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opinião
Curitiba, novembro de 2011
ONDE IREMOS PARAR?
A sobrevivência dos mais fortes
Viver é uma questão de tempo e dinheiro. Somos esquecidos por falta de investimentos e cansados da nosso política. Estamos cansados do extremo, da falta de respeito e da impunidade. Cansados da hipocrisia de dizerem que são ecologicamente corretos, quando na verdade alimentam a ideia do comodismo pelo fato de plantarem uma árvore. Hospitais sem infraestrutura, a maioria do povo sem acesso à cultura e certos representantes políticos se transformam cada vez mais em animais famintos pelo dinheiro público e utilizam de seu poder até o crime prescrever. Assalto já virou clichê, policial amigo de bandido não é mais notícia, trânsito congestionado é sempre factual. Onde vai parar tudo isso? Estamos por um fio, no limite. O nosso país durante muito tempo foi projeto de um modelo
neoliberal, ou seja, enfraquecimento do poder público do Estado e aumento do potencial das instituições privadas. Ficamos anos sendo controlados pelo FMI que não deixou que o país se desenvolvesse devido à dívida gigantesca. O reflexo que tivemos de tudo isso foi: 20 anos sem investimentos em infraestrutura, funcionários públicos ganhando mal, educação pública sendo dizimada, aumento do desemprego, êxodo rural, inúmeras migrações para os grandes centros urbanos deixando as cidades esgotadas. Nesta edição constatamos que os pais passam muito tempo ocupados com suas obrigações, como o trabalho, e acabam deixando a educação de seus filhos de lado. Isto está gerando graves consequências. Fazendo com que estes adolescen-
tes se sintam no poder de agredir seu próprio professor que esta tentando consertar aquilo que não esta sendo feito em casa. Uma pesquisa realizada pela PUCPR revelou que 6% dos estudantes de escolas públicas já usaram drogas. O problema maior é que nossa lei vê este aluno como um criminoso e margina, quando na verdade deveria ver como alguem que precisa de ajuda e que é reflexo do descaso de uma sociedade sem limite. Outra questão levantada, foi na reportagem sobre redução da maioridade penal, foi constatado que os menores infratores se aproveitam da lei que da brecha à menores de 18 anos, para roubarem e entrarem no mundo do tráfico. Hoje é preciso que isto seja alterado, que estes
menores recebam educação de qualidade e não aprendam a ser mais criminosos dentro dos péssimos presídios que temos. É muito preocupante pois estamos perdendo nossos jovens para a criminalidade, sem que tenha políticas públicas para nossa juventude. Estamos esgotados, conseguimos fazer do planeta terra um espaço de guerra financeira e buscas individuais. Ficamos todos os dias buscando alternativas para sobreviver. Parece que viver é para raros, transformamos um lugar maravilhosso em roleta russa. Separamos seres humanos em 1º, 2º e 3º classse e fazemos uma corrida maluca e desumana para se chegar ao topo da pirâmede, mas lá em cima não cabe todo mundo. Lucas Molinari
FALA, PROFESSOR
“Ter um jornal feito por acadêmicos nos mostra um curso atento com o desenvolvimento prático e profissional de seus alunos.” Sérgio Barbosa Rodrigues é Professor de Teologia
FALA, ALUNO
FALTOU OLHAR CRÍTICO SOBRE A GERAÇÃO Y
Temas dispersos não facilitam compreensão sobre o tema O Comunicare de outubro de 2011 aborda um assunto – Geração Y – que por mais interessante que seja não justifica uma edição inteira. Ou, pelo menos, na forma como a edição foi construída, com temas dispersos, sem estabelecer vínculo de uma pauta com outra e tornar possível a compreensão global. Este é um problema de edições temáticas. Se o assunto não for uma mina de ouro, minerais menos nobres afloram para ocupar o espaço, já que a natureza abomina o vácuo. O resultado geral acaba sendo uma edição arrastada, cansativa e, às vezes, repetitiva. Ainda assim, faltou um olhar crítico e severo sobre a geração e sua inserção no interminável acervo das “gerações” anteriores. Qual a diferença desta geração com as que as antecederam? Isto não fica claro e tampouco os propósitos elevados da geração Y. Na última página há um quadro bem humorado, mas ele é insuficiente e talvez até por ser bem humorado, está distante de esclarecer – além de deixar lacu-
nas. Como as pautas foram produzidas para preencher o número de páginas do jornal, algumas têm interesse e outras são enfadonhas. Claro que um jornal laboratório não tem por finalidade ser de arromba. No entanto, se o aprendizado às vezes é seguir velhas e batidas fórmulas, outras vezes aprender pode ser justamente o contrário, romper fórmulas e experimentar novas soluções, sejam gráficas, visuais, textuais, etc. E isto também não aconteceu. Agora, é a velha história: ninEXPEDIENTE Jornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Edição nº 200 | Novembro/2011 PUCPR Rua Imaculada Conceição 1.155, Prado Velho - Curitiba/PR www.pucpr.br Reitor Clemente Ivo Juliatto Decano do CCJS Roberto Linhares da Costa
guém aprende andar sem tropeçar. E criar a oportunidade para dar os primeiros passos eu presumo que seja a principal função de um jornal laboratório. Partindo deste princípio, e principalmente do fato de que muitas faculdades sequer tem este veículo para o ensaio de futuros jornalistas, achei a experiência válida – embora isto não diga muita coisa. E também não vejo motivo para ser rigoroso ao falar de um jornal laboratório, porque ele é apenas uma das etapas iniciais do aprendizado de um profissional,
Decano-Adjunto do CCJS Marilena Winters Diretora do Curso de Jornalismo Mônica Fort COMUNICARE Jornalista Responsável Cícero Lira - DRT 1681 Coord. de Projeto Gráfico Miriam Fontoura EDITORES Editora-chefe: Letícia Martins Donadello Editora de arte: Etiene Mandello
aprendizado que não se extingue nos bancos escolares, seja no jornalismo, na medicina ou em qualquer outra profissão. O aprendizado continua a vida inteira. E para isto é preciso uma virtude: estar interessado em fazer a coisa certa, sempre. Este desejo me pareceu presente em boa parte das páginas do jornal.
Edilson Pereira é editor e repórter especial na empresa O Estado do Paraná EDITORIAS Capa: Letícia Martins Comportamento: Rubia Lorena Oliva Cultura: Ana Evelyn de Almeida Economia: Penélope Miranda Educação: Rafaela Carvalho Entrevista: Felipe Martins Esporte: Paula Lima Meio Ambiente: Lidyane Pereira Opinião: Lucas Molinari Política: Gabriela Campos Saúde: Fellipe Gaio Segurança: André Recchia Tecnologia: Virginia Crema Trânsito: Aline Przybysewski
“As várias abordagens sobre um mesmo tema torna o jornal bastante instigante. Sugiro que o assunto “política” sempre esteja em pauta neste espaço, pois é algo no qual os jovens nunca poderão se afastar.” Alexandre Macedo Cursando o 8° Período de Serviço Social
NOSSA CAPA
“ Na capa, a logo do jornal sofre pressão, significando que até esse meio é atingido por uma quantidade enorme de informações, chegando ao seu limite”. Letícia Donadello
entrevista
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Curitiba, novembro de 2011
ORGÃO RECEBE DIARIAMENTE RECLAMAÇÕES CONTRA SERVIÇOS E PRODUTOS COM DEFEITO
Telefonia no topo da lista de problemas Graduada em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba e especialista em direito civil pela PUCPR, além de advogada do Procon-PR, Claudia Silvano mantem uma coluna semanal na RPCTV, na qual trata sobre problemas de clientes em relação à empresas, e sobre direito do consumidor em geral. Em entrevista ao jornal Comunicare, a advogada comenta sobre as mais recorrentes reclamações feitas ao Procon-PR. Comunicare: Em termos de reclamações, o que mais está no limite em Curitiba? Claudia Silvano: Atendemos várias áreas, como alimentos, consórcios, habitação, produtos, serviços e saúde. Dentre estas, a que mais temos reclamações é a área de comercialização de serviços. Comunicare: Nesta área, quais assuntos mais são recorrentes na hora das reclamações? Claudia Silvano: Com certeza as reclamações contra empresas de telefonia, e de serviços financeiros. Estes são os dois grandes geradores de reclamações aqui no Procon. Comunicare: Na telefonia, por exemplo. Sobre qual tópico mais reclamam? Claudia Silvano: Dúvidas sobre cobrança. Quando um consumidor recebe uma conta, por exemplo, e não concorda com os valores cobrados. Isso acaba trazendo a pessoa ao Procon. Outro tópico que também é muito reclamado é sobre cobranças indevidas. Comunicare: E como funcionam estas cobranças? Claudia Silvano: Por exemplo, é lançado um serviço na linha telefônica que num foi pedido pelo consumidor, ou quando o consumidor cancela algum serviço mas por engano a empresa continua cobrando. Comunicare: Para estes ca-
Foto: Felipe Martins
Advogada do Procon-PR Claudia Silvano explica o porquê de tanta reclamação contra serviços de telefonia móvel e fixa
Claudia Silvano, especialista em direito civil e advogada do Procon-PR
sos, qual é o procedimento do Procon pra resolução? Claudia Silvano: A princípio, chamamos as duas partes para uma conciliação. Uma outra forma é a criação de um documento, baseado na reclamação do cliente. Neste documento, é feito um pedido, seja de cancelamento, reembolso ou coisa do tipo; e o consumidor leva as informações para o fornecedor, com o intuito de chegarem a uma solução. Comunicare: A partir disso, quanto tempo o consumidor tem para a resolução de seu problema? Claudia Silvano: Depois de o fornecedor receber o documento, são contados dez dias. Se ainda assim não tiver uma solução, o cliente pode voltar, e então é aberto um processo administrativo. Aí é feita uma audiência com as duas partes frente à frente, visando novamente a conciliação. E por fim há ainda uma terceira forma, voltada para empresas com grande número de reclamações. Comunicare: No que consiste esta forma? Claudia Silvano: É um projeto com oito empresas, em que nós agendamos com o cliente um atendimento que acontece em até
“Quando falamos em multa, as empresas ficam mais acessíveis”
5 dias úteis aqui dentro do Procon mesmo. Lembrando que para participar deste projeto, é necessário um índice de 75% de solução de problemas, e se este nível não for mantido, a empresa perde uma boa oportunidade de resolver rapidamente os pequenos problemas com consumidores. Comunicare: Se nenhuma destas formas resolverem o problema do consumidor, qual é a medida tomada? Claudia Silvano: Se mesmo com todas as tentativas de resolução e conciliação as duas partes não chegarem a um acordo, a empresa está sujeita à multa, num valor que pode chegar a até 6 milhões de reais. Isso claro, dependendo do dano causado, da reincidência, da capacidade econômica da empresa; vários fatores definem o valor da multa. Comunicare: Se compararmos empresas grandes com as pequenas, há diferença nos procedimentos tomados pelo Procon? Claudia Silvano: O serviço oferecido por nós é o mesmo para todos, independente do porte da empresa. O que muda é o comportamento de cada uma. Em alguns casos, quando relatamos que já houve tentativas de resolução, entramos direto com o processo administrativo. E quando falamos em multa, a empresa muda totalmente a forma de con-
