Revista Comunità Italiana Edição 160

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Turismo A nova classe C brasileira conquista operadoras italianas

Guia Itália lança dossiê para empresários investirem no Brasil

QUEDA Berlusconi e a crise europeia: os passos para salvar a zona www.comunitaitaliana.com

Rio de Janeiro, novembro de 2011

Ano XVIII – Nº 160

As turbulências na economia italiana não assustam o empresariado brasileiro que vê boas oportunidades de cooperação em evento com líderes de grandes companhias em Roma

ISSN 1676-3220

R 7,00 R$ 11,90

Meta real Franco Bernabè: “a Itália é bode expiatório do mercado”




N o v e mbro de 2011

Ano XVIII

Nº160

Nossos colunistas 07 | Cose Nostre Presidente da TIM Brasil Luca Luciani recebeu homenagem no Consulado do Rio por sua gestão frente à companhia telefônica

10 | Fabio Porta Come e perché la riorganizzazione del sistema di welfare states su nuove basi può divenire un volano per lo sviluppo del Paese

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11 | Ezio Maranesi Secessione: può piacere ma restiamo con i piedi per terra

Exposição de pinturas e esculturas da artista plástica ítalo-brasileira Maria Bonomi abre agenda do Momento Itália-Brasil na Capital Federal e vai até janeiro

31 | Guilherme Aquino Os cortes orçamentários reduzem o número de visitas guiadas das crianças a museus italianos

CAPA

Economia

32 | Abre alas que eu quero passar

16 | Câmaras de Comércio Uma

52 | Giordano Iapalucci La stagione

Industriais italianos tiram o chapéu para a comitiva de empresários brasileiros durante meeting histórico em Roma. Oportunidade é única no momento em que o Brasil ascende no cenário da economia mundial e a Itália aposta nas exportações para sair da crise

Nápoles renovada recebeu representantes do comércio italiano em todo o mundo para discutir o turismo como forma de desenvolvimento

autunalle fiorentina si riconferma con i 50 giorni di Cinema Internazionale fino al 9 dicembre

Atualidade 18 | A saída anunciada O governo do premier Silvio Berlusconi naufraga na tempestade da zona do euro que já derrubou vários chefes de Estado europeus

Economia 12 | Euro em risco O presidente da Telecom Italia Franco Barnabè analisa a crise europeia e elogia a redução da taxa de juros, mas chama o BCE de “impotente”. Na Itália, 30 empresas decretam falência por mês

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Momento Itália-Brasil

42 | Ensaio sobre a Beleza Espetáculo de Valerio Festi inaugura agenda do MIB no Rio e faz história na Cinelândia

46 | Arquitetura Seminário internacional ressalta os projetos de italianos que mudaram para sempre a paisagem brasileira, como Lina Bo Bardi e Antonio Jannuzzi

48 | Quadrinhos Evento Rio Comicon atrai fãs da personagem Valentina, do italiano Guido Crepax

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Meio Ambiente

22 | Turismo sustentável O primeiro congresso italiano de turismo ambiental ressalta os roteiros que valorizam a natureza, o meio ambiente e o ciclismo em regiões como Ancona, Sicília, Puglia e Basilicata

62 | Claudia Monteiro De Castro Tem trattorie para todos os gostos nos vários vilarejos da Puglia, do sofisticado ao caseiro e simples

26 | Missão Comitiva do Sebrae visita centros italianos de tecnologia verde em Milão, Marche e Pesaro em busca de projetos de cooperação Cinema 56 | Dario Argento Mestre italiano do terror recebe homenagem no CCBB e conta os segredos de seus filmes ao público carioca

57 | Crialese Diretor de Terraferma esteve no Rio mais uma vez e diz que não nutre expectativas quanto ao Oscar, ao qual seu longa concorre com o brasileiro Tropa de Elite 2

51 | Italian Style A máquina de café expresso mais luxuosa do mercado se chama X1, prepara café aromático e custa 499 euros


Rio de Janeiro | Consulado Geral da Itália Av. Presidente Antonio Carlos, 40 – Sala Roma 2° andar – 12 a 20 de novembro de 2011 Exposição: 10 artistas brasileiros expõem suas obras inspiradas na Itália. André Filur Antonio Peticov Caciporé Torres Claudio Tozzi Ding Musa

Franco Cava Hô Monteiro Rodrigo Erib Zélio Alves Pinto Ziraldo Alves Pinto

Mostra fotográfica: “Analogias” de Salvino Campos.

“Cupido”, século XVI. Pela primeira vez no Brasil, a expressiva escultura do renomado Guglielmo della Porta, discípulo de Michelangelo.

Paisagens deslumbrantes, cultura, gastronomia, música, moda, design. O turismo da Itália vai conquistar você. Apoio:

MoMento artístico cultural. aberto ao público. entrada gratuita.

confira a programação do evento no site: www.italiacomestoyou.com


Editorial

Expediente

Fundada

Novo técnico

Q

uando Silvio Berlusconi deixou oficialmente seu posto em 12 de novembro, teve quem o aplaudisse e quem o xingasse. Teve quem ainda o elogiasse no edifício de Montecitorio, sede da Câmara dos Deputados, à tarde, e teve quem arremessasse um sapato contra seu carro oficial na saída do Palazzo Quirinale, residência do presidente da República, à noite. Como uma vitória de time de futebol, milhares foram à via do Plebiscito, do sábado à madrugada de domingo, em frente ao Palazzo Grazioli, ex-morada do premier, comemorar o fim do presidente do Milan e ex-presidente do Conselho dos Ministros, entoando coros de “maiale, in galera”, “vergogna/vergogna”, “Bella ciao”, “bunga/bunga”. Moedas de 10 e 20 centavos foram arremessadas em direção ao portão do cavaliere. Assim, após 1.283 dias de governo, se acaba a era berlusconiana. Somadas a sua primeira legislatura (de 2001 a 2005) a esta que se finda, foram 3.336 dias de poder. Os dois mais longos executivos do pós-guerra. Uma derrota não imposta pelas urnas, onde Berlusconi sempre teve grande consenso em 17 anos de idas e vindas, mas pela crise internacional e pela debilidade em conduzir o país diante de uma turbulência econômica e administrativa. Mas agora é hora de uma solidariedade nacional, um máximo esforço de unidade, de encontrar denominadores comuns entre adversários políticos para percorrer juntos uma estrada que mostre ao mundo o potencial italiano. Não é admissível que sejam os banqueiros a controlar o destino deste povo. Certo é que se chegou a este ponto pela Pietro Petraglia orquestração de especuladores. Como certo é que se deixou Editor acontecer. Como um navio à deriva o débito público aumentava sem nenhuma reforma. Como numa pelada entre amigos só entravam no jogo os mais chegados e, principalmente, as mais chegadas, sem preocupação com méritos. E o empreendedor-premier, marcado pelos escândalos sexuais, se perdeu no campo que lhe era mais fértil e badalado: o da economia e suas relações com o mundo empresarial. Um paradoxo que custa caro aos 60 milhões de italianos dentro do território e outros tantos milhões no exterior. É hora de seriedade e retomada de valores fundamentais para que a Itália dê uma guinada e supere este estágio com a arte e o gosto pelo trabalho que lhe é característica. Graças ao presidente da República, Giorgio Napolitano, o timão da embarcação foi retomado e não vemos um afundamento catastrófico. A partir de agora teremos o governo técnico do neo-empossado primeiro ministro Mario Monti. Nascido em Varese, em 19 de março de 1943, se formou pela Bocconi em 1965, onde hoje é presidente. Considerado um dos mais importantes economistas italianos, foi indicado pelo próprio Berlusconi como comissário europeu em 1994 e depois reconfirmado pelo governo de centro-esquerda de Massimo D’Alema. Sob sua direção, a Comissão européia impôs uma multa de 497 milhões de euros contra a Microsoft por violação de norma antitrust. Ele é considerado o nome ideal pela Europa porque defende o bloco e a Itália em acordo com os princípios do mercado comum europeu. Agora, esperamos para saber se ficará até o fim desta legislatura, em 2013, ou se teremos eleições antecipadas na primavera italiana de 2012. Mas uma coisa é certa, Monti dá fôlego à Europa. Boa leitura!

em

março

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1994

Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 11/11/2011 às 11:30h Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Leandro Demori; Cíntia Salomão Castro; Nathielle Hó Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Divulgação Colaboradores: Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Leandro Demori (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Lisomar Silva (Roma); Quintino Di Vona (Salerno); Robson Bertolino (São Paulo); Stefania Pelusi (Brasília); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Gianfranco Coppola (Nápoles) Publicidade: Osvaldo Requião Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 Cel: (21) 9483-2399 orequiao@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 didimo.effgen@uol.com.br Brasília - ZMC Representações Zélia Corrêa Tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061 e-mail:zeliacorrea@gmail.com Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.

La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220

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de


cosenostre Julio Vanni

Capixabas em Verona ma delegação de políticos e empresários do Espírito San-

U

to aportou na cidade de Verona e realizou uma série de visitas a empresas da região em outubro. O grupo — do qual faziam parte os secretários estaduais de Desenvolvimento, Márcio Félix Carvalho Bezerra, e o de Agricultura, Enio Bergoli da Costa — visitou o Consorzio Zai, o Veronamercato, a Confcommercio e sociedades veronesi que se ocupam de agricultura, energias alternativas e turismo. A iniciativa é fruto de um acordo entre a associação de empresários e profissionais de Verona, a Assimp, e o grupo Espírito Santo em Ação, organização fundada por empresários capixabas pelo desenvolvimento do estado. O Vêneto, região onde fica Verona, é a origem da maior parte dos ítalo-brasileiros que vivem hoje no Espírito Santo.

Horizonte às páginas brasileiras

A

Fundação Biblioteca Nacional anunciou um programa de internacionalização do livro brasileiro. O conjunto de iniciativas prevê bolsas de tradução, criação de programas de residência de tradutores estrangeiros no Brasil e intercâmbios de escritores brasileiros para que possam lançar livros e participar de eventos em outros países. Em 2012, começa o programa de apoio à publicação de livros brasileiros na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Além disso, a cada ano, também devem sair edições especiais em idiomas como italiano, alemão, chinês e japonês. Por causa da homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt em 2013, o primeiro será o alemão.

Ganha e manda

Um século dearaCircolo comemorar um

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iante do crescimento da imigração de estrangeiros no Brasil, um ramo da economia, que já teve seu boom nos continentes europeu e norte-americano, começa a se expandir no país: o das remessas em dólares. Em dez anos, o envio de dinheiro para as famílias em outros países saltou de US$ 169,5 para US$ 855,4 milhões em 2010. Enquanto isso, o fluxo inverso se retrai: as remessas dos brazucas para suas famílias estão em queda desde 2006.

As negócios estrangeiros que

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vieram ao Brasil a negócios, em 2010, deixaram no país cerca de US$ 120,00 por dia. Foi o maior gasto médio per capita registrado desde 2004, revelou o Ministério do Turismo. O segundo grupo que mais gerou receitas para o país no ano passado foi o de turistas de lazer, com média diária de US$ 70,53. O estudo, realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mostra que, mesmo ficando em segundo lugar no número de visitantes, o turista de negócios gasta mais do que o de lazer.

P E

m comemoração aos 35 anos da Fiat no Brasil, a montadora trouxe ao público brasileiro um megaevento com diversas atividades culturais. A grande atração ficou por conta do tenor Andrea Bocelli, que fez um concerto gratuito no dia 6 de novembro na Praça da Estação, em Belo Horizonte (MG). A Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico do estado acompanharam o ícone da música internacional, sob regência do maestro norte-americano Eugene Kohn num grande concerto ao ar livre. No repertório, árias de ópera e canções italianas, inclusive Con Te Partirò, cantada por Bocelli ao lado do coral dos meninos do Árvore da Vida, programa de responsabilidade social impulsionado pela Fiat em Betim. Minas foi escolhida por abrigar a sede da fábrica desde 1976, que contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento econômico e social do estado.

Floresta no céu

D

uas torres que estão sendo construídas em Milão terão uma “floresta no céu”. Os 27 andares das torres de cerca de 110 e 80 metros de altura vão abrigar uma floresta de um hectare. Quando estiverem concluídos, segundo o projeto, os dois prédios exibirão 730 árvores, 5 mil arbustos e 11 mil plantas. As torres foram projetadas pelo arquiteto Stefano Boeri.

século de existência da entidade criada para preservar os costumes da pátria de origem, acaba de ser lançado o livro Circolo Italiano — 100 Anni — 1911/2011. A obra conta a sua história por meio de documentos, fotos e depoimentos de dirigentes e sócios ilustres. A festa do lançamento reuniu diplomatas e personalidades, como o secretário estadual de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazze, em um jantar italiano no Edifício Itália, sede do Circolo, em 30 de outubro.

Luciani é reconhecido Instituto Dante Alighieri de Friburgo homena-

O

geou o presidente da TIM Brasil, Luca Luciani, no Consulado Geral da Itália, no centro do Rio de Janeiro, no dia 15 de outubro. Diante do embaixador Gherardo La Francesca, do cônsul Mario Panaro e do presidente da Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira, Pietro Petraglia, Luciani recebeu, das mãos do diretor do Instituto, Giuseppe Arnò, uma placa de reconhecimento pelo seu trabalho frente à companhia telefônica. O executivo ressaltou que, embora seja dirigida por um italiano, a empresa é brasileira e destacou números importantes do crescimento da Tim no Brasil. Na ocasião, o embaixador La Francesca presenteou Luciani com um broche oficial do Momento Itália-Brasil.

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Opinião enquetes

frases

O governo Dilma endureceu a política contra grevistas. Você apoia essa posição?

“Não me façam perguntas de cabeleireiros, por favor!”,

Sim - 44,4% Não - 55,6% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/10/11 a 09/10/11.

O Brasil vai superar no Pan de Guadalajara as 52 medalhas que conquistou no Pan Rio-2007?

Sim - 45,5% Não - 54,5% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/10/11 a 15/10/11.

Você pretende participar dos eventos do Momento Itália-Brasil?

Sim - 93,3% Não - 6,7% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/10/11 a 22/10/11.

no celular

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“Terceira economia da Europa, talvez a sétima ou oitava do mundo e tem uma grande tradição de empreendedores”, Nicolas Sarkozy, presidente francês ao se referir à Itália durante a Cúpula do G20, quando foram comentados os pacotes econômicos propostos por Berlusconi que serão aplicados para equilibrar as contas públicas italianas

Monica Bellucci, atriz e modelo italiana, ao responder ao jornalista que lhe perguntou se achava Carla Bruni simpática, durante coletiva de imprensa, em outubro, em Roma

“Não é possível acabar com as reformas da antiguidade. Temos um sistema de pensões melhor que o francês e o alemão”,

“A Itália não sente a crise, os restaurantes estão cheios”,

Umberto Bossi, líder da Liga Norte, partido aliado ao governante Povo da Liberdade (PDL), que mantevese neutro sobre a posição do seu partido com relação a alteração do regime de pensões em vigor

Silvio Berlusconi, premiê italiano, durante coletiva de imprensa realizada em Cannes, depois da reunião do G20, em 4 de novembro

“Os preços, os custos e as pressões sobre os salários deveriam moderar na zona do euro. A decisão de hoje leva em conta isto”,

“É um parlamento constituído por pessoas que são ‘nomeadas’ pelos secretários dos partidos e, por isso, não existe autonomia. Por esse motivo, os cidadãos têm consciência que é necessário, mas não suficiente, que Berlusconi deixe o poder”,

Mario Draghi, economista italiano, atual presidente do Banco Central Europeu, na coletiva de imprensa em que anunciou o corte na taxa de juros na zona do euro de 1,5% para 1,25%, em novembro

Emma Bonino, ex-comissária europeia e figura de proa do Partido Democrático italiano, em crítica ao parlamento italiano

“Considero o sonho de resolver todos os problemas da União Europeia impossível”,

“Foi para o último, não para esse nazista que temos agora”, Susan Sarandon, atriz americana, ao esclarecer que presenteou o papa João Paulo II, e não o papa Bento XVI, com o livro Os últimos passos de um homem. A obra da freira Helen Prejean contra a pena de morte foi adaptada para o cinema e teve Susan como protagonista

Angela Merkel, chanceler alemã, mostrando pessimismo diante da crise que assola a Europa

cartas

“A

cobertura do jantar no Copacabana Palace está de parabéns! A reunião de autoridades e empresas brasileiras e italianas reflete a relação de amizade e confiança entre os dois países. Fiquei feliz pelo Rio ter sediado esse importante evento! Carlos Pereira, Rio de Janeiro – RJ – por e-mail

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“P

arabéns pela matéria sobre bicicletas elétricas! O trabalho de divulgação, conscientização e de preservação do planeta através de transportes alternativos são sempre importantes. Tomara que essa moda eco-sustentável pegue aqui no Brasil também. Ana Paula Machado, São Paulo – SP – por e-mail


Serviço agenda Três em um A edição deste ano da Casa Cor Trio começou no dia 7 de novembro no Jockey Club de São Paulo, com o tema ‘Trabalhar. Saborear. Celebrar.’. O evento, que vai até 4 de dezembro, engloba três mostras simultâneas: Casa Boa Mesa, Casa

do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro e conta com 77 obras que exploram a paisagem urbana, numa investigação sobre a contínua transformação da cidade. Basilico tem formação em arquitetura e por isso mesmo incorpora em suas obras a sensibilidade de formas, traços e espaços. Sempre com fotografias em preto-e-branco, ele retrata estruturas de concreto. www.oifuturo.org.br

Office e Casa Festa. Os cerca de 40 ambientes estão distribuídos em 33 mil m² de área e são ornamentados pelos principais profissionais de arquitetura e decoração do país. No ano em que se comemora o Momento Itália-Brasil, a Casa Cor Trio presta homenagem ao país europeu. www.casacor.com.br

feira, os visitantes poderão apreciar comidas típicas e apresentações de grupos de danças folclóricas. Poderão também comprar artigos de decoração e de uso pessoal de diversos países. A renda obtida no evento é revertida para o financiamento de projetos sociais realizados pelo Banco da Providência. www.feiradaprovidencia.org.br

Feira da Providência 2011 O evento chega à sua 51a edição e acontece no Riocentro de 30 de novembro até 4 de dezembro. Tem como lema “Venha se divertir com a gente”. Entre as atrações da

Mostra fotográfica Gabriele Basilico A mostra de fotografia de Gabriele Basilico será realizada na Oi Futuro Flamengo, de 7 de novembro a 8 de dezembro. A exposição tem o apoio

Bienal de Arquitetura A 9ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, que acontece de 2 de novembro a 4 de dezembro, conta com vários pavilhões, dentre eles o da Itália. O evento é realizado no prédio da Oca, no Parque do Ibirapuera. Sob o tema “Arquitetura

naestante

para todos construindo cidadania”, os organizadores pretendem realizar uma exposição voltada para o grande público não especializado. www.iabrj.org.br Eliseu Visconti A exposição Eliseu Visconti, a Invenção da Modernidade acontece de 26 de novembro a 26 de fevereiro de 2012, na Pinacoteca de São Paulo, Praça da Luz. O público vai poder conferir obras feitas ao longo dos 60 anos de carreira do pintor. Visconti é muito conhecido por seus retratos e foi o responsável por introduzir o impressionismo europeu na arte brasileira. www.pinacoteca.org.br

clickdoleitor

Coração O livro do autor Edmondo de Amicis ganha nova edição e tradução de Nilson Moulin, notas explicativas das passagens históricas e um posfácio exclusivo do italiano Antonio Faeti. Publicado em 1886, a obra narra a passagem da infância para a adolescência de garotos ricos e pobres, vindos de todas as partes da Itália que se deparam com novas e complexas experiências de vida. Símbolo da Unificação italiana – que completa 150 anos em 2011 – o romance com temática escolar está à altura dos grandes clássicos da literatura universal. Cosac Naify, 352 páginas, R$40,00.

Arquivo pessoal

A Virada Estratégica da Fiat no Brasil Betânia Tanure descreve e analisa a estratégia utilizada por Belini, presidente da Fiat, para a reestruturação da empresa no momento de crise. A autora aborda no livro o conceito de liderança transformadora, personificada por Belini. A teoria concebe o líder como peça fundamental dentro da empresa, capaz de gerar confiança e obter resultados com o engajamento de todos por uma causa comum. A história de sucesso da empresa é contada através de depoimentos e dados fornecidos pelo personagem principal. Editora Campus Elsevier, 208 páginas, R$ 45,00.

“F

ui à Itália a passeio, acompanhando meu pai que estava a trabalho. Uma das cidades que mais me chamaram atenção foi Roma, por ser medieval, clássica, contemporânea, cosmopolita e cristã, tudo ao mesmo tempo. O Coliseu é um museu a céu aberto! Roma é para mim “la città più bella del mondo”. Larissa Cavalca Mathias Niterói, RJ — por e-mail

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opinione FabioPor ta

Organizziamo l’altruismo! Come e perché la riorganizzazione del sistema di “welfare state” su nuove basi può divenire un volano per lo sviluppo del Paese

P

oche settimane fa sono stato invitato ad una tavola rotonda dal titolo suggestivo: “Organizzare l’altruismo”. Il dibattito si svolgeva a Caltagirone, la mia città natale, e oltre al sottoscritto e ad altri politici vi partecipava il Senatore Treu, autore insieme al collega Ceruti dell’omonimo libro, pubblicato nel 2010 in Italia dalla casa editrice Laterza. Il tema mi stimolava, forse perché nel corso dei miei trenta anni di vita associativa, sindacale e politica ho provato a mettere in pratica quello slogan, apparentementecontraddittorio ma sicuramente affascinante. “Organizzare l’altruismo” ha voluto dire per me mettere sempre gli “altri” al centro del mio impegno, del mio lavoro. L’ho fatto quando ero un giovane ‘scout’, prima, e un dirigente dell’Azione Cattolica, poi; l’ho fatto quando ho scelto di studiare sociologia e di impegnarmi in tal senso nel sindacato; l’ho fatto, infine, nella mia lunga esperienza politica, iniziata proprio a Caltagirone nei giovani socialisti e culminata in Brasile con la militanza nei Democratici di Sinistra prima e nel Partito Democratico poi.

Un esempio di altruismo intelligente possono essere le politiche a favore degli stranieri in Italia e degli italiani nel mondo 10

Ma organizzare l’altruismo non è, a mio parere, soltanto una opzione di vita. Come dicono gli autori del libro, l’organizzazione dell’altruismo è fondamentale per ricostruire in Italia e in Europa il sistema di “welfare state”, lo Stato sociale messo in crisi dalla globalizzazione e dalla gravissima crisi economico-finanziaria di questi anni.

Quello che succede in questo momento in Italia è indicativo in tal senso: politiche e scelte economiche recessive stanno strangolando la crescita del Paese, diminuendo il potere d’acquisto della classe media e aumentando la disoccupazione e la povertà. Un circolo vizioso dal quale il nostro Paese non riesce ad uscire fuori; un paradosso che adesso molti parlamentari della stessa maggioranza che sostiene il governo iniziano a denunciare e a contrastare. Un esempio di altruismo intelligente possono essere le politiche messe in atto

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a favore dei lavoratori stranieri in Italia e degli italiani che vivono all’estero. In una società globalizzata, nella quale la violenta competizione internazionale è anche caratterizzata dal fattore demografico (quantità e qualità della forza lavoro, in primo luogo) l’Italia si permette il lusso di emarginare dal proprio modello di sviluppo una popolazione di circa dieci milioni di persone. Tanti sono infatti gli stranieri che vivono in Italia e i cittadini italiani che vivono all’estero. Entrambi estromessi, nei fatti e in maniera diversa, da una piena partecipazione alla vita sociale ed economica del Paese. Ai cittadini stranieri non viene concesso il diritto di voto, per esempio, nonostante vivano da anni nelle nostre città e contribuiscano con il loro lavoro alla crescita del Paese; agli italiani nel mondo, al contrario, sono stati riconosciuti i diritti civili con il voto, ma viene loro negata una piena partecipazione alla vita italiana (e i tagli alle politiche per la lingua e l’assistenza, come anche i problemi e le lentezze per il rispetto della legge sulla cittadinanza ne sono solo un piccolo esempio). Entrambe le categorie, infine, sono escluse dalle politiche di integrazione sociale: tutte le misure del governo Berlusconi in questa materia – dalla ‘social card’ all’inasprimento delle condizioni di accesso alla ‘pensione sociale’ – sono state prese senza tenere in considerazione, e in alcuni casi anzi contrastando, la presenza di un contingente che sfiora ormai il venti per cento della popolazione italiana. Quanta ricchezza potrebbe invece derivare al Paese dallo sviluppo armonico di politiche di integrazione piena degli stranieri in Italia e degli italiani all’estero? Si rafforzerebbero sicuramente i legami tra l’Italia ed il resto del mondo, proprio in un momento di forte crisi della domanda interna e di ricerca spasmodica di nuovi sbocchi nei mercati internazionali per i prodotti della nostra industria manifatturiera in crisi. Ma per fare tutto ciò occorre una politica diversa, dei politici diversi, capaci di “costruire e organizzare l’altruismo” sapendo che i risultati di questa scelta strategica si tradurrebbero in reali vantaggi a medio e lungo termine per la ripresa del ciclo di crescita ormai fermo da alcuni anni.


opinione

EzioMaranesi

Secessione C

in alcune zone del Nord. Tra i suoi programmi: valorizzazione degli interessi locali, distanza dall’Europa unita, contrasto all’immigrazione e spinta per le autonomie amministrative. Non si ispira a dottrine filosofiche ma alla concretezza dei contadini della bassa padana. Di essi assume il linguaggio rude e pittoresco, chiaro, diretto, compreso da tutti. Fu accusata di antipolitica: essa aveva soltanto capito ciò che la gente comune voleva e ha cercato, pur confusamente, di darglielo.

carisma ma, per età e salute, è ormai tra i gerontosauri che amministrano l’Italia. Nella Lega sono nati due poli. Il primo fa capo a Bossi, ispirato dalla moglie Manuela, si dice anima nera del partito, dal mediocre figlio Renzo, che il padre stesso ha definito “il trota”, e da un gruppetto di ‘integralisti” che aspettano l’eredità politica del capo; il secondo si stringe attorno al valido ministro Maroni e sembra essere più fedele ai principi originali che hanno fatto il successo della Lega. I media sottolineano che la signora Bossi è andata in pensione senza vergognarsi a 39 anni e fioriscono le storielle sul modestissimo acume del “trota” che è Consigliere Regionale Lombardo per meriti paterni e guadagna 12.000 euro al mese. Per questo e altro la Lega è

Ebbe successo e ora è al governo, sostenendo il PdL di Berlusconi con il suo voto. Cosí come accade agli esseri viventi, alle mode, al vino e agli imperi, che nascono, crescono, prosperano, declinano e muoiono, la Lega crebbe e prosperò; sembra ora iniziato il declino. Peccato, perché ha difeso spesso idee sensate che hanno riscosso consensi a destra e a sinistra. Il declino ha tre cause. La prima è che la Lega continua a sostenere il governo Berlusconi che ormai è al crepuscolo. Spero che essa cerchi di ottenere i decreti applicativi del federalismo, già approvato, prima che il governo cada. La seconda è che il partito, da movimento di genti semplici e limpide, si è trasformato in centro di potere e di difesa di privilegi. Ora, per esempio, è contrario all’abolizione delle provincie perché molte di esse sono amministrate da leghisti. Terza causa è il dissenso interno: Bossi ha meriti e

accusata di nepotismo, dimenticando il suo slogan Roma Ladrona. Le mosse di Bossi, negli ultimi tempi, sono più folklore che messaggio politico: il dito medio alzato, le infelici battute sulla bandiera, i ministeri aperti a Monza, i giochini con le ampolle d’acqua del Po, la minaccia di secessione sono atti penosi. Sono in molti a pensare che un Nord e un Sud politicamente separati farebbe bene a entrambi i territori. Personalmente sono convinto che un Sud autonomo si darebbe un buon governo. Ricordiamoci che nel 1860 il Regno di Napoli era più ricco e avanzato del Nord e che l’unificazione avvenne tra forti contrasti. Oggi però l’Italia c’è, è viva e intera, e non ha senso parlare di secessione. La smetta Bossi di rendere le acque più torbide di quelle del Po; lotti per avere un giusto e possibile federalismo.

