Roma antiga Afrescos de cidade soterrada em exposição no Rio
Recém-chegados Consultores dão aula de cultura brasileira aos novos imigrantes
Cinema em Veneza Primeiro festival do diretor Alberto Barbera tem menos filmes e gera polêmica www.comunitaitaliana.com
ISSN 1676-3220
R 7,00 R$ 11,90
Rio de Janeiro, setembro de 2012
Ano XVIII – Nº 170
O futuro da arquitetura Bienal de Veneza reúne as melhores ideias de 50 países para a melhoria do espaço coletivo. O diferencial deste ano são os projetos mais próximos da realidade, sem instalações artísticas conceituais
Ministro italiano do Desenvolvimento Econômico vem ao Brasil
S e te mbro de 2012
A no X V III
N º170
Comportamento 19 | Férias alternativas Italianos buscam soluções para férias mais baratas sem deixar a diversão de lado, como viajar em setembro, quando os voos custam menos, ou aproveitar as sagras das cidades
Atualidade 16 | Para quem chega Empresas especializadas oferecem consultorias a estrangeiros que acabam de chegar ao Brasil. Os serviços incluem aulas de Português e de cultura brasileira
14 Mostra com mosaicos romanos de Stabiae, cidade destruída pela erupção do Vesúvio em 79 a.C., chega finalmente ao Rio de Janeiro e inclui a Camara Erotica, que sai pela primeira vez da Itália. A entrada é gratuita.
Esportes 44 | Preparação O vice-campeão mundial de natação Luca Dotto, que voltou de Londres sem medalha, conta à Comunità seus planos para os Jogos do Rio de 2016
Capa 32 | Arquitetura
Momento Itália-Brasil 22 | Encerramento
Com a curadoria do britânico David Chipperfield, a 13ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza é inspirada no espaço coletivo e apresenta 69 projetos que o público pode visitar até novembro
Jantar de gala em São Paulo fecha em grande estilo a programação que celebrou as relações culturais, econômicas e científicas entre os dois países com mais de 400 eventos entre 2011 e 2012
Mercado 20 | Aviação Empresas
Dança 48 | Terapia Radicado
57 | O siciliano de Brasília Chef
italianas como a Agusta Westland chamam atenção na Labace, feira internacional para a aviação comercial para executivos, que atraiu um ótimo público em São Paulo
em Brasília, professor italiano Pio Campo difunde o método da dançaterapia inspirado em Maria Fux
conhecido como Ninny atrai clientes com estilo fiel à tradição italiana e jeito “vulcânico” de servir
Cinema 40 | Veneza Primeiro festival do diretor Alberto Barbera gera polêmicas por ter menos celebridades e reduzir a quantidade de filmes concorrentes
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Gastronomia 54 | Excelência Escola Internacional de Gastronomia se consolida como reduto da tradição italiana em plena Serra Gaúcha
Moda 31 | Italian Style Setembro é o mês de volta às aulas no Belpaese e as grifes lançam mochilas, saias e sapatos para os estudantes não perderem o estilo
Nossos colunistas 09 | Cose Nostre O ministro italiano do Desenvolvimento Econômico Corrado Passera vem ao Brasil
12 | Fabio Porta Quando la questione è morale: in Italia, come in Brasile, la lotta alla corruzione è la strada maestra per ridare dignità alla politica
13 | Ezio Maranesi Ci sentiamo nudi e inermi quando leggiamo le cronache politiche
30 | Guilherme Aquino Com o Brasil na moda, o casamento por interesse para conseguir um visto de residência para um estrangeiro pode custar € 1.200
43 | Giordano Iapalucci Fino a novembre il Centro Flog presenta la XXXVII edizione del Festival Musica dei Popoli, la prima rassegna internazionale di musica etnica e folklorica in Italia
58 | Claudia Monteiro De Castro As ruínas das Termas di Caracalla, outrora uma das sete maravilhas de Roma, foram palco de um show de Riccardo Cocciante durante o verão
Editorial
Expediente
Ricos sim O
utro dia, num almoço com o amigo Antenor Barros Leal, grande empresário e presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, ouvi dele uma frase emblemática, daquelas que de tão reais e óbvias nos tocam rapidamente: “O Brasil ficou rico antes de se desenvolver”. Pois é uma verdade absoluta a qual somos, e seremos ainda por algum tempo, obrigados a conviver. Os preços nas alturas dos imóveis nos principais centros desenvolvidos do país ou nos restaurantes bem frequentados não levam isso em consideração. Não adianta a riqueza se não temos infraestrutura para que o cidadão não perca tanto tempo no trânsito ou, em muitos casos, que sofra com a falta do básico, água e esgoto tratados, iluminação pública adequada, hospitais públicos desequipados e outros quesitos que todos sabemos. A população brasileira ainda é carente e, principalmente, em Educação. E ai é ponto de partida pra tudo funcionar. Os anúncios recentes de investimentos neste setor são animadores e darão resultados. Por outro lado, bilhões estão sendo empregados na construção de ginásios e arenas, mas isso não representa 20% do que o País deve investir nos próximos anos, em portos, estradas, aeroportos, ferrovias, transporte urbano, saneamento e habitação. A tecnologia italiana, reconhecida e empregada em diversos setores, seguramente é muito bem vinda para se associar a estas grandes obras. Por isso, teremos aqui entre os próximos dias 18 e 20 de setembro, o ministro do Desenvolvimento Econômico, da Infraestrutura e dos Transportes da Itália, Corrado Passera, que vem pela primeira vez ao Brasil, para encontros com empresários e lideranças políticas. No dia 19 profere palestra para empresários e autoridades governamentais sobre o tema “Brasil e Itália, desafios e oportunidades na atual conjuntura econômica mundial”, na FGV, em São Paulo. Para a Itália, o Brasil representa um mercado prioritário. É o segundo maior parceiro comercial do Brasil na Europa e o oitavo no mundo. Cerca de 500 empresas italianas, num total de 700 estabelecimentos comerciais e industriais, têm presença direta no Brasil, número aumenta a cada ano. Como terceira maior economia da zona do euro e segunda potência manufatureira, a Itália colocou em prática uma estratégia para a retomada do crescimento econômico, que cria condições mais favoráveis para a internacionalização, Pietro Petraglia o estabelecimento e a criação de novas empresas e a atração Editor de investimentos estrangeiros. No último dia 11 de setembro, o vice-presidente da República Michel Temer foi recebido em Roma pelo presidente italiano Giorgio Napolitano justamente pelas oportunidades existentes entre os dois países. Na ocasião, Temer e Napolitano acertaram a ida, em 2013, de uma comitiva de empresários brasileiros interessados em investir na bota. Por aqui a autoridade econômica procura estimular os empresários a aumentar os seus investimentos, não se deixando levar pela onda de negativismo. Enquanto emplacamos o quarto ano de uma crise financeira mundial, o incentivo é importante, mas alguns fatores ainda emperram o empresário nacional. Nossa carga tributária é exagerada, mesmo com as medidas de desoneração que o governo adota; porque temos taxas de juros obcenas (apesar do esforço do governo Federal em baixar a Selic) e devido à taxa de câmbio estar sobrevalorizada. É acertada a decisão do governo em reduzir a taxa de juros, tomar iniciativas de desoneração tributária e agir para dar mais equilíbrio ao câmbio, porque cria perspectivas de melhorar a demanda e estimula o investimento na produção. Agora tem que ser capaz também de ampliar, com a cooperação dos estados, os prazos de pagamento dos impostos que são recolhidos, em média, sete semanas antes de o produtor receber a fatura. Quando as pequenas e médias empresas se consolidarem com estabilidade e aumento líquido de caixa, teremos o sinal de que o País caminha para um desenvolvimento sustentável. Educação e infraestrutura são fundamentais para estufarmos o peito e dizermos: somos ricos e desenvolvidos! Boa leitura!
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Fundada
em
março
de
1994
Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 14/09/2012 às 18h00 Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Gina Marques; Cintia Salomão Castro; Maurício Tambasco; Nathielle Hó; Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi Subedição: Cintia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Divulgação Colaboradores: Pietro Polizzo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Venceslao Soligo; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola; Lisomar Silva CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Gina Marques (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Quintino Di Vona (Salerno); Gianfranco Coppola (Nápoles); Stefania Pelusi (Brasília); Janaína Pereira (São Paulo); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Publicidade: Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 comercial@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 didimo.effgen@uol.com.br Brasília - ZMC Representações Zélia Corrêa Tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061 zeliacorrea@gmail.com Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.
La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220
cosenostre JulioVanni
Passera no Brasil ministro italiano do Desenvolvimento Econômico, da Infra-
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estrutura e dos Transportes, Corrado Passera estará no Brasil entre os dias 18 e 20 de setembro. Acompanhado do presidente do ICE, Riccardo Maria Monti, participa de encontros em Brasília e São Paulo. Na capital paulista, no dia 19, fala na palestra Brasil e Itália, desafios e oportunidades na atual conjuntura econômica mundial, na Fundação Getúlio Vargas. O ministro deve abordar, a política econômica do governo Monti, a atração de investimentos estrangeiros, as estratégias para a retomada do crescimento italiano, e as oportunidades de negócios entre os dois países.
Comites
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eunidos no Rio de Janeiro na assembleia do Intercomites realizada em 10 de setembro, os representantes dos Comitês dos Italianos no Exterior de cinco estados brasileiros — os Comites — manifestaram preocupação com o constante corte de gastos devido à Itália em recessão. O responsável pela coordenação consular, o adido Gabriele Annis, informou à Comunità que o próximo passo para driblar o problema será a adoção de soluções criativas que viabilizem as atividades dos Comites, como a realização de teleconferências e encontros virtuais que dispensem o pagamento de aluguel de salas, por exemplo.
Legado do cardeal Martini
Fontana direstauração Trevida Fonta-
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omovidos, os italianos se despediram do cardeal Carlo Maria Martini, falecido no último dia de agosto, em Milão, aos 85 anos. Autor de dezenas de livros sofria há 10 anos com o Mal de Parkinson. Martini esteve entre os candidatos a pontífice durante o conclave de abril de 2005 que elegeu Ratzinger. Suas posições mais abertas e o seu estado de saúde enfraqueceram-lhe as chances. Em 2008, criticou duramente a encíclica Humanae Vitae, que rejeitava a contracepção. Ele defendeu ainda uma postura mais generosa em relação aos divorciados.
A O
vice-presidente do Brasil, Michel Temer, fez uma visita oficial ao presidente italiano Giorgio Napolitano no dia 11 de setembro, no Palácio Quirinale, em Roma. O encontro contou com a participação da vice-ministra italiana para os Negócios Exteriores, Marta Dassù. O objetivo foi discutir as relações entre os dois países, com destaque para a ampliação do comércio bilateral. Temer aproveitou a ocasião para se encontrar com os ministros Corrado Passera, a poucos dias de sua vinda ao Brasil, e Corrado Clini, do Meio Ambiente, que já esteve diversas vezes no país.
Oss Melis, sardos da Sardenha, acabam de ser reconhecidos pelo Guin-
na di Trevi, no coração de Roma, custará 2,5 milhões de euros, segundo o prefeito da cidade, Gianni Alemanno. A fonte mais famosa da Itália já foi esvaziada para que os trabalhos de restauração comecem. “Esse é um trabalho que fazemos há anos e são coisas sobre as quais temos total controle, mas não podemos prever um acidente”, explicou o superintendente dos Bens Culturais de Roma, Umberto Broccoli. O nome da fonte barroca Trevi vem de tre vie (três vias), pois está localizada entre três ruas que dão acesso à praça.
Montessori Odo,ness como a família que tem os irmãos mais velhos do munoriginários de Perdasdefogu, em Ogliastra. A mais velha, nomotorGoogle Consolata, que acaba de celebrar 105 anos, tem nove filhos, 24 Alcoa fecha de buscas Google netos, 25 bisnetos e três tataranetos. Claudia é a segunda mais produtora de alumínio Alcoa
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costuma homenagear personalidades com um doodle na página inicial. Em 31 de agosto, a homenageada foi Maria Montessori, uma educadora, médica e feminista italiana nascida em Chiaravalle, em Marche, em 1870. Primeira mulher a formar-se em medicina na Itália, em 1896, criou a Casa dei Bambini e estipulou um método educacional, hoje usado em escolas de diversos países. O método montessori de aprendizagem é composto por um material de apoio em que a própria criança (ou utilizador) observa e faz as conexões corretas.
velha, com 99 anos, seguida por Maria, de 97 anos. Depois vem Antonio, de 93 anos; Concetta, de 91; Adolfo, de 89; Vitalio, de 86; e Vitalia, de 81. A Sardenha e em particular a zona de Ogliastra ostenta um dos recordes mundiais de longevidade, com 22 pessoas centenárias para cada 100 mil habitantes.
Ficção real italiano Roberto Matalone, um dos principais nomes da máfia
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calabresa Ndrangheta, foi detido em Ioppolo, uma praia da Calábria, quando, deitado em uma rede, lia o livro Caçadores de Mafiosos, de Andrea Galli. Matalone era procurado pela polícia desde 2010. A investigação All Inside visava a captura do clã, liderado pelo cunhado Francesco Pesce, preso em 2011. Pesce, conhecido como “Ciccio”, estava escondido em um bunker. O episódio, é narrado no livro que Matalone lia no momento da prisão. O livro detalha as técnicas que um bom caçador de mafiosos deve levar em conta, como raciocinar com rapidez e ter sangue frio para conseguir capturar os membros do crime organizado.
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começou a desativar sua fábrica na Sardenha, uma medida que causou a demissão de centenas de pessoas. A companhia culpou a situação econômica e os altos impostos pelo encerramento das operações. A multinacional suíça Glencore estuda a possibilidade de comprar a instalação. Outros casos semelhantes acontecem numa Itália em recessão, especialmente no sul do país. A reabertura da fábrica metalúrgica Eurallumina, também na Sardenha, é uma dúvida e a atenção da mídia volta-se para os protestos em uma mina de carvão na ilha, onde os trabalhadores se isolaram no subsolo.
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Opinião enquetes
frases
O ministro Giulio Terzi usa redes sociais. Você é a favor do uso delas por personalidades?
“Marilyn Monroe era uma pessoa negativa, perturbada e bipolar. Não quero atrair essa energia para a minha vida”,
Sim - 50% Não - 50% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/08/12 e 09/08/12.
Premier italiano Mario Monti diz: “fim da crise econômica se aproxima”. Você concorda?
Sim - 40%
Megan Fox, atriz, ao contar à revista italiana Amica que está apagando tatuagem de Marilyn Monroe do braço
“A nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e vazias e a burocracia eclesiástica está crescendo, os nossos ritos religiosos e vestimentas são pomposos, a Igreja Católica parou há 200 anos”,
“Luchino Visconti e Federico Fellini foram dois mestres que se odiavam. Eram totalmente diferentes. Luchino era perfeccionista, ensaiava cada gesto. Já Federico trabalhava em meio à confusão, improvisava”,
Carlo Maria Martini, cardeal italiano falecido em 31 de agosto, em sua última entrevista ao jornal Corriere della Sera
Não - 60% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/08/12 e 15/08/12.
Saudoso cardeal Martini pediu que a Igreja Católica seja mais generosa com divorciados. Você apoia?
Sim - 90%
“A Itália é um dos países mais virtuosos do mundo e da Europa, por isso não precisa de nenhum fundo de resgate para nivelar o déficit”,
Claudia Cardinale, atriz, ao revelar, no festival de cinema de Locarno, na Suíça, que os dois mestres do cinema se odiavam
Vittorio Grilli, ministro da Economia italiano em entrevista ao jornal La Repubblica
“A imprensa precisa saber filtrar o que é importante a ponto de virar notícia, senão vira um delírio sem fim”,
Não - 10% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/08/12 e 22/08/12.
no celular
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“Temos um contato muito próximo entre Itália e Alemanha. Bilateralmente, temos um relacionamento excelente”,
Xavier Giannoli, diretor, sobre o filme Superstar e os mecanismos da fama no Festival de Veneza
Angela Merkel, chanceler alemã, em entrevista à ANSA, ao elogiar as medidas de austeridade adotadas por Monti, ressaltando que a relação bilateral com a Itália pode ajudar a zona do euro
“A Itália está em ‘estado de guerra’ por causa da evasão fiscal”, Mario Monti, primeiro-ministro italiano em entrevista à revista Tempi
cartas
“Q
uero parabenizar a revista pela matéria sobre os intercâmbios após os 50 anos. Vocês prestaram um serviço público e motivacional para quem tinha vontade e não teve coragem até hoje de fazer uma viagem para aprender uma nova língua e conhecer lugares diferentes.” Ana Lúcia dos Santos, Rio de Janeiro – RJ – por e-mail
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ostei muito da matéria sobre o sociólogo Domenico De Masi, criador do conceito de ócio criativo. Fico feliz em saber que o Brasil serve de referência para que seja criado um novo modelo de vida, como resposta à crise de valores e econômica que existe hoje.” Rodrigo Pereira, São Paulo – SP – por e-mail
Serviço agenda Inovações que mudaram o mundo O Museu Histórico Nacional no Rio de Janeiro abriga até 14 de outubro a exposição 150 anos de Gênio Italiano. O percurso se articula em cinco ambientes que contam o impacto das invenções e inovações realizadas no Belpaese na vida das pessoas na forma de se locomover, no ambiente de trabalho, em relação à medicina e à saúde, e na
infinita relação do homem com o sutil limite entre o conhecido e o desconhecido. A mostra reúne objetos do cotidiano que mostram o potencial criativo dos italianos e a capacidade científica e tecnológica do país. www.museuhistoriconacional. com.br ABAV A Feira das Américas, o maior evento de turismo da América
Latina, promovida pela ABAV, acontece de 24 a 26 de outubro no Riocentro, na capital fluminense. Reúne operadoras, agências e companhias de viagens de todo o mundo que
apresentam as suas melhores atrações turísticas. Produtos e serviços de países como a Itália terão seu espaço reservado no evento, que também promove rodadas de negócios nos setores aéreo e de hotelaria. www.abav.com.br Caravaggio e os caravaggistas O Museu de Arte de São Paulo (Masp) sedia até 30 de setembro a mostra do mestre do barroco Caravaggio e dos pintores que nele se inspiraram, os caravaggistas. A exposição apresenta sete obras originais do pintor italiano. O público poderá apreciar a tríade “tenebrismo, misticismo
e sensualidade” em várias obras, como na pintura Medusa (1596). www.masp.art.br Ciência, Tecnologia e Inovação O anfiteatro Sergio Mascarenhas, no Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), vai sediar
nos dias 21 e 22 de novembro o Seminário Ítalo-Brasileiro de Ciência, Tecnologia e Inovação. O evento reunirá palestrantes de renome para falar sobre as contribuições italianas no desenvolvimento tecnológico mundial, nas estações de tratamento de esgoto e no avanço de centros de pesquisa, além de abordar as inovações italianas no agronegócio. www.cepof.ifsc.usp.br
naestante
Festa da Polenta Mais uma vez a cidade de Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo, é o cenário da Festa da Polenta, que acontece de 11 a 14 de outubro. Entre as atrações, haverá desfile com trajes típicos que resgatam a cultura dos antepassados, o
queijo gigante, o Tombo da Polenta, apresentações de dança e a Casa da Nonna, onde senhoras da Associação das Voluntárias Pró-Hospital Padre Máximo costuram e bordam diante do público. www.festadapolenta.com.br
clickdoleitor
A linha de pó: a cultura Bororo O professor de Antropologia Cultural da Universidade La Sapienza, de Roma, Massino Canevacci, procura desenvolver no livro a tensão que existe entre tradição, mutação e auto-representação em grande parte da cultura indígena. Ele faz a releitura de uma aldeia com poucos habitantes perdida no Mato Grosso e também levanta questões de vital importância sobre a globalização. Este livro afirma a urgência de incluir muitos povos indígenas como parte constitutiva de um processo “pós-colonial”, ainda em curso, que demonstre a autonomia na política, na cultura e na comunicação dessas populações. Annablume Editora, 234 páginas, R$33,75
Arquivo pessoal
Viajantes Inesperados Na obra, o psicólogo italiano Carlo Lepri trata de maneira concreta a inclusão social das pessoas com deficiência, seja ela mental ou física. O autor aborda e analisa os diferentes modos da sociedade representar a deficiência: o erro da natureza, o filho do pecado, o selvagem, o doente, a eterna criança e a pessoa. E também aborda as consequências destas representações na vida cotidiana e no destino destes “viajantes”, com a superproteção, ou ainda, com a proibição social. As reflexões contidas na obra se relacionam, portanto, com a forma como o deficiente lida com a sociedade: a surpresa, a desordem ou o mal-estar causados junto aos interlocutores. Saberes Editora, 248 páginas, R$ 29,90
“E
stive em Nápoles durante viagem de férias pela Itália, quando visitei minha namorada que estava no país para estudar. É uma cidade que mostra a alma, foge dos padrões de formalidades e nos faz sentir a vivacidade de um povo alegre, aberto e espontâneo.” Thiago Meirelles Rio de Janeiro, RJ — por e-mail
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opinione FabioPor ta
Quando la questione e’ “morale”
In Italia, come in Brasile, la lotta alla corruzione è la strada maestra per ridare dignità alla politica
Purtroppo anche la partecipazione politica degli italiani all’estero è stata turbata da episodi di corruzione; nel corso delle ultime consultazioni elettorali alcuni gruppi e singoli candidati legati ad organizzazioni malavitose hanno cercato di inquinare il voto, in alcuni casi con la complicità di funzionari dello Stato italiano. Da alcuni anni è in corso un’inchiesta su quanto successo; in America Meridionale i brogli sarebbero accaduti in Argentina e Venezuela; le indagini sono prossime alla conclusione e nelle scorse settimane l’arresto di due importanti figure legate alla collettività italiana di quei due Paesi potrebbero dare una svolta e insieme un’accellerazione alle indagini.
a campagna elettorale per le ormai imminenti elezioni municipali brasiliane è stata segnata dal tema della lotta alla corruzione: ciò a causa della “concomitanza” con il grande processo sul cosiddetto “mensalão” e a causa dell’applicazione, per la prima volta nel corso di una elezione, della legge sulla “ficha limpa” che impedisce la candidatura di persone condannate. Non è mia intenzione entrare nel merito di queste due vicende, tantomeno partecipare dalle colonne di questa rivista ad una discussione politico-elettorale interna alla situazione brasiliana. Ciò che mi preme sottolineare e porre in evidenza è la tendenza, sempre più forte e universale, ad introdurre nel dibattito e nella successiva scelta politica da parte degli elettori la “questione morale” come elemento determinante e dirimente. A porre la “questione morale” al centro della politica italiana fu, per la prima volta, l’allora Segretario Generale del Partito Comunista Italiano, Enrico Berlinguer. Eravamo negli ormai lontani anni ‘80, e già allora il connubio politicamalaffare sembrava fosse diventato un cancro difficile da estirpare. La soluzione, attuale oggi come trent’anni fa, non sarebbe legata semplicemente all’introduzione di leggi più severe o ai conseguenti e necessari controlli da parte delle autorità preposte; il migliore antidoto risiede in una sempre più forte coscienza pubblica da parte dei cittadini-elettori. La loro partecipazione attiva alla “res-publica”, a partire da una costante e obiettiva informazione e da una generale consapevolezza da parte dell’opinione pubblica dei diritti e doveri della cittadinanza, farebbero il resto. E’ chiaro che una legislazione severa e specifica, insieme ad una magistratura indipendente ed efficiente,
A suo tempo proposi in Parlamento, insieme ad altri miei colleghi, una speciale commissione parlamentare di inchiesta su questi fatti, a tutela dell’importantissimo diritto degli italiani all’estero di votare in maniera libera e trasparente e per fare immediata e completa luce su quei gravi fatti. Contemporaneamente abbiamo presentato una legge che modifica e rende più sicuro il voto per corrispondenza, al fine di rendere sempre più difficile il ripetersi di tali fenomeni. Leggi e commissioni di inchiesta aiuterebbero sicuramente a fare luce su quegli episodi, evitando il loro perpetuarsi nel tempo. Tuttavia nessuna legge e nessuna “CPI” avranno mai la forza e la contundenza della pressione costante e consapevole di centinaia di migliaia di cittadini e di un’opinione pubblica sensibile e attiva. Anche per questi motivi continuo a scrivere volentieri sulle pagine di questa rivista, convinto che la maggiore informazione sia il primo passo per una piena partecipazione degli italiani nel mondo alla vita politica del nostro Paese. L’unica vera arma contro i mali della politica.
