CURITIBA, JUNHO DE 2011 - ANO 15 - Nº 194 - 2º ANO DE JORNALISMO NOITE DA PUCPR - jornalcomunicare@hotmail.com
Foto: Camila Galvão
Foto: Julio Cesar Glodzienski
Foto: Fellipe Gaio
COMPORTAMENTO: Cemitério de cachorros – donos buscam transformar a dor da perda em boas lembranças através de cemitérios e crematórios dedicados aos bichos | Pág. 08 e 09
CIDADES: Heróis de quatro patas - Histórias de fidelidade e amizade de cães que salvaram vidas | Pág. 15
TRÂNSITO: Lei que pretende regulamentar o tráfego de carroças e acabar com maus tratos aos animais não sai do papel | Pág. 04
ESPORTE: Rinhas de galo - a ilegalidade que a polícia não consegue combater | Pág. 07
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opinião
Curitiba, junho de 2011
pensar no bem estar animal é um desafio, quando nem alguns homens dispõem disso
A Demagogia ambientalista de sempre Discursos ambientalistas, em sua maioria, escondem o verdadeiro interesse político e econômico de instituições e Governos
Não é de hoje que tanto a fauna quanto a flora vêm sofrendo com as ações dos homens, que insistem em fazer com que todo espaço seja seu. Sendo legitimada ou não, a terra que habitamos, está ficando cada vez mais escassa e vários fatores agravam o cenário de descaso com o meio ambiente e os animais. Há vários exemplos de impactos causados pelo homem que podem ser citados: os animais exóticos soltos em locais inadequados, comprometendo diversos habitats; as rinhas de galo, que ainda acontecem de forma ilícita ou a falta de fiscalização por parte da prefeitura com relação aos cavalos, que trafegam pelas ruas presos a carroças. Embora os carroceiros ajudem na reciclagem do lixo, alguns cavalos sofrem maus tratos ou são exigidos até a exaustão, como flagrou a nossa equipe de reportagem. Porém, não é só dos carroceiros a obrigação de pen-
sar nos cavalos como seres vivos, pois, o Estado também não vê aqueles como seres humanos. Alguns ativistas até defendem a proibição de carroças que transitam nas vias, mas não é isso que resolverá o problema. E como conhecemos a demora do poder público para resolver algo, fica difícil acreditar que estes subsidiariam carroceiros para adquirir outro tipo de veículo de trabalho. A lei para regulamentar o trafego destes animais, até existe, mas o absurdo é que ela está lá apenas para constar no código de trânsito. Além disso, o condutor que cometer infrações fica sujeito a pagamento de multa, mas aí fica a pergunta: a quem alguns papelões depende o prato de comida, há como pagar infrações de trânsito? Fica nítido que essa é apenas uma forma de alimentar mais ainda a indústria da multa e dos radares que persiste em continuar aqui em Curitiba.
E como se não bastassem as diversas pessoas abandonadas nas ruas, há também os cachorros, que pela ação do homem tornaram-se invasores e passaram a perambular pela cidade. Então quando é indagado a prefeitura sobre uma solução para eles, a assessoria de imprensa afirma que o primeiro abrigo público para animais será criado (ainda) em junho. Porém, até agora ninguém sabe sequer o endereço do tal abrigo. A única coisa que se sabe, é o número de vagas, que totalizam 80. Isso mesmo, 80 vagas para Curitiba inteira, ao passo que várias pessoas ou ONG’S possuem abrigos de cachorro em que chegam a acomodar 2000 animais, sobrevivendo somente com a ajuda de voluntários. Vai ver que há pouco espaço na cidade... Ou os olhos da prefeitura não se voltam ao chão, onde cachorros e pessoas permanecem ilhados e dependentes.
A verdade é que o discurso se torna fácil e vazio quando o assunto é preservação ambiental e bem estar animal, afinal, é um tema intensamente comentado e muitas vezes por pessoas que nem sequer seguem o que estão falando. O que deve-se acabar é esse falso debate sobre um tema, que, quando se é associado ao dinheiro, nunca tem papel de destaque. Animais têm um agravante, pois são seres vivos e nem sequer conseguem reclamar dos abusos, maus tratos e descuido por parte de alguns donos. Se bem sabemos que a natureza e os animais gritam por socorro, porque ações não são executadas em favor destes que não podem se manifestar? Bem, porque se a natureza grita por socorro, o dinheiro grita, berra mais alto.
FALA, PROFESSOR
“O jornal apresenta uma forma interativa de colocar os acadêmicos de forma direta com o contexto da profissão”. Léo Peruzzo - Professor de Filosofia nos cursos de Jornalismo e Direito da PUC PR
FALA, ALUNO
Camila Barbieri
Segundo Estelita, jORNALISTA PRECISA QUESTIONAR O TEMPO TODO
Os alunos devem aproveitar o jornal para polemizar
Fazer um jornal temático sobre Curitiba – como fez o Comunicare na sua edição de abril – incorre sempre no risco de cair em clichês. É inevitável pensar na cidade sem lembrar do sistema de transporte público, dos parques e dos pontos turísticos – mas não é preciso (e nem se deveria) fazer jornalismo atendo-se apenas ao óbvio. Os alunos da PUCPR se esforçaram nesse sentido. É possível encontrar no jornal boas histórias de personagens curitibanos que fizeram algo realmente inovador, ou que simplesmente chamam a atenção por suas iniciativas, ainda que elas não tragam nenhuma grande novidade. Faltou, porém, estender o cuidado à abordagem das reportagens. Jornalismo bem-feito, para mim, tem a obrigação de não ser ingênuo. O jornal está aí para problematizar, para dar voz ao maior número de versões, para dar espaço ao contraditório, para
polemizar. Como fazer uma reportagem sobre o “ano novo fora de época” da Praça da Espanha, por exemplo, sem discutir a polêmica que se seguiu sobre a depredação do local na ocasião e a conseqüente proibição, pela prefeitura, da realização de qualquer outro evento de grande porte no local? Será que não é exagero afirmar que os empresários da YoEXPEDIENTE
Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição nº 194 | Junho/2011 PUCPR Rua Imaculada Conceição 1.155, Prado Velho - Curitiba/PR www.pucpr.br Reitor Clemente Ivo Juliatto Decano do CCJS Roberto Linhares da Costa
guland “reinventaram a forma de saborear uma sobremesa” com um produto “versátil” e “saudável”? Jornalista precisa aprender a questionar aos outros e a si próprio o tempo todo. Para as fontes: “Você tem certeza do que está falando? Será que não existe algo parecido no Brasil ou no mundo?” E, para si mesmo: “Meu texto está equilibrado? Eu chequei Decano-Adjunto do CCJS Marilena Winters Diretora do Curso de Jornalismo Mônica Fort COMUNICARE Jornalista Responsável Cícero Lira - DRT 1681 Coord. de Projeto Gráfico Alessandro Foggiatto de Andrade EDITORES Editora-chefe: Camila Galvão Editor de arte: Etiene Mandello
os dados e afirmações que coloco na matéria?” Por fim, uma última sugestão: me surpreendi com a ausência daqueles textos com gostinho literário. Aproveitem os jornais da faculdade para treinar essa habilidade. Vocês sentirão falta disso. Estelita Hass Carazzai Correspondente em Curitiba Folha de S.Paulo
“A produção de um jornal é importante para elevar a autoestima e provocar mudanças positivas no comportamento dos estudantes, que já colocam em praticao aprendizado”. Harley Senff Junior - Aluno do curso de Sistemas da Informaçao da PUC PR
NOSSA CAPA
EDITORIAS Capa: Etiene Mandello Cidades: Camila Galvão Comportamento: Fellipe Gaio Economia: Lydiane Pereira Educação: Gabriela Campos Entrevista: Ana Evelyn de Almeida Esporte: Jhonny de Castro Geral: Mariana de Azevedo Opinião: Camila Barbieri Política: Virginia Crema Saúde: Maruza Silverio Gozer Tecnologia: Rafael Ribeiro da Silva Trânsito: Letícia Donadello
“ Nessa edição, o homem não é o foco principal, por isso é representado pela silhueta. O carimbo reforça a importância do tema”. Etiene Mandello
entrevista
03
Curitiba, junho de 2011
InformaçÃo e conscientização são fundamentais
Atitude ética é a solução
Arca Brasil é uma entidade reconhecida internacionalmente e trabalha por um mundo melhor para homens e animais então outras cidades fazem algo semelhante, o que acaba refletindo em milhares de lares e vidas do país. Um projeto de grande abrangência é o Veterinário Solidário, cujo objetivo é fornecer subsídios aos profissionais que já praticam uma medicina voltada para o social. O médico veterinário é um elemento fundamental para a conscientização da sociedade. Comunicare – Na nossa sociedade é comum os animais serem explorados, torturados, sacrificados ou mortos. Como é possível existir uma realidade diferente desta? Marco Ciampi – Buscando uma atitude pautada na ética, fiscalizando para que as leis sejam cumpridas, eliminando assim ou prevenindo o sofrimento, sempre buscando uma convivência cidadã com os animais. Comunicare - O sistema capitalista pode ser considerado um dos maiores inimigos dos animais? Marco Ciampi – Na verdade existe um conflito de interesses. Por exemplo, na criação de animais para comércio e/ou consumo, o objetivo é apenas o lucro.
Por esse motivo que melhores condições de criação, transporte e abates resultam em um melhor produto. No caso dos pets, o lado afetivo é o que conta, mas embora o mercado esteja em franca expansão, cresce também o abandono de animais. Comunicare - A sociedade é indiferente ou complacente em relação aos direitos dos animais? Marco Ciampi – Talvez fosse melhor dizer ‘ignorância’. A sociedade é ignorante nesse ponto. Falta informação e consciência sobre as reais necessidades dos animais.
“Falta informação e consciência sobre as reais necessidades dos animais ”
Foto: Divulgação
O ambientalista Marco Ciampi sempre participou de projetos ligados à proteção de animais. Em 1993, em parceria com profissionais de várias áreas, fundou a Arca Brasil em São Paulo, Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal. Entidade sem fins lucrativos, sem vínculos partidários ou religiosos, trabalha para conscientizar e informar as pessoas sobre as reais necessidades dos animais. Um dos trabalhos mais bem sucedidos da Arca é a Posse Responsável de Cães e Gatos, pois o abandono não é um problema isolado e sim uma consequência de uma posse sem responsabilidade. Veja no Box os 10 Mandamentos desse projeto. O presidente da ONG comenta como é possível existir uma atitude ética e uma convivência cidadã com os bichos. Comunicare - Quais são as maiores conquistas da Arca Brasil? Marco Ciampi – O reconhecimento nacional e internacional de projetos pioneiros, como o Programa de Controle da Natalidade de Cães e Gatos, reconhecido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e que hoje serve de modelo para vários municípios do país. Atuar na raiz do problema provou ser uma alternativa eficaz para o problema da procriação descontrolada, o abandono e o sacrifício dos animais. Em 1998, a convite da Organização Mundial da Saúde (OMS), a ARCA apresentou na República Tcheca, seus trabalhos que inspiram leis. Também foi a única ONG de proteção convidada a se apresentar no Congresso Mundial de Veterinários, em 2009 em São Paulo. Comunicare - Quais são as maiores crueldades praticadas contra os animais? Marco Ciampi - Infelizmente as crueldades estão presentes em diversas áreas. Quando a força dos animais é explorada em trabalhos excessivos com carroça ou carro de boi; no ensino e na ciência, que sacrifica várias vidas animais para pesquisas,
O protetor dos animais Marco Ciampi e seu fiel companheiro Tingo.
muitas vezes inúteis e repetitivas; os animais silvestres, caçados, torturados e traficados; os bichos usados para divertimento dos humanos em circos, touradas ou rodeios, por exemplo. Ou ainda os domésticos, que além de um lar, saúde e alimento, precisam ainda de atenção, qualidade de vida e até de convivência com outros animais.
