CURITIBA, JUNHO DE 2012 - ANO 16 - NÚMERO 206 - 3º PERÍODO DE JORNALISMO NOTURNO DA PUCPR
opinião
Curitiba, junho de 2012
CURITIBA DÁ UM SALTO NAS ESTATÍSTICAS DE CRIMINALIDADE
Eu, robô. Tu, repressão. Ele, desigualdade A todos nós, bem vindos a um mundo de crimes e violência.
Em conversas tipicamente curitibanas, que vestem bem o traje da trivialidade, não é difícil se ouvir observações já marcadas pela falta de tempero – “Será que hoje chove? Porque, em Curitiba, nunca dá pra saber!”, que tomam conta de uma avareza coloquial bastante regular ao nosso povo. Coisa de curitibano. Mas há quem diga que os bons tempos eram esses, em que se tinha o clima como maior inimigo social. O antigo cenário foi desfigurado. Agora, o que se escuta, em diálogos ligeiros dentro do biarticulado, carregados de susto e medo, é a transformação silenciosa daquela cidade boa de morar, que satirizava, com bairrismo, aquelas outras mais famosas e litorâneas, mas infectadas por um vírus difícil de combater: a violência. Hoje, o curitibano é refém do medo. Em dez anos, segundo o Mapa da Violência 2012, divul-
gado pelo Instituto Sagari, Curitiba pulou da 20ª para a 6ª posição, entre as capitais mais violentas do país. Esse salto em queda livre representa um aumento de 266% na taxa de homicídios. Ressaltase, também, a raridade dessa progressão: uma cidade que possuía bons índices de desenvolvimento, atrasou desproporcionalmente seu ritmo de evolução. Em evidência, a falta de comprometimento governamental em, ao menos, tentar manter os índices. E o que tem promovido com tanto sucesso a violência em Curitiba? Alguns especialistas indicam o crescimento não sustentável do espaço, aliada a limitada presença do poder público, que abrem brechas à marginalização e práticas criminosas. E, por não conseguir mais conter o descontrole instaurado, o Estado cria políticas agressivas de repressão, que não curam a desigualdade social, a discriminação,
a fome, entre tantos outros desequilíbrios sociais causados pela negligência pública. Dispersam e espalham o crime, trazendo terror aos cidadãos. No Comunicare, desta edição, a reportagem “Crack gera maioria dos crimes”, revela, também, como as drogas alimentam, ainda que indiretamente, este círculo de descaso e ineficiência pública: usuários, dominados pelo vício, praticam furtos e roubos - quando não assassinatos - para sustentar e garantir a continuidade da dependência. Cerca de 80% dos índices de criminalidade, em Curitiba, trazem, como marca social, as drogas como principal reagente. E até os promotores de igualdade social, como professores, estão presos ao encarceramento produzido pela violência. A matéria “Violência contra o professor impõe a lei do silêncio”, evidencia a coerção sofrida por estes
profissionais, que, diariamente, são submetidos a situações de humilhação e medo, em um sistema de ensino inoperante, que não possui estrutura para reabilitar e ajudar alunos em vulnerabilidade social. O irônico é que este mesmo Estado, que aliena sua missão de garantir segurança e humanidade aos seus cidadãos, publiciza campanhas de combate à violência dentro das escolas da rede pública de ensino, como indica a matéria “Estado acredita na educação como arma contra violência”. Entretanto, segundo entidades destinadas ao estudo da violência, estas ações não serão eficazes, se, junto delas, não forem adotadas medidas que priorizem a verdadeira formação educacional e valorização humana, além da superação das diversas barreiras sociais, que criam zonas de hostilidade dentro das cidades.
FALA, PROFESSORA
“É uma forma de aproximar os alunos ao mercado de trabalho, pelo impacto da prática profissional”. Suyanne Tolentino, professora da PUCPR
FALA, ALUNA
Raffaela Porcote
JORNAL LABORATÓRIO É A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
Comunicare deve presar pela objetividade
O Comunicare é a primeira experiência que muitos estudantes de Jornalismo têm com o jornal impresso. São novos desafios e um caminho longo até descobrir qual o estilo do próprio texto, como abordar uma personagem e que perguntas fazer para o entrevistado. E, depois desse difícil aprendizado, temos de colocar nosso nome à prova e estar abertos para receber críticas. Vida de jornalista é um desafio. Em um jornal diário, recebemos críticas e elogios públicos cotidianamente, por isso o Comunicare também precisa propiciar este tipo de experiência. Nesta edição, de forma geral, o jornal não traz grandes atrativos para o leitor e apresenta apenas grandes blocos de texto. Não há entradas de leitura, como boxes, boxes de pontos, reportagens correlatas e infográficos. Isso deixa a leitura cansativa. As fotos - que poderiam se tornar
aliadas em dinamizar a diagramação das páginas - são, em geral, pobres. Apenas “bonecos” de entrevistados sem contextualização. Por outro lado, a página 8 é um bom exemplo de como articular esses elementos pode deixar a leitura mais prazerosa. Apesar de o Comunicare não ser factual, é preciso evitar o “nariz de cera”, que inibe o interesEXPEDIENTE
se do leitor já na primeira frase. Outro ponto negativo é que algumas reportagens ouviram apenas uma fonte e outras colocaramrepresentantes de assessorias de imprensa de órgãos públicos como entrevistados. Mais uma vez, o leitor sai perdendo e a reportagem fica comprometida. Há ainda alguns erros que poderiam ser sanados com uma boa revisão
Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Diretora do Curso de Jornalismo Mônica Fort
Edição nº 206 | Junho/2012
Jornalista Responsável Cícero Lira - DRT 1681
PUCPR Rua Imaculada Conceição 1.155, Prado Velho - Curitiba/PR www.pucpr.br Reitor Clemente Ivo Juliatto Decana da Escola de Comunicação e Artes Eliane C. Francisco Maffezzolli
Coord. de Projeto Gráfico Alessandro Foggiatto Editor-chefe Guilherme Zuchetti Editor de arte Felipe Raicoski Capa Felipe Raicoski
final antes da impressão. O ponto positivo fica com as reportagens das páginas 9 e 15, que trouxeram pautas de comportamento com bons personagens e deram leveza ao tema.
“ O jornal laboratório dá mais realismo ao que é aprendido em sala de aula. É uma iniciativa interessante”. Damary Escobar, Aluna de Serviço Social da PUCPR
Paola Carriel
foi repórter da Gazeta do Povo e atualmente é mestranda em Sociologia na Universidade Federal do Paraná. Editorias Comportamento: Rodrigo de Lorenzi Cultura: Renan Machado Economia: Shaiene Ramão Educação: Raíssa Melo Entrevista: Diego Laska Esporte: Rodrigo de Lorenzi Geral: Daniela Hendler Opinião: Raffaela Porcote Política: Guilherme Zuchetti Saúde: Diego Laska Trânsito: Fabio Wosniak Tecnologia: Rafaela Gabardo Meio Ambiente: Ademar Santos
NOSSA CAPA
“ Tentamos sair do lugar comum, procurando dar a uma imagem bastante usada para ilustrar crimes um caráter mais conceitual”. Felipe Raicoski
entrevista
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O JORNALISMO POLICIAL SE RENOVOU NA EQUIPE E NA ESCRITA
Um novo olhar para o crime Márcio Barros conta a sua rotina diária difícil no jornalismo policial
Formado pela Universidade Tuiuti do Paraná e Pós-graduado em Gestão de Políticas Públicas e Cidadania na Faculdade Bagozzi, Márcio Barros trabalha como repórter na Tribuna do Paraná e na Rede Massa, inclusive suas reportagens veiculadas no SBT nacionalmente. Focado no jornalismo policial, ele percorre Curitiba e Região Metropolitana em busca de histórias que tem como fato principal a violência. A cobertura dos crimes criou em Márcio uma perspectiva crítica sobre a violência urbana e seus desdobramentos para a segurança pública. Comunicare: Qual a diferença da editoria policial para as outras? A apuração é diferente? Márcio Barros: O que eu percebo é que o jornalismo policial não existe mais, ele mudou, se renovou. Não usamos mais termos chulos, apesar de ser uma capa forte. Não tem mais o “buraco da bala”, não tem mais o morto estirado no chão. É muito mais segurança pública do que jornalismo policial. Às vezes, um assalto numa lotérica tem uma boa história e o triplo homicídio nem tanto. Além da renovação no fazer jornalístico, eu percebo uma mudança nos profissionais que escrevem para essa editoria. O jornalismo policial mudou, somos mais observadores agora. Comunicare: Como você apura a notícia? Quais são as fontes que utiliza? Márcio Barros: Com o tempo você se torna conhecido e as pessoas dão dicas sobre fatos que acontecem. Você mesmo pode ser minha fonte, avisando sobre algum conhecimento trágico, por exemplo. Todas as pessoas podem se tornar fontes. Além disso, obviamente, nós temos as fontes oficiais: o Siate, que chega primeiro no local, a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Instituto Médico Legal (IML).Você cria um leque de opções, até mesmo com os próprios colegas de imprensa. Comunicare: Como ocorre o
Foto: Felipe Raicoski
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Márcio Barros, conta as suas dificuldades no jornalismo policial paranaense
furo jornalístico em sua área? Márcio Barros: Quando ocorre qualquer fato vai a Rede Massa, a RIC, a CNT e a Band, que são quatro veículos de televisão. No rádio são três: a Banda B, Rádio Difusora e a Rádio Colombo. No impresso, apenas a Tribuna. Além do Vegas, que é um site de jornalismo policial. Resumindo são nove emissoras. A notícia quando todos tem conhecimento, deixa de ser furo e a cobertura será mesma. O furo ocorre, quando você recebe uma informação exclusiva, por uma fonte e ela tem relevância. Em flagrante, é o melhor furo. Comunicare: Você acredita que o jornalista precisa ter um conhecimento mais especializado na área? Márcio Barros: O desejável, é pelo menos você saber o básico dos artigos, do Código Processual Penal: 155 (furto) e 157 (roubo). É importante entender essa linguagem, por exemplo: o delegado, muitas vezes, pode usar essa linguagem e se não souber decifrar complica. Por exemplo, se estou ouvindo no Siate: (Mas-
culino/34/3) tem que identificar que é alguém do sexo masculino com 34 anos, o código 3, significa que o estado dele é grave (corre risco de morte).
