Turismo Plan de Corones é um dos pontos mais desejados no inverno europeu
Caso Battisti Decisão de Lula desagrada não só aos italianos
Presidenta Educação será prioridade no governo Dilma www.comunitaitaliana.com
ISSN 1676-3220
R 7,00 R$ 11,90
Rio de Janeiro, janeiro de 2011
Ano XVII – Nº 151
O cara de Milão
Leonardo mostra sua identidade com a cidade que o consagrou e conquista torcida da Inter após 13 anos no Milan
Brasil é destino certo para empresas italianas em 2011
J a n eiro de 2011
Atualidade 12 | Auditório de ravello Disputas políticas deixam obra prima de Oscar Niemeyer fechada ao público
15 | Tragedia a Rio Piogge devastano la regione Serrana dello Stato
16 | Nápoles agoniza Máfia toma conta do comércio lucrativo do lixo e causa danos às belezas do local e à saúde da população
Nossos colunistas 07 | Cose Nostre
Pernambuco receberá fábrica da Fiat com investimentos da ordem de R$ 3 bilhões
Quem visitar Roma vai contribuir para a manutenção dos serviços turísticos da cidade
30 | Amazônia internacional Empresas estrangeiras de olho no Distrito Naval do Amazonas. Inicialmente, italianos produzirão barcos e motos no local
Celebrações pelos 150 anos da unificação italiana serão realizadas em diversos países
os meandros da luta travada entre o judiciário e políticos na sociedade italiana
di Napoli conquista noites cariocas
28 | Expansão
maior atenção do novo governo que terá de enfrentar juros altos no início
24 | Magistratura x Política Livro mostra
Arte 51 | Música eletrônica DJ Luca
Empresas italianas projetam maiores aportes no Brasil a partir deste ano
Especial 31 | Sesquicentenário
Manifestações na Itália e opinião pública brasileira mostram contrariedade a decisão do ex-presidente Lula
Nº151
Economia 26 | Investimentos
Política 18 | Dilma prioriza Educação Setor terá
20 | Caso Battisti
Ano XVII
10 | Fabio Porta o IED cria curso de formação para aumentar valor social dos produtos
La negligenza del governo italiano ha contribuito ad allontanare la soluzione della vicenda Cesare Battisti
40 | Novo design
11 | Ezio Maranesi
Empresa brasileira chega na Itália com móveis criados a partir de sobras
Fiat: dobbiamo cambiare molte cose nei nostri comportamenti se vogliamo restare tra i primi della classe
Meio Ambiente
CAPA 32 | CAPA Leonardo
47 | Piso Asfalto ecológico
conquista os torcedores da Inter depois de sua passagem histórica pelo arquirrival Milan e mostra toda sua identidade com a capital da moda
Turismo 52 | Neve Montanha
Negócios 38 | Consumo sustentável Aliança
de Plan de Corones reúne cultura e belezas naturais que fazem da localidade um dos pontos mais desejados no inverno europeu
entre o Grameen Creative e
amplamente utilizado na Europa chega ao Brasil
37 | Andrea Ciprandi Ratto Leonardo: il fatto che protagonista della rivoluzione sia un brasiliano potrebbe non essere casuale, ma piuttosto espressione di un reale modo di vedere le cose diversamente
58 | Claudia Monteiro De Castro Sorvetinhos de Lancusi são obras de arte da culinária italiana adorados em todo o país
48 Reconhecimento do Rio Grande do Sul ao artista plástico Aldo Locatelli, que deixou sua terra natal em Bérgamo para se radicar no estado ao qual dedicou intensa e importante produção artística
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janeiro 2011 | comunitàitaliana
Editorial
Expediente
Respeito em vida
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bservamos que o Brasil está dando passos largos em direção a uma economia cada vez mais sólida e competitiva no mercado global. Em contrapartida, é urgente o maior desafio de todos: o respeito à pessoa. Essa lição pode vir da Europa, onde sem dúvida a história trágica de guerras influenciou para que as políticas sejam a favor dos cidadãos. O planejamento urbano, assunto preeminente no momento, é naturalmente realizado para trazer bem estar nos países desenvolvidos. Vive-se com a noção comum de que todos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres, enquanto que por aqui sabemos que essa igualdade existe no papel, mas não está incorporada na sociedade. A construção vertical desenfreada causa o caos urbano nas médias e grandes cidades brasileiras. Tudo feito com as devidas licenças do poder público. No alto de encostas, uma classe trabalhadora se aglomera e habita em condições de risco. O reconhecimento da presidente Dilma Rousseff de que “moradia em área de risco é regra no país” é um passo importante para uma mudança. Um sinal de esperança, de tomada de atitude política para enfrentar problemas que trazem indignidade às pessoas. A natureza não é plenamente previsível, muito menos domesticável, mas os cuidados para uma estruturação decente de cidades é um dever dos administradores públicos. Não podemos mais aceitar populações serem usadas como massas de manobra, vivendo em condições desfavoráveis à custa de programas eleitoreiros. É hora de se aproveitar o crescimento econômico e a parceria entre os governos federal, estaduais e municipais para se investir em prol do ser humano. É difícil acreditar que o primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi saia ileso das acusações que o cercam depois Pietro Petraglia do cancelamento da Lei sobre o “legítimo impedimento”, no Editor último dia 13 de janeiro. A justificativa para a estratégia de Berlusconi, aprovada em março no Parlamento, era a de que os ministros são muito ocupados com o trabalho público para participar de interrogatórios. Mas prevaleceu o princípio da igualdade, em que ninguém pode estar acima da lei. O premier é acusado de prostituição de menores pelo envolvimento com uma dançarina de 17 anos, conhecida como Ruby. O caso virou polêmica há 10 meses, mas Berlusconi se diz perseguido e sustenta que existe uma conspiração de juízes de esquerda contra ele. Enquanto isso, a sétima potencia econômica mundial amarga números que mostram grande desocupação de jovens, investimentos estrangeiros em declínio, aumento do débito nacional, entre outros índices que deixam a sociedade italiana num nível de estresse jamais percebido. Mas ao invés de soluções aos problemas, temos visto um embate entre políticos e o judiciário interminável como o assunto mais em voga no cenário italiano. Tudo indica que a próxima primavera européia contará com eleições no belpaese. Boa leitura!
Fundada
em
março
janeiro 2011 | comunitàitaliana
1994
Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 17/01/2011 às 18:00h Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Nayra Garofle; Sarah Castro; Sílvia Souza; Janaína Cesar; Lisomar Silva REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Divulgação Colaboradores: Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato CorrespondenteS: Ana Bizzotto (São Paulo); Guilherme Aquino (Milão); Janaína Cesar (Treviso); Leandro Demori (Roma); Lisomar Silva (Roma); Quintino Di Vona (Salerno); Robson Bertolino (São Paulo) Publicidade: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 comercial@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Sergio Percope Rio de Janeiro - Tel: (21) 2245-8660 (21) 8136-7427 spercope@comunitaitaliana.com.br Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista. La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori e sprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220
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de
cosenostre Julio Vanni
Taxa em Roma uem visitar Roma vai contribuir com a manutenção
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dos serviços turísticos da cidade. A contribuição aprovada pela Assembleia vale por pernoite na capital italiana, para os não residentes que forem ao balneário de Ostia ou que tomarem os ônibus turísticos e barcos no rio Tibre. A tarifa diária variará entre um e três euros. “Pela primeira vez os turistas em Roma – que são mais de 12 milhões – deixarão uma contribuição para ajudar a sustentar os serviços da cidade”, salientou o vice-prefeito Mauro Cutrufo. Crianças até 10 anos estão isentas.
Investigação Justiça de Milão investiga o primeiro-ministro da Itália, Sil-
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vio Berlusconi, por suposta incitação à prostituição de menores e concussão no caso Ruby R., a jovem marroquina que quando era menor de idade compareceu a festas privadas do político. No fechamento desta edição, a Promotoria de Milão informou que investiga os fatos ocorridos entre fevereiro e maio de 2010 e que o nome do governante foi incluído no dia 21 de dezembro entre os investigados. A investigação levou a polícia italiana a uma revista no escritório da conselheira regional Nicole Minetti, próxima a Berlusconi e também citada no processo.
Em tempo... utrufo lembra que “o
Mafioso se entrega
turismo em Roma é uma riqueza de mais de 250 mil trabalhadores”. Segundo o vice-prefeito, o total despendido pelos visitantes será irrisório para eles (entre quatro euros e seis euros na média de três pernoites), mas o município ganhará cerca de 80 milhões de euros para as despesas correntes. “Cinco por cento desta contribuição serão reinvestidos na promoção de Roma no mundo, o que aumentará o afluxo de turistas”, conclui.
Proibido m calendário de Olivie-
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ro Toscani com 12 imagens de regiões púbicas de mulheres, teve sua publicação proibida pelo Instituto de Autodisciplina Publicitária (IAP), a agência auto-reguladora do setor na Itália por ser “ofensivo à dignidade da pessoa, uma vez que o corpo feminino vem separado da ‘pele desgastada’, ou seja um produto como um animal, ou um animal morto, seccionado e transformado em produto de trabalho”. O calendário de Toscani foi encomendado para a publicidade de uma empresa italiana de vegetais e couro curtido e seria distribuído na edição de janeiro da revista Rolling Stone.
Divulgação
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vulcão Etna, na Itália, expeliu cinzas e lava no início deste mês. O fenômeno forçou as autoridades a fecharem brevemente dois aeroportos de Catania, aos pés do vulcão. O instituto de vulcanologia (INGV) tem monitorado a atividade sísmica do Etna, que mesmo com as cinzas e lavas do dia 13, foi classificada em nível leve. Apesar de ser o vulcão mais alto e ativo da Europa, e de entrar em erupção regularmente, o Etna não provoca danos nas regiões próximas porque a maioria delas é desabitada.
Mais energia CEG Elletronica Industriale SpA, com sede na Itália, está
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estudando a instalação de uma fábrica no Brasil. Segundo um interlocutor da empresa no Brasil, executivos da fabricante de equipamentos geradores de energia devem visitar o Rio Grande do Sul nos próximos meses para analisar as condições logísticas de implantação uma unidade fabril. A companhia também analisa a possibilidade de investir em São Paulo.
Sem farra m italiano que ganhou fama nacional ao invadir campos de
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futebol em várias partes do mundo foi preso em Abu Dhabi após anunciar seus planos de fugir do país em sua página no Facebook. Mario Ferri, de 23 anos, conhecido na Itália como Falcão, havia sido detido e teve seu passaporte retido pelas autoridades locais após invadir o campo da final do Mundial de Clubes, entre Internazionale de Milão e Mazembe, do Congo. Ferri interrompeu a partida carregando uma faixa do Milan, rival da Inter. Sua tradicional camiseta azul com um logo do super-homem trazia ainda uma série de nomes de empresas que passaram a patrociná-lo graças à sua fama na Itália.
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m italiano de 56 anos, acusado de associação com a máfia, extorsão, sequestro e tráfico de drogas. Decidiu se entregar à polícia de Florença, dizendo se sentir solitário fora da prisão. Preso há alguns anos por porte de armas, ele chegou a tentar abrir um pequeno comércio quando foi solto, mas o negócio não deu certo, e ele voltou ao mundo do crime, publicou o jonal “La Repubblica”. O italiano ligou para uma delegacia na região da Toscana e se entregou. Ao ser detido, abraçou os policiais e afirmou se sentir mais feliz atrás das grades do que fora.
Estressados estresse no trabalho atinge
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a 83% dos italianos. Foi o que revelou o relatório de Manageritalia, poucos dias após a entrada em vigor do chamado “estressômetro”, que obriga as empresas a medir o estresse dos funcionários. Ainda segundo a organização, na Itália as vítimas do estresse relacionado ao trabalho são 4,58 milhões e cerca de 10 milhões de trabalhadores (43% do total) consideram o estresse no ambiente de trabalho um fator de risco para a saúde. Os mais ameaçados estão entre 35 e 44 anos, principalmente mulheres e trabalhadores temporários.
comunitàitaliana | janeiro 2011
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Opinião enquetes
frases
Você acha que Berlusconi conseguirá governar com maioria apertada?
Tive medo de ser morta. Tive medo de seguir o caminho dos transexuais de Roma”,
Sim - 54,5% Não - 45,5% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 17/12/10 a 21/12/10.
Leonardo tem cacife para comandar a Inter de Milão?
Sim - 66,7% Não - 33,3% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 28/12/10 a 03/01/11.
Você acha que Lula acertou ao dar refúgio político a Battisti?
Não - 71,4% Sim - 28,6% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 03/01/11 a 07/01/11.
Italianos estão entre os mais pessimistas do mundo. A crise influenciou nisso?
Sim - 66,7% Não - 33,3% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 07/01/11 a11/01/11.
“Realizei um sonho antigo, o de escrever uma novela passada na Itália, usando o idioma, o gestual do povo, as paisagens, e é um desejo totalmente realizado. Desde o início, todos os personagens da família Mattoli e habitantes de Laurenza-in-Chianti (cidadezinha fictícia) estiveram perfeitos. Sou fascinado pela Itália e pelo cinema italiano há muito tempo”,
Karima El Mahroug, conhecida como Ruby, no centro da investigação que apura a denúncia de envolvimento do primeiro-ministro Silvio Berlusconi em sistema de extorsão e prostituição infantil.
“Quando minha mãe não estava filmando e ficava em casa, passava o dia limpando de maneira apaixonada. Ela amava a ordem e a limpeza e por isso não era fácil viver nem na Itália, nem com meu pai italiano”,
Silvio de Abreu, autor de Passione.
“Nunca ousaria fazer algo assim. Primeiro porque não é minha ideologia. Nunca tentei defender Cesare Battisti”,
Isabella Rosselini, filha do diretor Roberto Rossellini e da atriz sueca Ingrid Bergmann.
Carla Bruni, primeira-dama da França, defendendo-se de acusação de ter interferido em caso do ativista preso no Brasil.
“Infelizmente não tenho uma boa lembrança de Isabelle Caro, era uma garota muito doente, mais na cabeça que no corpo, porque tinha uma mentalidade de anoréxica, como todas as pessoas que sofrem deste distúrbio, era anoréxica no cérebro”,
“É um ano novo, o objetivo é sempre o de vencer, isso é o que eu tenho em mente. Tive um bom ano em 2010, mas em 2011 desejo poder lutar pelo título”, Felipe Massa, piloto da Ferrari, ao dizer que espera que a temporada de 2011 seja competitiva.
Oliviero Toscani, fotógrafo italiano, ao comentar a morte da modelo e atriz francesa fotografada nua por ele para uma campanha contra a doença.
cartas
“P
arabéns pelo numero 150. A Revista está simplesmente fantástica. Sou assinante desde que comecei a estudar italiano. Desde então, tenho todos os números, a primeira revista de numero 60 é de 15 de junho de 2001. Estou muito orgulhosa de ter participado deste progresso. Parabéns a todos os envolvidos neste sucesso! Beatriz Rassele – Vitória – ES – por e-mail
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janeiro 2011 | comunitàitaliana
“P
arabéns pela 150ª edição da revista que melhora número a número. Sempre recebo com alegria a minha revista e leio sempre cada parágrafo, até mesmo o expediente (para ver se mudou alguma coisa). De todo o coração, parabéns! Luiz Paulo Pretti Miranda Rio de Janeiro – RJ – por e-mail
Serviço agenda
tros), de leituras dramatizadas (com Fernanda Montenegro, Nathália Timberg, Irene Ravache, Francisco Cuoco e outros) e palestras. Museu Nacional de Belas Artes, Av. Rio Branco, 199, Centro – Rio de Janeiro. Até 13 de março.
Arte Povera obras da coleção MART A exposição apresenta obras dos principais expoentes da Arte Povera, movimento artístico que teve início na Itália em meados dos anos 60, marcado pela radicalização de formas e uso de materiais, quebrando a forte influência clássica presente na arte italiana até então. Artistas participantes: Alighiero Boetti, Claudio Parmiggiani, Gilberto Zorio, Giovanni Anselmo, Giulio Paolini, Giuseppe Penone, Jannis Kounellis, Mario Merz, Michelangelo Pistoletto, Pier Paolo Calzolari - obras pertencentes ao Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Trento e Rovereto/ MART. SESC Belenzinho, Galpão Multiuso - Rua Padre Adelino, 1000 – São Paulo. Até 8 de março. Mambo Italiano Após temporada em países da Europa, no Canadá e os EUA, a montagem com autoria de Steve Galluccio estreia no Brasil. Com grande influência das chamadas sitcoms americanas, o espetáculo fala sobre novas famílias e sexualidade. Ao longo da trama surgem personagens como Ângelo, filho de Gino e de Maria.
Bo Bardi reuniu em sua passagem por cidades e zonas rurais dos estados da Bahia, de Pernambuco e do Ceará, entre as décadas de 1950 e 1960. A exposição apresenta utensílios de madeira, objetos de barro, pilões, peças feitas de material reciclado e de lixo, além de ex-votos, santos, objetos de candomblé e bichos, num total de mais de 800 itens. Entrada gratuita. Solar do Ferrão (Rua Gregório de Mattos, 45, Pelourinho – Salvador). Informações: (71) 3117-6380.
Fragmentos: Artefatos Populares, o Olhar de Lina Bo Bardi A mostra reúne objetos que representam o livre design de expressão popular encontrado no Nordeste do Brasil, destaca as peças remanescentes da coleção que a arquiteta Lina
naestante Enquanto eles dormiam Neste volume da bem-sucedida série protagonizada por Guido Brunetti, o inspetor de polícia veneziano terá de enfrentar os interesses de uma obscura organização religiosa — protegida pelos poderosos da cidade — para defender a frágil testemunha de uma possível rede de crimes. É início de primavera em Veneza e com as temperaturas amenas, as hordas de turistas e as verduras e frutas no mercado de Rialto, parece chegar também uma onda de calma ao já não muito agitado submundo do crime da Sereníssima. Mas eis que Donna Leon nos conduz a uma trama cheia de intimidação e dolce vitta. Companhia das Letras, 288 páginas, 43 reais. Bellissima Depois de ter a casa assaltada no Maine, a dra. Miranda Jones tem a oportunidade de ir a Itália. Ela deverá constatar a autenticidade de um bronze renascentista de uma cortesã da família Médici, conhecido como A Senhora Sombria. Mas o trabalho, que deveria consolidar sua fama de perita excepcional, acaba prejudicando a carreira de Jones. Enquanto se esforça para fazer seu papel, ela lida com o emocionalmente estremecido relacionamento com a mãe e se vê sem porto seguro, já que o irmão, que ocupa essa função, está mergulhado em problemas. O romance de Nora Roberts, é cheio de trapaças e desejos desafiadores. Bertrand Brasil, 546 páginas, 55 reais.
60 Anos de TV no Brasil Acervo Em homenagem aos 60 anos de televisão brasileira, a mostra apresenta ao público um rico material do acervo da Pró-TV. Entre os itens, equipamentos históricos, figurinos e imagens audiovisuais que fazem parte da memória do telespectador. A exposição é dividida em 6 partes, que narram desde a inauguração da TV, passando pelos grandes momentos, a TV do futuro, e encerrando na possibilidade de o espectador deixar sua opinião. Até 20 de fevereiro, na Caixa Cultural. Praça da Sé, 111, Centro – São Paulo. Informações: (11) 3321-4400.
Também participam a irmã Ana, que assim como o irmão, também foge do padrão familiar. A moça busca alternativas para sair de casa e escapar da opressão doméstica. Até 27 de março, no Teatro Nair Bello (Rua Frei Caneca, 569, Cerqueira César – São Paulo). Informações: (11) 3472-2414.
clickdoleitor Arquivo pessoal
Ferreira Gullar Para festejar os 80 anos do poeta, escritor, roteirista, ensaísta, dramaturgo, tradutor e crítico de arte Ferreira Gullar, a exposição Gullar 8 & 80 exibe fotos originais inéditas; objetos pessoais, como a sua máquina de escrever; a primeira página manuscrita de Poema Sujo, uma de suas obras mais conhecidas; pinturas e aquarelas, entre outros itens. Grande intelectual brasileiro, Gullar ainda é apresentado ao público através de shows musicais (com Zeca Baleiro, Adriana Calcanhotto, Flávia Bittencourt, entre ou-
“M
inha filha Caroline Fattori e meu genro Luiz Fernando se casaram em maio do ano passado. Em junho, eles partiram para a Itália em lua-de-mel. Assim, eles tiveram a oportunidade de conhecer Viterbo, terra do bisavô de Caroline, Filippo Fattori. Foram dias maravilhosos, que se estenderam por várias cidades da Toscana, Veneza e Roma”. Tania Fattori Porto Alegre, RS — por e-mail
comunitàitaliana | janeiro 2011
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opinione FabioPor ta
Il “caso Battisti” tra ipocrisie e verità Perché la negligenza del governo italiano ha contribuito ad allontanare la soluzione della vicenda
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el 2009, all’indomani dell’improvvisa decisione dell’allora ministro della giustizia brasiliano di concedere lo status di rifugiato politico a Cesare Battisti, ci mobilitammo in molti per evitare la scarcerazione del terrorista riprendendo nel contempo un’azione pressante di informazione diretta alle autorità brasiliane sui reali contorni della vicenda storico-politica e processuale che aveva portato alla condanna dello stesso Battisti da parte della magistratura italiana. L’opinione pubblica italiana era comprensibilmente esterrefatta di fronte alla ventilata e possibile scarcerazione del terrorista e tutte le forze politiche rappresentate in Parlamento si attivarono subito per levare alta la voce delle istituzioni repubblicane a difesa dello stato di diritto e della democrazia che gli attentati cinici e violenti ai quali Cesare Battisti aveva partecipato tentarono negli anni ’70 di intimidire e destabilizzare. Il Parlamento approvò così una mozione unitaria che riproponeva con forza la giusta e legittima richiesta ita-
liana di chiedere al Brasile l’estradizione di Battisti e il sottoscritto, insieme al Vice Presidente della Camera On. Maurizio Lupi, si recò in missione ufficiale in Brasile per incontrare i nostri colleghi brasiliani. Incontrammo l’allora presidente della Camera ed oggi vice presidente del Brasile Michel Temer al quale, a nome del Parlamento italiano, rinnovammo tale invito, nel rispetto delle rispettive prerogative e con la ferma intenzione di mantenere saldi e forti gli storici legami tra i due Paesi. Mentre il Parlamento faceva la sua parte il capo del governo italiano incontrava per ben due volte il presidente brasiliano Luiz Inácio Lula da Silva; in nessuno dei due incontri avuti con il suo omologo brasiliano Silvio Berlusconi ha affrontato in maniera diretta e decisa la questione, come sarebbe stato opportuno e anche prevedibile che accadesse. Gli interventi del presidente del consiglio e del governo sono avvenuti così soltanto a cose fatte e a rimorchio delle polemiche giornalistiche e delle proteste dell’opinione pubblica. Il Parlamento e il presidente della Repubblica hanno fatto sentire in maniera tanto chiara e forte quanto corretta e rispettosa la loro voce a riguardo; dall’altro
“I rapporti tra Italia e Brasile sono più importanti di questa controversia”
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janeiro 2011 | comunitàitaliana
lato, il governo agiva con approssimazione e distrazione, più con l’arma della propaganda che con azioni e gesti mirati. A seguito dell’ultima decisione dell’ex presidente del Brasile, ritengo che – se la prossima riunione del STF non dovesse confermare la legittima richiesta italiana di estradizione – una possibile soluzione possa essere trovata soltanto se Italia e Brasile, insieme, con intelligenza, collaborazione e civiltà, rinunceranno alla propaganda per scegliere insieme un percorso di giustizia e maturità politica. In questo senso la proposta, avanzata dall’insigne giurista Antonio Cassese, di creare una Commissione di Conciliazione tra Italia e Brasile come previsto dall’accordo del 1954 e sotto l’egida del Tribunale de L’Aja potrebbe rappresentare una strada utile ad una seria soluzione della controversia. I rapporti tra l’Italia e il Brasile sono molto più forti di una controversia legale, per quanto grave e delicata come questa: essi affondano le proprie radici nell’epopea di milioni di nostri connazionali che nel corso di oltre un secolo hanno scelto quel Paese come la loro nuova terra; oggi sono oltre trenta milioni i brasiliani di origine italiana e ad unirci è sempre più il futuro dei nostri due Paesi, non più soltanto il nostro comune passato. E’ per questo che il “caso Battisti” può e deve costituire un punto di partenza per riaprire e riavviare questo fruttuoso e necessario dialogo; non piuttosto un infausto punto finale di una storia gloriosa. Sono certo che i due presidenti della Repubblica, Giorgio Napolitano e Dilma Rousseff, sapranno essere con saggezza e lungimiranza gli artefici di questo auspicato e improrogabile nuovo inizio.
opinione
EzioMaranesi
Sto con Marchionne N La nuova marcia dei 40.000
ell’ottobre del 1980 un corteo di 40.000 colletti bianchi della FIAT sfilò in silenzio per le strade di Torino. Protestava, civilmente, contro le violenze dei picchetti del sindacato che impedivano a chiunque, con la forza, di entrare nelle fabbriche. Lo sciopero durava da oltre un mese; i disordini e le violenze da anni. Dopo aver assassinato nel ’73 il capo del personale Ettore Amerio, le Brigate Rosse avevano ucciso nel ‘79 Carlo Ghiglieno, responsabile della pianificazione strategica della FIAT. Ho avuto l’onore di frequentarlo: era uomo giusto e sensibile. Un omicidio stupido. Non c’era legame, ovviamente, tra sindacato e Brigate Rosse, ma Torino viveva tensione e violenza. Respirai questo clima tra il ’70 e il ’74 a Ivrea, presso Torino; il pericolo era nell’aria. La marcia dei 40.000 segnò una svolta decisiva: la maggioranza silenziosa fece valere il suo diritto al lavoro contro la prepotenza di una minoranza violenta. Una dura sconfitta del sindacato. Nei giorni scorsi Marchionne, amministratore delegato della FIAT, ha posto in termini chiari le condizioni per poter investire in Italia: vi sono 20 miliardi di euro per lo stabilimento di Torino e 5 per quello di Pomigliano. I sindacati devono però sottoscrivere con FIAT un accordo che abbia la finalità di evitare gli abusi che oggi limitano
la produttività degli impianti. Per esempio, l’assenteismo ingiustificato. Quattro sindacati hanno firmato. Non l’ha fatto la FIOM, il sindacato rosso legato alla CGIL. La maggioranza degli operai, attraverso un referendum, deciderà se accettare le nuove regole. La sinistra politica è favorevole: la dichiarazione è dell’on. Fassino. La FIOM ha già decretato lo sciopero. I suoi dirigenti Cremaschi e Landini si sentono scavalcati e inveiscono. Non hanno mai sudato in una linea di montaggio. Due saccenti “fancazzisti”, per usare un neologismo sboccato ma efficace, affibbiato normalmente ai politici di professione. Come i predecessori, anche loro faranno carriera politica. Ancora una volta la CGIL è rimasta isolata. E’ accaduto spesso in questi ultimi anni. Il sindacato rosso non firma nulla, comunque. Quanto peggio, tanto meglio.