Comunicare - Existe uma estatística de quantas vidas a Arca salvou com as campanhas e projetos realizados? Marco Ciampi - Não existe um número certo. A ONG luta por mudanças de políticas públicas. Mas existem projetos que alcançam, além de repercussão, grande replicação. O trabalho começa em uma cidade, é bem sucedido e
Comunicare - Qual é o papel da política pública em relação aos direitos dos animais no Brasil? Marco Ciampi - As leis brasileiras de proteção animal e ambiental estão entre as mais aprimoradas do mundo, porém não existe uma fiscalização efetiva, assim como para outras leis.
Comunicare – Existem mudanças significativas na relação homem-animal no Brasil? Marco Ciampi – Claro. Temos avanços nessa área, o povo brasileiro é muito afetivo e carinhoso. Basta apenas acesso a informação e que as leis sejam cumpridas. Comunicare – O que é preciso para que haja informação e
conscientização suficientes sobre os direitos e o bem estar dos animais no Brasil? Marco Ciampi – É preciso muita informação e conscientização, em particular dentro das famílias, nas escolas e até por parte dos veterinários. É preciso acreditar que vão ocorrer mudanças, mesmo á longo prazo, ter esperança pelos animais e por nós também.
Ana Evelyn de Almeida Jasson Wolff Lucas Molinari
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trânsito
Curitiba, junho de 2011
carroças causam transtorno nas ruas de curitiba
LEI PRETENDE DISCIPLINAR O TRÁFEGO Carroceiros não se adequam por desconhecimento da lei, pela falta de recursos financeiros e de orientação por parte das autoridades cia que têm um comportamento previsto na Lei. E, já que a fiscalização se torna difícil, a orientação por meio de campanhas educativas seria o melhor caminho”, explica Marcelo. Além dos problemas de trafegabilidade, entidades protetoras reclamam dos maus tratos e das condições de insalubridade a que os animais são submetidos. Muitos são açoitados com chicotes e varas, carregam excesso de carga, são obrigados a percorrer grandes distâncias, passam fome, frio e sede. Esses maus tratos configuram crime previsto na Lei de Crimes Ambientais, a 9.605 de 1998, e, na opinião de Mauro Almeida “leis para proibir maus tratos aos animais até temos, e não são das piores, mas não há ‘interesse político’ em fazê-las
cumprir”. Mauro é ativista dos direitos animais e lidera um movimento que pretende proibir o uso de carroças em Curitiba. Para ele, a “falta de vontade política” é o principal entrave nessa discussão. “No ano passado, o Governo Federal baixou o IPI dos automóveis. Foi uma festa! Então, porque não dar condições para os carroceiros comprarem motos com carretas, como usam alguns mercados e entregadores de gás? Existe também um triciclo com carroceria basculante. Com vontade política, seria possível transformar esses catadores em pequenos empresários”, argumenta. Rubia Lorena Curial Oliva
Saiba um pouco sobre a Lei:
Julio Cesar Glodzienski
Joanita e Rafaela com seu cavalo caído por cansaço
o trânsito de carroças nas vias públicas da cidade, promovendo maior segurança ao tráfego e também eliminando os maus tratos aos animais. Na prática, o próprio vereador reconhece que não aconteceram avanços, pois ainda falta a regulamentação: “houve uma grande decepção porque a Prefeitura de Curitiba, por meio dos seus órgãos afins, não fez a regulamentação da Lei. Sem a regulamentação não há obediência. Infelizmente, falta pôr em prática”, explica. Mas se a Lei existe porque não é cumprida? No caso de Curitiba tem-se claramente uma mostra da ineficiência da aplicação das leis que ocorre de maneira generalizada em todo o país: mesmo aprovada, não está em funciona-
mento porque não foi regulamentada. A Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Governo, informou apenas que a lei está em estudo para regulamentação. Sobre a “Lei da Carroça”, a coletora Joanita afirma que desconhece a legislação, “você acha que alguém lá se importa com a gente? Aposto que fizeram essa lei só para ganhar dinheiro. É só pra gente pagar mais imposto. Isso tudo é baboseira”. Uma das soluções apontadas por Marcelo Araújo seria a conscientização por meio de campanhas educativas. Segundo o advogado, os carroceiros são condutores de veículos e devem seguir as normas de circulação como qualquer outro, ressalvadas as peculiaridades. “Eles precisam ter consciên-
“Aposto que fizeram essa lei só para ganhar dinheiro”
Julio Cesar Glodzienski
Carroças em péssimas condições, animais maltratados e condutores despreparados tumultuam ainda mais o já difícil trânsito nos grandes centros urbanos. Tentativas para mudar esse quadro até existem, porém não são as mais adequadas. Joanita de Fátima e Rafaela Fonseca, mãe e filha, utilizam a carroça na coleta de material reciclável. O veículo precário e o cavalo debilitado mostram a difícil condição de trabalho. Joanita reclama da falta de respeito dos motoristas: “a gente está trabalhando como todo mundo, mas as pessoas acham que a gente é bicho. Passam buzinando e não querem nem saber se você precisa de ajuda”, desabafa. Previstas pelo Artigo 96 do Código de Trânsito Brasileiro, carroças são veículos de tração animal destinadas ao transporte de cargas. A legislação federal estabelece apenas os princípios básicos de trafegabilidade, ficando a cargo de cada município a regulamentação do veículo e de seu condutor. De acordo com o presidente da Comissão de Direito de Trânsito da OAB/PR, Marcelo Araújo, o Art. 24 do CTB confere aos municípios a competência para registrar e licenciar, bem como ceder a autorização para conduzir esses veículos. Cada município deve legislar de acordo com as especificidades do seu próprio trânsito. Porém, o advogado destaca que existem dificuldades tanto para a implementação quanto para a fiscalização da lei. Em Curitiba, foi sancionada, em 2005, a Lei n° 11.381 que cria as normas para o tráfego de veículos de tração animal na cidade. De autoria do vereador Jair Cézar, a Lei estabelece, entre outras coisas, que as carroças devem possuir rodas com pneus, buzina, freio manual e placa de identificação; o condutor deve ter acima de 18 anos, habilitação específica, licenciamento do veículo e ainda apresentar atestado de sanidade física do animal. A Lei pretendia disciplinar
O carroceiro Jeferson se arrisca em meio aos carros
*Para obter a licença o condutor deve fazer o pedido junto à URBS, com: RG e CPF; declaração afirmando ser o legítimo proprietário do veículo e do animal; atestado de vistoria do veículo fornecido pela URBS e também de sanidade do animal de tração; *O requerente se submeterá a teste de conhecimento sobre as regras de trânsito aplicáveis ao tipo de veículo que conduzirá; *O animal será periodicamente submetido a exame de sanidade realizado pela Secretaria Municipal da Saúde. A SMS emitirá um atestado de sanidade do animal,
que deverá ser apresentado às autoridades de trânsito sempre que solicitado; *O condutor que cometer infrações previstas na lei, fica sujeito às seguintes penalidades: advertência, na 1ª infração; multa de R$25, na 1ª reincidência; de R$50, na 2ª reincidência; de R$100, na 3ª reincidência; suspensão da licença, da habilitação e apreensão do veículo, na 4ª reincidência. Participe: Você acha essa lei válida? jornalcomunicare@hotmail.com
tecnologia
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Curitiba, Junho de 2011
TECNOLOGIA PROMETE DIMINUIR ÍNDICE DE ANIMAIS ABANDONADOS
Chips identificam cães e gatos
A Prefeitura de Curitiba, em parceria com clínicas veterinárias, pretende diminuir o número de animais abandonados por meio da aplicação de chips em cães e gatos. “Os donos desses animais poderão procurar clínicas veterinárias conveniadas à Rede de Defesa e Proteção Animal de Curitiba e implantar, a preço de custo, um microchip de identificação definitiva em seus animais”, afirma o veterinário Tiago Cesar Sell. Ao todo, serão adquiridos 22 mil microchips. A aplicação será gratuita, sendo cobrado apenas o valor de custo do chip, cerca de R$ 10. As peças serão aplicadas como uma injeção embaixo da pele do
animal. Nelas ficarão registrados o nome do animal e do responsável, endereço, idade, sexo e ficha médica. O Microchip é um microcircuito eletrônico contendo um código único e inalterável, inserido em uma cápsula de biovidro cirúrgico e revestido de substâncias de propriedades antimigratórias, possibilit ando a implantação em animais. O microchip não contém bateria e está inerte. Ao receber as ondas emitidas pelo leitor (scanner), retorna a informação na forma de um número. Este é composto por quinze algarismos o que impossibilita a duplicidade. A estudante Taís de Oliveira,
“Quando me deparo com o abandono, dá vontade de adotar todos”
22 anos, é favorável ao projeto e diz que os órgãos competentes poderiam ter implantado o sistema há muito tempo. “Acho um absurdo a demora por uma iniciativa tão simples como essa. Quando vejo cães abandonados nas ruas, dá vontade de levar todos para casa”, completa. Já a bióloga Ane Moura contesta: “Acho desnecessária a implantação desses chips. Se não houvesse tanta negligência em relação aos pets, este tipo de serviço poderia ser descartado, e a Prefeitura se preocuparia mais com serviços essenciais, como saúde e educação, por exemplo. A rede de Defesa e Proteção animal de Curitiba foi criada em Abril de 2009. Por meio do site da organização, o cidadão poderá encontrar informações a respeito de regras para guarda responsável, como alimentação, higiene, atividades físicas e cuidados mé-
Foto: Yan Carlos
Campanha da Prefeitura pretende incentivar a guarda responsável e monitorar animais cadastrados
Microchip facilita a busca em caso de desaparecimento ou abandono
dicos, bem como informações sobre adoção de abandonados. Serviço A lista de clínicas veterinárias disponíveis para a aplicação dos
TECNOLOGIA GARANTE ALIMENTAÇÃO, MAS CARINHO E ATENÇÃO SÃO FUNDAMENTAIS
Polêmica William Talhari, 22 anos, tem três cachorros: um pit bull de 9 anos, chamado Cron; um rottweiler de 1 ano e 6 meses, Drako; e um labrador de 3 meses, Colt. “Se minha família e eu fôssemos passar mais de um dia fora de casa, seria uma ideia interessante”, comenta. Denise Escovino, 48 anos, acredita, porém, que a invenção não seria útil para ela, que tem uma cadela cocker spaniel chamada Luna. “Eu passo o dia in-
teiro fora e sempre deixo água e comida para ela. Mas ela se adaptou a só comer quando eu estou em casa, acho que para não ficar com vontade de fazer necessidades e não ter ninguém pra descer com ela”, explica. Andres Füchter espera que o canil eletrônico tenha uma grande receptividade entre clientes de pet shops no Brasil. Ele ainda não conseguiu, contudo, negociar a patente ou arranjar investidores para o dispositivo. “Desejo arranjar um fabricante que queira desenvolver o produto também”, lembra o vendedor. Pessoas interessadas em investir no projeto de Füchter podem entrar em contato com ele pela Associação Nacional dos Inventores no site www. inventores.com.br, ou pelo telefone (11) 3873-3211. André Recchia Yan Carlos
Foto: Divulgação
gramar o horário e a quantidade de comida e água liberadas pela máquina somente uma vez. “Depois, ela segue seu ciclo repetidamente”, assegura. A máquina é feita de plástico, fibra ou metal, o que a torna mais resistente a animais que costumam estragar objetos feitos de materiais mais frágeis.
André Recchia Yan Carlos
A “babá” canina
Máquina revoluciona a criação de pets
Para quem tem animais de estimação, mas não tem tempo para cuidar de seus bichinhos, Andres Custódio Füchter, um vendedor de Criciúma (SC), desenvolveu um aparelho que garante a alimentação dos pets. O protótipo desenvolvido por Füchter, chamado de canil eletrônico, permite que o dono programe a hora e a quantidade exatas para alimentar os animais. O inventor, de 33 anos, conta que a ideia do canil eletrônico surgiu quando a filha e a esposa manifestaram a vontade de ter um cachorro, mas alegaram não ter tempo suficiente para cuidar do animal. “O bichinho precisa de carinho, mas pelo menos meu invento garante que ele não passe fome nem sede”, afirma. O funcionamento do aparelho depende apenas de uma área quadrangular e com espaço para a água cair por uma calha. Füchter diz que é necessário pro-
chips se encontra no site www. protecaoanimal.curitiba.pr.gov. br, onde também será possível realizar o cadastro de identificação do animal.