“O jornalismo policial mudou, somos mais observadores” Comunicare: Qual é o maior crime que você já cobriu? Márcio Barros: Em Rio Branco do Sul, existia uma família desaparecida: o pai, a mãe, as duas filhas e o namorado da filha. O carro foi encontrado queimado. Um policial, alertou para ir no local, pois tinha encontrado algo. Cheguei antes da polícia no local e estavam os cinco corpos estirados no chão, amarrados e um do lado do outro, com a mão para trás. Descobri que quem matou foi um primo que queria um
carro emprestado, para fazer um assalto. Comunicare: Quais os riscos para o repórter numa cobertura policial? Márcio Barros: Os riscos são vários, um dia estava chegando no bairro Tatuquara e tinha duas pessoas assassinadas, no Jardim da Ordem, na Rua da Paz. Quando cheguei, parecia que não tinha nada. Os moradores avisaram que o fato ocorria num bar próximo. Quando estava manobrando uma Parati preta da TV, escutei tiros, sendo que um tiro pegou na lateral e outro no vidro do motorista. Ainda bem que, o carro usado era blindado. Graças a Deus pegou o tiro de diagonal. Esse é um risco real, quando você está numa zona de conflito. Comunicare: Como é a estrutura do jornalismo policial do jornal A Tribuna do Paraná? Márcio Barros: Na Tribuna é bem enxuto, temos um plantão de manhã, três à tarde e uma noite. De manhã, faz as matérias da manhã e o que entra 00h00min até as 13h00min, recupera e vai até a delegacia. Os jornalistas da
tarde fazem matérias relembrando o caso, um deles faz o plantão e outro faz as matérias especiais e notas. À noite fico eu de plantão, das 19h00min até as 00h00min, os crimes que ocorrem nesse horário, sou responsável por cobrir. Além disso, existe o editor e o chefe geral de redação Comunicare: Além de cobrir, os crimes que ocorrem. Quais experiencias passou nos locais em que já trabalhou? Márcio Barros: Eu trabalhava num jornal de bairro metropolitano. Neste jornal, cobria o fato local, tirava foto, dirigia, chegava à redação, escrevia texto e depois editava, diagramava, levava na gráfica, buscava o jornal este local e levava para a banca. Resumindo fazia de tudo no local em que trabalhava. Era cansativo, mas me ajudou e muito a crescer profisssionalmente. Comunicare: Qual a principal característica que o jornalista precisa ter para entrar na editoria policial? Márcio Barros: Quando cheguei à Tribuna passei por um teste de seleção com 10 candidatos. No mesmo dia, tinha que ir para a rua e fazer matéria, porém não sabia que era só texto, coloquei além dele: o título, gravata, suspensório, dica para o editor que aconteceria tal fato, já o concorrente só mandou o texto. Sempre fazer o trabalho bem feito, é o diferencial. Comunicare: Qual são as caractéristicas necessárias para ser um bom jornalista? Márcio Barros: Primeiramente, tem que ter crebilidade, analisar bem as fontes e se possível os dois lados da notícia. Além disso, é importante ter isenção e correção, que são critérios principais para cobrir o fato e ser um bom jornalista em qualquer situação.
Diego Fernando Laska
STF PERMITE INTERROMPER GESTAÇÕES DE FETOS COM ANENCEFALIA
Aborto de anencéfalos não é crime Outros casos complexos também desafiam a Medicina e a Legislação
de Brasília (UnB) e presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto, a questão tem gravidade maior. “Ao considerar que a vida do anencéfalo não é direito a ser protegido, o STF deu à luz uma estranha criatura, o ‘morto jurídico’, desvinculando a ‘vida biológica’ e a ‘vida jurídica’. Além do aborto eugênico, a decisão abre portas para a eutanásia, pois o aborto do anencéfalo não deixa de ser uma eutanásia fetal”, afirma a professora. Justiça Para os advogados Paulo Henrique Ribas e Michel Knolseisen o principal fundamento utilizado pelo STF para justificar a decisão foi a impossibilidade de vida do feto anencéfalo, uma vez
Foto: Arquivo
A decisão do Supremo Tribunal Federal de que mulheres grávidas poderão abortar em caso de gestação de anencéfalo reacendeu as discussões sobre o tema. A partir da votação dos ministros, realizada no mês de abril, as mães não precisarão recorrer à Justiça para conseguir o direito de fazer o aborto de fetos com um defeito na formação do cérebro e da medula. A antecipação do parto só poderá ser realizada após análise médica para comprovação da doença, que acomete o embrião por volta da quarta semana de desenvolvimento. No mês de maio, o Conselho Federal de Medicina, que está em concordância com o resultado do julgamento do STF, definiu critérios para a identificação da doença. Além do diagnóstico, a Resolução CFM 1989/2012 estabelecida pelo Conselho, aborda o apoio a gestante, a decisão autônoma da mesma, o suporte à saúde e o planejamento familiar. A anencefalia pode ser diagnosticada durante o pré-natal, após onze semanas de gestação por exame de ultrassonografia. Os resultados característicos são a ausência parcial do cérebro e da calota craniana, explica a ginecologista e obstetra da clínica Fetalmed, Camila Gomes. “A sobrevida sem a estrutura cerebral é, na maioria dos casos, de poucas horas e a chance de sobrevida por um período prolongado é inviável. A grande maioria das mortes em casos de anencefalia ocorre ainda na vida intrauterina, resultando em aborto ou óbito fetal”, afirma a médica. Esse tipo de gravidez pode submeter a mãe a alguns riscos como o prolongamento da gestação além de 40 semanas, desconforto respiratório devido ao aumento do volume de líquido causado pela falha de deglutição desses fetos, alterações comportamentais e psicológicas, necessidade de bloqueio da lactação, pós-parto com maior incidência de hemorragias maternas por falta de contratilidade uterina e
Casal Croxato decide ter filho após diagnóstico de falta de crânio
maior risco de infecções pós-cirúrgicas devido às manobras obstétricas do parto pela ausência da calota craniana. A anencefalia é letal, não existindo cura ou tratamento. A maioria dos sobreviventes podem ser capazes de realizar movimentos involuntários de engolir, respirar e manter os batimentos cardíacos, já que essas funções são controladas pelo tronco cerebral, região que não é atingida pela anomalia.
Independente das questões médicas e legais, a decisão de interromper a gestação fica a critério da mãe. No entanto, há casos raros que desafiam a medicina. Joana Schmitz Croxato e Marcelo Croxato decidiram levar em frente a gravidez mesmo com a notícia de que o bebê que esperavam era acraniano – não tinha o crânio. De acordo com
Luize Souza Juliana Oshima Liris Weinhardt
O QUE MUDA COM A DECISÃO
os médicos consultados, nestes casos há a formação do tecido cerebral, mas que em contato direto com o líquido amniótico ocasiona a anencefalia. Apesar do diagnóstico de que a criança não viveria após o parto, a filha do casal, Vitória de Cristo, nasceu e está completando dois anos. “Desde quando descobrimos a gestação, com seis semanas, já começamos a amar Antes da decisão do STF, ao diagnosticar a aquele bebê. Com a anencefalia, a gestante tinha que requerer jundescoberta da má to ao Poder Judiciário a autorização para poder formação tão graabortar, uma vez que as únicas hipóteses em ve, passamos a que o aborto não é crime são em caso de estuquerer protegêpro ou quando a gravidez causar risco à vida la e ampará-la. da gestante. A partir da decisão, ao se consNosso desejo foi tatar a doença e a mãe optar pelo aborto, o de dar a nossa deve ser lavrada uma ata em que conste filha toda a oportunidade de vida, o consentimento da gestante ou do seu de respeitar seu direito a lutar”, representante legal e a cirurgia pode afirma a mãe. Vitória necessita de ser realizada em um hospital que acompanhamento multidisciplinar e tenha condições para cuidar terapias, mas é uma criança que surde problemas em caso de preende com suas reações e respostas. complicações. “Ela é tranquila e tem uma boa saúde. Claro que como toda a criança tem dias mais difíceis, em que reclama e chora quando está nascendo dente, quando tem cólica, fica resfriada, como outras crianças da idade dela”, explica. Histórias como a de Vitória de Cristo mostram a complexidade da decisão do STF. Para Lenise Garcia, bióloga, professora da Universidade
“Desde quando descobrimos a gestação, já começamos a amar aquele bebê.”
Exemplo de coragem
que a ausência de parte do cérebro não permite que a criança desenvolva suas atividades vitais. “O aborto de anencéfalo não é crime, pois não há vida a ser tutelada”, explica Henrique. Ainda assim, a interrupção só pode ser realizada mediante laudo médico e consentimento da mãe ou responsável. Os resultados dos exames que comprovam a doença deverão ser assinados por dois médicos com capacidade para tal análise. “O aborto em casos de anencefalia não é uma obrigação. A gestante deve optar e o médico, por sua vez, não poderá exercer nenhum tipo de pressão, seja para a prática do aborto, seja para a continuidade da gravidez”, complementa Michel.