“È anche un monito: dobbiamo cambiare molte cose nei nostri comportamenti se vogliamo restare tra i primi della classe”
Il mondo è cambiato molto negli ultimi due decenni. Le economie europee devono oggi fare i conti con quelle di altri Paesi che sono in grado di produrre a costi più bassi, e poco importa sapere come fanno. Lo sanno tutti, ma quando devi comprare un giocattolo o un paio di jeans badi soprattutto al prezzo. Una multinazionale dell’auto non può non tenere conto del livello dei costi di produzione e della conflittualità sindacale quando si tratta di definire la localizzazione dell’investimento. L’economia italiana era fiorente quando la nostra manufattura dominava incontrastata. Oggi può convenire comprare all’estero, e non solo giocattoli e jeans ma persino arance e olive. Ed è cosí che si genera disoccupazione, lavoro nero, povertà. Il governo, le industrie, le forze lavorative possono fare molto per contrastare questo processo, ma un livellamento al basso della nostra protezione sociale sembra inevitabile. La difesa sta nell’investire in Italia in tecnologie avanzate, produttività, ricerca, cultura civica e magari ottimismo. Si accusa Marchionne di ricatto. Sto con lui: non è ricatto chiedere ai sindacati di sottoscrivere accordi in cui si impone alle maestranze di rispettare i doveri concordati. Per esempio, di assentarsi dal lavoro solo quando si è realmente malati. Non so quanto Marchionne, italo-canadese residente in Svizzera, ami l’Italia. So che un dirigente industriale deve garantire la sopravvivenza e lo sviluppo dell’azienda che dirige. FIAT è italiana e noi italiani dobbiamo chiedergli che resti italiana, e siamo certi che ne terrà conto. La posizione di Marchionne è anche un monito: dobbiamo cambiare molte cose nei nostri comportamenti se vogliamo restare tra i primi della classe. La sua decisione innova nei rapporti tra imprese, maestranze e sindacati; una nuova marcia dei 40.000. Può sembrare doloroso, ma è necessario.
Atualidade
Artes
Arte velada Obra-prima de Niemeyer, Auditório de Ravello completa um ano fechado. Disputas políticas locais impediram a organização de concertos e festivais
Aline Buaes
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De Nápoles
naugurado em janeiro de 2010, o Auditório de Ravello, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer numa encosta desta paradisíaca cidade da Costa Amalfitana, na província de Salerno, teve suas portas abertas ao público em poucas e raras ocasiões nos últimos doze meses. A obra, uma concha acústica com capacidade para 400 pessoas, com uma vista excepcional desta mítica 12
região, teve o financiamento da Comissão Europeia e tem diversos nomes internacionais envolvidos no seu projeto. Contudo, sofre com os preconceitos e disputas políticas regionais, que atrasaram em mais de oito anos a sua construção e que agora, depois de pronto, impedem a sua correta gestão. — Tenho certeza que um dia este auditório, que deve durar pelos menos 400 anos, vai receber a importância merecida para uma obra-prima de Oscar Niemeyer — afirma o sociólogo italiano
janeiro 2011 | comunitàitaliana
Niemeyer planejou o Auditório de Ravello sem nunca ter ido ao local
Domenico De Masi, considerado o “verdadeiro pai” do projeto, ao qual se dedicou durante os últimos dez anos, entre intermediações com Niemeyer, com quem mantém estreitos laços de amizade, e batalhas judiciais com políticos e ambientalistas contrários ao projeto. Em meados de dezembro, dias após a imprensa europeia publicar denúncias de que a Comissão Europeia estaria investigando os motivos do Auditório permanecer fechado, a prefeitura de Ravello anunciou uma série de eventos comemorativos para o período de Natal e Ano Novo, abertos ao público e totalmente gratuitos. Como era de se esperar, o público, ansioso para conhecer o espaço, compareceu em peso, lotando todos os cantos da casa, para assistir espetáculos locais e regionais, como a apresentação da Orquestra de Fiati Costa d’Amalfi, que ocorreu no dia 1º de janeiro. Ravello, pequena cidade a 300 metros acima do mar e com uma população de cerca de 2500 pessoas, é conhecida como a “cidade da
música”, não apenas por ter inspirado compositores como Richard Wagner, mas também por ser sede de um grande festival anual de música clássica, o Ravello Festival, que ocorre de junho a setembro e apresenta mais de 150 atrações de importância internacional. Obra marcada por polêmicas Idealizado para suprir a necessidade de um espaço que pudesse receber grandes espetáculos artísticos o ano inteiro, e não apenas durante os meses de verão, o Auditório de Ravello começou a ser projetado no ano de 2000, quando a prefeitura autorizou a desapropriação do terreno onde hoje se localiza a obra. Através da intermediação do jornalista brasileiro Roberto D’Avila, a prefeitura de Ravello contatou o sociólogo Domenico De Masi, que intercedeu junto ao grande arquiteto brasileiro. — No mês de setembro de 2000, Niemeyer me enviou o projeto definitivo, realizado em conjunto com sua equipe e dedicado a mim, e foi com ele que a Fondazione Ravello (organizadora do Ravello Festival, ndr), junto com a prefeitura de Ravello e o governo da Regione Campania, solicitou à Comunidade Europeia um financiamento, que foi aprovado no valor de 18,5 milhões de euros — explica De Masi salientando que, ao criar o projeto, Niemeyer tinha 92 anos de idade, enquanto hoje já soma 103. No entanto, naquele período já começavam os problemas. O proprietário do terreno começou a se opor à expropriação, enquanto ambientalistas da organização Itália Nostra, uma das maiores da Itália, entravam com recurso na Justiça contra a construção do auditório, alegando “incompatibilidade com o ambiente”. Jornais italianos chegaram a apelidar o espaço de “aeronave”. A polêmica logo ganhou destaque, já que muitos intelectuais,
As festas de fim de ano foram marcadas por eventos no Auditório. Abaixo, o compositor Richard Vagner e o sociólogo Domenico De Masi
como os arquitetos Massimiliano Fuksas e Paolo Portoghese, e grupos ambientalistas de peso como Legambiente e WWF vieram a público em defesa do auditório. “Não pensava que se pudesse brigar mesmo diante de um projeto de um grande arquiteto como Niemeyer, que aos 98 anos continua cheio de inspiração”, afirmou na época Fuksas, um dos maiores arquitetos italianos em atividade, acrescentando que o Auditório “seria por si só um monumento, e no local onde foi construído, em Ravello, torna-se uma maravilha”. Conforme detalha De Masi, os trabalhos de construção iniciaram em 2006, com o fim dos processos na Justiça, e duraram exatos três anos. Em janeiro de 2010 uma grande festa de três dias com mais de 12 atrações marcou a inauguração oficial do Auditório de Ravello, atraindo um público de mais de cinco mil pessoas provenientes de toda a Itália. No entanto, na opinião do sociólogo italiano, professor da Universidade de Roma La Sapienza e autor do livro “O ócio criativo”, este era apenas o início de um percurso tortuoso marcado por dificuldades criadas por “motivações políticas locais”. Com a troca de administração na prefeitura de Ravello durante o período das obras, o Auditório ganhou inimigos dentro de sua própria casa.
— A nova administração municipal fazia parte do grupo de oposição ao auditório e, assim, decidiram mantê-lo fechado após a inauguração — denuncia De Masi, explicando que o projeto, apesar de apoiado pela Fondazione Ravello e pela Regione Campânia, sempre foi de propriedade da prefeitura. — Como o financiamento da Comunidade Europeia é destinado às prefeituras, não tinha nada que pudéssemos fazer — explica. A versão oficial da prefeitura alega que o auditório recebeu todas as autorizações técnicas necessárias para funcionar apenas em agosto de 2010, sete meses após a inauguração oficial, e que a partir de setembro já recebeu alguns eventos de caráter local. Pelo projeto original, a gestão do Auditório deveria ter sido concedida à Fondazione Ravello, logo após a inauguração. — Tínhamos previsto a realização de grandes concertos e grandes eventos, através de um projeto sólido e estável com diversos anos de duração, que previa a realização de quatro festivais por ano, um em cada estação, com funcionários em tempo integral e patrocinadores de peso, como fazem os grandes teatros da Itália, como o Teatro San Carlo de Nápoles, o Scala de Milão e o Auditorium della Musica
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Atualidade
Artes
de Roma — afirma De Masi, explicando que a Fondazione Ravello, da qual foi presidente por oito anos (demitiu-se no último dia 31 de agosto), era a única instituição capaz de gerir com excelência o Auditório, pois já possuia um corpo técnico e intelectual com a experiência do Ravello Festival. — A situação agora é de espera pelas próximas eleições municipais de Ravello, que ocorrem em maio deste ano — alerta De Masi, salientando que os eventos que a administração provisória da prefeitura organizou para os meses de dezembro e janeiro “não estão à altura de uma obra-prima de Oscar Niemeyer”. — A prefeitura de Ravello nao tem condições de gerir o Auditório, é preciso que eles concedam a gestão a uma instituição capacitada, seja a Fondazione Ravello ou outra à altura — defende.
Amato, secretário municipal, os eventos foram um motivo de atração porque permitiram aos cidadãos da Costa Amalfitana se aproximarem e conhecerem o Auditório. — Todos que falaram mal do Auditório, precisam vir até aqui e conhecê-lo, certamente não se falará mais nada contra este espaço — defende Amato, que admite que o auditório permaneceu fechado devido a desavenças da antiga administração. O secretário municipal explica que um forte debate sobre o auditório dividiu o conselho de administração da prefeitura. — A antiga administração não queria confiar à Fondazione Ravello a gestão do auditório, mas também não foi capaz de organizar eventos no local, era uma administração que desde o início era contra o espaço — afirma Amato.
Natal e Ano Novo no Auditório Para a prefeitura de Ravello, que desde outubro está sendo administrada por uma junta provisória (o antigo prefeito, Paolo Imperato, do partido de centro-esquerda PD, que governava a cidade desde 2006, deixou a administração por decisão da câmara municipal), os eventos de Natal e Ano Novo no Auditório foram um sucesso. Com entrada gratuita e um público formado por turistas italianos e estrangeiros, os shows de Peppe Barra, no dia 30 de dezembro, e da Orquestra Fiati Costa d’Amalfi, no dia 1º de janeiro, tiveram as reservas esgotadas, mesmo com 200 lugares extras e listas de espera com centenas de pessoas. Para Niccola
Dez anos de batalhas De Masi não hesita em afirmar que o auditório significou para ele “dez anos de batalhas”. — No período das obras, eu saía de Roma e ia até Ravello uma vez a cada 15 dias para registrar os detalhes, fazer fotos e enviar a Oscar para a aprovaçao. Foi um cansaço imenso — explica, afirmando também que vêm poupando Niemeyer de notícias muito detalhadas sobre a situação do Auditório. — Sinto muito pela situação em relação a Oscar e neste aspecto sempre fui
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Niemeyer e De Masi: amigos de longa data. Abaixo, o exprefeito de Ravello, Paolo Imperato, que deixou o cargo por decisão da Câmara Municipal
muito delicado com ele, no sentido de não informá-lo em detalhes sobre toda esta história — diz De Masi, que esteve pela última vez na casa de Niemeyer em dezembro passado, quando foi ao Rio de Janeiro receber o título de Cidadão Honorário. Niemeyer nunca visitou pessoalmente o local do Auditório, mas recebeu todo o material necessário para a criação do projeto completo, como fotos, estudos técnicos do terreno e vídeos. O projeto foi dedicado a De Masi e à cidade de Ravello. No dia do aniversário de 103 anos de Niemeyer, em 15 de dezembro passado, mais uma obra prima do artista brasileiro foi inaugurada na Europa sem que ele conhecesse pessoalmente o local: o Centro Cultural Niemeyer, na cidade de Avilés, norte da Espanha, que já está em plena operação e devidamente aberto ao público.
Atualidade
Itália doa E1 mi Chuvas de janeiro deixam cenário de desolação e mobilizam italianos em prol da Região Serrana do Rio de Janeiro Da Redação
O
s personagens e locais podem ser novos, mas a história, infelizmente, é bem conhecida. Em mais um caso de fortes chuvas, o mês de janeiro trouxe dor e desespero para milhares de famílias. Dessa vez, a tempestade de verão teve como conseqüência um número de mortos que passava de 600 pessoas até o nosso fechamento e um cenário de desolação na maior tragédia para a Região Serrana do Rio de Janeiro. Sete municípios tiveram estado de calamidade pública decretado pelo governo do estado e moradores procuram desaparecidos, pensam em como recomeçar suas vidas e já contam com grande demonstração de solidariedade no país e no exterior. A Conferência Episcopal Italiana (CEI) anunciou o envio de 1 milhão de euros para atender à situação de emergência. “A Igreja italiana participa da dor da população, vítima dos desastres causados pelo mau tempo e das terríveis inundações, que deixaram um rastro de morte, sofrimento e destruição, sacudindo boa parte do Brasil”, disse um comunicado da organização. O bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro agradeceu o empenho de amigos e fiéis italianos. Nascido em Bari, ele tem recebido ligações e doações de pessoas de sua terra, Roma e Milão, além de outras localidades. Dom Filippo
recebeu um telegrama do Papa Bento XVI dirigido a todo o povo da região serrana. Na mensagem assinada pelo secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, o pontífice declarou sua consternação e “solidariedade espiritual ao querido povo fluminense, nesta hora difícil”. A Diocese de Petrópolis concentra suas ações nas áreas atendidas por oito paróquias, nos municípios de Petrópolis (nos bairros de Madame Machado e Cuiabá), Teresópolis, Areal e São José do Vale do Rio Preto. O bispo criou a conta SOS Serra Petrópolis, Agência 401-4, Bradesco, conta corrente 114134-1 a fim de receber as doações. — É um momento de caos, sim, mas de muita fé e esperança. Tenho visto fieis de toda parte dividindo o pouco que têm. Numa das paróquias um grupo de 20 senhoras está revezando dia e noite para preparar as refeições e cerca de 10 motoboys fazem o transporte de alimentos para as pessoas que estão ilhadas — comenta dom Filippo. Em meio a uma rotina de visitas às áreas assistidas, o bispo também
O governador do Rio Sergio Cabral e a presidente Dilma Rousseff chegam na Região Serrana para ver de perto a tragédia causada pelas chuvas
Dom Filippo Santoro: “É um momento de caos, sim, mas de muita fé e esperança. Tenho visto fieis de toda parte dividindo o pouco que têm”
tem acolhido, na Catedral, desabrigados e equipes de voluntários. Ele também ressalta o apoio da ONG italiana AVSI, que há 26 anos atua no Brasil, e iniciou campanha internacional para arrecadação de fundos para a reconstrução local (Banco Itaú – Ag. 5190, CC 04640-8). — Ainda chove por lá e o estado de preocupação é constante. Passada a fase de limpeza das cidades e de cuidados físicos com as pessoas, vamos pensar a forma como a vida nesses locais será encaminhada. Por isso iniciamos esse apelo, para já identificar projetos que possam abrigar essas pessoas que perderam seu chão — diz a responsável pela AVSI no Rio de Janeiro, Paola Gaggini. Além dos municípios já citados, Nova Friburgo, Sumidouro e Bom Jardim estão entre os mais afetados. A área atingida compreende mais de 700 mil moradores, sendo mais de 15 mil o número de desalojados. A combinação de ocupação desordenada, desmatamento de encostas e demora na liberação de verbas para prevenção de enchentes e deslizamentos são comuns aos tristes fatos relacionados às chuvas de verão. Desta vez, as vitimas não foram apenas moradores de áreas de risco. Sítios, pousadas e condomínios de classe média alta também foram destruídos em enxurradas e alagamentos. Somente a reconstrução de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo deve custar R$ 2 bilhões. A presidenta Dilma Rousseff autorizou o repasse de R$ 750 milhões para recuperar áreas destruídas pelas chuvas no Rio e em São Paulo. Na virada de 2009-2010 uma tragédia semelhante abateu o município de Angra dos Reis, na Ilha Grande, um ponto turístico reconhecido. Já em abril de 2010, foi a vez de Niterói ter, no Morro do Bumba, o símbolo do descaso. No total, 283 pessoas perderam suas vidas nessas ocorrências.
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Atualidade
Nápoles:
beleza roubada Nova crise que ganhou as manchetes em 2010 é fruto de décadas de infiltração mafiosa no setor e transforma uma das maravilhas do Mediterrâneo numa paisagem suja
Aline Buaes
N
De Nápoles
os últimos dias de dezembro de 2010 uma força especial do Exército italiano foi convocada para recolher as milhares de toneladas de lixo que apagavam completamente as belezas da cidade que é uma das pérolas do Mar Mediterrâneo. O objetivo era começar o ano de 2011 cumprindo as promessas do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, que desde o início da nova “crise do lixo” de Nápoles, em meados de setembro, prometia a solução do problema “em poucos dias”. O “Ano Novo” passou e a cidade continua submersa em montanhas de lixo que, além de representarem um grave risco à saúde da população, ainda atrapalham o trânsito e o transporte público desta capital de 1,5 milhão de habitantes, a mais povoada da Europa. Diversas instâncias governamentais, das prefeituras envolvidas até a própria Comissão Europeia, permanecem impotentes diante do caso, que entre 2007 e 2008 sofreu sua primeira grande crise e chamou a atenção da opinião pública mundial. Enquanto habitantes das regiões próximas aos aterros 16
A beleza do Vesúvio em contraste com o lixo na cidade
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sanitários com capacidade esgotada protestam, impedindo a entrada dos caminhões coletores e provocando violentos conflitos com a polícia, governantes locais trocam acusações e buscam soluções alternativas, como o envio do lixo para outras regiões, ou até mesmo outros países. A péssima administração do lixo na região da Campania, da qual Nápoles é a capital, persiste há anos devido a uma forte infiltração do crime organizado na administração e gestão dos depósitos de lixo. Os protestos dos moradores das regiões próximas aos aterros é motivado, principalmente, pelo depósito ilegal de resíduos industriais, muitas vezes químicos e cancerígenos, realizado pelos grupos mafiosos que movimentam um
comércio altamente lucrativo. Em 2006, o livro-reportagem do jornalista Roberto Saviano, “Gomorra” (lançado no Brasil em 2009 pela editora Bertrand), levou a conhecimento público mundial o caso e as consequências sobre a saúde da população, principalmente em relação ao aumento de casos de tumores malignos. Uma pesquisa realizada em 2004, financiada pelo governo italiano em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), constatou que a enorme quantidade de resíduos industriais despejados ilegalmente, tanto em aterros regulares quanto em depósitos abusivos, entre os anos de 1995 e 2002 na região da Campania aumentou em 84% os casos de tumores no pulmão e no estômago, linfomas e sarcomas e malformações congênitas na população local. Conforme explica o jornalista Alessandro Iacuelli, autor do livro “Le vie infinite dei rifiuti - Il sistema campano” (Roma: Rinascita, 2008), “se não existisse uma forte infiltração criminosa na administração pública, este problema não existiria. O setor do lixo é facilmente permeável para os grupos mafiosos, que possuem uma presença forte não apenas na região da Campania, mas também na Calábria e na Sicília”, afirma.
Origens no terremoto de 1980 O problema com a coleta e o tratamento de lixo na região de Nápoles, segundo Iacuelli, tem suas origens no terremoto de 1980, que deixou mais de 3 mil mortos e dezenas de milhares de desabrigados, situação que levou o governo nacional e diversas instituições internacionais a enviarem auxílio financeiro para a reconstrução da região. Foram enviadas quantias enormes de dinheiro e a máfia local se infiltrou neste processo de reconstrução, afirma o escritor, explicando que as organizações criminosas passaram a lucrar com o transporte ilegal de resíduos industriais de outras partes da Itália, depositados em aterros irregulares da região. Deste modo, enriqueceram tanto a ponto de se reciclar, abrir empresas novas e regulares, com as quais venciam licitações municipais e passavam a gerenciar oficialmente também os aterros sanitários legais, nos quais misturavam resíduos urbanos com resíduos industriais, detalha. Assim, aterros sanitários previstos para durarem, por exemplo, até 2010, em 1995 já estavam saturados. Neste grande sistema, os grupos mafiosos lucram em dobro. Primeiro, quando os empresários pagam para descartar seus resíduos industriais, e depois no setor dos resíduos urbanos, recebendo diretamente dos cofres públicos, em um negócio no qual se pode fazer muito dinheiro, afirma o jornalista napolitano, que iniciou suas pesquisas para seu livro-denúncia em 2005, “período em que ninguém se importava com o assunto”. Iacuelli identifica três diferentes situações de emergência na região da Campania. A primeira refere-se
Acima, a paisagem atual de Nápoles. Abaixo, periódicos da década de 1980
Alessandro Iacuelli, autor do livro Le vie infinite dei rifiuti – Il sistema campano
ao fato que até hoje os mais de 2.500 depósitos de lixo ilegais descobertos entre 1994 e 1995 não foram limpos, de modo que o território continua amplamente poluído e envenenado. O segundo aspecto é o fato que os grupos mafiosos gerenciam legalmente a maior parte dos aterros sanitários municipais. A terceira emergência é o contínuo despejo ilegal de resíduos industriais em aterros da região, até hoje registrado oficialmente por denúncias dos Ministérios Públicos das províncias de Nápoles e Caserta. Crise Infinita Entre o final de 2007 e o início de 2008, quando a crise do lixo atingiu o centro histórico de Nápoles, considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, e motivou processos punitivos à Itália da parte da União Europeia, a Defesa Civil italiana foi oficialmente encarregada de resolver o problema. A solução encontrada, a abertura de quatro novos aterros sanitários, provocou violentos protestos da população. Estes novos aterros não eram regulares e foram abertos com a força pública, pois as pessoas faziam barricadas e entravam em conflito com a polícia, explica Iacuelli. Um deles, conhecido como Chiaiano, localiza-se dentro do perímetro urbano de Nápoles, situado em meio aos quatro maiores hospitais da cidade, conhecido como “Zona Hospitalar”, fato que o tornaria ilegal não fosse autorizado dentro de uma “situação de emergência”. Assim como ocorreu com o aterro de Terzigno, localizado dentro do Parque Nacional do Monte Vesúvio, e com o de Serre, situado em meio a uma reserva ambiental. Com estes novos aterros, a região
saiu da situação de emergência, que naquela ocasião literalmente “bloqueava as ruas” de todas as grandes cidades da Campania, como Nápoles, Caserta e Salerno. A partir daquela crise, o Exército passou a ser chamado para controlar os protestos. Os locais não são apenas inadequados por motivos estruturais ou geográficos, mas principalmente por questões de saúde. Muitos grupos ambientalistas denunciam a falta de uma política para gestão em longo prazo dos resíduos urbanos e a total inexistência de uma política para promover a coleta seletiva, que reduziria a quantidade total de resíduos não-recicláveis. A situação de emergência, iniciada em setembro de 2010, atingiu apenas os municípios da província de Nápoles e é decorrente de lutas políticas locais. “Os governos da região Campania, da província e da prefeitura de Nápoles estão brigando entre si e não estão se concentrando para encontrar uma solução para esta crise”, denuncia Iacuelli, alertando que em março uma nova situação de emergência deve começar, já que é o período previsto para saturação do aterro de Chiaiano, o principal da cidade. Depois disso, não se saberá para onde levar o lixo urbano, alerta, referindo-se ao fato que o governo regional é responsável pelo controle do fluxo dos resíduos e dos aterros, enquanto as prefeituras controlam a coleta do lixo. Ocorre que a prefeitura recolhe o lixo, mas não sabe para onde levar, fica aguardando instruções que não chegam do governo regional, afirma, lembrando que em março ocorrerão eleições municipais. É uma grande briga política que chegou, inclusive, ao primeiro-ministro e ao presidente da República, explica. Situações semelhantes atingem os sistemas de coleta e tratamento de lixo de outras regiões da Itália, como Sicília, Calábria e inclusive Lazio, mas nenhuma delas tão grave e extensa como a de Nápoles, afirma Iacuelli. Ele afirma que a Itália é o único país europeu a enfrentar este tipo de problema. A Alemanha e a Dinamarca possuem uma gestão totalmente avançada dos resíduos urbanos e industriais e são, inclusive, capazes de importar lixo de outros países, ressalta, explicando que a Itália está atrasada nas questões de recuperação e reciclagem de lixo. O problema não é técnico ou tecnológico, mas político-criminoso.