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costituiscono i due corollari indispensabili affinchè la “questione morale” non rimanga soltanto una mera dichiarazione di intenti, una meta alla quale tendere, diventando invece la prassi quotidiana dell’esercizio della cosa pubblica. In Italia come in Brasile c’è sempre più bisogno di pulizia ed onestà nell’amministrazione degli incarichi pubblici, a tutti i livelli. La politica può tornare ad essere l’arte di governare, così come l’avevano battezzata con la loro saggezza gli antichi greci. Un’arte nobile, forse la più elevata forma di servizio al prossimo; un’arte troppo spesso confusa e deviata, collocata in forma innaturale al servizio di interessi privati e non del bene comune.
La politica può tornare ad essere l’arte di governare, la più alta forma di servizio al prossimo
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opinione
EzioMaranesi
Cosa fa la politica? C Ci sentiamo nudi e inermi quando leggiamo le cronache politiche
he cosa faccia la politica lo disse qualche settimana fa, in termini anche troppo crudi, il ministro Riccardi: “ . . . strumentalizzare. È la cosa che più mi fa schifo della politica”. La reazione dei nostri più o meno onorevoli fu immediata e veemente: 42 senatori del PDL firmarono una mozione di sfiducia contro il ministro, reo di aver offeso la classe dei politici. Ancora una volta essi dimostrarono quanto sia distante il loro comportamento dai sentimenti della gente, la quale ritiene unanime che il ministro abbia detto esattamente ciò che il popolo pensa. La mozione si insabbiò, anche perchè i giornali ricordarono che il leader PDL, quando era presidente del Consiglio, disse off the records di quale vile materia fosse fatta l´Italia, e che il leader della Lega, suo alleato, aveva ripetutamente mostrato il dito medio ai simboli della Patria. Riccardi, al loro confronto, fu delicatissimo. E come dargli torto? I politici decisero di affidare il governo a un gruppo di tecnici perchè non avevano il coraggio di votare le riforme impopolari di cui l´Italia ha bisogno. Avrebbero perso consensi e voti. Poi fanno capire al governo fino a che punto sono disposti ad accettare le riforme, fingono di modificare qualche articolo delle leggi proposte per dimostrare agli elettori che non le vorrebbero ma le accettano per il bene della patria, a denti stretti le votano e subito dopo affermano che, quando andranno al potere, le “miglioreranno”, cioè le cambieranno. Questa è mancanza di coraggio e caccia al voto. Ancor più tristemente astuti, Di Pietro e Lega, per guadagnarsi simpatie, votano comunque contro, qualunque cosa Monti proponga. Questa è la brutta farsa che il nostro Parlamento ci offre in questi ultimi tempi, quando noi ci aspetteremmo
che i partiti: a) assistessero il governo, che hanno voluto, in modo chiaro e leale, b) partorissero alcune riforme urgentissime, come una nuova legge elettorale e alcune modifiche costituzionali che l´Italia vuole da anni. Impossibile: destra e sinistra non si vogliono mettere d´accordo. Matura cosí in noi l’idea che in realtà nessuno voglia modificare nulla. D’altra parte, come un parlamentare potrebbe voler ridurre il numero degli sgabelli disponibili? Potrebbe perdere il suo. È ormai evidente che la classe politica, ormai definita “ la casta”, è interessata alla difesa dei suoi privilegi piuttosto che al bene della nazione. Riccardi non è stato certamente elegante, cosí come non sarebbe raffinato dire che i vari Veltroni, D’Alema, Fini, Casini, Gasparri, Matteoli e gli altri fossili, varie decine, che fanno parte della nostra archeologia politica fanno ribrezzo, danno nausea, sono repellenti ecc. Possiamo però dire, con semplicità, naturalezza e
In realtà nessuno voglia modificare nulla. D’altra parte, come un parlamentare potrebbe voler ridurre il numero degli sgabelli disponibili? Potrebbe perdere il suo
senza cadere nella volgarità, che questi signori, che hanno accompagnato per decenni, al governo o alla opposizione, il declino dell’Italia, ne sono i responsabili. Se oggi l’Italia ha 2.000 miliardi di debiti lo dobbiamo a loro, che hanno accettato per anni compromessi fatali pur di guadagnare o non perdere consensi, cioè voti, sedie, poltrone e sgabelli. È chiaro che i molti politici influenti che sono in vetrina da 20, 30, 40 anni, gli onorevoli per sempre e per mestiere, rassegnati a non usare l’intelligenza perché tanto non farebbe differenza, hanno fallito la loro missione e dovrebbero avere la decenza di andarsene. Non lo faranno, perché devono innanzitutto difendere il loro status e il loro stipendio e continueranno a non dire o fare nulla che possa metterli fuori dal gioco. Come immaginare uno qualsiasi di loro che ci rappresenti in Europa? Aveva ragione Mussolini, quando disse che governare l’Italia non era difficile, era inutile. La casta non governa e non permette di governare. Saremo chiamati fra qualche mese alle urne per eleggere un nuovo governo e un nuovo Parlamento. Dovremo trovare la fede di credere in qualcuno, dovremo evitare di farci attrarre dalle velleitarie sirene qualunquiste di Grillo e dovremo, come disse Indro Montanelli, turarci il naso e votare, destra, sinistra, centro, estreme, qualcosa insomma che non ci appaia troppo dannoso per il futuro della nostra terra. Missione impossibile.
com unit àit aliana | s etem br o 2012
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Exposição
A antiga Roma chega ao Rio A exposição com 28 peças encontradas em uma das mais ricas vilas romanas, acompanhada de uma programação com palestras e atividades de gastronomia e música antiga, é inédita no Brasil Cintia Salomão Castro
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mostra Além de Pompeya - Redescobrindo o encanto de Stabiae finalmente chega ao Brasil. As 28 peças originais da Villa de Stabiae, entre afrescos e objetos, poderão ser vistas pelo público do dia 13 de setembro a 18 de novembro no anfiteatro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A exposição estava prevista para acontecer em maio, conforme publicado por Comunità. Trâmites burocráticos, no entanto, adiaram a vinda dos tesouros descobertos em 1749 — um ano após a descoberta de Pompeia e 11 anos após a de Herculano. Uma programação paralela vai permitir uma verdadeira viagem à Roma antiga, com atividades de arqueogastronomia, quando serão preparados pratos da época, e de arqueomúsica, incluindo concertos com músicos italianos que vão tocar bandolim, tamborins e outros instrumentos usados pelos antigos. Palestras com arqueólogos italianos como Ugo Di Capua, especializado em arqueologia subaquática, também estão previstas. — A montagem reproduz os ambientes da época para que o visitante saiba como era a vida naquela região — explica a sub-reitora de Extensão e Cultura da UERJ Regina Lucia Monteiro Henriques. O cenário incluirá a reprodução dos quartos de dormir da cidade que, junto com Pompeia, Herculano
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e Oplontis, sucumbiu à gigantesca erupção do Vesúvio que estremeceu o golfo de Nápoles em 79 d.C. O acervo inclui o conjunto de afrescos do quarto conhecido como Camara Erotica. Os monitores da mostra são alunos da Universidade Aberta da Terceira Idade que concluíram um curso de formação diretamente no sítio arqueológico de Castellammare di Stabia. — A mostra é uma oportunidade de aproximação da cultura entre os dois países e de aprofundar o conhecimento sobre a história de uma região que é patrimônio da humanidade. Além disso, estamos desenvolvendo cursos de turismo e língua italiana que estão diretamente envolvidos com a produção da exposição e do festival — afirma a sub-reitora. A exposição será realizada em parceria com a Fundação The Restoring Ancient Stabiae (RAS) e conta com o apoio da Faperj e com o patrocínio do Bradesco. A entrada é gratuita.
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Os ricos mosaicos pintados nas paredes das casas de Stabiae revelam um ambiente aristocrático desfrutado pelas elites romanas da época
Stabiae como Capri e Pompeia como Nápoles
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s vilas luxuosas mostram que Stabiae era mais aristocrática que Pompeia, conta a professora Luciana Jacopelli, uma das maiores especialistas no assunto, autora de vários livros sobre a Antiguidade, como Nascere, vivere e morire a Pompei e Gladiatori a Pompei. Curadora do catálogo da exposição, ela estará no Rio de Janeiro em setembro especialmente para proferir conferências sobre os aspectos da vida cotidiana nas cidades romanas na época da erupção do Vesúvio. Se fizéssemos uma comparação com a atual realidade, “Pompeia estava para a Nápoles, assim como Stabia estava para Capri”, explica. ComunitàItaliana: Em que ponto estão as atuais escavações? Luciana Jacopelli: Atualmente a fundação Restoring Ancient Stabiae está levando adiante uma série de escavações para colocar a luz o resto das vilas. De fato, após a descoberta dos Bourbon as vilas foram novamente sepultadas e inclusive parte da cidade que se pressupõe que ainda exista. Algumas vilas de Stabiae, como a Villa San Marco, a Villa del Pastore e a Villa Arianna têm dimensões verdadeiramente inacreditáveis, com 11 mil, 18 mil metros quadrados... Além das dimensões, apresentam uma grande riqueza em matéria de pinturas, pavimentos a mosaicos. Infelizmente, muitos objetos foram levados durante as escavações dos Bourbon e talvez até antes, mas a grandiosidade dos ambientes, de frente para o mar, com estradas privativas que levavam a pequenos portos privados, fazem pensar que tais vilas pertenciam à aristocracia mais rica de Roma que vinha para villeggiare em Stabiae. Infelizmente, não conhecemos os nomes de seus ricos proprietários, mas estamos falando das maiores vilas romanas de toda a Antiguidade.
ou então uma xícara (taça) de leite. Era uma refeição muito leve. Ao meio-dia, comiam um almoço frio e rápido à base de legumes, verduras, peixes e ovos. A refeição principal se fazia à noite. Nas casas dos ricos, se estava em companhia de hóspedes em um ambiente particular e deitados em triclínios, à moda grega. O jantar de um rico era composto por uma entrada com ovos, verduras e ostras, seguida de um prato de peixe, carne e verdura assados, e carne de caça. Por último, comiam doce, frutas frescas e secas. Tudo servido com vinho abundante, geralmente diluído com água ou com mel, ou ainda aromatizado com especiarias. CI: O que se sabe sobre a posição da população feminina da época? LJ: Entre os séculos I a.C. e I d.C., o papel das romanas mudou muito em relação ao passado, tanto que alguns historiadores falam de uma verdadeira e própria emancipação feminina. As mulheres possuem uma instrução de base, assim como seus irmãos homens e, se pertencem às classes mais altas, continuam estudando. Sabemos ainda da existência de poetisas, como Sulpicia. Outra coisa importante é que, diferente das gregas que viviam submetidas a um tutor, as romanas podem herdar os bens paternos, como os irmãos. Podem herdar também dos maridos. Assim, às vezes, há mulheres com um patrimônio inestimável (como a esposa de Augusto). Também em Pompeia, há o testemunho de mulheres ricas como Eumachia ou Mamia, que, com o dinheiro delas, fazem construir edifícios públicos em benefício da cidade. As mulheres não podem votar, mas participam de qualquer forma das campanhas eleitorais, patrocinando este ou aquele candidato, conforme emerge de textos escritos
nos muros encontrados em Pompeia — única documentação do mundo do gênero! Aquelas que pertenciam às classes médias podiam estudar e trabalhar, ainda se, na época, o trabalho não fosse considerado uma fonte de emancipação. A pessoa verdadeiramente livre estava em “otium”, ou seja, dispunha livremente do próprio tempo para ler, estudar, se divertir. CI: Muitos corpos foram descobertos, como em Pompeia? O que as pessoas faziam no dia da erupção? LJ: Em Pompeia, foram descobertos cerca de mil corpos (sobre uma população de 10 mil habitantes). Em Herculano, onde viviam cerca de cinco mil pessoas, foram descobertos aproximadamente 300. Em Stabiae, muito menos. A erupção durou dois dias e quem queria escapar conseguiu. As causas da morte são várias e complexas. CI: Pode falar um pouco sobre a camara erotica? LJ: A coisa mais importante a dizer é que os romanos e, portanto, os moradores da área do Vesúvio, não haviam sido, ainda, tocados pelo cristianismo. Eles não tinham a concepção do pecado, assim como o entendemos hoje. Portanto, as representações eróticas, encontradas principalmente nos quartos de dormir, não tinham nada de obsceno ou doentio. Eram figurações de um componente normal e prazeroso da vida.
Mais de mil corpos foram descobertos nas escavações em Pompeia, arrasada pela grande erupção do Vesúvio em 79 d.C
CI: O clima era parecido com o que existe hoje na região da Campanha? LJ: O clima de Stabiae era certamente menos tropical de hoje. E era tão bom que temos o testemunho de escritores antigos, como Galeno, um médico que viveu no III século d.C, o qual aconselhava como terapia aos seus pacientes de ir a Stabiae para se curarem com o clima, com o leite produzido na região e com as águas das fontes termais que jorravam em grande quantidade nas montanhas dos arredores. CI: Come era a dieta entre os habitantes do local? LJ: Os romanos comiam três vezes ao dia. De manhã, faziam um desjejum com o que sobrou da noite anterior, com unit àit aliana | s etem br o 2012
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Atualidade
Recémchegados Empresas de consultoria auxiliam o imigrante que chega com a família ao Brasil no aprendizado da língua e da cultura e nas questões tributárias Nathielle Hó
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os últimos quatro anos, a crise econômica europeia reduziu a oferta de vagas para profissionais qualificados nos países desenvolvidos, ao passo que a expansão das economias emergentes abriu espaço para a contratação desses imigrantes. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego comprovam o aumento do fluxo migratório. Somente no ano passado, foram emitidas 70 mil autorizações para estrangeiros exercerem trabalho temporário ou em caráter permanente no Brasil. Muitas empresas estão preferindo transferir seus funcionários, a ter de treinar brasileiros, o que levaria mais tempo, afirma Regina Assumpção, sócia e diretora da Shagal, empresa especializada no treinamento de expatriados. — A empresa pode formar a pessoa, o que é eficiente, mas demanda tempo. Ou pode tirá-la de um concorrente, o que significa pagar mais caro por um funcionário cujo retorno é uma incógnita. Recentemente, uma terceira via passou a ser adotada: selecionar os profissionais em países onde a mão de obra é qualificada e farta, e transferi-los. A crise na Europa significa menor custo na contratação aqui e, assim, ocorre o preenchimento das necessidades de trabalhadores — ressalta Regina. Um levantamento feito em 2011 pela empresa de consultoria de expatriados Ernst & Young Terco mostra que a crise intensificou a globalização do mercado de trabalho. A pesquisa mostra que os gregos têm buscado colocações na Austrália e na China. E o Brasil é o destino preferido de portugueses, espanhóis e italianos
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que, muitas vezes, também optam pela Argentina. Para atender esse profissional que chega ao país acompanhado de familiares é que existe o serviço de consultoria para expatriados, o qual prevê o ensino de língua portuguesa e de comportamentos adequados no mercado de trabalho brasileiro, além de indicar melhores locais de estudo para os filhos desse expatriado, bem como aconselhar as esposas onde fazer compras. A diretora da empresa de consultoria para expatriados Plan Idiomas, Angela Dias Branco, que tem entre os clientes empresas como Petrobras, Tim, Sclumberger e Chevron, enfatiza a importância do empregado e de sua família conseguirem se adaptar à nova realidade social e profissional. — Normalmente, somos contatados pelos Recursos Humanos ou pela relocation das empresas. O nosso trabalho consiste em aulas de português adaptadas às necessidades de cada perfil de aluno. Para
isso, realizamos também atividades externas para que eles possam vivenciar a cultura e o dia a dia da cidade. Para que profissionais consigam se adaptar bem às situações das empresas brasileiras, preparamos material personalizado levando em conta atividades do dia a dia, como reuniões, apresentações, situações sociais e dicas de conduta. Para a família, também fazemos o mesmo, mas procuramos nos concentrar nas situações práticas, como supermercado, médico, como abordar pessoas, que situações devem ser evitadas e o linguajar adequado. As visitas com eles sempre incluem locais turísticos e culturais, como o centro do Rio, o Saara e os museus — explica Angela. A instrutora de italiano da Plan Idiomas, Tatiana De Cicco, diz que os cursos com estrangeiros utilizam uma abordagem comunicativa, originada nos anos 1960, na Inglaterra, após o surgimento do mercado comum europeu. Este
método propõe uma abordagem do idioma através de situações cotidianas. Ou seja, o aluno pratica a língua em situações reais de comunicação através da contextualização, construindo um significado. — Nas aulas, utilizamos uma variada gama de jogos, dramatizações e exercícios baseados em situações comunicativas. Também utilizamos jogos de memória e mímica, que podem contribuir para a fixação do vocabulário, além de promover uma interação social entre professor-aluno e aluno-aluno — ressalta Tatiana. A diretora da Plan Idiomas, Angela Dias, lembra que o estrangeiro precisa de 100 horas de treinamento para ter uma comunicação básica, além de um kit de material que custa R$ 330. O economista Alessandro Bortoluzzi, proveniente do Vêneto, veio para o Brasil tranferido por sua empresa para ficar quatro anos, e trouxe a esposa Adriana, e as filhas Sofia e Letizia. Bortoluzzi frequenta o curso do Plan Idiomas e comenta que está sendo importante ter aulas de transculturalização para se adaptar à nova realidade. — As aulas de português e de conduta social e profissional ajudam os estrangeiros na interação com as pessoas locais, com os vizinhos no condomínio, com os colegas de trabalho, e auxiliam minhas filhas com os novos colegas de escola. As aulas também ajudam a descortinar a cidade, a entender a cultura brasileira. O curso também auxilia no trabalho, ainda mais a minha empresa, formada por profissionais de diversos países. De qualquer maneira, não vejo muita diferença entre a Itália e o Brasil no ambiente de trabalho, apenas achei o ambiente um pouco mais descontraído aqui no Rio de Janeiro — salienta Bortoluzzi.
Devido à ausência de mão de obra qualificada, 14% dos empregadores brasileiros têm buscado profissionais no exterior, diz a pesquisa de 2012 da ManpowerGroup
Transferência com a família Vincenzo Putignano, oriundo da província de Taranto, no sul da Itália, veio para o Brasil com a esposa Cláudia e os filhos Francisco e Stephen. Putignano veio transferido pela Tim Brasil para ocupar um cargo administrativo. A empresa ficou responsável por tratar da burocracia relacionada ao visto e à questão tributária do funcionário. Foi a empresa que o direcionou para o curso de português. Vincenzo acredita que os imigrantes não ameaçam as vagas de trabalho dos brasileiros e pensa que sua estada no país será uma experiência interessante, pois vai poder trocar conhecimento e práticas laborais de sucesso. — Vim para o Brasil para enriquecer minha experiência de trabalho e de vida. Não ameaçamos o emprego dos brasileiros, pelo contrário, estamos aqui para trocar experiências. Quanto ao mercado de trabalho, acredito que os italianos tenham uma estrutura mais sólida, e o Brasil está em busca de sustentabilidade criativa e desenvolvimento, e é por isso que as duas culturas se complementam — ressalta Putignano.
Regina Assumpção, representante da agência Shagal, ressalta que as empresas que ministram cursos de português e assessoram executivos e técnicos, devem evitar estereótipos para que seus alunos não façam julgamentos deturpados de uma outra cultura. Dessa forma, acredita Regina, as empresas devem desenvolver programas que englobem informação detalhada e atualizada sobre as culturas envolvidas, desde aspectos históricos e geográficos, até situações comuns do mundo dos negócios e do dia a dia daquele local. Devem ensinar atitudes no trabalho que facilitem a integração e adaptação como disciplina, disposição para mudança, não julgamento, curiosidade, respeito, dentre outras. Segundo
Vincenzo Putignano veio transferido pela Tim para ocupar cargo administrativo no Brasil. Ele frequenta aulas de português na Plan Idiomas
Regina, italianos e brasileiros apresentam muitas semelhanças, mas as empresas devem estar atentas para as diferenças entre as duas culturas. — Tudo é relativo. A proximidade da língua, por exemplo, ajuda porque o idioma é a primeira barreira intercultural, mas pode atrapalhar quando assumimos palavras que podem ser falsos cognatos na outra língua. A flexibilidade e a emoção tanto do italiano como do brasileiro ajudam pela sinergia, mas o desconhecimento real, o medo e a falta de informação atrapalham a adaptação. Somos muito menos assertivos que os italianos e nossa comunicação é muito mais contextual. Partimos, muitas vezes, de pressupostos e assumimos que eles são definitivos, por isso, deve-se ter cautela com todos os clientes, independente da proximidade cultural — alerta Regina. País recebe não apenas europeus, mas também asiáticos como indianos e filipinos O setor recordista em importação de conhecimento no Brasil é a cadeia de petróleo e gás. De 2008 a 2011, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, as empresas dessa área contrataram 60 mil estrangeiros. Na lista de trabalhadores estão nacionalidades com com unit àit aliana | s etem br o 2012
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Atualidade pouca representação no país, como filipinos e indianos. Esses profissionais ajudam a criar as tecnologias para a exploração do pré-sal. Outra área atrativa é a construção civil, que chama a atenção principalmente dos espanhóis. A Espanha passou por uma explosão imobiliária ao longo da década passada e a atual crise diminuiu as vagas na construção civil do país. Em contrapartida, o Brasil vive um novo ciclo de obras de infraestrutura e carece de trabalhadores especializados no setor. Existem milhares de engenheiros, arquitetos e outros profissionais ligados ao mercado de construção migrando para o Brasil. Os setores de mineração, siderurgia, telecomunicação e farmácia também estão requisitando cada vez mais pesquisadores e técnicos estrangeiros. Em meio ao crescimento da economia e à ausência de mão de obra qualificada, 14% dos empregadores brasileiros têm buscado no exterior profissionais para preencher suas vagas, segundo pesquisa recente da agência de consultoria de Recursos Humanos ManpowerGroup. A procura maior é por engenheiros, técnicos, professores e funcionários para cargos de executivo sênior ou gerente. A maioria desses empregados vem de países como Itália, Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Espanha. O levantamento feito com 400 empresas que atuam no Brasil, entre multinacionais e companhias brasileiras, mostra que quase 20% das empresas pesquisadas já têm entre um e cinco funcionários expatriados ocupando cargos gerenciais, enquanto 13% têm mais de 20 funcionários estrangeiros trabalhando como subordinados.
O setor recordista em importação de profissionais é a cadeia de petróleo e gás. De 2008 a 2011, de acordo com o Ministério do Trabalho, as empresas dessa área contrataram 60 mil estrangeiros 18
Apesar da grande demanda, o processo de expatriação esbarra nas questões legais e tributárias. A nova realidade fiscal pode ser um fator determinante para tornar uma expatriação um sucesso ou um fracasso, principalmente por envolver dois países propensos a tributar a renda do executivo ou técnico. No caso dos italianos, para que eles não precisem pagar tributos a dois países, há mais de 30 anos foi criado o Acordo Brasil-Itália sob o decreto de número 85.985 de 1981. A função básica do acordo é o de definir qual país deterá o poder de tributar determinada renda e prevenir que não ocorra a bitributação, explica o consultor de tributação da Assistere Consultores, Adahel Almeida. — O salário de um executivo italiano passará a ser tributado somente no Brasil (à alíquota máxima de 27,5%) em substituição à tributação na Itália, cuja renda era tributada em até 43%. Ou seja, além do salário desse executivo ser tributado somente em um dos países, a carga tributária inclusive tendeu a diminuir, de 43% para 27,5% — explica. Bem mais antigo que o Acordo do Imposto de Renda, Brasil e Itália também firmaram um Acordo Previdenciário conhecido como Acordo de Migração, de 1960, o qual estabelece regras quanto ao país para o qual as contribuições previdenciárias serão recolhidas, sem prejuízo dos benefícios previdenciários a que os trabalhadores
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O economista Alessandro Bortoluzzi aproveita as aulas para aprender mais sobre a cultura brasileira. Angela Dias, da Plan Idiomas; Regina Assumpção, da Shagal; e Adahel Almeida, consultor tributário da Assistere, enfatizam que os expatriados devem se adaptar à realidade profissional e social brasileira, além de terem que enfrentar barreiras legais e tributárias
italianos no Brasil ou brasileiros na Itália têm direito. — Normalmente em casos de acordos previdenciários, as contribuições serão devidas no país onde o serviço é prestado, podendo, excepcionalmente e durante um determinado período de 12 meses, prorrogáveis, serem recolhidas no país de origem — completa Adahel. Ciente de que o Brasil precisa de força externa, a postura do governo tem sido mais flexível com os imigrantes. O país tem liberado visto para profissionais qualificados, além de conceder anistia a ilegais. De acordo com o Ministério da Justiça, 57% dos imigrantes clandestinos foram legalizados em 2011. O maior de todos os avanços na esfera legal, no entanto, será a aprovação do projeto da nova lei de imigração, que está tramitando no Congresso. O atual Estatuto do Estrangeiro, de 1980, foi elaborado na época do regime militar e impõe várias restrições aos imigrantes.