Com a máquina, donos podem viajar tranquilos
O aparelho é composto por um recipiente para água e comida, um programador eletrônico, um telefone celular, um sensor de ração, um motor de lavaa-jato e outro que gira o bico lava-a-jato a 180º, uma caixa de água e uma boia — que identifica a falta de água. Ela evita o funcionamento desnecessário do lava-a-jato que limpa os recipientes, caso haja pouco líquido. Isso reduz o desgaste do mecanismo.
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educação
Curitiba, junho de 2011
CACHORROS policias são doados ou comprados, não nascem EM cativeiro
Cão policial exige educação adequada
O Canil Central da Polícia Militar, junto com o BOPE (Batalhão de Operações Especiais) abriga os chamados “cãespoliciais”, usados em operações especiais da PM para farejar e patrulhar. Eles são muito bem tratados, com agrados, carinhos e passeios com seus donos. Mas para se tornar um cão de operações é preciso passar por um treinamento longo e ter todo o acompanhamento de adestradores especializados. Os animais normalmente são adquiridos por meio de doações ou são comprados conforme o perfil desejado. Cada policial tem o seu cão e avalia para qual operação o animal deve ser treinado. O adestramento varia de acordo com o perfil de cada cachorro. Eles são ensinados no mínimo duas vezes por semana, durante um ano, até estarem prontos para agir.
Policial Militar há 18 anos e adestrador no Canil Central há 12, o Cabo Maciel explica que o adestramento começa aos sete meses com instruções básicas como: junto, senta, deita, fica e aqui. Depois de ter esses comandos dominados, a próxima etapa é adestrar para o ataque. Tudo começa como brincadeira. “Se o cão agiu certo recebe agrado, se fez errado é reprimido, mas nunca usamos a violência. É tudo na base da amizade”, diz o Cabo. Depois de gestos, são usados materiais como varinhas para ensiná-los a obedecer e mangas e macacões para ensiná-los a atacar. A maior parte do adestramento é feita no canil, onde se encontra a área específica para atividades, mas o cão também é levado em fazendas, chácaras, matagais e parques pouco movimentados. Nesses locais os cães
aprendem a diferenciar uma pessoa perdida de um fugitivo, escolhendo entre avisar o condutor ou avançar. Assim o cão passa a ser companheiro de seu dono policial, usado para faro de explosivos e de entorpecentes, patrulhamentos, entre outros. Maciel acredita que o desempenho do animal depende do cansaço diário e do estresse, “por isso não dá para sobrecarregar o animal a fim de ter resultados positivos”, diz. O cão de patrulhamento trabalha cerca de seis horas em operações, e o de faro quatro horas. Depois de oito anos o animal se aposenta, ficando com seu dono policial ou sendo doado junto com um termo de responsabilidade para quem adotar. O canil da Policia Militar conta hoje com 35 cães (machos e fêmeas) das seguintes raças: Pastor Malinois (patrulhamen-
Foto: Penélope Miranda Lourenço
Cães da Polícia Militar tem adestramento específico para realizar operações, mas carinho e amizade são o que mais educam
Cabo Maciel e seu Pastor Alemão Branco Tubruck
tos e faro), Labrador (farejamento de drogas e explosivos), Blood Hound (busca de pessoas soterradas) e Rotweiler (patru- lhamento ostensivo). A relação cão-polícia e policial é mantida sempre de forma harmoniosa e descontraída, mesmo
na hora do trabalho. “Procuramos cuidar do bem estar de nossos animais para que eles façam uma boa ação e ajudem a sociedade”, conclui o cabo. Penélope Miranda Lourenço
HÁ TRÊS ETAPAS PARA A conscientização EM RELAÇÃO AOS ANIMAIS, BRASIL AINDA ESTÁ NA FASE INICIAL Uma série de pesquisas já comprovam que algumas espécies animais, como mamíferos e aves, possuem emoções e sentimentos. Com base nessas comprovações, muito se fala no bem-estar animal, mas o assunto ainda é recente no Brasil . De acordo com uma pesquisa feita por alunos do curso de zootecnia da Un iver sid a de Federal do Paraná, o bem-estar de um indivíduo é seu estado relacionado às suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente, e refere-se a uma característica do indivíduo em um dado momento. Poliana Graff Cordeiro é aluna do curso de Biologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná e autora do trabalho acadêmico
Transtornos Compulsivos em animais cativos. Muitos desses bichos possuem síndromes semelhantes as que acometem os seres humanos. Poliana explica que o transtorno psicológico Tricotilomania, por exemplo, faz com que humanos arranquem os cabelos de nervoso e que aves arranquem as penas, pelo mesmo motivo. Além disso, tanto os bichos quanto o ser humano são tratados com os mesmos medicamentos nesses casos. “Em ambos são utilizados inibidores de recaptação da serotonina como cloripamina, setralina, entre outros. Segundo Graeff, especialista na área, inibidores de recaptação de serotonina, possivelmente envolvidos com o TOC,
“Animais, como aves e mamíferos, possuem emoções e sentimentos ”
tem função e localização muito próximas em animais e seres humanos”, argumenta a estudante. Marta Fisher, bióloga, zoóloga e aracnóloga, explica que em países como a Europa as pessoas conseguem igualar animais e seres humanos, acreditando que ambos possuem os mesmos direitos e merecem o mesmo bem-estar de vida. No Brasil, de acordo com Marta, o mesmo não acontece. “As pessoas possuem uma pré-disposição para reconhecer que os animais possuem sentimentos e emoções, porém acreditam que homens e animais são bem diferentes”, afirma a bióloga. “Ainda estamos na fase inicial da educação ambiental sobre bem-estar animal no Brasil”, diz Marta. Ela argumenta que há três etapas que compõe o processo de mudança de comportamento de uma sociedade. A primeira delas é a informação. Por segundo, um diagnóstico deve
Foto: Tiago Andre
Bem estar animal precisa de atenção
Marta Fisher cuidando do bem-estar de Mega, o caramujo
identificar cada público-alvo. Por fim vem a conscientização, processo individual de cada um. Apesar de o país ainda estar no primeiro estágio de educação, algumas medidas já existem. Um exemplo disso é o trabalho realizado pela ONG WSPA, a maior federação de organizações de bem-estar animal do
mundo. Seus trabalhos são focados em acabar com os maus tratos animais (de produção e de estimação) por meio de campanhas governamentais e da criação de leis de proteção animal. Gabriela Campos Tiago Andre
esporte
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Curitiba, junho de 2011
um dos esportes mais tradicionais do mundo
Turfe é amizade entre atleta e cavalo O turfe é um esporte muito tradicional em todo o mundo. Envolvendo rotinas fortes de treino, físico exemplar para atletas e muito carinho pelos cavalos, os páreos atraem sempre grandes multidões. Em Curitiba, as corridas ocorrem semanalmente, e envolvem o trabalho de atletas, cavalos e treinadores. Marcos Luis Decki é treinador no Jockey Clube de Curitiba há quatro anos. Na carreira, trabalhou com jóqueis como Leandro Chimenes, e criou paixão pelos cavalos. “Nós criamos amor pelo animal, é como se fosse um filho. Alguém com quem você convive todo dia”, e completa dizendo que o carinho é tanto que acaba sofrendo bas-
tante quando algum cavalo se machuca ou precisa ser sacrificado. A rotina de Decki é intensa. O dia de treinos com os cavalos começa cedo, sempre tendo cuidado para não forçar o animal. “Chego cedo, olho como estão os animais e dou ração. Não forçamos muito nos treinos porque os bons cavalos têm mais chance de se machucar”, conta. Decki não trabalha sozinho, é apoiado por uma equipe formada por veterinários, tratadores e um jóquei, escolhido por ele mesmo. “Como tenho certa experiência em corridas, estudei bastante antes de escolher um atleta. Optei pelo Chimenes porque já havia trabalhado com ele”, adiciona.
“Nós criamos amor pelo animal, é como se fosse um filho”
Por ser um esporte que envolve apostas, a preparação do animal no turfe é essencial para o andamento da corrida. Sempre da raça PSI (Puro-Sangue Inglês), os criadores compram os cavalos ainda novos, observando a descendência. “Precisa ter o ‘pedigree’. Olhamos os irmãos e pais, como se fosse um currículo”, comenta. Decki ainda alerta sobre a importância da confiança do treinador no jóquei. “Jóquei ruim atrapalha na corrida. Um bom jóquei é necessário para pilotar um bom cavalo”, explica. A experiência de Marcos Luis vem da longa carreira. Antes de ser treinador, competiu por anos pelos hipódromos do Brasil. “Comecei cedo, meu tio era jóquei e me levou pra viver com ele”, relata, citando o tio Aílton Rodrigues. O treinador lembra que quando era jóquei muitas vezes precisou perder até 5 kg antes de
Foto: Jhonny Castro
O treinador Marcos Luis Decki é um exemplo de boa relação entre homem e animal no esporte
Joquei treinado por Marcos Luis Decki comemora uma vitória
uma corrida. “Só parei de competir porque tinha dificuldades em manter meu peso” completa. Embora não muito popular no Brasil, o turfe é um esporte muito acompanhado em outras partes do mundo. “Pra quem não conhe-
ce o turfe, se conhecer, não larga mais”, convida Decki. Daphine Augustini Felipe Martins Jhonny Castro
Um esporte que coloca dois galos para brigar em uma arena, e causa muita polêmica fora dela
Foto: Renan Araújo
Rinha de galo é um esporte ilegal que não deixa de ser praticado
João* observa que existe respeito e companheirismo nas rinhas
A rinha de galo é considerada um esporte ilegal, por expor os animais a maus tratos. Mesmo com todos os esforços da polícia para acabar com a prática, continuam sendo realizadas clandestinamente em lugares afastados, como chácaras e sítios. O rinheiro João* afirma categoricamente que toda cidade no Brasil possui ao menos uma rinha de galo.
Participante de rinhas há mais de 50 anos, João conta que começou assistindo, convidado por amigos, e hoje é um galista, termo utilizado para designar os donos de galos de briga. Ele conta que os animais têm valor afetivo. “Você conhece seu galo e ele te conhece, um animal normal só é violento com outros galos”. Os casos de rinha de galo são
enquadrados no artigo 32° da lei 9605/98, que dispõe sobre práticas de maus tratos a animais. Mas de acordo com João, os piores maus tratos são praticados pela própria polícia. “Quem mais agride é a Força Verde, que leva os animais sem nenhum cuidado e até mesmo os sacrifica”. Para João, não há qualquer incitação de violência pelo homem, já que os galos se enfrentam por instinto. Ele afirma que “a Lei fala sobre maus tratos infligidos aos animais pelo homem, a briga de galo é um animal contra o outro”. De acordo com o Tenente Marcel, da Força Verde da Polícia Ambiental, os animais apreendidos estão com freqüência muito machucados, e são encaminhados ao Instituto Ambiental
do Paraná, onde são examinados e recebem tratamentos para seus ferimentos. Sobre os sacrifícios, afirma que só são realizados em casos em que o animal está muito debilitado. Não existem dados relativos a operações envolvendo rinhas de galo, porém de janeiro a abril de 2011 foram apreendidas 804 aves no estado do Paraná, incluindo contrabando de pássaros silvestres, entre outros. Apesar da falta de dados específicos, a informação é de que há pelo menos uma grande operação por mês para estourar uma rinha. Para chegar aos criminosos a polícia depende da denúncia da população. De acordo com o Tenente Marcel são raros os casos
“Toda cidade no Brasil possui ao menos uma rinha de galo”
em que uma patrulha encontra uma rinha. “Geralmente acontece uma denúncia anônima, então é montada uma operação especial para agir no caso”. O telefone para denúncias é o 0800 643 0304, e a ligação é gratuita. O Cabo Alexandre, também do Batalhão da Força Verde, alerta que ao fazer a denúncia, a pessoa deve passar o máximo de informações possíveis, pois isso facilita o trabalho da polícia, e evita casos em que uma operação é montada e não encontra a rinha em plena atividade. “O dono da rinha vai saber que alguém denunciou, e assim ficar um bom tempo sem fazer” completa. *Esse nome foi alterado para preservar a identidade da pessoa.
