No livro em questão, o espanhol aborda a questão do desaparecimento e a vontade do protagonista de sumir. Na trama, o fenômeno costumava acontecer em um local chamado de “Alameda do Fim do Mundo”. Apesar de não ter o costume de sair à noite, Marcio afirma observar o que acontece de uma ótica mais cômoda para si: a sacada de seu apartamento. “Muitas vezes paro e olho os outros prédios em volta: as luzes dos apartamentos estão acesas, mas não há ninguém nas janelas”. De acordo com o escritor, o fato se deve a um tipo de caso de sumiço. “As pessoas estão estressadas, cansadas da rotina. Sentam-se em seus sofás, ligam a TV e viajam para a Alameda do Fim do Mundo, onde irão desaparecer. Ao menos por um tempo”.
De acordo com o escritor, os ambientes noturnos são grandes banquetes, de todos para todos. A intenção predominante é “devorar” aqueles envolvidos na mesma situação. “Os bares são antros de vampirismo. Flertes, conscientes e inconscientes, são canalizados a esse fim”, afirma. Segundo o escritor, esse “fenômeno” é perceptível desde sempre. “Nunca foi diferente e continua sem mudar”. Em matéria de literatura, a percepção dessa realidade voltase à ficção em textos com uma veia sensual. Situações, ainda que não concretizadas, podem ser construídas pelo escritor. “ Nov a m e n t e , um exemplo expressivo é a literatura do Dalton Trevisan. A cidade está na ficção dele, assim como o vampirismo. E não é pela coisa de ‘vampiro de Curitiba’, mas por aquilo que ele escreve e Ilustração: Renan Machado descreve”, diz.
Renan Machado
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esporte
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EXERCÍCIOS PARA QUEM NÃO TEM TEMPO DURANTE O DIA
Evento promove encontros noturnos Curitibanos podem participar do grupo de ciclistas orientados pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude
Benefícios e cuidados As pessoas que iniciam a prática de exercícios noturnos devem, inicialmente, tomar alguns cuidados para não prejudicar o sistema imunológico. Sem uma noite de sono reparadora, a sobrecarga de estresse acumulada no dia e o esforço gerado pelos exercícios físicos podem prejudicar a saúde dos esportistas. Segundo a estudante de medicina, Rebecca Stival, os desequilíbrios causados pela falta de sono ou pela má alimentação fazem o organismo não render como deveria. Para Rebecca, é até comum pessoas que se afastam dos exercícios pela falta disposição e ânimo para desenvolver um trabalho constante. “Acabam confundindo uma suposta dificuldade e inadequação ao esporte com hábitos errados. É preciso acompanhar a alimentação e o sono, no início, para ver se há algum desequilíbrio”, explica. Foto: Danilo Herek/Pedala Curitiba
Recomendações
Para aqueles que não têm tempo de praticar exercícios durante o dia, devido ao trabalho e outros compromissos, uma opção para não deixar de cuidar da saúde é procurar horários alternativos para se exercitar. Foi assim que nasceu o Pedala Curitiba em 2008. O evento que reúne, todas as terças-feiras, ciclistas em passeios noturnos pela cidade é organizado pela Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude (SMELJ). Os passeios, além de promoverem a prática de atividades físicas, incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte. O evento possui um percurso diferente a cada semana, que varia entre 14 km e 17 km, com nível leve e médio de dificuldade. O trajeto é escolhido pela coordenação do evento, que avalia as condições de percurso. Segundo o coordenador do projeto, Marcelo Miranda, depois de feito, o trajeto é enviado à Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). “A Prefeitura disponibiliza serviços de apoio para atender a
eventuais necessidades. O apoio da Setran é fundamental para garantir a segurança dos participantes”, explica. A concentração dos ciclistas acontece na Praça Garibaldi, no Largo da Ordem, das 19h45 às 20h15. “Mas não há problema do ciclista entrar no grupo em qualquer outro ponto do trajeto. Divulgamos a rota da semana nas redes sociais”, afirma Miranda. Para participar, não é necessário fazer inscrição prévia, mas os interessados precisam ter mais de 15 anos e utilizar capacete. Para a ciclista Priscila Lopes, a possibilidade de praticar exercícios à noite, com segurança, a atraiu ao grupo. “Trabalho durante o dia e nunca senti disposição física para acordar ainda mais cedo para fazer exercícios e, à noite, eu me sentia um pouco amedrontada. Descobri o Pedala Curitiba e finalmente encontrei a motivação que precisava. Temos acompanhamento e companhia”, afirma Priscila. Mas não é só isso que atrai os participantes. Para Lucio Hos-
