LAAD 2011 Empresas italianas apresentam soluções para a segurança
Martha Rocha O pulso firme e a sensibilidade da delegada
150 anos A história e os festejos em torno da unificação da Itália www.comunitaitaliana.com
Ano XVII – Nº 153
ISSN 1676-3220
R 7,00 R$ 11,90
Rio de Janeiro, março/abril de 2011
Invasão O que está em jogo entre Itália e Líbia e quais são os interesses que circundam os países árabes
Marco Lucchesi é escolhido como novo imortal da ABL
M a r ç o / Abril de 2011
Ano XVII
Nº153
69 Diz a lenda que Rômulo instituiu o culto ao fogo em Roma. Seis meninas virgens eram escolhidas para garantir que uma chama continuasse acesa. A Casa das Vestais, um lugar sagrado no centro do que hoje é conhecido como área dos fóruns imperiais, reabre ao público.
CAPA
Atualidade
Negócios
22 | Crise na Líbia
19 | Tragédia no Japão Acidente no
62 | Sustentabilidade
07 | Cose Nostre
Governo da Itália financia curso em parceria com a Fundação Getúlio Vargas
Previsão encontrada em manuscritos do século XIX afirma que terremoto atingirá Roma no dia 11 de maio
Governo italiano tenta controlar ondas migratórias vindas da Líbia e da Tunísia agravadas pela invasão militar na África
Pacífico faz Itália suspender a construção de usinas nucleares. Expectativa para o referendum sobre a matéria
Segurança
20 | Ping-Pong com
14 | Poder feminino
Cesare Battisti – a sua história contada por ele mesmo
A delegada Marta Rocha conta como é ser a primeira mulher na chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro
30 | Especial LAAD 2011 Empresas italianas aumentam presença no maior evento de Defesa da América Latina
63 | Culinária A história das marcas italianas que agradam o paladar dos brasileiros
Especial Unificação
Política 16 | Marketing carioca O subsecretário de Relações Internacionais do governo do Rio de Janeiro, Pedro Spadale, revela como atrair investidores estrangeiros
Nossos colunistas
10 | Fabio Porta Primavera nordafricana: rivoluzioni che guardano più ad occidente che ad oriente
12 | Ezio Maranesi Dignità, moralità, moralismo e ipocrisia: pensiamoci
38 | 150 anos Linha
67 | Dídimo Effgen
do tempo explica os 150 anos da Unificação Italiana e a influência do Risorgimento na cultura brasileira
A sociedade capixaba e o desenvolvimento do Espírito Santo passam pelas mãos de ítalo-brasileiros
74 | Claudia Monteiro De Castro Páscoa: como brasileiros e italianos comemoram essa festa milenar?
Moda
18 | Obama no Brasil Pela primeira vez na América do Sul, Barack Obama promete parceria, destaca semelhanças históricas e elogia a democracia e a miscigenação no Brasil 4
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65 | Dos pés à cabeça Pistas de corrida trazem novos conceitos no estilo e na fabricação de vestuário
www.telespazio.net.br
Editorial
Expediente
Balanços de março
U
m mês de grandes acontecimentos. A Comunità traz nesta edição os fatos que marcaram este período em que tivemos um terremoto no Japão, guerra na Líbia, os 150 anos da Unificação da Itália, visita de Barack Obama ao Brasil. Essas e outras notícias num tempo curtíssimo influenciam os passos da humanidade. Todos os países que investiram em usinas nucleares estão assustados e repensando seus planos para estes geradores de energia após a catástrofe japonesa; povos das regiões do norte África e do Oriente Médio se rebelam contra os governos autoritários locais e guerra eclode na Líbia do ditador Muamar Gadafi; povo italiano exibe patriotismo e bandeiras tricolores são vistas em várias janelas pelo mundo, no dia 17 de março, pelas comemorações do risorgimento; o presidente americano se curva à nova potencia brasileira. Neste número, publicamos um especial sobre a história desta nação que exerce fascínio pelas suas belezas e pelas suas vicissitudes. Mostramos a evolução de um povo marcado por conflitos, mas principalmente por uma vastíssima cultura que conduziu a humanidade ao longo dos tempos. Um material que é impossível esgotar-se em uma ou tantas outras edições, mas que ajuda-nos a entender a formação que faz deste um povo tão cativante, encantador, brigador, tão humano. Podemos constatar que semelhanças não são meras coincidências. Ator e diretor de cinema, Roberto Benigni emocionou a todos os telespectadores de uma recente transmissão da RAI ao cantar e explicar o hino escrito por Gofredo Mameli. Antes, numa sátira inteligente, contextualizou o momento político sem poupar ninguém deste cenário e chamou atenção de uma platéia global para a importância de homens e mulheres que deram a vida para unificar o terriPietro Petraglia tório, a língua, o povo. Uma mistura de reprimenda à classe Editor política atual e de orgulho pela nação italiana. Na página ao lado, podemos conferir a foto do mais novo imortal ítalo-brasileiro. Nosso colaborador e amigo Marco Lucchesi assumirá oficialmente em junho a cadeira de número 15 da Academia Brasileira de Letras. Um dos maiores estudiosos da literatura italiana, que, em março de 1994, ajudou-nos a fundar esta publicação, é sim motivo de orgulho para todos nós. Parabéns a este imenso personagem que comemora este feito junto aos 17 anos da Comunità! Boa leitura!
Fundada
em
março
de
1994
Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 30/03/2011 às 18:00h Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Nayra Garofle; Sarah Castro; Janaína Cesar; Lisomar Silva; Fernanda Galvão; Cíntia Salomão Castro REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Editoria de arte Colaboradores: Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch CorrespondenteS: Ana Bizzotto (São Paulo); Guilherme Aquino (Milão); Janaína Cesar (Treviso); Leandro Demori (Roma); Lisomar Silva (Roma); Quintino Di Vona (Salerno); Robson Bertolino (São Paulo); Stefania Pelusi (Brasília); Vanessa Corrêa (São Paulo) Publicidade: Osvaldo Requião Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 Cel: (21) 9483-2399 orequiao@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.
La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220
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cosenostre Julio Vanni
Terremoto em Roma? ma previsão encontrada entre os manuscritos do astrônomo e
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sismólogo Raffaele Bendandi (1893-1979) gerou a maior polêmica nas redes sociais: “um terremoto atingirá Roma no próximo dia 11 de maio”. Bendandi previu terremotos anteriores que atingiram a Itália no século XX. Porém, a presidente da Associazione La Bendandiana, Paola Lagorio, afirma que “nos documentos relativos a 2011 não se encontra nenhuma referência a lugares ou datas precisas como as que estão sendo divulgadas na internet”. Apesar disso, nas ruas do centro de Ciampino alguns folhetos com o aviso estão sendo espalhados, mas a Defesa Civil ignora o alerta.
Será que cola? primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, é o pro-
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tagonista da nova propaganda “Mágica Itália”, realizada pelo governo para promover o turismo da arte e cultura no país. No vídeo, Berlusconi aparece folheando um livro sobre a nação, e lembra que a “Itália é o país que presenteou o mundo com 50% dos bens artísticos protegidos pela Unesco”. A imagem de Berlusconi é intercalada com imagens de cidades italianas como Veneza, Florença, Loreto, Orvieto e Roma. A propaganda, que dura 30 segundos, também estará disponível no site www.italia.it.
Osara 150 comemorar o aniversá-
Davi em risco egundo o arquiteto
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padovano Fernando De Simone, a estátua Davi de Michelangelo está sofrendo sérios riscos de desmoronamento. O alerta indica que “o risco será alto se às vibrações causadas pela aproximação simultânea da estátua de grupos de 60 visitantes por vez e as oscilações provocadas pelo tráfego de veículos nas imediações se somarem, a partir do próximo verão, às vibrações das escavadeiras dos túneis ferroviários de alta velocidade, e sucessivamente a passagem dos trens”. Como sugestão, De Simone pede a transferência da estátua para o subsolo de outro museu.
Divulgação
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O
ensaísta, poeta, tradutor e escritor Marco Lucchesi, 47 anos, foi escolhido em março pela Academia Brasileira de Letras como o 7º ocupante da Cadeira nº 15, vaga desde 6 de novembro último, com o falecimento do Padre Fernando Bastos de Ávila. Lucchesi contribuiu para a fundação da revista ComunitàItaliana, além de ter sido colunista e editor do nosso inserto literário, Mosaico. Formado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-doutor em Filosofia da Renascença na Universidade de Colônia, na Alemanha, o mais novo “imortal” é professor da UFRJ e do Colégio do Brasil, além de ser pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor-visitante da Universidade de Roma ”Tor Vergata” e da Universidade de Craiova na Romênia, e editor da Coordenação Geral de Pesquisa e Editoração da Biblioteca Nacional.
Rapidinhas O ex-cônsul geral no Rio de Janeiro, Massimo Bellelli, recebeu em março o status de ministro-plenipotenciário da Farnesina. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, vai doar o fardão para a posse do acadêmico Marco Lucchesi na ABL. O Instituto italiano para o Comércio Exterior – em colaboração com a Confederação da Indústria Italiana – com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Econômico e do Ministério das Relações Exteriores da Itália – organiza a missão de acompanhamento “Grandes Eventos Esportivos” no Brasil, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, de 16 a
19 de maio de 2011. Mais informações: www. eventisportivibrasile2011.it O presidente da Câmara de Deputados italiana, Gianfranco Fini, entregou a medalha de honra da instituição ao presidente do Hospital Italiano do Rio de Janeiro e vice-presidente da Aliança dos Hospitais Italianos no Mundo, Antonio Chianello, pelos trabalhos prestados no Brasil. O diplomata Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003 no Iraque, foi homenageado pela Comune di Bologna, que deu o seu nome a uma praça, na via Stalingrado, próxima de Porta Europa.
rio de 150 anos da unificação da Itália, o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo e o colégio Dante Alighieri promoveram no dia 17 de março um concerto com a pianista italiana Enrica Ruggiero. Cerca de 150 pessoas se reuniram no teatro do colégio para o evento, que contou com a presença do cônsul-geral da Itália, Mauro Marsili. “Esse aniversário marca os 150 anos de um Estado unido e é uma grande alegria comemorar essa data em São Paulo, onde tantos italianos foram acolhidos”, disse o cônsul.
Vespa 150º grupo Piaggio lança em
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edição limitada a “Vespa PX 150 Anniversario Unità d’Italia”. Junto ao “tricolore”, o logo oficial das comemorações pelos 150 anos. A lambreta é uma variante de um dos modelos tradicionais da fábrica, com 125 centímetros cúbicos por cilindrada e detalhes de design clássico.
Neymar rocuradores da
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Juventus e do Nápoles estiveram em São Paulo com o pai do jogador Neymar da Silva Santos Júnior. Na ocasião, um jantar, o também Neymar pediu 40 milhões de euros pelo passe do filho. Será que o craque vai?
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Opinião enquetes
frases
Para você, as mulheres já conquistaram os mesmos direitos dos homens na sociedade?
“No dia a dia sou básica, costumo usar base quando me produzo mais. Tenho duas da La Prairie, uma bem do meu tom de pele e a outra um pouco mais escura, que passo quando estou bronzeada. É uma para o inverno e outra para o verão. O bom é que as duas já vêm com corretivo e, como elas são líquidas, são fáceis de espalhar”,
Sim - 55,6% Não - 44,4% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/03/11 a 11/03/11.
Você é a favor das usinas nucleares?
Não - 87,5% Sim - 12,5% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 17/03/11 a 22/03/11.
Você é a favor do ataque internacional à Líbia?
Não - 60% Sim - 40% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 22/03/11 a 25/03/11.
no celular
Acesse comunitaitaliana.com no seu smartphone com o código QR acima
“A Itália nunca foi tão dividida quanto agora”,
Gioacchino Lanza Tomasi, musicólogo e filho de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, cujo livro “O Leopardo”, de 1958, está entre as descrições da unificação da Itália.
Isabeli Fontana, modelo, em entrevista sobre truques de beleza.
“A moratória de um ano sobre o nuclear é uma decisão de bom senso, de cautela, de respeito à preocupação dos cidadãos frente a episódios extraordinários que suscitaram grandes inquietações na opinião pública”,
“Em linguagem simples e direta, esperamos uma relação de igual para igual. As circunstâncias do mundo de hoje favorecem muito isso”, Antonio Patriota, ministro das relações exteriores, sobre a visita do presidente americano, Barack Obama, ao Brasil.
Stefania Prestigiacomo, Ministra do Meio Ambiente, sobre o adiamento da construção de usinas nucleares na Itália.
“Na Alemanha não falei de receber refugiados ou de sua distribuição em outros países, mas coloquei a ênfase na necessidade de diretrizes comuns na UE sobre políticas de imigração e asilo”,
“Estou feliz de receber este reconhecimento ainda em vida, embora já não seja tão jovem. Estou profundamente comovida, é uma grande honra para mim”,
Giorgio Napolitano, presidente da Itália, sobre o êxodo de imigrantes por causa da crise no norte da África.
“Tenho pena de Kadafi e sinto muito. O que está ocorrendo na Líbia me afeta pessoalmente”,
Rita Levi Montalcini, cientista italiana e Prêmio Nobel de Medicina, ao receber o prêmio Doutor Honoris Causa da Universidade canadense McGill.
Silvio Berlusconi, primeiro ministro italiano, em Turim, durante uma reunião de seu partido, o Povo da Liberdade (PDL).
cartas
“D
epois que li a matéria de capa da última edição fiquei ainda mais entusiasmada para conhecer a cidade de Salvador. Amo o Nordeste, mas ainda não conheço a Bahia. Com tanta beleza, confesso que pude viajar com a revista. Com certeza, Salvador está na lista dos lugares que pretendo visitar este ano.” Francine H. de Castro – Rio de Janeiro – RJ – por e-mail
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“L
i, na última edição, a entrevista com a brasileira Michele Conceição, envolvida no caso Ruby e achei interessantíssima. Eu, que tenho tanto orgulho de ser cidadão italiano, sinto-me ofendido por ter no governo alguém sem a menor preocupação com a sua moral. Esse não é comportamento adequado para ninguém, muito menos para um premier.” João Luís Dalsino – São Paulo – SP – por e-mail
Serviço agenda Salão Internacional do Móvel em Milão “O evento está de volta” é o slogan do maior encontro de design de móveis do mundo, que acontece entre os dias 12 e 17 de abril, no distrito esportivo de Rho. Em sua 50ª edição, o evento traz o que existe de melhor em inovação, tecnologia e cultura, além das tendências de móveis desenvolvidos a partir do conceito de sustentabilidade. Do clássico ao moderno, o público poderá ver, tocar e experimentar os modelos de mobília doméstica. Simultaneamente, o público - que na edição passada contou com mais de 30 mil pessoas – poderá visitar o Salão Internacional do Banho, a Eurocucina e a 24ª edição do Salão Internacional do Complemento de Decoração. Outras informações pelo telefone (21) 2262-9141 ou pelo e-mail: feiras@camaraitaliana.com.br. Reabertura Fechada para obras de reforma desde 2008, a nova Galeria de Arte Brasileira do Século XIX acaba de ser reinaugurada no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. A coleção engloba pinturas, esculturas, arte
sobre papel e mobiliário, todos restaurados para a mostra. A importância da reinauguração pode ser medida pelo fato de a Galeria concentrar, num só espaço, nada menos do que os mais significativos autores
e obras produzidas no século XIX no Brasil. Além disso, esta é a galeria de arte permanente mais antiga do Rio de Janeiro. Dentro da imensa Galeria, provavelmente a maior do Brasil, com 2 mil metros quadrados e 8 metros de pé direito, estão em exibição 230 trabalhos, ou seja, 100 a mais do que a versão anterior. O espaço foi reformulado segundo um novo conceito crítico e expográfico e vai espelhar uma renovada concepção museológica. Avenida Rio Branco, 199 – Cinelândia – Rio de Janeiro.
Concurso fotográfico internacional: “I colori dello sport” A Unione Sportiva ACLI Nazionale (Itália), as ACLI Italianas (Associazioni cristiane lavoratori italiani) e a Unione Sportiva ACLI São Paulo promovem um Concurso Fotográfico Internacional com o tema “As Cores do Esporte”, com a finalidade de evidenciar, por meio de imagens, os aspectos sociais, morais, medicinais e educativos do esporte. Todos os inscritos no Brasil concorrerão aos prêmios da Itália e o vencedor da etapa brasileira ganhará uma passagem de ida e volta para a Itália. O concurso é aberto a todos os interessados e cada participante pode enviar, no máximo, quatro fotos coloridas. As fotos, a taxa de inscrição e a ficha de participação devem ser entregues na sede da Unione Sportiva ACLI São Paulo ou envidadas pelo correio (SEDEX) até o dia 20/04 para: Unione Sportiva ACLI São Paulo Secretaria do Concurso Fotográfico Internacional Av. Ipiranga, 318, Bloco A, 13º andar; CEP 01046-927 São Paulo - SP
29ª Bienal de São Paulo no Rio de Janeiro A Cidade Maravilhosa recebe até o dia 15 de maio um pouco do que foi apresentado na 29ª Bienal de São Paulo – Obras Selecionadas. A iniciativa é da Fiat, patrocinadora nacional do evento, em parceria com a Fundação Bienal de São Paulo e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
São 90 obras de 16 artistas expostas no MAM. O Rio é a segunda de 12 cidades brasileiras a receber este “recorte especial”. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - Av. Infante Dom Henrique, 85 - Parque do Flamengo. Mais informações no telefone (55) 21 2240-4944 ou no site www. manrio.com.br.
clickdoleitor A beleza e o inferno Após os bestsellers Gomorra e O Contrário da Morte, Roberto Saviano apresenta A Beleza e o Inferno. Com relatos contundentes, o autor faz uma compilação estarrecedora ao dissecar as entranhas de grandes organizações criminosas, da máfia italiana à polícia secreta russa. Um livro vencedor do Europe Book Prize 2010. Em A Beleza e o Inferno, Saviano cita escritores e jornalistas que morreram tentando combater, por meio das palavras, conluios, corrupções, crimes, narcotráfico, dentre outros. Editora Bertrand Brasil, 294 páginas, 39 reais.
Eu sou Deus Mais uma vez o italiano Giorgio Faletti narra uma história de guerra, ódio e vingança na voz de um serial killer que mantém Nova Iorque sob ameaça. A explosão de um prédio e a descoberta de uma carta, levam a polícia a encarar uma difícil realidade: alguns prédios de Nova Iorque tiveram explosivos instalados na época de suas construções. Mas quais? Uma detetive que esconde os dramas pessoais sob a sua imagem profissional e um repórter fotográfico com um passado que deseja esquecer são a única esperança para deter um psicopata que sequer assume a autoria de seus crimes. Editora Intrínseca, 368 páginas, 39,90 reais.
Arquivo pessoal
naestante
Mais informações através do e-mail: acli@terra.com.br
“E
stive morando uma temporada na Itália em função de meu doutorado e, finalmente, pude conhecer a região da Apúlia. Conheci Bari, Lecce, Polignano a Mare, mas a que mais me encantou por causa dos famosos “Trulli” foi, sem dúvida nenhuma, Alberobello. Já estou programando um retorno proximamente”. Ana Cristina R. dos Santos Niterói, RJ — por e-mail
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opinione FabioPor ta
Primavera nordafricana Italia vista dall’Africa è piccola, e la Sicilia è più vicina a Tunisi che a Roma: queste considerazioni mi tornavano spesso in mente in questi giorni, assistendo alle rivoluzioni dei popoli nordafricani contro regimi che da venti o quaranta anni avevano impedito il ricambio democratico della classe politica al potere.
do di vittoria che giunge alle nostre attente orecchie è quello di “Allah è grande!”. Rivoluzioni che guardano più ad occidente che a oriente, più a Obama che a Bin Laden; un dato di fatto che dovrebbe farci riflettere e aumentare il nostro senso di responsabilità rispetto alla necessaria e utile cooperazione con Paesi che – per quanto vicini e pressoché “confinanti” con l’Italia, sia pure si tratti di un
fine dei cinici accordi con dittatori o leader da noi comodamente considerati “moderati” perché accondiscendenti e flessibili (con noi, non certo con i loro popoli); a noi “potenze occidentali” si chiede il sostegno alla lotta per la democrazia e la libertà, nel pieno rispetto delle loro culture e delle loro tradizioni, laiche e religiose. Israele in questo momento appare perplesso e indeciso: da un lato forse preoccupato dalla caduta di leader vicini “moderati” ma dall’altro speranzosa che le rivoluzioni si concludano con un esito democratico privo di pregiudizi religiosi e preconcette ostilità. Anche in Italia si assiste con atteggiamento ambivalente a quanto succede sull’altra sponda del Mediterraneo. In questo caso l’indecisione è dovuta principalmente alla paura che il crollo della “diga” costituita dai regimi ‘amici’ di Tunisi, Tripoli e Il Cairo, porti con sè come prima conseguenza lo sbarco sulle nostre coste di centinaia di migliaia di profughi e immigrati clandestini.
E’ successo in Tunisia con la caduta di Ben Ali, in Egitto con Mubarak, in Libia con Gheddafi. Paesi vicini anche se diversi, accomunati da una comune aspirazione della giovani generazioni – che in queste nazioni rappresentano oltre il cinquanta per cento della popolazione! – alla democrazia ed alla libertà. Non rivoluzioni fondamentaliste o islamiche quindi, anche se spesso il gri-
confine marino – non abbiamo mai voluto considerare come partners naturali, o meglio ancora come la naturale estensione meridionale della nostra piccola e vecchia Europa. Ancora una volta è stato un leader politico d’oltreoceano, il Presidente Obama, a rivolgersi per primo e con parole nuove – parole di apertura, ottimismo e speranza – a questi popoli. Sbaglieremmo infatti a non collegare i fatti di questi giorni con lo storico e coraggioso discorso pronunciato un anno fa proprio al Cairo da Barack Obama: a insorgere sono state quelle stesse giovani generazioni arabe che si erano riversate sulla piazza della capitale egiziana per ascoltare le parole del primo Presidente nero degli Stati Uniti d’America. Ci sbaglieremmo ugualmente, però, se pensassimo che questi giovani si rivolgano all’occidente in maniera asettica e acritica; al contrario: a noi occidentali le rivoluzioni del nord dell’Africa chiedono la
La democrazia è sempre stata, storicamente, un processo e non un fatto compiuto. Anche la massiccia emigrazione italiana della fine dell’ottocento e dell’inizio del novecento è stata in qualche modo collegata al processo di costruzione dello Stato italiano unitario; sarà anche grazie a quell’emigrazione di massa che si realizzerà in Italia il primo processo di modernizzazione del Paese. Ugualmente, la prima e la seconda guerra mondiale furono all’origine della seconda e della terza grande ondata migratoria; confermando, in questo caso, un’altra importante ma spesso dimenticata relazione: quella tra i conflitti bellici, le rivoluzioni e le ondate migratorie. Silenzioso testimone di tutto ciò il Mar Mediterraneo, che dopo aver visto salpare da Napoli e Genova milioni di emigrati italiani assiste oggi, dai porti di Sfax o Bengasi, all’esodo di migliaia di giovani nordafricani verso le coste della Sicilia.
Europa e Israele guardano con un misto di paura e speranza alle rivoluzioni nordafricane
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Rivoluzioni che guardano più ad occidente che ad oriente, più ad Obama che a Bin Laden
Towards a safer world
agustawestland.com
opinione EzioMaranesi
A proposito di dignità I
Dignità, moralità, moralismo e ipocrisia: pensiamoci
l 13 febbraio le donne italiane sono scese in piazza per rivendicare la loro dignità. Erano indignate per quanto i media hanno raccontato sulle feste promosse da Berlusconi nelle sue abitazioni. È impossibile sapere cosa sia veramente successo in quelle feste. C’è chi sostiene che i limiti della decenza siano stati superati; la presenza di ragazze minorenni e la distribuzione di soldi aggravano il quadro. C’è chi racconta di feste divertenti, magari con qualche refolo boccaccesco, ma sostanzialmente corrette. Diciamo che il nostro premier farebbe bene a scegliere con cura maggiore le persone che si porta in casa. Ma la dignità femminile ha poco a che vedere con la protesta: è stata una manifestazione politica contro Berlusconi. Lecita, naturalmente. Da che mondo è mondo il fisico femminile è usato per attrarre, sedurre, vendere. Non scandalizziamoci: pensiamo al peso che il fisico di una persona ha nel convivio sociale: chi nasce bello, atleta, alto, sano, magro, bella voce, intelligente ecc. ha ben altre possibilità di successo rispetto a chi nasce meno dotato. Giusto o sbagliato che sia, questa è la realtà. A priori non calpestano la dignità femminile le ragazzotte che traggono profitto in forme varie, magari moralmente accettabili, dal corpo che madre natura ha loro concesso. Le donne hanno ben altri motivi per andare in piazza: lo status di nullità giuridica delle musulmane, la discriminazione nelle carriere e nei salari, l’umiliazione
Contessa di Castiglione
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per i maltrattamenti sofferti in famiglia, l’avvilimento per le richieste sessuali del capo. Per queste cose tutti, uomini e donne, dovremmo scendere in piazza. Non lo facciamo; il capo che molesta sessualmente una dipendente non indigna nessuno. Vendere il proprio corpo è moralmente censurabile, sia per chi vende sia per chi compra, ma non dovrebbe offendere. La prostituzione è il mestiere più vecchio del mondo: c’è chi vende il corpo, chi l’anima e chi la mente, per soldi, per sopravvivere, per sistemarsi, per carriera, per tenere in piedi un matrimonio che fa acqua ecc. Tutti abbiamo l’arbitrio per dire i nostri sí e i nostri no. Ma non si metta in croce chi non ha la forza di dire no: non sappiamo cosa c’è a monte. Si abbia pietà più che disprezzo e indignazione. Andiamo quindi in piazza, donne e uomini, per chiedere onestà intellettuale, pulizia morale, generosità, amore e comprensione per il prossimo. Il mondo non premia queste qualità come dovrebbe, oggi come ieri. Il modello vincente è: accetta il vile compromesso, anche quando sai di essere nel giusto. Se il successo lo esige, venditi: il corpo, l’ani-
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ma o la mente. Qualcuno che compra lo trovi. Ed è cosí che oggi, in Italia, una ragazzotta importata, di costumi molto discutibili, ha nelle sue mani il destino del governo. Ha già raccontato decine di verità, affermando e smentendosi e in aprile, di fronte ai giudici che dovranno giudicare Berlusconi, dirà una “sua nuova” verità e il governo potrà cadere oppure no, dipendendo da
quanto la sventurata dirà e da quanto i giudici vorranno capire. Da qualunque parte la si prenda, è una storia triste. Non è la prima volta che i destini della patria sono influenzati dalla forza di seduzione di una bella donna. In questi giorni in cui è prassi rendere omaggio a chi ha fatto l’Italia, ricordiamo l’abnegazione della contessa di Castiglione. Bellissima, fu definita all’epoca “stupenda statua di carne”. Fu l’amante di molti potenti – se ne elencano una cinquantina – tra cui il re Vittorio Emanuele II e il premier conte di Cavour. Il conte, con cognizione di causa, inviò la contessa alla corte di Napoleone III con il compito di sedurlo e ottenere favori per la patria. Compito non difficile: lei era troppo bella. C’è chi lo nega, ma si sostiene che fu nell’alcova della contessa che Napoleone decise di cedere nel 1859 la Lombardia al Regno del Piemonte e chiudere un occhio quando i bersaglieri nel 1870 entrarono a Roma per la breccia di Porta Pia. Anche allora, non si andava troppo per il sottile.
Il modello vincente è: accetta il vile compromesso, anche quando sai di essere nel giusto. Se il successo lo esige, venditi: il corpo, l’anima o la mente. Qualcuno che compra lo trovi
Ideias diferentes e criativas no momento que você precisar. São Paulo | Rio de Janeiro | Brasília | Belo Horizonte | Londrina | Florianópolis | Goiânia | www.giacometti.com.br
Política
Segurança
Polícia de salto alto
A delegada Martha Rocha tem pulso firme, mas não esconde a sensibilidade. A primeira mulher a assumir a chefia da Polícia Civil do Rio de Janeiro promete uma corregedoria forte e fala de seu fascínio pela Itália Nayra Garofle
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la tem 1,52 metro de altura, não dispensa um salto alto, está sempre de vestido e tem nome de miss. Mas não foram esses atributos que levaram a delegada Martha Rocha a ser nomeada chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Segundo o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, “ela assume o cargo por uma história de 27 anos na polícia”. A carioca de 51 anos acaba de assumir o posto desafiador para um sexo que antes era considerado frágil. — Eu recebi este convite com muita surpresa. Nunca almejei este
cargo até porque eu não faço planos na minha vida, vivo um dia de cada vez. Depois recebi com muita responsabilidade, considerando a magnitude do cargo. É uma sensação de reconhecimento de uma trajetória de vida dedicada ao trabalho — revela. Filha de portugueses, Martha Rocha, hoje moradora da Tijuca, foi criada no subúrbio da Penha por uma família muito católica. Tanto que até hoje cultiva o hábito de ir à missa e é devota de Nossa Senhora da Conceição. Estudou em escola pública, fez o curso normal e atuou como professora primária numa escola de freiras em Brás de
“Ser a primeira mulher a assumir o cargo aumenta ainda mais a minha responsabilidade, seja em nome dos meus policiais e em nome de um número expressivo de mulheres que estão torcendo por mim”
Fotos: Cynthia Tomari
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Pina, zona Norte da cidade, chamada Instituto Nossa Senhora das Dores. Quando cursava a faculdade de Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já era funcionária pública do Tribunal de Justiça. Em 1983, decidiu fazer um concurso para escrivã da polícia e passou. — Aí eu me encantei, porque você acaba se apaixonando pela polícia. É uma atividade sem rotina, não há um dia igual ao outro. Você dá respostas reais, você vê resultados imediatos do seu trabalho. Em 1990 fiz um novo concurso, dessa vez para o cargo de delegado e passei também — relembra. Em seu longo currículo, a delegada carrega casos como o do sequestro do ônibus 174, no bairro do Jardim Botânico, que virou filme e documentário. Martha Rocha indiciou o comandante do Batalhão
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de Operações Especiais (Bope) na época, José Penteado, por homicídio culposo, já que o caso terminou com a morte de uma refém e do bandido. Logo depois, ela foi exonerada e transferida para a 16º DP (Barra da Tijuca). Em entrevista na ocasião, ela disse que fora uma transferência de rotina. Outro caso de repercussão e que colocou o nome de Martha Rocha na mídia foi o do assassinato do menino João Hélio, quando o carro em que ele estava com a mãe foi assaltado e os assaltantes arrastaram a criança presa ao cinto de segurança pelo lado de fora do veículo. Em 2004, a delegada se candidatou a vice na chapa de Jorge Bittar (PT) na eleição para prefeitura do Rio, sem sucesso, e em 2006 tentou uma vaga na Assembleia Legislativa como candidata pelo PSB,
metas e resultados e que tenha compromisso com a ética. Eu acho que primeiro eu quero falar dos bons policiais, eu tenho certeza que o trabalho deles vai se sobrepor à essa imagem que algumas pessoas querem construir da Polícia Civil — afirma. Para isso, durante a coletiva de imprensa realizada para a sua apresentação oficial, Martha Rocha explicou que pretende fortalecer a corregedoria porque “o bom policial não teme a corregedoria forte”. — A gente vai construir uma corregedoria proativa, que se antecipe aos fatos e eu tenho certeza que os bons policiais vão ter destaque em relação a qualquer outro tipo de caso que a gente possa imaginar — diz. A delegada acredita que nada é mais importante em sua vida neste momento do que o desafio de implantar projetos na Polícia Civil. De
alcançando 18.194 votos, o que lhe rendeu a suplência. Solteira e sem filhos, a nova chefe da Polícia Civil tem agora, sob o seu comando, 12 mil policiais no Estado. Assume o cargo em meio a uma crise na instituição que envolve policiais em casos de corrupção, desvio de conduta, ligações com milícias e grupos de extermínio. Vários delegados e policiais foram presos ao fim de quase dois anos de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, em parceria com o Secretário de Segurança Beltrame. Seu antecessor, Allan Turnowski, foi indiciado, por vazamento de informações da operação “Guilhotina”. Martha Rocha prefere não falar sobre os casos de corrupção. Ela afirma que existem palavras – corrupção, problemas e crise – que ela riscou de seu vocabulário. — Eu prefiro dizer que a polícia que eu quero ofertar à população do Rio de Janeiro é uma polícia que seja qualificada, que trabalhe com inovação tecnológica, que trabalhe com
voz doce e uma serenidade absoluta ao falar, engana-se quem pensa que a delegada não tem “pulso firme” para agir. Aos subalternos, um alerta: ela não tem medo de tomar decisões. — Eles podem esperar uma chefe dedicada, uma chefe que não tem medo de decidir, que vai tomar decisões firmes, mas que sempre procurará tomar decisões justas — afirma. Fora do expediente, Martha Rocha se diz uma mulher simples e aprecia programas com os amigos. Frequenta o salão de beleza obrigada, por não gostar de “perder tempo”. Porém, reconhece que não pode viver sem os profissionais da beleza. Compras? Ela não é consumista. No ano passado, viajou a passeio para a Itália com três amigas. Dentre as cidades visitadas, Milão estava no roteiro. — Milão é considerada a capital da moda. Passei por todas aquelas lojas e não comprei nada. Eu sou o tipo de pessoa que se gostar de alguma coisa, vai pra casa pensar se vale a pena comprar e volta no dia seguinte — conta, aos risos.