Daphine Augustini Felipe Martins Jhonny Castro
08
comportamento
Curitiba, junho de 2011
09
Curitiba, junho de 2011
Antes da ideia, animais eram jogados junto com lixo
DENTRO DE CASA, os bichos SÃO humanizados e considerados parte da família
Donos encontram destino para seus animais de estimação
Animais tratados como filhos: faz bem ou mal? Pesquisas indicam que o bom relacionamento entre humanos e animais trazem benefícios a ambos
Várias pessoas têm animais de estimação, mas não sabem ao certo qual destino dar aos bichos quando eles se vão. Muitas vezes, os animais são entregues à prefeitura local, que se desfaz dos corpos de qualquer maneira. Preocupados com esta questão, algumas pessoas tiveram a ideia de encontrar o melhor lugar após o fim das vidas dos animais. Em Colombo, Sandra Fumagalli criou, em 2001, o Jardim do Bom Amigo, cemitério dedicado a animais. A ideia surgiu em 1999, quando a sua cadela de estimação, Tatucha, perdeu a vida. Sandra entregou o animal aos cuidados da prefeitura, que deveria ter cremado Tatucha. Três meses depois, Sandra procurou informações referentes ao animal e teve uma surpresa ao descobrir que Tatucha havia sido jogada numa vala, no aterro
da Caximba, como se fosse lixo. Nesse instante, Sandra sentiu a necessidade de dar aos animais um destino que os respeite. Entre uma burocracia e outra, se passaram dois anos até que Sandra pudesse colocar o Jardim do Bom Amigo em funcionamento. Ainda em Colombo, existe o Pet World Crematório, empreendimento criado pelo mesmo motivo que o Jardim do Bom Amigo. Segundo Léia Consani, filha dos fundadores da empresa, a ideia é manter as pessoas longe do sentimento de descaso, ao qual os donos são submetidos quando deixam seus animais para serem jogados em valas. Ao contrário, tomam “todo tipo de cuidado para que a pessoa se sinta reconfortada e tenha o seu animal por perto mesmo depois da perda. É um jeito de transformar a dor da perda em boas lembranças”.
“A ideia é transformar a dor da perda em boas lembranças”
Imagine se o seu cão falasse. Ou ainda, se o seu cão tivesse um perfil em redes sociais e se comunicasse com os outros cães da cidade através delas. O que para algumas pessoas soa como impossível, para alguns donos de animais de estimação isso já é realidade. As redes sociais vêm crescendo mais a cada ano e para estes animais e seus donos não é diferente. Existem redes sociais destinadas exclusivamente a animais, como a doggyspace.com, a petnet. pt, uniteddogs.com, a PetPremios. com, o PetKurt.com, entre outros. Nesses sites, o bichinho (ou seu dono) pode criar um perfil, adicionar amigos, entrar em comunidades, publicar fotos e, em alguns casos, até escrever um blog. “É uma nova tribo da socieda-
A costureira Arlete do Rocio sempre esteve envolta por animais de estimação. Atualmente, Arlete tem quatro cães, dois gatos e uma ave em casa. Para ela, os animais de estimação fazem parte da família e merecem um descanso agradável. “Quando o Kiko (primeiro cão da costureira) se foi, o meu marido enterrou ele no meu quintal, pois a gente queria que ele tivesse descanso, e não que fosse jogado fora, que nem lixo”. No entanto, “me senti muito mal fazendo aquilo, acho que ele merecia um lugarzinho feito para isso”. Quando Arlete perdeu sua gata, Lady, ficou sabendo que havia um cemitério dedicado aos animais. “Agora ela está em paz, naquele jardim florido. Vou toda semana visitar ela. Afinal, aquele lugar é tão bonito que parece o paraíso, e não apenas um cemitério”. Sérgio Calig Júnior, empresário, nunca gostou muito de animais. “Dei o cãozinho para o meu filho porque ele me pediu muito. Sempre achei que lugar de animal é no mato”. No entanto, numa his-
Foto: Fellipe Gaio
Em Colombo, pessoas buscam transformar a dor da perda em boas lembranças através de cemitérios e crematórios dedicados aos bichos
Flores e enfeites deixam o cemitério para animais com um clima leve
tória inusitada, o cachorro Bobby, salvou a vida de Lucas, filho de Sérgio. “A gente estava na chácara, e o Lucas foi brincar com os bichos. Alguns minutos depois, o Bobby veio correndo que nem um louco e começou a me morder a barra da calça e me puxar, como se quisesse que eu fosse atrás dele. Quando fui, o Bobby me levou até o tanque onde o Lucas estava
quase se afogando, depois de ter escorregado e caído. Me joguei na água e tirei meu filho de lá”. Depois desse episódio, Sérgio passou a dar mais atenção ao bichinho e, quando Bobby faleceu, Sérgio decidiu cremá-lo e mantê-lo em casa. “Eu devia isso a ele. Afinal, ele foi o anjo da guarda do meu filho”. Fellipe Gaio
Na maioria dos casos, é normal ter animais de estimação e trata-los muito bem, mas existem pessoas que tratam esses bichos exatamente como se fossem seus filhos. Na maioria das vezes, estas pessoas costumam ter um cachorro ou algum outro animal a quem se apegar e ensiná-los a agir como um ser humano. De fato, menos custosos e mais fáceis de serem domados, os cachorros, por exemplo, têm a fama de serem os melhores amigos do homem. A estudante de psicologia da UEL, Karen Bisconcini tem um rato como animal de estimação. A curiosa história da garota com o roedor é contada com humor. Segundo ela, no primeiro ano de faculdade, os estudantes do curso fazem um experimento de três meses com um rato de laboratório, no qual os alunos tentam ensinar os bichos a responder seus chamados. “Cada dupla tinha um rato e geralmente damos nomes para eles. Eu e minha dupla conversamos e decidimos batizá-lo de Joaquim Emmanuel Alejandro”, conta.
Ao contrário das outras duplas da turma de Karen, ela e sua amiga iam praticamente todo dia para ver o rato. “No começo, eu não tinha coragem de pegá-lo, mas com o passar do tempo eu passei a ir lá todo dia e a pegar ele, porque minha dupla ficou doente e faltou alguns dias. Enfim, me apeguei demais ao Joaquim, não podia passar um dia sem ver ele, parecia que ele precisava de atenção, afinal vivia preso naquela gaiola e sempre me ajudava nas aulas”, lembrou a estudante de psicologia. No fim dos três meses, os estudantes do curso teriam duas opções: levar o rato para casa ou mandar ele ser sacrificado. Karen não suportou a ideia de matar o animal e decidiu levá-lo para casa. “No primeiro mês, meus pais não chegavam nem perto. Com o tempo, meu pai começou a pegar ele no colo e depois foi a vez da minha mãe. Aos poucos ele foi virando o xodó da casa. Aqui em casa, nada é feito sem pensar no Joaquim. Aliás, ele viaja conosco sempre e até já foi pra praia duas vezes. Mi-
nha mãe conversa com ele o dia todo, cuida dele como se fosse um neto, cobre ele no frio e essas coisas”, completa. Cachorros Vera Flemming, funcionária pública, diz que trata Tobinho, seu cachorro de 13 anos, como um filho, pois aprendeu isso com sua família. Apesar de ter uma filha, ela entende que o cachorro é apenas um animal, mas não deixa de fazer festa com ele. “Ele é tratado com um cachorrinho, mas eu pego ele no colo, faço festa, converso, brinco e tudo mais”, garante ela. Vera lembra também que sua filha Paula, de 13 anos, se dá bem com o cachorro, mas algumas vezes existem brigas sérias entre os dois. “Para a Paula foi uma coisa muito boa, pois ela é filha única e é um companheiro para troca de afeto, tanto de amor quanto de raiva, são situações bem normais. Às vezes ela o trata como um irmão, tem ciúmes dele e coisas assim.” Já Kelly Milanez, formada em
design de móveis na UTFPR, tem duas cachorras de porte grande e entende que são tratados bem até demais, mas explica a situação: “Não considero que seja pela falta de filhos e/ou alguma carência afetiva qualquer, mas por conta das características desse animal de estimação mesmo. Elas são duas companheiras incondicionais e o amor e dedicação também são incondicionais. Geralmente as minhas cadelas causam ciumes em pessoas da minha familia, a minha mãe e o meu namorado são exemplos disso, principalmente o Felipe (namorado de Kelly)”, analisa. A psicóloga Selma Lima analisa esta questão como positiva e que esta relação faz bem ao animal e ao seu dono. “Tanto as pessoas como os animais ganham muito a partir de uma convivência harmoniosa. Pesquisas demonstram que pessoas que convivem com animais apresentar menor incidência de visitas a médicos e menores níveis de depressão, solidão e ansiedade”, comenta.
“Quanto ao tratamento dedicado aos bichos de estimação como se fossem filhos, justifica-se pela relação estreita que se estabelece entre os humanos e seus animais. A interação é tamanha que o afeto aflora de forma natural sendo também encarado de forma natural esta relação. Muitos casais levam em consideração que o animal tem um amor incondicional pelo dono, sem cobranças, independente da situação financeira”, complementa a psicóloga. Segundo Selma, os animais se acostumam com esse tipo de tratamento e se um dia fugirem por algum motivo, irão ficar perdidos, mas “já o cachorro que for resgatado da rua vai conseguir se virar bem. Apesar de todo o afeto que receberam, eles já tem um instinto diferente de um cachorro que já nasceu para ser um animal de estimação”, finaliza.
Felipe Dalke
Donos trocam informações e combinam encontros entre os bichos
Pessoas se passam por seus animais nas redes sociais de que surgiu e tem tudo para dar certo. São cães que, no final de semana, se reúnem para brincar e correr no parque”, disse Rafael Fabrício Xavier, “pai” da cadela Duda. E com essa nova tribo vem uma nova maneira de se comunicar, pois palavras adaptadas ao contexto animal tomam espaço nas redes sociais. Para se cumprimentar, por exemplo, utilizam frases como “Oi, aumigo”, “Auté depois”, “Lambeijos para você”; ou ainda “me audd no MSN?”, “Entra na minha cãomunidade”, “Quem vai no BloCão de Carnaval?”, “Aujude, por favor” e “Vamos marcar um encãotro”. Através das redes sociais, as pessoas trocam informações importantes relativas a cuidados, doações e treinamento para os
animais. Em alguns casos, funcionam como uma espécie de “classificados”, onde as pessoas compram, vendem ou trocam produtos e serviços dedicados aos bichos de
Mais de 50 mil usuários de redes sociais representam seus animais de estimação
estimação, além de marcar encontros dos cachorros para cruzá-los. É comum encontrar perfis de animais, nas redes sociais, em que o bicho diz estar namorando,
e geralmente, as conversas entre eles são como de namorados reais. Para Mônica Campos, essa relação é exclusivamente entre os animais. “A Lilica (cadela de Mônica) se re-
laciona com o namoradinho dela e o dono dele é um amigo próximo, mas a relação é só dos cachorros, não passa disso. Eu tenho namorado e o dono do Roger (namora-
do de Lilica) é casado”, garantiu a publicitária recém-formada. Nesses casos, os donos projetam em si próprios a identidade do seu animal de estimação.