saka, a disciplina do evento, além das trajetórias já pré-estabelecidas, dão mais seriedade à prática. “Minha dificuldade era manter um ritmo para fazer exercícios. A boa organização do evento me dá estímulo, mesmo quando falta vontade, além das amizades que fazemos. Quando penso em não ir, há sempre um colega para nos chamar”, garante. Fidelidade O evento, já tradicional em Curitiba, mantém, em média, cerca de 180 participantes. Segundo Miranda, o clima é o principal fator de alteração na participação, mas são poucos os que desistem. “Nos períodos de frio a tendência é diminuir. Temos uma grande rotatividade nessa época, mas os esportistas, mesmo amadores, acabam criando uma rotina, um vínculo com o esporte. No começo, é mais difícil, mas é questão de tempo até se habituar e criar disciplina”, conclui. Raffaela Porcote
Fonte: Roque Luz
Participantes dividem a rua com os carros durante o Pedala Curitiba
- Comece as atividades devagar. - Nunca pratique exercícios em jejum. - Se for jantar é preciso fazer a refeição três ou quatro horas antes dos exercícios. - Se ingerir apenas um lanche, pode esperar apenas uma hora antes da prática. - Alimentos que contenham zinco são fundamentais para quem vai se exercitar após o trabalho, pois eles ajudam a diminuir a quantidade de cortisol, o hormônio ligado ao estresse humano e que, em excesso no organismo, afeta principalmente o coração. - Mesmo a temperatura sendo mais amena a hidratação deve ser contínua, geralmente a cada 15min de exercícios. - Ingerir uma pequena porção de carboidratos antes de praticar exercícios, como cereal integral, pão integral, barrinha de cereal. - Procure por atividades que não te deixem muito excitado, como lutas e afins, isso pode dificultar o sono. Lembre-se de perceber como seu corpo irá reagir aos exercícios noturnos e procure obedecer os sinais de estresse.
Dicas de segurança Segundo Miranda, aqueles que desejam fazer exercícios à noite, principalmente sozinhos, devem estar atentos a estas dicas: 1. Evite os fones de ouvido: A música pode distrair e, como durante a noite a visão fica prejudicada devido a falta de luz natural, é imprescindível ficar atento ao que acontece ao seu redor; 2. Só saia de casa com identificação: Sempre carregue documento de identidade, a carteirinha do convênio de saúde e também algum dinheiro para possíveis inconvenientes; 3. Use roupas chamativas: Com a falta de luz, é sempre bom usar roupas claras, com cores vivas ou fluorescentes, e se possível, com refletores; 4. Cuidado com o trânsito: Segundo estatísticas do Setran, quase dois terços das ocorrências com pedestres ocorrem no período noturno.
trânsito
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MOTORISTAS IMPRUDENTES APROVEITAM A POUCA FISCALIZAÇÃO
Desrespeito à lei é maior na madrugada dia”, argumenta Rodrigues. O CCO (Centro de Controle Operacional) tem papel muito importante para a Delegacia de trânsito no que se refere a informação. Logo verificado o delito, são acionadas as equipes policiais.
A incidência de crimes de trânsito têm proporções maiores no período noturno, em Curitiba. São vários os delitos praticados por condutores imprudentes que aproveitam a falta de efetivo policial neste período do dia. Roderley Rodrigues, líder da equipe da madrugada do BPTran, lista estacionamento em locais proibidos como ponto de táxi, guia rebaixada, calçada, as infrações mais vistas na noite. O abuso da velocidade e o avanço à sinais fechados, propiciado pelo pouco movimento nas vias, é outro delito citado por Rodrigues. O efetivo de agentes que trabalham durante a madruga é muito menor que em outros períodos do dia, e isso fortalece a imprudência no trânsito. “São apenas seis agentes operacionais e um agente na sala de rádio, muito aquém do necessário e bem menor neste período do
Mobilidade urbana Criado em abril deste ano, pela Prefeitura de Curitiba, o CCO tem por objetivo gerar um trânsito eficiente, tranquilo e menos perigoso para motoristas, pedestres e usuários do transporte público. O projeto consiste no monitoramento em tempo real do trânsito e do transporte, através de câmeras e painéis, instalados em locais estratégicos na cidade. A princípio, a fiscalização acontecia apenas no anel viário da cidade. Entretanto, o projeto
é maior do que o monitoramento desta área cidade propriamente dita. Julio Panucio, Coordenador de monitoramento da URBS, diz que o CCO é o ponto de partida para o SIM, Sistema Integrado de Mobilidade, programa que será fixado gradativamente. O CCO prevê, ao fim do processo, a implantação de 711 câmeras. Destas, 622 em terminais e estações tubo, e 89 aplicadas no trânsito, em vias consideradas estratégicas, e, além disso, o monitoramento efetivo da segurança pública, em parceria com a Guarda Municipal. No transporte público, serão instalados painéis em terminais, em substituição às placas fixas. Na tela constará a previsão de chegada e o nome de todas as linhas de ônibus. Os objetos estão em fase de fabricação. O processo, a partir do momento que se detecta algum
Foto: Rogério Ferreira
Falta de responsabilidade é mais observada durante a noite, nas vias da cidade. CCO tem papel importante no monitoramento
Flagrante de motorista avançando o sinal vermelho