cultura
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DETENTOS SÃO RESSOCIALIZADOS POR MEIO DA ARTE
Oficinarte é “escola da vida”
Projeto do Complexo Médico Penal está entre “As Melhores Práticas” segundo o Governo Federal Há sete anos, o Complexo Médico Penal do Paraná (CMP), localizado em Pinhais, realiza um projeto de recuperação e ressocialização de detentos por meio da arte. A iniciativa, considerada uma das melhores práticas do Sistema Penal Brasileiro, chama-se Oficinarte e é coordenado pela professora e artista plástica Odilia Valim. As peças produzidas pelos presos, que utilizam técnicas artísticas como pintura, escultura e gravura, foram reunidas em exposições por quatro anos seguidos. A última mostra ocorreu em 2008 na Casa Culpi, espaço da Fundação Cultural de Curitiba. Os internos do CMP são condenados que estão encarcerados por medida de segurança, por necessitarem de assistência psicológica ou ambulatorial. Segundo a professora Odi-
lia, os participantes do projeto escolhem livremente as peças que desejam fazer, o que torna o trabalho produtivo, sem que haja imposição para a produção de qualquer obra. “Com a arte, aparece tudo o que a pessoa tem de bom, desaparecendo o ruim”, diz ela. A artista reforça que o principal objetivo do projeto é o resgate da autoestima e a mudança da percepção da sociedade em relação ao preso. Outro ponto importante para Odilia é que o Oficinarte mexe com o subjetivo dos internos e traz a lembrança de que eles continuam vivos e são seres humanos. “Eles mostram seu interior, sonhos, angústias e sentimentos durante o tratamento por meio das atividades artísticas”, revela. Irene Batista, assistente social do complexo, destaca os benefícios que o projeto traz para os
Obra feita por interno do Complexo Médico Penal
preso em motivação”, diz. Ela também cita a importância do projeto na recolocação dos internos na sociedade, pois a
participantes. “O trabalho ajuda a aumentar a autoestima, pois o detento é percebido pela sociedade e transforma a frustração de estar
arte promove um balanceamento emocional em suas vidas. Segundo Irene, a arte faz com que os presos se redescubram. “Se observa que quando a pessoa faz um produto, se manifesta através da arte, equilibra suas emoções, suas contrariedades e consegue se perceber melhor” salienta. A professora Odilia Valim enxerga nos trabalhos “a forma de cada um em interpretar o mundo, transformando as experiências que a vida os proporcionou”, dando à iniciativa um caráter de “escola da vida”. O projeto possui um museu virtual na internet, que pode ser acessado pelo endereço www. oficinarte.pr.gov.br , onde é possível visualizar o acervo desde o ano de 1998, até a última exposição realizada pelo grupo, em 2008. Felipe Raicoski
O MUSEU DO HOLOCAUSTO JÁ RECEBEU MAIS DE DOIS MIL VISITANTES
Museu curitibano é o primeiro do gênero no Brasil Datam de setenta anos os atos antissemitas, praticados pelo Terceiro Reich de Adolf Hitler, que dizimaram grande parte da comunidade judaica europeia. A memória do “Holocausto”, conjunto de atrocidades cometidas pelo partido nazista, foi resgatada por museus em países como Argentina, Estados Unidos e Austrália. No Brasil, Curitiba foi escolhida para receber o primeiro Museu do Holocausto do país. O projeto nasceu por iniciativa da Associação Casa da Cultura Beit Yaacov, presidida pelo empresário Miguel Krigsner. Concretizou-se no final do ano passado e o museu, instalado ao lado do Centro Israelita do Paraná, abriu suas portas em fevereiro desse ano. Krigsner, fundador da O Boticário, acredita que o objetivo maior do projeto é apresentar o Holocausto como um exemplo, dentre tantos outros que representam formas de intolerância a serem combatidas.
A concepção do que era para Krigsner um sonho antigo, se deu há dez anos. Nas viagens que fez pelo mundo, ele visitou diversos museus com a temática do Holocausto. A infinidade de histórias que presenciou nessas visitas, despertou nele a vontade de conceber um espaço semelhante no Brasil. A partir disso iniciou-se o processo de reunião de peças com o objetivo de construir um acervo para o museu, o qual, com o trabalho dos colaboradores e da comunidade, conta com objetos vindos até mesmo do Yad Vashem, o mais importante dos museus do Holocausto, localizado em Jerusalém. Dentre os itens dispostos pelos 400m² do museu, encontramse desde livros e instrumentos musicais a jogos de tabuleiro. Duas salas à frente de uma pilha de livros proibidos, vetados pelos nazistas e condenados à incineração, está uma réplica do instrumento do pequeno judeu violinis-
ta, que fora obrigado a promover entretenimento aos alemães, até o dia em que, com uma bomba escondida e um pavio longo suficiente para sua escapatória, dinamitou um pelotão inteiro de soldados. Um tabuleiro, que deu origem ao jogo “Monopoly” (Banco Imobiliário), também faz parte do acervo. A ideia original partiu de Oswald Poeck, artista tcheco que criou em sua oficina gráfica uma espécie de planta, com o objetivo de auxiliar crianças judias a localizarem-se dentro do gueto de Theresienstadt. Segundo Carlos Reiss, coordenador do museu, a criação do acervo teve grande foco na busca de sobreviventes do Holocausto no Paraná. “Foi levantada uma lista com 82 pessoas, das quais foram encontradas 15. Contatamos as famílias desses sobreviventes com o objetivo de conseguirmos documentos, fotografias ou o que mais resgatasse um pouco da história deles”, afirma.
Foto: Renan Machado
saúde
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Foto: Arquivo
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Livros proibidos que integram o acervo do museu
Além da abordagem histórica, o museu apresenta também propostas de cunho pedagógico. De acordo com Reiss, a função educativa é ofuscar a violência do Holocausto e levantar uma reflexão. “Foi um período terrível, mas deve ser visto como uma lição para afrontar tantos outros holocaustos que se disseminam hoje em dia”, diz. As visitas guiadas e a linguagem do museu, por sua vez, voltadas à abordagem
educacional, dão visibilidade ao espaço. “A procura têm sido grande. O agendamento para escolas está lotado até o mês de agosto”, completa. Para agendar uma visita, acesse o site museudoholocausto. org.br.
Renan Machado
tecnologia
ALERTA PARA PERIGO ELETRÔNICO
Estatísticas mostram que crimes eletrônicos são cada vez mais comuns e população ainda não sabe como proceder
Foto: Rafaela Gabardo
pedofilia, racismo, neonazismo, ntolerância religiosa, apologia e incitação a crimes contra a vida, homofobia e maus tratos contra os animais. No mês de abril, crimes de pornografia infantil lideraram as denúncias com 53%, seguidos por apologia e incitação a crimes contra a vida, que teve 15% das denúncias totais. Rafaela Gabardo
Serviço Delegado Demétrius recebe cerca de 20 denúnicas por dia
cipalmente pelo fato de o tabelião ser possuidor de fé pública, evitando também que a prova se perca caso a página ou site saiam do ar”, alega Martins. Não existe no Brasil uma legislação exclusiva para cuidar de crimes cibernéticos, mas isso não significa que criminosos assim não paguem pelo cometido. “Como aquele que comete um homicídio pode se valer de uma arma de fogo, por sua vez, quem comete um delito contra a honra pode fazer uso da internet para proferir ofensas”, diz Martins. A conduta praticada é julgada de acordo com o código penal brasileiro. “Por exemplo, o desvio de dinheiro de conta corrente é considerado furto qualificado, mediante fraude, devido ao uso da identidade do dono do cartão,
com emprego de destreza, que é o conhecimento tecnológico”, explica Oliveira. Denúncia também é virtual Um grupo de cientistas da computação, professores, pesquisadores e bacharéis em Direito fundou em dezembro de 2005 a SaferNet Brasil, uma entidade referência nacional no enfrentamento aos crimes e violações aos Direitos Humanos na Internet. A organização tem como intuito o enfrentamento aos crimes cibernéticos e pelos acordos de cooperação firmados com instituições governamentais. Por meio do diálogo permanente, a SaferNet Brasil conduz as ações em busca de soluções compartilhadas com os diversos atores da Sociedade
Civil, da Indústria de Internet, do Governo Federal, do Ministério Público Federal, do Congresso Nacional e das Autoridades Policiais. A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos e recebe uma média de 2.500 denúncias por dia envolvendo páginas contendo evidências dos crimes de pornografia infantil ou
Safernet www.safernet.org.br Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber) Rua José Loureiro, 376 – 1º. Andar – sala 1 – Centro Telefone: (0xx41) 3883-8100
Dicas para não ser vítima de Cibercrime - Cuidados com e-mails que contenham arquivos anexados. Se você não está esperando o que está em anexo, não baixe nem abra. - Faça download apenas de sites conhecidos e seguros. - Não clique em links de e-mails com mensagens alertando que você está inadimplente na operadora de telefonia celular, que seu CPF vai ser cancelado ou que seu cadastro no banco precisa ser atualizado. Essas são mensagens maliciosas enviadas com o objetivo de fazer o usuário entregar informações pessoais (phishing). - É importante instalar um bom programa antivírus e baixar as atualizações do programa a cada dois ou três dias.
Foto: Divulgação
- Uma boa senha deve ter pelo menos oito caracteres (letras, números e símbolos) bem misturados para que seja difícil de ser descoberta. Nomes, sobrenomes, números de documentos, placas de carros, números de telefones e datas não devem ser usados como senha porque são fáceis de serem descobertos. - Compre apenas em sites reconhecidos ou recomendados por amigos. Não acredite em ofertas boas demais com preços muito abaixo da média. A atriz Carolina Dieckmann teve fotos íntimas divulgadas na internet
Fonte : http://www.internetresponsavel.com.br
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EDUCADORES SÃO PREJUDICADOS PELA DEMORA E BUROCRACIA NO PROCESSO DE DENÚNCIA
Número de Cibercrimes aumenta
Um estudo da Norton, divulgado em setembro de 2011, revelou que 77 mil usuários brasileiros são vítimas diárias de crimes virtuais como vírus, invasões em redes sociais e mensagens de phishing. Recentemente, Carolina Dieckmann, uma das atrizes mais famosas da televisão, foi vítima desse tipo de crime quando teve fotos íntimas divulgadas na internet. Em pouco tempo, as imagens se espalharam pela rede e foi o assunto mais comentado em sites de relacionamento. Carolina foi vítima de um cibercrime - delito praticado mediante emprego de alguma tecnologia, mais especificamente sofrendo uma violação contra a honra. Os crimes mais comuns desse segmento, de acordo com Demétrius G. de Oliveira, delegado do Núcleo de Combate aos Cibercrimes de Curitiba, são os crimes contra o patrimônio. Essas violações se traduzem em desvio de dinheiro de conta corrente e estelionato. “Quando as pessoas acreditam em ofertas mirabolantes da internet, depositam o dinheiro antecipadamente e acabam não recebendo o produto”, define Oliveira. No caso de um desvio de dinheiro de conta corrente, segundo o delegado, a vítima deve imediatamente imprimir o extrato bancário e comparecer a uma unidade policial. “Se for estelionato, deve juntar toda a documentação relacionada a essa transação, ou seja, material impresso dos sites de compras, emails que trocaram com criminosos, números de telefone que anotaram, e leva até a delegacia”, diz Oliveira. Em segundo lugar estão os crimes contra a honra: calúnia, injúria e difamação. O advogado criminalista Eduardo de Ávila Martins aconselha quem se viu vítima desses crimes a se dirigir a um tabelionato, solicitar que o tabelião acesse a página onde se encontram as ameaças ou ofensas e confeccionar uma ata notarial. “Essa medida se mostra importante, pois é um meio de prova idônea nesses casos, prin-