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Política
Primeiros passos Da Redação
A
festa saiu melhor que a encomenda. Desde o primeiro dia do ano, a economista Dilma Rousseff já atende pelo título de presidenta, conforme ela própria escolheu. Depois de surpreender positivamente os brasileiros em sua posse, do traje escolhido ao discurso proferido no Congresso Nacional, passando pela emoção ao receber a faixa presidencial do antecessor e mentor Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma iniciou os trabalhos no cargo tornando o domingo um dia útil ao receber representantes de governos estrangeiros para breves reuniões. Mais que dispensar sorrisos e aguentar uma intensa agenda, as tarefas da presidenta ainda incluem preencher a lista de escolhidos para comandar as entidades de valor para o governo e lidar com desafios como a redução na taxa de juros, a discussão sobre o valor do salário mínimo e os cortes no orçamento. A lista dos desafios é grande, mas em pelo menos um deles, Dilma foi beneficiada pelo carinho do expresidente Lula: o caso Battisti. O imbróglio sobre a extradição do ativista político continua (nesta edição, Comunità traz reportagem sobre o assunto), mas não respingou em Dilma. As atenções da mineira seguem 18
então para os compromissos reafirmados na posse. A erradicação da miséria é o maior deles, segundo a petista. De acordo com dados de pesquisas de órgãos oficiais do governo, 8,9 milhões de brasileiros vivem em situação de pobreza extrema. Boa parte dessa parcela da população é assistida pelo programa Bolsa Família que, mesmo com os cortes no orçamento, deve ser ampliado e ter seu valor reajustado. A necessidade de uma reforma política também foi citada pela presidenta. Com um sistema em vigor que funciona privilegiando a eleição por legenda e até mesmo com uso de renda não declarada, Dilma pode até contar com o apoio da maioria no Congresso, mas seus próprios aliados farão resistência. Basta lembrar que dos 513 deputados eleitos em outubro passado, apenas 36 chegam com votos inteiramente próprios. Ainda falando em política, o combate à corrupção decretará o sucesso ou não no cumprimento das metas da presidenta. No campo econômico, além das decisões pragmáticas, Dilma Rousseff e seu governo têm pela frente a tentativa de aliviar a carga tributária que, durante a crise financeira de dois anos atrás, ficou menos pesada para uma série de produtos, de automóveis a material de construção. Mas a carga tributária, que no acumulado do governo Lula chega
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Dilma Rousseff chega ao Planalto e abre década priorizando a educação. Crescimento econômico, erradicação da miséria, liberdades e outras promessas fizeram parte do seu primeiro discurso, mas o combate aos juros e os cortes no orçamento rondam os primeiros passos a 37% do Produto interno bruto. Em média, o brasileiro trabalha 148 dias do ano só para pagar impostos. Filha de professora, Dilma lembrou em seu discurso de posse a importância da educação para o crescimento de uma nação. De modo concreto, ao afirmar que “se professores forem tratados como as verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólidos compromissos com a educação dos jovens” o ensino no Brasil terá qualidade e, ao mencionar o poeta João Guimarães Rosa, seu conterrâneo e autor de Grande Sertão: Veredas para explicar que apesar das dificuldades, coragem não lhe faltará: “O que tem de ser tem muita força, tem uma força enorme”. Emoção ao receber a faixa presidencial do antecessor Luiz Inácio Lula da Silva
Ministério rechonchudo Apoiada por dez partidos, a presidente eleita nem bem havia assumido o cargo e já exercitava a
diplomacia e o discurso em prol do entendimento que lhe cercarão no poder. Depois de contar com PT, PMDB, PDT, PSB, PR, PC do B, PRP, PTN, PSC e PTC para estabelecer sua candidatura, a presidente anunciou os nomes que lhe acompanharão no governo em uma composição que agrega o interesse e o tamanho dos aliados, a deferência de Dilma às mulheres e, inclusive, os pitacos do ex-presidente Lula. Aliás, Dilma já começa seu governo batendo recorde. São 37 ministros, contra 32 de Lula em 2003, 27 de Fernando Henrique Cardoso em 1995 e 15 de Fernando Collor em 1990. Dentre os nomes de confiança estão os ítalo-brasileiros Guido Mantega e Antonio Palocci que ocupam a Fazenda e a Casa Civil, respectivamente. Mantega permanece no cargo que herdou de Palocci em 2006. De volta aos meandros do poder em Brasília, o articulador Palocci teve papel importante na campanha de Dilma e como prêmio ficará no ministério em que ela mesma fez história ao comandar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Outro ítalo-brasileiro, o economista Alexandre Tombini está na presidência do Banco Central, onde já atuava como diretor de Normas. Sucede a Henrique Meirelles e na expectativa de analistas, deve representar continuidade, embora com menos conservadorismo, da condução da política vigente de fixação da taxa de juros – a principal função do BC. O grande desafio do novo presidente será o de nivelar a taxa básica de juros no primeiro ano do mandato. A meta central de inflação para 2011 é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Ainda no setor econômico, Miriam Belchior, braço direito de Dilma na condução do PAC, ganhou o ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Se na confirmação de sua eleição Dilma afirmou querer honrar as mulheres, a foto de posse no dia 1º de janeiro ainda conta com atual relatora da proposta de Orçamento de 2011, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) escolhida como ministra da Pesca e Aquicultura; a deputada Maria do Rosário (PT-RS) na Secretaria Especial de Direitos Humanos; a jornalista Helena Chagas – assessora de Dilma na campanha presidencial – agora ministra da Secretaria de Comunicação Social. Completam o time feminino a ministra do Meio Ambiente,
Izabella Teixeira, no cargo desde abril de 2010; Tereza Campelo (PTRS), ministra do Desenvolvimento Social; Iriny Lopes (PT-ES) na secretaria especial de Políticas para as Mulheres, Anna de Hollanda, que cuidará da Cultura; Luiza Bairros, de Igualdade Racial. Para traçar o roteiro de interesses e metas mundo afora, o ministério das Relações Exteriores, ficou com Antonio Patriota. E na turma dos que ficaram onde estavam se encontram Wagner Rossi (PMDB), ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Fernando Haddad (PT), na Educação, Orlando Silva (PCdoB), no Esporte e, Carlos Lupi (PDT) no Trabalho. Ministro de Minas e Energia entre 2008 e 2010, o senador Edison Lobão retorna ao posto enquanto seu colega Garibaldi Alves é o responsável pela Previdência Social. Ainda na cota peemedebista, Nelson Jobim ficou com a Defesa. Já o ministro do Planejamento de Lula, Paulo Bernardo (PT) foi transferido para o Ministério das Comunicações. O deputado federal Pedro Novais pegou o Turismo e o ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Ao lado da filha, Paula Rousseff Araújo, a presidenta percorreu de carro a Esplanada dos Ministérios
Dilma Rousseff posa ao lado do vice-presidente, Michel Temer, e dos 37 ministros para a foto oficial
Excluindo-se o PMDB, entre os partidos que apoiaram a candidatura de Dilma, o PR, foi lembrado com o Ministério dos Transportes. O senador Alfredo Nascimento assumiu a pasta pela terceira vez em sua carreira. Na cobiçada pasta de Cidades, que é responsável pelo Minha Casa, Minha Vida, o PP emplacou Mario Negromonte. Já o PSB terá Leônidas Cristino na Secretaria Especial de Portos e Fernando Bezerra Coelho na Integração Nacional. A lista de ministros inclui ainda Luis Inácio Adams, da Advocacia Geral da União; Jorge Hage, da Controladoria Geral da união, o general José Elito Siqueira, chefe do Gabinete de Segurança Intitucional da Presidência e Giles Azevedo, ministro-chefe de gabinete de Dilma. Completam o perímetro de atuação do governo os petistas Alexandre Padilha (Saúde), José Eduardo Cardozo (Justiça), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), o ex-prefeito de Belo Horizonte e candidato derrotado ao Senado, Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário), Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia).
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Política
Caso
de honra Decisão do governo brasileiro de não extraditar Cesare Battisti provoca manifestações na Itália, mas Silvio Berlusconi garante que as relações entre os países não serão afetadas 20
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Nayra Garofle*
D
epois de três anos preso no Brasil aguardando a decisão do governo se o extraditaria ou não, o italiano Cesare Battisti parece ter sua jornada mais perto do fim. No penúltimo dia do ano passado, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva acolheu a decisão da Advocacia Geral da União, ou seja, negou a extradição de Battisti ao governo italiano. Apesar disso, o premier Silvio Berlusconi afirmou que as “boas relações” entre Itália e Brasil não serão afetadas pelo caso, embora tenha expressado a intenção de levar o processo à Corte Internacional de Justiça, em Haia.
— Este tema não se refere às boas relações que temos com o Brasil, mas é um caso de Justiça, por isso, as nossas relações com aquele país não mudarão — disse Berlusconi, ao término de uma reunião com Alberto Torregiani, uma das vítimas que ficou paraplégico e órfão após um ataque atribuído a Battisti. Cesare Battisti foi julgado à revelia e condenado na Itália à prisão perpétua pelo assassinato de quatro pessoas nos anos 70, quando o estado democrático na Itália se viu atacado por grupos terroristas de esquerda. Desembarcou no Brasil em 2004 e foi preso em 2007. Desde então, o governo italiano pede a extradição dele. Battisti alega sofrer perseguição política em seu país e se diz vítima de um complô dos verdadeiros autores do assassinato, que puseram a culpa nele e se beneficiaram das vantagens da delação premiada. Apesar disso, o governo italiano afirma que o país é uma democracia com um judiciário zeloso e independente, e que não existe a possibilidade de perseguições desse tipo. No fim de 2009, a alta corte brasileira anulou a concessão do refúgio dada no início daquele mesmo ano pelo então ministro da Justiça, Tarso Genro, pronunciando-se favorável à extradição. Porém, os ministros determinaram que o parecer final caberia ao presidente, que anunciou sua decisão apenas no último dia de seu mandato. A decisão do governo brasileiro pode não abalar as relações entre os dois países como afirma Berlusconi, mesmo assim a Itália demonstrou profunda insatisfação ao convocar o embaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca, a Roma para dar mais informações sobre o caso. Ele se reuniu com funcionários do
Alberto Torregiani, uma das vítimas dos crimes atribuídos à Battisti, ficou paraplégico e perdeu seu pai, morto no atentado
O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou para revelar no último dia de seu mandato a decisão de não extraditar Battisti
Ministério das Relações Exteriores para trazer ao Brasil as novas instruções sobre os passos a serem dados no campo judiciário. O advogado do governo italiano, Nabor Bulhões, quer que o caso volte a ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal. Esta informação foi confirmada pelo subsecretário de Relações Exteriores da Itália, Alfredo Mantica, ao jornal Il Messaggero, ao dizer que o governo italiano se prepara para recorrer ao STF e ainda afirmou que a Itália vai levar o caso ao Tribunal Internacional de Justiça de Haia — Primeiramente a Itália está tomando todas as medidas cabíveis, recorrer ao Tribunal Internacional de Justiça de Haia é uma hipótese secundária. A decisão do governo brasileiro é um ato ilícito de âmbito interno e internacional — afirma Nabor Bulhões, explicando ainda que houve um equívoco quanto à participação de Lula no caso — O STF não deixou a palavra final para o ex-presidente, isso foi uma interpretação leiga da imprensa, na verdade, era para que ele entregasse Battisti, mas não imediatamente porque ele está respondendo processos no Brasil — garante. A palavra final só cabe quando não há um acordo de extradição assinado com o país de origem de quem está sendo julgado. Em 1989, Itália e Brasil assinaram um Tratado de Extradição em que se comprometem a devolver um ao outro “as pessoas que se encontrem em seu território e que sejam procuradas pelas autoridades judiciais da parte requerente”. Em seu parecer, a AGU alega que, segundo o modelo extradicional da Bélgica seguido pelo Brasil, se o Supremo decidir manter no país o estrangeiro julgado, o presidente não pode autorizar sua extradição. Caso a corte aprove a extradição, porém, o presidente tem a prerrogativa de seguir a decisão dos ministros ou não. Isso é possível desde que sejam respeitados os pactos internacionais assinados pelo Brasil. O chanceler da Itália, Franco Frattini, reiterou que seu país utilizará os meios legais para recorrer da decisão brasileira de não extraditar o italiano. E, assim como Berlusconi, ele descarta, neste momento, a possibilidade de romper acordos bilaterais.
— Estamos reagindo, utilizando os dois instrumentos jurídicos que temos em mãos: o recurso no STF brasileiro, que estamos preparando no momento e aquele que pode ser levado à Corte Internacional (de Justiça) de Haia — disse Frattini, em declarações ao jornal Sole 24 Ore. Para o ministro, “romper os acordos não ajuda a reaver Battisti e nem a defender os interesses da Itália e dos italianos”. Contudo, segundo Frattini, o Brasil deve saber que um acordo de cooperação firmado entre o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o premier italiano, Silvio Berlusconi, “deve ser ratificado nas próximas semanas no Parlamento italiano e é claro que o clima, seja na situação ou na oposição, não é dos melhores”. — Não é intenção de o governo mudar ou congelar nada. Dizemos que hoje será enfrentada a questão legal, depois, recorremos a outros discursos — completou. Apesar das declarações do chanceler, a Câmara dos Deputados italiana paralisou, na segunda semana desse mês, o processo de aprovação de um acordo militar com o Brasil já aprovado no Senado. Autoridades da Itália disseram que este acordo só seria votado depois de uma solução para o caso do ex-terrorista italiano Cesare Battisti, preso no Brasil. O Palácio do Planalto não se pronunciou sobre a decisão da Câmara. O acordo na área de Defesa prevê o desenvolvimento bilateral de projetos para a construção de navios e fragatas, além da realização de patrulhas. A aprovação do texto pelo parlamento italiano é o último passo para a entrada em vigor do acordo, que foi negociado em junho pelos ministros da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, e do Brasil, Nelson Jobim. No Brasil, o repórter do periódico Il Giornale, Gian Marco Chiocci, acompanha o caso e diz que vê, pela primeira vez na história italiana, as forças da direita e da esquerda se unirem em torno de uma discussão cara à sociedade italiana. — De uma forma geral, os italianos estão muito chateados. Battisti não é um terrorista, é um deliquente. É como se um brasileiro matasse 10 pessoas aqui, fosse julgado como se deve, fugisse para a Itália e a Itália não quisesse mandá-lo de volta para cá. A imagem de Lula está enfraquecida porque o Brasil vai ser considerado um
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Política país que acolhe deliquentes, além de considerar a Itália um país não democrático — afirma Chiocci, que, no entanto, acredita que “os interesses econômicos superam qualquer coisa e isso vai acabar sendo esquecido com o tempo”. A opinião pública brasileira é contrária a decisão de Lula. Uma enquete publicada no site do jornal Folha de São Paulo, no dia da divulgação da decisão sobre a não extradição de Battisti, revela a opinião dos brasileiros sobre o caso. O jornal pergunta se o presidente Lula acertou ao negar a extradição. Até o dia 12 de janeiro, dos 10.353 votos, 7.819 pessoas, mais de 75%, afirmam que não concordam com a decisão do governo brasileiro. No site da Comunità, 72,7% também votaram a favor da extradição numa enquete similar.
O relator Gilmar Mendes deverá levar o assunto ao plenário do tribunal em fevereiro
Em Brasília Apesar de ter sido divulgada a decisão do governo brasileiro, Battisti continua preso em Brasília. O pedido de soltura do italiano foi entregue ao Supremo Tribunal Federal no dia 3 de janeiro. Em nota, o advogado Luís Roberto Barroso afirma que a decisão deve ser cumprida imediatamente com a soltura de Battisti. Ele ressalta que o cumprimento da decisão do presidente da República e do próprio Supremo Tribunal Federal, que já analisou o assunto, é decorrência do estado de direito democrático e que aguarda o despacho do presidente da Corte, ministro Cezar Peluso. O governo italiano contestou no STF o documento em que a defesa do terrorista Cesare Battisti pede para que ele seja solto imediatamente. Nabor Bulhões considera que o plenário do STF – e não apenas um dos ministros do tribunal – é que deve revogar ou não a prisão de Battisti, já que, em 2009, os ministros decidiram autorizar a extradição dele. Para Bulhões, é preciso examinar a compatibilidade entre a decisão do ex-presidente Lula de não extraditar o terrorista e a que foi definida pela maioria dos ministros. Peluso decidiu negar o pedido de soltura de Battisti, feito pela defesa do italiano. Além de determinar que todos os pedidos relativos ao processo fossem encaminhados para o relator Gilmar Mendes, que deverá levar o assunto ao plenário do tribunal em 2 de fevereiro, data da primeira sessão do ano. 22
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O ministro da Defesa da Itália, Ignazio La Russa, comemorou a decisão do STF de manter detido o ex-ativista. — Estou contente que os juízes brasileiros e a opinião pública entenderam que não é possível que Battisti não seja extraditado — afirma o ministro, que está “acompanhando o caso com atenção”. O Democratas (DEM) entrou, na segunda semana de janeiro, com uma ação direta de inconstitucionalidade no STF contra o parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) que defendeu não extraditar Battisti. — No afã de tentar demonstrar uma eventual perseguição a Battisti, o parecer se baseou exclusivamente em matérias jornalísticas, que, segundo o STF, não servem de prova robusta para absolutamente nada — afirma em nota o deputado federal Rodrigo Maia, presidente nacional do partido. Para o deputado, porém, cabe ao STF, e não ao presidente, decidir sobre extradições requisitadas por países estrangeiros. A advogada de Battisti, Renata Saraiva, afirma não ter se encontrado com o italiano, mas acredita que o mesmo, apesar de feliz com a decisão do governo brasileiro, deve estar “angustiado” por conta de ainda estar preso. Sobre o futuro de seu cliente, Saraiva afirma que ao conversar com Battisti, ele prefere não comentar. — Ele não quer falar sobre isso, se vai viver no Brasil ou não. Ele prefere deixar as coisas acontecerem para depois pensar nisso — conta a advogada.
“Romper os acordos não ajuda a reaver Battisti e nem a defender os interesses da Itália e dos italianos”. Franco Frattini, chanceler da Itália
Reações na Itália A decisão do governo brasileiro provocou protestos na Itália. Manifestantes, entre eles parlamentares e familiares de vítimas de crimes atribuídos a Battisti nos anos 1970, se reuniram nas principais cidades do país para criticar a permanência dele no Brasil. O deputado eleito pelos italianos no exterior, Fabio Porta, expressou sua insatisfação com as manifestações contra a decisão do governo brasileiro. Ele diz estar de acordo com o jurista italiano Antonio Cassese, ao afirmar que “um confronto político-judicial acompanhada por manifestações de rua, as ameaças de boicotes, especulações políticas por extremistas de qualquer país não farão bem a nenhum dos dois países”. — Tenho certeza que se os caminhos da justiça e da política voltarem a ser prosseguidos com coerência e seriedade será possível chegar a uma solução solene pelo Presidente da República e pelo Parlamento Italiano — acredita. Em Milão, cerca de 100 pessoas se reuniram em frente ao Consulado do Brasil e gritaram: “Vergonha! Vergonha!”. Elas disseram que o protesto não era contra o Brasil ou os brasileiros, mas contra o ex-presidente Lula, que “matou a justiça do nosso país”, explicava um dos muitos cartazes. As manifestações simultâneas em 20 cidades foram organizadas por Alberto Torregiani. Em Roma, em frente à Embaixada do Brasil, manifestantes – entre eles políticos – pediam justiça e chamavam Lula de “covarde”. “Lutar por justiça” Alberto Torregiani, uma das vítimas dos crimes pelos quais o ex-ativista Cesare Battisti é condenado na Itália, pode vir ao Brasil nos próximos meses para esclarecer à imprensa e à opinião pública brasileira a verdadeira história do ex-líder do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). — A decisão de vir ao Brasil faria parte da minha batalha por justiça — explica Torregiani, que ainda aguarda o desenvolver dos acontecimentos para decidir sua viagem. Torregiani, de 47 anos, ficou paraplégico aos 15, durante um ataque à joalheria do seu pai, morto no atentado, ocorrido em Milão em fevereiro de 1979. O crime foi reivindicado pelo PAC que alegou como motivação a morte de um criminoso, considerado “um
proletário vítima da falta de empregos”, durante uma tentativa de assalto, em janeiro do mesmo ano, à uma pizzaria na qual se encontrava Torregiani, que reagiu com sua pistola, provocando um tiroteio no local que deixou uma vítima e vários feridos. Cesare Battisti foi preso acusado de ser o mandante do homicídio de Torregiani com sentença definitiva de prisão perpétua. Desde 1981, quando fugiu do presídio de Frosinone e se refugiou na França, Battisti é procurado pela Justiça italiana. — Penso que exista ainda muita confusão sobre o caso na imprensa brasileira, alguns jornais, favoráveis ao presidente Lula, pintaram a situação em favor de Battisti, enquanto, do outro lado, existe uma linha de jornalistas e comentaristas que dizem a verdade — afirma o italiano, explicando sua visão sobre a cobertura que a imprensa brasileira vem dando ao caso — No final, o público quer saber a verdade, por isso a nossa ideia de aumentar o consenso sobre a história real, explicando bem a situação —, acrescenta. No último dia 5 de janeiro, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi se encontrou com Torregiani, a quem,
“É como se um brasileiro matasse 10 pessoas aqui, fosse julgado como se deve, fugisse para a Itália e a Itália não quisesse mandá-lo de volta para cá”. Gian Marco Chiocci, repórter do jornal italiano Il Giornale além de expressar sua solidariedade pessoal e política, convidou a participar de uma conferência de imprensa em Bruxelas no final de janeiro, junto com o Partido Popular Europeu, “para divulgar a realidade dos fatos e levar o caso até a Corte Internacional de Haia”. — Em todo caso, fico feliz que exista uma comunidade ítalo-brasileira que busca a verdade, e isso faz toda a diferença — conclui Torregiani, que, depois do atentado continuou seus estudos em Informática e hoje trabalha na prefeitura de Novara, na região do Piemonte.
Em 2006, publicou junto a Stefano Rabozzi o livro “Ero in guerra e non lo sapevo”. Além das manifestações de Torregiani, Adriano Sabbadin, filho de um homem apontado como uma das vítimas do grupo de Battisti afirmou, em carta aberta aos brasileiros e que será entregue ao governo da presidenta Dilma Rousseff, estar “profundamente ferido” com a decisão do ex-presidente Lula. A carta foi publicada na edição do dia 3 de janeiro do jornal Corriere Del Veneto. “Eu me senti profundamente ferido pela decisão de Lula de não extraditar Cesare Battisti, que 30 anos atrás matou meu pai (Lino Sabbadin)”, escreveu. Sabbadin é filho de um açougueiro assassinado em 16 de fevereiro de 1979. O crime foi atribuído a Battisti, que também é suspeito de participação na morte do diretor dos guardas da prisão de Udine, Antonio Santoro, e de um policial de Milão, Andrea Campagna. O italiano afirma buscar “justiça em vez de vingança” e diz ainda que a prisão de Battisti não trará seu pai de volta, mas sim a “paz aos que ainda esperam por justiça”. O diário italiano promete encaminhar a carta à Dilma por meio da embaixada italiana. Próximo imbróglio Enquanto o caso Battisti chega perto do fim, o Brasil pode se envolver em outra polêmica diplomática com a Itália. Isso porque o governo italiano deve pedir, a qualquer momento, outra extradição: a de um argentino preso no Rio de Janeiro. César Alejandro Enciso, de 60
Lino Sabbadin, uma das vítimas do grupo de Battisti
Ministra Carmen Lúcia: prazo de 40 dias para a Itália pedir a extradição do argentino César Alejandro Enciso
anos, que está detido no presídio Ary Franco, na zona norte do Rio, é acusado de crimes contra italianos durante a ditadura na Argentina. Preso em 30 de novembro do ano passado, Enciso era procurado pela Interpol. A investigação da Polícia Federal aponta que o argentino vivia há 21 anos aqui no Brasil e que morava com uma filha adotiva de 15 anos, que é brasileira. No momento da prisão, em sua casa, no bairro de Santa Teresa, o argentino estava sozinho e não resistiu. A investigação durou dez meses. A PF teve dificuldades em localizar Enciso porque ele usava dois nomes falsos. O argentino pode ser processado aqui no Brasil por falsidade ideológica. Ele trabalhava como fotógrafo especializado em competições náuticas. De acordo com a Polícia Federal, na Justiça italiana, Enciso responde por crimes de massacre, sequestro, cárcere privado e homicídio. A PF não confirma, mas segundo jornais argentinos, ele fazia parte da oficina automotores Orletti, em Buenos Aires, onde funcionava uma espécie de central de torturas do regime militar. O Supremo Tribunal Federal deu prazo de 40 dias para receber o pedido de extradição do argentino. A ministra Carmen Lúcia, que autorizou a prisão, destacou que se o prazo vencer Enciso poderá ser libertado. *Colaborou Aline Buaes, de Napoli
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Política
Magistratura exposta Os meandros de processos famosos e delicados são narrados em livro lançado em tempo de embate entre a política e o judiciário Guilherme Aquino
O
De Milão
livro “Ne valeva la pena” (Valia a Pena pena [fazer aquilo]) chega às livrarias num momento difícil para a justiça italiana. A guerra aberta do poder Executivo – leia-se o primeiro ministro Silvio Berlusconi – contra a magistratura atinge o ápice com a proposta da lei da mordaça que restringe, e de forma quase absoluta, o trabalho de interceptação telefônica, fundamental para a investigação de um crime. Ao longo das 580 páginas da obra publicada pela editora Laterza, o procurador público no Tribunal de Milão, Armando Spataro, conta 30 anos de experiência na linha de frente contra o terrorismo, vividos dentro de um vasto aparato judiciário e policial. Um dos casos, de repercussão internacional, citados é o do sequestro, por agentes da Cia, de Abu Omar, líder muçulmano em Milão, numa clara violação às leis italianas vigentes. “A sobreposição do chamado ‘segredo de
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Estado’, imposto por dois governos, Prodi e Berlusconi, causou a impunidade”, sentencia o magistrado sobre o envolvimento do aparato secreto italiano no caso que, no entanto, acena com a condenação dos americanos pela justiça dos Estados Unidos. — Eu tinha vontade de escrever com o coração e não tanto com a cabeça. Chegou-se a pensar em colocar um ponto de interrogação no título do livro, mas passaria uma mensagem de dúvida, desencorajante. Neste momento, assistimos a uma agressão que corrói a autoridade judicial — disse Armando Spataro durante a apresentação do livro na sede da Associação dos Correspondentes Estrangeiros, em Milão. Para o procurador, nascido em Taranto, de 62 anos, a Itália vive um delicado momento de informação opaca, com os meios de televisão sem transparência. Partem do pressuposto de que a magistratura tenha ‘abusado’ de informações privilegiadas, mas, a verdade é que não querem a interceptação, dispara contra os políticos defensores do projeto de lei. O livro foi escrito sem ter a pretensão de ser um best-seller, mas com o intuito de apresentar o trabalho que existe por trás de uma sentença, a percepção de quem caminha sobre o fio da navalha numa investigação, as rotas transversais que se cruzam ao acaso com sinais que devem ser decifrados, a banalidade de gestos e ações que escondem informações fundamentais, o fio do novelo desenrolado ao longo do tempo. “Ne valeva la pena” defende a importância primordial da escritura e do cumprimento de uma sentença. Acho que um histórico deva ler as sentenças. Elas não permitem
que fatos desmontem uma bela história, comenta. Uma das características da magistratura italiana é o da grande exposição pública. Ao contrário do que existe em outros países, nos quais os juízes vivem longe dos refletores, na Itália, eles foram chamados em causa, sem querer, para “moralizar” a sociedade. O processo “Mani Pulite”, nos anos 90, reescreveu a importância dos juízes e procuradores como sendo parte de uma classe acima de qualquer suspeita, enquanto as classes política e empresarial caíam na lama da corrupção, com personagens sujando as instituições e minando a confiança da sociedade. Essa espécie de vácuo de poder foi ocupada temporariamente pela presença paladina do Judiciário que, até hoje, não se livrou dele. O livro explica que sobre os crimes cometidos quem indaga é o procurador público, independente, e que não tem nenhuma função moralizadora ou de prevenção. — A nossa estrela Polar é a lei, a Constituição. O juiz é apenas um sujeito da lei — afirma Spataro que reconhece, no entanto, um tipo de “voyerismo” judiciário-político em voga. Da luta ao terrorismo àquela contra a Máfia, os métodos da justiça italiana vão se contaminando com as excelências de investigações que abriram e escancaram ainda as
Armando Spataro: “Eu tinha vontade de escrever com o coração e não tanto com a cabeça”
“Ao contrário do que existe em outros países, nos quais os juízes vivem longe dos refletores, na Itália, eles foram chamados em causa, sem querer, para “moralizar” a sociedade”
celas para notórios criminosos e fugitivos contumazes. — A Máfia tem raízes seculares. Já no século XVII a Corte calabresa emitia sentença contra essa organização criminosa. Ela não tem uma história recente como o terrorismo. No entanto, as formas de combate a um e a outro possuem pontos comuns. O principal deles é aquele do trabalho articulado entre as partes. A metodologia foi adaptada no combate ao terrorismo — explica. O autor conhece a fundo os modos de agir de cada um. Ele ocupou-se de crimes mafiosos e aqueles cometidos pelo grupo terrorista “Brigadas Vermelhas”, entre outros casos. A “ndrangheta” do Norte, ramificação mafiosa que atuava na rica região italiana, sentiu a força do procurador Spataro, à frente no combate contra a presença da organização criminosa no tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e concorrências e licitações de obras públicas. O livro revela como o sistema investigativo italiano é excelente, mas, sem o apoio do Estado e de uma legislação e, da sociedade, o crime pode acabar compensando. “Os crimes ‘menores’ devem ter a mesma atenção perante a lei”, sacramenta: — A fragilidade da luta contra os reatos mais simples enfraquece o combate contra a Máfia. Os crimes não acontecem, nem sempre, com a marca mafiosa — explica Armando Spataro que, sorrindo, lembra dos tempos em que era “obrigado” a caminhar com uma pasta blindada e do uso de um sobretudo à prova de balas que pesava mais do que o risco que corria de vida.
