Santa Sé Novo embaixador do Brasil conta em exclusiva detalhes de ações junto ao Papa
Natal Italianos preferem produtos Made in Italy para aquecer a economia
Comportamento Festas de casamento sustentáveis viram moda no Norte da Itália www.comunitaitaliana.com
Ano XVIII – Nº 161
ISSN 1676-3220
R 7,00 R$ 11,90
Rio de Janeiro, dezembro de 2011
Super Mario
Assim é chamado o atual premier Mario Monti que tem a árdua tarefa de salvar seu país e a moeda europeia Em exclusiva, Massimo D’Alema afirma que a Itália não quebra e diz que títulos italianos são excelente investimento
Miúcha celebra bossa nova em Roma e faz revelações
D e z e mbro de 2011
CAPA 24 | Super Mario (Monti) e o seu pacote de Natal Saiba mais sobre o novo primeiro-ministro italiano, cujo estilo sóbrio de circular pela capital Roma se opõe ao de Berlusconi, e seu pacote de medidas econômicas Salva Italia, que pretende poupar bilhões de euros no meio da crise europeia
Atualidade
Nº161
Comportamento 16 | Natal made in Italy Com o aperto dos
Momento Itália-Brasil 48 | Cinema Festivais promovem mostras de clássicos e contemporâneos dedicados ao cinema italiano, como o REcine e o Venezia Cinema
cintos, italianos elegem a prata da casa para presentear familiares e aquecer a economia interna
20 | Casamento alternativo Nasce um novo
52 | Bienal Pavilhão italiano na Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo trouxe profissionais de renome como Ado Franchini
nicho de mercado no Belpaese: o das festas de casamento ecológicas, sustentáveis e éticas que financiam projetos de organizações como Médico Sem Fronteiras e Emergency
Esporte
54 | Antonio Landi Reinauguração de
Moda 36 | Joias A designer
Victor Sokolowicz
italiana Francesca Romana Diana abre seu ateliê à Comunità e revela o segredo do sucesso de sua grife que acaba de completar cinco anos
12 | O Brasil na Santa Sé O novo embaixador do Brasil no Vaticano Almir Franco de Sá Barbuda conta com exclusividade à Comunità a conversa que teve com o Papa Bento no dia da cerimônia de sua posse
Ano XVIII
Moda 59 | Italian Style 34 | Alpinismo A coragem do alpinista Reinhold Messner contada por ele mesmo em meio às Dolomitas
Luvas em estampa animalier da Dolce&Gabbana e chapéu em camurça da Emporio Armani estão entre as novidades do inverno italiano
casarão histórico em Belém homenageia arquiteto bolonhês que mergulhou na Amazônia brasileira em pleno século XVIII
Nossos colunistas 07 | Cose Nostre Ex-governador Rondon Pacheco e o executivo Marco Mazzu, da Iveco, levam a medalha Italia Affari de 2011
10 | Fabio Porta Dall’improvvisa ma inevitabile caduta di Berlusconi alla repentina e promettente nascita del governo Monti
11 | Ezio Maranesi
Marcos Queiroz
Ma per amare l’Italia bisogna emigrare?
51 | Guilherme Aquino Acordo entre Brasil e Itália vai levar seis mil estudantes brasileiros a universidades italianas até 2014
58 | Giordano Iapalucci La rassegna Le
42 Chamada de “regina della bossa nova” pela imprensa italiana, Miúcha conta à Comunità por que escolheu a Cidade Eterna para comemorar seu aniversário com um concerto único e relembra shows antológicos ao lado de Tom, Vinícius e Toquinho na Itália
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belissime italiane – auto di ogni tempo rende omaggio a designer come Martinengo e Bertone
66 | Claudia Monteiro De Castro Com ambiente aconchegante, restaurante romano Due Ladroni guarda no nome uma história de mais de 50 anos
O PRESENTE NUNCA ESTEVE TÃO À FRENTE DO SEU TEMPO.
A Iveco apoia o Momento Itália/Brasil
ECOLINE, A NOVA GERAÇÃO IVECO. Nos últimos cinco anos, a Iveco lançou seis famílias de produtos que redefiniram os parâmetros de inovação do mercado. Agora chega a nova linha de produtos Iveco, batizada ECOLINE, que vem reforçar a história de sucesso da marca e estabelecer novos patamares de eficiência e confiabilidade para os clientes. São caminhões ainda mais robustos e confortáveis, com motores mais potentes, mais econômicos e menos poluentes. São mais de 140 versões de produtos, que chegam ao mercado entre 2012 e 2014. Trata-se de uma nova geração de caminhões para uma nova geração de clientes. IVECO. A MARCA DA NOVA GERAÇÃO.
Faça revisões em seu veículo regularmente.
Editorial
Expediente
Consertar custa caro
A
última edição do ano traz o Papai Noel Mario Monti na capa. Não é dito que ele traga somente bons presentes e que de sua sacola saiam pacotes capazes de fazer sorrir imediatamente. Apelidado de super Mario e bem aceito inicialmente por todos, o novo presidente do Conselho de Ministros, em seu primeiro mês no cargo, já viveu a experiência de duros protestos em uma greve geral, no último dia 12, organizada pelos sindicatos descontentes com as medidas impostas aos trabalhadores e cidadãos italianos. Chamado ao trabalho pelo presidente da República Giorgio Napolitano, ele foi colocado ali não para lançar medidas populares, mas para enfrentar um débito público de quase quatro trilhões de euros. Era de se esperar que a população fosse chamada ao sacrifício. É assim que acontece quando a máquina pública desestabiliza as contas e provoca uma crise. O povo que elegeu seus administradores – importante recordar que a dívida pública equivalente a 120% do PIB não foi gerada somente pelo governo Berlusconi – paga o pato. Nós, num recente passado, conhecemos bem essa faceta da democracia que gera um totalitarismo burocrático, que suspende garantias, liberdade e direitos adquiridos, afinal tivemos experiências múltiplas de planos escabrosos. Um deles confiscou/ congelou até mesmo a poupança dos brasileiros. Se a economia não cresce é porque as instituições políticas, econômicas e sociais são mais fechadas que abertas e o capitalismo italiano – repleto de empresas subsidiadas pela mão pública e governadas por pactos sindicais – não acompanha a evolução do mundo industrializado. A sociedade Pietro Petraglia civil está diante de uma corporação que penaliza o mérito e Editor atrasa a alternância de gerações. Por enquanto, as medidas de Monti se limitam a tecnicidade fiscal. Para ganhar tempo, deu aos partners europeus a demonstração de que a Itália está disposta a sacrifícios. Mas os próximos passos devem ser em direção a um projeto de reformas que faça com que o país se desenvolva. Na matéria de nossa nova correspondente em Roma, a experiente jornalista Gina Marques mostra quem é o escolhido para salvar a pátria e entrevista o ex-premier Massimo D’Alema, deputado que é um ícone da esquerda italiana e diz que os títulos italianos são um excelente investimento. Nesta edição o leitor conhecerá o novo embaixador do Brasil na Santa Sé, que abre as portas da belíssima casa onde viveu Caravaggio, o Palácio Caetani em Roma, para dar detalhes da ostentosa cerimônia de posse e de como será a relação Brasil/Vaticano. Almir Franco de Sá Barbuda será o nome chave na organização da 48ª Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Rio de Janeiro em julho de 2013 com a presença do papa Bento XVI. Ainda neste número, poderá se deleitar com a deliciosa simpatia da estrela da bossa nova Miúcha, que em uma entrevista reveladora à repórter Cintia Castro, conta como a Roma dos anos 50 “pegava fogo”. Boa leitura, feliz Natal e um 2012 repleto de notícias melhores a todos!
Fundada
em
março
dezembro 2011 | comunitàitaliana
1994
Diretor-Presidente / Editor: Pietro Domenico Petraglia (RJ23820JP) Diretor: Julio Cezar Vanni Publicação Mensal e Produção: Editora Comunità Ltda. Tiragem: 40.000 exemplares Esta edição foi concluída em: 12/12/2011 às 11:30h Distribuição: Brasil e Itália Redação e Administração: Rua Marquês de Caxias, 31, Niterói, Centro, RJ CEP: 24030-050 Tel/Fax: (21) 2722-0181 / (21) 2722-2555 e-mail: redacao@comunitaitaliana.com.br Redação: Guilherme Aquino; Leandro Demori; Cíntia Salomão Castro; Nathielle Hó Vanessa Corrêa da Silva; Stefania Pelusi REVISÃO / TRADUÇÃO: Cristiana Cocco Projeto Gráfico e Diagramação: Alberto Carvalho arte@comunitaitaliana.com.br Capa: Editoria de arte Colaboradores: Pietro Polizzo; Venceslao Soligo; Marco Lucchesi; Domenico De Masi; Fernanda Maranesi; Beatriz Rassele; Giordano Iapalucci; Cláudia Monteiro de Castro; Ezio Maranesi; Fabio Porta; Paride Vallarelli; Aline Buaes; Franco Gaggiato; Walter Fanganiello Maierovitch; Gianfranco Coppola CorrespondenteS: Guilherme Aquino (Milão); Leandro Demori (Roma); Janaína Cesar (Treviso); Lisomar Silva (Roma); Quintino Di Vona (Salerno); Robson Bertolino (São Paulo); Stefania Pelusi (Brasília); Vanessa Corrêa da Silva (São Paulo); Gianfranco Coppola (Nápoles) Publicidade: Osvaldo Requião Rio de Janeiro - Tel/Fax: (21) 2722-2555 Cel: (21) 9483-2399 orequiao@comunitaitaliana.com.br RepresentanteS: Espírito Santo - Dídimo Effgen Tel: (27) 3229-1986; 3062-1953; 8846-4493 didimo.effgen@uol.com.br Brasília - ZMC Representações Zélia Corrêa Tel: (61) 9986-2467 / (61) 3349-5061 e-mail:zeliacorrea@gmail.com Minas Gerais - GC Comunicação & Marketing Geraldo Cocolo Jr. Tel: (31) 3317-7704 / (31) 9978-7636 gcocolo@terra.com.br ComunitàItaliana está aberta às contribuições e pesquisas de estudiosos brasileiros, italianos e estrangeiros. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, sendo assim, não refletem, necessariamente, as opiniões e conceitos da revista.
La rivista ComunitàItaliana è aperta ai contributi e alle ricerche di studiosi ed esperti brasiliani, italiani e estranieri. I collaboratori esprimono, nella massima libertà, personali opinioni che non riflettono necessariamente il pensiero della direzione. ISSN 1676-3220
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de
cosenostre Julio Vanni
Aço grupo italiano Techint acertou a compra de 27,7% do capital
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votante da Usiminas por R$ 5 bilhões. Com a transação, a maior produtora de aços planos do Brasil passará a ser controlada por estrangeiros: metade por japoneses (através da Nippon Steel) e metade pelos italianos. Juntos, terão 57,2% das ações ordinárias. Os italianos também planejam se associar à empresa na construção de uma laminadora. O local ainda não foi definido, mas a disputa deve ficar entre Rio e Minas. Fundada em 1945 e controlada pela família Rocca, a Techint possui mais de 54 mil funcionários e um faturamento global de U$ 19 bilhões.
Ferrari FF chega ao Brasil
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Grupo Via Italia, representante oficial da Ferrari no Brasil, começa a vender a Ferrari FF no país por R$ 2,7 milhões. O grupo não fala sobre os interessados em comprar o veículo. Quem tiver a curiosidade de ver o modelo de perto, pode ir até o showroom da marca, na Avenida Brasil, em São Paulo, onde está exposto um exemplar da macchina. A previsão de venda é de cinco a seis unidades até dezembro.
Luxo nos olhos
Prêmio Autodata grupo Magneti Marelli
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om o objetivo de aumentar a presença em um dos mercados de luxo que mais crescem no Brasil, a italiana Luxottica, a maior fabricante de óculos do mundo, confirmou o acordo para a compra da brasileira Tecnol, por cerca de 110 milhões de euros. A fabricante das marcas RayBan e Oakley calcula que o negócio permitirá a produção local de seus artigos, com considerável corte nos impostos de importação. A Luxottica, inicialmente, comprará 80% da Tecnol, ficando o restante para os próximos quatro anos. A marca ainda planeja adquirir produtoras e distribuidoras para reduzir o orçamento e agilizar entregas.
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O
ex-governador de Minas, Rondon Pacheco, e o presidente da Iveco para a América Latina, Marco Mazzu, foram os homenageados da 6ª edição da Entrega da Medalha Italia Affari. Realizado pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria de Minas Gerais, o evento aconteceu nos Salões do Automóvel Clube de Belo Horizonte, no último dia 29 de novembro. Rondon, de 92 anos, responsável pela instalação da Fiat em Minas, falou da sua admiração pelo presidente da empresa na Itália, Giovanni Agnelli, e lembrou do acordo selado entre eles em Turim na década de 1970, para a implantação de uma indústria automobilística em Betim.
Padre expulso pela ditadura xpulso do país durante a dita-
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dura militar por ter se negado a celebrar uma missa em homenagem ao Sete de Setembro, no interior de Pernambuco, o padre italiano Vito Miracapillo vai regressar ao Brasil. Ele ganhou o visto de permanência definitiva do governo brasileiro e voltará à Pastoral da Igreja Católica de Ribeirão, na Mata Sul de Pernambuco. O visto da permanência no Brasil foi concedido pelo Departamento de Estrangeiros, ligado à Secretaria Nacional de Justiça. O religioso já havia feito algumas tentativas para voltar ao Brasil durante os oito anos do governo Lula.
Dam pastor Vinci que tosa uma ove-
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lha, tendo ao fundo uma paisagem de colinas e construções arquitetônicas. Esta é a nova pintura atribuída a Leonardo da Vinci, descoberta na Itália. O estudioso trevigiano Luciano Buso fez o anúncio há poucos dias e acredita que a assinatura da tela é do artista toscano. Para Buso, a obra pode ser um autorretrato, pois os traços do pastor retratado “trazem uma extraordinária semelhança com o vulto de Da Vinci”. Na tela, o nome Leonardus, codificado entre os pelos da ovelha, e os vários L na cabeça do pastor comprovariam a intenção de Leonardo de que o pastor fosse seu autorretrato.
venceu, pela terceira vez, o prêmio AutoData de 2011, a mais importante premiação do setor automobilístico do Brasil. A empresa subsidiária do grupo Fiat levou a melhor na categoria Sistemista, com as tecnologias Free Choice (câmbio manual com controle eletrônico) e lanterna LED. A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu em 24 de novembro, no Centro Universitário Senac, em São Paulo. O grupo é sediado em Corbetta, na província de Milão, e está presente no Brasil desde 1978.
Wi-Fi na Rocinha TIM acaba de dar início ao projeto de
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Wi-Fi na Rocinha, permitindo aos internautas da comunidade o acesso à internet com velocidade de até 50 Mbps. A intenção é promover uma rede privada, à qual somente os clientes da empresa poderão acessar em alta velocidade, e uma pública, aberta para qualquer usuário que tenha um aparelho com conexão Wi-Fi. No primeiro trimestre de 2012, a TIM pretende abrir uma loja e um quiosque de vendas na Rocinha. Além disso, a companhia vai lançar, em 2012, um serviço de banda larga fixa residencial, estabelecendo concorrência com a Oi. A Tim comprou em julho deste ano a rede AES Atimus, expandindo sua rede de fibra ótica em 21 cidades. A AES Atimus foi rebatizada de TIM Fiber.
comunitàitaliana | dezembro 2011
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Opinião enquetes O jornalismo deveria ser limitado nas áreas de confronto após morte de cinegrafista da Band?
Sim - 33,3% Não - 66,7% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 04/11/11 a 09/11/11.
frases
“Na cama, é melhor ficar sozinho”, Charlize Theron, atriz sulafricana, ao falar o quanto se sente solteira e feliz aos 36 anos
“O meu conselho de ministros? Gianna Nannini premier. No Ministério da Economia, Fiorella Mannoia. No da Cultura, porém, coloco Vasco Rossi”,
“Espero que o Parlamento possa tratar essa questão. Negar isso é uma autêntica loucura, um absurdo. As crianças têm essa aspiração”,
Laura Pausini, cantora italiana, em entrevista a Donna Moderna
Empresa italiana Benetton mostra líderes se beijando em campanha, incluindo o Papa. Você apoia?
Giorgio Napolitano, presidente da Itália, em pronunciamento no dia 22 de novembro, ao mostrar desacordo sobre a atual legislação italiana que não prevê o reconhecimento da cidadania italiana aos filhos de imigrantes nascidos no país
Sim - 58,3% Não - 41,7% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 10/11/11 a 15/11/11.
Analistas dizem que Brasil, Rússia, Índia e China podem ajudar a superar a crise europeia. Concorda?
“Não devemos virar uma empresa autorreferencial, como a política italiana, na qual todos falam entre si, mandam ‘mensagenzinhas’ entre si, como em um círculo fechado. Devemos manter a janela aberta sobre o mundo”,
“Berlusconi daria um grande personagem para filme”, Pedro Almodóvar, cineasta espanhol, durante entrevista publicada no jornal italiano La Stampa
Luca Cordero di Montezemolo, presidente da Ferrari, ao falar durante o evento Matching, na cidade de Rho
Sim - 41,7% Não - 58,3% No site www.comunitaitaliana.com entre os dias 16/11/11 a 22/11/11.
no celular
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“Mario Monti trabalhou na Goldman Sachs. Mario Draghi também trabalhou na Goldman Sachs. Sabe, a Goldman Sachs é aquele bando de simpáticos engravatados que deixou a América de cuecas”,
“Elevada competência dos membros do novo Executivo é uma garantia extra de eficiência da gestão”, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, sobre o novo governo de Mario Monti
Maurizio Crozza, apresentador de televisão, durante o programa Italialand, transmitido pela La7 em novembro, ao falar sobre as ligações entre o banco de investimento americano Goldman Sachs, o novo premier italiano (Monti) e o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi
cartas
“Q
uero parabenizar a revista pela linda matéria sobre o espetáculo Ensaio sobre a beleza. Eu presenciei na Cinelândia essa festa que reuniu brasileiros, italianos e descendentes, e fiquei extasiada com coreografias e músicas que lembram a união desses dois povos. CAROLINA DIAS, Rio de Janeiro – RJ – por e-mail
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“C
omo foi publicado na imprensa, o santo padre Bento XVI nomeou-me arcebispo metropolitano de Taranto. Após 27 anos no Brasil, 20 no Rio e 7 em Petrópolis, volto à Itália. Parto no dia 1º de janeiro para a Puglia, minha região de origem, e farei o ingresso na Arquidiocese de Taranto em 5 de janeiro, vigília da Epifania. Saudações cordiais à toda equipe da Comunità Italiana. Dom Filippo Santoro – por e-mail
Serviço agenda A Vida em Roma Dezembro é o último mês para conferir, em Belo Horizonte, a exposição intitulada Roma – A vida e os imperadores, inaugurada em 21 de setembro na Casa Fiat de Cultura. As 370 obras contam a história e o cotidiano dos imperadores e do povo da época do Império Romano. São
esculturas, mosaicos, joias, cerâmicas, afrescos, adornos e vestimentas, provenientes de importantes museus da Itália. Com curadoria de Guido Clemente, a exposição vai até o dia 18, e deve seguir para o Masp, em São Paulo, por volta do dia 25 de janeiro. www.casafiatdecultura.com.br
Vicenzaoro 2011 Uma exposição internacional do ouro e da feira de comércio de joias acontece de 14 a 19 de janeiro de 2012, em Vicenza, no Vêneto, região da Itália,
país onde são produzidas, há séculos, peças de ourivesaria famosas pelo seu design e pela sua beleza. A Vicenzaoro First cobre toda a gama de mercadorias valiosas, graças à presença de 1500 expositores que vão mostrar ao público o que produzem de melhor. Acontecem também reuniões, workshops e conferências. Paralelamente, ocorre o T-Gold, que exibe as últimas tecnologias aplicadas aos metais preciosos. http://www.firstevent.it/ De Chirico A mostra realizada pela Casa Fiat de Cultura tem a curadoria de Maddalena D’Alfonso e passa por Belo Horizonte, Porto Alegre e São Paulo no período de 9 de dezembro
deste ano a 20 de setembro de 2012. O pintor italiano exerceu influência sobre vários artistas brasileiros, entre eles Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Candido Portinari e Iberê Camargo. As 22 pinturas vieram do Museu de Arte Moderna de Nova York, do Art Institute de Chicago, do Museu Picasso de Paris, do acervo de colecionadores e da Fundação De Chirico. www.momentoitalia.com.br Arte e Meio Ambiente A exposição Arte e Meio Ambiente: Rompendo Fronteiras está aberta à visitação até 11 de março de 2012, no Palácio do Horto, em São Paulo.
Modigliani: Imagem de uma Vida Inicialmente prevista para começar em 10 de janeiro no Rio, a exposição do pintor Modigliani teve sua inauguração transferida para o dia 31 do mesmo mês, no Museu Nacional de Belas Artes. Entre as mais de 170 obras, há pinturas em óleo originais e esculturas em bronze. O acervo, que pertence ao Instituto Modigliani, traz um panorama da vida e obra do artista de 1906 a 1920. www.mnba.gov.br
clickdoleitor As relações entre o Brasil e a Itália: formação da italianidade brasileira O autor Amado Luiz Cervo trabalha em seu livro três fases que marcaram as relações entre Brasil e Itália: a imigração, as entreguerras e a cooperação econômica desde 1949. Nos últimos anos, houve certo declínio italiano e a ascensão brasileira. Contudo, o passado de influências italianas se prolonga, seja na presença dos empreendimentos, seja na participação étnica e cultural no Brasil. Mas a italianidade brasileira se desvincula da matriz: a Itália persegue sua identidade na “pureza da raça”, enquanto o Brasil apresenta pluralidade étnica e cultural. Editora UnB, 435 páginas, R$ 55,00.
Senti che Storia! Os autores Luca Di Dio e Rosella Bellagamba reúnem algumas das mais célebres canções italianas, tais como Fratelli d’Italia, Bella ciao, Tu vuò fà l’americano e Nessuno mi può giudicare. Acompanha um CD e apresenta dez percursos temáticos relacionados à história italiana, desde a Unificação até os dias atuais. A narração é feita sob a ótica intercultural, e o livro é indicado a estudantes do idioma italiano de vários níveis. A obra foi lançada no Brasil durante a 57ª Feira do Livro de Porto Alegre, que aconteceu entre outubro e novembro de 2011. Editora Edulingua, 96 páginas, R$ 30,00.
Arquivo pessoal
naestante
A curadoria é de Ana Cristina Carvalho. As obras pertencem ao Acervo dos Palácios do governo paulista e foram feitas por artistas de renome como Alfredo Volpi, Eliseu Visconti, Victor Brecheret, Ernesto Di Fiori, Claudio Tozzi e Maria Bonomi. Na mostra também estão expostos trabalhos com foco no gênero paisagem, como a coleção de gravuras de espécies de palmeiras de João Barbosa Rodrigues, e a série de aquarelas de bromélias e orquídeas brasileiras de Margareth Mee. www.acervo.sp.gov.br
“F
ui a Roma porque ganhei uma bolsa de pesquisa sobre Federico Fellini na Università degli Studi di Roma La Sapienza. Adorei a cidade, com a atmosfera que mescla o antigo com o moderno. O Coliseu representa bem esse patrimônio cultural e histórico que é próprio da Itália. Anna Paula Lemos Rio de Janeiro, RJ — por e-mail
comunitàitaliana | dezembro 2011
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opinione FabioPor ta
L’Italia s’è desta! Dall’improvvisa ma inevitabile caduta di Berlusconi alla repentina e promettente nascita del governo Monti
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iciamolo subito, per chiarezza e a scanso di equivoci: il Professor Mario Monti, neo-Presidente del Consiglio italiano, non farà miracoli. La crisi finanziaria internazionale che da alcuni mesi si è concentrata sull’Eurozona, prima sui Paesi più periferici (Grecia, Spagna, Portogallo) spostandosi poi nel cuore del continente (Italia, Belgio, Francia), non potrà essere risolta da una sola nazione, meno ancora da un solo uomo. L’Europa e l’Euro possono sopravvivere o morire soltanto se saranno in grado di condurre una seria battaglia con l’obiettivo di rafforzare le istituzioni politiche, ma anche economiche, dell’Unione; nessun Paese, nemmeno il più forte, può avere l’ambizione o la presunzione di farcela da solo. E’ pur vero, però, che Mario Monti un miracolo l’ha già fatto, e almeno questo gli va riconosciuto: dopo un lunghissimo anno di crisi, nel corso del quale il governo Berlusconi era stato travolto contemporaneamente da scandali ripetuti, dal successivo indebolimento della propria maggioranza parlamentare e dall’acuirsi della crisi economica e finanziaria, nell’arco di una sola settimana è riuscito nel quasi proibitivo intento di dare vita ad un nuovo governo. Non solo; dopo anni di contrapposizione frontale e di posizioni spesso inconciliabili, il governo Monti nasce con il sostegno della quasi totalità del Parlamento. Solo la Lega Nord, infatti, non ha votato la fiducia al nuovo esecutivo. Si è trattato di una grande dimostrazione di serietà ed efficienza proprio da parte di quelle stesse istituzioni democratiche, Presidenza della Repubblica e Parlamento in testa, che più di una volta sono state criticate per la scarsa capacità di incidere tempestivamente in merito alla crisi economica e politica in atto. Come è sempre accaduto nei momenti più difficili e delicati, l’Italia ha così ritrovato unità e senso di responsabilità davanti ad una situazione che 10
qualcuno aveva già giudicato irreversibile e compromessa; dal baratro si è così passati alla speranza; una speranza ed una fiducia personificata da colui che più di ogni altro godeva sul piano interno ed internazionale della necessaria credibilità, unitamente alla competenza, per affrontare questa difficile missione. Si tratta soltanto dell’inizio di un percorso impervio e complesso, lo sappiamo. Ma a volte i primi passi sono indicativi ed esemplari.