Può piacere ma restiamo con i piedi per terra omitini, nell’agrigentino, ha 900 abitanti e 73 dipendenti comunali. Tra essi, 9 vigili urbani. Il traffico cittadino deve essere frenetico. La Calabria paga 10.500 guardie forestali. Il Canada 4.000. La Sicilia ne paga molto bene 27.000: ogni albero deve avere la sua guardia. Una appendicectomia costa 500 euro in Lombardia e 1.400 in Sicilia. A Napoli pagano persone per spalare la neve d’estate. Si può continuare all’infinito. Le Regioni del Sud, in genere, sono male governate. Corruzione? Incompetenza? Collusioni mafiose? I risultati: inefficienza, debiti enormi, costi assurdi. Vale la regola: tu mi dai il voto e io ti dò uno stipendio. Le Regioni “virtuose”, di destra o di sinistra, pagano parte del conto. In queste Regioni non mancano episodi di malgoverno, ma i governi sono in genere più efficienti. Quali le radici di questa divario: storiche? sociologiche? politiche? Poco importa. Ciò che importa è: cosa si può fare affinché la cosa pubblica sia bene amministrata nell’Italia intera? Il partito Lega Nord nasce nel 1989 come confederazione di movimenti autonomisti attivi in varie Regioni. Ne è il fondatore Umberto Bossi, che ancora oggi lo dirige. Il partito guadagna simpatie, tanto che già nelle elezioni del 1994 ottiene il 10% dei voti su base nazionale, con punte del 30%

Sono convinto che un Sud autonomo si darebbe un buon governo. Ricordiamoci che nel 1860 il Regno di Napoli era più ricco e avanzato del Nord e che l’unificazione avvenne tra forti contrasti

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Economia

“A Europa está em risco” Bernabè: Draghi fez bem em baixar as taxas, mas o BCE é impotente

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ranco Bernabè, presidente-executivo de uma das maiores empresas de telecomunicações globais, a Telecom Itália, tem a responsabilidade de pagar salários e contribuições para 56 mil compatriotas. No entanto, pensa que por mais milagres que possa realizar o marketing, o futuro da sua empresa depende principalmente de como se desenvolverá o país. Em entrevista ao jornal Corriere della Sera, Bernabè ressalta que o país enfrenta problemas internos, mas fala também de um jogo em que a Itália serve de bode expiatório pelas características

Massimo Mucchetti - Bastará o G20 de Cannes e o pacote de medidas emergenciais para salvar a Itália dos mercados, doutor Bernabè? Franco Bernabè - Repasso a pergunta. Por que só nesta fase a especulação descobre que a Itália tem um débito público elevadíssimo e graves problemas estruturais? MM - Me diga o senhor. FB - Porque, também com estas medidas, continuaremos a ser o anel mais fraco da corrente, aquele através do qual pode afundar o euro. MM - E nós nos agrupamos ao BCE onde Mário Draghi rapidamente baixou os juros em 0,25% na taxa de referência. FB - O presidente do BCE prontamente corrigiu o erro do seu predecessor que havia aumentado as taxas, temendo improváveis reações inflacionárias. Mas o ponto é que nem nós, nem a Europa, podemos confiar neste BCE. MM - O senhor elogia Draghi, mas não o BCE. Por quê? FB - Draghi usou imediatamente um recurso que pode ajudar o crescimento, e fez bem. Mas se encontra na presidência de um banco central institucionalmente dividido porque não é um verdadeiro prestador de última instância.

FB - Não pode fazer diversamente a normativa invariável. Com esta normativa historicamente desenhada pela Alemanha, quando intervêm sobre os mercados para dar fôlego às falências, o BCE o faz com vínculos e limites, sem uma verdadeira determinação, quase como se devesse pedir desculpas. E assim o resultado é débil e previsível diante da especulação. A Europa está em risco. MM - O risco agora é da Itália. O spread entre o Btp e o Euro Bônus subiu mais de 4,5%. FB - Antes de tudo, é preciso apagar o incêndio que hoje queima a Itália, amanhã atacará a França e a Alemanha. Depois, precisa reconstruir as bases do crescimento sustentando, também uma demanda interna forte e saudável. MM - Todos falam de crescimento. Mas está para se formar uma recessão. FB - O crescimento não vem de receitas milagrosas. Não da venda de quartéis, da patrimonial ou da supressão do artigo 18. Existe uma demanda interna para proteger.

MM - Mas Draghi confirmou a impostação do BCE que o senhor critica. 12

frágeis apresentadas. Por outro lado, os investidores internacionais viram com bons olhos a medida de redução de juros como primeiro ato do novo presidente do Banco Central Europeu (Bce), Mario Draghi, e aguardam medidas em relação à dívida soberana e um propagado risco de default. Diante desse cenário político e econômico preocupante, previsões e reflexões sobre o futuro da Itália e da Europa são feitas por Bernabè na entrevista a seguir concedida ao jornalista Massimo Mucchetti.

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E a retomada não virá nem mesmo da procura de uma contraposição entre sedentos reformistas e presunçosos conservadores. Virá de um vasto número de reformas estruturais, do trabalho duro do dia a dia, e da condivisão deste esforço entre as pessoas e das castas sociais que o governo deve favorecer dando antes de tudo exemplos de seriedade e depois construindo uma unidade para o país. Justo para compreender, os acordos na Telecom os fiz com a Cgil. E são bons acordos: redução dos custos e defesa do poder de aquisição das pessoas.

MM - Melhor a estratégia de Ciampi do que os desafios de Marchionne? FB - Ciampi salvou a Itália e a trouxe para o euro. A Itália não tem necessidade de contraposição ideológica, mas de um trabalho solidário de todas as forças sociais. MM - No entanto este incêndio arde. FB - Sim a especulação ataca a Itália. Mas não é a conspiração de um velho apostador. São os jovens dos desks do débito público e dos bancos de investimento que, brincando com a nossa grave deficiência, operam em curto prazo nos títulos italianos, certos de poderem recobrir com desconto quando as munições do BCE e do Fundo Salva Estados, já calculado anteriormente, fatalmente se exaurirão e os valores dos títulos públicos descerão mais um

- Muitos economistas justificam Angela difundido e líquido MM Merkel e convidam a Itália para os custosos e um governo que arrependimentos em casa própria. diante da emergên- FB - Temos que nos arrepender. cia apareceu dividido Quem pode negar? Mas não sie incerto. Por isso, corremos gamos os mitos. A Alemanha não é o Reino

o risco de nos afundarmos em um espiral negativo: especulação que ataca, spread que se alarga, custo do débito que aumenta, déficit que retorna, medidas anti-déficits que geram demais contrações da economia, então maior déficit. MM - Como o Japão, que tem um débito maior, que é quase o dobro do PIB, e um crescimento inferior ao italiano, vive sereno? FB - Porque a reserva japonesa, elevadíssima, é investida nos títulos do próprio país e todos sabem que, se ocorresse, a Bank of Japan imprimiria tantos yens quantos fossem necessários para abater a especulação. O mesmo podem fazer o Federal Reserve e a Bank of England. O BCE não. MM - Os tratados impedem de fazê-lo. FB - É assim, mas Roosevelt dizia que, quando a casa do vizinho queima, não pedem a ele um depósito calção do extintor, mas correm para apagar o fogo se não quiser que queime também a sua. Os tratados devem ser respeitados e também atualizados. MM - Fácil falar. Mas o que fazer?

Temos que ter um governo crível ao menos por médio período, mesmo que o crescimento demande tempo, e sermos novo degrau. Nesse jogo, a capazes de negociar Itália é o alvo perfei- com autoridade com to porque tem um outros países para convena Alemanha que é necessário ter débito público vasto cer um verdadeiro prestador de última FB -

instância que assegure a necessidade de liquidez aos débitos públicos. MM - Seria uma conversão na contramão para Berlim. FB - A Alemanha se opõe a monetarização sobre a base de argumentos morais: a formiga que não quer pagar as contas do grilo.

Unido que sempre, pontualmente reembolsou os títulos de sua majestade. Entre 1919 e 1998, de formas diversas, a Alemanha declarou quatro vezes o default. Depois da Segunda Guerra Mundial foi salva pelos americanos. Que não avaliaram moralmente a causa da falência do marco, a guerra desencadeada pelo nazismo, algo bem pior que as astúcias gregas e a atitude indiferente da Itália, mas olharam generosamente para o futuro. MM - E também este não é um argumento moral? FB - Na forma. Mas na sustância o plano de estabilização do pós-guerra foi um bom negócio para todos: criou um mercado e a premissa de 30 anos de crescimento sobre as duas margens do Atlântico. Depois da Primeira Guerra Mundial, pelo contrário, o moralismo dos vencedores alimentou o revanchismo alemão em uma Segunda Guerra mundial. MM - Em 1948 havia uma União Soviética para contrastar. FB - Isso é verdade. A política sempre tem mais aspectos. Mas a aposta econômica era aquela. De resto, Helmut Kohl adquiriu a estatura de grande líder político não usando os balancinhos dos seus primeiros anos, mas integrando os cidadãos do Leste com o câmbio do marco um por um. Infelizmente, a Merkel não está demonstrando a mesma perspectiva. E Sarkozy está com ela.

Acreditam que podem fazer da Itália o bode expiatório deles. Mas erram: fazem muito pouco, muito tarde e muito mal feito.

MM - Apagado o incêndio, o que fazer com os incendiários? FB - Os incendiários são os bancos de investimento que podem atingir a reserva difundida através dos mais diversos produtos financeiros e que neste jogo envolveram o inteiro sistema bancário. Precisa-se de uma clara separação. O banco de investimento deve trabalhar como uma financeira e poder falir, se acontecer, sem problemas. Os bancos comerciais sistêmicos, ao invés, devem ser garantidos também com a nacionalização, salvo se colocados depois no mercado uma vez curados. As transações financeiras devem ser submetidas a taxações. MM - E um programa ao estilo Roosevelt. Na Europa encontra adeptos na Igreja Católica e na Anglicana, menos nos governos e nas instituições europeias. FB - Este momento difícil requer uma grande visão do futuro, mas, sobretudo uma grande generosidade de encontro a todos aqueles que sofrem as consequências da crise, características estas de grandes líderes que não vejo

As raízes cristãs da Europa deveriam servir de guia.

em circulação.

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Economia

Empresas de construção civil e a Região Lombardia pagam a maior fatia da amarga conta Da Redação

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fatura da crise em 2011 registra cerca de nove mil empresas falidas em nove meses. Na prática, são quase mil sociedades que entram em falência por mês, o que dá 30 por dia. Falar de dupla espiral de recessão, após o biênio pós-Lehman, não parece mais temerário (até a primeira ação do italiano Mario Draghi na presidência do Banco Central Europeu, que baixou a taxa de juros em 0,25 pontos, confirma a hipótese de uma leve recessão em ato). Há de se esperar a consequência inevitável de que se comecem os pedidos de cassa integrazione (procedimento pelo qual o trabalhador suspenso da obrigação

de prestar serviços na empresa ou com o horário reduzido obtém uma prestação econômica do Inps, o Instituto italiano de Previdência Social) e o aumento das dívidas encalhadas e insolúveis para os bancos, que não veem mais a restituição do dinheiro emprestado. Sem citar o montante das empresas em pedido de concordata, a última parcela antes do default “vero e próprio”. A sociedade Crisis D&B, especializada em informações sobre crédito, informa que, de janeiro a setembro de 2011, foram 8.566 as empresas que levaram seus livros aos tribunais, por estarem impossibilitadas de pagaram fornecedores e funcionários. Um aumento de 8,7% em relação ao mesmo período em 2010, e de 35,5%

Mais de 8.500 empresas levaram seus livros aos tribunais por estarem impossibilitadas de pagaram fornecedores e funcionários: um aumento de 8,7% em relação ao mesmo período em 2010, e de 35,5% comparado ao ano de 2009, quando a impressão era de que a crise havia atingido o seu ápice

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O novo presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi baixou a taxa de juros no meio de uma crise que vem fechando 30 empresas italianas por dia

Ingimage.com

Crise na bota: quase nove mil empresas já faliram em 2011

comparado ao ano de 2009, quando a impressão era de que a crise havia atingido o seu ápice. Não surpreende que a pagar a conta de forma mais pesada tenha sido a Região da Lombardia, cuja vocação empresarial é única no país — seguida pelo Lácio, forte no setor de serviços, e pelo Vêneto, caracterizada pelas pequenas e médias empresas — regiões que detêm metade dos casos. Segundo o adminsitrador delegado da Crisis D&B, o problema é também de ordem cultural e tem a ver com uma estruturação inadequada das empresas diante da crise: Torna-se fundamental que as empresas adotem políticas eficazes de gestão de risco, consentindo que conheçam de maneira mais profunda os parceiros com os quais instauram relações comerciais — defende o especialista. A confiança creditícia dos potenciais clientes deveria ser confirmada (por exemplo, pelas administrações local e central), mas é neste ponto que se joga muita da competitividade do Sistema-País. É no terreno da pontualidade dos pagamentos (a esta altura do campeonato, os prazos encontram-se dilatados inclusive entre entes físicos, por efeito de um perverso mecanismo de adiamento de créditos que atrasa inclusive a hipótese de investimento em pesquisa e desenvolvimento por parte das empresas) que se pode, pelo menos, limitar uma conta assim amarga. Os setores que estão sofrendo mais são aqueles ligados à construção civil: mais de mil sociedades do ramo declararam default este ano. Nem mesmo as intervenções de requalificação energética nos edifícios estão sendo capazes de evitar o rombo. Reduzido ao supérfluo, o plano-Casa foi apresentado mais de uma vez pelo governo italiano para torná-lo mais atraente. E, nos perguntamos: é chegado o momento de interrogarse sobre as políticas do “social housing”, capazes de dar um empurrão ao setor da construção?


Economia

O mapa da mina Dossiê inédito reúne dados econômicos para empresários italianos interessados em investir no mercado brasileiro e está disponível na internet Cintia Salomão Castro

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o mesmo tempo, amplo e de fácil acesso. O dossiê Modello di sviluppo industriale del Sistema Italia in Brasile está disponível na internet de forma totalmente gratuita desde outubro para empresários italianos e todos aqueles que busquem dados econômicos de extrema utilidade na hora de pensar em estratégias para fechar novos negócios e parcerias dentro do mercado brasileiro. O estudo é fruto de uma colaboração entre as entidades ligadas ao “Sistema Italia” presentes no Brasil e coordenadas pelo Ministério italiano do Exterior. Elas incluem a Confindustria, os consulados, o extinto Instituto de Comércio Exterior e a Banca d’Italia, além da KPMG e da Value Team, sociedades de consultoria e revisão. O documento possui 141 páginas e inclui gráficos e uma listagem completa das 585 de empresas italianas presentes em território brasileiro. De maio a setembro de 2011, assistiu-se a um aumento no número de filiais e estabelecimentos produtivos, que passaram de 392 para 585 — revela o levantamento. Entretanto, existem participações de empresas italianas em sociedades brasileiras ou investimento veiculados a outros países que não se enquadram no mapeamento. Se fossem consideradas somente as holdings ou entidades únicas de cada grupo ou sociedade italiana, haveria 448 no total, alertam os autores. Oportunidades No prefácio, o embaixador italiano Gherardo La Francesca afirma que o dossiê constitui “uma análise de

mercado exterior e das oportunidaconcentram-se nos estados das redes presentes para o nosso sistema giões Sul e Sudeste: mais da metade empresarial capaz de ser replicado está em São Paulo, enquanto 30% em outros países”, e que apresense localizam no Rio, em Minas, Santa uma fotografia das ta Catarina, Paraná e no empresas italianas preRio Grande do Sul. Apesentes, uma análise de sar desse predomínio, o território e dos principais Nordeste e o Norte consetores da economia, e quistam cada vez mais os um resumo dos principais empreendedores italiaplanos de desenvolvinos. Segundo os autores, mento e investimento. passa-se de uma abordaO vice-presidente gem “sanpaolocentrica”, da Confindustria, Paona qual o interlocutor lo Zegna, que também privilegiado era a Fiesp, assina o prefácio, lema uma visão que seja bra que a internacionalização das mais alargada e policêntrica e que empresas italianas, sobretudo as não negligencia o maior pólo induspequenas e médias, precisam de trial do país. instrumentos atualizados, eficazes Há ainda detalhes sobre os ine voltados para as suas exigências. centivos fiscais oferecidos pelos O documento inclui um estados, como linhas de créperfil econômico resumido dito e garantias disponíveis do Brasil, com dados sobre taàs chamadas PMI (pequexa cambial, Produto Interno nas e médias empresas) por Bruto, sistema fiscal e saldo parte do sistema bancário da balança comercial, além de italiano presente no Brasil. gráficos sobre distribuição de Outra ferramenta útil aos renda e a evolução das classes investidores é a relação dos sociais nos últimos anos. principais produtos ofereAs relações comerciais cidos pelo BNDES (Banco entre os dois países estão Nacional de Desenvolvimentraçadas em mais de um to Econômico e Social) às capítulo. Os números mosempresas. tram que, entre 2006 e 2010, O apêndice inclui guias as exportações italianas sobre a internacionalização cresceram 32% (4,8 bilhões das empresas brasileiras e Gherardo La Francesca, de dólares), enquanto as iminvestimentos brasileiros portações italianas do Brasil na Itália, um guia sobre embaixador da Itália aumentaram 40,4% (4,2 exportações e a relação de bilhões). O saldo da balança comerempresas italianas organizadas cial com a Itália é favorável ao país por setor. europeu nos últimos dois anos em O documento está disponível para cerca de 600 milhões de dólares.

“Uma análise de mercado exterior e das oportunidades presentes para o nosso sistema empresarial capaz de ser replicado em outros países”

Territórios Outro dado que emerge do relatório é que as empresas made in Italy

download em formato PDF através do link http://www.esteri.it/mae/ approfondimenti/2011/20111005_ EBOOK_MAE.pdf

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Economia

O horizonte de Nápoles

Conferência do sistema de câmaras italianas de comércio e indústria reuniu mais de 200 delegados de 50 países e serviu para promover a cidade como meta turística renovada Aline Buaes

Especial para Comunità

U

m reformado e renovado Teatro San Carlo, “joia artística de importância mundial que representa um dos momentos mais expressivos da identidade napolitana”, como bem definiu o presidente da Câmara de Comércio de Nápoles, Maurizio Maddaloni, serviu de moldura para a XX Convenção Mundial das Câmeras de Comércio Italianas no Exterior, que reuniu, entre os dias 22 e 26 de outubro, mais de 200 delegados representantes de 75 câmaras de comércio italianas provenientes de mais de 50 países de todos os continentes. Do Brasil, estiveram presentes os presidentes das câmaras do Rio de Janeiro e de São Paulo e representantes dos estados de Minas Gerais, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul. O evento serviu principalmente como uma oportunidade para a cidade de Nápoles que, no momento de se propor como sede para o importante encontro, enfrentava, pela enésima vez, uma fase crítica da chamada “crise do lixo”. A ocasião era propícia para reapresentar-se ao mundo, desta vez, com a dignidade

O Brasil foi representado na reunião das Câmaras italianas, em Nápoles, por delegações de São Paulo, Rio, Minas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul

de uma grande capital europeia na qualidade de meta turística e exportadora de produtos e serviços de qualidade. — Apresentar Nápoles como palco para o sistema italiano mundial de câmeras de comércio parecia um ato de contradição e, ao final, tornou-se um ato de confiança e esperança para esta cidade — explicou Maddaloni, o anfitrião do evento, destacando o duplo resultado projetado e obtido, o de “apresentar a cidade como destino turístico e propiciar o desenvolvimento do empresariado local”. O encontro, organizado pela Câmara de Comércio de Nápoles, em colaboração com a Associação das Câmaras de Comércio Italianas no Exterior (Assocamerestero) e a Unioncamere (Associação Italiana das Câmaras de Comércio) constitui um momento de contato dos delegados com todos os órgãos ativos na promoção italiana, em especial àqueles operantes no território anfitrião. Segundo os organizadores, um dos principais objetivos desta edição da Convention foi a possibilidade

“Existe uma Itália que não para, uma Itália empreendedora que não aceita calada o momento de dificuldade” Pietro Petraglia, presidente da Câmara Ítalo-brasileira de Indústria e Comércio do Rio de Janeiro

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“Somos uma oportunidade que as pequenas e médias empresas italianas cada vez mais podem usufruir e da qual não é possível ignorar os benefícios, principalmente na situação de dificuldade geral que nosso país atravessa” Augusto Strianese, presidente da Assocamerestero de apresentar as potencialidades econômicas de Nápoles, com a valorização de todos os componentes do sistema econômico produtivo local, a fim de identificar hipóteses de colaboração concreta. A ocasião também serviu para apresentar ao sistema italiano o estado de desenvolvimento da rede mundial, com a sua consistência numérica e as atividades realizadas e projetadas. Turismo que desenvolve O principal momento da Convention foi intitulado Turismo uma oportunidade de desenvolvimento para crescer juntos, realizado no Teatro San Carlo, que contou com apresentações de diversas autoridades locais e regionais, como o atual prefeito de Nápoles, Luigi De Magistris – considerado um dos responsáveis pelo recente renascimento da cidade. Na ocasião, o arcebispo de Nápoles, o cardeal Crescenzio Sepe, falou sobre o “turismo como instrumento de aproximação das culturas” enquanto dois casos de cidades que adotaram novos e bem sucedidos modelos de turismo foram apresentados. A cidade de São Paulo, com seu bem sucedido plano turístico, foi ilustrada pelo presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria (Italcam), Edoardo Pollastri, enquanto o secretário de Turismo de Madri, Mar de Miguel, apresentou as mudanças recentes na capital espanhola. O presidente da Câmara de Comércio de Nápoles destacou que, em um contexto econômico negativo, um dos poucos sinais positivos da balança comercial da região da

Campânia repousava justamente nas exportações. Segundo Madalloni, em 2010, as exportações da região registraram crescimento de 5%, “confirmando a vitalidade da nossa indústria e da nossa rede de câmaras com seus representantes no exterior”. O anfitrião também afirmou que um dos tópicos discutidos entre os representantes das câmaras foi a reorganização do sistema diante da ausência do Instituto de Comércio Exterior (ICE), órgão público abolido pelo governo em junho deste ano. — O nosso desafio com este evento é simples: fazer negócios em Nápoles e fazer negócios globalmente, concentrando-se sobre as exportações e o turismo, que são os nossos dois valores agregados e os nossos dois imediatos multiplicadores de oportunidades para todo o tecido econômico local — explicou Maddaloni sobre o desafio de transformar a capital partenopea em um local atraente de investimentos. — A Convention deste ano é uma importante ocasião para comunicar mais uma vez ações e potencialidades de serviço das câmaras de comércio a favor das empresas — afirmou o presidente da Assocamerestero, Augusto Strianese. Para Strianese, a principal mensagem de Nápoles é a de que “somos uma oportunidade que as pequenas e médias empresas italianas podem usufruir cada vez mais e da qual não é possível ignorar os benefícios, principalmente na situação de dificuldade geral que nosso país atravessa”. Ele afirma isso do alto de sua posição: é autoridade máxima de uma rede de câmaras que, apenas em 2010, assessorou cerca de 180 mil empresas italianas, desenvolvendo mais de 300 mil contatos de negócios.

O turismo como oportunidade de desenvolvimento foi o tema escolhido para a vigésima edição da reunião anual que aconteceu no mês passado

Augusto Strianese, presidente da Câmara de Comércio de Nápoles: ocasião para falar de ações e serviços das entidades a favor das empresas italianas no mundo

Mais de 1200 contatos diretos O penúltimo dia do evento foi dedicado à promoção da cooperação e internacionalização das empresas italianas, quando os representantes das 75 entidades realizaram mais de 1200 encontros diretos com mais de 300 empresas e instituições da região de Nápoles. As câmaras italianas presentes no exterior sempre constituíram um ponto de referência confiável para as empresas que pretendem operar em outros países, graças aos profundos conhecimentos do mercado local e aos contínuos monitoramentos das oportunidades de negócios nas suas regiões de atuação. O presidente da Câmera Ítalobrasileira de Indústria e Comércio do Rio de Janeiro, Pietro Petraglia, destacou que a entidade que dirige foi uma das mais procuradas durante os encontros diretos. — Todos estamos conscientes do momento importante vivido pelo Brasil e, em particular, pelo Rio de Janeiro, que receberá os mais importantes eventos esportivos dos próximos anos, além de grandes acontecimentos como a visita do papa Bento XVI em 2013 e a Conferência das Nações Unidas Rio+20, em 2012 — destacou. Para Petraglia, os produtos italianos são complementares a diversos setores que vão de serviços, à energia e agroalimentação. Petraglia também considerou o encontro importante por mostrar “que existe uma Itália que não para, uma Itália empreendedora que não aceita calada o momento de dificuldade e quer procurar em outros mares portas para os produtos made in Italy de tecnologia avançada, designer inigualável e valor agregado pela excelência italiana”.

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Atualidade

Política

Demissão anunciada

Tempestade na zona do euro varre governo Berlusconi e deixa um cenário de incertezas diante de uma Itália em crise Da Redação

“D

esta vez, deixo de verdade”. Depois de negar rumores sobre sua saída e rebater acusações entre escutas telefônicas reveladas e uma sucessão de escândalos em um sexygate que não parecia ter fim, o premier Silvio Berlusconi anunciou, na tarde do dia 8 de novembro, seu estado demissionário. A frase que resume a pressão sofrida durante meses antes da reunião com o presidente da República Giorgio Napolitano, naquela mesma tarde, durante a qual foi decidida o seu destino, após a votação na Câmara das contas públicas de 2010 que haviam sido rejeitadas em outubro. Aprovada com 321 abstenções e 308 votos a favor, a votação deixou à mostra que a balança já pendia para a oposição, com uma diferença de oito “traidores” — assim definidos pelo Cavaliere. — Assim que for aprovada a lei de Estabilidade, me demitirei. E, como não há outra maioria possível, vejo apenas eleições, no início de fevereiro — afirmou, ao se referir ao pacote de reformas econômicas exigidas pela União Europeia, que vive sua maior crise desde sua criação, em 1993. O conjunto de medidas deve ser aprovado pelo Parlamento italiano ainda durante este mês. Turbulência na zona euro A imprensa global, tomada pelas notícias da turbulência econômica que atinge em cheio o continente europeu e que levou à renúncia do premier grego Papandreou 24 horas depois do anúncio em Roma, deu amplo destaque ao anúncio 18

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da saída de Berlusconi nas seções de economia dentro do contexto do capítulo “crise”. Berlusconi e Papandreou entram para a lista dos chefes de governo que caíram por causa da crise na zona do euro desde o ano passado. Além de Itália e Grécia, a crise também abalou governos em Portugal, Irlanda, Hungria, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia e Espanha. Vale lembrar que o socialista português José Socrates renunciou ao cargo de primeiroministro em março, depois que o Parlamento rejeitou o plano para reduzir o déficit. O atual chefe do governo luso, Pedro Passos Coelho, não está em bons lençóis: economistas preveem uma recessão de 2,8% do PIB português em 2012. Encurralado pela crise, o chefe do governo da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, viu-se forçado a antecipar as eleições para 20 de novembro. E todas as pesquisas apontam que o candidato da direita, Mariano Rajoy, derrotará os socialistas, no poder desde 2004.


O presidente francês Nicolas Sarkozy encara o desafio de reverter uma baixa popularidade (36%) que o atinge a apenas seis meses das eleições, e as pesquisas apontam o socialista Francois Hollande como favorito. A chanceler alemã Angela Merkel declara que a Itália deve empenhar-se mais para ativar as medidas de austeridade, mas ela própria enfrenta desafios à credibilidade da moeda europeia. Um dia após o anúncio de Berlusconi, Merkel afastou publicamente qualquer hipótese de realizar um referendo sobre o euro, integração europeia e resgates financeiros. — Doméstico é tudo o que está dentro da zona da moeda única. A Grécia já não pode decidir sozinha se quer ou não realizar um referendo — diz, firme, Merkel. Forte aliada política e econômica de Roma, a Casa Branca mandou mais uma mensagem de otimismo à nação italiana, poucos dias após a cerimônia de gala pelo aniversário da Niaf, uma fundação ítalo-americana que tem Martin Scorsese entre seus associados, onde o “Viva l’Italia” de Barack Obama entusiasmou duas mil pessoas. Aos jornalistas da Ansa, o presidente norte-americano fez questão de dizer que a “Itália não é a Grécia, é um país grande, um país rico”. —Atenas tem, realmente, um problema de solvência. Tem um grande débito e deve tomar decisões muito duras, de longo prazo, se quiser permanecer na União Europeia. E isso vale também se o país sair da Europa. A Itália, porém, há mais um problema de liquidez, é um país grande e rico, é a terceira economia da Europa, a oitava do mundo, onde há muitas pessoas ricas — afirmou dois dias após o anúncio da saída de Berlusconi. Sobre a crise, no entanto, Obama ressaltou que é necessário que a Europa envie um “sinal claro aos mercados de que ela própria fará a sua parte”, e que é necessário “mover-se em modo agressivo”. A gangorra das bolsas A incerteza na Pizza Affari continua. Se, na tarde do anúncio do demissionário chefe de governo, Milão chegou a fechar positiva apesar do dia nervoso, o giorno dopo assistiu a uma queda de -3,78% e a um forte aumento de juros. A situação arrancou uma declaração dramática da presidente de Confindustria, Emma Marcegaglia.