educação
Violência contra professores impõe a lei do silêncio Agressão verbal e física contra o docente não chega às autoridades e alunos ficam impunes
A violência contra o professor acontece em escolas públicas e particulares. E não há ainda como mensurar, pois além de serem violentados, os educadores são coagidos a ficar em silêncio. É o que diz Mauricio Rosa coordenador de desenvolvimento sócio-educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED). “O professor de escola pública não toma atitudes por estar inserido em uma realidade muitas vezes perigosa e o da rede particular é visto como empregado do aluno”, diz ele. O Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC) aponta que
um dos fatores que contribuem para o silêncio dos professores é a demora e burocracia para os processos necessários de denúncia. Os procedimentos corretos são chamar atenção do aluno em particular, encaminhar a direção e acionar a Patrulha Escolar, e em último caso o Ministério Público. Margarete Souza, professora integrante do sindicato, afirma que a maioria dos professores trabalham em dois ou três colégios e possuem uma carga horária extensa o que torna impossível acompanhar o aluno nas etapas necessárias para concluir a denúncia. “Tem que acompanhar o aluno na Patrulha Escolar e na Delegacia da Criança e Ado-
“Ou melhora sua aula, ou vamos apagá-lo”
lescente, tudo isso demora o dia inteiro”, revela. A SEES tem programas de enfrentamento à violência nas escolas, mas os projetos não incluem pesquisas sobre violência em todas as instituições e também não possui números exatos. As estatísticas baseiam-se no número de ocorrências registradas pela Patrulha Escolar. Escola e comunidade A professora de inglês de um colégio particular de Curitiba, Bianca Marucci relata que uma aluna de 13 anos a agrediu verbalmente e disse que a ela não podia reclamar, pois os alunos são que pagam seu salário. Já no colégio público, um professor que prefere não ser identificado, conta que dois alunos confessaram não gostar de um colega de trabalho e pediram para que ele avisasse a este outro professor
Foto: Felipe Raicoski
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Professores são reféns em sala de aula
“Ou melhora sua aula, ou vamos apagá-lo”, disseram os alunos. A pedagoga Débora Ferreira Wassen afirma que independente do contexto do aluno e professor a solução para enfrentar esse tipo de problema, é conversar e investir na união de pais, escolas,
alunos e comunidade. Só assim, segundo ela, são garantidos o respeito e a educação no ambiente escolar. Aline dos Santos Valkiu João Paulo Nunes Vieira Raíssa Silveira de Melo
PROPOSTA SOBRE ACESSO A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E LAZER EDUCACIONAL É A MAIOR APOSTA PARA SOLUÇÃO DA VIOLÊNCIA
Estado acredita na educação como arma contra violência
O Ministério Público Estadual do Paraná (MP-PR) e a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED) pretendem que até o final dos próximos dois anos, 45% das escolas públicas atuem em período integral. Esta medida deve superar as expectativas do Plano Nacional de Combate a Violência que estabelece a meta de 30% das intuições de ensino de cada cidade dos Estados do Sul do Brasil opere em tempo integral e finais de semana até 2014. Para Adriana Cristina de Araújo Bini, coordenadora técnica da ONG Instituto de Educação para a Não Violência, não basta que as escolas fiquem abertas o dia todo. “É preciso que haja um trabalho intenso de compreensão das relações humanas, focando alunos, pais e principalmente
educadores”. Adriana ainda cita que fortalecer atitudes de ética e respeito, priorizar a formação educacional gerando reflexões e transformação em prol da prática pacifica são medidas bem mais eficazes que a simples operação integral das escolas públicas. “A escola se torna local privilegiado, porque trabalha com conhecimento, valores, atitudes e formação de hábitos. Compreender o papel do ensino nesse contexto é fundamental para refletirmos sobre os determinantes da violência na nossa sociedade e o papel da educação”, diz. O Paraná já conta com unidades públicas abertas aos finais de semana, programas de lazer e cultura, nas escolas e ações de ONGS e da polícia municipal ministrando palestras sobre prevenção da vio-
lência e promoção da cultura da paz. Atendo as medidas propostas pelo programa federal “Prevenção social do crime e das violências e construção da cultura de paz”. Erany Carneiro, ex-diretora do colégio Presidente Lamenha Lins, explica que o professor ganhou novas funções. “Ele deve suprir a ausência dos pais, passar valores, morais e éticos e outras funções que antes cabiam à família. E o grande problema é que professores e escolas fogem deste novo papel, ocasionando uma falha na formação do caráter do estudante. A família não consegue mais dar atenção e educar seus filhos e a escola se limita apenas a passar o conteúdo escolar”.conclui A opinião da ex-diretora é também a mais defendida pelos Curitibanos de acordo com
Foto: Divulgação
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Patrulha escolar trabalha a cultura escolar nas escolas
a pesquisa sobre medidas de solução para violência urbana, realizada pelo MP -PR, em agosto de 2011. As mudanças e melhorias na educação ficam em primeiro lugar com 70% dos votos, dos 15 mil entrevistados, em segundo lugar, está o aumento na remuneração
dos policiais e maiores rigidezes no cumprimento das leis de punição.
Aline dos Santos Valkiu João Paulo Nunes Vieira Raíssa Silveira de Melo
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geral
Curitiba, junho de 2012
OS NÚMEROS DA CRIMINALIDADE EM CURITIBA PREOCUPAM
metropolitana, onde o número de mortes por habitante, apresentam índices ainda mais violentos do que a capital paranaense, como, por exemplo, Colombo, Piraquara e Almirante Tamandaré.
Crack gera a maioria dos crimes
Pelo menos 80% dos assassinatos que acontecem na capital paranaense envolvem o uso e a venda de drogas
O Problema do Crack
Pesquisa feita por Tamires Favaro
Nos primeiros quatro meses de 2012, foram registradas oficialmente 592 mortes em Curitiba e região, com uma média de quase cinco mortes por dia. Na capital paranaense, isoladamente, foram 254 assassinatos, com média de dois crimes por dia. Até a manhã de terça-feira, 15 de maio de 2012, esse número total de crimes em toda Grande Curitiba subiu de 592 para 652, de acordo com o site Crimes Curitiba, de Marcelo Vellinho. Vellinho é jornalista formado em 2004 pela PUCPR e trabalha na Tribuna do Paraná desde dezembro de 2006, lugar em que é repórter e coordenador da editoria de Segurança Pública. Em 2010 se tornou produtor e chefe de reportagem do Programa 190 da Rede CNT, também voltado ao tema policial. Antes disso, em 2009, o jornalista criou o site Crimes Curitiba,
onde são registrados todos os crimes violentos, - que incluem homicídios, latrocínios, mortes em confrontos com a polícia e lesões corporais seguidas de morte, - em Curitiba e região metropolitana. Em pouco tempo o site virou referência para muitos dos veículos de comunicação que cobrem a área policial. Como forma de comparação, em 2010 foram 1850 assassinatos em Curitiba e região metropolitana, com média de cinco vítimas por dia. Descontando a região metropolitana, esse número cai para 860 mortes, com média de pou-
co mais de dois assassinatos diários. No ano passado, o número de crimes violentos diminuiu de 1850 para 1708 mortes, com média de 4,6 assassinatos diários na Grande Curitiba. Na capital paranaense isolada, ocorreram 777 casos, com média de dois por dia. José Nunes*, policial civil com 20 anos de carreira, diz que a criminalidade em Curitiba é mascarada, e que esses números são manipulados pelo governo. “Não é possível que o número de crimes tenha diminuído de 2010 para 2011”, opina. Porém, o editor do Crimes Curitiba
“A criminalidade em Curitiba é mascarada e os números são manipulados”
garante que os dados são apurados a partir de acompanhamentos diários dos crimes e levantamentos feitos nas delegacias responsáveis pela instauração dos inquéritos policiais. O jornalista ressalta que o relatório divulgado pelo Instituto Médico Legal chega a ser usado como base de informação, porém, a pesquisa divulgada no site descarta as vítimas de acidentes de trânsito, apura e elimina os suicídios e as mortes não-criminosas. Vellinho relata que não acompanha de perto o índice de criminalidade da cidade de São Paulo, mas que, se forem levados em cosideração os números oficiais divulgados pelas secretarias de segurança dos dois estados, a violência em Curitiba é, proporcionalmente, maior do que a da grande metrópole brasileira. O mesmo acontece com alguns municípios da região
Segundo Vellinho, o índice de criminalidade que está envolvido direta ou indiretamente com a venda e o uso de drogas - principalmente o crack – chega, e pode até ultrapassar a marca dos 80%. Os crimes registrados que se tornaram mais comuns são entre traficantes que matam pessoas endividadas ou rivais que querem o mesmo ponto de venda de drogas. Na mesma classe de crimes, estão os usuários que praticam furtos e roubos para sustentar o vício, e o latrocínio que é roubo seguido de morte. O policial descreve o tráfico de forma sucinta. “É como um funil ao contrário”. Ele explica que a droga vem de algum lugar específico e é espalhada pelas periferias e só então a policia civil é liberado para entrar em ação e combater a droga, prendendo miseráveis viciados. “O Crack agride, a cocaína não. E essa é a ideia. Cocaína é só quem tem dinheiro que usa, então não agride. Mas ver um usuário de crack, um “zumbi”, com roupas sujas e sem dentes na rua, isso agride. O que eu quero dizer é que o tráfico de drogas não acontece só na periferia,
acontece também no Batel e em muitos bairros ricos. Mas é só na periferia que podemos combater as drogas. São ordens”, relata. Apesar do crack ser a droga que mais está em evidência devido às suas graves consequências, a cocaína e a maconha não podem ser esquecidas. “Muita gente pensa que a maconha, por ser menos ofensiva ao organismo, não é tão perigosa. A droga pode até não ser tão destrutiva como o crack e a cocaína, mas o traficante é o mesmo. O mesmo criminoso que vende a maconha, vende crack e cocaína”, salienta. O jornalista Vellinho alerta que esse traficante vai fazer de tudo para que o usuário compre cada vez mais drogas, sejam elas mais ou menos perigosas, e que termine por experimentar o crack. “Ele começa a oferecer a droga gratuitamente, depois, por apenas R$ 5,00. Quando o usuário já está viciado, começa a cobrar R$ 10,00 pela pedra, até que a pessoa não consiga mais pagar a dívida”, constata Para Giovani Flores, investigador da polícia há dez anos, que atualmente trabalha no 3° distrito de Curitiba, a criminalidade envolvendo as drogas pode alcançar o índice de 95%, isso porque ele leva em conta os crimes cometidos também sob o efeito de drogas lícitas, principalmente o álcool. “É muito difícil encontrar algum preso que não tenha se
envolvido com pelo menos um tipo de droga, seja ela o álcool ou o crack, praticamente impossível”, revela.
obrigados a permanecer nas delegacias no lugar de exercer suas verdadeiras funções.
O papel da polícia
E a solução?