versa, ficam mais acessíveis. Comunicare: Fora da área de serviços, quais são os outros destaques do Procon nas reclamações? Claudia Silvano: Produtos com defeito, principalmente apa-
relhos celulares. As empresas vendem produtos de má qualidade que constantemente dão problemas, e por consequência os consumidores vivem procurando o Procon pra resolver isso. Comunicare: E neste caso, qual é o procedimento para esclarecer o problema? Claudia Silvano: O primeiro passo por parte do consumidor é levar o aparelho na assistência técnica, que tem 30 dias pra resolver o problema. Se não for resolvido, o cliente tem direito à troca do produto, ou reembolso dos valores gastos. Daria pra ser resolvido tudo mais rápido,mas como as empresas não são tão amigáveis, ou trocam por outros produtos com problemas, o consumidor se vê obrigado a buscar nossa assistência. Felipe Martins
Outras reclamações do povo curitibano
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tecnologia
Curitiba, novembro de 2011
CRIAÇÕES ENGENHOSAS E CASAS AUTOMATIZADAS APRIMORAM A PRATICIDADE DO DIA A DIA
Tecnologia causa comodismo em excesso São Paulo tem sua primeira vítima da automação de casas, a busca excessiva pelo comodismo pode trazer consequências perigosas
Se “Os Jetsons” pareciam fictícios demais nos anos 90, o novo Robô Willow PR2, lançado este ano nos Estados Unidos, mudou essa situação. Capaz de fazer tarefas domésticas como dobrar roupas e recolher o lixo, ele virou a Rose da atualidade. Além disso, os fabricantes afirmam que ele é um bom companheiro nas horas de lazer: pega bebidas na geladeira e sabe até jogar sinuca. Se parece impossível comprar o Willow PR2, que custa atualmente R$ 650 mil, compensa-se em outros produtos que já dão uma mãozinha nas tarefas diárias. Segundo dados do e-bit, a expectativa é que o Brasil fature R$ 20 bilhões em vendas de eletrônicos em 2011, 6 bilhões a mais que no ano passado. A indústria de comércio eletrônico do Brasil vem se desenvolvendo rapidamente, como resultado do aumento no número de pessoas comprando produtos e serviços pela Internet. O crescimento nos números parece encaixar no limite em que a tecnologia nos coloca no comodismo, afinal desde a invenção da roda o homem cria para aprimorar a qualidade de vida. Se a palavra tecnologia hoje tem um sinônimo esse é: praticidade. Ninguém mais b a t e bolo
na m ã o ou levanta do sofá para mudar de canal, a comodidade virou regra número um do homem moderno. A nova era das casas automatizadas e
dos produtos mais engenhosos nos faz pensar a onde vamos chegar com tudo isso. Automação A automação residencial é a aplicação de sistemas de controle para todas as funções encontradas no ambiente. Segundo a Aureside, Associação Brasileira de Automação Residencial, existe no país cerca de 1 milhão de residências com potencial imediato para receber algum tipo de solução tecnológica. O Engenheiro Civil, Sérgio Luiz Crema, 49 anos, afirma que a procura por sistemas de automação nas casas cresceu nos últimos anos. “Não é difícil encontrar sistema de segurança, dimerização de luzes e simuladores de presença em casas e apartamentos”, conta. Para Sérgio a automação é uma realidade no Brasil, a cada 10 casas que ele constrói, 6 possuem algum desses sistemas. E o crescimento tende a continuar: “a nova geração está familiarizada com tecnologia, e gosta de estar permea d a por
ela. Hoje muitos procuram estes sistemas pelo comodismo e novidade, mas no futuro será algo completamente natural, e as preocupações com economia e segurança serão as
maiores motivadoras”, afirma Sérgio. Contudo nem todos os utilizadores parecem aprovar os novos sistemas. Maria Delgado, 38 anos, médica, possui sistemas de dimerização de luz em sua casa há cinco anos, mas não vê tantas vantagens: “quando optamos por esse sistema achávamos que iria nos trazer muitos benefícios, mas hoje percebo que foram gastos a mais por pura curiosidade tecnológica”, afirma. A busca por uma tranquilidade e facilidade doméstica deve ser tomada com cautela. José Milagre, um dos principais peritos brasileiros e especialista em segurança digital, alertou, em um de seus últimos artigos publicados pela revista on line da UOL, que a automatização vem tornar a vida mais fácil, mas o mesmo não se pode dizer quanto à segurança. “Os sistemas passam a reagir por uma ordem dada por um inter r uptor
ou por um comando, que pode ser remoto, até mesmo via celular. Um criminoso digital pode, por exemplo,
desligar os níveis de segurança, tornando indisponíveis sensores de gás, inundações, incêndios, superaquecer a água para o banho, desligar a aspiração central ou purificador de ar, bem como iluminação, preparando o ambiente para um ataque ou assalto físico, o que pode ser fatal aos habitantes e pessoas que ali trabalham”, alerta. No último mês, um homem morreu asfixiado em sua própria casa na cidade de São Paulo. A notícia, que não teve muita repercusão nacional, alerta para os perigos de ter uma casa totalmente automatizada, onde o morador só tem controle através de sistemas eletrônicos que são passíveis de pane. Após uma longa queda de energia, o empresário, que estava sozinho, perdeu o controle de todas as portas e janelas, estas de vidro duplo e espesso. O ar condicionado também apresentou problemas, o que pode ter colaborado
com a morte. O corpo só foi encontrado três dias após a morte. Engenhocas Fã de engenhocas, Jorge Barreto, 39 anos, aderiu à tecnolo-
gia para ajudar no seu dia a dia. Morando sozinho e sem tempo para as tarefas domésticas, ele está sempre buscando aparelhos novos, como o “aspirador robô” que comprou recentemente. Pequeno, em for mato de d i s c o, o aspirador m a p eia a casa e limpa os cômodos com apenas um toque. Com os sensores em toda sua base, o aspirador não bate nos móveis, evitando o risco de estragar ou enroscar em algo. “Ele é muito fácil e prático de usar. Chego em casa cansado e deixo ele fazendo o serviço por mim”, completa Jorge. Outro aparelho tecnológico que está entre os favoritos de Jorge, é o fogão que funciona por indução magnética. O campo eletromagnético presente no aparelho, oscila em uma freqüência capaz de gerar correntes induzidas em qualquer objeto que seja colocado próximo a ele. É o mesmo princípio de f u ncionamento das antenas, porém, desta forma é muito mais seguro, evitando o risco de choques elétricos. Além disso, a superfície do fogão não se aquece, apenas o interior da panela, evitando também queimaduras típicas de quem cozinha. Camlia Barbieri Camila Galvão Virginia Fialho
esporte
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Curitiba, novembro de 2011
COMPETIDORES SE PREOCUPAM COM A VITÓRIA, MAS ESQUECEM DOS RISCOS
Atletas treinam excessivamente
Entre os vários problemas e riscos enfrentados está o “overtraining”, distúrbio que afeta atletas amadores e profissionais Em diversas modalidades esportivas é comum atletas e não atletas excederem os limites de suas capacidades físicas e psicológicas, e isto é mais frequente do que se imagina. A professora de lutas da PUC-PR, Keith Sato Urbinati, 31, foi campeã mundial de karatê em 2000 e, para chegar lá, percorreu um longo caminho. O treino contínuo quase todos os dias ao longo de s u a
carreira e, consequentemente, o esforço repetitivo dos músculos, lhe rendeu uma série de lesões. Keith afirma que na época não sabia, mas o descanso logo após os treinos é essencial para obter um melhor resultado. Ela conta que não teve uma vida igual a de muitas adolescentes. Não ia a shoppings com os amigos, por exemplo, pois achava que, quanto mais treinamento, melhor. “Eu fazia de tudo para ganhar. Se você falar para um atleta que bater a cabeça na parede vai fazer com que ele ganhe, ele vai bater”, brinca. Keith afirma que não se arrepende de ter treinado tanto, pois adorava competir, mas teve que abandonar a carreira porque decidiu priorizar outras coisas, como a vida pessoal e profissional. A professora conta também que, pelos treinos contínuos, acabou criando amizade apenas com seus companheiros de
equipe. “Eu e meu marido nos conhecemos através do karatê. Como eu passava muito tempo viajando e treinando, não tinha tempo para conhecer pessoas e fazer amigos em outros lugares”, conclui. Outro caso é o jogador de vôleibol Anderson Paulo Semchechen. Levantador da equipe adulta do Círculo Militar/Dom Bosco/Ponta Grossa, ele pratica vários exercícios, muitos deles repetidos de maneira exaustiva. Realiza treinos de, no mínimo, quatro horas por dia, três vezes na semana e, além disso, faz outras atividades fora do clube, como corrida e academia. Anderson se preocupa com a disputa, pois os 18 melhores atletas do campeonato são relacionados para defender a Seleção Brasileira Universitária. Mesmo sabendo dos riscos com o excesso de atividade e buscando descansar sempre que possível, afirma que prefere treinar muito para garantir um bom resultado no campeonato. “Quero treinar mais, melhorar, chegar muito
bem na competição, porque é a única chance do ano para tentar uma vaga na seleção”, finaliza. Overtraining A Síndrome do Excesso de Treinamento ou “Overtraining,” como é mais conhecida, é o desequilíbrio entre a quantidade de exercício feito e o quanto o corpo suporta. Suas consequências afetam o desempenho físico e emocional. Os principais sintomas são dor muscular ou nas articulações, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, a insônia, queda do sistema imunológico e tempo de recuperação mais alargado que o normal. O personal training Cláudio Miranda Júnior, 27, é dono de uma academia e relata que muitos não se cuidam para atingir seus objetivos. “As pessoas não respeitam o corpo e seus limites e não dão o descanso necessário para o organismo se recuperar”, alerta. Para sair de um quadro de
over t raining é preciso suspender a malhação. Se a Síndrome é detectada no início e a pessoa ficar de repouso durante duas semanas, ela pode se recuperar, mas se o quadro se torna crônico, pode levar até seis meses para voltar aos exercícios.