“Milão é considerada a capital da moda. Passei por todas aquelas lojas e não comprei nada. Eu sou o tipo de pessoa que se gostar de alguma coisa, vai pra casa pensar se vale a pena comprar e volta no dia seguinte” A viagem de 15 dias pela Itália rendeu boas lembranças. A ex-professora primária é só elogios para o povo italiano, a cultura e a comida. — Fiquei apaixonada por Verona, não deixei de visitar a casa de Julieta. A Itália é um país muito alegre, tem boa comida, as pessoas são agitadas, lembra muito o Brasil, acho que a gente tem o mesmo jeito espevitado de ser. Já tinha ido à Itália com meus pais, mas dessa vez, por exemplo, pude olhar Capri com outros olhos — recorda. Longe do dia-a-dia sem rotina de uma delegada e, agora, de uma chefe de polícia, Martha Rocha não dispensa seus prazeres. Adora viajar e cozinhar, é vascaína, mas não entende nada de futebol e procura manter hábitos saudáveis. Inclusive, é adepta de caminhada. — Eu sou a pessoa mais simples que você pode imaginar. Eu tenho uma vida muito trivial. Gosto de receber meus amigos, gosto de cantar, de cinema e gostaria de ler mais do que estou lendo — revela. Diante de tantos escândalos na Polícia Civil, Martha Rocha revela que não teve dificuldades na hora de escolher as pessoas que trabalhariam com ela a partir de agora. — A polícia é composta de muitas pessoas preparadas, de muitas pessoas comprometidas com a ética, não foi difícil compor ou pensar Operação Guilhotina nos nomes para trabaesencadeada pela Polícia lhar comigo. Eu acho Federal no mês passado, a que ser chefe de pooperação deu início a uma das lícia é um desafio em maiores crises da história da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Desde qualquer momento. então, 38 pessoas foram presas, Ser a primeira mulher sendo 30 policiais. Em parceria a assumir o cargo aucom a Secretaria de Segurança menta ainda mais a e o Ministério Público do Rio de minha responsabiliJaneiro, a operação da PF foi dade, seja em nome realizada para prender policiais dos meus policiais e militares e civis suspeitos de repassar informações a traficantes em nome de um núde drogas sobre operações policiais mero expressivo de em troca de propinas e de se mulheres que estão apropriar de armas, dinheiro e torcendo por mim — drogas obtidos nas ações. conclui.
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Política
Cooperação
Bem além das fronteiras “Cria” da casa, subsecretário de Relações Internacionais do governo do Rio de Janeiro conta como o estado trabalha para atrair cada vez mais investidores estrangeiros
Nayra Garofle
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esde que foi “presenteado” com a notícia de que sediará a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o Estado do Rio de Janeiro dispõe de grande visibilidade no cenário internacional. Com esses trunfos, o subsecretário de Relações Internacionais do governo, Pedro Jorge Spadale trabalha incansavelmente para atrair mais investidores estrangeiros para o Estado. Ele acredita que, com o Momento Itália Brasil – evento que terá o início oficializado a partir de outubro – os empresários italianos terão novas oportunidades de reconhecerem no Rio possibilidades de grandes investimentos. 16
— Esse ano vai haver uma programação extensa a partir do segundo semestre com o Momento Itália Brasil. Certamente, vai haver encontros econômicos, missões que virão para cá, acho que é uma oportunidade muito interessante para que sejam organizados um seminário, um fórum de negócios. O momento é muito propício, missões de todos os lugares do mundo têm
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Pedro Spadale elogia o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, que se dispõe a fazer o trabalho de “vendedor do Rio”
chegado ao Rio de Janeiro e, sem dúvida, pode-se aproveitar esse grande evento para fomentar isso — afirma. Desde que assumiu a subsecretaria, em novembro do ano passado, Spadale procura colocar em prática as prioridades do setor. Para atrair novos investimentos, por exemplo, a subsecretaria trabalha em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e com a secretaria de Desenvolvimento Econômico. — Sempre que o governador viaja em missões, nós temos uma delegação empresarial que, ao chegar ao destino, encontra empresários locais, faz rodadas de negócios. Além disso, trabalhamos a promoção das exportações — revela. Spadale ressalta o importante desempenho do governador Sergio
Cabral que, segundo ele, se dispõe a fazer o trabalho de “vendedor do Rio”. Prova disso, de acordo com o subsecretário, foi a missão Fluminense realizada em novembro de 2007, quando Cabral viajou à Itália junto à varias delegações empresariais e representantes das secretarias de seu governo para estreitar as relações sócio-econômicas com o país. — Tínhamos uma delegação empresarial muito boa. A Confindustria foi a nossa parceira, assim como a Firjan. A receptividade na Itália foi excelente. Na época não sabíamos ainda que seríamos sede da Copa e das Olimpíadas, mas uma coisa importante foi dar esse recado, mostrar que o Rio estava mudando e que as coisas aqui eram diferentes. Fizemos isso junto com o setor privado. Por outro lado, nós procuramos receber as delegações aqui e mostrar a elas quais são as oportunidades, orientá-las nos devidos encontros para fazer com que essas visitas tenham resultado — diz. O subsecretário diz que não há na agenda do governador nenhuma visita programada à Itália para este ano. Porém, ao se confirmar a informação de que o Rio será sede do Encontro Mundial da Juventude com o Papa em 2013, ao que tudo indica, o governador terá de ir ao Vaticano para encontrar com o Papa Bento XVI. — Seria muito interessante aproveitar esta oportunidade, visto que já se passaram quatro anos desde a missão fluminense. De lá para cá, muitas coisas mudaram e temos muitas novidades. A relação da Itália com o Rio é muito boa, é um país muito querido por todos os brasileiros — acredita Spadale — Acho que nós temos de procurar traduzir esta simpatia em fatos concretos, seja em negócios, seja em atitudes de cooperação cultural, científica, ou seja, que possam gerar frutos — completa. Pedro Spadale lembra que outra prioridade é a cooperação técnica e a identificação de políticas públicas bem sucedidas. Para citar um tema mais recente, depois da tragédia ocasionada pelas chuvas em janeiro na Região Serrana do Rio e que deixou mais de 890 mortos, a busca por países que têm grande experiência na prevenção e gestão de desastres é um fator emergencial. — Estamos mapeando os países e vamos fazer visitas técnicas com o pessoal da Defesa Civil e da secretaria do Meio Ambiente para conhecer in loco essas experiências. Os países que nós priorizamos são o Japão,
Chile, Peru, Equador, Alemanha, Estados Unidos e Cuba. Isso também serve para todos os outros segmentos de políticas públicas, educação, saúde, segurança — enumera. O trabalho de intercâmbio de experiências tem gerado bons frutos. Na questão da segurança, por exemplo, Spadale revela que “nós aprendemos com a experiência colombiana”. — Eles conseguiram diminuir drasticamente o índice de violência, onde havia condições muito parecidas com a nossa, favelas, tráfico de drogas. Ainda na área de cooperação, há a questão de capacitação, treinamentos de policiais, de pessoas da área de saúde — diz o subsecretário lembrando que no fim do ano passado foi inaugurada, no subúrbio de Buenos Aires, uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), a partir da experiência bem sucedida da gestão de Sergio Cabral. O terceiro ponto apresentado por Spadale na questão das prioridades de sua subsecretaria se refere aos financiamentos externos de organismos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Banco Mundial ou até bancos de países equivalentes ao nosso Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Sabendo que hoje temos tantos projetos por aqui, esses bancos oferecem vias de financiamentos, às vezes em boas condições. O Rio de Janeiro ganhou projeção internacional nos últimos anos em razão dos grandes investimentos e eventos esportivos que ocorrerão
Acima, modelo de teleférico em favela colombiana utilizado no Rio de Janeiro. Ao lado, a Unidade de Pronto Atendimento inaugurada, no ano passado, em Buenos Aires
“Temos que traduzir esta simpatia em fatos concretos”
nos próximos anos, como os Jogos Militares, em julho deste ano, e até mesmo o Rio+20, no ano que vem. — Há uma série de atores envolvidos nesses eventos, mas o principal impacto é o da vinda de delegações estrangeiras interessadas em oportunidades de negócios, principalmente de países europeus que já sediaram Copas, Olimpíadas. Além disso, o que nos interessa muito é conhecer a experiência desses países. Nós temos uma cooperação muito boa em andamento com os britânicos, temos interagido bastante com eles, já que estão na reta final para as Olimpíadas do ano que vem. É uma troca bem intensa e frutífera para nós — destaca. No âmbito das relações internacionais, é Spadale o responsável por programar a agenda de viagens ao exterior do governador. Depois de receber o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em março, Cabral participou de conferências em Washington e Boston. Em seguida, será a vez de visitar a França, Londres, Noruega, Holanda, Madri e China. Formado em Relações Internacionais pelo Centro Universitário Bennett e especializado na área pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Pedro Spadale, de 30 anos, iniciou sua trajetória profissional como estagiário em 2001 no governo do Estado e passou por todos os cargos, foi assistente e assessor. Foram nove anos até ser chamado para atuar na Firjan, por um ano, na área internacional. Em novembro do ano passado, Cabral o convidou para retornar, o que Spadale julgou como “um convite irrecusável”. — Aqui a rotina é chegar bem cedo e sair bem tarde. É trabalho pesado. São 15 pessoas que fazem parte da equipe e que vestem a camisa. Por isso, o trabalho acaba acontecendo de forma natural e prazerosa — revela.
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Attualità
Obama in Brasile Politica di buona vicinanza fa venire per la prima volta in Sudamerica il presidente statunitense Fernanda Galvão
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on preparativi problematici, gente agitatissima e stampa mondiale presente in peso, Barack Obama è sbarcato sul territorio brasiliense il 19 marzo insieme alla famiglia ed è stato ricevuto dalla presidentessa Dilma Rousseff. Dopo un incontro privato i capi di stato hanno parlato nel Palácio do Planalto. — Il Brasile ha lasciato la dittatura per divenire una democrazia. È una delle economie che più cresce nel mondo, facendo emergere dalla povertà milioni di persone e portandole al ceto medio. Oggigiorno gli Usa e il Brasile sono le due maggiori democrazie dell’emisfero e anche le due maggiori economie — ha detto il presidente Barack Obama. Ma Dilma ha ricordato che saranno necessari dei cambiamenti affinché la partnership abbia successo. — Comprendiamo il contesto dello sforzo fatto dal suo governo per la ripresa dell’economia americana. Ma tutti sanno che misure di grande portata provocano importanti cambiamenti nei rapporti tra le valute di tutto il mondo. Questo processo logora le buone pratiche economiche e spinge paesi a intraprendere azioni protezionistiche e difensive di tutti i tipi. Siamo un paese che si sforza per allontanarsi da anni di basso sviluppo e per questo motivo vogliamo rapporti commerciali più giusti ed equilibrati. Da Brasília la comitiva statunitense è partita per Rio de Janeiro dove, il giorno dopo, avrebbe tenuto una conferenza all’aperto in Praça Marechal Floriano (Cinelândia).
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Se da una parte dei cittadini volevano contestare la presenza di Obama, la crisi della Libia e l’occupazione delle troppe brasiliane in Haiti, dall’altra i carioca si organizzavano attraverso le reti sociali per partecipare all’evento. Tutto sarebbe andato come previsto se gli organizzatori non avessero disdetto il discorso in piazza, trasferendolo dentro al Theatro Municipal. Secondo il Consolato Generale degli Stati Uniti la decisione è stata presa per motivi di sicurezza. Anche se Obama aveva detto che avrebbe gradito di poter parlare direttamente al popolo brasiliano “di come possiamo rafforzare l’amicizia tra i nostri paesi”, solo un piccolo gruppo di invitati, politici e giornalisti autorizzati hanno potuto vederlo. Frasi come “Obama go home!” e “Povo imperialista!” sono state registrate dal microblogging Twitter. La visita del presidente ha diviso opinioni. Secondo la deputata Regina Gonçalves (PV-Diadema) Obama non avrebbe dovuto scegliere Rio de Janeiro. — E’ stata una scelta politica sbagliata. São Paulo rappresenta tutto il peso economico del paese.
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Invece il senatore Marcelo Crivella (PRB-RJ) crede che la visita romperà paradigmi. — La crescita dei nostri rapporti con gli Stati Uniti esige che quel paese riveda la sua politica di barriere in modo da garantirci la giustizia delle entrate non discriminate nel mercato americano. Barack Obama ha dato enfasi alla storia dei due paesi, indicando somiglianze nelle due traiettorie. — Le Americhe sono state scoperte da uomini che sono arrivati dall’altro lato dell’oceano e le hanno viste come “nuovo mondo”. Siamo diventati colonie dominate da distanti corone, ma abbiamo subito dichiarato la nostra indipendenza. [...] Crediamo anche che in paesi Sopra, il presidente cosí estesi e diversi quanto i nostri, statunitense Barack formati da generazioni di immigranObama mentre ti di tutte le razze, fedi e culture, la sbarca all’aeroporto democrazia dia maggior speranza internazionale di Rio del fatto che tutti i cittadini siano de Janeiro, ricevuto trattati con dignità e rispetto. E che dal governatore dello possiamo risolvere i nostro probleStato, Sérgio Cabral mi in pace e trovare la forza nella nostra Cabral negli Usa diversità. econdo la Secretaria de Imprensa Il tour per la citdo Estado, il governatore Sergio tà meravigliosa ha Cabral partirà per gli Stati Uniti, dove incluso una presenparteciperà a conferenze tenute tazione di capoeira a Boston e Washington. Tra i temi discussi ci saranno quelli di una e la visita al quartiepartnership con lo stato del Maryland re Cidade de Deus in segmenti riguardanti la sanità e nella zona ovest di l’istruzione. Saranno anche firmati Rio. Il gran finale, accordi che garantiscono l’appoggio com’era previsto, è statunitense ai Mondiali di Calcio stata la visita al Cridel 2014 e alle Olimpiadi del 2016. sto Redentore – ma Riguardo a queste ultime, Obama nel suo discorso a Rio ha affermato che con l’antecedente ritornerà per vederle. dell’autorizzazione Usa di attaccare militarmente la Libia.
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Atualidade
Futuro incerto
Tóquio. Os tremores desencadearam uma tsunami que assolou grande parte do território asiático. O estudante Willian Hirata, de 23 anos, que estava em Yamanashi, descreve o momento do terremoto. — Eu estava fazendo o check-in das minhas bagagens e não achava que o terremoto estivesse tão forte, mas quando olhei ao redor do aeroporto, vi todas as estruturas se mexendo. Terror este que parte da população italiana não deseja enfrentar. No ano passado, em Milão, foi realizada a manifestação “No Nuclear Day”, cujo slogan era “melhor ativos hoje do que radioativos amanhã”.
Governo decide adiar por um ano os estudos de programa nuclear. Em junho, referendo decide destino das construções Fernanda Galvão
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s consequências da tragédia no Japão vão além das fronteiras. Devido ao acidente nuclear provocado pelas explosões das usinas, sobretudo em Fukushima, em 22 de março, a Itália declarou moratória de um ano para retomar o estudo de produção de nuclear. O projeto foi aprovado em 2008, constituindo um dos destaques da plataforma de governo do primeiro-ministro, Silvio Berlusconi. Será realizado, entre os dias 12 e 13 de junho, um referendo nacional que defina a construção de usinas nucleares no país. Em 1987, um referendo também foi aplicado e a opinião pública optou por cancelar o projeto. Na ocasião, a catástrofe se deu na Ucrânia, com o acidente de Chernobyl. A Itália é a única nação industrializada do Grupo dos Oito sem usina nuclear e permanece deficitária em produções de energia. Segundo Gian Antonio Stella, autor do livro “La Deriva. Perché l’Italia rischia il naufrágio”, 88% de energia que o país importa vem do norte da Europa, da Rússia e da Líbia. Para o físico italiano, Enrico Pedemonte, a catástrofe japonesa não deve cancelar o projeto italiano. — As centrais construídas pela Itália têm capacidade para aguentar o impacto de um avião e são muito mais confiáveis que as de Fukushima. O professor do Departamento de Mineralogia e Geotectônica do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Caetano
Juliani, explica que as usinas são planejadas para resistir a terremotos intensos e são desenhadas para cada região em particular, levando-se em conta sua história sísmica. — No Japão nunca havia sido registrado um tremor tão forte. Todas as plantas nucleares desligam automaticamente quando ocorre um terremoto de um certo grau, para evitar acidentes. No caso do Japão, a tsunami inundou as casas de máquinas e os geradores deixaram de funcionar e, como não havia energia elétrica externa devido ao rompimento dos cabos de alta tensão, assim que as baterias do no-break se esgotaram, o sistema de refrigeração deixou de funcionar e os reatores aqueceram. Acreditava-se que as [usinas] do Japão fossem as mais bem protegidas, até esse acidente. Mas são usinas muito antigas também. Certamente haverá necessidade de repensar todas essas normas de segurança, não só no Japão, mas em todo mundo — alerta Juliani. O acidente nuclear no Pacífico ocorreu após um terremoto de 9 graus de intensidade, segundo a escala Richter, que atingiu várias cidades japonesas, entre elas, Sendai e
Acima, usinas nucleares, em Sendai, na província de Miyagi, pegam fogo após o terremoto seguido da tsunami, que assolou o Japão no dia 11 de março
Abaixo, o estudante Willian Hirata, que estava no extremo asiático durante a tragédia
Eventos esportivos são suspensos A seleção japonesa, comandada pelo italiano Alberto Zaccheroni tinha dois amistosos agendados: contra Montenegro, em 25 de março e Nova Zelândia, dia 29. A Federação Japonesa de Futebol não confirmou as partidas. Após o desastre, Zaccheroni retornou à Itália a pedido da família. Pizzaiollo italiano se recusa a voltar Giuseppe Erricchiello, 26 anos, vive no Japão há 5 anos. Após sofrer um atentado, sendo esfaqueado e ficado em coma, Peppe, como é conhecido, não quis permanecer em sua terra natal, Afragola. Com a ajuda da avó, aprendeu a fazer pizza. Juntou dinheiro e se mudou para Tóquio. Começou como ajudante de cozinha. Hoje, é pizzaiollo do próprio restaurante, batizado de “La Bicocca”. Após o terremoto e a tsunami que devastaram a região, Vincenzo Petrone, embaixador da Itália no Japão, garantiu auxílio a todos os italianos que estivessem em solo japonês. Peppe, ao contrário, preferiu ficar. — A minha vida é tudo nesta cidade. — conclui.
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Esclusivo
Attualità
La storia raccontata da Battisti “Il mio errore è stato fare il passo più lungo della gamba: in Francia denunciavo la situazione italiana perché mi sentivo sicuro” Stefania Pelusi
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De Brasília
na vicenda lunga e molto controversa, ed allo stesso tempo storica, giudiziaria e diplomatica. Comincia nel 1977, in un anno particolare e delicato della storia d’Italia, e negli anni ha coinvolto la Francia, il Messico e il Brasile. Cesare Battisti è stato condannato in Italia per quattro omicidi commessi negli anni ’70, quando faceva parte del gruppo Proletari Armati per il Comunismo (PAC) e dal 2007 si trova in carcere preventivo a Brasilia. Il Governo italiano ne richiede l’estradizione, mentre l’ex presidente brasiliano, Luiz Inácio Lula da Silva, l’ultimo giorno del suo mandato, il 31 dicembre del 2010, ha negato il suo rimpatrio, appoggiando la decisione dell’ Advocacia Geral da União. Il caso è destinato ad andare avanti. Attualmente Battisti, che si dichiara innocente e vittima di un complotto, si trova nel carcere Papuda a Brasilia, aspettando la decisione del Supremo Tribunal Federal del Brasile. ComunitàItaliana — Com’è la vita qui a Papuda? Cesare Battisti: Il carcere è un micro mondo dove ci sono persone di tutti i tipi. Dopo aver passato un anno e quattro mesi nel carcere della Policia Federal, adesso sono in un’area speciale del carcere Papuda, dove ci sono ex poliziotti e persone che hanno studiato un corso superiore. CI – Che cosa prova quando vede la sua immagine in televisione? CB – Sono traumatizzato ogni volta che parlano di me. Non mi riconosco in quello che raccontano. Hanno creato un mostro che non sono io. Hanno costruito un personaggio diverso dalla realtà. Nel mondo ci sono 10000 Cesari Battisti, rifugiati, ma sembra che io sia la molecola impazzita di quegli anni. CI – Chi sono i suoi nemici? CB – Quelli che vogliono cambiare la storia, riscrivendo gli anni di piombo in Italia. CI – Cosa sente verso l’Italia? È ancora il suo paese? 20
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CB – Ho abbandonato l’Italia molto giovane. Mi considero un cittadino del mondo. Non esiste il concetto di patria per me, ha perso il suo significato. È la vita stessa e la maniera in cui ho vissuto che mi hanno portato a questa conclusione. CI – Com’è stato il suo arrivo a Rio de Janeiro? CB – C’era la mia foto dappertutto, ero terrorizzato. Sapevo che mi stavano controllando, per questo non mi sono messo in contatto con i movimenti e con altri rifugiati, per non pregiudicarli (sic). Quando salivo al morro era l’unico momento in cui mi sentivo vivo. Un giorno ero seduto in un bar e la proprietaria, che era analfabeta, mi chiese di leggere le lettere di suo figlio che era in carcere e di rispondere per lei. Fu così che divenni lo scribacchino del morro di Santa Marta, Tabajara, Cantagalo e Pavão. CI – Cosa pensa della decisione di Lula di non estradarla? CB – È stato un atto di coraggio considerando l’importanza e la responsabilità che il Brasile ha nel quadro geopolitico internazionale. Sicuramente il momento e l’ora per comunicare questa scelta, non sono stati un caso. Il caso Battisti è stato usato con altre ragioni politiche. Se
io non fossi uno scrittore e non avessi un’immagine pubblica, a nessuno gli importerebbe di me. Il mio errore è stato fare il passo più lungo della gamba: in Francia denunciavo la situazione italiana perché mi sentivo sicuro. CI – Diversi esponenti del governo italiano avevano ipotizzato ritorsioni più o meno eclatanti in caso di pronunciamento contrario. Che cosa pensa delle reazioni dell’Italia? CB – L’Italia non ha mai avuto abbastanza forza per far parte dei paesi più ricchi del mondo. È stata sempre un bluff. Ha avuto grande importanza perché si trova in una posizione geografica strategica per la ONU e perché il denaro della mafia riempie le banche di tutto il mondo. L’Italia
ha bisogno del Brasile. Inoltre, il Brasile adesso l’ha superata. CI – Che cosa c’è dietro il caso? CB – Il caso Battisti è diventato un caso internazionale, tolto dal contesto di quegli anni (di piombo), una merce di scambio per molte cose. Io sono perseguitato dallo Stato Italiano e dal Giudiziario Brasiliano. Sembra assurdo ciò che sta succedendo: il capo dell’esecutivo rilascia un preso e il potere giudiziario si rifiuta. CI – Nel 2009 disse che era disposto a incontrare i familiari delle vittime, è ancora così? CB – Io posso conversare (sic) con queste persone senza problemi. Io ho anche avuto una corrispondenza con Alberto Torregiani, in una delle ultime lettere mi aveva anche chiesto un aiuto per scrivere un libro. CI – Cosa vorrebbe fare se fosse scarcerato? CB – Non so fare altro che scrivere e lavorare per le comunità. Mi piacerebbe fare un lavoro sociale con base nella scrittura. Voglio promuovere la cultura, anche se la frontiera tra cultura e la politica è sottile. CI – Adesso che cosa rappresenta la politica per lei? CB – Mi definisco anarco-comunista. Nell’anarchismo peró il nucleo forte è l’individuo, ed è per questo che mi considero anarco-marxista. È difficile costituire delle società socialiste al mondo d’oggi. Ad esempio Venezuela sta facendo il meglio che poteva fare. Era un paese feudale, non si puó pretendere un cambiamento dall’oggi al domani. Cuba sarebbe il miglior esempio di democrazia del mondo, se non fosse per l’embargo, impostogli dagli USA. CI – Perché vari movimenti degli anni di piombo scelsero il cammino della lotta armata? CB – La lotta armata è stata un errore. Tutti siamo caduti dentro la trappola dello Stato che distruggeva i movimenti culturali attraverso la repressione, spingendoci alla lotta armata. Stavamo facendo il loro stesso gioco di potere, senza rendercene conto. Oggi la rivoluzione non passa più attraverso le armi, ma passa attraverso la cultura e l’educazione. CI – Qual è la sua maggior preoccupazione? CB – Ho paura di star vivendo un film già visto nel 2009. È possibile che si ripeterà?
Notícias
Novas tecnologias m protocolo de intenções para desenvolvimento de no-
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vas tecnologias no setor automotivo foi assinado, em fevereiro, pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o presidente do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, João Jornada, e representantes das empresas Fiat Powertrain e FPT Industrial. O objetivo é utilizar os pesquisadores e o campus do Inmetro, em Xerém, para a realização conjunta de pesquisas, incluindo o estudo de um motor para veículos comerciais leves movidos a um combustível com 30% de biodiesel e 70% de diesel em sua composição. O veículoconceito será apresentado ao governo brasileiro até 2013. Mais de 4 milhões de reais devem ser investidos para a realização das pesquisas. O responsável pelo Grupo Fiat na América Latina, Cledorvino Belini, exaltou o pioneirismo da montadora italiana, que completa 35 anos de presença no Brasil. “A Fiat foi a primeira montadora a oferecer carro a álcool. A parceria com o Inmetro não poderia ser mais oportuna, representa a conquista de um grau tecnológico de novos patamares e reafirma o compromisso da Fiat com a mobilidade humana”. Entre os projetos a serem desenvolvidos no futuro, está o desenvolvimento de um motor que apresente uma melhoria significativa de eficiência energética e a criação de um programa de incentivo à formação de jovens engenheiros.
Telecom Italia Telecom Italia prevê um crescimento de suas receitas
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para este ano na América Latina. No Brasil, o aumento estimado está entre 7% e 8%, chegando aos 14.5 milhões de reais, com uma margem operacional bruta em torno de 4.5 milhões de reais, contra os 4.2 milhões de reais do ano anterior. Na Argentina, o grupo italiano almeja uma receita de 17.7 milhões de pesos (21% a mais em comparação com 2010) e uma margem operacional bruta de 5.5 milhões, contra os 4.8 milhões de pesos do ano passado. A Telecom Italia tem interesse em aumentar sua participação na Telecom Argentina “se e quando existirem as oportunidades”, declarou Franco Bernabè, CEO da empresa, em uma teleconferência. “No entanto, devemos primeiro tentar entender melhor a empresa, além de considerar que temos limites normativos. Mas, certamente, é de nosso interesse analisar a possibilidade, o que exigirá algum tempo”, frisou Bernabè. Há também a previsão de uma redução das receitas na Itália de cerca de 4% e uma flexão da margem operacional bruta de aproximadamente 9.4 milhões de euros, face aos 9.8 milhões de euros de 2010.
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Imigração&Guerra
Intolerân versus interess Intolleranza contro interessi Aline Buaes
Especial para Comunità
Onda migratória e relações comerciais são principal preocupação italiana em relação à Líbia. Governo defende via diplomática e evita envolvimento militar direto nos ataques contra sua ex-colônia africana
Ondata migratoria e relazioni commerciali sono principale preoccupazione italiana in rapporto alla Libia. Governo difende via diplomatica ed evita diretto coinvolgimento militare negli attacchi contro la sua ex colonia africana
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nquanto o governo francês liderava as negociações entre il governo francese guidava i negoziati per para iniciar os ataques contra as forças do ditador iniziare gli attacchi contro le forze del dittatoMuamar Kadafi, na Líbia, os governantes e a popure Muammar Gheddafi in Libia, il governo e il lação italiana mantinham sua preocupação em dois popolo italiano si preoccupavano di due aspetaspectos: a onda migratória que deve aumentar ainda mais em ti della questione: l’ondata migratoria verso l’Italia, che dovrà direção à Itália e o impacto sobre as fortes relações comerciais aumentare ancora di più e l’impatto dovuto alle forti relazioni entre os dois países, consolidadas nos últimos anos após grande commerciali tra i due paesi, consolidate negli ultimi anni dopo esforço da Itália para apagar as mágoas do período colonial. aver fatto grandi sforzi, da parte italiana, per cancellare i risentiDesde o início da ação militar na Líbia, autorizada por uma menti accumulati dal periodo coloniale. resolução da ONU do último dia 17 de Fin dall’inizio dell’azione militare in março e conduzida por uma coalizão Libia, autorizzata da una risoluzione della da qual fazem parte, além da Itália, Onu del 17 marzo e condotta da una coFrança, Estados Unidos, Grã-Bretanha alizione di cui fanno parte, oltre all’Italia, e Canadá, o governo italiano vem reiFrancia, Stati Uniti, Gran Bretagna e Canaterando sua defesa de uma postura da, il governo italiano continua a difendere diplomática de diálogo com o goveril suo atteggiamento diplomatico di dialono líbio. O premier Sílvio Berlusconi go con il governo libico. Il premier Silvio chegou a lamentar as notícias sobre o Berlusconi si è persino lamentato quando bombardeamento parcial de uma das ha saputo del bombardamento parziale di residências oficiais do general Kadafi e Exército líbio se organiza durante ataque una delle residenze ufficiali del generale reiterou que nenhum caça italiano está estrangeiro autorizado pela ONU Gheddafi e ha ripetuto che nessun caccia participando diretamente dos ataques Esercito libico si organizza durante attacco italiano sta partecipando in modo diretto contra o exército líbio. straniero autorizzato dalla Onu agli attacchi contro l’esercito libico. 22
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A postura moderada de Berlusconi, para além da visão dos oposicionistas que lembram sua amizade com o ditador líbio, reflete os temores da população italiana sobre as incertezas da situação e os objetivos políticos por trás desta intervenção militar internacional, considerando as conseqüências que recairão diretamente sobre a Itália, como a imigração ilegal e a fuga em massa da população, devido à posição geográfica italiana. O governo italiano, desde o início da onda de revoltas em países árabes, que já provocou as renúncias dos presidentes da Tunísia e do Egito, vem reiterando aos seus colegas de União Europeia a necessidade de dividir o peso da grave situação migratória e humanitária decorrente destas situações de conflito. Mas há também a preocupação com a amizade comercial e estratégica da Itália com a Líbia. As declarações do premier de que estava “triste” pelos bombardeamentos contra a residência de Kadafi também foram interpretadas por críticos como uma forma de lamentar que o esforço diplomático dos últimos anos para reatar relações de amizade com a ex-colônia africana esteja indo por água abaixo neste momento. Mesmo com a Itália não participando diretamente dos ataques contra a Líbia, os Estados Unidos estão usando suas bases militares presentes no sul do país e, caso a Otan entre em cena, caças italianos dotados de tecnologias avançadas provavelmente serão utilizados. Em agosto de 2008, em uma visita histórica à Trípoli, Berlusconi colocou fim a 40 anos de difíceis relações da Itália com a Líbia, ex-colônia italiana de 1911 a 1943, ao pedir oficialmente desculpas “pelas feridas causadas ao povo líbio”. Naquele momento se iniciavam as tratativas para a assinatura do polêmico Tratado de Amizade entre os dois países. O temor da onda migratória em massa A onda de revoltas populares que vem abalando os países árabes nos últimos meses já provocou consequências diretas na Itália, que acompanha com tensão o desenvolvimento da crise na Líbia, grande aliada não apenas comercial, mas também no combate à imigração clandestina nas águas do Mar Mediterrâneo. Desde o dia 15 de janeiro, mais de 15 mil pessoas chegaram à Itália ilegalmente a partir do norte da África, sendo a maioria proveniente da Tunísia. Esse número é quatro vezes o número do total de imigrantes clandestinos interceptados no mar durante todo o ano de 2010. As organizações internacionais reiteram o risco de uma catástrofe humanitária de dimensões imprevisíveis e afirmam que toda a Europa deve estar preparada para receber milhares de desabrigados e refugiados. Enquanto o governo italiano mobiliza as suas estruturas e fala em cerca de 200 ou 300 mil imigrantes nos próximos meses, a agência europeia de controle das fronteiras externas, Frontex, calcula em 1,5 milhão o número de pessoas que deve tentar fugir da instabilidade política nos países norte-africanos. O governo italiano, com o apoio de organizações humanitárias internacionais, já está preparado para um aumento ainda maior da onda de imigrantes provenientes da Líbia no caso de agravamento da situação no país. Entidades como a Caritas, a Cruz Vermelha 24
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O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi ao lado do ditador da Líbia, general Muamar Kadafi
Il primo ministro italiano, Silvio Berlusconi, accanto al dittatore della Líbia, generale Muammar Gheddafi
L’atteggiamento moderato di Berlusconi, la cui causa va oltre alla sua amicizia con il dittatore libico sempre citata dall’opposizione, riflette le paure del popolo italiano riguardo le incertezze della situazione e gli obiettivi politici alle spalle di questo intervento militare internazionale, considerando le conseguenze che ricadranno direttamente sull’Italia, come l’immigrazione illegale e la fuga in massa della popolazione dovuto alla posizione geografica italiana. Fin dall’inizio dell’onda di ribellioni nei paesi arabi, che ha già provocato la rinuncia dei presidenti della Tunisia e dell’Egitto, il governo italiano ripete ai suoi colleghi dell’Unione Europea che c’è bisogno di dividere il peso della grave situazione migratoria e umanitaria causata da queste situazioni di conflitto. Ma ci si preoccupa anche dell’amicizia commerciale e strategica dell’Italia con la Libia. Anche le dichiarazioni del premier, che si è dichiarato “triste” dovuto ai bombardamenti contro la casa di Gheddafi sono state interpretate dai critici come una forma di esternare la sua insoddisfazione di fronte al fatto che, in questo momento, tutti gli sforzi diplomatici degli ultimi anni per ristabilire i legami di amicizia con l’ex colonia africana siano andati persi. Anche se l’Italia non sta partecipando direttamente agli attacchi contro la Libia, gli Stati Uniti stanno usando le sue basi militari presenti al sud dello Stivale e, se per caso la Nato dovesse entrare in scena, probabilmente saranno usati caccia italiani dotati di tecnologie avanzate. Nell’agosto 2008, in una storica visita a Tripoli, Berlusconi aveva dato fine a 40 anni di difficili rapporti tra l’Italia e la Libia, ex colonia italiana dal 1911 al 1943, chiedendo ufficialmente scusa “per le ferite causate al popolo libico”. In quel momento cominciavano le trattative per la firma del polemico Trattato di Amicizia tra i due paesi. Il temore dell’ondata migratoria in massa L’ondata di ribellioni popolari che sta turbando i paesi arabi negli ultimi mesi ha già provocato conseguenze dirette in Italia, che segue con tensione lo sviluppo della crisi in Libia, grande alleata non solo commerciale ma anche nella lotta all’immigrazione clandestina nelle acque del Mediterraneo. Dal 15 gennaio più di quindicimila persone sono arrivate illegalmente in Italia dal nord Africa, la cui maggior parte venuta dalla Tunisia. Questo numero rappresenta il quadruplo del totale di immigranti clandestini intercettati in mare durante tutto il 2010. Le organizzazioni internazionali insistono sul rischio di una catastrofe umanitaria di dimensioni imprevisibili e dicono che tutta l’Europa dovrà essere pronta a ricevere migliaia di sfollati e rifugiati. Mentre il governo italiano mette in moto le sue strutture e parla di circa 200 o 300 mila immigranti nei prossimi mesi, l’agenzia europea di controllo delle frontiere estere, Frontex, calcula che 1,5 milione di persone cercheranno di sfuggire dall’instabilità politica dei paesi del nord Africa. L’Italia, con l’appoggio di organizzazioni umanitarie internazionali, è già pronto per un aumento ancora più grande dell’ondata di immigranti provenienti
Internacional e órgãos da ONU atuam nos principais pontos de desembarque de quem decide fugir dos países em crise pelo Mediterrâneo. Um plano de distribuição para possíveis refugiados libios foi estruturado e prevê a participação de todas as regiões italianas, que devem receber os imigrantes divididos proporcionalmente. A maior parte dos 15 mil imigrantes clandestinos identificados nas últimas semanas em Lampedusa, uma pequena ilha turística com uma população fixa de 6 mil habitantes e principal destino das embarcações clandestinas, são homens jovens de origem tunisiana que chegam à Itália com o objetivo de prosseguir viagem para França ou Alemanha. — Há uma inteira geração de jovens que fogem da Tunísia devido à crise econômica e política e aproveita a ausência de controles nas fronteiras — admitiu o ministro da Defesa italiano, Roberto Maroni, anunciando que o governo trabalha com a possibilidade de enquadrá-los no status de proteção humanitária temporária, já que, devido à situação de instabilidade na Tunísia, eles não poderiam ser repatriados neste momento. A Itália, segundo a atual normativa europeia, é obrigada a impedir a continuação dos imigrantes clandestinos para outros países europeus e de reenviá-los aos seus países de origem, com exceção dos solicitantes de asilo ou com direitos ao status de refugiados, provenientes de países em guerra. Segundo o vicediretor da Caritas, no caso dos tunisianos, poderiam
Imigrantes clandestinos, vindos da Líbia e da Tunísia, aguardam solução do governo
Immigranti clandestini provenienti da Libia e Tunisia aspettano una soluzione del governo
dalla Libia se la situazione dovesse aggravarsi. Entità come la Caritas, la Croce Rossa e gli organi della ONU si fanno presenti nei principali luoghi di sbarco di chi decide di fuggire dai paesi mediterranei in crisi. È stato messo in piedi un piano di distribuzione per possibili rifugiati libici, che prevede la partecipazione di tutte le regioni italiane, che riceveranno gli immigranti divisi in maniera proporzionale. La maggior parte dei 15 mila immigranti clandestini identificati nelle ultime settimane a Lampedusa, una piccola isola turistica con una popolazione di sei mila abitanti e meta principale delle imbarcazioni
O caminho dos imigrantes ilegais que chegam na Itália Il percorso degli immigranti illegali che arrivano in Italia
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sistema de recepção para os estrangeiros que chegam irregularmente à Itália é dividido em três tipos de estrutura: os Centros de Primeiro Acolhimento (Cpa), que realizam um primeiro reconhecimento da situação do imigrante; o Centro de Recepção de Solicitantes de Asilo (Cara), no qual ele pode permanecer por períodos variáveis a fim de realizar o procedimento para reconhecimento do seu status; e os Centros de Identificação e Expulsão (Cie), no qual aguarda a preparação do processo de repatriação, podendo permanecer por um período máximo de 180 dias. Para os solicitantes de asilo e refugiados, existe um sistema chamado Siprar (Sistema de proteção para solicitantes de asilo e refugiados), através do qual recebem alojamento, alimentação, assistência e orientação.