Comportamento
Férias alternativas Viajar em setembro nos voos low cost ou curtir as festas das sagras locais onde se come bem gastando pouco são algumas das soluções dos italianos para se divertir de forma mais econômica Gina Marques
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De Roma
m tempo de vacas magras, as férias se passam em casa. Segundo as estimativas da associação de defesa ao consumidor Federconsumatori, pelo menos a metade dos italianos deixou de viajar neste verão ou criou alternativas menos caras para passar o período. A culpa é dos aumentos dos impostos, do preço da gasolina e da incerteza econômica: enfim, da crise. No entanto, alguns não conseguem renunciar ao prazer de viajar e se endividam para pagar as férias. Segundo o instituto especializado em análises de crédito ao consumo Prestiti.it, no primeiro semestre de 2012 os bancos forneceram empréstimos de mais de 24 milhões de euros destinados a gastos nas viagens de férias. Os estudos demonstram que os italianos preferem cada vez mais organizar a própria viagem sem recorrer aos serviços dos operadores turísticos. Além disso, eles esperam até o último minuto para decidir o que fazer nas férias porque não têm ideias claras de onde ir e se será possível viajar. A escolha acaba se baseando na disponibilidade de lugares e nos custos. A crise se reflete também nas agências de viagens. Segundo uma pesquisa feita pela Assoviaggi-Confesercenti (a associação italiana das agências de viagem), este verão registrou uma queda de 30% em relação ao ano passado. — É o terceiro ano consecutivo. Desde 2010, os italianos têm viajado cada vez menos. Este ano, perdemos 50% do turismo no país — explicou o presidente da Assoviaggi, Amalio Guerra. Quando os italianos organizam por si mesmos as próprias férias, os lugares preferidos são as grandes cidades europeias às quais se pode chegar através dos voos mais baratos das companhias low cost. As destinações mais escolhidas são Paris, Londres, Valência e o litoral da Croácia.
Partir em setembro permite uma economia de 30% Para 3,6 milhões de italianos, a alternativa para passar as férias gastando menos em 2012 é viajar em setembro. Segundo as pesquisas, neste mês os preços baixam em cerca de 30% por causa das ofertas mais convenientes. Segundo a associação dos empresários agrícolas, a Coldiretti,
Viagens low cost para capitais europeias e agriturismo estão entre as opções dos italianos para férias econômicas
em setembro cresce o turismo ligado à natureza nas montanhas, nos parques e no campo em comparação aos lugares tradicionais como praias e cidades de arte. — Não é só para economizar. Aqueles que apreciam o mês de setembro são principalmente os amantes da tranquilidade, que querem curtir os últimos raios quentes do verão para repousar e voltar em forma para a rotina diária. Esta é uma ótima notícia para os 20 mil agriturismi (hotéis fazenda) que registram um aumento das reservas, apesar de muitas serem feitas no último minuto — disse o presidente da Coldiretti, Sergio Marini. Segundo ele, o que leva muitos italianos a escolherem o mês de setembro para as férias é a relação custo beneficio. Além disso, com a insegurança da crise, as pessoas preferem passar as férias não longe de casa. — Sem contar que a chegada da chuva irriga o entusiasmo dos apaixonados catadores de cogumelos que precisam da terra úmida para crescer nos bosques. Neste período a paisagem convida para grandes passeios, já que terminou o forte calor do verão — observa Marini. De acordo com a Coldiretti, o turismo enogastronômico continua a se afirmar na Itália. Setembro é o mês ideal para os amantes da culinária típica local por causa das festas populares nas pequenas cidades, as chamadas sagras. Com a crise econômica, muitos italianos preferem não viajar, mas nem por isso renunciam aos prazeres do paladar. Nas sagras, a comida é ótima, mesmo que seja servida em prato de plástico, pois o que conta é se divertir, gastando pouco.
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Mercado
Negócios pelos ares
Modernos aviões e helicópteros italianos tiveram atenção especial na Latin American Business Aviation Conference and Exhibition, que levou excelente público a São Paulo Lisomar Silva
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De São Paulo
mercado brasileiro e latino-americano de aviação promete se expandir nos próximos anos para acompanhar a velocidade cada vez maior com que novos negócios e contratos deverão ser fechados. Com isso, haverá um número crescente de clientes e viajantes prontos a se deslocarem rapidamente da Ásia para a America Latina ou à Europa, adotando meios velozes de transporte e sem depender de reservas de lugares em voos nem sempre bem sucedidos. A Latin American Business Aviation Conference and Exhibition (Labace), feira internacional para a aviação comercial para executivos, está de olho neste público cada vez mais numeroso e interessado em reduzir ao máximo o tempo de viagem necessário para cobrir longas distâncias no território latino-americano.
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A edição brasileira da Labace, organizada em agosto com a colaboração da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), ganhou os espaços dos antigos galpões paulistanos da companhia Vasp — cuja falência foi decretada em setembro de 2008 — para acolher mais de 70 moderníssimos exemplares de aviões executivos e helicópteros fabricados em várias partes do mundo, mostrados para quase 16 mil visitantes durante três dias. Compradores e executivos desembarcaram em São Paulo para conhecer e, caso de alguns, agendar suas próximas viagens no conforto oferecido a bordo de helicópteros que podem levar até seis pessoas, ou aviões executivos para delegações de até 30 componentes. — Trata-se de passageiros especiais, que não podem correr o risco
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Segundo Fabrizio Romano, diretor de vendas da Agusta Westland, a empresa se consolida no mercado brasileiro no fornecimento de helicópteros para segmentos VIP
de chegarem cansados a seus destinos depois de enfrentarem escalas inevitáveis, nem de cancelar seus compromissos por atraso de voos — esclarece Fabrizio Romano, diretor de vendas para a América do Sul, da fábrica italiana de helicópteros Agusta Westland, subsidiária do grupo Finmeccanica. A Agusta Westland se consolida no mercado brasileiro e latino-americano principalmente no fornecimento de helicópteros para segmentos como VIP/ transporte executivo, transporte offshore e serviços médicos de emergência. A empresa, acrescenta Fabrizio Romano, tem garantido eficiência cada vez maior quanto ao produto e através da oferta de peças de reposição, manutenção e reparos de aeronaves em toda a região. No ano passado, foram feitos pedidos para mais de 200 helicópteros de clientes da América do Sul. Mais de 120 aeronaves — incluindo os modelos AW119 Ke Koala enhanced, AW109 Power, GrandNew e AW139 — já foram entregues na região, com índice de desempenho marcante no Brasil nos últimos anos. Este ano a Agusta Westland abriu um novo centro de apoio e serviços de assistência técnica para seus helicópteros comerciais junto à Aviasur, no aeroporto internacional Arturo Merino Benitez, em Santiago do Chile. Com esta
última inauguração, a Agusta passa a dispor de mais de 80 centros de suporte e assistência em todo o mundo. Outros helicópteros voam no espaço aéreo do Peru e da Venezuela, além do Brasil. Desde julho, os mercados brasileiro e venezuelano estão recebendo oito exemplares de helicópteros do modelo AW169, usado com grande sucesso principalmente para o transporte de passageiros muito especiais (Vip). Nos próximos três anos, outros exemplares do mesmo modelo chegarão ao Brasil para serem usados principalmente como ambulâncias aéreas, transporte de peças e acessórios ou de técnicos e funcionários nas plataformas petrolíferas off-shore, ou de patrulhamento. O presidente da Abag, Eduardo Marson Ferreira, mostrou-se entusiasmado com as tendências favoráveis à aviação comercial em um mercado cada vez mais caracterizado pela realização de contratos e negócios a curtíssimo prazo, o que impõe a contratantes e executivos a autonomia dos voos tradicionais de linha. Ele explica que, dentro desse contexto, a Labace desenvolve um papel cada vez mais importante. — Atualmente a Labace se consolida como a segunda maior feira do mundo em termos de aviação executiva e a maior da América Latina. O interesse de vários fabricantes por nosso mercado se justifica também pela perspectiva de criação de novos aeroportos e a modernização dos que já existem no prazo de cinco anos. O Brasil vive uma fase especial em termos de desenvolvimento econômico e posicionamento global. O mundo está de olho no que acontece por aqui e muitas empresas, em especial no segmento da aviação executiva, estão atentas aos movimentos do mercado nacional, sem dúvida um dos mais promissores. Além disso, o país passa por transformações importantes em termos de infraestrutura aeroportuária, com as privatizaçoes e a onda de investimentos — ressaltou o presidente da Abag. O segmento da aviação para executivos e clientes especiais é também visto como núcleo gerador de novos empregos. As vendas de aviões de pequeno porte aumentaram de 10% em 2011, para um mercado geral que registrou crescimento de 17%, o que se traduz no aumento de espaços para o desenvolvimento e a modernizaçao
de infraestrutura de manutenção, novos pilotos e profissionais de apoio aos voos. Empresas como a Gulfstream escolheram a cidade paulista de Sorocaba para a criação de infraestrutura de armazenamento de peças, acessórios e de materiais para substituição e limpeza dos seus aparelhos. Essas tendências de mercado estão no alvo também da Piaggio Aero, que estreou na Labace expondo o seu modelo de avião executivo P.180 Avanti II em colaboração com a empresa americana Algar Aviation, distribuidor exclusivo desse avião no Brasil e um dos mais importantes grupos do segmento em atividade no mercado brasileiro. O modelo, altamente apreciado pelos chineses, está presente em todos os países do grupo BRIC (Brasil, Russia, Índia e China). O P180 Avanti II tem uma autonomia de 1470 nm (2700 km); tem condições de cobrir rotas de média distância, com uma velocidade máxima de 402 kts (745 km/h) e velocidade média de decolagem em altitudes de 844 metros por minuto chegando a uma cota de tangência de 41.000 ft (12.500 metros). O presidente e CEO da Piaggio América, John M. Bingham, explica que a flexão dos mercados tradicionais como os da América do Norte e Europa, leva a fomentar as estratégias de mercado em áreas importantes e promissoras como nos paises do grupo BRIC. — Sabemos de qualquer modo que o cliente interessado em dispor de seu tempo como melhor acredita, não tem nem quer ter preocupações relacionadas diretamente com a crise econômica que condicionem suas opções de deslocamento. Pelo contrário, ele quer reduzir ao máximo as distâncias para aumentar suas magens de lucro. Ele quer ser o primeiro a chegar para ser o primeiro a fechar negócios com seus
A Labace expôs vários modelos de aviões e helicópteros como o AW119 Ke Koala enhanced da Agusta Westland, e P.180 Avanti II da Piaggio Aero
interlocutores. Afinal, tempo é dinheiro, agora mais do que nunca — enfatiza John M. Bingham. Mas a corrida rumo ao fornecimento de aviões executivos, aumentando o tráfego aéreo em geral, não contraria a ideia e os programas de proteção do meio ambiente? — Não posso responder pelos outros fabricantes, mas posso afirmar sem dificuldades que o nosso é um ‘green flight’, isto é, um avião que respeita parâmetros de defesa da atmosfera. De fato, alcança velocidade e altitudes semelhantes às de um jato, mas registra um consumo de combustível inferior a 40%, que gera uma significativa economia operativa com emissões reduzidas de Gás Carbônico (CO2) na atmosfera — assinala Bingham. A Piaggio Aero escolheu a Noar Aviation de Recife como representante exclusivo de vendas do P.180 Avanti II no Brasil. A Noar também vai funcionar como centro de manutenção, revisão e conserto do avião executivo, dando apoio aos outros 18 centros de assistência técnica existentes nos Estados Unidos. E quanto podem custar essas preciosidades para homens de negócios? Este é um daqueles segredos guardados sob sete chaves, que somente os verdadeiros compradores conhecem.
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Momento Itália-Brasil
Com chave de ouro
Momento Itália-Brasil é encerrado com evento de gala em São Paulo e embaixador agradece a todos os atores envolvidos na vasta programação cultural que trouxe ao país mais de 400 eventos Vanessa Pilz
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iante de artistas, diplomatas, empresários e muitas personalidades, a Embaixada da Itália, encerrou o Momento Itália-Brasil, após, exatamente um ano da abertura em grande estilo no Rio de Janeiro, com um grande evento promovido pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria do Rio no Copacabana Palace. O gran finale aconteceu no dia 4 de setembro, no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado de São Paulo, com um jantar de gala em homenagem aos parceiros e realizadores do projeto, que contou com mais de 400 eventos entre outubro de 2011 e junho de 2012.
A atriz Fernanda Montenegro conversa com a embaixatriz Antonella La Francesca durante a cerimônia de encerramento do MIB 22
— Este jantar representa, enfim, uma palavra de profundo agradecimento a todos aqueles, pessoas e instituições, em grande parte brasileiras, que nos ajudaram a construir o MIB. São realmente tantas. O relacionamento de colaboração estabelecido constitui, a meu ver, a realidade mais importante desta emocionante aventura — conclui o embaixador Gherardo La Francesca. A programação do MIB que percorreu várias cidades do Brasil, contou com a colaboração de quase 200 parceiros políticos, econômicos, culturais e do mundo da mídia. Exposições, seminários e espetáculos foram dedicados a diversos temas relacionados à música, à pintura, ao cinema, ao teatro, à enogastronomia, à economia, à arquitetura, ao design, à ciência e
tecnologia, à moda, aos esportes e à grande presença dos italianos no Brasil. O artista italiano Valerio Festi foi o responsável pelo espetáculo Capriccio Italiano, com elementos do Renascimento, movimento artístico que representa a criatividade e o fazer artístico típicos da Itália. A cerimônia reuniu celebridades como as atrizes Fernanda Montenegro e Bruna Lombardi, os jornalistas Sandra Annenberg e Ernesto Paglia, e o cineasta Marcos Jorge, diretor do premiado Estômago. A revista Comunità foi citada inúmeras vezes como parceira fundamental para o sucesso do MIB e o embaixador La Francesca fez questão de agradecer em discurso ao presidente Pietro Petraglia, também presente na ocasião.
O Momento Itália-Brasil foi marcado por eventos culturais. Na noite de encerramento, estiveram presentes vários artistas como Carlos Alberto Riccelli e Bruna Lombardi. A consagrada atriz Fernanda Montenegro foi recepcionada pelo embaixador Gherardo La Francesca e pela embaixatriz Antonella La Francesca
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A ex-ministra do Superior Tribunal Federal Ellen Gracie e a embaixatriz Antonella se destacaram entre as personalidades presentes no evento
Roberta Civita recebeu das mãos do embaixador a condecoração oferecida pelo governo da República Italiana a seu pai Roberto Civita, diretor do Grupo Abril
Ícones do telejornalismo, o casal Ernesto Paglia e Sandra Annenberg foram recepcionados pelo embaixador italiano La Francesca
A festa contou com a presença de políticos como o governador de São Paulo Geraldo Alckmin e a esposa Maria Lúcia Alckmin, além de empresários como João Dória e a esposa Bia Dória, recepcionados pelo casal de embaixadores
José Eduardo Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura, que recebeu vários eventos culturais do MIB marcou presença no encerramento ao lado do embaixador
Emerson Fittipaldi e Rossana Fanucchi Fittipaldi prestigiaram o evento junto aos anfitriões da festa
Mirna Consilio Aversa, diretora de assuntos institucionais da Rede Globo, recebe das mãos do embaixador a condecoração oferecida pelo governo italiano a Roberto Irineu Marinho, presidente das organizações Globo
Em seu discurso de encerramento, o embaixador La Francesca agradece a instituições econômicas, culturais e midiáticas e às pessoas que apoiaram e ajudaram a construir o MIB
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Atualidade
No útero da máfia A atitude das mulheres diante dos horrores provocados pela máfia inspira obra de jornalista brasileira Nathielle Hó
A
autora Lúcia Helena Issa fez um estudo profundo na região da Sicília sobre a Cosa Nostra, facção criminosa que mantêm ramificações nacionais e internacionais relacionadas à lavagem de dinheiro e outros negócios escusos. A obra Quando Amanhece na Sicília… A luta das mulheres e da sociedade civil contra a Máfia siciliana foi escrita por quem testemunhou in loco os fatos que relata. Jornalista formada em Taubaté, no interior do estado de São Paulo, é especialista em Linguagem e Semiótica pela Universidade Livre de Roma. Ganhou destaque no seleto grupo de bons literatos após escrever um livro sobre Cuba, As Cerejas do Comandante, premiado pelo Ministério da Cultura brasileiro. Morou durante seis anos na Itália, de onde colaborou com veículos como a Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil e revista Istoé. Durante essa estada na Itália, teve a oportunidade de conhecer mulheres sicilianas, dispostas a delatar seus maridos e os esquemas montados pela máfia. Lucia Helena, após colher vários relatos e anos de pesquisa, se tornou especialista no ‘modus operandi’ da máfia siciliana, o que rendeu à sua obra um tom de reportagem. O livro, baseado em fatos verídicos, procura dar voz às histórias das mulheres sicilianas que tiveram papel preponderante no enfraquecimento da máfia através de manifestações 24
e mudanças nas leis de punição aos mafiosos. Historiadores, ativistas, juízas e mães de homens assassinados falam sobre a mudança pela qual a Sicília vem passando: com o confisco dos bens dos chamados “homens de honra” e a transformação dessas apreensões em escolas, parques e projetos para a comunidade onde atuavam. Por fim, o livro faz revelações estarrecedoras sobre a ligação de alguns membros do Vaticano com a Cosa Nostra. ComunitàItaliana - Como foi a pesquisa na Sicília? Você chegou a ser ameaçada? Lúcia Helena - Eu tive muito medo no dia que eu estava em Brancaccio. Um mafioso perguntou por que eu estava na Sicília e afirmou que a máfia não existia mais ali. Além disso, eu não entendi como ele sabia que eu era jornalista e brasileira. A rede de comunicação lá funciona muito bem, os meninos chamados de piccoli soldati da máfia já tinham ido avisar ao mafioso sobre mim. Roberto Saviano, autor de Gomorra, por exemplo, se travestiu de mafioso para fazer o papel da polícia. Na verdade, eu nunca tive essa intenção de me infiltrar na máfia. O Saviano
alugou um apartamento com jovens mafiosos e viveu dois anos em um ambiente mafioso e depois escreveu um livro delatando tudo e agora ele está jurado de morte. O que eu fiz foi dar voz às mulheres que perderam seus filhos e a liberdade com a ditadura da máfia. O livro de Lúcia, através do relato de esposas e mães de mafiosos sicilianos, deflagra todo o esquema da organização criminosa Cosa Nostra
“Que minha carne sangre e queime como esta imagem sagrada se eu não for fiel até a morte à Cosa Nostra”
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CI –A máfia é fechada no masculino, ela é formada apenas por homens. O interessante é que a luta contra a máfia na Sicília começou pelas mulheres. Como você compreende esse paradoxo? LH - A máfia sempre foi um microcosmo sociologicamente falando, que representava um macrocosmo muito machista e patriarcal, era apenas um espelho da sociedade siciliana. Quando as mulheres se levantaram, elas foram contra a lei do silêncio, chamada omertà na Itália. As mulheres não participavam objetivamente da máfia, mas presenciaram muitas ações dela, até porque eram mães e esposas dos mafiosos. CI – E o código de ética dentro da máfia? LH - O código de ética é muito forte e baseada nisso eu me sentia protegida porque a máfia, ao longo de um século e meio de existência (foi criada por volta de 1861), sempre teve um código de conduta no qual era proibido assassinar mulheres e crianças, mas, com a chegada do tráfico de drogas, eles começaram a matar todos sem distinção.
CI - Quantas organizações mafiosas existem atualmente na Itália? LH – Atualmente, a Itália convive com a Sacra Corona Unita, na Puglia; a ‘Ndrangheta, na Calábria; a Cosa Nostra, na Sicília; e a Camorra, em Nápoles. Dessas, a única que está em franca decadência é a Cosa Nostra, que já teve oito mil membros. Hoje, a polícia acredita que ela tenha por volta de mil integrantes. Na Sicília as pessoas agora falam sobre denúncias livremente. Até nas escolas, há uma disciplina que trata abertamente sobre a máfia e os malefícios dela, chamada História e Luta contra a Cosa Nostra. CI - Fale um pouco sobre a religiosidade na máfia siciliana e como isso influencia no comportamento dos mafiosos? LH - A máfia siciliana só conseguiu ficar tanto tempo no poder porque os mafiosos eram abençoados pelo Vaticano e por alguns padres. Isso fez com que os papéis se invertessem, como se o mafioso fosse visto sempre como um bem feitor que se ajoelhava aos domingos na igreja de Palermo, que dava presentes às crianças no dia 25 de dezembro. Era como se o bem e o mal tivessem a
Márcio Roberto
CI - O cinema retrata bem a máfia, como, por exemplo, no filme O Poderoso Chefão? LH - A máfia foi retratada por alguns filmes hollywoodianos como um produto de ficção. O Poderoso Chefão é muito romantizado e glamourizado, e eu não percebi esse charme nos mafiosos da Sicília, porque eles falam grosso, e usam aqueles colares de ouro para ostentar, e não andam tão bem vestidos assim. Além de tudo, são rudes. Tem filmes italianos que são mais realistas com relação à máfia. Um filme que eu aconselho muito é Cem Passos, do diretor Marco Tullio Giordano. O filme narra a história do jovem Peppino Impastato, nascido em Cinisi, Sicília, a 100 passos da residência do chefe da máfia, Tano Badalamenti, assassinado em um atentado, em 1978, por ordem da Cosa Nostra. O filme descreve as terríveis contradições e sofrimentos de uma família siciliana protegida pela máfia. Outro filme interessante é do diretor Marco Amenta chamado The Sicilian Girl. O filme é baseado na história real de Rita Atria, uma garota de 17 anos que teve a coragem de depor contra a máfia siciliana após seu irmão e pai terem sido assassinados por membros do crime organizado.