Mariana Kais de Azevedo Miguel Rezende
OS ESPORTES RADICAIS GANHAM CADA VEZ MAIS ADEPTOS E DESAFIAM OS LIMITES DO SER HUMANO
Escalada, Rafting, Snow board, Páraquedismo, Rapel, Bungee jump. A globalização, o aumento da vida urbana e as mudanças sociais, culturais e econômicas fazem com que cada vez mais pessoas busquem na natureza uma trégua da monotonia dos grandes centros. A prática dos esportes considerados radicais funciona como uma válvula de escape para o estresse urbano, originado por excesso de trabalho, má alimentação e trânsito caótico. Porém, apesar de existir há muito tempo, a consolidação dessas atividades só se deu no início do século XXI, quando começaram a ser estudadas pela Educação Física. Iolanda Galvão Meister, 46, psicóloga, se rendeu à emoção causada por esses esportes há
seis anos. “Já fiz arborismo, mergulho e escalada, mas me apaixonei mesmo pela sensação de voar que senti na primeira vez que pulei de páraquedas. Foi um momento de superação, antes eu tinha medo até de olhar pela janela de um prédio de cinco andares”, conta. Segundo o médico Lisandro Ribeiro, 36, formado pela Faculdade Evangélica do Paraná, a característica fisiológica que define esse tipo de esporte é a liberação da adrenalina. “É como se o nosso organismo nos preparasse para uma situação de perigo. A dose de adrenalina que o corpo libera causa uma sensação muito forte de bem-estar e, logo após o término da atividade, vem a sensação de relaxamento”, explica. Lisandro acentua que é de
extrema importância que os interessados realizem os cursos que as empresas especializadas oferecem antes de iniciar alguma modalidade. “Pessoas com problemas cardíacos, hipertensos, labirintite e outros distúrbios devem ser acompanhadas de profissionais capacitados na área, que possam ajudá-las caso ocorra algum mal-estar”, diz. Heitor Grandini Rodella, 21, estudante de Engenharia Civil, pratica Páramotor há 9 meses, desde que fez um curso na praia de Itanhaém-SP. “Descobri no Páramotor a união da euforia com a sensação de liberdade. Fico até mais leve, como se tudo de ruim tivesse ficado lá em cima”, diz. Um esporte é definido como radical pela presença do perigo iminente e, apesar das modali-
Foto: Paula Lima
Esportes radicais servem como válvula de escape e superação de limites
O Páraquedismo ajudou Iolanda Galvão a superar seu medo de altura
dades serem bastante distintas, possuem o risco como fator comum. Estar próximo ao limite é fundamental para a satisfação do praticante deste tipo de modalidade. Do ponto de vista profissional, Iolanda diz que é muito
importante para a saúde psíquica que as pessoas se esforcem para superar suas dificuldades e limitações. “Medo? Ação é a palavra mágica!”, afirma. Paula Lima
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comportamento
Curitiba, novembro de 2011
DEPENDÊNCIA DE RECURSOS TECNOLÓGICOS ALTERA ROTINA DE USUÁRIOS
Uso exagerado de tecnologia pode viciar Taquicardia, sudorese e agressividade são alguns dos sintomas da abstinência ao uso de computadores, celulares e videogames com o fato de não conseguirem desligar smartphones, computadores, tablets e outros recursos da vida moderna”. É importante notar que as ações compulsivas geralmente estão associadas à fuga de algo desagradável. No mundo virtual as coisas são aparentemente mais fáceis e a fuga para esse “mundo perfeito” satisfaz a pessoa de alguma maneira. O problema é que os estragos são enormes. Assim como acontece com um viciado em álcool ou em drogas, o doente desenvolve uma tolerância que o faz ficar on line, em frente ao videogame ou ainda utilizando celular por um longo tempo sem se dar conta do exagero.
Segundo pesquisa do Ibope/ Nielsen Online, agosto de 2011, o Brasil é o líder mundial em tempo de navegação na internet, com uma média mensal de 69 horas por usuário. Esse número o coloca à frente de países como Estados Unidos, Reino Unido, França e Japão. É interessante notar que o país ocupa o quinto lugar em número de conexões, isto é, apenas 42% da população brasileira têm acesso à rede mundial de computadores. Além do acesso à internet, uso de celulares, ipads, iphones, tablets, smartphones e uma infinidade de outros aparatos tecnológicos facilitam a vida moderna, mas também podem causar sérios problemas físicos e psicológicos. Prova disso é a constatação de uma nova realidade: a da dependência eletrônica. Um caso extremo aconteceu em fevereiro desse ano, quando um chinês de aproximadamente
30 anos entrou em coma depois de permanecer 72 horas ininterruptas dentro de um cibercafé. O homem teria gasto cerca de R$ 2.500 em jogos virtuais e no tempo que passou dentro do estabelecimento pouco se alimentou, bebeu água ou foi ao banheiro. Ele foi encaminhado a uma clínica, mas acabou falecendo. Para o psicólogo e professor u n ive r sit á r io, Hélder Gusso, compulsão é o termo utilizado para designar qualquer tipo de comportamento repetitivo que produza algum tipo de sofrimento para si ou para as pessoas com as quais se convive. “O indivíduo perde o controle sobre a ocorrência e passa a sofrer com isso. Certamente, já temos milhares de pessoas que sofrem
Sintomas
Necessidade de manter-se sempre on line, angústia por não ter um celular à mão, irritabilidade e até mesmo agressividade são alguns dos sintomas do vício em tecnologia. Além disso, desleixo com a própria higiene e falta de cuidados com a saúde, como má alimentação e pouco tempo de sono, também apontam para algo errado. Um estudo realizado na Universidade de Maryland (EUA), com mil estudantes entre 17 e 23 anos, concluiu que o vício em tecnologia é semelhante ao uso de drogas. O grupo foi impedido de usar telefones, redes sociais, internet e televisão durante 24 horas. Eles podiam utilizar telefones fixos, ler livros e tinham que manter um diário. Desconforto, isolamento e até confusão mental foram relatados. O que mais chamou a atenção da pesquisadora Susan Moeller, foi o relato de jovens que afirmaram sentir comichões pelo corpo, sintoma comumente atribuído a processos de desintoxicação de drogas. O problema é que nem sempre é fácil perceber quando surge a dependência, já que estar co-
“Compulsão pode afastar as pessoas do mundo real”
nectado é uma condição da vida contemporânea. O que vai realmente fazer a diferença é a qualidade do uso que se faz de todas as ferramentas disponíveis. O número de horas já não é o principal critério para diagnosticar o vício, mas sim o uso abusivo que inclui a forma e o propósito de uso. A estudante Gabriela Maltezo, 16 anos, passa cerca de três horas diárias navegando na internet. A maior parte desse tempo é gasto em redes sociais e salas de bate papo. Gabriela conta também que gosta de baixar músicas e ainda faz pesquisas para trabalhos do colégio, mas destaca que tem controle sobre o uso. “eu tenho meu limite. Não sou tão ‘louca’ assim por internet como muitas pessoas da minha idade”. Para o estudante Diogo Cavassola, 18 anos, que passa cerca de cinco horas por dia em frente ao computador, ser “viciado em
internet” é uma coisa “normal”, afinal ela está em todos os lugares. Além da internet, Diogo não abre mão do videogame. Para sua mãe, Terezinha Iendraicak, esse comportamento não é saudável. “Já aconteceram muitas brigas e eu tentei restringir o uso. Pensei até em procurar ajuda médica, mas nada adianta. Ele não larga os jogos e o videogame”, desabafa. O psicólogo Hélder Gusso, ressalta que o importante é buscar o equilíbrio em todas as esferas da vida e compreender que a frustação faz parte do processo. “Uma pessoa que obtém satisfação e prazer em sua vida familiar, profissional e afetiva, dificilmente terá motivo para fugir ou se esquivar dos desprazeres da vida real”, finaliza.
Julio Cesar Glodzienski Rubia Lorena Curial Oliva
Fique atento a algumas situações que podem indicar algo errado: - No meio do caminho para o trabalho você percebe que esqueceu o celular em casa e volta para buscá-lo. Afinal, você não pode ficar sem o aparelho. - Quando você está no meio de uma conversa decisiva e toca o celular, você interrompe e pede licença para atendê-lo. - Ao acordar a primeira coisa que você faz é ligar o computador para checar sua cai-
xa de e-mails. - Seus parentes e amigos reclamam do tempo que você passa conectado. - Você não desgruda do seu celular, notebook, ipad, etc. Todos os aparelhos andam sempre com você. - Em uma festa ou show você se preocupa em tirar fotos para depois postar nas redes sociais. - Você comumente deixa de ir a festas e eventos sociais para ficar conectado. - Quando vai a algum lugar onde o aparelho fica sem sinal você fica angustiado e inseguro. - É comum você escutar seu celular tocar, mesmo sem ninguém estar ligando. Fonte: Instituto de Psiquiatria da UFRJ
saúde
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Curitiba, novembro de 2011
PESQUISA PODE SER USADA PARA CONSCIENTIZAÇÃO NAS ESCOLAS
Estudo revela que 69% dos alunos já usaram drogas
Uma pesquisa realizada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) revela que 64% dos alunos de escolas públicas já experimentaram maconha e 5,6% fumam cigarro. O estudo também identificou que 69% destes fumantes têm pai, mãe ou um irmão tabagista, e 88% têm amigos que fazem uso do cigarro. Foram levantados os números sobre outros produtos como narguile, charuto e outros artefatos semelhantes, que representam 9%. A pesquisa feita pela aluna de Medicina Mariah Paulino, com orientação do professor e cardiologista José Carlos, foi, inclusive, destaque de um telejornal em Curitiba.
O estudante de 19 anos, Ruan, que pediu para não ter seu sobrenome divulgado, estudou em colégio público e garante que a pesquisa está certa e talvez os números sejam até maiores. “Eu realmente comecei a fumar por influência de amigos, tanto cigarro quanto maconha. Na oitava série, a gente se reunia na esquina do colégio, na saída, e fumávamos. Na minha época, pelo menos, era praticamente 80% das pessoas da minha sala que fumavam”, conta ele. Ruan estudou em colégio por vontade própria e sabe dos perigos que as drogas oferecem, mas tem uma opinião interessante sobre o assunto. “Eu acho que as pessoas que começam com a maconha e
“Eu realmente comecei a fumar por influência de amigos”
vão passando para outras drogas têm a cabeça fraca, não é com todos que acontece isso. Hoje em dia, fora do Brasil, já existem tratamentos médicos que usam da droga, e nem por isso as pessoas viciam e passam para cocaína, crack e outras coisas”. Para ele, o cigarro é quem oferece o grande perigo, pela quantidade de produtos químicos que são tragados para dentro do corpo. “Eu fumo cigarro, mas estou tentando parar porque sei o mal que faz, cada dia que passa eu estou diminuindo a quantidade que eu fumo. É muito produto químico, o que te faz dependente da nicotina, e você acaba prejudicando muito a sua saúde e gastando muito dinheiro”, lembra o estudante. Um dos motivos da realização da pesquisa foi para que as escolas se conscientizem e tentem prevenir estas práticas ile-
Foto: Fellipe Gaio
Mais da metade dos alunos de escolas públicas já usaram maconha e mais de 5% fumam cigarros por influências dos pais ou de amigos
Adolescentes adquirem o hábito de usar drogas desde cedo
gais, pelo menos nos perímetros da escola. A ex-diretora de uma escola estadual no Boa Vista, Solange Vanoli, acredita existir uma maneira de ajudar os alunos que usam drogas e fumam. “A solu-
ção é ter uma aula para orientação desde as primeiras séries, para, mesmo crianças, já entenderem o que é errado”. Felipe Dalke
PESSOAS BUSCAM TRATAMENTO NA CAPITAL PARANAENSE PELA FALTA DE PREPARO DAS SUAS CIDADES
Hospitais de Curitiba não têm estrutura suficiente para atender a demanda Nas situações em que o tratamento não existe onde o paciente reside, existem os TFD’s – Tratamentos Fora de Domicílio – que, em casos de alta complexidade, como transplantes de pulmão e traumatismos medulares, enviam os pacientes, diante da aprovação do processo burocrático, para outros estados brasileiros, a fim de receber o devido tratamento. Para os casos citados, os pacientes são encaminhados para São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, respectivamente. Como ajuda financeira, o governo fornece a passagem rodoviária – e aérea, em casos de dificuldade de locomoção – aos requerentes aprovados, além de R$15,00 por dia. Mas ainda existe a TFD intermunicipal, que ocorre quando não há o tratamento ou sequer um hospital na cidade paranaense em que o paciente reside. Nesses casos, as pessoas são encaminhadas aos hospitais de
Curitiba, onde haja a terapia adequada. Para tanto, a locomoção é feita por meio de micro-ônibus da Secretaria de Saúde (e, algumas vezes, pelas ambulâncias) dos municípios. Dificuldades Sueli Batista, de Nova Brasília, cidade do interior do Paraná, conta que já veio a Curitiba três vezes para receber tratamento na córnea, por conta de uma infecção hospitalar que adquiriu numa cirurgia, feita há 7 meses, em Jacarezinho. “O médico disse que foi uma infecção causada pelo contato com gatos, mas numa consulta aqui em Curitiba, outro médico, especialista, fez o dignóstico e constatou que foi no hospital mesmo”. Sueli relata que além do problema da falta de estrutura nas cidades do interior, há também os problemas com locomoção. “Eu
Foto: Fellipe Gaio
Segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde, cerca de 42% de todos os pacientes internados nos hospitais de Curitiba, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), vêm de cidades do interior do estado. Em alguns hospitais, como o Pequeno Príncipe, esse indicador chega a 65%. Na maior parte das vezes, essas pessoas são atendidas pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, onde mais de 40% do atendimento é voltado a pacientes do interior. Para atender uma média de 411.000 pessoas por mês, o hospital conta com 510 leitos e 366 médicos. É o mesmo que dizer que, por mês, cada leito abriga mais de 800 pessoas, e cada médico deve atender mais de 1.120 pacientes. Além disso, a demanda média de internações chega a 1.407 por mês, quase três vezes o número de leitos disponíveis.