— É um pesadelo e um abismo. A Itália está vivendo horas dramáticas. Não merecemos terminar como a Grécia. A representante máxima dos industriais italianos que, semanas antes, já vinha declarando frases de efeito, como “Reformas já”, chegou a admitir que, com ou sem o governo do Cavaliere, “aquilo que conta para quem se opõe a Berlusconi é fazer as reformas”. Outro personagem que exerceu pressão sobre o premier demissionário foi o presidente da Câmara italiana dos Deputados, Gianfranco Fini, que chegou a pedir a renúncia do premier três dias antes do anúncio.

O fundador do grupo Fininvest deixou transparecer divergências de gabinete ao declarar não saber se “é possível que o chefe de governo não possa exigir ao ministro da Economia que aplique a política econômica na qual acredita”. Sobre o futuro, o premier da Itália durante quatro mandatos diz que pode voltar a se dedicar mais ao futebol: — Talvez me ocuparei da presidência do Milan — avisa. Mantega analisa crise italiana Em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, demonstrou preocupação com os acontecimentos na economia da Itália, país onde nasceu. Ele atribuiu o agravamento da crise europeia à falta de agilidade das autoridades, que não estariam usando instrumentos, como a possibilidade de o Banco Central Europeu injetar liquidez na Itália por meio da compra de bônus do país. — Se houver uma negligência das autoridades europeias, a Itália poderá ter um default da dívida. Acho que isso é perfeitamente evitável. No Brasil, a tendência é que o crescimento do Produto Interno Bruto se acelere em 2012, segundo Mantega, mas ele destacou que essa trajetória depende de o país se ater à política de solidez fiscal. — O governo é um governo de responsabilidade fiscal. Vamos manter isso até o final — assegurou.

Dedicação ao Milan Em uma entrevista concedida ao jornal de Turim La Stampa, ele se comparou a Mussolini, ditador que, em uma carta, confessou à amante que só servia para dar sugestões e não para aprovar leis. — Tenho mais poder como cidadão livre do que como chefe de Governo. E, em um momento, ele escreveu: ‘Você não entende que eu não conto para mais nada? Eu só posso dar sugestões’. Eu me sinto na mesma situação. Apesar disso, o premier demissionário negou veementemente ser um ditador, apesar de “vocês (jornalistas) terem escrito isto por anos”. Para ele, os pais da Constituição debilitaram o Executivo.

Os possíveis sucessores

C

inco nomes estão cotados para suceder Berlusconi no cargo de presidente do conselho de ministros: Mario Monti, Gianni Letta, Giuliano Amato, Renato Schifani e Angelino Alfano (abaixo, as respectivas fotos). O presidente da República Giorgio Napolitano, encarregado de designar o novo candidato, parece privilegiar a formação

do então presidente, Romano Prodi, a pasta da Concorrência, reforçando sua imagem de um político suprapartidário. Já Giuliano Amato, de 73 anos, ocupou o cargo de primeiro ministro por duas vezes (1992-1993 e 2000-2001). Membro do Partido Democrata, foi vice-presidente da Comissão Europeia de 2002 a junho de 2003. Recentemente, dirigiu o

de um governo de união nacional, dirigido por Mario Monti ou Giuliano Amato, o que ampliaria para o centro a coalizão de centro-direita no poder (com Gianni Letta). Se não houver maioria, ele poderá convocar novas eleições, um cenário que pode agradar a Berlusconi, que pode apresentar Angelino Alfano, um jurista de 41 anos que fez uma carreira rápida como ministro da Justiça e presidente do Povo da Liberdade, o partido fundado por Berlusconi. Comissário europeu de 1994 a 2004 e editorialista do Corriere della Sera, Mario Monti é autor de publicações sobre economia monetária e finanças. Em 1999, o governo de esquerda de Massimo D’Alema confirmou-o na Comissão, onde recebeu

comitê de organização das celebrações pelo 150º aniversário da Unificação italiana. Por sua vez, Gianni Letta, de 76 anos, é visto por muitos como o braço direito de Berlusconi e tem a vantagem de contar com a lealdade do partido do governo. Letta foi o chefe de gabinete dos três governos de Berlusconi. Em 2006, acabou derrotado na eleição para a Presidência da Itália, vencida pelo ex-comunista Giorgio Napolitano. Presidente do Senado desde 2008, Renato Schifani assumiria automaticamente a Presidência no caso da morte do atual presidente. Assim como Alfano e Letta, é muito próximo de Berlusconi.

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Meio ambiente

Preparando a Rio+20 Seminário reuniu em Brasília especialistas internacionais em busca de propostas para levar à conferência ambiental que acontece em junho do ano que vem Stefania Pelusi

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De Brasília

inte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ficou conhecida como Rio 92, ambientalistas do mundo inteiro voltarão ao Brasil para um novo encontro da ONU sobre meio ambiente. A Rio+20 acontece em junho de 2012. Mas, desta vez, exigirá um esforço para que as expectativas não sejam rebaixadas apesar da crise econômica global, ressaltou a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que participou do encontro Preparando Rio+20: propondo um mundo sustentável, no final de outubro, em Brasília. Organizado na Universidade de Brasília, os participantes fizeram um pequeno balanço da Rio 92 e se centraram nas propostas para o evento do ano que vem, em face dos riscos crescentes resultantes das mudanças climáticas, da degradação dos recursos naturais e da perda de biodiversidade do planeta. Quando questionados sobre os progressos e as lacunas das conferências anteriores, os participantes destacaram como avanços a maior conscientização entre os diversos setores da sociedade sobre os temas ambientais, a participação da sociedade civil nos processos decisórios e a inclusão de novos temas na agenda global de sustentabilidade. Entre as principais lacunas, os setores apontaram a questão do financiamento para o desenvolvimento sustentável: como mobilizar 20

os recursos e como fazê-los fluir de forma eficiente. — Na Rio 92, queríamos ser o país que sediou um evento que foi capaz de produzir três grandes convenções. Queríamos ser um país que estava apostando ainda na sua legislação infraconstitucional, ou seja, ter o sistema nacional de unidade de conservação, uma lei de crimes ambientais, ter uma lei de gestão de florestas públicas, ter uma política nacional de meio ambiente. Em 1992, estávamos em busca de um ideal de ser. Agora, buscamos um contra o retrocesso de tudo isso. E, por incrível que pareça, sem evidenciar os avanços que temos: fomos o primeiro país a assumir a redução de gás carbônico com países em desenvolvimento no âmbito da convenção, reduzimos o desmatamento nos últimos anos e diminuímos a pobreza — apontou a senadora do Acre por 16 anos — Nós conseguimos avanços, mas é preciso continuar avançando em qualidade nas nossas prioridades políticas — conclui. A ambientalista declarou que a crise global diferencia-se por suas múltiplas crises. — Temos uma crise ambiental caracterizada pela incapacidade do planeta em se regenerar, uma crise econômica que está acontecendo com Grécia, Espanha, Itália e Estados Unidos, uma crise social com cerca de 2 bilhões de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia. Há uma crise política, uma perda da qualidade da representação política e uma crise dos valores que precisa ser adequadamente entendida.

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“O movimento sustentável é uma categoria concreta a ser construída historicamente, a ser priorizada politicamente, a ser cientificamente suportada, tecnologicamente reinventada e eticamente priorizada” Marina Silva, senadora e ambientalista


Por outro lado, a candidata à presidência da República em 2010 afirmou que é exatamente nos momentos de crise que a humanidade é capaz de surpreender a si mesma com um nível de superação e que só “a crise é capaz de acoplar os homens e as mulheres que não se deixam paralisar”. Ela ainda criticou a banalização do termo “sustentabilidade”: acha que virou um adjetivo, um qualificativo para propaganda, e reclama que “basta dizer que algo é sustentável para que as coisas possam transitar novamente, como se fosse uma questão de adjetivar”. — O movimento sustentável é uma categoria concreta, a ser construída historicamente e priorizada politicamente, a ser cientificamente suportada, tecnologicamente reinventada e eticamente priorizada — conceitua. Combate à pobreza Também participou do seminário preparatório o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, que representou a ministra Izabella Teixeira. O especialista em políticas públicas e gestão governamental destacou a importância do Brasil na Rio+20, com o país sendo percebido como potência ambiental global emergente. Ele lembrou que esse destaque se deve não apenas pela variedade do patrimônio genético, mas também por abrigar as maiores florestas tropicais do mundo, com o maior percentual de água doce do planeta no momento em que a segurança hídrica torna-se estratégica no século XXI.

Gaetani frisou que o combate à pobreza, associado à preservação ambiental, dever·ser uma das principais estratégias que o Brasil vai defender durante a Rio+20, como objetivo de mudar o atual modelo de desenvolvimento, considerado predatório e suicida por ambientalistas e estudiosos. — O desenvolvimento brasileiro é cada vez mais verde e tem o desenvolvimento sustentável no seu DNA. Agora, temos que esverdear o combate à pobreza — afirmou. Ele citou como exemplo de ação nesse sentido o Bolsa Verde, que tenta estimular a preservação ambiental com pagamentos trimestrais a agricultores familiares. O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE), Carlos Nobre, que representava o ministério de Ciência e Tecnologia na cerimônia de abertura, mostrou-se pessimista. Para ele, com a crise econômica, são mínimas as chances de o evento produzir acordos efetivos entre os países que impactem na preservação do planeta. Por isso, a Rio+20 deveria deixar de ser vista como reunião de acordos e se converter em espaço de reflexão. — Teremos que apostar na filosofia e não na diplomacia — declarou Nobre. Ao fazer o balanço da conferência de 1992 e apontar as perspectivas para o evento de 2012, o diretor do Instituto SócioAmbiental (ISA), Márcio Santilli, não demonstrou nenhuma convicção de que a próxima conferência alcance a mesma importância histórica da primeira. — A Rio-92 foi um evento muito importante na agenda internacional, durante o qual foram assinadas as convenções do clima e da diversidade biológica. Para ele, as perspectivas agora são muito diferentes. Santilli recorda que a Rio+20 se propõe a discutir governança mundial com poder vinculante, o que significaria a criação de uma agência sobre desenvolvimento sustentável. Também pauta a discussão sobre economia verde, o que pode ser apenas uma forma de escamotear iniciativas predatórias. — As agendas estão muito soltas. Não acreditamos que o evento alcance medidas efetivas para serem adotadas pelos governos — explica. O diretor do centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da

Ambientalistas se reuniram em Brasília para juntar propostas visando a conferência Rio+20, que vai acontecer em junho de 2012. Entre eles, estava a ex-ministra Marina Silva, que criticou o uso banalizado do termo “sustentabilidade”

Universidade de Brasília, Saulo Rodrigues Filho, também chamou a atenção para a fragilidade no quadro ambiental do planeta. — Sem dúvidas, houve avanços nesses 20 anos, mas também há muitas frustrações, que precisam ser enfrentadas na conferência do ano que vem — afirmou. Mais pessimista, o senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque acredita que, nesses 20 anos, estamos em situação pior. Para ele, os temores foram superados pela realidade e as esperanças foram diminuídas pela realidade. Apesar disso, “a busca por soluções para a crise ambiental não pode parar”, acredita. Para manter o debate aceso, ele propõe a criação de um instituto de especialistas de todo o mundo para discutir permanentemente as questões do meio ambiente, e não apenas de 20 em 20 anos. O ex-reitor da Universidade de Brasília também defendeu a ideia de instaurar um tribunal internacional para julgar crimes causados em nome do desenvolvimento. — Que seja um julgamento moral, e não jurídico – explicou. A representante do Ministério francês de Desenvolvimento Sustentável, Sandrine Menard, também defendeu a pertinência da criação de organismos multilaterais fortes para as contendas ambientais. — Se não existirem organismos multilaterais, as questões tenderão a ser resolvidas de forma bilateral, com prejuízo para os mais fracos — justificou. Além disso, revelou que as posições extraídas no evento serão consideradas pelo governo da França em um seminário que será promovido, em 31 de janeiro, para definir as contribuições francesas à Rio+20.

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Turismo

Meio ambiente

O sucesso do turismo ambiental Primeiro congresso italiano do gênero reuniu os mais bem sucedidos e inovadores projetos de turismo sustentável, ecológico e social Aline Buaes

Especial para Comunità

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a sólida experiência das estruturas agroturísticas da Toscana, passando pelas experiências do turismo de aventura, como ciclismo no Vêneto, trekking na Úmbria, visita às cavernas de Frasassi e mergulho em Portofino, até as inovadoras experiências do turismo gastronômico “étnico” nos bairros migrantes das grandes capitais italianas e o segmento “antimáfia”, que inclui circuitos destinados a mostrar a Itália que derrotou a criminalidade mafiosa, tão enraizada no país. Experiências tão diversas entre si, mas que se inserem em uma tendência cada vez maior entre os italianos: o de procurar destinos turísticos 22

sustentáveis e ecológicos. Com o objetivo de reunir pela primeira vez na Itália as experiências mais bem sucedidas deste amplo setor chamado turismo ambiental, a Legambiente — a maior organização ambientalista italiana — organizou, no último dia 22 de outubro, em Campobasso, no Molise, o congresso Turismo + Ambiente + Territorio = Italia, apresentando os casos italianos de maior sucesso e destaque dos últimos anos. O vice-presidente da Legambiente e presidente da Vivitalia, Sebastiano Venneri, explicou que o objetivo do congresso é mostrar “as muitas boas práticas que administradores, empreendedores e amantes da natureza conseguiram levar ao sucesso, muito frequentemente graças exclusivamente à sua paixão e ao seu empenho pessoal”.

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Il Volo dell’angelo é um caso de grande sucesso ambiental entre os turistas que visitam a Basilicata

— Histórias que contam aspectos talvez menos conhecidos do Belpaese, mas inovadores e capazes de representar um modelo, moderno e sustentável, para o crescimento e desenvolvimento de todo o país — afirmou Venneri, jornalista de larga experiência no campo do meio ambiente. Ele defende o turismo ambiental como resposta à crise econômica que afeta a Itália, e também o próprio setor turístico. — Ao apostar no turismo ambiental, a Itália pode não apenas desenvolver áreas pouco conhecidas do território mas também protegê-lo, já que o turismo tradicional, muitas vezes, é um fator de agressão ao território — defende Venneri, responsável, durante anos, pela tradicional publicação Guida Blu, que indica as praias mais limpas da Itália. Ele ainda explicou que a grande novidade deste congresso está no fato de reunir experiências que obtiveram sucesso comercial nos últimos anos.


As grutas de Frasassi, em Ancona, estão ente as maiores grutas turísticas do mundo

— São exemplos de sucesso de uma economia sustentável e de um turismo responsável que pode representar o melhor modelo para o crescimento e o desenvolvimento de toda a Itália — acrescentou. No total, o congresso reuniu os idealizadores de 20 experiências em diferentes setores do chamado “turismo ambiental” espalhadas de norte a sul da Itália. Muitas das iniciativas apresentadas no congresso possuem apoio direto ou indireto da Legambiente, ou até mesmo funcionam em conjunto com a organização, como é o caso dos hotéis ecológicos, apresentados pelo presidente da Legambiente Turismo, Luigi Rambelli. — Da Sicília ao turismo ciclístico, do mergulho em Portofino à tradição do agroturismo na Toscana: são todos casos de sucesso que usaram recursos típicos da Itália, como a paisagem, a gastronomia, o artesanato e a natureza — cita Venneri. Entre os casos de êxito apresentados no evento, ele destacou Il Volo del Angelo — uma experiência de grande sucesso em um território pobre como a Basilicata e que atrai muitos turistas de toda a Itália. A atração consiste em uma espécie de tirolesa gigante, cabo de aço suspenso entre duas colinas, no qual a pessoa percorre 1.400 metros a pouco mais de 1.000 metros de altitude, atingindo cerca de 120 km/h com toda a segurança que o esporte

proporciona. As duas colinas se encontram em duas diferentes cidades da região montanhosa conhecida como Piccole Dolomiti Lucane.

Vice-presidente da Legambiente e presidente da Vivitalia, Sebastiano Venneri

O ecoturista italiano De acordo com uma pesquisa recente do Istituto Studi sulla Pubblica Opinione (Ispo), sediado em Milão, cresce na Itália a busca por formas de turismo ecológico e responsável. Segundo o estudo publicado em setembro deste ano, 83% dos entrevistados consideram “importante” ou “muito importante” a compatibilidade ecológica do local onde se passam as férias. Este índice ultrapassa os 90% entre as pessoas com mais de 45 anos e com curso

superior completo. Além disso, as férias ideais para 60% dos entrevistados precisam de um ambiente não poluído, mar limpo e natureza ao redor, fato que, segundo o sociólogo Renato Mannheimer, responsável pela pesquisa, mostra uma mudança progressiva em relação às históricas exigências dos turistas italianos por grandes estruturas turísticas e presença de serviços, como discotecas, por exemplo. Os casos de sucesso Uma pequena agência de turismo da província de Veneza que conquistou o mundo dos amantes das bicicletas ao organizar viagens com todos os serviços necessários

Turismo antimáfia

O

turismo italiano ganhou, nos últimos anos, um novo segmento de percurso guiado que inaugura como meta turística a luta contra a máfia. Em Palermo, na Sicília, a jovem agência AddioPizzo Travel propõe circuitos turísticos por estabelecimentos comerciais da região que decidiram assumir a luta contra a máfia local e não mais pagar o famoso “pizzo”, espécie de taxa cobrada pelos criminosos aos comerciantes em troca de proteção. Fundada por três jovens palermitanos que atuavam como voluntários na organização que reúne os comerciantes que aderiram à iniciativa, a Addiopizzo, a filosofia da agência é que o turismo ético seja um instrumento para aqueles que, mesmo não vivendo na Sicília, queiram contribuir para uma economia limpa. Os diversos percursos oferecidos pela agência, que passam pelos mais tradicionais pontos turísticos sicilianos, desde o centro histórico de Palermo até praias badaladas como Cefalú, preveem alojamentos em hotéis, consumo em restaurantes e uso de serviços de empresas devidamente inscritas na lista da Addiopizzo. Alguns circuitos também oferecem visitas a terras e bens confiscados da máfia. Já o projeto Il Giusto di Viaggiare, da tradicional rede Libero, nascida em 1995 como instrumento da sociedade civil de luta contra a máfia, organiza circuitos nas diversas iniciativas realizadas pela organização em bens confiscados da máfia por toda a Itália. Na cidade siciliana de Corleone, por exemplo, que tenta até hoje libertar-se da má fama de terra de mafiosos, alimentada por filmes e séries de televisão, são organizados almoços e passeios na cooperativa agrícola Terre di Corleone, instalada em uma terra confiscada pela Justiça.

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Turismo

Meio ambiente

para um “cicloturista”, dos deslocamentos logísticos aos pernoites, restando ao viajante apenas pedalar e aproveitar a paisagem. Esse é um dos casos mais significativos apresentados em Campobasso. A Girolibero, agência especializada em viagens em bicicleta, é considerada hoje a principal da Itália e uma das maiores da Europa, oferecendo mais de cem propostas de viagens em todo o continente, como pacotes clássicos semanais com bicicleta e hotel, pacotes para famílias e escolas, até as inovadoras viagens de bicicleta e barco, que consistem em deslocamentos diurnos em bicicleta e noturnos em barcos. Esta última proposta, inédita na Itália até 2008 e que inclui um itinerário fluvial de uma semana entre Mantova e Veneza, teve uma demanda fortíssima de público nas temporadas 2009 e 2010, praticamente obrigando a agência a adquirir um segundo barco para duplicar a oferta de viagens. O turismo subaquático também foi destaque no congresso com a apresentação do caso da reserva marítima de Portofino, quando Giorgio Fanciulli, diretor da área de proteção ambiental, explicou como transformou a reserva, com limitações para visitantes, em um empreendimento que realiza 70 mil mergulhos assistidos por ano, com faturamento de 12 milhões de euros. — Contrariamente a quanto se acredita, uma área de proteção obteve o recorde nacional de visitantes, mesmo com número controlado. É a prova que é possível aproveitar locais delicados respeitando as regras — reiterou Vennieri. A reserva de Portofino foi instituída em 1999 e, em pouco tempo, se tornou a principal reserva marítima italiana. Da região da Puglia, que há muitos anos vem apostando nos festivais de música e cultura para atrair turistas, surgiu o Festambiente Sud — festival apoiado diretamente pela Legambiente que, em sete anos, levou mais de 300 mil pessoas para a pequena Monte Sant’Angelo, localizada em meio ao Parque Nacional do Gargano e conhecida dos peregrinos católicos pelo santuário de São Miguel Arcanjo. Apenas em 2011, foram mais de 40 mil visitantes no festival, que ocorre anualmente no mês de julho. Cerca de 300 artistas provenientes do mundo inteiro se apresentaram pelos teatros, praças e ruas da cidade. 24

Cenas do Festambiente Sud: grupo de teatro, eventos de gastronomia e encontros entre culturas em uma Mesquita enriquecem o turismo cultural na Puglia

O agroturismo da região da Toscana também foi discutido no congresso. Iniciado há mais de 20 anos, tornou a região da Maremma, no oeste da Toscana, o berço dos agroturismos que se disseminaram por toda a Itália, através de uma fórmula que conjugava hospitalidade, produtos agrícolas típicos da região e as paisagens bucólicas das colinas toscanas, atraindo os

Cidades Migrantes

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migrantes de origem estrangeira residentes na Itália que guiam estudantes e turistas para conhecer as comunidades nos bairros mais multiétnicos das grandes cidades italianas. Da ideia, nasceu, em 2009, a rede Città Migrande, apoiada pela agência de turismo Viaggi Solidali. Em 2010, em Turim, foi realizado o primeiro curso para “guias de turismo responsável”. Durante o primeiro ano de atividade, o grupo de guias migrantes contou as histórias das suas comunidades de origens nos bairros de Porta Palazzo e San Salvario a mais de mil turistas, entre estudantes e turistas italianos e estrangeiros. A filosofia do projeto sustenta estes bairros multiétnicos como uma grande ocasião para conhecer o mundo em um dia, já que, nos mercados de Porta Palazzo de Turim, por exemplo, se falam mais de 60 línguas. A iniciativa deve entrar em operação também nas cidades de Roma, Milão, Gênova e Florença em meados de 2012.

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grandes números do turismo costeiro da região. As cavernas de Frasassi, na província de Ancona, outro exemplo de ecoturismo apresentado no congresso, são conhecidas como Grotte di Frasassi: patrimônio natural único no seu gênero e entre as maiores cavernas turísticas do mundo, registram mais de 300 mil turistas por ano. Atualmente, está renovando sua oferta de serviços em nome da sustentabilidade ambiental e energética da estrutura que acolhe os visitantes. Fica em Genga, a menor cidade da região Marche um dos principais pólos de atração de turismo ambiental de toda a Itália. Descobertas em 1971 por um grupo de jovens geólogos da região, as cavernas foram abertas à visitação em 1974, quando foi finalizada a construção de um túnel artificial de acesso à rede de grutas e cavernas com mais de 20 km de extensão. A pequena parte aberta ao grande público é constantemente monitorada por sistemas eletrônicos, que mantêm a temperatura constante de 14 graus. O acesso ao público, mesmo extremamente controlado devido à fragilidade dos materiais calcários que constituem o interior das grutas, consiste em um percurso guiado de cerca de 90 minutos de duração. Outros circuitos, fechados a geólogos e especialistas, permitem visitas a áreas de difícil acesso.


Meio Ambiente gestão da água estão na base do trabalho que continua com aquele lançado há dois anos pela Região da Lombardia, por conta do primeiro Fórum.

Pacto d’água nasce em Milão Fórum realizado na Lombardia reuniu autoridades de vários países que decidiram adotar medidas para evitar o desperdício e a escassez do ouro azul em todo o planeta Guilherme Aquino

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De Milão

água do planeta Terra ganhou, em Milão, uma fonte de trabalho inesgotável. O Fórum Mundial das Regiões, realizado no final de setembro com a presença de 130 autoridades de áreas estratégicas espalhadas pelos cinco continentes, anunciou a criação do Pacto da Água. O documento foi assinado por representantes oficiais das regiões mais inovadoras e dinâmicas do mundo: Lombardia, Illions, Massachusetts, Califórnia, Seattle, Quebec, Nuevo León, São Paulo, Buenos Aires, Gauteng, Baden-Wurttemberg, Madri, Ródano-Alpes, Catalunha, Shangai, Cingapura e Maharashtra. Juntas, tais regiões são responsáveis por cerca de 10% da produção da riqueza do mundo e por 4,4 % da população do globo. Do encontro, saiu a decisão de criar e adotar medidas que evitem o desperdício

do chamado “ouro azul”, e aperfeiçoem a gestão da água como um bem comum e primordial dos habitantes do planeta. O secretário estadual de Recursos Hídricos de São Paulo, Edson Giriboni, chefiou a delegação paulista que visitou universidades e institutos públicos de excelência, como o Instituto Politécnico de Milão e o Instituto Nacional dos Tumores. — Em nossa área metropolitana, vivem cerca de 20 milhões de pessoas. O objetivo é aquele de permitir, graças a uma parceria pública-privada, o uso da água a todos os cidadãos — afirmou Edson Giriboni. A carta de intenções foi elaborada durante os três dias de intensos debates no Centro de Congressos de Milão e na sede da Região da Lombardia. O documento traça linhas de ações integradas e compartilhadas a partir do reconhecimento ambiental, econômico e ético da água. A troca de experiências entre os órgãos públicos e a adaptação de novos modelos de

O presidente da Lombardia Formigoni com Edson Girboni, secretário estadual de Recursos Hídricos de São Paulo, durante o Fórum Mundial das Regiões em Milão

Cenário preocupante As pesquisas indicam um cenário digno de preocupação. Até 2030, um terço dos habitantes do planeta irá viver em regiões com um precário sistema de abastecimento e, para não dizer, em uma escassa condição até para encher um copo d´água com o simples gesto de abrir uma torneira. Ao mesmo tempo, o aumento da população urbana eleva o seu consumo. Nesta conta, somem-se as consequências dos eventos climáticos: aquecimento global, inundações cada vez maiores e mais frequentes e contaminação da água. Enfim, a conta a pagar a médio prazo pode ser tão salgada quanto o mar Negro. E é melhor e mais barato prevenir agora do que remediar depois. Instituições públicas e centros de pesquisa de universidades devem promover investimentos para transferir know-how e novas tecnologias no abastecimento e uso da água, e para proteger as fontes. Também estão previstos a implantação de sistemas de regulamentos flexíveis, capazes de administrar com grande eficiência o consumo, e o uso de um canal de intercâmbio de experiências a partir de um planejamento conjunto e elaborado pelos membros do World Regions Forum (WRF). Todo esta rede de boas intenções será integrada à Expo 2015, que tem como tema Alimentar o Planeta, Energia para a Vida. Não por acaso, o WRF lançou as bases para projetos de governabilidade e da medicina. O objetivo é ampliar as cooperações multilaterais e desenvolver protocolos de práticas médicas de atendimento de excelência internacional. Interação e integração são as chaves para abrir novas portas e janelas no campo da cooperação internacional. A região lombarda, locomotiva da Itália, já partiu dando o bom exemplo. — A palavra-chave é o crescimento sustentável. O capital humano é a chave do desenvolvimento futuro. A construção de um ecossistema para a inovação em um ambiente não burocrático é a garantia de um “ambiente financeiro” eficaz para favorecer o crescimento e a competitividade — conclui o presidente da Lombardia, Roberto Formigoni.