Do outro lado estão os policiais, que são responsáveis por amenizar a criminalidade, mas que, muitas vezes, encontram barreiras dentro da própria profissão. Além do conflito constante com os superiores, Nunes* comenta que conseguir um treinamento adequado para os policiais é uma dificuldade a parte. O policial não nega que o dinheiro é investido para a compra de novas viaturas e armamentos, mas, segundo ele, ainda faltam investimentos no salário e treinamento dos profissionais. “Não se mantém um bom profissional sem um bom salário”, defende. Não adianta ter materiais novos se os policiais não souberem usá-los adequadamente. Isso contribui para casos de erros policiais no Brasil, como, por exemplo, o caso do “ônibus 174”, crime que foi transformado em filme e conta a história verídica de um assalto que terminou com a morte do refém. “Ser policial é também uma questão de prática. Não adianta aprender a atirar no seu curso se depois você passa anos sem sequer disparar uma arma. Assim como um jogador de futebol, é preciso treinamento dia após dia”, comenta. Outra observação negativa de Nunes* é devido a Delegacia de Homicídios, que ele diz estar em péssimas condições, além de não possuir viaturas suficientes pra atender às ocorrências. Vellinho também aponta a falta de viaturas e destaca que existem cidades na região metropolitana de Curitiba que contam com apenas uma ou duas disponíveis. O editor da Tribuna ainda acrescenta a questão da superlotação nas delegacias, e diz que o maior problema que ela causa é o fato dos policiais serem impedidos de fazer o seu trabalho completo, pois acabam por se tornar espécies de “babás” dos presos e são
O jornalista Vellinho acredita que a solução para a diminuição de crimes não será resolvida apenas com o aumento do efetivo policial. Ele comenta que a maioria dos crimes acontecem na periferia, em áreas afastadas, lugar onde impera o tráfico de drogas e as condições da população são precárias, o que leva ao domínio da marginalidade e, consequentemente, a violência. Vellinho defende que “Para que o número de crimes diminua é preciso um forte trabalho social, acompanhado de um reforço na área da Segurança Pública”, comenta. Já para o policial José Nunes, o problema é maior. O fato de ele lidar diariamente com a criminalidade na rua e, mesmo assim, só prender pessoas da periferia – que ele entende serem vítimas, assim como os policiais - o fazem acreditar que existem “forças maiores” por detrás de toda essa criminalidade e que isso é lucrativo para alguns - coincidentemente, para os “poderosos”. Nunes* diz ainda que, no mundo em que vive é muito fácil de achar motivos pra se corromper e que não é preciso muita coisa para “trocar de lado”, mas que o caminho de volta é impossível. O policial cita o filme Tropa de Elite 2 como o exemplo perfeito da realidade em que vive, “sei que quem está patrocinando o tráfico são os meus chefes, o governo e o sistema, e percebi que na minha profissão só prender as pessoas usuárias das drogas não vai resolver problema nenhum. Eu tenho que brigar com o sistema, se isso for preciso”, aposta. Para o investigador Giovani Flores, se fosse mais eficiênte o combate às drogas, 90% dos crimes, ou mais, estariam também combatidos.
“Sei que quem está patrocinando o tráfico são meus chefes, o governo e o sistema.”
Fotos: Laiana Vieira
Um dia de crimes na capital
Fontes: Plantão 190 e Crimes Curitiba
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Curitiba, junho de 2012
Falta de viaturas é problema no combate ao crime
*Alguns nomes foram modificados
Laiana Vieira Daniela Hendler
comportamento
Curitiba, junho de 2012
meio ambiente
ASPECTOS BIOLÓGICOS, PSICOLÓGICOS E SOCIOCULTURAIS PODEM INFLUENCIAR O COMPORTAMENTO
CRIME CONTRA A FAUNA ACONTECE COM FREQUÊNCIA EM CURITIBA
O nascimento da personalidade criminosa
Tráfico de aves é profissão ilegal
Segundo especialistas, há uma série de fatores que levam uma a pessoa à delinquência. E isso pode começar na gestação
Abuso da legalidade dos passeriformes facilita o comércio ilegal através da violação de anilhas
Psiquiatra forense
O comportamento agressivo de algumas crianças pode levar à psicopatia na vida adulta
rar da criança a possibilidade de uma vida em sociedade mais harmoniosa. Para prevenir este tipo de comportamento, a psicológa diz que a forma como a família trabalha a situação é essencial. “Quando a família não está tão comprometida no processo da criança, trabalhamos a questão da afetividade com a própria criança e buscamos trabalhar com os pais essa questão na medida em que eles nos dão abertura para isso”.
tortura de animais, maltrata irmãos e amiguinhos, mente muito acima da média, sabe o que é errado e mesmo assim o faz, não sente culpa ao realizar certos atos e apresenta frieza e indiferença nessas situações. E podem, ainda, sentir prazer ao infringir regras impostas”, enumera Turqueti. Uma das grandes causas deste transtorno é a falta de afeto dos pais com os filhos. “Os bebês e as crianças necessitam de afeto assim como necessitam do alimento. Sem o afeto de pais ou cuidadores, a criança pode apresentar na infância e na vida adulta grande dificuldade nos relacionamentos interpessoais”, declara.
A visão da justiça Julgar um menor de idade, ainda é um assunto que gera discussões controversas. Com a falta de estrutura na educação, na saúde e nas penitenciárias, quase 50% dos presos reincidem para o mundo do crime. Na visão da justiça, essa precariedade pode interferir na personalidade de crianças e jovens que, sem uma
Tratamento
O delinquente nato
Fonte: PsiqueWeb
Segundo a psicóloga, é possível trabalhar a agressividade com a criança de diversas maneiras, uma vez que ela pode surgir por influência de diferentes fatores, como a separação dos pais, chegada de um irmão mais novo, dificuldades de adaptação em uma nova cidade ou escola e por estar inserida em um ambiente violento. “É importante impor limites, saber quando dizer não e trabalhar a agressividade na sua esfera construtiva e não destrutiva”, aconselha. A dificuldade, que segundo especialistas, é mais latente nas mães do que nos pais, pode ti-
base de formação sólida acabam tendo um desvio de conduta. Para a juíza Cristine Lopes, a questão da educação é fundamental. “O que noto é que a maioria das pessoas que julgo vêm de uma classe social mais baixa, com um nível de escolaridade de segundo grau incompleto, dificilmente temos uma pessoa formada. São pessoas que geralmente tem uma ligação com drogas ou bebidas, que têm vícios e, quando não tem vícios, são voltadas para o tráfico. Isso é notado também quando os infratores são adolescentes”, declara. A legislação é mais benéfica com os jovens porque a personalidade deles ainda está em formação. O objetivo é que haja uma ressocialização para que tenham uma vida melhor, o que não acontece por causa da falta de estrutura do país. “O Brasil não comporta nem os presos maiores de
A criminologia começa com a publicação da obra de Cesare Lombroso chamada “L’Uomo Delinquente”, em 1876. Sua tese principal era a do delinquente nato. Ele foi o responsável por definir o perfil do criminoso. Dizia que o delinquente possuía caracteres próprios, tais como: protuberância occipital, órbitas grandes, testa fugidia, arcos superciliares excessivos, zígomas salientes, prognatismo inferior, nariz torcido, lábios grossos, arcada dentária defeituosa, braços excessivamente longos, mãos grandes, anomalias dos órgãos sexuais, orelhas grandes e separadas, polidactia. Atualmente, esta teoria está em desuso.
Sempre que há dúvida sobre a integridade mental de um acusado, o juiz ordena que o réu seja submetido a um exame médico legal. É aí que entra o psiquiatra forense, que se encarrega do estudo dos agentes que, em virtude de condição mental mórbida, tem a juridicidade de seus atos e relações sociais modificadas quanto à sua responsabilidade penal ou civil. Segundo o psiquiatra forense e professor da UFPR, Luiz Renato Carazzai, atualmente, com a expressiva evolução dos conceitos de saúde mental, chegou-se a uma melhor compreensão do ser humano e de seu comportamento que repercutiu no campo da justiça, tanto na elaboração, quanto na aplicação das leis, o que torna e perícia em saúde mental de fundamental importância. Mas afinal, uma pessoa já nasce criminosa? Carazzai explica que a personalidade é uma somatória de aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais. Hoje, fala-se que há situações que favorecem aos delitos e que, determinadas personalidade estão mais próximas de atos delituosos. Além disso, há quatro tipos de modificadores da responsabilidade penal que são levados em conta: modificadores do DNA próprio do indivíduo, modificadores sociais (como o ambiente no qual ele vive), modificadores acidentais (fatos que ocorrem ao longa da vida) e modificadores psicopatológicos.
Mariana D’Alberto El-Fazary Rodrigo de Lorenzi Oliveira
Foto: Ademar Santos
idade, então não há como propor um modelo ideal de justiça para os adolescentes no Brasil em função do sistema carcerário ser falido. Não há como resolver esta situação sem que haja um empenho maior dos administradores. Cadeia e presídio não dá voto, infelizmente”, confidencia a juíza.
Ilustração: Daniel Germano de Abreu
Littleton, EUA . 20 de abril de 1999. Dois estudantes da Columbine High School atiraram contra alunos e funcionários. Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, planejaram o ataque meses antes e tomaram o controle dos corredores com revólveres e bombas caseiras. Doze alunos e um professor foram mortos. Depois, os dois se mataram. Erfurt, Alemanha. 26 de abril de 2002. Depois de ser expulso da escola, o jovem Robert Steinhäuser, 16 anos, invadiu o local e atirou contra alunos e funcionários. O massacre matou treze professores, dois alunos, um policial e terminou com o suicídio do atirador. Rio de Janeiro. 7 de abril de 2011. O ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira entrou na escola municipal Tasso da Silveira carregando dois revólveres e muita munição. Ele abriu fogo dentro das salas de aula, deixando doze estudantes mortos e outra dezena de alunos feridos. O ataque cessou quando o atirador foi surpreendido por um policial e se matou. A agressividade, segundo a psicólogia infantil Camila Turqueti, é inerente ao ser humano. As pessoas manifestam sua raiva de diversas maneiras. O chamado Transtorno de Conduta consiste numa série de comportamentos que perturbam quem está próximo, com atividades perigosas e até mesmo ilegais. E esses pequenos detalhes podem começar desde a gestação. Para a psicóloga, os bebês podem ser influenciados pelos sentimentos da mãe e perceber o ambiente fora da barriga. “Estudos apontam que pode haver influência de fatores genéticos no desenvolvimento do Transtorno de Conduta. Nesse caso, a criança pode carregar a predisposição para desenvolver um transtorno desde a gestação”, diz. Para identificar um padrão agressivo, os pais devem analisar de perto certas atitudes. “A criança com esse transtorno apresenta comportamentos como
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Aves Silvestres mantidas em gaiolas para serem comercializadas
O comércio ilegal de aves silvestres, especialmente as de canto, gera alto rendimento mensal para alguns criminosos em Curitiba e Região Metropolitana. Várias espécies de pássaros são tiradas do habitat natural e vendidas para serem mantidas em
gaiolas ou viveiros. O tráfico de aves silvestres é considerado crime contra a fauna, conforme o artigo 29 no Capítulo V da Lei Federal nº 9605, de 12 de fevereiro de 1998. Também, a legalização de passeriformes criados em cativeiro, pelo Inati-
tuto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), tem sido adulterada. Ações da Força Verde, Polícia Ambiental do Paraná e Ibama, são realizadas na tentativa de coibir essa prática na nossa região e no estado, mas existem indivíduos especializados nessa modalidade de crime ambiental, que conseguem muitas vezes neutralizar o trabalho das autoridades. A principal finalidade dessas aves é servir para disputa em torneios de cantos. A maioria desses eventos é legalizada e acontece com a autorização dos órgãos que cuidam do meio ambiente.