Itália Túnis
Pantelleria
Lampedusa
Sfax
Tunísia
Trípoli Líbia
Agrigento
Malta
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l sistema di accoglienza per gli stranieri che entrano irregolarmente in Italia è diviso in tre tipi di strutture: i Centri di prima accoglienza (CPA) che realizzano una prima identificazione per sapere la situazione degli immigranti; i Centri di accoglienza richiedenti asilo (Cara), in cui gli immigranti posso rimanere per periodi variabili per realizzare le procedure di riconoscimento del loro status; e i Centri di identificazione ed espulsione (Cie), in cui si rimane in attesa della preparazine del processo di rimpatrio, in cui si può rimanere al massimo per 180 giorni. Per i richiedenti di asilo e i rifugiati c’è un sistema chiamato Siprar (Sistema di protezione per i richiedenti di asilo e rifugiati), attraverso il quale si ottengono un posto per dormire, alimentazione, assistenza e orientamenti.
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solicitar asilo apenas ex-membros do exército ou do governo. Portanto, a decisão do Ministério do Interior em conceder o status de proteção humanitária temporária resolveria um dos principais nós burocráticos provocados com essa nova onda de imigração. Segundo previsões, o principal fluxo será de imigrantes com direito a asilo ou status de refugiado, provenientes de outros países africanos que permaneceram anos bloqueados na Líbia. Neste tipo de imigração, o perfil muda, havendo muitas mulheres com crianças e famílias, ao invés dos jovens tunisianos. O governo italiano também enviou missões humanitárias às fronteiras da Líbia com a Tunísia e aos dois principais portos da Tunísia de onde partem os imigrantes clandestinos a fim de evitar que a crise nestes países provoque uma “partida em massa em direção à Itália”. Já a União Europeia, além dos auxílios financeiros enviados diretamente às organizações humanitárias em ação nos países em crise, também enviou, através da Frontex, forças policiais para auxiliar as operações da polícia de fronteira italiana. — Esta situação representa um desafio importante para a Itália, a qual esperamos que seja apoiada por toda a União Europeia — afirma o representante do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) no Sul da Europa, Laurens Jolles. A organização também salienta que a comunidade internacional não pode esquecer a situação dramática dos refugiados africanos bloqueados na Líbia, provenientes de países em guerra civil como Eritreia, Somália e Sudão, que não conseguem se proteger da tensão interna e não podem retornar a seus países de origem. Enquanto a situação na Líbia não converge em uma guerra civil declarada, o principal fluxo de imigrantes corre em direção às fronteiras com Tunísia e Egito. — Por enquanto trata-se de um problema transitório, de trabalhadores egípcios ou de outras nacionalidades que querem deixar a Líbia e retornar a seus países — explica Francesco Marsico, vice-diretor da organização católica italiana Caritas. Para Marsico, a União Europeia e os governos nacionais europeus precisarão se manifestar de maneira clara caso a situação piore nas próximas semanas. A França, por exemplo, já declarou sua indisponibilidade para receber esses imigrantes. Ele, no entanto, afirma que o problema também é interno. — Infelizmente, devemos admitir que o governo italiano, nos últimos anos, não teve uma visão ampla sobre o problema e não pediu nem sugeriu à União Europeia o desenvolvimento
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Acima, o vice-diretor da organização católica italiana Caritas, Francesco Marsico. Abaixo, a Itália passou a interceptar em alto-mar as embarcações e a enviar os imigrantes às autoridades líbias, que deveriam providenciar a repatriação
Sopra, il vice direttore dell’organizzazione cattolica Caritas Italiana, Francesco Marsico. Sotto, l’Italia ha cominciato ad intercettare in alto mare le imbarcazioni e a mandare gli immigranti alle autorità libiche che devono provvedere al loro rimpatrio
clandestine, è di uomini giovani di origine tunisina, che arrivano in Italia per proseguire il viaggio per la Francia o la Germania. — C’è un intera generazione di giovani che fugge dalla Tunisia dovuto alla crisi economica e politica e approfitta dell’assenza di controlli alle frontiere — ha ammesso il ministro degli Interni italiano, Roberto Maroni, annunciando che il governo lavora sulla possibilità di inquadrarli nello status di protezione umanitaria temporanea, visto che, dovuto alla situazione di instabilità in Tunisia, non potrebbero essere rimpatriati in questo momento. L’Italia, secondo la normativa attuale europea, è obbligata ad impedire il proseguimento degli immigranti clandestini verso altri paesi europei e a rimandarli nei loro paesi di origine, a eccezione di quelli che richiedono asilo o hanno diritto allo status di rifugiati, provenienti da paesi in guerra. Secondo il vice direttore della Caritas, nel caso dei tunisini potrebbero richiedere asilo solo gli ex membri dell’esercito o del governo. Quindi la decisione del Ministero degli Interni di concedere lo status di protezione umanitaria risolverebbe uno dei principali nodi burocratici provocati da questa nuova ondata di immigranti. Secondo delle previsioni, il flusso principale sarà di immigranti con diritto all’asilo o allo status di rifugiati, reduci da altri paesi africani che sono rimasti per anni bloccati in Libia. In questo tipo di immigrazione cambia il profilo: ci sono molte donne con bambini e famiglie invece di giovani tunisini. Il governo italiano ha anche inviato missioni umanitarie alle frontiere della Libia con la Tunisia e nei principali porti tunisini, da dove partono gli immigranti clandestini, per evitare che la crisi in questi paesi provochi una “partenza in massa verso l’Italia”. Da parte sua l’Unione Europea, oltre agli aiuti finanziari inviati direttamente alle organizzazioni umanitarie in azione nei paesi in crisi, ha anche mandato, attraverso la Frontex, forze di polizia per aiutare le operazioni della Guardia di Finanza. — Questa situazione rappresenta una importante sfida per l’Italia e speriamo che riceva gli appoggi da tutta l’Unione Europea — afferma il rappresentante dell’Alto Commissariato della Onu per i Rifugiati (Acnur) dell’Europa del sud, Laurens Jolles. Inoltre l’organizzazione mette in risalto che la comunità internazionale non può dimenticare la drammatica situazione dei rifugiati africani bloccati in Libia, provenienti da paesi in guerra civile come l’Eritrea, la Somalia e il Sudan, che non riescono a proteggersi dalle tensioni interne e non possono rientrare nei loro paesi di origine. Mentre la situazione in Libia non risulta in una guerra civile dichiarata, il principale flusso di immigranti scorre verso le frontiere con la Tunisia e l’Egitto. — Per ora si tratta di un problema transitorio, di lavoratori egiziani o di altre nazionalità che vogliono lasciare la Libia e ritornare nei loro paesi — spiega Francesco Marsico, vice direttore dell’organizzazione cattolica italiana Caritas. Per Marsico l’Unione Europea e i governi nazionali europei avranno bisogno di manifestarsi in modo chiaro se per caso la situazione peggiorasse nelle prossime settimane. La Francia, ad esempio, ha già dichiarato la sua indisponibilità per ricevere questi immigranti. Comunque lui dice che il problema è anche interno. — Purtroppo dobbiamo ammettere che il governo italiano negli ultimi anni non ha avuto un’ampia visione
Manifestantes protestam contra o acordo de amizade assinado entre a Líbia e a Itália, alegando violação dos direitos humanos
Manifestanti protestano contro l’accordo di amicizia firmato tra la Libia e l’Italia per presuta violazione dei diritti umani
de projetos a longo prazo para resolver o problema da imigração norte-africana — afirma Marsico. — A Itália teve uma visão política limitada, confiando totalmente no êxito do acordo com a Líbia — adverte, referindo-se ao tratado de amizade entre os dois países firmado em 2008, que reduziu drasticamente o número de desembarques clandestinos no litoral italiano. Com o acordo, a Itália passou a interceptar em alto-mar as embarcações e a enviar os imigrantes às autoridades líbias, que deveriam providenciar a repatriação destas pessoas. “Buraco negro” nos direitos humanos Desde o início, este tratado provocou polêmicas entre ativistas de direitos humanos e teve a suspensão decretada alguns dias após o início dos recentes conflitos na Líbia. O vice-diretor da Caritas afirma que “o exército líbio retinha estes imigrantes e impedia que pessoas provenientes de regiões em guerra pudessem solicitar asilo político ou status de refugiados”. Firmado em agosto de 2008, o polêmico tratado entrou em vigor em março de 2009. Assim, ao longo de 2009, o desembarque marítimo de imigrantes clandestinos diminuiu em 74% em relação a 2008, enquanto em 2010 a redução foi de 88% em relação a 2009. A própria ONU chegou a solicitar a verificação das condições em que as pessoas eram mantidas nas prisões líbias, enquanto diversos trabalhos jornalísticos revelaram as trágicas trajetórias
Dagmawi Yimer, um dos autores do documentário “Come un uomo sulla terra
Dagmawi Yimer, uno degli autori del documentario “Come un uomo sulla terra”
del problema e non ha richiesto, né suggerito, all’Unione Europea l’idealizzazione di progetti e lungo termine per risolvere il problema dell’immigrazione dal Nord Africa — afferma Marsico. — L’Italia ha dimostrato di avere una visione politica limitata, fidandosi appieno del risultato dell’accordo con la Libia — avverte, riferendosi al trattato di amicizia tra i due paesi siglato nel 2008, che ha drasticamente ridotto il numero di sbarchi clandestini lungo il litorale italiano. Con l’accordo l’Italia ha cominciato ad intercettare in alto mare le imbarcazioni e a mandare gli immigranti nelle mani delle autorità libiche, che dovevano provvedere al rimpatrio di queste persone. “Buco nero” nei diritti umani Fin dall’inizio questo trattato provoca polemiche tra attivisti di diritti umani ed è stato sospeso qualche giorno dopo l’inizio dei recenti conflitti in Libia. Il vice direttore della Caritas dice che “l’esercito libico tratteneva questi immigranti e impediva che persone
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destes imigrantes enviados de volta à Líbia pelas forças italianas. Um destes trabalhos foi o documentário “Come un uomo sulla terra”, realizado por Riccardo Biadene, Dagmawi Yimer e Andrea Segre. Yimer era um estudante etíope que viveu pessoalmente os horrores das prisões líbias antes de conseguir chegar à Itália. — O acordo líbio impediu um fluxo muito grande de imigrantes com direitos de asilo e isso significa um buraco negro na questão dos direitos humanos sobre a imigração — afirma Marsico. Portas da Europa O Mar Mediterrâneo, nos últimos anos, se tornou protagonista de crescentes fluxos migratórios, envolvendo praticamente todos os países costeiros. Os principais pontos de chegada à Itália estão nos litorais da Puglia, da Sicília e, com menos freqüência, da Calábria. Durante a crise nos países dos Bálcãs, no Kosovo e na Albânia, no final dos anos 90, provocando um dos maiores fluxos migratórios já enfrentados pelo país, as praias da Puglia constituíam os principais pontos de acesso. Com os novos imigrantes dos anos 2000 partindo do norte da África, o destino de desembarque acaba sendo, naturalmente, o litoral da Sicília, principalmente a ilha de Lampedusa. Segundo dados oficiais, os desembarques na Sicília passaram de 2.700, no ano de 2000, para quase 37 mil, em 2008. Após aquele ano, com a assinatura do tratado com a Líbia, ocorreu uma espécie de bloqueio dos fluxos migratórios. A nova crise, iniciada em meados de janeiro deste ano, trouxe, somente à Lampedusa, mais de 6 mil imigrantes. Na opinião do dirigente da Caritas Itália, os fluxos significativos de imigrantes ilegais de 2005 a 2007 foram um dos principais motivos que levaram o governo Berlusconi a decidir pela assinatura de um acordo com o governo de Kadafi.
“Entre 2008 e 2010, a balança comercial entre Itália e Líbia chegou a 40 bilhões de euros, enquanto um fundo soberano líbio investiu 2,5 bilhões de euros para comprar 7% da Unicredit”
Dependência energética e comercial entre Itália e Líbia Desde 1950, quando a Líbia declarou independência da Grã-Bretanha, as relações comerciais com a Itália atravessaram fases difíceis, principalmente nos primeiros anos do governo de Kadafi, na década de 70. A situação melhorou em 1998, até chegar ao auge com a assinatura, em 2008, do Tratado de Amizade e Cooperação com a Itália. Até o início da atual crise, a Líbia era um importante aliado no norte da África para a Itália e um dos mais importantes fornecedores de energia (gás e petróleo). O tratado de 2008, firmado pelo primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, previa o favorecimento aos investimentos nas empresas italianas presentes na
“Tra il 2008 e il 2010 la bilancia commerciale tra l’Italia e la Libia ha raggiunto i 40 miliardi di euro, mentre un fondo sovrano libico ha investito 2,5 miliardi di euro per comprare il 7% della Unicredit” Momento que em que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, firma parceria com o governo líbio, liderado por Kadafi
Momento in cui il primo ministro italiano, Silvio Berlusconi, firma accordo con il governo libico guidato da Gheddafi
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provenienti da regioni in guerra potessero richiedere asilo politico o status di rifugiate”. Firmato nell’agosto del 2008, il polemico trattato è entrato in vigore nel marzo del 2009. Cosí durante il 2009 lo sbarco marittimo di immigranti clandestini è diminuito del 74% in confronto al 2008, mentre nel 2010 la riduzione è stata dell’88% in rapporto al 2009. La stessa Onu ha perfino richiesto la verifica delle condizioni in cui erano tenute le persone nelle prigioni libiche, mentre molti lavori di tipo giornalistico hanno rivelato le tragiche traiettorie di questi immigranti rimandati in Libia dalle forze dell’ordine italiane. Uno di questi lavori è stato il documentario “Come un uomo sulla terra”, realizzato da Riccardo Biadene, Dagmawi Yimer e Andrea Segre. Yimer era uno studente etiope che ha personalmente vissuto gli orrori delle prigioni libiche prima di riuscire ad arrivare in Italia. — L’accordo libico ha impedito un flusso molto grande di immigranti con diritto ad asilo e ciò significa un buco nero nella questione dei diritti umani sull’immigrazione — afferma Marsico. Porte dell’Europa Negli ultimi anni il Mar Mediterraneo è divenuto protagonsita di crescenti flussi migratori che coinvolgono praticamente tutti i paesi costieri. I punti principali di arrivo in Italia sono i litorali della Puglia, della Sicilia e, meno spesso, della Calabria. Durante la crisi nei paesi dei Balcani, nel Kossovo e in Albania, alla fine degli anni ’90, che ha provocato uno dei più grandi flussi migratori già affrontati dall’Italia, le spiagge della Puglia erano i principali punti d’entrata. Con i nuovi immigranti degli anni 2000, che partono dal nord Africa, la destinazione degli sbarchi alla fine è naturalmente il litorale della Sicilia, specialmente l’isola di Lampedusa. Secondo dati ufficiali gli sbarchi in Sicilia sono aumentati da 2.700 nel 2000 a quasi 37 mila nel 2008. Dopo quell’anno, con la firma del trattato con la Libia, si è avuta una specie di fermo dei flussi migratori. La nuova crisi, cominciata a metà gennaio di quest’anno, ha fatto sí che arrivassero, solo a Lampedusa, più di seimila immigranti. Secondo il dirigente della Caritas Italia i flussi significativi di immigranti illegali dal 2005 al 2007 hanno rappresentato uno dei motivi principali che ha portato il governo Berlusconi a decidere di siglare l’accordo con il governo di Gheddafi.
Líbia. Mesmo com as críticas de ativistas de direitos humanos, o tratado favoreceu o aumento das trocas comerciais entre os dois países. Entre 2008 e 2010, a balança comercial entre Itália e Líbia chegou a 40 bilhões de euros, enquanto um fundo soberano líbio investiu 2,5 bilhões de euros para comprar 7% da Unicredit, se tornando o maior acionista do grupo bancário italiano, e 1% da companhia de gás e petróleo italiana Eni foi adquirida por fundos líbios, o que prolongou em 25 anos as concessões energéticas para o grupo italiano no país africano, entre muitos outros acordos. Nas primeiras semanas da crise líbica, o governo italiano foi extremamente criticado pela falta de uma postura oficial contra o regime de Kadafi, especialmente o premier Berlusconi, acusado de manter relações
de amizade pessoal com o ditador. A partir do final de fevereiro, autoridades do governo italiano assumiram a suspensão do acordo com o país africano, ainda que analistas de direito internacional afirmassem que tal suspensão não estaria oficialmente em vigor. Atualmente, grandes empresas italianas possuem braços importantes na Líbia, como a construtora Impregilo, com 11% dos seus projetos no país de Kadafi, ou a financeira Exor, que controla a Juventus e da qual a família Kadafi possui 7,5%. Mas, a principal preocupação italiana quando estourou a crise na Líbia referia-se ao fornecimento enérgico. Alguns dados revelam que 13% do gás importado pela Itália vêm da Líbia, assim como 23% do petróleo consumido no país chegam do território líbio. O dirigente da Eni, Paolo Scaroni, tranquilizou a imprensa italiana ao declarar que, mesmo com a redução de mais de 50% da produção de gás na Líbia, não há motivos para preocupações, pois o norte da Europa possui condições de fornecer gás suficiente para o consumo italiano.
Em 1961, a Eni já extraía petróleo na Tunísia. Nos dias atuais, técnicos líbios e italianos leem uma planta, em Mellitah
Nel 1961 l’Eni estraeva già grezzo in Tunisia. In foto recente, tecnici libici e italiani leggono una pianta a Mellitah
Dependenza energetica e commerciale tra Italia e Libia Fin dal 1950, quando la Libia ha dichiarato la sua indipendenza dalla Gran Bretagna, i rapporti commerciali con l’Italia sono passati per fasi difficili specialmente nei primi anni del governo di Gheddafi, negli anni ’70. La situazione è migliorata nel 1998 fino ad arrivare all’apice con la firma nel 2008, del Trattato di Amicizia e Cooperazione con l’Italia. Fino all’inizio della crisi attuale la Libia era un importante alleata dell’Italia nel Nord Africa e uno dei più importanti rifornitori di energia (metano e petrolio). Il trattato del 2008 siglato dal primo ministro Silvio Berlusconi prevedeva agevolazioni per investimenti fatti nelle aziende italiane presenti in Libia. Anche se criticato da attivisti dei diritti umani, il trattato ha favorito l’aumento degli scambi commerciali tra i due paesi. Tra il 2008 e il 2010 la bilancia commerciale tra l’Italia e la Libia ha raggiunto i 40 miliardi di euro, mentre un fondo sovrano libico ha investito 2,5 miliardi di euro per comprare il 7% della Unicredit, divenendo cosí il maggior azionista del gruppo bancario italiano; e l’1% della compagnia di metano e petrolio italiana Eni è stato acquisito da fondi libici, il che ha prorogato per altri 25 anni le concessioni energetiche per il gruppo italano nel paese africano, tra i tanti altri accordi. Durante le prime settimane della crisi libica, il governo italiano è stato fortemente criticato dovuto alla mancanza di un atteggiamento ufficiale contro il regime di Gheddafi, specialmente il premier Berlusconi, accusato di mantenere rapporti di amicizia personale con il dittatore. Dalla fine di febbraio autorità del governo italiano hanno deciso di sospendere l’accordo con il paese africano, anche se analisti di diritto internazionale hanno dichiarato che questa sospensione non sarebbe entrata ufficialmente in vigore. In questo momento grandi aziende italiane possiedono filiali importanti in Libia, come l’impresa edile Impregilo che presenta l’11% dei suoi progetti nel paese di Gheddafi, o la compagnia di finanza Exor, che controlla la Juventus e di cui la famiglia Gheddafi possiede il 7,5%. Ma la preoccupazione principale in Italia quando è ecclosa la crisi libica riguarda il rifornimento energetico. Dei dati rivelano che il 13% del metano importato dall’Italia proviene dalla Libia, cosí come il 23% del petrolio consumato in Italia. comunitàitaliana | março / abril 2011
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LAADDefesa&Segurança2011
Feira traz tecnologia de defesa ao Rio Setor da segurança reforça relações comerciais entre Brasil e Itália e foca nos eventos esportivos dos próximos anos Cintia Salomão Castro
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tema da segurança ganha cada vez mais importância no Brasil devido às preparações para grandes eventos esportivos de âmbito internacional, como a Copa do Mundo de 2014. Dentro desse contexto, de 12 a 15 de abril, a cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016 será o palco da LAAD – Defence & Security – o maior e mais importante evento do setor de Defesa e Segurança da América Latina. O encontro bianual conta com o apoio do Ministério da Defesa e das Forças Armadas e com a presença de autoridades de segurança dos países da América Latina. Os seminários abordarão assuntos como a integração entre Forças Armadas e forças policiais – tendo como estudo de caso o capital humano empregado no Complexo do Alemão; programa nuclear e treinamentos especiais para grandes eventos e antiterrorismo. De acordo com os organizadores, esta edição deve reunir 550 expositores no pavilhão do Riocentro. Em 2009, a feira atraiu cerca de 18 mil visitantes. A expectativa de público para 2011 é de 24 mil pessoas. A exemplo de 2009, quando o presidente Lula participou do encontro, é esperada a presença da presidente da República Dilma
Rousseff. Pela primeira vez, haverá participação de países como China, Noruega, Portugal e Taiwan. — Existem dois aspectos diferentes para que o momento seja muito positivo. Um diz respeito à estratégia nacional de defesa, lançada pelo Governo Lula em 2008. Nesse sentido, os primeiros projetos
Em 2005, cerca de 18 mil pessoas passaram pelo pavilhão de exposições da LAAD
Logística Militar
A “O Brasil é um importante parceiro na área da defesa e de cooperação técnica e científica, além de base de exportação para a América Latina” Ronaldo Padovani, analista do ICE 30
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lém das palestras que compõem o III Seminário de Defesa e o I Seminário de Segurança, a programação da LAAD 2011 conta com o V Simpósio Internacional de Logística Militar. Serão três painéis. No dia 13, o painel será dedicado à adaptação das Forças Armadas a novos processos logísticos. No dia 14, os debates vão girar em torno da sistemática de aquisições governamentais de produtos de defesa, e um dos palestrantes é um oficial da OTAN. Já no dia 15 de abril, os convidados vão falar sobre a terceirização na logística militar - e implicações nas atividades de logística, comando e controle.
já foram assinados, como a aquisição de submarinos e helicópteros. A LAAD é uma oportunidade para dar continuidade a esse processo. Outra questão importante é o Brasil como sede das Olimpíadas e da Copa do Mundo, para os quais serão concluídos os primeiros projetos de segurança. Muitas empresas virão ao evento com foco nisso — destaca o diretor da LAAD, Sergio Jardim.
Participação Italiana A Itália confirmará a sua tradicional presença com a vinda de representantes do Ministério da Defesa e de 19 empresas que atuam em setores como produção de aeronaves, sistemas de segurança e fabricação de radares. O número é maior em relação a 2009, que contou com a presença de 12 companhias. O pavilhão italiano é uma ação conjunta do ICE, da Federação das Indústrias Italianas para os setores Aeroespacial, Defesa e Segurança (AIAD) e do Ministério italiano da Defesa. Para Ronaldo Padovani, analista do Instituto Italiano para o Comércio Exterior (ICE) para o setor, a participação coletiva em 2009 teve um balanço bastante positivo, o que pode ser visto pelo aumento do número de participantes e pelo retorno de empresas como a Finmeccanica – uma das maiores fabricantes européias. — O Brasil é um importante parceiro na área da defesa e de cooperação técnica e científica, além de base de exportação para a América Latina. Nossa presença na LAAD 2011 tem o objetivo de incrementar tal intercâmbio, apresentar as últimas tecnologias e inovações para o setor e negociar importantes alianças estratégicas — afirma Padovani. De acordo com os dados do ICE, nos últimos anos, a indústria italiana tem buscado uma estratégia de internacionalização por meio da aquisição de uma base industrial na Europa e da penetração no mercado americano, com um faturamento de mais de 12 bilhões de euros e a geração de 50 mil empregos diretos. As indústrias se fazem presentes sobretudo nas áreas de Brindisi, Frosinone, Gênova, La Spezia, Latina, Livorno, Nápoles, Roma, Taranto, Torino e Varese.
LAAD2011
Voando alto
Fabricante de helicópteros, a AgustaWestland aumenta sua participação no mercado brasileiro Cintia Salomão Castro
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ma das líderes mundiais do setor de produção e comercialização de helicópteros, a AgustaWestland, estará presente na LAAD 2011 para apresentar alguns de seus produtos de uso civil e militar. Sediada na província de Varese, conta com uma sucursal brasileira e escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. O engenheiro Roberto Garavaglia, vice-presidente de marketing da empresa, revela que o interesse da multinacional pelo Brasil é grande. — O país tem uma das taxas de desenvolvimento mais altas do chamado BRIC. Nossos clientes são empresários importantes, como instituições privadas, empresas, entidades governamentais e as Forças Amadas — afirma. Nesta entrevista, ele revela que a empresa já vendeu, para clientes brasileiros, cerca de 150 helicópteros de uso civil, governativo e militar. ComunitàItaliana — A AgustaWestland é uma referência no setor de helicópteros. Pode nos contar um pouco a história da empresa? Roberto Garavaglia — Constituída no ano 2000, a AgustaWestland
conta com uma hereditariedade de raízes profundas, e tem como vantagem a experiência e a tradição da sociedade italiana Agusta S.p.A. e da britânica Westland Ltd. A experiência na produção de helicópteros remonta ao início dos anos 1950, quando ambas decidiram entrar de forma independente no setor. Uma primeira ocasião de colaboração houve nos anos 1960, quando a Westland começou sua produção sob a licença Agusta do AB47, com o nome de Westland-Agusta-Bell 47G3B-4 ou simplesmente “Sioux”. A partir de 1964, a Westland produziu 250 helicópteros de tal modelo junto ao estabelecimento de Yeovil. A colaboração entre Agusta e Westland prosseguiu por 20 anos, a partir dos anos 70, com o projeto relativo ao helicóptero EH101. Em 2000, a Finmeccanica e a britânica GKN decidiram realizar uma aliança, através da Agusta e da Westland. Nasceu, então, a AgustaWestland, uma empresa competitiva que reuniu as atividades desenvolvidas anteriormente pelas duas firmas e beneficiou-se da cultura e da experiência das duas parceiras. Assim, foi capaz de buscar oportunidades de negócios em nível global. Ao final de 2004, a Finmeccanica
adquiriu o controle total da sociedade e da cota da GKN, e tornou-se acionista única. A empresa, hoje, é líder em numerosos programas internacionais de máxima importância, fez alianças estratégicas com outras sociedades de renome do setor, oferece ao mercado uma gama completa de produtos tecnologicamente avançados para uso civil e militar. Atualmente, encontra-se com numerosos produtos de características inéditas em desenvolvimento. CI — De que modo a AgustaWestland opera no Brasil? RG — Operamos no Brasil através de uma sucursal própria, a AgustaWestland do Brasil, presente em São Paulo e no Rio de Janeiro. A sede fluminense é responsável pela promoção dos produtos da empresa junto às Forças Amadas brasileiras, enquanto as atividades relativas ao mercado comercial são conduzidas na filial paulista, onde mantemos uma ampla e moderna estrutura. Ali também conduzimos uma série de atividades industriais voltadas para os clientes comerciais do país e também da América do Sul. Mais de 80 empresas brasileiras colaboram com a AgustaWestland do Brasil. CI — Por quais motivos a AgustaWestland sentiu-se interessada pelo mercado brasileiro? comunitàitaliana | março / abril 2011
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LAADDefesa&Segurança2011 RG — O Brasil, que já é um mercado de excelência para a nossa empresa no setor comercial, apresenta, hoje, uma das taxas de desenvolvimento mais altas entre aqueles países do chamado grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). Portanto, é lógico que procuramos investir em termos de recursos econômicos e humanos no país. Além disso, por conta da nossa própria presença no território local, procuramos expandir nossa cota de mercado no Chile, na Colômbia e no Peru, que exibem um alto potencial, sem esquecer da Argentina. Só para dar uma ideia da nossa atual dimensão no mercado brasileiro, considere que foram vendidos cerca de 150 helicópteros para uso civil, governativo e militar. CI — Quantos helicópteros a empresa vende anualmente no Brasil e no mundo? RG — O mercado de helicópteros apresenta um trend cíclico e está sujeito a muitos fatores e a complexas variáveis econômicas. A AgustaWestland vende, em média, mais de 200 helicópteros por ano. No caso do Brasil, o setor comercial recebe aproximadamente 10% de tal volume. Em âmbito civil, por exemplo, o setor de petróleo e gás (provimento energético com transporte de pessoal e material entre terra firme e plataforma em mar aberto) está em forte ascensão. A empresa viu crescer rapidamente o seu papel nesse segmento, inclusive na América Latina, e pode oferecer o melhor helicóptero médio e o mais vendido do mundo – o AW139. Além disso, somos líderes no Brasil, do setor corporativo/vip com cerca de 70% do mercado; em particular, com a linha de produtos da categoria light twin (AW109 Power, Grand e o mais recente Grand New). CI — Qual é o perfil do comprador de helicópteros no Brasil? RG — Estamos presentes no mercado seja em nível comercial, seja em nível governativo e militar. Os clientes são empresários importantes, assim como instituições privadas, empresas, entidades governamentais e as Forças Amadas.