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Meio Ambiente

Verde e criativa

Missão do Sebrae visita centros tecnológicos italianos para reforçar parcerias no âmbito de desenvolvimento de tecnologia ambiental Aline Buaes

Especial para Comunità

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desenvolvimento de tecnologias verdes e o apoio às médias e pequenas empresas foram os principais objetivos da missão do Sebrae que esteve na Itália em outubro para desenvolver ações de intercâmbio e fortalecer parcerias com instituições italianas. O presidente do Sebrae, Luiz Barreto, liderou o grupo, que participou de diversos compromissos, entre eles a V Conferência Itália-América Latina e Caribe e o 16º Meeting International, ambos em Roma. A viagem fez parte do calendário do Momento Itália-Brasil. Ex-ministro do Turismo do governo Lula, Luiz Barreto, em entrevista à Comunità Italiana, salientou a importância da Itália como parceira internacional do Sebrae, entidade privada sem fins lucrativos que fomenta a cultura empreendedora no Brasil com mais de 40 anos de atuação. — Um fator fundamental que nos une à Itália, país parceiro do Sebrae há mais de dez anos, é o tema da inovação tecnológica, fundamental para o Brasil sobreviver na concorrência de mercado com outros países emergentes —afirmou. Entre os diversos projetos, Barreto destacou o programa realizado no início dos anos 2000 com os distritos industriais da Lombardia, a experiência com empresas de crédito da região do Vêneto e o projeto em andamento com o distrito industrial de Pesaro, na Região Marche. 26

Este último projeto, que conta com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo da Região Marche, desde 2007 já envolveu mais de 250 empresas brasileiras produtoras de móveis dos estados do Amazonas e do Pará, em cooperação com o Cosmob (Centro de Tecnologia e Qualidade do Setor de Móveis) de Marche. O programa constitui um dos principais objetivos da missão de Barreto à Itália. — Este projeto, que entra agora em uma segunda fase e deve terminar em 2014, envolve o setor de madeira e móveis da Amazônia brasileira, madeira certificada e tecnologia com design de móveis avançado — destaca, ao comentar o objetivo do Sebrae em focar em “experiências de inovação tecnológica vinculadas à sustentabilidade”. Em um segundo momento, o Sebrae pretende expandir a atuação para outros setores da indústria, assim como para outros regiões brasileiras, como o Nordeste: o governador de Pernambuco já se disponibilizou em cooperar.

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O presidente do Sebrae nacional e ex-ministro do Turismo Luiz Barreto (de óculos) visitou o Cosmob em Marche, participou de conferência na Universidade Católica de Milão e visitou empresas de móveis em Pesaro

Missão brasileira O Cosmob é um centro especializado no setor de móveis e madeira, referência europeia em qualidade, inovação, internacionalização, formação e design de móveis. Criado em 1984, reúne 250 empresas. A visita da missão do Sebrae ao local percorreu os laboratórios de certificação da qualidade, teste, ensaios e inovação para analisar a metodologia de atendimento às médias e pequenas empresas. Também foi feita a apresentação do programa do curso de especialização em design, parte integrante do projeto financiado pelo BID, que inicia este mês sua segunda edição. Doze pessoas do Pará, Amazonas e Paraná irão à Itália para o curso. Os alunos selecionados são profissionais recém-formados nas áreas de design, inovação e tecnologia. O presidente do Sebrae defende que a sustentabilidade será o tema do século XXI e, que, neste momento, é preciso pensar na inovação tecnológica aliada à chamada “economia verde”.

— Em Lodi, perto de Milão, visitamos uma fazenda experimental extremamente interessante para o Brasil — conta Barreto, ao explicar como um pequeno produtor de leite e suínos criou uma usina experimental de biogás e se tornou auto-sustentável energeticamente. Em Milão, além de visitas a duas empresas com tecnologias ecológicas, a missão do Sebrae também firmou um protocolo de intenções com a Universidade Católica de Milão para ações de intercâmbio profissional, pesquisas e informações. — Queremos promover o diálogo entre a economia verde e criativa, a inovação e o mercado — explica o presidente do Sebrae sobre os projetos de cooperação com a Itália que a entidade está buscando para o futuro.


Cultura

Abruzzo se afirma em São Paulo Sucesso do projeto byAbruzzo no Brasil traz representantes da região italiana em busca de expansão em outros países da América do Sul Camila Ciberi

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De São Paulo

m visita ao Brasil, representantes de Abruzzo puderam ver de perto a cultura brasileira e a influência italiana por toda a cidade de São Paulo. Acompanhados do deputado Fabio Porta e dos conselheiros regionais Franco Caramanico e Antonio Prospero, durante quatro dias, tiveram a oportunidade de ver resultados do projeto-piloto byAbruzzo e abrir portas para expandir os negócios em outros países do continente. O byAbruzzo tem como objetivo promover o vínculo da região com o Brasil, seja através da cultura e do turismo, seja da exportação de especialidades enogastronômicas. A entidade surgiu de um projeto-piloto da região, no centro da Itália, que escolheu o país por conta da receptividade dos brasileiros à cultura italiana e pelo fato de ser um dos países com o maior número de imigrantes italianos.

— O balanço da visita da comitiva foi muito positivo. Pudemos ver que nossos investimentos têm dado certo no país e, com isso, pretendemos expandir a mesma relação que mantemos com o Brasil junto aos demais países da América do Sul — esclarece Franco Marchetti, presidente das associações abruzzesas no país. Além de trabalharem para a abertura de novos negócios, os representantes foram a Valinhos, cidade do interior paulista, para uma apresentação de dança folclórica, juntamente com representantes da Associação Abruzzo Forte e de Itaquaquecetuba, onde participaram de uma missa e almoço oferecido pelos próprios sacerdotes. Música e almoço Durante o evento, realizado na Casa da Fazenda, no bairro do Morumbi, no último dia 31, a delegação de Abruzzo, juntamente com o cônsulgeral de São Paulo, Mauro Marsili, conversou com representantes do Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. A boa música italiana e brasileira foi garantida com os tenores Mario e Luiz Ricardo Sartonelli e com os músicos da escola de samba Unidos de São Lucas.

Diversas instituições e empresas brasileiras estavam presentes no evento, como o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, Jockey Club e MuBE, o Museu Brasileiro da Escultura. — Todas essas entidades foram de grande importância para o desenvolvimento do byAbruzzo no Brasil, e sempre nos ajudaram e cresceram junto com o projeto — explica Marchetti. Como perspectiva para o futuro, Marchetti acredita que ainda há muito para investir por aqui. — Depois do terremoto que aconteceu em Áquila, os investimentos fora da região cessaram. Não pudemos pensar em nada que não fosse reconstruir a nossa cidade. O terremoto, que aconteceu no dia 6 de abril de 2009, devastou a região de Abruzzo e deixou mais de 250 mortos e milhares de desabrigados. Segundo Marchetti, naquela época, a atenção às importações caiu e a relação com o Brasil teve que ser recomeçada. A comitiva deixou o país rumo à Venezuela para participar de um encontro de jovens descendentes de abruzzezi na América Latina.

Vinho e cultura de Abruzzo

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projeto byAbruzzo foi inaugurado em 2008 com o objetivo de trazer para o Brasil um pouco da cultura da região italiana, que tem como capital Áquila e reúne atrações naturais como grutas, lagos e praias pouco exploradas — além de produtos típicos da área. Com duas sedes em São Paulo, uma localizada na capital e outra em Ribeirão Preto, a instituição promove desde eventos culturais à exportação de especialidades da região de Abruzzo, como vinho, azeite e massas. Os vinhos constituem o forte da exportação: sua produção já atinge os 3,6 milhões de hectolitros, sendo o quarto no ranking de produtores da Itália.

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Negócios

Por duas rodas

participantes estavam Decathlon, Centauro, Pedalpower, Olimpus Global e Soulcycle-Proimport. Todos fizeram visitas técnicas aos principais pontos de venda de bicicletas e acessórios da cidade de São Paulo e visitaram a Bike Expo Brasil, a maior feira brasileira do setor.

Região da Lombardia trouxe para o Brasil missão empresarial voltada para o setor de bicicletas que promoveu rodada de negócios e passeios ciclísticos Vanessa Corrêa da Silva ntre os dias 15 e 19 de outubro, São Paulo recebeu missão empresarial que trouxe ao Brasil fabricantes italianos de bicicleta, com o objetivo de promover a alta tecnologia e o design diferenciado e buscar novas parcerias e oportunidades de negócio no mercado brasileiro. A iniciativa foi organizada pela região da Lombardia, pela União Italiana de Câmaras do Comércio, Indústria, Artesanato e Agricultura (Unioncamere), pela Empresa Especial da Câmara de Comércio de Milão para as Atividades Internacionais (Promos) e pela Associazione Nazionale Ciclo Motociclo Accessori (Ancma). A delegação italiana foi composta por 13 empresas e produtores artesanais de destaque no setor de bicicletas da região da Lombardia: Atala, Bianchi, Casati, Cicli Zanoni, Esposito Cicli, Gruppo, Laser, Malvestini Cerchi, MB Bike, Olmo, Pelizzoli, PMP e Speed Cross. A empresa milanesa Esposito Cicli produz bicicletas artesanais

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Fotos: Patricia Caggegi

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De São Paulo

e encomendadas sob medida, além de vender acessórios e roupas especiais para ciclistas. Já a Pelizzoli, empresa de Giovanni Pelizzol, ex-cliclista profissional que iniciou sua carreira na fabricação de bicicletas ajudando um artesão de Bergamo. As bicicletas de Pelizzoli foram usadas por diversos atletas italianos. Nas décadas de 1970 e 1980, foram as bicicletas oficiais da seleção polonesa de ciclismo. A empresa Cicli Zanoni, da cidade de Arluno, ao norte de Milão, foi criada em 1998, mas atua no ramo de fabricação de bicicletas desde 1928, quando começou a produzir peças artesanais. Entre as empresas brasileiras

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Representantes de 13 empresas italianas do setor de ciclismo passaram cinco dias em São Paulo em busca de novos negócios

Passeio e negócios Além de atividades voltadas ao meio empresarial, que incluíram palestras, workshops e rodadas de negócios na sede do Circolo Italiano de São Paulo, a iniciativa também contou com eventos abertos ao público, como o passeio ciclístico Pedalando bicicletas da Lombardia. Organizado no dia 16 de outubro, o passeio, no qual os participantes pedalaram do Parque do Povo, no bairro do Itaim, ao Parque do Ibirapuera, teve o apoio da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo e da Agência Nacional Italiana de Turismo (Enit). O evento também fez parte do projeto Itália comes to you, promovido pela Enit com o objetivo de incentivar o turismo de brasileiros na Itália. Após o passeio, foi realizado um workshop sobre roteiros turísticos italianos que podem ser feitos com bicicletas. Também dentro da missão empresarial, foi organizada a exposição Made in Italy, que trouxe para o Brasil modelos de bicicletas e acessórios de fabricação italiana. A mostra ficou em cartaz no Conjunto Nacional até o dia 5 de de novembro, na avenida Paulista, junto com a exposição DNA Italiano.


Turismo

A curva sobe

italiano na ABAV, juntamente com a Unioncamere — União das Câmaras de Comércio italianas. — Para nós, é uma possibilidade de crescimento, pois muitos brasileiros que não podiam viajar para o exterior nas férias, agora podem fazêlo. Na Lombardia, temos o turismo de negócios em Milão, mas também outros roteiros como cultural, de design, moda, futebol e natureza.

Cintia Salomão Castro

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omo se fosse pouco figurar entre os destinos mais sonhados pelos brasileiros, a Itália conquista cada vez mais turistas do lado de cá. Embalados pela ascensão econômica da classe C no Brasil, os números não mentem: desde 2009, o turismo nas cidades italianas por parte de viajantes brasileiros cresceu mais de 45% ao ano. — Além da ascensão da classe C, a valorização do real através do câmbio contribuiu para favorecer esse crescimento — contou à Comunità a diretora de marketing da ENIT, a Agência Nacional Italiana de Turismo, Fernanda Morici, durante o 39º Congresso Brasileiro de Agências de Viagens, conhecido como Congresso da ABAV. O evento aconteceu entre 19 e 21 de outubro, no Rio de Janeiro. Este foi o décimo ano consecutivo em que o órgão oficial do turismo italiano marca presença no maior congresso brasileiro do setor. Este ano, o congresso, que abrigou a Feira das Américas, recebeu mais de 23 mil visitantes no pavilhão do Riocentro, onde estiveram reunidos estandes de 45 países, além de companhias aéreas e agências de viagem.

Ampliação da rota Embora os locais mais visitados ainda sejam cidades famosas como Roma, Milão, Florença e Veneza, o turismo tende a se expandir rumo a regiões menos procuradas — mas não menos encantadoras — a exemplo do litoral siciliano, destaca Fernanda. O brasileiro fica, em média, de oito a 15 dias na Itália. — Lácio, Toscana, Vêneto e Lombardia figuram entre as regiões mais visitadas, mas verificamos que os brasileiros começam a procurar locais menos visitados, como a Costa Amalfitana, a Sicília, a Ligúria e a Calábria — observa. O estande italiano reuniu missões da Lombardia e da Toscana, regiões largamente visitadas pelos turistas. Para promover roteiros, lombardos e toscanos levaram representantes de operadores turísticos e hotéis ao Riocentro. O aumento do poder aquisitivo de milhões de brasileiros, antes excluídos da possibilidade de gastar no exterior, significa crescimento do turismo, confirma Bruno Aloi, da Promos Milano, uma das entidades organizadoras do estande

Além de Florença e Pisa A Região Toscana também comemora os índices dos últimos meses. No primeiro semestre de 2011, o crescimento foi de 40 a 45%, conta o diretor de turismo da agência de promoção econômica da Toscana, Alberto Peruzzini. — O turismo não é apenas voltado para Florença. As cidades toscanas mais visitadas pelos brasileiros são Florença, Siena e Pisa, mas emergem destinos como San Geminiano, Luca, Cortona, Montalcino e Monte Vulcano — detalha Peruzzini. Os toscanos também querem mostrar aos brasileiros que há cidades pouco comentadas próximas dos roteiros mais famosos. De Pisa, em pouco mais de uma hora de carro, por exemplo, você chega ao encantador litoral de Cinque Terme, explica Luca Martucci, exdiretor da Alitalia no Brasil, da Concept Marketing Promocional. Além das cidades de arte, a Toscana oferece praias certificadas com a bandeira ambiental laranja, circuitos de enogastronomia e escolas gastronômicas prestigiadas, completa Peruzzini. Márcio Roberto Vicente

ENIT marca presença no Congresso da ABAV e comemora aumento de turistas brasileiros na Itália embalado pela ascensão econômica da classe C

Alessia Occhipinti, do marketing territorial da Câmara de Comércio de Milão, e Bruno Aloi, da Promos Milano, durante no Congresso da Abav: aposta no crescimento da classe C brasileira que já viaja para o exterior

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Notícias

Italian way Itália é um dos nossos maiores aliados, um dos

“A

membros fundadores da Otan”. Com essa frase, o presidente norte-americano Barack Obama fez sua intervenção na cerimônia de gala da fundação ítalo-americana Niaf, diante de duas mil pessoas, no final de outubro. Obama arrancou aplausos quando afirmou “Viva l’Italia”. O evento reuniu personalidades de ambos os países, como Emma Marcegaglia, presidente da Confindustria; o prefeito de Roma, Gianni Alemanno; o presidente da província de Salerno, Giancarlo Lanna; o vice-diretor do Tg1 Rai, Gennaro Sangiuliano; o exdiretor do FBI, Louis Freeh; o ator Martin Scorsese, associado da Niaf; o músico Frankie Avalon; Frank G. Mancuso, CEO da Paramount Pictures; e Santo Versace, presidente da Gianni Versace e chairman da ONG Fundação Operation Smile Italia. Quem saiu premiado na noite foi o presidente do Adler Group, Paolo Scudieri, como o empresário do ano, promotor das relações entre os dois países. A empresa, cuja sede fica na província de Nápoles, se ocupa de componentes automotivos. Em menos de três anos, abriu quatro estabelecimentos e emprega mais de mil pessoas em território americano.

Pininfarina fecha fábrica grupo Pininfarina anunciou que vai deixar de produzir

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carros, continuando apenas com o trabalho de design, que tornou a marca famosa, e o de engenharia. A empresa diz que também vai focar em tecnologias “verdes” para carros elétricos, entre outros planos. A Pininfarina já tinha se desfeito dos departamentos de montagem e de pintura. Seus 127 funcionários serão dispensados. Os últimos contratos para fabricação de carros foram os do Alfa Romeo Spider e Brera e o do Ford Focus Coupe-Cabriolet 2008, que venceram em 2010. A produção ocorria em duas plantas na Itália e em uma da Suécia, que funcionava em parceria com a Volvo. Fundado em 1930, o estúdio italiano ficou famoso por desenhar modelos para a Ferrari, entre eles a California Spider e a Daytona Spider. A montagem de carros especiais, um negócio secundário, chegou a 40 mil unidades ao ano, mas o ritmo caiu bastante após a crise mundial, em 2008.

Café com impressão digital Philips acaba de lançar a cafeteira Saeco Xelsis Digital

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ID. A tecnologia de impressão digital é um dos destaques dessa máquina, a fim de identificar a forma com que a pessoa gosta de beber o café. Quando a pessoa utiliza a cafeteira pela primeira vez, é necessário pressionar o dedo sobre um pequeno sensor integrado por três vezes para poder criar o perfil de usuário. A cafeteira possui três perfis pré-programados para a configuração da máquina para que, da próxima vez em que for acionada através da digital, identifique o perfil e produza o café ao seu gosto: fraco ou forte, e com a quantidade certa de leite e espuma. A cafeteira é fabricada na Itália e já está disponível para compra na Amazon, com preço sugerido de 1.700 libras.

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Gênova sob água arros arrastados pela correnteza, escolas fechadas,

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móveis boiando, dezenas de lojas alagadas, estradas bloqueadas, turistas atônitos que tentam se abrigar em marquises, telefones que não funcionam, corpos encontrados nas ruas. O cenário, já visto em várias cidades do Brasil e do mundo nos últimos anos, abateu-se sobre Gênova entre os últimos dias de outubro e início de novembro. Os bombeiros trabalham dia e noite para evacuar as regiões mais perigosas. Pelo menos seis pessoas morreram depois que o Bisagno, maior curso d’água da cidade, transbordou. Poucas semanas antes, a emergência climática já havia causado caos e três mortes em Roma, em 20 de outubro, quando a prefeitura da capital italiana chegou a fechar o Coliseu por medida de segurança.

Design sustentável m parceria com o Ministério italiano do Meio Ambien-

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te, o Museu da Casa Brasileira de São Paulo realizou, de 8 de outubro a 6 de novembro, a mostra Design Italiano para a Sustentabilidade. Com curadoria de Marco Capellini, designer e consultor do Ministério italiano das Atividades Produtivas e do Observatório italiano de Resíduo, a exposição deu continuidade ao livro Design Italiano per la Sostenibilitá, editado em 2009 pelo governo italiano. A publicação teve a finalidade de colocar em evidência uma seleção de produtos de empresas italianas que souberam integrar responsabilidade ambiental com inovação e design. A mostra teve como objetivo conscientizar os visitantes em relação aos problemas ambientais intrínsecos à produção de objetos de consumo e orientá-los sobre a importância de fazer escolhas com base na preservação do equilíbrio ambiental e no uso responsável dos recursos naturais.


milão

Guilherme Aquino

Reflexo negativo s cortes realizados pelo Ministério ita-

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liano da Educação, do governo Berlusconi, diminuíram a quantidade de professores nas escolas. Uma das consequências imediatas é a redução drástica de atividades extracurriculares, fundamentais na formação de uma criança. A conta é rapidamente feita: as visitas guiadas aos museus para os alunos do nível elementar foram praticamente excluídas da programação. O Museu de História Natural recebeu 53.350 alunos em 2010 contra 70.825, em 2009, o de Ciência e Tecnologia perdeu quase 20% do movimento infantil. Uma pena.

Caça aos sonegadores

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município de Milão vai rastrear quem dribla o “leão” italiano. E não basta, para ser suspeito, ostentar sinais de grande bem-estar, como iates e barcos à vela. Renda e tipo de consumo vão ter os dados cruzados à exaustão. E se começa pelos novos questionários distribuídos a quem pedir ajuda ao comune.

A obra-prima Estação da música conceitual, La

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Stazione, composta pelo artista suíço Herbert Distel, foi exibida pela primeira vez, em Milão, no Hangar da Bicocca. Ela tinha sido realizada entre os anos de 1987 e 1991 e nunca tinho sido transmitida na cidade italiana. Herbert Distel gravou, durante cinco dias, os sons dos trens, das pessoas que circulam pela estação, os rumores de fundo... Depois, no estúdio da rádio Suíça, mixou o material e criou uma sinfonia de sons e barulhos com quase uma hora de duração. A composição foi um marco importante no cruzamento da arte conceitual com a música concreta. Somente 20 anos depois, os italianos puderam ouvi-la, finalmente.

Quem quiser ter acesso a descontos nas creches públicas, por exemplo, vai ter que mostrar coerência entre o padrão de vida e a conta bancária. E isso sem falar nos controles que serão feitos com proprietários de carros luxuosos que vivem em apartamentos do município, pagando um aluguel abaixo do mercado.

Logística italiana Região da Lombardia é a líder itaExpo, a largada partida da Expo 2015 começou para

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valer. Tratores e escavedeiras iniciam os trabalhos de terraplanagem da área em Rho-Pero, na grande Milão. Serão obras monumentais, ecologicamente corretas e sustentáveis, e que irão abrigar uma gigantesca torre de Babel com pavilhões de 130 países — número que pode chegar a 150. Os pavilhões nacionais terão de 500 a 4.500 metros quadrados. Somente para se ter uma ideia dos custos, um pavilhão com 2.000 metros quadrados está orçado em 7 milhões de euros. Espera-se cerca de 20 milhões de visitantes.

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liana na quantidade de galpões para o armazenamento de produtos e espaços destinados aos escritórios à espera do destino final. Aqui estão concentrados 20% dos galpões de todo o país, quase o dobro da segunda colocada, a região do Piemonte. E, como sinal de avanço e de crescimento, apesar da crise, a Lombardia tem ainda o maior arranha-céu da Itália. Em fase final de acabamento, mas já tocando as nuvens 236 metros acima do solo, ganha altura a torre de Porta Nova, criada pelo arquiteto argentino Cesar Pelli. Ela vai abrigar a sede do colosso bancário Unicredit.

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Atualidade

“O mundo inteiro olha com atenção para esta nova classe média brasileira” Emma Marcegaglia, presidente da Confindustria

“Il mondo rivolge un attento sguardo a questo nuovo ceto medio brasiliano” Emma Marcegaglia, presidente di Confindustria

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Confindustria tira o chapéu Confindustria si toglie il cappello Das relações de amizade até as ações concretas para o comércio e os investimentos bilaterais, 150 empresários, dirigentes e políticos brasileiros discutem em Roma as melhores formas de colaboração entre Brasil e Itália

Dai rapporti di amicizia fino alle azioni concrete per il commercio e gli investimenti bilaterali, 150 imprenditori, dirigenti e politici brasiliani discutono a Roma le migliori formule di collaborazione tra il Brasile e l’Italia

Aline Buaes

Especial para Comunità

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o dia seguinte ao encerramento da V Conferência Itália – América Latina e Caribe, quando o Brasil se apresentou como principal destaque do evento que reuniu diplomatas, ministros e líderes de organizações internacionais para discutirem soluções conjuntas para a crise econômica, Roma abriu suas portas novamente para uma importante delegação brasileira. Desta vez, a sede da poderosa Confederação Industrial da Itália (Confindustria) curvou-se diante de uma inédita invasão de mais de 150 grandes empresários brasileiros, dispostos a ouvir e a negociar possibilidades de cooperação com as empresas italianas. Entre os dias 5 e 11 de outubro, o Lide (Grupo de Líderes Empresariais do Brasil), realizou na Itália seu 16º Meeting Internacional e reuniu empresários, grandes corporações e governos de diferentes países com o objetivo de fortalecer relacionamentos e debater importantes questões, com temas de desenvolvimento econômico, social e ambiental. Considerado o maior evento empresarial realizado fora do Brasil, o Meeting já passou nos últimos anos por países como Colômbia, Portugal, Argentina, México e África do Sul. Este ano, o país foi escolhido no âmbito das iniciativas para celebrar o Momento Itália-Brasil, que vai até junho de 2012. O auditório da Confindustria abrigou, no dia 7 de outubro, o seminário Relações Econômicas e Integração Brasil/Itália, que reuniu, além deste grupo de CEOs brasileiros jamais vistos simultaneamente na Itália, autoridades dos dois governos, como o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Fernando Pimentel; o ministro da Ciência,

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l giorno dopo la chiusura della V Conferenza Italia – America Latina e Caraibi, in cui il Brasile si è presentato come principale soggetto dell’evento che ha riunito diplometici, ministri e leader di organizzazioni internazionali per discutere soluzioni unanimi per la crisi economica, Roma ha riaperto le sue porte ad un’importante delegazione brasiliana. Stavolta la sede della potente Confindustria (Confederazione Generale delle Industrie d’Italia) si è curvata di fronte ad un’inedita invasione di più di 150 grandi imprenditori brasiliani, disposti ad ascoltare e a negoziare possibilità di cooperazione con le imprese italiane. Tra il 5 e l’11 ottobre il Lide (Gruppo di Leader Imprenditoriali Brasiliani) ha prodotti in italian il suo 16º Meeting Internazionale ed ha riunito imprenditori, grandi corporazioni e governi di vari Paesi con l’obiettivo di rafforzare rapporti e dibattere importanti questioni, con temi legati allo sviluppo economico, sociale ed ambientale. Considerato come il maggior evento imprenditoriale realizzato al di fuori del Brasile, il Meeting è già stato realizzato negli ultimi anni da paesi come la Colombia, il Portogallo, l’Argentina, il Messico e l’Africa del Sud. Quest’anno il Brasile è stato scelto nell’ambito delle iniziative per celebrare il Momento Italia-Brasile che avrà luogo fino al giugno 2012. Il 7 ottobre l’auditorium di Confindustria ha ospitato il seminario Rapporti Economici e Integrazione Brasile/ Italia che ha visto riuniti, oltre a questo gruppo di Ceo brasiliani mai visti prima simultaneamente in Italia, autorità dei due governi come i ministri brasiliani dello Sviluppo, Industria e Commercio Estero, Fernando Pimentel e quello di Scienza, Tecnologia e Innovazione, comunitàitaliana | novembro 2011

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Atualidade

Tecnologia e Inovação do Brasil, Aloizio Mercadante; o vice-secretário do Ministério italiano do Exterior, Vincenzo Scotti; e a presidente da Confindustria, Emma Marcegaglia. Na abertura do seminário, o vice-presidente de Relações Internacionais da Confindustria, Paolo Zegna, afirmou que o Brasil “chegou hoje ao topo das nossas exportações” e defendeu que “apenas trocas comerciais não bastam, é preciso investimentos diretos e parcerias concretas entre as nossas empresas”. — É necessário, também, olhar os estados do Centro-Oeste e do Nordeste, que têm crescido mais do que o Brasil e que apresentam grandes oportunidades de negócios — afirmou o economista e presidente da grife de moda masculina Ermenegildo Zegna, destacando a importância dos estados “emergentes da economia brasileira”. Zegna também reiterou a importância de apoiar o estabelecimento de pequenas e médias empresas italianas no Brasil, para que “possam seguir o caminho das grandes empresas já estabelecidas no país”, contando com o apoio do que ele definiu como o ‘creme de la creme’ do empresariado brasileiro presente no evento. Experiência em crises O ministro da Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, destacou que a crise mundial atinge hoje duramente a União Europeia, mas está confiante que tanto a Europa quanto a Itália irão superá-la. — Há uma mudança no padrão industrial de hoje, com o bloco de países asiáticos que produzem manufatura mais barata. Precisamos estar preparados para isto — lembra o ministro. Para ele, também haverá uma mudança de padrão monetário, pois a moeda de um país, os Estados Unidos, como moeda única mundial, é “danosa”. — A cooperação entre Brasil e Itália é fundamental, pois o Brasil precisa absorver conhecimento técnico e científico e a Itália precisa retomar o vigor de sua economia — completou o ministro brasileiro, que também destacou a presença de 25 milhões de descendentes de italianos, “um fator que abre portas”. Para ele, a crise é passageira, mas “os laços de amizade entre os dois países permanecerão”. O ministro italiano do Exterior, Vincenzo Scotti, relembrou o papel de destaque do Brasil na V Conferência Itália – América Latina e Caribe, ocorrida nos dias anteriores, na sede da Farnesina, em Roma, quando surgiram indicações sobre a necessidade de reformas econômicas urgentes. Dos países latino-americanos que enfrentaram diversas crises econômicas, “vieram indicações muito úteis para nós, países desenvolvidos sem

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O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, fala durante o meeting em Roma: “Cooperação entre Brasil e Itália é fundamental”

Il ministro dello Sviluppo, Industria e Commercio Estero, Fernando Pimentel, ha detto durante il meeting a Roma: “Cooperazione tra Brasile e Italia è fondamentale”

Aloizio Mercadante; il vice segretario del Ministero degli Esteri italiano, Vincenzo Scotti, e il presidente di Confindustria, Emma Marcegaglia. Durante l’apertura del seminario il Vice Presidente per l’Internazionalizzazione della Confindustria, Paolo Zegna, ha detto che il Brasile “oggi ha raggiunto l’apice delle nostre esportazioni” ed ha sottolineato che “solo scambi commerciali non bastano, c’è bisogno di investimenti diretti e partnership concrete tra le nostre imprese”. — Inoltre bisogna anche rivolgersi agli stati del Centro-Ovest e del Nord-Est, che hanno avuto una crescita maggiore in Brasile e che presentano grandi opportunità di affari – ha affermato l’economista e presidente della griffe di moda maschile Ermenegildo Zegna, sottolineando l’importanza degli stati “emergenti dell’economia brasiliana”. Inoltre Zegna ha ribadito l’importanza di dare supporto all’installazione di piccole e medie imprese italiane in Brasile affinché “possano seguire la strada delle grandi imprese già stabilite lí”, contando sull’appoggio di ciò che lui ha definito la crème de la crème dell’imprenditoria brasiliana presente all’evento. Esperienza in crisi Il ministro dell’Industria e Commercio Estero, Fernando Pimentel, ha sottolineato che la crisi mondiale oggi attinge duramente l’Unione Europea, ma ha piena fiducia nel fatto che tanto l’Europa, quanto l’Italia, la supereranno. — C’è un cambiamento nello standard industriale odierno, con il blocco di paesi asiatici che producono manufattura più economica. Dobbiamo essere pronti a questo — ricorda il ministro. Secondo lui ci sarà anche un cambiamento nello standard monetario, visto che la valuta di un paese, gli Stati Uniti, come moneta unica mondiale, è “dannosa”. — La cooperazione tra Brasile e Italia è fondamentale dato che il Brasile ha bisogno di assorbire conoscenze tecniche e scientifiche e l’Italia deve riprendere il vigore della sua economia — ha concluso il ministro brasiliano che ha anche messo in risalto il fatto che la presenza di 25 milioni di discendenti di italiani sia “un fattore che apre le porte”. Secondo lui la crisi è passeggera, ma “i legami di amicizia tra i due paesi continueranno”. Il ministro italiano degli Esteri, Vincenzo Scotti, ha ricordato il ruolo di spicco del Brasile nella V Conferenza Italia – America Latina e Caraibi, avutasi nei


esta experiência”, afirmou. Ele ainda salientou a complementaridade entre as economias italiana e brasileira: — O Brasil precisa de tecnologias, infra-estrutura e cultura empreendedora. Existe um cenário com oportunidades enormes para os empresários dos dois países. O presidente do Lide Internacional e ex-ministro brasileiro da Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, com um belo discurso em italiano, afirmou que o Brasil, que recebeu os italianos tantas décadas atrás, “como um filho que cresce e se destaca em meio à crise econômica mundial” e acrescentou que “chegou a hora da Itália redescobrir o Brasil”, destacando números positivos da economia brasileira, como os 30 milhões de consumidores que chegaram à classe média nos últimos oito anos. Furlan também afirmou que este encontro foi diferente dos encontros anteriores, quando a ênfase era sempre de investimentos italianos no Brasil.