funciona o esquema de comércio dessas aves entre a população de Curitiba e da RMC. O jovem trabalha em um emprego formal, tem pássaros não legalizados em casa e compra mais dessas aves para revender a terceiros. Ele comenta que existem pessoas que são profissionais nessa espécie de crime, e que algumas chegam a lucrar mais de 10 mil reais por mês, somente com esse tipo de negócio. O esquema, segundo ele, funciona com a busca de grande quantidade de aves capturadas em outras regiões do Brasil e a rápida distribuição nas cidades da nossa região. Algumas pessoas compram de quem busca, depois revendem, e chegam a lucrar, no mínimo, o dobro do valor investido, como é o caso dele. As aves que chegam no destino final podem ser legalizadas no Ibama. O órgão oferece anilhas,
Contraventor A reportagem do Comunicare obteve informações com uma fonte, que preferiu não se identificar, morador da cidade de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Ele conta como
uma espécie de anel para ser colocado no pé da ave especificada durante a legalização. Segundo o rapaz, as anilhas são liberadas pelo Ibama somente para filhotes vindos de cativeiros, mas existe um esquema de alargamento do objeto e colocação no pássaro adulto. “Para eles fica como se os passarinhos tivessem nascidos em cativeiro, eles mandam anilha pra filhote, daí usamos um método para abrir a anilha, e colocar no passarinho que veio do mato”, comenta o jovem. O Comunicare entrou em contato por várias vezes com a Força Verde, Ibama, e Delegacia do Meio Ambiente apresentando e questionando o assunto, mas segundo as assessorias dos órgãos, ninguém pôde se pronunciar até o fechamento da edição.
ESTATÍSTICAS DO VANDALISMO EM CURITIBA
Pichações aumentam em Curitiba O número de ocorrências de pichação em Curitiba teve aumento nos quatro primeiros meses de 2012, considerando os números de casos ocorridos no mesmo período do ano passado. Segundo dados da Guarda Municipal de Curitiba (GMC), só neste ano foram recebidas, até o final do mês de abril, 272 denúncias que resultaram em mais de 65 flagrantes na cidade, enquanto que, no ano passado, foram 210, de janeiro a abril. Nos últimos dez anos, esse tipo de vandalismo cresceu mais de 650%. Em 2011 foram 714 casos de pichação com 199 detenções, para 82 ocorrências em 2002, com 51 flagrantes. A pichação é um considerada crime ambiental, conforme o artigo 65 da Lei de Crimes Ambientais. Quem é flagrado cometendo esse tipo de ato paga multa administrativa de R$ 714,20, além de cumprir pena alternati-
va, que fica a critério da justiça. Se o praticante for maior de idade é encaminhado à Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, e fica proibido de participar de concursos públicos pelo período de dois anos. Todo ano, segundo dados da Prefeitura da capital, o gasto para reparar o patrimônio alvo de pichação na cidade passa de 1 milhão de reais. Os lugares mais complicados e de difícil acesso estão entre os preferidos de quem pratica a pichação. Os vândalos agem em grupo formado por três até cinco pessoas, conforme explica o Inspetor Chefe do Centro de Operações de Defesa Social da Guarda Municipal de Curitiba, Sicarlos Pereira Sampaio. Segundo ele “a faixa etária dos praticantes da pichação flagrados pela GMC, são jovens com idade entre 16 e 25 anos de idade”.
Prevenção Conforme Sicarlos, existe em Curitiba uma Organização que cuida da educação preventiva das crianças e adolescentes. “Uma ONG trabalha na tentativa de recuperação desses jovens, a Guarda Municipal também tem o Teatro de Fantoches voltado principalmente às crianças, mas a gente procura trabalhar com os adolescentes também, até nas escolas estaduais, para tentar prevenir as situações”, explica. A Guarda Municipal, também, tem disponível o telefone 153, para que as pessoas que eventualmente presenciarem atos de vandalismo possam fazer a denúncia. Ainda, a GMC monitora, através de 116 câmeras de vídeo, os principais pontos da cidade.
Ademar Santos
Foto: Fabio Wosniak
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Prédios são alvo frequente dos pichadores
Ademar Santos
Realização do megaevento manipula o imaginário social e esconde práticas excludentes
O Congresso Nacional aprovou, no início de maio, a Lei Geral da Copa, documento que define as regras para a realização da Copa das Confederações, em 2013, e da Copa do Mundo, em 2014, no Brasil. O texto, no entanto, apresenta diversas irregularidades quando confrontado com a Constituição Federal. Qualificado por alguns deputados como “lei de estado de exceção”, o que mais chama a atenção pública é a permanência do projeto que suspende o artigo do ‘estatuto do torcedor’, que veta bebidas alcoólicas nos estádios. Segundo o integrante do Comitê Popular da Copa de Curitiba – organização presente nas 12 cidades-sede dos jogos -Thiago Hoshino, o texto desrespeita pelo menos sete previsões constitucionais, em nome de interesses privados (fig. 1). “As exigências para realização deste megaevento ferem a soberania do país e direitos historicamente conquistados pelo povo. Para ampliar seu poder de barganha, a Fifa seleciona países de democracia recente e institucionalidade frágil, como a África do Sul, a Rússia e o Brasil, que têm interesse em se projetar internacionalmente e cedem às pressões para alterar suas próprias leis”, afirma. A Alemanha, por exemplo, país de alta influência política mundial e maior poder econômico, segundo Hoshino, não adotou a mesma postura subserviente em 2006, para a realização da Copa. Entretanto, na África do Sul, “ao menos 100 mil ambulantes foram afetados pelas zonas de exclusão e fan parks e somente na metade de 2009 ficaram sabendo do que iria acontecer”, afirma a coordenadora de campanha do StreetNet internacional, organização de vendedores informais de diversos países, Nora Wintour. A organização divulgou, em abril, o resultado da pesquisa feita no Brasil, em dez das 12 cidades que sediarão os jogos da Copa de 2014. A intenção do relatório é avaliar antecipadamente o impacto potencial sobre os am-
bulantes. “Em Brasília, os quiosques e trailers proporcionam emprego direto a 60 mil pessoas e indireto a cerca de 100 mil. [inicialmente] Os vendedores já tiveram que arcar com a construção de novos quiosques, impostos pela necessidade de revitalização da cidade para o megaevento”, afirma a pesquisa. Desapropriações
notificadas, com direito a negociações. Ao que parece, elas serão desapropriadas sem qualquer diálogo. A legislação prevê uma situação totalmente diferente”, afirma. Entretanto, a mesma situação se mostrou diferente aos moradores próximos ao estádio do Atlético, no bairro Água Verde, que foram contatados com antecedência e com possibilidade de negociação. “Dois pesos, duas medidas. Fica evidente o aprofundamento de um modelo urbanização excludente. Em especial para os governos municipais, os megaeventos têm sido encarados como uma oportunidade para higienização e remoção dos pobres, lançados ainda mais longe dos centros urbanos”, afirma Hoshino. Os projetos de melhorias urbanas e revitalização, alvo de intensa propaganda política, não se propõem a deixar um legado social que dialogue com as verdadeiras necessidades dos cidadãos. Um bom exemplo acontece na Vila Torres, com o projeto “Co-
munidade em Cores”, que prevê a pintura de fachadas de moradias que se concentram no entorno da área, visível aos turistas. “A intenção não é dar mais qualidade de vida aos moradores da Vila, que têm carências enormes de infra-estrutura e acesso a serviços, mas tornar Curitiba um possível cartão-postal aos olhos do mundo. O orçamento para urbanização e regularização fundiária de assentamentos informais é quase nulo”, explica Hoshino.
construções. E, para conceder o convênio, uma das exigências do setor público é que o clube de futebol ceda “sem ônus, dois camarotes na Arena, sendo um para o município e outro para o Estado para o desenvolvimento de programas e eventos de interesse municipal e estudal, pelo período de 50 meses”. Para o Comitê Popular da Copa, a inclusão desta cláusula demonstra o desrespeito à moralidade administrativa. “O que se vê é a diminuição de gastos nas áreas sociais sob o argumento de que os cofres públicos estão estrangulados. Entretanto, com para a realização dos megaeventos esportivos, uma quantidade assustadora de recursos financeiros e humanos é mobilizada de repente, para obras que já deveriam ter sido realizadas há muito tempo. Onde estava esse dinheiro antes? E onde estará o legado, depois?”, diz Hoshino.