Gli italiani all’estero non possono che apprezzare le prime parole a loro rivolte dal nuovo capo del governo Gli italiani all’estero, per esempio, non possono che apprezzare le prime parole rivolte dal nuovo capo del Governo italiano ai deputati riuniti alla Camera nel giorno della fiducia: “Anche io sono stato un italiano
dezembro 2011 | comunitàitaliana
all’estero, avendo vissuto per oltre dieci anni fuori dall’Italia; anche io sono figlio di emigrati, mio papà è nato in Argentina e mio nonno aveva una piccola fabbrica vicino Buenos Aires: conosco bene l’importanza ed il ruolo degli italiani nel mondo!”. Parole, è vero, ma parole pesanti e significative perché pronunciate dal Presidente del Consiglio dei Ministri dell’Italia nel giorno della sua investitura parlamentare; parole che mai avevamo sentito dalla bocca del suo predecessore, Silvio Berlusconi, il quale anzi era solito
riferirsi agli italiani nel mondo come a “quelli che non pagano le tasse e ai quali abbiamo dato il diritto di voto”. Una bella differenza, di toni e si sostanza. Gli ultimi tre anni di governo hanno praticamente cancellato le risorse per le comunità italiane all’estero: rete consolare, assistenza socio-sanitaria, lingua e cultura, sistema di rappresentanza. Nel 2012 le somme destinate dal bilancio del Ministero degli Esteri a questi interventi saranno ridotte a meno di un terzo del 2008, ultimo anno del governo Prodi. Risalire la china sarà un’impresa difficile e complessa. Quello che chiediamo al governo non è semplicemente un ripristino di somme tagliate, necessarie a salvaguardare quei programmi in grado di mantenere vivo il legame tra l’Italia e gli italiani nel mondo. Vogliamo innanzitutto sapere dal nuovo governo se l’Italia crede ancora in quel patrimonio unico, insostituibile e irripetibile che sono le sue straordinarie e numerose collettività che vivono all’estero. Una domanda semplice, per la quale chiediamo una risposta altrettanto netta e chiara.
opinione
EzioMaranesi
E’ il mio Paese “I Per amare l’Italia bisogna emigrare?
s my country, right or wrong”. La frase, di un Carneade americano, è famosa. Il mio Paese, giusto o sbagliato, qualunque cosa si dica e accada, è il mio Paese. E’ la terra in cui sono nato, in cui ho vissuto la mia giovinezza e i miei primi amori, ho sognato le mie speranze, ho lottato per farmi spazio, ho gioito e sofferto come solo i ragazzi sanno gioire e soffrire. In quella terra, in quelle nebbie padane, tra le colonne dei palazzi medioevali, gli occhi fissi sulle tele rinascimentali del Duomo, il canto dei campi, del bosco e delle contadine dell’aia quando ancora cantavano, le pagine di Pavese, Gadda e Moravia, si è fatta la mia cultura. Giusto o sbagliato, era ed è il mio Paese. La vita mi ha portato a vivere in un’altra terra che mi ha accolto fraternamente, e a cui sono riconoscente, ma l’Italia è sempre il mio Paese, right or wrong. L’Italia degli ultimi decenni ha prosperato spendendo soldi che non aveva. Troppi soldi. Se li è fatti prestare. Come poteva non pensare che sarebbe arrivata l’ora di pagare il debito? L’ora, puntuale come la morte, è arrivata, e ci è stato presentato il conto. Ci aspettano grandi sacrifici. Fa rabbia, rivolta, ma questa Italia improvvida e irresponsabile è comunque il mio Paese. Abbiamo dato fiducia al governo di un uomo, imprenditore di successo, che aveva il compito di rinnovare l’Italia. Non l’ha fatto; non ha saputo, o potuto, o voluto farlo. Dicono che l’Italia sia inaffidabile e forse c’è del vero, ma non è il momento degli inutili orgogli. Dobbiamo reagire con umiltà e fermezza, e dare fiducia a chi ci possa governare con efficacia e rappresentare degnamente. Sono deluso, ma quest’Italia inaffidabile è comunque il mio Paese. Discutiamo fin che si vuole se l’Italia sia o non sia “nazione”: sicuramente
c’è un oceano tra i montanari della Val Senales e i contadini dell’agrigentino. Il processo di unificazione politica è discutibile, ma l’Italia unita è un fatto, piaccia o no, e questa discutibile Italia è comunque il mio Paese. E che dire dei tanti zombi della politica nostrana, che cadono sempre in piedi, risorgono e comandano per decenni impedendo il rinnovamento delle idee? e delle mezze figure che non hanno la dignità di dimettersi quando cambiano credo politico? Il loro motto è “giusto o sbagliato, è la mia poltrona”. Ci vergognamo per loro, ma questa troppo tollerante Italia è comunque il mio Paese. Abbiamo il maggior patrimonio artistico del mondo e non siamo capaci di valorizzarlo. Abbiamo ricchezze paesaggistiche di incomparabile bellezza e abbiamo permesso che amministratori corrotti le deturpassero. Gridiamo il
La vita mi ha portato a vivere in una altra terra che mi ha accolto fraternamente, e a cui sono riconoscente, ma l’Italia è sempre il mio Paese, right or wrong
nostro sdegno, ma non posso non sentire che questa Italia, troppo spesso incompetente e corrotta, è comunque il mio Paese. Vi sono regioni intere in cui le mafie imperano. L’Italia le sta combattendo, ottiene vittorie, ma troppe sono le collusioni con il mondo politico e imprenditoriale, troppi sono i condizionamenti sociologici e culturali, e le mafie prosperano. Non siamo fieri di questa Italia che non sa vincere questa guerra, ma essa è comunque il mio Paese. Decenni di governi distratti o interessati, e quindi colpevoli, hanno permesso il prosperare di caste e corporazioni. Oggi l’Italia è un Paese conservatore, quando avrebbe la necessità vitale di rinnovarsi; il mondo moderno lo esige. Troppi interessi incrociati lo impediscono. Assistiamo inermi, con l’animo in rivolta, ma questa Italia pietrificata è comunque il mio Paese. Ed è sempre e comunque un grande Paese. L’Italia ci ha dato mille motivi di orgoglio e ci sta dando ora mille motivi di tristezza. Noi emigrati poco possiamo fare: andremo ancora una volta a votare e eleggeremo ancora una volta i nostri rappresentanti, per quanto inutili possano essere. Continueremo ad emozionarci per la rossa di Maranello o per l’azzurra di Prandelli, a leggere con apprensione i giornali italiani sul web, a rattristarci per l’alluvione a Monterosso, ad indignarci per i crolli di Pompei o per i risolini beceri del napoleoncino Sarkozy. C’è una cosa però che possiamo fare: insegnare ai fratelli italiani d’Italia ad amare e rispettare il loro, il nostro Paese, right or wrong, qualunque cosa accada.
comunitàitaliana | dezembro 2011
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Victor Sokolowicz
Atualidade
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dezembro 2011 | comunitĂ italiana
A chave
de Dilma no Vaticano O novo embaixador do Brasil na Santa Sé abre as portas de sua residência no Palácio Caetani, onde viveu Caravaggio, e conta com exclusividade à Comunità os detalhes da conversa que teve com o Papa Bento no dia da cerimônia de posse Gina Marques De Roma
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le foi recebido pelo Rei e pela Rainha da Bélgica, pelo Grão-Duque e pela GrãDuquesa de Luxemburgo e, recentemente, pelo Papa Bento XVI. Conhece pessoalmente diversos presidentes de vários países do mundo e coleciona condecorações. A carreira diplomática de Almir Franco de Sá Barbuda é repleta de glórias, mas nem por isso ele perdeu a simplicidade. Em 42 anos de serviço no Itamaraty, foi escolhido pela presidenta Dilma Rousseff para ser o embaixador do Brasil junto à Santa Sé, cargo que ele define como “chave de ouro”, antes de se aposentar ao fim de 2013. Afinal, ele terá a honra de acompanhar a segunda viagem de Bento XVI ao Brasil na ocasião da 48ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em julho de 2013, no Rio de Janeiro, um evento que poderá reunir cerca de quatro milhões de pessoas. No encontro com a revista Comunità Italiana, Almir Franco de Sá Barbuda falou da sua vida em Roma e da carreira diplomática, e contou os detalhes da reunião com o Papa Bento XVI ocorrida em
31 de outubro, quando lhe entregou as Cartas Credenciais como embaixador do Brasil junto à Santa Sé. — A nossa conversa durou cerca de 20 minutos. Falamos da situação socioeconômica brasileira e da próxima Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Fiquei impressionado com a sua cultura, com o conhecimento que ele tem do Brasil e, principalmente, com a capacidade dele de te deixar a vontade. Durante o encontro, o Papa me perguntou sobre a saúde do ex-presidente Lula e disse que iria rezar por ele. Assim que voltei para casa, escrevi ao Lula contando que alguém muito especial lhe dedicava as suas orações e ele ficou emocionado — conta. Emoção também não falta ao embaixador. Seus olhos brilhavam quando ele descreveu o protocolo para ser recebido pelo Papa. O cerimonial pede que os diplomatas acreditados junto à Santa Sé usem a casaca com as condecorações, enquanto as mulheres devem portar vestidos pretos com um véu da mesma cor sobre a cabeça. Para esta ocasião especial, vieram as suas duas filhas, Gabriela e Adriana, e seus
dois netinhos. Ao cumprimentar o Papa, o filho de Gabriela, Cauã, de 6 anos, ficou tímido e abaixou a cabeça. Adriana, que vive nos Estados Unidos, veio acompanhada do marido americano Gavin e da filha Sasha, de 7 anos. O protocolo é perfeito porque, para a Igreja Católica, a tradição é um rico patrimônio cultural. Naquela manhã, o Vaticano enviou três carros à sua residência, um para o embaixador, outro para a família e o terceiro para o corpo diplomático. Os veículos seguiram em comitiva precedida por um grupo de batedores que abriram os caminhos pelo trânsito de Roma. — Ao chegar ao Vaticano, fui recebido pelo Gentiluomo no pátio de São Damásio. Ele me acompanhou dentro do Palácio Apostólico, onde a Guarda Suíça Pontifícia prestou as honras. Em seguida, atravessamos um corredor longo, a Loggia, com teto e paredes decoradas com afrescos renascentistas, onde encontramos os assessores na antecâmara do papa. Da Loggia, seguimos em cortejo para a sala Clementina, onde fomos recebidos pelo prefeito da Casa Pontifícia, que me apresentou ao
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Atualidade Pontífice, em sua Biblioteca Pessoal. Após a apresentação e a troca de discursos, houve um diálogo só entre nós dois — narra. Depois da audiência, entraram os familiares do embaixador, que foram apresentados, um por um. Em seguida, os diplomatas. Todas as etapas estão documentadas com fotos de grupo. Logo após, o embaixador foi recebido pelo secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal Tarcisio Bertone. Mais tarde, foi acompanhado em uma visita dentro da Basílica de São Pedro, onde fez orações na Capela do Santíssimo Sacramento e, depois, ao Altar da Virgem Maria. Por fim, no túmulo de São Pedro. Esta é uma etapa tradicional, reservada só aos países cuja maioria da população é católica. O Brasil é o país com maior número de católicos no mundo: cerca de 130 milhões de brasileiros foram batizados — o que corresponde a 68% da população.
a participação de 4 milhões de pessoas. Ele explicou também que o evento é realizado a cada três anos, mas que o Vaticano decidiu antecipar um ano para realizálo no Brasil. O anúncio foi dado por Bento XVI durante o último dia da JMJ de 2011, em Madri, na Espanha. — A Jornada Mundial da Juventude é bem programada. Os países interessados apresentam as suas candidaturas e uma comissão do Vaticano avalia a melhor opção. No nosso caso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fez uma excelente apresentação. Reconheço e agradeço também o trabalho dos meus antecessores, como a embaixadora Vera Barrouin Machado e o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Graças ao trabalho de todos eles e do governador Sérgio Cabral, poderemos hospedar este grande evento — afirma. Residência do embaixador é o Palácio Caetani — Eu nunca poderia imaginar que um dia moraria num palácio onde o artista Caravaggio viveu por dois anos, de 1601 a 1603 — confessa o atual embaixador. Trata-se do Palácio Caetani, a Residência da Embaixada do Brasil junto à Santa Sé. A construção tem quase 500 anos e fica na Via delle Botteghe Oscure, em uma das áreas mais antigas e tradicionais do centro histórico de Roma. A riqueza cultural do lugar está dentro e fora. Para se ter uma ideia, a poucos metros dali, ficam as antigas ruínas romanas onde o imperador Júlio César foi assassinado no ano 44 antes de Cristo. O palácio foi construído por Alessandro Mattei em 1545. A sua história está ligada a duas grandes e
Victor Sokolowicz
Jornada Mundial da Juventude Este é um grande momento para o Brasil. Além da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, em junho do próximo ano, o Rio de Janeiro vai hospedar a Conferência das Nações Unidas sobre ambiente e desenvolvimento sustentável, a Rio+20. Em julho de 2013, também no Rio, aguarda-se o maior evento católico do mundo: a Jornada Mundial da Juventude. Segundo o embaixador Barbuda, estima-se que a próxima JMJ possa superar o grande evento de 1995 que ocorreu em Manila, nas Filipinas, e contou com
O embaixador Barbuda estima que a próxima Jornada Mundial da Juventude, que acontece no Rio, em 2013, possa superar o público de quatro milhões de pessoas, registrado nas Filipinas em 1995
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importantes famílias romanas: a dos Mattei, que moraram nele por cerca de um século meio, e a dos Caetani, seus proprietários por mais de cem anos e responsáveis por parte da decoração interna em estilo barroco. O monumento abriga a residência do embaixador do Brasil junto à Santa Sé há 42 anos. Por coincidência, foi em 1969 que Barbuda concluiu os estudos da carreira diplomática no Instituto Rio Branco e entrou no Itamaraty. São diversas as salas ricamente decoradas com quadros e objetos de valor inestimável. Considerando a preciosidade do lugar, seu cão Benji, de raça wheaten terrier, pode entrar somente na área de serviço e no grande terraço. Benji, de três anos de idade, foi comprado nos Estados Unidos, país onde Barbuda foi cônsul-geral do Brasil em Washington, de 2008 a 2011. A paixão pela lírica Almir de Sá Barbuda nasceu em Manaus em 1943, onde viveu até os 10 anos de idade. Seu pai era político e, como deputado federal, foi transferido com a família para a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro. Ao longo da sua carreira diplomática, não é a primeira vez que Barbuda vive em Roma: de 1985 a 1988 ele foi designado representante alterno da Representação junto à Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO). — Eu sempre quis voltar a viver em Roma, mas quando eu me aposentar, vou morar no Rio. Para ele, viver na Itália significa estar em uma sintonia perfeita, pois a sua grande paixão é a música clássica, em particular a lírica e a ópera. Quando é possível, vai ao Teatro Amazonas, em Manaus. Nos intervalos, aproveita para tomar um bom Tacacá, caldo típico amazonense. — Algumas vezes aproveito um fim de semana para viajar à Veneza ou a Nápoles para assistir a uma grande ópera. Aqueles que amam a lírica são assim, programam suas viagens de acordo com os espetáculos, porque os lugares são sempre interessantes — explica. Na vida de um embaixador, a saudade é uma companheira contínua. Saudades do Brasil, para onde Barbuda voltará daqui a dois anos, encerrando uma carreira gloriosa. Em compensação, ele vai deixar cantar de novo o trovador, ouvindo sons das fontes murmurantes na sinfonia da floresta.
Fotos: Bruno de Lima
Comunidade
Celso Colombo: ícone das massas Fundador da Piraquê morre aos 88 anos no Rio, cidade onde estabeleceu a segunda maior fábrica de biscoitos e massas do país Cintia Salomão Castro
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uem não traz, entre as memórias da infância, os lanches com goiabinha ou com os salgadinhos de queijo da Piraquê? A marca de biscoitos e massas que já fazem parte da história dos brasileiros há seis décadas perdeu, no último dia 30 de novembro, o seu fundador. Filho de italianos da cidade de Busto Arsizio, na província de Varese, o engenheiro agrônomo paulista Celso Colombo faleceu no Rio de Janeiro aos 88 anos, de infarto, em sua casa, após ter trabalhado normalmente nos escritórios da sede da empresa, no bairro carioca de Madureira. Três dos quatro filhos de Celso, que ocupava a presidência da empresa desde a sua fundação — Celso Filho, Sérgio e Eduardo — trabalham na diretoria, assim como o neto, Alexandre Colombo, diretor de marketing. Ainda não foi definido quem assumirá o controle da indústria, o que deve acontecer até o início de 2012. Quando Celso Colombo inaugurou a fábrica da Piraquê, em 1953, havia cerca de 200 empregados no estabelecimento, onde eram produzidos somente salgados. Hoje, a empresa
familiar pode se orgulhar de ser um dos maiores produtores de massas e biscoitos do Brasil, com 4.500 funcionários e filiais em cinco estados. Aos 20 anos, Celso já trabalhava na fábrica do pai Romeo Colombo, sócio da marca de biscoitos São Luiz, que acabaria sendo comprada pela gigante suíça Nestlé, em 1967. Sua vontade, no entanto, era abrir uma indústria no Rio, então capital do país. No dia 8 de setembro de 1950, ainda em São Paulo, ele recebeu um telegrama de um amigo, sobre um bom terreno que estava disponível, de 15 mil m², perto da Avenida Brasil, importante eixo do transporte na cidade. Em fevereiro de 1951, a família Colombo muda-se para o Rio. Celso escolheu o melhor para implantar a Piraquê: a máquina Vicars, com forno contínuo, era a mais moderna da época, quando os equipamentos tradicionais exigiam que o biscoito fosse levado em uma bandeja até os fornos.
O industrial Celso Colombo recebeu das mãos do então cônsul do Rio, Massimo Bellelli, a comenda da Ordem da Estrela da Solidariedade Italiana, em 2008
Economia
— Meu avô dizia que fazia o melhor produto que era capaz de fazer, para todas as classes. Não temos uma linha premium. O preço mais alto do mercado brasileiro é o da Piraquê, porque não economizamos em matéria-prima. O gergelim importamos da Espanha. O goiabinha (um dos produtos mais vendidos pela marca, desde 1966) leva goiabada de verdade, e não polpa de goiaba, como os outros fazem — conta Alexandre Colombo. Comendador do Estado italiano A Piraquê também inovou quando foi a primeira indústria brasileira a adotar o pacote como embalagem em um tempo em que os biscoitos eram vendidos em latas, e os caminhões passavam para recolhê-las, recorda o neto Alexandre. A tabela de preços praticados na venda aos comerciantes, independente do porte do estabelecimento onde as massas, as margarinas e os biscoitos da fábrica são comprados pelos consumidores, é outra marca registrada da empresa. “O pequeno de hoje pode ser o grande de amanhã” era um dos lemas do patriarca da Piraquê. Como reconhecimento aos seus altos méritos no campo econômico e social, considerados como uma contribuição distinta em prol da comunidade italiana pelo governo da Itália, Celso Colombo recebeu, em 2008, a Ordem da Estrela da Solidariedade Italiana, no grau de comendador, conferida pelo presidente da República, Giorgio Napolitano, e pelo então Ministro das Relações Exteriores, Massimo D’Alema, das mãos do então cônsul do Rio, Massimo Bellelli. — Quando estive pela primeira vez na Piraquê, em 1994, fiquei impressionado pela forma de tratamento e o carinho que a família Colombo dedica aos seus colaboradores. Ficamos consternados com o falecimento de um homem que sempre dignificou a comunidade ítalo-brasileira. Será lembrado pela comunidade por ser um cidadão consciente e empresário vitorioso — ressaltou o presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria do Rio, Pietro Petraglia.
“Meu avô dizia que fazia o melhor produto que era capaz de fazer, para todas as classes. O goiabinha leva goiabada de verdade” Alexandre Colombo, diretor da Piraquê comunitàitaliana | dezembro 2011
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Comportamento
Consumo
Natal
made in Italy contra a crise
Apesar do aumento dos preços e da queda no consumo geral, 73% dos italianos escolherão produtos italianos para presentear amigos e familiares no Natal Aline Buaes
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de Nápoles
nquanto o novo governo do premier Mario Monti corre contra o tempo para afastar as previsões de recessão para 2012, os italianos se preparam para as festas de final de ano com mais pessimismo que seus colegas europeus, esperando pagar ainda mais impostos no ano que vai entrar, mas com um orçamento para as compras de Natal ainda acima da média europeia e com o otimismo de que, valorizando os produtos nacionais, poderão ajudar o país a sair da crise. Segundo uma pesquisa do Observatório Nacional da Federconsumatori, a federação italiana dos consumidores, os preços médios dos produtos típicos das festividades natalinas cresceram 4% em relação ao ano passado, enquanto o consumo diminuiu 19% nos últimos dois anos. Segundo a entidade, as famílias, diante da situação de crise, se preparam com grande antecedência para as festividades de final de ano. De acordo com a tabela divulgada pela entidade, os custos relativos às festas registraram aumentos em todos os setores em comparação a 2010. No setor de alimentos, o aumento médio dos preços de artigos como lentilhas, mel, prosecco, salmão e panetones foi de 2%, com algumas exceções, a exemplo dos vinhos brancos, que registraram 5% de aumento e, os embutidos, que diminuíram entre 3 e 4% seus preços. A antecipação das liquidações das lojas seria uma das soluções propostas pela entidade para diminuir o efeito negativo da crise. As liquidações, no entanto, já são amplamente registradas nas lojas das principais cidades do país desde novembro. A prata da casa é a preferida Uma pesquisa realizada pela consultoria europeia Deloitte revelou que quase 73% dos consumidores italianos pretendem adquirir produtos made in Italy nas suas compras para o Natal de 2011, o que demonstra um nível de patriotismo mais elevado do que a média dos europeus. Nos outros países do continente, 60% das pessoas declararam os mesmos objetivos de favorecer os próprios mercados nacionais. A pesquisa Deloitte evidencia um reconhecimento pela qualidade da produção italiana, mas também a vontade dos italianos de apoiarem a retomada do crescimento econômico em um momento de crise. De acordo com a pesquisa, o gasto médio dos italianos durante o mês que precede as festas natalinas será de 625 euros por família, número superior em 6,5% à média europeia, de 587 16
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Apesar de pessimistas com a crise, apenas 11% dos italianos estão dispostos a diminuir os gastos com alimentos durantes as festas natalinas maram que vão gastar menos por causa da crise. O desejo de celebrar o Natal, porém, permanece forte e, apesar do pessimismo difuso — que leva 84% dos consumidores italianos a acreditarem que a Itália ainda esteja em recessão, contra 60% da média europeia — não se deve subestimar o dado que muito italianos acreditam que seu poder de aquisição continua o mesmo (33%), ou que aumentou (9%), em relação ao ano passado. Segundo o levantamento
da Deloitte, 68% dos italianos ainda têm uma percepção pessimista em relação a uma retomada econômica em 2012, contra 4% que acreditam no crescimento da economia. Presente gastronômico em primeiro lugar Ainda segundo a pesquisa, confirmando o pessimismo em relação à instabilidade econômica, 42% dos italianos gastarão menos com diversão neste final de ano, 41% com despesas irregulares e 40% com roupas. Apesar do aperto no cinto da economia, apenas 11% dos italianos declararam que pretendem diminuir os gastos com alimentos durante as festas natalinas. Almoços, jantares e presentes culinários dominam os pensamentos dos italianos que vão às compras (40%), seguidos de presentes não comestíveis (39%), viagens (13%) e apenas 7% para as atividades sociais. Segundo uma análise da organização agrícola italiana Coldiretti, baseada na pesquisa Deloitte, enquanto os gastos com presentes devem diminuir 3%, os gastos natalinos com comidas e bebidas terão um corte de apenas 1% nos orçamentos dos consumidores italianos, comprovando uma tendência de aumento na busca por presentes do setor enogastronômico, com produtos que celebram os sabores e os aromas tradicionais do
O que os italianos preferem comprar neste Natal Alimentos e bebidas
40%
Presentes
39%
Viagens
13%
Atividades sociais Outros
7%
1% Fonte: “Xmas Survey 2011” Deloitte
Fotos: Aline Buaes
euros por família, ainda representa uma queda de 2,3% em relação a 2010. Segundo a pesquisa, metade dos italianos utilizará tanto internet quanto as lojas para pesquisar e comparar os preços dos presentes. No entanto, apenas 10% realizarão as compras diretamente online. A 14ª edição da pesquisa natalina Xmas Survey, da consultoria internacional Deloitte, é o resultado de sondagens feitas no mês de setembro com mais de 18 mil consumidores de 18 países da Europa, com o objetivo de identificar as intenções de gastos com presentes, comidas, bebidas e atividades para o tempo livre. A pesquisa salienta que as preocupações dos europeus com o andamento da economia e o medo de perder o emprego são as principais causas da redução dos gastos com as festas de final de ano. Na Itália, 74% dos entrevistados afir-
território italiano. Para a Coldiretti, este dado comprova o verdadeiro “boom” de compras realizadas diretamente com produtores agrícolas ou em mercados e feiras com proveniência garantida, além de ofertas especiais, como os cestos natalinos com produtos típicos italianos. Entre os principais desejos de compras, segundo a Deloitte, estão os bens e serviços relacionados com o bem estar pessoal, o que inclui alimentos, bebidas, viagens e livros. De um ponto de vista geral, a busca por presentes úteis e com melhor relação qualidade-preço, em contraste com os desperdícios, determina as decisões de gastos dos consumidores italianos. — A preocupação com a situação econômica está influenciando as decisões de compras dos consumidores italianos, que este ano tendem a ser ainda mais prudentes com as compras dos presentes de Natal — afirma Dario Righetti, responsável pelo setor Consumer Business da Deloitte Itália. — Prudentes sim, mas sem medo de comprar, dado o forte desejo de celebrar e a convicção de um poder aquisitivo estável — acrescenta. Segundo a pesquisa Deloitte, os presentes mais desejados pelos consumidores europeus são livros, viagens e dinheiro, enquanto os produtos que mais serão presenteados em toda a Europa são perfumes, cosméticos, livros, roupas e acessórios. Na Itália, os presentes mais desejados pertencem à categoria massagens, tratamentos e produtos de beleza, com 30% da preferência dos entrevistados. Em relação aos presentes para crianças até 12 anos, permanece a componente da educação, com metade dos consumidores preferindo brinquedos como jogos educativos e livros ilustrados. Confirmando uma tendência já revelada em 2010, um dos fatores que mais pesam na hora de decidir o que comprar este ano está na preferência por produtos de alta utilidade e o melhor preço. Na Itália, 90% dos entrevistados afirmam que vão comprar produtos úteis para presentear, ou seja, os presentes se tornam cada vez mais essenciais e sem desperdícios. Em relação ao preço, 72% levarão em consideração produtos que estiverem em promoção no momento da compra. comunitàitaliana | dezembro 2011
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Economia
Na garupa Brasil recebe investimentos no setor de motocicletas e atrai fabricantes como a italiana MV Agusta e a americana Harley-Davidson Nathielle Hó
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ensação de liberdade, adrenalina e velocidade fazem da moto um meio de transporte alternativo para muitas pessoas que não podem perder tempo no trânsito das grandes cidades. O veículo substitui os transportes coletivos, com deslocamento rápido e manutenção barata. E o Brasil é um mercado promissor quando o assunto é transporte sobre duas rodas. Clima, geografia e políticas de produção e importação favorecem o país, que é o quinto maior fabricante de motos do mundo. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as vendas no Brasil ultrapassarão as de automóveis até 2014. Dentro de dez anos, a frota de motos vai superar a de carros. Em um comparativo feito pelo Ipea, o mercado cresceu 15% ao ano entre 1998 e 2008, enquanto o automobilístico teve um crescimento anual de apenas 7,5% durante o mesmo período. Os números são animadores e muitos fabricantes querem pegar carona na garupa da moto brasileira. A montagem e manutenção, antes feitas nos países de origem, agora são realizadas também no Brasil. O esqueleto da moto que envolve chassi, parte elétrica, suspensão, pneus e todos os outros componentes são preparados com o mesmo cuidado da matriz. Linhas de montagem no Brasil A italiana MV Agusta e a americana Harley-Davidson apostaram no Brasil — único país onde estas marcas têm linhas de montagem fora de suas sedes. Construídas de forma artesanal, as motocicletas da MV Agusta
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começaram a desembarcar no Brasil no fim de setembro e já estão sendo montadas na fábrica da Dafra Motos, em Manaus. Segundo o diretor de exportações da marca italiana, Raffaele Giusta, em média, 60 unidades chegam ao país, por mês, para que as vendas comecem em dezembro. — Queremos comercializar cerca de mil motocicletas no primeiro ano. Se atingirmos essa meta, o
Brasil será o segundo país que mais vende as nossas ‘joias’, posição ocupada hoje pela França — garante. Para o presidente da Dafra Motos, Creso Franco, suas principais conquistas foram atingidas. — Em três anos, tornei o mercado nacional mais interessante e competitivo e minha empresa mais lucrativa. Além disso, em nossa fábrica, são montados três modelos da BMW (G650 GS, F800 GS e F800 R) e três da MV Agusta,
só que essa será representada por mim, e de forma sólida. Em 2010, a MV Agusta consolidou o nome Brutale, com os modelos 990, 1090R e 1090RR. Atualmente, a empresa aposta no segmento de média cilindrada, com um motor de três cilindros. O presidente da MV Agusta, Giovanni Castiglioni, demonstra não temer a concorrência. — Somos uma fabricante relativamente pequena, mas com muito potencial. Os próximos lançamentos terão preços agressivos e, por isso, as demais terão de vir para cima. Espero dobrar as vendas em dois anos e triplicar em três — ressalta. A direção da Harley-Davidson também anuncia planos para expandir a rede no Brasil, ao mesmo tempo em que concentra seus esforços na área de serviços. Na primeira fase, a meta é formar uma rede com 12 distribuidores, em cidades como Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Campinas. Até o final de 2011, pelo menos 10 revendas devem entrar em operação. — Nós estamos procurando expandir nossa marca além dos Estados Unidos, e o Brasil é um mercado estratégico para nós — enfatiza Mark Van Genderen, vice-presidente da Harley-Davidson na América Latina. A japonesa Kawasaki já monta suas motos em Manaus, sem intermediários. A BMW também trilha esse caminho e, a partir de 2012, será a vez da Ducati e da KTM. A montagem na cidade amazonense proporciona uma redução de 30% no preço final das motos, o que torna o produto mais competitivo. Outros locais fora da Zona Franca estão recebendo novas montadoras, como a fabricante chinesa Shineray, que investiu R$ 100 milhões na fábrica em Porto de Suape, Pernambuco.