problema nas vias, depende de cada caso. “Para cada fato, são acionadas as equipes correlatas”, conta Panucio. Na ocorrência de acidente de ônibus, fiscais do transporte coletivo e agentes de trânsito são comunicados imediatamente, assim como o SIATE e o SAMU em eventualidades mais graves. Panucio também destaca que a integração efetiva no transporte
coletivo é o resultado mais satisfatório até o momento. Outro fato a ser reconhecido beneficamente é a parceria com a Guarda Municipal, que fará parte do projeto nos próximos meses. Terá o papel de controlar a segurança pública, e será acionada logo seja constatado o delito. Fabio Wosniak Rogério Ferreira
ALÉM DOS HORÁRIOS, A POPULAÇÃO RECLAMA DO GRANDE NÚMERO DE ASSALTOS NA ESPERA DO ÔNIBUS
Curitiba conta com um excelente sistema de transporte público, que serve de modelo para o mundo todo. Porém, quando o assunto é ônibus “madrugueiro”, os usuários não concordam com esta afirmação. As principais reclamações a respeito do serviço são falta de segurança e poucos horários oferecidos pelo sistema. Em geral, os ônibus que circulam neste horário, começam a operar por volta das 5 horas da manhã, o que gera discussão entre os passageiros. Jhonny Castro, funcionário público de 24 anos, utiliza o transporte madrugueiro cerca de duas vezes por mês, e diz que não é necessária uma ampliação do número de linhas, apenas uma mudança no horário já bastaria. “Não precisava nem ter mais ônibus, mas se eles saíssem meia hora antes já ajudaria muito, pois seria menos tempo de espera no fim de noite”, afirma o jovem. Entretanto,
Foto: Fabio Wosniak de Chaves
Usuários do transporte madrugueiro da capital pedem mais segurança
Ônibus madrugueiros não tem grande demanda
a Auxiliar de Serviços Gerais Amélia Rosa, de 44 anos, que realiza serviços no centro de Curitiba e depende do transporte ma-
drugueiro pra voltar pra casa, diz que deve haver mais segurança, além de uma ampliação nos horários de funcionamento da rota.
“Eu saio do trabalho ás 3h40 e fico esperando até às 5 horas pelo madrugueiro. Já fui assaltada duas vezes esperando o ônibus, deveria haver mais ônibus e mais segurança”, comenta. Questionado sobre os problemas apresentados pelos usuários, Luan Filla, Gestor de Operação de Transporte da URBS, diz que não há nenhum projeto para ampliação de linhas nem dos horários. “Até o momento não existe previsão de ampliação para outras regiões assim como de horários. Somente uma demanda maior justificaria uma modificação”, completa. Jhonny concorda que a procura não é tão grande, “a procura é média, sempre tem pessoas pra utilizar, mas nunca fica lotado como em horários durante o dia”. A respeito da segurança, Filla diz que o papel da URBS é garantir um transporte público de qualidade. “A função da URBS
é garantir aos usuários um meio de transporte de qualidade e conforto, independente se em determinado local os índices de criminalidade são preocupantes, o objetivo é garantir o direito de ir e vir. A segurança pública é dever do Estado, garantir a ordem e a segurança em todos os espaços públicos”, salienta. A equipe do Comunicare entrou em contato com a Guarda Municipal de Curitiba, questionando-os sobre a segurança em pontos e praças da cidade onde estes ônibus fazem suas paradas, mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.
Fabio W. de Chaves Rogério Ferreira
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tecnologia
Curitiba, junho de 2012
CURITIBA VIGIADA 24 HORAS
Câmeras ajudam na segurança da cidade e conta hoje com 116 aparelhos pela cidade, número que aumentará para 152 até dezembro. De acordo com o gerente do sistema de videomonitoramento da SMDS, Supervisor De Andrade, 70% das ocorrências policiais são visualizadas no período noturno, principalmente após às 22 horas. “A cidade durante o dia é uma coisa, à noite é outra realidade”, define. O consumo e tráfico de drogas lideram os flagrantes, seguidos de pichações e assaltos. O local com maior número de ocorrências noturnas é o Largo da Ordem. Desde a instalação desses aparelhos, o número de crimes cometidos caiu 62% no local. Para De Andrade, só o fato de ter a câmera já intimida a ação do criminoso, além de permitir maior agilidade da polícia no atendimento às ocorrências de flagrante, diminuindo o tempo de
resposta. “Os policiais e guardas já sabem os principais pontos de maior probabilidade de conflitos, nós temos essa experiência”, afirma. Várias ocorrências de violência já foram evitadas, assim como quadrilhas de traficantes já foram descobertas devido ao monitoramento noturno. “Visualizando as imagens das pessoas facilita a comunicação com os policiais que estão na rua. Não adianta o marginal trocar de roupa ou de carro, pois está sendo acompanhado”, ressalta. O Guarda Municipal Kaminski, responsável pela implantação e manutenção do monitoramento, alega que a população muitas vezes não confia nessas câmeras de vigilância. “As pessoas preferem a presença física do policial e não se dão conta que esse monitoramente facilita e agiliza o processo para evitar ou combater as ações criminosas”, diz ele.