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CI — Quanto custa, em média, um helicóptero? E os custos de manutenção? RG — Não é simples responder a uma pergunta sobre valores econômicos, os quais variam em base a múltiplos fatores, entre os quais o modelo, a configuração de base e aquela que é personalizada para o cliente. Sem esquecer os pacotes de manutenção, treinamento, equipamento e pessoal técnico, além de outros aspectos. O valor de uma unidade pode chegar a 15 milhões de dólares para um helicóptero civil. CI — Quais são as expectativas de crescimento do setor para este ano? RG — Ao longo de 2010, obtivemos importantes resultados, apesar dos efeitos da recessão econômica planetária, que teve reflexos no setor aeronáutico em geral. O mercado encontra-se em recuperação progressiva e o ano de 2010 confirmará o trend positivo que tem caracterizado o andamento da sociedade nos últimos anos. CI — Quais são as novidades da empresa para 2011? RG — Temos a tradição de investir de maneira significativa na inovação. No ano passado, apresentamos dois produtos novos: o GrandNew e o AW169. Concluímos 2009 com o voo inaugural de cinco modelos (as novas versões do AW101, Lynx Mk.9A, T129, AW159 e AW149), em apenas três meses. Em fevereiro, tivemos o voo do biturbinado leve Grand New, inclusive no Brasil, enquanto que o AW169 terá em breve um lançamento comercial. A empresa, portanto, apresenta, desde o início de 2011, soluções múltiplas e novas para satisfazer o mercado mundial, inclusive o
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“Vimos crescer rapidamente nosso papel no segmento petróleo e gás, que está em forte ascensão no Brasil e na América Latina” Roberto Garavaglia, vice-presidente da AgustaWestland brasileiro, tanto em nível comercial quanto em nível militar. CI — Quais são os concorrentes principais da AgustaWestland? RG — Os de sempre. Em particular, a franco-alemã Eurocopter e as norte-americanas Sikorsky, Boeing e Bell Helicopters. CI — Recentemente, a AgustaWestland assinou um acordo com a Aeronáutica Militar italiana. Existem perspectivas para uma oferta futura ao governo brasileiro? RG — O mercado de helicópteros militares no Brasil oferece diversas oportunidades. Somos dotados de uma ampla gama de produtos para satisfazer as exigências operativas do país. Entre os requisitos aos quais podemos responder, estão os exigidos para helicópteros de uso naval. Lembramos que a Marinha brasileira já opera diversos AgustaWestland Lynx. Além disso, o Exército poderia precisar de novos helicópteros utility. Podemos ainda oferecer um helicóptero de treinamento comum às várias Forças Armadas, e novos veículos para as diversas agências governamentais brasileiras. CI — De 12 a 15 de abril de 2011, o Rio de Janeiro será sede do Latin América Aerospace & Defense (LAAD), a maior feira de defesa e segurança da América Latina e a AgustaWestland virá ao Brasil para o evento... RG — Estaremos presentes na LAAD, em um contexto de participação mais ampla da Finmeccanica. Durante a ocasião, esperamos avaliar novas oportunidades de negócios. Pretendemos, ainda, promover nossas atividades e produtos com o objetivo de expandir aquela que já é uma presença significativa em um mercado que, como já citei, nos parece um dos mais importantes para o futuro do setor aeroespacial.
LAAD2011
Tecnologia sobre rodas
CI - O Brasil é um forte produtor de caminhões. Qual é a presença da Iveco neste mercado? MM - Com o plano de crescimento implementado em 2007, a Iveco conseguiu multiplicar por cinco suas vendas no país, duplicando seu market share. Hoje, temos cerca de 9% do mercado brasileiro. Com o caminhão médio Iveco Vertis, por exemplo, entramos em um segmento que representa cerca de 20% das vendas do mercado nacional.
Em parceria com as Forças Armadas brasileiras, Iveco apresenta protótipo de blindado
CI - Qual o perfil dos compradores da Iveco? MM - A Iveco atende os empresários das grandes, médias e pequenas empresas de transporte. E também os autônomos. Temos clientes como o Martins (o maior atacadista brasileiro), a Gafor e a Tegma (duas das maiores transportadoras do Brasil), entre muitos outros. Mas, também temos uma presença forte entre os caminhoneiros, como os cegonheiros. Com sua proposta de inovação, a Iveco atrai aqueles transportadores e caminhoneiros que buscam a modernidade, o avanço por meio da tecnologia aplicada ao transporte.
Fernanda Galvão
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ona de um dos maiores estandes da LAAD 2011 e comandada, na América Latina, pelo engenheiro Marco Mazzu, a Iveco torna público o “Guarani”, protótipo do tanque blindado vendido para o Brasil, em 2009. — Trata-se de um produto muito especial, com muita tecnologia, incluindo o aço balístico, que pretendemos comprar aqui no Brasil, desenvolvendo fornecedores locais. O VBTP, ou “Guarani”, é resultado de uma licitação que foi lançada pelo Exército. Vencemos, criamos um time especial de engenheiros, que inclui profissionais do próprio Exército, e desenvolvemos o veículo — conta Mazzu. Especializada em produção e comercialização de caminhões e ônibus, a fábrica se localiza em Sete Lagoas, no estado de Minas Gerais. Além da produção de todas as linhas de produtos, o espaço contém um centro de produção integrado, com mais de 100 engenheiros. O trabalho abrange linha de montagem de carroçaria, cabine de pintura e montagem final. A Iveco ainda possui 33 fábricas espalhadas por países como Itália, Alemanha, França e Espanha. Contudo, a atuação comercial está presente em mais de 100 países, o que a torna a maior produtora de ônibus da Europa. Em entrevista à Comunità, o engenheiro Marco Mazzu revela que, além do Guarani, será exposto o LMV, um dos jipes militares mais vendidos no mundo. ComunitàItaliana - A Iveco faz parte do grupo Fiat. Explique sobre a sua história e expansão na América Latina.
Marco Mazzu - O Grupo Fiat opera no Brasil há mais de 60 anos. Sentimo-nos uma empresa verdadeiramente brasileira. Eu sou casado com uma brasileira. Um dos meus três filhos também nasceu no Brasil. Sinto-me em casa. Quanto à Iveco, iniciamos nossas atividades em 1997 e os primeiros 10 anos, até 2006, foram de construção de uma base de atuação: uma fábrica e uma rede de concessionários. Em 2007, porém, a Iveco mundial decidiu investir no Brasil. Foram designados R$ 570 milhões e construímos um centro de desenvolvimento de produto, o primeiro fora da Itália, uma nova unidade de produção de caminhões pesados, um centro de distribuição de peças. Ainda abrimos mais de 40 novas concessionárias e lançamos seis novas famílias de produtos, o que fez da Iveco uma empresa de gama completa. Com caminhões em todos os segmentos do mercado brasileiro, a Iveco é a marca de caminhões que mais cresce no Brasil.
CI - Quais são as expectativas da participação da empresa na LAAD 2011? MM - Apresentaremos o primeiro protótipo do VBTP-MR, um veículo blindado para o transporte de pessoal que foi batizado pelo Exército brasileiro como “Guarani” e deverá entrar em produção seriada em dois anos. Vamos ainda mostrar caminhões adaptados para o uso militar e alguns veículos especiais como o LMV, um dos jipes militares mais vendidos em todo o mundo, produzidos na Itália. Abaixo, o tão aguardado protótipo do “Guarani”, tanque blindado desenvolvido pela Iveco em parceria com o Exército do Brasil
CI - A Iveco já atendia o público militar do Brasil e de outros países? MM - A Iveco é uma das maiores produtoras de caminhões para uso militar e tem clientes em dezenas de países do mundo, incluindo a América do Sul. Temos muitas oportunidades de crescer nesta área.
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LAADDefesa&Segurança2011
Ernane D. Assumpção
CI – Como será a presença da Telespazio na LAAD? ML – Estaremos na grande área dedicada à Finmeccanica, onde serão apresentados os nossos serviços. Haverá a exibição de imagens do sistema Cosmo-SkyMed. Também mostraremos alguns dos serviços de navegação das bandas de frequência KU e C. Além disso, falaremos da nossa experiência de desenvolvimento de um sistema militar chamado Sicral, para a OTAN e a Itália, em bandas X, UHF e KA. O projeto foi realizado através do modelo econômico PPP (Parceria Público Privado). Esse detalhe é muito importante, pois o Brasil demonstrou que quer fazer o próprio satélite por meio de um modelo PPP, com envolvimento público e privado. Nós estamos interessados em mostrar que fomos capazes de fazê-lo. Apresentaremos outros produtos, como o INAV, um sistema único, testado de forma positiva pela proteção civil europeia, que permite a localização da equipe, a comunicação e o compartilhamento de imagens de mapa capturadas por satélite. Isso é muito útil em caso de catástrofes, como grandes deslizamentos ou terremotos, em que as telecomunicações ficam inoperantes.
Segurança via satélite
A Telespazio traz soluções que vão desde o monitoramento de catástrofes ao controle de fronteiras
E
specializada em serviços para satélites, a empresa Telespazio, cuja sede mundial localiza-se em Roma, está presente no Brasil há mais de dez anos. Integra o grupo italiano Finmeccanica, através de uma joint venture que inclui a francesa Thales. Seus serviços mais importantes incluem a observação da terra, a navegação, a telecomunicação e a conectividade integradas, e programas espaciais científicos. A empresa estará no pavilhão italiano da LAAD, onde apresentará seus produtos com a exibição de imagens capturadas por satélites especiais. O presidente da Telespazio no Brasil, Marzio Laurenti, é um dos palestrantes convidados do III Seminário de Defesa LAAD, na manhã do dia 14 de abril. Ele falará sobre gerenciamento de desastres naturais a partir do uso de imagens da constelação de satélites. Na ocasião, vai dar mais detalhes ao público sobre a tecnologia empregada. Nesta entrevista, Laurenti explica que a empresa pretende ampliar a gama de clientes governamentais no Brasil. ComunitàItaliana – Como se insere a Telespazio nos preparativos para os grandes 34
eventos esportivos de 2014 e 2016? Marzio Laurenti – Devido à realização da Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil, haverá uma grande necessidade de infra-estrutura relacionada à segurança. No contexto dos amplos produtos oferecidos no setor pela Finmeccanica, nós temos um papel, pois um sistema de segurança não pode prescindir dos satélites. CI – Que produtos e serviços a Telespazio oferece para o setor de defesa e segurança? ML – O portfólio dentro do setor de satélites é muito amplo. A Thales fabrica os satélites, enquanto nós realizamos toda a infra-estrutura de terra. Somos uma das raríssimas empresas no mundo que fornece todos os serviços satelitares a 360 graus. Algumas companhias podem ser concorrentes em setores específicos, como na observação da Terra, mas nenhuma tem uma competência ampla e completa como a nossa. Fotos: Divulgação Telespazio
Cintia Salomão Castro
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CI – Qual é o perfil dos clientes no Brasil? ML – A maior parcela, atualmente, constitui-se de grandes companhias de telefonia fixa e móvel. Depois, vem o mercado corporativo (empresas). E a terceira parcela é o governo, como a Aeronáutica. Agora, chegou o momento de ampliar a clientela junto ao governo.
No alto, o diretor da Telespazio no Brasil, Marzio Laurenti. Abaixo, as imagens da Região Serrana (RJ) após os deslizamentos de janeiro de 2011
CI – Que tipo de projetos vocês têm para o mercado brasileiro? ML – O nosso plano é ampliar e trazer mais serviços e produtos. No Brasil, ainda não fornecemos toda a gama de serviços que podemos. Queremos oferecer, por exemplo, o sistema Cosmo-SkyMed, que conta com quatro satélites, usado pela defesa italiana. Trata-se de uma aplicação importante no caso de emergências ou controle de fronteiras, por possuir vantagens como a tomada de imagens da mesma área, em momentos diversos do dia, independente do horário e da presença da luz do sol. Estamos começando a falar com as entidades governamentais sobre o produto e já iniciamos acordos de venda com a Petrobrás.
Agenda
LAAD2011
Quem vem
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s 19 empresas italianas que já confirmaram presença no pavilhão italiano da LAAD 2011 atuam em setores variados da área de defesa e segurança, como produção de helicópteros, fornecimento de sistemas de engenharia e elaboração de sistemas sofisticados de telecomunicações via satélite.
A.G.E. (Aircraft Ground Equipment Officine Meccaniche): fornecimento e manutenção de equipamentos de suporte para o solo aéreo militar e civil.
AgustaWestland: uma das líderes mundiais do setor de produção e comercialização de helicópteros.
Alenia Aeronautica: Projeta, constrói, integra e suporta sistemas complexos para o mercado civil e de defesa em vários países.
Fiocchi Munizioni: Produz cartuchos para variadas exigências, como caça, segurança e defesa pessoal, e usos de fim militar. Lacert: Especializada no projeto, fabricação e distribuição de geradores de energia nos campos militar, hospitalar, aeroespacial, ferroviário e laboratorial, entre outros.
Magnaghi Aeronautica: Construtores de carros de aterrissagem e sistemas para a manufatura mecânica em liga de alumínio, aço e liga de Titânio.
Beretta: Fábrica de armamentos portáteis, como fuzis e pistolas semiautomáricas, inclusive produtos para o mercado esportivo.
Salver: opera no campo da engenharia estrutural e de verificação, de técnicas de fabricação de materiais de construção em compostos avançados, especialmente no campo da aeronáutica.
Selex Communications: Fornecedora mundial de sistemas de comunicações para a proteção de cidades e pontos críticos da infraestrutura dos países.
Calzoni: Uma das líderes europeias de fornecimento de sistemas de engenharia e operativos para submarinos e navios.
Oto Melara: Tecnologias de defesa naval, terrestre e aérea. Fornece veículos para as Forças Armadas italianas.
Distretto Aerospaziale Pugliese: O distrito da região italiana da Apúlia procura reforçar e consolidar a competitividade de seus produtos em todo o mundo. Sua política é a de integrar empresas de diferentes tamanhos e promover no país pesquisa e formação profissional.
Processi Speciali: Controle e tratamento de materiais aeronáuticos de modo não destrutivo, com líquidos penetrantes e partículas magnéticas.
Finmeccanica: Holding italiana que reúne empresas como Telespazio, AgustaWestland e Selex Galileo. Atua nos setores da aeronáutica, espacial, da defesa e de helicópteros.
Regione Puglia: A Apúlia é uma região localizada no sudeste da Itália, onde empresas atuam no setor aeronáutico desde 1934. Investimentos contínuos fizeram da localidade num centro de excelência no campo aeroespacial, que conta com uma das maiores concentração de empresas italianas no setor.
Pro-Systems: Desenvolve e produz produtos em tecido especial para uso militar, com proteção contra balas e objetos cortantes.
Selex Galileo: Um dos principais fornecedores europeus de sistemas de radar. Seus equipamentos ajudam aeronaves a detectarem ameaças em espaço aéreo.
Selex Sistemi Integrati: Desenvolve sistemas de proteção com sistemas para radares aéreos e vigilância marinha.
Telespazio: Especializada em serviços para satélites, oferece serviços de observação da terra, de telecomunicações e programas espaciais científicos.
Destaques da Programação da LAAD 2011 Confira algumas das palestras que ocorrerão no Riocentro Dia 12 de abril Abertura: sessão solene e palestra magna com o Ministro da Defesa Nelson Jobim. O assunto será a estratégia nacional de defesa e o impacto da evolução tecnológica na transformação do modelo de defesa. Os desafios do desenvolvimento tecnológico das forças: aplicações e os desafios na área de Defesa Cibernética e na operação em rede, conforme a Estratégia Nacional de Defesa. Os palestrantes convidados são os generais João Roberto de Oliveira (Assessor Especial do Comandante do Exército para o Setor Cibernético) e Emilio Carlos Acocella (Chefe do Centro Integrado de Telemática do Exército). Aeronáutica e o Programa Espacial: a importância estratégica do domínio da tecnologia espacial, com o
brigadeiro e engenheiro Francisco Carlos Melo Pantoja, diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço. Dia 13 de abril Integração Forças Armadas e forças policiais. Lições aprendidas da integração entre o Exército Brasileiro e Polícias na Operação Arcanjo (operação realizada no Rio de Janeiro). Com o comandante do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, coronel Antonio Manoel de Barros. Estudo de caso: O capital humano empregado no Complexo do Alemão e a tecnologia utilizada na missão modelada como operação de paz. Armamentos, tecnologias, recursos adotados e os principais benefícios da modernização em desafios como este. Com o general Fernando José Lavaquial Sardenberg, comandante da Brigada de Infantaria Pára-quedista/Comandante da Força de Pacificação (Nov 2010-fev 2011).
Dia 14 de abril Tecnologia em satélite: O gerenciamento de desastres naturais a partir do uso de imagens da constelação de satélites radar COSMO SkyMed. Uma apresentação sobre esta prática e a tecnologia empregada. Com o presidente da Telespazio Brasil, Marzio Laurenti. Dia 15 de abril Programa nacional de atividades espaciais: uma visão sobre o cenário brasileiro, tecnologias prioritárias e as principais demandas futuras nesta área. Com representantes da Agência Espacial Brasileira. Intercâmbio de Experiências: Compartilhando os aprendizados obtidos com Israel e Reino Unido para uma rápida resposta em situações de emergência, terrorismo internacional, gerenciamento de desastres, simulações. A importância da atualização do conhecimento e da capacidade de resposta considerando os grandes eventos que o país sediará. Com o capitão bombeiro militar Marco Antonio Basques Sobrinho, do Grupamento Operacional do Comando Geral.
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Notícias
Nova rota
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Páginas brasileiras produção literária brasileira pôde ser apreciada na tra-
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dicional Feira do Livro Infantil de Bolonha, no fim de março. A participação do Brasil foi organizada pela Câmara Brasileira do Livro e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), através do projeto Brazilian Publishers. A iniciativa visa à promoção da produção editorial no Exterior. Doze editoras brasileiras participaram do evento apresentando 921 títulos e 1024 exemplares de livros. Ano passado, o evento rendeu 122 mil dólares em negócios relacionados aos direitos autorais aos expositores brasileiros. Esta é a segunda atividade realizada pelo projeto em 2011. A primeira foi a participação na segunda edição da Feira do Livro de Gastronomia e do Vinho de Paris. A feira, que cresceu de tamanho e importância em 2011, teve a participação das editoras Bocatto, Melhoramentos e Senac São Paulo. Já na Feira do Livro Infantil de Bolonha as editores presentes foram: Calis, Cosac Naify, Cortez, DCL, Elementar, Escala, FTD, Manole, Melhoramentos, Pallas Editorial, Positivo e Todolivro.
prefeito de São Luís, João Castelo, assinou um protocolo de intenções que garante o primeiro voo internacional regular da capital maranhense para a Itália, na rota São LuísMilão. A iniciativa faz parte das comemorações dos 400 anos da cidade e será viabilizada graças à parceria com a Blue Panorama Airlines e Puma Air. Segundo a Secretaria Municipal de Turismo de São Luís, o voo inaugural está previsto para junho e, a partir de então, a prefeitura local pretende elevar a captação de turistas europeus, particularmente italianos, para a capital e para Barreirinhas. Na avaliação da Secretaria, o voo regular facilitará também a realização de press trips e famtours nos dois destinos e o estabelecimento de missões comerciais entre o Brasil e a Itália. Fundada em 1998 pelo operador turístico Astro Travel, com sede em Fiumicino, a Blue Panorama Airlines S.A. é uma companhia aérea italiana de voos regulares e charter. Esta será a primeira vez que fará trajetos para a capital maranhense. Sob a marca Blue Express, ela oferece, desde 2005, também voos de baixo custo. A companhia pertence a Distal & Itr Group (66,6%) e Franco Pecci (33.4%). A empresa trabalha, atualmente, com uma frota de 11 aeronaves.
EspecialSesquicentenário
Risorgi 40 | Línguas unificadas 43 | Dante e a unificação da língua italiana
Florence Carboni
45 | A importância da língua italiana para São Paulo
Giliola Maggio
46 | A Itália no imaginário brasileiro
Paola G. Baccin
48 | Partidas 52 | Anita e Giuseppe Garibaldi no Brasil
Yvonne Capuano
54 | Árvore de Giuseppe e Anita Garibaldi
Annita Garibaldi Jallet
56 | Urnas tricolores 59 | I 150 anni in Brasile 38
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Stefania Pelusi
imento
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m 17 de março de 1861 é aprovada pelo Parlamento a Lei que proclama Vittorio Emanuele II rei da Itália. Passaram-se 150 anos e para comemorar esta data, o País parou neste dia em que se viram bandeiras em janelas e atividades patrióticas. Muitas iniciativas que mostram o quanto existe de Itália em nosso cotidiano serão realizadas ao longo do ano. O povo italiano orgulha-se de fazer parte de um território unificado onde, como disse recentemente Roberto Benigni, nasce primeiro a cultura para depois existir como nação. Formada por homens e mulheres que tornaram grande este país e estavam prontos para enfrentar a morte para que existisse um futuro. A história é riquíssima e passa pelas artes, pelo comércio e por muitos conflitos. Este especial mostra a cronologia de fatos importantes que marcaram além dos 150 anos e não se pretende, logicamente, esgotar nestas páginas. Recordar a Unificação da Itália não é apenas revisitar um momento histórico, mas compreender o quanto o Risorgimento impactou os séculos vindouros para além deste pequeno pedaço do mapa reconhecido imediatamente pela figura da bota. Encontramos aqui personagens emblemáticos como Dante Alighieri e Giuseppe Garibaldi. De um lado, a influência do poeta florentino como unificador do idioma e o mais notável representante medieval da literatura latina. De outro, o corajoso general que, ao lado de Anita, trouxe para o Brasil um pouco da Itália para colaborar na miscigenação do povo e tornou-se “herói de dois mundos”. Um século e meio se passou em busca de unidade e democracia. No momento em que, de Milão à Nápoles, podia se ouvir “estamos prontos à morte, A Itália nos chamou”, conforme narra o hino nacional, era preciso renascer. Vamos entender um pouco da formação que faz deste um povo tão cativante, encantador, brigador, fascinante, tão humano. E constatar que semelhanças não são meras coincidências.
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EspecialSesquicentenário pouquíssimos sabiam ler e escrever: 78% (com picos de 90% e de 100% para as mulheres em algumas regiões) eram analfabetos. Um desastre linguístico que poderia corroer a base da identidade nacional, geralmente fundada exatamente na língua. Talvez tenha sido culpa do sectarismo dos italianos, do antigo bairrismo que Dante (primeiro teórico do ‘vulgar’, ou seja do italiano do volgo, popular) assim estigmatizava no Purgatório “Ah dividida Itália, imersa em fel, / nau sem piloto, em meio do tufão, / dona de reinos, não, mas de bordel: /” [trad. De Cristiano Martins, ed. Itatiaia/ USP, 1979]. Ou talvez, como já na época explicavam os historiadores, da presença, ao longo de séculos, de dominadores estrangeiros, que não permitiu que prevalecesse um dos “vulgares” da península, todos provenientes do latim, mas profundamente diferentes entre eles.
Línguas unificadas Como os italianos aprenderam a falar italiano. Também graças à televisão
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o dia 17 de março de 1861, no seu primeiro dia de vida, a Itália unificada tinha uma constituição, um rei, um parlamento, um governo, um grande território, um exército e a dignidade de um Estado novinho em folha. Faltava somente a palavra, ou melhor, uma língua. Os italianos não falavam italiano. Se o próprio Vitório Emanuel II falava em piemontês com o primeiro ministro Camillo Benso, conde de Cavour (que preferia o francês), imaginem a babel que reinava no restante da península.
Sem palavras Na opinião do historiador da língua Tullio De Mauro, “nos anos da unificação nacional os italófonos eram cerca de 600 mil, numa população de mais de 25 milhões de pessoas”. Ou seja, somente 2,5%. Outros pesquisadores, levando em conta que pessoas nascidas nas regiões de Toscana, Lazio, Úmbria e Marche podiam receber de direito o diploma de “falantes de italiano”, dada a proximidade dos seus idiomas ao italiano, são mais generosos. Mas no máximo eram uns 10% (2,5 milhões). Depois, destes
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O Congresso de Viena divide a Itália O Congresso de Viena, que tinha iniciado em novembro do ano anterior e terminado em 9 de junho, sanciona a divisão da Itália, que então somava vinte milhões de habitantes, em dez Estados: Reino da Sardenha; Reino Lombardo-Veneto, sob a soberania austríaca; Ducado de Parma e Piacenza, Ducado de Modena e Reggio; Ducado de Massa e Carrara; Grã-ducado da Toscana; Ducado de Lucca; Estados da Igreja (compreendendo também as ligas de Bolonha, Ferrara, Ravenna, Marche, Benevento e Pontecorvo); República de San Marino; Reino de Nápoles e Sicília. É a Áustria a guardiã da restauração na Itália, mas, logo instaurada a nova ordem, nascem as primeiras revoltas, começando por aquelas liderada por Joaquim Murat, que tenta organizar um levante das populações itálicas com a promessa de um reino único. A aventura de Murat se conclui com o seu fuzilamento na pequena cidade de Pizzo Calabro, no dia 8 de outubro.
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Igualados: uma família da zona da Valtellina (Lombardia) segue o programa televisivo de perguntas e respostas Lascia o raddoppia? em 1957. A TV favoreceu a difusão de um italiano padrão entre aqueles que usavam o dialeto.
Língua morta As causas eram muitas, mas o resultado um só: em 1861 o italiano era uma língua literária, nascida nos livros e ótima para escrever em versos. Na opinião de Alessandro Manzoni, importante escritor da época, era quase uma “língua morta” porque ninguém a usava na feira ou em casa. Um idioma tão artificial que tornava incompreensível o Canto degli italiani (é este o título original do nosso hino nacional, de 1847) de Goffredo Mameli, revolucionário “pronto para a morte” (e que, efetivamente, ficou em cima das barricadas da República romana em 1849).
1818
Nasce em Milão a revista Il conciliatore [O conciliador] O programa da primeira revista italiana de inspiração patriótica e liberal é escrito por Silvio Pellico, Luigi Porro Lambertengui, Federico Confalonieri, Giovani Berchet, Giandomenico Romagnosi. O primeiro número é publicado em 3 de setembro. Em outubro são condenados à morte, em Roma, cinco conspiradores da região das Marche. Nasce em dezembro, em Alexandria, a Sociedade dos Sublimes Mestres Perfeitos, inspirada nas idéias comunistas de Filippo Buonarroti.
História da bandeira italiana
República Transpadana República Cispadana (1796-1797) (1796-1797)
República Cisalpina (1797-1802)
República Italiana (1802-1805)
Reino de Itália (1805-1814)
Reino de Sardenha (1848-1861) Reino de Itália (1861-1946)
Reino de Sardenha (1848-1861) Bandeira de Estado do Reino de Itália (1861-1946)
Grão-ducado de Toscana (1848-1849)
Reino das Duas Sicílias (1848)
República de Veneza (1848-1849)
República Romana (1849)
República Romana (1849)
República Social Italiana (1943-1945)
República Italiana desde 1948
“A maioria dos italianos do séc. XIX não teria entendido bem o sentido de alguns versos do hino, da mesma forma que a maioria dos italianos do terceiro milênio ainda não o entende”, explica Pietro Trifone, historiador da língua italiana na Universidade de Roma Tor Vergata e autor do recém publicado “História lingüística da Itália desunida” (Editora Il Mulino, título original Storia linguistica dell’Italia disunita]. “Devido à sintaxe revertida dos versos iniciais, a maioria dos leitores interpreta, de forma errada, a expressão ‘escrava de Roma’: o poeta refere-se à ‘Vitória’, mas é natural pensar que ‘escrava de Roma’ seja, ao contrário, a Itália”. Os milagres da escola Com a unificação política, italiano e dialetos entraram em contato e tudo começou a melhorar. “A língua comum (o italiano) e os idiomas locais (os dialetos) são os pólos extremos de um sistema mais articulado”, explica Trifone. “Um sistema em que se distinguem várias soluções intermediárias, como um italiano regional ou um dialeto civilizado”. As pessoas comuns, ao se relacionar com o médico, o advogado, o funcionário público ou o padre, que talvez vinham de outra região, começaram a usar um vocabulário e uma gramática mescladas. Quando, finalmente, com
Abecedário: um suplemento de 1941 e um de 1897. A escola conseguiu superar o analfabetismo
a lei Coppino do ano de 1877, a frequência obrigatória da escola foi ampliada para as crianças até os 9 anos, aplicando multas nos pais que não cumprissem a lei; desta forma, o analfabetismo despencou para 40% em 1911, como média nacional. “Pela primeira vez na história, a população italiana alfabetizada era mais numerosa”, explica Trifone. Querida Rainha E o que fizeram os italianos com sua nova língua? Entre 1914 e 1918, usaram o idioma, por exemplo, para escrever – mesmo cheia de erros e expressões dialetais – para Vitório Emanuel III e para a família real centenas de cartas de protesto (o Arquivo de Estado de Roma conserva 422 delas) contra a Primeira Guerra Mundial. “Eggreggio assasino” [em italiano
1820
Revolta no Reino das Duas Sicilias e repressões Após o pronunciamento dos militares democratas espanhóis e a revolta de Salerno, em julho deste ano, um grupo de 127 soldados do regimento da cavalaria Real Bourbon de Nola, liderados por Michele Morelli e Giuseppe Silvati, desloca-se para Avellino. Em 9 de julho, Guglielmo Pepe, oficial de Murat, entra em Nápoles encabeçando 7.000 rebeldes (soldados e carbonários). Em 13 de julho, Ferdinando I jura sobre a Constituição. Em outubro, a Áustria envia tropas para o Reino das Duas Sicílias a fim de restabelecer a ordem. Em Milão, sempre em outubro, são presos Silvio Pellico e Pietro Maroncelli, membros de uma “célula carbonária”.
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EspecialSesquicentenário graças aos progressos na área da educação, pessoas de condição social humilde e de diferentes lugares estiveram, de alguma forma, em condição de fazer com que sua voz chegasse para quem as administravam”, comenta Trifone.
correto seria “Egregio assassino”] escreveu um grupo de anárquicos de Pádua no dia 20 de abril de 1915, começando uma carta em que insurgiam dizendo que se seus superiores lhes ordenassem de abrir fogo contra o inimigo, eles disparariam contra os próprios superiores. E para a “Senhora Rainha”, no dia 12 de junho de 1916, um padre de Montespertoli (província de Florença) perguntava: “Gostaria de dizer, para aquele covarde do Rei, que mande parar esta guerra e traga para casa meus filhos. [...] E espero que perca a Itália, para ver que irão tirar da cabeça a coroa, que tem em cima de sua cabeça feia. Atenciosamente, meus cumprimentos”. “Depois de meio século de unificação nacional,
Acima, crianças atentas ao estudo da nova língua. Abaixo, uma emissora de rádio – o principal veículo de divulgação política e cultural da primeira metade do século XX
1821
Movimentos insurrecionais Enquanto o exército austríaco, em Nápoles, derrota os revolucionários de Guglielmo Pepe, na região do Piemonte, no dia 10 de março, começa a insurreição que, após a abdicação de Vítor Emanuel I, leva ao trono Carlos Alberto. Ele outorga a constituição espanhola, mas não marcha contra a Áustria e obedece às ordens do tio Carlo Felice de Savóia de alcançar as tropas fiéis ao antigo regime. Os russos e os austríacos marcham sobre Novara e levam ao trono Carlo Felice. Espalha-se entre os reis o temor de novas insurreições, enquanto em Florença nasce em janeiro, por iniciativa do livreiro Giovan Pietro Viesseux, a publicação mensal “Antologia” escrita ao longo de um decênio por muitos patriotas: Giuseppe Poerio, Gabriele Pepe, Pietro Colletta, Pietro Giordani, Niccolò Tommaseo, Giuseppe Montani, Raffaele Lambruschini, Gino Capponi, Cosimo Ridolfi, Bettino Ricasoli, Enrico Mayer.