Outro ponto polêmico, que se esconde atrás de políticas púInvestimento blicas de desinformação, são as obras de infraestrutura e moUm dos últimos relatórios dernização do espaço urbano, do Tribunal de Contas da União, que preveem desapropriações de revela que, aproximadamente, diversas famílias que possuam 95% de todo dinheiro investimoradia em locais de expansão do em Curitiba , para atender às exigidos pela Fifa, como em São exigências de infraestrutura da José dos Pinhais, mas que não Fifa, provém dos cofres públicos, são divulgadas, conforme exige a que são escoados para o setor legislação, ou mesmo explicadas privado. Para a revitalização do pelas prefeituras. “O governo do estádio do Atlético, o governo e Paraná assinou, em dezembro de prefeitura deverão disponibilizar, 2011, um decreto de desapropriaem forma de convênio com o clução de comunidades próximas be, cerca de R$135 milhões, que ao aeroporto Afonso Pena, que, corresponde a 75% dos investisegundo a Fifa, deve aumentar Raffaela Porcote mentos totais para viabilizar as mais uma pista de pouso e decolagem”, explica o EXIGÊNCIAS DA FIFA PROPOSTAS NA LEI GERAL DA COPA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA representante do Meia-entrada de idosos e estudantes apenas na “categoria popular”, o mais Movimento Pobarato; liberação da “venda casada” de entradas com pacotes turísticos; Direitos do Consumidor (art. 5º, XXXII, e art. 170, V) pular de Moradia, Fifa não é obrigada a cumprir normas locais de defesa do consumidor de ingressos Chrysantho Figueiredo. Permissão para a criação de Zonas de Exclusão, com restrição ao comérMas, segundo cio de rua e à circulação de pessoas num raio de 2 km no entorno dos Exigências da Fifa propostas na Lei Geral da Copa estágios de jogos e treinos, fan fests e outros locais (Cap. 2, Seção III) Figueiredo, essas famílias, até Privatização e exclusividade da exploração comercial de símbolos, emo momento, não blemas da seleção e do Brasil, sem controle da sociedade ou do Instituto Proteção do patrimônio cultural brasileiro (art. 216) foram contatadas Nacional de Propriedade Industrial (Cap. 2, Seção I) oficialmente pelo Estado. “SupoProibição de aulas nas redes de ensino público e privado durante o Mundial Direito à educação (art. 205) mos que cerca de 2014 de 300 famílias Criação de crimes especiais (Cap. 8) e sanções civis (Cap. 2, Seção IV) para Liberdade de expressão (art. 5º, IX) e livre iniciativa (art. 170, caput) deverão receber reserva de mercado, publicidade e propaganda. a notificação de Liberdade de imprensa e de informação jornalística (art. 220, par 1º) Limitações à captação e transmissão de imagem e som (Cap. 2, Seção III) desapropriação, mas o procediResponsabilidade geral do Estado por “quaisquer danos e prejuízos” com mento já se mosConservação do Patrimônio Público (art. 23, I) acidentes de segurança, devendo a União Federal indenizar a Fifa (Cap. 4) tra irregular. Antes do governador Fonte: Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa assinar o decreto, estas famílias já deveriam ter sido
EM BUSCA DE ADRENALINA, JOVENS ARRISCAM VIDAS
Pena mais rígida não inibe rachas
O aumento da pena para os infratores pode não surtir efeito, já que os ‘corredores’ não temem este tipo de punição Dentre os vários crimes de trânsito, o ‘Racha de rua’ é um dos mais recorrentes e com punição ineficaz. O artigo 308, da Lei 9.503/97, considera crime de trânsito a disputa automobilística em via pública, sem autorização do orgão competente, e prevê até dois anos de prisão. Entretanto, a pena mais comum aplicada para quem comete este crime é a suspensão ou proibição do direito de dirigir. Uma proposta do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), visa transformar o “racha” em um novo tipo de crime no trânsito. Ele considera que quem pratica o ato, manifesta desapreço consciente à vida alheia, e propõe pena de reclusão de 3 a 10 anos. Mas, para o Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRFPR), Valdinei Bezerra Júnior, este não é o caminho correto. “Acredito que seria uma medida demagógica. Não entendo que o agravamento de penas é medida eficaz para a prevenção de crimes”. Ele ainda cita que uma pena pecuniária mais agravada e a proibição de dirigir, em caso de reincidência, seriam medidas mais eficientes para desestimular os infratores. Justamente essa punição, que não é aplicada severamente, leva os jovens a cometer esta imprudência. Wellington Peixoto*, de 24 anos, cita que não teme as penalidades da lei, “só tenho medo de acidente”. Ele, que começou a disputar “pegas” há cerca de cinco anos, conta que o interesse surgiu por assistir arrancadas e alguns rachas, até que preparou um carro para correr também. Para o jovem, a motivação não vem de dinheiro e apostas, é apenas por diversão. “O objetivo é andar na frente do carro adversário. O que me estimula é adrenalina e desejo de vitória”. As corridas de rua geralmente acontecem em rodovias, pela ausência de radares e espaço para acelerar. A PRF-PR tem conhecimento desta prática, mas reclama das dificuldades encon-
Policial Rodoviário Federal realizando uma abordagem
tradas, como ausência de denuncia por parte da população e falta de recursos humanos e materiais. Apesar da frequência deste ato não ter sido alterada, nos últimos anos, a polícia tem realizado operações e as apreensões de veículos têm aumentado.
acompanhou alguns exemplos relacionados à esta prática, como o caso do estudante Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães, que morreu após ser atropelado enquanto andava de skate, por um condutor que, supostamente, apostava um “racha”
Equipamentos utilizados para monitorar o motor do veículo
países, é a existência de um tribunal em regime de plantão de pelo menos 12 a 16 horas, para analisar e julgar imediatamente todos os crimes relacionados ao trânsito. Em contrapartida, os corredores de rua não consideram esta prática um crime. “Existem vários tipos de crime, tudo vai do
ponto de vista. Não considero o racha como um crime, e sim uma contravenção à lei”, completa Wellington*. *o nome foi modificado
Fabio Wosniak Rogério Ferreira
Operações são frequentes
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As sete inconstitucionalidades da Copa
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Curitiba, junho de 2012
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LEI GERAL DA COPA: BASTIDORES NÃO REVELADOS FEREM A SOBERANIA BRASILEIRA
trânsito
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esporte
Curitiba, junho de 2012
Foto: Fabio Wosniak
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Policiais realizam batida em local onde ocorrem encontros
Corredores geralmente alteram a suspensão dos veículos
O Inspetor de fiscalização, Bezerra, ainda diz que simultaneamente ao crime de “racha”, está o de ingerir bebida alcoólica antes de dirigir. Mas, apesar disso, os motoristas tem consciência do ato. Ele acredita que “campanhas educativas podem surtir efeito, principalmente se destinadas à jovens e adolescentes”. Recentemente, a população
num túnel interditado. Diante destes fatos, Bezerra afirma que a aplicação severa da pena existente, porém, de forma mais rápida, pode ser uma medida válida. “A grande parte das mortes no trânsito são resultante de imprudências ligadas à velocidade, ultrapassagem e alcoolemia”. Uma medida que o Inspetor considera muito eficaz e já existe em outros
Operações da Polícia Militar com o objetivo de combater a perturbação do sossego, som alto e consumo de bebidas alcoólicas, que ocorrem nos “pontos de encontros”, são recorrentes. Um exemplo, é o chamado “Posto da Sete”, onde semanalmente acontecem estes encontros, que podem ser denominados como “Pré-Racha”. Isso causa revolta na população da região, que geralmente recorre à polícia. “Agimos através de denúncias”, cita o Cabo Silveira da PM, “acontece toda quinta-feira, no mesmo local”, completa. A equipe do Comunicare apurou que apreensões de veículos não ocorrem com frequência, mas sim notificações verbais. Em caso de desobediência, os condutores e o publico presente, também são advertidos de forma verbal. Este precedente é aberto visto o estado de alcoolismo dos mesmos.
economia
Curitiba, junho de 2012
política
LUCRO PARA O BRASILEIRO E PREJUÍZO PARA AS PRODUTORAS
EX-PRESIDENTE E BANCADA DOS COMUNICADORES ESTÃO ENTRE OS ENVOLVIDOS
Pirataria desvia R$ 20 bi por ano
Imagem de Vereadores está desgastada
Falsificador mostra cópia de um de seus produtos
Pirataria é o ato de copiar e reproduzir produtos protegidos por direitos autorais, sem a autorização de seus criadores ou donos. Ela pode acontecer de várias formas: desde a compra de produtos piratas nas ruas até por downloads feitos por meio da internet. Essa prática está no ranking dos crimes mais cometidos no mundo e é um dos que mais prejudica a economia de um país. Dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) afirmam que o Brasil deixa de arrecadar cerca de R$ 20 bilhões em impostos por ano e os danos nos cofres do Paraná são de aproximadamente R$ 300 milhões anuais. Os números assustam ainda mais quando relacionados ao cenário mundial: a pirataria movimenta US$ 522 bilhões por ano. Esses dados ainda revelam que os produtos mais pirateados são CDs, DVDs, cigarros, peças de eletrônicos e carros, e softwares, como as instalações de programas de computador e jogos. Quando compra um produto pirateado, o brasileiro prova que não se importa com o dano causado à indústria fonográfica e nem com a imensa quantidade de dinheiro que o país deixa de ganhar por causa da pirataria. Uma pesquisa feita com os curitibanos
pelo Paraná Pesquisas no início deste ano entrevistou 422 pessoas e destas, 86% revelaram que compram produtos piratas. O que dá sustentação a esse mercado clandestino é o baixo custo dos produtos. Como nem todos têm condições de pagar os valores originais, a opção é comprar os produtos por um preço menor. A diferença, por exemplo, entre um CD original e um CD pirata pode ser de até R$19,00. Um tênis pirateado pode custar até 50% menos que o valor original. A diferença entre um celular falsificado e um original equivale ao valor de um celular novo, simples e sem muitas funções. É justamente esse “ganho” que faz com que o brasileiro prefira os produtos pirateados. Mas, apesar de tudo isso, 61, 4% dos entrevistados revelaram se decepcionar com a qualidade dos produtos e por isso, resolvem comprar apenas quando o produto é mais útil ao seu cotidiano. Entretanto, enquanto o povo brasileiro se beneficia com o baixo custo da clandestinidade, as indústrias de produção musical sofrem sérios prejuízos.