LAN-HOUSES SÃO OPÇÃO DE DIVERSÃO PARA GRUPO DE JOGADORES
Frag-night, diversão para amigos “Frag-night” é a reunião de uma turma viciada em jogos eletrônicos que está disposta a passar noites em claro buscando diversão. Os gamers ocupam suas madrugadas em Lan Houses porém já não as lotam como acontecia na década passada. Para Guilherme Kuss, proprietário de uma Lan que funciona há oito anos, antigamente a procura pelo “frag-night” era muito maior. Ele comenta que nos finais de semana a demanda era grande e geralmente faltavam computadores para atender a todos os interessados. Guilherme diz que “a maior facilidade de acesso a uma boa máquina, melhor até que as das Lan Houses, além da facilidade de comunicação com ferramentas como o Skype e outras, retira o incentivo do jogador em se deslocar para participar dos eventos”. Guilherme também ressalta a falta de eventos de qualidade
que incentivem o público, além do baixo investimento das produtoras de jogos e periféricos como causas do atual desinteresse. Para ele as empresas se retraem muito aos seus mercados e esquecem lugares como o Brasil, em que há possibilidade de crescimento. Celso Cunha, estudante do Segundo Grau, é frequentador de uma Lan House próxima a sua casa, no bairro Novo Mundo. Ele conta que reúne os amigos na Lan para o frag-night quase todos os finais de semana. Celso acredita que “o espírito de unir a turma toda, de poder se divertir junto, quebrando um pouco aquele gelo que fica entre os jogadores quando estão em suas casas” é o principal motivo que os leva a passar a noite em frente ao computador, juntos na Lan House, “até porque a maioria dos gamers já são amigos da escola e moram bastante próximos”, diz ele. Guilherme Kuss fala ainda
que o perfil dos jogadores mudou, adquiriu um caráter mais popular e voltado para grupos de pessoas. Segundo ele “antigamente as pessoas faziam “frag” até quatro vezes por mês, hoje em dia não, faz apenas uma, no máximo. O perfil dos jogadores era outro também, era bem elitizado, até porque o preço era outro, a qualidade era outra também. Hoje em dia é bem mais variado o público, geralmente eles costumam jogar em grupos”. Guilherme aponta para essa formação de grupos de jogadores como uma tendência para o público das “frag-nights” e destaca que são necessários investimentos para atrair novos clientes, algo que fica cada vez mais difícil de realizar com a baixa procura pelos eventos. “Trazer o pessoal pra Lan, esse é o ponto, você teria que ter um evento muito bem organizado por um grupo, que invista em peso, pois a Lan sozinha
Centro da cidade é monitorado durante a madrugada
O sistema permite maior vigilância com menor número de policiais. “Infelizmente não podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo e uma câmera faz o trabalho de 20 policiais”, afirma Kamisnki. As ocorrências registradas são tabuladas para
fins estatísticos e as imagens feitas são liberadas apenas para autoridades policiais por meio de uma solicitação oficial.
não tem mais o que fazer”, afirma o proprietário. Mesmo parecendo um negócio sem perspectivas de melhora para os empresários, Celso ainda acredita nas frag-nights e nas Lan Houses como um mercado que tem possibilidades de melhora. Ele diz que com o lançamento do Jogo Max Payne 3 (veja o box ao lado), a procura das marcas de jogos e periféricos pelo Brasil e
seus consumidores deve aumentar e pode alavancar o mercado Gamer no país. O empresário Guilherme também acredita que o novo jogo possa ser uma primeira aposta num mercado que pode crescer e se igualar a outros mais poderosos, mas estima que levariam pelo menos 10 anos para isso ocorrer.
Rafaela Gabardo
Felipe Raicoski
Foto: Divulgação
Curitiba não para. Mesmo quando a grande maioria da população está na tranquilidade de suas casas durante a noite, existe um lugar que continua funcionando para garantir a paz na cidade. O Cimec (Centro Integrado de Monitoramento Eletrônico de Curitiba) é um espaço instalado na Praça Osório, onde é realizado o monitoramento das imagens captadas por câmeras de vigilância espalhadas pela cidade. O projeto foi desenvolvido pela Secretaria Municipal da Defesa Social (SMDS), em conjunto com o Instituto Curitiba de Informática (ICI). Além de capturar imagens, o sistema também digitaliza e armazena os dados para que o gerenciamento possa ser feito tanto no local quanto remotamente. A prefeitura investiu, desde 2008, mais de oito milhões de reais em videomonitoramento
Foto: Rafaela Gabardo
Assaltos, pichações e tráfico de drogas são combatidos com o monitoramento noturno
Cena do jogo Max Payne 3
O jogo Max Payne 3 gira em torno de um policial corrupto que após cometer muitos crimes foge de Nova York e vem trabalhar em uma organização criminosa no Brasil. Com a cidade de São Paulo como pano de fundo, a empresa Rockstar, produtora de jogos eletrônicos espera alavancar o mercado nacional.