Hospital de Clínicas recebe o maior número de atendimentos de fora
gasto cerca de R$50,00 com táxi de Nova Brasília até Carlópolis, porque não tem nenhum ônibus que faça a linha até lá. Aí, venho para Curitiba, numa viagem de seis horas. É muito cansativo”, lamenta Sueli. Vindo de Palotina, também interior do estado, Tereza de Freitas esteve, pela oitava vez, na capital paranaense para tratar de
um problema de circulação nas suas pernas. “Fiz uma cirurgia em março, mas o problema voltou”, lembra Tereza. “É muito difícil, porque eu faço as operações, mas sempre tenho que ficar aqui, por horas, esperando o ônibus passar. Algumas vezes ele nem passa”. Fellipe Gaio
cultura
Curitiba, novembro de 2011
PRAÇA OSÓRIO: ESTÁTUAS ESTÃO PICHADAS E SEM PLACAS DE IDENTIFICAÇÃO
Vandalismo contra a identidade e cultura
Lei 9605/98 prevê penalidades que podem chegar a até três anos a quem atentar contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio O vandalismo praticado contra o Patrimônio Histórico e Cultural de Curitiba não atinge apenas bens materiais ou peças significativas para a cidade. Além disso, enfraquece a identidade e a cultura do nosso povo. Estátuas estão pichadas e sem placas de identificação em uma das praças mais populares de Curitiba. Na Praça Osório, vândalos destroem o patrimônio histórico e cultural da capital, mesmo com câmeras de segurança instaladas no local. As placas feitas de bronze são furtadas para ser vendidas e as pichações praticadas nos bustos dos homenageados revelam a falta de respeito à nossa história e cultura. Além de desrespeitarem e destruírem o espaço, ainda impossibilitam que turistas, ou até mesmo pessoas da própria cidade, conheçam as histórias dos monumentos. “Isso me revolta! Vejo a falta de educação e a ignorância do povo, vivemos em um país no qual grande parte
da população desconhece o valor do próprio patrimônio cultural. O governo é culpado por não educar corretamente e não ensinar sobre cultura e arte, e a população é culpada porque não valoriza e não respeita, no Brasil o vandalismo é quase cultura”, conta o artista plástico Yuri Seima. O órgão responsável pelos serviços de monitoramento e manutenção de limpeza da praça é a Secretaria do Meio Ambiente. Uma equipe de limpeza é enviada semanalmente ao local, e quando identifica algum dano, comunica à Secretaria. O trabalho de recuperação e restauração das peças é feito pelo Departamento de Arte e Cultura, é preciso um cuidado especial, pois em alguns casos as peças estão extremamente danificadas, o que torna o trabalho de restauração mais demorado e cauteloso. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria do Meio Ambiente, mesmo com a manutenção de limpeza e monitoramento por câmeras instaladas no local, os índices de atos de vandalismo são grandes. A Praça Osório foi construída em 1914 no Centro de Curitiba. O nome foi dado em homenagem ao Marquês
Jhonny Castro
“Isso me revolta! Vejo a falta de educação e a ignorância do povo’’
Obras históricas e artísticas vandalisadas em curitiba
do Herval, herói da Guerra do Paraguai e Ministro da Guerra (1878), Manuel Luiz Osório. Outro espaço cultural importante também é vítima do descaso, as paredes externas da Casa Andrade Muricy estão cobertas de pichações. O espaço de exposições foi inaugurado em 1998, o prédio tombado pelo patrimônio histórico foi construído em 1926. O local já foi sede de diversas secretarias do governo estadual e atualmente realiza mostras de artes visuais contemporâneas, nacionais e internacionais, além de exposições de relevância histórica. A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná informa que a última pintura geral realizada na Casa Andrade Muricy foi em 2006, e que em média uma vez por ano ocorre uma pintura de manutenção. “Por estar situada em uma área central, sem uso noturno, o local está mais propenso à ação de pichadores, não sendo possível manter o espaço em condições originais sempre”, explica. Legislação A bacharel em direito Laryssa Zane Cristino explica que a Lei 9605/98 prevê penalidades que podem chegar a até
três anos a quem atentar contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural, de acordo com o crime observado e obedecendo o devido processo legal. Para os casos de pichação também existe uma lei específica que proíbe a comercialização de tintas (aerossóis) aos menores de 18 anos. “A prefeitura de Curitiba tem ótimos projetos de preservação, conservação e recuperação do patrimônio cultural. O que falta, de fato, é fiscalização. Penas mais eficazes poderiam ser aplicadas para correção dos infratores, porém isso foge um pouco da competência municipal, se tratando de um problema social que deve ser analisado como um todo e combatido juntamente com a comunidade” completa Laryssa. A lei ainda afirma que não é crime a prática de grafite, desde que praticado com o consentimento do proprietário do imóvel, e em casos de bens públicos, como os prédios de patrimônio cultural, é necessária autorização formal de órgão competente da administração pública.
Ana Evelyn de Almeida
09
Curitiba, novembro de 2011
OBRAS SEM FIM
POPULAÇÃO NÃO TEM ACESSO À CULTURA POR CONTA DOS PREÇOS ABUSIVOS
A obra já custou cerca de 4 milhões de reais
Valores dos ingressos desagradam a muitos Produções pequenas não têm apoio suficiente das leis de incentivo
Nos últimos anos o incentivo à indústria cultural no Brasil está crescendo. No entanto, ainda existe uma parte do público que não tem condições de frequentar peças de teatro de circuito nacional e grandes shows de bandas e artistas internacionais. Isso se deve em parte aos valores cobrados pelos ingressos, que é considerado abusivo por muitas pessoas. A estudante Gabriela Vidoto conta que não paga para ver teatro desde 2005. “A última vez que assisti uma peça foi no Festival de Teatro de Curitiba, porque era gratuita”, comenta. Já o diretor e produtor teatral João Luiz Fiani acha que os preços no teatro curitibano estão até defasados. “A reclamação pode ser em relação aos espetáculos do eixo Rio e São Paulo que invadem a nossa cidade”, completa dizendo que peças produzidas em Curitiba são mais baratas em relação às que vem de fora. O também produtor teatral Jester Furtado acredita que o povo não atribui valor financeiro ao teatro. “A população não foi educada a valorizar a arte, existem muitas produções gratuitas, teatro para o povo e coisas do gênero, a questão é que só pagamos por aquilo que julgamos importante para nós”. Ele completa dizendo que acha que apenas baratear os ingressos não levaria mais público aos teatros. Os valores dos ingressos são em geral definidos pelo mercado cultural e pelo custo do projeto, podendo variar de acordo com diversos fatores. E existem as leis de incentivo à cultura, que podem ser municipais, ou a nacionalmente conhecida Lei Rouanet. Essas leis dão desconto no imposto de renda para empresas que
investem em ações culturais. No entanto, essas leis nem sempre são abrangentes, Furtado afirma que a lei só beneficia quem já trabalha na áera há muito tempo. “Ela virou um negócio para as empresas patrocinadoras que fazem a renúncia fiscal, ou seja, dão o dinheiro que nem pertence a elas e escolhem pra quem vai o patrocínio, e claro que escolhem o artista, ou o grupo, que já tem visibilidade, garantindo assim a publicidade da empresa”, completa. Fiani ainda afirma que a maioria das produções caras que vêm do eixo Rio-São Paulo conta com o apoio das Leis. Shows de grandes bandas e artistas internacionais voltaram ao cenário curitibano nesse ano, e os valores dos ingressos também são questionados pelo público. No último dia 12 de outubro a banda britânica Deep Purple se apresentou no Teatro Positivo, e o ingresso mais barato estava sendo vendido a R$ 320 (R$ 160 a meia-entrada). Gabriela comenta que gostaria de ter ido ao show, mas estava muito caro. “Seria muito bom pagar um pouco menos para ver grandes bandas”, finaliza a jovem. No gráfico vemos alguns valores de ingressos para shows de bandas internacionais que vieram a Curitiba. Os alemães do Scorpions realizaram show em Ponta Grossa
em 2008, e o preço foi de R$ 62, em 2010 a banda voltou ao Paraná, dessa vez em Curitiba, e o valor cobrado foi de R$ 105, um aumento de 69,3%. Por outro lado, os também alemães do Helloween se apresentaram em 2008 pelo custo de R$ 60, e em 2011 a entrada para o show custou R$ 64, uma variação de apenas 6,6%. Meia-entrada A meia-entrada é um benefício garantido por lei, e regulamentado por leis estaduais e municipais. Muitas casas de shows se utilizam de promoções irregulares, como a meia-entrada em troca da doação de um quilo de alimento, e a cota de apenas parte dos ingressos para estudantes. Essas são práticas abusivas e irregulares. José Tiago de Castro, presidente da União dos Jovens e Estudantes do Brasil, a UJE, afirma que “o estudante deve saber o seu direito para evitar ser enganado”, e completa informando que cabe ao Procon e ao Ministério Público fiscalizar. A UJE mantém um site informativo sobre o benefício e sobre casas de show do Brasil todo que o descumprem. Serviço: w w w.meiaentrada.com.br Jhonny Castro
As obras do MUMA ainda não têm data para terminar. O museu, que conta com 4 mil metros quadrados, foi inaugurado em 5 de maio de 1988, e se chamava Centro Cultural Portão. Em 1996 o nome foi mudado para o atualmente usado Museu Metropolitano de Arte de Curitiba. A responsabilidade pelo museu é da Fundação Cultural de Curitiba, que está reformando o museu com recursos públicos. As obras começaram em dezembro de 2008, com a reforma de toda a infrestrutura do prédio, que se encontrava muito deteriorada. A segunda fase das obras iniciou em 2010, com a execução de pisos, forros, instalação elétrica, além da reforma e construção do auditório Antonio Carlos Krai e do Cine Guarani. A terceira e última fase de revitalização será feita a partir de um processo de licitação, ainda sem data definida para a retomada das obras. Segundo informações do Centro Cultural de Curitiba, o MUMA será totalmente modernizado, e contará também com a biblioteca, que já funcionava antes da reforma. O espaço era muito utilizado pela população local, principalmente por alunos de escolas públicas da região, que frequentavam o museu para estudar na biblioteca, e conhe-
cer as obras de importantes nomes da pintura, como Portinari e Di Cavalcanti. Com o fechamento do MUMA, muitos estudantes ficaram sem local apropriado para estudar, e o prédio passou a sofrer com o vandalismo. Os tapumes que protegem o antigo museu estão todos pichados. Após a colocação desses tapumes, um atalho que passa pelo lado esquerdo do museu se tornou um local frequentado por usuários de drogas, e existem relatos de pessoas que sofreram tentativas de assalto. O estudante Guilherme Vieira, 19 anos, mora na região desde a infância e lembra da época em que ia ao museu para estudar. ”Eu vinha muito aqui, é uma pena que fechou”, afirma o jovem. Segundo o guarda municipal Quirino, que faz plantão para garantir a segurança no antigo museu, toda a estrutura interna já foi revitalizada, apenas faltando a fachada do monumento para ser reformada. “Todo o miolo do museu foi reformado, e agora conta com sala de exposição de obras, auditório e cinema”, afirma. A obra já teve um gasto de cerca de 4 milhões de reais, e ainda será necessário mais um milhão para terminar a última etapa da reforma.