“A cooperação entre Brasil e Itália é fundamental, pois o Brasil precisa absorver conhecimento técnico e científico e a Itália precisa retomar o vigor de sua economia” Fernando Pimentel, ministro da Indústria e Comércio Exterior do Brasil — Com este momento particular do Brasil, os investidores brasileiros estão olhando o mercado italiano e europeu do futuro e também oportunidades de parcerias. É um bom momento de diálogo para consolidarmos uma via de duas pistas, da Itália para o Brasil e do Brasil para a Itália — declarou Furlan, após o encerramento do evento. Outros convidados especiais do evento, como o embaixador da Itália no Brasil, Gherardo La Francesca, e o embaixador do Brasil na Itália, José Viegas, salientaram ainda mais a amizade entre os dois países. Viegas elogiou a parceria “amigável” com seu correspondente no Brasil, La Francesca, e destacou que a presença de uma comitiva tão numerosa e ilustre é uma demonstração clara do governo e da elite industrial brasileira da vontade de aumentar as relações entre os dois países.

O embaixador Gherardo La Francesca destacou a presença da numerosa comitiva, demonstrando a vontade do governo e da elite industrial brasileira de estreitar as relações entre os dois países

L’ambasciatore Gherardo La Francesca ha sottolineato la presenza della numerosa comitiva, dimostrando il desiderio del governo e della élite industriale brasiliana di stringere il legami tra i due Paesi

“La cooperazione tra Brasile e Italia è fondamentale dato che il Brasile ha bisogno di assorbire conoscenze tecniche e scientifiche e l’Italia deve riprendere il vigore della sua economia” Fernando Pimentel, ministro brasiliano dell’Industria e Commercio Estero

giorni anteriori presso la Farnesina a Roma, quando sono venute a galla indicazioni del bisogno di riforme economiche urgenti. Dai paesi latinoamericani che hanno affrontato varie crisi economiche “sono venute indicazioni utilissime per noi, paesi sviluppati senza questa esperienza”, ha detto, sottolineando, inoltre, la complementarità tra le economie italiana e brasiliana: — Il Brasile ha bisogno di tecnologie, infrastruttura e cultura imprenditrice. C’è uno scenario dalle enorme oppurtunità per gli imprenditori dei due paesi. Il presidente del Lide Internacional ed ex ministro brasiliano dell’Industria e Commercio, Luiz Fernando Furlan, con un bel discorso fatto in italiano ha detto che il Brasile, che ha ricevuto gli italiani tanti decenni fa “come un figlio che cresce e si mette in risalto nel mezzo della crisi economica mondiale” ed ha aggiunto che “è arrivato il momento in cui l’Italia deve riscoprire il Brasile”, sottolineando i numeri positivi dell’economia brasiliana, come i 30 milioni di consumatori che hanno raggiunto il ceto metio negli ultimi otto anni. Inoltre Furlan ha detto che questo incontro è stato diverso dagli anteriori, in cui l’enfasi erano sempre gli investimenti italiani in Brasile. — Con questo particolare momento del Brasile gli investitori brasiliani stanno guardando il mercto italiano ed europeo del futuro e anche le opportunità di partnership. È un buon momento di dialogo per consolidare una via a doppio senso, dall’Italia verso il Brasile e dal Brasile verso l’Italia — ha dichiarato Furlan dopo la chiusura dell’evento. Altri invitati speciali dell’evento, come l’ambasciatore italiano in Brasile, Gherardo La Francesca, e l’ambasciatore brasiliano in Italia, José Viegas, hanno messo in risalto ancor di più l’amicizia tra i due paesi. Viegas ha fatto i complimenti alla partnership “di amicizia” con il suo corrispondente in Brasile, La Francesca, e ha sottolineato che la presenza di una comitiva cosí numerosa ed illustre è una chiara dimostrazione del governo e dell’élite industriale brasiliana della volontà di allargare i rapporti tra i due paesi. — Questo incontro con imprenditori italiani alla Confindustria è un segno della vitalità delle nostre relazioni e dell’interesse costante di farle divenire sempre più dense ed intense — ha dichiarato Viegas. La maggior parte degli imprenditori partecipanti al 16º Meeting Internazionale sono stati unanimi nel dire che l’incontro ha costituito una grande opportunità per stabilire contatti per promuovere affari e per dibattere relazioni bilaterali. — Questo Meeting è di un’importanza fondamentale, è il maggior evento d’insieme di imprenditori e governo brasiliani nell’anno dell’Italia in Brasile, nel momento in cui l’Italia si consolida come l’ottavo partner commerciale del Brasile — ha sottolineato il presidente della TAM, una delle principali aziende di supporto dell’evento, Líbano Barroso, che inoltre ha rivelato la possibilità di nuove rotte della compagnia aerea brasiliana verso l’Italia. Barroso ha detto che la compagnia aerea già “va bene” con la rotta giornaliera per Milano, ma che vorrebbe trovare “maniere di aumentare il flusso tra l’Italia e il Brasile”. Per Cássio Zandoná, sovrintendente del Gruppo Amil in Brasile, l’incontro serve come opportunità per promuovere affari con imprenditori italiani. — Studiando i mercati europei della sanità abbiamo imparato molto, scoprendo che è un mercato di grande successo, quello del servizio medico. Siamo venuti qui per aumentare questo know how ed importare tecnologia per il Brasile — ha rivelato Zandoná. comunitàitaliana | novembro 2011

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Atualidade

— Este encontro com empresários italianos na Confindustria é sinal da vitalidade das nossas relações e do interesse constante em torná-las cada vez mais densas e intensas — declarou Viegas. A maioria dos empresários participantes do 16º Meeting Internacional foi unânime ao afirmar que o encontro constituiu uma grande oportunidade para estabelecer contatos para a geração de negócios e para debater relações bilaterais. — Este Meeting é de importância fundamental, é o maior evento de empresários e governo brasileiro conjuntos no ano da Itália no Brasil, no momento em que a Itália se consolida como oitavo parceiro comercial do Brasil — destacou o presidente da TAM, uma das principais apoiadoras do evento, Líbano Barroso, que também revelou a possibilidade de novas rotas da companhia aérea brasileira para a Itália. Ele afirmou que a companhia aérea “está bem” com a rota diária para Milão, mas que deseja encontrar “formas de aumentar o fluxo entre Itália e Brasil”. Para Cássio Zandoná, superintendente do Grupo Amil no Brasil, o encontro serve como oportunidade de gerar negócios com empresários italianos. — Estudando os mercados europeus de saúde, aprendemos muito ao descobrir que é um mercado muito bem sucedido de atendimento médico. Viemos aqui estreitar este conhecimento e importar tecnologia para o Brasil — revelou Zandoná. Oportunidades em mão dupla O diretor da Confederação Nacional da Indústria do Brasil (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, afirmou que o 16º Meeting promoveu um encontro de muitos interesses comuns. Apesar de a Itália estar em crise, acredita, é sempre bom juntar empresários de diferentes países, “pois sempre existem oportunidades de interesse comum”. Para Fernandes, o setor industrial mais promissor do Brasil neste momento é a área de petróleo e gás. — A oferta instalada do Brasil não é suficiente para atender a todas as demandas, acredita. Existe necessidade de novos investimentos e de importação de produtos e serviços, em uma gama muito variada,

Mais de 150 grandes empresários brasileiros, como os presidentes da Tam e do Grupo Amil, estiveram reunidos com industriais italianos

Più di 150 grandi imprenditori brasiliani, come il presidente della Tam e del Grupo Amil, si sono riuniti con industriali italiani

Doria, o principal articulador

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rincipal articulador do 16º Meeting Internacional, João Doria Jr., presidente do Grupo Doria e do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), impressionou o público presente durante o seminário Relações Econômicas e Integração Brasil/Itália, formado por empresários e governantes brasileiros e italianos, com seus discursos desenvoltos e descontraídos em italiano, que incluíram piadas e brincadeiras, como a sugestão de trocar Paulo Skaff, presidente da Fiesp, por Emma Marcegaglia, presidente da Confindustria. Paulistano de origens genovesas, o empresário do setor de comunicação e marketing é conhecido do grande público brasileiro por apresentar o reality show O Aprendiz, da Rede Record. Em entrevista exclusiva à Comunità, Doria Jr. avaliou com sucesso o evento: salientou a presença “da maior comitiva de autoridades políticas e empresários brasileiros que já esteve na Itália”, a qual impulsionou a ampliação das relações empresariais e fortalecimento do relacionamento bilateral e destacou o avanço econômico brasileiro que caminha a passos largos, pois, em plena crise financeira mundial, “nosso país consegue se destacar e se firmar diante de turbulências”. — A Itália é hoje o segundo maior país exportador para o Brasil e possui grande número de empresas que migram para cá, com a descoberta de que trabalhar em terras verde-amarelas pode ser lucrativo, considerando a estabilidade econômica e política que aqui encontram — destaca Doria Jr. Ele ainda citou as perspectivas que se abrem para os empresários brasileiros em relação à Itália neste momento de crise econômica europeia. O empresário lembra que a Itália possui um patrimônio de 5 milhões de pequenas e médias empresas com potencial para receber investimentos. — Entre os fatores que despertam o interesse em instalar seus processos produtivos no país estão os vínculos culturais, em função da grande quantidade de italianos que adotaram o Brasil como sua segunda pátria, e também os baixos custos de produção que permitem que essas empresas pratiquem preços mais competitivos — destaca, salientando o setor automobilístico como o setor mais competitivo atualmente para empresários italianos que queiram iniciar atividades no Brasil.

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Opportunità a doppio senso Il direttore della Confederação Nacional da Indústria do Brasil (CNI), José Augusto Coelho Fernandes, ha affermato che il 16º Meeting ha promosso un incontro di molti interessi in comune. Malgrado l’Italia sia in crisi, crede che sia sempre positivo unire imprenditori di vari paesi “visto che ci sono sempre opportunità di comune interesse”. Per Fernandes, il settore industriale più promettente del Brasile, in questo momento, è quello dell’area del grezzo e del metano. — L’offerta installata del Brasile non è sufficiente per corrispondere a tutte le richieste. C’è bisogno di nuovi investimenti e di importazione di prodotti e servizi, in una gamma molto svariata, dalle navi alle tecnologie di precisione e, in questo settore, l’Italia presenta un polo industriale metalmeccanico molto avanzato, che diviene una grande fonte di espansione in questo momento — ha ricordato. Sburocratizzazione Il deputato Ricardo Tripoli (PSDB-SP), presidente della Commissione Parlamentare di Collaborazione Brasile-Italia, ha ricordato che l’azione principale del suo fronte parlamentare, in questo momento, riguarda l’ottenere il riconoscimento dei documenti pubblici del Brasile in Italia e viceversa. — La sburocratizzazione dei documenti pubblici è una maniera di aiutare l’avvicinamento commerciale tra i due paesi — ha rimarcato il deputato. Oggigiorno un imprenditore che voglia iniziare un’attività in Brasile, o viceversa, ci mette da 12 a 18 mesi circa per consolidare le sue attività, dovuto soltanto alle scadenze per il riconoscimento di documenti pubblici, ha detto Trípoli, commentando che la meta oggi è di diminuire questi numeri fino a 30 giorni. — Rendere possibile il lavoro degli imprenditori con più fluidità nel commercio tra i due paesi è il ruolo principale della Camera Federale brasiliana in questo momento — ha concluso Trípoli, il cui nome è stato ricordato varie volte dalle autorità e diplomatici presenti alla V Conferenza Italia – America Latina, avvenuta il giorno prima a Roma. Superamento Il presidente di Confindustria, Emma Marcegaglia, che ha ospitato l’evento ed è la prima donna ad avere la presidenza di questo autorevole ente italiano, ha chiuso i dibattiti del seminario dichiarando che “invidia i numeri brasiliani”. Emma, presidente del Gruppo


de navios às tecnologias de precisão e, neste setor, a Itália possui um pólo industrial metal-mecânico muito sofisticado que se torna uma grande fonte de expansão neste momento — lembrou. Desburocratização O deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP), presidente da Comissão Parlamentar de Colaboração Brasil-Itália, relembrou que a principal ação da sua frente parlamentar neste momento é obter o reconhecimento dos documentos públicos do Brasil na Itália e vice-versa. — A desburocratização dos documentos públicos é uma forma de ajudar a aproximação comercial entre os dois países — ressaltou o deputado. Hoje, um empreendedor italiano que pretenda iniciar uma atividade no Brasil, ou vice-versa, leva cerca de 12 a 18 meses para consolidar suas atividades devido apenas aos prazos para reconhecimento de documentos públicos, citou, comentando que o objetivo hoje é diminuir este prazo para 30 dias. — Possibilitar o trabalho dos empresários com mais fluidez no comércio entre os dois países é o principal papel da Câmara Federal brasileira neste momento — conclui Trípoli, cujo nome foi lembrado diversas vezes pelas autoridades e diplomatas presentes na V Conferencia Itália – América Latina, ocorrida no dia anterior, em Roma. Superação A presidente da Confindustria, Emma Marcegaglia, anfitriã do evento e primeira mulher a assumir a presidência da poderosa entidade italiana, encerrou os debates do seminário declarando que tem “inveja dos números brasileiros”. Emma, presidente do Grupo Marcegaglia, que atua no setor siderúrgico, se referia à unidade do seu grupo localizada em Garuva, no estado de Santa Catarina. Desde que iniciou suas atividades, em 1999, praticamente triplicou de tamanho. A empresária italiana destacou os laços de amizade entre os dois países e a importância da economia brasileira neste momento “complexo” para a economia europeia. — O mundo inteiro olha com atenção para esta nova classe média brasileira — afirmou, destacando que, enquanto o Brasil se tornou, em 2011, o segundo mercado de exportações da Itália, atrás apenas dos Estados Unidos, com um crescimento de 30% em relação a 2010, apenas 0,1% das empresas estrangeiras presentes na Itália são brasileiras. São necessárias mais “ações para aumentar a presença brasileira na Itália”, defendeu.

“Existe necessidade de novos investimentos e de importação de produtos e serviços, em uma gama muito variada, de navios às tecnologias de precisão e, neste setor, a Itália possui um pólo industrial metalmecânico muito sofisticado que se torna uma grande fonte de expansão” José Augusto Coelho Fernandes, diretor da CNI

Os ministros Aloizio Mercadante e Fernando Pimentel (ao centro) conversam com o empresário João Doria Jr durante o maior evento empresarial brasileiro realizado no exterior

I ministri Aloizio Mercadante e Fernando Pimentel (al centro) parlano con l’imprenditore João Doria Jr. durante il maggior evento imprenditoriale brasiliano già realizzato all’estero

“C’è bisogno di nuovi investimenti e di importazione di prodotti e servizi, in una gamma molto svariata, dalle navi alle tecnologie di precisione e, in questo settore, l’Italia presenta un polo industriale metalmeccanico molto avanzato, che diviene una grande fonte di espansione” José Augusto Coelho Fernandes, direttore della CNI Marcegaglia che si occupa del comparto siderurgico, si riferiva all’unità del suo gruppo situata a Garuva, nello stato di Santa Catarina che dal 1999, data d’inizio delle sue attività, è praticamente triplicata. L’imprenditrice italiana ha rimarcato i legami di amicizia tra i due paesi e l’importanza dell’economia brasiliana in questo “complesso” momento per l’economia europea. — Il mondo rivolge un attento sguardo a questo nuovo ceto medio brasiliano — ha detto, sottolineando che mentre il Brasile nel 2011 è divenuto il secondo mercato di esportazioni dall’Italia, lasciandosi alle spalle solo gli Stati Uniti, con una crescita del 30% rispetto al 2010, solo lo 0,1% delle imprese straniere presenti in Italia sono brasiliane. Ci sarà bisogno di più “azioni per aumentare la presenza brasiliana in Italia”, ha difeso. Emergenti Uno dei principali temi discussi durante il seminario è stato quello delle potenzialità dei settori primari di investimenti industriali tra i due paesi. Per questa parte dell’evento, quattro invitati speciali hanno illustrato al pubblico presente regioni del Brasile poco conosciute perfino ai brasiliani, ma che presenta indici di crescita al di sopra della media brasiliana. I governatori di tre stati del Nord-Est (Pernambuco, Bahia e Sergipe), insieme al governatore di Goiás, hanno mostrato perché queste zone stanno ricevendo forti investimenti stranieri e nazionali negli ultimi anni e, perciò, hanno ricevuto il soprannome “stati emergenti del Brasile”. Il governatore di Pernambuco, Eduardo Campos, ha spiegato che il Nord-Est sta all’economia come l’economia brasiliana sta al mondo in questo momento. Lo

Emergentes Um dos principais temas discutidos no seminário foram as potencialidades e setores prioritários de investimentos industriais entre os dois países. Para esta parte do evento, quatro convidados especiais apresentaram ao público presente regiões do Brasil pouco conhecidas até mesmo entre os brasileiros, mas que apresenta índices de crescimento acima da média brasileira. Os governadores de três estados do Nordeste, Pernambuco, Bahia e Sergipe, junto com o governador de Goiás, mostraram porque estas áreas estão recebendo fortes investimentos estrangeiros e nacionais nos últimos anos e, por isso, estão sendo chamados de “estados emergentes do Brasil”. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, explicou que o Nordeste está para a economia do comunitàitaliana | novembro 2011

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Atualidade

Brasil, assim como a economia brasileira está para o mundo neste momento. O estado de Pernambuco foi escolhido recentemente pela Fiat como sede para sua nova fábrica no Brasil, o que criará um novo pólo automobilístico no Nordeste do país. O governador de Goiás, Marconi Perillo, salientou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do seu estado, acima da média brasileira, e explicou os diversos investimentos do seu governo em inovação, pesquisa, tecnologia e formação de jovens. — Queremos ser o terceiro pólo metal-mecânico do Brasil — afirmou Perillo, descendente de italianos, ao salientar que os pólos industriais em torno de Goiânia e Brasília deverão ter, em 2020, cerca de 22 milhões de consumidores. Já o governador da Bahia, Jaques Wagner, salientou que o maior estado nordestino possui também o sétimo PIB brasileiro, com um crescimento registrado de 7,5% em 2010 e que, no último ano, segundo dados do Sebrae, 150 mil novos empreendedores foram registrados. Dentre os setores de destaque, citou os índices recordes de produtividade de soja, milho, algodão e café em 2010 e os premiados vinhos produzidos recentemente na região do Vale do São Francisco, segundo pólo produtor de vinho do Brasil. Wagner também salientou o fator humano dos trabalhadores baianos, que, mesmo com deficiências na qualificação, surpreendem empresas estrangeiras como Pirelli, Nestlé e Ford — cujas fábricas encontram-se instaladas no estado — pela dedicação e empenho. Segundo Wagner, estas empresas obtiveram índices recordes de produtividade em suas unidades baianas. “Precisamos de indústria de transformação”, concluiu o governador. Ele citou a construção de um novo estaleiro para produção de sondas para a Petrobrás que abrirá um leque amplo de oportunidades para empresários italianos. Por fim, o governador do menor estado do Nordeste, Marcelo Déda, de Sergipe, afirmou que veio à Itália em busca de cooperação técnica, já que seu estado possui grandes investimentos em implantação neste momento, como a única mina de potássio da Vale no Brasil e a planta de amônia e uréia da Petrobrás. O Sergipe, segundo Déda, possui os melhores indicadores sociais da região, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o PIB per capita.

“A Itália possui grande número de empresas que migram para cá, com a descoberta de que trabalhar em terras verde-amarelas pode ser lucrativo, considerando a estabilidade econômica e política que aqui encontram” João Doria Jr., presidente do Lide 38

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Doria, il principale articolatore

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rincipale articolatore del 16º Meeting Internazionale, João Doria Jr., presidente del Grupo Doria e del Lide (Gruppo di Leader Imprenditoriali), ha colpito il pubblico presente durante il seminario Rapporti Economici e Integrazione Brasile/Italia, in cui erano presenti imprenditori e governanti brasiliani e italiani, con i loro discorsi disinvolti e rilassati in italiano, che hanno incluso battute e scherzi, come il suggerimento di cambiare Paulo Skaff, presidente della Fiesp, con Emma Marcegaglia, presidente della Confindustria. Nato a São Paulo e di origini genovesi, l’imprenditore del settore di comunicazione e marketing è conosciuto dal grande pubblico perché presenta il reality show O Aprendiz, trasmesso dalla Rede Record. In un’intervista esclusiva data a Comunità, Doria Jr. ha valutato con successo l’evento: ha sottolineato la presenza “della maggior comitiva di autorità politiche e imprenditori brasiliani mai stata in Italia”, che ha fatto da leva all’allargamento dei rapporti imprenditoriali e al rafforzamento dei legami bilaterali, ed ha messo in risalto il progresso economico brasiliano che va sempre meglio visto che, in piena crisi mondiale “il nostro paese riesce a mettersi in evidenza e ad affermarsi davanti a turbolenze”. — L’Italia oggigiorno è il secondo maggior esportatore per il Brasile e vanta un grande numero di imprese che migrano qui, con la scoperta del fatto che lavorare in terre verde-oro può essere vantaggioso, considerando la stabilità economica e politica che si trovano qui — accentua Doria Jr. Inoltre ha citato le prospettive che si aprono per gli imprenditori brasiliani in rapporto all’Italia in questo momento di crisi economica europea. L’imprenditore ricorda che l’Italia vanta un patrimonio di 5 milioni di piccole e medie imprese con potenziale per ricevere investimenti. — Tra i fattori che risvegliano l’interesse di installare i propri processi produttivi in Brasile ci sono i vincoli culturali, dovuto al gran numero di italiani che hanno adottato il Brasile come loro seconda patria e anche i bassi costi di produzione, che permettono a queste imprese di offrire prezzi più competitivi — accentua, mettendo in risalto il settore automobilistico come quello più competitivo ai giorni d’oggi per imprenditori italiani che vogliano iniziare attività in Brasile.

stato di Pernambuco è stato scelto recentemente dalla Fiat come sede della sua nuova fabbrica in Brasile, il che creerà un nuovo polo automobilistico nel Nord-Est. Il governatore di Goiás, Marconi Perillo, ha messo in risalto la crescita del Prodotto Interno Lordo (PIL) del suo stato, al di sopra della media brasiliana e ha esplicitato i vari investimenti del suo governo in innovazione, ricerca e tecnologia e formazione di giovani. — Vogliamo essere il terzo polo metalmeccanico del Brasile — ha detto Perillo, discendente di italiani, rimarcando che i poli industriali intorno a Goiânia e Brasília dovrebbero avere, nel 2020, circa 22 milioni di consumatori. Da parte sua, il governatore della Bahia, Jaques Wagner, ha sottolineato che il maggior stato del Nord-Est presenta il settimo PIL brasiliano, con una crescita registrata del 7,5% nel 2010 e che, sempre l’anno scorso e secondo dati del Sebrae, sono stati registrati 150 mila nuovi imprenditori. Tra i settori di spicco ha citato gli indici record di produttività di soia, granturco, cotone e O governador da Bahia, caffè nel 2010 e i premiati vini prodotti da poco tempo Jacques Wagner, nella regione della Vale del São Francisco, secondo polo discursa em Roma produttore di vino in Brasile. Wagner ha anche messo in risalto che il fattore umano dei lavoratori baiani Il governatore della che, mesmo con problemi di qualificazione, sorprenBahia, Jaques Wagner, parla a Roma dono imprese straniere come Pirelli, Nestlé e Ford – le cui fabbriche sono installate nello stato – dovuto alla dedicazione e all’impegno dimostrati. Secondo Wagner “L’Italia vanta un queste imprese hanno ottenuto indici record di progrande numero duttività nelle loro unità baiane. “Abbiamo bisogno di industria di trasformazione”, ha concluso il governatodi imprese che migrano qui, con la re. Inoltre Wagner ha citato la costruzione di un nuovo scoperta del fatto cantiere per la produzione di sonde per la Petrobras, che aprirà un’ampia gamma di opportunità per gli imprenche lavorare in terre verde-oro può ditori italiani. Alla fine il governatore del minor stato del Marcelo Déda, del Sergipe, ha detto di essere essere vantaggioso, Nord-Est, venuto in Italia in cerca di cooperazione tecnica, visto considerando la che il suo stato presenta grandi investimenti ora in fase stabilità economica di impiantazione, come l’unica miniera di potassio della e politica che si Vale in Brasile, e la fabbrica di ammoniaca e urea della trovano qui” Petrobras. Il Sergipe, secondo Déda, vanta i migliori inJoão Doria Jr., dicatori sociali della regione, come l’Indice di Sviluppo presidente del Lide Umano (IDH) e il PIL pro capite.