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Recuperada A escola tinha aberto os caminhos, mas foram os meios de comunicação de massa que funcionaram como megafones para a língua comum. Nos anos 30, o rádio foi o instrumento de propaganda do totalitarismo de Mussolini, mas acabou pondo as bases de um ‘italiano padrão’ que servirá de modelo para os programas de TV no pós-guerra. “A disponibilidade de poderosos mass media modificou a língua e, nos últimos sessenta anos, ampliou seu uso, sobretudo na língua falada”, explica o especialista. Foi a televisão, por exemplo, que acelerou a italianização dos dialetos, favorecendo, ao mesmo tempo, a difusão dos regionalismos (somente nos anos 90 o Grande dizionario italiano dell’uso registrou 212 termos regionais que passaram a fazer parte da língua nacional). “Desta maneira, estabeleceu-se um italiano médio, falado e escrito, autônomo do modelo literário”, conclui Trifone. Em suma, o italiano tornou-se uma língua viva. Mas, se para unificar a Itália foram suficientes menos de 50 anos, para dar aos seus cidadãos uma língua comum, foram necessários 150 anos. (Revista Focus)
1830
Uma nova primavera europeia Na Itália, cresce a iniciativa liberal após a ascensão de Luís Felipe de Orléans ao poder em julho, na capital francesa, que proclama o princípio de não-intervenção: a França é contra qualquer intervenção para reprimir os insurgentes revolucionários fora dos limites nacionais. É o fim da ordem sancionada quinze anos antes pelo Congresso de Viena. Em novembro, em Roma, Luís Napoleão Bonaparte, futuro imperador da França com o nome de Napoleão III, encontra-se com um grupo de carbonários para estudar a possibilidade de uma revolução na Itália.
Dante e a unificação da língua italiana Exilado de sua terra natal por motivos políticos, Dante Alighieri não poderia imaginar que seria marcado como um dos ícones da Itália
P
ara o filólogo Migliorini, Dante (1265–1321) foi o pai da língua italiana e a paternidade foi sendo aceita. È verdade ou mito? Um pouco verdade, um pouco mito. Como todas as línguas, o italiano teve uma história complexa e é impossível apontarlhe uma paternidade, mesmo que alguns acontecimentos e personagens tenham sido determinantes na sua geração. Na época de Dante, o latim ainda era considerado a única língua digna de ser escrita em todas as circunstâncias. Todos os outros idiomas originados de sua evolução espontânea, amplamente usados pelas populações da România, eram chamadas vulgares, do vulgo. Milita a favor do mito Dante, pai do italiano o fato dele ter escrito as primeiras obras poéticas e tratado de temas filosóficos em língua vulgar, segundo ele, o novo sol, destinado a resplendecer no lugar do latim, consciente do domínio absoluto daqueles que já não entendiam a nobre língua. A preocupação lingüística de Dante radicalizou-se em De vulgari eloquentia, obra teórica,
1831
onde apresentou idéias lingüísticas extremamente avançadas e originais e, em particular, analisou os vulgares da península, selecionando os que, após serem depuradas de seus traços demasiadamente populares e regionais, ele considerava os menos indignos de se transformarem em língua literária única. Na sua seleção impiedosa, Dante eliminou o toscano, preferindo-lhes outros vulgares. Se as ideias defendidas nesta obra tivessem tido sucesso, talvez a atual língua nacional da Itália fosse diferente do que é, sendo igualmente outros os idiomas considerados dialetais. Para a felicidade dos toscanos, as ideias de De vulgari eloquentia não influenciaram os contemporâneos de Dante. Devido ao fato da obra ter sido escrita em latim, língua que poucos já conseguiam ler. Também porque Dante deixou-a sob forma de manuscrito inacabado, desconhecido até o século XVI, quando foi publicada uma sua tradução já em italiano-toscano, isto é, precisamente no idioma sobre o qual Dante tinha visão crítica, paradoxo que não deixou de provocar polêmica até o século XIX.
Explodem movimentos insurrecionais por toda Itália A revolta começa em fevereiro no Estado Pontífice e nos ducados de Modena e Parma. Francesco IV, duque de Modena, manda prender Cino Menotti, que será enforcado em 26 de maio depois de um processo sumário. A revolta se expande por Parma (Maria Luisa d’Austria se refugia em Piacenza), nos territórios pontífices de Emilia-Romagna, de Marche e de Umbria. Em Turim, morre Carlo Felice, que é sucedido por Carlos Alberto, que extingue as esperanças revolucionárias. Giuzeppe Mazzini, no exílio em Marselha, funda o movimento político chamado “Jovem Itália”. Os movimentos se concluem com o trabalho de repressão das tropas austríacas que obtém fácil vitória sobre os insurgentes. O governo francês não os defende apesar do compromisso firmado no ano precedente sobre o princípio da não-intervenção.
O poeta e político florentino, Dante Alighieri, autor de A Divina Comédia, uma das obras latinas que mais influenciaram a sociedade mundial
1833 Repressões contra os afiliados da Jovem Itália No Piemonte, é descoberta uma conspiração que envolve muitos oficiais do exército saboiano: doze são condenados à morte. No exílio, se consuma o rompimento entre Guiseppe Mazzini e Filippo Buonarroti. Massimo D’Azeglio publica o romance histórico “Ettore Fieramosca, o desafio de Barletta”.
Mas a obra dantesca que desempenhou papel essencial no processo de desenvolvimento do toscano como língua nacional da Itália foi A divina comédia. Para a época, foi espantoso o sucesso deste livro, na Toscana, na península e até mesmo fora dela. Essa popularidade deve ser atribuída ao seu grande valor literário. A fama da Comédia fora da área toscana deveu-se também ao fato que o livro fora escrito durante o exílio de Dante no norte peninsular, onde muitos autores não toscanos tomaram o poeta florentino como modelo literário e linguístico. É inegável que o sucesso estrondoso que a Comédia conheceu no decorrer dos séculos foi determinante para o sucesso deste vulgar e para sua futura transformação na língua nacional de toda a Itália. Dante legitimou o vulgar ao mostrar que, como o latim, era apropriado para falar de qualquer assunto, em qualquer domínio da vida. Enfim, com seus escritos, teve a clarividência de levar a cultura a todos aqueles que conheciam o vulgar e não o latim. Entretanto, outros fatores devem ser levados em consideração para colher as diversas facetas do processo de nascimento da língua italiana. Um deles é o fato de que, na mesma época, outras obras-primas foram escritas em toscano: o Canzoniere e o Decameron, respectivamente de Petrarca (1304-1374) e Boccaccio (1313-1375), que, com Dante, formamos as “Três coroas”, os três pais do italiano. Mas seria um desvio idealista ver o italiano como produto das
1834 Outro ano de falência insurrecional Desastrosa expedição militar em Savóia pela Jovem Italia e malograda insurreição em Genova (ao encontro marcado se apresenta somente o jovem Giuseppe Garibaldi).
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EspecialSesquicentenário
Mapas do processo de unificação O Reino de Sardenha após a Expedição dos Mil, depois denominado Reino de Itália (1861)
Os Estados italianos em 1859: em vinho o Reino de Sardenha; em amarelo o Reino das Duas Sicílias; em vermelho os Estados Pontifícios; em roxo o Reino LombardoVêneto e em verde o Grão-ducado da Toscana e os Ducados de Parma e de Modena
Reino de Sardenha (em vinho) em 1860, depois da anexação da Lombardia, do Grão-ducado da Toscana, dos Ducados emilianos e da Romanha pontifícia
obras destes três grandes poetas e não o contrário, isto é, estes escritores como produtos excelentes do processo histórico que permitiu a gênese do italiano. Dentro deste processo, deve ser enfatizado o fato que o latim foi perdendo progressivamente vitalidade, prestígio, valor funcional e número de falantes. Esta perda acentuou-se, quando do desenvolvimento das instituições comunais, as quais permitiram o aparecimento da burguesia, que
1839
Em Nápoles é inaugurada a ferrovia Nápoles-Portici, em Milão Carlo Cattaneo funda a revista “O Politécnico”.
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O Reino de Itália, em 1866, depois da Terceira Guerra de Independência
República Italiana, desde 1946
logo constituiu o setor social mais dinâmico e que, desconhecedora do latim, usou seus vulgares para transcrever as crescentes atividades, técnicas, comerciais, administrativas, políticas etc. Desde o século XIII, Florença ocupava uma posição de destaque no norte e centro da península no que se refere à civilização burguesa. O fiorino de ouro cunhado na cidade, em 1250, registrava esta prosperidade. As práticas comerciais florentinas alcançavam
1842
“Nabucco” triunfa no Scala Em 9 de março é apresentado no Scala de Milano “Nabucco” de Giuseppe Verdi, com o seu coral patriótico “Va pensiero”. Neste ano Alessandro Manzoni finaliza a versão final de “Os noivos” [I Promessi sposi] e Vincenzo Gioberti começa a escrever a “Supremacia moral e cívica dos italianos”.
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O Reino de Itália, em 1870, depois da conquista de Roma
O Reino de Itália, em 1919, depois da Primeira Guerra Mundial
Império italiano, em 1940
toda a península e outras regiões da Europa, chegando até o Oriente. A confluência do talento dos três grandes poetas com o esplendor econômico e cultural da Toscana valorizou o vulgar daquela região, que tornou-se na alternativa ao latim como língua única e unificadora peninsular. Florence Carboni, professora do Instituto de Letras da UFRGS
1844
O sacrifício dos irmãos Bandiera Os irmãos Attilio e Emilio Bandiera, oficiais da marinha austríaca, desembarcam em 16 de junho na foz do rio Neto, próximo da cidade de Crotone, para liderarem uma inexistente insurreição. Traídos por um companheiro, são fuzilados em 24 de julho.
A importância da língua italiana para São Paulo O estado brasileiro, que abriga uma das maiores comunidades italianas no país, mantém viva a cultura dos imigrantes
A
língua italiana, que ainda é falada em São Paulo, constitui a base do patrimônio histórico e cultural de inúmeras comunidades na capital e no interior do Estado, elemento fundamental para a manutenção da memória e identidade da população paulista, tenha ela ascendência italiana ou não. As pesquisas sobre a língua italiana falada em São Paulo iniciadas por volta de 1993 pela Prof.a Dra. Loredana De Stauber Caprara e Olga Alejandra Mordente, na Universidade de São Paulo, tiveram como objetivo principal documentar e analisar a língua italiana nos imigrantes que vieram à capital, logo após o Segundo Conflito Mundial. O estudo, inicialmente realizado com italianos de nível de instrução médio-alto, estendeu-se ao interior do Estado e novamente à capital, tendo como sujeitos, nessa segunda fase, imigrantes que pertenciam em sua origem, à faixa de instrução médio-baixa. Dessa forma, as reflexões acerca da língua falada resultaram, ao longo desses anos, em pesquisas significativas para a elaboração do mapa do italiano falado em São Paulo.
1846
Torna-se papa Giovanni Maria Mastai Ferretti: Pio IX Morre Gregório XVI e, em 17 de junho, é eleito papa o cardeal Giovanni Maria Mastai Ferretti com o nome de Pio IX. O novo pontífice concede anistia a todos os condenados políticos e acende o entusiasmo do partido neo-guelfo, que esperava uma confederação italiana sob a liderança do papa.
Notamos, através da pesquisa elaborada por Caprara e Mordente, que o longo período fora do país de origem afastou grande parte desses imigrantes do uso cotidiano, correto e fluente da língua materna. Aqueles que, habitualmente, falavam um italiano correto, apesar de algumas interferências do português-brasileiro, eram pessoas de classe médio-alta, que mantiveram laços constantes entre si nos ambientes sociais da comunidade e com a pátria, através de viagens e de outros contatos. Entre essas
Em São Paulo, a cultura italiana é bastante forte, seja no idioma ou nas danças típicas
pessoas havia o costume de manter o uso da língua italiana em família e o compromisso de transmitir o idioma aos descendentes. No caso de casamentos fora da comunidade de origem, muitas vezes o parceiro aprendia a falar o idioma ou, ao menos, o compreendia. Em contraposição à pesquisa de Caprara e Mordente foram feitos estudos sobre a língua dos imigrantes de Pedrinhas Paulista, a então colônia fundada no Segundo PósGuerra na região de Assis, no Oeste Paulista, por italianos provenientes de diversas regiões. Verificamos as transformações linguísticas numa comunidade relativamente fechada, sem muitos contatos externos, cujos habitantes em princípio eram falantes dialetais e mantinham entre si intensos contatos cotidianos, numa área espacialmente delimitada. À sua chegada, o imigrante que se fixou em Pedrinhas Paulista, enfrentou uma nova dimensão linguística e social que era a presença do português-brasileiro em sua variedade local, o contato com seus conterrâneos que, por sua vez, falavam também o próprio dialeto e a presença de um italiano “comum” entre os técnicos italianos de nível superior de escolaridade que moravam no local. É nesse quadro de fragmentação linguística que procuramos elementos da formação e da manutenção da língua dos pedrinhenses. No que concerne à presença da língua italiana falada na capital e em São Bernardo do Campo por pessoas de nível de instrução
1848
Insurreições por toda Itália e primeira guerra de Independência Depois de Paris, Viena e Berlim, o ano das revoluções começa em Milão com a “greve da fumaça” para atingir o monopólio do tabaco controlado pelos austríacos. Em 12 de janeiro, passa pela Sicília e se estende pelo continente: Ferdinando II de Bourbon é pressionado a proclamar a constituição. Veneza se insurge e, em 22 de março, é proclamada a república. Após cinco dias de combate (18-22 de março), os milaneses pressionam o general Joseph Radetzky a deixar a cidade. Carlos Alberto decide entrar em guerra contra a Áustria com a ajuda de voluntários e pequenas unidades de expedição enviadas por Leopoldo II da Toscana, Pio IX e Ferdinando II de Bourbon, que voltam atrás. Depois das vitórias de Pastrengo e Goito, entre 22 e 27 de julho, as tropas piemontesas são derrotadas em Custoza. Giuseppe Garibaldi chega do Uruguai, Daniele Manin organiza a defesa de Veneza, enquanto Giuseppe Mazzini quer a “guerra do país”. Na Toscana e em Roma os democratas colocam em crise os governos moderados. Em Roma, no dia 15 de novembro, é assassinado Pellegrino Rossi, e Pio IX foge para Gaeta.
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EspecialSesquicentenário médio-baixo, notamos que o processo de fragmentação da língua ocorre de modo semelhante a Pedrinhas Paulista, entretanto, nessas cidades, há um aumento no interesse pela preservação da língua e cultura italianas através de cursos de língua e na criação de manifestações culturais que não existiam há alguns anos. Ressaltamos ainda que há um estudo em curso sobre variedades do dialeto trentino falado em
Piracicaba e diversos a serem iniciados em cidades do interior como, Jundiaí, Taubaté, Itu, Salto, dentre tantos outros municípios que têm o italiano na sua origem. Além disso, há grupos de pesquisa que têm como objetivo preservar a memória e identidade de comunidades de imigrados. Ademais, nos dias de hoje, há um fluxo intermitente de italianos que vem ao Brasil, em particular à capital paulista, devido à facilidade de deslocamento, à
mobilidade existente na cidade e à alta permeabilidade que a sociedade brasileira permite, ocorrendo, desse modo, uma constante renovação dos contatos e das experiências entre italianos e brasileiros.
A preservação da memória italiana é uma das características de grupos de pesquisa
Giliola Maggio, Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Docente nos cursos de graduação e de pósgraduação em língua e literatura italiana na FFLCH – USP
A Itália no imaginário brasileiro Domingo é dia de macarronada; mangia che ti fa bene; a tavola non s’invecchia. Essas são algumas das frases que ouvimos desde crianças e que dão um sabor especial às refeições de muitos brasileiros oriundi ou não
H
á italianismos que foram introduzidos na língua portuguesa por meio das correntes migratórias. Algumas dessas palavras passaram a fazer parte do léxico, outras desapareceram ou são usadas apenas dentro do núcleo familiar. Palavras já dicionarizadas, no entanto, ainda são sentidas como italianismos, não obstante a sua total adaptação fonética, como espaguete, nhoque, polenta. Há palavras que vieram com a abertura das importações: nas embalagens de produtos importados, nos livros, nas revistas de receitas em italiano, que vão para os cardápios dos restaurantes e que, apesar de
ainda não serem usados pela maioria da população, apresentam um alto grau de divulgação: al cartoccio, al dente, funghi, tartufo bianco, acetto balsamico. Há, ainda, um terceiro grupo que inclui termos relacionados à música como adaggio, sonata; à navegação: escolta, piloto; à poesia: soneto, terceto; à arquitetura: mezanino, pedestal; ao teatro: arlequim, colombina; às artes pictóricas: azul ticiano, caricatura e outros que não são mais percebidos como palavras italianas: baderna, capitão, carnaval, carroça, gambito, embaixada, faxina, gibão, loteria.
1849
A república romana, a república veneziana, a repressão austríaca e a abdicação de Carlos Alberto em favor de Vítor Emanuel II A derrota dos piemonteses enfraquece o fronte patriótico. Em Roma, após a fuga de Pio IX, é proclamada a república liderada pelo triunvirato Giuseppe Mazzini, Carlo Armellini e Aurelio Saffi. A república romana, defendida pelos homens de Giuseppe Garibaldi, capitula em 30 de junho pelo grupo de expedição francês apoiado pelas tropas austríacas e bourbonistas . Garibaldi chega rapidamente para ajudar na defesa da república veneziana, que acaba capitulando em 23 de agosto após dois meses de bombardeios. A ordem é restaurada em todos os territórios, até no Reino das Duas Sicílias, com uma violenta repressão em Palermo, em maio. Neste ínterim Carlo Alberto, que tinha denunciado o armistício em 9 de agosto de 1848 e fora derrotado em Novara em 23 de março, abdica em favor do filho Vítor Emanuel II.
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1850
Ao ser integrado, o estrangeirismo pode perder alguns significados e adquirir outros que pertencem à visão de mundo da comunidade da língua receptora. A adaptação semântica é uma comprovação da total integração do estrangeirismo à nova língua. Vejamos alguns exemplos. Braciola deriva provavelmente de carne na brasa (brace). Na Itália indica, normalmente, uma fatia de carne com osso. Na língua geral e, principalmente nas regiões setentrionais e centrais da península, refere-se a um corte de carne que pode ser bovina, suína ou ovina. Nessas regiões a palavra vem sendo
O parlamento do reino da Sardenha aprova a lei Siccardi, Pio IX volta para Roma, Garibaldi em exílio em Nova Iorque, Mazzini, em Londres Em 9 de março, na câmera dos deputados, e em 8 de abril, no Senado, é votada em Turim a lei Siccardi, que abole o tribunal eclesiástico, a imunidade dos locais sagrados, reduz o número das festividades religiosas e impede a igreja de adquirir bens sem o consentimento do Estado. Em agosto morre o ministro Pietro De Rossi di Santarosa, irmão de Santorre, para quem é negada a extrema-unção por ter dado consentimento à lei Siccardi. Em 12 de abril Pio IX entra em Roma. Em 30 de julho Giuseppe Garibaldi chega em Nova Iorque. Neste momento se difunde em muitas partes da Itália o brigantaggio [banditismo]: da região da Romagna, um dos maiores representantes é Stefano Pelloni, conhecido como il Passatore [Balseiro, devido à sua profissão].
substituída por cotoletta. Na Itália meridional, a palavra refere-se a um modo de preparo da carne, enrolada e recheada, conhecida nas outras regiões da Itália por involtino. No Brasil, braciola e suas adaptações gráficas (bracciola (sic), brachola, brajola) correspondem à variedade meridional. Cantina também adquiriu, no português, traços linguísticos que não são mais reconhecidos pelos falantes do italiano. Em italiano, cantina é, em primeiro lugar, a adega. Em São Paulo, cantina passa a designar, em língua portuguesa, um local de atmosfera alegre, barulhenta, onde são servidos pratos abundantes e não muito caros. A confirmação de que uma nova palavra foi criada é comprovada por um texto publicado na revista italiana Food que apresenta aos leitores – empresários italianos do ramo de alimentação –, a cidade de São Paulo como um importante nicho de mercado: “Nel 1900, metà degli operai delle industrie di San Paolo erano stranieri e l’81% di loro era d’origine italiana. Gli oriundi cominciarono ad aprire ristoranti, pizzerie e <cantinas>, locali popolari con cibo abbondante e quasi sempre musica italiana dal vivo.» e mais adiante: «a Bixiga, uno dei quartieri d’origine italiana famoso per le sue tante <cantinas>.” Curiosamente, a palavra cantina torna-se, no texto, um brasilianismo, revelado pelo uso da forma plural em -s e pela necessidade de tradução ao leitor italiano: locali popolari con cibo abbondante. Cantina representa as duas imagens paradoxais dos italianos no
1852 São anos de repressão. Mas, em Turim, Cavour torna-se cada vez mais importante e, após a “união” com Urbano Rattazzi em 4 de novembro, torna-se Presidente do Conselho
Brasil. De um lado, um povo alegre, que canta, dança e que superou a fome, motivo da imigração. Ao mesmo tempo a imagem permanece ligada àquele período, com uma conotação negativa relacionada à pobreza, ao comer muito, ao falar alto, sem requinte. A comunidade atingida pelo estereótipo busca defender-se. Os proprietários de restaurantes exploram esse conceito ou rechaçam-no, e procurarão, lingüisticamente, atribuir conceitos afetuosos ao italianismo, por meio de um reforço
Acima, cantina no bairro do Bixiga, em São Paulo. Bracciola. Abaixo, o casario no bairro da Mooca, SP
positivo ou procurarão substituir a denominação de seus estabelecimentos por outro italianismo, ristorante que remete à Itália atual, relacionada ao requinte, ao luxo. No imaginário brasileiro, as duas representações da Itália convivem pacificamente: de um lado toda a família reunida em volta da mesa, comida da nonna abundante, falando alto, rindo, cantando. De outro lado, a Itália atual, dos grandes nomes da moda e do design. As duas imagens não se misturam, ninguém imagina la nonna em um vestido Armani e um foulard Ferragamo dirigindo uma Ferrari testarossa. Paola G. Baccin é doutora em Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo. Docente nos cursos de graduação e de pós-graduação em língua e literatura italiana na FFLCH – USP
1855
Guerra da Criméia e abertura dos jogos diplomáticos europeus Em 26 de janeiro, Cavour apresenta na Câmera o ato de adesão do governo saboiano ao tratado de aliança franco-inglês de 1854. Com uma convenção anexa se prevê o envio de 15 mil homens. Os soldados da expedição italiana, também atingidos por uma epidemia de cólera (1300 casos mortais), se distinguiram na batalha da Cernaia. Na primeira fila estão os bersaglieri liderados pelo general Alfonso La Marmora, que rechaçam, junto os franceses, a tentativa russa de romper o assédio de Sebastopoli. É o valor pago pelo reino piemontês para entrar no jogo diplomático europeu. Em 20 de novembro, Vítor Emanuel vai para Paris com Cavour e Massimo D’Azeglio para encontrar Napoleão III. Quando, em 1856, em Paris, se reúne o Congresso das potências européias, Cavour obtém para o reino da Sardenha uma participação paritária com as outras potências. No encontro de 8 de abril, Cavour e os representantes da França e da Inglaterra denunciam como perigosas as políticas repressivas do Estado Pontíficio e do Reino das Duas Sicílias, onde estão encarcerados seiscentos presos políticos, e a ocupação austríaca das legações pontífices.
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EspecialSesquicentenário
Partidas
transformou-se de país de emigração para terra de imigração.
Desde 1861, cerca de 30 milhões de italianos tentaram a sorte no exterior
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elineia-se no horizonte, anunciado pela cor preta das chaminés. Não é um navio de cruzeiro e os passageiros não são ricos de férias. Aquele navio transporta fome, esperança, saudade de casa e medo de um futuro incerto numa terra desconhecida. Do convés da terceira classe, nossos antepassados perscrutam na neblina, procurando o perfil de Nova York. Hoje em dia, seus descendentes vêem na tevê barcos precários, lanchas e botes infláveis que transportam outras cargas de fome, esperança, saudade e medo para Bari, Lampedusa, a costa da Sicília. Talvez seja a maior mudança a ter acontecido nos últimos 150 anos de história da Unificação: a Itália
No fim do século XIX inúmeras famílias desembarcaram no Brasil em busca de uma vida melhor
1857
Ruptura das relações diplomáticas entre o reino saboiano e o império austríaco de Francesco Giuseppe. Fracasso da expedição de Sapri O fracasso da expedição de Carlo Pisacane em Sapri com o massacre dos duzentos patriotas (1 e 2 de julho) e a derrocada dos movimentos de Mazzini em Genova e Livorno decretam o fim das sociedades inspiradas por este político. Nasce oficialmente a Sociedade Nacional Italiana, que une democratas e moderados com o objetivo de libertar a Itália da liderença piemontesa.
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Em fuga Entre 1861 e 1985 saíram da Itália cerca de 30 milhões de emigrantes. Como se a inteira população italiana do início do século XX tivesse viajado de uma só vez. “Mas a emigração não foi só um fenômeno patológico, resultado da pobreza insuportável ou de atraso na modernização”, especifica Patrizia Audenino, docente de História Contemporânea na Universidade de Milão. “A partir da Idade Média a Itália sempre foi atravessada por intensas correntes migratórias, de saída e de entrada, como também internas ao território: por motivos geográficos, por acontecimentos políticos, porque assim era imposto pela economia urbana e agrícola”. Resta o fato de que a maioria dos emigrantes italianos (mais de 14 milhões, o auge, em 1913, de quase 900 mil pessoas) viajou exatamente nas décadas depois da unificação, durante a chamada “grande emigração” de 1876-1915. Cidades inteiras, como Padula, na província de Salerno, viram suas populações se reduzirem à metade na década entre o final do século XIX e o início do XX. O destino de quase um terço dessas pessoas era a América do Norte, que precisava muito de mão de obra. Antes de 1861, somente poucos milhares de emigrantes tinham ido até lá. Como no caso de Garibaldi, soldado errante da Ásia às Américas, que com Antonio Meucci (o
1858
inventor do telefone) tinha fundado uma fábrica de velas em Clifton, perto de Nova York, exatamente para dar emprego aos italianos. Mas a grande onda de emigração de 1876, deflagrada pelos pedidos norte-americanos de mão de obra, foi diferente. E não viajavam somente os que trabalhavam a terra dos outros. “As camadas mais pobres da população, na realidade, não tinham como pagar a viagem, por isso entre os emigrantes predominavam os pequenos proprietários rurais”. Que depois, com os envios de dinheiro, exatamente como hoje em dia fazem muitos trabalhadores imigrantes na Itália, compravam uma casa ou um terreno em seu país. Uma conseqüência econômica bastante imprevisível. “Calculou-se que foi também graças aos envios de dinheiro dos emigrantes nas Américas que a Itália agüentou melhor a crise econômica do ano de 1929, explica Stefano Luconi, docente de História dos Estados Unidos na Universidade de Roma Tor Vergata. Outros lugares Mas Nova York e os Estados Unidos não foram o único destino, e quem viajava não era somente do sul da Itália. Ao contrário: “Os genoveses muito antes de 1861 viajaram para a Argentina e o Uruguai”, diz Audenino. Agora, mais de 20 milhões de argentinos têm sangue italiano nas veias. Como os imigrantes que chegam hoje na Itália, eles não iniciavam a aventura com a família toda, de mala e cuia, como nós os imaginamos olhando para as fotos
Mal sucedido atentado de Felice Orsini contra Napoleão III e encontro de Plombières O insucesso do atentado de Felice Orsini contra Napoleão III (14 de janeiro) possibilita a ocasião para Cavour colocar na defensiva o soberano francês sobre o perigo das atividades conspiratórias e sobre a necessidade de resolver a questão italiana. Durante os encontros de Plombières (20-21 de julho), Cavour e Napoleão III firmam um acordo secreto que prevê a expulsão dos austríacos do Reino Lombardo-Vêneto, que deve ser anexado a um reino da Alta Italia junto com as regiões Marche e Romagna. Em compensação, a França terá Nice e Sabóia.
Mapa da emigração italiana pelo mundo Alemanha
3.458.000
Canadá e
Suíça
4.604.000
Estados Unidos
França
6.322.000
6.200.000 1.432.000 Brasil Argentina
Austrália
396.000 2.940.000
de cem anos atrás. “Quase sempre a emigração era programada para ser temporária e quem viajava era geralmente um homem só (as mulheres deslocavam-se de uma região para outra para trabalhar como empregadas domésticas ou camponesas). Mas houve uma importante exceção: a grande migração camponesa do Vêneto e do Sul para o Brasil, em especial modo após a abolição da escravidão em 1888 e o anúncio de um amplo programa de colonização”.
Neste mapa, o fluxo migratório da Itália entre 1861 e 1965. O pico desse fluxo foi há 100 anos
Odisséias A viagem transoceânica não era muito diferente daquela enfrentada pelos migrantes de hoje. “Geralmente, quem saia das regiões do norte da Itália embarcava em Genova ou Le Havre, quem saia do sul embarcava em Nápoles”, explica Audenino. A diferença numérica entre os passageiros da terceira classe e da primeira era a seguinte: cinco mil e dezessete, respectivamente. Também as diferenças de tratamento
eram enormes: um saco cheio de palha e um urinol para cada 100 pessoas eram os únicos confortos de uma viagem que podia durar um mês. Muitos morriam antes de ver o Novo Mundo: um vêneto, Bortolo Rosolen, irá lembrar em seus testemunhos que perdeu 6 dos seus 11 filhos na travessia: “A viagem foi exaustiva, tanto é que nem meu cachorro, que deixei na Itália, passaria por tais privações”. Ao chegar, depois de passar pela humilhante
1859
A segunda Guerra de Independência e o armistício de Villafranca Em 10 de janeiro, Napoleão III declara, diante do parlamento sub-alpino, não ser insensível ao grito de dor que chega da Itália. Prepara-se o matrimônio entre Giuseppe Napoleone, sobrinho do imperador francês, e Maria Clotilde de Sabóia, filha de Vítor Emanuel II. No Piemonte fervem também os preparativos militares logo após ao acordo com a França. O parlamento aprova um empréstimo de 50 milhões de liras para enfrentar as despesas militares. Neste ínterim, a Áustria juntou as tropas e, no dia 23 de abril, pede ao Piemonte para se mobilizar. Começa a Segunda Guerra de Independência: no final de abril os austríacos atravessam o rio Ticino, mas, em 4 de junho, na batalha de Magenta, franceses e piemonteses derrotam os austríacos. Enquanto na Toscana, em Parma e Modena, na região das Romagnas, Marche e Umbria houve seguidos levantes preparados pela Sociedade Nacional Italiana para pedir a anexação do Piemonte, em 11 de julho, Napoleão III, traindo as expectativas italianas – também devido o temor de uma intervenção prussiana – firma em Villafranca um armistício com os austríacos que prevê a cessão da Lombardia em favor dos franceses, que a entregarão para o Piemonte em troca de Nice e Sabóia, e o restabelecimento das leis na Itália central. Cavour se demite e é substituído pela dupla La Marmora-Rattazzi. Vítor Emanuel, incomodado, rejeita as anexações de Parma, Modena, Bolonha, Florença e envia governantes extraordinários que mantenham extra-oficialmente os contatos.
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EspecialSesquicentenário ‘filtragem’ no escritório da imigração em Ellis Island, começava o desafio para a integração. Malvistos Se na América do Sul conquistar um lugar na nova pátria foi mais fácil graças também à língua parecida, nos Estados Unidos foi muito difícil para gerações inteiras. “Os preconceitos a respeito da comunidade italiana se agravaram com a I Guerra Mundial”, explica Luconi. “A inserção na sociedade foi muito lenta. Nossos compatriotas preferiam se isolar nos bairros italianos e freqüentar as escolas das paróquias, separadas do sistema educacional, e, desta forma, retardavam a difusão do inglês na comunidade”. Este isolamento voluntário alimentou a suspeita americana. Alguns ganharam muito dinheiro, é claro. Como Mister Peanuts, ou seja, Amedeo Obici, que embarcou para os Estados Unidos com idade de 11 anos e, trabalhando feito louco, tornou-se o rei dos amendoins. Ou como Geremia Lunardelli, que chegou pobretão no Brasil e, em poucos anos, tornou-se o senhor do café. Geralmente lembramos só deles. Todos os outros, que nós esquecemos, são muito bem lembrados nos países que os acolheram. Mas, com palavras pouco gentis, parecidas com aquelas usadas hoje em dia pelos italianos quando falam dos estrangeiros imigrantes na Itália, talvez por medo deles. Nos Estados Unidos, que tinham abolido a escravidão pouco tempo antes, dizia-se que os italianos
não eram brancos, mas também não “claramente negros”; na Austrália eram “invasores da pele cor de azeitona”, quase um título de filme de ficção científica. Nos Estados Unidos, os italianos eram uma “raça inferior”, uma “estirpe de assassinos, anárquicos e mafiosos”; na Suíça eram bandidos até nas salas
1860
Expedição dos Mil e anexação do Reino das Duas Sicílias O ano de 1860 inicia com o novo compromisso de Cavour para a constituição de um governo que substitua o de La Marmora-Rattazzi. Em março, dois plebiscitos sancionam a fusão das regiões Toscana e Emilia com o Reino da Sardenha. Em Palermo, uma insurreição irrompe no dia 4 de abril. Imediatamente reprimida, desperta a revolta em toda Sicília. Quatro dias depois, Garibaldi aceita a proposta de Francesco Crispi e Nino Bixio para liderar um grupo de expedição no Reino das duas Sicílias, partindo em 6 de maio, com a oposição do Piemonte. No dia 11, a Expedição dos Mil desembarca em Marsala. Garibaldi assume o comando da Ilha e derrota as tropas bourbonistas. Mas, em 6 de junho, em Palermo, Garibaldi firma uma convenção que declara a queda do domínio de Francesco II na capital siciliana. Em agosto, fracassam as tentativas cavournianas de organizar
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Tio Sam. Imigrantes italianos em Ellis Island, NYC. Imigrantes e Estátua da Liberdade. Abaixo, Canção símbolo dos emigrantes e manual dos emigrantes que iam para o Brasil, em 1886
de espera da terceira classe nas estações e ninguém queria alugar uma casa para eles porque eram “sujos como porcos”, barulhentos e tinham filhos demais. Outras definições parecem ecoar aquelas dos xenófobos italianos: “os italianos das classes inferiores sempre mostraram ser mendigos. Parece que muitos deles são mendigos pelo prazer de mendigar”; “muitos insistem em pedir ajuda, como se isso fosse obrigação”. “Uma avalanche de Francescos e Marias de olhos escuros, ou de Gino, Tito e Mario com sobrancelhas parecidas com aquelas das baratas”, escreviase no Daily Mirror inglês ainda em 1940. E o presidente dos USA Richard Nixon, numa interceptação de 1973, foi o mais claro de todos: “Não são como nós. A diferença está no cheiro diferente, no aspecto diferente, na forma de se comportar diferente [...]. O grande problema é que não se consegue achar um [italiano] que seja honesto”. Juízos e preconceitos que alguém pagou caro. “Em 1891, no estado da Luisiana, 11 sicilianos processados por homicídio e absolvidos foram linchados pela população, que recorreu ao sistema de justiça sumário herdado da época da escravidão”, conta Luconi. “E em 1922, no estado do Alabama, um afro-americano foi absolvido de uma acusação de estupro porque a vítima era siciliana, portanto equiparada, como o acusado, a uma raça inferior”. Em suma, era um fato ocorrido entre “negros e italianos”. Nos USA, a imigração da Itália parou na Primeira Guerra Mundial.
uma revolta moderada em Nápoles, onde Garibaldi desembarca em 7 de setembro. No dia 11, Garibaldi escreve para Vítor Emanuel convidando-o a liquidar Cavour e ir para Roma para ser coroado rei da Itália. Um mês depois, Cavour aprova uma lei que permite as anexações da Itália central e meridional. Na batalha de Castelfidardo, os piemonteses anexam as regiões de Marche e Úmbria. Em 21 de outubro, no Reino das Duas Sicílias, é realizado um plebiscito para anexação ao Piemonte, que foi aprovado com cerca de 75% dos votos. Cinco dias depois, acontece o famoso encontro de Teano, onde Garibaldi saúda Vítor Emanuel II como rei da Itália. Em 4 de novembro, há plebiscitos também nas regiões Umbria e Marche. Na mesma semana, Vítor Emanuel II entra em Nápoles. No dia 17 de dezembro, é dissolvida a Câmara dos Deputados do reino para consentir as eleições de novos representantes também dos territórios anexados.