Jasson Wolff
08
Tapumes pichados cercam o Muma
Jasson Wolff
cultura
Curitiba, novembro de 2011
PRAÇA OSÓRIO: ESTÁTUAS ESTÃO PICHADAS E SEM PLACAS DE IDENTIFICAÇÃO
Vandalismo contra a identidade e cultura
Lei 9605/98 prevê penalidades que podem chegar a até três anos a quem atentar contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio O vandalismo praticado contra o Patrimônio Histórico e Cultural de Curitiba não atinge apenas bens materiais ou peças significativas para a cidade. Além disso, enfraquece a identidade e a cultura do nosso povo. Estátuas estão pichadas e sem placas de identificação em uma das praças mais populares de Curitiba. Na Praça Osório, vândalos destroem o patrimônio histórico e cultural da capital, mesmo com câmeras de segurança instaladas no local. As placas feitas de bronze são furtadas para ser vendidas e as pichações praticadas nos bustos dos homenageados revelam a falta de respeito à nossa história e cultura. Além de desrespeitarem e destruírem o espaço, ainda impossibilitam que turistas, ou até mesmo pessoas da própria cidade, conheçam as histórias dos monumentos. “Isso me revolta! Vejo a falta de educação e a ignorância do povo, vivemos em um país no qual grande parte
da população desconhece o valor do próprio patrimônio cultural. O governo é culpado por não educar corretamente e não ensinar sobre cultura e arte, e a população é culpada porque não valoriza e não respeita, no Brasil o vandalismo é quase cultura”, conta o artista plástico Yuri Seima. O órgão responsável pelos serviços de monitoramento e manutenção de limpeza da praça é a Secretaria do Meio Ambiente. Uma equipe de limpeza é enviada semanalmente ao local, e quando identifica algum dano, comunica à Secretaria. O trabalho de recuperação e restauração das peças é feito pelo Departamento de Arte e Cultura, é preciso um cuidado especial, pois em alguns casos as peças estão extremamente danificadas, o que torna o trabalho de restauração mais demorado e cauteloso. De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria do Meio Ambiente, mesmo com a manutenção de limpeza e monitoramento por câmeras instaladas no local, os índices de atos de vandalismo são grandes. A Praça Osório foi construída em 1914 no Centro de Curitiba. O nome foi dado em homenagem ao Marquês
Jhonny Castro
“Isso me revolta! Vejo a falta de educação e a ignorância do povo’’
Obras históricas e artísticas vandalisadas em curitiba
do Herval, herói da Guerra do Paraguai e Ministro da Guerra (1878), Manuel Luiz Osório. Outro espaço cultural importante também é vítima do descaso, as paredes externas da Casa Andrade Muricy estão cobertas de pichações. O espaço de exposições foi inaugurado em 1998, o prédio tombado pelo patrimônio histórico foi construído em 1926. O local já foi sede de diversas secretarias do governo estadual e atualmente realiza mostras de artes visuais contemporâneas, nacionais e internacionais, além de exposições de relevância histórica. A assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná informa que a última pintura geral realizada na Casa Andrade Muricy foi em 2006, e que em média uma vez por ano ocorre uma pintura de manutenção. “Por estar situada em uma área central, sem uso noturno, o local está mais propenso à ação de pichadores, não sendo possível manter o espaço em condições originais sempre”, explica. Legislação A bacharel em direito Laryssa Zane Cristino explica que a Lei 9605/98 prevê penalidades que podem chegar a até
três anos a quem atentar contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural, de acordo com o crime observado e obedecendo o devido processo legal. Para os casos de pichação também existe uma lei específica que proíbe a comercialização de tintas (aerossóis) aos menores de 18 anos. “A prefeitura de Curitiba tem ótimos projetos de preservação, conservação e recuperação do patrimônio cultural. O que falta, de fato, é fiscalização. Penas mais eficazes poderiam ser aplicadas para correção dos infratores, porém isso foge um pouco da competência municipal, se tratando de um problema social que deve ser analisado como um todo e combatido juntamente com a comunidade” completa Laryssa. A lei ainda afirma que não é crime a prática de grafite, desde que praticado com o consentimento do proprietário do imóvel, e em casos de bens públicos, como os prédios de patrimônio cultural, é necessária autorização formal de órgão competente da administração pública.
Ana Evelyn de Almeida
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Curitiba, novembro de 2011
OBRAS SEM FIM
POPULAÇÃO NÃO TEM ACESSO À CULTURA POR CONTA DOS PREÇOS ABUSIVOS
A obra já custou cerca de 4 milhões de reais
Valores dos ingressos desagradam a muitos Produções pequenas não têm apoio suficiente das leis de incentivo
Nos últimos anos o incentivo à indústria cultural no Brasil está crescendo. No entanto, ainda existe uma parte do público que não tem condições de frequentar peças de teatro de circuito nacional e grandes shows de bandas e artistas internacionais. Isso se deve em parte aos valores cobrados pelos ingressos, que é considerado abusivo por muitas pessoas. A estudante Gabriela Vidoto conta que não paga para ver teatro desde 2005. “A última vez que assisti uma peça foi no Festival de Teatro de Curitiba, porque era gratuita”, comenta. Já o diretor e produtor teatral João Luiz Fiani acha que os preços no teatro curitibano estão até defasados. “A reclamação pode ser em relação aos espetáculos do eixo Rio e São Paulo que invadem a nossa cidade”, completa dizendo que peças produzidas em Curitiba são mais baratas em relação às que vem de fora. O também produtor teatral Jester Furtado acredita que o povo não atribui valor financeiro ao teatro. “A população não foi educada a valorizar a arte, existem muitas produções gratuitas, teatro para o povo e coisas do gênero, a questão é que só pagamos por aquilo que julgamos importante para nós”. Ele completa dizendo que acha que apenas baratear os ingressos não levaria mais público aos teatros. Os valores dos ingressos são em geral definidos pelo mercado cultural e pelo custo do projeto, podendo variar de acordo com diversos fatores. E existem as leis de incentivo à cultura, que podem ser municipais, ou a nacionalmente conhecida Lei Rouanet. Essas leis dão desconto no imposto de renda para empresas que
investem em ações culturais. No entanto, essas leis nem sempre são abrangentes, Furtado afirma que a lei só beneficia quem já trabalha na áera há muito tempo. “Ela virou um negócio para as empresas patrocinadoras que fazem a renúncia fiscal, ou seja, dão o dinheiro que nem pertence a elas e escolhem pra quem vai o patrocínio, e claro que escolhem o artista, ou o grupo, que já tem visibilidade, garantindo assim a publicidade da empresa”, completa. Fiani ainda afirma que a maioria das produções caras que vêm do eixo Rio-São Paulo conta com o apoio das Leis. Shows de grandes bandas e artistas internacionais voltaram ao cenário curitibano nesse ano, e os valores dos ingressos também são questionados pelo público. No último dia 12 de outubro a banda britânica Deep Purple se apresentou no Teatro Positivo, e o ingresso mais barato estava sendo vendido a R$ 320 (R$ 160 a meia-entrada). Gabriela comenta que gostaria de ter ido ao show, mas estava muito caro. “Seria muito bom pagar um pouco menos para ver grandes bandas”, finaliza a jovem. No gráfico vemos alguns valores de ingressos para shows de bandas internacionais que vieram a Curitiba. Os alemães do Scorpions realizaram show em Ponta Grossa
em 2008, e o preço foi de R$ 62, em 2010 a banda voltou ao Paraná, dessa vez em Curitiba, e o valor cobrado foi de R$ 105, um aumento de 69,3%. Por outro lado, os também alemães do Helloween se apresentaram em 2008 pelo custo de R$ 60, e em 2011 a entrada para o show custou R$ 64, uma variação de apenas 6,6%. Meia-entrada A meia-entrada é um benefício garantido por lei, e regulamentado por leis estaduais e municipais. Muitas casas de shows se utilizam de promoções irregulares, como a meia-entrada em troca da doação de um quilo de alimento, e a cota de apenas parte dos ingressos para estudantes. Essas são práticas abusivas e irregulares. José Tiago de Castro, presidente da União dos Jovens e Estudantes do Brasil, a UJE, afirma que “o estudante deve saber o seu direito para evitar ser enganado”, e completa informando que cabe ao Procon e ao Ministério Público fiscalizar. A UJE mantém um site informativo sobre o benefício e sobre casas de show do Brasil todo que o descumprem. Serviço: w w w.meiaentrada.com.br Jhonny Castro
As obras do MUMA ainda não têm data para terminar. O museu, que conta com 4 mil metros quadrados, foi inaugurado em 5 de maio de 1988, e se chamava Centro Cultural Portão. Em 1996 o nome foi mudado para o atualmente usado Museu Metropolitano de Arte de Curitiba. A responsabilidade pelo museu é da Fundação Cultural de Curitiba, que está reformando o museu com recursos públicos. As obras começaram em dezembro de 2008, com a reforma de toda a infrestrutura do prédio, que se encontrava muito deteriorada. A segunda fase das obras iniciou em 2010, com a execução de pisos, forros, instalação elétrica, além da reforma e construção do auditório Antonio Carlos Krai e do Cine Guarani. A terceira e última fase de revitalização será feita a partir de um processo de licitação, ainda sem data definida para a retomada das obras. Segundo informações do Centro Cultural de Curitiba, o MUMA será totalmente modernizado, e contará também com a biblioteca, que já funcionava antes da reforma. O espaço era muito utilizado pela população local, principalmente por alunos de escolas públicas da região, que frequentavam o museu para estudar na biblioteca, e conhe-
cer as obras de importantes nomes da pintura, como Portinari e Di Cavalcanti. Com o fechamento do MUMA, muitos estudantes ficaram sem local apropriado para estudar, e o prédio passou a sofrer com o vandalismo. Os tapumes que protegem o antigo museu estão todos pichados. Após a colocação desses tapumes, um atalho que passa pelo lado esquerdo do museu se tornou um local frequentado por usuários de drogas, e existem relatos de pessoas que sofreram tentativas de assalto. O estudante Guilherme Vieira, 19 anos, mora na região desde a infância e lembra da época em que ia ao museu para estudar. ”Eu vinha muito aqui, é uma pena que fechou”, afirma o jovem. Segundo o guarda municipal Quirino, que faz plantão para garantir a segurança no antigo museu, toda a estrutura interna já foi revitalizada, apenas faltando a fachada do monumento para ser reformada. “Todo o miolo do museu foi reformado, e agora conta com sala de exposição de obras, auditório e cinema”, afirma. A obra já teve um gasto de cerca de 4 milhões de reais, e ainda será necessário mais um milhão para terminar a última etapa da reforma.