saúde
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ORGANISMO PODE SER PREJUDICADO PELA FALTA DE DESCANSO
Trocando o dia pela noite Com a vida moderna, homem se esquece dos princípios naturais do sono lazer ou saúde”, afirma ele. No caso de Sérgio a alternância de escala e a variação dos horários para descanso pode aumentar o quadro de cansaço, pois aumenta a irregularidade dos ciclos. “Algumas pessoas dizem que você acaba se acostumando a trabalhar somente à noite. Mas, comigo isso não aconteceu. Na verdade, era até meio engraçado, pois tinha vezes que eu descansava bem durante o dia e ficava cansado a noite e havia dias em que eu não descansava durante o dia e a noite passava tranquilo”, conta. Há situações em que o profissional pode optar pelo horário a que melhor se adapta. É o caso de Ronald Ednir de
Cristo, que trabalhava como garçom de um restaurante no período noturno. Recentemente, ele escolheu mudar o horário do expediente para ter uma vida familiar e social mais saudável e se dedicar aos estudos. Quanto ao estresse, Ronald afirma que ele ocorre independente do horário. “Quando mudamos a rotina, estamos tão habituados ao horário antigo, que sentimos insônia e dificuldade para descansar bem durante à noite”, conta ele que estava se dedicando há seis anos ao trabalho noturno. Mas, a opção de trabalhar durante
a madrugada não desagrada a todos os profissionais. Emerson Carvalho Botelho Quirino, gerente de um bar, sente-se satisfeito com o seu horário e não pensa em mudar a rotinha que segue há oito anos. Sua jornada começa às 18 horas, quando começa a organizar o salão, abre os caixas, confirma reservas e seprepara para recepcionar os clientes. “Por volta das quatro da manhã organizo tudo, aciono o alarme e vou para casa. Não sinto nenhum problema de saúde por ter esse hábito, pelo contrário, eu me sinto muito bem. Como moro sozinho, consigo descansar perfeitamente”, conclui. Juliane Okashima Liris Weinhardt Luize Souza
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nância entre o estado de vigília e as horas sono. Quando os ciclos biológicos se alteram, ocasionam fadiga e cansaço excessivo, trazendo consequências imediatas para a saúde física e mental: sonolência, irritabilidade, ansiedade, déficit de atenção, de memória e raciocínio, além de predisposição a doenças cardiovasculares e metabólicas. E não adianta tentar repor a falta de sono durante o dia: a temperatura corporal não diminui na intensidade ideal e há maior presença de luz e sons nesse horário, o que atrapalha ainda mais o descanso. A inversão do ciclo gera ainda alterações hormonais, afetando a função cognitiva, a atenção, a memória, o humor, até mesmo o envelhecimento, que se torna mais precoce. “Observando os pássaros podemos notar nitidamente o ritmo da vida. Quando escurece, eles se recolhem, e quando amanhece, estão cantando. Em função da vida moderna, o homem se esquece dos princípios naturais do sono. A natureza cria suas regras, mas o ser humano não as obedece. Muitas vezes pagamos um preço caro a longo prazo por não seguir as leis naturais”, alerta Benthien. Sérgio Zanetti, trabalha há onze anos como controlador de tráfego em uma concessionária rodoviária. Ficou quatro anos trabalhando somente durante a noite e agora nos últimos três, em escala com duas noites por semana. Embora sua jornada de trabalho a noite seja mais tranquila é mais cansativa do que durante manhã ou à tarde. Sua profissão exige atenção em todos os horários, pois é preciso estar atento a tudo que acontece com os veículos na pista. “Com certeza eu optaria por trabalhar durante o dia. À noite é muito cansativo. Todos os hábitos mudam totalmente, sejam eles de