Atualidade
Entre iguais
e Internacionalização; Cooperativismo; e O programa Brasil Próximo no contexto da cooperação entre Brasil e Itália. No dia seguinte à abertura do seminário, foram organizadas as reuniões de diversos grupos de traSeminário realizado em Brasília discutiu programa balho. O evento foi concluído com uma palestra final, que apresentou que visa implementar projetos de cooperação aos participantes um resumo dos envolvendo regiões do Brasil e da Itália debates e dos projetos discutidos. Resultado de acordos firma— Aprendemos muito com a dos entre os governos dos dois Vanessa Corrêa da Silva Itália nas áreas de cooperativismo, países, o programa Brasil Próximo turismo e agricultura familiar. Quebusca implementar projetos-piloto perfil da cooperação remos cada vez mais uma relação de cooperação em diversas áreas, em entre Itália e Brasil entre irmãos, entre parceria com estados e foi o tema do I Semi- iguais, uma relação municípios brasileiros, nário Internacional fraterna, porque é a com foco no desenvolvido programa Brasil Próximo, que troca de maneira altiva mento local das regiões aconteceu em novembro, no Pa- que nos interessa. O incluídas no programa. lácio do Planalto, em Brasília, programa Brasil PróFazem parte do Brasil O objetivo do evento foi abrir um ximo é um elemento Próximo mais de 40 ciespaço de discussão para os proje- concretizador, facilidades nos estados do tos que fazem parte do programa tador e solidificador Rio Grande do Sul, São Brasil Próximo. Também foram dis- dessa relação que quePaulo, Rio de Janeiro, cutidos os cronogramas de execução remos ter com a Itália, Piauí e Amazonas. Na desses projetos e as possibilidades com o governo e, soItália, participam do de relacionar as diversas atividades bretudo, com o povo projeto de cooperação italiano — declarou. previstas pelo programa. as regiões de Úmbria, O ministro tamO seminário contou com a Marche, Toscana, EmíGilberto Carvalho, participação do ministro-chefe da bém reconheceu a lia-Romanha e Ligúria. ministro-chefe da secretaria-geral secretaria-geral da presidência da importância do proEm dezembro de da presidência da República República, Gilberto Carvalho, e grama, que, segundo 2009, uma comissão de diversos políticos brasileiros. ele, já está bem encaminhado e em responsável pela gestão do programa Autoridades italianas também breve poderá oferecer resultados. Brasil Próximo já havia sido instalada — Queremos jogar todo o peso compareceram, a exemplo do emem Brasília, formada por represenbaixador Gherardo La Francesca, e toda a força para que o Brasil Prótantes de 11 ministérios brasileiros. e pessoas ligadas ao projeto, como ximo prossiga, dê frutos e seja um A principal finalidade é a de coordeo coordenador-geral do programa marco nessa longa e profícua histónar as parcerias entre os dois países Brasil Próximo, Giampiero Rasimelli. ria de nossas relações — concluiu. no âmbito do programa. O decreDurante a abertura do semináEm seu discurso de abertura, to que formou a comissão instituiu Gilberto Carvalho ressaltou a re- rio, foram realizados três painéis uma secretaria-executiva que ficou lação “profunda e diferente” que de discussão. Os temas abordados responsável pela coordenação do foram Desenvolvimento Territorial existe entre Brasil e Itália. grupo, chefiada pela secretaria-geral da presidência da República.
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“O programa Brasil Próximo é um elemento concretizador, facilitador e solidificador dessa relação que queremos ter com a Itália, com o governo e, sobretudo, com o povo italiano”
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Comportamento
Um outro casamento
Cooperativas de Milão inventam um novo filão no mercado de noivos: festas de casamento éticas, ecológicas e sustentáveis que financiam projetos sociais na Itália e em outros países Aline Buaes
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de Nápoles
convite é confeccionado por cooperativas que empregam pesssoas socialmente excluídas. As alianças contêm diamantes cuja extração respeitou os princípios de direitos humanos. O buffet, preparado exclusivamente com alimentos orgânicos. A organização de festas de casamentos éticas e sustentáveis virou um negócio de sucesso em Milão — onde uma associação começou oferecendo serviços fotográficos para os noivos com doação de 30% do lucro a projetos sociais em países como Birmânia e Tibet, e hoje é líder de uma espécie de rede de cooperativas que oferecem serviços para casais interessados em organizar um evento socialmente responsável, ético e sustentável. No final de outubro, ocorreu a segunda edição da Feira Matrimoni Solidali, em Lacchiarella, província de Milão, que reuniu os principais fornecedores desta rede de prestadores de serviços e atraiu jovens casais de diversas partes do Norte da Itália. Em um país onde o mercado matrimonial é um dos poucos que sobrevive intacto às crises econômicas — com festas excessivas e caras que obrigam muitos jovens casais a recorrerem a empréstimos 20
— ser chique virou sinônimo de ser justo e solidário. Pelo menos em Milão, metrópole-termômetro de novas tendências italianas. A associação Matrimoni Solidali, fundada oficialmente há cerca de um ano, é decorrente de um projeto iniciado em 2003 junto à sua promotora, a organização social milanesa Libero Laboratório, que oferecia parte dos lucros obtidos com serviços fotográficos para festas de casamento para apoiar um projeto de cooperação internacional na África. Conforme explica um dos coordenadores de Matrimoni Solidali, o fotógrafo Giuseppe Galimberti, aos poucos outros projetos internacionais foram sendo inseridos na lista de doações. O resultado é que, hoje, aos noivos que solicitam um orçamento fotográfico, é oferecida uma “tabela transparente”, com 30% do lucro obtido pela associação doado
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A organização Matrimoni Solidali e a Libero Laboratório direcionam parte dos lucros de fotografias de casamentos para projetos de cooperação internacional na África
Da Lombardia para o resto da Itália A maior parte dos fornecedores atua na região da Lombardia, mais especificamente, ao redor de Milão. Porém, Galimberti acredita na possibilidade de ampliar o projeto em todo o território italiano. — Queremos nos tornar uma espécie de selo de qualidade para toda a Itália, de fornecedores de serviços e produtos eticamente certificados. A edição inaugural da Feira Matrimoni Solidali ocorreu
em fevereiro, em Milão, como um momento importante de encontro e conhecimento dos fornecedores e apresentação da rede ao público e à imprensa. Para aquele primeiro encontro, tinha sido escolhido um espaço expositivo tradicional da cidade. Para esta segunda edição, o próprio espaço expositivo escolhido, uma casa de campo histórica restaurada recentemente através de um projeto de recuperação ambiental em uma região agrícola a 20 km de Milão, pois simbolizava o objetivo dos fornecedores presentes, pois o espaço é proposto como o local ideal para festas “socialmente responsáveis”. Galimberti ressalta que o sucesso desta segunda edição da feira, que reuniu centenas de jovens casais provenientes de todo o norte da Itália, de Turim a Verona, foi devido, sobretudo, à visita de pessoas que pouco ou quase nada conheciam de desenvolvimento sustentável. — Para nós foi uma ótima surpresa, já que não queremos absolutamente nos fechar para pessoas que já conhecem o discurso da solidariedade. Queremos nos abrir para quem nos procura para descobrir como se faz uma casamento diverso, sem gastos excessivos. Galimberti explica que a transparência dos preços é também um diferencial em relação aos organizadores de casamentos tradicionais, que normalmente não esclarecem todos os gastos que os noivos terão de arcar. — Nós oferecemos um serviço muito transparente, no qual os noivos sabem desde o início quanto deverão gastar. Os preços oferecidos também, em alguns casos, chegam a 20% a menos do que os fornecedores tradicionais de serviços para festas de casamento. Convites by MSF e Emergency Diversas organizações humanitárias renomadas, como a Médicos Sem Fronteiras (MSF) e a Emergency, participaram da Feira Matrimoni Solidali para apresentar seus serviços, como convites e bombonieres para festas de casamentos. Os convites da MSF na Itália, por exemplo, têm um custo sugerido de € 3,50 por peça, e todo o processo de seleção, compra e envio dos convites é organizado através do site da organização e realizado em períodos que variam de 15 a 20 dias. Retirado o custo da mão de obra e do material, todo o
Fotos: Libero Laboratório
a um projeto social escolhido pelos clientes. No total, oito projetos fazem parte da lista oficial, como um plano de combate à malária em Burkina Faso e um programa para oferecer refeições em escolas de refugiados na Birmânia. E não só: Galimberti ressalta que os noivos podem também sugerir projetos que gostariam de colaborar, como ocorreu recentemente com um casal que sugeriu um projeto no Haiti do qual conheciam detalhes. Mas a ideia de um “casamento solidário” vai muito além da contribuição com os lucros dos fotógrafos. Galimberti explica que, aos poucos, foi crescendo a necessidade de reunir parceiros de determinados setores, como produtores de alimentos orgânicos e associações que empregam pessoas excluídas do mundo do trabalho — não apenas deficientes físicos ou mentais como presidiários ou tóxicos dependentes — para oferecer serviços específicos para festas de casamento socialmente responsáveis. — O objetivo do projeto é se tornar um instrumento para os noivos escolherem serviços com certificação de transparência e solidariedade, ou seja, fornecedores solidários — define Galimberti, citando como exemplo a joalheria Belloni, de Milão, que certifica eticamente suas joias com a garantia de que a extração das pedras preciosas ocorreu através de um processo respeitoso dos direitos humanos dos trabalhadores e com uma renda que permaneceu dentro da comunidade. — O ponto principal é o desenvolvimento sustentável, a exemplo do que acontece no setor de bombonieres, no qual as cooperativas empregam o trabalho de pessoas que, de outro modo, não encontrariam ocupação. Em resumo, são projetos de valorização e promoção do trabalho— afirma o fotógrafo e fundador do projeto.
A segunda edição da feira Matrimoni Solidali aconteceu em outubro, em uma casa de campo histórica restaurada através de um projeto ambiental
lucro é destinado aos projetos da organização em todo o mundo. A maior parte das cooperativas de pequeno e médio porte que estão se especializando no setor na Itália emprega pessoas com deficiências físicas ou mentais, permitindo uma nova vida a estas pessoas, como a cooperativa Il Brugo, de Monza, que oferece bombonieres e convites em papel reciclado, e a Bottega di Pinocchio, de Brescia, que oferece porta guardanapos e outras peças em madeira confeccionadas por jovens portadores de deficiência física. Desde 2004, a Uroburo forma e emprega, em Milão, jovens e adultos com deficiências mentais no setor de ourivesaria. A cooperativa Altrospazio, que possui lojas com artigos de produção artesanal solidária em toda a Itália, oferece produtos como pratos e copos descartáveis rigorosamente ecológicos.
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Meio Ambiente
Etiqueta ecológica O designer italiano Marco Capellini mostra no Brasil que sustentabilidade combina, e muito, com decoração e beleza Nathielle Hó
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iver de uma maneira ecologicamente correta é uma necessidade moderna. A premissa que envolve as ações “reciclar, preservar e transformar” é muito atual e tem a ver não só com o comportamento do consumidor, como também faz parte de uma mudança do modo de produção dos bens materiais. A exposição Design Italiano para Sustentabilidade, que aconteceu em novembro, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, teve essa finalidade: mostrar como os italianos trabalham com a questão da sustentabilidade na decoração. Com o incentivo do Ministério italiano do Meio Ambiente e com o apoio do Fórum das Américas, a mostra colocou em evidência uma seleção de produtos de empresas italianas que souberam integrar responsabilidade ambiental com inovação e design, e procurou conscientizar o visitante em relação aos problemas ambientais causados com a produção de objetos de consumo. Foram reunidas 40 peças, desde aparelhos de iluminação e pisos, a objetos cotidianos da casa, cozinha e escritório, e até tecidos produzidos na Itália. Com curadoria de Marco Capellini, designer e consultor do Ministério das Atividades Produtivas, e do Observatório Nacional de Resíduo na Itália, o evento deu continuidade ao livro Design Italiano per la Sostenibilitá, editado em 2009 pelo governo italiano. 22
Etiqueta traz informações sobre material usado Capellini entrou para o mundo do design sustentável graças a um decreto-lei, elaborado pelo Ministério italiano do Meio Ambiente, o qual exige que pelo menos 30% dos produtos comprados por entidades públicas e empresas financiadas pelo Estado sejam fabricados com materiais reciclados. Ao perceber que a demanda por este tipo de produto crescia, mas não era acompanhada por sua oferta, o designer criou o Remade in Italy, um projeto que visa promover o conceito de design sustentável entre as empresas. Além disso, ao perceber que as empresas e os próprios consumidores ainda têm muitas dúvidas a respeito dos produtos feitos com materiais reciclados, o designer decidiu usar sua arte para transmitir conhecimento sustentável à sociedade. Agora, todos os produtos criados por Capellini vêm com uma etiqueta informativa, que detalha
“O Brasil e toda a América Latina estão cada vez mais interessados em novas técnicas de ecodesign. A diferença é que na Europa trabalhamos com o conceito de ‘reciclagem’, enquanto aqui vocês preferem a ‘reutilização’ dos materiais — o que, inclusive, diminui o consumo”, diz Marco Capellini, curador da mostra Design Italiano para Sustentabilidade
A exposição procurou conscientizar os visitantes, que tiveram acesso a etiquetas informativas com detalhes sobre os materiais usados na fabricação dos objetos
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os materiais usados na confecção dos objetos e, ainda, o quanto o consumidor está economizando em matéria-prima, gás carbônico, água e energia ao comprar um artigo de design sustentável. Em 2009, ele participou de algumas iniciativas na área do design ecológico, como o projeto “Diálogo Sustentável Brasil-Itália”, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Capellini acredita que o país está crescendo bastante neste setor. — O Brasil e toda a América Latina estão cada vez mais interessados em novas técnicas de ecodesign. A diferença é que na Europa trabalhamos com o conceito de ‘reciclagem’, enquanto aqui vocês preferem a ‘reutilização’ dos materiais — o que, inclusive, diminui o consumo — enfatizou. Diferentemente de anos atrás, quando o designer era quase que apenas um maquiador, que só cuidava da casca e não do conteúdo, hoje, Capellini tem a obrigação de interagir com os processos industriais e propor novas soluções de design que minimizem os efeitos de degradação ambiental da produção. — Os produtos ambientalmente sustentáveis respeitam o planeta, não exploram os recursos naturais e possuem um ciclo de vida controlado. Estamos numa fase em que consumimos mais do que necessitamos, e isto não é bom para outras gerações. A Itália, um país de poucos recursos, e o Brasil, que tem muito o que preservar, podem fazer e aprender muito juntos — concluiu.
Fotos: Mariana Chama / MCB
Design
Notícias
Moda a dois m parceria com instituições brasileiras, a italiana Yama-
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may, especializada em moda íntima e de praia, lançou um concurso onde estudantes desenvolveram modelos de biquínis e acessórios. O design e as cores foram levados em consideração para selecionar os felizardos que farão, em 2012, um estágio de três meses em Gallarate (próximo de Milão) no ufficio stile (escritório de estilo). A Faculdade Santa Marcelina e o Instituto Europeu de Desing, ambos de São Paulo, e o Senai CETIQT, do Rio de Janeiro, foram as instituições escolhidas para a competição. Na etapa final, os grandes vencedores pelos melhores croquis foram: Hanna Loureiro, José Emilio Bonadio, Renata de Mattos Perez, Joanna Barros, Micheline de Souza Pimenta e Nirvana Tuffanelli. A intenção da empresa é estreitar os laços comerciais com o Brasil no mercado da moda.
Desfile da Luz Rua XV de Novembro, em Curitiba, transformou-se em
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palco de mais uma atração de Natal na noite do dia primeiro de dezembro. A Galeria de Luz, uma instalação com mais de 50 mil lâmpadas, mudou a paisagem do calçadão. O tema é uma homenagem à Itália. O artista italiano Valerio Festi projetou uma sequência de portais luminosos em perspectiva. Ele disse que o esquema foi originalmente desenhado por Leonardo da Vinci. A ideia é que, ao longo do passeio, o visitante conheça desenhos que mudem de acordo com o ponto de vista. Mais tarde, 50 artistas e 100 técnicos estrearam o espetáculo Desfile da Luz, com 20 palcos móveis, onde bailarinos, atores e malabaristas encenaram um espetáculo natalino.
Simona Caleo / Embaixada do Brasil em Roma
Audrey Hepburn e ae outubro sua aRoma dezembro, Roma
VikCriação Muniz na Embaixada de Adão de Michelangelo Buonarroti recriada e
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contornada pelo lixo, exposta em uma galeria barroca projetada por Francesco Borromini com afrescos de Pietro Cortona. Foi assim que o artista plástico Vik Muniz coroou seu sucesso artístico, trazendo para a Itália a exposição Matrizes Italianas, com o incentivo do embaixador do Brasil José Viegas Filho. Outra obra inédita de Vik é sobre um Caravaggio: Bacchino malato, ou seja “jovem deus do vinho doente”, uma livre tradução que faz parte da série Pictures of Magazine 2. Nessa coleção, o artista usa retalhos de livros e revistas para recriar as obras. A mostra poderá ser visitada gratuitamente até o dia 18 de dezembro, na Galeria Cortona, dentro do Palácio Pamphilj, na sede da Embaixada do Brasil, na Piazza Navona, em Roma.
Cidadania italiana novo ministro italiano de Cooperação e Integração, An-
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drea Riccardi, anunciou que está em estudo uma lei para conceder cidadania aos filhos de estrangeiros nascidos na Itália. O presidente, Giorgio Napolitano, levantou o debate ao classificar de ‘loucura’ e de ‘absurdo’ que as crianças não sejam consideradas italianas. Existe quase 1 milhão de crianças nessa condição no país. A atual lei sobre a cidadania segue o conceito de Ius Sanguinis, ou seja, o direito de sangue significa que só as crianças nascidas de pai ou mãe naturais da Itália podem ser consideradas cidadãs. Quando completam 18 anos, elas podem pedir a cidadania, mas precisam demonstrar que viveram sempre na Itália desde o nascimento.
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recebeu, no Museu Ara Pacis, a exposição Esterno Giorno – Audrey a Roma, em homenagem à grande estrela do cinema Audrey Hepburn (1929-1993), que viveu na capital italiana por um quarto de século, entre os anos 1960 e 1980. As fotos extraídas sobretudo de arquivos jornalísticos, contam momentos importantes da vida de Audrey, como a atuação em filmes como Vacanze Romane, o casamento com seu segundo marido, o médico italiano Andrea Dotti, e o trabalho como Embaixatriz da Unicef, ao qual se dedicou exclusivamente nos últimos anos de vida. O objetivo principal da mostra inédita foi reunir fundos para um projeto da Unicef de combate à desnutrição em Chade, na África Central. Em 1994, um ano após sua morte, os dois filhos de Audrey e seu último companheiro fundaram a Fundação Audrey Hepburn para Crianças.
Vence a dupla Brasil-Itália competição demorou cinco meses e a concorrência en-
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tre 12 candidatos foi acirrada. Ao final, o Comitê de Organização das Olimpíadas Rio 2016 decidiu que a empresa italiana Filmmaster Group, em parceira com a brasileira Srcom, no consórcio “Cerimônias Cariocas 2016”, vai organizar os principais eventos dos jogos olímpicos em 2016. Eles vão realizar desde o percurso mundial da tocha olímpica até a cerimônia de abertura. A Filmmaster é dirigida por Marco Balich, empresário que já organizou as cerimônias de encerramento das Olimpíadas Invernais de 2002, em Salt Lake City, e das Olimpíadas Invernais de 2006, em Turim. Guiada por Abel Gomes, a Srcom conta com 20 anos de experiência em eventos criativos e com a experiência na organização dos Jogos Mundiais Militares — que aconteceram no Rio de Janeiro, em junho de 2011 — e da cerimônia do lançamento da marca Rio 2016.
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Atualidade
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Quem é o
salvador da pátria? Chi è il salvatore della patria? O novo governo do professor Mario Monti, cujo estilo sóbrio de circular em Roma ao lado da esposa contrasta com o do ex-premier Berlusconi, reúne técnicos para salvar o país da crise
Il nuovo governo del professor Mario Monti, il cui stile sobrio di andare in giro per Roma accanto alla moglie contrasta con quello dell’ex premier Berlusconi, riunisce tecnici per salvare il paese dalla crisi
Gina Marques De Roma
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le foi apelidado de Super Mario, o homem encarregado de salvar a Itália da crise. Rapidamente, os italianos lançaram na internet um jogo de videogame com os desafios do “Super Mario”. Entre os maiores obstáculos do jogo, o grande herói tenta reduzir a dívida pública do país, que equivale a 120% do Produto Interno Bruto (PIB). Traduzido em cifrões, são cerca de um trilhão e novecentos bilhões de euros. Sem contar que o crescimento da Itália para 2012 foi estimado pela Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCSE) em - 0,5%, ou seja, negativo, e com risco de recessão. Enquanto os mercados financeiros estavam de olho na estabilidade política italiana, o ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi fazia acrobacias e balançava com os escândalos sexuais e com a Justiça. Acabou caindo da corda bamba e perdeu a maioria na Câmara dos Deputados. Foi então que o presidente da República Giorgio Napolitano chamou a pessoa mais indicada para socorrer a nação: o professor Mario Monti.
L’
uomo incaricato di salvare l’Italia dalla crisi viene chiamato Super Mario. Rapidamente gli italiani hanno lanciato in internet un videogioco con le sfide del “Super Mario”. In uno dei maggiori ostacoli del gioco il grande eroe cerca di ridurre il debito pubblico italiano, pari al 120% del Prodotto Interno Lordo (PIL). Tradotto in cifre, ammonta a 1900 miliardi di euro circa. Senza contare che la crescita dell’Italia per il 2012 è stata stimata dall’Organizzazione per la Cooperazione Economica e lo Sviluppo (OCSE) in – 0,5%, ossia, negativo e con rischio di recessione. Mentre i mercati finanziari osservavano la stabilità politica italiana, l’ex primo ministro Silvio Berlusconi faceva acrobazie e vacillava dovuto agli scandali sessuali e a quelli penali. Alla fine è crollato e ha perso la maggioranza alla Camera dei Deputati. È stato allora che il Presidente della Repubblica Giorgio Napolitano ha chiamato la persona più indicata a soccorrere la nazione: il professor Mario Monti. L’economista Monti è molto esperiente nel campo delle maggiori istituzioni finanziarie mondiali: comunitàitaliana | dezembro 2011
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Atualidade O economista Monti tem experiência em tratar com as maiores instituições financeiras do mundo: atuou várias vezes como comissário da União Europeia na área de finanças. Em seu currículo constam estudos com os Prêmios Nobel para a Economia James Tobim e Lawrence Klein. Passou por prestigiosas universidades internacionais, além de ser presidente da Universidade Bocconi de Milão desde 1994. Enfim, uma biografia impecável que conta ainda com uma grande vantagem: a de não ser um político. Numa Itália onde os políticos não paravam de brigar, o único que poderia trazer um pouco de paz seria um tecnocrata. Após consultar 34 grupos parlamentares, desde os pequenos até os grandes partidos, Monti decidiu formar uma equipe de 16 ministros técnicos e não políticos, sendo que ele mesmo comanda o gabinete da economia e finanças, ponto frágil da Itália que ele foi chamado a socorrer. Apoios de peso O governo Monti recebeu a confiança internacional. Os grandes líderes do mundo rapidamente enviaram-lhe mensagens de congratulações. Afinal, ele é a esperança não só de salvar a Itália, mas principalmente o euro e, assim, evitar que o país seja a primeira peça de um dominó que faria despencar a Europa inteira com reflexos mundiais.
ha lavorato molte volte come commissario presso l’Unione Europea nell’area di finanze. Nel suo curriculum risultano momenti di studio con i Premi Nobel per l’Economia James Tobim e Lawrence Klein. Ha lavorato in famose università internazionali, oltre ad essere presidente dell’Università Bocconi, a Milano, dal 1994. Insomma, un’impeccabile biografia che inoltre conta su di un altro grande vantaggio: quello di non essere un politico. In un’Italia in cui i politici non la smettevano di litigare, l’unico che poteva portare un po’ di pace sarebbe stato un tecnocrate. Dopo aver consultato 34 gruppi parlamentari, dai piccoli ai grandi partiti, Monti ha deciso di formare un’équipe di 16 ministri tecnici e non politici, ma è lui stesso a guidare il gabinetto di economia e finanze, visto che è proprio questo il punto fragile dell’Italia che Monti è stato chiamato ad aiutare. Appoggio di peso Il governo Monti ha ricevuto messaggi di fiducia internazionali. I grandi leader mondiali gli hanno rapidamente mandato messaggi di congratulazioni. In fondo lui è la speranza non solo di salvare l’Italia, ma specialmente l’euro e, cosí, di evitare che il paese sia il primo pezzo di un domino che farebbe crollare l’intera Europa, con riflessi in tutto il mondo. Il nuovo premier ha anche ricevuto l’importante appoggio di uno stato speciale: la Santa Sede. In realtà il Vaticano non vedeva di buon occhio le peripezie morali di Berlusconi, e l’arrivo di Monti ha causato un certo sollievo tra le autorità ecclesiastiche. Senza contare che il professore è cattolico praticante ed è andato immediatamente di persona a salutare Benedetto XVI all’aeroporto per augurargli buon viaggio, prima che il
Ministros com pasta do novo governo da Itália Ministri in carica del nuovo Governo Italiano
Giulio Terzi di Sant’Agata Relações Exteriores Affari Esteri
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Anna Maria Cancellieri Interior Interno
Paola Severino Justiça Giustizia
Giampaolo di Paola Defesa Difesa
Renato Balduzzi Saúde Salute
O novo primeiro-ministro recebeu também o importante apoio de um Estado especial: a Santa Sé. Na verdade, o Vaticano não via com bons olhos as peripécias morais de Berlusconi e a chegada de Monti causou um certo alívio entre as autoridades eclesiásticas. Sem contar que o professor é católico praticante e não hesitou em ir pessoalmente saudar o Papa Bento XVI no aeroporto e desejar-lhe boa viagem antes dele partir para o Benin, na África. Além disso, alguns dos novos ministros são católicos, dos quais se destacam o ministro de Cooperação Internacional e Integração, Andrea Riccardi, fundador da associação humanitária Comunidade de Santo Egídio; o ministro da Saúde, Renato Balduzzi, professor da Universidade Católica; e o ministro da Cultura, Lorenzo Ornaghi. Com a mudança de governo, as sondagens demonstram que os italianos passaram da depressão à euforia. Segundo uma pesquisa realizada pela empresa Demos, de cada 10 italianos, oito aprovam o novo Executivo. O consenso pessoal do novo primeiroministro é ainda maior: 85% dos italianos acreditam que Monti é capaz de tirar o país da crise. Como se ele pudesse guiá-los até a Terra Prometida (o crescimento econômico e o equilíbrio do balanço), como fez Moisés no Mar Vermelho.
O Vaticano não via com bons olhos as peripécias morais de Berlusconi e a chegada de Monti causou um certo alívio entre as autoridades eclesiásticas
Mario Catania Políticas Agrícolas Politiche Agricole e Forestali
Corrado Clini Meio Ambiente Ambiente
Il Vaticano non vedeva di buon occhio le peripezie morali di Berlusconi e l’arrivo di Monti ha causato un certo sollievo tra le autorità ecclesiastiche
papa partisse per il Benin, in Africa. Inoltre una parte dei suoi ministri è cattolica, come il ministro della Cooperazione Internazionale e Integrazione, Andrea Riccardi, fondatore dell’associazione umanitaria Comunità di Sant’Egidio; il ministro della Salute, Renato Balduzzi, professore dell’Università Cattolica; e il ministro per i Beni e le Attività Culturali, Lorenzo Ornaghi. Con il cambio di governo, i sondaggi dimostrano che gli italiani sono passati dalla depressione all’euforia. Secondo una ricerca realizzata dalla Demos, su 10 italiani 8 approvano il nuovo Esecutivo. Il consenso personale del nuovo premier è ancora maggiore: l’85% degli italiani credono che Monti sia capace di risolvere la crisi del paese. Come se lui potesse guidarli fino alla Terra Promessa (la crescita economica e l’equilibrio del bilancio), come fece Mosè nel Mar Rosso.