Em 1921, o Emergency quota act impôs um limite no número de imigrantes do Leste e Sul Europeu. “Estas limitações geográficas ainda se inspiravam em preconceitos raciais e étnicos” diz Luconi. “Considerava-se que povos como o italiano fossem mais difíceis de serem integrados. Somente com a Segunda Guerra Mundial, graças ao alistamento no exército norte americano de muitos ítalo-americanos, a integração começou a se tornar uma realidade”. Na Europa Talvez este seja um dos motivos da retomada da emigração para os Estados Unidos logo depois da Segunda Guerra Mundial. Mas, àquela altura, já havia sido aberta uma nova rota, em direção ao Norte Europa. “Na realidade, em 150 anos, os destinos europeus prevaleceram em relação aos americanos, se excluirmos o período da grande emigração”, pontua a Audenino. Quem não viajava a pé enfrentava intermináveis viagens nos assentos de madeira dos trens. Mas, mesmo na Europa, os nossos compatriotas nunca foram recebidos de braços abertos. Até porque 50% dos italianos que viajavam para a França e o Norte Europeu eram clandestinos. Na Suíça, onde muitos chegavam ultrapassando a pé os Alpes, obter um visto de permanência anual tornou-se um trajeto cheio de obstáculos: um inferno de 4 anos, um purgatório de 10 e o risco constante de serem expulsos por causa de um pretexto qualquer.
pólo de atração: e muitos chegavam das áreas mais pobres do Nordeste (Vêneto e Friuli) e do Sul. Foi nesta época que “lá no Norte” o termo “terrone” (que originalmente significava latifundiário) mudou de significado, tornando-se sinônimo pejorativo de “meridional”. A armadilha do preconceito armou novamente, mas desta vez entre compatriotas.
Acima, operários italianos em uma fábrica de cimento suíça. Eles recebiam menos do que os colegas suíços. Abaixo, a estação dos “migrantes” em Milão, em 1965. No mesmo ano, cartaz racista em Turim
Indo para o Norte da Bota Ao mesmo tempo, com a reconstrução e o boom industrial das décadas de 50 e 60, a emigração interna recomeçou. “No início foi mais a tradicional emigração sazonal das áreas de serra para as cidades”, explica Audenino. “Nos vales quem viajava eram os homens, enquanto as mulheres ocupavam-se da economia familiar e agrícola”. O triângulo industrial formado por Turim, Genova e Milão tornou-se
Recursos Em Turim, assim como nos distritos onde se extraia minério na Bélgica, os emigrantes do período pós-guerra encontraram as mesmas precárias condições, a discriminação e as dificuldades aparentemente intrasponíveis que tinham enfrentado seus pais e avós. Mas, mesmo assim, iam para lá. Por que? Como a “horda” que muitos imaginam estarem assediando nossas fronteiras, talvez mais para fugir da injustiça social do que da pobreza. Era isto que um imigrante, já no final do séc. XIX, escrevia para um ministro do Reino da Itália: “Plantamos trigo mas não comemos pão branco. Cultivamos videiras, mas não bebemos do vinho. Criamos animais, mas não comemos carne. Apesar disso vocês nos aconselham a não abandonar nossa pátria? Mas é uma pátria a terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”. (Revista Focus)
1861
Proclamação do Reino da Itália e banditismo meridional Em 27 de janeiro, acontecem as primeiras eleições para a formação do Parlamento italiano, que decreta o sucesso do partido moderado encabeçado por Cavour. 15 de fevereiro: depois de 102 dias de assédio na fortaleza de Gaeta, Francesco II de Bourbon se rende e embarca com a família num navio francês para chegar em Roma, onde ficará hóspede do papa Pio IX. 17 de março: A primeira lei aprovada pelo novo parlamento, e promulgada em 17 de março, proclama Vítor Emanuel II e seus descendentes rei da Itália. 23 de março:constitui-se o primeiro governo liderado por Cavour, que já em 27 define a posição italiana diante das questões romanas: Roma é capital, mas com o consenso dos franceses e sem afetar a liberdade espiritual do pontífice. Abril: eclode a primeira grande revolta na região da Basilicata. É o início do brigantaggio (que une militares desertores e lealistas, camponeses insatisfeitos e salteadores). Em 1861, os soldados piemonteses aumentam de 15 mil para 50 mil para reprimir o fenômeno. Em fevereiro de 1864, chegam a 116 mil. Segundo as estimativas oficiais, entre 1861 e 1865, foram mortos em combate 5212 briganti [bandidos] . Mas vítimas da repressão foram, na realidade, aproximadamente vinte mil. Em 6 de junho, Cavour morre improvisamente em Turim. Em 12 de junho, Bettino Ricasoli dá início a um novo governo.
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EspecialSesquicentenário
Anita e Giuseppe Garibaldi no Brasil A história que faz de Garibaldi um mito e o importante papel da brasileira ao lado do herói
M
inha ascendência é italiana: Artusi, pelo ramo materno — Ida Raphaella Artusi — e Capuano, pelo lado paterno — Luiz Lobuglio Capuano. Os Capuano, oriundos de Cave di Tirreno, próximo a Nápoles, chegaram ao Brasil em 1890, como imigrantes, no pequeno navio San Gotardo. Traziam em sua bagagem a experiência das dificuldades que toda a Itália teve de passar nos tempos que se seguiram à sua unificação. Orgulho-me da ascendência dos Capuano, íntegra e idealista, que me orientou e educou dentro desses princípios. Apesar da labuta cotidiana, faziam sempre uma pausa no cansaço para rememorar as lutas que nossos antepassados empreenderam ao lado dos garibaldinos e as figuras lendárias de Anita e Giuseppe Garibaldi, inflamando minha imaginação de criança e despertando minha admiração pelos dois. Por isso, resolvi pesquisá-los. Em fins de 1835, Garibaldi chegou ao Rio de Janeiro foragido da Itália. Foi condenado à morte por envolver-se com Giuseppe Mazzini, fundador da Jovem Itália, numa
revolução mal sucedida iniciada em Gênova. Tornou-se então amigo de Luigi Rossetti. Com a ajuda de um rico comerciante italiano, comprou um pequeno barco para fazer viagens de cabotagem, chamando-o de Mazzini. Em 1835, eclodiu a Revolução Farroupilha. Desencadeada em São Pedro do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, seria o mais duradouro conflito interno brasileiro do século XIX, pondo em risco a própria integridade da nação. A opressão política e fiscal que onerava a oligarquia sulina, favorecendo os fazendeiros de países vizinhos, foi um dos motivos preponderantes para o movimento farroupilha. As razões econômicas e políticas ganharam contornos ideológicos, opondo os sulinos ao Império. Nesse ínterim, Garibaldi e Rossetti visitaram Tito Lívio Zambecari, conde bolonhês que aderira
1862
Giuseppe Garibaldi ferido no Aspromonte Um ano, em 1862, dominado pela questão de Roma e Veneza. Garibaldi continua sendo protagonista. Os garibaldinos são interceptados nas fronteiras da região do Trentino e, em maio, as tropas régias prendem, em Brescia, 123 ‘camisas vermelhas’. Em 20 de julho Giuseppe Garibaldi, em Marsala, jura “ou Roma ou a morte” e parte a frente de 1300 voluntários que são contidos em 29 de agosto no Aspromonte. Garibaldi é ferido numa perna e preso.
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Detalhe do quadro A batalha dos Farrapos, de Wasth Rodrigues
às doutrinas republicanas e democráticas de Mazzini, acreditando que o idealismo dos farroupilhas fosse o mesmo dos revolucionários italianos. Zambecari e Bento Gonçalves, líder da Revolução Farroupilha, estavam presos no Rio de Janeiro. O pequeno Mazzini foi transformado em navio de guerra em oposição às embarcações imperiais. Como os portos sulinos estavam vigiados, os dois revolucionários italianos foram obrigados a fugir. Na Argentina, Garibaldi ficou preso durante oito meses. Libertado, juntou-se a Rossetti e retornou ao Brasil. Apresentaram-se ao governo farroupilha. Rossetti, por ser um intelectual, foi designado para fundar e redigir o jornal revolucionário O Povo. Garibaldi, como homem do mar, foi enviado a Camaquã, Rio Grande do Sul. Nos galpões da fazenda do Brejo, o governo revolucionário armou seu estaleiro. Cumprida a missão, recebeu ordem para dirigir-se à cidade de Laguna e encontrar-se com Davi Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes, chefes da Revolução. Garibaldi partiu com dois barcos, Farroupilha e Seival, em 5 de julho. O primeiro naufragou. Todos os seus amigos italianos morreram. O Seival, de maior porte, chegou ao seu destino, com John Griggs no comando. Em 25 de julho de 1839, foi proclamada a República Catarinense. Nesta aventura, Garibaldi, que não pensava em casamento, encontrou o amor de sua vida, conforme narra em suas memórias:
1864
Acordo entre Itália e França para retirada dos franceses de Roma e não agressão da Itália contra o Estado Pontífice Em 19 de novembro a câmera aprova a transferência da capital de Turim para Florença, como clara demonstração do fato que não considera mais a possibilidade de tornar Roma capital. Em 3 de fevereiro, 1865, Vítor Emanuel II deixa Turim para se transferir em Florença.
Eu andava pelo tombadilho do Itaparica, quando decidi procurar uma mulher que me tirasse daquela insuportável e tediosa situação. Lancei um olhar às habitações da Barra, situada na entrada sul de Laguna .[...] Avistei uma jovem e pedi que me transportassem até ela. Desembarquei e dirigi-me às residências onde estava o motivo da minha viagem. Não a encontrei, mas um homem convidou-me para tomar café em sua casa. Entramos e a primeira pessoa que avistei era aquela que eu procurava. [...] Ambos ficamos estáticos e silenciosos, olhandonos um ao outro como duas pessoas que já se encontraram e tentam reconhecer reminiscências nas fisionomias... (GARIBALDI, 1888, p. 56)
Em Garibaldi, Anita encontrou o que sempre sonhara — o homem que não sentira medo de amá-la. Aos dezenove anos, deixou-se envolver pela fantasia própria da mocidade, integrando essa epopeia catarinense que durou cento e vinte dias. Os imperiais apertaram o cerco. Frederico Mariath comandou os navios do Império contra os revolucionários. Os navios legalistas avançaram e, embora seu número fosse superior aos comandados por Garibaldi, todos estavam prontos para lutar.
1866
Anita fez cerca de vinte viagens em um pequeno barco, em que levava armas e munições, sem se importar com o fogo cruzado que poderia atingi-la. O estoicismo de Anita e Garibaldi foi mencionado pelo próprio Frederico Mariath, em 15 de novembro de 1839. Em 1840, depois de grande expectativa e ansiedade, nasceu Menotti, o primogênito do casal. No mesmo ano, Garibaldi chora a perda do seu grande amigo Rossetti, que morreu lutando. Juntando-se aos farroupilhas, Anita e Garibaldi viveram grandes vitórias, mas amargaram também derrotas desastrosas. Na última retirada, ao alcançarem a Serra das Antas no Rio Grande do Sul, marchando pelo interior da floresta, tornou-se quase impossível às tropas avançarem devido à falta de munições, dificuldades climáticas e à fome. O casal temia perder o filho, que sobreviveu a tantas intempéries por um verdadeiro milagre. Chegando finalmente no acampamento do líder Bento Gonçalves, Garibaldi estava convencido de que a revolução estacionara e que o melhor seria restabelecer a paz entre os farrapos e o Império. Além disso, a pobreza e as dificuldades enfrentadas, desde o nascimento do filho, fizeram-no tomar a decisão: sua participação na revolução pertencia ao passado. Agora, o destino era o Uruguai. Garibaldi, na qualidade de corsário, não recebia soldo. Era necessário,
Terceira Guerra de Independência e Vêneto anexado à Itália 8 de abril: é firmado o tratado ítalo-prussiano no qual se prevê que, em caso de guerra entre Prussia e Áustria, a Italia entrará no front de batalha. 20 de junho: a Itália entra em guerra e é derrotada pelos austríacos em Custoza (na província de Verona) em 24 de junho e na batalha naval de Lissa (em 20 de julho). Somente Garibaldi obtém bons resultados no Trentino, mas é pressionado a retirar-se após o tratado de paz que, graças à vitória dos prussianos a Sedowa, na Boemia, em 3 de julho, concede o Vêneto à Itália (21 de outubro).
Retrato de Anita Garibaldi por Joaquim R. Ferreira
Um dos canhões usados pelos Farroupilhas. Permaneceu até 1926 no fundo do riacho Santa Isabel, em Camaquã, quando foi recuperado junto com outros e passou ao acervo do Museu Júlio de Castilhos
para iniciar nova vida no Uruguai, obter algum recurso. Solicitou algumas cabeças de gado ao Ministro da Fazenda, Domingos José de Almeida, que comoveu-se com o modesto pedido e prontamente o atendeu, dando-lhe novecentas reses. A família partiu acompanhada de um grupo de homens, pelo pampa aberto. O trajeto era desconhecido. A boiada, escolhida sem critério, encontrava-se em péssimas condições e os responsáveis pela condução eram quase todos mercenários e boiadeiros improvisados. Piorando a situação, era comum a fuga de homens durante a noite, levando algumas das reses. Outras morriam ou se perdiam pela estrada. Mesmo assim, paravam apenas para o descanso e alimentação dos viajantes. As chuvas torrenciais tornaram a travessia extremamente difícil. Anita, carregando Menotti, seguia em silêncio. Acostumara-se ao sacrifício. Após dois meses de marcha, fatigados, mas felizes, conseguiram alcançar o território uruguaio com o pouco gado que ainda restava. Anita deixava para sempre a terra natal, sem imaginar que um dia seria respeitada e homenageada por todos os brasileiros, seus irmãos. Yvonne Capuano, Médica e empresária, é autora de De sonhos e utopias: Anita e Giuseppe Garibaldi; Garibaldi, o Leão da Liberdade; e A epopeia de Anita e Giuseppe Garibaldi
1870
Roma capital italiana Devido à derrota dos franceses em Sedan pelos prussianos (1 de setembro de 1870), o governo italiano deixa de delongas e decide ocupar Roma, já privada do apoio de Napoleão III. Em 5 de setembro, Vítor Emanuel II envia para Roma o conde Gustavo Ponza de San Martino oferecendo ao papa “as garantias necessárias para a independência espiritual da Santa Sé”. Pio IX recusa a proposta em 10 de setembro e, no dia seguinte, o general Raffele Cadorna entra com as suas tropas no Estado pontífice. Em 20 de setembro, o 29° batalhão de infantaria e o 34° batalhão de bersaglieri entram através de uma fenda da Porta Pia aberta pela artilharia. No confronto morrem 49 soldados italianos e 19 do exército do papa.
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EspecialSesquicentenário
Árvore de Giuseppe e Anita Garibaldi Heróis não somente italianos, brasileiros ou uruguaios, mas heróis de um mundo “globalizado”, em que simbolizam os valores da coragem, do sacrifício e da justiça Annita Garibaldi Jallet, bisneta de Giuseppe e Anita Garibaldi
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C
onsidero ser um grande privilégio ter nascido na família de Giuseppe e Anita Garibaldi e é uma obrigação fazer com que eles fiquem mais conhecidos, junto com sua família. A popularidade do General (1807-1882) e de Anita – Ana Maria de Jesus Ribeiro, chamada também de Annita na Itália (1821-1849) – permanece viva apesar da passagem do tempo. O mito que envolve seus feitos faz parte dos alicerces da nação italiana, além da história do Brasil e do Uruguai. Mas a respeito de seus descendentes havia, e ainda há, muitas lacunas. Este é o motivo pelo qual me pareceu necessário pesquisar os dados relativos aos outros três filhos deles também, assim como os dados de seus descendentes até os dias de hoje, ainda mais a partir do momento em que fui chamada para ser a curadora de um museu em memória da família, aberto na casa de um dos filhos dos Garibaldi, Ricciotti, em Riofreddo, perto de Roma. Embora o Herói de dois mundos tenha tido outros filhos após o falecimento de Anita, destacam-se os três filhos nascidos da última relação com Francesca Armosino, companheira da última fase de sua vida, eles não deixaram herdeiros. Os netos de Garibaldi nasceram todos dos filhos de Anita, que foram quatro: Menotti (1840-1903), Rosita (1843-1845), Teresita (1845-1903) e Ricciotti (1847-1924). Menotti, o maior de todos, nasceu no Brasil perto de Mostardas (RS) e seus primeiros meses de vida foram tão aventurosos quanto a vida de seus pais em sua passagem do Brasil ao Uruguai. Rosita, Teresita e Ricciotti nasceram em Montevidéu, numa situação mais tranquila para a família, que, finalmente, tinha uma
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pequena casa. Rosita faleceu ainda criança. Portanto, foram só três os filhos que viajaram com a mãe para a Itália, em 1847, e pouco tempo depois Garibaldi se juntou a eles. Menotti, filho predileto de Garibaldi, começou a navegar com ele como grumete desde 1854, quando o pai voltou do segundo exílio devido ao triste êxito da República Romana. Tinha 14 anos. Depois, foi com o pai na Sardenha, em Caprera, onde construiu um pequeno sítio, e depois na Expedição dos Mil e nas campanhas sucessivas: em 1866, no Trentino, em 1867, no Agro Romano e, finalmente, entre 1870 e 1871, na campanha da França. Depois decidiu se dedicar ao saneamento do Agro Pontino, uma área erma cheia de pântanos e de malária, onde criou uma grande fazenda modelo, porém sem conseguir saneála e levá-la a diante. Em 1876, tornou-se deputado até 1900. Em 1868, tinha se casado com Francesca Italia Bidischini, filha de um amigo de joventude do pai. Foi uma união feliz, da qual nasceram seis filhos: Giuseppe [† aos 3 anos de idade], Gemma, Anita, Rosita, Giuseppina e Giuseppe. O último filho teve uma filha, Teresita, que não teve prole mas adotou duas crianças. Foi a terceira filha, Rosita, quem deu um descendente para Menotti, casando-se com o conde Vittorio Ravizza. E por sua vez tiveram filhos e netos. Os filhos de Menotti e Francesca Italia ficaram na Itália, quase todos em Roma, onde levaram uma vida decorosa, conservando mesmo depois do falecimento de Menotti, em 1903, a fazenda da pequena cidade de Carano, que correspondia a uma pequena parte das terras onde Menotti tinha sacrificado sua vida e onde está sepultado. A pesquisa sobre
Menotti foi mais simples graças à disponibilidade da família, que me doou sua árvore genealógica. Muito mais difícil foi a pesquisa sobre os filhos de Teresita. Ela se casou aos dezesseis anos com um oficial muito bonito, veterano da Expedição dos Mil, Stefano Canzio, que era de uma importante família de Genova, e tiveram dezesseis filhos, dos quais três faleceram: Mameli, Anzani, Lincoln, Annita (†), Brown, Leo, Decio, Cairoli, Foscolo, Giuseppe (†), Giuseppe (†), Rosita, Annita, Francesca, Giuseppe, Garibalda. Achar pistas de seus descendentes foi complicado porque muitos deles decidiram emigrar, voltando para a América Latina para terem fazendas (Anzani, por exemplo, no Peru), lutando em conflitos locais, trabalhando em grandes impresas (Brown no canal de Panamá). Outros ficaram na Itália. Os descendentes de Decio tiveram um papel cultural muito importante e fundaram uma famosa editora. Encontrar aqueles descendentes de Teresita, que vivem longe da Itália, não teria sido possível sem a contribuição das Embaixadas e dos Institutos Italianos de Cultura. Isto deve-se também ao fato de que o interesse pela emigração italiana aumentou notavelmente nos últimos anos e, graças a isso, desenvolveram-se pesquisas de estudiosos que, de forma muito gentil, me ajudaram. O mais jovem dos filhos de Anita, Ricciotti, teve uma vida atormentada. Jovem demais para participar da Expedição dos Mil, juntou-se ao pai, vindo do internado inglês onde estudava, somente no final do ano de 1861. Ele queria lutar a qualquer custo, e Garibaldi o levou com ele em 1866, em 1867 e nos anos 1870 e 71. Sempre foi ótimo soldado, apesar de uma grave invalidez numa perna. Porém, na vida civil, não era tão bom como em batalha: na sua vida acumulou uma série de situações desastradas, nos anos de sua juventude de emigração na Austrália também. Teve a sorte de se casar com uma jovem inglesa, Constance Hopcraft, corajosa e determinada. Tiveram treze filhos: Giuseppe (†), Rosa, Italia, Giuseppe, Irene Teresa (†) Ricciotti, Menotti, Sante, Arnaldo (†), Bruno, Costante, Ezio, Giuseppina. Finalmente conseguiram viver felizes na casa de Riofreddo onde criaram, baseando-se no modelo em Caprera – a ilha de Garibaldi na Sardegna – uma pequena fazenda. Os filhos de Ricciotti entraram na história por serem aqueles que tentaram dar continuidade à tradição guerreira do avô. O mais velho, Giuseppe, lutou com o pai na guerra gregoturca de 1897. Os irmãos encontraram-se
novamente em 1912 na Grécia, depois de várias experiências de trabalho no exterior, e outra vez, em 1914, como voluntários na França na Primeira Guerra Mundial. Lá morreram Bruno e Costante. Os filhos de Ricciotti participaram da guerra de 1915 a 1918 no exército italiano e, depois, voltaram à vida civil, mas ficaram divididos pela política e pela ditatura de Mussolini. Este queria para si o mito de Garibaldi, e fez com que as associações garibaldine organizadas por Ezio Garibaldi entrassem no grupo que apoiava o regime. Os irmãos que não concordaram tiveram que ir embora exilados. Especialmente Menotti e Sante, que morou na França desde 1925 e que, depois de um longo período passado nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, faleceu em 1946. Ricciotti e Constance tiveram, dos treze filhos, somente seis netos, mas agora tem numerosos bisnetos. Estabelecer a árvore genealógica do ramo de Ricciotti Garibaldi foi menos difícil, justamente porque é o meu lado da família mais próximo. Sou a única filha de Sante Garibaldi e de sua esposa Beatrice Borzatti, tenho três filhos e seis netos, nascidos entre 2004 e 2010. Na casa de Riofreddo quis preservar a lembrança dos meus avós, Ricciotti e Constance, de meu pai e minha mãe, Sante e Beatrice, transformando o lugar em um museu onde continuam a ser pesquisados todos os membros da família. Seus objetos e lembranças, após a casa de Riofreddo ter ficado por muito tempo abandonada, foram reunidos no Museu de Porta San Pancrazio em Roma, do qual me ocupo ativamente. Uma parte da documentação encontra-se espalhada em várias instituições, principalmente nos Institutos para a História do Risorgimento, quando não ficou com as famílias. Garibaldi e Anita são lembrados no mundo todo. E não parece, nesta circunstância do 200° aniversário do nascimento de Garibaldi e do 150° da fundação da Itália moderna, que eles serão esquecidos facilmente. Livros, documentários, tudo contribui para que eles sejam heróis não somente italianos, brasileiros ou uruguaios, mas heróis de um mundo “globalizado”, em que simbolizam os valores da coragem, do sacrifício e da justiça. Anita repousa em seu monumento no Gianicolo, na Roma que a viu, pela última vez, lutar ao lado do seu General, enquanto Giuseppe Garibaldi encontra-se no cemitério de Caprera, a ilha da Sardenha que foi a última paixão do Herói, e que lembra, nas cores e na beleza, muitas paisagens do Brasil da sua juventude.
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EspecialSesquicentenário
Urnas tricolores Os italianos e a política: como se votava, os partidos e as políticas de alianças espúrias (trasformismi)
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omem, vinte e cinco anos ao mínimo, alfabetizado, abastado: este era o eleitor italiano de 150 atrás. No novo Estado, sob o modelo da lei piemontesa de 1848, escolher os deputados (não os senadores, que eram escolhidos pelo rei) era um privilégio reservado a menos de 2% da população. Assim, nas primeiras sessões eleitorais (com eleitores variando entre 52% e 57% dos que tinham direito), os eleitos foram em larga maioria importantes senhores, espressões dos poderes locais.
de 1880, quando foram iniciadas alianças políticas que prescindiam das tradicionais divisões entre direita e esquerda e visavam mais interesses pessoais), fusões e novas formações, evoluiram até hoje. (Ver quadro da página XX e XX) Substituídas pelo voto plebiscitário (de uma lista única escolhia-se sim ou não) com a ditadura fascista,
Reformas Em 1882, uma primeira reforma concede o direito de voto a 12% da população, mas a verdadeira mudança ocorre em 1912, com o sufrágio universal, ainda que somente para os homens. Embora já no final do séc. XIX os socialistas tivessem criado as primeiras organizações populares, foi justamente com o sufrágio universal que os partidos de massa a ganharam forma. Estes partidos, a diferença das duas frentes históricas originárias, direita e esquerda, beneficiaram-se com o tempo de aparatos e formas de propaganda. E entre o trasformismo (termo introduzido por volta 56
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Acima, campanha eleitoral da coalizão Blocco popolare unisionist para as eleições políticas de 1946
as livres eleições voltaram em 1946, quando, pela primeira vez, votaram também as mulheres. Foi utilizado o sistema proporcional (introduzido em 1921) baseado na relação direta entre votos e cadeiras. Um sistema revisto em 1993 em sentido majoritário (para favorecer o assim chamado bipolarismo) e substituído em 2005 pelo sistema de coalizão, que prescinde das preferências dadas para cada candidato. Desorientados Mas, independente do sistema eleitoral, como os italianos se expressam nas urnas? No pós-guerra (antes o parlamento não podia ser
Imagens das eleições em 1946; cédula eleitoral; mulheres votando; Os italianos foram chamados a escolher entre monarquia e república; Rei Umberto II votando
Árvore genealógica dos partidos italianos 1861 1882
Estrema sinistra
Sinistra
Destra
Estrema destra
Garibaldini, mazziniani e radicali
Sinistra storica Francesco Crispi, Agostino Depretis e Giusepe Zanardelli
Destra storica Camillo Benso conte di Cavour, Bettino Ricasoli, Marco Minghetti
Clerico-moderati e conservatori
Depois de 1882 formaram-se governos com deputados de diversas origens. Fascio della democrazia - 1883 Felice Cavallotti, Giovanni Bovio, Andrea Costa Partito Socialista Italiano - 1892 Andrea Costa, Filippo Turati, Anna Kuliscioff
Partito Repubblicano Italiano (Pri) - 1895 Giovanni Bovio e N. Calajanni
Com o novo século, durante a considerada Idade Giolittiana, os eleitos de Direita e de Esquerda que apoiaram o governo são definidos como “Ministeriali”.
1910 1912
1921
Partito Radicale - 1904 Giuseppe Marcora (dissolvido em 1922)
Ministeriali
Partito Nazionalista - 1910 Enrico Corradini
Em 1912 adotou-se o sufrágio universal masculino. Unione Sindacale Italiana - 1912 Arturo Labriola, Alceste De Ambris (dissolvido em 1925)
Partito Comunista d’Italia (Pcd’i) - 1921 Antonio Gramsci, Amadeo Bordiga
Partito Socialista Riformista Italiano (Psri) - 1912 Ivanoe Bonomi, Leonida Bissolati (dissolvido em 1920)
Partito Socialista Unitario - 1922 Filippo Turati e Giacomo Matteotti
Partito Liberale - 1912 Giovanni Giolitti Partito Popolare Italiano (Ppi) - 1919 Luigi Sturzo
Unione Elettorale Cattolica - 1912 Vincenzo Gentiloni (dissolvido em 1925)
Fasci Italiani di Combatimento - 1919 Benito Mussolini
Partito Nazionale Fascista (Pnf) - 1921 Benito Mussolini (dissolvido em 1943)
Em 1926 todos os partidos anti-fascistas são dissolvidos. Alguns, durante a ditadura, operam no estrangeiro e em sigilo, outros, são criados antes do final da II Guerra Mundial.
1926
1943
Partito Socialista Riunificato - 1930
Giustizia e Libertà - 1929 Carlos Rosselli Liberalsocialisti - 1941 Piero Calamandrei
Partito Socialista Italiano di Unità Proletaria (Psiup) - 1943 Sandro Pertini, Pietro Nenni
Partito d’Azione (PdA) - 1942 Ferruccio Parri, Ugo La Malfa (dissolvido em 1947)
Democrazia Cristiana (Dc) - 1942 Achille Grandi, Alcide De Gasperi
Partito Liberale Italiano (Pli) - 1943 Ivanoe Bonomi, Benedetto Croce
Em 1943 Pli, Dc, PdA, Psiup e Pcd’i constituíram o Cln (Comitato di Liberazione Nazionale) que lidera a Resistenza. Em 1946, depois da expulsão dos nazifascitas nasce a república e realizam as primeiras eleições a sufrágio universal (com voto também para as mulheres). Partito Repubblicano Italiano (Pri) - 1946 Ugo La Malfa
1946 Partito Comunista Italiano (Pci) - 1946 Palmiro Togliatti, Luigi Longo e Enrico Partito Socialista Berlinguer Italiano (Psi) - 1947 Pietro Nenni
Partito Socialdemocratico Italiano (Psdi) - 1947 Giuseppe Saragat
Fronte dell’Uomo Qualunque - 1944 Guglielmo Gianinni (dissolvido em 1949)
Partito Liberale Movimento Sociale Partito Nazionale Italiano (Pli) - 1946 Italiano (Mli) - 1946 Monarchico - 1946 Giovanni Malagodi Giorgio Almirante e (poi Partito Arturo Michelini Democratico di Unità Monarchica) Alfredo Covelli
Partito Socialista Italiano di Unità Proletaria (Psiup) - 1964 Tulio Vecchietti Partito Socialista (dissolvido em 1972) Unificato (Psu) - 1966
1972
Partito Socialista Italiano (Psi) - 1969 Bettino Craxi (dissolvido em 1994)
Partito Socialdemocratico Italiano (Psdi) - 1969 Giuseppe Saragat, Mario Tanassi
Partito Radicale - 1986 Mario Pannuzio, Ernesto Rossi e Marco Pannella
Msi-Destra Nazionale - 1972 Giorgio Almirante
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EspecialSesquicentenário
1986 Federazione dei Verdi - 1986 Gianni Mattioli
1989 Partito della Rifondazione Comunista (Prc) - 1991 Armando Cossutta e Fausto Bertinotti
Lega Lombarda - 1986 Umberto Bossi
Partito Democratico della Sinistra (Pds) - 1991 Achille Occhetto
Lega Nord - 1989 Umberto Bossi
Em 1992 Tangentopoli provoca a crise dos partidos considerados “Prima repubblica” e o nascimento de uma nova formação política.