Somente na comunidade “Sou o Lindinho(a) da Mamãe!!!”, do site de relacionamentos Orkut, mais de cinqüenta mil pessoas mantêm esse comportamento de troca de
identidades. Segundo o psicólogo Gilmar de Menezes, isso ocorre devido ao excesso de tratamento afetivo ao animal. “As pessoas gostam tanto dos seus animais de estimação que tentam impor a eles a sua própria rotina, seus próprios gostos, como se o animal fosse parte do seu dono”, explicou Gilmar. Além disso, esse comportamento pode estar relacionado à restrição no tamanho das famílias modernas. “À medida em que o tempo passou, a família ampla, com vários filhos, avós, parentes e empregados deu lugar à família restrita, com o casal, dois filhos (se tanto), raros avós e nenhum parente”, pondera o psicólogo. “E há ainda os solteiros, inúmeros segundo as estatísticas sobre núcleos familiares compos-
tos por uma única pessoa. Daí a interpretação de que os animais substituiriam outros afetos mais importantes”, explica Menezes. Segundo a psicóloga e psicanalista Barbara Alessio, “a relação com os animais é uma exigência profunda e autêntica dos seres humanos, com características próprias. Poderíamos falar de uma ‘pulsão zoófila’, isto é, de uma antiga inclinação para estabelecer relações com outras espécies. Pode ocorrer, é claro, que o vínculo com um animal esteja substituindo outras necessidades, mas trata-se de uma distorção que pode ocorrer também em outras relações e atividades”. Fellipe Gaio
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comportamento
Curitiba, junho de 2011
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Curitiba, junho de 2011
Antes da ideia, animais eram jogados junto com lixo
DENTRO DE CASA, os bichos SÃO humanizados e considerados parte da família
Donos encontram destino para seus animais de estimação
Animais tratados como filhos: faz bem ou mal? Pesquisas indicam que o bom relacionamento entre humanos e animais trazem benefícios a ambos
Várias pessoas têm animais de estimação, mas não sabem ao certo qual destino dar aos bichos quando eles se vão. Muitas vezes, os animais são entregues à prefeitura local, que se desfaz dos corpos de qualquer maneira. Preocupados com esta questão, algumas pessoas tiveram a ideia de encontrar o melhor lugar após o fim das vidas dos animais. Em Colombo, Sandra Fumagalli criou, em 2001, o Jardim do Bom Amigo, cemitério dedicado a animais. A ideia surgiu em 1999, quando a sua cadela de estimação, Tatucha, perdeu a vida. Sandra entregou o animal aos cuidados da prefeitura, que deveria ter cremado Tatucha. Três meses depois, Sandra procurou informações referentes ao animal e teve uma surpresa ao descobrir que Tatucha havia sido jogada numa vala, no aterro
da Caximba, como se fosse lixo. Nesse instante, Sandra sentiu a necessidade de dar aos animais um destino que os respeite. Entre uma burocracia e outra, se passaram dois anos até que Sandra pudesse colocar o Jardim do Bom Amigo em funcionamento. Ainda em Colombo, existe o Pet World Crematório, empreendimento criado pelo mesmo motivo que o Jardim do Bom Amigo. Segundo Léia Consani, filha dos fundadores da empresa, a ideia é manter as pessoas longe do sentimento de descaso, ao qual os donos são submetidos quando deixam seus animais para serem jogados em valas. Ao contrário, tomam “todo tipo de cuidado para que a pessoa se sinta reconfortada e tenha o seu animal por perto mesmo depois da perda. É um jeito de transformar a dor da perda em boas lembranças”.
“A ideia é transformar a dor da perda em boas lembranças”
Imagine se o seu cão falasse. Ou ainda, se o seu cão tivesse um perfil em redes sociais e se comunicasse com os outros cães da cidade através delas. O que para algumas pessoas soa como impossível, para alguns donos de animais de estimação isso já é realidade. As redes sociais vêm crescendo mais a cada ano e para estes animais e seus donos não é diferente. Existem redes sociais destinadas exclusivamente a animais, como a doggyspace.com, a petnet. pt, uniteddogs.com, a PetPremios. com, o PetKurt.com, entre outros. Nesses sites, o bichinho (ou seu dono) pode criar um perfil, adicionar amigos, entrar em comunidades, publicar fotos e, em alguns casos, até escrever um blog. “É uma nova tribo da socieda-
A costureira Arlete do Rocio sempre esteve envolta por animais de estimação. Atualmente, Arlete tem quatro cães, dois gatos e uma ave em casa. Para ela, os animais de estimação fazem parte da família e merecem um descanso agradável. “Quando o Kiko (primeiro cão da costureira) se foi, o meu marido enterrou ele no meu quintal, pois a gente queria que ele tivesse descanso, e não que fosse jogado fora, que nem lixo”. No entanto, “me senti muito mal fazendo aquilo, acho que ele merecia um lugarzinho feito para isso”. Quando Arlete perdeu sua gata, Lady, ficou sabendo que havia um cemitério dedicado aos animais. “Agora ela está em paz, naquele jardim florido. Vou toda semana visitar ela. Afinal, aquele lugar é tão bonito que parece o paraíso, e não apenas um cemitério”. Sérgio Calig Júnior, empresário, nunca gostou muito de animais. “Dei o cãozinho para o meu filho porque ele me pediu muito. Sempre achei que lugar de animal é no mato”. No entanto, numa his-
Foto: Fellipe Gaio
Em Colombo, pessoas buscam transformar a dor da perda em boas lembranças através de cemitérios e crematórios dedicados aos bichos
Flores e enfeites deixam o cemitério para animais com um clima leve
tória inusitada, o cachorro Bobby, salvou a vida de Lucas, filho de Sérgio. “A gente estava na chácara, e o Lucas foi brincar com os bichos. Alguns minutos depois, o Bobby veio correndo que nem um louco e começou a me morder a barra da calça e me puxar, como se quisesse que eu fosse atrás dele. Quando fui, o Bobby me levou até o tanque onde o Lucas estava
quase se afogando, depois de ter escorregado e caído. Me joguei na água e tirei meu filho de lá”. Depois desse episódio, Sérgio passou a dar mais atenção ao bichinho e, quando Bobby faleceu, Sérgio decidiu cremá-lo e mantê-lo em casa. “Eu devia isso a ele. Afinal, ele foi o anjo da guarda do meu filho”. Fellipe Gaio
Na maioria dos casos, é normal ter animais de estimação e trata-los muito bem, mas existem pessoas que tratam esses bichos exatamente como se fossem seus filhos. Na maioria das vezes, estas pessoas costumam ter um cachorro ou algum outro animal a quem se apegar e ensiná-los a agir como um ser humano. De fato, menos custosos e mais fáceis de serem domados, os cachorros, por exemplo, têm a fama de serem os melhores amigos do homem. A estudante de psicologia da UEL, Karen Bisconcini tem um rato como animal de estimação. A curiosa história da garota com o roedor é contada com humor. Segundo ela, no primeiro ano de faculdade, os estudantes do curso fazem um experimento de três meses com um rato de laboratório, no qual os alunos tentam ensinar os bichos a responder seus chamados. “Cada dupla tinha um rato e geralmente damos nomes para eles. Eu e minha dupla conversamos e decidimos batizá-lo de Joaquim Emmanuel Alejandro”, conta.
Ao contrário das outras duplas da turma de Karen, ela e sua amiga iam praticamente todo dia para ver o rato. “No começo, eu não tinha coragem de pegá-lo, mas com o passar do tempo eu passei a ir lá todo dia e a pegar ele, porque minha dupla ficou doente e faltou alguns dias. Enfim, me apeguei demais ao Joaquim, não podia passar um dia sem ver ele, parecia que ele precisava de atenção, afinal vivia preso naquela gaiola e sempre me ajudava nas aulas”, lembrou a estudante de psicologia. No fim dos três meses, os estudantes do curso teriam duas opções: levar o rato para casa ou mandar ele ser sacrificado. Karen não suportou a ideia de matar o animal e decidiu levá-lo para casa. “No primeiro mês, meus pais não chegavam nem perto. Com o tempo, meu pai começou a pegar ele no colo e depois foi a vez da minha mãe. Aos poucos ele foi virando o xodó da casa. Aqui em casa, nada é feito sem pensar no Joaquim. Aliás, ele viaja conosco sempre e até já foi pra praia duas vezes. Mi-
nha mãe conversa com ele o dia todo, cuida dele como se fosse um neto, cobre ele no frio e essas coisas”, completa. Cachorros Vera Flemming, funcionária pública, diz que trata Tobinho, seu cachorro de 13 anos, como um filho, pois aprendeu isso com sua família. Apesar de ter uma filha, ela entende que o cachorro é apenas um animal, mas não deixa de fazer festa com ele. “Ele é tratado com um cachorrinho, mas eu pego ele no colo, faço festa, converso, brinco e tudo mais”, garante ela. Vera lembra também que sua filha Paula, de 13 anos, se dá bem com o cachorro, mas algumas vezes existem brigas sérias entre os dois. “Para a Paula foi uma coisa muito boa, pois ela é filha única e é um companheiro para troca de afeto, tanto de amor quanto de raiva, são situações bem normais. Às vezes ela o trata como um irmão, tem ciúmes dele e coisas assim.” Já Kelly Milanez, formada em
design de móveis na UTFPR, tem duas cachorras de porte grande e entende que são tratados bem até demais, mas explica a situação: “Não considero que seja pela falta de filhos e/ou alguma carência afetiva qualquer, mas por conta das características desse animal de estimação mesmo. Elas são duas companheiras incondicionais e o amor e dedicação também são incondicionais. Geralmente as minhas cadelas causam ciumes em pessoas da minha familia, a minha mãe e o meu namorado são exemplos disso, principalmente o Felipe (namorado de Kelly)”, analisa. A psicóloga Selma Lima analisa esta questão como positiva e que esta relação faz bem ao animal e ao seu dono. “Tanto as pessoas como os animais ganham muito a partir de uma convivência harmoniosa. Pesquisas demonstram que pessoas que convivem com animais apresentar menor incidência de visitas a médicos e menores níveis de depressão, solidão e ansiedade”, comenta.
“Quanto ao tratamento dedicado aos bichos de estimação como se fossem filhos, justifica-se pela relação estreita que se estabelece entre os humanos e seus animais. A interação é tamanha que o afeto aflora de forma natural sendo também encarado de forma natural esta relação. Muitos casais levam em consideração que o animal tem um amor incondicional pelo dono, sem cobranças, independente da situação financeira”, complementa a psicóloga. Segundo Selma, os animais se acostumam com esse tipo de tratamento e se um dia fugirem por algum motivo, irão ficar perdidos, mas “já o cachorro que for resgatado da rua vai conseguir se virar bem. Apesar de todo o afeto que receberam, eles já tem um instinto diferente de um cachorro que já nasceu para ser um animal de estimação”, finaliza.
Felipe Dalke
Donos trocam informações e combinam encontros entre os bichos
Pessoas se passam por seus animais nas redes sociais de que surgiu e tem tudo para dar certo. São cães que, no final de semana, se reúnem para brincar e correr no parque”, disse Rafael Fabrício Xavier, “pai” da cadela Duda. E com essa nova tribo vem uma nova maneira de se comunicar, pois palavras adaptadas ao contexto animal tomam espaço nas redes sociais. Para se cumprimentar, por exemplo, utilizam frases como “Oi, aumigo”, “Auté depois”, “Lambeijos para você”; ou ainda “me audd no MSN?”, “Entra na minha cãomunidade”, “Quem vai no BloCão de Carnaval?”, “Aujude, por favor” e “Vamos marcar um encãotro”. Através das redes sociais, as pessoas trocam informações importantes relativas a cuidados, doações e treinamento para os
animais. Em alguns casos, funcionam como uma espécie de “classificados”, onde as pessoas compram, vendem ou trocam produtos e serviços dedicados aos bichos de
Mais de 50 mil usuários de redes sociais representam seus animais de estimação
estimação, além de marcar encontros dos cachorros para cruzá-los. É comum encontrar perfis de animais, nas redes sociais, em que o bicho diz estar namorando,
e geralmente, as conversas entre eles são como de namorados reais. Para Mônica Campos, essa relação é exclusivamente entre os animais. “A Lilica (cadela de Mônica) se re-
laciona com o namoradinho dela e o dono dele é um amigo próximo, mas a relação é só dos cachorros, não passa disso. Eu tenho namorado e o dono do Roger (namora-
do de Lilica) é casado”, garantiu a publicitária recém-formada. Nesses casos, os donos projetam em si próprios a identidade do seu animal de estimação.