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Economia
Ano da virada Parceria comercial entre a Itália e o Brasil ganha fôlego com novas oportunidades de investimentos e perspectivas melhoram após pico da crise econômica Francesco Giurato
Especial para Comunità
“E
ssa disputa não tem relação com as boas relações comerciais que temos com o Brasil, por isso nada mudará”. O ano de 2011 e o papel das trocas comerciais entre Brasil e Itália começaram com essa declaração feita pelo premier Silvio Berlusconi. O caso Battisti (em reportagem desta edição) ganhou os jornais dos dois países e ofuscou outra reunião, mais importante, organizada no Rio de Janeiro no mesmo mês pela Confindustria, a Confederação das Indústrias da Itália. Na mesa, membros da própria associação discutiram com empresários do setor hoteleiro, de restaurantes, aeroportos e transportes, além de representantes dos ministérios do Esporte e do Turismo, sobre as possibilidades quase 26
infinitas de investimentos no Brasil na próxima década. Os italianos estão de olho nas Olimpíadas e na Copa do Mundo que o país sediará. As exportações da Itália para o país e o aumento de investimento das fábricas italianas que operam no Brasil navegam em mar aberto, e tendem a aumentar. A Itália é hoje um dos maiores parceiros comerciais do país. O intercâmbio entre os dois países passou de 3,6 bilhões de dólares em 2002 para 9,4 bilhões de dólares em 2008. No ano passado, em decorrência da crise financeira internacional, houve queda de 28%, mas os primeiros cinco meses do ano passado mostram alta de 27%. De 2006 até hoje, os investimentos italianos no Brasil praticamente dobraram. Em 2011, mais dinheiro italiano será aportado no Brasil, do Paraná ao Pernambuco, de fábricas de reciclagem a estradas, de alimentos a rodovias, de petróleo a uma nova
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O presidente da Fiat, Sergio Marchione e o então presidente Lula posam durante o evento que apresentou o projeto da nova fábrica no Nordeste
planta da FIAT – pioneira no país, estabelecida há mais de 50 anos com unidades de produção da Fiat Auto e que trouxe consigo outras parceiras como Teksid, Magneti Marelli, Comau e CNH. O investimento total das empresas italianas neste ano pode beirar 1 bilhão de reais. — O julgamento geral sobre o desenvolvimento no Brasil não pode ser outro que positivo — diz Mario Deaglio, economista e professor de economia internacional da Facoltà di Economia dell’Università di Torino. — O lugar-comum de crescimento desordenado dos países da América Latina desapareceu com o episódio
brasileiro que estamos vendo — acrescenta ele. A visão que se tem de fora é muito similar àquela apontada dentro do país. Para Deaglio, o Brasil chegou a esses resultados antes de tudo graças a uma base industrial muito forte que cobre hoje diversos setores da economia moderna, que vão do aeroespacial a aparelhos médicos. — O mercado interno com seus 190 milhões de habitantes é forte e a base da indústria vem sendo modernizada notavelmente — destaca o economista. As fibrilações que o caso Battisti causou devem ser superadas, mesmo com o congelamento de um acordo militar feito entre os dois países. A Câmara dos Deputados da Itália resolveu reenviar o texto do acordo que o país planeja firmar com o Brasil. Por unanimidade, os parlamentares aderiram à proposta de “congelamento”. O acordo na área de Defesa prevê o desenvolvimento bilateral de projetos para a construção de navios e fragatas, além da realização de patrulhas. Para por panos quentes, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, assegurou que o acordo será assinado e disse que “a Itália foi incapaz de se fazer entender no caso Battisti”. O acordo interessa basicamente à Itália, que deverá lucrar com a parceria. O pacote é estimado em R$ 3 bilhões e pode ajudar a península a superar um ano delicadíssimo pela frente, com cortes de investimentos públicos e privados em todo seu território. Outra mostra de que a política não deve atrapalhar as relações comerciais é o aumento da presença dos principais players italianos no Brasil: Fiat, Telecom e Pirelli já divulgaram ampliações em seus negócios. No fechamento do ano de 2010, o presidente da FIAT, Sergio Marchionne, acompanhado de Lula, pôs em Pernambuco a pedra fundamental do que deve ser a nova fábrica da montadora no país. A planta se tornará a segunda casa da empresa no Brasil, depois de Betim, e nascerá graças a um investimento total de quase 1,5 bilhão de euros. A partir de 2014, a nova fábrica produzirá 200 mil carros por ano levando a capacidade produtiva global da FIAT a mais de 1 milhão de carros. — A presença da FIAT no Brasil — diz Deaglio — garante por mais 10 anos uma boa saúde financeira à empresa. Bom para o Brasil, ruim para a Itália, que vê uma batalha entre a
A TIM e a Pirelli são duas das empresas italianas que planejam maiores aportes no Brasil
empresa e seus funcionários, ameaçados de demissão pelo fechamento de plantas na Bota. — Marchionne poderia até mesmo fechar todas as fábricas na Itália sem nenhum problema — afirma Deaglio. Os investimentos da multinacional de Turim não serão isolados. A rede de infraestrutura da qual dependerá a nova fábrica deve gerar um investimento em cadeia que pode chegar a muitos bilhões de euros, de estradas a moradias. O exemplo FIAT pode também ser seguido pela Ansaldo STS e FS, empresa interessada na construção da nova ferrovia de alta velocidade entre Rio, São Paulo e Campinas. Além disso, a já presente sinergia entre o gigante energético Petrobras e a italiana Saipem é destinada a se reforçar graças a construção de novos pólos para extração de gás natural, core business da empresa. No plano das pequenas e médias empresas, o Made in Italy poderá desfrutar do bom momento vivido pelo consumidor brasileiro. A nova classe média (ou classe C) deverá ser o foco. — Precisamos operar no Brasil como fizemos aqui nos anos pósguerra — diz Deaglio. Com tantas marcas globais que vão de Ferrari a Dolce & Gabbana, o sucesso pode bater à porta. Made in Brazil em alta Se os investimentos italianos no Brasil sopram bons ventos para os próximos anos, o mesmo não se pode dizer dos investimentos brasileiros na Itália. Com a economia estagnada e alta taxa de burocratização, poucos empresários brasileiros vêm se arriscando a abrir negócios no país. Enquanto Portugal, França e
Havaianas: média de 25 euros por um par na Itália
Holanda aparecem entre os cinco países que mais recebem investimentos brasileiros atualmente – excluindo os paraísos fiscais como ilhas Cayman – a Itália não figura sequer entre os 26 primeiros em um ranking divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores. Outro movimento ainda não identificado pelo números da balança oficial vem, no entanto, lentamente crescendo no país: o da identificação de produtos brasileiros, o reconhecimento do Export Made in Brazil. O caso mais famoso é o das sandálias Havaianas, produzidas pela São Paulo Alpargatas e exportadas para cerca de 80 países em todos os continentes. Mal começa o verão e as sandálias que exibem nas tiras a bandeirinha do Brasil tomam as ruas. A febre é tamanha que o preço salgou (média de 25 euros por um par que custa menos um terço disso no Brasil) e impulsionou a pirataria. Péssimo para a indústria, mas sinal inegável de sucesso. É mais fácil, hoje, encontrar um par de Havaianas pirata pelas ruas da Itália do que um original. O exemplo das Havaianas impulsionou a indústria calçadista brasileira a fazer um trabalho de reconhecimento no país. Pesquisa da Brazilian Footwear – entidade liderada pelos principais fabricantes de calçados brasileiros – identificou que os italianos não têm preconceito em relação ao sapato brasileiro como têm do chinês. Em 2009, o mercado italiano figurou como o quarto maior comprador dos produtos brasileiros em faturamento e sexto em volume – foram embarcados 4,5 milhões de pares. Agora o Brasil quer vender mais sapatos na terra do sapato por excelência. Nos primeiros seis meses de 2010, o volume global de calçados exportados pelo Brasil apresentou alta de 19,3%, em relação ao primeiro semestre de 2009. O preço médio também subiu de US$ 17,11 para US$ 18,76 o par.
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Economia
Expansão Fiat investe R$10 bilhões no Brasil e anuncia a construção de uma nova fábrica no país Nayra Garofle
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esde que se instalou em Minas Gerais, no ano de 1976, a Fiat desenvolve-se no país. A cada ano, a empresa se supera em números e 2011 já começa com uma nova promessa: a construção de outra fábrica, desta vez, em Pernambuco. O projeto da fábrica foi formalmente anunciado em dezembro, durante evento com a participação do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do governador do estado de Pernambuco, Eduardo Campos, e representantes da empresa, na cidade de Salgueiro, a 515 quilômetros do Recife. O investimento será de R$ 3 bilhões e prevê a construção, no Complexo Industrial Portuário da cidade de Suape, da fábrica (área de 4,4 milhões de metros quadrados), de um centro de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e plataformas, além de fornecer treinamento de recursos humanos para operar o novo empreendimento, que levará três anos para ser construído. Estes aportes fazem parte do plano de investimentos de R$ 10 bilhões que a Fiat já aprovou para o Brasil para o
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período de 2011 a 2014, dos quais R$ 7 bilhões serão destinados a Minas Gerais. A montadora italiana pretende expandir a produção em Betim em mais 150 mil veículos por ano, valor que será somado às atuais 800 mil unidades produzidas. — Com esta nova operação a empresa reafirma sua confiança no Brasil, ao realizar no país seu maior ciclo de investimento, de R$ 10 bilhões. Estamos conscientes da importância de contribuir para o desenvolvimento regional de Pernambuco e do Nordeste, instalando esta fábrica que será o eixo de um novo pólo industrial. A Fiat tem
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Cledorvino Belini: “em grandes sinergias” entre a Fiat e o governo de Pernambuco
uma história de pioneirismo e de sucesso em Minas Gerais, onde há décadas contribui para o desenvolvimento industrial, econômico e social — afirma o presidente da Fiat na América Latina, Cledorvino Belini. Atualmente, a empresa italiana opera em três turnos com capacidade produtiva para até 800 mil veículos por ano. Isso é resultado de investimentos na ordem de R$ 5 bilhões até 2010. Com a instalação de uma nova unidade no Nordeste, a produção aumentará. Só em Pernambuco, serão produzidos 200 mil veículos por ano. — A opção por uma nova planta no Nordeste é resultado de um conjunto de condições favoráveis oferecidas pela região. O Complexo do Suape reúne ótimas vantagens logísticas e o mercado automobilístico brasileiro continuará crescendo em todas as regiões do País, o que justifica uma nova localização — explica Belini. O presidente acredita que “assim como aconteceu quando se instalou em Minas, nos anos 70, a parceria entre a Fiat e o governo de Pernambuco resultará em grandes sinergias, com ganhos mútuos para a empresa e para o Estado, através do crescimento da atividade econômica, da formação de capital humano e da diversificação industrial”. Aproximadamente 3,5 mil empregos diretos serão gerados com a instalação da nova unidade, que produzirá novos modelos de automóveis desenvolvidos no Brasil e voltados para a demanda do consumidor brasileiro e latino-americano.
— O projeto que será realizado em Pernambuco representa um passo muito importante dentro da estratégia de reforço internacional da Fiat. O Brasil, onde até 2014 pretendemos atingir um volume de vendas de mais de um milhão de veículos por ano, é uma região estratégica para a nossa expansão. Nosso grupo objetiva também contribuir para o desenvolvimento econômico, tecnológico e industrial
do Brasil, no qual estamos presentes com a fabricação de automóveis há quase 40 anos — afirmou o CEO do Grupo Fiat, Sergio Marchionne, durante o evento. Em 2009, o faturamento líquido da Fiat foi de R$ 20,6 bilhões, 11,5% maior que o obtido no ano anterior, refletindo o maior
Grande incentivador de esportes no Brasil, a Fiat acaba de anunciar o patrocínio do time de futebol América Mineiro
volume de vendas no mercado brasileiro. A maior empresa do Grupo Fiat no Brasil fechou o ano com aproximadamente 737 mil veículos emplacados. Já as exportações atingiram 45.218 unidades. Mais esporte Se carro é um assunto que faz a cabeça de brasileiros e italianos, o futebol também não fica atrás. Foi pensando nisso que a Fiat Automóveis e o América Futebol Clube formalizaram, em dezembro, uma nova e grande parceria no futebol brasileiro: o patrocínio da marca ao time decacampeão mineiro. Assim, a Fiat fortalece ainda mais suas raízes no Brasil, ao incentivar um dos times mais tradicionais de Minas Gerais, e se tornando a maior patrocinadora da história deste clube. O contrato terá duração de dois anos, a partir deste mês. A Fiat será a patrocinadora oficial do América Mineiro, que volta este ano à Série A, estampando sua marca e de seus produtos em todos os uniformes, placas de centro de treinamento e placas de campo, entre outros materiais promocionais. Este não é o primeiro time apoiado pela empresa. A Fiat já patrocina o Palmeiras, time de origem italiana. Outra iniciativa de destaque no esporte é o patrocínio da Fiat ao Minas
Tênis Clube, por um período de seis anos, com o objetivo de formar a equipe de natação do clube para disputar as Olimpíadas de 2016, que se realizarão no Rio de Janeiro. Agora, com o América Mineiro representando o Estado de Minas Gerais, a política da empresa de estimular o esporte nacional dá mais um grande passo. É o que avalia Belini. — O incentivo ao esporte já é uma marca da Fiat. Acreditamos no talento dos nossos atletas e no potencial dos principais clubes brasileiros. O América é um grande time de Minas e nosso respeito e carinho por este Estado, que é a nossa casa, será muito bem representado com Saindo do forno este patrocínio — coara quem quer começar 2011 menta Belini. de carro 0 km, acaba de cheO presidente do gar ao mercado uma nova versão Conselho Adminispara o Fiat Punto 2011, a Essence trativo do América 1.6 16V com câmbio Dualogic AuMineiro, Olímpio Natomático. Além disso, o carro tem retrovisores externos elétricos mais ves, também ressalta a chave canivete com telecomando importância do patrode abertura/fechamento das portas cínio para o clube. e vidros. Os outros equipamentos — A Fiat é uma são os mesmos da versão Essence empresa de imagem 1.6 com câmbio manual, que tem consolidada, que faz uma lista bem completa, com itens como direção hidráulica, ar condiparte da história de cionado, volante com regulagem Minas. Isto é muide altura e profundidade, vidros to importante para o dianteiros elétricos com função América. E agora, a one touch e antiesmagamento, traFiat entra com dois vas elétricas, computador de bordo papéis importantes: com 10 funções, faróis de neblina a questão financeira, e alertas de limite de velocidade e manutenção programada.Esta que é uma necessidade nova versão chega na rede de conbásica para o clube, e o cessionárias Fiat por R$ 47.350,00. resgate da história e da tradição do time, junto a uma empresa com alta credibilidade para os mineiros — destaca Olímpio.
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos e o então presidente Lula posam no Complexo Industrial de Suape
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Atualidade
Pelas águas da Amazônia Distrito Naval do Amazonas sai do papel e recebe atenção de empresas estrangeiras. Comitiva italiana esteve no estado para firmar parcerias visando o crescente mercado de embarcações de luxo Silvia Souza
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stado entre os de maior produção industrial do Brasil, com índice na casa dos 20% em 2010, o Amazonas pode ampliar sua participação nas estatísticas do país. Um sonho antigo de empresários do setor naval, a criação do Distrito Naval no Pólo Industrial de Manaus deve deixar de ser uma intenção para se tornar realidade ainda este ano. Uma reunião agendada para esse mês reunirá representantes do governo do estado, da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e do Sindicato da Indústria da Construção Naval (Sindnaval) para dar voz aos administradores de estaleiros locais para listar as necessidades e ideias para gerir o modelo da empreitada. A criação do Distrito atrai a atenção de empresários italianos. Em dezembro, uma comitiva formada por representantes do governo, entidade de classe e empresários do setor de construção de barcos de passeios e turismo e pesca (náutico) da Itália manifestou, em visita à Suframa, o interesse em participar, via parcerias, de projetos relativos ao setor no local. Segundo a coordenadora geral de Estudos Econômicos e Empresariais da Suframa, Ana Maria Souza a construção de marco regulatório para dar força à construção naval é uma demanda antiga dos estaleiros.
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A visita dos italianos ocorreu como desdobramento inicial do Memorando de Entendimento assinado entre o Ministério do Desenvolvimento Econômico da Itália, o Ministério brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) e a Suframa, como parte da cooperação entre Brasil e Itália e cujo objetivo é fomentar o desenvolvimento econômico e produtivo de empresas italianas de diversos setores, no Pólo Industrial de Manaus (PIM). — A participação de empresas italiana no PIM, hoje, ainda é pequena, próximo de 2%, e relacionada ao setor termoplástico e mecânico. O que existe é interesse de alguns grupos internacionais (dentre eles italianos) que desejam realizar parcerias com os estaleiros regionais ou implantar-se na Zona Franca de Manaus (ZFM) — explica Ana Maria. O setor naval amazonense possui atualmente cerca de 300 estaleiros, com três grandes pólos, sendo os de Novo Airão e São Sebastião do Uatumã destinados a embarcações regionais; e o de Manaus com produção concentrada em barcos de passeio e turismo (48%) e balsas (22%). Segundo dados da Suframa, até novembro
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Italianos querem construir barcos de luxo para os 60 mil milionários brasileiros
O interesse dos empresários italianos do segmento náutico reside no mercado potencial para 60 mil milionários brasileiros
o faturamento no setor chegou a 52,6 milhões de dólares e um total de 20 mil empregos. O interesse dos empresários italianos do segmento náutico reside no mercado potencial para 60 mil milionários brasileiros com capacidade de comprar embarcações de luxo, além da necessidade de renovação da frota pesqueira nacional, apontada pelos próprios produtores. Uma vez criada a infraestrutura técnica, feita a regulação jurídica, fundiária, de pessoal qualificado, e outras providências, a expectativa é de que, a exemplo do Pólo Duas Rodas, que atraiu fornecedores a partir da instalação de grandes fabricantes (a Ducati é uma que negocia abrir produção no local), a formalização do Distrito Naval traga boas novas o estado. De acordo com as estimativas de sindicatos e estaleiros, a carência de infraestrutura e a informalidade da indústria naval amazonense emperram a criação de pelo menos 50 mil empregos. O faturamento do setor, que almeja ser uma alternativa ao Polo Industrial de Manaus (PIM), ainda representa menos de 0,5% das demais indústrias locais. Em cinco anos, o crescimento médio do setor foi de 22%, levando-se em conta as empresas com projetos plenos aprovados pela autarquia. Se hoje os estaleiros estão dispersos, instalados ao longo da orla da cidade, a área em estudo para o Pólo Naval é o Puraquequara, com 21 mil metros quadrados e capaz de comportar 80% do setor. — Temos atrativo para qualquer parceria, ressaltando a capacidade instalada que se tem hoje dos estaleiros nacionais já instalados no PIM, tendo em vista que, 60% dos estaleiros de médio e grande porte são de capital nacional e possuem mais de 10 anos de funcionamento na ZFM — aponta Ana Maria.
Sesquicentenário
Os 150 anos
fugiam dos centros de detenção. Eles foram mortos por fascistas em 28 de dezembro de 1943.
Comemorações pelo sesquicentenário da unificação italiana marcarão o ano de 2011 com atividades no âmbito histórico, político e cultural Da Redação
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Itália vive um tempo de celebração. À parte os problemas políticos e econômicos que rondaram o país em 2010, o ano que passou foi de preparação para um grande jubileu. Os italianos e governos de diferentes regiões italianas já ajustam os termos finais para as comemorações pelos 150 anos de unificação do país. As atividades, que terão seu ápice no dia 17 de março – data que marca o movimento pela reunião dos estados tendo à frente o rei da Sardenha, Vittorio Emanuele II – já foram iniciadas e devem encontrar reverberação nos países habitados por descendentes de italianos como o Brasil que, aliás, celebra o Momento Itália a partir de outubro. Na Itália, o marco para as festas do sesquicentenário foi dado na Praça Prampolini, na Reggio Emilia, no dia 7 de janeiro, data em que se comemorou o aniversário da bandeira. Localizada no norte e capital da província homônima, Reggio Emilia é uma das cidades símbolo da unificação da Itália, onde a bandeira tricolor – nas cores branco, verde e vermelho – foi decretada pela primeira vez, em 1797, o pavilhão
oficial da República Cispadana. A solenidade comemorativa contou com a presença do presidente italiano Giorgio Napolitano: — Espero que esta celebração seja ainda um incentivo a todos os grupos interessados, da maioria e da oposição, a todos aqueles que realizam tarefas de responsabilidade institucional, porque nos próximos meses nas regiões Sul, Centro, no Norte, vamos nos comprometer a financiar as iniciativas do sesquicentenário. Depois do hasteamento da bandeira, seguido de uma visita à Sala del Tricolore e a sala civica do palacio municipal para a entrega do primeiro exemplar do Tricolor para os prefeitos de Turim (Sergio Chiamparino), de Florença (Matteo Renzi) e de Roma (Gianni Alemanno), sendo a última a sede política desde 1871, quando o processo de unificação teve fim. O Chefe de Estado ainda inaugurou a exposição “A bandeira proibida: A primeira bandeira da Unidade”, no Palacio Casotti. Napolitano esteve no Teatro Municipal Valli, onde se apresentou a Orquestra Nazionale della Sinfonica Rai. O presidente aproveitou a ocasião para visitar o Museu Cervi di Gattatico, dedicado aos sete filhos de Alcide Cervi, cidadãos ativamente empenhados, junto ao pai, na luta partigiana, movimento de oposição ao fascismo surgido durante a Segunda Guerra Mundial e que dava assistência aos prisioneiros soviéticos que
Em Turim, festa em gestação Capital da Itália por três anos, a cidade de Turim reservou nove meses do ano para comemorar a unificação do país. A programação incluirá exposições temáticas, congressos e espetáculos para proporcionar uma experiência nova do passado, do presente e do futuro do país. Particularmente relevante no cenário industrial italiano – pela presença da montadora Fiat, fundada pela dinastia turinesa dos Agnelli, Turim conseguiu se posicionar nos últimos anos como uma das nove cidades turísticas internacionais, com o selo da criatividade, do design e da gastronomia “made in Italy”. A data do início do evento batizado de “Experiência Itália” será o dia 17 de março. No mesmo dia e mês, em 1861, Vittorio Emanuele II se reunia na cidade com os deputados dos Estados que reconheciam sua autoridade e assumiu o cargo de rei da Itália, depois de um longo processo de guerras de unificação e independência do país com as potências vizinhas. De acordo com a organização do evento, o local, quinto destino turístico do mundo, com 43 milhões de turistas por ano, terá como meta realizar mais que celebração histórica e se tornar uma série de “momentos” para analisar a situação da Itália atual e dos italianos de 2011 em diante. “Experiência Itália” destina-se, segundo os organizadores, aos 150 milhões de “itálicos”: os italianos da Itália, os novos italianos, os italianos que estão fora da Itália e os apaixonados pelo país no mundo.