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Para atender a demanda da vida noturna, que está se tornando cada vez mais comum, os trabalhadores mantêm uma jornada fora dos horários tradicionais. Com a procura por serviços 24 horas, os turnos de trabalho no período da noite, que eram mais comuns nos setores de produção das grandes empresas, passaram a se estender também a serviços como supermercados, restaurantes, bares, farmácias e postos de gasolina. No entanto, a vida noturna que movimenta a economia e gera empregos, pode se tornar uma prática nada saudável e acabar trazendo prejuízo para a qualidade de vida de todos. Inverter o ritmo biológico, seja por necessidade profissional ou por simples preferência, pode acarretar em distúrbios para o organismo. O ser humano foi biologicamente projetado para dormir durante a noite.“Como ocorre na natureza, tudo em nosso organismo tem caráter cíclico. Da mesma forma que existem dia e noite, o cérebro obedece a padrões de comportamento diferentes, quando mudamos o ritmo de vigília e sono”, afirma o neurologista Luiz Carlos Benthien. Segundo o médico, sobre o nervo óptico, existem núcleos chamados supra ópticos, que mesmo com as pálpebras fechadas, identificam se existe claridade ou não. Os ritmos internos que regulam o funcionamento dos nossos sistemas vitais são sincronizados por marcadores externos. A ausência de luz, a queda de temperatura do corpo e a secreção do hormônio responsável por regular o sono, chamado de melatonina, são fatores que ocorrem nesse período e oferecem descanso para o corpo e mente. Além disso, os hábitos diários de vida constituem o que se conhece por ciclo circadiano (que significa ritmo acerca do dia), também chamado de relógio biológico. É ele quem faz o controle fisiológico, ou seja, é o ciclo que regula as atividades físicas e mentais que sofrem influência direta da alter-
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geral
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O TRABALHO DA FUNDAÇÃO DE AÇÃO SOCIAL NO RESGATE AOS DESABRIGADOS
Inclusão social para os moradores de rua Com 643 moradores de rua identificados em maio, a FAS desempenha papel importante no auxílio à população gerente do “Centro de Resgate Social” há dez anos, diz que o principal objetivo do programa é a inclusão social dos moradores de rua, e que a maior procura pelo Centro ocorre nas noites de inverno por jovens, principalmente do sexo masculino, que não têm lugar para dormir. “Tem noites que chegamos a abrigar 300 pessoas”, comenta. Por outro lado, ela afirma que levar os moradores de rua para o local é um trabalho que envolve convencimento e demanda tempo e esforço. “Em grande parte dos casos eles já têm um esquema de vida, mas tentamos convencê-los de que é possível ter melhores condições”. Luciane diz que o objetivo é mostrar para os desabrigados que a rua não é um lugar de moradia, e que com a ajuda da FAS eles podem traçar novos objetivos, “mesmo assim muita gente não aceita, e
não podemos obrigá-los”, afirma. Os cuidados de saúde Médico do programa há sete anos, o doutor Roberto Rosenstein diz que o principal mal que acomete os moradores de rua são as drogas, principalmente o álcool e o crack. Rosenstein faz, em média, 30 atendimentos diários, e o procedimento mais comum é a desintoxicação. “Fazemos todos os dias. Algumas pessoas chegam muito debilitadas e são imediatamente encaminhadas para a Unidade de Saúde, onde recebem soro e os primeiros cuidados”. A senhora Olinda Felipe dos Santos passou três meses morando embaixo de um viaduto e há um ano e meio foi encontrada pela equipe do Resgate Social. Desde então frequenta o centro diariamente. “Aqui eu recebo atenção, faço exames, pego meus remé-
Foto: Daniela Hendler
Inaugurado em 1996, o “Centro Pop Resgate Social” tem como principal função ajudar os moradores de rua de Curitiba. De janeiro a maio de 2012 foram 1895 pessoas atendidas pelo programa oferecido pela FAS (Fundação de Ação Social). Mais de 150 trabalhadores e voluntários trabalham para colocar o programa em prática. Na capital existem dois “Centros Pop” especializados em moradores de rua, o primeiro é o “Resgate Social”, onde o atendimento envolve a abordagem, cadastro, cuidados de higiene e saúde, alimentação e albergagem. O outro é o “Centro João Dorvalino Borba”, onde encontram-se as oficinas sócio-educativas – com aulas de inclusão digital e geração de renda – para onde são encaminhados os moradores de rua depois dos primeiros cuidados. Luciane Silveira dos Anjos,
A senhora Olinda, que diz ter adotado as enfermeiras como filhas
dios, tomo café, converso e me distraio. Gosto daqui e não quero ir embora, só depois que eu mor rer”, brinca. Serviço Os abrigos precisam de doações de agasalhos. Para entrar em contato, ligue: (41) 3310-7500.