Elsa Fornero Trabalho e Igualdade de Oportunidades Lavoro e Pari Opportunità
Corrado Passera Desenvolvimento e Infraestrutura Sviluppo Economico e Infrastrutture
Piero Gnudi Turismo e Esporte Affari Regionali, Turismo e Sport
Fabrizio Barca Coesão Territorial Coesione Territoriale
Francesco Profumo Educação Istruzione
Lorenzo Ornaghi Cultura Beni e Attività Culturali
Ministros sem pasta Ministri senza portafoglio
Enzo Moavero Milanesi Assuntos Europeus Affari Europei
Piero Giarda Relações com o Parlamento Rapporti con il Parlamento
Andrea Riccardi Coop. Intern. e Integração Coop. Intern. e Integrazione
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Atualidade
Dentro da Itália, o governo de Mario Monti recebeu uma confiança recorde de 90% dos políticos, exceto da Liga Norte, ex-aliada de Silvio Berlusconi, e de poucos gatos pingados entre os parlamentares. A presidente de Confindustria (Confederação dos Industriais), Emma Marcegalia, disse que Monti é a última chance e pediu que os partidos não criem problemas. Os principais sindicatos, CGIL (Confederação Geral Italiana do Trabalho) e CISL (Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores) também confirmaram o apoio a Monti nos primeiros dias de governo, mas com ressalvas. Após o anúncio do pacote de medidas no dia 5 de dezembro, no entanto, convocaram paralizações em protesto contra o aperto na previdência social. Sacrifício sim, lágrimas e sangue não Em sua primeira entrevista coletiva antes de ser confirmado pelo Parlamento como novo premier, Monti afirmou que a sua equipe sólida de ministros deve durar até abril de 2013, final previsto da legislatura, mas que, sem o apoio dos partidos, renunciará. Sobre o plano de austeridade, comentou: — Nunca pedi lágrimas e sangue, mas sacrifícios sim. O professor aproveitou a ocasião para explicar que os desequilíbrios sociais são inaceitáveis e falou da importância de incentivar os jovens, fundamentais na construção do país. — A política deve prestar muita atenção àqueles que vão votar no futuro — comentou. Monti também dedicou atenção à participação das mulheres na sociedade. Novo estilo de governar Desde a sua nomeação, no último 16 de novembro, Mario Monti está apresentando um novo estilo de governar. Muitos ficaram perplexos quando, num domingo sucessivo à sua nomeação, ele saiu a pé do Palácio Chigi, sede da Presidência do Conselho, acompanhado pela esposa Elsa para ir à missa. Em seguida, foram caminhando até um museu para ver uma exposição. Algumas pessoas estavam aguardando para comprar o ingresso. Mario Monti fez a fila e pagou as entradas do seu bolso. Logo após tomar posse, decidiu que os membros do seu governo deveriam usar carros italianos. Nada de estranho, considerando que o presidente da França Nicolas Sarkozy só anda de carro francês e a Chanceler da Alemanha Angela Merkel só admite veículos alemães. Já com Silvio Berlusconi era diferente. Além de usar um veículo oficial de marca alemã, Roma vivia o barulho contínuo das escoltas e um desfile de carros com vidros fumês ostentando poder e riqueza. Afinal, em 2008, os italianos elegeram um dos homens mais ricos do país e toda a sua “corte” seguia o mesmo estilo de vida.
In ambito italiano, il governo Mario Monti ha ricevuto una fiducia record dal 90% dei politici, meno che dalla Lega Nord, ex alleata di Silvio Berlusconi, e di pochi parlamentari. Il presidente di Confindustria (Confederazione Generale dell’Industria Italiana) Emma Marcegaglia ha detto che Monti è l’ultima chance e ha chiesto che i partiti non creino problemi. Anche i principali sindacati, CGIL (Confederazione Generale Italiana del Lavoro) e CISL (Confederazione Italiana dei Sindacati dei Lavoratori) hanno confermato il loro appoggio a Monti Monti nei primi giorni di governo, ma con riserve. Infatti, dopo la divulgazione del pacchetto di misure fatta il 5 dicembre, hanno convocato scioperi per protestare contro i tagli fatti alle pensioni. Sacrifici sí, lacrime e sangue no Nella sua prima conferenza stampa prima di essere confermato dal Parlamento come nuovo premier, Monti ha detto che la sua solida équipe di ministri dovrebbe rimanere fino all’aprile 2013, data limite prevista della legislatura, ma che senza l’appoggio dei partiti rinuncerebbe. Parlando del piano di austerità, ha commentato:
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— Non ho mai chiesto lacrime e sangue, ma sacrifici sí. Il professore ha sfruttato l’occasione per spiegare che gli squilibri sociali sono inammissibili e ha parlato dell’importanza di incentivare i giovani, fondamentali per la costruzione del paese. — La politica deve fare più attenzione a coloro che voteranno in futuro — ha detto. Inoltre Monti ha parlato della partecipazione delle donne nella società. Nuovo stile di governo Fin dal 16 novembre, giorno della sua nomina, Mario Monti presenta un nuovo stile di governo. In molti sono rimasti perplessi quando, la domenica dopo la sua nomina, è uscito a piedi da Palazzo Chigi, sede della Presidenza del Consiglio insieme alla consorte Elsa per andare a messa. Dopo hanno camminato fino ad un museo per vedere una mostra. C’era gente in fila per comprare gli ingressi. Monti ha fatto la fila e ha pagato i biglietti di propria tasca. Subito dopo l’insediamento ha deciso che i membri del suo governo avrebbero dovuto usare auto italiane. Niente di strano se si considera che il presidente della Francia Nicolas Sarkozy, va solo in macchine francesi e la Cancelliera tedesca Angela Merkel ammette solo auto tedesche.
Desde que o reitor da Universidade Comercial Luigi Bocconi foi chamado à dura missão de primeiro-ministro da Itália, as sirenes dos carros oficiais baixaram o tom. Alguns ficaram perplexos também ao vê-lo entrar na estação ferroviária central em Roma, a Termini, e esperar na plataforma a sua querida esposa Elsa, que chegava com as malas de Milão. “Sobriedade”, disse Monti aos parlamentares. Quando ele apareceu junto à esposa debruçado em uma das janelas do Palácio Chigi, parecia qualquer inquilino quando muda de casa. O casal Monti decidiu viver neste palácio de 10.000 m² com vista para a Praça Colonna, onde está a antiga coluna em homenagem às conquistas do imperador romano Marco Aurélio. Eles vão morar ali até 2013, ou seja, a
Desde que o reitor da Universidade Comercial Bocconi de Milão foi chamado à dura missão de primeiroministro da Itália, as sirenes dos carros oficiais baixaram o tom
Da quando il rettore dell’Università Commerciale Bocconi di Milano è stato chiamato per la difficile missione di essere il premier italiano, le sirene delle macchine ufficiali sono diminuite
Invece per Silvio Berlusconi era diverso. Oltre ad usare un veicolo ufficiale di marca tedesca, Roma conviveva con il frastuono continuo delle scorte e una sfilata di macchine coi vetri fumé, sfoggiando potere e ricchezza. In fondo, nel 2008 gli italiani avevano eletto uno degli uomini più ricchi del paese e tutta la sua ‘corte’ seguiva lo stesso stile di vita. Da quando il rettore dell’Università Commerciale Bocconi di Milano è stato chiamato per la difficile missione di essere il premier italiano, le sirene delle macchine ufficiali sono diminuite. Qualcuno è rimasto perplesso anche quando l’hanno visto entrare nella stazione centrale di Roma, Termini, e aspettare in una banchina la sua cara consorte Elsa, che arrivava con i bagagli da Milano. “Sobrietà” ha detto Monti ai parlamentari. Quando si è affacciato insieme alla moglie ad una delle finestre di Palazzo Chigi, sembrava un qualsiasi inquilino quando trasloca. I Monti hanno deciso di vivere in questo palazzo di 10.000 m² con vista su Piazza Colonna, dove si trova l’antica colonna eretta in omaggio alle vittorie dell’imperatore romano Marco Aurelio. Ci vivranno fino al 2013, ossia, l’attesa durata di questo governo che lui definisce come un “impegno nazionale”. comunitàitaliana | dezembro 2011
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Atualidade
Massimo D’Alema: “A Itália não vai falir”
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carreira política de Massimo D’Alema é longa. Ele foi primeiro-ministro da Itália de outubro de 1998 a abril de 2000, ministro das Relações Exteriores e vice-presidente do Conselho de Ministros durante o governo de Romano Prodi (entre 2006 e 2008). Atualmente é deputado do Partido Democrático e preside o Comitê Parlamentar para a Segurança da República (Copasir). Enfim, experiente como uma raposa política que conhece bem o assunto. D’Alema recebeu a revista Comunità Italiana na sede da fundação Italianieuropei, que ele preside. Trata-se de uma associação que se ocupa da formação de jovens na política. Da janela do seu escritório com vista para a Piazza Farnese, uma das mais bonitas praças de Roma, na qual o palácio principal abriga a embaixada francesa. No encontro, ele aproveitou para enviar saudações ao seu grande amigo, o ex-presidente Lula, com quem esteve no último 19 de outubro em Madri, durante a Conferência Progressista Global. Apesar das dificuldades, ele lembra que a Itália possui “um rendimento per capita muito elevado e com uma riqueza acumulada sete vezes superior ao seu débito”. E afirma que o país não vai falir.
Comunità Italiana - O senhor acredita que Mario Monti é a melhor solução para salvar a Itália da crise? Massimo D’Alema - É um passo importante porque estávamos em uma condição dramática, com um governo completamente sem credibilidade internacional e incapaz de realizar as reformas necessárias. Claro que é uma situação de emergência. Este é um governo que deve contar com o apoio de todos os partidos para fazer as reformas fundamentais para enfrentar a crise e relançar a economia. Depois, virão as eleições.
CI - Este governo pode significar uma pausa de reflexão aos partidos? MA - Acredito que sim. Este governo deve fazer as reformas necessárias, como a da lei eleitoral e outras reformas para reduzir os custos da política.
CI - Na Itália, espera-se que Monti salve o país da crise, mas qual é a expectativa dos italianos que vivem no exterior? MA - Os problemas afetam os italianos na CI - O fato de ser um governo Itália. Aqueles que estão no exterior reprecomposto só por tecnocratas não de- sentam uma fonte para o país. Precisamos reforçar as ligações com os italianos que vimonstra uma falência dos políticos? MA - É claro que existe uma dificulda- vem no exterior: é importante para reforçar de política. O caminho normal seriam as a nossa economia. O Brasil é um país em eleições antecipadas, que nós teríamos crescimento econômico que oferece grandes vencido. Mas, neste momento, é preci- possibilidades à Itália. Apesar das dificuldades, a Itália é um grande país so considerar que o país está “Comprem os com um rendimento per capita passando por uma gravíssima crise e as eleições poderiam fa- títulos de Estado muito elevado e com uma riqueitalianos, o za acumulada sete vezes superior zer precipitar a crise financeira. rendimento é ao seu débito. A mensagem que No entanto, foi uma escolha política, pois é o parlamento ótimo, e a Itália eu daria aos italianos no exterior não vai falir” é: comprem os títulos de Estado que deve aprovar o governo. Portanto, foi um ato de res- Massimo D’Alema, italianos, o rendimento é ótimo, e a Itália não vai falir. ponsabilidade política, ou seja, político italiano
esperada duração deste governo que ele define como “empenho nacional”. Monti, logo depois que se mudou, foi rápido em pedir que devolvessem ao museu das Termas de Diocleciano, em Roma, as estátuas “Marte e Vênus”. As esculturas haviam sido emprestadas à residência do premier a pedido de Berlusconi para dar um estilo, definido pelos críticos de arte, de “imperialista trash”, junto ao pátio do palácio que o magnata da televisão definiu como um “asco”. No entanto, é preciso saber se arrancarão de Marte o pênis que Berlusconi mandou colocar em uma restauração que causou polêmica no ano passado. Monti estudou com jesuítas e talvez por isso tenha reflexos rápidos. Quando alguns políticos do partido Popolo della Libertà (PDL) ameaçaram “tirar a tomada do governo”, ele pediu com ironia aos parlamentares que não falassem de desligar o governo: — Espero que o governo não seja um barbeador nem um pulmão artificial, porque o barbeador corta e o pulmão artificial mantém em vida, artificialmente, um organismo que, do contrário, morre — explicou, referindo-se a uma classe política que teme enfrentar a crise. O novo premier não aprecia seu antecessor. Em outubro, escreveu uma carta a Berlusconi na qual lhe disse: “Espero que prevaleça no senhor a ambição de devolver à Itália o papel que lhe pertence na Europa, acelerando em silêncio o restabelecimento, a respeito de um sucesso eleitoral a todo custo para a sua parte política, num país cada vez mais populista, destacado 30
preferiu-se salvar o país, evitando antecipar as eleições.
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Mario Monti discutiu medidas econômicas necessárias para salvar a zona euro com a chanceler alemã Ângela Merkel e com o presidente francês Sarkozy
Mario Monti ha discusso misure economiche necessarie per salvare la zona euro con la cancelliera tedesca Ângela Merkel e il presidente francese Sarkozy
Monti subito dopo che ha cambiato casa è stato rapido nel chiedere che restituisssero al Museo delle Terme di Diocleziano, a Roma, il gruppo statutario “Marte e Venere”. Il gruppo marmoreo era stata chiesto in prestito da Berlusconi per dare uno stile, definito dai critici d’arte come “imperialista trash”, al cortile del Palazzo, che il magnata della tv aveva definito uno “schifo”. Ma bisogna ora sapere se toglieranno a Marte il pene posticcio che Berlusconi aveva fatto mettere in un intervento di restauro e che ha causato polemiche l’anno scorso. Monti ha studiato con i gesuiti e forse per questo ha i riflessi rapidi. Quando dei politici del partito Popolo della Libertà (Pdl) hanno minacciato di “togliere la spina del governo”, ha chiesto con ironia ai parlamentari che non parlassero di spegnere il governo: — Spero che il governo non sia un rasoio elettrico né un polmone artificiale, perché il rasoio taglia e il polmone artificiale tiene in vita artificialmente un
Massimo D’Alema: “L’Italia non fallirà”
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a carriera politica di Massimo D’Alema è lunga. È stato Capo del Governo Italiano dall’ottobre del 1998 all’aprile del 2000, Ministro degli Affari Esteri e Vicepresidente del Consiglio dei Ministri durante il governo di Romano Prodi (fra il 2006 e il 2008). Attualmente è deputato del Partito Democratico e presiede il Comitato Parlamentare per la Sicurezza della Repubblica (Copasir). Insomma, una esperta volpe politica che conosce bene la materia. D’Alema ha ricevuto la rivista Comunità Italiana nella sede della fondazione Italianieuropei, da lui presieduta. Si tratta di un’associazione che si occupa della formazione dei giovani in politica. La finestra del suo ufficio dà su Piazza Farnese, una delle piazze più belle di Roma, dove Palazzo Farnese ospita l’Ambasciata di Francia. Ha approfittato dell’incontro per inviare i saluti al suo grande amico, l’ex presidente Lula, col quale si è incontrato il 19 ottobre scorso a Madrid durante la Conferenza sul Progresso Globale. Nonostante le difficoltà ricorda che l’Italia ha “un reddito pro capite molto alto e una ricchezza accumulata sette volte superiore al suo debito”. E afferma che il paese non fallirà.
Comunità Italiana – Lei pensa che Mario Monti sia la miglior soluzione per salvare l’Italia dalla crisi? Massimo D’Alema - È un passo importante perchè ci trovavamo in uma situazione drammatica, con un governo completamente senza credito internazionale e incapace di realizzare le riforme necessarie. E’ chiaro che siamo in una situazione di emergenza. Questo è un governo che deve contare sull’appoggio di tutti i partiti per fare le riforme fondamentali per affrontare la crisi e rilanciare l’economia. Dopo, verranno le elezioni.
ossia si è preferito salvare il paese evitando le elezioni anticipate. CI - Questo governo può significare una pausa di riflessione per i partiti? MA – Penso di sì. Questo governo deve fare le riforme necessarie, come quella per la legge elettorale e altre riforme per ridurre i costi della politica.
CI – In Italia ci si aspetta che Monti salvi il paese dalla crisi, ma qual è l’aspettativa degli italiani che vivono all’estero? MA - I problemi toccano gli italiani in CI – Il fatto di essere un governo Italia. Quelli che stanno all’estero rapprecomposto solo da tecnocrati non sentano una fonte per il paese. Dobbiamo dimostra un fallimento dei politici? rafforzare i legami con gli italiani che MA - È chiaro che esiste una difficoltà vivono all’estero: è importante per rafpolitica. La strada normale sarebbe sta- forzare la nostra economia. Il Brasile è to quella di antecipare le elezioni, che noi un paese in crescita economica che offre avremmo vinto. Ma in questo momen- all’Italia grandi possibilità. Nonostante le difficoltà l’Italia è un grande to bisogna tener presente che “Comprate i paese con un reddito pro capite il paese sta passando per una titoli di Stato molto alto e una ricchezza acgravissima crisi e le elezioni italiani, il cumulata sette volte superiore potrebbero aggravare la crisi rendimento è al suo debito. Il messaggio che economica. Comunque è stata una scelta politica dato che è il ottimo, e l’Italia vorrei trasmettere agli italiani non fallirà” all’estero è: comprate i titoli di parlamento che deve approvare il governo. Perciò è stato un Massimo D’Alema, Stato italiani, il rendimento è politico italiano ottimo, e l’Italia non fallirà. atto di responsabilità politica,
da Europa e talvez visto como responsável de uma falência na integração europeia”. Enquanto os partidos começavam a brigar por 30 lugares de vice-ministros, Monti foi conversar com os líderes europeus, o presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso, o presidente do Conselho Europeu Herman Van Rompuy, além de Nicolas Sarkozy e Angela Merkel. — A Europa nos pede rigor, e não vice-ministros Monti circula por Roma com a esposa Elsa: jeito — explicou. sóbrio difere do estilo do Na verdade, Monti não ama os políticos dispostos a ex-premier Berlusconi tudo, só para vencer. No seu discurso no parlamento disse: — Peço que não me chamem de presidente do Monti va in giro per Conselho. Continuem me chamando de professor. Os Roma con la moglie Elsa: comportamento sobrio è presidentes passam, os professores permanecem. Mensagem recebida, professor Monti. Super Ma- differente dallo stile dell’ex premier Berlusconi rio Monti.
organismo che se no muore — ha spiegato riferendosi ad una classe politica che ha paura di affrontare la crisi. Il nuovo premier non apprezza il suo predecessore. In ottobre ha scritto una lettera a Berlusconi in cui gli diceva: “Confido, signor presidente, che prevalga in Lei l’ambizione di riportare l’Italia nel ruolo che le appartiene in Europa, accelerando in silenzio il risanamento, rispetto a quella di un successo elettorale a tutti i costi per la Sua parte politica, ma in un Paese sempre più populista, distaccato dall’Europa e magari visto come responsabile di un fallimento dell’integrazione europea”. Mentre i partiti cominciavano a discutere per i 30 posti di vice ministro, Monti è andato a parlare con i leader europei, il presidente della Commissione Europea José Manuel Barroso, il presidente del Consiglio Europeo Herman Van Rompuy, oltre a Nicolas Sarkozy e Angela Merkel. — L’Europa ci chiede rigore e non vice ministri — ha detto. In realtà Monti non ama i politici disposti a tutto solo per vincere. Nel suo discorso in parlamento ha detto: — Vi prego non chiamatemi presidente del Consiglio, continuate a chiamarmi professore. I presidenti passano, i professori restano. Messaggio ricevuto, professor Monti. Super Mario Monti. comunitàitaliana | dezembro 2011
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Capa
Atualidade
O pacote de Natal de Mario Monti Il pacco di Natale di Mario Monti
Entre as medidas que passam a valer em 2012, estão o aumento da idade mínima para a aposentadoria e o incremento de impostos sobre automóveis e imóveis
Tra le misure valide dal 2012 in poi ci sono il rialzo dell’età per il pensionamento e tasse su auto e immobili Gina Marques De Roma
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plano de austeridade anunciado pelo premier italiano Mario Monti a três semanas do Natal propõe rigor e exige dos italianos sacrifícios para o crescimento econômico do país. As medidas — que incluem o endurecimento do sistema de aposentadorias e o aumento dos impostos sobre imóveis e veículos — fazem parte do que Monti chamou de Decreto Salva Itália. O documento apresentado ao Parlamento contempla medidas de ajuste de 24 bilhões de euros, além de 10 bilhões de euros em investimentos para promover o crescimento.
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a manovra di austerità annunciata dal premier italiano Mario Monti a tre settimane dal Natale propone rigore e esige dagli italiani sacrifici per la crescita ecoomica del paese. Le misure – che prevedono una stretta delle pensioni e l’aumento delle tasse su auto ed immobili – fanno parte di quello che Monti ha chiamato Decreto Salva Italia. Il documento presentato in Parlamento prevede misure di tagli da 24 miliardi di euro, oltre ai 10 miliardi di euro in investimenti per promuovere la crescita.
Aposentadoria: A reforma das aposentadorias a partir de 2012 prevê um aumento do número de anos de contribuição. Atualmente, exige-se 40 anos. No ano que vem, passa a ser 41 para as mulheres e 42 para os homens. Além disso, o cálculo do valor recebido será feito em função do conjunto da carreira, e não dos últimos salários. A idade de aposentadoria para as mulheres passa de 60 para 62 anos e o dos homens, de 65 para 66 anos.
Automóveis e barcos: Os carros de grande cilindrada vão pagar 20 euros por potência superior a 170 kw. Para os barcos de 10 a 12 metros, serão 7 euros por dia. Já a taxa sobre as embarcações maiores pode chegar a 150 euros por dia.
IVA: O imposto incide sobre a despesa ou consumo e tributa o valor agregado das transações efetuadas pelo contribuinte. Vai aumentar em 2 pontos percentuais a partir do segundo semestre de 2012. Os 4 bilhões de euros previstos com esta arrecadação seraão destinados a ajudar as famílias, os jovens e as mulheres.
Províncias: O pacote de cortes no custo da política consiste em uma drástica diminuição das desepesas dos Conselhos provinciais, os quais não poderão contar com mais de 10 conselheiros. Foram abolidas, ainda, as juntas provinciais.
Limite do uso de cédulas: O governo incluiu no pacote medidas que restringem o pagamento em espécie “contra a sonegação fiscal”. Propõe-se a proibição do uso de cédulas para pagar um valor superior a mil euros. A partir de 2012, os italianos terão que usar mais cartões de crédito e débito, e cheques para efetuar compras e pagar boletos.
Pensioni: La riforma delle pensioni dal 2012 prevede un aumento del periodo di versamento dei contributi. Finora era di 40 anni. L’anno prossimo diventerà di 40 anni per le donne e 42 per gli uomini. Inoltre il calcolo del valore ricevuto sarà fatto basandosi sul totale della carriera e non più sugli ultimi stipendi percepiti. L’età del pensionamento per le donne passa dai 60 ai 62 anni e quella degli uomini dai 65 ai 66 anni.
Auto: Le auto di grande cilindrata pagheranno 20 euro per ogni kw di potenza del veicolo superiore a 170 kw (231 hp). Per le imbarcazioni dai 10 ai 12 metri saranno 7 euro al giorno. Invece la tassa sulle imbarcazioni più grandi potrà arrivare a 150 euro al giorno.
IVA: L’imposta incide sulla spesa o sul consumo e tributa il valore aggiunto delle operazioni fatte dal contribuente. Aumenterà 2 punti percentuali dal secondo semestre del 2012. I 4 miliardi di euro di entrata previsti saranno destinati ad aiutare le famiglie giovani e le donne.
Province: Il pacchetto di tagli fatti al costo della politica consiste nell’affrontare una drastica diminuzione delle spese dei Consigli provinciali, che non potranno più contare su più di 10 consiglieri. Inoltre sono stati abolite le giunte provinciali.
Limite al contante: Il governo include nel pacchetto misure che limitano il pagamento in contante “contro le frodi fiscali”. Si propone il divieto dell’uso di contante per pagare valori superiori ai mille euro. Dal 2012 gli italiani dovranno usare di più la carta di credito e di debito e gli assegni per fare acquisti e pagare le bollette.
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O objetivo, segundo o novo governo italiano, é também tentar resolver os desequilíbrios entre as classes sociais por meio da redução de alguns privilégios, apertando o cinto e pisando no acelerador. Monti quer alcançar o equilíbrio orçamentário em 2013, pois os planos de austeridade de 60 bilhões de euros, aprovados em julho e setembro, não serão suficientes para atingir a meta, diante da contração da economia italiana. Esta é a quinta reforma econômica pela qual passa a Itália em 2011. Ao explicar o plano, Monti insistiu no caráter urgente da situação, e lembrou que, há menos de três semanas, recebeu a missão de “ajudar a salvar a Itália” de uma grave crise que “ameaça o que realizaram, em 60 anos de sacrifícios, pelo menos quatro gerações de italianos”. Uma das novidades é que Monti abdicou do seu salário de político. Consciente do impacto das medidas impostas aos italianos, o ex-professor de economia considerou “um dever renunciar aos salários de presidente do Conselho e ministro de Economia e Finanças”. A ministra do Trabalho e Igualdade de Oportunidades, Elsa Fornero, se comoveu e chorou ao explicar os sacrifícios que serão necessários. O pacote da manovra contém um “remédio amargo” para os italianos e inclui o aumento dos anos de contribuição exigidos dos trabalhadores para a aposentadoria e o incremento de impostos sobre automóveis e barcos.
Imóveis: Os impostos sobre a primeira casa serão na proporção de 4 por mil, mas os municípios poderão elevar ainda mais a quota, acrescentando 2 por mil. O valor do cadastro foi reavaliado em 60%.
Escudo fiscal: Estipula-se a intervenção de uma alíquota de 1,5% sobre os capitais reentrados na Itália com o “escudo fiscal”.
Casa: L’imposta sulla prima casa costerà un’aliquota dello 0,4% ma i comuni potranno aumentare ancora la quota aggiungendo lo 0,2%. Sono anche stati rivalutati gli estimi del 60%.
Scudo fiscale: E’ prevista una “tassa” una tantum dell’1,5% sui capitali rientrati tramite l’ultimo scudo fiscale.
La meta, secondo il nuovo governo italiano, è anche quella di cercare di risolvere gli squilibri tra i ceti sociali grazie alla riduzione di certi privilegi, stringendo la cinta e pigiando l’accelleratore. Monti vuole raggiungere l’equilibrio finanziario nel 2012, visto che i piani di austerità di 60 miliardi di euro approvati in luglio e settembre non saranno sufficienti per raggiungere la meta, dovuto alla contrazione dell’economia italiana. Questa è la quinta riforma economica per cui passa l’Italia nel 2011. Spiegando il piano Monti ha insistito sul carrattere urgente della situazione ed ha ricordato che, meno di tre settimane fa, ha ricevuto la missione di “aiutare a salvare l’Italia” da una grave crisi che “minaccia ciò che hanno realizzato, in 60 anni di sacrifici, perlomeno quattro generazioni di italiani”. Una delle novità è che Monti ha rinunciato al suo stipendio di politico. Consapevole dell’impatto delle misure imposte agli italiani, l’ex professore di economia ha considerato sia “un dovere rinunciare agli stipendi di presidente del Consiglio e ministro dell’Economia e Finanze”. Il ministro del Lavoro e Pari Opportunità, Elsa Fornero, si è commossa ed ha pianto mentre spiegava i sacrifici che saranno necessari. Il pacchetto della manovra contiene una “medicina amara” per gli italiani che include l’aumento degli anni di contributi necessari per il pensionamento dei lavoratori e l’aumento di tasse su auto e imbarcazioni.