mesma face. Eles se sentiam como Robin Hood, achavam que poderiam matar por uma causa nobre — que era derrubar o Estado como inimigo — para colocar alguém deles, configurando um tipo de ditadura. E isso tem uma explicação
Elas se reuniram e começaram a pendurar lençóis escritos com batom nas sacadas de Palermo mais profunda, que é o abandono da Sicília depois da Unificação da Itália, por parte de Garibaldi. Roma, Milão e Toscana foram se desenvolvendo, foram priorizadas. Então, na Sicília, que o Estado abandonou, foi colocado outro líder, porque os sicilianos queriam pertencer a alguma coisa e passaram a pertencer à Cosa Nostra. Isto se chama instinto gregário. Quando você tem o abandono por parte do Estado, alguém vai dominar e representar o poder, como acontece nas favelas do Rio de Janeiro com os traficantes. CI - Nossa Senhora da Anunciação é a padroeira dos mafiosos. Rituais direcionados a essa santa se repetiram na Sicília, no Brasil e nos Estados Unidos. Como são esses rituais? LH - Uma vez aceito na organização, o novo uomo d’onore (homem de honra), passa por um ritual de iniciação que permanece imutável há quase dois séculos. Um dos membros da Cosa Nostra pede que o novo membro escolha um
Giovanni Falcone e Paolo Borselino
santo de sua devoção. A imagem sagrada, em forma de “santinho”, é quase sempre a da Madonna dell’Annunziata. Escolhida a imagem, o padrinho lembra que ainda é tempo de desistir, pois o afilhado está prestes a tomar um caminho sem volta, simbolizado por um juramento perene. Nesse momento, diante dos outros homens, o padrinho faz um pequeno corte no dedo indicador do afilhado e deixa que o sangue seja derramado sobre a imagem sagrada. O santinho é então queimado diante de todos, enquanto o iniciado repete solenemente: Que minha carne sangre e queime como esta imagem sagrada se eu não for fiel até a morte à Cosa Nostra. Renascimento, batismo e sacralidade, tudo isso está simbolizado nesse momento. CI- Quais foram os maiores vilões da Cosa Nostra? LH - O Salvatore Riina, o Corleone da vida real, foi extremamente violento e autoritário, foi o capo di tutti capi, o chefe de todos os chefes, preso apenas em 1993. Comandou com mão de ferro a Cosa Nostra, tendo como parceiro Bernardo Provenzano, que ficou foragido por mais de 40 anos até ser capturado em 2006. Sua sede de sangue e poder, contudo, acabaram por enfraquecer de forma significativa a Cosa Nostra, uma vez que ele deixou de ser ‘sócio’ do Estado e passou a enfrentá-lo. Cometeu atentados, assassinou policiais e magistrados. Abusava do seu poder usando o nome de Deus. CI - Como era a relação da Cosa Nostra com o Vaticano? LH - Parafraseando o juiz Julio Falcone, a Cosa Nostra “não é um câncer proliferado por acaso numa pele saudável”. É um fenômeno que cresceu muito na Sicília nos anos de 1980, quando imperava a miopia do Estado. Essa ligação do Vaticano com a máfia existiu sim e foi muito forte na Sicília, justamente nas regiões abandonadas pelo Estado, através de duas figuras históricas: o mafioso Michele Sindona, uma figura absurda para mim, porque na Sicília era sinônimo de benfeitor, mas era um banqueiro que, depois foi para a prisão e foi assassinado com café envenenado com cianureto bem em estilo de filme. E outra figura aterrorizante é a do bispo norte-americano Paul Marcinkus. Eu entrevistei mais de 70 pessoas e todos acreditam que o
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Atualidade bispo assassinou o Papa João Paulo I. Os negócios entre a Cosa Nostra e o Vaticano se baseavam na lavagem de dinheiro. Não é à toa que o Vaticano é considerado um dos maiores paraísos fiscais do mundo. Existe uma matéria que eu fiz para a Folha de S. Paulo sobre a Sicília, e na época eu consegui entrevistar um pentito (arrependido) que conta tudo, chamado Vicenzo Calcara. Ele confirmou que, na década de 1980, chegou a transportar da Sicília para o Vaticano mais de 80 milhões de dólares para lavagem de dinheiro. Existe um jornalista italiano, Curzio Maltese, que relata muito a ligação do Vaticano com a máfia através do Opus Dei, que só na América Latina tem mais de 70 mil integrantes ativos chamados supranumerários e os abaixo deles são chamados numerários. Em Roma, a Opus Dei detém três grandes basílicas, igrejas, escolas e tudo isso espelha o grande poder que esses “homens da fé” possuem. Mas é importante fazer uma ressalva: dentro da instituição, existem também padres que foram assassinados lutando contra a máfia, como Pino Puglisi. CI - A máfia siciliana já teve negócios com o Brasil? LH - Já houve muita associação através do PC Farias. Eu estava entrevistando uma policial que afirmou que ele foi morto em circunstâncias estranhas, e que ele tinha ligação com a Cosa Nostra, no que se refere à lavagem de dinheiro através dos bingos em São Paulo. E essa associação foi intermediada pela família Cuntrera-Caruana. Alfonso Caruana, um dos maiores narcotraficantes do mundo, atualmente cumprindo pena de prisão na Itália, teve relações bastante próximas com políticos e empresários em São Paulo e no Rio de Janeiro na época em que Collor era o presidente. Outro caso emblemático de envolvimento de mafiosos com o Brasil foi o de Tommaso Buscetta, um nome muito conhecido dentro da Cosa Nostra. Ele viveu no país por duas vezes, chegou a se casar com uma carioca e a ter dois filhos no Rio de Janeiro. Foi preso e extraditado em 1983. Entrou para história, porém, por ser o primeiro grande pentito, ou seja, a quebrar o código do silêncio e a revelar informações sobre a organização para os policiais. Buscetta veio para o Brasil ameaçado por Salvatore Riina, que já havia matado dois filhos dele 26
do livro é de Felicia Impastato, mãe do jornalista Guiseppe Impastato, assassinado com 120 explosivos no corpo. A máfia, neste caso, fez de tudo para dar a entender que ele era um anarquista que tinha se suicidado ou praticado um atentado comunista. Mas os responsáveis pelo crime foram julgados e punidos por intermédio do juiz Falcone.
e outros parentes. Ele era considerado um gentleman, pois respeitava mulheres e crianças. CI - Você acha que o ex-premier Berlusconi já teve ou tem relação com organizações criminosas? LH - Eu não posso afirmar, mas vários analistas citam a ligação de Berlusconi com a máfia. Existe um livro chamado L’odore dei soldi (O cheiro do dinheiro), de Marco Travaglio, onde ele fala do senador Marcelo Dell’Utri, o mais fiel do governo Berlusconi, condenado por envolvimento com a máfia. Isso tem uma simbologia muito forte, por ele ter sido o braço direito do Berlusconi. CI - O que foi a Revolta dos Lençóis? LH - Foi um dos momentos mais bonitos da história da Itália. Naquele momento, a Sicília estava com um índice de mortalidade de jovens muito alto. Estava sendo aberta a caixa de pandora: como na mitologia grega, continha todo os males do mundo — ódio, vingança, traição. As mulheres foram resgatar nessa caixa de pandora a esperança. Elas se reuniram e começaram a pendurar lençóis escritos com batom nas sacadas de Palermo. Isso culminou na manhã seguinte do assassinato do juiz Paolo Borsellino que, juntamente com o juiz Giovanni Falcone, levou a cabo processos judiciais contra a máfia siciliana. Nos lençóis elas imprimiram a foto dos dois juízes assassinados e embaixo colocaram: “Eles não os mataram. As suas ideias caminham agora com as nossas pernas”. Naquela altura, as mulheres começaram a pressionar o
Não é à toa que o Vaticano é considerado um dos maiores paraísos fiscais do mundo
4.105 bens já foram confiscados da Cosa Nostra e revertidos em melhorias para a comunidade através de bibliotecas, parques e centros de formação profissional parlamento para aprovar várias leis. A primeira lei era que criminoso comum é uma coisa, criminoso mafioso é outra. Se alguém fosse preso e fosse comprovada a ligação com a Cosa Nostra, a pessoa teria sua pena aumentada e deveria ser isolada na cela para evitar que o mafioso ordenasse mortes da prisão. Uma das pessoas que começou tudo isso foi a ativista Letizia Battaglia, e um dos depoimentos mais emocionantes
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CI - Qual foi o papel exercido pelos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino no combate à máfia siciliana? LH - A partir dos anos 1980, os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino aumentaram a pena de prisão para casos de associação com a máfia. Antigamente, os criminosos eram condenados apenas por delitos menores e ficavam cerca de cinco anos detidos. Durante esse período, a família do prisioneiro era amparada financeiramente pela máfia e o indivíduo saía da cadeia como herói por ter aguentado sua sentença sem ter colaborado com a polícia, mantendo a tradição da omertà — o código do silêncio. Falcone e Borsellino foram assassinados em 1992, respectivamente, em maio e em julho, mas não sem antes condenarem à prisão chefões da Cosa Nostra e centenas de outros mafiosos a penas que chegavam a 20 anos. Foi um duro golpe. A organização não poderia mais sustentar tantas famílias de encarcerados e os próprios mafiosos não estavam dispostos a passar o resto da vida na cadeia. Nesse cenário, a omertà foi deixada de lado e muitos começaram a cooperar com as autoridades em benefício próprio. Tornaram-se arrependidos, contando tudo o que sabem sobre o esquema da máfia. CI - Quanto aos bens confiscados da Cosa Nostra, como eles são revertidos para a população da região siciliana? LH - Antes de tudo, é importante salientar que hoje existem 329 grandes mafiosos incomunicáveis nas prisões italianas. E 4.105 bens já foram confiscados da Cosa Nostra e revertidos em melhorias para a comunidade através de bibliotecas, parques e centros de formação profissional. O que está acontecendo na Sicília hoje é um resgate da cidadania. A grande lição que as mulheres que colaboraram com o livro deixaram para mim é que a gente pode ser mulher, ser feminina e ser, ao mesmo tempo, guerreira da paz.
Atualidade
Ajuda brasileira a refugiados é destaque Visita do italiano Filippo Grandi é marcada pelo convite oficial ao Brasil para se tornar membro permanente da agência para refugiados palestinos Cintia Salomão Castro e Stefania Pelusi
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esde 2010, o italiano Filippo Grandi é o Comissário-Geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA). Em agosto, ele visitou pela primeira vez o Brasil, país que, em maio, anunciou a doação de US$ 7,5 milhões à entidade que atende atualmente cerca de cinco milhões de pessoas na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Líbano, Síria e Jordânia através de programas de educação, alimentação e saúde. A contribuição representa um aumento de 680% em relação a 2011, ano em que o governo brasileiro cedeu US$ 906 mil para a mesma agência. Na primeira missão oficial da agência em território nacional, Filippo Grandi aproveitou para convidar o Brasil — que, com a doação de 2012, já é o principal contribuidor entre os Brics e também da América Latina — a se tornar membro permanente do conselho da UNRWA. O convite de Grandi foi feito ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, em Brasília. Agora, a integração terá de ser aprovada pelo governo brasileiro e ratificada na assembleia da ONU. — Eu viajo pelo mundo para promover a causa dos refugiados palestinos. Aqui, encontrei uma abertura e um entusiasmo com a possibilidade de ajudar refugiados que nunca vi antes — ressaltou Grandi diante de jornalistas em coletiva concedida no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Graduado em filosofia em Veneza, Grandi atuou pela ONU em países como Sudão, Síria, Turquia, Iraque, Quênia, Benin, Gana, Iêmen e Afeganistão. Ele se reuniu com representantes dos governos do Rio Grande do Sul (estado onde vive a maior comunidade palestina do país), São Paulo e Rio. O governo
gaúcho chegou a anunciar que formará um comitê para coordenar o apoio aos refugiados palestinos no estado, enquanto as autoridades fluminenses apresentaram programas sociais de integração de comunidades carentes e de segurança pública que deverão ser testados em um campo de refugiado em Gaza. Foram firmadas ainda parcerias de cooperação técnica na área de saúde com o Hospital Sírio-Libanês, e comerciais com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo. O italiano afirmou que o Brasil é exemplo para “países doadores tradicionais e outros que estão emergindo no cenário global que deveriam assumir um papel maior na solidariedade e cooperação internacionais”. Preocupação com os refugiados na Síria Grandi também demonstrou preocupação com a situação dos refugiados palestinos na Síria. — Trabalhar na Síria tornou-se muito perigoso e com frequência temos que interromper nossos trabalhos por causa dos conflitos. Assim como todas as outras pessoas, os palestinos ficam expostos, mas os refugiados têm uma vulnerabilidade maior — ressalta. Perguntado se a crise econômica italiana reduziu o fluxo de doações aos programas da agência, Filippo Grandi explicou que o país sempre foi um doador muito importante para a UNRWA: – A Itália até chegou a ser um dos mais importantes, mas, infelizmente,
Filippo Grandi convidou oficialmente o Brasil a se tornar membro permanente do conselho da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados, entidade que tem um orçamento anual de US$ 1,2 bilhão
nos últimos anos reduziram as ajudas públicas. No entanto, continua sendo um doador, apesar de ser muito pequeno se comparado ao Brasil, e contribui através da União Europeia. Infelizmente está passando por uma crise muito forte — lamenta. Grandi disse à Comunità que, apesar da crise, espera que o seu país de origem volte a ser um protagonista na cooperação internacional. — A cooperação é uma ferramenta essencial de política externa. Nesse momento, falta esse instrumento, mas já conversei com os chefes do Estado italiano para que, quando passar essa crise, o país volte a ser um parceiro importante da nossa missão — concluiu. Com um orçamento anual de US$ 1,2 bilhão, a agência tem tido dificuldades em manter seus programas de educação, saúde e assistência social. Grandi disse que a entidade ajusta as suas contas anualmente, com corte de gastos que vão de 10% a 20% dos recursos. O maior doador são os Estados Unidos, com US$ 239 milhões.
“Eu viajo pelo mundo para promover a causa dos refugiados palestinos. No Brasil, encontrei um entusiasmo com a possibilidade de ajudá-los que nunca tinha visto antes” Filippo Grandi, Comissário-Geral da Agência de Assistência aos Refugiados Palestinos da ONU
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Notícias
A festa de Achiropita
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86ª edição de uma das mais famosas festas de rua de São Paulo, a de Nossa Senhora Achiropita, foi realizada durante todos os fins de semana do mês de agosto, no bairro do Bexiga, tradicional reduto de italianos na cidade. A celebração em homenagem à santa padroeira do bairro começou a ser realizada por iniciativa dos imigrantes vindos da Calábria. Hoje, reúne mais de 30 barracas de comidas típicas e conta com o trabalho de mais de 900 voluntários. Toda a renda obtida é destinada a projetos sociais da paróquia de Nossa Senhora Achiropita.
Intercâmbio
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uem está interessado em fazer um intercâmbio e estiver no Rio terá a oportunidade de conhecer vários programas no Salão do Estudante, no dia 24 de setembro, no Sofitel, em Copacabana, e em 25 de setembro, no Transamérica Prime Barra. Com mais de 250 expositores de países como Itália, Inglaterra e França, o salão oferece programas para jovens, executivos, pessoas da terceira idade e até para famílias em férias. Os principais programas vão de high-school até pós-graduação e MBA no exterior, passando por cursos de idiomas. Os participantes terão oportunidade de estar em contato direto com representantes e diretores das instituições internacionais. O evento traz ainda informações sobre passagens aéreas, vistos, tipo de acomodação, seguro saúde e carteira de estudante. A entrada é gratuita.
Lei de reprodução
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ma sentença da Corte de Estrasburgo determinou, no final de agosto, que a lei italiana de 2004 que regulamenta a reprodução assistida viola a Convenção Europeia de Direitos Humanos. A Corte rechaçou o princípio que impossibilita um casal fértil de realizar o diagnóstico para um pré-implante de embriões. Segundo juízes, há incoerência, pois outra lei italiana permite realizar um aborto terapêutico se o feto for afetado por fibrose cística. Segundo Estrasburgo, da maneira em que está formulada, a legislação viola o direito ao respeito da vida familiar de Rosetta Costa e Walter Pavan, aos quais o Estado italiano deverá pagar 15 mil euros por danos morais. Há um ano, o casal, portador do gene modificado de fibrose cística, transmitido para um em cada quatro recém-nascidos, apresentou recurso à Corte de Estrasburgo. Eles querem recorrer à fertilização in vitro, mas a lei italiana permite a prática somente a casais estéreis ou quando o homem tem uma doença sexualmente transmissível.
Assinatura: 1 ano = R$ 118,00 2 anos = R$ 199,00
Endereço para envio: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050
Notícias
Zanardi é ouro
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x-piloto da F-1 e bicampeão de Cart, Alessandro Zanardi impressionou o mundo ao conquistar duas medalhas de ouro nos Jogos Paraolimpícos de Londres. A primeira foi na prova do contrarrelógio, modalidade conhecida como handbike. O segundo ouro foi obtido dois dias depois na prova do ciclismo de estrada H4. A história do italiano de 45 anos é marcada pela superação. Zanardi perdeu as pernas em um grave acidente em setembro de 2001, após bater em uma prova da Indy, em Lausitz, na Alemanha. Ele chegou a perder 75% do sangue. Os médicos não entendiam como o piloto escapou vivo, mas ele conseguiu uma impressionante adaptação e chegou a voltar às pistas em carros adaptados.
Centenário jornalístico
A
associação dos jornalistas estrangeiros na Itália, Stampa Estera, completa cem anos. Uma exposição foi organizada no Museu Ara Pacis, em Roma, para comemorar o centenário da entidade, com trabalhos dos jornalistas internacionais, entre textos, fotos e vídeos. O local possui alto valor histórico: trata-se de um altar da paz construído em homenagem à deusa Pax (Paz) para celebrar as conquistas e o retorno de César Augusto, o primeiro imperador de Roma, de uma expedição pacificadora de três anos na Hispânia e na Gália meridional. A mostra está aberta ao público de 12 de setembro a 4 de outubro. A associação Stampa Estera foi fundada no Caffè Faraglia, na capital italiana, onde hoje funciona a sede de um banco. Hoje, está instalada na Via dell’Umiltà, atrás da Fontana di Trevi. Em 1912, contava com 14 jornalistas. Atualmente, é a maior organização de correspondentes estrangeiros do mundo, com 800 órgãos de informação e mais de cinco mil sócios jornalistas, vindos de 54 países.
Imposto aumenta
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imposto brasileiro de importação vai aumentar para 100 itens. O governo anunciou a medida, de caráter temporário, e que pode ser adotada por 12 meses prorrogáveis. O aumento equivale a cerca de 25% do valor atual. A lista inclui batatas, pneus, papéis, móveis e vidros. A medida começa a vigorar no fim de setembro. De acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, os itens passarão por monitoramento do ministério. Caso haja aumento nos preços para o consumidor, a alíquota será derrubada “imediatamente”, destacou. Mantega afirmou que o aumento do imposto serve para estimular a produção nacional. O aumento faz parte de uma política aprovada pelo Mercosul. Pela regra, os países que fazem parte do bloco econômico deveriam praticar as mesmas taxas de importação. No entanto, desde dezembro de 2011, passou-se a aceitar algumas exceções. Antes limitadas em 100, agora chegam a 200. O governo explicou que a segunda parte da lista, com os próximos 100 itens, deve ficar pronta em outubro.
milão
GuilhermeAquino
Rota invertida ão é uma novidade o fato de que os eu-
N
ropeus estão se mundando de malas e cuias para o Brasil. Mas o crime que era cometido aqui também está sendo cometido aí. O casamento por interesse para conseguir um visto de residência no Brasil pode custar algo em torno dos € 1.200, cerca de R$ 3 mil. Uma pechincha perto dos € 5 mil cobrados em solo italiano quando eram os(as) brasileiros(as) que pagavam por um amor “legal” através de advogados sem escrúpulos. No Brasil, se o crime for descoberto, a pena é de até cinco anos de prisão, seguida de expulsão do país.
Buraco
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linha 5 do metrô milanês não vai sair do buraco dentro do tempo previsto. Ela deveria ser entregue à população em outubro. Ao que tudo indica, a abertura do novo trecho Zara-Bignami poderá ocorrer em novem-
bro. Sete estações, cinco quilômetros e cortes de 30% no orçamento e depois a luz no fim do túnel, tão forte quanto a de uma vela perto do fim do pavio. Já a segunda parte da linha... é melhor nem dizer agora.
Numa fria Férias domésticas Migração locomotiva econômica italiana, ais da metade dos milaneses ficou e a coisa está ruim ao norte, imagina ao
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a região da Lombardia, dá sinais de grande sofrimento por conta da crise. Nos primeiros sete meses deste ano, o volume de demissões aumentou em 25% comparado com o igual período do ano passado. Isto significa que 37 mil trabalhadores foram mandados embora, sendo 12 mil das grandes empresas e o restantes das pequenas e médias que são suas forncedoras imediatas.
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sul. De qualquer forma, os dados das estatísticas nacionais apontam Milão como o principal destino de quem busca abrigo. A curiosidade é que, dos novos migrantes que declararam residência neste primeiro semestre — 6.607 pessoas no total — dois em cada três recém-chegados cruzaram a “fronteira” lombarda vindos de outras regiões do norte do país e não do sul, como acontecia até há algumas décadas. Sinal de que, quando o norte começa a migrar, é porque não tem mais para onde correr.
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em casa durante uma semana em que, normalmente, a cidade ficava vazia. A famosa semana de Ferragosto, de 13 a 19 de agosto, contabilizou cerca de 600 mil residentes que não viajaram para fora. O mais grave é que as lojas que permaneceram abertas neste período não registraram nenhum aumento nas vendas. Ou seja, o milanês não apenas ficou em casa como também esvaziou a geladeira com o que tinha dentro sem repor ou consumir nada na rua.
Rientro a scuola
ItalianStyle
O mês de setembro marca o início do ano letivo na Itália. Escolas e universidades reabrem suas portas e o final do verão coincide com o recomeço das atividades didáticas para milhões de crianças, adolescentes e jovens. Confira os lançamentos das grifes para não perder o estilo no rientro (regresso) das férias
Mochila com rodinhas
O modelo da Gucci de mochila com rodinhas é extremamente requintado, em couro, com diversas divisórias internas. Oferece a possibilidade de esconder as rodas. Disponível na cor bege, com acabamento em marrom escuro, azul e rosa. Possui 46 cm de altura e 25 cm de profundidade. Preço: € 950 www.gucci.com
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Arquitetura
Janaína Pereira De Veneza
A vez do
Com a curadoria do britânico David Chipperfield, 13ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza é inspirada no espaço coletivo e apresenta 69 projetos que o público pode visitar até novembro
espaço coletivo
Il turno dello spazio collettivo A cura del britannico David Chipperfield, la 13ª edizione della Biennale di Architettura di Venezia si ispira allo spazio collettivo e presenta 69 progetti che il pubblico può visitare fino a novembre
S
ob a direção do arquiteto britânico David Chipperfield e com o tema Common Ground (em uma tradução livre, algo como espaço comum), a 13ª Mostra Internacional de Arquitetura de Veneza, conhecida como Bienal de Arquitetura, foi aberta oficialmente no dia 29 de agosto. Até o dia 25 de novembro, o público poderá ver de perto projetos e ideias que representam o que pode ser encontrado — ou melhorado — em um ambiente coletivo. O diferencial deste ano são os trabalhos mais próximos da realidade, sem instalações artísticas conceituais, que eram uma característica da mostra. Os 69 projetos participantes estão espalhados por um espaço de 10 mil m², que vai do Central Pavillion no Giardini até o Arsenale. Segundo o curador David Chipperfield, o tema de 2012 tem como objetivo encorajar os arquitetos. — Eles precisam reagir contra as tendências culturais e profissionais que dão ênfase às ações individuais e isoladas. O objetivo da Bienal é demonstrar a importância de compartilhar ideias — revelou o curador na abertura do evento. 32
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iretta dall’architetto britannico David Chipperfield e sul tema Common Ground (tradotto liberamente in ‘spazio comune’), la 13ª Mostra Internazionale di Architettura di Venezia, conosciuta come Biennale di Architettura, è stata ufficialmente aperta il 29 agosto. Fino al 25 novembre il pubblico potrà vedere da vicino progetti ed idee che rappresentano ciò che può essere trovato – o migliorato – in un ambiente collettivo. L’originalità di quest’anno riguarda i lavori più vicini alla realtà, senza installazioni artistiche concettuali, che erano la caratteristica della mostra. I 69 progetti partecipanti sono sparsi in uno spazio di 10mila m² che parte dal Central Pavillion nei Giardini fino all’Arsenale. Secondo il curatore David Chipperfield il tema del 2012 ha per meta quella di incoraggiare gli architetti. — Loro devono reagire contro le tendenze culturali e professionali che danno enfasi alle azioni individuali ed isolate. L’obiettivo della Biennale è quello di dimostrare l’importanza della condivisione delle idee – ha rivelato il curatore all’apertura dell’evento.