Atualidade

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Locomotiva sem freio Locomotiva senza freni Em reuniões a portas fechadas, governador do estado que mais cresce no Nordeste se reúne com presidentes de gigantes italianas para acordos e parcerias

In riunioni a porte chiuse il governatore dello stato del Nord-Est con la maggiore crescita si riunisce con presidenti di giganti italiani per fare accordi e società Aline Buaes

Especial para Comunità

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ntre as diversas missões comerciais brasileiras paralelas aos dois eventos que movimentaram Roma em outubro, o estado de Pernambuco marcou novamente presença em solo italiano. O governador Eduardo Campos desembarcou na Itália a convite do governo italiano para participar da V Conferência Itália-América Latina e Caribe. Na ocasião, o político, neto e herdeiro político do ex-governador pernambucano Miguel Arraes, apresentou os potenciais de investimentos no estado a diplomatas e governantes italianos e latino-americanos. Mas os pontos altos da sua viagem à Itália ocorreram a portas fechadas, quando o governador fechou acordos e selou contatos com grandes empresas italianas. Em março, Eduardo Campos já havia estado na Itália para firmar uma parceria com o Instituto Politécnico de Turim e com a Fiat para o treinamento de estudantes de engenharia de universidades públicas pernambucanas. Como fruto daquela viagem, há poucas semanas, mais de 200 empresários italianos dos setores de petróleo, gás e automotivo visitaram a região. Há uma disposição de aproximação entre os governos nacionais e a colaboração entre os governos sub-regionais e com as universidades, explicou o governador em entrevista à Comunità Italiana.

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ra le varie missioni commerciali brasiliane parallele ai due eventi che hanno movimentato Roma in ottobre, lo stato di Pernambuco è stato ancora una volta presente sul territorio italiano. Il governatore Eduardo Campos è sbarcato in Italia su invito del governo italiano per partecipare alla V Conferenza Italia-America Latina e Caraibi. In questa occasione il politico, nipote ed erede politico dell’ex governatore pernambucano Miguel Arraes, ha presentato le varie possibilità di investimenti nello stato ai diplomatici e ai governanti italiani e latino-americani. Ma i risultati positivi del suo viaggio in Italia sono stati raggiunti a porte chiuse, quando il governatore ha siglato gli accordi ed ha concluso i contatti con le grandi imprese italiane. In marzo Eduardo Campos era già stato in Italia per firmare un accordo con l’Istituto Politecnico di Torino e con la Fiat per il tirocinio di studenti della facoltà d’ingegneria delle università pubbliche pernambucane. Come frutto di quel viaggio, poche settimane fa più di 200 industriali italiani del settore petrolifero, del gas metano e del settore automobilistico hanno visitato la regione. Esiste la disponibilità di una approssimazione fra i governi nazionali e la collaborazione tra i sottogoverni regionali con le università, ha dichiarato il governatore in una intervista a Comunità Italiana. comunitàitaliana | novembro 2011

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Atualidade A partire da adesso, dichiara, è fondamentale incentivare la cooperazione fra piccole e medie imprese italiane nei settori principali della nostra economia attraverso meccanismi di credito, incentivi fiscali e capacità di persone e imprese: — Siamo molto stimolati dal fatto che il Pernambuco possa contribuire a questo processo — ha dichiarato a Roma.

A partir de agora, destaca, é fundamental alimentar a cooperação entre médias e pequenas empresas italianas nos setores prioritários da nossa economia, através de mecanismos de créditos, incentivos fiscais, e capacitação de pessoas e empresas: — Estamos muito animados para que Pernambuco possa contribuir nesse processo — declarou em Roma. Fincantieri e Pirelli Houve ainda uma reunião com o presidente do Grupo Fincantieri, Giuseppe Bono, para oferecer Pernambuco como porta de entrada do grupo italiano no Brasil. O estaleiro, um dos maiores do mundo, iniciou há dois anos contatos com a Marinha brasileira para a construção de 18 fragatas. A reunião, que ocorreu na Embaixada brasileira em Roma, foi o segundo contato do governo de Pernambuco com o grupo sediado em Gênova. Campos explica que a exploração da camada présal requer uma modernização do sistema de defesa brasileiro e, para isso colocou Pernambuco “à disposição do Fincantieri e da recuperação da indústria naval brasileira”. Ele ainda ressaltou a importância do porto de Suape, que deverá se tornar o terceiro porto concentrador de cargas do país. O presidente mundial da Pirelli, Marco Tronchetti, também se reuniu com representantes do governo pernambucano a fim de iniciar as negociações para a instalação de uma unidade no pólo automobilístico. A fabricante de pneus possui cinco unidades no Brasil que respondem por 30% do faturamento da empresa em todo o mundo. Metade de sua produção local é voltada para a Fiat, que anunciou recentemente a construção de uma nova fábrica em Pernambuco, cuja produção deve iniciar em 2013. Bolsas para engenheiros Estudantes de Engenharia das universidades públicas pernambucanas ganharam mais uma chance de estudar na Itália. Após o convênio assinado com a Fiat e o Politécnico de Turim em março deste ano, uma nova parceria foi firmada em outubro entre o governo estadual e a Universidade de Bolonha para oferecer vagas de graduação, mestrado e doutorado. A expectativa é que cerca de 20 estudantes de engenharia mecânica, eletrônica e de telecomunicações viajem em janeiro de 2012, informa o governador Campos. — Pernambuco vive um momento de globalização de sua economia e, por isso, é importante que nossos futuros engenheiros adquiram know-how internacional — defendeu. As bolsas de estudos serão oferecidas através do programa Ciência sem Fronteiras. Numa segunda etapa, cursos serão ministrados por professores italianos em Pernambuco e será incentivada a pesquisa de temas conjuntos entre estudantes de mestrado e doutorado dos dois países, explicou o secretário de governo, Maurício Rands, que acompanhou o governador na viagem à Itália. 40

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Fincantieri e Pirelli C’è stata anche una riunione con il presidente del Gruppo Fincantieri, Giuseppe Bono, per offrire lo stato di Pernambuco come porta d’ingresso del gruppo italiano in Brasile. Il cantiere navale, uno dei più grandi del mondo, ha preso contatti con la Marina brasiliana due anni fa per la costruzione di 18 fregate. La riunione, avvenuta all’Ambasciata brasiliana di Roma, è stato il secondo contatto del governo di Pernambuco con il gruppo che ha sede a Genova. Campos spiega che l’esplorazione dello strato pre-sale richiede un ammodernamento del sistema di difesa brasiliano e perciò ha messo il Pernambuco “a disposizione della Fincantieri e del recupero della industria navale brasiliana”. Ha anche fatto notare l’importanza del porto di Suape, che dovrà diventare il terzo porto nella concentrazione delle operazioni di carico del paese. Anche il presidente della Pirelli nel mondo, Marco Tronchetti, si è riunito con rappresentanti del governo pernambucano per cominciare a negoziare l’installazione di un’unità del settore automobilístico. L’industria di pneumatici ha in Brasile cinque unità che rispondono del 30% del fatturamento della impresa nel mondo. Metà della sua produzione locale è per la Fiat, che ha annunciato recentemente la costruzione di una nuova fabbrica in Pernambuco, che dovrebbe cominciare a produrre nel 2013.

O governador de Pernambuco Eduardo Campos se reuniu com o presidente mundial da Pirelli, Marco Tronchetti, com representantes da Universidade de Bolonha e com o CEO da Fincantieri, Giuseppe Bono

Il governatore del Pernambuco Eduardo Campos si è riunito con il presidente mondiale della Pirelli, Marco Tronchetti, con rappresentanti dell’Università di Bologna e con il Ceo della Fincantieri, Giuseppe Bono

Borse per ingegneri Studenti della facoltà d’Ingegneria delle università pubbliche pernambucane hanno ora una possibilità in più di studiare in Italia. Dopo l’accordo firmato con la Fiat e con il Politecnico di Torino a marzo di quest’anno, è stato siglato in ottobre un nuovo accordo fra il governo dello stato e l’Università di Bologna per offrire posti per i corsi di laurea, master e dottorato. L’aspettativa è che circa 20 studenti d’ingegneria meccanica, elettronica e delle telecomunicazioni possano partire nel gennaio del 2012, ci informa il governatore Campos. — Il Pernambuco vive un momento di globalizzazione nella sua economia e perciò è importante che i nostri futuri ingegneri apprendano il know-how internazionale — ha dichiarato. Le borse di studio saranno offerte attraverso il programma Scienza senza Frontiere. In una seconda fase i corsi saranno tenuti da professori italiani in Pernambuco e sarà promossa la ricerca di temi comuni fra gli studenti di master e dottorato dei due paesi, ha spiegato il segretario del governo Maurício Rands, che ha accompagnato il governatore nel viaggio in Italia.


Notícias

I

naugurada em 16 de outubro, dia da abertura do Momento Itália-Brasil em São Paulo, a exposição DNA Italiano no Brasil ficou em cartaz até 5 de novembro no Espaço Cultural do Conjunto Nacional, em São Paulo. A cerimônia de inauguração contou com a presença do cônsul da Itália, Mauro Marsili, do secretário estadual de Cultura, Andrea Matarazzo — além de personalidades retratadas na exposição, como o senador Eduardo Suplicy, o jornalista Gianni Carta, o publicitário Washington Olivetto e o psicanalista Contargo Calligaris. A mostra reuniu retratos de 38 personalidades ítalo-brasileiras, acompanhados de textos que contam as histórias e realizações de italianos e seus descendentes que se destacaram na sociedade brasileira.

A Itália que vem

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pós sucesso em São Paulo (Parque do Ibirapuera) e Porto Alegre (Parque Redenção), o Italia comes to you chega ao Rio de Janeiro. A iniciativa da Agência italiana de Turismo (ENIT) tem o objetivo de promover a Itália como destino turístico nos países do Bric. O programa prevê encontros e apresentações voltadas ao mercado de turismo, além de exposições de arte, design, automobilismo, moda e gastronomia, abertas ao público, de 12 a 20 de novembro, no Consulado italiano do Rio, na Avenida Antônio Carlos, 40.

Chiara Civello e mais

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cantora, compositora e pianista romana Chiara Civello se apresentou no Rio de Janeiro na noite de 27 de outubro, na casa Hideway, em Laranjeiras, atraindo muitos fãs para uma noite que ela definiu como especial, dentro de um ano “muito importante, o ano da Itália no Brasil”. O repertório incluiu canções que “fizeram a história musical entre os dois países”, como ela explicou. Chiara cantou, em italiano, A namoradinha de um amigo meu, de Roberto Carlos, e Datemi um martello, de Rita Pavone, quando esteve acompanhada da comediante Samantha Schmütz. Ao lado de Ana Carolina, cantou Caruso, entre outras. O concerto foi promovido pelo Instituto Italiano de Cultura, dentro das comemorações pelo Momento Itália-Brasil. Bruno de Lima

DNA Italiano

Pupi

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roclamado patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco, o teatro de marionetes da Sicília veio ao Rio de Janeiro para uma apresentação especial, dentro da agenda do MIB. La Pazzia di Orlando (A loucura de Orlando), de Mimmo Cuttichio, da companhia teatral I Pupi Siciliani, fez apresentação única e inesquecível para um público de todas as idades, no dia 8 de novembro, na Sala Itália, no Consulado italiano.


Arte

A beleza do encontro a dois Espetáculo Ensaio sobre a beleza celebra afinidade cultural entre Brasil e Itália e encanta artistas e populares que lotaram a Cinelândia em noite chuvosa para assistir à suntuosa abertura do MIB Cintia Salomão Castro

Q

uem achou que a chuva torrencial que caiu sobre o Rio na noite do dia 15 de outubro fosse tirar o brilho do espetáculo de abertura do Momento Itália-Brasil teve uma bela surpresa. O temporal conferiu à apresentação de Ensaio sobre a beleza ainda mais dramaticidade e emoção. Juntos, todos foram heróis: os artistas e a plateia munida de guarda-chuvas — bem no espírito do MIB, uma extensa agenda de eventos culturais e econômicos que vai até junho de 2012, feita para celebrar uma antiga amizade entre dois povos que “amam a arte em absoluto, e a buscam no seu dia a dia”, nas palavras do idealizador do evento, o italiano Valerio Festi. Beleza A festa começou com a narrativa de um avô, interpretado pelo ator italiano Nicola Siri, à neta, num banco de praça. Ela lhe pergunta por que gosta tanto de ir ao teatro. Ele explica que é uma forma de lembrar-se de quando chegou da Itália. E chega ao ponto central da trama: diz que a contemplação da música e da beleza é a verdadeira ligação entre os dois países. A partir daí, teve início uma série de projeções nas fachadas da Câmara e do Theatro Municipal, tudo combinado com música brasileira e italiana, e coreografias aéreas e de solo dos

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atores que surpreendiam o público vestidos de anjos. Impossível não extasiar-se diante de uma triunfal Vênus de Sandro Botticelli iluminando por inteiro as colunas do edifício da Câmara, ou da bailarina que lançava uma chuva de pétalas brancas pendurada em um balão decorado com pinturas italianas. Entre os cem artistas que atuaram sob a regência de Valerio Festi e Monica Maimone, havia vários brasileiros que vivem na Itália e italianos que moram no Brasil — tudo pensando para espelhar uma verdadeira imersão nas duas culturas durante o espetáculo. Figurinos ecológicos Os figurinos de pássaros foram criados em tecido ecológico pela Osklen, enquanto os adereços tiveram a assinatura da designer Francesca Romana Diana. O meio ambiente foi destacado com imagens do rio

Amazonas, obtidas durante expedição do Ministério italiano do Meio Ambiente, em parceria com o Instituto E. — Estamos felizes por participar desse evento como patrocinadores, é uma grande ocasião para celebrar uma amizade. Além disso, estamos trabalhando para firmar parceiras com o Brasil. Fizemos há pouco um acordo com o governo do Rio que prevê projetos para o desenvolvimento sustentável — afirmou à Comunità o diretor do Ministério italiano do Meio Ambiente, Corrado Clini. Convidada pelo embaixador para ser uma das madrinhas do


Dilma felicita MIB Representada pelo ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, a presidente Dilma Rousseff divulgou, poucas horas antes do espetáculo, um comunicado no qual afirma que o Momento Itália-Brasil “reitera o interesse que o povo brasileiro guarda pela cultura da Itália e abre novos caminhos para avançar em setores como a inovação científica, o intercâmbio sociocultural e educacional, assim como nos diversos projetos econômicos de mútuo interesse”. Para o embaixador italiano no Brasil, Gherardo La Francesca, a declaração da chefe do Estado brasileiro demonstra o apreço pela cultura italiana. — A declaração de Dilma Rousseff evidencia o real interesse e, eu diria, quase de afeto por esta grande contribuição que a Itália continua a dar ao Brasil. O comunicado sai dos esquemas sintéticos de declarações formais: fala de cultura, mas também de ciência, tecnologia e empresas, porque hoje a cooperação se faz através das empresas. E também fala de estima, e de amizade antiga, recíproca e destinada a durar no tempo. Para o ministro Gilberto Carvalho, neto de italianos, assistir ao espetáculo foi uma “felicidade”. — Poucas vezes em minha vida um espetáculo me empolgou e me tocou tanto. Além de seu forte

conteúdo emocional, especialmente para quem tem origens italianas, a ousadia, o inusitado dos movimentos acrobáticos, das cores e dos sons formaram um conjunto que nos prendeu e seduziu. Parabéns à Embaixada da Itália, à persistência do nosso embaixador Gherardo La Francesca, a este gênio Valerio Festi e sua equipe — disse à Comunità. O cônsul italiano do Rio, Mario Panaro, festejou a atenção dada pela imprensa ao evento. — A imprensa deu bastante atenção ao evento, com várias reportagens, inclusive na televisão aberta. Famosos Entre os famosos presentes que foram conferir a produção do Studio Festi, estava a diretora do Theatro Municipal da cidade, Carla Camurati e a atriz Daniela Escobar, que já esteve muitas vezes na Itália. O ator Chico Dias, cujo filho mora em Roma, saiu do espetáculo encantado com o que viu: — Fiquei entusiasmado com os recursos e a atmosfera poética, tudo de muito bom gosto. Durante o espetáculo, foram lembrados artistas como Antonio Carlos Gomes, o compositor de óperas brasileiro que viveu na Itália — cuja estátua enfeita a própria praça da Cinelândia — e Adoniran Barbosa, o sambista paulistano de origem vêneta que compôs Trem das Onze. Outras citações foram feitas a Carmem Miranda, Ary Barroso, Milton Nascimento e Elis Regina. A canção composta por Gilberto Gil para o MIB, Sampa Milano, também serviu de fundo para a festa da beleza. Sonho realizado O ator italiano Nicola Siri, que interpretou o avô no banco da praça, contou à Comunità que a chuva ajudou-o a ter mais segurança na hora das acrobacias. Há cinco anos

Fotos: Bruno Eduardo Alves

Momento Itália-Brasil, a atriz Christiane Torloni comentou que a noite era uma ocasião para “reforçar laços”. Ela trazia um bracelete com o símbolo do MIB, criado pelo publicitário Washington Olivetto. — O símbolo do evento é tudo: o Coliseu com o Corcovado. Retrata uma aliança entre dois países que estão juntos há 500 anos. Brasil e Italia têm laços muito profundos.

Madrinha do Momento Itália-Brasil, a atriz Cristiane Torloni chegou ao camarote na Cinelândia acompanhada dos embaixadores Gherardo e Antonella La Francesca. A ampla cobertura dada pela imprensa brasileira ao evento alegrou o cônsul italiano do Rio, Mario Panaro

morando na capital fluminense, ele afirmou que o Brasil abraça os estrangeiros e ao mesmo tempo lhes dá espaço para manter suas tradições. — O Brasil dá a possibilidade ao estrangeiro de manter a sua história. Eu, por exemplo, sou carioca, cara! — disse, arrancando risadas dos jornalistas que o entrevistavam. A embaixatriz Antonella La Francesca definiu a noite da apresentação como a realização de um sonho. — É um sonho realizado a partir de uma ideia que tivemos. E foi um ato de amor dos padrinhos e madrinhas, como a Christiane Torloni, o Washington Olivetto (que criou a marca do MIB) e o Gilberto Gil (que compôs Sampa-Milano especialmente para o calendário). Cumprimentado por dezenas de pessoas após a apresentação, o criador e produtor da festa, o artista bolonhês Valerio Festi, comemorou o sucesso popular de Ensaio. — O público participou muito, mesmo com a chuva, que fez com que, no final, virassem todos heróis. Não esperávamos toda essa participação popular, ficamos até com receio que o espetáculo ficasse um pouco denso, o que não aconteceu — contou à Comunità. Ensaio sobre a beleza contou com o patrocínio oficial da TIM, com a parceria do Theatro Municipal do Rio, do Ministério italiano do Meio Ambiente e do InstitutoE, e com o apoio do MetrôRio. Finalizado com versos de Chico Buarque, o espetáculo terminou bem no “espírito brasileiro”, na opinião de Valerio Festi. A letra de O que será que será? fechou com chave de ouro uma celebração da liberdade, da beleza e do encontro inevitável de amor entre duas culturas: Que vive nas idéias desses amantes/ Que cantam os poetas mais delirantes /Que juram os profetas embriagados...

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Exposição

Passaporte verdadeiro Italiana de nascimento e brasileira de coração, uma das maiores gravuristas do país fala da sua exposição, aberta ao público no CCBB de Brasília até janeiro Stefania Pelusi

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De Brasília

ravadora, escultora, pintora, muralista, curadora, figurinista, cenógrafa e professora. Maria Bonomi é uma artista a 360 graus que transpõe o universo da gravura para vários materiais e inúmeras possibilidades. A frase “Um artista não fala, faz”, dita por ela durante a inauguração da sua exposição, em 12 de outubro, retrata sua produtiva trajetória que se desdobra em múltiplas formas de arte. O público poderá conferir até 8 de janeiro 250 obras reunidas na mostra Maria Bonomi - da Gravura à Arte Pública, no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília. Trata-se de uma grande oportunidade de conferir seu percurso artístico, desde as primeiras pinturas feitas na infância até as últimas peças criadas em seu ateliê em São Paulo. — Este é um mergulho em profundidade e amplitude na obra de Maria — afirma o curador Jorge Coli. Três núcleos conceituais dividem o espaço do CCBB: a formação, a arte política e o universo feminino

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— suas grandes “obsessões”, temas que permeiam a sua obra desde o início, explicou o curador. Maria Bonomi concorda com essa divisão da exposição, a qual considera “brilhante” pelo fato de ser dividida em núcleos. — É a maior exposição dela até hoje, que une também obras que não estão acabadas, como é o caso de A ponte, que ainda está em processo de elaboração — comenta Paula Sayão, gerente geral do CCBB de Brasília.

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A exposição dedicada à artista plástica Maria Bonomi foi inaugurada em outubro, em Brasília, e reúne 250 obras, entre pinturas e esculturas

Foi a artista quem escolheu Brasília e, mais precisamente, o CCBB como palco da grande realização. — Ela fez algumas obras inéditas para dialogar com a obra de Oscar Niemeyer, porque esse prédio é dele. Bonomi tem ligação com essa arquitetura e com esse artista brasileiro. Teve obras pensadas para o espaço. Há a sala feminina e uma parte política com obras que demonstram indignação com alguns temas. Na segunda galeria, estão as obras mais recentes que abordam questões ecológicas e mais atuais. Tem também uma sala educativa onde as crianças retalham madeira e experimentam um pouco do processo de criação da artista para fazer as matrizes, para poder imprimir na gravura — explica Sayão. Origens Maria Bonomi nasceu na cidade de Meina, no Piemonte, em 1953. A família passou por diversos países até chegar ao Brasil, em 1946, onde optaram por morar em São Paulo. Assim como milhares de famílias de outros países, os Bonomi buscavam no Brasil um novo lugar para viver, distante da terrível cena da Segunda Guerra Mundial. O Brasil transformou-se na pátria de Maria Bonomi, ao ponto de se considerar mais brasileira do que italiana. — Sou uma italiana recente. Apesar de ter nascido na Itália, tenho o passaporte italiano há menos de um ano e espero aproveitar bastante — conta.


A inauguração da exposição foi um dos eventos escolhidos pela Embaixada da Itália para dar início, oficialmente, na capital federal, ao Momento Itália-Brasil (MIB), iniciativa com quatrocentos eventos em 18 estados brasileiros até junho de 2012. Retrospectiva A exposição deve ser vista como a realização de um sonho: o de estar na cidade que ela conheceu “quando era apenas uma caixa de slides”. — Eu era apenas uma estudante nos Estados Unidos e passeava pelas universidades americanas, mostrando esse projeto de Lucio Costa e Oscar Niemayer nos anos 50 — frisa Maria Bonomi, aos 76 anos. O curador da exposição a descreve como uma artista que não se contenta em debruçar-se sobre matrizes com precisão e rigor, mas que segue todos os processos, até a impressão final, em um controle cuidadoso. — Também não se contenta em assistir, tranquilamente, aos desmandos do mundo: denunciou e denuncia as injustiças sociais e os abusos políticos. Essa força convicta invade a sua arte e está nela sempre presente, às vezes evidente, às vezes infiltrada, no puro gesto criador — relata Jorge Coli, doutor em estética pela Universidade de São Paulo (USP). “Idiotização” do feminino Na sala chamada Útero estão reunidas obras que são vinculadas à sensibilidade feminina, sentidas como tais pela autora. Na entrada, os visitantes assistem ao vídeo A implosão de Paris Rilton (assim mesmo, com R, e não com o H da personagem que povoa as notícias de celebridades). Trata-se de uma obra abstrata na qual ela nos convida a pensar sobre a nossa sociedade, através de uma crítica mordaz ao mundo das celebridades. Ao centro da sala, observa-se uma escultura recente de Maria Bonomi, que vem exposta pela primeira vez, Paris Rilton, de 2010. Em formato de ovo, tem uma superfície brilhante cujos relevos evocam reentrâncias orgânicas. Seu interior pode ser atingido, como o filme na entrada demonstra. A própria artista explicou o significado da escultura em bronze de 21 quilos, abrindo um pedaço da obra e extraindo objetos de consumo feminino, como bolsas, sapatos de salto alto e sutiãs.

— Eu criei a obra especialmente para a mostra, pois precisava criticar essa idiotização da figura feminina, relegada a um consumismo desenfreado estimulado pela propaganda preconceituosa — explica a artista ítalo-brasileira. Entre as obras históricas deste tema, estão as xilogravuras Sappho I, de 1987; Homenagem a Nara Leão, de 1969; as séries Medusa, de 1998; e Hydra, de 2000/2001. A série em litogravura intitulada Acrobata, de 2001, integra a ala, além dos pequenos quadros que Maria pintava quando tinha 15 anos, como Fugindo da escola. Da sala feminina, “o útero” desce para a sala inferior, “o calabouço”. Nele, estão as obras marcadas pela indignação política da artista. O espectador é conduzido por uma passagem estreita e afogada. Muitas dessas obras foram criadas durante o período da ditadura militar no Brasil, como Balada do terror, de 1970. Uma das questões mais fortes para a artista é a liberdade. — As revoltas que aconteceram na Tunísia e no Egito mexeram muito com ela — comenta Coli, ao olhar para a obra Cairo january 2011, uma gravura digital em cima de uma foto da Praça Tahir, no Egito. Em papel nepal, Pré-Tetraz, de 2003, conta a história de Tetraz, um tipo de ave que habita o

A mostra no CCBB inaugurou o calendário do Momento Itália-Brasil em Brasília, em 12 de outubro

“Eu criei a obra (Paris Rilton) especialmente para a mostra, pois precisava criticar essa idiotização da figura feminina, relegada a um consumismo desenfreado estimulado pela propaganda preconceituosa” Maria Bonomi, artista plástica ítalo-brasileira

Hemisfério Norte. Muito colorido e agressivo, quando se expõe, sofre perseguições de outros animais, o que o obriga a viver solitário. A palavra tectriz significa cada uma das penas que revestem a cauda ou as asas de uma ave. — O tetraz é um pássaro que aparece para o caçador, dá um grito e é morto. Somos nós que estamos sendo consumidos pela nossa beleza, pela nossa aparência. Estamos nos matando e nos deixando matar — comenta Bonomi. Na parte dedicada às obras em processo ou recém-feitas pela artista, destacam-se as gravuras A ponte e O pente. A ideia foi a de não concluir a mostra, de não pingar um ponto final, mas deixá-la em aberto com uma promessa de continuidade: a artista continua incessante em sua produção. Por isso, a ponte representa uma ótima metáfora da transitoriedade da vida, com seu território movediço e instável. A passagem azul remete ao caminho rumo ao desconhecido, com margens ausentes. Nas obras de 2011, como Trozo e Lena, percebe-se o olhar de Maria Bonomi voltado à tecnologia e às novas linguagens, território que ainda está sendo explorado pela artista. Ela iniciou um processo de aprendizado em gravuras digitais nos Estados Unidos. Mestre na arte da gravura Maria Bonomi afirma que a gravura tem um caráter muito duro e incisivo. — A gravura não é frívola. Ela tem um caráter muito duro, muito decisivo. Não tem volta. Tem características infernais. Solicita uma entrega muito grande. A gravura não é glamorosa, não tem esse lado festivo que talvez outras artes possam ter — explica. A artista considera a gravura uma forma de linguagem. — Assim como se tem o cinema e a pintura, se tem a gravura, se tem a dança, a fotografia, o teatro. Não é um corredorzinho que permite que você multiplique cópias, multiplique pinturas. É uma linguagem expressiva, autônoma e independente. O artista pensa como gravador — define. Poderíamos dizer que os conflitos entre o material e a ideia sejam a própria essência da sua obra em todas as linguagens, comenta o docente e amigo Jorge Coli. — Então, ela vive do conflito. Isto pode parecer paradoxal e inquietante, mas é verdadeiro.

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Arquitetura

Diálogos na paisagem Especialistas discutem a presença italiana na arquitetura das cidades brasileiras durante o seminário Interlocuções Brasil-Itália na sede do Arquivo Nacional Cintia Salomão Castro e Nathielle Hó

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Fotos: Bruno de Lima

arcello Piacentini, Antonio Jannuzzi, Antonio Virzi, Lina Bo Bardi, Daniele Calabi, Giacomo Palumbo. Foram vários os arquitetos italianos que contribuíram para modificar profundamente a paisagem das cidades brasileiras. De seus projetos, ergueram-se marcos arquitetônicos, a exemplo da sede do MASP, em São Paulo, e do Edifício Guinle, no Rio, os quais contribuíram com a circulação de ideias que renovaram a paisagem por todo o país ao longo do século XX.