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Leo Aline Buaes
Especial para Comunità
O grande desafio de Leonardo: brasileiro assume o banco arquirrival do clube onde passou os últimos 13 anos e se mostra apaixonado pelo lugar onde vive
La grande sfida di Leonardo: brasiliano assume la panchina arcirivale della squadra dove ha passato gli ultimi 13 anni e dimostra di essere innamorato del posto dove vive
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o último dia 29 de dezembro a Internazionale de Milão apresentou o seu novo técnico: o brasileiro Leonardo, ex-treinador, ex-dirigente e ex-jogador do seu arquirrival Milan. Perplexa, a torcida interista se dividiu, mas acabou aceitando este carioca de alma milanesa, que vive há 13 anos na capital da Lombardia e que, mesmo com o fim do contrato com o Milan, em maio do ano passado, e com os filhos morando no Brasil, decidiu permanecer na cidade. O novo técnico substitui o espanhol Rafael Benítez, que ficou apenas cinco meses no cargo e nem a conquista do título do Mundial de Clubes em Abu Dhabi no final do ano conseguiu apagar a campanha irregular da sua ex-equipe no Campeonato Italiano. — A Internazionale é um desafio grande, fascinante e inesperado. Chego aqui, em um dos maiores clubes do mundo e no ano mais importante da sua história, no ano em que a Internazionale venceu tudo. O futebol faz a gente viver tudo em poucos segundos: a felicidade, o medo, a grande alegria. A Inter de Milão é tudo isso, é um desafio infinito. A Inter é algo tão profundo que era impossível dizer não. Eu sou um romântico, e não se pode dizer não à vida, e para mim essa oportunidade é viver — declara Leonardo.
Leonardo com o presidente da Inter, Massimo Moratti, na coletiva de imprensa para anunciar o brasileiro como técnico do time
Leonardo con il presidente dell’Inter, Massimo Moratti, nella conferenza stampa per annunciare il brasiliano come ct della squadra
l 29 dello scorso mese l’Internazionale di Milano ha presentato il suo nuovo tecnico (ct): il brasiliano Leonardo, ex allenatore, ex dirigente ed ex calciatore dell’arcirivale Milan. Perplessa, la tifoseria interista si è divisa, ma alla fine ha accettato questo carioca dall’animo milanese, che vive ormai da 13 anni nel capoluogo della Lombardia e che, anche con la fine del contratto con il Milan nel maggio dell’anno scorso e i figli che abitano in Brasile, ha deciso di rimanere nella città. Il nuovo ct sostituirà lo spagnolo Rafael Benítez, rimasto in carica per soli cinque mesi e neanche la conquista del titolo del Mondiale di Club ad Abu Dhabi alla fine dell’anno è riuscita a cancellare la campagna irregolare della sua ex squadra nel Campionato italiano. — L’Internazionale è una grande sfida, affascinante e inaspettata. Arrivo qui, in uno dei maggiori club del mondo e nell’anno più importante della sua storia, nell’anno in cui l’Internazionale ha vinto tutto. Il calcio ci fa vivere tutto in pochi secondi: la felicità, la paura, la grande allegria. L’Inter di Milano è tutto questo, è una sfida infinita. L’Inter è un qualcosa di cosí profondo che era impossibile dire no. Io sono un romantico e non si può dire no alla vita, e per me questa opportunità è vivere — dichiara Leonardo. comunitàitaliana | janeiro 2011
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Com um currículo de jogador, dirigente e uma breve experiência de treinador, o brasileiro começou sua carreira nas divisões de base do Flamengo, em 1987, quando tinha apenas 17 anos, jogando ao lado de grandes ídolos rubro-negros como Zico e Bebeto. Passou pelo São Paulo, pelo Valência da Espanha, atuou na seleção brasileira, foi para o Japão onde jogou pelo Kashima Antlers e, em 1996, iniciou uma temporada de um ano pelo Paris Saint-Germain, antes de se transferir para o todo poderoso Milan, permanecendo até 2001, quando decidiu retornar ao Brasil. Novamente, voltou para o São Paulo e depois Flamengo. Ao embarcar, de novo, para a Itália, encerrou a sua carreira no Milan, em 2003. A partir dali, passou a trabalhar como consultor de mercado do clube e foi responsável direto pela contratação de diversos brasileiros, entre eles Kaká, Alexandre Pato e Thiago Silva. Cidadão do mundo, o ex-jogador que fala cinco línguas concedeu uma entrevista coletiva em Appiano Gentile, no centro de treinamento da equipe milanesa, e diante da imprensa esportiva italiana e internacional explicou suas motivações e expectativas diante daquele que definiu “um grande desafio”. — Sempre procurei ser uma pessoa livre. Busco sempre a minha identidade, o meu modo de ser, em todos os relacionamentos. É verdade que tenho muitas coisas em comum com o Milan, foram 13 anos de vida profissional que não esquecerei jamais, serei sempre grato ao rubro-negro milanês no qual fui jogador, dirigente e treinador. O Milan me trouxe até aqui, Fabio Capello me trouxe para a Itália. Mas também me identifico com muitos aspectos da Internazionale, porque, repito, procuro ser sempre uma pessoa livre — afirma o treinador sobre o fato de se tornar técnico do principal adversário do rubro-negro.
Em entrevista coletiva, Leonardo afirma que não pensará em novas contratações para a Inter agora
Durante la conferenza stampa Leonardo dice che per ora non pensa a nuove contrattazioni per l’Inter
“A Inter é algo tão profundo que era impossível dizer não. Eu sou um romântico, e não se pode dizer não à vida, e para mim essa oportunidade é viver.” “L’Inter è un qualcosa di cosí profondo che era impossibile dire no. Io sono un romantico e non si può dire no alla vita, e per me questa opportunità è vivere” Em junho de 2009, o Milan anunciou Leonardo como o substituto do treinador Carlo Ancelotti, que deixou o cargo após oito anos. O brasileiro permaneceu no cargo por um ano, comandando conterrâneos como Pato e Ronaldinho Gaúcho, até que em maio de 2010, após uma temporada regular e algumas desavenças com o presidente do clube, Sílvio Berlusconi anunciou sua saída, deixando o time na terceira colocação ao final do Campeonato Italiano. Em dezembro do ano passado a Inter confirmou a sua contratação. — Precisei de pouco tempo para aceitar a proposta de Moratti, mas nunca realmente imaginei que isso tudo pudesse acontecer. A nossa relação nasceu no modo mais natural possível, mas as hierarquias não mudam: o treinador é o treinador, o presidente é o presidente. Esse é um momento no qual devo observar, pensar no que já existe: nenhuma revolução. Continuar com aquilo que já temos, aprender e acrescentar a minha experiência: isto é o que farei aqui. 34
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Vantando un curriculum di calciatore, dirigente e una breve esperienza di allenatore, il brasiliano ha iniziato la sua carriera nelle giovanili del Flamengo nel 1987, a soli 17 anni, giocando accanto a grandi idoli rossoneri quali Zico e Bebeto. Poi è andato al São Paulo, al Valenza in Spagna, ha giocato nella nazionale brasiliana, è andato in Giappone dove ha giocato nel Kashima Antlers e, nel 1996, è rimasto un anno nel Paris Saint-Germain prima di trasferirsi nel potente Milan, in cui è rimasto fino al 2001, quando ha deciso di tornare in Brasile. È ritornato al São Paulo e dopo al Flamengo. Quando è ripartito per l’Italia ha chiuso la sua carriera nel Milan, nel 2003. Da quel momento ha cominciato a lavorare come consulente di mercato del club ed è stato diretto responsabile della contrattazione di vari brasiliani tra cui Kaká, Alexandre Pato e Thiago Silva. Cittadino del mondo, l’ex calciatore che parla cinque lingue ha tenuto una conferenza stampa ad Appiano Gentile, nel campo ufficiale di allenamenti della squadra milanese e davanti alla stampa sportiva italiana ed internazionale ha spiegato i suoi motivi e le sue speranze riguardo a quella che ha definito come “una grande sfida”. — Ho sempre cercato di essere una persona libera. Mantengo sempre la mia identità, il mio modo di essere in tutti i rapporti. È vero che ho molto in comune con il Milan, sono stati 13 anni di vita professionista che non dimenticherò mai, sarò sempre grato al rossonero milanese di cui sono stato calciatore, dirigente e allenatore. Il Milan mi ha portato fino qui, Fabio Capello mi ha portato in Italia. Ma mi identifico anche con molti lati dell’Internazionale perché, lo ripeto, cerco di essere sempre una persona libera — dice l’allenatore parlando del fatto di diventare ct del principale avversario della squadra rossonera. Nel giugno 2009 il Milan aveva annunciato che Leonardo sarebbe stato il sostituto del ct Carlo
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undada em 1908 por um grupo de milanistas descontentes com a rigidez em relação à contratação de estrangeiros, a Internazionale de Milão mantém até hoje seu caráter cosmopolita e assume pela primeira vez um técnico brasileiro. Atual pentacampeã do Campeonato Italiano, a Inter de Milão é uma das grandes potências do futebol europeu e mundial, sendo tricampeã da Copa dos Campeões da Europa e da Copa UEFA, e bicampeã da extinta Copa Intercontinental, que em 2005 virou Mundial de Clubes. O ano de 2010 foi um dos grandes anos do clube, que conquistou cinco dos seis campeonatos que disputou: o Campeonato Italiano, a Copa da Itália e a Liga dos Campeões, tríplice coroa inédita pelas mãos de José Mourinho, e a Supercopa italiana e o Mundial de Clubes, já sob comando do espanhol Benítez.
Tentarei eliminar o que tiver de negativo, mantendo o tanto que há de positivo — revela Leonardo. O treinador diz que não pretende fazer grandes alterações na Inter, por acreditar que “o time está pronto, não há muito que inventar e os jogadores sabem o que devem fazer”. Inclusive, sobre novas contratações, Leonardo afirma que este não é o momento para falar sobre o assunto. Ele prefere começar com os jogadores que tem à disposição e só depois ver as oportunidades que surgirão. — Meu trabalho será colocá-los nas melhores condições para jogarem bem e devo entender quais são estas melhores condições. Não devemos inventar nada, devemos voltar a fazer as grandes coisas que a Inter soube fazer nestes últimos anos. Sobre a vinda de Kaká, conhecendo-o bem, sei que não deixará o Real Madrid antes de completar seu trabalho — completa. Após 13 anos no Milan, hoje o rubro-negro é o rival a ser alcançado no campeonato pela Inter. Para Leonardo, o Milan é uma das equipes favoritas para vencer o campeonato italiano, mas não se sabe se vencerá. O técnico tem a sua disposição uma equipe multiétnica, com jogadores de 14 nacionalidades, entre eles os brasileiros Júlio César, Maicon, Lúcio, Thiago Motta e Philippe Coutinho. Entre os nomes de peso da equipe campeã mundial estão o camaronês Samuel Eto’o, o holandês Wesley Sneijder, o italiano Marco Materazzi e os argentinos Javier Zanetti e Diego Milito. — Nós devemos recuperar duas partidas e para isso é preciso criar situações psicológicas particulares para que nestas ocasiões joguemos apenas nós. Devemos pensar exclusivamente no que devemos e queremos fazer. É claro que devemos recuperar pontos na classificação, mas o caminho é ainda longo e é importante começar bem. Encontrei muita motivação em todos os jogadores, mas não apenas neles. Procurei me apresentar a todos no clube, conhecer as pessoas, viver o dia-a-dia, a atmosfera do centro esportivo, porque é aqui que se produzem os resultados — reflete. Além do seu passado no Milan, a surpresa com a sua contratação vem também da sua pouca experiência como treinador. Leonardo tem consciência disso e antes de assumir na Inter, procurou por José Mourinho, ex-técnico do clube e por quem cultiva profunda admiração, para conversar e tentar aprender alguma coisa. — Chegar à Inter sem passar por ele, seria impossível. José é onipresente por aqui, e isso não me surpreendeu, penso que seja justo. O conheço há
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ondata nel 1908 da un gruppo di milanisti scontenti della rigidità in rapporto alla contrattazione di stranieri, l’Internazionale di Milano mantiene ancora oggi il suo carattere cosmopolita e assume per la prima volta un tecnico brasiliano. Attuale pentacampione del Campionato italiano, l’Inter di Milano è una delle grandi potenze del calcio europeo e mondiale, tricampione della Coppa dei Campioni europea e della Coppa UEFA, e bicampione della Coppa Intercontinentale, che dal 2005 è diventata Mondiale di Club. Il 2010 è stata una delle grandi annate del club che ha conquistato cinque dei sei campionati disputati: quello italiano, la Coppa Italia e la Lega dei Campioni, triplice corona inedita nelle mani di José Mourinho, e la Supercoppa italiana e il Mondiale di Club, già con Benítez al suo comando.
Leonardo procurou o ex-técnico do clube, José Mourinho, para conversar e aprender com suas experiências
Leonardo procurou o ex-técnico do clube, José Mourinho, para conversar e aprender com suas experiências
Ancelotti, che aveva lasciato l’incarico dopo otto anni. Il brasiliano ci è rimasto per un anno alla guida di conterranei come Pato e Ronaldinho Gaúcho, fino a quando nel maggio 2010, dopo una stagione regolare, ma anche qualche scontro avuto con il presidente del club, Silvio Berlusconi ha annunciato il suo licenziamento lasciando la squadra al terzo posto alla fine del Campionato italiano. Nel dicembre dello scorso anno l’Inter ha confermato la sua contrattazione. — Ho avuto bisogno di poco tempo per accettare la proposta di Moratti, ma in effetti non avevo mai immaginato che tutto questo potesse succedere. La nostra relazione è iniziata nel modo più naturale possibile, ma le gerarchie non cambiano: l’allenatore è l’allenatore, il presidente è il presidente. Questo è un momento in cui devo osservare, pensare a ciò che esiste già: nessuna rivoluzione. Continuare con ciò che già abbiamo, imparare e aggiungere la mia esperienza. È quello che farò qui. Cercherò di eliminare ciò che c’è di negativo, mantenendo quel tanto che c’è di positivo — rivela Leonardo. Il nuovo ct dice di non voler fare grandi cambiamenti nell’Inter perché crede che “la squadra è pronta e non c’è molto da inventare e i giocatori sanno cosa devono fare”. Anzi, parlando di nuove contrattazioni, Leonardo dice che ora non è il momento di parlare di questo. Preferisce cominciare dai calciatori che ha a disposizione e solo dopo vedere le opportunità che verranno a galla. — Il mio lavoro consisterà nel metterli nelle migliori condizioni per giocare bene e devo capire quali sono queste migliori condizioni. Non dobbiamo inventare niente, dobbiamo ricominciare a fare le grandi cose che l’Inter ha saputo fare negli ultimi anni. Riguardo la venuta di Kaká, conoscendolo bene, so che non lascerà il Real Madrid prima di concludere il suo lavoro — completa. Dopo 13 anni nel Milan oggi i rossoneri sono i rivali che l’Inter deve raggiungere nel campionato. Secondo Leonardo il Milan è una delle squadre favorite nel campionato italiano, ma non si sa se lo vincerà. Il ct ha a sua disposizione una équipe multietnica, con calciatori di 14 nazionalità, tra cui i brasiliani Júlio César, Maicon, Lúcio, Thiago Motta e Philippe Coutinho. Tra i nomi di peso della squadra campione mondiale c’è il camerunese Samuel Eto’o, l’olandese Wesley Sneijder, l’italiano Marco Materazzi e gli argentini Javier Zanetti e Diego Milito. comunitàitaliana | janeiro 2011
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muito tempo e ele se mostrou mais uma vez uma pessoa extraordinária. Discutimos sobre tantas coisas, e nas suas opiniões me guiarei porque é uma pessoa inteligente, que conhece tudo sobre este ambiente e é espiritualmente presente. Agradeço muito a ele e estou feliz pelo que ele me deu. Considero-o excepcional e acredito que por trás das suas brilhantes entrevistas, das suas piadas, está um trabalho infinito, um trabalho que até hoje permanece. Ele dedica sua vida ao futebol e tudo isso se encontra aqui, na Internazionale — revela. Para Leonardo, este momento “é muito fascinante”. Ele, que estava “à procura de um sonho e não de um trabalho”, afirma estar se sentindo em casa, já que vive em Milão há mais de 10 anos. — Vejo rostos conhecidos em um mundo onde tudo é ligado aos relacionamentos. Conheço tantas pessoas aqui, são 13 anos que estou em Milão, e, para ser sincero, estou também muito emocionado porque hoje é um dia de grandes emoções. Eu sou um romântico, não estava procurando um trabalho, mas um sonho, um grande estímulo e um grande desafio, maior do que este que a Inter de Milão me oferece neste momento não existe — declara.
“Vejo rostos conhecidos em um mundo onde tudo é ligado aos relacionamentos. Conheço tantas pessoas aqui, são 13 anos que estou em Milão” “Vedo facce conosciute in un mondo dove tutto è legato ai rapporti. Qui conosco tante persone, sono a Milano da 13 anni” O técnico brasileiro estreou no cargo com três vitórias seguidas. Até o fechamento desta edição, a Inter de Leonardo venceu o Napoli por 3 a 1, o Catania por 2 a 1 e o Bologna por 4 a 1, aproximando-se do então líder Milan. Mais sólida e confiante que nos tempos de Benítez, a equipe também disputa as quartas de final da Tim Cup (Copa Itália). Com a recuperação diante do Genoa, 3 a 2, Leonardo tem grande chance de fazer história já no primeiro trimestre com a neroazzurra. 36
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Já em “campo”, Leonardo concentrado no jogo. Abaixo, o brasileiro comemora gol contra o Catania
Già in “campo”, Leonardo concentrato sulla partita. Sotto il brasiliano festeggia il gol contro il Catania
— Dobbiamo recuperare due partite e perciò bisogna creare situazioni psicologiche particolari in modo che in queste occasioni possiamo giocare solo noi. Dobbiamo pensare solo a quello che dobbiamo e vogliamo fare. È chiaro che dobbiamo recuperare punti nella classifica, ma la strada è ancora lunga ed è importante cominciare bene. Ho trovato i giocatori tutti molto motivati, ma non solo loro. Mi sono presentato a tutti nel club, ho conosciuto le persone, vivo la routine, l’atmosfera del centro sportivo perché è qui che si producono i risultati — riflette. Oltre al suo passato nel Milan, la sorpresa causata dalla sua contrattazione proviene anche dalla sua poca esperienza come allenatore. Leonardo ne è consapevole e prima di assumere l’incarico all’Inter ha cercato José Mourinho, ex ct del club e che lui ammira molto, per parlare e cercare di imparare qualcosa. — Arrivare all’Inter senza passare attraverso di lui sarebbe stato impossibile. José qui è onnipresente e questo non mi ha sopreso, credo sia giusto. Lo conosco da molto tempo e ancora una volta ha dimostrato di essere una persona straordinaria. Abbiamo discusso tante cose e mi farò guidare dalle sue opinioni perché è una persona intelligente, che sa tutto di questo ambiente ed è spiritualmente presente. Lo ringrazio molto e sono felice per ciò che mi ha dato. Lo considero eccezionale e credo che alle spalle delle sue brillanti interviste, delle sue battute ci sia un lavoro infinito, un lavoro che dura fino ad oggi. Lui dedica la sua vita al calcio e tutto questo si trova qui nell’Inter — rivela. Per Leonardo questo momento “è molto affascinante”. Lui, che era “in cerca di un sogno e non di un impiego” dice che si sente a casa, visto che vive a Milano da più di dieci anni. — Vedo facce conosciute in un mondo dove tutto è legato ai rapporti. Qui conosco tante persone, sono a Milano da 13 anni e, per essere sincero, sono anche emozionatissimo perché oggi è un giorno di grandi emozioni. Sono un romantico, non cercavo un impiego, ma un sogno, un grande stimolo e una grande sfida. Più grande di questa che l’Inter di Milano mi offre in questo momento non esiste — dichiara. Il tecnico brasiliano ha cominciato bene, vincendo tre volte di seguito. Fino alla chiusura di questa edizione l’Inter di Leonardo ha già vinto il Napoli per 3 a 1, il Catania per 2 a 1 e il Bologna per 4 a 1, avvicinandosi al leader Milan. Più solida e fiduciosa che nei tempi di Benítez la squadra giocherà anche i quarti di finale della Tim Cup (Coppa Italia). Con il recupero con il Genoa per 2 a 2 Leonardo ha una grande chance di fare storia già nel primo trimestre con i neroazzurri.
calcio
AndreaCiprandiRatto
Rossonerazzurro I
l recente passaggio di Leonardo sulla panchina dell’Inter ha scatenato reazioni forti e di segno opposto. Il fatto che un simbolo riconosciuto e tale autodefinitosi del Milan, che oltretutto soltanto un anno fa i rossoneri guidava dopo esserne stato giocatore, dirigente e consulente di mercato, è stato visto in modi diametralmente diversi da tifosi, giornalisti e addetti ai lavori. Leonardo ha definito la propria scelta come espressione di libertà di un uomo
Con tanta scelta a disposizione, c’è chi si chiede perché il presidente dell’Inter abbia dovuto per forza pescare nel Milan e certamente l’umore dei tifosi è ancora tutto da sondare in attesa dei primi risultati che, al solito, conteranno più dei princípi. A me tornano in mente le vicende di Peppone e don Camillo, chiara testimonianza del rapporto di odio-amore esistente fra chi deve avversarsi a tutti i costi ma in realtà riconosce nell’esistenza dell’avversario la condicio sine qua non
alla ricerca di un sogno prima ancora che di un lavoro. Questo mentre dirigenti e presidenti delle due squadre milanesi, invece, da tempo parlavano di sgarbi reciproci. Senza rivangare il passato più o meno lontano coi cambi di maglia di Meazza, Collovati e Baggio, in tempi abbastanza recenti c’erano stati i casi di Ganz, Seedorf e Pirlo, tutti passati in rossonero, oltre a quelli di Crespo e Vieira. Il trasferimento più clamoroso era però stato quello sempre al Milan dell’ex idolo nerazzurro Ronaldo, benché dopo alcune stagioni al Real Madrid, preceduto da quello analogo di Vieri e seguito l’estate scorsa da quello di Ibrahimovic che, via Barcellona, ha parimenti preso la via di Milanello. In queste ultime settimane invece, con una repentina inversione di tendenza, è stato Moratti ad attingere in casa dei cugini con la scelta di Leonardo quale nuovo allenatore e le avances niente meno che a Kakà, Ronaldinho e un monumento come Paolo Maldini, cui avrebbe offerto un ruolo dirigenziale.
della propria. Col rischio di affezionarvisi. Che il Milan, pur rimasto indietro in ambito cittadino, mantenga per Moratti un fascino intatto? Corrisponde questo atteggiamento benevolo nei confronti dei cugini a quello inconfessato perché inconfessabile che Berlusconi avrebbe rispetto all’Inter? Dopo tanto veleno di cui negli ultimi anni si è intriso il calcio italiano, auspico che questo nuovo scenario sia credibile. Il fatto poi che protagonista di questa piccola rivoluzione sia un brasiliano potrebbe non essere casuale, ma piuttosto espressione di un reale modo di vedere le cose diversamente. Magari da importare. Cosa si direbbe in Italia di Celso Roth che ha sollevato la Libertadores con l’Internacional dopo aver vinto anche coi rivali del Grêmio
e fatto la spola fra i due Club? E del tecnico neocampione del Brasile, Muricy Ramalho, che da uomo simbolo del São Paulo era passato al Palmeiras prima di trionfare con una squadra carioca? O di Vanderlei Luxemburgo, cresciuto nel Botafogo ma attuale allenatore del Flamengo dopo essersi seduto anche sulle panchine di Vasco da Gama e Fluminense? Certo, l’Italia non è il Brasile e qui permane un modo curioso di guardare alle cose, se è vero che Ibrahimovic è stato accolto a braccia aperte prima dai tifosi dell’Inter, che se lo vedevano arrivare niente meno che dalla Juve, e poi da quelli del Milan, che quando lo svedese era all’Inter l’avevano patito e insultato non poco… mentre ora gli stessi tifosi aperti a ogni rinforzo, purché gli giovi, avrebbero preteso da Leonardo e Leonardo solo fedeltà ai colori. In un calcio ormai privo di bandiere, appurato lo spirito che anima la gran parte dei tifosi c’è da augurarsi che Leonardo da oggi in poi dimostri coerenza se è vero che solo pochi mesi fa aveva detto di non poter andare alla Roma perché si sentiva ancora troppo legato al Milan. Passo fondamentale sarebbe che alla prima occasione dimostrasse di essersi svincolato per davvero dalle debolezze tipiche del Bel Paese, quelle per cui si dichiara di volta in volta ciò che più aggrada la piazza. Ammesso e non concesso che nella vicenda di Leonardo, che non è priva di precedenti, si voglia vedere uno spartiacque del costume calcistico italiano, sarebbe bello che, moderando i toni e parlando da professionisti, innanzitutto gli allenatori nel corso della loro seconda vita, dopo essere stati giocatori, riuscissero a indicare la giusta via da percorrere in tempi nei quali la stampa per prima tende a creare ad arte storie in grado di far fermentare l’ambiente anche quando non ce n’è bisogno. E’ infatti più la gente che guarda alle cose senza prendersela rispetto a quella le cui reazioni eccessive risultano dettate dall’abitudine a ridire su tutto ogni qual volta le cose non vanno come vorrebbe, pronta a rimangiarsi tutto se il vento cambia.