1992 Partito Popolare Italiano (Ppi) - 1994 Mino Martinazzoli
Partito dei Comunisti Italiani (Pdci) - 1998 Oliviero Diliberto
Democratici di Sinistra (Ds) - 1998 Massimo D’Alema
Socialisti Democratici Italiani (Sdi) 1998 Enrico Boselli
Italia dei Valori 1998 Antonio Di Pietro
Partito Democratico (Pd) - 2007 Walter Veltroni e Pier Luigi Bersani
2010
Sinistra Ecologia Libertà (Sel) - 2009 Nichi Vendola
considerado realmente representativo) predominou a divisão entre o Partido Comunista (Pci) e a maioria hegemônica da Democracia Cristã (Dc). Depois vieram os períodos de centro-esquerda (nos anos 60, logo após a abertura da Dc aos socialistas) e do pentapartido (1980-1992): uma aliança entre Dc, Psi, Psdi, Pli, Pri varrida pelo movimento Mani Pulite [Mãos Limpas] ao longo do processo chamado Tangentopoli, em 1992. Aquele terremoto político abriu caminho para a Liga Lombarda (que depois passou a ser chamada Liga Norte) e para Silvio Berlusconi. Uma evolução que parece reproduzir uma recente análise que, 58
I Democratici 1999 Romano Prodi La Margherita (Dl) - 2000 Francesco Rutelli
Alleanza per l’Italia (Api) - 2009 Francesco Rutelli
colocando em confronto com os dados de uma pesquisa em 1975, repetida no outono de 2010, revela como o voto dos filhos foram transferidos em trinta anos para a direita em relação aos dos seus pais. Se em 1975 os filhos votavam mais à esquerda que os pais, hoje ocorre o contrário, mesmo nas “regiões vermelhas” como a Toscana e a Emilia-Romagna.
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(Revista Focus)
Centro Cristiano Forza Italia (Fi) - 1994 Democratico (Ccd) - 1994 Silvio Berlusconi Pierferdinando Casini e Clemente Mastella
Unione Democratici per l’Europa (Udeur) - 1999 Clemente Mastella
Cristiani Democratici Uniti (Cdu) - 1995 Rocco Buttiglione
Movimento per le Autonomie (Mpl) 2005 Unione Democratici di Raffaele Centro (Udc) - 2002 Lombardo Pierferdinando Casini e Marco Follini Futuro e Libertà per l’Italia (Fli) - 2010 Gianfranco Fini
Alleanza Nazionale (An) - 1994 Gianfranco Fini
Movimento Sociale Fiamma Tricolore - 1995 Pino Rauti
Popolo della Libertà (Pdl) 2007 Silvio Berlusconi e Gianfranco Fini
La Destra 2007 Francesco Storace
EspecialSesquicentenário
I 150 anni in Brasile Torino 17 marzo 1861. “L’Italia s’è desta”
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uesta data si è trasformata in un momento storico per il Belpaese. L’Italia unificata, cioè un regno di oltre 22 milioni di abitanti guidato all’epoca dal re Vittorio Emanuele II e nata da personaggi straordinari, quali Mazzini, Cavour, Garibaldi. Quest’ultimo ribattezzato come eroe dei due mondi. La sua capacità di sollevare le folle e le sue vittorie militari diedero un contributo determinante all’unificazione dello Stato italiano. A 28 anni Garibaldi si rifugiò in Sudamerica dove diresse i moti liberali in Uruguay, Messico, Brasile e Perù. Ritornò in Italia per la Prima Guerra d’Indipendenza e poi, con migliaia di patrioti, combatté le guerre in tutta la penisola. I suoi lunghi viaggi lo portarono alla convinzione che “il mondo era percorso da un grande fremito di libertà”. “Noi fummo da secoli calpesti, derisi, perché non siam popoli, perché siam divisi. Raccolgaci un’unica bandiera, una speme: di fonderci insieme”. La lingua del ventenne Mameli, il padre dell’inno d’Italia, è la lingua poetica dell’Ottocento che descrive il sentimento di una nazione frammentata in piccoli stati prima del 1861. Il famoso detto, attribuito a Massimo D’Azeglio, “fatta l’Italia, bisogna fare gli Italiani”, rimette al centro delle attenzioni la considerazione che l’unificazione dell’Italia non è un fatto circoscritto ad una data storica, ma un lungo e faticoso processo. Eventi commemorativi Proprio quest’anno si celebrano i 150 anni dell’Unità d’Italia, per questo sono state organizzate iniziative su tutto il territorio nazionale e oltreoceano. Come qui in Brasile, dove, secondo il Primo Segretario dell’Ambasciata d’Italia, Pier Luigi Gentile, “molti saranno gli eventi commemorativi che sottolineeranno l’interesse vivo verso l’Italia”. Nell’università di Brasília (UnB) è prevista una rassegna cinematografica da marzo a luglio con film italiani sottotitolati in portoghese, “selezionati dalla lettrice italiana Prof.ssa Anna Paola Sebastio, che offriranno una panoramica abbastanza
completa dall’Unità d’Italia fino ai nostri giorni”, racconta Gentile. Sempre all’UnB, dal 25 al 29 aprile, è organizzata una settimana ricca di eventi culturali ed anche gastronomici “Il Brasile Italiano: una visione del contributo italiano alla cultura brasiliana”. Protagonisti di questa settimana saranno due documentari, uno sull’architetta italiana Lina Bo Bardi e un altro dell’attrice e regista Ittala Nandi; diverse conferenze, in cui parteciperanno docenti universitari italiani e brasiliani, la traduttrice di Umberto Eco al portoghese Aurora Bernardini, lo scienziato politico e poeta Amado Cervo, la poetessa Jandira Costa. Inoltre ci saranno serate musicali organizzate dal coro italiano della UnB e dal coro di italiano dei bambini del Centro Ensino Fundamental de Brasília, diretti dalla bacchetta del Maestro Angelo Antoniani. Il 4 giugno sarà inaugurata nell’Ambasciata d’Italia a Brasília la mostra fotografica “Padiglione Italia nel Mondo” in collaborazione con la Biennale di Venezia, che mira alla valorizzazione degli artisti italiani contemporanei attivi all’estero. Un programma a cui prenderanno parte diverse ambasciate italiane all’estero, che realizzeranno immagini e video su queste opere e li invieranno in Italia, dove saranno presentati al Padiglione Italia della prossima Biennale di Venezia. “Nel corso di quest’anno - spiega il Primo Segretario dell’Ambasciata d’Italia – sarà presentato e valorizzato il Museo dell’Emigrazione italiana (MEI)”, un progetto che comprenderà non solo Brasília, ma anche São Paulo e Rio de Janeiro. Il MEI presenta la varietà delle esperienze migratorie italiane e si propone come opportunità di riflessione sulla storia, l’attualità e il futuro dell’essere e sentirsi italiani. Altrettanto ricca la programmazione di eventi organizzati a São Paulo, come la XV edizione del Premio Italia nel Mondo il 15 aprile, dove verranno consegnati riconoscimenti a personalità italiane e italo-brasiliane. Diverse le mostre presentate nel corso di quest’anno: i
“150 anni Grande Italia” nel Collegio Dante Alighieri, “I siti italiani Patrimonio Mondiale dell’UNESCO” nel Conjunto Nacional di San Paolo, “I luoghi della memoria. Case-museo. Spazi privati che raccontano la nostra storia: le case dei padri della patria” nel Museu da Casa Brasileira di San Paolo e l’esposizione “Il viaggio dell’emigrazione italiana da Genova a Santos” che sarà l’evento inaugurale della riapertura del Memorial do Imigrante. La regista Alessandra Vannucci presenterà a novembre uno spettacolo sull’emigrazione italiana in Brasile, “La Merica”, con orchestrazione dal vivo sia a São Paulo, nell’Auditorio Ibirapuera, che nel porto di Rio de Janeiro. Un altro concerto-spettacolo unirà le due metropoli brasiliane, “Viaggio musicale in Italia” del Duo Alterno, che si esibirà con un ricco repertorio di musiche dall’ottocento a oggi. L’immigrazione italiana sarà il tema prescelto per RECINE, il Festival cinematografico degli archivi di Rio de Janeiro e per un seminario dell’Archivio Nazionale del Brasile, che analizzerà il contributo degli italiani alla costruzione del Brasile moderno. La capitale di Rio Grande do Sul, Porto Alegre, questo mese si trasformerà nello scenario del seminario sul Risorgimento Italiano organizzato dall’Università cattolica di Porto Alegre e della mostra fotografica su “Risorgimento e Unità d’Italia” nel Museo Usina do Gasômetro. Invece Belo Horizonte ospiterà l’esposizione “150 anni 20 regioni 1 Italia”, con materiali inviati dal MEI e dalle regioni italiane e anche la mostra di produzioni grafiche da tutto il mondo degli artisti di mail-art (arte postale), dal titolo “I 150 anni dell’Unità d’Italia: il Brasile guarda l’Italia, l’Italia guarda il Brasile”. A Curitiba sarà presentato in anteprima il film “Garibaldi in America” del regista italo-brasiliano Rubens Gennaro, nell’ambito della 1ª Edizione della Rassegna “Mia Cara Curitiba”. Il Consolato italiano inoltre ha in programma altre iniziative in fase di definizione, tra cui la stampa e la divulgazione di un volume celebrativo su personaggi e scritti dell’Unità d’Italia, conferenze e rassegne cinematografiche in collaborazione con i Centri Culturali Italiani di Maceió, João Pessoa e Natal.
“L’unificazione dell’Italia non è un fatto circoscritto ad una data storica, ma un lungo e faticoso processo”
Stefania Pelusi comunitàitaliana | março / abril 2011
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Negócios
Gastronomia
La vera cucina italiana Restaurantes de São Paulo ganham certificado que atesta o respeito à tradição gastronômica da Itália Vanessa Corrêa da Silva
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De São Paulo
ão Paulo é conhecida em todo o país pela sua grande variedade gastronômica. Entre seus mais de 12 mil restaurantes, é possível encontrar cozinhas tão distintas como a libanesa e a grega, a japonesa e a alemã, mas, sem dúvida, a culinária mais bem representada na cidade é a italiana. Existem centenas de restaurantes e cantinas italianas, cerca de 1500 pizzarias e inúmeras rotisserias que vendem os mais tradicionais molhos e massas do país. Em meio a tantas opções, é fácil ficar um pouco perdido. Mas, agora, quem procurar um autêntico restaurante italiano na cidade poderá usar como guia o certificado Ospitalità Italiana, conferido a 30 restaurantes de São Paulo em uma
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iniciativa da União das Câmaras de Comércio italianas pelo mundo (Unioncamera) em parceria com o Istituto Nazionale Ricerche Turistiche (Isnart) e cinco ministérios do governo italiano. A ideia do certificado surgiu na Itália com o objetivo de valorizar a culinária e os ingredientes típicos do país. Em 2010 a iniciativa foi levada para o exterior, com a participação de 45 países. Entre todas as cidades contempladas mundo afora, São Paulo é a que abriga mais estabelecimentos que seguem a tradição gastronômica italiana, e foi a primeira a receber o prêmio fora da Itália. Para fazer a avaliação em São Paulo, a Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Indústria e Cultura (Italcam) entrou em contato com 75
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O chef Sauro Scarabotta, do Friccò, que recebeu o selo de qualidade
restaurantes. Foram feitas visitas aos estabelecimentos e pedidas cópias dos cardápios, fotografias de rótulos de produtos e explicações sobre receitas tradicionais servidas. Todas as informações foram avaliadas por uma comissão composta por enólogos, chefs de cozinha e profissionais do turismo e da indústria de alimentos, que levaram em conta critérios como: cardápio escrito em italiano, com pelo menos 51% de pratos típicos, chef de cozinha italiano ou com experiência em restaurantes típicos, carta de vinhos com ao menos 20% de vinhos italianos e presença de um funcionário fluente no idioma. Também foi avaliada a procedência dos ingredientes, sendo que alguns, como o azeite extravirgem, deveriam ser obrigatoriamente importados da Itália. Dos 75 restaurantes avaliados, 30 cumpriam todos os requisitos e receberam o certificado. — Não é um concurso gastronômico, o certificado não quer dizer necessariamente que os pratos são bons ou ruins, mas sim que seguem os preceitos da cultura italiana — explicou Erica Bernardini, responsável pela área de marketing e comunicação da Italcam e que acompanhou todo o processo de avaliação dos restaurantes. — O próprio nome do certificado, Ospitalità Italiana, já explica a ideia por trás da avaliação: reconhecer lugares onde o italiano se sinta acolhido, onde sinta que sua cultura está bem representada — declarou. A chef de cozinha Paula Lazzarini, dona do restaurante Spadaccino,
na Vila Madalena, concorda com esse conceito. — Minha intenção foi fazer um lugar onde por duas ou três horas a pessoa seja transportada para a Itália. Mesmo que a pessoa não entenda o cardápio ou as placas no banheiro, essa é uma experiência que ela teria se estivesse visitando uma cidade italiana. A ideia é fazer um pedacinho da Itália fora da Itália — explicou Paula, cujos pais vieram de Bologna para viver no Brasil. — Eu quis ser até um pouco inflexível com esse aspecto de realmente seguir a tradição italiana — concluiu ela, contando que, mesmo sendo algo que muitos clientes costumam pedir, não quis colocar o ravióli de mussarela no cardápio porque não reconhece o prato como típico da culinária italiana. O mais novo entre os 30 restaurantes a receberem o selo, o Pecorino, aberto há seis meses na região do Jardim Paulista, também serve apenas pratos italianos. — Meu cardápio é totalmente típico, escolhemos as receitas mais consagradas, originárias principalmente do Centro e do Sul da Itália, e as seguimos à risca — explicou Zito Silveira, dono do restaurante. Descendente de italianos por parte de mãe, Silveira visita a Itália todos os anos e se inspirou em lugares vistos durante as viagens para recriar a atmosfera de uma trattoria romana. Uma das ideias importadas da Itália foi a de servir o vinho da casa em jarras de 0,5 litro, muito comum em restaurantes do país. Outro diferencial são as porções de queijos italianos, como o taleggio, o grana padano e o pecorino, que dá nome ao local. Com um cardápio mais variado, o Friccò, que fica na Vila Mariana, também recebeu o selo de qualidade. Apesar de seguir o critério que determina que pelo menos metade do cardápio seja composto de receitas tradicionais italianas, o chef Sauro Scarabotta também serve em seu restaurante pratos como casquinha de siri e caldo de feijão. Italiano da cidade de Gubbio, Scarabotta considera importante manter a tradição, mas sem se fechar à renovação: — Não me considero 100% italiano e acho isso positivo, a globalização é enriquecedora. Para Scarabotta, o certificado Ospitalità Italiana é um reconhecimento do país aos restaurantes que têm o cuidado de usar produtos autênticos, que são a base da boa culinária italiana. “O selo representa uma coisa muito importante, que
é a autenticidade. Os ingredientes italianos são muito falsificados. No mundo todo vemos versões que tentam imitar produtos como o presunto de Parma e o queijo parmesão”. Scarabotta pretende usar o certificado como um fio condutor de iniciativas que divulguem ainda mais a culinária italiana em São Paulo. Uma das ideias é criar uma espécie de passaporte que os clientes poderão levar aos 30 restaurantes contemplados com o selo. — Ao visitar um determinado número de restaurantes em um certo período de tempo, a pessoa poderia ganhar prêmios como uma garrafa de vinho ou um menu degustação — explicou. O chef também planeja reservar um dia da semana para divulgar sua língua pátria no restaurante. Nesse dia, clientes que sinalizarem em suas mesas a vontade de
O presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio, Edoardo Pollastri, o proprietário do restaurante Pecorino, Osni Silveira Neto, o presidente da Unioncamere, Ferrucio Dardanello, o chef do Pecorino, Andre Galante e o cônsul da Itália em São Paulo, Marco Marsili posam na cerimônia de entrega do prêmio. Acima, o Friccò de Cordeiro, do restaurante Friccò
participar da iniciativa serão atendidos somente em italiano. Inspirado na região da Ligúria, o Zena Caffé, no Jardim Paulista, tem como um dos pontos fortes outro critério também levado em conta na hora de concorrer ao certificado: a decoração. A ideia foi seguir os elementos encontrados na Itália, com muitas fotos de cidades da Ligúria e falsas janelas pintadas na parede, típicas da região. — Procuramos reproduzir o clima de um lugar italiano sem cair na caricatura de uma cantina — disse o chef Carlos Bertolazzi. No cardápio escrito em italiano, o destaque vai para os pratos típicos das cidades do litoral noroeste da Itália, como a focaccia e o pesto genovês. — Nosso menu é muito tradicional, não há nenhuma variação nas receitas italianas. Muitos genoveses vêm para comer a focaccia e dizem que é tão boa ou até melhor do que a que encontram em Gênova — disse Bertolazzi. Os restaurantes que receberam o certificado assinaram um termo de responsabilidade, se comprometendo a continuar seguindo os critérios estabelecidos. A avaliação é feita anualmente e, caso algum dos restaurantes não mantenha a qualidade, pode não ter o certificado renovado. Em 2011, a Italcam acredita que mais restaurantes devem participar, já que o prêmio teve uma grande repercussão: — Muitos lugares que não participaram do processo ou que não atingiram os critérios estão nos procurando para saber o que devem fazer para participar da próxima avaliação — disse Erica, que conclui — Não discriminamos restaurantes mais ou menos sofisticados, e isso fez com que a população conhecesse lugares que normalmente não aparecem nos guias gastronômicos.
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Negócios
Embriões sustentáveis
Curso financiado pelo governo italiano confere formação prática em micro-empreendedorismo a cidadãos residentes no Rio de Janeiro Cintia Salomão Castro
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mpreendedorismo prático e a criação de mais de vinte empresas. Esses foram os frutos colhidos por meio do curso financiado pelo Ministério italiano do Trabalho e Políticas Sociais e pela AssForSeo, organização italiana para a formação, desenvolvimento e ocupação, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. O projeto se chama “Altra economia – nuove imprese per lo sviluppo sostenibile e solidale”, e foi realizado no âmbito de intervenção para a formação dos italianos residentes em países que não pertencem à União Europeia. O objetivo era o de formar pessoas para a criação de empresas junto a setores emergentes da economia local, em ressonância com o desenvolvimento sustentável. Para os organizadores, a meta foi plenamente alcançada.
“O curso foi muito mais técnico do que poderíamos pensar e os projetos apresentados pelos alunos são muito válidos”, Salvatore Anfuso, diretor da AssForSeo
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— Nosso balanço de aproveitamento é 100%. Alguns alunos já estão com empresas montadas, com o CNPJ. Um deles ganhou uma bolsa de estudo e está estudando na Universidade de Salerno — conta a coordenadora do curso, Liliana Frenda, responsável pela AssForSeo no Brasil. O programa teve, no total, 500 horas de duração. Destas, 300 foram realizadas junto à Fundação Getúlio Vargas, instituição de excelência sediada na cidade do Rio de Janeiro. As outras horas foram divididas entre project work, aprendizado de língua italiana e estágio. A turma teve 24 alunos – que ganharam uma bolsa de estudos de 100% – e dois ouvintes. Todos são cidadãos italianos residentes no Rio de Janeiro. A cerimônia de diplomação aconteceu no dia 18 de março, na Fundação Getúlio Vargas, e contou com a presença do cônsul geral Umberto Malnati. — Hoje, o Brasil é um dos principais mercados emergentes e a sétima economia mundial, com um PIB que
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ultrapassou o da Itália. Que essa iniciativa possa reforçar o amor pela minha pátria — destacou o cônsul. O diretor da AssForSeo, Salvatore Anfuso, elogiou os projetos desenvolvidos pelos alunos. — O curso foi muito mais técnico do que pensávamos. Os projetos são muito avançados. Alguns, inclusive, ainda não pudemos desenvolver na Itália. Concluo com um espírito de satisfação, e estou certo de que se pode dar continuidade a esse tipo de iniciativa — comentou. O presidente da Câmara ÍtaloBrasileira de Comércio do Rio de Janeiro, Raffaele di Luca, chamou atenção para a oportunidade oferecida aos alunos. — É uma ocasião que deve ser aproveitada. Espero que o governo italiano faça algo a mais para ajudar na formação de seus cidadãos que vivem em outros países — comentou. Alunos recebem Di Luca aproveitou para prediploma pela sentear as empresas recém-criadas conclusão do com a associação isenta de taxas, curso, na Fundação por um ano, junto à Câmara. Getúlio Vargas O diretor da área de relações interFunghi della salute nacionais da FGV, criação de uma micro-empresa Bianor Cavalcanti, dedicada ao cultivo e à destacou o alto nível comercialização de cogumelos para uso de satisfação por parmedicinal no estado do Rio de Janeiro te dos envolvidos. foi um dos projetos apresentados pelos — O clima da alunos. O Agaricus blazei é uma espécie cerimônia de encerrade fungo encontrado sobretudo em mento revelou um alto regiões de clima tropical e subtropical, cujas propriedades medicinais reforçam nível de satisfação de o sistema imunológico. Os cogumelos alunos e professores. cultivados serão transformados em Nesse momento de cápsulas por empresas especializadas, de mudanças na Europa modo que cheguem ao consumidor final e no Brasil, a cooperacomo suplemento alimentar. O projeto de ção entre instituições Miriam Ferreira Pradal e Diana Conti deve é importante. É uma ser implementado nos próximos meses. — O curso atingiu totalmente o seu experiência pioneira objetivo, que é o de dar uma formação para a FGV, que aponpara sermos capazes de montarmos ta para um futuro de um negócio sustentável — resumiu, aprofundamento dessatisfeita, Miriam Pradal. sa relação.
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Negócios
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aior rede de culinária italiana do Brasil, a Spoleto, do Grupo Úmbria, conta com uma fórmula de sucesso que conquistou os consumidores das grandes cidades. Com massas e molhos preparados em poucos minutos, os números da cadeia de restaurantes são superlativos. Por mês, são servidos 1,2 milhão de pratos. Já ao ano, a rede calcula que 14 milhões de consumidores visitam os 291 restaurantes, sendo 263 no Brasil e 28 no exterior (26 no México e dois na Espanha). Um dos diferenciais da rede é que o cliente é o próprio “chefe” e tem a liberdade de montar o prato na hora. Entre as opções, são 16 massas, risotos, saladas, carpaccio e polpettones, com até oito variações, entre os 34 ingredientes. São seis tipos de molho para as massas e outros seis para as saladas. Na fábrica do Spoleto, no estado do Rio de Janeiro, para se ter uma dimensão do trabalho, são produzidas mensalmente cerca de 176 toneladas de molhos, outras 71 toneladas de massas recheadas, 17 toneladas de lasagnas e 7 toneladas de risotos. A linha de produção da rede não fica atrás dos chineses. A possibilidade de crescimento da rede se deu, principalmente, através do sistema de franchising, que possibilitou a entrada nas principais cidades do país. Aliadas às diversas possibilidades de montagem dos pratos ao apetite do brasileiro, os números da rede, que completará 12 anos, não param por aí. A projeção para 2011 é manter o mesmo ritmo de crescimento satisfatório e assinar 35 novas unidades ao longo do ano, chegando ao faturamento de R$ 390,8 milhões, o equivalente a 13% de crescimento quando comparado a 2010, ano que registrou o faturamento de R$ 345,6 milhões. Presente em 23 estados brasileiros e no Distrito Federal, a maior concentração de lojas está em São Paulo (84) e no Rio de Janeiro (56), com unidades distribuídas entre shopping centers, centros comerciais e lojas de rua.
Fachada de uma das franquias da rede Spoleto
Ao gosto do mercado Após se consolidar no Brasil, grupo que detém marcas famosas como Spoleto, Domino’s Pizza e Koni Store busca outros continentes Robson Bertolino De São Paulo
A história de sucesso do Spoleto está diretamente ligada ao italiano Gianni Carboni, nascido em Roma e radicado no Brasil desde 1986, ano que abriu o seu próprio restaurante, o Bravo Gianni. Após fechar a casa, Carboni, que já era fornecedor de massas e molhos (suas especialidades) para o Spoleto, uniu-se aos empresários Eduardo Ourivio e Mario Chady em uma sociedade voltada para a fabricação e o fornecimento destes produtos à rede. Carboni é responsável pelos produtos do Grupo Úmbria e consultor da rede Spoleto para lançamento de novos produtos. O grupo conta ainda com as redes Domino’s Pizza e Koni Store. — O bom relacionamento com o cliente, o preço, a qualidade das
refeições servidas e a agilidade no atendimento é o diferencial do Spotelo. Diariamente temos um belo serviço pela frente, que é o de servir bem as pessoas — conta o executivo. De acordo com ele, usar produtos de qualidade para que o sabor seja preservado, garantindo à receita um paladar mais apurado é uma das garantias da fórmula Spoleto em servir bem. — Nossa experiência em culinária italiana nos possibilitou atuar em outros países. Atualmente estamos pesquisando mercados na Argentina, onde deveremos abrir uma unidade ainda neste ano, além de Austrália e Peru, onde estudamos novos empreendimentos. Este é um ano de muitas possibilidades — revelou o diretor. Indagado sobre a possibilidade de atuar no já consolidado e concorrido mercado italiano de gastronomia, Carboni diz não ser fácil, já que a Itália conta com redes fortes, redes regionais e inúmeros estabelecimentos familiares de alto padrão. — Futuramente a Itália pode até ser um mercado em potencial para a rede, mas hoje não estamos em estudo. Além de a concorrência ser alta, a cultura de shopping centers de lá não é tão forte como aqui no Brasil — confessa. Carboni conta, ainda, que é importante dar fim à crença de que macarrão engorda. — O segredo está no molho. É só fazer uma combinação leve com os ingredientes que o prato fica saboroso e a digestão fácil. A massa é um alimento nutritivo, econômico e versátil, com o qual podemos fazer inúmeras variações e criar pratos maravilhosos. E ele dá a receita para uma boa massa: “50% é qualidade dos ingredientes, 30% é a maneira de fabricá-la e 20% é a maneira certa de cozinhá-la”.
História da cidade de Spoleto
S
poleto é uma cidade localizada no centro da Itália, na região da Úmbria. Esta região se destaca pelo equilíbrio entre homem e natureza, no tratamento que seus cidadãos sempre tiveram com sua terra e seu rico passado. Na Idade Média e na Renascença, foi uma ativa região no coração histórico, cultural e religioso da Itália. Suas cidades se desenvolveram de forma extraordinária, acumulando uma enorme riqueza artística. Apesar de apresentar traços da era romana em sua estrutura urbana, Spoleto ainda mantém uma aparência medieval. Isso ocorre devido à cidade ter sido um próspero Ducado “Longobardi” – povo germânico originário do Norte da Europa que fez parte do Império Romano – e, depois, uma importante cidade dentro do Estado Papal.
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calcio
AndreaCiprandiRatto
Un sistema al collasso I n queste settimane, di botto, si è scatenato il cosiddetto valzer delle panchine. Alcune sono già saltate e di altre è facile intuire che cambieranno più o meno a breve. Il fenomeno, c’è da dire, non riguarda solo l’Italia e la conferma la si può avere pensando proprio ad alcuni nostri tecnici impegnati all’estero. Guardando al nostro movimento, vanno lasciate da parte le prevedibili vicende che riguardano le panchine dei Club meno forti, fatalmente legati a scossoni che possano cambiare la stagione via via che questa avanza, col miraggio della salvezza. Quel che colpisce è piuttosto la piega che hanno preso molte fra le Società più solide, la cui gestione ha subíto una brusca sterzata rispetto a un passato nemmeno troppo lontano. Qualche tempo fa era stata la volta niente meno che dell’Inter. Aveva divorziato dall’esperto e ultravincente Benitez per affidarsi a un tecnico quasi di primo pelo come Leonardo, il tutto nel giro di poco più di sei mesi, da quando Mourinho aveva vinto, incassato, più o meno ringraziato e salutato tutti. In un Club che sembrava essersi finalmente liberato della sindrome da allenatore che l’aveva afflitto per una quindicina d’anni, è venuta a crearsi una situazione di difficile lettura e di ancor più difficile controllo. Seguendo la scia della Società, schiere di commentatori e tifosi sono caduti nell’errore di giudicare un allenatore che ha alzato trofei di ogni tipo nel corso di appena 15 stagioni per i soli pochi mesi trascorsi a Milano. Difficile non sorridere. Così come difficile era stato non definire avventata la sostituzione di Mourinho col suo rivale numero uno. Fatto sta che neppure l’ottenimento di vittorie agognate per quasi mezzo secolo è riuscito a infondere serenità nell’ambiente. All’Inter sta accadendo qualcosa di molto, troppo simile a quanto è successo nell’ultimo Real Madrid di Florentino Perez e da qualche anno più accade al Chelsea di Abramovic. Con riferimento ai londinesi, arriva-
ti finalmente soldi a palate in un Club che aveva appena ricominciato a vincere dopo un’astinenza di cinquant’anni, d’un tratto si è preteso di tenere un ritmo di affermazioni che nessuno ha. E più o meno a ogni inciampo si è fatta piazza pulita, liberandosi di allenatori del calibro di Mourinho e Scolari, col rischio che il prossimo sia Ancelotti. Dati i presupposti, c’è da chiedersi come si
dizionata davanti ai giudici nel 2006. L’avvicendamento forse soltanto di facciata alla Presidenza e una serie di cambi di panchina che non si era visto in più di un secolo hanno fatto il pari con un esborso di quattrini senza precedenti. Dalla risalita in Serie A, il gruppo è stato praticamente smembrato e rifondato ogni stagione e gli ultimi dati pubblicati indicano che a oggi il saldo fra acquisti e ces-
possa anche solo pensare di far fuori chi, oltretutto al primo tentativo, ha appena conquistato la prima accoppiata campionato-coppa in 105 anni di storia… Fatto sta che Carletto sembra destinato alla sua amata Roma, che nel frattempo ha sacrificato Ranieri sull’altare del dio Totti come se le vicende legate al cambio di proprietà non fossero già sufficientemente destabilizzanti… D’altra parte lo stesso era successo con Spalletti, che al momento si sta godendo una meritata e gratificante parentesi russa in attesa magari di tornare in Italia per guidare questa volta la Juventus. La Torino bianconera, a proposito, sta vivendo l’ennesima annata nera. Da Calciopoli in poi ha fatto sempre peggio e viene da pensare che questo crollo verticale sia in realtà un processo autodistruttivo studiato a tavolino esattamente come la resa incon-
sioni – ingaggi a parte - è in negativo di ben 130 milioni di euro. La beffarda aggravante è che i tantissimi ex della Juve stanno facendo benissimo ovunque siano andati e oltretutto quando la incontrano le fanno spesso male. Tutto questo porta alla conclusione che molti degli attuali padroni dal calcio si stanno comportando da arricchiti. Non c’è quasi più traccia della cultura sportiva che ha animato generazioni di dirigenti più o meno vincenti ma comunque dal carattere inconfondibile, apprezzabili già per questo. Checché si dichiari, oggi non c’è lo straccio di un progetto. Non si semina per raccogliere e se le cose non vanno non le si aggiustano ma si comprano pezzi di ricambio. Se però in Paesi emergenti anche dal punto di vista calcistico è comprensibile che lo sviluppo possa prendere quest’illusoria scorciatoia, stona decisamente vedere tanta poca classe e lungimiranza in una terra che di pallone vive da lunghissimo tempo. E non può non saltare all’occhio che di scorciatoia, poi, non si tratta. Perché buttar giù tutto per ricostruire daccapo, ancora una volta senza fondamenta, non condurrà mai a nulla. Di buono, s’intende.
Molti degli attuali padroni dal calcio si stanno comportando da arricchiti. Non c’è quasi più traccia della cultura sportiva che ha animato generazioni di dirigenti
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Moda
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criatividade do empresário italiano Mario Moretti Polegato deu a ele a chave para uma solução importante ao cotidiano de cada um: como caminhar com mais conforto. A planta dos pés é a parte do corpo com o maior número de glândulas sudoríparas. E, da mesma forma que um par de sapatos isola o homem do chão aonde pisa, ele também evita a transpiração. Há pouco mais de quinze anos, durante uma viagem de negócios aos Estados Unidos para promover o vinho da família, Mario Polegato notou que, naquele verão de temperatura alta, o par de calçados “queimava” os pés durante as caminhadas. O jovem e excêntrico empresário de vinho não pensou duas vezes em furar a sola do sapato com uma faca. Assim, os pés “respiraram” aliviados. Ao retornar à Itália, ele decidiu desenvolver a intuição e, na pequena fábrica de sapatos da família, produziu uma sola especial capaz de devolver aos pés a capacidade natural de transpiração, sem reter o suor. A sola criada por Mario Polegato era furada, assim como a palmilha e uma membrana permeável ao vapor, mas impermeável à água. Para testar, a fábrica passou a produzir
Dos pés à cabeça A tecnologia e o estilo italiano na fabricação de sapatos ganha novos conceitos a partir de testes em pistas de corrida Guilherme Aquino De Milão
sapatos apenas em números pequenos, para meninos e meninas. O sucesso foi grande e logo a linha aumentou e passou a ter produtos para homens e mulheres. Nos anos seguintes, os aperfeiçoamentos dos sapatos dão passos de gigante. A empresa cresce, principalmente a partir de 2000, e a expansão do grupo comercial parece não conhecer fronteiras. Os investimentos em tecnologia são a
marca registrada deste sucesso. Em 2004, Mario Polegato decide ir ao mercado buscar mais recursos para ampliar as atividades. Ele abre a empresa para a cotação na Bolsa de Valores. O faturamento aumentaria na ordem de 25% ao ano. O toque de Midas leva a Geox, hoje, a ter em caixa 100 milhões de euros. A empresa de Montebelluna se tornou a segunda maior fabricante de calçados, ficando atrás apenas da Clarks, no setor do “casual footwera market”. Para a Geox, que começou com apenas cinco funcionários e que hoje conta com de 30 mil, foi um grande salto. Com
Abaixo, o modelo da Geox – Red Bull Racing Team – utilizado pelo piloto Sebastian Vettel
Mercado
mais de 50 “brevetos” registrados, ela está na vanguarda do setor. Para encontrar soluções, a empresa adotou a participação em esportes extremos que permitam aos engenheiros estudar o material e a sua interação entre quem usa e o ambiente. Não por acaso, a empresa decidiu investir na Fórmula 1, onde no cockpit a temperatura varia dos 40 aos 50 graus centígrados. A equipe Red Bull, campeã do mundo nas categorias de fabricantes e de pilotos, com o alemão Sebastian Vettel, vai calçar Geox. – Na F1, as equipes testam novas tecnologias em condições limites. Depois, o material usado é transferido para o dia a dia nas cidades. O nosso objetivo é estudar melhorias ao produto e, em seguida, aplicar as descobertas nos sapatos de todos. Preparamos também um macacão especial que faz o corpo do piloto respirar. Não tenho dúvida de que em breve todas as equipes irão buscar soluções que nós já teremos – explica Polegato. E já a partir deste primeiro semestre, uma coleção especial, a Geox Red Bull Racing, vai ganhar as vitrines. As pistas de corrida serão um trampolim para os lançamentos que incrementam a tonificação muscular, aliada à respiração dos pés. Uma composição entre sola, palmilha e uma membrana de “interface” dos elementos do calçado, ajuda a melhorar a postura do ato de caminhar. O mesmo princípio de conforto e de cuidado com a saúde norteia a linha de roupas. Ternos, casacos, tudo furado com estilo e precisão científica e que reduzem em 40% a transpiração, ajudam a dar oxigênio às vendas. A presença em 103 países, as mil lojas da marca e 10 mil pontos de multimarcas falam por si só. E, para fazer frente à crise que atingiu o mercado, a empresa decidiu revitalizar a comunicação e fazer valer, em alto e bom som, a tecnologia e o estilo italiano para o usuário. Uma nova campanha chama a atenção do cliente para este triunvirato imbatível, vulnerável apenas às taxas de importação impostas pelo Brasil em nome da proteção dos produtores locais. Esta barreira diminui a competitividade do produto italiano, que fatura 60% no mercado externo, principalmente nos vizinhos de casa, Espanha, Alemanha e França.