O júri elegeu como melhor pavilhão o do Japão, cujo projeto apresenta a trajetória corpo a corpo dos arquitetos japoneses com os moradores da cidade de Rikuzentaka, afetada pelo tsunami de março de 2011
La giuria ha scelto come miglior padiglione quello giapponese, il cui progetto rappresenta la traiettoria corpo a corpo degli architetti giapponesi con gli abitanti della città di Rikuzentaka, colpita dallo tsunami del marzo del 2011
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Arquitetura
Nesta edição, 55 países participam com suas instalações — e o Brasil faz parte desse grupo. Apenas quatro países estão no evento pela primeira vez: Angola, República do Kosovo, Kuwait e Peru. O Studio MK27 representa o Brasil nesta edição com o filme-instalação Peep. O filme foi feito a partir de imagens de 18 câmeras instaladas em diferentes lugares dentro de um dos projetos do escritório, a Casa V4, em São Paulo. O vídeo mostra cinco minutos da vida de uma família. Fragmentado, é exibido em 18 olhos-mágicos instalados em um muro, construído dentro do pavilhão nos Giardini de Veneza. Das 18 cenas, o visitante pode ver dez na frente do muro e oito nos visores da parte de trás, que mostra o lado B da casa. O filme-instalação foi dirigido por Lea Van Steen e Marcio Kogan, com fotografia de Cleisson Vidal. Além de Peep, a instalação Riposatevi, de 1964, do arquiteto e urbanista Lucio Costa, também faz parte do espaço brasileiro. A instalação é estruturada por tramas de cabos de aços tensionados que pendem conjuntos de redes, as quais possuem movimento autônomo e permitiem que o espectador, individualmente, escolha entre o movimento e a posição estática. A curadoria do pavilhão é de Lauro Cavalcanti. Arquiteto português Álvaro Siza Vieira leva o Leão de Ouro O grande homenageado do ano é o arquiteto português Álvaro Siza Vieira, vencedor do Leão de Ouro pelo conjunto da carreira. Ele não compareceu ao evento de premiação que aconteceu na véspera da abertura da Bienal, no dia 28 de agosto. Vieira está se recuperando de um acidente sofrido após uma queda. Ele quebrou o braço e fez seu agradecimento à direção do evento e aos presentes por meio de uma gravação audiovisual. Entre os prêmios concedidos, o júri elegeu como melhor pavilhão o do Japão. Os arquitetos Toyo Ito, Kumiko Inui, Sou Fujimoto e Akihisa Hirata e o fotógrafo Naoya Hatakeyama Ito trabalharam no projeto Home for All e na realização do pavilhão. O projeto apresenta a trajetória corpo a corpo dos arquitetos japoneses com os moradores da cidade de Rikuzentaka, afetada pelo tsunami de março de 2011. As fotos de Hatakeyama, que nasceu na cidade, documentam o cotidiano do local antes do maremoto, a devastação pelas águas e o processo cooperativo entre arquitetos e moradores de elaboração dos projetos das casas. A menção do júri foi para o pavilhão da Rússia, representada por uma equipe do centro de inovação Skôlkovo (versão russa do Vale do Silício californiano). Os dois andares do pavilhão russo dividem o espaço da exposição. O primeiro andar exibe a história das cidades fechadas da época soviética, enquanto o segundo apresenta o centro Skôlkovo e suas inovações.
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O curador da 13ª Mostra Internacional de Veneza, David Chipperfield, explica que o tema do evento, o espaço coletivo, tem como objetivo encorajar os arquitetos a compartilhar ideias, em oposição às tendências culturais e profissionais isoladas
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O grande homenageado desta edição com o prêmio Leão de Ouro pelo conjunto da carreira é o arquiteto português Álvaro Siza Vieira
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In questa edizione 55 paesi partecipano con le loro installazioni – e il Brasile fa parte di questo gruppo. Solo quattro paesi partecipano all’evento per la prima volta: Angola, Repubblica del Kosovo, Kuwait e Peru. Lo Studio MK27 rappresenta il Brasile in questa edizione con il film-installazione Peep. Il film è stato girato su materiale fatto con 18 videocamere installate in vari posti dentro uno dei progetti dello studio, la Casa V4 a São Paulo. Il video mostra cinque minuti della vita di una famiglia. Frammentato, è proiettato in 18 spie incastonate in un muro costruito dentro al padiglione nei Giardini di Venezia. Delle 18 scene, il visitatore può vederne dieci nella parte davanti del muro e otto nei visori sul retro, che mostra il lato B della casa. Il filminstallazione è stato diretto da Lea Van Steen e Marcio Kogan, con la fotografia di Cleisson Vidal. Oltre a Peep, anche l’installazione Riposatevi (1964), dell’architetto e urbanista Lúcio Costa, fa parte dello spazio brasiliano. L’installazione è strutturata da una rete di cavi di acciaio in tensione da cui pendono reti aventi movimenti autonomi che permettono allo spettatore di scegliere, individualmente, tra il movimento e la posizione statica. Il padiglione è a cura di Lauro Cavalcanti. Architetto portoghese Álvaro Siza Vieira vince il Leone d’Oro Il grande festeggiato dell’anno è l’architetto portoghese Álvaro Siza Vieira, vincitore del Leone d’Oro per la carriera. Vieira non ha potuto partecipare alla premiazione, avutasi alla vigilia dell’apertura della Biennale, il 28 agosto, dovuto ad un incidente subíto dopo una caduta: si è rotto il braccio e ha ringraziato la direzione dell’evento e i presenti per mezzo di una registrazione audiovisiva. Tra i premi concessi, la giuria ha eletto quello giapponese come miglior padiglione. Gli architetti Toyo Ito, Kumiko Inui, Sou Fujimoto e Akihisa Hirata e il fotografo Naoya Hatakeyama Ito hanno lavorato al progetto Home for All e alla realizzazione del padiglione. Il progetto presenta la traiettoria corpo a corpo degli architetti giapponesi con gli abitanti della città di Rikuzentaka, colpita dallo tsunami del marzo del 2011. Le foto di Hatakeyama, nato nella città, documentano la routine del posto prima del maremoto, la devastazione delle acque e il processo cooperativo tra architetti ed abitanti per l’elaborazione di progetti di case.
— Estamos orgulhosos e felizes com o trabalho realizado. Aguardamos ansiosamente outras participações bem-sucedidas em competições de arquitetura deste nível — declarou o presidente da fundação, Víktor Vekselberg, em nota enviada pela assessoria de imprensa da Embaixada russa na Itália. Apesar da vitória da Rússia, um grupo de ativistas ocupou o pavilhão em pleno dia de abertura da Bienal para protestar contra o presidente Vladímir Putin e defender o grupo punk Pussy Riot. O prêmio de melhor instalação foi para o Urban Think Tank, associado a Justin McGuirk, que reproduziram no Arsenale a ambiência informal da Torre David, em Caracas, um edifício inacabado que foi sendo regenerado pela população local pela instalação de restaurantes. O júri internacional da Mostra de Arquitetura de Veneza é composto por Wiel Arets (Holanda), Kristin Feireiss (Alemanha), Robert A.M. Stern (EUA), Benedetta Tagliabue (Itália) e Alan Yentob (Grã-Bretanha). — Esses arquitetos nos fazem pensar, com sua investigação, no poder transformador das pessoas ao enfrentarem e darem novo sentido às cidades informais — destacou o júri em nota oficial. O catálogo oficial da Bienal em italiano e inglês possui um único volume de 348 páginas dedicadas à exposição internacional, às participações nacionais e aos eventos paralelos. O volume estará, pela primeira vez, disponível em versão e-book, o que permite uma leitura interativa e hipertextual do catálogo, com conteúdo iconográfico inédito. Espaços em comum Este ano, alguns países, representados por renomados arquitetos, também participam de exposições fora de seus pavilhões nacionais. Nomes como Mario Botta, Valerio Olgiati e Herzog&De Meuron interagem entre si e mostram que o espaço pode ser usado e aproveitado por todos. A Bienal de Arquitetura de Veneza ainda apresenta a mostra paralela Traces of Centuries & Future Steps, preparada pela organização não governamental GlobalArtAffairs Foudantion, com sede na Holanda. Um grupo pouco conhecido de 60 arquitetos de 26 países apresenta seus trabalhos no Palazzo Bembo, próximo à Piazza San Marco. Os debates estão sendo realizados no Palazzo Trevisan degli Ulivi. As questões teóricas da profissão estão entre os temas comentados por convidados como Miroslav Šik, Adam Caruso e Quintus Miller.
Os arquitetos japoneses foram premiados com o projeto Home for All, que fala sobre a reconstrução de Rikuzentaka, afetada pelo tsunami de 2011. O Brasil foi representado pelo Studio MK27 com o filme-instalação Peep, que mostra cinco minutos da vida de uma família
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La menzione della giuria è andata al padiglione russo, rappresentato da una équipe del centro di innovazioni Skôlkovo (versione russa della californiana Valle del Silicio). I due piani del padiglione russo dividono lo spazio espositivo. Il primo piano esibisce la storia delle città chiuse dell’era sovietica, mentre il secondo presenta il centro Skôlkovo e le sue innovazioni. — Siamo orgogliosi e felici del lavoro realizzato. Aspettiamo con ansia altre partecipazioni di successo in gare di architettura di questo livello — ha dichiarato il presidente della fondazione, Víktor Vekselberg, in nota inviata dagli assessori stampa dell’Ambasciata russa in Italia. Nonostante la Russia abbia vinto, un gruppo di attivisti ha occupato il padiglione proprio il giorno dell’apertura della Biennale per protestare contro il presidente Vladimir Putin e per difendere il gruppo punk Pussy Riot. Il premio di miglior installazione è andato a Urban Think Tank, associato a Justin McGuirk, che hanno riprodotto nell’Arsenale l’ambiente informale della Torre David a Caracas, un edificio inconcluso che è stato rigenerato dalla popolazione locale grazie all’installazione sul posto di ristoranti. La giuria internazionale della Mostra di Architettura di Venezia è composta da Wiel Arets (Olanda), Kristin Feireiss (Germania), Robert A.M. Stern (USA), Benedetta Tagliabue (Italia) e Alan Yentob (Gran Bretagna). — Questi architetti, con le loro indagini, ci fanno pensare al potere di trasformazione delle persone quando affrontano e danno un nuovo senso alle città informali — ha sottolineato la giuria, in nota ufficiale. Il catalogo ufficiale della Biennale in italiano e inglese è di cinque volumi di 348 pagine ognuno, rivolte all’esposizione internazionale, alle partecipazioni nazionali e ad eventi paralleli. Per la prima volta il volume sarà disponibile anche in versione e-book, il che permette una lettura interattiva e ipertestuale del catalogo, con contenuti iconografici inediti. Spazi in comune Quest’anno alcuni Paesi, rappresentati da architetti di nome, partecipano alle esposizioni anche al di fuori dei loro padiglioni nazionali. Nomi come quelli di Mario Botta, Valerio Olgiati e Herzog&De Meuron interagiscono tra di loro e mostrano che lo spazio può essere usato e sfruttato da tutti. Inoltre la Biennale di Architettura di Venezia presenta la mostra parallela Traces of Centuries & Future Steps, preparata dall’organizzazione non governativa GlobalArtAffairs Foudantion, con sede in Olanda. Un gruppo poco conosciuto di 60 architetti di 26 paesi presenta i suoi lavori presso Palazzo Bembo, vicino a Piazza San Marco. I dibattiti hanno luogo presso Palazzo Trevisan degli Ulivi. Le questioni teoriche della professione sono tra i temi commentati da invitati come Miroslav Šik, Adam Caruso e Quintus Miller. com unit àit aliana | s etem br o 2012
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Itália
pavilhão italiano, sob a curadoria de Luca Zevi, aposta na sustentabilidade. Com a exposição Quatro Estações, os trabalhos apresentados se baseiam na economia verde, sempre focando o conjunto economia, arquitetura e território. Os trabalhos apresentados apostam na revisão e na renovação da vida urbana. Um dos destaques é o projeto Recycled, de Michelangelo Pistoletto. Um dado gigante de madeira com 793x812 cm foi colocado a 20 cm do chão do gramado com vista para o pavilhão italiano. Pisoletto interveio no objeto com vários materiais reciclados recolhidos nos arredores da Bienal. Outro trabalho do pavihão é um vídeo-instalação que oferece uma vista do espaço, de forma a representar o impacto da indústria sobre a Terra. Com uma série de imagens em alta resolução por satélites ópticos e radar, o vídeo narra o desenvolvimento industrial italiano desde a década de 1970, quando tudo ainda era harmonioso, passando pela infraestrutura revolucionária dos anos 1990 até chegar à transformação que a indústria fez na paisagem nos dias de hoje. Há ainda a exibição de projetos de edifícios construídos nos últimos 15 anos, com foco na interação entre as pessoas e o meio ambiente. Na seção paisagem agrícola, a relação da arquitetura com as áreas rurais destaca a produção de alimentos. Outro destaque são os projetos que revitalizam áreas industriais abandonadas. De olho na Expo 2015 — evento que acontecerá em Milão e vai levantar questões como a alimentação mundial e a comunidade sustentável — a sessão Remade in Italy aborda as diretrizes da economia verde.
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l padiglione italiano, a cura di Luca Zevi, punta sulla sostenibilità. Con l’esposizione Quattro Stagioni, le opere presentate si basano sull’economia verde, sempre mettendo a fuoco l’insieme di economia, architettura e territorio. I lavori presentati puntano sulla revisione e il rinnovo della vita urbana. Uno dei punti forti è il progetto Recycled, di Michelangelo Pistoletto. Un dado gigante di legno che misura 793x812 cm è stato messo a 20 cm dal pavimento erboso con vista sul padiglione italiano. Pisoletto è intervenuto sull’oggetto con vari materiali riciclati raccolti nelle vicinanze della Biennale. Un altro lavoro del padiglione è un video-installazione che offre una vista dallo spazio, cosí da rappresentare l’impatto dell’industria sulla Terra. Con una serie di immagini in altra risoluzione fatta con satelliti ottici e radar, il video narra lo sviluppo industriale italiano fin dagli anni ’70, quando tutto era ancora armonioso, passando dall’infrastruttura rivoluzionaria degli anni ’90, per poi arrivare alla trasformazione che l’industria ha fatto sul paesaggio ai giorni d’oggi. Inoltre c’è l’esibizione di progetti di edifici costruiti negli ultimi 15 anni, mettendo a fuoco l’interazione tra le persone e l’ambiente. Nella sezione ‘paesaggio agricolo’ il rapporto dell’architettura con le zone rurali mette in enfasi la produzione di alimenti. Un’altro punto forte sono i progetti che riqualificano aree industriali abbandonate. Puntando lo sguardo verso la Expo 2015 — che avrà luogo a Milano e rileverà temi come quello dell’alimentazione mondiale e della comunità sostenibile — la sezione Remade in Italy approccia le direttive dell’economia verde.
on l’esposizione Cultura in costruzione – La Collettività dello Spazio Culturale, il Messico presenta in che modo l’architettura può contribuire alla definizione di uno spazio culturale collettivo e, allo stesso tempo come rafforza il legame tra gli edifici esistenti e l’architettura emergente. Il padiglione messicano esibisce 13 progetti che rivelano l’importanza della cultura architettonica contemporanea messicana in uno degli edifici più importanti di Venezia, la Chiesa di San Lorenzo, che sarà restaurata come contributo al patrimonio della città. In un accordo siglato con il comune di Venezia, la Chiesa di San Lorenzo diverrà una casa per il lavoro del Messico nelle biennali di arte e architettura nei prossimi nove anni. Anche se lo spazio non offre ancora condizioni di sicurezza per la visita del pubblico, le persone potranno osservare la restaurazione in corso all’entrata dell’edificio. Il padiglione messicano è a cura di Miguel Adrià.
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Instituto Australiano de Arquitetos apresentou no pavilhão do país a exposição Formações: Novas Práticas na Arquitetura australiana. Segundo Anthony Burke, um dos diretores de criação da exposição, a arquitetura está evoluindo, e isso foi explorado e apresentado neste trabalho. — A exposição destaca a variedade de práticas arquitetônicas que estão sendo desenvolvidas em toda a Austrália — comenta Burke. Idealizada pelos diretores de Criação Anthony Burke e Gerard Reinmuth, em parceria com TOKO Concept Design, a exposição conta com seis grupos de arquitetos em uma série de instalações que desafiam as percepções tradicionais do que é arquitetura.
Istituto Australiano di Architetti ha presentato, nel padiglione australiano, l’esposizione Formazioni: Nuove Pratiche nell’Architettura australiana. Secondo Anthony Burke, uno dei direttori di creazione dell’esposizione, l’architettura è in evoluzione e questo è stato sfruttato e presentato in questo lavoro. — L’esposizione mette in risalto la varietà di pratiche architettoniche che sono in via di sviluppo in tutta l’Australia — commenta Burke. Ideata dai direttori di creazione Anthony Burke e Gerard Reinmuth, in partnership con il TOKO Concept Design, l’esposizione conta su sei gruppi di architetti in una serie di installazioni che sfidano le percezioni tradizionali di ciò che sia l’architettura. com unit àit aliana | s etem br o 2012
Austrália
om a exposição Cultura em construção - A Coletividade do Espaço Cultural, o México apresenta de que modo a arquitetura pode contribuir para definir um espaço cultural coletivo, ao mesmo tempo em que fortalece a conexão entre os edifícios existentes e a arquitetura emergente. O pavilhão mexicano exibe 13 projetos que revelam a importância da cultura arquitetônica contemporânea mexicana em um dos edifícios mais importantes de Veneza, a igreja de San Lorenzo, que será restaurada como uma contribuição ao patrimônio de Veneza. Em um acordo com o município de Veneza, a Igreja de San Lorenzo se tornará um lar para o trabalho do México nas bienais de arte e arquitetura ao longo dos próximos nove anos. Embora o espaço ainda não esteja em condições seguras para permitir visitantes, as pessoas poderão observar a restauração em andamento da entrada do edifício. A curadoria do pavilhão do México é de Miguel Adrià.
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igrating Landscapes è l’esposizione del padiglione che presenta una diversa visione architettonica canadese, che si solidarizza con la tendenza mondiale dell’andare e venire. Le persone e, di conseguenza, le loro culture, si mescolano sempre di più, percorrono il mondo e seguono questo movimento: è ciò che propone l’esposizione, come sfida per l’architettura moderna.
igrating Landscapes é a exposição do pavilhão que apresenta uma distinta visão arquitetônica canadense que se solidariza com uma tendência mundial de ir e vir. As pessoas e, consequentemente, suas culturas, se misturam cada vez mais, percorrem o mundo e acompanham esse movimento: é o que a exposição propõe como um desafio para a arquitetura moderna.
ela primeira vez, o Instituto Ramon Llull apresenta uma exposição dedicada à arquitetura catalã, chamada Vogadors. São nove projetos de nove arquitetos diferentes que resumem as obras contemporâneas e vanguardistas da Catalunha. A exposição é inspirada no Mar Mediterrâneo, que marca a geografia da região. De acordo com o curador Jorge Oteiza, criar algo novo é como avançar pelo mar de costas, sem olhar para trás. — Se olharmos para trás, vemos o passado, o que já existe, e ficamos incapazes de reinventar as coisas. Por isso, nosso objetivo aqui é mostrar coisas novas, sem pensar ou olhar para o passado catalão.
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er la prima volta l’Istituto Ramon Llull presenta un’esposizione dedicata all’architettura catalana chiamata Vogadores. Sono nove progetti di nove architetti, che riassumono le opere contemporanee e d’avanguardia della Catalogna. L’esposizione è ispirata al Mar Mediterraneo, che segna la geografia della regione. Secondo il curatore Jorge Oteiza creare qualcosa di nuovo significa entrare nel mare di spalle, senza guardarsi dietro. — Se ci si guarda indietro si vede il passato, quello che esiste già, e rimaniamo incapaci di rinventare le cose. Per questo qui ci prefiggiamo di mostrare cose nuove, senza pensare o guardare verso il passato catalano.
A história da Bienal de Arquitetura
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Bienal de Veneza é o evento mais importante do calendário internacional de arquitetura. Arquitetos, designers, urbanistas e críticos participam da mostra como visitantes ou expositores. O evento acontece desde 1980. Durante alguns anos, foi realizado em períodos irregulares. Desde 2000, no entanto, a Bienal é apresentada a cada dois anos com um curador e tema específicos.
As exposições são divididas em pavilhões e cada um representa um país, que apresenta trabalhos dentro do tema concebido para aquele ano. Há também mostras paralelas de arquitetos convidados, sem vínculo com os países, mas dentro do tema proposto. A mostra premia o melhor pavilhão e o melhor projeto, sempre por meio de um júri internacional, além de oferecer a um arquiteto renomado o Leão de Ouro. Este ano, pela
primeira vez, o evento foi aberto no mesmo dia do Festival Internacional de Cinema. Até a última edição, a mostra dedicada à arquitetura acontecia depois do festival de cinema. A importância do evento para o calendário de arquitetura é cada vez maior, especialmente por conta do empenho em propor soluções para a urbanização das cidades e, assim, tornar a arquitetura algo mais familiar para as pessoas.
La storia della Biennale di Architettura
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a Biennale di Venezia è il principale evento del calendario internazionale di architettura. Architetti, designer, urbanisti e critici vi partecipano come visitatori o espositori. L’evento ha luogo dal 1980. Per qualche anno è stato realizzato in periodi irregolari. Ma dal 2000 la Biennale viene presentata ogni due anni con un curatore e tema specifici.
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Le mostre sono divise in padiglioni e ognuna rappresenta un paese, che presenta opere riguardanti il tema ideato per quell’anno. Ci sono anche mostre parallele di architetti invitati, senza vincoli con i paesi, ma sempre nell’ambito del tema proposto. La mostra premia il miglior progetto, sempre per mezzo di una giuria internazionale, oltre ad offrire ad un architetto di nome il Leone d’Oro. Quest’anno, per la prima volta,
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l’evento è stato aperto lo stesso giorno del Festival Internazionale di Cinema. Fino all’edizione scorsa, la mostra dedicata all’architettura aveva luogo dopo il Festival di cinema. L’importanza dell’evento per il calendario di architettura è sempre maggiore, specialmente dovuto all’impegno nel proporre soluzioni per l’urbanizzazione delle città e, cosí, far sí che l’architettura diventi un qualcosa di più familiare per le persone.
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équipe taiwanese presenta la Architect/Geographer – Le Foyer de Taiwan, con gli aspetti della cultura e dell’architettura di quel Paese, presentati secondo la prospettiva di un geografo, che fa vedere una nuova comprensione del paese asiatico per mezzo di uno sguardo internazionale. L’équipe è stata supervisionata dal Ministero della Cultura, organizzata dal Museo Nazionale di Belle Arti di Taiwan, a cura di Ke-Fung Liou. La mostra è composta da un paesaggio che proietta la cultura e la geografia di Taiwan. Sfrutta l’architettura di quel paese, ispirata alla cultural locale e alle condizioni geologiche, senza imitare gli ideali occidentali dell’estetica architettonica.
pavilhão da Suíça traz a exposição E agora juntos. Elaborada pelo arquiteto Miroslav Šik, de origem tcheca e professor da Politécnica de Zurique (ETH), tem como tema central uma crítica à arquitetura individualista. O objetivo é defender o diálogo entre os arquitetos e os habitantes de uma cidade, respeitando o contexto histórico na elaboração dos projetos, mas também dando valor e incrementando a qualidade de vida dos cidadãos. Miroslav Sik revisita o seu projeto Arquitetura Análoga de 1986-87, segundo o qual a arquitetura do cotidiano deveria ser uma arte popular e não elitista. Para ele, a arquitetura participativa deve ser promovida, enquanto a isolada deve ser destruída. — Nos últimos 20 anos tivemos o crescimento de arquiteturas esculturais, como a de Bilbao. São lindas formas, mas falta o diálogo com o que está em volta. Esse tipo de arquitetura chama a atenção, sai nas revistas, mas não se integra com os arredores — comentou. Segundo Sik, como professor, ele observa que não é fácil para os novos arquitetos tentarem criar um projeto novo, pois parece que tudo já foi feito. Ele acrescenta que seu objetivo é estimular os jovens a lutar por projetos diferenciados, sem repetir modelos preestabelecidos. Na exposição E agora juntos, ele usa a técnica de colagem nas instalações do pavilhão suíço. O curador transformou as paredes em gigantescos murais com fotografias de construções realizadas nos últimos 15 anos no país.
l padiglione svizzero presenta l’esposizione E ora insieme. Elaborata dall’architetto Miroslav Šik, di origine ceca e professore del Politecnico di Zurigo (ETH) ha per tema centrale quello dell’architettura individualista. La meta è quella di difendere il dialogo tra gli architetti e gli abitanti di una città rispettando il contesto storico nell’elaborazione dei progetti, ma anche dando valore e aumentando la qualità di vita dei cittadini. Miroslav Sik rivisita il suo progetto Architettura Analoga del 1986-87, secondo cui l’architettura del consueto dovrebbe essere un’arte popolare e non elitista. Per lui l’architettura partecipativa dev’esser promossa mentre quella isolata dev’essere distrutta. — Negli ultimi 20 anni abbiamo avuto un aumento di architetture sculturali, come quella di Bilbao. Sono forme bellissime, ma manca il dialogo con ciò che si trova intorno ad essa. Questo tipo di architettura colpisce, è pubblicato sulle riviste, ma non si integra con il resto — ha commentato. Secondo Sik, come professore osserva che non è facile per i nuovi architetti cercare di creare un nuovo progetto, visto che pare che tutto sia già stato fatto. Sik aggiunge che la sua meta è quella di stimolare i giovani a lottare per progetti svariati, senza ripetere modelli prestabiliti. Nell’esposizione E ora insieme Sik usa la tecnica del collage nelle installazioni del padiglione svizzero. Il curatore ha trasformato le pareti in giganteschi murali con foto di costruzioni realizzate negli ultimi 15 anni nel paese.