“E’ più la gente che guarda alle cose senza prendersela rispetto a quella le cui reazioni eccessive risultano dettate dall’abitudine a ridire su tutto”
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Design
Prateleiras renovadas
A utilização do design para estimular o consumo sustentável. Aliança entre o Grameen Creative e o IED viabiliza formação para aumentar o valor social dos produtos Guilherme Aquino
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De Milão
missão social de erradicação da pobreza ganha em Milão uma importante aliança. O Instituto Europeu de Design assinou um acordo com o Grameen Creative Lab, empresa criada pelo prêmio Nobel para a Paz, Muhammad Yunus. Juntas, as duas instituições irão buscar soluções para resolver o grave problema social que deixa à margem dos níveis mínimos de dignidade humana populações espalhadas nos cinco continentes. Nasce o projeto Ied for Social Business, Ied4SB, para os íntimos. O Ied de Milão vai selecionar os 7 melhores estudantes, entre os nove mil que frequentam os diferentes cursos, para inaugurar um Master em “Design for Social Business”. O objetivo principal é a criação de empresas
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que tenham como o centro das atenções o indivíduo. — Aqui na Europa quando tomamos um sorvete, podemos comer também a embalagem, ou seja, a casquinha. É um bom exemplo do que queremos, embalagens para os produtos que possam ser assimiladas pelas pessoas e não descartadas como lixo que acabam poluindo o ambiente e aumentando o preço do conteúdo — disse Muhammad Yunus durante a sua apresentação no IED. O administrador delegado da respeitada instituição italiana, Carlo Forcolini explica que “com este projeto avançamos na fronteira do design social e sustentável”. Ao final, o IED, que forma os futuros designers para criar novos produtos, ou dar vida nova às velhas ideias, e estimula um mundo de alto consumo, dá uma guinada e une as forças da criatividade para dar vida a um “outro consumo”.
janeiro 2011 | comunitàitaliana
Carlo Forcolini assina acordo de colaboracao IED/GCL
Essa é a essência do projeto, aumentar o valor social dos produtos ao máximo e colocar a serviço deste objetivo a cultura do design. Assim, a estrutura do microcrédito criada por Yunus, em Bangladesh, pode ser replicada no conceito do design social. A prefeita de Milão, Letizia Moratti, afirmou que este acordo entre Yunus e o Ied abre a possibilidade “de dar ao design italiano a oportunidade de desenvolver e contribuir em maneira determinante no combate à pobreza na cidade e no mundo”. O desenvolvimento sustentável ganha em Milão um trampolim importante para chegar a outras regiões do planeta com uma visão moderna do problema, focando em soluções locais para questões globais. Haiti, Albânia, Colômbia e Bangladesh são os países que primeiro irão servir de campo de provas para os projetos do Master. Os alunos eleitos irão trabalhar junto às realidades de cada lugar e tocar com as mãos os principais problemas para os quais deverão encontrar as saídas.
O curso é o primeiro neste campo em todo o mundo, segundo os organizadores. Sob orientação do professor Yunus serão desenvolvidas atividades de pesquisa e de projetos, além de uma conferência bienal internacional, na qual economistas, intelectuais acadêmicos, empresários vão debater as ideias e a realização dos projetos e avaliar os caminhos percorridos e os resultados obtidos. — Para nós, não basta um carrinho de pouco consumo, queremos que o motor do carro também sirva de bomba para irrigar uma plantação. Que o camponês possa se locomover e multiplicar o uso do seu meio — disse o prêmio Nobel Yunus — O objetivo é realizar produtos e serviços para os mais pobres que sejam de ótima qualidade e a um preço justo, além de sustentável do ponto de vista ambiental e econômico. Em 2008, na Alemanha, Yunus e Hans Reitz, empresário alemão
sensível aos temas sociais, criaram a Grameen Creative Lab. O instituto oferece a ONGs e a empresas multinacionais parcerias para combater a pobreza aplicando o modelo de “social business”, criado e testado com sucesso no precursor Grammen Bank, o Banco do Vilarejo, que empresta dinheiro aos pobres que não conseguem crédito junto aos bancos tradicionais. Esta não é a primeira vez que Yunus usa Milão para ampliar e amplificar a sua luta contra a pobreza. Em dezembro, ele visitou a cidade para assinar parcerias com a Prefeitura, instituindo “filiais” do Grammen Bank junto às instituições do município que servem de ponte para o terceiro setor. O
Membros do Conselho de Consultoria Internacional do IED. Da esquerda: Derrick de Kerckhove, Remo Bodei, Carlo Forcolini (AD IED), Muhammad Yunus, Richard Buchanan
“Para nós, não basta um carrinho de pouco consumo, queremos que o motor do carro também sirva de bomba para irrigar uma plantação” Muhammad Yunus, prêmio Nobel para a Paz objetivo é apresentar resultados concretos até a realização da Expo 2015. Nos últimos 25 anos, o “banqueiro dos pobres” já ajudou 2 milhões de pessoas a saírem com as próprias pernas e um pequeno empréstimo – quase a totalidade, pago – da pobreza absoluta. E, mais do que isso. A sua ideia começa a mudar a mentalidade de quem acha que o dinheiro é tudo.
Hans Reitz co-fundador do Grameen Creative Lab
Muhammad Yunus e a prefeita de Milão, Letizia Moratti
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Negócios
Design
Móveis de sobras Fabricante brasileira de móveis fortalece presença na Itália a partir de trabalhos ecologicamente corretos Robson Bertolino
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De São Paulo
e olho nas oportunidades do mercado internacional de móveis para decoração no já chamado pós-crise econômica mundial, a Ronconi, tradicional fabricante do Paraná, atravessou o oceano e fincou a sua bandeira no competitivo segmento de design italiano. Para isso, criou uma coleção batizada de Artesania, que conta com móveis sofisticados que visam o hand made a partir de materiais sustentáveis, coincidindo com a tendência do mercado internacional. Alguns destaques da coleção serão exibidos até fevereiro, na mostra Artnhow! na Zona Tortona, em Milão. Uma parceria criada com a Associação dos Empreendedores Zumbi dos Palmares (AEZP), localizada no município de Colombo, no Paraná, a Ronconi e lideranças comunitárias locais desenvolvem atividades de capacitação e confecção de produtos de artesanato, serigrafia, costura e atividade agrícola, com dezenas de pessoas atendidas por grupos comunitários de produção e geração de renda. A coleção Artesania, além de valorizar o hand made e o trabalho de 40
idosos de asilos e pessoas carentes, também é feita com materiais reutilizados e ecologicamente corretos. — O fuxico presente no revestimento do sofá Primavera é feito com retalhos e sobras da fábrica Ronconi. Cada peça leva de 15 a 20 dias para ficar pronta — explica o designer Pedro Franco. Outro exemplo sustentável é a poltrona Underconstruction, feita com estrutura de telas de construção em aço e revestida com sobras de feltro transformadas em tiras. O trabalho em conjunto da fábrica com os artesãos começou a ter visibilidade com a participação na última edição da Semana de Design, em Milão. Desde abril do ano passado, a empresa conta com produtos à venda na Skitsch, renomada loja do segmento na badalada via Monte di Pietà, em Milão. A internacionalização da Ronconi é fruto da participação na última edição do Salão Internacional de Móveis de Milão. A empreitada abriu as portas do mercado italiano para a brasileira, que fechou 2010 com faturamento 10% maior em relação ao ano anterior, totalizando R$ 85 milhões.
dezembro 2010 | comunitàitaliana
Irmãos Campana: designers brasileiros que há 10 anos assinam móveis da italiana Edra
Underconstruction: feita com estruturas de telas de construção em aço e revestida com sobras de feltro transformadas em tiras
Para o projeto, a empresa, que está prestes a completar 90 anos, buscou no mercado interno um designer de projeção internacional. Contratou Pedro Franco, proprietário da A Lot Of, loja de móveis paulistana, e que está à frente no departamento de criação das linhas, que traz designers convidados, como Wagner Archella e Jum Nakao. O trabalho já rendeu mais de 15 novos produtos-piloto entre cadeiras, sofás e poltronas. — A inspiração foi a grife italiana Edra, que em 20 anos conseguiu se tornar um dos ícones do design mundial — conta Franco. A coleção foi apresentada também no Salão Satélite, que aconteceu em abril de 2010 paralelamente ao Salão Internacional do Móvel. Um dos destaques foi o sofá antropófago, que provocou a curiosidade dos visitantes e recebeu o nome de Dread Lock – em português “cabelo louco”. Além da Itália, a Ronconi comercializa produtos com empresários do Kuwait, França e Áustria. No Brasil, a empresa vende seus móveis para mais de 300 lojas. Nesta nova etapa, a empresa também quer fortalecer a expansão de suas lojas próprias. A previsão é de três novas unidades abertas totalizando oito pontos de venda em Curitiba. A tática adotada pela Ronconi, de internacionalizar parte de sua produção, já é uma prática comum no mercado externo. A italiana Edra, por exemplo, conta há mais de 10 anos com móveis assinados pela dupla de designers brasileiros Fernando e Humberto Campana, conhecidos como irmãos Campana. Setor moveleiro De acordo com o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez, o setor deve registrar um crescimento de 10% em 2010, na comparação com o ano anterior. As exportações tiveram recuo de pelo menos 1% no ano passado. Segundo Fernandez, “com o dólar baixo, as empresas estão se voltando mais para o mercado interno”. Diante da recuperação tímida dos Estados Unidos e da Europa, o setor aposta na entrada em outros mercados, no continente africano e na América do Sul, para atingir a meta de crescimento de 3% a 5% nas vendas para o exterior.
milão
Guilherme Aquino
Unicredit brasileiro colosso bancário italiano Unicredit
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lançou uma cabeça de ponte no Brasil. O grupo financeiro instituiu a “Italian Company Business Development”, em São Paulo, no escritório de representação. O objetivo da nova estrutura é de dar apoio às empresas italianas que já operam no Brasil e também às suas parceiras nacionais, e ainda aos empresários que pensam em investir no país. Das 350 empresas italianas em solo brasileiro, 230 são clientes o banco. A nova estrutura vai ser o trampolim do serviço Cross Border Business Management, que vai explorar acordos com o BNDES e com o banco Bradesco. O italiano Renzo Regini está a frente desta célula inteligente do Unicredit “paulista”.
2011, com desconto
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mês de janeiro é famoso pelas liquidações. E quem conseguiu resistir ao impulso natalino do consumo desenfreado, pode fazer compras com descontos que vão de 20% a 60%. Esta é a forma encontrada pelos comerciantes para refazer o estoque e compensar a queda na vendas de 10% durante o período de festas. Seis em cada 10 italianos preferiram adiar as compras para este mês por causa da crise que
provocou, entre outras consequências, o aumento da média dos descontos que passará dos históricos 20% para um valor entre 30% e 50%. E mais uma vez, o centro-sul aperta os cintos enquanto o norte, contra tendência, abre a carteira. Como sempre vale a recomendação de comprar em lojas conhecidas, nas quais o cliente, já familiarizado com os preços antigos, pode atestar a veracidade dos descontos.
Esquis italianos made in Swizterland ouca gente sabe mas, foi um suí-
Pço quem apresentou os esquis aos Expo, contagem Inter, português italianos e os ensinou a deslizar soa neve. O engenheiro Adolf Kind, regressiva com outro sotaque bre nascido em Coria, veio trabalhar em xpo 2015 decola, finalmente. 105 miepois de José Mourinho, chega a vez E
lhões de euros já estão prontos para os investimentos. Metade da soma vai para a preparação dos terrenos que irão abrigar o parque da Exposição. A outra parte vai para a realização das obras de superfície e aos serviços gerais. Nomes de peso começam a chegar ao “board” da Expo. O estilista Giorgio Armani aceitou ser o presidente dos jurados que irão escolher o novo logotipo da Expo, que vai ter origem num concurso com estudantes das escolas de design. Nomes como os dos arquitetos Jacques Herzog e Ricky Burdett, Daniel Libeskind já confirmaram as suas colaborações, assim como o cenógrafo Dante Ferretti, que já venceu duas vezes o prêmio Oscar.
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de Leonardo. Ele é o novo técnico da Inter e o idioma de Camões vai continuar a dar as ordens no time. O prestigiado brasileiro foi a solução encontrada pelo presidente Massimo Moratti para reerguer o grupo depois da passagem do treinador espanhol Benitez. Leonardo, depois de uma carreira vitoriosa, como jogador, manager e técnico do Milan, troca a camisa sem maiores problemas. O campeonato começa a segunda metade e Leonardo tem a missão de levar o grupo para o topo da competição. Carisma e competência ele tem, e os jogadores não escondem a alegria de jogar sob o comando de quem inventou o módulo 4-2-2 e fantasia.
Turim. Ali perto, nos Alpes de Val Susa, meta de milaneses e “torinesi”, o barbudo e intrépido suíço apareceu com um par de tiras de madeira sob os pés. Os italianos, que nunca tinham visto algo igual, chamaram-no de “o diabo”. Era o final do século 19 e os esquis passariam a incorporar a rotina invernal dos italianos. Em Sauze d’Oulx, a pouco mais de 1500 metros de altura, ele construiu uma cabana na localidade de Sportinia. Um platô debruçado sobre os Alpes, hoje, é palco das duas principais escolas de esquis da região.
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Saúde
Dr. Google Brasileiros e italianos se informam mais sobre saúde na internet do que com médicos
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uem nunca pesquisou sobre doenças e remédios na internet? Este hábito que, a princípio, parece inofensivo pode trazer consequências danosas para o ser humano. Os meios de comunicação são cada vez mais utilizados como a fonte principal de informações e um estudo do Censis (Centro de Pesquisas Econômicas italiano) revela que em 2009, na Itália, foram 23 milhões de usuários de internet, dos quais 16,5 milhões procuraram informações sanitárias. No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio de 2009 (Pnad), 41,7% da população tem acesso à internet e 32% dessas pessoas buscaram informação sobre saúde. Sem o respaldo de uma fonte segura, o internauta pode acabar se informando mal em determinadas situações e até sofrer por antecipação antes de tirar a prova dos nove com o médico. É o que garante uma pesquisa realizada pela integrante do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos do Conselho Federal de Farmácia, doutora Emília Vitória da Silva. Autora de uma tese de doutorado defendida pela Universidade de Brasília (UnB) que buscou identificar a qualidade da informação disponível na rede mundial sobre medicamentos para emagrecer, a pesquisadora levou cerca de dois anos para avaliar informações sobre obesidade em 138 sites, considerando fatores como a identificação do autor dos textos e as referências bibliográficas. — As pessoas correm muitos riscos. Informação incompleta é tão prejudicial à saúde quanto informação errada — afirma a pesquisadora que apontou, como um dos fatores causadores desta prática a distância existente entre médico e paciente — Se o paciente for 42
Recomendações Nenhuma consulta on-line descarta uma visita pessoal ao médico; Pesquisar em sites diversos; Dê preferência aos sites sem fins lucrativos como os do governo, associações médicas e organizações nãogovernamentais; Não tome medicamentos porque leu sobre ele na internet. O que pode servir para um, pode ser prejudicial para outro; Os sites de sociedades médicas tendem a ser mais confiáveis do que páginas pessoais.
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bem informado, ele não terá necessidade de buscar informação complementar na internet. A pesquisadora procura enfatizar que na rede, como não há um controle do que é publicado, o internauta pode encontrar todo tipo de informação, desde artigos científicos a outros “mentirosos”. E lembra que “na internet, enaltecem-se os benefícios e omitem-se os problemas”. — Na internet qualquer coisa é publicada sem nenhum crivo, sem nenhuma análise de seleção prévia do que é verdadeiro ou não. Há uma liberdade de expressão e isso permite com que você tenha uma variedade imensa de conteúdo — diz, lembrando que informação errada ou incompleta pode ser perigosa — Se você pesquisar sobre algo errado ou alguma informação for omitida e você pegar aquilo pra si, utilizando certo produto, por exemplo, pode ter uma consequência danosa. Em sua tese, Emília conta o caso de um paciente com câncer que estava com problema de fraqueza, conhecido como caquexia. Este paciente viu na internet um medicamento indicado para pessoas que tinham os sintomas dele e, assim, fez uso do remédio. A consequência foi um problema hepático que o levou a óbito. — Este é um caso isolado, mas também tem casos de danos
“Informação incompleta é tão prejudicial à saúde quanto informação errada”
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Nayra Garofle
psicológicos e emocionais, causados por informações erradas da internet — conta. A farmacêutica constatou também em sua tese que, dos 138 sites analisados por ela, 65% são de natureza comercial e mercadológica que leva os responsáveis pelo conteúdo a omitir aspectos que poderiam dificultar o interesse do usuário pelo remédio. — O leigo, muitas vezes, não tem muita habilidade nem conhecimento para saber fazer uma pesquisa adequada. Além disso, dependendo da palavrachave que você usa para a pesquisa, ela pode te direcionar para determinados sites mais seguros ou não — revela. A pesquisadora fez um trabalho minucioso avaliando cada site em dois aspectos, de como a informação é apresentada e se a qualidade da informação era adequada. Ela comparou o conteúdo encontrado com a literatura médica e com a opinião de especialistas e verificou que em grande número de sites as informações estavam incompletas ou até mesmo incorretas. A técnica de informática Thania Strina, de 30 anos, não tem vergonha de dizer que costuma recorrer à internet para tirar algumas dúvidas. Grávida de nove meses, apesar de ter passado por situações complicadas, a curiosidade é maior e ela costuma se render ao site de busca “Google”. — Todas as dúvidas que tenho relacionadas à minha gravidez eu recorro à internet. Uma vez coloquei o resultado de um exame ginecológico no Google e só tive respostas negativas. Desesperei-me e quando fui ao médico
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“A internet é uma ferramenta boa quando bem utilizada”
A farmacêutica Emília Vitória constatou que dos 138 sites analisados por ela, 65% são de natureza comercial e mercadológica
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não era absolutamente nada daquilo que eu pensava — revela. Mesmo com as experiências negativas, Thania não consegue parar de usar a internet para tirar as dúvidas. Porém, a paulistana afirma que nunca usou algum medicamento encontrado na rede ou deixou de ir ao médico porque achou que a informação já era suficiente. — Eu comentei com o meu médico desse meu hábito e ele, praticamente, me proibiu de fazer isso novamente porque cada caso é um caso, mas eu nunca consigo parar — confidencia. Para quem, como Thania Strina, não consegue deixar esse costume de lado, a dr. Emilia recomenda alguns cuidados na hora de fazer pesquisas sobre doenças e medicamentos na internet. — É preciso não acreditar na primeira coisa que se lê, por isso, tente buscar informações em diversos sites. Também não se deve acreditar em milagres, um medicamento sempre terá uma contra-indicação, efeitos colaterais e adversos, precauções, portanto, não acredite num site que só fale coisas boas sobre um remédio — conta a pesquisadora lembrando também que é preciso verificar a fonte das informações, ou seja, qual instituição que está por trás do site pesquisado — Dê preferência sempre para sites sem fins lucrativos que são os do governo, associações médicas, organizações não-governamentais, pois, teoricamente, esses não teriam o viés comercial. Apesar dos fatores negativos apontados, Emília procura enfatizar queainternettrouxe muitos benefícios para os usuários e, por isso, é preciso apenas saber como usa-la. — Não devemos crucificar a internet porque ela trouxe muitas coisas boas como, por exemplo, no meu caso, que tenho um trabalho técnico, encontrei muitas informações de qualidade. A internet deu mais agilidade na comunicação entre o paciente e o profissional de saúde, ou seja, ela é uma ferramenta boa quando bem utilizada — diz.
Saúde
Notas
Queijo ico em proteínas, vitaminas e mine-
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Quefir Lichia nome é estranho, mas o quefir, pussa fruta de origem chinesa é uma
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nhado de grãos formados por mais de 50 espécies de bactérias e leveduras benfeitoras, reforça o batalhão de defesa no intestino, apaga inflamações e combate problemas de pele. Eles são colocados no leite, no qual fermentam. Logo em seguida, são coados — e podem ser usados de novo porque, dizem, os micróbios se renovam sem perder suas propriedades. “Mas a bebida retém parte dos micro-organismos, que, ao serem ingeridos, repõem a flora intestinal e agem como laxantes naturais”, diz a farmacêutica Márcia Barreto Feijó, da Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro. Segundo alguns estudos, as mesmas bactérias produziriam uma espécie de açúcar capaz de estimular o sistema imunológico a fabricar substâncias para combater inflamações.
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ótima aliada ao emagrecimento graças a uma substância que regula as células de gordura: a cianidina. “A lichia tem apenas 6 calorias, o que representa, mais ou menos, 0,3% do que um adulto pode comer ao longo de um dia”, estima a nutricionista Raquel Magalhães, do Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. Um estudo da Universidade de Hokkaido, no Japão, analisou a perda de gordura abdominal em voluntários que receberam extrato de lichia. “Ao final de dez semanas, eles derreteram 15% a mais de gordura na região da barriga do que os participantes tratados com placebo”, explica o médico Jun Nishihira, que conduziu a pesquisa.
rais, o queijo é um alimento que traz benefícios para pessoas de todas as idades, segundo especialistas. De acordo com o médico nutrólogo José Alves Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, na infância, ele auxilia no crescimento de dentes, ossos e cartilagens; na adolescência, contribui para o desenvolvimento do corpo; e, na vida adulta, é importante para o combate à osteoporose. “Além de saborosos, os queijos são altamente nutritivos. Têm elevado teor de proteínas de alto valor biológico, cálcio e são ótimas fontes de vitamina B12”, destaca o médico. Ele explica que as proteínas de alto valor biológico - que são aquelas que contêm todos os aminoácidos essenciais - possuem uma “digestibilidade” próxima a 95%, o que significa que são absorvidas quase completamente pelo organismo.
Cuidado com a pressão raticar atividade física ajuda na redução da pressão
arterial, mas consumir bebidas com cafeína antes dela pode reverter esse efeito e até aumentar a pressão. É o que indica um estudo publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte. “Isso implica dizer que sujeitos que realizam exercícios físicos com o objetivo de reduzir a pressão arterial, mas que ingerem produtos à base de cafeína, geram uma atividade concorrente entre a vasodilatação, induzida pelo exercício, e a vasoconstrição, em resposta à ingestão destes tipos de alimentos (o que resulta no aumento da pressão arterial)”, explicam os autores.
Alho e Cebola ma alimentação rica em alho e cebola ajuda a reduzir os riscos de desenvolver ar-
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trite - doença inflamatória das articulações -, segundo estudo da Universidade East Anglia, no Reino Unido. Em pesquisa com mais de 1000 mulheres saudáveis, todas com irmãs gêmeas, os especialistas notaram que aquelas que comiam maior quantidade de vegetais da família do alho tinham menores níveis de osteoartrite de quadril. E uma análise laboratorial dos compostos do alho indicou que uma substância chamada dialil dissulfeto reduzia os níveis de enzimas que danificam as cartilagens “Enquanto não sabemos ainda se comer alho levará a altos níveis desse componente nas articulações, essas descobertas podem apontar o caminho para futuros tratamentos e prevenção da osteoartrite de quadril”, destacou o pesquisador Frances Williams.
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Bicicleta não! prática do ciclismo pode afetar
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negativamente a saúde reprodutiva do homem, segundo recente estudo da Universidade de Boston, nos EUA. De acordo com os autores, homens que andam de bicicleta pelo menos cinco horas por semana tem espermatozóides em menor quantidade e menos ativos do que os outros. Segundo os especialistas, o trauma e o aumento da temperatura no escroto, causada pelo atrito com o banco da bicicleta, poderia explicar a relação entre a prática do ciclismo e a saúde do sêmen. Porém, “mais estudos são necessários para replicar as descobertas, antes que possam ser consideradas causais”.
Notizie
Miracolo approvato a Commissione medica consultata dal Vaticano ha ap-
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provato il miracolo attribuito a Giovanni Paolo II; per questo il processo di beatificazione del pontefice polacco, scomparso nel 2005, va avanti a grandi passi. La commissione, guidata dal medico privato di Benedetto XVI Patrizio Polisca, e composta da medici e teologi consultati dalla Congregazione per le Cause dei Santi, ha analizzato il caso della suora francese Marie Simon-Pierre, che soffriva di Male di Parkinson, ha valutato che la sua cura è stata “immediata e inspiegabile”. È la stessa malattia avuta dal pontefice. La suora francese, che era infermiera, si è curata inspiegabilmente dopo le sue preghiere e richieste a Giovanni Paolo II pochi mesi dopo la sua morte, avvenuta nell’aprile 2005. L’approvazione degli specialisti dovrà essere ratificata da una commissione di cardinali e vescovi della Congregazione per le Cause dei Santi. La beatificazione è il primo passo verso la canonizzazione che esige la prova di intercessione in due miracoli. Il 19 dicembre del 2009 il papa Benedetto XVI ha approvato le “virtù eroiche” del papa polacco Karol Wojtyla – Giovanni Paolo II – venerato già in vita.