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Esporte
No pico da coragem Ícone do alpinismo, Reinhold Messner conta a jovens escaladores o segredo da coragem que o levou a ser o primeiro homem a subir as 14 montanhas mais altas do mundo Guilherme Aquino
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De Milão
ai de quatro filhos, com cem expedições, 3.500 escaladas e autor de vários livros sobre alpinismo, ele é ainda proprietário de uma cadeia de cinco museus da montanha instalados em castelos no Alto Ádige — chamados de MMM, Messner Mountain Museum. Este é Reinhold Messner, nascido no Sul do Tirol. Perto de completar 70 anos, o italiano caminha a passos largos pelas montanhas das Dolomitas. Não importa o grau de inclinação do terreno, o ritmo é o mesmo. O seu fôlego é de sobra. Nele, o cansaço não dá o ar da presença. O alpinista percorre a trilha em silêncio e com a intimidade de quem conhece cada metro quadrado de onde pisa. O barulho da respiração, em afã, vem dos pulmões e das narinas dos quase 70 “trekkers” que acompanham o grande escalador em retorno à sua origem — as Dolomitas, que foram, para Messner, o seu ginásio esportivo. — Já faz uns dez anos que me sinto disponível a dividir as minhas experiências com outras pessoas. E o faço com prazer em eventos como este, o IMS de Bressanone, nos quais posso interagir com grandes grupos. Ao fazer isto na montanha, fica muito fácil contar minhas emoções e aventuras — conta. Enquanto ganha tempo pensando nas
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questões e recuperando o fôlego, o alpinista admira a paisagem, no Monte Muro, a 2.332 metros de altura. Para chegar até lá em cima, o grupo acompanhou o escalador por quase duas horas e meia de subidas e descidas. — Vim de Gênova. Fiz esta viagem até aqui para conhecer de perto o homem Reinhold Messner. Ele é um ponto de referência para mim. Adora a montanha, assim como o grande Walter Bonatti, que nos deixou pouco tempo atrás. A sua vitalidade e as suas lições de vida me impressionam — diz Enrico Cardillo durante a caminhada que tinha as Dolomitas, do lado do Alto Agide, como companheiras de viagem. — A mim interessa a aproximação, quando ainda não sei como serão as coisas. Mas tento me cercar de gente especialista em terrenos que não conheço. E quando chegam pessoas de outro “mundo”, elas me ensinam como algumas coisas funcionam. Por exemplo, quando fui à Antártica, tive acesso a informações importantes para a minha caminhada no gelo — conta Messner. Ainda que, para os seus fãs, Messner seja, ele próprio, uma figura quase extraterrestre. O primeiro homem a escalar as 14 montanhas mais altas do mundo, sem o auxílio de garrafas de oxigênio, confessa, para espanto geral, ser um medroso. E é graças ao medo que está vivo, depois de ver a morte de perto em diferentes ocasiões. Em uma delas, sofreu a perda do irmão, Günther Messner, na montanha Nanga Parbat, em 1970. O medo e a coragem são duas faces da mesma medalha, define.
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— Se eu não fosse medroso, não estaria vivo. O medo é o aquilo que lhe diz ‘até aqui tudo bem, mais além, não’. Todos nós temos medo. Os melhores alpinistas são aqueles que têm medo. Se não fosse assim, não estariam vivos. Porque conhecem mais do que os outros os riscos de tudo aquilo que pode ocorrer. O problema maior é quando somos jovens e ainda não temos a experiência para enfrentar a natureza. A natureza é diferente todos os dias. É caótica, selvagem. Não sabemos como reagiremos e me interessa descobrir o que ocorre conosco quando nos confrontamos com a natureza selvagem.
Nascido em 1944, Messner começa a viver a sua última grande exploração: a velhice. — A última aventura de todos nós é a velhice. Uma aventura séria, não fácil, mas muito interessante. Tive a sorte de passar 50, 60 anos na montanha, tendo a sabedoria, os meios e o tempo, algo que consegui obter. A maioria das pessoas faz um trabalho sério e não são como eu, o conquistador do inútil. Elas não têm tempo para passar a vida girando pelas montanhas. Assim, eu posso transmitir um pouco das minhas emoções, da minha vida.
Notícias
Viagem à Itália
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cerimônia de entrega do 5º Prêmio UFF de Literatura — que teve como tema Viagem à Itália — aconteceu no dia 5 de dezembro, no Teatro Municipal de Niterói, onde atores encenaram os contos, as crônicas e as poesias que participaram do concurso. O primeiro lugar de cada categoria ganhou um notebook e o Troféu Itapuca, ofertados pela Comunità Italiana e pela Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria do Rio. Uma antologia organizada pela editora da UFF, a Eduff, reuniu as obras dos participantes. O prêmio de melhor crônica foi entregue a Nilson Lattari pelo presidente da Câmara, Pietro Petraglia. A professora da UFF e coordenadora do projeto, Sônia Peçanha, anunciou como melhor poeta Eduardo de Paula Nascimento, enquanto o vencedor na categoria conto foi Newton Novaes Barra Filho.
Branco, vermelho e verde
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adicada no Brasil há 15 anos, a cantora italiana Mafalda Minnozzi se apresentou em novembro, em São Paulo, no palco do Bourbon Street, com o show Il Bianco, Il Rosso, Il Verde. O nome do espetáculo faz referência às cores da bandeira tricolore. Minnozzi contou belas histórias e interpretou sucessos próprios e clássicos italianos, além de hits contemporâneos, levando o público a uma viagem sentimental à Itália. O show teve a participação especial do cantor e compositor Rafael Alterio. O público também pôde conferir a apresentação do novo videoclipe de Mafalda, Con un Sorriso.
Umbria Jazz no Brasil
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m dos maiores festivais na Europa, a sexta edição do Umbria Jazz Brasil trouxe a Brasília e a São Paulo o jazzista italiano Ramberto Ciammarughi em três apresentações. Os shows aconteceram em novembro, na Embaixada italiana e na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em Brasília, com abertura de Pedro Martins e Trio; e em São Paulo, no Bourbon Street, com participação do Swing Samba Combo. Ciammarughi tocou improvisações com base em algumas das mais célebres trilhas sonoras da sétima arte, comovendo o público. — É uma viagem pela música do cinema, dedicada especialmente aos filmes italianos. O projeto se chama “100 anos de emoções”, porque se refere aos primeiros cem anos de cinema — comentou o organizador do evento Stefano Lazzari. Realizado há 38 anos na Itália, o evento acontece no Brasil desde 2006, quando a Federação Nacional das Associações de Pessoal da Caixa Econômica trouxe o projeto para o país. O festival já passou por Brasília, Curitiba, Ouro Preto, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.
Fotos: Bruno de Lima
Design
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Design precioso Há duas décadas, Francesca Romana Diana vem lapidando as pedras naturais brasileiras com a elegância do design italiano e dá à luz coleções cheias de glamour que caíram no gosto dos vips silhuetas estampando as linhas arquitetônicas de Brasília. De outra parceria, desta vez com a pintora Lelli de Orleans e Bragança, nasceu uma coleção de delicados braceletes com paisagens tropicais da fauna e flora brasileiras do século XIX. Francesca é também a designer que assina as peças dedicadas ao Momento Itália-Brasil, a extensa agenda de eventos culturais, gastronômicos e comerciais que acontece até junho de 2012. E ela quer continuar sua expansão pelo país, sem esquecer-se de realizar o sonho de ser representada em sua terra natal. — Quero lançar novas linhas e abrir mais lojas no Brasil. E procuro um franqueado na Itália. Meu sonho é abrir uma loja em Milão — avisa.
Cintia Salomão Castro
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o dia 20 de outubro, a estilista italiana Francesca Romana Diana reuniu vips como Carolina Ferraz, Giselle Amaral e João Henrique de Orléans e Bragança para comemorar os cinco anos de sua grife, no Rio de Janeiro. Com 19 franquias espalhadas pelo Brasil e três no exterior, e constando no figurino de novelas globais como O Astro, não faltam motivos para comemorar. Após 20 anos de sucesso com a loja Francesca Romana, ela relançou, em novembro de 2006, suas joias no mercado brasileiro com a marca que leva seu nome completo: Francesca Romana Diana. A paixão de Francesca pelas pedras brasileiras começou na época em que frequentava o curso de Biologia da Universidade de Roma. Durante os estudos sobre fósseis e rochas, surgiu a ideia de conhecer o Brasil, detentor de abundantes jazidas de quartzo. A primeira visita aconteceu em 1986, quando ficou impressionada com o que viu nas reservas de Minas Gerais. Em Roma, tinha um trabalho de meio-expediente, como tantos estudantes universitários italianos, mas a atividade exercida já era a arte da ourivesaria. Quando voltou da viagem pelo Brasil, porém, algo mudou no seu jeito de fabricar colares, pulseiras e brincos: Francesca passou a usar quartzos, ágatas, citrinos e ametistas para compor as peças que revendia a lojas romanas. Algum tempo após o “namoro” com os cristais brasileiros, ela tomou a decisão que a traria definitivamente para o solo do Brasil: decidiu abrir seu próprio ateliê no país. Montou sua equipe e passou a vender para grifes como a H. Stern. — Naquela época, as pedras brasileiras não eram usadas para fazer joias sofisticadas, somente para souvenir, mesmo no Brasil. Fui pioneira nesse aspecto — conta Francesca Romana Diana à Comunità, em seu ateliê, no bairro carioca de Botafogo. Parceria com Niemeyer A primeira loja da designer foi inaugurada no Rio, em 1991, em Ipanema, charmoso bairro que recebe muitos
turistas. Suas joias, feitas de modo artesanal — o que garante exclusividade ao comprador — e banhadas a ouro ou a prata, e adornadas com quartzos, ágatas, citrinos, sodalitas, ametistas, amazonitas e jaspe, caíram no gosto das elegantes mulheres que passavam pelo local. A partir daí, a marca se expandiu e cresceu com novas coleções e parcerias. Uma delas foi estabelecida há três anos com o arquiteto Oscar Niemeyer, a quem procurou e mostrou seus desenhos e ideias. — Ele adorou e foi muito receptivo. Trocamos sugestões sobre o material — lembra a italiana. O resultado é uma linha de braceletes e anéis com elegantes
Joias do MIB e Campidoglio
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embaixador Gherardo La Francesca entrou em contato com Francesca Romana Diana para que a estilista desenhasse uma linha de pulseiras e broches especialmente baseada no logo criado por Washington Olivetto para o Momento Itália-Brasil. Foram feitos 30 braceletes exclusivos, posteriormente presenteados pela Embaixada à presidente Dilma
Rousseff, à ex-primeira dama Dona Marisa e à atriz Cristiane Torloni, que usou o bracelete durante o espetáculo Ensaio sobre a beleza, evento que inaugurou a agenda do MIB no Rio. Já na coleção Michelangelo, o desenho da pavimentação da Piazza del Campidoglio é a base para as peças de pedras claras e brincos em formas de mandala, em uma homenagem a Roma.
Semi-preciosas não, preciosas sim Curadora do livro Pedras preciosas, Francesca continua pesquisando o uso das pedras ao longo da história, desde a antiguidade aos dias de hoje. Os minerais encontrados no Brasil, como ametistas, jaspes, sodalitas e citrinos, são conhecidos como pedras “semi-preciosas”, mas Francesa Romana Diana não gosta de usar o termo. — Para mim, estas são todas pedras preciosas. Os ingleses chamavam de semi-preciosas as rochas que não eram localizadas em suas colônias — afirma. Após 22 anos morando no Brasil, a designer de origem napolitana não pensa em voltar para a Itália. E a beleza é o motivo principal de sua escolha pelo Rio de Janeiro como cidade para viver. — É uma cidade que me dá inspiração para criar. O que mais abastece o processo de criação é a beleza. Sobre as propriedades energéticas e curativas popularmente atribuídas, há séculos, às diversas espécies de rochas, a italiana comenta que, apesar de não ser especialista no assunto, tem a certeza de que as pedras que a cercam lhe “dão muita energia por conta da vibração que emanam”.
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Turismo
A Itália para os Brics Autoridades italianas encerram etapa brasileira do Italia comes to you no Rio e destacam a importância dos turistas provenientes dos países que estão levando a economia mundial “para a frente” Cintia Salomão Castro
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O presidente da Câmara Ítalo-Brasileira de Indústria e Comércio do Rio, Pietro Petraglia; o cônsul da Itália no Rio, Mario Panaro; a diretora do Theatro Municipal, Carla Camurati; e o diretor do Instituto Italiano de Cultura, Rubens Piovano, durante o coquetel realizado no Italia comes to you
turismo já representa potencialmente um grande crescimento. E esperamos não apenas que mais brasileiros conheçam as cidades italianas, mas também queremos incrementar a fratellanza entre os dois países. Há muitos italianos no Brasil, que querem conhecer suas raízes — frisou Rocca, durante o jantar de gala que reuniu convidados como o diretor do Instituto Italiano de Cultura, Rubens Piovano; a diretora do Teatro Municipal do Rio, Carla Camurati; a cantora Miúcha; e o empresário Rodolfo Teichner. Incentivos continuarão O governo de Mario Monti procurará dar continuidade à política de incentivo ao projeto Italia comes to you, cujo objetivo é consolidar a Itália enquanto meta turística nos países dos Brics. O programa começou durante a gestão da ex-ministra Michela Brambilla (do governo Berlusconi), já percorreu cidades chinesas (Cantão, Shangai e Pequim) e russas (Moscou, São Peterburgo e Ekaterinburgo), e chegará à Índia em 2012. O turismo representa 12% do PIB italiano, lembraram as autoridades italianas.
Fotos: Daniel Soares
pós passar por São Paulo e Porto Alegre com sucesso, a programação brasileira do Italia comes to you foi encerrada em alto estilo no Rio de Janeiro, onde a sede Consulado italiano abrigou as atrações que incluíram exposições de arte e um jantar de gala oferecido no dia 16 de novembro. Com a crise econômica europeia, a tendência é que a Itália aposte cada vez mais fichas nos turistas provenientes dos países emergentes, contou à Comunità o diretor da agência italiana de turismo para a América Latina, a Enit, Salvatore Costanzo. — O turismo tende a auxiliar no incremento de outras áreas. Estimula outros setores da economia, como o comércio e a indústria — ressalta. Atenta aos “países que estão levando pra frente a economia mundial”, conforme lembrou Roberto Rocca, diretor do Departamento de Turismo do governo italiano, a Itália está investindo nos visitantes que partem do Brasil, da Rússia, da Índia e da China para conhecer cidades como Florença, Roma, Veneza e Pisa. — O projeto no qual mais acreditamos é esse do Brasil, onde o
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Durante seu pronunciamento, o cônsul italiano no Rio, Mario Panaro, ressaltou o papel do Enit e do Instituto Italiano de Cultura na promoção do turismo italiano junto aos brasileiros. Arte inspirada na Itália O evento incluiu uma exposição de pinturas e esculturas de artistas brasileiros que percorreram cidades da Itália e colheram inspiração do que viram. Os trabalhos refletem os olhares únicos de cada um dos dez artistas sobre a Itália, entre textos, esculturas e pinturas de Ziraldo, André Filur, Antonio Peticov, Caciporé Torres, Claudio Tozzi, Ding Musa, Franco Cava, Hô Monteiro, Rodrigo Erib e Zélio Alvez Pinto. O público também pôde conferir gratuitamente uma obra do Renascimento: o Cupido, de Guglielmo della Porta, artista discípulo de Michelangelo. A escultura feita com técnica de bronze fundido com cera persa pertence à coleção Farnese, do Museu de Capodimonte, de Nápoles. O turismo enogastronômico, ponto forte das regiões italianas, não ficou de fora: uma degustação de trufas, harmonizada com vinhos da região de Abruzzo, aconteceu no dia 18 de novembro. O sommelier Alexandre Furniel escolheu os vinhos brancos (prebiano), rosês (cerasuolo) e os tintos leves e encorpados (da uva montepurciano) oferecidos ao público que se inscreveu previamente para a ocasião. A música ficou por conta do ítalo-brasileiro Franco Cava que, acompanhado de banda, interpretou a canção de sua autoria, Mediterralia, composta especialmente para o projeto, durante o jantar do dia 16.
Arte
Pobre arte rica
Exposição em Milão faz um retrospecto do movimento da chamada arte pobre, que produz ricas e criativas obras com material como pedras, carvão e pedaços de ferro Guilherme Aquino
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De Milão
m arquipélago de exposições transforma oito museus e teatros em “ilhas” conectadas entre si pela arte e, ao mesmo tempo, espalhadas pela Itália, de norte a sul. O projeto faz parte das comemorações dos 150 anos da Unificação italiana e consegue, através da expressão artística — pobre no material e rica na criatividade — unir as cidades de Bari a Turim, passando por Roma, Bolonha, Bérgamo, Nápoles e Milão. A grande mostra recebeu o nome de Arte Pobre, termo criado pelo crítico e histórico Germano Celant, em 1967, durante uma exposição em Gênova e, não por acaso, curador desta megaexposição. O termo foi usado para definir os trabalhos artísticos que rompem com tradições, ignoram as fronteiras de um território natural e artificial, corporal e mecânico e, acima de tudo, resgatam elementos originais, como o ferro, a madeira e a terra. O visitante pode conferir mais de 200 peças de artistas que vão de Giovanni Anselmo a Giuseppe
Penone, Pino Pascali a Alighinero Boetti, Andy Warhol a John Baldessari, passando por Mario e Marisa Merz, Michelangelo Pistoletto e Gilberto Zorio. A mostra cobre um arco de tempo que vai de 1967 até 2011. Fundações, museus, galerias e colecionistas privados emprestaram obras para a exposição, que acontece no Museu da Triennale, em Milão, templo máximo do design italiano. O percurso convida o visitante a refletir e a interagir com obras, aparentemente, simples, cruas e nuas. Os cúmulos de pedras, e os
pedaços de carvão e de telas em estado bruto compõem as instalações de Jannis Kounnelis. Portas muradas e uma sequência de superfícies metálicas, atravessadas por flores e velas, algodão e ferro, refletem a busca pela imortalização do tempo e dos gestos primitivos. A meta de encontrar o “objeto de menos”, combustível do príncipio e força motriz deste movimento, obriga aos artistas a apoderaremse de tudo ao redor. Naquela época, a luz de neón, os tubos florescentes e os fios de nylon eram novidades. Os adeptos do movimento não perderam tempo em descobrir outras utilidades para tais materiais. Assim, um guarda-chuva apoiado no chão e transpassado por uma lâmpada de neón serve de modelo para a representação da ação da queda de um raio. Uma das obras de maior impacto é o iglu de Mario Merz, feito de estilhaços de vidro, lascas de madeira e pedaços de ferro. Os adeptos do movimento não perderam tempo em descobrir outras utilidades para tais materiais. A forma de casas dos esquimós traduz a ideia de adaptação. Ali, uma grande mesa em espiral serve de “ voz” para o artista denunciar a possibilidade da coexistência de dois mundos distantes, assim como o dramático confronto entre estas duas realidades, representadas pelo artesanado e pela indústria. — O que nós tentamos fazer, com a cumplicidade dos artistas e das instituições culturais, foi dar uma dimensão internacional. Assim, seria possível dar um “respiro” para a Itália, como aconteceu com o movimento do futurismo, que marcou a modernidade no mundo — explicou o curador Germano Celant. A “arte pobre”, ao contrário do que afirmam alguns críticos, criou um filão que ainda hoje faz a história e a performance da arte contemporânea. Como negar a influência de artistas como Pistonetto que, na Bienal de Artes de Veneza, encantou o mundo ao destruir, com um martelo, os espelhos da sua obra de arte? Com a resposta, os visitantes e sonhadores em descobrir na pobreza absoluta dos materiais a riqueza das ideias e das mensagens. Um exercício de tenacidade, paciência, sensibilidade e, claro, ironia, muita ironia. A exposição Arte Povera 19672011 vai até 29 de janeiro, na Triennale de Milão. comunitàitaliana | dezembro 2011
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Educazione
Per espandere la lingua di Dante L’Associazione Brasiliana Professori di Italiano dedica il suo XIV Congresso all’Unità d’Italia. Comunità intervista il comitato direttivo uscente per parlare delle sfide dell’insegnamento dell’italiano in Brasile Stefania Pelusi
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De Brasília
iù di 150 partecipanti, inclusi docenti e studenti hanno preso parte al XIV Congresso dell’Associazione Brasiliana Professori di Italiano (ABPI) che si è svolto a novembre a Brasília. — La scelta della città non è stata casuale — ha spiegato il socio fondatore, Mario Porru. All’Università di Brasília (UnB) manca infatti una cattedra di italianistica, la prima cosa che chiedono le istituzioni sono i numeri e a Brasília c’è una richiesta significativa, che non possono ignorare. Inoltre è stata scelta questa sede anche in funzione dei 150 anni dell’Unità d’Italia, che è stato uno dei temi trattati durante le conferenze e anche del Momento Italia-Brasile (MIB).
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Il socio fondatore dell’Associazione Brasiliana di Professori di Italiano, Mauro Porru
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Nel 2000 i soci dell’ABPI si erano ritrovati nel planalto central in occasione del ventesimo anniversario dell’Associazione, ma era stato un evento minore. — Da allora non abbiamo trovato grandi cambiamenti a livello di struttura, perché non sono stati introdotti corsi nuovi all’ UnB; mentre abbiamo notato un aumento di interesse da parte degli studenti, ma l’università finora non si è attrezzata per rispondere a questa necessità — ha dichiarato Flora De Paoli Faria, direttrice del Centro di Lettere e Arte all’Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). L’ABPI è stata fondata nel 1980 dalla professoressa Gina Magnavita Galeffi e da Romano Galeffi a Salvador. Da allora il convegno dell’ABPI
è diventato un foro privilegiato per la divulgazione delle ricerche dei suoi soci e uno strumento efficace per avere un quadro aggiornato degli studi di italianistica e delle diverse metodologie adottate. — Agli inizi eravamo un piccolo gruppo di professori, una trentina, che venivano soprattutto da Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e San Paolo. Adesso siamo più di 150 docenti, la maggior parte professori universitari, però ci sono anche insegnanti di scuole private o di corsi liberi di italiano. Non c’è una discriminazione: chiunque insegni italiano, dimostrando che ha questa funzione, può associarsi — ha sottolineato Porru, romano di origini sarde che insegna a Salvador da 36 anni. Alla fine dell’assemblea generale è stato deciso un nuovo direttivo. Mauro Porru, presidente dal 2005 e Flora De Paoli, vicepresidente, hanno lasciato il timone a Lucia Sgobaro Zanette, fiorentina e docente all’Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Fabiano Dalla Bona, di Curitiba, ma di famiglia italiana e attualmente docente di italiano all’ UFRJ. — Noi adesso siamo in una situazione più comoda perché possiamo chiedere, aiutare, ma non dobbiamo più portare la bandiera. Adesso è giunto il momento di
passare la bandiera ai giovani. Per questo come immagine della nostra locandina è stata scelto il quadro di Domenico Induno “Donne che confezionano la bandiera Tricolore”. Noi abbiamo insegnato a cucire la bandiera, adesso tocca a loro portarla — ha commentato con un tenero sorriso la prof.ssa De Paoli, nata in provincia di Cosenza e trasferitasi in Brasile con la famiglia quando aveva 3 anni. Nuovi progetti per espandere l’italiano Il nuovo vice presidente, Fabiano Dalla Bona, ha dichiarato che tra i progetti futuri ci sarà quello di continuare il lavoro avviato dal comitato anteriore, nel senso di portare l’italiano anche nei posti in cui la presenza di questa lingua è discreta o addirittura inesistente, come nel caso di Belém, capitale dello stato del Pará. — L’ultimo convegno dell’ABPI, nel 2009, si è svolto a Belém, ed il discorso inaugurale è stato presieduto dalla presidente dell’ Accademia della Crusca, Nicoletta Maraschio, che insegna Storia della Lingua all’Università di Firenze ed è la prima donna ad ottenere questo prestigioso incarico — ha spiegato l’ex presidente dell’ABPI. — A Belém abbiamo creato la possibilità di avere un professore d’italiano all’università. Attraverso l’ambasciata che ha pagato un docente per un mese e mezzo, è stato possibile creare un sistema intensivo ed è stata una presenza abbastanza consistente sia nel corso di laurea che nella post-laurea. Si deve lanciare il seme, poi quello che verrà dopo non possiamo indovinarlo, ma noi speriamo bene — ha raccontato con molta euforia De Paoli. La funzione principale dell’ABPI è quella di congregare tutti i professori a livello nazionale, anche usando le nuove tecnologie, in maniera da rendere la comunicazione e la divulgazione di notizie ed eventi più immediata in un paese in cui le distanze sono enormi. Uno degli obiettivi che si prefigge la nuova presidente dell’associazione è appunto quello di mantenere uniti tutti i docenti di italiano sparsi per il Brasile per lavorare insieme in maniera collaborativa. Tra le difficoltà segnala i finanziamenti, dovuti anche alla forte crisi che sta affrontando l’Italia: — Quello che ci aiuta è che il Brasile è in un momento di espansione e di progresso e si interessa
all’italiano; inoltre c’ è un’accettazione affettuosa del popolo italiano qui e questo aiuta il nostro lavoro. Della stessa opinione anche la docente De Paoli, che afferma che il governo brasiliano investe molto nell’insegnamento della lingua italiana, di più rispetto al governo italiano. — Esistono degli istituti di ricerca brasiliani che concedono borse di studio a chi studia l’italiano. Il nostro evento è stato finanziato in gran parte dalla CAPES, che è un organo del governo brasiliano che appoggia la formazione dei docenti — ha sottolineato.
Ogni due anni l’ABPI organizza un congresso nazionale, il prossimo sarà a Vitória, capitale dello stato di Espírito Santo. Occasionalmente, nel periodo tra i congressi, ci sono degli incontri minori che vengono chiamati incontri regionali. Il prossimo si terrà a Londrina, nel nord del Paraná, per risolvere una “situazione urgente”. I corsi a livello di post-laurea, master e dottorato in italianistica, sono stati creati prima a Rio de Janeiro all’UFRJ e successivamente a San Paolo, che ha offerto per molti anni il master e recentemente ha aperto anche il dottorato. In Brasile sono 15 le università, federali e statali, ad offrire il corso di laurea
in italiano. All’UnB esiste la disciplina nel corso di lettere, ma non esiste una laurea specifica. — L’italiano oggi dentro la società brasiliana occupa dei posti importanti e può decidere delle cose, può aiutare in questo processo di espansione, ma è sempre necessario trovare e aprire più spazi per la crescita di questa lingua — ha sottolineato la dottoressa De Paoli. In generale, sostengono i quattro intervistati, la richiesta di studiare l’italiano è in costante aumento: l’italiano è sempre più in crescita quantitativamente e
I nuovi direttori dell’ABPI insieme a quegli uscenti
“L’italiano oggi dentro la società brasiliana occupa dei posti importanti e può decidere delle cose, ma è sempre necessario aprire più spazi per la crescita di questa lingua” Flora De Paoli, dottoressa
qualitativamente. Adesso i professori dell’ABPI sono in grado di diventare formatori di formatori, grazie alle loro specializzazioni e ai dottorati. — Ad esempio, adesso stiamo organizzando dei corsi di aggiornamento per i professori, mentre prima venivano direttamente impacchettati dall’Italia — ha specificato Mauro Porru. — I nostri colleghi producono delle grammatiche, dei libri, dei risultati di ricerche perché sono loro che conoscono la realtà dello studente brasiliano e quindi sono in grado di trovare delle strategie di insegnamento riguardo la fonetica, sanno quali sono i principali ostacoli per i lusofoni brasiliani e spiegano come superarli — ha spiegato il presidente uscente dell’ABPI. Tra i progetti futuri del nuovo comitato direttivo: continuare ad espandere l’insegnamento della lingua di Dante, non solo all’università, ma anche nelle scuole elementari e medie, statali e pubbliche. — È un lavoro che stiamo facendo da anni e continueremo a fare — ha concluso Zanette.