Somente na comunidade “Sou o Lindinho(a) da Mamãe!!!”, do site de relacionamentos Orkut, mais de cinqüenta mil pessoas mantêm esse comportamento de troca de
identidades. Segundo o psicólogo Gilmar de Menezes, isso ocorre devido ao excesso de tratamento afetivo ao animal. “As pessoas gostam tanto dos seus animais de estimação que tentam impor a eles a sua própria rotina, seus próprios gostos, como se o animal fosse parte do seu dono”, explicou Gilmar. Além disso, esse comportamento pode estar relacionado à restrição no tamanho das famílias modernas. “À medida em que o tempo passou, a família ampla, com vários filhos, avós, parentes e empregados deu lugar à família restrita, com o casal, dois filhos (se tanto), raros avós e nenhum parente”, pondera o psicólogo. “E há ainda os solteiros, inúmeros segundo as estatísticas sobre núcleos familiares compos-
tos por uma única pessoa. Daí a interpretação de que os animais substituiriam outros afetos mais importantes”, explica Menezes. Segundo a psicóloga e psicanalista Barbara Alessio, “a relação com os animais é uma exigência profunda e autêntica dos seres humanos, com características próprias. Poderíamos falar de uma ‘pulsão zoófila’, isto é, de uma antiga inclinação para estabelecer relações com outras espécies. Pode ocorrer, é claro, que o vínculo com um animal esteja substituindo outras necessidades, mas trata-se de uma distorção que pode ocorrer também em outras relações e atividades”. Fellipe Gaio
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geral
Curitiba, junho de 2011
Faltam informação e conscientização dos pescadores na atividade pesqueira
Polícia combate pesca predatória
Somente nos quatro primeiros meses deste ano foram apreendidos mais de 24 mil metros de redes de pesca, 49 tarrafas, 571 kg de pescados, 3 dúzias de caranguejos e 113 kg de camarão, segundo dados da Polícia Ambiental do Paraná. A fiscalização da pesca predatória tem sido reforçada no estado e muitas ações têm obtido sucesso, pois denúncias anônimas colaboram com o trabalho policial. As leis são determinadas pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e pelo IBAMA, e a vistoria é feita pela Polícia Ambiental, afirma o tenente Álvaro Gruntowski. Ele diz que para que as mesmas sejam feitas é realizado uma negociação entre técni-
cos do IBAMA, pesquisadores e pescadores. Algumas irregularidades exercidas pelos pescadores são a pesca com malha fina, pesca de rede na praia e a pesca no período do defeso, que é quando as espécies se reproduzem, desovam ou estão no período juvenil. A pesca pode ser considerada predatória quando é realizada sem autorização dos órgãos competentes, em períodos proibidos, com utilização de aparelhos, técnicas e métodos não permitidos, assim como a captura de espécies preservadas. Muitos pescadores afirmam não conhecer as leis e isso os leva a cometer o crime. Existem dois tipos de pesca,
“ Pesca predatória é um dos maiores fatores de extinção”
a amadora e a profissional. Na primeira é permitido o uso de alguns petrechos simples como a linha e molinete, pois ela tem fim esportivo. E a segunda, com maior poder de captura, é realizada como profissão, podendo ser usadas redes e tarrafas. Para as duas modalidades é necessário ter a licença para pesca que pode ser adquirida no Ministério da Pesca e Aquicultura. Na opinião de Reinold Baudisch, profissional da pesca esportiva, o que leva os pescadores a realizar essa ilegalidade é a ignorância e ganância. “Alguns amadores também utilizam redes, tarrafas e espinhéis, sendo que por lei é proibido. E há os profissionais que utilizam este meio para sobreviver”, acrescenta Reinold. A pesca predatória é um dos maiores fatores de extinção de espécies afirma Jean Vitule, pro-
Rosane Cadena
Cada espécie tem sua época de reprodução e desova que devem ser respeitadas conforme as determinações do IBAMA e do IAP
Policia Ambiental é a responsável pela fiscalização da pesca.
fessor de ecologia da UFPR. “No futuro próximo, por exemplo, um prato de sardinha poderá se tornar uma iguaria cara e rara”, informa Vitule. O IPE (Instituto de Pesquisas Ecológicas) criou a cartilha da
Gestão Participativa da Pesca no litoral do Paraná, que utiliza ilustrações e uma linguagem simples para melhor compreensão dos pescadores. Rosane Cadena
veganos lutam por melhor tratamento aos animais e por uma vida sem carnes
Vegetarianos usam blogs e sites para divulgar suas causas Aproximadamente dois bilhões de animais foram abatidos somente este ano no país, segundo dados da ABIEC (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne). Os vegetarianos, também conhecidos como veganos, preocupados com esses números aproveitam a influência das redes sociais e sites para expandir as causas do vegetarianismo, e trazer cada vez mais adeptos a esse estilo de vida. Existem dezenas de blogs, páginas no facebook e twitter, que defendem o vegetarianismo e suas diversas causas em defesa ao meio ambiente e ao direito dos animais. Também há diversos documentários e filmes que denunciam a forma como os animais são tratados desde a criação até o abatimento. “Mais do que como esses animais são abatidos é preciso, através da sensibilização, fazer com que as pessoas pensem em que estão comendo, e
Sites, blogs e redes sociais auxiliam na divulgação do vegetarianismo.
de que forma os animais de onde vem as carnes que consomem, estão sendo tratados”, diz Jorge Brand, vegetariano há 15 anos. Vegetarianismo é o regime alimentar, que exclui da dieta todos os tipos de carne e alimentos derivados e é baseado no consumo de alimentos de origem vegetal. Mais do que a busca por uma vida saudável o vegetarianismo tem muitas outras causas, e a principal delas é a defesa aos animais e a preocupação na forma como eles são abatidos para o consu-
mo. “Sem exceções, animais que são usados e/ou explorados pelos humanos em qualquer situação, estão privados de sua autonomia para viverem suas vidas. Além disso, há muita violência desde o manejo até o abate”, diz Ricardo Laurino, coordenador do grupo de Curitiba da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Adepto da filosofia indiana, o professor de ioga, Jorge Brand, acredita que o vegetarianismo é a forma mais plena de buscar uma vida saudável, respeitando o meio ambiente. “Vi no vegeta-
rianismo uma forma de vida mais benéfica, de mais saúde do corpo, onde a compaixão pelos animais é o ponto central”. Segundo Jorge, qualquer pessoa pode e deve aderir ao vegetarianismo, desde que alie a isso hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos. “Sempre identifiquei nos animais seres com semelhanças muito maiores do que diferenças em relação aos humanos”, comenta Ricardo Laurino que é vegetariano há 21 anos e optou por esse estilo de vida e lutar pelos ideais
do vegetarianismo, por respeito ao direito dos animais. Helena Maria Simonard Loureiro, professora do curso de nutrição da PUC-PR, afirma que existem inúmeros benefícios em aderir ao vegetarianismo. “Algumas das vantagens em ser “vegano”, são o baixo consumo de gordura saturada e a formação de colesterol quase zero, já que ele esta presente somente nos tecidos animais”. Porém a nutricionista acrescenta que não é recomendado para crianças, gestantes e pessoas com problemas mais sérios de saúde, aderir a essa dieta sem antes consultar um profissional de saúde. “Crianças devem ter a liberdade de decidirem quando crescerem, se querem ou não aderir a esse estilo de vida”, acrescenta Helena Maria. Aline Przybysewski
geral
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Curitiba, junho de 2011
ASSOCIAÇÕES E CANIS ESTÃO SUPERLOTADOS
Faltam vagas e sobram cães nas ruas
De acordo com dados da Secretaria de Saúde de Curitiba, existem cerca de 220 mil cães e gatos semi-domiciliados, que têm donos, mas são maltratados ou criados livremente e mais de 10 mil totalmente abandonados. A situação é preocupante para as associações e protetores, que já não têm mais vagas para os animais, e acabou tornando-se um problema também para as autoridades. Os canis municipais e imensa maioria das associações privadas, que não recebem incentivos nem auxílio do governo, estão com sua capacidade máxima atingida e continuam recebendo pedidos e denúncias de maus tratos.
Para tentar amenizar a situação, a Prefeitura de Curitiba anunciou em outubro passado que irá inaugurar, em junho, o primeiro abrigo público para animais na cidade. Inicialmente o projeto abrigará 80 animais e será localizado no antigo Centro de Controle de Zoonozes, no bairro do Guabirotuba. A data programada se aproxima, mas r e s p on s ávei s da Secretaria Municipal de Meio Ambiente não confirmam a localização, sugerindo que poderá sofrer alteração de endereço, nem tampouco a data de abertura do local. Para Karina Hauer, voluntária da ONG Amigo Animal,
“Acredito que a solução do problema está na educação das pessoas”
80 vagas são insuficientes, pois é possível resgatar este número em apenas uma tarde. Seria mais fácil resolver a situação obtendo uma reeducação da população: “Acredito que a solução do problema do abandono e dos maus-tratos a animais está na educação das pessoas”, afirma Karina. A ONG existe há quase 11 anos, e atualmente mantêm um abrigo para mais de 2000 animais, sobrevivendo somente com a solidariedade e ajuda de voluntários e doadores. Pesquisa A Organização Mundial de Saúde estima uma proporção de 10 pessoas para cada cão nos países desenvolvidos e 7 pessoas para cada cão em países em desenvolvimento, como o Brasil. Censos por amostragem realizados em diversas partes do
Foto: Miguel Rezende
Pesquisa realizada pela Secretaria de Saúde mostra que 48% dos animais de Curitiba estão abandonados ou sofrendo maus-tratos
Karina Hauer dedica seu tempo vago aos animais abandonados
país mostram uma quantidade muito maior de cães, proporcionalmente, com média de apenas 4 pessoas para cada cão. Sendo assim, a capital paranaense, que possui 1,85 milhões de pessoas (IBGE 2009), tem cerca de 460
ÔNIBUS CIRCULA PELAS RUAS DA CIDADE COM A INTENÇÃO DE AJUDAR FAMÍLIAS DE BAIXA RENDA
As operações do “Castramóvel”, feitas por profissionais e alunos voluntários do Departamento de Medicina Veterinária da UFPR, só acontecem em animais que tenham donos e sem complicações clínicas que possam interferir na recuperação. O ônibus, montado pela prefeitura, conta com todos os equipamentos e exigências de um centro cirúrgico, além de um local apropriado para o pós-operatório dos animais. Uma das exigências para a castração é que os animais recebam a identificação eletrônica, ou seja, um microchip que funcionará como um RG com os dados do proprietário e do animal. De acordo com o médico veterinário Rogério Robes, responsável técnico do projeto, além da capital, a UMEES já passou por Antonina, Pinhais, Colombo e São José dos Pinhais. “Procuramos atender as regiões com
Foto: Miguel Rezende
“Castramóvel” atua em áreas carentes
Veterinários no centro cirurgico, dentro do Castramóvel
maior demanda, ou seja, maior número de animais ainda não esterilizados”, conta. Procedimento Idealizado em Curitiba, no ano de 2010, por professores da Universidade Federal do Paraná,
a Unidade Móvel de Esterilização e Educação em Saúde tem como objetivo a castração de cachorros e gatos. O ônibus faz a primeira visita nos bairros para examinar os animais e receber os donos que tenham interesse em castrar seus bichos. Em outro momento, os
voluntários realizam atividades educativas sobre guarda responsável. O animal é encaminhado a uma avaliação clínica e, de pois, à castração. Primeiro ele é depilado, recebe a anestesia e vai para a mesa de cirurgia, que dura, em média, 15 minutos para cães machos, 30 em fêmeas, 5 minutos para gatos e 20 em gatas. Outros benefícios consequentes da esterilização são, por exemplo, o aumento do tempo de vida do animal e a diminuição de problemas com latidos e miados excessivos. Para Robes, apenas a castração não resolve o problema do abandono. “É uma ação momentânea, temos que focar na conscientização da população”, afirma. Mariana Kais de Azevedo Miguel Rezende Paula Lima
mil animais. Mariana Kais de Azevedo Miguel Rezende Paula Lima
DOAÇÕES ASSOCIAÇÃO DO AMIGO ANIMAL www.amigoanimal.org.br BB – Ag. 1518-0 C/C 14938-1 HSBC – Ag. 0152 C/C 04351-31 BRADESCO – Ag. 2015 C/C 19.534-0 ITAÚ – Ag. 0255 C/C 33.336-1 CAIXA – Ag. 1525 C/Poupança 013-2774-9 SOCIEDADE PROTETORA DOS ANIMAIS www.spacuritiba.org.br CNPJ: 75.126.474/0001-83 Banco: Itaú (341) Agência: 8616 Conta Corrente: 15283-4
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economia
Curitiba, junho de 2011
Pedigree de cavalo pode elevar seu valor a 16 milhÕes de dólares
Cavalos geram receitas de R$ 7,3 bilhões Mercado de equinos cresce 20% ao ano e gera 640 mil empregos diretos no país