Jasson Wolff
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Jasson Wolff
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educação
Curitiba, novembro de 2011
PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO SOFREM COM VIOLÊNCIA MORAL E FÍSICA
Alunos agridem funcionários em escolas A violência moral e física contra professores tem se tornado comum nos últimos anos em escolas públicas de todo o país. A maior parte delas acontece quando o professor ou funcionário precisa exercer o papel de autoridade dentro das instituições e repreendem ou chamam atenção dos alunos. Gonçalina Damasio de Oliveira, agente educacional há 10 anos, conta que agressões morais são comuns. “Agressão verbal e xingamento nós escutamos a toda hora. Fingimos que não é com a gente, pois se formos responder eles dizem que nós é que estamos agredindo”, comenta a Agente. A funcionária também conta que já sofreu agressão física durante o seu trabalho por tentar repreender um aluno do sexto ano. “Eu fechei a porta para impedir que os alunos saíssem para o pátio enquanto comiam na hora do lanche. Um menino não gostou e chutou as minhas costas. Cheguei a cair no chão de dor, minha perna ficou roxa e muito dolorida”, diz. Com o apoio da direção ela fez exame de corpo de delito e registrou um boletim de ocorrência. O menino foi transferido de colégio, porém, até hoje ela lembra de como se sentiu. “Na hora não tive nenhuma reação, fiquei transtornada. Não consegui dizer nada porque não esperava isso de um aluno”, conta Gonçalina. Para ela os anos escolares que mais desrespeitam funcionários são as quintas e sextas séries, e a falta de punição faz com que se sintam livres para fazer tudo o que querem. Gonçalina fala que se sente sem ter o que fazer, pois não pode responder nem repreender o aluno quando ele age de forma violenta. “Eu não penso em trocar de emprego, pois é difícil de conseguir outra coisa na minha idade, mas trabalhar em escola deixou de ser bom e está
Foto: Maria Elisa Brenner Busch
Segundo especialistas, agressões de alunos do ensino público podem ser causados pela a falta de limites e impunidade em casa
Golçalina é funcionária de uma escola a mais de dez anos e diz que é comum ouvir agressões verbais
ficando cada vez mais complicado”, declara. A professora de língua portuguesa, Ana Cristina da Silva, trabalha há 26 anos ensinando crianças e adolecentes da rede pública. Atualmente dá aulas para o ensino médio, com turmas de alunos acima de 15 anos. No ano passado ela foi surprendida por uma aluna que teve um ataque psicótico e começou a agredi-la com palavrões. “Quando eu passei por sua carteira ela jogou todo o material no chão, empurrou a carteira e levantou-se. Estava completamente transtornada e começou a gritar para que eu calasse a boca”, diz Ana. A professora conta que a garota já havia apresentado dificuldades para acompanhar as aulas e, por isso, passou a acompanhá-la mais de perto e também a chamar sua atenção. “Devido às cobranças com relação às atividades, ela foi se sentindo pressionada por mim. Depois soubemos que ela tomava remédios fortes porque sofre de esquizofrenia”, comenta a professora. Após a escola registrar o ocorrido e chamar a família, que não compareceu, foi comunicado o fato ao Conselho Tutelar, mas, como a aluna já havia completa-
“Não consegui dizer nada porque não esperava isso de um aluno”
do 19 anos, não puderam fazer nada. Depois desse dia a aluna não voltou mais a escola. Ana e a direção comunicaram a Patrulha Escolar, com receio de que a professora fosse responsabilizada pela evasão da aluna. “No meu caso, fui agredida por uma aluna que não estava em condições psíquicas ou mentais de responder por que fez, por isso não tenho mágoa dela”, conta. Ana afirma que já presenciou cenas de colegas transtornados, chorando e até abandonado turmas por causa de agressões verbais provocadas por seus alunos, inclusive na internet. A professora de história Marly Maria Polinski também tem recordações negativas de alunos que ultrapassam os limites da indisciplina e partem para agressão moral. O último caso que aconteceu com a professora Marly foi em uma turma de sexta série, na qual uma das alunas ofendia e a ameaçava com frequência.“Essa aluna sempre apresentou problemas de comportamento dentro da sala, com todos os professores, mas parece que ela me elegeu para ser a responsável por todos os seus problemas”, diz. Após tentar resolver várias vezes o problema com a orientação pedagógica do colégio, a menina foi transferida de turma. Angela Dorcas de Paula, soci-
óloga e técnica pedagógia da Secretaria da Educação do Estado do Paraná, conta que estão sendo desenvolvidos vários programas para os professores saberem como lidar com situações de violência dentro da escola. Ela tam-
bém comenta que as ações para o combate à violência devem ser contínuas e de caráter preventivo, abrangendo todos os funcionários da escola. Ela fala que os professores que se sentirem ameaçados devem fazer primeiro o encaminhamento pedagógico dentro do âmbito escolar. Caso a questão não seja resolvida deve ser encaminhada ao Conselho Tutelar, se for criança, ou à Delegacia da Criança e do Adolescente caso tenha mais de 12 anos de idade. Para ela a solução desses problemas é o trabalho educacional conjunto, entre a escola e a família, pois ambas são co-responsáveis no processo de formação educacional e pedagógica dos jovens. “A escola é um reflexo da nossa sociedade. Isso tudo é um problema estrutural que gera vários outros, inclusive a violência”, conclui Angela. Maruza Silverio Gozer
política
11
Curitiba, novembro de 2011
CRIMES POLÍTICOS DEMORAM PARA SER JULGADOS PELA JUSTIÇA BRASILEIRA
População insatisfeita com a política
Lentidão, falta de estrutura, interesses políticos, provas ilegais e demais fatores influenciam no julgamento das ações penais Portella, qualquer indivíduo pode denunciar um crime desta natureza, informando a Promotoria do Ministério Público ou uma Delegia de Polícia. “Após a denúncia, o Ministério Público abre um inquérito para investigar o caso. Se a denúncia tiver fundamento é aberta uma ação penal junto à justiça”, explica o professor. Entretanto, esses processos levam muito tempo para serem concluídos, isso quando não prescrevem sem chegar a uma sentença final. Muitos são os fatores que geram essa situação. José
Carlos argumenta que em geral os crimes políticos envolvem muitos acusados. Sendo assim o processo se divide em muitas audiências que trazem lentidão ao processo, gerando o que se define por morosidade. Outro fato que prejudica o andamento dos processos é a falta de provas legais, perante a justiça, como escutas telefônicas e investigações de transações financeiras sem aprovação judicial. “Não podemos, a pretexto de atingir a justiça, usar de provas ilícitas para combater atos
Foto: Daphine Augustini
O Brasil, pelo terceiro ano consecutivo, teve mau desempenho no Índice de Percepção de Corrupção da ONG Transparência Internacional de 2010. O país ficou em 3,7 em uma escala que vai de zero a dez e ficou em 69º em um ranking de 95 países avaliados. Esse índice é uma das ferramentas mais utilizadas para a medição da corrupção e é formulado a partir da opinião de empresários e analistas de diversas nacionalidades sobre o grau de corrupção em cada país. Casos de corrupção ocorrem frequentemente em várias esferas públicas e em grande parte envolvem representantes políticos. A população denuncia de acordo com suspeitas, a justiça recebe os casos mas, muitas vezes, os processos não são solucionados. Diante disso, a sociedade demonstra insatisfação com a justiça brasileira. Quando desvios de dinheiro, venda de sentenças judiciais, cobranças indevidas, suborno, entre outros, são praticados contra a administração pública, configuram-se crimes de corrupção política. É o que explica o José Carlos Portella, professor de Direito da UniCuritiba e advogado.Segundo
Manifestantes se reúnem para protestar contra a política brasileira
A partir do mapa da corrupção no Brasil é possível identificar em quais localidades ocorreram os casos de corrupção, com seus respectivos esquemas e personagens investigados, além das cidades, regiões e Estados em que ocorreram esses processos. Faz menção ainda aos casos que eventualmente não estejam nele listados. Esta dinâmica foi lançada no final do mês de setembro, por uma moradora de São Paulo. Graças à divulgação e colaboração dos internautas, o mapa já passou de 100 mil vizualizações desde o seu lançamento.
Fonte: Goggle Maps
Mapa da corrupção no Brasil
ilícitos”, diz Portella. Outros fatores que influenciam a lentidão dos processos são a falta de estrutura dos tribunais e ainda os jogos de interesses políticos que permeiam os julgamentos. A população, diante de tantos casos envolvendo a classe política, acaba desacreditando no poder da democracia e distancia-se cada dia mais das questões políticas. Assim, acaba aceitando a situação presente e esquece-se de indagar e cobrar seus direitos. “A grande pergunta é como motivar o brasileiro para alterar esta situação”, diz Mário Sérgio Lepre, Professor Universitário de Ciências Políticas. Segundo o professor, os casos de corrupção que forem denunciados devem receber intensa investigação e uma solução. Caso contrário levará a descrença nas instituições democráticas, pois esses índices também refletem a ética vigente no país, “Nenhum país sério tem estes altos índices de acusações e investigações e baixo índice de condenações. O que ocorre? Há um hiato entre as denúncias e as condenações”, explica Mário. Segundo o estudo da DECOMTEC-FIESP, se o Brasil tivesse um Índice de Percepção
da Corrupção mais baixo, nosso PIB per capita seria 15% maior. O custo da corrupção no Brasil é de 1,38% do PIB, ou 51 bilhões de reais. Essa quantia de dinheiro poderia melhorar vários problemas existentes no Brasil. Poderiam ser construídas 918 mil casas populares, construir 39 mil km de rodovias, ser utilizado para arcar com o custo anual de 24,5 milhões de alunos do ensino fundamental . Joel Ramalho, 23, estudante de ciências sociais na UFPR acredita que a ineficiência na punição dos casos prejudica o estado profundamente, pois faz com que a população não confie e não acredite no poder de transformação da política, não dando devido valor aos casos de corrupção, chegando até a considerar normal tal situação. “O povo precisa se mobilizar mais e criar envolvimento com a política, entendendo que a política faz parte da vida de todos”, diz.
Daphine Augustini Gabriela Campos Isabella Rosa
Mensalão
O mensalão é um escândalo político que foi denunciado entre o ano de 2005/2006 durante o mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva. O caso envolve cerca de 40 pessoas supostamente envolvidas com a compra e venda de votos que favorecessem o governo. As acusações começaram com a denúncia feita a Folha de S. Paulo. O caso tem desdobramentos até hoje. O relator do Mensalão, ministro Joaquim Barbosa, calcula que o julgamento será marcado apenas para fevereiro ou março de 2012.