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Marcos Queiroz
Entrevista
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Regina di Roma,
Miúcha reencontra a cidade eterna
Em entrevista exclusiva, a cantora que participou do nascimento da bossa nova conta por que escolheu Roma para comemorar seu aniversário com um concerto especial e relembra histórias vividas na Itália ao lado de Vinicius de Moraes, como a primeira vez em que cantou ao microfone Cintia Salomão Castro
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orna Miucha, la regina della bossa nova a Roma. Assim anunciavam nos jornais italianos, pouco antes do concerto marcado para o dia 30 de novembro. Faltavam quarenta e oito horas para o embarque, e Miúcha estava radiante. A apresentação única no The Place tinha um significado particular, e não apenas por ser o dia do aniversário da cantora, que ela fazia questão de comemorar na capital italiana. Também porque Roma é uma cidade especial para os Buarque de Hollanda, contou à Comunità a primogênita dos sete filhos do casal Sérgio e Maria Amélia. Ali, junto com os seis irmãos, incluindo Chico, ela morou nos anos 1950, uma época que “pegava fogo”. Havia os filmes de Fellini, que causavam sensação, e Vinicius de Moraes cantando pelos bares. Foi em uma noite daquelas que ela cantou ao microfone pela primeira vez, puxada pelo poetinha. Tudo isso antes de conhecer, em Paris, João Gilberto, com quem teve a filha Bebel. Miúcha lembra, com precisão, o percurso da época em que estudava belas artes, recém saída do segundo grau. “O meu caminho era esse: eu descia pela Piazza Barberini, andava em via Sistina, descia as scalinate de Piazza di Spagna, passava por via Condotti e via del Corso, e entrava em via di Ripetta”. Percurso esse que ela, Heloísa Maria Buarque de Hollanda, prometeu reviver em 2011. Sem esquecer de matar as saudades das trufas brancas, maravilha gastronômica típica da Itália que conheceu nos restaurantes romanos e que até hoje lhe arranca suspiros.
Comunità Italiana - Sua família possui uma história na Itália. Seu pai, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, morou em Roma nos anos 1950. Quais são as suas lembranças dessa época? Miúcha - Meu pai foi convidado para ser uma espécie de adido cultural na Embaixada brasileira. Ele dava aulas de Estudos Brasileiros na Universidade de Roma. Somos sete filhos, e fomos todos para lá. Só eu que fiquei, no início, no Rio, pois estava terminando o ginásio. Mas fui no final de 1954, quando eles já estavam há quase um ano. Voltamos em 1955. Fiquei ao todo um ano e pouco em Roma, enquanto os outros ficaram mais de dois anos. Nós todos temos uma lembrança de Roma como de um tempo maravilhoso. O Chico (Buarque), mesmo quando se exilou, procurou Roma para ficar. Lembro até hoje do endereço. Morávamos na Via San Marino 12, no bairro Nomentano, perto de viale Gorizia. Os meninos foram para uma escola americana e aprenderam inglês. Eu tinha terminado o ginásio, e fui para um curso de história da arte, que era maravilhoso. Eram
freiras dominicanas (mamãe era chegada numa igreja), francesas. Foi bom para eu desembaraçar o francês. Naquela época, a cultura era muito europeia; o inglês não contava muito. CI- Como foi a experiência com as artes plásticas? M - Eu gostava de desenhar. Estudei na Academia delle Belle Arti, e tive um professor particular que me deu as primeiras noções de desenho. Não fiz estudos formais, porém esse percurso me abriu muito a cabeça. Mais tarde, ganhei uma bolsa para estudar história da arte em Paris, na Sorbonne e no Museu do Louvre. Fiquei deslumbrada com negócio de arte. E mamãe gostava muito. Ela fazia questão de nos levar aos museus para falar de história da arte, em Florença, Siena, Assis. O maior impacto da época na Itália foi esse lado artístico e essa coisa depois da fotografia. Roma é um museu ao ar livre e tem aquela coisa bagunçada e maravilhosa que faz com que você saia de monumentos greco-romanos para entrar em edifícios barrocos e, desvairado, se depara com construções florentinas. Cada um de nós ganhou um mapa de Roma. Todos os lugares
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Entrevista
Apesar de morar com meus pais, ia e voltava da escola sozinha, fazia passeios incríveis. No Brasil, eu era muito presa em casa e vivia fora de órbita, mas, em Roma, eu tinha essa liberdade. Era uma outra cabeça. CI - Como era o clima em Roma nessa época, em meados dos anos 50? M - Cheguei em uma época que pegava fogo. Lembro dos filmes de Fellini, de ter ido ao Cinecittà. Os amigos dos meus pais estudavam cinema. Íamos com eles assistir aos filmes. Houve o crime de Wilma Montese, um assassinato sério que chocou Roma. Envolveu o filho (Piero Piccioni) de um ministro (Attilio Piccioni), que era um pianista de jazz, e até um marquês (Ugo Montagna). Papai adorava essa história, e foi nela que Fellini se inspirou para fazer a Dolce Vita. Era maravilhoso você saber das coisas e depois vê-las no cinema. Quem sempre ia lá em casa era o Vinicius (de Moraes). Naquele período, ele servia como diplomata em Paris. Pegava o trem e ia até Roma. Havia um grupo grande de amigos do meu pai. Eles fizeram amizade com pessoas como Giuseppe Ungaretti, um grande poeta que ficou amigo da turma toda e fez algumas traduções de Vinicius. Lembro de Vinicius, que adorava um bar. Ele chegava no bar Excelsior e telefonava lá pra casa, dizendo “Sérgio vem pra cá, estou aqui com Irene Papas” (uma lindíssima atriz grega) e mamãe olhava “assim”... (risos). CI- Era muito diferente da Roma de hoje? M - Está tudo tão cheio de gente! Essa é a impressão que eu tenho. Eu ficava esquentando ao sol, nas scalinate (escadarias), porque a aula era de manhã cedo. Mas não tinha essa gente toda, essa loucura de hoje! Lembro de ter levado minha filha Bebel, a Florença, passamos 44
CI - O show em que você cantou com Tom, Vinicius e Toquinho, em 1978, na Itália, depois de ter passado pelo Brasil, é considerado antológico... M - Esse foi um show muito especial, porque foi o reencontro do Tom com Vinicius: uma dupla que lançou a nossa música brasileira. Uma grande parte dos músicos se projetou com composições deles. Tenho lembranças maravilhosas desse show na Itália. Fizemos no Sistina (Roma), em Milão, em Bolonha, em Prati. Foram 15 dias em Roma retomando aquele percurso que eu fazia nos anos 1950. O Toquinho, que estava na turnê, nunca parou de tocar na Itália, é queridíssimo lá, e é um oriundo.
A primeira vez em que cantei ao microfone foi em Roma, por causa do Vinicius. Ele estava cantando em um bar e me deu o microfone. Então, eu cantei, fiquei emocionadíssima... Vinicius e meu pai são as duas pessoas que conheci que mais souberam cultivar amizade CI - Como foi o convívio com Vinicius e a influência dele na sua carreira? M - Vinicius frequentava muito a nossa casa. Ele era muito amigo do meu pai antes mesmo do meu nascimento, e até antes dele se casar. Meu pai sempre gostou muito de música e tocava piano, mas nunca estudou a sério. Tentava tocar bossa nova, mas você tinha que ver que desastre, ele tocava com o ritmo do maxixe (risos). Lembro de quando eu era pequena, do Vinicius lá em casa. Acho que foi ele quem nos deu a ideia do que era um compositor. Contava histórias sobre Noel Rosa, por exemplo. Começávamos a fazer música lá em casa, com meu pai. Eu fazia de brincadeira, e o Chico fazia música. Era uma coisa muito lúdica. Era uma festa quando Vinicius ia lá em casa, pois podíamos dormir mais tarde. Ouvíamos e aprendíamos muita coisa. Foi ele quem me ensinou as primeiras posições de violão, que depois eu passei para o Chico. A primeira vez em que cantei ao microfone foi em
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Roma, por causa do Vinicius. Fomos a um restaurante chamado Osteria dell’Orso, e havia um bar chamado Il Bar. Era o tempo das trufas brancas. Foi uma noite com meus pais. Por ser a filha mais velha, eles me davam alguns privilégios, e aquela foi a primeira vez em que comi trufas brancas... E até hoje me enlouquece o fato de comer trufas brancas! No fim do jantar, veio o recado que Vinicius estava nos esperando no bar, e para lá fomos. O pianista já sabia tocar algumas canções do Vinicius, como Medo de amar. Ele estava cantando, e me deu o microfone. Então, eu cantei, fiquei emocionadíssima... Meu pai estava adorando, e mamãe não achava a menor graça (risos). Vinicius e meu pai são as duas pessoas que conheci que mais souberam cultivar amizade. Outra pessoa muito querida da qual lembro é o Sergio Bardotti, que fez várias traduções de Vinicius e a parte italiana de Os Saltimbancos. Era um grande amigo de nós todos e morreu em 2007. Sergio nos levava para fazer passeios gastronômicos, nos arredores de Roma, durante os quais cada lugar era uma coisa de doido. Havia pousadas incríveis em castelos, com comidas e bebidas inimagináveis, naquelas cidadezinhas medievais. Há uma música de Vinicius e Toquinho que eu vou cantar no show. La Voglia, la pazzia fez mais sucesso na Itália do que no Brasil, e a tradução é do Bardotti. Essa canção já foi cantada por muita gente na Itália, como a cantora Ornella Vanoni. CI - E como surgiu a ideia desse show do dia 30? M - Será uma apresentação única em um lugar chamado The Place. Eu decidi passar meu aniversário, no dia 30 de novembro, em Roma. O produtor italiano Max de Tommasi era considerado quase como um filho pela tia Lea Millon, uma empresária artística que trabalhou com Caetano e Gil, falecida neste ano. Fui com ela a Roma
Acervo pessoal Miúcha
No Brasil, eu era muito presa em casa e vivia fora de órbita, mas, em Roma, eu tinha essa liberdade. Era uma outra cabeça
pela Ponte del Vecchio, e só havia turistas canadenses, suecos, loiros de três metros de altura, nem conseguíamos olhar a paisagem (risos). Nos anos 50, era outra coisa, é impressionante.
Acervo pessoal Miúcha
que visitávamos, riscávamos. Meu irmão Álvaro voltou com o mapa todo riscado.
Miúcha com Vinicius, Tom e Toquinho: cenas do show antológico que percorreu cidades italianas em 1978
Não quero voltar a Roma de cinzas não, quero agora mesmo, e na época das trufas! CI- Qual será o repertório? M - Serão 20 canções. Inclui Samba do avião, Corcovado e Águas de Março, canções que falam das paisagens do Brasil. Será um show intimista e vou falar de Vinicius. Pretendo falar ao público sobre o convívio de uma vida inteira, da presença dele na nossa casa, da criação com o Tom... Quero fazer uma menção da convivência com artistas, como o Ungaretti. Combinei com o Max que ele vai fazer a narração de Eu sei que vou te amar. Cabe direitinho com o Soneto da Fidelidade, em italiano, do Ungaretti. Programei também com Ed Palermo que ele vai fazer um bloco das músicas de bossa nova mais conhecidas. Eu canto La voglia, la pazzia e, então, entra Chico na história, pois vou interpretar as composições
Marcos Queiroz
há três anos. Ela tinha paixão por Roma. Certa vez, tia Lea disse ao Max: “Vou te pedir uma coisa. Quando eu morrer, quero que você jogue minhas cinzas em Roma”. Então, quando ela morreu, em abril, os amigos se juntaram e fizeram um roteiro para jogar suas cinzas nos lugares de que mais gostava. Eles lançaram em praças, restaurantes, na piazza Fontana. Então, eu entrei numa de pensar: não quero voltar a Roma de cinzas não, quero agora mesmo, e na época das trufas (risos)! Quando fui ver minhas milhas, vi que não dava para pagar um voo na executiva, e o hotel onde eu queria ficar tinha triplicado o preço! Aí pintou essa história de fazer um show, e me chamaram para uma apresentação em um lugar pequeno, mas dá para cobrir os gastos da viagem. O produtor é o Gianni Ciuffini, casado com uma brasileira, a Janete. Eles produziram o espetáculo Brasil Memórias, uma homenagem ao Tom, durante o qual cantei em um dia, e Toquinho em outro. Os ensaios serão com Ed Palermo, um guitarrista italiano que fez vários trabalhos com artistas brasileiros. Ele já gravou com Menescal, e me foi sugerido pelo Max. Além disso, estou muito contente pelo fato de ficar no Hotel d’Inghilterra. É um super hotel, com 160 anos. Chico esteve e falou muito bem de lá. Era um local muito querido dos poetas românticos, como Byron.
dele, como O que será; Todo sentimento; Vai levando; Samba de Orly (que na verdade seria o Samba de Fiumicino); e Maninha e João Maria, que Chico fez pra mim. CI - Seu último CD saiu há três anos. Pode contar seus projetos atuais? M - Meu último CD foi o Outros sonhos, da Biscoito Fino, com músicas de Vinicius. Depois, saiu pela Sony um apanhado, Miúcha com Vinícius/Tom/João (2008). Acho que fui a única cantora que cantou com esses três. O projeto no qual estou mais envolvida agora é o roteiro do filme sobre o Tom, lançado recentemente no Festival de Filme de New York, Music according to Tom Jobim, do Nelson Pereira dos Santos. Estou há quatro anos trabalhando com o Nelson. A primeira parte mostra só entrevistas com as mulheres mais próximas, a irmã, a primeira e a segunda esposas. O segundo é só música, sem nenhuma palavra nem escrita nem falada. Tem imagens de shows no Canecão, em Jerusalém, com Frank Sinatra e Ella Fitzgerald, e tudo misturado com cenas engraçadas. Você se emociona com uma coisa e cai na gargalhada com outra. Nelson conseguiu um ritmo impressionante nesse filme. Fazem parte do núcleo o Paulinho (Jobim) e a Dorinha, neta do Tom, que faz vídeo. CI - Pensa em lançar algum CD? M - Estou preparando um DVD, com memórias sobre amigos, porque tenho muito material gravado com pessoas, épocas e países diferentes. Quero fazer esse trabalho de coletânea com a jornalista Regina Zappa. Estou também com um disco na cabeça, mas há projetos mais importantes agora. Aquilo ali (ela mostra pastas com arquivos cheias de papéis) são cartas escritas por mim. Eu morei 13 anos fora do Brasil e escrevia compulsivamente, talvez por não ter muito com quem conversar. A maior parte é de quando morei nos Estados Unidos, no México e na França. Já mandei digitalizar tudo. Já recebi várias ofertas para publicá-las. CI – Como você observa o atual cenário da MPB? M - Está tudo trocado, né? Acho que podíamos fazer o movimento dos “Indignados da música” (risos). Tem um monte de nomes que não sei quem é quem, tem agro, universitário, padre ecológico, esses rótulos distribuídos. Mas também há coisas maravilhosas, como Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, o rapper (Criolo Doido) que
Acho que podíamos fazer o movimento dos “Indignados da música”. Tem um monte de nomes que não sei quem é quem, tem agro, universitário, padre ecológico, esses rótulos distribuídos. Mas também há coisas maravilhosas, como Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante fez uma versão de Cálice, e a quem o Chico respondeu. Gosto muito também de Arnaldo Antunes. Não estou acompanhando como acompanhava antes, como fazia quando a Bebel morava comigo. Tem a Mariana de Moraes, e é impressionante como nossa amizade já está na quarta geração: a filha dela é amiga da filha do Carlinhos Brown e da Lelê (Helena Buarque de Holanda). Tem muita gente legal aí rolando. Aqueles grupos de Pernambuco, então, eu acho formidáveis. CI - A musicalidade da Bebel (Gilberto) tem muito da sua influência? M - O Tom tinha uma teoria: a matemática e a música são os patrimônios geneticamente mais comprovados. Viemos de uma família que gosta muito de música.
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Cinema
Luz, câmera
e crise
Situação econômica vira protagonista no Festival de Cinema de Roma, que reuniu filmes de diversos países contando os problemas econômicos na Europa e nos Estados Unidos Aline Buaes
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de Roma
enas que falam das crises econômicas que assolaram o mundo nos últimos anos, sob diversas perspectivas, são vistas nos filmes selecionados para a sexta edição do Festival Internacional de Cinema de Roma, que aconteceu de 27 de outubro a 4 de novembro. Formado por cineastas como Susanne Bier e Carmen Chaplin, o júri internacional foi presidido por ninguém menos que Ennio Morricone, maestro italiano que assinou a trilha sonora de dezenas de filmes. Foi premiado como melhor filme Un cuento chino (Espanha-Argentina, 2011), de Sebastián Borensztein, produção que recebeu também o prêmio do público. Estrelado pelo ator e diretor argentino Ricardo Darin, o longa é ambientado em uma Buenos Aires recém saída da crise que afetou o país em 2001. Já o prêmio de melhor ator foi para o francês Guillaume Canet por conta da atuação em Un vie meuiller (França, 2011), onde interpreta Yann, um cozinheiro de 35 anos que se apaixona por uma garçonete, mãe solteira 46
de um menino. Juntos, decidem assumir empréstimos para realizarem o sonho de adquirir um restaurante na França. O personagem de Canet, rapidamente submerso pelas dívidas, acaba enfrentando uma realidade atualmente bem conhecida dos europeus, com um sistema financeiro indiferente e um duro cotidiano, o que acaba levando o casal a migrar para o Canadá.
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Acima, Guillaume Canet, premiado no Festival Internacional de Cinema de Roma como melhor ator pelo filme Un vie meuiller. Abaixo, o diretor de L’industriale, Giuliano Montaldo, que fala da crise econômica como uma situação presente também na produção do cinema atual
Fora da lista dos premiados, mas ainda dentro do tema da crise financeira europeia, o filme L’Industriale (Itália, 2011), apresentado em concurso na seleção oficial, narra a história de Nicola, um homem orgulhoso, proprietário de uma fábrica de 70 funcionários em Turim à beira da falência. Em meio a uma grave crise que sufoca o país inteiro, ele se nega a pedir ajuda e sempre responde a quem pergunta sobre a sua situação: “Eu resisto”. O diretor Giuliano Montaldo, na apresentação do filme, explicou que a analogia com a vida real serve também ao próprio mundo do cinema. — Nós, que fazemos cinema, sabemos o que significa resistir. Nós resistimos todos os dias em meio à precariedade. Por isso, entendo a precariedade atual e as falências dos empresários — afirmou o cineasta italiano, diretor da película que foi sucesso nos anos 70, Sacco e Vanzetti (1971). O Norte industrializado italiano sufocado pela crise financeira é o ambiente do filme Il mio domani (Itália, 2011), que enfrenta o tema frenético das demissões em massa pelo olhar introspectivo de uma bem sucedida profissional de recursos humanos que, conceituada na coordenação de processos de demissões, questiona sua vida profissional e pessoal a partir do que restou das suas relações familiares em uma Milão “fria e solitária”. Mas o principal filme do Festival é Too big to fail (EUA, 2011). Incluído na seleção oficial, mas fora de competição, longa é baseado no livro homônimo do colunista do jornal The New York Times, Andrew Ross Sorkin. Narra em detalhes a crise financeira de 2008 e a falência do gigante econômico Lehman Brothers. Diretor de sucessos como Los Angeles - Cidade Proibida (1997), Curtis Hanson mostra os bastidores daquela que foi definida “a grande depressão do terceiro milênio”, centralizando na vida de personagens “grandes demais para quebrarem”, como Henry “Hank” Paulson (Willian Hurt), secretário do Tesouro americano e ex-presidente do banco Goldman Sachs. Um dos méritos do filme é se basear no trabalho de Sorkin, garoto prodígio do jornalismo econômico americano que, com apenas 34 anos, lançou um dos melhores relatos sobre a crise econômica de 2008. Logo após seu lançamento, teve os direitos de adaptação para a tela adquiridos pela HBO, produtora do filme.
Cinema
O melhor de ontem, hoje e sempre O melhor do cinema contemporâneo e da era de ouro da Itália se encontraram em São Paulo durante a 7ª Semana Pirelli de Cinema Italiano Janaína Pereira
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De São Paulo
om o melhor da produção antiga e atual italiana, foi realizada, em novembro, na capital paulista, a 7ª Semana Pirelli de Cinema Italiano, que exibiu 24 filmes — 12 novos e 12 clássicos. O evento, que este ano faz parte da programação do Momento Itália-Brasil (MIB), aconteceu pela primeira vez em 2005 e, desde então, vem crescendo em público. — Começamos com 1.500 pessoas assistindo aos filmes e hoje chegamos a sete mil — revelou a curadora Érica Bernardini. A programação destacou filmes produzidos em 2010 e 2011, todos inéditos no Brasil, exceto A Joia, exibido no Festival do Rio de 2011. A curadora explicou que a Semana Pirelli é divida em três partes: cinema contemporâneo, formativo e de retrospectiva, onde cada uma tem sua importância. — Na mostra contemporânea, tentamos mostrar a diversidade estilística sob o critério da qualidade. Na retrospectiva, valorizamos o clássico cinema italiano, e é a oportunidade de vermos esses filmes em tela grande. Nos debates e palestras, podemos trazer grandes nomes do cenário cinematográfico para um encontro com o público. Érica também ressaltou que os filmes são exibidos na rede
Cinemark, atingindo um público nem sempre acostumado aos filmes de arte, mas que acaba se sentindo atraído por estas produções. Outro diferencial da Semana Pirelli de Cinema Italiano é que, mesmo exibidos em grande circuito, os filmes têm ingressos a preço promocional — uma forma de incentivar o público. Na lista de filmes contemporâneos exibidos, o destaque foi Bar Sport, comédia dirigida por Massimo Martelli, baseada no best seller homônimo de Stefano Benini. O filme foi lançado no dia 21 de outubro na Itália e teve sua primeira exibição internacional nesta 7ª Semana Pirelli
O cineasta Bruno Bozzetto, especialista em animação, ministrou workshop sobre o desenvolvimento de roteiros para cinema
de Cinema Italiano. Também foi realizada a première de Manuale d´amore 3 (As idades do amor), com Robert De Niro e Monica Bellucci, escolhido como filme de abertura da Semana. Entre os clássicos, a homenagem foi para Mario Monicelli, que morreu no final do ano passado aos 95 anos e teve cinco películas exibidas. A criteriosa escolha da programação, segundo a curadora Érica Bernardini, tem um motivo. — Buscamos filmes que fossem reconhecidos pelo público brasileiro, mas evitamos aqueles de superexposição nos últimos anos. Considerei também a representatividade do momento histórico, como é o caso de Anni difficili e Il cammino della speranza — explicou. Debates e aulas de Bruno Bozzetto Além dos filmes, a Semana ofereceu atividades formativas abertas a jornalistas, críticos, estudantes e interessados na sétima arte, sempre gratuitas. Este ano, um dos destaques foi o debate sobre a restauração de filmes, uma expertise dos italianos que, nas últimas décadas, promoveram o resgate de inúmeras obras-primas esquecidas nas prateleiras dos grandes estúdios e cinemas. O encontro teve como estrela Alberto Barbera, diretor do Museu de Cinema de Turim, instituição pioneira na restauração de filmes que possibilitou a apresentação, na própria 7ª Semana Pirelli, de sete clássicos da era de ouro, entre eles De crápula a herói (O general Della Rovere) (1959), de Roberto Rossellini; Roma (1972), de Fellini; e A classe operária vai ao paraíso (1971), de Elio Petri. Também participou do evento o cineasta Bruno Bozzetto, um dos expoentes do cinema de animação na Itália, que esteve à frente do workshop Como nasce uma história e um roteiro. Bozzetto ministrou quatro aulas diferentes ao lado do músico e maestro Roberto Frattini, atual destaque da consagrada escola italiana de música para teatro e cinema. Após a exibição em São Paulo, os filmes contemporâneos foram vistos em Ribeirão Preto. A partir da votação em todas as sessões do público de São Paulo e Ribeirão Preto, será entregue, no dia 8 deste mês, o Prêmio Pirelli de Cinema Italiano, que vai dar R$ 40 mil à produção escolhida por um júri especializado. O prêmio é um apoio ao lançamento e à distribuição do filme vencedor no Brasil.
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Cinema
O cinema recontado REcine completa dez anos e homenageia o cinema italiano no Arquivo Nacional com exibição de filmes históricos e debates Nathielle Hó
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Festival Internacional de Cinema de Arquivo comemorou dez anos de existência prestando homenagem à Itália, país detentor de uma das mais importantes cinematografias do mundo. No período de 7 a 11 de novembro, o público assistiu a clássicos e raridades do cinema italiano com direito a entrada franca. O evento fez parte das comemorações do Momento Itália-Brasil e contou com o patrocínio da Petrobras, Eletrobrás, Casa da Moeda e do BNDES. Os filmes exibidos no Arquivo Nacional seguiram um recorte cronológico e temático. Cinco frentes da relação cinematográfica entre Itália e Brasil foram abordadas: os pioneiros dos dois países; os filmes da Companhia Vera Cruz; os grandes clássicos italianos do pósguerra; o cinema brasileiro depois dos anos de 1950, influenciados pelo Neorrealismo; e o caso do Cinema Novo e as relações com a Itália. Desde que foi criada, há dez anos, a mostra cumpre uma função cultural e social de conservação e divulgação de filmes por vezes esquecidos, mas de grande importância histórica, como bem enfatizou Clovis Molinari, curador do evento. — O princípio básico que orienta o REcine é o de restabelecer uma nova relação com o público. Tirar os filmes das prateleiras: este é o principal objetivo do festival. Toda vez que reaproveitamos os filmes, aumentam as chances de ganharem fôlego e permanecerem no convívio social. O que não pode é filme excluído, separado, escondido. Se isso acontecer, não é democrático nem vai ao encontro do verdadeiro papel de uma instituição pública — conclui. 48
O cinema brasileiro, desde sua origem, recebe forte contribuição de artistas e empresários vindos da Itália. Paulo Benedetti, Vittorio Capellaro e Alfonso Segreto, entre outros, ocupam posição de destaque na história e no desenvolvimento da produção cinematográfica brasileira. Por isso, a intenção do festival, de acordo com Clovis Molinari, era estabelecer um traço que indicasse onde os italianos influenciaram os brasileiros, sem comparar os dois tipos de cinema, porque ambos guardam muitas peculiaridades. — O REcine não pretendeu em nenhum momento fazer uma comparação entre as duas cinematografias. Entretanto, não tivemos dificuldade em perceber que os italianos imigrantes do início do século XX, até mesmo um pouco antes, contribuíram para a fundação do cinema brasileiro. A Itália está na raiz do nosso cinema! Depois, os técnicos foram chegando e participaram de diversos projetos, como o da construção de um grande estúdio, nos moldes de Hollywood, que foi a Companhia Vera Cruz no final dos anos de 1940 e início da década de 1950. A relação com o Cinema Novo, e até mesmo antes dele, é evidente. O movimento do Neorrealismo influenciou todo o mundo, o Brasil não ficou de fora. Filmes simples, de baixo orçamento e repletos de preocupações sociais,
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O cônsul da Itália, Mario Panaro, assiste à premiação de filmes durante o REcine
Abaixo, as atrizes homenageadas Vanja Orico e Ruth de Souza; à direita, o ator Ney Latorraca: presenças ilustres no REcine
com atores não profissionais, foram feitos no período do Cinema Novo. Estes também conquistaram o público estrangeiro, notadamente as inquietações provocativas e renovadoras de Glauber Rocha — ressaltou Molinari. Na noite de abertura, foram exibidos três filmes do cineasta Gilberto Rossi, acompanhados pela música instrumental desenvolvida ao piano por sua bisneta Ana Cláudia Agazzi, recriando a atmosfera das primeiras sessões do cinema mudo. Ao longo do festival, o público foi agraciado com raridades. Destaque para Cabiria, de Giovanni
Fotos: Divulgação
ideia na cabeça! Ou um cinema sem câmera! — completou Molinari. Ao longo do festival, aconteceu o Fórum de Debates, com o objetivo de levantar questões da área cinematográfica, recuperar pessoas, ideias e projetos. O público teve oportunidade de conhecer técnicas de preservação e restauro de películas.