De 19 a 21 de outubro, pelo menos 30 pesquisadores de diversas universidades brasileiras e italianas estiveram reunidos no auditório do Arquivo Nacional, no Rio, para debater as interlocuções arquitetônicas entre Brasil e Itália, em um seminário internacional que fez parte da agenda do Momento Itália-Brasil, com o apoio do Instituto Italiano de Cultura, do Arquivo Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Centro de Arquitetura e Urbanismo (CAU) da Prefeitura do Rio. As exposições de especialistas — como a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ e coordenadora do

seminário, Margareth da Silva Pereira, e o docente do Prourb/FAU/ UFRJ e crítico internacional Roberto Segre — mostraram que o processo de urbanização no Brasil não foi linear: sofreu influências externas e foi se moldando ao longo dos anos. A professora da Universidade de Gênova, a italiana Giovanna Del Brenna, fez um resumo da história da arquitetura eclética no Rio de Janeiro. Ela explicou que, na cidade, no início do século XX, predominava uma grande miscelânea de estilos com um “certo ar provisório de cenário teatral”, com construções neoclássicas, neogóticas e detalhes Art Nouveau. — O Rio era uma cidade onde as colunas clássicas dos teatros, das academias e dos bancos misturavam-se às torres medievais das residências e do corpo de bombeiros, às agulhas neogóticas das igrejas, às lanternas parisienses dos prédios de esquina, aos blocos coloridos italianos, aos mirantes chineses dos parques, às estruturas de ferro inglesas e alemãs dos mercados e dos armazéns, e aos tetos suíços dos chalés. Cidade inesquecível de cafés, bares, cinemas, restaurantes e confeitarias enfeitadas de vitrais coloridos, de azulejos florais, de espelhos e lustres— ressaltou Del Brenna.

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Jannuzzi e Fogliani O construtor Antonio Jannuzzi, nome importante no desenvolvimento da estrutura urbana e paisagística carioca do final do século XIX e início do século XX, teve sua obra eclética analisada pela pesquisadora da UFRJ Maria Chiavari, que também coordenou o evento. A pesquisadora do Iphan, Bettina Zellner, apresentou um estudo complementar ao de Chiavari, ao enfocar seus projetos de residências para operários — sugeridas como solução para o problema habitacional pelo qual o Rio passava no início do século XX. A coordenadora do programa de pós-graduação de Urbanismo da Fau-UFRJ, Lilian Fessler Vaz, abordou o plano de embelezamento e saneamento no Rio promovido pelo prefeito Pereira Passos, no qual

A arquiteta italiana Donatella Calabi veio de Veneza até o Rio especialmente para ministrar conferência sobre a obra de seu pai, Daniele Calabi

o italiano Giuseppe Fogliani teve grande participação. Ele pensou em um planejamento urbanístico que ligasse o centro da cidade ao Porto. Os projetos de remodelagem das cidades são sugeridos, de acordo com Lilian, devido ao processo de urbanização e devido às transformações sócio-econômicas que estavam se concretizando, fato confirmado pelos atuais projetos de reestruturação em andamento para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. — A história urbana mostra que as transformações de ordem econômica e social se seguem à adequação das estruturas, das formas e das imagens das cidades. Depois da urbanização a cidade transformou-se

radicalmente, adequando-se à nova condição de centro de produção material — concluiu Lilian Vaz. Edifício Guinle O autor do projeto dos edifícios Guinle e Ribeiro Moreira, ambos no Rio, Alessandro Baldassini, foi o tema da palestra de Evelyn Furquim Lima, da UFRJ. Baldassini também assinou a polêmica reforma do Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, em 1930. A marca do italiano acabou perdendo-se com as reformas sucessivas do teatro. — Os jornais da época traziam artigos com críticas. Chamavam o projeto de caixote. Estava fora do ecletismo típico do local, com planta octogonal — comenta Evelyn. O projeto da atual sede da Embaixada da Itália, em Brasília, de autoria de Pier Luigi Nervi, de 1976, foi mostrado pelo pesquisador do

Os arquitetos Renato Anelli e Andrey Rosenthal Schlee falam sobre a presença arquitetônica italiana nas cidades brasileiras durante o seminário Interlocuções BrasilItália, que fez parte da agenda do MIB

Lina Bo Bardi e a transformação

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ascida e graduada em arquitetura em Roma, Lina Bo Bardi teve o escritório destruído por um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial na capital italiana, em 1943. Veio para o Brasil três anos depois com o marido, o jornalista Pietro Maria Bardi. Desenvolve admiração pela cultura popular brasileira e mora em São Paulo e em Salvador. Entre seus diversos projetos, estão o prédio do MASP e do SESC Pompéia, na capital paulista, e a Casa do Benin, a Fundação Pierre Verger e o Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. A obra racionalista de Lina, que também produziu cenografia e figurinos para teatro e cinema, dialoga com o moderno e o popular. A italiana falava em um espaço inacabado a ser construído pelas próprias pessoas, e que seria preenchido pelo uso popular cotidiano. O arquiteto Renato Anelli, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP, explica que a trajetória de Lina comprova que, muito mais que uma influência da arquitetura no Brasil, houve uma verdadeira interlocução entre as duas culturas. — O conceito de interlocução é mais adequado do que o de influência, pois não houve uma influência de mão única, e sim uma transformação desses arquitetos italianos quando aqui chegaram — concluiu Renato Anelli, durante a palestra O Mediterrâneo nos Trópicos: Interlocuções com a arquitetura italiana na constituição da arquitetura moderna em São Paulo.

IPHAN e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Brasília, Andrey Rosenthal Schlee. Nervi, autor de projetos como o Palazzo dello Sport, em Roma, já era um arquiteto consagrado quando foi convidado pelo governo italiano a projetar a estrutura italiana em Brasília. Construída sobre um grande bloco elevado, a sede da Embaixada favorece a convivência entre setores. — O projeto de Nervi é uma planta muito bonita, detalhada, com muitos desenhos, dá vontade de levar para as faculdades de arquitetura — comenta Andrey. Outro arquiteto italiano que deixou marcas no patrimônio arquitetônico brasileiro foi Daniele Calabi. A filha Donatella Calabi, professora do conceituado Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza, falou da obra do pai, o engenheiro e arquiteto de origem judaica que migrou para a América do Sul ao perder seus direitos civis na década de 1930. Retorna à Itália em 1948, mas deixou projetos como o edifício Autogeral, em São Paulo. — A contaminação arquitetônica e cultural nas cidades brasileiras é particularmente interessente. Acho importante cultivar essa rede de especialistas entre Itália e Brasil — disse Donatella à Comunità.

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Arte

Traços que emocionam

Fãs de quadrinhos tiveram oportunidade de conhecer de perto publicações de diversos autores no Rio Comicon, que recebeu a visita das filhas do italiano Guido Crepax, criador de Valentina Nathielle Hó

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s quadrinhos como arte se transformam e evoluem com o tempo. No mercado, existem quadrinhos de vários gêneros e para todas as idades, de autores renomados e outros independentes. Há obras transgressoras, outras mais populares, com histórias curtas, outras bem extensas. O certo é que nos quadrinhos existe a facilidade de criar universos e realidades originais, elaborar cenas complicadas, adequar personagens a seus papéis e ainda há a possibilidade de mudar o roteiro no meio 48

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da história. O quadrinho é uma arte versátil, que mistura o texto e a imagem. Faz com que o leitor interaja com esses dois tipos de linguagem. E para quem aprecia o mundo fantástico das HQ’s, o Rio Comicon se apresenta como uma alternativa de evento especializado que acontece anualmente na capital fluminense, onde o público pode conhecer autores, levar para casa livros autografados, adquirir exemplares raros e ainda se divertir com a extensa programação. O evento deste ano teve como sede a Estação Leopoldina, de 20 a 23 de outubro. Com produção da Casa 21 em parceria com a Retina 78, o Rio Comicon fez

parte da programação do Momento Itália-Brasil e contou com mesas-redondas e exposições de Will Eisner e Guido Crepax. Além disso, o público foi agraciado com a presença de grandes desenhistas e roteiristas, a exemplo do inglês Chris Claremont, criador das histórias da série X-Men. Outros destaques foram Peter Kuper, desenhista de Spy vs. Spy; a japonesa Junko Mizuno, pintora e autora do mangá Princess Mermaid; e os cartunistas Ludovic Debeurme, da França, e Liniers, da Argentina. A convenção de quadrinhos abrigou também a exibição de filmes e documentários, oficinas, sessões de lançamento de livros, e desfile de cosplay — onde as pessoas


Fotos: Bruno Eduardo Alves

Autores autografaram livros e HQ’s, e participaram de mesas redondas e palestras no Rio Comicon. Caterina Crepax foi a atração mais esperada. Ela veio ao Brasil para falar sobre a obra do pai e representá-lo na exposição

Divulgação

se fantasiam de seus personagens preferidos. Em 2010, o Rio Comicon abarcou uma programação mais centrada em quadrinhos autorais, marcada por grandes nomes individuais, como o italiano Milo Manara, Kevin O’ Neill e Melinda Gebbie. Já, neste ano pretendeu homenagear grandes empresas como o estúdio japonês Clamp e a editora norteamericana que completa 75 anos, a DC Comics, responsável por ícones

como Superman, Batman e Mulher Maravilha. Roberto Ribeiro, diretor da Casa 21, ressaltou a necessidade de explorar mais os quadrinhos japoneses e os heróis da DC Comics, que têm um público grande e fiel. — Sentimos que era a hora de contemplar também essas duas vertentes tão importantes dos quadrinhos — explica Roberto Ribeiro, organizador do Rio Comicon. Durante quatro dias, profissionais brasileiros e estrangeiros mostraram seus trabalhos e debateram sobre o futuro dos quadrinhos. Exposições com clássicos e raridades do mundo das HQ’s, e artistas produzindo diante do público foram pontos altos do evento. Roberto Ribeiro ressalta que o momento é propício para a promoção e divulgação da produção nacional e internacional das histórias em quadrinhos. — O consumo de arte em geral depende da situação econômica das pessoas, e o Brasil vive um bom momento nesse sentido. Hoje em dia, temos até seis festivais

simultâneos no país, autores felizes por estar publicando mais e livrarias formando vendedores e abrindo espaço para os quadrinhos — conclui Ribeiro. Crepax e Valentina Depois de Milo Manara, o Rio Comicon volta a homenagear outro autor italiano: o criador de Valentina, um dos personagens mais sexys dos quadrinhos, o saudoso Guido Crepax. A exposição intitulada As filhas do italiano Guido Crepax encheu os olhos pelos traços da personagem e a beleza do ambiente. Ao adentrar a exposição, o visitante era envolto por uma penumbra avermelhada que torna ainda mais quente e sensual o trabalho do quadrinista. Entre páginas originais feitas à mão por Crepax e quadros de grandes proporções em diferentes pontos do

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Arte

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natural que o meu trabalho tivesse essa influência. Estudar arquitetura também me ajudou nas criações, principalmente para dar o efeito tridimensional de que tanto gosto. Comecei fazendo esculturas em papel e acabei entrando no mundo da moda — recorda a italiana.

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O corte de cabelo da personagem Valentina foi inspirado na atriz do cinema mudo Louise Brooks

Divulgação

Erotismo Símbolo de sensualidade nas HQ’s italianas, a personagem italiana foi o assunto principal da palestra feita por Caterina. Ela ressaltou que o trabalho deixado por seu pai vai além do conteúdo erótico. — Muitos quadrinhos eróticos são mais exibidos e carnais. O erotismo na obra do meu pai surgia em momentos de sonho da Valentina. As fantasias sempre aconteciam como uma invenção da cabeça da própria personagem. Valentina também pode ser considerada um ícone da moda por espelhar o estilo sessentista que fazia sucesso na época em que a personagem foi criada. Crepax costumava comprar a Elle francesa e documentava a moda através dos seus desenhos. Além disso, o

Fotos: Bruno Eduardo Alves

local, a exposição agrada aos que já eram fãs e desperta o interesse daqueles que desconhecem a obra. A exposição trouxe uma novidade para quem gosta de móveis estilizados e divertidos. A fábrica gaúcha Shuster Móveis e Design lançou uma linha inspirada em Valentina, com biombo, estante e mesa, dando um ar jovem à decoração. A dupla de designers italianos Andrea Radice e Folco Orlandini destacam a personagem em estampas em preto e branco. A diretora de criação da Shuster, Mila Rodrigues, ressalta que Valentina foi a escolha certa para inovar no mercado de móveis. — A personalidade forte, ativa, independente e sensual da personagem é o elemento de arte que, aliado à função dos móveis, atinge um público atento e exigente — explica Mila Rodrigues. Ela acrescenta que após o evento, as peças estarão disponíveis em várias lojas do Brasil. Por conta da mostra, a outra filha de Guido veio ao Rio para participar de um colóquio. Caterina, arquiteta e estilista, veio prestigiar as obras expostas e trouxe um vestido exclusivo para o evento, inspirado em sua voluptuosa irmã bidimensional Valentina. Na indústria italiana da moda, Caterina é conhecida pelos protótipos de peças de roupa feminina que desenha. Ela conta que a arte de Crepax é uma inspiração. — O que eu faço são esculturas de papel em forma de vestidos. Papel nunca faltou na minha casa. Cresci vendo meu pai desenhar. Ele trabalhava num quarto da nossa casa. Então, era muito

italiano colocava na vida da personagem muitas coisas daquele momento e que eram usadas nas casas, como móveis e carros. De acordo com Caterina, a personagem foi inspirada em sua mãe, que está com 73 anos. — A Valentina tinha o corpo dela e usava os vestidos dela, mas o corte de cabelo surgiu por causa de uma atriz americana do cinema mudo da década de 1930, chamada Louise Brooks — lembra a herdeira de Crepax. A sétima arte teve forte influência na estrutura de trabalho de Crepax. O italiano desenvolveu a página quadrinizada em diferentes planos, tratando a imagem com conceitos próximos da linguagem cinematográfica. Cada página traz uma cena de rosto em primeiro plano, seguida por um quadro com uma panorâmica do cenário da trama. Isso demonstra sua paixão pelo enquadramento e técnica cinematográficos. O autor italiano gostava de cinema francês e do cineasta sueco Ingmar Bergman. A atmosfera entre sonho e realidade dos filmes de Bergman foi capturado por Crepax, que adaptou esse universo à sua personagem. Por fim, a arquiteta Caterina ressalta que a obra deixada por seu pai tem, acima de tudo, uma dimensão política. Crepax criou uma personagem erótica com o intuito de valorizar a liberdade de expressão, defende. Valentina incorporou uma personalidade afinada com as mudanças pelas quais as mulheres passavam naquele momento de sua criação, com mais liberdade social, sexual, profissional e de escolhas.


Cucina

ItalianStyle

Francis X1

Considerada pela revista Forbes uma das “mais luxuosas máquinas de café espresso”, a X1 é um ícone mundial do gênero. Disponível agora na versão iperEspresso, possui o sistema de cápsulas de café, que são inseridas na máquina. O mecanismo permite facilidade ao usuário, que aperta um único botão e obtém um aromático café expresso com uma camada cremosa que permanece, segundo a fabricante, por até 15 minutos. Preço: € 499 www.illyeshop.com

Feeling Line

Fotos: Divulgação

Esta nova linha de frigideiras da Bialetti Rondine, disponível em três versões coloridas com fundo decorado com temas fantasiosos, se chama propositalmente Feeling Line, pensada para os cozinheiros expressarem seus sentimentos através da cozinha. A versão azul tem uma meia-lua impressa no fundo, a laranja raios de sol brilhantes e a rosa, um coração. Disponível nos formatos 20, 24 ou 28 cm. Preço: Sob consulta www.bialetti.it

Corelli

Conjunto de Casa Armani composto por balde para gelo, copos e garrafa para uísque, com altura de 21cm. Feito em cristal com as iniciais GA marcadas no fundo de cada elemento. O cristal é um vidro obtido a partir do óxido de chumbo, que confere ao material características próximas ao diamante. Preço: Sob consulta www.armanicasa.com

Volo

Torradeira com design Casa Bugatti. Tem potência de 930 Watts, quatro opções de cozimento e amplas grelhas, que acomodam pães das mais variadas espessuras. Preço: US$ 135 www.casabugattishop.com

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firenze

GiordanoIapalucci

Denaro e Bellezza irenze ha da sempre rappresentato non

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solo la fioritura delle arti e della cultura ma anche del sistema bancario e finanziario. La mostra intitolata Denaro e Bellezza. I banchieri, Botticelli e il rogo delle vanità si pone come obiettivo quello di mettere in parallelo questi due mondi: quello artistico e quello prettamente economico-finanziario e di come questi si siano mutualmente influenzati. Un ritorno al passato nell’analisi del mecenatismo antico alla base della ricchezza rinascimentale e una critica di quello più moderno nato spesso come una sorta di espiazione delle pene e trasformato in “bastone” del potere. Fino al 22 gennaio presso il Palazzo Strozzi a Firenze.

“E pluribus unum”

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a molti, uno: riprendendo il celebre motto con cui si sosteneva e si giustificava la costituzione degli Stati Uniti prende spunto la mostra dal titolo La Bella Italia, coordinata dal Dr. Antonio Paolucci, storico d’arte e attualmente Direttore dei Musei Vaticani. L’esposizione vuole analizzare le varie identità culturali delle principali città italiane e

dei loro cittadini nel 1861, anno dell’unificazione italiana, da Milano a Palermo attraverso le esperte mani di importanti artisti dell’epoca. L’obiettivo è quello di mettere in evidenza le “differenze” culturali e artistiche che si sono unificate nel “miracolo” del 1861 di cui quest’anno si celebrano i 150 anni. Palazzo Pitti ospiterà la mostra fino al 4 marzo 2012.

50 giorni di cinema l cinema Odeon, storico luogo di conMinerali dal mondo uella che da molti è stata definita

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una delle più belle mostre di minerali al mondo viene presentata al Museo della Specola fino al 6 giugno prossimo. L’idea nasce dalla passione di Adalberto Giazotto, fisico particellare e grande giramondo che fin da piccolo, “ossessionato” dalla passione dei cristalli, ne aveva già collezionati in numero invidiabile. Col passare del tempo, Giazotto, acquista minerali in tutto il mondo da anonimi minatori in Pakistan, Brasile, Cina e molti altri paesi come anche da importanti collezionisti: da fosfofilliti agli argenti di Kongsberg, dal crisoberillo geminato a stella alle tormaline e berilli. Tutto questo e molto altro nella mostra fiorentina al prezzo di 6 euro. Dalle 10.00 alle 14.00.

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fronto culturale attraverso le pellicole delle diverse lingue del mondo, presenta la Va edizione della “50 giorni di Cinema Internazionale a Firenze” che si concluderà il 9 dicembre prossimo. Saranno più di 150 proiezioni di film che daranno vita ad una intensa stagione autunnale puntando alla crescita del cinema d’autore con

Lorenzo, “Ora Tour” orenzo Cherubini, in arte Jovanotti,

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un’attenzione particolare verso le fasce più giovani. Sarà un viaggio attraverso la cinematografia di paesi come la Francia, Spagna, Danimarca Finlandia, Svizzera, India, Congo e Marocco soltanto per citarne alcuni. Per la programmazione completa: http://www.odeon.intoscana.it/

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torna a Firenze il 3 e 4 dicembre 2011 per presentare il suo nuovo album “Ora”. L’artista romano, la cui famiglia è di origini toscane (Cortona), è uno degli artisti e cantautori più amati del panorama musicale italiano il cui impegno sociale e politico punta sempre più sui temi del pacifismo, della globalizzazione e dell’ambientalismo. La sua musica, piena di energia ha già conquistato i primi posti delle classifiche italiane e il concerto spazierà tra canzoni del suo passato e quelle più recenti. Prezzi da 32 a 50 euro.


Design

Design da hora Exposição de design em Milão reúne objetos em percursos que fazem o visitante viajar no tempo Guilherme Aquino

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De Milão

passagem do tempo sob o signo do design ganha o museu da Triennale de Milão. Obras de artisas renomados e de laboratórios artísticos de vanguarda interpretam a passagem das horas de forma lúdica, divertida, curiosa. Mas, durante todo o percurso, a proposta de uma reflexão está presente, nos ponteiros e nas mais variadas formas. Aliás, são dois trajetos diferentes para admirar a exposição: um para quem tem as horas contadas, outro para quem tem todo o tempo do mundo. Um percurso veloz como contraponto àquele lento. Em todos eles não faltam criatividade, beleza e funcionalidade, o tripé mágico que determina o sucesso de um objeto — no caso, o relógio. E quem espera uma exibição tradicional durante a mostra O’Clock time design, design time, com um relógio “normal” depois do outro, engana-se redondamente. Tudo culpa da designer espanhola Patricia Urquiola, responsável pela montagem da exposição. — A mostra inteira é feita de escolhas, com a opção de não seguir uma cronologia na apresentação das peças, nem de expor de maneira explícita os instrumentos de medição do tempo e os seus objetos. Logo no começo, propomos duas entradas: a primeira permite ao visitante conhecer a mostra de

forma resumida; já a segunda convida a ver a exposição com outros olhos, através de lentas descobertas — explicou a designer. O percurso se divide em três seções. Na primeira, apresentam-se ao público alguns objetos que servem para medir o tempo. Luzes artificiais inundam o espaço no qual flutuam objetos suspensos. A segunda parte expõe um conjunto de produtos que atravessam o tempo e flertam com o tema da viagem através das horas. O jogo de luzes é fundamental para induzir o observador a viver a passagem do tempo. O efeito simula aquele do astronauta que voa ao redor da Terra, com vários dias e noites dentro de 24 horas.

que levam a sua assinatura, e com a surpreendente forma de uma mosca gigante. Os curadores da mostra, Silvana Annicchiaro e Jan van Rossem, apostaram na relação entre o design e o tempo para completar as disciplinas que orbitam ao redor da arte. O desenho industrial já tinha sido explorado na arte figurativa, no cinema, no teatro e na fotografia. Entretanto, sob o aspecto do design, o tempo se restringia a um produto ligado, principalmente, à funcionalidade A pintura Beautiful e à estética. Uma ampla seleção de Sunflower Panerai, obras-primas, instalações e vídeos de Damien Hirst, tentam dar uma resposta a perestá exposta na guntas do tipo: como podemos medir Triennale de Milão o tempo; como mostrar o tempo que passa?; como viver, em modo experimental, o tempo? A lista de artistas que participam da exposição é grande. O Fora do lugar comum visitante pode conferir os trabalhos Na última etapa dessa viagem dende nomes como John Cage, Damien tro dos mistérios e do fascínio que Hirst, Louise Bourgeois, Xavier Angiram em torno do tempo, há uma tin, Thorunn Arnadottir, Maarten série de objetos, pequeBaas e Stefano Baccanas cenas e teatrinhos ri, entre tantos outros. nos quais as peças exposVer e viver o tempo é um tas “dialogam” entre si. luxo nos dias de hoje, ao — O desafio conalcance de uma visita à sistia em realizar um Triennale de Milão. A ambiente metafórico de mostra O’Clock time deum tema ancestral, comsign, design time vai até plexo, tentando evitar os 8 de janeiro de 2012 e lugares comuns — conestá aberta de terça a clui Patricia Urquiola. domingo, das 10.30h Ela própria participante às 20.30h. Às quintas e com a “máquina do temsextas-feiras, recebe os po” composta por peças visitantes até às 23h. Patricia Urquiola, designer

“O desafio consistia em realizar um ambiente metafórico de um tema ancestral, complexo, tentando evitar os lugares comuns”

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ABL

Marco Lucchesi

Lucca Dentro P

resso la pantera, volgo il mio sguardo prudente alla lupa, alla lonza e al leone. Prego sulla facciata di San Michele in Foro che mi lascino entrare. Non mi resta che dire: Sono quel che vien dall’altra parte. Dal meridione estremo. Foris portam. Son quel che non c’è mai o quel che appena posa e subito riparte. Così straniero e prossimo. Un indizio di paradossale lontananza. Siam vicini e sperduti. Di qua o di là dalla porta. Il richiamo del mondo, difronte a un territorio immateriale. Prope portam. Ecco il mio supplizio. La fisima di portarmi dietro una Lucca segreta – oltre i consueti baluardi. Cerco soltanto parvenze di parole non assodate del tutto, stranamente infoltite, pigiate, ammassate. Lonza e pantera. Un parlare sbilenco. Un parlare balbuziente. Forse. Pieno di silenzio e trebèsto. Sono di madrelingua italiana e il Monte di Quiesa mi custodisce. Vado sempre all’insù, verso Pieve a Elici e Montigiano. Sine ira ac studio. Oppure con una lieve grinta dinanzi alla mia assenza caparbia, che potrei dirla, col Bianchini, cionca e pizzicata. Come se vi fosse di mezzo troppo mondo. Diciamolo tra noi: la pantera e la lonza. Son diventato un lavandaio tra l’Arno, il Serchio e il Carioca. Saranno questi i tre fiumi a cui risponderò? La mia lingua è illibata e sudicia, affollata e sola, piena di polvere e passato remoto, sospesa da un presente pervaso di perplessità. Lingua crèola e ribalda, col bernoccolo del futuro. Che sa di vecchi libretti d’opera e si immedesima con la storia della poesia italiana, seguìta con baldanza e riottoso amore sin dalla prima gioventù. Lupa e Lonza. Lingua compagna del vecchio portoghese, all’alba dell’umanesimo. In tale innesto mi riconosco brasiliano, seppur recente, a cui dovrò aggiungere, senza titubanza, e per scarsa simmetria, che sono parimenti un italiano novello. Anfibio. Con due lingue e cuori. Leone e pantera. Adesione e abbandono. Tregua feroce e sorda guerra. Un assolo a due voci. Violino e contrabbasso. E non so dir qual sia la voce che meglio a me stesso mi presenti. Due patrie e due lingue. Sono piuttosto un mezzadro fra due raccolte. Cacciatore sperduto in un bosco di stranezze, avverto l’abbondanza d’acqua. Scaturisce dalla polla cristallina degli occhi di mia madre, presso alla quale mi sono dissetato per secoli. Lingua e dialetto. Non lingua o dialetto. E perciò, parole a bizzeffe: libere, cantarine, scostumate, galanti e biricchine. La sua e la mia lingua. Con delle arie sempre rinverdite e le canzoni dagli anni trenta agli anni sessanta del secolo scorso. Vere anticaglie, simili alle terme di Nerone nei pressi di Massaciuccoli. Lonza. Pantera. Un repertorio innumerevole. Mi spiego: mia madre era uno splendido jukebox e la lingua italiana diventò per me fin dal principio un quasi recitativo, 54

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accompagnato dal pianoforte o semplicissimamente a cappella. Canto e respiro. La notte in mezzo april. Mia madre era un uccellino. Non mi piace dir passero o tortora. Mi garba invece ravvisarla come un bel lucarino – lucherino. La mia finestra si apre sulla Garfagnana e arriva alla sconfinata e lilliputiana Massarosa. Lingua del paradiso. Casa Checchi. Piazzale. Pantaneto. Sgombera di sofisticheria, viva di sfumature, con quella dovizia semantica appena emersa dal fondo delle campagne. La mia lingua assomiglia a quella di un contadino senza gregge, stalla, frantoio e cavallo. Lingua ortodossa e vigile, seppur gelosa delle sue timide e ostinate arlìe. E se non vivo su quel preciso territorio, lo sento del tutto vicino mentre mi agghiada. Divoro la pantera che a sua volta adagio mi divora. Si pareggia sempre. Dilaniati entrambi. Eppoi si ricomincia la partita. Da grandi giocatori di carte. Senza burbanza. In tal frangente, penso alle rovelline e pasimate. La zuppa al farro. E dopo dei fagioli conditi con olio e aceto. Quell’olio d’oliva che lavora da solo, teologicamente ubiquo e da tutti bramato. Pollame e selvaggina. E si licet sul pane casalingo, raffermo. La mia lingua è fatta non solo di città, ma di castella, borghi, casolari. Al di là della porta. E così bisogna riedere presto o tardi alla città fatale, amata nel silenzio e nella distanza, alla città che mi sente e mi indovina. Come il profumo delle cose essenziali. Saluto San Michele in Foro e vedo le bestie affollate sugli intarsi marmorei. Sono i miei ospiti. Quella gente viva o irreale dentro Me. La lingua buia e chiara. Quel logorìo di larve e di parvenze. Il nitore delle prime cose. La polla gentile. Il lucherino. Intra portam. E quella Lucca dentro. Lonza e pantera, mentre chiedo:


Dove trovarti o mia città fatale? in qual gentil rivera o gracil sogno il tuo volto impalpabile e perduto? forse nella Maremma ti nascondi nei miei recessi di brughiera

oppure ti protendi verso il regno di Catai?

eppur nessuna t’indovina

d’esilio e ippocastani i tuoi confini

o Lucca dentro Me

Lahsa nella nebbia avviluppata Djabolsa sorvolata dal Simurg città fiorite e rare come quelle di Ariosto o Rabelais

non quella fisica di pietra o sangue ma l’altra mai vista e sentita Lucca dentro Me terra di sangue e di pietà che mi vede mi prova e mi sente (Escrito em italiano para o prêmio Pantera de Ouro conferido na cidade de Lucca, no dia 29/10/2011)

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Cinema não assustar pessoas. Pode assustar, mas esse nunca é o objetivo principal. Estilo peculiar No bate-papo com o público no CCBB, que aconteceu após a sessão de Trauma – filme de 1993 estrelado por sua filha Asia Argento — ele tirou fotos, distribuiu autógrafos e revelou seu estilo peculiar de filmar. — Um posicionamento da câmera de forma a criar pontos de vista absolutamente impensáveis, a importância da trilha sonora na construção da atmosfera, créditos finais com a citação Você acabou de assistir a..., seguido do nome do filme... Tudo isso faz com que as pessoas saibam que é um filme meu — comentou. Uma de suas contribuições ao cinema de horror foi o uso do rock progressivo em suas tramas, comentou Dario, que destacou o nome de Zé do Caixão na proConsiderado o mestre do terror, o cineasta Dario dução brasileira do gênero. Sobre Argento é homenageado com mostra no CCBB e seu novo filme, Argento contou revela no Rio detalhes do seu estilo peculiar de filmar que sempre gostou do livro de Bram Stoker. Estreou no cinema em 1969 como — O personagem se transforJanaína Pereira um dos roteiristas de Era uma vez no ma em lobo ou morcego e, talvez, De Roma Oeste, de Sérgio Leone. Argento esem outras criaturas. Ao mesmo esde sua criação, o Fes- teve pela primeira vez no tempo, não acho um pertival Internacional de Brasil aos 13 anos. Guarsonagem violento. Ele Cinema do Rio presta da da época a lembrança é um romântico. Quehomenagem a pessoas de uma cidade que ‘era ro dar ênfase ao trágico que contribuíram para a evolução confusa’. romance que envolve a — Acho que agora as cinematográfica. Este ano, quem história. esteve no centro das atenções foi coisas estão em ordem Devido ao grau de vioo cineasta italiano Dario Argento, — brincou o diretor, que lência, algumas obras de mestre do terror moderno, que ga- interrompeu as filmagens Dario Argento sofreram nhou uma mostra dedicada à sua de seu novo filme, Drácula diversos cortes, a ponto obra — Dario Argento e seu mundo 3D, para vir à cidade. de ficarem descaracteriFã do cineasta britâde horror, sob a curadoria de Mario zadas. Somente depois de Abbade. Argento esteve no Centro nico Alfred Hitchcock, alguns anos e com a Cultural do Banco do Brasil (CCBB) o mestre do suspense é chegada do DVD e do considerado detalhista para um debate, em outubro. download, o público pôde A mostra resulta de uma par- ao extremo, mas justiconferir sua filmografia ceria do CCBB com o Festival do fica tamanha exigência na forma original, o que Rio, com o apoio do Instituto Ita- atrás das câmeras. fez com que as novas geDario Argento, cineasta italiano — Todo diretor tem liano de Cultura, e levou ao Rio as rações descobrissem o 31 produções do diretor. Filmes co- seu próprio estilo e não há como se trabalho do diretor, cultuado por mo Suspiria, A Mansão do Inferno, O desvencilhar disso. Meu propósito pessoas de todas as idades. Retorno da Maldição e Phenomena sempre foi o de fazer bons filmes, Um dos filmes mais procurados mostram desejos ocultos, voyeupelo público durante a mostra foi rismo, origens do medo e paranoia, Giallo, Reféns do Medo, de 2009, que temas sempre presentes na filmotraz o vencedor do Oscar Adrian grafia do cineasta que, aos 71 anos, Brody como protagonista. A escontinua na ativa. Dario Argentudante de jornalismo Ana Carla to foi um dos pioneiros do estilo Souza era uma das presentes na sesgiallo, subgênero do terror criado são e elogiou o trabalho do italiano. na Itália. — Ele tem um olhar diferente Filho do produtor italiano de para os filmes de terror. Acho bacacinema Salvatore Argento e da fona essa mostra para conhecermos tógrafa brasileira Elda Luxardo, o melhor seus filmes — revelou a jocineasta iniciou a carreira escrevem, mostrando que Dario Argento vendo para revistas como crítico. está mais atual que nunca.