Encontrou algum morador de rua? Disque 156 ou entre em contato por meio do site: www.central156.org.br/. O “Centro Pop Resgate Social” fica na Rua Conselheiro Laurindo 792, e permanece aberto 24 horas por dia. Daniela Hendler
FEIRAS NOTURNAS SE POPULARIZAM EM CURITIBA
Feiras oferecem opções de lazer e gastronomia para todos prietários da “Pastel Yamashiro” transformaram sua banca em um ambiente familiar. Oriel Pereira dos Santos, que trabalha no mesmo local há aproximadamente 15 anos, diz que, apesar dos problemas de trabalhar na rua, esse é um emprego que vale a pena tanto na questão financeira quanto pelo bom relacionamento com a clientela. “É mais fácil faltar barraca do que faltar freguês, eles são muito fiéis”, afirma. Ele trabalha junto com a esposa, a filha e a cunhada em sua barraca. Patrick Muchinski trabalha em feiras noturnas há oito anos e diz que essa é sua única fonte renda. Na barraca, vende espetinhos com quatro funcionários e trabalha todas as noites em diversas feiras da capital. Frequentadora das feiras, Mariângela de Lima diz que o ambiente está mais seguro. “Já foi mais perigoso. A feira lota muito, mas agora existem vários poli-
ciais espalhados por aí”, comenta. Acompanhada pelo marido e pela filha, ela afirma que a variedade de alimentos e a qualidade são bem atraentes, embora considere o preço um pouco acima do esperado. Disputa por vagas Conseguir vaga para montar uma barraca não é tão simples e as filas de espera são grandes. De acordo com Oriel Pereira, o ideal é comprar o alvará e a barraca de alguém que já esteja no ramo. O procedimento padrão executado pela Secretaria Municipal do Abastecimento (SMAB) acontece por processos licitatórios ou por meio do edital de abertura de vagas. Elas são anunciadas através de publicações no Diário Oficial do Município, páginas da prefeitura na internet e/ou fixadas em edital próprio da sede da SMAB. A
Foto: Daniela Hendler
Nem mesmo o feriado de Corpus Christi, com um frio de 9°C e uma garoa insistente impediu diversos curitibanos de prestigiar as feiras noturnas da capital. Atualmente existem nove feiras noturnas distribuídas em Curitiba e três feiras gastronômicas. Todas ocorrem das 17h às 22h, cada uma em um dia da semana. As feiras noturnas foram criadas para atender a população que trabalha durante o dia e não consegue ter acesso a produtos variados, com qualidade e preço atraente oferecidos nas feiras matinais. A pioneira foi a Feira Noturna de São Francisco, criada em 1991, que traz uma combinação de feira livre (frutas, verduras, frios, pescados, ervas e temperos) e uma praça de alimentação com comidas típicas de diversas partes do mundo. Com uma barraca na Feira do Água Verde desde 1992, os pro-
A feira do Água Verde, a mais movimentada segundo os feirantes
abertura de vagas acontece quando algum feirante desiste do ponto ou é aberta uma nova feira. Outro fator que faz com que a seleção seja mais rígida é a fiscalização das barracas e dos alimentos servidos. De acordo com o 2° parágrafo do art. 12 da Portaria da SMAB nº 27/2006, ao passar na primeira etapa do processo, a CEAT (Centro Educa-
cional Anísio Teixeira) indica um técnico para inspecionar as condições higiênico-sanitárias do local de produção, manipulação, armazenagem e também formas de transporte dos alimentos comercializados para garantir a qualidade ao consumidor. Tamires Favaro
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CONDUTORES DE TAXIS DA NOITE CURITIBANA VIVEM INCERTEZA
Assaltos a taxistas aumentam à noite
Profissionais que trabalham à noite em Curitiba e RMC reclamam da falta de segurança e falam da ousadia dos bandidos
Foto: Fabio Wosniak
se nada acontecer da parte do Setor Público, o sindicato pretende concretizar um projeto próprio, que preve da contratação de empresas de segurança privada para monitorar os carros. O serviço prestado pelas empresas seria de escolta, feito pelos próprios vigilantes dos bairros, quando a central identificasse o aviso, através do GPS, do motorista em circunstâncias perigosas. “Entra um suspeito no carro, o taxista aciona um dispositivo que avisa a central, os vigilantes já identificam pelo GPS e acompanham o táxi”, explica Cunha. Até o fechamento desta edição, a Polícia Militar não respondeu à reportagem.
Para taxistas da noite, cada corrida é uma incógnita
Ademar Santos
Crimes são premeditados
Diretor Presidente do Sinditaxi-PR, Abimael Mardegan
gas. “90% dos assaltos que acontecem são cometidos por pessoas atrás de dinheiro para comprar craque”, afirma. Segundo o diretor, os motoristas não possuem nenhum meio de se prevenir contra crimes durante a noite. “O taxista só vai saber quem é o passageiro que ele transporta, no final da corrida. A segurança ao taxista infelizmente não existe, é o taxista e Deus”, lamenta Abimael. O presidente do Sinditáxi-PR sugere que, para melhorar a segurança aos taxistas noturnos a polícia intensifique as rondas e blitz, principalmente nas noites de sexta-feira e sábado, que são os períodos em que, segundo ele, acontecem mais assaltos contra condutores na cidade.