Italiano è il migliore del decennio
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ianluigi Buffon, della Juventus, è stato scelto come “Miglior Portiere del Mondo” nel periodo dal 2001 al 2010, secondo elezioni realizzate dalla Federazione Internazionale di Statistiche del Calcio (IFFHS). Anche se lo spagnolo Iker Casillas è stato dichiarato “Miglior Portiere del 2010” il titolo del periodo dal 2001 al 2010 è andato a Buffon che, malgrado le lesioni subite l’anno scorso, ha conservato la sua egemonia nella classifica dopo essere stato eletto come migliore al mondo quattro volte negli ultimi dieci anni. Il brasiliano con la migliore posizione è Dida (al sesto posto, in questo momento in nessuna squadra) che in questo decennio ha conquistato i Mondiali nel 2002, i Mondiali per Club nel 2007 (con il Milan) e due Leghe dei Campioni (sempre con il Milan nel 2002/2003e 2006/2007) tra i tanti titoli. Hanno concorso 76 portieri dei cinque continenti, giudicati on-line ogni anno dalla Federazione. Altri brasiliani della lista sono: Julio César dell’Inter di Milano (10º), Rogério Ceni del São Paulo (13º), Marcos del Palmeiras (28º), Gomes del Tottenham (36º) e Doni della Roma (44º).
Notizie
Brasile vanta ottima quotazione per viaggi
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l Brasile è al secondo posto nel ranking del libro “Best in Travel 2011”, ultimo lancio della casa editrice specializzata in guide viaggio Lonely Planet. Il libro suggerisce i migliori destini per il nuovo anno secondo gli specialisti della casa editrice. Il Brasile purtroppo ha numeri ancora deboli in termini di visite (nel 2009 l’hanno visitato solo circa 4,8 milioni di turisti stranieri) ma, secondo la Lonely Planet, viene ricordato per il samba, il calcio e i bei paesaggi, ma anche perché è un paese festivo, e il Carnevale ne è l’esempio più ovvio. “Malgrado il real caro”, indica la Lonely Planet “i visitatori avranno il vantaggio dell’aggiunta di migliaia di nuovi posti letto in alberghi, e una competizione sempre più agguerrita tra compagnie aeree economiche come la Azul, che rendono i viaggi in questo vasto paese sempre più accessibili”. La pubblicazione cita i grandi eventi sportivi e il treno ad alta velocità come leve di investimenti nell’area turistica. Secondo il ranking subito prima del Brasile viene l’Albania e l’Italia è al settimo posto nella stessa lista.
Benessere in crescita utto indica che, dopo i peccati della gola delle feste di fine
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anno, gli italiani riprenderenno le loro salutari abitudini. Questa previsione è suggerita dall’aumento del 4,9% del mercato di cosmetici, prodotti fitoterapici, sanitari e centri benessere. Vantando circa 26mila negozi di questo tipo, la Camera di Commercio di Milano ha registrato un boom in farmacie (82%) e rivenditori di medicine senza ricetta medica (43,8%). Nel terzo trimestre del 2010 era già stato registrato un aumento nei centri sanitari (5,7%) , terme e centri benessere (2,2%).
Fiera di Milano compra operatore brasiliano
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a Fiera di Milano ha acquisito il 75% dell’operatore Brasiliano Cipa per R$ 36,7 milioni (equivalenti a circa € 16,2 milioni), di cui i primi R$ 20,7 milioni (circa € 9,1 milioni) saranno pagati entro il primo trimestre del 2011 dopo la conclusione dei negoziati. L’operazione era stata annunciata nel luglio scorso. Si prevede che il pagamento del resto del totale (R$ 16 milioni ossia circa € 7,1 milioni) sarà fatto in tre anni. Il Grupo Cipa attualmente vanta un portfolio di 14 eventi in circa 100 mila metri quadrati di esposizione, organizzati specialmente a São Paulo. La Fiera di Milano è stata rappresentata nei negoziati dal Profilo Merchant e dallo studio di avvocati Dewey & LeBoeuf. Invece il Grupo Cipa è stato assistito dal B.A.M&A Corporate Finance e dallo studio di avvocati Lima Gonçalves, Jambor, Rotenberg & Silveira.
BRIC’s tra i più ottimisti paesi del gruppo BRIC – Brasile, Russia, India e Cina –
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in media sono tra i più ottimisti riguardo all’economia nel 2011, indica un sondaggio Gallup International/WIN. In media il 49% degli intervistati nei BRICs credono che il 2011 sarà un anno di prosperità economica – indice che, in paragone agli altri gruppi di paesi, è inferiore soltanto alla media delle nazioni africane che hanno fatto parte del sondaggio (51% calcolando il margine d’errore). Qui in Brasile il sondaggio è stato realizzato dall’Ibope Inteligência. Tra le duemila persone intervistate, il 56% crede che quest’anno sarà prospero. Osservate le differenze nelle risposte regionali del Brasile, si nota un maggior ottimismo nel Nord-Est (82%). La maggioranza dei brasiliani, il 61%, crede alla stabilità del suo impiego, indice di poco superiore a quello dell’anno scorso (54%) e simile a quello mondiale (62%). Invece tra le 8,2 mila persone intervistate nel G7 – USA, Canada, Germania, Francia, Gran Bretagna, Italia e Giappone – solo una media del 17% di persone crede alla prosperità nel 2011, e il 41% ritiene che la situazione rimarrà uguale.
Restituzione Italia restituirà alla Libia vari pezzi antichi che si trova-
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no a Roma presso il Museo Nazionale della Preistoria e Etnografia. Secondo il direttore generale del Settore Tecnico di Recupero delle Antichità Espatriate della Direzione libanese di Antichità, Mohamed Al-Chakchouki, la decisione è stata presa nel 2010 durante la terza riunione della Commissione Mista italo-libica. Tra i pezzi che la Libia riavrà ci sono oggetti archeologici che risalgono al periodo preistorico che furono sottratti nel XX secolo dal sud della Libia durante l’occupazione italiana. Negli ultimi anni la Libia ha recuperato vari reperti archeologici che si trovavano all’estero, tra cui la statua di Venere di Cyrene – che risalte al VII secolo a.C. e che è stata scoperta nel 1913 nella sito archeologico di Chahat, a 1.250 chilometri da Tripoli. La statua era a Roma nel Museo Nazionale Romano (Palazzo Massimo alle Terme) ed è stata riconsegnata al governo libico nel 2008.
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Meio Ambiente
Piso novo
Governos municipal e estadual aplicam asfalto ecológico em estradas do Rio de Janeiro. Prática é comum na Europa, onde somente a Itália produz por ano mais de 30 milhões de toneladas de asfalto a partir de pneus reciclados Silvia Souza
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e andando distraído pelas ruas do Rio de Janeiro você se deparar com o chão em tom amarelo, azul, vermelho, branco ou verde, não se assuste. A aparência pintada do piso é característica de um novo tipo de pavimentação em teste pela Prefeitura da cidade. O asfalto colorido, também chamado de asfalto ecológico, é resistente a elevadas temperaturas e a ação dos raios ultravioletas. A iniciativa está sendo aplicada concomitantemente à reforma que o governo do estado faz de um trecho de rodovia fluminense utilizando pneus reciclados. No que depender das experiências, o estado e a cidade vão despontar em um mercado que na Europa já é muito valorizado: o da pavimentação sustentável. No velho continente, a produção de asfalto a partir de borracha reaproveitada é inclusive aferida pela Associação Europeia de Pavimentação Asfáltica (EAPA). Dados da última medição, em 2008, colocam a Itália em quinto lugar dentre os maiores produtores de asfalto proveniente da borracha de pneus descartados, reciclada a altas temperaturas (Hot Mix Asphalt). Obteve 31,6 milhões de toneladas naquele ano. No Rio de Janeiro, a iniciativa foi implantada pelo Departamento de Estradas e Rodagens (DER-RJ) em reforma de um trecho de 35 km da RJ-122, entre os municípios de
Guapimirim e Cachoeiras de Macacu, com asfalto borracha, que leva 20% de pó de pneus velhos. “É uma inovação brasileira”, diz o presidente do DERRJ, Henrique Ribeiro. A recuperação da rodovia será concluída em março. Já o asfalto colorido, que compete à prefeitura, foi aplicado primeiramente na Estrada Dona Castorina, no Mirante do Horto (Jardim Botânico). Lá, a cor escolhida foi verde, para que o revestimento possa se harmonizar com a floresta. Na pista em teste foram aplicadas cerca de 30 toneladas de asfalto, em uma área de 350 metros quadrados. A aplicação é feita com temperatura abaixo de 140°C – o que reduz as emissões de gases e a absorção do calor, daí o apelo ecológico. O asfalto morno, produzido nas usinas, é aplicado a 180ºC. Outro ponto positivo é a durabilidade estimada em 10 anos e o fato de o polímero presente na constituição do asfalto ajudar a diminuir as deformações causadas pelo tráfego. De acordo com a secretaria municipal de Obras, o objetivo nos
No Mirante do Horto a cor escolhida foi o verde, para que o revestimento possa se harmonizar com a floresta
próximos meses será conhecer melhor a forma de produção, aplicação e comportamento do revestimento. Em países como Espanha, França, Suíça, Inglaterra e Estados Unidos o emprego deste tipo de revestimento já é consagrado. A intenção da Prefeitura é empregar o asfalto colorido em ciclovias, acostamentos e parques, podendo ser aplicado também em túneis, na cor branca, melhorando a iluminação pela maior reflexão da luz. A tecnologia foi implementada pelos técnicos da Prefeitura com apoio de duas empresas que importaram alguns polímeros e pigmentos especiais. O processo economiza energia, pois as adições destes aditivos ocorrem na temperatura ambiente e diretamente no misturador da usina. Mas se o custo do asfalto ainda é maior que o total gasto com o asfalto comum, a compensação vem com a durabilidade do material. O valor também está ligado à cor escolhida, pois é proporcional aos aditivos necessários. Entretanto, ainda segundo a secretaria, reduzindo-se a espessura desta mistura também é possível reduzir sua incidência no custo da obra. A secretaria também informa que o investimento em novos revestimentos se justifica uma vez que a cidade tem importantes projetos urbanísticos em desenvolvimento. No passado, a prefeitura já havia testado técnicas de pinturas especiais na superfície do revestimento asfáltico, porém estas intervenções apresentavam baixa durabilidade e reduziam o atrito superficial da via. Os estudos com os atuais ligantes e pigmentos serão utilizados na harmonização de vias, praças, ciclovias e túneis para os projetos da Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
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Arte
Símbolo reconhecido Governo do Rio Grande do Sul recebe peças de Aldo Locatelli e planeja exposição sobre o artista que é considerado um ícone cultural do estado Silvia Souza
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Momento Itália-Brasil só começa em outubro, mas enquanto planeja uma grande mostra com trabalhos de um dos artistas mais notáveis de todos os tempos, Leonardo Da Vinci, o Rio Grande do Sul já celebra a presença da cultura italiana em seu território. Depois de receber a doação de duas obras do italiano Aldo Locatelli, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) exibe, até 27 de fevereiro, os primeiros óleos sobre tela do artista que agora pertencem à sua coleção. A apresentação das obras de Locatelli se junta à seleção de peças que pertencem à família do pintor. Os quadros recebidos são A conquista do Espaço – de 1953 – que foi o ensaio para o painel do Aeroporto Salgado Filho e, Retrato de Carmen Nora Lima Lunardi – de 1956. As pinturas foram doadas respectivamente pelo Banrisul e pelo Grupo Gerdau. De acordo com o ex-secretário de cultura do RS e atual diretor do Instituto Estadual de Artes Visuais, Cézar Prestes, O italiano veio a trabalho para o Brasil, mas decidiu se estabelecer no país, escolheu o RS como sua casa, o estado reconhece as obras do italiano como pilares do desenvolvimento cultural local. — Locatelli é um artista de muita relevância para o estado. Suas obras são verdadeiros patrimônios públicos e a exibição de seu trabalho faz com que o público possa aproximar-se ainda mais do artista. Na verdade, estamos preparando uma grande mostra para levantar tudo o que foi produzido e deixado por ele em 48
solo riograndense. Já a exposição de Da Vinci, ocorrerá entre outubro e novembro, trazendo obras inéditas ao Brasil e só será feita no Rio Grande do Sul. Estamos na fase de captação de recursos. De fato, temos muito da cultura italiana aqui e poderemos ressaltar suas diferentes abrangências — explica. Nascido em Bérgamo, norte da Itália, no ano de 1915, Aldo Locatelli se interessou pela arte desde muito jovem. Como prêmio pelo primeiro lugar num curso de Decoração da Escola Aplicada de Bérgamo ganhou uma bolsa de
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Cezar Prestes, Cristiana Locatelli e Jorge Karam (curador da exposição) na solenidade de doação das obras de Aldo Locatelli (abaixo) ao Margs
estudos, em 1932, para a Escola de Belas Artes de Roma, onde se dedicou a estudar os afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, assim como as obras de Rafael, Botticelli entre outros grandes pintores. Vindo de uma família católica, firmou sua arte em temas religiosos. Entre 1943 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, trabalhou em sua primeira obra na Catedral de Gênova. Suas obras religiosas estão no Santuário de Mulatiera, Paróquia de Santa Croce, Convento das Irmãs S.S.Consolatrice, em Milão, Catedral de Gênova, cúpula da igreja Nossa Senhora dos Remédios, Santuário Nossa Senhora da Pompeia, Colégio da Consolata, em Milão entre outros. — Papai veio ao Brasil a convite do bispo de Pelotas (Dom Antônio Záttera), que conheceu seu trabalho por meio do Papa João XXIII. Ele aceitou o trabalho para pintar os afrescos da Catedral de São Francisco de Paula. O ano era 1948, ele iniciou os trabalhos, foi recebendo encomendas. Voltou à Itália para terminar obras em Pompeia e buscar minha mãe — comenta a filha do artista, a advogada Cristiana Locatelli. Encantado com o país, Locatelli se naturalizou brasileiro em 1954 e aqui teve seus dois filhos (Cristiana e o engenheiro Roberto nasceram em Pelotas). Em Porto Alegre, foi encomendado a Locatelli o grande mural do Aeroporto Salgado Filho, o painel central da Catedral Metropolitana, o mural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), o mural da sala dos
músicos no Instituto de Belas Artes do Estado do Rio Grande do Sul, onde foi convidado a lecionar. Sua obra-prima é a Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, que levou 10 anos até seu término. Mas seu trabalho – a maioria adorna prédios públicos – não se restringe apenas ao cunho religioso: retratou o povo gaúcho e a história com um enfoque no futuro. Sede do governo estadual, o Palácio Piratini tem em três de suas salas pinturas de Locatelli. São obras feitas na administração de Ernesto Dornelles, entre 1951 e 1955. No Salão de Banquetes (hoje Salão de Atos ou de Audiências), encontra-se o painel intitulado A Formação Histórica Etnográfica do Povo Rio-Grandense. São 25 metros quadrados onde estão representados os índios, as Entradas e Bandeiras, as Missões, a criação das fazendas (agricultura e pecuária), o gaúcho (onde o artista se retrata em primeiro plano) e o progresso (simbolizado pela energia elétrica e uma represa). Detalhista, Locatelli fez um delicado contorno do mapa do Rio Grande do Sul no centro do painel. Ao lado, o mural intitulado A Fundação da Cidade de Rio Grande, mostra o desembarque de Silva Paes, fundador do forte do Rio Grande, dando início à ocupação oficial do Rio Grande do Sul pelo governo português. Já no antigo Salão de Honra ou Festas (atual Salão Negrinho do Pastoreio), Locatelli traçou 18 painéis que descrevem a lenda mais popular
do Rio Grande do Sul. O artista sublimou a visão da lenda do Negrinho do Pastoreio no grande painel central, no teto, onde aparece o negrinho gauchesco cavalgando pelos céus do Rio Grande do Sul, montado em seu potro de estimação. Cristiana tinha nove anos quando o pai morreu de câncer, em 1962. Mas apesar do pouco tempo de convivência, a advogada se recorda
Visitantes observam detalhes dos murais no Palácio Piratini. Ao lado, o teto da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul
Obras do acervo do Instituto de Artes da UFRGS, ambas da década de 1950
“Sua obra não se restringe apenas ao cunho religioso: retratou o povo gaúcho e a história com um enfoque no futuro”
que queria aprender a pintar com o pai e da valorização de Locatelli à família. Em muitas de suas obras o artista pintou os filhos e a esposa. Como nos murais da ante-sala do governador, dedicados à Arte, Música, Agricultura e Pecuária. No Mural da Arte, Locatelli retrata sua mulher, Mercedes, e seu filho Roberto, ambos com pincéis na mão. O Mural da Agricultura e Pecuária é amparado na unidade familiar onde o pintor retrata seu filho, como o menino, sua filha Cristina segurando uma pomba; sua esposa, como mãe, e ele próprio, como gaúcho. É a única obra do Piratini que não pode ser vista pelo público por se encontrar em área restrita. — Eu ia ao estúdio dele, um espaço grande, ficava vendo como fazia os movimentos. Ele retratou nosso crescimento em suas obras. Meu pai chegou a fazer trabalhos para São Paulo e recebeu encomendas de murais para Brasília. Na virada para a década de 1960 é que ele começou a sair do plano sacro para o profano, mas não teve tempo de se dedicar muito — assinala Cristiana, que representa a primeira geração da família no Brasil, mas ainda mantém contato com primos italianos.
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Letteratura
Passaporto originale P Nayra Garofle
rima di essere uno scrittore di nome, Luiz Ruffato, 49 anni, è stato venditore di pop corn, cassiere di un bar, commesso di una merceria, operaio tessile e tornitore meccanico, tra le altre cose. Qualche anno più tardi ha lavorato come giornalista e quando ha deciso di scrivere ha studiato per più di 15 anni fino a quando si è sentito pronto. Lo sforzo gli ha reso buoni frutti: otto libri pubblicati in Brasile. Nel primo semestre di quest’anno sarà pubblicato in Italia l’ultimo libro dello scrittore “Estive em Lisboa e lembrei de você” (Companhia das Letras). È il secondo libro di Ruffato ad entrare nel mercato italiano. Il primo era stato “Come tanti cavalli”, [in originale, “Eles eram muitos cavalos”, da Editora Boitempo]. Nato a Cataguazes, in Minas Gerais, quando ha finito la facoltà di giornalismo presso la Universidade Federal de Juiz de Fora Ruffato è andato a São Paulo. Là ha lavorato dal 1991 presso il Jornal da Tarde e lo Estado de São Paulo, in cui è entrato come reporter e vi ha terminato la sua carriera nel 2003 come segretario di redazione. Da sette anni Ruffato si dedica solo alla professione di scrittore. Il suo primo libro è stato “Histórias de remorsos e rancores” (Editora Boitempo) pubblicato nel 1998. Ha vinto i premi Machado de Assis e 50
Sopra, il libro che sarà pubblicato in Italia. Sotto, la versione italiana del romanzo “Eles eram muito cavalos”
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Ex venditore di pop corn diventa famoso scrittore e prepara il lancio del suo secondo libro in Italia Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) per l’opera “Eles eram muitos cavalos”, del 2001. Lo scrittore chiarisce che non ha mai pensato di scrivere in cambio di premi, ma mette in risalto l’importanza di aumentare il suo valore. — Per consolidare una carriera sapevo che avrei avuto bisogno di riconoscimenti, tanto per mezzo di vendite, quanto di critiche o di premi, ma è chiaro che uno non scrive mai pensando ai premi. Comunque questo mi è servito per poter discutere con le case editrici contratti migliori — racconta. I libri di Ruffato di solito avvicinano i lettori alla loro realtà. I temi usati parlano della vita dei lavoratori urbani. — Quando ho cominciato a leggere, la mia grande sorpresa è stata lo scoprire che nella letteratura brasiliana non c’erano scrittori che parlavano dei lavoratori urbani. Un altro tipo di personaggio che non appariva, o quando lo faceva era in un modo stereotipato, era l’immigrante, tanto italiano quanto nordestino. Io voglio scrivere storie su questi personaggi, voglio contribuire in qualche modo per fare una riflessione sulla nostra società partendo da questo punto di vista – rivela. Al termine della stesura del suo primo libro lo scrittore è entrato in contatto con circa 20 case editrici e solo una ha risposto. Il successo è arrivato con il secondo libro, “Eles eram muitos cavalos”, di cui è stata pubblicata una seconda edizione e, nel
2003, il primo paese a dimostrarsi interessato a pubblicarlo è stata l’Italia. Le opere dello scrittore sono state pubblicate in Francia, Italia, Argentina e Portogallo. La sua traiettoria all’estero è cominciata per mezzo di un’agenzia italiana di Milano. “Come tanti cavalli” è stato pubblicato in Italia presso la casa editrice Bevivino. Ora un’agente letteraria tedesca si occupa dei diritti d’autore di Ruffato nel mondo. — L’Italia offre una grande resistenza al consumo di libri che non sono in lingua inglese. Ma forse è stato anche un problema della casa editrice, che andava verso altri tipi di libri, non di fiction. Ora bisogna aspettare e vedere come sarà la ripercussione di “Estive em Lisboa e lembrei de você” — racconta Ruffato, che nel romanzo racconta la storia di Serginho, un mineiro disilluso del suo matrimonio e della mancanza di impiego, che decide di avventurarsi in Portogallo alla ricerca della redenzione finanziaria e forse anche amorosa. Ruffato è nipote di immigranti italiani di Padova, in Veneto. Sente un grande affetto per le sue origini ma non accetta di essere chiamato italo-brasiliano, perché non ha la doppia cittadinanza e non la vuole nemmeno avere. — Non voglio essere cittadino di seconda classe italiana, voglio essere cittadino di prima classe brasiliana. Gli italiani sono partiti miserabili dall’Italia e sono arrivati qui per sostituire la manodopera di schiavi. Adoro pensare che sono un oriundo, adoro pensare da dove sono venuti i miei nonni, ma non voglio avere nessun tipo di rapporto più profondo con l’Italia. Il mio rapporto è affettivo e basta. Tra gli scrittori italiani più ammirati da Ruffato, Luigi Pirandello è al primo posto. Il brasiliano crede di “parlare in dialogo” con Pirandello quando scrive i suoi libri. — In lui c’è uno sguardo di connivenza con i miserabili, che credo che, in qualche modo, sia presente anche nel mio lavoro — dice Ruffato che parla della visione anti-romantica dell’immigrazione italiana in “Mamma, son tanto felice”, nella serie Inferno Provvisorio, che termina con l’ultimo dei cinque volumi “Domingo sem Deus” [Domenica senza Dio]. — Credo che si riesca a capire quanto d’Italia c’è nella mia letteratura — conclude il brasiliano, che ormai si sente realizzato come scrittore e non vuole più tornare al giornalismo.
Bruno de Lima
Atualidade
De uma praia a outra DJ italiano conquista público brasileiro e se consagra como atração da cena eletrônica carioca
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ara quem frequenta é diversão, para ele é assunto sério. “Virar” as noites fazendo as pessoas dançarem faz parte da rotina de Luca di Napoli, um italiano de 32 anos que adotou o Brasil. O DJ explica que, ao contrário do que muitos imaginam, a sua profissão exige um grande trabalho de pesquisa para se atualizar e não deixar de agradar o público. Luca Vanacore, nascido em Castellammare di Stabia, província de Nápoles – dai o nome artístico – deixou a Itália aos 14 anos, quando acompanhou a família que havia optado por morar no Brasil, por conta do trabalho do patriarca, ligado ao turismo. Morando em Copacabana, o jovem decidiu não receber mesada e trabalhou como vendedor em lojas roupas da cidade do Rio. Aprendeu o português com poucas aulas particulares e, na prática, ao frequentar a escola. Enquanto isso, seu irmão mais velho, Mimmo Sorrentino, já se consagrava como DJ. — Temos uma diferença de idade de seis anos. Perto dele eu ainda era um moleque. Mas meu irmão é um exemplo pra mim — conta. Com 17 anos, ao optar por seguir a mesma carreira do primogênito, Luca recorreu a Mimmo e pediu ajuda. Ele queria aprender a mexer nos aparelhos e a “virar” músicas – momento em que um DJ faz a passagem de uma música para a outra. O irmão achou curioso e disse que a única maneira de aprender era olhar como se fazia e foi isso que Luca fez.
Nayra Garofle — Durante três meses eu acompanhei meu irmão ao clube que ele tocava. Até que um dia, ele disse que não estava se sentindo bem e me pediu para ocupar o seu lugar por um momento. Virei uma música, duas, três, estava muito nervoso e só depois percebi que ele estava escondido e rindo de mim. Em seguida, ele falou: “Você não queria aprender? Pronto, agora já sabe” — lembra sorrindo. A partir de então, Luca começou a tocar em festas infantis e particulares. Com 18 anos voltou para a Itália e serviu ao exército como voluntário por três anos. Neste período, o jovem aproveitou para fazer pesquisas e ver o que se tocava em seu país e na Europa. Ao retornar, dez anos atrás, Luca conseguiu lotar sua agenda. Passou por conhecidas boates cariocas como Dado Bier, Club Nova, Nuth Lounge e na People Lounge e Club Euro, onde foi DJ residente. Em 2005 decidiu que precisava se atualizar. Voltou para a Itália e por três meses estudou e pesquisou muito. — O DJ tem que saber produzir a própria música. Músicas que caiam no gosto do público. O DJ brasileiro ainda não consegue se comparar, em estudos e pesquisas, aos estrangeiros. Tenho amigos que pesquisam duas vezes por mês. Eu passo horas diariamente ouvindo, procurando novidade — revela. Di Napoli é um dos responsáveis pelo crescimento da cena eletrônica carioca. Com seu trabalho de direção artística foi
um dos criadores da festa “D’Beatz”, realizada na Nuth Lounge de 2006 a 2008, primeira festa indoor semanal a se consolidar no Rio. Em 2008, tocou para cerca de três mil pessoas num evento realizado pela XTZ Comunicação e Eventos, trazendo para o Rio DJs que jamais haviam tocado por aqui. Há três anos o italiano é DJ residente da Pacha de Búzios, famosa boate localizada no balneário do Rio de Janeiro, com capacidade para 1.200 pessoas. Lá, conheceu o conterrâneo DJ Gio Di Leva. Durante uma conversa, ambos descobriram que são da mesma cidade e começaram uma grande amizade. Hoje, é Di Leva quem cuida da agenda de Luca na Itália, que inclui cidades como Bolonha, Sardenha, Sicília, Catânia e Sorrento. Já quem cuida de suas turnês pelos Estados Unidos é o DJ e produtor musical Marcos Carnaval, que o levou para tocar em Nova Iorque e Miami. A noite de réveillon na Pacha de Búzios contou com o som de Luca, que gosta de “virar a noite tocando e desejar feliz ano novo. Fazer a contagem com a galera!” O italiano prefere não falar sobre os cachês no Brasil, porque segundo ele “isso varia bastante”. Para quem curte música eletrônica, uma novidade: este ano Di Napoli estará mais próximo do que nunca da cidade maravilhosa. O DJ já foi convidado para ser residente da nova Pacha Rio, que será inaugurada em local ainda não pode ser revelado.