Pastrone, filme de 1914, em cópia restaurada. Outra novidade para os expectadores foi a série de filmes de Vittorio De Seta, cineasta siciliano desconhecido do grande público brasileiro. Os primeiros filmes italianos, da fase silenciosa, enviados pelo Museu Nacional de Cinema e pela Cinemateca de Bolonha, também estamparam a grande tela. Nelson Pereira dos Santos e o cinema italiano A assistente de direção Renata Franceschi, que trabalhou, na Itália, com diretores como Luchino Visconti e Franco Zeffirelli, lembrou que o cineasta Nelson Pereira dos Santos, considerado o “tradutor do Neorrealismo” no Brasil, tinha muita simpatia pelo cinema italiano. O REcine defende a ideia de que, na obra de Nelson, há um grande diálogo com a filmografia de Visconti, e Renata confirma essa tese. — Conheci Nelson em 2004, em uma retrospectiva de filmes dele no Instituto Latino-Americano de Roma. Como trabalhei por longo período com Visconti, percebi que havia uma amizade entre eles. Visconti, que era de esquerda, apoiou Nelson nos anos 1960, época da ditadura militar no Brasil. Além dessas afinidades, é nítida a influência de Visconti e do Neorrealismo italiano no cinema do diretor brasileiro. Exemplo disso é o filme Vidas Secas — ressaltou Franceschi. O festival apresentou também uma mostra competitiva, sob o critério de aceitar somente filmes que reutilizam imagens de arquivo de instituição pública ou privada. Todos os anos, acontece uma oficina, durante
a qual são disponibilizadas essas imagens. Na edição deste ano, o responsável foi Luiz Carlos Lacerda, que formou grupos que realizaram curtas-metragem com o tema: Onde está a Itália na cidade do Rio de Janeiro? De acordo com Molinari, a intenção da competição é incentivar o exercício da edição, da montagem de filmes com imagens antigas. — O passado pode ser refeito, relido, reinterpretado e revelado para quem o desconhecia em suas particularidades. A intenção foi estimular esse gênero de filme barato. Um arquivo na mão e uma
O curador do festival, Clovis Molinari, é homenageado na tela de cinema do pátio do Arquivo Nacional
O lendário filme italiano Cabiria, de 1914, do diretor Giovanni Pastrone, foi exibido em cópia restaurada
Homenagens a cineastas e premiações Um dos momentos mais marcantes foi a sessão de homenagens, que buscou resgatar personalidades que estiveram durante muito tempo na ativa e que hoje se encontram esquecidos. A edição de 2011 do REcine prestou reverência a nomes como Pascoal Segreto, Paulo Benedetti, Gianfrancesco Guarnieri, Dib Lufti, Gianni Amico, Gustavo Dahl, Ruth de Souza e Vanja Orico. Para completar a lista, Paulo Cesar Saraceni, cujo filme inédito O Gerente, baseado em conto homônimo de Carlos Drummond de Andrade, foi exibido na Mostra Informativa do evento. A atriz Ruth de Souza, homenageada com a exibição de cenas de Sinhá Moça de 1953, dirigido por Tom Payne, demonstrou saudosismo do cinema antigo. A atriz Vanja Orico, que canta e interpreta em O Cangaceiro, de Lima Barreto, falou da importância do REcine para manter vivos, na memória das pessoas, os mestres do cinema. — O Cangaceiro foi o melhor filme já feito. Lima Barreto morreu pobre, esquecido num asilo em Campinas, porque nunca quis sair do Brasil. Os grandes pioneiros são esquecidos — lamentou Vanja. Após uma semana intensa de exibição de filmes, o REcine foi encerrado no dia 11 de novembro, com a presença do cônsul da Itália no Rio de Janeiro, Mario Panaro. O júri oficial elegeu como melhor filme da mostra competitiva No lixo do Canal 4, de Yanko Del Pino, enquanto o voto popular escolheu Clementina de Jesus – Rainha Quelé, de Werenton Kermes. O Prêmio Especial do Júri ficou com o filme La Febre del fare, de Michelle Mellara e Alesandro Rossi. Molinari acredita que o evento conseguiu atingir o seu objetivo, valorizando e divulgando as obras audiovisuais italianas que tanto influenciaram o Brasil. — O legado deixado para o cinema brasileiro tem a ver com a própria natureza humana dos italianos: paixão, inteligência, eloquência, capacidade técnica e inventividade! — finalizou Molinari.
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Cinema
De Veneza para o Brasil
italiana a partir da unidade do Estado. Martone, que este ano foi jurado em Veneza, comentou sobre a importância de seu filme. — Não tenho projetos futuros porque Noi Credevamo me ocupou muito tempo e tem uma importância enorme para minha carreira. Fico feliz do filme continuar sendo comentado, mesmo dois anos depois de ter sido realizado — revelou o diretor, que levou dois anos para concluir a produção. Este ano, Noi Credevamo foi o grande vencedor do prêmio David de Donatello da Academia de Cinema italiano, conquistando sete estatuetas (foi indicado a 13), entre elas, a de melhor filme e a de melhor roteiro.
Mostra itinerante apresenta filmes italianos exibidos no Festival de Veneza em cinco cidades brasileiras e leva o premiado Terraferma à capital paulista Janaína Pereira
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De São Paulo
e 5 de novembro a 14 de dezembro, os cinéfilos de São Paulo, Curitiba, Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro puderam conferir uma seleção de filmes italianos que foram apresentados na 68ª edição da Mostra Internacional de Arte Cinematográfica de Veneza. A mostra itinerante Venezia Cinema, promovida pela Embaixada da Itália e pela Bienal de Veneza, chegou à sétima edição; desta vez, dentro da programação do Momento Itália-Brasil. Por isto, este ano ganhou o nome de Cine MIB - Venezia Cinema. Foram exibidos seis filmes, entre eles, os três que concorreram ao Leão de Ouro em Veneza em 2011: Terraferma, de Emanuele Crialese (que ganhou o Grande Prêmio Especial do Júri); Quando la notte, de
Cristina Comencini; e L´ultimo terrestre, de Alfonso Pacinotti. O longa italiano que foi apresentado em Veneza fora de competição, Il villaggio di cartone, dirigido por Ermanno Olmi, também faz parte da mostra. Os outros dois filmes são homenagens aos 150 anos da Unificação italiana, celebrados este ano. Separados por mais de sessenta anos, os filmes 1860, de Alessandro Blasetti, rodado em 1947 e restaurado pela Cineteca Nazionale di Roma, e Noi Credevamo, de Mario Martone (2009), têm em comum a narrativa do percurso da história
Foram exibidos na mostra itinerante os filmes Quando la notte (foto ao alto) e L’ ultimo terrestre, que concorreram ao Leão de Ouro do Festival de Veneza
“O filme não tem como alvo a questão da lei de imigração, mas a moral e a ética que envolve as pessoas” Mimmo Cuticchio, ator, sobre o longa Terraferma
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Mimmo Cuticchio em São Paulo Na passagem por São Paulo, o destaque foi a exibição, pela primeira vez na cidade, do premiado Terraferma, que já havia feito sucesso durante o Festival do Rio, em outubro. O longa de Emanuele Crialese, que aborda o delicado tema da imigração, foi o filme de abertura do Cine MIB-Venezia Cinema, no Cinesesc, e contou com a presença do ator e diretor teatral siciliano, Mimmo Cuticchio, que interpreta o personagem Ernesto, um septuagenário, irredutível pescador que pratica a lei do mar, papel de fundamental importância na trama. Cuticchio é conhecido do público brasileiro por seu papel de narrador dos Pupi (marionetes de antiga tradição siciliana) em O Poderoso Chefão Parte 3, de Francis Ford Coppola. Além de apresentar o filme, o ator fez sua primeira turnê pelo Brasil com seu grupo, o Cuticchio, famoso teatro de marionetes que narra as aventuras de Carlos Magno e seus paladinos. Sobre o longa de Crialese, Mimmo Cuticchio disse que seu personagem é um homem que carrega dentro de si muitos valores e quer ensinar o ofício de pescador ao neto, o que o torna essencial para o desenrolar da trama. — Ele vê seu neto distraído em relação ao que acontece à sua volta e tenta protegê-lo de acordo com os valores fundamentais de sua cultura. O filme não tem como alvo a questão da lei de imigração, mas a moral e a ética que envolve as pessoas — analisou. Com o Cine MIB-Venezia Cinema, os espectadores tiveram a oportunidade de assistirem a filmes que não têm previsão de serem exibidos no Brasil, à exceção de Terraferma, que poderá ser visto no país em 2012 — mas ainda sem data de estreia.
milão
Guilherme Aquino
Pneu furado Procuradoria de Milão decidiu enqua-
A
drar o presidente da Pirelli, Marco Tronchetti Provera, por corrupção internacional, entre outras acusações, no caso Telecom. Na época, ele era o presidente da poderosa multinacional italiana. Os procuradores acusam o pagamento de 26 milhões de euros ao mega-especulador do mercado financeiro Nagi Nahas, a título de consultoria, durante os anos de 2002 e 2006. O dinheiro teria saído da “conta do presidente” durante a guerra da Telecom com o sócio brasileiro Daniel Dantas, acionista da Brasil Telecom, alvo da batalha ítalo-brasileira. A pendenga judiciária promete dar panos para a manga.
Tempos passados, tempos modernos
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o rastro do sucesso da mostra La America, sobre as viagens dos imigrantes de Gênova a Nova York ocorridas entre 1862 e 1914, o Museo do Mar e da Navegação de Gênova abre as portas para uma nova e emocionante aventura do passado. Memórias e Migrações refaz os passos dos imigrantes italianos que rumaram para as Américas do Norte e do Sul, tendo o Brasil e a Argenti-
na como destinos principais. Depois de longa travessia, os italianos iriam ter contato, no Brasil, com a lavoura como mão de obra substituta da escravidão. Por isso, a exposição conta, entre outras instalações multimediáticas, com a reprodução de uma cabana de uma fazenda, além de documentos diplomáticos e pessoais sobre as impressões de brasileiros e italianos da época.
Bolsa de estudos I Bolsa de estudos II eis mil estudantes brasileiros deverão grupo Fiat concluiu a décima sétima edi-
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frequentar as universidades e instituições de pesquisa italianas até 2014. Este é o resumo da ópera de um acordo assinado entre o Brasil e a Itália. O objetivo é desenvolver a iniciativa Ciência sem fronteiras, promovida pelo governo da presidente Dilma Rousseff. O Capes e o CNPq são os principais órgãos brasileiros pelos quais irão passar boa parte das 75 mil bolsas de estudo para alunos no exterior. Pesquisadores italianos e brasileiros poderão trabalhar lado a lado e estreitar os laços, não apenas culturais, mas científicos. O Politécnico de Milão está de portas abertas. E não é de hoje que muitos estudantes brasileiros frequentam a renomada universidade italiana.
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ção da iniciativa para os filhos dos funcionários, chamada “Prêmios e Bolsas de Estudo Fiat”. A ideia é valorizar jovens talentos nos países nos quais a Fiat está presente. A cerimônia de entrega foi em Turim, mas também ocorreu em outros oito países onde o grupo é forte referência no mercado automobilístico: Brasil, Bélgica, Estados Unidos, Polônia, China, Inglaterra, França e Espanha. Em 2010, foram distribuídos cerca de dez milhões de euros para 600 pessoas. Desta vez, foram 149 jovens agraciados com uma ajuda econômica para a universidade. A questão é que, com o fechamento da histórica fábrica de Termini Imerese, os filhos daqueles operários não terão acesso à iniciativa.
Robôs grupo genovês de robótica Tele-
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robot comprou 70% da brasileira Nupe Ferramentaria (agora batizada de Telerobot Brazil Automoção). A empresa italiana é uma das principais sociedades no mercado de máquinas e sistemas automáticos para processos produtivos. A divisão High Speed Machines deve ser a ponta de diamante do investimento no mercado brasileiro. O crescimento e a modernização do Brasil seguem de vento em popa e abrem o apetite do investidor estrangeiro. E o setor da automoção é uma das locomotivas da expansão brasileira. A Telerobot Brazil já está de olho em novas possibilidades de aquisições.
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Arquitetura
Construção cidadã Em sua participação na 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, a Itália trouxe exemplos de revitalização urbana que melhoram a vida em suas cidades Vanessa Corrêa da Silva
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De São Paulo
om o tema Arquitetura para todos: construindo cidadania, a 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo teve como principal objetivo aproximar o grande público das questões centrais do urbanismo. Apelidada de NonaBia, a edição quis mostrar aos visitantes que eles vivem, estudam, trabalham, produzem e moram em ambientes onde a arquitetura e o urbanismo são uma presença constante, que interfere de forma direta em suas vidas. Realizada entre 1º de novembro e 4 de dezembro, a mostra trouxe fotografias, pinturas, instalações e vídeos com temas que giravam em torno da vida na metrópole. — O objetivo foi fazer uma Bienal que não apenas debatesse a arquitetura no âmbito dos arquitetos, mas que ultrapassasse a corporação e aproximasse a arquitetura da sociedade — disse o curador do evento, Valter Caldana. Ele explicou que a grande interatividade da exposição quis deixar claro que é possível a todos intervir na arquitetura, de modo que “a pessoa se veja dentro da arquitetura da cidade e que seja um agente participativo”.
A mostra principal foi organizada na Oca, no parque do Ibirapuera, onde foram expostos cerca de 400 projetos de mais de 30 países. Alguns deles, como Noruega, Israel e França, tiveram espaços próprios para exposições. Recuperação urbana Em seu pavilhão, a Itália apresentou exemplos de revitalização urbana realizados em grandes cidades. Um deles foi o projeto Officine del Volo, que recuperou as Oficinas Aeronáuticas Caproni, em Milão, transformando-as em um espaço para múltiplos eventos. Outros projetos apresentados foram a revitalização de uma área industrial na ilha de Giudecca, em Veneza, e a transformação de uma antiga fábrica de automóveis Alfa Romeo em um conjunto de prédios residenciais e escritórios, também em Milão. Intitulado Arquitetura italiana e recuperação urbana, o pavilhão fez parte do Momento Itália-Brasil e teve o apoio do Instituto Italiano de Cultura de São Paulo. Uma apresentação dos projetos mostrados
“A conservação nostálgica é perigosa e paralisa o desenvolvimento de novas ideias. Já a relação entre o velho e o novo é benéfica e deve ser estimulada” Ado Franchini, arquiteto italiano
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no pavilhão reuniu os curadores da exposição italiana, Ado Franchini, Patricia Malavolti e Emilia Pedrelli. Durante a apresentação, o arquiteto Ado Franchini explicou que, na Itália, a partir da década de 1990, o tema da revitalização urbana ganhou força, com projetos que deram um novo uso a diversos edifícios industriais abandonados e deteriorados. — Para construir a cidadania, é preciso dar valor à cidade como um recurso a ser preservado. O que procuramos é construir uma vitalidade urbana e ter uma cidade em que todos gostariam de viver — disse Franchini. — Há uma convivência com a arquitetura na Itália muito maior do que aquela que existe em São Paulo. Aqui, estamos trabalhando para desenvolver uma relação parecida com aquela que os italianos têm com seus espaços arquitetônicos — ressaltou Caldana. Em sua palestra, Franchini apresentou três projetos para a reutilização de espaços urbanos e prédios industriais, com propostas de construção sustentáveis, na região da Lombardia. Um dos exemplos foi a recuperação do Acciaierie Falk, uma imensa área industrial em Milão, hoje abandonada. — A revitalização da área, com a implantação de uma grande área verde, proporcionará um verdadeiro “pulmão” à região norte da cidade — explicou Franchini. O arquiteto falou sobre a importância de preservar as construções antigas das cidades, mantendo sua identidade visual, mas alertou para os exageros na tentativa de evitar mudanças. — A conservação nostálgica é perigosa, porque nos faz voltar atrás. Ela paralisa o desenvolvimento de novas ideias. Já a relação entre o velho e o novo é benéfica e deve ser estimulada.
Arquitetura
Amazônia à bolonhesa
Reinauguração da Casa Rosada homenageia a obra do arquiteto de Bolonha que mudou para sempre a paisagem da capital do Grão-Pará e foi o primeiro a romper com o barroco em solo brasileiro Cintia Salomão Castro
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uando veio para o Brasil contratado a mando do rei de Portugal, que acabara de assinar o Tratado de Madrid com a Espanha e queria estabelecer os limites de fronteira no território do império, provavelmente, o bolonhês Antonio Giuseppe Landi não imaginava o quão mudaria a paisagem da capital do Pará. O arquiteto da Academia Clementina, uma das mais prestigiadas escolas de arte do século XVIII, era aluno do famoso mestre Fernando de Bibiena (1659–1739). Sua obra reunia elementos que o aproximavam de um estilo que começava a ser esboçado e surgiria com força nas décadas seguintes nas cidades europeias — o neoclassicismo. Por isso, Landi é o autor das primeiras manifestações de rompimento, no Brasil, com o então onipresente estilo barroco. Para homenagear o artista italiano e sua obra, acaba de ser inaugurada a Sala Bolonha, situada na Casa 54
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Rosada, uma construção do século XVIII cuja decoração erudita é atribuída a Landi. A restauração conta com pinturas e decoração do professor Pietro Lenzini, da Academia de Belas Artes de Bolonha, auxiliado por Giorgio Drioli. A abertura do espaço fez parte do Momento Itália-Brasil e contou com a presença do embaixador Gherardo La Francesca, no dia 8 de dezembro. O arquiteto Pietro Lenzinni chama atenção para o fato de Landi, aluno de Bibiena, ter aprendido a padronizar muito bem a pintura ligada ao teatro, criando um espaço virtual por meio da dilatação do espaço real, o que é tipicamente bolonhês. “Na decoração na Casa Rosada procuramos misturar itens
prospectivos com elementos vegetais da floresta amazônica. O espaço será decorado completamente, do teto às paredes, para criar essa virtualidade total e um espaço muito sugestivo”, explicou Lenzini em um vídeo publicado no YouTube, gravado durante a execução dos trabalhos no local, em setembro. Erudição fez a diferença O autor do projeto de decoração da Sala Bolonha e pró-reitor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará, Flávio Sidrim Nassar, explica que a grande diferença entre Landi e os artistas do mesmo período que atuavam nas cidades brasileiras era sua formação erudita.
Fotos: Janduari Simões
formado por pesquisadores, professores e alunos interessados na História da Amazônia no século XVIII, e conta com a parceria da Universidade de Florença e Bolonha, além da Fundação Ricardo Espírito Santo em Lisboa. A realização de estudos que visam a
O cenário da Sala Bolonha retrata a síntese de duas culturas, italiana e amazônica, da qual o arquiteto Landi é um símbolo de imersão criativa Divulgação
— Landi fez uma arte única na história do Brasil, por conta de sua formação erudita, ao contrário daqueles que trabalhavam naquela época, como Aleijadinho. Em Belém, Landi projeta o quartel, o Hospital (Real), o Palácio dos Governadores, a Catedral, as casas senhoriais, as igrejas de conventos, os engenhos. Ele era o “Niemeyer” da nova capital do estado do GrãoPará — explica, ao lembrar que o italiano chegou ao Brasil logo após a capital da região ter sido transferida da cidade de São Luís para Belém, em 1753.
Ecos de Bolonha em Lisboa Antes de chegar ao Norte brasileiro, o bolonhês passou dois anos em Lisboa, onde já havia italianos em atividade, como Filippo Terzi, construtor da igreja de São Vicente de Fora, e até mesmo o filho do mestre de Landi, Francesco Bibiena. Giovanni Carlo Galli Bibiena projetou a Ópera do Tejo, mas o faustoso teatro da corte foi destruído sete meses após a inauguração durante o devastador terremoto que atingiu a capital portuguesa em 1755. O chefe da missão que trouxe Landi ao Brasil como cartógrafo e naturalista era Francisco Xavier de Mendonça, irmão do Conde de Oeiras, o futuro Marquês de Pombal, que desenvolveu uma ampla reforma nos domínios lusitanos. Os portugueses pediram ao italiano que voltasse à Europa, mas o italiano, sempre adiando o retorno, acaba ficando no Brasil, onde casase por três vezes, tem duas filhas e falece em 1791. Por conta dessa ponte entre a coroa portuguesa, Bolonha e Belém, podemos identificar os mesmos traços artísticos da Academia Clementina em Lisboa e em monumentos da capital do Pará, como a igreja de São João Batista. — A primeira Academia de arte papal é a de São Lucas, em Roma, na qual vem a nascer o Barroco, com todos os seus “excessos”. A Clementina parte em busca de um estilo próprio, começa a “limpar” aqueles excessos e adota um perfil neoclassizante, o estilo precursor do neoclassicismo — explica o arquiteto Nassar, coordenador do Fórum Landi, criado durante o Seminário Internacional Landi e o século XVIII na Amazônia, que reuniu especialistas brasileiros e estrangeiros em Belém, em 2003. O grupo é
A Capela de São João Batista, em Belém: uma das obras do italiano Landi, o primeiro a romper com os padrões barrocos no Brasil
Casa Rosada
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naugurada pelo embaixador Gherardo La Francesca, no dia 8 de dezembro, em evento do Momento Itália-Brasil, a construção do século XVIII é uma antiga residência senhorial. A Casa Rosada fica naquela que foi a primeira rua de Belém: chamava-se Rua do Norte, hoje Siqueira Mendes. Atribui-se o “banho de loja” recebido ao gênio do italiano Landi, sobretudo por conta da decoração erudita da fachada e do teto revestido de estuque (técnica que praticamente existia apenas em Bolonha). Os novos ricos da época queriam ter algo com a assinatura do italiano, explica o arquiteto, Flavio Nassar, autor do projeto de decoração da Sala Bolonha. A execução dos trabalhos fica por conta do professor Pietro Lenzinni, da Academia de Belas Artes de Bolonha, auxiliado por Giorgio Drioli. Na sala, pinturas de animais e plantas como troncos de açaí, palmeiras e espadas de São Jorge recriam um ambiente tipicamente amazônico com o uso da quadratura, técnica do século 18, típica de Bolonha, empregada em teatros e altares, e aplicada por Landi na igreja de São João Batista, em Belém. Para permitir uma visualização tridimensional ao visitante, há a possibilidade de ter dois acessos à sala, com mudança de perspectiva de acordo com a porta de entrada utilizada pelo visitante, detalham os artistas.
recuperação, revitalização e conservação integrada do legado arquitetônico e artístico de Landi está entre os objetivos do Fórum. O acadêmico Landi traçou inovação nos mais de 10 monumentos de sua autoria em Belém, a exemplo da Catedral Metropolitana, da Capela de São João Batista, da Igreja de Santana (sua última obra) e da igreja de Nossa Senhora do Carmo. O que fazia era completamente novo em comparação ao barroco que predominava no Brasil. Apesar disso, seu trabalho não chegou a influenciar a arquitetura nas outras regiões brasileiras por conta do isolamento que sofriam na época da colônia, explica o Flavio Nassar. — Essa manifestação ficou restrita ao Pará. Naquela época, não havia um sistema de comunicação entre as cidades. A Amazônia sequer fazia parte do Brasil, mas estava inserida no estado do Grão-Pará, com uma administração independente do estado do Brasil, cuja capital era Salvador e, posteriormente, Rio de Janeiro. Belém era uma ilha. Somente no interior do estado se faz notar sua influência.
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Exposição tem as cores do Brasil e da Itália — declarou à Comunità o curador Lothar Fidelis, durante a inauguração da exposição. A mostra na Câmara dos Deputados representa, em síntese, a trajetória de Corradin, que completa 82 anos de idade durante a realização do evento. Nascido em 1929, em Vogogna, ele vive no Brasil desde 1950. Trouxe consigo as formas e as cores das aldeias de sua infância e as misturou, em solo brasileiro, à experiência do Novo Mundo. — Ele é um exemplo da troca positiva que italianos e brasileiros são capazes de produzir. O evento entrou na programação do MIB, pois a filosofia é a de valorizar o que esses dois países podem fazer juntos — declarou o embaixador da Itália, Gherardo la Francesca. Corradin contou à Comunità que a lembrança mais bonita dos seus 60 anos de carreira refere-se à sua primeira exposição, em Salvador, no ano de 1953. — Eu não tinha um centavo no bolso. Fui na aventura e encontrei um grupo de artistas que ajudoume muito — lembra
Seis décadas de metáforas
Mostra do italiano Inos Corradin, radicado no Brasil, é inaugurada no Gabinete de Arte da Câmara dos Deputados de Brasília Stefania Pelusi
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De Brasília
artista plástico Inos Corradin utiliza o tema da natureza para desenvolver uma filosofia da cor, com uma cultura de sentimentos através dos quais revela um mundo de forma singular que se traduz na riqueza da sua obra e no caráter lúdico. Uma pessoa acessível, que não gosta de formalidade, e comprometida consigo mesma, mantendo, ao longo da carreira, a coerência de uma 56
pintura descomprometida e legítima. Assim pode ser descrito o pintor italiano, que comemora, em 2011, 60 anos de atividade, com mais de 250 exposições internacionais. — Inos elabora o gênero humano através das metáforas e da simbologia figurativa de seus personagens. Seus quadros resultam de muita dedicação, postulando um artista que trabalha com paixão. Trata-se de uma pessoa extremamente amável e legítima que foi muito bem aceita pelo povo brasileiro. Eu diria que o coração dele
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Autenticidade da cultura antiga Outro momento do qual lembra com um sorriso é quando aconteceu a exposição em sua cidade-natal, durante a qual participaram todos os agricultores. É uma aldeia pequena de 1500 habitantes, e “todos estavam lá, foi muito emocionante”. Há tempos atrás, ali viviam três mil pessoas, mas muitos faleceram ou foram embora. No entanto, aqueles que ficaram são testemunhas da italianidade, da cultura antiga e da gastronomia verdadeira, ressalta o artista plástico, que chegou ao Brasil aos 21 anos e se instalou em Jundiaí, no interior paulista. — Agora, com 82 anos, eu me sinto mais brasileiro, mas as raízes nunca se esquecem. O povo brasileiro é maravilhoso. Fiz exposição em quase todo o mundo, mas pessoas amáveis e hospitaleiras como os brasileiros não se encontram — ressalta. Aos jovens artistas, ele aconselha que não desistam, apesar das dificuldades. — Passei por muitos problemas, mas estou aqui e ganhei. E ainda não acabou, porque quero viver 100 anos! — concluiu. A exposição está aberta à visitação até 22 de janeiro de 2012, aos sábados, domingos e feriados, das 9 às 17 horas. A entrada é franca.
Fotografia
A moldura do concreto
O Rio de Janeiro recebe a exposição fotográfica de Gabriele Basilico, que conta a história de várias cidades e suas transformações
pontos que constroem e compõem o seu interesse — completa. Divulgação
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ma arte que, a cada dia, faz mais parte da rotina das pessoas ao redor do mundo é a fotografia. Mas, para fotografar, é necessário o abandono do foco utilitário, automático e acomodado sobre as coisas, e adotar um olhar selecionador e analítico para “desenhar” com a câmera o objeto desejado. Ao se visitar a exposição Gabriele Basilico, que reúne 63 fotografias de grande e médio formato e 15 painéis, refletindo a contínua transformação da imagem das cidades, é possível compreender essa forma de olhar. A mostra acontece até 18 de dezembro, no centro cultural Oi Futuro Flamengo, no Rio, e integra as comemorações do Momento Itália-Brasil. Tem o patrocínio do Oi Futuro e o apoio do Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, da Embaixada da Itália e do Museu de Fotografia Contemporânea de Cinisello Balsamo. A curadoria é assinada por Nina Dias e pela italiana Paola Chieregato. Para a mostra, Basilico passou um período de 11 dias na capital fluminense, em julho, pesquisando e registrando várias regiões. Para o fotógrafo, o Rio de Janeiro é uma cidade com algumas particularidades ligadas à sua história e ainda mais à sua geografia, principalmente por causa das inúmeras favelas que dão um contorno diferenciado à cidade. — Exploramos o Rio e atravessamos diversos bairros, interceptando
paisagens e lugares até muito diversos. Inevitavelmente, fui atingido pelo fenômeno das favelas, não apenas pelo seu grande número, disperso no tecido urbano da cidade carioca, mas, principalmente pelas soluções construtivas que pude ver nos lugares “pacificados” — ressaltou Basilico. Além das fotos do Rio, o público terá a oportunidade de ver obras da série Milão Retratos de Fábricas (1978-1980), para a qual Basilico fotografou a periferia industrial milanesa, enquanto as áreas Cidades e Work in Progress reúnem diversas fases da produção do fotógrafo, desde 1984. Uma outra área traz imagens impactantes de Beirute, capital do Líbano, realizadas em 1991, no período pós-guerra. De acordo com a curadora Nina Dias, Gabriele Basilico gosta de documentar os limites das cidades. — As zonas monumentais, portuárias, limítrofes e periféricas, a geografia, as grandes avenidas e as saídas da cidade são alguns dos
“No Rio, fui atingido pelo fenômeno das favelas, não apenas pelo seu grande número, mas, principalmente, pelas soluções construtivas que pude ver nos lugares pacificados” Gabriele Basilico, fotógrafo italiano
Fotos: Daniel Soares
Nathielle Hó
Foco nas transformações das cidades Segundo a curadora Paola Chieregato, o italiano é interessado em tudo relacionado à arquitetura. Sua visão envolve também os elementos que interferem no desenho da paisagem urbana: as placas de trânsito, as faixas de pedestre, as sinalizações. A metáfora do corpo humano é frequentemente usada por Basilico para descrever seu modo de explorar e de narrar a cidade, que é como um corpo em crescimento, em transformação, explica Paola. Assim, o fotógrafo se torna “o médico que o percorre para estudar e compreender sua forma”. — Gabriele não é apenas fascinado pelos monumentos históricos e pelas arquiteturas importantes, pela beleza estética em si, mas, ao contrário, é fortemente interessado pelas cidades de médio porte, pelas periferias e por aqueles lugares em via de transformação sempre mais rápida, que levam a confundir uma cidade com a outra. Os visitantes que apreciarem a obra do fotógrafo italiano poderão levar para casa algumas de suas imagens: um livro com 68 fotos de Basilico — a cores e em preto e branco — já está à venda nas livrarias. Com texto analítico das curadoras e uma entrevista com o crítico de arte Paulo Sergio Duarte, é uma coedição Oi Futuro/Francisco Alves.