Melhoria na Segurança Conforme Abimael Mardegan, a diretoria do Sindicato aguarda a efetivação de um projeto de melhoria na segurança aos motoristas de táxis de Curitiba. Trata-se da parceria com a Guarda Municipal de Curitiba (GMC), que deverá monitorar os táxis da cidade, nos dois turnos, através do Sistema de Posicionamento Global (GPS). “Esperamos que passem as eleições pra sabermos quem vai ficar no comando da Guarda Municipal, que é nomeado pelo prefeito, então, precisamos nos sentar e pôr a coisa pra funcionar”, pondera. O vice-presidente do Sinditáxi-PR, Mário Cunha, comentou à reportagem do Comunicare que,
Foto: Ademar Santos
Foto: Ademar Santos
Os taxistas de Curitiba e Região Metropolitana esperam solução para a falta de segurança no trabalho noturno. Assaltos acontecem com frequência contra esses profissionais, principalmente durante a noite, devido ao fato da criminalidade se intensificar nesse período na cidade. A profissão de taxista foi regulamentada recentemente pela Lei 12.468/11 e beneficia o profissional em aspectos como seguro previdenciário, piso salarial ajustado pelos sindicatos da categoria e possibilidade da criação de entidades representativas em níveis municipal, estadual e federal. Porém, na questão da segurança, ainda não existe nenhum projeto efetivo que garanta a tranquilidade aos trabalhadores. Os condutores de táxis não têm como se prevenir de um assalto durante uma corrida, pois os usuários têm sempre o mesmo perfil, o que torna cada viagem uma incógnita. “Entram duas ou três pessoas no carro e a gente não sabe se são pessoas bem ou mal intencionadas”, comenta Odney Gonçalves de Souza, taxista há 35 anos na Capital. Para Odney, além da falta de segurança, existe também o preconceito de alguns usuários que se acham no direito, segundo ele, de subestimar os taxistas, devido às situações que eles enfrentam no exercício da profissão. “De vez em quando, acontece de pegarmos passageiros que abusam, que humilham, pensam que somos inferiores. Isso já me aconteceu muitas vezes”, lembra. O Sindicato da categoria, não dispõe de dados estatísticos concretos sobre assaltos que são cometidos contra taxistas na capital e RMC. “A maioria dos casos de assaltos sofridos por motoristas de táxis em Curitiba não são contabilizados”, explica o Diretor Presidente do Sindicato dos Taxistas do Paraná (Sinditaxi-PR), Abimael Mardegan. Ele comenta que os crimes acontecem geralmente à noite e são praticados por indivíduos usuários de dro-
Joacir passou por um assalto inusitado na capital
Os criminosos que assaltam condutores de táxis em Curitiba premeditam a prática do crime e, geralmente, usam táticas inusitadas para atrair os taxistas. Segundo José Loacir, taxista que trabalha à noite na cidade, é comum o criminoso contar uma história dramática para um porteiro de condomínios ou de empresas e pedir para chamar um carro. “Um dia, eram umas dez horas da noite, eu fui chamado na portaria de uma empresa, o telefone registrado na central era da empresa. Cheguei lá, havia um casal na portaria. O rapaz, acompanhado de uma menina bem trajada, me disse que a esposa desconfiou da sua demora no trabalho e foi encontrá-lo. Quando eles entraram no carro anunciaram o assalto. Levaram o carro, que depois eu recuperei. Fui questionar ao porteiro da empresa, ele me disse que o casal pediu pra ele chamar o táxi porque estavam com medo de andar à noite no bairro”, relata o taxista.
Em busca de Curitiba perdida “Sabe onde ele mora”, perguntei ao meu irmão. Ele disse que não. Ah, subi a Amintas. Onde já se viu? Tomei um caminho contrário para mostra-lo o antro do vampiro. “Para onde você vai? Ainda preciso encontrar meu céu”, ele me disse. O céu esperava há tempos. Que esperasse um pouco mais. A história verdadeira é que errei o caminho. Cai ali por pegar a saída errada na via rápida. Contaria ao meu irmão se o polegar fosse menos apressado; menos carrancudo com um pois, pois qualquer. Calei-me. Disse a ele que o vampiro fizera aniversário e o desprazer da visita não consumada seria nosso presente.
contra-capa
Da esquina oposta indiquei o casarão: é ali. Eu vibrei quando soube; ele não se surpreendeu. Idiossincrasias à parte, a fique desapontado. Acelerei o auto, virando à direita. “Aqui não, o prédio atrapalha”, lamentava meu irmão. Tremenda patifaria. “Arre, horizonte esfumaçado”; procurava um céu das arábias. Atrasaríamos para o jantar. Não me dei ao trabalho de ligar para mamãe por pura preguiça. Tampouco meu irmão. Havia ainda uma entrega pendente; a empreitada de meu irmão na busca do céu perfeito se seguia. “Nenhum é perfeito, ainda mais à noite”, pensei. Mas não o disse. Ele ficaria chateado. Foi uma volta das grandes. Se soubesse do desprezo que sofreria, deixava pra lá. Queria saber do céu. Capacho sob o qual brilham as luzes da cidade. Céu é uma ova. Desejei o fim do céu; seu lugar seria ocupado por uma lona preta. Nada aconteceu. Aliás, nada de lona preta. Acontecer aconteceu. Mas o contrário. Ele encontrou o bendito céu. Estava lá, aberto. Não tão estrelado, mas imaginei que aquele fosse como o das arábias. Talvez parecido. Passei lotado com o auto; um pouco por birra. Meu irmão disse que voltaria ali. Registraria o céu. Surpreendeu-me ele não pedir que parasse o carro na hora. “Esse sim era é um céu para a capa”, exaltou. Não faltava mais nada. Seria a capa do vampiro. Fizemos a entrega e ainda jantamos em casa. Mamãe esperou. Quanto ao céu, a espera fica por conta do sucesso. Prometi a meu irmão que escreveria um soneto duplo sobre aquele dia; o fiz à minha maneira. Ao menos ele me agradeceu por errar de rua. Renan Machado