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economia
Curitiba, novembro de 2011
A MARCA DO TRILHÃO FOI ATINGIDA 35 DIAS ANTES DE 2010
Tributos chegam a R$1 trilhão no Brasil
Os brasileiros trabalham no mínimo 3 meses para pagar todos os impostos e na maioria das vezes não sabem o quanto de tributos pagam Impostos cobrados no valor dos produtos
O impostômetro, situado em Curitiba na Rua das Flores, marcou no dia 13 de setembro R$1 trilhão de impostos pagos por todo o Brasil no ano de 2011. A marca foi atingida 35 dias antes de 2010, onde o mesmo valor foi alcançado em 18 de outubro. Está previsto, segundo a Associação Comercial do Paraná (ACP), que os brasileiros paguem R$1, 4 trilhão até o final do ano. O painel calcula os impostos pagos por todos os brasileiros à União, estado e municípios. De certa forma, esclarece ao contribuinte o quanto de impostos são pagos cada segundo que passa. O economista Hugo Meza afirma que o Brasil conta hoje com 73 tipos diferentes de impostos, taxas e contribuições, esclarecidas em leis no Código Tributário Nacional. Os brasileiros trabalham no mínimo 3 meses para pagar todos eles e na maioria das vezes não vê retorno do governo e nem sabe o quanto de tributos paga. Hugo calcula que um profissional que receba 4 mil reais por mês, por exemplo, paga 55,29% de impostos, ou seja, trabalha 192 dias do ano só para contribuir com todas as taxas cobradas no Brasil. Tributos diretos e indiretos Existem dois tipos de impostos: diretos e indiretos. Os impostos diretos são os cobrados com base nos bens, o
Impostômetro de Curitiba
imposto de renda, o IPVA de um veículo. Nesse ano a receita recebeu mais de 24 milhões de declarações. Os impostos indiretos são os cobrados na comercialização de mercadorias e chegam até nós no preço dos produtos que consumimos. Esses impostos também são embutidos no combustível, nas tarifas telefônicas e na conta de luz, onde 45,8% são impostos. Os tributos pagos pelos brasileiros atualmente, equivalem a 40% do PIB do país. Carga tributária maior que a do Brasil só existe na Europa. O Brasil atingiu a média de carga tributária dos países mais ricos do mundo, como Estados Unidos e Austrália.
os afeta. Cada centavo que gastamos com imposto não vemos onde é empregado. Denúncias de corrupção e desvio de dinheiro chegam aos montes em diversos veículos de comunicação e isso virou uma rotina que não pode se manter. Queremos resultados nos serviços prestados de saúde, transporte,segurança e educação! Ou então retire esses impostos alarmantes que pagamos em tudo que consumimos.” Fonte: site Hora de agir. Em uma família de três pessoas, sustentada por Rosângela Mânica, 47, bancária na empresa HSBC, os gastos por ano são altos. Entre IPVA, imposto de renda, e gastos por mês, calcula-se em torno de R$ 19.760. No telefone e TV por assinatura são gastos R$200,00 por mês, 46,12% são impostos. Em compras de comida e higiene mais importantes como café, shampoo, leite e carne, onde gasta-se R$ 550,00 por mês, 35,28% são impostos. O IPVA, imposto cobrado pelos veículos adquiridos, é de R$ 560, 00 no ano. Dos R$ 19.760 gastos no ano, estima-se que R$ 1.640 são gastos por mês. Do qual 37,13% desse valor, são impostos.
“O Brasil conta hoje com 73 tipos diferentes de impostos”
A indignação da sociedade Ivanilde Moreira- “Abaixo a corrupção e a incompetência gestora de nossas lideranças políticas; nada contra pagar impostos, desde que sejam justos, suportáveis e devidamente revertidos em serviços públicos de qualidade; não dá mais para doar quase 5 meses do meu ano de trabalho” . Rafael- “Políticos de uma maneira geral não se importam com impostos, já que isso não
Penélope Miranda
meio ambiente
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Curitiba, novembro de 2011
ALIMENTAÇÃO HUMANA É A PIOR FORMA DE POLUIÇÃO EXISTENTE
Você ainda come carne?
O metano, gás emitido pela indústria de carne, é mais nocivo ao meio ambiente do que os gases emitidos por veículos e máquinas Estudos recentes da ONU (Organização das Nações Unidas) mostram que a alimentação humana é a maior forma de degradação ambiental existente. O processo para consumir carne bovina, frango, peixe, ovos e etc., desmata as florestas e agride a biodiversidade com queimadas, contamina o solo, rios, mares e aumenta a concentração de renda. Sem contar que esses alimentos são responsáveis por 60% de todo o gás lançado em nossa camada de ozônio. Esses gases emitidos contribuem com o aumento do efeito estufa. Segundo a FAO (Food an Agriculture Organization) 18% dos gases emitidos vêm da indústria da carne, esse número é maior que os gases emitidos pelo transporte. Gases com efeito extremamente superior ao gás carbônico são liberados diariamente, sendo 37% de metano e 65% de óxido nitroso. O gás metano contribui com 15% do aquecimento global e a principal fonte de emissão é a pecuária ruminante, sendo 80 milhões de
toneladas de gás metano lançado por ano, o que corresponde a 22% da emissão total. Segundo Lydvar Schulz, voluntário do Grupo ONCA de Defesa Animal, a alimentação destinada atualmente ao gado - em proporção mundial - poderia alimentar uma população de 9 bilhões de pessoas. Só que no mundo somos 7 bilhões. De toda a soja mundial produzida, 70% a 80% é destinada a ração animal, no Brasil, somente metade de nossa soja é destinada à alimentação humana. Da plantação do milho, 95% é destinado aos animais. “Todos esses números são inadmissíveis num planeta que, segundo dados da própria organização das Nações Unidas, um bilhão de pessoas passam fome”, completa. Para o voluntário, a todo momento assistimos pela televisão campanhas do governo e de entidades ambientais apelando para pouparmos água, mas o que nem a propaganda e nem o governo diz é que mais da metade da água potável do planeta é destinada à
“Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.” Greenpeace
O que você faz pelo planeta? Milena Guilhen Fornos - 25 anos - Enfermeira Escovo os dentes com a torneira fechada, lavo louça com a torneira fechada e evito jogar lixo na rua. Franciane dos Santos Azzulin - 28 anos - Advogada Faço reciclagem, poupo água potável, não poluo rios e praças. Gráfico da Sociedade Vegetariana Brasileira
pecuária, enquanto populações inteiras não têm acesso à água. Para produzir um quilo de carne é gasto aproximadamente 15 mil litros de água, sem contar os excrementos produzidos que poluem o rio e o solo utilizado para a criação de gado. Outro problema é o “sanitário animal” que fica a céu aberto e sem tratamento. Cerca de 2,5 mil vacas em confinamento para a produção de leite geram esgoto equivalente ao que 411 mil pessoas gerariam. Dados da Organização Mundial da Saúde apontam que 80% das doenças que afetam o ser humano atualmente são de origem animal. “Nitritos e nitratos, corantes e conservantes utilizados
para retardar a putrefação das carnes são comprovadamente cancerígenos, e as pessoas estão ingerindo todos os dias essas coisas”, diz Lydvar. Segundo estudo realizado pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, mulheres que consomem 20 gramas de carne diariamente tem um risco de 64% de desenvolver câncer de mama. Já a Associação Diética Americana revela que homens que consomem produtos de origem animal têm um risco 54% maior de desenvolver câncer de prostata. Pessoas que consomem carne diariamente têm um risco de 88% de apresentar câncer de estômago. Lidyane Pereira
O TERMO SUSTENTABILIDADE É UTILIZADO COMO OBJETO DE MARKETING Sustentabilidade é um termo utilizado para representar o desenvolvimento de cidades - visando suprir as necessidades atuais da população, sem comprometer o meio ambiente. Cada vez mais, a população exige um crescimento sustentável. A palavra – que acabou virando moda – caiu na boca, e na consciência das pessoas, mesmo que elas não saibam o significado de sustentabilidade. Gabriel Renan de Palma Souza, auxiliar de cartório, 21 anos, e Poliana Jamille Delatorre, 23 anos e estudante, afirmaram não saber
Sustentabilidade insustentável o significado exato da palavra, somente que está ligada ao meio ambiente. Assim como eles, existem várias pessoas que também desconhecem o real significado do termo. No Brasil, segundo dados do IBGE, o desflorestamento atinge 14% da Amazônia Legal, as queimadas lideram emissões de gases-estufa, e a concentração de ozônio nas grandes cidades cresce. Em relação à reciclagem, ainda segundo o IBGE, apenas 2% de tudo o que é descartado no Brasil vai para a reciclagem. O país produz, por ano, aproxima-
damente 90 milhões de toneladas de lixo, sendo que menos de 10% das cidades brasileiras fazem coleta seletiva. Para a Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocupa o 7º lugar no raking de países com o pior sistema de tratamento de esgoto no mundo; 5,4 bilhões de litros de esgoto não tratado são despejados diariamente. Tudo isso, e um estudo sobre marcas verdes realizado pela Esty Environmental Partners, mostrou que 60% dos consumidores brasileiros querem comprar produtos de empresas sustentáveis. Essa demanda é tanta, que segundo
o publicitário Haroldo Silva Capote Filho, sustentabilidade já virou objeto de barganha para as vendas. “O discurso publicitário acaba incorporando elementos que são suscetíveis aos interesses da sociedade e acabam ganhando uma carga persuasiva e perdendo seu foco de origem”, afirma. A população está no limite, de ouvir muito e ver pouca sustentabilidade. “Nenhuma abundância de recursos resiste ao impacto de uma exploração sem retorno” - Paulo Nogueira Neto. Isadora Domingues
Gabriel Renan de Palma Souza - 21 anos - Auxiliar de cartório Acho que não ajudo muito. O que mais me preocupo é em não jogar lixo na rua, só. Guilherme Fiori Kachel - 20 anos - Atleta profissional de voleibol Ajudo reciclando lixo e economizando tempo no banho. De vez enquando desperdiço comida, tenho que me corrigir nesse aspecto. Luana Paz Dornelles Silva - 20 anos - Estudante de direito Eu sinto que não ajudo muito, mas o que faço é separar o lixo, não desperdiço água nem comida e só uso a luz elétrica quando realmente preciso. André Ha - 25 anos - Advogado Reciclo meu lixo residencial e compro produtos de empresas com consciência ambiental. Roberta Silva Ratzke - 20 anos - Atleta profissional de voleibol Separo o lixo, não gasto água à toa, não jogo lixo no chão e em nenhum outro lugar a não ser no lixo. Zilda Regina Duarte - 44 anos - Cozinheira Como sou cozinheira, costumo separar todo o lixo que utilizo e antes de separá-los eu os lavo. Estou demorando menos com os meus banhos e não jogo lixo no chão. Giancarlo Andreso
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trânsito
Curitiba, novembro de 2011
CURITIBA NÃO SUPORTA MAIS O NÚMERO DE CARROS
Número de veículos x habitantes
Arquitetos e especialistas em trânsito afirmam que não existe solução para os problemas relacionados à frota de veículos ele é a resposta à necessidade de alteração do modo de vida promovido pelas transformações sociais e econômicas atuais”, acrescenta Tomás. A farmaucêtica Andressa Popovitz, 24, possui carro há um ano e meio e gasta em média mil reais com as despesas do veículo por mês. Ela diz que escolheu o carro porque é mais cômodo,
suficientes para dar conta da necessidade de mobilidade dos habitantes, seja em função de tempo como da qualidade dos equipamentos urbanos em mobilidade, como o ônibus. “Mesmo que o transporte coletivo de Curitiba tenha sido eficaz durante um tempo, ele representa um transporte popular, e as demais classes não o utilizam”, acrescen-
ruas. Para Tomás o resultado disso é que em breve, como já ocorre em outras cidades, será necessário o rodízio de carros, onde muitos ficarão parados durante um dia. “Curitiba, como outras cidades, não é obrigada a suportar todos estes carros, nós é que achamos que ainda há condições de colocar mais e mais carros na rua”.
Qual o ponto negativo no trânsito?