Serviço: 13ª Mostra Internacional de Arquitetura Bienal de Arquitetura de Veneza De 29 de Agosto a 25 de Novembro de 2012 das 10h às 18h (fechado às segundas-feiras) Ingressos a 20 euros. Maiores de 65 anos pagam 16 euros portadores do Biennale Card Gold, 13 euros estudantes até 26 anos, 12 euros. Há outros preços promocionais. Para mais informações, consultar www.labiennale.org/en/architecture/exhibition/tickets/
Servizio: 13ª Mostra Internazionale di Architettura Biennale di Architettura di Venezia Dal 29 Agosto al 25 Novembre 2012 dalle 10.00 alle 18.00 (chiuso il lunedí) Biglietti a 20 euro. Persone con più di 65 anni pagano 16 euro aventi la Biennale Card Gold, 13 euro studenti fino ai 26 anni, 12 euro. Ci sono altri prezzi promozionali. Per ulteriori informazioni entrare in www.labiennale.org/en/architecture/exhibition/tickets/
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Taiwan
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equipe taiwanesa apresenta a Architect/Geographer – Le Foyer de Taiwan com os aspectos da cultura e da arquitetura do país, apresentados pela perspectiva de um geógrafo mostrando um novo entendimento do país asiático através de um olhar internacional. A equipe foi supervisionada pelo Ministério da Cultura, organizada pelo Museu Nacional de Belas Artes de Taiwan e com curadoria de Ke-Fung Liou. A exibição é uma paisagem que projeta a cultura e a geografia de Taiwan. Explora a arquitetura do país inspirada na cultura local e nas condições geológicas, sem imitar as ideais ocidentais da estética arquitetônica.
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Cinema
Gôndola na contramão
Primeiro festival do diretor Alberto Barbera tem menos celebridades, um menor número de filmes concorrentes e homenagem a Spike Lee Janaína Pereira
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De Veneza
festival de cinema mais antigo do mundo chega à sua 69ª edição com algumas mudanças importantes em seu formato. A Mostra Internacional de Arte Cinematográfica, popularmente chamada de Festival de Cinema de Veneza, realizada de 29 de agosto a 8 de setembro, teve um novo diretor. Alberto Barbera assumiu o cargo em dezembro de 2011, em substituição a Marco Muller, que dirigiu o evento por oito anos. A mudança trouxe um novo olhar para Veneza. Barbera alterou a quantidade de filmes concorrentes ao Leão de Ouro — o prêmio máximo — de 22 para 18. O menor número, segundo ele, é para dar maior qualidade ao Festival. 40
— Festival de Cinema não é apenas desfile de estrelas no tapete vermelho — declarou Barbera ao anunciar a mudança. Essa modificação tornou a competição mais enxuta, o que beneficiou a maratona cinematográfica do público e da imprensa. Porém, a ausência de celebridades foi sentida e ficou visível na aparente diminuição tanto de espectadores nas sessões quanto de jornalistas na cobertura. A seleção de 2012 incluiu diretores consagrados como o francês Oliver Assaysas (com Apres Mai), o japonês Takeshi Kitano (com Outrage Beyond) e o americano Brian de Palma (com Passion). Dois dos filmes mais aguardados do ano — e cotados para o Oscar — passaram por Veneza: The Master, de Paul Thomaz Anderson, e To the Wonder, de Terrence Malick. O
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O novo diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, diminuiu a quantidade de filmes concorrentes ao Leão de Ouro
primeiro, inclusive, rendeu ao protagonista Joaquin Phoenix o título de ‘pior momento do festival’: ovacionado por sua atuação no longa, o ator mostrou-se desinteressado e entediado na entrevista coletiva do filme e chegou a sair da sala, causando revolta entre os jornalistas. Apesar de diminuir a quantidade de filmes da mostra competitiva, Veneza manteve a tradição de indicar três longas italianos ao Leão de Ouro. Os selecionados
dessa vez foram È stato Il figlio, de Daniele Cipri; Bella Adormentata, de Marco Bellochio; e Un giorno speciale, de Francesca Comencini. A mostra ainda homenageou o cineasta norte-americano Spike Lee com o prêmio Jaeger-Le Coultre Glory to the Filmmaker, concedido a personalidades que tenham contribuído com o cinema contemporâneo. No ano passado, o prêmio foi entregue a Al Pacino. Spike Lee ainda lançou na mostra o documentário Bad 25 sobre os 25 anos do disco Bad, de Michael Jackson. A presença do diretor foi um dos momentos mais concorridos. Apesar da boa seleção de filmes, Veneza pecou por não trazer nomes de peso para o tapete vermelho. Ainda que estrelas como Winona Ryder, Zac Efron, Philip Seymour Hoffman, Kate Hudson e Robert Redford tenham desfilado pelo Lido — onde o festival é realizado — para quem já teve Brad Pitt, George Clooney, Kate Winslet, Madonna e Catherine Deneuve, para muitos, parecia faltar alguma coisa. — Por mais que Barbera diga que o festival não precisa de celebridades, são elas que trazem a mídia. E isso Veneza não teve este ano. Faltaram artistas que atraíssem a mídia, que fizessem com que as pessoas ficarem esperando por eles. Só ouve comoção com a passagem do Zac Efron, ídolo juvenil. Daí, já percebemos o nível do festival — analisa a crítica de cinema Paola Ricciardi. Contracampo Italiano chega ao fim A maior controvérsia do diretor Alberto Barbera foi o fim da mostra Contracampo Italiano, direcionada exclusivamente a produções do país anfitrião. A decisão causou mal-estar na relação de Barbera com a imprensa italiana. — Foi contraditório. Ele chegou dizendo que ia valorizar o festival e começa extinguindo a seleção de filmes exclusivamente do país! Não faz sentido — reclama o produtor italiano Giancarlo Nardelli.
“Festival de cinema não é apenas desfile de estrelas no tapete vermelho” Alberto Barbera, novo diretor do Festival de Veneza
Nardelli acredita que essa atitude foi ruim para a relação de Barbera com a imprensa local, que, desde o começo, vê com receios o novo diretor do Festival de Veneza. — No mínimo foi antimarketing pessoal. Ele poderia até acabar com o Contracampo, aos poucos, ou no próximo ano... Mas assim, logo no primeiro ano, foi uma atitude ruim — reclama. Com a redução de filmes da mostra competitiva e o fim da Contracampo Italiano, Veneza teve uma redução de cerca de 30% do total de filmes exibidos. O festival já chegou a ter mais de 400 filmes apresentados em 11 dias. A concorrência com Toronto continua Não é de hoje que Veneza perde terreno para o Festival Internacional de Cinema de Toronto. A cidade do Canadá tem atraído os principais filmes que querem fazer seus lançamentos nesta época do ano. A mostra de Toronto — que não distribui prêmios como Veneza — tem como foco a venda de filmes para o mercado internacional. Em 2011, 360, de Fernando Meirelles, foi lançado mundialmente lá. O filme até esteve cotado para ir a Veneza, mas a distribuidora optou por colocá-lo em um festival voltado diretamente para o mercado. Para enfrentar o Festival de Toronto, Barbera lançou um mercado de filmes em Veneza. O evento, chamado Venice Film Market, movimentou o Hotel Excelsior, no Lido, onde foi realizado, mas até o fechamento desta matéria não tínhamos os números dos negócios realizados. Para Andrew Smith, representante de uma distribuidora americana que foi a Veneza para
O Festival de Veneza não atraiu a mídia segundos os críticos, mesmo com artistas de peso como Kate Hudson, Zac Efron e Winona Ryder. Porém, o evento brindou o público com dois filmes cotados para o Oscar: To the Wonder e The Master
participar do evento, é difícil concorrer com Toronto. — Toronto já tem uma boa tradição na venda de filmes. Vim a Veneza para ver como seria, mas, assim como eu, outros distribuidores irão direto daqui para o Canadá e os negócios serão fechados lá. Essa é a tendência — explicou. O evento começa em Toronto quando Veneza já está na reta final. Isso faz com que o festival italiano perca não só em termos comerciais, mas também em divulgação: muitos jornalistas deixam a cobertura do festival na Itália antes do final para acompanhar os lançamentos de Toronto. Polêmicas sobre o novo Palazzo del Cinema Além dos desafios mercadológicos, Alberto Barbera enfrenta problemas com a estrutura física do Festival de Veneza. Em 2005, a Biennale di Venezia —organizadora do
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Cinema A última vez em que o Brasil concorreu ao Leão de Ouro foi em 2005, com O jardineiro fiel, de Fernando Meirelles. Este ano, o único representante foi o curta-metragem O Afinador, de Fernando Camargo e Matheus Parizi festival — assinou um contrato para a construção do novo Palazzo del Cinema. A previsão de inauguração era para 2011, para comemorar os 150 anos da Unificação italiana. De acordo com a imprensa local, foram gastos mais de 37 milhões de euros para abrir o buraco onde deveria ser construído o novo Palazzo. Porém, foi descoberto amianto no solo, e como o material é altamente tóxico, a construção foi suspensa. Para retirar o amianto, a Biennale precisará desembolsar mais dinheiro, e com a crise italiana, isso ficou inviável. Resultado: Barbera resolveu literalmente tapar o buraco e construiu uma praça com bar e lounge. Para a construção e a manutenção do novo espaço, inaugurado no primeiro dia, estima-se um gasto de 20 mil euros mensais. Assim que assumiu a direção do Festival de Veneza, Alberto Barbera afirmou que “para enfrentar a competição crescente, a Biennale está comprometida a promover a reconstrução das áreas já em construção nos próximos quatro anos”. Suas palavras, porém, não tiveram muito crédito na Itália.
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— Acho difícil que o Palazzo Del Cinema seja construído. Essa história é antiga e até agora nada — comentou o arquiteto Francesco Albetini durante o Festival de Veneza, enquanto aguardava, na nova área de lazer, o início de uma sessão da mostra. O diretor, no entanto, já tomou algumas providências. Novos equipamentos de projeção para cópias digitais e em película foram instalados para o Festival deste ano. E ele acredita que as reformas das salas Grande, Darsena e Volpi vai acontecer nos próximos três anos. A área de imprensa, porém, continua problemática. Faltam computadores e tomadas para os notebooks. Além disso, a conexão wifi continua ruim e não há espaço para se trabalhar. A maioria dos jornalistas acaba se ajeitando pelo chão da sala de imprensa e muitos acompanham as coletivas em pé. O Brasil em Veneza Há alguns anos o cinema brasileiro não concorre ao Leão de Ouro em Veneza. O último candidato ao cobiçado prêmio veneziano foi O jardineiro fiel, de Fernando Meirelles, em 2005. Desde então, o país não esteve presente na mostra competitiva. Em 2010, o Brasil participou com alguma força. O filme era Lope, de Andrucha Waddington, uma co-produção Brasil-Espanha apresentado fora de concurso. Exibido no penúltimo dia do Festival para a imprensa, foi um fiasco: a coletiva com o diretor, realizada no último dia, tinha menos de dez jornalistas. Este ano, o único representante brasileiro foi o curta-metragem O Afinador, de Fernando Camargo e Matheus Parizi, que fez parte da mostra Orizzonti, ao lado de outros 13 curta-metragens. O enredo conta a história de um jovem afinador de pianos que sonha ser concertista. Embora nos últimos anos, o cinema brasileiro tenha preferido participar dos festivais de Berlim e Cannes — os outros dois que formam com a mostra italiana a trindade dos festivais de cinema — Veneza já foi palco de bons momentos made in Brazil. Filmes como Eles Não Usam Black Tie, de Leon Hirszman, em 1981, e Abril Despedaçado, de Walter Salles, em 2001, já concorreram ao Leão de Ouro. Mas o festival anda mesmo com menos participantes latinos nos últimos tempos. A última vez em que
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O cinema brasileiro concorreu poucas vezes ao Leão de Ouro em Veneza. Uma delas foi em 2005 com O jardineiro fiel; em 2010, participou com Lope de Andrucha Waddington. Este ano, leva para o evento o curtametragem O Afinador
a América Latina concorreu ao Leão foi em 2010, com o chileno Post Mortem, de Pablo Larraín, que chegou a ser cotado para prêmios, embora tenha saído de Veneza sem nada. Em compensação, o cinema oriental vem crescendo na mostra, com dois a quatro representantes por ano na mostra competitiva. Com Barbera no comando, parece que essa tendência vai continuar. Saber os rumos que o Festival de Veneza vai tomar sob o comando de novo diretor é difícil dizer. Mas o seu primeiro ano não agradou à grande maioria, como analisa o crítico de cinema Pietro Marcandoni. — Ele tentou fazer uma seleção de qualidade e conseguiu. Mas é preciso rever o conceito. Tem que valorizar o que é nosso, dar oportunidade aos outros países, trazer artistas que rendam notícias. Não é um festival só para ele, é para o mundo — conclui.
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GiordanoIapalucci
Musica dei Popoli
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ino al 18 novembre il Centro Flog presenta la XXXVII edizione del Festival Musica dei Popoli. Nato nel 1979, può fragiarsi del titolo di prima rassegna internazionale di musica etnica e folklorica in Italia. Con lo scopo di divulgare le culture musicali del mondo, anche di quei popoli più lontani, in più di 30 edizioni ha già presentato ben 300 artisti di 80 nazioni. L’edizione di quest’anno presenta artisti provenienti dalla Cina con l’Orchestra tradizionale di Jilin, da Bali con il suo Teatro delle Ombre, dall’India con il flautista Hariprasad Chaurasia e dal Tibet con Yungchen Lahamo e i suoi canti popolari. Ingresso 5 euro.
LaChapelle P
uò piacere oppure no. Il suo mondo artistico ha un’aurea kitch ma sicuramente intrisa di classe e stile: l’artista americano David LaChapelle viene riproposto in un percorso-racconto antologico attraverso una cinquantina di fotografie. LaChapelle non è certo il classico fotografo, quello per intenderci con la macchina fotografica al collo e il
mondo davanti alla ricerca dell’evento straordinario. Per molti è come un termometro del tempo, riuscendo a osservare e smascherare le miserie morali, le debolezze e le ipocrisie dell’uomo moderno scoprendo la verità dei fatti, le contraddizioni e l’usura dei sentimenti umani. Fino al 4 novembre presso il Lucca Center of Contemporany Art.
Uno sguardo italiano En touto nika a mostra di fotografia presentata dalla a Merlino Bottega d’Arte di Firen-
LGalleria d’Arte Contemporanea Frittelli Lze propone l’esposizione dal titolo Fatto a Mano er tutti coloro che amano inventare, nasce da un numero speciale della Rivista En touto nika, citazione greca traduciP
creare e produrre le proprie idee, è consigliato non perdere l’appuntamento con la Fiera del Fatto a Mano in Italia, con la sua atmosfera magica e suggestiva. Dal 22 al 25 novembre presso la Fortezza da Basso di Firenze gli espositori, oltre a proporre le loro creazioni si renderanno disponibili, grazie alla loro esperienza, a consigli, corsi e dimostrazioni . Più che una mostra, un vero e proprio paradiso non solo per gli amanti del Patchwork, Quilting e Decoupage ma anche dell’arte pasticcera, attraverso i maestri di cucina che insegneranno come utilizzare gli strumenti e gli accessori più strani ed innovativi per creare pasticcini e quant’altro di dolce possiate immaginare.
Cartaditalia, dell’Istituto Italiano di Cultura di Stoccolma. Con l’intento di creare uno spaccato attuale dell’arte fotografica in Italia il curatore Elio Grazioli osserva come questa sia composta da individualità trasversali e lontana da una omogenietà: “È la ‘poetica’ dei singoli artisti, quello che li rende originali e irriducibili. La fotografia oggi non è più affannata ad affinare una tecnica o a inseguire un’estetica derivata da altre forme espressive e neppure più a convincere di averne una propria, anzi al crocevia di una possibile ‘rivoluzione’, quella digitalevirtuale”. L’esposizione vuole caricare su se stessa questi elementi, non seguendo una linea metodica ma orientata da elementi di diversità e molteplicità. Fino al 20 ottobre.
bile in Con questo vinci La mostra offre una rassegna di pittura dei primi 5 artisti classificati della 1a edizione del concorso Premio Merlino. Si tratta di pittori molto diversi tra loro per formazione artistica, stilistica e tecnica utilizzata, ma tutti legati da un intenso e appassionato sentimento verso la ricerca espressiva dell’opera. I dipinti di Giorgio Distefano, Gabriele Genini, Andrea Massaro, Patrizia Pastorelli, Zeljko Pavlovic saranno esposti fino a fine settembre. L’ingresso è gratuito con orario: dal martedì al sabato, ore 17/20
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Esporte
batalha naval de Luca Guilherme Aquino
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De Milão
fiasco da natação italiana nas Olimpíadas de Londres serviu para um exame de autoconsciência. Se, por um lado, as águas do grupo ficaram turbulentas pela ausência de medalhas, por outro serviram para acionar os filtros e depurar os problemas, entre eles, algumas questões de relacionamentos internos e estratégias de treinamento. Ninguém subiu em pódio algum, com exceção da fundista de águas abertas, terceira colocada. Mas o bronze não salvou a pátria de Federica Pellegrini e compania bella. Um dos maiores nomes da natação italiana e esperança de medalha, o jovem velocista Luca Dotto, de 22 anos, atual vice-campeão mundial, encerrou os seus “jogos” na semifinal dos 50 metros nado livre e voltou para casa antes da hora. Para quem luta sempre por décimos de segundo no cronômetro, antecipar o retorno para a Itália doeu e incomodou. E, depois de tanto sacrifício, chega o momento da reflexão: — É preciso recomeçar daqui. A derrota vai aumentar a nossa sede de vingança — disse, com a maturidade de quem sabe que o esporte é feito de sucessos e de fracassos. 44
De olho nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 e após uma breve pausa de merecidas férias — incluindo uma sessão de fotos de moda para o estilista Giorgio Armani — Luca Dotto vai se jogar de novo na água para nadar atrás do prejuízo, recuperar os décimos que faltaram para levá-lo à final londrina e seguir em frente. Ele está em boa compania: o favorito para a prova, o brasileiro Cesar Cielo, também ficou com o resultado abaixo do esperado ao classificar-se em terceiro lugar, o que o obrigou a adiar para 2016 o sonho do bicampeonato olímpico. Com muita lucidez, Luca Dotto comentou, taxativo e sem meias palavras, que a “participação italiana no parque aquático de Londres vai ser recordada como a nossa Caporetto, e a natação italiana sai ferida”. Ele fazia alusão à célebre batalha da Primeira Guerra Mundial, nos arredores de Caporetto, cidade que fazia parte da Itália, hoje se encontra em solo esloveno. Palco da maior derrota militar do exército italiano, o local tornou-se uma expressão usada pelos italianos para designar um fracasso retumbante. Lava-se a alma e começa tudo de novo, melhor do que antes — receita para perseguir os bons resultados.
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La Presse / Alfredo Falcone
Atual vice-campeão mundial, o nadador velocista Luca Dotto, de 22 anos, voltou de Londres sem medalha, mas se prepara com tudo para brilhar nos Jogos do Rio, em 2016
Gian Mattia D’Alberto
importantíssimo. Se erra um, você está fora da luta. Não tem nem tempo para estratégia — analisa. Nesta atual temporada, e que culminou em Londres, Luca Dotto, treinado por Claudio Rossetto, enfrentou problemas de saúde com a inflamação de duas vértebras. No entanto, os resultados, abaixo do esperado, não o abateram. Ao contrário, deram a ele maior estímulo para nadar atrás do prejuízo. — Estes são momentos muito difíceis para um esportista e o coloca à dura prova. O único jeito de sair deles é concentrar-se na recuperação, coisa que estou fazendo. Infelizmente, as minhas performances foram muito condicionadas pelo infortúnio que eu tive na coluna e que não me permitiu manter em Londres a forma que eu tinha alcançado em Xangai — afirma Luca, que esperava surpreender a todos e, principalmente, a si próprio. Não deu. Como dizia o grande guru da natação italiana falecido em 2009 aos 66 anos de idade, Alberto Castagnetti, “natação é matemática; faz-se faz um determinado treinamento para obter um determinado tempo”.
Gian Mattia D’Alberto
Admiração pelo brasileiro Cesar Cielo Luca Dotto treina 12 mil metros por dia para nadar a prova dos 50 metros em pouco mais de 20 segundos. O jovem colocou a cabeça fora d’água no manancial de atletas de alto nível quando ganhou a medalha de prata no campeonato de Xangai, no ano passado, com o tempo de 21’’90. O ouro foi para Cesar Cielo, que venceu a prova com 21’’55, uma eternidade de diferença nesta curta distância. — Ele (Cesar Cielo) é o melhor velocista do mundo e da história. Tem potência e técnica e, sobretudo, uma grandíssima largada. Eu fiz uma das minhas minha melhores provas — afirma Luca Dotto a ComunitàItaliana. Para se ter uma ideia da evolução rápida da prova mais veloz da natação, basta lembrar que o tempo que deu a Luca Dotto a prata no Mundial em 2011 seria suficiente para ele conquistar “apenas” a oitava posição em Londres, na disputa vencida pelo francês Florent Manadaou, com 21’’34. O vice-campeonato mundial tinha sido uma surpresa para Luca Dotto, um pouco mais do que ter ficado fora da final de Londres. E deu a ele a confiança em si, necessária para sonhar mais alto. O objetivo principal era conquistar uma das oito vagas da final. — Em uma Olimpíada, qualquer nadador que chegar a uma final é um principal adversário — comenta Dotto, que acabou com o 13° melhor tempo e teve que assistir à prova das arquibancadas. Ele sabe o que diz: já ganhou a medalha de prata em Xangai, nadando na raia 6, e surpreendeu outros favoritos nas raias 3, 4 e 5. O nadador nascido em Camposampiero, comune da província de Padova, no Vêneto, tem margem de sobra para evoluir até o Rio de Janeiro. Um de seus defeitos é o tempo de reação à partida. — Consigo ter uma braçada muito solta. Mas o que preciso melhorar é a minha largada. Gostaria de ter aquela do Cielo, que lhe permite, já nas primeiras braçadas, estar muito à frente dos outros. Nesta prova, qualquer pequeno detalhe é
Com 1,92 de altura e 80 quilos, Dotto é um dos nadadores mais esbeltos e “leves” do circuito mundial
Físico esbelto, leveza e velocidade Luca Dotto começou a dar as primeiras braçadas aos seis anos de idade, em Citadella, cidade do Vêneto, terra de muita imigração para o Brasil. Os resultados foram chegando, principalmente na reta final da adolescência, quando venceu os 100 metros livres no Mundial de Juniors do México, em 2008. A fluidez e a energia das braçadas compensavam um físico que lembrava e lembra mais um fundista do que um velocista. A natação é um esporte que consegue praticar com grande facilidade, confessa. E, como uma exceção que confirma a regra, nem sempre o resultado final espelha-se nos tempos alcançados nos treinos. — Gostaria de ser como os outros velocistas fisicamente, mas a natureza Luca Dotto, nadador italiano me dotou com este corpo esbelto, porém veloz . Com um 1,92 de altura e 80 quilos, ele é um dos nadadores mais
“Cesar Cielo é o melhor velocista do mundo e da história. Tem potência e técnica e, sobretudo, uma grandíssima largada”
“magros” do circuito mundial e, como consequência, mais leves. Com a evolução natural das técnicas de treinamento, a vida de atleta vai se tornando mais longa. Isso tem atraído muitos ex-atletas de alto nível, fator que aumenta ainda mais a concorrência entre os velocistas. A explosão de força e as braçadas em uma prova de pouco mais de 20 seguntos exige um esforço bem diferente daquele cobrado por uma prova de fundo na qual a resistência é fator fundamental. Na capital inglesa, o quinto lugar do americano Anthony Ervin, de 31 anos, nos 50 metros nado livre, foi a prova viva de que a carreira de Luca Dotto está apenas no “começo”. — A volta de Ervin é algo incrível. Existe, certamente, um pouco menos de “inconsequência” como eu tinha no ano passado, até porque eu me apresentava em Xangai como um outsider. Hoje, ao mesmo tempo, tenho maior segurança em relação às minhas capacidades — resume Dotto, dando uma “piscada de olho” para o Rio de Janeiro. Desde o ano de 2010, Luca faz parte do Grupo Esportivo Florestal, instituição criada na década de 1950. Esse fator fez com que o atleta passasse a treinar em Roma. Desta forma, ele ganha um salário apenas para treinar, tendo sido “adotado” pelo poder público. No Grupo, o nadador conheceu a esgrimista Rossella Fiammingo, que também atuou em Londres. Entre um treino e outro, os dois acabaram juntos e se tornaram um belo casal de esportivos. Naturalmente, o casal está nas páginas das revistas italianas pela beleza e simpatia. Como ambos voltaram de Londres sem medalha, não resta outra coisa que darem-se as mãos, unir suas forças e curtir o romance antes dos próximos desafios rumo ao Brasil, onde o encontro entre os atletas do planeta está marcado para daqui a quatro anos.