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firenze
GiordanoIapalucci
Pretiosa mmaginate un palazzo medievale nel cuo-
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re del centro storico della città pieno di meandri e di stanze a volte. Luce soffusa, muri che trasudano e odorano di storia... un ambiente perfetto per una galleria d’arte contemporanea qual è Varart. Pretiosa è il titolo di questa mostra collettiva dove artisti di tutta Italia, dal Trentino alla Calabria presentano sculture, quadri e gioielli che hanno come elemento comune l’oro. Dai quadri a sfondo sacro di Elena Diaco a quelli astratti di Alessandro Gamba, dalle pitture informali di Candida Ferrari e Francesco Menichetti alle sculture di Graziano Pompili fino ad arrivare alle “piccole gioie” di Mirta Carroli. Fino al 28 gennaio. Ingresso gratuito.
Italiane... e bellissime N
Stagione che vai, Firenze che trovi i è mai capitato di essere appena
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ritornati da un viaggio e scoprire di non aver visto neanche la metà delle luoghi simbolo o assaggiato quella ricetta tipica del posto? Il nuovo almanacco degli eventi e specialità fiorentine “Stagione che vai Firenze che trovi” viene incontro a quei visitatori che si apprestano a visitare la città rinascimentale rivoltandola da capo a piedi. Un vero e proprio vademecum su come vivere appieno tutti gli appuntamenti e avvenimenti che Firenze offre in ogni momento dell’anno: dai prodotti enogastronomici all’artigianato, dagli angoli più pittoreschi da visitare al folklore e feste popolari. Come non assaggiare la fresca panzanella in un caldo pomeriggio d’estate o un buon piatto caldo di ribollita nel freddo inverno fiorentino!
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asce da un’idea di Agostino Barlacchi e promossa dal Comune di Cadenzano la rassegna automobilistica “Le Bellissime Italiane- Auto di ogni tempo”. L’idea è quella di rendere omaggio ai grandi designer come Martinengo, Bertone e Pininfarina, tra gli altri, che hanno reso il made in Italy delle quattro ruote un punto di riferimento internazionale. La mostra sarà disposta su circa 1.500 me-
tri quadrati suddivisi in “isole del tempo”. Un tempo che va dal 1920 al 1980: sessant’anni di grande storia dell’auto tra cui la Ferrari 250 Testa Rossa, la Lamborghini Miura fino alla Lancia Stratos e alla mitica rally 037. Dal lunedì al venerdì dalle 15.00 alle 19.00 fino all’8 gennaio. Sabato e domenica aperti anche la mattina presso l’ ATC Cadenzano, Via Giotto, 5 – Calenzano (FI).
Dalla Macchia al Contemporaneo a città di Pisa presenterà il prossimo 14
Lgennaio una mostra che abbraccia sia Il nmito in vespa ingegnere aeronautico (il mito) con l’aspetto puramente pittorico che quello U
un nome di altri tempi, Corradino D’Ascanio e la sua storica e intramontabile creatura, la Vespa. Saranno, e non poteva che essere così, celebrati al Museo Piaggio di Pontedera (Pisa). L’esposizione “Corradino D’Ascanio: uomo, genio, mago, mito” ripercorre la storia della Vespa mettendo in mostra anche pezzi pregiati rarissimi di tiratura estremamente limitata. A dispetto di quanti possano pensare che il leggendario motociclo sia solo un mezzo da museo le vendite in questi ultimi anni sono aumentate vertiginosamente. Nel 2011 usciranno dalla fabbrica ben 150.000 esemplari, tre volte tanto rispetto solo al 2003! Ingresso gratuito.
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della scultura fino ad arrivare alla più recente arte fotografica. Si tratterà di un evento di livello internazionale. Le opere provengono da artisti italiani e europei in un arco temporale che va dal primo novecento al contemporaneo. La Toscana cerca, anche in questo contesto, di continuare la tradizione di grande “bottega” dell’arte come quella di proporsi come nuovo laboratorio e fucina di nuove esperienze artistiche sia a livello nazionale che fuori dai propri confini. Ingresso gratuito.
Sciare 2011-2012
ItalianStyle
Com a nova temporada de esqui começando nas montanhas italianas, confira algumas novidades fashion para enfrentar o frio e a neve.
Pete & Patty
Jaquetas para esqui da Pirelli Pzero, mangas e laterais em tecido especial bistrech, design pneumático e “garage” zíper. Nos modelos masculino e feminino. Preço: € 650 store.pzeroweb.com
Fantasia
Fotos: Divulgação
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Diamond
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Arquitetura
Homenagem decorada Lider homenageia Itália com mostra especial de ambientes decorados onde cidades italianas como Veneza e Florença cabem em uma sala de estar Stefania Pelusi
U
De Brasília
ma das maiores empresas de móveis e decoração do país homenageia a Itália em uma mostra com cinco ambientes temáticos, inspirados nas cidades de Veneza, Roma, Florença e Milão, e nas decorações da Salone Internazionale del Móbile, realizada em Milão. Organizada em Brasília pela empresa Lider Interiores, a mostra apresenta ambientes para os quais todos os arquitetos e designers fizeram uso, como recurso decorativo, das fotos artísticas de Clausem Bonifácio reunidas na série La Luce Italiana, cujo foco é a beleza das cidades italianas. 60
O alto nível da exposição rendeu o apoio do Momento Itália-Brasil. A embaixatriz da Itália Antonella La Francesca participou da inauguração e conferiu ainda mais autenticidade ao evento ao ceder peças de seu próprio acervo para serem usadas na elaboração dos interiores. — A mostra está muito linda. Por toda a parte, se nota a referência italiana com o tom caloroso brasileiro. Tudo cheio de cores, com um toque de alegria e de vida. Resume muito bem os estilos dos dois países — avaliou. Os ambientes temáticos ocupam o showroom da parte térrea da loja que acolheu, em Brasília, durante a inauguração, 300 convidados. — A Decora Líder sempre tem um tema e este é o ano da Itália no
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A diretora de decoração, Augusta Nogueira, ao lado da embaixatriz da Itália, Antonella La Francesca, que cedeu peças do seu acervo para a decoração do evento
Brasil. Escolhemos seis profissionais para representar cada região italiana. Eles exploraram muito as novas linhas e mostraram possibilidades de proporções, acabamentos e combinações — comentou o gerente de marketing da empresa Tiago Nogueira. A diretora de compras e financeiro é da mesma opinião: — Entre as nossas mostras, essa é uma das mais bonitas que já vi. Nunca vi tanta ousadia combinada com bom gosto — avalia Célia Nogueira. Durante a inauguração, a esposa do fundador da Lider, Luziaria Nogueira, declarou que a exposição brinda o trabalho do dia a dia.
— Tivemos muitas conquistas, mas também muitas dificuldades. Por isso, nos dá muita felicidade em ver uma mostra com tanta beleza e qualidade, feita a partir dos nossos produtos. Com 22 lojas, 1400 funcionários diretos e seis fábricas, a Lider Interiores é uma das maiores empresas de móveis e decoração do país. A Itália foi se firmando ao longo dos anos como berço do design, lembram os executivos da empresa. — Um berço paradoxal que, ao mesmo tempo em que lança tendências antes de qualquer outro país, bebe da fonte de seus cenários e monumentos seculares, cuidadosamente preservados — comentou Augusta Nogueira, diretora de decoração. A junção entre o novo e o antigo serviu de referência para a mostra. Cada profissional recebeu um ambiente com um nome de uma cidade e começou o processo de criação que deu origem às cinco áreas. Todos os arquitetos envolvidos apresentaram ambientes que remetem de alguma maneira à influência, às inspirações e aos conceitos italianos. A vitrine acolheu criações da Domo Arquitetos (Daniel Mangabeira, Henrique Coutinho e Matheus Seco), que homenagearam arquitetos e designers italianos. Dividido em dois setores, o espaço era dedicado ao ítalo-austríaco Ettore Sottsass, formado pela universidade de Turim, no qual a união do preto com as cores fortes e marcantes do mobiliário da Lider cria um espaço contemporâneo e divertido, e ao arquiteto e designer italiano Antonio Citterio, cujo ambiente mais tradicional traz branco, madeira e tons básicos. Dois italianos completamente diferentes, mas que têm em comum a irreverência e sofisticação. Roma, Veneza e Milão em 200 m² O ambiente dedicado à Città Eterna tem a assinatura da arquiteta Cybele Barbosa, que concebeu uma proposta para sala de estar, jantar e home em 200 metros quadrados. — Para fazer esse projeto, fizemos uma pesquisa sobre a cidade. Tentamos juntar o estilo da cidade com as novas tendências da feira de móveis de Milão, mais o mobiliário da loja. Roma é conhecida pelos monumentos antigos, como o Coliseu. Por isso, tentamos juntar o rústico para lembrar
o antigo. Mas, ao mesmo tempo, com móveis modernos, pois Roma é, também, atual. Fizemos uma composição que juntasse o novo e o antigo, o contemporâneo e o rústico — explicam as jovens arquitetas e designers Clarice Camargo e Cristina Amorim.
O espaço Roma mistura o rústico com o moderno em tons de bege, terracota e vermelho
“Traduzimos a referência sobre Milão em uma ambientação lúdica, onde os visitantes possam perceber em todos os detalhes o que é estar na cidade” Rogério Cavanellas, arquiteto O amplo espaço reflete a magnificência da arte e da cultura romanas, traduzidas em tons de bege, terracota e vermelho. Uma parte da equipe foi até Milão para estudar as novas tendências apresentadas durante o último Salone Internazionale del Móbile, em abril. Uma grande foto das gôndolas roxas venezianas protagoniza o living do terceiro espaço realizado pelo arquiteto André Martins. Ele buscou na fascinante Veneza elementos para compor o ambiente de 285 metros quadrados, composto
A diretoria da Lider Interiores com a embaixatriz Antonella La Francesca
por living, home theater, home office e sala de jantar. Trabalhou tons que vão do bege ao terra, e explorou novos acabamentos amadeirados, além de utilizar inúmeras matérias primas como madeira maciça, vidro pintado, acrílico, tecido, couro e metais. Milão inspirou Rogério Cavanellas e André Gamoeda, da Duo Arquitetura e Design de Interiores. Eles assinaram um espaço composto por home, living, sala de jantar e espaço de recepção, ressaltando a atmosfera sofisticada e cosmopolita da capital do design e da moda. — Quando se pensa em Milão, vem à tona um oásis de conceitos sobre moda, design de mobiliário, iluminação, joalheria. Traduzimos essa referência em uma ambientação lúdica, onde os visitantes possam perceber em todos os detalhes o que é estar na cidade — comentou Cavanellas, mostrando a mesa roxa sob o belo lampadário preto. A dupla explorou, sobretudo, cores como o preto, o roxo, o amarelo e o vermelho para criar um espaço onde a antiguidade mistura-se com a modernidade. A jovem mineira Karine Gonçalves transformou a área de atendimento da loja ao expandi-la com um lounge-café. — A madeira crua e o tijolinho são os materiais mais puros e representam Florença. A moldura atrai-se ao luxo porque é uma moldura toda rebuscada — explica a criadora do espaço, que escolheu o verde por remeter muito à Itália e o dourado por causa da relação com o Renascimento florentino. A Mostra de Ambientes Decorados Lider está aberta à visitação no Casa Park, em Brasília, de segundafeira a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, das 14h às 20h, até o primeiro trimestre de 2012.
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IlLettoreRacconta
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m 1877, chegaram à futura cidade de João Neiva, no Espírito Santo, as primeiras levas de imigrantes oriundos da Itália. Para a colonização desse núcleo, vieram as famílias Negri, Tonon, Sarcinelli e Girelli. Ali, a Mata Atlântica descia do Monte Negro a 800 metros de altitude e avançava, aproximando-se do rio Piraqueaçu. A polifonia dos pássaros ecoava pelo mágico vale, com o rio serpenteando a extensão das terras a serem desbravadas, protegidas por jacarandás, perobas, ipês e outras centenárias árvores de grande porte. Animais selvagens de todas as espécies vagueavam pelas matas e doenças tropicais sempre se faziam presentes no caminho dos desbravadores. Este foi o cenário encontrado pelo patriarca Orestes Negri e por outros pioneiros advindos da Itália, que atravessavam o mar com seus familiares em busca de novos desafios nos trópicos. Homem culto e detentor de título nobiliárquico, Orestes tinha uma visão voltada para o progresso da grande propriedade. Essa deveria ser cultivada em conjunto com as recém- chegadas levas de imigrantes, que vinham ocupar novos espaços, com a esperança de dias melhores. A família Negri trouxe da Europa maquinário para beneficiamento do café, tendo se tornado compradora desse produto em toda região, para fins de exportação, tendo em vista sua excelência e aceitação nas mesas europeias. Após alguns anos, chega a João Neiva, em 1906, a estrada de ferro que ligava Vitória a Minas Gerais. Seus trilhos atravessavam a propriedade dos Negri, que, ávidos pelo progresso, doam terras para a montagem de uma grande oficina de reparos de locomotivas e confecção de peças, incluindo a estação ferroviária.
A família Negri colaborou para o desenvolvimento do futebol na região ao doar terreno para a instalação do estádio João Neivense — pontapé para a fundação do Clube de Futebol Sul América. Além do estádio, também foi doado pelos Negri terreno para erguer o ginásio João Neiva, sob o comando de Ângelo Dell Oro. No local, eram ministradas aulas de italiano que se aproximavam do ensino da Itália. Ali, também eram oferecidas aulas de latim, grego, inglês e francês. A maioria dos professores era descendente de italianos: Caniçalli, Vescovi, Possatto, Sarcinelli, Farina, Geanvirgina, Pia Teresa, Albertini. Tenho ainda viva na memória a professora de desenho, Geanvirginia, detentora de um extraordinário talento lapidado em Veneza. Foi autora de nobres quadros de influência renascentista. Uma de suas obras iluminava a residência do ex-deputado estadual Nilzo Plazzi, filho da terra. Tais construções levaram impulso ao desenvolvimento artístico e cultural da cidade, somado à influência de respeitáveis artistas italianos, como Francisco Righetti, nascido em Barga, na Toscana. Excelente violinista, possuía, também, pendor para a pintura, deixando sua marca nas igrejas católicas localizadas no estado do Espírito Santo, nas cidades de Demétrio Ribeiro, Pendanga e Santo Antônio. Além das obras de cunho cultural e esportivo, se desenvolvia a passos largos os meios de transporte. Nesse momento, a ferrovia ofertava cada vez mais empregos e o progresso tomava conta de João Neiva. A energia elétrica chegou à região através de Eutalis, outro membro da família Negri — o que viabilizou o acesso ao rádio a toda população. Passear pelas ruas da cidade tornava-se ainda mais prazeroso ao som das músicas clássicas que serviam de “pano de fundo” para o desenrolar do tranquilo cotidiano. Nesse contexto, houve migração das cidades vizinhas, como Demétrio Ribeiro, para João Neiva, que estava em constante expansão. O trabalho de Orestes Negri e o seu legado ainda se encontram presentes em toda a região. Seus descendentes continuam operosos na cidade, ajudando a intensificar o progresso introduzido por seus antepassados. Seu antigo casarão permanece até hoje no centro da cidade. Olhar para ele faz reviver toda a juventude, que tive o privilégio de desfrutar neste pedaço da Itália. Arilton Mattos Niterói - RJ
Vêneto
João Neiva, ES
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Gastronomia
Um italiano de sucesso Destaque na cena gastronômica paulistana, o Due Cuochi se prepara para expandir sua marca em outras capitais do país
T
De São Paulo
ido como um dos melhores restaurantes italianos de São Paulo, o Due Cuochi decidiu expandir seus negócios e em breve irá oferecer seus pratos em outras duas cidades. Criado em 2005, o restaurante, apesar de jovem, já ganhou diversas vezes o título de melhor italiano de São Paulo e agora se prepara para levar sua receita de sucesso para Brasília e Rio de Janeiro. — A ideia de abrir essas filiais surgiu naturalmente, em função do crescimento do restaurante e da procura de clientes de fora de São Paulo. O Due Cuochi é uma marca que se consolidou e há algum tempo vínhamos tendo uma grande oferta de clientes e de parceiros interessados em levá-lo para outros 64
lugares, principalmente Rio de Janeiro Brasília — afirmou Ida Maria Frank, uma das proprietárias do restaurante. Ida cuidava do Maria’s Bistrot, no bairro paulistano do Itaim, quando foi procurada pelo chef Paulo Barroso de Barros. Na época, ele trabalhava no La Vecchia Cucina. Após um mês de negociações o bistrô deu
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O restaurante ganhou diversas vezes o título de melhor italiano de São Paulo e agora se prepara para levar sua receita de sucesso para Brasília e Rio de Janeiro em 2012
Tadeu Brunelli
Vanessa Corrêa da Silva
lugar ao Due Cuochi que, rapidamente, conquistou vasta clientela e elogios de diversas publicações especializadas em gastronomia. Três anos depois, ganharia uma filial, no shopping Cidade Jardim, cuja cozinha é comandada pelo chef Ivo Lopes, que já trabalhou no italiano Pomodori, também em São Paulo. O projeto de abertura das novas filiais é uma parceria do Due Cuochi com a empresa Multiplan, que administra 13 shopping centers no país. — Fomos procurados no ano passado pela Multiplan, que nos ofecereu excelentes condições para abrir o Due Cuochi, tanto em Brasília quanto no Rio — disse Ida. O restaurante da capital federal deve ficar pronto em 2012 e funcionará no Brasília Park Shopping, mas ainda não há previsão de inauguração. A filial do Rio de Janeiro será entregue também no ano que vem e será localizada no shopping center Village Mall, na Barra da Tijuca. Com a abertura da filial em Brasília, Ida pretende se revezar entre São Paulo e a capital federal até completar o treinamento da nova equipe. — Já temos uma pessoa que deve sair de São Paulo para atuar como chef em Brasília, mas devo permanecer um tempo razoável na cidade para coordenar os trabalhos e imprimir no restaurante o mesmo modo de funcionamento do Due Cuochi — explicou. Apesar de buscar a mesma qualidade na preparação dos pratos e no atendimento da clientela, Ida garante que não quer criar meras cópias do Due Cuochi nas novas filiais. — Nosso conceito não é o de uma cadeia de restaurantes, mas sim de lojas únicas que repetem o mesmo alto padrão. Teremos basicamente o mesmo cardápio, mas vamos incorporar algumas diferenças nas filiais para contemplar o paladar das diferentes regiões. Admiradores do Due Cuochi de outras partes do Brasil terão que viajar para São Paulo, Rio ou Brasília para experimentar pratos como o ravióli recheado com maçã e shimeji ao molho de gorgonzola doce, e o fuzilli de calabresa, pois Ida não planeja expandir a marca para outras cidades. — Resistimos muito a sair de São Paulo e só concordamos quando tivemos certeza de que poderíamos imprimir a mesma qualidade no trabalho e nos produtos que oferecemos. Acho que não teremos mais do que essas quatro unidades no país — completou.
saporid’italia
Vanessa CorrêadaSilva
Com o cuidado de mamma siciliana Com menu recheado de receitas típicas feitas com ingredientes sempre frescos, o Taormina tem um tempero a mais: a simplicidade e a atenção à mesa com os clientes
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ão Paulo – Após viver durante anos na Sicília, Helena Maria Zamperetti Morici retornou a São Paulo e passou a morar na esquina do colégio Dante Alighieri. Àquela altura, não imaginava que a localização de sua casa a levasse a abrir um restaurante, anos mais tarde. — Meus filhos estudavam no Dante e sempre levavam os amigos para a minha casa, que virou uma espécie de ‘prontosocorro’ do colégio. Os meninos iam para lá quando precisavam de meias, quando tinham febre... E eu sempre acabava dando comida para eles. As mães perguntavam: ‘Como você faz aquele molho de tomate de que meu filho gosta tanto? E a massa?’ — conta Helena. — Queriam que eu vendesse a comida, mas eu não vendia, sempre dava— continua. Com o passar do tempo, a “cobrança” aumentou: Helena e o marido decidiram abrir um restaurante. Foi assim que, há 11 anos, surgiu o Taormina, restaurante especializado em culinária siciliana. Descendente de italianos de Vicenza e Padova, região do Vêneto, Helena é casada com Salvatore Morici, de origem siciliana, e passou boa parte de sua vida morando em Palermo. Foi lá que aprendeu as receitas dos pratos oferecidos no restaurante. Da ilha, o casal importou, além dos pratos típicos, a simplicidade siciliana. — Aqui não tem toalha nem cardápio, o cardápio sou eu — resume Helena. O restaurante funciona com um menu de preço fixo (R$ 35 de segunda a sexta e R$ 52 aos sábados e domingos) que inclui antepasto, o prato principal, frutas, café e o cannolo — tradicional doce siciliano feito com ricota e frutas cristalizadas. — Sem veneno, como aquele servido no filme O Poderoso Chefão, senão os clientes não voltam — brinca. Para começar, são servidos os antipasti, que podem variar entre bruschette, caponata ou beringela à parmegiana. De fabricação caseira, as massas podem levar calabresa ou bacalhau, sempre frescos. No Taormina, não entram enlatados nem congelados. Às sextas-feiras, o restaurante serve frutos do mar. Depois da porção de frutas, do café e do tradicional cannolo, a refeição termina com uma dose de limoncello. Taormina é o nome de uma pequena cidade para onde Helena costumava levar os amigos brasileiros que ainda não conheciam a Sicília. Muitos clientes decidiram visitar a ilha depois de conhecer a casa. Situado na região da Paulista, o — O ex-cônsul da Itália em São Taormina atrai muitos executivos Paulo, Marco Marsili, dizia que o durante a semana
Medalhões de bacalhau Rendimento: Cerca de 28 medalhões
Massa: 1 kg de farinha de grano duro; 2 copos de água filtrada; uma pitada de sal. Misturar bem a farinha, o sal e a água, e deixar descansar por 10 minutos. Abrir a massa e cortar em círculos, no formato de uma medalha. Recheio: 1 kg de bacalhau fresco; um punhado de salsinha picada; raspas de limão siciliano; azeite extra virgem. Misturar os ingredientes. Rechear a massa com a mistura e fechar. Colocar em água fervente com sal e cozinhar de 4 a 5 minutos. Apresentação: Em cada prato com 4 medalhões, colocar 4 ou 5 quadrados de bacalhau grelhado, salsinha picada, raspas de limão siciliano, e 2 ou 3 tomates cereja cortados ao meio. Regar tudo com caldo de laranja. restaurante deveria ser considerado uma embaixada da Itália, porque muitas pessoas visitaram a Sicília depois de comer aqui. Helena dá dicas e até prepara itinerários. O “trabalho de divulgação” da Sicília rendeu uma carta de agradecimento do presidente da região italiana, dirigida a Salvatore. O sucesso fez com que Helena e Salvatore abrissem uma filial em Moema, onde o destaque é a organização de eventos. Na região da Paulista, o restaurante atrai muitos executivos e, para que estes não sujem suas camisas brancas com molho, Helena sugere que usem uma proteção que ela mesma amarra ao pescoço dos clientes. Enfim, o mesmo cuidado que tinha com os filhos e seus amigos nos tempo de escola. Serviço: Taormina Alameda Itu, 251, Jardins | Tel: (11) 3253-6276 Horário de Funcionamento: Aberto todos os dias, das 12h às 15h.
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la gente, il posto ClaudiaMonteiroDeCastro
Due Ladroni
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m Roma há alguns restaurantes com nomes divertidos. Um deles é o Due Ladroni. Fica na piazza Nicosia, no centro histórico de Roma. O ambiente é aconchegante e a comida, muito boa. No outono, fazem um delicioso tagliolini com tartufo branco. Mas o interessante é a origem do nome do restaurante. Foi aberto em 1945, por dois irmãos como osteria, ou seja uma espécie de restaurante mais simples. Atraídos pelos bons preços, os clientes mais assíduos eram os caminhoneiros. Mas o local começou a ganhar fama e a clientela aumentou. Como a lei da oferta e procura, quanto mais clientes eles tinham, mais os preços aumentavam. Os caminhoneiros, então, para marcar encontro com os colegas de profissão diziam: “A gente se encontra lá nos dois ladrões!” Há mais de duas décadas, o restaurante tem outros proprietários. Mas a comida continua ótima, o restaurante continua cheio e os proprietários, sempre faturando muito.
Vizinhos: por que tê-los?
“I
want to be alone”, dizia Greta Garbo. “O inferno são os outros”, dizia Sartre. Realmente, desde que o mundo é mundo, convivência nunca foi fácil. Se, até no casamento por amor, tantos são os sapos engolidos e, mesmo assim, muitos casais não aguentam, imagine com nossos caros cidadãos, que não são nem a doce metade, nem família, nem amigo. Convivência é uma arte reservada a quem tem uma boa dose de diplomacia. Já escrevi, antes, nesta coluna, sobre os vizinhos na Itália, e sobre um senhor que “batendo” a toalha fora da janela, jogava as migalhas e, certa vez, uma faca, direto para o andar de baixo, ou seja, o meu! Enfim, mudei de condomínio. Vida nova, casa nova… Novo lar, doce lar. Novos vizinhos e obviamente…. novos problemas. Existe até um livro publicado na Itália: Como sobreviver ao condomínio. Para ver como a questão é complicada. No condomínio antigo, tinha que lidar com as migalhas que voavam dentro de casa. Agora, além desse problema, que persiste, surgiram outros. Os elevadores na Itália são pequenos e, às vezes, não partem do térreo e sim, de uma espécie de primeiro andar. Por esse motivo, muitas pessoas do meu condomínio deixam os carrinhos de bebê no térreo, principalmente os carrinhos maiores, que não entram no elevador a não ser fechados. Pelo jeito, a prole vem se multiplicando muito rapidamente no meu condomínio e foram parar seis carrinhos “estacionados” no térreo. O que causou protestos, cartazes ferozes criticando os pais e vandalismo de alguns moradores. Assim, foi convocada de urgência uma reunião de condomínio “devido a assunto de extrema importância”: eliminar os carrinhos deixados no térreo e os porta guarda-chuvas em frente à porta das casas. Ora, eu era duplamente pecadora. Pelo carrinho e pelo porta guarda-chuvas. Assim, para defender a categoria dos pais e dos proprietários dos objetos, fui à primeira reunião de condomínio da minha vida. Éramos seis gatos pingados: eu e cinco detratores do carrinho. Papo vai, papo vem. Eles mostram toda a indignação do mundo. Quando eles tiveram filhos, levavam sempre o carrinho para cima. Por que eu não podia fazer o mesmo? Eu me defendi dizendo que com gêmeos a questão era mais complicada. Uma exceçãozinha? “Ora”, diziam em coro, “mas se fizermos uma exceção, o futuro está comprometido… e os filhos dos futuros moradores?” Duas horas e muita saliva depois, eles acabam por autorizar somente os carrinhos de gêmeos. Ufa! Entra em discussão outro assunto grave: os porta guardachuvas, um atentado à beleza do condomínio! Decisão: banido para sempre! Tudo bem. São os sapos engolidos em nome da convivência. Em outras palavras, a famosa diplomacia. Assim, com meu carrinho duplo de bebê no térreo e com os guardachuvas dentro de casa, a vida no condomínio prossegue tranquila. Isso é, até que um morador ache o próximo abacaxi. 66
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