Nova alternativa
Foto: Aline Przybysewski
Dados do Detran - PR (Departamento de Trânsito do Paraná) do mês de agosto deste ano mostram que Curitiba possui uma frota de 1.237.602 veículos, para uma população de 1.751.907 habitantes e as ruas da capital paranaense recebem por semana 1.140 carros. Curitiba tem um carro para cada 1,4 habitante, este é o maior índice registrado entre as capitais brasileiras. Se comparado aos últimos dez anos houve um crescimento de 65,7% da frota de veículos em Curitiba. Para o arquiteto e urbanista, PHD em Estudos Urbanos, Tomás Moreira, o crescimento acelerado do número de veículos se deve a diversos fatores, um deles é o econômico, pois o governo federal permite a produção elevada de veículos, para a melhoria da economia brasileira. “Reflexo disso é que uma boa parte da população brasileira que não tinha como comprar seu carro, agora pode fazê-lo”, aponta Tomás. “As transformações do modo de vida ampliaram as necessidades em deslocamento, no tempo e no espaço, de modo que o automóvel e cada vez mais a moto representa um instrumento de deslocamento extremamente eficaz”, comenta Tomás. A estudante de Publicidade e Propaganda, Gabriella Carolina Silva Pereira, 20, conta que em sua casa moram três pessoas e cada uma possui o próprio carro e seu padastro tem uma moto, ou seja, o número de meios de transporte é maior que os membros da família. “São destinos diferentes, também é por questão de praticidade. Não é fácil o deslocamento por meios alternativos para cada pessoa da família”, acrescenta Gabriella. Outro motivo destacado por Tomás é a questão do status “O carro é um importante sinônimo de aumento de poder aquisitivo”. A arquiteta e urbanista Fabianne Batista Balvedi concorda e também aponta a comodidade como resposta ao crescimento. “Por um lado não é o carro que modifica a vida das pessoas,
Congestionamento no fim da tarde em Curitiba
mais tranquilo e pode se deslocar de uma forma mais rápida do que com o ônibus. “Se eu trabalhasse mais perto de casa substituiria o carro por bicicleta, porém como tenho dois empregos em lugares completamente opostos ainda não consigo fazer isso“, diz Andressa. Para Fabianne as ruas da cidade servem para conectar locais e de acordo com os veículos que são utilizados as ruas vão sendo modeladas. “Já faz algum tempo que as ruas estão modeladas para servir aos carros e não mais às pessoas”, diz Fabianne. Existem outras maneiras de deslocamento, porém se comparados ao carro são menos eficientes. Segundo Tomás os investimentos públicos não são
ta Tomás. O aumento de veículos traz consequências que se refletem no cotidiano da cidade, como os congestionamentos e acidentes. Para Celso Alves Mariano, especialista em trânsito, os congest ionamentos são consequência direta do descompasso entre o aumento da frota e adequação da estrutura viária e do gerenciamento de trânsito. “Alguns dos motivos por acontecerem acidentes, são a baixa percepção de risco dos usuários do trânsito, a ausência de programas de educação consistentes e efetivos e falhas grosseiras na aplicação das leis, sobretudo nas questões judiciais”, aponta Celso. Especialistas alertam que as grandes cidades já não suportam mais a demanda de carros nas
“Em Curitiba, já faz algum tempo que as ruas são dos carros”
O metrô é uma das alternativas para aliviar o trânsito na capital. No dia 13 de outubro, a presidente Dilma Rousseff , esteve em Curitiba para anunciar que a capital paranense vai receber 1 bilhão de reais a fundo perdido, e outros 750 milhões de reais a juros módicos para a construção da primeira etapa do metrô curitibano, cujo projeto prevê 14,2 quilômetros de linhas e 13 estações. A presidente Dilma afirmou que a obra vai beneficiar, por dia, 400 mil usuários do transporte público da capital do Paraná. A primeira linha do metrô irá ligar o extremo sul da cidade (CIC) ao centro e terá integração com os ônibus da rede de transporte, incluindo tarifa única. Essa integração beneficiará também municípios da região metropolitana. Tomás acredita que o metrô não irá desafogar o trânsito, porque a população que usa exclusivamente o carro não vai deixar de usá-lo. Segundo o arquiteto, a linha do metrô inicial está prevista para as áreas periféricas, deste modo permitirá o maior deslocamento dos trabalhadores, que certamente são a minoria que possuem carro. “O metrô tem conotação para população de baixa renda, de modo que não diminuirá o número de carros”, aponta Tomás.
Aline Przybysewski Rosane Cadena
“A falta de respeito entre os motoristas”. Andressa Popovitz, 24 anos, Farmacêutica
“ A falta de colaboração das pessoas, se existisse mais educação no trânsito, as coisas seriam melhores”. Bruno Torres Boeger,24 anos, Designer Gráfico
“ Acho que auto escola tinha que ser mais rigorosa nas aulas e o Detran no teste.Os motoristas estão despreparados” Aline Cristina dos Santos, 20 anos, estudante de Publicidade e Propaganda
segurança
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Curitiba, novembro de 2011
AGRESSIVIDADE PROVOCADA POR DESPREPARO PSICOLÓGICO DE ALGUNS, DENIGREM IMAGEM DA POLÍCIA
Presos pedem por direitos humanos Agressões físicas e morais praticadas por alguns policiais, revoltam presos seus familiares e também a população já caído, lhe dei alguns chutes na perna, mas quando vi o que estava fazendo, resolvi deixá-lo ali mesmo, sem levá-lo à delegacia. *Fernando, 19 anos, estudante de publicidade e propaganda da Universidade Positivo, afirma que já foi abordado por policiais militares agressivos e impacientes. “Realmente eu acabei exagerando na bebida e estava fazendo algazarra no meio da rua com meus colegas. Porém nada justifica a abordagem dos policiais nos prensando contra a parede e nos xingando de vagabundos. O despreparo psicológico de alguns membros mancha a corporação fazendo com que a população pense que todos que usam fardas são des-
“Nada justifica a atitude deles ao nos abordar daquela maneira”
preparados ou corruptos. *Tiago, colega de Fernando que também estava presente no ocorrido, diz que a Polícia Militar, apesar de mal paga e despreparada, ainda tenta conter a violência e prestar os serviços devidos à sociedade . Revolta * Pedro Souza, de 30 anos, foi preso por tráfico de cocaína e está agurdando julgamento em liberdade. “Eu entrei nesta vida porque eu iria ganhar muito mais dinheiro do que no trabalho fixo que arrumei. Quando fui pego pelos policiais, eles me jogaram no camburão como se faz com um saco de batatas. Um deles ainda me disse que iria me prender e jogar a chave fora. De acordo com a assessoria de imprensa da PM, é minoria os policiais que abusam da violência
Foto: André Recchia
Ao melhor estilo “Tropa de Elite” de agir e sob a premissa de que “bandido bom é bandido morto”, policiais maltratam e espancam detentos, em vez de mostrar o melhor caminho para seguir. Humilhações que vão desde agressões morais até violência física, fazem parte da rotina desta parcela de maus representantes da lei. *José, policial militar há 10 anos, diz que já perdeu o controle muitas vezes. “Já espanquei um garoto que me xingou quando o abordei na rua fazendo algazarra e provocando desordem. Ele me impediu de revistá-lo, e acabei perdendo a cabeça lhe dando uma rasteira fazendo-o cair no chão. Depois,
*Pedro diz ter sido violentado por um policial quando esteve preso
em serviço. Segundo a entidade, a fiscalização para se identificar e punir os responsáveis por qualquer tipo de violação dos direitos humanos é constante. A população também pode colaborar com as autoridades na
identificação de policiais violentos pelo telefone 0800 41-0090. *Os nomes foram modificados. André Recchia Raphael Ribeiro
MENORES INFRATORES AGEM LIVREMENTE NO MUNDO DO CRIME APROVEITANDO A IMPUNIDADE NO BRASIL
Aproveitando-se de brechas contida no código penal brasileiro, criminosos usam e abusam de menores infratores para cometer seus delitos. A pena máxima para um menor infrator é de 3 anos cumprindo medidas sócioeducativas. Para a advogada, Anita de Cácia Saldanha, é preciso mudar esta lei urgentemente, pois até criminosos maiores de idade estão se beneficiando da lei e culpando adolescentes em vários crimes, sabendo da impunidade para com os menores. ‘’Tem que mudar sim, pois hoje muitos menores sendo usados nos crimes, exatamente porque não respondem por eles. Acabam assumindo os crimes inocentemente para que os maiores se livrem de suas penas. E quem é capaz de matar, tem capacidade pra responder, afirma Anita. Até mesmo os próprios menores confessam que se apro-
veitam desta lei para cometerem vários crimes sem qualquer tipo de receio, sabendo que a impunidade é total por parte da justiça brasileira. João Batista da Silva, nascido no interior do Espírito Santo, foi criado em uma comunidade sem muitos recursos e desde muito novo acabou, mesmo que involuntariamente, já entrando para o mundo do crime. Ele, que no começo só entregava drogas a pedido dos traficantes e em troca de dinheiro, virou usuário de drogas e já foi até traficante. João Batista afirma que quando era um menor infrator ele e sua turma roubavam, falsificavam muito dinheiro para ter para gastar em bebidas, drogas e mulheres. Segundo ele o dinheiro vinha muito fácil porém ia com a mesma facilidade. ‘’A gente roubava a hora que bem entendímos, nunca tivemos medo de nada. Se nossa grana acabasse e a gente quisesse ir pro baile
funk, o jeito era roubar ou falsificar a grana,” afirma o garoto sobre seu passado. João Batista ainda fala sobre as duas vezes em que acabou sendo detido pela Polícia Militar. “Na primeira vez, os homens me pegaram tentando roubar um celular de um moleque. Fiquei lá na delegacia um tempo e logo depois já me liberaram. E na outra vez eu e meus amigos da minha gangue compramos uma impressora para fabricar dinheiro falso, conseguimos falsificar uns 15 mil reais em notas de R$50. E como na primeira vez, liberaram a gente depois de umas horinhas na delegacia.’’ Polêmica Segundo o estudante de direito da PUCPR, Fernando Coelho, está mais do que na hroa de as autoridades reverem a lei para redução da maioridade penal. “ Um adolescente de 16 anos de idade
Foto: Raphael Ribeiro
Cientes da impunidade, criminosos usam menores para cometer crimes
*João diz que encontrou seu caminho na Igreja e que ela o salvou
que já pode escolher seus representantes na política, pode muito bem responder pelos seus atos perante a sociedade. Fernanda Antunes, também estudante de direito da PUCPR, afirma que nada adianta a redução da maioridade. “Se reduzirem para 16, os criminosos irão usar os menores de 16 e de nada vai adiantar. O que precisamos é
de melhorias naa educação com melhores oportunidades para todos. Fernanda completa dizendo que o exemplo da brecha da lei em relação aos menores, é só mais um exemplo da fragilidade das leis, alertando para a necessidade da alteção do código penal. Raphael RIbeiro Yan Carlos
O que está no limite pra você em Curitiba? Thais Schenovebre dos Santos, 17 anos, Estudante
“Nas áreas mais distantes do centro a poluição é muito grande, acho que é porque todo mundo que pode anda de carro, já que de ônibus não tem como mais.”
Tatiane Andrade, 21 anos, Estudante
“O descaso da política com a sociedade, não tem mais o que esperar deles.”
Alessandro de Barros, 34 anos, Técnico em Radiologia
“Tem que tomar uma providência na questão da violência, é o que está assustando todo mundo. Não tem mais nenhum lugar seguro em Curitiba.”
Marlene Assunção, 55 anos, dona de casa
“Se eu que tenho convênio está complidado pra conseguir médico, imagina pra quem fica naquelas filas do SUS.”
José Alves de Melo, 55 anos, Professor
“Não tem mais como andar de ônibus e nem de carro em Curitiba, para andar três ou quatro quadras demoramos quase meia hora.”