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Saúde
Notas
Resfriado m estudo publicado no site Cochra-
Depois do sol ronzeou-se demais? Alguns cuidados
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B
são essenciais para aliviar a pele do trauma das queimaduras. Já que o corpo está quente, banho frio é a melhor opção. Evite usar bucha/esponja ou qualquer esfoliante na região afetada. O sabonete tem que ser bem hidratante e suave, caso contrário pode deixar a pele ainda mais vermelha e ressecada. Aproveite e aplique também um óleo hidratante de banho. Seja gentil até para enxugar a pele com uma toalha macia. Aplique loções pós-sol específicas, com produtos calmantes como a aloe vera (babosa) três vezes ao dia. Isso diminui a ardência. E tome bastante água para ajudar na hidratação da pele.
Energéticos m artigo publicado na revista “Pe-
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diatrics” mostra uma análise dos efeitos de bebidas energéticas em crianças e jovens. Taquicardia, pressão alta e até mesmo paradas cardíacas fatais são algumas das ocorrências graves provocadas por estas bebidas com alto teor de cafeína. O estudo estimula os pediatras a discutir os riscos dos energéticos com os pacientes, especialmente aqueles com problemas cardíacos e distúrbios de comportamento ou humor - como o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. A grande quantidade de açúcar pode trazer riscos a diabéticos.
ne Reviews afirma que tomar zinco em forma de xarope ou comprimidos pode diminuir a gravidade e a duração dos resfriados comuns, além de ajudar na sua prevenção. O zinco pode encobrir os vírus do resfriado e impedi-los de entrar no organismo por meio da mucosa do nariz, e também impede o vírus de se duplicar, pelo menos nos testes de laboratório, além de auxiliar o sistema imunológico e reduzir as reações desagradáveis do corpo à infecção. Mas há um alerta: o zinco não pode ser usado no longo prazo, devido ao risco de intoxicação. Grandes quantidades da substancia podem causar náusea, vômitos, dores abdominais e diarreia.
Sobre corantes m comunicado do Center for Science
U Soja m dos grãos mais completos entre
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as leguminosas, a soja contém alto teor de proteína, possui vitaminas do complexo B e é rica em minerais como potássio, zinco e cálcio, além de importantes compostos que podem estar associados a benefícios à saúde. Seu consumo, como parte de uma dieta equilibrada, pode contribuir para manter os níveis de colesterol e prevenir doenças cardíacas. E mais: quem sofre de intolerância à lactose encontra na bebida à base de soja uma boa alternativa alimentar. De acordo com a Food and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano que regula os medicamentos e alimentos, a ingestão de pelo menos 25g de proteína de soja por dia pode ajudar a reduzir o colesterol.
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in the Public Interest, organização de defesa do consumidor dos Estados Unidos, diz que alguns corantes químicos usados em muitos refrigerantes podem causar câncer. A Instituição afirma que o corante tem amônia e produz vários compostos químicos que causaram câncer em estudos com animais. A entidade pediu que a FDA (agência de vigilância sanitária dos EUA) proíba o uso da substância. Os refrigerantes que mais têm o corante são aqueles de cores escuras.
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Rejuvenescimento romã e o morango são a fonte da
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juventude. É o que sugere a pesquisa da Universidade Hallym, na Coreia do Sul. Essas frutas são algumas das melhores opções para prevenir o envelhecimento precoce da pele. “Elas são ricas em ácido elágico, um antioxidante poderoso”, afirma o bioquímico Marcelo Hermes Lima, da Universidade de Brasília, que estuda o composto há anos. A recomendação é acrescentá-las a um dos lanches diários. Não há consenso sobre a quantidade de frutas necessária para manter a pele jovem. Mas quem se preocupa com a balança agradece: 100 gramas de romãs e morangos têm, respectivamente, 56 e 30 calorias.
espíritosanto Dídimo Ef fgen
Dídimo Effgen, jornalista e publicitário capixaba que, a partir desta edição, traz aos leitores da Comunità as notícias e informações daqueles italianos e seus descendentes que fazem a diferença no crescimento e desenvolvimento sócio-econômico do estado do Espírito Santo
Nuova città 1 Dividendos 2 Exame preciso Presidente da Lorenge S.A., José Elcio á 21 anos, o Sicoob Espírito SanCentral Sorológica de Vitória (CSV) –
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Lorenzon, apresentou ao prefeito de Linhares, Guerino Zanon, o PRIMACITTÁ, maior empreendimento imobiliário unificado do Espírito Santo, que será construído na cidade. O complexo ocupará uma área de 75.000 m², frente à BR 101, no vetor norte, para onde a cidade mais se desenvolve. O megaempreendimento será o
maior núcleo urbano planejado do Estado. Com investimentos de R$ 345 milhões e início de obras previsto para maio, o meio empresarial da cidade está na expectativa de bons projetos para a população.
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to é dirigido por Bento Venturim, capixaba de Venda Nova do Imigrante. Neto de italianos, o líder cooperativista tem entre suas paixões o cultivo de ca-
fé Conilon – o Espírito Santo é o maior produtor dessa variedade no País. Além de atuar no Estado, o advogado representa o Sicoob em nível nacional. Bento Venturim integra a Diretoria Colegiada e preside o conselho de administração do Fundo Garantidor de Crédito da instituição financeira.
Nuova città 2 Bravo! Izoton egundo Lorenzon, a cidade de Linhaumentar em 22,6% as vendas até o
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res se impõe no cenário estadual por causa das boas perspectivas econômicas e geração de emprego e renda. Há anos, ela integra o time das cidades atrativas para negócios e investimentos. A relação de empresas que se instala no município é uma das maiores do Estado. O complexo terá área total construída de 165.000 m² e vai assegurar ao município uma completa infraestrutura em serviços comerciais, empresariais e de hotelaria, além de reforçar as opções de boa moradia da cidade.
Dividendos 1 Sistema de Cooperativas de Crédito
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do Brasil (Sicoob), no Espírito Santo, presidido por Bento Venturim, acaba de dividir entre os seus associados R$ 38,3 milhões, provenientes dos resultados obtidos pela instituição financeira em 2010. A distribuição dos lucros é um dos principais atrativos da Cooperativa em relação aos bancos tradicionais. No Estado, 105 mil pessoas usufruem as vantagens oferecidas pelo Sicoob, que está presente em todas as regiões capixabas com 83 agências.
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fim do ano é a expectativa da marca capixaba Cobra D’agua. A empresa aposta no crescimento de lojas franqueadas, no número de clientes lojistas e na expansão do mix de produtos. O empresário Lucas Izoton anunciou ampliação para o licenciamento de marcas para os próximos anos. Com a estratégia, espera aumentar em 500% a movimentação da empresa, até 2015. Ele quer trabalhar com cerca de 30 novas indústrias de produtos licenciados que vão de calçados, óculos e bonés, até bicicletas. O empresário Izoton é também presidente da Findes – Federação das Indústrias do Espírito Santo.
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laboratório com atuação no Espírito Santo e dirigido por Sílvio Foletto – comemora a realização inédita de 100 mil exames de alta complexidade executados por mês, com tecnologia de ponta encontrada apenas nos grandes centros de pesquisa e análise fora do país. A empresa já conquistou 50% do mercado no Estado. Todos esses números facilitam a percepção das empresas multinacionais desta área para os serviços prestados pela CSV, um dos degraus almejados pela empresa.
Mercado aquecido ano de 2011 começou bem para a
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Città Engenharia, uma das maiores construtoras do ES. A empresa trabalha em ritmo acelerado para lançar mais dois empreendimentos no município de Vila Velha, localizado na Grande Vitória. Na praia de Itaparica será lançado o Residencial Al Mare. Em Santa Paula, ao lado da Barra do Jucu e da Reserva de Jacarenema, a Città lança o Villagio Santa Paula. Segundo Roberto Puppim, diretor da companhia, ambos os empreendimentos serão lançados ainda no primeiro semestre.
Villaggio D’Italia o mais novo e luxuoso empreendi-
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mento imobiliário lançado na região da Pedra Azul, nas montanhas do Espírito Santo, idealizado pelo empresário Lucas Izoton, que inaugurou no último final de semana de março os dois primeiros pontos do Villaggio d’Italia Residential, SPA & Resort. Foram entregues o Trevo Rodoviário, que é um dos mais modernos e seguros do Brasil. Dá acesso ao Villaggio e o Pórtico de Entrada, uma inspiração do Arco de Constantino que se encontra em Roma, Itália, próximo ao Coliseu, e demonstra a grandiosidade do empreendimento. Uma homenagem a todos os descendentes de italianos que ajudaram a colonizar o estado e deram a identidade capixaba.
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milão
GuilhermeAquino
Guerra no trânsito les estão por toda a parte. Lavam os
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vidros dos carros parados nos sinais de trânsito da cidade. Quem pensava que este tipo de trabalho acontecia apenas no terceiro mundo, enganou-se. Mas, numa cidade do primeiro mundo, rica, ele dura pouco. As autoridades decretaram guerra aos lavadores de carros. Em apenas 15 dias foram identificadas 300 pessoas, algumas foram multadas em 500 euros. E não tem choro. Caso o cidadão – clandestino e sem documento, na maior parte das vezes – não possa pagar, as autoridades confiscam o que ele tiver em casa, ou no abrigo no qual dorme.
Giacometti lombardo
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lberto Giacometti foi um dos maiores escultores do século passado. As suas figuras filiformes encantam o mundo inteiro. Por uma delas, um colecionador pagou 74 milhões de euros. Pois bem, os visitantes que estiverem aqui em Milão poderão admirar, no museu Gallarate, a mostra “L’anima del 900”, com cerca de 50 peças, entre esculturas, pinturas e dese-
A Milano para osinvasão chineses Refugiados chinesa em Milão cresmagrebinos A ce a olhos vistos, puxadinhos ou teto máximo para receber os exilados da não. Em um ano, a despesa média de um chinês em viagem de turismo, ou melhor, de shopping, na capital internacional da moda e do design, é de 870 euros. O povo de Mao bateu os japoneses e os russos, ex-líderes do consumo desenfreado. No ano passado, 200 mil chineses que passaram pela cidade deixaram um rastro de lojistas felizes. Nas joalherias, as notinhas chegaram a 6 mil euros. Já nas boutiques, os gastos giraram em torno dos 800 euros. Os dados são do Centro de Estudos da Fundação Itália China. Eles passeiam em Veneza, visitam Roma, mas abrem a carteira em Milão.
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Líbia e da Tunísia é de 3.300 pessoas, segundo o governador da Lombardia, Roberto Formigoni. A região se mobiliza para enviar uma equipe de especialistas e avaliar melhor qual ajuda pode ser dada “in loco” e qual é a dimensão do socorro humanitário que deverá ser prestado deste lado do mar Mediterrâneo. Quartéis militares, instituições civis e privadas estão sendo analisadas para receber o fluxo de imigrantes “oficiais”, ou seja, aqueles da diáspora provocada pela queda de regimes no norte da África. Enquanto isso, os clandestinos errantes de sempre, fugindo da pobreza, continuam a desembarcar na costa do país, que vive uma crise econômica capaz de preocupar os imigrantes já instalados no território.
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nhos, sendo 15 inéditas. As obras chegam do acervo da família e de dois colecionadores privados de Milão. E no museu em Lecco, uma escultura de Giacometti está exposta ao lado de um bronze etrusco do ano III a.C. Incrível é a semelhança entre as peças, à distância de dois milênios. Para maiores informações, eis os sites: www. museomaga.it e www.museilecco.org.
Cemitério urbano s banquinhos modernos nas praças re-
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modeladas, após terem sido transformadas em estacionamentos subterrâneos, não agradam os habitantes. Na praça Dateo, os velhos bancos em madeira foram substituídos por retângulos de cimento armado, com acabamento em granito. Os moradores, supersticiosos, não sentam porque eles lembram as lápides dos mortos. Um visual de cemitério numa pracinha na qual a vida deveria escorrer livre e leve não se enquadra nos anseios dos vizinhos e passantes. Resultado: os moradores se preparam para uma batalha civil em prol de uma reforma geral na praça.
Turismo
Virgens expostas Mansão onde habitavam as virgens vestais romanas é reaberta. Nela foi conservada o fogo cultuado pelo Império por séculos Leandro Demori
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De Roma
uer a lenda que o próprio Rômulo, fundador e primeiro rei de Roma, tenha instituído na cidade o culto ao fogo. Para manter a tradição, Rômulo teria criado a Ordem das Vestais – um grupo de seis mulheres virgens escolhidas para habitar em um lugar sagrado no coração daquilo que futuramente seria conhecido como área dos foruns imperiais. As vestais tinham como missão manter acesa a chama que queimava dentro da mansão que as abrigava. Após duas décadas fechada ao público por conta de trabalhos de restauração, a famosa Casa das Vestais reabre ao público que visita a Cidade Eterna todo os anos. Nos primórdios do ritual, três ou quatro meninas virgens eram escolhidas para cuidar do fogo. Mais tarde, o número chegou a seis, e assim permaneceu até que o Império decretasse o fim dos ritos pagãos em nome do catolicismo, em 391 d.C., quando o templo foi abandonado pelas últimas vestais que cuidavam da chama e reocupado por nobres famílias romanas antes de passar às mãos da Igreja. O complexo reaberto este ano obedece à planta erguida provavelmente após o grande incêndio que destruiu Roma em 64. d.C e fora reformada por ocasião de outro incêndio de grandes proporções acontecido em 191. “É mais um local restituído aos turistas e aos romanos no centro do antigo Império”, diz Francesco Giro, subsecretário do Ministério dos Bens Culturais. A Casa das Vestais fica no mesmo complexo arquitetônico abrigado pelo monte Palatino e pelos Fóruns Imperiais, antigo centro
nevrálgico da capital. O ingresso de visitação inclui a visita ao monte e às ruínas, além do Coliseu. A parte mais avistável é o átrio, hoje uma espécie de gramado retangular a céu aberto que comporta três banheiras cheias de água. Toda a zona é circundada pelas estátuas que sobreviveram à queda do Império, aos saques bárbaros e à posterior dilapidação dos monumentos para venda ou uso dos materiais em basílicas, edifícios e estátuas em Roma e mundo afora. “É um momento que os italianos esperavam há muito. Agora estamos trabalhando para trazer de volta o Circo Massimo’’, comemora Giro. Ele lembra que a obra custou cerca de 19 milhões de euros (incluem escavações no próprio Circo Massimo e no Colle Oppio, outros dois importantes centros históricos que passam por reformas). O financiamento dos trabalhos veio de fontes públicas e privadas. As vestais foram escolhidas ao longo dos séculos por somente cinco famílias patrícias romanas, que ainda formavam uma base de 20 crianças do sexo feminino, de 6 a 10 anos, para que essas substituíssem as vestais oficiais quando estas cumprissem os 30 anos de duração dos serviços prestados à Roma. O átrio aberto à visitações era a parte da casa onde as vestais passavam a maior parte do dia, apesar de
Público visita a Casa das Vestais após sua reabertura
serem cidadãs livres e poderem caminhar na rua quando quisessem. A casa, no entanto, era inviolável – tinha acesso a ela somente o Pontifício Máximo, espécie de “papa” das religiões pagãs romanas. O mais célebre a ocupar o cargo foi o próprio Giulio Cesare antes de se tornar imperador. As vestais tinham privilégios que poucos cidadãos romanos possuíam, menos ainda as mulheres: eram mantidas pelo Estado, únicas romanas que podiam fazer testamento, testemunhar na Justiça sem fazer qualquer tipo de juramento. Até mesmo os estandartes consulares, símbolos de Roma, eram arriados quando uma vestal passava por eles. Em troca das benesses, deveriam manter aceso o fogo e conservar a virgindade por 30 anos, quando eram então livres para deixar o templo. Deslizes não eram tolerados: caso perdesse a virgindade, uma vestal era obrigatoriamente assassinada de modo cruel: eram amarradas, vestidas com roupas fúnebres e trancadas dentro de uma sepultura com uma pequena lamparina e um fio de comida. Morriam por inanição. A maior parte das estátuas das vestais que decoravam o templo se perderam ao longo dos séculos, mas algumas ainda podem ser vistas no local, colocadas em ordem aleatória, pois não foi possível saber ainda hoje como eram dispostas na época antiga.
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ItalianStyle Confira algumas novidades das maison italianas do design apresentadas na última edição da feira Maison et Objetc, que ocorreu em Paris em meados de fevereiro.
Le soleil
Fotos: Divulgação
Com design do espanhol Vicente Garcia Jimenez, esta lâmpada suspensa, graças a um policarbonato especial do qual é feita, cria um efeito luminoso difuso sobre o chão e feixes de luz para o alto. As bordas irregulares criam formas diferentes de acordo com o ponto de vista do observador. Disponível em três cores. Preço sob consulta. www.foscarini.it
Cosmic Landscape Lâmpada na versão de mesa do designer Ross Lovegrove. “A ideia foi criar uma espuma de luz tridimensional”. Também na versão de chão e suspensa. Preço sob consulta. www.artemide.com
Shaula
Verger sobre a mesa
O projeto do designer francês Jean-Michel Willemotte, especial para Fratelli Guzzini e intitulado “Un Verger sur la Table’, foi apresentado em Paris e foi projetado para ter uma fruta para cada pote de plástico, que com a sua forma para servir a fruta, lembra uma árvore frutífera natural. Preço sob consulta. www.fratelliguzzini.com
Com design de Stefano Marcato especial para Nasonmoretti, estas lâmpadas de mesa são feitas com vidro de Murano e visam exaltar e mostrar uma face mais moderna deste tradicional vidro italiano. Produto com 18cm de altura e disponível em diversas cores. Preço sob consulta. www.nasonmoretti.com 70
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IlLettoreRacconta
“T
ão importante quanto viver intensamente o seu presente, é conhecer bem o seu passado para que ele não se perca no seu futuro!”. Não encontrei frase melhor que esta para
iniciar este resumo da história de meus avós, que assim como milhares de outros imigrantes, por força do destino, cruzaram o oceano e criaram raízes no Brasil. Nascido em 1918, em Capograssi, província de Salerno, Sul da Itália, meu avó Ernesto Sevo cresceu em meio a festas e músicas, regadas a bandolim, instrumento que toca até hoje, aos 92 anos. Em 1936, se alistou no exército. Foi servir na guerra em 1939 e acabou sendo enviado para a França, um fato lamentado por todos. Mas, se não fosse isso, não teria tido a sorte de encontrar Pauline Maraninchi – uma jovem francesa, nascida em Toulon, que passou grande parte da infância na Ernesto (soldado) e Córsega, até a guerra começar – com a qual começou Pauline (Comunhão) a namorar, inicialmente escondido, pelo fato de não serem da mesma terra e, para a família dela, ele ser considerado inimigo. Foi amor à primeira vista, acontecido numa rua de Paris, e nenhum dos dois fazia ideia que logo teriam de escolher entre ficar juntos enfrentando a resistência dos pais dela, ou sair do país, tendo maior liberdade para prosseguir com o único fato agradável que a guerra parecia ter proporcionado. E assim aconteceu. Uma trajetória que se oficializou em 1945, ainda na França mas que, na tentativa de escapar de alguma possível prisão, por ser considerado inimigo da nação, meu avô mentiu em seus dados de origem. Se, por um lado, isto facilitou para regularizar sua relação com minha avó, também dificultou a sua situação quando foi convocado para uma suposta troca de documentos, que acarretou em sua prisão e maior complicação. Daí em diante foi campo de concentração, uma inventada operação que ele simulou para evitar a prisão, a chegada dos americanos aumentando a tensão e minha
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avó mudando seu ritmo de vida para ajudar o marido escapar, em tentativas frustradas que se estenderam até o fim da guerra e abriram uma grande possibilidade de mudança de país para começarem a viver uma nova vida. Uma vida iniciada junto à reconstrução das cidades, à procura por familiares que sumiram naqueles momentos, colhendo as tristes notícias de mortes e as alegrias do nascimento dos dois primeiros filhos (Henri e Marie Josè), somado aos preparativos para ir à Itália já em 1948. Chegaram à Itália em meio a festas dos parentes de meu avô e tiveram uma fácil adaptação. Local onde não ficaram por muito tempo, pois um irmão de meu avô que já estava no Brasil, fez um convite ao casal para vir para cá, pois o país oferecia boas oportunidades de trabalho para quem acabara de passar por uma guerra e estava arrasado. O que não era o caso deles. Mesmo assim, vieram em 1951 e por conta da terceira gravidez, Pauline passou muito mal na viagem de navio, aumentando o pressentimento de que não havia tomado a decisão certa. A primeira visão do Brasil não foi boa, chegando ao porto sob um tempo muito ruim, mas com a esperança que tudo iria melhorar. Promessas não cumpridas, assim como as impressões que não mudaram e só pioraram. Com a difícil adaptação, mesmo com a chegada do novo filho (João ErFernando nesto) e as novas preocupações com o não cumprimento da palavra por partes dos parentes, enquanto iam dando um jeito de sobreviver no bairro do Belenzinho, plantando uma árvore, vendo a mesma, e os filhos, crescerem e a distância da Itália separada pelo Atlântico, ainda mais aumentar. O casal adquiriu um bar. A vontade de voltar para a França ou mesmo a Itália só aumentava e não fosse a ajuda de alguns amigos encontrados por aqui, teria sido difícil suportar. Até que um dia, em 1978, Pauline voltou para rever a família, Ernesto, por opção, nunca mais, e na volta da esposa, a vida seguiu até os dias de hoje, passando por momentos bons e ruins. A morte de familiares, incluindo a de um filho, só serviu para mostrar que “a vida na época da guerra não foi tão ruim assim!” E não fosse a chegada dos netos, a visita de alguns parentes de lá para cá, a minha ida até a Itália (por duas vezes) para estreitar os laços e as lembranças maravilhosas daquilo que passou, tudo poderia ter ficado ainda pior. Usando o conceito da frase inicial deste texto, resolvi eternizar a história de meus avós. “Uma árvore, três filhos e um livro” é o título da obra que conta a história real de um amor nascido em meio a Segunda Guerra, numa narrativa, sem cortes, de momentos alegres e sofridos, que se assemelha a biografia de muitos imigrantes que partiram pelo mundo, levando a eterna saudade do lugar aonde nasceram e passaram os melhores momentos de suas vidas. Eu acabei fazendo minha cidadania francesa, pois a italiana é muito demorada. Já estive por duas vezes na Itália, lugar pelo qual tenho uma forte ligação e espero morar um dia, por algum tempo, por considerar um lugar divinamente iluminado. Fernando Ferrari, Belenzinho, São Paulo Mande sua história com material fotográfico para: redacao@comunitaitaliana.com.br
Capograssi
saporid’italia
RobsonBer tolino
Marcante Quem frequenta o Il Nuovo Sogno di Anarello é atendido por um “Cavaliere” que inspirou novelas e deu nome à própria rua do restaurante
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ão Paulo - Um dos responsáveis por definir a gastronomia tradicional da Itália no país, o chef Giovanni Bruno está à frente de quase toda a genealogia dos restaurantes da capital paulista. Sob a sua batuta, está o já adulto Il Nuovo Sogno di Anarello, um charmoso e tradicional restaurante localizado no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. Desde que chegou ao Brasil, em 1954, vindo do comune de Casalbuono, Salerno, Giovanni não parou de produzir e de ter boas ideias. Começou como lavador de pratos no Gigetto e, desde então, idealizou alguns projetos que foram sucesso de crítica e público. Toda essa dedicação e carinho foram reconhecidos. Giovanni ostenta nas paredes de seu agradável restaurante, diversos quadros com fotos e saudações de clientes encantados com a qualidade de sua comida e a cortesia no atendimento. Alguns desses quadros chamam a atenção do frequentador, como o título de cidadão honorário da cidade de São Paulo e o título de “cavalieri” concedido pelo governo da Itália aos cidadãos que divulgam a cultura italiana ao redor do mundo. Giovanni se assume um homem de “sala”, com fortíssimo amor pela cozinha e paixão pela cidade de São Paulo, que o “acolheu como uma mãe”, como gosta de dizer. Criativo e empreendedor, ele foi um dos responsáveis por popularizar vários pratos tipicamente italianos, como o cappelletti à romanesca, que foi introduzido no Gigetto, na década de 1950. — A intenção era agradar a um cliente que havia voltado da Itália e tinha comido algo semelhante por lá. Romanesca é inspirado no fettucine à parisiense, feito com creme de leite, presunto cozido, manteiga e champignons — conta ele — A gastronomia em São Paulo mudou muito nos últimos anos. Na cidade é possível encontrar restaurantes de nível internacional. Já não é preciso ir à Itália para fazer uma boa refeição.
Giovanni Bruno, dono do restaurante Il Nuovo Sogno di Anarello, com sua famosa receita “Cappelletti alla Romanesca”
Receita do Cappelletti alla Romanesca Porção para quatro pessoas
Ingredientes: 1 pacote de cappelletti fresco ou seco; 150 g de manteiga sem sal; 250g de ervilhas; 150 g de presunto cortado em cubo; 150 g de champignons fatiados; 250 g de creme de leite; 50 g de queijo parmesão; 50 g de provolone; 50 g de mussarela fresca. Modo de preparo: Ferva, numa panela grande, a água com uma pitada de sal grosso. Em seguida, adicione o cappelletti e deixe cozinhar por até 6 minutos, dependendo do tipo da massa. Em uma frigideira, derrete-se a manteiga, adiciona o creme de leite (não ferver), em seguida, o presunto em cubos, os champignons picados e os queijos ralados. Mexa entre 3 e 5 minutos. Por final, adicione o cappelletti, já cozido na frigideira, e cozinhe por mais alguns minutos. Tempere com sal de acordo com o gosto. O chef é uma espécie de faz tudo do restaurante. Ele recebe a maior parte dos clientes na porta, anota os pedidos, sugere pratos e vinhos e, se tiver inspirado, dá uma canja cantando a música Champagne, de Peppino di Capri. — O nome do restaurante vem de um apelido que o diretor de teatro, Antunes Filho, me deu. No filme “A Rosa Tatuada” havia um personagem com o nome de Anarello. Minha história já serviu de inspiração para personagens de novelas, como “Os Imigrantes (1982)” e “Vida nova (1988)”, além de programas de televisão e reportagens de jornais e revistas. A experiência que Giovanni imprime em seu atendimento e qualidade dos pratos faz escola. Seu primeiro negócio no ramo foi na Cantina do Júlio, onde tinha outros três sócios. Em seguida, veio um restaurante da rua 13 de Maio, que pegou fogo, logo depois criou o Giovanni Bruno, da rua Martinho Prado, que existe até hoje. “Também tive outros restaurantes na cidade, sempre de cozinha italiana tradicional”. Com mais de 25 anos em atividade o Il Nuovo Sogno di Anarello, fica na rua homônima (homenagem do ex-prefeito Jânio Quadros) e funciona somente à noite e nos dias de semana. — Procuro agradar a todos, de acordo com o que os clientes quiserem comer. A intenção é que todos se sintam integrados à nossa família — diz. Serviço: Rua Sogno di Anarello, 58 - Vila Mariana, SP Tel.: 11 5575-4266
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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro
Rieti, umbigo da Itália
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ocê sabe exatamente onde fica o centro da Itália? Ora, elementar, meu caro Watson. Na simpática cidadezinha de Rieti, famosa também pela sua montanha nos arredores, o monte Terminillo, cujo cume fica branquinho no inverno e que é um ótimo lugar para esquiar. Fazia parte do território onde morava o antigo povo dos sabinos. Rieti fica a uns 70 km a nordeste de Roma, pegando a antiga Via Salaria. Na graciosa praça de San Rufo, há um monumento em mármore que diz “Umbilicus Italiae”, o centro geográfico do bel paese, de acordo com a tradição. Até o grande poeta Virgilio havia feito tal afirmação sobre Rieti em seu poema épico, Eneide.
Coelhinho da Páscoa que trazes pra mim?
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atale con i tuoi, Pasqua con chi vuoi. Assim diz o ditado italiano. Ou seja, o Natal deve ser passado com a família e a Páscoa com quem você bem entender. O provérbio tem suas razões. Afinal, a Páscoa, no hemisfério norte, cai na primavera. É o momento perfeito para fazer um passeio bate e volta num lugar fora da cidade, como manda a tradição, a famosa scampagnata. Enquanto no Brasil o feriado é na sexta-feira, a SextaFeira Santa, dia da Paixão, Crucificação e morte de Cristo, na Itália o dia do feriado é na segunda-feira, chamada Lunedì dell’Angelo. Não é nem o dia da morte de Cristo, nem da Última Ceia, nem da Ressurreição, mas o dia em que um anjo, do sepulcro vazio, dirige a primeira mensagem às mulheres que ali chegam para completar a sepultura do corpo de Jesus. Ele diz a elas: «Não vos assusteis!».… «Buscais a Jesus de Nazaré, o Crucificado Ressuscitou, não está aqui» (Mc. 16, 6) Apesar de ser um feriado teoricamente religioso, na prática é um momento de fazer um passeio ao ar livre e
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aproveitar o primeiro feriado primaveril. E nada como o bom e velho amigo piquenique. Geralmente o menu do piquenique pode ser igual ao do domingo de Páscoa: Pizza di Pasqua, que é um pão em forma de panettone, mas que pode ser salgado com gosto de queijo ou doce; corallina, uma espécie de salame; ovos cozidos. E acrescente o que a gulodice sugerir. E para finalizar, a famosa Colomba, “prima” do panettone. Pena que, em março - inicio de abril, o tempo ainda é incerto e, às vezes, o piquenique acaba sendo Déjeuner sur l’herbe mouillée, um almoço na grama molhada. Mas quem sai na chuva é pra se molhar. Outra diferença cultural: no Brasil, os ovos de Páscoa vêm recheados com bombons. O chocolate da “casca” do ovo pode ser bom, mas o melhor é o que tem dentro. A Kopenhagen, sempre presente nos meus sonhos gulosos, recheia os ovos até com marshmallow, afinal, já que é para engordar, que seja em alto estilo. Na Itália, o ovo pode ser gigante, de meio metro de circunferência, mas não vem com nenhum bombom dentro. Vem com uma “surpresa”, que é uma lembrancinha: um porta chave, um soldadinho de chumbo, uma miniatura de dinossauro de plástico. Sinceramente, prefiro uma dúzia de chocolatinhos. Existe também o costume, hoje mais raro, da parte de homens galantes (em fase de extinção), de colocar uma jóia dentro do ovo. Um amigo me contou que, uma vez, seu primo tinha dado um chocolate para a namorada com um anel de ouro dentro. Ela não abriu imediatamente e ele quis deixar a surpresa para ela descobrir depois. Quando ele foi embora, ela, que não gostava de chocolate amargo, deu o ovo para o sobrinho. Que ao abrir secretamente, achou um anel pouco interessante e o jogou no lixo. E comeu o chocolate. O anel foi pras cucuias e me parece, o namoro também. Quem mandou não gostar de chocolate amargo?
Como seria bom se a natureza tivesse mais verde e a cidade tivesse mais vida, com menos poluição e congestionamentos. Andar de ônibus ajuda a diminuir a emissão de poluentes nocivos à saúde, promove a redução de veículos nas ruas e rodovias e estimula a harmonia na sociedade. Andar de ônibus é bom, seguro e confortável. É bom para todos, inclusive você! Come sarebbe bello se la natura avesse più verde e la città più vita, con meno inquinamento e ingorghi. Spostarsi in autobus aiuta a diminuire l’emissione di sostanze inquinanti nocive alla salute, promuove la riduzione di veicoli nelle strade e autostrade e stimola l’armonia nella società. Spostarsi in autobus è buono, sicuro e comodo. È buono per tutti, compreso te!
AV V I C I N A N D O
P E R S O N E
w w w. m a r c o p o l o . c o m . b r