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História
Fanatismo nacional
Estudiosos discutem no Rio os movimentos políticos e sociais relacionados à ideologia fascista na Itália e no Brasil Nathielle Hó
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ecentemente, várias ocorrências revelaram o preocupante crescimento do nazifascismo, não apenas na Europa como também no Brasil. Na Itália, lembranças do fascismo ressurgiram no governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Em 2011, seu partido Povo da Liberdade (PDL), apresentou um projeto de lei que procurou revogar a proibição do movimento no país. Giovanni Iotti, vereador da cidade de Pieve Saliceto, também membro do PDL, propôs em 2012, uma homenagem a Benito Mussolini, atribuindo a uma escola o nome do antigo líder e ditador fascista, que tinha sido professor no local. Até mesmo nos supermercados os regimes autoritários são lembrados, como aconteceu em Verona, onde um estabelecimento este ano colocou à venda garrafas de vinho com a foto de Adolf Hitler no rótulo, o que levou a procuradoria local a abrir uma investigação por apologia ao nazismo. Mesmo com tantas reminiscências do nazifascismo, existe uma lei italiana de 1952 que proíbe a manifestação favorável ou a militância a esses movimentos totalitários. E para discutir um tema que faz parte da história, mas que está tão presente no cotidiano, entre agosto e setembro, na Universiade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), uma conferência abordou os 90 anos da Marcha sobre Roma — evento que culminou no fascismo. Nas palestras foram apresentadas as facetas publicitária, nacionalista e repressiva desses movimentos através de estudiosos do assunto, como o professor da Universidade de Padova, Giorgio Sacchetti. Ele lembrou dos antifascistas, representados pelos sindicalistas, contrários à ideologia de massa e ao fanatismo nacional. Sacchetti trouxe à tona momentos importantes, como o Biênio Vermelho marcado pelos anarquistas ocupando as fábricas na Itália. Em contrapartida, medidas repressivas como 46
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prisão, exílio e holocausto foram o ápice da consolidação do regime, o que desencadeou a resistência, lembrou Giorgio. — A Primeira Guerra Mundial foi o laboratório ideológico do fascismo. Durante aquele período, houve um nacionalismo exagerado acompanhado da intervenção violenta do Estado, personificado por Mussolini. Por outro lado, havia os socialistas, que eram a favor do antimilitarismo e do pacifismo — acrescentou. A violência política e o racismo O professor de História Contemporânea da Unirio, Ricardo Salles, recorre à teoria de Antonio Gramsci que foi preso e vítima do fascismo, para explicar a atual violência social e política. O pensador italiano acreditava que o poder exercido pelas classes dominantes sobre as classes subalternas não estava relacionado apenas à pressão ideológica do Estado, mas tinha a ver, sobretudo, com o controle do sistema educacional, das instituições religiosas e dos meios de comunicação pelos poucos que detinham o poder. O professor Giordano Guerri, da Universidade de Roma, por isso mesmo, acredita que o fascismo foi incorporado pelo direito italiano, tendo firmado uma aliança com o movimento nacional de assistência social. Gramsci,
segundo o professor Ricardo, alerta contra a adoração ao Estado, que resultaria na obediência cega da sociedade. — Do cárcere fascista, Gramsci refletiu de forma ampla sobre seu tempo, principalmente através dos Cadernos do Cárcere, escritos na prisão fascista. A princípio, ele considerou o fascismo apenas como uma forma a mais de reação da direita, depois começou a incentivar a união dos partidos de esquerda contra essa corrente — ressaltou Salles. João Bertonha, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), e René Gertz da PUC-RS, explicaram sobre o fascismo que floresceu no Brasil. Os dois possuem trabalhos sobre o integralismo e sua organização partidária, a Ação Integralista Brasileira (AIB), ativa em meados dos anos 1930 e 1940. Além disso, eles também têm estudos dedicados ao Estado Novo da era Getúlio Vargas. Assim como fascistas europeus, os integralistas se cumprimentavam com o braço esticado e a mão espalmada, proferindo a frase “eis-me aqui”. Os professores lembraram que atualmente existe um movimento neofascista que guarda resquícios do original, mas que incorpora novas ideias e grupos sociais, além de usar novas tecnologias de comunicação. Os grupos nazifascistas contemporâneos são portadores de valores intolerantes, marcados pelo racismo e pelo discurso contra os imigrantes. A extrema direita faz parte da cultura política violenta do século XXI e também atua em países latino-americanos como o Brasil — ressaltaram os pesquisadores.
Meio Ambiente
Como Fênix
O bombardeio de 1940 que arrasou Milão não poupou as estruturas das estufas do viveiro de Alfredo Riva, mas as raízes continuaram firmes e cresceram até o belo resultado que é visto hoje
Guilherme Aquino De Milão
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ilão é uma cidade que se descobre aos poucos. Escondida entre os inúmeros pátios internos dos prédios, acaba se camuflando entre as paredes destes mesmos edifícios. Em meio à aparente selva de pedra, eis que um oásis de plantas se distingue, apenas porque as árvores não superam a altura dos imóveis vizinhos. O vivaio Riva nasceu na década de 1930, fruto do amor do botânico Alfredo Riva. Em junho de 1940, o bombardeio que martelou e arrasou quarteirões inteiros da capital lombarda não poupou as estruturas das estufas de Alfredo Riva. As raízes, no entanto, continuaram firmes e fortes no subsolo e o projeto renasceu das cinzas, literalmente. Mais tarde, as filhas se ocupariam do local que hoje abriga o mais inusitado e inovador espaço urbano-cultural. De olho na Expo 2015, os administradores abrem as portas e as sombras das plantas para o lançamento da Expop. Enquanto a Itália naufraga em um maremoto econômico, as ideias continuam a frutificar no vivaio. Desta vez, as sementes criativas deram origem a uma série de iniciativas a 360 graus. Elas têm tudo
para influenciar, positivamente, a rotina da cidade e aquela de seus habitantes. Agentes culturais e empresários de diferentes áreas se ramificam e espalham projetos inteligentes capazes de movimentar a economia local e compartilhar boas intenções e ações — como a ideia de um Parco Orbital, ou seja, a reunião dos parques verdes espalhados ao redor de Milão. A apresentação de dez projetos aconteceu em uma manhã de verão europeu. Ninguém pede dinheiro, mas sim o direito de estimular o crescimento de todos — idealizadores ou visitantes. As plantas ornamentam as esculturas do artista Duilio Forte, por exemplo. Martina Mazzotta e Forte criaram o projeto Zoo D’Artista. A ideia de base é a de espalhar pela cidade esculturas de animais de madeira, em tamanho original, que poderão ser usadas também como brinquedos pelas crianças.
O vivaio Riva, criado em 1930, recebeu várias ideias e projetos inovadores de conservação do espaço, como o Parco Orbital, que seria a reunião dos parques verdes de Milão
De preferência no parque Idro Montanelli, onde existia o antigo zoológico da cidade. Desta forma, se resgata um pedacinho da memória urbana milanesa e amplia-se a pouca oferta de recreação infantil nos espaços públicos da região. Outro projeto interessante é o Drink Ability, dos italianos Luca Leone e Tommaso Cecca. A sua proposta é de personalizar o consumo de bebidas alcoólicas através de quatro princípios fundamentais: a pesquisa de produtos de qualidade, a definição e a otimização dos percentuais de álcool dos coquetéis clássicos, o desenvolvimento de novos tipos de coquetel, e a difusão das regras básicas da habilidade de beber bem. Desta forma, os criadores deste projeto acham que seria possível ajudar na campanha pela educação do jovem contra o excesso no consumo das bebidas. O projeto casa com o lema da Expo 2015, ou seja, Feed the Planet, tem como objetivos primordiais identificar a real tolerância à bebida de acordo com a resistência de cada indivíduo e evitar ressacas no dia seguinte. O Drink Ability educa a beber e tem o apoio da Câmara de Comércio de Milão e da Associação Barman. Mas nada melhor do que a visão dos outros para ajudar na construção da própria identidade. E eis uma câmera na mão e boas ideias e depoimentos em muitas cabeças diferentes. Quem somos, de Antonella Libera, entrevista os estudantes estrangeiros em Milão, junto a alguns dos principais cartões-postais
da cidade. O Arco da Paz, o Duomo, o castelo Sforzesco, a estação dos trens e a Stazione Centrale servem de cenários para que os jovens que vêm de fora possam dizer e fazer sugestões de melhorias urbanas e culturais. A intenção é dar aos governantes uma contribuição imparcial e externa, apenas possível tendo o mundo lá fora como ponto de partida e de observação. com unit àit aliana | s etem br o 2012
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Dança
Dança para se encontrar
O mestre italiano Pio Campo nos leva para o mundo da dançaterapia como uma forma de devolver a nós mesmos o nosso corpo
Stefania Pelusi
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De Brasília
átima Feitosa, uma das alunas do mestre italiano Pio Campo, se aproximou da dançaterapia em 2007. Eu já tinha percorrido um longo caminho com terapeutas, mas não vi melhoras na voz. O encontro com a nova forma de movimento mudou sua vida, explica à Comunità. — O começo foi difícil para mim. Mas quando voltava para casa, após os encontros de dança, me sentia muito bem e isso me motivava a voltar. Através dos movimentos do corpo, muitas coisas mudaram em mim. Percebi que a minha voz mudou muito, sem precisar falar. Já se passaram cinco anos desde que comecei. Agora participo do curso com prazer, embora antes fosse mais difícil porque mexia com algo dentro de mim que não consigo explicar. Hoje, tenho mais confiança, sou uma nova pessoa e acho que vou dançar para o resto da minha vida. O siciliano Pio Campo atualmente mora em Pirenópolis, cidade 48
do estado de Goiás imersa na natureza e cercada por cachoeiras. Vive no Brasil há 30 anos e organiza cursos e seminários de dançaterapia — um movimento livre e criativo que melhora a comunicação da pessoa consigo mesma, com os outros e com o meio ambiente. A base vem do método criado pela argentina Maria Fux. A dançaterapia toca, de maneira sutil, “aquelas partes de nós para as quais não queremos olhar, que estão paradas”, explica. — A dança é o movimento puro. É como entrar numa sala que você tinha fechado e a abre para fazer circular o que havia dentro. A doença, a depressão ou qualquer coisa que não funcione em nós nos faz endurecer. Ao permitir o reenconto com a flexibilidade do corpo, a dança ajuda a transformar tudo o que consideramos uma monstruosidade, entra na corrente sanguínea e dissolve-se. De repente, você pode respirar, sentir mais você mesmo, sentir que está vivo — comenta Pio, fundador da Scuola Internazionale di Danzaterapia (SI danza), que faz parte do Centro Internacional Maria Fux, em Verona, cidade do norte da Itália.
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O siciliano Pio Campo trabalha com a dançaterapia, que analisa os pacientes através da expressividade e movimentos, buscando a cura para depressões e outros problemas
Escritor inspirou escolha pelo Brasil como país para viver O italiano revela que deixou o país onde construiu a carreira, mas não se sentia satisfeito com o que tinha, recorda. — Sempre tive uma imagem que era aquela que os outros esperavam de mim. Então, quando eu vim para o Brasil, foi para me encontrar — conta o dança terapeuta. Pio escolheu o Brasil, pois conheceu um escritor italiano que vivia no país há 50 anos e que trabalhava para ampliar a consciência. Seus livros e suas palestras na Itália despertaram em Pio um sentimento de injustiça. — Ele dizia que, se há um terceiro mundo, existe um primeiro mundo que determina para onde vai a riqueza e como gerenciá-la. Então, eu queria estar no chamado terceiro mundo, em uma situação desconfortável. Por isso escolhi uma favela, mas nem isso foi o suficiente — diz. Quando o dançarino encontrou a professora Maria Fux no Brasil e a viu dançar, começou a segui-la, estudou com ela e nunca mais parou de dançar. — O que a dança fez por mim foi me fazer olhar para os meus medos
de uma forma delicada. Quando olhei para esses monstros, vi que não existiam mais, que já tinham morrido. Isso acontece quando nos tornamos mais nós mesmos. Pio explica que tem três linhas fundamentais de dançaterapia que existem mais ou menos há 70 anos. Algumas nasceram nos Estados Unidos e outras na Inglaterra a partir de uma necessidade de alguns dançarinos de redescobrirem na dança um movimento que não fosse meramente estético e estruturado, mas que oferecesse uma possibilidade de cura através do movimento. Uma dessas linhas é a dança primitiva: dá espaço aos rituais tribais e às danças com o som do tambor para obter uma liberação interior, de emoções e de consciência. Há ainda a dança movimento terapia, nascida da necessidade de alguns dançarinos interessados em psicologia: é um tipo de estrutura avaliada a partir do que se vê no paciente, sua expressividade e seus movimentos, e busca conexões possíveis de cura. Aos 90 anos, a argentina Maria Fux continua a dançar. — Estudei com ela. Maria criou, a partir da sua formação clássica e contemporânea, uma dança que estava mais perto do que ela sentia em termos de liberdade. Ela inspirou-se em Isadora Duncan, uma das primeiras bailarinas que havia liberado a dança do senso estético e que buscava a liberdade de expressão. Em um mundo clássico, onde os dançarinos eram fechados em tutus e nos sapatos com a ponta do giz, ela foi uma das primeiras a dançar com roupas amplas, descalça, em contato com a natureza, na busca de um movimento natural. A dançaterapia de Maria Fux é baseada em estímulos que não têm o objetivo de estudar o outro, mas que promovem uma escuta profunda de si mesmo, que pode trazer o movimento peculiar de cada um. Um movimento que não é estético, formado sobre uma cópia de um movimento preestabelecido: pertence a cada um de nós. Pio explica o termo terapia se aplica a um movimento que permite fazer alterações, que coloca as pessoas em uma comunicação mais profunda com eles mesmos, com os outros e com o ambiente em que vivem. — É um movimento que se torna terapêutico, pois dá a oportunidade de se expressar livremente. Nas reuniões de dançaterapia, o objetivo nunca é de estudar o outro, mas permitir que o outro se ouça e
se expresse. A função do grupo é a de ser um recipiente. Todas as pessoas estão procurando si mesmas e apoiam uns aos outros, naturalmente. A dançaterapia trabalha para o despertar da consciência e lembra-nos quem somos —declara Pio. Movimento é feito para criar autoconexão íntima e produnda Todos os países possuem uma expressão artística. Para Pio, o Brasil tem esse “fogo do corpo” expresso através de danças que fazem parte de um patrimônio cultural. A dançaterapia trabalha em um nível diferente, pois um corpo exposto não está necessariamente em profunda conexão consigo mesmo. A dançaterapia toca uma possibilidade mais íntima e mais profunda: a de se expressar, mesmo quando um corpo segue seu curso natural chamado de envelhecimento, explica o professor. Aos 90 anos, Maria Fux é sempre mais viva no seu corpo, continua a dançar e a dar cursos, porque este tipo de caminho devolve a possibilidade de viver a fase da vida ao máximo do que o corpo permite. — O corpo não sofre uma queda, mas uma transformação. Esta é a sua revalorização e de suas fases naturais. Crescer não significa diminuir as próprias funções e sim acompanhar uma transformação onde em cada etapa da vida você pode expressar plenamente si mesmo — analisa. Muitas vezes, Pio Campo trabalha com pessoas com limitações físicas ou mentais. O dançarino relembra o momento em que viu uma pessoa de 100 anos recuperar a possibilidade de “estar” em seu próprio corpo. — O que ela expressou de si mesma através da dança em uma cadeira de rodas com uma pele enrugada é maravilhoso, é todo o sentido da dança. O mesmo acontece com
Para Pio, o Brasil tem esse “fogo do corpo”, expresso nas danças que são patrimônios culturais. Mas a dançaterapia trabalha em um nível diferente, pois um corpo exposto não está necessariamente em profunda conexão consigo mesmo
Por meio do movimento, a pessoa pode liberar angústias e se autoconhecer
pessoas com uma doença mental que vivem uma reconexão. No Nepal, Pio trabalhou em um hospital psiquiátrico, para onde levou os movimentos da dança. Quando pacientes que haviam sido reclusas, violentadas ou afetadas por uma doença, encontra a possibilidade de dizer “não, eu existo, apesar disso”. Não existe nada mais bonito do que isso — afirma o bailarino. Pio narra que quando faz seminários o que o suporta é ter visto tantas pessoas levantar-se, às vezes, também fisicamente. Em Trieste, foi convidado para organizar um encontro de dançaterapia em um hospital com mulheres que tinham sofrido um acidente vascular cerebral. Uma delas, de 70 anos, vivia em uma cadeira de rodas e estava fazendo um curso de psicoterapia. Após 20 minutos, ela levantou-se da cadeira de rodas. Os médicos se reuniram em torno dela e ela respondeu: “lembrei-me de estar viva”. — Isso lhe deu a possibilidade de se levantar. A dança é um caminho que não substitui a medicina, mas a acompanha para lembrar a uma pessoa que existe algo no corpo de que muitas vezes não lembramos. Na maioria dos casos, vivemos uma vida separada do corpo e do momento presente — ressalta Pio. Também no Nepal, atuou como voluntário no Shelter Women’s Foundation e Apeiron (abrigos para mulheres vítimas de violência). Pio lembra que no Oriente, em geral, o corpo tem um valor diferente em relação ao ocidental — Foi um impacto muito forte para mim trabalhar em uma realidade feminina, onde o homem tinha sido um instrumento de violência para aquelas mulheres. A dançaterapia lhes devolveu a capacidade de tomar posse das capacidades expressivas e do próprio corpo. A dança une o ser humano, independentemente da situação cultural, geográfica ou social — completa o terapeuta que organiza de maneira voluntária reuniões com mulheres que têm problemas de esquizofrenia.
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Informe
Impregnado de Brasil
Exposição mostra ao público mineiro as cores e os sons brasileiros que influenciaram profundamente a obra de pintor nascido em Milão e radicado em Belo Horizonte Daniela Campos
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ores, contornos, traços e linhas se integram na tela de Guido Boletti, que expressa canções e poesias. Músico e artista plástico, o italiano comemora 20 anos de carreira com a exposição Entre Infinitos Ventos e Intermináveis Correntezas, na galeria de arte do PIC Cidade, em Belo Horizonte, de 9 de agosto a 20 de setembro, das 7h às 20h, de segunda-feira a sábado. A mostra expõe o percurso artístico de Boletti e apresenta um resumo dos capítulos da experiência pictórica do artista que vive entre a Itália e o Brasil desde 1996, quando conheceu Minas Gerais. — Trata-se de uma retrospectiva que retrata uma obra coesa com páginas diferentes que dialogam entre si — avalia Guido. A música constitui a primeira fonte de inspiração do pintor: suas telas têm a presença quase que constante de instrumentos musicais. Rica em cores e elementos, a pintura de Guido nos remete ao sonho, à fantasia, à natureza, a mitos e à poesia. Um mundo mágico, aberto por um artista que vive e respira arte. Em suas telas, o observador pode se surpreender ao se deparar com poemas de Carlos Drummond de Andrade ou 50
com referências a Romeu e Julieta e a Dom Quixote. É a pintura que expressa as diferentes formas de arte. No início, ele pensava em ser músico. Toca piano, saxofone e violão. Autodidata, revela que descobriu seu processo criativo na forma musical e o aplicou na pintura. Metaforicamente, via a tela como uma pauta musical, onde seria “tocada a sua música” com cores e formas. — Para mim, foi mágico encontrar na pintura a minha forma de escrever canções — declara. Raiz italiana mistura-se com a nova pátria Natural de Milão, dividido entre os dois lados do Atlântico e radicado em Belo Horizonte desde 2007, Boletti revela que grande parte de sua
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As obras de Guido Boletti são ricas em cores e remetem aos sonhos, à natureza, à música e à poesia
carreira está impregnada pelo Brasil. Conta que aqui encontrou temáticas, personagens e mitos que evocaram imagens mais fantásticas em sua obra e que, em suas viagens pelo nordeste e sul do Brasil, se apropriou de cores da natureza que viu e dos sons que ouviu. — O ritmo e a música do Brasil entraram na vibração da minha pintura. A minha raiz começou a se misturar com a nova pátria e o trabalho está diretamente influenciado. É um vai e vem que faço dentro de mim nesses dois pólos — explica. Dentre as correntes com que mais se identifica, Guido cita o surrealismo, o abstracionismo e o expressionismo — com destaque para Paul Klee, Miró, Kandinsky e Chagall. No Brasil, tem como preferidos os pintores Antônio Bandeira, Portinari, Tarcila do Amaral, Di Cavacanti, Miguel Gontijo e JB Lazzarini.
Fotografia
O fotógrafo-celebridade Vanessa Pilz
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ntre agosto e setembro, o projeto Iguatemi Photo Series levou ao Museu Brasileiro da Escultura, o MuBe, em São Paulo, uma mostra com 100 obras do fotógrafo italiano Willy Rizzo. Rizzo começou sua carreira no histórico Julgamento de Nuremberg, após a Segunda Guerra Mundial e, depois de uma rápida passagem pelos Estados Unidos,
voltou à Europa para ajudar a criar a revista Paris Match e ainda fotografar para publicações como Vogue, Life e Marie Claire, da qual foi diretor artístico. O fotógrafo de origem napolitana foi o primeiro a substituir modelos por celebridades nas capas de revistas de moda, tais como Jane Fonda e Elsa Martinelli, o que se tornou comum nas publicações de
hoje. Em tempos de paparazzi, o histórico de Rizzo, famoso pelos cliques de Picasso, Jack Nicholson e Orson Welles, chama atenção pelo compromisso profissional. Atualmente, esse italiano de 84 anos, que também possui uma obra importante como designer de móveis, ainda trabalha clicando grandes nomes das artes e da moda.