O ângulo do suspense

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“Todo diretor tem seu próprio estilo e não há como se desvencilhar disso. Meu propósito sempre foi o de fazer bons filmes, não assustar pessoas. Pode assustar, mas esse nunca é o objetivo principal”


Cinema

Terraferma no Rio de ‘gente boa’ Filme que vai representar a Itália no Oscar e concorrer com Tropa de Elite 2 será exibido nos cinemas do Rio. Em entrevista, o diretor Crialese diz que o termo “imigração” é ultrapassado para os dias de hoje Janaína Pereira

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De Roma

diretor italiano Emanuele Crialese esteve no Rio no mês passado para lançar seu quarto filme. Não é coincidência: a cada filme que faz, Crialese vem à cidade para divulgá-lo. Seu novo trabalho, Terraferma, recém-premiado com o Grande Prêmio do Júri no 68º Festival de Veneza e escolhido para ser o representante italiano no Oscar 2012, já tem distribuição garantida no Brasil. Ainda sem data para estrear nos cinemas do país, antes do filme chegar ao circuito nacional, os cariocas puderam conferir o longa durante a mostra Foco Itália, que fez parte da agenda Momento Itália-Brasil, durante o Festival Internacional do Rio, em outubro. O cineasta esteve no Rio pela primeira vez em 1997 para exibir seu longa de estreia Once We Were Strangers, no Festival Rio Cine. Desde então, ele faz questão de vir à cidade lançar seus filmes. — Mais do que uma cidade bonita, o Rio e o Brasil têm ótimas pessoas. Gosto dos lugares

por causa das pessoas, elas é que são importantes, não apenas a paisagem — revelou o diretor em entrevista exclusiva à Comunità. E são as pessoas o grande foco de Terraferma, na visão de Crialese. O longa aborda a questão da imigração, mas ele não gosta de usar a palavra para definir seu filme. — Eu não falo de imigração. Imigração é algo que aconteceu há muitos anos na Itália e em outros países. É uma palavra do início do século XX. Hoje, o termo é usado erradamente. A imprensa gosta de dizer que meu filme é sobre imigração, mas não é. É sobre duas mulheres fortes que querem proteger seus filhos. Entender os grandes movimentos populacionais, que começaram mais de cem anos atrás, é nosso maior desafio hoje em dia. As pessoas saem de seus países para outros, mas num movimento diferente, que não podemos mais definir como imigração. Estamos em outro momento — analisa. De fato, o longa mostra duas mulheres tentado proteger seus filhos — uma é italiana e a outra é africana e está tentando entrar na Itália. Os habitantes de uma ilha têm suas vidas modificadas quando

“Entender os grandes movimentos populacionais é nosso maior desafio hoje em dia.” Emanuele Crialese, diretor do premiado longa Terraferma

um grupo de africanos tenta entrar no local. A lei que une os pescadores — nunca abandonar alguém no mar — parece perder o valor diante dos refugiados, mas, mesmo contrariando todos, uma família abriga uma africana grávida e seu filho pequeno. O fato dá início a uma série de acontecimentos que questionam a atual política italiana em relação à entrada de refugiados no país. Oscar Independentemente da polêmica sobre o tema, o longa representará a Itália na corrida para o Oscar de melhor filme estrangeiro. — É uma honra, claro, representar meu país no Oscar. Por isso, vamos trabalhar em um novo esquema de divulgação e lançamento. Irei a Los Angeles para promover o filme nos Estados Unidos — comenta. O diretor ainda não assistiu a seus concorrentes à vaga no Oscar e mostrou-se curioso para ver Tropa de Elite 2. — Achei interessante a história do filme. Fiquei sabendo aqui no Brasil do que se trata, não vi ainda, mas quero ver — revela Crialese, acrescentando que não tem expectativas em relação à participação de seu filme no Oscar. Para o cineasta italiano, expectativa é algo ruim que gera ansiedade. — Não gosto de expectativas. O que posso dizer é que meu filme é atual, e espero que as pessoas entendam a mensagem. Com o desemprego na Europa, não aceitamos receber imigrantes, sobretudo da África, porque temos medo. Nos dias de hoje, com a globalização, é absurdo pensar que as pessoas não podem se movimentar entre países. Se as pessoas captarem isso, já fico feliz — finaliza.

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Comportamento

Carioca não só da gema Pesquisa comprova que população do Rio de Janeiro consome mais massas e é exigente com os serviços oferecidos nos restaurantes Nathielle Hó

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ó no ano passado foram consumidos 1,2 milhão de toneladas de macarrão no Brasil, o que coloca o país como terceiro produtor mundial. O montante resulta em um faturamento anual de R$ 6 bilhões para as empresas que fabricam o produto. Para celebrar a data do dia mundial do Macarrão, comemorado em 25 de outubro, e os bons números sustentados pelos lares brasileiros, se reuniram, no dia 11 de outubro, no Bar d’Hotel, no Leblon, empresários do setor, como Alexandre Colombo, da Piraquê; Cristiane Pereira, da Kantar WorldPanel; e o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (Abima), Claudio Zanão. Representantes do INCA Voluntário, também compareceram a exposição que abordou os resultados de uma pesquisa quantitativa e qualitativa que compara o consumidor carioca com os de outros estados quando o assunto é massa e saúde. A pesquisa realizada recentemente pela Kantar Worldpanel mostrou que o carioca gosta de gastar, adora promoções e comer bem. O estudo foi encomendado pela Abima e aponta que, enquanto o restante do Brasil gasta cerca de 1% a mais do que ganha em alimentação fora de casa, no Rio de Janeiro este índice é de 16%. — Antes de lançar o Rota 25 Caminho do Macarrão, evento gastronômico que aconteceu pela primeira vez no Rio, em outubro, queríamos entender os hábitos de consumo do carioca para elaborar um projeto afinado com os interesses deles. Os resultados foram surpreendentes — afirma Claudio Zanão, presidente da Abima. Os números também mostram que na capital fluminense a preferência pela massa é um pouco maior que no resto do país. Enquanto as massas frescas e congeladas ainda estão em ritmo de expansão no Brasil, nos pratos dos 58

cariocas esse tipo de alimento se faz presente frequentemente. — Observamos que mais da metade dos cariocas, cerca de 54,8%, compram os três tipos de massas — frescas, secas e instantâneas. Enquanto isso, nas outras regiões do Brasil, este índice é de 27,2% — ressalta Zanão. Além disso, a pesquisa revelou que o consumidor carioca adora experimentar pratos diferentes e quer ser atendido com prontidão. Entre os entrevistados, 26% afirmaram apreciar novidades e 33% não se importam em pagar mais por serviços, desde que possam contar com a organização e a agilidade do caixa para entrar e sair mais rápido de algum estabelecimento. Quanto ao comportamento de compra, a pesquisa aponta que 30% dos cariocas preferem o mercado “premium”, com mais sofisticação, enquanto que no restante do país este índice é de 22%. De modo geral, o carioca consome mensalmente mais massa em comparação à população de outras regiões. E os números comprovam isso.

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Claudio Zanão, presidente da Abima; Ricardo Selmi presidente da Selmi; Alexandre Colombo, diretor da Piraquê; Emília Rebello supervisora do INCA Voluntário; a bailarina Ana Botafogo; Pasquale Scofano, diretorpresidente da Cadore; e Márcia Martins, responsável pelo marketing da Barilla, participaram do evento de divulgação da pesquisa sobre o consumidor de massa

— Observamos que a frequência de compra de massas pelo morador do Rio é maior: dezoito vezes ao mês frente a quinze vezes ao mês na média brasileira — enfatiza Cristiane Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel. O estudo mostrou que o macarrão é um alimento consumido por todas as classes sociais, por isso a importância da divulgação de suas qualidades. Alexandre Colombo, diretor da Piraquê, incentiva o consumo do produto, desmistifica a fama que o macarrão tem de engordar, e enfatiza que massa é importante para uma dieta equilibrada: — Estamos brigando contra essas dietas milagrosas, para mostrar que não é bem assim e para levar informação correta à população. Macarrão é um alimento super saudável e não engorda — conclui Colombo.


Gastronomia fazer circular, no centro histórico da cidade, uma Unidade Móvel de Panificação do Senai, com diversos cursos de cup cakes, chocotones e mini-pães. O festival também terá forte atuação social. As nutricionistas da Faculdade de Medicina de Petrópolis farão oficinas de gastronomia no Vale do Cuiabá, um dos locais mais atingidos pelas chuvas de janeiro.

Trilha de sabores O evento Petrópolis Gourmet leva a culinária italiana à serra fluminense com concursos e oficinas. Festival faz parte do calendário do MIB Nathielle Hó

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Cidade Imperial, rica em belezas naturais e dona de um importante patrimônio histórico e cultural, será a sede do Petrópolis Gourmet. A 11ª edição do evento acontece de 3 a 26 de novembro e presta homenagem à Itália. A ideia é que os 24 restaurantes participantes elaborem um menu inspirado em regiões italianas, buscando seus ingredientes mais peculiares e seus sabores mais característicos. — Sem dúvida a homenagem à Itália é um grande atrativo. A cultura do país está presente na vida da maioria das pessoas e os

restaurantes de Petrópolis vão ter a oportunidade de explorar clássicos e novidades desta culinária — ressaltou Bruno Wanderley, presidente do Petrópolis Convention & Visitors Bureau, entidade realizadora do evento. O Petrópolis Gourmet valoriza os chefs locais e revela talentos. O I Concurso de Pizzaiolos de Petrópolis será aberto ao público e conta com apoio da pizzaria Di Farina, da empresa Gi Metal, do Moinho L5Stagione e do Senai. — O vencedor do concurso irá à Itália fazer um aperfeiçoamento de dois dias em pizza, dentro das instalações da Le5stagione e terá mais dois dias para passear e conhecer um pouco da cultura italiana — acrescentou o curador do festival, Antonio Lo Presti. Diversas oficinas e palestras de culinária italiana, natalina, slow food e comidas regionais que sofreram influência na sua elaboração serão realizadas na cozinha itinerante Nossa Panela Brasil, do chef Márcio Moreira, que estará montada nos quatro finais de semana de novembro em três shoppings de Itaipava. Além disso, o evento vai

O chef Antonio Lo Presti, dono da pizzaria Di Farina, é o responsável pela curadoria do Petrópolis Gourmet

Fotografia Simultaneamente ao Petrópolis Gourmet, acontece o Clic! Petrópolis, evento voltado para fotógrafos profissionais e amadores. Entre as atrações, haverá caminhadas fotográficas a partir do Museu Imperial. Os visitantes também poderão conhecer um acervo fotográfico inédito nos bastidores do museu. A convergência entre os dois eventos acontece durante uma exposição dos 24 chefs participantes do Petrópolis Gourmet. A mostra é de autoria do fotógrafo e presidente do Petrópolis Convention &Visitors Bureau, Bruno Wanderley. Estima-se que esta edição atraia aproximadamente 15 mil pessoas. Entre os principais objetivos, está a geração de fluxo turístico para a região no período fora da alta estação, além do aumento da taxa de ocupação nos hotéis e restaurantes e a promoção de atividades culturais na região com enfoque na boa comida. — Este festival é considerado um dos maiores festivais de gastronomia do Brasil. Em em 2010, foi escolhido entre os 31 principais eventos geradores de fluxo turístico do país — enfatizou Flávio Câmara, membro da Serrana Center, empresa que organiza o Petrópolis Gourmet. O evento tem o apoio do Instituto Italiano de Cultura, Casa D’Itália Anita Garibaldi, da Faculdade Arthur Sá Earp Neto, da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis e da Prefeitura Municipal de Petrópolis. Conta com a curadoria dos chefes de cozinha Barão (Restaurante Barão Gastronomia), Vera de Oliveira (Restaurante Oliveiras da Serra) e Antonio Lo Presti (Pizzaria Di Farina). — O Petrópolis Gourmet é uma oportunidade para quem deseja encontrar pratos diferentes em nossos restaurantes. É um evento de Petrópolis para Petrópolis e para o mundo — ressaltou Bruno Wanderley.

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IlLettoreRacconta

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m dos personagens masculinos mais fascinantes da minha infância foi o meu avô materno Nello Selmi Dei. Nascido em Lucca no final do século XIX, chegou a Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1910, onde vivia o tio Roberto Corrieri. Uma das minhas diversões preferidas era ouvi-lo contar suas aventuras como engenheiro e topógrafo, instalando linhas de telégrafo e abrindo estradas pelo interior de um Brasil ainda selvagem, no início do século passado. Além da narrativa leve, divertida e repleta de personagens quase inverossímeis, ele nos levava a “viajar” pela história política e de costumes de sua época. Guerras, tocaias, ladroagem política, encontro com onças, cobras gigantescas e tempestades tropicais, e as tragédias humanas dos flagelados pela seca no Nordeste brasileiro eram assuntos que sempre estavam nas pautas de nossas conversas. Uma das características mais marcantes da personalidade do meu avô era sua incrível capacidade de conviver com os diferentes. Ele veio de uma família aristocrática. Neto da Principessa Altomonte Comintini e casado com a neta do Visconde de Jaguaribe, transitava nos salões da elite brasileira e toscana com a mesma desenvoltura com que convivia com Lampião e seus jagunços, os fanáticos seguidores do Padre

Cícero. Meu avô também conviveu com o tenente Maynard, líder da revolução de julho de 1924, de Sergipe, e com ele partilhava e discutia de forma animada sobre política. Uma das histórias preferidas do meu babbo Nello era a que contava a chegada da Coluna Prestes ao acampamento de uma de suas obras contra a seca, no sertão. Adorava quando ele mostrava o seu lado romântico e apaixonado ao contar sobre o casamento com a minha avó, Risoleta Regina Jaguaribe. O início desse romance foi no fim do ano de 1912. Numa tarde, depois do trabalho e passeando com um amigo, meu avô avistara, debruçada à janela, uma moça de “beleza cataclísmica” e sorriso encantador. O amigo logo se gabou de que, há algum tempo, vinha namorando aquela senhorita. Nesse momento da narrativa, ele sempre se levantava e dramatizava as situações, que contava com gestos sedutores e linguagem romântica que nos lembravam as obras de José de Alencar. “Quedei-me encantado, deslumbrado mesmo, senti que aquela era a minha predestinada e não resisti a um impulso. Penetrei no jardim da residência de D. Ernestina Martins Vieira, que morava ao lado. Ali, agi como um ladro per una buona causa. Apanhei umas rosas e, quando passava justamente em frente à janela, onde estava a Risoleta, atirei-as para que caíssem de forma graciosa no peitoril. Pouco depois, quando ritorniamo, eis que a bella ostentava as rosas nos cabelos, um sorriso nos lábios e nos olhos uma mensagem me dizia, anche io ho trovato il mio amore.” Essa era a deixa para que minha avó dissesse que o olhar dela ainda falava em português, mas que, para entender aquele “ lindo rapaz talhado a machado”, ela tratou de aprender italiano em menos de três meses. Este foi o começo de um romance que culminou no casamento do dia 14 de abril de 1914. Mas aquele passeio dos dois amigos, numa tarde tranquila dos fins de 1912, veio pôr fim a uma amizade que durava dois anos: o amigo sentiu-se humilhado com o triunfo do meu babbo. A faceta mais divertida e que nos fazia rir até as lágrimas, porém, era quando ele revelava uma incrível capacidade de rir de si mesmo. Definitivamente, ele não se levava a sério. Para ilustrar isso, sempre me vem à mente a história da fundação do Palestra Itália, atual Cruzeiro Futebol Clube, em Belo Horizonte, cidade onde morou com a família até falecer em março de 1968. Ele nos contava sobre sua paixão por esse esporte que equivalia à sua total incapacidade para jogá-lo. Como um dos fundadores do clube (e apenas graças a isso), era-lhe concedida a então desmoralizada posição de goleiro. Durante um dos jogos em que o goleiro Nello Babbo e família já tinha comido sete frangos, numa jogada de difícil defesa, ele finalmente agarra a bola e defende um gol. Na euforia da comemoração e agarrado com a bola, percebe que seu boné caíra dentro da rede e, sem pensar duas vezes, vai até lá buscá-lo. O campo inteiro quase afunda com a mais retumbante vaia dada ao único goleiro da história do futebol brasileiro que marca um gol contra adentrando a trave, levando, bem segura, a bola que acabara de agarrar. Nesse ponto a gente quase arrebentava de tanto rir e ele mais que cada um de nós. Babbo nos legou essa marca: a capacidade de nos aceitarmos com as nossas fragilidades e forças e todas as contradições e diferenças que cada indivíduo de uma família deve, acima da própria instituição, preservar. Silvana Selmi Dei Gontijo Rio de Janeiro - RJ

Lucca Minas Gerais

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saporid’italia Nathielle Hó

Inhoque à moda do chef Ingredientes da Massa: 500g de farinha de trigo; 400g de batata cozida; 50g de parmesão; 250ml de água; sal a gosto.

Entre o mar e a família Cinco restaurantes especializados em comida italiana carregam no nome e na culinária a tradição familiar

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io de Janeiro – A rede de restaurantes Alessandro & Frederico conta com cinco franquias e tem como dono Fabrizio Giuliadori. Filho de italiano, Giuliadori fazia visitas eventuais ao Brasil devido ao emprego do pai: foi assim que conheceu a cidade maravilhosa. Giuliadori fixou residência por aqui a partir de 2001, quando abriu a primei-

Fabrizio Giuliadori em um de seus restaurantes que carregam o nome e a foto dos filhos

ra filial do restaurante na Rua Garcia D’Ávila, no charmoso bairro de Ipanema. A experiência e a vontade de desenvolver a gastronomia italiana foram herdadas do pai. — Meu pai Lamberto já era dono de um restaurante em Milão, então quando vim para o Brasil comecei a trabalhar com importação de produtos italianos. Nesse meio tempo, surgiu a chance de comprar um imóvel na Garcia D’Ávila, onde fiz meu primeiro restaurante — lembra Fabrizio. O nome do restaurante remete à família. Fabrizio resolveu fazer uma singela homenagem aos seus filhos. Alessandro, o primogênito, atualmente com doze anos, e Frederico, o caçula de dez, dão nome ao estabelecimento e estampam uma foto na entrada do local. Em estilo lounge, os restaurantes da marca apostam no charme da decoração para atrair frequentadores. Morador do Rio, Fabrizio faz viagens todos os anos à Itália, onde vai buscar inspira-

ção para pratos e aromas que depois introduz no cardápio. As comidas do Alessandro & Frederico são preparadas pelo italiano Genaro Cannoni, nascido na região da Basilicata. O menu do restaurante conta com mais de 50 sabores de pizza, todas preparadas no forno à lenha. Uma das mais pedidas é a Siciliana (shimeji, tomate seco, gorgonzola, parmesão e rúcula). A culinária italiana se faz presente ainda em massas como o “inhoque à moda do chef”. Dentre as estrelas do cardápio, figuram alguns pratos com carne — como o Saltimbocca alla Romana, seguida de Ossobuco de Vitela com Risoto de Açafrão. Saladas, sopas, omeletes e tartares também são destaques, além dos famosos sanduíches. Vale ressaltar que todas as pastas e pães são feitos no próprio restaurante.

Modo de fazer: Misturar todos os ingredientes até criar uma massa homogênea. Depois enrolar a massa em forma de corda e cortar em cubos com uma faca. Coloque uma panela com água para ferver e acrescente os cubos de massa. Ao flutuar, retire os cubos e despeje os mesmos em um recipiente com água gelada e gelo. Depois, coloque a massa em um escorredor e guarde-a cozida na geladeira. Ingredientes do Molho: 20g de manteiga; 100g de filé mignon cortado em tiras; meia cebola cortada em cubos pequenos. Misture esses ingredientes em uma frigideira e deixe cozinhar por 5 minutos. Depois acrescente: 100ml de creme de leite; 20ml de molho madeira; sal e pimenta a gosto. Deixe em fogo brando por mais alguns minutos e acrescente ao final 20g de gorgonzola para derreter com o molho. Etapa final: Jogue o inhoque pré-cozido na água fervente por 1 minuto e retire. Depois, acrescente o molho e bom apetite.

Serviço: Alessandro & Frederico Pizzaria Rua Garcia D’Ávila 151 - Ipanema | Tel: (21) 2522-6025 / 2522-5414 Horário de Funcionamento: 18:00h às 01:00h

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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro

Uma Trattoria em Patù

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Itália, como a França, tem pequenos vilarejos sem grandes atrações turísticas, onde grandes gulosos precorrem quilômetros para comer bem. Existem, entre esses restaurantes estilo gourmand, alguns muito caros, com estrelas no Guia Michelin e outras trattorias simples, mas que servem ótimas refeições a bons preços. A Trattoria Rua de li Travaj, localizada na praça principal (ou seria a única?) do vilarejo de Patu’, na Puglia, é uma dessas. O ambiente é gracioso, com uma área ao ar livre durante o verão. A comida é abundante (vieille cuisine, meno male), com um antipasto muito bem servido (quente e frio) com verduras, pittule (espécie de bolinhos fritos) e tantas outras delícias, sagne, um macarrão feito em casa maravilhoso, seguido por carne de cavalo e finalizando com um docinho. Cozinha caseira e saborosa.

Um pezinho em cada lado do Equador

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izem que ser mãe é ter o coração batendo fora do próprio corpo. Acho que morar no exterior também tem um pouquinho disso. Quem mora longe da terra natal tem sempre o coração, ou uma parte dele, batendo em outro lugar. Eu, morando fora há quase dez anos, também tenho esse sentimento esquisito. Quando me mudei para a Itália, não sabia das consequências e fui parar nessa enrascada. Eternamente dividida. Se estou na Itália, tenho saudades do Brasil. Se estou no Brasil, tenho saudade da Itália. Meu coração está partido. E essa bicicleta, eu bem que quis e vou ter que pedalar até o fim. Esse amor pelos dois países sofre fases. Da mesma forma que ninguém é perfeito (como conclui em modo divertido o filme Quanto mais quente melhor), nenhum país é perfeito. Existem coisas que são melhores no Brasil e outras que são melhores na Itália. É uma constante balança, um equilíbrio delicado. Ora estou apaixonada pela pátria adotada, ora pelo meu Brasil natal. Desta última vez, que foi em agosto deste ano, me apaixonei pelo Brasil. Só não gostei da taxa de câmbio. Para europeu, o Brasil ficou muito caro. Na minha terra natal adorada, pude comer tantas delícias. Muita carne (que continua mais barata que na Itália), muitos pastéis, escondidinhos mil, casquinhas de siri e até um extraordinário brigadeiro numa loja chamada, é claro, Maria Brigadeiro. Como dizem, tirei a barriga da miséria. Matei a saudade dos quitutes brasileiros. Matei a saudade dos brasileiros, que estão, em geral, de bom humor. Matei a saudade de farmácia 24 horas, supermercado 24 horas, tudo sempre aberto, que maravilha. No Brasil, agora, como mãe, percebi várias mudanças que favorecem a vida de quem tem filhos pequenos. Os shoppings têm sempre uma área especial reservada para trocar bebês e em alguns casos até carrinhos de bebê disponíveis para as mães passearem pelo shopping. Vários lugares se adequaram organizando uma área ao ar livre para as mamães: os clubes, as praias. Alguns cinemas fazem cine mamãe, com horários reservados às mães para vir com os seus pimpolhos. A boa impressão começou assim que o avião pousou no Brasil. Assim que fomos buscar as malas, nosso carrinho de bebê despachado no embarque já estava nos esperando. Viva o Brasil! Qual foi minha decepção ao chegarmos na Itália e ficarmos com o bebês quase uma hora no colo até finalmente chegar o famoso carrinho despachado. E pior. Tivemos que buscá-lo em outro local, o departamento de malas fora de medida, afinal, segundo a lógica do aeroporto de Roma, os carrinhos de bebê não chegam ao mesmo lugar onde chegam as malas. Uma ideia “genial” de logística para complicar a vida de quem viaja com filhos. A famosa “organização” all’italiana. E isso é somente a ponta do iceberg. Em certos quesitos, a Itália parece mesmo terceiro mundo. E digo isso com grande angústia. Existe um conformismo geral que impede qualquer mudança. Italia mia, não decepcione quem te adotou de coração. Acordem, Fratelli d’Italia. Está na hora de fazer um “lifting” no país. 62

novembro 2011 | comunitàitaliana




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