O Original Virgílio Milléo é músico, produtor e empresário do estúdio Audio Stamp, que existe há 13 anos no mercado. O estúdio é 100% curitibano e já produziu bandas como Poléxia, Terminal Guadalupe, Black Maria, Pura Venus, Fábrica de Dragões, Dooms Day Cerimony, Willian Winen e Saul Trumpete. Milléo relata que as pequenas produtoras são as mais afetadas com o sistema de vendas clandestino e que somente as grandes empresas de produção é que permanecem no mercado por um longo tempo. Essa falta de produtoras faz com que o mercado se feche para os pequenos artistas. “Nesta chamada “era digital”, os artistas estão gravando seus discos em pequenos estúdios ou até mesmo em estúdio próprio e acabam não obtendo grandes resultados. Eles apenas precisam de uma grande gravadora para abrir as portas em programas de TV; e da facilidade da distribuição de seu material em diversos países.”, salienta. O empresário faz questão de citar as formas encontradas pelos
“E levante a mão quem nunca fez uma cópia em casa”
O Pirata Revelando um pensamento completamente diferente do que os produtores e a polícia tem do que é pirataria, César Bang, que se diz “pequeno falsificador” diz que está no mundo das cópias a mais ou menos dez anos e que começou para “ajudar” o filho. “Meu filho era pequeno, então eu ia com ele na locadora e ele pegava alguns DVD’s e ficava uns dias com eles. Quando ia devolver, ele locava novamente os mesmos filmes e comecei gastar muito com isso. Então, descobri pela internet que tinha como gravar e comecei a piratear.” Mesmo tendo outra fonte de renda, Bang continua pirateando e seus principais produtos são os filmes. Segundo ele, o processo de download demora de três a dez minutos e por sua clientela ser formada principalmente de ami-
Voto do curitibano será influenciado por escândalos divulgados na mídia
gos e companheiros de trabalho, ele procura a melhor qualidade no que faz. “A qualidade tem que ser boa senão já viu né? O povo confia nas minhas cópias, elas são boas e por isso, eu tenho clientes fiéis!”, afirma. Bang ressalta ainda que não acha errado quando se produz poucas cópias e que a pirataria é uma alternativa para quem não pode comprar o que é original. “Nesse caso de vender poucos não acho que esteja lesando ninguém, por exemplo, quanto você acha que o Titanic ou o Avatar faturaram? As poucas cópias não representam prejuízo nenhum perto do lucro que eles tiveram.” O “produtor alternativo” ainda complementa dizendo que não acha que copiar é crime, já que o grande faturamento das produtoras e do mercado supera os pequenos prejuízos. “Não acho que seja crime nem modo de sobrevivência, porque ganha-se pouco principalmente no meu caso… é a chance de você ter uma cópia do seu filme preferido gastando pouco e com a mesma qualidade!” Apreensão No último dia 15 a Polícia Civil realizou a prisão de mais um falsificador de produtos. Valdecir Ferreira Guimarães. Foi preso na região metropolitana de Curitina, onde tem uma loja, com mais de 300 produtos contrabandeados. Com ele foram encontradas carteiras de cigarro, 275 DVDs de filmes, 178 DVDs de música e mais 311 CDs de música. O delegado Gerson Alves Machado, responsável pela Delegacia de Campina Grande do Sul afirmou que o homem foi autuado em flagrante por crime de direitos autorais, contrabando e descaminho. “É mais um fora das ruas. Menos um pra prejudicar as produtoras né?”, finalizou o delegado. Kauanna Batista Ferreira Lucas Dziedicz Shaiene Ramão
Notícia, de sua esposa Cláudia Queiroz Guedes, para realizar a publicidade da Casa. No entanto, além da empresa da esposa, Derosso contratou a empresa Oficina da Notícia, que tinha como um dos sócios o vereador Francisco Garcez. A empresa, que funcionava há 18 anos no mesmo endereço, produziu e distribuiu o Jornal Folha do Boqueirão e recebeu verbas irregularmente já que não é permitido que funcionários ou vereadores possuam qualquer vínculo com as empresas responsáveis pelas licitações. Depois que Garcez foi envolvido no escândalo, vereadores da oposição solicitaram seu afastamento do Conselho de Ética, no entanto uma votação do próprio conselho resultou na permanência do vereador no cargo. Além de Garcez e do ex-presidente Derosso, outros vereadores
Foto: Arquivo
Foto: Kauanna Batista
Segundo dados da ABCF, pirataria é um dos crimes mais cometidos no país
criminosos de driblar os sistemas de proteção de CDs. Apesar dos códigos de segurança colocados pelos programadores, os produtores clandestinos acabam burlando os sistemas e copiando as músicas para a internet, que têm sido a principal aliada deste tipo de crime. “Hoje em dia fica quase inviável conseguir driblar qualquer tipo de comercialização ilegal. Uma vez postado na internet, pronto! O produto já se torna público, assim facilitando e fomentando ainda mais a pirataria.”, comenta. Ele afirmou ainda que acredita que a baixa dos juros dos produtos originais não é a solução para acabar com a pirataria, já que é o perfil do comprador que influencia na compra. Por exemplo, hoje em dia, os compradores de CDs são em sua maioria, colecionadores, fãs e pessoas que gostam de ter o material em casa; é necessário gostar muito de determinada banda para adquirir seu CD. Já o internauta pode transitar entre sites, artistas, estilos e montar seu próprio CD, com suas faixas preferidas, de artistas diferentes, inclusive.
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Curitiba, junho de 2012
Câmara Municipal é assolada por escândalos
Há menos de quatro meses das eleições, os vereadores começam a preparar suas campanhas e a elaborar projetos que permitam visibilidade e atenção dos eleitores. Em Curitiba, o cenário corriqueiro das pré-
campanhas e da briga pelo voto será um pouco diferente em 2012. As denúncias apresentadas pelos jornais da Capital envolvendo diversos vereadores abalaram a rotina da Câmara Municipal de Curitiba.
O Conselho de Ética, presidido pelo vereador Francisco Garcez (PSDB), analisou as denúncias, começando pelo expresidente João Claudio Derosso (PSDB) que autorizou a contratação da empresa Agência da
estiveram envolvidos no recebimento de verbas de publicidade. Dos 38 vereadores, pelo menos 13 sabiam da existência da verba ou fizeram uso dela. Os repasses aconteciam principalmente aos vereadores da chamada “bancada de comunicadores”. Numa reportagem exibida pela RPCTV, o vereador Algaci Túlio (PMDB) chegou a afirmar que ele próprio já havia utilizado notas das empresas envolvidas. Incêndio No último dia 8 de fevereiro, a sede do Jornal do Boqueirão, no bairro do Carmo, foi destruída por um incêndio que queimou também documentos e equipamentos que eram guardados na sede. Kauanna Batista Shaiene Ramão Lucas Dziedicz
VEREADORA ACOMPANHOU DE PERTO AS INVESTIGAÇÕES SOBRE O CASO DEROSSO
Para Renata Bueno, CPI e Conselho de Ética são instrumentos forjados Antes da ampla cobertura da mídia sobre as irregularidades na administração da Câmara Municipal pelo ex-presidente João Claudio Derosso (sem partido) a vereadora Renata Bueno (PPS) já havia levantado questionamentos e protocolado pedidos de informação ao legislativo. Os pedidos da vereadora foram motivados por uma denúncia anônima recebida pelo Tribunal de Contas do Paraná. O escândalo envolveu mais de R$ 34 milhões em contratos de publicidade e resultou no afastamento do ex-presidente da Câmara e na investigação de funcionários e outros vereadores. Cotada como uma das candidatas à prefeitura de Curitiba nas eleições desse ano, a vereadora revelou ter sido boicotada dentro da Casa depois de pedir à Derosso explicações sobre os contratos e a lista de funcionários comissionados da Câmara. “Esgotei todos os meios internos
para solicitar informações antes de tomar outras atitudes”, revela. Mesmo com a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito e de um processo no Conselho de Ética, a vereadora considerou as atitudes insatisfatórias e pediu o afastamento de Derosso na Justiça. Renata acrescenta que ignora a existência das CPIs e do Conselho de Ética porque eles são “apenas instrumentos forjados da Câmara Municipal”. A vereadora acredita ainda que as relações que Derosso criou dentro da Câmara estão longe de terminar. “O poder continua interligado”, diz ela, citando como exemplo o atual presidente João Luiz Cordeiro, que de acordo com Renata veio apenas para amenizar a péssima imagem da Casa, sem fazer modificações bruscas em sua estrutura administrativa. Muitas das conclusões sobre o escândalo dos contratos de pu-
blicidade ainda estão sendo apurados pelo Ministério Público. No entanto, resoluções como a adequação do número de funcionários para a equiparação com os servidores efetivos já estão sendo colocadas em prática pela nova presidência. Ficha Limpa Municipal A Câmara discute agora a lei que exige “ficha limpa” para os funcionários que ocupam cargos comissionados. A proposta é de autoria do Vereador Professor Gaudino (PSDB) e conta com o apoio da bancada de oposição ao seu partido, integrante da base aliada do Prefeito Luciano Ducci (PSB), candidato a reeleição em outubro.
Guilherme Zuchetti
Foto: Divulgação
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Renata Bueno ignora existência de CPI e Conselho de Ética
Ronda
Renan Machado A princípio, ao ver estendido o cadáver coberto de poeira, revólver em punho, Horácio pensou tratar-se de um suicídio nada exemplar, diferente de outros tantos que acontecem em noites sem lua. Um corpo mole, a tez esfacelada por um disparo. Mas em público? Logo aqui? – pensava o experiente investigador, apertado em suas gorduras sob a camisa de algodão. O presunto é fresco – disse com malícia o risonho parceiro de Horácio. O amontoado de roupas tingido de vermelho fora coberto por um plástico preto. A sombra dos barracos crescia sob as lâmpadas da iluminação pública. O canto escuro abrigava o morto, lampejado por raios vermelhos do giroflex. Ao longe, ouvia-se o som da via rápida por onde os ônibus metropolitanos transitam. Horácio, expressão grave, acocorara-se à procura de detalhes despercebidos. O parceiro falava em baixo tom com a central ao rádio da viatura. O aspirante, até então despercebido, deixara cair uma caderneta na qual tomava nota do acontecido. O impacto da caderneta com o chão despertou Horácio da longa viagem que fazia; a reconstrução dos momentos passados cerca de vinte minutos antes de sua chegada. Não fora suicídio coisa nenhuma – sabia ele. O homem de porte médio que voltava do serviço exaustivo fora, sim, abordado na esquina de duas ruas desertas. Agora, por quem? Talvez um criminoso da vila, contrariado pela postura honesta do pai de família. Esse eu vou ter que passar... O aspirante observava quieto o trabalho dos oficiais. A câmera fotográfica quieta pendurada no pescoço. O drogado, sim. Precisava de um trocado para comprar o leite das crianças em uma boca de fumo. O cidadão de bem nada tinha. Nem mesmo o troco da passagem de ônibus, que pagara com moedinhas contadas. Encorajado pelo vício, o vulto disparou, uma única vez, à queima roupa. Horácio pensava. Refletia. Seus olhos inquietos pareciam decifrar cada pedregulho fora do lugar e aproximavam-no de uma proposição. O silêncio reinava na ruela e o trio era apenas mais um em meio aos perigos de um amontoado humano ameaçador. Uma boca pronta a engolir. Um intestino sinistro que absorvia os marginalizados de uma cidade sem fim. Sirenes, outras, quebraram a quietude. Em pouco tempo, ambulâncias, mais policiais e legistas adentrariam no perímetro do assassinato. O parceiro pigarreou e alisou a farda amarrotada. O aspirante mantevese absorto a observar o cenário como espectador. Horácio, respirando fundo, deu-se a anotações em um bloco de ocorrências. Entre uma bufada gorda e outra, sentiu-se conformado pelo homicídio consumado: ao menos entraria para as estatísticas, diferente dos outros tantos desgraçados que, naquele mesmo instante, agonizavam em um leito de pronto-socorro, esperando pela morte dali três dias.