O arquiteto suíço Le Corbusier em BoulogneBillancourt, próximo a Paris, em 1953
Brigitte Bardot no balneário de Saint Tropez, em 1958
Willy Rizzo e modelo, em imagem feita pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani, em 1962
O pintor espanhol Salvador Dalí é fotografado por Willy Rizzo em 1950
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IlLettoreRacconta
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erta vez, dois homens entraram na destilaria de José Alonso Cometti, no Espírito Santo, para adquirir cachaça, ocasião em que perguntaram a ele se conhecia algum lugar para se alugar um grande traçador, com mais de seis metros de comprimento, comumente conhecido na região como grupião (tipo de serra onde duas pessoas trabalham para serrar árvores de grande porte). Os forasteiros alegaram que o traçador evitaria que ficassem dentro do tronco da árvore, o que afastava o risco de serem esmagados. Essas informações aguçaram o instinto de proteção ao meio ambiente em Alonso, que começou a conversar com os dois homens para saber os reais motivos da visita, o que não demorou a acontecer: ambos haviam sido contratados por Aristeu Fornaciari para cortar um gigante jequitibá-rosa de 3,75 metros de diâmetro, com uma circunferência de 12 metros e uma altura de 30, o equivalente a um prédio de 8 a 9 andares. Era impressionante a força daquela árvore. Como o ser humano é pequeno perto dela, não é à toa que, até para abraçar o tronco, são necessárias 12 pessoas. Em São Paulo, existe um exemplar de jequitibá-rosa, na cidade de Santa Rita do Passa Quatro, próximo às margens do Rio Mogi, com dimensões bem próximas às da história que aqui conto, porém um pouco menor, com 26 metros de altura. O exemplar de São Paulo foi inclusive filmado em 1984 pela equipe do programa Globo Rural em uma monumental reportagem de Milton
Rio de Janeiro 52
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José Ribeiro. Durante a entrevista, os especialistas estimaram a idade da árvore em mais de mil anos. Alonso sabia que existia uma grande biodiversidade em toda extensão do tronco daquelas árvores, impossível de contabilizar. Eram microplantas, líquens e animais que viviam na mais perfeita harmonia, agregados aos troncos, sem prejuízos para ambos. Após estudar as peculiaridades da espécie, José Alonso fez uma proposta de cobrir em dinheiro o que havia sido ofertado aos homens para que eles deixassem a árvore ilesa — e ambos aceitaram o acordo. Alonso pediu três dias para efetuar o pagamento, tempo suficiente para solicitar uma audiência com o prefeito do município, José Ivo Secomandi, também descendente de italianos. A audiência foi concedida de imediato. Ao saber da situação, Ivo prontamente abraçou a causa do velho jequitibá e impediu que fosse consumado o ato vil e covarde. A majestosa árvore hoje recebe a proteção do governo do estado do Espírito Santo, bem como o resto de Mata Atlântica em seu entorno. Tenho a indelével sensação que esta árvore merece o status de patrimônio da humanidade. O movimento ecológico corre no sangue da família. Aquele gesto nobre foi acompanhado pelo irmão Apolônio Cometti, que comprou dois alqueires de terra estéril, nas proximidades da cidade, onde plantou milhares de árvores e mudas provenientes da Mata Atlântica. Onde havia apenas um filete de água, que secava na época da estiagem, voltou com a força total anterior: até um pequeno lago nas proximidades da plantação foi formado. Aves raras como o araçari, espécie de tucano, e pequenos animais silvestres retornam à espessa vegetação. Destaco ainda a magia polifônica dos pássaros, verdadeiro poema sinfônico ao lado do lago. No local, foi construído um castelinho que fun- José Alonso Cometti, neto de italianos, ciona como casa de hóspedes, o que foi responsável pela preservação do jequitibá-rosa no Espírito Santo. A conferiu um ar medieval ao paraíso árvore é uma das maiores da natureza, construído por Apolônio, que tem a com 30 metros de altura e 12 metros de circunferência. Doze pessoas são alma sedenta de paz e harmonia. Gostaria de homenagear aqui necessárias para abraçar o seu tronco figuras ilustres que me ajudaram a contar essa história. Por isso, deixo meus profundos agradecimentos à memorável Glecy Coutinho, secretária de Educação e Cultura da cidade de João Neiva, além de poetisa, escritora e ex-âncora do telejornalismo capixaba; e a Guilherme Campagnaro e seu pai, Narciso Campagnaro, que me indicaram a localização exata do jequitibá-rosa, para que eu pudesse fotografar e reverenciar esta magnífica obra do arquiteto do universo, Deus. “O dia em que o homem descobrir que cortou a última árvore, verá que destruiu a Terra”. Glecy Coutinho Arilton Silva Niterói – RJ Cologno Al Serio Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br
CintiaSalomãoCastro
Caçadores do Trento região do Trento já tinha ocupação
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humana há pelo menos 10 mil anos. É o que provam os restos de um acampamento do Mesolítico encontrados recentemente no Monte Tremalzo, a 1770 metros de altitude, em Val di Ledro, no Trentino. Tudo indica que se tratava de um campo de caça de estação. Por falar em Trento, a seção arqueológica do museu de Buonconsiglio di Trento acaba de ser reaberta ao público, após um ano de empréstimos para uma mostra externa. Entre os destaques, utensílios da Idade do Cobre e um colar pré-histórico de âmbar.
As empresas e a arqueologia Cada vez mais inserida em um contexto de empreendedorismo empresarial, arqueologia brasileira requer cuidados de construtoras para preservar o patrimônio cultural e ambiental do país
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partir do final da década de 1980, a arqueologia brasileira sofreu um processo de ampliação. Se antes era voltada para pesquisas acadêmicas, hoje calcula-se que mais de 90% dos licenciamentos são da iniciativa privada. Isso aconteceu a partir do advento das novas normatizações legais sobre o impacto ambiental. Essa foi uma das conclusões dos participantes do III Seminário Arqueologia Empresarial e Meio Ambiente, realizado em agosto, no auditório do Instituto Dannemann Siemsen de Estudos Jurídicos e Técnicos, no Rio. Diante de arqueólogos, advogados e representantes de empresas como mineradoras, como a MMX, e empreiteiras, a exemplo da construtora Biapó, foram discutidos temas como direito ambiental, proteção ao patrimônio cultural, empreendedorismo, arqueologia empresarial, musealização, acervo e informações científicas. — A licença arqueológica está intimamente ligada à questão ambiental, pois, quando surge uma licitação, uma empresa deve apresentar o relatório de impacto ambiental, o EIA/RIMA, que deve reunir informações ambientais e arqueológicas. As empresas, então,
contratam firmas que se ocupam de arqueologia ou um profissional autônomo para realizar essa consultoria — explica o coordenador do seminário, o arqueólogo e advogado Karlo A. C. Castro. Durante o evento, o gerente de qualidade, meio ambiente, segurança e saúde do Consórcio Porto Rio, Rogério Moreira Jacobsen, falou sobre os cuidados que as empresas devem tomar para preservar o patrimônio cultural do país no caso de obras como o projeto de revitalização da zona portuária do Rio, durante as quais foram feitas descobertas importantes do Brasil colonial, como os restos de um mercado de escravos. A arqueóloga do IPHAN, Regina Coeli Pinheiro da Silva, e o pesquisador credenciado pela Superintendência para os Bens Arqueológicos de Nápoles e Pompeia, Carlos Alberto Sertã, também participaram dos painéis. Outra questão discutida foi a guarda do acervo descoberto para que esteja à disposição da comunidade científica. O material pertence à União, que o recolhe e o estuda, mas a análise por parte da comunidade científica e os recursos tecnológicos permitem uma revisão dos dados obtidos em um primeiro momento.
Archeofest 2012 m clima de final de verão, quem
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estiver passando pela Toscana e for apaixonado por arqueologia não pode deixar de visitar Chianciano Terme. Uma das cidades termais mais famosas do Belpaese hospeda este ano a programação da Archeofest 2012. Até 30 de setembro, o Museu Cívico Arqueológico abriga a exposição De Chirico. Il ventre dell’archeologo, na qual o visitante pode apreciar obras do gênio da escultura moderna inspiradas nos antigos povos mediterrâneos. “Sem a descoberta do passado, não é possível descobrir o presente”, dizia o artista. No mesmo local, a mostra Splendori etruschi (foto) reúne obras-primas do Museu Arqueológico de Florença. A cinco quilômetros dali, o Museu Pinacoteca Crociani de Montepulciano abriga, também até 30 de setembro, a mostra Una porta sull’aldilà. Dal mondo egizio agli etruschi (Uma porta para o além. Do mundo egípcio aos etruscos), com urnas funerárias, uma porta funerária etrusca e uma estela com a forma de uma porta concedida em empréstimo pelo Museu Egípcio de Florença.
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Gastronomia
O Piemonte é aqui Reduto da gastronomia italiana na serra gaúcha completa sete anos e guarda a história pessoal dos seus chefs Aline Buaes
de Flores da Cunha
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ncravada em uma região brasileira cujo clima e geografia são muito similares à Toscana e à Lombardia, a Escola Internacional de Gastronomia UCS-ICIF se consolida como reduto da tradição culinária do Belpaese no Brasil, com instalações rigorosamente construídas nos padrões italianos e diversas ofertas de cursos, desde os profissionalizantes com certificados internacionais até workshops de finais de semana. Fruto de uma parceria entre o Italian Culinary Institute for Foreigners (ICIF), renomado órgão de ensino da gastronomia italiana com sede em Monferrato, e a Universidade de Caxias do Sul (UCS), desde que abriu suas portas, em 2004, a escola já formou centenas de chefs de cozinha e sommeliers. A escolha da pequena Flores da Cunha, com 27 mil habitantes a 150 km da capital gaúcha, para ser a sede da escola, não foi por acaso. Localizada no
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coração da maior região vinícola brasileira, a cidade abriga uma das mais tradicionais comunidades de descendentes de italianos do Brasil, que preserva até hoje a cultura dos antepassados, como o próprio dialeto vêneto, amplamente utilizado na região. Com o objetivo de difundir a cultura do gosto e a enogastronomia na América Latina, a instituição possui como grande diferencial o know-how italiano, presente tanto nas instalações como nos equipamentos, na didática dos cursos, nos cardápios e na equipe de docentes, formada por profissionais
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Desde que foi inaugurada em 2004, a Escola Internacional de Gastronomia UCSICIF, em Flores da Cunha, já formou centenas de chefs e sommeliers
da Itália e do Brasil, reconhecidos internacionalmente. Por trás deste grande projeto, que envolveu uma ampla reforma de adaptação ao padrão de qualidade europeu em um prédio de 1,5 mil metros quadrados, há a história pessoal de dois chefs de cozinha italianos que chegaram, com bagagem internacional, quase por acaso a Flores da Cunha e ali acabaram conhecendo suas atuais esposas e definindo os rumos não apenas de suas vidas como também de um novo paradigma de ensino de gastronomia e enologia no Brasil. Mauro Cingolani, atual diretor da escola, natural de Turim, após décadas de experiência como chef em cidades como Milão, Nova York e Londres, e instrutor do próprio ICIF em países exóticos como Ilhas Maurício e Índia, chegou ao Brasil em 2002 para ministrar um curso breve de gastronomia para descendentes de imigrantes italianos. Foi quando conheceu a atual esposa. Juntos, abriram um pequeno restaurante. Em 2004, Cingolani iniciou os contatos com o ICIF, que buscava um local para abrir uma escola no Brasil. Vários aspectos colaboraram para a escolha da região da serra gaúcha, não apenas por causa da presença de muitos descendentes de italianos e suas tradições, mas também devido à geografia, muito parecida com a do Piemonte e da Toscana, e à produção vinícola e às previsões de que, na época, a economia brasileira iria melhorar nos anos seguintes, explica Cingolani.
Além do Brasil, o ICIF possui escolas na China, na Coreia do Sul e representantes em dezenas de outros países. Para o projeto da escola brasileira, o ICIF entrou com todo o conhecimento técnico, desde o projeto das instalações até os professores e os materiais didáticos, enquanto a Universidade de Caxias do Sul buscou parcerias locais, que incluíram desde empresários da região até o Ministério do Turismo brasileiro. Desde 2004, a escola já formou 23 turmas do curso de formação básica em chef de cozinha, um dos carros-chefes da instituição que atrai alunos do Norte, Nordeste e Sudeste. Entre os principais diferenciais didáticos da escola, estão, além da tradição italiana, o método de ensino que exige, por exemplo, bancadas individuais para os alunos nos laboratórios. — Nos laboratórios práticos, cada aluno tem a sua bancada individual para fazer suas próprias experiências. Este é um aspecto inédito nos cursos de gastronomia no Brasil — salienta Cingolani, recordando que o método de bancadas
individuais segue o modelo adotado com sucesso pelo ICIF no país de origem. Os cursos começam com a parte teórica, passam pelos laboratórios de cozinha e enologia, e terminam no restaurante Dolce Itália, um espaço didático onde os alunos realizam na prática as técnicas aprendidas nos diferentes módulos dos cursos. O restaurante, localizado ao lado da escola, serve as refeições para os alunos e também abre ao público externo. Os estudantes também passam por laboratórios de análise sensorial, degustação e enoteca. — Nossos alunos saem daqui prontos para o mercado de trabalho, sabendo desde panificação e confeitaria até noções avançadas de vinhos — destaca Cingolani. Enoteca própria segue padrões internacionais O percurso de formação de sommelier constitui um dos principais atrativos da escola. Com formato inédito no Brasil por unir conceitos de gastronomia e sommelier, é certificado internacionalmente pela Federazione Italiana Sommelier Albergatori Ristoratori (Fisar), uma das promotoras do curso que atrai alunos com idade média de 30 a 35 anos de todo o Brasil. Com 416 horas totais, no último mês, foram graduados os primeiros oito profissionais certificados pela escola de Flores da Cunha. Conforme explica Cingolani, a formação extremamente aprofundada deve, em breve, virar um MBA oferecido pela UCS. As aulas de degustação ocorrem dentro da enoteca da escola, cuidadosamente projetada dentro de padrões internacionais com iluminação e climatização ideais, 25 postos de trabalho individuais e taças de cristal específicas para cada tipo de vinho. Além de Mauro, o corpo docente também é formado por outros
O verdadeiro Zabaione
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chef Mauro Cingolani ensina aos leitores de Comunità como fazer um dos doces mais tradicionais da Itália, na versão como é ensinada aos alunos da escola. Ingredientes: 350g de gemas; 300g de açúcar; 1 garrafa de vinho Moscato seco (o Moscato pode ser substituído por café frio concentrado, Madeira, Malaga, Porto, Sherry, Marsala ou Malvasia) Modo de fazer: Num recipiente, colocar as gemas com o açúcar e bater com batedor até obter um composto dobrado fofo. Acrescentar o vinho e misturar bem. Colocar o recipiente em banho-maria sobre o fogo e continuar batendo até o creme começar a engrossar e dobrar. O zabaione está pronto para ser derramado em taças. Sirva com biscoitos champagne.
Na Escola Internacional de Gastronomia UCS-ICIF, o sommelier Roberto Rabacchino, o chef Mauro Cingolani, e o chef Franco Gioielli ministram cursos de vinho e culinária certificados pela Federazione Italiana Sommelier Albergatori Ristoratori
dois professores italianos. O chef Franco Gioielli possui uma história parecida com a de seu colega. Chegou a Flores da Cunha em 2008 para ministrar um curso de breve duração e logo conheceu sua atual esposa, tendo também fixado residência na pequena cidade serrana. Antes de chegar ao Brasil, acumulou 26 anos de experiência na cozinha, de aprendiz a chef do seu próprio restaurante, a Osteria Veglio, no coração do Piemonte. Hoje, Gioielli é coordenador do restaurante didático Dolce Itália e ainda ministra algumas aulas nos cursos de gastronomia. Já o sommelier italiano Roberto Rabacchino vem ao Brasil de três a quatro vezes ao ano como responsável pelos cursos internacionais da Fisar, a Federazione Italiana Sommelier, Albergatori e Ristoratori, e ministra aulas no curso de sommelier. Entre os professores brasileiros da escola, o maior destaque fica por conta de Cesar Adamis, especialista no mercado de tabaco e destilados e colaborador das mais importantes publicações especializadas do Brasil.
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Gastronomia
Anna com diploma Cintia Salomão Castro
Fundada em Milão em 1953 por um grupo liderado por Orio Vergani, o objetivo da Accademia é salvaguardar a cultura gastronômica da Itália — que exportou seus inconfundíveis pratos para todos os países do globo, embora muitos não sigam as receitas originais. Uso de produtos italianos, pratos que não desfigurem as receitas originais, massas e pães feitos no local e qualidade no
serviço são alguns dos critérios adotados pelos delegados para conferirem o certificado. Um menu especialmente escolhido pela delegada da Accademia no Brasil, Fernanda Maranesi, foi servido, e incluía carpaccio di polpo con capperini alla rucola selvatica como entrada, ravioli neri di granseola allo zafferano como primeiro prato, e gamberoni ai funghi freschi e cuore di palma como segundo.
O diretor das Indústrias Granfino, Carmelo Mastrangelo, acompanhado da esposa Fátima
A presidente da Accademia della Cucina Italiana do Rio de Janeiro, Fernanda Maranesi, a esposa do vicegovernador do Rio de Janeiro, Maria Lucia Cautiero Horta Jardim, e o cartunista e humorista Chico Caruso
O decorador Edgar Moura Brasil com a presidente da Fundação Museu da Imagem e do Som Rosa Maria Araújo
Fernanda Maranesi com o diretor de Telespazio Alessandro Barillà à sua direita e os importadores de vinho Massimo Tomatis (de óculos) e Paride Vallarelli
O ator Edwin Frederico Luisi com Rosa Maria Araújo e Edgar Moura Brasil
A proprietária do restaurante, Anna Lúcia Aleixo, com Silvana Bianchi, ex-chef do Quadrifoglio e avó de Sean Goldman
Anna Lúcia Aleixo com o cantor da noite, o cartunista e músico Chico Caruso
O vice-governador Luiz Fernando Pezão janta ao lado da esposa Maria Lucia Cautiero Horta Jardim
Fernanda Maranesi, ao entregar o diploma de Buona Cucina a Ana Lúcia Aleixo, ao lado do irmão e sócio de Ana, João Carlos Aleixo
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m jantar marcou a entrega do diploma di “Buona Cucina” da Accademia Italiana della Cucina ao restaurante carioca Anna. Aberto há apenas dois anos agora passa a fazer parte do seleto grupo de estabelecimentos declarados como fiéis à tradição da cozinha do Belpaese.
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saporid’italia StefaniaPelusi
Com tempero vulcânico O chef siciliano conhecido como Ninny adotou Brasília para viver e mantém-se fiel ao seu estilo italiano, do pasticcio no lugar da lasanha ao molho de frutos do mar que acompanha somente spaghetti e linguine
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rasília – Antonino di Giovanni, conhecido como Ninny, não gosta que o chamem de chef: ele se define como um cozinheiro. — Eu não invento nada. O que faço é um relata refero, ou seja, dou um toque de modernidade à tradição culinária, sem alterar nada. A tradição italiana não precisa de muitos produtos. Por exemplo, para preparar a carbonara, são necessários ovos, não creme de leite — exemplifica o proprietário do Ninny cose bone tra amici. O sabor é a coisa mais importante de seus pratos, define o palermitano que viveu em Bolonha, Milão, Roma, Londres, Nova York e Amsterdã. A cozinha sempre foi para ele algo que lhe permitiu sobreviver. A paixão pela cozinha nasce no estômago, define. — Tudo passa por aí, inclusive o que eu penso. Não digo que pensarei naquela ideia, mas que a metabolizarei. Há 15 anos, Ninny chegou a Brasília. Primeiro, fundou o restaurante I siciliani e, depois, em 1999, abriu sua própria casa, Ninny cose bone tra amici. Ele explicou que o nome original seria Ninny cose buone tra amici (boas coisas entre amigos), mas quem escreveu o letreiro esqueceu-se de colocar o u na palavra buone. Ele, então, decidiu deixar daquele jeito, pois “tem o culto do erro, da imperfeição, menos nos pratos”. O que mais importa para ele não é o efeito cromático do prato, mas uma decoração básica e o fato que seja suculento. — A minha lasanha não é lasanha. É um pasticcio de lasanha ou lasanha em pasticcio, que faz parte da enciclopédia da cozinha italiana. Pasticcio quer dizer bagunça. Tem no máximo quatro folhas para deixá-la com mais molho, besciamella, bolonhesa — explica. As mesinhas com toalhas xadrez têm espaço para 60 lugares, mas no domingo podem chegar a 150. O cardápio tem seis tipos de massa e 30 tipos de molho. As massas são artesanais, produzidas diariamente. O cliente escolhe tanto a massa quanto o molho. Todos os produtos são italianos: tomate, vinhos, azeite, massa. Nada é pré-cozido, garante Ninny. A carta de vinhos tem exclusivamente rótulos italianos. Como destaque, o tinto Primitivo di Puglia, que Fiel à tradição, Ninny oferece os brasileiros agora começam aos clientes de Brasília o a apreciar. pasticcio no lugar da lasanha
Spaghetti alla marinara Ingredientes: Massa linguine; frutos do mar (lula, mexilhão, vongole, camarões pequenos e grandes); cebola; vinho branco Frascati; salsa; pimenta; azeite extra virgem de oliva; sal. Modo de fazer: Normalmente, os pescadores cozinham essa massa no barco quando estão pescando. Para desinfetar os frutos do mar, os flambam com conhaque. Cozinhe os frutos do mar e, quando a massa ficar pronta, jogue-a no molho para que absorva tudo. Coloque o mexilhão e as vongole por cima para enfeitar o prato. Há quatro tipos de massa fresca: tagliatelle, tagliolini, penne ou maccheroncini rigati e pappardelle. Também são servidos ravióli (ricota e espinafre), inhoque e o pasticcio di lasagna. Os molhos de frutos do mar (nero di seppia, spaghetti marinara, pescatora e vongole) acompanham somente spaghetti e linguine. — Se o cliente quiser outro tipo de massa, eu não cozinho o prato. O mesmo acontece em relação ao parmesão — avisa Antonino di Giovanni. O único prato que ele não reconhece como italiano é filetto alla parmigiana — uma adaptação ao gosto brasileiro. Entre as sugestões, estão os penne alla norma (molho de origem siciliana, inventado por um chef de Catania em honra a Vincenzo Bellini, autor da ópera lírica La Norma) e o inhoque à sorrentina. Os clientes adoram o espontâneo Ninny, pois ele faz bem o seu trabalho, com paixão e carinho. — Sou tão direto que as pessoas se assustam. Quando tem algum cliente que não respeita os meus pratos ou é mal educado, eu o mando embora — comenta o vulcânico cozinheiro. Serviço: 309 Norte, bloco A, loja 6 - Brasília Tel: (61) 3347-7607 De segunda à sexta, das 12h às 15h e das 18h às 23h. Aos sábados, almoço até as 16h. Aos domingos, só almoço.
com unit àit aliana | agost o 2012
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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro
Termas de Caracalla
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o ver as ruínas das Termas di Caracalla, é difícil imaginar como era 1800 anos atrás, quando foram construídas. Eram termas grandiosas, destinadas ao uso do povo nos bairros populares das redondezas, com uma capacidade de 1.500 pessoas. Era considerada por alguns, uma das sete maravilhas de Roma, pela beleza de sua decoração. O local foi abandonado no século VI e parte de sua estrutura, como traves e colunas, foram usadas para outros edifícios na Itália, como o Duomo de Pisa e a Basílica de Santa Maria in Trastevere. Desde a segunda metade do século XX, as Termas são usadas no verão como teatro ao ar livre, principalmente com programa de óperas.
Os concertos da nossa vida
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scutar CDs favoritos em casa é uma grande alegria. Mas assistir aos nossos ídolos cantando em um concerto é outra coisa, uma emoção sem igual. Os concertos maravilhosos dos quais participamos ficam em nossa lembrança para sempre. Uma magia, uma comunhão do público com o cantor e os músicos. Claro que, se o concerto é ao ar livre, é mais emocionante ainda, pois a música sublime se mistura com a natureza, as estrelas, a lua, as cigarras, os pássaros. Se o concerto é de frente para o mar, como acontece no Rio, até as ondas do mar entram no ritmo. Lembro bem dos concertos da minha vida. Quando eu era adolescente, do RPM, do Ultraje a Rigor, da Madonna. Depois, em idade adulta, foram inúmeros os concertos inesquecíveis. B.B. King, perto de São Francisco, Chico Buarque no Olympia de Paris, Chick Corea no Hollywood Bowl de Los Angeles, um lugar de encanto, onde as cigarras fazem coro nas montanhas dos arredores, formando uma acústica especial. E o show do Charles Aznavour no festival de música da Bretanha, região oeste da França, que emoção! E quantos shows memoráveis no Rio, na virada do ano! Mas se tem algo que sinto muito não ter assistido, pela minha idade, é a um concerto de Frank Sinatra ou de Elis Regina. Eu era uma menina na época em que Elis morreu e, quando morava em Los Angeles, o velho Frank não estava bem de saúde, portanto não fazia mais shows ao vivo. Paciência. Roma, no que se refere a concertos, é um dos melhores lugares do mundo para assistir a um. Foi emocionante assistir ao Leonard Cohen e ao Gino Paoli na Cavea do Auditorium, uma área a céu aberto ao lado da sala de concertos projetada por Renzo Piano. Ou matar a saudade do Brasil escutando Caetano Veloso na Piazza del Popolo e outra vez na Villa dei Quintili — só com um violão debaixo do braço. Mais recentemente, neste último verão, foi uma bênção ir ao show do Riccardo Cocciante na Terme de Caracalla, circundada pelo canto das cigarras, pelos rechonchudos pinhos italianos. Com minha mãe do lado, que vem me visitar a cada dois anos, foi emoção dobrada. Cocciante não é unanimidade na Itália. Nem é o meu compositor italiano preferido. Mas ele marcou uma época de minha vida, o início de meu amor pela Itália. Escutava, ainda adolescente, Margherita, Bella senz’anima, com lágrimas nos olhos. Suas canções são teatrais, potentes, sobre o amor no auge, sobre a dor do fim do amor, sobre o amor cansado, sobre a amizade e tantas coisas mais. E ele, baixinho, com sua voz rouca, sua energia, passa uma emoção danada para todos. O público sabia de cor a letra de Margherita e cantou juntinho. As cigarras participaram no fundo. As estrelas brilhavam ainda mais. Tudo isso com o cenário das antigas Termas de Caracalla, com todo o peso de sua história... Haja coração!
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