O mercado de equinos cresce 20% ao ano no país, de acordo com a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo de Hipismo. Uma pesquisa realizada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) mostra que o setor gera uma entrada de capital avaliada em 7,3 bilhões de reais, com mais de 640 mil empregos diretos e 3,2 milhões de indiretos. O Brasil possui aproximadamente 5,8 milhões de cavalos. Segundo Carlos Eduardo Camargo, proprietário da Embryohorse – clínica de inseminação artificial em cavalos e gados –, os empregos gerados pelos cavalos são mais numerosos do que os da indústria automobilística. Ele conta que a equideocultura pode servir como investimento devido ao que pode ser comercializado dos animais. “Os valores variam de acordo com a raça e/ou com a premiação do cavalo”, diz Ca-
margo. O sêmen do equino varia de R$ 1.000 a R$ 20.000, enquanto embriões podem valer de R$ 30.000 a R$ 100.000. Os materiais mais caros vêm da Europa, ficam congelados em botijões de sêmens e depois são vendidos para o Brasil inteiro. O setor esportivo também gera lucro com a corrida de cavalos, chamada Turfe. Roberto Micka, responsável pelo jornal e site Brasil Turfe, afirma que o retorno neste esporte depende da performace do animal. Se uma pessoa aposta em um cavalo favorito com mais chances de vencer - ela ganha R$ 1,50 multiplicado pelo valor da aposta. Quanto menor a chance de vitória da dupla corredora, maior é o valor pago. No Brasil, já tivemos apostas vencedoras que chegaram a R$ 1,5 milhão. A prova com maior premiação do mundo é a “Dubai World Cup”, disputada nos Emirados Árabes. O prêmio é de US$
Licença para transporte aéreo
Cavalo Ligeirinho, corredor de turfe
10 milhões, sendo US$ 6 milhões ao proprietário do animal vencedor. Glória de Campeão, cavalo nascido no Haras Santarém, localizado em São José dos Pinhais, venceu a competição em 2009. Entrar no mundo de cavalos, apesar do retorno visível no investimento, não é barato. Micka
conta que a raça de cavalo de corrida mais valorizada no mercado, puro sangue inglês, aos dois anos de idade pode custar de R$ 3.000 à R$ 500.000. Um equino da mesma raça nos EUA tem seu valor elevado, podendo valer até US$ 16 milhões. Isadora Domingues
Humanização de animais gera custo extra no orçamento familiar
CÃES DO SÉCULO XXI VÃO À CRECHE E À ACUPUNTURA
Fiona voltando da creche
“Os animais estão sendo humanizados pela sociedade a cada dia que se passa”, diz a veterinária Renata Schrouser. Segundo o IBGE, o número de pessoas que moram sozinhas aumentou. Na verdade, essas pessoas não estão sozinhas, grande parte divide o
seu espaço com os animais, em especial, os cães. Isso faz com que sejam criados como filhos, verdadeiros membros da família. As atividades para animais estão mais diversificadas: creche, acupuntura, clínica de estética, dentre outros, e tudo tem um custo que nem todos podem pagar. Segundo a proprietária de uma creche de cães, Regina Martins, as pessoas levam os animais para o estabelecimento para que eles possam se acalmar, pois “99,9% dos animais vivem em apartamento, e isso pode deixa-los estressados”. Outro objetivo do empreendimento é que o cão possa fazer exercícios físicos. “Nunca vi tanto cachorro obeso e com probelam de saúde, como atualmente”, diz Regina. Essa atividade tem o custo semelhante a uma creche de criança. “A diária sai em torno de R$ 20,00, sendo que temos os paco-
tes para toda a semana, ou parte dela”, diz Regina. Um pacote mensal de cinco dias por semana sai em torno de R$ 350,00, mas existem pacotes mais flexíveis, com apenas alguns dias por semana. A alimentação dos animais na creche não é ofertada. “Hoje, cada cachorro come uma ração diferente, então não tem como oferecer isso a eles, cada dono tem que trazer a lancheira do filho”, diz Regina. Atualmente, existem trinta e dois mensalistas na creche, sendo que por dia comparecem cerca de vinte e cinco cães, fora os animais que vão apenas para banho e tosa. Fernando Rodrigues, analista contábil, é ‘pai’ de Fiona, cão da raça Whippet. Ele diz que ter cachorro é como ter um filho, “você pergunta para as pessoas onde elas deixam seus filhos e descobre que existe uma creche”, completa. O analista afirma que levou
Fiona para creche porque ela fica sozinha no apartamento e acaba destruindo tudo, “mas na creche ela brinca o dia inteiro e fica calma por uns dois dias”, completa. Lilian Rangel, veterinária, faz acupuntura em animais há doze anos. “Algumas pessoas pensam que isso é uma atividade exótica, quando na verdade é um tratamento para o animal” diz. Cada sessão custa em média R$ 30,00 podendo ser adquirido pacotes. “Para que se tenha o efeito desejado, apenas uma sessão não basta, é necessário no mínino dez”, confirma a veterinária. Na clínica, são atendidos cerca de trinta e cinco animais por dia. Segundo Regina, essa humanização nem sempre é favorável ao cachorro. Pintar a unha, colocar roupas exageradas, entre outras atividades, pode prejudicar a saúde do cão. Lidyane Pereira
Muitas pessoas têm vontade de viajar de avião com seu pet, mas não conhecem as condições e exigências necessárias. Saiba como transportar seu animal de estimação em viagens aéreas. Cães, gatos e coelhos, por serem animais de pequeno porte, podem ser transportados com facilidade, pois não são exigidas instalações específicas no aeroporto para embarque e desembarque. Já para animais de médio e grande porte, as condições são diferentes. Todos necessitam de documentação prévia de entrada e saída, regulamentação realizada pelo Ministério da Agricultura e fiscalização da Secretaria de Agricultura. Sem esta documentação necessária, o animal pode ser considerado clandestino e pode ser até sacrificado. Segundo Nelmar Nunes Wendling, médico veterinário e fiscal federal agropecuário do Ministério, o Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, não permite o trânsito dos grandes animais, devido à falta de instalações adequadas para o manejo deles. É necessário que o animal tenha o Certificado de Vacinação anti-rábica, uma caixa de transporte – chamada kennel –, onde o animal possa dar ao menos uma volta completa em torno de si, e atestado de saúde emitido pelo veterinário. No caso da TAM Linhas Aéreas S/A, é cobrada uma taxa de R$90,00, somado ao peso do kennel e do animal multiplicado pelo correspondente a 0,5% da tarifa cheia do trecho a ser voado.
Alexandre Senechal Patrícia I. de Lima Pereira
política
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Curitiba, junho de 2011
espécies exóticas invasoras são segunda causa mundial de perda da biodiversidade
Paraná é pioneiro na proteção ambiental
Com um comitê formado pelas secretarias de educação, meio ambiente, saúde e três ong’s, o IAP atua pontualmente nas causas estaduais o assunto, mas muitos têm falta de informações no momento de adquirir um animal ou uma planta ornamental, não percebendo os riscos que sua ação pode acarretar”, reflete Sílvia. SERVIÇOS: Instituto Hórus: www.institutohorus.org.br
Foto: Virgnia Crema
Na esquerda, a espécie invasora: o caramujo-gigante-africano. A direita o nativo brasileiro: caramujo Mega.
juntamente com os municípios do estado, o IAP pretende criar uma rede de ações. “Nossa percepção, após quatro anos de projeto, é que a chave do sucesso está no esclarecimento público. Ele serve para quebrar paradigmas, e as pessoas podem entender o nosso objetivo com todo este trabalho”, conclui Odete. AÇÕES “As ações estão acontecendo, mas a ajuda dos cidadãos é muito importante. Muitos não sabem nem ao menos quais são as espécies exóticas do seu estado”, comenta Sílvia. Na flora paranaênse destacam-se: o pinus, o eucalipto, a goiaba e o beijinho. Na flora, são exóticos: os pombos, o camundongo, a tilápia, o sagui, a abelha e as diversas espécies de gato e cachorro. Mesmo nossos animais preferidos de estimação podem causar grandes problemas: “o cachorro tem uma ninhada, o dono não sabe o que fazer e acaba abandonando os filhotes na beira de alguma estrada. Esses animais acabam crescendo e se espalhando dentro de áreas de outros predadores, tornando-se, assim, uma espécie exótica inva-
sora” exemplifica Sílvia. Um dos grandes invasores nacionais é o caramujo-giganteafricano, presente em 23 estados brasileiros. A espécie foi introduzida no Brasil em 1988 como alternativa ao cultivo do escargot. Contudo, além da baixa aderência ao prato francês, o caramujo em si não é próprio para consumo. Os produtores, sem ter onde vendê-los, acabaram soltando as criações, que com rapidez invadiram o habitat natural da nossa espécie nativa, o caramujo Mega. Segundo o estudante do 6 º período de Biologia da PUC-PR e participante do Núcleo de Estudos de Comportamento Animal (NEC), Jhonatan Rodrigues de Lima, 29 anos, o invasor traz problemas em três áreas: economia, ecologia e saúde. Nas duas primeiras, pela alta capacidade de devastar as plantações e a flora nativa. Mas, “o caramujo ainda causa problemas de saúde pública. Ele é o transmissor de um verme, angiostrongylus, causador da meningite e de doenças abdominais”, conta Jhonatan. O grande problema permanece na falta de conhecimento sobre o assunto e do descaso de muitos. O volume de ações realizadas em diversos meios, seja na Uni-
“Mesmo nossos animais de extimação podem causar problemas”
versidade, pelas ONG’s ou pelo próprio comitê retoma o foco. “O volume acaba alcançando a atenção dos órgãos estaduais, subindo na agenda de Estados e Municípios, e o próprio Ministério Público tem se preocupado com
Programa para Espécies Exóticas Invasoras no Paraná/ IAP: w w w. i a p . p r. g o v. b r / m o d u l e s /c o n t e u d o /c o n t e u d o . php?conteudo=811 Núcleo de Estudos de Comportamente Animal - PUCPR: http://etologia-no-dia-a-dia.blogspot.com/ Virginia Crema
CURIOSIDADE POLÍTICA
Arquivo
Cerca de 80% dos municípios do estado do Paraná tem conhecimento sobre espécies exóticas invasoras no seu território, contudo, 64% afirmam não realizarem ações para combatê-las. Esses são os dados fornecidos pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Espécies Exóticas Invasoras (EEI) são aquelas que, sem a intervenção direta do homem, avançam sobre as populações locais e ameaçam habitat naturais, causando impactos econômicos, sociais e culturais. Em realidade, as EEI são reconhecidas como a segunda causa mundial de perda da biodiversidade. A coordenadora do Programa do Estado do Paraná para espécies exóticas Invasoras, Odete T. Bertol Carpanezzi, 57 anos, sublinha que essas espécies não têm fronteiras políticas, somente ambientais, o que dificulta o controle das invasões. Destacado internacionalmente, o Programa criado e implantado pelo IAP, é pioneiro. “O Paraná saiu na frente e criou um Comitê Estadual, que engloba as Secretárias do meio ambiente, saúde, educação e agricultura e três ONG’s. O comitê auxilia nas pesquisas, direciona o trabalho de planejamento e acaba chamando atenção para um tema tão importante”, explica Sílvia Ziller, 46 anos, Diretora Executiva e Sócia-fundadora do Instituto Hórus, participante do comitê e a única ONG nacional que trabalha exclusivamente com as espécies exóticas. Entre as políticas implantadas pelo projeto, em 2009 o IAP lançou a primeira lista de espécies exóticas invasoras do Brasil, destacando a fauna e flora estadual. Com as parcerias do Comitê, realiza ações nas escolas estaduais, com videos institucionais, nas rádios, com o programa rádio Saúde, além do programa lançado no mês passado de controle ambintal no Parque Estadual de Vila Velha.. As ações são sustentadas pelas leis federais e estaduais, no âmbito nacional e pela Convenção da Biodiversidade, no âmbito internacional. Con-
Luís Carlos Prestes
o jovem advogado Sobral Pinto, em 1935, assume a defesa de Luis Carlos Prestes, um dos líderes da Intentona Comunista, ação que teve como intuito as defesas dos ideais comunistas de cunho político-institucional contra um goverante autoritário. Dentre as inumeras batalhas que arquitetou, ressalta-se o episódio no qual denunciou o trata-
mento desumano conferido aos presos políticos. Em sua defesa, visto que os direitos e garantias individuais estavam “mascarados” pelo governo autoritárista, usou um recorte de jornal de 1937, em que mostra notícia de que Mansur Karan, em Curitiba, fora condenado à prisão por ter espancado um cavalo até a morte. Sobral utilizou a decisão judicial e usou em defesa do réu a Lei de Proteção aos Animais, na tentativa de resguardar a integridade física dos presos políticos. Segundo suas palavras: “já que a lei dos homens era insuficiente para impedir os açoites, pelo menos que fosse protegido como um animal, para que as torturas cessassem”. Seu cliente, entretanto, só conseguiu a liberdade com a anistia promovida em 1945.