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Turismo
Paraíso no topo Uma montanha com muita neve, natureza exuberante e rica cultura fazem de Plan de Corones um dos pontos turísticos mais desejados no inverno Guilherme Aquino Plan de Corones
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Itália alemã, ou melhor, austríaca, é “um” país a parte. A começar pelo idioma. Em Plan de Corones, no Alto Agide, a primeira língua é o alemão, o italiano é a segunda. Um paraíso da natureza mantido praticamente intacto, graças à determinação de sua população. E se durante a primavera e o verão o cenário é de “A Noviça Rebelde”, com os pratos e os platôs cobertos de flores, o outono e o inverno não deixam a desejar, em nada, a outras regiões italianas. A preservação dos parques naturais, as construções em harmonia com o paisagismo, a tradição respeitada pela modernidade fazem deste ponto da Itália, uma ilha de beleza e tranquilidade, em todos os setores. Não por acaso, cidades como Bolzano e Brunico, aos pés dos Alpes, na porta das Dolomitas, são consideradas modelos de civilização nesses tempos duros e difíceis. A diferença grande de outras áreas da Itália, ali, a mentalidade de rigor e respeito pelas regras públicas 52
e pela vida privada não prevê descontos a ninguém. Por isso, quando as férias se aproximam, não são poucos os italianos e os estrangeiros do norte da Europa, principalmente porque se sentem em casa, que procuram Plan de Corones – Kronplatz, em alemão ou Plang de Curunes, em ladino, o terceiro idioma – para relaxar com a certeza de que encontrarão lugares para descansar e recarregar as energias gastas em locais aonde a qualidade de vida nem de perto se aproxima daquela existente nesta Itália alemã. Ou seria uma Áustria italiana? Enfim, o fato é que neste pedaço de paraíso terrestre, tudo indica que o melhor de cada influência foi preservado ao máximo. Neste período de nevadas intensas, a região atrai um sem número de turistas que lotam os
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Neste período de nevadas intensas, os turistas lotam os 200 hotéis e pensões em Plan de Corones
300 hotéis e pensões num raio de apenas 15 quilômetros. Esquiadores de fins de semana e amantes do esporte, e de suas variantes, como o snowboard, tentam dilatar o tempo e aproveitar os mais de cem quilômetros de pistas em perfeito estado, com um manto de neve imaculado, capaz de cobrir de branco todo o arco alpino ao alcance da vista. Do alto de Plan de Corones, a 2.275 metros, no lado sul do Vale de Pusteria, a montanha mais distante vista a olhos nus é a Marmolada, famosa por ter sido palco de uma das batalhas mais difíceis da Primeira Guerra Mundial. Em tempos longos de paz, a guerra é somente aquela de descobrir os próprios limites sem colocar a vida de ninguém em risco, a começar pela própria. E para isso, a Dolomiti Superski, administradora das infraestruturas, criou o Snowpark Plan de Corones, apenas para satisfazer
os esquiadores que querem ir além do freerider e do freestyler. Existem também pistas que cronometram o desempenho de cada “atleta”, assim, uma turma de amigos pode criar uma competição informal. As condições ideais de neve sobre as pistas são garantidas pela presença e funcionamento de mais de duzentos canhões de neve artificial que dão uma “mãozinha” àquela natural quando a precipitação deixa a desejar, algo que não ocorreu neste inverno com a neve que caiu em abundância garantindo uma temporada de alto nível. A curiosa forma de um panetone faz da Plan de Corones uma das metas mais disputadas durante o inverno. Com uma visão espetacular de 360 graus das Dolomitas, o visitante, lá de cima pode vislumbrar cenários cinematográficos, do conforto de um moderno bar ou descendo uma das 50 pistas à disposição, em todos os tipos de níveis, das mais fáceis às mais difíceis. As estruturas são novas e estão, literalmente, à altura dos desejos dos esquiadores com as maiores exigências. Elas somam 31 e podem transportar cerca de 63.900 pessoas por hora. Ou seja: segurança e velocidade formam um binômio capaz de seduzir quem busca a emoção de curtir a montanha com os esquis nos pés. Tudo isso abençoado pelos sons do sino de 18 mil toneladas, 3 metros de altura, levado para o topo, em 2003, durante o inverno. Ele foi erguido sobre uma plataforma de onze metros quadrados e representa uma espécie de coroa da região, e tem até um nome: Concordia 2000. O gigantesco sino foi criado pelo artista Paul de DossMoroder e construído na funderia Oberascher, em Salisburgo, cidade natal de Mozart, na Áustria. De quarta-feira a domingo, sempre ao meio-dia, o sino toca em homenagem a paz e a serenidade no mundo
“Os albergueiros entram em acordo com os camponeses que produzem ali mesmo a matéria prima dos almoços e jantares dos hotéis e restaurantes da região” Os bares e as comidas servidas são um caso à parte. Criou-se o hábito de servir nos pratos dos turistas a culinária local
O sino que está no topo tem 18 mil toneladas, 3 metros de altura e foi construído pelo artista Paul de Doss-Moroder
inteiro. Em latim, ela traz a inscrição: “Donet deus populis pacem”. A região tem uma cultura milenar e riquíssima. Para os amantes da vida tranquila, com os pés no chão firme, e não deslizando sobre a neve, as opções são inúmeras. A zona é repleta de castelos que testemunham o quanto a passagem entre aquelas montanhas para o comércio era fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Igrejas, capelas, decoradas com pinturas que traduzem o espírito artístico transmitido de geração em geração, ao longo dos séculos, não deixam nada a desejar a outras localidades turísticas. Como moldura, os picos das montanhas que parecem supervisionar, do alto das suas grandezas, os trabalhos
realizados com tanta fé e devoção. Os museus do Uso e do Costume, em Teodone e o Civico de grfia, em Brunico, merecem uma atenta visita. As cidadezinhas ao redor das montanhas e encravadas nos vales também possuem os seus encantos. San Martino in Badia é uma delas e é conhecida como o “berçario” da cultura landina, localidade de poucas ruas, muitos hotéis que respeitam a tradição arquitetônica dos “droel”. Eles garantem hospedagem com grande conforto e calor humano, além de toda uma cultura dedicada à sauna seca e a vapor. Que ninguém se espante em encontrar nus os usuários dessas atividades. Um capítulo à parte é a gastronomia servida ali. Para fixar o homem no campo, criouse a política de servir no prato do visitante a culinária local. Os albergueiros entram em acordo com os camponeses que produzem ali mesmo a matéria prima dos almoços e jantares dos hotéis e restaurantes da região. Enfim, existem tantas atrações que não basta uma temporada para aproveitá-las inteiramente. A vantagem é que fica sempre o convite e a desculpa de ter que voltar na primeira oportunidade.
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ItalianStyle Fire Kit
Uma nova marca de designers de Milão, que em março de 2011 abre loja em São Paulo, apresenta esta lâmpada, entre as mais vendidas do grupo, com base em madeira e vidro trabalhado que imita uma fogueira. Altura de 26 cm e voltagem 220/240 V. Preço: € 120 http://www.skitsch.it
Cheap and Chic
Relógio quartzo com efeito envernizado da Moschino, pulseira colorida em seda e caixa em aço inoxidável. Preço: € 135 www.moschinoboutique.com
Fotos: Divulgação
Botas com pele D&G
Para enfrentar o frio italiano com muito estilo. Bota com salto de 12 cm, forro interno, sola de couro e borracha e decorada com peles. Preço: € 725 store.dolcegabbana.com
Animais de grife
Bolsa para cachorros da Gucci vem com travesseiro interno lavável, abertura superior com zíper e uma coleira curta interna. Preço: € 790 www.gucci.com
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firenze
Giordano Iapalucci
“Il Patrimonio dell’umanità: leresso civiltà” il Palazzo Cerretani a Firenze, ed
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esattamente nel Salone Oriana Fallaci, la Regione Toscana presenta la mostra personale di pittura dell’artista Anna Maria Guarnieri. L’artista, classe ’47 e nata in provincia di Firenze, da sempre propone nelle sue opere la diffusione della conoscenza delle civiltà passate; un mezzo mediante il quale creare un eterno ponte tra i diversi paesi. Il suo viaggio artistico visita le espressioni tipiche dei grandi popoli antichi come i romani e gli egizi, fino ad arrivare alla civiltà industriale inglese e la Belle Époque della Parigi di inizio XX secolo. L’esposizione rimarrà aperta fino al 25 febbraio con orario 14.00-17.00. Giorni festivi chiuso.
Allevi Alien World
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iovanni Allevi presenta il suo nuovo tour dal titolo “Alien World Tour”. Il compositore e pianista originario delle Marche, oltre al suo ormai popolarissimo repertorio musicale eseguirà anche i brani di “Alien”, ovvero il suo ultimo lavoro pieno di inediti al pianoforte. La discografica di Allevi conta con più di 500.000 mila copie vendute dal 2005 ad
oggi e nel 2007 ha celebrato con il tour “Allevilive” i 10 anni di carriera musicale. Le date previste in Toscana sono due. La prima il 27 marzo al Teatro Verdi di Firenze, la seconda, il 29 marzo al Teatro Verdi di Montecatini. L’inizio del concerto è programmato per le ore 20.45. Prezzi da € 17,00 per i palchi a € 37.00 per la platea.
Le “Immagini” diaràScatizzi presentata in febbraio l’espo-
Oscillazioni 10 artisti alla Ssizione di quadri di arte contemcontemporanee Strozzina poranea dal titolo “Immagini” del scillazioni contemporanee” è un a Galleria d’Arte Strozzina, importan-
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movimento molto interessante che porta alla ribalta novità artistiche alla ricerca le emergenti tendenze artistiche di oggi ponendo al centro del loro lavoro l’aspetto innovatore per eccellenza: la ricerca. Si tratta ormai dell’ottava edizione e in quest’occasione si potranno ammirare le opere, tra gli altri, di Anna Borriello, Carla Galli Moranti, Nadia Giugliarelli, Lidia Lazzari e Angelo Zuena. Si tratta di artisti non solo contemporanei, ma anche giovanissimi. La mostra è visitabile fino al 24 febbraio presso il CentroArteModerna di Pisa, Lungarno Mediceo n. 26. Orario 10 – 12.30 / 16.30 – 19.30; Domenica 1719.30; lunedí mattina chiuso.
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te spazio espositivo legato al mondo dell’arte contemporanea presenta dieci galleristi italiani e non, ormai affermati artisticamente e di fama internazionale. Si tratta nello specifico di: May Cornet, Raymond Pettibon, Mimmo Rotella, Mauro Staccioli, Luciano Ori, Ugo Nespolo, Roberto Coda Zabetta, Pino Pinelli, Paolo Fiorentino, Piero Dorazio. All’interno dell’esposizione uno spazio sarà dedicato agli editori d’arte e ci sarà una saletta per le proiezioni e le installazioni video. Le dieci sale, ognuna dedicata ad un artista, formeranno un unico itinerario culturale di cui il visitatore rimarrà affascinato. Ingresso: 5 euro con orario 11.00 – 20.30
maestro Sergio Statizzi, scomparso nel 2010, a 92 anni. L’artista, nato nel paesino di Gragnano in provincia di Lucca, ha però da sempre vissuto e lavorato a Firenze. Negli anni scorsi ha dato un forte contributo alla collezione di autoritratti di artisti della Galleria degli Uffizi, donando il suo, datato 1957, come anche quelli di Rosai e di Pregno che erano suoi. Le opere spaziano dal 1943 al 2005 e la mostra rimarrà aperta fino al 10 marzo con ingresso libero. Presso il Salone delle Reali Poste al Piazzale degli Uffizi di Firenze.
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ou descendente de quatro avós italianos, todos vindos do nordeste da Itália naquela onda migratória do fim do século XIX e começo do século XX. Com meus nonos Giulio e Lucia Miotto, pais do meu pai, tivemos mais contato do que com Giovanni e Marietta Bergamini, pais de minha mãe, que moravam em outra cidade. Giulio e Lucia partiram da Itália, recém casados, em 1889. Chegando aqui, foram encaminhados para um lote de terra na “Zona da Colônia”, Julio Miotto, no RS. Ali ficaram alguns anos cultivando a 90anos, 1950 terra, e o nono trabalhando também, quinze dias por mês, na construção de uma estrada de ferro nas vizinhanças. Ganhava um salário que, juntamente com o produto do trabalho na própria lavoura, ajudou a pagar a terra, algumas ferramentas e sementes que recebeu quando chegou. Enquanto ele estava fora, nona Lucia tomava conta da casa, da roça e dos filhos que foram nascendo. Para eles a vida no meio do Divertimento campestre mato foi penosa em especial porque eles não eram “contadini”, camponeses, eles moravam na cidade de Treviso onde eram empregados em duas famílias.
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Quando já tinham três filhos e não conseguindo mais suportar aquelas condições de vida, voltaram para a Itália. Ao chegar a Treviso, a situação já não era mais a mesma: antes de vir, os dois trabalhavam e tinham uma vida bastante confortável na casa dos patrões; mas tinham se deixado seduzir pelas promessas do “Paese della Cucagna”, o País da Fartura. Agora, só o nono fazia um trabalho remunerado, pois a nona tinha de atender os três filhos, o maior com seis anos. Conseguiram emigrar pela segunda vez. Desta, encaminhados para uma fazenda de café em São Paulo. Como os que vieram na ocasião, iriam substituir os escravos libertos. Trabalhavam de sol a sol e moravam nas mesmas senzalas deixadas por eles. O salário não era suficiente para satisfazer as necessidades mais primárias. Sempre em dívida com o fazendeiro, não podiam nem pensar em deixar o local. Os que fugiam eram perseguidos pelo capitão do mato, o mesmo que antes da abolição perseguia os escravos fugitivos. Depois de um certo tempo, meu nono conseguiu pagar a dívida, com a ajuda de outros colonos, e deixou a fazenda. Veio para o RS. O recomeço foi muito difícil, mas os seus filhos, crescendo, já tiveram uma vida um pouco melhor. O meu pai, nascido em Veranópolis, aos 19 anos foi artesão em Serafina Corrêa: fabricava lamparinas de lata, o que era um bom negócio, pois não havia luz elétrica. Casado com Adelina Bergamini, de Guaporé, e tendo já três filhas, mudouse para Passo Fundo, onde nasceram seus outros sete filhos. Chegou a ser um comerciante de bom porte para a época. Nós, os netos dos nonos imigrantes, fomos mais adiante. Dos dez filhos do meu pai, sete cursaram universidade. A mais velha, Prof. Dra. Armida Bergamini Miotto, formouse em direito pela UFRGS em 1939, quando as mulheres não costumavam estudar, e até hoje (aos 94 anos) é reconhecido, principalmente no exterior, o seu trabalho como jurista. Eu fui assistente social, depois me formei em Ciências Sociais e hoje sou professora de história, além de professora e tradutora de italiano. Meus três filhos também são formados em universidade e meus netos estão indo por esse caminho, um deles é formado em filosofia. Essa progressão não é só na minha família. Fazendo tradução de documentos para a formalização da dupla cidadania brasileira/italiana, noto que a cada geração o nível profissional e econômico dos descendentes de italianos vai melhorando. Os imigrantes tiveram de enfrentar grandes Lúcia Rossi Miotto, dificuldades e enorme 73anos, 1933 sofrimento, mas não se renderam, arregaçaram as mangas e trabalharam para mudar a situação, com aquele mínimo de auxílio que tiveram ao chegar. Por isso, penso que se o seu sofrimento foi imenso, maior foi o seu valor conseguindo vencer as dificuldades. Basta ver hoje o resultado do trabaNonna e filhos lho deles e de seus descendentes nas zonas de colonização italiana, que podem não ser as mais ricas, mas é onde um grande número de pessoas vive bem. Lydia Gabelllini, 82 anos Porto Alegre, por e-mail Treviso
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saporid’italia NayraGarofle
Cearense de fiducia
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io de Janeiro - Para quem mal bebia água, mas aprendeu a degustar vinhos até se tornar um dos melhores sommeliers do país, Valmir Pereira, de 54 anos, pode dizer que venceu na vida. O cearense de Coitin, a 20 quilômetros de Cariré, passou fome quando criança e atualmente é dono de um dos mais conhecidos restaurantes italianos do Rio de Janeiro, o La Fiducia. A história de Pereira se confunde com a de inúmeros nordestinos que vêm para o sudeste do Brasil tentar melhorar de vida. Cansado das dificuldades que encontrava para viver — ele ia para a escola de jegue —, Pereira tinha o sonho de ser engenheiro civil, mas desistiu depois de três tentativas. Lavou pratos, tornou-se garçom e depois maitre. Essa trajetória de Pereira está pronta para virar história, contada no livro “Do jerimum ao caviar”, escrito por Cláudio Aragão. Quando veio tentar a sorte no Rio de Janeiro, nos anos 70, Valmir Pereira trabalhou durante 15 anos no Le Bec Fin, 10 anos no D’Amici e há pouco mais de um ano, abriu sua própria casa, em Copacabana. O La Fiducia oferece 220 rótulos e 1500 garrafas aos clientes. O salão tem capacidade para 108 lugares. O cearense aprendeu a degustar vinhos com o reconhecido chef e sommelier Danio Braga, com quem fez um curso. Pereira conta que quando chegou ao Rio, ofereceram a ele uma caneca de sangue de boi e ele cuspiu. Quando cada um de seus quatro filhos nasceu, ele deu banho com champanhe e chupeta com vinho para eles não dizerem que só tomaram com 18 anos, como o próprio Pereira. — Não é por acaso que o meu mais velho, Arley, de 23 anos, virou enólogo — completa. A perseverança do sommelier, que já fez de tudo na Cidade Maravilhosa, chamou a atenção de alguns clientes que ouviram o “sonho” do cearense de abrir um restaurante em Copacabana. Mas, para isso, precisava de alguém que acreditasse no projeto e pudesse investir nele. O La Fiducia era um sonho que estava “no forno” há 25 anos. Em sociedade com Felipe Gilaberte, para inaugurar a casa, Pereira convidou o arquiteto Helio G. Pellegrino, que assinou o projeto e, assim, iniciou-se uma reforma total explorando o ferro, cobre, madeira de demolição, tijolo e vidro. A cozinha fica separada do salão por telas de vidro. Onde hoje é o La Fiducia funcionava um antigo rodízio de frutos do mar. Pereira conta que todas as vezes que almoçava no restaurante, batia a mão na mesa e afirmava, mesmo sem um tostão no bolso, que um dia aquele espaço Toda a decoração do restaurante é assinada seria seu. Dito e feito. pelo arquiteto Helio G. Pellegrino
Fotos: Divulgação
A confiança é o segredo de Valmir Pereira que largou um jegue e conquistou uma clientela exigente na zona sul carioca
Grigliata mista con Gamberi, Calamari e Aragoste, Risotto di Arucula Ingredientes: 50 g de lulas; 50 g de camarões; 50 g cherne; 50 g de cavaquinhas; (todos grelhados no azeite extravirgem italiano); 100 g arroz arbóreo; 1 maço de rúcula; 40 g de Grana Padano; 1 xícara de caldo de legumes; 15 ml de azeite; sal a gosto; 1 taça de vinho branco leve. Modo de preparo: Grelhar os frutos do mar no azeite até dourar. Em uma frigideira separada adicione 100 gramas de arroz arbóreo. Adicione o caldo de legumes para cozinhar, vinho branco para dar o aroma e sabor, azeite, sal, a rúcula na quantidade desejada. Deixar reduzir o caldo aos poucos até o arroz estar al dente. Finalizar com queijo grana padano e servir. Decorar conforme preferir. — Quando o D’Amici foi inaugurado, sugeri esse ponto aqui, mas na época os outros sócios não quiseram. Mas nunca tirei os olhos deste lugar — revela. Acostumado a receber grandes personalidades desde o início da carreira — ele já serviu Albert Sabin, Michael Caine, Claudia Raia, Tony Ramos, Roberto Carlos, Ibrahim Sued e Ulysses Guimarães — Valmir Pereira tem a confiança (traduzida no nome do restaurante) de seus clientes que o “seguem” na nova casa. — Na semana passada recebi o Jô Soares e o Pelé. Recebo pessoas que me prestigiavam no antigo restaurante e isso é muito bom — conta. Mas para quem pensa que sonho realizado é sinal de estagnação, Valmir mostra que com ele funciona exatamente o contrário. Assim, ele já está de olho no mercado internacional. — O restaurante é do jeito que sempre sonhei. Meu plano agora é abrir um La Fiducia em cada estado e no exterior também. Quem sabe até na Itália? — idealiza. No menu, opções como palheta de cordeiro com risoto de açafrão, cavaquinha grelhada com mini batatas e alecrim e espaguete com camarões. Para esta edição, a receita é de grelhado de frutos do mar com risoto de rúcula. Para acompanhar, Pereira sugere um Chablis, se for do Velho Mundo ou o chileno Laura Hartwig, da reserva do Valle de Colchagua, do Novo Mundo. Serviço: Rua Duvivier, 21 - Copacabana – Rio de Janeiro Tel: 21 2295-7474
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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro
Os sorvetinhos de Lancusi
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uitas cidades italianas carregam uma delícia no nome. É assim para a cidade de Parma, que faz o presunto e o parmesão, para a cidade de Modena que faz o aceto balsamico, para Montalcino que faz o Brunello e tantos lugares mais. Mais um para a coleção dos gulosos é a cidade de Lancusi, na região da Campânia. Foi lá que foi inventado por Matteo Napoli os sorvetinhos de Lancusi, que se encontram em vários restaurantes espalhados por toda a Itália. Os sorvetes são feitos com a própria fruta recheada com sorvete de seu sabor. Assim um verdadeiro morango acolhe sorvete de morango, um figo da Índia é recheado com sorvete deste sabor, uma tangerina também. Não só satisfeitos com as frutinhas, também inventaram outras versões: a noz que vem recheada com sorvete de nozes e o mesmo para a castanha. Lancusi, viale del Centenario, 110 Tel. 089.957396 Site: www.gelateriamatteo.it
Fatti i fatti tuoi
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a Itália ninguém é transparente. Me explico. Em Londres, você pode passear na rua com dez piercings na cara, cinquenta tatuagens, plumas e paetês ou uma melancia na cabeça e ninguém vai nem ligar. Cada um é preocupado com a própria vida. No belpaese é exatamente o contrário. Não dá para passar despercebido. Mesmo os mais discretos não conseguem. Tem sempre alguém reparando, comentando, perguntando, e pior ainda, se metendo na tua vida. Se você não tolera isso, com certeza a Itália não é o país para você. Mas é claro que tem o lado bom. Você sente que as pessoas não são indiferentes, que existe um calor humano, uma espécie de comunidade. Enfim, como tudo na vida, tem o outro lado da moeda. Mas às vezes haja paciência. Em uma crônica, já havia contado sobre os altos papos que a pessoas travam no ônibus, no metrô, no parque. Basta perguntar a alguém que está lendo num ônibus: “E aí, é bom este livro?” E já nasce uma grande discussão. Ou se duas pessoas estão brigando no ônibus, outras entram no meio, alguns defendendo um, outros defendendo o outro. Já que ser importunado é regra na Itália, existe uma frase famosa para se defender dos enxeridos: basta dizer “fatti i fatti tuoi”, ou seja “vê se cuida da própria vida”, para não dizer outra frase mais usada, mas menos “de salão”. Quando eu morava sozinha sentia bem esse clima de intromissão na vida alheia. Mas agora, com a vida de casal, o problema aumentou. Por exemplo, certa vez, fui comprar papel higienico no mercado da esquina de casa e o dono da loja falou: “Não precisa comprar, poucas horas atrás teu namorado passou aqui e comprou...” Vê se pode!!!! Sei que ele quis ajudar, mas mesmo assim, privacidade zero!!! Até o papel higiênico...O porteiro, então, sabe de tudo de todos, é a maior fonte de informação do prédio... Mais recentemente, com o nascimento de meus dois filhos em julho e o carrinho duplo com o qual eu ando na rua, passar despercebido, ficou praticamente impossível. 58
janeiro 2011 | comunitàitaliana
Uma situação típica de cada dia: Meu namorado compra dois sorvetes num bar enquanto eu espero do outro lado da rua, perto do parque da Villa Borghese. O atendente pergunta: “O outro sorvete é para tua esposa?” Meu namorado, surpreso, pergunta: “Como você sabe?” “Ah, eu vi vocês passarem do outro lado com o carrinho duplo.” Existem as pessoas do bairro, que sabem tudo sobre você, gentis, que acompanham a tua vida: a moça que serve café no bar da esquina, o rapaz da farmácia. Eles se intrometem, mas tudo bem. São os estranhos que são o pior. Cada vez que passo com o carrinho perguntam sobre os bebês: “dois meninos, duas meninas ou um menino e uma menina?” E algumas pessoas perguntam “Mas os filhos são teus?” Até agora não consegui entender o porquê. Minha relativa paciência, virtude adquirida com a sabedoria dos anos que passam, permite que eu leve tudo na esportiva. Mas nunca se sabe. Um desses dias, quando alguém me fizer uma pergunta impertinente, eu vou ainda mandar um belo e sonoro “Ma fatti i fatti tuoi!!!!!” Para não dizer outra coisa...