Virginia Crema
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saúde
Curitiba, junho de 2011
tratamentos alternativos ganham novos pacientes por sua eficiência
Animais usam Homeopatia e Florais
Ana Lúcia Girardi e sua cadela Bella tomando seu remédio homeopático
ticos têm as mesmas doenças humanas, principalmente as causadas pelo sedentarismo. Ele conta que as mais tratadas são as comportamentais, como a depressão, medo, ansiedade e agressividade. Também as doenças de pele, ósseas, cânceres, problemas cardíacos e diabetes. Vânia Silveira, fundadora do Centro Brasileiro de Homeopatia Ve t e r i n á r i a , trabalha na área há 23 anos e conta que todos os animais, inclusive os silvestres, respondem da mesma forma. “Já tratei até furão com homeopatia, mas minha especialidade são cães e gatos”, declara. A veterinária homeopata comentou o caso da cadela Pituca, que tinha 70% do estômago tomado por câncer. Somente com a homeopatia ela voltou a se alimentar, ganhou peso e viveu mais 7 meses. “A homeopatia tem respostas positivas mesmo com doenças graves”, destacou. Vânia também comentou
“Nunca mais tratei ele com nenhum outro tipo de remédio”
que o tempo de tratamento homeopático depende da doença, que pode ser aguda ou crônica. Por conta disso o caso pode ser resolvido em horas ou ser tratado a longo prazo. Ana Lúcia Girardi, que tem uma Golden Retriever, raça de caça, começou a tratar seu animal quando tinha 2 meses por ser um cão muito agitado. A Golden chamada Bella, tem quase 4 anos e toma o medicamento até hoje como uma medida preventiva a sua ansiedade. Ana Lúcia descobriu a homeopatia quando seu outro animal de estimação teve sérias complicações por problemas neurológicos. Após esse episódio ela procurou por outros tratamentos, e com isso seu animal se curou e viveu por mais 4 anos. Conforme o que dizem os médicos veterinários, a homeopatia não é tóxica, pois as plantas são matéria-prima e delas são retiradas as essências. Ela não pode ser usada na reposição de nutrientes e hormônios, nem em intervenções cirúrgicas ou emergenciais. Não existe contra-indicação, mas deve ser usada com orientação médica.
Florais de Bach Os Florais de Bach, também usados em humanos, são mais uma das opções de tratamentos alternativos para os animais. Diferente da Homeopatia, os Florais são extratos naturais com essências de flores. Seu uso acontece há mais de 10 anos na Europa, e no Brasil, vem se intensificando há aproximadamente 3 anos. Segundo Márcia Rissato, diretora de marketing da Importado-
ra dos Florais de Bach Originais Mona’s Flowers, “assim como as pessoas procuram tratamentos complementares para elas com mais frequência, também acontece esse aumento de demanda para o mundo Pet, já que os Florais tem como princípio tratar as emoções, e os animais também as tem”. Márcia comentou que as essências de Bach não têm contraindicação, e que agem mais rapidamente em animais e crianças. Também destaca que qualquer animal pode tomar, porém são mais procurados para cães e gatos. Diva Tadeu Silva, terapeuta floral há 20 anos, já teve dois cães que usaram os florais. A primeira foi sua Dachshund Sofia, que sempre foi muito frágil e sofria com fortes medicamentos. Ela contou que Sofia reagia muito bem às essências, principalmente as calmantes. Seu segundo animal de estimação, a Beagle chamada Cherrie, que é uma raça normalmente agitada, também toma os florais calmantes, e segundo Diva, a beagle tem respondido bem ao medicamento. Maria Elisa Brenner Busch Rafaela Carvalho
Foto: Rafaela Carvalho
Homeopatia e Florais de Bach são tratamentos alternativos que podem ser usados em todos os tipos de animais. Não são recomendados somente para problemas que precisam de intervenção cirúrgica e em emergências, segundo veterinários homeopatas. As doenças mais tratadas são as de pele, de comportamento e as causadas pelo sedentarismo. O primeiro médico veterinário a se especializar em homeopatia animal no Brasil, Antonio Sampaio, explica que o tratamento aplicado em animais é o mesmo usado em humanos. Ele conta que os animais reagem muito bem à homeopatia, porém existem os obstáculos de cura, que são variáveis que interferem no animal. “Um exemplo, é quando a doença está em nível avançado ou em estado terminal, e quando o dono não medica corretamente”, afirma Sampaio. O veterinário diz que a homeopatia é considerada mais científica do que a ciência normal, pois analisa tudo o que está envolvido, não somente os sintomas. Uma consulta pode durar até mais de 3 horas, e nela são verificados os aspectos mentais, físicos e gerais, no qual é gerado um perfil do paciente para utilizar o composto específico dentre os 5 mil existentes. Eva Bertagnoli, dona do Lhasa Apso Dudu de 6 anos, procurou a homeopatia para o cão devido ao seu comportamento agressivo quando filhote, e por uma inflamação no ouvido que não foi resolvida com alopatia – remédios tradicionais. Atualmente o cão recebe tratamento para artrose, dores de estômago e alergia. “Nunca mais tratei ele com nenhum outro tipo de remédio”, conta Eva. O homeopata Antonio Sampaio afirma que animais domés-
Foto: Maria Elisa Brenner Busch
Os compostos, não tão conhecidos no Brasil, amenizam problemas comportamentais, de pele, ósseos e até cancerígenos
Vânia Silveira, veterinária homeopata e sua caixa de medicamentos
Cidades
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Curitiba, junho de 2011
AS HISTÓRIAS DE CÃES QUE SALVARAM VIDAS
Heróis de quatro patas
Laila, a cachorrinha que virou heróina ao salvar a vida de um bebe em Curitiba, e seu dono Helmuth
Outros Casos
Em troca do grande feito, Laila só pede atenção e afeto de seu dono
atenção de seus donos, o casal Helmuth Kroska, 83 anos, e Lucia Khoska, 76 anos, além da filha Lucia Helena. Helmuth conta que a cachorra tem bom comportamento e não costuma latir à noite. Porém, naquela quinta feira, que chegou a registrar uma das menores temperaturas na capital, o comportamento diferente de Laila fez com que a filha do casal fosse até o portão ver o que a incomodava. “Eram quase 10 horas da noite. Nós já
mente 3 dias, estava envolta em um cobertor que acabou se abrindo com os movimentos da criança. Segundo Helmuth, o bebe já apresentava sinais de hipotermia, tendo os dedos das mãos arroxeados. O casal chamou os bombeiros e a criança foi encaminha ao Hospital do Trabalhador. Laila não sabe que salvou uma vida, e a única coisa que pede em troca do grande feito é a atenção do dono, deixando a bolinha em seu pé para que ele a jogue para ela.
“A sociedade não enxerga o real valor desses animais incríveis”
Diferente de Laila, o cão Cel, da raça Pastor Alemão, não teve o mesmo reconhecimento por parte de seus donos. Atingido com dois tiros em um assalto, o cão que protegeu um casal acabou abandonado em um terreno baldio por aqueles que deveriam ser seus protetores. Deixado para morrer, o cão foi resgatado por uma ONG, que tratou do animal com todos os cuidados que pode. Tido como verdadeiro herói, Cel foi envenenado e morreu pouco tempo depois de ser salvo. Ana Elis Costa, que acompanhou o caso de perto, relata a indignação com a história: “Assim como o Cel, outros cães sofrem com a violência e o descaso da sociedade, que não enxerga o real valor desses animais incríveis”. A morte também foi o fim para dois cães policiais, que em seu trabalho para ajudar a nação e protejer seus donos acabaram atingidos por tiros em uma perseguição policial. (Box) Fidelidade A amizade e fidelidade animal já foram tema de livros e filmes, como o famoso “Sempre ao seu lado”, com o ator Richard Gere. O longa, inspirado em uma história real, conta o drama vivido por Hachiko, um cão da raça
akita, que não abandona o seu dono nem após a morte do mesmo. Em 2009, um caso semelhante aconteceu no bairro Boqueirão, em Curitiba. Abraão Camilo, 22 anos, foi alvejado com 10 tiros depois de se envolver em uma briga em uma lan house. Ins-
tantes depois, o cachorro chega e encontra o corpo do dono, já sem vida. O animal se aninha no braço de Abraão e só sai quando o carro do IML recolhe o corpo horas depois. Márcio Barros, 37 anos, está acostumado a presenciar cenas dramáticas. Atuando como jornalista policial, conta que nas cenas de crimes sempre há cães. “Além das crianças, que infelizmente estão cada vez mais presentes em situações de assassinato, os cães também sempre estão perto dos corpos”, revela o jornalista. Crenças de povos antigos já citavam o animal como ligação à passagem entre a vida e a morte, guia das almas dos homens no seu percurso até ao paraíso ou guardião das portas do inferno.
Camila Galvão
Cães policiais morrem em ação
Foto: Divulgação
estávamos nos preparando para deitar e a Laila não parava de latir. Minha filha saiu de casa e já ouviu o choro do bebe que estava em frente ao nosso portão.” A pequena menina, de aproximada-
Foto: Camila Galvão
Oito milhões. Esse é o número de crianças abandonadas no Brasil. Apenas na grande São Paulo uma criança é abandonada por dia pela mãe. Os dados, que foram levantados pela Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, não são oficiais, mas tentam mostrar a cara do descaso no país. Na capital paranaense não existem números específicos sobre o abandono de incapaz, mas os casos não são raros. No inicio do mês de junho, em menos de uma semana, duas recém nascidas foram abandonadas no bairro Uberaba em Curitiba. Uma foi encontrada morta, dentro de uma caixa de sapatos, na praça do bairro. A outra teve a sorte mudada por um pequena heróina. Na quinta feira, dia 9, cachorrinha Laila, de quatro anos, latiu insistentemente até chamar
Foto: Camila Galvão
Melhores amigos do homem, os cães provam por que são os animais mais fiéis aos donos em vida e após a morte
Cães foram cremados em cerimônia com honras militares
Todo PM que morre em serviço recebe honras militares. Dox e Lyon eram considerados oficiais e foram homenageados em suas despedidas. Os cães, que morreram durante uma perseguição policial em Belo Horizonte (17/05), estavam na corporação desde os 4 meses e faltava pouco para a aposentadoria. Não só os policiais sentem a falta dos animais, a cachorrinha Ula, irmã de Dox ficou horas na carroceria de um carro desde o ocorrido. Foi o último lugar onde o irmão esteve. Dox e Lyon não escolheram ter uma “profissão”, mas defenderam os policiais com a própria vida, deixando oficiais com a sensação de ter perdido alguém da família.